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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA FEDERAL DA PRIMEIRA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA, SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PARANÁ Autos nº 502621282.2014.404.7000. ALBERTO YOUSSEF, já devidamente qualificado nos autos em epígrafe vem, por intermédio de seus procuradores, infrafirmados perante Vossa Excelência, aduzir suas ALEGAÇÕES FINAIS Nos termos e fundamentos que pede vênia para expor e, ao final, requerer seja reconhecida a efetividade e a relevância da colaboração processual realizada pelo acusado, para os fins de lhe ser concedido o perdão judicial nos termos da lei 12.850/2013.

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EXCELENTÍSSIMO  SENHOR  DOUTOR  JUIZ  FEDERAL  DA  13ª  VARA  FEDERAL  DA  PRIMEIRA  SUBSEÇÃO  JUDICIÁRIA  DE  CURITIBA,  SEÇÃO  JUDICIÁRIA    

DO  ESTADO  DO  PARANÁ                                            Autos  nº  5026212-­‐82.2014.404.7000.  

 

ALBERTO   YOUSSEF,   já   devidamente   qualificado   nos   autos   em   epígrafe   vem,   por  

intermédio   de   seus   procuradores,   infra-­‐firmados   perante   Vossa   Excelência,   aduzir  

suas  

 ALEGAÇÕES  FINAIS  

     

Nos   termos   e   fundamentos   que   pede   vênia   para   expor   e,   ao   final,   requerer   seja  

reconhecida   a   efetividade   e   a   relevância   da   colaboração   processual   realizada   pelo  

acusado,   para   os   fins   de   lhe   ser   concedido   o   perdão   judicial   nos   termos   da   lei  

12.850/2013.  

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1.   O   MPF   requereu   a   condenação   do   acusado   pelo   crime   de   lavagem   de  

dinheiro  capitulado  no  artigo  1º  parágrafo  2º  da  Lei  9.613/98  pelos  fatos  02,  05  e  06  

da  denúncia    em  continuidade  delitiva.    

 

2.  Bem  de  ver  que  antes  mesmo  da  homologação  do  acordo  de  colaboração  

premiada   pelo   Excelso   Supremo   Tribunal   Federal,   em   08   de   Outubro   de   2014   o  

acusado   atendendo   expressa   solicitação   desse   MM.   Juízo   Federal   e   do   MPF     foi  

ouvido   na   condição   de   acusado   colaborador,   prestando   valiosos   esclarecimentos  

sobre  os  fatos  que  são  objeto  da  presente  Ação  Penal  e  de  outras  que  derivam  das  

investigações  ocorridas  no  âmbito  da  denominada  “operação    lava-­‐jato”.  

 

  3.   Com   efeito   a   colaboração   foi   espontânea   e   a   defesa   técnica   concordou  

expressamente  que  o  acusado  abrisse  mão  do  direito  de  não  produzir  prova  contra  si  

próprio,  haja  vista  o  próprio  acusado  ter  declinado  que  tinha  interesse  em  colaborar  

com  a  investigação.  

 

“UMA   COMÉDIA   DE   FANTOCHES”   -­‐     APARATO   ORGANIZADO   DE   PODER   –  ORGANIZAÇÃO   VERTICALIZADA   -­‐   ESTRUTURADA   E   COMANDADA   POR   AGENTES  POLÍTICOS   -­‐   A   FIGURA   DOS   “HOMENS   DE   TRÁS”   –   AUTOR   DE   GABINETE   -­‐    CORRUPÇÃO   QUE   FINANCIOU   CAMPANHAS   POLÍTICAS   E   BENEFICIOU   PARTIDOS  POLÍTICOS  PT,  PMDB  E  PP  DESTINATÁRIOS  PRINCIPAIS  DO  DINHEIRO  DESVIADO  DA  PETROBRAS    -­‐      PARTICIPAÇÃO  DE  MENOR  IMPORTÂNCIA  DE  YOUSSEF.      

“Quanto  pulha  tenho  encontrado  a  gemer  pela  boca  da  miséria!   Com   gemidos   fortes,   gritados   entre   um  uísque  e  outro,  numa  espécie  de  pilhéria  cujo  sentido  me   aturde   e   escapa.   Ah,   esses   amantes   do  proletariado.   Ocultos   sob   o   manto   da   opulência,   A  sofrer   uma   nova   forma   de   demência   Que   os   leva   a  passar  fome  com  o  ventre  alheio.”1  

 

  1.  Antes   de   enfrentarmos   o  mérito   da   presente   denúncia   e   destacarmos   a  

importância   e   a   efetividade   da   colaboração   do   acusado   nessa   Ação   Penal   e   em  

                                                                                                               1  Poema  de  Eduardo  Alves  da  Costa  “  A  Eterna  Injustiça  deste  Mundo”,    extraído  do  Livro    No  Caminho  com  Maiakóvski”  São  Paulo  Geração  Editorial,  2003  p.151  

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outras   investigações   derivadas   das   investigações   encetadas   pela   Polícia   Federal   e  

conexas  aos  fatos  ora  imputados  ao  acusado,  cumpre  fazer  uma  análise  de  todos  os  

fatos   e   também   do   ambiente   em   que   se   desenvolveu   a   execução   da   empreitada  

criminosa   dentro   de   um   aparato   organizado   de   poder,   composto   de   um   grande  

número  de  pessoas  que  atuaram  de  uma  forma  organizada  e    estruturada  em  favor  

de   um   plano   definido   cujo   desenvolvimento   tinha   como   fim   principal:   a  

manutenção  do  poder  em  mãos  de  um  grupo  político,   sustentado  pelos  partidos  

políticos  PT,  PMDB  E  PP.  

 

  2.  Existe  notória  conexão   instrumental  e  probatória  entre  os   fatos  narrados  

na   presente   denúncia   e   também   de   todas   as   outras   investigações   desse   aparato  

organizado  de  poder.  O  destino  final  dos  valores  obtidos  com  os  desvios  praticados  

na  Petrobrás  eram  os  cofres  das  campanhas  políticas  e  partidos  políticos  ,  conforme  

informaram   ALBERTO   YOUSSEF,   PEDRO   BARUSCO,   PAULO   ROBERTO   COSTA   e  

AUGUSTO  MEDONÇA.      

 

  3.  O  tema  exposto  visa  demonstrar  que  Youssef  não   tinha  comando  dentro  

dessa   estrutura   criminosa.   Todas   as   condutas   descritas   na   denúncia   estão  

abrangidas  por  uma  verdadeira   criminalidade   de   Estado,   que  usou  a  estrutura  do  

próprio   Estado  para   corromper   e   intimidar.  Os   fatos   descritos   na   denúncia   devem  

ser   vistos   e   analisados   dentro   deste   contexto   e   não   de   forma   isolada,   pois   as  

condutas   descritas   na   exordial   acusatória   são   apenas  meios,   instrumentos   usados  

pelo  aparato  de  organização  de  poder  para  atingir  seu  objetivo  criminoso.    

