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Capítulo especial por Bill Johnson: Amizade com Deus e o Ministério Pedro Arruda Amigos do Mestre Amigos do Mestre Amigos do Mestre Amigos do Mestre

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Capítulo especial por Bill Johnson:Amizade com Deus e o Ministério

Pedro Arruda

Amigos doMestreAmigos doMestreAmigos doMestreAmigos doMestre

Pedro Arruda

Amigos doMestre

1ª edição

Americana/SP Impacto Publicações

2016

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Copyright © 2016 por Impacto PublicaçõesTodos os direitos reservados

Capa Eduardo de Oliveira

DiagramaçãoSueli Buzinaro

1ª Edição - Janeiro de 2016 Impacto Publicações

Este texto pode ser citado e pequenos trechos podem ser reproduzidos, desde que mencionada a fonte, com endereço postal e eletrônico.

Para os textos bíblicos, foi usada a versão Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida.

Algumas palavras ou frases foram colocadas em negrito para dar mais destaque.

IMPACTO PUBLICAÇÕESRua Tamoio, 226 • Santa Catarina • Americana/SP • Brasil

CEP 13466-250Fone: +55 (19) 3462.9893 / 3407.7677

www.revistaimpacto.com.bremail: [email protected]

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Sumário

Capítulo 1 O diferencial na criação do homem . . . . . . . . . . . . .

Capítulo 2 Dois sistemas opostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Capítulo 3 Um curso com avaliação e certificado . . . . . . . . . . .

Capítulo 4 O processo reprodutivo de gerar amigos . . . . . . . .

Capítulo 5 Conhecer a Jesus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Capítulo 6 Cultivando um relacionamento aquecido . . . . . . . . .

Capítulo 7 Projeto comunitário informal - o caso Zaqueu . . . .

apêndiCe

Uma conversa imaginária de Jesus com João . . . . .

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Amizade com Deus e o ministériopor Bill Johnson

Amigos do Mestrepor Pedro Arruda

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O diferencial na criaçãO dO hOmem

1O diferencial na criação

do homem

No relato da criação em Gênesis 1, vemos como Deus criou todas as coisas pela sua palavra. “Haja luz”, “Haja firmamento”, “Haja luzeiros”, “Produ-

za a terra ervas”, “Povoem-se as águas de enxames”, “Pro-duza a terra seres viventes”. Ele olhava para o universo ainda não formado e criava os astros, as plantas, os peixes, as aves e os animais.

Ao criar o homem, porém, ele olhou para si mesmo. “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa se-melhança.” Houve um diálogo entre a Trindade. De onde veio o original, o modelo para criar o homem? Veio da própria divindade. O Pai olhou para si mesmo, dialogou com a Trindade, e, dessa conversa, o homem foi concebido.

Ao criar os luzeiros, Deus disse que o sol governaria o dia, e a lua, a noite. Não seria necessário repetir essa ordem todos os dias. Ele não teria de chamar o sol para

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Amigos do mestre

acordar e governar o dia, nem falar com a lua que o sol ia se pondo e já era hora de assumir sua posição. Ele criou as coisas, cada uma com sua finalidade e com o mecanismo para cumpri-la por si mesma. Ao terminar a criação, Deus não teria de fazer mais nada para que tudo funcionasse ordenadamente.

Com o homem, entretanto, foi diferente. Deus con-tinuou falando com ele depois de criá-lo.

Sua voz e sua palavra interagem continuamente com o homem e constroem sua função e seu destino em con-junto com ele. “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4). Aquele que não ouvir de Deus e agir às escuras poderá até se tornar in-ferior a uma planta ou animal, pois, enquanto estes têm as funções pré-definidas e por isso não erram, cada homem ainda precisa descobrir a sua. Por exemplo, animais e plan-tas não têm a possibilidade de cometer crimes como estu-pros ou de degradar-se como o homem, conforme descrito no primeiro capítulo da carta aos romanos.

Por sermos criados à imagem de Deus, devemos agir de acordo com a finalidade para a qual fomos planejados. Fomos dotados com a capacidade de ter um relaciona-mento constante com Deus, e só esse relacionamento é que pode nos dar vida e nos diferenciar de um animal. Por que o canário sempre canta a mesma melodia? Porque foi criado com essa capacidade apenas, sem opção. Não há nenhum tipo de relacionamento ou ambiente que consiga mudar isso. O homem, não. Ele tem uma variedade de potenciais que depende de sua interação com Deus.

O que nos torna diferentes de um animal é o fato de podermos conversar com Deus sobre todas as coisas.

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O diferencial na criaçãO dO hOmem

Podemos ouvir e entender o que Deus diz. Às vezes, gos-taríamos que ele nos desse tudo de uma vez, uma palavra de direção que resolvesse permanentemente toda a nossa vida. “Este é o caminho; ande por ele até o fim.” Mas não foi assim que Deus nos projetou. Ele vai falando aos pou-cos. Como seu objetivo é garantir a continuidade do re-lacionamento e da conversa, ele não vai passar uma única instrução para depois deixar conosco a responsabilidade de resolver o resto da vida sozinhos.

Ouvir Deus não é um assunto reservado para cristãos de primeiríssima categoria, que tenham uma habilidade ou uma dedicação fora do comum. Ouvir Deus é nossa vida. Deus fala conosco. Se o ouvirmos, viveremos. Se não o ouvirmos, não seremos diferentes de qualquer outro ser, meros animais guiados por instintos (com o agravante de ter uma natureza pecaminosa).

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Igreja versus empreendimento

Com o rompimento da comunicação entre o Cria-dor e o homem em consequência do pecado, Deus entrou com o plano de redenção por meio

de Jesus, cujo objetivo nada mais era que a recuperação do plano original. Quando pensamos na missão de Jesus, precisamos lembrar que ele veio restaurar o homem à sua capacidade de relacionar-se com Deus, de ouvir sua voz e viver por ela.

A incompreensão da verdadeira missão da Igreja sur-ge como resultado de não se entender a natureza e a meto-dologia da missão de Jesus. O problema é que geralmente partimos de uma perspectiva da Igreja atual para analisar a obra de Jesus. Como a Igreja tem-se assemelhado cada vez mais a uma empresa, tentamos insistentemente achar

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Dois sistemas opostos

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Dois sistemas opostos

algum modelo de empreendimento proposto por Jesus, ain-da que escondido nas entrelinhas de sua história. “Talvez, nosso problema na Igreja é que estejamos usando o modelo errado”, dizemos. “Talvez, tenhamos de procurar com mais profundidade...”

Entretanto, mesmo que procurássemos até o fim da vida, jamais acharíamos tal modelo nos evangelhos pela simples razão de que Jesus não veio propor em-preendimento algum para salvar o homem. A Igreja não é um empreendimento. É certo que poucos usariam esse termo para definir a Igreja. Mesmo assim, nossa menta-lidade foi moldada de tal maneira que não conseguimos visualizá-la de outra forma, nem agir como se não o fosse. E isso nos tem desviado do propósito principal de Deus.

Por que a Igreja não poderia ser uma versão “es-piritual” de um empreendimento? Quais seriam as di-ferenças principais? A que mais se destaca é a manei-ra como os dirigentes encaram os recursos necessários para alcançar seus objetivos. De modo geral, podemos dizer que todo empreendimento precisa de três tipos de recursos: materiais, financeiros e humanos.

Para a maioria dos empreendedores, os recursos humanos são pouco diferentes dos materiais e finan-ceiros. São vistos como parte do seu patrimônio. Pode até soar como uma afirmação de valorização quando alguém declara: “Nossos recursos humanos são nosso principal patrimônio”. No entanto, é possível que ape-nas mascare uma visão interesseira de que as pessoas são importantes somente na medida em que contri-buem para o sucesso do empreendedor.

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Amigos do mestre

Esse conceito é próprio de Satanás e vem desde os tempos primitivos, conforme se pode observar no exemplo do faraó do Egito em relação ao povo de Israel. Quando Moisés argumentou que Deus queria o povo livre para adorá-lo no deserto, o faraó não quis permitir a saída dos israelitas porque isso prejudicaria a sua produção. Deus via o povo como adoradores livres, enquanto Satanás os considerava escravos para a manutenção do sistema opressor (Ex 5.1-9).

Essa tensão entre a natureza maligna do sistema humano e a vocação de Deus ainda se faz presente nos dias de hoje. Não são poucos os casos em que o trabalho rouba a adoração das pessoas. A reação do faraó de so-brecarregar os hebreus com mais trabalho, para ocupá-los mais e impedir que atentassem à liberdade que lhes fora oferecida, é uma estratégia que se repete até hoje. Muitos cristãos vendem sua liberdade de adorar a Deus em troca da perspectiva de obter mais dinheiro em seu orçamento. A não ser que tenha aberto os olhos para os valores do outro reino, o empreendedor em geral não se preocupa de fato com as necessidades pessoais de seus colaboradores, mas tão-somente os vê como recursos que fazem girar a engrenagem do sistema.

O discipulado de JesusJesus não veio para implantar uma versão “benéfica”

do mesmo sistema. Sua maneira de tratar as pessoas era totalmente diferente. Ele não as considerava como meros instrumentos para ajudá-lo a alcançar uma meta. Vejamos como ele trabalhou com seu grupo de colaboradores a par-tir do processo de seleção.

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Dois sistemas opostos

Em meio à multidão que era atraída por Jesus, por seus milagres e suas palavras, havia um grupo relativamente grande de seguidores (discípulos), talvez em torno de setenta. Dentre esses, Jesus escolheu doze para estar mais perto dele. Inicialmente, eram conhecidos como discípulos, mas posteriormente foram chamados apóstolos.

Como ocorreu essa escolha? Nenhum deles foi es-colhido por ter o perfil adequado a alguma função de em-preendimento. Não foi a capacidade de Mateus em lidar com números e finanças, a liderança empresarial ou as qualificações profissionais de Pedro, Tiago ou João como pescadores nem o radicalismo político de Simão, o Zelo-te, que os habilitaram ao discipulado. Pedro, Tiago, João, Mateus, Simão e os demais foram chamados por ser as pessoas que eram. Jesus não estava procurando pessoas qualificadas; ele só queria identificar aqueles que o Pai lhe indicara durante uma longa conversa entre os dois.

Naqueles dias, retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. E, quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu tam-bém o nome de apóstolos.

(Lc 6.12,13)

Esses doze homens passariam por um período de treina-mento, acompanhando Jesus em tudo o que ele fizesse. Eram dis-cípulos, um termo bem conhecido na época. Todos tinham plena consciência do tipo de relação que estavam assumindo com Jesus.

O discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo [ou es-cravo], acima do seu senhor. Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor.

(Mt 10.24,25)

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Amigos do mestre

Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque o sou.

(Jo 13.13)

O discípulo tinha uma posição, em certo sentido, se-melhante à de um escravo; obedecia a ordens. No caso dos discípulos de Jesus, essa relação de obediência tinha um objetivo: torná-los semelhantes ao seu Mestre e Senhor.

No final do período de treinamento, qual seria a prova de que haviam terminado satisfatoriamente? Que título receberiam na conclusão?

O entendimento geral é de que, no fim do treinamen-to, os doze seriam promovidos a apóstolos. O título após-tolo significa enviado e foi utilizado várias vezes durante o período de treinamento, especialmente nos momentos em que os discípulos saíram, de dois em dois, como enviados para cumprir uma missão específica de anunciar o reino de Deus, curar enfermos e expulsar demônios (Mt 10.1,2).

