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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA FEDERAL DA PRIMEIRA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA, SEÇÃO JUDICIÁRIA
DO ESTADO DO PARANÁ Autos nº 5026212-‐82.2014.404.7000.
ALBERTO YOUSSEF, já devidamente qualificado nos autos em epígrafe vem, por
intermédio de seus procuradores, infra-‐firmados perante Vossa Excelência, aduzir
suas
ALEGAÇÕES FINAIS
Nos termos e fundamentos que pede vênia para expor e, ao final, requerer seja
reconhecida a efetividade e a relevância da colaboração processual realizada pelo
acusado, para os fins de lhe ser concedido o perdão judicial nos termos da lei
12.850/2013.
1. O MPF requereu a condenação do acusado pelo crime de lavagem de
dinheiro capitulado no artigo 1º parágrafo 2º da Lei 9.613/98 pelos fatos 02, 05 e 06
da denúncia em continuidade delitiva.
2. Bem de ver que antes mesmo da homologação do acordo de colaboração
premiada pelo Excelso Supremo Tribunal Federal, em 08 de Outubro de 2014 o
acusado atendendo expressa solicitação desse MM. Juízo Federal e do MPF foi
ouvido na condição de acusado colaborador, prestando valiosos esclarecimentos
sobre os fatos que são objeto da presente Ação Penal e de outras que derivam das
investigações ocorridas no âmbito da denominada “operação lava-‐jato”.
3. Com efeito a colaboração foi espontânea e a defesa técnica concordou
expressamente que o acusado abrisse mão do direito de não produzir prova contra si
próprio, haja vista o próprio acusado ter declinado que tinha interesse em colaborar
com a investigação.
“UMA COMÉDIA DE FANTOCHES” -‐ APARATO ORGANIZADO DE PODER – ORGANIZAÇÃO VERTICALIZADA -‐ ESTRUTURADA E COMANDADA POR AGENTES POLÍTICOS -‐ A FIGURA DOS “HOMENS DE TRÁS” – AUTOR DE GABINETE -‐ CORRUPÇÃO QUE FINANCIOU CAMPANHAS POLÍTICAS E BENEFICIOU PARTIDOS POLÍTICOS PT, PMDB E PP DESTINATÁRIOS PRINCIPAIS DO DINHEIRO DESVIADO DA PETROBRAS -‐ PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA DE YOUSSEF.
“Quanto pulha tenho encontrado a gemer pela boca da miséria! Com gemidos fortes, gritados entre um uísque e outro, numa espécie de pilhéria cujo sentido me aturde e escapa. Ah, esses amantes do proletariado. Ocultos sob o manto da opulência, A sofrer uma nova forma de demência Que os leva a passar fome com o ventre alheio.”1
1. Antes de enfrentarmos o mérito da presente denúncia e destacarmos a
importância e a efetividade da colaboração do acusado nessa Ação Penal e em
1 Poema de Eduardo Alves da Costa “ A Eterna Injustiça deste Mundo”, extraído do Livro No Caminho com Maiakóvski” São Paulo Geração Editorial, 2003 p.151
outras investigações derivadas das investigações encetadas pela Polícia Federal e
conexas aos fatos ora imputados ao acusado, cumpre fazer uma análise de todos os
fatos e também do ambiente em que se desenvolveu a execução da empreitada
criminosa dentro de um aparato organizado de poder, composto de um grande
número de pessoas que atuaram de uma forma organizada e estruturada em favor
de um plano definido cujo desenvolvimento tinha como fim principal: a
manutenção do poder em mãos de um grupo político, sustentado pelos partidos
políticos PT, PMDB E PP.
2. Existe notória conexão instrumental e probatória entre os fatos narrados
na presente denúncia e também de todas as outras investigações desse aparato
organizado de poder. O destino final dos valores obtidos com os desvios praticados
na Petrobrás eram os cofres das campanhas políticas e partidos políticos , conforme
informaram ALBERTO YOUSSEF, PEDRO BARUSCO, PAULO ROBERTO COSTA e
AUGUSTO MEDONÇA.
3. O tema exposto visa demonstrar que Youssef não tinha comando dentro
dessa estrutura criminosa. Todas as condutas descritas na denúncia estão
abrangidas por uma verdadeira criminalidade de Estado, que usou a estrutura do
próprio Estado para corromper e intimidar. Os fatos descritos na denúncia devem
ser vistos e analisados dentro deste contexto e não de forma isolada, pois as
condutas descritas na exordial acusatória são apenas meios, instrumentos usados
pelo aparato de organização de poder para atingir seu objetivo criminoso.
4. Ao contextualizar os fatos investigados na denominada Operação Lava-‐
Jato, o ilustre Procurador Geral da República Dr. Rodrigo Janot, descreve
minuciosamente todo aparato de poder organizado:
“Esses valores, porém, destinavam-se não apenas aos diretores da Petrobrás, mas também a partidos políticos e aos parlamentares
responsáveis pela manutenção dos diretores nos cargos. Tais quantias eram repassadas aos agentes políticos de maneira periódica e ordinária, e também de forma episódica e extraordinária, sobretudo em épocas de eleições ou de escolha de lideranças. Esses políticos, por sua vez, conscientes de práticas indevidas que ocorriam no bojo da Petrobrás, não apenas patrocinavam a manutenção do diretor e dos demais agentes públicos no cargo, como também não interferiam no cartel existente.” “Para que fosse possível transitar os valores desviados entre os dois pontos da cadeia - ou seja, das empreiteiras para os diretores e políticos – atuavam profissionais encarregados da lavagem de ativos, que podem ser chamados de “operadores” ou intermediários.”
