inclusão digital e inclusão social: um estudo nas escolas
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FU WEN HSIEN
Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas de Informática e Cidadania da Cidade de São Paulo
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO
SOCIAL
SÃO PAULO – 2004
FU WEN HSIEN
Inclusão Digital e Inclusão Social: um estudo nas Escolas de Informática e Cidadania da Cidade de São Paulo
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Serviço Social, sob orientação da Profa. Dra. Mariangela Belfiore Wanderley.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO
SOCIAL
SÃO PAULO – 2004
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________
___________________________________________
___________________________________________
AGRADECIMENTOS
À Profa. Dra. Mariangela Belfiore Wanderley, minha orientadora, por
ter me acompanhado nesses dois anos e meio de estudos e de pesquisa; por
ter incrustado em mim conceitos indispensáveis para o estudo do Serviço
Social, contribuindo para a transformação do meu modo de pensar e de agir
perante a sociedade. Palavras são insuficientes para descrever a minha
gratidão e a honra de ter compartilhado de sua preciosa amizade.
À Profa. Dra. Carmelita Yazbek, pela honra de ter participado de uma
de suas disciplinas na Pós-graduação, ocasião em que, com seus inestimáveis
comentários, pude enriquecer meu conhecimento em Serviço Social.
Ao Prof. Dr. Fernando Almeida, por seu incentivo no estudo da
Inclusão Digital, sob a visão de educadores; e pelo seu sentimento nobre ao
compartilhar comigo a alegria do nascimento do meu filho Victor.
À Profa. Dra. Maria do Carmo Brant de Carvalho, Carminha, por suas
orientações no estudo sobre o Terceiro Setor no campo de Gestão Social; pela
serenidade com que transmite seus conhecimentos, despertando interesse.
À Profa. Dra. Luziele Tapajós, por seu incentivo e valorosa
contribuição como membro da Banca de Qualificação deste mestrado.
À Profa. Dra. Aldaíza Sposati, por seu incessante incentivo, que levou-
me a aprofundar o estudo do Serviço Social e o enriquecimento dos meus
conhecimentos, trazidos pelos debates de Exclusão e Inclusão Social.
Ao Prof. Dr. Luiz Eduardo Wanderley, por seu carisma, despertando
interesse no estudo de Ciências Sociais.
À Profa. Dra. Dirce Koga, que sempre me ajudou nos dados da
pesquisa, principalmente na confecção do Mapa de Exclusão e Inclusão
Social da Cidade de São Paulo e por sua simpatia.
À Profª. Dra. Maria Lúcia Carvalho da Silva, Malú, por sua preciosa
amizade e porque sua visão apaixonante das situações do cotidiano e dos
movimentos sociais é um exemplo e um incentivo constante, particularmente
nos momentos difíceis, ao aprofundamento dos estudos e também para que
haja uma atuação concreta em prol da melhoria das sociedades.
A todos os professores que contribuíram para a consecução deste
estudo.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPQ), pelo apoio financeiro e incentivo a esta pesquisa.
Ao Prof. Dr. Robert Liang Koo, por ter me conduzido a conhecer o
verdadeiro caminho da Vida; por seu incentivo ao meu aperfeiçoamento
profissional e pela oportunidade da iniciação em serviço social nas
comunidades, o que inspirou o tema desta pesquisa.
Ao CDISP: Rodrigo Alvarez, Daniel, Elaine Souza, Fátima Oliveira e a
amiga Rosi, além de toda a equipe técnica, pelo auxílio indispensável a esta
pesquisa.
Aos coordenadores e educadores das Escolas de Informática e
Cidadania, pela receptividade e pelo fornecimento dos dados para este
estudo. Em especial, à Amparo, ao Itamar e à Gladis.
Às colegas e amigas que me acompanharam nestes dois anos e meio de
vivência nesta Universidade; em especial, à Carla, pela nossa participação
no III Fórum Social Mundial; à Francisca, pela sua espontaneidade; à Ling,
pela sua simpatia; à Áurea, pelas suas mensagens confortantes; à Tânia e
Ana Paula, novas amizades, além de outros que porventura eu possa ter
omitido por um esquecimento involuntário. A todos, sem exceção, os meus
sinceros agradecimentos.
Em especial, dedico este trabalho à minha família;
À Julia Helena Fu, “a Dudita”, que mesmo sem entender, soube dar
importância a este estudo.
Ao Christian Andrei Fu, “o Quiquito”, que soube esperar o papai para
brincar.
Ao Victor Martin Fu, “o Quiquitinho”, que me tirou noites de sono.
À minha esposa, pela sua inteligência e paciência, pelo seu amor, por
saber me acalmar nas horas difíceis e me compreender nas horas
incompreensíveis.
Aos meus sogros, pelo apoio e incentivo incessantes durante o estudo:
“O conhecimento é o único bem que você pode ter e que não podem tirar de
você”.
Ao meu cunhado e à sua esposa Milena, pelo cuidado com os meus
filhos e apoio nos momentos difíceis. A Min, que mesmo longe revisou a
tradução do Resumo.
Aos meus pais, agradeço pela minha existência. Aos meus irmãos,
obrigado por seus cuidados e carinho.
RESUMO Nosso estudo parte da hipótese de que, promovendo a inclusão digital, seria possível melhorar as condições de inclusão social por meio de inserção no mercado de trabalho, especificamente dos jovens da cidade de São Paulo. Desta forma, foi delineada esta pesquisa, com o intuito de caracterizar os jovens empobrecidos da cidade de São Paulo, alunos dos cursos de informática em três Escolas de Informática e Cidadania (EIC), apoiadas pelo Comitê para Democratização da Informática (CDI) de São Paulo, quanto ao conhecimento de informática; além de identificar as ações de inclusão digital nessas escolas e analisar se essas ações são indutoras de inclusão social. O estudo foi realizado por meio de entrevista, estruturada a partir de questões abertas e fechadas previamente estabelecidas. Foram entrevistados 30 jovens. Os resultados obtidos foram sistematizados e, posteriormente, analisados de forma qualitativa, sendo comparados a alguns indicadores de inclusão/exclusão social que compõem o Mapa de Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo de 2002. A análise foi realizada em três segmentos: conhecimento do perfil dos jovens entrevistados, conhecimento da sua situação socioeconômica e a apropriação e utilização dos conhecimentos adquiridos na EIC. Como complemento ao estudo, foram também entrevistados os professores/coordenadores das EICs, e questionados quanto ao seu entendimento sobre a inclusão digital como meio de inclusão social. Como resultados, pudemos perceber que as condições individuais e socioeconômicas de exclusão social dos jovens entrevistados são condizentes com os apontados pelos índices já existentes entre jovens empobrecidos, tais como: a escolaridade, cor da pele, renda, condições de moradia e de trabalho, e o acesso a lazer e cultura. A educação para a cidadania teve o seu papel fundamental em capacitar os jovens para a auto-organização, participação e intervenção social, melhorando a sua auto-estima e a sua qualidade de vida. Porém, a insuficiência de atividades socioculturais, demonstrada por algumas EICs, levou a resultados insatisfatórios quanto à inclusão social desses jovens, com limitação, inclusive, da sua prática de cidadania. Podemos concluir que a aquisição de novas tecnologias de informação e o acesso ao conhecimento, a inclusão digital, podem facilitar o acesso ao mundo do trabalho pelos jovens empobrecidos; mas que, por si só, é insuficiente como indutora da inclusão social, se não estiver aliada a meios de promoção das atividades socioculturais.
ABSTRACT Our study starts from the hypothesis that, by promoting the digital inclusion, it would become possible to improve the social inclusion conditions, since it makes it easier to get a job, mainly for young people in São Paulo city. This research was done following this idea, in order to distinguish the poor young people from São Paulo city, that study in the information courses in three Information and Citizenship Schools (EIC), that are supported by the Information Democracy Committee (CDI) of São Paulo, based on information knowledge; besides that, we also intended to identify the digital inclusion actions in these schools, and to analyze if these actions influence the social inclusion. The research was done by structured interviews of open and multiple choices questions previously established. There were 30 interviews with young people that followed the conditions above. The results were qualitatively systematized and analyzed and they were compared to some social inclusion/exclusion indicators from the Social Inclusion/Exclusion Map of São Paulo City, 2002. The analysis was done in three segments: knowledge of the interviewed young people profile, knowledge of their social-economic situation and the learning and use of the knowledge acquired in the EIC. In order to improve this research, we also interviewed the teachers/coordinators of the EICs, and questionned them about their understanding of the digital inclusion as a way to the social inclusion. As results, we could feel that the individual and social-economic conditions of social exclusion of the interviewed young people are consonant to the ones showed by the already known indicators among poor young people, such as, such as: the scholarship, the color of the skin (ethnicity), the earnings, the home and job conditions and the access to leisure and culture. The education to the citizenship had a fundamental role to qualify the young people to the auto-organization, to the social participation and intervention, improving their self-esteem and the quality of their lives. Although, the lack of social-cultural activities, showed by some of the EICs, leaded to unsatisfactory results for the social inclusion of these young people, restricting also their citizenship practice. We can conclude that with the acquisition of new information technologies and the access to knowledge, the digital inclusion can ease the access to the job world by the poor young people, but this alone is not sufficient to promote the social inclusion, if this is not joined with the promotion of social-cultural activities.
SUMÁRIO
Apresentação, 13
Capítulo I CENÁRIO E UNIVERSO DA PESQUISA, 17
1. Comitê para Democratização da Informática (CDI), 20
2. Inclusão/exclusão social na cidade de São Paulo, 25
3. Jovens da cidade de São Paulo: alguns dados relevantes, 29
4. Breve apresentação das Escolas de Informática e Cidadania (EICs), pesquisadas, 35
4.1 EIC InstitutoGabi, 35
4.2 EIC Gotas de Flor com Amor, 37
4.3 EIC Associação Beneficente Provisão, 39
Capítulo II OS PROCESSOS DE INCLUSÃO/EXCLUSÃO DE JOVENS NA CIDADE DE
SÃO PAULO E ANÁLISE DA PESQUISA, 42
1. Inclusão/exclusão social dos jovens na cidade de São Paulo, 42
2. Exclusão/inclusão digital dos jovens na cidade de São Paulo, 52
3. Os jovens paulistanos e o acesso à cultura, 60
Capítulo III APRESENTANDO A PESQUISA REALIZADA, 65
1. Perfil dos jovens entrevistados da pesquisa, 65
2. Universo sociocultural dos entrevistados e suas famílias, 79
3. Apropriação e utilização dos conhecimentos adquiridos na EIC, 89
4. Motivação para o curso de informática, 94
5. Um destaque para a cidadania, 97
Considerações Finais, 101
Referências Bibliográficas, 107
Anexos, 112
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Distribuição percentual dos jovens que estudam, segundo as Zonas Homogêneas.
Tabela 2: Jovens que estudam nas escolas públicas, privadas ou cooperativas, segundo as Zonas
Homogêneas.
Tabela 3: Inserção no mercado de trabalho dos jovens pesquisados pelo Mapa da Juventude,
segundo as Zonas Homogêneas.
Tabela 4: Setor onde os jovens do Mapa da Juventude trabalham, segundo as Zonas
Homogêneas.
Tabela 5: Fonte de renda entre os jovens paulistanos pesquisados pelo Mapa da Juventude.
Tabela 6: Cor da pele dos entrevistados do Mapa da Juventude.
Tabela 7: Localidade de acesso à Internet dos jovens pesquisados pelo Mapa da Juventude,
segundo as Zonas Homogêneas.
Tabela 8: Comparação entre IEX e ICJ dos distritos das EICs pesquisadas.
Tabela 9: Gênero dos entrevistados.
Tabela 10: Município de São Paulo – distribuição dos beneficiários dos programas
redistributivos, por sexo, em 2002.
Tabela 11: Idade dos entrevistados.
Tabela 12: Estado civil dos entrevistados.
Tabela 13: Escolaridade dos entrevistados.
Tabela 14: Cor da pele dos entrevistados.
Tabela 15: Comparação entre o Mapa da Juventude e a pesquisa atual.
Tabela 16: Situação de moradia I.
Tabela 17: Situação de moradia II.
Tabela 18 Número de pessoas que moram na casa dos entrevistados.
Tabela 19: Número de cômodos existentes na casa dos entrevistados.
Tabela 20: Número de pessoas que trabalham na casa dos entrevistados.
Tabela 21: Renda familiar dos entrevistados.
Tabela 22: A profissão que tem maior salário dentre as pessoas que moram na casa dos
entrevistados.
Tabela 23: Situação de trabalho dos entrevistados.
Tabela 24: Inserção no mercado de trabalho formal.
Tabela 25: Situação de trabalho dos entrevistados que responderam sim.
Tabela 26: Local onde os entrevistados costumam ter o lazer.
Tabela 27: Lugares onde os jovens pesquisados praticam suas atividades de lazer.
Tabela 28: Comparação das atividades de lazer entre os jovens do Mapa da Juventude e os
jovens da Pesquisa.
Tabela 29: Local onde a família dos entrevistados faz relacionamentos sociais.
Tabela 30: Atividades sociais e culturais nas EICs pesquisadas.
Tabela 31: Situação de utilização dos conhecimentos de informática pelos jovens entrevistados.
Tabela 32: Local onde os jovens entrevistados utilizam o computador.
Tabela 33: Situação de acesso à Internet pelos jovens entrevistados.
Tabela 34: Situação de acesso regular à Internet dos jovens entrevistados em comparação com os
jovens do Mapa da Juventude.
Tabela 35: Local onde os jovens entrevistados têm acesso à Internet.
Tabela 36: As atividades procuradas pelos jovens entrevistados em relação à Internet.
Tabela 37: Motivo que levaram os jovens entrevistados a procurar a EIC.
Tabela 38: Atividades extras que os jovens gostariam de aprender na EIC.
Tabela 39: Outras atividades extras que ampliam o universo cultural dos jovens entrevistados.
Tabela 40: Situação do educador como promotor de temáticas de cidadania.
Tabela 41: Temáticas sobre cidadania mais discutida em sala de aula.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Distritos por região, Cidade de São Paulo.
Quadro 2: Distritos da região sul da Cidade de São Paulo, com IEX e ICJ.
Quadro 3: Critérios de manifestação da Nova e da Velha Exclusão Social.
Quadro 4: Ranking de número de Hosts no Mundo.
Quadro 5: Ranking de número de Hosts na América.
Quadro 6: Atividades e equipamentos públicos que permitem acesso à cultura e lazer, nos
distritos de Capão Redondo, Jabaquara e Campo Belo.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Cidade de São Paulo e seus distritos, conforme IEX.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Uso da Internet, Mapa da Juventude de São Paulo, 2003.
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1: Transcrição da fala dos coordenadores das EICs pesquisadas.
Anexo 2: Transcrição da fala de alguns alunos pesquisados.
Anexo 3: Ranking de IEX nos distritos do Município de São Paulo.
Anexo 4: Roteiro de entrevista.
LISTA DE SIGLAS
ACB – Ação Comunitária Brasil ABP – Associação Beneficente Provisão CCM – Cadastro de Contribuinte Municipal CDI – Comitê para Democratização da Informática CDM – Clubes Desportivos Municipais CEE – Centro Educacional Esportivo CEJ – Coordenadoria Especial da Juventude CEDEC – Centro de Estudos de Cultura Contemporânea CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária CEUS – Centros Educacionais Unificados CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica COHAB – Companhia de Habitação DER – Departamento de Estrada e Rodagem DUED – Departamento de Unidades Esportivas EIC – Escola de Informática e Cidadania IAE – Instituto Adventista de Ensino IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas ICJ – Indicador Composto Juvenil IDI – Índice de Discrepância IDH – Índice de Desenvolvimento Humano IEX – Índice de Exclusão/Inclusão Social IEX DH – Índice de Desenvolvimento Humano IEX DX - INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais NEPSAS – Núcleo de Estudos e Pesquisas em Seguridade e Assistência Social NIED – Núcleo de Informática Aplicada à Educação ONG – Organização não Governamental POLIS – Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais RNP – Rede Nacional de Ensino e Pesquisa SAS – Secretaria de Atenção à Saúde UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas ZH – Zona Homogênea
APRESENTAÇÃO
Este estudo tem como origem o interesse de aprofundar o conhecimento sobre a
inclusão digital como promotora de inclusão social para jovens da cidade de São Paulo,
por meio da capacitação/qualificação para o mercado de trabalho. É uma pesquisa
realizada a partir de uma organização do terceiro setor, denominado Comitê para
Democratização da Informática (CDI), que tem por objetivo instalar equipamentos de
informática nas comunidades em situação de exclusão social, oferecendo aos jovens o
conhecimento de informática por meio de discussões de cidadania.
O objeto de análise é a inclusão digital como indutora da inclusão social de
jovens empobrecidos, através do estudo das ações desenvolvidas pelo CDI, por meio de
Escolas de Informática e Cidadania (EICs), situadas na Zona Sul do Município de São
Paulo.
Os objetivos gerais são conhecer o modo de acesso de jovens empobrecidos aos
conhecimentos de informática; identificar as ações de inclusão digital; e analisar se estas
são fomentadoras de inclusão social.
Para a realização deste estudo, foram tomados dois indicadores básicos de
inclusão de jovens empobrecidos: a inserção no mercado de trabalho e a participação em
atividades socioculturais.
A partir das questões seguintes - que estão na origem deste estudo: A
alfabetização digital é uma ferramenta essencial para a inserção do jovem no mercado de
trabalho? As aquisições sociotecnológicas ampliam o universo cultural dos jovens
empobrecidos? Assim como suas redes sociais? - formulamos a seguinte hipótese
orientadora deste estudo: as aquisições sociotecnológicas obtidas nas EICs ampliam as
possibilidades de inclusão social para os jovens empobrecidos.
Definimos como objetivo principal: analisar as possibilidades de inclusão social
de jovens empobrecidos, pela alfabetização digital promovida pelas EICs, subsidiadas
pelo CDI-São Paulo, organização não-governamental (ONG) que mais empreende
inclusão digital no Brasil.
Os objetivos específicos são os seguintes: Conhecer a proposta de atuação do
CDI; Conhecer como se dá o aprendizado de informática dos jovens que participam das
atividades das EICs; Identificar atividades socioculturais potencializadoras da inclusão
social; Contribuir para ampliar a reflexão sobre o tema da inclusão digital.
O seguinte o caminho metodológico foi empreendido:
1- Pesquisa bibliográfica sobre a temática, inclusive na rede mundial de computadores;
2- Aproximação da temática da inclusão digital pela participação em encontros e
eventos;
3- Pesquisa documental da ONG CDI e das EICs pesquisadas;
4- Pesquisa de campo.
A escolha do universo da pesquisa, as regiões sul, sudeste e centro-sul da cidade
de São Paulo, que possuem 36 dos 96 distritos da cidade, deve-se ao fato de que, nesse
espaço territorial, há distritos com IEX DH polarizados.
Para definir a amostra, utilizamos o Mapa da Exclusão/Inclusão Social da cidade
de São Paulo1, 2002, elaborado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa em Seguridade e
Assistência Social (NEPSAS-PUC/SP), Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe),
Programa de Pesquisas em Geoprocessamento e Instituto de Estudos, Formação e
Assessoria em Políticas Sociais (Polis). O Mapa da Exclusão/Inclusão Social, segundo
seus pesquisadores, é “uma metodologia de análise geo-espacial de dados e produção de 1 SPOSATI, Aldaíza (Coord.). Mapa da exclusão/inclusão social da cidade de São Paulo: dinâmica social nos anos 90. São Paulo: PUC/SP: Pólis: Inpe, 2000b. (CD-ROM).
índices intra-urbanos sobre a exclusão/inclusão social e a discrepância territorial da
qualidade de vida”. Ele permite conhecer “o lugar” dos dados (sua posição geográfica no
território) como elemento para a análise geoquantitativa da dinâmica social e da
qualidade ambiental. Constrói índices de discrepância (IDI) e IEX. Foram escolhidas
para compor a amostra da pesquisa, as EICs, localizadas nos distritos, com menor, com
médio e com maior IEX DX2.
Os distritos que compõem o universo da pesquisa são: Vila Mariana, Moema,
Saúde, Campo Belo, Santo Amaro, Jabaquara, Campo Grande, Pari, Brás, Belém,
Tatuapé, Mooca, Água Rasa, Carrão, Vila Formosa, Aricanduva, Ipiranga, Vila
Prudente, São Lucas, Sapopemba, Cursino, Sacomã, Vila Andrade, Campo Limpo,
Capão Redondo, Jardim São Luis, Socorro, Cidade Dutra, Cidade Ademar, Pedreira,
Grajaú, Parelheiros e Marsilac. Os distritos escolhidos para fazer parte da amostra foram
os seguintes: Campo Belo, Capão Redondo e Jabaquara.
A pesquisa qualitativa foi realizada por meio de entrevistas, estruturadas a partir
de questões abertas e fechadas, previamente estabelecidas.
Para sistematização e análise, os dados coletados nas entrevistas foram tratados,
de modo a facilitar a compreensão crítica.
O público atendido pelas EICs é composto de jovens de ambos os sexos, com
escolaridade variada, com ou sem trabalho e na faixa etária entre 16 a 21 anos.
Foram entrevistados 30 alunos, de três EICs: Gotas de Flor com Amor, Fundação
Gabi e Associação Beneficente Provisão, localizados em distritos cujos IEX DH são –
0,72, -0,36 e 0,59, respectivamente, e ICJ 0,22, 0,39 e 0,59, respectivamente.
Esta dissertação está estruturada em três capítulos e Consideração Final, quais
sejam:
2 Anexa a tabela com os índices de IEX de todos os distritos da cidade de São Paulo. Fonte: Mapa da Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo.
- Capítulo 1: Cenário e Universo da Pesquisa;
- Capítulo 2: Os Processos de Inclusão/Exclusão de Jovens na Cidade de São Paulo e
Análise da Pesquisa;
- Capítulo 3: Apresentando a Pesquisa Realizada;
- Considerações Finais.
No Capítulo 1, mostramos o cenário da nossa pesquisa, que é composta da
análise da ONG denominada CDI; da inclusão e exclusão, na cidade de São Paulo, de
jovens da cidade de São Paulo; e uma breve apresentação das EICs pesquisadas.
No Capítulo 2, apresentamos os processos de inclusão e exclusão de jovens na
cidade de São Paulo. Neste processo, abordamos as inclusões e exclusões sociais e
digitais dos jovens da cidade de São Paulo e o seu acesso à cultura.
No Capítulo 3, analisamos o conteúdo do roteiro da pesquisa efetuada nas EICs
selecionadas, através do perfil dos jovens entrevistados, do nível sociocultural dos
entrevistados e suas famílias e da apropriação e utilização dos conhecimentos
disponíveis na EIC.
E, por fim, nossa conclusão está explicitada nas Considerações Finais.
CAPÍTULO I
CENÁRIO E UNIVERSO DA PESQUISA
Apresentamos, neste capítulo, uma breve reflexão acerca do cenário no qual esta
pesquisa está inserida, bem como sobre alguns dos princípios norteadores que
subsidiaram nossa análise.
Antes de tratar do tema propriamente dito, a inclusão digital como promotora da
inclusão social, tornou-se necessário um olhar sobre o cenário nacional para, então, nos
voltarmos à cidade de São Paulo, local desta pesquisa.
Não pretendemos, aqui, reconstruir definições a respeito de inclusão/exclusão
digital e social, mas estabelecer um estudo sobre a inclusão social mediada pela inclusão
digital; reconhecer como se processa a inclusão digital nas comunidades e sua relação
com o exercício da cidadania entre os jovens.
A temática envolvida nos fez percorrer alguns caminhos. Buscamos entender a
inclusão digital desde sua gênese até os dias de hoje e suas implicações sobre a inclusão
social.
