artigo interessante sobre keynes macro, s determinando i é bobagem
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17Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
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DEMANDA EFETIVA, INVESTIMENTOE DINMICA
A ATUALIDADE DE KALECKI PARA A TEORIAMACROECONMICA
Mario Luiz Possas1
Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Av. Pasteur, 250CEP 22290-240, Praia Vermelha, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, e-mail: possas@ie.ufrj.br
RESUMO A macroeconomia mainstream afastou-se inteiramente de suas origensremotas em Keynes e Kalecki, substituindo o princpio da demanda efetiva (PDE)pela macroeconomia da oferta, o investimento pela poupana e a dinmica peloequilbrio como norma. O artigo discute, na oportunidade do centenrio de Ka-lecki, a importncia da sua contribuio para a reconstruo de uma teoria ma-croeconmica que: (i) explique, pelo PDE, as relaes bsicas de determinao cau-sal das variveis econmicas sem qualquer referncia ao equilbrio; (ii) supereassim o falso papel relevante atribudo poupana; e (iii) traga de volta a macro-dinmica para o centro na anlise do funcionamento da economia capitalista.
Palavras-chave: dinmica macroeconmica; Kalecki; demanda efetiva; investi-mento e poupana
EFFECTIVE DEMAND, INVESTMENT, AND DYNAMICS: THE MODERNITY
OF KALECKIAN THOUGHT FOR MACROECONOMIC THEORY
ABSTRACT Mainstream macroeconomics has fled away completely from its re-mote origins in Keynes and Kalecki, replacing the principle of effective demand(PED) by supply macroeconomics, investment by savings and dynamics by equilib-rium as a norm. This article discusses, in the event of Kaleckis centennial, the im-portance of his contribution for the reconstruction of a macroeconomic theory ca-pable of (i) explaining, through PED, the basic causal relations among economicvariables without any reference to equilibrium; (ii) thus invalidating the false rel-evant role ascribed to savings; and (iii) bringing macrodynamics back to the core ofthe analysis of the capitalist economy.
Key words: macroeconomic dynamics; Kalecki; effective demand; investmentand savings
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18 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez. 1999
1. INTRODUO
A contribuio de Kalecki teoria econmica no se restringe macroe-
conomia, mas certamente nesta que alcana sua mais alta expresso.
O objetivo deste artigo rever trs questes tericas de macroeconomia
mas com grande impacto em poltica econmica em que suas interven-
es foram mais notveis, e que por sua radicalidade e originalidade tm
interesse duradouro.
A primeira questo inclusive do ponto de vista lgico , a ser trata-
da na seo 2, a formulao do princpio da demanda efetiva. Em sua
obra principal,2 Kalecki faz uma formulao lapidar desse princpio
(curiosamente sem explicit-lo), mais simples e mais geral do que a de
Keynes, que ressalta especialmente a relao unvoca de causalidade gasto-
renda, dispensando com lgica cristalina as noes habituais de equilbrio
to caras aos economistas das mais diversas formaes. Ao ser expulsa do
paraso das relaes econmicas elementares da macroeconomia (e no s
desta, a rigor), a noo de equilbrio pode desaparecer sem retorno e sem
deixar vestgio.
A seo 3 trata de um velho tema, to polmico quanto crucial para a
anlise macroeconmica, especialmente nas verses keynesianas heterodo-
xas: a relao poupana-investimento. Mais uma vez Kalecki nos brinda, no
mesmo captulo, com uma demonstrao bvia essencialmente idntica
de Keynes, s que mais simples e direta de como o investimento (entre
outras variveis, no caso geral) determina uma poupana necessariamente
igual e simultnea, que representa a liberao de recursos lquidos de igual
montante. Assim a poupana, estando condenada a ser igual ao investimen-
to, no tem nenhuma importncia econmica, ao contrrio da opinio pre-
valecente at hoje no senso comum dos economistas, inclusive de muitos
dos que se dizem keynesianos.
A seo 4 conclui com uma reviso geral e sucinta de como Kalecki v a
dinmica da economia capitalista como um aspecto central do seu funcio-
namento, especialmente no que se refere instabilidade e s flutuaes do
nvel de atividade. Sua teoria do ciclo econmico no esgota o tema da din-
mica (nem tem essa inteno), mas tem o mrito de apontar, de forma ana-
liticamente robusta, para um resultado teoricamente radical: a economia
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19Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
capitalista, operando em condies de rotina econmica e estrutura estvel,
no tende para algum estado estacionrio e/ou de equilbrio geral, mas para
flutuaes (ou seja, dinamicamente instvel); e que o crescimento a longo
prazo, qualquer que seja a sua trajetria temporal, depende crucialmente de
fatores autnomos de demanda (basicamente, investimento autnomo).
2. DEMANDA EFETIVA, CAUSALIDADE E EQUILBRIO
A percepo de que o princpio da demanda efetiva (PDE) mesmo um
princpio, obrigatoriamente anterior formulao de teorias macroeco-
nmicas, tanto por sua generalidade (de uma antilei de Say) quanto por
sua essencialidade (estabelece as relaes bsicas de determinao da ma-
croeconomia), esteve presente em Keynes3 e em Kalecki.4 Mas em Keynes
ele em boa medida obscurecido pela dificuldade do autor em exp-lo cla-
ramente num contexto em que pretende, paradoxalmente, enfatizar a de-
terminao ex ante da produo e do emprego.5 J em Kalecki, para quem o
nvel de emprego permanecia apenas subjacente, como uma decorrncia
implcita da validao de um certo volume de produo pelas vendas (de-
manda), o foco puro e exclusivo no resultado ex post permitiu tornar mais
claro o essencial que o PDE6 consiste na determinao unilateral das re-
ceitas (rendas) pelo gasto; em outras palavras, na constatao de que nas
transaes mercantis a nica deciso autnoma a de gastar (comprar, con-
verter dinheiro em mercadoria).7
De fato, esse o insight notvel de Kalecki no famoso trecho, logo no in-
cio deste texto, em que, frente igualdade contbil entre os lucros brutos e o
gasto capitalista em investimento e consumo,8 se pergunta pelo significado
da equao isto , pelo sentido de sua determinao, se dos lucros para o
gasto ou vice-versa. E conclui, ao inverso do senso comum, que ela se d do
gasto para o rendimento (no caso, os lucros) porque os capitalistas no
podem decidir alterar o que ganham, mas s podem decidir o que gastam
(em investimento ou em consumo); logo, a soma dos seus gastos que de-
termina a sua renda, e no o contrrio.
admirvel a lucidez expressa na idia mesma de formular essa questo,
quanto possibilidade de determinao causal unilateral em uma simples
igualdade contbil, que em um economista comum despertaria, no mxi-
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20 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez. 1999
mo, a desconfiana de que alguma relao de equilbrio poderia estar sub-
jacente. Entretanto, o notrio laconismo de Kalecki pode ter sido aqui con-
traproducente, ao deixar de explicitar ou aprofundar implicaes tericas
de uma proposio ao mesmo tempo to fundamental e to surpreendente.
A habitual resistncia a idias novas, que Keynes tanto lamentou em con-
texto semelhante, tende a rejeitar esse tipo de formulao, ainda que no
explicitamente, como sendo idiossincrtica ou parcial, excessivamente fora
dos cnones de uma cincia que se pretende sria o que infelizmente,
para a grande maioria dos economistas, se identifica com o uso sistemtico
e compulsivo da noo de equilbrio.
Seria uma perda inestimvel deixar de fazer algum esforo de aprofun-
damento e generalizao de uma idia to rica, at para que seu real alcance
fique mais claro. Fiz nesse sentido, h muito tempo, uma tentativa de siste-
matizar a verso de Kalecki do PDE em um contexto que me parece o mais
simples e mais geral em que pode ser formulado, de modo a explicitar mais
claramente as condies lgicas e tericas que so estritamente necessrias e
suficientes para a sua validade.9 Em sntese, despindo essa proposio bsica
de causalidade unilateral do gasto para a renda de suas roupagens tericas
particulares o tipo e o nvel de agregao, os componentes ex ante dos
rendimentos, o conceito de valor adicionado, a explicitao ou no da dis-
tribuio de renda, e tantas outras opes, relevantes no seu prprio con-
texto, mas que nada tm a acrescentar ao PDE em si , pode-se chegar ao
essencial do princpio. Este pode ento ser redefinido em um nvel de gene-
ralidade que o torna compatvel com as mais variadas especificaes teri-
cas, e por isso mesmo em certa medida pr-terico: uma espcie de anti-
lei de Say, to bsico e to geral quanto seria essa lei se fosse verdadeira;
apenas no axiomtico porque um teorema, isto , uma proposio te-
rica demonstrvel.
A formulao mais simples a seguinte: numa dada economia mercantil
e portanto monetria, onde o dinheiro cumpre todas as suas funes
(meio de circulao, unidade de conta, meio de pagamento) , em toda
transao de compra e venda existe apenas uma deciso autnoma: a de gas-
tar. Em conseqncia, todo gasto determina uma receita de igual magnitu-
de. Por agregao, o total do gasto em um dado perodo contbil sempre
igual e determina o total da receita.