5. O ilustre Procurador Geral da República descreve de forma clara o aparato
organizado de poder, “dois pontos da cadeia’, indicando inclusive os núcleos da
organização criminosa: núcleo político, econômico, administrativo e financeiro.
Impende dizer que YOUSSEF não estava no topo da organização criminosa, ao
contrário, como se demonstrará ocupava uma posição “fungível”, ou seja, além de
não ter comando ou domínio sobre a concreta configuração dos atos de corrupção,
não era indispensável à consecução do desiderato criminoso, pois poderia ser
facilmente substituído dentro da engrenagem, sendo certo que já foram
identificados outros operadores do esquema.
6. Esse aparato organizado de poder atuou e esteve atrelado durante anos à
vontade daqueles que Roxin denominou de os “homens de trás”, cuja permanência
no poder é a garantia de que o resultado da empreitada criminosa esteja assegurado
independentemente da existência das outras pessoas, ou seja, o resultado
criminoso não está intimamente ligado à conduta dos executores diretos, vg,
agentes públicos corruptos, corruptores ou meros operadores do esquema,
invocamos novamente a dicção do ilustre Procurador Geral da República:
“Esses políticos, por sua vez, conscientes de práticas indevidas que ocorriam no bojo da Petrobrás, não apenas patrocinavam a manutenção do diretor e dos demais agentes públicos no cargo, como também não interferiam no cartel existente.”
7. As provas carreadas na investigação permitem concluir sem margem de
erro que estamos diante de um aparato de poder verticalizado, onde a ‘triste figura’
dos “homens de trás” ou do “homem de trás”, dominava toda a execução dos fatos.
A cabeça ou as cabeças da organização criminosa ocupavam os mais importantes
cargos políticos na organização do Estado e o resultado dos crimes investigados
somente foi alcançado em razão da atuação desses agentes políticos que aliciaram
agentes políticos, indicaram as pessoas que ocupavam cargos de direção na
Petrobrás, cooptaram empresas e pessoas físicas com a finalidade de financiar um
projeto de poder bem definido: o uso de dinheiro público obtido através de
corrupção e intimidação para o financiamento de campanhas políticas.
8. A organização estava verticalizada de tal modo a depender direta e
exclusivamente dos “donos do poder”. Os agentes políticos estavam no centro das
decisões. Assim, os demais personagens, agentes públicos, corruptores e
operadores eram prescindíveis, todos descartáveis conforme os interesses dos
políticos. “Uma comédia de fantoches”, nas palavras de Vargas Llosa, na qual os
políticos eleitos de forma “mais ou menos limpa” abusaram da confiança pública,
para enriquecer e se manter no poder. Se Alberto Youssef deixasse operar, a
máquina de corrupção dentro da Petrobrás não deixaria de funcionar, portanto
Youssef era somente mera engrenagem do sistema, embora tivesse consciência de
seu agir ilícito, sua atuação era subsidiária a todos os outros integrantes da
organização criminosa, portanto a reprovabilidade de seu ato é infinitamente
menor do que as dos comandantes da corrupção.
9. Youssef não detinha poderes para modificar qualquer fato essencial ao
curso dos acontecimentos, não era agente político, não atuava como diretor da
Petrobrás e nem era dono ou funcionário das empreiteiras. Mesmo que se negasse a
realizar as operações financeiras, a corrupção já havia se materializado, e
certamente os corruptos garantiriam que as ordens dos agentes políticos fossem
executadas de qualquer maneira, através de outros operadores.
10. Não se pode, portanto, falar em uma execução conjunta dos fatos
típicos, em razão de que as pessoas que tinham o poder de dar ordens não atuavam
na execução dos fatos, embora deles tivessem amplo conhecimento e prodigioso
proveito. O “homem de trás”, embora afastado da execução mantinha todos os
membros do aparato de poder sob seu domínio. Youssef era um instrumento para a
consecução do fim criminoso, foi usado como meio para fazer o dinheiro chegar aos
corruptos e aos partidos políticos.
11. Colacionamos o voto do decano do Excelso Supremo Tribunal Federal
Ministro Celso de Melo na Ação Penal 470:
“Com efeito, a conquista e a preservação temporária do poder, em qualquer formação social regida por padrões democráticos, embora constituam objetivos politicamente legítimos, não autorizam quem quer que seja, mesmo quem detenha a direção do Estado, independentemente de sua posição no espectro ideológico, a utilizar meios criminosos ou expedientes juridicamente marginais, delirantes da ordem jurídica e repudiados pela legislação criminal do País e pelo sentimento de decência que deve sempre prevalecer no trato da coisa pública, ainda que invocando, para justificar tais ilícitos comportamentos, expressiva votação eleitoral em determinado momento histórico. Em uma palavra, Senhor Presidente: votações eleitorais, embora politicamente significativas como meio legítimo de conquista do poder no contexto de um Estado fundado em bases democráticas, não se qualificam nem constituem causa de extinção da punibilidade, pois delinquentes, ainda que ungidos por eleição popular, não se
subtraem ao alcance e ao império das leis da República.”
