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Farah Rejenne Corrêa Mendes AMBIENTE DOMICILIAR X LONGEVIDADE: Pequena história de uma casa para a velhice Mestrado em Gerontologia Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Paulo 2007

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Farah Rejenne Corrêa Mendes

AMBIENTE DOMICILIAR X LONGEVIDADE:

Pequena história de uma casa para a velhice

Mestrado em Gerontologia

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

São Paulo 2007

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Farah Rejenne Corrêa Mendes

AMBIENTE DOMICILIAR X LONGEVIDADE:

Pequena história de uma casa para a velhice

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Gerontologia, sob a orientação da Profa. Dra. Beltrina Côrte

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

São Paulo 2007

AMBIENTE DOMICILIAR X LONGEVIDADE:

Pequena história de uma casa para a velhice

Farah Rejenne Corrêa Mendes

Aprovada em / /

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________

__________________________________________________

__________________________________________________

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação/tese por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos, desde que citada a fonte.

Farah Rejenne Corrêa Mendes E-mail: [email protected]

Assinatura: _________________________Local e Data:________________________

DEDICATÓRIA

Às minhas avós (in memorian), Raimunda e Sara,

por todo amor, carinho e ensinamento de vida.

Aos meus pais, Janice e Reginaldo,

por todo amor, incentivo, confiança e força em mais esta conquista.

E aos meus irmãos Hellen, Ronney e William

pelo carinho e apoio.

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida.

A toda a minha família pelo carinho e incentivo.

Ao meu Rafael por todo o seu amor, paciência, companheirismo e

compreensão nos momentos mais importantes e difíceis.

À amiga Socorro pela presença nas horas mais difíceis e importantes de minha

vida, pelo amor, incentivo, amizade.

Às amigas Andréa Quinzeiro e Kerla Soares e ao meu grande amigo Marcelo

que mesmo distantes sempre estiveram ao meu lado, incentivando e apoiando

esta minha caminhada.

À Beltrina pela confiança e incentivo de trilhar novos saberes e novos mundos,

que contribuíram para o crescimento pessoal e intelectual.

À Elisabeth Mercadante pelos sábios ensinamentos, conhecimentos e

disponibilidade.

À Adriana Prado pelo incentivo e amizade.

Aos meus colegas do mestrado, em especial ao Rogério, à Regina, Cris e

Mirella pela amizade.

Ao Sesc de São Paulo – Unidade Consolação e às idosas que participaram e

colaboraram com suas falas e seus ensinamentos nesta pesquisa.

E a todos os idosos que me inspiraram a realizar este trabalho, meu

agradecimento pelos ensinamentos de vida.

O lar é onde o coração está.

Jean de Bont

RESUMO

Introdução: O processo do envelhecimento é, hoje, objeto de várias pesquisas no mundo. No Brasil, tem deixado de ser apenas uma preocupação da saúde e sócio-econômica, tornando-se uma preocupação de várias áreas da ciência pelas necessidades e exigências do mundo que envelhece, considerando-se o meio em que vivem, seja o espaço público ou seu domicílio. Pesquisas demonstram que o ambiente domiciliar agrega valores econômicos, sociais, emocionais, afetivos e de saúde ao longo da vida, e exerce influência na vida dos idosos, no seu bem-estar. Objetivos: Investigar a visão de idosos de planejar o ambiente domiciliar em relação à longevidade, contribuindo para a formulação de políticas habitacionais que considerem as necessidades e transformações do corpo humano e as relações afetivas estabelecidas com o meio ambiente e social. Metodologia: Pesquisa quantitativa e qualitativa, realizada com 10 sujeitos, sexo feminino, idade superior a 60 anos, realizada com um grupo de idosos da cidade de São Paulo que participam das atividades oferecidas ao público idoso do Sesc – Unidade Consolação. Realizada análise descritiva dos dados coletados. Resultados: 10 idosas, entre 62 a 81 anos. Quanto à moradia, 5 delas moram sozinhas, 9 em apartamento próprio e 4 desejam mudar de casa. Quanto à acessibilidade, todas consideram a sua casa acessível para si e 3 acessível para receber visitas com necessidades específicas. A questão do envelhecimento permeou as respostas das entrevistadas, mas a relação com o ambiente teve pouca representatividade ao considerarmos o planejar o ambiente, que respondendo a pergunta do estudo, as pessoas não planejam o seu ambiente para velhice. Discussão: A casa representa o maior bem conquistado ao longo da vida, o que implica no não desejo de mudar, permeados pelo sentimento de conquista, afetividade, bem-estar, privacidade, independência, autonomia e segurança. O estudo traz uma reflexão sobre o ambiente domiciliar e a complexidade que envolve o envelhecimento. Discute a contribuição para políticas públicas e habitacionais que contemplem os projetos residenciais acessíveis e adaptáveis, considerando as mudanças fisiológicas e funcionais do ser humano, proporcionando ambientes que permitam uma relação harmoniosa em todas as fases da vida, contribuindo para o bem-estar e a permanência do idoso em sua casa, seu espaço afetivo.

Palavras-chaves: ambiente domiciliar, casa, idoso, velhice, longevidade, planejar.

ABSTRACT Introduction: The aging process is currently the focus of various studies around the world. In Brazil it is more than just a medical and socioeconomic concern. It is becoming a preoccupation of many additional areas of science due to the needs and demands of this aging population, considering their living environment, be it public space or their residence. Studies demonstrate that over the course of a lifetime, the home environment can affect people's economic, social, emotional, and health status and exert a strong influence on the well-being of senior citizens. Objectives: To investigate elderly´s view to plan the home environment relative to longevity, contributing to the formulation of housing policies that take into account the needs and transformation of the human body and the emotional relationships established with the social environment. Methodology: Quantitative and qualitative study conducted with 10 female subjects age 60 and older. The study was conducted with a group of senior citizens from Sao Paolo who participate in activities offered to the seniors of the SESC – Unidad Consolacion. Descriptive analysis of the data collected. Results: 10 female senior citizens, between 62 and 81 years of age. In terms of their housing situation, 5 of them live alone, 9 in their own apartment and 4 wish to move. In terms of accessibility, all consider their homes accessible for themselves and 3 feel their homes are accessible to visitors with special needs. The question of aging permeated the responses of the interviewees but their relationship with their environment was not very apparent in their responses. Considering the core question of the study, it appears that senior citizens do not plan their environment to suit their needs as they age. Discussion: The home represents the the most valuable adquired asset over the course of their lives. This implies that they do not want to change, given their feelings of emotion, well-being, privacy, independence, autonomy and security. The study brings a reflection regarding the home environment and the complexity that aging brings to it. It argues the contribution of it for public and home policies which consider accessible and adaptable residential projects, taking into account the physiological and functional moves of human beings, proportionating environments that permit a harmonious relationship in all phases of life, contributing to well-being and the ability of senior citizens to stay permanently in their homes, their emotional space.

Key-words: domiciliary environment, home, older, oldness, longevity, to plan.

Lista de gráficos

Gráfico 1

Proporção de pessoas de 60 anos ou mais de idade responsáveis pelo domicílio, por sexo – Brasil – 1991/2000.

21

Gráfico 2

Proporção de domicílios unipessoais sob responsabilidade de pessoas de 60 anos ou mais de idade – Brasil – 1991/2000.

22

Gráfico 3

Proporção de domicílios unipessoais sob responsabilidade de pessoas de 60 anos ou mais de idade, segundo os municípios das capitais - 2000.

23

Lista de tabelas

Tabela 1

Características sócio-demográficas do grupo estudado 42

Tabela 2

Caracterização das atividades ocupacionais anteriores do grupo

estudado42

Tabela 3

Características da composição física/estrutural das casas do grupo estudado

43

DETALHAMENTO

ESBOÇO: pelos caminhos do meu ambiente domiciliar 13

TERRENO: o ambiente da velhice no país 19

PROJETO: Por que planejar? 29

Planejando o ambiente domiciliar 32

A necessidade de um novo saber 34

Contextualização 35

CONSTRUÇÃO: os moradores 40

O perfil sócio-demográfico e econômico 41

O perfil da habitação 43

Vontade de mudar 44

ALICERCE: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 46

Com os sentidos 47

Com os sistemas 53

MORAR: habitar o espaço 62

Acústica, Iluminação e ventilação 65

Privacidade e comodidade 67

Modificações e adaptações 68

Acessibilidade 71

DECORAR: acabamento 76

A casa ideal na velhice 79

Significado da casa 81

A velhice 83

A CASA: um modo genuíno de morar 86

Esboçando uma casa para a velhice sem o “tempero” dos moradores 90

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 102

APÊNDICES 110

APÊNDICE A: Roteiro de entrevista 111

APÊNDICE B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 117

ANEXO 118

ANEXO A: Aprovação do comitê 119

EsboçoPelos caminhos do meu ambiente domiciliar

Esboço: pelos caminhos do meu ambiente domiciliar 14

[...] dentro do ser, no ser de dentro, há um calor que acolhe o ser que o envolve. O ser reina numa espécie de paraíso terrestre da matéria, fundido na doçura de uma matéria adequada. Parece que nesse paraíso material, o ser está impregnado de uma substância que o nutre, está repleto de todos os bens essenciais... a casa sustenta a infância imóvel em seus braços.

Gaston Bachelard

Não tive o prazer de conhecer meus avôs. As histórias que conheço sobre suas

vidas são parte das recordações de outros familiares que com eles conviveram.

Senti muito por não ter tido a experiência dos ensinamentos de um avô. Mas tive

uma infância cercada de carinho e atenção pelas minhas grandes avós.

Mulheres que souberam dar amor a seus netos de forma incondicional. De minha

avó paterna, Dica, as lembranças são um misto de emoções. Por muitos anos, ela

foi presença constante em minha vida, principalmente nos primeiros anos de escola.

Morava perto do colégio que eu freqüentava, e assim eu passava a semana indo

para sua casa, por vezes dormindo lá.

Várias lembranças e experiências... Brincadeiras no terraço com canções de roda

(“Vamos passear no bosque, enquanto seu lobo não vem... tá pronto seu lobo?”),

cuidados com o jardim, e a decoração de seu pequeno santuário. Além dos

“desafios” de neta, que me rendiam em bronca da avó, e um chamado “carinhoso”:

Porquera!! Parece que foi ontem... São muitas histórias alegres e engraçadas com

ela, que enriqueceram minha infância até os oito anos, quando a doença começou a

lhe roubar as forças e a vivacidade. E as histórias começaram a ser interrompidas.

E hoje, através das lembranças daquela época, percebo que o desejo de estudar

sobre o ambiente domiciliar surgiu dessa experiência: a casa da minha avó Dica

com seu jardim, sala, dois quartos, cozinha, banheiro e quintal. Localizada em uma

região íngreme, o acesso era feito por escadas, desde a entrada até o quarto da

vovó e o banheiro. Fator agravante, pois era uma estreita escada de madeira. Nós,

que éramos crianças, tínhamos a facilidade de nos locomover. Para vovó, acometida

Esboço: pelos caminhos do meu ambiente domiciliar 15

de diabetes mellitus e problemas cardíacos, aquele ambiente começou a ser um

limitador de suas atividades...

Tornava-se necessário criar alternativas para satisfazer suas necessidades básicas.

Então começou o improviso. O banho passou a ser dado no corredor, que ligava o

quarto à cozinha, com a ajuda da minha tia ou dos netos mais velhos. E, com isso,

ela foi perdendo a privacidade e a independência. Começou a ser carregada ou

apoiada para subir as escadas que a levavam até a sala. Teve momentos de

melhora e piora até o dia da partida. A aceitação foi difícil. Freqüentei ainda a tão

querida casa da vovó Dica, mas algo faltava nela. Perdi o sentido de freqüentá-la.

As experiências com pessoas idosas só retornaram após alguns anos... na

faculdade e com a presença de minha avó materna, Sara, que esteve presente em

minha vida durante a formação universitária como terapeuta ocupacional.

No decorrer da vida acadêmica, muitas interrogações surgiram em torno da minha

escolha profissional. Mas quando iniciaram as disciplinas práticas, em campos de

estágios, nos hospitais, clínicas, centros de reabilitação, asilos, foi se firmando

também a certeza de que nela eu poderia concretizar meu desejo de ajudar outras

pessoas.

O estágio mais sofrido, e que me angustiava, foi o de geriatria e gerontologia

realizado numa instituição asilar. Era uma mistura de sentimentos que por vezes me

deprimia e me fazia sentir incapaz de poder ajudá-los. Mas, após uns três meses,

sabia que aquilo tudo ia terminar. Puro engano. Aquilo foi o começo de tudo.

Pois, no semestre seguinte surgiu vaga para monitoria na disciplina prática de

Terapia Ocupacional aplicada à Geriatria e Gerontologia. Senti aquilo como um

desafio, algo que eu precisava enfrentar. Passei pelas provas e fui aprovada como

monitora da disciplina, o que significava que eu teria que retornar ao mesmo campo

de estágio, ser um suporte aos novos alunos.

Foi uma experiência maravilhosa, comecei a entender o mundo de cada um dos

idosos, a conhecer suas vidas, suas histórias, suas experiências, seus desejos, sua

Esboço: pelos caminhos do meu ambiente domiciliar 16

individualidade. Percebi que todo o meu temor inicial era o medo da aproximação,

do envolvimento. Aprendi, então, que eles não eram seres passivos, que precisavam

de nossas atividades. E, sim, pessoas que tinham autonomia e independência, com

algumas exceções, e que estavam ali para aceitar nossas propostas ou não. Para

participar ou não. E que nós, também, éramos aprendizes. E que toda relação era

uma troca mútua, ás vezes configurada em gestos, atitudes, palavras ou

simplesmente um toque ou olhar.

É nesse momento, de aversão e paixão pelo ser idoso, que a avó Sara entra em

minha vida. Ela passa a morar pela segunda vez em minha casa, uma fase

maravilhosa e às vezes sofrida. Correndo entre a faculdade, estágios e trabalho,

meu tempo em casa era pouco. Porém, sempre que chegava ia conversar um pouco

com ela, saber como tinha sido seu dia. Aprendi muito com suas vivências, com sua

história de vida.

No entanto, após seis meses ela nos deixou e foi morar em Brasília, na companhia

de outra filha. E, infelizmente, mais uma perda. Após três meses, minha avó faleceu,

deixando muita saudade e ensinamentos.

Ensinamentos que me ajudaram a escolher a gerontologia como carreira acadêmica,

que se iniciou com a monitoria, e se concretizou com a primeira monografia. Escolhi

o tema A percepção dos idosos asilados e integrantes de um grupo da terceira idade

sobre independência, dependência e autonomia, retornando aos campos de estágio

para a realização da pesquisa por mais seis meses.

Nessa mesma época recebi convite para lecionar em um curso de Capacitação de

Cuidadores de Idosos, ficando responsável por uma disciplina teórica e supervisão

dos estágios nas instituições. Foi uma experiência enriquecedora que me estimulou,

ainda mais, a seguir a carreira docente.

Seguindo a linha de estudo e objetivando aumentar o conhecimento nesta área, fiz

uma especialização em Gerontologia, na Escola Paulista de Medicina – UNIFESP.

Como conclusão, o tema defendido da monografia foi Capacidade funcional e

Esboço: pelos caminhos do meu ambiente domiciliar 17

acessibilidade do ambiente domiciliar de idosos atendidos em um programa de

assistência domiciliária ao idoso.

Durante a realização desse trabalho, que teve como objetivo caracterizar o grau de

capacidade funcional e a acessibilidade do ambiente domiciliar de idosos atendidos

em um programa de assistência domiciliária, aumentou o interesse em estudar mais

sobre o ambiente domiciliar e sua relação com a manutenção da independência e

autonomia dos idosos ao realizar atividades dentro de seu domicílio.

Busquei, então, o mestrado em Gerontologia da PUC-SP, objetivando estudar o

planejamento do ambiente domiciliar para os cuidados em longo prazo durante o

processo de envelhecimento, focando a acessibilidade e a segurança no ambiente.

No entanto, durante as discussões na aula de Metodologia da Pesquisa, observou-

se a necessidade de um pré-estudo abordando a percepção ou aceitação das

pessoas da necessidade de planejar o ambiente domiciliar em relação à

longevidade, acreditando-se que qualquer planejamento deve partir da aceitação,

necessidade e reconhecimento de sua importância, ou por parte do usuário ou por

seus representantes.

Ao buscar na literatura existente subsídios para esta investigação, verificou-se que

faltam estudos sobre o que vem a ser o ambiente domiciliar. Será simplesmente a

casa, entendendo-a apenas com seus aspectos físicos ou será algo mais? Dessa

forma, deu-se início à pesquisa que, reconheço hoje, faz parte da minha existência.

Considero que a relação entre a biografia do pesquisador e o tema é parte

importante na construção do saber. Como bem coloca Oliveira (2001, p.19): “os

pensadores mais admiráveis não separam seu trabalho de suas vidas. Encaram

ambos demasiados a sério para permitir tal dissociação, e desejam usar cada uma

dessas coisas para o enriquecimento da outra”.

Qual a visão que os idosos têm de planejar o ambiente em relação à longevidade?

Essa foi a pergunta norteadora da presente pesquisa, tendo como embasamento as

hipóteses de que a negação da velhice contribui para a não aceitação de um

Esboço: pelos caminhos do meu ambiente domiciliar 18

ambiente adaptado e acessível em relação à longevidade e, que a aceitação do

ambiente adaptado e acessível é pensado e muito bem visto em relação à criança

como uma questão de segurança; em relação ao adolescente e adulto como

conforto e comodidade; e em relação ao idoso é pensado apenas como

dependência.

Enfim, este estudo traz uma reflexão sobre a complexidade que envolve o

envelhecimento humano e o ambiente domiciliar a partir do enfoque gerontológico.

TerrenoO ambiente da velhice no país

Terreno: o ambiente da velhice no país 20

O crescimento da população de idosos é um fenômeno mundial. Em 1950, eram

cerca de 204 milhões de idosos no mundo e em 1998, quase cinco décadas depois,

este contingente alcançava 579 milhões, um acréscimo de quase 8 milhões de

pessoas idosas por ano. As projeções indicam que, em 2050, a população idosa

será de 1.900 milhões de pessoas. Uma das explicações para esse fenômeno é o

aumento, verificado desde 1950, de 19 anos na esperança de vida ao nascer em

todo o mundo (IBGE, 2002).

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE

(2002), nos próximos 20 anos, a população idosa do Brasil poderá ultrapassar os 30

milhões de pessoas e deverá representar quase 13% da população ao final desse

período.

Considerando a realidade da população brasileira associada ao envelhecimento

populacional, o objetivo das intervenções deixa de ser apenas prolongar a vida, mas,

principalmente, manter o bem-estar, a independência e a autonomia de cada

indivíduo pelo maior tempo possível. Para que isso ocorra é necessário que as

políticas públicas implementadas se voltem para a prevenção e promoção da saúde

em seu sentido mais amplo, incluindo-se, portanto, ações que proporcionem

condições sócio-econômicas e ambientais para o bem-estar do idoso.

Nos últimos anos, o processo do envelhecimento tornou-se objeto de várias

pesquisas no mundo. No Brasil, a rápida mudança na composição etária da

população tem exigido atenção não só das áreas da saúde e sócio-econômica,

como também de outras áreas da ciência pelas necessidades e exigências do

mundo que envelhece, considerando-se especificamente o meio em que vivem, seja

o espaço público ou o domiciliar.

No que se refere ao ambiente domiciliar, baseado no Censo 2000 (IBGE, 2002),

verifica-se que 62,4% dos idosos eram responsáveis pelos domicílios brasileiros,

representando um aumento em relação a 1991, quando esta população era de

60,4%.

