cartilha de regras de uso e convivência - peaex majari, porto de moz, pa

Cartilha de Regras de Uso e Convivência

Projeto Estadual de Assentamento Agroextrativista - PEAEX do Majari

Projeto Estadual de Assentamento Agroextrativista - PEAEX

do Majari

Cartilha de Regras deUso e Convivência do

Autores das regras:Moradores das Comunidades Espírito Santo e São João

Com apoio de moderação e redação:Ana Carolina C. Vieira

Kátia CarvalheiroAgostinho Tenório

Christiane Ehringhaus

Belém 2010

Projeto Comunidades e FlorestasConsórcioIMAZON - Instituto do Homem e Meio Ambiente da AmazôniaFASE - Federação de Órgãos para Assistência Social e EducacionalIEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil

ColaboradoresCDS - Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de MozFAE - Fórum de Articulação do Manejo Florestal Comunitário do Estuário AmazônicoLASAT - Laboratório Sócio-Agronômico do Tocantins

ExecuçãoAssociação do PEAEX Gleba Majari ICDS - Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de MozCIFOR - Centro de Pesquisa Florestal Internacional

Apoio FinanceiroUnião EuropéiaCIM - Centro para Migração e Desenvolvimento Internacionais

Créditos e EdiçãoRedação: Ana Carolina C. Vieira, Kátia Carvalheiro, Agostinho Tenório e Christiane Ehringhaus.Desenhos: Ana Carolina C. Vieira, Robson Romano da Silva, Rosinaldo Inajosa Ramos e crianças das comunidadesDesign editorial diagramação: RL|2 Propaganda e Publicidade (www.rl2design.com.br)Impressão: Gráfica Editora Alves

Tiragem: 1.200 exemplares

AGRADECIMENTOS

Às famílias das comunidades Espírito Santo e São João do rio Majari que com-põem o Projeto Estadual Agroextrativista Majari I, que nos recebeu com todo carinho, se dedicando com coragem e compromisso à discussão, construção e implementação do Plano de Desenvolvimento Sustentável.

À Associação do PEAEX por toda sua atuação no processo de construção e for-talecimento do PDS nas comunidades.

À toda equipe técnica do CDS, ao STTR de Porto de Moz, a EMATER e ao Movimento Jovem de Porto de Moz que, em parceria com o CIFOR, possibilitou as discussões sobre o modo de vida nas comunidades, construindo com toda dedicação o Plano de Desenvolvimento Sustentável.

Ao Consórcio Comunidades e Florestas e ao CIM pelo apoio técnico, financeiro e pela confiança depositada para realização deste trabalho, destacando o apoio finan-ceiro da delegação da Comissão Européia no Brasil.

Parabéns a todas e todos pelo belíssimo trabalho realizado que hoje possibilita ser exemplo de experiência em dedicação e responsabilidade com os recursos naturais para todas as comunidades da Amazônia que tem o interesse ou que estiverem passando pelo processo de construção de ferramentas de gestão de seus recursos naturais.

• Cartilha de Regras de Uso e Convivência

APRESENTAÇÃO

Queridos e queridas moradores do Projeto Estadual de Assentamento Agro-extrativista do Majari.

Temos a enorme satisfação de apresentar a vocês a Cartilha de Regras de Uso e Convivência, que foram discutidas e aprovadas por vocês em 2008, durante o processo de regularização fundiária de suas terras. A criação do Assentamento foi uma GRANDE vitória de vocês, que junto com seus parceiros enfrentaram essa primeira grande batalha pela segurança da terra.

Agora vocês tem seus direitos sobre a terra reconhecidos. Mas os desafios con-tinuam, vocês sabem. Não será o documento da terra que vai resolver todos os seus problemas. Vocês precisam estar muito unidos e mais organizados do que nunca.

Como garantir um bom uso da floresta e dos rios? Como garantir uma boa qualidade de vida para as famílias de hoje e das próximas pessoas que virão, fi-lhos, filhas, netas e bisnetas?

Nesta caminhada é preciso união, força, informação, parcerias e sempre pa-rar pra pensar, conversar e concordar com as melhores soluções. E colocar estas soluções pra valer.