12. Toda a estrutura descrita na exordial acusatória foi criada como meio ou
instrumento para que os valores obtidos com desvios dos cofres da Petrobrás
chegassem, aos destinatários finais os agentes políticos. Prova disto é o cinismo
repugnante dos agentes políticos, muitos dos quais “safados profissionais” em alegar
que o dinheiro doado aos paridos políticos PT, PMDB e PP e também a políticos foi
declarado. Ora, ora... A questão não está cifrada na declaração, um traficante de
drogas pode declarar os proventos de seus crimes à Receita Federal, nem por isso a
origem do dinheiro deixa de ser ilícita. Trata-‐se na verdade do aperfeiçoamento da
terceira etapa da lavagem dinheiro, a integração ou incorporação do dinheiro
obtido através da corrupção ao sistema econômico, com “aparência” de origem
lícita.
13. Fica evidente que a conduta de YOUSSEF foi subsidiária ao agir dos
demais integrantes do aparato organizado de poder, portanto sua pena deve ser
cominada “na medida de sua culpabilidade”, em conformidade com o artigo 29 do
Código Penal, parágrafo primeiro:
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço
§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
14. A posição subsidiária de Youssef além de estar corroborada pelo próprio
MPF, está provada nos depoimentos de Augusto Mendonça Filho, Julio Camargo e
Paulo Roberto Costa, que afirmam que o acusado era um “leva e trás” de dinheiro,
que não detinha qualquer poder sobre a empreitada criminosa. O conluio entre
agentes políticos e empreiteiras ocorria sem a interferência de Youssef, que foi
coaptado pelo falecido deputado federal José Janene com a finalidade específica
de atuar na fase final das operações, isto é, na distribuição dos valores obtidos com a
corrupção.
15. Bem de ver que do ponto de vista fático e jurídico, ALBERTO YOUSSEF não
pode ser responsabilizado da mesma forma que os demais participantes da
organização criminosa.
16. A íntima correlação entre os fatos descritos na denúncia com o aparato
organizado de poder permite concluir que o acusado agia sempre vinculado às
ordens dos comandantes da organização criminosa, os “homens de gabinete” são as
figuras centrais dos acontecimentos, a contribuição de Youssef foi “meramente
secundária”.
17. Youssef não é e não foi o líder da organização criminosa descrita nos
autos. Sua participação foi subsidiária às ordens de agentes políticos e públicos – os
maiores responsáveis pelo esquema que desviou fabulosas quantias dos cofres da
Petrobrás, visando à manutenção de um projeto de poder bem definido: -‐ vontade
de submeter partidos, corromper ideias e subverter a ordem constitucional .
18. Aquele que realiza o tipo penal sozinho ou por intermédio de terceiros,
que lhe servem como instrumento é considerado autor. Roxin reconhece a
possibilidade de domínio por meio de um aparato organizado de poder.
“Aquele que, servindo-‐se de uma organização verticalmente estruturada e apartada da ordem jurídica, emite uma ordem cujo cumprimento é entregue a executores fungíveis, que funcionam como meras engrenagens de uma estrutura automática, não se limita a instigar, mas é verdadeiro autor mediato dos fatos realizados. Isso significa que pessoas em posições de comando em governos totalitários ou em organizações criminosas ou terroristas são autores mediatos, o que está em conformidade não apenas com os parâmetros de imputação da história como com o inegável fato de que, em estruturas verticalizadas, a responsabilidade tende não a diminuir, mas sim a aumentar em função da distância que se encontra um agente em relação ao acontecimento final.” 2
19. Existe um consenso entre o MPF e a defesa no que concerne ao centro de
comando da organização criminosa. Portanto, é justo, é correto que Youssef seja
tratado não como autor dos fatos, mas como mero partícipe em todos os fatos
ilícitos práticos pelo aparato de poder organizado descrito na denúncia.
20. Aqui, cuida-‐se da imputação do delito de lavagem de dinheiro. Ora, a
denúncia é auto-‐explicativa quando menciona o fluxo do dinheiro: os montantes
saíam da PETROBRÁS para o CNCC. Do CNCC para as empresas SANKO. Da SANKO
para a empresa MO CONSULTORIA. Da empresa MO CONSULTORIA para as
empresas LABOGEN. Das empresas LABOGEN para o exterior, mediante importação
fraudulenta. Este é o fluxograma que se pode depreender das fls. 41-‐42 da denúncia:
2 La Teoria Del delito em la discusión atual , Claus Roxin – Editora Jurídica Grijley 2007 p. 516/517
21. Entrementes, ocorre que o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL parte de um
pressuposto fático equivocado para imputar a acusação de lavagem de dinheiro,
trabalhando com a premissa de que “ALBERTO YOUSSEF era o real controlador” da
LABOGEN (fls. 40 da denúncia), como se LEONARDO MEIRELLES fosse mero “laranja”
ou interposta pessoa sua. Não era! Fosse o “real controlador” da LABOGEN,
realmente teria que responder pela lavagem de dinheiro. Mas, como ALBERTO
YOUSSEF não se tratava do “real controlador” da empresa, não pode responder por
ato de terceiro!
