campus - nº 413, ano 44

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SEGURANÇA CIDADE VIGIADA Sistema de videomonitoramento no DF é ampliado com o objetivo de reduzir a criminalidade Página 10 TRANSPORTE CONDUÇÃO CLANDESTINA Precariedade e baixo número de ônibus levam ao uso de veículos piratas por passageiros do DF Página 11 TECNOLOGIA E-SPORTS Cresce o número de campeonatos e atletas que se dedicam aos esportes eletrônicos no Brasil Página 12 BRASÍLIA, 3 A 16 DE JUNHO DE 2014 Campus NÃO VAI TER COVA Tainá Farfan NÚMERO 413 ANO 44 Falta de áreas para sepultamentos dá vida útil de até 20 anos aos cemitérios no DF Página 3

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Edição 413, ano 44, de Campus, de 03-06 a 16-06 de 2014

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Page 1: Campus - nº 413, ano 44

SEGURANÇA

CIDADE VIGIADASistema de videomonitoramento no DF é ampliado com o objetivo de reduzir a criminalidade Página 10

TRANSPORTE

CONDUÇÃO CLANDESTINAPrecariedade e baixo número de ônibus levam ao uso de veículos piratas por passageiros do DFPágina 11

TECNOLOGIA

E-SPORTSCresce o número de campeonatos e atletas que se dedicam aos esportes eletrônicos no BrasilPágina 12

BRASÍLIA, 3 A 16 DE JUNHO DE 2014

Campus

NÃO VAI TER COVA

Tainá Farfan

NÚMERO 413 ANO 44

Falta de áreas para sepultamentos dá vida útil

de até 20 anos aos cemitérios no DF

Página 3

Page 2: Campus - nº 413, ano 44

Campus2 Brasília, 3 a 16 de junho de 2014

Jornal-laboratório daFaculdade de Comunicação da

Universidade de Brasília

Editora-chefe: Karla BeatrizSecretária de redação: Lara SilvérioEditores: Isabela Resende, Mariana Pedroza, Luana Melody, Raquel Franco e Thomas Gonçalves Repórteres: Camila Curado, Fernando Henrique, Gustavo Garcia, Henrique Arcoverde, Iago Garcia, Janaína Bolonezi, Jéssica Martins, Paula Braga, Pedro Alves, Raila Spindola, Rômulo Andrade, Taise Borges e Thais CarneiroFotorrepórter: Laís SinícioEditora de arte e foto: Beatriz FidelisFotógrafos: Bruna Chaves, Bruna Furlani, Tainá Farfan e Victor Pires Diagramadores: Isabela Resende, Mariana Pedroza, Luana Melody, Raquel Franco e Thomas Gonçalves

Projeto Gráfico: Hermano Araújo, Nadjara Martins, Beatriz Fidelis, Jéssica Martins e Karla BeatrizColaborador: Caio Mota Professor: Sérgio de SáJornalista: José Luiz da SilvaMonitores: Eduardo Barretto e Washington LuizGráfica: Palavra ComunicaçãoTiragem: 4 mil exemplaresContato: 61 3107-6498 / 6501Endereço: Universidade de Brasília, campus universitário Darcy Ribeiro, s/n, Asa Norte, Brasília/DF. Faculdade de Comunicação, Instituto Central de Ciências - Ala Norte CEP: 70 910-900

Não é difícil perceber

que a vida nos grandes cen-

tros merece cuidados espe-

ciais e, no Distrito Federal,

a situação não é muito dife-

rente. A cidade tem passado

por mudanças significati-

vas e influenciado direta-

mente no cotidiano de seus

cidadãos. O crescimento

acelerado, a falta de um

planejamento real, cenas

de violências diárias, trans-

porte precário e relações

conflituosas tornam o dia a

dia mais perigoso, caótico e

com muitas perdas físicas,

econômicas e emocionais.

Como destaque desta

edição, temos a matéria

sobre a instalação de câ-

meras para monitorar o

dia a dia das Regiões Ad-

ministrativas do DF. Este

sistema visa minimizar a

insegurança que é mostra-

da como rotina dos mora-

dores no DF por todos os

veículos de comunicação,

sejam pelos constantes

assaltos, sequestros re-

Carta da Editora

lâmpagos dentre outros

exemplos de violência.

Existe ainda resistência

das pessoas na instalação

das câmeras de segurança.

A matéria de capa

mostra que a morte é um

problema social, econô-

mico, cultural e de infra-

estrutura por ausência

de planejamento e novas

áreas para sepultamen-

tos. Ainda sobre o tema,

temos a doação de corpos

para pesquisa, que é uma

solução viável, mas esbar-

ra, constantemente, na

burocracia do processo e

carência de doadores.

Burocracia, processos

longos e debates também

são retratados nas matérias

sobre a alienação parental,

como um problema presen-

te em 80% dos casos de sepa-

rações e nas mudanças pro-

postas para o pagamento do

auxilio reclusão no Brasil

que prevê alteração da fa-

mília do presidiário para os

da vítima de violência.

Memória

Karla Beatriz

A edição 306 do jornal Cam-

pus, de julho de 2006, trouxe a reportagem Transporte ilegal

desafia fiscalização, escrita por Taline Barros. O tex-to conta que devido à falta de ônibus, desorganização dos horários e deficiência do transporte público no Distrito Federal, muitas pessoas acabavam optando pelo transporte pirata.

RecorteBruna Furlani

Ombudskivinna

Segundo Secretaria de Turismo do DF, até o início de junho, serão instaladas 1.219 placas com película de proteção contra pichações. Sendo duas categorias: placas de localização e com informações históricas em três idiomas. Ao todo foi investido cerca de R$ 1,2 milhão

Do impresso ao Facebook,

a equipe do Campus certifi-

ca a versatilidade com a qual

trabalha. Criar uma página

nas redes sociais pode não

ser tão irreverente, mas é

algo que precisava ser feito.

E no estímulo da polivalên-

cia inerente ao jornalismo, os

editores também mostraram

disposição em fazer uma edi-

ção com um ótimo visual. No

entanto, há descuidos de pu-

blicações anteriores que pre-

cisam vir à tona: deslizes gra-

maticais não são aceitáveis a

esta altura do campeonato.

Deixo o aviso e o pedido por

uma revisão mais cautelosa.

Na edição 412, as pautas

indicam, predominantemen-

te, problemas da cidade bem

apurados pelos repórteres. A

perda de um sonho, Em estado ter-

minal e Nem tão exclusivas assim

são provas de que banalidades

podem gerar desdobramentos

de grande interesse público.

Já Corretores inseguros e A re-

alidade atrás dos palcos tratam

de temas que perderam força

pela burocratização do texto.

A investigação dos problemas

enfrentados pelos músicos so-

bre contratos com o governo é

profunda, mas o excesso de as-

pas quase omite o trabalho de

apuração e torna o texto mera-

mente declaratório.

O perfil Já nascemos pobres

conta uma história instigan-

te, mas que merecia uma foto

da personagem. A página de

fotorreportagem decepciona

mais uma vez. Vamos queimar

as fitas, o pá não tem o míni-

mo da festividade que o título

e a história sugerem.

Unidos pela preservação

cultural e Na trilha do esque-

cimento fazem bons resgates

históricos e diagnósticos dos

lugares citados nas reporta-

gens. Dieta para o bolso não

traz muitas novidades sobre

os preços dos alimentos sem

lactose e glúten, mas eviden-

cia a questão com bons da-

dos e depoimentos. Por fim,

Cigarro, não te quero mais

destaca uma terapia em

grupo ofertada pelo hos-

pital universitário que, em

meio a tantos desmandos

relatados nas outras repor-

tagens, constitui-se como

umas das únicas matérias

que carrega certa positivi-

dade. Neste caso, a máxima

de que “boas notícias não

são notícias”pode ser dei-

xada de lado.

Jhésycka Vasconcelos

Termo sueco que significa "provedor da justiça", discute a produção dos jornalistas sob a perspectiva do leitor. Jhésycka Vasconcelos é aluna do 7º semestre da FAC.

À época, dados do DF-Trans apontavam que mais de três mil carros circulavam pelo Plano Piloto e Entorno to-dos dias, e até policiais Mi-litares estariam envolvidos no mercado ilegal. A repor-tagem apontou dificuldades de fiscalização, impunidade aos motoristas e problemas na aplicação de multas, pois, geralmente, as placas dos au-tomóveis eram clonadas.

Campus

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Brasília, 3 a 16 de junho de 2014 3Campus

SEM PLANOS PARA OS MORTOSPrevisão é de que os seis cemitérios do DF vão ficar lotados em uma média de 12 anos

CIDADE

Paula Braga

Maior do DF, Campo da Esperança vê no modelo “cemitério parque” – caixões enterrados – uma alternativa para aumentar o tempo de vida útil do espaçoNa década de 1970, o

prefeito Odorico Pa-raguaçu vivia a saga de

encontrar um defunto para inaugurar o cemitério da cidade fictícia de Sucupira, na novela O Bem-Amado. O personagem decide pagar um matador de aluguel para ter alguém enter-rado no cemitério, que per-manece o restante da novela vazio. Essa ficção, porém, está longe da reali-dade do Distri-to Federal.

De acordo com dados da empresa Cam-po da Esperança – responsável pela adminis-tração dos cemitérios do DF desde 2002 – a previsão é de que as seis áreas destinadas aos sepultamentos na região te-nham capacidade para durar, em média, pouco mais de 12 anos.

No cemitério do Gama, por exemplo, o prazo de vida útil em relação à demanda diária de enterros é de apenas mais

sete anos. Com uma média de três sepultamentos por dia, o cemitério de Sobradinho é o que deve durar mais: cerca de 20 anos. O cálculo já leva em conta a possibilidade de rea-proveitamento dos locais com sepulturas abandonadas e dos jazigos nas áreas social e de in-digentes, que são reutilizados normalmente.

Segundo o coordenador de Assuntos Fune-rários da Secre-taria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Ci-dadania (Sejus), Lamartine Me-deiros, uma das alternativas para

solucionar a falta de espaço nos cemitérios é a promoção de uma mudança cultural na maneira como os mortos são tratados atualmente.

