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DOI: 10.3895/S1982-873X2013000300009 R. Bras. de Ensino de C&T 148 Utilização da ciência forense do seriado CSI no ensino de Química Priscila Sabino da Silva Mauricio Ferreira da Rosa Resumo Este trabalho teve por objetivo mostrar ao estudante do ensino médio, por meio de episódios do seriado CSI (Crime SceneInvestigation), a relevância da química e do seu estudo, e como ela está presente nas análises contidas nos episódios, e ainda que os fundamentos destas fazem parte do currículo escolar, quanto dos livros didáticos. Com fins didáticos foi montada uma cena de crime, possibilitando aos estudantes a experiência de ser um perito criminal por um dia, realizando ensaios simples cujos conceitos químicos envolvidos estão presentes no currículo vivenciado por este no ensino médio. Palavras-chave: seriados televisivos, química forense, ensino médio, experimentação. Abstract This study aimed to show to high school students, by means of episodes of CSI (Crime Scene Investigation) TV series, the relevance of chemistry and how it is present in the analysis showed in the episodes, and that the fundamentals of these are part of both the curriculum, and the textbooks. With teaching purposes was mounted a crime scene, allowing students the experience of being a coroner for a day, performing simple tests whose chemical concepts involved are present in the curriculum of high school. Key words: TV series, forensic chemistry, high school grade, experimentation.

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  • DOI: 10.3895/S1982-873X2013000300009 R. Bras. de Ensino de C&T

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    Utilizao da cincia forense do seriado CSI no ensino de Qumica

    Priscila Sabino da Silva

    Mauricio Ferreira da Rosa

    Resumo

    Este trabalho teve por objetivo mostrar ao estudante do ensino mdio, por meio de episdios do seriado CSI (Crime SceneInvestigation), a relevncia da qumica e do seu estudo, e como ela est presente nas anlises contidas nos episdios, e ainda que os fundamentos destas fazem parte do currculo escolar, quanto dos livros didticos. Com fins didticos foi montada uma cena de crime, possibilitando aos estudantes a experincia de ser um perito criminal por um dia, realizando ensaios simples cujos conceitos qumicos envolvidos esto presentes no currculo vivenciado por este no ensino mdio.

    Palavras-chave: seriados televisivos, qumica forense, ensino mdio,

    experimentao.

    Abstract

    This study aimed to show to high school students, by means of episodes of CSI (Crime Scene Investigation) TV series, the relevance of chemistry and how it is present in the analysis showed in the episodes, and that the fundamentals of these are part of both the curriculum, and the textbooks. With teaching purposes was mounted a crime scene, allowing students the experience of being a coroner for a day, performing simple tests whose chemical concepts involved are present in the curriculum of high school.

    Key words: TV series, forensic chemistry, high school grade, experimentation.

  • R. B. E. C. T., vol 6, nm. 3, set-dez.2013 ISSN - 1982-873X

    DOI: 10.3895/S1982-873X2013000300009

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    Introduo

    A cincia forense uma rea interdisciplinar que envolve fsica, biologia, qumica,

    matemtica, dentre outras cincias, com o objetivo de dar suporte s investigaes relativas

    justia civil e criminal. Segundo Saferstein (2001), a cincia forense em sua definio mais ampla

    a aplicao da cincia lei, sendo sua meta principal prover apoio cientfico para as investigaes

    de danos, mortes e crimes inexplicados. Ela contribui na elucidao de como ocorreu

    determinado delito, ajudando a identificar os seus intervenientes por meio do estudo da prova

    material recolhida no mbito da investigao criminal.

    A cincia forense pode ser aplicada em vrias situaes como, por exemplo, constatao de

    substncias entorpecentes, como maconha e cocana, adulterao de veculos, falsificao de

    quadros, fraudes virtuais e crimes contra a vida.

    Recentemente, com os grandes avanos tecnolgicos ocorridos neste campo de pesquisa,

    tal como a identificao do DNA (sigla em ingls para cido Desoxirribonucleico), considerada

    uma revoluo nos meios cientficos, vrias tcnicas que antes existiam somente na fico

    passaram a fazer parte das cincias forenses e, graas a esses avanos, os cientistas forenses

    conseguem analisar os mais variados tipos de vestgios encontrados na cena de um crime (Souza,

    2008).