Em Jean Lojkine, na obra A Revolução Informacional, fomos buscar as questões
colocadas pela máquina-ferramenta, quando ele considera que:
(...) as dificuldades para manipular um material delicado ou superior à
força física humana – todos estes problemas implicaram uma revolução
na organização das fábricas e dos meios de transporte e de comunicação,
sem mencionar o esforço de pesquisa científica ligada à indústria. Mas o
que vale para a base tecnológica, vale ainda mais para a força de
trabalho humana: seu desperdício sem limites, bem como a sua
desqualificação, nos primórdios da grande indústria, que acabaram por
provocar crises profundas na própria regulação capitalista. (LOJKINE,
2002:61)
Quanto ao estudo da inclusão/exclusão digital, tomamos como base as seguintes
obras: Exclusão Digital: A Miséria na Era da Informação (2001); Software Livre e
Inclusão Digital (2003), ambas de Sérgio Amadeu da Silveira; o Mapa da
Inclusão/Exclusão Digital, lançado em 2003 pela ONG CDI e a Fundação Getúlio
Vargas. Pesquisas de informações na Internet também complementaram este estudo.
No que se refere às questões de inclusão/exclusão social, baseamo-nos nos
estudos e análises de José de Souza Martins, Robert Castel, Aldaíza Sposati, Mariangela
Belfiore Wanderley, Maria do Carmo Brant de Carvalho, Gilberto Dupas, Dirce Koga, e
Márcio Pochmann.
O principal eixo temático tomado para análise, neste trabalho, é a inclusão digital
como elemento importante para a inclusão social.
Historicamente, os primeiros sinais de exclusão digital foram identificados após a
Revolução Industrial, no século XVIII, na Inglaterra; tendo ganhado reforço posterior,
no século XIX, com a revolução nos Estados Unidos e na Inglaterra. Essas revoluções
geraram o uso intensivo de novas fontes de energia, exigindo, de seus usuários, o
conhecimento de novas tecnologias.
Porém, o período que caracteriza o início da era da exclusão digital (se é que
podemos assim denominar) situa-se em meados do século XX, após as duas grandes
guerras mundiais, com o advento do computador. Esse instrumento era utilizado
inicialmente para realizar cálculos balísticos, auxiliando na trajetória dos mísseis. Em
1951, com a evolução, esse equipamento, passou a processar dados numéricos e
alfabéticos. Em 1953, a empresa IBM lançou os seus primeiros mainframes3. Em 1971,
teve início a era dos microprocessadores, que permitiram multiplicar inúmeras vezes a
capacidade de processamento de dados. Em 1978, foi criado o Apple II, um
microcomputador “caseiro”, com monitor colorido, entrada para discos flexíveis e,
3 Computador de grande porte, que pode ser acessado através de um terminal remoto, isto é, por um conjunto composto de monitor e teclado.
concomitantemente, foi apresentado o primeiro programa de computador de planilhas e
cálculos, o VisiCalc.
No final dos anos 1970, a redução do tamanho do computador possibilitou o seu
uso em várias atividades econômicas, culturais, educacionais, e, posteriormente, em
domicílios. Além disso, a sua capacidade de processar informações vem aumentando
progressivamente.
Em 1969, a ARPANET4, acrônimo de ARPA5 Network, conseguiu interligar
quatro centros universitários dos Estados Unidos: Stanford, Berkeley, Ucla e Utah,
proporcionando o surgimento da Internet. Essas experiências progrediram e, a partir dos
anos 90, geraram a explosão das conexões à Internet para todos os computadores,
inclusive os domiciliares.
No Brasil, essas tecnologias chegaram no final dos anos 1980 e, imediatamente,
foram sendo apropriadas pelo mercado, pela política, pela educação e, lentamente, pelos
domicílios. Conseqüentemente, exigiram a capacitação dos trabalhadores na aquisição
de novas proficiências para operar as máquinas. Assim, o mercado de trabalho, cada vez
mais, passou a exigir mão-de-obra qualificada para operar essas novas tecnologias,
condenando grande massa de trabalhadores analfabetos digitais ao desemprego e à
exclusão social.
A ONG CDI surgiu nesse contexto, com o objetivo de atuar em favor dos jovens
que vivem em comunidades socialmente excluídas, que não conseguem ingressar em seu
primeiro emprego por falta de proficiência digital, fomentando a democratização do
conhecimento da informática nessas comunidades.
4 Pesquisadores do Lincoln Lab do Instituto de Tecnologia de Massachussets, como Paul Baran, Larry Roberts, Ivan Sutherland e Bob Taylor, criaram a Arpanet. 5 Advanced Research Projects Agency, criado pelo presidente dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower, com o intuito de pesquisar e desenvolver projetos militares que recuperem a vanguarda tecnológica norte-americana.
Escolhida como objeto empírico desta pesquisa, apresentamos a seguir, a ONG
CDI: sua história, missão e estratégia a favor da inclusão digital.
1. Comitê para Democratização da Informática (CDI)
O CDI é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, sem vínculos
partidários ou religiosos, que tem como objetivo proporcionar às comunidades de baixa
renda o mais amplo acesso e uso da informática. O CDI foi fundado no Rio de Janeiro,
em 1995. Sua atividade principal é a criação de Escolas de Informática e Cidadania
(EICs), que promovem o acesso às técnicas e ao uso da informática, às pessoas que
fazem parte de comunidades de baixo poder aquisitivo e/ou com necessidades especiais.
Os cursos oferecidos pelas EICs possibilitam aos alunos o conhecimento da realidade
em que vivem. Isto significa que os alunos são estimulados a refletir criticamente sobre
as suas necessidades e suas lutas pelos direitos da cidadania.
O CDI oferece gratuitamente, às comunidades, capacitação de educadores,
auxílio no desenvolvimento de metodologias, currículos específicos para diferentes
grupos sociais, cedendo, também, computadores, impressoras, softwares e apostilas para
auxiliar o trabalho dos educadores. Além do acompanhamento técnico e pedagógico
permanente, o CDI também presta assessoria administrativa.
O modelo de escola desenvolvido pelo CDI tem sido tão bem-sucedido que
pessoas de diversas regiões do Brasil e do mundo procuram essa ONG, dispostas a
implementar EICs em suas comunidades e países. Porém, a simples implementação de
uma EIC não é suficiente para o seu sucesso. É necessário, também, um grupo de apoio
para que as EICs e o projeto de democratização da informática obtenham o sucesso
objetivado. É fundamental, portanto, que exista esse grupo organizado, com as seguintes
finalidades: Fazer contatos com organizações comunitárias e/ou organizações não-
governamentais que irão, efetivamente, montar as escolas; Organizar campanhas para
arrecadar equipamentos e fundos para viabilizar projetos; Dar suporte técnico,
pedagógico e metodológico às EICs, incluindo a capacitação dos futuros instrutores.
Cada CDI é formado, inicialmente, por uma equipe de voluntários (pessoas
dispostas a lutar pela democratização da informática) que cumpre as três funções antes
mencionadas. Esse grupo requer um perfil que o qualifique para cumprir essas funções,
ou seja, experiência com comunidades e/ou organizações não-governamentais de modo a
viabilizar parcerias; formação pedagógica e noção avançada de informática para ensinar
aos futuros instrutores das EICs; além de conhecimentos técnicos em software e
hardware necessários à montagem e instalação de computadores; e, ainda, capacidade
para articular campanhas de arrecadação de equipamentos e solicitar o apoio de
empresários, companhias e outras instituições. O grupo assim formado é denominado de
CDI Regional ou CDI Internacional. Atualmente, existem no Brasil 37 CDIs Regionais e
dez Internacionais. Todos esses fatores podem ser resumidos na seguinte lista de
recursos necessários para o sucesso de um CDI:
• Recursos humanos: contatos com organizações e comunidades, gerenciamento de
voluntários, secretariado;
• Recursos técnicos: manutenção de computadores, instalação de software,
conectividade à Internet, gerenciamento de correios eletrônicos;
• Recursos financeiros: campanhas de arrecadação de equipamentos e arrecadação
de verbas para projetos (incluindo divulgação na mídia local), contatos com
grupos empresariais.
Eventualmente, um CDI pode até tornar-se juridicamente uma organização não-
governamental. Foi isso que aconteceu com o CDI-RJ (hoje, CDI Matriz), o que
possibilitou a arrecadação de verbas e a formação de parcerias com diversas fundações
para montar uma equipe de profissionais que se dedicam unicamente à democratização
da informática. Os CDIs contam com o apoio do CDI Matriz para viabilizar seus
projetos. A equipe trabalha para auxiliar todos os CDIs através de novos canais de
comunicação, novos materiais didáticos, e de campanhas de arrecadação de
equipamentos e verbas.
Em seus nove anos de atuação, e graças aos seus voluntários e parceiros, o CDI
já conta com mais de 600 EICs, além de ter parcerias importantes com empresas,
fundações e o poder público. A maior parte da atuação do CDI realiza-se pelo trabalho
voluntário. Bastante heterogêneo e com características complementares, o Grupo de
Voluntários do CDI é o principal responsável pelo crescimento e manutenção da
iniciativa.
Nesses anos de existência, o CDI conta com uma rede de 671 EICs em todo o
Brasil e 33 no Exterior e já capacitou mais de 293.440 mil crianças6, jovens e adultos em
informática e cidadania.
O CDI-SP recebe apoio de empresas, fundações e do poder público, o que
demonstra um claro reconhecimento do trabalho desenvolvido. Essas parcerias, que vão
desde a doação de equipamentos, ou recursos financeiros, até o engajamento direto em
seus projetos, têm sido vitais para o desempenho de sua missão de levar a informática e
cidadania a comunidades em situação de exclusão social.
O projeto pedagógico utilizado pelo CDI-SP foi elaborado pelo Núcleo de
Informática Aplicada à Educação (Nied), da Universidade de Campinas (Unicamp),
com o apoio da sua equipe pedagógica. Nesse modelo pedagógico, o ensino de
informática não é efetuado apenas pela instrumentalização do aluno nas ferramentas
comerciais mais usadas, mas na discussão de questões e projetos relativos à cidadania e
aos interesses dos participantes. As EICs seguem uma Proposta Político-Pedagógica
desenvolvida pelo CDI que está baseada na Pedagogia de Projetos. A Proposta procura
disseminar nas comunidades beneficiadas o ensino técnico aliado a temas da realidade
local. Para cada ferramenta computacional, é elaborado um projeto que envolve um
processo de reflexão/ação. Utilizando a linguagem digital como meio, o conteúdo
6 Informações obtidas através do coordenador de CDI-SP, estatística de 2002.
didático fomenta a construção da cidadania, por meio de discussões envolvendo temas
como os direitos humanos, sexualidade, não-violência, ecologia e saúde.
O CDI-SP, formado há pouco mais de cinco anos, conta com 21 EICs em
funcionamento. Foram atendidos mais de 2.000 alunos, principalmente jovens de
periferia da cidade. Os cursos são ministrados por 120 instrutores, que aplicam a
metodologia de ensino desenvolvida pelo CDI Matriz ao longo dos oito anos de
experiência. O conteúdo das aulas abrange o aprendizado de Informática e Cidadania por
meio de atividades práticas e do cotidiano dos alunos.
As aulas e as condições de infra-estrutura de algumas EICs podem ser
enriquecidas por empresas parceiras e por voluntários. As melhores iniciativas e
soluções são sistematizadas e disseminadas para a rede de Escolas de São Paulo. O
aumento do número de EICs depende da quantidade de computadores disponíveis, da
equipe de capacitação pedagógica e da estrutura de acompanhamento (equipe e
recursos).
O modelo administrativo das EICs está baseado na auto-sustentabilidade. O CDI
implementa dois tipos de Escolas de Informática e Cidadania: as EICs financiadas, as
quais são mantidas pela instituição parceira; e as denominadas EICs auto-sustentáveis,
que se mantém através da cobrança de uma taxa simbólica de mensalidade. Essas
últimas são sediadas, em sua maioria, por entidades comunitárias.
As EICs são autônomas, ou seja, elas pertencem e são gerenciadas pelas
entidades parceiras responsáveis pelo projeto, as quais também oferecem o espaço físico
para a implantação das escolas. Esse espaço deve ser próprio, com instalação elétrica,
iluminação e ventilação adequadas.
Cada EIC é implementada com cinco computadores e uma impressora. As turmas
têm capacidade para dez alunos cada uma (dois alunos por computador), em aulas
semanais de três horas. Logo, com seis horas de funcionamento diário, durante cinco
dias por semana, cada EIC pode abranger dez turmas, totalizando cem alunos
matriculados nos cursos. Esses cálculos levam em consideração a capacidade média de
funcionamento de uma EIC. Assim sendo, fica a critério de cada unidade o
preenchimento de horários noturnos e aos sábados.
Estipulando uma mensalidade simbólica de R$ 15,00 a R$ 20,00 por aluno, cada
EIC tem capacidade de arrecadar R$ 1.500,00 a R$ 2.000,00 por mês7, para pagamento
de instrutores e despesas de manutenção. O baixo custo operacional possibilita o rateio
de aproximadamente 50% da receita para a manutenção da escola.
A cidade de São Paulo possui 21 EICs distribuídos em seu território, sendo que
52,38% das escolas ficam nas regiões sul, centro-sul e sudeste. Nessas regiões, há 11
EICs, a saber: Lar Redenção, Kagohara, Gotas de Flor com Amor, Associação
Comunitária Favela Monte Azul, Aldeias Infantis SOS, EE 2º Grau Padre Sabóia de
Medeiros, Mamãe, Creche Irene, Fundação Gabi, Associação Beneficente Provisão e
Associação de Amigos de Americanópolis. Todas essas comunidades ou instituições
atendem a seu público interno, quando há, e à comunidade local, principalmente jovens
paulistanos de áreas que apresentam indicadores de exclusão social.
A seguir, apresentamos a caracterização do Município de São Paulo, cenário de
nossa pesquisa, especialmente no que diz respeito à juventude, elaborada a partir de
dados contidos em:
- Estudo elaborado pela Prefeitura de São Paulo, em 2003, com algumas
perspectivas sobre os jovens da cidade de São Paulo, pois eles fazem parte do
universo desta pesquisa;
- Mapa da Juventude8;
- Mapa da Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo, 2000/2002.
7 Cotação de dólar em 8 de agosto de 2004, no mercado paralelo, é de R$ 3,06/US$ 1,00. Baseado nesta cotação, as mensalidades simbólicas são de US$ 4,90/US$ 6,53, as EICs arrecadam entre US$ 490,19/US$ 653,59 para suas despesas. 8 Coordenadoria Especial da Juventude da Prefeitura do Município de São Paulo.
2. Inclusão/ exclusão social na cidade de São Paulo
Figura 1. Cidade de São Paulo e seus distritos, conforme o IEX.
Fonte: http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/subprefeituras/projeto/0010 (acesso em 3 set.2004)
Neste item, apresentamos os dados sobre a cidade de São Paulo, município onde
estão inseridas as organizações sociais pesquisadas, e que é parte relevante do cenário
da nossa pesquisa, pois subsidia a análise a ser apresentada posteriormente.
A cidade de São Paulo está localizada em uma área de 1.522.986 km2, IDH de
0,81 e 10.434.252 habitantes. Sua densidade demográfica9 é de 6.914,68 habitantes/km2.
A população urbana (9.813.187) é superior à rural ( 621.085) e a taxa de urbanização10 é
de 90,04%. Possui 1.650 pré-escolas, 2.204 de ensino fundamental e 1.007 de ensino
médio. (11)
A cidade de São Paulo é constituída de 96 distritos, que são agrupados em
regiões denominadas Norte1 e Norte2, Leste1 e Leste2, Centro, Oeste, Sul1 e Sul2
(Quadro 1):
Quadro 1: Distritos por região, Cidade de São Paulo
Região Distritos Norte1 (Noroeste)
Anhangüera, Perus, Jaraguá, Pirituba, São Domingos, Brasilândia e Freguesia do Ó.
Norte2 (Nordeste)
Tremembé, Cachoeirinha, Jaçanã, Mandaqui, Tucuruvi, Vila Medeiros, Limão, Santana, Casa Verde, Vila Guilherme e Vila Maria.
Leste1 Cangaíba, Emelino Matarazzo, Ponte Rasa, Penha, Vila Matilde, Artur Alvim, Itaquera, Cidade Líder, Parque do Carmo, Cidade Líder, José Bonifácio, São Mateus, São Rafael e Iguatemi.
Leste2 Jardim Helena, São Miguel, Vila Jacuí, Vila Curuçá, Itaim Paulista, Lajeado, Guaianazes e Cidade Tiradentes.
9 IBGE, 2000. 10 IBGE, 2000. É o percentual da população urbana em relação à população total e calculado, geralmente, a partir de dados censitários, segundo a fórmula: Taxa de Urbanização = População Urbana/População Total x 100 (População Urbana dividida pela População Total, multiplicado por cem). 11 As informações contidas neste parágrafo estão disponíveis no endereço www.prefeitura.sp.gov.br.
Centro Bom Retiro, Santa Cecília, República, Consolação, Sé, Bela Vista, Liberdade e Cambuci.
Oeste Jaraguá, Vila Leopoldina, Lapa, Barra Funda, Perdizes, Alto de Pinheiros, Jaguaré, Pinheiros, Jardim Paulista, Butantã, Rio Pequeno, Raposo Tavares, Vila Sônia, Morumbi e Itaim Bibi.
(Continuação)
Centro-Sul
Vila Mariana, Moema, Saúde, Campo Belo, Santo Amaro, Jabaquara e Campo Grande.
Sul1 (Sudeste)
Pari, Brás, Belém, Tatuapé, Mooca, Água Rasa, Carrão, Vila Formosa, Aricanduva, Ipiranga, Vila Prudente, São Lucas, Sapopemba, Cursino e Sacomã.
Sul2 (Sul) Vila Andrade, Campo Limpo, Capão Redondo, Jardim São Luis, Socorro, Cidade Dutra, Cidade Ademar, Pedreira, Grajaú, Parelheiros e Marsilac.
Fonte: http://www6.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/planejamento/mapas/0001/upload_fs/00_SUB_GRUPOS09_06-09-02-Model.jpg .Acesso em: 22 ago. 2003.
Reunindo os distritos da região Centro-Sul, Sudeste e Sul, há 35 distritos, que
representam 36,45% da sua totalidade, encontrando, nesse espaço territorial, bairros com
várias características. Se tomado como indicador o desenvolvimento humano, os índices
variam desde –1,00 até +1,00 conforme o Mapa da Inclusão e Exclusão Social (2002). O
índice negativo representa a intensidade de exclusão social, contrário ao índice no
sentido positivo.
Segundo o Mapa da Inclusão/Exclusão da Cidade de São Paulo, classifica-se com
o índice–1 o distrito onde a oferta de emprego é nula, há cerca de 10 % de chefes de
família sem rendimentos, além de um grande número de adultos e de crianças como
moradores de rua12, ou mesmo, quando possuem moradia, estas estão em condições de
extrema precariedade, sendo, em sua quase totalidade, desprovidas de saneamento
básico. Quanto à questão educacional, um terço da população condizente não tem acesso
ao ensino fundamental; e o índice de analfabetismo entre as populações adulta e infantil
é elevado. Os habitantes de distritos assim classificados, na prática, não possuem acesso
12 Esses números absolutos são indicadores de população adulta e infantil de rua para distritos com IEX –1 da tabela de descrição dos padrões territoriais de inclusão social em autonomia – dados de São Paulo, 1991-1993. Mapa de Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo, 2000.
a serviços básicos de saúde; e sofrem ainda com altos índices de violência. Nessas
condições, muitas vezes, a liderança nas famílias fica a cargo de mulheres e, entre elas,
com alto índice de analfabetismo. A título de exemplo, o distrito com maior índice de
exclusão social encontra-se na zona sul, sendo representado pelo Jardim Ângela, seguido
de Grajaú e Parelheiros; os dois primeiros concentram a maior porcentagem de crianças
e jovens da cidade de São Paulo, juntamente com os distritos de Cidade Ademar e
Jardim São Luiz.
Na mesma zona sul da cidade de São Paulo, é possível encontrar distritos cujo
índice de exclusão social é próximo a zero, como, por exemplo, o distrito de Jabaquara,
cujo índice é de –0,23, representando alguma tendência à exclusão social, com
crescimento de 0,20% ao ano; densidade demográfica de 151,91 habitantes/km2,
totalizando 214.199 habitantes e abrangendo uma área de 1.410 km2. Situado na região
sudoeste, o distrito é composto pelos bairros de Parque Jabaquara, Vila Guarani, Vila do
Encontro, Jardim Oriental, Vila Parque Jabaquara, Vila Santa Catarina, Vila Babilônia,
Vila Paulista, Jardim Jabaquara, Cidade Vargas, Vila Faccine e Americanópolis.
O distrito de Vila Mariana é tem o mais alto índice de inclusão, apresentando
0,72 de IEX. Possui 123.618 habitantes, em uma área com 8,6 km2, e está localizado na
região centro-sul de São Paulo.
Esses índices sofrem influência da heterogeneidade das condições
socioeconômicas que caracterizam o distrito:
“Analisando detalhadamente indicador por indicador e as condições
de vida dos distritos, é possível verificar que a exclusão está presente em
territórios incluídos e vice-versa. Por exemplo, o distrito do Morumbi,
embora apresentasse em 1991 o maior percentual de chefes de família da
cidade que ganham mais de 20 salários mínimos (38,6%), também é o
distrito com as mais altas taxas de densidade populacional, ultrapassando a
4 pessoas por domicílio, em grau de igualdade no ‘ranking’ com Jardim
São Luiz e Perus. A presença de áreas faveladas, como a de Paraisópolis,
pode estar interferindo nestas notas negativas do distrito. Assim, o
território do Morumbi apresenta maiores desigualdades internas do que
alguns outros distritos incluídos da cidade, como Moema e Alto de
Pinheiros.” (KOGA, 2003:218)
A seguir, caracterizamos os jovens da Cidade de São Paulo quanto ao seu perfil
socioeconômico, situando-os de acordo com os indicadores do Mapa de
Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo e do Mapa da Juventude;
especificamos, também, dados relacionados ao seu acesso a informações através de
Internet, que indicam a sua capacidade digital. E, por fim, apresentados as EICs que
constituem o universo desta pesquisa, as quais estão localizadas na zona sul da cidade de
São Paulo, e os princípios que nortearam a escolha delas.
3. Jovens da cidade de São Paulo: alguns dados relevantes
Dada a particularidade do nosso objeto de estudo, tomamos como um dos
parâmetros, para a construção da nossa amostra, o Mapa da Juventude de São Paulo,
uma pesquisa realizada por meio de parceria entre a Coordenadoria Especial da
Juventude (CEJ) e o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec), que criou o
Indicador Composto Juvenil (ICJ), utilizado para agrupar os distritos de São Paulo em
cinco conglomerados, os quais foram denominados de Zonas Homogêneas (ZH).
O ICJ foi construído através das variáveis escolhidas a partir dos resultados de
pesquisas anteriormente realizadas pela PUC/SP – Mapa da Exclusão Social; pelo Cedec
- Mapas de Risco da Violência; e pela Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (USP) – Análise do Fluxo da População em Busca de Atenção à Saúde.
As ZH são numeradas de um a cinco, sendo a ZH 1 aquela que reúne os distritos
com as melhores condições para os jovens e, a ZH 5, as piores. A idade média dos
jovens identificados por esses indicadores foi de 18,6 anos, com mediana de 18 anos.
Nesse estudo, os jovens foram assim caracterizados: a maioria (51,9%) representada por
jovens de cor “branca”; seguida da cor “parda”, com 28,6%; e 14,8% de cor
“preta/negra”. A cor “indígena” representa 2,3% e, por fim, a cor amarela, com 2,1%. O
tempo médio de residência em São Paulo, entre aqueles não nascidos na cidade, foi de
11,2 anos.
No Quadro 2, estão representados os distritos da região sul da cidade de São
Paulo, e seus respectivos índices de exclusão13, o ICJ14 e, quando é o caso, as EICs
sediadas nos distritos.