“Em breve teremos a ne-cessidade de modernizar a forma como sepultamos nos-sos entes queridos. Com a área que temos disponível atualmente,

não podemos mais nos dar ao luxo de ter um espaço de dois metros por um para cada in-divíduo que falece”, alerta Me-deiros. “Hoje, existem outras formas de decomposição dos corpos além da ação de orga-nismos presentes na terra. Uma delas é a cremação”, completa.

Atualmente, o Distrito Fe-deral não conta com um crema-tório. O local mais próximo que oferece o serviço fica na cidade de Valparaíso de Goiás – cerca de 40km distante do centro da capital federal.

Porém, tornar a cremação a principal opção para dar fim aos mortos pode esbarrar em algumas crenças religiosas.

Segundo o padre Wesley Macedo, da arquidiocese de Brasília, a religião católica, por exemplo, recomenda o se-pultamento dos corpos devido à crença. “O ritual de respeito aos mortos é essencialmente religioso. Apesar de não existir uma proibição à prática da cre-mação dentro da fé católica, o Código de Direito Canônico

recomenda fortemente que os corpos sejam enterrados”, explica Wesley. De acordo com o professor da Faculdade de Ar-quitetura e Urbanismo da Uni-versidade de Brasília (UnB) Frederico Flósculo, a desti-nação de novas áreas para ce-mitérios seria possível, mas os terrenos mais apropriados para as instalações já estão tomados por edifícios e outras iniciati-vas imobiliárias.

“A falta de espaço nos cemité-rios é uma questão relevante e a falta de soluções mostra o des-caso do governo com a vida urbana. Apesar de termos uma cidade planejada, não preve-mos problemas óbvios. Hoje, a destinação de áreas para ce-mitérios não é uma prioridade”, afirma o especialista. A área des-tinada aos seis cemitérios (Asa Sul, Taguatinga, Brazlândia, Sobradinho, Gama e Planalti-na) totaliza mais de 2,4 quilô-metros quadrados, o que cor-responde a 4,3% da área total do Distrito Federal.

Segundo Lamartine Medei-ros, uma comissão formada por membros das secretarias de Justi-ça, Direitos Humanos e Cida-dania; Desenvolvimento Social e Transferência de Renda; Saúde e do Instituto Brasília Ambien-tal (Ibram) deve dar início, nos próximos meses, a uma série de reuniões de trabalho com o objetivo de estabelecer um pla-no de ação para os cemitérios

Taina Farfan

das regiões administrativas. A comissão também deve

discutir a criação de uma Cen-tral de Óbitos, organização que será responsável por centralizar todas as informações e serviços públicos relacionados ao tema. “Um relatório completo deve ser apresentado ainda ao final deste ano”, prevê Medeiros.

PROBLEMA RECORRENTE NO DF

Esta não é a primeira vez que a capacidade dos cemitérios da região é discutida. Em 2002, se-gundo a Campo da Esperança, a previsão de esgotamento do ce-mitério da Asa Sul, por exem-plo, era de dez meses. Ainda segundo a empresa, para aumen-tar a capacidade da área destinada aos sepultamentos, o modelo de cemitério-parque (que dá prioridade para a colocação de apenas uma placa de mármore ou granito sobre o solo, sem a presença de túmulos) foi ado-tado em alguns locais.

Em 2008, supostas irregula-ridades no modo de ampliação da capacidade dos cemitérios, como a retirada de ossadas sem comunicar os familiares e o sepul-tamento de corpos de indigentes e da área social em uma única vala, foram um dos fatores que desenca-dearam a instauração de uma Co-missão Parlamentar de Inquérito (CPI) por parte do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), a conhe-cida “CPI dos Ossos”.

930É o número médio de

sepultamentos mensais nos seis cemitérios do DF

Na China, país mais populoso do mundo, algumas cidades oferecem pro-gramas de subsídio para as famílias que desejam cremar os mortos e jogar as cinzas ao mar. Outro exemplo, no Japão, as cinzas dos corpos cremados são armazenadas em urnas colocadas em cemitérios verticais. E no cemitério de Reco-leta, na Argentina, os caixões são empilhados verticalmente e permanecem expostos.

Na Espanha, uma dupla de designers criou uma urna biodegradável, cuja proposta é que as cinzas sejam enterradas juntamente com uma semente, a qual dará origem a uma árvore. A ideia já chegou ao Brasil: em Pernambuco, a empresa de serviços fune-rários Grupo Vila já oferece o serviço. “É uma forma de perpetuar a lembrança através do cultivo de uma nova vida”, afirma o gerente regional do grupo, Guilherme Lithg.

ENTERROS PELO MUNDO

ENTERROS PELO MUNDO

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Campus4 Brasília, 3 a 16 de junho de 2014

SAI DA MINHA VAGA, SAI PRA LÁ

CIDADE

Em todo Plano Piloto, entre 50 e 60 carros estão abandonados

nas áreas residenciais ou vias públicas – uma média de dois a três carros por quadra. Os dados são do Departamento de Trânsito do Distrito Fe-deral, o Detran/DF. Como tentativa de resolver o pro-blema, no dia 19 de maio, foi sancionada uma lei no DF que trata da remoção de veículos abandonados ou es-tacionados em local indevi-do ou abusivo. O texto deve ser regulamentado em até 90 dias pelo Poder Executivo. O pátio do Detran, no entan-to, não tem mais espaço para abrigar carros apreendidos. Por isso, a operação que re-move carcaças e veículos das ruas está parada desde 2012.

A lei sancionada consi-dera veículo estacionado de forma indevida ou abusiva aquele que permanece por 30 dias em um mesmo local, em via pública, parque ou esta-cionamento público gratuito. Quando o carro apresenta sinais exteriores de inutiliza-ção provocada por acidente ou abandono, o dono do carro pode ser advertido depois que o veículo permanece por 48 horas no mesmo local. Donos de reboques não atrelados a um veículo trator também po-dem ser notificados depois de 48 horas do carro parado.

O proprietário deve reti-rar o veículo em até 24 horas quando o carro estacionado constituir grave perturbação

Taise Borges e Thaís Carneiro

Veículos abandonados no Plano Piloto incomodam moradores e causam problemas de segurança e saúde

Victor Pires

O pátio do Detran, no Setor de Grandes Áreas Norte (SGAN), sofre com limitações no espaço físico e não tem condições de acomodar mais sucatas e carros apreendidos

ao trânsito e risco aos moto-ristas, ou quando se tratar de um veículo publicitário que fique no mesmo lugar sem a presença de um condutor. O carro pode ser retirado ime-diatamente pelo Detran se manifestada a intenção do proprietário de abandonar o veículo. Em todas as situa-ções, o poder público fica au-torizado a cobrar do proprie-tário os custos de remoção e recolhimento.

Todos os veículos apre-endidos nas ruas são levados para o pátio do Detran, no Setor de Grandes Áreas Norte

(SGAN), atrás do Autódromo Internacional Nelson Piquet. O problema é que o pátio, atu-almente, não possui mais espa-ço para receber as carcaças. Na última “Operação Sucata”, co-ordenada pela Administração de Brasília em parceira com o Detran e a Polícia Militar, fo-ram recolhidos 37 veículos na Asa Norte e 16 na Asa Sul. Em 37 ações realizadas no DF, fo-ram recolhidos, no total, 422 veículos e sucatas. De acordo com Celeste Gliosci, chefe da Assessoria de Atendimento à Comunidade da Administra-ção de Brasília, o mapeamento

dos carros abandonados con-tinua sendo feito, mas não há data programada para a pró-xima operação, já que nem as administrações regionais nem o Detran, possuem capacida-de para acomodar as sucatas. “O projeto está parado. Po-rém, continuamos recebendo as demandas da comunidade e mapeando os locais onde existem veículos abandona-dos”, afirma a assessora.

De acordo com a Admi-nistração de Brasília, respon-sável por fazer o levantamen-to dos abandonos de veículos na capital após reclamações

da população, atualmente, os veículos retirados das ruas são os que oferecem riscos à segu-rança da população. “Os inqui-linos informam que os carros que ocupam vagas em prédios residenciais e comerciais es-tão ocupados por moradores de rua e usuários de drogas”, explica Gliosci. Para a asses-sora, a situação se complica no período chuvoso, quando os carros oferecem riscos à saúde das pessoas. “Os veículos acu-mulam água e, com o tempo, viram foco de mosquitos da dengue. Os moradores tam-bém são obrigados a conviver com a sujeira e mau cheiro dos automóveis”, relata.

O Guará é a região admi-nistrativa que lidera o ranking de carros abandonados em vias ou estacionamentos pú-blicos do Distrito Federal: fo-ram apreendidos 82 automó-veis em quatro operações do Detran. Em seguida, vem Cei-lândia, com 60 veículos apre-endidos e a Cidade Estrutural, com 32 sucatas recolhidas. Em ambas as cidades foram feitas três ações.

O Código de Trânsito Bra-sileiro não trata do abandono de veículos em vias públicas. Segundo a advogada Karla Dias de Oliveira, a legislação está defasada e não define um período de tempo específico para que o proprietário retire o veículo. “Juridicamente, não há nenhuma lei que determine um período temporal para a regularização do caso”, explica a advogada.

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Brasília, 3 a 16 de junho de 2014 5Campus

ACIDENTADOQuem passa pelo Palio prata estacionado no bloco K da quadra 406 Sul não imagina que, há dois anos, ele permanece no mesmo local. “O carro é novo, mas os donos não o querem mais. Ele se envolveu em um acidente e precisa de muitos reparos, na suspensão, na parte elétrica. Ia ficar caro para arrumar. Acharam mais fácil deixar ele aí”, explica o zelador do prédio, Lorival Caetano. Os donos moravam no bloco L, cujo porteiro, Luís Freitas, já tentou resolver o problema: “Sei que se mudaram para o Sudoeste. Há algumas semanas, tentei falar de novo com eles pelo número de telefone que deixaram. Ninguém atendeu. Devem ter trocado de celular”.

ANTIGO NO PRÉDIONa quadra 312 da Asa Sul, um Fusca de cor verde já desbotada pelo tempo não sai do lugar há mais de dez anos. “Esse Fusca chegou aqui antes de mim, que já moro no prédio há oito anos”, brinca um dos moradores do bloco H, onde está parado o veículo, e que preferiu não se identificar. De acordo com Felipe Bernardes, síndico do prédio, “muita gente já reclamou do espaço ocupado pelo carro há tanto tempo”. Como os apartamentos estão em reforma, Celso Camargo, dono do carro, não está morando mais na quadra onde abandonou o veículo: “Não vou tirá-lo de lá. Se quiserem, podem reclamar com o Detran”.

