ambiente educacional como facilitador da … · dramatizações de vendas e estudo de merceologia....

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AMBIENTE EDUCACIONAL COMO FACILITADOR DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL Mariangela de Paula Albertino SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – Brasil [email protected] Helena Gemignani Peterossi Centro Paula Souza – Brasil [email protected] O trabalho apresenta um estudo da organização e aproveitamento de ambientes de cursos de educação profissional, em nível médio e superior. Esse estudo foi realizado por meio de investigação da evolução desses ambientes nas últimas seis décadas, no SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, instituição educacional presente em todo o Brasil. O trabalho visa contribuir com propostas para otimização de espaço físico de ambientes educacionais e de recursos materiais necessários, propiciando maior interação professor/aluno e aluno/aluno e possibilidades de viabilização de projetos de ambientes educacionais com incorporação de novas tecnologias para educação presencial e a distância. A análise dos ambientes educacionais verificou em que medida eles possibilitam o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa: ampliação das habilidades cognitivas do aluno, possibilidade de aprender fazendo e o favorecimento da transferência de aprendizagem para o cotidiano do indivíduo. O trabalho também apresenta um novo modelo de gestão educacional, em que o gestor tem papel fundamental na gestão de pessoas, pedagógica e social para a concepção de ambientes educacionais inovadores. A postura de educador com visão de futuro e aberto a posições democráticas e participativas em sua gestão vai definir a ação dos demais profissionais que atuam na instituição: coordenadores pedagógicos, supervisores, monitores, professores. O SENAC: um pouco da sua história SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, instituição educacional presente em todo o Brasil, criada em 10 de Janeiro de 1946, com o compromisso central de oferecer uma proposta educacional, na modalidade de cursos profissionalizantes, para jovens e adultos com o objetivo de prepará-los e desenvolvê-los para as atividades de trabalho no setor de comércio e de serviços. A partir de 1947, inicialmente na cidade de São Paulo e mais tarde em algumas cidades do interior, os primeiros cursos profissionalizantes foram implementados e oferecidos à clientela a que se destinava. Iniciava-se assim, uma educação que visava preparar o indivíduo para ingressar no mercado de trabalho. 631

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AMBIENTE EDUCACIONAL COMO FACILITADOR DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

Mariangela de Paula Albertino

SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – Brasil [email protected]

Helena Gemignani Peterossi Centro Paula Souza – Brasil

[email protected]

O trabalho apresenta um estudo da organização e aproveitamento de ambientes de cursos de educação profissional, em nível médio e superior. Esse estudo foi realizado por meio de investigação da evolução desses ambientes nas últimas seis décadas, no SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, instituição educacional presente em todo o Brasil. O trabalho visa contribuir com propostas para otimização de espaço físico de ambientes educacionais e de recursos materiais necessários, propiciando maior interação professor/aluno e aluno/aluno e possibilidades de viabilização de projetos de ambientes educacionais com incorporação de novas tecnologias para educação presencial e a distância.

A análise dos ambientes educacionais verificou em que medida eles possibilitam o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa: ampliação das habilidades cognitivas do aluno, possibilidade de aprender fazendo e o favorecimento da transferência de aprendizagem para o cotidiano do indivíduo. O trabalho também apresenta um novo modelo de gestão educacional, em que o gestor tem papel fundamental na gestão de pessoas, pedagógica e social para a concepção de ambientes educacionais inovadores. A postura de educador com visão de futuro e aberto a posições democráticas e participativas em sua gestão vai definir a ação dos demais profissionais que atuam na instituição: coordenadores pedagógicos, supervisores, monitores, professores.

O SENAC: um pouco da sua história

SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, instituição educacional

presente em todo o Brasil, criada em 10 de Janeiro de 1946, com o compromisso central de

oferecer uma proposta educacional, na modalidade de cursos profissionalizantes, para jovens e

adultos com o objetivo de prepará-los e desenvolvê-los para as atividades de trabalho no setor

de comércio e de serviços.

A partir de 1947, inicialmente na cidade de São Paulo e mais tarde em algumas cidades

do interior, os primeiros cursos profissionalizantes foram implementados e oferecidos à clientela

a que se destinava. Iniciava-se assim, uma educação que visava preparar o indivíduo para

ingressar no mercado de trabalho.

