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FATORES DE RISCO QUE ACOMETEM OS TRABALHADORESDE UMA UNIDADE DE PROCESSAMENTO DE ROUPAS DE
SERVIÇOS DE SAÚDE: UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DAZONA DA MATA, MG
Marcelina Eliene Celso1
Michelle Lelis Gomes2
Marciana M. de Miranda3
Rosângela Maria Pinto4
Cristiane Natalício de Souza5
RESUMO
O ambiente trabalho deve ser sadio, agradável e proporcionar o máximo de proteção aos trabalhadores, além deprevenir acidentes, doenças ocupacionais e proporcionar o melhor relacionamento entre a empresa e otrabalhador. A proposta desse estudo objetivou identificar quais eram os riscos que acometiam os trabalhadoresde uma Unidade de Processamento de Roupa de Serviço de Saúde (UPRSS) e como esses poderiam interferir naqualidade de vida dos mesmos nesse ambiente. Para isso, os instrumentos de coleta de dados utilizados foram:questionários, entrevista semi-estruturada e observação não participativa. A partir da análise desses dados,constatou-se que a UPRSS não se adequa às normas exigidas pela ANVISA o que pode, além de comprometer ahigienização dos enxovais, expor os trabalhadores a diversos fatores de risco, esses podem ser agravados devidoao fato dos trabalhadores não usarem todos os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).
PALAVRAS-CHAVE: Lavanderia. Higienização. Segurança.
1 INTRODUÇÃO
O perfeito funcionamento de um hospital depende do trabalho em conjunto de diversos
centros de modo a oferecer serviços de qualidade aos seus usuários, sendo que, para Castro e
Chequer (2001), os centros se dividem em: Administrativo, Enfermagem, de Apoio ao qual
está inserido a Unidade de Processamento de Roupas de Serviços de Saúde (UPRSS) e
Serviços das Diferentes Clínicas.
A UPRSS é responsável pelo processo de higienização dos enxovais, prevenindo as
contaminações e sua distribuição em perfeitas condições de uso de modo a atender as
demandas do paciente que são segurança, conforto e bem estar.
Sendo assim, o espaço físico da UPRSS deve ser projetado de maneira a proporcionar
serviços de qualidade ao hospital, segurança e bem estar aos funcionários durante a execução
1 Graduanda em Economia Doméstica na Universidade Federal de Viçosa. marcelinaeliane@yahoo.com.br2 M.S. Economia Doméstica, Professora Substituta do curso de Economia Doméstica – UFV.michelle.lelis@ufv.br3 Graduanda em Economia Doméstica – UFV. marcianamdemiranda@yahoo.com.br4 Graduanda em Economia Doméstica – UFV. romaecd@yahoo.com.br5 M.S. Economia Doméstica, Professora Assistente do curso de Economia Doméstica pela UFV.cristiane.souza@ufv.br
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das atividades.
De acordo com Fontes (2003), a UPRSS, por ser um setor de apoio indireto ao
atendimento ao paciente, algumas instituições não costumam disponibilizar recursos para a
melhoria das condições físicas, ambientais e organizacionais desse ambiente, o que pode
comprometer o desenvolvimento do trabalho e a satisfação dos trabalhadores deste local.
As precárias condições de trabalho podem causar desgastes psicológicos e fisiológicos
o que pode levar a diminuição da capacidade laboral, queda na produtividade, além de
interferências na qualidade de vida dos funcionários da UPRSS.
Diante dessas considerações, torna-se necessário um estudo sobre os fatores de risco
que acometem os trabalhadores de uma UPRSS de um hospital no Município da Zona da
Mata, MG, considerando que as abordagens desse artigo concernem às atribuições do
profissional de Economia Doméstica.
Essa pesquisa teve como objetivo geral analisar quais eram os fatores de risco que os
trabalhadores de uma UPRSS estavam expostos e como esses fatores poderiam comprometer
a qualidade de vida dos mesmos no ambiente de trabalho, em um hospital de um Município,
MG, de acordo com o manual da ANVISA de 2007. E especificamente objetivou-se:
- Caracterizar o ambiente físico e equipamentos de trabalho.
