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LEITURA DOS CLÁSSICOS – UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO
CONTINUADA PARA PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Autora: Neusa Marilene Achete Lino¹
Orientadora: Terezinha Oliveira²
Resumo
O texto em pauta aborda a possibilidade da leitura de autores clássicos enquanto
proposta de formação continuada do professor do Ensino Médio em escola pública.
Apresentaremos uma reflexão sobre a importância dos clássicos e da sua leitura na
e para a fundamentação teórica enquanto prática pedagógica. A nosso ver, a
leitura, o estudo de autores que fundamentam o conhecimento ocidental constitui-se
em uma das condições de melhoria do ensino básico, posto que, quanto melhor a
fundamentação teórica do professor melhor será sua atuação como docente. É
preciso observar que esta fundamentação possibilita melhoria no ensino porque
torna o professor mais consciente do seu papel social.
PALAVRAS – CHAVE: Fundamentação Teórica. Leitura. Prática Pedagógica.
Abstract
This text covers the possibility of reading classical authors as a proposal for
continuing education of high school teacher in public teaching. It presents a reflection
about the importance of classics and for theorizing pedagogical practice on basic
education. For us, the reading and studying of authors who give theoretical support
to occidental knowledge consists in an of the condition for improving the basic
education, observing that, as better the teacher knowledge be on classics better will
be his or her work on teaching. She is necessary to observe (to point out) that this
recital makes possible improvement in education because it becomes the professor
most conscientious of its social paper.
Key words: Theoretical knowledge. Reading. Pedagogical Practice
¹ Professora PDE 2010- Pedagoga lotada no Colégio Est. Governador Adolpho de Oliveira Franco – EFMP ²Orientadora PDE, Professora Doutora da Universidade Estadual de Maringá UEM - DFE
1 Introdução
Entendemos a educação como um processo pelo qual um indivíduo ou
mesmo um grupo adquire o conhecimento nas suas diferentes formas.
Acreditamos que a leitura e o debate sobre autores clássicos no meio escolar
contribuirão, indubitavelmente, para a melhoria do ensino público, visto que poderá
proporcionar melhor fundamentação teórica ao professor.
Outra motivação para este trabalho se constitui numa tentativa de poder
proporcionar o entendimento da importância da história e das mudanças que
atingem a sociedade, podendo assim contribuir para que se evite ficar só na
superficialidade do trabalho educativo, quando se subtrai o histórico do processo.
Na citação abaixo, temos confirmada esta importância
O texto escrito [...] tem sua função civilizatória fundamental, a de colocar ao alcance dos cidadãos o conhecimento acumulado por séculos, de modo organizado. Isto implica em estudar, conhecer fatos de um lado e, mais uma vez, estudar para conhecer teorias. Ter um repertório de informações e saber como lidar. (PINSKY, 2010, p.17)
Esse artigo resultou também do projeto de intervenção pedagógica
elaborado para o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2010. Para o
seu desenvolvimento foram escolhidos teóricos clássicos priorizados por sua
importância, de acordo com o tempo histórico de cada um, na formação do homem
do Ocidente, não tendo sido, portanto, uma escolha fortuita. São eles: Aristóteles
em Ética a Nicômaco, livros I e II; Boécio em Consolação da Filosofia e Kant, com o
texto: Pedagogia em Kant A obra literária A Vida de Lazarilho de Tormes, de autoria
desconhecida, e Didática Magna de Comênios, também fazem parte deste texto.
Ao final, esperamos demonstrar que a leitura dos clássicos poderá proporcionar o
prazer de um conhecimento que pode dialogar com todos os demais sem, contudo,
desmerecer nenhum deles e, além disso, contribuir para uma formação mais ética
e moral de nossos alunos
2 Desenvolvimento
2.1 O Filósofo na Educação
2.1.1 Aristóteles
[...] é possível errar de muitos modos, mas só há um modo de acertar. Por isso, o primeiro é fácil e o segundo difícil; fácil errar a mira, difícil atingir o alvo. Pelas mesmas razões, o excesso e a falta são características do vício, e a mediania da justiça. (ARISTÓTELES, 1991, p.36).
Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), também conhecido como o Estagirita,
nasceu em Estagira, na Trácia, hoje dividida entre Turquia, Grécia e Bulgária,
mudando-se aos 17 anos para Atenas, onde ingressou na Academia daquele que foi
o maior pensador de seu tempo, Platão, e dele foi discípulo.
Aristóteles é comumente citado como um dos maiores teóricos do mundo
antigo, visto que abrangeu todas as ciências de seu tempo. Ao seu interesse, nada
parecia lhe escapar.
Das obras aristotélicas, uma é apontada como sendo uma síntese de seu
pensamento: A Política. Segundo alguns autores a escolha é motivada pelo caráter
abrangente atribuído à obra, na qual por meio da Metafísica, traz a concepção de
que a natureza de algo é seu estágio final. A partir deste pressuposto, podemos
afirmar, então que a formação escolar se constitui na natureza da escola.
Essa obra, segundo alguns autores, traz em si a doutrina aristotélica sobre a
educação, referenciando, inclusive, um prenúncio sobre a família enquanto berço da
formação do homem. Esta deve ser bem formada no que diz respeito ,
principalmente, aos valores morais e éticos, pois do contrário poder-se-á gerar filhos
que possuam vícios.
Ora, como a política utiliza as demais ciências e, por outro lado, legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, de modo que esta finalidade será o bem humano, a ponto de este fim ser o bem supremo dos homens” (ARISTÓTELES, 1991, p.2)
Para o trabalho em pauta, nos detivemos no que a obra Ética à Nicômaco,
composta por 10 livros, escrita por Aristóteles apresenta sobre o objeto do agir
humano e sobre a Virtude.
O objeto do agir humano, segundo Aristóteles é o bem que o indivíduo tem
em mira e que segundo ele” [...] bem é aquilo a que todas as coisas tendem [...]”
(ARISTÓTELES, 1991, p. 5). Ele evidencia a existência de um Bem Supremo: a
Felicidade e esta se objetiva de diferentes maneiras para diferentes interlocutores.
Se todo o conhecimento e todo trabalho visam a algum bem, qual será o mais alto de
todos os bens?
Aristóteles deixa claro que mesmo que a riqueza, a reputação e o prazer
físico não sejam suficientes para a plena felicidade, uma dose mínima dessas coisas
é necessária para que o homem seja feliz. De outro modo é impossível alcançar uma
boa conduta: “[...] o homem feliz parece necessitar também dessa espécie de
prosperidade; e por essa razão, alguns identificam a felicidade com a boa fortuna,
embora outros a identifiquem com a virtude”. (ARISTÓTELES, 1991, p.18)
De acordo com Aristóteles a felicidade é adquirida pela aprendizagem, pelo
hábito ou adestramento; é conferida pela providência divina e não produto do acaso.
Assim a felicidade, seguramente é uma dádiva divina. Mesmo que venha como um
resultado da virtude, pela aprendizagem ou adestramento, ela está entre as coisas
mais divinas. Logo, confiar ao acaso o que há de melhor e mais nobre, seria um
arranjo muito imperfeito. A felicidade é uma atividade virtuosa da alma; os demais
bens são as condições dela, ou são úteis como instrumentos para sua realização “[...]
a virtude que devemos estudar [...] é a virtude humana; porque humano era o bem e
humana a felicidade que buscávamos”. (ARISTOTELES,1991, p.26).
Mais especificamente sobre a virtude, Aristóteles escreve que essa é uma
qualidade humana que só se realiza quando se age com justiça. São duas suas
espécies: virtude intelectual que deve ser ensinada (aqui inclui-se, a escola) e a
virtude moral que será determinada pelo hábito, pelo exercício.Temos, então, que
aprender as virtudes, uma vez que não são definidas pela Natureza, muito embora,
esta nos capacite para sua aquisição. Virtudes apontadas por Aristóteles como a
coragem, a temperança, a justa indignação e outras são atributos imprescindíveis,
sem os quais não há possibilidade de civilizar os homens, nem de se obter a
felicidade.