Terreno: o ambiente da velhice no país 21

Quanto ao sexo, em 2000, observa-se que 37,6% dos responsáveis era do sexo

feminino (gráfico 1), e nos anos 90, a proporção era de 31,9%. Enquanto isso os

idosos do sexo masculino respondiam por 68,1% dos domicílios em 1991, sofrendo

uma redução para 62,4% em 2000.

Gráfico 1: Proporção de pessoas de 60 anos ou mais de idade responsáveis pelo domicílio, por sexo – Brasil – 1991/2000

Deste universo de domicílios, destacam-se os domicílios unipessoais (apenas um

morador), que em 2000, totalizavam 1.603.883, representando 17,9% do total de

domicílios sob responsabilidade de idosos. Um aumento em comparação com a

década de noventa que era de 15,4% (gráfico 2).

Nesse contexto, cabe salientar a elevada proporção de domicílios comandados por

mulheres idosas, que em 2000 representava 67% do conjunto total dos domicílios

unipessoais. Fenômeno justificado pela viuvez feminina mais elevada, que

determina um crescimento de famílias monoparentais sob responsabilidade feminina

ou ainda de unidades domiciliares unipessoais. Assim como a maior freqüência de

Terreno: o ambiente da velhice no país 22

recasamento dos homens viúvos ou separados em comparação às mulheres na

mesma situação, faz crescer significativamente a diferenciação dos arranjos

familiares ou domiciliares em função do gênero e da idade do responsável

(BERQUÓ et al., 1990, apud IBGE, 2002).

Gráfico 2: Proporção de domicílios unipessoais sob responsabilidade de pessoas de 60 anos ou mais de idade – Brasil – 1991/2000

Dado significativo também se percebe na distribuição dos domicílios unipessoais

entre os municípios das capitais. Em Porto Alegre, 27,1% dos idosos responsáveis

moravam sozinhos, em São Paulo, 20,2% e em São Luís a proporção diminui para

menos de 10%. (gráfico 3). Características associadas a fatores de natureza

econômica, educacional e ao planejamento familiar das regiões brasileiras, bem

como a questões culturais, sociais e afetivas de cada população específica, que se

entrelaçam para compor tais diversidades. Questões que devem ser contempladas e

respeitadas no planejamento do ambiente domiciliar: a casa unipessoal e a

intergeracional, atendendo as necessidades de todos os moradores.

Terreno: o ambiente da velhice no país 23

Gráfico 3: Proporção de domicílios unipessoais sob responsabilidade de pessoas de 60 anos ou mais de idade, segundo os municípios das capitais - 2000

Cada morador, por sua vez, possui necessidades que se vão diferenciando não só

pela unicidade de cada ser, como pelo momento da caminhada em que se

encontram. Se o caminho percorrido foi longo, muitas reservas foram investidas:

orgânicas, mentais, emocionais.

No campo biológico, há que se considerar inúmeras mudanças, estruturais e

funcionais, próprias do envelhecimento - a senescência1 -, que, embora variem de

um indivíduo a outro, são encontradas em todos os idosos, podendo influenciar na

saúde física e mental e interferir no desempenho funcional e nas relações afetivas e

sociais do idoso.

Torna-se importante o reconhecimento dessa dinâmica, às vezes difícil de constatar

precisamente, pela estreita relação com as modificações causadas por doenças -

senilidade2. O processo de envelhecimento modifica e é modificado pelas doenças

1 Processo natural de envelhecimento ou o conjunto de fenômenos associados a esse processo. 2 Envelhecimento patológico, e que é entendido como os danos à saúde associados com o tempo,porém causados por doenças ou maus hábitos de saúde.

Terreno: o ambiente da velhice no país 24

que podem acometer o idoso, gerando uma relação muito próxima entre os dois

fenômenos, de tal forma que modificações exclusivas do envelhecimento são

confundidas com enfermidades e criam a cultura e o estereótipo de que velhice e ser

velho significam doença.

Dinâmico e progressivo, o processo de envelhecer agrega alterações morfológicas,

funcionais, psicológicas, biológicas, estruturais e fisiológicas que modificam

praticamente todo o organismo e o organismo de todos, alterando seu

funcionamento. No entanto, envelhecer não significa adoecer, o envelhecer pode

acontecer de forma natural, mesmo com o acometimento de limitações impostas

pelo avançar da idade e por doenças crônico-degenerativas.

As alterações fisiológicas do envelhecimento podem interferir na capacidade dos

idosos de interagir e responder aos estímulos do ambiente. Mas, diferentes

mecanismos de compensação podem ser utilizados, como o maior uso de um dos

sentidos em detrimento de outro. Por exemplo, uso da visão, com pistas visuais em

determinados ambientes, quando a audição apresenta-se comprometida.

Para Mercadante (2005, p. 27),

A velhice, se analisada somente como sendo uma questão

Terreno: o ambiente da velhice no país 25

E o que seria a casa? E quais seus significados sociais, culturais, afetivos e

históricos?

A casa, segundo o dicionário Aurélio (FERREIRA, 2000), no sentido

físico/estrutural, significa edifício destinado, em geral, a habitação e, no social, lar,

família.

Enfatizando o significado mais social de casa, outros atributos podem ser citados,

como ambiente de proteção e abrigo, bem como de conquistas e memórias afetivas

construídas ao longo da vida.

De acordo com o dicionário Etimológico (CUNHA, 2001), a casa tem um significado

mais estrutural, morada, vivenda, residência, habitação. O ambiente significa lugar,

espaço, recinto, envolvente. E o domiciliar seria a casa de residência, habitação fixa.

Sendo o ambiente domiciliar o conjunto que agrega a estrutura física e os valores

emocionais e afetivos.

Valores, experiências e significados que se fundem. O ambiente correspondendo ao

lugar – segurança – e ao espaço – liberdade. Para Tuan (1983), estamos ligados ao

primeiro e desejamos o segundo. A partir da segurança e estabilidade estamos

cientes da amplidão da liberdade e ameaça do espaço como algo que permite

movimento. Então, o lugar é pausa.

As diferentes experiências emergem do lugar - a casa, o bairro, a cidade, o país, e

do espaço – a liberdade de expressar, ter experiências. Entendendo-se que espaço

e lugar não podem ser definidos um sem o outro.

A casa acolhe e atende a um conjunto de necessidades básicas de segurança,

envolvimento, orientação no tempo e, principalmente, no espaço. Oferece consolo

interminável ao ser humano (SCHMID, 2005).

Considerando-se a familiarização construída com o ambiente, a relação afetiva com

o meio e a representatividade de status social, para alguns idosos a casa significa

saúde, sendo benéfica a permanência em seu domicílio, mesmo apresentando

limitações ou dependência na realização de alguma atividade.

Terreno: o ambiente da velhice no país 26

A relação do idoso com a sua moradia representa a expressão de sua identidade,

marcas significativas e pessoais, a construção de seu meio de proteção e bem-estar.

Espaço próprio e de seu domínio e controle.

Porém, segundo Robson (1997 apud CARLI, 2004, p.29), um dos grandes

problemas dos velhos é que [...] “freqüentemente exercitam muito pouca escolha

sobre seu futuro [...]. Conforme se vai envelhecendo, as escolhas são feitas por

outros, direta ou indiretamente”.

Papaléo F. (s/d) citado por Litch e Prado (2002), destaca que para muitos idosos, o

espaço social acaba sendo tudo o que possuem, sendo importante destacar os laços

estabelecidos com os objetos, as pessoas e o ambiente para a manutenção de seu

equilíbrio e de sua própria identidade.

No entanto, historicamente, a relação do homem com o meio ambiente torna-se

“harmoniosa” e com significado após várias reformas da consciência humana.

Rybczynski (2002), arquiteto, em sua obra Casa: pequena história de uma idéia, faz

um relato histórico-antropológico sobre a habitação e a função da casa ao longo dos

séculos, descrevendo os ambientes, móveis e objetos, e o significado de conforto.

Inicialmente, no século XIV, a casa era um local de moradia e trabalho, as salas

possuíam múltiplas funções, desde escritório, cozinha e dormitório. Os cômodos

possuíam poucos móveis e os mesmos não tinham funções específicas. O convívio

era coletivo entre patrões e empregados, não se conhecia privacidade e conforto.

Na Idade Média, a função estava ligada com utilidade imediata, ou seja, um mesmo

móvel ou cômodo tinha várias funções, o que dificultava pensar em melhorias

funcionais, principalmente do ambiente doméstico.

No século XVII, lentamente, as condições da vida doméstica começaram a mudar. A

casa burguesa típica abrigava mais de uma família e sua estrutura parecia um

prédio de apartamentos. Nesse período, a idéia de privacidade e domesticidade

começou a surgir, à medida que moradia e trabalho separavam-se, deixando de

ocupar o mesmo local, bem como patrões e empregados. Era um ensaio de casa

como ambiente de privacidade, de intimidade e de vida familiar na consciência

humana.

Terreno: o ambiente da velhice no país 27

No século XVIII, viveu-se o início da transição da moradia feudal, pública, para a

casa de família, particular. A presença dos filhos e o isolamento dos criados

reforçaram a consciência humana sobre o ambiente e a família. E o conceito de

conforto que originalmente não significava “prazer e satisfação” adquiriu o sentido de

bem-estar físico.

Com a consciência humana de valorização e importância da casa e da família,

outros conceitos e valores surgem em conjunto, como a domesticidade,

comodidade, eficiência, bem-estar e o maior reconhecimento do conforto.

Schmid (2005) reforça a idéia de conforto como algo ligado às estruturas físicas do

ambiente e ao contexto psicológico: as experiências passadas, a imaginação e os

sonhos, de relevância para o conforto ambiental e, se não compreendidos, capazes

de tornar a existência intolerável.

Assim também, é fundamental a valorização dos sentidos e das emoções na

exploração e interação com o ambiente. Eles servem como mediadores e

responsáveis pelas sensações, sejam agradáveis ou não, como conforto, segurança,

prazer, desânimo ou rejeição. A visão, a audição, olfato, tato e paladar – sentidos

que constantemente transmitem informações internas e externas para a consciência

humana, interligados a outros sentidos, permitem uma maior interação com o meio.

A pressão, a dor, o frio e o calor se associam ao tato. O equilíbrio, associado à

audição, utilizando o labirinto, permite ao corpo se manter de pé ou deitado. E a

propriocepção, que permite a localização das partes do próprio corpo no espaço

tridimensional.

Para Tuan (1980), o ser humano percebe o mundo simultaneamente através de

todos os sentidos. Experiencia e apreende a realidade dos objetos e a estruturação

do espaço pela movimentação, contato e manipulação.

Cérebro, mente e corpo trabalham em conjunto interagindo com o meio, nos

enviando informações, emoções, sentimentos. Sentimentos e emoções que,

segundo Damásio (1996), são indispensáveis para a racionalidade e são os

sensores para o encontro, ou falta dele, entre a natureza e as circunstâncias.

Terreno: o ambiente da velhice no país 28

Natureza que se refere tanto àquela que herdamos, como conjunto de adaptações

geneticamente estabelecidas como à que adquirimos por via do desenvolvimento

individual através de interações com o ambiente social, quer de forma consciente e

voluntária, quer de forma inconsciente e involuntária.

Por meio dessas interações do organismo com o meio fazemos as interpretações do

mundo que nos cerca e experimentamos e construímos o nosso ambiente,

personificando-o como espelho de nossa vida e lhe emprestando uma identidade

nossa. Identidade que se materializa em cada traço, em cada marca deixada nas

paredes, [...] testemunhas de uma história aplaudida, negada, acolhida, enfim,

vivida.

Penetrar no terreno da velhice é percorrer todas essas trilhas. Terreno acidentado,

sinuoso, repleto de desafios: é preciso explorar, criar atalhos, aplainar, planejar, para

que a construção resista às intempéries.

ProjetoPor que planejar?

Projeto: Por que planejar? 30

Qual é o lugar mais importante da sua casa? Eu acho que essa é uma boa pergunta para início de uma sessão de psicanálise. Porque quando a gente revela qual é o lugar mais importante da casa, a gente revela também o lugar preferido da alma.

Rubem Alves

O estudo do ambiente domiciliar objetiva complementar a intervenção junto ao

idoso, atuando em outras áreas que são fundamentais para seu desempenho.

Considerando-se a capacidade funcional3, as adaptações ambientais para melhor

acessibilidade e conforto, que favorecem a manutenção da independência4 e

autonomia5 do idoso, prevenindo o abandono das atividades, proporcionando bem-

estar e continuidade das relações afetivas e sociais. Além de permitir seu

crescimento pessoal.

Nesse contexto, inicia-se a discussão da importância de um planejamento e

adequação do ambiente que levem em conta as necessidades das pessoas, visto

que o ser humano sofre mudanças gradativas nos diversos sistemas orgânicos que

comprometem seu conforto e melhoria de vida. Considera-se ainda que a pessoa

idosa pode passar mais tempo em sua casa e que os acidentes provenientes de

planejamento e projeto inadequados, posteriormente, podem se transformar em

gastos com hospitalização e previdência, desgaste familiar e privações físicas,

afetivas, sociais e espirituais.

Portanto, projetos acessíveis com modificações e adaptações ambientais, mesmo

que aumentem o custo final da construção ou reforma, serão compensados por uma

economia a médio e longo prazo para o usuário e para o governo.

3 Nas ciências médicas, define-se quanto ao grau de preservação da capacidade de realizar atividades básicas de vida diária ou de auto-cuidado (AVD) e ao grau de capacidade para desempenhar atividades instrumentais de vida diária (AIVD) apresentados pelo indivíduo. Exemplos da capacidade de desempenhar as AVD são: arrumar-se, vestir-se, comer, fazer toalete, tomar banho, realizar transferência e locomover-se. As AIVD podem ser exemplificadas por: fazer compras, pagar contas, manter compromissos sociais, usar meios de transporte, cozinhar, comunicar-se, cuidar da própria saúde e manter a própria integridade e segurança (NERI, 2001). 4 Capacidade de realizar atividades da vida diária sem ajuda (PAVARINI; NERI, 2000). 5 Autogoverno, liberdade para agir e para tomar decisões. É liberdade individual, privacidade, livre escolha, auto-regulação, independência moral, liberdade para experienciar o self e a harmonia com os próprios sentimentos e necessidades (PAVARINI; NERI, 2000).

Projeto: Por que planejar? 31

Segundo Perracini (2002), os ambientes devem ser planejados objetivando a

promoção e encorajamento da independência e autonomia, de forma que uma

melhoria de vida possa ser oferecida a todos os indivíduos, sejam parecidos ou não

com a maioria. A mesma autora expressa que “o ambiente domiciliar tem um papel

fundamental na nossa qualidade de vida e no nosso bem-estar”.

Rybczynski (2002, p.223) considera ainda que, “o bem-estar doméstico é uma

necessidade humana fundamental, que está profundamente enraizada em nós e que

precisa ser satisfeita”, o que permite e revela uma sensação caseira, de intimidade,

de privacidade, de domesticidade e de um ambiente aconchegante.

O ambiente domiciliar deve ser prático, valorizando a simplificação e funcionalidade,

respeitando os aspectos culturais e psicossociais, como a identificação do idoso com

esse ambiente e a manutenção de sua privacidade (HASSELKUS, 1998). Ou seja, o

ambiente deve proporcionar conforto, segurança e acessibilidade, mas sem perder o

foco da individualidade, já que somos seres de desejo acima de tudo.

Em um estudo internacional que associa a modificação ambiental e a capacidade

funcional dos idosos foi verificado que a inacessibilidade representa um potencial

problema de saúde, ameaça à independência e ao bem-estar de idosos

(IWARSSON; ISACSSON, 1997). Em outro, o uso de modificações arquitetônicas

demonstrou que seus usuários eram mais independentes que os não usuários,

considerando uma substancial necessidade de modificações ambientais na casa dos

idosos incapacitados (FOX, 1995).

No Brasil, um estudo realizado no ambiente domiciliar de idosos atendidos em um

programa de assistência domiciliária ao idoso do município de São Paulo, verificou-

se que a média de tempo de moradia nos domicílios investigados foi de 20,42 anos,

sendo o mínimo de 1 (um) ano e o máximo tempo de moradia de 60 anos. Em

relação ao tipo de moradia: 41,7% residia em sobrado, 25% em casa térrea, 33,3%

em apartamento. Quanto à realização de modificações no ambiente domiciliar,

62,5% dos domicílios investigados já havia realizado alguma adaptação, como a

colocação de barras de apoio lateral no box e vaso sanitário, tapete antiderrapante,

e a retirada de tapetes na área de circulação. Contudo, os domicílios investigados

Projeto: Por que planejar? 32

apresentaram importantes limitações e poucas modificações ambientais (MENDES,

2005a).

Assim, torna-se importante ter conhecimento das habilidades do idoso, para resolver

as dificuldades práticas e funcionais, mas principalmente dos desejos e da relação

afetiva sujeito/meio ambiente, para que possa ser desenvolvido um projeto que

minimize suas dificuldades, possibilitando a aceitação do uso das adaptações, a

satisfação do idoso e da família e a manutenção do controle do idoso sobre a própria

vida.

Planejando o ambiente domiciliar

O ambiente domiciliar abrange características físicas, sensoriais, cognitivas,

afetivas, espirituais e funcionais, que interagem constantemente com o ser humano

em seu cotidiano durante as suas relações e atividades.

Com o aumento da população de idosos, inicia-se um processo de reflexão e

discussão sobre a importância de se planejar e adaptar os ambientes de forma que

pessoas de todas as idades e/ou com limitações funcionais temporárias ou

definitivas possam ter um acesso possível e relação saudável e de conforto com o

ambiente. Corroborando o que Baldwin, citado por Rybczynski (2002, p.234), já

havia definido conforto como: “um cômodo ou lugar que funciona para mim e para

meus convidados”.

As relações sociais se estabelecem independente do aspecto físico das pessoas,

permitindo o convívio e a criação de laços afetivos entre crianças, idosos, obesos,

gestantes, pessoas muito altas ou baixas e com limitações físicas, sensoriais e

cognitivas. Discute-se a valorização de se pensar um ambiente que promova e

proporcione conforto, segurança, atividade e visitabilidade6 a todos.

No entanto, a proposta de adequação ambiental deve permear e obedecer ao desejo

do idoso de manter o controle pessoal sobre si e sobre o ambiente. Manter as

6 Conceito ampliado de acessibilidade que significa o direito de visitar outras pessoas, o direito de conviver com amigos que escolhemos por identidades de pensamento, de afeto e não por condições físicas semelhantes (LICHT, 2004).

Projeto: Por que planejar? 33

características de um ambiente acolhedor e estimulante é fator que se manifesta

positivamente na auto-estima e auto-manutenção.

Perracini (2006) assinala que muitos idosos são capazes de reconhecer as

dificuldades relacionadas ao manejo do ambiente. Mas que a aceitação de

modificações individualizadas, que colocam em realce os prejuízos advindos do

envelhecimento, depende de aspectos subjetivos e culturais.

As principais razões dos idosos menosprezarem os riscos e não adaptarem seus

ambientes, segundo a mesma autora, são: a preocupação com a aparência estética

e o desconhecimento de como as adaptações ambientais podem tornar suas vidas

mais fáceis. Preferem, geralmente, mudar seu comportamento em vez de mudar o

ambiente. Como por exemplo, diminuindo a freqüência de banhos, fazendo lanches

em lugar das refeições e restringindo-se a determinados cômodos ou isolando-se.

Bem como aceitam a ajuda de terceiros, como cuidadores e familiares, em vez de

modificar o ambiente ou fazer aquisição de equipamentos de auto-ajuda.