Sempre pensávamos que o apóstolo representasse o estágio mais elevado que um seguidor de Jesus poderia alcançar. O “plano de carreira” na vida cristã é conhecer a Bíblia, frequentar todas as reuniões e ser enviado para realizar uma missão. Depois de chegar a apóstolo, não há mais nada a ser alcançado. É ser vice-Deus, o ponto má-ximo da carreira! Afinal, como Paulo escreveu na carta aos coríntios (1 Co 12.28), Deus não estabeleceu na Igreja “primeiramente apóstolos”?

Olhando com mais atenção, porém, vemos um grau acima do apóstolo que tem sido ignorado. No final do treinamento, Jesus realmente promoveu seus discípulos e lhes deu um certificado de conclusão de curso, mas não era o título de apóstolo!

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Dois sistemas opostos

Já não vos chamo servos [escravos ou discípulos], porque o ser-vo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer.

(Jo 15.15)

Portanto, embora não ficasse muito evidente no início, o objetivo de Jesus, desde o dia em que chamou Pedro, André, João, Tiago, Mateus e os demais, era fazer deles seus amigos. Começou a andar com eles para todo lado, nas casas, na praia, no mar, nas cidades, acampando, dormindo, comendo e vivendo juntos. Ostensivamente, ele os ensinava a pregar, curar, expulsar demônios e outras funções do ministério, típicas da nossa atividade na igreja hoje. Porém, na realidade, Jesus tinha um objetivo mais elevado: “Vou fazer destes homens meus amigos”.

O discipulado de Jesus não consistia em ensinar uma nova filosofia, criar uma nova escola doutrinária, nem mesmo uma ideologia política dentre as muitas correntes existentes entre os judeus naqueles dias. Assim como um pai coloca o filho na faculdade de engenharia e não espera dele um diploma de médico, Jesus não esperava que seus discípulos se tornassem pregadores eloquentes, militares corajosos, administradores habilidosos ou empreende-dores capazes – embora isso também pudesse acontecer. Ele os ensinou a amar. Esse foi o ponto alto de seu ensino, como ficou claramente demonstrado durante a última ceia quando lavou os pés de todos ( Jo 13). Jesus esperava que, ao final da jornada que fariam juntos, eles estivessem aptos a prosseguir com base no amor.

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Amigos do mestre

Amizade e traiçãoJesus não chamou de amigos a multidão, nem o gru-

po todo de discípulos, nem mesmo todos os apóstolos. Somente onze homens receberam essa honra. Aos que estavam concluindo o curso, nos momentos finais, àque-les que perseveraram até o fim, ele chamou de amigos. Foi na última lição deles. Nessa mesma ocasião, ele falou sobre o amor, sobre como desenvolveriam a amizade e como ela continuaria. Toda a amizade seria encharcada, baseada e norteada pelo amor. Amor e amizade são ple-namente conjugados, vinculados e indissociavelmente interligados no ensino de Jesus.

É por isso também que, no final do treinamento, nenhum dos discípulos foi reprovado ou considerado inapto. ”Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou--os até ao fim” ( Jo 13.1). Ninguém foi desqualificado por não estar alinhado com o objetivo do empreendimento ou por não ter desenvolvido certa habilidade. Não havia do que se desqualificar, porque eles mesmos eram o obje-tivo de Jesus. Seu desejo era cumprir a vontade do Pai de torná-los seus amigos e, por meio deles, expandir a mes-ma amizade a outros. Dos doze, somente um se perdeu porque se tornou traidor; quebrou a única condição que era continuar leal como amigo.

Entretanto, Jesus chamou particularmente Judas de “amigo”, no momento do beijo da traição, embora Judas não tivesse se comportado como tal. A traição é a pos-sibilidade inerente somente àqueles que consideramos como amigos. Só eles têm a potencialidade de nos trair, de nos surpreender negativamente nessa proporção. Isso nos ensina que entregar-se à amizade significa correr

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Dois sistemas opostos

altos e incalculáveis riscos, até mesmo de morte. Por isso, esse tipo de amizade ensinada por Jesus não pode estar firmado apenas no relacionamento entre as pessoas, mas deve ser uma aliança avalizada por Deus, para que a parte ofendida tenha como suportá-la. Devemos lembrar que a escolha desses amigos não foi mero produto da vontade individual de Jesus, mas estava na perspectiva do Pai, a quem ele ouviu antes de chamar.

De acordo com Dietrich Bonhoeffer, o relaciona-mento de comunhão entre duas pessoas não deve estar baseado no que uma pode fazer pela outra, mas no que Cristo fez por ambas. Jesus não levou em conta os méri-tos daqueles amigos, mas se firmou na vontade do Pai de torná-los amigos e no amor de Deus pelos discípulos e por ele. Em outras palavras, a relação entre o Pai e Jesus era mais forte do que o prejuízo que os amigos poderiam causar-lhe.

Por isso, a amizade não pode se fundamentar no que podemos ganhar da relação. Aliás, entramos nes-sa relação dispostos a perder a própria vida, conforme ensinou Jesus. Paulo reitera este ensinamento, tomando como exemplo a relação conjugal para explicar a quali-dade de amor que o marido deve ter pela esposa: “como Cristo amou”! Quando um dos cônjuges falha, ao outro cabe perguntar se Cristo lhe perdoará. Se Cristo lhe per-doa, o ofendido não pode ter atitude diferente. Tanto o amor do marido pela esposa quanto a submissão da es-posa ao marido devem estar firmados na relação que cada um tem com Cristo.

Essa submissão ao propósito de Deus fez Sara acei-tar por duas vezes a humilhação que Abraão lhe impôs

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Amigos do mestre

diante do faraó e de Abimeleque, omitindo a informação de que era sua esposa, e também lhe deu forças para exi-gir que seu marido despedisse Agar e Ismael, uma vez que a presença deles colocava em risco a missão de Isa-que. Essa determinação faltou a Safira, que entrou em conluio com seu marido Ananias. Por isso, ambos pere-ceram por tentar enganar o Espírito Santo presente em seus amigos da igreja de Jerusalém. A maior tragédia da história se instalou por meio do primeiro casal (Adão e Eva) quando ambos desprezaram a vontade de Deus.

Quando a amizade está baseada na relação que cada um tem com Jesus, os amigos estabelecem um círculo virtuoso, pois o padrão de tolerância e perdão é o que se recebe de Jesus. Ele sempre está em vantagem diante de nós. Por mais que façamos, nunca atingiremos um nível de merecimento que nos equipare a Jesus. Entretanto, sem considerar a presença dele, cada vez que alguém jul-ga ter feito um favor ao outro, ele se coloca na posição de credor. O mesmo acontece com o ofendido em situações nas quais se vê no direito de revidar a ofensa. Por isso, a chave para manter o círculo virtuoso de amizade é es-tabelecer Jesus como o centro e referencial de todos os relacionamentos. Diante de sua aceitação incondicional de todos os que atenderam ao seu chamado, e da nos-sa infinita dívida com Deus que foi cancelada por ele, que outra atitude poderíamos ter senão perdoar e amar nossos irmãos e cultivar com eles a mesma amizade que Jesus estendeu a nós?

Quando se estabelece uma amizade baseada num amor de aliança, como no caso dos amigos de Jesus, não há espaço para um projeto pessoal, individual e desvin-

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Dois sistemas opostos

culado da aliança, pois, em determinado momento, have-rá conflito de interesses. Foi exatamente o que aconteceu com Judas. Ele foi honrado ao ser escolhido como tesou-reiro do grupo, mas nutria um projeto individual incom-patível com a amizade, o que lhe impediu de participar plenamente da vida em comum.

Agir de maneira solitária pode significar um con-vite à companhia de Satanás. Judas manuseava os recur-sos financeiros sem prestar contas aos amigos e, por fim, foi fisgado pela própria armadilha, traindo e entregan-do um amigo por dinheiro. Seu sofrimento posterior foi insuportável e, buscando uma solução em si mesmo, suicidou-se.

É inegável que a traição acarreta enorme sofrimento, mas isso não serve de argumento para evitar a exposição ao relacionamento de amizade em Cristo, pois são esses laços que seguram e amarram a casa cons-truída sobre a Rocha.

Davi foi uma das vítimas de traição e prefigurou, com isso, o próprio Jesus. Queixava-se ele: “Até o meu amigo íntimo, em quem eu conf iava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar” (Sl 41.9); “Com efeito, não é inimigo que me afronta; se o fosse, eu o suportaria; nem é o que me odeia quem se exalta sobre mim, pois dele eu me esconderia; mas és tu, homem meu igual, meu compa-nheiro e meu íntimo amigo. Juntos andávamos, juntos nos entretínhamos e íamos com a multidão à Casa de Deus” (Sl 55.12-14). Embora essas queixas revelassem uma pro-funda decepção com amigos, a confiança de Davi em Deus não esmoreceu, pois foram feitas no contexto de uma oração por livramento.

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Amigos do mestre

O momento em que Davi experimentou a pior traição ocorreu quando seu filho Absalão tentou tomar--lhe o trono. Depois de um longo período de conspi-ração, finalmente deu o golpe para tomar o poder. Para isso, contou com homens antes fiéis a Davi, mas que trocaram de lado, imaginando que Absalão seria o novo rei, tendo em vista o estado de inatividade e fraqueza em que Davi se encontrava.

Um desses homens era Aitofel, sábio conselhei-ro do rei, cuja traição pegou Davi de surpresa. Mas, em compensação, havia também Husai, que, além de conselheiro, era também amigo de Davi e foi por este incumbido de uma perigosa missão: permanecer no palácio real, junto a Absalão, para desfazer o conselho de Aitofel. Para cumprir essa missão, Husai colocou em risco a própria vida, pois, se fosse descoberto, seria morto por Absalão.

Davi experimentou a dor da traição, mas foi, por excelência, um homem de aliança e de amigos. Desde sua fidelidade recíproca com Jônatas, não faltou quem durante a vida lhe devotasse fidelidade. Isso só pôde acontecer porque Davi era um homem de confiança, que cumpria a palavra empenhada. A aventura levada a efeito pela ambição de Absalão custou-lhe a vida numa batalha com o exército formado por aqueles que eram fiéis a Davi. Entretanto, depois de tudo o que Absalão fizera, Davi ainda se consternou por sua morte, mos-trando com isso que lhe perdoara.

Não há nada que possa prevenir a traição de quem quer que seja, mas, se o relacionamento está baseado em amor de aliança em Deus, uma só resposta cabe ao

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Dois sistemas opostos

traidor: perdão. Se a traição está num extremo de gra-vidade, o perdão é o contrapeso. Com ele, afasta-se a vingança e demonstra-se que a vida pertence a Deus. É o gesto que mais nos identifica com Deus. Foi com ele que Jesus e Estêvão responderam aos seus algozes.

É nas crises de tempos difíceis que os amigos e os traidores se revelam. Nessas oportunidades, os extre-mos se apresentam. De um lado, estão os que traem, e, do outro, os que dão a vida por fidelidade.

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Um curso com avaliação e certificado

Com certeza, é um alvo muito sublime chegar ao ponto de ser um apóstolo, um enviado ou emissário do próprio Jesus. Imagine alguém que viesse aqui

e nos dissesse: “Estou chegando dos EUA, e o presiden-te Barack Obama me encarregou de executar a seguinte missão...”. Todos ficariam profundamente admirados e dariam maior valor às suas instruções.

