excelentÍssimo senhor doutor juiz de direito...
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Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA
COMARCA DE SÃO MIGUEL DO IGUAÇU/PR
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seu agente que
adiante assina, no uso de suas atribuições legais conforme Resoluções nº 593/2009,
2222/2009, 599/2010 e 2228/2010, todas da douta Procuradoria-Geral de Justiça do
Estado do Paraná, com base no incluso Inquérito Civil nº MPPR- 0137.12.000002-1,
vem, perante Vossa Excelência, com fundamento nos arts. 127, caput, 129, inciso III, 37,
caput e § 4º e 15, inciso V, da Constituição da República; art. 25, inciso IV, alíneas “a” e
“b”, da Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); art. 68, inciso VI,
da Lei Complementar nº 85/99 (Lei Orgânica do Ministério Público do Paraná); artigos
1º e 5º, da Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública); e artigos 1º, 2º e 4º; art. 9º, caput
e inciso XI; art. 10, caput e incisos I, IX e XI e art. 11, caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92
(Lei da Improbidade Administrativa) propor o presente pedido de provimento
jurisdicional de
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESSARCIMENTO DE DANO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO, DE
INDISPONIBILIDADE DE BENS, DE IMPOSIÇÃO DE SANÇÕES POR ATOS DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA C.C PEDIDO DE NULIDADE DE ATOS
ADMINISTRATIVOS em desfavor de:
ANTÔNIO DILMAR TONIS MAFALDA, brasileiro, casado, presidente da
Câmara dos Vereadores inscrito no CPF/MF sob o nº 308.437.829-00, residente e
domiciliado na Rua Getúlio Vargas, 217, Bairro Centro, nesta Cidade;
AGENOR PERON DORIGON, brasileiro, casado, vereador, inscrito no
CPF/MF sob o nº 585.098.959-53, residente e domiciliado na Rua Floresta, nº 512,
Bairro Centro, nesta Cidade;
FRANCISCO MACHADO MOTA, brasileiro, casado, vereador, inscrito no
CPF/MF sob o nº698.482.899-68, residente e domiciliado no Sítio Linha Minosso, s/nº,
Zona Rural Linha Minosso, nesta Cidade;
NILTON WERNKE, brasileiro, casado, vereador, inscrito no CPF/MF sob
o nº 580.416.139-34, residente e domiciliado em Santa Cruz do Ocoy, s/nº, Zona Rural,
desta Cidade;
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
NACLETO TRES, brasileiro, casado, vereador, inscrito no CPF/MF sob o
nº 829.652.349-34, residente e domiciliado na Linha Brasil, s/n, Zona Rural, nesta
Cidade;
JAIRO DOS ANJOS, brasileiro, casado, vereador, inscrito no CPF/MF sob
o nº 616.373.869-15, residente de domiciliado na Rua Elza Corbari, nº 435, Jardim
Paraguaçu, nesta Cidade;
GIOVANI AMBONI, brasileiro, casado, vereador, inscrito no CPF/MF
sob o nº 046.461.669-76, residente de domiciliado na Rua Duque de Caxias, nº 1.213, Ap.
0101, Centro, nesta Cidade;
INÉSIO SIVIERO, brasileiro, casado, vereador, inscrito no CPF/MF sob o
nº 752.498.209-72, residente de domiciliado na Rua dos Alvoredos, nº 111, Balneário do
Ipiranga, nesta Cidade;
SERGIO ROBERTO GHELLERE, brasileiro, casado, vereador, inscrito no
CPF/MF sob o nº 572.335.949-53, residente de domiciliado na Avenida Iguaçu, s/n,
nesta Cidade;
JOSÉ AUGUSTO GHELLERE, brasileiro, funcionário municipal, inscrito
no CPF/MF sob o nº 283.706.519-68, residente e domiciliado na Rua Ghellere, n° 370,
Linha Ghellere, nesta cidade;
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
JANAÍNA DE LUCCA, brasileira, funcionária municipal, inscrita no
CPF/MF sob o n° 054.069.479-4, residente e domiciliada na Rua Geni de Souza Bongiolo,
n° 225, apto 304, centro, nesta cidade;
VALDECIR TEIXEIRA, brasileiro, funcionário municipal, inscrito no
CPF/MF sob o nº 709.474.819-15, residente e domiciliado na Rua Vitorino Barbiero, nº
144, Bairro Cohapar, nesta cidade;
SONIA SEREVIANO LEITE, brasileira, funcionária municipal, inscrita no
CPF/MF sob o nº 724.606.529-68, residente e domiciliada na Rua Rui Barbosa, n° 263,
centro, nesta cidade;
EMERSON ALEX KEMPA, brasileiro, funcionário municipal, inscrito no
CPF/MF sob o nº 906.558.939-20, residente e domiciliado na Rua Caçador, n° 201,
centro, nesta cidade;
CESAR AUGUSTO SCHOMMER, brasileiro, casado, funcionário
municipal, inscrito no CPF/MF sob o n° 738.940.449-34, residente e domiciliado na Rua
Torres, n° 210, apto 302, centro, nesta cidade;
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
MARCELO MARTINS CASTRO, brasileiro, funcionário municipal,
inscrito no CPF/MF sob o n° 038.796.706-09, residente e domiciliado na Rua Afonso
Panatta, n° 107, Jardim Hermes Corbari, nesta cidade;
JORGE MONTEIRO, brasileiro, funcionário municipal, inscrito no
CPF/MF sob o n° 557.055.109-34, residente e domiciliado na Rua Alfredo Corbari, n°
109, Jardim Social, nesta cidade;
CRISTINA BEATRIZ MARQUES, brasileira, funcionária municipal,
inscrita no CPF/MF sob o nº 863.421.349-87, residente e domiciliada na Rua Curitiba, nº
83, centro, nesta cidade;
CLEVERSON LUIZ PIES, brasileiro, funcionário municipal, inscrito no
CPF/MF sob o n° 008.332.679-06, residente e domiciliado na Rua Ângelo Ghellere, n°
549, Bairro Floresta, nesta cidade;
WAGNER GHELLERE, brasileiro, funcionário municipal, inscrito no
CPF/MF sob o n°008.406.849-32, residente e domiciliado na Avenida Iguaçu, n° 1177,
apto 03, centro, nesta cidade;
CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO MIGUEL DO IGUAÇU, representada por
seu presidente.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
I – DA LEGITIMIDADE ATIVA
Quanto à legitimidade do Ministério Público na promoção de ação civil
pública, trata-se de questão bastante sedimentada na doutrina e na jurisprudência.
Senão vejamos:
Súmula n.º 329 (STJ): O Ministério Público tem legitimidade para propor
ação civil pública em defesa do patrimônio público.
Portanto, a matéria não guarda segredos, o que torna despiciendo tecer
outros comentários a respeito.
II – DA LEGITIMIDADE PASSIVA
Os arts. 1º e 2º, da Lei nº 8.429/92 prelecionam o seguinte:
Art. 1º - Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público,
servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público
ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou
concorra com mais de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou da
receita anual, serão punidos na forma desta Lei.
Art. 2º - Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele
que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de
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investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades
mencionadas no artigo anterior.
O requerido ANTÔNIO DILMAR TONIS MAFALDA é Vereador e exerce
o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Vereadores do Município de São Miguel
do Iguaçu, reputando-se, portanto, agente público nos termos do art. 2º da Lei de
Improbidade Administrativa, estando, de conseguinte, sujeito às suas punições.
Os fatos investigados no Inquérito Civil nº MPPR-0137.12.000002-1,
referem-se a esta gestão de ANTÔNIO DILMAR TONIS MAFALDA como Presidente e,
por conseguinte, ordenador máximo de despesas da Câmara de Vereadores de São
Miguel do Iguaçu nos anos de 2009 e 2012.
Também os demais Vereadores que auferiram vantagens indevidas são
considerados agentes públicos por definição legal, devendo, de igual forma, participar
do polo passivo da lide, a saber: SERGIO ROBERTO GHELLERE, AGENOR PERON
DORIGON, FRANCISCO MACHADO MOTA, NILTON WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO
DOS ANJOS, GIOVANI AMBONI, INÉSIO SIVIERO.
No mais, em razão de terem auferido vantagens indevidas, os servidores
da Câmara de Vereadores, agentes públicos nos termos do art. 2º da Lei de Improbidade
Administrativa, devem, também, figurar como requeridos na presente ação civil pública.
III – DOS FATOS
Por meio do Inquérito Civil, autuado sob o nº MPPR-0137.12.000002-
1 (08 volumes) constatou-se que o requerido ANTÔNIO DILMAR TONIS MAFALDA, na
qualidade de Presidente da Câmara Municipal, determinou o pagamento de diárias para
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si e para os então Vereadores e servidores, na respectiva legislatura, referentes a gastos
com supostas viagens para as cidades de Curitiba/PR, Cascavel/PR, Foz do Iguaçu/PR,
Campo Mourão/PR; Chapecó/SC, Dionísio Cerqueira/SC, Florianópolis/SC, São
Carlos/SC; Criciúma/SC, Porto Alegre/RS; Balneário Camboriu/SC, Palmitos/SC,
Iraí/SC, Piratuba/SC, Joinvile/SC e Brasília/DF, sendo tais beneficiários, além dele, as
seguintes pessoas: SERGIO ROBERTO GHELLERE, AGENOR PERON DORIGON,
FRANCISCO MACHADO MOTA, NILTON WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO DOS ANJOS,
GIOVANI AMBONI, INÉSIO SIVIERO, JOSÉ AUGUSTO GHELLERE, JANAINA DE LUCCA,
VALDECIR TEIXEIRA, SONIA SEVERIANO LEITE, EMERSON ALEX KEMPA, CESAR
AUGUSTO SCHOMMER, MARCELO MARTINS DE CASTRO, JORGE MONTEIRO;
CRISTINA BEATRIZ MARQUES, CLEVERSON LUIZ PIES, WAGNER GHELLERE.
A ilegalidade na realização do pagamento das diárias decorre dos
seguintes fundamentos:
III.1 DA ILEGALIDADE DA RESOLUÇÃO QUE DISCIPLINA O
PAGAMENTO DE DIÁRIA
É cediço que o valor e o modo de concessão das diárias devem ser
regulados por Lei Municipal, pois são despesas que não podem ser concedidas ao
alvedrio da autoridade pública, vez que deve existir vinculação das diárias a um
ordenamento jurídico específico, o qual deve dispor acerca do valor e da razão da
concessão destas verbas.
Ocorre que a Câmara de Vereadores de São Miguel do Iguaçu disciplina
a concessões de diárias a seus servidores e Vereadores apenas por via administrativa, ou
melhor, por meio da Resolução de n.º 25/2007 (fls. 15/16).
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As resoluções, em regra, são havidas como normas auxiliares ou
instrutivas, situando-se hierarquicamente abaixo das leis, as quais não podem
contrariar, sob pena de terem sua ilegalidade reconhecida.
No entanto, no presente caso, a Câmara Municipal, por intermédio da
indigitada Resolução, (25/2007), estabeleceu diretamente o procedimento para a
concessão de diárias, inclusive, com fixação de seus valores em espécie.
Tal disciplina somente poderia ter sido realizada por meio de lei. Assim,
evidencia-se a flagrante ilegalidade da Resolução editada, pois não guarda qualquer
correspondência com o ordenamento legal municipal, no qual encontraria,
verticalmente, suporte de validade.
Pois bem, analisando a legislação municipal, conclui-se que o
pagamento de diárias para os requeridos deveria ocorrer em observâncias às leis
municipais que deveriam ser criadas para este fim e não em atenção a Resoluções, uma
vez que estas, assentando-se na ideia de verticalidade hierárquica das normas, têm o
condão de regular apenas o que está estatuído em lei.
Verifica-se, outrossim, que a Câmara Legislativa Municipal dispôs no
art. 99 de seu regimento interno que as diárias seriam reguladas por meio de Resolução
a ser editada pela respectiva casa.
Ante a flagrante inconstitucionalidade formal e material de tal preceito,
pelos motivos acima elencados, faz-se mister que este Juízo afaste sua aplicabilidade, vez
que esta se encontra em dissonância com a Constituição Estadual, ato que, diga-se de
passagem, não fere a cláusula de reserva de plenário (full bench) inserta no art. 97 da
Constituição Federal, porquanto o mencionado preceito impede apenas que órgão
fracionário de Tribunal declare a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo emanado
pelo Poder Público, não vinculando Magistrados singulares de 1º grau de jurisdição.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Há de se analisar que no presente caso, a Resolução aviltada não trata
de assuntos interna corporis, porque a disposição sobre diárias possui caráter geral e
abstrato, o que não impede que seja objeto de controle.
Frise-se, outrossim, que a declaração da inconstitucionalidade
incidenter tantum não tem o condão de caracterizar a presente ação civil pública como
sucedâneo de ação direta de inconstitucionalidade, porquanto, aqui, a declaração de
inconstitucionalidade está sendo aviada como causa de pedir remota, sendo impossível,
dessarte, que seus efeitos se projetem erga omnes.
Com efeito, independentemente da previsão legal impositiva, a boa
prática administrativa já recomendaria, por si só, um melhor esclarecimento acerca dos
motivos que fundamentaram a concessão destas diárias, pois somente a motivação
possibilita um controle mais efetivo da atuação administrativa pela sociedade e, ainda,
pela própria administração. Entender o contrário é permitir o emprego irregular de
recursos públicos, divorciando-se de qualquer noção mínima que se tenha de interesse
público, horizonte fundamental de toda e qualquer prática administrativa.
III.2 INEXISTÊNCIA DE DIPLOMAS/CERTIFICADOS
A par da irregularidade acima elencada, verifica-se que as ordens de
serviço para pagamento das diárias acostadas às fls.217; 230; 264; 299; 322; 347,
referentes ao ano de 2011; às fls. 577, relacionadas ao ano de 2010 e às fls. 653; 664
709; 723; 729; 766/768; 783; 823, atinentes ao ano de 2009, foram apresentadas sem
os respectivos diplomas/certificados a fim de comprovar a participação dos
parlamentares em algum tipo de curso, ou evento similar, apto a justificar as despesas
por eles auferidas.
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As ordens de serviço para pagamento das diárias acostadas às fls. 438 e
555, atinentes ao ano de 2010 e às fls. 640 e 726, do ano de 2009, por sua vez, foram
juntadas sem a apresentação dos diplomas/certificado em nome dos requeridos
CLEVERSON LUIZ PIES, AGENOR DORIGON PERON, GIOVANI AMBONI E SÉRGIO
ROBERTO GHELLERE, respectivamente.
Para se ter uma pequena dimensão da fraude cometida, considerando-
se apenas as ordens de serviço das diárias concernentes ao ano de 2009, que foram
apresentadas sem os correspondentes diplomas/certificados, os valores apropriados
indevidamente pelos réus, sem a devida atualização, somam a quantia de R$ 46.703,00
(quarenta e seis mil, setecentos e três reais).
III.3 DAS VICISSITUDES DOS DIPLOMAS/CERTIFICADOS
APRESENTADOS PELOS REQUERIDOS.
