dissertação final rodrigo vieira campos · ... institucional na gestão de uma escola técnica do...
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CENTRO ESTADUAL DE EDUCAO TECNOLGICA PAULA SOUZA
UNIDADE DE PS-GRADUAO, EXTENSO E PESQUISA
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTO E DESENVOLVIMENTO DA
EDUCAO PROFISSIONAL
RODRIGO VIEIRA CAMPOS
Implicaes da avaliao institucional na gesto de uma escola tcnica do Centro Paula
Souza: um estudo de caso
So Paulo
Maro/2018
RODRIGO VIEIRA CAMPOS
Implicaes da avaliao institucional na gesto de uma escola tcnica do Centro Paula
Souza: um estudo de caso
Dissertao apresentada como exigncia
parcial para a obteno do ttulo de Mestre em
Gesto e Desenvolvimento da Educao
Profissional do Centro Estadual de Educao
Tecnolgica Paula Souza, no Programa de
Mestrado Profissional em Gesto e
Desenvolvimento da Educao Profissional,
sob a orientao da Profa. Dra. Ivanete Bellucci
Pires de Almeida
So Paulo
Maro/2018
BIBLIOTECA NELSON ALVES VIANA FATEC-SP / CPS
Campos, Rodrigo Vieira
C198i Implicaes da avaliao institucional na gesto de uma escola tcnica do Centro Paula Souza: um estudo de caso / Rodrigo Vieira Campos. So Paulo : CPS, 2018.
123 f.
Orientadora: Profa. Dra. Ivanete Bellucci Pires de Almeida Dissertao (Mestrado Profissional em Gesto e
Desenvolvimento da Educao Profissional) - Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza, 2018.
1. Educao profissional e tecnolgica. 2. Avaliao
institucional. 3. Gesto escolar. I. Almeida, Ivanete Bellucci Pires de. II. Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza. III. Ttulo.
Elaborado por: Iris de Lima Muniz CRB-8281
RODRIGO VIEIRA CAMPOS
Implicaes da avaliao institucional na gesto de uma escola tcnica do Centro Paula
Souza: um estudo de caso
Profa. Dra. Ivanete Bellucci Pires de Almeida
Profa. Dra. Sueli Soares dos Santos Batista
Profa. Dra. Mrcia Aparecida Amador Mascia
So Paulo, 27 de Maro de 2018
minha famlia e Juliana Cunha, com carinho
6
AGRADECIMENTOS
minha orientadora, prof. Dra. Ivanete Bellucci Pires de Almeida, que aceitou minha proposta inicial de pesquisa, tornando possvel meu ingresso no programa de mestrado do Centro Paula Souza. Sempre paciente, promoveu profundas reflexes sobre o tema do meu trabalho, contribuindo de diversas formas com minha formao como pesquisador. s professoras doutoras Sueli Soares dos Santos Batista e Mrcia Aparecida Amador Mascia, por comporem as bancas de qualificao e de defesa deste trabalho, ressaltando seus pontos fortes e propondo complementaes e correes, enriquecendo a pesquisa. A todos os professores do programa de mestrado profissional em Gesto e Desenvolvimento da Educao Profissional do Centro Paula Souza, que contriburam, cada um sua maneira, com meu aprendizado e caminho at aqui. Aos colegas de turma, por compartilharem experincias, conhecimentos e dicas, tornando nossa caminhada mais agradvel. Ao Centro Paula Souza, pelas diversas oportunidades oferecidas, tanto no mbito profissional quanto no de formao acadmica, alm de ter sido objeto de estudo desta dissertao. direo e coordenao pedaggica da escola estudada, pela abertura e participao no estudo de caso. minha famlia e amigos, pela pacincia, compreenso, inspirao e motivao para a concluso desta formao.
7
RESUMO
CAMPOS, R. V. Implicaes da avaliao institucional na gesto de uma escola tcnica do
Centro Paula Souza: um estudo de caso. 123f. Dissertao (Mestrado Profissional em Gesto
e Desenvolvimento da Educao Profissional). Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula
Souza, So Paulo, 2018.
Justifica-se este trabalho pelo caminho traado por este pesquisador em sua carreira docente no CEETEPS desde 2012, ministrando disciplinas no curso tcnico de nvel mdio em informtica e participando ativamente dos processos de avaliao da unidade pesquisada, sendo professor respondente e estruturando a logstica para utilizao dos laboratrios de informtica em pocas de avaliao. Este trabalho teve o objetivo de investigar como os resultados provenientes do Sistema de Avaliao Institucional (Web-SAI) do Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza (CEETEPS) so utilizados pela equipe de gesto de uma de suas escolas tcnicas. Para tanto, foi feita uma reviso de literatura sobre as reas de avaliao institucional e gesto escolar, enfatizando suas formas democrticas. A metodologia utilizada foi a qualitativa, exploratria e o procedimento tcnico foi o estudo de caso. Foi feita uma anlise do Projeto Poltico Pedaggico e do Plano Plurianual de Gesto da unidade estudada, buscando evidenciar o uso dos resultados da avaliao supracitada, nestes documentos. Buscando uma viso complementar da unidade de ensino, foi enviado direo e coordenao pedaggica da escola, um questionrio composto por 6 perguntas abertas a respeito da percepo destes profissionais sobre o Web-SAI, o uso de seus resultados e questes gerais sobre avaliao institucional. Notou-se pouca aderncia entre a fala da equipe gestora e o contedo dos documentos institucionais, no podendo ser explicitado o uso das avaliaes nos planos e projetos analisados. Entretanto, analisando as respostas obtidas pela equipe de gesto, foi constatado que os dados provenientes do sistema de avaliao so importantes indicadores para a escola, servindo como norteadores dos trabalhos pedaggicos, uma vez que contribuem com dados censitrios dos alunos, sendo ainda, um importante canal para crticas e sugestes, fundamentais ao se buscar a melhoria contnua e melhor adequao do espao s atividades sociais.
Palavras-chave: Educao Profissional e Tecnolgica. Avaliao Institucional. Gesto Escolar.
ABSTRACT
CAMPOS, R. V. Implications of the institutional evaluation in the management of a
technical school of the Centro Paula Souza: a case study. 123f. Dissertao (Mestrado
Profissional em Gesto e Desenvolvimento da Educao Profissional). Centro Estadual de
Educao Tecnolgica Paula Souza, So Paulo, 2018.
This work is justified by the trajectory traced by this researcher in his teaching career at CEETEPS since 2012, teaching disciplines in the technical course of high school level in information technology and actively participating in the evaluation processes of the researched unit, being a teacher respondent and structuring the logistics for use of computer laboratories at times of evaluation. This work had the objective to investigate how the results from the Institutional Evaluation System (Web-SAI) of the Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza (CEETEPS) are used by the management team of one of its technical schools. For that, a review of the literature on the areas of institutional evaluation and school management was done, emphasizing its democratic forms. The methodology used was qualitative, exploratory and the technical procedure was the case study. An analysis was made of the Political Pedagogical Project and the Pluriannual Plan of Management of the studied unit, seeking to evidence the use of the results of the evaluation, in these documents. Looking for a complementary vision of the teaching unit, a questionnaire composed of 6 open questions about the perception of these professionals about the Web-SAI, the use of their results and general questions about institutional evaluation was sent to the direction and pedagogical coordination of the school. There was little adherence between the management team's speech and the content of the institutional documents, and the use of the evaluations in the plans and projects analyzed could not be made explicit. However, analyzing the answers obtained by the management team, it was verified that the data coming from the evaluation system are important indicators for the school, serving as guides of the pedagogical works, since they contribute with census data of the students, being an important channel for criticism and suggestions, fundamental when seeking continuous improvement and better adaptation of space to social activities.
Keywords: Professional and Technological Education. Institutional Evaluation. School
Management.
LISTA DE SIGLAS
AAI Assessoria de Avaliao Institucional
CEE Conselho Estadual de Educao
CEETEPS Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza
CEI Centro Interescolar
CETEC Coordenadoria de Ensino Tcnico
CFE Conselho Federal de Educao
CP Coordenao Pedaggica
CPS Centro Paula Souza
DISAETE Diviso de Superviso e Apoio s Escolas Tcnicas Estaduais
DOE Dirio Oficial do Estado
EESG Escola Estadual de Segundo Grau
ETAE Escola Tcnica Agrcola Estadual
ETE Escola Tcnica Estadual
ETEC Escola Tcnica
ETIM Ensino Tcnico Integrado ao Mdio
FATEC Faculdade de Tecnologia
FIPE Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas
FMI Fundo Monetrio Internacional
GEAGRI Grupo Executivo de Trabalho do Ensino Agrcola
IF Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
PAIUB Programa de Avaliao Institucional das Universidades Brasileiras
PPG Plano Plurianual de Gesto
PPP Projeto Poltico Pedaggico
SAI Sistema de Avaliao Institucional
SINAES Sistema Nacional de Avaliao da Educao Superior
TCC Trabalho de Concluso de Curso
UE Unidade de Ensino
UNESP Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho
SUMRIO
INTRODUO ...................................................................................................................... 11
CAPTULO 1 - O CENTRO ESTADUAL DE EDUCAO TECNOLGICA PAULA
SOUZA ................................................................................................................................... 16
1.1 Caracterizao da escola estudada ........................................................................ 19
1.2 O Web-SAI .............................................................................................................. 23
CAPTULO 2 - AVALIAO INSTITUCIONAL ............................................................. 30
2.1 Educao e qualidade ............................................................................................. 30
2.2 Avaliao formativa ................................................................................................ 33
2.3 Avaliao e controle ............................................................................................... 34
CAPTULO 3 - GESTO E POLTICAS NA EDUCAO ESCOLAR ........................ 38
3.1 Influncias neoliberais em polticas pblicas ......................................................... 38
3.2 A passagem do termo administrao para gesto .................................................. 40
3.3 A organizao escolar ............................................................................................ 43
3.4 Cultura organizacional ........................................................................................... 45
3.5 Concepes de organizao e de gesto escolar.................................................... 46
3.6 Concepo democrtico-participativa ................................................................... 48
CAPTULO 4 - RESULTADOS E DISCUSSES .............................................................. 51
4.1 Anlise do PPP e PPG da escola estudada ............................................................ 51
4.2 Anlise das respostas obtidas por meio do questionrio ....................................... 58
CONSIDERAES FINAIS ................................................................................................. 64
REFERNCIAS...................................................................................................................... 68
ANEXOS.................................................................................................................................. 71
11
INTRODUO
A avaliao institucional um importante instrumento em organizaes dos mais
variados fins, destacando-se a apropriao de seus resultados e a ao de observar se esto
alinhados s expectativas e metas previamente estipuladas. Com base nesses resultados, os
gestores podem tomar a deciso de manter sua estratgia, repens-la ou redefini-la. Para as
instituies de ensino, especificamente, cada mudana praticada pela equipe gestora pode levar
algum tempo para mostrar mudanas consistentes. Soma-se a isto, o entendimento de que um
simples aumento no resultado final de um instrumento de avaliao no basta para afirmar se
houve alguma melhoria na qualidade da educao, sendo necessria tambm, a utilizao de
outras abordagens, prioritariamente as de cunho qualitativo.
