planejar velhice

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REVISTA PORTAL de Divulgação, n.42, Ano V. Set/Out/ Nov. 2014, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista 80 É possível planejar a velhice, e perguntar: é assim que queremos estar? Sonia Cristina Rovaris velhice, última etapa de nossas vidas, nem sempre recebe a atenção e planejamento que nos garanta vivenciá-la de acordo com que almejamos, pois, dificilmente, investimos nos últimos anos dessa fase. Nos tempos atuais as pessoas têm ganhando mais anos de vida, graças as tecnologias e melhorias das condições sanitárias, porém, os anos conquistados não significam a manutenção da autonomia e independência, seja por algum evento acidental, pelo acometimento de doença incapacitante ou diminuição na capacidade funcional. Segundo Neri (2013), no percurso do envelhecimento natural o ser humano está programado para declinar antes de morrer. O aumento da longevidade populacional brasileira, atualmente, representada por 12,1% da população - o que era em 1940, 4,1% dessa categoria – acompanhou as modificações das características sociais, culturais e demográficas da família contemporânea. Nesse processo de mudanças, depara-se com crescente incorporação da mulher no mercado de trabalho, a diminuição do número de filhos, ou pela opção de não tê-los, a migração de filhos em busca de melhores condições de vida em outras regiões, fatores que influenciam na redução da capacidade das famílias no cuidado aos idosos, principalmente nas situações de dependência. A família continua sendo a principal fonte de recursos disponíveis aos cuidados dos familiares com alguma dependência, situação em transição frente aos novos papeis assumidos pela mulher, situação que requer a formulação e implantação de políticas públicas que ofereçam suporte nesses cuidados. A dependência do idoso gera um desiquilíbrio na dinâmica familiar acompanhado, muitas vezes, de intensos conflitos, pois os cuidadores dificilmente possuem informações suficientes para exercer os cuidados, e os recursos técnicos e sociais de apoio aos familiares são escassos. A

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REVISTA PORTAL de Divulgao, n.42, Ano V. Set/Out/ Nov. 2014, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista 80 possvel planejar a velhice, e perguntar: assim que queremos estar? Sonia Cristina Rovaris velhice, ltima etapa de nossas vidas, nem sempre recebe a ateno e planejamentoquenosgarantavivenci-ladeacordocomque almejamos,pois,dificilmente,investimosnosltimosanosdessafase. Nostemposatuaisaspessoastmganhandomaisanosdevida,graasas tecnologias e melhorias das condies sanitrias, porm, os anos conquistados nosignificamamanutenodaautonomiaeindependncia,sejaporalgum evento acidental, pelo acometimento de doena incapacitante ou diminuio na capacidadefuncional.SegundoNeri(2013),nopercursodoenvelhecimento natural o ser humano est programado para declinar antes de morrer. Oaumentodalongevidadepopulacionalbrasileira,atualmente,representada por12,1%dapopulao-oqueeraem1940,4,1%dessacategoria acompanhouasmodificaesdascaractersticassociais,culturaise demogrficasdafamliacontempornea.Nesseprocessodemudanas, depara-secomcrescenteincorporaodamulhernomercadodetrabalho,a diminuiodonmerodefilhos,oupelaopodenot-los,amigraode filhos em busca de melhores condies de vida em outras regies, fatores que influenciamnareduodacapacidadedasfamliasnocuidadoaosidosos, principalmente nas situaes de dependncia. A famlia continua sendo a principal fonte de recursos disponveis aos cuidados dosfamiliarescomalgumadependncia,situaoemtransiofrenteaos novospapeisassumidospelamulher,situaoquerequeraformulaoe implantaodepolticaspblicasqueofereamsuportenessescuidados.A dependncia do idoso gera um desiquilbrio na dinmica familiar acompanhado, muitasvezes,deintensosconflitos,poisoscuidadoresdificilmentepossuem informaessuficientesparaexerceroscuidados,eosrecursostcnicose sociais de apoio aos familiares so escassos. A REVISTA PORTAL de Divulgao, n.42, Ano V. Set/Out/ Nov. 2014, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista 81 Esse cenrio ainda pouco reconhecido nas agendas das polticas pblicas faz parte de uma rotina profissional desafiadora, no processo de apoio tcnico. Nas atividades da promotoria de Justia de proteo ao idoso de Feira de Santana (BA),sofrequentesoscasosqueenvolvemidososnegligenciados, abandonadosouquesofremoutrostiposdeviolncianosncleosfamiliares