Nada obstante, mesmo quanto às ordens de serviço das diárias cujos
diplomas/certificados foram apresentados, estas devem ser reputadas despidas de
comprovação, não podendo tais diplomas serem considerados aptos a comprovar que as
viagens foram efetivamente realizada pelos requeridos, uma vez que, uma breve análise
revela a maneira açodada e grotesca com que os referidos diplomas/certificados foram
produzidos.
Para fundamentar esta alegação tomem-se como exemplo os diplomas
exarados pela empresa “Interativa”. Todos os diplomas expedidos por esta empresa
possuem a mesma formatação, mesmo versando eles sobre cursos diferentes uns dos
outros. Não bastasse, é possível verificar que no campo destinado aos nomes dos
requeridos existe espaço demasiadamente excessivo, a depender da extensão do nome,
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do que se pode inferir que foram produzidos em escala, bem como que, na realidade,
referidos diplomas padecem de falsidade (ver, por exemplo, diplomas acostados às fls.
752/761 e 770/774).
Mas não é só. É possível visualizar erros crassos nestes diplomas.
Inúmeros diplomas emitidos em nome do requerido NILTON WERNKE, estão grafados
com o nome NILTON WERKEN OU NILTON WERKE, conforme se nota nos documentos
acostados às fls. 211; 266; 380; 404; 509; 612. O mesmo se pode dizer dos diplomas
exarados em nome dos requeridos: SERGIO ROBERTO GHELLERE em que consta o
nome de SERGIO FOBERTO GHELLERE (fls. 212); JOSÉ AUGUSTO GHELLERE, no qual
consta JOSÉ AUDUSTO GHELLERE (fls. 255); INÉSIO SIVIERO em que está redigido o
nome INÉSIO CIVIERO, INÉSIO SIVIEIO OU INÉSIO SIVEIRO (fls. 350; 370; 399; 510;
548); CLEVERSON LUIZ PIES, no qual aparece CLEVERSON LUIZ SPIES (fls. 382) e
NACLETO TRES, em que se inseriu NACLATO TRES (fls. 522).
Como se não fosse o suficiente, após ter esta Promotoria de Justiça
enviado ao Presidente da Câmara de Vereadores o ofício nº 14/2012 (fls. 11),
requisitando documentos que comprovassem que as viagens e os cursos efetivamente
ocorreram e que demonstrassem interesse público em sua realização, referidos
documentos não foram apresentados após nenhuma das viagens realizadas, não
havendo comprovação de despesas com deslocamento, alimentação ou pousada dos
requeridos, tampouco foi comprovado o interesse público na realização de referidas
viagens.
III.4 DAS PRÁTICAS ILÍCITAS PRATICADAS PELOS REQUERIDOS
Mas não é só, além dos fatos acima mencionados, há indícios veementes
e provas de que tais cursos sequer existiram e de que houve verdadeiro conluio entre os
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requeridos e as empresas prestadoras, no desiderato de forjar diplomas falsos para fazer
frente aos pagamentos das diárias.
A empreitada ímproba dos representados se deu pela parceria com
empresas privadas que ofereciam uma infinidade de cursos e seminários destinados aos
parlamentares municipais. Parte dessas empresas é de fachada. Foram estruturadas
apenas para cooptar recursos públicos pagos pelas Câmaras Municipais.
Frise-se que os diplomas acostados foram fornecidos pelas na sua
maioria pelas empresas: a) INTERATIVA FG Instituto Brasileiro de Assessoria,
Treinamentos e Pesquisa Ltda/ME - Instituto Paranaense de Assessoria Pública e
Integração de Programas Sociais Ltda; b) GDAM – Geração de Desenvolvimento em
Administração Municipal, Consultoria, Eventos e Palestras; c) INV – Cursos e
Treinamentos; d) ELEGER Consultoria em Administração Pública Limitada; DAP –
Desenvolvimento em Administração Pública, entre outras.
Ocorre que, após investigações realizadas pelo Tribunal de Contas deste
Estado, foi amplamente divulgado nos meios de comunicação, tais como em “A Gazeta
Do Povo” - periódico estadual-, que, por exemplo, a empresa ELEGER - Consultoria em
Administração Pública Limitada, com sede formal em Curitiba, em verdade não exercia
nenhuma atividade empresarial e que, no endereço desta empresa - no bairro Orleans
naquela cidade, moravam os pais de Edna do Rocio Wapenik Bertoldi, ex-sócia da
consultoria.
Segue pequeno trecho da reportagem veiculada no dia 24/05/2012, no
periódico supramencionado:
“Edna afirmou que ela e o ex-marido (que era sócio do Instituto do
Vereador, Iver) foram enganados pelo ex-vereador catarinense e ex-
secretário de Saúde de Canoinhas (SC) Roberto José Basílio. Edna é prima
da mulher de Basílio, Marli de Paula Vieira.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Segundo Edna, ela e o ex-marido foram usados como “laranjas” na
abertura da Eleger e do Iver. “Eu e meu ex-marido, quando vimos que
tinha coisa errada, caímos fora”, disse. De acordo com ela, vereadores se
inscreviam nos cursos, não compareciam, mas a empresa fornecia o
certificado de participação. Supostamente embolsavam as diárias de
viagem.
Basílio e Marli seriam os verdadeiros responsáveis por várias empresas
especializadas na promoção de cursos e seminários direcionados a
vereadores e funcionários de câmara municipais do Sul do país. Basílio
foi condenado pela Justiça catarinense, em junho de 2011, a cinco anos e
quatro meses de prisão por ter desviado R$ 248 mil do Programa de
Saúde da Família. Ele é considerado foragido da Justiça.
A relação entre as diversas empresas é evidente. Durante uma inspeção
do Tribunal de Contas do Paraná (TC) referente às contas de 2009 da
Câmara de Matinhos, no litoral do Paraná, foi verificado uma série de
indícios de irregularidades nos cursos ofertados pela Eleger ao
Legislativo da cidade.
Nesse mesmo relatório, há irregularidades apontadas na realização de
outros cursos ofertados por outras duas empresas, a GDAM e a Legislar
Consultoria (segundo dados do TC, a Câmara de Matinhos gastou R$ 76
mil em 2009 com esses cursos).
A Legislar informou ao TC ter sede no mesmo endereço da Eleger, a casa
do bairro Orleans. E a mesma sócia, Marli de Paula Vieira, companheira
de Basílio. Marli também é dona da GDAM.
Já a Eleger, de acordo com dados de alteração contratual obtida pelo TC
na Junta Comercial do Paraná, é a sucessora do Instituto do Vereador
(Iver). O Iver, por sua vez, é alvo de investigações da Justiça do Rio
Grande do Sul. O instituto é acusado de promover viagens de turismo de
vereadores e funcionários da Câmara de Triunfo (RS) para Balneário
Camboriú (SC), sob pretexto de participação em um curso de qualificação.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Em 2006, o caso chegou a ser denunciado em uma reportagem da RBS TV,
emissora gaúcha. Mas isso não impediu que sua sucessora, a Eleger,
firmasse contratos com câmaras municipais paranaenses. Entre 2009 e
2011, as empresas Legislar, Eleger e GDAM receberam R$ 813 mil de 82
câmaras do Paraná para promover cursos e treinamentos para
vereadores. Isso dá uma média de R$ 270 mil anuais de faturamento.
(Sem destaque no original) (Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br)
Com base nas informações acima, considerando que os representados
apresentaram vários diplomas das empresas GDAM – Geração de Desenvolvimento em
Administração Municipal e ELEGER Consultoria em Administração Pública Limitada
juntamente com demais indícios já mencionados, é possível afirmar, com segurança, que
tais diplomas são falsos e que, em verdade, os cursos sequer existiram, o que evidencia a
conduta ímproba praticada pelos requeridos.
Com o desiderato de comprovar a fraude acima exposta, esta
Promotoria de Justiça houve por bem expedir o ofício de nº 109/2012 (fls. 832) para a
entidade de ensino denominada Faculdade Educacional de Medianeira – UDC, na qual a
requerida JANAINA DE LUCCA - a qual ocupa a função de recepcionista/telefonista da
Câmara Municipal, está regularmente matriculada no 4º ano do Curso de Direito, a fim
de que fosse apresentado o controle de frequência da aludida requerida, como o intuito
de confrontá-lo com as datas das viagens realizadas por ela em decorrência da
participação nos cursos.
Em resposta, foram enviadas cópias dos livros diários daquela entidade
de ensino (fls. 832/1.000), tendo sido apurado que na maioria das datas em que, em
tese, a requerida JANAINA DE LUCCA estaria participando de cursos, inclusive em
outros Estados da Federação, consta como estando também presente nas aulas
ministradas na Faculdade Educacional de Medianeira – UDC.
Vejamos a confrontação das datas:
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Cursos, em tese, realizado pela requerente:
às fls. 247, de 26 a 30 de abril de 2011, na Cidade de Criciúma/SC;
às fls. 323, de 24 a 27 de agosto de 2011, na cidade de Chapecó/SC;
às fls. 386, de 29 a 03 de dezembro de 2011, na cidade de Foz do Iguaçu;
às fls. 468, de 24 a 27de março de 2010, na cidade de Chapecó/SC;
às fls. 504, de 18 a 22 de maio de 2010, na cidade de Chapecó/SC;
às fls. 570, de 14 a 18 de setembro de 2010, na cidade de Florianópolis/SC;
às fls 794, de 21 a 24 de outubro de 2009, na cidade de São Carlos/SC.
Presenças nas aulas ministradas na Faculdade Educacional de
Medianeira – UDC, conforme documentos acostados às fls. 832/1000 do Inquérito Civil
MPPR 0137.12.00002-1:
21/24 de agosto de 2011;
19 de dezembro a 03 de agosto de 2011;
18/21 de maio de 2010;
14/18 de setembro de 2010;
21/24 de outubro de 2009;
As contradições acima apresentadas fizeram com que este Órgão
Ministerial notifica-se e requerida, conforme documento de fls. 1.416, para prestar
declarações sobre os fatos relatados.
Assim, no dia 04 de junho de 2012, a requerida JANAINA DE LUCCA
compareceu na sede desta Promotoria, ocasião na qual declarou, às fls. 1.417/1.418, que
realizou cursos na cidade de Criciúma/SC e que não sabe como possuía presença nas
aulas. Informou, ainda, que recebia as diárias por meio de cheques que eram assinados
pelo Presidente e pelo Primeiro Secretário da Câmara.
Afirmou também que os vereadores viajavam todos os meses, sendo
que eles iam de forma alternada, bem como que existiam meses que todos viajavam.
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Certificou que diversas empresas ligam todos os dias oferecendo cursos e que a grande
maioria fica em Santa Catarina.
Na mesma oportunidade acabou por confessar que “TEVE UM OU DOIS
CURSOS QUE NÃO VIAJOU, QUE RECEBEU O MATERIAL, QUE RECEBEU AS DIÁRIAS
COMO SE TIVESSE VIAJADO QUE SERIA DA EMPRESA GEDAM.” Por fim, disse que
existiam meses em que as diárias ultrapassavam o valor de seu salário e que isso
ocorreu diversas vezes.
Ad argumentandum tantum, pergunta-se: qual o interesse público em
que a requerida acima, a qual exerce a função de recepcionista/telefonista da Câmara
Municipal de São Miguel do Iguaçu, realizasse viagem a Chapecó/SC, a fim de participar
de um curso sobre o Estudo de Atividades Parlamentares Municipais, conforme
informa o boletim de diária de nº 032/2011, acostado às fls. 323, considerando que
exerce a função de recepcionista/telefonista naquele Órgão?
Ora, todos os fatos comprovados por meio dos indícios e provas acima
demonstradas tornam evidente o cometimento de fraudes na emissão de
diplomas/certificados para fazer frente a despesas com diárias, o que torna ilegal os atos
de concessão das diárias pagas aos requeridos entre os anos de 2009/2012, constantes
dos documentos de fls. 194/824.
III. 5 – INCORPORAÇÃO DOS VALORES RECEBIDOS A TITULO DE
DIÁRIAS
Saliente-se, também, que desde o ano de 2009 até a presente data, todos
os meses os vereadores desta cidade vêm recebendo mensalmente valores praticamente
idênticos aos seus subsídios, pagos a título de diárias. Entre os meses de janeiro e agosto
de 2011, à guisa de exemplo, conforme os boletins de diárias apresentados às fls.
201/323, os requeridos apropriaram-se do extraordinário valor de R$ 178.518,50
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
(cento e setenta e oito mil, quinhentos e dezoito reais e cinqüenta centavos), o qual,
atualizado, atinge o montante de R$ 189.537,06 (cento e oitenta e nove mil,
quinhentos e trinta e sete reais e seis centavos), conforme auditoria nº 063/2012,
acostada às fls. 1.420/1.442.
Segundo se apurou no Inquérito Civil anexo, os valores das diárias eram
indiscriminadamente liberados aos requeridos, não havendo análise pelo Presidente da
Câmara, da real necessidade e da existência de interesse público primário na realização
destes cursos. Igualmente, a Câmara e os requeridos não comprovaram qual o proveito
que os munícipes são-miguelenses puderam experimentar com a suposta realização
destes eventos e cursos.
A prática acima relatada revela que, a bem da verdade, estes valores
pagos a título de diárias aos requeridos estão sendo sistematicamente incorporados aos
seus subsídios, sendo que tal prática é veementemente proibida pela Constituição
Federal, pela Constituição Estadual, bem assim pela Lei Orgânica deste Município.
É cediço que tais diplomas proíbem que os chamados agentes políticos
e agentes públicos incluam em seus subsídios verbas de caráter indenizatório.
São os termos do § 4º, do art. 39 da Constituição Federal;
“§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de
Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados
exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo
de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de
representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer
caso, o disposto no art. 37, X e XI. ”
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Por sua vez, a Constituição do Estado do Paraná, no inciso VII, do art.
16, dispõe que:
“VII - subsídios dos Vereadores fixado por lei de iniciativa da Câmara
Municipal, na razão de 75% (setenta e cinco por cento), daquele
estabelecido, em espécie, para os Deputados Estaduais, observado o que
dispõem os arts. 39, §4°, 57, §7°, 150, II, 153, III, e 153, §2°, I, da
Constituição Federal;”
A Lei Orgânica do município de São Miguel do Iguaçu preceitua o
quanto segue acerca da matéria:
“Art. 78. Os Subsídios do Prefeito, Vice-Prefeito, Secretários Municipais e
Vereadores será fixado, por Lei de iniciativa de Câmara Municipal, em
uma legislatura para vigorar na subseqüente, até quinze dias antes das
eleições municipais, observados os critérios e os limites previstos na
Constituição Federal.”
“§ 1º Os subsídios de que trata este artigo serão fixados em parcela única,
vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio,
verba de representação ou outra espécie remuneratória, podendo o
Presidente da Câmara ter subsídio diferenciado.”
Sobre a matéria em referência, pertinente são as sóbrias consideração
do Eminente Administrativista, CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELO, exaradas em sua
obra: Curso de Direito Administrativo, 25. Ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2009, Fls.
