campus nº. 372

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Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), ano 41, edição 372

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CAMPUS

RECORDE NO PALÁCIO DO BURITI

NEGROS RECEBEM MENOS ÓRGÃOSExplicação pode ser desigualdade

CAMPUS

GDF cria 14 novas secretarias em menos de um ano e lidera ranking com 35 pastas

Foto: Livia Chefer

SURF DIFERENTE NO LAGO PARANOÁStand up paddle conquista Brasília

ESPORTE

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ão GESTÃO PÚBLICA

Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB

de 1º a 7 de novembro de 2011, ano 41, edição 372

DOAÇÃO

O projeto de lei que cria o novo Plano Nacional de Educação (PNE) apresenta 20 metas e 170 estra-tégias que definirão o rumo da educação no Bra-

sil até 2020. A principal proposta é a universalização do ensino para toda a população de quatro a 17 anos. Além disso, o PNE propõe oferta de ensino integral em meta-de das escolas públicas de ensino básico, alfabetização de todas as crianças até os oito anos de idade, melhoria dos salários dos professores e ampliação do investimen-to público na área até alcançar, no mínimo, o patamar de 7% do PIB.

Se o governo deseja oferecer oportunidades igualitá-rias e dignas à população em apenas nove anos, há mui-to trabalho acumulado por fazer. Não é a primeira vez que se formula objetivos para melhorar a educação no país. O antigo PNE, que vigorou de 2001 a 2010, traçou mais de 200 metas. A maioria não foi cumprida e deixou a dívida para a nova edição. Hoje, apenas 4,27% - de 31 milhões de alunos - estão matriculados em escolas com ensino em tempo integral; 9,6% dos brasileiros com mais de 15 anos são analfabetos, o que nos coloca em

sétimo lugar no ranking de analfabetismo da América Latina; e 680 mil crianças ainda estão fora da escola.

A valorização dos professores, em destaque no PNE e nos discursos dos políticos, parece prioridade so-mente no plano das ideias. Os docentes mineiros, que permaneceram mais de 100 dias em greve reivindi-cando o simples cumprimento da lei para o pagamento do piso salarial de R$1.187,00, fazem parte dos 69% da categoria que consideram a carreira desvalorizada e entram em salas de aula motivados quase que ex-clusivamente pela vocação. Tampouco se sentem es-peciais os professores cearenses que, em protesto por reajuste salarial, saíram espancados da Assembleia Legislativa do Ceará.

Numa visão otimista, se o novo PNE for cumprido teremos um Brasil com novas perspectivas e esperan-ça renovada. Já na possibilidade pessimista reforçada pelo histórico fracasso das políticas públicas educa-cionais, as promessas não cumpridas se juntarão aos erros do último Plano e às inúmeras promessas ao povo brasileiro nunca concretizadas.

CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília

Editora-chefe Amanda Martimon Secretária de Redação Marcella Fernandes

Diretor de Arte Victor Pennington Editores Emerson Fraga (p. 3 e 7),

Marcella Fernandes (p. 8 ) e Roberta Pinheiro (p. 4, 5 e 6) Diagramadores Amanda Maia e Ricardo Viula

Fotógrafos Guilherme Alves e Livea Chefer Repórteres Ana Júlia Melo, Bárbara Cabral,

Brenda Monteiro, Mateus Lara e Paulo Victor Chagas Monitores Alexandre Bastos e Júlia Libório

Jornalista José Luiz Silva Professores Sérgio de Sá e Solano Nascimento ISSN 2237-1850Brasília/DF - Campus Darcy Ribeiro Faculdade de Comunicação - ICC Ala NorteCEP 70.910-900 Telefones 61 3107.6498/6501E-mail campus@unb.brGráfica Palavra ComunicaçãoTiragem 4 mil exemplares

EDUCAÇÃO A DEFINIRAmanda Martimon, editora-chefe

O Dia Nacional do Livro é comemorado em 29 de outubro, data oficial da fundação da Biblioteca Nacional, fundada com a transferência da Real Biblioteca portuguesa para o Brasil, em 1810. O índice de leitura no Brasil não é alto, mas cresceu 150% de 2000 a 2010 – o brasileiro lia uma média de 1,8 livro por ano, e passou a ler 4,7 livros –, se-gundo dados do Ministério da Cultura (MinC). Aproveitan-do a data comemorada no último sábado, o Campus foi à biblioteca da Universidade de Brasília (UnB) para conhecer o livro favorito dos estudantes.

NA FILA da biblioteca

OPINIÃO

Meu pé de laranja lima [José Mau-ro de Vasconcelos] marcou minha vida, li inúmeras vezes. Ele retrata como a imaginação pode servir de fuga durante a infância.

O número 371 do Campus representa melhora significativa em relação às edições anterio-res. Novamente, pautas interessantes, boa

apuração e textos bem escritos. Mas, junto a tudo isso, a equipe soube ousar de forma positiva. O leitor agradece.

A matéria sobre zumbis foi excelente jogada. A habilidade do grupo fez com que um assunto aparen-temente banal valesse ocupar as páginas centrais. O título chama a atenção, o texto é sedutor e a diagra-mação, adequada. Além disso, a inversão da posição das páginas, transformando-as em uma só, é uma mudança bacana. Tira o leitor do comodismo e mos-tra que o jornal pode sair do conservadorismo chato e cotidiano. Pena que a capa não saiba vendê-la.

Falta dinheiro para casas de apoio também foi boa tentativa. O repórter tem muitos dados, mas poderia trabalhá-los melhor, até para que boas informações não passassem batidas ou parecessem mal conec-tadas. Ah, cuidado importante: não basta dizer que existem 2,5 mil pessoas com o vírus da aids no DF e

apenas quatro casas de apoio se não sabemos qual porcentagem desse público depende do recurso.

