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Farah Rejenne Corrêa Mendes
AMBIENTE DOMICILIAR X LONGEVIDADE:
Pequena história de uma casa para a velhice
Mestrado em Gerontologia
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
São Paulo 2007
Farah Rejenne Corrêa Mendes
AMBIENTE DOMICILIAR X LONGEVIDADE:
Pequena história de uma casa para a velhice
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Gerontologia, sob a orientação da Profa. Dra. Beltrina Côrte
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
São Paulo 2007
AMBIENTE DOMICILIAR X LONGEVIDADE:
Pequena história de uma casa para a velhice
Farah Rejenne Corrêa Mendes
Aprovada em / /
BANCA EXAMINADORA
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__________________________________________________
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação/tese por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos, desde que citada a fonte.
Farah Rejenne Corrêa Mendes E-mail: [email protected]
Assinatura: _________________________Local e Data:________________________
DEDICATÓRIA
Às minhas avós (in memorian), Raimunda e Sara,
por todo amor, carinho e ensinamento de vida.
Aos meus pais, Janice e Reginaldo,
por todo amor, incentivo, confiança e força em mais esta conquista.
E aos meus irmãos Hellen, Ronney e William
pelo carinho e apoio.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida.
A toda a minha família pelo carinho e incentivo.
Ao meu Rafael por todo o seu amor, paciência, companheirismo e
compreensão nos momentos mais importantes e difíceis.
À amiga Socorro pela presença nas horas mais difíceis e importantes de minha
vida, pelo amor, incentivo, amizade.
Às amigas Andréa Quinzeiro e Kerla Soares e ao meu grande amigo Marcelo
que mesmo distantes sempre estiveram ao meu lado, incentivando e apoiando
esta minha caminhada.
À Beltrina pela confiança e incentivo de trilhar novos saberes e novos mundos,
que contribuíram para o crescimento pessoal e intelectual.
À Elisabeth Mercadante pelos sábios ensinamentos, conhecimentos e
disponibilidade.
À Adriana Prado pelo incentivo e amizade.
Aos meus colegas do mestrado, em especial ao Rogério, à Regina, Cris e
Mirella pela amizade.
Ao Sesc de São Paulo – Unidade Consolação e às idosas que participaram e
colaboraram com suas falas e seus ensinamentos nesta pesquisa.
E a todos os idosos que me inspiraram a realizar este trabalho, meu
agradecimento pelos ensinamentos de vida.
RESUMO
Introdução: O processo do envelhecimento é, hoje, objeto de várias pesquisas no mundo. No Brasil, tem deixado de ser apenas uma preocupação da saúde e sócio-econômica, tornando-se uma preocupação de várias áreas da ciência pelas necessidades e exigências do mundo que envelhece, considerando-se o meio em que vivem, seja o espaço público ou seu domicílio. Pesquisas demonstram que o ambiente domiciliar agrega valores econômicos, sociais, emocionais, afetivos e de saúde ao longo da vida, e exerce influência na vida dos idosos, no seu bem-estar. Objetivos: Investigar a visão de idosos de planejar o ambiente domiciliar em relação à longevidade, contribuindo para a formulação de políticas habitacionais que considerem as necessidades e transformações do corpo humano e as relações afetivas estabelecidas com o meio ambiente e social. Metodologia: Pesquisa quantitativa e qualitativa, realizada com 10 sujeitos, sexo feminino, idade superior a 60 anos, realizada com um grupo de idosos da cidade de São Paulo que participam das atividades oferecidas ao público idoso do Sesc – Unidade Consolação. Realizada análise descritiva dos dados coletados. Resultados: 10 idosas, entre 62 a 81 anos. Quanto à moradia, 5 delas moram sozinhas, 9 em apartamento próprio e 4 desejam mudar de casa. Quanto à acessibilidade, todas consideram a sua casa acessível para si e 3 acessível para receber visitas com necessidades específicas. A questão do envelhecimento permeou as respostas das entrevistadas, mas a relação com o ambiente teve pouca representatividade ao considerarmos o planejar o ambiente, que respondendo a pergunta do estudo, as pessoas não planejam o seu ambiente para velhice. Discussão: A casa representa o maior bem conquistado ao longo da vida, o que implica no não desejo de mudar, permeados pelo sentimento de conquista, afetividade, bem-estar, privacidade, independência, autonomia e segurança. O estudo traz uma reflexão sobre o ambiente domiciliar e a complexidade que envolve o envelhecimento. Discute a contribuição para políticas públicas e habitacionais que contemplem os projetos residenciais acessíveis e adaptáveis, considerando as mudanças fisiológicas e funcionais do ser humano, proporcionando ambientes que permitam uma relação harmoniosa em todas as fases da vida, contribuindo para o bem-estar e a permanência do idoso em sua casa, seu espaço afetivo.
Palavras-chaves: ambiente domiciliar, casa, idoso, velhice, longevidade, planejar.
ABSTRACT Introduction: The aging process is currently the focus of various studies around the world. In Brazil it is more than just a medical and socioeconomic concern. It is becoming a preoccupation of many additional areas of science due to the needs and demands of this aging population, considering their living environment, be it public space or their residence. Studies demonstrate that over the course of a lifetime, the home environment can affect people's economic, social, emotional, and health status and exert a strong influence on the well-being of senior citizens. Objectives: To investigate elderly´s view to plan the home environment relative to longevity, contributing to the formulation of housing policies that take into account the needs and transformation of the human body and the emotional relationships established with the social environment. Methodology: Quantitative and qualitative study conducted with 10 female subjects age 60 and older. The study was conducted with a group of senior citizens from Sao Paolo who participate in activities offered to the seniors of the SESC – Unidad Consolacion. Descriptive analysis of the data collected. Results: 10 female senior citizens, between 62 and 81 years of age. In terms of their housing situation, 5 of them live alone, 9 in their own apartment and 4 wish to move. In terms of accessibility, all consider their homes accessible for themselves and 3 feel their homes are accessible to visitors with special needs. The question of aging permeated the responses of the interviewees but their relationship with their environment was not very apparent in their responses. Considering the core question of the study, it appears that senior citizens do not plan their environment to suit their needs as they age. Discussion: The home represents the the most valuable adquired asset over the course of their lives. This implies that they do not want to change, given their feelings of emotion, well-being, privacy, independence, autonomy and security. The study brings a reflection regarding the home environment and the complexity that aging brings to it. It argues the contribution of it for public and home policies which consider accessible and adaptable residential projects, taking into account the physiological and functional moves of human beings, proportionating environments that permit a harmonious relationship in all phases of life, contributing to well-being and the ability of senior citizens to stay permanently in their homes, their emotional space.
Key-words: domiciliary environment, home, older, oldness, longevity, to plan.
Lista de gráficos
Gráfico 1
Proporção de pessoas de 60 anos ou mais de idade responsáveis pelo domicílio, por sexo – Brasil – 1991/2000.
21
Gráfico 2
Proporção de domicílios unipessoais sob responsabilidade de pessoas de 60 anos ou mais de idade – Brasil – 1991/2000.
22
Gráfico 3
Proporção de domicílios unipessoais sob responsabilidade de pessoas de 60 anos ou mais de idade, segundo os municípios das capitais - 2000.
23
Lista de tabelas
Tabela 1
Características sócio-demográficas do grupo estudado 42
Tabela 2
Caracterização das atividades ocupacionais anteriores do grupo
estudado42
Tabela 3
Características da composição física/estrutural das casas do grupo estudado
43
DETALHAMENTO
ESBOÇO: pelos caminhos do meu ambiente domiciliar 13
TERRENO: o ambiente da velhice no país 19
PROJETO: Por que planejar? 29
Planejando o ambiente domiciliar 32
A necessidade de um novo saber 34
Contextualização 35
CONSTRUÇÃO: os moradores 40
O perfil sócio-demográfico e econômico 41
O perfil da habitação 43
Vontade de mudar 44
ALICERCE: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 46
Com os sentidos 47
Com os sistemas 53
MORAR: habitar o espaço 62
Acústica, Iluminação e ventilação 65
Privacidade e comodidade 67
Modificações e adaptações 68
Acessibilidade 71
DECORAR: acabamento 76
A casa ideal na velhice 79
Significado da casa 81
A velhice 83
A CASA: um modo genuíno de morar 86
Esboçando uma casa para a velhice sem o “tempero” dos moradores 90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 102
APÊNDICES 110
APÊNDICE A: Roteiro de entrevista 111
APÊNDICE B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 117
ANEXO 118
ANEXO A: Aprovação do comitê 119
Esboço: pelos caminhos do meu ambiente domiciliar 14
[...] dentro do ser, no ser de dentro, há um calor que acolhe o ser que o envolve. O ser reina numa espécie de paraíso terrestre da matéria, fundido na doçura de uma matéria adequada. Parece que nesse paraíso material, o ser está impregnado de uma substância que o nutre, está repleto de todos os bens essenciais... a casa sustenta a infância imóvel em seus braços.
Gaston Bachelard
Não tive o prazer de conhecer meus avôs. As histórias que conheço sobre suas
vidas são parte das recordações de outros familiares que com eles conviveram.
Senti muito por não ter tido a experiência dos ensinamentos de um avô. Mas tive
uma infância cercada de carinho e atenção pelas minhas grandes avós.
Mulheres que souberam dar amor a seus netos de forma incondicional. De minha
avó paterna, Dica, as lembranças são um misto de emoções. Por muitos anos, ela
foi presença constante em minha vida, principalmente nos primeiros anos de escola.
Morava perto do colégio que eu freqüentava, e assim eu passava a semana indo
para sua casa, por vezes dormindo lá.
Várias lembranças e experiências... Brincadeiras no terraço com canções de roda
(“Vamos passear no bosque, enquanto seu lobo não vem... tá pronto seu lobo?”),
cuidados com o jardim, e a decoração de seu pequeno santuário. Além dos
“desafios” de neta, que me rendiam em bronca da avó, e um chamado “carinhoso”:
Porquera!! Parece que foi ontem... São muitas histórias alegres e engraçadas com
ela, que enriqueceram minha infância até os oito anos, quando a doença começou a
lhe roubar as forças e a vivacidade. E as histórias começaram a ser interrompidas.
E hoje, através das lembranças daquela época, percebo que o desejo de estudar
sobre o ambiente domiciliar surgiu dessa experiência: a casa da minha avó Dica
com seu jardim, sala, dois quartos, cozinha, banheiro e quintal. Localizada em uma
região íngreme, o acesso era feito por escadas, desde a entrada até o quarto da
vovó e o banheiro. Fator agravante, pois era uma estreita escada de madeira. Nós,
que éramos crianças, tínhamos a facilidade de nos locomover. Para vovó, acometida
Esboço: pelos caminhos do meu ambiente domiciliar 15
de diabetes mellitus e problemas cardíacos, aquele ambiente começou a ser um
limitador de suas atividades...
Tornava-se necessário criar alternativas para satisfazer suas necessidades básicas.
Então começou o improviso. O banho passou a ser dado no corredor, que ligava o
quarto à cozinha, com a ajuda da minha tia ou dos netos mais velhos. E, com isso,
ela foi perdendo a privacidade e a independência. Começou a ser carregada ou
apoiada para subir as escadas que a levavam até a sala. Teve momentos de
melhora e piora até o dia da partida. A aceitação foi difícil. Freqüentei ainda a tão
querida casa da vovó Dica, mas algo faltava nela. Perdi o sentido de freqüentá-la.
As experiências com pessoas idosas só retornaram após alguns anos... na
faculdade e com a presença de minha avó materna, Sara, que esteve presente em
minha vida durante a formação universitária como terapeuta ocupacional.
No decorrer da vida acadêmica, muitas interrogações surgiram em torno da minha
escolha profissional. Mas quando iniciaram as disciplinas práticas, em campos de
estágios, nos hospitais, clínicas, centros de reabilitação, asilos, foi se firmando
também a certeza de que nela eu poderia concretizar meu desejo de ajudar outras
pessoas.
O estágio mais sofrido, e que me angustiava, foi o de geriatria e gerontologia
realizado numa instituição asilar. Era uma mistura de sentimentos que por vezes me
deprimia e me fazia sentir incapaz de poder ajudá-los. Mas, após uns três meses,
sabia que aquilo tudo ia terminar. Puro engano. Aquilo foi o começo de tudo.
Pois, no semestre seguinte surgiu vaga para monitoria na disciplina prática de
Terapia Ocupacional aplicada à Geriatria e Gerontologia. Senti aquilo como um
desafio, algo que eu precisava enfrentar. Passei pelas provas e fui aprovada como
monitora da disciplina, o que significava que eu teria que retornar ao mesmo campo
de estágio, ser um suporte aos novos alunos.
Foi uma experiência maravilhosa, comecei a entender o mundo de cada um dos
idosos, a conhecer suas vidas, suas histórias, suas experiências, seus desejos, sua
Esboço: pelos caminhos do meu ambiente domiciliar 16
individualidade. Percebi que todo o meu temor inicial era o medo da aproximação,
do envolvimento. Aprendi, então, que eles não eram seres passivos, que precisavam
de nossas atividades. E, sim, pessoas que tinham autonomia e independência, com
algumas exceções, e que estavam ali para aceitar nossas propostas ou não. Para
participar ou não. E que nós, também, éramos aprendizes. E que toda relação era
uma troca mútua, ás vezes configurada em gestos, atitudes, palavras ou
simplesmente um toque ou olhar.
É nesse momento, de aversão e paixão pelo ser idoso, que a avó Sara entra em
minha vida. Ela passa a morar pela segunda vez em minha casa, uma fase
maravilhosa e às vezes sofrida. Correndo entre a faculdade, estágios e trabalho,
meu tempo em casa era pouco. Porém, sempre que chegava ia conversar um pouco
com ela, saber como tinha sido seu dia. Aprendi muito com suas vivências, com sua
história de vida.
No entanto, após seis meses ela nos deixou e foi morar em Brasília, na companhia
de outra filha. E, infelizmente, mais uma perda. Após três meses, minha avó faleceu,
deixando muita saudade e ensinamentos.
Ensinamentos que me ajudaram a escolher a gerontologia como carreira acadêmica,
que se iniciou com a monitoria, e se concretizou com a primeira monografia. Escolhi
o tema A percepção dos idosos asilados e integrantes de um grupo da terceira idade
sobre independência, dependência e autonomia, retornando aos campos de estágio
para a realização da pesquisa por mais seis meses.
Nessa mesma época recebi convite para lecionar em um curso de Capacitação de
Cuidadores de Idosos, ficando responsável por uma disciplina teórica e supervisão
dos estágios nas instituições. Foi uma experiência enriquecedora que me estimulou,
ainda mais, a seguir a carreira docente.
Seguindo a linha de estudo e objetivando aumentar o conhecimento nesta área, fiz
uma especialização em Gerontologia, na Escola Paulista de Medicina – UNIFESP.
Como conclusão, o tema defendido da monografia foi Capacidade funcional e
Esboço: pelos caminhos do meu ambiente domiciliar 17
acessibilidade do ambiente domiciliar de idosos atendidos em um programa de
assistência domiciliária ao idoso.
Durante a realização desse trabalho, que teve como objetivo caracterizar o grau de
capacidade funcional e a acessibilidade do ambiente domiciliar de idosos atendidos
em um programa de assistência domiciliária, aumentou o interesse em estudar mais
sobre o ambiente domiciliar e sua relação com a manutenção da independência e
autonomia dos idosos ao realizar atividades dentro de seu domicílio.
Busquei, então, o mestrado em Gerontologia da PUC-SP, objetivando estudar o
planejamento do ambiente domiciliar para os cuidados em longo prazo durante o
processo de envelhecimento, focando a acessibilidade e a segurança no ambiente.
No entanto, durante as discussões na aula de Metodologia da Pesquisa, observou-
se a necessidade de um pré-estudo abordando a percepção ou aceitação das
pessoas da necessidade de planejar o ambiente domiciliar em relação à
longevidade, acreditando-se que qualquer planejamento deve partir da aceitação,
necessidade e reconhecimento de sua importância, ou por parte do usuário ou por
seus representantes.
Ao buscar na literatura existente subsídios para esta investigação, verificou-se que
faltam estudos sobre o que vem a ser o ambiente domiciliar. Será simplesmente a
casa, entendendo-a apenas com seus aspectos físicos ou será algo mais? Dessa
forma, deu-se início à pesquisa que, reconheço hoje, faz parte da minha existência.
Considero que a relação entre a biografia do pesquisador e o tema é parte
importante na construção do saber. Como bem coloca Oliveira (2001, p.19): “os
pensadores mais admiráveis não separam seu trabalho de suas vidas. Encaram
ambos demasiados a sério para permitir tal dissociação, e desejam usar cada uma
dessas coisas para o enriquecimento da outra”.
Qual a visão que os idosos têm de planejar o ambiente em relação à longevidade?
Essa foi a pergunta norteadora da presente pesquisa, tendo como embasamento as
hipóteses de que a negação da velhice contribui para a não aceitação de um
Esboço: pelos caminhos do meu ambiente domiciliar 18
ambiente adaptado e acessível em relação à longevidade e, que a aceitação do
ambiente adaptado e acessível é pensado e muito bem visto em relação à criança
como uma questão de segurança; em relação ao adolescente e adulto como
conforto e comodidade; e em relação ao idoso é pensado apenas como
dependência.
Enfim, este estudo traz uma reflexão sobre a complexidade que envolve o
envelhecimento humano e o ambiente domiciliar a partir do enfoque gerontológico.
Terreno: o ambiente da velhice no país 20
O crescimento da população de idosos é um fenômeno mundial. Em 1950, eram
cerca de 204 milhões de idosos no mundo e em 1998, quase cinco décadas depois,
este contingente alcançava 579 milhões, um acréscimo de quase 8 milhões de
pessoas idosas por ano. As projeções indicam que, em 2050, a população idosa
será de 1.900 milhões de pessoas. Uma das explicações para esse fenômeno é o
aumento, verificado desde 1950, de 19 anos na esperança de vida ao nascer em
todo o mundo (IBGE, 2002).
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE
(2002), nos próximos 20 anos, a população idosa do Brasil poderá ultrapassar os 30
milhões de pessoas e deverá representar quase 13% da população ao final desse
período.
Considerando a realidade da população brasileira associada ao envelhecimento
populacional, o objetivo das intervenções deixa de ser apenas prolongar a vida, mas,
principalmente, manter o bem-estar, a independência e a autonomia de cada
indivíduo pelo maior tempo possível. Para que isso ocorra é necessário que as
políticas públicas implementadas se voltem para a prevenção e promoção da saúde
em seu sentido mais amplo, incluindo-se, portanto, ações que proporcionem
condições sócio-econômicas e ambientais para o bem-estar do idoso.
Nos últimos anos, o processo do envelhecimento tornou-se objeto de várias
pesquisas no mundo. No Brasil, a rápida mudança na composição etária da
população tem exigido atenção não só das áreas da saúde e sócio-econômica,
como também de outras áreas da ciência pelas necessidades e exigências do
mundo que envelhece, considerando-se especificamente o meio em que vivem, seja
o espaço público ou o domiciliar.
No que se refere ao ambiente domiciliar, baseado no Censo 2000 (IBGE, 2002),
verifica-se que 62,4% dos idosos eram responsáveis pelos domicílios brasileiros,
representando um aumento em relação a 1991, quando esta população era de
60,4%.
Terreno: o ambiente da velhice no país 21
Quanto ao sexo, em 2000, observa-se que 37,6% dos responsáveis era do sexo
feminino (gráfico 1), e nos anos 90, a proporção era de 31,9%. Enquanto isso os
idosos do sexo masculino respondiam por 68,1% dos domicílios em 1991, sofrendo
uma redução para 62,4% em 2000.