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21Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
A simplicidade extrema, em um tema controvertido, precisa ser expli-
cada. Cabem assim algumas observaes sobre essa formulao, todas no
sentido de assinalar o que no necessrio para a proposio do PDE:
(i) No preciso supor uma economia capitalista plenamente constituda
e desenvolvida (com a presena de capital, lucros e trabalho assalariado),
mas somente uma economia mercantil simples, com a condio bsica de
que ela seja monetria, isto , no seja de escambo o que claramente
uma condio geral aplicvel a uma economia mercantil.10 Em conseqn-
cia, supe-se que o dinheiro tenha todas as funes que lhe so inerentes,
exceto a funo tipicamente capitalista de um ativo (no caso, a moeda) por
meio do qual o dinheiro possa tornar-se capital. A implicao da presena
do dinheiro em uma economia mercantil que, de acordo com Marx, ele
um intermedirio obrigatrio de todas as trocas, e por isso se torna, no
mais um meio apenas, mas um fim para cada produtor individual que se de-
fronta obrigatoriamente com o mercado sem o que uma sociedade ba-
seada na diviso social do trabalho no poderia se reproduzir.11 Logo, existe
uma assimetria entre dinheiro e mercadoria, e portanto entre o gasto (com-
pra) e a receita (venda), segundo a qual s o gasto, que pressupe a posse de
poder de compra universal a finalidade de todo o processo de troca ,
pode resultar de uma deciso efetivamente autnoma, na medida em que
dispe livremente desse poder de compra. Claro que essas propriedades es-
to presentes no capitalismo, que a forma mais desenvolvida de economia
mercantil, pelo que o PDE a fortiori ser vlido numa economia capitalista.
(ii) No preciso formular o PDE em termos agregados, nem ele implica
algum conceito estritamente macroeconmico; de fato, a formulao acima
a mais microeconmica possvel, em nvel de cada transao individual.
O resultado agregado um mero corolrio: dado que em cada operao de
compra e venda o gasto determina a receita, durante um perodo de tempo
contbil arbitrrio o total de gastos sempre ser igual e determinar o total da
receita.
(iii) No preciso formular o PDE em termos de valor adicionado ou
renda: a relao de causalidade se estabelece em nvel mais genrico, a partir
da assimetria entre dinheiro e mercadoria, e portanto entre gasto e receita.
A referncia usual renda decorre do hbito adquirido na macroeconomia,
pelo menos desde Keynes12 e tambm adotado por Kalecki, de trabalhar por
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22 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez. 1999
convenincia com agregados expressos em termos de renda ou valor adicio-
nado para evitar eventual dupla contagem ou minimizar as dificuldades de
mensurao no-ambgua de agregados quando expressos em termos de
valor da produo. Da mesma forma, simples questo de convenincia
analtica tratar o produto agregado em termos de componentes de produto
setorial de bens finais consumo e investimento em Keynes, investimento
e consumo desmembrado entre capitalistas e trabalhadores em Kalecki.
O gasto que determina a renda no s em bens finais!
(iv) No preciso relacionar o PDE e, em conseqncia, a refutao
da lei de Say com a funo consumo, e em particular com a suposio de
Keynes de uma propenso marginal a consumir menor que um.13 A existn-
cia mesma de uma funo consumo da renda inteiramente irrelevante
para a validade do PDE. Quem (ou no) gasto no a renda (um fluxo)
cuja nica relao necessria com o gasto a de ser determinada por ele;14
mas o poder de compra (um estoque), que pode ser mais ou menos influen-
ciado pela renda prvia (dependendo principalmente do nvel de riqueza de
cada agente considerado), mas certamente pode ser afetado por diversas
outras variveis, especialmente o crdito. Nesse sentido, e de um ponto de
vista puramente lgico, todo gasto autnomo em relao renda prvia
inclusive o consumo. A hiptese de uma funo consumo estrita da renda,
hoje mais discutvel do que nunca, uma questo emprica, irrelevante para
a validade do PDE e para a invalidade da lei de Say.
(v) No preciso invocar a ocorrncia de entesouramento, no jargo
clssico e marxista, ou de preferncia por liquidez, na terminologia key-
nesiana, ou qualquer outro tipo de vazamento monetrio de renda entre
um dado rendimento e o gasto subseqente, para validar o PDE e invalidar
a lei de Say e isso exatamente pelas mesmas razes que acabam de ser
apontadas. A autonomia essencial de todo e qualquer gasto (e no s o con-
sumo) em relao renda prvia, devida possibilidade em princpio de se
gastar indeterminadamente mais ou menos do que ela em um dado perodo
seguinte j que, vale repetir, gasta-se no a renda, mas a partir de um
dado poder de compra, que tem relao parcial e indireta com a renda ,
torna irrelevante a tradicional questo, hoje em desuso, de quanto de
uma renda prvia ou no gasto; assim como a questo correlata de que se-
ria a presena do dinheiro como intermedirio obrigatrio das trocas
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23Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
numa economia mercantil que permitiria afirmar a supremacia do PDE so-
bre a lei de Say.
verdade que a presena do dinheiro, como mostrou Marx, suficiente
para rejeitar a lei de Say,15 e assim mostrar a possibilidade terica das crises,
j mesmo no mbito de uma economia mercantil simples. Tambm ver-
dade, como se viu, que ela essencial demonstrao do PDE; mas no iso-
ladamente, seno juntamente com os demais elementos constitutivos de
uma economia mercantil, notadamente a diviso social do trabalho e a au-
sncia de coordenao consciente do processo de troca (que Marx denomi-
nou anarquia da produo). Seria portanto um erro consider-la de al-
gum modo a responsvel isolada pelas crises, pelo desemprego etc.; foi esse
erro terico que levou a uma longa tradio de identificao incorreta do
PDE com o suposto problema da insuficincia da demanda efetiva no
campo heterodoxo, de marxistas a keynesianos de esquerda. O PDE no tem
qualquer vis de baixa intrnseco; a renda e o emprego sero sempre deri-
vados da demanda efetiva, e portanto daquilo que os agentes decidirem au-
tonomamente gastar, a partir de suas expectativas.
(vi) Finalmente, no preciso mais at, seria altamente enganoso
expressar o PDE em termos de equilbrio, seja entre oferta e demanda (agre-
gadas ou no), seja entre produto e renda, seja entre investimento e pou-
pana, seja mesmo em termos de equilbrio dos consumidores (ao supor
que estejam operando sobre uma dada funo consumo, e com isso, por
exemplo, maximizando alguma funo utilidade intertemporal). Uma das
propriedades que conferem maior robustez ao PDE que ele independe de
qualquer hiptese de equilbrio, seja de que tipo for, sendo at mesmo com-
patvel com qualquer padro de racionalidade que se queira adotar in-
cluindo comportamentos irracionais!16 Tudo o que importa que o gasto
realizado por qualquer motivo determinar a renda, e, por extenso
(numa sucesso temporal de perodos curtos, de que Keynes trata mas no
Kalecki), o nvel de atividade, inclusive o emprego, de uma economia.
No possvel exagerar a importncia dessa ltima concluso. Em ter-
mos mais gerais e abstratos, o que se est sublinhando, principalmente a
partir do insight de Kalecki em sua forma peculiar de exprimir o PDE, que
o equilbrio no um conceito necessrio do ponto de vista da determinao
terica das variveis em macroeconomia,17 ainda que pudesse ter algum ou-
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24 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez. 1999
tro sentido (no que no acredito). Elas tm sua determinao bsica, in-
cluindo a dimenso quantitativa, estabelecida a partir de uma relao causal
unilateral, do gasto para a renda, quaisquer que sejam o nvel de agregao e
o recorte setorial e de renda adotados. As equaes bsicas da macroeco-
nomia de Kalecki assim como, em certa medida, de Keynes so rela-
es contbeis acrescidas implicitamente de uma determinao unilateral do
dispndio/produto para os rendimentos. Assim, por exemplo, a renda na-
cional (Y), decomposta por Kalecki em lucros brutos (P) e salrios (W),
Y = P + W (1)
vista, no caso geral (incluindo governo e setor externo), como igual por
definio contbil, mas tambm determinada pelos gastos associados aos di-
versos componentes do produto, como indica a seta na equao abaixo:
Y =
I + Ck + Cw + G + (X M) (2)
em que, como usual, Y a renda, I o investimento, Cw o consumo dos assa-
lariados, Ck o consumo dos capitalistas (ou a partir dos lucros), (X M) o
saldo do comrcio exterior entre exportaes (X) e importaes (M) de
bens e servios, e G o gasto pblico.