No entanto, existe algo mais valioso do que isso. Imagine outra pessoa que viesse e dissesse: “Sou amigo de Barack Obama. Tomo café com ele na sua cozinha. Al-moço com ele todos os dias!”. Aí você pensaria: “Esse cara pode me apresentar ao presidente dos Estados Unidos! É amigo, pode me levar até ele. Ou pode trazê-lo para almo-çar na minha casa!”.

As duas situações são totalmente diferentes. A pessoa que traz uma mensagem de uma figura importante tem credenciais muito fortes para falar com você. Seu recado tem muito peso. Porém, a pessoa que é amiga do

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Um cUrso com avaliação e certificado

personagem importante tem outro valor. Abre o caminho para você mesmo falar com ele. Quando alguém quer falar com uma pessoa importante, de difícil acesso, e não sabe como fazer, geralmente recorre a um amigo daquela pessoa. É por isso que ser amigo é um grau acima do apóstolo. Aos amigos, estão reservadas as revelações mais íntimas. No caso do mensageiro, o foco é na mensagem, mas, quando se trata de amigo, as pessoas é que são importantes.

O objetivo do curso Ser discípulo de Jesus não é ter uma vida estática ou

uma mera garantia de entrar no reino vindouro. É estar num curso, ser treinado para alguma coisa. No entanto, mesmo compreendendo que ingressamos num programa de treinamento, geralmente criamos expectativas erradas. Jesus é um Mestre especializado na formação de ami-gos. Seu curso é uma aprendizagem de como desenvolver amizades sólidas e contagiantes, baseadas em amor de aliança. O alvo é criar círculos de amizade e amor que vão-se expandindo cada vez mais. A estratégia por trás de tudo é o amor.

Contudo, nossa expectativa nesse “curso” geral-mente é bem diferente. Seria como matricular-se num curso de engenharia e querer sair como advogado, um especialista em leis. O curso de Jesus não ensina a fazer reunião, a ser empreendedor, a ser um bom comunicador, a ser eloquente, a fazer administração financeira, propa-ganda, marketing ou carreira de sucesso. Nada disso está no conteúdo programático do curso que Jesus oferece, embora pessoas com todas essas ou outras habilidades possam usá-las para servir o amigo Jesus. A amizade pre-cede o serviço e é o objetivo final de tudo o que é feito para ele.

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Porém, por entrar com expectativas muitas ve-zes inalcançáveis e que não podemos atender, ficamos frustrados. Além disso, reproduzimos a mesma situação com aqueles que queremos treinar. Dizemos: “Fulano está aqui há tanto tempo e ainda não sabe dirigir uma reunião, não sabe nem dar um estudo”! Essas coisas podem ser aprendidas em cursos específicos para essas finalidades. Jesus não está preocupado em dar habilida-des próprias de empreendedores de sucesso para todas as pessoas.

Se estamos pensando em sucesso, em termos de empreendimento, o próprio Mestre não foi exemplo disso. Ele terminou sua empreitada (se fôssemos dar esse nome à sua obra) sozinho. Quem estava ao pé da cruz ( Jo 19.25) eram algumas mulheres, a mãe dele (que não conta) e, dentre os doze que escolheu com tanto critério, somente João, um garoto bem jovem – que não contava muito também. Ele estava ali porque era jovem, não se sentia ameaçado. Afinal, não se pode bater em criança, nem em idoso, nem em mulher.

O tesoureiro de Jesus era um ladrão. A bolsa do grupo nunca se enchia, era como um saco sem fundo. Além dele, havia Mateus, um funcionário da Receita, um cobrador de impostos, embora com habilidades fi-nanceiras, foi preterido em relação a Judas. Jesus não tinha preocupação com nada disso. Ele queria que aquelas pessoas se tornassem seus amigos e aprendes-sem a amar. Por isso, você também não precisa sentir--se frustrado se não aprendeu a dirigir uma reunião, a pregar ou a administrar uma igreja. Preocupação maior seria se nossas habilidades fossem excelentes a ponto de dispensar o relacionamento com Deus, possibilitando ações independentes dele.

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Um cUrso com avaliação e certificado

Avaliação final do cursoPedro já tinha passado por todo o curso de Jesus

quando uma criada veio e lhe disse: “Você também é um dos seus seguidores”. Pouco antes, ele havia tomado uma espada e enfrentado um pelotão de soldados, cortando a orelha de um deles. Entretanto, diante dessa criada, ele se viu sem saída e refutou: “Não sou!”. Para parecer mais convincente, usou até palavrões para provar sua afirmação. “Minha linguagem é essa, não tem nada a ver com o que ele prega”.

Se Jesus tivesse priorizado a eloquência, a retórica, o uso sagaz de vocabulário, Pedro poderia ter usado lin-guagem difícil e “dado um nó” naquela mulher. Poderia ter usado palavras complicadas, não se comprometendo, não dizendo que sim nem que não, e ela teria saído convenci-da, sem saber de que, mas satisfeita.

Depois da ressurreição, Pedro teve alguns encon-tros com o Mestre. Ele estava envergonhado por ter falhado terrivelmente naquele momento crítico de sua prova. Provavelmente, estava se perguntando se ainda poderia ser considerado um discípulo de Jesus ou se ti-nha sido reprovado. Porém, em diversas ocasiões, quando esteve com Pedro no meio de outras pessoas, Jesus não lhe disse nada.

“Será que ele não vai mais tocar no assunto da minha vergonhosa falta de coragem até diante de uma criada”?

Finalmente, talvez bem ao término do período de 40 dias em que Jesus ficou com os discípulos antes de sua ascensão, os dois ficaram praticamente sozinhos. Jesus fi-tou os olhos em Pedro, deixando seu coração congelado. A hora temida enfim chegara.

“O que vou dizer?”, Pedro pensou. “Como posso ex-plicar o que aconteceu?”

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Amigos do mestre

Entretanto, Jesus não lhe cobrou as razões de seu fracasso. A avaliação final do curso de discipulado não se baseia na capacidade de falar, de persuadir, de administrar finanças ou de nunca falhar. Não tem a ver com o número de pessoas que ganhou para Jesus, com o tamanho do seu grupo, com o número de pessoas para as quais conseguiu passar informações ou conhecimento da Bíblia. Não é um histórico limpo, sem tropeços. O trabalho de conclusão de curso do Mestre Jesus é como você responde à pergunta: “Tu me amas?”. De acordo com a resposta, Jesus pode dizer se alcançou o objetivo, se foi bem, se pode ser diplomado, se está habilitado de fato na vocação que foi proposta no início.

Se você anda com Jesus há muito tempo e não tem grandes realizações para mostrar, isso não significa que foi reprovado. Deus não vai cobrá-lo por isso. Mas pode ter chegado a hora de responder a essa pergunta: “Tu me amas?”. Sua resposta pode ser frustrante para o Mestre e para você.

Na formatura, geralmente é feito um juramento. “Prometo exercer minha profissão com ética, integridade e honra...” Depois do juramento, a pessoa está habilitada a exercer a função para a qual estudou e se preparou duran-te vários anos. Foi exatamente esse o momento de Pedro. Quando ele terminou de responder às perguntas, Jesus confirmou: “Apascente minhas ovelhas. Você está apto a prosseguir”.

Depois dos anos em que andou ao lado do Mestre, como você responderia a essa pergunta? “Tu me amas?” não é uma pergunta impessoal, porque não existe amor impessoal, geral, coletivo. Não tem como falar “Eu te amo” sem usar linguagem e sentimentos pessoais. O amor exige que sejamos pessoais no último grau. Quando você diz para alguém que o ama sem conhecê-lo de verdade, suas

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Um cUrso com avaliação e certificado

palavras só podem ser uma expressão genérica. É uma declaração impessoal, uma contradição total. Jesus como Mestre nos forma com a característica de pessoalidade. Ele nos torna pessoais. O fato de ter uma relação pessoal com Deus é que nos dá credencial para fazer a sua obra.

O ponto final do programa do Mestre, o certificado que as pessoas recebem, é ser amigo de Jesus. Certifica-do de conclusão. Qual título você receberá como seguidor de Jesus? Pastor, evangelista, missionário, teólogo, mestre, doutor, apóstolo? Se você entrou no curso de Jesus, o título que receberá na conclusão será o de amigo. Se você chegou a apóstolo, está perto, quase chegou lá. Mas ainda lhe falta alguma coisa. Ainda não concluiu o curso!

Foco de Deus, foco do homemEm Jesus, encontramos nossa identidade, ou seja,

quem Deus realmente pretendeu que fôssemos. O mundo busca a todo custo desviar-nos do projeto de Deus, ten-tando dizer quem devemos ser e, muitas vezes, de maneira inconsciente vamos assimilando a identidade que a cultu-ra nos impõe. Assim, passamos a fazer as escolhas segundo o pensamento deste século: tornamo-nos consumistas, re-legamos a generosidade para obter mais coisas e nos tor-namos cegos para o projeto de Deus. Tiago nos alerta que existe uma disputa entre Deus e o mundo a respeito de nossa amizade: “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4).

O homem é o foco de Deus na criação e, obviamen-te, também na redenção. O homem que tem seu foco em Deus deve compartilhar o mesmo interesse, ou seja, deve

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concentrar sua atenção nas pessoas indicadas pelo Senhor. Podemos verificar dois exemplos na Bíblia de homens que, durante sua caminhada com Deus, foram ajustando seu alvo.

Abraão teve alguma dificuldade para cumprir parte de seu chamado. Embora tenha saído de sua terra, levou consigo um pouco da parentela. O pai o acompanhou até Harã, onde morreu, e o sobrinho foi junto até Canaã, onde finalmente se separou dele. Livre da parentela, Abraão ge-rou primeiro o filho da carne, Ismael, e, depois, o filho da promessa, Isaque.

Seguindo ordens do Senhor, despediu Ismael e Hagar. Podemos observar que a vida de Abraão vai num crescente ao mesmo tempo em que seu foco se concentra cada vez mais no filho da promessa. A história dele se torna, principalmente, a história de como esperou a pro-messa até o nascimento milagroso de Isaque, de como o ofereceu de volta a Deus, e de como, depois da morte de Sara, ainda cuidou do casamento do filho.

Mesmo no fim, vendo sua missão cumprida, depois de casar-se com Quetura e de ter com ela vários outros filhos, teve todo cuidado para que estes não interferissem na herança de Isaque.

Embora se valorize o longo percurso de 2.500 km percorrido por Abraão e as duas décadas e meia entre seu chamado e o nascimento de Isaque, a mudança mais importante foi ter deixado de ser um caldeu idólatra co-mum. Ele aceitou a companhia do Senhor, que fez dele o pai na fé e também seu amigo. Essa mudança interior de Abraão foi muito mais importante do que a mudan-ça geográfica ocorrida ao longo do tempo. Sua missão

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chegou ao ápice quando focou sua vida em Isaque, ao entender que esse era também o foco de Deus.

Abraão era um idólatra comum quando foi chamado por Deus ( Js 24.1) e, no decorrer da sua jornada, foi-se transformando em seu amigo (2 Cr 20.7; Is 41.8; Tg 2.23). O que dizer de alguém que fez uma trajetória dessas? Ou melhor, o que dizer de um Deus que promoveu tal transformação? Antes de ser amigo de Deus, Abraão era ninguém.