   

4.   Ao   contextualizar   os   fatos   investigados   na   denominada  Operação   Lava-­‐

Jato,   o   ilustre   Procurador   Geral   da   República   Dr.   Rodrigo   Janot,     descreve  

minuciosamente  todo  aparato  de  poder  organizado:  

 

“Esses valores, porém, destinavam-se não apenas aos diretores da Petrobrás, mas também a partidos políticos e aos parlamentares

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responsáveis pela manutenção dos diretores nos cargos. Tais quantias eram repassadas aos agentes políticos de maneira periódica e ordinária, e também de forma episódica e extraordinária, sobretudo em épocas de eleições ou de escolha de lideranças. Esses políticos, por sua vez, conscientes de práticas indevidas que ocorriam no bojo da Petrobrás, não apenas patrocinavam a manutenção do diretor e dos demais agentes públicos no cargo, como também não interferiam no cartel existente.” “Para que fosse possível transitar os valores desviados entre os dois pontos da cadeia - ou seja, das empreiteiras para os diretores e políticos – atuavam profissionais encarregados da lavagem de ativos, que podem ser chamados de “operadores” ou intermediários.”  

 

5.  O  ilustre  Procurador  Geral  da  República  descreve  de  forma  clara  o    aparato  

organizado  de  poder,     “dois  pontos  da   cadeia’,     indicando     inclusive  os  núcleos  da  

organização   criminosa:   núcleo   político,   econômico,   administrativo   e   financeiro.  

Impende   dizer   que   YOUSSEF   não   estava   no   topo   da   organização   criminosa,   ao  

contrário,  como  se  demonstrará  ocupava  uma  posição  “fungível”,    ou  seja,  além  de  

não  ter  comando  ou  domínio  sobre  a  concreta  configuração  dos  atos  de  corrupção,    

não   era   indispensável   à   consecução   do   desiderato   criminoso,   pois   poderia   ser  

facilmente   substituído   dentro   da   engrenagem,   sendo   certo   que   já   foram  

identificados  outros  operadores  do  esquema.  

 

6.  Esse  aparato  organizado  de  poder  atuou  e  esteve  atrelado  durante  anos  à  

vontade  daqueles  que  Roxin  denominou  de  os  “homens  de  trás”,  cuja  permanência  

no  poder  é  a  garantia  de  que  o  resultado  da  empreitada  criminosa  esteja  assegurado  

independentemente   da   existência   das   outras   pessoas,   ou   seja,   o   resultado  

criminoso   não   está   intimamente   ligado   à   conduta   dos   executores   diretos,   vg,  

agentes   públicos   corruptos,   corruptores   ou   meros   operadores   do   esquema,  

invocamos  novamente  a  dicção  do  ilustre  Procurador  Geral  da  República:    

 

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“Esses   políticos,   por   sua   vez,   conscientes   de   práticas   indevidas  que  ocorriam  no  bojo  da  Petrobrás,  não  apenas  patrocinavam  a  manutenção  do  diretor  e  dos  demais  agentes  públicos  no  cargo,  como  também  não  interferiam  no  cartel  existente.”  

 

7.   As   provas   carreadas   na   investigação   permitem   concluir   sem  margem   de  

erro  que  estamos  diante  de  um  aparato  de  poder  verticalizado,  onde  a  ‘triste  figura’  

dos  “homens  de  trás”  ou  do  “homem  de  trás”,  dominava  toda  a  execução  dos  fatos.    

A   cabeça   ou   as   cabeças   da   organização   criminosa   ocupavam   os  mais   importantes  

cargos   políticos   na   organização   do   Estado   e   o   resultado   dos   crimes   investigados  

somente  foi  alcançado  em  razão  da  atuação  desses  agentes  políticos  que  aliciaram  

agentes   políticos,     indicaram     as   pessoas   que   ocupavam   cargos   de   direção   na  

Petrobrás,    cooptaram  empresas  e  pessoas  físicas  com  a  finalidade  de  financiar  um  

projeto   de   poder   bem   definido:   o   uso   de   dinheiro   público   obtido   através   de  

corrupção  e  intimidação  para  o  financiamento  de  campanhas  políticas.    

 

8.   A   organização   estava   verticalizada   de   tal   modo   a   depender   direta   e  

exclusivamente  dos  “donos  do  poder”.  Os  agentes  políticos  estavam  no  centro  das  

decisões.   Assim,   os     demais   personagens,   agentes   públicos,   corruptores   e  

operadores   eram   prescindíveis,   todos   descartáveis   conforme   os   interesses   dos  

políticos.   “Uma   comédia   de   fantoches”,   nas   palavras   de   Vargas   Llosa,   na   qual   os  

políticos   eleitos   de   forma   “mais   ou  menos   limpa”   abusaram   da   confiança   pública,  

para   enriquecer   e   se   manter   no   poder.   Se   Alberto   Youssef   deixasse   operar,   a  

máquina   de   corrupção   dentro   da   Petrobrás   não   deixaria   de   funcionar,   portanto  

Youssef  era  somente  mera  engrenagem  do  sistema,  embora  tivesse  consciência  de  

seu   agir   ilícito,   sua   atuação   era   subsidiária   a   todos   os   outros   integrantes   da  

organização   criminosa,   portanto   a   reprovabilidade   de   seu   ato   é   infinitamente  

menor  do  que  as  dos  comandantes  da  corrupção.                          

 

9.   Youssef   não   detinha   poderes   para  modificar   qualquer   fato   essencial   ao  

curso   dos   acontecimentos,   não   era   agente   político,   não   atuava   como   diretor   da  

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Petrobrás  e  nem  era  dono  ou  funcionário  das  empreiteiras.  Mesmo  que  se  negasse  a  

realizar   as   operações   financeiras,   a   corrupção   já   havia   se   materializado,   e  

certamente   os   corruptos   garantiriam   que   as   ordens   dos   agentes   políticos   fossem  

executadas  de  qualquer  maneira,  através  de  outros  operadores.    

 

10.   Não   se   pode,   portanto,   falar   em   uma   execução   conjunta   dos   fatos  

típicos,  em  razão  de  que  as  pessoas  que  tinham  o  poder  de  dar  ordens  não  atuavam  

na   execução   dos   fatos,   embora   deles   tivessem   amplo   conhecimento   e   prodigioso  

proveito.     O   “homem   de   trás”,   embora   afastado   da   execução  mantinha   todos   os  

membros  do  aparato  de  poder  sob  seu  domínio.  Youssef  era  um  instrumento  para  a  

consecução  do  fim  criminoso,  foi  usado  como  meio  para  fazer  o  dinheiro  chegar  aos  

corruptos  e  aos  partidos  políticos.  

 

11.   Colacionamos   o   voto   do   decano   do   Excelso   Supremo   Tribunal   Federal    

Ministro  Celso  de  Melo    na  Ação  Penal  470:  

 

“Com efeito, a conquista e a preservação temporária do poder, em qualquer formação social regida por padrões democráticos, embora constituam objetivos politicamente legítimos, não autorizam quem quer que seja, mesmo quem detenha a direção do Estado, independentemente de sua posição no espectro ideológico, a utilizar meios criminosos ou expedientes juridicamente marginais, delirantes da ordem jurídica e repudiados pela legislação criminal do País e pelo sentimento de decência que deve sempre prevalecer no trato da coisa pública, ainda que invocando, para justificar tais ilícitos comportamentos, expressiva votação eleitoral em determinado momento histórico. Em uma palavra, Senhor Presidente: votações eleitorais, embora politicamente significativas como meio legítimo de conquista do poder no contexto de um Estado fundado em bases democráticas, não se qualificam nem constituem causa de extinção da punibilidade, pois delinquentes, ainda que ungidos por eleição popular, não se

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subtraem ao alcance e ao império das leis da República.”