Quadro 2: Distritos da região sul da cidade de São Paulo, com IEX e ICJ
Distrito IEX, 2000 ICJ, 2003 EICs Jardim Ângela -1,00 0,18 Kagohara
Grajaú -0,98 0,14 Projeto Anchieta Parelheiros -0,88 0,13
Pedreira -0,83 0,21 Mamãe (Fundação Telefônica) Capão Redondo -0,72 0,22 Creche Irene, Associação Provisão Cidade Ademar -0,67 0,23
Marsilac -0,66 0,25 Sapopemba -0,64 0,28
Jardim São Luís -0,61 0,25 Associação Comunidade Favela Monte AzulCidade Dutra -0,54 0,30 Campo Limpo -0,54 0,29 Vila Andrade -0,48 0,33
Jabaquara -0,36 0,39 Am. de Americanópolis, Instituto Gabi Brás -0,34 0,49
Sacomã -0,31 0,36 Aricanduva -0,29 0,41 São Lucas -0,27 0,44
Vila Prudente -0,23 0,47 Carrão -0,12 0,52
13 Mapa da Exclusão / Inclusão Social, dados 2002. 14 Essas variáveis foram escolhidas a partir dos resultados de pesquisas anteriormente realizadas pela Fundação Seade (Índice de Vulnerabilidade Juvenil), pelo Cedec (Mapa da Exclusão Social e Mapas de Riscos da Violência) e pela Faculdade de Medicina da USP (Análise do Fluxo da População em Busca de Atenção a Saúde). Fonte: Mapa da Juventude de São Paulo.
Quadro 2. Distritos da região sul da cidade de São Paulo, com IEX e ICJ
(Continuação)
Vila Formosa -0,09 0,46 Ipiranga -0,08 0,51 Belém -0,06 0,52 Lar Redenção (Telefônica)
Cursino -0,04 0,50 Água Rasa -0,04 0,55
Mooca -0,02 0,64 Pari 0,00 0,52
Campo Grande 0,00 0,51 Socorro 0,02 0,46 Tatuapé 0,14 0,64 Saúde 0,19 0,61
Campo Belo 0,25 0,59 Gotas de Flor com Amor Vila Mariana 0,32 0,65 Aldeias Infantis SOS Santo Amaro 0,34 0,65 EE 2º Grau Sabóia de Medeiros
Itaim Bibi 0,35 0,74 Moema 1,00 0,77
A identificação dos distintos perfis dos distritos baseou-se em um ICJ construído
com as seguintes , variáveis:
• percentual da população jovem no conjunto do distrito;
• taxa anual de crescimento populacional do distrito entre 1991 e 2000;
• percentual de mães adolescentes no total de nascidos vivos;
• coeficiente de mortalidade por homicídios na faixa etária de 15 a 24 anos;
• percentual de jovens que não freqüentam a escola;
• coeficiente de viagens por motivo de lazer, por distrito;
• índice de mobilidade da população de 15 a 24 anos;
• valor do rendimento médio mensal familiar.
A partir da análise dessas variáveis foi criada uma nota para cada distrito. O
melhor distrito recebeu nota 1 e, o pior, nota 0, sendo que as notas dos outros distritos
foram distribuídas proporcionalmente. Ao final, apurou-se a média ponderada, que levou
ao indicador composto juvenil (Tabela 2). A partir da definição do ICJ, os distritos
foram agrupados em cinco, sendo denominados de Zonas Homogêneas (ZH). A ZH1 é
aquela que reúne os distritos com as melhores condições para os jovens e, a ZH5, as
piores.
A Tabela 1 corresponde à distribuição percentual dos jovens que estudam no
Município de São Paulo. Por essa tabela, na ZH1, 84% estudam e 16% não. O contraste
pode ser percebido na ZH5, onde quase a metade, 42,9%, não estuda. Ressalta-se que
uma das características, ainda, da inclusão/exclusão social, é o fato de que o percentual
de jovens que estudam a noite aumenta proporcionalmente em direção às zonas de maior
exclusão.
Tabela 1: Distribuição percentual dos jovens que estudam, segundo as zonas homogêneas
ZH1 ZH2 ZH3 ZH4 ZH5 Município SIM 84 69 64,5 60,6 57,1 63 NAO 16 31 35,5 39,4 42,9 37
SOMATÓRIO 100 100 100 100 100 100 Fonte: Mapa da Juventude de São Paulo, 2003
Entre os jovens das ZHs, como mostra a Tabela 2, 74,9% estudam nas escolas
públicas e a minoria, 24,9%, estuda em escolas privadas. Na análise comparativa entre
as distintas Zonas Homogêneas observa-se uma relação inversa, pois enquanto na ZH1
63,4% estudam na escola privada, 90,6% da ZH5 estudam nas escolas públicas. Poucos
jovens de ZH estudam nas escolas cooperativistas.
Tabela 2: Jovens que estudam nas escolas públicas, privadas ou cooperativas, segundo as zonas homogêneas
% ZH1 ZH2 ZH3 ZH4 ZH5
Público 74,9 35,9 52,2 73 85,1 90,6 Privado 24,9 63,4 47,2 27 14,6 9,4
Cooperativa 0,2 0,8 0,6 - 0,3 - SOMATÓRIO 100 100 100 100 100 100
Fonte: Mapa de Juventude de São Paulo, 2003
Na Tabela 3, pode-se verificar a inserção no mercado de trabalho, por ZH, sendo
que a maioria, 66,8% dos jovens, não está inserida em qualquer forma de trabalho com
geração de renda.
Tabela 3: Inserção no mercado de trabalho dos jovens pesquisados pelo Mapa da Juventude, segundo as zonas homogêneas
ZH1 ZH2 ZH3 ZH4 ZH5 TOTAL
NÃO 56,4 64,6 64,7 70,8 68,1 66,8 SIM 43,6 35,4 35,3 29,2 31,9 33,2
SOMATÓRIO 100 100 100 100 100 100 Fonte: Mapa da Juventude de São Paulo, 2003
A Tabela 4 descreve o setor em que trabalha, por ZH. O principal setor que
emprega os jovens é o setor de serviços (44%), seguido de comércio (27,5%), entre
outros, que são pouco representativos.
Tabela 4: Setor onde os jovens do Mapa da Juventude trabalham, segundo as zonas homogêneas
ZH1 ZH2 ZH3 ZH4 ZH5 TOTAL
Serviços 51,5 48,9 41,2 39,8 45,3 44 Comércio 19,1 20,7 28,4 31 29,3 27,5 Indústria 4,4 10,9 13,9 15,2 16 13,6 Outros 23,5 19,6 16,5 8,2 9,3 13,5
Ignorado 1,5 - - 5,8 - 1,5 SOMATÓRIO 100 100 100 100 100 100
Fonte: Mapa da Juventude de São Paulo, 2003
A Tabela 5 mostra a fonte de renda entre os jovens paulistanos. A maioria é
dependente (68,1%) ou semidependente, com 19,5%. Somente 11,8% dos jovens
possuem renda própria. Dentre eles, há uma distinção quanto à cor referida: o maior
contingente dos jovens com renda própria é representado pela cor amarela, e o de renda
mista pela cor branca (Tabela 6).
Tabela 5: Fonte de renda entre os jovens paulistanos pesquisados pelo Mapa da Juventude
(Continuação)
Percentual Renda Própria 11,8 Dependente 68,1
Renda Própria e Dependente 19,5 Não Respondeu 0,6 SOMATÓRIO 100
Fonte: Mapa da Juventude de São Paulo, 2003
Tabela 6: Cor da pele dos entrevistados do Mapa da Juventude
Renda Própria Dependente Renda Mista SOMATÓRIO BRANCA 29,7 7,4 62,4 99,5 PARDA 41,2 4,9 53,9 96
PRETA / NEGRA 40,2 2,5 57,4 100,1 AMARELA 43,8 18,8 37,5 100,1 INDÍGENA 20 13,3 66,7 100 IGNORADO 66,7 - 33,3 100
Fonte: Mapa da Juventude de São Paulo, 2003
Ainda no que se refere à inserção no mundo digital, oMapa da Juventude
de São Paulo aponta que apenas 38,2% dos jovens utilizam a Internet (Gráfico 1).
Gráfico 1: Uso da internet, Mapa da Juventude de São Paulo, 2003
Uso da Internet
%
61,8%
38,2
SIMNÃO
Quanto ao local de acesso à Internet, pelos jovens paulistanos, por ZH
Homogênea., a Tabela 7 mostra que 47,4% dos jovens o fazem em casa.
Tabela 7: Localidade de acesso à Internet dos jovens pesquisados pelo Mapa da Juventude, segundo as zonas homogêneas
ZH1 ZH2 ZH3 ZH4 ZH5 TOTAL
CASA 54,6 56,4 46,3 44,5 37,4 47,4 ESCOLA 23,5 16,2 15,6 17 15 17,1
TRABALHO 8,7 12,3 16 17,9 13,1 13,9 CASA DE AMIGO 4,9 4,9 10,4 7,8 9,3 7,8
OUTRO 3,8 5,9 5,9 6,4 13,6 7,1 CYBER CAFÉ 3,8 2,9 3,9 1,8 3,3 3,2 TELECENTRO 0,5 0,5 2 4,6 6,1 2,8
IGNORADO - 1 - - 2,3 0,6 SOMATÓRIO 99,8 98,7 100,1 100 100,1 99,9
Fonte: Mapa da Juventude de São Paulo, 2003
O Mapa da Juventude não demonstrou resultados específicos sobre a questão da
inclusão digital na cidade de São Paulo. Diante deste cenário, procuramos, através desta
pesquisa, identificar os jovens paulistanos quanto à sua capacitação digital como
indicadora de sua inclusão digital e o que ela representa do ponto de vista de inserção no
mercado de trabalho.
A população-alvo da pesquisa são os jovens inseridos nas EICs da cidade de São
Paulo, pois estes já possuem um programa específico de inclusão digital; fato que
permitirá a análise do conteúdo digital desses jovens ao final do programa; conhecer
quais são as suas aspirações em relação aos resultados que obtiverem com este programa
e, na concepção deles, como o aprendizado de novas tecnologias de informação os
ajudariam a se inserir no mercado de trabalho.
4. Breve apresentação das Escolas de Informática e Cidadania (EICs) pesquisadas
4.1 EIC Instituto Gabi
O Instituto Gabriele Barreto Sogari é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, de
natureza privada e caráter filantrópico, regido por um estatuto registrado em cartório,
com registros no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), no Cadastro do
Contribuinte Municipal (CCM), e inscrito no Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente. O Instituto é dirigido por uma diretoria eleita em assembléia.
O Instituto Gabi possui uma EIC equipada com dez computadores e uma
impressora. O curso de informática é ministrado para seu público interno, que é
composto por portadores de deficiência mental, e o público externo, interessados de
qualquer idade, que pagam uma taxa mensal simbólica de R$ 15,00, para ter acesso ao
curso de informática.
De acordo com Itamar Barreto, coordenador do curso, além das técnicas de
informática, a escola aprofunda conceitos e práticas de cidadania e inclusão social.
Segundo Itamar, o espaço de ensino do Instituto Gabi possibilita disseminar entre a
comunidade a idéia de que sociedade e informática podem beneficiar-se mutuamente.
Itamar comenta que “no estágio atual de desenvolvimento socioeconômico, os
benefícios da revolução digital são restritos à elite. Na contramão desse processo, o
Instituto Gabi proporciona, de maneira acessível e eficaz, acesso ao universo da
informática de forma diferenciada, reconhecendo esse aparato tecnológico como
instrumento na construção da cidadania”.
A principal atividade do Instituto Gabi é acolher as pessoas portadoras de
deficiência mental auxiliando-as na alfabetização e oferecendo suporte psicológico para
que obtenham sua autonomia no exercício de suas funções na comunidade. Para esse
grupo de pessoas especiais, são oferecidas atividades como informática, arte-
pintura/terapia, atividades de vida diária e atividades socioeducativas. Na saúde, são
oferecidas seções de fisioterapia e fonoaudiologia.
4.2 EIC Gotas de Flor com Amor
O Programa Social Gotas de Flor com Amor deu início às suas atividades no ano
de 1992, sem pretender constituir-se em entidade, na época. Através de ação voluntária,
levava atendimento floral às ruas e avaliava as necessidades, com administração de
essências florais às crianças e adolescentes que vendiam doces nos semáforos de São
Paulo, prática que se demonstrou insuficiente perante a grande carência detectada.
Decorridos cerca de seis meses, ficou evidente a necessidade de realizar,
quinzenalmente, trabalho de orientação familiar, acompanhamento escolar e atividades
socioeducativas, em local cedido pela Secretaria Municipal de Esportes da Prefeitura do
Município de São Paulo.
Com essa nova visão, constituiu-se juridicamente, em junho de 1993, com o
objetivo de educar e reestruturar a vida de crianças e adolescentes em situação de risco e
suas respectivas famílias.
No ano de 1995, o Departamento de Estrada e Rodagem (DER) cedeu por
empréstimo um imóvel na Rua Acapurana, 33, no Brooklin, local em que foram
iniciados os programas já como EIC. Três vezes por semana, através de trabalhos
voluntários, passou a operar a oficina de artesanato.
O sistema de exploração das crianças que arrecadam dinheiro em faróis e a
grande distância das casas das crianças atendidas dificultavam as atividades da EIC, pois
as crianças deixavam de freqüentar a entidade, o que reorientou a forma de atuação do
projeto para ações preventivas junto às famílias, de forma a evitar que as crianças
chegassem a ir para as ruas. O trabalho, então, foi remodelado, passando ao atendimento
de crianças e adolescentes da Favela do Buraco Quente e de becos e cortiços da região
do Brooklin.
Atualmente, no espaço, são desenvolvidas oficinas de conserto de micro, costura
artesanal e patchwork, desenvolvidas pelas mães, e bazar de usados.
A EIC Gotas de Flor com Amor possui duas salas de informática. Uma das salas,
de propriedade da Gotas, conta com dez computadores e uma impressora laser, que são
disponibilizadas somente para o seu público interno, composto de jovens que fazem
trabalhos escolares e pesquisas pela Internet. Uma outra sala, montada em parceria com
o CDI, também é equipada com dez computadores e uma impressora jato de tinta. O
curso de informática e cidadania é voltado para os públicos interno e externo.
À noite, são oferecidas aulas de alfabetização de adultos, oficina de informática
para pais e pessoas da comunidade e curso de web designer e programação de web para
os adolescentes. Todo o trabalho é desenvolvido em conjunto com a família.
Em 2002, a ONG ficou entre os 30 finalistas do Prêmio Itaú Unicef pela
Educação, entre 686 concorrentes, com o Projeto Transferindo Valores Humanos da
Escola Não Formal para a Escola Formal.
Muitos parceiros estão envolvidos com o Programa, entre eles aqueles que
contribuem financeiramente, como a Dédalus Sistemas, a Knauf Isopores e a EMC,
que, juntos, contribuem com R$3.500,00 ao mês, cobrindo cerca de 22% das despesas
da EIC.
Essa EIC ainda promove eventos, possuindo um ponto-de-venda do material
produzido pelos adolescentes de 16 a 18 anos, nas Oficinas Profissionalizantes, e
composto de uma extensa linha de brindes em papel reciclado, pintura em mosaico na
seda e bonecas para empresas, completando assim a verba necessária para a manutenção
do trabalho da entidade.
O protagonismo juvenil também tem sua vez, envolvendo escolas como Móbile,
Augusto Laranja, Friburgo, além de universidades, como a PUC, com os alunos da PUC
Jr.
4.3 EIC Associação Beneficente Provisão
A Associação Beneficente Provisão (ABP) teve início em janeiro de 1991, com o
atendimento a um público de 80 crianças, em parceria com a ACB, com o projeto
Primeiras Letras, voltada à educação infantil e berçário, para atender 60 crianças de
quatro a seis anos, proporcionando-lhes a pré-alfabetização. No período de 1991 a 1997,
também foram desenvolvidos alguns cursos, como os de corte e costura, e cabeleireiro,
eletricista, entre outros. Em 1996, com uma nova diretoria, começaram a acontecer as
principais mudanças. Em 1997, a instituição foi registrada juridicamente, passando por
uma reestruturação organizacional e administrativa, ampliando os projetos e o
atendimento. Desde então, foi notória e motivadora a transformação que começou a
acontecer, levando a ampliar o atendimento para 228 crianças.
A reforma do prédio também foi viabilizada em virtude de uma doação recebida
do Banco JP Morgan, através da ACB.
Em 2002, a Associação deu início ao projeto Crê-ser que atende 60 crianças e
adolescentes de 7 a 14 anos, com uma proposta de promover atividades de educação
complementar, contribuindo com a sua formação global.
Em 2003, recebeu um prêmio do Consulado Americano em parceria com o
Senac, que proporcionou à coordenadora da ABP uma viagem aos Estados Unidos para
conhecer 16 instituições sociais. O prêmio foi alcançado através do curso de gestão
social Formatos 500, promovido pelo Senac, quando foi apresentado um projeto
denominado Criação que enfoca o protagonismo juvenil e que ainda almeja
patrocinadores para tornar-se realidade.
Em 2004, firmou parceria com o CDI, com o objetivo de promover a inclusão
digital para adolescentes, jovens e adultos.
Em 2004, deu início ao projeto Jovens Urbanos, que atenderá 60 jovens de 16 a
24 anos, em parceria com a Fundação Itaú Social, o Cenpec e a ACB.
A ABP possui 17 pessoas que trabalham e se dedicam a ela, além dos voluntários
e a diretoria. Conta com uma sala de informática equipada com dez computadores e uma
impressora.
Hoje, com a sede e mais um núcleo, atende, ao ano, 1.252 pessoas, em cinco
programas sociais, tendo como público-alvo crianças, adolescentes, jovens e adultos.
• PROGRAMA PRIMEIRAS LETRAS
Contribui com a formação e desenvolvimento de 168 crianças de quatro a seis anos,
considerando seus aspectos físico, afetivo e intelectual.
• PROGRAMA CRÊ-SER
Proporciona atividades de educação complementar a 60 crianças e adolescentes de 7 a
14 anos, em horário alternativo à escola formal.
• PROJETO PROVISÃO E FAMÍLIA
Promove encontros, palestras, passeios, cursos e debates, oportunizando lazer, cultura,
informação e autodesenvolvimento às famílias da comunidade.
• PROJETO PROVENDO INCLUSÃO DIGIT@L
Possibilita a inclusão digital e a sensibilização para a cidadania, capacitando 280 jovens
e adultos em conhecimentos básicos da informática e motivando-os para o exercício da
cidadania.
• PROJETO JOVENS URBANOS
Idealizado pela Fundação Itaú Social, com o Cenpec, em parceria com o setor
governamental e ONGs, o projeto pretende oferecer a oportunidade de intervir na
comunidade local, ampliar seu repertório cultural, social e conquistar melhores níveis de
escolaridade. O diferencial reside em tomar a busca da qualidade de vida na cidade
como fio condutor da formação dos jovens, e a participação em ações coletivas como
base para o desenvolvimento de suas competências.
A atuação dessas EICs que promovem a inclusão digital insere-se no contexto de
inclusão e exclusão social da localidade em que estão sediadas. Desta forma, a pesquisa
delineada parte dos jovens que participam dos programas de inclusão digital promovidos
pelas EICs selecionadas, sempre confrontados com os aspectos socioeconômicos que
eles vivenciam na cidade de São Paulo.
CAPÍTULO II
OS PROCESSOS DE INCLUSÃO/EXCLUSÃO DE JOVENS NA CIDADE DE SÃO PAULO E ANÁLISE DA PESQUISA
1. Inclusão/exclusão social dos jovens na cidade de São Paulo
Inúmeros são as definições e os estudos sobre a temática inclusão/exclusão
social. Dentre elas, considerando nosso objeto de estudo, optamos por analisar as formas
de exclusão especialmente relacionadas com a desinserção do mundo do trabalho e a
inserção de jovens em seu primeiro emprego, na cidade de São Paulo. A questão da
cidadania e seus direitos, incluindo trabalho, lazer, cultura, arte e subjetividade pessoal,
como formas de inclusão social, também são tratados neste estudo.
Na cidade de São Paulo, a exclusão social dos jovens tem como uma das
características a dificuldade em ingressar no mercado de trabalho. Esta dificuldade, em
parte, é explicada pela falta de proficiência ou de alguma habilidade que os tornaria
empregáveis. Essa condição de empregabilidade poderia ser obtida a partir do
conhecimento de novas tecnologias de informação. Por outro lado, a cidade de São
Paulo apresenta mercado de trabalho capitalista e globalizado, que tem as suas próprias
regras.
Uma dessas regras é a desqualificação de pessoas; que se acentua naqueles que
não conseguem acompanhar a evolução do sistema. Para esses indivíduos restam apenas
os serviços marginais, com baixos salários, geralmente insuficientes para a
sobrevivência digna. O mercado exclui para incluir de outra forma e esta condição é
denominada por Sawaia (1999) como sendo inserção social perversa. Assim, a sociedade
que exclui também inclui, e essa alternância constitui-se num processo longo e gradativo
de exclusão seguido de inclusão em uma outra realidade, isto é, com caráter ilusório da
inclusão; retirando do indivíduo o seu direito de possuir o mínimo necessário para a
própria sobrevivência digna. “Todos estamos inseridos de algum modo, nem sempre
decente e digno, no circuito reprodutivo das atividades econômicas, sendo a grande
maioria da humanidade inserida através da insuficiência e das privações, que se
desdobram para fora do econômico”. (SAWAIA, 1999:8)
Outros autores também realizaram estudos sobre os processos excludentes em
sociedades contemporâneas, tais como, os franceses Paugam e Castel, que analisaram as
conseqüências societárias das transformações do mundo do trabalho, cunhando os
conceitos de desqualificação e desfiliação, respectivamente, especificando processos que
seriam tratados genericamente como sendo de exclusão social.
Robert Castel (1988: 526-530), ao analisar a questão social, aponta três situações
que são caracterizadas na sociedade salarial15 como: desestabilização dos estáveis, isto
é, trabalhadores que possuíam estabilidades no mercado de trabalho e que foram
expulsos desse sistema produtivo; a instalação na precariedade, que atinge
principalmente os jovens, alternando entre períodos de atividade, desemprego e
trabalhos temporários; e, a redescoberta dos sobrantes, como sendo aqueles que não têm
lugar, ou que não são integrados, nem integráveis na sociedade.
A desfiliação é um termo cunhado por Castel apud Wanderley (1999:21-22)
como sendo uma ruptura de pertencimento, de vínculo societal. “Efetivamente,
desfiliado é aquele cuja trajetória é feita de uma série de rupturas com relação a estados
de equilíbrios anteriores, mais ou menos estáveis ou instáveis”. Nessa condição, estão
incluídas as populações com insuficiência de recursos materiais, assim como aquelas
fragilizadas pela instabilidade do tecido relacional; ou seja, populações em vias de
pauperização e também as que estão em vias de desfiliação, com perda de vínculo
societal, gerando “a ausência de inscrição do sujeito em estruturas que tem um sentido”.
15 Para Castel, sociedade salarial é, sobretudo, uma sociedade na qual a maioria dos sujeitos sociais tem sua inserção social relacionada ao lugar que ocupam no salariado, ou seja, não somente sua renda, mas também, seu status, sua proteção, sua identidade... (2000:243). Uma sociedade salarial é a que continua fortemente hierarquizada. Não é uma sociedade de igualdade, porque nela permanecem as injustiças e até mesmo a exploração. Também é uma sociedade conflituosa, na qual concorrem diferentes grupos sociais, mas é uma sociedade na qual cada indivíduo desfruta de uma mínimo de garantia e de direitos (2000:245).
De um modo geral, as empresas têm suas matrizes operacionais baseadas numa
sociedade salarial, para diminuir os custos e maximizar os lucros. Assim, a corrida ao
máximo da eficiência é movida pela competitividade, gerando a desqualificação dos
menos aptos e exigindo a atualização da formação dos trabalhadores de maneira
constante. Assim, nessa disputa, vence o melhor qualificado, restando aos jovens e,
principalmente, àqueles com dificuldades de acesso aos meios de qualificação, as vagas
de estágio ou outros serviços não efetivos.
A desqualificação e a desfiliação são processos excludentes, que representam
apenas a parte visível de uma série de outros meios de desinserção do indivíduo numa
sociedade salarial. A porção submersa é representada pela grande erosão do coeficiente
de empregabilidade daqueles que poderiam se inserir no mundo do trabalho ou, mesmo,
daqueles que já se encontram nele. Essa erosão é mediada pela diferença entre as
mudanças sucessivas da tecnologia nas indústrias e a velocidade da desqualificação dos
trabalhadores.
As mudanças tecnológicas requerem novos conhecimentos e habilidades para
manter o trabalhador atualizado. Essa reciclagem deve ser constante. A estagnação do
indivíduo, quanto à renovação de suas qualidades profissionais, torna-o
tecnologicamente obsoleto e, como conseqüência, é retirado do mercado de trabalho,
iniciando assim o processo de exclusão, com perda do status social e até da identidade.
