o juizado especial como canal de acesso À justiÇa … · 2010-06-24 · mas no limite de forças...
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE DIREITO
O JUIZADO ESPECIAL COMO CANAL DE ACESSO À JUSTIÇA SUBSTANCIAL – UM ESTUDO DO JUIZADO ESPECIAL CIVIL DA
COMARCA DE NATAL – ZONA NORTE
TERESA CRISTINA SOUSA DA PAZ ALVES
NATAL / RN2009
1
TERESA CRISTINA SOUSA DA PAZ ALVES
O JUIZADO ESPECIAL COMO CANAL DE ACESSO À JUSTIÇA SUBSTANCIAL – UM ESTUDO DO JUIZADO ESPECIAL CIVIL DA
COMARCA DE NATAL – ZONA NORTE
Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito do Curso de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, sob a orientação da Professora Especialista Patrícia Moreira de Menezes.
NATAL / RN2009
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TERESA CRISTINA SOUSA DA PAZ ALVES
O JUIZADO ESPECIAL COMO CANAL DE ACESSO À JUSTIÇA SUBSTANCIAL – UM ESTUDO DO JUIZADO ESPECIAL CIVIL DA
COMARCA DE NATAL – ZONA NORTE
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________Professora Especialista Patrícia Moreira de Menezes – OrientadoraUniversidade do Estado do Rio Grande do Norte - Curso de Direito
__________________________________________Professora Especialista Flavianne Fagundes da Costa Pontes
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - Curso de Direito
__________________________________________Professora Especialista Déborah Leite da Silva
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - Curso de Direito
Natal, 24 de julho de 2004
3
Ao meu filho João Paulo com muito amor.
4
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, por tudo o que tem acontecido em minha vida.
À minha mãe por seu amor e dedicação incondicional.
Ao meu esposo, João, por compreender as ausências necessárias e apoio
nesta jornada.
Ao meu filho João Paulo, pela alegria contagiante, que nos impulsiona a
seguir na jornada.
À Aninha e Denise, secretárias do campus e do curso respectivamente, pelo
auxílio dado nos momentos difíceis deste caminho.
Aos Juízes Dr. João Eduardo e Dra. Marina Melo, pelo apoio dado a este
trabalho. Aos colegas do Juizado Especial Cível por fazer parte do sonho de tornar
a celeridade processual uma realidade.
E, por fim, a minha orientadora, Professora Patrícia Menezes, que durante
todo o curso, e, especial nesta orientação, mostrou que podemos harmonizar a
simplicidade com celeridade e qualidade.
5
“A justiça, para merecer seu grande nome,
deve abraçar toda a sociedade, não oferecer
suas vantagens há alguns, mas a todos; não
ser apenas servidora dos poderosos, mas,
sobretudo dos humildes; não esquecer
ninguém e não esquecer nenhuma
necessidade; exigir o concurso de todos,
mas no limite de forças de cada qual,
penetrar no organismo social como um
fluído benéfico trazendo a toda a parte a
saúde e a alegria”. Fátima Nancy Andrighi
6
RESUMO
O acesso à justiça tem sido tema de estudos focados na efetivação do processo
democrático, ponderando que uma democracia oferece as mesmas oportunidades a
todos os cidadãos em todas as esferas jurídicas. A moderna concepção de acesso à
justiça constrói-se a partir da premissa de que todo cidadão tem a oportunidade de
independente de sua condição sócioeconômica, recorrer ao Poder Judiciário para
que este solucione os conflitos que o mesmo não conseguiu resolver sozinho, de
forma simplificada, célere, segura e justa, independente de assistência de advogado.
Para se ter um verdadeiro e efetivo acesso à justiça não basta criar mecanismos que
permitam que um número maior de pessoas entre com ações na justiça, é antes
permitir que o litigante, especialmente aquele com menores condições
sócioeconômicas, participe ativamente do processo de convencimento do Juiz com
relação ao direito pleiteado. Propõe-se investigar a aplicação da Lei dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais como canal de acesso à justiça escolhendo como
campo de estudo o Juizado Especial Cível – Zona Norte, da comarca de Natal/ RN.
Inicialmente esboçou-se a evolução do conceito de justiça e, em seguida, tratou-se
da evolução do conceito de acesso à justiça, para, só então verificar se os Juizados
Especiais reduziram a distância do cidadão comum e a justiça, aqui, sinônima do
Poder Judiciário. Duas pesquisas documentais realizaram-se para, ao final, verificar
que a implantação dos Juizados Especiais Cíveis, mas precisamente o da Zona
Norte da comarca de Natal contribuiu em parte para promover o acesso à justiça em
seu aspecto substancial.
Palavras-chave: Acesso à justiça. Juizado Especial Civil. Efetividade.
7
ABSTRACT
Access to justice has been subject of studies focused on the realization of the
democratic process, considering that a democracy offers the same opportunities to
all citizens in all legal spheres. The modern design of access to justice is built on the
premise that every citizen has the opportunity to regardless of their socio-economic
condition, use the Judiciary so that it solves the conflicts that it could not resolve
alone, so simple, quick, safe and fair, independent assistance of counsel. To have a
real and effective access to justice is not enough to create mechanisms that allow a
greater number of people between the actions with justice, is before allowing the
litigant, especially those with lower socio-economic conditions, participate actively in
the process of convincing the court with respect to the election. It is proposed to
investigate the implementation of the Law of the Special Civil and Criminal Courts as
a channel of access to justice as a field of study choosing the Special Civil Court -
North Zone, the district of Natal / RN. Initially outlined is the development of the
concept of justice, then, this is the evolution of the concept of access to justice, for,
only then check if the Special Courts reduced the distance from ordinary people and
justice, here synonymous of Power Judiciary. Two searches took place for
documentary at the end, answer the deployment of the Special Civil Courts, but the
area of northern district of Natal helped to promote access to justice in its substantial
aspect.
Keywords: Access to justice. Special Civil Court. Effectiveness.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AJURIS - Associação dos Magistrados do Rio Grande do Sul
CCA - Conselho de Conciliação e Arbitramento
JPC - Juizado de Pequenas Causas
JECC - Juizados Especiais Cíveis e Criminais
CPC – Código de Processo Civil
Projudi - Processo Judicial
CNJ - Conselho Nacional de Justiça
SISBACEN – Sistema Banco Central para Bloqueio on line
CPF – Cadastro de Pessoa Física
CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
JEC-ZN - Juizado Especial Cível da Zona Norte
IBGE - Instituto Brasileiro Geográfico e Estatístico
AMB - Associação dos Magistrados Brasileiros
SEMURB – Secretaria Municipal de Urbanismo de Natal
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 01: Número de processos ativos no JEC-ZN (abril/08 a abr/09)................47
Gráfico 02: Ações ajuizadas (set/08 a abr/09)........................................................48
Gráfico 03: Audiências de Conciliação marcadas e realizadas (set/08 a abr/09)...50
Gráfico 04: Relação entre audiências realizadas e acordos obtidos (set/08 a
abr/09).......................................................................................................................51
Gráfico 05: Mostra de sentenças proferidas............................................................53
Gráfico 06: Mostra dos motivos de arquivamento dos autos com sentenças de
obrigação de pagar...................................................................................................55
Quadro 01: Mostra das partes que atuam no JEC-ZN............................................53
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................11
1 ACESSO À JUSTIÇA.........................................................................................13
1.1 O PORQUÊ DO ACESSO À JUSTIÇA..............................................................13
1.2 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE JUSTIÇA.....................14
1.3 A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE ACESSO À JUSTIÇA................................16
1.4 O ACESSO À JUSTIÇA SOB O ASPECTO SUBSTANCIAL............................ 20
1.5 O MOVIMENTO CONSTITUCIONAL DO ACESSO À JUSTIÇA...................... 25
2 OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS..................................................................29
2.1 A GÊNESE DOS JUIZADOS ESPECIAIS......................................................... 29
2.2 PRINCÍPIOS.......................................................................................................33
3 OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ZONA NORTE.........................................44
4 CONCLUSÃO.....................................................................................................56
REFERÊNCIAS..................................................................................................60
ANEXO A – PROJETO DE MONOGRAFIA...................................................... 63
ANEXO B – LEVATAMENTO DE DADOS........................................................ 86
11
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como principal objetivo verificar as motivações da
criação dos Juizados Especiais Cíveis no âmbito estadual através da Lei nº.
9.099/95, analisando se tal mecanismo contribuiu para promover o acesso à justiça
em seu aspecto substancial.
Após a compreensão do que venha a ser acesso à justiça substancial, tratou-
se de interpretar os princípios dos Juizados Especiais à luz do princípio do acesso à
justiça, tudo isso com o fito de verificar quais as facilidades que o microssistema dos
Juizados Especiais Cíveis Estaduais trouxe para o cidadão comum.
Com o fim de dar cientificidade ao presente estudo, escolheu-se como objeto
o Juizado Especial Cível da Zona Norte da comarca de Natal/RN que, segundo
pesquisa documental realizada, possuía, em abril de 2009, um acervo de processos
ativos de 6.138 (seis mil, cento e trinta e oito) feitos.
Através de colheita de dados referentes à movimentação processual entre os
meses de abril de 2008 e abril de 2009 e uma segunda pesquisa, desta feita
colhendo-se uma amostra de cem processos dentre os arquivados em 2008,
buscou-se averiguar se o Juizado Especial Cível da Zona Norte atingiu os objetivos
motivadores de sua existência.
A fim de responder essas questões, o estudo foi estruturado em três partes: o
primeiro capítulo tratou do acesso à justiça, o segundo dos Juizados Especiais
Cíveis e o terceiro do Juizado Especial Cível da Zona Norte.
O primeiro capítulo está dividido em quatro partes, primeiramente delineou-se
uma breve evolução histórica do conceito de Justiça, em seguida da evolução do
conceito de acesso à justiça, na seqüência interpretou-se o conceito de acesso à
justiça sob o aspecto substancial, para em seguida estudarmos acerca do
movimento constitucional do acesso à justiça.
O capítulo seguinte cumpriu o objetivo de examinar o microssistema dos
Juizados Especiais, para tanto, fez-se necessário primeiramente estudar acerca da
gênese dos Juizados Especiais para só então analisar os princípios dos Juizados
Especiais propriamente ditos, quais sejam: oralidade, simplicidade e informalidade,
economia processual e celeridade.
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Após a compreensão do microssistema dos Juizados Especiais, construímos
o terceiro capítulo com a finalidade de verificar se os Juizados Especiais Cíveis
Estaduais atingiram os objetivos motivadores de sua existência, neste apresentou-se
o objeto de estudo, o Juizado Especial Cível da Zona Norte da comarca de
Natal/RN, tratando de sua implantação, seu crescimento, seu resultados.
Ainda no mesmo capítulo, fez-se a análise dos dados colhidos pelas
pesquisas documentais ditas anteriormente, extraindo-se delas informações como
evolução dos processos ativos, a participação de advogados nas causas que
tramitam naquele Juizado, a relação entre o número de audiências aprazadas e
realizadas, e entre essas últimas e os acordos obtidos. Colheram-se ainda
informações acerca das sentenças prolatadas e seu efetivo cumprimento, sendo
possível se detectar quais as barreiras existentes naquele Juizado e que ainda não
foram derrubadas.
Na conclusão expõe-se as respostas obtidas durante o presente trabalho,
mostrando ainda se a implantação do Juizado Especial Cível da Zona Norte da
Comarca de Natal/RN contribuiu para promover o acesso à justiça em seu aspecto
substancial.
Sem a intenção de esgotar o assunto, pretende-se, assim, contribuir para
despertar nos operadores do Direito a urgente necessidade de promover a real
interação entre o Poder Judiciário e a sociedade em geral, em especial àquela
camada da população desprovida de condições socioeconômicas e que, geralmente,
ficam à margem da intervenção estatal, aqui representada pela atividade
jurisdicional do estado.
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1 ACESSO À JUSTIÇA
Este capítulo apresenta aspectos que revelam a importância da escolha do
tema para a pesquisa, em seguida, fez-se uma breve evolução histórica do conceito
de justiça, na seqüência traçou-se a evolução do conceito de acesso à justiça.
Definido o tema, examinou-se o acesso à justiça sob o enfoque substancial e, logo
após, o movimento constitucional de acesso à justiça.
1.1 O PORQUÊ DO ACESSO À JUSTIÇA
Com a evolução de nossa sociedade surgiram as grandes massas com seus
conflitos que também se expressam em avultoso volume, pois à medida em que se
alargam as fronteiras de relacionamentos se multiplicam os conflitos sociais que não
são resolvidos entre os agentes envolvidos sem a intervenção de terceiros. Assim, o
sistema judiciário surge com o objetivo de solucionar os conflitos apresentados por
pessoas alheias a esse sistema.
Partindo do pressuposto de que o Direito exerce na sociedade uma função
ordenadora, organizando a cooperação entre as pessoas, Dinamarco, Grinover e
Citra (2007) ensina que a ordem jurídica funciona como elo pacificador das relações
sociais intersubjetivas, de forma que com um mínimo de sacrifício e desgaste se
obtenha a máxima realização dos valores humanos.
Quando o Estado se afirma e consegue se impor mediante a invasão da
liberdade ele absorve o poder de ditar soluções para os conflitos que lhes são
postos. Sendo assim, é o Estado que assume a função pacificadora, passando a
decidir as pretensões apresentadas e para tanto passa a impor suas decisões.
Em um Estado Democrático de Direito estabelece-se como prioridade a
Justiça Social, que por sua vez é assegurada pela atividade jurisdicional do Estado.
Esta atividade visa garantir a todos o acesso à justiça, que conforme estudou-se a
seguir, não deve ser oferecida somente no sentido estrito, mas principalmente no
sentido amplo, esse sim, como pode-se ver mais adiante assume um caráter
essencial para a consolidação da democracia, pois somente quando o Estado passa
14
a reconhecer como função principal a promoção dos valores humanos como forma
de eliminar os conflitos que afligem as pessoas ele passa a ser considerado
verdadeiramente um Estado Social Democrático.
Sendo assim, para que se exerça plenamente a democracia, faz-se
necessário preservar alguns princípios basilares do direito, neste sentido, o nosso
legislador constitucionalizou alguns princípios processuais como forma de garantir
uma sociedade mais justa, dentre esses merece destaque o princípio do acesso à
justiça.
Em nosso país onde as grandes necessidades básicas não são satisfeitas,
onde os índices de exclusão social e pobreza são elevadíssimos, a questão do
acesso à justiça é da maioria e não da minoria. Compreender a dimensão de tal
princípio é contribuir para que a sociedade exerça mais uma faceta da democracia,
posto que o acesso à justiça visa promover a aproximação dos cidadãos ao Poder
Judiciário, que, por sua, vez tem sido alvo de críticas por sua morosidade e pelo
difícil acesso.
Espera-se que o Sistema Judiciário, ao solucionar os conflitos, não considere
as partes envolvidas, mas adote a solução que seja socialmente considerada a mais
justa, uma vez que o efetivo acesso à justiça, hoje, está intimamente ligado à noção
de Justiça Social.
Nosso marco teórico foi a discussão trazida por Cappeletti (1988) sobre as
finalidades básicas do sistema judiciário. Para ele, seriam basicamente duas: a
primeira seria a produção de resultados individualmente e socialmente justos e a
segunda finalidade desse sistema é que este seja igualmente acessível a todos.
Registrada a importância do tema, cumpre-nos traçar, neste capítulo, uma
breve evolução do conceito de justiça e acesso à justiça, enfocando, logo em
seguida, o acesso à justiça em sentido amplo, substancial.
1.2 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE JUSTIÇA
Sublinhe-se que quando se fala em justiça neste estudo, está se referindo à
prestação jurisdicional do Estado, obrigatoriedade constitucional, aquela que permite
15
ao cidadão comum colocar nas mãos do Estado uma questão, controversa ou não,
para ser solucionada por meio de decisões judiciais.
Carlin (2004) traz uma breve evolução histórica do conceito de Justiça.
Segundo ele, no período antigo, a Justiça era miscigenada com a religiosidade, com
o divino, de forma que o seu acesso dependia do acesso à religião; se alguém
queria solucionar alguma controvérsia deveria buscar a solução nos termos
propostos pela religião daquela sociedade. Exemplo clássico seria o próprio código
de Hamurabi que “incentivava o oprimido a procurar o soberano para que este
solucionasse a questão.” (ABREU, 2008, p. 43)
Com o surgimento dos questionamentos filosóficos, iniciam-se os primeiros
pensamentos dos direitos humanos pregados por pensadores como Aristóteles,
Pitágoras, entre outros. Neste período, surgiram conceitos como “igualdade”,
“equidade”, “legalmente justo”, etc. Abreu (2008) explica que em algumas cidades
gregas a função de julgar era dada aos cidadãos, sendo Atenas a primeira a nomear
advogados para assistir pessoas carentes, fazendo surgir a idéia de assistência
jurídica aos pobres.