Paulo, cuja vida ministerial pode ser dividida, grosso modo, em três fases, começou de maneira muito ativa na vida pública, viajando e contatando muitas pessoas. Nesse período, ele se descreve como “o menor dos apóstolos” (1 Co 15.9). Na segunda fase, ele lidou mais com as lideranças das igrejas; portanto, de forma mais interna e restrita, e não tão pública. Então, ele escreve: “A mim, o menor de todos os santos...” (Ef 3.8). Finalmente, na última fase, pre-so, ele tinha poucos ao seu redor. Contrastando com seu início impetuoso que dispensara João Marcos e, por con-seguinte, Barnabé, ele escreve: “Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Tm 1.15). Nesta terceira fase, ele pedia a presença de João Marcos. Vemos que, em seu amadurecimento, o foco de Paulo migrou das atividades para as pessoas.

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O processo reprodutivo de gerar amigos

Nós fazemos parte da corrente de reprodução

Considerando Jesus como a exata expressão de Deus e que ele, realizando a missão para a qual fora en-viado, nada fazia nem dizia sem ter visto e ouvido

do Pai primeiro, podemos concluir com assertividade que fazer amigos também era o objetivo do Pai. Jesus disse explicitamente aos seus que os chamava de amigos por-que lhes dava a conhecer tudo o que havia ouvido do Pai. Desde o chamado dos doze, logo após Jesus passar uma noite inteira em oração, até a promoção deles à categoria de amigos, havia uma conexão muito estreita entre o trei-namento dos discípulos e as coisas íntimas que recebiam do Mestre e a relação que ele tinha com o Pai ( Jo 15.15).

O Pai não só nos enviou seu Filho, mas também deu a si mesmo por meio de Jesus. Ele se doou com a expectativa

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de que nos tornássemos seus amigos em Cristo. Em outras palavras, não basta apenas dar alguma coisa ou enviar um representante; é preciso dar a si mesmo. Paulo afirmou isso em Efésios 5.25 quando disse que Jesus se entregou em favor da Igreja para torná-la uma noiva gloriosa, sem mancha e sem ruga.

Da mesma maneira, esse também é o objetivo do Espírito Santo, que leva adiante aquilo que é do Pai e do Filho, comunicando-nos tudo o que ouve da parte deles. “Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coi-sas que hão de vir” ( Jo 16.13).

À semelhança do Espírito Santo, nossa tarefa não pode ser diferente. Somos enviados para conquistar amigos para Jesus. Podemos ver nossa ligação com a corrente de amizade da Trindade na Grande Comis-são. Quando Jesus enviou os discípulos (“Ide, portan-to, fazei discípulos de todas as nações”), ele não estava simplesmente lhes dando uma missão; estava prome-tendo acompanhá-los: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.19,20). Nossa incumbência não é sair por aí tresloucados, tentando cumprir sozinhos uma tarefa gigantesca. Jesus prome-teu ir junto porque a chave de tudo está em conversar conosco o tempo todo.

Portanto, não somos apenas portadores de uma mensagem, trazemos em nossa companhia alguém – um Amigo para ser apresentado às pessoas. Enquanto uma mensagem precisa ser sistematizada a fim de ser compreendida, a pessoa apresentada se explica por si

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só. Penso que, quando estamos diante das pessoas, dei-xamos Jesus “ansioso” com nossa tagarelice em vez de apresentá-lo logo ao nosso ouvinte.

A missão será construída dentro do nosso relacio-namento com ele. Todas as nossas atividades e funções, dirigir a família, trabalhar no emprego, agir numa reunião, pregar, ensinar, relacionar-se com outros, tudo deve ser produto da nossa conversa com Deus, de ouvir o que ele nos diz.

Portanto, devemos sempre lembrar que Jesus pediu o Pai para enviar o Espírito Santo sobre os discípulos an-tes de comissioná-los. Ou seja, ser revestido do Espírito Santo precede a missão, que, na verdade, consiste em levar a pessoa de Jesus, não apenas um recado dele.

Reproduzindo amigos na igrejaQuando de sua ascensão aos céus, Jesus determinou

que os discípulos ficassem juntos em Jerusalém esperando o Espírito Santo. Esse grupo era constituído de 120 pes-soas e nucleado por seus doze amigos apostolados (Ma-tias, um dos outros discípulos mais próximos, foi escolhi-do para tomar o lugar de Judas). A estreita convivência por dez dias foi muito importante para consolidar as bases de amizade e amor, irradiadas dos doze aos demais que também tiveram uma relativa proximidade com o Mes-tre. Essa comunidade, por sua vez, se tornaria o núcleo da igreja que nasceu firmada em aliança de amor. Como sabemos, a primeira igreja exerceu uma solidariedade sem medidas e atraiu a adesão de muitos outros que passaram a pautar-se pela mesma conduta.

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É interessante notar que nessa igreja se destacaram inicialmente Pedro, João e Tiago, que, dentre o grupo de amigos, demonstravam ser os mais íntimos do Mestre. O outro Tiago que ganhou evidência entre os judeus daquela igreja era considerado da família de Jesus, portanto tam-bém muito próximo ao Mestre.

Se bem atentos, então, veremos que a Igreja não nasce do planejamento do homem que tem a intenção de implantá-la. Ela nasce da intenção de Deus e da casuali-dade de homens que se dispõem à prática do amor que os caracteriza como amigos de Jesus e uns dos outros.

Quando se reclama que Jesus não deixou um mode-lo de igreja, na verdade está-se pensando em igreja como empreendimento. Há um esforço para organizar as funções ministeriais como cargos de uma corporação. Gasta-se um enorme tempo para definir lideranças, hierarquia, governo e regras. Entretanto, Jesus deixou uma igreja desprovida de organização, porque ela não tem relação com um em-preendimento. Ela não é uma “agência” (instituição) de salvação, é uma rede de amizade entre amigos aliançados entre si no Senhor. Seus integrantes não são capacitados a desenvolver uma ideologia para organizar uma sociedade dentro de um pensamento filosófico. Diferentemente do que ocorre nas organizações, Jesus não precisa de homens com perfis adequados a determinados cargos para consti-tuir a sua igreja. Ele precisa, simplesmente, de amigos!

Dentro deste enfoque, é certo dizer que nosso me-lhor amigo é aquele que nos torna mais amigo de Jesus. Ou, por outro lado, somos o melhor amigo de alguém quando o fazemos amigo de Jesus também.

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Amizade é melhor que poupança

E eu vos recomendo: das riquezas de origem iníqua fazei amigos; para que, quando aquelas vos faltarem, esses amigos vos recebam nos tabernáculos eternos. Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no mui-to. Se, pois, não vos tornastes fiéis na aplicação do alheio, quem vos dará a verdadeira riqueza?

(Lc 16.9-11)

Esta parábola fala sobre um mordomo que estava prestes a perder o emprego e ofereceu um desconto aos devedores de seu senhor. Ou seja, ele se aproveitou do di-nheiro do senhor para garantir o benefício da amizade dos credores. A parábola foi inserida logo depois da história do filho que gastou futilmente sua herança, retornou à casa do pai e foi perdoado, mesmo em prejuízo do outro filho que permaneceu o tempo todo fiel e obediente ao pai. O que as duas histórias, evidentemente, têm em co-mum é o fato de serem igualmente ofensivas aos fariseus moralistas e avarentos.

O que Jesus estava procurando transmitir? Primei-ramente, ao dizer que as riquezas do senhor tinham ori-gem iníqua, ele não estava afirmando que tinham sido, necessariamente, produto direto de roubo ou de transa-ções desonestas. O dinheiro circulante no mundo pode ser considerado injusto porque sua distribuição é feita de forma injusta, o acúmulo nas mãos de uns corresponde à falta de outros.

Em segundo lugar, que investir em amizades é mui-to mais importante do fazer uma poupança. Aquele mor-domo não se preocupou em tomar para si um valor da

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fortuna do seu senhor a fim de garantir seu futuro. Pelo contrário, sua esperteza se traduziu em dar favores e ga-nhar amigos.

O mais impressionante dessa parábola é a afir-mação de Jesus de que seremos recebidos pelos amigos nos tabernáculos eternos. Em outras palavras, mais vale conquistar um amigo do que fazer uma poupança. Por outro lado, se não conquistarmos amigos, quem nos receberá nos portais eternos? Isso nos dá uma pis-ta de que lá não se entra desacompanhado.

Há quem interprete, de maneira mais superficial, que a fidelidade no pouco habilita a pessoa a receber muito; por exemplo, pelo simples fato de dar a décima parte de seu ganho em oferta a uma instituição ecle-siástica pode-se obter o direito de receber cem vezes mais. Entretanto, Jesus não está fazendo uma compa-ração de quantidade, mas de qualidade: entre a riqueza injusta e a verdadeira riqueza. A riqueza injusta é in-significante diante da verdadeira, mas, se a usarmos de maneira adequada, será capaz de levar-nos a alcançar com ela a verdadeira riqueza. Por outro lado, de nada adianta usar a riqueza injusta para juntar ainda mais riquezas injustas, ou seja, mais do mesmo.

Jesus alertou os discípulos para que não acumu-lassem tesouros da Terra que são passíveis de ser cor-roídos pela ferrugem e pela traça, mas que acumulas-sem tesouros nos céus. Isso me parece muito coerente com o fato de haver uma relação entre os tesouros na Terra e a iniquidade. Acumular esses tesouros é o mes-mo que encher o cofre (coração) de iniquidade.

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É oportuno retomar o ensino de Tiago, que afirma que a amizade com o mundo se constitui em inimizade com Deus, lembrando que o mundo usa o dinheiro para comprar nossa amizade. Sua atração é tão forte que Jesus o qualificou de deus e senhor, pois ele oferece tudo o que só o verdadeiro Deus pode dar.

Diante disso, faz todo o sentido a recomendação dada ao jovem rico para vender o que tinha e dar aos po-bres e, como tal, seguir a Jesus. Portanto, podemos concluir que a “moeda” circulante no reino de Deus é a amizade, cujo lastro é o amor.

Testemunho coletivo na Nova AliançaNo Antigo Testamento, sobressaía-se o dar; por

exemplo: “dar o dízimo e ofertas”. No Novo Testamento, o “dar” foi substituído pelo “dar a si mesmo”, pois nós mes-mos somos o sacrifício que ofertamos. Portanto, deixamos de dar somente o dízimo para dar nossa vida.

Quando o homem se casa, ele abandona sua agenda pessoal, substituindo-a pela do casal. Se a esposa adoe-ce, embora ele esteja fisicamente capaz de cumprir seus compromissos rotineiros, ele deve reorganizá-los para dar atenção à esposa, cuidar dela, acompanhá-la ao médico etc. Todos os projetos de realização individual e pessoal são colocados em segundo plano, pois agora existe um propósito e uma visão para a família como um todo.

O processo de conversão deve refletir esta mudança. Antes, tínhamos uma agenda individual, mas depois a agenda coletiva se sobrepõe a ela. Deixamos de nos concentrar em nós mesmos para colocar o outro em posição de honra e preferência.

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Recordamos que, até o sexto dia da criação, Deus fez tudo sozinho (na verdade, fez tudo com a Trindade). No final do sexto dia, depois de criar o homem, todos os seus projetos na Terra passaram a ser desenvolvidos em conjunto com seu novo parceiro.

Como Jesus veio revelar o caráter de Deus, evi-dentemente ele deu continuidade a esse mesmo jei-to de agir. Quando fazia algo, chamava pelo menos uma pessoa para acompanhá-lo. Ao dar uma missão aos discípulos, mandava-os de dois em dois. As coisas eram feitas em conjunto, até as tarefas mais simples, como a de preparar o local para a última ceia. Isso é coerente com o ensinamento sobre a presença dele e sua concordância onde dois ou três estiverem reunidos em seu nome (Mt 18.19-20). Vale lembrar, como dis-se S. Magno, que um é insuficiente para testemunhar o amor, mas a partir de dois isso se torna possível.