Já na matéria sobre rugby, mais acertos. Inco-moda só a baixa qualidade da foto que acompanha o texto e a da capa, além da diagramação quadra-da demais. O Q? Curiosidades também está muito legal. O tema é bom e, por causa das cores da edi-ção e do costume, não parece um anúncio.

Em Pela web, tratamentos estéticos arriscados temos uma informação relevante, mas mal divul-gada, como destaca a jornalista: a proibição não vale para todos. Mas, de novo, a pauta merecia mais esforço. Para terminar, parabéns pelo per-fil. Certamente exigiu grande esforço do repórter que, junto às fotos do arquivo pessoal do Suplicy, em destaque a do Chico Buarque, tornam a última página uma ótima vitrine.

QUANDO OUSAR VALE A PENA Raquel Castelo

OMBUDSKIVINNA

EXPEDIENTE

Guilherme Alves

Thais de Abreu, Biblioteconomia

A Guerra dos tronos [George R. R. Martin]. Gosto do estilo épico, do

cenário medieval de fantasia. A história é muito bem elaborada.

2 CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 1 a 7 de novembro de 2011

Tem muitos, é só um? Anjos e demônios [Dan Brown]. A histó-ria é muito boa e gosto do jeito que o autor descreve as cenas.

Ana Paula Paiva, Enfermagem

A arte da guerra [Sun Tzu]. Ele fala de estratégia, é ótimo para

as pessoas se planejararem, ensi-na a gente a se situar no mundo.

Vinícius Siqueira, vestibulando

Feminino de ombudsman, termo sueco que significa “provedor de justiça”, a ombudskivinna discute a

produção dos jornalistas a partir da perspectiva do leitor.

Daniel Casé, Engenharia Mecânica

ACESSE O CAMPUS ONLINE WWW.FAC.UNB.BR/CAMPUSONLINE

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dições para isso: mais hospitais e equipe médica melhor qualificada.” O pesquisa-dor afirma que as diferenças entre as re-giões em relação a transplantes refletem a situação da saúde no Brasil. “Temos um excelente sistema de transplantes, mas al-gumas condições devem mudar. Nenhuma raça ou região pode ter mais acesso que a outra, temos de procurar o equilíbrio.”

A líder do Movimento Negro Unificado do DF, Jacira da Silva, milita a favor da igualdade há anos. Segundo ela, a popula-ção negra não é tratada como deveria ser quando o assunto é saúde. “A desigualda-de existe e é um fato. Além das questões econômicas, sabemos que há, sim, racis-mo institucional - é algo camuflado, mas existe”, complementa. Em relação aos transplantes, Jacira afirma que essa é só mais uma faceta da saúde. “Por conta do contexto histórico e de outros fatores, te-mos peculiaridades e elas devem ser leva-das em conta.” A discussão, segundo ela, deve ser levada ao campo político. “Por isso apoio projetos como a Conferência de Saúde da População Negra, para discutir-mos temas como esse”, defende.

*Nome fictício

SAÚDE

Em outubro de 2009, Roberto* co-meçou a ter dores fortes nas per-nas, inchaço e fraqueza. Mal podia

comer ou beber. “Com o passar dos dias, eu não conseguia nem dormir, tamanha a dor.” No dia 10 de outubro, com apenas 23 anos, ele teve seu problema diagnos-ticado como insuficiência renal crônica. “Fui direto para hemodiálise, pensei que fosse morrer.” Roberto é negro, filho de aposentados. O pai era motorista de ôni-bus e a mãe, professora. “Me trato no Hospital Geral de Fortaleza, com a equipe de nefrologia, que é ótima. O problema, às vezes, é a falta de remédios”, lamenta. Um doador potencial foi encontrado, mas na época o transplante não pode ser rea-lizado. “Eu não estava em condições, foi no começo do tratamento. Não sabia onde encontrar os remédios de graça, nem ti-nha dinheiro para comprá-los. Mas agora faço de tudo para estar pronto. Não dá para abusar da sorte né?”.

As necessidades são praticamente as mesmas, no entanto, um estudo divul-gado este ano pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que ne-gros recebem menos transplantes do que brancos. A principal hipótese é a de que as desigualdades econômicas geram a di-ferença. Entre as possíveis causas estão: a desinformação, a escassez de doadores e a falta de estrutura para transplantes

Desigualdade racial até nos transplantesPesquisa do Ipea revela que, mesmo com fila única, negros e pardos, que compõem a maioria da população brasileira, recebem menos doações de órgãos do que brancos. Origem do problema pode ser social

nas regiões Norte e Nordeste.O pesquisador Alexandre Marinho,

da Diretoria de Estudos Sociais do Ipea, pretendia traçar um panorama do Siste-ma Nacional de Transplantes (SNT), mas não esperava encontrar discrepância tão grande no perfil dos receptores. “O obje-tivo era descobrir como se desenvolviam os transplantes no Brasil, em números. Por isso, fizemos um estudo demográfico e epidemiológico. Acabamos de cara com essa surpresa”, declara. A pesquisa, pu-blicada em julho, levou em conta dados de 1995 a 2004 da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), do Banco de Dados do SUS (Datasus) e do próprio SNT. Os transplantes analisados foram de coração, pulmão, fígado, rim e pâncreas.

Segundo a ABTO, 90% dos transplan-tes no Brasil são realizados pelo SNT, programa do Ministério da Saúde execu-tado por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Para realizar transplante, o pa-ciente deve entrar na fila única, uma lista de espera, na qual aguarda um doador. A fila única não considera cor, etnia, sexo ou classe econômica. No entanto, não neces-sariamente obedece a ordem de chegada. Leva-se em conta compatibilidade san-guínea, peso, altura, necessidade, local e condições físicas do receptor. “No estudo, não analisamos as justificativas. Mas le-vantamos hipóteses, e a desigualdade so-cial é uma delas”, explica Marinho.