Desse modo, a avaliao de instituio pblica tem como objetivo, a prestao de contas
sociedade. Tal fato pode ser conflitante com os interesses bsicos deste processo j que, mais
conveniente do que aperfeioar os mtodos e atividades da instituio, para alguns gestores ou
governantes, passa a ser mais importante apresentar bons resultados, descaracterizando sua
funo formativa e reduzindo todo o processo avaliativo ao resultado.
A avaliao pode, ainda que de forma questionvel, oferecer seus resultados para
bonificar os profissionais ou instituies que alcanaram ou superaram metas previamente
definidas, a fim de motivar estes a conquistarem seus objetivos e gratificar os que obtiverem
xito nesta tarefa. Tal aplicao deve ser discutida e questionada pois, corre-se o risco de se
reduzir o processo de avaliao ao ato de bonificar ou no um funcionrio ou instituio,
deixando de lado seu objetivo maior, que a melhoria na qualidade dos servios prestados. A
lgica da bonificao mascara, ainda, um lado perverso: o ato de no bonificar a escola que no
alcanou as metas passa a ser uma punio comunidade escolar, gerando desapontamentos e
desengajando a equipe, efeito contrrio proposta inicial.
Quantificar a eficincia de uma Escola Tcnica Estadual (ETEC) do Centro Estadual de
Educao Tecnolgica Paula Souza (CEETEPS) no tarefa simples, visto que esta pode atuar
em trs linhas: o ensino mdio regular (propedutico), o ensino tcnico (concomitante ou
subsequente) ou ainda uma modalidade que une as duas modalidades anteriormente citadas,
chamado de ensino tcnico integrado ao mdio (ETIM). Alguns parmetros funcionam bem
para uma modalidade de curso, mas no tem grande relevncia em outros, ou seja, utilizar
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apenas critrios avaliativos para uma escola de ensino mdio ou apenas para uma escola
profissionalizante, por vezes, no se mostra adequado, visto que cada modalidade carrega em
si, caractersticas diferentes. Os propsitos do ensino mdio diferem do ensino tcnico e, para
alguns pesquisadores, so at antagnicos, sendo, tanto os critrios de avaliao educacional
quanto os institucionais, diferentes.
So diversos os instrumentos avaliativos a que uma ETEC submetida. Dentre os mais
relevantes e consolidados esto o Sistema de Avaliao Institucional (SAI), o Observatrio
Escolar e auditorias externas feitas por empresas especializadas. Dentre esses, destaca-se em
nossa pesquisa o SAI, atualmente disponibilizado via internet, que estabelece a participao de
todos os integrantes da comunidade escolar: alunos, professores, coordenadores, diretor, pais e
alunos egressos. Esse sistema de avaliao, criado em 1997 pela rea de avaliao institucional
do Centro Paula Souza (CPS), foi aprimorado com o tempo e utilizado ininterruptamente at os
dias de hoje, com exceo do ano de 2015, que, por questes financeiras e operacionais, no foi
aplicado. A infraestrutura, tabulao dos dados e tratamento estatstico so feitos pela Fundao
Instituto de Pesquisas Econmicas (FIPE) de So Paulo.
Com o intuito de colher a opinio do maior nmero de pessoas no mbito escolar, pontos
como infraestrutura, limpeza, adequao do ambiente para a prtica do ensino entre outros, so
abordados. Uma grande mobilizao na unidade escolar estabelecida, afim de oferecer a todos,
a oportunidade de registrar sua opinio a respeito dos pontos acima mencionados. Destacam-
se, como consequncia de tal mobilizao, a interrupo de algumas aulas para o preenchimento
do questionrio em laboratrios de informtica, remanejamento de atividades, conscientizao
dos envolvidos sobre importncia da avaliao escolar e contato com ex-alunos e pais. ,
portanto, um perodo atpico na unidade, com durao de dois meses, o que exige pacincia dos
envolvidos. Tal atividade ocorre no final do ano letivo, junto s avaliaes finais das disciplinas,
entregas de trabalhos de concluso de curso (TCCs) e vestibulares.
Entendendo que este sistema de avaliao institucional demanda um esforo
relativamente alto da unidade escolar e que a operacionalizao deste instrumento complexa
e custosa, surge o interesse por parte do pesquisador, de analisar como os dados provenientes
do SAI so utilizados pela equipe de gesto da escola pesquisada, afim de contribuir para a
melhoria na qualidade dos servios prestados e colaborar com a tomada de decises mais
democrticas, uma das premissas da gesto das ETECs. Para tanto, foram analisados os
principais documentos que conduzem os trabalhos da escola tcnica pesquisada: o Plano
Plurianual de Gesto (PPG 2015-2019) e o Projeto Poltico Pedaggico (PPP).
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Justifica-se este trabalho pelo caminho traado por este pesquisador em sua carreira
docente no CPS desde 2012, ministrando disciplinas no curso profissional tcnico de nvel
mdio em informtica e participando ativamente dos processos de avaliao da unidade
pesquisada, sendo professor respondente e coordenador da logstica para utilizao dos
laboratrios de informtica em poca de avaliao.
A fundamentao terica norteadora deste trabalho baseou-se em livros, artigos e teses
de doutorado que tratam da avaliao institucional e da gesto escolar, destacando-se Jos Dias
Sobrinho, Luiz Carlos de Freitas, Isaura Belloni e Sueli Rodrigues, autores que fundamentaram
os processos de avaliao no pas e Benno Sander, Jos Carlos Libneo, Vitor Henrique Paro e
Marta Leandro da Silva, que teorizam os caminhos da gesto escolar nacionalmente e defendem
a concepo de administrao democrtico-participativa.
A metodologia e o caminho desvelado durante este percurso esto intrinsicamente
ligados s aplicaes do SAI, ao caminho do pesquisador como docente e ainda, dessa formao
atual, buscando novos horizontes e olhares para a avaliao institucional e a gesto de forma
participativa e em formao de um pesquisador em vias de aprendizado.
A sugesto de trabalho de pesquisa, inicialmente apresentada para o programa de
mestrado, cujo trabalho final esta dissertao, teve poucas alteraes ao longo de seu
desenvolvimento. Contudo, cursando as disciplinas do programa de mestrado em educao
profissional do Centro Paula Souza, foi possvel repensar antigas concepes e convices,
carregadas de senso comum, sobre as bases do grupo de pesquisa de polticas pblicas, no qual
este trabalho est inserido. H tempos, tenho interesse na investigao do uso da avaliao para
proporcionar alguma melhoria na qualidade de unidades escolares, j que estas passam, diversas
vezes ao longo do ano, por sistemas de avaliao, no sendo facilmente percebidas mudanas
no ambiente organizacional, uma vez que as alteraes no campo da educao demandam
tempo para serem percebidas.
A proposta desta pesquisa investigar o uso dos resultados do sistema de avaliao
institucional das ETECs pelos gestores da unidade, a fim de saber como esses resultados
colaboram para a gesto escolar. Para tanto, foi feita uma reviso de literatura sobre os temas
avaliao institucional e gesto escolar, que fundamentam este trabalho. Considerou-se
importante saber do diretor escolar e da coordenao pedaggica, como estes veem os processos
de avaliao escolar e como utilizam seus resultados. Para tanto, foi elaborado um questionrio
com 6 perguntas abertas, a respeito da gesto escolar e do uso de pesquisas que avaliam a
satisfao de professores e alunos com a unidade escolar. Este questionrio, que se encontra no
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Anexo B, foi encaminhado para a direo e coordenao pedaggica da escola estudada e suas
respostas foram analisadas luz do recorte bibliogrfico aqui apresentado e da anlise dos
documentos institucionais: Plano Plurianual de Gesto e Projeto Poltico Pedaggico (Anexo
A).
O mtodo de pesquisa empregado foi o qualitativo e, baseando-se nos objetivos gerais
deste trabalho, foi classificado como exploratrio, j que, para GIL (2002, p. 41), este tipo de
pesquisa tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a
torn-lo mais explcito ou a constituir hipteses. Pode-se dizer que estas pesquisas tm como
objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuies. Os procedimentos
tcnicos utilizados foram a anlise documental e o estudo de caso. Para GIL (2002), a anlise
documental possui diversas vantagens, j que os documentos so fontes ricas e estveis de
dados, alm de serem uma importante fonte de dados em uma pesquisa de natureza histrica.
Alm disso, o custo da pesquisa se mostra favorvel, uma vez que exige do pesquisador, apenas
disponibilidade de tempo. Por fim, tal procedimento pode complementar uma entrevista, j que
os documentos no so prejudicados pelas circunstncias que envolvem o contato pessoal,
sendo fonte estvel para pesquisas.
O estudo de caso, segundo GIL (2002), uma modalidade de pesquisa amplamente
utilizada nas cincias sociais. Consiste no estudo profundo de um ou poucos objetos, de maneira
que permita seu amplo e detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossvel mediante
outros delineamentos j considerados. A adoo deste procedimento de pesquisa se mostra
aderente a este trabalho, j que se deseja estudar apenas uma localidade, desvelando sua
essncia. No h a pretenso, com base nos estudos desta pesquisa, de generalizar afirmaes
a respeito de suas descobertas, uma vez que o carter desta pesquisa a investigao de
singularidades. Entretanto, caractersticas observadas nestas duas unidades escolares, podem
tambm aparecer em outras, da mesma instituio.
A dissertao est estruturada em 4 captulos:
O Captulo 1 foi dedicado s apresentaes do Centro Estadual de Educao
Tecnolgica Paula Souza, da escola objeto de estudo e do Sistema de Avaliao Institucional
Web-SAI.
O Captulo 2 foi dedicado reviso de literatura sobre avaliao institucional e sua
relao com a melhoria na qualidade, formao e aprimoramento das organizaes escolares.
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Foi destacada tambm a utilizao temerria das avaliaes como ferramentas de controle por
governos e rgos superiores.