Já no período moderno, com a eclosão de revoluções, passa-se a reagir aos
poderes dados aos príncipes e ao Poder Judiciário, reduzindo as funções dos juízes
que passaram a atuar como meros declarantes do conteúdo da lei. Isto porque nos
Estados liberais burgueses o Estado encarava acesso à justiça de forma meramente
formal, embora fosse considerado um direito natural, Cappeletti (1988) afirma que
não era preocupação do Estado proteger o direito natural e nem tão pouco afastar a
pobreza no sentido legal (incapacidade de algumas pessoas usufruírem plenamente
a justiça).
Nos séculos XVIII e XIX os relacionamentos e as ações substituíram o
individualismo pela visão coletiva, pressionando para que o Estado deixasse sua
passividade e passasse a reconhecer os direitos e deveres sociais perante todos.
Com o surgimento do conceito de direitos humanos, surgiram as reivindicações
sociais do período contemporâneo, que por sua vez funcionaram como um
movimento resgatador da dimensão social do Estado.
Quando a sociedade passou a reconhecer que os direitos e deveres sociais
deveriam ser assegurados pelo governo, a comunidade, as associações e os
indivíduos passaram a observar a necessidade de os Estados assegurarem o gozo
dos direitos sociais e, assim, foi progressivamente dando importância ao acesso à
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justiça, pois este se tornou essencial para assegurar os direitos sociais (direito ao
trabalho, à saúde, à segurança material e à educação) trazidos pelas modernas
constituições.
Cappeletti (1988) já dizia que o acesso à justiça era o mais básico dos direitos
humanos, sendo assim é de bom alvitre conhecer a sua evolução, para melhor
compreender o porquê de o legislador criar o microssistema Juizado Especial com
mecanismos específicos cuja finalidade maior fosse promover tal acesso.
1.3 A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE ACESSO À JUSTIÇA
A morosidade e ineficiência do sistema judiciário não são recentes e nem
isolados de um determinado país, por isso existem, além das constituições de vários
países, inúmeros tratados que colocam o acesso à justiça como direito indeclinável a
ser posto em prática de forma efetiva.
D’andréa (2000) coloca que a ineficiência do sistema da justiça faz com que a
sociedade procure caminhos próprios para solucionar seus conflitos, tal desvio
coloca em risco a segurança do país, estimula o descumprimento do direito e
aumenta as angústias sociais, podendo levar uma sociedade a uma situação de
barbárie.
Neste contexto, verificou-se que a garantia formal do acesso à justiça era
ineficiente para assegurar a todos os cidadãos o efetivo acesso ao Poder Judiciário
e que existem historicamente fatores sociais, econômicos, organizacionais e
processuais, que funcionam como barreiras a esse acesso. Barreiras essas que
devem ser conhecidas para então serem superadas.
Cappeletti (1988) enumerou as dificuldades encontradas pela população, que
inviabilizam a busca pela justiça, e as torna cada vez mais inacessível, são elas:
econômicas, organizacionais e processuais. Tais dificuldades se expressam em três
principais barreiras. A primeira seria as custas judiciais, que em geral são muito
dispendiosas, em especial as despesas com advogados, prejudicando em muito as
causas que envolvem pequenas somas, que somada a delonga processual torna a
justiça inacessível para os que possuem pouco ou nenhum recurso econômico.
17
A segunda barreira seria a possibilidade estratégica das partes, posto que
aquelas que possuem recursos financeiros podem pagar para litigar e suportar as
delongas do litígio. A falta de aptidão que alguns cidadãos têm para reconhecerem
a existência de um direito e com isso proporem uma ação ou uma defesa também se
revela uma barreira. Essa falta de conhecimento jurídico impede que muitos exijam
direitos, ajuizando demandas.
Tal falta de conhecimento está relacionada com a disposição psicológica que
essas pessoas possuem para demandarem judicialmente, e esta disposição também
é uma barreira a ser enfrentada, pois:
[...] existem outras razões obvias por que os litígios formais são considerados pouco atraentes. Procedimentos complicados, formalismo, figuras tidas como opressoras, fazem com que o litigante se sinta perdido, prisioneiro num mundo estranho. (CAPPELETTI, 1988, p. 24).
A terceira barreira se visualiza quando se compara litigantes eventuais e
litigantes habituais. Para o referido autor, os litigantes habituais possuem a
vantagem da experiência, e como têm mais casos podem testar estratégias para
próximos casos, fazendo planejamento estratégico, economia de escala, diluindo-se
os riscos de uma demanda, além de terem possibilidade de manter relações
informais com membros da instância. E destaca:
Os obstáculos criados pelo nosso sistema jurídico são mais pronunciados para as pequenas causas e para os autores individuais, especialmente os pobres; ao mesmo tempo, as vantagens pertencem de modo especial aos litigantes organizacionais, adeptos ao uso do sistema judicial para obterem seus próprios interesses. (CAPPELETTI, 1988, p. 28)
O citado autor ensina, ainda, que o enfrentamento dessas barreiras deu-se
em três ondas: a Primeira onda se preocupou com o obstáculo econômico, posto
que esta faz com que pessoas desprovidas de recursos econômicos acabem tendo
um restrito acesso à informação e à representação de seu direito. Assim, a primeira
onda se preocupou com a assistência judiciária, defendendo que esta deveria ser
paga pelo Estado em prol daqueles que não podem arcar com as custas dos
advogados, e, se necessário fosse, deveria utilizar os quadros do Ministério Público
e da Procuradoria de Justiça.
Entretanto, o autor alerta que tais propostas acerca da assistência judiciária
não podem, ainda que fossem perfeitas, proporcionar o acesso à justiça, porque
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mesmo aqueles que tivessem condições de arcar com os serviços de um advogado,
provavelmente não poderiam economicamente propor, com o risco da perda, uma
causa de pequeno valor econômico.
A segunda onda tratou dos problemas organizacionais, aqueles em que o
indivíduo isoladamente não pode solucionar, sendo necessária a busca da tutela
jurisdicional de forma coletiva para satisfazer direitos coletivos. Para tanto, esta onda
procurou implementar novas regras processuais objetivando tutelar os interesses
difusos, coletivos e individuais homogêneos.
A solução dada pela segunda onda se concentrou na representação jurídica
para os interesses difusos, tais como proteção ambiental e direito do consumidor,
que por sua natureza deveriam ser enfrentados coletivamente. Foi neste contexto
que surgiram as funções institucionais do Ministério Público de proteção dos direitos
coletivos e o Código de Defesa do Consumidor entre tantas outras leis que
buscavam viabilizar a proteção de determinadas classes e categorias.
Já a terceira onda tratou especificamente do acesso à representação em
juízo, enfocando o acesso à justiça. Para esse movimento as reformas trazidas pela
primeira e segunda onda se preocuparam apenas em “encontrar representação
efetiva para os interesses antes não representados ou mal representados.”
(CAPPELETTI, 1988, p. 67)
Assim, era necessário voltar a atenção para as instituições, os mecanismos,
os procedimentos e as pessoas envolvidas nas disputas nas sociedades modernas.
Esta terceira onda tratou dos obstáculos processuais, posto que alguns
procedimentos são inadequados para determinadas demandas, além de que o
Poder Judiciário estava se tornando moroso e ineficiente. De forma que terceira
onda “centra sua atenção no conjunto geral de instituições e mecanismos, pessoas e
procedimentos para processar e mesmo prevenir disputas nas sociedades
modernas”. (CAPPELETTI, 1988, p. 68).
Esta onda inova em buscar mecanismos alternativos para promover o acesso
à justiça, aqui já se começa a falar em adaptação do processo civil aos tipos de
litígios. O autor acima mencionado sugere, inclusive, a criação de Tribunais
específicos para determinadas demandas, por exemplo, tribunais de locação. De
forma que a especificidade facilitaria o tratamento dado às demandas,
especializando os operadores do sistema, proporcionado assim um alívio aos
tribunais que tratam de demandas genéricas.
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Aqui se insere o nosso tema, Juizados Especiais, que, como veremos no
segundo capítulo, trata-se de uma proposta voltada para a derrubada das barreiras
econômicas, organizacionais e processuais que inibem as pessoas de adentrarem
as portas do Poder Judiciário para resolver lides de pequena complexidade ou de
pequeno valor.
O autor também valora a experiência adotada no continente europeu que em
sua reforma processual implementou a oralidade, a livre apreciação de prova, a
concentração do procedimento e aproximou os juízes das partes e das testemunhas
para melhor investigar a verdade e, assim, proporcionar uma solução mais justa ao
conflito posto em suas mãos. Essas mudanças institucionais e processuais têm
como escopo tornar o processo civil simples, rápido, barato e acessível aos pobres,
reduzindo algumas barreiras ao acesso à justiça.
O autor acima mencionado sugere ainda a busca de soluções de conflitos fora
do Poder Judiciário através de métodos alternativos. Um deles seria o juízo arbitral
que “embora possa ser um processo relativamente rápido e pouco dispendioso,
tende a se tornar muito caro para as partes, porque elas devem suportar o ônus dos
honorários dos árbitros.” (CAPPELETTI, 1988, p. 82)
Uma segunda alternativa para aliviar as demandas do Poder Judiciário seria a
utilização da conciliação. Por esse instrumento resolvem-se os litígios sem a
necessidade de julgamento, reduzindo consideravelmente a sobrecarga nos
tribunais e as despesas processuais, além de que são mais facilmente aceitas as
decisões que se fundamentem em acordo entre as partes, porque nelas não existem
partes vencedora ou perdedora.
[...] mas, embora a conciliação se destine principalmente a reduzir o congestionamento do judiciário, devemos certificar-nos de que os resultados representam verdadeiros êxitos, não apenas remediadas para problemas do judiciário, que poderia ter outras soluções. (CAPPELETTI, 1988, p. 87)
Por fim, há a sugestão de incentivos econômicos para encorajar acordos em
causas já iniciadas para a redução da procura ao Poder Judiciário. Porém, percebe-
se que essa medida só favoreceria aos mais fortes economicamente, posto que os
meios adotados para encorajar os acordos seriam eminentemente econômicos, logo
os desprovidos de recursos não poderiam utilizar desses incentivos.
Contudo, ele alerta que se deve ter cautela na busca do
descongestionamento do judiciário, para que a adoção de determinadas alternativas
20
acabe por afastar dos tribunais causas que realmente deveriam ser julgadas. O
referido autor defende que o sistema judiciário deve se tornar de baixo custo,
informal e rápido, munido de julgadores ativos e detentores de conhecimentos
técnicos e jurídicos para servir pessoas comuns, sejam como autores ou como réus.
Isso seria possível com o funcionamento de tribunais especializados em
pequenas causas destinados a “pequenas injustiças de grande importância.”
(CAPPELETTI, 1988, p. 95), isto porque não é economicamente possível trazer
pequenas causas aos tribunais regulares, posto que são caros, complexos e pouco
atrativos. Os tribunais especializados deveriam ser atraentes economicamente,
fisicamente e psicologicamente para os que possuem poucos recursos.
Segundo o autor, não bastaria que esse tribunal permitisse que as partes
atuassem sem a assistência de advogado, pois a parte contrária pode comparecer
com advogado e tornar a demanda desigual. Para ele, os juízes e os funcionários
dos tribunais poderiam auxiliar as partes reduzindo a termo suas demandas,
instruindo-os e preparando-os para o julgamento. Tal acessibilidade deveria ser
propiciada por tribunais mais próximos das pessoas comuns e se possível aberto
durante à noite para não inibir o acesso daqueles que trabalham durante o dia. Por
fim, o autor coloca que os tribunais de pequenas causas:
Estão atendendo ao desafio crucial de criar órgãos eficazes para a defesa dos direitos dos cidadãos comuns... órgãos informais, acessíveis e de baixo custo que oferecem a melhor fórmula para atrair indivíduos cujos direitos tenham sido feridos. (CAPPELETTI, 1988, p. 113)
Assim, vê-se que o acesso à justiça pode ser estudado sob dois focos, um
estrito, cujo universo de estudo é o subsistema jurídico e um outro foco que abarca o
sistema social geral, denominado de substancial, e, por alguns, de acesso à uma
ordem jurídica justa, que detalharemos a seguir.
1.4 O ACESSO À JUSTIÇA SOB O ASPECTO SUBSTANCIAL
Com foi dito anteriormente, o presente estudo centraliza-se na terceira onda,
mas precisamente como a criação dos Juizados Especiais com seus princípios e
21
procedimentos próprios contribuíram para a derrubada das barreiras processuais
existentes ao acesso a atividade jurisdicional do Estado, aqui tratada como acesso à
justiça.
O que se pode observar nas soluções dadas por Cappeletti (1988), quando
ele fala de cada uma das ondas, é que visam facilitar o acesso à justiça sob o
aspecto formal, mas pode-se esquecer que para que a justiça seja mais acessível é
necessário criar leis mais compreensíveis, aproximando o direito das pessoas
comuns, que seria o aspecto substancial do acesso à justiça.
Um outro cuidado que se deve ter ao estudar a crise vivenciada pelo nosso
sistema processual é que, ao sugerir a criação de novos mecanismos processuais,
modernos e eficientes, não se abandone às garantias fundamentais que revestem
um processo com procedimentos justos calcados no valor da justiça e na efetivação
do respeito à vida e à dignidade.
O Estado de Direito elegeu como uma das principais características o livre e
pleno acesso à Justiça para busca de soluções aos conflitos de interesses negados
ou não satisfeitos ou, ainda, de interesses que não são necessariamente
contenciosos, independente da natureza ou do valor. Portanto, o estudo acerca do
acesso à justiça deve ocorrer sob o aspecto substancial, pois o outro aspecto, o
estrito, que conforme Gomes Neto (2008) abarca aspectos do subsistema jurídico
levantando somente a questão do acesso aos serviços judiciários.
O aspecto geral, substancial, preconiza o acesso à justiça como sendo aquele
que promove o acesso à uma ordem jurídica justa, o que requer um judiciário ágil,
célere e atento às mudanças sociais, que não olvide dos direitos fundamentais
historicamente conquistados pela sociedade moderna.
Gomes Neto (2008) ensina que o tema do acesso à justiça não pode se deter
apenas à efetivação dos serviços judiciários, porque, se assim fosse, centralizar-se-
ia o enfoque na estrutura física do Judiciário, deve, antes de tudo, buscar formas de
se vencer os obstáculos concretos ao acesso.
Para tanto, deve-se levar em consideração tanto o direito do autor buscar a
tutela jurídica efetiva quanto o direito do réu de promover sua defesa real, de forma
que ambas as partes participem efetivamente do processo, pois somente com o
equilíbrio entre o direito de ação e o direito de defesa será possível obter
legitimidade ao exercício do poder jurisdicional, o que representa uma igualdade de
22
oportunidades ou ao menos uma igualdade de possibilidades à defesa dos direitos
em juízo.
Sabe-se que o tema do acesso à ordem jurídica justa é complexo e envolve
várias questões, desde a problemática da efetividade do processo e da otimização
do Poder Judiciário, até o fato de grande parcela da população viver à margem da
realidade jurídica e em alguns casos até mesmo da possibilidade de participar da
realidade jurídica. (GOMES NETO, 2008)
Figueira Júnior (2007) afirmou que a ligação entre o povo e o poder judiciário
se dá mediante o processo, e, como já afirmamos, uma ordem jurídica justa passa
por um processo justo e efetivo. As premissas que asseguram o acesso a uma
ordem jurídica justa, assim como os demais direitos e garantias fundamentais do
sujeito, estão dispostas na Constituição Federal.
A elevação dessas normas processuais a princípios constitucionais se deu em
virtude de que os princípios revelam os valores e os critérios escolhidos por uma
sociedade que deverão orientar a compreensão e a aplicação das regras instituídas
abstratamente diante das situações concretas. (MARINONI, 2008)
E, sendo o processo o instrumento que o poder judiciário realiza a justiça,
como tal, deve estar adequado aos preceitos sociais elevados a princípios
constitucionais. Nesta perspectiva podemos dizer que:
o processo é necessariamente formal, porque as suas formas constitucionais constituem o modo pelo qual as partes têm a garantia de legalidade e imparcialidade no exercício da jurisdição. (DINAMARCO; GRINOVER; CITRA, 2007, p. 32)
Nada obstante esse sentido formal, o processo deve funcionar ainda como
um canal capaz de promover a paz social, isto porque toda a atividade jurídica do
estado tem como principal escopo a pacificação social.
Sendo assim, a condução do processo deve se pautar sempre na busca da
aproximação das partes à justiça e, conseqüentemente, em uma maior aproximação
entre os jurisdicionados e o magistrado, de forma que este último seja um canal de
acesso à ordem jurídica justa, devendo o magistrado, ainda, primar pela rapidez e
eficácia, sem olvidar da segurança jurídica. Tais aspectos podem ser melhor
compreendidos no próximo capítulo, na abordagem dos princípios basilares dos
Juizados Especiais.