267/268;
“Com o intuito de tornar mais visível e controlável a remuneração de
certos cargos, impedindo que fossem constituídas distintas parcelas que
se agregassem de maneira a elevar-lhes o montante, a Constituição criou
uma modalidade retributiva denominada subsídios.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
“Subsídio é a denominação atribuída à forma remuneratória de certos
cargos, por força da qual a retribuição que lhes concerne se efetua por
meio dos pagamentos mensais de parcelas únicas, ou seja, indivisas e
insuscetíveis de aditamentos ou acréscimos de qualquer espécie”
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
III.6 - DOS DOCUMENTOS APRESENTADOS POR DEPUTADOS DE
FORMA UNILATERAL
A par de todas as irregularidades supramencionadas, há de referir ainda
que em inúmeros boletins de diárias os únicos documentos apresentados foram
declarações assinadas por Deputados Federais, por Deputados Estaduais e por
Assessores Parlamentares de Deputados, conforme se verifica às fls. 202; 306; 308; 362;
461; 463; 541; 689; 747.
As declarações acostadas informam que os vereadores/funcionários da
Câmara Municipal desta cidade estiveram nas respectivas localidades para tratar de
assuntos do interesse do município, para fazer reinvindicações, para viabilizar
recursos, para buscar benefícios e para acompanhar tramites de pleitos de interesse
de São Miguel do Iguaçu.
Ocorre, Todavia, que pelo caráter geral e vago de seus termos, referidas
declarações não apenas comprometem qualquer tentativa de se verificar a
correspondência de tais viagens aos motivos que a ensejaram, como ainda, põe em xeque
a própria comprovação de sua efetiva realização.
A declaração acostada às fls. 308, por exemplo, apenas certifica que o
requerido VALDECIR TEIXEIRA, que exerce função de funcionário na Câmara Municipal,
esteve no gabinete da Deputada Rose Litro, nos dias 18 de junho de 2011. Sequer
menciona o intuito da viagem, tampouco especifica de forma concreta a necessidade de
sua realização, mormente considerando a função exercida pelo requerido.
Às fls. 362, verifica-se a existência de declaração que certifica que os
requeridos FRANCISCO MACHADO MOTA e JORGE MONTEIRO participaram de
reunião na Assembleia Legislativa do Estado, tendo por objetivo discutir “assuntos
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
relativos àquela casa de leis, bem como formular reinvindicações em prol daquela
comunidade”. Contudo, não há indicação de quais assuntos foram tratados, quais
reinvindicações foram realizadas em prol da comunidade ou mesmo detalhes sobre a
identificação desta reunião.
Às fls. 541, do mesmo modo, a declaração acostada apenas menciona
que o requerido INÉSIO SIVIERO estivera em Curitiba, entre os dias 20 a 22 de julho de
2010, a fim de reivindicar benefícios na Secretaria de Saúde, na Secretaria de Estado da
Educação e na Superintendência de Desenvolvimento Educacional, em favor do
município, mas sequer menciona quais benefícios foram reivindicados, se houve, ou não,
resultado positivo face às reinvindicações realizadas.
Às fls. 747, exempli gratia, existe declaração que apenas atesta que o
requerido AGENOR PERON DORIGON esteve em Curitiba formulando reivindicações em
prol do município, nos Órgãos lá referidos; entretanto não especifica o que fora
efetivamente reivindicado.
Considerando a natureza das diárias, bem como que a concessão destas
apenas se justifica para o atendimento das necessidades e atribuições do mandato dos
vereadores, nas hipóteses em que esteja presente o interesse público real, concreto e
primário apto a justificar o seu gasto, as declarações supramencionadas não são aptas a
demonstrar a ocorrência de interesse público mencionado na sua concessão, o que gera
ilegalidade do ato concessivo.
O Egrégio Tribunal de Justiça deste Estado possui diversos precedentes
que formam jurisprudência sedimentada daquele tribunal no sentido de que em não
havendo demonstração do interesse público no ato de concessão de diárias, tal ato deve
ser declarado nulo, conforme se nota do aresto abaixo transcrito:
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO POPULAR. PAGAMENTO DE DIÁRIAS
PARA VIAGENS E REEMBOLSOS DAS RESPECTIVAS DESPESAS
PELA CÂMARA MUNICIPAL DE UMUARAMA AOS SEUS EDIS (NOS
ANOS DE 1997 A 1999). MEDIANTE AUTORIZAÇÃO DO
PRESIDENTE DA CASA E DOS PRIMEIROS SECRETÁRIOS.
LIBERAÇÃO DE VERBA PÚBLICA SEM A DEVIDA MOTIVAÇÃO,
CONTENDO APENAS A EXPRESSÃO GENÉRICA "INTERESSE DO
PODER LEGISLATIVO OU INTERESSE DA COMUNIDADE DE
UMUARAMA". INTERESSADOS NAS DIÁRIAS QUE NÃO
ESPECIFICAVAM AS RAZÕES DAS VIAGENS A FIM DE
DEMONSTRAR A FINALIDADE E O INTERESSE PÚBLICO DO ATO.
ATOS DA MESA QUE IGUALMENTE APRESENTAVAM MOTIVAÇÃO
GENÉRICA, QUE NÃO ATENDEM À EXIGÊNCIA LEGAL, PARA FINS
DO CONTROLE DE SUA LEGALIDADE. INFRINGÊNCIA AOS ARTIGOS
37 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, BEM COMO ÀS RESOLUÇÕES
4/1989 E 10/1997 DA CÂMARA MUNICIPAL DE UMUARAMA.
EXIGÊNCIA EXPLÍCITA DE MOTIVAÇÃO PARA OS ATOS
IMPUGNADOS. PODER JUDICIÁRIO QUE TEM O DEVER RESTRITO
DE CONTROLE EXTERNO DA LEGALIDADE DOS ATOS
ADMINISTRATIVOS. EVIDÊNCIA DE ILEGALIDADE DOS ATOS
IMPUGNADOS, POR FALTA DE MOTIVAÇÃO, QUE IMPLICA EM SUA
NULIDADE. NULIDADE DOS ATOS QUE CONDUZ À CONDENAÇÃO
DOS RÉUS NO RESSARCIMENTO DOS VALORES RECEBIDOS POR
MEIO DELES. SENTENÇA MANTIDA. RECURSOS CONHECIDOS E
DESPROVIDOS. (TJPR - 4ª C.Cível - AC 517987-3 - Umuarama - Rel.:
Maria Aparecida Blanco de Lima - Unânime - J. 04.08.2009)
III.7 - DAS SESSÕES LEGILATIVAS
Ciente de todos os despautérios e disparates acima relatados, esta
Promotoria de Justiça enviou o ofício de nº 112/2012, ao Presidente da Câmara
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Municipal, requisitando as atas de todas as sessões legislativas ocorridas entre os anos
de 2009/2012.
As cópias dos documentos requeridos foram apresentadas, no prazo
estipulado, e estão juntas às fls. 1.187/1.415 do Inquérito Civil anexo.
Não foi apresentada, todavia, a cópia de ata referente à 10ª sessão
legislativa do ano de 2009, a qual, desde já, resta requerida para apresentação.
Numa breve análise, verificaram-se, de pronto, irregularidades que vêm
ao encontro de todas aquelas ilegalidades já mencionadas nos itens antecedentes,
corroborando, inclusive, todas as teses acima aviadas.
Às fls. 1.222, foi juntada a cópia da ata referente à 25ª sessão ordinária,
a qual teria ocorrido, em tese, no dia primeiro de agosto de 2009. Ocorre que, as atas
antecedentes, quais sejam, 21ª a 24ª, ocorreram, conforme documentos juntados,
respectivamente, nos dias 03, 10, 17 e 24 de agosto de 2009.
Deste modo, infere-se, logicamente, que a 25ª sessão ordinária teria que
ocorrer no mês de setembro, até porque a 26ª Sessão ocorreu no dia 08 de setembro, ou
seja, a data correta seria primeiro de setembro e não primeiro de agosto como indica
a cópia do documento em evidência.
Coincidentemente, o “equívoco” apontado na data da cópia da ata da
25ª sessão ordinária do ano de 2009 se relacionada diretamente com a data inserta no
boletim de diária de fls. 766, o qual atesta que no dia primeiro e no dia 02 (dois) de
setembro de 2009, o requerido ANTÔNIO DILMAR TONIS MAFALDA, Presidente da
Câmara, e requerido EMERSON ALEX KEMPA estariam na cidade de Curitiba, em visita
ao Tribunal de Contas do Estado.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Ainda referente às sessões ordinárias realizadas em 2009, verifica-se
que a 21ª sessão, ocorrida, em tese - conforme documento de fls. 1.217, no dia
03/08/2009, foi editada de forma errada, pois, consta, por extenso, que a referida
sessão teria ocorrido no dia 13/08/2009 (treze de agosto de dois mil e nove) e não
na data de 03/08/2009 (três de agosto de dois mil e nove).
Novo “equivoco” que coincide justamente com data em que os
requeridos ANTÔNIO DILMAR TONIS MAFALDA, FRANCISCO MACHADO MOTA,
NILTON WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO DOS ANJOS, GIOVANI AMBONI, INÉSIO
SIVIERO, SERGIO ROBERTO GHELLERE, AGENOR PERON DORIGON, JOSÉ AUGUSTO
GHELLERE, CESAR AUGUSTO SCHOMMER e MARCELO MARTINS DE CASTRO
estariam, em tese, realizando curso na cidade de São Carlos/SC, pois tal curso teria sido
realizado entre os dias 12 e 15 de agosto de 2009 (doze e quinze de agosto de dois
mil e nove), conforme documento de fls. 751.
Outrossim, analisando-se as cópias das sessões ordinárias e
extraordinárias ocorridas no ano de 2011, foram verificadas novas irregularidades:
Na cópia da ata de 9ª (nona) sessão legislativa ordinária, acostada às fls.
1.296, costa como data de sua realização o dia 04/03/2011 (quatro de março de dois
mil e onze), sendo que, por extenso, versa a cópia da ata que a referida sessão teria
ocorrido no dia 04/04/2011 (quatro de abril de dois mil e onze). Consta, também, que
apenas não se fez presente na sessão em referência o Vereador NILTON WERNKE.
Ocorre que, a cópia do boletim de diária de nº 010/2011 (fls. 234), bem
como a cópia do certificado costado às fls. 235, atestam que, em tese, o requerido
AGENOR PERON DORIGON, vereador, estivera, entre os dias 29/03/2011 (vinte e nove
de março de dois mil e onze) e 02/04/2011 (dois de abril de dois mil e onze) na cidade
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de Florianópolis/SC realizando o curso denominado: “Estudo sobre a Importância do
Controle Interno no Poder Legislativo Municipal”, curso este ofertado pela já citada
empresa GDAM. Saliente-se que o requerido auferiu três diárias e meia em decorrência
de tal viagem (fls. 234). Por esta razão, o equivoco identificado trata-se de outra
coincidência que causa estranheza.
Não bastassem os equívocos apontados, nota-se que, com exceção das
cópias das atas insertas às fls. 1.246/1.259 e 1.279/1.286 , todas as demais (fls.
1.189/1232; 1.233/1236; 1237/1.239; 1.241/1.245; 1.260/1.263; 1.264/1.278;
1.288/1.334; 1.335/1.353; 1.355/1.376; 1.378/1.393; 1.395/1.408; 1.410/1.415),
não apresentam formatação uniforme típica de ata. Várias possuem espaçamentos
diferente entre o título e as linhas, bem como trazem informação sobre a data o número
da sessão de modo incompleto, não informando, por exemplo, em que ano da legislatura
e em que legislatura ocorreram.
Basta uma simples análise e confrontação destas cópias com as cópias
das atas de fls. 1.246/1.259 e 1.279/1.286, para verificar a inconsistência das demais
cópias apresentadas.
A própria natureza da ata, por si só, sobretudo aquelas exaradas em
ocasiões tais como sessões legislativas denotam a impossibilidade da ocorrência de
erros crassos como os ora apresentados. Do que se pode inferir com absoluta certeza
que houve a modificação e edição de suas datas para que estas não se sobrepusessem às
datas em que os cursos se realizaram.
Apenas corroborando o acima disposto, nota-se que, em conformidade
com as cópias apresentadas, as sessões legislativas se realizaram, na sua maioria, sempre
com diferença exata de um ou dois dias das viagens. Nova coincidência que confirma as
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irregularidades suscitadas.
Por fim, a Resolução nº 25/2007 acabou por servir como pano de fundo
para a locupletação indevida dos requeridos, já que por meio dela se faz possível
dissimular todos os mecanismos de fiscalização.
Com efeito, a simplificação do procedimento, bem como a não inserção
da necessidade da apresentação posterior de notas fiscais que comprovassem as
despesas com alimentação/pousada, permitiram aos vereadores e servidores da Câmara
Municipal de São Miguel do Iguaçu a realização de uma série de pagamentos de diárias
visando ao custeio de viagens que nem mesmo aconteceram.
III.8 – DOS PROTOCOLOS APRESENTADOS
No afã de comprovar algumas viagens e dar sustentação aos boletins de
diárias fls. 231; 473; 638 e 675, os requeridos apresentaram protocolos de documentos.
Ocorre, contudo, que tais protocolos não comprovam efetivamente
quais e quantas pessoas estiveram nos lugares em que foram efetivados. Tome-se, por
exemplo, o protocolo de fls. 232. O boletim de diária de nº 231 informa que os
requeridos VALDECIR TEIXEIRA, JAIRO DOS ANJOS, GIOVANI AMBONI E INÉSIO
SIVIEIRO, estiveram em Curitiba, todavia, o protocolo de fls. 232, não comprova que
estes estiveram efetivamente no local mencionado.
O mesmo se pode dizer do protocolo inserto às fls. 638, que trata de
pedido de cancelamento de plano de assinatura serviço telefônico referente ao contrato
de nº 03/2007.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
O boletim de diária de fls. 638 dispõe que os requeridos SERGIO
ROBERTO GHELLERE, AGENOR PERON DORIGON, FRANCISCO MACHADO MOTA,
NILTON WERNKE, ANTÔNIO DILMAR TONIS MAFALDA E EMERSON ALEX KEMPA
estiveram em Curitiba entre os dias 28 e 29 de janeiro de 2009. Entretanto, o protocolo
mencionado não comprova que os requeridos aqui relacionados estiveram realmente no
local indicado. Não bastasse, chama atenção o número de requeridos a fim de protocolar
simples pedido de cancelamento de serviço telefônico, o qual poderia, inclusive, ter-se
efetivado por meio telefônico ou via fac-símile, contato telefônico, ou qualquer outro
meio hábil.
Dessarte, verifica-se que os protocolos aqui relacionados não são aptos
a comprovar a afetiva ocorrência das viagens, tampouco que os requeridos relacionado
estiveram nas datas mencionadas. Sobretudo pelo fato de não acompanharem outros
comprovantes tais como notas fiscais que comprovem efetivamente tais fatos.
De conseguinte, considerando a ilegalidade na percepção dos valores
acima descritos a título de diárias, impositiva é a sua restituição.
Segundo atualização feita pela auditoria do Ministério Público, por meio
do NÚCLEO DE AUDITORIA E PERÍCIA REGIONAL DE FOZ DO IGUAÇU, na auditoria nº
063/2012 (documento de fls. 1.420/1.442), o montante a ser restituído aos cofres
públicos, referentes aos anos de 2009/2012, TOTALIZA O VALOR DE R$ 1.000.348,09
(UM MILHÃO, TREZENTOS E QUARENTA E OITO REAIS E NOVE CENTAVOS).