• Projeto Estadual de Assentamento Agroextrativista - PEAEX do Majari

Todas as regras que aparecem nessa Cartilha foram aprovadas por vocês na fase de discussão do Plano de Desenvolvimento Sustentável, durante as Assem-bléias, com apoio da Associação e dos seus parceiros (CDS, STTR de Porto de-Moz, CIFOR, EMATER, Movimento Jovem de Porto de Moz). Essas regras já estão valendo, só que podem ter alguma mudança para adequação às leis, feitas pelo ITERPA ou pela SEMA.

Todas as regras apresentadas buscam um melhor uso e convivência com as riquezas naturais do PEAEX Majari, agora e no futuro.

A COMUNIDADE...

Aqui neste setor tem gente de todo jeito,Uns lutando para construir,Outros para destruir, O que ele pode usufruir Pensando que todo tempo Vão ter grande respeito.

Você precisa mudarTodo gesto que tem Respeite seus companheiros E a Lei que lhe convém Se você obedecer todos vão lhe querer bem

As regras foram feitas Por toda população Entre as duas comunidades Espírito Santo e São JoãoSó falta cumprirem direito Para terem boa união.(...)

Sivaldo Farias – morador, dirigente epoeta da comunidade São João.

COMO FORAM CONSTRUÍDOS NOSSOS ACORDOS?

O Plano de Desenvolvimento Sustentável do Majari foi feito pelos moradores das comunidades São João e Espírito Santo através de três reuniões coletivas com a colaboração das parcerias do Comitê (CDS), do CIFOR, STTR de Porto de Moz, EMATER e o Movimento Jovem de Porto de Moz.

Para ajudar nas discussões foi apresentado o diagnóstico sócio-econômico das comunidades feito em 2007 que é como se fosse uma fotografia das comu-nidades, retratando como as comunidades estavam organizadas, seu histórico de ocupação e uso dos recursos da floresta, roça, rios, sua produção, como e onde aconteciam as atividades, como eram as condições de educação, saúde, sanea-mento básico e outras coisas mais.

Na base destas informações e de seu conhecimento os moradores das comu-nidades primeiramente se reuniram em pequenos grupos para discutir regras de uso e convivência conforme as suas necessidades e preocupações com o futuro. Depois disso fizeram uma reunião grande com todos os moradores das duas co-munidades onde apresentaram suas propostas de acordos. Estas regras foram re-discutidas bastante e depois juntadas e votadas para fazerem parte do o conjunto das regras de todo o Assentamento. Assim, todas as regras surgiram como resulta-

dos de bastante discussão e depois do voto dos moradores que aprovaram ou não a inclusão de cada regra de uso e convivência. Todos as informações, com todos os detalhes, estão reuni-das em dois relatórios: o Relatório do Diagnóstico e o Relatório do Plano de Desenvolvimento Sustentável, aprova-dos pelo governo, e que a Associação e o CDS tem cópias. Para saber mais, falem com eles. É um material muito rico, que todos deveriam estudar, pra se tornarem mais fortes na defesa do que é de vocês, seja para a Vida de vo-cês, como para a Vida dos que virão no futuro. Esta cartilha aqui só traz o mais importante, que são as regras.

COMO USAR ESTA CARTILHA DE REGRAS?

Mesmo que as regras tenham sido feitas pelos próprios moradores, a gente sabe que a memória é curta e é importante se lembrar das regras, ensinar para as pessoas mais novas e para visitantes da área do PEAEX que também devem respeitar essas regras.

Por isso, todas as famílias precisam ter conhecimento destas regras para que real-mente sejam usadas e implementadas no dia a dia da vida dos moradores. Cada um dos moradores é responsável para que as regras sejam bem cumpridas, pois se um faz e o outro não faz, não vai funcionar. E o prejuízo será de todos, pois o que as regras procuram é apoiar as famílias para viverem bem, por muito e muitos anos, no Majari.

É importante poder mostrar estas regras para os órgãos governamentais, e também repartir este exemplo com outras comunidades que ainda não fizeram as suas próprias regras e querem aprender com a experiência do Majari. Já que muitas vezes falta material que fale da realidade das comunidades, o Plano de Desenvolvimento Sustentável e esta cartilha pode também servir como livro nas comunidades, para diferentes tipos de aulas, passando da biologia para a história nos quais se pode aprender sobre a mata, as plantas, os bichos, os rios da sua terra a sua história de uso e a gestão dos recursos pelas comunidades.

