campus - nº 419, ano 44

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Campus BRASÍLIA, 18 DE NOVEMBRO A 1° DE DEZEMBRO DE 2014 NÚMERO 419 ANO 44 Lei em vigor há 12 anos proíbe a venda de produtos dentro de transportes coletivos no Distrito Federal. No entanto, motoristas, cobradores e passageiros permanecem passivos e incentivam a prática| páginas 4 e 5 Antes visto apenas como lazer, o frisbee virou esporte e ganha adeptos na capital federal, como Thiago Camilo e Gabriel Pedruco COMIDA AFRICANA NÃO TEM ESPAÇO NO DISTRITO FEDERAL 13 8 14 12 ESPORTE O PREÇO DO TRIATLO Apesar de ser uma modalidade cara, número de triatletas cresce em função da renda brasiliense ECONOMIA NOVAS MARCAS EM BRASÍLIA A cidade se consolida como a terceira melhor do país para abertura de franquias CULTURA CINEMA BRASILEIRO EM FOCO Investimento financeiro e mudança de visão ajudam a aumentar público dos filmes nacionais MESMO ILÍCITO, COMÉRCIO EM ÔNIBUS CONTINUA 14 ESPORTE Isabella Campedelli 7 5 ED FINAL FINAL-Campus 2-2014.indd 1 17/11/2014 10:11:17

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Page 1: Campus - nº 419, ano 44

CampusBRASÍLIA, 18 DE NOVEMBRO A 1° DE DEZEMBRO DE 2014 NÚMERO 419 ANO 44

Lei em vigor há 12 anos proíbe a venda de produtos dentro de transportes coletivos no Distrito Federal. No entanto, motoristas, cobradores e passageiros permanecem passivos e incentivam a prática| páginas 4 e 5

Antes visto apenas como lazer, o frisbee virou esporte e ganha adeptos

na capital federal, como Thiago Camilo e Gabriel Pedruco

COMIDA AFRICANA NÃO TEM ESPAÇO NO DISTRITO FEDERAL 13

8

14

12

ESPORTE

O PREÇO DO TRIATLOApesar de ser uma modalidade cara, número de triatletas cresce em função da renda brasiliense

ECONOMIA

NOVAS MARCAS EM BRASÍLIA A cidade se consolida como a terceira melhor do país para abertura de franquias

CULTURA

CINEMA BRASILEIRO EM FOCOInvestimento financeiro e mudança de visão ajudam a aumentar público dos filmes nacionais

MESMO ILÍCITO, COMÉRCIO EM ÔNIBUS CONTINUA

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ESPORTEIsabella Campedelli

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Brasília, 18 de novembro a 1º de dezembro de 2014Campus2Muitos estudantes escolhem

o jornalismo por pensar que podem mudar o mundo. O gla-mour, no entanto, acaba quan-do vemos que as coisas não são simples. Jornalista tem que cor-rer contra o tempo, nunca errar, nem desistir quando encontra portas fechadas. Busca apresen-tar a realidade ao público. Essa realidade está presente, por exemplo, na vida das pessoas que convivem com o comércio ilegal que acontece dentro dos ônibus (páginas 4 e 5).

Novas tecnologias facilitam o acesso à informação e somos obrigados a nos reinventar constantemente. O Campus é nossa experimentação e nos faz buscar coisas diferentes. Como o Ultimate Frisbee, esporte inovador que ganha adeptos na capital e alça voos ainda mais altos (7). Não conseguimos disputar com os grandes veículos em velocidade e recursos, por isso devemos estar sempre atentos. Um dos méritos desta edição foi perceber o mercado promissor apresentado em Bra-

Carta do Editor sília. O aumento na abertura de franquias (12), o surgimento de empresas comandadas por jovens (10) e o coworking (11) comprovam essa teoria.

O jornalismo está no nosso sangue. O papel e a caneta são complementos do nosso corpo. Vemos oportunidade até longe de casa e com os olhos cerrados. Caso da fotorreportagem feita em Assaí, interior do Paraná, que retratou a rotina da cidade com maior nú-mero proporcional de japoneses do Brasil (16).

Os jornalistas da vida real não são os heróis narrados nos filmes exibidos em cineclubes, ainda com muita procura na ca-pital (15). Porém, continuamos abrindo portas e correndo con-tra o tempo para informar a po-pulação. Essa turma se despede de Campus com a sensação de dever cumprido. Pode até não mudar o mundo, mas transfor-mou cada um de nós.

Memória

What the foca?Beatriz Chaves

Ombudskivinna

Alunos do Campus e professores na produção do quinto e último jornal do semestre. Todos em clima de despedida

A edição 418 do Campus

mostra uma maturidade jorna-lística e um jornal convidativo. Os alunos escolheram pautas diferenciadas, com instinto in-vestigativo e capazes de pren-der o leitor em cada nova linha.

Outro ponto positivo é que, pela primeira vez neste semes-tre, não precisarei apontar nova-mente erros de rios, til desloca-do, fontes diferentes ou mesmo excesso de fotos de bonecos.

Aprenderam que os detalhes fazem parte do trabalho jor-nalístico. Um belo texto pode não se tornar atrativo se cons-truído com excesso de erros.

Peço que a turma se volte neste momento para a escolha

dos títulos, que muitas vezes são questionados por seus leitores, como aconteceu em uma rede social. Aceitem as críticas dos colegas, dos leitores, entre ou-tros, como direcionadores para um bom trabalho. Acreditar que apenas o chefe ou professor tem algo a ensinar é clichê e um tanto vazio. Aprendam com as críticas e continuem buscando se envol-ver mais com as pautas, para que elas não sejam meio de obter nota para aprovação. É percep-tível ao leitor quando o repórter teve real vontade em pautar, en-trevistar, escrever o texto. Com todos estes pontos destaco a ma-téria sobre a compra de atesta-dos médicos. Apesar de não ser

nenhuma novidade, mostrou o envolvimento dos autores em todas as etapas da construção da matéria. Este texto mostrou que uma pauta pode ser feita e refei-ta diversas vezes, mas com um processo de apuração diferen-ciado. Aproveito para ressaltar as matérias sobre a readaptação profissional de professores e os casos de suicídios em determi-nada comunidade. Estas pautas mostram problemas sociais e de comportamento que in-fluenciam diretamente o pro-cesso de formação individual.

Karla Beatriz Barbosa

Termo sueco que significa "provedor da justiça", discute a produção dos jornalistas sob a perspectiva do leitor

Em 1985, a edição número 83 do Campus trouxe a reportagem de Cynthia Rosa sobre a inaugura-ção do cineclube Glauber Rocha. Uma iniciativa do Instituto Na-cional do Livro (INL) "a todos os interessados em cinema e tudo o que este pode oferecer". Na época, o movimento cineclubista passou por dificuldades para sobreviver e teve que se reinventar: o novo local ofereceu cursos de cinema, além das sessões diárias. Na programa-

Breno Damascenaeditor-chefe

aluna do 7º semestre de jornalismo da UnB

Campus Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília

Editor-chefe: Breno DamascenaSecretária de redação: Tainá AndradeEditor de arte e foto: Rudá MoreiraEditores: Carolyna Paiva, Carolyne Cardoso, Jamile Racanicci, Luisa Marini, Mariana Machado e Vitor SalesRepórteres: Beatriz Pataro, Glaucia Machado, Isabella Campedelli, Ivana Carolina, Juliana Perissê, Lucas Ludgero, Luiza Garonce, Marília Nestor, Mayara Subtil, Melina Fleury,

Nara Menezes, Tamara Montijo e Walter CarlosFotógrafos: Eduardo Carvalho, Gustavo Schuabb, Júlia Lugon e Bruna AraújoDiagramadores: Carolyna Paiva, Carolyne Cardoso, Jamile Racanicci, Luisa Marini, Mariana Machado e Vitor SalesProjeto Gráfico: Breno Damascena, Bruna Lima, Isabella Campedelli, Lucas Ludgero e Rudá MoreiraJornalista: José Luiz Silva

Professores: Sérgio de Sá e Ana Carolina KalumeMonitores: Isabela Resende e Jéssica Martins Gráfica: ColorprintTiragem: 4 mil exemplaresContato: 61 3107-6498 / 6501Endereço: Universidade de Brasília, campus uni-versitário Darcy Ribeiro, s/n, Asa Norte, Brasília/DF. Faculdade de Comunicação, Instituto Central de Ciências - Ala Norte | CEP: 70 910-900

Acesse o Campus Online pelo leitor de QR Code do seu smartphone ou tablet

www.campus.fac.unb.br

ção, os organizadores investiram na exibição de longas metragens estrangeiros, cedidos pelas embai-xadas, sem deixar de lado os nacio-nais. Na edição 419 do Campus o assunto é retomado, mas dessa vez com ênfase na resistência dos cineclubes, no ambiente univer-sitário (15). A internet, ao mesmo tempo que facilitou o acessos aos filmes, também contribuiu para que grupos sentissem necessida-de de se reunir para compartilhar experiências e debater o conteúdo audiovi-sual nas faculdades.

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CampusBrasília, 18 de novembro a 1º de dezembro de 2014 3

SEM PREVISÃO DE MUDANÇAPor falta de estrutura prevista em lei, Conselho Tutelar do Lago Sul improvisa atendimento a crianças e adolescentes

INFRAESTRUTURA

Nara MenezesBruna Lima

Sem espaço desde 2009, o conselheiro tutelar Storni trabalha em sala improvisada da Administração

Alcântara, há um local provável, mas o contrato de aluguel ainda não foi formulado. Ele afirma ain-da que, devido ao período final de mandato do governador do DF, a liberação de recursos tornou-se incerta e, portanto, não há esti-mativa de quando será firmado contrato que determina o no-vo local de funcionamento do Conselho Tutelar.