Gráfico 1: Proporção de pessoas de 60 anos ou mais de idade responsáveis pelo domicílio, por sexo – Brasil – 1991/2000
Deste universo de domicílios, destacam-se os domicílios unipessoais (apenas um
morador), que em 2000, totalizavam 1.603.883, representando 17,9% do total de
domicílios sob responsabilidade de idosos. Um aumento em comparação com a
década de noventa que era de 15,4% (gráfico 2).
Nesse contexto, cabe salientar a elevada proporção de domicílios comandados por
mulheres idosas, que em 2000 representava 67% do conjunto total dos domicílios
unipessoais. Fenômeno justificado pela viuvez feminina mais elevada, que
determina um crescimento de famílias monoparentais sob responsabilidade feminina
ou ainda de unidades domiciliares unipessoais. Assim como a maior freqüência de
Terreno: o ambiente da velhice no país 22
recasamento dos homens viúvos ou separados em comparação às mulheres na
mesma situação, faz crescer significativamente a diferenciação dos arranjos
familiares ou domiciliares em função do gênero e da idade do responsável
(BERQUÓ et al., 1990, apud IBGE, 2002).
Gráfico 2: Proporção de domicílios unipessoais sob responsabilidade de pessoas de 60 anos ou mais de idade – Brasil – 1991/2000
Dado significativo também se percebe na distribuição dos domicílios unipessoais
entre os municípios das capitais. Em Porto Alegre, 27,1% dos idosos responsáveis
moravam sozinhos, em São Paulo, 20,2% e em São Luís a proporção diminui para
menos de 10%. (gráfico 3). Características associadas a fatores de natureza
econômica, educacional e ao planejamento familiar das regiões brasileiras, bem
como a questões culturais, sociais e afetivas de cada população específica, que se
entrelaçam para compor tais diversidades. Questões que devem ser contempladas e
respeitadas no planejamento do ambiente domiciliar: a casa unipessoal e a
intergeracional, atendendo as necessidades de todos os moradores.
Terreno: o ambiente da velhice no país 23
Gráfico 3: Proporção de domicílios unipessoais sob responsabilidade de pessoas de 60 anos ou mais de idade, segundo os municípios das capitais - 2000
Cada morador, por sua vez, possui necessidades que se vão diferenciando não só
pela unicidade de cada ser, como pelo momento da caminhada em que se
encontram. Se o caminho percorrido foi longo, muitas reservas foram investidas:
orgânicas, mentais, emocionais.
No campo biológico, há que se considerar inúmeras mudanças, estruturais e
funcionais, próprias do envelhecimento - a senescência1 -, que, embora variem de
um indivíduo a outro, são encontradas em todos os idosos, podendo influenciar na
saúde física e mental e interferir no desempenho funcional e nas relações afetivas e
sociais do idoso.
Torna-se importante o reconhecimento dessa dinâmica, às vezes difícil de constatar
precisamente, pela estreita relação com as modificações causadas por doenças -
senilidade2. O processo de envelhecimento modifica e é modificado pelas doenças
1 Processo natural de envelhecimento ou o conjunto de fenômenos associados a esse processo. 2 Envelhecimento patológico, e que é entendido como os danos à saúde associados com o tempo,porém causados por doenças ou maus hábitos de saúde.
Terreno: o ambiente da velhice no país 24
que podem acometer o idoso, gerando uma relação muito próxima entre os dois
fenômenos, de tal forma que modificações exclusivas do envelhecimento são
confundidas com enfermidades e criam a cultura e o estereótipo de que velhice e ser
velho significam doença.
Dinâmico e progressivo, o processo de envelhecer agrega alterações morfológicas,
funcionais, psicológicas, biológicas, estruturais e fisiológicas que modificam
praticamente todo o organismo e o organismo de todos, alterando seu
funcionamento. No entanto, envelhecer não significa adoecer, o envelhecer pode
acontecer de forma natural, mesmo com o acometimento de limitações impostas
pelo avançar da idade e por doenças crônico-degenerativas.
As alterações fisiológicas do envelhecimento podem interferir na capacidade dos
idosos de interagir e responder aos estímulos do ambiente. Mas, diferentes
mecanismos de compensação podem ser utilizados, como o maior uso de um dos
sentidos em detrimento de outro. Por exemplo, uso da visão, com pistas visuais em
determinados ambientes, quando a audição apresenta-se comprometida.
Para Mercadante (2005, p. 27),
A velhice, se analisada somente como sendo uma questão
Terreno: o ambiente da velhice no país 25
E o que seria a casa? E quais seus significados sociais, culturais, afetivos e
históricos?
A casa, segundo o dicionário Aurélio (FERREIRA, 2000), no sentido
físico/estrutural, significa edifício destinado, em geral, a habitação e, no social, lar,
família.
Enfatizando o significado mais social de casa, outros atributos podem ser citados,
como ambiente de proteção e abrigo, bem como de conquistas e memórias afetivas
construídas ao longo da vida.
De acordo com o dicionário Etimológico (CUNHA, 2001), a casa tem um significado
mais estrutural, morada, vivenda, residência, habitação. O ambiente significa lugar,
espaço, recinto, envolvente. E o domiciliar seria a casa de residência, habitação fixa.
Sendo o ambiente domiciliar o conjunto que agrega a estrutura física e os valores
emocionais e afetivos.
Valores, experiências e significados que se fundem. O ambiente correspondendo ao
lugar – segurança – e ao espaço – liberdade. Para Tuan (1983), estamos ligados ao
primeiro e desejamos o segundo. A partir da segurança e estabilidade estamos
cientes da amplidão da liberdade e ameaça do espaço como algo que permite
movimento. Então, o lugar é pausa.
As diferentes experiências emergem do lugar - a casa, o bairro, a cidade, o país, e
do espaço – a liberdade de expressar, ter experiências. Entendendo-se que espaço
e lugar não podem ser definidos um sem o outro.
A casa acolhe e atende a um conjunto de necessidades básicas de segurança,
envolvimento, orientação no tempo e, principalmente, no espaço. Oferece consolo
interminável ao ser humano (SCHMID, 2005).
Considerando-se a familiarização construída com o ambiente, a relação afetiva com
o meio e a representatividade de status social, para alguns idosos a casa significa
saúde, sendo benéfica a permanência em seu domicílio, mesmo apresentando
limitações ou dependência na realização de alguma atividade.
Terreno: o ambiente da velhice no país 26
A relação do idoso com a sua moradia representa a expressão de sua identidade,
marcas significativas e pessoais, a construção de seu meio de proteção e bem-estar.
Espaço próprio e de seu domínio e controle.
Porém, segundo Robson (1997 apud CARLI, 2004, p.29), um dos grandes
problemas dos velhos é que [...] “freqüentemente exercitam muito pouca escolha
sobre seu futuro [...]. Conforme se vai envelhecendo, as escolhas são feitas por
outros, direta ou indiretamente”.
Papaléo F. (s/d) citado por Litch e Prado (2002), destaca que para muitos idosos, o
espaço social acaba sendo tudo o que possuem, sendo importante destacar os laços
estabelecidos com os objetos, as pessoas e o ambiente para a manutenção de seu
equilíbrio e de sua própria identidade.
No entanto, historicamente, a relação do homem com o meio ambiente torna-se
“harmoniosa” e com significado após várias reformas da consciência humana.
Rybczynski (2002), arquiteto, em sua obra Casa: pequena história de uma idéia, faz
um relato histórico-antropológico sobre a habitação e a função da casa ao longo dos
séculos, descrevendo os ambientes, móveis e objetos, e o significado de conforto.
Inicialmente, no século XIV, a casa era um local de moradia e trabalho, as salas
possuíam múltiplas funções, desde escritório, cozinha e dormitório. Os cômodos
possuíam poucos móveis e os mesmos não tinham funções específicas. O convívio
era coletivo entre patrões e empregados, não se conhecia privacidade e conforto.
Na Idade Média, a função estava ligada com utilidade imediata, ou seja, um mesmo
móvel ou cômodo tinha várias funções, o que dificultava pensar em melhorias
funcionais, principalmente do ambiente doméstico.
No século XVII, lentamente, as condições da vida doméstica começaram a mudar. A
casa burguesa típica abrigava mais de uma família e sua estrutura parecia um
prédio de apartamentos. Nesse período, a idéia de privacidade e domesticidade
começou a surgir, à medida que moradia e trabalho separavam-se, deixando de
ocupar o mesmo local, bem como patrões e empregados. Era um ensaio de casa
como ambiente de privacidade, de intimidade e de vida familiar na consciência
humana.
Terreno: o ambiente da velhice no país 27
No século XVIII, viveu-se o início da transição da moradia feudal, pública, para a
casa de família, particular. A presença dos filhos e o isolamento dos criados
reforçaram a consciência humana sobre o ambiente e a família. E o conceito de
conforto que originalmente não significava “prazer e satisfação” adquiriu o sentido de
bem-estar físico.
Com a consciência humana de valorização e importância da casa e da família,
outros conceitos e valores surgem em conjunto, como a domesticidade,
comodidade, eficiência, bem-estar e o maior reconhecimento do conforto.
Schmid (2005) reforça a idéia de conforto como algo ligado às estruturas físicas do
ambiente e ao contexto psicológico: as experiências passadas, a imaginação e os
sonhos, de relevância para o conforto ambiental e, se não compreendidos, capazes
de tornar a existência intolerável.
Assim também, é fundamental a valorização dos sentidos e das emoções na
exploração e interação com o ambiente. Eles servem como mediadores e
responsáveis pelas sensações, sejam agradáveis ou não, como conforto, segurança,
prazer, desânimo ou rejeição. A visão, a audição, olfato, tato e paladar – sentidos
que constantemente transmitem informações internas e externas para a consciência
humana, interligados a outros sentidos, permitem uma maior interação com o meio.
A pressão, a dor, o frio e o calor se associam ao tato. O equilíbrio, associado à
audição, utilizando o labirinto, permite ao corpo se manter de pé ou deitado. E a
propriocepção, que permite a localização das partes do próprio corpo no espaço
tridimensional.
Para Tuan (1980), o ser humano percebe o mundo simultaneamente através de
todos os sentidos. Experiencia e apreende a realidade dos objetos e a estruturação
do espaço pela movimentação, contato e manipulação.
Cérebro, mente e corpo trabalham em conjunto interagindo com o meio, nos
enviando informações, emoções, sentimentos. Sentimentos e emoções que,
segundo Damásio (1996), são indispensáveis para a racionalidade e são os
sensores para o encontro, ou falta dele, entre a natureza e as circunstâncias.
Terreno: o ambiente da velhice no país 28
Natureza que se refere tanto àquela que herdamos, como conjunto de adaptações
geneticamente estabelecidas como à que adquirimos por via do desenvolvimento
individual através de interações com o ambiente social, quer de forma consciente e
voluntária, quer de forma inconsciente e involuntária.
Por meio dessas interações do organismo com o meio fazemos as interpretações do
mundo que nos cerca e experimentamos e construímos o nosso ambiente,
personificando-o como espelho de nossa vida e lhe emprestando uma identidade
nossa. Identidade que se materializa em cada traço, em cada marca deixada nas
paredes, [...] testemunhas de uma história aplaudida, negada, acolhida, enfim,
vivida.
Penetrar no terreno da velhice é percorrer todas essas trilhas. Terreno acidentado,
sinuoso, repleto de desafios: é preciso explorar, criar atalhos, aplainar, planejar, para
que a construção resista às intempéries.
Projeto: Por que planejar? 30
Qual é o lugar mais importante da sua casa? Eu acho que essa é uma boa pergunta para início de uma sessão de psicanálise. Porque quando a gente revela qual é o lugar mais importante da casa, a gente revela também o lugar preferido da alma.
Rubem Alves
O estudo do ambiente domiciliar objetiva complementar a intervenção junto ao
idoso, atuando em outras áreas que são fundamentais para seu desempenho.
Considerando-se a capacidade funcional3, as adaptações ambientais para melhor
acessibilidade e conforto, que favorecem a manutenção da independência4 e
autonomia5 do idoso, prevenindo o abandono das atividades, proporcionando bem-
estar e continuidade das relações afetivas e sociais. Além de permitir seu
crescimento pessoal.
Nesse contexto, inicia-se a discussão da importância de um planejamento e
adequação do ambiente que levem em conta as necessidades das pessoas, visto
que o ser humano sofre mudanças gradativas nos diversos sistemas orgânicos que
comprometem seu conforto e melhoria de vida. Considera-se ainda que a pessoa
idosa pode passar mais tempo em sua casa e que os acidentes provenientes de
planejamento e projeto inadequados, posteriormente, podem se transformar em
gastos com hospitalização e previdência, desgaste familiar e privações físicas,
afetivas, sociais e espirituais.
Portanto, projetos acessíveis com modificações e adaptações ambientais, mesmo
que aumentem o custo final da construção ou reforma, serão compensados por uma
economia a médio e longo prazo para o usuário e para o governo.
3 Nas ciências médicas, define-se quanto ao grau de preservação da capacidade de realizar atividades básicas de vida diária ou de auto-cuidado (AVD) e ao grau de capacidade para desempenhar atividades instrumentais de vida diária (AIVD) apresentados pelo indivíduo. Exemplos da capacidade de desempenhar as AVD são: arrumar-se, vestir-se, comer, fazer toalete, tomar banho, realizar transferência e locomover-se. As AIVD podem ser exemplificadas por: fazer compras, pagar contas, manter compromissos sociais, usar meios de transporte, cozinhar, comunicar-se, cuidar da própria saúde e manter a própria integridade e segurança (NERI, 2001). 4 Capacidade de realizar atividades da vida diária sem ajuda (PAVARINI; NERI, 2000). 5 Autogoverno, liberdade para agir e para tomar decisões. É liberdade individual, privacidade, livre escolha, auto-regulação, independência moral, liberdade para experienciar o self e a harmonia com os próprios sentimentos e necessidades (PAVARINI; NERI, 2000).
Projeto: Por que planejar? 31
Segundo Perracini (2002), os ambientes devem ser planejados objetivando a
promoção e encorajamento da independência e autonomia, de forma que uma
melhoria de vida possa ser oferecida a todos os indivíduos, sejam parecidos ou não
com a maioria. A mesma autora expressa que “o ambiente domiciliar tem um papel
fundamental na nossa qualidade de vida e no nosso bem-estar”.
Rybczynski (2002, p.223) considera ainda que, “o bem-estar doméstico é uma
necessidade humana fundamental, que está profundamente enraizada em nós e que
precisa ser satisfeita”, o que permite e revela uma sensação caseira, de intimidade,
de privacidade, de domesticidade e de um ambiente aconchegante.
O ambiente domiciliar deve ser prático, valorizando a simplificação e funcionalidade,
respeitando os aspectos culturais e psicossociais, como a identificação do idoso com
esse ambiente e a manutenção de sua privacidade (HASSELKUS, 1998). Ou seja, o
ambiente deve proporcionar conforto, segurança e acessibilidade, mas sem perder o
foco da individualidade, já que somos seres de desejo acima de tudo.
Em um estudo internacional que associa a modificação ambiental e a capacidade
funcional dos idosos foi verificado que a inacessibilidade representa um potencial
problema de saúde, ameaça à independência e ao bem-estar de idosos
(IWARSSON; ISACSSON, 1997). Em outro, o uso de modificações arquitetônicas
demonstrou que seus usuários eram mais independentes que os não usuários,
considerando uma substancial necessidade de modificações ambientais na casa dos
idosos incapacitados (FOX, 1995).
No Brasil, um estudo realizado no ambiente domiciliar de idosos atendidos em um
programa de assistência domiciliária ao idoso do município de São Paulo, verificou-
se que a média de tempo de moradia nos domicílios investigados foi de 20,42 anos,
sendo o mínimo de 1 (um) ano e o máximo tempo de moradia de 60 anos. Em
relação ao tipo de moradia: 41,7% residia em sobrado, 25% em casa térrea, 33,3%
em apartamento. Quanto à realização de modificações no ambiente domiciliar,
62,5% dos domicílios investigados já havia realizado alguma adaptação, como a
colocação de barras de apoio lateral no box e vaso sanitário, tapete antiderrapante,
e a retirada de tapetes na área de circulação. Contudo, os domicílios investigados
Projeto: Por que planejar? 32
apresentaram importantes limitações e poucas modificações ambientais (MENDES,
2005a).
Assim, torna-se importante ter conhecimento das habilidades do idoso, para resolver
as dificuldades práticas e funcionais, mas principalmente dos desejos e da relação
afetiva sujeito/meio ambiente, para que possa ser desenvolvido um projeto que
minimize suas dificuldades, possibilitando a aceitação do uso das adaptações, a
satisfação do idoso e da família e a manutenção do controle do idoso sobre a própria
vida.
Planejando o ambiente domiciliar
O ambiente domiciliar abrange características físicas, sensoriais, cognitivas,
afetivas, espirituais e funcionais, que interagem constantemente com o ser humano
em seu cotidiano durante as suas relações e atividades.
Com o aumento da população de idosos, inicia-se um processo de reflexão e
discussão sobre a importância de se planejar e adaptar os ambientes de forma que
pessoas de todas as idades e/ou com limitações funcionais temporárias ou
definitivas possam ter um acesso possível e relação saudável e de conforto com o
ambiente. Corroborando o que Baldwin, citado por Rybczynski (2002, p.234), já
havia definido conforto como: “um cômodo ou lugar que funciona para mim e para
meus convidados”.
As relações sociais se estabelecem independente do aspecto físico das pessoas,
permitindo o convívio e a criação de laços afetivos entre crianças, idosos, obesos,
gestantes, pessoas muito altas ou baixas e com limitações físicas, sensoriais e
cognitivas. Discute-se a valorização de se pensar um ambiente que promova e
proporcione conforto, segurança, atividade e visitabilidade6 a todos.
No entanto, a proposta de adequação ambiental deve permear e obedecer ao desejo
do idoso de manter o controle pessoal sobre si e sobre o ambiente. Manter as
6 Conceito ampliado de acessibilidade que significa o direito de visitar outras pessoas, o direito de conviver com amigos que escolhemos por identidades de pensamento, de afeto e não por condições físicas semelhantes (LICHT, 2004).
Projeto: Por que planejar? 33
características de um ambiente acolhedor e estimulante é fator que se manifesta
positivamente na auto-estima e auto-manutenção.
Perracini (2006) assinala que muitos idosos são capazes de reconhecer as
dificuldades relacionadas ao manejo do ambiente. Mas que a aceitação de
modificações individualizadas, que colocam em realce os prejuízos advindos do
envelhecimento, depende de aspectos subjetivos e culturais.
As principais razões dos idosos menosprezarem os riscos e não adaptarem seus
ambientes, segundo a mesma autora, são: a preocupação com a aparência estética
e o desconhecimento de como as adaptações ambientais podem tornar suas vidas
mais fáceis. Preferem, geralmente, mudar seu comportamento em vez de mudar o
ambiente. Como por exemplo, diminuindo a freqüência de banhos, fazendo lanches
em lugar das refeições e restringindo-se a determinados cômodos ou isolando-se.
Bem como aceitam a ajuda de terceiros, como cuidadores e familiares, em vez de
modificar o ambiente ou fazer aquisição de equipamentos de auto-ajuda.
No entanto, outros fatores são importantes e merecem ser questionados e
investigados na situação de negação e menosprezo em relação às modificações e
adaptações, como: o não poder de decisão do idoso sobre as questões da família e
da casa; a condição econômica para aquisição dos dispositivos de ajuda ou para
realizar reformas residenciais; o desgaste emocional na lida com os profissionais; a
falta de conhecimento dessas possibilidades e recursos e/ou simplesmente por não
desejarem.