FORA DA LEINo estacionamento entre os blocos I e J da quadra 407 Norte, um Siena ocupa uma das poucas vagas à som-bra das árvores. “Ele está aí há uns quatro anos, pelo menos, e atrapalha demais. O espaço aqui é pequeno e dividido entre os moradores dos blocos e o pessoal do comércio. Muita gente já reclamou, mas o Detran ainda não deu um jeito nesse carro!”, reclama Hiroaki Kida, morador do bloco I. A presença do veículo também não agrada Sandoval Júnior, síndico do bloco J: “Muita gente já reclamou para mim, mas ninguém sabe quem é o dono desse carro. Se descobrir, me conte!”, brinca. A vaga em que o Siena está parado há tantos anos também é ilegal: de frente a uma rampa para usuários de cadeira de rodas.

FALTA DINHEIROCoberto por fezes de pombo, o Gurgel parado na quadra 306 da Asa Sul pertence ao filho de Wan-derley Antônio Moy, síndico do bloco D. Segundo ele, o carro nunca foi retirado do local por falta de recursos financeiros. “Já falei com meu filho várias vezes, mas ele não tem dinheiro para retirar o veículo”, explica Wanderley. “Vou levá-lo à oficina hoje”, argumenta Caio Vargas, o dono do carro, que aparece na foto ao lado. A quantidade de locais ocupados por carros abandonados é reclamação recorrente na quadra. A ocupação obriga os inquilinos a estacionarem longe dos prédios, o que facilita assaltos. “A escassez de vagas é notória. Muitas vezes, temos que estacionar sobre as calçadas porque falta espaço”, relata Lucilene Silva, moradora do bloco D.

INSEGURANÇAA situação se agrava na quadra 403/4 Norte. Além da falta de vagas nos estacionamentos, os residentes convivem com a sujeira e falta de segurança, já que os veículos abandonados servem de abrigo a moradores de rua e usuários de drogas. Um dos problemas é a Parati estacionado no bloco C. De acordo com Mirtz Caldas, síndica do prédio, o dono já foi acionado várias vezes e promete solucionar o problema mas, até hoje, o carro continua no mesmo lugar. “As pessoas reclamam muito. O que posso fazer é ir atrás de um posicionamento dos proprietários e cobrar uma resolução. Tenho feito isso, mas ainda não tive sucesso”, relata a síndica. Segundo morador que não quis se identificar, “o carro pertence ao diretório do PT. Várias emissoras de televisão já tentaram retirá-lo mas, em três anos, ninguém nunca conseguiu”.

Victor Pires

Victor Pires

Victor Pires

Victor Pires

Bruna Chaves

LATAS VELHASNão é difícil encontrar carros abandonados nas quadras do Plano Piloto e moradores insatisfeitos com a presença dos veículos. As reclamações

são várias: os carros ocupam vagas em estacionamentos apertados, tornam-se focos de mosquito da dengue e abrigos para moradores de rua. O Campus foi às ruas e trouxe alguns exemplos.

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Campus6 Brasília, 3 a 16 de junho de 2014

Qual será o destino do seu corpo após a mor-te? Se servir como

objeto de estudo não foi a res-posta, fique tranquilo, você não está sozinho nisso. No Brasil a doação de corpos para estu-dos de anatomia é ainda hoje tratada como um tabu. O pre-conceito prejudica o aprendi-zado de milhares de estudantes em todo o país, já que a maior parte das faculdades brasileiras recebem somente corpos não reclamados, muitas vezes não suficientes para educar todos profissionais de saúde da ma-neira adequada.

Porém, a Universidade de Brasília (UnB) vive hoje uma condição diferenciada das de-mais do país. De acordo com a coordenadora da área de morfo-logia da Faculdade de Medicina, Jussara Rocha, a UnB, ainda que com poucos doadores, não sofre com a falta de material biológico por ter a melhor organização do país na área. Apoiada em legis-lações, a universidade consegue organizar todo seu acervo de material anatômico de maneira com que seja utilizado por mais tempo e reaproveitado o máxi-mo possível para ensino. “A situ-ação da Universidade de Brasília hoje é única no Brasil, talvez na América Latina. Seguimos sem-pre a regra dos três R’s da susten-tabilidade (Reduzir, Reutilizar e Reciclar). Atualmente nosso material atende mais de 100 mil alunos de todos os níveis escola-res do DF, com itinerâncias do Museu de Anatomia”, explica.

O trabalho de conservação das peças realizado na Facul-dade de Medicina é de extrema importância para essa realida-de. Existem hoje materiais com mais de 30 anos, em perfeito estado e que podem ser estuda-

CONTRIBUIÇÃO PÓSTUMA

dos normalmente. Mas Jussara Rocha explica que os métodos poderiam ser melhores. “Te-mos peças únicas que deveriam passar pelo procedimento de plastinação. Porém, ainda não temos um laboratório específi-co para realizar o método”, con-ta. A plastinação é uma técnica que substitui líquidos corporais por resinas elásticas de silicone, criando peças quase plasticas que conservam todos os deta-lhes por tempo indeterminado.

Além da organização da Universidade de Brasília, a condição de conforto quan-to a quantidade de material biológico para estudo se deve também a um outro fator principal. O Distrito Federal é a única unidade da federação com regulamentação própria para entrega de corpos, o que facilita o envio dos materiais as faculdades de saúde do DF.

No Distrito Federal a entre-ga de cadáveres para estudos é regulamentada por uma por-taria do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) que, desde 2012, de-fine e coordena a utilização e entrega de corpos e partes às fa-culdades de medicina e outras faculdades de ciências da saúde. A decisão, única no país, faci-lita a chegada do material para estudo, já que todos os corpos, doados ou não reclamados, são entregues diretamente pelo MPDFT. As regras da portaria também contribuem para a di-minuição do problema de falta de peças anatômicas nas facul-dades, uma vez que havendo dificuldades em se obter partes do corpo humano para ensino as instituições podem solicitar intervenção do MPDFT.

Entretanto, mesmo com cenário animador em compa-

Janaina Bolonezi

ração ao resto do país, o Dis-trito Federal sofre ainda com a falta de doadores de corpos. Com a Lei 8.501/92, que de-termina que corpos de pessoas que morreram de causas natu-rais não reclamados em trinta dias podem ser destinados a ensino e pesquisa, o MPDFT consegue encaminhar cadá-veres às universidades. Mas existem dois problemas prin-cipais nisto: o baixo número de corpos não reclamados para entrega e a falta de diversida-de desses. Os cadáveres são, em sua maioria, de homens adultos e, mesmo com todas as facilidades promovidas pela portaria, a falta de opção é um problema somente solucio-nado com doações. “Aqui na UnB o recebimento de cor-pos de mulheres e crianças é raro. O mais curioso é que está comprovado que as mulheres são as mais propicias à doação de seus corpos para universi-dades, enquanto os homens são mais receosos”, explica Jussara Rocha.

As doações de corpos para estudos no Brasil são hoje quase inexistentes e esse fato tem explicação. Falta de in-formação, burocracia, res-trições religiosas e receio de desrespeito aos mortos são as principais causas para que o número de doadores seja tão baixo, e, na maioria das vezes, informal. “Falta transparência por parte das universidades para incentivar a população. Não existe uma política de do-ação no Brasil. As pessoas não sabem o que acontece com o corpo dentro da universidade e não têm confiança. É como se o trabalho feito aqui não pudesse ser dito a ninguém”, lamenta Jussara Rocha.

A IMPORTÂNCIA DE DOARCom objetivo de incentivar

a população à doação, a Socie-dade Brasileira de Anatomia disponibilizou no website ofi-cial um comunicado no qual es-clarece a importância da utiliza-ção de corpos reais na formação de profissionais de saúde. “Com o grande aumento de faculda-des e a progressiva diminuição do número de corpos não re-clamados, estamos enfrentando grande dificuldade em obter peças anatômicas para o ensino. É claro que dispomos hoje de vários programas computacio-nais e modelos anatômicos que ajudam no ensino da anatomia. Entretanto, ainda não se inven-tou nada superior ao corpo hu-mano real”, diz o comunicado.

Sem cadáveres, estudantes de todo o país são obrigados a estudar anatomia utilizan-do modelos e bonecos. Para Felipe Prestes, estudante de medicina da UnB, o fato de profissionais de saúde se for-marem sem terem tido conta-to com corpos reais é perigo-so. “Como estudante na área

da saúde acho imprescindí-vel o uso de corpos reais no estudo, principalmente pelo fato dos moldes não explora-rem as sutis diferenças ana-tômicas de pessoa para pes-soa. Isso é muito importante para o estudo anatômico e patológico”, explica.

Mas não é que as pessoas não entendam a importância da doação. Algumas já vence-ram as barreiras do preconcei-to e são doadores declarados. É o caso de Aldair Fernan-do. “Sou doador de órgãos há muitos anos e deixei claro com minha família meu dese-jo de que, o que não possa ser aproveitado do meu corpo, seja entregue a alguma uni-versidade”, conta.

No Brasil, todo cidadão tem direito a doar seu corpo, para isso o desejo deve ser registrado em cartório, infor-mado a família e ao Ministé-rio Público. “Talvez seja o ato mais nobre a ser feito, doar um corpo morto para que seja possível ensinar a vida”, co-menta Jussara.

O Laboratório de Preservação e Conservação de Material Anatômico da UnB arma-zena partes do corpo humano doadas à instituição

Faltam doadores de corpos para ensino de anatomia no país. Universidade de Brasília encontra na conservação e no reaproveitamento solução para o problema

Victor Pires

UNB

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Brasília, 3 a 16 de junho de 2014 7Campus

O s passageiros do metrô senti-do Samambaia começam a se aglomerar diante do vagão

logo após o fechamento das portas. A próxima parada, às 18h40, será na movimentada estação Furnas, dois pontos antes do terminal. Com o rosto colado a uma das portas do vagão, um senhor de camiseta vermelha, por volta dos 40 anos, aguarda o sinal sonoro de abertura das saídas como um nadador espera pelo disparo da corneta que inicia os 50m nado livre.