Storni, conselheiro do Lago Sul desde 2009, questiona a credibilidade da declara-

ção da Subproteca. Segundo ele, “desde 2009, é dito que já há um local previsto para o funcionamento do Conselho, mas até hoje não sabemos quando será feita a transfe-rência”. Durante esses cinco anos, a principal justificati-va dada ao Conselho sobre a dificuldade de encontrar um local definitivo são os preços abusivos da região, já que um ambiente comercial adequado ao funcionamento pode ser alugado por mensalidades em torno de R$ 20 mil.

O impasse em que se en-contra hoje o Conselho Tu-telar do Lago Sul já foi a realidade de muitos outros conselhos do DF, como o caso do de Santa Maria, que, em outubro de 2013, teve o di-reito ao funcionamento com estrutura adequada garanti-do por decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Fede-ral e Territórios, após ação civil pública proposta pelo Ministério Público.

No caso citado acima a rela-tora do processo baseou-se em artigos da Constituição Fede-ral e do Estatuto da Criança e do Adolescente que garantem prioridade absoluta à proteção da criança e do adolescente. Até o presente momento, en-tretanto, o Conselho Tutelar do Lago Sul não se encontra plenamente apto a atender a estas prioridades.

PARA SABER MAIS

Os Conselhos Tutelares são órgãos autônomos, com o papel de zelar pelos direitos das crianças e adolescentes. Não têm poder punitivo mas podem encaminhar casos para o sistema judiciário e requisitar o atendimento de necessidades básicas, como o direito à vaga no sistema educacional ou na saúde pública. Para denunciar casos de violência ou negligência infantil, basta ligar para o Disque 100 ou para o número (61) 3234-8555.

C riado em 2009, o Con-selho Tutelar do Lago Sul está até hoje em es-

paço provisório cedido pela Administração Regional. No começo usada como almo- xarifado, a pequena sala com es-paço para apenas seis mesas não comporta os nove funcionários da equipe – cinco conselheiros e quatro servidores administra-tivos. O problema mais grave, segundo o conselheiro tutelar Paulo Storni, é a inexistên-cia de espaço reservado para o atendimento de casos delicados como denúncias de violência física ou sexual. De acordo com a resolução 139 do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), a estrutura mínima adequada seria de quatro salas, determinação dis-tante da realidade.

Storni relata que, “para reali-zar os atendimentos, por vezes é necessário solicitar que toda a equipe se retire da sala para que o conselheiro colha o depoi-mento da criança, proporcio-nando ao depoente o maior grau de segurança possível”. Ainda assim, o ambiente não é propício e, muitas vezes, não se estabelece

um grau de conforto suficiente ao denunciante. Em momentos de reunião apenas entre os con-selheiros ou do setor adminis-trativo também se solicita que parte dos funcionários aguarde na área externa do local.

A Subsecretaria de Proteção da Criança e do Adolescente (Subproteca), ligada à Secreta-ria de Estado da Criança (Se-criança), é res-ponsável pelo suporte técnico, e administrati-vo para o funcionamento ade-quado dos conselhos tutelares. Rosilene Lopes, coordenadora da Subproteca, assegura que, nos dois últimos anos, 38 dos 40 conselhos tutelares do Distri-to Federal receberam estrutura adequada ao seu funcionamen-to, e os únicos dois que não fo-ram atendidos foram o da Asa Norte e o do Lago Sul. Hélio Alcântara, da Subproteca, res-ponsável pelos trâmites refe-rentes aos espaços físicos, ga-rante que o primeiro já possui espaço alugado para seu uso, e está passando por reformas para garantir a acessibilidade.

O caso do Lago Sul, porém, é o único em que ainda não está pre-vista a realocação, pois, segundo

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Brasília, 18 de novembro a 1º de dezembro de 2014Campus4COMÉRCIO

São três ônibus, um micro-ônibus e a vontade de ofe-recer e mostrar para outras

pessoas a chance que teve. É preciso ter jogo de cintura para convencer o motorista e depois os passageiros de que o trabalho é sério. “Boa tarde, pessoal... Eu não ouvi... Vou repetir: boa tarde, pessoal!”. É de maneira efusiva e espontânea que Da-nilo Leal, 25, inicia o trabalho diário dentro dos coletivos em Taguatinga Norte. Na mochila que carrega ao lado do corpo estão os kits confeccionados na clínica de recuperação Ma-nassés. A venda de uma caneta, uma cartela de adesivos e uma lanterna a R$ 3 foi a forma que a instituição encontrou para manter a ajuda que oferece a dependentes químicos há mais de 16 anos.

O rapaz acredita que a ven-da no transporte público é a melhor maneira de divulgar o trabalho da casa. No entanto, nem sempre é possível pagar o valor da passagem e ele precisa contar com a boa vontade dos motoristas que, mesmo bur-lando a lei, se solidarizam com a ação de jovens como Dani-lo. “Primeiro converso com o motorista para deixar divulgar o trabalho. Se ele não deixa, amém. Eu pago a passagem caso tenha o dinheiro. É todo dia assim”, conta o jovem.

A solidariedade é confirmada por um motorista de ônibus, que preferiu não ser identifi-cado e exerce a profissão há 38 anos: “Se o pessoal precisa, eu não vou impedir eles de ganhar o dinheiro”. O funcionário da empresa Piracicabana expli-ca que sabe da ilegalidade do

comércio dentro do coletivo, mas faz pela boa vontade: “A gente finge que não está ven-do e deixa”. Ele acredita, ainda, que as empresas de transporte público não são prejudicadas e não entende o porquê da proi-bição nos coletivos.

Marcelo Dias, 31, também da casa de recuperação Manas-sés, conta que também sabe da ilegalidade e entende a posição dos motoristas que permitem a entrada dos comerciantes nos

ônibus: “A maioria deixa que a gente faça o nosso trabalho porque sabe da luta, eles têm família também. Eu acho bem louvável a atitude dos moto-ristas”, afirma o ex-dependen-te químico, que reside na casa de recuperação há sete anos.

Marcelo acredita que alguns motoristas se sensibilizam com o trabalho da instituição mes-mo com o risco de serem pegos infringindo a lei: “A gente res-peita os motoristas, pois sabe-

mos que é proibido. Mas só de-les abrirem as portas para nós já é motivo de gratidão maior”.

E não é apenas esse tipo de comércio que acontece diaria-mente no transporte público do DF. Marcos Rodrigues, por exemplo, vende guloseimas, água e refrigerante há três meses como forma de com-plementar a renda familiar: “Os passageiros adoram com-prar na mão da gente. É mais cômodo para eles”, explica o

vendedor. Para Marcos, apesar de proibido, o comércio no in-terior dos coletivos é uma boa alternativa para quem anda de ônibus: “É mais barato. Na hora que eles precisam nós es-tamos lá”, conta. Além do tra-balho de Marcos e dos mem-bros da Manassés, é comum encontrar nos coletivos pesso-as que não vendem produtos, mas a palavra de Deus ou o talento por meio da música ou do humor.

Lucas LudgeroMayara Subtil

SOLIDÁRIOS CONTRA A LEI Mesmo proibida, venda de produtos dentro de ônibus é toleradapor motoristas, cobradores e passageiros, que preferem ajudar

Eduardo Carvalho

Marcos Rodrigues comercializa guloseimas dentro dos ônibus há três meses como forma de complementar a renda familiar

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OPINIÃO AMBÍGUAEntre os passageiros, as

opiniões se dividem, mas a possibilidade de ajudar o ou-tro de alguma maneira, mais uma vez, está presente. É o que conta Raimundo Bezerra Neto. O pedreiro acredita que o trabalho é íntegro e por isso deve continuar: “Se a pessoa está ali trabalhando de forma honesta, eu não vejo problema algum, para mim tudo bem”, conta o trabalhador.

Para a professora Luciana Nascimento nem todo tipo de comércio é bem vindo: “Às vezes eles impedem o trânsito dentro do transporte, ficam no meio. Eu não gosto disso e é chato”, explica. Sobre quem vende seus produtos e ao mes-mo tempo evangeliza, como é o caso dos integrantes da Manas-sés, a professora não se impor-ta: “Como eu sou evangélica, a tendência é achar bom. Nesse ponto do evangelismo dentro do ônibus eu não sou contra, até porque eles não se excedem, não falam alto, não obrigam ninguém a ouvir”, diz Luciana.

Há 12 anos, a lei distrital 3.106/2002 proíbe o comércio nos ônibus que circulam no Distrito Federal. Mas quem utiliza diariamente o transpor-te público sabe que o dia a dia mostra o contrário. A boa von-tade dos motoristas e cobrado-

res em ajudar os comerciantes passa por cima da lei, que pare-ce só ter validade no papel.

Para o cobrador da empresa Pioneira Francisco Varlei, os que podem sair prejudicados são aqueles que têm comér- cio fixo na Rodoviária do Plano Pi-loto, uma vez que é mais cômo-

“Se o pessoal precisa, eu não vou impedir eles de ganhar o dinheiro. A gente finge que não está vendo e deixa”

Motorista da empresa Piracicabana

O transporte público do Distrito Federal conta hoje com uma empresa pública, a Transporte Coletivo de Brasília (TCB), e cinco particulares: Pira-cicabana, Pioneira, Urbi, Marechal e São José. Todas afirmam que orientam os motoristas e cobradores a não permitir o comércio dentro dos coletivos. A Secretaria de Transportes do Distrito Federal (STDF), por meio da Subsecretaria de Fiscalização (Sufisa), explicou, em nota, que exige

que as operadoras de transporte evitem a prática nos coletivos. A assessoria de comunicação que atende as empresas privadas de ônibus do DF informou, entretanto, que não se faz nenhum tipo de fiscalização para coibir

o comércio nos coletivos. Segundo a assessoria, as câmeras instaladas no transporte público são para garantir maior segurança aos usuários, não para fiscalizar o comércio. Afirma, ainda, que não existe nenhum caso em que o motorista tenha sido punido por permitir a entrada de comerciantes.