O Captulo 3 apresenta uma reviso de literatura sobre gesto e polticas na educao
escolar, expondo impactos da influncia neoliberal nas polticas pblicas, apresentando a
estrutura organizacional e cultura escolar, alm de apresentar as diversas concepes de gesto
escolar, enfatizando as de cunho participativo.
No Captulo 4 so apresentados os resultados da pesquisa, provenientes da anlise
documental e de questionrio respondido pela direo e coordenao pedaggica da escola
observada, discutindo-se limites e possibilidades no mbito da utilizao dos resultados do
Web-SAI.
Por fim, so apresentadas as consideraes finais sobre a pesquisa, indicando seus
limites e sugestes para futuros trabalhos acadmicos.
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CAPTULO 1 O CENTRO ESTADUAL DE EDUCAO TECNOLGICA PAULA
SOUZA
Este captulo apresenta ao leitor o Centro Paula Souza, autarquia estadual de So Paulo
que administra as faculdades de tecnologia (FATECs) e escolas tcnicas (ETECs) estaduais
pblicas, sendo uma dessas escolas o locus desta pesquisa. Destacam-se as origens desta
organizao, momento poltico-histrico vivido no pas no momento de sua criao e sua
finalidade social. O texto segue, apresentando a escola analisada, buscando mostrar suas
peculiaridades, porte e os diversos tipos e estilos de cursos oferecidos. Por fim, o texto expe o
sistema de avaliao institucional criado e utilizado pelo Centro Paula Souza para examinar
diversas questes da organizao escolar, sob os pontos de vista dos funcionrios
administrativos, professores, alunos e egressos.
O Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza carrega em si grande
relevncia histrica no mbito da educao profissional e tecnolgica no pas, uma vez que
considerada a maior rede pblica de educao profissional da Amrica Latina. Teve seu incio
a partir de discusses em torno da educao tecnolgica no Estado de So Paulo no comeo da
dcada de 1960, sendo oficialmente criado em 1969. Em 1968, amparado pela reforma
universitria guiada pela Lei Federal 5540/68, o governo do Estado, por meio da Resoluo n
2001/68, criou um grupo de trabalho para estudar a viabilidade da oferta de cursos superiores
de tecnologia no Estado de So Paulo (SILVA, 2008).
O Centro Paula Souza surge ento no bojo da reforma do ensino industrial paulista, por
meio da promulgao da Lei Estadual n 6.052 de 1961, que teve por base a Lei Federal n
4.054 do mesmo ano. Criado na gesto do governador Roberto Costa de Abreu Sodr, o ento
Centro de Educao Tecnolgica de So Paulo (CEET) assume a condio de entidade
autrquica, com personalidade jurdica e patrimnio prprio, com sede e foro na cidade de So
Paulo, vinculada administrativamente naquele momento Secretaria de Estado dos Negcios
da Educao e, financeiramente, Secretaria da Fazenda (SILVA, 2008).
Segundo o Decreto-Lei s/n, de 6 de outubro de 1969, a criao dessa autarquia tinha por
finalidade a articulao, a realizao e o desenvolvimento da educao tecnolgica, nos graus
de ensino mdio e superior, devendo para isso:
I - Incentivar ou ministrar cursos de especialidades correspondentes s necessidades e
caractersticas dos membros de trabalho nacional e regional, promovendo experincias e novas
modalidades educacionais, pedaggicas e didticas, bem como o seu entrosamento com o
trabalho;
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II - Formar pessoal docente destinado ao ensino tcnico, em seus vrios ramos e graus,
em cooperao com as universidades e institutos isolados de ensino superior que mantenham
cursos correspondentes de graduao de professores;
III - Desenvolver outras atividades que possam contribuir para a consecuo de seus
objetivos (SO PAULO, 1969).
Em 1970 foi autorizada a instalao e o funcionamento dos primeiros Cursos de
Tecnologia do CPS, expedidos pelo Conselho Estadual de Educao de So Paulo, atravs do
Parecer CEE/SP n 50/70, que enfatizava a relevncia do tecnlogo. Segundo Silva (2008), esse
parecer assegurava que o tecnlogo poderia preencher o espao existente entre o engenheiro e
a mo de obra especializada, ou seja, seria o elo entre o engenheiro ou cientista com o
trabalhador especializado. Para tanto, este profissional deveria saber resolver problemas
especficos e de aplicao imediata ligados vida industrial.
A iniciativa pela oferta da educao tecnolgica pblica pela Faculdade de Tecnologia
de So Paulo (FATEC/SP) foi considerada um sucesso, conforme anlise de Silva (2008) sobre
o Parecer CFE n 1.060/73, que dizia que esta instituio produziu bons resultados. Os cursos
superiores de tecnologia, ministrados pela FATEC/SP, seriam legalmente reconhecidos em
1974, pelo Decreto Federal n 74.708. Em janeiro de 1976 o Governo do Estado de So Paulo
criou, mediante a Lei Estadual n 952/76, a Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita
Filho, transformando o CPS, nos termos do seu Artigo 15, em uma autarquia de regime
especial vinculada e a ela associada (SILVA, 2008).
Em 1983, durante o mandato de Franco Montoro e Paulo Tarso dos Santos como
secretrio estadual de avaliao, foi constitudo um importante canal de participao: o Frum
de Educao do Estado de So Paulo, em que o ensino tcnico de So Paulo foi o tema central
do encontro.
Segundo a Prof. Lourdes Marcelino Machado:
O documento base da Associao dos Professores do Ensino Oficial do Estado de So Paulo APEOESP- apontava para o Histrico do Movimento dos Professores das Escolas Tcnicas. Documento: denncia que discutia a transferncia de seis escolas tcnicas para o Centro Paula Souza, da UNESP, no apagar das luzes da gesto Ferreira Martins, e a seguir as propostas aprovadas em dois Encontros de Escolas Tcnicas da rede pblica do Estado de So Paulo. Em relao administrao das escolas, a reivindicao era a de criao de uma Coordenadoria do Ensino Profissionalizante. (MACHADO, 1992, p. 81).
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Em 1984, foi criado o Grupo Executivo de Trabalho do Ensino Agrcola (GEAGRI). No
mbito do Estado de So Paulo, em 1985 criou-se a Diviso de Superviso e Apoio s Escolas
Tcnicas Estaduais (DISAETE), com a responsabilidade de administrar as escolas tcnicas
industriais e agrcolas, assim o fazendo at 1991 (SILVA, 2008).
A autora aponta que em 1991, teve incio o quarto ciclo de evoluo histrica do Ensino
Tcnico Agrcola, ou seja, constata-se sua quarta transferncia compulsria, mediante Decreto
Estadual n 34.032/91, de 22 de outubro, para uma nova Secretaria Estadual. Este Decreto
determinava a transferncia da DISAETE, com as suas escolas, da Secretaria da Educao para
a Secretaria de Cincia, Tecnologia e Desenvolvimento Econmico.
Silva (2008) destaca que as Escolas Tcnicas Estaduais foram novamente transferidas,
atravs do Decreto Estadual n 37.735/93, agora para o CEETEPS, cujo documento
considerava, dentre as justificativas, a importncia de reunir em rede nica as Escolas Tcnicas
Estaduais para fins de fixao de uma poltica de atuao com relao a esse ensino, conforme
preceito constitucional; como tambm o fato do CEETEPS, autarquia de regime especial,
vinculada e associada Universidade Estadual Paulista Jlio Mesquita Filho- UNESP, ter
sido criado pelo Decreto-lei de 6 de outubro de 1969, justamente com a finalidade de manter o
ensino tcnico e tecnolgico. (SO PAULO, 1993).
O artigo 1 do Decreto supracitado determinava a transferncia de todas as Escolas
Tcnicas Estaduais (tanto as Agrcolas, como as Industriais), a partir de primeiro de janeiro de
1994, conforme Anexos I e II do respectivo decreto, respectivamente, da Secretaria da Cincia,
Tecnologia e Desenvolvimento Econmico e da Secretaria da Educao para o Centro Estadual
de Educao Tecnolgica Paula Souza CEETEPS. (SO PAULO, 1993).
Em 1995, por fora da Resoluo Unesp-63, de 30/08/1995, publicada em 31/08/1995,
que altera dispositivos do Regimento Geral da Universidade Estadual Paulista Jlio de
Mesquita Filho, ficam determinadas as condies de vinculao do Centro Estadual de
Educao Tecnolgica Paula Souza. Conforme Artigo 60-A, o Centro Paula Souza tem por
finalidade a articulao, a realizao e o desenvolvimento do conhecimento tecnolgico, nos
nveis superior e mdio do ensino, da pesquisa e da extenso de servios comunidade e suas
formas de atuao constam em seu Regimento. O Artigo 60-B determina, por sua vez, que a
organizao do CEETEPS obedeceria s diretrizes:
I - Planejamento da instituio visando a atender s necessidades tcnicas e tecnolgicas
nacionais;
II - Integrao entre seus rgos e unidades de ensino de modo a garantir unidades de
ao institucional;
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III - estruturao de ensino, de modo a garantir unidade de ao institucional;
IV - Integrao dos cursos de nvel superior e mdio afins, quando no mesmo Campus,
com vistas racionalizao do uso de recursos humanos e materiais;
V - Integrao das atividades de ensino, pesquisa e extenso de servios comunidade;
VI - Descentralizao administrativa;
VII - Participao do corpo docente, do corpo discente e do corpo tcnico-administrativo
nos rgos colegiados;
VIII - Unidade de patrimnio e administrao (SO PAULO, 1995).
Aps um vigoroso perodo de expanso, que compreendeu o perodo de 2001 a 2009, o
Centro Paula Souza multiplicou suas vagas, tanto no ensino mdio/tcnico quanto no ensino
superior. Tais esforos para aumentar a capilaridade de sua rede contriburam para a expanso
da educao profissional pblica no Estado de So Paulo e com isso, parcelas menos
favorecidas da populao tiveram a oportunidade de ingressar e realizar cursos gratuitos e de
qualidade. Vale destacar que, mesmo com sua larga expanso, as unidades vinculadas ao CPS
tm direcionado seus esforos para se estabelecer como instituies slidas em termos
administrativos e acadmicos, o que inclui o envolvimento das comunidades interna e externa,
em sua melhoria contnua.