No caso simplificado, em que Kalecki abstrai governo e setor externo, a
equao anterior se reduz a:
Y =
I + Ck + Cw (3)
que, juntamente com (1) e ainda supondo que a propenso a consumir dos
trabalhadores igual a 1 (ou seja, Cw = W), resulta na j referida equao
dos lucros, com a mesma causalidade unidirecional dos gastos capitalistas
para a sua renda:
P =
I + Ck (4)
**
Com o descarte da noo de equilbrio e o estabelecimento de um tipo de
relao de determinao distinto, creio que se podem identificar claramente
benefcios tanto afirmativos quanto restritivos da introduo do PDE
nessa forma e nesse nvel bsico da anlise macroeconmica. No primeiro
caso se incluem principalmente dois resultados: (1) a nfase causal na de-
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25Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
manda, presente tanto em Keynes quanto em Kalecki, que a tesoura
marshalliana, to atrativa para os economistas ortodoxos, rejeita por princ-
pio, e que foi rapidamente descaracterizada pela teoria macroeconmica
neoclssica subseqente, a ponto de que hoje a disciplina chegou mesmo a
inverter aquela nfase original;18 e (2) a abertura para a anlise dinmica,
que permanece apenas latente em Keynes mas que Kalecki to bem desen-
volve como veremos na ltima seo e grandemente facilitada pela
excluso do equilbrio, que alm de enganoso teoricamente desnecessrio
e de compatibilidade mais problemtica com uma anlise dinmica. No se-
gundo caso, destaca-se a maior facilidade de esclarecimento dos motivos
que devem levar rejeio das vrias interpretaes equvocas que as abor-
dagens macroeconmicas dominantes sejam pr-keynesianas, keynesia-
nas neoclssicas (incluindo as chamadas novokeynesianas), antikeynesianas
(como as chamadas novoclssicas) ou apenas convencionais fazem de
agregados macroeconmicos, especialmente da poupana e sua relao
com o investimento, como veremos na seo a seguir.
3. A RELAO POUPANA-INVESTIMENTO
Apesar da multiplicidade de conceituaes de que a poupana foi objeto na
teoria econmica, pelo menos sua definio contbil tornou-se razoavel-
mente consensual a partir do desenvolvimento das tcnicas de contabilida-
de social, especialmente aps a obra de Keynes. Desde ento aceita-se am-
plamente que a poupana podendo ser real ou nominal, bruta ou
lquida, alm de outros detalhes contbeis que podemos deixar de lado
seja definida como o fluxo de renda correspondente diferena entre a ren-
da disponvel (aps impostos) e o consumo. Isso significa que divergncias
quanto sua conceituao e significado econmico estaro refletindo dife-
renas tericas, e no meramente definicionais.
Kalecki mostra19 como, no caso geral, a poupana agregada determi-
nada a partir da equao (2) de determinao da renda: introduzindo-se
os impostos menos transferncias (representados a seguir por T) e subtrain-
do-os de ambos os lados da equao, determina-se a renda disponvel; sub-
traindo, alm disso, de ambos os membros o consumo total (dos capitalis-
tas e dos trabalhadores), obtm-se a poupana total (S):
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26 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez. 1999
S =
I + (X M) + (G T). (5)
essencial observar que permanece, proveniente da equao (2), como
decorrncia lgica do PDE, a relao de determinao unilateral do gasto
para a renda neste caso, do investimento, somado ao saldo da balana co-
mercial e ao dficit pblico, para a poupana. claro ainda que, se os saldos
do governo e do setor externo forem nulos, a poupana ser igual ao inves-
timento sendo por ele necessariamente determinada.
Como na formulao do PDE acima, importante destacar aquilo que,
embora muitas vezes arraigado no senso comum, no caracteriza a poupan-
a nem a sua relao com o investimento:
(i) A poupana no financia o investimento, em nenhum sentido teori-
camente inteligvel. Primeiro, porque ela no precede, nem temporal nem
logicamente, o investimento (inexiste logicamente uma poupana ex ante);
ela por definio um fluxo de rendimentos simultneo ao investimento20 e
por ele determinado. Segundo, porque quem financia o investimento o cr-
dito, este sim, um estoque de poder de compra, criado ex nihil pelo siste-
ma bancrio que precede lgica e temporalmente o investimento; alis,
costuma ser essencial para viabilizar os investimentos devido magnitude
normalmente elevada desses vis--vis s receitas lquidas correntes capitali-
zadas pelas empresas.
A alegao, s vezes encontrada em autores ps-keynesianos, de que a
poupana, se no contribui para o financiamento do investimento, im-
portante para o seu funding, mediante o alongamento dos prazos de aplica-
o essenciais para viabilizar o investimento em escala agregada significati-
va, incorre em um erro conceitual. Quem pode contribuir para tanto a
poupana em sentido coloquial, s vezes associada a aplicaes em fundos
de investimento, que constitui um estoque e nada tem a ver com o fluxo
macroeconmico chamado poupana; no mximo, esta d indiretamente
uma contribuio marginal para eles, dependendo de se 21 e como o estoque
de riqueza derivado da poupana transformado em aplicao financeira.
Por outro lado, quando afirma que o investimento se financia a si pr-
prio22 Kalecki est, na forma um tanto imprecisa em que cunha suas frases
de efeito, chamando a ateno para dois aspectos: (1) que a poupana no
financia o investimento; e (2) que o prprio gasto realizado na compra
(eventualmente financiada) de bens de investimento gera instantaneamente
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27Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
lucros, com eles poupana e, finalmente mas no menos importante, libera
um igual montante de liquidez disposio do conjunto dos capitalistas no
sistema bancrio.23
(ii) A poupana no resulta de atos voluntrios por parte dos agentes
econmicos: ela , como qualquer outra varivel de renda, estritamente re-
sidual, isto , determinada por outras variveis (de gasto). , alis, o que diz
expressamente Keynes na Teoria geral,24 que, como se sabe, mudou inteira-
mente a sua concepo a esse respeito em relao ao Treatise on Money, tor-
nando-a no essencial idntica de Kalecki. Por isso, a determinao de um
montante qualquer, individual ou agregado, de poupana no pode, em
nome de nenhuma opo terica, e por razes de ordem lgica derivadas do
PDE, ser objeto ou resultado da vontade ou da deciso dos agentes como,
por exemplo, na forma neoclssica ainda hoje mais difundida, deixando o
consumo para uma data futura e emprestando os recursos correspondentes
em funo crescente da taxa de juros. Em poucas palavras: de acordo com o
PDE, no se pode decidir o que se ganha, mas sim o que se gasta; logo, no se
pode decidir a diferena entre o que se ganha no caso, a renda e o que
se gasta no caso, o consumo. O que chamado no quotidiano de pou-
pana, como vimos, no em absoluto poupana no sentido tcnico:
uma aplicao de capital, ou seja, uma deciso de composio da carteira de
ativos de um agente, e portanto relativa ao seu estoque de riqueza, e no a
um eventual fluxo por definio prvio, e j extinto economicamente
de poupana que tenha efetuado. A poupana to residual e involuntria
quanto a renda.25
Como corolrio dessa argumentao, cabe ainda questionar um dos ins-
trumentos de anlise mais elementares e corriqueiros utilizados em
macroeconomia aberta. Tomando-se novamente a equao (5), que de-
termina a poupana total, acompanhemos o seguinte procedimento con-
vencional: redefina-se essa poupana total como poupana privada (o que
vlido), denotando-a por Sp; e defina-se como poupana do governo (Sg),
por raciocnio analgico, o termo (T G), e como poupana externa (Sx)
nesse caso por pura simetria o dficit da balana comercial (M X).
Tem-se ento, reagrupando os termos:
Sp + Sg + Sx = I. (6)
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28 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez. 1999
Note-se que, embora no esteja errada em sentido formal mera
derivao matemtica da equao da poupana, com redefinies , essa
forma de apresentao pode prestar-se, e de fato se presta com freqncia, a
interpretaes enganosas, quando no claramente incompatveis com o
PDE. Primeiro, porque desapareceu a relao de determinao, simbolizada
pela seta, uma vez que se encontram de ambos os lados da equao compo-
nentes autnomos de gasto: afinal, no por passarem a ser chamados de
despoupana que o dficit pblico e o supervit externo deixam de ser
determinados por gastos autnomos. Segundo, porque essa equao (6)
um convite geralmente aceito pelos economistas das mais variadas ex-
traes tericas interpretao errnea de que o lado esquerdo, a pou-
pana total, mediante a contribuio de cada um dos seus componentes,
financia o lado direito, o investimento. Mais ainda, quase sempre se argu-
menta como se os esforos (sic) de poupana dos setores privado, pblico
e externo fossem complementares.
Ora, o erro triplo: primeiro, como vimos, porque a poupana sempre
involuntria e no pode resultar do esforo de ningum. Segundo, confor-
me item anterior, porque ela no financia nenhum gasto. Terceiro, e mais
sutil, porque tais componentes no so complementares entre si, como pa-
rece sugerir a forma de apresentao: a troca de posio, na equao, do d-
ficit do governo e do saldo do comrcio exterior no impede que conti-
nuem, juntamente com o investimento, co-determinando a poupana
(privada). Assim, por exemplo, em nenhuma hiptese um eventual nvel
baixo da poupana privada que nada mais que a poupana na defini-
o usual, adotada por Kalecki poderia ser reforado por um aumento
quer da poupana do governo, quer da poupana externa. Ao contrrio:
dado o investimento, tais aumentos teriam necessariamente o efeito de di-
minuir ainda mais a poupana privada! A causalidade envolvida s fica clara
retornando-se equao (5), onde se v que a poupana privada deter-
minada pelo investimento e pelas outras duas despoupanas, no tendo
possibilidade de apresentar qualquer variao autnoma. Portanto, na
equao (6), enquanto por um lado a poupana privada no pode se modi-
ficar independentemente, por outro lado qualquer alterao autnoma nas
poupanas externa e pblica implicar fatalmente alterao inversa e da
mesma magnitude na poupana privada, para um dado investimento; da
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29Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
mesma forma que uma alterao no investimento ceteris paribus provocar
efeito direto e de igual magnitude, apenas sobre a poupana privada e no
sobre os outros dois componentes, que so basicamente26 autnomos.