   

12.  Toda  a  estrutura  descrita  na  exordial  acusatória    foi  criada  como  meio  ou  

instrumento   para   que   os   valores   obtidos   com   desvios   dos   cofres   da   Petrobrás  

chegassem,   aos   destinatários   finais   os   agentes   políticos.   Prova   disto   é   o   cinismo  

repugnante  dos  agentes  políticos,  muitos  dos  quais  “safados  profissionais”  em  alegar  

que  o  dinheiro  doado  aos  paridos  políticos  PT,  PMDB  e  PP  e  também  a  políticos  foi  

declarado.   Ora,   ora...   A   questão   não   está   cifrada   na   declaração,   um   traficante   de  

drogas  pode  declarar  os  proventos  de  seus  crimes  à  Receita  Federal,  nem  por  isso  a  

origem  do  dinheiro  deixa  de  ser  ilícita.    Trata-­‐se  na  verdade  do  aperfeiçoamento  da  

terceira   etapa   da   lavagem   dinheiro,   a   integração   ou   incorporação   do   dinheiro  

obtido   através   da   corrupção   ao   sistema   econômico,   com   “aparência”   de   origem  

lícita.    

 

  13.   Fica   evidente   que   a   conduta   de   YOUSSEF   foi   subsidiária   ao   agir   dos  

demais   integrantes   do   aparato   organizado   de   poder,   portanto   sua   pena   deve   ser  

cominada  “na  medida  de  sua  culpabilidade”,  em  conformidade  com  o  artigo  29  do  

Código  Penal,  parágrafo  primeiro:  

 

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço

§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.

 

14.  A  posição  subsidiária  de  Youssef  além  de  estar  corroborada  pelo  próprio  

MPF,  está  provada  nos  depoimentos  de  Augusto  Mendonça  Filho,   Julio  Camargo  e  

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Paulo  Roberto  Costa,  que  afirmam  que  o  acusado  era  um  “leva  e  trás”  de  dinheiro,  

que   não   detinha   qualquer   poder   sobre   a   empreitada   criminosa.   O   conluio   entre  

agentes   políticos   e   empreiteiras   ocorria   sem   a   interferência   de   Youssef,   que   foi  

coaptado  pelo   falecido  deputado   federal   José   Janene    com  a  finalidade  específica  

de  atuar  na  fase  final  das  operações,  isto  é,  na  distribuição  dos  valores  obtidos  com  a  

corrupção.  

 

                         15.  Bem  de  ver  que  do  ponto  de  vista  fático  e  jurídico,  ALBERTO  YOUSSEF  não  

pode   ser   responsabilizado   da   mesma   forma   que   os   demais   participantes   da  

organização  criminosa.  

 

16.  A   íntima  correlação  entre  os  fatos  descritos  na  denúncia  com  o  aparato  

organizado   de   poder   permite   concluir   que   o   acusado   agia   sempre   vinculado   às  

ordens  dos  comandantes  da  organização  criminosa,  os  “homens  de  gabinete”  são  as  

figuras   centrais   dos   acontecimentos,   a   contribuição   de   Youssef   foi   “meramente  

secundária”.  

 

 

17.   Youssef   não   é   e   não   foi   o   líder   da   organização   criminosa   descrita   nos  

autos.  Sua  participação  foi  subsidiária  às  ordens  de  agentes  políticos  e  públicos  –  os  

maiores   responsáveis   pelo   esquema  que  desviou   fabulosas   quantias   dos   cofres   da  

Petrobrás,  visando  à  manutenção  de  um  projeto  de  poder  bem  definido:  -­‐  vontade  

de  submeter  partidos,  corromper  ideias  e  subverter  a  ordem  constitucional  .      

 

 

18.  Aquele  que  realiza  o  tipo  penal  sozinho  ou  por   intermédio  de  terceiros,  

que   lhe   servem   como   instrumento   é   considerado   autor.   Roxin   reconhece   a  

possibilidade  de  domínio  por  meio  de  um  aparato  organizado  de  poder.    

 

 

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“Aquele   que,   servindo-­‐se   de   uma   organização   verticalmente  estruturada  e  apartada  da  ordem  jurídica,  emite  uma  ordem  cujo  cumprimento   é   entregue   a   executores   fungíveis,   que   funcionam  como  meras   engrenagens   de   uma   estrutura   automática,   não   se  limita   a   instigar,   mas   é   verdadeiro   autor   mediato   dos   fatos  realizados.  Isso  significa  que  pessoas  em  posições  de  comando  em  governos   totalitários   ou   em   organizações   criminosas   ou  terroristas   são   autores   mediatos,   o   que   está   em   conformidade  não   apenas   com   os   parâmetros   de   imputação   da   história   como  com   o   inegável   fato   de   que,   em   estruturas   verticalizadas,   a  responsabilidade   tende  não  a  diminuir,  mas   sim  a  aumentar  em  função   da   distância   que   se   encontra   um   agente   em   relação   ao  acontecimento  final.”  2    

 

 

  19.  Existe  um  consenso  entre  o  MPF  e  a  defesa  no  que  concerne  ao  centro  de  

comando   da   organização   criminosa.   Portanto,   é   justo,   é   correto   que  Youssef   seja  

tratado   não   como   autor   dos   fatos,  mas   como  mero   partícipe   em   todos   os   fatos  

ilícitos  práticos  pelo  aparato  de  poder  organizado  descrito  na  denúncia.  

 

  20.   Aqui,   cuida-­‐se   da   imputação   do   delito   de   lavagem   de   dinheiro.   Ora,   a  

denúncia   é   auto-­‐explicativa   quando   menciona   o   fluxo   do   dinheiro:   os   montantes  

saíam  da  PETROBRÁS  para  o  CNCC.  Do  CNCC  para  as  empresas  SANKO.  Da  SANKO  

para   a   empresa   MO   CONSULTORIA.   Da   empresa   MO   CONSULTORIA   para   as  

empresas  LABOGEN.  Das  empresas  LABOGEN  para  o  exterior,  mediante  importação  

fraudulenta.  Este  é  o  fluxograma  que  se  pode  depreender  das  fls.  41-­‐42  da  denúncia:  

 

                                                                                                               2  La   Teoria   Del   delito   em   la     discusión   atual   ,   Claus   Roxin   –   Editora   Jurídica   Grijley   2007     p.  516/517  

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    21.   Entrementes,   ocorre  que  o  MINISTÉRIO  PÚBLICO  FEDERAL  parte  de  um  

pressuposto   fático   equivocado   para   imputar   a   acusação   de   lavagem   de   dinheiro,  

trabalhando  com  a  premissa  de  que  “ALBERTO  YOUSSEF  era  o  real  controlador”  da  

LABOGEN  (fls.  40  da  denúncia),  como  se  LEONARDO  MEIRELLES  fosse  mero  “laranja”  

ou   interposta   pessoa   sua.   Não   era!   Fosse   o   “real   controlador”   da   LABOGEN,  

realmente   teria   que   responder   pela   lavagem   de   dinheiro.   Mas,   como   ALBERTO  

YOUSSEF  não  se  tratava  do  “real  controlador”  da  empresa,  não  pode  responder  por  

ato  de  terceiro!    