Só Judas cumpria uma função solitariamente: a de cuidar das finanças (o que facilitava sua falta de honestidade em desempenhá-la), e só ele recebeu uma ordem para sair sozinho e fazer o que tinha de ser feito rapidamente! Quando você for convidado para fazer algo sozinho, lembre-se disso!

Portanto, a mesma limitação de não agir sozi-nho também nos foi atribuída. É por isso que só te-mos a garantia da presença de Jesus conosco quando estamos na companhia de outro, e ambos estão em concordância com Deus. Sem cumprir esse quesito, corremos o risco de criar um mero empreendimento humano, ainda que seja um projeto louvável e bené-fico.

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Amigos do mestre

É salutar refletir se somos, de fato, amigos de Jesus. Isto é verificável por alguns parâmetros: se tenho amigos pelos quais estou disposto a viver e até mesmo a morrer, se não exijo que eles sejam qualificados de acordo com os meus objetivos empreendedores e se meu discipulado tem como propósito fazer deles amigos e não subordinados. Como amigos, eles me conhecerão e saberão que sou ami-go de Jesus. Inevitavelmente, isso lhes afetará. Se eu não tiver pessoalidade com Deus, não conseguirei transmiti-la aos outros.

Tudo isso nos propõe um testemunho coletivo, ou seja, comunitário. O termômetro da vida espiritual de um povo é a dose de vida comunitária que possui, o quanto cada um vive se doando e empenhando-se em favor do outro. A nossa decisão de adesão ao Evangelho é pessoal e individual, mas se trata de uma opção pela vida comu-nitária em Cristo. Optar por uma vida comunitária é o oposto à da pretensão de ser VIP – sigla em inglês para distinguir-se como “Pessoa Muito Importante”. Enquan-to querer ser VIP se destaca pela singularidade, o comu-nitário se destaca por adequar-se ao máximo às condições comuns a todos.

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Conhecer a Jesus

O que significa dizer que se conhece alguém? Sem dúvida, você já deve ter apertado a mão de muita gente, até de pessoas importantes, como políti-

cos, jogadores de futebol, cantores ou artistas. No entanto, se você encontrá-los novamente, eles não o reconhecerão. “Conhecemos” muitas pessoas ao longo da nossa vida, mas não mantemos contato com a grande maioria.

Que tipo de conhecimento você tem de Jesus? Só teve um contato geral ou superficial que nunca gerou con-tinuidade? Mesmo que seu encontro tenha sido pessoal e marcante, se não cultivou contato constante com Jesus, aquela experiência inicial pode ter perdido seu valor real e permanente.

Nem todos os encontros com Jesus produzem re-sultado em nossa vida. Quando não cedemos ou cor-respondemos à sua voz, não surte efeito prático algum.

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Amigos do mestre

Geralmente, não nos rendemos na primeira abordagem. Às vezes, é necessária muita insistência para que venha-mos a dar uma resposta positiva.

Portanto, para dizer que se conhece a Jesus, de fato, é necessário, em primeiro lugar, ter passado por um en-contro pessoal, não uma experiência coletiva ou superficial comparável a um “aperto de mão” geral. Além disso, em segundo lugar, é essencial manter um relacionamento vivo e contínuo. Sem esses requisitos, não teremos nada além de um conhecimento biográfico e jamais seremos capazes de realmente apresentar Jesus aos outros como um amigo.

Algumas pessoas conseguem acumular vasto conhe-cimento biográfico de personagens importantes. Podem discorrer longamente sobre qualquer aspecto da vida e obra de alguém com propriedade e autoridade porque real-mente conhecem os fatos, mas nunca conheceram a pessoa. Entretanto, para você apresentar uma pessoa a alguém, é necessário ser amigo dela. Do contrário, será apenas trans-missão de informações sobre a pessoa, como aquelas que constam no cadastro dos serviços de espionagem.

Em geral, quando evangelizamos, só estamos pres-tando informação a respeito de Jesus. Oferecemos uma porção de fatos, mas não abrimos o caminho para que se adquira um relacionamento pessoal com ele. Muitos co-nhecem em detalhes a biografia de Jesus, mas não mantêm um relacionamento aquecido com ele e se enganam, con-fundindo uma coisa com a outra.

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ConheCer a Jesus

O que fizemos com a pessoalidade de Deus?Vamos usar um neologismo para explicar com mais

clareza a ideia: a Igreja tem despessoalizado Deus, tirando sua característica de pessoa, o que equivale a torná-lo objeto. Um bom exemplo disso pode ser encontrado na política. Na época de eleição, as pessoas procuram os políticos para conseguir um benefício. Elas não têm interesse algum no indivíduo, apenas no favor que ele pode conceder. Pouco importa quem seja a pessoa, basta que seja um candidato.

Veja outro exemplo: alguém procura aproximar-se de seu chefe no emprego, tenta lhe agradar e alcançar seu favor porque sabe que ele tem o poder de promovê-lo. Não o admira como pessoa, mas o trata com deferência pelo fato de ser chefe. Se ele for substituído, passará a não lhe representar nada, e só o novo chefe será cortejado. Esse tipo de tratamento tira a pessoalidade do indivíduo e faz dele um objeto, alguém que representa uma vantagem, mas não tem valor algum em si mesmo.

Existem duas coisas boas no cristianismo que favo-recem muito esse risco de despessoalizar Deus. A primei-ra é a própria Bíblia. Se não tivermos a atitude certa em relação a ela, podemos nos encher de conhecimento dos fatos a respeito de Jesus sem conhecê-lo pessoalmente. É somente um conhecimento biográfico por meio da litera-tura.

É exatamente o que ocorre com os membros de fã clubes. Eles sabem tudo a respeito de seu ídolo, mas talvez nem tenham chegado a apertar a mão dele; nun-ca tiveram contato pessoal. É um relacionamento virtual,

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Amigos do mestre

externo, como aquele que adquirimos nas mídias sociais. Só sabemos o que foi postado sobre o nosso “amigo”.

Achar que conhece alguém dessa forma é muito su-perficial e se constitui num empecilho ao verdadeiro co-nhecimento. Achamos que conhecemos a Jesus quando, na verdade, só sabemos fatos sobre ele. Sabemos onde nas-ceu, o que fez, o que disse, o que ensinou, com quem con-versou, quando morreu, de que jeito morreu. No entanto, essas são apenas informações. A Bíblia é maravilhosa, é uma dádiva incalculável, mas, se não soubermos lidar com ela, poderemos usá-la para despessoalizar Deus.

Os cristãos primitivos não carregavam a Bíblia, por-que todos os rolos das Escrituras dariam um volume mui-to grande! E nem tinham ainda o Novo Testamento. No entanto, tinham um relacionamento pessoal com Deus e, na hora em que precisavam de alguma coisa, sabiam o que falar ou o que fazer.

A segunda coisa que pode contribuir para o mesmo efeito é a reunião da igreja. Ela pode tornar-se um grande equívoco. Enquanto a leitura da Bíblia se estabeleceu como um dos grandes objetivos da vida cristã pessoal, a reunião tornou-se a expressão principal da vida corporativa. Mas, assim como lemos a Bíblia para ganhar conhecimento em vez de buscar o conhecimento de Deus, a reunião pode se transformar num grande ajuntamento em que não se tem contato genuíno com Deus nem formação de laços de amizade e relacionamento entre as pessoas.

Fazemos reunião para tudo: evangelizar, ensinar, adorar, planejar. Tudo gira em torno de eventos. Uma vida comprometida com Jesus não pode ser limitada a reuniões

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ConheCer a Jesus

litúrgicas. Nem sempre temos oportunidade ali de fazer amigos, pois isso ocorre com mais facilidade no convívio natural durante a vida diária.

Mesmo nas reuniões menores, nas casas, podemos errar o alvo. Um simples exemplo nos mostra como é co-mum não criar os laços que Jesus deseja formar entre nós. Confundimos a frequência à reunião que ocorre na casa de determinado irmão com uma visita que fazemos para encontrá-lo. Entretanto, se a reunião muda para a casa de outro irmão, pode ser que não voltemos mais à casa do primeiro. Assim não temos relacionamento verdadeiro com os hospedeiros da reunião, mas apenas compromisso com a reunião.

Olhando para a igreja primitiva, a de Jerusalém, po-demos observar que o ponto alto não era a quantidade de reuniões que faziam (embora se visitassem diariamen-te – At 2.44,46). O Espírito Santo não atuava apenas na reunião. Pedro e João, passando pela porta do templo, en-contraram um homem aleijado que foi curado ali mesmo. Não fizeram uma reunião para curá-lo, mas ela aconteceu como consequência da cura quando as pessoas se ajunta-ram ali espontaneamente. Não havia uma faixa convidan-do as pessoas a levar os enfermos para serem curados.

Não houve planejamento, algo simplesmente acon-teceu. Eventos eram eventuais (!!!), as coisas aconteciam de maneira natural. A grande marca era a vida comunitária. Partilhavam tudo. Vendiam os bens, doavam o dinheiro e distribuíam a quem tinha necessidade. O Espírito Santo não estava apenas nas reuniões, estava na vida deles. As reuniões eram consequência da vida.

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Amigos do mestre

Hoje, pensamos: “Fiquei ocupado a semana toda, agora preciso ir à reunião para recarregar as baterias”. Os cristãos primitivos viviam com as baterias carregadas e, por isso, encontravam-se para compartilhar ao visitar uns aos outros. O Espírito Santo estava no dia a dia deles, mo-mento por momento, e não havia necessidade de se fazer “apelos” para ver quem podia ofertar a favor dos necessi-tados.

O que podemos fazer para reativar essa vida de igreja nos nossos dias? Precisamos voltar para a vida co-munitária. Não teremos uma igreja avivada somente com curas, profecias e outros dons. Precisamos de uma vida na prática. As pessoas tentam repetir o que era feito na Velha Aliança: grandes concentrações, períodos de jejum e de busca individual de Deus. Porém, não vemos mais ênfase nessas coisas na Nova Aliança.

Na prática da maioria das igrejas hoje, a Bíblia e a reunião são os maiores emblemas da vida cristã. A pessoa que frequenta fielmente uma reunião e lê regularmente a Bíblia costuma receber um alto nível de consideração por parte dos líderes e dos demais cristãos. Ela assume uma marca, recebe um carimbo. No entanto, essas práti-cas não asseguram, de forma alguma, que a pessoa tenha um relacionamento pessoal com Deus. Podem até levá-la a uma confiança falsa, achando que lhe garantem um sta-tus mais elevado de espiritualidade. Ela pode ter grande conhecimento da biografia de Jesus e muita intimidade com o ambiente religioso da reunião, mas isso não sig-nifica que tenha profundidade de relacionamento com Deus.

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ConheCer a Jesus

Foi assim que nossa prática despessoalizou Deus e transformou o cristianismo numa religião. A relação pes-soal com Deus tornou-se desnecessária porque essas obri-gações podem ser cumpridas sem conhecê-lo.

Para reconquistar a pessoalidade entre nós, será ne-cessário “ressocializar” Deus. Usamos a palavra ressociali-zar para nos referir ao processo de reinserir na sociedade alguém que ficou em reclusão por muito tempo, por exem-plo, na prisão. Porém, Deus não cometeu crime algum; nós é que escondemos a sua pessoalidade e fizemos dele uma pessoa distante, um objeto.

A ideia das religiões mais primitivas era que o ho-mem tinha de resolver sua vida com Deus sem nenhu-ma relação com os outros ou com a comunidade. O Deus dessas religiões não é um Deus social, mas individualista. Nelas, cada pessoa resolve sua vida com Deus e cuida de si mesma.

Antes da minha conversão, muitas pessoas tentavam me evangelizar, insistiam comigo, mas eu tinha um cora-ção duro. Quando não tinham mais o que falar, diziam mais ou menos o seguinte: “Bem, eu sou salvo, já fiz minha parte. Falei de Jesus para você. Se não aceitou, é problema seu”. Mas salvação bíblica não é: eu sou salvo e pouco me importo com quem não se interessa! Essa é a ideia das religiões, mas não a de Deus. A salvação se torna real à medida que incluo outros nela.

Deus é tão pessoal que pensou, planejou e arquitetou a encarnação. A prova maior de seu caráter pessoal é ter-se tornado homem e se apresentado a nós. A nossa missão precisa ser realizada dentro desse cenário.

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Cultivando um relacionamento aquecido

Quando não se tem relacionamento com alguém, é muito difícil manter uma conversa significativa ao ficar sozinho com ele. O tempo não passa, há

espaços embaraçosos de silêncio nos quais se tenta ela-borar uma pergunta ou um assunto para quebrar o gelo. E quando se faz uma pergunta, a pessoa talvez responda com uma única palavra, não dando sequência ao diálogo. Então, logo é preciso achar outro tema para dar continui-dade, desejando ansiosamente a despedida da pessoa e o fim daquela situação.

Por acaso, isso acontece também nas nossas conver-sas com Deus? Ficamos sozinhos com ele por 15 minutos, mas não temos assunto na oração para preencher 2 minu-tos.

Por outro lado, quando conversamos com um amigo de quem realmente gostamos, o assunto flui e não vemos

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Cultivando um relaCionamento aqueCido

a hora passar. Até nos esquecemos de dormir ou de comer, com receio de nos levantar da mesa ou do sofá para não quebrar o encanto e interromper o momento mágico.

Uma relação pessoal torna o ambiente quente e in-tenso. Se tivermos de caçar assuntos ou pensar no que fa-lar com Deus, é porque ainda temos pouca amizade com ele. Mesmo estando sempre nas reuniões ou lendo a Bíblia constantemente, podemos estar com um relacionamento desativado, sem crescimento e escondendo a falta de con-tato real atrás dessas atividades.

Quando temos uma amizade aquecida, sempre há um assunto novo. Logo após a despedida, lembramos algo que faltou dizer e não conseguimos resistir à von-tade de telefonar e contar. Existe um diálogo contínuo, que sempre se mantém vivo com aquela pessoa. Esse é o relacionamento de um amigo e deve ser a maneira de falarmos com Deus. Porque ele sabe de tudo, é sempre fácil conversar a respeito das expectativas, dos temores e das situações da vida.

Se não temos esse diálogo vivo com Deus, devemos ficar preocupados. O fato de estar sempre presente nas reuniões e ler fielmente a Bíblia e não ter amizade com Deus é muito sério, como uma patologia. Como bem sa-bemos, religião não salva ninguém. Quando chegar o dia final, o termômetro do nosso relacionamento com Deus precisa marcar se o conhecemos e se somos conhecidos ou não por ele. É essa relação com Deus que vai garantir nosso acesso definitivo ao reino dos céus. Não é o placar de quantas vezes fui à missa ou ao culto, mas se tenho um relacionamento apaixonado com Deus. Muitos que se encontram enganados pensando conhecer a Deus, sem

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manter com ele um relacionamento aquecido, correm o risco de ouvir do Senhor naquele dia um sonoro “não vos conheço...” (Mt 25.12).

Se um membro de nossa família passasse um dia inteiro sem falar, todos ficariam incomodados, tentando encontrar a razão disso para desfazer o mal-estar. Se o Es-pírito Santo habita em nós, somos a sua casa, o lugar onde ele fala todos os dias. Se passamos um dia sem ouvir Deus, devemos ficar alarmados e nem dormir de tanta preocu-pação: “Deus está quieto hoje, o que está acontecendo? O que foi – será que eu aprontei? O que está pegando?” Mas não é isso o que acontece. Vou dormir como se nada houvesse de anormal; no dia seguinte, nem me lembro de perguntar ou de procurar saber por quê.

O que é necessário, então, para nos aproximarmos mais de Deus? Se a existência do homem nasceu a partir de uma conversa na Trindade, nós só continuaremos existindo à me-dida que mantivermos a mesma prática de conversar com Deus. Não precisamos apenas de um encontro inicial, em que Jesus nos alcança e conquista nosso coração, levando-nos a tomar uma decisão para toda a vida. Esses encontros preci-sam acontecer continuamente. Foi assim com as pessoas que serviram a Deus nas Escrituras. Andaram com ele e tiveram, de tempos em tempos, novos encontros marcantes. O fato de Deus continuar falando conosco é nossa vida.

Muitas pessoas associam intimidade com Deus com uma experiência emotiva. Quanto mais emoção, mais real e íntimo consideram o relacionamento. Assim, de-pois de passar por uma experiência carregada de emo-ções, tentam revivê-la de algum modo. Procuram repetir as circunstâncias da reunião ou do contexto original.

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Entretanto, precisamos buscar uma amizade construída a partir de partilha de interesses, de diálogo contínuo, de andar juntos em momentos bons e maus. Precisamos ir além das emoções e achar algo mais sólido e duradouro.

Emoções podem vir de experiências momentâneas e não trazer efeitos duradouros. Na hora de comemorar um gol, por exemplo, há grande emoção por um instante, mas o time ainda pode perder, e podemos sair do jogo deprimidos. Quando se vai além da emoção, aquilo que é alcançado per-manece no coração. Mesmo não estando fisicamente com a pessoa, podemos nos lembrar dela, orar por ela, estar pronto para agir em favor dela.

Um exemplo de emoção é o apelo, usado comumente nas reuniões depois da pregação. Não é uma prática errada, mas pode representar uma ação emotiva que não permane-cerá na vida da pessoa. Às vezes, as pessoas podem sentir-se constrangidas para ir à frente pela insistência do pregador. Ou podem dar uma oferta por causa de pressão ou porque suas emoções foram tocadas. Precisamos ir além dessas emo-ções. Deus deseja estar presente na nossa vida em todos os momentos.

A única coisa que sabemos fazer, geralmente, para ge-rar um ambiente mais quente para nós mesmos ou para os outros é procurar uma reunião. É claro que podemos ter ver-dadeiros encontros com Deus numa reunião. Mas não preci-sa ser a primeira ou a única opção, pois existem alternativas igualmente válidas para desenvolver amizade pessoal com Deus e uns com os outros.

Se já temos um relacionamento ativo e aquecido com Deus, podemos ouvir sua voz a todo instante. Ao mesmo tempo, cada pessoa geralmente tem um momento especial

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em que costuma conversar com Deus e ouvi-lo. Temos li-berdade para fazer isso a qualquer momento, mas existe uma hora do dia em que geralmente conseguimos ouvi-lo melhor e que segura e reforça o nosso relacionamento com ele. Pode ser na caminhada, ao dirigir ou durante o banho!

Cada um deve achar a sua maneira particular de ter um contato mais íntimo com Deus. Para alguns, é de manhã; para outros, é à noite. Leia a Bíblia, não para cumprir uma tarefa, mas para conhecer a pessoa que está se revelando ali e para desenvolver um relacionamento vivo. Muitas vezes, passamos por cima de um versículo que chamou nossa atenção porque achamos que precisamos terminar o capítulo. Não façamos isso. Deus está querendo falar conosco, movendo-se dentro de nós. O relacionamento aquecido é o objetivo principal e não o cumprimento de uma meta de leitura.

Um encontro pessoal marcanteNo meu caso, dos vários encontros iniciais que tive

com Deus, um foi muito especial. Era uma manhã de sá-bado, uma semana antes da semana santa de 1974, numa Casa de Retiros, onde hoje é o parque Municipal Dom José em Barueri, SP. Um irmão leu e pregou, usando o texto de Mateus 23: “Sepulcro caiado, raça de víboras...”

Eu me vi como sepulcro caiado, branquinho por fora e podre por dentro, uma pessoa de vida dupla. Nos finais de semana, com os irmãos, eu demonstrava um padrão moral cristão. Entretanto, durante a semana, minhas com-panhias eram outras, e minha conduta moral ia se desva-necendo; no máximo, a partir de terça-feira retomava o vocabulário vulgar e os meus vícios, até chegar outro final de semana em que me recompunha.

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Naquele sábado, algo mudou minha vida. Vi Deus falando comigo por essa palavra e chorei o dia inteiro. Não almocei nem consegui fazer outra coisa senão focar a mi-nha condição. Foi realmente um encontro marcante com Deus.

Depois disso, vieram vários outros encontros. Nes-se mesmo local, que hoje é um Parque Municipal, tenho feito minhas caminhadas quase todos os dias, e é onde continuo tendo conversas muito significativas com Deus.

Numa dessas caminhadas, estava fazendo um balan-ço do meu relacionamento com Deus. Eu já havia recebi-do muitas coisas que pedira. Vários itens da minha lista já podiam ser riscados. Porém, alguns que estavam na lista há muito tempo ainda continuavam pendentes. Nenhum deles me parecia ser indevido, e me senti um tanto frustra-do por não ter sido atendido.

Diante disso, senti a voz do Senhor me confortando. De repente, um pensamento passou a iluminar a minha mente e tocou meu coração. Percebi que tudo aquilo que pedi e não recebi não me fez falta alguma. Vivi muito bem sem essas coisas. Por outro lado, recebi de Deus muitas outras que nunca pedi, mas que eram, de fato, essenciais para mim. Na verdade, não teria conseguido viver sem elas; só nem cheguei a pedi-las porque não sabia que pre-cisava delas.

Imediatamente, minha perspectiva em relação aos “débitos” de Deus comigo mudou. Minha ansiedade se dissipou, e fiquei em paz. Entendi que a negativa de Deus serviu para impedir minhas loucuras como ocorreu com Balaão, quando sua mula lhe falou. Embora meus planos pudessem parecer bons, eles teriam terminado mal.

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Não é que eu havia ficado bravo com Deus quando fui avaliar minha relação com ele; mas, ao entender suas razões, entrei numa paz muito maior. Até o corpo me pa-receu mais leve para continuar na caminhada. Esses en-contros com Deus são essenciais, pois são a fonte da nossa vida. Precisamos dialogar com ele todos os dias.

É difícil expressar o que Deus fala, porque não são palavras audíveis; ele não aparece à nossa frente para falar. Aos poucos, ao longo de diversas experiências, começamos a perceber quando ele está nos dizendo algo. À medida que nos acostumamos a ouvir o Senhor, sua voz fica cada vez mais nítida.

Que obra devemos fazer para Deus? Em outro momento com Deus, eu estava conside-

rando o horizonte do meu futuro, pensando nas deman-das, naquilo que Deus esperava de mim e no que eu espe-rava fazer para ele. Fiquei me perguntando se daria tempo para tudo, para completar toda a obra do Senhor. Ele me respondeu com outra pergunta: “Fazer toda a minha obra? Mas que obra?”. E acrescentou: “A minha obra é você!”.

Muitas vezes, podemos pensar que, por não termos realizado um empreendimento para o Senhor, nossa vida é vazia e sem propósito. Entretanto, só podemos reali-zar alguma obra para Deus na medida em que ele realiza sua obra em nós. Tornar-nos amigos dele; essa é a obra de Deus. É essa amizade que preencherá nossa vida e dará sentido ao que fazemos.

Pensamos que produzir coisas é a obra de Deus. Po-rém, não é minha produção que ele está querendo. É o que ele faz em mim, o que eu sou, o que me torno. Essa é a

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obra dele. Entender isso me deu um alívio muito grande. Traz muita paz entender que é Deus que está trabalhando, que ele é responsável por tudo. Jesus disse que a obra de Deus é crer naquele que ele enviou. Nascimento, conver-são e batismo no Espírito Santo são exemplos da obra de Deus, pois são coisas que não posso fazer por mim mesmo.

Em Gênesis, lemos que Deus descansou no séti-mo dia de todas as obras que havia feito. Mas Jesus disse: “Meu Pai trabalha até hoje e eu também”. Como é isso? Ele descansou, mas começou a trabalhar novamente? Será que descansou apenas no sétimo dia e, no dia seguinte, o primeiro dia da outra semana, já começou a trabalhar novamente? Será que ele começou a fazer algum outro sis-tema solar, outro universo? Não, ele completou todo o seu trabalho de criação ali mesmo no começo da história.

Não são a criação, os planetas e os seres vivos que dão trabalho para Deus. O diabo também não dá trabalho, porque um dia Deus resolverá essa situação com um sim-ples sopro de sua boca. O trabalho que Deus tem até hoje é conosco! Ele precisa continuar trabalhando por nossa causa. Ele quer nos conquistar. Poderia ter havido uma solução fácil, rápida e eficaz se assim o quisesse. Mas ele preferiu fazer um longo trabalho de seduzir e conquistar nosso coração. Ele quer nos atrair como um amigo. Ele está desenvolvendo uma relação de namoro e não quer forçar-nos a nada.

Ele quer que o conheçamos, que nos apaixonemos, que espontaneamente façamos a nossa adesão a ele. Todo esse tempo, dia após dia, meses a fio, durante anos e milê-nios, Deus está envolvido nesse trabalho de atrair-nos a si. Por isso, trabalha até hoje.

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Quando é que Deus poderá parar de trabalhar? Quando eu me render a ele. Enquanto estiver resistindo, Deus estará trabalhando, e permanecerá a peleja. O dia em que me render a ele, Deus descansará, e eu também. Nosso descanso é nele. À medida que cada um se rende, diminui o trabalho para Deus (Hb 4.10).

Quando chegar aquele dia, todos estaremos aten-dendo à voz de Deus, sem lutar mais contra ele. Aí haverá um novo descanso para Deus. Jesus dirá ao Pai: “Eis aqui os filhos que me deste”. Ele cantará ao Pai no meio da congregação, e a inspiração, a razão do cântico, seremos nós. Ele não se envergonhará de nós (Hb 2.10-13).

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Projeto comunitário informal - o caso Zaqueu

Nossa missão, então, é trazer de volta esse Jesus como amigo, aquecer nossa relação com ele e fazer com que outras pessoas experimentem o mesmo.

E como podemos fazê-lo? Seguindo o modelo perfeito de Jesus.

Os relatos nos evangelhos são mais um conjunto de histórias do que de métodos ou até mesmo de en-sinamentos sistemáticos. Vejamos, por exemplo, a his-tória de Zaqueu. Para as pessoas que viveram aquele momento, ninguém tinha noção de que acontecera algo que seria lembrado para sempre. Jesus foi a Jericó, acompanhado por multidões e, sem dúvida, fez e dis-se muitas coisas significativas. Dentro da perspectiva da narrativa bíblica, porém, percebe-se que o grande objetivo de Jesus naquele dia era Zaqueu. Foi o único incidente que permaneceu na memória de quem regis-trou o relato.

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Quantas pregações já ouvimos ou lemos a respeito dessa história? Poderíamos citar várias outras igualmen-te marcantes, como a da mulher com fluxo de sangue ou do jovem rico. De todos os acontecimentos em cada um desses dias, somente um foi registrado que deixou marcas para toda a história.

Isso revela a pessoalidade de Jesus. Ele se voltava a uma pessoa individualmente, não pensando em como al-cançar o mundo ou cumprir sua missão de forma mais abrangente. Ele se voltava para uma pessoa, e nada mais lhe importava. Era o momento de Zaqueu, da mulher, do jovem rico. Ele não estava preocupado com compromissos, agenda, horário, grandes resultados.

Jesus tinha pessoalidade porque se envolvia inteira-mente com um único indivíduo num determinado instante. Como Jesus fazia somente o que via o Pai fazer e expressava fielmente o seu coração, concluímos que Deus também é pessoal. Da mesma maneira, o Espírito Santo, que perma-neceu aqui para continuar o ministério de Jesus, tem exata-mente a mesma característica de pessoalidade.

A história de Jesus e Zaqueu é um exemplo do que po-demos chamar de projeto comunitário informal. É o caminho para recuperar a pessoalidade de Deus. Veja nesse episódio algumas qualidades de um projeto comunitário informal.

Em primeiro lugar, é plenamente realizável. Não requer grandes recursos, financiamentos, planejamento ou habilidades especiais. Jesus simplesmente saiu andando em direção a Jericó e, chegando lá, encontrou Zaqueu. Não precisamos criar um plano especial nem tentar ir além do nosso alcance natural. Falar com o primeiro-ministro da Rússia não está ao nosso alcance. Existem muitas outras pessoas que estão; nosso vizinho, por exemplo.

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Projeto comunitário informal

Em segundo lugar, o projeto comunitário informal precisa ter pessoalidade. Foi algo que aconteceu entre Je-sus e Zaqueu ou entre Jesus e o jovem rico. No nosso caso, poderia ser entre nós e quem? Não conseguiremos salvar todas as crianças abandonadas do Rio de Janeiro ou do Nordeste, mas podemos auxiliar uma em particular, que tenha face, nome e endereço.

Em terceiro lugar, é algo que deve ser feito em par-ceria. Mesmo que tenhamos condições de executar um projeto sozinho, sempre devemos fazê-lo em conjunto com outras pessoas. Alguns gostam de realizar atividades individualmente; é mais eficiente, dá menos dor de cabeça. Porém, não é a maneira de Deus agir.

Isoladamente, é difícil testemunhar do amor de Deus. Quando estou com outra pessoa, posso apresentar melhor esse amor. O amor não existe numa pessoa sozi-nha. É preciso haver aquele que ama e quem é amado. O próprio Deus não teria condições de se apresentar como amor se fosse uma pessoa sozinha. É por isso que o enten-dimento que o judeu tem de Deus dificulta sua percepção de amor na divindade. Em Alá, o muçulmano também dificilmente vê um Deus de amor. Mas na relação entre Pai, Filho e Espírito, vemos o amor em ação, demonstrado entre eles e derramado sobre nós.

É por isso que devemos sempre fazer as coisas em conjunto, formando parcerias. O que está ao seu alcan-ce fazer? Não o faça sozinho. Vai contribuir, visitar, aju-dar alguém? Vá na companhia de outra pessoa. Além de demonstrar parceria e boa cumplicidade entre os dois, o amor promoverá o fluir da comunhão. É a receita de Jesus. Vai orar por alguém? Leve mais um. Assim também não correrá o perigo de tomar a glória para si mesmo.

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A quarta característica é a despretensão. Na verda-deira pessoalidade, no interesse genuíno pelo outro, não há espaço para segundas intenções, principalmente a do proselitismo. Quando a pessoa percebe que temos uma motivação egoísta, um gancho escondido em algum lugar, um desejo de tirar proveito ou de levá-la para nossa igreja, o gesto perde todo o valor.

A quinta qualidade é a de ser flexível. Isso é ne-cessário para que seja um projeto informal. Hoje, vou me encontrar com Zaqueu. Hoje, o dia é para ele. Amanhã, pode ser para outra pessoa. Às vezes, pode se constituir apenas de uma visita ou um encontro. Uma vez realizado, dá espaço a outro, de maneira que nossa vida seja uma sequência desses projetos. A partir do momento em que o projeto se torna permanente e estruturado, já não é mais informal. Para ser informal, não há necessidade de muito planejamento. Quantas pessoas serão necessárias? De quantos recursos vamos precisar e onde vamos obtê-los? Esses fatores tornarão o projeto formal.

Em último lugar, é essencial que seja voluntário e espontâneo, algo feito por iniciativa própria. Aquilo que você faz apenas como obrigação, simplesmente como or-dem de um superior e sem convicção pessoal, não terá vida fluindo de Deus. A reprodução da pessoalidade de Jesus não deve ser fruto de pressão ou emoção. Precisa ser resul-tado de algo profundo, de um relacionamento quente, de amizade com Deus. Ele respeita nossa liberdade e espera nossa voluntariedade.

A grande história da vida e obra de Jesus foi compos-ta de pequenos incidentes e episódios. Pareciam ter pouco significado no momento em que aconteceram, mas tive-ram enorme importância ao longo da história. Exemplo

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Projeto comunitário informal

disso, também, foi a carta que Paulo escreveu a Filemom. Ele não tinha ideia alguma de que, por meio daquele bi-lhete, estava escrevendo uma parte da Bíblia, o livro mais lido, publicado e comentado de toda a história do homem.

A prática do desenvolvimento de projetos comuni-tários informais possibilita o envolvimento de toda a igre-ja e não somente dos integrantes do ministério, uma vez que não disputa espaço para o uso do microfone. Além disso, não requer investimento, pois cada um se envolve naquilo que está ao seu alcance financeiro imediato sem depender da tesouraria da igreja.

É uma vitória significativa sobre Mamom. Afinal de contas, é comum verificar determinados projetos de evan-gelismo, por exemplo, que, à medida que se expandem, necessitam de mais recursos financeiros e exigem que os envolvidos gastem mais tempo e energia na obtenção dos recursos do que no objetivo final do projeto.

O envolvimento em pequenos projetos comunitários informais exige humildade de nossa parte, pois, muitas ve-zes, um dos maiores impedimentos é a nossa atração por grandes projetos. É muito mais interessante envolver-nos em algo ambicioso como salvar as crianças da África do que em contribuir para resolver o problema de um indi-víduo solitário e anônimo pertinho de nós. Porém, é na somatória de inúmeros projetos pequenos que veremos a grande dimensão da ação de Deus na Terra. E é por meio de buscar esse tipo de envolvimento com pessoas, em pe-quena escala, de modo direto e relacional, que será resga-tada a pessoalidade de Deus entre nós novamente.

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Depois de iniciada minha pregação, uma multidão se ajuntava em várias ocasiões. De maneira geral, eles nem sabiam quem eu era, pois vinham motivados

pela curiosidade ou para satisfazer as diversas necessidades. Entretanto, havia em meio a ela alguns que estavam quase sempre presentes e interessados em aprender aquilo que eu ensinava.

Certa vez, tive uma longa conversa com o Pai que du-rou uma noite toda, e, ao amanhecer do dia, apressei-me em cumprir o que acabáramos de combinar: chamar doze dessas pessoas mais interessadas para estar sempre comigo, com o objetivo de conquistar plenamente a amizade deles conosco.

Depois disso, ficamos muito próximos, e eles tinham liberdade de me perguntar sobre tudo. De quando em quan-do, eu os incumbia de alguma missão, enviando-os para

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Uma conversa imaginária de Jesus com João

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juntos cumprirem tarefas específicas, como anunciar o Reino de Deus, expulsar demônios e curar enfermos.

Embora não percebessem, eu os estava preparando para dar continuidade à missão que eu havia iniciado.

