“meus discos sempre foram mestiÇos”

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Entrevista com Daniela Mercury publicada no Caderno 2+

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10 SALVADOR TERÇA-FEIRA 8 / 1 2 / 20 0 92

KATY PERRY

Antes do tempoDe forma precoce (apenasdois CD na carreira), anorte-americana e novaqueridinha da mídia KatyPerry entra pra lista (jábanalizada) dos MT VsUnplugged. São arranjosnovos para músicas aindafrescas, além da inédita BrickBy Brick e da versão deHackensack, do Fountains.MTV Unplugged / EMI / R$44,90 (CD + DVD) / MARCOS CASÉ

ZECA BALEIRO

Palco + estúdioNo seu sexto audiovisual,Zeca Baleiro compilou os doisúltimos trabalhos de inéditas.O volume 1 do Coração doHomem Bomba virou beloregistro de show, enquanto ovolume 2 ganhou densa eacústica gravação ao vivo noestúdio. Nos extras do DVD:fotos, entrevista e clipes. OCoração do Homem-bomba,Ao Vivo / MZA / R$ 34,90(DVD) e R$ 19,90 (CD) / MC

ROSANA LANZELOTTE

Novos cravosQuem pensa que conhece omúsico carioca ErnestoNazareth (1863-1934) e suasobras, imediatamente vai selembrar de Odeon eApanhei-te Cavaquinho.Porém, a cravista RosanaLanzelotte se juntou a doisgrandes instrumentistas, opercussionista CaitoMarcondes e o violinista LuisLeite, e traz a público o discoNazareth, primorosa seleçãode velhas canções, do tempoem que era lindo chamar umrapaz de pierrot e umamocinha de elegantíssima.Nazareth / Biscoito Fino / R$23,90 / REGINA DE SÁ

DUETOS MPB

Pra curtir velhos hitsCertos duetos de músicapopular brasileira podem ounão agradar de pronto.Depende como se selecionaum disco para apresentar otrabalho. No caso de Dueto sMPB, encontram-se boasinterpretações, como Po rCausa de Você, Menina, umdos melhores do gênero.Ivete Sangalo e Jorge Benjorfazem as honras da casa,embalados pelo hit anos 70Na Rua, Na Chuva, NaFazenda, com Kid Abelha eLenine. Ao todo, são 16 duosque têm até Sandy & Junior.Duetos MPB / Universal / R$34,90 / RS

VÁRIOS ARTISTAS

Celebração do NatalEm cinco CDs, que reúnem osmais variados estilos, acoletânea das mais belascanções natalinas é garantiade uma noite em famíliarepleta de emoção. Sucessospopulares como We Wish Youa Merry Christmas e SilentN i g ht (Noite Feliz) ou clássicosde Haendel, Beethoven eSchubert, interpretados porvozes como Plácido Domingo,José van Dam e Claire Henry,integram a seleção que temainda participação de coraisconsagrados, como o TheLondon Philarmonic Coral. OEncanto de Natal / Seleções /R$ 99,80/ PATRÍCIA MOREIRA

CPM 22 planejaálbum para 2010

Ainda em turnê do CD CidadeC i n za e com show marcado paraa Concha Acústica do Teatro Cas-tro Alves, neste domingo, peloprojeto Sintonia Musical, o gru-po paulista CPM 22 já começou aesboçar seu novo trabalho deinéditas, programado para sairainda no primeiro semestre de2010. A ideia é mudar a sonori-dade do grupo, que rompeucom o antigo produtor Rick Bo-nadio e se desligou da gravado-ra Universal Music.