    Para trabalhar este assunto com alunos do ensino mdio, optou-se pelo texto miditico,

    como objeto de estudo, sendo considerado que o mesmo se faz presente no cotidiano das

    pessoas, inclusive na dos adolescentes, como tambm por ser um recurso atual e de fcil acesso,

    como teorizado por Cunha e Giordan (2009), quando afirmam que a utilizao de filmes na sala

    de aula tem sido incentivada nos ltimos anos, especialmente pelo aspecto tecnolgico da

    questo, ou seja, a instalao nas escolas de aparelhos de TV, vdeos, telas de projeo,etc.

    A utilizao de recursos audiovisuais uma ferramenta importante no momento do

    aprendizado, pois pode possibilitar ao estudante uma percepo mais ampla do contedo que

    visto em sala de aula, e, a partir disso, facilitar a compreenso, tornando-se tambm, uma forma

    de estudo mais prazerosa.

    Na mdia atual houve um aumento significativo na quantidade de sries televisivas que

    abordam temas referentes s cincias forenses. Seriados como CSI (Crime SceneInvestigation),

    Cold Case (Arquivo Morto), Criminal Minds (Mentes Criminosas), Medical Detectives (Detetives

    Mdicos), entre outros, mostram profissionais de diversas reas, utilizando suas habilidades para

    desvendar crimes ocorridos, com base na coleta de evidncias e rastros deixados pelo criminoso.

    Dentre as opes existentes foi escolhida a srie televisiva CSI. Esta srie, centrada nas

    investigaes de grupos de cientistas forenses dos departamentos de criminalstica das cidades de

    Las Vegas, Miami e Nova York, foi escolhida por ser um programa de significativo sucesso entre

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    telespectadores adolescentes e tambm por ser exibido em canal aberto, possuindo, portanto,

    maior abrangncia em relao ao pblico-alvo.

    Segundo Hrnandez e Robles (1995), a televiso o meio de comunicao preferido pelo

    grande pblico, servindo no somente para uso exclusivo de entretenimento, mas tambm como

    instrumento de socializao, interferindo diretamente nas aes e no padro de consumo.

    Assim, este trabalho relata a utilizao de seriados televisivos como uma ferramenta de

    auxlio para o ensino de Qumica, promovendo interesse e ateno dos alunos por utilizar uma

    abordagem simples e estimulada por intermdio udio visual. Associado a isto foram realizadas

    aulas prticas com materiais de fcil acesso, demonstrando experimentos qumicos utilizados por

    profissionais de percia na elucidao de crimes, para serem utilizados como recurso facilitador do

    processo de ensino-aprendizagem no ensino mdio, contextualizando a Qumica presente nos

    episdios com o contedo programtico visto em sala de aula.

    Metodologia

    A parte terica do projeto foi realizada em duas aulas, apresentadas de forma expositiva,

    com o auxlio de multimdia. Foram abordados conceitos iniciais, definies e informaes

    relativas ao assunto, tais como: definio de local do crime, o que a cincia forense, perfil do

    profissional, anlise da cena do crime e qumica forense. Em seguida, foram selecionados trechos

    de alguns episdios que foram apresentados aos alunos, com a visualizao dos personagens

    atuando no campo da investigao criminal.

    Cada contedo selecionado foi criteriosamente analisado quanto disponibilidade de sua

    execuo, ou seja, possibilitando, por meio dos episdios seguidos da parte experimental, efetivar

    o aprendizado com a utilizao de tais recursos. Os contedos selecionados foram: reaes de

    oxidao e reduo, foras intermoleculares e separao de misturas, com nfase em

    cromatografia.

    A parte prtica foi realizada no laboratrio de Qumica da instituio, empregando-se trs

    aulas. Nestas os alunos receberam uma cartilha com informaes referentes ao material a ser

    utilizado, reagentes e metodologia das anlises. Nas prticas realizadas foi abordado o tema

    identificao de uma impresso digital, utilizando-se a tcnica do vapor de iodo; extrao do DNA

    do morango, utilizando-se detergente como soluo extratora; teste de identificao de sangue

    com a utilizao do reagente Kastle-Meyer; e, finalizando, com a separao das cores de corantes

    alimentcios, baseado na tcnica de cromatografia.