Para que este livro de regras realmente tenha utilidade para os moradores é importante que estas regras e acordos tenham “vida,” quer dizer que as pessoas as conheçam e conversarem sobre elas. Dificilmente todas as regras vão funcionar do mesmo jeito, algumas vão pegar e outras não. Desta forma é importante as comu-nidades sentarem e juntos conversarem sobre o que funciona e o que não funciona e daí se reunir para melhorar as regras. Algumas talvez vão precisar de mudanças ao longo do tempo, já para outros pro-blemas que vão surgindo vão precisar de novas regras. Assim é importante combinar uma data uma vez por ano ou a cada dois anos para todos se reu-nirem e atualizar as regras. Às vezes isto pode gerar um pouco de conflitos entre os moradores, neste caso é bom convidar uma pessoa do Comitê de Desenvolvimento Sustentável (CDS) ou do sindicato para facilitar esta reu-nião sem tomar partido de um lado nem de outro.

REGRAS DE USO ECONVIVÊNCIA DOPEAEX MAJARI

Temos que lembrar que todas as re-gras devem ser cumpridas por todos os moradores e pelas pessoas de fora, e todos os moradores do Majari são responsáveis pela fiscalização de suas terras, floresta, rio... Por isso se você tem atitudes que desobedeçam as regras de con-vivência essa é a hora de mudar e aprender, e se você conhece ou vir alguém que fazendo coisas que foram proibidas por vocês, con-verse com ele, se não adiantar, denuncie!

Saúde e Bons Modos

1. É proibido jogar o lixo de casa no rio e em suas proxi-midades

O Rio Majari é fonte de água, alimento, local onde se toma banho e as crianças brincam. Se o que querem é ter água boa para beber, pei-xes para comer e não pegar doenças, o que se deve fazer é manter o rio Majari limpo. E para isso deverão enterrar e queimar o lixo a uma dis-tância de no mínimo 50 metros dos rios e Igarapés e não jogar mais o lixo da casa no rio.

2. É proibido jogar animais mortos no rio e iga-rapés

Não se pode jogar no rio os animais que morrem. Nenhum animal morto nem mesmo aquele resto de caça. Eles apodrecem na água e a água fica podre também, poluindo o rio e trans-mitindo doenças para as crianças e para vocês.

3. Fossas devem ser feitas a pelo menos 50 me-tros da beira de fontes de água

Quando foram construídas as casas vocês ainda não sabiam que as necessidades escorrem para dentro da terra e vão para o rio, mas agora já sabem. Então a regra construída por vocês foi mudar a localização das fossas para pelo menos 50 metros longe dos rios e nascen-tes. Quanto mais funda for a fossa melhor (2 metros) para evitar o mau cheiro. Assim estarão preservando a Vida das águas.

4. É proibido jogar óleo velho nos rios

Muitos de vocês da comu-nidade têm o hábito de jogar o óleo velho dos barcos no rio. Com essa prática os peixes mor-rem com a falta de oxigênio e tanta poluição. Uma solução é guardar esse óleo velho e levar para cidade, ou então aproveitar pra outro uso. Mas a regra acor-dada é não joguar o óleo na fonte de vida: rios, igarapés e nascentes.

5. É permitido caçar para alimentação da famíliaA carne de caça é muito gostosa e uma das principais fontes de proteína que

se têm no Assentamento. Esse recurso pode acabar se não tomar cuidado. Por isso tem que limitar a caça somente para a alimentação da sua família e assim terão caça por muito tempo.

6. É proibido vender a caçaA venda de carne de

caça é proibida por lei. Como querem andar pelo ca-minho certo, não podem per-mitir que seja vendida carne de caça do assentamento. Por isso se você pratica a venda pare agora! Apenas um lembrete: as autoridades podem ser seve-ras com quem pratica a venda dessa carne.

7. Não abandone o animal mortoSabem que muitas vezes atingem a caça e ela continua correndo e acabam

perdendo de vista, mas nesse caso se não conseguir encontrar no mesmo momen-to volte depois para buscá-la. Não desperdicem os recursos e nem matar um animal em vão.

