“meus discos sempre foram mestiÇos”

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10 SALVADOR TERÇA-FEIRA 8/12/2009 2 KATY PERRY Antes do tempo De forma precoce (apenas dois CD na carreira), a norte-americana e nova queridinha da mídia Katy Perry entra pra lista (já banalizada) dos MTVs Unplugged. São arranjos novos para músicas ainda frescas, além da inédita Brick By Brick e da versão de Hackensack, do Fountains. MTV Unplugged / EMI / R$ 44,90 (CD + DVD) / MARCOS CASÉ ZECA BALEIRO Palco + estúdio No seu sexto audiovisual, Zeca Baleiro compilou os dois últimos trabalhos de inéditas. O volume 1 do Coração do Homem Bomba virou belo registro de show, enquanto o volume 2 ganhou densa e acústica gravação ao vivo no estúdio. Nos extras do DVD: fotos, entrevista e clipes. O Coração do Homem-bomba, Ao Vivo / MZA / R$ 34,90 (DVD) e R$ 19,90 (CD) / MC ROSANA LANZELOTTE Novos cravos Quem pensa que conhece o músico carioca Ernesto Nazareth (1863-1934) e suas obras, imediatamente vai se lembrar de Odeon e Apanhei-te Cavaquinho. Porém, a cravista Rosana Lanzelotte se juntou a dois grandes instrumentistas, o percussionista Caito Marcondes e o violinista Luis Leite, e traz a público o disco Nazareth, primorosa seleção de velhas canções, do tempo em que era lindo chamar um rapaz de pierrot e uma mocinha de elegantíssima. Nazareth / Biscoito Fino / R$ 23,90 / REGINA DE SÁ DUETOS MPB Pra curtir velhos hits Certos duetos de música popular brasileira podem ou não agradar de pronto. Depende como se seleciona um disco para apresentar o trabalho. No caso de Duetos MPB, encontram-se boas interpretações, como Por Causa de Você, Menina, um dos melhores do gênero. Ivete Sangalo e Jorge Benjor fazem as honras da casa, embalados pelo hit anos 70 Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda, com Kid Abelha e Lenine. Ao todo, são 16 duos que têm até Sandy & Junior. Duetos MPB / Universal / R$ 34,90 / RS VÁRIOS ARTISTAS Celebração do Natal Em cinco CDs, que reúnem os mais variados estilos, a coletânea das mais belas canções natalinas é garantia de uma noite em família repleta de emoção. Sucessos populares como We Wish You a Merry Christmas e Silent Night (Noite Feliz) ou clássicos de Haendel, Beethoven e Schubert, interpretados por vozes como Plácido Domingo, José van Dam e Claire Henry, integram a seleção que tem ainda participação de corais consagrados, como o The London Philarmonic Coral. O Encanto de Natal / Seleções / R$ 99,80/ PATRÍCIA MOREIRA CPM 22 planeja álbum para 2010 Ainda em turnê do CD Cidade Cinza e com show marcado para a Concha Acústica do Teatro Cas- tro Alves, neste domingo, pelo projeto Sintonia Musical, o gru- po paulista CPM 22 já começou a esboçar seu novo trabalho de inéditas, programado para sair ainda no primeiro semestre de 2010. A ideia é mudar a sonori- dade do grupo, que rompeu com o antigo produtor Rick Bo- nadio e se desligou da gravado- ra Universal Music. ENTREVISTA Daniela Mercury “MEUS DISCOS SEMPRE FORAM MESTIÇOS” (Os camarotes) São procurados por quem quer curtir a festa, mas não na rua, com mais conforto. Só me preocupo com a padronização. Está ficando tudo muito parecido. Acho que poderia ter mais camarotes na avenida. Seria mais uma opção PEDRO FERNANDES Perto de completar 20 anos do lançamento do primeiro álbum, Daniela Mercury acaba de colo- car o décimo na rua. Como das vezes anteriores, a cantora está preocupada em misturar ele- mentos da música baiana com outros gêneros musicais para criar novas sonoridades. O que faz de Canibália um