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Universidade do AR – UNAR – Primeiro ambiente virtual

A proposta da UNAR, criada em 1947, representava uma grande novidade em termos

educacionais. A UNAR recorria à tecnologia como instrumento importante no trabalho com o

conhecimento. Assim, os núcleos do SENAC espalhados pelo interior do Estado de São Paulo

recebiam as aulas por meio da radiodifusão. A transmissão das aulas, via rádio, priorizava

quatro disciplinas: Português, Aritmética Comercial, Ciências Sociais e Noções de Economia e

Comércio e se destinavam aos jovens e adultos que por diversas razões não concluíram a

escolaridade em idade própria (Figura 1).

Figura 1 – Universidade do Ar. São Paulo, 1949. SENAC São Paulo.

Esses discos que continham as aulas gravadas eram distribuídos para os núcleos

educacionais devidamente criados e instalados, núcleos estes que contavam com a presença de

monitores capacitados pelo SENAC de São Paulo e responsáveis pelo desenvolvimento dos

trabalhos educacionais nas cidades do interior do Estado (Figura 2). A prática pedagógica se

realizava nas salas de aula das escolas onde o monitor1 local tinha algumas funções elementares:

colocar o disco no equipamento apropriado para a transmissão do conteúdo de determinada

disciplina, distribuir aos alunos materiais de suporte pedagógico às aulas transmitidas, contendo

exercícios, e acompanhar e orientar os alunos na execução dos exercícios propostos no material

de suporte.

1 Monitor – aqui designa o instrutor de sala de aula, o professor da disciplina. Até hoje o SENAC denomina o professor como “Monitor de Desenvolvimento Profissional”.

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Figura 2 - UNAR-DISCO: Universidade do AR, São Paulo – SP, 1957. SENAC São Paulo

Primeiros ambientes presenciais

Os primeiros ambientes do SENAC denominados de “pedagógicos profissionais” foram

instalados, em 1948. Os ambientes eram o Escritório-Modelo (Figura 3) e a Loja-Modelo

(Figura 4), onde eram realizadas, respectivamente, as aulas práticas de rotinas de escritório e de

técnicas de vendas, que visavam a busca de soluções no sentido de proporcionar aos alunos

cursos práticos de atividades comerciais, a partir de um contexto real.

É necessário acrescentar que essas Lojas e Escritórios possuíam instalações, mobiliários

e equipamentos em nível de excelência, visando ao máximo aproveitamento de uso.

Figura 3 - Escritório-Modelo - Escola Senac Mauricio Lange, 1964. Marília – SP.

Figura 4 – Loja-Modelo, Edifício João Nunes Jr., 1968. São Paulo – SP. SENAC São Paulo

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Em 1968, as atividades desses ambientes foram ampliadas e diversificadas, com outras

possibilidades de cursos: prática de arranjos de mercadorias, noções e práticas de vitrinismo,

dramatizações de vendas e estudo de merceologia.

As vivências práticas tornaram-se o ponto alto tanto nas Lojas como nos Escritórios e o

plano de ensino de cada uma das disciplinas previa, necessariamente, junto aos alunos, um rol

de atividades em que a observação, a pesquisa, o relatório e o debate constituíam os elementos

principais para a realização dos trabalhos pedagógicos (priorização das capacidades cognitivas

do aluno).

Década de 1960 - início de mudanças no SENAC

No ano de 1961, o SENAC inicia o projeto da primeira escola, sob o ponto de vista

arquitetônico, com instalações projetadas para atender a especificidade da prestação dos seus

serviços. Nesse sentido, o desafio maior era montar uma escola com uma nova concepção de

ensino profissionalizante, visando oferecer ao educando um ambiente de estudo mais motivador,

mais estimulante para a aprendizagem.

Com o propósito de romper com a estrutura física das salas de aula convencionais, as

dependências e instalações dessa escola foram devidamente planejadas, tendo em vista a criação

dos ambientes educacionais que, na época, representavam uma grande inovação (Figuras 5 e 6).

Figura 5 - Restaurante Pedagógico, Escola de Hotelaria Lauro Cardoso de Almeida - Edifício João Nunes Jr, 1968. São Paulo – SP. SENAC São Paulo.