22. Todo o arcabouço probatório coligido aos autos bem dá conta do papel
coadjuvante que ALBERTO YOUSSEF exercia na empreitada delitiva. Os depoimentos
das testemunhas e dos colaboradores foram enfáticos em salientar que ALBERTO
YOUSSEF era o que JULIO CAMARGO classificou de um mero “leva e traz”, que só
ingressava no enredo fático dos crimes após já sacramentada a negociata entre
corruptores e corrompidos.
23. Assim, o ingresso de ALBERTO YOUSSEF no iter criminis se dava após já
consumados os elementos descritivos do tipo de injusto, no exaurimento do delito,
entregando a propina de cujas tratativas, o ora defendido não participava. Partindo
de uma divisão funcional de tarefas, na teoria do domínio estrutural do fato,
ALBERTO YOUSSEF era incumbido tão somente da entrega dos valores, sem ter
qualquer participação nas negociatas. Em última análise, tratava-‐se do mero “elo de
ligação”, a ponte de contato, entre as pontas do esquema criminoso, que já haviam
avençado, entre si, as tratativas do crime.
24. JULIO CAMARGO, réu colaborador em processo conexo, afirmou
categoricamente, mais de uma vez, que ALBERTO YOUSSEF tinha somente a função
de liquidar a operação financeira anteriormente ajustada entre corruptores e
corrompidos, e, nas palavras do referido colaborador processual, seria um mero
“leva e traz” no âmbito da organização criminoas. Vejamos os trechos dos
depoimentos prestados pelo referido colaborador:
DEPOIMENTO DE JÚLIO CAMARGO NO TERMO DE COLABORAÇÃO Nº 04, FOLHA 05 “QUE o papel de ALBERTO YOUSSEF era o “leva e trás” de dinheiro em espécie e operacionalizava pagamentos no exterior;”
****** DEPOIMENTO DE JÚLIO CAMARGO NOS AUTOS DA AÇÃO PENAL DA MENDES JUNIOR 5083401-‐18.2014.404.7000 (TRANSCRIÇÃO EVENTO 390) 1193 -‐ Defesa de Alberto Youssef: -‐ O senhor mencionou, num dos seus termos de colaboração, uma afirmação. Eu gostaria só de saber se o senhor confirma, ou não. Consta que o papel de Alberto
Youssef, seria o de mero “leva e traz” de dinheiro em espécie, além de operacionalizar pagamentos. O senhor confirma isso? 1194 -‐ Depoente:-‐ Confirmo.
****** DEPOIMENTO DE JÚLIO CAMARGO NOS AUTOS DA AÇÃO PENAL DA ENGEVIX 5083351-‐89.2014.404.7000 (TRANSCRIÇÃO EVENTO 259) Defesa:-‐ É o senhor quando prestou depoimento na sua colaboração no Ministério Público. O senhor fez uma referência é até carinhosa ao Alberto Youssef no sentido que ele era um garoto de leva e traz. O senhor podia explicar isso? É, o que significa esse leva e trás? Depoente:-‐ Eu, como o senhor falou muito bem, ontem eu já descrevia esse, essa função do Alberto que é leva e traz, o que seria? Havia uma negociação com o diretor da Petrobrás. Ele indicava ao Alberto que procurasse a empresa com quem ele conversou. O Alberto procurava essa empresa operacionalizava o pagamento. Entendo eu que o Alberto reportava ao diretor que aquele pagamento ou aquele compromisso havia sido cumprido.
****** DEPOIMENTO DE JÚLIO CAMARGO NOS AUTOS DA AÇÃO PENAL DA OAS 5083376-‐05.2014.404.7000 (TRANSCRIÇÃO EVENTO 248) 1639-‐ Defesa:-‐ Ainda pela defesa de Alberto Youssef. Na verdade não é bem uma pergunta, é apenas, eu vou, é uma confirmação de um trecho do seu termo de colaboração número quatro. Numa determinada altura o senhor menciona a seguinte afirmação: que o papel de Alberto Youssef era o leva e trás de dinheiro em espécie, o senhor confirma essa afirmação? 1640 -‐ Depoente:-‐Confirmo.
****** DEPOIMENTO DE JÚLIO CAMARGO NOS AUTOS DA AÇÃO PENAL DA GALVÃO ENG. 5083360-‐51.2014.404.7000 (TRANSCRIÇÃO EVENTO 256) 1390 -‐ Defesa Alberto Youssef: -‐ Pela defesa de Alberto Youssef. O senhor mencionou no seu termo de colaboração número quatro, o senhor se referiu a Alberto Youssef, com uma expressão de que ele seria um mero leva e trás. O senhor já confirmou em outras
audiências aqui em juízo, mas nessa ação penal, eu gostaria de saber, o senhor confirma essa afirmação? 1391 -‐ Depoente:-‐Confirmo.