23
Considera-se que o ideal de pronta solução das demandas pelo judiciário não
é uma realidade. Sendo assim, observa-se que até a duração do processo pode ser
um óbice ao acesso à justiça, em especial quando se fala em acesso a uma justiça
efetiva, por isso que a nossa Carta Maior revestiu o processo de inúmeros princípios
e garantias, para que assim o processo possa ser um verdadeiro canal de acesso à
justiça.
O tempo necessário para a resolução de uma demanda, também pode ser
chamada de demora processual. Durante muito tempo esta demora foi tratada como
inerente ao próprio andamento processual, porém, modernamente, se tem entendido
que a demora processual prejudica o autor na mesma medida em que favorece o
réu (MARINONI, 2008), atingindo de forma mais acentuada os que possuem menos
recursos, conseqüentemente, estes são os mais prejudicados pela morosidade da
justiça.
A morosidade processual muitas vezes acaba por atender aos vários
interesses daqueles que se favorecem dessa morosidade, isso porque nenhuma
‘justiça’ é boa ou má, ou efetiva ou inefetiva, já que será da ‘forma’ que os
detentores do poder a desejarem, e, portanto, para alguns, sempre ‘boa’ e ‘efetiva’”
(MARINONI, 2008, p. 190), e como o menos abastado tem um grau de resistência
menor a essa demora que o mais abastado, alternativas procedimentais e
comportamentais que visem combater a morosidade do poder judiciário possibilitará
a efetiva tutela dos direitos, em especial os daqueles com menos recursos
econômicos, que em nosso país é a grande maioria da população.
Falar de efetividade do processo é falar de um sistema processual capaz de
ser um caminho à ordem jurídica justa e, para isso, devem-se conhecer os objetivos
a atingir e as barreiras econômicas e jurídicas a serem superadas para se chegar ao
livre acesso à justiça. Até porque “para que haja o efetivo acesso á justiça é
indispensável que o maior número possível de pessoas seja admitido a demandar e
a defender-se adequadamente”. (DINAMARCO; GRINOVER; CITRA, 2007, p. 40)
Entretanto, Marinoni (2008) adverte que a questão do acesso à justiça não se
deve ater tão somente a eliminação dos obstáculos econômicos e sociais, mas deve
ser tratada em conjunto com outros direitos fundamentais, em especial ao direito de
ação e o direito ao uso da técnica processual adequada às necessidades do direito
material, posto que todos esses são desdobramentos do direito à tutela jurisdicional
efetiva.
24
Partindo do pressuposto de que a efetividade do processo é “a plena
consecução de sua missão social de eliminar conflitos e fazer justiça”
(DINAMARCO; GRINOVER; CITRA, 2007, p. 40) considera-se que existem quatro
pontos desfavorecedores da efetividade. O primeiro obstáculo à efetividade do
processo como canal de acesso à justiça seria a própria admissão do processo, ou
seja, as dificuldades econômicas impedem ou desanimam as pessoas a litigarem ou
a se defenderem adequadamente, como solução os autores colocam a real oferta
constitucional da assistência jurídica integral e gratuita.
Embora o custo social atinja o autor e o réu, Marinoni (2008) alerta-nos que a
barreira econômica é mais prejudicial para o autor, vez que para restaurar o seu
direito material lesionado ou defender direito que estiver na iminência de ser
lesionado terá que dispor de recursos econômicos que muitas vezes não dispõe, ou
pelo menos não disporá na mesma proporção no decorrer do processo.
Um segundo ponto dado como obstáculo à efetividade do processo seria o
que Marinoni (2008) denomina de “mododeser do processo”. O desenrolar do
processo deve procurar atender ao devido processo legal e o contraditório, de forma
que tanto o autor quanto o réu possa utilizar os meios permitidos pelo ordenamento
jurídico para contribuir com a formação do convencimento do juiz, que, por sua vez,
deve buscar aproximar-se das partes para melhor conhecer o conflito a ser
solucionado.
A justiça das decisões seria o terceiro óbice, que pode ser vencido se o
julgador se pautar em critério de justiça ao apreciar as provas e quando se
deparasse entre duas interpretações buscasse a que produzisse resultado mais
justo “ainda que a vontade do legislador seja em sentido contrário” (DINAMARCO;
GRINOVER; CITRA, 2007, p. 41). Quando o magistrado compreende as normas
processuais partindo dos preceitos fundamentais da tutela jurisdicional efetiva, ele
passa a visualizar o direito sob o aspecto substancial, o que exige a adoção de
técnicas processuais idôneas e capazes de proteger eficazmente o direito material.
Um último ponto colocado pelos autores como desfavorecedor da efetividade
do processo seria a própria efetividade das decisões. Pois, partindo-se da idéia de
que “todo processo deve dar a quem tem direito tudo aquilo e precisamente aquilo
que ele tem o direito de obter” (DINAMARCO; GRINOVER; CITRA, 2007, p. 41) o
julgador deve utilizar-se dos mecanismos processuais permitidos para revestir a sua
decisão de efetividade, utilizando-se dos meios executivos adequados e, assim,
25
estimular o seu comprimento voluntário, o que concorreria para a rapidez no
cumprimento da obrigação imposta.
A seguir verá-se como o movimento constitucional procurou efetivar o acesso
à justiça.
1.5 O MOVIMENTO CONSTITUCIONAL DO ACESSO À JUSTIÇA
As premissas que asseguram o acesso a uma ordem jurídica justa, assim
como os demais direitos e garantias fundamentais do sujeito, estão dispostas na
Constituição Federal, de forma que diversos são os instrumentos que podem ser
considerados como frutos de uma preocupação do legislador com ordem justa. Eis
alguns exemplos contidos no art. 5 da Constituição Federal:
...XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;...LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;...LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;...LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação;
A nossa Carta de 1988, também conhecida como Constituição Cidadã, surgiu
em um contexto de redemocratização pós ditadura militar, assim justificam os
doutrinadores o rol extenso dos direitos fundamentais, que devem ser lidos como:
[...] uma estrutura normativa eminentemente principiológica, aberta, demandando de seus aplicadores estratégias hermenêuticas capazes de conferir-lhes concretude e densidade. (TEIXEIRA, 2008, p. 92)
O legislador constituinte ainda reservou um capítulo à disciplina da
organização e do funcionamento do Poder Judiciário. Percebe-se que sua intenção
era dar um desenho institucional abrangente, especializando tematicamente o
26
Judiciário e estabelecendo normas de administração aptas a revestir de uma
autonomia compatível com as tarefas delineadas pelo novo texto constitucional
(SANTOS, 2007).
Vivemos o que Barroso (2007) chama de dualidade processual entre o direito
e a realidade. Ele explica que existe “uma crença desenganada de que no
receituário legislativo existem remédios para todos os males” (p. 49). Essa crença,
amplamente divulgada em nossa sociedade, provoca uma verdadeira explosão de
litígios que pressiona o Poder Judiciário para dar soluções às demandas que lhes
são postas.
Naline (2000) afirma que o ponto de partida para que haja um sistema jurídico
justo acessível a todos, ou pelo menos a maior parte da população, deve ser a
Constituição, posto que ela institui o Estado, organizando-o politicamente, trazendo
os preceitos fundamentais que dão forma e caráter aos sistemas processuais,
definindo os direitos fundamentais das pessoas e traçando os fins públicos a serem
alcançados.
A Constituição em vigor trouxe-nos outros tantos preceitos que tentam
favorecer o “acesso de todos os homens ao benefício da justiça” (NALINI, 2000, p.
42). Ao estabelecer os objetivos fundamentai da República Federativa do Brasil (art.
3 da CF) procurou-se materializar valores que exige do Estado uma postura social e
ética na efetividade de suas normas.
Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;II – garantir o desenvolvimento nacional;III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Vê-se também que a elevação dos princípios processuais a princípios
constitucionais foi uma opção pela valorização do Estado como pacificador social.
Essa postura constitucional surge da gradativa consciência de que tal proteção era
necessária para a promoção do acesso à justiça, de forma que os:
Valores humanos contidos nas garantias constitucionais do contraditório e do devido processo legal e necessidade de tratar o processo, sempre, como autêntico meio de acesso à ordem jurídica justa. (DINAMARCO; GRINOVER; CITRA, 2007, p. 50)
27
Essa nova postura também nos mostra que é preciso conhecer a realidade
social que fomentou o surgimento das inovações legislativas processuais trazidas
não só pela Constituição, mas também pelas normas infraconstitucionais, até
porque:
O desconhecimento das relações do texto legal com os valores que estão na sua base não apenas gera sua aplicação fria e descomprometida, como ainda conduz a uma leitura ‘redutiva do novo’, pois tendente a ver na nova lei o que existia na antiga. (MARINONI, 2008, p. 75)
Naline (2000) explica que a partir da adoção dessa nova postura foi possível
localizar “pontos sensíveis” do processo e a partir desses pontos críticos procurou-
se definir as estratégias da reforma processual, dentre elas mereceu destaque a
legislação sobre pequenas causas, e, posteriormente a que instituiu os Juizados
Especiais, ação civil pública, as garantias constitucionais do mandado de segurança
coletivo, da assistência judiciária gratuita entre outras.
O próximo capítulo tratará de particularizar os Juizados Especiais, objeto do
presente estudo, posto que ao final deste buscará responder se a criação dos
Juizados Especiais contribuiu para a efetivação do acesso à justiça em seu aspecto
substancial.
O caminho a ser seguido para a derrubada dos obstáculos econômicos e
sociais existentes entre a população com menor poder econômico e a Justiça,
passava por reformas processuais. Assim buscou-se na relativização das formas,
desenhar a efetividade do processo para que tornasse um meio efetivo de acesso à
justiça.
A instituição de outros direitos na Carta Constitucional de 1988, como o direito
de petição em defesa dos direitos, a inafastabilidade do controle jurisdicional de
qualquer lesão ou ameaça de direito, o direito de se ter um processo julgado e
sentenciado por autoridade judiciária competente, com a exigência do contraditório e
da ampla defesa, a prestação jurídica gratuita e integral aos que comprovarem
insuficiência de recursos, os remédios constitucionais, etc, foram uma nítida opção
da sociedade pela ampliação das vias de acesso ao judiciário, confiando a este a
solução de seus problemas mediante a aplicação do direito ao caso concreto
(NALINE, 2008).
28
Neste contexto, o nosso constituinte inicialmente criou os Juizados de
Pequenas Causas, o qual trazia novo contorno processual, permitindo-se a
aproximação da população à atividade jurisdicional do Estado. Tal experiência, como
verá mais adiante, obstante o sucesso alcançado, foi uma atitude tímida frente à
demanda existente.
O capítulo seguinte mostrará que o Juizado de Pequenas Causas iniciou o
processo de ruptura da denominada ‘litigiosidade contida’, pois o novo sistema atraiu
uma grande massa populacional que procurava solução para seus conflitos de
interesses, resistidos ou insatisfeitos, que até aquele momento não haviam sido
levados ao Judiciário em virtude da realidade forense daquele momento histórico.
Buscará, ainda, se mostrar no capítulo a seguir as mudanças de atitude,
processualmente falando, provocadas nos operadores do direito em direção à
promoção do acesso à justiça, em especial, a promoção do acesso da população
que não podia arcar com os custos inerentes ao processo à atividade jurisdicional do
Estado.
29
2 OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS
Este capítulo foi construído mediante estudos na doutrina específica com o
fito de traçar a evolução dos Juizados Especiais, desde a criação dos Conselhos de
Conciliação e Arbitramento até a edição da Lei nº. 9.099/95, com a finalidade de
discernir se tal instituto contribuiu para a promoção do acesso à justiça no aspecto
substancial, será examinado também seus princípios norteadores.
2.1 A GÊNESE DOS JUIZADOS ESPECIAIS
Como vimos no capítulo anterior, embora a Constituição de 88 houvesse
trazido inúmeros princípios que objetivavam o acesso à justiça, o panorama
processual brasileiro vivia uma outra realidade, a Justiça não se mostrava acessível
à camada menos favorecida economicamente, a burocracia, o alto custo do
processo com custas e advogados, a demora processual além de contribuir para o
descrédito da Justiça, faziam com que muitos deixassem de buscar no judiciário a
solução de seus problemas cotidianos.
Inicialmente, a aplicação da filosofia que hoje rege os Juizados Especiais,
segundo Andrighi (1990), deu-se isoladamente em alguns Estados de nossa
federação. Contemporaneamente iniciou-se projetos no sentido promoverem o
efetivo acesso à justiça, merecendo destaque as experiências da Comarca do Rio
Grande/MT onde se implantou o atendimento noturno na sede do Fórum a
comunidade, em especial àquelas pessoas com poucos recursos financeiros que
não podiam arcar com as custas judiciais, nem tão pouco com pagamento de
honorários advocatícios, como forma de promover o acesso daqueles que
trabalhavam durante o dia e só dispunha daquele horário para “bater” as “portas” do
Judiciário, assim buscava-se oferecer uma Justiça acessível, informal, célere e
eficiente.
Com os primeiros frutos, o pequeno grupo de magistrados ganhou apoio da
Associação dos Magistrados do Rio Grande do Sul - AJURIS, e do próprio tribunal,
sendo em vinte e três de julho de 1982 instalado naquela comarca um primeiro
30
Conselho de Conciliação e Arbitramento – CCA, uma experiência informal inspirada
em experiências alienígenas da Inglaterra (summons for directions) e dos Estados
Unidos (na pré-trial conferencese), sendo neste último, mas especificamente na
cidade de Nova York, surgido, em 1932, os Juizados de Pequenas Causas.
(ANDRIGHI, 1990)
Segundo Fabrício (2001) escolhia-se, dentre bacharéis de direito com larga
experiência forense, um número variável de árbitros para compor cada conselho,
ficando este sob a coordenação de um Juiz de Direito, que não atuava junto as
partes, apenas fazia uma preleção no início dos trabalhos, que se realizavam
durante à noite nas dependências do prédio do Foro. A condução dos acordos era
reservado aos conselheiros, que reduzia o acordo com a presença de duas
testemunhas para revesti-lo de natureza executiva.
O reflexo desse pioneirismo foi a edição da Lei 7.244/84, que facultou a
instituição dos Juizados de Pequenas Causas em todo território nacional. Foi uma
solução encontrada naquele momento para amenizar a curto prazo os efeitos
políticos, sociais e econômicos da falta de acesso da população mais carente ao
Poder Judiciário, por isso os Juizados de Pequenas Causas chegaram a ser
conhecidos como “a justiça dos pobres”.
Porém, a facultatividade da criação dos Juizados Especiais pelos Estados fez
com que várias Unidades Federativas deixassem de criar e instalar os Juizados
Especiais. Somente com a edição da Lei 9.099/95 veio a substituição da
facultatividade pela obrigatoriedade, entretanto “alguns Estados da federação, após
decorridos mais de dez anos da edição da Lei em comento, sequer tiveram a
preocupação de elaborar e enviar algum projeto de lei à respectiva Assembléia
Legislativa” (FILGUEIRA JÚNIOR, 2007, p. 68).
Segundo Chiment (2003) os Juizados de Pequenas Causas funcionavam
dentro das varas já existentes da justiça comum, utilizando-se das mesmas
estruturas dessas, sendo presidido pelo Magistrado da vara ou seção vinculada,
baseava-se, entretanto, em um procedimento diferenciado, especialíssimo e
optativo. Neste modelo, já existia a figura do conciliador como responsável por um
trabalho prévio voltado para a conciliação.
A competência do então Juizado de Pequenas Causas - JPC era definida
eminentemente pelo critério econômico, assim várias causas foram direcionadas aos
31
Juizados por se enquadrarem no requisito de “pequeno valor”, entretanto eram
causas que envolviam uma certa ou grande complexidade.
Sobre o uso da expressão “pequenas causas” temos que não existem
demandas grandes ou pequenas porque:
Para a pessoa de modestas condições econômicas, a sua 'causa' o seu interesse em conflito, o seu direito ao bem da vida ameaçado ou violado, embora de pequeno valor do ponto de vista macroeconômico, é para ela, individualmente, causa de grande, e não de pequeno valor (MALACHINI, 1993, p. 54).
Segundo Fux (1999) essas incoerências conceituais e procedimentais
contribuíram para a falência daquele modelo, que não conseguiu oferecer um
acesso qualitativo à justiça, deixando a sociedade, em especial os cidadãos
economicamente desfavorecidos desacreditados com o Juizado de Pequenas
Causas. Diante de todas essas críticas o legislador revogou a Lei dos Juizados de
Pequenas Causas e instituiu através da Lei nº. 9.099/95 os Juizados Especiais
Cíveis e Criminais - JECC.
Cumpre ressaltar que os JECC’s não foram criados com o escopo de resolver
a crise da justiça, foi antes de tudo um avanço constitucional em direção à
democratização da justiça, o cumprimento de uma promessa constitucional de
acesso à justiça a todos de forma isonômica. Para tanto, a Lei dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais institui um microssistema “de natureza instrumental e
de instituição constitucionalmente obrigatória destinado à rápida e efetiva atuação do
direito” (FILGUEIRA JÚNIOR, 2007, p. 43).