Questionados sobre a possibilidade de regulamentação da profissão desses comerciantes, a Subsecretaria de Fiscalização (Sufisa) da Secretaria de Transportes do Distrito Federal (STDF) informou que a única forma de regularizar essa situação seria passar por alteração da legislação vigente. Além disso, o órgão explica que, caso haja desobediência por parte do passageiro que pratica a irregularidade, o motorista e o cobrador podem pedir auxílio policial para solucionar o problema.

O Sindicato dos Rodoviários do Distrito Federal afirma que não recebe nenhuma orientação quanto ao comércio dentro dos ônibus. Entre os fun-cionários, as opiniões contradizem o que é informado pelas empresas e pela assessoria. Alguns motoristas afirmam que permitem e outros que não.

DIVERGÊNCIAS

do para os passageiros comprar dentro do transporte. Entretan-to, afirma não ser contra esse tipo de negócio: “Nós não so-mos pagos para fiscalizar. Não obrigamos ninguém a descer do ônibus”, conta Francisco Varlei.

Já o programador Renan Oliveira acredita que a venda

nos transportes públicos seria uma boa alternativa quando o passageiro não pode mais sair do coletivo para com-prar “Acho bacana essa forma de trabalho, inclusive pela comodidade que o passagei-ro tem. Bate a fome e, como você já está dentro do cole-

tivo, assim que aparece uma pessoa vendendo bala e água já compramos na hora. Até pelo preço também, por ser mais barato”, relata.

Ao contrário da professo-ra Luciana, Renan Oliveira não é a favor da evangeliza-ção que alguns comerciantes fazem durante o trabalho nos transportes coletivos. “A venda de produtos e lanches é legal, mas as pregações re-ligiosas não, justamente por alguns quererem impor suas crenças espirituais aos pas-sageiros, cobradores e mo-torista. Não temos obrigação de ouvir e nem de aceitar isso”, explica o jovem. Para o operador de telemarke-ting Sérgio Maia, a opinião de Renan é válida. Ele relata que, muitas vezes “os prega-dores”, como os chama, são invasivos: “Eles falam em um tom muito apelativo, pedem para que a gente bata palma ao Senhor. E quem é ateu, como fica?”.

Há quatro meses, Danilo Leal vende, dentro dos coletivos de Taguatinga Norte, os produtos que mantêm a casa de recuperação Manassés

Mayara Subtil

SOLIDÁRIOS CONTRA A LEI

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Brasília, 18 de novembro a 1º de dezembro de 2014Campus6

DE CARONA É MAIS LEGALTRANSPORTE

Apesar do risco e da ilegalidade, caronas coletivas entre Brasília e Goiânia atraem usuários pelo conforto e os preços mais atraentesBeatriz Pataro

Para as pessoas que fa-zem o trecho Brasília-Goiânia com frequên-

cia, há uma alternativa aos tradicionais meios de loco-moção: as caronas coletivas. O preço é estipulado pelo motorista do carro que ofe-rece a modalidade de trans-porte e, geralmente, custa R$ 25. Essa quantia corresponde à metade do valor da passagem do ônibus interestadual.

Atraída pelo baixo custo, a estudante de Direito da Uni-versidade de Brasília (UnB) Débora Letícia recorre à ca-rona desde que se mudou para estudar na capital. Débora Le-tícia diz que o serviço é mais vantajoso em diversos aspec-tos. “O tempo de viagem é menor, tenho mais conforto, pois sou deixada na porta de casa e, além disso, pago mais barato.” A estudante conhe-ceu essa modalidade através de uma amiga que indicou um grupo no Facebook, res-ponsável pela organização e logística dos usuários no transporte interestadual.

Débora Letícia utiliza a co-munidade “Eu vou pra GYN BSB de carona” para achar

motoristas que fornecem esse meio de transporte. Atualmen-te, com 5.920 participantes, esse é o grupo de maior visi-bilidade na rede social. Com-posto predominantemente por jovens, a rede também pode oferecer riscos aos usuários.

Segundo o especialista em transporte da Universidade de Brasília e coordenador da pes-quisa Carona Solidária, Pastor Willy Gonzales, isso pode ser um ponto de risco, pois a po-pulação jovem é a que mais aparece nas estatísticas de acidentes. “Consumo de bebi-das, alta velocidade, manobras arriscadas são mais frequentes nessa faixa etária”, afirma.

Os fundadores da comuni-dade online, Kazutoyo Suga e Gino Bertollucci, monito-ram as conversas como for-ma de controle e fiscalização dos participantes do sistema de carona coletivo, além de aprovarem a solicitação dos interessados em participar. Segundo ele, Bertollucci afir-ma que nunca ouviu falar de crimes decorridos da prática de caronas coletivas entre Brasília e Goiânia. “O gru-po é cem por cento seguro.

Os problemas são sempre pontuais e como moderador estou sempre disposto a me-lhorar, ouvindo e banindo membros que agem com má- fé, pois é um grupo onde to-dos saem ganhando.”

O estudante Carlos Rober-to vai para Goiânia semanal-mente e oferece caronas no Facebook. Como prevenção, antes de aceitar o pedido de carona, analisa o perfil da pessoa na rede social, como forma de minimizar os ris-cos que a prática pode acar-retar. “Quando não conse-guia ter muitas informações sobre a pessoa, ao invés de buscá-la em casa, pedia para que ela me encontrasse em algum lugar público.”

Apesar do baixo custo, as caronas envolvem alguns perigos por se tratar de um acordo informal, que na prática não possui respon-sáveis legais. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a partir do momen-to em que se cobra qualquer quantia para ser feito o traje-to, a responsabilidade se tor-na objetiva, pois configura o contrato de transporte. Neste

caso, o motorista tem que ar-car com qualquer prejuízo às pessoas transportadas e aos respectivos pertences e valo-res levados por elas.

De acordo com o advogado Jésio Sialho, a prática carac-teriza transporte ilegal de passageiros. O motorista as-sume responsabilidades civis quando recebe pela carona. O ato acarreta penas previstas na lei de transportes, consi-deradas graves. Caso a caro-na seja oferecida de forma gratuita não gera qualquer responsabilidade para quem presta a modalidade, a não ser em caso de culpa.

MONOPÓLIOA Viação Araguarina, co-

nhecida pela realização do tra-jeto entre Brasília e Goiânia, é a única que tem permissão para transportar passagei-ros nesta rota. O monopó-lio acarreta prejuízos para o usuário, como a cobrança de preços sem concorrência e os horários estabelecidos pela companhia de saída e che-gada dos ônibus. Por dia, saem 19 ônibus de Brasília para Goiânia, a cada hora.

Porém, nos finais de sema-na, quando o serviço é mais procurado, a demanda é maior que a oferta.

Companhia que possui maior espaço físico nas rodo-viárias interestaduais de Bra-sília e de Goiânia, também é uma das que apresentam me-nor número de atendentes. Na maioria das vezes, há ape-nas um funcionário no bal-cão para venda de bilhetes. Testada pelo Campus, a op-ção de compra pelo site não funciona e a operação não é concluída por erro na página.

A aluna de Comunicação Social Vitória Beatriz passou a optar pelas caronas cole-tivas, pois perdeu a viagem por não conseguir comprar as passagens ou não encontrar mais vagas. Ela costuma ir para Goiânia todas as sextas-feiras, mas, mesmo chegan-do com horas de antecedên-cia, não consegue comprar passagem. “Quando chego na rodoviária, as filas são imen-sas e há apenas um atendente na recepção. Em média, fico uma hora na fila, e espero, no mínimo, mais duas horas para o embarque.”

Arte: Melina Fleury

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CampusBrasília, 18 de novembro a 1º de dezembro de 2014 77DÁ LICENÇA?

Brasília, 18 de novembro a 1º de dezembro de 2014 Campus

Quem nunca jogou frisbee com a família, com os amigos, na praia, no parque, para brincar com o cachorro? Além do lazer que proporciona, o disco também é instrumento de modalidades esportivas, entre elas, o Ultimate Frisbee. O crescimento do número de praticantes é sutil, mas ocorre inclusive no DF, onde foi impulsionado neste semestre pela criação da matéria de Prática Desportiva (PD) da Universidade de Brasília (UnB) e a organização do maior campeonato já sediado no DF.

O Ultimate Frisbee é um esporte coletivo de pouco contato, que mistura fundamentos de diferentes esportes, principalmente a pontuação do futebol americano e a marcação do basquete. Esse é o único esporte que não tem árbitros e em que existe uma categoria de equipes mistas. Todo o jogo é baseado em um código de honra e respeito mútuo. Além disso, as regras dependem do fairplay e são propícias para o crescimento pessoal, pois levam os participantes a pensar e atuar em equipe.

Os discos chegaram ao Brasil no final dos anos 1980 e o Ultimate Frisbee, como esporte, na década de 1990. Em Brasília, a atividade ganhou expressão considerável neste semestre, com o esforço do professor Felipe Rodrigues e de alunos da Faculdade de Educação Física da UnB. Até agosto deste ano, apenas dois grupos praticavam o esporte em Brasília. Hoje, a cidade conta com mais um, graças à criação da turma de Prática Desportiva na UnB.

Os dois primeiros grupos se reúnem semanalmente, sempre aos domingos, na Esplanada dos Ministérios, às 10h, e no campo sintético da Candangolândia, às 17h. As aulas de PD são realizadas, segundas e quartas, às 19h, e os estudantes aprendem técnicas de passe e marcação. “A PD tem 22 alunos inscritos, mas somos uma turma muito aberta e eles sempre trazem amigos interessados. Com isso, já tivemos dias com 48 pessoas jogando”, conta o professor. Segundo ele, o grande diferencial do esporte é ter o lazer como principal finalidade: “O pessoal vem para jogar e se divertir, e até em competições mais sérias a diversão é mais importante do que fazer do torneio um espetáculo.”