vulnerveis na prestao de cuidado ao idoso em estado de dependncia. EssarealidadevivenciadacotidianamentefoitemadedebatenoNcleode EstudoePesquisadoEnvelhecimento(NEPE),daPontifciaUniversidade CatlicadeSoPaulo,realizadonofinaldejunhode2014,promovidopelo ProgramadeEstudosPs-GraduadosemGerontologia.Nesseencontroa discussocontextualizouoimpactonafamliacomoscuidadosdeidosos dependentes,comcomprometimentofuncionalecognitivo,apresentandoas InstituiesdeLongaPermannciaparaIdosos(ILPIs),comoumadas alternativas desse novo panorama, sinalizando a necessidade de aumento dos serviosdeassistnciadomiciliareespaoscoletivosdesuporteafamliana assistncia. Desafios das ILPIs ElianaArajo(2012),psiclogaclnicaemestreemgerontologia,umadas expositorasdoencontrodoNEPE,esclareceusobreanecessidadede reestruturaodasILPIsparaatenderapopulaolongeva,comaesque valorizemasubjetividadedosidosos,envolvendofamiliarescomoprincipal rededeafetosesegurana,bemcomofuncionrios.Levantouo questionamento sobre qual seria o motivo da existncia de tanto preconceito e de imagem negativa pelas ILPIs? Esclareceuquenessesespaos,normalmente,sorestritosaoscuidados bsicosdavidadiriacomo:alimentaonoshorrios,higienepessoal, controle do uso de medicamentos, muitas vezes, utilizado em excesso por falta deatividadesinterativas.IssoperpetuaaimagemnegativadasILPIs,poisa ideiadepassarosltimosanosdevidanesseespaogeranoidosoomedo pelodesconhecido,eaosfamiliaresasensaodeabandonoporadotaremo servio, ante a indisponibilidade de prestar os cuidados ao idoso em domiclio, principalmente dos mais dependentes. A palestrante destacou sua experincia de trabalho em ILPI, sua busca entre a teoriaeaprtica,utilizandooficinasqueenvolviamosprojetosdevidados idososinstitucionalizados,commodalidadesfsicas(alongamento,dana snior),cognitivas(memria,jornal,palestras,provrbios),ocupacionais (ikebana,tric,artesanato,culinria),musicaiserecreativas(coral,gincana, jogos,bingos),socioculturais(concertos,passeios,desfiledemodas,filmes), religiosas (escuta da palavra de Deus, novena, festividades), estimulando uma nova imagem da velhice institucionalizada. Noentanto,arealidadeconfirmaquenamaioriadessesespaosaindaso rarasasatividadesacolhedoras,queenvolvemengajamentodecisriodo morador,prevalecendooambientemelanclicoeosentimentodeesperado REVISTA PORTAL de Divulgao, n.42, Ano V. Set/Out/ Nov. 2014, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista 82 tempo. Como afirmou uma idosa durante uma das visitas institucionais, aqui a gentenofaznada,scomeedorme[...]daquinossaprximamoradao cemitrio. Neste sentido, May (1981), afirma que o sentimento de significao estinterligadoaosentimentodepoderquebloqueadointerferenosvalores essenciaisdahumanidade,comofazervaleracapacidadepessoalede autoconfiana.Arazodevivertorna-sepossvelpelaautoafirmaoe capacidade de fazer novas escolhas. Assim,quandoosespaosde convivncianoproporcionamessas possibilidades, ocorre um sentimento de impotncia,envolvidopelaesperade um fim, representado por um isolamento socialdentrodeumespaocoletivo. Nelesaspessoasqueconvivem raramenteestabelecemrelaes interpessoaiscalorosaseexercitam atitudesdeescolhas,mesmoasmais simples-dialogar,iraosupermercado, ou ligar para o familiar no momento que desejar. As dificuldades de adaptaes nas ILPIs resultam nas queixas de insatisfao pessoal, reclamaes dos alimentos e servios, desentendimentos com outros residentes.Taisdescontentamentosdificilmenterecebemescutaqualificada, ousoinstigadasassugestesdosmoradoresnatentativadeajustaronovo lar a partir das ideias dos diversos desconhecidos. Nas entrelinhas das falas dosidososnota-seanecessidadedereceberapoionesseprocessode reelaborao-adaptaesdamudanadedomicliofamiliaraoespao coletivo, que no simplesmente uma transferncia, e apoio na reorganizao das relaes que estimule a socializao. Durante visitas em ILPI, outro idoso afirmou antes eu ia igreja, hoje a igreja vem at mim, o no ir para a igreja ocorre pelas normas da Instituio, pois os moradorestempoucaparticipaoexterna,edependemdavontadedo prximonainteraocomasociedade,quetrazidaparaointeriordas dependnciasdaentidade.Osrelatosdaspessoasidosasqueutilizamesse servioequereconhecemqueoespaoproporcionaseguranacomas atividades bsicas que no teriam em seus domiclios - dificilmente tm suporte nanecessidadedeestimaeautorealizao,revelandoumaconvivnciana ociosidade. No decorrer do dilogo o idoso revelou que a nica vontade sair por aquele porto. Durante a narrativa de sua histria, relatou