Espalhadas por 296 municpios do Estado, o CPS possua at o final de 2016 221 escolas
tcnicas e 68 faculdades de tecnologia, atendendo cerca de 213 mil alunos no ensino
mdio/tcnico e 77 mil no ensino superior. Conta com aproximadamente 13 mil professores e
5 mil funcionrios acadmicos e administrativos. Sua estrutura acadmica compreende a
superintendncia (reitoria) e trs unidades de ensino (pr-reitorias): unidade de ensino de ps-
graduao, extenso e pesquisa; unidade de ensino de graduao; unidade de ensino mdio e
tcnico (PETEROSSI; MENINO, 2017).
1.1 Caracterizao da escola estudada
Para o estudo de caso proposto neste trabalho, foi escolhida uma escola tcnica
pertencente ao Centro Paula Souza. Esta uma das escolas na qual este pesquisador docente,
exercendo suas funes desde 2012 e, desde 2014, exercendo tambm a funo de responsvel
pelos laboratrios de informtica. A escolha desta unidade escolar, portanto, se deu por
convenincia.
20
Segundo site institucional da escola, esta foi inicialmente instalada no bairro da Mooca,
sendo transferida em 1963, sob o Ato n 24, para as instalaes definitivas e atuais, no bairro
da Casa Verde, zona norte de capital paulista. Em 1964, com a mudana no ensino profissional,
a escola passa a ter a denominao de Ginsio Industrial Estadual. A partir de 1970, pelo decreto
n 52.499, foram estruturados os cursos de mecnica no Estado de So Paulo e, no mesmo
prdio do Ginsio, foi instalado o Colgio Tcnico Industrial.
Em 1974, nos termos da lei 421, a unidade escolar passou a denominar-se Escola
Estadual de Segundo Grau (EESG) Professor Miguel Oliveira Feitosa, com ensino exclusivo
de 2 Grau, ficando sob a responsabilidade do Ginsio Industrial, o ensino do 1 grau.
Em 1975, fundiram-se as duas escolas, passando em 1976 a denominar-se Centro
Interescolar (CEI), com classes de 1 e 2 graus completos e profissionalizantes.
Pelo decreto de 28 de janeiro de 1978 o CEI muda novamente de nome e passa a ser
chamado de Escola Estadual de 2 Grau. Com a publicao em DOE de 22 de junho de 1985,
conforme resoluo SE 120, a escola passa a denominar-se Escola Tcnica Estadual de 2 Grau.
Desde a mudana do ltimo nome, a escola desvinculou-se da Diretoria Regional de Ensino da
Capital 1 (DRECAP-1), passando a ser subordinada, quanto aos recursos financeiros,
DISAETE.
Em 1991, conforme decreto n 34.032 de 23 de outubro, a escola foi transferida da
Secretaria da Educao do Estado de So Paulo para a Secretaria da Cincia, Tecnologia e
Desenvolvimento Econmico, estando subordinada ento DEET (Diviso Estadual de Ensino
Tecnolgico). Em 1993, conforme decreto n 37.735 de 27 de outubro, a escola passa pelo
processo de transferncia para o CEETEPS, onde permanece at hoje.
A escola oferece atualmente comunidade, 4 modalidades de ensino: ensino mdio
regular (propedutico), ensino tcnico integrado ao mdio (ETIM) de eletrnica, Programa
VENCE (parceria entre Escolas Estaduais e ETECs) com os cursos de servios jurdicos e de
administrao e ensino tcnico modular de eletrnica, informtica, administrao, hospedagem,
secretariado, comunicao visual, design de interiores e servios jurdicos. Tais cursos so
ofertados em sua unidade sede, no bairro da Casa Verde e em duas extenses: Mandaqui (zona
norte) e Pinheiros (zona oeste).
Por no ser um conceito trivial a todos os leitores, principalmente os que no atuam em
ETECs, considera-se importante explicar o conceito de escola sede e as extenses. Cada
escola tcnica, respeitando regras estipuladas pelo CPS, pode fechar acordos de parcerias com
21
uma ou mais escolas pblicas estaduais. O objetivo primrio desta relao utilizar a estrutura
fsica destas escolas estaduais, que ficam com salas de aula ociosas, principalmente no perodo
noturno, para oferecer cursos de nvel tcnico populao que mora longe de alguma ETEC,
proporcionando oportunidades de estudo para comunidades situadas em regies perifricas da
cidade. A escola tcnica, nessa parceria, passa a ser chamada ento de escola sede, uma vez
que esta lida com toda a parte burocrtica da parceria: rotinas administrativas e de secretaria,
planos de curso e de trabalho docente etc. denominada extenso, a escola estadual que
receber as aulas, normalmente no perodo noturno.
O programa VENCE, citado acima, uma das modalidades dessa parceria estadual
interescolar. So oferecidos cursos tcnicos integrados ao ensino mdio na escola estadual
regular. Os professores que ministram as aulas da parte tcnica so da ETEC sede e os
professores do ncleo comum (componentes curriculares do ensino mdio) so da extenso.
uma relao complexa, pois h gesto das duas escolas, ou seja, 2 diretores, 2 coordenadores
pedaggicos, 2 coordenadores de curso (um para a parte tcnica, outro para o ncleo comum),
alm dos professores serem regidos por legislao diferenciada entre si. Na prtica, percebe-se
uma certa disputa de poderes, atritos envolvendo questes salariais, dias letivos e horrio de
reunies.
Na Extenso Mandaqui, parceria com a Escola Estadual Professor Carlos de Laet,
oferecido o curso tcnico em servios jurdicos no perodo noturno e duas turmas de Ensino
Mdio Integrado ao Tcnico na rea de Administrao. Na Extenso Pinheiros, parceria com a
Escola Estadual Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, oferecido o curso
tcnico em servios jurdicos no perodo noturno e o ensino tcnico integrado ao mdio de
servios jurdicos.
O ensino mdio conta com cerca de 600 alunos regularmente matriculados em sua
unidade sede, alm de cerca de 900 alunos no ensino tcnico modular. Segundo o Plano
Plurianual de Gesto (PPG -2017) da unidade escolar, a maioria dos alunos que frequenta o
ensino mdio da escola mora na regio norte da capital, em bairros como Brasilndia, Vila
Cachoeirinha, Imirim, Freguesia do , Casa Verde, Limo, Parque Peruche, Mandaqui, Vila
Penteado, Horto Florestal e Santana, sendo que 24,83% dos alunos do ensino mdio so
provenientes de escolas pblicas e 75,17% de escolas particulares. 51,22 % dos alunos so do
sexo masculino e 48,78% do sexo feminino, com a maioria na idade entre 16 e 18 anos.
Segundo o PPG, o pblico do ensino tcnico mais heterogneo, estando na faixa etria
entre 16 e 30 anos. Apesar de a maioria dos alunos do perodo matutino e vespertino ser do
22
nvel socioeconmico considerado de classe mdia, parte dos alunos do perodo noturno
pertence classe mdia baixa. Em geral, os alunos esto empregados, muitos na condio de
estagirios em alguma empresa do ramo industrial, sendo o caso dos alunos de eletrnica, ou
do ramo hoteleiro, empresarial ou comercial (alunos da rea de gesto). 60% dos alunos so
provenientes da escola pblica, 58% se declararam de cor branca (opo disponvel via Web-
SAI) e a proporo entre alunos e alunas equivalente.
No captulo seguinte, ser apresentado o sistema de avaliao institucional do Centro
Paula Souza (Web-SAI), mostrando seu percurso, desde sua concepo e implantao, at os
dias atuais, j no formato online.
23
1.2 O WEB-SAI
Para Silva (2008), a avaliao institucional se apresenta como um importante
instrumento de gesto pblica, propiciando subsdios terico-metodolgicos para estabelecer
diretrizes no processo de elaborao, execuo e implementao da poltica educacional, bem
como para refletir sobre as condies operantes do prprio sistema de ensino. Diante disto,
destaca-se que as funes da avaliao tm que ser [...] compreendidas no contexto das
mudanas educacionais e das mudanas econmicas e polticas mais amplas (AFONSO, 2002,
p.19).
H tambm que se problematizar a dicotomia entre os enfoques de regulao/punio
versus avaliao como emancipao, como dito anteriormente por Belloni (1996), visto que a
avaliao uma atividade que afetada por foras polticas e que tem efeitos polticos
Como mencionado anteriormente, ocorre no ano de 1993 a transferncia, por meio do
Decreto Estadual n 37.735/93, das Escolas Tcnicas Estaduais (Agrcolas e Industriais), at
ento pertencentes Secretaria Estadual de Educao, para o CPS, vinculado Universidade
Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (UNESP) e jurisdicionado Secretaria de
Secretaria da Cincia e Tecnologia e Desenvolvimento Econmico. A Lei de Diretrizes e Bases
da Educao n 9394/96 reconfigura o cenrio educacional brasileiro, com profundas mudanas
na sistemtica de organizao, estruturao e funcionamento da educao profissional em todos
os seus nveis (bsico, tcnico e tecnolgico) que impactam de forma expressiva a gesto do
Ensino Tcnico e das Escolas Tcnicas Estaduais no Estado de So Paulo (Silva, 2008).
Segundo Silva (2008), o Centro Paula Souza, ao observar as demandas econmico-
produtivas e sociopolticas, as imposies contidas na LDB e a relevncia da educao
profissional nas polticas pblicas, atravs de sua Coordenadoria de Ensino Tcnico (CETEC),
estimulado a desenvolver, experimentalmente no ano de 1997, um projeto piloto de avaliao
institucional para as Escolas Tcnicas Estaduais, ento denominado TUIUI ESCOLA
NOTA 1000. Esse projeto buscava propiciar a implantao de um sistema de avaliao
institucional, fortalecer a cultura de avaliao e definir parmetros e indicadores que
viabilizassem a anlise do desempenho global da instituio. (SILVA, 2008, p. 141).
O projeto Tuiui deu origem ao Sistema de Avaliao Institucional das Escolas Tcnicas
Estaduais (SAI-ETE), hoje chamado de Web-SAI, que composto tambm pelo Sistema de
Acompanhamento de Egressos (SAIE), que tem o objetivo de avaliar a qualidade da formao
24
profissional oferecida pelas ETECs e acompanhar a insero de seus alunos no mercado de
trabalho.
Em entrevista realizada no ano de 2006 pela pesquisadora Dra. Marta Leandro da Silva,
a Coordenadoria da Assessoria de Avaliao Institucional (AAI) do CPS explicitou que o SAI
foi moldado de forma pioneira, pois no havia at ento (1997) nenhum modelo ou projeto de
avaliao institucional direcionado para a educao profissional que contemplasse seus
diversos nveis, e prioritariamente o ensino tcnico. Ressalte-se o imenso desafio que se
configurou ao receber como incumbncia do ento Diretor Superintendente do Centro Paula
Souza a determinao para a elaborao de um projeto de avaliao institucional para as
ETECs. Este fato demandou estudos e reflexes sobre as prticas da avaliao institucional na
educao superior, tambm emergentes.