IV – FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA
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IV.1 - DA LEGITIMIDADE DA CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO MIGUEL
DO IGUAÇU PARA INTEGRAR O POLO PASSIVO DA AÇÃO.
O pedido de condenação por atos de improbidade, bem como os demais
aqui realizados, refere-se apenas aos réus, pessoas físicas, nesta ação civil pública.
Com efeito, a Câmara Municipal de São Miguel do Iguaçu, lesada pelas
condutas ilícitas dos demandados, figura na ação apenas por ser a pagadora das diárias
ilicitamente auferidas. Nesse passo, pode a Câmara Municipal, se assim o desejar, abster-
se de contestar o pedido e integrar a lide no polo ativo, ao lado do Ministério Público, a
fim de pleitear o ressarcimento dos prejuízos que lhe foram causados e a punição dos
seus responsáveis. É o que dispõe expressamente o artigo 6º, § 3º, da Lei 4.717/65,
aplicável à ação civil pública por atos de improbidade por injunção do artigo 17, § 3º, da
Lei 8.429/92.
IV.2 – DAS DIÁRIAS
É certo que as diárias constituem espécies do gênero indenização,
ressarcindo o agente público das despesas efetuadas de modo extraordinário, eventual,
em deslocamentos realizados em prol do serviço público.
Noutros termos, as diárias possuem natureza jurídica indenizatória,
servindo como reembolso das despesas assumidas pelo servidor público por ocasião da
execução de suas atribuições.
Segundo o magistério de Hely Lopes Meirelles1:
1 MEIRELLES, Hely Lopes; Direito Administrativo Brasileiro; 30ª ed; São Paulo: Melheiros, 2005; p. 480.
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“Indenizações – São previstas em lei e destinam-se a indenizar o servidor por
gastos em razão da função. Seus valores podem ser fixados em lei ou em decreto,
se aquela permitir. Tendo natureza jurídica indenizatória, não incorporam a
remuneração, não repercutem no cálculo dos benefícios previdenciários e não
estão sujeitas ao imposto de renda. Normalmente, recebem as seguintes
denominações: ajuda de custo – destina-se a compensar as despesas de instalação
em nova sede de serviço, pressupondo mudança de domicílio em caráter
permanente; diárias – indenizam as despesas com passagem e/ou estadia em
razão de prestação de serviços em outra sede e em caráter eventual; auxílio-
transporte – destina-se ao custeio total ou parcial das despesas realizadas pelo
servidor com transporte coletivo nos deslocamentos de sua residência para o
trabalho e vice-versa (sem grifos no original).”
Dessa feita, tratando-se do exercício da vereança, as diárias têm
validade legal desde que voltadas ao atendimento das necessidades e atribuições do
mandato dos vereadores, estando presente o interesse público real e concreto a
justificar o seu gasto.
No entanto, como visto, foi instaurado um complexo esquema de
desvios de recursos públicos da Câmara Municipal de São Miguel do Iguaçu,
consubstanciado, em suma, no dispêndio sistemático de valores, a título de diárias, a
seus servidores e vereadores visando ao custeio de fantasiosas viagens.
IV.3 - DA PRÁTICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE
IMPORTOU NO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO DOS REQUERIDOS
Assim, os requeridos, ao solicitarem e receberem pagamento de diárias
com o nítido propósito de sua locupletação pessoal incorreram na prática de ato de
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improbidade administrativa subsumida ao disposto no art. 9º, caput e inciso XI, da Lei nº
8.429/92, in verbis:
Art. 9° - Constitui ato de improbidade administrativa importando
enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial
indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou
atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente:
[...]
omissis
[...]
XI – incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas,
verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta Lei.
IV.4 - DA PRÁTICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE
CAUSOU LESÃO AO ERÁRIO
Ademais, como não haveria de ser diferente, a conduta dos ora
requeridos ainda causaram prejuízo ao erário municipal, encontrando, assim, adequação
nos termos do art. 10, caput e incisos I, IX e XI, da Lei de Improbidade Administrativa:
Art. 10 – Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao
erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda
patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos
bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e
notadamente:
I – facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao
patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas,
verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta lei;
[...]
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omissis
[...]
IX – ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei
ou regulamento;
[...]
XI – liberar verba pública sem a estrita observância das normas
pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;
Nesse sentido, já se decidiu:
“TJ/RS – Apelação Cível nº 70027105188 21º Câmara Cível – data do
julgamento: 17/12/2008. Ementa: Apelação Cível. Ação de Improbidade
Administrativa. RECEBIMENTO DE DIÁRIAS INDEVIDAS, COM PREJUÍZO
AO ERÁRIO, CARACTERIZA ATO DE IMPROBIDADE, NA FORMA DO ART.
10 DA LIA. Recurso Desprovido”. (sem grifos no original).
A par dessa ilação, o mero dispêndio de recursos, sem a devida
demonstração do interesse público a justificá-lo, por si só, já importa em
malbaratamento do patrimônio público.
É a hipótese adversada nestes autos. Os requeridos auferiram diárias
sem qualquer comprovação quanto a real demonstração do interesse público que
legitimaria a ordenação de despesas dessa natureza, demonstrando, no mínimo, uma
atuação desidiosa no emprego de recursos públicos. Apresentaram ainda diversos
diplomas falsos, conforme já demostrado, restando comprovado que estes cursos sequer
existiram.
Considerando as alegações acima e o fato de que não foram
apresentadas notas fiscais ou mesmo outros documentos comprobatórios dos gastos
efetuados nas supostas viagens, comprovação esta que independentemente do trato
legal dado à matéria, resta evidenciada a subsunção ao disposto no art. 10, caput e
incisos I, IX e XI, da Lei de improbidade administrativa.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Isto decorreria de mera coerência jurídica, porquanto não se pode
olvidar que as diárias possuem caráter ressarcitório e, dessa feita, impõem a
comprovação de seus gastos.
Em congruência ao exposto, calha transcrever o seguinte julgado:
“ADMINISTRATIVO. RECEBIMENTO INDEVIDO DE DIÁRIAS DE VIAGEM.
AUSÊNCIA DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. PREJUÍZOS AO ERÁRIO.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CONFIGURADA. RECURSO PROVIDO. O
caso destes autos, lamentavelmente, retrata irregularidades com a
utilização de recursos públicos. O apelado Ivoir Fagundes Alves, valendo-
se da condição de Presidente da Câmara Municipal de Prata, autorizou no
ano de 1997 uma série de pagamentos de diárias de viagens para si e para
os apelados, Mário Marcos Botelho Maurício Filho e Eugênia Avelar Silva,
assessores parlamentares, ao pretexto de que tais viagens envolviam o
interesse da Câmara Municipal de Prata. O relatório de viagem elaborado,
unilateralmente, pelo próprio interessado, desacompanhado de nota
fiscal e de recibo comprobatório dos gastos efetuados, não substitui uma
prestação de contas das despesas efetuadas. O uso de recursos públicos
impõe seriedade, diligência, lisura, moralidade e transparência, sob pena
de o interesse público ser maculado. No caso, os apelados realizaram uma
série de viagens, recebendo diárias, mas não prestaram contas das
despesas. As diárias de viagens por possuírem caráter ressarcitório
exigem a comprovação dos gastos. Nesse sentido, o teor da Súmula n. 79
do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais: "É irregular a despesa
pública referente à viagem de funcionário a serviço do município que não
se fizer acompanhar dos respectivos comprovantes."" Entender o
contrário é permitir o uso irregular de recursos públicos. Daí porque a
imposição de prestação de contas é regra, cuja validade decorre do
princípio da moralidade, da impessoalidade, da publicidade e da boa-fé
objetiva. V.V. (Acórdão nº 1.0528.07.002089-6/001(1). TJMG. Relator:
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
DORIVAL GUIMARÃES PEREIRA; Data da Publicação: 13/02/2008; Data
do Julgamento: 13/12/2007; Súmula: DERAM)” (grifado)2
IV.5 - DA PRÁTICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE
ATENTOU CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Por fim, não obstante configurada a adequação da conduta dos
demandados ao disposto nos arts. 9º e 10 da Lei nº 8.429/92, é de bom alvitre registrar
que as referidas condutas ainda representaram graves transgressões aos princípios da
legalidade e da moralidade, sem contar, ademais, a violação aos deveres de honestidade,
de imparcialidade e de lealdade às instituições que as condutas praticadas ocasionaram.
Assim, o atuar dos requeridos encontra, de igual modo, subsunção aos
termos do art. 11, caput, inciso I, da indigitada Lei Federal:
“Art. 11 – Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra
os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que
viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às
instituições, e notadamente:
I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso
daquele previsto, na regra de competência;”
Isto se dá, pois, conforme ensinam Marino Pazzaglini Filho, Márcio
Fernando Elias Rosa e Waldo Fazzio Júnior3:
2 Disponível em http://br.vlex.com/vid/41435490.. 3 Improbidade Adminsitrativa; 4ª ed; São Paulo: Atlas, 1998; p. 124/125.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
“[...] o art. 11 da Lei Federal nº 8.429/92 funciona como regra de reserva,
para os casos de improbidade administrativa que na acarretam lesão ao
erário nem importam em enriquecimento ilícito do agente público que a
pratica. Compreende-se que assim seja, visto que o bem jurídico tutelado
pelo diploma em questão é a probidade administrativa, objetivo revelado
no art. 21, quando aventa a possibilidade de se caracterizar ato de
improbidade, ainda que sem a ocorrência de efetivo prejuízo”
No caso em comento, é evidente o desrespeito ao princípio da
legalidade. Este, como um dos alicerces do Estado Democrático de Direito, impõe aos
agentes públicos a completa submissão às leis. Infere-se, portanto, que administrar um
ente público é nada mais nada menos do que realizar atos que atendam ao interesse
público assim caracterizado em lei, fazendo-o na conformidade dos meios e formas
estabelecidos na legislação ou particularizados segundo suas disposições. Contudo, os
ora requeridos agiram em total arrepio aos ditames da Lei Federal nº 8.429/92, além da
própria Constituição Federal, da Constituição Estadual desta Unidade da Federação e da
Lei Orgânica deste Município.
Quanto ao princípio da impessoalidade, este também restou afrontado.
Os requeridos atuaram com a finalidade única de lograr ilícita locupletação pessoal,
divorciados das determinações legais e constitucionais, que regulavam a hipótese. Não é
outro, a propósito, o magistério dos professores Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo,
instrutores da Escola da Administração Fazendária do Ministério da Fazenda (ESAF):
“[...] toda atuação da Administração deve visar ao interesse público, deve
ter como finalidade a satisfação do interesse público. A impessoalidade
da atuação administrativa impede, portanto, que o ato administrativo
seja praticado visando a interesses do agente ou de terceiros, devendo
ater-se à vontade da lei, comando geral e abstrato em essência. Dessa
forma ele impede perseguições ou favorecimentos, discriminações
benéficas ou prejudiciais aos administrados. Qualquer ato praticado com
objetivo diverso da satisfação do interesse público será nulo por desvio
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
de finalidade”4
Não se pode olvidar, de igual modo, o significado do princípio da
moralidade. Para José dos Santos Carvalho Filho:
“O princípio da moralidade impõe que o administrador público não
dispense os preceitos éticos que devem estar presentes em sua conduta.
Deve não só averiguar os critérios de conveniência, oportunidade e
justiça em suas ações, mas também distinguir o que é honesto do que é
desonesto. Acrescentamos que tal forma de conduta deve existir não
somente nas relações entre a Administração e os administrados em geral,
como também internamente, ou seja, na relação entre a Administração e
os agentes públicos que a integram”5
Não há como desconsiderar que, in casu, a moralidade administraria foi
aviltada. Esta obriga os gestores do interesse público e demais agentes públicos a
somente praticar atos que possuam o indispensável elemento moral e segundo a ordem
ética harmonizada com o interesse público e social e, logicamente, com a lei.
Com efeito, em que pese a Constituição Federal se referir
expressamente ao princípio da moralidade, e este realmente possuir conteúdo próprio,
tal princípio geralmente está associado ao princípio da legalidade. Destarte, a própria
busca pelo conceito da “moral administrativa”, a qual não se confunde com a “moral
comum”, passa pela análise do próprio ordenamento jurídico como um todo.
Conforme enfatiza a doutrina,
“[...] a moralidade administrativa independe da concepção subjetiva
(pessoal) de conduta moral, ética, que o agente público tenha; importa,
sim, a noção objetiva, embora indeterminada, passível de ser extraída do
4 ALEXANDRINO, Marcelo e PAULO, Vicente; Direito Administrativo Descomplicado; 17ª Ed, São Paulo: Método, 2009; p. 200.
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conjunto de normas concernentes à conduta de agentes públicos,
existentes no ordenamento jurídico. O vocábulo “objetivo”, aqui, significa
que não se toma como referência um conceito pessoal, subjetivo –
referente ao sujeito – de moral, mas um conceito impessoal, geral,
anônimo de moral, que pode ser obtido a partir da análise das normas de
conduta dos agentes públicos presentes no ordenamento jurídico. É
evidente que “moral administrativa” consiste em um “conceito jurídico
indeterminado”, mas, repita-se, conquanto indeterminado, trata-se de
conceito jurídico, portanto, objetivo – e não pessoal, subjetivo”6.
Ou seja, a moralidade administrativa não se confunde com a moralidade
comum. Não se trata de estabelecer um conceito pessoal, subjetivo, imiscuindo-se na
concepção ética que o agente público possua. Mas sim de extrair do próprio
ordenamento jurídico, a partir de uma análise objetiva de normas de conduta dos
agentes da Administração Pública, aquela que seria compatível com a moral
administrativa.
Dessa feita, in casu, independentemente da intenção dos requeridos, ao
agirem em desconformidade com os preceitos constitucionais e legais, afastaram-se da
moralidade administrativa. Esta lhes exigia conduta diversa, pautada por padrões éticos,
em observância do senso comum de probidade e honestidade que deve nortear todo o
administrar.
Nesse sentido, é a lição cristalina da Professora Maria Sylvia Zanella Di
Pietro:
“[...] não é preciso penetrar na intenção do agente, porque do próprio
objeto resulta a imoralidade. Isto ocorre quando o conteúdo de
determinado ato contrariar o senso comum de honestidade, retidão,
equilíbrio, justiça, respeito à dignidade do ser humano, à boa-fé, ao
5 CARVALHO FILHO, José dos Santos; Manual de Direito Administrativo; 21ª ed., Rio de Janeiro: Editora Lumen Júris, 2009, p. 20. 6 ALEXANDRINO, Marcelo e PAULO, Vicente; op cit, p. 198.
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trabalho, à ética das instituições”7.
Dessarte, estando configurada a improbidade administrativa
perpetrada pelos requeridos por atos dolosos por eles cometidos, estes estão sujeitos às
sanções da Lei nº 8.429/92. É o que decorre da exegese dos artigos 1º e 3º, da referida
Lei Federal:
Art. 1° - Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público,
servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público
ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou
concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita
anual, serão punidos na forma desta lei.
[...]