No entanto, outros fatores são importantes e merecem ser questionados e

investigados na situação de negação e menosprezo em relação às modificações e

adaptações, como: o não poder de decisão do idoso sobre as questões da família e

da casa; a condição econômica para aquisição dos dispositivos de ajuda ou para

realizar reformas residenciais; o desgaste emocional na lida com os profissionais; a

falta de conhecimento dessas possibilidades e recursos e/ou simplesmente por não

desejarem.

Todos os cômodos devem ser objeto de atenção durante uma avaliação e

planejamento do ambiente utilizado pelos idosos, considerando-se a simplicidade e

a funcionalidade, desde o acesso exterior (entrada) à iluminação, os pisos, as

portas, as escadas, os degraus, assim como o mobiliário nele contido. Mas,

principalmente é preciso respeitar e saber ouvir os desejos e as necessidades de

cada “ser idoso”.

Projeto: Por que planejar? 34

A necessidade de um novo saber

A superação dos tradicionais saberes sobre a velhice e o processo do

envelhecimento é uma tarefa difícil de ser executada, mas necessária para o

crescimento científico, profissional e pessoal. Afinal, todos somos o alvo e os

beneficiados por novos estudos sobre o envelhecimento. Porque falar do ambiente

físico, principalmente do domiciliar - historicamente conhecido como “Doce Lar” -, é

falar de um pedaço de cada sujeito.

Construímos, reformamos, modificamos, adaptamos o ambiente de acordo com

nossos desejos, necessidades, fases da vida, momentos pontuais como a infância, a

adolescência e a fase adulta, considerando-se muito mais a estética e o modismo,

“esquecendo”, às vezes, de preparar o ambiente para as novas mudanças, como as

exigidas pela velhice, que como as demais fases da vida necessita de um ambiente

confortável e seguro.

No entanto, a negação da velhice, segundo Mendes (2005b), faz com que ao pensar

em ambiente adaptado e acessível ao idoso se pense em dependência. Mas é

razoável que se pense em modificar e adaptar o ambiente onde vive o idoso com o

objetivo de prolongar sua capacidade de realizar as atividades com independência,

autonomia e prazer, visando sempre seu bem-estar.

O grande desafio é repensar o ambiente para os nossos avós, pais, filhos, netos e

nós mesmos. É projetar o futuro, respeitando o passado e o presente, e proporcionar

a construção de um ambiente para uso e benefício de todos, sem aparência

estigmatizante. A casa como uma segunda pele, que se renova naturalmente após

cada descamação - a renovação celular, acompanhando a permanente

transformação do corpo, que se apresenta em cada sujeito de maneira única e não

linear.

O foco desta pesquisa é o ambiente domiciliar, buscando uma reflexão sobre a

influência desse ambiente na vida do ser idoso, tomando por base e referência as

necessidades relacionadas aos fatores biológicos, psicológicos, sociais e

ambientais. Sem desmerecer nenhum, busca-se contemplar a todos na construção

Projeto: Por que planejar? 35

da relação entre o meio e o sujeito e na realização de projetos de intervenções no

meio construído por qualquer área da ciência.

Contextualização

Este estudo com abordagem quantitativa e qualitativa permite uma riqueza na

construção do saber, a partir de uma investigação com entrevista semi-estruturada

(MINAYO, 2000) constituída de perguntas fechadas e abertas. A escolha desse

instrumento permite que o entrevistado tenha a possibilidade de discorrer o tema

proposto, sem respostas ou condições pré-fixadas pelo pesquisador, possibilitando

que a fala seja reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas

e símbolos.

Com o objetivo de contextualizar as teorias e hipóteses, a pesquisa demandou uma

coleta de dados e informações com os atores do processo de envelhecimento,

possibilitando a construção de um cenário constituído de identidade,

particularidades, saberes, cultura e significados.

Geertz (1989, p.4) interpreta essa rede de elementos, acreditando que,

O homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas uma ciência interpretativa, à procura do significado.

O saber norteia e dá sentido à existência humana num jogo de influências entre o

indivíduo e o meio – as experiências – que se integram e alimentam a construção de

novos saberes.

A primeira etapa da pesquisa foi o levantamento da bibliografia pertinente, a partir da

literatura existente em artigos, teses, dissertações, revistas, periódicos, livros,

manuais, normas, sites sobre o tema - específicos e afins - nos idiomas português,

inglês e espanhol, e em diversas áreas do conhecimento, especialmente na

Gerontologia, Engenharia, Literatura, Arquitetura e Terapia Ocupacional. Seleção,

análise crítica, reflexões e articulações que contribuirão para a construção do saber

gerontológico em relação ao morar na velhice.

Projeto: Por que planejar? 36

Para esta construção, diversos autores foram chamados. Entre eles, Aloísio L.

Shcmid, engenheiro mecânico, que estuda a relação do conforto a

Projeto: Por que planejar? 37

O primeiro contato foi realizado em Julho/2006, com a responsável pela

Programação Esportiva do Sesc, para esclarecimento da intenção da pesquisa,

assim como a possibilidade e as condições necessárias para sua realização, os

objetivos e a metodologia empregada.

Em outubro, após a entrega do Parecer sobre os aspectos éticos em pesquisas em

seres humanos (Anexo A), realizado pelo Comitê de Ética do Programa de

Gerontologia da PUC-SP, decidiu-se o critério para a seleção: convite verbal ao

grupo de idosos que participava de uma oficina ministrada pela pesquisadora nesse

período (outubro/2006). Explicou-se o objetivo das entrevistas e a importância da

pesquisa para a sociedade e a população que envelhece.

Ao final do último dia da Oficina, solicitou-se às pessoas interessadas e dispostas a

colaborar com a pesquisa que anotassem na folha entregue pela pesquisadora,

nome, telefone, e o dia que lhes fosse conveniente para agendamento da aplicação

do questionário.

O total de interessados inicialmente foi de 12 participantes, sendo apenas um do

sexo masculino, que no momento de agendar as entrevistas, desistiu, alegando

motivos de trabalho (revendedor de livros, que requeria a visita aos clientes), e de

tempo dedicado aos cuidados com o irmão, vítima da doença de Alzheimer.

Após o agendamento, novas desistências ocorreram por razões ligadas a problemas

de saúde. Uma da própria idosa, e no outro caso, do cônjuge.

Na ocasião também se realizou contato com uma das participantes da Oficina que

havia demonstrado interesse em participar, mas que havia faltado no último dia da

Oficina. O convite e agendamento foram aceitos.

Ficamos com um grupo constituído por 10 idosas com idades entre 62 e 81 anos.

As entrevistas foram realizadas entre nove de novembro/2006 e vinte e oito de

novembro/2006 nas dependências do Sesc - Unidade Consolação, sem ambiente

definido para a aplicação dos questionários. As participantes aguardavam a

entrevistadora em local previamente combinado com a mesma. O espaço para as

entrevistas era cedido de acordo com a disponibilidade de espaço livre na Unidade

Projeto: Por que planejar? 38

naquele dia e horário. Utilizamos consultórios médicos, salas de espera e sala de

atividades. O barulho da reforma da Unidade e dos freqüentadores e funcionários

em suas atividades foram as interferências durante as entrevistas, mas superadas

pela colaboração e compreensão da situação pelas participantes.

As entrevistas tiveram uma duração média de 35 minutos e seguiram uma dinâmica

pré-estabelecida pela pesquisadora: leitura e aceite do Termo de Consentimento

Esclarecido (Apêndice B), garantindo seu anonimato, seguido da aplicação do

instrumento pré-elaborado (Apêndice A) e, ao término, o esclarecimento dos

objetivos da pesquisa, a fim de evitar a contaminação prévia das respostas.

O instrumento para a coleta de dados foi a entrevista semi-estruturada (MINAYO,

2000) constituída de perguntas fechadas (ou estruturadas) e abertas. Na construção

foram utilizados instrumentos já elaborados que tivessem questões pertinentes ao

assunto e pudessem ser adaptadas, assim como a experiência anterior da

pesquisadora para a construção das questões fechadas. As abertas surgiram dos

questionamentos e da inquietação para ouvir os sujeitos, suas opiniões, sua

subjetividade, os valores e os significados em torno do objeto de estudo.

A partir de discussões e adaptações sobre as questões a serem pesquisadas,

definiu-se o Instrumento, que contempla os dados sócio-demográficos,

caracterização do domicílio, caracterização da relação sujeito X habitação, dados

clínicos, bem como a apreensão de informações sobre as relações complexas que

envolvem a velhice e seu ambiente domiciliar.

O instrumento permite a obtenção de dados quantitativos e qualitativos, o primeiro

expressando os valores estatísticos e o segundo contextualizando os números com

os depoimentos e narrativas dos próprios sujeitos (MINAYO, 2000).

O recurso utilizado para coletar as respostas abertas – as narrativas - dos

entrevistados foi a técnica do gravador. Instrumento manuseado pela pesquisadora

para obtenção dos dados e transcrição na íntegra das narrativas, preservando ao

máximo a originalidade e fidedignidade das mesmas e realizando correção quando

necessário para proporcionar ao leitor uma melhor compreensão do assunto.

Projeto: Por que planejar? 39

Às vezes era preciso repetir-lhes o que elas mesmas diziam, e assim tinham

oportunidade de repensar e refletir sobre a questão central da pesquisa: a

necessidade de planejar o ambiente em relação à longevidade.

Entende-se que as falas contínuas transmitam a riqueza da sabedoria e a reflexão

dos idosos sobre assuntos antes temidos ou não questionados, de forma expressiva

e espontânea.

A primeira etapa para a análise dos dados foi a montagem de um banco de dados

(questões fechadas), utilizando-se o software SPSS 12.0 for Windows (Statistical

ConstruçãoOs moradores

Construção: os moradores 41

As pessoas são o que são em todos os seus aspectos.

Doris Lessing

O perfil sócio-demográfico e econômico

O estudo foi realizado com 10 sujeitos do sexo feminino, a partir de 62 anos.

Esse fato reflete o fenômeno da feminização da velhice, uma característica da

população idosa, inclusive no Brasil (KALACHE, 1998), onde as mulheres vivem, em

média, oito anos a mais que os homens (IBGE, 2002), e mais do que eles participam

de atividades e grupos da terceira idade.

Segundo o Censo 2000, as mulheres correspondiam a 54% da população de idosos

em 1991 e, 55,1% em 2000. Essa relação entre envelhecimento e gênero

fundamenta-se nas mudanças sociais e culturais ocorridas ao longo do tempo e nos

acontecimentos naturais do ciclo da vida.

Em relação à idade das entrevistadas, a média foi de 70 anos, sendo a idade

mínima de 62 anos e a máxima de 81 anos.

Quanto à nacionalidade, nove são brasileiras, das quais sete naturais do estado de

São Paulo. Em relação à raça/cor, todas se consideraram brancas e quanto à

religião, oito eram católicas (Tabela 1).

No que se refere ao estado civil, a maior parte do grupo é constituída de idosas

solteiras (quatro) e viúvas (quatro), o que poderá se refletir na composição do núcleo

de pessoas residentes no domicílio, considerando que cinco residem sozinhas e

quatro residem com mais uma pessoa. São achados que corroboram os dados do

Censo 2000 apresentados anteriormente (IBGE, 2002).

Construção: os moradores 42

Tabela 1 – Características sócio-demográficas do grupo estudado

Características sócio-demográficas NNacionalidade Brasil 09

Israel 01

Naturalidade São Paulo 07Rio de Janeiro 01Minas Gerais 01

Raça/Cor Branca 10

Religião Não tem 01Católica 08Israelita 01

Ao analisar o grau de escolaridade, verifica-se que a maioria das participantes

possui curso superior/graduação (sete), o que pode ser um indicativo na escolha e

realização de suas profissões, que ocorreram principalmente na área de educação

(Tabela 2).

Tabela 2 – Caracterização das atividades ocupacionais anteriores do grupo estudado

ProfissãoN

Assistente Social 01Auxiliar de Contabilidade 01Diretora de Escola 02Professora 01Professora Universitária 01Secretária 02Secretária Executiva 01Socióloga 01

De acordo com os dados do IBGE (2002), na década de 30 até os anos 50, o ensino

fundamental ainda era restrito a segmentos sociais específicos, e a escolaridade

média também apresentava um baixo saldo resultante da desigualdade no acesso à

educação.

No caso dos idosos responsáveis pelo domicílio, no período de 1991/2000, os

índices apresentaram melhorias, mostrando aumentos significativos na proporção de

alfabetizados e no nível de escolaridade, dados que confirmam os resultados obtidos

no grupo estudado, que caracterizamos como privilegiado. Visto que, de acordo com

o Censo 2000, a escolaridade dos idosos é baixa, principalmente entre as mulheres.

Construção: os moradores 43

Resultado atribuído às características da sociedade e das políticas de educação

prevalecentes na década de 30 e 40, quando o acesso à escola ainda era muito

restrito.

Em relação à atividade ocupacional anterior a aposentadoria, constatamos que

todas se aposentaram nas respectivas funções/profissões e atualmente não

exercem mais atividades remuneradas.

Quanto à renda, sete entrevistadas recebem aposentadoria entre 6 a 10 salários

mínimos, renda avaliada como suficiente por oito das participantes. Atentando-se

para o fato de que a maioria é viúva e solteira. As demais, que consideraram a renda

insuficiente recebem ajuda do cônjuge e da filha.

O perfil da habitação

A descrição da casa pelas entrevistadas revela a composição física/estrutural

(cômodos) do domicílio (Tabela 3) e, principalmente, a relação existente entre a

casa e a moradora.

Tabela 3 – Características da composição física/estrutural das casas do grupo estudado

Composição da casa N

Dormitórios 2 dormitórios 033 dormitórios 07

Cozinha - 10

Sala Padrão* 04Ampla** 06

Banheiro 1 banheiro 032 banheiros 07

Área de Serviço Sim 06Não 04

Dependência de empregada + banheiro Sim 09

Não 01

*, **: Referência citada pelas entrevistadas.

Construção: os moradores 44

Nas falas, afloram os desejos e sentimentos de satisfação pela conquista da casa

própria, às vezes acompanhados de referência a algum item que é causa de

desconforto ou descontentamento.

Sempre sonhei morar nesse prédio, mas na época só consegui no primeiro andar. A única coisa que eu não gosto é ser primeiro andar. Mas é um apartamento muito amplo, mas apesar disso gosto muito. (AMDG, 69 anos)

Apartamento no 14º andar, último andar. Adoro meu apartamento, tem uma vista maravilhosa para as montanhas e serras. Moro há 40 anos, mas infelizmente estão começando a construir prédios em frente à montanha. Mas ainda vejo a natureza, anoitecer, amanhecer, adoro o lugar. Me sinto muito, muito bem. [...] Olha eu estou feliz lá. (JS, 79 anos)

Quanto ao tipo de moradia, o apartamento é o mais ocupado pelas entrevistadas

Construção: os moradores 45

aquisição da casa própria, ter um apartamento menor por morar sozinha e para ficar

mais perto dos familiares. Não se observou associação com a questão do

envelhecimento em nenhuma das respostas.

Os desejos de mudança, bem como o de permanência em suas casas atuais estão

explícitos nas falas:

Sim, mudar de andar, mas gostaria de continuar naquele mesmo prédio. Pois andar de baixo não bate sol. (AMDG, 69 anos)

Sim, porque a casa é muito grande e eu moro sozinha. E mudaria para ficar mais perto dos filhos. (VCS, 81 anos)

Sim. Morar em um apartamento menor. (MM, 65 anos)

Sim, mas ela não é minha. Se não eu já teria reformado. Talvez nem mudaria de casa, porque o bairro é ótimo, já estou acostumada. Mas o problema é esse, tem que fazer muita reforma e não está a meu gosto, a casa. A casa é muito dividida, e tem que fazer várias reformas. (CRG, 65 anos)

Não. Estou feliz da vida. Só se ficar doente pra sair de lá e ir para uma casa de repouso se eu não puder cuidar de mim mais. (JS, 79 anos)

Não. Já mudei muito. (MSS, 71 anos)

As falas de algumas das entrevistadas (CRG e MSS) corroboram o que outras

pesquisas vêm assinalando. No Brasil, segundo Carli (2004), as pessoas idosas

querem viver na casa em que estão acostumadas e não desejam mudar-se. A

aquisição da moradia própria é, culturalmente, o maior desejo e o bem máximo que

as pessoas almejam, e, na grande maioria dos casos, é o maior valor que adquirem

ao longo da vida.

Em sua pesquisa, a mesma autora constatou que 82% dos idosos entrevistados

consideravam a sua casa adequada para viver o resto da vida, que 72% não

gostaria de mudar de casa e que 66% se precisasse de assistência para as

atividades diárias permaneceria em casa e arrumaria alguém para ajudar (CARLI,

2004). Ou seja, após a aquisição desse bem, construído ao longo de suas vidas, os

idosos tendem a uma reduzida mobilidade residencial.

AlicerceEnquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente

Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 47

Ninguém morre por estar velho ou ser velho, mas por estar vivo. Morrer como velhos, mas não de velhos.

Mitologia Grega – Satuno e Cronus

O quarteto ambiente, homem, conforto e atividade processa uma relação

intrínseca e harmoniosa entre os sentidos, os sistemas do corpo humano, os

estímulos ambientais e os desejos. Trocas constantes e mútuas permitem a criação

de espaços de relacionamentos afetivos, prazerosos, sociais, laborais e de

segurança no cotidiano.

Com o envelhecimento, ocorre para muitos a redução das capacidades – motoras,

sensoriais e cognitivas - rompendo a harmonia do quarteto, comprometendo o

desempenho funcional do indivíduo e suas relações afetivas e prazerosas com o

meio.

Para Tuan (1980, p.14), “embora todos os seres humanos tenham órgãos dos

sentidos similares, o modo como suas capacidades são usadas e desenvolvidas

começa a divergir numa idade bem precoce”. É que os sentidos são também

estimulados pelas experiências, desejos e afinidades, possibilitando as diversas

visões de mundo e de interações com o meio e com os demais seres.

Nesta pesquisa investigamos então o comprometimento da vertente saúde, quanto

aos sentidos e sistemas do corpo humano em interação com o meio domiciliar, onde

se arquitetam ações, desejos conscientes ou não, sonhos de conforto e bem-estar.

Assim como as capacidades sensoriais vão se diferenciando de ser para ser ao

longo da vida, como nos falou Tuan anteriormente, os comprometimentos também

agregam matizes diferenciados, entre os quais o estilo de vida, que é uma das

marcas de individualidade e identidade.

Com os sentidos

Sentimos e percebemos o mundo através dos sentidos: o cheiro, o gosto, a cor, a

textura, os sons, e todas as demais formas de sensações que os órgãos dos

Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 48

sentidos nos permitem, e que possibilitam ver os pássaros, sentir os cheiros e

aromas, ouvir as vozes das pessoas queridas e as músicas, sentir o calor do sol e

saborear as comidas favoritas... Mas, assim como todos os demais sistemas do

nosso organismo, eles também são finitos e sofrem algumas alterações, em graus e

tempos variados, acompanhando a genética, o ritmo e o estilo de vida de cada ser

humano.

Ver

Eu acho duas coisas, que eu rezo para não ter: ser esquecida e não ter os pés para andar. É essencial ver, sentir as coisas. E não ter dor. Pois, ter dor na velhice é de lascar. (MSS, 71 anos)

O ser humano percebe o mundo simultaneamente através de todos os sentidos, mas

a visão é, provavelmente, o sentido mais valioso e explorado para a maioria das

pessoas na sociedade contemporânea. Assim também se configura para a maioria

das entrevistadas (oito) que apresentam comprometimentos na visão, e por isso

recorrem a recursos e correções como cirurgias, uso de óculos e colírios, para não

perderem as informações precisas e detalhadas, o brilho e as cores do mundo.