O toque dispara. Os que que-rem descer do metrô se espremem em direção à saída. Em passinhos apertados, o homem de vermelho mantém o nariz na mesma linha da junção das portas. Assim que elas começam a se abrir, o suficiente para uma pessoa de 1,68m e 74kg passar pela fenda formada, o senhor coloca o pé de apoio para fora do vagão. Assim como ele, outras 300 pessoas vão desembarcar nos próximos mi-nutos. Fora do metrô, o passageiro de blusa vermelha tem duas opções para chegar à plataforma supe-rior da estação. A primeira e mais confortável delas é pegar a escada rolante a sua frente. A segunda é mais breve e consiste em contornar a escada mecânica e subir 50 degraus, na corrida, até o andar de cima. O homem escolhe a alternativa mais rápida. Ao completar os dois lances de escada e passar pelas ro-letas, o sujeito de camisa vermelha está em primeiro lugar na dis-puta para deixar Furnas.

A correria do ho-mem tem justificativa. Ele quer, se não sentar, pelo menos conseguir um bom lugar em pé no primeiro micro-ônibus que aparecer da linha 366.1, a mais lotada do Distrito Federal e que faz integração com o metrô. De acordo com o Transporte Urbano

do DF (DFTrans), 13,6 mil pessoas utilizam a 366.1 diariamente nas 171 viagens feitas pelos veículos da linha, que é circular e liga a 2ª Avenida de Samambaia Sul à 1ª de Samambaia Norte. Para não ter a capacidade sempre extrapolada, a 366.1 precisa-ria de, no mínimo, 244 saídas diárias.

O embarque no coletivo é feito em uma parada a 20m da estação Furnas. Naquele horário, às 18h45, o veículo já chega cheio. Desta vez, o corredor

de 40 anos não é mais o primeiro colocado. Outras 22 pessoas

ocupam todos os assentos do micro-ônibus. Há ainda poucos passageiros em pé. A capacidade confortável

do veículo é de 32 pessoas: dez em pé, além dos sentados. O

esforço do homem de vermelho, con-tudo, não foi em vão. Conquista es-paço nobre nos horários de pico: aos fundos do coletivo, próximo à saída e

encostado nas barras de apoio para quem quer descer com segurança.

Enquanto o Usain Bolt do trans-porte público se acomoda no coletivo da linha 366.1, os demais rapidinhos na saída do metrô chegam ao primei-ro micro-ônibus que vai sair do pon-to de integração. Mais uma vez, um aglomerado de 30 pessoas se forma em frente às portas. A diferença é que estas são muito mais estreitas do que aquelas do metrô. Nem todos vão con-seguir embarcar. Alguns já desistem para pegar o próximo micro-ônibus, que deve passar em até 6min.

Mas há aqueles que querem chegar logo em casa, tomar banho e assistir à TV. Estes insistem em embarcar no pri-meiro transporte e se submetem a mais momentos de compactação de corpos. Enquanto um usuário passa pela role-ta, os que estão fora do coletivo se mo-vimentam como pinguins. Alguns estu-fam o peito, com a mochila nas costas,

na tentativa de ganhar a disputa ombro a ombro. Dentro do micro-ônibus que já comporta 40 pessoas, oito a mais que a capacidade ideal, a cobradora orienta os passageiros. “Pessoal, vamos afastando pra dar espaço pros que vão entrar.” Indignada, uma mulher res-ponde. “Afastar pra onde, moça? Tem pra onde ir não”, reclama.

Como duas espátulas empurran-do para dentro um usuário que está no degrau mais baixo do coletivo, as portas de acesso vagarosamente se fecham. No ar quente e úmido do interior, contam-se 53 pessoas, além do motoris-ta e da cobradora, quando o veículo começa a andar. Os semblantes estressados, com testas brilhosas de suor, são características comuns a quase todos. O corredor estreito, com lar-gura de 60cm, chega a ter três pessoas enfileiradas. Nessa situação, a costu-

Bruna Chaves

LOTAÇÃO MÁXIMAGustavo Debastiani

ESCAPE DA ROTINA

O Campus acompanhou viagens da linha 366.1, a mais sobrecarregada do DF

Sem previsão de melhoras na linha 366.1, os passageiros precisam enfretar, todos os dias, superlotação, atrasos e assaltos, enquanto autoridades acusam entre si a responsabilidade pela precariedade do serviço

reira Solange Nascimento, 55, pa-rece tranquila. “Já estou acostuma-da, todo dia é assim”, conforma-se.

Solange é interrompida por gritos. “Para! Para, motorista! A mulher tá descendo ainda”, berra uma passageira preocupada com a senhora que é quase imprensada pe-las portas ao desembarcar. A cobra-dora alerta: “Quem quiser descer tem que ir pra porta antes de chegar no ponto”. A resposta gera burbu-rinho de passageiros descontentes.

Na 366.1, não são raras as dis-cussões entre passageiros e rodoviá-rios. “Tenho três crianças pequenas. Esses motoristas dirigem muito mal. Fazem as curvas de qualquer jeito, freiam em cima da hora. Eu faço bar-raco mesmo”, afirma Cinara Macha-do, 35, que costuma utilizar a 366.1 às 13h e às 18h30, quando leva e bus-ca os filhos da escola.

Em tempos de campanhas con-tra assédio sexual em transporte pú-blico, “encoxar” alguém na 366.1 é inevitável. Nota-se, porém, preocu-pação dos passageiros em não tirar proveito da situação.

À medida que o coletivo trans-bordando de gente vence os pontos de ônibus, assentos ficam vagos. É nítida a satisfação no rosto de quem consegue se sentar e dobrar as pernas por, pelo menos, 15min.

Já a caminho do terminal, às 19h27, o coletivo se esvazia. Os passageiros restantes descem. Juarez Pires, 51, encarregado pela

organização da 366.1, recebe o veículo. Felizmente, naque-

la viagem o coletivo não foi assaltado, como é comum, segundo Juarez. Seis minutos depois, o

mesmo veículo voltará às ruas. Enquanto isso, os

passageiros da última viagem chegam em casa para descansar. Amanhã, será mais um dia de 366.1, a linha mais lotada do DF.

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Campus8 Brasília, 3 a 16 de junho de 2014

Don Henrichs, três anos, pede ao pai: “Papai, me leva para

assistir à peça da Peppa Pig?”. Pedro Henrichs resolve aten-der ao pedido do filho. Ao chegar à bilheteria do Teatro Nacional Cláudio Santoro, espanta-se com a notícia: “O espetáculo não é aqui, meu senhor, mas sim no teatro da Universidade Paulista (UniP), na 913 Sul”, informa o funcionário do local. Desa-visado, Henrichs tinha “certe-za” de que o espetáculo seria no Teatro Nacional, por se tratar “de uma grande peça, de nível nacional”.

Mas o que Pedro não sabia era que o teatro localizado no Eixo Monumental está fecha-do para reforma desde o dia 2 de fevereiro. A medida foi im-posta pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e pelo Corpo de Bombeiros. Os órgãos defendem a refor-ma de adequação do teatro às exigências de segurança e acessibilidade. Contudo, a obra não possui previsão para início, e a população e os pro-dutores começam a sentir a la-cuna cultural e econômica que o fechamento do teatro deixa.

A indústria teatral sen-te dificuldades. É o caso da Deca Produções, especializada em trazer peças de teatro de outros estados para Brasília. Segundo André Deca, presi-dente da empresa, o prejuí-zo econômico é imenso. “No mês de abril deixei de tra-zer duas peças para a cidade. Os diretores queriam tra-balhar na Sala Villa-Lobos, uma vez que já estão am-bientados com ela. O Teatro Unip não é tão conhecido pelo pessoal de fora.”

Segundo o produtor, Brasília é carente em es-paços culturais públicos, e sem o Cláudio Santoro fica difí-cil encontrar um local viável e à altura. A alternativa encontrada por Deca e seus colegas produ-tores foi a sala de Teatro Unip. Desde fevereiro, é lá que são apresentadas as maiores peças teatrais da cidade. A perda es-pacial é nítida: enquanto a Sala Villa-Lobos tem 1.307 lugares, a da Unip oferece apenas 508.

Entretanto, não é apenas o tamanho que gera descon-forto entre artistas e produ-

tores. A companhia de teatro Melhores do Mundo ficou em cartaz por quase dois meses no Teatro Unip e a experiên-cia não foi das melhores. É o que garante Adriano Siri, in-tegrante do grupo. “Tivemos tempos difíceis na Unip. Além de problemas técnicos com luz e bilheteria, um episódio triste e inédito aconteceu. Uma de nos-sas sessões foi cancelada porque a cortina, que é elétrica, não abriu no dia do espetáculo. Fi-camos muito envergonhados.”

Além do fato citado, o gru-po passou por outra situação

incomum. Geralmente, os Me-lhores do Mundo se apresen-tam no Teatro Nacional, suas temporadas são apresentadas em um único final de semana, e têm o espaço de três meses entre uma e outra. Porém, a úl-tima delas durou oito finais de semana. Foram quase 20 apre-sentações e, segundo Siri, é o preço que se paga pela reforma do teatro. “Foi a alternativa que encontramos para atingir o mesmo número de espectado-res de sempre, e também arcar com as despesas de nossa pro-dução”, justifica o ator.

MEDO DE UM “NOVO” CINE BRASÍLIA

Ieda Gabriel é atriz e revela seu medo: de que aconteça com o Teatro Nacional o mesmo que aconteceu com o Cine Brasília. Fechado em maio de 2012 para reforma, o Cine Brasília deveria ter sido reinaugurado em se-tembro do mesmo ano, para a realização do 45º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Porém, o que se viu foram des-gastantes atrasos nas obras do último cinema de rua da cidade.

No final das contas, mais de um ano após o prazo

LUZES DA RIBALTA APAGADASCULTURA

Iago Garcia e Henrique Arcoverde

Não há previsão para a reabertura do Teatro Nacional. Apesar de uma reforma ser necessária há muito tempo, a cena cultural de Brasília já contabiliza prejuízos

Bruna Chaves

Sinais de falta de manutenção são encontrados por todos os lados no Teatro Nacional, como as poltronas da Sala Villa-Lobos. A expectativa é de que a licitação para reformas seja aberta ainda em 2014, segundo a Secretaria de Cultura do Distrito Federal

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Brasília, 3 a 16 de junho de 2014 9Campus

inicial, a obra foi entre-gue e a 46ª edição do Festival aconteceu no “novo” local. “Nós ficamos 16 meses sem aquela que considero uma de minhas casas. Não quero que aconteça o mesmo com o Teatro Nacional”, lamenta a atriz. Mesmo assim, o temor de Ieda deve se confirmar. Sendo otimista em ano de eleições, a atriz poderá assistir a um grande espetáculo no lo-cal daqui a dois anos.