    Finalizando a parte prtica, com a aplicao dos conceitos anteriormente vistos em sala de

    aula, bem como das tcnicas estudadas em laboratrio, os alunos tiveram a experincia de serem

    peritos criminais por um dia. Foi montada em uma sala ao lado do laboratrio uma cena de crime,

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    com vrios vestgios deixados no local, tais como manchas de sangue, marcas, pegadas e fios de

    cabelo. Ao lado da cena, constavam alguns equipamentos teis ao qumico forense como, por

    exemplo, mquina fotogrfica, envelopes e etiquetas de identificao de amostras, pina

    metlica, luva cirrgica, cmara de iodo, hastes flexveis, reagente Kastle-Meyer e perxido de

    hidrognio. Os alunos foram divididos em trs grupos, cada um responsvel por um tipo de

    evidncia a ser coletada. O grupo n 1 foi o responsvel pelos vestgios de impresso digital; o

    grupo n 2, pelas manchas de sangue e o grupo n 3 pelos demais sinais deixados no local, tais

    como a arma do crime e uma carta prxima vtima.

    Aps cada equipe trabalhar na rea definida e as amostras estarem devidamente

    identificadas e registradas por meio de fotos, houve uma breve discusso com relao ao material

    encontrado e as anlises qumicas pertinentes ao incio da investigao fictcia.

    Resultados e Discusso

    De maneira geral, este trabalho objetivou mostrar para o aluno que est na terceira srie

    do ensino mdio, como possvel contextualizar a qumica em sala de aula, utilizando-se da

    qumica que aparece nos episdios do seriado CSI. A seleo dos episdios foi realizada com base

    no currculo do ensino mdio, em outras palavras, eles contemplavam contedos presentes em

    todas as sries.

    1. Prticas (Experimentao)

    Uma tcnica muito utilizada para anlise de evidncias no local do crime a revelao de

    impresses digitais. Vrias metodologias podem ser empregadas para a sua coleta em objetos e

    pertences encontrados no local.

    No projeto, foi utilizada a tcnica do vapor de iodo, que consistiu em aquecer levemente,

    em um recipiente fechado, alguns cristais de iodo e o material a ser examinado. Rapidamente se

    forma uma nvoa violcea de iodo na fase vapor. Este vapor interage com a impresso digital,

    por meio de uma absoro fsica, formando a imagem da impresso digital presente no material

    analisado (Figura 1).

    Com esta prtica o professor pode inserir o assunto Foras Intermoleculares. As foras de

    atrao que governam o princpio qumico das impresses digitais so as foras de disperso de

    London, ou segundo alguns autores, foras de Van der Waals, ou ainda foras de dipolo-induzido

    e as ligaes de Hidrognio. O professor pode ainda retomar o contedo de mudanas de estados

    fsicos, referindo-se propriedade de sublimao do iodo.

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    Figura 1: Revelao de Impresso digital utilizando a tcnica do vapor de Iodo. (Fonte: os autores)

    Manchas de sangue esto presentes em quase todo o local onde houve um crime. H vrios

    testes presuntivos que permitem tal identificao e o relevante que eles so acessveis a

    estudantes do ensino mdio e depende somente de materiais de fcil obteno, tendo, assim,

    grande potencial como ferramenta de ensino.

    Um dos ensaios muito empregados por profissionais da rea o que utiliza o reagente de

    Kastle-Meyer. O preparo da soluo j possibilita ao professor contextualizar a prtica com a

    teoria vista em sala de aula, pois aborda mais de um conceito qumico. De maneira simples,

    adiciona-se hidrxido de sdio em gua destilada e um indicador cido-base, a fenolftalena, que

    tem a faixa de viragem em pH acima de 8, adquirindo colorao rsea ou violcea intensa. Podem

    ser estudadas, neste momento, definies de cidos e bases, bem como substncias indicadoras e

    suas faixas de pH.

    Em seguida, adiciona-se zinco metlico em p a soluo bsica, a qual aquecida em fogo

    brando, sendo possvel visualizar o desaparecimento da cor vermelha, dando lugar a uma soluo

    incolor. Essa uma oportunidade de explorar conceitos de oxi-reduo, pois a soluo torna-se

    transparente devido ao hidrognio nascente que dotado de propriedades redutoras e reduz o

    indicador (Equao 1). Ao se adicionar o perxido de hidrognio, a atividade cataltica das

    molculas da hemoglobina (Hb) entram em ao e decompem o perxido de hidrognio em

    gua e oxignio nascente (Equao 2), que por sua vez reage com a fenolftalena, convertendo-a

    em sua forma oxidada, que apresenta a colorao rsea/violcea inicial, como mostrado no

    esquema da reao abaixo (Figura 2).