Art. 3° - As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que,
mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do
ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou
indireta.
Nesse conceito, encontra-se inserido o requerido ANTÔNIO DILMAR
TONIS MAFALDA, o qual, atuando na qualidade de Presidente da Câmara Municipal de
São Miguel do Iguaçu, autorizou o pagamento das referidas diárias, para si e para os
demais requeridos, tendo, assim, participação decisiva na aludida ilicitude.
Também se encontram insertos, no mesmo conceito, os requeridos
SERGIO ROBERTO GHELLERE, AGENOR PERON DORIGON, FRANCISCO MACHADO
MOTA, NILTON WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO DOS ANJOS, GIOVANI AMBONI,
INÉSIO SIVIERO, JOSÉ AUGUSTO GHELLERE, JANAINA DE LUCCA, VALDECIR
TEIXEIRA, SONIA SEVERIANO LEITE, EMERSON ALEX KEMPA, CESAR AUGUSTO
7 Discricionariedade Administrativa na Constituição de 1988. São Paulo. Atlas. 1991, p. 111.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
SCHOMMER, MARCELO MARTINS DE CASTRO, JORGE MONTEIRO; CRISTINA
BEATRIZ MARQUES, CLEVERSON LUIZ PIES, WAGNER GHELLERE, os quais, na
condição de vereadores eleitos e servidores da Câmara Legislativa de São Miguel do
Iguaçu, foram os beneficiários diretos da prática ímproba, enriquecendo-se ilicitamente,
causando prejuízo ao erário público e afrontando os princípios administrativos pelo
recebimento das diárias irregulares.
V - DA OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA DOS REQUERIDOS EM RESSARCIR O
PREJUÍZO CAUSADO AO ERÁRIO.
SERGIO ROBERTO GHELLERE, AGENOR PERON DORIGON,
FRANCISCO MACHADO MOTA, NILTON WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO DOS ANJOS,
GIOVANI AMBONI, INÉSIO SIVIERO, JOSÉ AUGUSTO GHELLERE, JANAINA DE LUCCA,
VALDECIR TEIXEIRA, SONIA SEVERIANO LEITE, EMERSON ALEX KEMPA, CESAR
AUGUSTO SCHOMMER, MARCELO MARTINS DE CASTRO, JORGE MONTEIRO;
CRISTINA BEATRIZ MARQUES, CLEVERSON LUIZ PIES, WAGNER GHELLERE, com a
ciência, concordância e participação direta de ANTÔNIO DILMAR TONIS MAFALDA,
afrontaram o ordenamento jurídico, mormente a Constituição Federal, a Constituição do
Estado do Paraná e a Lei Orgânica do município de São Miguel do Iguaçu, tendo, os
agentes públicos mencionados, apropriado-se das verbas da Câmara Municipal de São
Miguel do Iguaçu de forma irregular, em benefício próprio, causando comprovado
enriquecimento ilícito, prejuízo ao erário e atentando contra os princípios
administrativos (art. 9, caput e inc. IX; art. 10, caput e inc. I, IX e XI e art. 11, caput e inc.
I, da Lei 8.429/92).
Portanto, todos agiram ilicitamente, com violação aos princípios da
legalidade, da impessoalidade e da motivação e devem, por isso, serem condenados
solidariamente ao ressarcimento dos prejuízos.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Tal é a importância da reparação deste prejuízo que a Constituição
Federal, no artigo 37, § 5º, dispõe que as ações de ressarcimento são imprescritíveis:
“Art. 37, §5º - A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos
praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao
erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento”.
Complementando a norma constitucional e determinando a obrigação
de reparar o dano causado ao patrimônio público, são expressos os arts. 5º e 18 da Lei
8.429/92:
“Art. 5 - Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão,
dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral
ressarcimento do dano”.
“Art. 18 - A sentença que julgar procedente ação civil de reparação de
dano ou decretar a perda dos bens havidos ilicitamente determinará o
pagamento ou a reversão dos bens, conforme o caso, em favor da pessoa
jurídica prejudicada pelo ilícito”.
Além disso, diz o Código Civil:
“Art. 186 - Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou
imprudência, violar direito, ou causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
“Art. 927 - Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo”.
Tratando-se de ato ilícito, a respectiva responsabilidade civil é solidária,
nos termos do artigo 942, caput, do Código Civil:
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
“Art. 942, caput - Os bens do responsável pela ofensa ou violação de
direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e se a
ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela
reparação”.
Todos os mandamentos descritos formam um microssistema de
princípios gerais que se aplicam ao Direito Público, em seus exatos termos, pois toda e
qualquer atividade administrativa deve desenvolver-se em consonância com o princípio
da legalidade.
Por conseguinte, aquele que causar malversação de dinheiro do erário
em desacordo com determinação legal, sendo nulo o ato, lesa o patrimônio público,
ficando obrigado ao seu ressarcimento.
Aqui, a solidariedade abrange todos demandados, ou seja: SERGIO
ROBERTO GHELLERE, AGENOR PERON DORIGON, FRANCISCO MACHADO MOTA,
NILTON WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO DOS ANJOS, GIOVANI AMBONI, INÉSIO
SIVIERO, JOSÉ AUGUSTO GHELLERE, JANAINA DE LUCCA, VALDECIR TEIXEIRA,
SONIA SEVERIANO LEITE, EMERSON ALEX KEMPA, CESAR AUGUSTO SCHOMMER,
MARCELO MARTINS DE CASTRO, JORGE MONTEIRO; CRISTINA BEATRIZ MARQUES,
CLEVERSON LUIZ PIES, WAGNER GHELLERE e ANTÔNIO DILMAR TONIS MAFALDA,
à exceção da Câmara Municipal, única que não possui a obrigação de indenizar, já que é a
titular do patrimônio lesado.
Portanto, reafirme-se: o dever de ressarcir o prejuízo causado ao
patrimônio da Câmara Municipal de São Miguel do Iguaçu incumbe a todos os agentes
políticos e agentes públicos beneficiados pelo ato ilegal.
VI - DO DANO MORAL COLETIVO
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Os atos de improbidade administrativa praticados por ANTÔNIO
DILMAR TONIS MAFALDA, SERGIO ROBERTO GHELLERE, AGENOR PERON
DORIGON, FRANCISCO MACHADO MOTA, NILTON WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO
DOS ANJOS, GIOVANI AMBONI, INÉSIO SIVIERO, JOSÉ AUGUSTO GHELLERE,
JANAINA DE LUCCA, VALDECIR TEIXEIRA, SONIA SEVERIANO LEITE, EMERSON
ALEX KEMPA, CESAR AUGUSTO SCHOMMER, MARCELO MARTINS DE CASTRO,
JORGE MONTEIRO; CRISTINA BEATRIZ MARQUES, CLEVERSON LUIZ PIES, WAGNER
GHELLERE não acarretaram somente danos de natureza patrimonial. Deles decorreu,
também, dano difuso, abstrato, correspondente à grave ofensa, à moralidade da
Administração Pública e à dignidade da população de São Miguel do Iguaçu.
A plena reparabilidade do dano moral é tese que vem sendo construída
ao longo dos anos, apontando irreversível tendência legislativa, doutrinária e
jurisprudencial.
Consagrada na Constituição da República (art. 5º, incisos V e X), a
reparação dos danos morais é hoje aceita sem reservas, sendo também isenta de dúvidas
sua cumulatividade com a indenização por danos patrimoniais.
Nesse sentido, a jurisprudência foi paulatinamente aceitando a tese, que
veio a se tornar vencedora, inclusive nos Tribunais Superiores:
Súmula 37 do STJ: “São cumuláveis as indenizações por dano material e
dano moral oriundos do mesmo fato”.
Mas o que importa deixar assentado é que os prejuízos de natureza
moral, decorrentes da improbidade administrativa, são experimentados pela própria
Administração Pública e, de maneira difusa, por toda a coletividade.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Não se pode esquecer a expressão dano moral aplica-se aos prejuízos
causados a bens de natureza incorpórea, imaterial, não se restringindo, pois, à ofensa aos
valores subjetivos individuais.
Não é sem razão que a moderna doutrina vem utilizando,
preferencialmente, expressões como “dano extrapatrimonial”, “dano não patrimonial”
para deixar claro que o dano é abrangente, não se restringindo a aspectos puramente
subjetivos, ligados ao sofrimento e à dor.
E mais. Admite-se hoje, com sobras de razão, a possibilidade de agravo
moral à pessoa jurídica, uma vez que podem ser atingidos seus atributos de reputação e
conceito perante a sociedade. Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiça.
Súmula 227 do STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”.
O mesmo raciocínio é aplicável ao Estado, enquanto pessoa jurídica de
direito público. De fato, como autêntica personificação dos valores éticos da polis, ele
também tem uma imagem e uma reputação a zelar, que nada mais é do que a projeção da
honorabilidade e dignidade cívica de todos os cidadãos, considerados em seu conjunto.
Não terá sido sem justo motivo, pois, que o constituinte estabeleceu a
moralidade como um dos princípios regentes da atividade estatal (art. 37, caput, da
Constituição Federal).
Ocorre que a Administração Pública é um ente abstrato, que representa
politicamente a sociedade, constituída por todos e cada um dos cidadãos, estes sim os
verdadeiros titulares dos valores morais personificados naquela. Mais exato será falar,
então, em dano difuso à coletividade, representada pelo Estado.
Vem sendo aceita pela mais moderna doutrina a reparação de danos
morais difusos, causados a número indeterminado de pessoas.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
LIMONGI FRANÇA deixa clara essa possibilidade no próprio conceito de
dano moral, ao defini-lo como:
“aquele que, direta ou indiretamente, a pessoa física ou jurídica, bem
assim a coletividade, sofre no aspecto não econômico de seus bens
jurídicos” (Revista dos Tribunais vol. 631, págs. 29 e ss.).
O mesmo entendimento foi acolhido por CARLOS ALBERTO BITTAR:
“Tem-se, portanto, que os danos morais podem ser suportados por todos
os entes personalizados, ou mesmo não, diante da evolução ocorrida
nesse campo, com o reconhecimento de direitos de categorias, ou de
grupos sociais, ou mesmo de coletividades” (Reparação Civil por Danos
Morais, 2a. ed. RT, 1994).
Em sua redação original, o art. 1º da Lei 7.347/85 já previa a proteção
de valores imateriais de interesse coletivo.
Sob a regência da nova Constituição Federal, o Código de Defesa do
Consumidor, no seu art. 6º, VI, foi o primeiro diploma a estabelecer, de maneira
expressa, a ressarcibilidade de danos morais causados à coletividade.
Aliás, como bem observa MARIA LUIZA DE SABÓIA CAMPOS:
“a proteção jurídica do consumidor, através de ações de natureza
coletiva, não poderia mesmo prescindir da consideração dos danos
morais provocados a número indeterminado de pessoas”
(Responsabilidade Civil perante o Consumidor, ed. Cultural Paulista,
1996, pág. 256).
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Foi também o Código do Consumidor, em seu art. 110, que adaptou a
Lei da Ação Pública ao novo texto constitucional, acrescentando-lhe o inciso IV ao art. 1º,
ampliando sua tutela a qualquer interesse difuso ou coletivo.
Completando esse ciclo evolucional, o art. 88 da Lei 8.884, de 11 de
junho de 1994 reformulou o texto do art. 1º, caput da Lei 7.347/85, deixando expresso
que a ação civil pública também é apta para obter a responsabilização por danos morais.
Fica assim demonstrado que o sistema de direito positivo brasileiro
contempla, sem nenhuma objeção possível, a reparação de danos morais impostos à
coletividade.
E, no caso presente, toda a sociedade de São Miguel do Iguaçu foi
ofendida em sua dignidade e decoro cívicos, pelos agentes públicos envolvidos, ora
demandados.
Como se não bastasse arcar com os efeitos dos prejuízos de natureza
estritamente patrimonial, decorrentes dos fatos narrados acima, os cidadãos são-
miguelenses tiveram o dissabor de constatar que os demandados, exercendo mal o
poder que lhes foi conferido, desrespeitaram seguidamente as Constituições Federais e
Estaduais, a Lei Orgânica deste Município, a Leu 8.429/92 e desviaram recursos públicos
de sua correta destinação.
Os atos de improbidade praticados pelos envolvidos, em manifesto e
evidente desacordo com a Constituição e as leis, ferem profundamente o sentimento de
cidadania, ao revelar completa desconsideração e descaso à vontade popular,
fundamento básico do poder estatal (art. 2º da Constituição Federal).
Como bem salienta HELY LOPES MEIRELLES:
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
“todo cidadão tem direito subjetivo ao governo honesto” (Mandado de
Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública, Mandado de Injunção,
Habeas-data, 12ª. ed., RT, 1989, pág. 93).
Bem por isso, o mandato outorgado aos governantes pressupõe que
estes se pautem por absoluta retidão de conduta, caracterizada por probidade, zelo e
rigor no desempenho de seu múnus público. A inobservância desses elementares
deveres, por parte do mau administrador, deslustrando as altas responsabilidades que
lhe foram confiadas, gera na coletividade sentimentos de abandono e insegurança, de
descrédito nas autoridades, de desorganização social; em suma, de instabilidade de
todas as instituições.
É precisamente esse desapontamento e essa frustração que
caracterizam, de modo inequívoco, a ocorrência de dano moral.
A não punição de condutas ilícitas dos agentes públicos – fato que,
infelizmente, não tem sido raro no Município de São Miguel do Iguaçu – somente
agrava tal quadro, castigando os cidadãos com mais um entre tantos pesares: o
sentimento de total impotência em face dos desmandos dos seus agentes públicos.
Portanto, é preciso fazer cessar esse autêntico círculo vicioso, em que a
prática reiterada de atos de improbidade, sem adequada punição, gera um sentimento
popular de desalento e descrédito nas instituições, o que leva a um afrouxamento dos
meios de controle e fiscalização dos governantes, servindo de incentivo a novos atos de
improbidade, com menor preocupação, a cada vez, quanto às possíveis consequências.
Quanto à estimativa do dano moral, a tarefa de fixar o quantum
necessário à indenização por prejuízos morais não é simples. Mas tal dificuldade, além
de não ser motivo para deixar de se reparar o dano sofrido, é perfeitamente vencível,
lembrando-se que, nessa matéria, a estimativa pecuniária não é fundamental. O mais
importante é que nenhuma violação de direito fique impune.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
É certo que a indenização por dano moral não deve ser fonte de
enriquecimento para a vítima, mas, tampouco, pode ser fixada em valores inexpressivos.
Por outro lado, as “regras de experiência comum” e a “observação do que
ordinariamente acontece” – critérios de análise admitidos pelo art. 335 do Código de
Processo Civil – autorizam a afirmação de que os prejuízos éticos e morais, decorrentes
de uma conduta ilícita, podem ser até mesmo maiores do que sua repercussão
patrimonial.
O grande número de pessoas ofendidas no presente caso é fator que
exaspera a responsabilidade dos demandados, e haverá de ser considerado, na sentença,
para a fixação.