Procurada pela reporta-gem do Campus, a Secretaria de Cultura, responsável pelo Teatro Nacional, respondeu, por meio de sua assessoria de imprensa, os questionamentos não só de apaixonados pela arte como Ieda, bem como os de produtores como Deca e artistas como Siri. “Não há previsão para início das obras ou reabertura do

Bruna Chaves

Bruna Chaves

Além do Pedro Calmon, a Sinfônica está prestes a fechar parcerias com outros locais

Entrada do Teatro Nacional virada para o Eixo Monumental apresenta vários sinais de infiltração

Painel de Athos Bulcão no foyer da Sala Martins Pena apresenta deterioração

MELHOR DO QUE O SONETOA Orquestra Sinfônica mudou-se para o Pedro Calmon, que, segundo integrantes, é melhor do que a Villa-Lobos

A Orquestra Sinfônica de Brasília também foi afe-tada com o fechamento

do Teatro Nacional, uma vez que fazia suas apresentações semanais no teatro. Mas com a reforma do local, era neces-sário encontrar uma nova casa para tocar. O diretor executivo, Marconi Scarinci, no entanto, é a favor de uma reforma do lo-cal. “É claro que é bom tocar no Teatro Nacional, é a nossa casa, mas o teatro precisava dessa re-forma. A Sala Villa-Lobos tem uma das piores acústicas que já ouvi. Sem contar que as con-dições das salas de ensaio são insalubres. Elas vão melhorar depois dessa transformação.” Questionado sobre as outras reformas que o Claudio Santoro já passou, Scarinci foi taxativo. “Só serviram para maquiar os problemas, não resolveram as nossas necessidades.”

A nova casa escolhida pela orquestra foi o Teatro Pedro Cal-mon, localizado no Setor Militar Urbano. Scarinci garante que a mudança não foi prejudicial para os concertos. “Nós fomos mui-

to bem recebidos pelo Exército Brasileiro, além do mais, o Pedro Calmon é um ótimo teatro, con-fortável, e a capacidade é de 1.200 lugares, parecida com a Villa- -Lobos.” Para o diretor, a nova casa não atrapalhou o público da orquestra. “Continuamos com nossa programação normal de concertos toda terça-feira. O Claudio Santoro fica em uma área central, mas o Pedro Cal-mon também é muito fácil de chegar, dá pra vir de ônibus.”

O funcionário público Carlos Motta, no entanto, não concor-da com o diretor. Acostumado a acompanhar os concertos da orquestra na sala Villa-Lobos, Motta reclama: “Só fui uma vez no Pedro Calmon, ele é distante e não tem as facilidades de acesso do Claudio Santoro. Além do mais, não possui o mesmo charme”.

Ao contrário de Scarin-ci, produtores de teatro da cidade não veem o Calmon como a melhor alternativa ao Teatro Nacional. Fernan-do Guimarães traz peças de teatro para Brasília há mais de 20 anos e afirma: “O Calmon real-

mente tem um espaço ótimo, mas possui uma grande desvantagem que é a localização. A rodoviária, localizada a poucos passos do Te-atro Nacional, sempre foi um dos mais fáceis e famosos pontos de encontro da cidade”.

O ator Adriano Siri ainda cita a dificuldade de se ter espetácu-los frequentes em área militar. “Nós já nos apresentamos lá, e tivemos uma boa experiência. Mas sabemos que o teatro prio-riza atrações sem fins lucrativos, e o Exército também possui um sistema rígido de aceitação de pe-ças”, conclui Siri.

Além do Teatro Pedro Cal-mon, a Orquestra Sinfônica de Brasília está prestes a fechar par-cerias para se apresentar em ou-tros locais. “Temos a possibilidade de ir ao Cine Brasília e, além dis-so, fechamos uma parceria com o Ministério do Meio Ambiente para fazermos concertos ao ar livre em parques do DF”, expli-ca Scarinci. Ele ainda enaltece a aproximação da orquestra com o público. “Temos que tocar onde o público está e mostrar a todos uma música de qualidade.”

local para apresentações. Nos-sa expectativa é abrir a licita-ção ainda em 2014.”

No dia 30 de abril deste ano, a pasta recebeu da em-presa Acunha Solé Enge-nharia Ltda. o projeto exe-cutivo de restauro do teatro. Contratado ainda em 2013, o projeto foi aprovado pelo Instituto do Patrimônio His-tórico e Artístico Nacional (Iphan). Porém, a secretaria ainda não elaborou edital de licitação para as obras do local e, quando realizado, seguirá para a Procuradoria Geral do Distrito Federal para análise. A expectativa é que todo o restauro tenha investimento de R$150 milhões e as obras durem 18 meses. Assim, é difícil prever quando Pedro Henrichs poderá levar seu fi-lho ao Teatro Nacional para assistir a uma peça.

Bruna Chaves

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Campus10 Brasília, 3 a 16 de junho de 2014

SABIA QUE ESTOU TE FILMANDO?

SEGURANÇA

Uma sociedade totalmente monitorada por câmeras. O fim da privacidade.

A sensação de estar sendo constantemente vigiado pelo Grande Irmão (Big Brother, no original em inglês). O cenário imaginado em 1948 pelo escritor britânico Geor-ge Orwell parece ter saltado das páginas do livro 1984 e invadido o mundo real: 65 anos após a publicação da referida obra, o Distri-to Federal tem hoje uma câmera para cada grupo de 8.479 habitantes.

Ao todo, estão instala-das no Distrito Federal 329 câmeras de videomonitora-mento. Destas, 160 estão na área central de Brasília. Até o final do ano, o núme-ro de equipamentos deve chegar a 835, divididos em 17 regiões administrativas (vide mapa abaixo). Todos os aparelhos já foram com-prados, ao custo de R$ 26 milhões, provenientes do Governo do Distrito Fede-ral (GDF).

De acordo com o subse-cretário de Modernização de Tecnologia, da Secretaria de Segu-rança Pública, Celso Nenevê, a ideia de instalar um siste-ma de videomonitoramento no DF nasceu há dois anos, com o objetivo de reduzir a criminalidade. Segundo ele, no primeiro momento, os aparelhos serão mais utili-

zados na tentativa de reso-lução de crimes que já ocor-reram. Mas, a médio prazo, os equipamentos passam a ter uma ação preventiva. “Depois de instaladas, as câmeras trazem problemas para quem comete uma ação delituosa. Nesse aspecto, elas têm um caráter preventivo e geram redução da crimi-nalidade”, explica.

Nenevê garante que essa queda na incidência de de-litos já tem ocorrido desde a instalação das primeiras câmeras, no início deste ano. “Ainda não consegui-mos estimar quanto caiu, mas nós tínhamos, por exemplo, pontos que eram típicos de tráfico de drogas e que, com os equipamentos, deixaram de existir”.

Segundo o subsecretário, a meta é reduzir a crimina-lidade de 30% a 50%, como aconteceu em outros países, a exemplo da Inglaterra, cuja capital tem uma câmera a cada 14 habitantes.

O professor do curso de Segurança Pública da Uni-versidade Católica de Brasí-lia (UCB) e mestre em Gestão do Conhecimento e da Tec-nologia da Informação, Nelson Gonçalves Souza, concorda que as câmeras são, de fato, uma boa iniciativa para combater a criminalidade no Distrito Federal.

Ele alerta, contudo, para a necessidade de um efetivo de policiais quali-ficados, capazes de dar uma solução imediata aos pro-

blemas vistos por meio dos equipamentos de vídeo. “No Brasil, é cada vez maior a aposta nesses sistemas. A crítica que se faz é que os sistemas de apoio (policiais

e viaturas) ainda carecem de melhorias e otimizações para que possam utilizar as imagens geradas pelas câmeras de maneira adequada e opor-tuna”, avalia o especialista.

CENTRAL DE CONTROLEAs imagens das câmeras

serão monitoradas no Cen-tro Integrado de Controle e Comando (CICCR), onde trabalham representantes de todos os órgãos do GDF e de autarquias federais. No local, está instalado um gigantesco telão, composto por 55 telas de 55 polegadas, cada, onde é possível visualizar as filmagens.

Os vídeos são armazena-dos em servidores do cen-tro, por um prazo de até três meses. Na construção do local, foram investidos R$ 160 milhões, sendo que, desse montante, R$ 70 milhões são oriundos do governo federal.

Conforme Celso Nenevê, os equipamentos serão utilizados apenas na área da seguran-ça pública. Por isso, segundo ele, não há necessidade legal de placas alertando a presen-ça dos aparelhos. “Quando os objetivos dessas câmeras são específicos para o combate ao crime, não é preciso avisar ninguém”, comenta Nenevê. “Essas câmeras vão flagrar, por exemplo, pessoas se bei-jando na rua. Contudo, essas imagens jamais serão usadas. E se alguém usá-las, respon-de por crime. Dessa forma, o

operador que vai monitorar as filmagens tem que ser policial, porque a pena dele é muito maior. Ele tem perda de fun-ção pública”, completa.

Nas ruas, alguns cidadãos parecem não se incomodar com uma possível invasão de privacidade. “Como as câme-ras serão instaladas nas ruas, eu não as vejo invadindo a minha intimidade. Mas, mesmo que invadissem, eu acho que abriria mão de um pouco da privacidade em nome da segurança”, opina a gestora de recursos humanos Bruna Lima, duas vezes víti-ma de assaltos.

Na era dos reality shows, a sociedade parece ter passado a gostar de ser vigiada. E essa inversão nem mesmo o profé-tico George Orwell foi capaz de prever.