As alterações visuais podem impedir ou dificultar a independência do idoso na

realização de suas atividades diárias, lazer e nas relações sociais. A diminuição da

acuidade visual, do campo visual periférico e da acomodação interfere na noção de

profundidade, na discriminação de cores, especialmente do espectro azul/verde, na

capacidade de se adaptar ao ofuscamento e a lentidão na adaptação ao claro-

escuro são as principais alterações sensoriais da visão (PERRACINI, 2006).

Por volta dos 60 anos, há uma redução em torno de 66% da quantidade de luz que

chega à retina, e como conseqüência, ocorrem alterações que exigem algumas

adaptações no cotidiano e no ambiente. As principais implicações da relação visão e

ambiente estão em discriminar detalhes de objetos próximos e rostos; percepção de

degraus, quinas e pés de móveis, objetos no chão e fios de telefone; dificuldades

para a leitura; dificuldade para discriminar sombras e cantos; dificuldade na

acomodação rápida para mudanças de ambientes com diferentes luminosidades,

principalmente à noite, necessitando de maior iluminação e sinalização nos

ambientes; dificuldade com pisos desenhados, degraus, escadas, ambientes com

Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 50

A privação sensorial pode trazer, ainda, como conseqüências, a privação social e

problemas emocionais, como tristeza, isolamento, depressão e sensação de

incapacidade.

Para oferecer um maior conforto acústico aos idosos, os ruídos indesejáveis devem

ser eliminados, o que favorecerá bem-estar em seus ambientes, melhora da

inteligibilidade nas comunicações, prevenindo-se atitudes nocivas como o

desinteresse e o isolamento social.

Em relação ao ambiente, a distribuição e disposição dos móveis e objetos de

decoração auxiliam no isolamento e absorção sonora, como o uso de biombos e

painéis feitos de tapeçaria, pintura em tela, montagens com isopor, feltro ou cortiça,

que podem ser realizados pelos próprios idosos, estimulando a criatividade e

melhorando a auto-estima por personificar o seu ambiente. Outra medida facilitadora

é a colocação de cadeiras e sofás próximos, favorecendo a comunicação verbal e

visual, através da leitura das expressões faciais e corporais.

Cheirar

O olfato, como os demais sentidos, permite a evocação de respostas rápidas e

frequentemente inconscientes. Sentir cheiros familiares estimula a memória a

recordar experiências, acontecimentos e pessoas, lembranças vívidas carregadas

emocionalmente. Na pesquisa, duas entrevistadas relataram queixas olfativas, que

podem comprometer as lembranças e experiências sensoriais, consequentemente

dificultar o evocar e o recordar de eventos que reforçam os laços afetivos com seu

ambiente, seu lar.

Com o envelhecimento a função do olfato também sofre alterações. Começa a

apresentar uma perda, principalmente após os 80 anos, caracterizada por

dificuldades para identificação de odores do cotidiano, corporais e ambientais, tanto

os estimulantes e convidativos quanto os desagradáveis, como urina, gás, fumaça e

alimentos estragados. Ocorre ainda o declínio do limiar de sensibilidade e o aumento

do tempo de adaptação olfativa7 (VIUDE, 1996; PERRACINI, 2006).

7 Adaptação Sensorial é a sensibilidade decrescente a um estímulo inalterável, diminuição da percepção ao estímulo.

Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 51

O déficit da função olfativa pode colocar ainda em risco a saúde e a segurança dos

idosos, sendo importante compensar essas perdas através de estímulos dos outros

sentidos, principalmente a visão e a audição, apresentando comidas visualmente

atraentes e apetitosas, detector sonoro e visual de fumaça e de gases, e uso de

superfícies e recipientes impermeáveis para combater os odores domésticos

desagradáveis, como restos de comida, gorduras e excrementos.

Saborear

Contrapondo as questões anteriores, o sentido do paladar não foi referido por

nenhuma das entrevistadas. No entanto, com o avanço da idade, o paladar sofre

algumas alterações, influenciadas pela diminuição da saliva e perda da dentição,

que contribuem para uma adequada e confortável mastigação e digestão dos

alimentos.

O paladar apresenta, também, uma tendência à diminuição da capacidade para

perceber o doce e o salgado, enquanto o ácido e amargo permanecem inalterados

(VIUDE, 1996). Há um declínio da sensação gustativa que provoca desinteresse

pelos alimentos e conseqüências como perda de peso, desnutrição, anemia e

aumento da suscetibilidade ao desenvolvimento de doenças.

A diminuição da saliva provoca ainda a halitose (mau hálito), que gera desconforto e

tendência ao isolamento social. Reforça-se dessa forma a importância da saúde

bucal, que ao minimizar esse efeito contribui para a manutenção da auto-estima,

pois permite relações sociais saudáveis e prazerosas.

Em relação ao ambiente domiciliar, as alterações do paladar não têm uma influência

direta. Porém, dada à interligação dos sentidos, há que considerar que um ambiente

confortável, limpo, organizado e refeições com odor e aspecto convidativos

estimulam o paladar. Por outro lado, se o idoso adoece, o desinteresse pelas

refeições, assim como desorientação e agitação podem ser influenciados, também,

pelo ambiente. Pois, os ambientes com espaços de circulação reduzidos e pouco

tranqüilizantes inibem o desejo de realizar refeições.

Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 52

Tocar

O tocar favorece a experiência das formas, texturas, temperaturas, tamanho,

espaços, detalhes, assim como as sensações de dor, pressão e toque, através do

contato físico das mãos e dos dedos – da pele.

Pele que se encontra comprometida em uma das entrevistadas. Com o

envelhecimento a pele torna-se mais seca, com menos pêlos e mais fina, pela

diminuição da camada de gordura subjacente, aumentando a incidência de

hematomas e pruridos. A diminuição dos receptores sensoriais, dos dermátomos e

dos neurônios aumenta a suscetibilidade à dor e eleva a sensibilidade tátil nas mãos

e na sola dos pés (HERLIHY; MEBIUS, 2002; PERRACINI, 2006).

A monitoração do ambiente domiciliar e sua adequação tornam-se necessárias e

importantes para evitar os riscos de acidentes como: ferimentos por corte na

manipulação de eletrodomésticos e utensílios pontiagudos ou ásperos, ferimentos

em paredes rugosas, e traumas provocados por batidas ou pancadas em móveis e

objetos na área de circulação. Devido à redução da sensibilidade tanto para o

quente quanto para o frio, há risco de queimaduras no banho e na cozinha, que

podem ser evitadas mantendo calibrada a temperatura ideal e adotando o uso de

luvas térmicas.

Equilibrar

Quanto ao equilíbrio, três entrevistadas relataram comprometimento. O Sistema

vestibular, responsável pelo equilíbrio, sofre alterações com o envelhecimento,

implicando na dificuldade em lidar com o autodeslocamento, em recuperar o

equilíbrio após movimentos bruscos e em selecionar as informações sensoriais mais

adequadas quando o ambiente oferece pistas conflitantes (PERRACINI, 2006).

Na relação do ambiente com o comprometimento do equilíbrio, tem-se o risco de

quedas como uma das conseqüências mais graves. A dificuldade com apoios

instáveis, como móveis e paredes ou maçanetas de porta, saboneteiras e registro de

água; a dificuldade com armários muito altos e muito profundos e com ambientes

desnivelados são quesitos que requerem atenção e intervenções, bem como a

Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 53

colocação de barras de apoio no banheiro e cozinha, corrimãos em escadas e

rampas e, se necessário, nos trajetos internos da casa.

Com os sistemas

Um grande desafio para a pesquisa sobre o envelhecimento não é apenas acrescentar anos à vida, mas também dar qualidade de vida a indivíduos sadios e dentro do possível, também aos doentes, para que possam manter suas funções cognitivas e sensório-motoras, através da melhora dos mecanismos compensatórios e ambientais.

Cançado e Horta (2006).

A

Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 54

O sistema cardiovascular sofre redução significativa de sua capacidade funcional.

Com o aumento da idade, o coração e os vasos sanguíneos começam a apresentar

alterações morfológicas e teciduais, mesmo sem desenvolver alguma doença.

Segundo Affiune (2006), o conjunto dessas alterações denomina-se de “coração

senil” ou presbicárdia, que se desenvolve de forma diferenciada de indivíduo para

indivíduo. São alterações hemodinâmicas que se caracterizam por redução da

reserva funcional, demonstrada pela diminuição da resposta cardiovascular ao

esforço observado nos idosos durante atividades físicas.

O sistema cardiovascular é um dos mais afetados pela idade. As alterações mais

evidentes são: o espessamento das paredes das artérias, ficando menos elásticas e

mais rígidas, com duas conseqüências principais, a diminuição do fluxo sangüíneo

para os órgãos vitais e o aumento da pressão sangüínea. A superfície interna dos

vasos sangüíneos fica mais áspera em razão das alterações relacionadas ao

envelhecimento da parede do vaso, e do desenvolvimento de placas gordurosas,

resultando em idosos mais propensos a formar trombos, assim como as mudanças

nas válvulas das veias, resultam em idosos mais suscetíveis ao desenvolvimento de

veias varicosas (HERLIHY; MEBIUS, 2002).

Na pesquisa, cinco idosas apontaram doenças do sistema circulatório, como o AVCi

(Acidente Vascular Cerebral Isquêmico), o AVCt (Acidente Vascular Cerebral

Isquêmico - transitório), conhecido popularmente como “ameaça de derrame”, a

Hipertensão Arterial (HAS) e a presença de varizes. Problemas de saúde que,

controlados, permitem ao idoso a realização de suas atividades, às vezes com

apenas algumas mudanças comportamentais e/ou ambientais, como uso de

poltronas com apoio para elevação dos membros inferiores, a fim de melhorar a

circulação sangüínea e adequação das atividades que consomem muita energia e

causam fadiga.

O sistema respiratório, com o processo natural do envelhecimento, pode apresentar

alterações anatômicas e funcionais. Vários fatores podem estar associados e afetar

a função pulmonar ao longo da vida, agravando o processo de envelhecimento,

como o tabagismo, a exposição profissional a pequenas partículas suspensas no ar

Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 55

como minério, madeira, poeiras de grãos, amianto, sílica e vapores de gasolina,

querosene, solvente de tintas, entre outros, a poluição ambiental, as doenças

pregressas ou não, e as diferenças socioeconômicas.

Quanto à presença de doenças respiratórias, observamos que dentre as

entrevistadas, duas relataram apresentar algum problema de saúde, em especial a

sinusite, uma doença com base inflamatória e/ou infecciosa que acomete as

cavidades existentes ao redor do nariz, adquirida após infecção viral, inflamação de

origem alérgica ou por poluentes (MULLER, 2006). E para quem vive em regiões

frias ou com grandes variações climáticas ao longo dos dias ou meses, como a

cidade de São Paulo, o cuidado deve ser mais intenso pela propensão maior à

doença.

A asma, também citada, é caracteriza pela inflamação crônica das vias aéreas, o

Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 56

doenças respiratórias, principalmente pelas alterações climáticas e pela poeira

doméstica. O ambiente deve oferecer condições mínimas para que a temperatura do

corpo se mantenha dentro dos limites de bem-estar térmico, fazendo uso de

ventiladores, janelas com persianas e aquecedores de acordo com a temperatura

local. Assim como evitar cortinas pesadas e realizar limpezas periódicas da casa e

dos eletrodomésticos, para que não haja acúmulo de poeira.

As alterações apresentadas pelo sistema digestório, com o envelhecimento, são

estruturais, de motilidade e da função secretória, variando em intensidade e

natureza em cada segmento.

Algumas alterações do trato digestório são mais evidentes (HERLIHY; MEBIUS,

2002; FERRIOLLI; MORIGUTI; LIMA, 2006), como a diminuição de saliva e de

enzimas digestórias, o que dificulta a digestão e a absorção de vitaminas (vitamina

B12) e minerais (ferro e cálcio) e provoca a diminuição das sensibilidades gustatória

e olfatória, afetando o gosto do alimento e o apetite.

O peristaltismo no esôfago, também alterado, não se inicia durante cada deglutida, e

o esfíncter esofágico inferior relaxa mais vagarosamente, decorrente da perda do

tônus da parede muscular, dificultando a deglutição e causando uma sensação

precoce de plenitude. O peristaltismo lento causa constipação e enfraquecimento do

reflexo de vômito, aumentando o risco de aspiração.

Nesta pesquisa, três das entrevistadas apresentam algum problema no sistema

digestório, como a gastrite, inflamação da mucosa do estômago e o refluxo gástrico,

um conjunto de queixas que acompanha alterações no esôfago resultantes do

refluxo (retorno) anormal do conteúdo estomacal para o esôfago. Como medida para

amenizar os efeitos desse desconforto, algumas pessoas se beneficiam em dormir

em cama elevada na cabeceira, em 20 a 25 cm. No entanto, outras não se adaptam

à nova posição, e ao experimentá-la sentem desconfortos como edema nos pés e

dores nas costas, tornando inviável o uso dessa estratégia.

Segundo Liberman (2006), o envelhecimento provoca algumas alterações no

sistema endócrino, caracterizando-se pelo aumento da incidência de doenças como

Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 57

diabetes mellitus, a associação de falências de mais de um órgão endócrino, e a

apresentação atípica de doenças (hipertireoidismo e hipotireoidismo).

Outras alterações endócrinas relacionadas ao envelhecimento incluem alteração na

secreção, nos níveis circulantes, no metabolismo e na atividade biológica dos

hormônios. As alterações na glândula tireóide causam uma queda na produção dos

seus hormônios, diminuindo o padrão metabólico e a secreção do hormônio de

crescimento, determinando redução da massa muscular e armazenamento de

gordura (HERLIHY; MEBIUS, 2002).

Com o envelhecimento, a quantidade total de água do corpo do idoso diminui,

necessitando de cuidados especiais de hidratação. A temperatura corporal também

deve ser monitorada, devido aos casos de insolação, caracterizada pelo aumento da

temperatura corpórea igual ou maior a 40,5ºC, que ocorre principalmente durante o

verão, com idosos em ambientes sem ventilação adequada. No ambiente quente, o

corpo perde a capacidade de dissipar calor através da radiação e evaporação,

aumentando a temperatura corpórea e desidratando.

Os idosos também estão suscetíveis à diminuição da temperatura, definida pela

temperatura corporal inferior ou igual a 34,4ºC e a temperatura interna do organismo

inferior a 35ºC – hipotermia. As causas principais são a exposição ao frio ambiental,

alterações fisiológicas relacionadas ao decréscimo da perda de calor, medicamentos

e alterações na termorregulação.

O acometimento de alguma doença do sistema endócrino foi referido por duas das

entrevistadas, indicando problemas com a tireóide. Em outras questões (satisfação

com a ventilação e iluminação da casa) observamos a queixa de desconforto

térmico.

[...] então como eu saio muito, eu não sinto muito o inverno, mas a hora que eu começar a ficar mais em casa eu vou precisar de um apartamento mais quentinho. (AMDG, 69 anos)

Queria que fosse mais quente. Apesar de ter aquecedor. (MSS, 71 anos)

Medidas preventivas da hipertermia e hipotermia podem ser adotadas no ambiente

domiciliar, como uso de termômetros para determinar a temperatura ambiente, uso

Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 58

de aquecedores, ventiladores e ar-condicionado de acordo com a estação do ano,

garantindo conforto térmico, e uma ventilação adequada.

O sistema imunológico, por ser um processo adaptativo, interage com vários

componentes dele mesmo e com o meio ambiente e sofre influências dos sistemas

endócrino e nervoso. Sua função é preservar a integridade do organismo, que ocorre

por meio da distinção entre o que é próprio e não próprio do organismo – “memória

imunológica”.

Com o envelhecimento, aumenta de forma direta a suscetibilidade do organismo a

infecções e surgimento de neoplasias, e diminui a habilidade de resposta a uma

infecção recorrente. Assim como a propensão para as doenças auto-imunes, que

aumentam por apresentarem altos índices de anticorpos circulantes contra o próprio

organismo, pelas reações alérgicas e a rejeição de órgãos (VEIGA, 2006; HERLIHY;

MEBIUS, 2002).

Quanto à presença de doenças do sistema imunológico, três entrevistadas

apresentam algum problema, especialmente a alergia, que é uma situação na qual o

organismo apresenta uma resposta imunológica (de defesa) diferente da resposta

protetora esperada, causando alterações indesejáveis. A alergia é uma reação

específica do sistema de defesa do organismo às substâncias normalmente

inofensivas. E dentre os tipos de substâncias que causam reações alérgicas - os

alérgenos – incluem-se os pólens, partículas de pó, esporos de fungos, alimentos,

látex, veneno de insetos e medicamentos.

Segundo Lança (2006b), as doenças alérgicas, de uma maneira geral, têm origem

multifatorial e complexa. Para que se exteriorizem, tem que haver uma combinação

entre a predisposição genética da pessoa e uma situação ambiental favorável.

Dos sistemas, o osteoarticular é o que requer mais atenção, ao observarmos que

oito das entrevistadas apresentam alguma queixa. Osteopenia, osteoporose, artrose

foram os problemas referidos.

Com o envelhecimento, o sistema osteoarticular sofre algumas alterações nas suas

estruturas constituintes, como os ossos, a cartilagem articular, a articulação

Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 59

diartrodial (membrana sinovial + tecido conjuntivo + líquido sinovial) e o músculo

esquelético. Como conseqüência, algumas doenças podem se manifestar, como a

osteopenia, a osteoporose, a doença de Paget9, a artrite reumatóide, a osteoartrite

(artrose), que podem ser acompanhadas de dor, deformidades, instabilidade

postural e alteração da marcha, caracterizada por passos curtos e mais lentos,

arrastos dos pés, diminuição da amplitude de movimento dos braços, que tendem a

ficar mais próximos do corpo. Essas mudanças interferem no equilíbrio, na

capacidade física e influenciam negativamente na vida ocupacional, social e

emocional do indivíduo e na sua qualidade de vida.

As perdas de cálcio e de matéria orgânica tornam os ossos menos resistentes e

quebradiços – a osteoporose - e, consequentemente mais frágeis e suscetíveis a

fraturas, com regeneração lenta e incompleta, requerendo assim muitos cuidados

para que se evitem as quedas. Os tendões e ligamentos encontram-se menos

flexíveis, diminuindo a amplitude de movimentos das articulações; o desgaste da

cartilagem articular e o crescimento ósseo excessivo na articulação causam

enrijecimento articular e, a contração dos discos intervertebrais, devido à

compressão dos discos e a perda de massa óssea causam uma diminuição da altura

do corpo, causando a cifose na região torácica da coluna vertebral, prejudicando o

funcionamento de órgãos, tais como os pulmões (ROSSI; SADER, 2006; HERLIHY;

MEBIUS, 2002).

Na relação com o ambiente, algumas atitudes devem ser tomadas, como o uso de

pisos antiderrapantes, manter livre a área de circulação, sem objetos e móveis,

principalmente os baixos e com quinas vivas10, evitando-se os esbarrões e tropeços,

consequentemente as quedas e fraturas. Outras atitudes a serem adotadas já foram

citadas no comprometimento do equilíbrio e do sistema nervoso.

Na pesquisa, não houve respostas afirmativas em relação à presença de algum

problema ou doença do sistema urinário. Contudo, vale ressaltar que o

envelhecimento fisiológico acomete também esse sistema, que sofre influência de

9 A doença de Paget dos ossos (osteíte deformante) caracteriza-se por uma excessiva reabsorção óssea, seguindo-se de aumento exagerado na produção óssea, sendo que o resultado desse processo é um tecido ósseo estruturalmente desorganizado. 10 Cortantes, pontiagudas.

Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 60

inúmeras comorbidades que o idoso pode apresentar e da ação de fatores

ambientais, como o tabagismo, que têm ação deletéria sobre a função renal

(CARVALHO, 2006).