- Traçar o perfil socioeconômico dos trabalhadores da UPRSS.
- Averiguar a existência e uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s).
- Identificar a existência ou não de queixas abordadas pelos funcionários em seu ambiente de
trabalho.
2 REVISÃO DE LITERATURA
O trabalho é considerado de grande importância para o homem uma vez que é avaliado
vital e indissociável da vida humana, este não apresenta apenas a fonte de renda para os
trabalhadores, mas um meio de satisfazer suas necessidades básicas e de sua família como
aponta Maslow (s/d) citado por Silva (2006a) retratando que o trabalho está inserido na
segunda escala das necessidades humanas, deste modo ele tem influência direta na qualidade
de vida de quem o exerce.
Para assegurar essa qualidade de vida, Carlos (2008) alega que o ambiente laboral
deve ser sadio, agradável e proporcionar o máximo de proteção aos trabalhadores, sendo esses
o resultado de fatores materiais ou subjetivos que devem prevenir acidentes, doenças
ocupacionais, além de favorecer o melhor relacionamento entre a empresa e o trabalhador.
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Um ambiente de trabalho mal planejado, com instalações precárias e que adotam
procedimentos e técnicas inadequadas apresenta diversos riscos à saúde do trabalhador o que
contribui para a redução da sua produtividade.
Dentre diversos ambientes de trabalho pode-se destacar a Unidade de Processamento
de Roupas de Serviços de Saúde (UPRSS) que é o setor de apoio de um hospital e compõe um
dos setores responsáveis por restabelecer a saúde dos pacientes ao se comprometerem com a
higienização dos enxovais, prevenindo as contaminações e sua distribuição em perfeitas
condições de uso de modo a atender as necessidades do paciente que são de segurança,
conforto e bem estar (CASTRO; CHEQUER, 2001).
Castro e Chequer (2001) destacam que um ambiente bem planejado é aquele que
permite um fluxo de trabalho organizado e racional onde seus equipamentos estão dispostos
de maneira ordenada. Para as autoras, de acordo com Ministério da Saúde, a UPRSS deve ser
dividida em duas áreas: área contaminada e área limpa onde nessa última deve conter os
equipamentos de secagem, caladragem e passadoria.
Esse leiaute tem implicações práticas e estratégicas que podem influenciar
positivamente a organização visando principalmente o fluxo de materiais e informações,
reduzir os riscos dos trabalhadores e melhorar a comunicação. (TREIN, 2001, apud SILVA,
2006b).
A ANVISA (2007) ressalta ainda a necessidade de ter instalado nas dependências da
UPRSS as barreiras físicas, a fim de evitar a contaminação dos demais ambientes pela área
contaminada através da propagação de microrganismos presentes nesse local advindos das
roupas hospitalares. Essas barreiras são representadas pelas lavadoras de barreira, portas com
intercomunicador e banheiros/vestiários para o funcionário da área contaminada.
Para manter a higiene dos ambientes de trabalho da UPRSS os pisos e revestimentos
devem ser lisos e de fácil limpeza, a iluminação e ventilação deve ser permitida por janelas
amplas, que estejam teladas e de material não corrosivo, reforçados por construções de pé
direito alto. (CASTRO; CHEQUER, 2001).
De acordo com ANVISA (2007), os equipamentos devem estar firmemente assentados
no piso, esse sendo sem declive e gradeado ao redor das lavadora e centrífuga para evitar
ruídos, trepidações e acidentes respectivamente no ambiente de trabalho.
Apesar dessas informações, inúmeras pesquisas têm demonstrado que por diversas
vezes a UPRSS tem exercido suas atividades dentro de ambientes impróprios acometendo
seus trabalhadores a situações de risco para a saúde dos mesmos.
Bartolomeu (1998) afirma que o sentido atribuído à palavra risco no setor laboral
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expressa a possibilidade de ocorrência de acidentes nesse espaço.