8. É permitido abater apenas 2 animais pequenos por caçadaQuando o animal é pequeno, por exemplo, jabuti, paca, tatu, macaco... tem

situação que apenas um não é suficiente para alimentação da família. Mas tam-bém não precisam caçar além da conta. Então fiquem acordados que aqui só é permitido caçar 2 animais pequenos por caçada.

9. É permitido abater 1 animal grande Os animais grandes como anta, veado, queixada, onça dão muita carne. Mas

eles já são raros na região, então devemos preservá-los. Fica permitido aqui aba-ter apenas 1 animal grande por caçada e assim as gerações futuras terão como se alimentar da deliciosa carne deles também.

10. Proibido a caça com bodogue (armadilha) Já aconteceu muitas vezes por aí de colocarem a armadilha na mata ou no

roçado e depois esquecerem o local exato, ou o vizinho, passa pelo local e a armadilha dispara provocando acidentes graves. Então como existem tantas formas de caçada, para evitar esses acidentes que podem causar ferimentos irre-versíveis fica proibida a caçada com bodogue.

“O bodogue já acertou muitas pessoas - fica perigoso andar na mata”

11. Para caçar é permitido espera, varrida e lanternarEssas técnicas vocês já utilizam e são também divertidas para quem

gosta de caçada. Elas podem ser utilizadas.

12. Permitido caçar com no máximo 2 cachorros A caça já não é mais tanta na região e na época da cheia do rio ela é a prin-

cipal carne. Vocês permitiram que fossem levados no máximo 2 cachorros por caçada. Mas já acordaram que essa não será a principal técnica de caçada. Tem que ser limitada.

“A caçada com cachorro espanta muito a caça com a zoeira dos cachorros”

13. É proibido abater animais paridos ou com barriga Nem sempre se consegue ver na hora da caçada se o animal está de barriga

ou não. Mas vocês deixam claro aqui que no caso de conseguirem perceber não podem matá-lo, porque esse vai trazer novas caças e os filhotes vão morrer a toa. O mesmo para os animais paridos, se os abaterem, os filhotes morrerão também porque precisam da mãe para sobreviver.

14. É proibido abater animais filhotes de qualquer espécieOs filhotes não têm muita carne porque ainda são pequenos, então não po-

dem alimentar muitas pessoas. Assim devem esperar eles crescerem e utilizarem melhor os recursos. No assentamento só é permitido caçar animais adultos.

15.É Proibido caçar capivara As capivaras são uma presa tão fácil que já aproveitaram muito dessa carne

e agora é difícil ver uma capivara nas localidades do assentamento. Assim têm que deixar de caçar capivara por um período de 5 anos (até 2013), para as que ainda moram no PEAEX possam ter filhotes e esses crescerem e repovoarem a região.

16. O acordo de pesca deve valer para todos Já que vocês têm o acordo de pesca no assentamento, vamos cuidar para que

ele funcione. Ele é a forma de reavivarem o rio que é, a fonte de água, de alimento, de transporte... vocês já podem ver o resultado do aumento dos peixes desde que foi implantado o acordo. Esses acordos se mantêm válidos e devem ser seguidos por todos da comunidade.

17. É proibida entrada de balsa O rio já é estreito e está se recupe-

rando e ficando com mais peixes. Mas balsas entram nos rios e removem o fundo do rio fazendo com que ele fique cada vez mais raso além de espantar os peixes que são grande fonte de alimen-to para às famílias. Assim, no rio Maja-ri está proibida a entrada de balsa em qualquer época do ano.

18. É proibida a pesca nos locais de desovaNa boca dos igarapés é onde os peixes

põem seus ovos. Já que querem continuar se alimentando deles e quem sabe um dia poder até vender, têm que deixar os pei-xes se reproduzirem. Assim, não podem pescar nos locais onde os peixes desovam.

19. A pesca é somente para o consumo das famílias

Como o rio ainda não está cheio de pei-xes como era antigamente, fica permitido apenas mariscada para alimentação da família. Assim vocês ajudam o rio voltar ao normal mais rápido e futuramente pode-rão até comercializar. Mas por enquanto não podem vender o pescado.