O ser humano também pode destruir virtudes adquiridas, uma vez que os
vícios também possam ser incorporados pelo ser humano. Do ponto de vista de
Aristóteles, só o homem possui vícios e virtudes.
Da virtude pode-se entender que é o meio termo das ações. A cada situação
tem-se um diferente, sendo tarefa muito difícil encontrá-lo, pois se torna necessário
saber agir em relação à medida certa, à ocasião certa, motivo e maneira que é
conveniente:
Fica bem claro, pois, que em todas as coisas o meio termo é digno de ser louvado, mas às vezes devemos inclinar-nos para o excesso e outras vezes para a deficiência. Efetivamente, essa é a maneira mais fácil de atingir o meio-termo e o que é certo. (ARISTÓTELES, 1991, p.37).
Cabe frisar ainda, que a virtude é o meio-termo entre dois vícios, um por
excesso e outro por falta. Mas, nem toda ação e nem toda paixão admitem meio-
termo. Há algumas ações ou paixões que implicam em maldade, como a inveja. Elas
são más em si mesmas, nelas não há retidão, mas erro.
A abordagem aristotélica sobre a formação do ser humano e seus valores
éticos e morais ainda se encontram presentes no mundo atual, uma vez que a
conduta ética se faz necessária para que o indivíduo tenha a capacidade de
discernimento e de responsabilidade que as diversas funções de hoje exigem do
profissional, inclusive do professor, correndo o risco de sem ela, não ter a condição
de perceber e avaliar as consequências de suas ações enquanto educador e
formador do ser humano da atualidade.
2.1.2 A Consolação da Filosofia – Boécio
Neste artigo, pretendemos também, demonstrar o que é para Boécio, homem
de Estado, filósofo e poeta romano nascido por volta do ano 480, grande leitor de
Aristóteles, em A Consolação da Filosofia, o sentido ou no que consiste a Felicidade.
Boécio mostra-se aristotélico quando faz uma abordagem, dialogando com
sua mestra Filosofia sobre a necessidade de as virtudes, os valores morais e éticos
presentes em Ética a Nicômaco, livros I e II estarem presentes aos homens de seu
tempo, séculos depois.
A Filosofia, em seu exercício socrático, deixa claro que todo ser humano tem
atividades que buscam um único fim: a Felicidade e “a felicidade pode entrar em
toda parte se suportarmos tudo sem queixas.” (BOÉCIO, capítulo II, p.35). Porém a
própria Filosofia explica: “Mas que homem pode haver que seja afortunado o
suficiente para não querer mais, impelido pela ambição?” (BOÉCIO, 1998, p.35).
As adversidades que atingem Boécio não lhe impedem de demonstrar uma
posição benévola acerca do mundo no qual o ser humano está inserido. Ele acredita
que a humanidade caminha para o Bem e aqueles que conseguem se desligar das
coisas fugazes deste mundo, poderão se apoderar da verdadeira Felicidade se o
caminho da retidão for mantido:” “Bem-aventurado será o gênero humano, se o seu
coração obedece ao Amor, o mesmo a quem o próprio Céu estrelado obedece”
(BOÉCIO, 1998, p.52).
Os capítulos I e II de A Consolação da Filosofia, entre outros pontos,
comprovam a importância da “Felicidade” para o ser humano como sendo vital, mas
também é vital que este ser, saiba encontrá-la de modo definitivo e real com risco de
passar seu tempo terreno sem nunca a conhecer. É transparente, no texto, que a
felicidade só será verdadeira se a ela não temermos perder. Em Boécio como em
Aristóteles, a felicidade só pode acontecer com o verdadeiro bem, que uma vez
conseguido não permite lugar a nenhum outro desejo.