Para a Norma Regulamentadora NR 9(Riscos Ambientais) da Portaria nº. 25 de 29 de
dezembro de 1994, do Ministério do Trabalho descrita pela Medicina e Segurança do
Trabalho-SESMT (2009), os riscos são divididos em físicos, químicos, biológicos,
ergonômicos e de acidentes.
Os riscos físicos são caracterizados pelos ruídos, vibrações, radiação ionizante,radiação não ionizante, frio, calor, pressões anormais e umidade; os riscos químicossão os agentes químicos ou substâncias capazes de penetrar no organismo humanopela via respiratória, destaca-se os gases e vapores, poeira, névoa e neblinas; osriscos biológicos são os organismos patogênicos bactérias, fungos, bacilos, parasitas,protozoários e vírus; os riscos ergonômicos são caracterizados pela possibilidade delesão causada ao homem pelo esforço físico intenso, jornada de trabalho prolongado,exigências de postura inadequada, ritmo excessivo, monotonia e repetividade; osriscos de acidentes são definidos pelo arranjo físico e iluminação inadequados,equipamentos sem proteção, eletricidade e probabilidade de incêndio.(MEDICINA ESEGURANÇA DO TRABALHO, 2009, p.143-147)
O EPI é um instrumento capaz de proteger os indivíduos das agressões e/ou riscos de
determinada ação. Tecnicamente a Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurança
(SOBES), define EPI como um dispositivo que minimiza, elimina ou neutraliza as condições
de insalubridade tanto sob o ponto de vista técnico como também (e isso é importante nas
perícias judiciais) sob o ponto de vista legal.
Os EPIs utilizados na UPRSS são gorro, botas antiderrapante, luvas, óculos, máscaras,
uniformes de mangas e calças compridas e protetores auriculares. Embora a utilização desses
seja de elevada importância, muitos funcionários não usam, alegando não ser necessário ou
que o próprio causa-lhes transtornos durante o trabalho.
Bartolomeu (1998) citado por Silva (2006) disserta que os problemas de saúde
decorrente dos riscos relacionam as doenças pulmonares, dores musculares, fadiga ocular,
irritações, lacrimejamento, cefaléia e dores nas costas em virtude na maioria das vezes pelo
esforço repetitivo que exige a função.
Em consonância com as informações anteriores, embora os serviços prestados pela
UPRSS sejam de suma importância, Lisboa (1998) citado por Fontes et al (2007) corrobora
com a idéia de que o fato de higienizar as roupas em ambientes insalubres pode levar os
trabalhadores a situações de desconforto, mal estar, tontura, dor de cabeça e fadiga.
Em face dessas relevâncias, o trabalhador da UPRSS quase sempre desconhece os
riscos aos quais estão expostos e nem sempre detém de informações sobre como se proteger
ou exigir uma melhor segurança no trabalho e isso normalmente é causado pelo pouco ou
nenhum grau de instrução dos funcionários.
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Numa tentativa de reverter esse quadro existe uma necessidade de funcionários
capacitados, como coloca Bartolomeu (1998) citado por Fontes et al. (2007), que nesses
ambientes existe uma deficiência de profissionais com conhecimentos das técnicas de
processamento de roupas hospitalares para garantir a qualidade do produto final. Muitas vezes
esse problema surge da falta de um profissional à frente da gerência da UPRSS que informe,
oriente, capacite e conscientize os funcionários quanto à função que ele exerce, bem como, a
importância da mesma.
A elaboração do Mapa de Riscos é um instrumento de informação que o gestor da
UPRSS pode utilizar como forma de conscientização dos trabalhadores. De acordo com
Barcelos (1995), mapa de riscos é a representação, numa planta baixa, do setor de trabalho e
identificado por meio de círculos de diferentes tamanhos e coloridos especificamente de
acordo com o grupo que pertencem, os riscos a que estão expostos. Esse trabalho é construído
conjuntamente entre profissionais e trabalhadores, visando trocar informações e considerando
sempre a visão que o trabalhador tem em relação aquele ambiente em que está inserido.