Todos os cômodos devem ser objeto de atenção durante uma avaliação e
planejamento do ambiente utilizado pelos idosos, considerando-se a simplicidade e
a funcionalidade, desde o acesso exterior (entrada) à iluminação, os pisos, as
portas, as escadas, os degraus, assim como o mobiliário nele contido. Mas,
principalmente é preciso respeitar e saber ouvir os desejos e as necessidades de
cada “ser idoso”.
Projeto: Por que planejar? 34
A necessidade de um novo saber
A superação dos tradicionais saberes sobre a velhice e o processo do
envelhecimento é uma tarefa difícil de ser executada, mas necessária para o
crescimento científico, profissional e pessoal. Afinal, todos somos o alvo e os
beneficiados por novos estudos sobre o envelhecimento. Porque falar do ambiente
físico, principalmente do domiciliar - historicamente conhecido como “Doce Lar” -, é
falar de um pedaço de cada sujeito.
Construímos, reformamos, modificamos, adaptamos o ambiente de acordo com
nossos desejos, necessidades, fases da vida, momentos pontuais como a infância, a
adolescência e a fase adulta, considerando-se muito mais a estética e o modismo,
“esquecendo”, às vezes, de preparar o ambiente para as novas mudanças, como as
exigidas pela velhice, que como as demais fases da vida necessita de um ambiente
confortável e seguro.
No entanto, a negação da velhice, segundo Mendes (2005b), faz com que ao pensar
em ambiente adaptado e acessível ao idoso se pense em dependência. Mas é
razoável que se pense em modificar e adaptar o ambiente onde vive o idoso com o
objetivo de prolongar sua capacidade de realizar as atividades com independência,
autonomia e prazer, visando sempre seu bem-estar.
O grande desafio é repensar o ambiente para os nossos avós, pais, filhos, netos e
nós mesmos. É projetar o futuro, respeitando o passado e o presente, e proporcionar
a construção de um ambiente para uso e benefício de todos, sem aparência
estigmatizante. A casa como uma segunda pele, que se renova naturalmente após
cada descamação - a renovação celular, acompanhando a permanente
transformação do corpo, que se apresenta em cada sujeito de maneira única e não
linear.
O foco desta pesquisa é o ambiente domiciliar, buscando uma reflexão sobre a
influência desse ambiente na vida do ser idoso, tomando por base e referência as
necessidades relacionadas aos fatores biológicos, psicológicos, sociais e
ambientais. Sem desmerecer nenhum, busca-se contemplar a todos na construção
Projeto: Por que planejar? 35
da relação entre o meio e o sujeito e na realização de projetos de intervenções no
meio construído por qualquer área da ciência.
Contextualização
Este estudo com abordagem quantitativa e qualitativa permite uma riqueza na
construção do saber, a partir de uma investigação com entrevista semi-estruturada
(MINAYO, 2000) constituída de perguntas fechadas e abertas. A escolha desse
instrumento permite que o entrevistado tenha a possibilidade de discorrer o tema
proposto, sem respostas ou condições pré-fixadas pelo pesquisador, possibilitando
que a fala seja reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas
e símbolos.
Com o objetivo de contextualizar as teorias e hipóteses, a pesquisa demandou uma
coleta de dados e informações com os atores do processo de envelhecimento,
possibilitando a construção de um cenário constituído de identidade,
particularidades, saberes, cultura e significados.
Geertz (1989, p.4) interpreta essa rede de elementos, acreditando que,
O homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas uma ciência interpretativa, à procura do significado.
O saber norteia e dá sentido à existência humana num jogo de influências entre o
indivíduo e o meio – as experiências – que se integram e alimentam a construção de
novos saberes.
A primeira etapa da pesquisa foi o levantamento da bibliografia pertinente, a partir da
literatura existente em artigos, teses, dissertações, revistas, periódicos, livros,
manuais, normas, sites sobre o tema - específicos e afins - nos idiomas português,
inglês e espanhol, e em diversas áreas do conhecimento, especialmente na
Gerontologia, Engenharia, Literatura, Arquitetura e Terapia Ocupacional. Seleção,
análise crítica, reflexões e articulações que contribuirão para a construção do saber
gerontológico em relação ao morar na velhice.
Projeto: Por que planejar? 36
Para esta construção, diversos autores foram chamados. Entre eles, Aloísio L.
Shcmid, engenheiro mecânico, que estuda a relação do conforto a
Projeto: Por que planejar? 37
O primeiro contato foi realizado em Julho/2006, com a responsável pela
Programação Esportiva do Sesc, para esclarecimento da intenção da pesquisa,
assim como a possibilidade e as condições necessárias para sua realização, os
objetivos e a metodologia empregada.
Em outubro, após a entrega do Parecer sobre os aspectos éticos em pesquisas em
seres humanos (Anexo A), realizado pelo Comitê de Ética do Programa de
Gerontologia da PUC-SP, decidiu-se o critério para a seleção: convite verbal ao
grupo de idosos que participava de uma oficina ministrada pela pesquisadora nesse
período (outubro/2006). Explicou-se o objetivo das entrevistas e a importância da
pesquisa para a sociedade e a população que envelhece.
Ao final do último dia da Oficina, solicitou-se às pessoas interessadas e dispostas a
colaborar com a pesquisa que anotassem na folha entregue pela pesquisadora,
nome, telefone, e o dia que lhes fosse conveniente para agendamento da aplicação
do questionário.
O total de interessados inicialmente foi de 12 participantes, sendo apenas um do
sexo masculino, que no momento de agendar as entrevistas, desistiu, alegando
motivos de trabalho (revendedor de livros, que requeria a visita aos clientes), e de
tempo dedicado aos cuidados com o irmão, vítima da doença de Alzheimer.
Após o agendamento, novas desistências ocorreram por razões ligadas a problemas
de saúde. Uma da própria idosa, e no outro caso, do cônjuge.
Na ocasião também se realizou contato com uma das participantes da Oficina que
havia demonstrado interesse em participar, mas que havia faltado no último dia da
Oficina. O convite e agendamento foram aceitos.
Ficamos com um grupo constituído por 10 idosas com idades entre 62 e 81 anos.
As entrevistas foram realizadas entre nove de novembro/2006 e vinte e oito de
novembro/2006 nas dependências do Sesc - Unidade Consolação, sem ambiente
definido para a aplicação dos questionários. As participantes aguardavam a
entrevistadora em local previamente combinado com a mesma. O espaço para as
entrevistas era cedido de acordo com a disponibilidade de espaço livre na Unidade
Projeto: Por que planejar? 38
naquele dia e horário. Utilizamos consultórios médicos, salas de espera e sala de
atividades. O barulho da reforma da Unidade e dos freqüentadores e funcionários
em suas atividades foram as interferências durante as entrevistas, mas superadas
pela colaboração e compreensão da situação pelas participantes.
As entrevistas tiveram uma duração média de 35 minutos e seguiram uma dinâmica
pré-estabelecida pela pesquisadora: leitura e aceite do Termo de Consentimento
Esclarecido (Apêndice B), garantindo seu anonimato, seguido da aplicação do
instrumento pré-elaborado (Apêndice A) e, ao término, o esclarecimento dos
objetivos da pesquisa, a fim de evitar a contaminação prévia das respostas.
O instrumento para a coleta de dados foi a entrevista semi-estruturada (MINAYO,
2000) constituída de perguntas fechadas (ou estruturadas) e abertas. Na construção
foram utilizados instrumentos já elaborados que tivessem questões pertinentes ao
assunto e pudessem ser adaptadas, assim como a experiência anterior da
pesquisadora para a construção das questões fechadas. As abertas surgiram dos
questionamentos e da inquietação para ouvir os sujeitos, suas opiniões, sua
subjetividade, os valores e os significados em torno do objeto de estudo.
A partir de discussões e adaptações sobre as questões a serem pesquisadas,
definiu-se o Instrumento, que contempla os dados sócio-demográficos,
caracterização do domicílio, caracterização da relação sujeito X habitação, dados
clínicos, bem como a apreensão de informações sobre as relações complexas que
envolvem a velhice e seu ambiente domiciliar.
O instrumento permite a obtenção de dados quantitativos e qualitativos, o primeiro
expressando os valores estatísticos e o segundo contextualizando os números com
os depoimentos e narrativas dos próprios sujeitos (MINAYO, 2000).
O recurso utilizado para coletar as respostas abertas – as narrativas - dos
entrevistados foi a técnica do gravador. Instrumento manuseado pela pesquisadora
para obtenção dos dados e transcrição na íntegra das narrativas, preservando ao
máximo a originalidade e fidedignidade das mesmas e realizando correção quando
necessário para proporcionar ao leitor uma melhor compreensão do assunto.
Projeto: Por que planejar? 39
Às vezes era preciso repetir-lhes o que elas mesmas diziam, e assim tinham
oportunidade de repensar e refletir sobre a questão central da pesquisa: a
necessidade de planejar o ambiente em relação à longevidade.
Entende-se que as falas contínuas transmitam a riqueza da sabedoria e a reflexão
dos idosos sobre assuntos antes temidos ou não questionados, de forma expressiva
e espontânea.
A primeira etapa para a análise dos dados foi a montagem de um banco de dados
(questões fechadas), utilizando-se o software SPSS 12.0 for Windows (Statistical
Construção: os moradores 41
As pessoas são o que são em todos os seus aspectos.
Doris Lessing
O perfil sócio-demográfico e econômico
O estudo foi realizado com 10 sujeitos do sexo feminino, a partir de 62 anos.
Esse fato reflete o fenômeno da feminização da velhice, uma característica da
população idosa, inclusive no Brasil (KALACHE, 1998), onde as mulheres vivem, em
média, oito anos a mais que os homens (IBGE, 2002), e mais do que eles participam
de atividades e grupos da terceira idade.
Segundo o Censo 2000, as mulheres correspondiam a 54% da população de idosos
em 1991 e, 55,1% em 2000. Essa relação entre envelhecimento e gênero
fundamenta-se nas mudanças sociais e culturais ocorridas ao longo do tempo e nos
acontecimentos naturais do ciclo da vida.
Em relação à idade das entrevistadas, a média foi de 70 anos, sendo a idade
mínima de 62 anos e a máxima de 81 anos.
Quanto à nacionalidade, nove são brasileiras, das quais sete naturais do estado de
São Paulo. Em relação à raça/cor, todas se consideraram brancas e quanto à
religião, oito eram católicas (Tabela 1).
No que se refere ao estado civil, a maior parte do grupo é constituída de idosas
solteiras (quatro) e viúvas (quatro), o que poderá se refletir na composição do núcleo
de pessoas residentes no domicílio, considerando que cinco residem sozinhas e
quatro residem com mais uma pessoa. São achados que corroboram os dados do
Censo 2000 apresentados anteriormente (IBGE, 2002).
Construção: os moradores 42
Tabela 1 – Características sócio-demográficas do grupo estudado
Características sócio-demográficas NNacionalidade Brasil 09
Israel 01
Naturalidade São Paulo 07Rio de Janeiro 01Minas Gerais 01
Raça/Cor Branca 10
Religião Não tem 01Católica 08Israelita 01
Ao analisar o grau de escolaridade, verifica-se que a maioria das participantes
possui curso superior/graduação (sete), o que pode ser um indicativo na escolha e
realização de suas profissões, que ocorreram principalmente na área de educação
(Tabela 2).
Tabela 2 – Caracterização das atividades ocupacionais anteriores do grupo estudado
ProfissãoN
Assistente Social 01Auxiliar de Contabilidade 01Diretora de Escola 02Professora 01Professora Universitária 01Secretária 02Secretária Executiva 01Socióloga 01
De acordo com os dados do IBGE (2002), na década de 30 até os anos 50, o ensino
fundamental ainda era restrito a segmentos sociais específicos, e a escolaridade
média também apresentava um baixo saldo resultante da desigualdade no acesso à
educação.
No caso dos idosos responsáveis pelo domicílio, no período de 1991/2000, os
índices apresentaram melhorias, mostrando aumentos significativos na proporção de
alfabetizados e no nível de escolaridade, dados que confirmam os resultados obtidos
no grupo estudado, que caracterizamos como privilegiado. Visto que, de acordo com
o Censo 2000, a escolaridade dos idosos é baixa, principalmente entre as mulheres.
Construção: os moradores 43
Resultado atribuído às características da sociedade e das políticas de educação
prevalecentes na década de 30 e 40, quando o acesso à escola ainda era muito
restrito.
Em relação à atividade ocupacional anterior a aposentadoria, constatamos que
todas se aposentaram nas respectivas funções/profissões e atualmente não
exercem mais atividades remuneradas.
Quanto à renda, sete entrevistadas recebem aposentadoria entre 6 a 10 salários
mínimos, renda avaliada como suficiente por oito das participantes. Atentando-se
para o fato de que a maioria é viúva e solteira. As demais, que consideraram a renda
insuficiente recebem ajuda do cônjuge e da filha.
O perfil da habitação
A descrição da casa pelas entrevistadas revela a composição física/estrutural
(cômodos) do domicílio (Tabela 3) e, principalmente, a relação existente entre a
casa e a moradora.
Tabela 3 – Características da composição física/estrutural das casas do grupo estudado
Composição da casa N
Dormitórios 2 dormitórios 033 dormitórios 07
Cozinha - 10
Sala Padrão* 04Ampla** 06
Banheiro 1 banheiro 032 banheiros 07
Área de Serviço Sim 06Não 04
Dependência de empregada + banheiro Sim 09
Não 01
*, **: Referência citada pelas entrevistadas.
Construção: os moradores 44
Nas falas, afloram os desejos e sentimentos de satisfação pela conquista da casa
própria, às vezes acompanhados de referência a algum item que é causa de
desconforto ou descontentamento.
Sempre sonhei morar nesse prédio, mas na época só consegui no primeiro andar. A única coisa que eu não gosto é ser primeiro andar. Mas é um apartamento muito amplo, mas apesar disso gosto muito. (AMDG, 69 anos)
Apartamento no 14º andar, último andar. Adoro meu apartamento, tem uma vista maravilhosa para as montanhas e serras. Moro há 40 anos, mas infelizmente estão começando a construir prédios em frente à montanha. Mas ainda vejo a natureza, anoitecer, amanhecer, adoro o lugar. Me sinto muito, muito bem. [...] Olha eu estou feliz lá. (JS, 79 anos)
Quanto ao tipo de moradia, o apartamento é o mais ocupado pelas entrevistadas
Construção: os moradores 45
aquisição da casa própria, ter um apartamento menor por morar sozinha e para ficar
mais perto dos familiares. Não se observou associação com a questão do
envelhecimento em nenhuma das respostas.
Os desejos de mudança, bem como o de permanência em suas casas atuais estão
explícitos nas falas:
Sim, mudar de andar, mas gostaria de continuar naquele mesmo prédio. Pois andar de baixo não bate sol. (AMDG, 69 anos)
Sim, porque a casa é muito grande e eu moro sozinha. E mudaria para ficar mais perto dos filhos. (VCS, 81 anos)
Sim. Morar em um apartamento menor. (MM, 65 anos)
Sim, mas ela não é minha. Se não eu já teria reformado. Talvez nem mudaria de casa, porque o bairro é ótimo, já estou acostumada. Mas o problema é esse, tem que fazer muita reforma e não está a meu gosto, a casa. A casa é muito dividida, e tem que fazer várias reformas. (CRG, 65 anos)
Não. Estou feliz da vida. Só se ficar doente pra sair de lá e ir para uma casa de repouso se eu não puder cuidar de mim mais. (JS, 79 anos)
Não. Já mudei muito. (MSS, 71 anos)
As falas de algumas das entrevistadas (CRG e MSS) corroboram o que outras
pesquisas vêm assinalando. No Brasil, segundo Carli (2004), as pessoas idosas
querem viver na casa em que estão acostumadas e não desejam mudar-se. A
aquisição da moradia própria é, culturalmente, o maior desejo e o bem máximo que
as pessoas almejam, e, na grande maioria dos casos, é o maior valor que adquirem
ao longo da vida.
Em sua pesquisa, a mesma autora constatou que 82% dos idosos entrevistados
consideravam a sua casa adequada para viver o resto da vida, que 72% não
gostaria de mudar de casa e que 66% se precisasse de assistência para as
atividades diárias permaneceria em casa e arrumaria alguém para ajudar (CARLI,
2004). Ou seja, após a aquisição desse bem, construído ao longo de suas vidas, os
idosos tendem a uma reduzida mobilidade residencial.
Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 47
Ninguém morre por estar velho ou ser velho, mas por estar vivo. Morrer como velhos, mas não de velhos.
Mitologia Grega – Satuno e Cronus
O quarteto ambiente, homem, conforto e atividade processa uma relação
intrínseca e harmoniosa entre os sentidos, os sistemas do corpo humano, os
estímulos ambientais e os desejos. Trocas constantes e mútuas permitem a criação
de espaços de relacionamentos afetivos, prazerosos, sociais, laborais e de
segurança no cotidiano.
Com o envelhecimento, ocorre para muitos a redução das capacidades – motoras,
sensoriais e cognitivas - rompendo a harmonia do quarteto, comprometendo o
desempenho funcional do indivíduo e suas relações afetivas e prazerosas com o
meio.
Para Tuan (1980, p.14), “embora todos os seres humanos tenham órgãos dos
sentidos similares, o modo como suas capacidades são usadas e desenvolvidas
começa a divergir numa idade bem precoce”. É que os sentidos são também
estimulados pelas experiências, desejos e afinidades, possibilitando as diversas
visões de mundo e de interações com o meio e com os demais seres.
Nesta pesquisa investigamos então o comprometimento da vertente saúde, quanto
aos sentidos e sistemas do corpo humano em interação com o meio domiciliar, onde
se arquitetam ações, desejos conscientes ou não, sonhos de conforto e bem-estar.
Assim como as capacidades sensoriais vão se diferenciando de ser para ser ao
longo da vida, como nos falou Tuan anteriormente, os comprometimentos também
agregam matizes diferenciados, entre os quais o estilo de vida, que é uma das
marcas de individualidade e identidade.
Com os sentidos
Sentimos e percebemos o mundo através dos sentidos: o cheiro, o gosto, a cor, a
textura, os sons, e todas as demais formas de sensações que os órgãos dos
Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 48
sentidos nos permitem, e que possibilitam ver os pássaros, sentir os cheiros e
aromas, ouvir as vozes das pessoas queridas e as músicas, sentir o calor do sol e
saborear as comidas favoritas... Mas, assim como todos os demais sistemas do
nosso organismo, eles também são finitos e sofrem algumas alterações, em graus e
tempos variados, acompanhando a genética, o ritmo e o estilo de vida de cada ser
humano.
Ver
Eu acho duas coisas, que eu rezo para não ter: ser esquecida e não ter os pés para andar. É essencial ver, sentir as coisas. E não ter dor. Pois, ter dor na velhice é de lascar. (MSS, 71 anos)
O ser humano percebe o mundo simultaneamente através de todos os sentidos, mas
a visão é, provavelmente, o sentido mais valioso e explorado para a maioria das
pessoas na sociedade contemporânea. Assim também se configura para a maioria
das entrevistadas (oito) que apresentam comprometimentos na visão, e por isso
recorrem a recursos e correções como cirurgias, uso de óculos e colírios, para não
perderem as informações precisas e detalhadas, o brilho e as cores do mundo.
As alterações visuais podem impedir ou dificultar a independência do idoso na
realização de suas atividades diárias, lazer e nas relações sociais. A diminuição da
acuidade visual, do campo visual periférico e da acomodação interfere na noção de
profundidade, na discriminação de cores, especialmente do espectro azul/verde, na
capacidade de se adaptar ao ofuscamento e a lentidão na adaptação ao claro-
escuro são as principais alterações sensoriais da visão (PERRACINI, 2006).