No entanto, a abordagem dada aos valores éticos a serem desenvolvidos no
homem, na Idade Média, onde a predominância era, como hoje, fundamentada no
“poder da riqueza e da força”, ainda demonstram características visíveis na formação
da sociedade na qual, hoje estamos inseridos, onde se faz necessário compreender
que a vontade de um coletivo prepondera em detrimento da individual.
A História constantemente nos revela a importância da formação moral e ética
para o bem comum, embora a cada época com nuances diferentes
2.1.3 Kant - Sobre A Pedagogia
O filósofo Kant (1724-1804), em sua obra Sobre a Pedagogia, já no início
descreve o homem como sendo a única criatura que precisa ser educada,
necessitando de cuidados que o eduquem e o disciplinem desde a mais tenra
infância. Ele propõe que a educação deva disciplinar para impedir que a selvageria, a
animalidade, prejudique o caráter humano:
A disciplina é o que impede ao homem de desviar-se do seu destino, de desviar-se da sua animalidade, através das suas inclinações animais. Ela deve, por exemplo, conte-lo, de modo que não se lance ao perigo como um animal feroz, ou como um estúpido. A disciplina, porém, é puramente negativa, porque é o tratamento através do qual se tira do homem a sua selvageria; a instrução pelo contrário, é a parte positiva da educação. (KANT,1999, p.12).
Os animais são dotados de instintos que comandam as suas ações por toda a
vida, mas isto não é próprio ao homem, que necessita desde o nascimento até certa
idade de cuidados oferecidos pelo adulto. Porém, esta condição de inacabado não
lhe tira a possibilidade ou mesmo, necessidade de ele se desenvolver, sendo
obrigado por natureza a educar-se:
O homem não pode se tornar um verdadeiro homem senão pela educação. Ele é aquilo que a educação dele faz. Note-se que ele só pode receber tal educação de outros homens, os quais a receberam igualmente de outros. Portanto, a falta de disciplina e de instrução em certos homens os torna mestres muito ruins de seus educandos. (KANT, 1999, p.15)
Kant demonstra, como tarefa maior na educação, a disciplina para que a
criança possa aprender e isso ocorre se houver a obediência às regras instituídas
socialmente. Ele ensina que os homens não respeitarão a Lei se não souberem
como fazê-lo. Por ser livre é que o homem pode ser educado, mas a liberdade está
inclinada para o bem ou para o mal. Kant não fala em uma natureza humana
exatamente má, mas o homem não nasce isento de vícios.
Kant, enquanto pedagogo, tem o sujeito moral como elemento principal da
educação e para tanto, se fazem necessárias outras formações: primeiro, a que diz
respeito à habilidade; segundo, a que diz respeito à prudência e em terceiro, a que
diz respeito à cultura moral, tendo em vista a própria moralidade.
Para Kant a educação consiste na formação pragmática (prudência) e no
cultivo da moral (moralidade). É uma construção, um processo, no qual, cada fase,
cada característica específica, insere-se em sua respectiva e adequada idade. As
qualidades naturais da humanidade são pouco a pouco extraídas da própria espécie
humana; sendo, cada nova geração, educada pela anterior. Sobre isso Kant afirma:
A educação é uma arte, cuja prática necessita ser aperfeiçoada por várias gerações. Cada geração, de posse dos conhecimentos das gerações precedentes, está sempre melhor aparelhada para exercer uma educação que desenvolva todas as disposições naturais na justa proporção e de conformidade com a finalidade daquelas e, assim, guie toda a humana espécie e seu destino. (KANT, 1999, p.19).
Para Kant, a formação e a educação dos homens são baseadas na liberdade o
suficiente para que se tornem capazes de desejarem ou se tornarem capazes de
buscar dignidade e respeito igual para todos.