A bexiga é o órgão responsável pelo armazenamento da urina produzida pelos rins e

sua expulsão para o meio exterior. Com o envelhecimento, a bexiga sofre alterações

próprias do órgão e extravesicais, que podem levar a exteriorização clínica, com

repercussões além da esfera biológica, podendo promover inúmeras limitações no

campo psíquico, social e profissional do indivíduo.

Essas limitações têm como causas algumas alterações no sistema urinário

(CARVALHO, 2006; HERLIHY; MEBIUS, 2002), como a diminuição progressiva do

número de néfrons, atingindo uma redução de 50% por volta dos 70 a 80 anos de

idade, que provoca, clinicamente, um declínio na capacidade de concentrar urina. A

bexiga diminui de tamanho, decrescendo também as propriedades de contrair e

relaxar, o que resulta em maior freqüência de micção. Em razão desses eventos a

expulsão é incompleta, com presença de urina residual, que favorece o

aparecimento de infecções na bexiga. O enfraquecimento do esfíncter externo e a

diminuição na capacidade sensitiva em distender a bexiga aumentam a incidência

de incontinência urinária.

Segundo Maciel (2006), a modificação ambiental, assim como a prevenção de

quedas noturnas, freqüentes nos idosos, torna-se uma medida que atua na

incontinência urinária, utilizando-se atitudes que facilitem o acesso ao banheiro,

como a adaptação da altura dos vasos, instalação de barras de apoio, iluminação

adequada e uso de urinóis ou cadeira sanitária à beira da cama.

A interferência dos problemas de saúde das entrevistadas no cotidiano também foi

abordada. Foram referidas por 3 (três) delas principalmente nos seus lazeres e

prazeres, como viagens e alimentação, que precisam ser modificados ou

abandonados.

Sim. Por causa da gastrite, pois sou muito gulosa e ataca sem avisar. E pode ser tanto por alimento que comi ou stress. Fora isso, mais nada atrapalha. (NRDAC, 62 anos)

Alicerce: enquanto envelhecemos... interagimos com o ambiente 61

Dificulta sim, em viagens que eu gosto muito. Já viajei muito. A minha última viagem foi para a Tunísia, depois não viajei mais para fora do Brasil. Por causa da restrição da alimentação, ai desanima. Muita coisa eu não posso comer. Então faço mais viagens por aqui no Brasil, no exterior não faço mais, desanimei. Porque eu viajava assim, não levava nem um comprimido para dor de cabeça. (AMDG, 69 anos)

Sim. A vista um pouco. Mas ainda ando sozinha e faço tudo sozinha. (MSS, 71 anos)

Não. Eu esqueço, finjo que não tenho. ( VCS, 81 anos)

Não, não. Estou tomando os remédios que o médico me indicou. (CRG, 65 anos)

Nas falas fica explícito que para algumas entrevistadas os problemas existem e

dificultam a realização de seus desejos e ações, mas que podem ser contornados e

enfrentados, sendo, quando possível “esquecidos” para manter o ritmo natural do

cotidiano.

MorarHabitar o espaço

Morar: habitar o espaço 63

A relação funcional ou de uso dos cômodos e mobiliários no cotidiano das

entrevistadas, também foi investigada. Relação que para ser harmoniosa, deve

seguir algumas orientações de segurança, parâmetros e recomendações simples de

adequação do ambiente, que se destinam a evitar acidentes e proporcionar conforto

aos residentes da casa.

Na entrevista, abordamos as possíveis dificuldades em freqüentar ou usar algum

cômodo e mobiliário da sua casa. Oito entrevistadas relataram dificuldade de

acessar os armários altos da cozinha e do quarto, solicitando ajuda a terceiros ou

utilizando escadas e banquinhos, mesmo cientes do risco de acidentes. A

dificuldade em se locomover dentro de casa, em manusear a janela e subir escadas,

também foi referida.

[...] nos armários altos do quarto e da cozinha, se eu preciso pegar uma mala ou outra coisa, eu peço à empregada para pegar, pois tenho receio de subir em banquinho. Eu evito, mas se estou sozinha, até ponho uma escada e subo. Mas quando ela está lá, eu procuro evitar. (AMDG, 69 anos)

[...] quando eu preciso subir para alcançar os armários altos do quarto e da cozinha tomo muito cuidado, uso escada e não banquinho porque eu tenho umas amigas que caem e se quebram toda. Ou então eu chamo funcionário do prédio para me ajudar. Trocar uma lâmpada, por exemplo. (JS, 79 anos)

[...] uso escadas ou banquinho para alcançar os armários altos da cozinha e quarto. E para trocar a lâmpada chamo o zelador. (NRDAC, 62 anos)

Sim, ao me locomover dentro de casa. Ela é muito dividida e quando chove não dá para ir para a outra parte da casa, pois o corredor é descoberto, e eu fico nos fundos. Então quando toca a campainha, nem dá pra ir lá. (CRG, 65 anos)

As falas revelam a natureza dos problemas práticos com o ambiente. Abrindo um

parêntese, sinalizam a criação de uma rede de suporte informal e relações sociais

estabelecidas, talvez até de forma inconsciente e involuntária, entre entrevistadas e

empregados ou funcionários do prédio em que moram.

Suporte relevante que deve ser estimulado e discutido nas redes de apoio ao idoso,

contemplando os idosos independentes que não têm família, não têm filhos, são

Morar: habitar o espaço 64

solteiros, viúvos, ou simplesmente optaram em morar sozinhos (domicílios

unipessoais) e não querem depender de membros da família. Para tanto, é

imprescindível considerar os diferentes contextos sociais, econômicos e culturais

dos envolvidos, garantindo-lhes redes de apoio e parceria entre comunidade,

vizinhança, governo, ONGs e o setor privado.

Em relação ao ambiente prático, de acordo com as normas da ABNT - NBR 9050

(2004) e as autoras Perracini (2006); Barbosa (2006) e Barros (2000), parâmetros e

medidas adequadas facilitariam o uso dos armários nos cômodos da casa. Na sala,

por exemplo, os armários e estantes devem ser firmes e presos ao chão ou parede,

e não ter muita profundidade. Os objetos devem estar localizados na altura dos

olhos dos idosos e do alcance manual.

No quarto, os armários ou guarda-roupas com portas leves, de fácil acesso, arejadas

e cabideiro baixo, evitando o uso de escadas e banquinhos; gavetas com trava de

segurança nos deslizantes; prateleiras com alturas variáveis; luz interna ao abrir a

porta e puxadores do tipo alça ou alavanca, evitando os arredondados.

Os armários do banheiro devem ficar sob o lavatório ou na lateral, permitindo área

livre para movimentação das pernas no caso do uso de cadeira, banqueta ou

cadeira de rodas e as prateleiras internas em material inquebrável e sem pontas.

Na cozinha, os armários não devem ser muito altos nem profundos, de preferência

na altura do campo visual. Objetos mais leves e pouco utilizados devem ser

guardados nos armários superiores. Os inferiores, tais como os do banheiro, devem

ter área livre para movimentação das pernas no caso do uso de cadeira, banqueta

ou cadeira de rodas.

As gavetas de fácil abertura, com trava de segurança e com divisões para talheres e

porta facas. E os objetos de uso freqüente devem ficar em locais de fácil acesso e

confortável.

A satisfação com a circulação sem dificuldades e bom uso funcional dos demais

cômodos e mobiliários pode estar relacionada ao fato de nove entrevistadas

residirem em apartamento, descritos em sua maioria como amplos, e pelo número

reduzido de pessoas na casa, considerando-se que cinco moram sozinhas,

Morar: habitar o espaço 65

ocasionando o uso de poucos cômodos da casa, especialmente a sala e o quarto, e

naturalmente o banheiro.

Acústica, Iluminação e ventilação

A satisfação quanto à acústica da casa, investigada na pesquisa, revelou a

insatisfação de três das entrevistadas, que expressam em suas falas o

descontentamento com a acústica residencial influenciada pelo barulho das ruas e

edificações vizinhas.

Tem muito barulho, porque ele é de frente. Então o barulho é muito grande. Tem movimento intenso da rua, praça e carros. (AMDG, 69 anos)

Barulho da rua, antes era tranqüila. Agora é latido de cachorro, sirene de carro, vendedor de pamonha, manobrista. (NRDAC, 62 anos)

Não, pelo barulho da vizinhança, principalmente à noite, pois fica ao lado de um estacionamento de uma pizzaria. Já acostumei, mas não estou satisfeita. (CRG, 65 anos)

Fator relevante, ao considerarmos as alterações do envelhecimento, como a perda

auditiva gradual, principalmente nas freqüências altas (sons agudos), o que provoca

redução na inteligibilidade da fala e desconforto acústico, podendo levar ao

desinteresse e isolamento social, já discutido anteriormente.

A satisfação com a iluminação dos ambientes também é fator importante no

envelhecimento uma vez que as alterações na acuidade visual podem dificultar a

realização com independência das atividades do cotidiano.

Na pesquisa, duas entrevistadas relataram insatisfação neste aspecto, expressando

descontentamento com a pouca iluminação natural em suas casas, criando um

desconforto térmico, principalmente nos dias frios.

Estou ilhada, quase não bate sol também. (CRG, 65 anos)

Não muito, porque é andar baixo, então não bate sol. O problema do meu apartamento é bater pouco sol. Bate um pouco de sol só à tarde. E eu vim de um apartamento, que morei 30 anos, que era no 10º andar, e não tinha nada em volta, então tinha muito sol, calor. Então como eu saio muito, eu não sinto muito o inverno, mas a hora

Morar: habitar o espaço 66

que eu começar a ficar mais em casa, eu vou precisar de um apartamento mais quentinho. (AMDG, 69 anos)

Durante o dia a iluminação natural deve ser preferível, pois favorece a produção de

hormônios responsáveis pelo bem-estar, como a melatonina, e garante um bom

relacionamento com o ambiente, especialmente com os cômodos da casa de maior

uso, como o quarto e a sala.

À noite também é preciso que haja boa iluminação, principalmente em mudanças de

ambientes (interno e externo) como no trajeto do quarto ao banheiro, a fim de

minimizar o risco de quedas. Importante ter abajur ou luminária de fácil uso e

interruptor próximo à cama.

AMDG assinala o seguinte, confirmando a afirmação anterior:

À noite, eu não deixo o quarto totalmente escuro e o quarto ao lado eu deixo só com o vidro para entrar claridade, pois é justamente quando acontecem os problemas quando a gente se levanta para ir ao banheiro durante a noite. (AMDG, 69 anos)

A ventilação também é requisito para um bom desfrute do ambiente. Com o

envelhecimento, as atividades e o metabolismo humano se alteram, diminuindo a

quantidade de água nos órgãos e na pele, provocando uma sensação térmica mais

baixa. Das entrevistadas, apenas uma relatou insatisfação. Entretanto as falas

revelam descontentamento associado a desconforto térmico, já referido na questão

anterior sobre iluminação.

Não. Queria que fosse mais quente. Apesar de ter aquecedor. (MSS, 71 anos)

Em relação à casa que eu moro, o ideal que eu penso é sair dela. Porque quando eu tiver mais velha, que eu vou ficar mais tempo em casa, no inverno, é muito frio, um frio danado. Então eu penso em sair dela para um apartamento mais ensolarado. (AMDG, 69 anos)

Se eu viver mais, a única coisa é aquecimento da casa, pois acho muito fria. O único inconveniente é o frio com a idade. (MCS, 74 anos)

A sensação de bem-estar e conforto em um ambiente está muito relacionada com as

condições de umidade e temperatura do local. E tanto o frio excessivo quanto o

calor, que provoca desidratação, devem ser evitados.

Morar: habitar o espaço 68

A idéia de privacidade, segundo Rybczynski (2002), nasceu no Século XVII, a partir

da necessidade de espaços em que os indivíduos pudessem ficar a sós, ter a sua

liberdade e intimidade preservadas dentro de suas casas. Primeiramente, com a

separação dos senhores e seus criados e em seguida da casa com o local de

trabalho, surgindo a consciência de intimidade e privacidade e identificando a casa

exclusivamente com a vida familiar.

A privacidade significa, então, ambiente de sossego e recanto, intimidade e vida

íntima. Devido à configuração e estruturação arquitetônica com grandes edificações

residenciais e comerciais, especialmente nas grandes cidades, essa privacidade

começa a ser interrompida, modificada, privada.

As falas das entrevistadas explicitam a falta de privacidade, principalmente nas

áreas de maior uso e intimidade como o quarto e a sala, requerendo alguns

cuidados, mudanças de hábito e adaptações para preservarem a vida íntima em

suas casas.

Não muito porque tem que ficar com as cortinas fechadas, por ser primeiro andar. Apesar do prédio da frente ser do outro lado da calçada, mas você não tem privacidade. Os dois quartos e a sala são de frente para a rua. E o outro dá para o jardim do outro prédio e a praça. [...] Até isso, no outro que eu morava era 10º e o da frente era só 8 andares, então não tinha nada. Você podia ficar até nua. (AMDG, 69 anos)

Sim, mas coloquei insulfilm no vidro das janelas do quarto do casal. (NRDAC, 62 anos)

Sim, mas necessito de mais atenção e cuidado com as janelas que dão acesso à rua e a outros apartamentos. (FMRC, 63 anos)

Modificações e adaptações

Modificar ou adaptar um ambiente deve significar facilidade, redução de riscos de

acidentes que envolvam o meio e estímulo à autonomia e independência pessoal.

Mas, fundamentalmente, respeito à individualidade, preferências e desejos do idoso,

o que permite uma relação harmoniosa entre o usuário e o ambiente, sem

constrangimentos e estigmas.

Morar: habitar o espaço 69

Na pesquisa, seis entrevistadas já realizaram modificações ou adaptações na casa e

o banheiro foi o cômodo que recebeu maior atenção, especialmente a área do box,

com a colocação das barras de apoio e tapetes antiderrapantes. No dormitório,

adaptações ou modificações também foram realizadas, principalmente nas camas

(altura) e nos armários de roupa, restringindo, às vezes, o uso à parte inferior do

móvel.

As falas expressam o que mudaram:

Sim, quando eu comprei, praticamente derrubei tudo. Fiz uma reforma imensa, durante seis meses, antes de eu entrar para morar. Fiz uma adaptação na minha cama, tive que por uma madeira de 10 a 15 cm de altura na cabeceira, pois eu tenho problema de esôfago, refluxo. E o médico mandou, para que a cama fique um pouquinho inclinada. Todo mundo aumenta a cama embaixo pra circulação, mas a minha foi em cima. E coloquei um tablado11 no banheiro, como se fosse um tapete antiderrapante. (AMDG, 69 anos)

Estava muito velha, eu fiz de novo a cozinha, troquei o piso, arrumei a banheiro – foi só o que estava velho que eu consertei e não conserto nunca mais. Pois, o que eu sofri com esses homens lá dentro de casa, pelo amor de Deus! [...] Uma velha idiota que não entende de nada, eles deitaram e rolaram. Eles ficaram lá nove meses, vinha um dia, faltava uma semana. Eles me consideraram uma idiota e eu pagava tudo direitinho. Então agora fica do jeito que estar. (JS, 79 anos)

Antes de mudar, retiramos os tapetes. A cozinha mais prática e os armários também. Tudo bem funcional. Os talheres separadinhos, lugar certo para microondas e a máquina. (MCS, 74 anos)

Modificamos a cozinha. A cama é mais alta. E no banheiro tiramos a banheira e fizemos um box. (MSS, 71 anos)

As razões para modificar ou adaptar o ambiente foram semelhantes, assim como os

motivos para não fazê-lo. Uma entrevistada, residente em casa cedida, expressa

descontentamento pela impossibilidade de realizar seus desejos de mudanças e

melhorias da casa.

A única coisa que eu fiz foi arrumar o telhado do meu quarto, que estava com goteira, estava triste. Mas não tinha como modificar, pois arrumando do meu jeito, teria que fazer uma reforma geral. Mas, também porque não vou arrumar uma coisa que não é minha, embora quisesse fazer. (CRG, 65 anos)

Não achava necessário. (VCS, 81 anos; MM, 65 anos; DN, 71 anos)

11 Tablado de madeira com um monte de borrachinha embaixo que gruda no chão, como se fosse um tapete anti-derrapante.

Morar: habitar o espaço 70

Ou seja, as adaptações nas casas surgem das necessidades previstas ou factuais

dos moradores. E a pesquisa expressa algumas dessas demandas que se confirma

com dados de um estudo realizado pelo CEAPAT (Centro Estatal de Autonomia

Personal y Ayudas Técnicas, Madrid/Espanha) comentado por Litch e Prado (2002),

que elenca as modificações e adaptações mais freqüentes: adequação e

reordenação geral dos espaços internos, equipamentos e materiais de acabamento

nos banheiros e cozinhas; ampliação da largura de portas e corredores; estudo e

implantação de alternativas para vencer os desníveis; colocação de corrimão nas

escadas, rampas e corredores; modificações nas alturas das camas e alguns outros

itens do mobiliário (armários e sofás, por exemplo); instalação de equipamentos de

segurança e de comunicação; substituição de pisos executados com materiais

escorregadios por pisos antiderrapantes.

Na questão sobre a vontade de fazer alguma modificação ou adaptação em sua

casa hoje, cinco relataram que gostariam de realizá-la. Sendo que, além da

funcionalidade e praticidade abordadas anteriormente, o conforto, o lazer e o prazer

em ter a casa reformada aparecem nas falas, confirmando a relação de intimidade e

bem-estar entre o indivíduo e seu ambiente, assim como a percepção de suas

necessidades e desejos.

A colocação de barras de apoio no banheiro. (MSS, 71 anos)

Colocar as barras de apoio no banheiro. (MCS, 74 anos)

Queria reformar toda casa, modernizá-la. Tirava os azulejos. Modernizava total. (DN, 71 anos)

Eu iria falar com um arquiteto, uma pessoa especializada, se dava para fazer uma laje, tentar nivelar a casa, cobrir o corredor e fazer uma churrasqueira e um salãozinho. (CRG, 65 anos)

Sim, eu gostaria, pois como são três quartos e para a minha necessidade eu gostaria de derrubar uma parede e aumentar mais ainda a sala, pois como eu fico muito tempo na sala, onde eu vejo televisão, eu gostaria de fazer tipo um home theater para ficar tudo conjugado. E ficariam dois quartos, um eu uso pro computador e o outro eu durmo. [...] E a outra modificação, eu estou pensando em colocar uma barra no banheiro, comprei já um tablado de madeira, pois o piso fica liso. E sabão no piso do banheiro fica mais liso. E antes que, para evitar problemas, tenho vontade de colocar a barra, pois o tablado eu já comprei. Agora tenho vontade de colocar uma barra, pois acho que é útil. (AMDG,69 anos)

Morar: habitar o espaço 71

As mudanças, porém, às vezes são evitadas pela satisfação com o ambiente atual,

por comodismo ou conservadorismo, por questão econômica, mas principalmente

pelo transtorno, desrespeito e falta de profissionalismo por parte dos responsáveis

pela reforma. Os ambientes podem acabar se tornando inadequados e inseguros,

levando os moradores a modificar comportamentos, como a restrição ou abandono

de algum cômodo de sua casa.

Não. Sou muito conservadora. (VCS, 81 anos)

Não. Principalmente pelo transtorno de reforma e pelos homens que não cumprem direitinho. (JS, 79 anos)

Acessibilidade

Nas questões anteriores, constatou-se a satisfação e a boa relação das

entrevistadas com os ambientes onde vivem, especificamente suas casas. A

pergunta se a sua casa é de fácil uso/acessível para si, deu origem a respostas que

confirmam, por unanimidade, a opinião positiva, como expressa a fala de JS (79

anos): Sim. Por enquanto sim. Vamos esperar por quanto tempo.