Fernando Jordão

Distrito Federal possui uma câmera para cada 8,4 mil habitantes e meta é chegar aos padrões londrinos de uma a cada 14 pessoas

Thomas Jefferson

A Secretaria de Segurança Pública pretende construir 21 Centros de Monitoramento Regionais (CMRs) nas principais regiões administrativas do DF. No momento, apenas três estão funcionando – Ceilândia, Samambaia e Taguatinga

Victor Pires

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Brasília, 3 a 16 de junho de 2014 11Campus

paga um real por trecho e já pos-suem um horá-rio combinado, o que faz com que eles não atrasem mais com tanta frequência. “Te-nho o passe estu-dantil, mas gas-to dinheiro por não poder usar desse direito. É melhor pagar do que não ter como frequentar as aulas”, afirma o estudante.

Para Eduardo Biavati, mestre em Sociologia e consultor em

educação e segurança para o trânsito, o transporte clandes-tino é problema crescente nas capitais brasileiras e a oferta surge justamente pelo fato de o serviço público formal ser insuficiente. “A diferença en-tre a renda do brasileiro há 10 anos e a de agora é muito notória. Estamos com mais di-nheiro para gastar e assim mo-vimentar melhor a economia, mas o transporte público não acompanhou esse crescimen-to”, afirma. Segundo Biavati, a população muitas vezes não tem a escolha de não pegar uma van ou “perua”, e se expor ao risco de o motorista não es-tar em condições para dirigir, nem mesmo o carro ter pas-sado por triagem, mas certas situações ajudam a contribuir para o crescimento da ilegali-dade. “A demanda aumentou, mas a oferta não, então ela ti-nha que ser atendida de outra forma”, completa.

TODOS OS DIAS É UM VAIVÉMTRÂNSITO

Chegar atrasada no colé-gio ou até perder o dia de aula tem se tornado ro-

tina na vida de Taynarah Souza, 19 anos, estudante do Centro 2 de Planaltina. E o motivo não é a falta de interesse da jovem, mas a precariedade e o baixo número de ônibus que a levam até a escola. Taynarah depende dos micro-ônibus que circulam internamente na cidade, e con-ta que, quando o veículo não está superlotado e não a deixam entrar, o tempo médio de es-pera na parada é de mais de 30 minutos. “Existem três ônibus que fazem a linha que eu pego. Além de estarem sempre mui-to cheios, têm muitas cadeiras e ferros de apoio danificados, mas o pior é quando o ônibus que-bra no meio do caminho. Isso acontece pelo menos uma vez por semana”, conta.

Esse é um simples exemplo do que está acontecendo em algumas cidades do Distrito Federal (DF), como Planaltina, Santa Maria e São Sebastião. Moradores, e principalmente estudantes, reclamam da falta de manutenção e, consequen-temente, diminuição do nú-mero de ônibus. Na linha 67, que liga o Vale do Amanhecer à Planaltina, por exemplo, exis-tem apenas dois veículos que fazem o trajeto. Segundo Maria de Fátima, 52 anos, é impossí-vel subir no micro-ônibus em uma parada que esteja no meio do percurso. “Quem quer en-trar tem que ir para a parada de onde o ônibus sai, que fica a mais de dois quilômetros de casa. O motorista nem para nos outros pontos de ônibus porque não cabe mais gente. Ir sentado é muito difícil!”, reclama.

Em 2008, no governo de Roberto Arruda, as vans que circulavam pelo DF foram tro-cadas por micro-ônibus, e estes ficaram responsáveis por fazer o transporte interno de cada cidade. A empresa que ganhou a licitação para Planaltina foi a Coopertran, e 40 novos veícu-los foram colocados em circula-ção para atender as nove linhas. De acordo com Lúcio Lima, di-retor técnico do DFtrans, cada cooperativa é responsável pela manutenção e preservação dos carros, e o DFtrans, até o início do mês, tinha o papel de reali-zar a fiscalização em todos âm-bitos, o que agora está a cargo da Secretaria de Transportes do DF. “Todo ônibus tem uma vida útil de sete anos, então até 2015, os ônibus, na teoria, não teriam que ser trocados. Mas a falta de atenção das coopera-tivas faz com que os auditores do DFtrans recolham veículos que não estão em condições mínimas de segurança para cir-culação. O contrato com as co-operativas vão até 2018, então será necessária a renovação da frota”, explica.

De acordo com a Secretaria de Transporte, há uma fiscali-zação periódica para que ônibus não circulem em más condições. Uma vistoria obrigatória acon-tece de quatro em quatro meses e concede um selo de circulação, e se algum veículo for visto com o selo vencido, ou até mesmo sem esse certificado, o carro é apreendido. A empresa dona do veículo tem três dias para ar-rumar o que não estiver dentro do padrão, e se o prazo não for cumprido, é cobrada uma mul-ta diária. A secretaria reconhe-ce que o transporte está com a

manutenção defasada e diz que, por estar há pouco tempo com o dever de fiscalizar, existem al-guns lugares que não estão sen-do completamente atendidos pelos auditores. Em contrapar-tida, por estar chegando o fim da idade máxima permitida para os micro-ônibus, a partir do fi-nal do ano, uma operação será montada para apreender todos que estiverem irregulares.

Já o vice-presidente da Co-opertran, Ricardo dos Santos, diz que, em pontos perto do Vale do Amanhecer, os ôni-bus da cooperativa não podem entrar, pois são assaltados e apedrejados diariamente. “Na nossa garagem temos uma ofi-cina com dois turnos de me-cânicos e lanterneiros, mas a depredação é muito grande”. Hoje, circulam 36 ônibus da cooperativa em Planaltina e, segundo ele, em agosto deste ano começará o processo de renovação da frota.

PIRATAS FAZEM A FESTAA situação estava imprati-

cável para Lucas Almeida, 17 anos, estudante do Centro de Ensino Médio 01 de São Se-bastião. Desde o início do ano, o garoto já conta com mais de 20 faltas na escola devido a escassez de transporte na região. “A escola fica a mais de oito quilômetros de casa, então não dá para ele ir a pé. Ele acordava cedo e depois de umas duas horas, voltava pra casa sem ter conseguido en-trar no ônibus”, conta Cleusa dos Anjos, mãe de Lucas. Para conseguir chegar até a escola de forma mais rápida, e consi-derada por Lucas, mais segura, ele se uniu a mais três amigos e procuraram o transporte clandestino. Ao fazer uma es-pécie de contrato para condu-ção com um rapaz que possui um carro e faz o transporte na região há mais de dois anos, cada um do grupo de garotos

População do Distrito Federal sofre com deficiência do transporte público e frota de micro-ônibus precisa ser renovada

Rômulo Andrade

Em 30 minutos de observação a reportagem de Campus contabilizou cinco micro-ônibus e 40 carros piratas na principal parada de Planaltina

Bruna Furlani

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Campus12 Brasília, 3 a 16 de junho de 2014

NÃO É BRINCADEIRA DE CRIANÇATECNOLOGIA

Jéssica Martins e Raila Spindola

“Você vibra, vê os momentos de tensão quando o seu time está em momentos

decisivos e tem as jogadas de tirar o fôlego.”

Caio Henrique de Medeiros, torcedor de League of Legends

Competições oferecem prêmios de milhares de reais e mudam o cenário do esporte eletrônico no Brasil

Bruna FurlaniPresente no Brasil há cerca de uma década, os esportes eletrôni-

cos – ou e-sports, como são mundialmente conhecidos – ganharam popularidade e for-ça somente nos últimos dois anos. Só em 2014, campeonatos como a Intel Extreme Masters e o Circuito Brasileiro de Lea-gue of Legends (CBLOL) con-tam com premiações de US$ 75 mil e R$ 100 mil, respecti-vamente, e investimentos de multinacionais. Os vencedo-res dos campeonatos são clas-sificados para eventos maiores para competir com equipes de todo o mundo.

Em agosto de 2011, a Valve Corporation – distribuidora e desenvolvedora de jogos ele-trônicos americana – realizou o primeiro The Internatio-nal, campeonato mundial do jogo de estratégia em tempo real Dota 2. Na competição, 16 times são pessoalmente convidados para participar e o prêmio da primeira edição foi de US$ 1 milhão para a equipe vencedora.

Apesar do valor oferecido no The International – que na edição de 2014 está com a cotação em US$ 6 milhões de dólares – foi League of Legen-

ds (LOL), da desenvolvedora Riot Games, que trouxe o es-porte eletrônico para o cenário nacional com uma força nunca vista. Segundo o torcedor Feli-pe Bender, o investimento das empresas que desenvolvem os jogos faz toda a diferença. “A Riot viu o potencial do Brasil, investiu e o LOL começou a ficar popular. Com acessibili-dade, consigo assistir a com-petições como o Campeonato Mundial de League of Legen-ds”, explica Felipe.

Com servidor brasileiro lançado em fevereiro do ano passado, League of Legends, assim como Dota 2, é classifi-cado dentro do gênero Moba (massive online battle arena ou, em tradução livre, batalha on-line massiva de arena). Basea-do na formação de dois times com até cinco pessoas que va-riam de um jogo para o outro, no estilo Moba cada jogador controla um personagem com o objetivo de marcar pon-tos, destruir fortificações inimigas e matar os persona-gens do time adversário para vencer a partida.

De acordo com Diniz “Grun-tar” Albieri, narrador de com-petições de e-sports como a Intel Extreme Masters, o estilo de League of Legends tem caracterís-ticas importantes para conseguir o número de adeptos que tem hoje. Para ele, a gratuidade do jogo incentiva novos jogadores a testarem, além de exigir pouco da capacidade do computador e dispensar o uso de uma má-quina cara, o que no Brasil é es-sencial. “Não é um jogo difícil e, além disso, é em equipe, então você se diverte com os amigos. Esses aspectos atraem as pesso-as”, argumenta Diniz.

Os próprios ciberatletas brasileiros não perdem o mé-

rito ao mostrar o potencial do país em produzir bons joga-dores da modalidade. Leonar-do “Erasus Hitbox” Faria, com apenas 13 anos, faz parte de uma equipe semiprofissional, a Roaming Dragons. De acor-do com ele, é possível dispu-tar campeonatos, mas ainda é preciso esperar quatro anos para participar dos oficiais da Riot Games. “A idade mínima exigida é de 17 anos, mas es-tou pronto. Levei só dez me-ses para chegar ao nível dia-mante um”, conta Leonardo, orgulhoso, ao falar da coloca-ção no segundo maior nível de jogador no ranking mundial de League of Legends.