2.2 Literatura e Didática 2.2.1 A Vida de Lazarilho de Tormes, De suas fortunas e adversidades .
O texto utilizado é o da Edición de Burgos, 1554, com as intercalações da
edição de Alcalá, 1554, com a tradução de Roberto Gomes e prefácio de Marcelo
Backes.
Marcelo Backes inicia o texto prefaciando A Vida de Lazarilho de Tornes, de
suas fortunas e adversidades, uma obra anônima do século XVI, Espanha,
denominando-a como o primeiro romance picaresco da literatura universal.
No decorrer da narrativa, o protagonista inventa estratégias, disfarces,
alternativas de burlar a ordem vigente para não morrer à míngua e paralelamente
discorre sobre sua visão de mundo, amarga e crítica.
Verdadeira sátira social, Lazarilho, se apresenta como anti-heróico , uma
contraposição aos heróis presentes nos romances de cavalaria da época, ridiculariza
representantes de toda a escala social da Espanha de então, não poupando a
aristocracia. No capítulo III, se encontrando a serviço de um escudeiro, Lazarilho
estranha como os filhos de nobres vivem às custas de seus pais e desenvolvem uma
altivez, a seu ver, indigna.
Muitas organizações e grupos de indivíduos são criticados no livro, tendo a
igreja e a aristocracia como principais. Se fosse hoje, não se fugiria muito a esta
ordem, apenas com identidades mais contemporâneas.
Críticas à malevolência no individual também são percebidas, como bem pode
ser visto numa das poucas vezes em que o diálogo surge durante a narrativa: “Olha,
se és amigo, não me digas algo que me fira, pois não tenho como amigo a quem me
faz sofrer.” (LAZARILHO, 2005, p.106)
A diversidade cultural, racial, econômica com a qual trabalhamos na escola
torna necessária a leitura de textos como o de Lazarilho , até mesmo para que
possamos compreender que num coletivo social há de se respeitar as
individualidades de nossos alunos, pois só assim o trabalho educativo pode vir a
bom termo.
2.2.1 Comênios e a Didática Magna
“[...] o ser humano pode ser educado, ensinado naquilo
que sua natureza humana o impele.” (COMÊNIOS, 2001,
p.162).
Comênios, educador do século XVII, ao escrever a Didática Magna, parece
ter vislumbrando o que acontece no século XXI. Lá ele critica uma escola que, por
sua inoperância metodológica, avaliativa, além de aparentemente não saber a que
veio, não cumpre portanto, o papel de tornar o educando um ser preparado para
exercer seu papel emancipatório na sociedade na qual estiver inserido.
Comênios não permanece apenas na crítica; propõe em sua obra uma escola
na qual se possa “ ensinar tudo a todos”, sem discriminação de sexo, classe social,
uma educação globalizadora na qual a criança, o jovem “[...] nos anos da primeira
juventude, receba instrução sobre tudo o que é da vida presente e futura, de
maneira sintética, agradável e sólida.” (COMENIOS, 2001, P.11).
“[...] Ensinar tudo a todos; [...] Sólido conhecimento aliado à piedade; [...]
Metodologia voltada para o aluno; [...] Educação para o tempo e para a eternidade;”
(COMÊNIOS, 2001, p. 127 – 168). Esta preocupação de Comênios em pleno século
XVII, tão necessária para o pleno desenvolvimento do processo de ensino e
aprendizagem ainda surge como princípio a ser sedimentado nos projetos políticos
pedagógicos e nos planos de trabalho docente da escola atual, conforme se pode
observar nas propostas de formação continuada dos docentes de hoje e nas
Diretrizes . Curriculares para o Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e
Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em Nível Médio e Profissional do Estado do Paraná.
2.3 Formação do Professor/ Melhoria de Ensino
Os textos clássicos propostos para comporem este estudo foram escolhidos por
ter um elo integrador importante para cada período histórico no qual estão inseridos e
não menos importante para o momento atual.