Nesse aspecto, ainda conforme salienta a Coordenadora da AAI nessa mesma entrevista,
o referencial terico apreciado para a elaborao do SAI-ETE:
originou-se predominantemente dos modelos de avaliao das instituies de ensino superior, tanto de universidades estrangeiras como de experincias nacionais, com maior ateno para o modelo de avaliao institucional da UNICAMP. Dentre os autores referenciados figuram aqueles que participaram do Frum de Avaliao Institucional desenvolvido pelo Centro Paula Souza, no ano de 2002, a saber: Jos Dias Sobrinho, Marinilzes Moradillo Mello, Isaura Belloni, Bernadeti Gatti, entre outros (SILVA, 2008, p. 142).
O SAI est baseado no pressuposto de que o produto das ETECs deve atender s
aspiraes da comunidade escolar e da comunidade externa, constituda por representantes dos
diversos segmentos sociais (incluindo os empresrios), que indicaro os nveis de eficincia e
eficcia da instituio, determinando padres de desempenho ideal. (Projeto Tuiui-Escola
Nota 1000).
Portanto, o Projeto Tuiui- Escola Nota 1000 considerava inicialmente como objetivos:
1. definir padres de desempenho ideal das Escolas Tcnicas Estaduais (ETECs)
pertencentes ao Centro Paula Souza;
2. identificar o nvel de desempenho real de cada ETEC e de cada Habilitao Profissional
oferecida;
3. propiciar uma viso global do desempenho do Centro Paula Souza, promover a reflexo
nas ETECs e no CPS da melhoria da qualidade da formao profissional e de
aproximao sistemtica do desempenho real do ideal.
25
Silva (2008) destaca que prevalece a terminologia garantia de um padro de
qualidade, circunscrito e definido ao mbito de cada sistema de ensino (e de suas redes).
Entretanto no fica claro no mbito dos pressupostos terico-metodolgicos do SAI o que se
entende por qualidade na educao profissional, como tambm no se identifica
detalhadamente qual esse padro e ou medida de referncia no mbito desta rede de ensino.
O Projeto Tuiui, segundo levantamento de Silva (2008), passou por quatro momentos:
um projeto piloto, revalidao do projeto piloto, implantao do SAI e implementao do
processo. Inicialmente contava com uma equipe reduzida, sob a coordenao geral da
professora responsvel pela Assessoria de Avaliao Institucional, Roberta Froncillo, na poca
realocada da equipe de supervisores da Coordenadoria de Ensino Tcnico (CETEC). Os
recursos financeiros dispendidos na poca foram no valor de onze mil cento e setenta e quatro
reais e setenta e quatro centavos (R$ 11.174,74).
A metodologia utilizada no Projeto Tuiui buscou contemplar: 1) a avaliao do
processo; 2) a avaliao do produto; 3) o universo da amostragem.
A avaliao do processo considerou a anlise de dados institucionais obtidos nas
ETECs, como: ndices de evaso, reteno, assiduidade de docentes e discentes, dependncias
entre outros. Para a obteno dos dados referentes s aspiraes foi realizada pesquisas por
meio de questionrios especficos com pais, alunos e professores das ETECs para uma
amostragem inicial. Quanto avaliao do Produto, foram usados dados sobre egressos e dados
sobre satisfao, obtidos atravs da pesquisa junto a pais, alunos e entrevistas com empresrios.
Para obter os dados especficos sobre a situao dos egressos, foi realizada uma pesquisa no
final do referido ano letivo intitulada Estudos de Egressos (Silva, 2008).
Para a determinao do universo da amostragem para o Projeto Piloto, foram escolhidas
20% do total das ETECs e Escolas Tcnicas Agrcolas da poca, tendo por critrios:
a) A manuteno de habilitaes que atendem ao maior nmero de alunos;
b) Manuteno dos cursos com todas as sries/mdulos funcionando e;
c) Representao de todas as regies do Estado.
Para a amostra do corpo docente foram selecionados, aleatoriamente, 30% do total de
professores da escola. A amostra de pais foi composta por 30% de pais presentes reunio
marcada pela escola. Para decidir a amostra de alunos, foram escolhidas as 1, 3 e 4 sries dos
26
perodos diurno e noturno, de cada curso tcnico, para comporem a amostra dos alunos
escolhidos aleatoriamente. Conforme consta no documento do Projeto, segundo Silva (2008),
foi atribudo tratamento estatstico de 33% de frao amostral. O projeto considerou como
instrumentos de pesquisa, os dados institucionais, os questionrios especficos para cada
segmento (discentes, docentes, funcionrios), pais e as entrevistas com empresrios.
Para a tabulao de dados, Silva (2008) explica que foram usadas tabelas para diferentes
cruzamentos dos dados pesquisados, permitindo a realizao de uma anlise comparativa, com
atribuio de pontos ao desempenho real de cada ETEC. Essa tabulao dos dados ofereceria
os ndices de competncia de cada ETEC ou ETAE. Ainda dentro da Proposta do Projeto
Tuiui, a classificao das ETECs deveria promover, em cada escola, a reflexo e o estmulo
para atingir o desempenho ideal. Destaca-se que, conforme texto institucional do Projeto
Tuiui, o Centro Paula Souza determinaria os padres de qualidade, classificando cada Unidade
Escolar e o prprio Centro Paula Souza num determinado patamar, ou seja, para essa
classificao, o Centro Paula Souza determinaria padres de qualidade que, por sua vez,
refletiriam o Desempenho Ideal, que confrontado com o Desempenho Real, resultariam na
classificao de cada unidade escolar. O Web-SAI, para sua permanncia, necessita ser
alimentado coletiva e continuamente junto comunidade escolar.
Podemos notar ento, sob esta perspectiva, que tal sistema enfatiza a avaliao de
resultados, alm de se situar na racionalidade de mensurao de ndices e na comparao entre
unidades de ensino o que, para os autores que fundamentam este trabalho, uma prtica
equivocada, uma vez que est inserida aqui, a poltica de responsabilizao dos sujeitos e da
escola, pelo seu sucesso ou fracasso, desconsiderando o histrico social e econmico da regio.
Sob esta viso, a metodologia usada no Projeto Piloto, antecessor do Web-SAI, , para
Silva (2008) controversa e contrria aos princpios da avaliao institucional referendados no
extinto Programa de Avaliao Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB) como
tambm no SINAES, direcionados educao superior, em especial no que se refere aos
princpios de no premiao e no punio.
Tem-se assim, a elaborao e a implantao do Sistema de Avaliao Institucional do
Centro Paula Souza, cronologicamente, em quatro etapas:
1. Projeto TUIUI, em setembro de 1997, aplicado para uma amostra de 20% das escolas
e cursos das diferentes regies do Estado, a fim de mapear variveis e definir
instrumentos;
27
2. Validao do Projeto de 1997, que constituiu uma avaliao qualitativa dos dados
obtidos, a fim de implantar o SAI-ETE nas demais Escolas Tcnicas do Centro Paula
Souza;
3. Aplicao do SAI-ETE, em 1998, em vinte escolas tcnicas;
4. Implantao do SAI-ETE em 108 Unidades Escolares.
Para a coordenao da AAI do Centro Paula Souza, a avaliao no pretende estimular
uma competio ou confrontar resultados, punindo ou premiando. Alis, a busca de uma cultura
de avaliao e meta-avaliao, a ser implantada e desenvolvida em cada ETE, na verdade, o
grande prmio oferecido pelo SAI. (SO PAULO. SAI-ETE, 1998, p. 3). Nota-se na prtica,
entretanto, que os resultados do Web-SAI so hoje utilizados tambm para rankeamento e para
comparao entre escolas, alm de ser um dos indicadores atrelados bonificao por
resultados dos funcionrios da escola.
Para Silva (2008), a criao do SAI das ETECs, nos termos deste Relatrio, tem por
justificativa o cumprimento das determinaes da LDB 9394/96, o que exigiu das instituies
escolares algumas reestruturaes, no mbito da gesto escolar, e ainda, a flexibilidade e a
maturidade das instituies escolares e do Centro Paula Souza, na condio de instituio
gestora da educao profissional pblica paulista.
Entende-se, nos termos do Relatrio SAI-ETE, que o Sistema de Avaliao Institucional
parte do princpio de atendimento das aspiraes dos alunos e comunidade, de modo a
interferir nos resultados desejados e aferir a qualidade em cada ETE e na prpria Instituio.
(SO PAULO. SAI-ETE, 1998, p. 2). Porm, ao comparar estas declaraes com os
indicadores apresentados, a autora questiona que a concepo de avaliao est intimamente
ligada questo da aferio de resultados, ou seja, est vinculada ao de aferir, no sentido
quantitativista, um dado padro de qualidade, que sensivelmente subjetivo.
Outra questo levantada por Silva (2008), refere-se classificao das escolas por meio
da avaliao institucional. Sobre esta concepo, o Relatrio SAI-ETE 1998 esclarece que no
se trata da implantao de filosofia neoliberal, de que uma classificao ou ranking estimularia
a competitividade e que poderia ter como consequncia um possvel aperfeioamento das
escolas (SO PAULO. SAI-ETE, 1998, p. 2).
28
Os objetivos gerais do Sistema de Avaliao Institucional, constantes do Relatrio SAI-
ETE, de 1998, so os seguintes:
Promover a reflexo em cada Escola Tcnica (ETEC) e no CPS a partir do desempenho
real apurado, para aproximar esse desempenho do ideal, em busca da melhoria da
qualidade
Possibilitar a consolidao e/ou redirecionamento das polticas institucionais;
Promover a avaliao interna (auto avaliao) e externa (avaliao participativa);
Estimular estratgias coletivas e criativas, regionais e personalizadas, para atendimento
de realidades cambiantes da produo e mercado de trabalho, pela explorao das
prprias potencialidades.
O Sistema de Avaliao Institucional parte do pressuposto de que o produto das ETECs
do Centro Paula Souza deve atender aos anseios dos alunos e da sociedade de forma a
determinar Padres de Desempenho Ideais. (SILVA, 2008, p. 152). S em 1999 que o SAI
passa a incorporar todas as ETECs do Centro Paula Souza, entretanto,
em momento algum foi avaliada a autarquia, ou seja, a instituio Centro Paula Souza - em termos de departamentos e sees que compem o ncleo administrativo-pedaggico, jurdico-organizacional e financeiro, bem como no foi efetuada a avaliao da poltica de gesto, das formas de relacionamento e comunicao entre a Administrao Central como preposta do Estado e do governo e as demais instituies escolares que compem a rede (SILVA, 2008, p. 152).