    Zn + 2 NaOH(aq) Na2[Zn(OH)4](aq) + 2 [H] (1)

    Hb + H2O2(aq) Hb + H2O + [O] (2)

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    Forma oxidada - rsea Forma leuco - incolor

    Figura 2 Reaes envolvidas na preparao do Reagente de Kestle-Meyer

    Na prtica foi solicitado aos alunos para que fizessem um pequeno corte em um pedao de

    carne crua e, em seguida, passassem uma haste flexvel previamente umedecida com soro

    fisiolgico na lmina da faca. Ato contnuo foi solicitado que pingassem uma gota do reagente

    seguido de uma gota de perxido de hidrognio (gua oxigenada). O aparecimento, quase que

    instantneo, de uma colorao rosa no algodo, indica teste positivo para sanguem conforme

    mostrado na Figura 3.

    Figura 3 Teste para identificao de sangue realizado por um aluno na prtica. (Fonte: os

    autores)

    muito importante salientar para os alunos que o resultado positivo, ainda que seja

    sangue, no necessariamente indica tratar-se de sangue humano, pois poderia ser de algum

    animal, necessitando-se, pois, de um exame mais detalhado para se afirmar se o lquido vermelho

    mesmo de um ser humano. Entretanto, este tipo de teste envolve a estrutura de um

    laboratrio.

    A anlise de DNA , de fato, uma das mais abordadas nas cenas dos episdios, e geralmente

    pea chave na elucidao de crimes. O cientista forense coleta as amostras na cena do delito e

    na fico sempre uma das primeiras evidncias a ser constatada, e aps alguns minutos o

    resultado j conclusivo para a procura de um suspeito.

    Os estudantes tiveram a oportunidade de explorar alguns conhecimentos acerca deste

    assunto. Na teoria foi explicado de forma objetiva como funciona uma anlise de DNA, em quais

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    objetos ou partes do corpo pode-se encontrar material gentico para anlise como, por exemplo,

    em copos ou cigarros, que contenham vestgios de saliva, fios de cabelo com bulbo capilar,

    sangue, entre outros.

    Na aula laboratorial, foi possvel extrair o DNA de morangos com uma tcnica baseada em

    vrios conceitos qumicos. Foi solicitado aos alunos para que macerassem a fruta com o auxlio de

    um almofariz e pistilo. Em seguida, foi adicionada uma soluo contendo gua, cloreto de sdio

    (sal) e detergente transparente (necessrio para no alterar a colorao da soluo final).

    Misturou-se o morango soluo e, posteriormente, a mistura foi filtrada e transferida para um

    tubo de ensaio. Na ltima etapa da extrao, foi adicionado, lentamente pelas paredes do

    recipiente, lcool etlico gelado e observado o aparecimento de um material gelatinoso na

    interface dos lquidos (Figura 4).

    Figura 4: Extrao do DNA do morango. Etapa inicial da macerao da fruta (esquerda) mistura

    com a soluo extratora (meio) e reao final (direita). (Fonte: os autores)

    O professor tem a possibilidade de explorar vrios contedos nesta prtica, como por

    exemplo, ligaes inicas, pois a adio do NaCl (sal) proporciona ao DNA um ambiente favorvel.

    O sal contribui com ons positivos e negativos, por ser um composto inico. Os positivos

    neutralizam a carga negativa do DNA, e os negativos as histonas, permitindo que o complexo

    DNA-Histonas se formem e ento se enovele. Se no fosse a presena do sal, ele poderia

    desintegrar-se. O contedo de densidade tambm pode ser utilizado, pois o sal aumenta a

    densidade do meio, o que facilita a migrao do DNA para o lcool. O uso do detergente afeta a

    permeabilidade das membranas, que so constitudas, em parte, por lipdeos. Com a ruptura das

    membranas os contedos celulares, incluindo as protenas e o DNA, so liberados e dispersam-se

    na soluo. O conceito de solubilidade se encaixa na ltima parte do experimento, pois o DNA no

    se dissolve no lcool. Como resultado, ele aparece superfcie da soluo aquosa, porque

    menos denso do que a gua, porm mais denso que o etanol, permanecendo portanto na

    interface entre os dois lquidos.