****** DEPOIMENTO DE JÚLIO CAMARGO NOS AUTOS DA AÇÃO PENAL DA UTC/CAMARGO CORRÊA. 5083258-‐29.2014.404.7000 (TRANSCRIÇÃO EVENTO 327) Defesa:-‐ O senhor combinava tudo com José Janene, ou seja, como seria feita a distribuição da propina para Paulo Roberto Costa. É correto isso? Depoente:-‐Enquanto ele era vivo sim. Defesa:-‐ Sim? Enquanto vivo sim. Após o falecimento dele então o senhor passou a discutir diretamente com o Paulo Roberto Costa? Depoente:-‐Com Paulo Roberto Costa. Defesa:-‐ Perfeito. Nesse depoimento, o senhor se refere ao Alberto Youssef como um leva e trás. Eu queria que o senhor explicasse isso, por favor? Depoente:-‐Na época do doutor Janene, realmente era um leva e trás, e também posso dizer na época do doutor Paulo também era um leva e trás; porque o doutor Janene combinava a propina e o Alberto aparecia e dizia: “Olha, ficou combinado tanto que tem que ser pago”, combinava-‐se como ia se fazer, como isso ia operacionalizar e a liquidação da operação era feita com Alberto Youssef. Defesa:-‐ Perfeito. Ou seja, o mesmo acontecia com o Paulo Roberto Costa? Depoente:-‐O mesmo acontecia com o Paulo Roberto Costa. Defesa:-‐ O senhor pode afirmar... A figura do Alberto Youssef hierarquicamente era subsidiária primeiro ao José Janene e depois ao Roberto Costa? Depoente:-‐Era. Defesa:-‐ Ele não tinha poder na Petrobras pra ajudar as empreiteiras, pra nada? Não participava das conversas? Depoente:-‐No meu caso, não.
25. Destarte, no vertente caso, inconteste que ALBERTO YOUSSEF se enquadra
como mero “instrumento“ dos autores mediatos do delito (corruptos e corruptores).
O conceito de “instrumento” é definido nas palavras do professor JUAREZ CIRINO
DOS SANTOS como “aquele que realiza o fato em posição subordinada ao controle
do autor mediato”3. Ainda segundo o escólio do citado doutrinador: “Nas situações
de autoria mediata, a pena do autor mediato é agravada e o instrumento é
impunível”.4
26. Corroborando o entendimento que aquele que é utilizado pelo autor
mediato como “instrumento” para a prática delitiva deve ser considerado impunível
e conseqüentemente deve ser absolvido, é a melhor jurisprudência:
FURTO QUALIFICADO POR ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO. RECURSO DEFENSIVO. RECURSO DEFENSIVO, PLEITEANDO A ABSOLVIÇÃO DO ACUSADO POR ATIPICIDADE DO FATO, EM RAZÃO DO RECONHECIMENTO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. E, SUBSIDIARIAMENTE, A DESCLASSIFICAÇÃO PARA O FURTO SIMPLES. Inicialmente, registra-‐se que a defesa não contesta a autoria, nem a materialidade do delito. Não há que se falar em absolvição em virtude do princípio da insignificância. De fato, não se pode reputar insignificante a conduta de quem subtrai uma bicicleta. Com relação à qualificadora em questão, não merece prosperar o pleito defensivo de desclassificação para a modalidade simples. O corréu Jordan, embora absolvido, foi quem executou o rompimento de obstáculo à pedido do apelante. Portanto, o apelante se serviu de outra pessoa para realizar a conduta típica, usou Jordan como mero instrumento de atuação. Assim, o apelante é o autor mediato do crime de furto por rompimento de obstáculo. Desprovimento do recurso. (TJ-‐RJ -‐ APL: 00225278820128190011 RJ 0022527-‐88.2012.8.19.0011, Relator: DES. MONICA TOLLEDO DE OLIVEIRA, Data de Julgamento: 18/02/2014, TERCEIRA CAMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 27/03/2014 09:30)
27. Nesta toada, o Professor LUIZ REGIS PRADO, ao doutrinar sobre a autoria
mediata e o conceito de “instrumento” é enfático:
“Autor mediato ou indireto é aquele que, possuindo o domínio do fato, serve-‐se de terceiro que atua como mero instrumento. Entre outras hipóteses, acrescenta-‐se a autoria mediata pela utilização de organizações ou de estruturas hierarquizadas de poder. Especialmente no âmbito da delinqüência econômica e do crime
3SANTOS, Juarez Cirino dos, Direito Penal – Parte Geral – 4ª ed. rev. e amp. Florianópolis: Conceito Editorial, 2010, pg. 348 4 SANTOS, Juarez Cirino dos, Direito Penal – Parte Geral – 4ª ed. rev. e amp. Florianópolis: Conceito Editorial, 2010, pg. 349
organizado, quem se recusa a cumprir determinada ordem – ainda que manifestamente ilegal – é facilmente substituído por outrem, e essa fungibilidade seria suficiente para fundamentar a utilização instrumental do inferior hierárquico”.5
28. É o caso dos autos! ALBERTO YOUSSEF era somente uma peça de
somenos importância da engrenagem criminosa engendrada pelos autores mediatos
dos crimes ora processados, de tal modo inexiste imputação objetiva em relação a
ele no que tange ao crime de lavagem de ativos, concluindo-‐se pela impossibilidade
de atribuição do tipo de injusto ao agente como “obra dele”.
29. Diante do exposto requer-‐se o reconhecimento da participação do ora
defendido apenas como “instrumento” para a consecução do objetivo criminoso de
lavagem de capitais maquinado pelos verdadeiros elos do esquema criminoso, e a
conseqüente absolvição do Acusado da imputação de lavagem de dinheiro, ou
sucessivamente o reconhecimento da participação de menor importância também
pelos motivos acima alinhavados.