Para o pesquisador, a falta de conhe-cimento sobre o assunto prejudica as classes economicamente mais baixas. “O tratamento não é feito como deveria ser, por falta de informação ou dinheiro. Essas pessoas, muitas vezes, têm até receio de fazer transplante”, diz. “Alguns nem che-gam ao SUS por não saber desse tipo de tratamento.” Segundo o IBGE, em 2009, negros e pardos ainda não haviam atingi-do os indicadores de escolaridade que os brancos já apresentavam dez anos antes. Em relação à renda, o mesmo estudo mos-tra que os negros ganham apenas 57% da renda dos brancos.

“Existe o momento crucial”, explica Fernando Atik, cirurgião cardiovascular do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal. Apesar de desconhecer o estu-do, Atik afirma que se passar da hora não há como fazer o transplante. “O pacien-te precisa estar em condições, não pode ser nem antes ou depois. O momento cer-to é quando o tratamento para de fazer efeito”, afirma. O médico reforça que os transplantes têm sido bem sucedidos, mas o que falta é banco de órgãos. “Talvez seja esse o caso desse grupo étnico: falta de

Bárbara Cabral

órgãos e doadores. É preciso fazer uma busca para saber o porquê da diferença”, declara. O médico explica que a compa-tibilidade entre grupos étnicos pode ser maior. A mesma hipótese é levantada pelo estudo do Ipea, mas é logo respondida: a pesquisa mostra que potenciais doadores não faltam, já que 52% das pessoas que morrem por causas externas são negros e pardos. A escassez de doadores efetivos é um problema no Brasil, e entre os negros e pardos não é diferente.

Letícia Santos, da Coordenação Geral do SNT, reforça que existem inúmeros fatores envolvidos. “É preciso analisar além do dado bruto”, afirma. Letícia con-ta que, no primeiro semestre de 2011, 76% dos transplantes realizados foram feitos nas regiões Sul e Sudeste, onde segundo o IBGE cerca de 78% e 57% da população, respectivamente, são brancos. “Se agruparmos a região Centro-Oeste, que apresenta 42% da população branca, esse percentual sobe para 82% do total de transplantes realizados”, afirma.

O pesquisador Alexandre Marinho, contudo, ressalta que esse é mais um agravante. “As regiões Sul e Sudeste fa-zem mais transplantes porque têm con-

CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 1 a 7 de outubro de 2011 3

A edição 33 do Campus, de dezembro de 1980, trazia reportagem de Edson de Al-meida sobre uma campanha na televisão que incentivava a doação de órgãos no Brasil. O problema era a falta de postos que recebessem córneas no DF. A fila de espera na época da publicação da matéria intitula-da Mil cegos voltam a ver demorava de seis meses a dois anos.

MEMÓRIA

PÂNCREAS 93% brancos03% pardos02% negros02% amarelos

PULMÃO77% brancos17% pardos 05% negros01% amarelos

RIM69% brancos19% pardos 11% negros 01% amarelos

CORAÇÃO56% brancos33% pardos09% negros02% amarelos

Ilustração: Rafael Coelho/Colaboração

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Receptores de órgãos

Dez meses após o governador Agnelo Quei-roz assumir o comando do Distrito Fede-ral (DF), a população da capital já pode

cantar vitória sobre as demais unidades da fede-ração. O recorde, no entanto, não é de se come-morar. No dia primeiro de janeiro de 2011, foi assinado por Queiroz um decreto criando 12 no-vas secretarias de Estado. Em agosto, mais duas pastas foram incorporadas à administração di-reta do DF, e o número subiu para 35. Com isso, Brasília se igualou ao Maranhão no topo da lista das unidades da federação com maior número de secretarias.

Com a nova estrutura, crianças, jovens e ido-sos podem recorrer a secretários exclusivos. Para se diferenciar das gestões anteriores e dar a impressão de mais cuidados aos problemas socioeconômicos, o GDF criou as secretarias da Mulher, da Igualdade Racial, do Entorno e da Micro e Pequena Empresa e Economia Solidária. Características da capital federal resultaram também nas pastas de Defesa Civil e de Admi-nistração Pública, para, respectivamente, preve-nir queimadas e definir políticas para servidores públicos. O meio ambiente voltou a ter despacho próprio, e os assuntos estratégicos também ga-nharam relevância no novo governo.

O GDF é dono da única pasta dedicada ex-clusivamente à publicidade no país, e caso a so-ciedade deseje fiscalizar os gastos públicos pode fazer isso por meio do site da nova Secretaria de Transparência e Controle. Além das secretarias da Casa Civil e do Governo, ambas com funções

semelhantes de acompanhamento de políticas governamentais, Queiroz agora se aconselha com o secretário do Estado-Executivo do Conse-lho do Governo.

O Maranhão, embora possua a mesma quan-tidade de secretarias do DF, criou apenas uma este ano, a de Articulação de Políticas Públicas. Além disso, o estado é 57 vezes maior e possui o dobro da população do Distrito Federal. Ro-raima é o estado que menos possui secretarias. Durante os mais de 20 anos como unidade da federação, criou apenas 11 pastas, três a menos que o número criado pelo DF este ano. A média nacional de secretarias é 22.

Para o cálculo, foram contadas as secretarias mencionadas no decreto distrital nº 32716, de 1º de janeiro de 2011 - que listou as que seriam mantidas e as novas - e os demais órgãos que possuem status de secretaria, como a Casa Civil e o Conselho de Governo.