Figura 6 – Sala-ambiente do Curso de Óptica, Edifício João Nunes Jr., 1970. São Paulo – SP. SENAC São Paulo.

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Hotéis Escola - Grande Hotel Águas de São Pedro (1969) e Grande Hotel de Campos do

Jordão (1998)

Quando se pensou em um Hotel-Escola (Figura 7), o grande desafio do SENAC foi o de

instalar um centro de desenvolvimento de formação escolar em Turismo e Hotelaria.

O retorno obtido junto aos alunos que estudaram no Hotel-Escola São Pedro foi

altamente positivo, fato este que motivou a criação e implantação de mais um hotel-escola

SENAC, desta vez o Grande Hotel Campos do Jordão, inaugurado no ano de 1998.

Figura 7 – Grande Hotel São Pedro, Águas de São Pedro – SP, 1995. SENAC São Paulo.

As experiências, com sucesso, na

área de hotelaria permitiram a criação e

implantação de curso, em nível superior, de

Tecnologia em Hotelaria, o primeiro curso

superior do SENAC em São Paulo - Brasil.

Unidades Móveis de Formação e

Treinamento

As Unidades Móveis foram

introduzidas no ano de 1973, no Estado de

São Paulo, e permanecem em atividade até os

dias de hoje no Brasil.

Uma das grandes vantagens do SENAC Móvel é a sua mobilidade, que permite o

deslocamento da unidade de ensino para as mais diversas regiões do país. O seu destino não é

traçado aleatoriamente, pelo contrário, é definido após um prévio levantamento do perfil sócio-

econômico do município a ser atendido, procurando sempre evitar a saturação do mercado de

trabalho local.

Esse projeto começou com um simples vagão de trem, em uma parceria entre o SENAC

São Paulo e a empresa ferroviária FEPASA (Figura 8). Estabelecidas as competências da

parceria, o vagão escolar foi totalmente adaptado a fim de atender as exigências de um ambiente

educacional profissional (Figura 9).

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Figura 8 – Vagão-Escola, 1981. São Paulo – SP. SENAC São Paulo .

Figura 9 – Vagão-Escola, 1981. São Paulo – SP. SENAC São Paulo.

Diante dos bons resultados alcançados junto aos alunos, foram instaladas unidades móveis em

carretas, sem perder de vista a necessidade de se criar ambientes específicos para uma educação

na modalidade profissionalizante (Figuras 10 e 11).

Essas carretas são acopladas a caminhões e deslocadas para as mais diferentes regiões, desde

que atendido o critério para atendimento, acima descrito.

Figura 10 – Carreta Senac Móvel, 2001. Rio de Janeiro – RJ. Senac Departamento Nacional.

Figura 11 – Carreta de Beleza, 2001. Rio de Janeiro – RJ. SENAC Departamento Nacional

Décadas de 1990 e 2000 – Retorno aos ambientes virtuais

STV – Rede SESC SENAC de televisão.

Face aos avanços tecnológicos e atento às novas exigências do mercado de trabalho, em

1996 foi criado um canal a cabo, com programação 24 horas, voltada à Educação e Cidadania.

A STV conta, ainda, com dois canais fechados para teleconferências que são transmitidas para

200 auditórios no Brasil. Essa transmissão é ao vivo, diretamente do estúdio que se transforma

em sala-ambiente, organizada e adaptada ao tema de cada teleconferência que são interativas.

GEAD – Gerência de Educação à Distância

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A Educação a Distância, especialmente o e-learning, vem crescendo satisfatoriamente,

atingindo um número cada vez maior de alunos, e isto graças ao avanço dos recursos da

tecnologia da comunicação e informação de que o SENAC dispõe.

O projeto estratégico em EAD, foi criado no início de 2000, com a inserção da

organização nesse mercado emergente.

O grande desafio do SENAC São Paulo foi, sem dúvida, a criação de ambientes

educacionais, permitindo ao aluno viver a teoria na prática, momento em que ele “aprende fazer,

fazendo”, o que torna o processo de ensino-aprendizagem mais significativo e, por

conseqüência, mais produtivo, mais eficiente e mais construtivo. Valoriza-se sobremaneira o

“aprender participando”. Em outras palavras, os atos de participação vão construindo o aprender

nos níveis individual e social. Nesta direção, “o “aprender fazendo” é o caminho natural para

aprendizagens significativas” (Barato, 2004, p. 49).