Consideramos ser a questão da moral e da ética o ponto principal de união entre
os clássicos escolhidos. Estes valores aliam-se aos aspectos da sensibilidade e à
percepção do que o indivíduo necessita para exercer sua condição de humanidade de
maneira prestante na sociedade atual.
3 GTR – Grupo de Trabalho em Rede
Concomitantemente à Implementação do Projeto de Intervenção,
desenvolvemos o Grupo de Trabalho em Rede (GTR), ofertado, exclusivamente, na
modalidade à distância, apresentado na plataforma modle e que é uma das atividades
realizadas pelos Professores selecionados para o Programa de desenvolvimento
Educacional – PDE. Este Grupo nos oportunizou a apresentação do projeto a um
público de educadores num espaço geográfico mais amplo, atingindo várias partes do
Estado do Paraná. Dele participaram professores pedagogos e professores de
diferentes disciplinas que fizeram a escolha desse curso com base em resumo
publicado num site (ambiente GTR) disponibilizado pela Secretaria de Educação do
Paraná no segundo semestre, do ano de dois mil e onze, com início das atividades no
mês de outubro.
O GTR – Grupo de Trabalho em Rede foi trabalhado em três Temáticas, sendo
a primeira, a apresentação e discussão sobre o Projeto de Intervenção Pedagógica. A
segunda Temática foi sobre o Material Didático elaborado para a implementação do
Projeto. A terceira e última Temática foi sobre as Ações de Implementação do
Projeto. Ainda constou do GTR, a avaliação das atividades apresentadas, momento
em que foi avaliado o percurso realizado com o grupo de cursistas inscritos.
Apresentamos abaixo, na escrita itálica, algumas contribuições de professores
cursistas que fizeram parte do GTR – Leitura dos Clássicos – Uma Proposta de
Formação Continuada para Professores da Educação Básica.
Professor Cursista 1
Os textos clássicos são sempre valiosos de se ler, por tudo o que nos informa sobre o
entendimento do desenvolvimento da história do pensamento na humanidade, mas
também em virtude da imersão propiciada no que de melhor produziu a nossa cultura.
Principalmente o estudo de Kant que nos inspira a pensar numa educação para a
autonomia que busca desenvolver as capacidades dos educandos para que tenham
condições de perseguir as metas as quais se propõe livremente. Os conhecimentos
aprendidos na escola são importantes por instrumentalizarem os sujeitos a realizar
seus projetos aos quais se propõe racional e livremente. Ou seja, o conhecimento, a
razão teórica, pode alargar as condições para que o homem seja autônomo. Enfim
todos os textos citados nos mostram serem bastante atuais, e não podem ser
esquecidos por aqueles que se propõem a desenvolver a arte de educar.
Professor Cursista 2
Essa leitura propõe ao educador tornar-se um formador mais crítico e com capacidade
de atuação para transformação porque nos clássicos encontramos uma fonte
inesgotável de conhecimentos e idéias, sendo que em cada leitura as possibilidades
ampliam-se pelas experiências humanas de outras épocas e as relações que
podemos fazer com a atualidade, analisando o contexto histórico e político e todos os
fatores que permeiam a educação.
Professor Cursista
Leitura dos Clássicos é uma proposta que pode ser pensada, sem dúvida, pois o
estudo de teóricos clássicos pode proporcionar as possibilidades de:
- Resgatar a importância do conhecimento historicamente construído, e a partir do
passado, refletir sobre o presente e projetar o futuro.
- Refletir sobre a educação que vem caindo na superficialidade, passando ao sentido
de preparar para o mercado de trabalho, voltado para o individualismo.
- Refletir sobre a importância da formação humana para o bem comum, ou seja,
pensar no individual e no coletivo.
- Refletir sobre o que circula na mídia, revendo os valores muitas vezes banalizados.
- Segundo Comênios, “a escola deve ser um espaço para a formação humana e
profissional, onde tudo seja ensinado a todos, dando maior atenção aos menos
providos de inteligência, os quais devem ser mais auxiliados”. Portanto, a
possibilidade nesse sentido é rever o sistema educacional que não está organizado
para este propósito.