Esse avanço constitucional veio atender aos antigos anseios da população
menos abastada de se ter a sua disposição a possibilidade de se recorrer a uma
ordem jurídica justa, isto é, “uma justiça apta a proporcionar uma prestação de tutela
simples, rápida, econômica e segura, capaz de levar à liberação da indesejável
litigiosidade contida.” (FILGUEIRA JÚNIOR, 2007, p. 45)
A Lei 9.099/95 ampliou consideravelmente as inovações trazidas pela antiga
Lei nº. 7.244/84, Fux (1999) destaca várias delas, a primeira grande inovação foi o
alargamento dos poderes do magistrado na condução do processo, como por
exemplo, a participação na produção de provas nos termos do art. 5º. Uma outra
inovação trazida pela referida lei foi a possibilidade de o Juiz desconsiderar os
efeitos da revelia conforme sua convicção.
32
O autor ainda explica que essa ampliação de poderes teve como objetivo
melhorar o funcionamento da justiça, uma vez que essa ampliação de poder também
implicava em aumento de responsabilidade do magistrado. Em um outro trabalho, o
mesmo autor mostra que com esse aumento de responsabilidade veio junto a
exigência de uma nova postura do magistrado que atua no Juizado, posto que “na
medida em que o juiz deixa de ser um mero espectador e passa a influenciar
diretamente na solução do conflito, cresce também o seu compromisso e a sua
responsabilidade pelo bom funcionamento da Justiça.” (FUX, 1997, p. 8)
Nessa nova postura inclui-se a postura de juiz conciliador, juiz ouvidor, que
esteja pronto para ouvir as partes com os seus posicionamentos, com humildade
suficiente de mudar, se necessário, o seu linguajar para se fazer entender pelas
partes, para que estes se sintam seguros o suficiente para acreditar que foram
tratados de forma isonômica e, agora, tem um canal de acesso à justiça.
Dentre essas mudanças de postura do magistrado, Carlin (2004) coloca que a
postura conciliadora é mais importante posto que um dos principais objetivos dos
Juizados Especiais é a solução rápida da lide de forma negociada, que é a mais
econômica para as partes e a que traz mais paz de espírito posto que não há parte
vencedora nem parte perdedora, ambas decidiram por aquela solução dada ao caso
concreto trazido à justiça.
Desde a criação dos Juizados de Pequenas Causas já havia sido instituído no
microssistema dos Juizados o instituto do Ius Postulandi. Trata-se da possibilidade
de as partes postularem nos Juizados Especiais, nas causas até vinte salários
mínimos, sem a necessidade de assistência de advogado. Embora muito criticado
pela Ordem dos Advogados do Brasil, não se pode negar que esse foi o principal
atrativo para que a camada mais carente da população recorresse ao Poder
Judiciário para solucionar seus problemas do dia a dia.
Sem dúvida a possibilidade de as partes poderem ir pessoalmente às
secretarias dos Juizados Especiais e formularem seus pedidos, de impulsionarem
seu processo com o auxílio dos conciliadores e serventuários, é um grande atrativo
para a população em geral, é bem verdade que o número de conciliadores e
serventuários ainda está aquém do necessário, porém deve-se despertar não só nos
operadores do microssistema do Juizado, mas em toda a estrutura do Poder
Judiciário, a certeza de que os Juizados Especiais não é só a “Justiça do Momento”,
é, antes de tudo, a Justiça do Futuro.
33
Por fim, ainda tratando das inovações trazidas pela lei que institui os JECC’s,
temos à separação das funções de conciliador e julgador, essa mudança se fez
necessário uma vez que experiência da junção das duas funções na pessoa do
magistrado nos moldes da Lei nº 7.244/84 não obteve o sucesso esperado, isso
porque “a reunião dessas duas funções em um mesmo órgão faz com que ou o
conciliador imponha a sua vontade, ou o julgador ceda a vontade das partes.” (FUX,
1999, p. 10)
Todas essas inovações processuais se pautaram em princípios inovadores
trazido pela Lei dos Juizados Especiais. No próximo tópico abordar-se-ão os
princípios formadores da filosofia trazida pelos Juizados Especiais.
2.2 PRINCÍPIOS
Como dizemos anteriormente, o foco principal dado ao acesso à justiça é o
substancial. Sendo assim, os princípios processuais serão tratados como
instrumentos concretizadores desse enfoque. A seguir será verificado como a
aplicação de tais princípios contribuiu para promover o acesso à justiça dos
jurisdicionados abrangidos pela competência dos Juizados Especiais Civis da
Comarca de Natal, em especial os da zona norte.
Embora o legislador no artigo 2 tenha trazido a expressão “critérios
orientadores”, na verdade o referido artigo trouxe verdadeiros princípios gerais
orientadores dos processos nos Juizados Especiais, que devem, portanto, reger o
intérprete da lei, visto que expressam seu objetivo maior, que é o de permitir que a
maior parte da população brasileira possa se beneficiar dos serviços do Poder
Judiciário, e que estes sejam capazes de resolver seus problemas cotidianos, antes
relegados ao esquecimento devido a grande dificuldade de se ter acesso à justiça,
em seu aspecto substancial.
Os princípios funcionam como espelhos que refletem os valores sobre os
quais devem repousar a interpretação do direito e estão providos de um elevado
grau de generalidade, que a partir da via interpretativa atinge um alto grau de
indefinição, orientando a interpretação das regras jurídicas.
34
Sendo assim para compreender como os Juizados Especiais buscaram
efetivar o acesso à justiça, faz-se interpretar os princípios norteadores dos Juizados
Especiais, quais sejam: Oralidade, Simplicidade, Informalidade, Economia
Processual e Celeridade, à luz do princípio do acesso à justiça substancial.
a) Princípio da Oralidade
Pelo princípio da Oralidade temos a prevalência da palavra falada sobre a
verbal. Seria “a exigência precípua da forma oral no tratamento da causa, sem que
com isso se exclua por completo a utilização da escrita.” (FILGUEIRA JÚNIOR,
2007, p. 74)
Filgueira Júnior (2007) afirma que tal princípio desmembra-se em outros
princípios, todos aplicáveis aos Juizados. O primeiro seria o Princípio do
Imediatismo. Por este princípio o juiz deve colher diretamente a prova, mantendo um
contato direto e dialogado com os litigantes, para assim facilitar uma composição
amigável e, não sendo possível, promover o convencimento necessário para decidir
a lide.
Um segundo desmembramento do princípio da oralidade seria o princípio da
concentração, que seria a prática do máximo de atos na audiência, com vistas a
reduzir o tempo de duração do processo e maximizar os atos processuais. Aplicam-
se ainda nos Juizados, em decorrência do princípio da oralidade, o princípio da
Imutabilidade do juiz, pelo qual o magistrado deve conduzir pessoalmente o
processo desde o seu início até a fase final.
Por fim, temos o princípio da Irrecorribilidade das decisões, segundo Filgueira
Júnior (2007) este princípio busca evitar a paralisação do feito, porém para
resguardar que nenhuma parte seja lesionado, o legislador permitiu a impetração de
agravo de instrumento ou mandado de segurança de forma excepcional quando
ocorrer a prolação de alguma decisão interlocutória ou outra que resultar em dano
irreparável ou de difícil reparação.
Observando o disposto no art. 2º da Lei dos Juizados Especiais extraímos
que se deve haver o predomínio das manifestações orais sobre as escritas. Tal
assertiva é comprovada não só na possibilidade de se fazer o pedido oral, a prática
do ajuizamento de ações nos JECC’s do Estado do Rio Grande do Norte, e dentre
eles, o do Juizado Especial Civil da Zona Norte, é disponibilizar aos jurisdicionados
35
um setor de ajuizamento, com servidores disponíveis para reduzir a termo o pedido
oral da parte demandante.
Este princípio revela a preocupação do legislador em permitir que o cidadão
comum entenda o que esta sendo dito e se faça entender, de forma a contribuir para
a derrubada da barreira social, posto que muitas pessoas não procuraram o Poder
Judiciário por temor ou vergonha de não conseguir entender o que está sendo
decidido.
Cumpre esclarecer que, embora o pedido inicial possa ser verbal e de forma
simples, pode ser indeferido caso não preencha os requisitos de admissibilidade
previsto no art. 295 do CPC, quais sejam:
I – quando for inepta;II – quando a parte for manifestamente ilegítima;III – quando o autor carecer de interesse processual;IV – quando o juiz verificar, desde logo, a decadência ou a prescrição (artigo 219, § 5º);V – quando o tipo de procedimento, escolhido pelo autor, não corresponder à natureza da causa, ou ao valor da ação; caso em que só não será indeferida, se puder adaptar-se ao tipo de procedimento legal;VI – quando não atendidas as prescrições do artigo 39, parágrafo único, primeira parte, e artigo 284.
Esta simplicidade da petição inicial nos JECC’s não dispensa outros requisitos
processuais como breve exposição dos fatos e dos fundamentos, o objeto e o
pedido, que poderá, entretanto, ser genérico conforme art. 14 da Lei dos Juizados.
Ainda concretizando a oralidade nos procedimentos dos JECC’s temos a
possibilidade de apresentação de contestação oral na própria audiência (art. 30),
que também deverá ser reduzido a termo. Há, ainda, na Lei dos Juizados Especiais
a previsão da possibilidade da outorga do mandado ao advogado na forma verbal
(art. 9).
A Lei dos Juizados Especiais estabeleceu, também, em seu art. 29 que é
dever do magistrado decidir de plano, na própria audiência, todas as questões que
possam interferir no prosseguimento do processo, entretanto permitiu-se a
postergação das demais questões para análise em sentença, tais mudanças
também foram decisivas para a efetivação da oralidade.
Importante ressaltar que, como nos JECC’s não se admite citação por edital,
é de suma importância da correta indicação do endereço, dessa forma a lei
determina que, caso haja alterações no curso do processo devem ser comunicadas
36
ao Juízo, sob pena de serem consideradas válidas as intimações enviadas para os
endereços anteriormente indicados conforme preceitua o art. 19, § 2º.
Quanto à produção de prova, temos que, nos Juizados, permite-se que as
testemunhas sejam intimadas ou trazidas espontaneamente pela parte interessada
na audiência de instrução e julgamento, podendo, entretanto, ser arrolada em
momento anterior para fins de intimação pelo Juízo. O teor das informações trazidas
pela testemunha não necessita ser reduzido a termo, entretanto poderão ser
gravadas em meios magnéticos (art. 13, § 3º).
Ainda preservando a oralidade temos a possibilidade de se opor embargos de
declaração (art. 49) ou até mesmo iniciar execuções na forma oral (art. 52), o que
poderá ser feito diretamente na secretaria dos JECC’s, como tem sido comumente
utilizado aqui no Estado.
As inovações trazidas pelo princípio da oralidade contribuíram para a
derrubada da barreira processual, posto que os procedimentos orais do Juizado
Especial aproximaram o cidadão do Poder Judiciário e fez com que a credibilidade
deste último aumentasse, uma vez que, agora, é possível adentrar as portas da
Justiça sem intermediação de advogado, falar o que está acontecendo, ter o seu
pedido levado ao julgador, compreende o que lhe é dito, e, assim, participar mais
efetivamente do processo, revelando assim, que, neste ponto, houve uma
contribuição para o acesso à justiça em seu aspecto substancial.
Com o avanço tecnológico vários Juizados, em especial os Juizados
Especiais do Estado do Rio Grande do Norte tem se utilizado de gravações de
audiências em arquivos de áudio e vídeo, o que, além de agilizar a realização da
mesma, confere uma autenticidade maior as suas decisões, uma vez que os
arquivos podem ser disponibilizados para as partes ou até mesmo para as Turmas
Recursais a qualquer momento.
b) Princípio da simplicidade e informalidade
Para Fux (1999) a simplicidade é instrumento da informalidade. Sendo assim,
utiliza-se da simplicidade para se alcançar a informalidade e assim atingir a
celeridade e a efetividade tão preconizada pelos Juizados Especiais. Neste
diapasão, o legislador estabeleceu que os pedidos deveriam ser formulados em uma
37
linguagem simples e acessível, podendo inclusive ser feito oralmente e reduzido a
termo por um servidor do Juizado conforme já expomos no art. 14. § 1º.
Merece destaque o cuidado que o legislador teve ao colocar expressamente a
necessidade de se utilizar uma linguagem simples e acessível nos Juizados, esse
dever de se fazer entender deve ser seguido em todo o processo, de forma que não
só os pedidos devem ser feitos de forma simples e acessível, todos os atos e em
especial a sentença devem seguir tal parâmetro de compreensão, pois muitas vezes
a linguagem forense não é compreensível para a maior parte da população, e deve
se ter em mente que a maior parte das partes que litigam nos Juizados Especiais
não tem o conhecimento jurídico suficiente para compreender determinadas
expressões tão comuns no meio jurídico tais como “citação”, “revelia”, “julgamento
antecipado”, “preliminares” e o tão falado “concluso”, que para os menos
esclarecidos chega-se a confundir com “terminado”, “acabado”.
E, como sustentamos no capítulo anterior, a condução do processo deve se
pautar sempre na busca da aproximação das partes à justiça, para que, assim, o
processo seja um canal de acesso à ordem jurídica justa, logo, vê-se que a adoção
dos princípios da simplicidade e da informalidade contribui para a efetivação do
acesso à justiça em seu aspecto substancial.
A fuga do formal e complexo faz-se para necessário para que a prestação
jurisdicional atenda o máximo de pessoas possíveis com o máximo de efetividade
esperada.
Da mesma forma a busca pela concretização do acesso à justiça em sentido
amplo deve, também, reger os operadores do direito que militam nos Juizados, em
especial advogados ainda presos as amarras do procedimento ordinário, bem como
aos auxiliares da justiça, que funcionam como mola propulsora desse sistema,
servindo de elo de comunicação entre todo o sistema, funcionando muitas vezes
como tradutores dos atos processuais praticados dentro dos autos para aqueles que
chegam aos Juizados desprovidos de assistência jurídica.
Ainda no bojo da informalidade, nos Juizados Especiais permite-se que nas
causas até vinte salários mínimos as partes compareçam pessoalmente ou por
prepostos, a justificativa, segundo Fux (1999), dessa limitação é que supõe-se que
nas causas acima deste teto as partes necessitem de ser assistidas por um
advogado, devendo, entretanto, o juiz, quando a causa recomendar, alertar as
partes da conveniência do patrocínio por advogado (art. 9, § 2º).
38
Com base nesse princípio se permite que o autor peticione nos autos sem a
necessidade de patrocínio de advogado para tanto, e é de suma importância a
capacitação dos servidores que atuam nos Juizados, vez que são eles quem
esclarecem as partes em geral todo o andamento processual indicando quais os
caminhos processuais a serem seguidos, isso ocorre porque grande parte das
partes que litigam nos Juizados Especiais não são conhecedores dos meandros
processuais nem tão pouco possuem capacidade econômica contratarem a
assistência jurídica de um advogado.
Mais uma vez verifica-se a intenção do legislador em derrubar as barreiras ao
acesso à justiça, neste último caso, especificamente a barreira econômica.
c) Princípio da economia processual
Fux (1999) explica que por esse princípio exige-se que o julgador dirija o
processo extraindo o máximo de resultados de um mínimo de esforço processual,
sempre zelando pela segurança jurídica e pelo contraditório e pela ampla defesa.
Decorre desse princípio a forma de comunicação dos atos processuais nos
Juizados Especiais Civil, em especial a citação, que deve ser feita primeiramente por
correios (art. 18), com aviso de recebimento e, somente não se efetivando tal ato, é
que se procede a citação por oficial de justiça.
O art. 19 da Lei 9.099/95 permite que as intimações dos atos processuais
sejam feitas por qualquer meio idôneo de comunicação, isto abre a possibilidade
para que as intimações feitas por telefone e até mesmo por e-mail, e esta forma de
comunicação tem sido uma das mais utilizada nas intimações dos atos processuais
nos processos virtuais, que tramitam pelo sistema Processo Judicial – Projudi,
instituído pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ, processos esses totalmente
eletrônico, já utilizado em quase todo o território nacional e em todos os Juizados
Especiais Cíveis do Estado do Rio Grande do Norte.
Para as partes a adoção da comunicação processual por e-mail se trata de
uma opção, porém para os advogados habilitados nos autos trata-se de
obrigatoriedade a intimação/notificação por esse meio, agilizando assim a
comunicação entre magistrado e parte, economizando recursos matérias e em
especial tempo processual, e essa economia de tempo representa uma maior
39
celeridade processual, uma vez que a demora processual pode inviabilizar o pedido
da parte ou ainda tornar a decisão meritória ineficaz.