20. É proibido pesca com bateção (timbó), farol e máscara Essas técnicas são muito cruéis e matam peixes que querem comer e

os que não querem. A Pesca com timbó mata todos os seres vivos que entram em contato com o veneno dele, vocês pegam os peixes que desejam, mas matam também peixes pequenos e outros que ficam mortos e apodrecendo na água. E a água também fica poluída. Pescar com máscara muitas vezes só fere o peixe, pois ele quer se defender, se bate e tenta fugir e morrer pouco depois. Se você não vai conseguir pegar, ele vai apodrecer e será menos um peixe para alimentar a famí-lia. Quantas vezes podem machucar um peixe e não capturá-lo com essa prática? Muitas! Por isso é proibido.

21. É permitido a pesca só no período de cheia.Da mesma forma que vocês respeitam as leis, têm que respeitar o defeso!Por isso, só é permitada a pesca no período da cheia.

22. É Permitido pesca com malhadeira de acima de 35mm (70mm esticada) e 10 metros de comprimento

O rio Majari, já quase não tem peixe. Agora é que está voltando. A malha fina pega os peixes pequenos e os graúdos também, aí os peixes pequenos se acabam e não crescem. Por isso, só é permitido o uso de malhadeira acima de 35 milíme-tros e até 10 metros de comprimento.

“se coloca malha fina de fora a fora no rio, os peixes não chegam em todas as casas”

23. É proibida pesca de Pirarucu e ovas de Cabeçuda por 5 anosJá não tem mais essas espécies no rio Majari. Para que elas voltem a povoar

o rio e vocês possam voltar a se alimentar dele não podem pescá-lo mais. Deixem o Pirarucu e a Cabeçuda se reproduzirem nesses cinco anos (até 2013) e voltar a ter esses peixes em quantidade!

24. É proibida a pesca de Cangapiranga e outros quelônios Os animais de casco como Tracajá, Cangapiranga e outras tartarugas do rio

não fazem mais parte da alimentação dos filhos, porque não são mais encontrados no rio Majari. Para que eles voltem vocês decidiram proibir a pesca deles.

25. É proibido caçar jacaré por 5 anos.Os jacarés não moram mais no rio Majari, e é uma merenda que gostam

muito. Então a regra é que deixem eles se reproduzirem para que possam voltar a servir de alimento para as crianças (até 2013), sendo proibido a caçada.

26. É proibido vender pato do mato Os patos do mato podem ser capturados, mas para alimentar as famílias

e crianças. Não podem ser vendidos.

27. É proibido pessoas de fora pescarem para venda

“Não adianta ter um monte de regras e vir pessoas de fora pescar no rio e não cumprir”

As pessoas que não são moradores do Ma-jari vêm e pegam todos os peixes e vão vender na cidade. Se vocês não podem, eles também não podem pescar no rio Majari para vender na cidade, senão quem fica sem peixes para alimentação são vocês. Se quiserem pescar no rio terão que ter a permissão dos(as) moradores(as), e só comer o peixe se for no Majari com os(as) moradores(as). Se você vir alguém de fora pescando denuncie, não permita. Defendam o território de vocês.

“Pescam todos os peixes e vão vender na cidade, a gente tem a maior dificuldade em ma-riscar e eles vem com a malhadeiras, farol e le-vam tudo e não tem mariscada para família”.

Roçado

28. É permitido abertura de 16 tarefas (4 hectares) dentro do limite de respeito

A abertura máxima dentro da terra de cada um é de 16 tarefas. Essa área pode ser utilizada para o roçado ou para criação ou também para os dois. Essa área é suficiente para que possam produzir as plantações com qualidade e sem desperdício de área.

29. Sempre deve se usar a capoeira quando tiver para fazer o roçadoA maioria das propriedades possui muitas áreas de capoeiras, então não

derrubem a mata para fazerem as plantações, utilizem as áreas de capoeira. Preservar a floresta e garantir o alimento é garantir o futuro.

“Nem todo mundo tem capoeira mas quem te vai fazer lá para não derrubar mais mata”

30. Deixar a terra descansar 5 anos no mínimo Após dois ciclos de produção da mandioca a terra já fica cansada, as manivas já

não crescem como antes. Para voltarem a produzir nesse mesmo local com qualidade devem deixar a terra descansar por no mínimo 5 anos. Produzir com qualidade e terra forte, traz plantas de qualidade e crianças saudáveis.