Nossa amizade foi-se desenvolvendo, e eles foram per-cebendo que o mais importante era estarmos juntos. Sentía-mos prazer nisso e, quando alguém precisava fazer algo pelo outro, era uma oportunidade para estreitar ainda mais nossos laços. Por isso, a amizade vinha em primeiro lugar, e, a partir dela, as coisas se desenrolavam. Era por sermos amigos que fazíamos as coisas, não o contrário.

Eles se distinguiam dos demais discípulos que me acom-panhavam, pois decidiram largar tudo para andar comigo. Ain-da dentre esses doze, você, João, juntamente com seu irmão Tiago e Pedro, eram os mais próximos, com quem tive a liber-dade de mostrar no monte a minha transfiguração em glória, na companhia de Moisés e Elias, bem como minha agonia no jardim do Getsêmani.

No final de meu ministério com vocês, já nas últimas horas, havia coisas que meu coração queria contar-lhes, que remetiam àquela conversa que tive com o Pai logo antes da escolha dos doze. Desde o começo, fiz tudo para que vocês se tornassem amigos meus e do Pai. Sempre esperei por esse momento. Desde que os tive ao meu lado, vivi em favor de vo-cês, guardando e protegendo-os para que não se perdessem, como o Pai me recomendou.

Agora, como prova final de meu amor, estou pron-to a entregar minha vida por vocês. Não os considero pelo que fizeram, mas antes pelo que vocês são. Nossa relação não é de patrão e empregado ou senhor e servo, que é determinada pela recompensa do serviço prestado. Ela se baseia em quem nós somos um para o outro. Como amigos

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Amigos do mestre

meus e do Pai, vocês são a obra de Deus. Agora que está próxi-ma a hora de minha partida, quero dizer que vocês não ficarão abandonados, pois vamos enviar o Espírito Santo para guiá-los em toda a verdade, contando-lhes tudo o que o Pai conversa comigo e eu com o Pai. Afinal, ele também participa dessa con-versa, e sua missão é inserir vocês e todos os futuros discípu-los na nossa intimidade.

Aonde quer que forem, vocês me levarão em sua com-panhia. Não seremos jamais separados. Entretanto, o mundo só perceberá essa realidade à medida que vocês permanece-rem juntos, demonstrando que são amigos que aprenderam a amar com o Amor. Quando um demonstrar o que o outro lhe significa, o mundo entenderá o que eu significo para vocês.

Assim como fiz de vocês amigos meus e do Pai, vocês devem seguir fazendo com outros, por meio do Espírito San-to. Continuem essa amizade e expandam o nosso círculo ao mundo inteiro.

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Bill Johnson

Amizade com Deuse o Ministério

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Amizade com Deus

e o ministério

Em Mateus 10, Jesus enviou seus discípulos (estagiá-rios) de dois em dois para anunciar o Evangelho e a

chegada do Reino de Deus. Suas instruções foram muito simples e diretas. Deveriam “curar enfermos, ressuscitar mortos, purificar leprosos e expelir demônios” (v.8).

Veja só: ele não disse “ore pelos enfermos”; ele dis-se “cure os enfermos”. Achamos muito estranho quando Deus nos manda fazer algo além da nossa capacidade, im-possível para nós. Na verdade, carecemos de uma sacudida forte para abrir os olhos. Temos a ilusão de que damos conta (com um pouco de esforço) de grande parte da vida cristã e que só precisamos da intervenção de Deus em al-gumas situações mais críticas. Quando confrontamos uma doença muito grave – aí sim precisamos orar bastante!

Mas Jesus não instruiu os discípulos a orar! Ele disse: “Curai os enfermos”. Isso é impossível! Como vou

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cumprir essa ordem? E, de repente, cai a ficha! Curar os enfermos é uma ordem exatamente igual ao restante das exigências divinas: simplesmente impossível! Viver a vida de Cristo é tão impossível quanto curar enfermos ou res-suscitar mortos.

A chave de tudo isso é nossa conexão com o Espírito de Deus. É por meio da nossa ligação com ele que todas as coisas impossíveis tornam-se possíveis. Como podemos esperar o mesmo fruto da igreja primitiva quando valori-zamos um livro que eles nem tinham (o Novo Testamen-to) mais do que o Espírito Santo que estava presente e atuante em tudo o que faziam? A Trindade deles não era o Pai, o Filho e a Bíblia Sagrada, como tem sido para nós!

De forma alguma, estou diminuindo o valor da Bí-blia como a Palavra de Deus. Contudo, nossa atitude em relação a ela deve ser a seguinte: eu me aproximo desse livro com respeito e reverência, sabendo que é o Espírito Santo que dá vida às palavras nele contidas. Paulo já ad-vertiu: “a letra mata!”. Quantas guerras já foram travadas utilizando esse livro? Não só por causa da Bíblia, mas com ela, usando-a como estandarte e causa? Quantas vezes os cristãos já cortaram a orelha do oponente com as Escritu-ras, tentando provar que só eles tinham a razão? É o Espí-rito que faz com que essa Palavra se torne viva, a ponto de termos o privilégio de ver o Verbo se fazer carne outra vez. Passamos a ser a manifestação e a ilustração viva daquilo que Deus já disse e está dizendo.

Para isso, há várias coisas que precisamos aprender. A primeira é simplesmente ter a consciência, a percepção da presença do Espírito de Deus. Depois, devemos desenvolver

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uma intimidade com Deus que não se baseie no fato de ser-mos usados ou não no ministério. A questão não é se ele o usará ou não, mas de uma barreira que marcará até onde você poderá ir no serviço do Senhor. Deus não pode con-fiar muito poder em suas mãos, porque logo achará que foi mérito seu. Como é desejo dele usar-nos no ministério, qualquer pessoa que o busque com essa finalidade o acha-rá. Porém, precisamos entender essa questão do limite.

Aprender a viver na dependência de Deus, a relacio-nar-se com o Espírito Santo simplesmente por amizade, o levará a uma dimensão muito maior na esfera do sobre-natural do que se você buscá-lo somente em função de ser usado no ministério.

Suponha que você tivesse um amigo muito famoso. Imagine que, todas as vezes em que ele viesse à sua casa, você divulgasse a data e a hora a todos os vizinhos. Sem dúvida, eles apareceriam, espiariam pela janela, bateriam à sua porta e pediriam autógrafos. Logo, esse amigo não vi-ria mais. Ele suspeitaria que você estivesse usando aquela amizade para ganhar fama e glória com os vizinhos. Isso é prostituir um relacionamento!

O Senhor gosta mesmo é de amigos. Fico espan-tado ao ver o que ele fez por seus amigos na Bíblia. Davi conquistou um lugar tão especial que Deus Pai decidiu chamar o próprio Filho de filho de Davi por toda a eterni-dade! Como é que um homem pode conquistar tal lugar e mover o coração do Pai a ponto de ele decidir chamar seu Filho de filho de Davi para todo o sempre?

E como é que Deus, quando estava tomando deci-sões que afetariam a história e o resultado final de toda a

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humanidade no planeta Terra, esperava que um Abraão ou um Moisés entrassem no seu conselho para interagir com ele e dar sua contribuição?

Deus disse: “Vou matar o seu povo, Moisés, aquele povo que você tirou do Egito”.

Moisés respondeu: “Espera um pouco; não é meu povo, é o teu povo. E não fui eu que o tirei do Egito, foi o Senhor!”.

Com efeito, Deus admitiu: “Sim, Moisés, é verdade, você está com a razão”.

Deus esperava que Moisés entrasse ali no seu con-selho e se envolvesse na decisão, no processo de decidir o futuro do povo. É isso que acontece entre amigos.

Não é o que se espera de servos. Você sabe qual a diferença entre um servo e um amigo? O servo vive em função de tarefas. Todo o seu foco é completar a lista de ordens. É claro que obediência sempre é importante para o seguidor de Jesus. Porém, o amigo tem outra motivação. O servo procura obter favor por meio daquilo que faz, de seu desempenho. O amigo obtém favor por meio do rela-cionamento.

Em João 15, Jesus afirma que o servo não sabe o que seu mestre está fazendo. O servo não tem acesso às razões mais íntimas, às motivações ou aos pensamentos do seu senhor (algo que o amigo tem). Enquanto o principal alvo do servo é realizar o que lhe foi ordenado, o alvo do amigo tem a ver com o coração, com os pensamentos e as impres-sões. Ele não vive para cumprir uma meta, alcançar um número. Seu anseio é trazer alegria por meio da amizade.

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Mike Bickle (do ministério IHOP – Casa de Oração Internacional) sintetizou essa verdade muito bem quando disse: “Há dois tipos de pessoas no Corpo de Cristo – os que amam e os que trabalham. Os que amam sempre con-seguem realizar mais do que aqueles que focam somente no trabalho”. Os que amam conseguem realizar mais na esfera de obediência do que os escravos. Isso é porque têm acesso a uma fonte superior de recursos no coração, dispo-níveis somente na esfera de paixão, intimidade e amizade.

Portanto, temos diante de nós a tarefa impossível da vida cristã e do ministério, em que nosso relaciona-mento com o Espírito Santo é tão fundamental e abran-gente. Tantas pessoas lutam, hoje, para conseguir aceita-ção. Fazem obras, esforçam-se para ser aceitas, procuram construir uma identidade. Sua identidade é edificada em obras, no esforço para testemunhar, orar, ler a Bíblia e cumprir suas obrigações. Lutam muito para conseguir algum tipo de identidade que lhes possa proporcionar aceitação.

Aquele que crê em Jesus, porém, deveria ser dife-rente porque já é aceito desde o princípio. O relaciona-mento não começa com a conquista de mérito, mas com a amizade. A nossa aceitação torna-se nossa identidade, e é a partir dela que podemos trabalhar e realizar algu-ma coisa. Quanto mais eu estiver consciente do Deus que invade o impossível, mais viverei sob a influência de constante expectativa de intervenções sobrenaturais. Ficarei cada vez menos surpreso com acontecimentos e ações divinas não planejadas. Por outro lado, se eu não mantiver essa expectativa e não contar com a invasões sobrenaturais do impossível, reduzirei meu ministério a

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habilidades pessoais, que são importantes, porém insufi-cientes. Ficarei limitado ao dom ou ao talento que Deus me deu e o chamarei de ministério.

Não me importo se você sabe cantar, liderar, admi-nistrar, pregar ou ensinar. Indiferente da habilidade espe-cífica que tiver, seu dom é como uma vela no barco, total-mente inútil sem o vento. Precisamos do sopro de Deus para nos tornar o que fomos criados para ser. Precisa haver o elemento sobrenatural presente naquilo que Deus nos deu para fazer. O sopro do Deus Todo-poderoso é o que nos capacita e empodera.

“O cavalo prepara-se para o dia da batalha, mas a vitó-ria vem do Senhor” (Pv 21.31). Fazemos tudo o que temos capacidade para fazer, colocamos tudo em ordem e aguar-damos com expectativa e antecipação. Esperamos que o sopro divino venha e faça com que o natural se torne so-brenatural. E, para isso, damos a Deus toda a glória. Fica-mos imensamente agradecidos por ele ter permitido que simplesmente estivéssemos presentes enquanto ele agia.

Este texto foi traduzido e adaptado de um trecho de uma mensagem de Bill Johnson, publicado no YouTube. Bill Johnson é pastor de Bethel Church em Redding, Califórnia, EUA, e autor de vários livros, como A Presença (LAN Editora). Mais informações sobre este autor no site www.bjm.org.

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