O mesmo decreto determina que a criação das novas secretarias não deveria acarretar aumento de despesas ao governo, já que a Lei Orçamentária Anual de 2011 não previa as mu-danças. A maioria das pastas recebe recursos realocados de outras áreas do governo. As de Meio Ambiente, Administração, Publicidade e Transparência, por exemplo, dispõem juntas de R$ 201 milhões para este ano, de acordo com dados do Portal da Transparência Fiscal do GDF.

Para o secretário-geral da ONG Contas Aber-tas, Francisco Gil Castello Branco, o fato de dar o status de secretaria a uma pasta já gera cus-tos adicionais. “Acaba agregando todos aqueles penduricalhos que vêm junto com o secretário, como automóvel, assessores, eventualmente imóveis funcionais, que enfraquecem ainda mais a máquina pública”, avalia. A remuneração de um secretário de estado, de acordo com o portal, é de R$ 20.042, quase 50% maior que o salário de um subsecretário.

“A administração do governo tem se mos-trado um verdadeiro elefante branco. Há su-perposição de atribuições entre secretarias e secretários batendo cabeças, alguns com plenos poderes, outros com suas pastas esvaziadas”, comenta Toninho do PSOL, ex-candidato a go-vernador do DF.

Gil Castello Branco avalia que se houvesse menos pastas seria possível atender melhor às áreas sob cuidado do governo. “Não há a ne-cessidade de tantas secretarias. A intenção de dar mais visibilidade a uma ou outra área acaba prejudicada pelo fato de que o governador não consegue despachar com essa quantidade de se-cretários que ele próprio criou.”

O poder de multiplicação de AgneloCapital aumenta em 66% número de secretarias em menos de um ano e passa à frente no ranking das unidades da federação. Suspeitas de favorecimento de aliados e funcionamento em locais improvisados recheiam o cenário do recorde candango

4 CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB

Paulo Victor Chagas

POR TRÁS DA REPORTAGEM

Para a realização da reportagem, foi feito levantamento do número de secretarias de cada unidade da federação junto aos sites oficiais. Foram consideradas as pastas com nome de secretaria e demais órgãos com status de secretaria. Além disso, foram so-licitadas a cada nova pasta do DF informa-ções referentes à localização, número de funcionários, previsão orçamentária e mis-são. Com os dados, buscou-se números e valores orçamentários no Portal da Trans-parência Fiscal. Quanto ao favorecimento de aliados com cargos políticos, após a pri-meira pesquisa, os citados foram ouvidos.

O poder de multiplicação de AgneloCapital aumenta em 66% número de secretarias em menos de um ano e passa à frente no ranking das unidades da federação. Suspeitas de favorecimento de aliados e funcionamento em locais improvisados recheiam o cenário do recorde candango

GESTÃO PÚBLICA

Brasília, de 1 a 7 de novembro de 2011 5

TOMA LÁ, DÁ CÁA quantidade de secretarias e cargos criados

gera críticas quanto ao suposto benefício de aliados no momento da formação do primeiro escalão. Para Gil Castello Branco, a criação de novos cargos só se dá em função de aspectos po-líticos. “Essa quantidade de secretarias atende aos interesses políticos, é a forma de abrigar to-das as vertentes eleitorais que participaram da campanha. E não há nenhum efeito prático em termos da eficiência da máquina”, assegura.

Quarto colocado nas eleições para o GDF em 2010, Eduardo Brandão (PV) dizia que a cam-panha de Agnelo, por conter muitos partidos, era uma “sopa de letrinhas”. No segundo turno, somou a sigla do Partido Verde às demais, e em janeiro assumiu a secretaria de Meio Ambiente.

“O nosso caminho natural seria apoiar o go-vernador Agnelo, não iríamos apoiar a Weslian Roriz. Essa adesão é natural, mas na época nós não falamos sobre a participação no novo go-verno, até porque estávamos acostumados a ser oposição”, conta Brandão.

Toninho interpreta: “Essa postura reflete a falência do quadro partidário brasileiro. Pensá-vamos que o PV tivesse uma postura, como de-monstrou durante a campanha, mas terminado o 1º turno, foi direto para o colo do Agnelo”.

Desistente da candidatura antes do 1º tur-no, o atual secretário de Assuntos Estratégicos, Newton Lins (PSL), em cuja campanha dizia “chega de vermelho e de azul”, apoiou a candi-datura de Queiroz. “Naquele momento eu enten-di que deveria ajudar o Agnelo, para não haver retrocesso. Não sou daqueles que se não for eu, não participo”, justifica Lins.

Segundo o secretário, a adesão ao atual go-vernador não foi em troca de cargo político. “Ele me convidou após as eleições, eu não estava se-quer no Brasil. Eu não sabia que haveria o convi-te, mas é natural que os aliados sempre compo-nham de alguma forma o governo”, afirma.

Criada em agosto, a Secretaria do Idoso tam-bém sofre críticas por supostamente ser abrigo de aliados. Suplente de deputado federal, Ri-

cardo Quirino (PRB) assumiu o cargo no lugar de Luiz Pitman (PMDB), mas teve de deixar a função em julho, com a volta do titular. Menos de um mês depois, Quirino tinha um novo gabinete para despa-char, como secretário do Idoso.

“Ele é pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, segmento social importante, e ocupa essa se-cretaria por um acordo. Devido à acomodação, se obtém apoio dos fiéis. Isso é feito com desenvoltu-ra”, acusa Toninho. “Não pedi nada ao governador, e nem represento a igreja no governo, e sim o PRB”, defende-se Quirino.