A partir dessas considerações, com vistas ao cumprimento do art. 258
do Código de Processo Civil, e sem prejuízo de futuro arbitramento pelo Juízo, o
Ministério Público atribui, aos danos morais suportados pela coletividade, valor
correspondente a CINCO VEZES O DANO PATRIMONIAL CAUSADO AO ERÁRIO, LEIA-
SE, R$ 5.001.740,45 (CINCO MILHÕES, MIL SETECENTOS E QUARENTA REAIS E
QUARENTA E CINCO CENTAVOS).
VII – DAS MEDIDAS LIMINARES
VII.1 - DA IMPRESCINDIBILIDADE DA DECRETAÇÃO LIMINAR DA
INDISPONIBILIDADE DE BENS.
A exposição dos fatos, acompanhada de documentos, confirma que os
requeridos gastaram indevidamente recursos do Município São Miguel do Iguaçu, eis
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que foram percebidas diárias em dissonância com os ditames legais e ao total arrepio
dos princípios da administração pública. O prejuízo equivale ao valor auferido pelos
requeridos, o qual, corrigido até julho de 2012 (vide Informação de Auditoria nº
063/2012 constante às fls. 1.420/1.442), totaliza a importância de R$ 1.000.348,09
(UM MILHÃO, TREZENTOS E QUARENTA E OITO REAIS E NOVE CENTAVOS).
Dessa forma, tendo auferido os requeridos dividendos propiciados por
uma prática ilegal e ímproba, causando lesão aos cofres municipais, imperativa a
imposição de gravame patrimonial sobre os bens dos requeridos, tornando-os
indisponíveis no intuito de se assegurar o integral ressarcimento ao erário municipal. É
a exegese do art. 7º, parágrafo único, da Lei nº 8.429/92, decorrente do mandamento
constitucional do § 4º, do art. 37:
Art. 7º - Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio ou
ensejar enriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa
responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a
indisponibilidade dos bens do indiciado.
Parágrafo único – A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo
recairá sobre os bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou
sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.
§ 4º, do art. 37 - Os atos de improbidade administrativa importarão a
suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
indisponibilidade de bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. (grifado)
Nesse ínterim, calha, ainda, reproduzir a lição de Wallace Paiva Martins
Júnior acerca da abrangência de tal medida constritiva8:
“Deve a indisponibilidade dos bens ser proporcional à extensão do dano
ou ao acréscimo patrimonial indevido, se houver elementos para o
8 Probidade Administrativa, São Paulo: Saraiva, 2001.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
estabelecimento dessa relação, sendo lícito ao réu indicar bens,
escoimando eventual excesso de abrangência no deferimento liminar da
medida (se nessa fase processual estiver devidamente apurada a extensão
do proveito ou do dano), recaindo não somente sobre os bens ou valores
incorporados ilicitamente ou expressivos da lesão patrimonial, mas
também sobre os bens ou valores do patrimônio do réu que sirvam para a
satisfação da sentença condenatória e que tenham expressão econômica
equivalente ao proveito ilícito ou ao dano ao erário” (p. 328/329,
destacado).
Por fim, finaliza o referido autor, citando Marcelo Figueiredo:
“Por isso, Marcelo Figueiredo sublinha, com propriedade, que, como é
tarefa difícil apurar-se a extensão do dano causado, deve ser o pedido de
indisponibilidade amplo, competindo ao ‘requerente apresentar uma
estimativa sempre superdimensionada, a fim de garantir, ainda que
provisoriamente, futura recomposição’” (p. 329, destacado).
De conseguinte, como medida cautelar, torna-se necessária para a
concessão da indisponibilidade dos bens a demonstração do fumus boni iuris e do
periculum in mora.
No caso dos autos, a plausibilidade do direito invocado restou
caracterizada por meio das razões de fato e de direito já explanadas e pelos documentos
contidos no Inquérito Civil n.º MPPR- 0137.12.000002-1, comprovando a ilegalidade
aqui guerreada.
No que tange à verificação da existência do periculum in mora, é
patente a sua presença na necessidade de resguardar a administração pública de
eventual falta de patrimônio dos requeridos para ressarcimento do dano, pois com a
propositura da lide os requeridos, com intuito de frustrar a execução, as mais das vezes,
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
desfazem-se de seus bens por meio de pessoas interpostas, o que ameaçará o resultado
útil do processo.
Em abono a esta ilação, ensina Wallace Paiva Martins Júnior:
“[...] a indisponibilidade dos bens é, diversamente, uma providência
cautelar obrigatória, cujo desiderato é assegurar a eficácia dos
provimentos condenatórios patrimoniais, evitando-se práticas ostensivas,
fraudulentas ou simuladas de dissipação patrimonial, com o fim de
redução do ímprobo a estado de insolvência para frustrar a reversão
aludida no artigo 18 da Lei Federal n. 8.429/92. Seu escopo é a garantia
da execução da sentença que condenar à perda do proveito ilícito ou ao
ressarcimento do dano (artigo 18).” 9
Impende destacar que tal medida pode ser requerida no bojo desta
ação, prescindindo da propositura de ação cautelar para este fim. Nesse diapasão, já se
decidiu:
“Ação Civil Pública – Atos de improbidade administrativa – Pedido
liminar de indisponibilidade de bens dos réus em sede de ação civil
pública aforada – Possibilidade – Ajuizamento de ação autônoma cautelar
para dedução do pedido – Desnecessidade – Economia processual, e
inexistência de prejuízos aos réus com a maior amplitude de prazos e
meios à sua defesa – Presença dos requisitos necessários à concessão da
medida – Providência excepcional que visa garantir o efetivo
ressarcimento dos danos causados ao erário público – Recurso provido.
Dada a compatibilidade dos ritos, a não ocorrência de prejuízos ao
agravante e o fator de economia processual, nada impede a dedução da
decretação da indisponibilidade dos bens nos próprios autos da ação
principal. Descabe, por ora, entrar no mérito da ação ajuizada, mas ante a
plausibilidade dos argumentos expendidos na inicial e a prova
documental ofertada, incensurável a r. decisão hostilizada ao decretar
liminarmente a indisponibilidade dos bens, apesar de ser medida drástica
9 MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva. Probidade administrativa. São Paulo. Saraiva. 2001. p. 325/326.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
e excepcional, providência que se impunha para “garantir eficazmente e
adequadamente o integral ressarcimento de dano ao erário público.”10
A medida ora pleiteada é indispensável porque se prevenirá o possível
perecimento ou dissipação dos bens dos requeridos, assegurando o integral
cumprimento da sentença que, certamente, determinará a devolução dos valores gastos
ilicitamente (arts. 5º, 6º e 12 da Lei nº 8.429/92).
Ainda sobre a medida cautelar em comento, é importante salientar que
a doutrina dominante vem se inclinado no sentido de dispensar a necessidade de o autor
demonstrar a intenção de o agente dilapidar ou desviar o seu patrimônio. Ou seja, para
este segmento da doutrina, o periculum in mora estaria implícito e presumido na
redação do art. 7º, da Lei de Improbidade:
“Razoável o argumento que exonera a presença do fumus boni iuris e do
periculum in mora para a concessão da indisponibilidade dos bens,
apesar de opiniões contrárias. Com efeito, a lei presume esses requisitos
ao autorizar a indisponibilidade, porquanto a medida acautelatória tende
à garantia da execução da sentença, tendo como requisitos específicos
evidências de enriquecimento ilícito ou lesão ao erário, sendo indiferente
que haja fundado receio de fraude ou insolvência, porque o perigo é ínsito
aos próprios efeitos do ato hostilizado. Exsurge, assim, a
indisponibilidade como medida de segurança obrigatória nessas
hipóteses”.11
Matéria, aliás, que atualmente não comporta mais qualquer discussão,
tendo sido assentado este entendimento pelo egrégio Superior Tribunal de Justiça.
Providencial, nesse passo, a elucidativa ementa do Recurso Especial nº 1.177.290/MS
10 TJSP. 8ª Câm. de Direito Público. AgI 71.459-5. São Paulo. Rel. Des. Celso Bonilha. 17/6/1998, v. u. 11 Martins Junior, op cit, p. 329.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
(2010/0013154-3), datado de 22 de junho de 2010, oriundo da Segunda Turma deste
Colendo Tribunal, cujo relator foi o Ministro HERMAN BENJAMIN:
“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. ART.
7º DA LEI 8.429/1992. VIOLAÇÃO CONFIGURADA. ACÓRDÃO
ASSENTADO EM FUNDAMENTO JURÍDICO EQUIVOCADO. AFASTAMENTO
CAUTELAR DO CARGO. SÚMULA 7/STJ. 1. Cuidam os autos de Ação Civil
Pública ajuizada contra Deputados Estaduais e servidores da Assembléia
Legislativa de Mato Grosso, aos quais são imputados atos de improbidade
administrativa por fraude a licitação, além de desvio e apropriação
indevida de recursos públicos por emissão e pagamento de cheques para
empresas inexistentes e irregulares. 2. No Agravo de Instrumento, ficou
registrado que estão em curso mais de sessenta Ações Civis Públicas
contra os ora recorridos por supostos atos reiterados de improbidade
administrativa, que no total ultrapassam a vultosa quantia de R$
97.000.000,00 (noventa e sete milhões de reais) – o caso dos autos
envolve dano de R$ 3.028.426,63 (três milhões, vinte e oito mil,
quatrocentos e vinte e seis reais e sessenta e três centavos) decorrentes
de pagamentos feitos à empresa Comercial Celeste de Papéis e Serviços
Ltda. 3. A instância ordinária indeferiu o pedido de decretação de
indisponibilidade dos bens, ao fundamento de que o Parquet não os
individualizou nem comprovou a existência de atos concretos de
dilapidação patrimonial pelos réus. 4. Cabe reconhecer a violação do art.
7º da Lei 8.429/1992 in casu, tendo em vista o fundamento jurídico
equivocado do acórdão recorrido. 5. A DECRETAÇÃO DA
INDISPONIBILIDADE, QUE NÃO SE CONFUNDE COM O SEQÜESTRO,
PRESCINDE DE INDIVIDUALIZAÇÃO DOS BENS PELO PARQUET . A
EXEGESE DO ART. 7º DA LEI 8.429/1992, CONFERIDA PELA
JURISPRUDÊNCIA DO STJ, É DE QUE A INDISPONIBILIDADE PODE
ALCANÇAR TANTOS BENS QUANTOS FOREM NECESSÁRIOS A GARANTIR
AS CONSEQÜÊNCIAS FINANCEIRAS DA PRÁTICA DE IMPROBIDADE,
MESMO OS ADQUIRIDOS ANTERIORMENTE À CONDUTA ILÍCITA. 6.
DESARRAZOADO AGUARDAR A REALIZAÇÃO DE ATOS CONCRETOS
TENDENTES À DILAPIDAÇÃO DO PATRIMÔNIO, SOB PENA DE ESVAZIAR
O ESCOPO DA MEDIDA. PRECEDENTES DO STJ. 7. ADMITE-SE A
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
INDISPONIBILIDADE DOS BENS EM CASO DE FORTE PROVA INDICIÁRIA
DE RESPONSABILIDADE DOS RÉUS NA CONSECUÇÃO DO ATO ÍMPROBO
QUE CAUSE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO OU DANO AO ERÁRIO, ESTANDO
O PERICULUM IN MORA IMPLÍCITO NO PRÓPRIO COMANDO LEGAL.
Precedentes do STJ. 8. Hipótese em que, considerando a natureza
gravíssima dos atos de improbidade administrativa imputados aos réus e
os elevados valores financeiros envolvidos, a indisponibilidade dos bens
deve ser declarada de imediato pelo STJ. 9. O art. 20, parágrafo único, da
Lei 8.429/1992 prevê a viabilidade de afastamento cautelar do cargo,
emprego ou função, quando a medida se fizer necessária à instrução
processual. A alteração do entendimento do Tribunal a quo, de que não
ficou demonstrada tal necessidade, demanda reexame dos elementos
fático-probatórios dos autos, o que esbarra no óbice da Súmula 7/STJ. 10.
Friso que a impossibilidade da conclusão lançada no acórdão recorrido
não proíbe que o pedido de afastamento seja eventualmente renovado nos
autos com base em novos elementos que comprovem o cabimento da
medida. 11. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte,
parcialmente provido para determinar a indisponibilidade dos bens dos
recorridos”. (destacamos).
Cabe aqui a observação no sentido de que a indisponibilidade,
naturalmente, não é sanção, mas medida de cautela, de garantia. Se o legislador
constituinte desejasse se referir às penalidades aplicáveis ao autor de atos de
improbidade, teria usado a expressão “perda de bens”. A dicção constitucional tem o
evidente propósito de demonstrar a imprescindibilidade da medida assecuratória da
indisponibilidade de bens, quando propostas medidas tendentes à condenação por ato
de improbidade administrativa, ressarcimento de danos ou quando se tratar de
providência cautelar preparatória dessas mesmas medidas.
Em obediência ao dispositivo da Lei Maior, o art. 16 da Lei nº 8.429/92
impôs como única condição à medida constritiva, a existência de “fundados indícios de
responsabilidade” (em outras palavras, a existência de fumus boni juris). Nem poderia,
é certo, exigir mais, para não atentar contra o mandamento constitucional.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Com efeito, se o administrador público e seus cooperadores não se
mostram zelosos quanto à gerência e conservação do patrimônio público, também não
merecerão confiança para a preservação de seus próprios patrimônios pessoais, que é a
única garantia que a sociedade dispõe para ver efetivado o ressarcimento.
Diante de uma visão empírica do que normalmente ocorre e das regras
de experiência comum, autorizadas pelo art. 335, do Código de Processo Civil, pode-se
concluir que os requeridos, numa reação humana e compreensível, face à perspectiva de
perda de seus patrimônios, venham a praticar atos prejudiciais à futura satisfação do
débito.
Assim, é imprescindível proteger os patrimônios pessoais dos
requeridos não só de dilapidação, mas até mesmo de eventual má administração, com
vistas à satisfação do resultado útil do processo.
Os fatos estão satisfatoriamente comprovados, razão pela qual a
indisponibilidade dos bens dos requeridos deve ser decretada liminarmente como
forma de evitar que dilapidem o patrimônio.
Presentes os requisitos, o deferimento da indisponibilidade é medida
que se impõe como forma de assegurar o futuro ressarcimento dos danos praticados em
desfavor do erário. Mas não basta o deferimento, é preciso que ele se efetive no
momento oportuno, ou seja, antes que os requeridos dilapidem o patrimônio.
Assim, A MEDIDA PRECISA SER DEFERIDA LIMINARMENTE, SEM A
OITIVA DOS REQUERIDOS, pois caso contrário corre-se o risco de nada ser encontrado
para garantir o ressarcimento do erário, decorrente da dilapidação do patrimônio dos
requeridos.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Frise-se ainda que a hipótese não se aplica o art. 2º da Lei nº 8.437/99,
pois este dispositivo trata apenas dos casos em que figura no pólo passivo algum ente
público. Vale dizer, o diploma legal antes referido versa matéria sobre a concessão de
medidas cautelares contra ato do Poder Público.
A lei é clara, a oitiva do requerido no prazo de 72 (setenta e duas) horas
só é cabível quando a ação for proposta contra o ente público. No caso dos autos, a
liminar pleiteada refere-se às pessoas físicas de então Vereadores e servidores em
defesa do erário municipal.