Este resultado se contrapõe aos dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto

Universitário de Estudos Europeus em Madri e Barcelona (1999), em que se

constatou que 82% das moradias daquelas cidades apresentam barreiras

arquitetônicas, sete mil pessoas anualmente são obrigadas a mudar de domicílio

pela inadequação desses às suas necessidades, 78% dos edifícios não possuem

elevador, 15% das pessoas jamais saem à rua e mais de 45% necessita de alguma

ajuda para fazê-lo (LITCH; PRADO, 2002). Isto é, o ambiente construído não

propicia a um significante número de pessoas a participação na sociedade,

restringindo-as aos espaços de suas casas.

Por outro lado, quanto à questão se a sua casa era acessível para receber visitas

com necessidades específicas, sete responderam que não, devido a existência de

barreiras físicas que dificultam ou impossibilitam o trânsito livre das visitas. O acesso

ao ambiente (prédios de apartamentos e casa) requer desde a entrada ajuda de

terceiros, sob pena de limitar-se apenas à garagem, dividindo o espaço com os

veículos.

Morar: habitar o espaço 72

O desejável e correto seria que todas as entradas fossem acessíveis – social e

serviço – permitindo a passagem de todos sem desviar as pessoas para um

caminho alternativo. A rampa de tráfego de veículos até a garagem não deve ser

aceita como solução de acesso para as pessoas com mobilidade reduzida.

No interior das casas, algumas barreiras, principalmente no banheiro, como o

acesso ao box e a ausência de barras de apoio foram os limitadores referidos, bem

como os tapetes, considerados como fatores de risco para quedas.

As falas apontam algumas das barreiras arquitetônicas nas casas das entrevistadas:

Já a entrada é pequena depois do elevador. E pra gente um dia... O box do banheiro também não é grande para uma cadeira de rodas. O resto da casa é tudo bem amplo. (MCS, 74 anos)

Não. Pois a entrada seria só pela garagem ou com ajuda dos funcionários da frente para levantar, pois na entrada social tem degraus. Mas tem gente de cadeira de rodas no prédio, que deve entrar pela garagem. E na minha casa entra fácil. (JS, 79 anos)

Porque o acesso ao prédio tem que ser pela garagem. A entrada social tem degrau. Mas dentro de casa não tem tapete. (MSS, 71 anos)

Por causa dos degraus, teria que ter ajuda. (CRG, 65 anos)

Não. Pois o acesso ao prédio, tanto a entrada social quanto a de serviço não são adaptadas para algumas condições por apresentarem degraus em seu acesso. Dentro de casa a dificuldade seria apenas na área de serviço por apresentar desnível (pequeno degrau). (FMRC, 63 anos)

A entrada social tem escada. O acesso seria pela garagem, onde tem rampa e o elevador. (MM, 65 anos)

De acordo com Prado (2003), acessibilidade é a garantia de usufruir todos os

espaços de uma cidade, seja na comunidade ou em seu domicílio. O objetivo da

acessibilidade é proporcionar a todos um ganho de autonomia e mobilidade,

principalmente àquelas pessoas que têm sua mobilidade reduzida ou dificuldades de

comunicação, para que possam beneficiar-se dos espaços e das relações com mais

segurança, confiança e comodidade.

Em relação às barreiras, essa mesma autora expressa as suas conseqüências, o

que justifica a reflexão sobre a importância dos ambientes serem acessíveis para

todos, sejam idosos, crianças, gestantes, cadeirantes [...], pois no ciclo da vida, em

Morar: habitar o espaço 74

ela na rua para ela poder entrar no prédio. Pois, o elevador de serviço estava com problema.

As experiências e vivências

Eu cuidei da minha mãe por cinco anos, e tinha banheira, e então coitada, eu tinha que dar banho na minha mãe na área de serviço. Então eu arranquei a banheira, pois em dia frio era muito difícil. A banheira era linda, mas ela não podia usar. Mas agora eu esqueci que um dia eu vou ter problemas, e nem lembrei. O box terá que ser arrancado ou dar banho no meio do banheiro, pois o banheiro é grande. Dar banho fora do box. [...] Uma coisa que eu acho também importante, é que eu ajudei uma tia e ela tinha artrite e depois derrame. E um dia ela foi na minha casa e arrebentou a tampa da privada, pois ela não tinha força, por isso importante ter um apoio. Agora a gente ainda tem essa força, mas até quando? Ainda bem que a minha pia é bem do lado da privada, então da para apoiar. Na verdade, não é bem uma pia, é uma bancada. Mas, tenho que colocar a barra, até meu gastro que falou, pois uma parenta dele foi se apoiar na saboneteira e caiu com tudo. (AMDG, 69 anos)

Outra questão observada nas falas é o distanciamento pessoal da condição de

idoso, de ser e estar idoso. No entanto consideram a possibilidade, uma projeção de

um dia, distante, poder ter limitações físicas temporárias ou definitivas. Pois o fato

de serem idosas ativas e independentes e algumas morarem sozinhas, parece

deslocar a percepção para além de si mesmas, para um espaço ocupado apenas

pelo outro - o ser idoso é o outro.

Deixemos claro que, ser e estar idoso não significa impreterivelmente que se terá

limitações físicas, sensoriais e cognitivas, mas que ao viver mais, teremos mais

tempo de sujeição e exposição às ações fisiológicas e ambientais, que podem

desencadear ou não incapacidade e dependência.

Considerando-se a explicação anterior, Mercadante (2005, p.30) complementa

dizendo que,

A identidade de idoso se constrói pela contraposição à identidade de jovem e, consequentemente, tem-se também a contraposição das qualidades: atividade, produtividade, beleza, força, memória, etc., como características típicas presentes nos jovens e as qualidades opostas a estas últimas presentes nos idosos.

Jack Messy (1999) assinala a idéia, de que o “velho” é o “outro”, em que não nos

reconhecemos. Ou seja, o “velho” é o “outro”, não sou “eu”. O ser velho tem, então,

Morar: habitar o espaço 75

a sua identidade definida em oposição ao outro, ao adulto e ao jovem produtivo. É a

contraposição ao olhar e definição do outro, estabelecendo a definição e

categorização estigmatizante de ser velho, pelo outro e pelo próprio velho, que

explícita ou implicitamente utiliza tons opacos e adereços sombrios para decorar

essa etapa da vida.

DecorarAcabamento

Decorar:acabamento 77

O tempo e a velhice seriam sinônimos ou antagônicos? Com o tempo o corpo se

transforma, torna-se fragilizado e enrugado. O tempo influencia no biológico, mas

também no psicológico, social e econômico. E falar em tempo, na velhice, provoca

argumentos que se concentram em não há tempo. O tempo já passou, meu tempo já

passou. Não há mais projetos e sim a espera por um fim digno.

Segundo Mercadante (2005, p.32),

Nessa correlação entre tempo, corpo e as demais esferas da vida, a visão de um corpo imperfeito – “em declínio”, “enfraquecido”, “enrugado”, etc. – não avalia só o corpo, mas sugere imediatamente ampliar-se para além do corpo, sobre a personalidade, o papel social, econômico e cultural do idoso.

As projeções e as estatísticas indicam que a população idosa está em ascendência,

conseqüentemente os anos a mais de vida também aumentam. Diante dessa

expectativa, sugerimos que as entrevistadas fizessem uma projeção de vida,

levando em consideração a relação envelhecimento e ambiente domiciliar com base

no questionamento: quais modificações seriam necessárias realizar em sua casa se

vivessem até 110 anos.

A idéia de tempo se projeta nas respostas das entrevistadas, sob a forma de

negação de futuro, relação com a proximidade do fim da vida, e principalmente sua

inter-relação com a dependência de terceiros, seja familiar, cuidador formal ou uma

casa de repouso.

Acho ótimo morar sozinha, mas não sei se chegaria lá. Por isso, acho que estaria morando com outras pessoas. [...] O importante é manter a lucidez. Mas, mesmo com a lucidez você ficando com menos condições físicas, seria necessária ajuda de outra pessoa ou outras pessoas. (FMRC, 63 anos)

Não faria nada. Quando não puder mais dar conta de mim vou para uma casa. Tem a casa francesa da Sociedade Beneficente 14 de Julho que eu sou sócia e vou pra lá. Mas em casa não colocaria ninguém. Eu estou muito acostumada sozinha. (JS, 79 anos)

Mudaria de casa. Iria morar com minha filha em São Paulo mesmo, pois estaria mais dependente. (VCS, 81 anos)

Decorar: acabamento 78

Essa última fala aponta um dado intrigante, a individualização, que surge no

contexto dos domicílios unipessoais e famílias monoparentais sob responsabilidade

de idosos, contribuindo para a reflexão sobre a necessidade das redes de suporte às

pessoas idosas independentes, já discutido anteriormente, e a importância de casas

seguras que respeitem os desejos de escolha sobre sua vida e seu futuro: o morar

só.

Emerge também em seus discursos a consciência de que limitações biológicas e

dependência podem ocorrer em suas vidas, requerendo a ajuda de terceiros, e com

ela um novo aprendizado: conviver com outras pessoas, seja em sua casa ou em

instituição. São as novas aquisições, quem sabe ganhos que os anos a mais de vida

exigem.

Em outras falas, ainda a idéia de tempo, agora impedindo que façam projeção e

refletindo a permanência na crença de que tudo acontece ao seu tempo:

Só se eu não puder andar. Mas colocaria a barra no banheiro, aumentaria o vaso sanitário. Mas, não pretendo fazer, isso é só uma suposição. Pensar daqui a 30 anos é muita coisa. (MSS, 71 anos)

As coisas surgem de acordo com que os problemas vão surgindo. E algumas pessoas apresentam problemas e outras não. E ainda tem o momento em que o idoso não manda mais em si. (MM, 65 anos)

Eu não sei, acho que a gente vai mudando de acordo com as limitações. O tapete do corredor, já tirei. Era alto, ninguém tropeçou, mas melhor evitar. Já não uso a parte superior dos armários. Não troco mais lâmpadas. [...] Mas é difícil pensar daqui a 40 anos. Não tenho idéia. Minha mãe tinha uma cadeirinha de plástico no banheiro, acho que então seria a colocação desse banquinho no box, para facilitar no banho, lavar os pés sentada. Hoje a barra, tem mais valor psicológico, nem toco nela, às vezes. (NRDAC, 62 anos)

Mas que tempo é esse? Pensar hoje, daqui a 30 ou 40 anos, não significa pensar no

inatingível ou inimaginável. A velocidade e a intensidade dos tempos se configuram

nas ações, prazos, planejamentos - a vida. O tempo de amanhã, é hoje, e às vezes

para ontem. Mas para as entrevistadas o tempo permanece inalterado, estável,

representa o dia após dia, o tempo é hoje, amanhã será um novo dia, de novas

vivências, descobertas, gostos e desgostos. Ação de acordo com as necessidades

vigentes, nada de pensar nas possíveis.

Decorar: acabamento 79

A não projeção pode também revelar uma perspectiva um pouco mais otimista, ao

preferirem esperar os fatos acontecerem, sem ações preventivas. Atitude que não

pode ser confundida com negação da velhice ou não-perspectiva de futuro, mas

como uma perspectiva mais positiva de uma velhice diferente de seus antecedentes

ou simplesmente do “outro”.

Surge, então, uma reflexão e o alerta sobre a falta da educação para a longevidade,

em uma sociedade que experimenta crescentes índices de expectativa de vida, mas

encontra-se despreparada para envelhecer, receber e compreender as

necessidades dos “novos” velhos, o que obriga a todos a pensar na própria velhice.

A casa ideal na velhice

O habitat, o nosso “canto”, ao mesmo tempo que é, para os mais velhos, o mundo que se não quer perder, símbolo de uma história num lugar, pode ser também o lugar dos riscos, sinal de desigualdades que marcaram o tempo e o espaço de uma vida.

Quaresma (2004, p.43)

Aproximando-se da realidade das entrevistadas – a velhice – questionamos, então,

como seria a casa ideal para essa fase da vida. A dependência ocupou destaque

novamente nessa discussão, assim como em outras que envolvam a questão do

envelhecimento.

A dependência, na conceituação médica geriátrica, tem seu significado contrapondo

a independência e a autonomia, associando principalmente velhice, doença e

incapacidade.

No entanto, com o aumento de pessoas atingindo idades avançadas e,

principalmente com qualidade de vida, o enfoque passa a ser a desmistificação da

relação velhice e dependência, minimizando os efeitos estigmatizantes, e garantindo

cuidados, apoios e ambientes com qualidade às pessoas idosas, bem como a

manutenção da independência e acesso à informação e ao conhecimento dos

recursos possíveis para se bastarem no cotidiano. Sem ignorar que as pessoas mais

velhas, ao viverem mais, estarão ou não sujeitas à situações incapacitantes,

Decorar: acabamento 80

relacionadas ao próprio processo fisiológico ou, por acometimento de doenças

crônicas e degenerativas, que independem do querer.

A casa ideal é um conjunto de elementos individuais e significativos que agrega a

questão biológica e funcional de cada um e a questão prática do ambiente como

segurança e acessibilidade, assim como, e fundamentalmente, os valores, a

familiarização e as experiências construídas ao longo da vida, personificando-a.

“A casa é o corpo que colocamos sobre o nosso próprio corpo e conforme o nosso

corpo envelhece, a casa também envelhece e assim como nosso corpo adoece,

nossa casa adoece” (KING, 2002). A casa segue o ciclo de vida de seu dono, ou

seja, a casa é a identidade de cada ser, e deve proporcionar segurança, bem-estar,

conforto, afetividades em todas as etapas da vida.

Os desejos e as construções imaginárias da casa ideal para a velhice estão

expressos nas falas:

Como eu tenho tão decidida que vou para uma casa de repouso, nunca pensei nisso. Mas seria uma casa térrea, com acesso ao jardim para poder tomar sol de cadeira de rodas. Sei lá. Bem cômoda, simples, simples, nada de luxo. Acessível. Portas grandes para ver a natureza e as flores. (JS, 79 anos)

Asilo não. Preferia ficar em minha casa e teria uma enfermeira cuidando de mim. E não precisaria ir para casa de ninguém. (VCS, 81 anos)

Escada não teria. Teria que ser elevador. Companhia daria certo, porque tem banheiro e quarto de empregada. Mas, eu não sei se o nosso fim vai ser em uma casa de saúde. É difícil prever, mas temos que estar preparadas. Mas acho que ter uma companhia seria melhor que ir para uma casa de saúde. Prefiro ficar em casa. (MCS, 74 anos)

Não tenho a menor idéia. Para falar a verdade não tenho mesmo a menor idéia. Só comecei a me preocupar depois do AVC, que a idade vai passando e as deficiências vão aparecendo. Hoje estou totalmente recuperada. (FMRC, 63 anos)

Com alguns robôs que realizassem todas as tarefas de casa, inclusive preparar as comidas. (risos) Na verdade, a gente precisa da ajuda das pessoas. (NRDAC, 62 anos)

Decorar: acabamento 81

Falas que encontram respaldo em Gihorn ([198-?], p. 214 citado por Carli (2004, p.

41),

Os idosos preferem se manter nas próprias casas, particularmente quando a opção é uma instituição para idosos. A maioria das pessoas acima de 75 anos prefere envelhecer no lugar em que já vivem e não perdem tempo pensando em casas futuras, eles geralmente preferem manter as coisas do jeito que estão.

Estimular e favorecer a manutenção da independência e autonomia na velhice não

significa negar a ajuda de terceiros, mas perceber as limitações, as situações que

exigem suporte efetivo de outros e aquelas em que a pessoa é capaz de resolver

sozinha, mesmo com auxílio de recursos. Não significa “eu me basto”, visto que

somos dependentes de outros desde a infância, mudando apenas o tipo e o grau de

dependência.

Quaresma (2004, p.39) nos confirma com essa afirmativa:

A dependência constitui, assim, fundamento do sujeito e da coesão social, pelo que, neste sentido, ela é essencial e estruturante da história de vida, condicionando os capitais econômico, cultural, simbólico com que contamos na velhice. Se assim é, se a dependência é inerente à existência humana, atravessando todas as fases da vida, numa dialética permanente face a autonomia como afirmação de si, a necessidade de cuidados, de apoios, na velhice, não pode legitimar um conceito de dependência como atributo da velhice.

Significado da casa

Ah! Não há nada como ficar em casa para ter o verdadeiro conforto.

Jane Austen - EMMA

Falar da casa e de seu significado transcende as características físicas e

estruturais. A casa contempla a singularidade dos indivíduos, as condições sócio-

histórica, econômica e cultural, bem como a afetividade e as emoções que se

perpetuam na relação complexa entre o homem e o ambiente, considerando-se

ainda a individualidade e os desejos.

A casa agrega valores, sejam econômicos, sociais, afetivos e de saúde ao longo da

vida, e consequentemente exerce influência na vida dos idosos.

Decorar: acabamento 82

A casa é tudo aquilo que “me proporciona”. É o aconchego, a autonomia, a

segurança, o bem estar, o bem maior de suas vidas. É o “meu lugar”, qualificativo

atribuído por Sawaia (1995) apenas àqueles locais que permitem relações mais

duradouras, que são sentidos como o lugar de vida integral, ou seja, o lugar com

sentimento de pertencimento.

Segundo as entrevistadas, a casa é:

Minha autonomia, meu sossego, meu bem-estar. É tudo, né! (AMDG, 69 anos)

Minha segurança. (VCS, 81 anos)

Aconchego, mesmo com todas essas coisinhas. Mesmo quando viajo, sinto falta da minha casa. (CRG, 65 anos)

Como é que eu vou dizer isso?! Não sei, acho que é que nem bichinho, é meu território. Aquilo lá é meu domínio. Tenho tudo que eu gosto, me sinto maravilhosamente bem lá dentro, tranqüila. (JS, 79 anos)

Lar gostoso, harmonioso. (MSS, 71 anos)

Para mim é aconchegante, gosto demais de minha casa. Podia até sair mais, mas gosto de ficar em casa. Me sinto muito feliz. (MCS, 74 anos)

Meu cantinho que reflete a minha vida. Cada cantinho tem uma história. Tem mais coisas na parede do que móveis, representando fases de minha vida em São Paulo. É a minha cara. (FMRC, 63 anos)

Significa segurança, aconchego, porto seguro. Às vezes, saio de casa, fico agoniada e fico louca para voltar logo para casa. (NRDAC, 62 anos)

Significa um bem-estar, segurança. Dou muito valor, pois não tinha casa. Pois já morei em pensão e na casa dos outros, então eu super-valorizo. (MM, 65 anos)

É meu habitat. (DN, 71 anos)

O desempenho de cada casa, enquanto abrigo, é restrito à soma de algumas

funções-objetivos: temperatura, umidade, iluminação, nível de intensidade sonora

(SCHMID, 2005). Enfim, tudo aquilo que pode ser mensurável, divergindo dos

valores não mensuráveis, expressos nas falas, como a harmonia, a liberdade, o

bem-estar e o conforto. Significados pessoais, histórias de vida em cada cômodo e

detalhe, laços afetivos e emocionais que não cabem em uma expressão numérica.

Decorar: acabamento 83

A casa constitui uma extensão de nossas emoções e sentimentos, expressa a vida

de seus moradores, o aconchego e o afeto. Para Schmid (2005, p.127), “a casa,

incluindo tudo o que diz respeito a ela, é um poderoso sistema de referência para

cada pessoa”.

Referências e memórias alimentadas pelos sentidos e expressas a partir de

sensações familiares: calores, sabores, texturas, sons, aromas, carregados de

emoção e sentimento.

A velhice

A negação do futuro, a noção de um tempo que passa e, ao passar, implica na decadência do corpo e do espírito do velho, se colocam como qualidades negativas que socialmente são imputadas aos idosos, criando, assim, um modelo, uma identidade genérica de velho.