Por volta dos 60 anos, há uma redução em torno de 66% da quantidade de luz que
chega à retina, e como conseqüência, ocorrem alterações que exigem algumas
adaptações no cotidiano e no ambiente. As principais implicações da relação visão e
ambiente estão em discriminar detalhes de objetos próximos e rostos; percepção de
degraus, quinas e pés de móveis, objetos no chão e fios de telefone; dificuldades
para a leitura; dificuldade para discriminar sombras e cantos; dificuldade na
acomodação rápida para mudanças de ambientes com diferentes luminosidades,
principalmente à noite, necessitando de maior iluminação e sinalização nos
ambientes; dificuldade com pisos desenhados, degraus, escadas, ambientes com
Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 50
A privação sensorial pode trazer, ainda, como conseqüências, a privação social e
problemas emocionais, como tristeza, isolamento, depressão e sensação de
incapacidade.
Para oferecer um maior conforto acústico aos idosos, os ruídos indesejáveis devem
ser eliminados, o que favorecerá bem-estar em seus ambientes, melhora da
inteligibilidade nas comunicações, prevenindo-se atitudes nocivas como o
desinteresse e o isolamento social.
Em relação ao ambiente, a distribuição e disposição dos móveis e objetos de
decoração auxiliam no isolamento e absorção sonora, como o uso de biombos e
painéis feitos de tapeçaria, pintura em tela, montagens com isopor, feltro ou cortiça,
que podem ser realizados pelos próprios idosos, estimulando a criatividade e
melhorando a auto-estima por personificar o seu ambiente. Outra medida facilitadora
é a colocação de cadeiras e sofás próximos, favorecendo a comunicação verbal e
visual, através da leitura das expressões faciais e corporais.
Cheirar
O olfato, como os demais sentidos, permite a evocação de respostas rápidas e
frequentemente inconscientes. Sentir cheiros familiares estimula a memória a
recordar experiências, acontecimentos e pessoas, lembranças vívidas carregadas
emocionalmente. Na pesquisa, duas entrevistadas relataram queixas olfativas, que
podem comprometer as lembranças e experiências sensoriais, consequentemente
dificultar o evocar e o recordar de eventos que reforçam os laços afetivos com seu
ambiente, seu lar.
Com o envelhecimento a função do olfato também sofre alterações. Começa a
apresentar uma perda, principalmente após os 80 anos, caracterizada por
dificuldades para identificação de odores do cotidiano, corporais e ambientais, tanto
os estimulantes e convidativos quanto os desagradáveis, como urina, gás, fumaça e
alimentos estragados. Ocorre ainda o declínio do limiar de sensibilidade e o aumento
do tempo de adaptação olfativa7 (VIUDE, 1996; PERRACINI, 2006).
7 Adaptação Sensorial é a sensibilidade decrescente a um estímulo inalterável, diminuição da percepção ao estímulo.
Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 51
O déficit da função olfativa pode colocar ainda em risco a saúde e a segurança dos
idosos, sendo importante compensar essas perdas através de estímulos dos outros
sentidos, principalmente a visão e a audição, apresentando comidas visualmente
atraentes e apetitosas, detector sonoro e visual de fumaça e de gases, e uso de
superfícies e recipientes impermeáveis para combater os odores domésticos
desagradáveis, como restos de comida, gorduras e excrementos.
Saborear
Contrapondo as questões anteriores, o sentido do paladar não foi referido por
nenhuma das entrevistadas. No entanto, com o avanço da idade, o paladar sofre
algumas alterações, influenciadas pela diminuição da saliva e perda da dentição,
que contribuem para uma adequada e confortável mastigação e digestão dos
alimentos.
O paladar apresenta, também, uma tendência à diminuição da capacidade para
perceber o doce e o salgado, enquanto o ácido e amargo permanecem inalterados
(VIUDE, 1996). Há um declínio da sensação gustativa que provoca desinteresse
pelos alimentos e conseqüências como perda de peso, desnutrição, anemia e
aumento da suscetibilidade ao desenvolvimento de doenças.
A diminuição da saliva provoca ainda a halitose (mau hálito), que gera desconforto e
tendência ao isolamento social. Reforça-se dessa forma a importância da saúde
bucal, que ao minimizar esse efeito contribui para a manutenção da auto-estima,
pois permite relações sociais saudáveis e prazerosas.
Em relação ao ambiente domiciliar, as alterações do paladar não têm uma influência
direta. Porém, dada à interligação dos sentidos, há que considerar que um ambiente
confortável, limpo, organizado e refeições com odor e aspecto convidativos
estimulam o paladar. Por outro lado, se o idoso adoece, o desinteresse pelas
refeições, assim como desorientação e agitação podem ser influenciados, também,
pelo ambiente. Pois, os ambientes com espaços de circulação reduzidos e pouco
tranqüilizantes inibem o desejo de realizar refeições.
Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 52
Tocar
O tocar favorece a experiência das formas, texturas, temperaturas, tamanho,
espaços, detalhes, assim como as sensações de dor, pressão e toque, através do
contato físico das mãos e dos dedos – da pele.
Pele que se encontra comprometida em uma das entrevistadas. Com o
envelhecimento a pele torna-se mais seca, com menos pêlos e mais fina, pela
diminuição da camada de gordura subjacente, aumentando a incidência de
hematomas e pruridos. A diminuição dos receptores sensoriais, dos dermátomos e
dos neurônios aumenta a suscetibilidade à dor e eleva a sensibilidade tátil nas mãos
e na sola dos pés (HERLIHY; MEBIUS, 2002; PERRACINI, 2006).
A monitoração do ambiente domiciliar e sua adequação tornam-se necessárias e
importantes para evitar os riscos de acidentes como: ferimentos por corte na
manipulação de eletrodomésticos e utensílios pontiagudos ou ásperos, ferimentos
em paredes rugosas, e traumas provocados por batidas ou pancadas em móveis e
objetos na área de circulação. Devido à redução da sensibilidade tanto para o
quente quanto para o frio, há risco de queimaduras no banho e na cozinha, que
podem ser evitadas mantendo calibrada a temperatura ideal e adotando o uso de
luvas térmicas.
Equilibrar
Quanto ao equilíbrio, três entrevistadas relataram comprometimento. O Sistema
vestibular, responsável pelo equilíbrio, sofre alterações com o envelhecimento,
implicando na dificuldade em lidar com o autodeslocamento, em recuperar o
equilíbrio após movimentos bruscos e em selecionar as informações sensoriais mais
adequadas quando o ambiente oferece pistas conflitantes (PERRACINI, 2006).
Na relação do ambiente com o comprometimento do equilíbrio, tem-se o risco de
quedas como uma das conseqüências mais graves. A dificuldade com apoios
instáveis, como móveis e paredes ou maçanetas de porta, saboneteiras e registro de
água; a dificuldade com armários muito altos e muito profundos e com ambientes
desnivelados são quesitos que requerem atenção e intervenções, bem como a
Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 53
colocação de barras de apoio no banheiro e cozinha, corrimãos em escadas e
rampas e, se necessário, nos trajetos internos da casa.
Com os sistemas
Um grande desafio para a pesquisa sobre o envelhecimento não é apenas acrescentar anos à vida, mas também dar qualidade de vida a indivíduos sadios e dentro do possível, também aos doentes, para que possam manter suas funções cognitivas e sensório-motoras, através da melhora dos mecanismos compensatórios e ambientais.
Cançado e Horta (2006).
A
Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 54
O sistema cardiovascular sofre redução significativa de sua capacidade funcional.
Com o aumento da idade, o coração e os vasos sanguíneos começam a apresentar
alterações morfológicas e teciduais, mesmo sem desenvolver alguma doença.
Segundo Affiune (2006), o conjunto dessas alterações denomina-se de “coração
senil” ou presbicárdia, que se desenvolve de forma diferenciada de indivíduo para
indivíduo. São alterações hemodinâmicas que se caracterizam por redução da
reserva funcional, demonstrada pela diminuição da resposta cardiovascular ao
esforço observado nos idosos durante atividades físicas.
O sistema cardiovascular é um dos mais afetados pela idade. As alterações mais
evidentes são: o espessamento das paredes das artérias, ficando menos elásticas e
mais rígidas, com duas conseqüências principais, a diminuição do fluxo sangüíneo
para os órgãos vitais e o aumento da pressão sangüínea. A superfície interna dos
vasos sangüíneos fica mais áspera em razão das alterações relacionadas ao
envelhecimento da parede do vaso, e do desenvolvimento de placas gordurosas,
resultando em idosos mais propensos a formar trombos, assim como as mudanças
nas válvulas das veias, resultam em idosos mais suscetíveis ao desenvolvimento de
veias varicosas (HERLIHY; MEBIUS, 2002).
Na pesquisa, cinco idosas apontaram doenças do sistema circulatório, como o AVCi
(Acidente Vascular Cerebral Isquêmico), o AVCt (Acidente Vascular Cerebral
Isquêmico - transitório), conhecido popularmente como “ameaça de derrame”, a
Hipertensão Arterial (HAS) e a presença de varizes. Problemas de saúde que,
controlados, permitem ao idoso a realização de suas atividades, às vezes com
apenas algumas mudanças comportamentais e/ou ambientais, como uso de
poltronas com apoio para elevação dos membros inferiores, a fim de melhorar a
circulação sangüínea e adequação das atividades que consomem muita energia e
causam fadiga.
O sistema respiratório, com o processo natural do envelhecimento, pode apresentar
alterações anatômicas e funcionais. Vários fatores podem estar associados e afetar
a função pulmonar ao longo da vida, agravando o processo de envelhecimento,
como o tabagismo, a exposição profissional a pequenas partículas suspensas no ar
Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 55
como minério, madeira, poeiras de grãos, amianto, sílica e vapores de gasolina,
querosene, solvente de tintas, entre outros, a poluição ambiental, as doenças
pregressas ou não, e as diferenças socioeconômicas.
Quanto à presença de doenças respiratórias, observamos que dentre as
entrevistadas, duas relataram apresentar algum problema de saúde, em especial a
sinusite, uma doença com base inflamatória e/ou infecciosa que acomete as
cavidades existentes ao redor do nariz, adquirida após infecção viral, inflamação de
origem alérgica ou por poluentes (MULLER, 2006). E para quem vive em regiões
frias ou com grandes variações climáticas ao longo dos dias ou meses, como a
cidade de São Paulo, o cuidado deve ser mais intenso pela propensão maior à
doença.
A asma, também citada, é caracteriza pela inflamação crônica das vias aéreas, o
Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 56
doenças respiratórias, principalmente pelas alterações climáticas e pela poeira
doméstica. O ambiente deve oferecer condições mínimas para que a temperatura do
corpo se mantenha dentro dos limites de bem-estar térmico, fazendo uso de
ventiladores, janelas com persianas e aquecedores de acordo com a temperatura
local. Assim como evitar cortinas pesadas e realizar limpezas periódicas da casa e
dos eletrodomésticos, para que não haja acúmulo de poeira.
As alterações apresentadas pelo sistema digestório, com o envelhecimento, são
estruturais, de motilidade e da função secretória, variando em intensidade e
natureza em cada segmento.
Algumas alterações do trato digestório são mais evidentes (HERLIHY; MEBIUS,
2002; FERRIOLLI; MORIGUTI; LIMA, 2006), como a diminuição de saliva e de
enzimas digestórias, o que dificulta a digestão e a absorção de vitaminas (vitamina
B12) e minerais (ferro e cálcio) e provoca a diminuição das sensibilidades gustatória
e olfatória, afetando o gosto do alimento e o apetite.
O peristaltismo no esôfago, também alterado, não se inicia durante cada deglutida, e
o esfíncter esofágico inferior relaxa mais vagarosamente, decorrente da perda do
tônus da parede muscular, dificultando a deglutição e causando uma sensação
precoce de plenitude. O peristaltismo lento causa constipação e enfraquecimento do
reflexo de vômito, aumentando o risco de aspiração.
Nesta pesquisa, três das entrevistadas apresentam algum problema no sistema
digestório, como a gastrite, inflamação da mucosa do estômago e o refluxo gástrico,
um conjunto de queixas que acompanha alterações no esôfago resultantes do
refluxo (retorno) anormal do conteúdo estomacal para o esôfago. Como medida para
amenizar os efeitos desse desconforto, algumas pessoas se beneficiam em dormir
em cama elevada na cabeceira, em 20 a 25 cm. No entanto, outras não se adaptam
à nova posição, e ao experimentá-la sentem desconfortos como edema nos pés e
dores nas costas, tornando inviável o uso dessa estratégia.
Segundo Liberman (2006), o envelhecimento provoca algumas alterações no
sistema endócrino, caracterizando-se pelo aumento da incidência de doenças como
Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 57
diabetes mellitus, a associação de falências de mais de um órgão endócrino, e a
apresentação atípica de doenças (hipertireoidismo e hipotireoidismo).
Outras alterações endócrinas relacionadas ao envelhecimento incluem alteração na
secreção, nos níveis circulantes, no metabolismo e na atividade biológica dos
hormônios. As alterações na glândula tireóide causam uma queda na produção dos
seus hormônios, diminuindo o padrão metabólico e a secreção do hormônio de
crescimento, determinando redução da massa muscular e armazenamento de
gordura (HERLIHY; MEBIUS, 2002).
Com o envelhecimento, a quantidade total de água do corpo do idoso diminui,
necessitando de cuidados especiais de hidratação. A temperatura corporal também
deve ser monitorada, devido aos casos de insolação, caracterizada pelo aumento da
temperatura corpórea igual ou maior a 40,5ºC, que ocorre principalmente durante o
verão, com idosos em ambientes sem ventilação adequada. No ambiente quente, o
corpo perde a capacidade de dissipar calor através da radiação e evaporação,
aumentando a temperatura corpórea e desidratando.
Os idosos também estão suscetíveis à diminuição da temperatura, definida pela
temperatura corporal inferior ou igual a 34,4ºC e a temperatura interna do organismo
inferior a 35ºC – hipotermia. As causas principais são a exposição ao frio ambiental,
alterações fisiológicas relacionadas ao decréscimo da perda de calor, medicamentos
e alterações na termorregulação.
O acometimento de alguma doença do sistema endócrino foi referido por duas das
entrevistadas, indicando problemas com a tireóide. Em outras questões (satisfação
com a ventilação e iluminação da casa) observamos a queixa de desconforto
térmico.
[...] então como eu saio muito, eu não sinto muito o inverno, mas a hora que eu começar a ficar mais em casa eu vou precisar de um apartamento mais quentinho. (AMDG, 69 anos)
Queria que fosse mais quente. Apesar de ter aquecedor. (MSS, 71 anos)
Medidas preventivas da hipertermia e hipotermia podem ser adotadas no ambiente
domiciliar, como uso de termômetros para determinar a temperatura ambiente, uso
Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 58
de aquecedores, ventiladores e ar-condicionado de acordo com a estação do ano,
garantindo conforto térmico, e uma ventilação adequada.
O sistema imunológico, por ser um processo adaptativo, interage com vários
componentes dele mesmo e com o meio ambiente e sofre influências dos sistemas
endócrino e nervoso. Sua função é preservar a integridade do organismo, que ocorre
por meio da distinção entre o que é próprio e não próprio do organismo – “memória
imunológica”.
Com o envelhecimento, aumenta de forma direta a suscetibilidade do organismo a
infecções e surgimento de neoplasias, e diminui a habilidade de resposta a uma
infecção recorrente. Assim como a propensão para as doenças auto-imunes, que
aumentam por apresentarem altos índices de anticorpos circulantes contra o próprio
organismo, pelas reações alérgicas e a rejeição de órgãos (VEIGA, 2006; HERLIHY;
MEBIUS, 2002).
Quanto à presença de doenças do sistema imunológico, três entrevistadas
apresentam algum problema, especialmente a alergia, que é uma situação na qual o
organismo apresenta uma resposta imunológica (de defesa) diferente da resposta
protetora esperada, causando alterações indesejáveis. A alergia é uma reação
específica do sistema de defesa do organismo às substâncias normalmente
inofensivas. E dentre os tipos de substâncias que causam reações alérgicas - os
alérgenos – incluem-se os pólens, partículas de pó, esporos de fungos, alimentos,
látex, veneno de insetos e medicamentos.
Segundo Lança (2006b), as doenças alérgicas, de uma maneira geral, têm origem
multifatorial e complexa. Para que se exteriorizem, tem que haver uma combinação
entre a predisposição genética da pessoa e uma situação ambiental favorável.
Dos sistemas, o osteoarticular é o que requer mais atenção, ao observarmos que
oito das entrevistadas apresentam alguma queixa. Osteopenia, osteoporose, artrose
foram os problemas referidos.
Com o envelhecimento, o sistema osteoarticular sofre algumas alterações nas suas
estruturas constituintes, como os ossos, a cartilagem articular, a articulação
Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 59
diartrodial (membrana sinovial + tecido conjuntivo + líquido sinovial) e o músculo
esquelético. Como conseqüência, algumas doenças podem se manifestar, como a
osteopenia, a osteoporose, a doença de Paget9, a artrite reumatóide, a osteoartrite
(artrose), que podem ser acompanhadas de dor, deformidades, instabilidade
postural e alteração da marcha, caracterizada por passos curtos e mais lentos,
arrastos dos pés, diminuição da amplitude de movimento dos braços, que tendem a
ficar mais próximos do corpo. Essas mudanças interferem no equilíbrio, na
capacidade física e influenciam negativamente na vida ocupacional, social e
emocional do indivíduo e na sua qualidade de vida.
As perdas de cálcio e de matéria orgânica tornam os ossos menos resistentes e
quebradiços – a osteoporose - e, consequentemente mais frágeis e suscetíveis a
fraturas, com regeneração lenta e incompleta, requerendo assim muitos cuidados
para que se evitem as quedas. Os tendões e ligamentos encontram-se menos
flexíveis, diminuindo a amplitude de movimentos das articulações; o desgaste da
cartilagem articular e o crescimento ósseo excessivo na articulação causam
enrijecimento articular e, a contração dos discos intervertebrais, devido à
compressão dos discos e a perda de massa óssea causam uma diminuição da altura
do corpo, causando a cifose na região torácica da coluna vertebral, prejudicando o
funcionamento de órgãos, tais como os pulmões (ROSSI; SADER, 2006; HERLIHY;
MEBIUS, 2002).
Na relação com o ambiente, algumas atitudes devem ser tomadas, como o uso de
pisos antiderrapantes, manter livre a área de circulação, sem objetos e móveis,
principalmente os baixos e com quinas vivas10, evitando-se os esbarrões e tropeços,
consequentemente as quedas e fraturas. Outras atitudes a serem adotadas já foram
citadas no comprometimento do equilíbrio e do sistema nervoso.
Na pesquisa, não houve respostas afirmativas em relação à presença de algum
problema ou doença do sistema urinário. Contudo, vale ressaltar que o
envelhecimento fisiológico acomete também esse sistema, que sofre influência de
9 A doença de Paget dos ossos (osteíte deformante) caracteriza-se por uma excessiva reabsorção óssea, seguindo-se de aumento exagerado na produção óssea, sendo que o resultado desse processo é um tecido ósseo estruturalmente desorganizado. 10 Cortantes, pontiagudas.
Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 60
inúmeras comorbidades que o idoso pode apresentar e da ação de fatores
ambientais, como o tabagismo, que têm ação deletéria sobre a função renal
(CARVALHO, 2006).