Essa exclusão, segundo Paugam (2003: 45-47), não se refere apenas ao estado de uma
pessoa que carece de bens materiais, mas corresponde também a um status social
específico, inferior e desvalorizado, marcando profundamente a identidade daqueles que
a vivenciam. O autor denomina essa perda do status social como sendo a
desqualificação social, isto é, o estigma que se associa às populações que se encontram
em situação de precariedade socioeconômica, constituindo o que o autor denomina de
novos pobres.
A nova pobreza é, assim, explicada por Paugam, como sendo o fenômeno que
remete a uma série de evoluções simultâneas, que se referem, em particular, à
degradação do mercado de trabalho, com a multiplicação dos empregos instáveis e o
grande aumento do desemprego prolongado, como, também, ao enfraquecimento dos
vínculos sociais (2003:31). A pobreza é fruto do conflito entre a problemática da
integração normativa e funcional de indivíduos, situação em que o emprego é parte
essencial, e o produto da construção social. Ou, então, é conseqüência da
desqualificação social decorrente do processo relacionado a fracassos, por um lado, e,
por outro, do sucesso da integração social; sendo a desqualificação social o inverso da
integração social. Nesta situação, o Estado é convocado para criar políticas de
integração, visando à regulação do vínculo social, como garantia de coesão social
(PAUGAM apud WANDERLEY, 1999:21).
Um indivíduo que sofre com esses processos excludentes, relacionados ao mundo
do trabalho, está também sujeito a mudanças sociais geradas pela redução de seus
relacionamentos. Essa condição é percebida em grandes cidades, onde o sistema
capitalista e globalizada impera, como, por exemplo, em São Paulo.
Numa cidade como São Paulo, os desempregados encontram-se numa situação de
escassez financeira, que diminui, inclusive, as suas possibilidades de gerar
relacionamentos, as quais, muitas vezes, dependem de atividades de lazer, restringindo-
os a laços entre pessoas de sua proximidade territorial. Além disso, nesse contexto, são
fatos, também, a precariedade de emprego e a desfiliação social.
Em Metamorfoses da Questão Social, de Robert Castel, o elemento trabalho é
entendido num contexto que extrapola as relações técnicas de produção, implicando um
feixe de relações sociais, culturais e de identidade entre indivíduos e grupos. Nessa
realidade, os desempregados sentem-se ameaçados pela demora ou pela falta de
perspectivas de inserção no mundo do trabalho. Esse processo compromete as relações
sociais, reduzindo sua abrangência e restringindo seu acesso, inclusive, a serviços de
integração social, nas áreas de educação, lazer e outros. Além disso, os indivíduos que
tentam se inserir pela primeira vez no mercado de trabalho, segundo Castel (1998: 526-
529), sentem-se angustiados pela demora em ter acesso a um emprego ou mesmo um
estágio. Assim, pela falta de trabalhos formais, são obrigados a se ocupar com trabalhos
temporários ou informais, muitas vezes em condições precárias, não tendo direito a
contrato ou garantias. Essa precarização do trabalho é entendida como sendo “um
processo central, comandado pelas novas exigências tecnológicas-econômicas da
evolução do capitalismo moderno”, provocando desestabilização dos estáveis e
aumentando o déficit de lugares ocupáveis na estrutura social, sendo estes “posições às
quais estão associados uma utilidade social e um reconhecimento público”.
Os estudos de exclusão e inclusão social realizados em nosso meio,
particularmente em São Paulo, corroboram as idéias apresentadas anteriormente.
Segundo Dupas, os contornos tomados pela economia global são fomentadores da
exclusão social. As sociedades emergentes não são capazes de gerar um modelo de
mercado com mecanismos que levem a estabilidades de postos de trabalho, mesmo que
flexíveis, compatíveis com uma renda mínima que seja suficiente para garantir uma
qualidade de vida essencial. Na análise desse autor, a exclusão social se dá em todos os
níveis sociais. Esse processo pode ser identificado não somente nos desempregados, mas
também naqueles que não conseguem ascensão em sua categoria de emprego. Quanto
aos jovens que tentam se inserir no mercado de trabalho, a ausência de oportunidades
gera um círculo vicioso, em que a falta de recursos financeiros impede progressos e é
traduzida, na prática, pela falta de chances de educar seus filhos, de praticar atividades
de lazer, como cinema, teatro, shopping centers, visitar amigos e familiares, sendo,
estes, condenados à exclusão sem direitos; além do que, a situação da desesperança por
um emprego diminui sua expectativa perante a vida, dando vigor à infelicidade.
“(...) as sociedades deste final de século, embora fascinadas por vários
benefícios e promessas oferecidas pela globalização, já elegeram seu
grande inimigo: o medo da exclusão social, que atinge todos os níveis. Os
inequivocamente incluídos, acumulam informações, riqueza e circulam
pela aldeia global – têm medo do potencial de violência do excluído, além
de um razoável sentimento de culpa cujo tamanho depende do seu grau de
solidariedade social. Aqueles ainda incluídos, assustados com a diminuição
dos empregos formais e a redução Estado-protetor, temem escorregar para
a exclusão. E, por último, aqueles que são ou sentem-se excluídos, no seu
dia-a-dia de sobreviventes, tem razões de sobra para sentirem medo”
(DUPAS, 1998:69).
Dupas assim descreve a relação entre o desenvolvimento tecnológico e a
fragilidade do contrato de emprego na sociedade industrial, assim como sua relação
com o Estado:
“Questão que agrava a sensação de exclusão é a deterioração
progressiva do Estado no seu tradicional papel de supridor de serviços
essenciais (...) Parte da sociedade está começando a acreditar que a
globalização traz a exclusão. Esse mal-estar é devido a inúmeros fatores,
mas sem dúvida o mais importante entre eles é a mudança no paradigma
do emprego (...) fica claro que hoje há uma crescente e progressiva
informalização das relações de trabalho, decorrente tanto da automação e
modalidades de trabalho à distância, como pelas tendências de
terceirização, porque se respaldam em sólida lógica de mercado:
menores preços e maior qualidade do produto final”. (DUPAS, 1998:70-
75)
As empresas inseridas no mercado consumidor global tiram proveito da sua mão-
de-obra, de tecnologias e das matérias-primas disponíveis da forma mais eficiente
possível. As relações de trabalho são determinadas pelas “transnacionais, que além de
fabricarem diferentes partes do produto em diferentes países, o fazem sob contratos de
trabalho variados. Onde lhes é conveniente, utilizam mão-de-obra familiar e pagam por
peça; outras vezes, contratam nos moldes convencionais de trabalho” (DUPAS,
1999:15). Essas empresas, univocamente, apresentam um único objetivo, que é
minimizar os custos de produção e maximizar os lucros, levando ao surgimento da
precariedade do trabalho, uma vez que essa revolução, ocorrida no âmbito das
tecnologias da informação, gerou a perda da importância na questão da localização
espacial e geográfica, isto é, deixou de ser essencial a instalação do indivíduo nas
proximidades de algum centro produtor, já que os seus produtos ou peças de produtos
podem vir de diversas partes do mundo. Desta forma, a sociedade que possuir maior
contingência de trabalhadores desocupados, ociosos, particularmente jovens, ou seja,
aquelas fatias da sociedade sensíveis à questão da exclusão social, ficam a mercê do
mercado e assistem à quebra de seu vínculo social, por falta de condições de acessos.
Assim, verificamos também, segundo Roger apud Dupas, que a exclusão pode se
dar, em vários aspectos, na sua “multidimensionalidade incluindo uma idéia de falta de
acesso não só a bens e serviços, mas também à segurança, à justiça e à cidadania”. Está
intimamente ligada às desigualdades econômica, política, cultural e étnica, entre outras.
Esses aspectos de exclusão são apontados pelo autor em várias instâncias, sendo todos
considerados excluídos: do mercado de trabalho; do trabalho regular; do acesso a
moradias decentes e a serviços comunitários; do acesso a bens e serviços, inclusive os
públicos; dentro do mercado de trabalho; da possibilidade de garantir a sobrevivência;
em relação à segurança física, sobrevivência e proteção contra contingências; dos
direitos humanos (DUPAS, 1999:20).
Martins (2002:11) é autor da noção de exclusão perversa. Para ele, a “sociedade
que exclui é a mesma que inclui e integra, que cria formas também desumanas de
participação, na medida em que delas faz condição de privilégios e não de direitos”. E,
ainda, não se trata apenas de diferenças econômicas, mas da não distribuição igualitária
dos bens sociais, culturais e políticos que a sociedade produz.
Assim, exclusão e inclusão sociais fazem parte de um mesmo processo. Martins
retoma os conceitos de pobre, marginalizados e excluídos:
“Provavelmente estamos mudando o nome da mesma coisa porque a
mesma coisa está nos mostrando coisas novas, que não conhecíamos e
não éramos capazes de ver. De certo modo, a palavra exclusão está
desmistificando a palavra pobre. Através deste pseudoconceito, não
revelador, que acoberta de algum modo o que seria o pobre na fase
anterior, nós estamos tentando revelar a nossa desconfiança em relação à
antigamente suposta abrangência explicativa das palavras pobre e
pobreza (...) a palavra exclusão indica uma dificuldade, mais que uma
certeza – revela uma incerteza no conhecimento que se pode ter a
respeito daquilo que constitui o objeto da nossa preocupação – a
preocupação com os pobres, os marginalizados, os excluídos, os que
estão procurando identidade e um lugar aceitável na sociedade. Portanto,
a palavra exclusão nos fala, possivelmente, de um lado, da necessidade
prática de uma compreensão nova daquilo que, não faz muito, todos
chamávamos de pobreza”. (MARTINS, 1997:28).
Essa exclusão é mais longa e o tempo que se leva do momento da exclusão para
o momento da inclusão está cada vez mais alongado; está deixando de ser um período
transitório. A inclusão “se dá no plano econômico, pois a pessoa consegue ganhar
alguma coisa para sobreviver, mas não se dá no plano social” (MARTINS, 1997:33).
Para Martins, o indivíduo ganha o suficiente para a sua sobrevivência, porém não o
bastante para sua sociabilidade.
Ao construir o Mapa de Exclusão e Inclusão Social de São Paulo, Sposati aborda
esses conceitos e sua interligação, ou seja, as condições de vida das pessoas, em
sociedade, que se relacionam mutuamente em seus próprios territórios. A autora também
conclui, em sua argumentação, que exclusão e inclusão fazem parte do mesmo processo
e explica:
“O que se constatou é que a relação exclusão/inclusão social é
indissolúvel ao contrário das metodologias que realizam a medida da
riqueza ou da pobreza como unidade autônoma com variáveis
autoexplicativas. A exclusão e inclusão social são necessariamente
interdependentes. Alguém é excluído de uma dada situação de inclusão.
O desafio foi, portanto, o de resolver esta questão através da construção
metodológica”. (SPOSATI, Aldaíza. Cidade, Território,
exclusão/inclusão Social. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE
GEOINFORMAÇÃO – GEO Brasil/2000. São Paulo, Palácio de
Convenções do Anhembi, 16 jun. 2000. Disponível em:
www.dpi.inpe.br/geopro/exclusao/cidades.pdf)
A dialética exclusão/inclusão é também analisada sob o ponto de vista de
território, com base no debate “sobre as condições de vida do território como um dos
instrumentos para concretizar a redistribuição social no enfrentamento das desigualdades
sociais” (KOGA, 2003:19). Essa relação entre o sujeito e o território, está intimamente
ligada com a dimensão da cidadania que busca o “rompimento do processo de
naturalização das situações de exclusão social e de pobreza que se introjeta com
facilidade no cotidiano da sociedade brasileira”.
Para determinar as principais especificidades do Município de São Paulo, através
de alguns indicadores que retratem a configuração socioeconômica, as características da
população, as mudanças verificadas no seu perfil, na década de 1990 e sua distribuição
no espaço territorial, Pochmann analisa o que denominou de o abandono e esperança na
cidade de São Paulo; o processo de exclusão e a estratégia paulistana de inclusão social,
em que
“a desigualdade de renda, de oportunidades de trabalho, de acesso à
saúde, à justiça, à escola, à cultura, ao lazer, à segurança, à escolha e
cidadania política constituem, cada uma delas, faces de uma única
questão abrangente que, quando estudada em conjunto e focada sobre os
que estão despojados desses direitos, costuma chamar-se de exclusão
social” (POCHMANN, 2003:15).
Pochmann investiga a cidade de São Paulo através de indicadores de condições
de vulnerabilidade contidos em mapas produzidos pela Prefeitura do Município de São
Paulo - PMSP e a Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade – SDTS,
que retratam “a cidade de forma abrangente, levando em consideração temas que vão do
nível de renda das famílias até o número de homicídios entre jovens, e a descrição da
reação paulistana à exclusão social” (POCHMANN, 2003:13). Em seu estudo,
Pochamann compara a velha exclusão, a situação das pessoas antes da década de 1980, e
a nova exclusão, nos últimos 24 anos (Quadro 3).
Quadro 3: Critérios de manifestação da nova e da velha exclusão Social
(Continuação)
Condições de Vulnerabilidade Velha Exclusão Nova Exclusão Faixa etária Presença de crianças Presença de velhos Raça e procedência Negro e/ou imigrante Branco e/ou não migrante Estrutura familiar Muitos dependentes Monoparentais Condição de habitação Ausência de moradia Moradia precária Conhecimento Analfabetismo na língua pátria Analfabeto digital Posição no trabalho Ocupado com baixa
produtividade Desemprego recorrente
Renda Insuficiente monetização Desmonetizado Fonte: SDTS/PMSP, 2002 apud (POCHMANN, 2003: 21)
Esse processo renovado de produção e reprodução de exclusão social está longe
de substituir a velha exclusão, sobrepondo-se a ela. A nova exclusão está transbordando
dos lugares onde antes esteve configurada, ou seja, o mundo rural, no Nordeste, e franjas
do mercado de trabalho urbano. Ao analfabetismo na língua pátria, ocupação de baixa
produtividade, negro e imigrante, famílias numerosas, etc., juntam-se novas
características, que surgem como fomentadoras da exclusão social, como o
analfabetismo digital, desemprego recorrente, branco e não imigrante, famílias
monoparentais, entre outros.
Inseridos nesse contexto, os jovens da cidade de São Paulo buscam as suas
formas de sobrevivência, tentando se posicionar na sociedade. A exclusão social desses
jovens paulistanos é caracterizada por sua dificuldade em ingressar no mercado de
trabalho, isso porque a falta de oportunidades, aliada à formação escolar precária e às
restrições ao acesso a atividades socioculturais dificulta ainda mais a sua inserção na
sociedade. O baixo nível de educação escolar pode ser representado pelo índice de
analfabetismo, entre jovens de 15 a 24 anos, que se situava em 34,1%, em 1999, e
17,1%, em 2000, na região Sudeste do Brasil, segundo Censos Demográficos da
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, a baixa
qualidade de educação pública é justificada não apenas pela falta de infra-estrutura,
como também pelo baixo salário dos educadores, o que gera desinteresse e leva à
formação de jovens com qualificação insuficiente. Não obstante, os jovens que estão
inseridos no mercado, muitas vezes, são descartados por falta de proficiência ou de
conhecimentos atualizados de acordo com a realidade do trabalho.
“Essas condições deterioradas, acompanhadas de um processo educativo
descompassado dos sujeitos jovens e adolescentes, produzem como
resultados o desinteresse, a resistência, dificuldades escolares acentuadas
e, muitas vezes, práticas de violência, que caracterizam a rotina das
unidades escolares”. (SPOSITO, 2003:16)
Como conseqüência, os jovens, muitas vezes, nesta busca pela inserção no
circuito econômico e no meio social, acabam se situando de uma forma inadequada,
precária.
Em vista de todos esses fatores, é que os jovens, na cidade de São Paulo, buscam
meios de qualificação para tornarem-se empregáveis. Construímos, para este estudo, a
hipótese de que o conhecimento de novas tecnologias de informação pode ser um dos
meios para se alcançar a condição de empregabilidade, ajudando o indivíduo a se inserir
no mercado de trabalho, melhorando a sua situação no contexto social. Assim, a inclusão
digital é, a seguir, discutida como uma das formas de se alcançar as novas tecnologias de
informação.
2. Exclusão/Inclusão Digital dos Jovens na Cidade de São Paulo
A exclusão digital diz respeito à falta de acesso à informação gerada e
transmitida pelo computador e pelo desconhecimento mínimo do uso de computador
como proficiência para o mercado de trabalho.
O acesso ao mundo digital pode ser alcançado em diversas instâncias: nas
residências, no trabalho, nas viagens durante negócios, nas escolas, nos serviços
públicos, entre outras. Segundo Neri16 (2003), a inclusão digital é cada vez mais parceira
da cidadania e da inclusão social e, ainda, é solicitada desde o voto nas urnas eletrônicas 16 NERI, Marcelo Côrtes. Inclusão Digital e Combate à Miséria. In: Valor Econômico, 1o abr. 2003.
ao uso dos cartões bancários do Bolsa-Escola, passando pelo primeiro contato dos
jovens com o computador, que poderá ser o passaporte para o acesso ao primeiro
emprego.
O combate à exclusão digital, também denominada por Neri de “brecha digital”,
não se resume apenas em prover os desprovidos da tecnologia digital. A cada ano que
passa, surgem novas tecnologias, trazendo mais velocidade de processamento de
informações e tornando os equipamentos de gerações anteriores obsoletos. Essa brecha
digital tende a aumentar à medida que as tecnologias digitais vão sendo renovadas. A
cada inovação/substituição, novas proficiências tornam-se necessárias como requisito de
qualificação dos operadores desses novos equipamentos.
Oportunizar, aos excluídos digitais, novas proficiências, significa incluí-los
digitalmente. Essa inclusão digital objetiva diminuir a distância informacional entre os
que dominam as tecnologias emergentes e aqueles que são leigos e promove vias de
ganho aos excluídos digitais e, também, aos excluídos sociais.
Ainda de acordo com Neri, existem poucos diagnósticos e debates sobre o
binômio inclusão/exclusão digital, devido ao tardio reconhecimento da importância do
tema no escopo das políticas públicas ou, quando a discussão existe, está raramente
ligada ao acesso pelo usuário “pobre”, seja ele trabalhador, desempregado ou estudante.
O autor acredita que a inclusão digital funciona como criadora de oportunidades de
geração de renda e de cidadania na nossa desigual sociedade, em plena era do
conhecimento.
Para Silveira17, os “novos excluídos” são aqueles que não conseguem se
comunicar, na velocidade dos incluídos, por meio do computador. Os incluídos têm a
possibilidade de efetivar essa comunicação através do uso da Internet, na rede de
computadores mediada por provedores de acesso e da linha telefônica. Os novos
excluídos representam, assim, aqueles que não têm acesso a essas novas tecnologias.
17 Coordenador do Governo Eletrônico da Prefeitura de São Paulo, responsável pelo Plano de Inclusão Digital do Município.
A era atual é regida pelo computador e por seu desenvolvimento desenfreado,
que torna a comunicação, baseada no envio de mensagens eletrônicas, instantânea,
facilitando e ampliando os contatos em alta velocidade, inclusive no contexto
internacional. O conhecimento dessas novas tecnologias, responsáveis pela evolução da
computação, é apontado por Silveira como facilitador do acesso ao trabalho, pois “para
se obter um emprego, cada vez mais será preciso ter alguma destreza no uso do
computador” (2001:17). Conseqüentemente, é fator de ampliação das chances de o
indivíduo ser incluído socialmente, “uma vez que as principais atividades econômicas,
governamentais e boa parte da produção cultural da sociedade vão migrando para a rede,
sendo praticadas e divulgadas por meio da comunicação informacional” (Silveira,
2001:18).
O uso do computador é comum em setores de trabalho como, escolas, repartições
públicas, indústrias, prestadoras de serviços, enfim, em todos os campos em que se
almeja obter maior velocidade de produção. Isso porque, essas novas tecnologias
proporcionam a redução do tempo em que o objetivo de determinada tarefa deve ser
alcançado.
O domínio dessas destrezas, portanto, é imprescindível, para quem procura
emprego, principalmente para os jovens que querem entrar no mercado de trabalho,
sendo, muitas vezes, um pré-requisito primordial.
A sociedade da capital paulistana é cada vez mais provida de informação
mediada pelo computador. Assim, aquele que não souber “manipular, reunir, desagregar,
processar e analisar informações ficará distante da produção do conhecimento,
estagnado ou vendo se agravar sua condição de miséria” (Silveira, 2001:21).
A manipulação de dados somente torna-se possível ao indivíduo que conhece os
tipos de sistemas operacionais inseridos no computador e seus comandos, tornando o
computador um instrumento obediente ao seu comandante. Esses comandos permitem ao
usuário reunir, desagregar e processar os dados, transformando-os em informações.
Por essa razão, a necessidade de assegurar o acesso às pessoas excluídas desse
sistema de tecnologia e informação é primordial como estratégia de inclusão social.
Para isto, Silveira propõe:
“(...) a formulação de políticas públicas de orientação, educação não-
formal, proficiência tecnológica e de uso das novas tecnologias da
informação para mudar a vida, ou seja, para fomentar instrumentos ágeis
para organizar reivindicações, realizar referendos e plebiscitos, lutar por
prioridades orçamentárias, fiscalizar por prioridades orçamentárias,
fiscalizar governos e expor preocupações e necessidades coletivas”
(SILVEIRA, 2001:22).
A formulação dessas políticas públicas, citadas por Silveira, já está sendo
realizada e com resultados, para os primeiros grupos de incluídos digitais. Os
telecentros, instalados pela Prefeitura da Cidade de São Paulo, promovem aprendizado
aos excluídos digitais através do uso de softwares livres.
Os softwares livres são sistemas operacionais denominados Linux, que executam
tarefas idênticas aos softwares privados (Microsoft). Nos telecentros, são ensinados os
comandos do Linux para execução das tarefas como editoração de textos, planilhas de
cálculos, banco de dados, páginas de apresentações e Internet.
O governo do Estado de São Paulo vem fomentando a inclusão digital através do
projeto Acessa São Paulo, dispondo computadores em lugares estratégicos como, por
exemplo, no Poupa Tempo, o que permite a digitação de currículos profissionais e o
acesso à Internet para a procura de empregos.
Iniciativas como fundações empresariais, organizações não-governamentais e
associações de bairro já estão recebendo computadores doados para projetos de inclusão
digital.
Todas essas iniciativas objetivam promover a proficiência aos excluídos digitais
e, juntamente com outras atividades sociais e culturais, possibilitam a melhora da
qualidade de vida dos jovens, tornando-os mais sociáveis, atribuindo-lhes
conhecimentos básicos para o ingresso no mundo do trabalho.
Silveira (2001:23) ainda aponta que inclusão digital é importante instrumento
para facilitar a redução da miséria, rompendo a “reprodução do ciclo da ignorância e do
atraso tecnológico”.
Uma das conseqüências da inclusão digital é favorecer grandes conglomerados
da nova economia “com mão-de-obra capacitada”, com experiência no uso das redes e
com “habilidade em informática”, criando também enorme contingente de
“consumidores de produtos de informática, hardware, software e serviços de
manutenção”. Ou seja, com a inclusão digital, mais pessoas podem acessar as novas
tecnologias e seus serviços. Desta forma, Silveira defende uma justiça de cobrança
desses conglomerados da nova economia, de tal forma que haja um meio de troca justa
em contrapartida ao “crescimento de seus lucros com a prática e manutenção da inclusão
digital” (Silveira, 2001:23).
Assim, conclui o autor, as pessoas apartadas da sociedade da informação estão
percebendo a importância de sua inserção, buscando as menores brechas para não
perderem os bits da história. O computador conectado à Internet já é, para as famílias,
uma esperança de um futuro melhor para seus filhos. Ou seja, o conhecimento de novas
tecnologias promove melhores chances para inserção no mundo do trabalho.