A concluso rigorosa luz do PDE que, para um dado nvel de investimen-
to, a poupana privada determinada pelos outros dois componentes de
poupana, variando inversamente com cada um deles. Em outras palavras,
a suposta complementaridade entre os componentes de poupana mera
aparncia enganosa: a poupana privada sempre se reduz pro tanto frente a
um aumento autnomo das poupanas pblica e externa, tanto quanto
frente a uma reduo autnoma do investimento.
(iii) Por fim, a poupana no requer nenhuma noo de equilbrio para
ser definida. No se trata apenas da notria rejeio da (neo)clssica noo
de que a igualdade poupana-investimento se daria mediante o ajustamen-
to da taxa de juros a uma posio de equilbrio, como nas teorias de fundo
de emprstimo ou semelhantes, o que foi feito explicitamente tanto por
Keynes como por Kalecki. O senso comum macroeconmico considera es-
sencial para essa rejeio que a poupana no seja funo da taxa de juros
o que certamente uma condio suficiente, mas mal-formulada. De acor-
do com os argumentos anteriores, com base no PDE, a poupana no fun-
o de coisa alguma pela simples razo de que totalmente determinada
pelo investimento (no caso simplificado; mutatis mutandis, no caso geral).
Mas a tradio keynesiana convencional em Kalecki existe o mesmo ra-
ciocnio, ainda que atenuado pela presena explcita da distribuio de ren-
da acrescenta que ela funo do nvel de renda, como decorrncia da
funo consumo: se este uma dada funo da renda, no h como negar
que a poupana, seu complemento em relao renda, tambm o seja.
Tampouco h como negar que em vrias passagens na Teoria geral Keynes
assumiu claramente essa posio.
Como conciliar a aparente contradio? Reconhecendo que ela aparen-
te. Por um lado, a contabilidade e o PDE conjuntamente asseguram que a
poupana seja sempre igual e determinada pelo investimento. Por outro
lado, assumir alguma funo consumo no implica supor que o consumo
seja sempre uma proporo desejada da renda ou ainda, que os consumi-
dores estejam sempre em equilbrio. Isto s poder acontecer, mesmo as-
sim condicionado a uma tendncia efetiva e no apenas a uma possibilidade
-
30 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez. 1999
lgica, decorrido o tempo necessrio para que o consumo e a renda se
ajustem em nveis tais que a diferena entre eles seja igual ao investimento
dado (o mesmo vale para o modelo de Kalecki, feita a devida adaptao para
uma dada distribuio de renda) obviamente o conhecido mecanismo
multiplicador, presente tanto em Keynes quanto em Kalecki.27 Acontece
que aquele tempo necessrio para o ajustamento indeterminado, poden-
do situar-se entre zero e infinito; o multiplicador um mecanismo potencial,
tpico de esttica comparativa, e por isso sem definio temporal precisa,
uma vez que depende totalmente de como se comportam as expectativas de
curto prazo (ligadas s decises de produo), alm de supor o investimen-
to constante durante o ajuste.28
Assim, os consumidores podem permanecer indefinidamente em dese-
quilbrio em termos de suas decises de consumir como proporo da ren-
da corrente, mesmo que se assuma a existncia de funes consumo desse
tipo (o que muito discutvel); ou, em outras palavras, realizando indefini-
damente nveis involuntrios de poupana, sem que isso acarrete qualquer
problema nem para a hiptese de que exista uma dada funo consumo no
nvel individual e, portanto, agregado, nem (muito menos) para a determi-
nao contbil e causal do PDE, pela qual a poupana permanecer continua-
mente igual ao investimento. O tempo que o efeito multiplicador pode
levar para completar-se uma falsa questo, tanto do ponto de vista lgico
(j que um efeito apenas potencial, e no dinmico) quanto em suas impli-
caes para a determinao da poupana.29 O que no deveria surpreender,
se considerarmos que luz do PDE a renda to involuntria quanto a pou-
pana. Por que ento deveramos estranhar que os consumidores permane-
am indefinidamente em desequilbrio quanto s propores da renda que
consomem ou que poupam, se tudo o que podem decidir o consumo?
**
Resta concluir que todo o peso da teoria recai sobre o investimento, e ne-
nhum sobre a poupana, de forma totalmente contrria ao senso comum
dos leigos tanto quanto dos economistas. Simplesmente desaparece a re-
lao poupana-investimento para qualquer efeito terico ou prtico re-
levante, em detrimento de toneladas de papel produzidas sobre ela. O pro-
-
31Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
blema econmico central para a anlise do funcionamento da economia
capitalista, como Kalecki corretamente identificou, volta-se para a teoria
dos determinantes do investimento e de seus efeitos. o que ser abordado
na prxima seo.
4. INVESTIMENTO, DINMICA E INSTABILIDADE
DA ECONOMIA CAPITALISTA
O investimento era, para os fundadores da macroeconomia, a varivel cen-
tral para explicar o funcionamento da economia capitalista em seu conjun-
to, pelos seus impactos quer sobre a determinao do nvel de atividade,
quer sobre a sua dinmica.30 Essa centralidade no deriva certamente do
peso do investimento no produto de uma economia capitalista, que muito
inferior ao do consumo; mas de sua muito maior autonomia em relao ao
nvel de atividade,31 o que o torna uma varivel-chave para a determinao
endgena no apenas desse mesmo nvel de atividade, como tambm de
suas variaes, eventualmente de suas flutuaes e mesmo de sua possvel
instabilidade.
lamentvel que esse tipo de insight terico tenha-se dissipado ao longo
dos anos, a ponto de que a macroeconomia contempornea no d qual-
quer destaque anlise do investimento, quase na mesma medida em que
relega no mximo Histria do Pensamento Econmico a centralidade
terica da demanda justificada pelo PDE. Isto porque o papel crucial do in-
vestimento como varivel determinante macroeconmica decorre exata-
mente da nfase na demanda como determinante do nvel de atividade: o
efeito multiplicador, no por acaso quase inteiramente abandonado pelo
ensino e pela anlise macroeconmica atual, apenas a ilustrao mais di-
dtica e difundida dessa vinculao entre a importncia macroeconmica
do investimento (comparativamente ao consumo e aos demais componen-
tes, exgenos, da demanda agregada) e a importncia da demanda efetiva
como princpio de determinao causal do nvel de atividade econmica.
Embora Kalecki no tenha chegado a elaborar uma teoria do investi-
mento to completa e sofisticada como a de Keynes, inclusive pela abran-
gncia monetria e financeira deste ltimo, teve ao menos o mrito de for-
mul-la de modo diretamente voltado para os seus efeitos dinmicos.32 Em
-
32 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez. 1999
contrapartida, seu maior defeito em comparao com Keynes a ausncia
de um tratamento explcito das expectativas.33
Por outro lado, fundamental assinalar desde j o que acredito ser uma
premissa metodolgica central (ainda que em boa medida implcita), no s
do modelo de investimento de Kalecki, mas de toda a sua teoria da dinmica
econmica capitalista, a saber: a estrutura econmica estvel significando
ausncia de mudanas tecnolgicas, das estruturas produtiva e de mercado,
e da poltica econmica. Como se ver adiante, tal pressuposto subjacente
ajuda a compreender mais precisamente no s o alcance da teoria, mas mui-
to do que pode aparecer primeira vista como sendo suas limitaes.
Em suas sucessivas formas de apresentao, o modelo kaleckiano dos
determinantes do investimento preserva alguns pontos bsicos em comum.
Do ponto de vista da estrutura do modelo, o investimento (particularmente
em capital fixo) funo (i) do nvel de atividade, em geral por influncia da
acumulao interna de lucros das empresas, que tendem em certa medida a
reinvesti-los; (ii) das variaes desse nvel, expressas geralmente em termos
de variaes da taxa de lucro; e (iii) de componentes exgenos, relacionados
com oportunidades de investimento no derivadas da atividade corrente,
basicamente ditadas pelo ritmo de inovaes e por outras fontes de mudan-
a estrutural.
Na verso de 1954, que considero a mais completa, esse modelo ex-
presso pela seguinte equao (agregada, mas que reflete as decises indivi-
duais dos empresrios), bastante conhecida dos estudiosos de Kalecki:34
Ft + = aSt + bPt / t cKt / t + d, (7)
onde F o investimento em capital fixo; () a defasagem mdia entre as en-comendas e a entrada em operao do novo investimento; S a poupana
bruta agregada, tomada como proxy da acumulao interna de lucros das
empresas (lucros retidos para capitalizao); Kt o estoque de capital ao final
do perodo t; e o termo independente d capta as decises de investir autno-
mas (que o autor associa a fatores de desenvolvimento, basicamente ino-
vaes e outros investimentos que independem do nvel corrente de ativi-
dade).35 Os trs componentes estruturais mencionados acima esto assim
presentes: o termo aSt exprime a influncia do nvel corrente de atividade; a
combinao de bPt / t com cKt / t exprime a influncia das variaes
-
33Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
do nvel de atividade; e o termo d representa o componente autnomo do in-
vestimento.