A bexiga é o órgão responsável pelo armazenamento da urina produzida pelos rins e
sua expulsão para o meio exterior. Com o envelhecimento, a bexiga sofre alterações
próprias do órgão e extravesicais, que podem levar a exteriorização clínica, com
repercussões além da esfera biológica, podendo promover inúmeras limitações no
campo psíquico, social e profissional do indivíduo.
Essas limitações têm como causas algumas alterações no sistema urinário
(CARVALHO, 2006; HERLIHY; MEBIUS, 2002), como a diminuição progressiva do
número de néfrons, atingindo uma redução de 50% por volta dos 70 a 80 anos de
idade, que provoca, clinicamente, um declínio na capacidade de concentrar urina. A
bexiga diminui de tamanho, decrescendo também as propriedades de contrair e
relaxar, o que resulta em maior freqüência de micção. Em razão desses eventos a
expulsão é incompleta, com presença de urina residual, que favorece o
aparecimento de infecções na bexiga. O enfraquecimento do esfíncter externo e a
diminuição na capacidade sensitiva em distender a bexiga aumentam a incidência
de incontinência urinária.
Segundo Maciel (2006), a modificação ambiental, assim como a prevenção de
quedas noturnas, freqüentes nos idosos, torna-se uma medida que atua na
incontinência urinária, utilizando-se atitudes que facilitem o acesso ao banheiro,
como a adaptação da altura dos vasos, instalação de barras de apoio, iluminação
adequada e uso de urinóis ou cadeira sanitária à beira da cama.
A interferência dos problemas de saúde das entrevistadas no cotidiano também foi
abordada. Foram referidas por 3 (três) delas principalmente nos seus lazeres e
prazeres, como viagens e alimentação, que precisam ser modificados ou
abandonados.
Sim. Por causa da gastrite, pois sou muito gulosa e ataca sem avisar. E pode ser tanto por alimento que comi ou stress. Fora isso, mais nada atrapalha. (NRDAC, 62 anos)
Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 61
Dificulta sim, em viagens que eu gosto muito. Já viajei muito. A minha última viagem foi para a Tunísia, depois não viajei mais para fora do Brasil. Por causa da restrição da alimentação, ai desanima. Muita coisa eu não posso comer. Então faço mais viagens por aqui no Brasil, no exterior não faço mais, desanimei. Porque eu viajava assim, não levava nem um comprimido para dor de cabeça. (AMDG, 69 anos)
Sim. A vista um pouco. Mas ainda ando sozinha e faço tudo sozinha. (MSS, 71 anos)
Não. Eu esqueço, finjo que não tenho. ( VCS, 81 anos)
Não, não. Estou tomando os remédios que o médico me indicou. (CRG, 65 anos)
Nas falas fica explícito que para algumas entrevistadas os problemas existem e
dificultam a realização de seus desejos e ações, mas que podem ser contornados e
enfrentados, sendo, quando possível “esquecidos” para manter o ritmo natural do
cotidiano.
Morar: habitar o espaço 63
A relação funcional ou de uso dos cômodos e mobiliários no cotidiano das
entrevistadas, também foi investigada. Relação que para ser harmoniosa, deve
seguir algumas orientações de segurança, parâmetros e recomendações simples de
adequação do ambiente, que se destinam a evitar acidentes e proporcionar conforto
aos residentes da casa.
Na entrevista, abordamos as possíveis dificuldades em freqüentar ou usar algum
cômodo e mobiliário da sua casa. Oito entrevistadas relataram dificuldade de
acessar os armários altos da cozinha e do quarto, solicitando ajuda a terceiros ou
utilizando escadas e banquinhos, mesmo cientes do risco de acidentes. A
dificuldade em se locomover dentro de casa, em manusear a janela e subir escadas,
também foi referida.
[...] nos armários altos do quarto e da cozinha, se eu preciso pegar uma mala ou outra coisa, eu peço à empregada para pegar, pois tenho receio de subir em banquinho. Eu evito, mas se estou sozinha, até ponho uma escada e subo. Mas quando ela está lá, eu procuro evitar. (AMDG, 69 anos)
[...] quando eu preciso subir para alcançar os armários altos do quarto e da cozinha tomo muito cuidado, uso escada e não banquinho porque eu tenho umas amigas que caem e se quebram toda. Ou então eu chamo funcionário do prédio para me ajudar. Trocar uma lâmpada, por exemplo. (JS, 79 anos)
[...] uso escadas ou banquinho para alcançar os armários altos da cozinha e quarto. E para trocar a lâmpada chamo o zelador. (NRDAC, 62 anos)
Sim, ao me locomover dentro de casa. Ela é muito dividida e quando chove não dá para ir para a outra parte da casa, pois o corredor é descoberto, e eu fico nos fundos. Então quando toca a campainha, nem dá pra ir lá. (CRG, 65 anos)
As falas revelam a natureza dos problemas práticos com o ambiente. Abrindo um
parêntese, sinalizam a criação de uma rede de suporte informal e relações sociais
estabelecidas, talvez até de forma inconsciente e involuntária, entre entrevistadas e
empregados ou funcionários do prédio em que moram.
Suporte relevante que deve ser estimulado e discutido nas redes de apoio ao idoso,
contemplando os idosos independentes que não têm família, não têm filhos, são
Morar: habitar o espaço 64
solteiros, viúvos, ou simplesmente optaram em morar sozinhos (domicílios
unipessoais) e não querem depender de membros da família. Para tanto, é
imprescindível considerar os diferentes contextos sociais, econômicos e culturais
dos envolvidos, garantindo-lhes redes de apoio e parceria entre comunidade,
vizinhança, governo, ONGs e o setor privado.
Em relação ao ambiente prático, de acordo com as normas da ABNT - NBR 9050
(2004) e as autoras Perracini (2006); Barbosa (2006) e Barros (2000), parâmetros e
medidas adequadas facilitariam o uso dos armários nos cômodos da casa. Na sala,
por exemplo, os armários e estantes devem ser firmes e presos ao chão ou parede,
e não ter muita profundidade. Os objetos devem estar localizados na altura dos
olhos dos idosos e do alcance manual.
No quarto, os armários ou guarda-roupas com portas leves, de fácil acesso, arejadas
e cabideiro baixo, evitando o uso de escadas e banquinhos; gavetas com trava de
segurança nos deslizantes; prateleiras com alturas variáveis; luz interna ao abrir a
porta e puxadores do tipo alça ou alavanca, evitando os arredondados.
Os armários do banheiro devem ficar sob o lavatório ou na lateral, permitindo área
livre para movimentação das pernas no caso do uso de cadeira, banqueta ou
cadeira de rodas e as prateleiras internas em material inquebrável e sem pontas.
Na cozinha, os armários não devem ser muito altos nem profundos, de preferência
na altura do campo visual. Objetos mais leves e pouco utilizados devem ser
guardados nos armários superiores. Os inferiores, tais como os do banheiro, devem
ter área livre para movimentação das pernas no caso do uso de cadeira, banqueta
ou cadeira de rodas.
As gavetas de fácil abertura, com trava de segurança e com divisões para talheres e
porta facas. E os objetos de uso freqüente devem ficar em locais de fácil acesso e
confortável.
A satisfação com a circulação sem dificuldades e bom uso funcional dos demais
cômodos e mobiliários pode estar relacionada ao fato de nove entrevistadas
residirem em apartamento, descritos em sua maioria como amplos, e pelo número
reduzido de pessoas na casa, considerando-se que cinco moram sozinhas,
Morar: habitar o espaço 65
ocasionando o uso de poucos cômodos da casa, especialmente a sala e o quarto, e
naturalmente o banheiro.
Acústica, Iluminação e ventilação
A satisfação quanto à acústica da casa, investigada na pesquisa, revelou a
insatisfação de três das entrevistadas, que expressam em suas falas o
descontentamento com a acústica residencial influenciada pelo barulho das ruas e
edificações vizinhas.
Tem muito barulho, porque ele é de frente. Então o barulho é muito grande. Tem movimento intenso da rua, praça e carros. (AMDG, 69 anos)
Barulho da rua, antes era tranqüila. Agora é latido de cachorro, sirene de carro, vendedor de pamonha, manobrista. (NRDAC, 62 anos)
Não, pelo barulho da vizinhança, principalmente à noite, pois fica ao lado de um estacionamento de uma pizzaria. Já acostumei, mas não estou satisfeita. (CRG, 65 anos)
Fator relevante, ao considerarmos as alterações do envelhecimento, como a perda
auditiva gradual, principalmente nas freqüências altas (sons agudos), o que provoca
redução na inteligibilidade da fala e desconforto acústico, podendo levar ao
desinteresse e isolamento social, já discutido anteriormente.
A satisfação com a iluminação dos ambientes também é fator importante no
envelhecimento uma vez que as alterações na acuidade visual podem dificultar a
realização com independência das atividades do cotidiano.
Na pesquisa, duas entrevistadas relataram insatisfação neste aspecto, expressando
descontentamento com a pouca iluminação natural em suas casas, criando um
desconforto térmico, principalmente nos dias frios.
Estou ilhada, quase não bate sol também. (CRG, 65 anos)
Não muito, porque é andar baixo, então não bate sol. O problema do meu apartamento é bater pouco sol. Bate um pouco de sol só à tarde. E eu vim de um apartamento, que morei 30 anos, que era no 10º andar, e não tinha nada em volta, então tinha muito sol, calor. Então como eu saio muito, eu não sinto muito o inverno, mas a hora
Morar: habitar o espaço 66
que eu começar a ficar mais em casa, eu vou precisar de um apartamento mais quentinho. (AMDG, 69 anos)
Durante o dia a iluminação natural deve ser preferível, pois favorece a produção de
hormônios responsáveis pelo bem-estar, como a melatonina, e garante um bom
relacionamento com o ambiente, especialmente com os cômodos da casa de maior
uso, como o quarto e a sala.
À noite também é preciso que haja boa iluminação, principalmente em mudanças de
ambientes (interno e externo) como no trajeto do quarto ao banheiro, a fim de
minimizar o risco de quedas. Importante ter abajur ou luminária de fácil uso e
interruptor próximo à cama.
AMDG assinala o seguinte, confirmando a afirmação anterior:
À noite, eu não deixo o quarto totalmente escuro e o quarto ao lado eu deixo só com o vidro para entrar claridade, pois é justamente quando acontecem os problemas quando a gente se levanta para ir ao banheiro durante a noite. (AMDG, 69 anos)
A ventilação também é requisito para um bom desfrute do ambiente. Com o
envelhecimento, as atividades e o metabolismo humano se alteram, diminuindo a
quantidade de água nos órgãos e na pele, provocando uma sensação térmica mais
baixa. Das entrevistadas, apenas uma relatou insatisfação. Entretanto as falas
revelam descontentamento associado a desconforto térmico, já referido na questão
anterior sobre iluminação.
Não. Queria que fosse mais quente. Apesar de ter aquecedor. (MSS, 71 anos)
Em relação à casa que eu moro, o ideal que eu penso é sair dela. Porque quando eu tiver mais velha, que eu vou ficar mais tempo em casa, no inverno, é muito frio, um frio danado. Então eu penso em sair dela para um apartamento mais ensolarado. (AMDG, 69 anos)
Se eu viver mais, a única coisa é aquecimento da casa, pois acho muito fria. O único inconveniente é o frio com a idade. (MCS, 74 anos)
A sensação de bem-estar e conforto em um ambiente está muito relacionada com as
condições de umidade e temperatura do local. E tanto o frio excessivo quanto o
calor, que provoca desidratação, devem ser evitados.
Morar: habitar o espaço 68
A idéia de privacidade, segundo Rybczynski (2002), nasceu no Século XVII, a partir
da necessidade de espaços em que os indivíduos pudessem ficar a sós, ter a sua
liberdade e intimidade preservadas dentro de suas casas. Primeiramente, com a
separação dos senhores e seus criados e em seguida da casa com o local de
trabalho, surgindo a consciência de intimidade e privacidade e identificando a casa
exclusivamente com a vida familiar.
A privacidade significa, então, ambiente de sossego e recanto, intimidade e vida
íntima. Devido à configuração e estruturação arquitetônica com grandes edificações
residenciais e comerciais, especialmente nas grandes cidades, essa privacidade
começa a ser interrompida, modificada, privada.
As falas das entrevistadas explicitam a falta de privacidade, principalmente nas
áreas de maior uso e intimidade como o quarto e a sala, requerendo alguns
cuidados, mudanças de hábito e adaptações para preservarem a vida íntima em
suas casas.
Não muito porque tem que ficar com as cortinas fechadas, por ser primeiro andar. Apesar do prédio da frente ser do outro lado da calçada, mas você não tem privacidade. Os dois quartos e a sala são de frente para a rua. E o outro dá para o jardim do outro prédio e a praça. [...] Até isso, no outro que eu morava era 10º e o da frente era só 8 andares, então não tinha nada. Você podia ficar até nua. (AMDG, 69 anos)
Sim, mas coloquei insulfilm no vidro das janelas do quarto do casal. (NRDAC, 62 anos)
Sim, mas necessito de mais atenção e cuidado com as janelas que dão acesso à rua e a outros apartamentos. (FMRC, 63 anos)
Modificações e adaptações
Modificar ou adaptar um ambiente deve significar facilidade, redução de riscos de
acidentes que envolvam o meio e estímulo à autonomia e independência pessoal.
Mas, fundamentalmente, respeito à individualidade, preferências e desejos do idoso,
o que permite uma relação harmoniosa entre o usuário e o ambiente, sem
constrangimentos e estigmas.
Morar: habitar o espaço 69
Na pesquisa, seis entrevistadas já realizaram modificações ou adaptações na casa e
o banheiro foi o cômodo que recebeu maior atenção, especialmente a área do box,
com a colocação das barras de apoio e tapetes antiderrapantes. No dormitório,
adaptações ou modificações também foram realizadas, principalmente nas camas
(altura) e nos armários de roupa, restringindo, às vezes, o uso à parte inferior do
móvel.
As falas expressam o que mudaram:
Sim, quando eu comprei, praticamente derrubei tudo. Fiz uma reforma imensa, durante seis meses, antes de eu entrar para morar. Fiz uma adaptação na minha cama, tive que por uma madeira de 10 a 15 cm de altura na cabeceira, pois eu tenho problema de esôfago, refluxo. E o médico mandou, para que a cama fique um pouquinho inclinada. Todo mundo aumenta a cama embaixo pra circulação, mas a minha foi em cima. E coloquei um tablado11 no banheiro, como se fosse um tapete antiderrapante. (AMDG, 69 anos)
Estava muito velha, eu fiz de novo a cozinha, troquei o piso, arrumei a banheiro – foi só o que estava velho que eu consertei e não conserto nunca mais. Pois, o que eu sofri com esses homens lá dentro de casa, pelo amor de Deus! [...] Uma velha idiota que não entende de nada, eles deitaram e rolaram. Eles ficaram lá nove meses, vinha um dia, faltava uma semana. Eles me consideraram uma idiota e eu pagava tudo direitinho. Então agora fica do jeito que estar. (JS, 79 anos)
Antes de mudar, retiramos os tapetes. A cozinha mais prática e os armários também. Tudo bem funcional. Os talheres separadinhos, lugar certo para microondas e a máquina. (MCS, 74 anos)
Modificamos a cozinha. A cama é mais alta. E no banheiro tiramos a banheira e fizemos um box. (MSS, 71 anos)
As razões para modificar ou adaptar o ambiente foram semelhantes, assim como os
motivos para não fazê-lo. Uma entrevistada, residente em casa cedida, expressa
descontentamento pela impossibilidade de realizar seus desejos de mudanças e
melhorias da casa.
A única coisa que eu fiz foi arrumar o telhado do meu quarto, que estava com goteira, estava triste. Mas não tinha como modificar, pois arrumando do meu jeito, teria que fazer uma reforma geral. Mas, também porque não vou arrumar uma coisa que não é minha, embora quisesse fazer. (CRG, 65 anos)
Não achava necessário. (VCS, 81 anos; MM, 65 anos; DN, 71 anos)
11 Tablado de madeira com um monte de borrachinha embaixo que gruda no chão, como se fosse um tapete anti-derrapante.
Morar: habitar o espaço 70
Ou seja, as adaptações nas casas surgem das necessidades previstas ou factuais
dos moradores. E a pesquisa expressa algumas dessas demandas que se confirma
com dados de um estudo realizado pelo CEAPAT (Centro Estatal de Autonomia
Personal y Ayudas Técnicas, Madrid/Espanha) comentado por Litch e Prado (2002),
que elenca as modificações e adaptações mais freqüentes: adequação e
reordenação geral dos espaços internos, equipamentos e materiais de acabamento
nos banheiros e cozinhas; ampliação da largura de portas e corredores; estudo e
implantação de alternativas para vencer os desníveis; colocação de corrimão nas
escadas, rampas e corredores; modificações nas alturas das camas e alguns outros
itens do mobiliário (armários e sofás, por exemplo); instalação de equipamentos de
segurança e de comunicação; substituição de pisos executados com materiais
escorregadios por pisos antiderrapantes.
Na questão sobre a vontade de fazer alguma modificação ou adaptação em sua
casa hoje, cinco relataram que gostariam de realizá-la. Sendo que, além da
funcionalidade e praticidade abordadas anteriormente, o conforto, o lazer e o prazer
em ter a casa reformada aparecem nas falas, confirmando a relação de intimidade e
bem-estar entre o indivíduo e seu ambiente, assim como a percepção de suas
necessidades e desejos.
A colocação de barras de apoio no banheiro. (MSS, 71 anos)
Colocar as barras de apoio no banheiro. (MCS, 74 anos)
Queria reformar toda casa, modernizá-la. Tirava os azulejos. Modernizava total. (DN, 71 anos)
Eu iria falar com um arquiteto, uma pessoa especializada, se dava para fazer uma laje, tentar nivelar a casa, cobrir o corredor e fazer uma churrasqueira e um salãozinho. (CRG, 65 anos)
Sim, eu gostaria, pois como são três quartos e para a minha necessidade eu gostaria de derrubar uma parede e aumentar mais ainda a sala, pois como eu fico muito tempo na sala, onde eu vejo televisão, eu gostaria de fazer tipo um home theater para ficar tudo conjugado. E ficariam dois quartos, um eu uso pro computador e o outro eu durmo. [...] E a outra modificação, eu estou pensando em colocar uma barra no banheiro, comprei já um tablado de madeira, pois o piso fica liso. E sabão no piso do banheiro fica mais liso. E antes que, para evitar problemas, tenho vontade de colocar a barra, pois o tablado eu já comprei. Agora tenho vontade de colocar uma barra, pois acho que é útil. (AMDG,69 anos)
Morar: habitar o espaço 71
As mudanças, porém, às vezes são evitadas pela satisfação com o ambiente atual,
por comodismo ou conservadorismo, por questão econômica, mas principalmente
pelo transtorno, desrespeito e falta de profissionalismo por parte dos responsáveis
pela reforma. Os ambientes podem acabar se tornando inadequados e inseguros,
levando os moradores a modificar comportamentos, como a restrição ou abandono
de algum cômodo de sua casa.
Não. Sou muito conservadora. (VCS, 81 anos)
Não. Principalmente pelo transtorno de reforma e pelos homens que não cumprem direitinho. (JS, 79 anos)
Acessibilidade
Nas questões anteriores, constatou-se a satisfação e a boa relação das
entrevistadas com os ambientes onde vivem, especificamente suas casas. A
pergunta se a sua casa é de fácil uso/acessível para si, deu origem a respostas que
confirmam, por unanimidade, a opinião positiva, como expressa a fala de JS (79
anos): Sim. Por enquanto sim. Vamos esperar por quanto tempo.