ESTRUTURA PROVISÓRIAAlgumas secretarias ainda não possuem sede de-

finitiva e, por isso, funcionam em caráter provisório fora do Palácio do Buriti. É o caso da Secretaria da Criança, que despacha no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. A Secretaria de Turismo, ape-sar de não ter sido criada este ano, também possui funcionários trabalhando no local, projetado para receber eventos de grande porte.

De acordo com informações da assessoria de im-prensa da Secretaria de Micro e Pequena Empresa e Economia Solidária, embora a sede funcione na Rodoferroviária “com pouca estrutura”, ainda este ano o espaço será reformado.

A Secretaria do Idoso não possui uma sede úni-ca. Os trabalhos são divididos entre o Centro Ad-ministrativo Buritinga (Taguatinga-DF) e um prédio anexo ao Ginásio Nilson Nelson. A assessoria de im-prensa informou que há previsão de transferência para um prédio no Setor de Indústria e Abasteci-mento (SIA), dentro de “no máximo um mês”.

Diante das acusações, o Governo do Distrito Federal foi procurado pelo Campus. A Secretaria de Comunicação (Secom) afirmou, por e-mail, que as novas secretarias possuem estrutura enxuta, já que são oriundas de outras pastas. Complementou dizendo que nestes dez meses outras áreas, como saúde e educação, foram priorizadas, razão para os locais provisórios. Em relação ao favorecimento de aliados, a Secom alegou que a gestão é fruto de uma coalizão de forças, logo “é natural que estas forças estejam representadas na administração pública”.

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Secretaria do Idoso funciona em prédio ao lado do Ginásio Nilson Nelson enquanto administração prioriza outras áreas. Segundo a Secom, o GDF trabalha na adequação dos espaços

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Infográfico: Rui Rodrigues - EuQueriaSer Prod./Colaboração

Enquanto o Rio de Janeiro é reco-nhecido como a capital do samba, e São Paulo, como a da salsa, é o zouk

que ganha espaço na capital federal. No Balança Brasília, congresso ocorrido em outubro, 170 alunos, 13 casais de profes-sores de zouk, 12 de samba, dois de tan-go, três de salsa e um de forró ocuparam o Centro de Danças do DF. Foram três dias de muitos passos, 60 aulas, duas festas e uma mostra coreográfica.

Brasília tem atraído aten-ção no cenário da dança, princi-palmente o ritmo zouk. A cidade foi palco de três edições do Con-gresso Internacional de Zouk e tem despertado o interesse de renomados profissionais inter-nacionais para o zouk brasilien-se. “Há quatro anos dou aulas em congressos em Brasília e o crescimento dos alunos é notó-rio”, afirma o professor Renato Veronezi, de São Paulo.

RAIZ LATINAZouk é um gênero surgido nas

Antilhas e cantado originalmen-te em créole, mistura de dialetos africanos e francês. A banda cari-benha Kassav foi a precursora do ritmo nos anos 80, com o suces-so que pode ser traduzido para o português como Zouk é nosso único remédio. Em pouco tempo, o norte do Brasil acompanhava o hit, uma vez que as rádios nacionais captavam sinais das estações caribenhas e das Guianas.

tas aulas, participar de workshops e con-gressos. O convite é o resultado do que eu venho plantando”, analisa.

E não é apenas o professor que vai para Uberlândia. Lulucka Santiago, orga-nizadora da excursão brasiliense para o UAIZouk, afirma que a procura é grande. Em pouco mais de uma semana, dez dan-çarinos garantiram sua vaga. E ela asse-gura: “Com o final do Balança Brasília, a procura tende a aumentar. Temos duas vans de 15 lugares e vai ser fácil lotar as duas. Em Brasília, além de as pessoas adorarem o zouk, viajam para ter contato com outros professores”.

É o caso do bancário Elitônio Moura, 54. Após o fim do casamento, ele procu-rou bailes para se distrair, mas não sabia dançar. Ao conhecer o zouk, tornou-se um adepto. Há dez meses, começou a prati-car em uma academia e já participou de um congresso na Argentina e dois em Bra-sília. Ainda neste ano deverá ir a Santa Catarina e ao Rio de Janeiro fazer mais aulas. “É um ritmo envolvente e quero me tornar um zoukeiro”, afirma Moura.

Para Louize Avancini, o zouk é pura paixão. A capixaba conheceu o ritmo ao acompanhar uma amiga em aula, durante viagem ao Pará. Quando veio para Brasí-lia, resolveu dar vida à vontade de dan-çar. No entanto, não foi só pelo zouk que Louize se apaixonou. Durante as aulas, conheceu o analista de informação Gled-son Luciano. Juntos há pouco mais de um mês, os dois gostam de sair para praticar o que aprendem em sala. “A dança é para mim uma terapia. Nós gostamos de ir ao Caribeño e ao Zouk Open Air para dan-çar”, diz a psiquiatra.

Nessa época, havia no Brasil uma de-cadência “na frebre da lambada”, dança surgida no Pará na década de 1970 e ca-racterizada por uma mistura de carimbó com ritmos caribenhos (salsa, merengue, soca). Mas seus admiradores não dei-xaram o ritmo morrer. Eles passaram a

dançar a lambada usando outros ritmos musicais, como o zouk. A partir de então, o gênero musical tornou-se também um estilo de dança a dois, parecido com a lambada.

O professor Pedrinho Santos, de Brasília, expli-ca: “Hoje, o uso de remi-

xes para se dançar zouk, sob influência do hip-hop e do R&B (Rhythm and Blues), ajudou a popula-rizar a dança. Os movi-mentos se tornaram mais cadenciados do que os da lambada, o que permite maior riqueza de detalhes nos passos”.