Em Brasília, o I Festival de Ultimate Frisbee UnB será realizado no dia 23 de novembro e é o maior evento que a cidade já teve. O evento contará com a participação de pessoas que nunca tiveram contato com o esporte, aumentando a possibilidade de trazer novos jogadores à modalidade. “As incrições são individuais e acompanham uma ficha declaratória sobre o nível de habilidade e conhecimento do esporte. Nós, da organização mesclamos o nível dos jogadores de acordo com as informações presentes na ficha”, explica a aluna do curso de Educação Física da UnB e integrante do comitê organizador do campeonato, Larisse Costa.

Quem joga pela primeira vez se surpreende, é o que relata Gabriel Pedruco, que participou de seu primeiro jogo no dia em que conversou com o Campus: “Subestimei bastante o esporte. Eu achei que era mais parado, mas a gente corre muito”. Isso porque quem não está com o disco precisa ficar livre e receber o passe.

Durante o ataque, ao receber o disco, o jogador não pode andar e um de seus pés deve ficar fixo. Ele tem dez segundos para fazer o passe para seus companheiros, e quem faz essa contagem é a pessoa do outro time que está na defesa. Pela regra, apenas um oponente pode marcar o jogador que está com o disco. Defensores gritam: “Um, dois, três!...” pressionando o ataque. E quando o disco é lançado, ouve-se pelo campo: “Up!”. São marcadores avisando o time que o disco está no ar. O jogo tem dois tempos. O primeiro, até uma das equipes completar nove pontos e o segundo, até 17. Para pontuar, um dos sete integrantes do time precisa pegar o disco dentro da end zone, área localizada na extremidade do campo.

Quem tem mais experiência procura novos horizontes para competir. É o caso de Bárbara Beutel, que joga há mais de dois anos e participou do pan-

O disco está no arUP!

americano de 2013, realizado em Águas de Lindóia (SP). “Pela internet, eu fui atrás do pessoal que joga em São Paulo, eles foram ajudando de longe, até que uma das meninas me convidou para jogar no seu time no pan. Como hoje não tem muita concorrência, joga quem quer e pode pagar”, conta Bárbara.

Apesar do clima competitivo, Luciano Armando dos Santos, que também participou do pan-americano do ano passado, afirma que o espírito do esporte permanece: “O jogo é levado mais a sério, mas nos quatro dias de competição eu não vi uma briga. Sempre que não há um acordo, o ponto volta e o jogo continua tranquilamente”.

Ultimate no BrasilO estado com mais tradição no esporte é São Paulo.

A Federação Paulista de Disco ainda é a única do país e representa o Brasil em questões internacionais. O número de federados demonstra o crescimento do esporte: em 2006 eram 150 associados e, atualmente, são cerca de 300.

A Federação Paulista trabalha captando recursos e realizando campeonatos que movem equipes do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná. Aqui do DF, por enquanto, nenhuma equipe formada foi jogar em suas competições, apenas atletas avulsos. “Os federados fazem a inscrição individualmente e a Federação os agrupa em equipes de acordo com seu nível técnico para participar dos diferentes campeonatos”, explica o presidente da federação, Roberto Hucke.

No âmbito internacional, Hucke afirma que hoje existem esforços para tornar o Ultimate Frisbee um esporte olímpico, mantendo a não arbitragem convencional: “Os árbitros são os próprios jogadores. E queremos manter isso porque é um diferencial e uma característica marcante do esporte”.

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Isabella Campedelli

Jogador Henrique Vieira recebe o disco. Movimento se chama “panqueca”

DE CARONA É MAIS LEGAL

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QUEM QUER SER UM TRIATLETA?ESPORTE

Renda per capita e funcionalismo público são os principais fatores de crescimento do número de amadores do triatlo em BrasíliaLuiza Garonce

Um dos locais preferidos para treinamento é o Parque da Cidade. O ambiente permite pedalar, correr e ainda treinar em academias próximas

Você já imaginou pe-dalar até São Paulo? E que tal uma corrida

a Pirenópolis? Pode parecer absurdo, mas essas são as dis- tâncias aproximadas que a servidora pública Débora Gonçalves percorre de bici- cleta e correndo, respecti- vamente, em um mês. A atle- ta é corredora há 20 anos e começou a praticar triatlo, em 2012, para diversificar o treinamento. Hoje dedica seis dias por semana ao esporte.

Assim como ela, muitos brasilienses ingressam na modalidade para testar os próprios limites, ou mesmo para experimentar algo novo, e acabam incorporando-o à rotina de vida. Atualmente, o número de pessoas, no Distrito Federal, filiadas à Confederação Brasileira de Triathlon (CBTri) é 47,4% maior que o de 12 anos atrás. “Esse valor tem crescido e a expectativa é que atinja um recorde de adesão no ano que vem”, comenta o diretor técnico da CBTri, Marco Antônio La Porta.

Paralelamente a esse cresci-mento, há cerca de dez anos, surgiram no DF as primei- ras assessorias esportivas, empresas especializadas em treinos de modalidades out-

door – esportes praticados aoar livre, como corrida, ci- clismo e natação. Ao oferecer acompanhamento profissio-nal para quem deseja atingir alta performance sem dese- quilibrar a rotina e a quali-dade de vida, as assessorias tornaram-se grandes respon- sáveis pela inserção de novos atletas no triatlo.

A Ápice Treinamento Mul- tiesportivo trabalha com o esporte há sete anos e, em

2014, contabiliza 37 triatle- tas em comparação a quatro de 2008, número quase cinco vezes maior. De acordo com o treinador e sócio Cláudio José Arruda, a diferença é ex- pressiva e tende a aumentar. Na Aptidão Esportiva, o nú-mero atual é seis vezes o de 2010, quando foi inaugurada. Para o ex-campeão mundial de triatlo Leandro Macedo, o aumento da adesão deve-se, especialmente, à opção por um estilo de vida di-ferenciado: “Brasília já não forma mais tantos triatletas profissionais, mas há cada vez mais amadores”.

De acordo com Marco La Porta, aspectos organizacio-nais e culturais da capital con- tribuem para esse cresci- mento, como espaços amplos para correr e pedalar, cul-tura desportiva e o hábito da população de utilizar espa- ços públicos. “É a melhor cidade para treinar triatlo no país”, afirma. Aos finais de semana, é comum que as assessorias esportivas pro- movam treinos coletivos no Parque da Cidade ou no Au- tódromo Internacional Nel-son Piquet, especialmente os

de transição – que intercalam duas modalidades. “Em Brasí- lia você tem a vantagem de sair de casa correndo ou pedalando, ao passo que, em outras cidades, teria que pe- gar o carro até um local para treino”, diz Leandro Macedo.

OS CUSTOS DO LAZERApesar de unir modalidades

outdoor, o esporte obtém adesão maior nas classes alta e média, porque demanda altos investimentos e requer dedicação extrema de quem o pratica. De acordo com o proprietário da Aptidão, o triatleta Bruno Ryker, a renda per capita de Brasília acaba por facilitar a ex-pansão do esporte. Não por acaso, a maioria daqueles que treinam em assessorias esportivas são servidores pú- blicos ou donos de empresa. “Quem tem uma vida pro-fissional estável e pode fazer o próprio horário consegue se dedicar mais e comprar materiais melhores, que fa- zem diferença no desempe-

nho”, explica o atleta profis-sional Leandro Macedo.

Uma bicicleta de alta per-formance pode chegar a R$ 35 mil e os equipamentos de cada modalidade somam cerca de R$ 4 mil. Além do in-

vestimento inicial, há des-pesas mensais com assessoria esportiva, nutricionista, ma-nutenção de equipamentos e suplementos energéticos. Eventualmente, consultas médicas e sessões de fisiote-

A Feira dos Importados é um dos locais em que as pessoas procuram equipamentos para triatlo

Nas assessorias, os atletas passam por avaliações física e cardíaca, re- cebem planilhas semanais de trei- nos de acordo com suas necessi-dades, seus objetivos e do tempo que têm disponível. Nelas, há acom- panhamento regular de treinadores e, em algumas assessorias, assistên-cia de nutricionistas, fisioterapeutas e até de psicólogos. A maioria destas empresas não possui espaço físico próprio para treinos e faz parcerias com clubes para uso das piscinas.

Arte: Eduardo Carvalho

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QUEM QUER SER UM TRIATLETA?Renda per capita e funcionalismo público são os principais fatores de crescimento do número de amadores do triatlo em Brasília

Fotos: Bruna Lima

Um dos locais preferidos para treinamento é o Parque da Cidade. O ambiente permite pedalar, correr e ainda treinar em academias próximas

rapia somam-se aos gastos. A funcionária pública Débora Gonçalves utiliza cerca de 10% do salário com o esporte. Em contrapartida às despe-sas, o mercado evoluiu tanto em informação disponível

quanto em atendimento téc-nico especializado, o que es- timulou o crescimento da adesão. “Hoje o intercâmbio informativo é incomparável ao da minha época, quando precisávamos ir a outros países para saber o que havia de novo”, comenta Leandro

Macedo. “Sem con- tar na quantidade muito superior de profissionais capa-citados para orien- tar e treinar atletas”. Segundo ele, na épo- ca em que competia profissionalmente, nos anos 1990, não havia técnicos espe- cíficos de triatlo e, por isso, treinava cada da modalidade com um profissional diferente: “Cada um me sugava ao máxi- mo e não havia co- municação efetiva

entre eles para que eu pu- desse exercitar a transição das modalidades”.

O acesso a equipamentos modernos também está mais fácil. Hoje, é possível encon-trar lojas especializadas em shoppings, em feiras e até nas ruas. “Já existem equi-pamentos nacionais de qua- lidade e empresas estran-geiras com representação no Brasil. Os amadores conse-guem adquirir materiais me-lhores do que eu jamais tive na minha carreira”, comenta Leandro. Mesmo assim, os preços são pouco atraentes. “Você até encontra o que precisa, mas muito mais caro do que no exterior”, afirma Débora Gonçalves.