DA COLABORAÇÃO PROCESSUAL DO ACUSADO – EFETIVIDADE E RELEVÂNCIA PARA A AÇÃO PENAL E OUTRAS INVESTIGAÇÕES – PREENCHIMENTOS DE TODOS OS REQUISITOS LEGAIS FIXADOS EM LEI ARTIGO 4º DA LEI 12.850/2013 – CONCESSÃO DO PERDÃO JUDICIAL.
“Dieu fit du repentir la vertu des mortes” (VOLTAIRE, Olympia, acte III)
1. Era uma manhã chuvosa aquela do dia 24 de setembro de 2014. Uma
decisão importante nascia no horizonte de ALBERTO YOUSSEF. Tratava-‐se da
escolha de colaborar ou não com a Justiça. De um lado, um desejo de redenção 5PRADO, Luiz Regis, Curso de Direito Penal Brasileiro– 13ª ed. rev. e amp. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014, pg 407
impelia o acusado à dizer “sim” ao acordo e, com ele, cooperar com os procuradores
da força tarefa na operação Lava-‐Jato. De outro lado, alguns fatores circunstanciais
retardavam sua decisão e faziam do “não” uma possibilidade não descartada de
plano. Afinal, confissões nunca são fáceis; nem quando estas são realizadas aos
sussurros, dentro de casas sagradas, diante daquele que pode nos conceder o
perdão eterno. Difícil escolha.
2. No entanto, impelido por uma vontade mais forte de cooperar com a
Operação, no sentido de desmantelar o aparato de poder do qual YOUSSEF sempre
foi mera engrenagem, o ora defendido decidiu assinar o termo de colaboração
premiada e ajudar a Justiça na elucidação da verdade. Não foi fácil. Não é fácil. O
papel assumido impinge pechas reducionistas que estigmatizam o colaborador, sob
rótulos inglórios, alcaguete, enfim, trata-‐se antes de mais nada de um calvário, cuja
cruz carregada é a da hostilidade, a da crítica. Colaborar com a justiça é, antes de
mais nada, falar em voz alta o que todos querem silenciar. É contar a verdade, dizer
o que (“não”) se deve dizer. Para isso, para enfrentar toda a sorte de maledicência
que soem ser vituperadas contra o colaborador, é preciso muita coragem. Coragem
a que YOUSSEF não renunciou. E foi isso o que ele fez. Colaborou. E convenhamos:
não foi qualquer colaboração. Sua colaboração – verdade seja dita – foi
absolutamente decisiva (e reconhecida como tal pelos Procuradores da República e
pelo próprio Juízo) para a deflagração de todas as etapas subsequentes da Operação
Lava Jato.
3. Desde aquele 24 de setembro, mais de 100 horas de depoimento foram
prestadas à Justiça. Nem a debilidade cardíaca, nem o combalido estado de saúde,
foram motivos para interromper o que YOUSSEF mais quis desde então: cooperar
com o Órgão Julgador. O resultado começa a ser mensurado.
4. Cinco ações penais foram instauradas a partir dos interrogatórios de
YOUSSEF: (i) ação penal nº 5083351-‐89.2014.404.7000; (ii) ação penal nº 5083258-‐
29.2014.404.7000; (iii) ação penal nº 5083258-‐23.2014.404.7000; (iv) ação penal nº
5083360-‐51.2014.404.7000; (v) ação penal nº 5083376-‐05.2014.404.7000, todas em
trâmite perante a 13ª Vara Federal de Curitiba.
5. Além disto, de acordo com números constantes no site do Ministério
Público Federal 6 , apenas em primeira instância, a colaboração de YOUSSEF
contribuiu para: (a) a instauração de mais de 300 procedimentos investigatórios; (b)
a realização de 201 buscas e apreensões; (c) a expedição de 55 mandados de
condução coercitiva e 64 mandados de prisão; (d) a celebração de outros 10 acordos
de colaboração premiada.
6. Diante das superiores instâncias, a efetividade da colaboração do ora
defendido também é notória. No último dia 3 de março, o Procurador Geral da
República remeteu ao Supremo Tribunal Federal petições relativas a instauração de
28 inquéritos, envolvendo ao todo 54 pessoas. Inquéritos e investigações estas que
só foram possíveis em razão da colaboração de YOUSSEF. Aliás, destaque-‐se que o
PGR na petição de nº 5287, dentre outras, afirma categoricamente, ao fazer
referência aos depoimento de ALBERTO YOUSSEF e PAULO ROBERTO COSTA, que
“não há ressaibo de dúvidas da absoluta consonância com o ordenamento
constitucional das denominadas colaborações premiadas, bem assim da importância
dos termos que são tomados”. Ou seja, a autoridade máxima do Ministério Público
Federal reconhece como efetiva e importante a contribuição de YOUSSEF para com a
Justiça.
7. Não sem razão, o parquet federal no estado do Paraná afirma, a seu turno,
que a operação Lava Jato é a “maior investigação de corrupção e lavagem de
6 http://www.lavajato.mpf.mp.br/resultados.html
dinheiro que o Brasil já teve”7. A qual, dúvida não há, não seria possível de ser
levada a efeito sem a contribuição dada por ALBERTO para o deslinde dos fatos.