Dois fatores nortearam o processo de implementao do sistema: o primeiro foi a busca
pela aceitao, mediante a conscientizao, da necessidade de avaliao por todos os atores
envolvidos e o segundo fator foi o carter contnuo e sistemtico da avaliao. Se a avaliao
pode propiciar melhorias na eficincia e eficcia nas atividades institucionais, v-se como
fundamental a participao do maior nmero de pessoas deste ambiente, como alunos, pais,
egressos, professores, equipe gestora e demais funcionrios. A reflexo, exercida por todos os
sujeitos da comunidade acadmica, deve buscar o conhecimento da realidade institucional pela
interpretao dos dados apurados, com juzos de valor que permitam definies de aes
qualitativas comprometidas eticamente com a funo social das unidades de ensino
(PETEROSSI et al, 2009). Com base nestes pilares, o SAI busca avaliar como a instituio
atende s aspiraes e satisfaz as necessidades do momento, devendo assim, indicar a eficincia
da instituio.
29
A estratgia de avaliao pautada em termos quantitativos se faz presente, mesmo se
reconhecendo suas limitaes de transformar em mensurvel, fenmenos qualitativos. A
dualidade quantidade/qualidade em processos de avaliao no se resolve pela superao de
uma pela outra, uma vez que, na maioria das vezes so complementares ou especficas e no
necessariamente alternativas (LUIZ, 2006).
Assim, optou-se por um sistema onde os resultados do desempenho escolar, expressos
por indicadores quantitativos, so utilizados, tais como: a relao candidato/vaga, o nmero de
profissionais formados e a empregabilidade dos egressos.
Froncillo (2002) destaca que esse processo hbrido e abrangente de avaliao tem, dentre
outros, os seguintes objetivos:
Promover, a partir das informaes dos vrios agentes sobre o prprio desempenho, a
reflexo que leve cada unidade de ensino e o Centro Paula Souza busca da melhoria
da qualidade;
Possibilitar a consolidao e/ou o redirecionamento das polticas institucionais;
Promover a avaliao interna (auto avaliao) e a avaliao externa (avaliao
participativa);
Desenvolver na Instituio uma cultura de avaliao;
Subsidiar os projetos pedaggicos das unidades de ensino.
Compreende-se como avaliao institucional aquela que atende a chamada de uma
organizao escolar disposta a conhecer e entender os atores que trabalham e atuam como
personagens ativos de um processo institucional e, desse modo, entendem que a avaliao
institucional se d dentro dessa organizao viva e dinmica.
30
CAPTULO 2 AVALIAO INSTITUCIONAL
Frente aos objetivos propostos neste trabalho, considerou-se importante buscar
definies sobre o termo avaliao, com nfase em avaliao institucional. No houve a
pretenso, no entanto, de se eleger uma explicao definitiva, j que o termo aceita ser
observado sob diversas ticas e sob influncias ideolgicas diversas. No h, portanto, uma
nica definio, mas sim, pontos harmoniosos e conflitantes entre o pensamento de
pesquisadores e escritores da rea.
Este captulo apresenta uma reviso bibliogrfica sobre avaliao e qualidade, qualidade
negociada, avaliao formativa e o uso da avaliao como ferramenta de controle.
Dias Sobrinho e Dilvo Ristoff (2003) resgatam a ideia de Guba e Lincoln (1989) ao
afirmarem que no existe uma maneira correta de definir avaliao, uma maneira que, se
encontrada, poria fim argumentao sobre como ela deve proceder e sobre quais so os seus
propsitos. A avaliao institucional, assim como outros tpicos da rea da educao, tema
vivo, aberto ao debate e construo democrtica, que vem amadurecendo sua concepo e
proporcionando s instituies e seus atores, autoconhecimento e possveis evolues em seus
diversos campos de atuao.
Procurou-se nesta reviso bibliogrfica, responder a questes fundamentais como: Para
que serve a avaliao institucional? A quem serve? A quem interessam seus resultados e como
estes so utilizados?
2.1 Educao e qualidade
Dentre os propsitos da avaliao, pontua-se a questo da qualidade. Esta ideia, herdada
do universo empresarial, visa analisar os resultados alcanados em uma determinada
organizao, para saber como suas operaes so desenvolvidas.
Segundo Sueli Rodrigues (2008), o discurso da qualidade no campo educacional aparece
na dcada de 1980, em substituio ao discurso da democratizao. Rapidamente instalou-se
nas discusses, um discurso de senso comum sobre a eficincia e produtividade, no se
diferenciando assim, da lgica produtivista e mercantil que caracteriza o mundo dos negcios
e da produo.
31
Para Chau, (1999) a qualidade definida como
competncia e excelncia cujo critrio o atendimento s necessidades de modernizao da economia e desenvolvimento social; e medida pela produtividade, orientada por 3 critrios: quanto [...] produz, em quanto tempo produz e qual o custo do que produz. Em outras palavras, os critrios da produtividade so quantidade, tempo e custo que definiro os contratos de gesto. (CHAU, 1999, p. 216)
No mundo empresarial, por exemplo, cada vez que um produto fica pronto, a empresa
verifica se aquele produto corresponde s especificaes que devem ter para ser entregue aos
consumidores. Controlar a qualidade de tudo que produzido uma atividade de rotina.
natural que em algo to importante quanto a educao, os empresrios esperem que o governo
proceda da mesma forma, ou seja: que antes de entregar os alunos sociedade, verifique se
aprenderam o que precisam saber, de acordo com as especificaes estabelecidas pelo governo
para cada nvel de ensino. Trata-se da mesma ideia do controle de qualidade (IHL, 1992).
Segundo Paro (2012), a avaliao de uma escola no pode seguir a mesma lgica da
aplicada em uma fbrica, explicando que esta ltima utiliza em seu processo de fabricao,
basicamente, a mesma matria prima, com rigoroso controle de qualidade. So manipuladas
mquinas e insumos padronizados. J na escola, o produto a ser trabalhado so seres
humanos, que no so (e no sero) iguais entre si. Alm disso, cada um reage de forma
diferente aos ensinamentos oferecidos em sala de aula, podendo ou no aprender, o que no
depende 100% do trabalho do professor, uma vez que, segundo o autor, o aluno s aprende se
quiser.
Desse modo, Anna Bondioli (2004) entende que a qualidade na escola se pauta na
negociao dos saberes, se determina na interao entre as partes envolvidas e tem na relao
de ensino-aprendizagem a chave do xito de uso de alguns instrumentos/ferramentas para
alcanar objetivos claros e bem fundamentados com a comunidade escolar envolvida.
Em seu estudo, a autora defende que, para definir qualidade, h a necessidade de se
explicitar os descritores fundamentais da sua natureza, ou seja: seu carter negocivel,
participativo, auto reflexivo, contextual/plural, processual e transformador. A qualidade, em
seu aspecto negocivel, vista da seguinte forma:
A qualidade no um dado de fato, no um valor absoluto, no adequao a um padro ou a normas estabelecidas a priori e do alto. Qualidade transao, isto , debate entre indivduos e grupos que tm um interesse em relao rede educativa, que tm responsabilidade para com ela, com a qual esto envolvidos de algum modo e que trabalham para explicitar e definir, de modo consensual, valores, objetivos,
32
prioridades, ideias sobre como a rede (...) e sobre como deveria ou poderia ser. (BONDIOLI, 2004, p. 14)
Destacar seu carter negocivel, no significa deixar de lado seus outros aspectos.
Significa apenas a escolha de um aspecto em que esta definio contrasta mais abertamente
com a noo corrente de qualidade adotada pelas polticas pblicas neoliberais, cuja concepo
quase sempre contaminada de uma pseudoparticipao que objetiva legitimar a imposio
verticalizada de padres de qualidade externos ao grupo avaliado (FREITAS, 2005).
Bondioli (2004) apresenta tambm a ideia de indicadores, itens fundamentais na
produo da qualidade. Os indicadores no podem ser vistos como padres, normas impostas
de cima para baixo, as quais devemos nos adequar. No representam tampouco um valor
mdio de exequibilidade de aspectos da qualidade. So, como indica o prprio termo,
[...]sinalizaes, linhas que indicam um percurso possvel de realizao de objetivos compartilhados [...]. Aquilo que os diferentes atores sociais [...] se empenham em buscar, contribuindo, para isso, cada um de acordo com o prprio nvel de responsabilidade. (BONDIOLI, 2004, p. 18-19)
A partir destes estudos, tal conceito de qualidade pressupe produo democrtica e
coletiva e, por outro lado, a contribuio de cada um dos atores deve estar de acordo com seu
nvel de responsabilidade.
Freitas (2005) destaca, entretanto, que os indicadores so importantes mais pela
significao compartilhada que possuem perante os atores da escola, que pelo valor que podem
gerar, seja pelo seu valor numrico ou de anlise. Para Freitas, os indicadores devem se
desenvolver no interior da instituio escolar e tm seu espao na avaliao institucional,
acompanhada pelas polticas pblicas.
Bondioli (2004) inclui tambm o Projeto Poltico Pedaggico como instrumento
negocivel, pois um pacto entre o rgo pblico e o gestor, que define compromissos e
responsabilidades recprocas; a participao dos diversos atores na construo deste documento
tem grande importncia, pois estes possuem conhecimento maior de sua unidade, tendo
conscincia de seus pontos fortes e fracos.
Como instituio social, a avaliao da escola interessa populao. Para Isaura Belloni
(2003):
A avaliao se justifica e se transforma em uma necessidade, sob a tica de ser um direito da populao que se subvenciona e sofre as suas consequncias[...].
33
Atualmente, com a crescente democratizao do acesso, as elites tm interesse em saber os resultados destes investimentos, at para poder melhor aplic-los em funo de seus interesses; ademais, a estreita ligao entre educao e competncia para melhoria de produtividade uma das evidncias desta intencionalidade, que claramente se traduz nos objetivos e na operacionalizao da avaliao, em todos os nveis de ensino. (BELLONI, 2003, p. 13)
No fica restrito elite, o interesse dos resultados da avaliao escolar. Os demais
segmentos da populao tambm se interessam, a fim de saber a quem ela est servindo e quais
so os seus resultados. Belloni (2003) refora que:
[...] possvel afirmar que a maioria da populao tambm reconhece o seu direito e tem interesse em saber mais sobre os resultados (pesquisas, profissionais qualificados) dos recursos provenientes de seus impostos e, principalmente, sobre as consequncias destes resultados em seu cotidiano, a curto, mdio e longo prazos. (BELLONI, 2003, p. 13)
2.2 Avaliao formativa
Na perspectiva de avaliao orientada para mudanas, visando construo da
qualidade, com a finalidade de melhoria institucional, Belloni (2003) entende a avaliao
formativa como a perspectiva do alcance de dois objetivos: o autoconhecimento e a tomada de
deciso.