Mercadante (2005, p. 33)

A velhice, pautada na história de vida de cada um, com visões de mundo

diversificadas, não pode ser simplificada, generalizada. O que temos são as

velhices, representadas pela satisfação, experiência, autonomia, independência,

etapa da vida, proximidade da morte, e pela própria negação da velhice.

Para Martin e Pastor citado por Paschoal (1996, p.27),

Não existe um consenso sobre o que se chama de velhice, porque as divisões cronológicas da vida humana não são absolutas e não correspondem sempre às etapas do processo de envelhecimento natural; os desvios se produzem em ambos os sentidos. Isto é, a velhice não é definível por simples cronologia, senão, pelas condições físicas, funcionais, mentais e de saúde das pessoas analisadas, o que equivale a afirmar que podem ser observadas diferentes idades biológicas e subjetivas em indivíduos com a mesma idade cronológica.

Para as entrevistadas, a velhice é:

Tempo de vida. A velhice seria o passar do tempo. Acumular de vivências. (FMRC, 63 anos)

Olha se continuar como estou atualmente, está ótimo. Mas, não sabemos se vamos ficar dependentes ou doentes, mas hoje está ótimo, seria o ideal. (CRG, 65 anos)

Decorar: acabamento 84

Velhice é um estado de espírito. Eu gostaria de ter saúde para continuar como estou. (DN, 71 anos)

É uma das etapas da vida. Eu não encaro como doença. [...] sou bastante agitada, realizo várias atividades, se não tem o que fazer, invento. [...] Não encaro mesmo com negativismo. Já que é inevitável, eu aproveito. Já tirei até a carteira de idoso para andar de ônibus. Meu médico diz que a maioria quer esconder a idade, e eu não, ainda quis a carteirinha. [...] Meu pai dizia que eu via o mundo com lentes cor de rosa, só via as coisas boas da vida. O lado positivo. (NRDAC, 62 anos)

Proximidade da morte. Encontro com a morte. O que não me atrapalha em nada, mas sabemos que é o final. (VCS, 81 anos)

É interessante pelo que você já viveu e adquiriu e agora poder usufruir de toda sua bagagem que você traz. Ser dona de seus atos, e por enquanto não ser dependente de ninguém. (AMDG, 69 anos)

Para mim é a pessoa não poder mais, é a perda da independência. Às vezes a pessoa tem independência econômica, mas precisa de ajuda dos filhos, passar procuração. (MM, 65 anos)

Na minha idade, antigamente já se considerava velho. Mas eu ainda não me considero. Pelo menos de espírito. Eu gosto muito de passear, viajar, ginástica, cinema. (MCS, 74 anos)

Por enquanto não significa nada. Eu só sei que tenho 79 anos quando me olho no espelho e não gosto nada do que vejo. Mas graças a Deus me sinto ótima, ainda dou aula, coisa que eu adoro. E claro que estou mais preguiçosa um pouco para sair à noite. Só saio se alguém vier me buscar. [...] Agora, eu vejo umas velhices que são dolorosas, mas a minha por enquanto [...] que bom poder falar isso, graças a Deus. [...] Daqui um ano você me pergunta, se eu estiver por ai, quem sabe eu respondo diferente. (JS, 79 anos)

Os discursos expressam visões positivas, como o acumular de vivências, visões

negativas, como a dependência, assim como a negação da velhice e o não

reconhecimento da própria velhice.

De acordo com Motta, citado por Tirado (2000, p.51), “os idosos reconhecem a

velhice nas outras pessoas, mas não a própria velhice.” No entanto, a negação da

velhice pode contribuir para alterar a percepção da realidade, dificultando, por um

lado, detectar as reais necessidades e carências dos idosos e, por outro lado, limitar

ou impedir uma possível contribuição social, baseada em suas experiências de vida

e em suas memórias.

Decorar: acabamento 85

A negação é justificada, ainda, por terem boa saúde e serem independentes, o que

contribui para não se considerarem idosos, pois, para muitos, ser idoso, seria

sinônimo de doença, inutilidade.

Para Calado (2004, p.52),

Cada vez mais a expectativa para os idosos será possuir um cérebro com potencial de ação mental, ativo e eficiente. Isto para que a velhice seja um tempo de continuidade, ou de reconstrução de uma vida vivida com sentido e não de uma vida suportada, de uma vida consentida; seja um novo percurso na continuidade de ser pessoa e não apenas de ser indivíduo; seja enfim, uma oportunidade para continuar a protagonizar o processo da sua própria vida, abrindo o horizonte do possível e não perdendo, nunca, a auto-estima.

A responsabilidade dos profissionais, bem como da família e da sociedade, será a

de proporcionar e viabilizar as correções e recursos necessários para que as futuras

gerações de idosos possam viver melhor que as antecedentes, e possam eles

próprios ser os agentes transformadores de seus projetos de vida. Para tanto, é

preciso saber escutar o idoso.

E saber escutar, conforme Calado (2004, p.56), é “disponibilizar-se para ouvir,

interpretar e compreender até o não dito, é a pedra de toque para conseguir

diagnosticar as reais necessidades da pessoa em interlocução”.

Escutar a mensagem verbalizada e a mensagem viva das entrelinhas, dos gestos e

posturas corporais, dos tons de voz, enfim, de tantas sutilezas que brotam do mais

recôndito da nossa casa, esta sublime casa-corpo em que vivemos.

A CasaUm modo genuíno de morar

A casa: um modo genuíno de morar 87

A cidade, a rua, o prédio, a porta representam modelos de subjetividade enquanto portadores de história, desejos, carências e conflitos. Cada cidade, bairro, rua, até mesmo cada casa, tem um clima que não advém, exclusivamente, do planejamento urbano e da geografia, mas de encontro de identidades em processo – identidades de homens e espaços. Esse clima perpassa diferentes entidades: eu, corpo, espaço doméstico, etnia, arquitetura. Dessa forma, os espaços construídos formam discursos e manipulam impulsos cognitivos e afetivos próprios.

Sawaia (1995, p.21)

Qual a visão que os idosos têm de planejar o ambiente em relação à

longevidade? O ambiente domiciliar tem papel primordial no bem-estar, no conforto

e na saúde durante todo curso de vida. No entanto, o que observamos são

ambientes projetados para adultos jovens sem nenhuma limitação e a

desconsideração das necessidades dos idosos, bem como das crianças, das

pessoas muito altas ou baixas, das mulheres gestantes, das pessoas obesas e das

pessoas com limitações sensoriais, cognitivas e físicas, como os que utilizam

cadeira de rodas, bengalas, muletas e andadores, que também são usuários desses

espaços.

Ao considerarmos, especificamente as pessoas idosas, algumas almejam viver a

velhice em suas casas. Mas enquanto ao longo da vida sofrem alterações

fisiológicas, biológicas e funcionais, a casa permanece praticamente inalterada, com

poucas intervenções para a melhora ou manutenção de uma relação harmoniosa

entre o ambiente e o usuário, agora envelhecido, agora idoso.

O corpo se transforma e ao lado das transformações orgânicas, anatômicas e

estruturais, surgem limitações funcionais, requerendo sim, modificações práticas no

ambiente que ofereçam acessibilidade, uso facilitado e prevenção de acidentes

favorecendo a independência e a autonomia dos que nele residem. É o respeito à

equidade dos direitos de participação de todos.

A casa: um modo genuíno de morar 88

Na pesquisa, o conservadorismo, a projeção negativa de uma velhice dependente, a

desconsideração da importância da prevenção, bem como a negação da própria

velhice foram observadas como fatores limitantes que interferem na disposição de

planejar o ambiente para a velhice, e resultam em poucas intervenções ou

mudanças da própria casa.

As barreiras são reais e potencialmente perigosas aos idosos, independente de sua

latência e quantidade, pois o corpo continua a envelhecer e a sofrer perdas. A

diminuição das habilidades e agilidade, da força e da capacidade respiratória, o

aumento do tempo de reação aos estímulos externos, o comprometimento dos

sentidos, da atenção e memória influenciam o desempenho do idoso, e podem

comprometer a relação do quarteto idoso, ambiente, conforto e atividade.

Nessa dinâmica, as representações e o significado social e afetivo da casa trazem

implicações relevantes no desejo dos moradores de permanecerem em suas casas

na velhice, fortalecendo a idéia de ambientes acessíveis, inclusivos, harmoniosos e

prazerosos. Ambientes que permitam a participação ativa e vivência contínua de

novas e diferentes situações e experiências.

A casa para as entrevistadas representa o maior bem conquistado ao longo da vida,

um bem durável, o que implica no não desejo de mudar, permeado pelo sentimento

de conquista, afetividade, bem-estar, privacidade, independência, autonomia e

segurança.

Contudo, essa informação, bem como todos os resultados relevantes desta

pesquisa, não pode ser generalizada a toda população idosa. População que tende

a aumentar, independente da classe social e econômica. O estudo acabou

contemplando um grupo privilegiado em termos de recursos, escolaridade, e,

inclusive, de poucas limitações físicas e ambientais.

É indispensável conhecer também a realidade social das pessoas menos

favorecidas, que ao adquirirem sua casa própria, se ocorre ou quando ocorre,

tendem a não mudar, independentemente das condições e circunstâncias.

Nos anos a mais de vida também há ganhos, não somente perdas e déficits. Para a

população de idosos, uma habitação condizente com suas necessidades representa

A casa: um modo genuíno de morar 89

poder viver mais tempo, se possível, até o findar da vida, em sua casa, em seu

aconchego.

A questão do envelhecimento, de “ser velho”, permeou as respostas das

entrevistadas, mas a relação com o ambiente teve pouca representatividade, quando

se trata de planejá-lo. Nas respostas à pergunta norteadora do estudo, observamos

que as pessoas não planejam o seu ambiente para a velhice. As ações e medidas

tomadas que caracterizamos como “curativas”, não têm caráter de intervenção

preventiva, elas acontecem a partir dos acontecimentos e necessidades, à medida

que vão surgindo e demandando soluções.

O não planejar pode estar associado a um fator crucial: a educação para a

longevidade, o conhecimento de que a velhice é uma etapa normal, inevitável,

irreversível e não uma doença ou simplesmente dependência. É importante e

necessário sim, estarmos atento ao “outro”, mas principalmente se auto-conhecer,

entendendo o seu corpo, suas transformações e necessidades, desmistificando a

visão estereotipada e segregadora da velhice.

Nesse contexto, a proposta foi escutar o “outro”. O “outro”, ator principal deste

estudo, é o ser idoso, que possibilitou compreender um pouco da complexa relação

entre o ambiente domiciliar e o morador que envelhece, bem como a reflexão das

entrevistadas sobre a própria velhice e seu ambiente familiar. Assim, mais que os

requisitos físicos e funcionais que proporcionam independência, autonomia e

permitem acessibilidade e fácil uso do ambiente, há que respeitar sua história de

vida, intimidade, individualidade e privacidade, a fim de propiciar a permanência

harmoniosa e confortável em sua casa, o não abandono de suas atividades, a

continuidade das relações sociais e a concretização de seus desejos e escolhas

individuais.

Por fim, acreditando na relevância deste estudo e que ele possa servir como

referência nos planejamentos ambientais e em outros estudos, procuramos trazer

uma contribuição para as políticas públicas e habitacionais que contemplem os

projetos residenciais acessíveis e adaptáveis. Considerando as mudanças

fisiológicas e funcionais do ser humano e as representações, vínculos e sentimentos

do idoso com seu meio familiar, proporcionando ambientes que permitam uma

A casa: um modo genuíno de morar 90

relação prazerosa e harmoniosa, independente da condição da moradia –

unipessoal ou intergeracional – e em todas as fases da vida, contribuindo para o

bem-estar e a permanência do idoso em sua casa, seu espaço afetivo.

Esboçando uma casa para a velhice sem o “tempero” dos moradores

Baseado nas normas da ABNT - NBR 9050 (2004) e nas autoras Perracini (2006);

Barbosa (2006) e Barros (2000), elaborei este texto com o objetivo de pontuar

algumas recomendações simples e importantes de adequação do ambiente, a partir

do ponto de vista técnico, pois o “tempero” de cada ambiente só pode ser dado por

seu ocupante. Portanto neste pequeno esboço de uma casa para a velhice, não está

presente o que é fundamental para habitar o espaço: as referências afetivas, porque

cabe a cada um construí-las.

Todo ambiente deve oferecer simplicidade, praticidade e ser funcional desde o

acesso exterior à iluminação, os pisos, as portas, os desníveis, os degraus e as

escadas, assim como os mobiliários contidos nele.

Iniciaremos com o acesso a casa, desde a calçada que deve ser plana, sem

barreiras e degraus e com adequada iluminação noturna, permitindo segurança e

boa visibilidade. E o piso deve ser áspero para evitar deslizamentos e ou depósito

de limo.

Na entrada social da casa, caso apresente desníveis ou degraus, deve existir

sempre uma rampa, evitando que o acesso de pessoas com mobilidade reduzida,

cadeira de rodas e dispositivos de auxílio à marcha, e de carrinhos de bebê seja

restrito à garagem ou área de serviço.

Entrando em casa

A área de circulação deve ser livre de móveis baixos e pontiagudos. Fios elétricos e

de telefone soltos no chão constituem obstáculos para a locomoção, por isso devem

ser embutidos ou optar por telefone sem-fio, garantindo a circulação por todos os

cômodos da casa. Assim como, os tapetes e carpetes devem ser removidos, se não,

A casa: um modo genuíno de morar 91

presos com móveis ou com antiderrapante e a cor deve ser contrastante entre piso,

parede e porta.

Piso

As condições e o tipo de piso são importantes para o conforto, a deambulação e

prevenção de quedas. Os pisos muito desenhados, estampados ou coloridos devem

ser evitados porque dificultam a percepção de profundidade e provocam a sensação

de volume. Importante o uso de piso cerâmico antiderrapante principalmente na

cozinha, área de serviço, banheiros e áreas externas.

Iluminação e comunicação

Uma iluminação adequada associada ao contraste das cores e à ausência de

ofuscamentos são fatores importantes para a visão e a identificação de objetos e

obstáculos.

A iluminação natural, durante o dia, deve ser preferencial, pois a luz favorece a

sensação de bem-estar e garante um bom relacionamento com o ambiente. A luz

natural em suas diferentes tonalidades, de manhã, mais amarelada; ao meio dia,

mais azul e à tarde, laranja, serve para situar o relógio biológico do organismo ao

longo do dia e preparar-se para a ausência do sol com a chegada da noite.

Os lugares ocupados com maior freqüência da casa, como quartos, sala e

ambientes sociais devem ser bem iluminados, mas com controle da entrada de

iluminação para não ocorrer incidência direta dos raios, evitando aquecimento do

ambiente e a danificação de móveis e aparelhos.

Durante a noite, uma boa iluminação é fator imprescindível em um ambiente,

principalmente em mudanças de ambientes (interno/externo), sendo importante a

graduação da iluminação da área interna para a externa.

Os interruptores devem ser de fácil acesso e manuseio, localizados na entrada dos

ambientes, próximos à porta, contrastando com a parede para maior visibilidade. E a

altura em relação ao chão deve ser entre 80 e 100 cm.

A casa: um modo genuíno de morar 92

Nos quartos, importante manter luminária ou abajur de fácil uso e manipulação e um

interruptor próximo à cama, para evitar quedas à noite, principalmente no trajeto ao

banheiro, responsáveis pela maioria dos acidentes com idosos. Segundo a SBOT/RJ

citado por Barros (2000), o horário mais freqüente das lesões (46%) ocorre entre as

19:00 e as 6:00 horas.

Como requisito de segurança, importante a luz de emergência e luz noturna nos

corredores, banheiros e cozinha, assim como um interfone dentro dos banheiros e

cozinha.

E as tomadas devem ficar a uma altura entre 45 e 100 cm em relação ao chão,

facilitando ao idoso alcançá-las sem necessidade de abaixar-se demais e desligar os

aparelhos puxando pelo fio, o que pode causar acidentes por curto circuito.

Temperatura e Umidade

A sensação de bem-estar e conforto em um ambiente está muito relacionada com as

condições de umidade e temperatura do local.

Alguns comportamentos comuns em idosos mais velhos, como curvar o corpo,

diminuindo a área de exposição da pele; esfregar as mãos ou colocá-las nos bolsos;

usar casacos ou roupas de lã quando aparentemente não é necessário, justifica-se

pela maior dificuldade em se adaptar às variações de temperatura e de perceber que

seu corpo está excessivamente frio ou quente (hipotermia ou a hipertermia,

respectivamente). Pois, enquanto a pele de um adulto jovem e saudável é capaz de

detectar uma queda de temperatura de até 0,5º C no ambiente, esta sensibilidade

diminui gradativamente no idoso, de tal maneira que é possível que ele não perceba,

por exemplo, uma queda de 5º C na temperatura.

E oferecer condições mínimas para que a temperatura do corpo se mantenha dentro

de limites razoáveis se faz necessário para a execução das funções normais e

manutenção da saúde. Pois, tanto o frio excessivo quanto o calor, que provoca

desidratação devem ser evitados.

Medidas para a manutenção do conforto ambiental devem ser adotadas de acordo

com as estações do ano e horários do dia, preferências e estado de saúde dos

A casa: um modo genuíno de morar 93

idosos. Como recursos temos os ventiladores de teto e de pé, ar condicionado,

janelas com persianas internas ou venezianas móveis.

A qualidade do ar com a purificação e a renovação, também devem ser

considerados, realizando-se limpezas periódicas nos aparelhos de ar condicionado e

evitando-se cortinas pesadas, principalmente no quarto, devido ao grande acúmulo

de poeira e incidência de problemas respiratórios.

Acústica

A acústica e a qualidade sonora têm um forte impacto na caracterização de um

lugar. Está associada à defesa contra ruídos, que trata da eliminação ou

amortecimento dos sons indesejáveis, sejam de fontes internas ou externas e ao

controle dos sons no recinto, que visa à melhora da comunicação sonora,

preservando a inteligibilidade.

O envelhecimento provoca algumas alterações que interferem o conforto acústico,

como a perda auditiva gradual e bastante considerável, principalmente nas

freqüências altas, correspondentes aos sons agudos, representando uma redução

na inteligibilidade da fala, em maior grau nos homens do que nas mulheres.

Para proporcionar conforto acústico aos idosos, os ruídos indesejáveis devem ser

eliminados, o que favorecerá o bem-estar em seus ambientes, melhora da

inteligibilidade nas comunicações e prevenção do isolamento social.

A qualidade acústica dos ambientes favorece a comunicação e a socialização, mas

sofre influência direta da dimensão e distribuição dos cômodos, dos materiais

utilizados na construção e dos objetos de decoração. E a escolha dos materiais deve

ser justificada pela busca de isolamento e da absorção sonora, melhora da redução

de ruídos internos e qualidade da inteligibilidade.

Alguns cuidados devem ser tomados na escolha dos materiais, pois em geral, os

lisos e duros tendem a aumentar o tempo de reverberação do som, ocasionando

ecos, mesmo sutis, que contribuem para a diminuição da inteligibilidade. Os

porosos, como madeiras, estofados, almofadas, cortinas são os mais indicados, mas

lembrando que as cortinas e almofadas acumulam muita poeira.

A casa: um modo genuíno de morar 94

Portas e janelas

As portas devem ter no mínimo 90 cm de largura, proporcionando um vão livre de 85

cm e no mínimo de 80 cm.

Preferencialmente, não devem abrir para a área de circulação, e sempre que

necessário serem removidas. As portas do tipo vaivém e camarão não devem ser

utilizadas. Os batentes devem ser arredondados e pintados com cores contrastantes

com a parede, para favorecer a orientação da posição do corpo na vertical e os

capachos devem ser embutidos e nivelados, de maneira que não excedam 1,5 cm

da altura do piso.