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    A parte laboratorial, com a reproduo das anlises usadas por peritos, foi finalizada com a

    prtica de separao de misturas por meio da cromatografia. Esta uma anlise que o seriado

    mostra bastante e seu uso muito frequente na realidade dos profissionais que trabalham na

    rea, obtendo, portanto, destaque. A prtica consistiu em separar as cores de corantes

    alimentcios, com a cromatografia em papel.

    Foram entregues aos alunos, trs corantes alimentcios nas cores violeta, verde e

    alaranjado. Em seguida, foram instrudos a cortar o papel de filtro em uma tira retangular e, com

    o auxlio de uma rgua, traar uma linha acima 1 cm da parte inferior do papel e, com um palito

    de dente, adicionar ao papel, um pingo de cada corante, lado a lado. Aps a preparao do papel

    de filtro, os alunos colocaram-no em um bquer contendo cerca de 20 mL de soluo aquosa de

    cloreto de sdio a 5%, e ento foi possvel visualizar a corrida no cromatograma conforme mostra

    a Figura 5.

    Figura 5: Cromatograma da separao de misturas de corantes alimentcios. (Fonte: os autores)

    Cada substncia da mistura possui uma afinidade diferente com o solvente e, desse modo,

    as substncias que possuem maior afinidade so arrastadas mais depressa e as que possuem

    menor afinidade, mais lentamente. Com essa prtica o professor pode inserir o contedo de

    separao de misturas, podendo ainda elaborar mais prticas para as outras tcnicas de

    separao, ou explorar a cromatografia de forma mais detalhada. Este mtodo de separao de

    misturas nem sempre transmitido aos alunos, inclusive em alguns livros didticos consta apenas

    um breve comentrio sobre ela.

    2. Cena do crime

    Aps a realizao da aula laboratorial, os alunos tiveram a experincia de atuar na coleta de

    evidncias em uma cena de crime fictcia. A cena foi montada em uma sala prxima ao

    laboratrio de Qumica. Os estudantes tinham a viso da cena previamente isolada: uma vtima

    no cho, com marcas de sangue, um pedao de papel amassado prximo ao corpo, um p branco

    desconhecido, um copo no cho com um lquido derramado, tambm desconhecido, e fora do

    campo de viso havia ainda uma faca suja de sangue, uma torneira de metal, um bilhete de

    loteria escondido no corpo da vtima e demais vestgios menos visveis, como fios de cabelo,

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    pegadas e impresses digitais espalhadas no local, conforme mostra a Figura 6.

    Figura 6: Cena do Crime. (Fonte: os autores).

    Os alunos foram divididos em grupos para coleta de evidncias. O primeiro buscaria por

    impresses digitais tanto em objetos, quanto na cena do crime. O segundo trabalharia na

    identificao de sangue e coleta para anlise em laboratrio e o terceiro, nas demais provas

    encontradas no local, contudo teis para o incio da investigao. Neste momento, foi perceptvel

    o envolvimento dos alunos nas tarefas atribudas. Antes de entrarem na cena do crime, o grupo

    foi questionado quanto aos procedimentos que um perito criminal deve tomar ao entrar em um

    local de crime ou ilcito e a maioria dos alunos respondeu imediatamente quais os passos, ou seja,

    nunca tocar em nada, colocar os equipamentos de proteo individual, como luvas e mscara, por

    exemplo, fotografar a cena, procurar por vestgios deixados pelo criminoso para no contaminar o

    local e, em seguida, identificar as amostras encontradas para posterior anlise em laboratrio.

    Os alunos se sentiram motivados a participar da atividade, podendo, assim, aplicar o

    conhecimento adquirido. Na cena fictcia haviam materiais disponveis para a realizao dos

    testes qualitativos, que foram utilizados pelos estudantes, de forma que localizaram impresses

    digitais na carta encontrada no local e j puderam assim, indicar o primeiro suspeito, o namorado

    da vtima. Alguns at mencionaram a expresso crime passional, outros advertiam seus colegas,

    pois ainda no temos provas suficientes para indicar suspeitos, ou ainda fotografa tudo,

    inclusive a mancha de sangue, pode ser til.