31. Fazer aceiros para contro-lar o fogo do preparo da área

O fogo é utilizado para preparar as áreas do roçado, mas ele se não for controlado é muito perigoso, se alastra rapidamente invadindo as matas, matando árvores, ani-mais, cipós e tudo que ali vive, podendo até atingir as casas. Preparar aceiros para controlar o fogo é evitar esse tipo de pre-juízo tamanho.

“Agente já previne do fogo, muita gente aqui usa acero, os nossos pais já ensinavam, mas não sabemos todas as técnicas, aprender é muito bom para cuidar melhor.”

ilustração nova 8ex.: floresta pag44ilustração nova 8ex.: floresta pag44

32. Aproveitamento da madei-ra do roçado

Quando fazem a abertu-ra do roçado derrubam varias qualidades de madeira. Não podem desperdiçar esse recur-so, tem que utilizar a madei-ra grossa para comercio, construção de embarcações, as boas para carvão, lenha, e construção de cercas. Só não podem deixar os recursos se acabarem pelo mau aproveita-mento.

“... é bom que se aproveita porque vamos aproveitar mais a área do roçado ...”

Extrativismo Madeireiro

“temos que garantir que nossos filhos vão ter florestas para produzir”

O extrativismo madeireiro é uma atividade que faz parte da tradição, uma atividade que foi por muito tempo o principal meio de sobrevivência. Hoje sabem a necessidade de formalizar a exploração, mas também não tem como deixar essa prática que faz parte da garantia da sobrevivência.

Por isso elaboraram regras para que todos utilizem os recursos da mesma for-ma e dentro de um limite de uso, dentro dos limites de cada propriedade e que garantam que as áreas coletivas sejam destinadas para elaboração de um plano de manejo.

“Não da mais de ficar tirando tanto, agente tem que segurar um pedaço por enquanto que não tem o plano, mas agente não vive só da madeira, tem a farinha e outras coisas que agente quer aprender que vai dar parte do sustento”.

33. É proibido, qualquer pessoa de fora da comunidade tirar madeira em nos-sas áreas.

34. É proibido corte de espécies em extinçãoTodas as espécies que já não tem mais em quantidade nas matas estão proi-

bidas de serem cortadas para venda, como Mogno, Ipês e suas variedades, Maça-randuba, entre outras espécies que estão em extinção na localidade. Só poderá ser tirado os paus doen-tes ou caídos.

“...agora planto piquiá, antes tinha muito, agora quase nem da para nós da-qui comer, a árvore vale mas o fruto vale muito mais...”

35. É proibida venda de madeira em tora, vender madeira só se for serrada Só os moradores do PEAEX Majari podem usar as madeiras da floresta. Mas

a venda tem que ser somente madeira beneficiada, não pode ser em tora.“ Se aumenta a qualidade da madeira que agente vende aumenta o preço aí

não precisa tirar tanta madeira do mato.” Não vamos deixar que pessoas de fora roubem nosso recurso. Va-mos dar mais valor a nossa mata vendendo a madeira serrada.

“...O custo é alto para vender na cidade e o que paga nem compensa ...” (morador falando da venda da madeira em tora)

“Agente tem que me-lhorar o jeito de vender, porque em tora perde muito com os descartes e pagam quase nada.”

36. A madeira tem que ser serrada no local de extração Para facilitar o transporte da madeira extraída e diminuir os prejuízos na

terra por causa do arraste, vocês devem fazer o beneficiamento de nossa madeira no próprio local de extração.

37. Cada família pode explorar 30 me-tros cúbicos de madeira por ano

A retirada de madeireira é uma ativida-de que faz parte da tradição e é fundamen-tal para a sobrevivência. Assim, enquanto vocês vão atrás de fazerem um plano de manejo para formalizar a atividade, cada família tem um limite máximo de 30 me-tros cúbicos de madeira por ano por família. Isso é principalmente para uso da família. E quando for para venda seguindo as regras criadas por vocês.

“...a comunidade sempre viveu da madeira, faz parte da nossa tradição”.