 

  22.  Todo  o  arcabouço  probatório  coligido  aos  autos  bem  dá  conta  do  papel  

coadjuvante  que  ALBERTO  YOUSSEF  exercia  na  empreitada  delitiva.  Os  depoimentos  

das   testemunhas   e   dos   colaboradores   foram   enfáticos   em   salientar   que   ALBERTO  

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YOUSSEF  era  o  que   JULIO  CAMARGO  classificou  de  um  mero   “leva   e   traz”,   que   só  

ingressava   no   enredo   fático   dos   crimes   após   já   sacramentada   a   negociata   entre  

corruptores  e  corrompidos.    

 

    23.  Assim,  o   ingresso  de  ALBERTO  YOUSSEF  no   iter   criminis   se  dava  após   já  

consumados  os  elementos  descritivos  do  tipo  de  injusto,  no  exaurimento  do  delito,  

entregando  a  propina  de  cujas  tratativas,  o  ora  defendido  não  participava.  Partindo  

de   uma   divisão   funcional   de   tarefas,   na   teoria   do   domínio   estrutural   do   fato,  

ALBERTO   YOUSSEF   era   incumbido   tão   somente   da   entrega   dos   valores,   sem   ter  

qualquer  participação  nas  negociatas.  Em  última  análise,  tratava-­‐se  do  mero  “elo  de  

ligação”,  a  ponte  de  contato,  entre  as  pontas  do  esquema  criminoso,  que  já  haviam  

avençado,  entre  si,  as  tratativas  do  crime.  

   

  24.   JULIO   CAMARGO,   réu   colaborador   em   processo   conexo,   afirmou  

categoricamente,  mais  de  uma  vez,  que  ALBERTO  YOUSSEF  tinha  somente  a  função  

de   liquidar   a   operação   financeira   anteriormente   ajustada   entre   corruptores   e  

corrompidos,   e,   nas   palavras   do   referido   colaborador   processual,   seria   um   mero  

“leva   e   traz”   no   âmbito   da   organização   criminoas.   Vejamos   os   trechos   dos  

depoimentos  prestados  pelo  referido  colaborador:  

   

DEPOIMENTO  DE  JÚLIO  CAMARGO  NO  TERMO  DE  COLABORAÇÃO  Nº  04,  FOLHA  05  “QUE  o  papel  de  ALBERTO  YOUSSEF  era  o  “leva  e  trás”  de  dinheiro  em  espécie  e  operacionalizava  pagamentos  no  exterior;”    

******    DEPOIMENTO  DE   JÚLIO  CAMARGO  NOS  AUTOS  DA  AÇÃO  PENAL  DA   MENDES   JUNIOR   5083401-­‐18.2014.404.7000   (TRANSCRIÇÃO  EVENTO  390)  1193  -­‐  Defesa  de  Alberto  Youssef:  -­‐  O  senhor  mencionou,  num  dos  seus  termos  de  colaboração,  uma  afirmação.  Eu  gostaria  só  de  saber  se  o  senhor  confirma,  ou  não.  Consta  que  o  papel  de  Alberto  

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Youssef,  seria  o  de  mero  “leva  e  traz”  de  dinheiro  em  espécie,  além  de  operacionalizar  pagamentos.  O  senhor  confirma  isso?  1194 -­‐  Depoente:-­‐  Confirmo.    

******    DEPOIMENTO  DE   JÚLIO  CAMARGO  NOS  AUTOS  DA  AÇÃO  PENAL  DA   ENGEVIX   5083351-­‐89.2014.404.7000   (TRANSCRIÇÃO   EVENTO  259)  Defesa:-­‐   É   o   senhor   quando   prestou   depoimento   na   sua  colaboração  no  Ministério  Público.  O  senhor  fez  uma  referência  é  até  carinhosa  ao  Alberto  Youssef  no  sentido  que  ele  era  um  garoto  de  leva  e  traz.  O  senhor  podia  explicar  isso?  É,  o  que  significa  esse  leva  e  trás?  Depoente:-­‐  Eu,   como   o   senhor   falou   muito   bem,   ontem   eu   já  descrevia   esse,   essa   função   do   Alberto   que   é   leva   e   traz,   o   que  seria?   Havia   uma   negociação   com   o   diretor   da   Petrobrás.   Ele  indicava   ao   Alberto   que   procurasse   a   empresa   com   quem   ele  conversou.  O  Alberto  procurava  essa  empresa  operacionalizava  o  pagamento.   Entendo   eu   que   o   Alberto   reportava   ao   diretor   que  aquele  pagamento  ou  aquele  compromisso  havia  sido  cumprido.    

******    DEPOIMENTO  DE   JÚLIO  CAMARGO  NOS  AUTOS  DA  AÇÃO  PENAL  DA  OAS  5083376-­‐05.2014.404.7000  (TRANSCRIÇÃO  EVENTO  248)  1639-­‐   Defesa:-­‐  Ainda  pela   defesa  de  Alberto   Youssef.  Na   verdade  não  é  bem  uma  pergunta,  é  apenas,  eu  vou,  é  uma  confirmação  de  um   trecho   do   seu   termo   de   colaboração   número   quatro.   Numa  determinada  altura  o  senhor  menciona  a  seguinte  afirmação:  que  o  papel  de  Alberto  Youssef  era  o  leva  e  trás  de  dinheiro  em  espécie,  o  senhor  confirma  essa  afirmação?  1640 -­‐  Depoente:-­‐Confirmo.    

******    DEPOIMENTO  DE   JÚLIO  CAMARGO  NOS  AUTOS  DA  AÇÃO  PENAL  DA   GALVÃO   ENG.   5083360-­‐51.2014.404.7000   (TRANSCRIÇÃO  EVENTO  256)  1390  -­‐  Defesa  Alberto  Youssef:  -­‐    Pela  defesa  de  Alberto  Youssef.  O  senhor  mencionou  no  seu  termo  de  colaboração  número  quatro,  o  senhor  se  referiu  a  Alberto  Youssef,  com  uma  expressão  de  que  ele  seria  um  mero  leva  e  trás.  O  senhor  já  confirmou  em  outras  

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audiências  aqui  em  juízo,  mas  nessa  ação  penal,  eu  gostaria  de  saber,  o  senhor  confirma  essa  afirmação?  1391  -­‐  Depoente:-­‐Confirmo.    