Sobre essa bem-conhecida equao, basta registrar brevemente que:
(i) o primeiro termo procura captar basicamente a influncia positiva
sobre as decises de investir da capacidade de autofinanciamento das em-
presas, seja diretamente, seja principalmente por permitir reduzir o nvel
de endividamento e com isso habilitar-se a novos emprstimos sem incor-
rer em um risco crescente de insolvncia associado ao endividamento
crescente;36
(ii) o segundo e o terceiro termos, tomados em conjunto, representam
uma linearizao aproximada da taxa de variao da taxa de lucros. Dada a
j referida premissa assumida por Kalecki ao longo de todo o seu modelo
macroeconmico, de uma estrutura econmica estvel, segue-se que tais va-
riaes esto traduzindo apenas os fatores conjunturais que afetam a taxa de
lucros essencialmente o grau de utilizao da capacidade produtiva. As-
sim, a interpretao mais coerente (sugerida pelo prprio autor) que o
termo em P exprime ceteris paribus o efeito positivo sobre o investimentode maior grau de utilizao da capacidade, enquanto o termo em K ex-prime o efeito negativo de maior capacidade ociosa, de modo que em con-
junto representam o efeito lquido de variaes no grau de utilizao;
(iii) o termo independente d, como mencionamos, condensa todos os
componentes autnomos do investimento, isto , que no so diretamente
afetados pela atividade econmica corrente e rotineira. Seu tratamento
exgeno no modelo coerente com a anlise sistemtica de uma estrutura
econmica estvel adotada pelo autor, com o que os fatores de mudana es-
trutural devem mesmo ser explicados ad hoc. Abrange especialmente os in-
vestimentos em inovaes e aqueles de longa maturao, cuja rentabilidade
esperada no pode resultar da projeo dos resultados correntes.
Convm nesse ponto fazer uma digresso terica. Em comparao com
a teoria de Keynes, as principais lacunas do modelo de Kalecki seriam a au-
sncia de tratamento da taxa de juros e da formao de expectativas de lon-
go prazo. Quanto ao primeiro aspecto, uma discusso prvia do autor37 jus-
tificou deix-la de lado tanto por seu comportamento estvel a longo prazo
quanto pela premissa de que a poltica monetria seja tambm estvel e no
muito restritiva (de maneira tal que a taxa de juros no chegue a prejudicar
-
34 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez. 1999
os investimentos).38 Quanto s expectativas, o problema um pouco mais
complexo. Na verdade, os modelos de investimento e ciclo de Kalecki tm
sido acusados por diferentes autores, de Schumpeter a ps-keynesianos, de
conterem pouca historicidade e excesso de mecanicismo, parte do qual se
deve, ao menos do ponto de vista ps-keynesiano, ausncia de uma anlise
de expectativas. No caso presente, creio que h um mal-entendido que pode
ser sanado satisfatoriamente.
Vale retomar aqui a premissa de estrutura econmica estvel do modelo
de Kalecki e explorar brevemente uma possvel implicao desta para a an-
lise de expectativas. Em primeiro lugar, preciso admitir que o autor sim-
plesmente no introduziu expectativas em nenhum de seu modelos; ao me-
nos, no de forma explcita, o que, a meu ver, mesmo passvel de srias
crticas. O que quero apontar outro aspecto, que acredito ser mais relevan-
te: seu modelo inteiramente compatvel com a adoo de uma hiptese de
expectativas que hoje seriam chamadas de adaptativas de resto, mais ou
menos implcitas em todos os principais modelos neokeynesianos de cresci-
mento e ciclo econmico, de Harrod-Domar a Pasinetti, que assumiram al-
guma verso simples de funo investimento baseada no princpio do ace-
lerador. Em suas diferentes verses, esse princpio traduz o essencial desse
conceito de expectativas, ao conter implicitamente projees e/ou correes
das expectativas em funo de resultados de mercado recm-observados.39
O modelo de investimento de Kalecki, embora no seja estritamente do
tipo acelerador, segue essencialmente o mesmo critrio, particularmente vi-
svel nos componentes da equao que captam a variao observada da taxa
de lucros como proxy da variao do grau de utilizao da capacidade pro-
dutiva [item (ii) acima]. Isto porque essa variao pode ser interpretada
como esperada, mediante uma simples projeo da observada. A rationale de
se formar expectativas dessa maneira pode ser explicada a partir de um
insight notvel de Keynes em sua anlise das expectativas de longo prazo,
particularmente sob incerteza forte ou Knightiana (no redutvel a
risco), sistematicamente assumida por Keynes.
O raciocnio segue duas etapas: em primeiro lugar, a formao de expec-
tativas de longo prazo sob incerteza, em condies de relativa estabilidade das
variveis relevantes, tende a seguir um padro compartilhado pela maior par-
te do mercado (chamado por Keynes de conveno).40 Em segundo lugar,
-
35Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
1 + c ta i t
a forma mais simples imaginvel de comportamento convencional na for-
mao dessas expectativas consiste na projeo, para um perodo frente, do
comportamento de taxas de crescimento de mercado recm-observadas
o que Keynes chamou de teoria prtica do futuro41 , coincidindo tam-
bm, especificamente, com a forma mais simples possvel de expectativas
adaptativas. Portanto, dada a premissa de estrutura estvel do modelo de
Kalecki, est justificada a adoo do critrio projetivo em seu modelo, que
pode ser interpretado como contendo implicitamente expectativas con-
vencionais, de tipo adaptativo de um perodo. Desse modo Keynes, para-
doxalmente, pode ajudar a dar fundamentao terica a um tipo de modelo
que a maioria dos keynesianos puros os ps-keynesianos considera
teoricamente seu antpoda e primitivo, pela ausncia de expectativas ex-
plcitas.
Retornando ao modelo de Kalecki, o passo seguinte na direo de um
modelo dinmico completo adicionar equao (7) do investimento al-
gum tipo de relao inversa entre nvel de atividade e investimento isto ,
do investimento para a renda, ao estilo dos modelos neokeynesianos de
crescimento e ciclo baseados na interao multiplicador-acelerador. o que
faz Kalecki, cujo modelo de ciclo econmico, apesar de no adotar estrita-
mente uma funo tipo acelerador para o investimento, pode ser considera-
do estruturalmente parte dessa mesma famlia de modelos neokeynesia-
nos. Para tanto retoma o seu prprio multiplicador, que se desdobra em
duas etapas: o efeito de variaes do investimento sobre os lucros (dada a
propenso a consumir dos capitalistas), e destes sobre a renda (dados os
parmetros distributivos setoriais que explicam a participao agregada dos
salrios e lucros na renda).42 Aps adicionar ao investimento a variao de
estoques, substituir ambos os efeitos multiplicadores na equao (7), con-
verter K em investimento em capital fixo e S em investimento, e remane-jando os termos, Kalecki obtm finalmente a seguinte equao dinmica
expressa em termos do investimento lquido i (sem reconstituir aqui essas
passagens formais):
i t + = it + + g , (8)
onde , um parmetro funo direta do multiplicador43 e g funo
-
36 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez. 1999
a
1 + c
direta do componente autnomo do investimento d e inversa da deprecia-
o do capital fixo.44
Essa equao a diferenas finitas linear, com termo independente cons-
tante (embora possa modificar-se a longo prazo), tem como soluo pos-
svel (ainda que no necessria, dependendo dos valores dos parmetros)
uma trajetria de flutuaes em torno a uma tendncia definida exogenamen-
te pelo componente g. Kalecki explora intuitivamente, sem seguir na for-
malizao, as propriedades dessa trajetria, especialmente assumindo que os
parmetros, sob valores realistas, permitam a ocorrncia de flutuaes.
No entanto, muito fcil obter uma soluo formal a partir desse ponto,
o que permite dar uma interpretao mais precisa do comportamento da
trajetria em funo dos valores dos parmetros. Sem a inteno de repro-
duzir aqui todas as conseqncias desse procedimento,45 basta notar que a
equao (8) pode ser facilmente posta na forma cannica de uma equao a
diferenas finitas, apenas introduzindo a seguinte condio adicional:
t = = 1, (9)
que, na verdade, envolve duas condies: (i) tomar o intervalo mdio de
reao dos empresrios, t, frente ao comportamento do grau de utilizaoda capacidade, como igual defasagem entre encomenda e construo dosinvestimentos, na suposio razovel de que os empresrios tomam o mes-
mo perodo de maturao do investimento tanto como intervalo de refe-rncia para formar suas expectativas acerca do perodo seguinte durante o
qual o novo investimento estar operando, quanto como perodo de investi-
mento, ou seja, como o intervalo normal entre duas decises consecutivas
de investir; e (ii) tomar este mesmo intervalo de tempo como unidade de
tempo do modelo em lugar, por exemplo, de um perodo meramente
contbil, como mais usual.