COMPETIÇÕES VALEM OURO

Responsáveis por manter a prática da modalidade aque- cida, as frequentes provas também pesam no bolso. As inscrições das provas da MKS Esportes, principal organi-zadora de triatlos em Bra-sília, custam cerca de R$ 150 e as das etapas do Circuito Nacional Sesc Triathlon, que passa anualmente pela capi-tal, variam entre R$ 50 e R$ 150, a depender do percurso escolhido. O Iron-

man, umas das provas maisfamosas de endurance no mundo, pode chegar até a US$ 550 (cerca de R$ 1,4 mil) e o meio Ironman, US$ 400 (R$ 1.020), sem contar as despesas com passagens aé-reas e hospedagem quando as provas não ocorrem na capital federal.

Para o triatleta amador Jeconias Rosendo Júnior, os benefícios justificam todo o investimento. Após superar a obesidade, ele aderiu ao es-

porte como estilo de vida e compete desde 2012, três anos após mudar seu coti-diano. “Eu poderia ter gas- tado a mesma quantia com consultas médicas e remé-dios, mas optei pelo triatlo e ganhei qualidade de vida”.

Como forma de disseminar os benefícios que adquiriu,

Jec, como é conhecido, lan-çou-se no desafio de com-pletar quatro meio Ironman

e dois Ironman em 2014. “O que me motivou foi mostrar ser possível conciliar traba-lho, família e vida social com o esporte”. Em novembro, ele participou do último Ironman

do ano, em Fortaleza.

TORNEIOS DA CAPITAL

MKS EsportesCopa Brasília de Triathlon: prova anual composta por cinco etapas - três

percursos de short triatlo (0,75km de natação, 20km de ciclismo, 5km de corrida), um médio (1km de natação, 30km de ciclismo, 8km de corrida) e um olímpico (1,5km de natação, 40km de ciclismo, 10km de corrida).

Brasília Triathlon Endurance: prova anual de mesmo percurso do meio Ironman (1,9km de nado, 90km de ciclismo e 21 km de corrida). A última edição, em setembro de 2014, alcançou recorde de adesão em 10 anos.

Sesc Esportes

O Circuito Nacional Sesc Triathlon passa em Brasília anualmente desde 2005. A competição reúne sete etapas realizadas em cidades diferentes e oferece duas pos- sibilidades de percurso: triatlo olímpico (1,5km de natação, 40km de ciclismo, 10km de corrida) e short triatlo (0,75km de natação, 20km de ciclismo, 5km de corrida).

Ironman

Uma das provas de endurance mais difíceis e tradicionais do mundo, o Ironman teve sua primeira edição em 1978. O Ironman 70.3, popularmente conhecido como meio Iron, foi criado em 1995. Em Brasília foram realizados duas desta prova: em 2006 e 2007. Nos seis anos seguintes, o Ironman 70.3 foi sediado em Florianópolis e, em abril de 2014, voltou para a capital. Percurso Ironman: 3,8km de nado, 180km de ciclismo e 42,195km de corrida. Percurso Ironman 70.3 (meio Iron): 1,9km de nado, 90km de ciclismo e 21 km de corrida.

Leandro Macedo não abre mão da qualidade de vida através do esporte. Sócio da assessoria esportiva Top Sports, treina atletas que estão começando

Arte: Eduardo Carvalho

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Brasília, 18 de novembro a 1º de dezembro de 2014Campus10

AGENTES TRANSFORMADORESEMPREENDEDORISMO

O estudante Jonathan Volpato, 21, resolveu mudar o mundo. Em

2012, encontrou uma alter-nativa para atingir o objetivo: a Aeisec - organização sem fins lucrativos que busca desen-volver líderes por meio de intercâmbios. Tempos antes, tentou ter uma experiência profissional fora do país, mas foi reprovado por falta de pré-requisitos. Foi quando o convidaram a ser membro do grupo, a fim de poder se aper-feiçoar para a experiência. “Deu certo e sou um jovem líder hoje”, relata. Com os mesmos propósitos, instituições de jo-vens locais e internacionais buscam causar impacto a sua maneira, como a Global Shapers

Community, com empreende-dorismo social, e a Marco Zero, com redes de contatos locais.

O que mais chamou a aten- ção de Jonathan foram as oportunidades de desenvolvi-mento pessoal e profissional: “Dentro da organização, você possui inúmeras possibilidades

de gerir times, além do sistema pautado em autoavaliação para ajudar a compreender quais fraquezas pessoais devem ser trabalhadas e que forças po- dem ajudar a alcançar metas”. A organização da qual parti-cipa está presente em 124 países e possui mais de 86 mil voluntários entre 18 a 30 anos. Atualmente, o estudante pretende participar das elei-ções do corpo executivo da Aiesec em Brasília e, “quem sabe, tentar cargos na Aiesec Brasil e na internacional, na Suíça”, confessa.

Mesmo sem poder se postu- lar a esses postos, por falta de disponibilidade, a ambição não o deixou parar. Em setem- bro, ele se tornou membro da Global Shapers, rede criada pelo Fórum Econômico Mundial para prospectar e desenvolver as ideias da juventude. Jonathan explica que a organização fun- ciona por meio de sedes locais, chamadas hubs, cujos membros, voluntários de 20 a 30 anos, apresentam projetos de impactos sociais em níveis nacionais ou internacionais.

Assim como ele, o estudante Pedro Rebelo se identificou com o propósito e se tornou um "shaper" em janeiro. “A instituição me ajudou a ver que cada indivíduo possui grande potencial para fazer a diferença em sua comunidade e que existem mais pessoas que pensam em construir um lugar melhor para se viver”, ressalta.

Há um ano em Brasília, a Global Shapers foi fundada emjulho de 2011 e possui reco-nhecimento fora do país. Pe-dro percebeu isso quando foi à Emerge, conferência que acontece anualmente na Said

Business School em Oxford, Inglaterra, com foco em empre- endedorismo social: “Houve uma recepção direcionada ex-clusivamente para os shapers, em que o diretor da escola des- tacou que, pelo nosso perfil, há um grande potencial na insti- tuição e é exatamente esse o tipo de pessoa que ele procura”.

UMA NOVA INSTITUIÇÃO O estudante Iúri Honda tem

a mesma ideologia de Pedro e Jonathan, mas sentiu falta de

algo mais concreto em Brasília. Após ver o avô sofrer várias complicações de uma queda, Iúri percebeu quão pequena era a preocupação com o mer- cado da terceira idade. Então, foi a um evento em São Paulo para alavancar o projeto pes-soal Audarium, voltado a so- luções tecnológicas de preven- ção e diminuição dos danos causado por quedas em idosos.

“Quando estava em São Paulo, perguntei por uma pes- soa qualificada para certo tra-balho e me deram os contatos de uma em Brasília”, diz Iúri. ”Fiquei indignado porque não teria conseguido esse número na minha própria cidade por uma simples falta de rede.”

Ele e o amigo Marcelo Lopes, envolvidos com a grandeza do evento e a decepção da falta de iniciativas desse tipo na capital do país, tiveram a ideia do Marco Zero. Assim como a Aiesec e a Global Shapers,o projeto não apresenta fins lucrativos. A diferença, no en-

tanto, é que o impacto provém da troca de contatos entre o mercado de empreendedoris-mo e os alunos da Universidade de Brasília, onde estudam.

Com palestras, workshops e eventos, o objetivo do Marco Zero é criar uma rede, no Distrito Federal, para que os projetos consigam atingir aqueles que realmente estejam preocupados em gerar trans- formações no mundo. “A ideia é que as pessoas se encontrem, tanto para projetos internos quanto para outros, com pales-trantes, por exemplo”, afirma.

Os próximos passos dos jo-vens são levar a iniciativa para outras universidades, como as de Goiânia, e promover visi- tas a empresas de empreen-dedorismo no DF. “Em pouco tempo, chegamos à propor-ção que gostaríamos, mas não esperávamos. Agora precisa-mos fazer planejamentos mais concretos, para crescermos sem prejudicar todo o projeto”, complementa Iúri.

Em reunião do Marco Zero, integrantes discutem metas pessoais e prospectam pela iniciativa em conjunto

Preocupados com a sociedade, jovens criam ações para promover melhorias em nível nacional e global

Fotos: Bruna Lima

Na Aiesec, Jonathan Volpato lidera projeto que promove intercâmbios de estágio para universitários aptos a ensinar línguas

Marília Nestor

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CampusBrasília, 18 de novembro a 1º de dezembro de 2014

LUGAR PARA CHAMAR DE SEUINOVAÇÃO

Pelo menos oito empresas começaram a oferecer o serviço de coworking em Brasília nos últimos doze meses. Principais clientes são jovens empreendedores

Pessoas em frente a com-putadores e até mesmo o bom e velho papel e ca-

neta se alinham em compri-das bancadas pontilhadas com cadeiras pretas. Todos estão compenetrados no trabalho que realizam. Esse poderia ser o cenário de uma grande em-presa, mas é o local de traba-lho de várias. Essa é base do co-

working, termo em inglês que define a prática nascida em solo norte-americano em que vários empreendimentos de menor porte se juntam para trabalhar em um local maior, fazendo o rateio de custos com móveis, luz, água, telefone, in-ternet e limpeza. Muitos ne-gócios estreantes no mercado têm dificuldades de pagar to-dos esses gastos, em função do caixa pequeno e muitas vezes limitado pelos custos necessá-rios para tirar a iniciativa do papel, como alvará e taxas da junta comercial.

Em Brasília, das dez empre-sas que oferecem coworking lo-calizadas pelo Campus, oito têm menos de um ano de fun-cionamento. Novos negócios procuram esses ambientes na capital principalmente para escapar dos caros aluguéis co-brados no Plano Piloto. A fim de baixar os custos e manter a vantagem de estar no centro da cidade, os espaços de coworking ficam em áreas como o Setor de Autarquias Sul, os setores bancários Norte e Sul e o Setor de Rádio e TV Norte.