A inclusão digital já é praticada nas escolas públicas de várias cidades brasileiras,
principalmente na capital de São Paulo. Segundo o Censo Escolar de 2001, do Inep, do
total de alunos matriculados no ensino fundamental regular, 25,4% freqüentavam
escolas com acesso à Internet e, no ensino médio regular, este número é de 45,6%. Um
estudo divulgado no Mapa de Inclusão/Exclusão Digital18 em 2003 apontou que a
correlação entre desempenho escolar e acesso ao computador é positiva em todas as
faixas etárias e é maior na faixa que compreende os alunos de 13 a 18 anos que
18 FGV e CDI.
freqüentam a oitava série. Como resultado, houve melhor desempenho desses alunos nas
provas de Português e de Matemática, matérias em que os maiores impactos foram
constatados.
A discrepância da escolaridade média entre os incluídos e excluídos digitais,
segundo mostra o Mapa de Inclusão e Exclusão Digital, é praticamente o dobro, pois os
incluídos digitais possuem 8,72 anos completos de estudo. Além disso, o Mapa mostrou
que a renda média do primeiro grupo é de R$ 1.677,00 contra os R$ 569,00 do total da
população.
O Brasil possui, segundo o Censo de 2000 (IBGE), apenas 10,29% de moradores
com acesso ao computador, sendo São Paulo o líder de todos os Estados brasileiros na
inclusão digital, com 17,98% de seus moradores.
A controvérsia dessa revolução tecnológica pode ser deduzida quando se
verifica a exclusão digital no mundo e, particularmente, no Brasil. O Quadro 4 mostra a
posição brasileira no ranking de número de hosts19 no mundo.
Quadro 4: Ranking de número de hosts no mundo
Países Hosts % Estados Unidos 120.571.516 72,03% Japão 9.260.117 5,53% Itália 3.864.315 2,31% Canadá 2.993.982 1,79% Alemanha 2.891.407 1,73% Reino Unido 2.583.753 1,54% Austrália 2.564.339 1,53% Holanda 2.415.286 1,44% Brasil 2.237.527 1,34% Taiwan 2.170.233 1,30% França 2.157.628 1,29% Espanha 1.694.601 1,01% Demais Países 11.980.296 7,16% Total de Hosts em 30 países 167.385.000 100%
19 Host, na Internet, é um computador que tem acesso bidirecional completo a outros computadores. Um host tem um número específico que, somado ao número da rede, formam seu endereço IP. O host armazena, centraliza e distribui arquivos, serviços de correio eletrônico, redes de impressão, etc. Sua capacidade vai de um micro a um supercomputador.
Fonte: Network Wizards, 2003.
O Brasil ocupa a nona classificação, com apenas 1,34%, seguida por Taiwan e
França, com 1,30% e 1,29%, respectivamente. Os Estados Unidos ocupam a primeira
posição, com 72,03%, apresentando o maior número de hosts do mundo.
Nas Américas, o Brasil assume uma posição melhor no ranking. O Quadro 5
mostra que o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking, com 1,75%, antecedido pelos
Estados Unidos, com 94,35%, e Canadá, com 2,34%. Na América do Sul, o Brasil ocupa
o primeiro lugar no ranking, com 73%, seguido pela Argentina, com 16,23%.
Quadro 5: Ranking de número de hosts na América
Países Hosts % Estados Unidos 12.057.1516 94,35%Canadá 2.993.982 2,34%Brasil 2.237.527 1,75%México 1.107.795 0,87%Argentina 495.920 0,39%Chile 135.155 0,11%Uruguai 78.660 0,06%Colômbia 55.626 0,04%República Dominicana 45.508 0,04%Venezuela 24.138 0,02%Peru 17.447 0,01%Guatemala 9.789 0,01%Outros 15.937 0,01%Total de hosts em 15 países 127.789.000 100,00%
Fonte: Network Wizards, 2003.
No Brasil, apesar da sua boa classificação20 no nível mundial, nas Américas e na
América do Sul, o número de pessoas que se conectam à Internet, os denominados
usuários de computadores, é muito pequeno. Segundo a Sociedade da Informação no
Brasil – Livro Verde, o nível de alfabetização digital da população brasileira é muito 20 Vale a pena ressaltar que o Brasil ocupa a nona classificação pelo número de hosts no mundo. Excelente posição, se comparada com os países desenvolvidos nos quais predominam os incluídos digitais.
baixo. As oportunidades de aquisição das noções básicas de informática indispensáveis
para acesso à rede e seus serviços são insuficientes. O desenvolvimento histórico da
Internet no Brasil foi marcado, desde a sua origem no final da década de 1980, por
estreita aliança entre o setor acadêmico e as ONGs, destacando-se a cooperação entre a
Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP)21 e o Instituto Brasileiro de Análises
Sociais e Econômicas (Ibase)22, que culminou com o esforço de abertura de serviços da
Internet para quaisquer interessados, ocorrida em 1995.
No cenário de inclusão/exclusão digital até aqui descrito, existe uma questão
instigante para nossa reflexão: è possível pensar a inclusão social a partir da inclusão
digital?
Segundo a RNP23,
“o objetivo da Inclusão Digital é a Inclusão Social. O que se quer é
erradicar, no campo da tecnologia de informação e de comunicação, algo
análogo ao analfabetismo funcional, e não a qualificação de pessoas nos
aspectos mais avançados da tecnologia de informação e de
comunicação”.
Entende-se, então, que a inclusão digital é uma das formas de induzir à inclusão
social para as classes subalternas, sendo assim, um dos objetivos da Inclusão Digital é a
Inclusão Social.
Desta forma, a essência da inclusão digital,, em primeira instância, caracteriza-se
pela alfabetização digital na busca da inclusão social. A alfabetização digital:
“é uma expressão que remete ao processo de capacitação da população
para que essa ganhe proficiência na utilização dos recursos de tecnologia
de informação e de comunicação disponíveis. Sua definição clara é
fundamental, pois pode levar à dissipação de recursos que devem se
21 Rede Nacional de Ensino e Pesquisa. Disponível em: http://www.rnp.br/ 22 Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. Disponível em : www.ibase.org.br/ 23 http://www.rnp.br/noticias/2001/not-010510-gt.html Acesso em : 9 jun. 2003.
concentrar na solução da questão da Inclusão Digital, delimitar os
contornos do que é ‘utilizar com proficiência os recursos de tecnologia
de informação e de comunicação disponíveis’, dada a ênfase em inclusão
social que deve pautar o processo de Inclusão Digital”. (RNP, acesso em
15 jan. 2003)
A seguir, mostramos a importância de atividades socioculturais e o impacto na
vida de jovens paulistanos, principalmente no que diz respeito à sua inserção no mundo
do trabalho.
3. Os Jovens Paulistanos e o Acesso à Cultura
A cultura24 não é propriedade da academia, do governo ou da burguesia. Pertence
àquele que é capaz de produzi-la. “Ser sujeito da história e ser o agente criador da
cultura não são adjetivos qualificadores do homem. São seu substantivo”
(BRANDÃO,Carlos25, 1985:24).
A cultura pode ter um poder transformador, contribuindo para a construção da
identidade e da auto-estima de adolescentes e jovens adultos, convertendo a vergonha da
vida discriminada da favela à altivez própria dos que se descobrem capazes de fazer arte;
mudando, assim, o sentido da própria vida. Ou seja, converter a falta de uma perspectiva
existencial na saudável e transformadora consciência da cidadania.
O jovem, socialmente excluído, vai tomando a consciência da desigualdade
social, da discriminação, da limitação de acesso e usufruto de bens e serviços da cidade
em que vive e, conseqüentemente, confinado a uma vida de poucas relações e
oportunidades. Em outra época, os jovens tinham o trabalho como o princípio educativo
de excelência, sendo os primeiros a serem atingidos pela urbanização, pela revolução 24 A cultura tem um significado muito vasto. É um processo histórico pelo qual o homem relaciona-se ativamente com o mundo e com os outros homens (pelo conhecimento e pela ação) transformando a natureza e a si mesmo. Assim, o homem transforma e significa o mundo, ao mesmo tempo em que transforma e significa o próprio homem. É uma prática coletiva e socialmente necessária. Paulo Freire, em sua obra Educação como Prática da Liberdade, 1967, já ressaltava que o homem, ao criar a cultura, não apenas interage com o mundo, mas responde a seus desafios ativamente. 25 Obra: A Educação como Cultura.
informacional e pelos avanços tecnológicos; possuindo, ainda, grandes oportunidades
culturais, sociais e de relações. Porém, esses avanços nem sempre estão disponíveis a
todos os jovens, muitos deles inseridos na sociedade de maneira repetitiva, linear e
subalternizante:
“o adolescente/jovem vai tomando consciência da desigualdade social,
da discriminação e da ausência de repertório cultural para fazer frente
aos processo de exclusão com que dia-a-dia – e cumulativamente – se
depara. Reconhece-se discriminado no acesso e usufruto de bens e
serviços da cidade. Percebe-se confinado a uma vida de poucas relações,
oportunidades e possibilidades” ( CARVALHO, 2000:30).
Assim, os jovens pertencentes aos segmentos sociais mais desfavorecidos,
dependem de programas políticos ou de projetos privados específicos para a sua inclusão
saudável na sociedade.
Projetos de desenvolvimento comunitário, agregados ou não a movimentos
sócio-culturais específicos, geram oportunidades aos jovens de se inserirem socialmente.
Há, por exemplo, projetos que capacitam jovens de baixa escolaridade, provenientes de
família de baixa renda, com habilidades que lhes permitem a geração de renda, podendo
também contribuir para a inserção no mundo do trabalho; conseqüentemente,
fortalecendo a auto-estima, melhorando a sociabilidade, ampliando a comunicação no
meio em que está inserido e despertando a consciência de cidadania. Este processo pode,
ainda, reforçar os vínculos do jovem beneficiado com a escola formal, ampliando o seu
interesse pelo conhecimento, e é também, uma forma de prevenção e combate à
violência, distanciando os jovens do mundo das drogas.
Por outro lado, segundo a crítica de Andere26, a inserção precoce de crianças no
mercado acarreta sérios comprometimentos físicos e emocionais, além de tolher suas
perspectivas de profissionalização e escolarização, determinando a sua exclusão do
26 ANDERE, Denise Costamillan. Um breve olhar na história do trabalho infanto-juvenil. In: CALDERÓN, Adolfo Ignácio (Org.) Juventude, capacitação profissional e inclusão social: uma experiência de extensão universitária. Prefácio de Célia M. de Ávila. São Paulo: Olho d’Água, 2000.
processo econômico e social quando adultos. Para Andere é fundamental educar e
sociabilizar a juventude procedente de famílias empobrecidas para o trabalho,
enaltecendo-se os valores do progresso e da indústria. E ainda, nesta ideologia, a fábrica
assumia destaque como órgão pedagógico e disciplinador, funcionando não apenas como
local de trabalho, mas assumindo o status de espaço de socialização dos jovens
trabalhadores, impingindo-lhes a consciência do trabalho (ANDERE, 2000:31).
A escola, a música, o canto, o esporte, a informática, o aprendizado de novas
linguagens e expressões culturais devem ser largamente divulgadas, permitindo o acesso
irrestrito de adolescentes e jovens. A profissionalização é um dos direitos dos
adolescentes. Sobretudo, esses programas devem priorizar o aspecto educativo sobre o
produtivo, habilitando o jovem ao acesso de novas linguagens e habilidades que
possibilitem a ampliação dos seus horizontes, conforme, aliás, está definido no artigo 4o
do Estatuto de Criança e Adolescente:
“É dever da família, da comunidade, da Sociedade em geral e do Poder
Público assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária”.
Mesmo diante desse entendimento, no Brasil, as políticas e programas
socioculturais ainda são escassos e raras as oportunidades oferecidas aos jovens das
classes subalternas que lhes permitam evoluir em seus conhecimentos. Para Carvalho, há
um “vazio de políticas e programas sócio culturais para os jovens brasileiros. Em geral,
ficam restritos à escola e a uma vida cotidiana em seu próprio bairro, com os mesmos
amigos e as mesmas atividades lúdicas”. A autora complementa a reflexão,
argumentando que “é preciso dar-lhes oportunidades de novas relações e trocas
culturais, importantes para a sua vida em sociedade, exercício de sua cidadania e melhor
inserção no mundo do trabalho” (Carvalho, 2000:31)
No campo cultural, também se precede a influência do status digital dos jovens.
Aqueles que não têm conhecimento dos códigos impostos pela sociedade informacional,
foram excluídos de alguns espaços de participação social, política, do mercado de
trabalho, entre outros. Sem saída, o jovem empobrecido precisa inserir-se em outras
atividades, tanto no plano social, cultural, como político; necessita de condições que
aumentem a sua fluência comunicativa e o domínio de outras linguagens, segundo
Carvalho, de forma a se sentir competente para acessar as riquezas societárias e obter
ganhos de pertencimento e reconhecimento de sua cidadania.
Os fenômenos da sociedade da informação e suas revoluções tecnológicas, que
parecem não terminar, fazem com que a sociedade tenha interesses fragmentados, dando
lugar ao individualismo, à insegurança, ao consumo exagerado, fazendo com que os
jovens subalternos, a cada microrrevolução, percam a noção de processo e,
conseqüentemente, do sentido de projetos coletivos que necessitam de continuidade.
Apesar disso, a revolução informacional ou tecnológica trouxe muitas
facilidades. Aproximou pessoas em tempo simultâneo, através do áudio e imagem, como
a videoconferência, agilizando reuniões de executivos em partes diferentes do globo
terrestre, gerando aquisição de novos dados para ampliação de conhecimentos;
possibilitou o acesso a distancia a informações governamentais, culturais e sociais,
enfim, promovendo inclusão social em todos os âmbitos. Em teoria, a inovação
informacional e tecnológica seria benéfica ao homem, particularmente aos jovens, na sua
tentativa de inserção social. Porém, na prática nem sempre é assim. Essa revolução, na
realidade, aumenta ainda mais o distanciamento entre as camadas sociais, levando à
inclusão de poucos e gerando a exclusão da grande maioria. Podemos interpretar essa
revolução como sendo o palco teatral onde os incluídos revelam as portas de exclusão
aos subalternos.
Assim, permanece ainda a questão de: Como promover a inclusão social?
Para Carvalho (2000:33), o desafio, portanto, para qualquer programa
emancipatório voltado a esses jovens, é “fazer chegar a eles os avanços tecnológicos e
riquezas sociais. É capacitar os jovens para localizar, acessar e processar informações e
conhecimento de maneira autônoma”.
Neste sentido, a escolaridade na educação formal, em si, não é suficiente.
Carvalho enfatiza que “são necessários programas complementares que ponham acento
em valores e no desenvolvimento de capacidades, talentos e habilidades voltadas a
assegurar a inclusão social”. (Carvalho, 2000:34)
“O desenho de programas formativos, inovadores e ambiciosos deve
possibilitar que o jovem apreenda, pela ação/relação, a consciência de
direitos e deveres que a inclusão social mobiliza, possibilitando-lhe
conviver e usufruir da cultura jovem. Não basta levá-lo para conhecer
arte; é necessário usufruir a arte. Trata-se de propiciar relações,
informações, vivência e valores que lhe possibilite ganhar confiança,
competência e habilidades para viver de forma pró-ativa e crítica numa
sociedade de múltiplos apelos, mudanças e incertezas.” (Carvalho,
2000:35)
Em suma, nota-se que a inclusão digital, nos tempos modernos, torna-se uma via
necessária para se alcançar a inserção dos jovens na sociedade, particularmente das
classes sociais menos favorecidas; seja através do acesso a atividades socioculturais, seja
como meio para se alcançar a inclusão social através da sua inserção no mundo do
trabalho.
Com o objetivo de caracterizar os jovens deste estudo, apresentamos a seguir o
perfil sociocultural dos entrevistados. Os dados foram coletados nas Escolas de
Informática e Cidadania, nos seguintes distritos: Capão Redondo, Jabaquara e Brooklin.
E, mais adiante, caracterizamos esses jovens quanto ao seu conhecimento sobre
informática e quais são as suas pretensões no futuro quanto à sua inserção no mercado
de trabalho e na sociedade.
CAPÍTULO III
APRESENTANDO A PESQUISA REALIZADA
Neste capítulo, realizamos a análise qualitativa dos dados obtidos nos
questionários das entrevistas, relacionando-os com os conteúdos teóricos acerca da
temática aqui apreendida.
Para tanto, inicialmente, tomamos como eixo de análise:
1. O perfil dos jovens;
2. A situação socioeconômica;
3. Apropriação e utilização dos conhecimentos adquiridos;
4. Motivação para o curso de informática;
5. Um destaque para cidadania.
1. Perfil dos Jovens Entrevistados da Pesquisa
Para realização deste estudo, foram feitas 30 entrevistas, em três EICs, quais
sejam: Gotas de Flor com Amor, Instituto Gabi e Associação Beneficente Provisão,
localizadas nos distritos de Campo Belo, Jabaquara e Capão Redondo, respectivamente.
A escolha dos indivíduos entrevistados foi feita pelos coordenadores e/ou
educadores das próprias EICs. Assim, foram entrevistados 30 alunos, que estão no final
do curso de informática e cidadania. Esses jovens estão tentando a inserção no mercado
de trabalho formal, pela primeira vez, mediada pela aprendizagem de novas tecnologias.
A Tabela 8 mostra os distritos onde estão localizadas as EICs pesquisadas e seus
respectivos IEX e ICJ.
Tabela 8: Comparação entre IEX e ICJ dos distritos das EICs pesquisadas
Distritos EICs IEX ICJ Capão Redondo Associação Beneficente Provisão - 0,72 0,22
Jabaquara Instituto Gabi -0,36 0,39 Campo Belo Gotas de Flor com Amor 0,25 0,59
De acordo com os critérios estabelecidos, essas EICs foram escolhidas por
pertencer, cada uma delas, a uma das três faixas de IEX: aquela que é próxima do
extremo de exclusão social (distrito de Capão Redondo) e com ICJ baixo; aquela com
índice de exclusão social baixo (distrito de Jabaquara); e a que possui alguma inclusão
social com IEX no sentido positivo (distrito de Campo Belo), com ICJ satisfatório.
A Tabela 9 refere-se à questão de gênero dos entrevistados, sendo 40% dos
entrevistados homens, enquanto que 60% são mulheres.
Tabela 9: Gênero dos entrevistados
Situação Casos Percentual
Homens 12 40,00%
Mulheres 18 60,00%
SOMATÓRIO 30 100,00%
Os dados nos permitem supor que há maior procura de jovens do sexo feminino
por uma capacitação informacional. Tal fato pode ser explicado pelas características
atuais do mercado de trabalho, que levam as mulheres a procurarem as formas de
capacitação possíveis que as tornem igualmente qualificadas em relação aos homens; ou
devido à necessidade socioeconômica, como foi citado anteriormente, pois, em muitas
famílias, o provedor econômico é a mulher, posição que exige dela melhor qualificação
para o trabalho, com o objetivo de obter melhores salários.
Vale ressaltar, também, que a Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e
Solidariedade (SDTS), da Prefeitura de São Paulo, desde 2001, possui estratégias de
inclusão social apresentadas pelos programas redistributivos, passando pelos programas
emancipatórios e finalizando com os programas de apoio ao desenvolvimento local27,
como mostra a Tabela 10.
Tabela 10: Município de São Paulo - distribuição dos beneficiários dos programas redistributivos, por gênero, em 2002
GÊNERO Quantidade Em %
Masculino 53.305 19,4 Feminino 221.464 80,6 Total 274.769 100,0
Fonte: SDTS/PMSP
Dos beneficiários dos programas de garantia de renda, 80,6% são mulheres e
19,4% são homens. Isso se deve ao fato da ampliação do papel da mulher como
responsável pelo domicílio, como provedora de renda da família, e devido à sua inserção
no mercado de trabalho. Embora considerando a hipótese, também, da mulher ter papel
fundamental na busca de renda para sustento da família, não podemos afirmar que essa
distribuição de benefícios pode ser definida como voltada para a mulher como provedora
da família.
A Tabela 11 traz a média de idade dos entrevistados como sendo de 20,5 anos. A
mediana de idade desses jovens é de 18 anos. A maioria dos entrevistados (40%) tem 17
anos; 13,33% tem 18 anos; 6,67% correspondem aos jovens de 19 anos; mesmo índice
para os entrevistados de 20 anos. Os 10% são de jovens de 21 anos, mesmo índice para
os de 22 anos. Existem 3,33% com 23 anos e 10% com 24 anos.
27 Os objetivos dos programas redistributivos são: o aumento da escolaridade de crianças e jovens e capacitação de jovens e adultos, associado à transferência de renda para as famílias. Além das bolsas mensais, oferecem cursos que proporcionam maior participação na cidadania, aprendizado de novos conhecimentos, melhoria da auto-estima, financiamentos (pelo Banco do Povo) e apoio técnico para incubação de empreendimentos populares.
Tabela 11: Idade dos entrevistados
Idades Casos Percentual
17 12 40,00%
18 4 13,33%
19 2 6,67%
20 2 6,67%
21 3 10,00%
22 3 10,00%
23 1 3,33%
24 3 10,00%
SOMATORIO 30 100,00%
A Tabela 12 indica o estado civil dos entrevistados. A maioria deles (83,33%) é
solteira; enquanto que 13,33% são casados e apenas 3,33% vivem informalmente com
um parceiro.
Tabela 12: Estado civil dos entrevistados.
Situação Casos %
Solteiro 25 83,33%
Casado 4 13,33%
Viúvo 0 0,00%
Desquitado/Divorciado 0 0,00%
Informal 1 3,33%
SOMATÓRIO 30 100,00%
A Tabela 13 refere-se à escolaridade dos entrevistados, apesar de 33,33% dos
jovens terem concluído o primeiro grau, a maioria dos entrevistados (86,67%) está
cursando o ensino regular. Apenas 23,33% terminaram o primeiro grau; 30% estão ainda
cursando o segundo grau e 13,33% concluíram o segundo grau. Dos que já completaram
o ensino regular, nenhum deles teve a oportunidade de iniciar o curso superior.
Tabela 13: Escolaridade dos entrevistados
Situação Casos %
Primeiro Grau Incompleto 10 33,33%
Primeiro Grau Completo 7 23,33%
Segundo Grau Incompleto 9 30,00%
Segundo Grau Completo 4 13,33%
Terceiro Grau Incompleto 0 0,00%
SOMATÓRIO 30 100,00%
A Tabela 14 traz a cor da pele dos entrevistados. A maioria é branca, com
46,67%; 30% tem pele parda; e 23,33% tem a pele negra.
Tabela 14: Cor da pele dos entrevistados
Cor da Pele Casos %
Branca 14 46,67%
Parda 9 30,00%
Negra 7 23,33%
SOMATÓRIO 30 100,00%
O perfil dos entrevistados nas EICs coincide em alguns aspectos com os
resultados da Mapa de Juventude da Cidade de São Paulo. A mediana das idades dos
pesquisados é de 18 anos nas EICs e 18,65 anos no Mapa da Juventude. Ao comparar
com o Mapa da Juventude, detectamos ainda outras coincidências entre os jovens
paulistanos, como, por exemplo, a freqüência nas escolas. No Mapa da Juventude, a
ocorrência entre os que estudam é de 63% de todos os seus entrevistados, enquanto que,
nesta pesquisa, detectou-se que 63,33% estudam, contra os 36,66% que não. Coincide,
também, no indicador cor da pele, em que a maioria dos entrevistados é de pele branca,
seguidas das peles parda e negra.
Diante das coincidências apresentadas pela Tabela 15, podemos inferir que a
amostragem selecionada desta pesquisa possui um perfil representativo e adequado para
a análise dos jovens da cidade de São Paulo como um todo. Dessa forma, as conclusões
a indicadas no final são significativamente relevantes.
Tabela 15: Comparação entre o Mapa da Juventude e a pesquisa atual
Mapa da Juventude Pesquisa Idade mediana 18,65 anos 18 anos
Cor da pele Branca, parda e negra. Branca, parda e negra. Jovens que estudam Sim (63%) – Não (37%) Sim (63,3%) – Não (33,6%)
Foram selecionados alguns indicadores das condições socioeconômicas dos
jovens entrevistados, sendo: o grau de escolaridade (Tabela 13); situação da moradia;
condições de emprego (quem e quantos são empregados na família e seus salários, além
das características desses empregos) e, por fim, as condições de acesso a atividades
socioculturais como indício de exclusão/inclusão social. No geral, detectamos que a
maioria dos jovens entrevistados mora em habitação precária, pertence a famílias em
situação de desemprego, ou quando empregados, estão sob regime de baixos salários ou
insuficientes, além de, muitas vezes, trabalharem sob condições prejudicadas. Foi
necessário refinar as questões sobre as condições de moradia, pois a resposta inicial foi
mascarada pela “vergonha” desses jovens em face das condições precárias em que
vivem.