******    DEPOIMENTO  DE   JÚLIO  CAMARGO  NOS  AUTOS  DA  AÇÃO  PENAL  DA   UTC/CAMARGO   CORRÊA.   5083258-­‐29.2014.404.7000  (TRANSCRIÇÃO  EVENTO  327)  Defesa:-­‐  O  senhor  combinava  tudo  com  José  Janene,  ou  seja,  como  seria   feita   a   distribuição   da   propina   para   Paulo   Roberto   Costa.   É  correto  isso?  Depoente:-­‐Enquanto  ele  era  vivo  sim.  Defesa:-­‐  Sim?  Enquanto  vivo  sim.  Após  o  falecimento  dele  então  o  senhor  passou  a  discutir  diretamente  com  o  Paulo  Roberto  Costa?  Depoente:-­‐Com  Paulo  Roberto  Costa.  Defesa:-­‐  Perfeito.   Nesse   depoimento,   o   senhor   se   refere   ao  Alberto   Youssef   como   um   leva   e   trás.   Eu   queria   que   o   senhor  explicasse  isso,  por  favor?  Depoente:-­‐Na  época  do  doutor   Janene,   realmente  era  um   leva   e  trás,  e  também  posso  dizer  na  época  do  doutor  Paulo  também  era  um  leva  e  trás;  porque  o  doutor   Janene  combinava  a  propina  e  o  Alberto   aparecia   e   dizia:   “Olha,   ficou   combinado   tanto   que   tem  que   ser   pago”,   combinava-­‐se   como   ia   se   fazer,   como   isso   ia  operacionalizar   e   a   liquidação  da  operação   era   feita   com  Alberto  Youssef.  Defesa:-­‐  Perfeito.   Ou   seja,   o   mesmo   acontecia   com   o   Paulo  Roberto  Costa?  Depoente:-­‐O  mesmo  acontecia  com  o  Paulo  Roberto  Costa.  Defesa:-­‐  O   senhor   pode   afirmar...   A   figura   do   Alberto   Youssef  hierarquicamente   era   subsidiária   primeiro   ao   José   Janene   e  depois  ao  Roberto  Costa?  Depoente:-­‐Era.  Defesa:-­‐  Ele   não   tinha   poder   na   Petrobras   pra   ajudar   as  empreiteiras,  pra  nada?  Não  participava  das  conversas?  Depoente:-­‐No  meu  caso,  não.  

 

 

  25.  Destarte,  no  vertente  caso,   inconteste  que  ALBERTO  YOUSSEF   se  enquadra  

como  mero  “instrumento“  dos  autores  mediatos  do  delito  (corruptos  e  corruptores).  

O   conceito   de   “instrumento”   é   definido   nas   palavras   do   professor   JUAREZ   CIRINO  

DOS  SANTOS  como  “aquele  que  realiza  o   fato  em  posição  subordinada  ao  controle  

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do  autor  mediato”3.  Ainda  segundo  o  escólio  do  citado  doutrinador:  “Nas  situações  

de   autoria   mediata,   a   pena   do   autor   mediato   é   agravada   e   o   instrumento   é  

impunível”.4  

 

  26.   Corroborando   o   entendimento   que   aquele   que   é   utilizado   pelo   autor  

mediato  como  “instrumento”  para  a  prática  delitiva  deve  ser  considerado  impunível  

e  conseqüentemente  deve  ser  absolvido,  é  a  melhor  jurisprudência:  

 FURTO   QUALIFICADO   POR   ROMPIMENTO   DE   OBSTÁCULO.   RECURSO  DEFENSIVO.   RECURSO   DEFENSIVO,   PLEITEANDO   A   ABSOLVIÇÃO   DO  ACUSADO  POR  ATIPICIDADE  DO  FATO,  EM  RAZÃO  DO  RECONHECIMENTO  DO   PRINCÍPIO   DA   INSIGNIFICÂNCIA.   E,   SUBSIDIARIAMENTE,   A  DESCLASSIFICAÇÃO  PARA  O  FURTO  SIMPLES.  Inicialmente,  registra-­‐se  que  a  defesa  não  contesta  a  autoria,  nem  a  materialidade  do  delito.  Não  há  que  se  falar  em  absolvição  em  virtude  do  princípio  da  insignificância.  De  fato,  não  se  pode  reputar   insignificante  a  conduta  de  quem  subtrai  uma  bicicleta.  Com  relação  à  qualificadora  em  questão,  não  merece  prosperar  o   pleito   defensivo   de   desclassificação   para   a   modalidade   simples.   O  corréu   Jordan,   embora  absolvido,   foi  quem  executou  o  rompimento  de  obstáculo  à  pedido  do  apelante.  Portanto,  o  apelante  se  serviu  de  outra  pessoa   para   realizar   a   conduta   típica,   usou   Jordan   como   mero  instrumento  de  atuação.  Assim,  o  apelante  é  o  autor  mediato  do  crime  de  furto  por  rompimento  de  obstáculo.  Desprovimento  do  recurso.  (TJ-­‐RJ  -­‐   APL:   00225278820128190011   RJ   0022527-­‐88.2012.8.19.0011,   Relator:  DES.  MONICA   TOLLEDO  DE  OLIVEIRA,  Data   de   Julgamento:   18/02/2014,  TERCEIRA  CAMARA  CRIMINAL,  Data  de  Publicação:  27/03/2014  09:30)  

      27.  Nesta  toada,  o  Professor  LUIZ  REGIS  PRADO,  ao  doutrinar  sobre  a  autoria  

mediata  e  o  conceito  de  “instrumento”  é  enfático:    

   “Autor  mediato  ou   indireto  é  aquele  que,  possuindo  o  domínio  do  fato,   serve-­‐se  de   terceiro  que  atua  como  mero   instrumento.  Entre  outras   hipóteses,   acrescenta-­‐se   a   autoria   mediata   pela   utilização  de   organizações   ou   de   estruturas   hierarquizadas   de   poder.  Especialmente  no  âmbito  da  delinqüência  econômica  e  do   crime  

                                                                                                               3SANTOS,  Juarez  Cirino  dos,  Direito  Penal  –  Parte  Geral  –  4ª  ed.  rev.  e  amp.  Florianópolis:  Conceito  Editorial,  2010,  pg.  348  4  SANTOS,  Juarez  Cirino  dos,  Direito  Penal  –  Parte  Geral  –  4ª  ed.  rev.  e  amp.  Florianópolis:  Conceito  Editorial,  2010,  pg.  349  

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organizado,   quem   se   recusa   a   cumprir   determinada   ordem   –  ainda   que  manifestamente   ilegal   –   é   facilmente   substituído   por  outrem,  e  essa  fungibilidade  seria  suficiente  para  fundamentar  a  utilização  instrumental  do  inferior  hierárquico”.5    

   

  28.   É   o   caso   dos   autos!   ALBERTO   YOUSSEF   era   somente   uma   peça   de  

somenos  importância  da  engrenagem  criminosa  engendrada  pelos  autores  mediatos  

dos  crimes  ora  processados,  de  tal  modo   inexiste   imputação  objetiva  em  relação  a  

ele  no  que  tange  ao  crime  de  lavagem  de  ativos,  concluindo-­‐se  pela  impossibilidade  

de  atribuição  do  tipo  de  injusto  ao  agente  como  “obra  dele”.  