A mensalidade da locação de uma sala comercial de até 60m² nesses setores da cidade pode chegar a R$ 5 mil, sem contar os outros custos. Já em uma es-tação individual de coworking,

o valor mensal fica em média R$ 1,5 mil. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empre-sas (Sebrae), adotar o esque-ma pode reduzir em até 60% o custo mensal da locação de es-paços privados e gastos com o mobiliário de escritório.

Rodrigo Régis, um dos só-cios da empresa de tecnologia Foxsis, cliente do espaço de co-

working 4legal há quatro me-ses, indaga: “Quando iríamos ter isso tudo se fizéssemos nos-so próprio espaço?”. Régis se refere ao conforto trazido por ar condicionado, cafeteira, wi-fi, sala de reuniões e auditório no fim do corredor, tudo mui-to limpo e funcionando 24 ho-ras por dia.

O diferencial do coworking em relação a outros modelos de escritório é que, além da van-tagem financeira, o ambiente é favorável à troca de experiên-cias, à formação de parcerias e à realização de negócios entre os próprios usuários do servi-ço. “Outra empresa daqui tinha um projeto de sistema enga-vetado. Quando souberam da gente, acabaram retomando-o e nos colocando nele”, conta Daniel Sousa, o segundo sócio da Foxsis.

“É ótimo para quem está co-meçando. As empresas que di-videm o espaço acabam contra-tando umas às outras quando precisam de serviços que elas mesmas não oferecem”, diz o advogado e sócio da 4legal Fernando Santiago. Ele co-menta que terceirizou toda a área de tecnologia para a Fox-sis. “Aqui, nós sempre estimu-lamos nossos clientes a partici-par de eventos e compartilhar

suas experiências por meio de palestras”, explica.

Mesmo recente, o coworking sofre ajustes em cada novo lo-cal onde chega. Fernando San-tiago comenta que a adaptação do serviço para o mercado bra-siliense não foi fácil. Acostu-mado a locais de coworking em Londres e em São Paulo, onde morou anteriormente, San-tiago via um grande número de advogados usando o servi-ço. Em Brasília, tentou mon-tar um coworking voltado para profissionais do Direito. Po-rém, eles não viam a inicia-tiva como uma oportunida-de de cooperação e se sentiam ameaçados pela concorrência. Então, remodelou o negócio e hoje atende a clientes sele-tos, tomando o cuidado de não reunir empresas que oferecem serviços iguais.

Apesar de alguns ambien-tes de coworking como a 4legal serem mais rígidos na seleção de clientes, ambientes que não aderem a essa regra também existem. O Celebrate Center opera em unidades no Liberty Mall e no Aeroporto Jusceli-no Kubitschek. A maior parte dos clientes fica em uma gran-de sala sem lugar marcado: eles se sentam em um dos espaços vazios e pagam pelas horas que passam ali. Também podem assinar um banco de horas, que varia entre pacotes mensais até um plano semestral.

Funcionando de maneira si-milar, o Espaço Multiplicidade, localizado na SCRN 702/703, conta com um pequeno labi-rinto de mesas em um local amplo, onde se revezam cerca de 80 clientes nos períodos de manhã, tarde e noite.

Espaços como esses são ain-da uma novidade no mundo. Apesar de o termo coworking existir desde 1999, a terceira edição do Global Coworking Survey (pesquisa mundial so-bre o assunto), lançada este ano pela revista online refe-rência no assunto Deskmag aponta que existiam cerca de 2,5 mil locais de coworking no mundo em 2013. De todos eles, cerca de 40% tinham menos de um ano de funcionamento.

No Brasil, o mercado para empresas deste ramo é mais consolidado em capitais como Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). Nessas cidades, concen-tram-se quase todos dos mais de 100 espaços de coworking registrados na página nacional co-workingbrasil.org, site com intuito de mapear esse tipo de negócio no país.

Walter Carlos Arte de Walter Carlos sobre foto de Rudá Moreira

Sala PrivativaPara trabalhar com privacidade. São mais caros que ambientes coletivos, mas a sala pode ser personalizada

Endereço PostalLocais funcionam como endereço para entrega de correspondência

Para empresas sem sede fixa, o endereço serve para criação de CNPJ, emissão de notas fiscais, outras questões legais e identificação em sites e cartões de visita

Estação de co workingQuem aluga o espaço tem direito a usar recursos como wi-fi, telefonia, copa, banheiros, computadores e impressoras. Alguns locais oferecem até serviço de despachante

Escritório VirtualÉ a junção do endereço comercial e fiscal com o uso de serviços como sala de reunião, telefonia e caixa postal, mas sem espaço para trabalho coletivo

Infraestrutura para reuniões, conferências ou cursos. Alugados para necessidades pontuais. A cobrança é feita por hora.

Endereço Fiscal e Comercial

Salas de Reunião e Auditório

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CAPITAL PROMISSORAECONOMIA

Pesquisa mostra que Brasília é a terceira melhor cidade do Brasil para a abertura de franquias

13.581Lojas franqueadas em

Brasília em 2013

Tamara MontijoJulia Lugon

As paletas mexicanas, picolés artesanais, chegaram ao Brasil há pouco tempo e já conquistaram os consumidores

NÃO FOI DE PRIMEIRA

D

epois de um tempo

em que grandes re-

des de franquias não

vingavam no mercado bra-

siliense e encerravam suas

atividades, a capital federal

volta a ser um ótimo merca-

do para o modelo de negócio.

A recém-chegada das paletas

mexicanas, picolés artesanais

recheados, e a futura reaber-

tura da rede Dunkin’ Donuts,

em dezembro de 2014, são

exemplos de que a cidade se

tornou um excelente merca-

do para franqueadores.

Segundo a consultoria espe-

cializada Rizzo Franchi-

se, Brasília é atualmente o

terceiro melhor mercado

para abertura de franquias

no Brasil, perdendo apenas

para São Paulo e Rio de Ja-

neiro. Em 2013, havia 13.581

lojas franqueadas em todo o

Distrito Federal e, em 2014, a

capital ocupa a quinta posição

em quantidade de franquias

no país, segundo a Associa-

ção Brasileira de Franchising

(ABF). De acordo com o di-

retor da Brasília Expo Fran-

quias, maior feira de franquias

do Centro-Oeste, o que facilita

a prosperidade

desse mercado

no cenário bra-

siliense é o cres-

cimento da po-

pulação, a renda

per capita, que é a

maior do país, a

fácil locomoção pela cidade e

a distribuição domiciliar, que

acaba separando o público

com perfis parecidos.

A recém-chegada da rede

Helado Monterrey, fran-

quia de paletas mexicanas,

mostra o quanto o mercado

está aquecido. No dia 20 de

agosto, abriu a primeira loja

em Brasília e já possui três

unidades operando. Daniela

Ponso, responsável pelo re-

lacionamento com os fran-

queados da rede, explica que

o DF tem a quarta maior

população e a maior renda per

capita do país, por isso a rede

escolheu a capital para fazer

parte do seu pla-

no de expansão.

“O estado possui

crescimento da

economia acima

da média nacio-

nal, isso é bom

para o comércio”.As redes de franquias tam-

bém representam comodi-

dade para o cliente e por isso

são uma ótima opção de ne-

gócio. Roberta Siqueira tra-

balha no Setor de Autarquias

Sul e sempre que precisa fa-

zer um lanche rápido na rua

opta, inconscientemente, por

uma marca franqueada. “Sem

perceber eu acabo sempre

comendo em uma marca de

franquia. Acho que porque a

gente já conhece o produto

e sabe o que vai encontrar.” Outro exemplo que o merca-

do de franquias está favorá-

vel no DF é a rede norte-ame-

ricana de cafeterias Dunkin’

Donuts que, depois de encer-

rar suas atividades em 2005,

reabre a sua primeira loja do

país na capital federal. Os mo-

tivos são parecidos com os da

rede Helado Monterrey, mas,

além do potencial consumo,

Leonardo Oliva, represen-

tante da marca no Brasil, diz

ter escolhido Brasília para

reiniciar seu negócio porque é

o local em que as outras redes

de franquias do grupo estão

inseridas e, por esse motivo,

conhecem melhor o mercado

e as oportunidades.

A primeira loja da rede

será inaugurada na quadra

404 da Asa Sul e tem pre-

visão de abertura para de-

zembro deste ano. Segundo

Leonardo, a rede pretende

abrir duas lojas até o fim de

2014 e 65 lojas no total. “A in-

tenção é realmente expandir

o negócio em Brasília pelos

próximos cinco anos, com lo-

jas em quase todos os bairros e

cidades-satélites”. No entanto, é importante

lembrar que não basta trazer

uma franquia para a cidade

e torcer para que ela dê cer-

to. Mesmo com o mercado

aquecido, o consumidor bra-

siliense é exigente. A cliente-

la da cidade é ávida por no-

vidades e aprecia empresas

que prestam serviços com

qualidade. “Para se instalar

na região, a franqueadora

tem que dispor de um mix de

produtos sofisticados e com

alta qualidade, além de ter

um atendimento ao cliente

com padrão de excelência”, relata Daniela Ponso.

Redes de grandes marcas já tentaram se instalar no Brasil, sem sucesso. Depois de uma reestruturação, voltaram e conquistaram espaço no mercado.

Subway − Na década de 1990, a empresa tentou se instalar no Brasil como “maior unidade do Subway do mundo". A empreitada não deu certo, pois ia contra o modelo da rede, que era de unidades pequenas. Em 2002, a Subway Corporation trouxe novamente a rede para o Brasil, dessa vez respeitando o formato original. Hoje, a franquia possui 840 lojas no País.