A partir da demanda vista, empresas voltadas para o traba-lho com os e-sports se formaram no Brasil. Organizadoras de campeonatos nacionais e fede-rações esportivas que treinam e gerenciam equipes são en-contradas em grande número e com patrocínio de multina-cionais do ramo eletrônico. Uma dessas federações é a RMA e-Sports, que começou o investi-mento na modalidade e se tornou uma empresa registrada para o campeonato brasileiro de 2012. “Hoje temos seis equipes, esta-mos em cinco jogos diferentes e todos os atletas foram esco-

lhidos a dedo”, conta Tiago Carvalho Sans, diretor geral da RMA. “Os jogadores são fixos, têm contratos assinados e precisam jogar por tempo-radas completas, não podem sair. Isso protege a RMA, o atle-ta e o patrocinador, que saberá quem representa a marca dele”.

VIDEOGAME É COISA SÉRIAPara Francisco Marcelo Mar-

ques, coordenador do curso de Jogos Digitais do Centro Universitário Iesb, o mercado voltado para os jogos online tem um crescimento tanto no desenvolvimento de novos jogos quanto em competição. “Novas empresas são criadas to-dos os dias”, diz Francisco. “Os jo-gos eletrônicos construíram um

mercado no Brasil e têm espaço para os profissionais da área”.

Lucas “Zang” da Mata, de 19 anos, é ciberatleta e hoje vive apenas do e-sport. Ten-do competido várias vezes no exterior, hoje é pago por ses-sões de jogo onde treina com equipes que se preparam para campeonatos ou é convidado para substituir pessoas que, por algum motivo, não poderão comparecer aos campeonatos. As sessões de treino podem du-rar de dois a sete dias e Lucas recebe cerca de US$ 150 por sessões curtas. “Os responsáveis pelas equipes assistem aos jogos de alto nível e chamam o joga-dor para uma entrevista. Se for o que eles querem, você está den-tro”, explica o jogador.

Leonardo Faria (direita), de 13 anos, precisa esperar completar 17 anos para participar de competições oficiais de League of Legends

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Brasília, 3 a 16 de junho de 2014 13Campus

Bruna Furlani

Thais Gomes, espectadora de competições de e-sports, acompanha os jogos com o objetivo de aprender novas técnicas com personagens do jogo que não conhece tão bem

Bruna Furlani

O narrador Diniz “Gruntar” Albieri ganha hoje em torno de R$ 1,5 mil com os patrocínios das transmissões ao vivo que realiza, além do dinhei-ro extra pago nas competições que narra. Na opinião dele, ainda é pouco para quem vive com a esposa e o filho, mas que talvez a quantia fosse o suficiente se não tivesse uma família. “Estou arris-cando em um futuro, hoje mal pago minhas contas, mas so-nho com o dia em que viverei tranquilamente fazendo o que gosto”, desabafa.

Tiago Carvalho Sans diz faltar suporte governamental para a modalidade e que, ape-sar de não ter existido dificul-dade para registrar a empresa RMA e-Sports, não há nada na legislação brasileira em re-lação a uma empresa do gêne-ro. “Foi necessário abri-la da mesma forma que é registrado um bingo, o que pode dificul-tar o acordo com o patroci-nador. Formalizar a empresa ajuda nos negócios, assim os patrocinadores entendem que é seguro sair da mídia conven-cional para investir na gente”, explica. “O objetivo é de que no futuro as pessoas levem os filhos para participar dos campeonatos e torçam para as equipes.”

De acordo com o Minis-tério do Esporte, não cabe ao poder público reconhecer qualquer entidade esporti-va. “A Constituição Federal de 1988 estabelece que a prática esportiva é livre no país, assim como a organização em en-

tidades representativas”, diz a assessoria de imprensa. Para o advogado Vinicius Calixto, a organização de competições por entidades como federa-ções e confederações é o que dará forças ao e-sport, por mais que as disputas que não promovam apostas sejam le-galizadas. “A descentralização das competições nas lan hou-ses não é interessante e é pre-ciso que haja padronização das regras dos jogos”, argumenta.

Na opinião do atleta Jo-nathan “Jow” Nascimento (Jow), de 20 anos, membro da equipe profissional Ace-zone Academy Red, o que ainda falta no esporte eletrô-nico são jogadores dispostos a competir para divulgar o cenário nacional e menos focados nas premiações de milhares de dólares. “Ain-da é uma modalidade muito instável no Brasil, então pre-cisamos de mais jogadores apaixonados e menos ganan-ciosos”. A jogadora Débora “Yuuki” Abrantes, 23 anos, concorda com Jonathan e acredita que os frutos do es-forço dos jogadores de hoje serão colhidos pelos próxi-mos atletas da modalidade.

Mas mesmo não reconhecido pela maioria da população, o e-sport continua visto pelos adep-tos da modalidade como um es-porte convencional. “Você vibra, vê os momentos de tensão quan-do o seu time está em momentos decisivos e tem as jogadas que são de tirar o fôlego”, conta o torce-

dor Caio Henrique de Medei-ros, que acompanha e-sports desde 2009 e torce para o time nacional CNB e-Sports Club e para o sul coreano SKT1.

Thais Gomes, expecta-dora de competições de Le-

ague of Legends, acompanha alguns jogos sem se preocu-par com as equipes envol-vidas e diz assistir e-sports em busca de aprendizado com quem é mais experien-te. Além disso, acredita que as locuções também são um grande auxílio para apren-der mais e manter o foco. “As narrações são tanto di-vertidas quanto explicati-vas. Eles têm conhecimento e, como em um jogo de xa-

drez, buscam prever como pode ser cada partida. Isso dá margem pra você pensar junto e não só ficar olhando e ouvindo”, explica Thais.

O INÍCIO DA PARTIDAA primeira vez que se ou-

viu falar na grande mídia de competições de jogos eletrô-nicos no Brasil foi em 2007, com a chegada do famoso Counter Strike, o que popula-rizou os jogos do gênero FPS (first-person shooter, ou tiro em primeira pessoa). Moti-vo de polêmica na época de maior sucesso, o jogo caiu no desgosto de uma parcela da população por ser considera-do muito violento.

Counter Strike foi esque-cido após diversos comentá-rios negativos na mídia e em janeiro de 2008 foi recolhido pelo Procon das lojas do esta-do de Goiás com a afirmação de que era impróprio para consumo. De acordo com o atleta Jonathan “Jow” Nas-cimento, até mesmo dispu-tas com aposta de dinheiro aconteciam na época da fama de Counter Strike, o que não ocorre com os jogos mais conhecidos atualmente. “Na maioria dos casos os campe-onatos são organizados para divulgar a lan house e os prê-mios são dados em dinheiro digital para ser usado no ser-vidor do jogo.”

Premiação total: Equipamentos de computador

* Última edição com disputa de CS

10º WCG Brasil – Nacional de Counter Strike*

1º Intel Extreme Masters – Nacional de Starcraft

1º CBLOL – Nacional de League of Legends

4º The International–Mundial de Dota 2

Premiação total: US$ 21 mil Premiação total: US$ 55 mil Premiação total: US$ 7 milhões ou mais

2011 2012 2013 2014

Caio Mota

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Campus14 Brasília, 3 a 16 de junho de 2014

QUEM MERECE AMPARO?PREVIDÊNCIA

Auxílio-reclusão está em análise na Câmara dos Deputados. Mais de 90% apoiam o fim do benefício, contudo ainda há desconhecimento sobre o temaCamila Curado

A única coisa boa que o Maranhão tem é o presídio de Pedri-

nhas.” A afirmação do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) deixa bem clara a sua posição em re-lação ao sistema carcerário no Brasil: para ele, o criminoso deve encontrar, na cadeia, con-dições tão cruéis quanto ao cri-me que ele cometeu.

Por esse motivo, o deputa-do se indigna quando o assunto é auxílio-reclusão, benefício concedido à família do detento que contribuía com a previ-dência social. Todavia, Bolso-naro não é totalmente contra o auxílio. Para ele, metade da renda recebida pelos depen-dentes do criminoso deveria ser destinada às vítimas.

Em pesquisa realizada no portal da Câmara dos Deputa-dos sobre a Proposta de Emen-da Constitu-cional 304/13 em análise, que propõe o fim do auxílio-reclusão e a criação de benefício para a vítima, 95% dos brasileiros se posicionaram contra o auxílio. A enquete já é uma das cinco mais votadas no site, com mais de 130 mil vo-tos, e teve as redes sociais como um impulsionador.

Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), Márcio Evangelista Ferreira da Silva não se recorda de um movi-mento tão forte contra o bene-fício nos seus mais de 50 anos de existência, e acredita que o efeito viral da internet trouxe a questão à tona, porém com informações incompletas e, por

hora, distorcidas. Para ele, “o erro das discussões é não saber nem o que é o auxílio-reclusão”.

“Acho justo como qualquer outro direito previdenciário”, afirma a professora de direito na Universidade de Brasília Cristina Zackseski que relem-bra do principal objetivo do benefício: evitar a vitimização reflexa. Isto é, os dependentes ficam vulneráveis socialmente quando o responsável finan-ceiro é preso e, portanto, o au-xílio é dado para impedir que a família integre na criminali-dade também para conseguir meios de subsistência.

O BENEFÍCIOO auxílio-reclusão é um

benefício da previdência social concedido aos dependentes de detentos que contribuíam por meio da carteira assinada ou

de forma in-d e p e n d e n t e com o Insti-tuto Nacio-nal do Seguro Social (INSS). O auxílio só é pago para de-pendentes de segurados que tenham um salário igual ou

inferior a R$ 1.025,81. O cálcu-lo do valor recebido é feito com base na média dos salários de contribuição do trabalhador.

Há um desconhecimento da existência do auxílio-reclusão e as poucas famílias que recebem necessitam do benefício. É o caso dos dependentes de Paulo Sérgio Régis Júnior, que traba-lhava na construção do Estádio Mané Garrincha. Após ser pre-so, há um ano e quatro meses, a família se mantém graças ao auxílio. Assim como a de Pau-

lo Sérgio, a de Diego Lima de Castro e de Talison do Nasci-mento, que também ajudavam no sustento do lar, e, por terem contribuído com o INSS, pude-ram deixar um amparo finan-ceiro aos seus dependentes.