EXCURSÃO CANDANGA Pedrinho Santos come-

çou a dançar em 2004, mas só no ano seguinte conheceu o zouk. Hoje é professor em uma reconhe-cida academia de dança de salão e foi convidado para dar aula em Uberlândia

(MG) no Congresso UAIZouk, no final de novembro. Para o dançarino, o convite é um reconhecimento do traba-lho. “Procurei me especializar, fazer mui-

COMPORTAMENTO

Ritmo envolvente embala noites brasiliensesMovimento do zouk conquista os que encontraram no ritmo uma mistura de lambada com sons remixados, como o hip-hop. Capital sediou três congressos e despertou a atenção de profissionais renomados para o estilo candango

6 CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 1 a 7 de novembro de 2011

Brenda Monteiro

Livea Chefer

ARCO-ÍRIS LUNAR: ACREDITE SE QUISER Fenômeno acontece à noite e raramente pode ser visto a olho nu

CURIOSIDADES

?

O arco-íris lunar (moonbow) é um fenô-meno semelhante ao do arco-íris criado pelos raios do sol. Acontece à noite quando a luz da lua atravessa gotículas de água suspensas na atmosfera e se divide nas sete cores do arco-íris. Marcelo Augusto, professor de física do Centro Universitário Uma, de Belo Horizonte (MG), explica que o arco-íris lunar só ocorre com a presença da lua cheia – quando a luz do sol refletida pelo astro é mais forte – e com as gotículas de água no ar, geralmente presentes perto de cachoeiras ou quando está prestes a chover.

O moonbow também é chamado de arco- íris branco. Como ele é criado pela luz da lua, e o brilho dela é muito fraco para estimular a sensibilidade dos receptores de cores dos olhos humanos, o arco-íris lunar é visto como se fosse uma faixa branca. As cores dos raios geralmente só podem ser vistas em uma fo-tografia de longa exposição.

O fenômeno atrai muitos turistas. Nas ca-choeiras Yosemite, nos Estados Unidos, e nas Cataratas do Iguaçu, por exemplo, são ofere-cidos passeios noturnos em dias de lua cheia para apreciar o fenômeno natural.

ZOUK NA UNBHá dois anos e meio, quando en-

trou para o curso de Educação Física na Universidade de Brasília (UnB), Arthur Vieira percebeu uma oportuni-dade de negócio. As aulas de dança de salão oferecidas nos anfiteatros da UnB não contemplavam o seu ritmo preferido: o zouk.

O professor resolveu montar uma turma às sextas-feiras, com outros dois instrutores. “Fiz uma grande di-vulgação com cartazes, mas a procura não foi tão grande”, relembra. Hoje, ele ministra duas turmas cheias, uma de nível iniciante e outra de iniciado e não mais precisa de grande divulga-ção. “Os alunos antigos trazem novos alunos. A divulgação é feita pelo boca a boca”, afirma o dançarino.

Para Vieira, dar aulas na UnB é uma maneira de fortalecer o movi-mento do zouk em Brasília. “Os alu-nos aprendem uma noção básica da dança nos três meses de aula que têm aqui e saem interessados em procu-rar as academias e lugares para dan-çar”, explica o professor.

Gabriele Carvalho, estudante de Letras, faz aula na turma de Vieira há dois meses. Para ela, a grande vanta-gem é o preço. “Já fiz zouk em uma academia, mas aqui é mais barato”, confessa. Duas horas de aula por se-mana custam R$ 35 por mês, enquan-to que em academias o mesmo perío-do pode custar cerca de R$ 100.

Horários: 2ª e 4ª / 3ª e 5ª, de 12h30 às 13h30, entre os anfiteatros 6 e 7, ICC sul.

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Foto: Tim Poultney/Flickr

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CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 1 a 7 de novembro de 2011 7

Ana Júlia Melo

ESPORTE

Sem ondas, Lago Paranoá recebe cada vez mais adeptos de uma recém-chegada modalidade do esporte em Brasília. Os praticantes do stand up paddle ficam de pé em uma prancha e usam um remo para deslizar sobre a água

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sOs que passam pelas pontes Jus-celino Kubitschek e Costa e Silva estranham ao ver o que parece

ser, de longe, pessoas andando sobre a água. Essa é a impressão de quem vê pela primeira vez o stand up paddle. Os pra-ticantes do SUP, abreviatura do esporte, se misturam às pequenas embarcações e velas que enfeitam o Lago Paranoá.

Além de um esporte, o SUP é uma ativi-dade de lazer. Munidos de um remo, pes-soas de várias idades sobem nas grandes pranchas para stand up e testam o equi-líbrio. “Não precisa mais do que 15 mi-nutos em cima pra pegar o jeito”, afirma Marcelo Marrone, 40 anos, dono do Clube Katanka e um dos pioneiros do esporte em Brasília. O professor de SUP explica que a nova modalidade do surfe é fácil, mas exi-ge técnica, condicionamento físico, equilí-brio e preparo mental. “Nas competições, o cara fica horas em cima da prancha, é preciso se preparar para regatas longas.”

Também usado para velejar ou pescar, o SUP é caracterizado por longas traves-sias. Entre as duas modalidades do stand up paddle encontra-se o race, praticado em lugares com pouco ou nenhuma onda, como o Lago Paranoá. A segunda, pratica-mente sem espaço em Brasília, é o stand up surf (SUS), no qual se pega ondas com o remo e a imensa prancha.

HISTÓRIARegistros históricos divergem sobre

onde teria nascido esse esporte. Na Chi-na, pessoas remavam em pé em jangadas de bambu há centenas de anos. No Bra-sil, a prática de remar em pé é conheci-da entre os caiçaras, que pescavam em canoas. No tempo dos incas, os peruanos remavam nos caballos de totora feitos de junco. Além do uso tradicional para pesca e transporte, esses povos chegavam a pe-gar ondas nessas embarcações.