    No local foram depositadas nove evidncias, sendo estas: um lquido colorido em um copo,

    um copo com marcas, fios de cabelo, uma carta, um p branco desconhecido, sangue, um bilhete

    de loteria, uma faca e uma torneira. Os alunos foram capazes de identificar todas as marcas

    deixadas pelo suspeito. Revelaram ainda impresses digitais, com o uso de uma cmara de

    Iodo, no bilhete de loteria e na carta. Testaram tambm se o lquido vermelho encontrado no

    local seria sangue, com o uso do reagente Kastle-Meyer disponvel como material auxiliar nas

    investigaes.

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    A cada nova pista encontrada os estudantes se envolviam ainda mais na atividade. Eles

    questionavam, fotografavam e procuravam por tudo que pudesse ajudar a, segundo as palavras

    deles, colocar o bandido na cadeia. Frases, tais como: olha ali... encontrei a arma do crime!

    Fotografa!; ser que ela ganhou na loteria e por isso foi assassinada?; nossa, tem uma

    torneira aqui... objeto pesado que pode ser uma segunda opo de arma, mostra o estmulo e

    ateno que os estudantes tiveram para o desenvolvimento do projeto. A Figura 7 mostra alguns

    momentos da investigao.

    Figura 7: Cena do Crime com os vestgios encontrados pelos estudantes. (Fonte: os autores)

    De uma maneira geral foi possvel perceber que a maioria dos estudantes j tinha algum

    conhecimento prvio do assunto a ser abordado, pois estes assistiam a srie televisiva.

    Entretanto, a maioria no sabia relacionar os contedos de qumica vistos em sala de aula com a

    qumica contida nas cenas dos episdios, mesmo sabendo identificar algumas anlises especficas,

    como impresso digital, anlise de DNA e identificao de sangue, justificando assim uma maior

    ateno para a contextualizao do assunto, visto que no se tratava de um tema totalmente

    desconhecido.

    Como as aulas foram ministradas em duas semanas, havendo um intervalo entre a aula

    terica e a aula prtica, pode-se perceber que houve interesse dos alunos com relao ao tema,

    visto que houve uma pesquisa prvia do assunto por parte deles. Isso contribuiu ainda mais para

    o aprendizado do contedo.

    Quando questionados com relao ao contedo presente nas aulas de qumica, que

    envolve os princpios dos testes de sangue, os alunos foram capazes de responder conceitos de

    oxidao e reduo, alguns responderam oxidao e reduo, devido existncia de ferro nas

    partculas do sangue. Em outras aplicaes, alm do teste de paternidade para o teste de DNA,

    todos os alunos souberam de mais utilidades como, por exemplo, quando a maioria das respostas

    foia identificao de corpos e descobrir o sexo do indivduo.

    Na questo referente ao DNA, os alunos foram questionados quanto aos materiais possveis

    em que se pode encontrar material gentico. Foi citada a saliva, o cabelo com bulbo capilar, o

    smen e o sangue. Os estudantes responderam o segundo questionrio na ltima aula e se

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    mostraram muito eufricos por saberem responder as questes solicitadas, pois se lembravam do

    que foi visto na aula prtica.

    3. Efeito CSI

    O interesse por investigaes criminais aumentou significativamente em consequncia das

    inmeras sries televisivas, documentrios, jornais e programas vinculados rea criminal. Nos

    programas, os protagonistas trabalham com crimes de difcil elucidao, mas conseguem uma

    infinidade de evidncias que so fatores determinantes para solucionar o caso.

    Os cientistas forenses trabalham nas limitaes da prpria cincia, no podendo, por

    exemplo, serem capazes de concluir, aps uma anlise de evidncias na cena do crime, que a

    suposta acusada usava um batom de determinada marca e lote. As concluses, na realidade, so

    bem menos precisas, apesar dos avanos tecnolgicos das cincias que do suporte aos cientistas

    forenses. A srie americana CSI, considerada uma das motivadoras do denominado efeito CSI,

    uma espcie de influncia que alguns estudiosos atribuem a determinadas decises dos jurados

    perante a insuficincia de provas cientficas, algo que, na fico, no acontece. (Bruni;Velho,

    Oliveira, 2012).