A avaliao formativa deve auxiliar a instituio, pelo autoconhecimento ou pela conscincia de suas fraquezas e de suas fortalezas, a desempenhar melhor sua funo de lcus de aprendizagem e de produo e de disseminao do conhecimento [...]. Assim, a finalidade da avaliao tem a ver, diretamente, com as finalidades das atividades da instituio. (BELLONI, 2003, p.15)
Dessa forma, mais que uma questo tcnica, a avaliao coloca questes de fundo
poltico, que devem ser enfrentadas pela instituio no seu conjunto de participantes.
A avalio no se esgota na formulao de seus instrumentos de coleta de informaes ou de conhecimento da realidade. Esta uma etapa que decorre da clareza de objetivos da avaliao (a qu/quem ela serve?), mas demanda excelente modelo analtico para interpretao das informaes, para poder operar/formular um diagnstico substantivo das dificuldades e das causas, para poder oferecer subsdios para interveno/mudana. Sem esta ltima etapa, no se concretiza o objetivo formativo da avaliao. (BELLONI, 2003, p. 15)
34
O pensamento da avaliao como ao educativa est relacionado busca pelo
autoconhecimento. por meio de um processo avaliativo srio e abrangente que podemos
conhecer as fraquezas e virtudes da unidade escolar, podendo, em estgios seguintes, auxiliar
na tomada de decises. Isaura Belloni (1996) afirma que a avaliao institucional pensada a
partir de dois objetivos bsicos: o autoconhecimento e a tomada de deciso. Sua finalidade a
busca do aperfeioamento, portanto, no visa punio nem premiao. Ao contrrio, sua
ao central a reconstruo.
2.3 Avaliao e controle
Dias Sobrinho (2003, p.11) apresenta uma contradio entre concepo e prtica da
avaliao, j que de um lado, a avaliao concebida e realizada principalmente para fins de
regulao e controle. Por outro lado, a avaliao concebida e praticada, ao menos no plano da
inteno, como instrumento de emancipao.
Com nfase nos resultados dos sistemas educativos, o interesse pela avaliao por parte
dos governos comeou a ser traduzido pela expresso Estado Avaliador. E a avaliao aparece
como um instrumento para implementao de mecanismos de controle e responsabilizao.
O modelo de responsabilizao, baseado na lgica de mercado, assume que os
indivduos so responsveis pelos seus sucessos ou fracassos; escola compete oportunizar,
dar condies para a aprendizagem. Assim, caso essas condies no sejam bem utilizadas, a
responsabilidade recai sobre o indivduo que no pde fazer bom uso delas. Com isso, a escola
e o Estado, desresponsabilizam-se (RODRIGUES, 2008).
Freitas (2002) expe que as estratgias de avaliao utilizadas at hoje tm gerado uma
ao controladora sobre o sistema, mas no tm passado disso, na medida em que h uma
dificuldade muito grande para que as instituies participantes desses subconjuntos avaliados
(ensino fundamental, mdio ou superior) possam utilizar localmente os resultados de tais
avaliaes.
O controle atravs da disciplina foi objeto de um profundo estudo de Foucault (1987).
O domnio atravs dos pequenos detalhes, da disposio dos corpos no ambiente, a mincia
dos regulamentos e inspees ininterruptas. A avaliao, muitas vezes, utilizada como
ferramenta de controle no ambiente escolar. O sucesso do poder disciplinar se deve sem dvida
35
ao uso de instrumentos simples: o olhar hierrquico, a sano normalizadora e sua combinao
num procedimento que lhe especfico, o exame. (FOUCAULT, 1987, p. 195)
Paira a interrogao sobre nossas cabeas ao pensarmos qual a motivao ou inteno
ao se fazer tantas avaliaes, que no a de propor um norte para melhorar rotinas e processos.
Afastando-se do discurso oficial, podemos observar que, intencionalmente ou no, as rotinas
de avaliao servem como ferramentas de submisso, controle, manipulao e
compartimentalizao.
Para Foucault (1987), o exame combina tcnicas da hierarquia que vigia e as da sano
que normaliza. , portanto, um controle normalizante, um processo de vigilncia que permite
qualificar, classificar e punir. E complementa, ao afirmar que o exame:
Estabelece sobre os indivduos uma visibilidade atravs da qual eles so diferenciados e sancionados. por isso que, em todos os dispositivos de disciplina, o exame altamente ritualizado. Nele vm-se reunir a cerimnia do poder e a forma da experincia, a demonstrao da fora e o estabelecimento da verdade. (FOUCAULT, 1987, p. 209)
E o que fazer, quando algo foge s normas? Pune-se. Segundo Foucault (1987), na
essncia de todos os sistemas disciplinares, funciona um pequeno mecanismo penal. O que
pertence penalidade disciplinar a inobservncia, tudo aquilo que est inadequado regra,
que se afasta dela.
H uma certa preocupao com a forma como os resultados da avaliao so
posteriormente utilizados e divulgados. A avaliao no deve ser um catlogo de resultados,
mas sim, apontar para a compreenso das causas, dos processos. Nos ltimos anos, diferentes
argumentos apontam para a centralidade da avaliao e, com ela, justificativas so colocadas
por diferentes segmentos que influenciam as polticas pblicas para a educao no Brasil:
agncias internacionais, programas governamentais ou instituies empresariais
(RODRIGUES, 2008).
Angel Barriga (2003) defende que faltam estudos analisando a contribuio da avaliao
para o incremento da qualidade, sendo utilizada para orientar bonificaes e rankings:
No foram feitos estudos para reconhecer at onde as prticas de avaliao contriburam para o melhoramento do sistema, incrementando o rigor no trabalho acadmico, ou, pelo contrrio, foram constitudas em juzos de qualificao (que em geral desqualificam), criaram distores no funcionamento do sistema (por exemplo,
36
apoiar financeiramente os que j tem apoios) ou s proporcionaram o que se determinou uma simulao institucional. (BARRIGA, 2003, p. 80)
Barriga (2003) complementa que a vinculao avaliao/financiamento tem como
consequncia para as instituies, o esforo para superar os padres, a partir dos quais se mede
seu rendimento, mas tambm tem produzido um forte efeito de segregao, por meio da qual
as instituies fortes e consolidadas incrementam seus recursos e as instituies dbeis vo
incrementando suas deficincias.
Estes padres de medio se integram a uma espiral produtiva que obriga a sempre dar mais. Assim, na perspectiva da excelncia, se supera a viso taylorista do trabalho, que se baseia em reconhecer uma meta que possa ser superada; o discurso da excelncia coloca todos os sujeitos e instituies frente a metas mveis que so cada vez mais altas, j que o ponto de partida de cada uma delas a produtividade obtida em um ano, a produtividade da instituio considerada a melhor; compete-se simultaneamente contra todos e contra si mesmo. Se em um ano foram formados 30 graduados, no ano seguinte preciso formar 40; se em 1 ano foram produzidos 2 artigos, no seguinte ser necessrio produzir 3. Assim a espiral aumenta em uma aspirao de melhoramento infinito. (BARRIGA, 2003, p.80)
O ponto levantado pela autora a comparao equivocada entre fbrica e escola. Uma
fbrica recebe sempre os mesmos insumos, possui o mesmo maquinrio e, mesmo que esteja
em outro continente, entregar o mesmo produto final. Tal lgica no pode ser aplicada ao ser
humano. Entender a escola como uma fbrica de saberes ignorar que somos diferentes,
vivemos em contextos diversos e no aprendemos da mesma forma. Pode-se melhorar o
rendimento escolar com o tempo, baseando-se nos resultados das avaliaes, mas no possvel
esperar que todas alcancem o mesmo patamar. O uso de metas que aumentam indefinidamente
levar seus atores frustrao, boicote avaliao ou a busca cega pelos bons resultados, sem
buscar a melhoria no processo. Em outras palavras, h a busca do bom resultado, para
divulgao ou marketing.
Dias Sobrinho (2003) refora a vocao formativa da avaliao quando diz que esta no
pode ter como principal funo o controle, tampouco se restringir fiscalizao de normas e s
demandas do mercado. A avaliao, enfim, deve ser desvinculada do financiamento e de
qualquer mecanismo de premiao/punio e tampouco deve produzir hierarquizaes
(rankings) de instituies
Visando o carter democrtico e participativo da avaliao, Dias Sobrinho (2003)
elenca, de forma sintetizada, os elementos mais importantes de uma avaliao institucional:
37
Globalidade e integrao: A avaliao institucional deve ter como objeto a totalidade
da instituio, ou seja, deve buscar uma observao dos horizontes e perspectivas de
integrao. Alm de analisar a existncia ou carncia de articulao entre as partes, a
avaliao deveria promover a construo e consolidao da integrao.
Processo pedaggico e formativo: Privilegiar o sentido formativo e pedaggico, nos
dinamismos dos processos e no desenvolvimento das relaes sociais. Atua assim, como
dispositivo educativo das pessoas que nela se envolvem.
nfase qualitativa: Privilegiar o qualitativo, por seu potencial educativo, no significa
negar o quantitativo, nem estabelecer nenhuma oposio entre eles. Estudos
quantitativos, bases de dados e estatsticas so uma boa base para a avaliao. Porm,
so insuficientes e incapazes de trazer toda a riqueza de significados se a elas no se
aplicarem reflexes e produes de sentido.
Flexibilidade: A avaliao um processo em construo, portanto pode e deve mudar
com o tempo, sem que isso signifique permissividade e falta de sentido de organizao.
Institucionalidade: Deve respeitar a cultura e realidade de cada instituio.
Continuidade: A avaliao deve ser um processo contnuo, instaurando-se como
cultura, tornando-se assim, fonte permanente de conhecimentos e informaes.
Tais elementos supracitados sero retomados na pgina 65 desta dissertao, nas
consideraes finais, enfocando o Web-SAI. Cabe lembrar, que o uso de sistemas de avaliaes
nunca est desconectado de interesses de gestores e polticos. A avaliao como poltica pblica
e a influncia neoliberal na gesto escolar sero abordadas no captulo seguinte.
