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A pergunta “O que a neuroimagem revelaria sobre a suposta comu-nicação espiritual?”, por alguns anos, revi-

sitou minha mente até realizarmos o presente estudo. Encontrávamo-nos na Filadél! a, em julho de 2008, com dez médiuns brasileiros, no Centro de Radiologia e Medicina Nuclear da Universidade da Pensilvânia, para in-vestigar, por meio da neuroimagem, a interessante prática da psicogra! a em que, supostamente, “o espírito escreve por meio da mão do médium”.

Na ocasião, também realizávamos um documentário sobre o tema e for-mulamos duas perguntas às pessoas que circulavam aleatoriamente pela prestigiosa universidade: “Você acre-dita na comunicabilidade espiritual? Por quê?”.

A despeito de muitos aceitarem essa hipótese, em geral, enquanto a primei-ra resposta “sim” era seguida da expli-cação “por experiências pessoais e/ou

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postamente gerados por espíritos). As-sim, não surpreende que o estudo da mediunidade tenha sido crucial para o desenvolvimento das ideias sobre os processos inconscientes e/ou disso-ciativos. Por exemplo, o estudo clássi-co de Pierre Janet sobre a dissociação, de 1889, examinou vários médiuns; a tese de doutorado de Carl Jung envol-veu um estudo de caso mediúnico; e William James pesquisou a médium Leonore Piper. A psicogra! a é uma das muitas formas dissociativas da expres-são mediúnica. “Médiuns escreventes” alegam escrever sob a in" uência de es-píritos e muitos escritos psicografados tiveram impacto em comunidades em todo o mundo.

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Durante a psicogra! a, os médiuns escrevem narrativas estruturadas

e legíveis, mas frequentemente ale-

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por uma questão de fé”, a resposta “não” era seguida pela declaração “não exis-tem dados cientí! cos que comprovem”. Respostas assim também justi! caram a presente investigação. Embora o estu-do de experiências espirituais como a mediunidade tenha sido negligenciado pelos cientistas no século passado, atu-almente, diferentes linhas de pesquisa estão se associando rumo à compreen-são aprofundada da consciência e da dissociação mediúnica.

A mediunidade, fenômeno espiri-tual relatado com frequência em di-versas culturas ao longo da história, é de! nida como uma experiência na qual o médium alega manter comunicação com a mente de uma pessoa falecida ou estar sob o seu controle. Essas ex-periências são, em geral, dissociativas, com manifestações de automatismo motor, sensorial ou cognitivo (exem-plo: relatar/escrever pensamentos su-

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gam desconhecer o conteúdo ou a estrutura gramatical do texto escrito. Tivemos como objetivo investigar se esse tipo de estado de transe dissociativo se relaciona com alterações especí!cas na atividade cerebral que sejam distintas das ve-ri!cadas quando se escreve normalmente, isto é, fora de um estado de transe. Nossa hipótese a priori era a de que as áreas envolvidas em processos cognitivos, quando se escreve cons-cientemente, tais como raciocínio e planejamento de conte-údo, deveriam mostrar ativação semelhante durante a escrita no transe mediúnico.

Examinamos dez médiuns brasileiros com 15 a 47 anos de experiência mediúnica e que produziam de duas a 18 psi-cogra!as por mês, que dividimos em cinco médiuns “menos experientes” e cinco com “experiência substancial”. O cri-tério usado para classi!car os médiuns como “experientes” foi que tivessem praticado a mediunidade há pelo menos 20 anos e produzissem no mínimo dez psicogra!as por mês à época do início do estudo. Nenhum deles recebia pagamen-to pela atividade mediúnica, que consideravam parte de sua missão de auxiliar pessoas que sofrem, e todos relataram ter tido experiências espirituais na infância e/ou adolescência.

Medimos o "uxo sanguíneo cerebral regional (FSCr) uti-lizando tomogra!a computadorizada com emissão de fóton único (SPECT) durante a psicogra!a (escrita em estado de transe dissociativo) e comparamos os dados com aqueles co-letados durante a escrita em estado habitual de consciência ou de ausência de transe (tarefa de controle). O ato de escre-ver, nos dois casos, realizou-se em ambiente silencioso e com luz suave, em uma antessala do laboratório de neuroimagem. Pedimos aos voluntários que !zessem a psicogra!a tal como em suas atividades regulares como médiuns. Todos segui-ram o mesmo procedimento: sentaram-se confortavelmente, fecharam os olhos, concentraram-se e !zeram uma oração. De modo geral, entraram em transe em poucos minutos, pe-garam um lápis e começaram a escrever. Os médiuns relata-ram entrar em transe com facilidade e tranquilamente. Para a escrita de controle (em estado habitual de consciência), no mesmo local, pedimos que escrevessem sobre temas seme-lhantes aos que escreviam durante as psicogra!as.