Conhecer a situação de moradia é conhecer uma parte da condição de vida
social e econômica dos entrevistados, como mostra a Tabela 16.
Tabela 16: Situação de Moradia I
Situação Casos %
Casa própria (terreno legal) 18 60,00
Casa alugada (terreno legal) 3 10,00
Casa em terreno público 7 23,33
Compartilhada com outras famílias 1 3,33
Abrigo 1 3,33
Outros 0 0,00
SOMATÓRIO 30 100,00
Na Tabela 16, verifica-se que os jovens com casa própria perfazem 60% dos
entrevistados; 10% das moradias são alugadas e 23,33% estão em terrenos da prefeitura.
Dentre os jovens que responderam que possuíam casa própria, 38,89% confirmaram ter
casa própria, em terreno legalizado, em entrevista realizada numa segunda instância,
com refinamento da pergunta, a fim de diferenciar a casa própria situada em terreno
próprio legal daquela que é situada em terrenos públicos, como os da prefeitura, ou
pertencentes a outrem. O restante (61,11%) confirmou possuir moradia própria, mas em
terrenos com situação irregular, sendo 38,88% em terrenos da prefeitura e 22,23% em
terrenos invadidos.
A Tabela 17 resume a situação de moradia dos entrevistados, após o segundo
contato. Desta forma, a maioria (50%) dos entrevistados, afirmou morar em terreno da
prefeitura; seguida de casa própria, com 23,33%. As demais situações correspondem a:
10% de situação de moradia em forma de aluguel; 3,33% de moradia compartilhada com
outras famílias; e o mesmo índice para moradores de abrigo; e o restante 10% é
representado por outras situações de maior complexidade.
Tabela 17: Situação de moradia II
(Continuação)
Situação Casos %
Casa própria (terreno legal) 7 23,33
Casa alugada (terreno legal) 3 10,00
Casa em terreno público 15 50,00
Compartilhada com outras famílias 1 3,33
Abrigo 1 3,33
Outras situações 3 10,00
SOMATORIO 30 100,00
Reafirmamos que informação imprecisa dos jovens pesquisados sobre a sua
moradia pode ser explicada por seu sentimento de inferioridade social e a falta de
recursos. Paugam (2003: 86) denomina tal situação de “fragilidade interiorizada”, ou
seja, desqualificação do indivíduo provocada por uma crise de identidade. Em outras
palavras, eles sofrem humilhação, perturbação, isolamento e ressentimento. Esses
sentimentos vieram à tona quando questionados sobre a sua moradia, principalmente por
uma pessoa que não vive em seu meio social,. Na segunda abordagem (Tabela17), os
jovens mostraram-se mais abertos à entrevista e descreveram melhor sua situação e a
precariedade dos lugares onde vivem.
Para ampliar o conhecimento sobre a exclusão social dos entrevistados, eles
foram questionados quanto ao número de pessoas que moram na mesma casa, cujo
resultado está na Tabela 18.
Tabela 18: Número de pessoas que moram na casa dos entrevistados
Situação Casos %
Três 5 16,67
Quatro 7 23,33
Cinco 6 20,00
Seis 7 23,33
Sete 4 13,33
Oito 1 3,33
SOMATÓRIO 30 100,00
Destacam-se as moradias com quatro, cinco e seis pessoas, correspondendo a
23,33%, 20% e 23,33%, respectivamente. Três pessoas por moradia representam
16,67%; sete pessoas com 13,33% e apenas 3,33% com oito pessoas na mesma casa.
Na tabela descritiva, São Paulo 1991/1993, dos padrões territoriais de inclusão
social em qualidade de vida, apresentada por Koga (2003:182), morar em um distrito no
qual vivem mais de quatro pessoas por domicílio significa residir nos distritos com
índices de IEX negativos entre –1 e –0,25. Esse índice aproxima-se na totalidade
negativa quando o distrito apresenta 38% dos moradores vivendo em domicílios
precários. Com os mesmos índices, conclui-se também que os chefes de família estão
abaixo da linha de pobreza, isto é, sem rendimento, ou vivendo na linha de pobreza, com
ganho de até dois salários mínimos (Tabela 21).
“No interior destes enclaves de riqueza e inclusão social encontram-se
situações de pobreza e exclusão, como é o caso do Morumbi. Além de os
distritos representarem numericamente populações de cidades médias
brasileiras, a heterogeneidade e a desigualdade da cidade se manifestam
também no interior dos distritos. Significa dizer que a dimensão
territorial distrital, embora represente um importante avanço enquanto
elemento de análise sobre a cidade, ainda, pode ser desagregada, a fim
de se capturar outras diferenças existentes.” (KOGA, 2003:167)
Quando indagados sobre o número de cômodos que existem na casa, uma parte
dos entrevistados respondeu que possuía somente dois cômodos (16,67%), formados por
um pequeno quarto e uma sala misturada com cozinha. Quando uma dessas salas era
dividida com lençol, respondiam que havia três cômodos. Mas a maioria respondeu que
possuía quatro cômodos (46,67%), 10% responderam que possuíam mais de cinco
cômodos e 6,67% responderam que a casa possuía mais de cinco cômodos (Tabela 19).
Tabela 19: Número de cômodos existentes na casa dos entrevistados.
(Continuação)
Ocorrências Casos %
1 0 0,00
2 5 16,67
3 6 20,00
4 14 46,67
5 3 10,00
MAIS DE 5 2 6,67
SOMATÓRIO 30 100,00
As condições de vida dos jovens empobrecidos e seus familiares têm
conseqüências notáveis no espaço urbano. A sua periferização e formação de favelas são
símbolos claros de exclusão social. As razões que levam populações a ocuparem essas
áreas referem-se à necessidade de diminuir seus gastos com moradia, para adequá-los
aos baixos salários e à falta de emprego. Nesse sentido, excluídos do mercado formal de
habitação passam a invadir e a ocupar desordena e ilegalmente áreas informais urbanas
com conseqüências para a salubridade ambiental. Não obstante, a pesquisa levantou
situações em que, além das condições precárias, ainda recebem pessoas migrantes de
outros Estados, geralmente das regiões Norte e Nordeste, comprometendo ainda mais
sua precariedade habitacional, pois o número de pessoas por domicílio, nesses casos,
chega a oito, comprimidos em um minúsculo espaço físico. Compromete ainda mais
esse estado precário o fato de que nem todos os migrantes que se agregam num único
espaço possuem acesso a emprego formal.
Ainda para conhecera situação de exclusão social das famílias dos entrevistados,
pesquisamos sobre o número de pessoas que trabalham na casa (Tabela 20), sobre a
renda familiar, o maior salário e o tipo de profissão. Isso porque tal situação é agravada,
quando se relaciona o número de pessoas que trabalham e o número de pessoas que
habitam na moradia.
Tabela 20: Número de pessoas que trabalham na casa dos entrevistados.
Situação Casos %
1 21 70,00
2 5 16,67
3 0 0,00
4 1 3,33
5 0 0,00
Todas as pessoas trabalham na casa. 1 3,33
Prefeitura 2 6,67
SOMATÓRIO 30 100,00
A Tabela 20 mostra que, na maioria das moradias, 70% possui somente uma
pessoa trabalhando para obter sustento para todos. Apenas 16,67% possuem duas
pessoas representando a força economicamente ativa, índice idêntico para os
entrevistados que recebem recursos da prefeitura. Ainda, dentre eles, houve somente um
caso em que todos os membros da família trabalhavam.
Esse agravamento pode ser explicado pela “origem da crise da sociedade salarial,
com a emergência do desemprego e da precarização das relações de trabalho, como
problemas centrais dessas sociedades”; onde a nova pobreza é apontada para reforçar a
velha, de tal forma a “designar os desempregados de longa duração que vão sendo
expulsos do mercado produtivo”, e ainda, em relação aos jovens, estes “não conseguem
nele entrar, impedidos do acesso ao ‘primeiro emprego” (WANDERLEY, 1999:18-19).
No tocante à renda familiar, 80% das famílias dos jovens entrevistados
sobrevivem com apenas um a três salários mínimos, como demonstra a Tabela 21.
Existem 13,33% que vivem com quatro a cinco salários e apenas 6,67% vivem com seis
a oito salários mínimos.
Tabela 21: Renda familiar dos entrevistados
Número de salários mínimos Casos %
1 a 3 24 80,00
4 a 5 4 13,33
6 a 8 2 6,67
Mais que 8 0 0,00
SOMATÓRIO 30 100,00
Vale ressaltar que dos 80% dos entrevistados que recebem entre um a três
salários mínimos, 58,33% têm renda de um salário mínimo para o sustento de sua
família.
No que tange à profissão do membro da família que tem o maior salário, a mais
comum é a de empregada doméstica, representada pelas mães dos alunos entrevistados.
Há profissão de balconista, com 6,67%; mecânico de automóveis, 6,67%; pedreiros e
ajudante de obra, 10%; autônomo, 3,33%; outros, como motorista de ônibus, auxiliares
de limpeza, auxiliares de produção, 20%; assim demonstrados na Tabela 22.
Tabela 22: A profissão que tem maior salário dentre pessoas que moram na casa dos
entrevistados.
Situação Casos %
Mãe, profissão doméstica 16 53,33
Mãe, profissão balconista 2 6,67
Por conta própria 1 3,33
Pai, profissão mecânico de carros 2 6,67
Pedreiro e obras 3 10,00
Outros 6 20,00
SOMATÓRIO 30 100,00
No item situação de trabalho do entrevistado, foi perguntado se estavam
empregados ou desempregados, e, quando estavam empregados, se o regime era formal
ou informal.
O resultado da pergunta sobre se os entrevistados estavam empregados
atualmente, ou não, independentemente de ser na formalidade ou na informalidade, está
na tabela 23:
Tabela 23: Situação de trabalho dos entrevistados
Situação Casos %
Sim 9 30,00
Não 21 70,00
SOMATÓRIO 30 100,00
A Tabela 23 mostra que a maioria (70%) dos jovens não trabalha, enquanto que
somente 30% dos entrevistados estão ocupados profissionalmente. Dado semelhante é
encontrado no Mapa da Juventude, em que o índice dos jovens que não trabalham
corresponde a 66,8%. Ou seja, a maioria dos jovens paulistanos não está inserida em
nenhum tipo de trabalho. Os que estão inseridos, 44% trabalham em serviços, 27,5% em
comércio, 4,4% em indústria e 25% trabalham na informalidade. E, ainda, 33,33% têm
registro na carteira, 55,56% são temporários e 11,11% fazem “bico”.
Ao comparar a pesquisa ao Mapa da Juventude, verificamos que a diferença entre
os dois estudos é mínima. Enquanto que no Mapa da Juventude, 43,3% dos jovens
paulistanos estão inseridos no mercado de trabalho formal; em nossa pesquisa o índice é
de 44,44%, como mostra a Tabela 24.
Tabela 24: Inserção no mercado de trabalho formal
(Continuação)
Mapa da Juventude Pesquisa
Sim 43,30% 44,44%
Não 52,20% 55,55%
SOMATÓRIO 97,5% 100%
Perguntamos aos entrevistados que trabalham, qual a sua situação no emprego,
como mostra a Tabela 25.
Tabela 25: Situação de trabalho dos entrevistados que responderam sim
Situação Casos %
Efetivo 3 33,33
Temporário 5 55,56
Bico 1 11,11
SOMATÓRIO 9 100,00
Dos entrevistados que trabalham, 33,33% são efetivos, com registro na carteira;
55,56% são temporários; e apenas 11,11% fazem “bico”. A pesquisa demonstrou ainda
que 33,33% dos jovens estão sob regime de trabalho temporário, enquanto que deveriam
estar no trabalho formal. Dos entrevistados que trabalham como temporários, 80% estão
na informalidade, sem registro em carteira.
A precarização das condições de trabalho, como afirma Pochmann (1996:38) ao
analisar o crescimento do setor industrial brasileiro, demonstra que, “a transferência das
tarefas de limpeza, alimentação, segurança etc., antes administradas pela própria
empresa industrial, para a administração de terceiros ajuda a explicar o maior
crescimento relativo da participação dos estabelecimentos de micro e pequeno porte
deste setor no emprego total” aliando ao processo de terceirização de serviços.
Esse crescimento do setor industrial e a sua mutação na forma de contratação de
empregados têm influências da intensificação da globalização. Martins (2002:17)
explica que é própria do processo do capital, isto é, “fez com que o capital se
reencontrasse com a forma de exploração pré-capitalista de trabalho, das quais
aparentemente se divorciara há muito. Mas, também, porque encontrou-se com valores,
mentalidades e concepções da vida e do trabalho muito frágeis em face do poder
destrutivo e de sujeição do capital globalizado”.
Com a finalidade de completar a visão quanto à inclusão/exclusão social entre os
jovens entrevistados, buscamos conhecer a sua participação nas atividades socioculturais
na cidade de São Paulo, e identificar se existem espaços para a participação ativa, com
plenos direitos do exercício da cidadania. Os resultados obtidos a partir das entrevistas
realizadas são apresentados a seguir.
2. Universo Sociocultural dos Entrevistados e suas Famílias
Nesse item, mostramos as atividades de cultura e lazer (Tabela 26) dos
entrevistados e o local onde acontecem os relacionamentos sociais.
Tabela 26: Local onde os entrevistados costumam ter o lazer
Ocorrências Casos %
Shopping 5 16,67
Parque do Ibirapuera 5 16,67
Associação que abriga a EIC 15 50,00
Não opinaram 5 16,67
SOMATÓRIO 30 100,00
Os jovens, em sua grande maioria, responderam que gostam de ficar na
organização que abriga as EICs para o curso de informática e outras atividades
socioculturais da comunidade. Outros 50% preferem realizar as atividades de lazer nos
shopping centers, no parque do Ibirapuera ou não quiseram opinar a respeito. Uma
jovem entrevistada (GB03) comentou que não sente prazer em sair de casa porque isso
gera algum tipo de gasto e ela não tem condição financeira para realizar passeios, nem
mesmo para atravessar a rua, explicou.
Os jovens empobrecidos também realizam suas atividades culturais através do
uso do computador. Esse instrumento de informação não é utilizado somente para
ensinar digitar cartas ou planilhas, escrever currículos ou enviar e-mails. As EICs são
fomentadores de cultura digital por meio do uso de Internet, ocasião em que o acesso à
cultura e à possibilidade de conhecer problemas de seu meio social ficam ao alcance dos
jovens nele inseridos.
De alguma forma, quem fez o curso básico quer continuar utilizando os
computadores. Os jovens procuram as EICs para ter acesso ao computador e realizar
tarefas escolares ou pesquisas pela Internet. Para os jovens empobrecidos, dominar o
computador, desvendar seu segredo e das suas operações, torna-os parte do grupo seleto
de usuários da informática. Desta forma, o ato eleva a sua auto-estima e melhora a sua
qualidade de vida.
No Quadro 6 são mostradas as atividades culturais encontradas nos distritos
pesquisados. Nos três distritos, Capão Redondo, Jabaquara e Campo Belo, existem
equipamentos públicos e privados para o lazer e acesso à cultura, tais como, teatros
municipais, casas de cultura, bibliotecas, Centros Educacionais Unificados (CÉUS),
clubes da cidade, museus, centros de informação e computação, campos de futebol,
delegacias de ensino, escolas especiais para excepcionais, faculdades, parques, galerias
de arte e clubes esportivos municipais.
Um fato importante a ressaltar é que esses equipamentos públicos de lazer são
freqüentados por seus moradores locais, que não permitem a aproximação de outros
grupos. Essa exclusividade é comprometida pela formação de grupos de gangues locais.
A aproximação de moradores de outros bairros, para eles, significa provocação ou a
invasão de espaços dominados por gangues, explicou um dos educadores da EIC
Provisão.
Os jovens têm conhecimento dos perigos que seus bairros apresentam: violência
entre gangues, narcotráfico, morte precoce de jovens, entre outros.
Dentre muitos fatos, é importante salientar que os jovens empobrecidos
participam pouco desses espaços de lazer e cultura por falta de dinheiro ou de iniciativas
de organizações sociais. A preocupação das organizações que abrigam as EICs
pesquisadas está em torno de suas aulas de informática e atividades que procuram
ampliar a cidadania de seus alunos.
A pesquisa mostra que 26, 50% dos jovens preferem ter lazer nas EICs, enquanto
que, os outros, em shopping ou no parque de Ibirapuera, isto é, procuram segurança para
o seu lazer.
Quadro 6: Atividades e equipamentos públicos que permitem acesso a cultura e lazer, nos distritos de Capão Redondo, Jabaquara e Campo Belo Capão Redondo Jabaquara Campo Belo Imediações Teatros Municipais, Estaduais e Particulares
Teatro Paulo Eiró, Av. Santo Amaro, 765. Teatro do Sesc Santo Amaro, Rua Amador Bueno, 505. Teatro Alfa, Rua Bento Branco de Andrade Filho, 733.
Casas de Cultura
Casa de Cultura M’Boi Mirim, Av. Inácio Dias da Silva, s/n.
Centro Cultural Jacob Salvador Zveibil – Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro Caio Egydio de Souza Aranha. Rua Arsênio Tavoliere, 45. Centro Cultural Paulo Duarte – Municipal Casa Histórica – Sítio Ressaca Espaço Cultural Iniciação Artística – Municipal
Casa da Cultura de Santo Amaro. Praça Francisco Ferreira Lopes, 434. Casa de Cultura Amarela. Praça Floriano Peixoto, 131.
(Continuação)
Bibliotecas de Bairro
Helena Silveira Marcos Rey Infanto-juvenil de Campo Limpo
Dr. Joaquim J. Carvalho Paulo Duarte
Benedito B. Barreto Malba Tahan Pres. Kennedy
CEUs Campo Limpo Clubes da Cidade, Campos de Futebol, Balneários, Municipais, Estaduais e Particulares
Clube da Cidade de Campo Limpo DUED 171 Mini Bal. Sinério Rocha Campo de Futebol de Caju – Municipal Campo de Futebol de Capão Redondo – Municipal Campo de Futebol Conjuntura Habitacional – Municipal Campo de Futebol Jardim Aurélio – Municipal Campo de Futebol Parque da Independência – Municipal Mini Campo Bem Bolado – Cohab Adventista – Municipal Mini Campo Jardim Campo de Flor – Municipal
Clube da Cidade de Jabaquara. Clube da Cidade de Vila Santa Catarina DUED 132 Balneário Jalisco Campo de Futebol – Cidade Júlia – Municipal CDM Ângelo Moni – Municipal CDM Ferradura – Municipal CDM Krake Sorriso – Municipal CDM Unidos da Vila Guarani – Municipal Centro Esportivo Riyuso Ogawa – CEE
Esporte Clube Compacto Vicente Rao Salito Esport Center CDM Municipal Amigos de Moema CDM Municipal Congonhas
Clube da Cidade de Santo Amaro Sesi Sto Amaro Sesc Sto Amaro
Museus Casa do Sítio da Ressaca Centro Cultural do Jabaquara
(Continuação)
Acessa São Paulo (Infocentros) e Telecentros
Infocentro Jardim Irene Infocentro turma da Touca Infocentro Promorar Infocentro Acec Telecentro IAE Telecentro Jd Comercial Telecentro Jd Rosana Telecentro Estrela Nova Telecentro Comgas Telecentro Cohab
Telecentro Comgas Telecentro Cruz de Malta
Passatempo Sto. Amaro Bom Prato Sto. Amaro Telecentro Sta. Lucia Telecentro Rainha da Paz Telecentro SAS Telecentro VIVO
Delegacias de Ensino
19 DE 17 DE
Escolas Especiais para Excepcionais
SAPNE Emef. José Olympio Pereira Filho Drem-5
Faculdade Faculdade Adventista
Faculdade Impacta Fac. Brasileira de RH
Parques, praças, quadras, ruas de lazer
Pq. Sto Dias Pq. do Guarapiranga Sociedade Amigos parque Fernanda – Municipal Rua de Lazer – Limbari - Municipal
Pq. Lina e Paulo Raia Pista de Skate Cingapura Vila Nilo – Municipal Praça/Quadra de Diederichsen Praça e Quadra Prof. Carlos Rizzini Rua de Lazer Constantino Cavaf Rua de Lazer Filinto Eliseo Rua de Lazer Guian
Ibirapuera (Continuação)
Galeria de Arte
Laborarte Laboratório de Arte
Fonte: www.prefeitura.sp.gov.br e www.portaldoseubairro.com.br. Acesso em: Ago. 2004)
“É fundamental esta participação dos moradores para fazer valer o
aspecto cultural, das relações deles com o lugar. A não-observação desta
condição pode ter como conseqüências a não-incorporação da divisão
territorial pela sociedade, gerando conflitos de informações e
dificuldades em se produzir dados e estes serem de utilidade para a
população” (KOGA, 2003:134).
A Tabela 27 mostra outros lugares freqüentados pelos jovens pesquisados. Note-
se que lazer em casa não há nenhum caso. Porém, no campo Outros, respondeu a
entrevistada (GB03) que não sentia prazer em ficar em casa, mas que também não gosta
de ter outras atividades de lazer, ficando restrita apenas ao EICs.
Tabela 27: Lugares onde os jovens pesquisados praticam suas atividades de lazer
Situação Casos %
Clubes 0 0,00
Atividades no bairro 1 3,33
Atividades na comunidade e EIC 15 50,00
Bailes/Festas 1 3,33
Restaurantes 0 0,00
Parques 5 16,67
Shoppings 5 16,67
Cinema e teatro 2 6,67
Em casa 0 0,00
Outros 1 3,33
SOMATÓRIO 30 100,00
A seguir, mostramos (Tabela 28) uma comparação entre o Mapa da Juventude e
a esta pesquisa sobre as atividades de lazer dos jovens paulistanos.
Tabela 28: Comparação das atividades de lazer entre os jovens do Mapa da
Juventude e os jovens da Pesquisa.
Mapa da Juventude % Pesquisa %
Esportivas 48,70 Clubes 0,00
Festas/Baladas e Bares 11,90 Bailes e Festas 3,33
Doméstica 11,90 Em casa 0,00
Passeio 8,20 Parques 16,67
Música 6,70 Música 0,00
Culturais 5,70 Atividades na comunidade e EIC 50,00
Jogos 3,30 Shoppings 16,67
Estudo/Cursos 2,00 Cinema 6,67
Religiosas 0,90 Religiosas 0,00
Outros 0,60 Outros 3,33
SOMATÓRIO 99,9 96,67
Na comparação acima, os jovens das EICs pesquisados neste estudo
demonstraram diferença de preferências nas atividades de lazer em relação àqueles
pesquisados pelo Mapa da Juventude. Os jovens do Mapa da Juventude preferem, em
sua maioria práticas esportivas, 48,7%; seguidas de festas/baladas/bares, e atividades
domésticas, representadas por 11,9%; passeio, 8,2%; música, 6,7%; culturais, 5,7%;
jogos, 3,3%; estudo/cursos, 2% e atividades religiosas, 0,90%. A maioria dos jovens
entrevistados dessa pesquisa, por sua vez, gostam de atividades na comunidade que
abriga a EIC, o que está representado com 50% dos jovens. Preferência seguida por
parques e shoppings, com 16,67%; cinema, com 6,67%; bailes e festas, com 3,33% e
3,33% para outras atividades. A expressiva diferença encontrada entre as preferências
dos entrevistados que compõem a amostra da pesquisa e a do Mapa da Juventude, é
explicada pelo fato de que a deste último abrange jovens todas as classes sociais e os
mais favorecidos moram em territórios diferenciados, acessam com facilidade
equipamentos públicos e muitos deles também os privados.
Segundo Andere (2000:24), “a escola, a música, o canto, o esporte, a informática
e o aprendizado de novas linguagens e expressões culturais são bens cujo acesso é
restrito a determinados segmentos sociais. Trata-se de uma ampla gama de alternativas a
que as crianças e adolescentes subalternizados também deveriam ter acesso”.
As relações estabelecidas com a família e outros grupos sociais, estão
representadas na a Tabela 29.