Ambientes educacionais: uma nova concepção

Neste momento, cabe reafirmar que trabalhar com educação sempre se apresentou para

mim como um desafio a ser vencido a cada dia, a cada nova situação. Por não ver a escola como

um organismo inerte, fechado às mudanças, sempre tive a curiosidade de repensar a minha

prática educacional e, por conseguinte, o espaço onde essa prática se desenvolve.

Essa inquietação foi lentamente me levando a rever as condições e situações que

possibilitam ao aluno maior sucesso na aprendizagem. Assim, comecei a pensar em projetos

educacionais que, pela forma como eram concebidos implicavam, necessariamente, em uma

nova concepção de ambiente educacional. Foi preciso, então, encontrar alternativas de espaços e

as possíveis soluções que permitissem viabilizar projetos de ambientes educacionais voltados

para uma formação mais ampla do indivíduo que atendessem, inclusive, a suas expectativas

além dos muros escolares.

Ao pensar em instituição escolar, não há como desvinculá-la de ambientes, não aqueles

ambientes fechados em que o saber é transmitido a partir de disciplinas e conteúdos que não

“conversam” entre si, mas em ambientes que favorecem o diálogo entre as pessoas, disciplinas e

conteúdos.

A partir dessa concepção, acredito que uma escola na sua estrutura física deve ser um

espaço criado ou adaptado para a sua função primeira, ou seja, um local que tenha a

funcionalidade adequada para receber um número grande de pessoas que nele convivem e

passam grande parte das suas vidas. Assim, alguns aspectos devem ser considerados no projeto

geral de uma escola :

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- Prever a segurança ocupacional e patrimonial, ou seja, na concepção do ambiente

educacional devem estar implícitas as normas e legislações pertinentes.

- Atender questões pertinentes à vigilância sanitária, normas de engenharia em

conformidade com a legislação municipal, estadual e federal.

- Ser concebidos e contemplados todos os aspectos de ergonomia no ambiente, desde a

disposição do mobiliário e dos equipamentos, buscando a qualidade de vida no trabalho.

- Levar em consideração questões ambientais como, por exemplo, aproveitamento de

iluminação natural, cores claras, prever o tratamento de resíduos tóxicos, tratamento de

água e coleta seletiva de materiais danosos à saúde ou ao meio ambiente.

- Prever a incorporação da tecnologia tanto para atividade-fim como para atividade-

meio. Isto deve ser definido no projeto, com uma visão futurista, considerando-se a

velocidade da evolução tecnológica.

Esta concepção de ambiente educacional parte do princípio de que a educação vai além

de um curso que o indivíduo faz. Ela transborda para além dos bancos e muros escolares e, sob

esta visão, o projeto geral da escola deve ter uma função educativa voltada, inclusive, para o

cultivo da cultura, da história, da higiene, da segurança e do meio ambiente.

Não podemos, no papel de educadores, preocupar-nos apenas com o conhecimento

sistematizado. Temos de nos preocupar em formar o aluno para a vida.

Outro aspecto a ser considerado é que ao facilitar a dialogicidade entre os autores do

processo de ensino e aprendizagem, os ambientes educacionais permitem que o educando

realize tarefas sozinho, em auto-desenvolvimento e, por outro lado, esses mesmos ambientes

favorecem a interação do educando com o outro e a solicitação de ajuda em atividades mais

complexas. Esse intercâmbio na troca de conhecimentos, que não precisa ser necessariamente

entre professor e aluno, mas entre aluno e aluno, contribui não apenas para a resolução de um

problema específico, em um determinado momento, mas para a resolução de outros problemas

que se apresentarem.

Projetos de ambientes educacionais – uma nova proposta do SENAC

Ao longo das seis décadas, foram implantados no SENAC vários tipos de projetos

educacionais, denominados conforme suas características específicas e os objetivos pretendidos:

a) Ambiente educacional fixo: Este espaço se destina ao desenvolvimento de um único

curso, de uma única área. Por exemplo, Laboratório de Óptica (Figuras 12 e 13).