Alm disso, pode-se convencionalmente definir it = it it 1. Com isso ea condio (9), aps simples remanejamento dos termos e das defasagens, a
equao (8) se reduz a:
i t + 2 ( + )it + 1 + it = g . (10)
Esta uma equao a diferenas finitas linear de 2a ordem com termo
constante (g), cuja soluo homognea ter a forma de flutuaes que
-
37Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
a
1 + c
Kalecki procurava explicitar se e s se suas razes caractersticas forem
complexas conjugadas, o que impe aos parmetros da equao a condio
seguinte:
< 2 .46 (11)
Caso a condio (11) para que se obtenham flutuaes a que interes-
sava Kalecki seja satisfeita, a soluo completa do modelo, ou sua trajet-
ria resultante, dada pela soma da soluo homognea com a soluo parti-
cular, ser:
it = Ar t cos (t + ) + i
, (12)
onde A depende da escala, de e das condies iniciais, uma constan-
te de fase arbitrria, r = o parmetro de amplitude das flutuaes,
= , onde T o perodo das flutuaes expresso em nmero de pe-
rodos de investimento, sendo uma funo47 dos parmetros e ;
e i
a soluo particular (tendncia), como dissemos antes uma funo
crescente do componente autnomo d do investimento, e portanto dos fa-
tores de desenvolvimento.
Alm disso, a ocorrncia de trajetrias explosivas, regulares ou amorte-
cidas sejam cclicas ou no depende apenas do parmetro ; respecti-
vamente, que > 1, = 1 e < 1.
O resultado desse modelo de ciclo econmico de Kalecki que consi-
dero o melhor deste autor48 permite algumas concluses interessantes,
das quais pretendo a seguir destacar uma de ordem modelstica e outras
duas, bem mais importantes, de ordem terica.
(i) Mesmo considerando-se que o modelo de Kalecki terico, e no
aplicado, e portanto deve estar imune a crticas quanto ao grau de realismo
ou preciso de seus resultados, ele passa no teste de plausibilidade da trajet-
ria por ele gerada. De fato, tomando-se os prprios dados utilizados pelo
autor ao longo de todo o seu livro, e aplicando-se os valores extremos para
cada um dos parmetros envolvidos, obtm-se os seguintes intervalos mais
provveis para os parmetros bsicos do modelo, e :
a
1 + c
a
1 + c
T
2
-
38 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez. 1999
a
1 + c0,75 < < 1,12 e 0,6 < < 0,8;
donde resulta respectivamente, para os parmetros de amplitude e o pero-
do das flutuaes,
0,87 < r < 1,06 e 9,3 < T < 14,5.
Note-se que esses valores so bastante bem-comportados. O parme-
tro r de amplitude se situa em torno de 1, o que significa, caso a condio de
ocorrncia de ciclo seja cumprida o que tambm no requer nenhuma
hiptese herica,49 diversamente da maioria dos modelos de acelerador ,
que as flutuaes sero bastante prximas de regulares. Quanto ao perodo
T do ciclo, situa-se em torno de 11 perodos de investimento; assumindo
que estes estejam situados em mdia um pouco acima de um ano, tem-se
algo como um perodo decenal (ciclo Juglar, na denominao de
Schumpeter) para as flutuaes, exatamente o que os modelos de ciclo vi-
nham buscando h dcadas.50
(ii) Uma primeira concluso torica central do modelo de Kalecki, nem
sempre bem compreendida, que a dinmica por assim dizer associada
demanda efetiva da economia capitalista isto , abstraindo-se o pro-
gresso tcnico e as mudanas estruturais caracterizada pela ocorrncia
de flutuaes. Isto significa basicamente duas coisas: em primeiro lugar, que
possvel explicar o ciclo econmico apenas com o comportamento roti-
neiro do nvel de atividade, sem as armas poderosas da mudana estrutural
e do progresso tcnico, ao contrrio do que fez Schumpeter;51 e, em segun-
do, que mesmo sob condies de estrutura estvel (o que tambm pressupe
ausncia de estratgias no-convencionais ou no-rotineiras por parte dos
agentes inclusive inovaes), ainda assim a economia no tenderia a um
equilbrio em sentido estrito, e menos ainda a um equilbrio estacionrio!
Frente insistncia metodolgica da teoria ortodoxa na essencialidade do
equilbrio, dificilmente se poderia exagerar a importncia desse resultado.
Pode-se defini-lo como uma propriedade dinmica da economia capitalista
associada a uma estrutura estvel: a de que esse sistema econmico dinami-
camente instvel.52 De certo modo, como se, no se tendo introduzido o
equilbrio pela porta de entrada (como pressuposto metodolgico, no for-
mato neoclssico), ele no mais retornasse naturalmente em qualquer outro
ponto da anlise.53
-
39Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
(iii) Uma segunda concluso terica central do modelo de Kalecki54 que
a dinmica da economia capitalista pode ser concebida essencialmente
como formada por dois componentes teoricamente distintos ou seja, no
apenas por um recurso expositivo ou analtico: o componente associado
atuao da demanda efetiva, isto , do comportamento do nvel corrente
de atividade, capaz de produzir (ainda que no necessariamente depende
dos parmetros) flutuaes; e o componente de tendncia associado mu-
dana estrutural, derivado da atuao dos fatores de desenvolvimento, es-
pecialmente as inovaes em geral e o progresso tcnico em particular, que
certamente so endgenos economia (ainda que exgenos ao modelo) e
que produzem trajetrias potencialmente instveis do ponto de vista estru-
tural, devido mudana estrutural (de parmetros, do ponto de vista for-
mal) que eles ensejam.55
Claro que a forma particular dessas trajetrias no predeterminada:
dependendo de parmetros e de hipteses exgenas de mudana estrutural,
o componente de demanda efetiva pode no apresentar flutuaes, en-
quanto o de tendncia pode apresentar-se como uma onda longa, do
tipo Kondratieff ou semelhante. O que importa aqui no a forma parti-
cular da trajetria gerada, mas o princpio causal distinto de atuao desses
componentes.
A combinao dos dois componentes produzir, finalmente, uma traje-
tria dinmica integrada, ainda que as causas especficas no possam ser es-
tritamente unificadas por um princpio causal nico ou comum.56 Essa
combinao se d na forma de soma dos efeitos apenas sob a condio
simplificada (assumida inicialmente por Kalecki mas que pode ser relaxada)
de que a equao dinmica a diferenas seja linear e, principalmente, que o
termo independente s varie a longo prazo, o que claramente uma hip-
tese pouco realista. Caso contrrio, relaxadas as simplificaes, o modelo
passa a envolver uma interao efetiva, mais complexa, entre os componen-
tes, o que entretanto no introduz problemas conceituais adicionais.57
Ao interpretar dessa forma a trajetria dinmica resultante, o destaque
est sendo dado menos para aquilo que foi objeto central de Kalecki nesse
livro (Teoria da dinmica econmica) e ao longo da sua obra macroeco-
nmica, a saber, os efeitos dinmicos da demanda efetiva, e mais para o ca-
rter combinado e eventualmente complexo (envolvendo interaes) dessa
-
40 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez. 1999
trajetria, cuja causalidade , como o prprio autor reconheceu, necessaria-
mente mltipla. Que ele tenha dedicado apenas dois captulos do livro (14 e
15) ao desenvolvimento, vale dizer, tendncia a longo prazo, e assim
os tenha tratado analiticamente como exgenos, em nada muda a conclu-
so, essencial, que a sua teoria do ciclo se incumbiu de revelar mais clara-
mente que qualquer outra: na ausncia desses fatores de desenvolvimento, a
economia capitalista no apresentaria tendncia positiva uma das marcas
histricas mais importantes do capitalismo , e portanto mostraria uma
trajetria de flutuaes em torno do estado estacionrio! Dificilmente se en-
contraria maior elogio importncia crucial do progresso tcnico em um
autor que dele praticamente no tratou, e que no raro foi acusado de t-lo
negligenciado completamente... Schumpeter no teria feito melhor.
5. CONCLUSES
Neste ensaio procurei mostrar sucintamente a importncia e, por isso
mesmo, a atualidade da pouco conhecida contribuio de Kalecki para
alguns dos temas centrais da teoria macroeconmica: o princpio da de-
manda efetiva, a relao poupana-investimento e a dinmica macroeco-
nmica, que estiveram presentes nada menos que na fundao da discipli-
na, e foram coerentemente objeto da preocupao contnua desse autor at
o fim de sua vida.
A importncia de sua contribuio deriva da clareza de pensamento e da
profundidade de anlise, que tornam suas proposies e seus insights mais
bsicos verdadeiros marcos de referncia para a teoria macroeconmica;
muito embora a excessiva conciso e alguma curiosa mistura de teoria com
proposies ad hoc em seus modelos possam s vezes dificultar a compreen-
so do que essencial.