Professor Cursista 4
Certamente a professora está se reportando a um novo projeto de sociedade
quando se refere a um mundo bom para todos. O caos instalado pelo modo de
produção capitalista está agonizante, as sucessivas crises por que já passou não se
compara ao movimento decadente global anunciado pelas mídias apontando o seu
colapso.
Não há mais perspectivas para contornar a fase monopolista do capitalismo, ou se
busca a essência de um mundo bom para todos através de uma Democracia de Novo
Tipo ou a guerra imperialista promoverá o caos no mundo rapinando as riquezas dos
povos e/ou países subjugados por não estarem com seu aparato bélico preparado
para o enfrentamento e anestesiados pela ideologia do opressor.
Professor Cursista 5
Penso que a leitura dos clássicos certamente favorece e subsidia o processo
de ensino e aprendizagem, mas confesso ficar decepcionado por não constar no seu
projeto os clássicos que fundamentaram teoricamente a maioria das Diretrizes
Curriculares do Estado do Paraná.
Penso que falar em Clássicos da Filosofia Educacional sem discutir os teóricos
do Materialismo e da Dialética é não querer transitar pela Ciência que dá conta de
explicar as contradições presentes na sociedade.
Considerações Finais
Podemos inferir que a formação do ser humano observando a importância de
valores morais e éticos em diversos tempos históricos, pode ser influenciada pela na
visão de diferentes autores clássicos se constituem como colaboradores valiosos, até
essenciais àqueles que tenham em mira colaborar na formação do cidadão do mundo
atual. Esta formação, entendemos não ser de uma única instituição ( familiar, escolar,
religiosa) a responsabilidade de leva-la a bom termo, mas ao professor cabe uma
substancial parte, em nossa opinião, o que inclusive nos motivou a este estudo que se
iniciou com a proposta do projeto “Leitura dos Clássicos – Uma proposta de Formação
Continuada par Professores da Educação Básica”.
Por meio do círculo de debates que fez parte da implementação deste projeto,
e do GTR – Grupo de trabalho em Rede, nos foi permitido um estudo de textos que
fazem parte de um legado histórico que permeiam a fundamentação teórica do
professor da Educação Básica, representando um avanço em nossa formação
pessoal e profissional.
Ler o texto clássico nos fez desenvolver uma atividade que se justifica por ter
se apresentado como um fazer transformador, capaz de promover novos significados.
Entendemos que, embora por si só o texto clássico não possa dar conta de resolver
todos os problemas da formação escolar da atualidade, e nem de longe seja esta a
nossa pretensão, tal leitura só tem a colaborar com o fazer pedagógico em sala de
aula, uma vez que receitas prontas para este trabalho não existam na escola.
Após a Implementação do projeto no Colégio Estadual Governador Adolpho de
Oliveira Franco, em Astorga, e da realização do GTR no último semestre de dois mil e
onze, tivemos a oportunidade de perceber que o interesse pelo estudo, a busca do
aprofundamento teórico fazem parte das prioridades do professor enquanto indivíduo
e profissional
Muito embora haja o interesse de professores por estes estudos temos
consciência da dificuldade por diferentes motivos de fazer deste projeto um ato
contínuo na escola. Entretanto, barreiras existem para serem ultrapassadas e por
considerarmos o desafio como parte de nosso trabalho da área pedagógica
pretendemos dar continuidade da “Leitura de Clássicos”, no Colégio Adolpho.
Entendemos que só nos foi possível chegar a esta conclusão após ter
participado do PDE, Programa de Desenvolvimento Educacional oportunizado pelo
Governo do Estado do Paraná e desenvolvido junto às IES, Instituições de Ensino
Superior do Estado do Paraná, e em nosso caso, junto à UEM, Universidade Estadual
de Maringá.
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