Tabela 29: Local onde a família dos entrevistados mantém relacionamentos sociais
Situação Casos %
Vizinhos 15 50,00
Parentes 12 40,00
NNão faz relacionamentos sociais 3 10,00
SOMATORIO 30 100,00
Em relação ao local onde a família desenvolve relacionamentos sociais, a metade
dos entrevistados informou que acontece com a vizinhança; 40% dos entrevistados vão
à casa de parentes; e 10% não saem de casa. Os dados indicam predominância das
relações de proximidade, com a própria família e vizinho, o que coincide com o Mapa da
Juventude, no qual a grande maioria dos pesquisados faz seus relacionamentos na
vizinhança, com 35,7%, e no bairro, com 33,2%.
A seguir, são caracterizadas as formas de participação dos jovens nas atividades
das EICs onde estão inseridas.
Apesar de a oferta da inclusão digital com o objetivo de promover a inclusão
social ser, aparentemente, uma tarefa fácil, para a qual basta um espaço físico com infra-
estrutura apropriada e algum computador contendo softwares privados ou livres, e
iniciar o curso de informática, muito mais é preciso ser feito, como afirma Carvalho,
pois o processo de capacitação de jovens deve ser acompanhado de outras atividades
socioculturais que possibilitem uma maior inserção de jovens a no mundo do trabalho.
Essas atividades devem ser planejadas pelas organizações que pretendem
oferecer inclusão digital para a comunidade e ser atribuídas aos jovens junto com
proficiência digital. Carvalho (2000:28-29) lembra que “até um passado recente,
apostou-se na educação para e pelo trabalho quando tratava-se de adolescentes e jovens
das camadas populares”. Entretanto, pesquisas apontam que “jovens adolescentes que
trabalham e estudam têm dificuldades de compatibilizar escola e trabalho, resultando,
em geral, na queda do aprendizado e abandono escolar”. Mas, por outro lado, trabalhar
precocemente pode apresentar vantagens no “âmbito cognitivo e de habilidades para a
vida autônoma28, apesar de essas vantagens diminuírem com o passar do tempo”.
“Enfim, trata-se de apostar na positividade de adolescentes e jovens
mesmo quando se apresentam como galeras, punks, grafiteiros, rebeldes
ou acomodados. A aposta na positividade pode transformar danos e
comportamentos divergentes em habilidades e talentos recuperadores
das dimensões ética, estética e comunicativa, tão caras ao projeto
educativo que se quer implementar.” (CARVALHO, 2000:35)
As atividades das quais os jovens entrevistados gostariam de participar na organização,
estão representadas na Tabela 30.
Tabela 30: Atividades sociais e culturais nas EICs pesquisadas
Atividades Presente nas EICs Casos %
Pintura e arte Gotas, Gabi 3 10
Línguas estrangeiras Gotas 5 16,67
Comunicação Gotas 1 3,33
Jornalismo Gotas 1 3,33
Teatro Gotas, Gabi 3 10
Dança, Capoeira Gotas, Gabi 3 10
(Continuação)
28 Para Carvalho, essas vantagens se traduzem em capacidade para tomar iniciativas, circulação no espaço, criatividade e agilidade de respostas.
Nada 5 16,67
Voluntariar Gotas, Gabi e Provisão 1 3,33
Fazer curso de informática de novo Gotas, Gabi e Provisão 1 3,33
Palestras e seminários Gotas, Gabi e Provisão 4 13,33
Música e instrumentos Gotas, Provisão 2 6,67
Leitura Gotas, Gabi e Provisão 1 3,33
SOMATÓRIO 30 100
Entre os quesitos sobre atividades sociais e culturais, houve grande diversidade
nas opiniões, predominando 16,67%, com interesse em estudar línguas estrangeiras na
comunidade, e 13,33% em ouvir palestras e assistir seminários que acontecem no bairro,
nas escolas, ou na própria organização que abriga a EIC.
As atividades de pintura e arte, teatro, dança e capoeira, eram de interesse de
10% dos jovens, respectivamente. Comunicação, jornalismo, atividades de voluntários,
fazer curso de informática novamente e leitura interessavam a 3,33%, respectivamente.
Música e instrumentos têm 6,67% de interesse cada.
Destaque maior ficou no grupo dos entrevistados (16,67%) que responderam que
não querem participar de atividades. Indagados sobre o porquê do desinteresse pelas
atividades sociais e culturais, as respostas, em suas próprias palavras, foram as
seguintes:
GT07 comentou:
“Não faço nenhuma destas atividades porque muito delas precisa pagar. A minha
mãe já sua muito para pagar o meu curso de informática que é R$15,00 por mês. Vejo
que a minha mãe sofre muito para ganhar dinheiro. Quero economizar”.
GB06 comentou:
“Não faço estas atividades porque esta organização possui atividades para
deficientes. Não conheço outras instituições que promovem atividades que não precisa
pagar. Aqui mesmo na informática preciso pagar R$15,00”.
GB09 comentou:
“Ainda não fui informado dos lugares que possuem estas atividades. Aqui mesmo
não tem ou não me ofereceram. Na igrejinha perto de casa tem só para crianças
pequenas”.
PR14 comentou:
“Fui uma vez fazer em outro bairro, aqui mesmo no Capão Redondo. Lá fui
ameaçado porque não era de lá. Falaram para eu ir embora que iam me matar. Fiquei
com muito medo, por isso não vou mais em nenhum lugar”.
GT17 comentou:
“Tudo é muito caro e preciso, nas horas que tenho tempo, ajudar a minha mãe. Vou
pedir trocados na rua, fazer um bico aqui, fazer alguma coisa para ganhar dinheiro.
Ganhar dinheiro é mais importante pra mim agora”.
As análises feitas por Carvalho corroboram os comentários dos jovens. A autora
faz referência ao vazio de programas socioculturais em nosso meio, a partir de
iniciativas de políticas públicas, falta incentivo para obter uma maior participação dos
jovens, promovendo o seu exercício de cidadania e facilitando a sua inclusão na
sociedade (CARVALHO, 2000:31).
3. Apropriação e Utilização dos Conhecimentos Adquiridos na EIC
Nesse item, demonstramos a apropriação e utilização dos conhecimentos
adquiridos na EIC.
A Tabela 31 demonstra a utilização dos conhecimentos adquiridos pelos
entrevistados no curso de informática e cidadania, de acordo com a resposta de cada um.
Tabela 31: Situação de utilização dos conhecimentos de informática pelos entrevistados
Situação Casos %
Sim 22 73,33
não 8 26,67
SOMATÓRIO 30 100,00
O que se destaca, nesta tabela, é que 26,67% dos entrevistados responderam que
não utilizam os conhecimentos adquiridos. É importante ressaltar que os indivíduos que
nunca tiveram computador ou que o desconhecem totalmente, ao fazer o curso e não ter
oportunidades de manuseá-lo rotineiramente acabam esquecendo com facilidade o que
aprenderam.
Dos 73,33% que responderam positivamente, a utilização dos conhecimentos foi
assim situada, como mostra a Tabela 32:
Tabela 32: Local onde os jovens entrevistados utilizam o computador
Situação Casos %
Não opinaram 2 6,67
Na escola 4 13,33
Em casa 3 10,00
Na EIC 18 60,00
No trabalho 3 10,00
SOMATÓRIO 30 100,00
A maioria dos entrevistados continua utilizando o computador na EIC para
treinamento de digitação, elaboração de trabalhos escolares, acessar jogos e Internet. Os
jovens que responderam que utilizam o computador na escola correspondem a 13,33%.
Poucos jovens, 10%, utilizam o conhecimento em casa. Os que treinam no trabalho são
apenas 10% e 6,67% dos entrevistados não quiseram opinar.
O resultado dos entrevistados que conhecem a Internet e se têm ou não acesso a
ela; compõe a Tabela 33:
Tabela 33: Situação de acesso à internet pelos jovens entrevistados
Situação Casos %
Não, não sei como é Internet. 9 30,00
Não, sei o que é Internet, mas não tenho acesso. 4 13,33
Sim, mas não compreendo muito bem o que é Internet. 4 13,33
Sim, sei muito bem o que é Internet. 13 43,33
SOMATÓRIO 30 100,00
Quando perguntados sobre o acesso à Internet, 43,33% dos entrevistados
responderam que tem algum meio de acesso; 13,33% dos entrevistados responderam que
sim, mas não sabiam bem o que era Internet. Os jovens que responderam que não havia
acesso, mas que sabiam o que significa Internet, correspondem a 13,33%. Chama a
atenção o fato de que 30% dos entrevistados não sabiam o que é Internet e que nunca
tiveram acesso a ela. O fato é que duas EICs pesquisadas, o Instituto Gabi e Provisão,
não possuem Internet na sua rede de computadores disponível para o acesso. A EIC
Gotas de Flor possui acesso à Internet de banda larga em rede e disponibiliza o acesso
livre para seus alunos.
Ressalta-se que, na sociedade da informação, a defesa da inclusão digital é
“fundamental não somente por motivos econômicos ou de
empregabilidade, mas por razões político-sociais, principalmente para
assegurar o direito inalienável à comunicação, e, mais, o direito de
acesso passa a viabilizar também o direito de fiscalizar, cobrar e propor
medidas aos poderes públicos. Pode até viabilizar o direito de votar pela
rede. Democracia na sociedade da informação deve incluir a
democratização do acesso, que pode viabilizar a democracia eletrônica”.
(SILVEIRA, 2001: 30-31)
Os entrevistados que têm acesso regular à Internet, estão indicados na Tabela 34.
Tabela 34: Situação de acesso regular à internet dos jovens entrevistados em comparação
com os jovens do Mapa da Juventude
Mapa da Juventude Pesquisa
Sim 38,2% 43,33%
Não 61,8% 56,66%
Comparando as duas pesquisas, o Mapa da Juventude e a Pesquisa, a
aproximação dos resultados é semelhante. Segundo o Mapa da Juventude, 38,2% dos
jovens têm acesso e 61,8% não. Nossa pesquisa revelou que 43,33% têm acesso e
56,66% não.
Tabela 35: Local onde os jovens entrevistados têm acesso à internet
Situação Casos %
Casa 3 10,00
Escola 3 10,00
Trabalho 4 13,33
Na EIC 9 30,00
No shopping 2 6,67
Não tenho acesso 9 30,00
SOMATÓRIO 30 100,00
Quando perguntados onde têm acesso à Internet, 30% responderam que acessam
na EIC, 13,33% acessam no trabalho, 10% acessam na escola, 10% acessam em casa e
6,67% no shopping. Os entrevistados que não têm acesso à Internet representam 30% do
total. Essa incidência diminuiria, caso todas as EICs possuíssem acesso à Internet em
suas salas de aula.
Silveira (2003:33) aponta como objetivo da inclusão digital “a universalização do
acesso ao computador conectado à Internet, bem como, ao domínio da linguagem básica
para manuseá-lo com autonomia”. Neste sentido, o autor entende a inclusão digital como
acesso à rede mundial de computadores, aos conteúdos da rede (sites governamentais,
notícias, bens culturais, diversão, entre outros), à caixa postal eletrônica e a modos de
armazenamento de informações, às linguagens básicas e instrumentos para usar a rede,
às técnicas de produção de conteúdo e à construção de ferramentas e sistemas voltados
às comunidades, e não apenas como uso do computador, sem acesso à Internet.
O objetivo com que acessam a Internet, está demonstrado na Tabela 36.
Tabela 36: As atividades procuradas pelos jovens entrevistados em relação à internet
Situação Casos %
Pesquisa escolares 14 46,67
Governo 5 16,67
Bate-papo 9 30,00
E-mails 13 43,33
Notícias e sites 13 43,33
Revistas 11 36,67
Jornais 9 30,00
Downloads 4 13,33
Filmes 8 26,67
Home pages 1 3,33
Conhecer problemas na comunidade 8 26,67
Procurar emprego 16 53,33
Apostilas e cursos 12 40,00
Indagados sobre as atividades procuradas quando acessam a Internet, 53,33% dos
entrevistados acessariam para procurar emprego; 46,67% a utilizariam para pesquisas
escolares; 43,33% para receber e enviar e-mails, ler notícias e acessar sites; 36,67% para
procurar revistas; 30% para entrar nas salas de bate-papo ou ler jornais; 26,67% para ver
filmes ou conhecer problemas na comunidade; 16,67% para pesquisar assuntos do
governo e 13,33% para fazer downloads. Apenas 3,33% dos entrevistados queriam
utilizar a Internet para construir home pages com o intuito de buscar alguma renda.
Verificamos, também, que 40% dos entrevistados queriam imprimir apostilas e cursos
para aprender coisas novas.
Os jovens empobrecidos têm como principal objetivo, após o curso de
informática, acesso ao seu primeiro emprego. Desta forma, utilizam o que aprenderam
na EIC como currículo e, desta forma quando acessam à internet, a emergência de
trabalhar e compor renda familiar é prioridade. O uso da internet para este processo de
inserção no seu primeiro emprego pode ser primordial. Este item “procurar emprego” se
relaciona com “emails” devido à espera (convocação) dos jovens para entrevista.
Enquanto aguardam a chamada para entrevista, fazem “pesquisas escolares” e procuram
“apostilas e cursos” para melhorarem seus conhecimentos em relação à informática.
Um dos focos que o Silveira (2003:32) aponta como promotor de inclusão digital
é justamente o “elemento voltado à inserção das camadas pauperizadas no mercado de
trabalho na era da informação”. Explica o autor que, o foco da inclusão digital tem o seu
“epicentro na profissionalização e na capacitação”.
Diante ao aprendizado de novos conhecimentos de informática, os jovens
entrevistados foram especificamente indagados a respeito do motivo que os levou a
ingressar num curso de informática na EIC.
4. Motivação para o Curso de Informática
A informação sobre o motivo que levou aos entrevistados a fazer o curso de
informática nos permite conhecer as prioridades dos jovens urbanos da cidade de São
Paulo em relação ao seu projeto de vida.
Lemos, apud Silveira (2003:23-24), afirma que “o que está em jogo com as
cibercidades é o intuito de lutar contra a exclusão social, regenerar o espaço público e
promover a apropriação social das novas tecnologias”. Mas, o que acontece hoje é bem
diferente, pois o capitalismo cria dependências na sociedade sobre capacidades e
necessidades de gerar conhecimentos.
Tabela 37: Motivos que levaram os jovens entrevistados a procurar a EIC
Situação Casos %
Bom emprego, mercado de trabalho 14 46,67
Mais conhecimento 5 16,67
Oportunidade de aprender informática 7 23,33
Ter salário digno 1 3,33
Tédio, insistência da mãe 2 6,67
Curso mais barato 1 3,33
SOMATÓRIO 30 100,00
Dos jovens que responderam, 46,67% almejam bom emprego de modo a se
inserirem no mercado de trabalho. A oportunidade de aprender a informática
correspondeu a 23,33% (PR01, PR06, FT03, GT05)29 e 16,67% queriam adquirir mais
conhecimento (GB04, GB18, PR08). Ter um salário digno, insistência da mãe (PR10) e
curso mais barato (PR05) que os oferecidos no mercado complementam as respostas dos
entrevistados.
Dentre os entrevistados, 46,67% associaram idéia de conhecer a informática com
a esperança de obter um emprego ou um bom salário (GB01, GB03, GB05, GB06,
PR03, PR04, GT01, GTP9 e GT17). Alguns entrevistados, totalizando 23,33%,
acreditam que o curso freqüentado foi a oportunidade que tiveram de aprender
informática.
29 Ver Anexo2: Transcrição da fala de alguns alunos das EICs pesquisadas.
Muitos entrevistados falaram sobre as atividades que não aprenderam, ou aquelas
atividades que gostariam de reforçar, como mostra a Tabela 38.
Tabela 38: Atividades extras que os jovens gostariam de aprender na EIC
Situação Casos %
Aprofundar os cursos de powerpoint e excel 2 6,67
Digitar rápido 8 26,67
Internet 9 30,00
Access 1 3,33
Montar o próprio blog 1 3,33
Cursos de mercado de trabalho 7 23,33
Nada 2 6,67
SOMATORIO 30 100,00
Dos jovens que responderam, 30% queriam aprender as técnicas de acesso à
Internet e a EIC não oferecia tal curso; 26,67% queriam curso de digitação, pois o curso
de informática não proporcionou habilidades de digitação; 23,33% gostariam de fazer
“cursos de mercado de trabalho”, termo utilizado pelos jovens pesquisados, que quer
dizer palestras ou atividades por meio de dinâmicas sobre o tema trabalho e capacitação
para uma determinada especialização na área de informática. Segundo os jovens que
responderam ao quesito “cursos de mercado de trabalho”, citaram ser a hora ideal, pois
haviam acabado de fazer o curso de informática. Outros queriam aprofundar alguns
conhecimentos específicos (powerpoint e excel). Apenas 3,33% dos entrevistados
pediram o curso de access, porque o sistema não fazia parte do programa das EICs e
outros 3,33% queriam cursos para montar blogs; 6,67% entrevistados não queriam
aprender mais porque acharam o curso muito chato.
Cursos e palestras sobre o mercado de trabalho, Internet e digitação rápida são
necessárias, segundo os jovens que responderam, para suas habilidades manuais e
conhecimentos e facilitariam a sua inserção no mundo do trabalho. Com essas
necessidades, somam-se 80% dos entrevistados.
Além do curso de informática oferecido na EIC, questionamos também sobre
seus interesses por outras atividades que pudessem ampliar o universo cultural, como
mostra a Tabela 39.
Tabela 39: Outras atividades extras que ampliam o universo cultural dos jovens
entrevistados
Situação Casos %
Palestras 11 36,67
Digitação 1 3,33
Professores melhores e mais aulas 1 3,33
Internet 12 40,00
Não opinou 2 6,67
Tempo 3 10,00
SOMATÓRIO 30 100,00
Ao perguntar, novamente, aos entrevistados, sobre as atividades que podem ser
acrescentadas ao curso, a maioria respondeu que necessitavam de palestras e acesso à
Internet. A Tabela 39 mostra que 40% dos alunos reivindicam acesso à internet; 36,67%
sentiram falta de palestras sobre o trabalho; 10% propuseram que deviam aumentar o
tempo de curso; 3,33% gostariam de ter professores melhores e mais aulas. Somente
6,67% dos entrevistados não quiseram opinar.
5. Um Destaque para a Cidadania
Os jovens pesquisados aprenderam a informática e a vivência da cidadania.
Durante o curso, aprenderam a capacidade de organizar, participar e intervir nas
atividades sociais e, também, puderam construir a própria cidadania com suas novas
relações e consciência. Tiveram oportunidade para o convívio do dia-a-dia e, através
dessas relações que estabeleceram entre eles, seja com colegas, seja com equipamentos
públicos ou com o próprio meio ambiente, perpassando por várias temáticas como a
solidariedade, a democracia, os direitos humanos e a ética, conheceram os seus valores
individuais e os seus direitos. São direitos que lhes possibilitariam, segundo Oliveira
(1999), ”capacidade de intervir nos negócios da sociedade, e através de outras
mediações, intervir também nos negócios do Estado que regula a sociedade da qual ele
faz parte”, e, mais, definir seu próprio “estado pleno de autonomia, ou seja, saber
escolher, poder escolher e efetivar as escolhas”.
Para conhecer o universo da participação dos entrevistados, sobre o tema de
cidadania, promovida pelas EICs, propusemos aos jovens entrevistados algumas
questões, demonstradas nas tabelas a seguir.
Perguntamos aos entrevistados quais discussões sobre as temáticas da cidadania
que os levariam à ampliação da sua participação na sociedade.
Tabela 40: Situação do educador como promotor de temáticas de cidadania
Situação Casos %
Sim, discute cidadania 16 53,33
Não 14 46,67
SOMATÓRIO 30 100,00
Perguntado aos jovens se cidadania perpassada pelos educadores, por meio de
temáticas, foi suficiente, no entendimento deles próprios, 53,33% dos entrevistados
informaram que acreditam que as ações de cidadania discutidas em sala de aula
ampliaram o seu relacionamento com a sociedade; e 46,67% dos entrevistados não
perceberam quaisquer atividades de educação para a cidadania.
As temáticas mais desenvolvidas pelos educadores da educação para cidadania
foram caridade/solidariedade, com 31,25%, e também música, religião, educação,
cotidiano, mercado de trabalho e responsabilidade, entre outros. Uma questão abordada
pelos entrevistados foi o trabalho voluntariado na própria instituição. As preferências
entre os jovens entrevistados, quanto às suas ações de cidadania, estão na Tabela 41.
Tabela 41: Temáticas sobre cidadania mais discutidas em sala de aula
Situação Casos %
Caridade, solidariedade 5 31,25
Música 1 6,25
Religião 3 18,75
Educação 1 6,25
Dia-a-dia, cotidiano 2 12,50
Atividades da própria instituição 2 12,50
Mercado de trabalho 1 6,25
Responsabilidade 1 6,25
SOMATÓRIO 16 100,00
Fomentar a inclusão social, pela via de inclusão digital, envolvem fatores
coadjuvantes indispensáveis. A capacitação digital, além de incluir socialmente o jovem
pela sua inserção no mercado de trabalho, com geração de renda, proporciona que esta
sua evolução também possa ser acompanhada de relacionamentos saudáveis com a
sociedade, através das suas ações de cidadania. Além disso, os resultados da inclusão
digital poderão ser melhores, se os envolvidos forem adequadamente conscientizados e
preparados para a sua função. Dessa forma, devem existir, entre os educadores das EICs,
condições que lhes permitam transmitir não apenas informações como também melhorar
os fundamentos para promover a inclusão digital como um meio de inclusão social,
passando pelo exercício da cidadania.
Conforme Silveira (2003:32-33), a inclusão digital deve acontecer levando em
conta três focos relevantes. O primeiro deve proporcionar a “ampliação da cidadania,
buscando o discurso do direito de interagir e do direito de se comunicar através das redes
informacionais”. O segundo deve levá-lo ao mercado de trabalho através da capacitação
profissional. O terceiro está voltado mais à educação, isto é, à “formação sociocultural
dos jovens na sua orientação diante do dilúvio informacional, ao fomento de uma
inteligência coletiva capaz de assegurar a inserção autônoma do país na sociedade
informacional”.
Assim, para combater a exclusão digital é necessário evitar que a sociedade
informacional seja mais um fator que alimente a exclusão social, preparando a sociedade
para os desafios de mercado de trabalho e para produzir incluídos digitais capazes de
competir neste cenário de mundialização. Silveira (2001:42) declara que:
“a informação hoje é recurso produtivo dominante nos processos de
maior valor agregado do capitalismo mundial. Estar conectado às redes
de informações e dominar tecnologias estratégicas pode fazer a diferença
entre a construção de uma sociedade com qualidade de vida e uma
sociedade de desindustrialização endividada, de pobreza informacional e
de miséria social”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudar exclusão social é uma tarefa árdua; não menos difícil é identificar ou
criar meios para se promover a inclusão social. O motivo dessa complexidade é que a
exclusão social é multifatorial, dinâmica e, infelizmente, constante; a exclusão social é
influenciada por fatores individuais, culturais, políticos, econômicos e até religiosos,
dentre outros. E, por acompanhar a evolução das sociedades, torna-se um processo
contínuo. Desta forma, a busca por meios de promoção da inclusão social deve
considerar as causas da exclusão social, na sociedade em questão, e como os fatores se
inter-relacionam.
Buscamos, nesta pesquisa, aprofundar o estudo da exclusão/inclusão digital,
relacionando-a aos processos de inclusão/exclusão social. Tomamos, como população
de nosso estudo, os jovens empobrecidos moradores na cidade de São Paulo, uma vez
que eles são os mais atingidos pelo avanço das tecnologias de informação, pois o não
conhecimento delas pode ser mais um empecilho para a sua inserção no mercado de
trabalho.
Escolhemos o CDI-SP como objeto empírico do nosso estudo, desenvolvendo
nossa pesquisa com os jovens freqüentadores.
O trabalho objetivou analisar as possibilidades de inclusão social de jovens
empobrecidos, através da alfabetização digital promovida pelas EICs subsidiadas pelo
CDI na cidade de São Paulo. Os caminhos percorridos para possibilitar esta análise
foram, em primeiro lugar, conhecer a proposta de atuação do CDI; as ações
desenvolvidas pelas EICs no ensino da informática e em atividades socioculturais. Um
segundo movimento foi o conhecimento do perfil dos jovens participantes das EICs,
entidades potencializadoras de inclusão social, passando pela educação da cidadania.