Este resultado se contrapõe aos dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto
Universitário de Estudos Europeus em Madri e Barcelona (1999), em que se
constatou que 82% das moradias daquelas cidades apresentam barreiras
arquitetônicas, sete mil pessoas anualmente são obrigadas a mudar de domicílio
pela inadequação desses às suas necessidades, 78% dos edifícios não possuem
elevador, 15% das pessoas jamais saem à rua e mais de 45% necessita de alguma
ajuda para fazê-lo (LITCH; PRADO, 2002). Isto é, o ambiente construído não
propicia a um significante número de pessoas a participação na sociedade,
restringindo-as aos espaços de suas casas.
Por outro lado, quanto à questão se a sua casa era acessível para receber visitas
com necessidades específicas, sete responderam que não, devido a existência de
barreiras físicas que dificultam ou impossibilitam o trânsito livre das visitas. O acesso
ao ambiente (prédios de apartamentos e casa) requer desde a entrada ajuda de
terceiros, sob pena de limitar-se apenas à garagem, dividindo o espaço com os
veículos.
Morar: habitar o espaço 72
O desejável e correto seria que todas as entradas fossem acessíveis – social e
serviço – permitindo a passagem de todos sem desviar as pessoas para um
caminho alternativo. A rampa de tráfego de veículos até a garagem não deve ser
aceita como solução de acesso para as pessoas com mobilidade reduzida.
No interior das casas, algumas barreiras, principalmente no banheiro, como o
acesso ao box e a ausência de barras de apoio foram os limitadores referidos, bem
como os tapetes, considerados como fatores de risco para quedas.
As falas apontam algumas das barreiras arquitetônicas nas casas das entrevistadas:
Já a entrada é pequena depois do elevador. E pra gente um dia... O box do banheiro também não é grande para uma cadeira de rodas. O resto da casa é tudo bem amplo. (MCS, 74 anos)
Não. Pois a entrada seria só pela garagem ou com ajuda dos funcionários da frente para levantar, pois na entrada social tem degraus. Mas tem gente de cadeira de rodas no prédio, que deve entrar pela garagem. E na minha casa entra fácil. (JS, 79 anos)
Porque o acesso ao prédio tem que ser pela garagem. A entrada social tem degrau. Mas dentro de casa não tem tapete. (MSS, 71 anos)
Por causa dos degraus, teria que ter ajuda. (CRG, 65 anos)
Não. Pois o acesso ao prédio, tanto a entrada social quanto a de serviço não são adaptadas para algumas condições por apresentarem degraus em seu acesso. Dentro de casa a dificuldade seria apenas na área de serviço por apresentar desnível (pequeno degrau). (FMRC, 63 anos)
A entrada social tem escada. O acesso seria pela garagem, onde tem rampa e o elevador. (MM, 65 anos)
De acordo com Prado (2003), acessibilidade é a garantia de usufruir todos os
espaços de uma cidade, seja na comunidade ou em seu domicílio. O objetivo da
acessibilidade é proporcionar a todos um ganho de autonomia e mobilidade,
principalmente àquelas pessoas que têm sua mobilidade reduzida ou dificuldades de
comunicação, para que possam beneficiar-se dos espaços e das relações com mais
segurança, confiança e comodidade.
Em relação às barreiras, essa mesma autora expressa as suas conseqüências, o
que justifica a reflexão sobre a importância dos ambientes serem acessíveis para
todos, sejam idosos, crianças, gestantes, cadeirantes [...], pois no ciclo da vida, em
Morar: habitar o espaço 74
ela na rua para ela poder entrar no prédio. Pois, o elevador de serviço estava com problema.
As experiências e vivências
Eu cuidei da minha mãe por cinco anos, e tinha banheira, e então coitada, eu tinha que dar banho na minha mãe na área de serviço. Então eu arranquei a banheira, pois em dia frio era muito difícil. A banheira era linda, mas ela não podia usar. Mas agora eu esqueci que um dia eu vou ter problemas, e nem lembrei. O box terá que ser arrancado ou dar banho no meio do banheiro, pois o banheiro é grande. Dar banho fora do box. [...] Uma coisa que eu acho também importante, é que eu ajudei uma tia e ela tinha artrite e depois derrame. E um dia ela foi na minha casa e arrebentou a tampa da privada, pois ela não tinha força, por isso importante ter um apoio. Agora a gente ainda tem essa força, mas até quando? Ainda bem que a minha pia é bem do lado da privada, então da para apoiar. Na verdade, não é bem uma pia, é uma bancada. Mas, tenho que colocar a barra, até meu gastro que falou, pois uma parenta dele foi se apoiar na saboneteira e caiu com tudo. (AMDG, 69 anos)
Outra questão observada nas falas é o distanciamento pessoal da condição de
idoso, de ser e estar idoso. No entanto consideram a possibilidade, uma projeção de
um dia, distante, poder ter limitações físicas temporárias ou definitivas. Pois o fato
de serem idosas ativas e independentes e algumas morarem sozinhas, parece
deslocar a percepção para além de si mesmas, para um espaço ocupado apenas
pelo outro - o ser idoso é o outro.
Deixemos claro que, ser e estar idoso não significa impreterivelmente que se terá
limitações físicas, sensoriais e cognitivas, mas que ao viver mais, teremos mais
tempo de sujeição e exposição às ações fisiológicas e ambientais, que podem
desencadear ou não incapacidade e dependência.
Considerando-se a explicação anterior, Mercadante (2005, p.30) complementa
dizendo que,
A identidade de idoso se constrói pela contraposição à identidade de jovem e, consequentemente, tem-se também a contraposição das qualidades: atividade, produtividade, beleza, força, memória, etc., como características típicas presentes nos jovens e as qualidades opostas a estas últimas presentes nos idosos.
Jack Messy (1999) assinala a idéia, de que o “velho” é o “outro”, em que não nos
reconhecemos. Ou seja, o “velho” é o “outro”, não sou “eu”. O ser velho tem, então,
Morar: habitar o espaço 75
a sua identidade definida em oposição ao outro, ao adulto e ao jovem produtivo. É a
contraposição ao olhar e definição do outro, estabelecendo a definição e
categorização estigmatizante de ser velho, pelo outro e pelo próprio velho, que
explícita ou implicitamente utiliza tons opacos e adereços sombrios para decorar
essa etapa da vida.
Decorar:acabamento 77
O tempo e a velhice seriam sinônimos ou antagônicos? Com o tempo o corpo se
transforma, torna-se fragilizado e enrugado. O tempo influencia no biológico, mas
também no psicológico, social e econômico. E falar em tempo, na velhice, provoca
argumentos que se concentram em não há tempo. O tempo já passou, meu tempo já
passou. Não há mais projetos e sim a espera por um fim digno.
Segundo Mercadante (2005, p.32),
Nessa correlação entre tempo, corpo e as demais esferas da vida, a visão de um corpo imperfeito – “em declínio”, “enfraquecido”, “enrugado”, etc. – não avalia só o corpo, mas sugere imediatamente ampliar-se para além do corpo, sobre a personalidade, o papel social, econômico e cultural do idoso.
As projeções e as estatísticas indicam que a população idosa está em ascendência,
conseqüentemente os anos a mais de vida também aumentam. Diante dessa
expectativa, sugerimos que as entrevistadas fizessem uma projeção de vida,
levando em consideração a relação envelhecimento e ambiente domiciliar com base
no questionamento: quais modificações seriam necessárias realizar em sua casa se
vivessem até 110 anos.
A idéia de tempo se projeta nas respostas das entrevistadas, sob a forma de
negação de futuro, relação com a proximidade do fim da vida, e principalmente sua
inter-relação com a dependência de terceiros, seja familiar, cuidador formal ou uma
casa de repouso.
Acho ótimo morar sozinha, mas não sei se chegaria lá. Por isso, acho que estaria morando com outras pessoas. [...] O importante é manter a lucidez. Mas, mesmo com a lucidez você ficando com menos condições físicas, seria necessária ajuda de outra pessoa ou outras pessoas. (FMRC, 63 anos)
Não faria nada. Quando não puder mais dar conta de mim vou para uma casa. Tem a casa francesa da Sociedade Beneficente 14 de Julho que eu sou sócia e vou pra lá. Mas em casa não colocaria ninguém. Eu estou muito acostumada sozinha. (JS, 79 anos)
Mudaria de casa. Iria morar com minha filha em São Paulo mesmo, pois estaria mais dependente. (VCS, 81 anos)
Decorar: acabamento 78
Essa última fala aponta um dado intrigante, a individualização, que surge no
contexto dos domicílios unipessoais e famílias monoparentais sob responsabilidade
de idosos, contribuindo para a reflexão sobre a necessidade das redes de suporte às
pessoas idosas independentes, já discutido anteriormente, e a importância de casas
seguras que respeitem os desejos de escolha sobre sua vida e seu futuro: o morar
só.
Emerge também em seus discursos a consciência de que limitações biológicas e
dependência podem ocorrer em suas vidas, requerendo a ajuda de terceiros, e com
ela um novo aprendizado: conviver com outras pessoas, seja em sua casa ou em
instituição. São as novas aquisições, quem sabe ganhos que os anos a mais de vida
exigem.
Em outras falas, ainda a idéia de tempo, agora impedindo que façam projeção e
refletindo a permanência na crença de que tudo acontece ao seu tempo:
Só se eu não puder andar. Mas colocaria a barra no banheiro, aumentaria o vaso sanitário. Mas, não pretendo fazer, isso é só uma suposição. Pensar daqui a 30 anos é muita coisa. (MSS, 71 anos)
As coisas surgem de acordo com que os problemas vão surgindo. E algumas pessoas apresentam problemas e outras não. E ainda tem o momento em que o idoso não manda mais em si. (MM, 65 anos)
Eu não sei, acho que a gente vai mudando de acordo com as limitações. O tapete do corredor, já tirei. Era alto, ninguém tropeçou, mas melhor evitar. Já não uso a parte superior dos armários. Não troco mais lâmpadas. [...] Mas é difícil pensar daqui a 40 anos. Não tenho idéia. Minha mãe tinha uma cadeirinha de plástico no banheiro, acho que então seria a colocação desse banquinho no box, para facilitar no banho, lavar os pés sentada. Hoje a barra, tem mais valor psicológico, nem toco nela, às vezes. (NRDAC, 62 anos)
Mas que tempo é esse? Pensar hoje, daqui a 30 ou 40 anos, não significa pensar no
inatingível ou inimaginável. A velocidade e a intensidade dos tempos se configuram
nas ações, prazos, planejamentos - a vida. O tempo de amanhã, é hoje, e às vezes
para ontem. Mas para as entrevistadas o tempo permanece inalterado, estável,
representa o dia após dia, o tempo é hoje, amanhã será um novo dia, de novas
vivências, descobertas, gostos e desgostos. Ação de acordo com as necessidades
vigentes, nada de pensar nas possíveis.
Decorar: acabamento 79
A não projeção pode também revelar uma perspectiva um pouco mais otimista, ao
preferirem esperar os fatos acontecerem, sem ações preventivas. Atitude que não
pode ser confundida com negação da velhice ou não-perspectiva de futuro, mas
como uma perspectiva mais positiva de uma velhice diferente de seus antecedentes
ou simplesmente do “outro”.
Surge, então, uma reflexão e o alerta sobre a falta da educação para a longevidade,
em uma sociedade que experimenta crescentes índices de expectativa de vida, mas
encontra-se despreparada para envelhecer, receber e compreender as
necessidades dos “novos” velhos, o que obriga a todos a pensar na própria velhice.
A casa ideal na velhice
O habitat, o nosso “canto”, ao mesmo tempo que é, para os mais velhos, o mundo que se não quer perder, símbolo de uma história num lugar, pode ser também o lugar dos riscos, sinal de desigualdades que marcaram o tempo e o espaço de uma vida.
Quaresma (2004, p.43)
Aproximando-se da realidade das entrevistadas – a velhice – questionamos, então,
como seria a casa ideal para essa fase da vida. A dependência ocupou destaque
novamente nessa discussão, assim como em outras que envolvam a questão do
envelhecimento.
A dependência, na conceituação médica geriátrica, tem seu significado contrapondo
a independência e a autonomia, associando principalmente velhice, doença e
incapacidade.
No entanto, com o aumento de pessoas atingindo idades avançadas e,
principalmente com qualidade de vida, o enfoque passa a ser a desmistificação da
relação velhice e dependência, minimizando os efeitos estigmatizantes, e garantindo
cuidados, apoios e ambientes com qualidade às pessoas idosas, bem como a
manutenção da independência e acesso à informação e ao conhecimento dos
recursos possíveis para se bastarem no cotidiano. Sem ignorar que as pessoas mais
velhas, ao viverem mais, estarão ou não sujeitas à situações incapacitantes,
Decorar: acabamento 80
relacionadas ao próprio processo fisiológico ou, por acometimento de doenças
crônicas e degenerativas, que independem do querer.
A casa ideal é um conjunto de elementos individuais e significativos que agrega a
questão biológica e funcional de cada um e a questão prática do ambiente como
segurança e acessibilidade, assim como, e fundamentalmente, os valores, a
familiarização e as experiências construídas ao longo da vida, personificando-a.
“A casa é o corpo que colocamos sobre o nosso próprio corpo e conforme o nosso
corpo envelhece, a casa também envelhece e assim como nosso corpo adoece,
nossa casa adoece” (KING, 2002). A casa segue o ciclo de vida de seu dono, ou
seja, a casa é a identidade de cada ser, e deve proporcionar segurança, bem-estar,
conforto, afetividades em todas as etapas da vida.
Os desejos e as construções imaginárias da casa ideal para a velhice estão
expressos nas falas:
Como eu tenho tão decidida que vou para uma casa de repouso, nunca pensei nisso. Mas seria uma casa térrea, com acesso ao jardim para poder tomar sol de cadeira de rodas. Sei lá. Bem cômoda, simples, simples, nada de luxo. Acessível. Portas grandes para ver a natureza e as flores. (JS, 79 anos)
Asilo não. Preferia ficar em minha casa e teria uma enfermeira cuidando de mim. E não precisaria ir para casa de ninguém. (VCS, 81 anos)
Escada não teria. Teria que ser elevador. Companhia daria certo, porque tem banheiro e quarto de empregada. Mas, eu não sei se o nosso fim vai ser em uma casa de saúde. É difícil prever, mas temos que estar preparadas. Mas acho que ter uma companhia seria melhor que ir para uma casa de saúde. Prefiro ficar em casa. (MCS, 74 anos)
Não tenho a menor idéia. Para falar a verdade não tenho mesmo a menor idéia. Só comecei a me preocupar depois do AVC, que a idade vai passando e as deficiências vão aparecendo. Hoje estou totalmente recuperada. (FMRC, 63 anos)
Com alguns robôs que realizassem todas as tarefas de casa, inclusive preparar as comidas. (risos) Na verdade, a gente precisa da ajuda das pessoas. (NRDAC, 62 anos)
Decorar: acabamento 81
Falas que encontram respaldo em Gihorn ([198-?], p. 214 citado por Carli (2004, p.
41),
Os idosos preferem se manter nas próprias casas, particularmente quando a opção é uma instituição para idosos. A maioria das pessoas acima de 75 anos prefere envelhecer no lugar em que já vivem e não perdem tempo pensando em casas futuras, eles geralmente preferem manter as coisas do jeito que estão.
Estimular e favorecer a manutenção da independência e autonomia na velhice não
significa negar a ajuda de terceiros, mas perceber as limitações, as situações que
exigem suporte efetivo de outros e aquelas em que a pessoa é capaz de resolver
sozinha, mesmo com auxílio de recursos. Não significa “eu me basto”, visto que
somos dependentes de outros desde a infância, mudando apenas o tipo e o grau de
dependência.
Quaresma (2004, p.39) nos confirma com essa afirmativa:
A dependência constitui, assim, fundamento do sujeito e da coesão social, pelo que, neste sentido, ela é essencial e estruturante da história de vida, condicionando os capitais econômico, cultural, simbólico com que contamos na velhice. Se assim é, se a dependência é inerente à existência humana, atravessando todas as fases da vida, numa dialética permanente face a autonomia como afirmação de si, a necessidade de cuidados, de apoios, na velhice, não pode legitimar um conceito de dependência como atributo da velhice.
Significado da casa
Ah! Não há nada como ficar em casa para ter o verdadeiro conforto.
Jane Austen - EMMA
Falar da casa e de seu significado transcende as características físicas e
estruturais. A casa contempla a singularidade dos indivíduos, as condições sócio-
histórica, econômica e cultural, bem como a afetividade e as emoções que se
perpetuam na relação complexa entre o homem e o ambiente, considerando-se
ainda a individualidade e os desejos.
A casa agrega valores, sejam econômicos, sociais, afetivos e de saúde ao longo da
vida, e consequentemente exerce influência na vida dos idosos.
Decorar: acabamento 82
A casa é tudo aquilo que “me proporciona”. É o aconchego, a autonomia, a
segurança, o bem estar, o bem maior de suas vidas. É o “meu lugar”, qualificativo
atribuído por Sawaia (1995) apenas àqueles locais que permitem relações mais
duradouras, que são sentidos como o lugar de vida integral, ou seja, o lugar com
sentimento de pertencimento.
Segundo as entrevistadas, a casa é:
Minha autonomia, meu sossego, meu bem-estar. É tudo, né! (AMDG, 69 anos)
Minha segurança. (VCS, 81 anos)
Aconchego, mesmo com todas essas coisinhas. Mesmo quando viajo, sinto falta da minha casa. (CRG, 65 anos)
Como é que eu vou dizer isso?! Não sei, acho que é que nem bichinho, é meu território. Aquilo lá é meu domínio. Tenho tudo que eu gosto, me sinto maravilhosamente bem lá dentro, tranqüila. (JS, 79 anos)
Lar gostoso, harmonioso. (MSS, 71 anos)
Para mim é aconchegante, gosto demais de minha casa. Podia até sair mais, mas gosto de ficar em casa. Me sinto muito feliz. (MCS, 74 anos)
Meu cantinho que reflete a minha vida. Cada cantinho tem uma história. Tem mais coisas na parede do que móveis, representando fases de minha vida em São Paulo. É a minha cara. (FMRC, 63 anos)
Significa segurança, aconchego, porto seguro. Às vezes, saio de casa, fico agoniada e fico louca para voltar logo para casa. (NRDAC, 62 anos)
Significa um bem-estar, segurança. Dou muito valor, pois não tinha casa. Pois já morei em pensão e na casa dos outros, então eu super-valorizo. (MM, 65 anos)
É meu habitat. (DN, 71 anos)
O desempenho de cada casa, enquanto abrigo, é restrito à soma de algumas
funções-objetivos: temperatura, umidade, iluminação, nível de intensidade sonora
(SCHMID, 2005). Enfim, tudo aquilo que pode ser mensurável, divergindo dos
valores não mensuráveis, expressos nas falas, como a harmonia, a liberdade, o
bem-estar e o conforto. Significados pessoais, histórias de vida em cada cômodo e
detalhe, laços afetivos e emocionais que não cabem em uma expressão numérica.
Decorar: acabamento 83
A casa constitui uma extensão de nossas emoções e sentimentos, expressa a vida
de seus moradores, o aconchego e o afeto. Para Schmid (2005, p.127), “a casa,
incluindo tudo o que diz respeito a ela, é um poderoso sistema de referência para
cada pessoa”.
Referências e memórias alimentadas pelos sentidos e expressas a partir de
sensações familiares: calores, sabores, texturas, sons, aromas, carregados de
emoção e sentimento.
A velhice
A negação do futuro, a noção de um tempo que passa e, ao passar, implica na decadência do corpo e do espírito do velho, se colocam como qualidades negativas que socialmente são imputadas aos idosos, criando, assim, um modelo, uma identidade genérica de velho.