Buscando ainda a economia processual, a Lei dos Juizados Especiais em seu
art. 13, § 2º permite que as comunicações dos atos processuais em outra comarca
só sejam feitas por carta precatória quando não for possível por outro meio de
comunicação.
Essa permissão é fundamental para a concretização da celeridade processual
posto que na expedição de uma carta precatória o tempo depreendido entre a
expedição da mesma e a resposta do juízo deprecante é infinitamente maior do que
a expedição do mesmo ato por correios mediante aviso de recebimento ou então
uma intimação por telefone, observando sempre que se algum ato não puder se
cumprido por outro meio idôneo, deve-se expedir a carta precatória.
Um exemplo da economia processual promovida por este procedimento de
comunicação pelos correios com aviso de recebimento, pode ser ainda maior se
considerarmos uma carta precatória enviada para outras comarcas no mesmo
estado que não dispõe de Oficiais de Justiça próprios e ficam a mercê de uma
central distribuidora do foro da comarca, ou então o tempo depreendido nas
comunicações judiciais entre as grandes comarcas como Rio de Janeiro ou São
Paulo.
A busca pela economia, aliada a informalidade própria dos Juizados
Especiais, permite ao julgador a prolação de sentenças concisas, dispensando-se o
relatório (art. 38), exigindo-se apenas um breve resumo dos fatos relevantes,
entretanto, devem estar presentes os demais elementos exigidos pelos art. 458 e
459 do CPC.
Ainda buscando-se atingir a economia processual a Lei dos Juizados
Especiais permitiu a cumulação de pedidos conexos (art. 15), a apreciação do
pedido principal e do pedido contraposto em uma só sentença (art. 17, parágrafo
único), a extinção do processo na hipótese de inexistência de bens penhoráveis do
devedor (art. 53, parágrafo único).
Por este princípio avalia-se que a Lei dos Juizados Especiais buscou reduzir o
ônus processual, pois se economizando o tempo de duração de um processo se
reduz a demora processual, que se revela em uma das mais pesadas barreiras
enfrentadas por aqueles que levam causas de pequena complexidade ou de
40
pequeno valor à justiça, já que para estes o ônus da demora processual se revela
mais insuportável.
d) Princípio da Celeridade (Princípio da efetividade)
A celeridade está intimamente ligada a efetividade do processo, posto que
uma justiça tardia pode ter seus efeitos diminuídos ou até mesmo não ter efeito
nenhum, gerando descontentamento entre as partes e descrédito por parte daqueles
que adentraram com um processo na justiça acreditando que esta seria a solução
mais correta.
Como mencionou-se no capítulo anterior, a efetividade do processo leva a
idéia de um sistema processual capaz de promover o acesso à ordem jurídica justa,
sendo assim, o presente princípio assume um caráter relevante para que o Juizado
Especial seja um canal de acesso à justiça em seu aspecto substancial.
Segundo Barroso (2007), essa incerteza acerca da efetividade das normas
em geral ocasiona uma disposição a desobediência da norma constitucional e a
principal razão seria que os preceitos já nascem condenados a ineficácia devido a
inviabilidade decorrente do próprio texto constitucional, seja por falta de condições
materiais para o seu comprimento ou porque a sociedade não tem interesse em
tutelar o bem juridicamente protegido.
Uma segunda razão que levaria a incerteza acerca da efetividade das normas
constitucionais seria que “o próprio poder constituído impede sua concretização, por
contrariar-lhe o interesse político” (BARROSO, 2007, p. 61). O autor lembra, ainda, a
constituição sintetiza uma composição entre diversas forças atuantes na sociedade,
cada qual representando interesses de cunho social diversos, e, geralmente as
disposições constitucionais são descumpridas por resistência dos setores
econômica e politicamente mais influentes.
Por efetividade podemos dizer que “significa, portanto, a realização do direito,
o desempenho concreto de sua função social” (BARROSO, 2007, p. 82).
Processualmente falando, podemos afirmar que efetividade seria a capacidade de o
processo atingir os fins para o qual foi criado. Em suma:
Desígnio maior do processo, além de dar razão a quem efetivamente a tem, é fazer com que o lesado tenha recomposto o seu patrimônio pelo descumprimento da ordem jurídica, sem que sinta os efeitos do
41
inadimplemento, por isso que compete ao Estado repor as coisas ao status quo ante, utilizando-se de meios de sub-rogação capazes de conferir parte a mesma utilidade que obteria pelo cumprimento espontâneo. (FUX, 1999, p. 93)
Ao estabelecer a celeridade como princípio processual a lei dos Juizados
Especiais buscou estabelecer mecanismos para que a efetividade processual se
tornasse uma realidade, dentre esses novos mecanismos destaca-se a designação
imediata de audiência de conciliação independente de distribuição ou despacho
inicial – art.16, diferentemente do que ocorre na justiça denominada comum.
Neste mesmo diapasão a lei permite que quando ambos os litigantes
busquem os Juizados deve-se desde logo proceder a audiência de conciliação (art.
17). Isso é possível porque a conciliação é a alma mor dos Juizados, de forma que o
acordo entre as partes pode ocorrer em qualquer fase processual, inclusive após a
sentença de mérito, mesmo que já tenha transitado em julgado.
Nos Juizados Especiais, o magistrado deve prolatar a sentença em audiência
nos casos em que houver ausência do demandado (art. 23). Exige-se dos
magistrados que atuam nos JECC’s uma postura condizente com a filosofia que
rege esse microssistema. Neste sentido, o juiz deve procurar reunir o máximo de
atos processuais em um só momento, por exemplo, depoimento das partes, colheita
de provas, saneamento do processo, alegações finais em uma só audiência tudo
conforme os art. 28 e 29 da Lei em comento.
A fase de execução nos juizados também deve se pautar na efetividade, para
tanto os magistrados devem lançar mão das medidas permitidas pelo ordenamento
jurídico para buscar dar efetividade às suas decisões, seja das obrigações de pagar
quanto as de fazer, para tanto devem se valer das multas, das execuções forçadas,
e dentre elas a penhora on-line, espécie de penhora em que o magistrado solicita ao
Banco Central, através de um sistema desenvolvido pelo Banco Central para esse
fim denominado de SISBACEN, pesquisa sobre a existência de numerários
existentes no CPF/CNPJ do devedor no montante da dívida deste junto ao credor.
Nesta pesquisa consultam-se todas as instituições bancárias do país e na
hipótese do Banco Central localizar algum numerário no CPF/CNPJ em que foi
emitida uma ordem de bloqueio, o juiz converte esse bloqueio em penhora e segue-
se a execução, intimando o executado para oferecer embargos.
42
Tal medida tem sido adotada com grande sucesso nos Juizados Especiais,
tendo em vista a agilidade de tal procedimento e a redução da ocorrência de algum
tipo de fraude por parte de algum credor, além de disponibilizar os Oficiais de Justiça
para a realização de outros atos, pois embora a penhora on line tenha sido utilizada
em grande escala pelos Magistrados que atuem nos Juizados Especiais, ainda
subsiste e, em boa parte das execuções nos Juizados Especiais Cíveis, a penhora
tradicional realizada pelo Oficial de Justiça.
Verifica-se que os princípios orientadores dos Juizados Especiais fortaleceu a
idéia de que o acesso à justiça deve se dar em seu aspecto substancial, pois
observando-se as facilidades que o microssistema dos Juizados Especiais Cíveis
Estaduais trouxe para o cidadão comum, em especial para aquele desprovido de
conhecimento jurídico, percebe-se que buscou-se derrubar as barreiras econômicas,
processuais e organizacionais.
No próximo capítulo, focaremos o estudo no Juizado Especial Cível da Zona
Norte da comarca de Natal/RN, buscando responder se este atingiu os objetivos
motivadores de sua existência, qual seja o de promover o acesso à justiça de forma
substancial na área de sua jurisdição.
43
3 OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ZONA NORTE
Neste capítulo tratou-se de buscar responder ao seguinte questionamento: o
Juizado Especial Cível da Zona Norte da comarca de Natal/RN atingiu o objetivo
motivador de sua existência, qual seja o de promover o acesso à justiça em seu
aspecto substancial, aproximando o cidadão comum da atividade jurisdicional do
Estado.
Os capítulos anteriores serviram de base teórica para responder à questão
acima. Para tanto, os conceitos de justiça, acesso à justiça, efetividade, utilizados
neste capítulo serão os esboçados nos capítulos anteriores. E para que o presente
trabalho atinja o valor social necessário a uma pesquisa científica, busca-se, sem a
intenção de esgotar o assunto, através dela, responder as questões trazidas não só
pelos doutrinadores, mas também pela sociedade, em especial os usuários do
Juizado Especial Cível da Zona Norte – Natal/RN em torno da efetividade desse
Microssistema nos dias atuais.
Ainda neste capítulo serão mostrados os resultados de duas pesquisas
documentais realizadas no Juizado Especial da Zona Norte e suas interpretações,
as quais serão detalhadas no decorrer da exposição do presente capítulo.
Prosseguindo neste caminho, cumpre-nos descrever a localidade na qual está
inserido o Juizado ora estudado, a Zona Norte da cidade de Natal/RN, bem como o
objeto da análise, o Juizado Cível da Zona Norte – Natal/RN.
A Zona Norte, oficialmente Região Administrativa Norte, foi criada pela Lei
Ordinária Municipal nº. 03878/89. É a maior dentre as demais regiões da Capital,
segundo o censo de 2000 do Instituto Brasileiro Geográfico e Estatístico - IBGE
possui cerca de 420.000 (quatrocentos e vinte mil) habitantes, correspondendo a
34% (trinta e quatro por cento) da população natalense, distribuídos pelos seguintes
bairros: Igapó, Lagoa Azul, Nossa Senhora da Apresentação, Potengi, Pajuçara,
Redinha e Salinas.
O Juizado Cível da Zona Norte iniciou suas atividades em 1996, um ano após
a promulgação da Lei dos Juizados. Analisou-se o processo n°. 001/99, primeiro
processo ajuizado em 11 de maio de 1996. Tratava-se de um pedido oral reduzido a
termo, no qual a parte autora informa que havia emprestado um veículo a uma
pessoa e, posteriormente, o seu veículo foi apreendido pelo Departamento de
44
Transito - DETRAN em virtude de um acidente de trânsito. A parte autora, diante dos
fatos narrados, pedia uma indenização por danos materiais no valor de R$ 600,00
(seiscentos reais); citada a parte contrária realizou-se audiência de conciliação em
22 de junho de 1996, chegando-se a um acordo homologado pelo então juiz Dr.
Franki Fernandes Coriolando.
Inicialmente, como nos demais Juizados da Capital, o juiz que no atuava
Juizado cumulava suas funções com a de outra vara, situação que, na Zona Norte,
perdurou até o ano de 2000, quando somente então foi nomeado um juiz titular para
atuar junto ao Juizado Especial Cível e Criminal da Zona Norte.
Posteriormente, a Lei Complementar nº. 165 de 28 de abril de 1999 que
regula a Divisão e a Organização Judiciárias do Estado do Rio Grande do Norte, em
seu art. 33 criou o Distrito Judiciário da Zona Norte, com a seguinte competência
territorial:
Art. 33. O Distrito Judiciário da Zona Norte abrange toda a região limitada pela margem esquerda do Rio Potengi, a partir do Oceano Atlântico até o eixo da Ponte de Igapó, início do limite com o município de São Gonçalo do Amarante; da ponte de Igapó, segue pelo eixo da estrada Natal – Ceará Mirim até o entroncamento da estrada de Extremoz, seguindo nesta até o km 16 da estrada de ferro e seguindo por esta até o sangradouro da lagoa de Extremoz, fim do limite com São Gonçalo do Amarante e início do limite com o município de Extremoz; do sangradouro segue pelo leito do Rio Doce em toda extensão, incluindo o leito seco, até encontrar o Oceano Atlântico, fim do limite de Extremoz, seguindo neste até a margem esquerda do Rio Pontengi, e às suas Varas.
Até dezembro de 2008, a Lei 165/99 previa apenas um Juizado Especial
Cível e Criminal para toda Zona Norte, entretanto uma intensa reforma legislativa
alterou a estrutura dos Juizados em todo o Estado e, conforme nova redação dada
ao art. 54, no Distrito Judiciário da Zona Norte ficou estabelecido o seguinte:
Art. 54...III - Juizado Especial Cível do Distrito Judiciário da Zona Norte – três Juízes de Direito denominados 1° a 3° Juízes de Direito do Juizado Especial Cível do Distrito Judiciário da Zona Norte, seqüencialmente.IV - Juizado Especial Criminal do Distrito Judiciário da Zona Norte - um Juiz de Direito denominado Juiz de Direito do Juizado Especial Criminal do Distrito Judiciário da Zona Norte
Primeiramente, verifica-se que houve o desmembramento do Juizado Cível do
Criminal e, agora, onde existia apenas a previsão de um magistrado para um
Juizado Cível e Criminal, passará a contar, só no Juizado Cível, com três juízes.
45
Tal medida foi uma grande iniciativa para promover a celeridade processual,
posto que, segundo dados colhidos no próprio Juizado Especial Cível da Zona Norte
– JEC-ZN, o mesmo possuía até dezembro de 2008 um acervo de 6.358 (seis mil e
trezentos e cinquenta e oito) processos ativos, para apenas um Juiz titular e
auxiliado por uma juíza substituta, sendo o primeiro respondendo principalmente
pelo Cível e a segunda pelo Juizado Especial Criminal e, ainda, do Juizado Especial
Cível e Criminal de Ceará- Mirim.
A situação dos magistrados no JEC-ZN é muito distante da considerada ideal
pela Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB, que, conforme divulgado na 1ª.
Pesquisa Sobre Condições de Trabalho dos Juizes realizada em janeiro de 2009,
seria de mil processos por Juiz.
ALVES (2009) destaca que senso de 2000 divulgado pelo IBGE mostra que a
Zona norte é a maior região administrativa da Capital, e, desde alguns anos, vive em
pleno crescimento, e que no ano 2005, a Secretaria Municipal de Urbanismo de
Natal – SEMURB, divulgou que, enquanto a cidade registrou uma taxa de
crescimento de 1,78 (um virgula setenta e oito), a Zona Norte registrou uma taxa de
crescimento de 3,54 (três virgula cinqüenta e quatro).
Conforme dito anteriormente, foram realizadas duas pesquisas documentais
no JEC-ZN, a primeira concentrou-se nos dados estatísticos mensais do mesmo
entre os meses de abril de 2008 a abril de 2009, colheram-se dados referentes ao
número de processos em andamento, número de ações ajuizadas, número de
audiências marcadas e realizadas e finalizadas com acordo, esclareça-se que as
referidas estatísticas foram realizadas pela direção daquele Juizado.
Comparando-se a taxa de crescimento da região com os dados sobre o
número de processos ativos daquele Juizado, extraídos da pesquisa acima descrita,
observou-se que o crescimento populacional e econômico da região acaba por
refletir no aumento da demanda no JEC-ZN, que embora conte com uma equipe de
servidores e magistrados comprometidos com a efetividade deste microssistema,
pode ser considerada como sendo uma demanda contida, se se considerar que a
estrutura disponível não atende a essa crescente demanda.
Fatores externos como o aumento da demanda e fatores internos como
estrutura insuficiente acaba por aumentar o número de processos ativos neste
Juizado, conforme se pode observar na evolução dos processos ativos entre o
período de abril/08 a abril/09:
46
Nº processos ativos
6138
6098
6150
6288
6497
6414
6442
6405
6358
6698
6516
6194
6075
abr/08
mai/08
jun/08
jul/08
ago/08
set/08
out/08
nov/08
dez/08
jan/09
fev/09
mar/09
abr/09
nº processos ativos
Fonte: Dados Estatísticos da Secretaria do Juizado Especial Zona Norte, maio/09
Gráfico 01: Número de processos ativos no JEC-ZN (abril/08 a abr/09)
Nos capítulos anteriores chegou-se à conclusão de que o aumento do número
de feitos por si só não demonstra o aumento de acessibilidade à justiça, se faz
necessário que as partes consigam através deles resolver os conflitos que sozinho
não conseguiram resolver, de forma simplificada, célere, segura e justa, pois só
assim o cidadão poderá ter um acesso à justiça de forma substancial. Segue-se na
análise dos demais dados obtidos para verificar se o JEC-ZN contribui para
promover o acesso à justiça em seu aspecto substancial.
Cumpre-nos esclarecer que em junho de 2008 o JEC-ZN passou a utilizar o
Projudi. O sistema processual eletrônico permite que ações sejam ajuizados por
advogados em seus próprios escritórios ou em qualquer outro local, tal fator também
contribuiu para o aumento de novas ações no JEC-ZN, uma vez que a distância
territorial da Zona Norte do centro da Cidade funcionava como uma justificativa para
alguns advogados que não queiram assistir causas que tramitavam naquele Juizado.