8. Por tal razão, é incontestável e notório que o ora colaborador contribuiu
de modo amplo, efetivo, eficaz e conducente para: (a) a identificação dos autores,
coautores e participes dos fatos ilícitos; (b) a revelação da estrutura hierárquica e
divisão de tarefas entre os participantes das infrações; (c) a recuperação total ou
parcial do proveito das infrações; (d) a identificação de pessoas físicas e jurídicas
utilizadas pelas organizações criminosas envolvidas em tais ilícitos.
9. Além disso, somente em razão das colaborações de YOUSSEF e de PAULO
ROBERTO COSTA é que se foi possível processar os dois elos da empreitada delitiva
levada a efeito na PETROBRÁS. Foi por causa delas, e somente delas, que a Justiça
pôde identificar tanto corruptores, como corrompidos – fechando todos os elos do
circuito criminoso investigado na operação lava jato. Sem a colaboração processual,
portanto, é possível dizer que somente peças menores da engrenagem ficariam
expostas à repressão penal, de modo que os chefes e organizadores dos crimes
ficariam ocultos e impunes, tranquilamente integrados ao poder público e à
sociedade e usufruindo do poder; consubstanciando a já conhecida constatação de
BALZAC: “os ladrões espertos são recebidos pela sociedade, passam por pessoas de
bem”8.
10. A aliança perversa entre políticos, agentes públicos e empresas privadas
bem provada nos autos, demonstra a dimensão da organização criminosa e seu
desenvolvimento dentro de uma empresa pública, e revela a importância da
colaboração de Alberto Youssef.
7 http://www.lavajato.mpf.mp.br/ 8 Código dos Homens Honestos, Honoré de Balzac, Rio de Janeiro, Nova Fronteira 2005 p.19
11. Desse modo, o disposto na cláusula 6ª do Acordo firmado entre YOUSSEF
e o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL restou, a toda evidência, amplamente cumprido
pelo acusado no presente caso – fato reconhecido pelo próprio parquet federal; vez
que no petitório constante no evento 1352 do presente encarte processual
eletrônico, o MPF afirmou:
“Assim, considerando que a colaboração voluntária de ALBERTO YOUSSEF para com a instrução dos presentes autos já se revelou efetiva (art. 4º, caput, da Lei 12.850/13), pois, confessando a prática dos ilícitos pelos quais foi denunciado (art. 4º, §14º, da Lei 12.850/13), forneceu detalhes importantes acerca dos ilícitos praticados pela organização criminosa de que fez parte, revelou sua estrutura e a forma como as tarefas nela eram divididas (art. 4º, II, da Lei 12.850/13), identificou e firmou os papéis desempenhados por coautores e partícipes (art. 4º, I, da Lei 12.850/13), e, ainda, renunciou a propriedade de diversos bens por ele adquiridos com o produto das práticas ilícitas (art. 4º, IV, da Lei 12.850/13)1 , faz-se pertinente a aplicação de benefícios que por lei decorrem de sua colaboração com a investigação e com o presente processo criminal. Nesta seara, requer-se que a pena que a ele será arbitrada na futura sentença condenatória seja reduzida pela metade, em consonância com o art. 4º, caput, e incisos I, II e IV, da Lei 12.850/2013. Requer-se, ainda, o regular prosseguimento do feito em relação ao acusado ALBERTO YOUSSEF, conforme disposto no inciso II da Cláusula 5ª do termo de colaboração premiada”.
12. Esse foi e é o desejo de YOUSSEF: o de colaborar com a Justiça, para que a
verdade venha as claras e as responsabilidades possam ser distribuídas na medida da
culpabilidade de cada um.
13. Como benefício de sua cooperação, o acordo assinado pelo ora acusado
prevê, na cláusula 5º, inciso III, o “cumprimento de penal privativa de liberdade em
regime fechado por lapso não superior a 5 (cinco) anos e não inferior a 3 (três) anos”.
Estes são, em princípio, o teto e o piso do regime de execução da reprimenda penal a
ser impingida ao colaborador.
14. Sem embargo, o art. 4º, §2º, da Lei 12.850/2013 prevê que benefício
maior pode ser concedido ao acusado colaborador uma vez que sua cooperação
revele-‐se de suma relevância, extrapolando-‐se a expectativa inicial quando da
assinatura do termo. É o caso.
15. Quer parecer à defesa que a contribuição de YOUSSEF extravasou sim o
escopo inicial do acordo, demonstrando-‐se muito mais efetiva e ampla do que
esperavam as partes signatárias naquele 24 de setembro de 2014. Por tal motivo,
em suas alegações finais, a defesa concorda em gênero número e grau com o
petitório ministerial que reconhece a efetividade da cooperação de YOUSSEF.
Entrementes, indo além, ela pleiteia, na esteira do que possibilita o art. 4º da Lei
12.850/2013, que Vossa Excelência conceda o perdão judicial ao acusado
colaborador em razão de sua ampla contribuição para com o poder judiciário.