 

  29.  Diante   do   exposto   requer-­‐se   o   reconhecimento   da   participação   do   ora  

defendido  apenas  como  “instrumento”  para  a  consecução  do  objetivo  criminoso  de  

lavagem  de   capitais  maquinado  pelos   verdadeiros  elos  do  esquema  criminoso,   e   a  

conseqüente   absolvição   do   Acusado   da   imputação   de   lavagem   de   dinheiro,   ou  

sucessivamente   o   reconhecimento   da   participação   de  menor   importância   também  

pelos  motivos  acima  alinhavados.  

 

 

DA  COLABORAÇÃO  PROCESSUAL  DO  ACUSADO  –  EFETIVIDADE  E  RELEVÂNCIA  PARA  A   AÇÃO   PENAL   E   OUTRAS   INVESTIGAÇÕES   –   PREENCHIMENTOS   DE   TODOS   OS  REQUISITOS  LEGAIS  FIXADOS  EM  LEI  ARTIGO  4º  DA  LEI  12.850/2013  –  CONCESSÃO  DO  PERDÃO  JUDICIAL.          

“Dieu  fit  du  repentir  la  vertu  des  mortes”    (VOLTAIRE,  Olympia,  acte  III)  

 

 

  1.   Era   uma   manhã   chuvosa   aquela   do   dia   24   de   setembro   de   2014.   Uma  

decisão   importante   nascia   no   horizonte   de   ALBERTO   YOUSSEF.   Tratava-­‐se   da    

escolha   de   colaborar   ou   não   com   a   Justiça.  De   um   lado,   um   desejo   de   redenção                                                                                                                  5PRADO,   Luiz   Regis,   Curso   de  Direito   Penal   Brasileiro–   13ª   ed.   rev.   e   amp.   São   Paulo:   Editora  Revista  dos  Tribunais,  2014,  pg  407  

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impelia  o  acusado  à  dizer  “sim”  ao  acordo  e,  com  ele,  cooperar  com  os  procuradores  

da  força  tarefa  na  operação  Lava-­‐Jato.  De  outro  lado,  alguns  fatores  circunstanciais  

retardavam   sua   decisão   e   faziam   do   “não”   uma   possibilidade   não   descartada   de  

plano.   Afinal,   confissões   nunca   são   fáceis;   nem   quando   estas   são   realizadas   aos  

sussurros,   dentro   de   casas   sagradas,   diante   daquele   que   pode   nos   conceder   o  

perdão  eterno.  Difícil  escolha.        

 

  2.   No   entanto,   impelido   por   uma   vontade   mais   forte   de   cooperar   com   a  

Operação,  no  sentido  de  desmantelar  o  aparato  de  poder  do  qual  YOUSSEF  sempre  

foi   mera   engrenagem,   o   ora   defendido   decidiu   assinar   o   termo   de   colaboração  

premiada  e  ajudar  a   Justiça  na  elucidação  da  verdade.  Não   foi   fácil.  Não  é   fácil.  O  

papel  assumido  impinge  pechas  reducionistas  que  estigmatizam  o  colaborador,  sob  

rótulos  inglórios,  alcaguete,  enfim,  trata-­‐se  antes  de  mais  nada  de  um  calvário,  cuja  

cruz  carregada  é  a  da  hostilidade,  a  da  crítica.  Colaborar   com  a   justiça  é,  antes  de  

mais  nada,  falar  em  voz  alta  o  que  todos  querem  silenciar.  É  contar  a  verdade,  dizer  

o  que  (“não”)  se  deve  dizer.  Para  isso,  para  enfrentar  toda  a  sorte  de  maledicência  

que  soem  ser  vituperadas  contra  o  colaborador,  é  preciso  muita  coragem.  Coragem  

a  que  YOUSSEF  não  renunciou.  E  foi   isso  o  que  ele  fez.  Colaborou.  E  convenhamos:  

não   foi   qualquer   colaboração.   Sua   colaboração   –   verdade   seja   dita   –   foi  

absolutamente  decisiva  (e  reconhecida  como  tal  pelos  Procuradores  da  República  e  

pelo  próprio  Juízo)  para  a  deflagração  de  todas  as  etapas  subsequentes  da  Operação  

Lava  Jato.  

 

  3.  Desde  aquele  24  de   setembro,  mais  de  100  horas  de  depoimento   foram  

prestadas  à  Justiça.  Nem  a  debilidade  cardíaca,  nem  o  combalido  estado  de  saúde,  

foram  motivos   para   interromper   o   que   YOUSSEF  mais   quis   desde   então:   cooperar  

com  o  Órgão  Julgador.  O  resultado  começa    a  ser  mensurado.    

 

  4.   Cinco   ações   penais   foram   instauradas   a   partir   dos   interrogatórios   de  

YOUSSEF:  (i)  ação  penal  nº  5083351-­‐89.2014.404.7000;  (ii)  ação  penal  nº  5083258-­‐

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29.2014.404.7000;  (iii)  ação  penal  nº  5083258-­‐23.2014.404.7000;  (iv)  ação  penal  nº  

5083360-­‐51.2014.404.7000;  (v)  ação  penal  nº  5083376-­‐05.2014.404.7000,  todas  em  

trâmite  perante  a  13ª  Vara  Federal  de  Curitiba.      

 

  5.   Além   disto,   de   acordo   com   números   constantes   no   site   do   Ministério  

Público   Federal 6 ,   apenas   em   primeira   instância,   a   colaboração   de   YOUSSEF  

contribuiu  para:  (a)  a  instauração  de  mais  de  300  procedimentos  investigatórios;  (b)  

a   realização   de   201   buscas   e   apreensões;   (c)     a   expedição   de   55   mandados   de  

condução  coercitiva  e  64  mandados  de  prisão;  (d)  a  celebração  de  outros  10  acordos  

de  colaboração    premiada.    

 

  6.   Diante   das   superiores   instâncias,   a   efetividade   da   colaboração   do   ora  

defendido   também   é   notória.   No   último   dia   3   de   março,   o   Procurador   Geral   da  

República  remeteu  ao  Supremo  Tribunal  Federal  petições  relativas  a  instauração  de  

28  inquéritos,  envolvendo  ao  todo  54  pessoas.  Inquéritos  e  investigações  estas  que  

só   foram  possíveis  em  razão  da  colaboração  de  YOUSSEF.  Aliás,  destaque-­‐se  que  o  

PGR   na   petição   de   nº   5287,   dentre   outras,   afirma   categoricamente,   ao   fazer  

referência   aos   depoimento   de   ALBERTO   YOUSSEF   e   PAULO   ROBERTO   COSTA,   que  

“não   há   ressaibo   de   dúvidas   da   absoluta   consonância   com   o   ordenamento  

constitucional  das  denominadas  colaborações  premiadas,  bem  assim  da  importância  

dos  termos  que  são  tomados”.  Ou  seja,  a  autoridade  máxima  do  Ministério  Público  

Federal  reconhece  como  efetiva  e  importante  a  contribuição  de  YOUSSEF  para  com  a  

Justiça.  