A utilização de um questionário com alternativas abertas possibilitou ampliar o
conhecimento das condições socioeconômicas dos jovens entrevistados, uma vez que a
liberdade nas respostas levou à detecção de situações, às vezes, inusitadas, como a que
ocorreu sobre a moradia dos jovens entrevistados, necessitando de refinamento das
questões aplicadas, fato que confirmou o que já havia sido referido por alguns autores,
de que a exclusão social repercute sobre a identidade dos jovens com comprometimento
da sua auto-estima. Em um outro momento, as respostas abertas possibilitaram
caracterizar melhor o papel das atividades socioculturais e do exercício da cidadania
sobre a inclusão social.
Os dados obtidos nas entrevistas refletem a realidade dos jovens da cidade de São
Paulo, de acordo com o Mapa da Juventude da Cidade de São Paulo. O predomínio de
mulheres em busca da capacitação informacional mostra a ampliação do papel da mulher
como provedora de renda da família, o que exige dela melhor qualificação para que
possa alcançar melhores empregos, com melhores salários. As características individuais
obtidas por esta pesquisa, como a cor da pele, a idade mediana e a escolaridade dos
jovens, são comparáveis com as levantadas pelo Mapa, sendo, esses dados,
representativos para o estudo dos jovens da cidade de São Paulo.
Identificar as condições socioeconômicas nos indivíduos segregados socialmente
não é uma tarefa fácil. Novamente, a crise de identidade aflora neles, a partir das
vivências de exclusão social. Tal situação leva, por um lado, à apatia e vergonha e, por
outro, pode gerar situações de revolta. Esta última não foi identificada nesta pesquisa,
enquanto que, a vergonha de revelar as condições socioeconômicas, particularmente
quanto à situação de moradia e o tipo de emprego, foi gritante, levando ao
mascaramento das respostas em primeira instância, gerando a necessidade de se fazer
um refinamento da entrevista, até com maior número de visitas às EICs e maior
aproximação entre os jovens entrevistados e o entrevistador, a fim de criar algum
vínculo com maior confiança entre as partes. Foram, assim, reveladas condições ainda
mais precárias que aquelas inicialmente descritas pelos jovens, como, por exemplo,
moradias “próprias” mas em terrenos irregulares; maior número de cômodos na mesma
casa, mas criados com divisórias precárias e não por aumento do espaço físico; e a
superpopulação na mesma moradia, ao abrigar pessoas migrantes, muitas vezes, fora do
círculo familiar. Essas situações aumentam ainda mais o fardo do provedor econômico
da casa, que já enfrenta o desgosto de, muitas vezes, estar trabalhando sob condições
precárias, em serviços desvalorizados, não permanentes e sem garantias, minimizando as
suas esperanças de um futuro melhor para si e para os seus dependentes, perpetuando o
círculo vicioso do comprometimento da identidade do indivíduo e de sua família.
Com relação à primeira inserção no mercado de trabalho, detectou-se que as
oportunidades de trabalho, além de escassas, são também precárias, ou seja, serviços
pouco qualificados e inconstantes, alimentando a gênese de trabalhos no setor de
serviços por meio de prestação a terceiros.
A proposta de atuação do CDI é a inclusão digital, equipando com instrumentos
(computadores) as EICs subsidiadas nas comunidades, oferecendo também capacitação
aos educadores, com metodologias de aprendizagem de informática e educação para a
cidadania.
Nesta pesquisa, detectamos que, quanto ao uso da informática, a maioria dos
jovens ainda acredita que o conhecimento dessa tecnologia pode abrir caminhos para a
inserção no mercado de trabalho, enquanto que alguns têm interesse em adquirir mais
conhecimentos através do acesso à rede mundial de informação (Internet), e uma
minoria nem sabe o que fazer ainda com essa aquisição. Com isto, podemos concluir que
a inclusão digital representa, para muitos, um determinante de sua condição no mercado
de trabalho, com repercussão em sua situação social.
Por outro lado, dominar as técnicas de informática, para muitos jovens, pode
representar um importante meio de lazer; às vezes, até o único meio, através do acesso à
Internet. Os jovens empobrecidos tendem a se confinar cada vez mais a relacionamentos
nas proximidades de onde vivem, para evitar gastos e porque é esse o meio com o qual
ele se identifica. Estreita-se, assim, o seu horizonte cultural e de lazer. A Internet, nesse
momento, seria um meio de ampliação cultural e social.
A proposta das EICs pesquisados é oferecer, além dos cursos de informática,
atividades socioculturais indutoras da construção da cidadania, contribuindo na
formação do indivíduo (jovem), enquanto cidadão ativo, atuante, capacitado para a
organização, a participação e a intervenção social. Sob esse aspecto, o resultado obtido
foi heterogêneo, pois apenas a EIC Gotas de Flor com Amor apresentou infra-estrutura
apropriada para oferecer esses tipos de atividades. Assim, mais uma vez, mesmo aquelas
escolas que objetivam oferecer acesso a meios de cultura aos jovens, não oferecem
concretamente maiores oportunidades de conhecimento e de inserção no território de
vivência deles próprios.
Desta forma, através desta pesquisa, conhecemos a proposta de atuação do CDI e
como é promovido o aprendizado de informática pelos jovens atendidos pelos programas
das EICs subsidiadas; além de identificar as atividades socioculturais como agentes
potencializadores de inclusão social.
Diante dos resultados apresentados, analisando as possibilidades de inclusão
social de jovens empobrecidos, pela alfabetização digital, podemos concluir que a
hipótese deste trabalho confirma-se parcialmente. A aquisição de novas tecnologias de
informação e o acesso ao conhecimento, à inclusão digital, pode melhorar a situação dos
jovens no mercado de trabalho, mas não são suficientes como indutoras de inclusão
social, necessitando maior articulação com atividades socioculturais, ampliando o
conhecimento e o exercício da cidadania. Esse conjunto, como um todo, faria com que
os jovens se tornassem produtores de suas realizações, não somente no que se refere ao
trabalho como emprego, mas também como agentes criadores e transformadores do
meio em que vivem. Promover a inclusão social através da inclusão digital significa
capacitar os jovens com tecnologia de informação, melhorando a sua inserção no
mercado de trabalho. Isso aliado a fatores coadjuvantes indispensáveis, como a sua
evolução nos relacionamentos com a sociedade, estimulando o exercício da cidadania.
Vale ressaltar que a pesquisa aqui apresentada contém parte do perfil dos jovens
paulistanos incluídos precariamente, conforme expressão de Martins, em busca de sua
inserção no mercado de trabalho. Este estudo apresenta aspectos relevantes às
comunidades, ONGs e associações que intentam promover a inclusão social por meio da
inclusão digital.
O estudo realizado nos incitou a formular novas questões que poderão ser
consideradas em novas pesquisas, tais como:
1. Qual é a capacitação que os educadores das EICs recebem para fomentar entre os
jovens a construção da cidadania?
2. A seleção de entidades para implementação da EIC leva em conta as suas
prioridades em projetos comunitários, ou seja, possuem a capacidade de aplicar a
tecnologia em problemas da sua região e conhecer as dificuldades reais da
população local?
3. Os educadores/coordenadores possuem papel estratégico na comunidade, isto é,
conhecem como a informática poderá ser um meio facilitador para desenvolver
processos de inclusão dessa população?
4. O acesso à cultura e informações utilizando a Internet é essencial na educação
dos jovens para sua ampliação no campo de cidadania?
5. Os educadores/coordenadores possuem contatos com outras lideranças locais e se
articulam com os conselhos gestores para animar e incrementar atividades de
desenvolvimento comunitário?
6. As EICs possuem algum tipo de acompanhamento dos alunos egressos?
7. Os alunos egressos voltam à entidade para usufruir da convivência ou participam
de outras atividades?
8. Qual é a preocupação efetiva dos gestores de inclusão digital em relação à
implementação de atividades socioculturais que promovam a ampliação de
talentos e habilidades dos seus alunos?
9. Os educadores utilizam os equipamentos públicos, tais como: teatro, quadra
esportiva, museu, entre outros, para promover o acesso à cultura entre os jovens?
As considerações aqui descritas, por fim, são contextualizações específicas do
universo desta pesquisa e, apesar de os dados obtidos terem características
representativas para o conhecimento do perfil dos jovens da cidade de São Paulo,
estudos posteriores são necessários para melhorar essa caracterização e para subsidiar
eventuais generalizações.
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ANEXOS
ANEXO 1: Transcrição da fala dos coordenadores das EICs pesquisadas
“A EIC tem como objetivo ser um instrumento de aproximação com a organização para
que se possa trabalhar temas ligados a realidade social regional, e como o sujeito de
direitos e deveres pode estar inserido nesta comunidade e sociedade, permitindo
também a este público o acesso à comunicação digital e à tecnologia moderna.”
(CD01)
“Estamos fazendo trabalhos com diversos temas, e que tenham há a ver com as coisas
que acontecem e vemos em nossa vida. Estamos orientando os alunos, que, sozinhos,
não somos capazes mudar o mundo, mas junto conseguimos melhorar um pouco. O
melhor caminho é mostrar aos alunos que todos nós temos uma importância na
sociedade, incentiva-los é a base de tudo.” (CD02)
“A nossa EIC tem como objetivo sensibilizar os alunos no sentido de agir de uma forma
ativa na relação com o computador onde ele, o sujeito que tem poder de decisão e o que
ele produz, será usado para melhoria de sua qualidade de vida, apoderamento de
informação de bens e serviços como um direito assegurado na Constituição brasileira.
Sempre respeitando o limite do aluno.” (CD03)
“Atualmente estamos atendendo 84 alunos em nossas três EICs na Escola
Profissionalizante. Este número se renova a cada um mês e meio. O nosso objetivo é
educar, dando ênfase na iniciação profissional, juntando o conhecimento técnico com
prática de cidadania. Nossas EICs já estão funcionando há mais de três anos e, neste
período, obtivemos muitos resultados positivos, como a inclusão de vários garotos no
mercado de trabalho.” (CD04)
“A proposta da organização é utilizar a inclusão digital como instrumento para
possibilitar a inclusão social. A proposta é desafiar os alunos e questioná-los quanto ao
seu papel social, direitos e deveres e capacitá-los para tal. Queremos realizar um
trabalho que promova auto-estima, motivação, algo que impulsione esses alunos a
acreditar mais em si mesmos. A informática será para nós uma ferramenta que
“possibilitará” essas propostas. É claro que capacitá-los enquanto futuros
conhecedores da era digital é importante para nós, mas pensamos que apenas isso é
muito pouco diante daquilo que cada um de nós pode despertar nesses alunos:
autoconhecimento, integração, participação social, relacionamentos, etc.” (CD05)
“Temos quatro turmas de informática: a primeira para alunos semi-alfabetizados, essa
turma, além de promover a inclusão digital, funciona como um reforço escolar para o
aluno do ensino formal. A segunda e a terceira turmas trabalham com os principais
programas: Word, Windows, Excel, WordPage, PowerPoint. E a quarta turma é uma
turma mais avançada, em convênio com a Fundação Bradesco. Os resultados têm sido
os melhores; avanços no ensino formal, melhora da auto-estima, etc. Contudo, temos
uma demanda maior do que podemos atender.” (CD06)
ANEXO 2: Transcrição da fala de alguns alunos pesquisados.
“(...) ter mais oportunidade no mercado de trabalho.” (GB01)
“(...) procurei emprego e faltou curso de informática. Quando cheguei na imobiliária,
não fui aceita por falta de computação.” (GB03)
“(...) porque cada vez mais no mercado de trabalho está se usando informática nos
trabalhos.” (GB05)
“(...) porque posso alcançar os meus objetivos na vida profissional.” (GB06)
“(...) porque conta na hora em que procuramos um emprego e também porque estamos
numa era em que a globalização está em frente com a tecnologia avançada e por esse
motivo temos que estar sempre junto às novas mudanças.” (PR03)
“(...) foi a dificuldade de trabalhar do mercado de trabalho. Para ter uma boa imagem
sobre a meu respeito no mercado de trabalho e para ter mais conhecimento.” (PR04)
“(...) para conhecer e arrumar um trabalho digno ter um salário legal que eu possa
ajudar minha família que passa necessidades.” (GT01)
“(...) no mercado não vive sem essa tecnologia, ela é muito usada.” (GT09)
“(...) a tecnologia, os ganhos salariais são melhores e é o meio que me interessa. Hoje
em dia só surgem vagas de emprego somente para quem já fez informática.” (GT17)
Alguns dos entrevistados (23,33%) afirmaram que o curso foi a oportunidade que
tiveram para aprender a informática. .
“(...) eu queria aprender a mexer com o computador e foi uma oportunidade que tive
para aprender.” (PR01)
“(...) foi a oportunidade e acho muito interessante aprender informática. É muito legal
você ficar mexendo com o computador você aprender muitas coisas interessantes.”
(PR06)
“(...) uma oportunidade de aprender a informática. Aprendendo a informática posso ter
outras coisas como um emprego e mais informações.” (GT03)
“(...) foi a oportunidade para obter mais conhecimento da informática e a base para
ser inserido no mercado de trabalho.” (GT05)
“(...) foi um incentivo da patroa para fazer o curso. Aprender porque nunca teve
oportunidade.” (GB10)
Dos entrevistados, 16,67% opinaram que queriam ampliar seus conhecimentos.
“(...) obter mais conhecimentos para utilizar na Internet.” (GB04)
“Ter mais conhecimento para poder crescer com o País, ou você fica para trás.”
(GB08)
“(...) porque a gente, não só eu mas todos, porque eu aprendo muito com informática
como fazer currículo e muito texto.” (PR08)
Alguns entrevistados disseram que fizeram o curso por tédio ou insistência da
mãe, salário digno e por ser o curso mais barato.
“(...) pra não ficar em casa.” (GB02)
“(...) porque o curso é mais barato e muito mais fácil de aprender.” (PR05)
“(...) Minha mãe não gosta que eu fique em casa( ...) vive me enchendo pra fazer o
curso.” (PR10)
ANEXO 3: Ranking de IEX nos distritos do Município de São Paulo, 2002
Ranking 2002 Distrito IEX Final 2002 1 JARDIM ANGELA -1,002 GRAJAU -0,983 LAJEADO -0,924 CIDADE TIRADENTES -0,905 PARELHEIROS -0,886 JARDIM HELENA -0,847 IGUATEMI -0,838 PEDREIRA -0,839 BRASILANDIA -0,81
10 ITAIM PAULISTA -0,8111 CAPAO REDONDO -0,8112 VILA CURUCA -0,7713 GUAIANASES -0,7614 SÃO RAFAEL -0,7215 CACHOEIRINHA -0,7016 CIDADE ADEMAR -0,6717 MARSILAC -0,6618 SAPOPEMBA -0,6419 PERUS -0,6320 VILA JACUI -0,6221 JARDIM SÃO LUIS -0,6122 JOSE BONIFACIO -0,6023 ANHANGUERA -0,5624 ITAQUERA -0,5525 CIDADE DUTRA -0,5426 CAMPO LIMPO -0,5427 JARAGUA -0,5428 SÃO MIGUEL -0,5129 VILA ANDRADE -0,4830 RAPOSO TAVARES -0,4831 PARQUE DO CARMO -0,4632 VILA MEDEIROS -0,4633 TREMEMBE -0,4434 VILA MARIA -0,4335 CANGAIBA -0,4236 ARTUR ALVIM -0,4237 SÃO MATEUS -0,4138 PONTE RASA -0,4139 ERMELINO MATARAZZO -0,3940 JACANA -0,37
41 JABAQUARA -0,3642 LIMAO -0,3543 BRAS -0,3444 CIDADE LIDER -0,3445 SE -0,3246 RIO PEQUENO -0,3247 JAGUARE -0,3248 PIRITUBA -0,3149 SACOMA -0,3150 ARICANDUVA -0,2951 SÃO DOMINGOS -0,2852 REPUBLICA -0,2853 SÃO LUCAS -0,2754 PENHA -0,2455 VILA PRUDENTE -0,2356 FREGUESIA DO O -0,2357 VILA SONIA -0,2258 VILA MATILDE -0,1659 LIBERDADE -0,1560 BOM RETIRO -0,1561 CASA VERDE -0,1462 CARRAO -0,1263 JAGUARA -0,1264 VILA FORMOSA -0,0965 IPIRANGA -0,0866 VILA GUILHERME -0,0767 BELEM -0,0668 SANTA CECILIA -0,0569 MANDAQUI -0,0570 CURSINO -0,0471 AGUA RASA -0,0472 TUCURUVI -0,0473 CAMBUCI -0,0374 MOOCA -0,0275 PARI 0,0076 CAMPO GRANDE 0,0077 SOCORRO 0,0278 BELA VISTA 0,0379 BARRA FUNDA 0,0480 VILA LEOPOLDINA 0,1181 SANTANA 0,1282 TATUAPE 0,1483 SAUDE 0,19
84 MORUMBI 0,1985 BUTANTA 0,2386 CAMPO BELO 0,2587 LAPA 0,2688 CONSOLACAO 0,2989 VILA MARIANA 0,3290 PERDIZES 0,3391 SANTO AMARO 0,3492 ITAIM BIBI 0,3593 ALTO DE PINHEIROS 0,4294 PINHEIROS 0,4395 JARDIM PAULISTA 0,9796 MOEMA 1,00
Fonte: Mapa de Exclusão e Inclusão Social do Município de São Paulo.
ANEXO 4: Roteiro da Entrevista
ROTEIRO DE ENTREVISTA
1. IDENTIFICAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO/COMUNIDADE:
Organização que abriga a EIC:
_______________________________________________________________
Nome da EIC:
_______________________________________________________________
Endereço:
_______________________________________________________________
Data da Entrevista: _____/_____/__________
Local:__________________________________________________________
2. IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO:
Nome:
_______________________________________________________________
Endereço:
_______________________________________________________________
Telefone:
_______________________________________________________________
RG: ___________________ Data de Nascimento: ___________ Idade: ______
Sexo: ( ) masculino ( ) feminino Cor: ______________________________
1. Estado civil do entrevistado: ( ) 1. Solteiro(a)
( ) 2. Casado(a)
( ) 3. Viúvo(a)
( ) 4. Desquitado(a) ou divorciado(a)
( ) 5. Informal (amasiado, concubinato, “vivem juntos”)
2. Escolaridade: ( ) 1. Primeiro grau incompleto ____________________
( ) 2. Primeiro grau completo
( ) 3. Segundo grau incompleto ___________________
( ) 4. Segundo grau completo
3. LEVANTAMENTO DE SITUAÇÃO SOCIOECONÔMICA:
3.1 Situação de moradia: ( ) casa própria (terreno legal) ( ) alugada (terreno legal)
( ) casa em terreno público
( ) compartilhada com outras famílias ( ) abrigo
( ) outros _______________________________________________________
3.2 Quantas pessoas moram na casa? ( ) 1 a 3 ( ) 4 a 6 ( ) 7 a 9 ( ) 10 – 12 ( ) mais que 12
3.3 Quantas pessoas trabalham em casa?
________________________________________________________________
3.4 Qual é a renda familiar? ( ) 1 a 3 salários mínimos
( ) 4 a 5 salários mínimos
( ) 6 a 8 salários mínimos
( ) Mais de 8 salários mínimos
3.5 Das pessoas que trabalham em casa, qual profissão tem o maior salário?
________________________________________________________________
3.6 Quem sustenta a casa? ________________________________________________________________
4. Quantos cômodos existem na sua casa? _____ banheiros _____salas _____quartos _____ área de serviço
_____ garagem _____ carros _____ geladeiras _____ fogão
_____ computadores
5. Situação de lazer: Local onde costuma ter o lazer:
________________________________________________________________
( ) clubes ( ) atividades no bairro ( ) atividades na comunidade
( ) bailes/festas ( ) restaurantes ( ) outros:
________________________________________________________________
6. Situação social familiar: Qual é o local onde a família faz relacionamentos sociais?
________________________________________________________________
_______________________________________________________________ .
8. Situação de trabalho do entrevistado: 8.1 Está trabalhando atualmente? ( ) sim ( ) não ( ) efetivo ( ) temporário
( ) bico
8.2 Se sim, em quê?
________________________________________________________________
8.3 Há quanto tempo está trabalhando?
________________________________________________________________
8.4 Se não está trabalhando, há quanto tempo está sem trabalho?
________________________________________________________________
8.5 Em que trabalhou antes?
________________________________________________________________
8.6 Em que pretende trabalhar?
________________________________________________________________
8.7 Condição do último trabalho? ( ) efetivo ( ) temporário ( ) bico
8.8 Quanto à sua pretensão salarial?
________________________________________________________________
9. Acompanhamento pedagógico: 9.1 O que o levou a fazer o curso de informática na EIC? _________________________________________________________________________________________________________________________.
9.2 Para você, qual a importância do conhecimento da informática? _________________________________________________________________________________________________________________________ . 9.3 Você utiliza os conhecimentos adquiridos na informática? ( ) sim, onde: ____________________________________________________
( ) não, por quê? _________________________________________________
9.4 Onde você acha que se costuma exigir a informática? ________________________________________________________________
9.5 Você pretende utilizar os conhecimentos adquiridos na informática no trabalho? ( ) sim, como? ___________________________________________________
( ) não
9.6 O que você não aprendeu no curso e que gostaria de aprender? ________________________________________________________________
_______________________________________________________________ .
9.7 O que você acha que deveria ser acrescentado no curso? ________________________________________________________________
_______________________________________________________________ .
9.8 O que muda na vida das pessoas que conhecem a informática? ________________________________________________________________
________________________________________________________________
_______________________________________________________________ .
9.9 Durante as aulas na EIC, existe algum tipo de discussão além de coisas sobre informática? ( ) sim, o quê? ___________________________________________________
( ) não.
9.10 Estas discussões geraram algum tipo de atividade com o computador? ________________________________________________________________
________________________________________________________________
_______________________________________________________________ .
9.11 Estas atividades têm alguma ligação com a comunidade/trabalho/outros? ________________________________________________________________
________________________________________________________________
_______________________________________________________________ .
9.12 No geral, o curso tem contribuído para a sua vida? ( ) sim, em quê? __________________________________________________
________________________________________________________________
_______________________________________________________________ .
( ) não, por quê? _________________________________________________
________________________________________________________________
_______________________________________________________________ .
9.13 Você acha importante estudar cidadania num curso de informática? ( ) sim, por quê? _________________________________________________
________________________________________________________________
_______________________________________________________________ .
( ) não, por quê? _________________________________________________
________________________________________________________________
_______________________________________________________________ .
9.14 Quanto ao ambiente, você considera a sala de aula... ( ) adequada, gosto da forma como ela está disposta.
( ) há muito barulho durante as aulas.
( ) poderia melhorar.
( ) outros: _______________________________________________________
9.15 Como você avalia o curso? ( ) péssimo ( ) regular ( ) bom ( ) ótimo
9.16 O que pode ser acrescentado no curso para melhorar? ________________________________________________________________
_______________________________________________________________ .
9.17 Nessa organização que abriga a EIC, tem mais alguma atividade sociocultural que você pode participar? Você participa? ________________________________________________________________
________________________________________________________________
_______________________________________________________________ .
9.18 Existe alguma outra atividade em que você gostaria de participar? ________________________________________________________________
_______________________________________________________________ .
9.19 O que estas atividades podem melhorar na sua
vida?__________________________________________________________ .
10. Além da informática, você tem acesso à Internet?
( ) Não, não sei como é Internet.
( ) Não, sei o que é Internet mas não tenho acesso.
( ) Sim, mas não compreendo muito bem o que é Internet.
( ) Sim, sei muito bem o que é Internet. Onde?
________________________________________________________________
11. Se você pudesse ter acesso à Internet, em quq você acessaria?
( ) pesquisas escolares. ( ) atividades de governos. ( ) chats/bate- papo
( ) e-mails/mensagens eletrônicas ( ) acessar sites/notícias ( ) revistas
( ) jornais ( ) downloads ( ) filmes ( ) fazer home pages
( ) conhecer problemas da comunidade ( ) procurar emprego
( ) apostilas e cursos
( ) Outras coisas como:
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
_______________________________________________________________.
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