Pizza Hut − A rede não chegou a sair do país, mas, depois de fechar algu-mas unidades, teve de repensar seu posicionamento. A principal mudança está relacionada ao comportamento de consumo dos brasileiros - já que o foco era a venda de pizza no almoço, habito que não é compartilhado pela maior parte da população.

Dunkin' Donuts − A rede saiu do Brasil em 2005 por um erro de posi-cionamento da marca. Aqui, a marca sempre foi vista como uma doceria de um produto só, no entanto, a loja é mundialmente conhecida como cafeteria.

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FOME DE ÁFRICAGASTRONOMIA

Brasília ainda não encontra o sabor do continente em restaurantes. Africanos que aqui vivem sentem saudade do gosto de casa

Natasha Franco, chef do restaurante A Tribo, explica que a comida sul-africana tem influências da Índia em seus temperos

Juliana PerissêFotos: Mariana Machado

Para quem conhece e sen-te falta da comida africa-na negra, é difícil morar

em Brasília. Fora do Nordeste e, em especial, longe de Salva-dor, a gastronomia da África Negra (ou subsaariana), ao sul do Deserto do Saara, é escassa. Brasília, com cerca de 10 mil bares e restaurantes, carece de estabelecimentos específicos dessa culinária e decepciona africanos e amantes da comida. Desvalorização e desconheci-mento da cultura afro, ausência de insumos para o preparo da comida e racismo são algumas das razões para tal carência.

Guilherme Lobão, jornalista especialista em cultura e gas-tronomia e atual integrante da equipe da revista Veja Brasília, afirma que restaurantes afri-canos são mais raros porque é uma culinária muito étnica, que depende dos insumos lo-cais. “Meu trabalho é exata-mente procurar restaurantes em Brasília, já fui a vários luga-res, mas, até hoje, não achei um específico de comida africana. Aqui, até onde eu conheço, não existe.” Lobão ressalta que, em Brasília, é possível encontrar restaurantes de comida árabe, cultura predominante da Áfri-ca Branca (ou África do Norte). Como exemplo, ele fala do Laziz Delícias Árabes, que faz uso de especiarias egípcias.

O angolano Agostinho Pe-reira, estudante de Engenha-ria de Redes de Comunicação na Universidade de Brasília (UnB), mora na capital há cerca de cinco anos e não co-nhece nenhum restaurante com comida africana típica da área subsaariana. Essa au-sência, para ele, mostra uma desvalorização da gastrono-mia típica de seu continente natal. “Fora o calor humano, a comida é a coisa que mais me faz falta”, diz ele.

Agostinho explica que, de-vido à colonização na África, a culinária do continente é diver-sa. O angolano conhece, além da gastronomia de seu país, a da República Democrática do Congo. Para ele, as comidas dos dois países são similares pelo uso de moamba de gin-guba moída (espécie de cozido que leva amendoim moído), de óleo de palma como tempero e pela presença de verduras, ge-ralmente folhagens.

No Distrito Federal, existem restaurantes que, apesar de não serem específicos de gastrono-mia africana negra, possuem influências da região. Natasha Franco nasceu em Angola, mo-rou na África do Sul e é chef do restaurante A Tribo, especiali-zado em comida natural e orgâ-nica. Ela explica que os pratos sul-africanos têm influências da Índia e, por isso, o restau-

rante faz grande utilização de temperos como

açafrão, coen-tro em pó, gen-gibre, alho e

cominho em pó.Natasha afirma que

as comidas na África do Sul, por ser um país mais frio, são,

geralmente, assadas. Por isso, no A Tribo, as batatas doce e as abóboras vão ao forno. Se-gundo ela, o sul-africano tam-bém gosta de misturar doce e salgado. Para adocicar o frango ao molho curry, prato ser-vido diariamente, os fregue-ses, em geral, comem purê de banana-da-terra. O chutney (condimento de sabor agrido-ce) de manga também é um dos acompanhamentos para as co-midas salgadas.

Outro restaurante que possui influência da culinária da Áfri-ca Negra é o Ilê, em funciona-mento há oito anos. O nome do estabelecimento, que significa “casa”, vem do iorubá, uma das línguas africanas, pertencente à família nigero-congolesa. Pau-lo Maurício, chef e proprietário do restaurante, aponta como exemplos de pratos com fortes influências africanas a moque-ca baiana, o bobó de camarão e a moqueca feita na folha de bananeira. “Em muitos pratos, nós usamos o dendê e pimentas variadas, típicos ingredientes africanos. A comida africana é cheia de temperos e sabores.”

Segundo o chef Paulo Mau-rício, a carência de restaurantes específicos de culinária africana pode ser explicada pela falta de promoção de intercâmbio cul-tural, pelas embaixadas da Áfri-ca. Para ele, as pessoas não têm muito conhecimento sobre a comida afro. “Outras embai-xadas fazem eventos para tro-cas culturais, mas nunca vi as embaixadas africanas fazerem.”

A presidente do Centro de Estudos para o Desenvolvi-mento da Cidade e autora do livro Gula d’África – O sabor africano na mesa brasileira,

Flávia Portela, acredita que a falta de conhecimento sobre a cultura afro pode ser a justifi-cativa para a escassez de tais restaurantes. “Você não valori-za o que não conhece. Nós não tivemos educação a respeito dessa cultura e não temos co-nhecimento.” O livro, de 2008, foi feito, segundo ela, para mostrar a influência da comida africana no Brasil. Nele, são apresentadas receitas de pra-

tos tipicamente de origem afro incorporados à gastronomia nacional, como caruru, vatapá, abará, acarajé e bobó.

Flávia Portela acredita tam-bém que essa ausência de co-nhecimento sobre a cultura africana se deve ao precon-ceito com os negros. Visan-do promover e potencializar a identidade cultural, social e econômica da raça negra, o Centro de Estudos para o De-senvolvimento da Cidade reali-za, anualmente, o festival Cara e Cultura Negra, com oficinas, palestras, exposições, entre ou-tras atividades. Neste ano, o programa será realizado entre os dias 20 e 30 de novembro, em celebração ao Dia Nacional da Consciência Negra.

O curry ou caril é uma mistura de especiarias muito utilizada na culinária de países como Índia e Tai-lândia. O “pó-de-caril” é feito à base de pó de açafrão-da-terra, carda-momo, coentro, gengibre, cominho, casca de noz moscada, cravinho, pimenta e canela.

Prato típico: frango e vegetais ao curry, purê de banana e mandioca assada

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VALOR NACIONALCULTURA

Mudança de produção e incentivos financeiros ajudam no aumento de público que vê filmes brasileiros

Público compra ingressos para filmes nacionais na 15ª edição do Projeto Brasil, em Brasília

3.828Salas com filmes

brasileiros no primeiro semestre de 2014

Ivana CarolinaJulia Lugon

A história de que bra-sileiro não assiste a filmes nacionais vem

sendo modificada. Luana de Albuquerque, 23 anos, é se-cretária e prefere as produções do Brasil. “Meu gosto mudou, agora virou hábito assistir obras brasileiras, porque mu-daram muito de um período pra cá. Eles estão melhores, os temas abordados estão fa-zendo parte do cotidiano. E também vejo para valorizar a cultura do país”, conta.

O número de espectadores, lançamentos e salas ocupadas por obras nacionais reflete uma mudança de hábito dos brasileiros, assim como o de Luana. Segundo projeção da Agência Nacional do Cinema (Ancine), neste ano devem ser lançados 136 filmes nacionais, sendo 81 no segundo semestre, sete a mais em relação a 2013.

O Brasil ocupa o 10º mer-cado mundial em número de espectadores, segundo o Ob-servatório Europeu do Audio-visual. No ano passado 27,7 milhões de pessoas assistiram às películas nacionais, o que representa uma marca recorde em 20 anos, de acordo com o Anuário Esta-tístico do Cine-ma Brasileiro de 2013, realizado pela Ancine.

Atualmente, a sociedade aprova mais o cinema brasi-leiro. É o que acredita o pro-fessor do curso de Comuni-cação Social da Universidade Católica de Brasília (UCB) e cineasta Alex Vidigal. “Há uma melhor aceitação do ci-

nema brasileiro e também um progresso na divulgação des-ses filmes e nas estratégias de mercado”, afirma o diretor.

Sobre os espectadores, Vi-digal explica: “tem o público clássico que assiste a uma pro-dução cinematográfica brasi-leira do passado e não pode-mos esquecer das produções anteriores que eram muito ricas. O outro é o televisivo, que assiste ao filme como se estivesse vendo televisão”.

Dentro desse público que prestigia a produção nacional está o aposentado José Joa-quim Moreira, 72 anos. “As-sim que tenho um tempinho eu gosto de assistir um filme brasileiro e a gente tem que valorizar o artista brasileiro, em vez de procurar um filme do exterior. Prefiro um filme brasileiro porque estou pres-tigiando o cineasta brasileiro.”

Além da valorização do cinema nacional pelos es-pectadores, houve um cres-cimento de incentivos pe-las empresas privadas como ocorre no Projeta Brasil, que é um dia reservado para a exi-

bição de apenas filmes nacionais com ingressos a baixo custo. Também há es-tímulos federais como o Fundo Setorial do Au-diovisual (FSA).

No dia 10 de novembro aconteceu a 15ª edição do Projeta Brasil. O evento reu-niu 38 longas com a expec-tativa de superar o número de espectadores da edição anterior, que foi de 143 mil pessoas. De acordo com a di-

retora de marketing da Rede Cinemark, Bettina Boklis, toda a renda arrecadada no Projeta Brasil é revertida para programas de incentivo e apoio ao cinema nacional. “A iniciativa é realizada com o apoio de toda a cadeia pro-dutiva do cinema brasileiro, especialmente dos distribui-dores”, afirma a diretora.

Bettina Boklis acredita que o público que assiste a produ-ção nacional tende a aumentar, porque: “A cada ano observa-mos que o cinema brasileiro eleva o seu padrão de qualida-de e alcança um maior número de espectadores. A produção nacional está crescendo e a variedade de títulos disponí-veis otimiza a oferta de novos conteúdos ao público”.