disco com pouca coisa diferente para mos- trar. O CD chega às lojas com cin- co capas e cinco sequências mu- sicais diferentes. Mais uma ten- tativa da cantora de não se vincu- lar a apenas uma imagem. “Eu quis oferecer diferentes possibi- lidades de leitura do disco”, diz. Ela, que diz adorar ser “do axé”, também quer ser da MPB, da música eletrônica. Para conse- guir isso, conta que gosta de tra- balhar em grupo, com vários músicos interferindo no traba- lho que ela propõe. Por telefone, Daniela conversou com a repor- tagem de A TARDE e falou sobre o disco novo, carnaval, a inevita- bilidade das cordas e sua preocu- pação com a padronização dos camarotes. Falou também sobre a morte do amigo e parceiro Ra- miro Mussoto, que trabalhou na produção de Canibália , e sobre o documentário sobre axé music que está produzindo, ainda sem título. “Vai ser uma espécie de manifesto do gênero”, adianta. Priscila Prade / Divulgação O título Canibália vem do fato dele ser uma espécie de revisão da sua própria carreira? Ele é uma continuação do tra- balho que eu tenho feito. Tem regravações porque eu que- ria fazer uma homenagem a Carmen Miranda e porque nunca tinha gravado Chico Buarque. Canibália se refere à uma geração que absorve in- fluências e pela diversidade. Este é um disco muito eclético, como todos os outros. Gosto de misturar música eletrônica para renovar minha MPB e minha axé. Meus discos sem- pre foram mestiços. O resultado é fruto de uma pro- cura durante o processo criativo ou você, com os produtores, sempre soube o que queria? O disco é todo investigativo. Foram 3 anos de trabalho com os produtores. Cada mú- sico agregou algo diferente a uma música. Fui chaman- do-os aos poucos e cada um deu sua contribuição. Poucas canções foram feitas por uma pessoa só. A maioria é uma construção. Vou tirando, bo- tando. Construir novas sono- ridades é difícil. Você acha que essa forma, de criação coletiva, aponta para o futuro? Não sei. Muita gente prefere ainda criar sozinha. Tenho o hábito de trabalhar em grupo desde o início da minha carrei- ra. A provocação geralmente é minha e o músico dá a sua contribuição. Esse disco tem uma importância maior por ter sido seu último trabalho com Ramiro Mussoto? Tem uma importância afetiva imensa. Não posso falar de Ramiro porque me emocio- no. Éramos da banda de Gerô- nimo e desde Swing da Cor ele trabalha comigo. Estou muito sentida com sua morte. E com a de Neguinho do Samba também. Os dois estão pre- sentes num documentário que estou fazendo sobre axé music. Como é que vai ser esse docu- mentário? Estamos em fase de captação. Deveremos começar a filmar em dois meses para aprovei- tar as imagens do Carnaval. Não estou dirigindo. Sou pro- dutora e testemunha do nas- cimento do axé. Quero mos- trar a importância que o gêne- ro tem para a música popular brasileira. Quero falar das sín- teses, além do samba-reg- gae, surgidas no axé. É uma espécie de manifesto do gê- nero. Caetano fez disco. Eu to fazendo filme (risos). Por que dar cinco capas e cinco sequências musicais para o no- vo disco? O que você quis dizer com isso? Eu quis oferecer diferentes possibilidades de leitura do disco. Quando você começa um disco com música român- tica, ele é um disco de música romântica. Achei que valia a pena dar essa possibilidade de percepção diferente. Mas não deixei nenhuma ordem ficar muito lenta. Também quis dizer que esse é um disco de muitas caras. Eletem a cara da diversidade. Amo ser do axé, mas o axé é também o gênero da diversidade. Não