ag1 aula4 2008

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A apuração jornalística (precisão e suíte)

Agência Noticiosa 1 Professor mestre Artur Araujo (araujofamilia@gmail.com)

Antes, alguns lembretes

Na primeira aula discutimos como será o curso e os critérios da avaliação. 8 de abril de 2008 – último dia para entrega da primeira

reportagem. Faltam 28 dias. 15 de abril de 2008 - último dia para entrega da segunda

reportagem. Faltam 35 dias. 22 de abril de 2008 - último dia para entrega da terceira

reportagem. Faltam 42 dias. 29 de abril de 2008 - último dia para entrega da quarta

reportagem. Faltam 49 dias. Prova teórica – 29 de abril. Faltam 49 dias. Trabalho escrito (seminário) – 13 de maio. Faltam 63 dias.

Os alunos precisam se inscrever na lista de discussão do curso.

Recapitulando...

Na aula anterior, discutimos aspectos da apuração jornalística, principalmente as principais táticas para se desenvolver uma boa reportagem.

Para que checar?

O jornalismo é um discurso cujo fundamento é a verdade. Esse, aliás, é o fundamento da profissão e o que faz do discurso da imprensa algo em que se pode crer. Portanto, temos a obrigação de verificar o que estamos dizendo.

O erro e a mentira

Erro é uma falha de apuração, de checagem, ou ainda de expressão do jornalista.

A mentira pressupõe má-fe, seja da fonte, seja do jornalista. É qualquer coisa dita na intenção de enganar ou de transmitir falsa impressão. Na profissão jornalística, é inconcebível a mentira, que pressupõe falta de ética e implica graves sanções profissionais e, em alguns casos, jurídicas.

A omissão

Se algum fato não pode ou não convém ser divulgado, então a omissão, em alguns casos, é aceitável, mas a mentira para o jornalista, não.

Dois tipos básicos de erro

Há basicamente dois tipos de erro no trabalho de apuração jornalística.

Um decorre de desinformação ou má-fé da fonte.

O outro decorre de falhas de apuração do jornalista.

Falhas decorrentes de desinformação ou má-fé da fonte

Certas instituições, em algumas circunstâncias, podem falsear dados, assim como determinados entrevistados, geralmente políticos e criminosos, podem inventar histórias.

É difícil, nesses casos, evitar totalmente o engodo, mas um bom conhecimento dos fatos ajuda a tornar essa possibilidade mais remota.

O caso Iraque-EUA

Por exemplo, quando o governo norte-americano denunciou a descoberta de “armas de destruição” de massa no Iraque, uma reflexão mais acurada, que levasse em conta o contexto político e as condições econômicas do país e os próprios interesses expansionistas de Washington seriam interessantes aspectos para pôr em dúvida as falsas “provas” apresentadas na ocasião.

Direitos humanos

Quando o regime militar alegou, em 1970, que não havia torturas no Brasil, o mesmo raciocínio poderia ser aplicado: ditaduras para se manter precisam eliminar a oposição e inevitavelmente praticam abusos contra os direitos humanos. A alegação era um claro contrasenso.

O caso Escola de Base

Em março de 1994, no caso Escola de Base, o jornalista Jorge de Miranda Jordão, então diretor de redação do jornal Diário Popular de São Paulo, vetou o noticiário a respeito do caso Escola de Base por considerar a investigação do delegado Edélcio Lemos inconsistente. O tempo deu razão a ele: em junho daquele ano, os acusados foram considerados inocentes e a maioria da imprensa havia embarcado na tese do abuso sexual de crianças, causando danos morais irreparáveis aos suspeitos.

O caso “18 letras”

Vamos cobrir um caso de polícia, desses bem horrendos: ladrões seqüestram uma moça, cortam o pulso dela e a obrigam a saltar de uma ponte. Sem saber nadar, ela passa a noite agarrada às plantas da margem até ser resgatada no dia seguinte.

Se formos entrevistar a moça, não há motivo para duvidar do que ela diz, certo? Afinal, ela é a vítima...

Hiperdimensionamento & subdimensionamento

Certas instituições e pessoas, em algumas circunstâncias, podem minimizar ou hiperdimensionar dados para benefício próprio ou para prejudicar outras instituições e pessoas. Nesses casos é até um pouco mais simples lidar com os fatos.

O caso Toninho

Quando o secretário da Segurança Pública de São Paulo do governo Mário Covas, Marco Vinício Petrelluzzi, declarou, em novembro de 2001, que a sensação de insegurança era meramente “psicológica”, contradizia toda extensa relação de crimes que ocorria na época, tornando o Estado de São Paulo uma das unidades da federação mais violentas. Cabe ao jornalista, nesse caso, evidenciar o contraste entre o dito e a realidade, desmascarando o truque.

O caso Vasp

Quando a Vasp informou, em junho de 2005, que sua frota de 31 aviões valia R$ 1,2 bilhão, a Folha de S. Paulo publicou uma análise, fundamentada em especialistas do segmento, que apontava que o valor real seria de, no máximo, R$ 179,2 milhões, um valor 85% menor. A origem da manobra, segundo apontavam os indícios, era para não comprometer o balanço contábil da companhia, que passava por um mal momento.

Lapsos da fonte

Às vezes a fonte também se engana, seja em decorrência de esquecimentos, seja porque, pega de improviso, transmitiu imprecisões para o repórter. Nesses casos, checagens extras podem ajudar a evitar constrangimentos, pois o erro da fonte, mesmo não sendo do jornalista, termina por abalar a imagem do profissional de imprensa.

Fonte desqualificada

Mentirosos Algumas fontes têm fama de mentirosas. Nesses casos, o

melhor é evitar essa fonte. Caso seja inevitável, verifique, fato a fato, com fontes confiáveis, contrapondo os fatos e contextualizando a pouca credibilidade da fonte.

Ignorantes Algumas vezes o jornalista, tentando enriquecer de pontos

de vista sua matéria, apela para personagens que inadequados. É o caso, por exemplo, de entrevistar um “ufólogo” ou um astrólogo para analisar um fenômeno celeste.

Fonte desqualificada

Deficientes psíquicos-neurológicos Às vezes a fonte sofre de problemas psíquicos ou

neurológicos e inventa histórias. O jornalista não pode tratar como “verdade” uma fonte que fala coisas dúbias e ainda pede o anonimato. Se um desequilibrado se diz Napoleão Bonaparte ele não pode ser tratado como imperador da França apenas porque disse que é. Se um sujeito diz ser “porta-voz do PCC”, cuidado: é mais provável que ele esteja mentindo ou mesmo delirando.

Lei do silêncio (mutismo)

A proibição de entrevistas, o mutismo, tem se mostrado, infelizmente, uma tática bem-sucedida de autoridades para impedir a publicação de matérias. O jornalista deve, a princípio, denunciar a atitude e, em seguida, buscar alternativas para obter a mesma informação.

Falhas decorrentes de falhas de apuração do jornalista

Erros de grafia Como se escreve devidamente o nome da fonte ou

de uma instituição –digamos, é “Luiz” ou “Luis”? Como se escreve a sigla de um serviço? Muitos erros primários de apuração podem ser evitados apenas perguntando-se para a fonte como se escreve determinada palavra.

O caso “cocovan” / “cocq au vin”

Falhas decorrentes de falhas de apuração do jornalista

Interpretações ousadas – a pena é de ... anos Muitas vezes os repórteres que cobrem polícia tendem a

querer antecipar a condenação. Raciocina-se assim: ele assaltou. A pena para assalto é de reclusão, de 4 a 10 anos, e multa. Ora, muitas vezes no julgamento outras questões são levantadas tanto pela defesa quanto pela promotoria, o que leva a pena a mudar sensivelmente. Não é interessante, pela credibilidade do jornalista, ir além dos fatos, ainda mais se não conhece todas as variáveis de uma determinada questão.

Falhas decorrentes de falhas de apuração do jornalista

Fofocas Jornalista não publica boatos ou fofocas. Notícia só é

notícia se devidamente confirmada.

Antecipação de notícias Muitas vezes um fato tido como certo não ocorrem: cuidado.

Digamos, um determinado show está marcado para as 21h e a publicação não pode publicar a resenha no dia seguinte. Então “antecipa” a resenha com base nos ensaios. E se o show for cancelado? E se um acidente ocorrer no show? O texto publicado seria motivo de vergonha para o jornalista.

Falhas decorrentes de falhas de apuração do jornalista

Erros de checagem de sentido – perdigoto (duplo sentido) Um exemplo famoso: “A peste pneumônica é

transmitida por gotículas de saliva, diferentemente do que informou o texto publicado na pág. 2-10, no dia 24/09.” (28.set.94) O texto afirmava que a doença era transmitida por filhotes de perdiz. Quem editou o texto procurou um sinônimo para perdigoto, que pode significar tanto salpico de saliva como filhote de perdiz.

Falhas decorrentes de falhas de apuração do jornalista

Preconceitos Cuidado com os seus preconceitos. A qualificação

de uma pessoa pode muitas vezes evidenciar isso: “negro é preso por assalto”. Ao construir uma frase assim apenas reforça preconceitos. Não há relação entre a cor de pele de uma pessoa e o ato, mas o título constrói justamente essa infeliz relação de causa e efeito.

Veja o verbete Notícia (personagem) 3, do Guia prático.

Falhas decorrentes de falhas de apuração do jornalista

Acriticidade ao ouvir os dois lados Devemos ouvir os dois lados, ok? Entretanto,

devemos também expor mentiras e flagrantes contradições quanto observarmos. Exemplo: “Eu não matei a mulher”, disse Fulano de tal, que já foi condenado 18 vezes por homicídio doloso.

As suítes (follow up)

Perder uma matéria por falta de checagem é sempre um drama para o jornalista. Todas as matérias relevantes devem ser alvo de checagens e, mesmo de uma rotina de verificação.

O tema da próxima aula expositiva: a pauta jornalística

Citação do dia “No jornalismo observa-se sempre uma tensão entre falar primeiro e falar a verdade.”

Ellen Goodman (*1941), jornalista e autora de livros norte-americana

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