    Devido popularidade de programas forenses, cujo foco principal a anlise de evidncias

    para auxiliar na investigao de crimes, tem havido um aumento no interesse dos alunos por este

    assunto, e, consequentemente, uma grande quantidade de instituies educacionais vem criando

    cursos de formao na rea, inclusive de ensino superior. Todavia, muito importante que o

    educador utilize as ferramentas corretas para trabalhar o tema, de maneira que consiga

    incorporar o pensamento crtico da cena do crime dentro da sala de aula (Bergslien, 2006).

    A srie CSI trouxe uma nova viso para o ramo da cincia forense, principalmente no campo

    educacional. Alguns autores temem, no entanto, que a fico est deixando os telespectadores

    com uma compreenso errnea do campo. Na realidade, a rea forense no to fcil quanto

    mostra a televiso. Ao mesmo tempo, o formato do seriado criou uma expectativa irreal do que a

    cincia pode alcanar no tribunal. Os resultados dos testes forenses no so sempre conclusivos,

    como mostra a televiso.

    Concluses

    Depois de encerradas as atividades pertinentes ao estudo em questo, pode-se afirmar

    que um ensino diferenciado, seja ele com aulas prticas ou com a insero de jogos didticos,

    aulas em multimdia ou at mesmo, como foi realizado neste trabalho, o uso de seriados para

    ensinar Qumica, mostra-se muito eficaz e dinmico, tanto para os alunos, quanto para os

    professores. Ensinar Cincia um desafio que exige capacitao e criatividade dos docentes, pois

  • R. B. E. C. T., vol 6, nm. 3, set-dez.2013 ISSN - 1982-873X

    DOI: 10.3895/S1982-873X2013000300009

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    so testados a provar que as teorias que ensinam em sala de aula realmente existem e que

    justificam os processos e os fenmenos que ocorrem diariamente.

    O uso de recursos audiovisuais mostrou-se uma importante ferramenta didtica para ser

    utilizada como facilitadora do processo ensino-aprendizagem, juntamente com os contedos

    programticos, entre eles o livro didtico, ressaltando ainda que a srie televisiva faz parte do

    cotidiano dos alunos, o que de certa forma contribuiu muito no decorrer das atividades

    propostas.

    O seriado CSI em sala de aula demonstrou que a maioria dos alunos desinteressados e

    desanimados com as aulas rotineiras mostraram-se instigados no estudo da qumica forense,

    proporcionando tambm maior facilidade na discusso do assunto. Alm da abordagem

    contextualizada que a exibio de alguns episdios possibilitou, os alunos despertaram interesse

    em saber como era possvel trazer a qumica vista em sala de aula para a qumica de um programa

    de TV.

    Com o aumento de sries abordando temas forenses o conhecimento pode ser

    transmitido por meio de um seriado de TV, e ento, porque no traz-lo para a sala de aula?

    importante mostrar ao aluno o quanto a qumica importante e est presente at mesmo no

    momento de lazer, quando se assiste a um programa televisivo.

    Durante o processo de aprendizagem em Qumica muitas dvidas surgem, porm essas

    questes poderiam ser sanadas se houvesse uma busca no somente pelo saber propriamente

    dito, mas pela contextualizao dos conhecimentos.

    Referncias

    BARBER, O.; VALDS, C. P. Investigacin y Experincias Didcticas: El trabajo prctico em la

    enseanza de las cincias. Enseanza de Las Cincias, v. 14, n. 3, 1996.

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    Jersey, EEUU, 2001.

  • DOI: 10.3895/S1982-873X2013000300009 R. Bras. de Ensino de C&T

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    SOUZA, C. M. Cincias forenses em sala de aula. 2008. Disponvel em:

    http://www.webartigos.com>. Acesso em 11 out. 2010.

    Priscila Sabino da Silva Licenciada em Qumica pela UNIOESTE/Toledo. Atualmente Mestranda

    em Qumica pela UNICENTRO.

    Mauricio Ferreira da Rosa Bacharel e Licenciado em Qumica pelo IQ/UFRJ e IQ/UERJ,

    respectivamente. Mestre e Doutor em Qumica Orgnica pelo IQ/UFRJ. Atualmente Professor

    Associado B do curso de Qumica da UNIOESTE/Toledo e docente permanente dos Programas de

    Mestrado em Cincias Ambientais (UNIOESTE/Toledo) e Cincias Farmacuticas

    (UNIOESTE/Cascavel).