No início do século 20, quando o surfe saltou aos olhos do mundo através do ha-vaiano Duke Kahanamoku, os professores da prática no Havaí usavam grandes pran-chas para ficar em pé olhando os alunos. Anos mais tarde, alguns surfistas começa-ram a testar pranchas maiores do que a long board para remar em pé, aproveitan-do os dias sem onda para manter o prepa-ro físico. Depois disso, bastaram algumas aparições de atletas famosos remando em uma prancha, como o surfista americano Laird Hamilton, na década de 1990, para que o esporte ganhasse diversos seguido-res por vários lugares do mundo.

SURF NA CAPITALNo Paranoá, as primeiras pranchas

do SUP chegaram há cerca de dois anos, trazidas pelos atletas que frequentavam e frequentam o lago para praticar outras modalidades. Beto Schmitz foi o primeiro a dar aulas em Brasília. Em abril de 2009, montou uma escola de stand up chamada SupBrasília, que fechou no ano passado, “mas não por falta de demanda”, conta.

Nas aulas, o principal percurso par-tia da Ermida Dom Bosco e seguia em remadas até o Pontão do Lago Sul. Para Schmitz, a adesão vem crescendo pela fa-cilidade de se praticar. “O SUP não exige grandes conhecimentos, não é perigoso e traz muitos benefícios à saúde em geral, além de ser muito gostoso fazer esporte na água”, diz o professor, que pratica es-portes desde os oito anos de idade.

Diante do crescimento contínuo do stand up, foi o Lago Paranoá, a mais de mil quilômetros do mar, que recebeu o 1º Campeonato Brasileiro de SUP, reunindo cerca de cem competidores de vários lu-

gares do país em agosto deste ano. Em competições, as categorias são divididas, além de idade e gênero, por tamanho das pranchas.

Com a popularização do SUP, os clu-bes à beira do lago estão abrindo cada vez mais espaço para o esporte. Além do aluguel de equipamento (prancha, remo e colete), são oferecidas tanto aulas para iniciantes, quanto acompanhamento para treino específico (competição, perda de peso, condicionamento físico e relaxa-mento). O preço da prancha varia de R$ 2,3 mil a R$ 6 mil. Já o remo custa entre R$ 300 e R$ 1 mil. Mas também é possível adquirir equipamentos mais baratos, de segunda mão.

Os irmãos catarinenses Kauan, 25, e Ruda Mohr, 21, moram em Brasília e pra-ticaram o SUP pela primeira vez no mês passado. Eles já surfavam e afirmam em consenso que é muito mais fácil praticar o stand up paddle. “Tomei uns tombos até conseguir, mas é muito fácil. É bem mais lento que o surf, você só precisa de equilí-brio”, diz Kauan.

NO RANKINGMarcos Antônio Gorayeb é um brasi-

liense de 49 anos. Formou-se em Rela-ções Internacionais na Universidade de Brasília, morou no sul do país, aprendeu a

surfar e praticou no esporte “de tudo um pouco”. Como maratonista, teve artro-se por conta dos desgastes da corrida e, em 2010, lutou contra um câncer de rim. Atleta nato, mesmo depois de todas as di-ficuldades, não abandonou o esporte.

Gorayeb teve seu primeiro contato com o SUP no ano de 2009 em Brasília, mas se dedicou realmente ao esporte de-pois de se curar do tumor. “O stand up me recuperou profundamente. Não só fi-sicamente, mas psicologicamente”, conta o esportista. Atualmente, ele é o segundo colocado no ranking nacional de stand up paddle, mas ficou mais conhecido depois de percorrer, no começo do ano, toda a costa da ilha de Florianópolis (SC) na sua prancha 14’8 (14 pés e 8 polegadas). Fo-ram seis dias, cada dia com cinco horas de remadas, para completar a volta.

O atleta, que planeja agora circular o Lago Paranoá com a prancha, defende que o esporte tem de estar ligado à pre-servação do espaço. Com os indicativos de que o lago está secando aos poucos, ele pretende registrar a volta com fotos e vídeos, mostrando as irregularidades que moradores e visitantes, que usufruem do Paranoá, cometem enquanto deveriam preservar o ambiente. “Você só preserva aquilo que ama, e só ama aquilo que co-nhece”, afirma.

Surfe a mil quilômetros do mar

• ClubeKatanka–ClubedasNações,SetordeClubesSul/Tel:(61)8172-5233• ClubeNavaldeBrasília–SetordeClubesSul/Tel:(61)8124-8596• IateClubedeBrasília–SetordeClubesNorte/Tel:(61)3329-8797• Mormaii–PontãodoLagoSul/Tel:(61)3364-6023

ONDE ENCONTRAR

Marcos Gorayeb, vice-líder do ranking brasilei-ro, é especialista em remada no mar

O movimento de adeptos do stand up no Lago Paranoá é maior aos finais de semana. Quem passa de longe pelo lugar nesses dias tem a impressão de que os praticantes caminham sobre as águas

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Mateus Lara

A manhã mal começou, e o juiz de fute-bol que mais apitou jogos na série A do Campeonato Brasileiro neste ano e único

árbitro do DF no quadro da Fifa já está deixan-do a academia do clube que frequenta e indo para a casa. Um atleticano que trabalha no clu-be sussurra para um amigo: “Já combinei com ele. Esse cara vai rebaixar o Cruzeiro”. Outro membro da roda denuncia a piada ao juiz, que garante não se importar. “Eles me conhecem, as brincadeiras são normais.”