Entretanto, verificou-se que ainda é pequeno o número de ações ajuizadas
pelos advogados, grande parte são ajuizadas pelas próprias partes que procuram os
servidores locais para reduzir o seu pedido a termo, o que mostra que as partes
47
conseguem de forma oral e simplificada expor seus problemas e, assim, pleitearem
seus direitos, como se verá mais adiante no quadro 01.
Por ora, veja-se o número de ações ajuizadas no decorrer dos meses de abril
de 2008 a abril 2009.
Ações ajuizadas entre abril/08 e abril/09
360
287
201
102 98
290
368
233
100
236265
358332
abr /
08
ma i
/ 08
jun/
0 8
jul/0
8
ago /
08
set/0
8
out /0
8
nov/
08
dez/
08
jan/
0 9
fev/
0 9
ma r
/09
abr /
09
Nº Ações
Fonte: Dados Estatísticos da Secretaria do Juizado Especial Zona Norte, maio/09
Gráfico 02: Ações ajuizadas (abr/08 a abr/09)
Esclareça-se que a redução de ações ajuizadas nos meses de julho e agosto
se deu em virtude do período de implantação e adaptação do ajuizamento através
do sistema Projudi. Já a redução ocorrida no mês de dezembro se deu ao recesso
forense, 20 de dezembro a 06 de janeiro, previsto no art. 73 do Regimento Interno
do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte.
Repita-se que um efetivo acesso à justiça, do ponto de vista substancial,
permite que se reduza a distância entre o cidadão comum e o Poder Judiciário, de
forma que este último preste sua função jurisdicional de forma satisfatória, reduzindo
ao máximo a demora processual, sem olvidar das garantias constitucionais do
cidadão e do processo, posto que, conforme foi dito no capítulo 1, o processo é o
instrumento que o poder judiciário realiza a justiça, como tal, deve adequar-se aos
anseios sociais.
48
Por ser o único Juizado Cível da Zona Norte, observou-se que é grande o
número de ações de cobranças ajuizadas por pequenas e microempresas, algumas
delas contam com a assistência de advogado outras não, contudo ambas
movimentam um elevado número de ações.
Interpretou-se a situação observada à luz do que CAPPELETTI (1988)
denominou de “litigantes habituais”. Seriam pessoas que devido ao grande número
ações, reduzem o custo econômico destas, especializando-se naquele tipo de
demanda. Esta situação merece uma atenção especial dos operadores do sistema,
para que, não transforme o microssistema do Juizado Especial em “escritórios de
cobrança”, distorcendo assim a finalidade de sua criação, qual seja, proporcionar
uma rápida e efetiva atuação do direito para aqueles que, por terem um menor
potencial econômico, acabavam ficando com sua litigiosidade contida.
Constatou-se que o aumento do número de novas ações elevou o número de
audiências realizadas no JEC-ZN, tanto as de conciliação, como de instrução.
Verificou-se ainda que muitas das audiências marcadas não se realizaram, em
especial as de conciliação. Tal situação ocorreu, principalmente, em virtude da falta
de citação do réu, geralmente problemas relacionados ao seu endereço.
Considerando que grande parte dos jurisdicionados do JEC-ZN impulsionam
o seu processo sem a assistência de advogados, o que os levam a participar mais
ativamente dos seus processos. Entretanto, muitas vezes os mesmos se vem na
situação de parte mais frágil do processo, posto que as barreiras processuais ainda
se fazem presentes, por exemplo, por não permitir a citação por edital, pois, no
Juizado, se a falta de endereço se der na fase de conhecimento nada se pode fazer,
e se ocorrer na fase de execução pouco se pode fazer.
Voltemos aos números de audiências marcadas e realizadas durante o
período de setembro de 2008 e abril de 2009.
49
Audiências de conciliação - set/08 a abr/09
187
304
200
267
274
400
6
87
194 23
4
6
79
178
76 76
215
set/0
8
out/0
8
nov/
08
dez/
08
jan/
09
fev/
09
mar
/09
abr/0
9
Nº
de A
udiê
ncia
s
Audiências marcadas Audiências realizadasFonte: Dados Estatísticos da Secretaria do Juizado Especial Zona Norte, maio/09
Gráfico 03: Audiências de Conciliação marcadas e realizadas (set/08 a abr/09)
Sublinhe-se que o reduzido número de audiências nos meses de novembro
de 2008 e abril de 2009, deram-se em virtude de correição ordinária realizada
conforme Portaria nº. 486/08, de 26 de setembro de 2008 e nº. 074 de 06 de
fevereiro de 2009, nestas os conciliadores auxiliaram o magistrado na realização das
correições.
No capítulo 2 vimos que o Juizado Especial possui princípios específicos para
promover o acesso à justiça, todos voltados à promoção do acesso à justiça
substancial. Sendo assim, quando se permite que nos Juizados ajuíze uma ação de
forma oral e simplificada, procura-se promover o acesso à justiça no sentido amplo,
quando se permite que na audiência as partes tentem resolver a lide mediante um
acordo, esta se contribuindo para que se chegue a um resultado em que não haja
parte vencedora nem perdedora.
Diante da importância dos acordos dentro dos Juizados Especiais, analisou-
se o número de ocorrência dos mesmos, chegando-se a um pequeno percentual de
número de acordos, que, conforme veremos no gráfico 05, foi de 38% (trinta e oito
por cento). O resultado revela que ainda existe grande resistência entre as partes,
em especial grandes empresas, por exemplo, as de telefonia fixa e móvel, além da
50
distribuidora de energia elétrica local, de realizarem acordos e suas condições
econômicas permitem arcar com o ônus dessa demora.
Na realidade, o que acontece é que a parte suficiente da lide tem
conhecimento da demora processual e se utiliza de todos os instrumentos
processuais para aumentar essa demora, acentuando assim, neste ponto, a barreira
processual que dificulta o acesso à uma justiça célere, justa, enfim substancial.
Essa demora processual não coaduna com os princípios do Juizado Especial
nem com um processo célere, efetivo, capaz de promover o acesso à justiça em
sentido amplo, uma vez que, por não haver acordo, o feito segue para julgamento, o
que muitas vezes se delonga no tempo, provocando um descrédito do Poder
Judiciário, influenciando negativamente na decisão do cidadão procurar o Estado
para solucionar suas lides.
Observe-se agora a relação entre o total de audiências realizadas e o número
de acordos obtidos entre o período de setembro de 2008 a abril de 2009:
Relação entre as audiências realizadas e os acordos obtidos entre set/08 e abr/09
151
128
85
224 24
1
252
228
11
28
75
25 20
37 40
61
5
set/08 out/08 nov/08 dez/08 jan/09 fev/09 mar/09 abr/09
Total de Audiências realizadas no mês de referência
Total de acordos obtidos no mês de referência
Fonte: Dados Estatísticos da Secretaria do Juizado Especial Zona Norte, maio/09
Gráfico 04: Relação entre audiências realizadas e acordos obtidos (set/08 a abr/09)
Conforme afirmou-se anteriormente, grande parte das ações ajuizadas não
contam com a assistência jurídica de advogados, são as próprias partes que
impulsionam o processo, exigindo-se assim dos operadores locais o cumprimento de
todos os demais princípios dos Juizados, em especial o da simplicidade, seja nos
despachos e decisões.
51
Considerando que para se ter um efetivo acesso à justiça, deve a parte
participar efetivamente do processo. Termos complexos dificultariam a compreensão
do ato por parte das partes. Sendo assim, a prestação de informações acerca da
movimentação processual deve ser clara, repassada de forma compreensível, neste
ponto, observou-se que o JEC-ZN contribui para o acesso à justiça, posto que tanto
os magistrados quanto os servidores do JEC-ZN procuram se fazer entender, sendo
que estes últimos chegam a fazer uma breve explicação acerca dos tramites
processuais para que as partes possam compreender o que se passa em seu
processo.
Pela teoria do acesso à justiça substancial, quando as partes compreendem
o desenrolar de seu processo, há um estímulo à participação delas no feito,
instigando-as a se expressarem. Assim, o fato de as partes fazerem seus pedidos
oralmente, reduzindo-se a termo posteriormente, acaba por estimular a participação
delas mais ativamente no sentido de influenciar nas decisões judiciais.
Extrai-se que esse tipo de interferência contribui para tornar as decisões mais
efetivas e próximas da realidade da parte, tal efetividade passa a ser comprometida
quando, conforme foi dito anteriormente, em alguns casos, a demora processual
torna-se inevitável.
Diz-se inevitável, quando a parte demandada demora a ser citada por
constantes mudanças de endereço ou, ainda, quando a execução se delonga no
tempo em virtude das condições econômicas do devedor, que não dispõe de valores
em instituições bancárias, impossibilitando assim a penhora on line, ou não dispõe
de bens penhoráveis, frustrando também a penhora por oficial de justiça.
Na tentativa de combater a demora processual, e fundada no princípio da
economia processual e visando contribuir para o aumento da atuação jurisdicional
do estado, adotou-se nas audiências de instrução e julgamento realizadas no JEC-
ZN a gravação da mesma em áudio e vídeo, posto que se registra apenas o
essencialmente necessário, agilizando dessa forma a realização da mesma,
permitindo-se que se realize um maior número de audiências por dia, além de ser
uma excelente fonte de informações na hora da elaboração da sentença.
Celebra-se que as audiências gravadas aumentam a atividade jurisdicional do
Estado, porque reduzem o tempo das audiências sem perder a qualidade da
mesma, e, assim, realiza-se um número maior de audiências, agilizando-se a
solução da lide, contribuindo, dessa forma, para que as partes que adentraram as
52
portas da justiça consigam obter uma resposta do Estado a contento em um tempo
razoável, concretizando o aspecto substancial do acesso à justiça.
Conforme foi dito no início deste capítulo, se realizaram duas pesquisas
documentais, a primeira já tratada anteriormente e uma segunda que será tratada a
seguir.
Esta segunda pesquisa documental centrou-se em uma amostra de cem
processos do JEC-ZN, todos arquivados definitivamente no ano de 2008. Colheu-se
de cada processo a data do ajuizamento, o tipo de ação, o valor da causa, se as
partes demandada e demandante eram pessoas físicas ou jurídicas (pequenas e
microempresas), se estas possuíam advogados ou não, qual o tipo de sentença (de
mérito ou sem mérito, catalogando estas últimas em homologatórias, extinção por
abandono e extinção com base no art. 51 da Lei 9.099/95), a data da publicação
dessas sentenças, se elas foram cumpridas ou não, em caso positivo qual data e em
caso negativo qual o destino dado a elas, cuja planilha de coleta se encontra no
anexo C.
Após análise dos dados colhidos percebeu-se que, durante o período
analisado, a maior parte dos jurisdicionados que litiga no JEC-ZN são pessoas
físicas sem a assistência de advogados.
Autor Percentual Réu PercentualPessoa Física sem Adv. 62% Pessoa Física sem Adv. 45%Pessoa Física com Adv. 27% Pessoa Física com Adv. 07%Total Pessoa Física 89% Total Pessoa Física 52%Pessoa Jurídica sem adv. 01% Pessoa Jurídica sem adv. 00%Pessoa Jurídica com adv. 10% Pessoa Jurídica com adv. 48%Total Pessoa Jurídica 11% Total Pessoa Jurídica 48%Fonte: Dados Estatísticos da Secretaria do Juizado Especial Zona Norte, maio/09
Quadro 01: Mostra das partes que atuam no JEC-ZN
Ressalte-se que o grande número de réus com a assistência de advogados
(cinqüenta e dois por cento) ocorre exatamente porque são pessoas jurídicas, que
podem, portanto, arcar com o custo dessa assistência. Contudo, o percentual de
48% (quarenta e oito por cento) dos réus que adentram as portas do JEC-ZN sem
advogados é expressivo.
Após a pesquisa chegou-se à seguinte mostra de dados com relação ao
percentual dos tipos de sentença proferidas no JEC-ZN:
53
Mostra de sentenças proferidas7%
4%
11%
12%
12%
38%
16%Improcedente Extinto - incom petência territorial Extinto - des is tencia Extinto - Art. 51Procedente em parte ProcedenteHom ologatória de acordo
Fonte: Dados Estatísticos da Secretaria do Juizado Especial Zona Norte, maio/09
Gráfico 05: Mostra de sentenças proferidas
Durante todo o trabalho, defendermos que falar de acesso à justiça, é falar de
acesso à justiça substancial, de efetividade das decisões e não somente a
oportunidade dada ao cidadão de ingressar na Justiça, mas antes de tudo “sair” dela
com algum resultado satisfatório, tudo isso dentro de um prazo razoável.
Assevera-se neste trabalho que a demora processual acaba sendo uma
barreira ao acesso à justiça, porque produz na parte um desestímulo e um
descrédito na justiça. Ainda com o objetivo de responder se o JEC-ZN contribuiu
para a promoção do acesso à justiça no sentido substancial, procurou-se pesquisar
qual o destino final das ações que são ajuizadas no JEC-ZN a fim de detectar qual o
desfecho das ações que são ajuizadas naquele Juizado.
Verificou-se que 12% (doze por cento) das ações são extintas com base no
art. 51 da Lei 9.099/95, isto é, quando a parte autora falta a alguma audiência, o que
ocorre por “esquecimento” das partes ou por estas acharem que nada vai se
resolver e simplesmente não comparecem a audiência aprazadas, revelando assim
um descrédito na instituição, acabando por movimentar todo um aparato estatal com
aprazamento de audiência, intimação/citação das partes, disponibilidade de
conciliador ou juiz, para ao final o processo extinguir-se sem julgamento do mérito, o
54
que leva-nos a concluir que nestes 12% (doze por cento) não se fez presente o que
chamou-se de tutela efetiva do estado.
A pesquisa revelou ainda que 11% (onze por cento) dos autores desistiram da
ação antes mesmo de obterem uma sentença homologatória ou de mérito.
Considerando que foi detectado que no JEC-ZN ainda existe uma demora
processual considerável, pode-se inferir que esses 11% (onze por cento) não
conseguiram vencer algum tipo de barreira ligada ao tempo de duração do processo.
Por fim, este ponto da pesquisa revelou que, quanto às sentenças meritórias,
chegou-se ao seguinte resultado com relação ao destino das ações ajuizadas: 7%
(sete por cento) dos pedidos foram considerados improcedentes, 12% (doze por
cento) considerados procedentes e 16% (dezesseis por cento) procedentes em parte
como nos mostrou o gráfico 04.
Ainda na busca de saber se o JEC-ZN contribuiu para o acesso à justiça
substancial de forma efetiva, buscou-se examinar daquelas ações cujos autores
obtiveram alguma sentença com obrigação de pagar (incluía-se aqui as sentenças
homologatórias, as procedentes e as procedentes em parte), tendo portanto atingido
seu objetivo inicial, quantas foram cumpridas, e assim constatar se a prestação
jurisdicional do Estado se deu de forma efetiva, aqui considerada aquela que foi
concretamente cumprida pela parte contrária.
Para se obter o percentual de ações que tiveram uma resposta jurisdicional
do Estado, repita-se que foi considerado além das sentenças homologatórias de
acordo, as de improcedência, de procedência, de procedência em parte. Obteve-se
assim um percentual de 73% (setenta e três por cento). Diante deste resultado
afirma-se que 73% (setenta e três por cento) das ações ajuizadas no JEC-ZN
conseguiram ultrapassar, na fase de conhecimento, a barreira processual,
especialmente no tocante à demora processual, a econômica e a cultura.
Como a barreira ligada à demora processual foi a mais evidente, procurou-se
verificar o tempo médio para a prolação de uma sentença de mérito no JEC-ZN,
encontrou-se a média de 258,65 (duzentos e cinqüenta e oito vírgula sessenta e
cinco) dias, quase um ano, o que confirma que a demora processual é a barreira ao
acesso à justiça substancial mais estridente no JEC-ZN.
Com o intuito de verificar a efetividade das decisões prolatadas no JEC-ZN,
pesquisou-se dentre as sentenças com obrigação de pagar, 66% (sessenta e seis
55
por cento), conforme Gráfico 05, quantas foram efetivamente cumpridas. O resultado
encontrado encontra-se expresso no Gráfico 06 a seguir:
Motivo do arquivamento14%
56%
30%
Extinto por falta de bens do devedor
Cum prim ento da obrigação
Abandono da causa pelo autor
Fonte: Dados Estatísticos da Secretaria do Juizado Especial Zona Norte, maio/09
Gráfico 06: Mostra dos motivos de arquivamento dos autos com sentenças de
obrigação de pagar
Ao final da pesquisa auferiu-se que 56% (cinqüenta e seis por cento) das
sentenças com obrigação de pagar são cumpridas, as demais se tornam ineficaz,
seja em virtude da situação financeira do réu, como é o caso daquelas arquivadas
com base no art. 53 §4º, ou seja, por falta de bens do devedor (quatorze por cento),
seja em virtude da desistência da parte autora (trinta por cento).