 

  7.  Não  sem  razão,  o  parquet  federal  no  estado  do  Paraná  afirma,  a  seu  turno,  

que   a   operação   Lava   Jato   é   a   “maior   investigação   de   corrupção   e   lavagem   de  

                                                                                                               6  http://www.lavajato.mpf.mp.br/resultados.html    

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dinheiro   que   o   Brasil   já   teve”7.   A   qual,   dúvida   não   há,   não   seria   possível   de   ser  

levada  a  efeito  sem  a  contribuição  dada  por  ALBERTO  para  o  deslinde  dos  fatos.    

 

8.  Por  tal   razão,  é   incontestável  e  notório  que  o  ora  colaborador  contribuiu  

de  modo  amplo,  efetivo,  eficaz  e  conducente  para:   (a)  a   identificação  dos  autores,  

coautores   e   participes   dos   fatos   ilícitos;   (b)   a   revelação  da   estrutura  hierárquica   e  

divisão   de   tarefas   entre   os   participantes   das   infrações;   (c)   a   recuperação   total   ou  

parcial   do   proveito   das   infrações;   (d)   a   identificação   de   pessoas   físicas   e   jurídicas  

utilizadas  pelas  organizações  criminosas  envolvidas  em  tais  ilícitos.          

 

9.  Além  disso,  somente  em  razão  das  colaborações  de  YOUSSEF  e  de  PAULO  

ROBERTO  COSTA  é  que  se  foi  possível  processar  os  dois  elos  da  empreitada  delitiva  

levada  a  efeito  na  PETROBRÁS.  Foi  por  causa  delas,  e  somente  delas,  que  a   Justiça  

pôde  identificar  tanto  corruptores,  como  corrompidos  –  fechando  todos  os  elos  do  

circuito  criminoso  investigado  na  operação  lava  jato.  Sem  a  colaboração  processual,  

portanto,   é   possível   dizer   que   somente   peças   menores   da   engrenagem   ficariam  

expostas   à   repressão   penal,   de   modo   que   os   chefes   e   organizadores   dos   crimes  

ficariam   ocultos   e   impunes,   tranquilamente   integrados   ao   poder   público   e   à  

sociedade  e  usufruindo  do  poder;  consubstanciando  a   já  conhecida  constatação  de  

BALZAC:  “os  ladrões  espertos  são  recebidos  pela  sociedade,  passam  por  pessoas  de  

bem”8.    

 

10.  A  aliança  perversa  entre  políticos,  agentes  públicos  e  empresas  privadas  

bem   provada   nos   autos,   demonstra   a   dimensão   da   organização   criminosa   e   seu  

desenvolvimento   dentro   de   uma   empresa   pública,   e   revela   a   importância   da  

colaboração  de  Alberto  Youssef.  

 

                                                                                                               7  http://www.lavajato.mpf.mp.br/    8  Código  dos  Homens  Honestos,  Honoré    de  Balzac,  Rio  de  Janeiro,  Nova  Fronteira  2005  p.19

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  11.  Desse  modo,  o  disposto  na  cláusula  6ª  do  Acordo  firmado  entre  YOUSSEF  

e  o  MINISTÉRIO  PÚBLICO  FEDERAL  restou,  a  toda  evidência,  amplamente  cumprido  

pelo  acusado  no  presente  caso  –  fato  reconhecido  pelo  próprio  parquet  federal;  vez  

que   no   petitório   constante   no   evento   1352   do   presente   encarte   processual  

eletrônico,  o  MPF  afirmou:    

 

“Assim, considerando que a colaboração voluntária de ALBERTO YOUSSEF para com a instrução dos presentes autos já se revelou efetiva (art. 4º, caput, da Lei 12.850/13), pois, confessando a prática dos ilícitos pelos quais foi denunciado (art. 4º, §14º, da Lei 12.850/13), forneceu detalhes importantes acerca dos ilícitos praticados pela organização criminosa de que fez parte, revelou sua estrutura e a forma como as tarefas nela eram divididas (art. 4º, II, da Lei 12.850/13), identificou e firmou os papéis desempenhados por coautores e partícipes (art. 4º, I, da Lei 12.850/13), e, ainda, renunciou a propriedade de diversos bens por ele adquiridos com o produto das práticas ilícitas (art. 4º, IV, da Lei 12.850/13)1 , faz-se pertinente a aplicação de benefícios que por lei decorrem de sua colaboração com a investigação e com o presente processo criminal. Nesta seara, requer-se que a pena que a ele será arbitrada na futura sentença condenatória seja reduzida pela metade, em consonância com o art. 4º, caput, e incisos I, II e IV, da Lei 12.850/2013. Requer-se, ainda, o regular prosseguimento do feito em relação ao acusado ALBERTO YOUSSEF, conforme disposto no inciso II da Cláusula 5ª do termo de colaboração premiada”.

 

 

  12.  Esse  foi  e  é  o  desejo  de  YOUSSEF:  o  de  colaborar  com  a  Justiça,  para  que  a  

verdade  venha  as  claras  e  as  responsabilidades  possam  ser  distribuídas  na  medida  da  

culpabilidade  de  cada  um.    

 

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  13.  Como  benefício  de  sua  cooperação,  o  acordo  assinado  pelo  ora  acusado  

prevê,  na  cláusula  5º,   inciso  III,  o  “cumprimento  de  penal  privativa  de  liberdade  em  

regime  fechado  por  lapso  não  superior  a  5  (cinco)  anos  e  não  inferior  a  3  (três)  anos”.  

Estes  são,  em  princípio,  o  teto  e  o  piso  do  regime  de  execução  da  reprimenda  penal  a  

ser  impingida  ao  colaborador.    

 

  14.   Sem   embargo,   o   art.   4º,   §2º,   da   Lei   12.850/2013   prevê   que   benefício  

maior   pode   ser   concedido   ao   acusado   colaborador   uma   vez   que   sua   cooperação  

revele-­‐se   de   suma   relevância,   extrapolando-­‐se   a   expectativa   inicial   quando   da  

assinatura  do  termo.  É  o  caso.    

 

  15.  Quer  parecer  à  defesa  que  a  contribuição  de  YOUSSEF  extravasou  sim  o  

escopo   inicial   do   acordo,   demonstrando-­‐se   muito   mais   efetiva   e   ampla   do   que  

esperavam  as  partes   signatárias   naquele  24  de   setembro  de  2014.   Por   tal  motivo,  

em   suas   alegações   finais,   a   defesa   concorda   em   gênero   número   e   grau   com   o  

petitório   ministerial   que   reconhece   a   efetividade   da   cooperação   de   YOUSSEF.  

Entrementes,   indo   além,   ela   pleiteia,   na   esteira   do   que   possibilita   o   art.   4º   da   Lei  

12.850/2013,   que   Vossa   Excelência   conceda   o   perdão   judicial   ao   acusado  

colaborador  em  razão  de  sua  ampla  contribuição  para  com  o  poder  judiciário.        

 

  16.  Assim  sendo,  e  diante  da  expressiva  e  relevante  colaboração  de  YOUSSEF,    

é   justo   que   lhe   seja   concedido   o   perdão   judicial,   haja   vista   estarem   preenchidos  

todos   os   requisitos   legais     inerentes   à   concessão   da   benesse   e   que   dimanam   do  

artigo  4º  da  Lei  12.850/13.    