38. É proibida a retirada de madeira na Área Comunitária

A área comunitária é a reserva de floresta que vocês preservaram há mui-tos anos para as futuras gerações. Nessa área podem caçar, colher frutos, tirar óle-os, cipós, e cascas. Mas proibiram de ti-rar madeira a não ser quando fizerem um plano de manejo madeireiro para área. Defendam a reserva e não deixem nin-guém da comunidade nem de fora tirar madeira de lá.

“Todo mundo tem madeira nos lotes pode não ser Itaúba mas tem outra que dá de aproveitar, a área comunitária a gente já tirou a muito tempo, que é para con-servar”

Extrativismo de cipós, frutas, óleo ...

39. É permitido extração de produtos como cipós, frutos, óleos, arumã, etc. nas terras de cada família e nas áreas coletivas

Podem coletar frutos, caçar, pegar remédios, material para artesanato em qualquer área da comunidade.

40. É preciso bom senso na quantidade que vai levar para casaNão se sabe a quantidade de cipós, óleo e frutos que podem tirar da floresta

sem que vá faltar no futuro. Para evitar que os recursos da floresta se acabem pre-judicando a alimentação, medicina, artesanatos das futuras gerações. Coletem pensando que o vizinho, os filhos e netos também podem precisar, que as caças precisam se alimentar, e a floresta precisa que as sementes grelem para que ela possa crescer.

41. Diminuir consumo de Piquiá e Castanha Vocês querem que futuras gerações possam utilizar os benefícios do piquiá e

da castanha, mas já tem pouco na mata. Diminuam o consumo dessas espé-cies para elas voltarem a ter em quantidade na floresta da comunidade.

Criação de Animais

Grandes Animais“O principal motivo da criação

é o sustento da família, queremos produzir leite e carne para as nossas crianças”

42. Criação tem que ser cercadaPara a criação não invadir a área

do vizinho, se perder na floresta e até mesmo se afogar no rio, tem que cer-car o gado e cuidar com carinho. As regras querem a boa convivência entre os moradores.

43. Limite máximo de 50 cabeças de gado por família O capim que dá na comunidade não engorda os bois, eles ficam magros

e costumam ficar doentes. Como não sabem quanto que a área de pasto pode agüentar em numero de criação, então quem cria gado deve conseguir ajuda para fazer esse estudo. Mas mesmo com estudo o máximo que podem criar são 50 cabeças de gado por família.

“...não adianta muita área para gado se eles ficam doentes e morrem...”

44. Só é permitido a criação den-tro do limite de respeito

Só será permitida a criação de gado na propriedade de cada um e respeitando todas as regras inclu-sive aquela que a abertura para atividades produtivas por limite de respeito pode ser de 16 tare-fas (4 hectares). É proibido criar gado fora das terras da família, em áreas que sejam coletivas.

Pequenos Animais45. Criação de pequenos animais tem que ser cercada

Os porcos e galinhas e outros ani-mais pequenos, se criados soltos podem trazer problemas entre os vizinhos. Isso porque eles são comilões e vão andan-do por todos os lados podendo revirar o terreiro do vizinho, as roças. Para evi-tar esses conflitos, terão que cercar as criações nos terreiros e para terem uma boa convivência com todos das redondezas.

46. Criação de pequenos animais é principalmente para alimentação da família A criação dos pequenos animais (porco, galinha, pato...) serve principalmente

para alimentar as famílias, mas não tem problema nenhum de serem vendidos.

Meio Ambiente

47.Devemos fazer plantio das espécies em ex-tinção (Piquiá, Castanha, Itaúba, Mogno,...)

Tem espécies que já não se encontra mais na região como antes e que fazem parte da cul-tura tanto para alimentação, como construção de barcos, e medicina. Essas espécies podem voltar a ser encontradas em quantidade na flo-resta se derem uma ajuda a elas com o plantio nos roçados, nos terreiros e até mesmo na mata. Ajudem a regeneração da floresta e deixar essas espécies para as futuras gerações.