quero ficar vinculada a mar- cas estabelecidas. A música Oyá Por Nós fez bas- tante sucesso no Carnaval de 2009. Tem alguma canção nes- se disco que você acha que se en- caixe tão bem quanto Oya Por Nós na festa? Não nesse disco, mas estou gravando uma música espe- cialmente para o Carnaval, Andarilho Encantado. A músi- ca diz assim: Andarilho encan- tado / nascido em fevereiro / sonho eletrificado / onde a guitarra canta o primeiro/ sou a escola de samba de ro- das / da Bahia fui pro mundo inteiro / alegria me acorda sem cordas /do amor sou pri- sioneiro. Falando em cordas, como você vê a predominância de blocos com cordas e camarotes no Car- naval da Bahia? Seria muito bom que todo mundo pudesse sair sem cor- das, mas é muito difícil levan- tar recursos, mesmo dentro de blocos. Quanto aos cama- rotes, acho que hoje substituí- ram os bailes de clubes. São procurados por quem quer curtir a festa, mas não na rua, com mais conforto. Só me preocupo com a padroniza- ção. Está ficando tudo muito parecido. Acho que poderia ter mais camarotes na aveni- da. Seria mais uma opção pa- ra quem quer ir à festa. Você acha que é possível conse- guir equilíbrio entre geração de renda, divisas e visibilidade pa- ra o Estado com a presença po- pular na festa? Acho que é uma festa que ain- da tem muito a presença po- pular. Não acho que as pes- soas não possam ir para o Car- naval. O trio vai além do bloco e puxa o pessoal que vem atrás também. Daniela: “Gosto de misturar música eletrônica para renovar minha MPB e minha axé” Daniela faz com competência o que se espera dela Parece simples a ideia de Danie- la Mercury de dar cinco sequên- cias musicais diferentes para Ca- nibália, mas, na verdade, é um excelente truque para evitar ro- tulações, como a própria canto- ra diz. De qualquer maneira, nessa época em que baixar mú- sicas da internet tem mudado a forma de audição de álbuns e até ameaça a própria concepção de obra, dar a ilusão de escolha pa- ra o ouvinte pode ser também um boa estratégia de mercado. Canibália segue a mesma li- nha de tantos outros trabalhos da cantora e faz uma grande mis- tura nas 14 músicas que com- põem o disco. Tem romântica, tem MPB, tem samba, reggae e eletrônica. Tal diversidade em muitos artistas pareceria falta de norte, mas no caso de Daniela já estamos habituados a vê-la can- tar todo tipo de canção e de certa forma é isso que se espera dela. Que lance tanto música para o Carnaval quanto para tocar na novela. Tendo isso em vista, não faz sentido falar do disco numa de- terminada ordem. O que há de bom em Canibália está na com- petência de Daniela em matéria de axé music e MPB. As experi- mentações tão caras à cantora não chegam a criar uma nova so- noridade como ela almeja, mas são bem sucedidas na maior par- te das vezes. Exceção é O Que Se- , de Chico Buarque, que teria fi- cado melhor sem as texturas ele- trônicas, bastavam as batidas de samba-reggae. One Love talvez funcione em pista de dança, mas ficou com uma batida de discote- ca meio datada. O Que é Que a Baiana Tem usa samples de Car- men Miranda e interferências eletrônicas. A música fica ótima na pista, porque, mesmo com a cara moderninha, ainda é sam- ba do bom. Outra homenagem a Carmen Miranda é Tico-tico no Fubá , com guitarra baiana e as eletronices da cantora. Oyá Por Nós, que tocou esse ano, ainda dá vontade de sair pu- lando. Preta, com participação de Seu Jorge, e a suingada A Vida É Um Carnaval têm o mesmo apelo festivo. PEDRO FERNANDES CANIBÁLIA / DANIELA MERCURY / SONY BMG / R$ 20