Quanto atualidade, no preciso muito esforo para perceber que em
todos esses grandes temas a macroeconomia contempornea, mais do que
nunca dominada pelo conservadorismo mental (alm do poltico), pouco
tem a dizer, por t-los abandonado h muito. E, quando diz alguma coisa
como no caso das banalidades habituais sobre a poupana, inclusive atri-
buindo a esta um papel descabido como fator de crescimento e desenvolvi-
mento econmico , no sentido inverso, de retorno a conceitos pr-Key-
-
41Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
nes e pr-Kalecki. Ou ainda, como no campo da dinmica macroeconmi-
ca, afastando-se totalmente do primado da demanda, derivado logicamente
do princpio da demanda efetiva, e centrando-se metodologicamente no
conceito de equilbrio, abandonado por Kalecki.
O retorno a Kalecki no deve ser, portanto, um simples aceno de reco-
nhecimento e justia a um grande pensador econmico pouco difundido e
precocemente esquecido; mas um gesto de sobrevivncia crtica, e portanto
cientfica, de uma disciplina essencial para a vida social e para a ao pblica
no capitalismo, mas que se esvai em perda de substncia cientfica e falta de
rumo ao mesmo tempo em que se infla de saber convencional.
NOTAS
1. Verso preliminar foi apresentada no Seminrio Internacional Dinmica Econmica
do Capitalismo Contemporneo: uma Homenagem ao Centenrio de Michal Kalecki,
Instituto de Estudos Avanados/USP, So Paulo, 4.10.1999. Agradeo os comentrios
de um parecerista annimo da Revista; o disclaimer usual se aplica.
2. Kalecki (1954), cap. 3.
3. Keynes (1936), cap. 3.
4. Kalecki (1954), ibidem.
5. Essa nfase perfeitamente justificvel, dadas as preocupaes do autor com o nvel de
emprego, que determinado ex ante; o problemtico s a falta de clareza resultante,
uma vez que est tratando a de demanda efetiva.
6. Em nenhum momento explicitado pelo autor.
7. Ver, a respeito, Possas (1987), p. 50 ss.
8. Abstraindo o gasto pblico e o saldo da balana comercial, e sob a hiptese simplifica-
dora de que os trabalhadores no poupam isto , sua propenso a consumir igual
a 1: Kalecki (1954), ibidem, p. 46.
9. Possas (1987), ibidem.
10. Basta lembrar a respeito as opinies de Marx e de Keynes. Marx, em particular, mostrou
cabalmente nO capital como uma economia mercantil se transforma por necessidade
lgica (e no s histrica) em uma economia monetria. Keynes fez algo semelhante,
com escopo mais limitado e em textos pstumos.
11. Essa economia regida, como propunha Marx, pela forma simples da circulao de
mercadorias M-D-M, na qual o dinheiro j necessariamente um intermedirio nas tro-
cas ainda que estas visem, em ltima anlise, ao consumo (produtivo ou no) das
mercadorias transacionadas, e no, como no capitalismo j desenvolvido, valorizao
do capital, expresso por Marx na forma capitalista de circulao D-M-D', onde D' > D.
12. Ver Keynes (1936), cap. 3, p. 24, nota 2.
-
42 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez. 1999
13. Ao contrrio do que supunha Hansen (1953), cap. 1.
14. Instantaneamente se definidos em uma transao isolada, num espao de tempo con-tbil quando agregados.
15. Embora no seja, ao contrrio do que pretendem alguns autores marxistas, uma de-monstrao avant la lettre do PDE. Este ltimo inverte a causalidade da lei de Say, sendoportanto mais que uma refutao desta. demonstrando no apenas que a lei de Sayest errada, mas que o seu contrrio verdadeiro, que ele se torna repetindo a expres-so anterior uma antilei de Say.
16. Ainda que esses possam ou devam no ser considerados relevantes para a anlise eco-nmica.
17. Tampouco em microeconomia; mas deixemos de lado esse aspecto.
18. A macroeconomia da oferta agregada ausente analiticamente em Keynes e comple-tamente em Kalecki veio aumentando de peso desde o advento da curva de Phillips,que, como se sabe, j havia assumido preponderncia no debate de poltica macroeco-nmica nos anos 60.
19. Kalecki (1954), cap. 3.
20. Uma das questes mais sutis em teoria econmica, nem sempre observada com o neces-srio cuidado, a distino entre estoques e fluxos. Em Economia, diferentemente dasCincias Fsicas, os fluxos no so comumente definidos como derivadas temporais devariveis de estoque, mas como resultados instantneos de transaes realizadas me-didos tanto pelo lado do dispndio (gastos) como da receita (rendimentos, produtoetc.); todo fluxo, ao contrrio de um estoque, desaparece no momento em que cria-do. Em nvel agregado, so definidos como um somatrio dos fluxos individuais ao lon-go de um perodo contbil discreto arbitrrio no mais instantneo, apenas porque astransaes geralmente no so sincrnicas. A poupana, como o investimento, por de-finio um fluxo, e no um estoque, ao contrrio do crdito. Como todo fluxo, definidano nvel desagregado (das transaes individuais) de maneira instantnea, e no agrega-do no mesmo perodo contbil em que se queira definir o investimento que a determi-na, no caso simplificado (abstraindo saldos do setor externo e do governo). S o poderde compra, que por definio um estoque resultante de reservas lquidas ou criado pelocrdito, pode financiar (no sentido de liberar liquidez para um dispndio) algum gasto,incluindo o investimento.
21. No nem um pouco bvio que a poupana se converta as aspas derivam do fato,vale repetir, de que o fluxo de poupana j desapareceu quando a riqueza a ela corres-pondente aplicada em ativos financeiros, muito menos vinculados a fundos de in-vestimento. inteiramente usual manterem-se estoques de riqueza fora do sistema ban-crio at mesmo em forma lquida, porm mais freqentemente em bens durveis eimveis.
22. Kalecki (1954), cap. 3, p. 50.
23. Em Kalecki (1935), p. 28-30, encontra-se uma descrio mais detalhada desse mecanis-
mo de criao simultnea de lucros, poupana e liquidez pelo gasto em investimento.A conhecida interveno de Keynes (1937a) quanto distino entre poupana, crdito
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43Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
e a liquidez correspondente o famoso motivo finance para reter liquidez associada
ao investimento , assim como a impossibilidade lgica de uma poupana ex ante,
to ou mais esclarecedora que essa.
24. Keynes (1936), cap. 6, p. 64-65.
25. Keynes, ibidem, chega a afirmar, ao concluir o captulo de maneira idntica famosa
passagem de Kalecki sobre a determinao dos lucros antes referida, que uma deciso
de consumir ou no consumir est de fato ao alcance do indivduo; tal como uma deci-
so de investir ou no investir. Mas os montantes de renda e poupana so incapazes
de ... assumir um valor independente resultante de um conjunto distinto de decises
tomadas sem relao com as decises quanto ao consumo e ao investimento. De acordo
com este princpio, a concepo de propenso a consumir substituir, no que segue, a
propenso ou disposio de poupar (p. 65; itlico no original).
26. Embora possa haver, em perodos subseqentes, algum efeito crescente sobre as impor-
taes e sobre as receitas pblicas, aumentando assim, em alguma medida, tambm es-
sas poupanas.
27. Neste ltimo, veja-se ibidem, cap. 5.
28. A respeito, Possas (1987), p. 88-91.
29. Todo um extenso debate prosperou sobre esse tema no campo ps-keynesiano, a partir
de um artigo clssico de Asimakopoulos (1983). A essncia do debate, ressalvadas algu-
mas intervenes especficas, est comprometida por esse mal-entendido a respeito do
que deve significar uma funo consumo da renda (e por implicao uma funo pou-
pana) e um eventual equilbrio do consumidor no contexto do PDE.
30. Isto vale no s para Kalecki, mas tambm para Keynes. Que este ltimo no tenha de-
senvolvido uma teoria dinmica no impede que tivesse uma idia clara sobre sua im-
portncia e sobre o papel do investimento nela; por exemplo, Keynes (1936), cap. 22.
31. Assim como, em Keynes, pelo fato de estar apoiado em expectativas de longo prazo es-
sencialmente volteis devido presena de incerteza.
32. Alm de ter evitado algumas ambigidades de origem neoclssica presentes em Keynes,
a maioria envolvida no conceito de eficincia marginal do capital e na hiptese de que
esta decrescente com o nvel de investimento. Embora tudo isso possa, a meu ver, ser
bem esclarecido teoricamente minha opinio a respeito est condensada em Possas
(1987), p. 137 ss , as ambigidades e a aparncia (mais que o contedo) neoclssica
afastaram muito autores no-ortodoxos da posio de Keynes, especialmente marxistas
e neo-ricardianos.
33. Este talvez seja um problema datado: no era usual naquela poca explicitar expectati-
vas; em geral se supunha implicitamente que eram de tipo adaptativo ou corretivo. Hoje
tal procedimento seria considerado inaceitvel. De qualquer modo, ter explicitado a
questo um mrito inegvel de Keynes, mesmo que se discorde de pontos especficos
de sua anlise.