Na doutrina, colhe-se o ensinamento de João Baptista de Almeida:
“Para a ação civil pública diz a lei que o juiz poderá conceder mandado
liminar, com ou sem justificação prévia (art. 12). Mas não poderá fazê-lo
de imediato, se a ação for ajuizada contra pessoa jurídica de direito
público. Tratando-se de ação civil pública contra União, Estados,
Municípios e Distrito Federal e entes paraestatais – à exceção das
sociedades de economia mista, que possuem natureza de direito privado -
, o juiz deverá ouvir previamente o representante judicial do ente público,
que terá o prazo de setenta e duas horas para manifestar-se. É o que
consta do art. 2º da Lei 8.437, de 30.06.1992. Sobre este dispositivo, a
jurisprudência expediu orientações diametralmente opostas. A 4º Turma
do TRF 1ª Região, num caso de concessão da liminar sem a ouvida da
parte contrária, afirmou ser ‘cogente e não facultativa a norma inscrita na
Lei 8.472/92, sendo, portanto, obrigatória a ouvida do órgão público
antes da concessão da liminar’. Já a 3ª Turma do mesmo Tribunal
entendeu que ‘se a questão exige pronta e rápida atuação do juiz, sob
pena de causar dano ao autor, evidentemente que o art. 2º da Lei
8.437/92, não pode ser obedecido’, já que ‘o direito e a justiça estão
acima da lei, ainda mais quando se trata de lei casuística’.”12
12 Aspectos controvertidos da ação civil pública: doutrina e jurisprudência. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2001.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Enfim, considerando todo este contexto e os reflexos econômicos que
ele induz, imperativa a fixação da indisponibilidade dos bens dos requeridos
liminarmente e sem a oitiva dos mesmos, a qual deverá ser deferida até o valor adiante
estabelecido a cada um deles, desonerando os bens e valores que excederem os importes
descritos.
Esclarece que as importâncias a seguir discriminadas referem-se à
apuração atualizada (auditoria nº 063/2012, realizada pelo Núcleo de auditoria e
perícia regional do Ministério público) do acréscimo patrimonial resultante do
enriquecimento ilícito, auferido individualmente pelos ora demandados.
A individualização dos valores fez-se necessária a fim de atender à
redação do parágrafo único, in fine, do art. 7º, da Lei nº 8.429/92. Deste modo,
imprescindível a decretação da medida para promover:
a) a indisponibilidade dos bens do requerido AGENOR PERON
DORIGON, no montante de R$ 84.170,41 (oitenta e quatro mil, cento e setenta reais,
quarenta e um centavos);
b) a indisponibilidade dos bens do requerido EMERSON ALEX KEMPA,
no montante de R$ 29.679,43 (vinte e nove mil, seiscentos e setenta e nove reais e
quarenta e três centavos).
c) a indisponibilidade dos bens do requerido VALDECIR TEIXEIRA no
montante de R$ 44.355,28 (quarenta e quatro mil, trezentos e cinqüenta e cinco
reais e vinte e oito centavos);
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
d) a indisponibilidade dos bens do requerido CESAR AUGUSTO
SCHOMMER no montante de R$ 16.504,27 (dezesseis mil, quinhentos e quatro reais e
vinte e sete centavos);
e) a indisponibilidade dos bens do requerido CLEVERSON LUIZ PIES
no montante de R$ 34.327,01 (trinta e quatro mil, trezentos e vinte sete reais e um
centavo);
f) a indisponibilidade dos bens da requerida CRISTINA BEATRIZ
MARQUES no montante de R$ 8.644,14 (oito mil, seiscentos e quarenta e quatro reais
e quatorze centavos);
g) a indisponibilidade dos bens do requerido FRANCISCO MACHADO
MOTA no montante de R$ 72.028,75 (setenta e dois mil, vinte e oito reais e setenta e
cinco centavos);
h) a indisponibilidade dos bens do requerido GIOVANI AMBONI no
montante de R$ 66.987,53 (sessenta e seis mil, novecentos e oitenta e sete reais e
cinquenta e três centavos);
i) a indisponibilidade dos bens do requerido INÉSIO SIVIERO no
montante de R$ 73.547,55 (setenta e três mil, quinhentos e quarenta e sete reais e
cinquenta e cinco centavos);
j) a indisponibilidade dos bens do requerido JAIRO DOS ANJOS no
montante de R$ 70.999,38 (setenta mil , novecentos e noventa e nove reais e trinta e
oito centavos);
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
k) a indisponibilidade dos bens da requerida JANAINA DE LUCCA no
montante de R$ 18.257,14 (dezoito mil, duzentos e cinquenta e sete reais e quatorze
centavos);
l) a indisponibilidade dos bens do requerido JORGE MONTEIRO no
montante de R$ 37.034,16 (trinta e sete mil, trinta e quatro reais e dezesseis
centavos);
m) a indisponibilidade dos bens do requerido JOSE AUGUSTOS
GHELLERE no montante de R$ 66.200,39 (sessenta e seis mil, duzentos reais e trinta
e nove centavos);
n) a indisponibilidade dos bens do requerido MARCELO MARTINS DE
CASTRO no montante de R$ 52.675,73 (cinqüenta e dois mil, seiscentos e setenta e
cinco reais e setenta e três centavos);
o) a indisponibilidade dos bens do requerido NACLETO TRES no
montante de R$ 81.109,37 (oitenta e um mil, cento e nove reais e trinta e sete
centavos);
p) a indisponibilidade dos bens do requerido NILTON WERNKE no
montante de R$ 55.156,63 (cinquenta e cinco mil, cento e cinquenta e seis reais e
sessenta e três reais);
q) a indisponibilidade dos bens do requerido SERGIO ROBERTO
GHELLERE no montante de R$ 72.753,94 (setenta e dois mil, setecentos e cinquenta
e três reais e noventa e quatro centavos);
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
r) a indisponibilidade dos bens da requerida SONIA SEREVIANO LEITE
no montante de R$ 12.739,42 (doze mil, setecentos e trinta e nove reais e quarenta e
dois centavos);
s) a indisponibilidade dos bens do requerido WAGNER GHELLERE no
montante de R$ 21.474,65 (vinte um mil, quatrocentos e setenta e quatro reais e
sessenta e cinco centavos);
t) a indisponibilidade dos bens do requerido ANTÔNIO DILMAR TONIS
MAFALDA no montante de R$ 81.703,30 (oitenta e um mil, setecentos e três reais e
trinta centavos).,
Considerando o fato de a responsabilidade aqui apurada ter
natureza solidária, caso não sejam encontrados os valores, a titulo individual, no
patrimônio de algum dos requeridos, deverá haver a compensação dos valores,
bloqueando-se o quantum, no limite do novo montante apurado, no patromônio dos
requeridos que possuam bens.
Para tanto, imperativas as seguintes medidas:
1 – pesquisa nos bancos de dados do BACEN-JUD para verificar a
existência de eventuais aplicações financeiras em nome dos requeridos;
2 – seja oficiado aos Cartórios do Registro de Imóveis de São Miguel do
Iguaçu, Medianeira, Santa Teresinha de Itaipu, Foz do Iguaçu, Cascavel e Curitiba
informando a decretação da medida acima, com a indisponibilidade dos imóveis em
nome dos requeridos, necessários ao ressarcimento dos danos, de tudo informando este
r. Juízo, sem prejuízo de enviarem a este r. Juízo certidão do Indicador Real e Pessoal
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
(arts. 132, inciso IV, c.c. arts. 138 e 139, todos da Lei n° 6.015/73), tanto dos requeridos
quanto dos respectivos cônjuges e descendentes, quando for o caso;
3 – seja oficiado à Douta Corregedoria da Justiça dos Estados do Paraná,
de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e de São Paulo informando sobre a decretação
da medida e solicitando que oficiem a todos os Cartórios de Registros de Imóveis dos
Estados das respectivas Unidades da Federação, noticiando a decretação da medida, bem
como para que aqueles informem sobre a existência de imóveis em nome dos
requeridos, sem prejuízo de enviarem a este r. Juízo certidão do Indicador Real e Pessoal
(arts. 132, inciso IV, c.c. 138 e 139, todos da Lei n° 6.015/73), tanto dos requeridos
quanto dos respectivos cônjuges e descendentes, quando for o caso;
4 – seja oficiado ao Banco Central do Brasil para que comunique a todas
as instituições financeiras do país sobre a decretação da indisponibilidade de eventuais
depósitos em nome dos requeridos, de tudo informando este r. Juízo;
5 – seja oficiado ao DETRAN/PR, informando sobre a decretação da
presente medida e determinando o bloqueio de todos os veículos em nome dos
requeridos, de tudo informando este r. Juízo; e
6 – sejam liberados para os requeridos os bens que se mostrarem
excessivos para o ressarcimento dos danos, a fim de se evitar qualquer constrangimento.
VII.2 - DA IMPRESCINDIBILIDADE DA DECRETAÇÃO LIMINAR DO
AFASTAMENTO DO PRESIDENTE DA CÂMARA E DOS VEREADORES DE SÃO MIGUEL
DO IGUÇU.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
O afastamento imediato de ANTÔNIO DILMAR TONIS MAFALDA,
Presidente da Câmara Municipal, bem como dos vereadores SERGIO ROBERTO
GHELLERE, AGENOR PERON DORIGON, FRANCISCO MACHADO MOTA, NILTON
WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO DOS ANJOS, GIOVANI AMBONI, INÉSIO SIVIERO, de
seus cargos é um imperativo, porquanto existem fatos concretos no bojo do
Procedimento Preparatório de inquérito Civil que instrui esta ação que demonstram,
exime de dúvidas, que, se permanecerem em seus cargos, criarão óbices à instrução
processual. Há, ainda, prova contundente do esquema de apropriação de verbas públicas
por eles realizado, fato que oferece mais segurança na decretação da medida requerida.
De acordo com o artigo 20, parágrafo único, da Lei de Improbidade,
para o afastamento cautelar do agente público do exercício do cargo há a exigência de
que tal medida se faça necessária à instrução processual.
É preciso levar em conta que a expressão "instrução processual"
contida no parágrafo único do artigo 20 da Lei de Improbidade não pode ter
interpretação acanhada. Há de ser entendida dentro do contexto em que se encontra
inserida.
Se existem indícios veementes, como no presente caso, de que os
agentes públicos, ficando em seus cargos, poderão perturbar, de algum modo, a coleta de
provas do processo, o afastamento liminar se impõe, imediatamente, inexistindo poder
discricionário da autoridade judiciária de não o realizar.
Já restou amplamente demonstrado nesta exordial que os requeridos
editaram atas de sessões legislativas e apresentaram diplomas/certificados falsos a fim
de se furtarem de eventual condenação. Isso prova a aptidão que possuem para tornar a
praticar condutas similares durante a instrução processual.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Tais fatos demonstram, concretamente, que se permanecerem na
condição de Presidente da Câmara e de Vereadores, continuarão, os requerentes,
utilizando-se de artifícios a fim de inviabilizar a instrução probatória.
O cargo que possuem lhes confere amplo poder e acesso a quaisquer
elementos imprescindíveis à instrução probatória, fazendo-se mister, de conseguinte, a
decretação liminar da medida cautelar de afastamento até o término da instrução desta
ação.
Frise-se que, por tratar esta ação de pratica já institucionalizada no
Poder Legislativo Municipal, qual seja: a apropriação ilegal de diárias, pratica esta que
vem ocorrendo há anos no âmbito deste Município, evidentemente, caso permaneçam os
vereadores no exercício da vereança, continuarão a auferir indevidamente estas verbas,
razão pela qual se impõe o afastamento cautelar deles.
No entanto, ainda que não tivesse sido demonstrada concretamente a
possibilidade de total embaraço à instrução, seria suficiente para a decretação do
afastamento compulsório e liminar dos agentes públicos do exercício de seus cargos,
sem prejuízos de seus vencimentos, enquanto persistir a importância da coleta de
elementos informativos ao processo, a quantidade dos fatos e a complexidade da
demanda, presentes no caso concreto.
Em outras palavras, a efetivação da medida cautelar prevista no artigo
20, parágrafo único, da Lei 8.429/92, necessita apenas da presença do fumus boni iuris e
do periculum in mora.
O fumus boni iuris se extrai dos documentos acostados ao inquérito
Civil às fls. 194/824 e 1.187/1.443, bem como dos fatos narrados nesta exordial, os
quais comprovam com absoluta certeza a ocorrência da pratica dos atos de improbidade
administrativa.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
O periculum in mora evidencia-se porque ANTÔNIO DILMAR TONIS
MAFALDA atual Presidente da Câmara de Vereadores de São Miguel do Iguaçu e SERGIO
ROBERTO GHELLERE, AGENOR PERON DORIGON, FRANCISCO MACHADO MOTA,
NILTON WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO DOS ANJOS, GIOVANI AMBONI, INÉSIO
SIVIERO, vereadores naquela casa, possuem forte influência política e, em decorrência
do poder que lhes é outorgado por meio do mandato que exercem, possuem facilidades
para inutilizar e destruir provas, sem as quais a instrução será inviabilizada.
É certo que os requeridos ANTÔNIO DILMAR TONIS MAFALDA
SERGIO ROBERTO GHELLERE, AGENOR PERON DORIGON, FRANCISCO MACHADO
MOTA, NILTON WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO DOS ANJOS, GIOVANI AMBONI,
INÉSIO SIVIERO não terão qualquer receio de vilipendiar bens e documentos públicos,
bem como não medirão esforços para subtrair, em proveito próprio valores do erário,
valendo-se do cargo que ocupam, em razão do mandato eletivo de vereador, caso
permaneçam nele investido.
Os fatos praticados, de per si, exigem o afastamento imediato dos
agentes públicos porque não se trata, no presente caso, de mero descumprimento de um
princípio constitucional, de uma irregularidade, ou de uma formalidade. Não é disso que
se trata.
A conduta praticada revela extrema periculosidade e audácia no trato
com o erário. Manter ANTÔNIO DILMAR TONIS MAFALDA SERGIO ROBERTO
GHELLERE, AGENOR PERON DORIGON, FRANCISCO MACHADO MOTA, NILTON
WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO DOS ANJOS, GIOVANI AMBONI, INÉSIO SIVIERO no
cargo é tolerar, até o fim de seu mandato, a presença de um perigo ao patrimônio
municipal que, depois de lesado, dificilmente é reparado integralmente.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Dessarte, é mister que se declare o afastamento dos agentes públicos do
cargo para que eles não prejudiquem a produção de provas, manifestando requisições de
documentos e utilizando a máquina pública, novamente, em proveito deles, doravante
visando criar provas para refutar o teor desta ação.
É certo ainda que caso os vereadores acima mencionados permaneçam
em seus cargos, os demais funcionários da referida casa, salvo os que são requeridos
neste processo, sentir-se-ão constrangidos de prestar seus testemunhos. Ressalta-se que
a prática de ameaçar testemunhas é expediente muito comum nesta natureza de
procedimento.
MARINO PASAGLINI FILHO, MÁRCIO FERNANDO ELIAS ROSA e WALDO
FAZZIO JÚNIOR ensinam que:
“O afastamento cautelar se justifica sempre que for “indispensável para
garantir a efetividade dos princípios constitucionais da Administração
Pública, por certo mais privilegiado que o direito individual que
restringe” (Improbidade Administrativa - Aspectos Jurídicos da Defesa do
Patrimônio Público, São Paulo, Editora Atlas, 1996, p. 181).