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Entrevista com Daniela Mercury publicada no Caderno 2+

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Page 1: “MEUS DISCOS SEMPRE FORAM MESTIÇOS”

10 SALVADOR TERÇA-FEIRA 8 / 1 2 / 20 0 92

KATY PERRY

Antes do tempoDe forma precoce (apenasdois CD na carreira), anorte-americana e novaqueridinha da mídia KatyPerry entra pra lista (jábanalizada) dos MT VsUnplugged. São arranjosnovos para músicas aindafrescas, além da inédita BrickBy Brick e da versão deHackensack, do Fountains.MTV Unplugged / EMI / R$44,90 (CD + DVD) / MARCOS CASÉ

ZECA BALEIRO

Palco + estúdioNo seu sexto audiovisual,Zeca Baleiro compilou os doisúltimos trabalhos de inéditas.O volume 1 do Coração doHomem Bomba virou beloregistro de show, enquanto ovolume 2 ganhou densa eacústica gravação ao vivo noestúdio. Nos extras do DVD:fotos, entrevista e clipes. OCoração do Homem-bomba,Ao Vivo / MZA / R$ 34,90(DVD) e R$ 19,90 (CD) / MC

ROSANA LANZELOTTE

Novos cravosQuem pensa que conhece omúsico carioca ErnestoNazareth (1863-1934) e suasobras, imediatamente vai selembrar de Odeon eApanhei-te Cavaquinho.Porém, a cravista RosanaLanzelotte se juntou a doisgrandes instrumentistas, opercussionista CaitoMarcondes e o violinista LuisLeite, e traz a público o discoNazareth, primorosa seleçãode velhas canções, do tempoem que era lindo chamar umrapaz de pierrot e umamocinha de elegantíssima.Nazareth / Biscoito Fino / R$23,90 / REGINA DE SÁ

DUETOS MPB

Pra curtir velhos hitsCertos duetos de músicapopular brasileira podem ounão agradar de pronto.Depende como se selecionaum disco para apresentar otrabalho. No caso de Dueto sMPB, encontram-se boasinterpretações, como Po rCausa de Você, Menina, umdos melhores do gênero.Ivete Sangalo e Jorge Benjorfazem as honras da casa,embalados pelo hit anos 70Na Rua, Na Chuva, NaFazenda, com Kid Abelha eLenine. Ao todo, são 16 duosque têm até Sandy & Junior.Duetos MPB / Universal / R$34,90 / RS

VÁRIOS ARTISTAS

Celebração do NatalEm cinco CDs, que reúnem osmais variados estilos, acoletânea das mais belascanções natalinas é garantiade uma noite em famíliarepleta de emoção. Sucessospopulares como We Wish Youa Merry Christmas e SilentN i g ht (Noite Feliz) ou clássicosde Haendel, Beethoven eSchubert, interpretados porvozes como Plácido Domingo,José van Dam e Claire Henry,integram a seleção que temainda participação de coraisconsagrados, como o TheLondon Philarmonic Coral. OEncanto de Natal / Seleções /R$ 99,80/ PATRÍCIA MOREIRA

CPM 22 planejaálbum para 2010

Ainda em turnê do CD CidadeC i n za e com show marcado paraa Concha Acústica do Teatro Cas-tro Alves, neste domingo, peloprojeto Sintonia Musical, o gru-po paulista CPM 22 já começou aesboçar seu novo trabalho deinéditas, programado para sairainda no primeiro semestre de2010. A ideia é mudar a sonori-dade do grupo, que rompeucom o antigo produtor Rick Bo-nadio e se desligou da gravado-ra Universal Music.

ENTREVISTA Daniela Mercury

“MEUS DISCOS SEMPRE FORAM MESTIÇOS”

(Os camarotes) Sãoprocurados porquem quer curtir afesta, mas não narua, com maisconforto. Só mepreocupo com apadronização. Estáficando tudo muitoparecido. Acho quepoderia ter maiscamarotes naavenida. Seria maisuma opção