ENTREVISTA Daniela Mercury

“MEUS DISCOS SEMPRE FORAM MESTIÇOS”

(Os camarotes) Sãoprocurados porquem quer curtir afesta, mas não narua, com maisconforto. Só mepreocupo com apadronização. Estáficando tudo muitoparecido. Acho quepoderia ter maiscamarotes naavenida. Seria maisuma opção

PEDRO FERNANDES

Perto de completar 20 anos dolançamento do primeiro álbum,Daniela Mercury acaba de colo-car o décimo na rua. Como dasvezes anteriores, a cantora estápreocupada em misturar ele-mentos da música baiana comoutros gêneros musicais paracriar novas sonoridades. O quefaz de Canibália um disco compouca coisa diferente para mos-trar. O CD chega às lojas com cin-co capas e cinco sequências mu-sicais diferentes. Mais uma ten-tativa da cantora de não se vincu-lar a apenas uma imagem. “Euquis oferecer diferentes possibi-lidades de leitura do disco”, diz.Ela, que diz adorar ser “do axé”,também quer ser da MPB, damúsica eletrônica. Para conse-guir isso, conta que gosta de tra-balhar em grupo, com váriosmúsicos interferindo no traba-lho que ela propõe. Por telefone,Daniela conversou com a repor-tagem de A TARDE e falou sobreo disco novo, carnaval, a inevita-bilidade das cordas e sua preocu-pação com a padronização doscamarotes. Falou também sobrea morte do amigo e parceiro Ra-miro Mussoto, que trabalhou naprodução de Ca n i b á l i a , esobreodocumentário sobre axé musicque está produzindo, ainda semtítulo. “Vai ser uma espécie demanifesto do gênero”, adianta.

Priscila Prade / Divulgação

O título Canibália vem do fatodele ser uma espécie de revisãoda sua própria carreira?

Ele é uma continuação do tra-balhoqueeu tenhofeito.Temregravações porque eu que-ria fazer uma homenagem aCarmen Miranda e porquenunca tinha gravado ChicoBuarque. Ca n i b á l i a se refere àuma geração que absorve in-fluências e pela diversidade.Este é um disco muito eclético,como todos os outros. Gostode misturar música eletrônicapara renovar minha MPB eminha axé. Meus discos sem-pre foram mestiços.

O resultado é fruto de uma pro-cura duranteo processocriativoou você, com os produtores,sempre soube o que queria?

O disco é todo investigativo.Foram 3 anos de trabalhocom os produtores. Cada mú-sico agregou algo diferente auma música. Fui chaman-do-os aos poucos e cada umdeu sua contribuição. Poucascanções foram feitas por umapessoa só. A maioria é umaconstrução. Vou tirando, bo-tando. Construir novas sono-ridades é difícil.

Você acha que essa forma, decriação coletiva, aponta para ofuturo?

Não sei. Muita gente prefereainda criar sozinha. Tenho ohábito de trabalhar em grupodesde o início da minha carrei-ra. A provocação geralmenteé minha e o músico dá a suac o n t r i b u i ç ã o.

Esse disco tem uma importânciamaior por ter sido seu últimotrabalho com Ramiro Mussoto?

Tem uma importância afetivaimensa. Não posso falar deRamiro porque me emocio-no. Éramosda bandade Gerô-nimoedesde Swing da Coreletrabalhacomigo. Estoumuitosentida com sua morte. E coma de Neguinho do Sambatambém. Os dois estão pre-sentes num documentárioque estou fazendo sobre axémusic.

Como é que vai ser esse docu-mentário?

Estamosem fasedecaptação.Deveremos começar a filmarem dois meses para aprovei-tar as imagens do Carnaval.Não estou dirigindo. Sou pro-dutora e testemunha do nas-cimento do axé. Quero mos-trar a importância que o gêne-ro tem para a música popularbrasileira.Quero falardassín-teses, além do samba-reg-gae, surgidas no axé. É umaespécie de manifesto do gê-

nero. Caetano fez disco. Eu tofazendo filme (risos).

Por que dar cinco capas e cincosequências musicais para o no-vo disco? O que você quis dizercom isso?

Eu quis oferecer diferentespossibilidades de leitura dodisco. Quando você começaum disco com música român-tica, ele é um disco de músicaromântica. Achei que valia apena dar essa possibilidadede percepção diferente. Masnão deixei nenhuma ordemficar muito lenta. Tambémquis dizer que esse é um discode muitas caras. Eletem a carada diversidade. Amo ser doaxé, mas o axé é também ogênero da diversidade. Nãoquero ficar vinculada a mar-cas estabelecidas.