Com esse resultado se percebe que dos 66% (sessenta e seis por cento) das
ações que venceram as barreiras processuais ao acesso à justiça, em sentido
amplo, somente 56% (cinqüenta e seis por cento) delas se tornaram efetivas, o que
revela que o JEC-ZN cumpriu em parte o seu papel de canal efetivo de acesso à
justiça substancial, posto que mesmo aqueles que ultrapassaram as barreiras
durante a fase de conhecimento, somente 56% (cinqüenta e seis por cento) delas se
tornaram efetivas, deixando os outros 44% (quarenta e quatro por cento) com
sentença ineficaz, que não condiz com acesso à justiça em sentido substancial.
56
4 CONCLUSÃO
Por tudo o que foi estudado no presente trabalho, observou-se que,
atualmente, quando se fala em acesso à justiça não se reporta mais à idéia de que
basta oportunizar ao cidadão, através de uma assistência técnica especializada, um
advogado ou defensor, a possibilidade de ajuizar algum tipo de ação para que seja
analisado o mérito de seu pedido.
Verificou-se que a moderna concepção de acesso à justiça vem sendo
construída a partir da premissa de que todo cidadão tem a oportunidade de
independente de sua condição sócio-econômica, recorrer ao Poder Judiciário para
que este solucione os conflitos que o mesmo não conseguiu resolver sozinho, de
forma simplificada, célere, segura e justa, independente de assistência de advogado.
Esta tem sido a concepção mais atual, sendo considerada como substancial, em
sentido amplo.
Identificou-se ainda que, se se considerar que para litigar na Justiça faz-se
necessário desprender recursos com advogados e custas processuais, temos que,
esses fatores, nas pequenas causas, acabam por funcionar como obstáculos ao
acesso à justiça em sentido amplo, isso porque esses custos se elevam quando o
processo se delonga no tempo, tempo esse que é mais oneroso para quem possui
menos recursos econômicos do que para aqueles que dispõem de recursos
financeiros para arcar com o ônus da demora processual.
Com isso, foi possível detectar que a existência de tais barreiras faz com que
uma parcela significativa da população, por não poder arcar com o custo do
processo, fica à margem da prestação jurisdicional do Estado. Com isso, tem-se
pessoas impedidas de adentrarem na porta do Poder Judiciário por possuírem
pouca ou nenhuma condição econômica.
Partindo do pressuposto de que o princípio do acesso à justiça visa promover
a aproximação da justiça do povo comum, de forma que ele possa recorrer ao
judiciário para resolver suas lides de forma mais ágil, eficaz e com a solução jurídica
devida, foi possível construir a idéia de que para se ter um verdadeiro e efetivo
acesso à justiça não basta criar mecanismos que permitam que um número maior de
pessoas entre com ações na justiça, é preciso que esse novo mecanismo permita
que o litigante, em especial os que possuem menores condições sócioeconômicas,
57
participem ativamente durante o processo de convencimento do Juiz com relação ao
direito pleiteado.
Neste caminho, conclui-se que é necessário criar um sistema em que as
partes entendam todo o desenrolar do processo, e assim possam exercer
plenamente o seu direito de ação, uma vez que no Estado Democrático de Direito
deve-se garantir a todos o efetivo acesso à Justiça, por nós entendido como sendo
acesso à ordem jurídica justa, o que significa que deve-se procurar implantar
mecanismos que sejam acessíveis a todos e produzam resultados justos e, só
assim, ter-se-á um acesso à justiça do ponto de vista substancial.
Constatou-se, ainda, a questão de que o acesso à justiça substancial envolve
várias facetas além da questão da efetividade do processo e que grande parcela da
população vive à margem da realidade jurídica e que, nos últimos anos, o Poder
Judiciário vem passando por uma crise de identidade profunda, originada,
principalmente, pela sua ineficiência em resolver os problemas que lhes são
impostos, deixando o Poder Judiciário cada vez mais desacreditado.
Contudo, embora os Juizados tivessem sido criados em meio a essa crise,
estes não foram criados com o escopo de resolver a crise da justiça, foi antes de
tudo um avanço constitucional rumo à democratização da justiça, ao cumprimento
de uma promessa constitucional de acesso à justiça a todos de forma isonômica.
Registre-se, ainda, que a Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais
instituiu um microssistema dotado de princípios específicos com o fito de
proporcionar uma rápida e efetiva atuação do direito, em especial para aqueles com
menor potencial econômico e que tinham sua litigiosidade contida.
Sendo assim, pode-se afirmar que os Juizados Especiais cumpriram em parte
a sua missão de aproximar o Poder Judiciário do povo, posto que, com relação às
barreiras que deveriam ser derrubadas, derrubou-se a barreira econômica, graças à
isenção do pagamento, ao menos em primeiro grau, de custas processuais, aliada à
possibilidade de se ajuizar uma ação até o valor de vinte salários mínimos sem a
assistência obrigatória de advogados.
Constatou-se que a instituição da simplicidade como princípio processual
contribuiu para a minimização da barreira cultural, posto que muitos que adentravam
em um processo de conhecimento ficavam impossibilitados de compreenderem o
que estava ocorrendo. Para atingir a derrubada total de tal barreira ainda se faz
58
necessário um avanço no sentido de promover na sociedade um maior
esclarecimento acerca de seus direitos.
Da pesquisa realizada no Juizado Especial Cível da Zona Norte situado na
comarca de Natal/RN, detectou-se um aumento de feitos nos últimos anos, o que
levou-nos a concluir que cada vez mais o cidadão tem procurado esse
microssistema para solucionar suas lides, em especial os que envolvem direito do
consumidor.
Tal resultado mostrou a necessidade de aumento de servidores qualificados
para dar efetividade aos princípios dos Juizados, em especial a celeridade, posto
que verificou-se que a demora processual tem se mostrado como uma barreira não
derrubada naquele Juizado.
Constatou-se também que, no universo estudado, o Juizado tem sido
bastante utilizado pelas pequenas e microempresas para cobrar dívidas de pequena
monta, que se fossem ajuizadas seguindo o procedimento da justiça comum se
tornariam inviáveis. Tal situação tem sido alvo de atenção por parte dos magistrados
que atuam no sistema, e merece ser investigado, posto que os Juizados Especiais
não podem se tornar extensão dessas empresas e funcionarem como verdadeiros
escritórios de cobrança.
Examinou-se, ainda, que o número de acordos realizados, naquele juizado é
pouco significativo, o que leva-nos a afirmar que, neste item, especificamente, não
se vê concretizado um dos principais objetivos dos Juizados, a conciliação,
modalidade de resolução de lide onde a resposta encontrada é mais satisfatória para
ambas as partes, posto que não há partes vencedoras e vencidas, já que a solução
encontrada foi de comum acordo.
Verificou-se mais uma vez a barreira processual relacionada à demora
processual ainda se faz presente naquele Juizado, inobstante a verificação da busca
constante dos servidores e magistrados para combater tal demora e assim derrubar
mais essa barreira ao acesso à justiça.
É de bom alvitre realçar o resultado no tocante ao percentual de feitos que
tiveram sentenças de mérito e homologatórias de acordo, neste trabalho
considerado como sendo aqueles que ultrapassaram as barreiras inerentes ao
processo. Chegou-se ao resultado de setenta e três por cento, um número
satisfatório, que não deve acomodar os operadores do sistema, e sim, aumentar a
conscientização de que o Juizado Especial é uma forma viável de se fazer justiça.
59
Destaque-se outro ponto da pesquisa, o índice de cumprimento das decisões,
que revela a efetividade das mesmas, Obteve-se um percentual de cinqüenta e seis
por cento, um número que expressa a resistência ainda existente na sociedade no
quesito cumprimento das decisões judiciais, revelando assim que o JEC-ZN cumpriu
em parte o seu papel de canal efetivo de acesso à justiça substancial posto que
mesmo aqueles que ultrapassaram as barreiras durante a fase de conhecimento,
somente cinqüenta e seis por cento delas se tornaram efetivas.
Por fim, visualizou-se que em virtude da filosofia dos Juizados Especiais abrir
oportunidades para o surgimento de soluções que vise promover o acesso à justiça,
verificou-se que os Juizados Especiais, aqui no Estado, tem adotado pequenas
atitudes que fazem a diferença, como a adoção do Processo Digital, o Projudi, que
devido ao seu grande sucesso no Juizado Especial Cível, em breve será estendido
ao Juizado Especial Criminal e ainda nas demais esferas do Poder Judiciário, posto
que tal sistema acaba por promover a celeridade processual, a economia
processual, o acesso ao processo e acima de tudo a transparência processual,
fatores que fortalecem a função jurisdicional do Estado.
60
REFERÊNCIAS
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1 ANCHIETA JÚNIOR, José de.; GODEIRO, Mara.; GABRIELLA, Nathália.; FARIAS, Sandro.
61
________. Portaria nº. 074 de 06 de fevereiro de 2009, que determina correição parcial no Juizado Cível e Criminal da Zona Norte entre os dias 01 a 30 de abril de 2009, publicada no Dje em 07 de fev de 2009.
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63
ANEXOS
64
ANEXO A – PROJETO DE PESQUISA
65
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE TERESA CRISTINA SOUSA DA PAZ ALVES
O JUIZADO ESPECIAL CIVIL – ZONA NORTE- NATAL/RN COMO CANAL DE ACESSO À JUSTIÇA SUBSTANCIAL
NATAL/ RN
2009
66
TERESA CRISTINA SOUSA DA PAZ ALVES
O JUIZADO ESPECIAL ESTADUAL CIVIL COMO CANAL DE ACESSO À JUSTIÇA SUBSTANCIAL
Projeto de Monografia apresentada como requisito de aprovação da disciplina de Monografia I, do Curso de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, sob a orientação da Profª Especialista Patrícia Moreira de Menezes.
NATAL/ RN2009
67
1. IDENTIFICAÇÃO SUMÁRIA DO PROJETO
1.1 TÍTULO (provisório):
O Juizado Especial Civil da Zona Norte – Natal/RN como canal de Acesso à Justiça Substancial.
1.2AUTORA:
Teresa Cristina Sousa da Paz Alves
1.3ORIENTADORA:
Professora Especialista Patrícia Moreira de Menezes
1.4INSTITUIÇÃO:
CURSO DE DIREITO/ CAMPUS DE NATAL
1.5PREVISÃO DE DURAÇÃO DA PESQUISA
1.5.1. Início: dezembro/20081.5.2. Término: Setembro/2009
68
2. OBJETO
Tema: Acesso à Justiça
Delimitação do Tema: O Juizado Especial Estadual Civil como canal de Acesso
à Justiça Substancial.
FORMULAÇÃO DOS PROBLEMAS
Problema A
Considerando que constituinte estabeleceu o acesso à justiça como princípio
constitucional, e que este pode ser estudado sob dois focos, um estrito, com sentido
jurídico e um outro, mais amplo que abarca o sistema social geral, deve-se buscar
qual a atual concepção do acesso à justiça.
Problema B
Partindo do pressuposto que existem barreiras que impedem a aproximação
de grande parte da população à Justiça, mais especificamente aos serviços
oferecidos pelo poder judiciário, se faz necessário identificar: existem barreiras para
que se promova o acesso à justiça?
Problema C
Se o princípio do acesso à justiça visa promover a aproximação da justiça do povo
comum, de forma que ele possa recorrer ao judiciário para resolver suas lides de
forma mais ágil, eficaz e com a solução jurídica devida, deve-ser diagnosticar: o que
seria o acesso à justiça substancial?
69
Problema D
Identificando que a questão de que o acesso à justiça substancial
envolve várias facetas além da questão da efetividade do processo e que
grande parcela da população vive à margem da realidade jurídica se faz
necessário compreender os objetivos da criação dos Juizados Especiais
Cíveis, sendo assim, cumpre-nos responder: Para que e para quem foram
criados os Juizados Especiais Cíveis?
Problema E
Descobrindo os objetivos da criação do Juizado Especial Civil, se faz
necessário responder: Esses objetivos foram alcançados? Realmente foram
derrubadas as barreiras existentes entre a população mais frágil economicamente
falando e o Poder Judiciário? Isto é, o Juizado Especial Civil promoveu o acesso à
Justiça àqueles que se encontravam impossibilitados de litigarem na justiça pelos
procedimentos anteriormente existentes?
70
2.4 FORMULAÇÃO DAS HIPÓTESES
2.4.1 Hipótese A:
A.1. O acesso à justiça deve ser analisado como sendo a oportunidade que
cada cidadão, independente de sua condição sócio-econômica, tem de ir até o
Poder Judiciário para que este solucione os conflitos que este não conseguiu
resolver sozinho, de forma simplificada, em um processo célere, seguro e justo,
independente de assistência de advogado.
A.2 O acesso à justiça deve ser entendido como sendo a oportunidade dada ao
cidadão para que este, através de uma assistência técnica especializada, um
advogado ou defensor ajuíze algum tipo de ação para que seja analisado o
mérito de seu pedido.
2.4.2 Hipótese B:
B.1. Litigar na Justiça é muito dispendioso, em especial nas causas de
pequeno valor econômico, seja pelo elevado custo com advogados, ou pelo
elevado custo das custas processuais, custo esse que se eleva quando o
processo se delonga do tempo, tempo esse que é mais oneroso para quem
possui menos recursos econômicos do que para aqueles que dispõem de
recursos financeiros para arcar com o ônus da demora processual. Sendo
assim, é possível visualizar tais fatores como barreiras à justiça, pois uma
parcela significativa da população, por não poder arcar com o custo do
processo, fica à margem desse serviço oferecido pelo Estado, com isso temos
pessoas impedidas de adentrarem na porta do Poder Judiciário por possuírem
pouca ou nenhuma condição econômica.
B.2. Hoje em dia muito se tem feito para facilitar o acesso à justiça, já não
existem a barreira com o custo de patronos tendo em vista a possibilidade de
ajuizar ação sem a necessidade de contratar um advogado para tal. Quanto a
participação da população de baixa renda na justiça, temos que, após o
advento da carta magna de 88 foi facilitado o seu acesso, o que nos mostra
71
que as barreiras que antes existiam, pelo menos no ponto de vista dos
seguidores de CAPPELETTI (1988) já não existem mais.
2.4.3 Hipótese C:
C.1 Para se ter um verdadeiro e efetivo acesso à justiça não basta criar mecanismo
que permitam que um número maior de pessoas entrem com ações na justiça, é
preciso que esse novo mecanismo permita que o litigante, em especial os que
possuem menores condições sócio-econômicas, participem ativamente durante o
processo de convencimento do Juiz com relação ao direito pleiteado, isto é, é
necessário criar um sistema em que as partes entendam todo o desenrolar do
processo, para só assim poder exercer plenamente o seu direito de ação, só assim
teremos um acesso à justiça do ponto de vista substancial.
C.2 Quando se cria um novo sistema processual ele é por si só rege o processo que
seguirá o seu rito, sendo assim, não há que se falar em acesso à justiça substancial
em um sistema como o dos Juizados Especiais, pois nele pretende-se aumentar o
número de pessoas que ajuízam ações, sendo esse o seu principal objetivo.
2.4.4 Hipótese D:
D.1. Nos últimos anos o Poder Judiciário vem passando por uma crise de identidade
profunda, originada, principalmente, pela sua ineficiência em resolver os problemas
que lhes são impostos, deixando o Poder Judiciário cada vez mais desacreditado.
Embora os Juizados tivessem sido criados em meio a essa crise, cumpre-nos
afirmar que estes não foram criados com o escopo de resolver a crise da justiça, foi
antes de tudo um avanço constitucional em direção à democratização da justiça, o
comprimento de uma promessa constitucional de acesso à justiça a todos de forma
isonômica. Para tanto, a Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais institui um
microssistema dotados de princípios específicos que lhe desse uma natureza
instrumental capes de proporcionar uma rápida e efetiva atuação do direito, em
especial para aqueles com menor potencial econômico.
D.2. Mesmo após o advento da constituição de 88, conhecida como uma das mas
cidadãs, vivenciamos uma crise na instituição denominada de Poder Judiciário. Esse
descrédito vem em especial do conhecimento da população da inércia do Poder
Judiciário em relação aos processos que lhes são postos para decisão. Tal crise não
foi superada até o presente momento, uma das soluções adotadas pelo legislador foi
72
uma mudança nas regras processuais para implementar os Juizados Especiais que
trouxeram consigo alguns novos princípios que tem como principal escopo
apresentar uma solução para a crise vivenciada pelo Poder Judiciário.
2.4.5 Hipótese E:
E.1. Partindo do pressuposto que a criação dos Juizados Especiais Cíveis foi a
concretização de uma promessa constitucional de acesso à justiça a todos de forma
isonômica, com o intuito de proporcionar uma rápida e efetiva atuação do direito em
especial para aqueles que tinham sua litigiosidade contida, temos que este cumpriu
com sua missão de aproximar o Poder Judiciário do povo, reduzindo as distancias
entre os mesmos. Para que tal objetivo fosse alcançado partiu-se da idéia de que as
barreiras processuais deveriam ser derrubadas. A primeira barreira derrubada foi a
econômica. Tal medida foi possível graças a isenção do pagamento, ao menos em
primeiro grau, de custas processuais, aliada a possibilidade de se ajuizar uma ação
até o valor de vinte salários mínimos sem a assistência obrigatória de advogados.