As ações direcionadas a manutenção da saúde dos trabalhadores, melhoria das
condições de trabalho e valorização do ser humano são fatores primordiais que refletem na
satisfação dos trabalhadores com o ambiente e, conseqüentemente, no aumento da
produtividade.
3 METODOLOGIA
3.1 Local de Estudo
O presente trabalho foi realizado em um hospital de um Município da Zona da Mata
Mineira. O local de estudo foi uma instituição filantrópica de pequeno porte que realiza
atendimentos médicos hospitalares e diagnósticos variando de 85 a 90atendimentos por dia.
3.2 População e Amostra
O quadro de funcionários era composto por 45 pessoas que representam a população
de estudo sendo que, haviam 07 médicos, 15 enfermeiros, 04 recepcionistas, 10 auxiliares de
serviços, dos quais 06 trabalhavam na UPRSS, sendo que, apenas 05 compuseram a amostra
da pesquisa, pois um dos funcionários estava de férias, e 01 administradora.
A UPRSS desse hospital processava cerca de 50 kg de roupa diariamente.
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3.3 Procedimentos para Coleta dos Dados
Para a obtenção de referências sobre o assunto, procurou-se informações em
bibliografias teses, livros e materiais científicos retirados da internet, com o intuito de auxiliar
na realização do trabalho.
Em seguida, para alcançar aos objetivos propostos, o tipo de pesquisa utilizado foi o
estudo de caso. A coleta de dados foi realizada a partir de observações não participativas,
entrevistas e questionários.
De acordo com Gil (1998) citado por Bartolomeu et al.(2003), o estudo de caso é
caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetivos, de maneira que
permite o seu amplo e detalhado conhecimento, o que justifica a necessidade da adoção desse
método nesse estudo.
A observação não participante teve por objetivo conhecer o local de estudo (aspectos
físicos), ao passo que, o questionário com perguntas objetivas e subjetivas se propôs a traçar o
perfil socioeconômico dos funcionários da UPRSS. Além disso, a entrevista semi-estruturada,
direcionada aos funcionários e administrador contemplou questões referentes ao
funcionamento desse local.
3.4 Análise dos Dados
Os dados foram analisados e tabulados e, posteriormente, comparados com o que é
recomendado por autores, utilizados nas referências bibliográficas consultadas.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da visita realizada no hospital em estudo foi possível constatar que a UPRSS
do mesmo está instalada nas dependências da instituição e que o serviço de higienização das
roupas é de responsabilidade da mesma.
Essas características estão de acordo com as propostas de Mezzomo (1992) citado por
Bartolomeu (2003), pois, segundo o autor, o fato desse setor estar localizado nas dependências
do hospital facilita o transporte e reduz o tempo de circulação.
No entanto, a UPRSS, assim como os demais setores do hospital, é administrada por
uma funcionária formada em Enfermagem com especialização em Gerência Hospitalar, fator
esse que pode limitar a funcionalidade da UPRSS, visto que muitas vezes a profissional não
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detém de conhecimentos necessários para gerenciar esse setor, como menciona também
Castro e Chequer (2001) que o profissional à frente da gerência deve ter conhecimentos
multidisciplinares, sendo capazes de elaborar e estabelecer rotinas além de entender todo
processo de higienização.
Quanto ao ambiente físico observou-se que não existe separação entre área
contaminada e área limpa e as atividades de separação de roupa e higienização ocorrem no
mesmo espaço, o que propicia a contaminação cruzada das roupas e exposição dos
funcionários a fatores de riscos biológicos.
Além das precárias condições elétricas e hidráulicas, não há revestimentos nas
paredes, nem piso gradeado ao redor das máquinas e janelas no modelo de báscula, mostrando
assim, a necessidade de reforma para adequação do local. O pé direito dessa construção é alto
o que garante a ventilação, no entanto, o fato do teto ser de telha colonial e existir frestas
entre a parede e o telhado, isso contribui para a disseminação de microrganismos interna e
externamente.