A música Oyá Por Nós fez bas-tante sucesso no Carnaval de2009. Tem alguma canção nes-se disco que você acha que se en-caixe tão bem quanto Oya PorNósna festa?

Não nesse disco, mas estougravando uma música espe-cialmente para o Carnaval,Andarilho Encantado. A músi-ca diz assim: Andarilho encan-tado / nascido em fevereiro /sonho eletrificado / onde aguitarra canta o primeiro/

sou a escola de samba de ro-das / da Bahia fui pro mundointeiro / alegria me acordasem cordas /do amor sou pri-s i o n e i r o.

Falando em cordas, como vocêvê a predominância de blocoscom cordas e camarotes no Car-naval da Bahia?

Seria muito bom que todomundo pudesse sair sem cor-das, mas é muito difícil levan-tar recursos, mesmo dentrode blocos. Quanto aos cama-rotes, acho que hoje substituí-ram os bailes de clubes. Sãoprocurados por quem quercurtir a festa, mas não na rua,com mais conforto. Só mepreocupo com a padroniza-ção. Está ficando tudo muitoparecido. Acho que poderiater mais camarotes na aveni-da. Seria mais uma opção pa-ra quem quer ir à festa.

Você acha que é possível conse-guir equilíbrio entre geração derenda, divisas e visibilidade pa-ra o Estado com a presença po-pular na festa?

Acho que é uma festa que ain-da tem muito a presença po-pular. Não acho que as pes-soas nãopossam irpara oCar-naval. Otrio vai alémdo blocoe puxa o pessoal que vematrás também.

Daniela: “Gostode misturarmúsica eletrônicapara renovarminha MPB eminha axé”

Daniela faz comcompetênciao que seespera dela

Parece simples a ideia de Danie-la Mercury de dar cinco sequên-cias musicais diferentes para Ca-nibália, mas, na verdade, é umexcelente truque para evitar ro-tulações, como a própria canto-ra diz. De qualquer maneira,nessa época em que baixar mú-sicas da internet tem mudado aforma de audição de álbuns e atéameaça a própria concepção deobra, dar a ilusão de escolha pa-ra o ouvinte pode ser tambémum boa estratégia de mercado.

Canibália segue a mesma li-nha de tantos outros trabalhosda cantora e faz uma grande mis-tura nas 14 músicas que com-põem o disco. Tem romântica,tem MPB, tem samba, reggae eeletrônica. Tal diversidade emmuitos artistas pareceria falta denorte, mas no caso de Daniela jáestamos habituados a vê-la can-tartodo tipode cançãoe decertaforma é isso que se espera dela.Que lance tanto música para oCarnaval quanto para tocar nan ove l a .

Tendo isso em vista, não fazsentido falar do disco numa de-terminada ordem. O que há debom em Canibália está na com-petência de Daniela em matériade axé music e MPB. As experi-mentações tão caras à cantoranão chegam a criaruma nova so-noridade como ela almeja, massão bem sucedidas na maior par-tedas vezes.Exceção éO QueSe-rá, de Chico Buarque, que teria fi-cado melhor sem as texturas ele-trônicas, bastavam as batidas desamba-reggae. One Love t a l vezfuncioneempista dedança,masficou com uma batida de discote-ca meio datada. O Que é Que aBaiana Tem usa samples de Car-men Miranda e interferênciaseletrônicas. A música fica ótimana pista, porque, mesmo com acara moderninha, ainda é sam-ba do bom. Outra homenagem aCarmen Miranda é Tico-tico noFubá , com guitarra baiana e aseletronices da cantora.

Oyá Por Nós, que tocou esseano, ainda dá vontade de sair pu-lando. Preta, com participaçãode Seu Jorge, e a suingada A VidaÉ Um Carnaval têm o mesmoapelo festivo.

PEDRO FERNANDES

CANIBÁLIA / DANIELA MERCURY / SONY

BMG / R$ 20

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