48. É proibido queimar, desmatar ou qualquer ativi-dade produtiva na beira de rios ou qualquer fonte de água

As áreas de beira de rios e nascentes são classifi-cadas pela legislação como Áreas de Preservação Per-manente, as APP. Nestas áreas é proibido por lei o desmatamento das margens dos rios. Dessa forma, os rios pequenos não podem ser desmatados a partir de 20 metros das margens e os rios grandes a partir de 50 metros das margens como também as nascentes. Isso porque a mata e as plantas são as que segu-ram a terra na hora da chuva. Se tirarem a vegeta-ção, a chuva leva toda terra para dentro do rio, deixan-do-o mais raso, largo e sem vida. Se vocês não querem que isso aconteça com o rio, por isso, não queime, não desmate, nem abra roça na beira de rio e igarapé.

“Nem precisa plantar ou fazer projeto para mata da beira do rio voltar, quando não queima, não limpa a área o mato cresce rápido e sozinho”

49. É proibido queimar, desmatar ou qualquer atividade produtiva em áreas de rampa

Assim como diz a lei, as áreas de rampa tem que ter floresta, para ela não desbarrancar e ir para dentro do rio. Portanto, fica proibida a queima, retira-da de madeira e abertura de roças nessas localidades.

Pesquisa

50. A comunidade apóia a pesquisa “Se for para melhoria de quem

mora é muito bom pesquisa”Os moradores do PEAEX acei-

tam e incentivam a vinda de pesqui-sadores e institutos de pesquisa, acre-ditam que pesquisa seja boa para o desenvolvimento. Mas querem saber o assunto e objetivos da pesqui-sa e quais benefícios que serão devolvidos para comunidade.

Datas de reuniões para discutir as regras

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Agentes Ambientais__________________________________________________________________________

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Regras novas e mudanças nas regras que existem__________________________________________________________________________

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O que fazer se as pessoas não cumprirem com as regras e acordos__________________________________________________________________________

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FECHAMENTO

Foi com muita dedicação e carinho que os moradores das comunidades Es-pírito Santo e São João discutiram sobre as riquezas naturais e suas necessidades e juntos construíram o seu Plano de Desenvolvimento Sustentável com regras de uso e convivência do PEAEX Majari.

É de muita importância o cumprimento das regras e acordo locais, princi-palmente pelos moradores das comunidades que são o exemplo de bom uso dos recursos naturais locais e os principais interessados pela manutenção de suas flo-restas, rios, caça, pesca. As regras podem ajudar o bom entendimento dos mora-dores idosos, adultos, jovens e crianças Por isso é claro que as regras servem para todos, não só pra uns e não os outros, senão não é justo, não é?.

Além disso, todas as pessoas de fora da comunidade também deverão res-peitar as regras das comunidades para poderem freqüentar e utilizar a área do PEAEX Majari e poderem ser bem vindos pelas comunidades.

Também não podemos esquecer que quando foran feitas as regras também fo-ram criados dois grupos de Agentes Ambientais, sendo um em cada comunidade, que tem a responsabilidade de fazer a fiscalização das áreas coletivas para ver se têm

pessoas de fora ou de dentro da comunidade que não estão cumprindo com as regras de uso e convivência. Se não resolver na comunidade, estes agentes depois vão fazer as denúncias para Associação, IBAMA, Delegacia do Meio Ambiente. Ficou combina-do que as fiscalizações das áreas coletivas deverão acontecer duas vezes por mês, feito pelos grupos de agentes!

Para ajudar que as pessoas da comunidade e de fora saibam das regras, ficou combinado de fazer placas de sinalização informando os acordos e também fazer piques para demarcar o limite das terras do PEAEX Majari!

Isso tudo vai ajudar muito a ter controle das terras e divulgar as regras de uso e convivência. Mas ainda não acabou por aqui, porque ainda vão ter que discutir como solucionar o problemas e conflitos que vão certamente surgir e quais serão as penalidades quando necessário para os moradores e o pessoal de fora que não estiverem cumprindo com os as regras de uso e convivência! A Associação deve tomar a frente para reunir os moradores o quanto antes possível para esta discus-são!

Lista de Siglas

CDS Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz CIFOR Centro Internacional de Pesquisas Florestais EMATER (Porto de Moz) Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do ParáIBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisITERPA Instituto de Terras do Pará.PEAEX Projeto Estadual de Assentamento AgroextrativistaPDS Plano de Desenvolvimento Sustentável STTR Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais