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DOI: 10.3895/S1982-873X2013000300009 R. Bras. de Ensino de C&T
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Utilizao da cincia forense do seriado CSI no ensino de Qumica
Priscila Sabino da Silva
Mauricio Ferreira da Rosa
Resumo
Este trabalho teve por objetivo mostrar ao estudante do ensino mdio, por meio de episdios do seriado CSI (Crime SceneInvestigation), a relevncia da qumica e do seu estudo, e como ela est presente nas anlises contidas nos episdios, e ainda que os fundamentos destas fazem parte do currculo escolar, quanto dos livros didticos. Com fins didticos foi montada uma cena de crime, possibilitando aos estudantes a experincia de ser um perito criminal por um dia, realizando ensaios simples cujos conceitos qumicos envolvidos esto presentes no currculo vivenciado por este no ensino mdio.
Palavras-chave: seriados televisivos, qumica forense, ensino mdio,
experimentao.
Abstract
This study aimed to show to high school students, by means of episodes of CSI (Crime Scene Investigation) TV series, the relevance of chemistry and how it is present in the analysis showed in the episodes, and that the fundamentals of these are part of both the curriculum, and the textbooks. With teaching purposes was mounted a crime scene, allowing students the experience of being a coroner for a day, performing simple tests whose chemical concepts involved are present in the curriculum of high school.
Key words: TV series, forensic chemistry, high school grade, experimentation.
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R. B. E. C. T., vol 6, nm. 3, set-dez.2013 ISSN - 1982-873X
DOI: 10.3895/S1982-873X2013000300009
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Introduo
A cincia forense uma rea interdisciplinar que envolve fsica, biologia, qumica,
matemtica, dentre outras cincias, com o objetivo de dar suporte s investigaes relativas
justia civil e criminal. Segundo Saferstein (2001), a cincia forense em sua definio mais ampla
a aplicao da cincia lei, sendo sua meta principal prover apoio cientfico para as investigaes
de danos, mortes e crimes inexplicados. Ela contribui na elucidao de como ocorreu
determinado delito, ajudando a identificar os seus intervenientes por meio do estudo da prova
material recolhida no mbito da investigao criminal.
A cincia forense pode ser aplicada em vrias situaes como, por exemplo, constatao de
substncias entorpecentes, como maconha e cocana, adulterao de veculos, falsificao de
quadros, fraudes virtuais e crimes contra a vida.
Recentemente, com os grandes avanos tecnolgicos ocorridos neste campo de pesquisa,
tal como a identificao do DNA (sigla em ingls para cido Desoxirribonucleico), considerada
uma revoluo nos meios cientficos, vrias tcnicas que antes existiam somente na fico
passaram a fazer parte das cincias forenses e, graas a esses avanos, os cientistas forenses
conseguem analisar os mais variados tipos de vestgios encontrados na cena de um crime (Souza,
2008).
Para trabalhar este assunto com alunos do ensino mdio, optou-se pelo texto miditico,
como objeto de estudo, sendo considerado que o mesmo se faz presente no cotidiano das
pessoas, inclusive na dos adolescentes, como tambm por ser um recurso atual e de fcil acesso,
como teorizado por Cunha e Giordan (2009), quando afirmam que a utilizao de filmes na sala
de aula tem sido incentivada nos ltimos anos, especialmente pelo aspecto tecnolgico da
questo, ou seja, a instalao nas escolas de aparelhos de TV, vdeos, telas de projeo,etc.
A utilizao de recursos audiovisuais uma ferramenta importante no momento do
aprendizado, pois pode possibilitar ao estudante uma percepo mais ampla do contedo que
visto em sala de aula, e, a partir disso, facilitar a compreenso, tornando-se tambm, uma forma
de estudo mais prazerosa.
Na mdia atual houve um aumento significativo na quantidade de sries televisivas que
abordam temas referentes s cincias forenses. Seriados como CSI (Crime SceneInvestigation),
Cold Case (Arquivo Morto), Criminal Minds (Mentes Criminosas), Medical Detectives (Detetives
Mdicos), entre outros, mostram profissionais de diversas reas, utilizando suas habilidades para
desvendar crimes ocorridos, com base na coleta de evidncias e rastros deixados pelo criminoso.
Dentre as opes existentes foi escolhida a srie televisiva CSI. Esta srie, centrada nas
investigaes de grupos de cientistas forenses dos departamentos de criminalstica das cidades de
Las Vegas, Miami e Nova York, foi escolhida por ser um programa de significativo sucesso entre
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telespectadores adolescentes e tambm por ser exibido em canal aberto, possuindo, portanto,
maior abrangncia em relao ao pblico-alvo.
Segundo Hrnandez e Robles (1995), a televiso o meio de comunicao preferido pelo
grande pblico, servindo no somente para uso exclusivo de entretenimento, mas tambm como
instrumento de socializao, interferindo diretamente nas aes e no padro de consumo.
Assim, este trabalho relata a utilizao de seriados televisivos como uma ferramenta de
auxlio para o ensino de Qumica, promovendo interesse e ateno dos alunos por utilizar uma
abordagem simples e estimulada por intermdio udio visual. Associado a isto foram realizadas
aulas prticas com materiais de fcil acesso, demonstrando experimentos qumicos utilizados por
profissionais de percia na elucidao de crimes, para serem utilizados como recurso facilitador do
processo de ensino-aprendizagem no ensino mdio, contextualizando a Qumica presente nos
episdios com o contedo programtico visto em sala de aula.
Metodologia
A parte terica do projeto foi realizada em duas aulas, apresentadas de forma expositiva,
com o auxlio de multimdia. Foram abordados conceitos iniciais, definies e informaes
relativas ao assunto, tais como: definio de local do crime, o que a cincia forense, perfil do
profissional, anlise da cena do crime e qumica forense. Em seguida, foram selecionados trechos
de alguns episdios que foram apresentados aos alunos, com a visualizao dos personagens
atuando no campo da investigao criminal.
Cada contedo selecionado foi criteriosamente analisado quanto disponibilidade de sua
execuo, ou seja, possibilitando, por meio dos episdios seguidos da parte experimental, efetivar
o aprendizado com a utilizao de tais recursos. Os contedos selecionados foram: reaes de
oxidao e reduo, foras intermoleculares e separao de misturas, com nfase em
cromatografia.
A parte prtica foi realizada no laboratrio de Qumica da instituio, empregando-se trs
aulas. Nestas os alunos receberam uma cartilha com informaes referentes ao material a ser
utilizado, reagentes e metodologia das anlises. Nas prticas realizadas foi abordado o tema
identificao de uma impresso digital, utilizando-se a tcnica do vapor de iodo; extrao do DNA
do morango, utilizando-se detergente como soluo extratora; teste de identificao de sangue
com a utilizao do reagente Kastle-Meyer; e, finalizando, com a separao das cores de corantes
alimentcios, baseado na tcnica de cromatografia.
Finalizando a parte prtica, com a aplicao dos conceitos anteriormente vistos em sala de
aula, bem como das tcnicas estudadas em laboratrio, os alunos tiveram a experincia de serem
peritos criminais por um dia. Foi montada em uma sala ao lado do laboratrio uma cena de crime,
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com vrios vestgios deixados no local, tais como manchas de sangue, marcas, pegadas e fios de
cabelo. Ao lado da cena, constavam alguns equipamentos teis ao qumico forense como, por
exemplo, mquina fotogrfica, envelopes e etiquetas de identificao de amostras, pina
metlica, luva cirrgica, cmara de iodo, hastes flexveis, reagente Kastle-Meyer e perxido de
hidrognio. Os alunos foram divididos em trs grupos, cada um responsvel por um tipo de
evidncia a ser coletada. O grupo n 1 foi o responsvel pelos vestgios de impresso digital; o
grupo n 2, pelas manchas de sangue e o grupo n 3 pelos demais sinais deixados no local, tais
como a arma do crime e uma carta prxima vtima.
Aps cada equipe trabalhar na rea definida e as amostras estarem devidamente
identificadas e registradas por meio de fotos, houve uma breve discusso com relao ao material
encontrado e as anlises qumicas pertinentes ao incio da investigao fictcia.
Resultados e Discusso
De maneira geral, este trabalho objetivou mostrar para o aluno que est na terceira srie
do ensino mdio, como possvel contextualizar a qumica em sala de aula, utilizando-se da
qumica que aparece nos episdios do seriado CSI. A seleo dos episdios foi realizada com base
no currculo do ensino mdio, em outras palavras, eles contemplavam contedos presentes em
todas as sries.
1. Prticas (Experimentao)
Uma tcnica muito utilizada para anlise de evidncias no local do crime a revelao de
impresses digitais. Vrias metodologias podem ser empregadas para a sua coleta em objetos e
pertences encontrados no local.
No projeto, foi utilizada a tcnica do vapor de iodo, que consistiu em aquecer levemente,
em um recipiente fechado, alguns cristais de iodo e o material a ser examinado. Rapidamente se
forma uma nvoa violcea de iodo na fase vapor. Este vapor interage com a impresso digital,
por meio de uma absoro fsica, formando a imagem da impresso digital presente no material
analisado (Figura 1).
Com esta prtica o professor pode inserir o assunto Foras Intermoleculares. As foras de
atrao que governam o princpio qumico das impresses digitais so as foras de disperso de
London, ou segundo alguns autores, foras de Van der Waals, ou ainda foras de dipolo-induzido
e as ligaes de Hidrognio. O professor pode ainda retomar o contedo de mudanas de estados
fsicos, referindo-se propriedade de sublimao do iodo.
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Figura 1: Revelao de Impresso digital utilizando a tcnica do vapor de Iodo. (Fonte: os autores)
Manchas de sangue esto presentes em quase todo o local onde houve um crime. H vrios
testes presuntivos que permitem tal identificao e o relevante que eles so acessveis a
estudantes do ensino mdio e depende somente de materiais de fcil obteno, tendo, assim,
grande potencial como ferramenta de ensino.
Um dos ensaios muito empregados por profissionais da rea o que utiliza o reagente de
Kastle-Meyer. O preparo da soluo j possibilita ao professor contextualizar a prtica com a
teoria vista em sala de aula, pois aborda mais de um conceito qumico. De maneira simples,
adiciona-se hidrxido de sdio em gua destilada e um indicador cido-base, a fenolftalena, que
tem a faixa de viragem em pH acima de 8, adquirindo colorao rsea ou violcea intensa. Podem
ser estudadas, neste momento, definies de cidos e bases, bem como substncias indicadoras e
suas faixas de pH.
Em seguida, adiciona-se zinco metlico em p a soluo bsica, a qual aquecida em fogo
brando, sendo possvel visualizar o desaparecimento da cor vermelha, dando lugar a uma soluo
incolor. Essa uma oportunidade de explorar conceitos de oxi-reduo, pois a soluo torna-se
transparente devido ao hidrognio nascente que dotado de propriedades redutoras e reduz o
indicador (Equao 1). Ao se adicionar o perxido de hidrognio, a atividade cataltica das
molculas da hemoglobina (Hb) entram em ao e decompem o perxido de hidrognio em
gua e oxignio nascente (Equao 2), que por sua vez reage com a fenolftalena, convertendo-a
em sua forma oxidada, que apresenta a colorao rsea/violcea inicial, como mostrado no
esquema da reao abaixo (Figura 2).
Zn + 2 NaOH(aq) Na2[Zn(OH)4](aq) + 2 [H] (1)
Hb + H2O2(aq) Hb + H2O + [O] (2)
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Forma oxidada - rsea Forma leuco - incolor
Figura 2 Reaes envolvidas na preparao do Reagente de Kestle-Meyer
Na prtica foi solicitado aos alunos para que fizessem um pequeno corte em um pedao de
carne crua e, em seguida, passassem uma haste flexvel previamente umedecida com soro
fisiolgico na lmina da faca. Ato contnuo foi solicitado que pingassem uma gota do reagente
seguido de uma gota de perxido de hidrognio (gua oxigenada). O aparecimento, quase que
instantneo, de uma colorao rosa no algodo, indica teste positivo para sanguem conforme
mostrado na Figura 3.
Figura 3 Teste para identificao de sangue realizado por um aluno na prtica. (Fonte: os
autores)
muito importante salientar para os alunos que o resultado positivo, ainda que seja
sangue, no necessariamente indica tratar-se de sangue humano, pois poderia ser de algum
animal, necessitando-se, pois, de um exame mais detalhado para se afirmar se o lquido vermelho
mesmo de um ser humano. Entretanto, este tipo de teste envolve a estrutura de um
laboratrio.
A anlise de DNA , de fato, uma das mais abordadas nas cenas dos episdios, e geralmente
pea chave na elucidao de crimes. O cientista forense coleta as amostras na cena do delito e
na fico sempre uma das primeiras evidncias a ser constatada, e aps alguns minutos o
resultado j conclusivo para a procura de um suspeito.
Os estudantes tiveram a oportunidade de explorar alguns conhecimentos acerca deste
assunto. Na teoria foi explicado de forma objetiva como funciona uma anlise de DNA, em quais
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objetos ou partes do corpo pode-se encontrar material gentico para anlise como, por exemplo,
em copos ou cigarros, que contenham vestgios de saliva, fios de cabelo com bulbo capilar,
sangue, entre outros.
Na aula laboratorial, foi possvel extrair o DNA de morangos com uma tcnica baseada em
vrios conceitos qumicos. Foi solicitado aos alunos para que macerassem a fruta com o auxlio de
um almofariz e pistilo. Em seguida, foi adicionada uma soluo contendo gua, cloreto de sdio
(sal) e detergente transparente (necessrio para no alterar a colorao da soluo final).
Misturou-se o morango soluo e, posteriormente, a mistura foi filtrada e transferida para um
tubo de ensaio. Na ltima etapa da extrao, foi adicionado, lentamente pelas paredes do
recipiente, lcool etlico gelado e observado o aparecimento de um material gelatinoso na
interface dos lquidos (Figura 4).
Figura 4: Extrao do DNA do morango. Etapa inicial da macerao da fruta (esquerda) mistura
com a soluo extratora (meio) e reao final (direita). (Fonte: os autores)
O professor tem a possibilidade de explorar vrios contedos nesta prtica, como por
exemplo, ligaes inicas, pois a adio do NaCl (sal) proporciona ao DNA um ambiente favorvel.
O sal contribui com ons positivos e negativos, por ser um composto inico. Os positivos
neutralizam a carga negativa do DNA, e os negativos as histonas, permitindo que o complexo
DNA-Histonas se formem e ento se enovele. Se no fosse a presena do sal, ele poderia
desintegrar-se. O contedo de densidade tambm pode ser utilizado, pois o sal aumenta a
densidade do meio, o que facilita a migrao do DNA para o lcool. O uso do detergente afeta a
permeabilidade das membranas, que so constitudas, em parte, por lipdeos. Com a ruptura das
membranas os contedos celulares, incluindo as protenas e o DNA, so liberados e dispersam-se
na soluo. O conceito de solubilidade se encaixa na ltima parte do experimento, pois o DNA no
se dissolve no lcool. Como resultado, ele aparece superfcie da soluo aquosa, porque
menos denso do que a gua, porm mais denso que o etanol, permanecendo portanto na
interface entre os dois lquidos.
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A parte laboratorial, com a reproduo das anlises usadas por peritos, foi finalizada com a
prtica de separao de misturas por meio da cromatografia. Esta uma anlise que o seriado
mostra bastante e seu uso muito frequente na realidade dos profissionais que trabalham na
rea, obtendo, portanto, destaque. A prtica consistiu em separar as cores de corantes
alimentcios, com a cromatografia em papel.
Foram entregues aos alunos, trs corantes alimentcios nas cores violeta, verde e
alaranjado. Em seguida, foram instrudos a cortar o papel de filtro em uma tira retangular e, com
o auxlio de uma rgua, traar uma linha acima 1 cm da parte inferior do papel e, com um palito
de dente, adicionar ao papel, um pingo de cada corante, lado a lado. Aps a preparao do papel
de filtro, os alunos colocaram-no em um bquer contendo cerca de 20 mL de soluo aquosa de
cloreto de sdio a 5%, e ento foi possvel visualizar a corrida no cromatograma conforme mostra
a Figura 5.
Figura 5: Cromatograma da separao de misturas de corantes alimentcios. (Fonte: os autores)
Cada substncia da mistura possui uma afinidade diferente com o solvente e, desse modo,
as substncias que possuem maior afinidade so arrastadas mais depressa e as que possuem
menor afinidade, mais lentamente. Com essa prtica o professor pode inserir o contedo de
separao de misturas, podendo ainda elaborar mais prticas para as outras tcnicas de
separao, ou explorar a cromatografia de forma mais detalhada. Este mtodo de separao de
misturas nem sempre transmitido aos alunos, inclusive em alguns livros didticos consta apenas
um breve comentrio sobre ela.
2. Cena do crime
Aps a realizao da aula laboratorial, os alunos tiveram a experincia de atuar na coleta de
evidncias em uma cena de crime fictcia. A cena foi montada em uma sala prxima ao
laboratrio de Qumica. Os estudantes tinham a viso da cena previamente isolada: uma vtima
no cho, com marcas de sangue, um pedao de papel amassado prximo ao corpo, um p branco
desconhecido, um copo no cho com um lquido derramado, tambm desconhecido, e fora do
campo de viso havia ainda uma faca suja de sangue, uma torneira de metal, um bilhete de
loteria escondido no corpo da vtima e demais vestgios menos visveis, como fios de cabelo,
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pegadas e impresses digitais espalhadas no local, conforme mostra a Figura 6.
Figura 6: Cena do Crime. (Fonte: os autores).
Os alunos foram divididos em grupos para coleta de evidncias. O primeiro buscaria por
impresses digitais tanto em objetos, quanto na cena do crime. O segundo trabalharia na
identificao de sangue e coleta para anlise em laboratrio e o terceiro, nas demais provas
encontradas no local, contudo teis para o incio da investigao. Neste momento, foi perceptvel
o envolvimento dos alunos nas tarefas atribudas. Antes de entrarem na cena do crime, o grupo
foi questionado quanto aos procedimentos que um perito criminal deve tomar ao entrar em um
local de crime ou ilcito e a maioria dos alunos respondeu imediatamente quais os passos, ou seja,
nunca tocar em nada, colocar os equipamentos de proteo individual, como luvas e mscara, por
exemplo, fotografar a cena, procurar por vestgios deixados pelo criminoso para no contaminar o
local e, em seguida, identificar as amostras encontradas para posterior anlise em laboratrio.
Os alunos se sentiram motivados a participar da atividade, podendo, assim, aplicar o
conhecimento adquirido. Na cena fictcia haviam materiais disponveis para a realizao dos
testes qualitativos, que foram utilizados pelos estudantes, de forma que localizaram impresses
digitais na carta encontrada no local e j puderam assim, indicar o primeiro suspeito, o namorado
da vtima. Alguns at mencionaram a expresso crime passional, outros advertiam seus colegas,
pois ainda no temos provas suficientes para indicar suspeitos, ou ainda fotografa tudo,
inclusive a mancha de sangue, pode ser til.
No local foram depositadas nove evidncias, sendo estas: um lquido colorido em um copo,
um copo com marcas, fios de cabelo, uma carta, um p branco desconhecido, sangue, um bilhete
de loteria, uma faca e uma torneira. Os alunos foram capazes de identificar todas as marcas
deixadas pelo suspeito. Revelaram ainda impresses digitais, com o uso de uma cmara de
Iodo, no bilhete de loteria e na carta. Testaram tambm se o lquido vermelho encontrado no
local seria sangue, com o uso do reagente Kastle-Meyer disponvel como material auxiliar nas
investigaes.
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A cada nova pista encontrada os estudantes se envolviam ainda mais na atividade. Eles
questionavam, fotografavam e procuravam por tudo que pudesse ajudar a, segundo as palavras
deles, colocar o bandido na cadeia. Frases, tais como: olha ali... encontrei a arma do crime!
Fotografa!; ser que ela ganhou na loteria e por isso foi assassinada?; nossa, tem uma
torneira aqui... objeto pesado que pode ser uma segunda opo de arma, mostra o estmulo e
ateno que os estudantes tiveram para o desenvolvimento do projeto. A Figura 7 mostra alguns
momentos da investigao.
Figura 7: Cena do Crime com os vestgios encontrados pelos estudantes. (Fonte: os autores)
De uma maneira geral foi possvel perceber que a maioria dos estudantes j tinha algum
conhecimento prvio do assunto a ser abordado, pois estes assistiam a srie televisiva.
Entretanto, a maioria no sabia relacionar os contedos de qumica vistos em sala de aula com a
qumica contida nas cenas dos episdios, mesmo sabendo identificar algumas anlises especficas,
como impresso digital, anlise de DNA e identificao de sangue, justificando assim uma maior
ateno para a contextualizao do assunto, visto que no se tratava de um tema totalmente
desconhecido.
Como as aulas foram ministradas em duas semanas, havendo um intervalo entre a aula
terica e a aula prtica, pode-se perceber que houve interesse dos alunos com relao ao tema,
visto que houve uma pesquisa prvia do assunto por parte deles. Isso contribuiu ainda mais para
o aprendizado do contedo.
Quando questionados com relao ao contedo presente nas aulas de qumica, que
envolve os princpios dos testes de sangue, os alunos foram capazes de responder conceitos de
oxidao e reduo, alguns responderam oxidao e reduo, devido existncia de ferro nas
partculas do sangue. Em outras aplicaes, alm do teste de paternidade para o teste de DNA,
todos os alunos souberam de mais utilidades como, por exemplo, quando a maioria das respostas
foia identificao de corpos e descobrir o sexo do indivduo.
Na questo referente ao DNA, os alunos foram questionados quanto aos materiais possveis
em que se pode encontrar material gentico. Foi citada a saliva, o cabelo com bulbo capilar, o
smen e o sangue. Os estudantes responderam o segundo questionrio na ltima aula e se
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mostraram muito eufricos por saberem responder as questes solicitadas, pois se lembravam do
que foi visto na aula prtica.
3. Efeito CSI
O interesse por investigaes criminais aumentou significativamente em consequncia das
inmeras sries televisivas, documentrios, jornais e programas vinculados rea criminal. Nos
programas, os protagonistas trabalham com crimes de difcil elucidao, mas conseguem uma
infinidade de evidncias que so fatores determinantes para solucionar o caso.
Os cientistas forenses trabalham nas limitaes da prpria cincia, no podendo, por
exemplo, serem capazes de concluir, aps uma anlise de evidncias na cena do crime, que a
suposta acusada usava um batom de determinada marca e lote. As concluses, na realidade, so
bem menos precisas, apesar dos avanos tecnolgicos das cincias que do suporte aos cientistas
forenses. A srie americana CSI, considerada uma das motivadoras do denominado efeito CSI,
uma espcie de influncia que alguns estudiosos atribuem a determinadas decises dos jurados
perante a insuficincia de provas cientficas, algo que, na fico, no acontece. (Bruni;Velho,
Oliveira, 2012).
Devido popularidade de programas forenses, cujo foco principal a anlise de evidncias
para auxiliar na investigao de crimes, tem havido um aumento no interesse dos alunos por este
assunto, e, consequentemente, uma grande quantidade de instituies educacionais vem criando
cursos de formao na rea, inclusive de ensino superior. Todavia, muito importante que o
educador utilize as ferramentas corretas para trabalhar o tema, de maneira que consiga
incorporar o pensamento crtico da cena do crime dentro da sala de aula (Bergslien, 2006).
A srie CSI trouxe uma nova viso para o ramo da cincia forense, principalmente no campo
educacional. Alguns autores temem, no entanto, que a fico est deixando os telespectadores
com uma compreenso errnea do campo. Na realidade, a rea forense no to fcil quanto
mostra a televiso. Ao mesmo tempo, o formato do seriado criou uma expectativa irreal do que a
cincia pode alcanar no tribunal. Os resultados dos testes forenses no so sempre conclusivos,
como mostra a televiso.
Concluses
Depois de encerradas as atividades pertinentes ao estudo em questo, pode-se afirmar
que um ensino diferenciado, seja ele com aulas prticas ou com a insero de jogos didticos,
aulas em multimdia ou at mesmo, como foi realizado neste trabalho, o uso de seriados para
ensinar Qumica, mostra-se muito eficaz e dinmico, tanto para os alunos, quanto para os
professores. Ensinar Cincia um desafio que exige capacitao e criatividade dos docentes, pois
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so testados a provar que as teorias que ensinam em sala de aula realmente existem e que
justificam os processos e os fenmenos que ocorrem diariamente.
O uso de recursos audiovisuais mostrou-se uma importante ferramenta didtica para ser
utilizada como facilitadora do processo ensino-aprendizagem, juntamente com os contedos
programticos, entre eles o livro didtico, ressaltando ainda que a srie televisiva faz parte do
cotidiano dos alunos, o que de certa forma contribuiu muito no decorrer das atividades
propostas.
O seriado CSI em sala de aula demonstrou que a maioria dos alunos desinteressados e
desanimados com as aulas rotineiras mostraram-se instigados no estudo da qumica forense,
proporcionando tambm maior facilidade na discusso do assunto. Alm da abordagem
contextualizada que a exibio de alguns episdios possibilitou, os alunos despertaram interesse
em saber como era possvel trazer a qumica vista em sala de aula para a qumica de um programa
de TV.
Com o aumento de sries abordando temas forenses o conhecimento pode ser
transmitido por meio de um seriado de TV, e ento, porque no traz-lo para a sala de aula?
importante mostrar ao aluno o quanto a qumica importante e est presente at mesmo no
momento de lazer, quando se assiste a um programa televisivo.
Durante o processo de aprendizagem em Qumica muitas dvidas surgem, porm essas
questes poderiam ser sanadas se houvesse uma busca no somente pelo saber propriamente
dito, mas pela contextualizao dos conhecimentos.
Referncias
BARBER, O.; VALDS, C. P. Investigacin y Experincias Didcticas: El trabajo prctico em la
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690, 2006.
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HERNNDEZ, M.; ROBLES, M. Televisin y Cultura. Revista Comunicar, n. 4, p. 95, 1995.
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DOI: 10.3895/S1982-873X2013000300009 R. Bras. de Ensino de C&T
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SOUZA, C. M. Cincias forenses em sala de aula. 2008. Disponvel em:
http://www.webartigos.com>. Acesso em 11 out. 2010.
Priscila Sabino da Silva Licenciada em Qumica pela UNIOESTE/Toledo. Atualmente Mestranda
em Qumica pela UNICENTRO.
Mauricio Ferreira da Rosa Bacharel e Licenciado em Qumica pelo IQ/UFRJ e IQ/UERJ,
respectivamente. Mestre e Doutor em Qumica Orgnica pelo IQ/UFRJ. Atualmente Professor
Associado B do curso de Qumica da UNIOESTE/Toledo e docente permanente dos Programas de
Mestrado em Cincias Ambientais (UNIOESTE/Toledo) e Cincias Farmacuticas
(UNIOESTE/Cascavel).
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