38
CAPTULO 3 GESTO E POLTICAS NA EDUCAO ESCOLAR
Este captulo apresenta ao leitor uma reviso bibliogrfica sobre gesto escolar e
polticas pblicas na rea de educao. Foram abordadas as influncias do neoliberalismo na
administrao escolar, a passagem (ou mudana) nos termos relacionados administrao,
cultura organizacional e as diversas concepes de gesto escolar, enfatizando as de cunho
democrtico-participativo, pontuando tambm o papel do diretor escolar nesse paradigma.
3.1 Influncias neoliberais em polticas pblicas
Para Sander (2005), a globalizao da atividade humana, percebida nas ltimas dcadas,
despertou o interesse pelo estudo da administrao internacional, com foco no conceito de
governabilidade. Como resultado desse interesse, os esforos reformistas se multiplicam, tanto
nas empresas como em instituies governamentais, guiados por poderosas foras
internacionais de natureza econmica e comercial.
Tais esforos reformistas da administrao pblica pregam governos menores e mais
eficientes, implicando na atrofia do papel do Estado, o que enfraquece assim, diversos setores
fundamentais para o desenvolvimento social, como segurana, sade, previdncia social e
educao pblicas. A contradio fica evidente para Sander (2005), pois se observa que, ao
mesmo tempo em que se quer reduzir as funes tpicas de Governo, aumentam as demandas
sociais e populares por mais e melhores servios e programas por parte do Estado. Para
enfrentar tal aporia, vrios governos, incluindo o brasileiro, estudam novas solues
organizacionais e administrativas, visando melhorar o desempenho e reduzir os custos.
Enfatiza-se que a ideia de reduzir custos na administrao pblica , sem dvida, tentadora. A
questo como sero feitos os cortes de gastos, quem perder com essa movimentao? O que
se demonstra historicamente que, quando h racionalizao oramentria, programas de
assistncia social, de educao e sade so os mais afetados, impactando fortemente aqueles
que dependem desses servios e no tm outra opo.
O movimento por governos menores, observado internacionalmente , de fato, resultado
da presso neoliberal para privatizar atividades de utilidade pblica e que por isso, deveriam
estar sob as mos do Estado ou sob sua superviso, como a educao, segurana e sade. A
desestatizao, na viso de Sander (2005) torna-se preocupante em pases como o Brasil, que
tem grande parte da populao incapaz de se alimentar, de pagar pela sade, pela educao e
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pela aposentadoria. Fica, pois, o questionamento: estamos preparados para abrir mo do
controle estatal desses servios essenciais, para a explorao de organizaes privadas?
Podemos citar como exemplo, as escolas charter norte-americanas, fruto de parcerias pblico-
privadas, que se mostraram desastrosas, segundo pesquisas do professor Dr. Luiz Carlos de
Freitas (2003).
Sander (2005) aprofunda esta questo ao afirmar que a literatura especializada no campo
da administrao, revela duas grandes experincias internacionais de reformas administrativas:
o Modelo Westminster, britnico, que enfatiza o planejamento estratgico, a corporativizao
e a privatizao; e o modelo americano de Reinveno do Governo, cujo foco a
descentralizao, a adoo das tecnologias da informao, a avaliao de resultados e a
implantao de melhores prticas a menores custos na administrao pblica.
Em ambas as experincias, pde-se perceber a transposio de conceitos e prticas do
gerencialismo empresarial e comercial para o setor pblico, como adoo em peso da tecnologia
da informao, avaliao de desempenho e a qualidade total. Ressaltam-se tambm, as tticas
competitivas que buscam acumular poder e lucro, objetivos antagnicos educao. Tais tticas
deslancham em decises administrativas que se preocupam primordialmente com fins
pragmticos e resultados imediatos, deixando em segundo plano a tica e a relevncia cultural.
Fica novamente o questionamento: pode a educao, desenvolvida de forma integral e de longa
durao, ser avaliada com objetivos de curto prazo? Entendem-se os perigos desta avaliao,
que, muitas vezes, est submetida lgica da bonificao e aumento/diminuio de verbas?
Essa nova realidade se mostra especialmente complexa para os trabalhadores da rea
social, em particular os da educao e sua administrao, tanto no mbito estatal como na
iniciativa privada. Segundo Sander (2005), esse movimento valoriza a eficincia e a
produtividade, transcendendo o prprio processo educativo feito em sala de aula. So conceitos
e prticas que do mais valor s tticas competitivas do que formao para a solidariedade e
a convivncia humana; enfatizam o comportamento clientelista e consumista em detrimento da
formao para a cidadania e responsabilidade social; priorizam instrumentos de controle,
interessados em resultados imediatos e utilitrios; propem uma avaliao educacional pautada
pela lgica econmica, que recompensa os que menos necessitam e castiga os que mais
precisam, o que, em outras palavras, s acentua a desigualdade e aumenta a excluso social. O
autor ento conclui que:
40
tais conceitos e prticas de avaliao no educam para a equidade, a solidariedade, o esprito de comunidade e qualidade de vida humana coletiva, que so princpios fundamentais de uma poltica de desenvolvimento humano sustentvel. (SANDER, 2005, p. 110)
A avaliao, em suas distintas formas, hoje um tema popular nas organizaes
intergovernamentais de cooperao tcnica, nas agncias internacionais de financiamento,
como o Fundo Monetrio Internacional (FMI), o Banco Mundial e Banco Interamericano de
Desenvolvimento. H benefcios em prticas de avaliao corretamente concebidas e aplicadas,
ao mesmo tempo em que devem ser questionadas determinadas orientaes de avaliao que
fomentam prticas competitivas entre os alunos e entre instituies e estimulam comparaes
entre desiguais, muitas vezes baseadas em dados desprovidos de validao tcnica, relevncia
cultural, sentido pedaggico e solidariedade humana.
A terceirizao, reitera Sander (2005), mostra-se ento, como um instrumento desse
movimento de privatizao da administrao pblica, a qual teve seu incio na compra de
servios e avanou para outras modalidades, como compra e venda de produtos, indo at as
atividades fim. Em instituies pblicas de ensino, como as Escolas Tcnicas Estaduais
(ETECs), Faculdades de Tecnologia (FATECs) ou mesmo os Institutos Federais de Ensino,
Cincia e Tecnologia (IFs), evidentemente no se visa o lucro. Mas, medida que as decises
so tomadas, pautadas massivamente na ideologia neoliberal ou de mercado, corre-se o risco
de o ensino tornar-se um comrcio e, consequentemente, o desenvolvimento humano, a
educao para a cidadania e a tica profissional passarem a ocupar um lugar subalterno. Essa
mercantilizao de diplomas, observada a tempos em instituies privadas de ensino superior,
comea a aparecer tambm em instituies pblicas de ensino.
3.2 A passagem do termo administrao para gesto
A considerar as influncias empresariais na educao, possvel perceber que alguns
termos sofreram alteraes, alinhando-se s ideias naturalmente observadas no mundo do
trabalho. O termo administrao parece no combinar mais com as tarefas desempenhadas no
ambiente escolar, passando por um processo de mudana terminolgica.
Sander (2005) expe que o termo administrao dominou a tempos, o pensar e o fazer
a educao. Atualmente, no entanto, uma srie de termos esto em disputa de espao,
destacando-se os de gesto e gerncia. A pouco tempo, o termo gesto era praticamente
inexistente na teoria e na prtica da educao brasileira e, os que primeiro o utilizaram, eram
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encarados com desconfiana e desaprovao, j que os primeiros a adotar este termo eram os
administradores de empresa. Da traduo do ingls management, da gestion par les systmes
dos franceses, originou-se a gerncia racionalizadora e instrumental dos homens de negcios.
Para muitos analistas, a adoo dos termos gerncia e gesto representa mais uma transposio,
to comum na histria do pensamento administrativo brasileiro, de categorias analticas e
prticas da administrao empresarial para a administrao do Estado e da Educao.
De fato, o uso do termo gesto vem aumentando no segmento administrativo, tanto no
setor pblico em geral, como na educao, especificamente. inclusive respaldado pela
constituio de 1988, pela flexibilizao oferecida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao
Nacional (LDB) de 1996 e por diversos instrumentos normativos.
A transio terminolgica de administrao para gesto ganha fora no incio do sculo
XXI. Werle (2001) faz uma reviso a respeito das mudanas ocorridas na designao dos
dirigentes de unidades de ensino: de diretor a administrador e a gestor escolar. O autor
demonstra a mudana utilizando trechos de discursos oficiais e referncias de profissionais,
alm de concepes tericas subjacentes. Cury (2002) explora a origem etimolgica do termo
gesto, que derivado do verbo em latim genere, gerar, exercer, executar, chamando ateno
para a contradio com o conceito de gesto como forma de governo da educao, em seus
diversos nveis e modalidades. Lima (2002), ao analisar semanticamente o termo governao
do latim gubernatione, conduo, direo ou ao de governar destaca a ideia de processo,
de exerccio e ao de governar, ao invs da lgica funcionalista que prpria do pensamento
ocidental da educao. Esses autores, dentre outros, convergem em suas pesquisas acima
referenciadas, indicando uma tendncia que recebe hoje o apoio generalizado de legisladores,
pensadores e atores da poltica e do governo da educao (SANDER, 2005).
Portanto, tal passagem terminolgica teve sua importncia para se conceber o conceito
que ser apresentado a seguir, que o da Gesto Democrtica da Educao, consagrado na
Constituio Federal de 1988 e na LDB de 1996. Entende-se importante para o entendimento
desse conceito de gesto escolar, analisar o debate proposto por Sguissardi (2003) sobre o que
se chamou de universidade neoprofissional. Apesar da pesquisa aqui proposta analisar uma
instituio de ensino profissional tcnico de nvel mdio, percebemos ser relevante a incluso
destas ideias para a caracterizao ou classificao da instituio que ser estudada a seguir,
podendo ento, entender, do ponto de vista cultural, a forma como esta lida com os processos
decisrios.
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Para Sguissardi (2003), o desenvolvimento da chamada universidade neoprofissional se
configura a partir do ajuste neoliberal na economia e das polticas reformistas da dcada de
1990, o que trouxe novos critrios e indicadores para definir distintos modelos de gesto. Para
efeitos analticos, o autor classifica as instituies brasileiras em neonapolenicas e neo-
humboldtianas. Segundo sua definio, as primeiras oferecem uma estrutura limitada para a
pesquisa e a ps-graduao stricto sensu, os professores so contratados precariamente em su
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