 

17.   Todos   os   fatos   narrados   por   Youssef   guardam   conexão   com   as   provas  

materiais,   sua   narrativa   é   lógica   e   coerente,   inegável   que   sua   colaboração   é   vital  

para  as   investigações,  sendo  certo  que  antes  mesmo  da  homologação  pelo  excelso  

Supremo  Tribunal  Federal,  ele  já    prestou  depoimento  perante  V.Exª,    esclarecendo  

fatos    e  indicando  provas  que  foram  usadas  pelo  MPF  na  deflagração  da  fase  07  da  

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denominada   “Operação   Lava   Jato”.   Impende   dizer   ainda   que   a   colaboração   é  

espontânea   e   voluntária,   o   acusado   tomou   a   decisão   de   colaborar   sem   qualquer  

influência  externa,  não  houve  coação    ou  qualquer  forma  de  pressão    do  Ministério  

Público  Federal  que  pudesse  viciar  o   consentimento  de  Youssef,   inclusive  a  defesa  

técnica  tinha  o  entendimento  de  que  existiam  teses  processuais  que  possibilitariam  

a   nulidade   de   toda   investigação,   porém   é   preciso   respeitar   a   vontade   do   acusado  

todas  as  circunstâncias  que  o  cercam  e  compreender  sua  decisão.  

 

18.  Com  fundamento  na  teoria  dos  fins  da  pena,  o  perdão  judicial  é  a  medida  

mais   justa   e   adequada,   pois   a   pena   não   se   justifica   por   exigências   de   retribuição,  

diante  do  fato  que  a    colaboração  com  o  MPF  e  com  o  Poder  Judiciário  demonstra  

inequívoco  arrependimento  e  a  convicção  de  se  afastar  das  atividades  delituosas  de  

parte  de  Alberto  YOUSSEF.    

 

19.   Diante   dessa   situação   fática   jurídica,   não   estão   mais   presentes  

necessidades  de  prevenção  geral   e  especial,   não  existem  motivos  ou  necessidades  

que   fundamentem  uma  pena  para   evitar   futuros  delitos.   E   isto  porque  o   acusado,  

preso  há  um  ano,  demonstrou  concreta  vontade  de  abandonar  a  atividade  delitiva.  A  

pena   não  pode   ser   vista   como  uma  necessidade   em   si  mesma,   ao   contrário,   deve  

estar   atrelada   à   necessidade     de   evitar   futuros   delitos,   justifica-­‐se   portanto   por  

“razões  de  utilidade  social”.  

 

20.  A  prevenção  geral  não  se  revela  necessária  na  hipótese  vertente,  pois  a  

contribuição  de  YOUSSEF  foi  tão  relevante  que  perante  à  sociedade  sua  conta  já  esta  

paga,  especialmente  pelo  fato  dele  permanecer  encarcerado  por  um  ano.  

 

21.   No   que   concerne   à   prevenção   especial,   cujo   destinatário   é   o   próprio  

acusado,   a   demonstração   efetiva   de   que   esta   arrependido   e   colaborando   com   a  

justiça  demonstra  que    o  mesmo  esta  reabilitado  e  apto  para  o  convívio  social.  

                             

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  22.  Diante  da   colaboração  que   foi   iniciada  antes  mesmo  da  homologação  

do   acordo,   e   especialmente   dos   resultados   já   atingidos   pelo  MPF,   é   razoável   que  

YOUSSEF   receba   no   caso   vertente   o   perdão   judicial,   haja   vista   que   a   exclusão   da  

responsabilidade   estaria   atrelada   à   desnecessidade   de   se   punir   um   acusado  

colaborador.  

 

  23.   No   caso   vertente   não   existe   necessidade   da   aplicação   da   pena,   o  

castigo  corporal    não  deve  ser  aplicado  haja  vista  YOUSSEF    ter  atuado    em  auxilio  ao  

Estado,   demonstrando   arrependimento   e   vontade   de   abandonar   a   prática     de  

delitos.  

 

  24.  A  efetividade  da  colaboração  é  fato  incontroverso  entre  as  partes,  MPF  

e  Defesa.  Portanto,  cabe  ao  magistrado  aplicar  com  imparcialidade  a  justa  punição  e  

atribuir  ao  acusado  a  sábia  recompensa,  em  conformidade  com  o  espírito  da  lei.  

 

  25.   Em  não   sendo   este   o   r.   entendimento   de   V.Exª.,   a   pena   de   YOUSSEF  

deve   ser   cominada   no  mínimo   legal,   com   a   redução   da   reprimenda   em   razão   da  

cooperação  deste  para   com  a   Justiça;   sendo   certo  que  devem  ser  desprezados  os  

argumentos  expendidos  pelo  MPF  no  que  concerne  ao  descumprimento  de  anterior  

acordo   de   colaboração.   E   isto   porque   o   próprio   MPF   celebrou   novo   acordo   de  

colaboração   homologado   pelo   excelso   STF,   no   qual   foi   expressamente   incluído  

todos   os   fatos   concernentes   ao   acordo   anterior   que   foi   abrangido   pela   nova  

colaboração.   Portanto,   tal   fato   não   pode   ser   tido   como   fator   de   aumento   da  

reprimenda  corporal.  

   

  26.  Deve  ainda  ser  considerada  como  causa  geral  de  diminuição  da  pena  a  

participação  de  menor  importância  de  Youssef  em  todo  os  fatos  investigados,    bem  

como   em   razão   da   colaboração   processual   ser   aplicada   a   diminuição   em   2/3   da  

reprimenda.  

 

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DOS  REQUERIMENTOS  

 

Ante  o  exposto,  pelas  razões  de   fato  e  de  direito  supra  alinhavadas,    

requer-­‐se:  

 

A) Se   digne   V.Exª,   julgar   improcedente   integralmente   a   denúncia,   ABSOLVENDO  ALBERTO  YOUSSEF,  nos  termos  do  artigo  386,  IV  e  V,  do  Código  de  Processo  Penal;    

B) Não   sendo   este   o   r.   entendimento   seja   concedido   ao   acusado   colaborador   o  perdão   judicial,   haja   vista   sua   colaboração   ser   efetiva   com   resultado   relevantes  para  a  elucidação  dos  fatos  nesta  e  em  outras  Ações  Penais;    

C) Alternativamente,   reconhecida   a   participação   de   menor   importância   e   após  reconhecida  a  colaboração  do  acusado  seja  aplicado  o  grau  máximo  de  diminuição  da  pena  corporal  aplicada  em  2/3  .  

 

 

Nestes  termos,  Pede  deferimento.    

Curitiba/PR,  04  de  Março  de  2015.  

 

 

Antonio  Augusto  Figueiredo  Basto.                                Luis  Gustavo  Rodrigues  Flores.  OAB/PR  16.950.           OAB/PR  27.865.      Rodolfo  Herold  Martins.         Adriano  Sérgio  Nunes  Bretas.  OAB/PR  48.811.           OAB/PR  38.524.      Tracy  Joseph  Reinaldet  OAB/PR  56.300.