Analisando a possibilidade de afastamento cautelar de cargo, o Ministro
GILSON DIPP, manifestou-se no seguinte sentido:
“De qualquer sorte, não se pode aplicar o disposto no artigo 20, da Lei de
Improbidade, a partir de sua interpretação isolada, recomendando-se
uma leitura sistemática do preceito sem deixar de considerar todo o
contexto jurídico pertinente. Para que a proteção jurídica da instrução
processual? Para a produção de um julgamento absolutamente justo. Não
há outra alternativa. Esta é realmente a única resposta razoável.
Entretanto, contenta-se o legislador com isso? Evidentemente, não. A
sentença justa é um bem jurídico, mas sem que possa efetivamente ser
executada e o seja, de nada valerá. Indispensável, pois, que o juiz se
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
utilize de seu poder geral de cautela, tomando todas as medidas
provisórias necessárias para evitar que o demandado, se condenado,
possa prejudicar a sua execução. Com efeito, não só na defesa da boa
instrução processual seria possível o afastamento do prefeito. Essa
providência é possível também para evitar a continuação da prática de
atos danosos ao patrimônio público municipal” (STJ, MC 1730 – SP, 5ª
Turma, Rel. Min.JORGE SCARTEZZINI, j. em 07.12.01).
Assim, o afastamento de ANTÔNIO DILMAR TONIS MAFALDA SERGIO
ROBERTO GHELLERE, AGENOR PERON DORIGON, FRANCISCO MACHADO MOTA,
NILTON WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO DOS ANJOS, GIOVANI AMBONI, INÉSIO
SIVIERO e a única medida eficaz para fazer com que o processo se desenvolva sem que
ocorram deletérios artifícios para macular a produção da prova.
Por tudo o que se disse - presentes os requisitos do periculum in mora e
do fumus boni iuris, o Ministério Público pugna seja decretada, liminarmente, com
suporte no art. artigo 20, parágrafo único, da Lei 8.429/92, o afastamento de ANTÔNIO
DILMAR TONIS MAFALDA, SERGIO ROBERTO GHELLERE, AGENOR PERON
DORIGON, FRANCISCO MACHADO MOTA, NILTON WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO
DOS ANJOS, GIOVANI AMBONI, INÉSIO SIVIERO do cargo de Presidente da Câmara
Municipal de São Miguel do Iguaçu e dos cargos vereadores, respectivamente.
VIII – DAS SANÇÕES
No caso, os requeridos, sob a máscara de um pagamento sistemático
irregular de diárias, desviaram recursos da Câmara Municipal de São Miguel do Iguaçu,
locupletando-se ilicitamente em prejuízo do erário público.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Dessa feita, vê-se, conforme já exposto, que em seu atuar incorreram nos
termos do art. 9º, caput e inciso XI, art. 10, caput e incisos I, IX e XI e art. 11, caput, inciso I,
todos da Lei de Improbidade Administrativa.
Restando sopesada de forma contundente a prática de atos de
improbidade administrativa cometidos, estando os requeridos ANTÔNIO DILMAR
TONIS MAFALDA, SERGIO ROBERTO GHELLERE, AGENOR PERON DORIGON,
FRANCISCO MACHADO MOTA, NILTON WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO DOS ANJOS,
GIOVANI AMBONI, INÉSIO SIVIERO, JOSÉ AUGUSTO GHELLERE, JANAINA DE LUCCA,
VALDECIR TEIXEIRA, SONIA SEVERIANO LEITE, EMERSON ALEX KEMPA, CESAR
AUGUSTO SCHOMMER, MARCELO MARTINS DE CASTRO, JORGE MONTEIRO;
CRISTINA BEATRIZ MARQUES, CLEVERSON LUIZ PIES, WAGNER GHELLERE,
incursos nas sanções capituladas no art. 9º, caput, e inciso XI, art. 10, caput, e incisos I, IX e
XI e art. 11, caput e inciso I, a merecerem, dessa forma, condenação nas sanções do art. 12,
incisos I, II e III, todos da Lei nº 8.429/92, as quais deverão ser aplicadas mediante
critérios de razoabilidade e proporcionalidade por Vossa Excelência.
No mais, quanto aos critérios de proporcionalidade, deve ser levado em
conta por este r. Juízo a gravidade da infração cometida, os cargos desempenhados pelos
diferentes requeridos, o benefício auferido em prejuízo da coletividade, a ofensa à
dignidade da função pública e mormente por tratar-se de prática envolvendo agentes
políticos, os quais, por definição, ocupam os mais altos escalões do Poder Público,
incumbindo-lhes, assim, maior responsabilidade e zelo na administração pública:
a – Aqui, ganha relevo a reprovabilidade da conduta do requerido
ANTÔNIO DILMAR TONIS MAFALDA. Este, em total desrespeito à dignidade da função
pública, na qualidade de Presidente da Câmara de Vereadores, ordenou e efetuou a
liberação do pagamento das referidas diárias indevidas em favor demais demandados.
Requer-se, assim, que sua conduta sejam atribuídas as penalidades máximas previstas;
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
b – os requeridos SERGIO ROBERTO GHELLERE, AGENOR PERON
DORIGON, FRANCISCO MACHADO MOTA, NILTON WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO
DOS ANJOS, GIOVANI AMBONI, INÉSIO SIVIERO, vereadores, também devem ter
fixadas as penalidades em seu grau máximo. Conforme demonstrado, estes se
esqueceram de seu relevante múnus público como gestores do interesse público,
fazendo uso de seu mandato para o ilícito enriquecimento pessoal;
c – os requeridos JOSÉ AUGUSTO GHELLERE, JANAINA DE LUCCA,
VALDECIR TEIXEIRA, SONIA SEVERIANO LEITE, EMERSON ALEX KEMPA, CESAR
AUGUSTO SCHOMMER, MARCELO MARTINS DE CASTRO, JORGE MONTEIRO;
CRISTINA BEATRIZ MARQUES, CLEVERSON LUIZ PIES, WAGNER GHELLERE, de sua
vez, servidores públicos da Câmara Municipal de São Miguel do Iguaçu, também
receberam diárias irregulares. No entanto, a despeito de agirem em prejuízo da
dignidade da função pública, como simples agentes públicos, não tinham qualquer poder
de decisão sobre a prática ímproba, da qual apenas auferiram proveito. Por esta razão,
requer-se seja atribuído aos requeridos em comento a fixação das penalidades em seu
apenamento médio.
É de bom alvitre consignar, ainda, que, na aplicação das sanções
previstas na Lei de Improbidade Administrativa, o Magistrado não pode perder de
vista que a incidência das penas tem caráter pedagógico, devendo ser capaz de
configurar um fator inibidor da perpetuação dos atos de improbidade
administrativa.
Daí, como consectário dessa ilação, decorre a imprescindibilidade da
punição dos agentes ímprobos, em especial por considerar que a sociedade anseia por
gestores públicos efetivamente preocupados em promover o bem comum e a salvaguarda do
interesse social.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
Com efeito, esta é a hipótese da presente demanda. No caso aqui adversado,
observou-se uma total renitência de todos os requeridos em se portar de acordo com os
preceitos legais e os mais elementares e inarredáveis princípios do decoro, devendo, dessa
forma, serem punidos pelos seus atos, até mesmo para servir de exemplo, impedindo que
outros se animem e passem a trilhar idêntico caminho, utilizando-se deste tipo de prática
nociva à administração pública.
IX – PEDIDOS FINAIS
Diante de todo o exposto e por tudo mais que dos autos consta, o
Ministério Público do Estado do Paraná requer:
1 – Seja a presente registrada, autuada (juntamente com os
documentos que a acompanham – 08 (oito) volumes do Inquérito
Civil n.º MPPR- 0137.12.000002-1) e recebida como AÇÃO CIVIL
PÚBLICA DE RESSARCIMENTO DE DANO AO PATRIMÔNIO
PÚBLICO, DE INDISPONIBILIDADE DE BENS, DE IMPOSIÇÃO DE
SANÇÕES POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA C.C
PEDIDO DE NULIDADE DE ATOS ADMINISTRATIVOS, notificando-
se previamente os requeridos para se manifestar sobre a inicial antes
do seu recebimento, por meio da apresentação de defesa prévia
(art. 17 § § 7º e 8º da Lei n.º 8.429/92), processando-se o presente
feito, sob o rito ordinário;
2 – a concessão de medida liminar, inaudita altera parte, para o fim
de decretação da indisponibilidade de bens de cada um dos
requeridos, nos moldes e valores indicados no item VII.1, letras
“a”/”t”;
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
3 – a concessão, liminar, inaudita altera parte, do afastamento
cautelar dos requeridos ANTÔNIO DILMAR TONIS MAFALDA,
SERGIO ROBERTO GHELLERE, AGENOR PERON DORIGON,
FRANCISCO MACHADO MOTA, NILTON WERNKE, NACLETO TRES,
JAIRO DOS ANJOS, GIOVANI AMBONI, INÉSIO SIVIERO,
respectivamente, Presidente da Câmara e vereadores de São Miguel
do Iguaçu, até o término da instrução desta ação; impondo-se, para
que haja o efetivo cumprimento da presente medida, astreintes, no
caso de seu descumprimento;
4 – a citação dos requeridos para que ofereçam resposta à presente
ação, com as cautelas dos artigos 285 e 172, § 2º, do Código de
Processo Civil, sob pena de revelia;
5 – a notificação da Câmara Municipal para querendo integrar a lide
(17, § 3º, da Lei n° 8.429/92 c.c. art. 6º, § 3º da Lei n° 4.717/65);
6 – a produção de todas as provas permitidas, especialmente
documentais, periciais, testemunhais, cujo rol será oportunamente
apresentado, e os depoimentos pessoais dos requeridos na
audiência de instrução e julgamento, sob pena de confissão,
devendo constar do mandado os termos do art. 343, §1º, do CPC;
7 – seja certificado pelos Cartórios Cível e Criminal desta Comarca
sobre eventuais inquéritos policiais, ações ou condenações por
improbidade e os antecedentes criminais dos requeridos;
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
8 – seja oficiado às Varas das Execuções Penais deste Estado e ao
Tribunal Regional Federal da 4ª Região, para que forneçam certidões
de antecedentes criminais dos requeridos;
9 – Finalmente, seja julgada procedente a presente demanda, a fim
de que:
9.1 – seja condenado o requerido ANTÔNIO DILMAR TONIS
MAFALDA ao ressarcimento integral do dano, consistente na restituição dos valores
auferidos individualmente a título de diárias, bem ainda, de forma solidária no
montante percebido pelos demais requeridos, em face de sua responsabilidade
solidária e subsidiária já que, na qualidade de Presidente da Câmara de Vereadores,
ordenou e efetuou a liberação de tais pagamentos em favor dos demais requerentes. No
mais, os valores apurados deverão ser acrescidos dos juros legais até sua efetiva
recomposição, bem como da atualização monetária a contar da data da citação.
9.2 – sejam condenados os requeridos, SERGIO ROBERTO
GHELLERE, AGENOR PERON DORIGON, FRANCISCO MACHADO MOTA, NILTON
WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO DOS ANJOS, GIOVANI AMBONI, INÉSIO SIVIERO,
JOSÉ AUGUSTO GHELLERE, JANAINA DE LUCCA, VALDECIR TEIXEIRA, SONIA
SEVERIANO LEITE, EMERSON ALEX KEMPA, CESAR AUGUSTO SCHOMMER,
MARCELO MARTINS DE CASTRO, JORGE MONTEIRO; CRISTINA BEATRIZ MARQUES,
CLEVERSON LUIZ PIES, WAGNER GHELLERE, ao ressarcimento integral do dano ao
erário, consistente na restituição dos valores auferidos individualmente a título de
diárias, bem ainda, de forma solidária, nos termos do item “V” desta inicial, cada um
no valor total por todos percebido, acrescidos dos juros legais desde o pagamento ilegal
até o seu efetivo ressarcimento, bem como da atualização monetária do numerário a
contar da data da citação.
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
9.3 – sejam condenados todos os requeridos, nas demais sanções da
Lei de Improbidade Administrativa, a saber:
a) condenar os requeridos ANTÔNIO DILMAR TONIS MAFALDA,
SERGIO ROBERTO GHELLERE, AGENOR PERON DORIGON, FRANCISCO MACHADO
MOTA, NILTON WERNKE, NACLETO TRES, JAIRO DOS ANJOS, GIOVANI AMBONI,
INÉSIO SIVIERO, JOSÉ AUGUSTO GHELLERE, JANAINA DE LUCCA, VALDECIR
TEIXEIRA, SONIA SEVERIANO LEITE, EMERSON ALEX KEMPA, CESAR AUGUSTO
SCHOMMER, MARCELO MARTINS DE CASTRO, JORGE MONTEIRO; CRISTINA
BEATRIZ MARQUES, CLEVERSON LUIZ PIES, WAGNER GHELLERE nas demais
penalidades previstas art. 12, I, em decorrência da prática das condutas descritas no art.
9º, caput e inciso XI, ambos da Lei nº 8.429/92, cujas penas devem ser aplicadas mediante
critérios de proporcionalidade, conforme já explicitado;
b) em cumulação imprópria subsidiária, não sendo aceito o pedido
contido na letra anterior, sejam todos os requeridos condenados pela prática das
condutas descritas no art. 10, caput, incisos I, IX e XI, c.c. art. 12, II, todos da Lei nº
8.429/92; e
c) por fim, não sendo aceito nenhum dos pedidos acima realizados, em
cumulação imprópria subsidiária de pedidos, sejam todos os requeridos condenados
pela prática das condutas descritas no art. 11, caput, inciso I, c.c. art. 12, III, todos da Lei
nº 8.429/92.
9.4 – Seja declarada a nulidade de todos os atos concessivos de
diárias realizados entre os anos de 2009/2012, compreendidos nesta ação, nos termos
do art. 25, IV, “b”, da Lei 8.625/93;
9.5 – Sejam, ainda, os requerentes condenados a ressarcir os danos
morais coletivos, com fundamento no item VI desta inicial, em CINCO VEZES O DANO
Eduardo Labruna Daiha Promotor de Justiça
PATRIMONIAL CAUSADO AO ERÁRIO, LEIA-SE, R$ 5.001.740,45 (CINCO MILHÕES,
MIL SETECENTOS E QUARENTA REAIS E QUARENTA E CINCO CENTAVOS).
10 – sejam os requeridos condenados ao ônus de sucumbência e
demais cominações legais;
11 – sejam enviadas cópias desta lide ao Nobre Tribunal de Contas
do Estado do Paraná e à Câmara Municipal de São Miguel do
Iguaçu para ciência e a tomada de providências que entenderem
necessárias.
VIII – VALOR DA CAUSA
Dá-se à causa o valor de R$ 6.002.088,54 (seis milhões, dois mil e
oitenta e oito reais e cinquenta e quatro centavos)
São Miguel do Iguaçu, 03 de agosto de 2012.
Eduardo Labruna Daiha
Promotor de Justiça
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