As maçanetas devem ser em forma de alavanca e fácil preensão, com a chave para

cima, sempre que possível, facilitando a visualização do segredo da porta.

Importante evitar as maçanetas redondas.

As portas internas não devem ter trancas e no banheiro, devem ser

preferencialmente corrediças, com fácil deslizamento ou abrir para fora, evitando a

sua obstrução em uma eventual queda do idoso. As portas de entrada devem ser

planejadas para garantir a privacidade, impedindo que ao abrir a porta, qualquer

pessoa tenha acesso a todo aposento.

As janelas, com sistema de abertura sempre para dentro ou de correr, com

manuseio confortável e seguro e, para controle da iluminação e ventilação fazer uso

de persianas internas.

Escadas, degraus e rampas

As escadas devem obedecer algumas recomendações: a largura mínima admissível

deve ser de 120 cm e os degraus devem ser antiderrapantes, acomodar bem os pés

(entre 28 e 32 cm) e apresentar faixas contrastantes para facilitar sua visualização; a

dimensão dos espelhos deve ser entre 16 e 18 cm e não devem ser vazados e o

bocel não pode ter arestas, onde os pés podem se enganchar facilmente.

Os corrimãos devem acompanhar toda a extensão da escada dos dois lados com

altura média de 80 cm e devem ser prolongados cerca de 30 cm nas extremidades e

A casa: um modo genuíno de morar 95

patamar. Devem ser pintados com cores contrastantes em relação à parede. O

diâmetro do corrimão de 3,0 a 4,5 cm e a empunhadura deve ser arredondada com

um vão de no mínimo 4 cm em relação à parede. E a iluminação deve ser adequada

e ter interruptores no topo e no fim da escada.

As rampas devem atender as seguintes exigências: os desníveis devem ser

vencidos por rampas na área de circulação, quando superiores a 1,5 cm de altura,

pois os idosos gastam mais energia ao se deslocarem, seja de forma independente

ou com uso de dispositivo de auxílio à marcha. Devem existir áreas horizontais

(patamares) no topo e no término da rampa, assim como nas mudanças de direção

e uma de declividade máxima de 10%. A largura recomendada é de 150 cm, sendo

admissível o mínimo de 120 cm.

Mobiliário

Cadeiras

Devem ter braços com altura entre 18 e 20,3 cm a partir do assento, proporcionando

estabilidade e descanso apropriado para a coluna lombar. O assento deve ser firme,

com altura entre 40 e 44 cm (para a maioria das pessoas) e com profundidade

adequada, deixando livre a fossa poplítea, o que possibilita melhor retorno venoso.

O encosto deve suportar os ombros e, se possível, permitir o apoio do pescoço,

principalmente quando o móvel é utilizado pra descanso. O ângulo de abertura dos

pés não deve exceder o do assento ou do encosto, evitando tropeços. Evitar

cadeiras de plásticos pela instabilidade durante o ficar de pé e sentar. E as cadeiras

de balanço devem ter uma base estável.

Sofás e poltronas

Sofás devem ser confortáveis, mas os assentos não devem ser muito macios. A

altura média de 50 cm, fáceis de sentar e levantar com profundidade média 70 a 80

cm. Os braços firmes e preferencialmente de dois lugares, pois cada usuário terá

pelo menos um apoio para braço. Indicação de uso de poltronas para leituras na

sala e no quarto, assim como ajuda para calçar meias e sapatos.

A casa: um modo genuíno de morar 96

Mesas e estantes

As mesas de refeição devem ter de 71 a 74 cm de altura. No uso de cadeira de

rodas a altura que permite o acesso total dever ser entre 75 e 85 cm. A estrutura

deve ser firme, pois em geral, os idosos utilizam as mesmas como apoio ao se

levantar. As mesas de canto não devem ser do tipo pedestal, pois viram com o peso

do corpo.

A altura confortável está na altura do cotovelo, permitindo o acesso e a visualização

dos objetos. Os cantos devem ser arredondados e os pés não devem exceder o

limite do tampo da mesa.

A mesa de apoio para telefone e abajur, próximo ao sofá, deve ter altura média de

60 cm, sem quinas vivas, evitando-se vidros ou materiais cortantes.

A estante, com prateleiras bem fixadas ao piso ou à parede, evitando-se objetos

pesados e de vidro e, os aparelhos de som ou TV com controle remoto.

Armários e estantes

Os armários e estantes devem ser firmes e presos ao chão ou parede, e não ter

muita profundidade. Os objetos devem estar localizados na altura dos olhos dos

idosos e do alcance manual.

Cômodos

Quarto

A cama deve ter largura variável com altura de 45 a 50 cm incluindo o colchão que

deve ter densidade adequada ao peso do usuário. É importante que a pessoa

sentada na beirada da cama, apóie os pés no chão, evitando assim a hipotensão

postural (tonteira). A cama deverá ter cabeceira que permita à pessoa recostar-se

sem esforço. E para evitar a sensação de frio nos pés, deve-se usar sempre colcha

ou cobertor preso ao pé da cama, tendo cuidado com as pontas soltas para não

embolar, provocando quedas.

A casa: um modo genuíno de morar 97

A mesa de cabeceira, com bordas arredondadas e altura cerca de 10 cm acima da

cama. Sempre que possível fixada no chão ou na parede, evitando assim que se

desloque caso a pessoa precise se apoiar nela ao levantar.

Os armários ou guarda-roupas com portas leves, de fácil acesso, arejadas e

cabideiro baixo, evitando o uso de escadas e banquinhos; as gavetas com trava de

segurança nos deslizantes; as prateleiras com alturas variáveis; os puxadores do

tipo alça ou alavanca, evitando os arredondados e luz interna ao abrir a porta.

Em relação aos acessórios algumas recomendações: relógio digital com números

grandes; suporte para copos de plástico ou metal; telefone e números de auxílio no

criado mudo; lanterna na gaveta para emergências e controle remoto para TV e

sistema de ar condicionado ou de aquecimento elétrico de acordo com o clima da

região.

Banheiro e banho

O banheiro é o cômodo que merece maior atenção e destaque, principalmente por

ser o local de maior incidência de quedas no domicílio. Considerando-se as

alterações fisiológicas e funcionais do idoso, alguns requisitos são necessários:

prevendo o uso e colocação de barras de apoio, as paredes devem ser de alvenaria

com resistência suficiente para a fixação das barras por meio de buchas e

parafusos.

O espaço interno do banheiro e do box deve permitir a circulação de duas pessoas,

facilitando a ajuda do cuidador, se for o caso. A porta do box de material

inquebrável, firme e com abertura para os dois lados (portas de correr), com largura

suficiente para possível entrada de cadeira de rodas, possibilitando ainda, o

manuseio dos controles de água estando fora do mesmo, para preparo da água na

temperatura ideal, evitando queimaduras e alteração na pressão arterial

(hipotensão).

Outros cuidados e recomendações quanto ao box são: largura mínima de 80 cm,

com desnível máximo de 1,5 cm em relação ao piso do banheiro; com inclinação

para o ralo, evitando o acúmulo de água em todo banheiro; piso antiderrapante

(faixas ou tapetes com ventosas); assento para banho fixo com largura mínima de

A casa: um modo genuíno de morar 98

45 cm e ideal de 70 cm e altura de 46 cm em relação ao piso; barras de apoio com

alturas de 90 cm em relação ao piso e 80 cm de comprimento; chuveiro portátil;

porta objetos fixo; torneiras de fácil manuseio – monocomando; tapete externo de

borracha com ventosas e porta toalha bem próximo ao box com altura média de 100

cm.

O uso de banheira, recomenda-se apenas no caso de espaço para banheira e box e

deverá ser provida de barras de segurança e ter os comandos para fora ou à

distância.

Bacia sanitária: O vaso sanitário deve ter uma altura máxima de 46 cm com o

assento, permitindo maior conforto ao sentar, com descarga simples – sem caixa

acoplada, ou descarga por botão. Ducha higiênica manual altura média de 45 cm do

piso; papeleira externa de fácil acesso com altura média de 45 cm do piso e barras

de apoio com altura de 75 cm em relação ao chão e comprimento de 90 cm na

lateral e fundo.

No caso de caixa acoplada, é importante o uso de barra nos fundos para evitar o uso

da caixa como apoio ao se levantar.

Bancada e Pia: Altura da bancada deve ser entre 78 e 80 cm com vão livre de 73 cm

que permita o uso por uma pessoa sentada. O sifão e a tubulação devem estar

situados a no mínimo 25 cm da face externa frontal e ter dispositivo de proteção do

tipo coluna suspensa ou similar.

As torneiras de fácil manuseio – ½ volta, alavanca, monocomando ou com célula

fotoelétrica. A pia com ralo protetor e barras de apoio junto ao lavatório evitando que

faça apoio diretamente na mesma; sabonete líquido com recipiente de manuseio

fácil (pressão) e porta toalhas alto e próximo da bancada – 110 cm a 130 cm. As

tomadas e interruptores altos, em área seca – 110 cm a 120 cm.

O espelho frontal iluminado com inclinação de 10º, permitindo o uso por pessoa

sentada. Apoio de escovas, lâminas, tubos, remédios em material inquebrável.

Importante uso de lâmpadas de emergência para caso de falta de energia.

A casa: um modo genuíno de morar 100

Geladeira com congelador: Manter limpa e funcionando, evitar colocar peso nas

portas, observar umidade e preferir altura de prateleiras que permita o acesso sem

precisar abaixar muito nem levantar muito os braços.

Carrinho de rodas e outros utensílios: O carrinho ajuda a mover utensílios e vasilhas

da cozinha para outros ambientes evitando acidentes no trajeto. E o forno elétrico ou

microondas deverão ser instalados em local de fácil acesso e permanecer

desligados após o uso.

Tanque e tábua de passar: A altura adequada da tábua de passar roupa para ser

utilizada estando a pessoa na posição sentada é de 75 cm e que seja de preferência

fixa, evitando acidentes como tropeços ou esbarrões. O ferro com fio espiralado,

com suporte fixo, controle automático de temperatura para evitar acidentes e as

tomadas altas: 100 a 120 cm para a lavanderia.

Sala de jantar e estar

O ambiente deve ser livre de objetos e móveis baixos que possam trazer risco,

como: banquetas, mesinhas muito baixas e tapetes soltos. As paredes devem ser de

cores estimulantes e contrastantes com o mobiliário. A iluminação uniforme,

contínua (vários pontos) e anti-ofuscante (lâmpadas leitosas, iluminação indireta) e

três vezes mais forte que o normal, para compensar as dificuldades visuais.

Personalizar o ambiente com objetos pessoais, tais como fotografias de familiares,

eventos significativos, viagens, elementos que tragam recordações e pertencimento,

contribui para a manutenção da identidade, controle da situação e auto-estima do

idoso.

Jardins e jardineiras

Prever equipamento adequado para utilização na posição sentada, permitindo assim

ao idoso manter seus hábitos de lazer de forma confortável e segura.

O esboço técnico dessa casa não contempla as relações afetivas entre as pessoas

e o meio, bem como com os objetos, os móveis, e demais pertences que constituem

A casa: um modo genuíno de morar 101

uma casa. Sendo assim, o profissional, independente de sua área, ao “invadir” o

ambiente do “outro”, deve considerar e respeitar sempre a relação intrínseca do

homem e seu domínio, sua casa, seu lar...

Referências bibliográficas

Referências bibliográficas 103

ABNT NBR 9050:

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Apêndices

Apêndices 111

APÊNDICE A: Roteiro de entrevista

Número do questionário______QUESTIONÁRIO

DATA DA ENTREVISTA ___/___/___ Início_________hs Término____________hs

1. Dados sócio-econômico-demográfico

1. 01. Nome completo: _____________________________________________

1.02. Data de nascimento ___/___/___ 1.03. Idade (anos completos) _______

1.04. Sexo: 1 Feminino2 Masculino

1.05. País de Nascimento: 1 Brasil23

1.06. Se é brasileiro: 1 São Paulo23

Outro Estado de Nascimento: ________________________

1.07. Estado Civil: 1 Solteiro2 Casado/vive junto 3 Separado/divorciado4 Viúvo

1.08. Qual sua religião? 1 Não tem 2 Católico3 Evangélica4 Espírita5 Judaica6 Budista7 Islâmica8 Outra

Apêndices 112

1.09. Qual a sua cor? 1 Branca 2 Preta 3 Parda 4 Amarela 5 Indígena

1.10. Qual sua escolaridade?

1 Analfabeto2 Sabe ler/escrever ou primário incompleto 3 Primário completo 4 Ginásio/1º grau 5 Colegial/ 2º grau 6 Curso Superior/Graduação 7 Pós-graduação8 Outro

1.11. Profissão: __________________________

1.12. Atividade Ocupacional Anterior: ________________________

1.13. Atividade Ocupacional Atual: __________________________

1.14 Renda pessoal. R$/mês: _________________ 1.141. A sua renda /mês é suficiente para suprir suas necessidades pessoais?

1 Sim2 Não

1.142. O sr(a) tem ajuda financeira de terceiros?

1 Sim2 Não

Se sim, de quem? _________________________

2) AMBIENTAIS

2.1. Descreva a casa onde o sr. (a) mora: ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2.2. Com quem o sr (a) mora? __________________________________________________________________________

2.3. A casa onde o Sr.(a) mora é:

1 Própria 2 Alugada3 Cedida 4 Outros

Apêndices 113

2.4. Tipo de moradia 1 Casa térrea2 Casa com mais de 1 pavimento 3 Apartamento 4 Sobrado5 Outro

2.5. Tempo de moradia__________________________

2.6. O Sr. (a) tem vontade de mudar de casa?

1 Sim2 Não

Por quê?__________________________________________________________________________

PARA USO DO ENTREVISTADOR APENAS (AUXÍLIO) 1 Para ter mais segurança 2 Mudança de cidade 3 Aquisição da casa própria 4 Por questões econômicas/financeiras 5 Dificuldade no uso da casa atual. * 6 Para ter mais conforto ** 7 Porque a atual é muito grande 8 Porque a atual é muito pequena 9 Porque não gosto do bairro 10 Porque não gosto da casa 11 Para ficar mais perto dos familiares 12 Outro***

* Que tipo de dificuldade?_____________________________ ** Que tipo de conforto?______________________________ *** Outro motivo:_______________________________

3) FUNCIONAIS 3.1. O (A) Sr.(a) tem alguma dificuldade em sua casa:

SimNão Se sim, que tipo de dificuldade

o Sr.(a) tem?

No acesso à sua casa 1 2Em se locomover dentro de casa 1 2Ao usar o banheiro 1 2Em freqüentar a sala de jantar, estar ou de TV

1 2

No uso do quarto 1 2No uso da cozinha 1 2No uso da área de serviço 1 2Ao usar algum móvel/ mobiliário 1 2Em manipular (abrir/fechar) as portas e janelas

1 2

Ao usar escadas 1 2Em freqüentar o quintal 1 2Em freqüentar o jardim/terraço/varanda

1 2

Apêndices 114

3.2. O Sr.(a) está satisfeito na sua casa com a:

Sim Não

Iluminação 1 2Ventilação 1 2Acústica 1 2

Por quê?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3.3. O Sr. (a) considera a sua casa com condições adequadas para realizar as sua atividades no seu dia-a-dia?

1 Sim2 Não

Por quê?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3.4. O Sr. (a) deixou de freqüentar algum cômodo/espaços de sua casa?

1 Sim2 Não

3.4a. Se sim, qual cômodo o Sr. (a) deixou de freqüentar?

1 Quarto2 Cozinha3 Banheiro4 Sala5 Área de serviço 6 Quintal

Por quê?__________________________________________________________________________

3.5. O Sr. (a) já realizou alguma modificação ou adaptação na sua casa para facilitar seu uso?

1 Sim2 Não

3.5a. Se não, não fez por quê?

1 Não teve recursos financeiros, embora quisesse fazer. 2 Não acha necessário.

3.5b. O Sr. (a) tem vontade de fazer alguma modificação ou adaptação na sua casa, hoje?

1 Sim2 Não

Por quê?__________________________________________________________________________

Apêndices 115

3.6. O Sr. (a) se sente confortável em sua casa?

1 Sim2 Não

Por quê?__________________________________________________________________________

3.7. A sua casa lhe proporciona privacidade?

1 Sim2 Não

Por quê?__________________________________________________________________________

3.8. Se o Sr. (a) vivesse até 110 anos, quais modificações o Sr. (a) acha que deveria fazer em sua casa?__________________________________________________________________________

Por quê?__________________________________________________________________________

3.9. O Sr. (a) acha que a sua casa é de fácil uso/acessível para si?

1 Sim2 Não

Por quê?__________________________________________________________________________

3.10. O Sr. (a) acha que a sua casa é acessível para receber visitas em cadeira de rodas, gestantes, usuários de bengala ou andador e crianças em carrinho de bebê?

1 Sim2 Não

Por quê?__________________________________________________________________________

3.11. O que a sua casa significa para o Sr.(a)? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3.12. Como seria a casa ideal para sua velhice? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3.13. O que é velhice para o sr (a)? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3.14. O sr (a) considera a sua casa adequada para viver o resta da sua vida?

1 Sim2 Não

Apêndices 116

4) CLÍNICAS

4.1. O (a) Sr.(a) apresenta algum doença/problema de saúde nos sistemas:

SimNão

Se sim, quais?

Sistema Nervoso *Parkinson, Esclerose Múltipla, Alzheimer, Def. de memória.

1 2

Físico muscular ou relacionado ao esqueleto/ossatura. *Osteoporose, Artrose, AR

1 2

Digestório *Úlcera, Gastrite. 1 2Cardíaco ou vascular *Hipertensão, varizes, AVC.

1 2

Respiratório. *DPOC, Asma, Pneumonia, Sinusite, Renite,Faringite, Amigdalite, laringite

1 2

Endócrino/metabólico* Diabetes, obesidades, doenças da tireóide.

1 2

Genito-urinário. *Insuficiência Renal, Cistite, Incontinência.

1 2

Outros 1 2

4.2. O Sr.(a) apresenta algum problema ou perda da:

SimNão

Visão 1 2Audição 1 2Tato 1 2Olfato 1 2Paladar 1 2Equilíbrio 1 2

4.3. Alguns desses problemas ou perdas dificultam suas atividades diárias (cotidiano)?

1 Sim2 Não

Como?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________

***Endereço: Rua: __________________________________________________________ Bairro: _________________________________________________________ Cidade:___________Estado:________CEP:__________Telefones: _________

Apêndices 117

APÊNDICE B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Consentimento Livre e Esclarecido

Prezado Sr (a), _________________________________________________

Solicito o seu consentimento para participar da pesquisa cujo nome é:

AMBIENTE DOMICILIAR X LONGEVIDADE: Pequena história de uma casa para a

velhice*, que está sendo realizada para obtenção de título de mestre em

Gerontologia Social pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia

da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

As informações de seus dados gerais, necessárias para o preenchimento

dos questionários, serão obtidas através do (a) senhor (a). Todas essas

informações são absolutamente sigilosas, serão mantidas comigo e seu nome

jamais será mencionado na divulgação dos resultados da pesquisa.

A sua participação é absolutamente voluntária, podendo desistir de

participar do estudo e solicitar a suspensão do seu consentimento mesmo após ter

sido realizada a entrevista.

Agradeço-lhe atenção e deixo o meu telefone para contato.

FARAH REJENNE CORRÊA MENDES

Pesquisadora.

São Paulo, __/ __/ __

Consentimento do entrevistado ___________________________________

* Título inicial.

Telefones para contato: (11) 3826-6927 ou (11) 8163-6272

Email: [email protected]

Anexo

Anexo 119

ANEXO A: Aprovação do comitê

Anexo 120

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