Segundo o consultor de projetos culturais Diogo de Amorim Quintaneiro, “as po-

líticas públicas de fomento à produção audiovisual em geral estão em crescimento por todo o país. O cinema é o ramo da economia criativa que teve o maior crescimento no Brasil, nos últimos anos. Há uma preocupação cres-cente de governos estaduais e municipais em lançar editais de incentivo às produções au-diovisuais, além de fortalecer o setor, participando direta-mente da cadeia produtiva”.

Para Quintaneiro, o FSA se configura como o principal mecanismo de financiamen-to público para a economia audiovisual do país, com or-çamento vigente para o ano de 2014 na casa dos R$ 400 milhões. O FSA tem uma área de investimento muito abrangente, financiando des-de a produção, distribuição e exibição, até a infraestrutura

dos serviços. “O crescimento da produção cinematográfica no país está ocorrendo, sem dúvida, graças aos programas de financiamento público. Políticas importantes estão sendo desenvolvidas em todo o Brasil, permitindo que esta-dos fora do eixo Rio-São Pau-lo produzam cada vez mais e entrem no mercado, ainda que as desigualdades exis-tam”, afirma o consultor.

Além disso, Diogo Quinta-neiro complementa que: “A diversidade da nossa produção trouxe mais respeito ao cinema nacional, por parte do público, que hoje encontra nas produ-ções do Brasil aquilo que é do seu gosto, sem muita dificulda-de. Como o crescimento de pú-blico é natural, também, deve ser o crescimento do número de produções cinematográficas nacionais no mercado”.

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O relógio marca 12h30, hora em que as cadeiras azuis de uma sala na Casa da

Cultura da América Latina (CAL) começam a ser ocupadas. Alguns segundos depois, o projetor é li-gado, as luzes são apagadas e as cortinas amarelo vibrante per-dem a cor. A história de João de Santo Cristo, dirigida pelo cine-asta René Sampaio, em Faroeste caboclo, passa a atrair todos os olhares. O silêncio toma conta do espaço.

Nas últimas fileiras, um ra-paz abre a marmita de forma a evitar qualquer barulho. Um senhor entra na sala, perce-be que já viu o filme e decide sair, quase se desculpando. Ou-tras três pessoas chegam após o início da exibição. É assim que costumam ser as terças e quintas-feiras no CineCAL. Com uma programação va-riada e alternativa, o cineclu-be da instituição ligada à Uni-versidade de Brasília (UnB) existe há seis anos.

Em todo o Distrito Fede-ral, estima-se que tenham 50 práticas como essa, segundo a cineclubista e integrante da União dos Cineclubes do DF e Entorno Ana Arruda. Des-se total, pelo menos nove em universidades. Mesmo com filmes cada vez mais acessíveis e a possibilidade de assistir on-line, grupos que buscam pro-mover o cinema continuam a ser formados, nos últimos anos, em instituições de ensi-no superior.

O último a iniciar as ativi-dades foi o FACinema, or-ganizado por alunos de Co-municação da UnB. Criado no final de outubro, mais de um ano depois da interrup-

CULTURA

ção do Cineclube FAC, ele tem uma ideia semelhante do CineCAL: receber todos. Não é preciso ter vínculo com a universidade ou com o mun-do audiovisual para participar dos encontros.

É o caso também do Cine-Beijoca e do Cineclube UnB Gama, que abriram suas por-tas em 2011. De acordo com o professor da Faculdade de Comunicação da UnB Mau-ro Giuntini, existe agora um movimento de revitalização dos cineclubes, principalmen-te no Brasil.

“Se por um lado tem muito conteúdo audiovisual dispo-nível, por outro lado a solidão também aumentou. O próprio hábito de ir ao cinema está em declínio”, avalia Giuntini. Assim, conforme o professor, hoje a prática cineclubista dá oportunidade para as pessoas se juntarem de novo, terem um contato físico. Essa é uma das propostas do recém-inau-gurado FACinema. “Você não precisa sair da faculdade para aproveitar e pode chamar ami-gos para se juntar a você”, diz a estudante Luíza Chaves, uma das organizadoras.

Para Euler Soares, membro da equipe de produção do Ci-neCAL, a atividade desenvol-vida no Setor Comercial Sul é de fácil acesso, pois a porta fica sempre aberta. “A gente tem apenas uma cortina. En-tão, a pessoa que quiser entrar pode fazer isso o momento que quiser, não tem obrigação de assistir o filme todo.” Euler destaca, ainda, que antes de cada sessão é feita uma sínte-se da obra e há sempre algum produtor disponível para uma

conversa mais informal.O estudante de Audiovisual

Murilo Abreu acredita que os cineclubes nascem com a ideia de compartilhamento. “Não é só apreciar, é discutir cine-ma.” Ele já frequentou vários espaços culturais em Brasília, mas o único em que perma-neceu por mais tempo foi o CineBeijoca, no Memorial Darcy Ribeiro. Sua relação com os filmes começou bem cedo, na infância, quando a mãe o levava para ver obras dos estúdios de Walt Disney.

A um semestre de concluir o curso, Murilo considera que a parte mais significativa da for-mação de um estudante é o ca-minho trilhado sozinho. Nesse sentido, segundo ele, os gru-pos de discussão que frequen-tou foram muito importantes. Lorena Figueiredo, formada em Publicidade e Propagan-da e Audiovisual, conta que a atividade ajuda a expandir co-nhecimentos e conhecer pes-soas de diversos cursos com visões diferentes.

Em alguns casos, a prática chega a ser expandida. No Ci-neBeijoca, por exemplo, os de-bates ganharam força e deram origem à revista Negativo. Para trabalhar na segunda edição do material impresso, o Beijoca teve que interromper as sessões

por um tempo, mas prome-te retornar no próximo ano. A professora de filosofia da UnB e umas das coordenado-ras do projeto, Raquel Ima-nishi, explica que a revista nasceu de algumas projeções e mostras realizadas.

Em funcionamento no anfiteatro 9, o FACinema é cineclube mais novo da UnB, criado no final de outubro

Espaços de integração, cineclubes da UnB resistem ao tempo. Prática também ocorre em universidades privadas

Glaucia Machado Eduardo Carvalho

NO ESCURINHO DO CINEMA

EM OUTRAS INSTITUIÇÕESNo é só na universidade pública que os cineclubes recebem es-

paço. Criado em 2010, o Cine Club Unip, da Universidade Paulis-ta, acontece todas as sextas-feiras, no horário de almoço. Para os alunos, uma possibilidade de descontrair em meio à rotina. Larissa Hamú, estudante de Direito, participou dos encontros cerca de 20 vezes. “Gosto dos filmes, pois além de entreter acrescentam de forma positiva. São sobre temas que vivenciamos no cotidiano, como rela-ção de pais e filhos e homofobia”, diz.

Também há iniciativas semelhantes na Universidade Católica de Brasília (UCB), no Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), na Faculdade JK e nas Faculdades Integradas da União Pioneira de Inte-gração Social (Upis).

A produtora cultural e cineclubista Ana Arruda destaca que a prática precisa ter regularidade, com sessões pelo menos uma vez por mês. Ressalta, ainda, que para fazer um cineclube é preci-so enxergar o cinema como paixão e ter vontade de compartilhar com outras pessoas.

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SUSHI PARANAENSEMelina Fleury

Imagine uma cidade brasileira que mesmo após a globalização ainda mantém grande influência da colonização japonesa em sua arquitetura, ruas, parques e tradições. Assim é Assaí (ou, em japonês, Asahi: sol nascente), pequena cidade no norte Paraná, que, com pouco mais de 16 mil habitantes, possui aproximadamente 12,3% de sua população formada por japoneses e descen-

dentes. Proporcionalmente, é a cidade brasileira com maior número de nipônicos. Atualmente, está sendo construído o primeiro castelo nipônico do país, que será o Memorial da Imigração Japonesa de Assaí,

em homenagem aos colonizadores da cidade. A religião oriental também se mantém forte na região: o sino do templo budista foi doado pelo governo japonês. Outra colaboradora importante na história da cidade é Geni Gochi, que criou o Grupo de Dança Keshin há 29 anos, no qual ensina a dança japonesa a alunos de todas as idades na tentativa de preservar essa tradição.

A região possui quatro escolas japonesas, que ensinam a escrita, a dança e os costumes para alunos de seis a 80 anos. Há 64 anos, as escolas realizam o festival Tenrankai, para expor os trabalhos dos alunos. Ainda no festival, é servido nagashi somen, macarrão tradicional de festividades japonesas. O festival mostra diversas gerações reunidas pelo mesmo propósito: manter a tradição.

“Não tem como negar a raça, todo mundo vai olhar para minha cara e chamar de japa mesmo”, brinca Norio Shimada, membro da Liga de Associações Culturais de Assaí – (Laca).

O sino do templo budista foi doado pelo governo japonês. Ele soa apenas na virada do Ano Novo ou quando alguém da religião morre

Os ideogramas japoneses mostram, logo na entrada da cidade, a grande presença da cultura japonesa na região

O nagashi somen é tradição nos festivais japoneses. O macarrão de arroz, branco e comprido, escorre em meio à água fria por um pedaço de

bambu e tem que ser pego pelas pessoas usando o hashi

FOTORREPORTAGEM

O Memorial da Imigração Japonesa de Assaí começou a ser construído em 2008, em homenagem ao centenário da imigração no país

Dirce Fussuma e Fujie Massuda ensaiam com Geni Gochi (centro) para o Grupo de Dança Koshin. Elas mantém a tradição viva. O tipo de roupa

usada depende da ocasião e da celebração

A dança tradicional japonesa é cara. Segundo Geni Gochi, as performances são acompanhadas de leques e sombrinhas,

que não saem por menos de R$ 100

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SUSHI PARANAENSE

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