SOBRE A PECEm agosto de 2013, a depu-

tada Antônia Lúcia (PSC-AC) elaborou a Proposta de Emen-da Constitucional 304 transfe-rindo o auxílio-reclusão para a vítima do crime. Para ela, a PEC é uma forma de amparar pes-soas e famílias vitimizadas pela pobreza imposta e pela vio-lência da criminalidade. “Meu foco número um se deu no seio de jovens que ficam órfãos do seu futuro quando o provedor da família é atingido”, declara. “O auxílio, para mim, é um es-tímulo [à criminalidade], com as exceções dos crimes não in-tencionais.” Por isso, ainda não se sabe se autores de delitos involuntários terão auxílio. A deputada Antônia Lúcia pre-

tende instalar uma Comissão Especial para analisar os por-menores da PEC.

A proposta divide opiniões. O ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF) afirma ser totalmen-te a favor da PEC. Para ele, o auxílio-reclusão “é uma medida social, mas injusta, porque não atende, principalmente, quem merecia a atenção do Estado, que foi a família vitimizada”. Fraga não vê o benefício como incen-tivo ao crime, mas acredita que seja uma forma de premiá-lo.

Já a deputada Erika Kokay (PT-DF) defende o auxílio-reclusão por ser um direito da família: “A gente deveria traba-lhar com os familiares dos de-tentos para que eles ajudassem na ressocialização, a repensar e interromper a trajetória crimi-nosa e voltar para a sociedade”. Segundo Kokay, a PEC 304 “é um projeto pautado na vingan-ça” que alimenta um sentimento de ódio, intolerância e vingança com as próprias mãos. Ela afir-ma que acabar com o auxílio

estenderia a pena para a família “como se estivesse dizendo que é um privilégio alguém ter um benefício para o qual contribui”.

Márcio Evangelista, juiz de direito do TJDFT, é contra o fim do auxílio, por acreditar que transferir o benefício para a vítima não resolve a questão principal. “Deveriam ser cons-truídas políticas públicas para atender os dois, e não deixar de atender um para atender o outro. Porque a família do pre-so normalmente já está numa situação de marginalidade, não criminal, mas marginalidade à parte da sociedade.”

NEM LÁ NEM CÁAntes da elaboração da PEC

304/13, mudanças no auxílio-reclusão já eram discutidas na Câmara. Em junho do ano pas-sado, o deputado André Moura (PSC-SE) propôs o Projeto de Lei 5.671 a fim de dividir e ra-tear o benefício previdenciário em partes iguais entre as famí-lias das vítimas e do detento.

Tainá Farfan

Dos mais de 12 mil presos distribuídos nas seis unidades penitenciárias do DF, apenas os dependentes de 949 foram beneficia-dos pelo auxílio-reclusão até dezembro do ano passado

Menos de 8% da população carcerária

da capital recebe auxílio- reclusão

Baseado em dados da Secretaria de Segurança Pública do DF e do Ministério da Previdência Social

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Brasília, 3 a 16 de junho de 2014 15Campus

jurídicas para reaver a filha, Raquel reclama do andamen-to dos processos. “Tomei e continuo tomando todas as medidas possíveis para tê-la de volta, mas nossa justiça não funciona. Hoje em dia, não tenho contato com a mi-nha filha porque o pai dela não permite”, indigna-se.

Problemas no andamento dos processos judiciais tam-bém ocorreram com o ad-vogado Alexandre Brito. Ele alega que seu relacionamento com os filhos – uma menina de quatro anos e um menino de sete – foi dificultado pela mãe deles. “Fui impedido de falar com as crianças e de pas-sar fins de semanas com eles. No ano passado, eu tinha a autorização judicial para pas-sar o ano novo com os me-ninos, mas a mãe os levou e sumiu por mais de dez dias. Minha filha chorava por não me ver e meu filho se tornou uma criança extremamente insegura”, conta o advogado.

Alexandre reclama princi-palmente da demora judicial na hora de exercer a lei. “As-sim que iniciaram os atos de alienação, entrei com várias ações, uma de regulamenta-ção de visita e uma cautelar de alienação parental, mas esses

processos permanecem

O filho de José Noguei-ra (nome fictício) não quer ter contato com

o pai. Aos 11 anos, o garoto não atende às ligações do ge-nitor e recusa qualquer con-vite para passar uma tempo-rada com José. A relação nem sempre foi complicada assim. Quando Nogueira separou-se da ex-esposa, ele ainda conse-guiu manter uma boa relação com o filho por dois anos.

A mãe se mudou com o menino para uma cidade do interior de Minas Gerais e, desde então, o pai se tornou um estranho para a criança. José acredita que a mãe do garoto é a principal responsá-vel pelo afastamento dos dois: “Ela dificulta o nosso contato. Fala mal de mim e discute, na frente dele, meus assuntos financeiros e coisas que meu filho não deveria saber que acontecem”.

A situação do filho de Nogueira é, em certo grau, parecida com a de outros 16 milhões de pessoas. Segundo dados da Associação de Pais e Mães Separados (APASE), 80% dos 20 milhões de filhos de casais separados no Brasil sofrem algum tipo de aliena-ção parental. Ou seja, quan-do um dos genitores ou avós interfere na formação psico-lógica da criança a ponto de atrapalhar a relação dela com o pai ou a mãe, tornando-a hostil ou mesmo agressiva com um dos dois.

Para Analdino Rodrigues, presidente da APASE, a alie-nação parental pode ter con-sequências graves às crianças. “Hoje em dia, há genitores que chegam a fazer falsas de-núncias de abuso sexual para

afastar os filhos do(a) ex-companheiro(a). Isso pode deixar marcas tanto nos pais quanto nos filhos.”

Analdino também acre-dita que o alto número nos casos se deve, principalmen-te, à cultura matriarcal que domina o país. “Hoje em dia, 81% das guardas unilaterais de menores ficam com as mães e só 12% são guardas comparti-lhadas. Se os pais tivessem o mesmo peso na criação dos fi-lhos, os números de alienação parental seriam menores.”

DISPUTA JUDICIALAcusações de abuso sexual

foram o pretexto para que o ex-marido de Raquel Lucena sequestrasse a filha do casal. Há cerca de dois anos, a me-nina, então com cinco anos de idade, foi passar férias com o ex-marido de Raquel em Ma-naus e não voltou mais para os cuidados da mãe, no Recife.

“Ele acusou meu noivo de ter molestado a minha filha e então, desde agosto de 2012, só a vi duas vezes e falei por telefone em cinco ou seis oca-s i - ões”. Apesar de

ter inicia-do di-v e r s a s

a ç õ e s

LARES DIVIDIDOSCOMPORTAMENTO

Pedro Alves

Cerca de 80% dos filhos de pais separados no Brasil sofrem algum tipo de alienação parental

praticamente parados há um ano, sem audiências e com diversas ordens descumpri-das por parte da minha ex-esposa.”

A Lei 12.318/2010 dispõe sobre a alienação parental e determina sanções que vão desde advertências à perda da guarda das crianças. Segun-do o presidente da APASE, “a existência da lei já é um grande avanço. Em outros países, não existe uma legis-lação específica que trate do assunto. Os principais pon-tos são cobertos pela lei, mas o problema é que as pessoas não sabem da existência dela”.

Segundo a promotora do Ministério Público do Dis-trito Federal, Maércia Mello, o grande número de casos é visível nos tribunais. “Não temos estatística, mas essas denúncias têm sido constan-tes em processos de divórcio e guarda de menores.” A pro-motora ainda aconselha aos pais que têm o relacionamen-to com os filhos abalado que procurem um advogado e en-trem com uma ação judicial.

CONCEITO RESTRITOOs problemas na relação

entre pais e filhos nem sem-pre são causados por apenas um dos genitores. É o que afirma a psicóloga Maria-na Juras, que fez dissertação de mestrado sobre divórcios destrutivos. Ela acredita que o conceito de alienação pa-rental é restritivo, pois mui-tas vezes os dois têm culpa.

“Em um divórcio conflitu-oso, os pais se criticam mutu-amente na frente dos filhos. A repulsa que a criança cria por um deles nem sempre é causada pelo outro genitor. Às vezes é porque o filho fica assustado com as reações nas brigas com o ex-cônjuge, ou então porque se identifica com aquele que sofre mais pela situação, com o que ti-nha mais contato. Os pais não estão errados em lutar pelos direitos, mas a forma trucu-lenta como fazem isso aca-ba sendo mais prejudicial às crianças”, observa Mariana.

Uma coisa, porém, é ine-gável: qualquer conflito entre os pais é bastante danoso aos filhos. “Toda a fundação fami-liar da criança é abalada e ela se vê dividida entre as duas pessoas em quem mais confia-va”, afirma a psicóloga.

De acordo com Mariana, “a melhor maneira para reto-mar o relacionamento com o filho é respeitar o desejo dele por distância, mas ao mesmo tempo mostrar interesse. Se ele não quer a presença do pai ou da mãe, eles devem se afastar mas de alguma forma se mostrarem presentes. O mais importante é que a criança saiba que os pais não desistiram dela”.Lu

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Campus16 Brasília, 3 a 16 de junho de 2014

O Abrigo Flora e Fauna é uma associação protetora de animais que há nove anos acolhe cães e gatos em situação de risco, vítimas de abandono e maus tratos. Orci-lene Arruda, fundadora da ONG conta que o local é mantido graças a doações e, ao longo desses anos, várias dificuldades foram vividas e superadas. Para ela, hoje, o maior problema da associação é a falta de pessoas que se comprometam a trabalhar lá, remuneradamente ou não. A instituição cuida de cerca de 500 animais e tem apenas quatro empregados fixos, contando com ela. Para alimentá-los, o abrigo gasta mensalmente quatro toneladas de ração.

DEDICAÇÃO PELOS ANIMAIS

Segundo a fundadora, todos os dias pelo menos um animal chega ao abrigo. Alguns animais chegam muito machucados ou doentes. Por isso, a atenção dada a estes deve ser maior para que os danos não se tornem irreversíveis.

Laís Sinício

Todos os sábados, com ajuda de voluntários o abrigo realiza uma feira de adoções na comercial da 107 sul. Laura Tiago, 14 anos, adotou um novo integrante para sua família: “Já tem cachorro demais na rua, adotar é olhar para aqueles que ninguém olha muito”.

Orcilene, o ajudante José Aldo e mais duas diaristas cuidam diariamente dos 300 cachorros e 200 gatos espalhados pelos quatro hectares de extensão do Abrigo Fauna e Flora.