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Figura 12 – Laboratório de Óptica, Senac Tiradentes, 2005. São Paulo – SP. SENAC São Paulo.

Figura 13 – Laboratório de Óptica, Senac Tiradentes, 2005. São Paulo – SP. SENAC São Paulo.

b) Ambiente educacional fixo / flexível ou misto: Este espaço é multifuncional, pois

nele podem ser realizados mais de um curso de diferentes áreas. Nele podem ser

desenvolvidas tanto aulas expositivas, como práticas. Exemplo, Laboratório de

Farmácia (Figura 14).

Figura 14 – Laboratório de Farmácia, Senac Tiradentes, 2005. São Paulo – SP. SENAC São Paulo.

c) Ambiente educacional móvel multiuso, com incorporação de novas tecnologias: Este

espaço se constitui no aproveitamento de carretas, vagões de trem, barcos devidamente

equipados; propicia o desenvolvimento de cursos de várias áreas e, pela tecnologia

instalada, permite a recepção de teleconferências, programas educativos de TV, bem

como a transmissão de filmes e de palestras educativas para a população (Figuras 15 e

16).

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Figura 15 – Carreta-Escola, Rio de Janeiro – RJ, 2001. SENAC Departamento Nacional .

Figura 16 – Balsa-Escola, Rio de Janeiro – RJ, 2001. SENAC Departamento Nacional

d) Ambiente Físico Fixo Multiuso, com incorporação de novas tecnologias: Este

ambiente, devidamente equipado com recursos tecnológicos, pode ser usado por vários cursos

de diferentes áreas e atende tanto a uma modalidade educacional presencial, como a distância,

que poderá ser realizada simultaneamente. Por exemplo: Clínica Odontológica (Figura 17).

Figura 17 – Clínica Odontológica, Senac Tiradentes, 2004. São Paulo – SP. SENAC São Paulo.

e) Ambientes educacionais virtuais: Estes ambientes criam inúmeras possibilidades para

o desenvolvimento de cursos de diversas áreas, com transmissão das aulas pela Internet,

produção de CD RON, produção de vídeos ou DVD. Exemplo: Cursos de educação a distância

produzidos pelo SENAC de São Paulo (Figura 18).

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Figura 18 – Tela Ambiental Virtual, Curso Periodontia, 2004. São Paulo – SP. SENAC São Paulo.

f) Ambiente Virtual – TV – com transmissão, por satélite, de programação educacional

produzida e gravada previamente, ou transmissão de teleconferências ao vivo com

interatividade. Por exemplo, STV SENAC - São Paulo, com canal codificado para

teleconferências e transmissão de programação em parceria com a TV a cabo.

Cabe ressaltar que os ambientes educacionais sempre representaram um desafio para

gestores e demais educadores no que diz respeito a sua concepção, cujo propósito é o de

possibilitar melhorias na qualidade do ensino, bem como a viabilidade dos projetos em termos

de investimento financeiro, aproveitamento de espaço físico, diferencial no processo de ensino e

aprendizagem e retorno do capital investido.

A experiência tem mostrado que esses ambientes educacionais possibilitam um

aprendizado mais amplo, como também favorecem a prática interdisciplinar no fazer dos

profissionais.

Assim, vejo que o espaço educacional é um pouco o “retrato” da visão educacional do

gestor, pois é a partir de sua concepção que ele poderá ser mais ou menos significativo, mais ou

menos prazeroso eficiente e estimulador não só para os alunos como também para os

professores desenvolverem suas práticas pedagógicas.

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O gestor educacional– sua visão sobre a escola

É essencial que a escola seja vista por todos os envolvidos no processo educacional

como um local de troca de conhecimentos, de experiências, de saberes e, neste sentido, todos os

profissionais que nela atuam têm compromisso com o aluno e com o ato de educar.

Diante dessa visão de escola, é fundamental o papel do gestor no contexto educacional

como um profissional que está disposto a correr riscos, sem medo de mudar, visando melhorias.

A sua forma de gerenciar a escola e a sua visão de homem, mundo, sociedade, educação, muito

provavelmente irá interferir no fazer dos professores e dos demais profissionais da escola que

estão sob sua responsabilidade e, conseqüentemente, no indivíduo que essa escola pretende

formar.