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A escrita avaliada das duas tarefas envolveu aproximada-mente 350 palavras relacionadas ao período em que o cére-bro esteve impregnado com o marcador para adquirir a neu-roimagem. Essa análise foi “cega”, de modo que o avaliador não sabia a que grupo cada voluntário pertencia. Os seguin-tes critérios foram utilizados para avaliar a complexidade do conteúdo escrito: (i) pontuação, (ii) seleção de itens do léxico e ortogra!a, (iii) concordância verbal e nominal, (iv) desenvolvimento do tema, (v) estrutura das sentenças e arti-culação entre as partes e (vi) coerência. Os escores variaram de 1 a 4 para cada critério, do seguinte modo: (1) fraco, (2) regular, (3) bom, e (4) muito bom.

O decréscimo significativo do fluxo sanguíneo cerebral (FSC) ocorreu em várias áreas dos cérebros dos médiuns mais experientes, particularmente no cúlmen esquerdo, hipocampo esquerdo, giro occipital inferior esquerdo, cíngulo anterior esquerdo, giro temporal superior direito e giro pré-central direito (figura 1), durante a psicografia, em comparação com a escrita produzida em estado#de vigí-lia#(sem transe).

Os conteúdos escritos durante os dois tipos de tarefas – com ou sem transe mediúnico – nunca haviam sido escritos anteriormente. Os escores médios de complexidade para o conteúdo psicografado foram significativamente mais altos em comparação com a escrita em estado habitual de consci-ência, tanto para amostra geral como para os médiuns mais experientes.

A análise de correlação linear, comparando-se as mudan-ças no escore de complexidade do conteúdo escrito a mu-danças no FSC nas seis regiões relacionadas com o estado

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tem sido relacionada a graves di! culda-des para escrever. Os médiuns tiveram escores mais altos de complexidade, sugerindo que o planejamento para o conteúdo psicografado era mais so! s-ticado que o do conteúdo escrito em estado habitual de consciência. Supú-nhamos que a maior complexidade do texto, envolvendo mais criatividade e planejamento durante a psicogra! a, exi-giria maior atividade no giro pré-central direito, giro temporal superior direito, cíngulo anterior esquerdo, hipocampo esquerdo, cúlmen esquerdo e giro oc-cipital inferior esquerdo do que a tarefa de controle menos complexa. Mas não foi o que ocorreu, especialmente no caso dos médiuns experientes.

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signi! cativamente mais baixo em com-paração à escrita habitual da condição de controle (! gura 1).

Investigações neurofuncionais mos-traram que a escrita é um processo complexo que exige sincronização de habilidades cognitivas, linguísticas e perceptomotoras. A complexidade do conteúdo escrito re" ete a criatividade e planejamento do autor, destacados na atividade no giro pré-central, giro tem-poral superior direito, cíngulo anterior esquerdo, hipocampo, cúlmen e lobo occiptal. Hipoperfusão nessas regiões

de psicogra! a, revelou tendência de correlação inversa, de modo que maio-res níveis de complexidade estiveram associados com FSC progressivamente decrescente em cada região.#

Nossa hipótese a priori não se con-! rmou, já que os resultados apresenta-ram signi! cativas alterações no " uxo sanguíneo em diversas áreas do cére-bro durante a psicogra! a, em compa-ração com a escrita fora do estado de transe. Além disso, os médiuns expe-rientes, durante a escrita em estado de transe dissociativo, apresentaram FSCr

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transtornos mentais. Esses achados sublinham a importância de futuras investigações endereçarem a precisão dos critérios para distinguir expres-sões dissociativas saudáveis e pato-lógicas no escopo da mediunidade.

Consideramos algumas discussões entre nossos achados e estudos neuro-funcionais sobre outros estados mo-dificados de consciência. Em relação

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Embora os voluntários do estudo tenham relatado alucinações au-

ditivas, alterações de personalidade e outros comportamentos dissocia-tivos, as entrevistas clínicas estrutu-radas excluíram transtornos psiqui-átricos. Anormalidades de FSC no cíngulo anterior, pré-central, tem-poral e cúlmen podem predizer o

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desenvolvimento de psicoses de alto risco em indivíduos, com subsequente transição para psicose. O cíngulo anterior está relaciona-do ao sistema atencio-nal em conjunção com regulação emocional, aprendizado, memória, detecção de erro, moni-toramento de conflitos e planejamento. A ati-vidade reduzida no cín-gulo anterior, giro pré--central, giro temporal superior e hipocampo nos médiuns experientes pode explicar em parte a ausência de foco, de autoconsciência e de consciência sobre o conteúdo psicografado durante o estado disso-ciativo.#Apesar de várias similaridades com a ativação cerebral relacionada em pacientes#esquizofrênicos, os mé-diuns participantes do estudo não sofriam de esquizofrenia ou outros

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A tendência de correlação inversa encontrada em nosso estudo, quando se leva em conta a complexidade dos textos psicografados, merece discus-sões mais aprofundadas, investiga-ções futuras e hipóteses elucidativas. Alguns poderiam especular que tais achados estejam relacionados àqueles mostrados em estudos sobre improvi-sação musical, em que a diminuição da atividade em circuitos atencionais pode ter envolvido o treinamento para a inibição da atenção, favore-cendo a emergência da criatividade. Ainda sobre criatividade, um estudo recente mostrou que o consumo de álcool, que reduz a atividade do lobo frontal, parece aumentar a criativi-dade ou talvez, na verdade, diminuir a crítica. Contudo, os estados de im-provisação musical – com acentuada participação da memória motora – e consumo de álcool são bastante parti-culares e distintos da psicografia, que envolve elaboração de textos inteligí-veis com mensagens éticas, conteúdos não improvisados e, portanto, não po-dem ser comparáveis entre si.