PEDRO FERNANDES

Perto de completar 20 anos dolançamento do primeiro álbum,Daniela Mercury acaba de colo-car o décimo na rua. Como dasvezes anteriores, a cantora estápreocupada em misturar ele-mentos da música baiana comoutros gêneros musicais paracriar novas sonoridades. O quefaz de Canibália um disco compouca coisa diferente para mos-trar. O CD chega às lojas com cin-co capas e cinco sequências mu-sicais diferentes. Mais uma ten-tativa da cantora de não se vincu-lar a apenas uma imagem. “Euquis oferecer diferentes possibi-lidades de leitura do disco”, diz.Ela, que diz adorar ser “do axé”,também quer ser da MPB, damúsica eletrônica. Para conse-guir isso, conta que gosta de tra-balhar em grupo, com váriosmúsicos interferindo no traba-lho que ela propõe. Por telefone,Daniela conversou com a repor-tagem de A TARDE e falou sobreo disco novo, carnaval, a inevita-bilidade das cordas e sua preocu-pação com a padronização doscamarotes. Falou também sobrea morte do amigo e parceiro Ra-miro Mussoto, que trabalhou naprodução de Ca n i b á l i a , esobreodocumentário sobre axé musicque está produzindo, ainda semtítulo. “Vai ser uma espécie demanifesto do gênero”, adianta.

Priscila Prade / Divulgação

O título Canibália vem do fatodele ser uma espécie de revisãoda sua própria carreira?

Ele é uma continuação do tra-balhoqueeu tenhofeito.Temregravações porque eu que-ria fazer uma homenagem aCarmen Miranda e porquenunca tinha gravado ChicoBuarque. Ca n i b á l i a se refere àuma geração que absorve in-fluências e pela diversidade.Este é um disco muito eclético,como todos os outros. Gostode misturar música eletrônicapara renovar minha MPB eminha axé. Meus discos sem-pre foram mestiços.

O resultado é fruto de uma pro-cura duranteo processocriativoou você, com os produtores,sempre soube o que queria?

O disco é todo investigativo.Foram 3 anos de trabalhocom os produtores. Cada mú-sico agregou algo diferente auma música. Fui chaman-do-os aos poucos e cada umdeu sua contribuição. Poucascanções foram feitas por umapessoa só. A maioria é umaconstrução. Vou tirando, bo-tando. Construir novas sono-ridades é difícil.

Você acha que essa forma, decriação coletiva, aponta para ofuturo?

Não sei. Muita gente prefereainda criar sozinha. Tenho ohábito de trabalhar em grupodesde o início da minha carrei-ra. A provocação geralmenteé minha e o músico dá a suac o n t r i b u i ç ã o.

Esse disco tem uma importânciamaior por ter sido seu últimotrabalho com Ramiro Mussoto?

Tem uma importância afetivaimensa. Não posso falar deRamiro porque me emocio-no. Éramosda bandade Gerô-nimoedesde Swing da Coreletrabalhacomigo. Estoumuitosentida com sua morte. E coma de Neguinho do Sambatambém. Os dois estão pre-sentes num documentárioque estou fazendo sobre axémusic.

Como é que vai ser esse docu-mentário?

Estamosem fasedecaptação.Deveremos começar a filmarem dois meses para aprovei-tar as imagens do Carnaval.Não estou dirigindo. Sou pro-dutora e testemunha do nas-cimento do axé. Quero mos-trar a importância que o gêne-ro tem para a música popularbrasileira.Quero falardassín-teses, além do samba-reg-gae, surgidas no axé. É umaespécie de manifesto do gê-

nero. Caetano fez disco. Eu tofazendo filme (risos).

Por que dar cinco capas e cincosequências musicais para o no-vo disco? O que você quis dizercom isso?

Eu quis oferecer diferentespossibilidades de leitura dodisco. Quando você começaum disco com música român-tica, ele é um disco de músicaromântica. Achei que valia apena dar essa possibilidadede percepção diferente. Masnão deixei nenhuma ordemficar muito lenta. Tambémquis dizer que esse é um discode muitas caras. Eletem a carada diversidade. Amo ser doaxé, mas o axé é também ogênero da diversidade. Nãoquero ficar vinculada a mar-cas estabelecidas.