Mercadante (2005, p. 33)
A velhice, pautada na história de vida de cada um, com visões de mundo
diversificadas, não pode ser simplificada, generalizada. O que temos são as
velhices, representadas pela satisfação, experiência, autonomia, independência,
etapa da vida, proximidade da morte, e pela própria negação da velhice.
Para Martin e Pastor citado por Paschoal (1996, p.27),
Não existe um consenso sobre o que se chama de velhice, porque as divisões cronológicas da vida humana não são absolutas e não correspondem sempre às etapas do processo de envelhecimento natural; os desvios se produzem em ambos os sentidos. Isto é, a velhice não é definível por simples cronologia, senão, pelas condições físicas, funcionais, mentais e de saúde das pessoas analisadas, o que equivale a afirmar que podem ser observadas diferentes idades biológicas e subjetivas em indivíduos com a mesma idade cronológica.
Para as entrevistadas, a velhice é:
Tempo de vida. A velhice seria o passar do tempo. Acumular de vivências. (FMRC, 63 anos)
Olha se continuar como estou atualmente, está ótimo. Mas, não sabemos se vamos ficar dependentes ou doentes, mas hoje está ótimo, seria o ideal. (CRG, 65 anos)
Decorar: acabamento 84
Velhice é um estado de espírito. Eu gostaria de ter saúde para continuar como estou. (DN, 71 anos)
É uma das etapas da vida. Eu não encaro como doença. [...] sou bastante agitada, realizo várias atividades, se não tem o que fazer, invento. [...] Não encaro mesmo com negativismo. Já que é inevitável, eu aproveito. Já tirei até a carteira de idoso para andar de ônibus. Meu médico diz que a maioria quer esconder a idade, e eu não, ainda quis a carteirinha. [...] Meu pai dizia que eu via o mundo com lentes cor de rosa, só via as coisas boas da vida. O lado positivo. (NRDAC, 62 anos)
Proximidade da morte. Encontro com a morte. O que não me atrapalha em nada, mas sabemos que é o final. (VCS, 81 anos)
É interessante pelo que você já viveu e adquiriu e agora poder usufruir de toda sua bagagem que você traz. Ser dona de seus atos, e por enquanto não ser dependente de ninguém. (AMDG, 69 anos)
Para mim é a pessoa não poder mais, é a perda da independência. Às vezes a pessoa tem independência econômica, mas precisa de ajuda dos filhos, passar procuração. (MM, 65 anos)
Na minha idade, antigamente já se considerava velho. Mas eu ainda não me considero. Pelo menos de espírito. Eu gosto muito de passear, viajar, ginástica, cinema. (MCS, 74 anos)
Por enquanto não significa nada. Eu só sei que tenho 79 anos quando me olho no espelho e não gosto nada do que vejo. Mas graças a Deus me sinto ótima, ainda dou aula, coisa que eu adoro. E claro que estou mais preguiçosa um pouco para sair à noite. Só saio se alguém vier me buscar. [...] Agora, eu vejo umas velhices que são dolorosas, mas a minha por enquanto [...] que bom poder falar isso, graças a Deus. [...] Daqui um ano você me pergunta, se eu estiver por ai, quem sabe eu respondo diferente. (JS, 79 anos)
Os discursos expressam visões positivas, como o acumular de vivências, visões
negativas, como a dependência, assim como a negação da velhice e o não
reconhecimento da própria velhice.
De acordo com Motta, citado por Tirado (2000, p.51), “os idosos reconhecem a
velhice nas outras pessoas, mas não a própria velhice.” No entanto, a negação da
velhice pode contribuir para alterar a percepção da realidade, dificultando, por um
lado, detectar as reais necessidades e carências dos idosos e, por outro lado, limitar
ou impedir uma possível contribuição social, baseada em suas experiências de vida
e em suas memórias.
Decorar: acabamento 85
A negação é justificada, ainda, por terem boa saúde e serem independentes, o que
contribui para não se considerarem idosos, pois, para muitos, ser idoso, seria
sinônimo de doença, inutilidade.
Para Calado (2004, p.52),
Cada vez mais a expectativa para os idosos será possuir um cérebro com potencial de ação mental, ativo e eficiente. Isto para que a velhice seja um tempo de continuidade, ou de reconstrução de uma vida vivida com sentido e não de uma vida suportada, de uma vida consentida; seja um novo percurso na continuidade de ser pessoa e não apenas de ser indivíduo; seja enfim, uma oportunidade para continuar a protagonizar o processo da sua própria vida, abrindo o horizonte do possível e não perdendo, nunca, a auto-estima.
A responsabilidade dos profissionais, bem como da família e da sociedade, será a
de proporcionar e viabilizar as correções e recursos necessários para que as futuras
gerações de idosos possam viver melhor que as antecedentes, e possam eles
próprios ser os agentes transformadores de seus projetos de vida. Para tanto, é
preciso saber escutar o idoso.
E saber escutar, conforme Calado (2004, p.56), é “disponibilizar-se para ouvir,
interpretar e compreender até o não dito, é a pedra de toque para conseguir
diagnosticar as reais necessidades da pessoa em interlocução”.
Escutar a mensagem verbalizada e a mensagem viva das entrelinhas, dos gestos e
posturas corporais, dos tons de voz, enfim, de tantas sutilezas que brotam do mais
recôndito da nossa casa, esta sublime casa-corpo em que vivemos.
A casa: um modo genuíno de morar 87
A cidade, a rua, o prédio, a porta representam modelos de subjetividade enquanto portadores de história, desejos, carências e conflitos. Cada cidade, bairro, rua, até mesmo cada casa, tem um clima que não advém, exclusivamente, do planejamento urbano e da geografia, mas de encontro de identidades em processo – identidades de homens e espaços. Esse clima perpassa diferentes entidades: eu, corpo, espaço doméstico, etnia, arquitetura. Dessa forma, os espaços construídos formam discursos e manipulam impulsos cognitivos e afetivos próprios.
Sawaia (1995, p.21)
Qual a visão que os idosos têm de planejar o ambiente em relação à
longevidade? O ambiente domiciliar tem papel primordial no bem-estar, no conforto
e na saúde durante todo curso de vida. No entanto, o que observamos são
ambientes projetados para adultos jovens sem nenhuma limitação e a
desconsideração das necessidades dos idosos, bem como das crianças, das
pessoas muito altas ou baixas, das mulheres gestantes, das pessoas obesas e das
pessoas com limitações sensoriais, cognitivas e físicas, como os que utilizam
cadeira de rodas, bengalas, muletas e andadores, que também são usuários desses
espaços.
Ao considerarmos, especificamente as pessoas idosas, algumas almejam viver a
velhice em suas casas. Mas enquanto ao longo da vida sofrem alterações
fisiológicas, biológicas e funcionais, a casa permanece praticamente inalterada, com
poucas intervenções para a melhora ou manutenção de uma relação harmoniosa
entre o ambiente e o usuário, agora envelhecido, agora idoso.
O corpo se transforma e ao lado das transformações orgânicas, anatômicas e
estruturais, surgem limitações funcionais, requerendo sim, modificações práticas no
ambiente que ofereçam acessibilidade, uso facilitado e prevenção de acidentes
favorecendo a independência e a autonomia dos que nele residem. É o respeito à
equidade dos direitos de participação de todos.
A casa: um modo genuíno de morar 88
Na pesquisa, o conservadorismo, a projeção negativa de uma velhice dependente, a
desconsideração da importância da prevenção, bem como a negação da própria
velhice foram observadas como fatores limitantes que interferem na disposição de
planejar o ambiente para a velhice, e resultam em poucas intervenções ou
mudanças da própria casa.
As barreiras são reais e potencialmente perigosas aos idosos, independente de sua
latência e quantidade, pois o corpo continua a envelhecer e a sofrer perdas. A
diminuição das habilidades e agilidade, da força e da capacidade respiratória, o
aumento do tempo de reação aos estímulos externos, o comprometimento dos
sentidos, da atenção e memória influenciam o desempenho do idoso, e podem
comprometer a relação do quarteto idoso, ambiente, conforto e atividade.
Nessa dinâmica, as representações e o significado social e afetivo da casa trazem
implicações relevantes no desejo dos moradores de permanecerem em suas casas
na velhice, fortalecendo a idéia de ambientes acessíveis, inclusivos, harmoniosos e
prazerosos. Ambientes que permitam a participação ativa e vivência contínua de
novas e diferentes situações e experiências.
A casa para as entrevistadas representa o maior bem conquistado ao longo da vida,
um bem durável, o que implica no não desejo de mudar, permeado pelo sentimento
de conquista, afetividade, bem-estar, privacidade, independência, autonomia e
segurança.
Contudo, essa informação, bem como todos os resultados relevantes desta
pesquisa, não pode ser generalizada a toda população idosa. População que tende
a aumentar, independente da classe social e econômica. O estudo acabou
contemplando um grupo privilegiado em termos de recursos, escolaridade, e,
inclusive, de poucas limitações físicas e ambientais.
É indispensável conhecer também a realidade social das pessoas menos
favorecidas, que ao adquirirem sua casa própria, se ocorre ou quando ocorre,
tendem a não mudar, independentemente das condições e circunstâncias.
Nos anos a mais de vida também há ganhos, não somente perdas e déficits. Para a
população de idosos, uma habitação condizente com suas necessidades representa
A casa: um modo genuíno de morar 89
poder viver mais tempo, se possível, até o findar da vida, em sua casa, em seu
aconchego.
A questão do envelhecimento, de “ser velho”, permeou as respostas das
entrevistadas, mas a relação com o ambiente teve pouca representatividade, quando
se trata de planejá-lo. Nas respostas à pergunta norteadora do estudo, observamos
que as pessoas não planejam o seu ambiente para a velhice. As ações e medidas
tomadas que caracterizamos como “curativas”, não têm caráter de intervenção
preventiva, elas acontecem a partir dos acontecimentos e necessidades, à medida
que vão surgindo e demandando soluções.
O não planejar pode estar associado a um fator crucial: a educação para a
longevidade, o conhecimento de que a velhice é uma etapa normal, inevitável,
irreversível e não uma doença ou simplesmente dependência. É importante e
necessário sim, estarmos atento ao “outro”, mas principalmente se auto-conhecer,
entendendo o seu corpo, suas transformações e necessidades, desmistificando a
visão estereotipada e segregadora da velhice.
Nesse contexto, a proposta foi escutar o “outro”. O “outro”, ator principal deste
estudo, é o ser idoso, que possibilitou compreender um pouco da complexa relação
entre o ambiente domiciliar e o morador que envelhece, bem como a reflexão das
entrevistadas sobre a própria velhice e seu ambiente familiar. Assim, mais que os
requisitos físicos e funcionais que proporcionam independência, autonomia e
permitem acessibilidade e fácil uso do ambiente, há que respeitar sua história de
vida, intimidade, individualidade e privacidade, a fim de propiciar a permanência
harmoniosa e confortável em sua casa, o não abandono de suas atividades, a
continuidade das relações sociais e a concretização de seus desejos e escolhas
individuais.
Por fim, acreditando na relevância deste estudo e que ele possa servir como
referência nos planejamentos ambientais e em outros estudos, procuramos trazer
uma contribuição para as políticas públicas e habitacionais que contemplem os
projetos residenciais acessíveis e adaptáveis. Considerando as mudanças
fisiológicas e funcionais do ser humano e as representações, vínculos e sentimentos
do idoso com seu meio familiar, proporcionando ambientes que permitam uma
A casa: um modo genuíno de morar 90
relação prazerosa e harmoniosa, independente da condição da moradia –
unipessoal ou intergeracional – e em todas as fases da vida, contribuindo para o
bem-estar e a permanência do idoso em sua casa, seu espaço afetivo.
Esboçando uma casa para a velhice sem o “tempero” dos moradores
Baseado nas normas da ABNT - NBR 9050 (2004) e nas autoras Perracini (2006);
Barbosa (2006) e Barros (2000), elaborei este texto com o objetivo de pontuar
algumas recomendações simples e importantes de adequação do ambiente, a partir
do ponto de vista técnico, pois o “tempero” de cada ambiente só pode ser dado por
seu ocupante. Portanto neste pequeno esboço de uma casa para a velhice, não está
presente o que é fundamental para habitar o espaço: as referências afetivas, porque
cabe a cada um construí-las.
Todo ambiente deve oferecer simplicidade, praticidade e ser funcional desde o
acesso exterior à iluminação, os pisos, as portas, os desníveis, os degraus e as
escadas, assim como os mobiliários contidos nele.
Iniciaremos com o acesso a casa, desde a calçada que deve ser plana, sem
barreiras e degraus e com adequada iluminação noturna, permitindo segurança e
boa visibilidade. E o piso deve ser áspero para evitar deslizamentos e ou depósito
de limo.
Na entrada social da casa, caso apresente desníveis ou degraus, deve existir
sempre uma rampa, evitando que o acesso de pessoas com mobilidade reduzida,
cadeira de rodas e dispositivos de auxílio à marcha, e de carrinhos de bebê seja
restrito à garagem ou área de serviço.
Entrando em casa
A área de circulação deve ser livre de móveis baixos e pontiagudos. Fios elétricos e
de telefone soltos no chão constituem obstáculos para a locomoção, por isso devem
ser embutidos ou optar por telefone sem-fio, garantindo a circulação por todos os
cômodos da casa. Assim como, os tapetes e carpetes devem ser removidos, se não,
A casa: um modo genuíno de morar 91
presos com móveis ou com antiderrapante e a cor deve ser contrastante entre piso,
parede e porta.
Piso
As condições e o tipo de piso são importantes para o conforto, a deambulação e
prevenção de quedas. Os pisos muito desenhados, estampados ou coloridos devem
ser evitados porque dificultam a percepção de profundidade e provocam a sensação
de volume. Importante o uso de piso cerâmico antiderrapante principalmente na
cozinha, área de serviço, banheiros e áreas externas.
Iluminação e comunicação
Uma iluminação adequada associada ao contraste das cores e à ausência de
ofuscamentos são fatores importantes para a visão e a identificação de objetos e
obstáculos.
A iluminação natural, durante o dia, deve ser preferencial, pois a luz favorece a
sensação de bem-estar e garante um bom relacionamento com o ambiente. A luz
natural em suas diferentes tonalidades, de manhã, mais amarelada; ao meio dia,
mais azul e à tarde, laranja, serve para situar o relógio biológico do organismo ao
longo do dia e preparar-se para a ausência do sol com a chegada da noite.
Os lugares ocupados com maior freqüência da casa, como quartos, sala e
ambientes sociais devem ser bem iluminados, mas com controle da entrada de
iluminação para não ocorrer incidência direta dos raios, evitando aquecimento do
ambiente e a danificação de móveis e aparelhos.
Durante a noite, uma boa iluminação é fator imprescindível em um ambiente,
principalmente em mudanças de ambientes (interno/externo), sendo importante a
graduação da iluminação da área interna para a externa.
Os interruptores devem ser de fácil acesso e manuseio, localizados na entrada dos
ambientes, próximos à porta, contrastando com a parede para maior visibilidade. E a
altura em relação ao chão deve ser entre 80 e 100 cm.
A casa: um modo genuíno de morar 92
Nos quartos, importante manter luminária ou abajur de fácil uso e manipulação e um
interruptor próximo à cama, para evitar quedas à noite, principalmente no trajeto ao
banheiro, responsáveis pela maioria dos acidentes com idosos. Segundo a SBOT/RJ
citado por Barros (2000), o horário mais freqüente das lesões (46%) ocorre entre as
19:00 e as 6:00 horas.
Como requisito de segurança, importante a luz de emergência e luz noturna nos
corredores, banheiros e cozinha, assim como um interfone dentro dos banheiros e
cozinha.
E as tomadas devem ficar a uma altura entre 45 e 100 cm em relação ao chão,
facilitando ao idoso alcançá-las sem necessidade de abaixar-se demais e desligar os
aparelhos puxando pelo fio, o que pode causar acidentes por curto circuito.
Temperatura e Umidade
A sensação de bem-estar e conforto em um ambiente está muito relacionada com as
condições de umidade e temperatura do local.
Alguns comportamentos comuns em idosos mais velhos, como curvar o corpo,
diminuindo a área de exposição da pele; esfregar as mãos ou colocá-las nos bolsos;
usar casacos ou roupas de lã quando aparentemente não é necessário, justifica-se
pela maior dificuldade em se adaptar às variações de temperatura e de perceber que
seu corpo está excessivamente frio ou quente (hipotermia ou a hipertermia,
respectivamente). Pois, enquanto a pele de um adulto jovem e saudável é capaz de
detectar uma queda de temperatura de até 0,5º C no ambiente, esta sensibilidade
diminui gradativamente no idoso, de tal maneira que é possível que ele não perceba,
por exemplo, uma queda de 5º C na temperatura.
E oferecer condições mínimas para que a temperatura do corpo se mantenha dentro
de limites razoáveis se faz necessário para a execução das funções normais e
manutenção da saúde. Pois, tanto o frio excessivo quanto o calor, que provoca
desidratação devem ser evitados.
Medidas para a manutenção do conforto ambiental devem ser adotadas de acordo
com as estações do ano e horários do dia, preferências e estado de saúde dos
A casa: um modo genuíno de morar 93
idosos. Como recursos temos os ventiladores de teto e de pé, ar condicionado,
janelas com persianas internas ou venezianas móveis.
A qualidade do ar com a purificação e a renovação, também devem ser
considerados, realizando-se limpezas periódicas nos aparelhos de ar condicionado e
evitando-se cortinas pesadas, principalmente no quarto, devido ao grande acúmulo
de poeira e incidência de problemas respiratórios.
Acústica
A acústica e a qualidade sonora têm um forte impacto na caracterização de um
lugar. Está associada à defesa contra ruídos, que trata da eliminação ou
amortecimento dos sons indesejáveis, sejam de fontes internas ou externas e ao
controle dos sons no recinto, que visa à melhora da comunicação sonora,
preservando a inteligibilidade.
O envelhecimento provoca algumas alterações que interferem o conforto acústico,
como a perda auditiva gradual e bastante considerável, principalmente nas
freqüências altas, correspondentes aos sons agudos, representando uma redução
na inteligibilidade da fala, em maior grau nos homens do que nas mulheres.
Para proporcionar conforto acústico aos idosos, os ruídos indesejáveis devem ser
eliminados, o que favorecerá o bem-estar em seus ambientes, melhora da
inteligibilidade nas comunicações e prevenção do isolamento social.
A qualidade acústica dos ambientes favorece a comunicação e a socialização, mas
sofre influência direta da dimensão e distribuição dos cômodos, dos materiais
utilizados na construção e dos objetos de decoração. E a escolha dos materiais deve
ser justificada pela busca de isolamento e da absorção sonora, melhora da redução
de ruídos internos e qualidade da inteligibilidade.
Alguns cuidados devem ser tomados na escolha dos materiais, pois em geral, os
lisos e duros tendem a aumentar o tempo de reverberação do som, ocasionando
ecos, mesmo sutis, que contribuem para a diminuição da inteligibilidade. Os
porosos, como madeiras, estofados, almofadas, cortinas são os mais indicados, mas
lembrando que as cortinas e almofadas acumulam muita poeira.
A casa: um modo genuíno de morar 94
Portas e janelas
As portas devem ter no mínimo 90 cm de largura, proporcionando um vão livre de 85
cm e no mínimo de 80 cm.
Preferencialmente, não devem abrir para a área de circulação, e sempre que
necessário serem removidas. As portas do tipo vaivém e camarão não devem ser
utilizadas. Os batentes devem ser arredondados e pintados com cores contrastantes
com a parede, para favorecer a orientação da posição do corpo na vertical e os
capachos devem ser embutidos e nivelados, de maneira que não excedam 1,5 cm
da altura do piso.