A ANVISA (2007) discorre sobre a importância de ter instalado na UPRSS as
barreiras físicas a fim de evitar a recontaminação da roupa isolando-a dos locais da roupa
limpa, essas barreiras são representadas pelas lavadoras de barreira recentemente instalada no
local de estudo (ainda sem funcionamento); portas com intercomunicador e
banheiros/vestiários separados para os funcionários da área contaminada o que não foi
observado nessas dependências.
No período de colheita, a Unidade higieniza 50kg de roupa por dia, podendo esse
número aumentar consideravelmente durante a entressafra, pois, é quando a procura por
atendimentos por serviços médico-hospitalares se eleva. Essas roupas processadas nesse setor
são os enxovais dos leitos, pijamas, rouparia da cozinha, todas com sujidades leve a pesada.
Os produtos químicos utilizados nesse processo, segundo a administradora, são todos de
origem industrial.
Verificou-se a existência dos seguintes equipamentos: uma lavadora industrial, duas
centrífugas, uma calandra, uma máquina de costura, um ferro elétrico, carro para transporte de
roupa, armário de aço para armazenagem das roupas limpas. Não havia secadora, as roupas
secavam estendidas em varais dispostos paralelamente à única porta da UPRSS por onde
entrava e saía às peças. Nesse caso, a possível recontaminação das peças era causada pela
proximidade da área contaminada e por agentes contaminantes do ambiente externo.
A UPRSS em questão, contava com seis funcionários, com idade média entre 35 a 45
anos de idade, dos quais apenas um era do sexo masculino, e a escolaridade média era ensino
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fundamental incompleto.
Eram remunerados com um salário mínimo pela função exercida nesse setor. Essas
atividades se caracterizavam por processamento de roupas e limpeza do hospital, visto que, o
número de auxiliares para a limpeza não cumpria a demanda da instituição.
O Ministério do Trabalho, por meio da Norma Regulamentadora NR 6, estabelece a
importância do uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI), ao proteger o
trabalhador de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança bem como a saúde no trabalho.
Diante disso, através da coleta de dados, percebeu-se que todos os funcionários sabiam o que
era EPI, alegando usar durante as atividades, botas, luvas, jaleco, máscara e touca, fornecidos
e fiscalizados pela administradora do setor. Porém, no dia da visita, observou-se que os
mesmos usavam apenas o jaleco comum e bota durante o trabalho.
Os riscos ambientais tratados na NR- 9 (2009), segundo a Segurança e Medicina do
Trabalho (SESMT), são os riscos biológicos, químicos, físicos, ergonômicos e de acidentes,
assim, foi possível inferir que, no ambiente analisado ocorria todos os riscos, excetuando-se
os físicos, que não eram tão evidentes, uma vez que a observação não participante aconteceu
apenas em um dia.
Assim, foi identificado que os fatores de risco que acometiam os trabalhadores dessa
UPRSS podiam ser elencados da seguinte forma: a manipulação inadequada dos enxovais sem
uso de EPIs(máscara, luvas e óculos), que ocorria no mesmo espaço de área contaminada e
limpa, expondo-os a contaminação por agentes patógenos, levando a um quadro de doenças
infecciosas.
Os riscos químicos também incidiam pelo fato de os trabalhadores não usarem todos
os EPIs durante o manuseio de produtos químicos, o que podia ocasionar reações alérgicas e
intoxicação.
Os riscos ergonômicos eram advindos do esforço físico intenso e das posturas
inadequadas adotadas ao realizar as atividades, ocasionando dores musculares e cansaço,
conforme foi mencionado por um dos funcionários.
O que agravou os fatores de ocorrência de riscos de acidentes foi a ausência do piso
gradeado ao redor das máquinas, instalações precárias e ainda falta de atenção ao
operacionalizar os equipamentos, pois, de acordo com o depoimento de um funcionária,
devido a um relapso, quase teve seu dedo amputado pela calandra.