A música Oyá Por Nós fez bas-tante sucesso no Carnaval de2009. Tem alguma canção nes-se disco que você acha que se en-caixe tão bem quanto Oya PorNósna festa?

Não nesse disco, mas estougravando uma música espe-cialmente para o Carnaval,Andarilho Encantado. A músi-ca diz assim: Andarilho encan-tado / nascido em fevereiro /sonho eletrificado / onde aguitarra canta o primeiro/

sou a escola de samba de ro-das / da Bahia fui pro mundointeiro / alegria me acordasem cordas /do amor sou pri-s i o n e i r o.

Falando em cordas, como vocêvê a predominância de blocoscom cordas e camarotes no Car-naval da Bahia?

Seria muito bom que todomundo pudesse sair sem cor-das, mas é muito difícil levan-tar recursos, mesmo dentrode blocos. Quanto aos cama-rotes, acho que hoje substituí-ram os bailes de clubes. Sãoprocurados por quem quercurtir a festa, mas não na rua,com mais conforto. Só mepreocupo com a padroniza-ção. Está ficando tudo muitoparecido. Acho que poderiater mais camarotes na aveni-da. Seria mais uma opção pa-ra quem quer ir à festa.

Você acha que é possível conse-guir equilíbrio entre geração derenda, divisas e visibilidade pa-ra o Estado com a presença po-pular na festa?

Acho que é uma festa que ain-da tem muito a presença po-pular. Não acho que as pes-soas nãopossam irpara oCar-naval. Otrio vai alémdo blocoe puxa o pessoal que vematrás também.

Daniela: “Gostode misturarmúsica eletrônicapara renovarminha MPB eminha axé”

Daniela faz comcompetênciao que seespera dela

Parece simples a ideia de Danie-la Mercury de dar cinco sequên-cias musicais diferentes para Ca-nibália, mas, na verdade, é umexcelente truque para evitar ro-tulações, como a própria canto-ra diz. De qualquer maneira,nessa época em que baixar mú-sicas da internet tem mudado aforma de audição de álbuns e atéameaça a própria concepção deobra, dar a ilusão de escolha pa-ra o ouvinte pode ser tambémum boa estratégia de mercado.

Canibália segue a mesma li-nha de tantos outros trabalhosda cantora e faz uma grande mis-tura nas 14 músicas que com-põem o disco. Tem romântica,tem MPB, tem samba, reggae eeletrônica. Tal diversidade emmuitos artistas pareceria falta denorte, mas no caso de Daniela jáestamos habituados a vê-la can-tartodo tipode cançãoe decertaforma é isso que se espera dela.Que lance tanto música para oCarnaval quanto para tocar nan ove l a .

Tendo isso em vista, não fazsentido falar do disco numa de-terminada ordem. O que há debom em Canibália está na com-petência de Daniela em matériade axé music e MPB. As experi-mentações tão caras à cantoranão chegam a criaruma nova so-noridade como ela almeja, massão bem sucedidas na maior par-tedas vezes.Exceção éO QueSe-rá, de Chico Buarque, que teria fi-cado melhor sem as texturas ele-trônicas, bastavam as batidas desamba-reggae. One Love t a l vezfuncioneempista dedança,masficou com uma batida de discote-ca meio datada. O Que é Que aBaiana Tem usa samples de Car-men Miranda e interferênciaseletrônicas. A música fica ótimana pista, porque, mesmo com acara moderninha, ainda é sam-ba do bom. Outra homenagem aCarmen Miranda é Tico-tico noFubá , com guitarra baiana e aseletronices da cantora.

Oyá Por Nós, que tocou esseano, ainda dá vontade de sair pu-lando. Preta, com participaçãode Seu Jorge, e a suingada A VidaÉ Um Carnaval têm o mesmoapelo festivo.

PEDRO FERNANDES

CANIBÁLIA / DANIELA MERCURY / SONY

BMG / R$ 20