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Estudos de processamento de lin-guagem sistematicamente mos-

tram o envolvimento do córtex tem-poral superior e do giro pré-central como fundamental para processar pa-lavras. O nível reduzido de atividade no córtex temporal, giro pré-central, hipocampo e cíngulo anterior em mé-diuns experientes também reforça os seus relatos subjetivos de que não ti-nham consciência do conteúdo escri-to durante a psicografia, cujos temas envolveram princípios éticos/espiri-tuais e a importância da união entre ciência e espiritualidade. Os médiuns referem que “a autoria dos textos psi-cografados foi dos espíritos comuni-cantes e não pode ser atribuída a seus próprios cérebros”, o que é uma hipó-tese plausível.

Os indivíduos relataram que o tran-

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com maior atividade durante tare-fas realizadas por especialistas. Por exemplo, assim como o planejamen-to de escrita refinada, o xadrez é um jogo que envolve muitos aspectos da cognição e requer habilidades sofis-ticadas de resolução de problemas. Especialistas no jogo mostraram ati-vidade acentuada no cíngulo poste-rior, córtex órbito-frontal e córtex temporal direito quando comparados a enxadristas iniciantes. A observa-ção neurofuncional de prodígios em cálculos aritméticos e especialistas em ábaco (antigo instrumento de cálculos matemáticos) também suge-re que experts em tarefas cognitivas sofisticadas expressaram maior ativi-dade em rotas cerebrais diferenciadas e mais extensas, como nos circuitos atencionais e de planejamento.

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à sugestão hipnótica, alguns estudos mostraram maior ativação pré-frontal e dos circuitos relacionados à atenção, enquanto os médiuns experientes apresentaram níveis mais baixos de atividade no sistema atencional fron-tal. Embora tenham sido observadas redução na conectividade frontal-pa-rietal e desativações frontais depois de indução hipnótica em indivíduos altamente sugestionáveis, a hipnose é fenomenologicamente distinta das expressões mediúnicas e, por isso, as duas condições não são diretamente comparáveis. Além disso, assim como na meditação, a ideia de que a hipnose reflita um estado dissociativo ainda é controvertida.

Por outro lado, estudos sobre ex-pertise cognitiva envolvendo plane-jamento mostraram circuitos neurais

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se envolvia um “estado de relaxamen-to mental”. Tal relaxamento poderia explicar a atividade geral reduzida do cérebro, mas o fato de que os indiví-duos produziram textos complexos em estado de transe dissociativo su-gere que eles não estavam meramente relaxados. Os resultados também não condizem com simulação ou fraude, que têm sido oferecidas como expli-cações para a mediunidade. Circuitos neurais relacionados ao planejamento presumivelmente seriam recrutados para a composição dos textos, caso os indivíduos estivessem simulando tais conteúdos. Entretanto, as regiões as-sociadas ao processamento cognitivo envolvidas em raciocínio e planeja-mento mostraram menor atividade.

A natureza da mente e sua relação com o cérebro ainda estão entre as questões mais desa! adoras para a ci-ência, e a despeito de tais perguntas não serem até o momento conclusi-vamente respondidas, suposições a

esse respeito orientam intervenções terapêuticas. Até onde sabemos, esta é a primeira investigação neurofuncio-nal sobre mediunidade. Levamos em conta teorias que examinam a criativi-dade e o planejamento de conteúdos escritos, potenciais substratos neurais envolvidos, experiências religiosas, dissociativas e a hipótese da comuni-cabilidade espiritual. Como primeiro passo para compreender os correlatos neurais envolvidos na dissociação me-diúnica não patológica, enfatizamos que essas descobertas merecem mais investigação em termos de replicação e hipóteses explicativas. Contudo,

fornecemos dados preliminares que apontam para uma potencial utilidade aos estudos epistemologicamente bem fundamentados dos estados dissociati-vos de consciência e das experiências espirituais para termos, num futuro próximo, diagnósticos mais precisos e intervenções terapêuticas e! cazes.

Agora, outras perguntas e dese-nhos neurofuncionais visitam minha mente. Convido os colegas neurocien-tistas a colaborarem e a investirem nes-sa importante linha de pesquisa para o aprimoramento de nossa compreen-são sobre as manifestações espirituais e suas relações com o cérebro.

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