16. Assim sendo, e diante da expressiva e relevante colaboração de YOUSSEF,
é justo que lhe seja concedido o perdão judicial, haja vista estarem preenchidos
todos os requisitos legais inerentes à concessão da benesse e que dimanam do
artigo 4º da Lei 12.850/13.
17. Todos os fatos narrados por Youssef guardam conexão com as provas
materiais, sua narrativa é lógica e coerente, inegável que sua colaboração é vital
para as investigações, sendo certo que antes mesmo da homologação pelo excelso
Supremo Tribunal Federal, ele já prestou depoimento perante V.Exª, esclarecendo
fatos e indicando provas que foram usadas pelo MPF na deflagração da fase 07 da
denominada “Operação Lava Jato”. Impende dizer ainda que a colaboração é
espontânea e voluntária, o acusado tomou a decisão de colaborar sem qualquer
influência externa, não houve coação ou qualquer forma de pressão do Ministério
Público Federal que pudesse viciar o consentimento de Youssef, inclusive a defesa
técnica tinha o entendimento de que existiam teses processuais que possibilitariam
a nulidade de toda investigação, porém é preciso respeitar a vontade do acusado
todas as circunstâncias que o cercam e compreender sua decisão.
18. Com fundamento na teoria dos fins da pena, o perdão judicial é a medida
mais justa e adequada, pois a pena não se justifica por exigências de retribuição,
diante do fato que a colaboração com o MPF e com o Poder Judiciário demonstra
inequívoco arrependimento e a convicção de se afastar das atividades delituosas de
parte de Alberto YOUSSEF.
19. Diante dessa situação fática jurídica, não estão mais presentes
necessidades de prevenção geral e especial, não existem motivos ou necessidades
que fundamentem uma pena para evitar futuros delitos. E isto porque o acusado,
preso há um ano, demonstrou concreta vontade de abandonar a atividade delitiva. A
pena não pode ser vista como uma necessidade em si mesma, ao contrário, deve
estar atrelada à necessidade de evitar futuros delitos, justifica-‐se portanto por
“razões de utilidade social”.
20. A prevenção geral não se revela necessária na hipótese vertente, pois a
contribuição de YOUSSEF foi tão relevante que perante à sociedade sua conta já esta
paga, especialmente pelo fato dele permanecer encarcerado por um ano.
21. No que concerne à prevenção especial, cujo destinatário é o próprio
acusado, a demonstração efetiva de que esta arrependido e colaborando com a
justiça demonstra que o mesmo esta reabilitado e apto para o convívio social.
22. Diante da colaboração que foi iniciada antes mesmo da homologação
do acordo, e especialmente dos resultados já atingidos pelo MPF, é razoável que
YOUSSEF receba no caso vertente o perdão judicial, haja vista que a exclusão da
responsabilidade estaria atrelada à desnecessidade de se punir um acusado
colaborador.
23. No caso vertente não existe necessidade da aplicação da pena, o
castigo corporal não deve ser aplicado haja vista YOUSSEF ter atuado em auxilio ao
Estado, demonstrando arrependimento e vontade de abandonar a prática de
delitos.
24. A efetividade da colaboração é fato incontroverso entre as partes, MPF
e Defesa. Portanto, cabe ao magistrado aplicar com imparcialidade a justa punição e
atribuir ao acusado a sábia recompensa, em conformidade com o espírito da lei.
25. Em não sendo este o r. entendimento de V.Exª., a pena de YOUSSEF
deve ser cominada no mínimo legal, com a redução da reprimenda em razão da
cooperação deste para com a Justiça; sendo certo que devem ser desprezados os
argumentos expendidos pelo MPF no que concerne ao descumprimento de anterior
acordo de colaboração. E isto porque o próprio MPF celebrou novo acordo de
colaboração homologado pelo excelso STF, no qual foi expressamente incluído
todos os fatos concernentes ao acordo anterior que foi abrangido pela nova
colaboração. Portanto, tal fato não pode ser tido como fator de aumento da
reprimenda corporal.
26. Deve ainda ser considerada como causa geral de diminuição da pena a
participação de menor importância de Youssef em todo os fatos investigados, bem
como em razão da colaboração processual ser aplicada a diminuição em 2/3 da
reprimenda.
DOS REQUERIMENTOS
Ante o exposto, pelas razões de fato e de direito supra alinhavadas,
requer-‐se:
A) Se digne V.Exª, julgar improcedente integralmente a denúncia, ABSOLVENDO ALBERTO YOUSSEF, nos termos do artigo 386, IV e V, do Código de Processo Penal;
B) Não sendo este o r. entendimento seja concedido ao acusado colaborador o perdão judicial, haja vista sua colaboração ser efetiva com resultado relevantes para a elucidação dos fatos nesta e em outras Ações Penais;
C) Alternativamente, reconhecida a participação de menor importância e após reconhecida a colaboração do acusado seja aplicado o grau máximo de diminuição da pena corporal aplicada em 2/3 .
Nestes termos, Pede deferimento.
Curitiba/PR, 04 de Março de 2015.
Antonio Augusto Figueiredo Basto. Luis Gustavo Rodrigues Flores. OAB/PR 16.950. OAB/PR 27.865. Rodolfo Herold Martins. Adriano Sérgio Nunes Bretas. OAB/PR 48.811. OAB/PR 38.524. Tracy Joseph Reinaldet OAB/PR 56.300.
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