Assim, os funcionários dessa Unidade, a julgavam como um ambiente de pouco perigo
a perigoso, visto que, quatro funcionários destacaram que o que poderia afetar sua saúde eram
os odores e o sangue contidos nas roupas. Apesar dessas informações, os funcionários
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alegavam não ter queixa quanto ao ambiente de trabalho, entendiam a importância da UPRSS
dentro da Instituição, alegavam gostar do que faziam e estavam satisfeitos com o bom
relacionamento entre eles e com a administradora.
A administradora também reconheceu a importância da UPRSS e dos funcionários
para a Instituição, pelo fato de a primeira fornecer roupas higienizadas ao hospital e os demais
se empenharem nessa função, por isso, relatou buscar melhores condições de trabalho para os
funcionários por meio de capacitação na forma de palestras e reuniões, além de estar
envolvida no projeto de reforma da UPRSS, para que essa possa atender às exigências da
ANVISA.
5 CONCLUSÃO
O setor de apoio do hospital, a UPRSS, é caracterizada por assegurar o fornecimento
de roupas higienizadas com qualidade aos paciente de modo a atender suas demandas de
conforto e bem-estar, todavia, a execução desse processo deve ocorrer em ambientes que
ofereçam amplas condições de trabalho.
A proposta desse estudo foi analisar quais os fatores de risco que acometiam os
trabalhadores de uma UPRSS e como esses fatores poderiam comprometer a qualidade de
vida dos mesmos no ambiente de trabalho, assim, identificou-se que os riscos acometidos
pelos mesmos são biológicos, químicos, ergonômicos e de acidentes, sendo esses causados
principalmente pelo não uso efetivo dos EPIs, excesso de esforço físico e posturas
inadequadas durante a realização das atividades. O agravante dos riscos de acidentes foi com
relação a ausência de piso gradeado e relapso de funcionários ao operacionalizar os
equipamentos.
O ambiente físico era caracterizado por um mau planejamento, ausência de divisões de
área, além da disposição de equipamentos não facilitar o fluxo de trabalho. Havia
precariedade nas instalações e revestimentos, os equipamentos apresentam desgaste, além da
carência da secadora que simplificaria o processo de higienização, contribuiria para a
qualidade das peças, além de evitar a recontaminação das peças.
Por meio desses dados ressaltou-se a necessidade de agilizar o projeto de reforma
desse setor, de modo que possa proporcionar melhores condições laborais aos trabalhadores
de acordo com as regulamentações da ANVISA.
Em face dessas considerações, ficou evidente priorizar a contratação de um
profissional da área, capacitado e qualificado para gerir esse setor, sendo capaz de orientar,
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conscientizar e capacitar os funcionários quanto a função que eles exercem e adotar medidas
que visem a melhoria das condições de trabalho dos mesmos, implicando positivamente na
qualidade de vida laboral e na produtividade.
A longo prazo, após uma conscientização e capacitação dos trabalhadores, no sentido
de minimizar os riscos apresentados por uma UPRSS, sugere-se ainda, a construção conjunta
do Mapeamento de Riscos, visto que esse é um importante instrumento de medida preventiva.
As maiores limitações no tocante a este estudo dizem respeito a delimitação do tema,
pois o assunto pode apresentar várias abordagens. O pouco tempo, de um semestre, para
aprofundar nos conceitos pertinentes a esse assunto, bem como, dificuldade em coletar os
dados devido a desconfiança por parte da direção do hospital diante desse estudo.
Contudo, esse estudo foi muito enriquecedora ao permitir confrontar os conhecimentos
teóricos com a realidade prática, mostrando que cada uma tem suas particularidades e
carências.
REFERÊNCIA
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Segurança e Medicina do Trabalho/ Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com acolaboração de Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e LíviaCéspedes.- 3. ed. Atual.-São Paulo: Saraiva, 2009.p.143-147.
Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurança. Disponível em:<http://www.crorj.org.br/biosseguranca/EPI%20Neutraliza%20a%20Insalubridade.pdf >Acesso em: 09 jun. 2009.
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