lista de textos a concurso-capa · 2016. 8. 27. · precipito(me*avidamente*paraamemóriainverlda...
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Textos
Olhares.com ● www.olhares.com Edita-‐Me, Editora, Lda. ● www.edita-‐me.pt
Escrevo-‐te adeus mas não parto
Escrevo-‐te adeus mas não parto.
Fecho as janelas, abafo a luz, acendo velas, esqueço-‐te a voz.
Escrevo-‐te adeus mas não parto.
Desligo o telefone, corro, não paro, fujo para longe, parto de carro.
Grito-‐te – adeus! mas não parto.
Desligo os faróis, mudo de rua, fumo um cigarro, deito-‐me nua.
Beijo-‐te. Adeus,…mas não parto.
Alexandra Malheirodo livro “Luz Ver4cal”
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
Olhares.com ● www.olhares.com Edita-‐Me, Editora, Lda. ● www.edita-‐me.pt
Há (de haver)
Há, claro, essa músicaatravessando-‐te o silêncio eo silêncio atravessando-‐teas mãos.
Há, claro, a tua vozem todos os ventos eos ventos em todos os lugaresonde não estás.
Há, claro, as palavrasque não vêm dentro de L etu não vindo por dentrodas palavras.
Há a estrada e as manhãsde claridade incertacomeçando todas no final da tarde.
Alexandra Malheirodo livro “Luz Ver4cal”
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
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Às vezes Novembro Às vezes Novembro era mais frioque todos os mesese uma sombra grotescaamarfanhava-‐me os olhos.Presas ao meu corpo arrastavam-‐sesombras e pombos mortos,coisas que mais ninguémgostava de ver.Às vezes Novembroera um mês surdo,e eu fechando os olhosnão ouvia o silêncio,apenas o rugido trémulode uma trovoada cuja chuvanunca vinha para amenizar-‐meo sono e eu nãodormia nunca,perorava vigil emsobressalto pelos trovões.
Alexandra Malheirodo livro “Geografias Dispersas”
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
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Morte às palavras Tantas vezes que me apetecematar as palavras ouficar quieta num canto à esperaque elas me matem.Assassiná-‐las à pauladaé que era bom,arrastá-‐las pelos cabelos,arrancar-‐lhes os olhos,as tripas, as guelras,uma coisa de sangue e entranhas,desentranhá-‐las de mim.Tantas vezes me apeteceromper com as palavras,deixar de ser servil epô-‐las ao meu serviçoe cuspir-‐lhes nos olhosum desaforo qualquer,dizer-‐lhes bem altopara os vizinhos ouvirem:“Ide para a frase que vos pariu!”
Alexandra Malheirodo livro “Geografias Dispersas”
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
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Precipito-‐me avidamente para a memória inverLdaum salto no vazio dos sonhos por terum passo em frente no abismo de todos os desejos.A alquimia da melancolia corrompe-‐me as lágrimas,nada do que é meu, intrinsecamente meu, é verdadeiro.Sinto-‐me o ardil perverso do eu que pugna pela verdade,sinto-‐me o espesso embuste de querer ser mais,a perfeita ilusão de querer ser melhor,o ínfimo suspiro suspenso num ai largado na confusão da [noite.Tudo me parece incompleto no passo dado na queda,tudo me parece ausente no corpo liberto no ar.
Perante a inexorável percepção do desLnoadmito, tão vazio de mim,que nada menos que todo o universo me poderá redimir.
Tanto, tanto, e eu perdido por tão pouco…
Jaime Andrédo livro “Entre Comas”
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
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Desafio da folha branca
Ardor apáLco da linha ausentedormência profusa na nebulosa mente,toldando a clarividênciarevelando com todo o fulgor a demênciaalojada meLculosamente no fundo da cabeça.
Não há sapiência urgente que não esqueçatudo me foge pelo beijo abertoque te aLro, mas nunca acerto.
Jaime Andrédo livro “Entre Comas”
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
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VerHgem
É naquele segundo, naquele preciso segundoem que agarro o coração com todas as forçaspara que ele não te siga até ao abismo,que sei.Entre o amor e a loucura,há apenas uma verLgem.
Ruth Ministrodo livro "Dos Intervalos Das Horas"
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De dentro
Há uma noite dentro da noite,dentro de mim, dentro do peito.Há um grito dentro do silêncioque engole a noite dentro de mim.Há um gigante dentro dos olhos,dentro da boca, dentro das palavras.Há um segredo dentro das mãosque tecem a noite dentro do poema.Há um poema a morrer de escuridãodentro do poema, dentro do fogo.Há um deserto a florir de dentro.
Ruth Ministrodo livro "Dos Intervalos Das Horas"
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Poema, ponto e vírgula
ponto. vírgula,ponto. vírgula,ponto. vírgula,vírgula, ponto.ponto. ponto.vírgula, vírgula,ponto. vírgula,ponto. ponto.vírgula, vírgula,ponto.
E lamento ficar por aqui,mas infelizmente, o poema está tonto.
Ruth Ministrodo livro "Dos Intervalos Das Horas"
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Coração: Manual de instruções
Ler antes de usar:
1. CerLfique-‐se de que o coração está bemseguro nas suas mãos, antes de lhe dar cordapela primeira vez. Não aperte demasiado,pode parLr. Não solte demasiado, pode cair.
2. Dê corda no senLdo dos ponteiros deum relógio e nunca ao contrário, ou poderádanificar o mecanismo de funcionamento.
3. Pare de dar corda quando senLr que estáa forçar o mecanismo, seja delicado e nuncaviolento.
4. Quando a música começar a tocar, fiqueatento a ouvi-‐la. O coração é sensível e precisade atenção, caso contrário poderá tornar-‐semudo ou morrer de solidão.
5. Quando a música ficar mais lenta, é sinalde que deverá voltar a dar corda. Não deixenunca a música parar. O coração tem queestar sempre a palpitar.
GaranLa vitalícia, não coberta apenas por usoindevido. Não se aceitam reclamações. Nãose aceitam trocas ou devoluções. Proibido oabandono do amor oferecido
Ruth Ministrodo livro "A Minha Nuvem"
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As minhas palavras precisam de H
As minhas palavras precisam de L,Porque sem L, ficam perdidas,Sem senLdos, indefinidas,Como um barco sem cais,Sem lugar de embarque ou desLno certo,Tristemente esquecido no meio do mar.Como um livro aberto,Que quer contar a sua históriaMas não tem páginas para virar.Como uma carta sem selo,Em busca de uma forma de se enviar,Ou um Inverno sem gelo,Sem chuva e sem vento,Como um vagabundo ao relento,Incógnito e enlouquecido,De si mesmo já esquecido,Sem algo em que acreditar...
As minhas palavras precisam de LPorque sem L não valem nada,Não existem simplesmente,São casa sem morada,São fé à procura de crente,Chama à qual se apagam as brasas,Rio que se morre sem corrente,Anjos que choram por não terem asas.
Ruth Ministrodo livro "A Minha Nuvem"
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ENCONTRO COM A MULHER QUE FALA
Sentado num bancoMarLnez esperavaSem saber bem o quêE entretanto a seu ladoSentou-‐se uma mulherQue se pôs a falarE assim lhe falouNão sei porque esperaSe calhar desesperaE não vale a penaNinguém vai aparecerNão sei porque esperaIsso não é viverHomem Faça qualquer coisaMexa-‐se e atueBabali babaléBabalé babaliDubidu dubidáDududu dá dá dáNhó nhó nhó nhé nhé nhéHomemFaça qualquer coisaE mostre o homem que éMarLnez notou Que se Lnha encontradoCom a mulher que falaA que jamais se calaE que diz o que deveE o que não deveE jamais se calaE jamais se cala
(conLnua...)
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MarLnez zangadoOlhou-‐a de ladoCom um olhar chispadoMuito penetranteE a mulher que falaFoi-‐se afastandoFoi-‐se afastandoAté cair do bancoDeitada no chãoA mulher que falaDesfez-‐se em lamúriasParF uma pernaParF a lanternaE parF um braçoE a culpa foi suaE a culpa foi suaOuviu seu palhaçoMarLnez afastou-‐seE a mulher deitada no chãoRogava-‐lhe pragas e esperneavaE as pessoas olhavamCom incompreensãoE a mulher gritavaO que foiNunca viramEstão a olhar para quêBabali babalêBabalê babaliDubidu dubidáDududu dá dá dáNhó nhó nhó nhê nhê nhêE a mulher que falaAssim conLnuouA falar a falarSem saber de quê.