Com a instituição da simplicidade como princípio processual contribui para derrubar
a barreira encontrada por muitos que adentravam em um processo de conhecimento
e muitas vezes ficavam impossibilitados de compreenderem o que estava
ocorrendo, no Microssitema instituído pelos Juizados é possível a parte se
beneficiar, também, pela celeridade advinda da simplificação dos atos processuais,
simplificação esta que não comprometeu o devido processo legal.
E.2. As barreiras processuais que surgiram ao longo de nossa história advém,
principalmente, das diferenças sociais existentes em nosso pais. Sendo assim, para
que se litigue no Poder Judiciário é necessário que se depreenda uma série de
recursos econômicos, e acima de tudo conhecimento jurídico para trilhar os
caminhos processuais existentes. A constituição de 1988 criou os Juizados
Especiais todos de princípios processuais como Oralidade, Simplicidade,
Informalidade, Economia Processual e Celeridade. Contudo a eleição de tais
princípios como torres basilares do microssistema do Juizado Especial não foram
suficientes para romper as barreiras sócio-econômicas existentes entre o Poder
Judiciário e a população menos abastadas economicamente. O que se percebe é
que ainda hoje existem partes que litigam nos Juizados Especiais desprovidas de
assistência jurídica e, por isso, correm o risco de serem usurpadas de seu direito de
73
ação ou até mesmo de um justo processo, já que, quando se observa a qualificação
das partes, chega-se a conclusão em sua maioria litigam contra partes mais
preparadas juridicamente e com maiores recursos econômicos para arcarem com o
ônus da demora processual, ainda bem presente nos Juizados Especiais em todo o
pais.
74
3. JUSTIFICATIVA
Na sociedade democrática de direito, há que se preservarem princípios
mínimos para que seja possível exercer a democracia. Juntamente com outros
princípios basilares do direito, a nossa sociedade destacou alguns princípios
processuais como forma de garantir uma sociedade mais justa, dentre esses merece
destaque o princípio do acesso à justiça.
Em nosso país onde as grandes necessidades básicas não são satisfeitas,
onde os índices de exclusão social e pobreza são elevadíssimos, a questão do
acesso à justiça é da maioria e não da minoria, compreender a dimensão de tal
princípio é contribuir para que a sociedade exerça mais uma faceta da democracia,
posto que o acesso à justiça visa promover a aproximação dos cidadãos ao Poder
Judiciário, que por sua vez tem sido alvo de críticas por sua morosidade e pelo difícil
acesso.
Com isto, a atual prestação jurisdicional vivenciada em nossos tribunais, em
especial a dos Juizados Especiais deve ser alvo de estudo, principalmente neste
momento em que a sociedade vem reclamando a concretização de tal princípio
constitucional como pressuposto para que se tenha a garantia de sua dignidade.
O tema Acesso à Justiça pode ser estudado sob dois focos, um estrito, cujo
universo de estudo é o subsistema jurídico e um outro foco que abarca o sistema
social geral, denominado de substancial, e por alguns de acesso à uma ordem
jurídica justa.
A escolha do aspecto substancial do tema se justifica porque a questão do
acesso à justiça deve ser analisada não apenas do ponto de vista do acesso formal
aos tribunais, mas antes de tudo de um acesso a uma prestação jurisdicional
adequada a sua necessidade, onde haja, também, uma igualdade de oportunidades
ou igualdade de possibilidades à defesa dos direitos em juízo.
As dificuldades existentes para a consolidação do acesso à essa ordem
jurídica justa devem ser diagnosticadas e tratadas para que, só assim, sejam
sanado, ou pelo menos minorado, a questão dos litígios contidos, tão comuns em
nossa sociedade, que além de ser de massa, possui realidades econômicas tão
diferenciadas.
75
Por essa razão será feita uma pesquisa documental nos Juizados Especiais
da Zona Norte a fim de identificar as peculiaridades dessa Justiça Especializada, se
os seus princípios são efetivados e quais os principais tipos de demandas trazidas
pelos jurisdicionados.
O que se vê é que o tema ora proposto tem evidente relevância, não só pelo
ponto de vista doutrinário, mais especialmente pelo ponto de vista social. E para
que o presente trabalho atinja o valor social necessário a uma pesquisa cientifica,
busca-se, sem a intenção de esgotar o assunto, através dela, responder as questões
trazidas não só pelos doutrinadores, mas também pela sociedade, em especial os
usuários dos Juizados Especiais Cíveis em torno da efetividade desse
Microssistema nos dias atuais.
76
4. OBJETIVOS
4.1 OBJETIVO GERAL
Verificar as motivações o objetivos da criação dos Juizados Especiais
Cíveis no âmbito estadual através da Lei n 9.099/95, analisando se tal mecanismo
contribuiu para promover o acesso à justiça em seu aspecto substancial na Comarca
de Natal em especial nos Juizados Especiais Cíveis da Zona Norte.
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Objetivo A – Compreender, dentro do tema do acesso à justiça, a dimensão jurídica
e social do acesso à justiça em seu aspecto substancial, isto é, compreender o que
venha a ser acesso à uma ordem jurídica justa.
Objetivo B – Traçar, mediante estudos na doutrina específica, a evolução histórica
do Movimento pelo acesso à justiça, desde a criação dos Conselhos de Conciliação
e Arbitramento até os Juizados Especiais.
Objetivo C – Interpretar sociologicamente os princípios dos Juizados Especiais à luz
do princípio do acesso à justiça e seus impactos processuais.
Objetivo D – Verificar, através do estudo da Lei nº. 9.099/95, quais as facilidades
que o microssistema dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais trouxe para o cidadão
comum, em especial para aquele desprovido de conhecimento jurídico.
Objetivo E – Avaliar, após pesquisa bibliográfica e documental, se os Juizados
Especiais Cíveis Estaduais atingiram os objetivos motivadores de sua existência.
77
5 EMBASAMENTO TEÓRICO
Partindo do pressuposto que vivemos em um Estado Democrático de Direito,
e neste estabelece-se como prioridade a Justiça Social, que por sua vez é
assegurada pela atividade jurisdicional do Estado, temos que a garantia a todos de
um efetivo acesso à justiça assume uma caráter essencial.
E, quando o Estado reconhece como função principal a promoção dos valores
humanos como forma de eliminar os conflitos que afligem as pessoas ele pode ser
considerado como sendo um Estado Social.
Neste contexto, espera-se que o Sistema Judiciário ao solucionar os conflitos
não considere as partes envolvidas, e sim, adote a solução que seja socialmente
considerada a mais justa, uma vez que o efetivo aceso à justiça, hoje, está
intimamente ligado à noção de Justiça Social.
Dessa forma, o presente trabalho tem como marco teórico a discussão trazida
por CAPPELETTI (1988) sobre as finalidades básicas do sistema judiciário. Para ele
seriam as finalidades seriam basicamente duas: a produção de resultados
individualmente e socialmente justos e que este sistema seja igualmente acessível a
todos.
Muito se fala na morosidade e na ineficiência do sistema judiciário. Tal
realidade não é recente e nem isolada de um determinado país, por isso existem,
além das constituições de vários países, inúmeros tratados que colocam o acesso à
justiça como direito indeclinável a ser posto em prática de forma efetiva.
Neste contexto verificou-se que a garantia formal do acesso à justiça era
ineficiente para assegurar a todos os cidadãos o efetivo acesso ao Poder Judiciário
e que existem historicamente fatores sociais, econômicos, organizacionais e
processuais, que funcionam como barreiras a esse acesso. Barreiras essas que
devem ser conhecidas para então serem superadas.
CAPPELETTI (1988) enumerou três dificuldades básicas encontradas pela
população e que inviabilizam a busca pela justiça, tornando-a cada vez mais
inacessível, seriam elas as barreiras econômicas, organizacionais e processuais.
O referido autor nos ensina ainda que o enfrentamento dessas barreiras se
deu em três ondas: a Primeira onda se preocupou com o obstáculo econômico, mais
especificamente com a assistência judiciária, a Segunda onda tratou dos problemas
organizacionais, procurando implementar novas regras processuais objetivando
78
tutelar os interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Por fim, teríamos a
Terceira onda que focou especificamente o acesso à representação em juízo, mais
especificamente o acesso à justiça.
A terceira onda inovou em buscar mecanismos alternativos para promover o
acesso à justiça, chegando a falar em adaptação do processo civil aos tipos de
litígios, inclusive sugerindo a busca de soluções de conflitos fora do Poder Judiciário
através de métodos alternativos.
Após compreendermos as soluções dadas por cada uma das ondas para que
fosse facilitado o acesso à justiça sob o aspecto formal, se faz necessário
compreendermos que para que a justiça seja mais acessível é necessário criar leis
mais compreensíveis, aproximando o direito das pessoas comuns.
Um outro cuidado que se deve ter é de criar mecanismos processuais
modernos e eficientes sem abandonar as garantias fundamentais do processo,
garantidores de um processo com procedimento justo calcado no valor da justiça e
na efetivação do respeito à vida e à dignidade.
As premissas que asseguram o acesso a uma ordem jurídica justa, assim
como os demais direitos e garantias fundamentais do sujeito, estão dispostas na
Constituição Federal. Eis alguns exemplos:
Art5......XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;...LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acu-sados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;...LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;...LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegura-dos a razoável duração do processo e os meios que garantam a cele-ridade de sua tramitação;
A elevação dessas normas processuais a princípios constitucionais se deu em
virtude de que os princípios revelam os valores e os critérios escolhidos por uma
sociedade que deverão orientar a compreensão e a aplicação das regras instituídas
abstratamente diante das situações concretas. MARINONI (2008)
79
A condução do processo deve se pautar sempre na busca da aproximação
das partes à justiça, procurando ser o canal de acesso à ordem jurídica justa. E se
considerarmos que o ideal de pronta solução das demandas pelo judiciário não é
uma realidade, podemos observar que até a duração do processo pode ser um óbice
ao acesso a justiça, em especial quando se fala em acesso à uma justiça efetiva, por
isso que a constituição revestiu o processo de inúmeros princípios e garantias, para
que assim o processo possa ser um verdadeiro canal de acesso à justiça.
Quando se fala em efetividade do processo, estamos falando de um sistema
processual capaz de ser um caminho à ordem jurídica justa, e para isso devem-se
conhecer os objetivos a atingir e as barreiras econômicas e jurídicas a serem
superadas para se chegar ao livre acesso à justiça. Não podemos esquecer que
“para que haja o efetivo acesso á justiça é indispensável que o maior número
possível de pessoas seja admitido a demandar e a defender-se adequadamente”
(DINAMARCO; GRINOVER; CITRA, 2007, p.40)
Embora a constituição houvesse trazidos inúmeros princípios que
objetivavam o acesso à justiça, a realidade processual brasileira vivia uma outra
realidade, o Poder Judiciário não se mostrava acessível à camada menos favorecida
economicamente, seja pelo seu alto custo, seja pela demora processual de forma
que muitos deixavam de buscar no judiciário a solução de seus problemas
cotidianos.
Inicialmente criou-se no Rio Grande do Sul um CONSELHO DE
CONCILIAÇÃO E ARBITRAMENTO – CCA, que devido ao seu grande sucesso
inspirou a edição da Lei nº. Lei 7.244/84, e facultou, em seu art. 1º, a instituição dos
Juizados de Pequenas Causas em todo território nacional.
Foi uma solução encontrada naquele momento para amenizar em curto prazo
os efeitos políticos, sociais e econômicos da falta de acesso da população mais
carente ao Poder Judiciário, por isso chegou a ser conhecida como “a justiça dos
pobres”.
Porém essa facultatividade de criação dos Juizados Especiais fez com que
várias Unidades Federativas deixassem de criar e instalar os Juizados Especiais.
Somente com a edição da Lei 9.099/95 veio a substituição da facultatividade pela
obrigatoriedade, entretanto, “alguns estados da federação, após decorridos mais de
dez anos da edição da Lei em comento, sequer tiveram a preocupação de elaborar e
enviar algum projeto de lei à respectiva Assembléia Legislativa.” (FILGUEIRA
80
JÚNIOR, 2007, p.68).
A lei nº. 9.099/95 trouxe em seu corpo o seguinte texto:
Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível a conciliação ou a transação.
Embora o legislador tenha trazido como critérios orientadores, o art. 2 trouxe
verdadeiros princípios gerais orientadores dos processos nos Juizados Especiais,
que devem, portanto reger o interprete da lei, visto que expressam seu objetivo
maior, que é o de permitir que a maior parte da população brasileira possa se
beneficiar dos serviços do Poder Judiciário, e que estes sejam capazes de resolver
seus problemas cotidianos, antes relegados ao esquecimento devido a grande
dificuldade de se ter acesso à justiça, em seu aspecto substancial. São eles:
Oralidade, Simplicidade, Informalidade, Economia Processual e Celeridade.
Pelo princípio da Oralidade temos o predomínio das manifestações orais
sobre as escritas. Com relação ao princípio da simplicidade e da informalidade FUX
(1999) coloca que a primeira é instrumento da segunda. Sendo assim utiliza-se da
simplicidade para se alcançar a informalidade e com isso atingir a celeridade e a
efetividade tão preconizada pelos Juizados Especiais. Já o princípio da economia
processual exige-se que o julgador dirija o processo extraindo o máximo de
resultados de um mínimo de esforço processual, sempre zelando pela segurança
jurídica e pelo contraditório e pela ampla defesa.
Por fim temos o princípio da celeridade, também conhecido como princípio da
efetividade. Ao estabelecer a celeridade como princípio processual a lei dos
Juizados Especiais buscou estabelecer mecanismos para que a efetividade
processual torna-se uma realidade.
Em suma, criaram-se os Juizados Especiais com uma filosofia diferenciada
para que fosse possível concretizar uma promessa constitucional de promover o
acesso à justiça substancialmente falando a todos os cidadãos, em especial,
aqueles com pequeno poder econômico.
Porém se faz necessário verificar os objetivos motivadores da criação dos
Juizados Especiais foram atingidos e se suas atividades promovem a aproximação
dos cidadãos à Justiça, e se essa aproximação se dá de forma efetiva.
81
6. METODOLOGIA
O presente trabalho iniciar-se-á com uma pesquisa bibliográfica em livros,
artigos e teses que tratem do tema Acesso à Justiça e sobre Juizados Especiais,
mais especificamente o Juizado Especial Cível, na esfera estadual, regido pela Lei
9.099/95.
Também será desenvolvida uma pesquisa documental, em uma amostra em
um percentual a ser definido posteriormente, a fim de responder as questões
formuladas. Para tanto serão analisados uma amostra dos autos processuais
arquivados definitivamente entre os anos de 2007 e 2008 no Juizado Especial Civil
da Zona Norte.
Utilizaremos o método teleológico “cuja regra básica impõe que o objeto de
estudo seja compreendido sob a perspectiva de seus fins” (RODRIGUES, 1997, p.
4). Tal método servirá de base para uma análise crítica acerca do tema proposto, no
sentido de investigar se os objetivos dos Juizados Especiais Cíveis foram
alcançados e, em caso positivo, se estes contribuíram para efetivar o acesso à
justiça substancialmente falando.
Por fim, seguiremos as normas estabelecidas pela ABNT bem como as
diretrizes metodológicas estabelecidas no Projeto Político Pedagógico da
Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Norte.
82
7. ESTRUTURA DA MONOGRAFIA – PLANO PROVISÓRIO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 01 - Evolução Histórica do conceito de Justiça
1.1. A evolução do conceito de acesso à justiça
1.2. O acesso à justiça sob o aspecto substancial
1.3. Princípios Constitucionais Processuais ligados ao acesso à justiça.
CAPÍTULO 02 – Juizados Especiais Cíveis Estaduais
2.1. A Gênese dos Juizados Especiais
2.2. Princípios dos Juizados Especiais
2.2.1 Princípio da Oralidade
2.2.2 Princípio da simplicidade e Informalidade
2.2.3 Princípio da Economia Processual
2.2.4 Princípio da Celeridade (efetividade)
CAPÍTULO 03 – Realidade dos Juizados Especiais Cíveis em Natal – Zona Norte
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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8. CRONOGRAMA
TABELA DEMONSTRATIVA DO CRONOGRAMA 2008/2009
ATIVIDADE Dez/08 Jan/09 Fev/09 Mar/09 Abr/09 Mai/09 Jun/09 Jul/09 Ago/09
levantamento bibliográfico X X
leitura e fichamento X X
análise crítica do material X X X
revisão bibliográfica X X
primeira redação X X X
revisão e redação final X X X
apresentação à coordenação X
defesa perante a banca X
elaboração da versão final X
entrega da versão final X
9. REFERÊNCIAS
84
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ANEXO B - DADOS ESTATÍSTICOS
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