Neste enfoque, a escola e a educação ganham um outro sentido. Isto porque por trás do

fazer do professor existe um gestor que tem a consciência de que educar implica em lidar com

gente, com pessoas capazes de crescer e possibilitar o crescimento do outro. Este gestor provoca

mudanças não só no professor, mas em toda a instituição escolar, até porque acredita que o seu

papel não é ver a escola como um espaço impermeável, fechado às mudanças, mas um espaço

que, exatamente, por “formar” gente, deve estar atento às mudanças que ocorrem no mundo e

afetam as pessoas, a sociedade.

Cabe aqui fazer algumas considerações sobre o papel do gestor e sobre os aspectos

relevantes no processo educacional, principalmente no que se refere à gestão de pessoas, à

gestão pedagógica, à gestão social e à gestão de projetos de concepção e implantação de

ambientes educacionais.

Gestão de pessoas

Quando se trabalha com seres humanos, há que se levar em conta que estamos lidando

com um complexo de emoções, de expectativas e de interesses, os mais diversificados. Assim, o

primeiro desafio do gestor começa com a formação da equipe de trabalho, profissionais que irão

compor o quadro administrativo e pedagógico da instituição.

Esses profissionais têm de ter a consciência da necessidade do trabalho em equipe. Por

ser assim, esse profissional deve possuir espírito de cooperação, estar constantemente

preocupado com o aprendizado dos alunos, ter facilidade para o trabalho em equipe, ser

comunicativo, desenvolver sua capacidade no uso da tecnologia, estar comprometido com o

grupo, observar a todo momento valores como a ética, principalmente; estar disponível e aberto

para atualização profissional constante, focar sempre a qualidade do trabalho a ser desenvolvido

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na instituição, estar atento aos resultados obtidos no processo do ensino e aprendizagem; deve

ser participativo, curioso, ousado.

Sabemos, portanto, que formar uma equipe cujos profissionais apresentem todas essas

características representa um grande desafio a ser vencido, pois face aos trabalhos

desenvolvidos nas Instituições Educacionais, se o profissional não possuir esse perfil,

dificilmente se adequará à equipe.

Observamos, ainda, que para os cargos pertinentes às coordenações das áreas técnicas e

administrativas, ou seja, para o exercício das atividades fim e meio, além das características

especificadas acima, o profissional deve possuir competências técnicas e de gestão de negócio,

bem como deve ter uma competência tática de operação e estratégica de visão de futuro e

ampliação de trabalho. Neste sentido, ele deve ter uma preocupação constante com a geração de

novos projetos, de criação de produtos e serviços educacionais, visando atender as necessidades

da clientela, as necessidades do mercado de trabalho e ao novo contexto social.

Ao pensar, portanto, em recursos humanos, em pessoas, o gestor deve ser muito

cuidadoso, bastante cauteloso, pois ao formar a equipe com a qual irá desenvolver suas tarefas,

deve estar se cercando de profissionais comprometidos com o trabalho e altamente qualificados

para as funções ou cargos que irão exercer. Há que se acrescentar, ainda, o compromisso com o

grupo, com a equipe e que é fundamental o entrosamento das pessoas, dos profissionais,

independente da sua área de conhecimento. “Este é o caso de algumas reorganizações de

parcelas de disciplinas já consagradas que deram origem a “interdisciplinas” ou disciplinas

com plena autonomia” (Santomé, 1998, p.63).

Gestão pedagógica

A questão pedagógica é, sem dúvida, o cerne da gestão educacional, ou seja, o propulsor

da atividade educacional, o fator claro de diferencial dos produtos e serviços da instituição.

A gestão pedagógica começa pelo esclarecimento claro e preciso, junto aos educadores

e educandos, sobre os propósitos educacionais da instituição. Deve esclarecer, também, sobre o

valor das atividades pedagógicas realizadas e da importância do comprometimento pessoal de

cada um no processo da construção do conhecimento.