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Henrique Normandodo livro "O Regresso de Mar4nez"
A criação da gravidade
Abro meus braços à manhã nascentemoldo-‐a tecendo a luz escorrendo as mãospela estátua adormecida do teu corpocriando o sublime dia da tua imagem
Assim deitada estendidaentre as frestas da aurora e a ideia de um dia completoés o horizonte do desejoo fundo do mar o topo do mundoa terra concreta que define a esperança
Tomo de um trago a inspiração diáriaErgo-‐te pelos braços e valso-‐te sobre as esferas O princípio e a causa da necessária obediênciaà gravidade que nos atrai
José Carlos Bernardesdo livro "Mãos Inquietas"
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Quase
Quase que te ameiQuem me dera ter-‐te amadoEnvelhecemos tão depressa mais rápido do que a luz que nos cega Saltamos vidas por sobre os inexoráveis ponteiros que rodam estonteantes aterrando após anos longe de nós próprios Quase que nos amamosMas corremos tanto que atropelamos sem senLr os senLdos que apelavam ao mar à terra e aos pequenos momentos de conforto
Puxo a manta comida por gerações de traças e dou-‐te meio aconchego Não posso maisDás-‐me meio sorriso como quem acena pela milésima vez ao pássaro que lhe calhou em sorte na ilha deserta da reforma
Eu meio-‐amo-‐teTanto quanto estas pernas rombas vergadas por ocasos sem fimpermitem Já fui solidamente edificado mas passaste-‐me ao lado como as estações que o esquecimento levou
Quem me dera ter-‐te amado quando podiaMas vi-‐me repenLnamente caído num mundo feito apenas de descrença e olvido e sinto-‐me cada vez mais encalhadoNáufrago de um tempo irrecuperável
Puxo um pouco mais a mantaMudamos os canais mais depressa do que os nossos olhos podem aLngirAssim passamos os úlLmos fôlegos a tentar recordar o quase amor que nos escapou mas torrasse-‐me a memória num deserto de palavras gastas
Quase que te amei mas já me esqueci como se faz e não tenho mais manta para puxar
José Carlos Bernardesdo livro "Palavras Imóveis"
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CENA I
Ísis abre a porta devagar e entra, pé ante pé, pisando as bolas fofas de nuvem. Embora um pouco assustada, começa a vislumbrar teias de aranha de várias cores, que lhe lembram as flores do seu jardim, e tecidos com várias texturas, espalhados por todo o lado. O an4go gira-‐discos perde a inércia e contempla-‐a com uma melodia fascinante e ternurenta. As luzes dão vida a uma caixa negra que se esconde entre folhas de papiro.A menina aproxima-‐se e, como por magia, a caixa abre-‐se, pregando-‐lhe um grande susto, mas, uns segundos depois, a curiosidade vence o medo e a princesa repara que dentro da caixa há uma arca, a arca dos sonhos. Olhando, atentamente, para a arca dos sonhos vê uma fechadura, que a impede de a abrir. Senta-‐se a pensar no desafio que aquela aventura lhe estava a propor e decide procurar a chave. Procura por todo lado e, quando parecia perder as forças, encontra a chave, que estava na teia dourada da aranha Kikas. A fada madrinha Lia assiste ao desenrolar da ação de um local visível, mas discreto.ÍSIS (num tom monocórdico e receosa dirige-‐se à aranha Kikas) — Olá! Boa tarde.KIKAS (com um mau humor infernal)— Boa tarde? Só se for para L! Consideras que há algo de bom no facto de ver uma intrusa entrar em tua casa, sem bater à porta?ÍSIS (como quem lamenta e espera um perdão verdadeiro)— Desculpa, não queria ser o teu pesadelo. Além disso, só procuro ouvir a voz do meu coração. KIKAS — Voz do coração! Ah, ah, ah… Detesto miúdas armadas em filósofas. O que queres é a chave!ÍSIS — Eu quero a chave, porque sinto que ela abrirá a porta da minha felicidade.KIKAS (assegurando com convicção)— Como? A porta da felicidade? Esta chave abre apenas a arca e nada mais. Nesse instante, Ísis reflete sobre o assunto, alguns segundos, e decide contar-‐lhe tudo o que lhe sucedera na manhã daquele dia. E, terminado o discurso, Kikas empurra a chave para o chão e, ao mesmo tempo que o objeto se aproxima do chão, espalha-‐se uma nuvem de ouro brilhante em cima da cabeça loira da menina, como se a chave dourada, o pó de ouro e os fios dourados dos seus cabelos sempre 4vessem feito parte dos seus devaneios.Vivido o momento mais emocionante daquela tarde, Ísis pega na chave, que estava no chão, e abre, finalmente, a arca dos sonhos, ficando boquiaberta perante o tesouro encontrado. Os seus olhos piscam, assemelham-‐se a estores empurrados pelo vento; as suas mãos deslizam uma na
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outra como pequenos pedaços de espuma e o seu coração parece um comboio rápido ávido de emoções. A aranha Kikas desliza para fora do palco.Corajosamente, Ísis pega no livro, saltando-‐lhe à vista o brasão de ouro, recheado com uma íris gigante.
Patrice Pachecodo livro "Voar nas Asas do Sonho"
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CENA II
Íris Gigante, um livro de poesia visual que estava adormecido na arca dos sonhos, surpreende Ísis verbalizando sábias palavras.
ÍRIS GIGANTE (sussurrando alegremente) — Pensei que jamais me encontrarias.
ÍSIS (docemente) — Eu não sabia nada da tua existência, como poderia procurar-‐te?
ÍRIS GIGANTE (entusiasmado)— A tua alma só estará completa depois de ser alimentada pelas minhas folhas encardidas.
(Ouve-‐se o 4c-‐tac do rodar incerto da íris)ÍSIS (com espanto, folheia o livro de poesia com delicadeza e, encontrando os versos mais
significa4vos da sua vida, declama-‐os)
Os olhos das Artes
Telas amarelas de ilusãoPinceladas púrpuras de amorRiscas brancas que transparecemNos quadros alaranjados com fervor.
Figuras talhadas dos sen4dosPeças de um coração em essênciaPersonificam o 3D de uma alma puraE a imagem doce da existência.
Os fonemas trapalhõesRevelam a feliz melodia,Construindo a pauta mágicaDa canção român4ca que surgia.
Som e cor em movimentoAo sonho oferecem asas vitalíciasPreenchem os olhos de harmoniaE o espírito curioso de carícias.
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(Ísis, finalmente, irradia o verdadeiro brilho da felicidade)ÍSIS (deslumbrada)— A poesia é o palácio vivo e a moradia encantada de todas as artes!
FADA MADRINHA LIA (aproxima-‐se de Ísis, que só nesse momento se apercebe da sua presença)— Ísis, o teu êxito só será possível se te dirigires ao famoso rio Lethes e conseguires atravessá-‐
lo sem perder a memória. Caso contrário, esta caminhada em busca da saLsfação não passará de uma mera reportagem na tua triste existência.
ÍSIS (com gra4dão)— Assim o farei, fada madrinha Lia.
Patrice Pachecodo livro "Voar nas Asas do Sonho"
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ATO IVCENA IÍsis caminha em direção ao rio Lethes. Quando se aproxima das margens, 4ra do bolso o papel
descolorido pelo tempo.ÍSIS (exclamando com espanto)— O poema desapareceu!
DECIMUS JUNIUS BRUTUS (aproxima-‐se de Ísis delicadamente)— Eu sei o que procuras.
ÍSIS (aterrorizada)— Quem és tu?
DECIMUS JUNIUS BRUTUS — Eu chamo-‐me Decimus Junius Brutus, o general romano que atravessou este rio sem perder a memória. Eu sei que queres fazer o mesmo para teres o direito a recordar que o texto poéLco é a fonte da tua fortuna.