As maçanetas devem ser em forma de alavanca e fácil preensão, com a chave para
cima, sempre que possível, facilitando a visualização do segredo da porta.
Importante evitar as maçanetas redondas.
As portas internas não devem ter trancas e no banheiro, devem ser
preferencialmente corrediças, com fácil deslizamento ou abrir para fora, evitando a
sua obstrução em uma eventual queda do idoso. As portas de entrada devem ser
planejadas para garantir a privacidade, impedindo que ao abrir a porta, qualquer
pessoa tenha acesso a todo aposento.
As janelas, com sistema de abertura sempre para dentro ou de correr, com
manuseio confortável e seguro e, para controle da iluminação e ventilação fazer uso
de persianas internas.
Escadas, degraus e rampas
As escadas devem obedecer algumas recomendações: a largura mínima admissível
deve ser de 120 cm e os degraus devem ser antiderrapantes, acomodar bem os pés
(entre 28 e 32 cm) e apresentar faixas contrastantes para facilitar sua visualização; a
dimensão dos espelhos deve ser entre 16 e 18 cm e não devem ser vazados e o
bocel não pode ter arestas, onde os pés podem se enganchar facilmente.
Os corrimãos devem acompanhar toda a extensão da escada dos dois lados com
altura média de 80 cm e devem ser prolongados cerca de 30 cm nas extremidades e
A casa: um modo genuíno de morar 95
patamar. Devem ser pintados com cores contrastantes em relação à parede. O
diâmetro do corrimão de 3,0 a 4,5 cm e a empunhadura deve ser arredondada com
um vão de no mínimo 4 cm em relação à parede. E a iluminação deve ser adequada
e ter interruptores no topo e no fim da escada.
As rampas devem atender as seguintes exigências: os desníveis devem ser
vencidos por rampas na área de circulação, quando superiores a 1,5 cm de altura,
pois os idosos gastam mais energia ao se deslocarem, seja de forma independente
ou com uso de dispositivo de auxílio à marcha. Devem existir áreas horizontais
(patamares) no topo e no término da rampa, assim como nas mudanças de direção
e uma de declividade máxima de 10%. A largura recomendada é de 150 cm, sendo
admissível o mínimo de 120 cm.
Mobiliário
Cadeiras
Devem ter braços com altura entre 18 e 20,3 cm a partir do assento, proporcionando
estabilidade e descanso apropriado para a coluna lombar. O assento deve ser firme,
com altura entre 40 e 44 cm (para a maioria das pessoas) e com profundidade
adequada, deixando livre a fossa poplítea, o que possibilita melhor retorno venoso.
O encosto deve suportar os ombros e, se possível, permitir o apoio do pescoço,
principalmente quando o móvel é utilizado pra descanso. O ângulo de abertura dos
pés não deve exceder o do assento ou do encosto, evitando tropeços. Evitar
cadeiras de plásticos pela instabilidade durante o ficar de pé e sentar. E as cadeiras
de balanço devem ter uma base estável.
Sofás e poltronas
Sofás devem ser confortáveis, mas os assentos não devem ser muito macios. A
altura média de 50 cm, fáceis de sentar e levantar com profundidade média 70 a 80
cm. Os braços firmes e preferencialmente de dois lugares, pois cada usuário terá
pelo menos um apoio para braço. Indicação de uso de poltronas para leituras na
sala e no quarto, assim como ajuda para calçar meias e sapatos.
A casa: um modo genuíno de morar 96
Mesas e estantes
As mesas de refeição devem ter de 71 a 74 cm de altura. No uso de cadeira de
rodas a altura que permite o acesso total dever ser entre 75 e 85 cm. A estrutura
deve ser firme, pois em geral, os idosos utilizam as mesmas como apoio ao se
levantar. As mesas de canto não devem ser do tipo pedestal, pois viram com o peso
do corpo.
A altura confortável está na altura do cotovelo, permitindo o acesso e a visualização
dos objetos. Os cantos devem ser arredondados e os pés não devem exceder o
limite do tampo da mesa.
A mesa de apoio para telefone e abajur, próximo ao sofá, deve ter altura média de
60 cm, sem quinas vivas, evitando-se vidros ou materiais cortantes.
A estante, com prateleiras bem fixadas ao piso ou à parede, evitando-se objetos
pesados e de vidro e, os aparelhos de som ou TV com controle remoto.
Armários e estantes
Os armários e estantes devem ser firmes e presos ao chão ou parede, e não ter
muita profundidade. Os objetos devem estar localizados na altura dos olhos dos
idosos e do alcance manual.
Cômodos
Quarto
A cama deve ter largura variável com altura de 45 a 50 cm incluindo o colchão que
deve ter densidade adequada ao peso do usuário. É importante que a pessoa
sentada na beirada da cama, apóie os pés no chão, evitando assim a hipotensão
postural (tonteira). A cama deverá ter cabeceira que permita à pessoa recostar-se
sem esforço. E para evitar a sensação de frio nos pés, deve-se usar sempre colcha
ou cobertor preso ao pé da cama, tendo cuidado com as pontas soltas para não
embolar, provocando quedas.
A casa: um modo genuíno de morar 97
A mesa de cabeceira, com bordas arredondadas e altura cerca de 10 cm acima da
cama. Sempre que possível fixada no chão ou na parede, evitando assim que se
desloque caso a pessoa precise se apoiar nela ao levantar.
Os armários ou guarda-roupas com portas leves, de fácil acesso, arejadas e
cabideiro baixo, evitando o uso de escadas e banquinhos; as gavetas com trava de
segurança nos deslizantes; as prateleiras com alturas variáveis; os puxadores do
tipo alça ou alavanca, evitando os arredondados e luz interna ao abrir a porta.
Em relação aos acessórios algumas recomendações: relógio digital com números
grandes; suporte para copos de plástico ou metal; telefone e números de auxílio no
criado mudo; lanterna na gaveta para emergências e controle remoto para TV e
sistema de ar condicionado ou de aquecimento elétrico de acordo com o clima da
região.
Banheiro e banho
O banheiro é o cômodo que merece maior atenção e destaque, principalmente por
ser o local de maior incidência de quedas no domicílio. Considerando-se as
alterações fisiológicas e funcionais do idoso, alguns requisitos são necessários:
prevendo o uso e colocação de barras de apoio, as paredes devem ser de alvenaria
com resistência suficiente para a fixação das barras por meio de buchas e
parafusos.
O espaço interno do banheiro e do box deve permitir a circulação de duas pessoas,
facilitando a ajuda do cuidador, se for o caso. A porta do box de material
inquebrável, firme e com abertura para os dois lados (portas de correr), com largura
suficiente para possível entrada de cadeira de rodas, possibilitando ainda, o
manuseio dos controles de água estando fora do mesmo, para preparo da água na
temperatura ideal, evitando queimaduras e alteração na pressão arterial
(hipotensão).
Outros cuidados e recomendações quanto ao box são: largura mínima de 80 cm,
com desnível máximo de 1,5 cm em relação ao piso do banheiro; com inclinação
para o ralo, evitando o acúmulo de água em todo banheiro; piso antiderrapante
(faixas ou tapetes com ventosas); assento para banho fixo com largura mínima de
A casa: um modo genuíno de morar 98
45 cm e ideal de 70 cm e altura de 46 cm em relação ao piso; barras de apoio com
alturas de 90 cm em relação ao piso e 80 cm de comprimento; chuveiro portátil;
porta objetos fixo; torneiras de fácil manuseio – monocomando; tapete externo de
borracha com ventosas e porta toalha bem próximo ao box com altura média de 100
cm.
O uso de banheira, recomenda-se apenas no caso de espaço para banheira e box e
deverá ser provida de barras de segurança e ter os comandos para fora ou à
distância.
Bacia sanitária: O vaso sanitário deve ter uma altura máxima de 46 cm com o
assento, permitindo maior conforto ao sentar, com descarga simples – sem caixa
acoplada, ou descarga por botão. Ducha higiênica manual altura média de 45 cm do
piso; papeleira externa de fácil acesso com altura média de 45 cm do piso e barras
de apoio com altura de 75 cm em relação ao chão e comprimento de 90 cm na
lateral e fundo.
No caso de caixa acoplada, é importante o uso de barra nos fundos para evitar o uso
da caixa como apoio ao se levantar.
Bancada e Pia: Altura da bancada deve ser entre 78 e 80 cm com vão livre de 73 cm
que permita o uso por uma pessoa sentada. O sifão e a tubulação devem estar
situados a no mínimo 25 cm da face externa frontal e ter dispositivo de proteção do
tipo coluna suspensa ou similar.
As torneiras de fácil manuseio – ½ volta, alavanca, monocomando ou com célula
fotoelétrica. A pia com ralo protetor e barras de apoio junto ao lavatório evitando que
faça apoio diretamente na mesma; sabonete líquido com recipiente de manuseio
fácil (pressão) e porta toalhas alto e próximo da bancada – 110 cm a 130 cm. As
tomadas e interruptores altos, em área seca – 110 cm a 120 cm.
O espelho frontal iluminado com inclinação de 10º, permitindo o uso por pessoa
sentada. Apoio de escovas, lâminas, tubos, remédios em material inquebrável.
Importante uso de lâmpadas de emergência para caso de falta de energia.
A casa: um modo genuíno de morar 100
Geladeira com congelador: Manter limpa e funcionando, evitar colocar peso nas
portas, observar umidade e preferir altura de prateleiras que permita o acesso sem
precisar abaixar muito nem levantar muito os braços.
Carrinho de rodas e outros utensílios: O carrinho ajuda a mover utensílios e vasilhas
da cozinha para outros ambientes evitando acidentes no trajeto. E o forno elétrico ou
microondas deverão ser instalados em local de fácil acesso e permanecer
desligados após o uso.
Tanque e tábua de passar: A altura adequada da tábua de passar roupa para ser
utilizada estando a pessoa na posição sentada é de 75 cm e que seja de preferência
fixa, evitando acidentes como tropeços ou esbarrões. O ferro com fio espiralado,
com suporte fixo, controle automático de temperatura para evitar acidentes e as
tomadas altas: 100 a 120 cm para a lavanderia.
Sala de jantar e estar
O ambiente deve ser livre de objetos e móveis baixos que possam trazer risco,
como: banquetas, mesinhas muito baixas e tapetes soltos. As paredes devem ser de
cores estimulantes e contrastantes com o mobiliário. A iluminação uniforme,
contínua (vários pontos) e anti-ofuscante (lâmpadas leitosas, iluminação indireta) e
três vezes mais forte que o normal, para compensar as dificuldades visuais.
Personalizar o ambiente com objetos pessoais, tais como fotografias de familiares,
eventos significativos, viagens, elementos que tragam recordações e pertencimento,
contribui para a manutenção da identidade, controle da situação e auto-estima do
idoso.
Jardins e jardineiras
Prever equipamento adequado para utilização na posição sentada, permitindo assim
ao idoso manter seus hábitos de lazer de forma confortável e segura.
O esboço técnico dessa casa não contempla as relações afetivas entre as pessoas
e o meio, bem como com os objetos, os móveis, e demais pertences que constituem
A casa: um modo genuíno de morar 101
uma casa. Sendo assim, o profissional, independente de sua área, ao “invadir” o
ambiente do “outro”, deve considerar e respeitar sempre a relação intrínseca do
homem e seu domínio, sua casa, seu lar...
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Apêndices 111
APÊNDICE A: Roteiro de entrevista
Número do questionário______QUESTIONÁRIO
DATA DA ENTREVISTA ___/___/___ Início_________hs Término____________hs
1. Dados sócio-econômico-demográfico
1. 01. Nome completo: _____________________________________________
1.02. Data de nascimento ___/___/___ 1.03. Idade (anos completos) _______
1.04. Sexo: 1 Feminino2 Masculino
1.05. País de Nascimento: 1 Brasil23
1.06. Se é brasileiro: 1 São Paulo23
Outro Estado de Nascimento: ________________________
1.07. Estado Civil: 1 Solteiro2 Casado/vive junto 3 Separado/divorciado4 Viúvo
1.08. Qual sua religião? 1 Não tem 2 Católico3 Evangélica4 Espírita5 Judaica6 Budista7 Islâmica8 Outra
Apêndices 112
1.09. Qual a sua cor? 1 Branca 2 Preta 3 Parda 4 Amarela 5 Indígena
1.10. Qual sua escolaridade?
1 Analfabeto2 Sabe ler/escrever ou primário incompleto 3 Primário completo 4 Ginásio/1º grau 5 Colegial/ 2º grau 6 Curso Superior/Graduação 7 Pós-graduação8 Outro
1.11. Profissão: __________________________
1.12. Atividade Ocupacional Anterior: ________________________
1.13. Atividade Ocupacional Atual: __________________________
1.14 Renda pessoal. R$/mês: _________________ 1.141. A sua renda /mês é suficiente para suprir suas necessidades pessoais?
1 Sim2 Não
1.142. O sr(a) tem ajuda financeira de terceiros?
1 Sim2 Não
Se sim, de quem? _________________________
2) AMBIENTAIS
2.1. Descreva a casa onde o sr. (a) mora: ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2.2. Com quem o sr (a) mora? __________________________________________________________________________
2.3. A casa onde o Sr.(a) mora é:
1 Própria 2 Alugada3 Cedida 4 Outros
Apêndices 113
2.4. Tipo de moradia 1 Casa térrea2 Casa com mais de 1 pavimento 3 Apartamento 4 Sobrado5 Outro
2.5. Tempo de moradia__________________________
2.6. O Sr. (a) tem vontade de mudar de casa?
1 Sim2 Não
Por quê?__________________________________________________________________________
PARA USO DO ENTREVISTADOR APENAS (AUXÍLIO) 1 Para ter mais segurança 2 Mudança de cidade 3 Aquisição da casa própria 4 Por questões econômicas/financeiras 5 Dificuldade no uso da casa atual. * 6 Para ter mais conforto ** 7 Porque a atual é muito grande 8 Porque a atual é muito pequena 9 Porque não gosto do bairro 10 Porque não gosto da casa 11 Para ficar mais perto dos familiares 12 Outro***
* Que tipo de dificuldade?_____________________________ ** Que tipo de conforto?______________________________ *** Outro motivo:_______________________________
3) FUNCIONAIS 3.1. O (A) Sr.(a) tem alguma dificuldade em sua casa:
SimNão Se sim, que tipo de dificuldade
o Sr.(a) tem?
No acesso à sua casa 1 2Em se locomover dentro de casa 1 2Ao usar o banheiro 1 2Em freqüentar a sala de jantar, estar ou de TV
1 2
No uso do quarto 1 2No uso da cozinha 1 2No uso da área de serviço 1 2Ao usar algum móvel/ mobiliário 1 2Em manipular (abrir/fechar) as portas e janelas
1 2
Ao usar escadas 1 2Em freqüentar o quintal 1 2Em freqüentar o jardim/terraço/varanda
1 2
Apêndices 114
3.2. O Sr.(a) está satisfeito na sua casa com a:
Sim Não
Iluminação 1 2Ventilação 1 2Acústica 1 2
Por quê?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3.3. O Sr. (a) considera a sua casa com condições adequadas para realizar as sua atividades no seu dia-a-dia?
1 Sim2 Não
Por quê?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3.4. O Sr. (a) deixou de freqüentar algum cômodo/espaços de sua casa?
1 Sim2 Não
3.4a. Se sim, qual cômodo o Sr. (a) deixou de freqüentar?
1 Quarto2 Cozinha3 Banheiro4 Sala5 Área de serviço 6 Quintal
Por quê?__________________________________________________________________________
3.5. O Sr. (a) já realizou alguma modificação ou adaptação na sua casa para facilitar seu uso?
1 Sim2 Não
3.5a. Se não, não fez por quê?
1 Não teve recursos financeiros, embora quisesse fazer. 2 Não acha necessário.
3.5b. O Sr. (a) tem vontade de fazer alguma modificação ou adaptação na sua casa, hoje?
1 Sim2 Não
Por quê?__________________________________________________________________________
Apêndices 115
3.6. O Sr. (a) se sente confortável em sua casa?
1 Sim2 Não
Por quê?__________________________________________________________________________
3.7. A sua casa lhe proporciona privacidade?
1 Sim2 Não
Por quê?__________________________________________________________________________
3.8. Se o Sr. (a) vivesse até 110 anos, quais modificações o Sr. (a) acha que deveria fazer em sua casa?__________________________________________________________________________
Por quê?__________________________________________________________________________
3.9. O Sr. (a) acha que a sua casa é de fácil uso/acessível para si?
1 Sim2 Não
Por quê?__________________________________________________________________________
3.10. O Sr. (a) acha que a sua casa é acessível para receber visitas em cadeira de rodas, gestantes, usuários de bengala ou andador e crianças em carrinho de bebê?
1 Sim2 Não
Por quê?__________________________________________________________________________
3.11. O que a sua casa significa para o Sr.(a)? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3.12. Como seria a casa ideal para sua velhice? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3.13. O que é velhice para o sr (a)? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3.14. O sr (a) considera a sua casa adequada para viver o resta da sua vida?
1 Sim2 Não
Apêndices 116
4) CLÍNICAS
4.1. O (a) Sr.(a) apresenta algum doença/problema de saúde nos sistemas:
SimNão
Se sim, quais?
Sistema Nervoso *Parkinson, Esclerose Múltipla, Alzheimer, Def. de memória.
1 2
Físico muscular ou relacionado ao esqueleto/ossatura. *Osteoporose, Artrose, AR
1 2
Digestório *Úlcera, Gastrite. 1 2Cardíaco ou vascular *Hipertensão, varizes, AVC.
1 2
Respiratório. *DPOC, Asma, Pneumonia, Sinusite, Renite,Faringite, Amigdalite, laringite
1 2
Endócrino/metabólico* Diabetes, obesidades, doenças da tireóide.
1 2
Genito-urinário. *Insuficiência Renal, Cistite, Incontinência.
1 2
Outros 1 2
4.2. O Sr.(a) apresenta algum problema ou perda da:
SimNão
Visão 1 2Audição 1 2Tato 1 2Olfato 1 2Paladar 1 2Equilíbrio 1 2
4.3. Alguns desses problemas ou perdas dificultam suas atividades diárias (cotidiano)?
1 Sim2 Não
Como?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________
***Endereço: Rua: __________________________________________________________ Bairro: _________________________________________________________ Cidade:___________Estado:________CEP:__________Telefones: _________
Apêndices 117
APÊNDICE B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Consentimento Livre e Esclarecido
Prezado Sr (a), _________________________________________________
Solicito o seu consentimento para participar da pesquisa cujo nome é:
AMBIENTE DOMICILIAR X LONGEVIDADE: Pequena história de uma casa para a
velhice*, que está sendo realizada para obtenção de título de mestre em
Gerontologia Social pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
As informações de seus dados gerais, necessárias para o preenchimento
dos questionários, serão obtidas através do (a) senhor (a). Todas essas
informações são absolutamente sigilosas, serão mantidas comigo e seu nome
jamais será mencionado na divulgação dos resultados da pesquisa.
A sua participação é absolutamente voluntária, podendo desistir de
participar do estudo e solicitar a suspensão do seu consentimento mesmo após ter
sido realizada a entrevista.
Agradeço-lhe atenção e deixo o meu telefone para contato.
FARAH REJENNE CORRÊA MENDES
Pesquisadora.
São Paulo, __/ __/ __
Consentimento do entrevistado ___________________________________
* Título inicial.
Telefones para contato: (11) 3826-6927 ou (11) 8163-6272
Email: [email protected]
Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas
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