O comentário acontece depois do treino. To-das as manhãs, Sandro Meira Ricci, 36 anos, corre na esteira. São 24 tiros de 100 metros a 20 km/h. Ricci simula o teste físico de árbitros da Fifa numa velocidade maior, apesar de a prova já ter acontecido há mais de um mês. “Não adianta só treinar para o teste, depois esquecer o preparo físico e não aguentar o pi-que dos jogos”, afirma. Ricci também treina às terças e quintas à noite com outros árbitros.

Terminado o treino da manhã, Ricci limpa a esteira molhada de suor, volta a casa e se prepara para ir ao trabalho. O comentário ouvi-do no clube não é exceção na vida do juiz. No oitavo andar do Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior, onde está há oito anos, o árbitro convive diariamente com as observa-ções dos colegas que acompanham futebol. “É onde sou mais cobrado. O pessoal pega no pé, mas faz muitos elogios também.” Ricci só se chateia quando a índole de um árbitro, mesmo que não seja ele, é posta em dúvida. O juiz vê esse tipo de crítica como reflexo da descrença da população nela mesma. “As pessoas cogi-tam apenas o que elas mesmas são capazes de fazer”, opina.

CRAQUE FRUSTRADOO envolvimento com o esporte começou

cedo. “Desde criança ele era muito ativo e gos-tava de praticar esportes”, revela a mãe, Nor-ma Ricci. Ainda jovem, jogou em um time de futebol amador em Nuova Opera, na Itália, du-

rante tempo em que morou no país. “A cidade era pequena, quando souberam que tinha um brasileiro no time o treino começou a encher de gente”, lembra o pai, Edson Ricci. O sonho de criança, no entanto, acabou ficando para trás quando a família voltou ao Brasil. “Eu até queria seguir carreira de jogador, mas quando você é ruim não tem jeito”, brinca o juiz.

Frente à impossibilidade de participar do mundo da bola como atleta, Ricci encontrou na arbitragem um meio de fazer parte dele. Em 2003, fez o curso da Federação Brasiliense em conjunto com o Sindicato dos Árbitros. No início, a mãe era contra. “As torcidas são muito violentas, não gosto do ambiente”, conta.

Com o tempo, passou a aceitar que o filho seguisse na arbitragem, mas ainda não assiste, nem pela TV, aos jogos dos quais ele participa. “Fico ansiosa, com medo de ele errar. Assisto só a alguns pedaços.” Diante da preocupação com o caçula, Norma sequer se importa com o fato de ser a mais hostilizada pelos torcedores por sua posição de mãe de juiz. Ricci afirma que as ofensas não chegam a ela. “Quando se vira árbitro, você é adotado por uma entidade que recebe todos os xingamentos dos torcedo-res”, brinca.

Pai de duas meninas e casado há 12 anos, Ricci é enfático na importância dos parentes. “Sem o apoio deles seria impossível ser árbi-tro.” Das mulheres da família, a única a acom-panhar as partidas é a cunhada Adriana Kari-na. Fã de futebol, passou a se interessar ainda

mais quando Ricci começou a apitar. Adriana assiste a todas as partidas e constantemente manda relatórios com sua avaliação do desem-penho do árbitro. “Sou a conselheira dele. E ele já me disse que prefere a minha opinião à do Conselho de Arbitragem.”

PRÊMIO E ANONIMATOPara se preservar de possíveis lesões, hoje

o árbitro pouco joga, porém acompanha o es-porte mais do que nunca. “Gostar de futebol é o primeiro requisito para ser árbitro.” Desde a entrada no mundo da arbitragem, em 2003, Ricci teve rápida ascensão. Em 2010, foi o pri-meiro não integrante da Fifa a receber o prê-mio de melhor árbitro do Campeonato Brasilei-ro. Não poderá repetir a façanha, uma vez que entrou para o quadro da Federação neste ano. O ex-presidente da Comissão de Arbitragem da CBF Edson Rezende elogia: “Nossas expec-tativas se confirmaram rapidamente no caso dele”. Ricci se mostra surpreso com a ascensão e elege a partida mais importante da carreira: a estreia em competições Sul-Americanas em agosto deste ano no jogo Ceará x São Paulo.

Sobre os planos para o futuro, o juiz planeja no curto prazo. “O sonho de todo árbitro é uma Copa do Mundo, mas ainda não penso nisso.” A próxima meta é o Campeonato Sul-Americano sub-15, em novembro. “O objetivo é ir bem e assim poder apitar mais jogos internacionais.” Separar-se do futebol não passa pela cabeça nem após a aposentadoria. “Toparia virar co-mentarista, se tiver o convite.”

Para sua alegria, Ricci poucas vezes é reco-nhecido nas ruas. “Como não tenho nenhum traço físico marcante, é raro saberem quem eu sou”, comemora. O anonimato facilita ao árbi-tro ter uma vida normal e poder ir a restauran-tes e ao cinema com a família, como costuma. Mesmo com o gosto pela arbitragem, Ricci nun-ca se apresenta às pessoas como juiz. “Prefiro a discrição”, diz. “A arbitragem é uma coisa que eu faço, não o que me define.”

J a r d i m

Fotos: Livea CheferDa esquerda para a direita:1- Ricci ora sempre antes e

depois dos jogos;2 - Díficil encontrar tempo para dissertação

do mestrado em Economia;3 - Primeira partida profissional;

4- Alongamento pós-treino; 5- Intervalo entre os tiros da corrida;

6- A mãe, Norma, favorita dos torcedores.

O h o m e m a l é m d o a p i t o

PERFIL: Sandro Meira Ricci

“Eu até queria seguir carreira de jogador, mas quando você é ruim não tem jeito”,

brinca o juiz

8 CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 1 a 7 de novembro de 2011

Aos domingos, árbitro de futebol. Na semana, filho, pai,marido e funcionário público

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