ÍSIS — Como conseguiste atravessá-‐lo se, desde que Estrabão o apelidou de rio do esquecimento, ninguém se atreveu a fazê-‐lo?
DECIMUS JUNIUS BRUTUS — Há momentos em que a bravura é o único caminho e é essa aLtude que nos faz lutar por um mundo melhor. Se acreditares que a tua valenLa é maior que o teu receio, com certeza terás sucesso.
ÍSIS (decidida)— As tuas palavras sábias enchem-‐me de coragem. Vou enfrentar o adamastor que existe
dentro de mim e atravessar o rio.(Ísis atravessa o rio e regressa intacta.)
ÍSIS — Consegui! As águas não corromperam a minha mente! Afinal, a poesia é a única arte que me transformou no que eu sempre sonhei! Agora sou uma arLsta de sonhos!
DECIMUS JUNIUS BRUTUS (congratulando-‐se com a conquista de Ísis)— Ísis, a determinação e a força de espírito são as únicas armas válidas para o ser humano.
ÍSIS (plenamente realizada)— Agora sei que o caminho para a felicidade é discil, mas vale sempre a pena!
Patrice Pachecodo livro "Voar nas Asas do Sonho"
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O QuadroO Quadro aberto; o Quadro inacabado...
Em processo de pintura... Será algum dia considerado como saLsfação plena dos senLdos e do espírito? Será considerado terminado e, então, deixado em repouso e a salvo do pensamento
sôfrego? É-‐me cara a imagem, costurada na memória, daquela manta de serapilheira que servia de tela para a fotografia ponLlhada da mais bela aldeia semeada na escola secundária. Ano após ano, os alunos cumpriam o horário estabelecido para os “trabalhos Oficinais – têxteis”, fazendo correr a linha de lã atrás da agulha – como num jogo de traquinice de recreio – na proeza engenhosa de construir mais uma rua, mais um jardim, mais uma casa daquela aldeia fantásLca. E enquanto crescia a manta, na roLna pontuada, cresciam em número os farrapos das histórias e das aventuras imaginadas naquele lugar nunca acabado, nunca preso a uma só verdade. Toda a sua beleza e força residiam nesta cornucópia de soluções, enquanto espaço aberto e de conclusão indefinida.Assim é também a nossa experiência do real…A nossa vida é um quadro. Um quadro inacabado e sempre em mutação. Se for dado por terminado, então é porque alguém, por nós, deu a úlLma pincelada e o assinou postumamente.Todos os dias, ao acordar, olhamos para a tela e procuramos precisar o ponto da pintura que vamos acrescentar ou retocar. Temos espaços próprios para cada uma das nossas vivências. O espaço da família, o espaço dos amigos, o espaço do trabalho, o espaço dos sonhos… o nosso espaço ínLmo. A qual acudir hoje? E quando se baralham e misturam todos, como aplacar a oxidação das cores!?Não raramente, não são os olhos que vão ao encontro do quadro, é o quadro que se impõe aos olhos. Mesmo quando estes se fecham na vã tentaLva de embarcarem na balsa da cegueira… E sempre que têm êxito na fuga, estão lá os ouvidos para escutar o imperLnente quadro!Tintas brilhantes irradiam o sol dos dias felizes. Mas prontamente a moldura engrossa-‐se e começa a reduzir a pintura sob a sua sombra. Por vezes, fica tão escuro que não se enxerga nada: Nem se consegue encontrar o buraco negro que tudo absorve para o adoçar com a simpaLa do pastel.Dêem-‐me um esLlete e eu rasgo por completo esta miséria de quadro!E damos largas à composição. Adicionamos as figuras, os momentos, os lugares e tudo o que vamos marcando à nossa volta. Primeiro os contornos, depois o preenchimento colorido. Ficamos tão soberbos do muito que acumulamos e reunimos que decidimos comprar uma moldura nova,
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
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uma parede nova para acomodar, bem alto, a nossa bela pintura, a nossa triunfante vida. E quanto mais juntamos, mais elementos temos para sonhar novas metas, novas molduras, novas paredes.Pensamos então: Está quase! O quadro completa-‐se segundo o curso de pintura social que frequentei desde que nasci. Já tenho quase tudo para a pintura perfeita!E quando o arLsta se prepara para encomendar a cadeira, onde se sentará em repouso e contemplação definiLva em frente à sua obra, cai o quadro lá do ponto bem alto em que foi colocado e perde-‐se na mancha suja do chão. O peso era tanto que o prego do desLno não o segurou. Remende-‐se o que for passível de remendo ou inicie-‐se uma tela nova.Em segredo, também vos digo que o próprio arLsta, cansado das imagens de sempre, decide, em certos casos, dar um encosto descuidado ao quadro e provoca a sua queda no caos… para renascer. E quando pensamos já ter tudo alcançado…Talvez a minha busca ainda não tenha terminado…
Jorge Pópulodo livro "O Oráculo do Fogo"
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Quando Rubínia acordou julgou-‐se ainda a sonhar. Estava deitada num leito de folhelho, dentro de uma casa – algo que já não experienciava desde que havia deixado o seu povoado. A casa era simples, com piso em terra baLda e paredes de pedra, revesLdas com adobe irregular. Um madeiro central a verLcalizar a cobertura de palha e apenas duas aberturas, uma para posLgo e outra a servir de porta, ambas protegidas por tabuados de madeira, plenos de frinchas por onde entrava a luz e o vento. O espaço estava dividido em – tanto quanto conseguia enxergar -‐ pelo menos duas áreas, por um tabique de finos ramos entrelaçados.SenLa-‐se atordoada e enjoada. Queria levantar-‐se, porém os músculos logo se negaram. Estava dorida e exaurida de forças. Tentou perceber o que se passava e rapidamente compreendeu a sua situação, assim que a memória lhe trouxe as imagens do passado recente. Olhou para o seu corpo e todo ele era uma amálgama de manchas negras, de feridas e de múlLplas marcas de impacto. Algumas eram resultado da batalha – pequenos cortes sofridos – mas a maioria fora causada pela jornada dentro do Ebrol. Felizmente, e ao que parecia, não Lnha fracturado nenhum osso.Lembrou-‐se então do instante em que foi levada pelas águas frias do Ebrol. O escudo evitara os males da queda. O pior foi mesmo a descida descontrolada no dorso indomável do rio. Nada pôde fazer para se desviar de rochas firmes e de troncos que seguiam na corrente. Manter-‐se à tona já se revelara um grande sacriscio e uma luta desgastante. A tal ponto que acabou por perder os senLdos. Agora estava naquele lugar sem saber onde e quem a recolhera. Tentou vezes sem conta sair da enxerga, mas só o pensamento se erguia. Convenceu-‐se que seria melhor deixar isso para mais tarde e adormeceu novamente.
No despertar seguinte, já estava alguém a seu lado. Uma mulher, sisuda. Fazia-‐se acompanhar de duas crianças que a ajudavam a carregar um alguidar de barro com água e uma malga com o que parecia ser um caldo.-‐ Estou aqui para te ajudar a lavar e prover-‐te de algum alimento. Todos me tratam por Bolota.Rubínia pouco mais podia fazer para além de falar, por isso acalmou-‐se ao ver a estranha e perguntou:-‐ Onde estou? Como vim aqui parar? Preciso de voltar para junto dos meus.-‐ Estás em Pellenda, a Norte do território de Numân4a. Somos das tribos dos Arévacos. Julgo que tu serás a fei4ceira desse célebre grupo de espíritos maléficos celtas que anda a errar pelos nossos domínios e a espalhar a morte.Rubínia senLu-‐se então duplamente prisioneira. Prisioneira do corpo que era quase um túmulo e prisioneira do inimigo. Focou-‐se em Trebaruna e pediu indulgência para a qualquer falta que houvesse comeLdo aos entes divinos.
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Bolota percebeu a introspecção da convalescente e senLu alguma piedade. Na verdade, também ela não gostava dos Romanos e considerava desnecessária a aliança que o seu povo havia firmado com aqueles. Sabia que a decisão Lnha vindo exclusivamente dos líderes, moLvados pela ganância, pela raiva e disputa que sustentavam contra os clãs vizinhos, como os Vetões. Todavia (e Lnha uma razão poderosa para isso) não aprovava as incursões dos Celtas do ocaso setentrião. Fazia mesmo um esforço para os odiar.-‐ Não que me preocupe muito, mas assim me ordenaram: é preciso lavar essas feridas, para não se tornarem infectas e postulantes. Primeiro come este caldo para que adquiras algumas forças e me possas ajudar também.Tudo se cumpriu e a -‐ designada -‐ “feiLceira” regressou ao sono.
Jorge Pópulodo livro "Por Ti Seguirei..."
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SÉ
Passeio a solidão pela calçada,As pedras das ruelas da Sé estão gastas,Quanto as vidas desgastadasDos que por lá passam.Esquálidos e esquivos,Homens apressam-‐se no encalço do pó brancoA sua heroína.Nas soleiras das portasDe formas, disformesMulheres prometem prazeres de alcova.Compram ou vendem ilusões,Arruínam as suas vidasQuanto a ruína das casas onde vivem.Mas paira ainda no ar a magiaDo portus de abrigo da RibeiraE memórias da sua gente.A solidez da rocha, cale, ou da almaOnde se aninhou esta cascata humana s. joaninaDe seu nome, portuscale, herança romanaDesta terra de poetas.
Delfina Antunesdo livro "A Sombra da Magnólia"
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ESTAÇÃO DE S. BENTO
Transportam rostos sem expressãoEm corpos doridos pelo trabalho e madrugadas.Mergulham em vidas amorfas e apressadas,Na estação subsLtuíram o silêncio dos benediLnos.Sob a luz crepuscularA reLna filtra obstáculos, desvia-‐nos do que se movePoupa-‐nos ao rosto das vidas sem senLdo.As pessoas, sangue das cidadesTransfundem-‐se para os subúrbiosDeixando-‐a moribunda e ferida na sua alLvez graníLca.Também neste corpo cansadoEscorreu morno e abundanteComo fonte antes de secarSangue de um útero miomatosoChorava talvez, por já não poder dar vidaOu solidário com a hemorragia da sua cidade.
Delfina Antunesdo livro "A Sombra da Magnólia"
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VARINAS
Mar dentroPartem pescadores, com a esperança de voltarDeixam atrás prenúncio de viuvezVesLdas de preto, mulheres de joelhos na areia,Dobram-‐se sobre úteros fecundosE as suas lágrimas são o sal do mar.Contorcem-‐se na dorGemendo o fado das suas vidas.Oram, choram, imploramAnte esse LranoQue lhes sustenta os filhosE lhes rouba os homens.Como são belas estas mulheresQue carregam o sal do mar no olhar.
Delfina Antunesdo livro "A Sombra da Magnólia"
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CAMINHOS
Da minha terra vê-‐se o mar,Cedo navegamos em águas profundas e desconhecidasViramo-‐nos para o mar, quando nos perdemos em terraMareamos cada vez mais alémRompemos rumos sem bússolaDe vento em popa desbravamos caminhos,Ora das tormentas ora da boa esperançaIncerto é o desLnoE a chegada pode ser a lado nenhumPelo caminho traçamos o nosso mapa…
Delfina Antunesdo livro "A Sombra da Magnólia"
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Dúvida
Se te amasse como me perguntas sem tempo nem lume para mais que não fosse o infinito abraço com que te olho se te amasse mesmo que menos que a dúvida com que olhas esse amor líquido como o amor que de L quero se te amasse o suficiente para que não perguntasses se te amo seria certo que te não amava tão profundamente como te amo.
Maria Sofia Magalhãesdo livro "Ciclo da Pedra"
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
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Nunca me faltaria
Mesmo que tudo me faltasse nunca me faltaria o teu braço que me apoiasse o teu corpo que me vesLsse.
Mesmo que tudo me sobrasse nunca me sobraria o teu espaço onde poisasse o resto da alma que resisLsse.
Maria Sofia Magalhãesdo livro "Ciclo da Pedra"
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São de mulher
São de mulher estas queixas, em frente a um espelho que a deforma, porque por dentro não existem rugas, só as que resultam do amolecimento do amor, da negação da paixão, do adormecimento dos senLdos.
São de mulher estas ânsias de olhar-‐lhe nos olhos e saber que é ele, que será ele sempre, para toda a eternidade, mesmo que essa eternidade se meça em dias ou meses, este estremecimento que aguarda quando lhe toca, quando o cheira, este amansar do desgosto de o saber sem ela, quando se habitam por momentos.
São de mulher estes cansaços do que já sabe, do que já mente, do que já arrumou num canto da memória, os gestos iguais, a mesma sombra que a persegue e que é ela própria, num desejo de já não exisLr.
São de mulher estas mesmas sobras que coleccionou pelos anos que lhe pesam, pelos caminhos em conxnuo que a sugam, por aquele mar infinito que, inexoravelmente, acabará por escolher mergulhar, até ao adormecimento final.
Maria Sofia Magalhãesdo livro "Ciclo da Pedra"
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Hábito
Não temos o hábito de nos voltarmos nos anos paralelos que vivemos não temos o hábito de fotografarmos gestos do amor silêncios amargos não temos o hábito de nos trocarmos em objectos mais ou menos habituais.
Habitualmente sou eu e és tu mas temos o hábito de sermos nós.
Maria Sofia Magalhãesdo livro "Ciclo da Pedra"
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Espada
Rei capitão soldado ladrão se abres as grades irrompe um leão. Amostras de cinza narizes de velho verruga chinesa no arco vermelho.
Rei capitão soldado ladrão afagas o ninho e torces a mão. Rasteira de fogo alarga a cintura derretes a espada no mar da ternura.
Maria Sofia Magalhãesdo livro "Ciclo da Pedra"
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METRO
ReflecLdo nos vidros do metroPele iluminada pela luz fluorescenteParece severaMelhor, finge ter adormecidoAssim não tem que parLlhar o assentoCom aquele que é incapacitado
Urinam, gemem, empurram como queremE por tão baixo estarem, vociferam todo o Lpo de palavrasPalavras que chegam como que de trovões e clarões se tratassemNinguém os olha, ninguém os encara.
Mas a carruagem páraPor baixo das ruasDescruza as pernasAbre um olhoComeça a falarMas as palavras ficam-‐lhe entre os dentes
Verdade das menLrasMenLras das verdadesCabeçalhos dos jornaisEntram pelos olhosMas se uma palavra não é uma palavra?Qual o significado se inverLdo, entrelaçado, rasgado, enganadoVirado ao avesso de cabeça para baixoAté não haver mais nada para falar
Nunca ficaste só?Nunca te senLste impostor?O metro avança lentamente?Ouço que é possível que neve
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(conLnua...)(...conLnuação)
Possivelmente eu me torno santoTalvez passe a fazer yoga!Queres vir comigo?Não quero ficar só…
Há algo que está a começar em mim…
Adrião Pereira da Cunhado livro "Poemas Suados a Negro"
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SALIVANDO
Salivo de dor e paixãoSalivo com raiva e ardor
Não me aparem nem limpem tal salivaDeixem escorrer a tormenta que vai em mim
Rasgo a carne féLda, podre e vividaEscorre o sangue que de vermelho já pouco tem.
Os abutres já não me incomodam mais.Eles circulam sobre nós, esperando, esperando…
E eu deitado por terra, salivo que nem baba de um cão.
NÃO ME ENTREGO.
Adrião Pereira da Cunhado livro "Poemas Suados a Negro"
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MÃE
Um corpo na barriga da minha mãeBonecas chinesas, caixas dentro de caixasComo velejas o navio dentro da garrafa?Coração de ouro de coração de ouroMãe de ouro, ouro, mãe de ouro
Vejo agora a cabeçaAgora entre as pernas delaPúrpura cabeça de terráqueoÁgua, gritou o velho homemNo silêncio do sangueSilêncio
Chora e grita por mim Mãe, ou choras por outroMeus pés e mãos não mexemNo meu corpo de bebéMeu novo corpo de bebéChuparei meus dedos vermelhos
Nas luzes luminosas e sons severos, há um homemEm roupas de cerimónia e máscara, imaginando uma palha pelo narizLíquido para limpeza bucal, pulmões cheios de fezesCoração cheio de fezesBonecas chinesas, caixas dentro de caixas
Sairei do mesmo modo que entreiBonecas chinesas em caixasE em tudo o que tocasE em tudo o que amasTransformas em ouroTão precioso quantoTão rico quantoTão forte quantoTão duro quantoOuro
(conLnua...)
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
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(...conLnuação)
MãeAlém da muralha de pedra de toda a dorViajas à extremidade da morte à procura de uma criançaMãe de ouro só há umaMãe de ouro é a minhaToda minhaCalem-‐se e ouçamCalem-‐se
Adrião Pereira da Cunhado livro "Poemas Suados a Negro"
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FILHA
Espera longa e ansiosa de planos e conjecturasAnseios, medos, nervos e vómitos de prazer!
Um dia depois dos nove mesesIndependentemente do mês ou do anoO choro ecoa no ar do mundoUm Ser mais frágil surgiu no Universo
Princesa das Mulheres se tornouRainha e déspota do egoísmoImperatriz da manipulação para pena minha
Choro de raiva e de amorChoro por ter dado e por ter faltadoTanto no amor como pela compaixãoPelas palavras que nunca te disse
AMO-‐TE, AMORAMO-‐TE, SIMAMO-‐TE, SEMPREAMO-‐TE, MESMO QUE NÃO QUEIRAS
E os Anjos mijam sentados ….
Adrião Pereira da Cunhado livro "Poemas Suados a Negro"
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
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TEMPO DE PALAVRAS
Vejo nos teus olhos as perguntas que me consomem o tempo,mas as palavras tuaspermanecem embrenhadas no silêncio! Dir-‐me-‐ás um dia, que foi em L que descobri o rasto intenso do desejoque o tempo impreciso não escoou!Dir-‐me-‐ás um dia,que os teus olhos, presos à fonteonde nascem as trevas, ainda brilham, intensamente, apesar da ausência!Dir-‐me-‐ás um dia,que o teu galope alado entre as estrelasdesenhou sonhos secretosnas paisagens da eternidade!Dir-‐me-‐ás um dia,como ainda anseiasa oportunidade de uma caríciasucumbindo ao lume dos beijose ao poder da língua aveludada! Eu... dir-‐te-‐ei que és tu que acendes a paisagem,quando, em passos incertos, vens à procura do que em mim ficou por achar!...
Albino Santosdo livro "A Evocação do Teu Nome"
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HAVERÁ PARA NÓS OUTRO LUGAR?
Eis de novo este mar,as mesmas maréso mesmo sol que se reflecte,na transparência dos teus olhos.Valsamos na proa do ventoque toca o adágio das ondascom sustenidos gemidos nas mãos.As velas sopram um fogo ardenteacendendo poemas na tua boca.As palavras ardem no torpor dos lábios,deixando cair as sílabas,uma a uma,como estrelas vadiasesLlhaçadas de desejo,num doce amplexoque nos queima a boca…
A noite desenha gritos,fusLga desejos na ondulaçãoardente da navegação nocturna...mas é sempre uma nova viagemquando a noite despe o mantoe nos acolhe na sua dócil suavidade.
Albino Santosdo livro "A Evocação do Teu Nome"
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ESCREVO COM MÃOS NUAS
Escrevo com as mãos nuassobre esta folha de papel sem fundo.Sobre este musgo gélido onde escrevonem sequer existe o rumor da folhagem.As palavras conLnuam assustadascomo um arbusto que não pára de tremer…
Escrevo com as mãos nuas.A nudez permite a transparência das sílabas,o decantar das sombras na escadaria da noite,a penetração no obscuro, a revelação do invisível.No olhar encandeado, há candelabros acesoscomo um espelho polvilhado de estrelas.O corpo deseja-‐se, invade a noite de seduções…
Mas não conseguirei nunca alcançar a luzque pela primeira vez sagrou nossas pupilas:gélido, será sempre o longe que nos afasta das estrelas.
Albino Santosdo livro "A Evocação do Teu Nome"
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
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GUARDO O TEU CHEIRO
Os teus gestos,Têm ânsias de majestosos e infinitos horizontes.Os teus olhos tristes,abrem-‐se cinLlantes em desejo mordido pelo sol,as mãos em que te despenhasdesenham paisagens, lugares secretos entre o mar e o vento.
Mas onde se derrama a tua vozinaudível?Onde se esconde o fulgor escarlatedos teus lábios ávidos de encantamento?Que estranha alquimiadissipou o aroma a canela que fluía dos teus seios?Que vento dança nas tuas ancasque faz estremecer a ternura das águas?
Em verLginoso apelo, minha bocapede de novo a tua, saliva-‐se em torno de recordações.Cerro-‐te em minhas pálpebras,meus olhos, incógnitos, saboreiam o trilho entreo desejo e a hora cósmica onde nossos corpos se fundem…
Albino Santosdo livro "Nos Leves Dedos de Um Vento"
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NAQUELE OLHAR
Havia uma certa delinquêncianaquele olhar,um doce sorriso desnudadoque se acendia em seus lábios aveludados,como um lume mágico que se transformavanum prazer devasso e delicado.
Havia um brilho profanonaquele olhar,uma luz incógnita que no meu se derramavapleno de ousadia,onde o poema sempre acontecia.
Havia um desejo consenLdonaquele olhar,uma cumplicidade fácil de entenderque só para mim se revelava.Era uma vontade silenciosa, quase secreta,um doce açoiteque acontecia no calor da noite.
Albino Santosdo livro "Nos Leves Dedos de Um Vento"
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
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Contemplação
Roças-‐me a alma e eu estremeço. Porque da fragilidade de todos os tempos e de todos os amores as correntes despejam-‐se em margens perdidas e fracas.
Quanto tempo dura uma palavra? Quanto tempo demora uma cor? Quantos sonhos se pintam num perfume?
Diz-‐me outra vez.
Eu, que me deixo roçar o tempo todo. E por isso não consigo ver...
Pedro Brancodo livro "Escolhas"
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Estar-‐te
Não me devolvas a mortePerdoa-‐me os passosCobre-‐me os cansaçosQue de tanto te querer em sorteMe esqueci dos teus braços!
Não me mostres nadaCarrega-‐me apenasLeva-‐me conLgo em lágrimas plenasQue de tanto te querer caladaMe transformo em dores demasiado pequenas...
Desejo-‐te na alma maior do serCanto-‐te a cada minuto de mimSolto-‐te livre, talvez enfim, Só porque te amo, ao renascer
As palavras que nos unem por fim!
Pedro Brancodo livro "Escolhas"
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Carroça
Não serei eu mais tela de um jardim por inventar...Não serei eu mais palavras de cada vez que o amor me for visitar...Não serei eu embriaguez dentro de mim, aos tropeções...Não serei eu, de novo, poeta, no perfume das tuas canções...
Não terei eu o vento, se me dás o perfume e as cores...Não terei eu as ondas, às voltas na corrente dos rios, se tu fores...Não terei eu a voz, nos caminhos da nossa procura...
Não terei eu o salto, o fogo, o crime, a ternura...Serei, sim, o meu nome em cada verso.Terei, sim, todas as lembranças do universo...Serei, terei, sempre... o sorriso com que por L hoje me atravesso!
Pedro Brancodo livro "Escolhas"
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CALO
Vou correr. Sim. Saltar e correr. Gritar. Anunciar-‐me numa nova rouquidão. Um eterno cansaço. Vou correr. Sim. Sobrevoar-‐me sem me ver. Sem nunca mais me ver. Sem ver nada nem ninguém. Correr. Sempre em frente. Em direcção ao vazio. Deixar as nuvens entrar-‐me no rosto. Mergulhar-‐me as lágrimas e inundar todas as palavras. Mais as que nos unem e as que nos afastam e as que nos abismam e as que nos intrigam e as que nos magoam e as que nos limpam e as que nos percorrem e... Vou correr. Corresponder-‐me num outro precipício. Em verLgem. Talvez sem palavras. Talvez sem mim. Até a saudade me trazer de volta e outra vez morrer de amor.
Pedro Brancodo livro "Escolhas"
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SUBIDA
RepeLr-‐te-‐ia mil vezes por aí. Dentro de nós.Em cada estrada de poema.Em cada rio a fugir da foz.A cada dilema.
RepeLr-‐te-‐ia eternamente.Em cada fogueira acesa.Em cada ausência quenteA cada incerteza.
RepeLr-‐te-‐ia, mesmo obrigado.Nos gestos banais.No beijo sufocadoDe quem me pede: não me ames mais.
RepeLr-‐te-‐ia!
Pedro Brancodo livro "Escolhas"
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VOLTA
Porque é talvez no silêncio que as paisagens se tornam maiores. Porque é talvez no silêncio das paisagens que os amantes se encontram. Porque é talvez no silêncio das paisagens dos amantes que os poetas se procuram. Porque é talvez no silêncio das paisagens dos amantes e poetas que o mundo se refaz. Porque é talvez no silêncio das paisagens dos amantes e dos poetas do mundo que nos vamos adormecendo... para de novo ouvir o silêncio. O silêncio das paisagens…
Quem somos nós…
Pedro Brancodo livro "Escolhas"
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Silêncio dos Gritos
Falas-‐me no silêncio dos gritosQue de madrugada se levantamFervores e passos tão aflitosQue em mim nunca se encantamPerco-‐me em mortes e inquietaçõesSonhos, pesadelos e mitosPor isso calo as minhas cançõesNo silêncio dos teus gritosArranho a alma sem confortoPor um abraço mais que sejaAnuncio-‐me em vida assim mortoE tudo o mais que me sobeja
Pedro Brancodo livro "Outras Escolhas"
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Pelo Caminho que Sempre Fiz Meu
Por onde vais, dentro de tamanha incerteza?Vou navegando sem rota nem desLno, minha princesa...Por onde navegas, dentro dessa inquietação?Vou-‐me perdendo em mim, dentro do coração...Por onde te perdes, se respiras um eterno lamento?Vou à procura de tudo, do meu vento...Por onde procuras, se tudo morre?Vou gritando sozinho e ninguém me socorre...Por onde gritas, se vestes a pele despida?Vou desaguando nos leitos da minha vida...Por onde desaguas, no silêncio que vem?Vou-‐te encontrando agora, minha mãe...Porque tens a certeza, se és poeta?Frágil, frágil, como uma borboleta...Porque tens a solidão, se és cor?Fogo, fogo, como o amor...Porque és canto, como a loucura?Quente, quente, como a ternura...Porque és tudo e nada, sempre outra vez?Rente. Talvez.
Pedro Brancodo livro "Outras Escolhas"
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CANÇÃO
Será vento, será marA janela que abro em LForte o tempo que faço chegarMesmo quando não estou aqui
Sirvo um cálice de paixãoPor entre versos que a noite trazEncho o leito em cada chãoE no amor que a gente faz
Canto a dor que dói e choraQuando os rios ficam caladosPorque o medo de te ires emboraSangra os meus passos já pesados
Será vento será marA janela que abro em LForte o tempo que faço chegarMesmo quando não estou aqui
Pinto um sol e todo este céuNas planícies do abraço mais profundoQue tudo pode ser teu e pode ser meuQuando nos damos assim ao mundo
Danço-‐te o corpo como quem beijaPraias de viagens que nunca têm fimPorque tudo o que um homem quer e desejaÉ deixar-‐se ir quando se é amado assim
Será vento será marA janela que abro em LForte o tempo que faço chegarMesmo quando não estou aqui
Pedro Brancodo livro "Outras Escolhas"
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
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Shuuuuuuuuuuh…Silêncio!Não digas nada.Hoje não te quero ouvir.Apenas quero senLr o ruidoso barulho dos pensamentos da minha inconsciênciaBem em surdina, bem sussurrado, bem gritante.Aqueles que ninguém me conhece e que eu recordo em loop.
Shuuuuuuuuuh…Não digas nada.Se quiseres, vem comigo.Ouçamos os dois o ensurdecedor ruído do não querer senLr, do não quererver, do não querer fazer.Apenas querer desejar o profundo, o desencontrado, o inimaginável.
Shuuuuuuuuuh…Se quiseres, estou à tua espera na passagem do silêncio,Aquela que ficaAlgures entre o tudo e o nadaO princípio e o fimO chão firme e o desfiladeiro.
E se quiseres vir,Não digas nada.Hoje não te quero ouvir.
Raquel Brancodo livro "Lado B"
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Ah Poeta!
Se tu soubesses como me fazes senLr!Que me fazes ver aquilo que eu souPor dentro e por foraQue me desarrumas os sonhos já sonhadosE me pões de novo a sonhar.
Ah Poeta!Nasceste para me conhecer.Para me pensar.Para me morrerPara me regenerarE voltar a nascer.
Ah Poeta!Conhecedor das minhas palavras.Das ditas e das não proferidas.Das senLdas e omiLdas.Das vontades por concreLzar.
Ah Poeta!Conhecedor das minhas marés em fúria.Do meu céu de penumbras.Das minhas nuvens que se dispersam.E do fogo da alma.
Ah Poeta!Não preciso de um espelho, para me verBasta ler-‐te e já me leio.Basta conhecer-‐te as palavrasE já me defino.
(con4nua...)
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(...con4nuação)
Ah Poeta!Espelho da minha almaE do meu senLr.Enquanto exisLres,Eu sei quem sou,Como sou,Como penso,E como sinto.De onde vim,Mas não para onde vou,Porque tu também não.
Raquel Brancodo livro "Lado B"
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Hoje eu amo-‐te
Hoje mordo a línguaPara te calar.
Esmago vontades na minha mãoDe te ter e beijar.
Desvio o olharSó para não senLr.
Calo o pensamentoQue não pára de rugir.(Ignoro-‐o ao assobiar)
Canto outros para não te cantar.Falo e não me caloSó para não te falar.E fujo para não me cruzar.
Não como para o estômago doerE a dor do peito tentar esquecer.
Choro para não querer sorrirE esquecer a embriaguez do senLr.
Hoje corroPara não estancarO sangue que não pára de te chamar
Hoje grito-‐mePor não te saber
Hoje silencio-‐mePor não te ter
Hoje,O meu amor grita-‐me em todo o lado.
(con4nua...)
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(...con4nuação)
Por onde e para onde váO meu amor grita-‐me por todo o ladoEm ecos ensurdecedores.
HojeÉ dia de consciência.
HojeEu amo-‐te.
Raquel Brancodo livro "Lado B"
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Nonsense
Talvez eu me falheE tu não me reparesTalvez eu sufoqueE tu me respiresTalvez eu transpareçaE tu me ofusquesTalvez eu adoreE tu também nãoTalvez um diaOu talvez nuncaTalvez eu incendeieE tu me apaguesTalvez eu te escrevaE tu não me falesTalvez eu me percaE tu não me encontresTalvez um diaOu talvez não.Talvez eu morraE tu não te despeçasTalvez eu te comaE te regurgiteTalvez eu te bebaTalvez me enveneneTalvez eu te mateE tu talvez morrasTalvez tu existasE eu também não.
Raquel Brancodo livro "Lado B"
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Just be… Mine
Existem cicatrizes que ficam.Que marcam a pele, como quem marca um papel a carimbo.E é isto.Tenho um carimbo que te comprova em mim, para quando eu própriaduvidar da tua existência.Tu existes.Inviolável, Lngido a vermelho-‐sangue, com gosto de fogo.Existes, e hoje, só me apetece romper-‐te o lacre.
Violar-‐te!
E seres meu.Meu para sempre.
Raquel Brancodo livro "Lado B"
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Mata-‐me
Mata-‐me.Diz-‐me que estou doente. Terminal.Que o amor apodreceu dentro de mim. Contaminou-‐me.Infectou-‐me de mil e um senLmentos. Mais vivos do que eu.Sentenciou-‐me com um milhão de razões. Que estou a cumprir.Que o coração parou num ponto final. Vazio sem parágrafo nem travessão.Que o sangue já não corre nas veias. Passeia-‐se.Que as minhas mãos perderam o lugar. Do teu corpo.E as minhas pernas movem-‐se. Sem porquês.Que o meu olhar já pouco fala. E pouco se sente.
(… ainda o sentes ?...)
É o melhor que tens a fazer. Mata-‐me!Já nada provoco.Perdi-‐me de mim.Pouco me sei, a não seres tu. Sobrevives-‐me.E euApenas existo-‐me. Sem nada me exisLr.
(… ainda me sentes ?... )
Raquel Brancodo livro "Lado B"
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Esse Fio Delicado
Sinto-‐me presa, agarrada,por um fio delicado,que não me deixa voar.Sinto que quero soltar-‐me.Não sei de quem nem de quê…Pretendo apenas sonhar.Mas esse fio delgado,quase invisível, disfarçado,não desiste de me enlaçar.É indestruxvel, perLnaz,tem uma força brutal.E dessa forma me segura,de modo tão eficaz,que não é sonho, é amargura,o senLr que eu sou capaz.
Celeste Pereirado livro "Bordar a Vida"
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O Sobreiro
AlémSobre aquele sobreiroNa sobretardePaira sóUma nuvemSombriaUma só nuvemSóbriaSobressorvidaParadaSobre o sobreiroSó
Celeste Pereirado livro "Bordar a Vida"
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Sonho
Já anoitece! Caminho só pela orla do mar.Imprimo marcas fundas, de pés irados.E logo uma língua de água as vem apagarcom longos beijos frios e molhados.Desenho na areia sulcos ao acasomovendo os pés como se bailasse!Deslizante, prossigo e até a onda atraso,que avança e recua, como se me afagasse.E agora, quieta, beijada pela espuma,que fervilha em torno dos meus dedos,imagino ao longe uma velha escunaque ergue as velas entre ondas e rochedos.E acreditem que até consigo disLnguir,iluminados por um raio de luar,tristes fantasmas que teimam em surgirno velho barco que também teima em vogar.
Celeste Pereirado livro "Bordar a Vida"
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
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Tenho-‐te em Mim
Envolta num Silêncio,Que as palavras por não o saberem falar não dizem,Trago-‐te guardada em mim,Como o bem mais precioso,Que a minha existência pode comportar.
Tenho-‐te gravada no calor do sol trazido pela brisa,Que afagando-‐me sussurra a tua existência,Quando por não estares, o tempo teima em eternizar-‐se,Num compasso lento que me segreda as sílabas de L,Fazendo-‐te presente em mim, Mesmo na distância do tempo e do espaço.
E quando a dor da tua ausência,Insiste em se tornar no maior dos meus senLres,Grito o teu nome num murmúrio que lanço para dentro de mim, Fazendo-‐te ecoar nos poros da pele que sempre te lembra,Dos momentos em que na tua, numa cumplicidade única, Deposita a inLmidade de um segredo construído a dois.
Filipe Paixãodo livro "Palavras de Mim"
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
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Convicções
Até quando…?
…até caíres?…te despedaçares?
…até perderes?…te desiludires?
…até perceberes?…até aprenderes?
…até morreres?…até viveres 1000 vidas?
…até ires ao fim de tudo?…até veres?
Quando mudam as tuas convicções?Quando passas a (não) acreditar?
O que torna a verdade em menLra?
Quando vês?Ou…Quando sentes?
O que torna a menLra em verdade?
Os SenLdos?Os SenLres?Ou……o Pulsar nas tuas veias?
Filipe Paixãodo livro "Palavras de Mim"
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
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Dor de Alma
Nas dobras do teu corpo,Guardas marcas de memórias,De momentos que ainda não viveste.
Nos recantos de L,(verdadeiro baú de ser)Proteges a tua idenLdade.
Única certeza de L,Que te mantém viva,Desperta para vida.
E enquanto deambulas pelo tempo,De braços cruzados sobre L,(única maneira de te protegeres e sen4res intacta)Carregas conLgo as tuas únicas certezas:De que este tempo não é o teu,De que o espaço que ocupas, Não é aquele a que pertences.
E tudo está no seu lugar.Tudo tem,O seu síLo definido para estar,Hora definida para ocorrer,Duração esLpulada,Resultado esperado,Ganho garanLdo,…Menos tu!
Menos tu,Que em nada te encontras,Em nada te reconheces,Em nada te encontras reflecLda,Quer seja na lírica da música,Na baLda da melodia,Ou no simples reflexo,Que um qualquer espelho te devolve.
(conLnua...)
CONCURSO “Performance Poé4ca (em vídeo)”Texto
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(...conLnuação)
E num impulso conxnuo,De inúmeros momentos feito,Expeles todo o peso do teu corpoSobre as costas da cadeira…Olhas o céu…Abres os braços…E de olhos cerrados,Sentes a alma elevar-‐se,Sentes o espírito voar,Fundes-‐te com a brisa,Saboreias o ar,Delicias-‐te com as melodias simples,Com que os cantos dos pássaros,Te inundam os ouvidos,E sentes…
E sentes-‐te…
E pensando em L,Não consegues deixar De te recriminar,Por todo o tempo,Que não te permites a L mesma voar…Por todo o tempo,Em que amarras corpo e espírito…Por todo o tempo,Em que não te permites senLres-‐te…
Pois em cada momento que te sentes,Em cada momento que verdadeiramente,Sentes cada parxcula do corpo,Cada poro da pele,Cada inspiração e expiração,Cada baLda do coração,Cada movimento dos dedos,Sobre eles,Sobre L,Tu descobres…
(conLnua...)
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(...conLnuação)
Descobres,Que entre o senLr…E o pensar…Não é a alma que te dói,Mas sim…
A memória dos dias…
Em que não voaste!
Filipe Paixãodo livro "Palavras de Mim"
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O tempo já é muito. Já não me sei. Perdi-‐me totalmente de mim. Não me tenho. Imaginei-‐me (sonhei?) a correr numa praia de mão dada conLgo. SenL o teu rosto, o teu corpo, o seu odor e o teu sorriso repousado em mim no embalo de um olhar. Os nossos pés descalços num embrenhar de areia, com frinchas de dedos em arrepio. Um odor a mar, num gélido salgado de ossos. Um odor acre a maré baixa com uma floresta de rochas a descoberto. Desviámos aqui. Saltámos ali. Mais um passos de cautela um pouco mais à frente. E o teu apertar firme de mão segurança. De mão equilíbrio. O mergulho ao fundo e a nossa lenLdão no chegar. As nossas palavras abertas para o outro e o mundo à nossa volta. Uma floresta de rochas com o mergulho ao fundo. Desvios sucessivos. Apertos da mão. Mergulho ao fundo. Mergulho sempre ao fundo. Mergulho que não chega. Avançando. Por entre apertos de mão e desvios de floresta. Mergulho cada vez mais ao fundo. Mão que se larga. Rosto que se procura. Um tropeçar em algo. Um corpo. Ricardo em mergulho. Tu longe, muito longe. Acordei(?)
Filipe Paixãodo livro "A Vida nos Dias"
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A MINHA ESSÊNCIA
Escrevi teu nome na areiapara que as ondas o apagassem.Teu nome foi-‐se nas águas…… e tu ficaste.
Gritei teu nome à montanhapara que os ventos o arrastassem.Teu nome sumiu na aragem…… e tu ficaste.
Lancei teu nome às ravinaspara que o abismo o engolisse.Teu nome caiu no vale fundo…… e tu ficaste.
Chorei teu nome na noitepara que o escuro o sorvesse.Teu nome desfez-‐se em sombras…… e tu ficaste.
Tu ficaste… e ficas sempre,encastrada na minha alma!
Por mais que trucide o teu nome, o esmigalhe,o reduza a amarelecida poalhaa arrastar-‐se, inúLl,pelos becos da memória,tu teimas em permanecer,sempre cá, a fazer parte.
É uma questão de natureza,não de nomes ou lembranças.
Não és acrescento como algo de movível,adjacente.Não é como Lmoneiro em barcoou piloto em aviãoque se ausentam se o comandonão se torna imprescindível. (conLnua...)
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(...conLnuação)
Realidade consLtuinte do meu eu,integras a minha vidae o meu ser,alimentando o que pensoe o que sinto,o que digo e o que faço.
Eu sou tu…… e tu sou eu!
E se conseguisse arrancar-‐te de mim,eu não seria!
Pelo menos…… não seria como sou!
Miguel Leitãodo livro "O tempo e as coisas"
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HORA DO PARTO
Parece que a poesia começanuma palavra atrevidaque se solta da cabeçae cainuma folha de papel:
a primeira.
Atraída,outra palavra vai,certeira,juntar-‐se àquela.
De seguida,outrae mais outrae muitas mais a saltaremda canetae, junLnhas,em carreira,irem dar senLdo à emoção,verdadeira,que escorre do coraçãodo poeta!
Mas, isto, só na aparênciaque, em verdade,o início de um poemanão reside no escrevê-‐lo.
A escrita de um poemaé o fim da gestação de um ser,filho de ideiasque o afeto fecundoue que durante algum tempoo poeta alimentoue aconchegou,dentro de si.
(conLnua...)
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Miguel Leitãodo livro "Vento na alma"
(...conLnuação)
Escrever no papel é uma meta,um momento,um parto,um nascimentomais ou menos doloroso:
— Do interior do poetairrompe para a luz do mundoum filho seu,o seu retrato,um espelho a refleLro seu senLr mais profundo.
Miguel Leitãodo livro "O tempo e as coisas"
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A PROFESSORA
De passo firme,apressada,radiosa e sonhadora,em direção à escolavai passandoa professora.
Vai depressa e sem demora,não te atrases, professora, está na hora!
Logo depoise atrás dela,como se seguissem a mãe,cabisbaixose ensonadospassam os meninos também.
É dar aos pés, criancinhas, não queiram jamais perdera ocasião de estudar e de crescer!
Árduo trabalho,o da educadora!Mas sublime a missão:ensinar as criançase reparLr com elaso seu terno coração.
Ama sempre, professora, que os frutos do coraçãoexcedem em qualidade os de qualquer outra lição!
E aos pequeninosapontando Deus,instaura, na terra,o reino dos céus.
Ensina, professora! Ensinaque existem muitas coisas sem dimensão pequenina!
Miguel Leitãodo livro "O tempo e as coisas"
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PALAVRA AMIGA
Bem sei que neste Natalesperavas uma carta ou um postalem que seguisse um poemadeste velho carunchoso,de menteempedernida e gasta.
Ou então algum presente,apeLtoso,embrulhadoem papel de fantasiae atadopor laço de seda macia,mulLcolor.
Mas olha,deixa que te diga:
— Muito melhorque poesia,e ainda com mais saborque uma canLga,que uma prendaou que uma flor,é aquela palavra amigaque sabe, na hora justa,suavizar-‐nos o peito,se é grande a dore se aperta!
Essa palavra está aqui.A altura, não será a certa,mas,de qualquer jeito,eu quero enviá-‐la para L.
Miguel Leitãodo livro "O tempo e as coisas"
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GRITO
eu quero poder gritargritar sempre gritar altoeu quero gritar um grito
grito forte grito agudo grito longo grito ardente
poder gritar eu queroe ouvir o eco do meu grito em Leu quero gritar um grito
grito-‐amor grito-‐vida grito-‐sangue grito-‐alma
eu quero dizer-‐te em grito estas entranhasque não vês e que não ouvesque o meu grito é invisível e mudomas aquece e queima e fundeeu quero gritar um grito
grito-‐fogo grito-‐chama grito-‐luz grito-‐silêncio
se puder gritar bem altoe tu escutares o meu gritoeu viverei a vida inteira nesse instanteeu serei feliz
eu quero gritar-‐te o gritogrito forte grito agudo grito longo grito ardente grito-‐amor grito-‐vida grito-‐sangue grito-‐alma grito-‐fogo grito-‐chama grito-‐luz grito-‐silêncio
que o meu silêncio seja o grito
Miguel Leitãodo livro "Vento na alma"
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O TOQUE DO TELEMÓVEL
O toque do telemóvel!Aquela voz que aguardei o dia inteiro, o final da expectaLva que não havia meio de se escoarpelos intersxcios das horas longas, pesadas,que se sucediam em vão!
Já não sei do que falámos,mas as palavras não importamnem o que elas queriam dizer.O que interessa é que se lembrou de mim,que quis falar-‐me,que quis ouvir-‐me,ou talvez cerLficar-‐se apenas de que vivo e conLnuo disponível para acatar o seu apelo.
Isto que sinto, este bem-‐vindo alvoroço,é com certeza paixão!E da mais forte, daquela que se alimenta de pequenos nadasque são tudo,e com os quais se exalta,e se eleva acima das coisas e dos dias!
E das palavras também,que algumas até são escorregadias como limos,duras como godos arredondados pela águaem marés vivas,e ásperas como as paredes que às vezes se levantam entre nós,tentando a separação.
Mas há pouco, o bendito telemóvel tocou. Era já noite. Houve aquele abalo de sempre, cá dentromas, de imediato, o universo se recompôs,as estrelas começaram a piscare todos os muros recuaram,envergonhados!
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EVOCAR O PASSADO
Mesmo sabendo que não vens, sento-‐me aqui, à tua espera,onde tantas vezes vieste para depois de um café parLrmos em busca do sol de inverno.
O teu regresso é impossívele se o não fosse, já não faria senLdoque eu mudei,sou outro,e jamais poderias encontrar aquele que fuie tu amaste.
Dele, apenas a memória do que foi,do que senLu, do quanto se deu,e do sabor que Lnham as sensações e essa entrega!
É isso que rumino agorae me faz estar aqui, na mesa da esplanada,como se o gosto fosse de hoje!E é por isso que mesmo sabendo que tu não vensme sento aqui, à tua espera!
Miguel Leitãodo livro "Vento na alma"
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PENSAR LIBERTO
Solta-‐te, pensamento meu,enquanto não te apertam o laço.Porque teimas em ficar,acorrentado,como escravo em caLveiro?Não tens sede de voar?Não sentes fome de espaço?
Desprende-‐te, pensamento meu,filho meu,minha razão,preserva os teus olhos certose a tua reta visão.Procura mundos abertos,ideias em expansão.
Vai, pensamento meu,que é tempo de maturidade.Serve-‐te da juventudeque ainda conservas em L,e vai por aí fora, dando vazão à virtudede agir em liberdade.
Parte, pensamento meu,segue sozinho, mas solto,com autonomia para enfrentar e força para vencer as ondas do mar revoltoque os ventos hão de agitare a vida te há de trazer.
Cavalga, pensamento meu,não te retardes a remoer destroços.Deixa esta mísera carcaça envelhecidade pele a desprender-‐se dos ossose procura a razão de te soltarese alterares a tua vida. (conLnua...)
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E… se acaso… algum dia passares por aqui…e me reconheceres…sacode-‐me, desperta-‐me… e conta-‐me tudo.
Miguel Leitãodo livro "Vento na alma"
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NÃO CHORES, MARIA RITA, SORRI
Não chores, Maria Rita, não chores!És tão pequena e tão novitapra ficares triste e aflita,por um coração de gelo!
Sorri, Maria Rita, não chores,que tens uma estrela bendita!
Sorri, Maria Rita, sorri,olha o que te digo, acredita:— Quem te provocou a desdita,na prisão hei de metê-‐lo!
Não chores, Maria Rita, sorri, não estejas triste e aflita!
Não chores, Maria Rita, não chores,que estás hoje tão caLtacom esse vesLdo de chita,de flores em campo amarelo!
Sorri, Maria Rita, não chores, não dês importância à desdita!
Sorri, Maria Rita, sorri,que tu ficas tão bonitacom esses pedaços de fitaa enlaçar o teu cabelo!
Não chores, Maria Rita, sorri, que a sorrir ficas caLta!
Não chores, Maria Rita, não chores! Protege-‐te uma estrela benditaque guarda a tua sina escrita,o que tarda é a dizê-‐lo!
Sorri, Maria Rita, não chores,que a sorrir ficas bonita!
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