Assim conscientizados, professores e discentes deverão construir uma prática de

trabalho, cada um fazendo a sua parte, de forma a garantir a qualidade do produto ou serviço

prestado para o aluno, o uso que este fará dos conhecimentos adquiridos na instituição, bem

como em que medida o diploma conquistado foi significativo para o seu engajamento no mundo

do trabalho.

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Ao proceder dessa maneira, o gestor não estará apenas fazendo mais um discurso, mas

assumindo um compromisso juntamente com educadores e educandos, por meio de uma prática

pedagógica comprometida com a transformação do conhecimento, de educar para a vida, para o

mundo.

Gestão social

Um dos objetivos da Instituição Educacional é contribuir com a comunidade em que

está inserida. E, por oferecer escolaridade aos jovens e adultos, a instituição já assume um

compromisso com o social.

Nesse aspecto, o gestor deve estar atento para as ações educacionais que deverão ser

concebidas em um processo contributivo e, assim, deverá propor e organizar campanhas sociais

e culturais de acordo com as necessidades de cada contexto social, bem como deve estar

sensível à questão de atividades que possibilitem a participação dos menos favorecidos

economicamente ou fisicamente. Essas reflexões nos permitem observar o quão complexo e, ao

mesmo tempo desafiador é o papel do gestor. Podemos, inclusive, considerar que grande parte

do sucesso pedagógico depende da sua concepção de gerenciar os ambientes educacionais.

Assim, é fundamental que o gestor seja o detentor de uma visão ampla de educação; possua um

apurado senso crítico; seja um promovedor de relações humanas baseadas no companheirismo,

no respeito, na honestidade; exerça a sua função de forma transparente, sem abrir mão das

competências e responsabilidades inerentes ao cargo que ocupa; esteja sempre disposto a

aprender e não tenha medo de correr o risco, de propor mudanças.

O gestor deve ver a escola como um espaço vivo, dinâmico, um local onde pessoas se

relacionam, vivem, buscam, aprendem e ensinam; pessoas com conhecimentos e expectativas

diferentes, mas todas com um objetivo comum: aprimorar o conhecimento.

Nas reflexões acima, sobre alguns dos papéis do gestor, fica bastante evidente que ele é

o propulsor de ações que podem modificar a postura dos profissionais que compõem a sua

equipe. Assim, se todos estiverem com os pensamentos conjugados na concepção de uma escola

transformadora, com certeza, reformularão a visão que possuem sobre o espaço escolar e em

que medida esse espaço, quando bem planejado, equipado e redimensionado poderá contribuir

favoravelmente com o processo de ensino e aprendizagem. Esses profissionais estarão,

inclusive, mais sensíveis para a questão do trabalho conjunto, e perceberão que as disciplinas

dos cursos podem tratar de conteúdos afins e, portanto, os professores podem estar

desenvolvendo atividades interdisciplinares junto aos alunos, com o aproveitamento de um

mesmo ambiente educacional e oportunizando aos educandos a troca de experiências nas

diversas áreas do conhecimento.

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Acredito que o gestor deve fazer reflexões mais profundas sobre o espaço escolar,

entendendo que as preocupações referentes a projetos de escola devem contemplar melhor a

questão dos ambientes. Assim, em uma análise mais ampla da escola, a questão do espaço

deverá ser pensada a partir do olhar que o gestor tem sobre a diversidade das ações

educacionais.

Finalmente, cabe acrescentar que o desenvolvimento deste trabalho se pautou,

principalmente, na minha experiência profissional junto ao SENAC e em sua história no

decorrer destas seis décadas. O desafio continua, ele não se encerra aqui. Há que se avançar.

Para isto o próximo passo é dar continuidade na criação de novos ambientes educacionais para

atender as novas gerações da demanda escolar, e as exigências de cada época em conformidade

com os avanços tecnológicos e as necessidades de mercado de trabalho.

Citações Bibliográficas:

BARATO, Jarbas Novelino. 2004. Educação Profissional – saberes do ócio ou saberes do

trabalho. São Paulo: SENAC.

SANTOMÉ, Jurjo Torres. 1998. Globalização e interdisciplinaridade – o currículo

integrado. Porto Alegre: Artmed.

DOCUMENTOS, consultados através de pesquisa histórica e iconográfica realizada no arquivo

central – Memória Institucional do SENAC – São Paulo – Brasil.

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