34. Kalecki (1954), cap. 9.
35. Kalecki (1954), cap. 15.
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44 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez. 1999
36. No se trata, obviamente, de uma regresso pr-keynesiana (e pr-kaleckiana) a
uma suposta influncia da poupana sobre o investimento; ela aparece a como proxy dapoupana das empresas (uma certa frao da poupana privada total), que por sua vezprocura indicar sua capacidade de reteno de lucros e, portanto, de autofinanciamen-to. O problema neste termo est mais na especificao inadequada dessa influncia, quea meu ver deveria ser expressa no em termos de uma funo linear de uma varivelcontnua, mas de uma restrio, portanto no-linear. Do contrrio resulta que, estra-nhamente, haveria uma tendncia ao reinvestimento automtico, mesmo na ausnciade motivos para investir ligados s condies de mercado ou seja, mesmo que os de-mais termos fossem nulos.
37. Kalecki (1954), cap. 7.
38. Cabe aqui um breve comentrio sobre a diferena de escopo das teorias de Keynes e deKalecki. Este ltimo s est desobrigado de introduzir a taxa de juros em sua anliseporque ela no se pretende uma discusso terica geral da aplicao de capital, o quecertamente tambm incluiria ativos financeiros e moeda, e portanto os juros como re-munerao alternativa ao capital, como em Keynes, e no apenas como custo financeirodo investimento, como em Kalecki.
39. Ver, a respeito, Possas (1987), p. 117-124.
40. Keynes (1936), cap. 12. Embora o autor tenha formulado esse conceito referindo-se formao de expectativas em mercados financeiros, o contexto geral de anlise de ex-pectativas de longo prazo que caracteriza este captulo como um todo, bem como ocontedo mesmo do conceito, justifica, a meu ver, estend-lo inteiramente s expectati-vas de longo prazo em mercados de produtos, e portanto anlise do investimento pro-dutivo.
41. Keynes (1937b), p. 114-115.
42. Kalecki (1954), cap. 5.
43. A expresso = [1/(1 q)] [b/(1 + c) + e/(1 ')], onde q a propenso a consumirdos capitalistas, b e c so parmetros da funo investimento equao (7) , ' aparticipao incremental dos salrios e ordenados na renda, modificada pela incidnciade impostos sobre os lucros, e e um parmetro acelerador do investimento em esto-ques em relao ao produto.
44. A expresso deste termo : g = d ' [1 a/(1 + c)], onde d' = (c + d)/(1 + c), sendo a depreciao do capital fixo e d o termo independente de (7), correspondente aoscomponentes autnomos (de longo prazo) do investimento. Kalecki faz por hipteseg = 0, alegando que pretende tratar inicialmente do ciclo puro, sem tendncia. O pro-cedimento me parece desnecessrio, podendo confundir o leitor menos versado emequaes diferenciais, ao causar a falsa impresso de que est se referindo a uma econo-mia que pode flutuar em torno de um nvel de atividade estacionrio (que ele chama, nojargo marxista, de reproduo simples), quando na verdade est simplesmente se re-ferindo ao componente de flutuaes (soluo homognea da equao diferencial) datrajetria de uma economia capitalista qualquer, em princpio no-estacionria.
45. Ver Possas (1987), p. 149 ss.
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45Mario Luiz Possas Demanda efetiva, investimento e dinmica
46. Note-se de passagem que essa condio inclui, como condio necessria (no suficien-
te) ocorrncia de flutuaes, que < 1, explicitada mais de uma vez de maneira
intuitiva por Kalecki.
47. A expresso = cos1 .
48. O ltimo modelo de ciclo do autor, desenvolvido em Kalecki (1968), na sua estrutura
formal praticamente no difere do de 1954: as flutuaes continuam dependendo de
que o investimento seja funo do nvel de atividade e de suas variaes, e a tendncia
continua dependendo de componentes autnomos da demanda agregada, notadamen-
te do investimento. Por outro lado, apresenta, a meu ver, um retrocesso terico ao ten-
tar sem sucesso introduzir efeitos endgenos do progresso tcnico, obscurecendo o re-
sultado antes claro de que o progresso tcnico, ainda que endgeno no sentido
econmico, tem relao com a tendncia e no com o ciclo.
49. Basta tomar esses mesmos intervalos de valores de e assumir, com todos os argumen-
tos do prprio Kalecki, que < 1, e aplic-los na condio de flutuaes (11) para
constatar que ela se cumpre sem dificuldade. Vale notar tambm, como fez Kalecki no
cap. 13 do mesmo livro, que, mesmo que os parmetros no determinassem a ocorrn-
cia endgena de flutuaes ou o fizessem de forma muito amortecida, a simples presen-
a de choques estocsticos exgenos (ligados a inovaes, fatores exernos etc.) permiti-
ria mant-las, ainda que de forma mais irregular.
50. Isto porque os ciclos longos, ou de tipo Kondratieff, so muito mais controvertidos, e dequalquer modo dificilmente se submeteriam a uma explicao baseada apenas nos efeitosde demanda efetiva analisados por Kalecki e pelos modelos neokeynesianos, mas requere-riam a introduo de progresso tcnico e mudanas estruturais, ao estilo de Schumpeter.
51. Que talvez por isso tenha se insurgido agressivamente contra os modelos que chamou deperpetuum mobile, referindo-se implicitamente a Kalecki e possivelmente a Frisch, comose fossem algo como efeitos sem causa: ver Schumpeter (1942), cap. 4, p. 139. Aqui hum mal-entendido: a causa do ciclo em Kalecki evidentemente estrutural, ao estilo dosmodelos fsicos de oscilaes, e no uma causa eficiente ou ad hoc, como em Schum-peter, para o qual cada ciclo um ciclo e tem uma causa historicamente determinada.
52. Ver, a respeito, Vercelli (1991), cap. 3.
53. H quem tenha se dado ao trabalho de fazer uma varredura desse livro de Kalecki, cons-tatando que, sintomaticamente, no feita em todo o livro uma nica referncia noode equilbrio! A nica explicao que Kalecki no era um economista...
54. Esta interpretao minha: no claro que o prprio autor tenha extrado essas conclu-ses, seja porque parecia acreditar que se tratava menos de identificar propriedades di-nmicas puramente tericas do que de explicar um fenmeno aparentemente real o dos ciclos econmicos com tendncia , ainda que poca j parecessem cada vezmenos observveis empiricamente; seja porque parecia insatisfeito com sua prpriaconcluso, tanto que voltou questo da integrao ciclo-tendncia, a meu ver semgrande sucesso, em 1968.
a
1 + c
a
1 + c +
2
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1 + c
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46 R. Econ. contemp., Rio de Janeiro, 3(2): 17-46, jul./dez. 1999
55. Para o conceito de instabilidade estrutural, ver Vercelli (1991), cap. 4.
56. Esse tipo de questo da integrao entre ciclo e tendncia gerou polmica napoca, da qual o prprio Kalecki participou em boa medida. A meu ver, e curiosamentemalgrado a opinio do prprio autor, seu modelo de 1954 j resolvera o problema decerto modo, mostrando que no havia problema a ser resolvido. De um lado, a necessi-dade de uma teoria unificada uma quimera sem maior significado, pois afinal o in-vestimento um s, movido seja pela lgica de acumulao explicada por Marx, seja emnvel mais analtico pela teoria da aplicao de capital de Keynes; trata-se apenas de re-conhecer que os motivos associados ampliao de capacidade produtiva (investimentoinduzido) e modernizao tecnolgica dos equipamentos (investimento autno-mo) seguem explicaes causais distintas. De outro lado, o requisito de integrao ana-ltica ou modelstica pode ser satisfeito sem maiores dificuldades conceituais, apenascom algum grau de complexidade tcnica no caso de se relaxarem as hipteses simpli-ficadoras de linearidade e tendncia constante, e mesmo assim apenas para efeito de de-senvolver aplicaes do modelo. O prprio Kalecki esboou um tratamento matem-tico dessa interao no seu cap. 14, bem como no modelo de 1968.
57. As trajetrias resultantes em condies mais complexas de interao podem ser obtidas,sob hipteses especficas de comportamento do componentes autnomos de demandaagregada e dos parmetros, por meio de simulaes.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ASIMAKOPOULOS, A. (1983) Kalecki and Keynes on finance, investment and saving.Cambridge Journal of Economics, 7.
HANSEN, A. (1953) A Guide to Keynes. Nova York: Mc Graw Hill.
KALECKI, M. (1935) The mechanism of the business upswing. In: Selected Essays on the Dy-namics of the Capitalist Economy, 1930-1970. Cambridge: Cambridge University Press,1971.
(1954) Theory of Economic Dynamics. 2. ed. Londres: Allen & Unwin, 1965.
(1968) Trend and the business cycle. In: Selected Essays on the Dynamics of the Capi-talist Economy, 1930-1970, op. cit., 1971.
KEYNES, J. M. (1936) The General Theory of Employment, Interest and Money. 2. ed. Londres:Macmillan, 1973.
(1937a) Alternative theories of the rate of interest. Economic Journal, 47.
(1937b) The general theory of employment. Quarterly Journal of Economics, 51.Reproduzido em D. Moggride (org.), The general theory and after II. Defence anddevelopment. The Collected Writings of John Maynard Keynes, v. XIV. Londres: Mac-millan, 1973.
POSSAS, M. L. (1987) A dinmica da economia capitalista: uma abordagem terica. So Paulo:Brasiliense.
VERCELLI, A. (1991) Methodological Foundations of Macroeconomics: Keynes and Lucas.Cambridge: Cambridge University Press.
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