sua insatisfao por ter sido enganado quando trazido ILPI, informado que iria passar apenas dois dias no local para fazer exames, mas j se foram dois anos e cinco meses, e no sabe se haver volta para casa. Diz que no incio seus filhos visitavam, mas que aps o casamento de um deles, no vieram mais para as visitas. As inquietaes, com o tratamento que aniquila a capacidade do outro, no diz respeitosomenteinsatisfaodoidoso,masacompanhaofazerdo REVISTA PORTAL de Divulgao, n.42, Ano V. Set/Out/ Nov. 2014, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista 83 profissionalqueacreditaqueesclarecimentosreais,nomomentodeseu acolhimento,poderiamdiminuiralgumasfrustraes.Nessecaso,na celebrao de contrato de prestao de servio da ILPI com o idoso, uma das obrigaes das entidades de atendimento, deve constar o tipo de atendimento aseroferecido(ART.50LEIN10.741/2003),evitandooaniquilamentoda capacidadedomorador,queestariacientedosservioscontratados, exercitando, assim, sua necessidade de estima. Constata-se que a realidade distante do que propem os dispositivos legais, presente na falta de capacitao profissional; na forma de gesto e na estrutura arquitetnica dos servios - o que dificulta a circulao e acesso do idoso nas dependnciasecomunicaesnoambiente-;nafaltadeatendimento personalizadoaeleesuafamlia,buscandopreservaroureconstruirvnculos familiares;nadisponibilidadedeacomodaesapropriadaspararecebimento devisitas;naausnciadeofertasdeatividadescontinuadaseprogramadas com esporte, cultura, lazer e educacional. Navelhiceosdesejos,osprojetos,asemoescontinuamapulsar,otempo todo,atamorte.HannahArendt,citadaporCritelli, afirmaquenunca podemosdizerquemumhomem,masquemelefoi".Assimtambm, devemosreconheceroquantoimportanteparatodospermanecerfazendo escolhas, talvez mais do que ter vivido parte da vida bem sucedida.O homem no foi feito para lidar com fatos da vida aleatria, precisa dar sentido vida. A singularidade no vem pronta, modelada ao longo da existncia, e o projeto demudana,senoacompanhadodeumareelaboraodosujeito,podeser dramtico (CRITELLI, 2012, p. 35). Attulodeexemplo,dastrsentidadesvisitadasnomunicpio,osque informaramhaveralgumaatividadedefortalecimentodevnculosfamiliarese comunitrios, de elaborao de estudos de casos, indicaram que os contedos nopassaramderelatoscompiladosdeacontecimentos,comausnciade informaesrelevantesinclusivesobreaprpriahistriadoidoso,aexemplo de sua existncia civil, com prolongado perodo de institucionalizao, vivendo sem documentos pela dificuldade de expresso atravs da fala. Afragilidadetcnicaprofissionalpresentenessasinstituieslevounossa equipedoServioSocial,daRegionaldoMinistrioPblicodeFeirade Santana,escreverumrelatodeexperinciaduranteaintervenoquetratou da histria de uma pessoa com dificuldade de comunicao pela fala, que por este motivo ficou institucionalizada por longo perodo, sem documentao civil esemrefernciafamiliar.Norelatodeexperinciaaequipeutilizouatcnica indicadaporCardosodeOliveira(2000)pararelatarumainterveno perceptivaquecaminhouemdireoaoencontrodefamiliaresquehaviam perdidoaesperanadereencontro,servindocomoalertaaosprofissionais sobre a necessidade da investigao social e adoo dessas ferramentas, que possibilitam a ressignificao de atitudes nas ILPIs1. 1 Segundo o autor, devemos ressignificar o olhar, ouvir e escrever, de modo a no naturaliz-los.Paraele,oolhardopesquisadorimbudodeproblematizaesadquiridaspelas REVISTA PORTAL de Divulgao, n.42, Ano V. Set/Out/ Nov. 2014, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista 84 Servios e Programas de Ateno Pessoa Idosa Sistema nico de Assistncia Social (SUAS) A Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS), que cria o Sistema nico de Assistnciasocial(SUAS),encontra-sedivididaemnveisdeproteosocial: bsicaeespecialdemdiaealtacomplexidade.NaProteoSocialBsica encontram-seServiodeProteoeAtendimentoIntegralFamliaPAIF; ServiodeConvivnciaeFortalecimentodeVnculos;ServiodeProteo SocialBsicanoDomiclioparaPessoascomDeficinciaeIdosos,quetm porobjetivofortalecerafunoprotetivadafamlia,osvnculosfamiliares, comunitriosecontribuirqualidadedevida.Asaessovoltadasparaa acolhida,trocadeexperincia,reflexessobrevulnerabilidades,riscosou potencialidades,comvistaacontribuirparaofortalecimentodelaos comunitrios,conhecimentos,acessoaosdireitoseprevenoderiscos. Quando identificado violao de direitos passa a serem acionados os servios de proteo social especial: mdia ou alta complexidade. Naproteosocialespecialdemdiacomplexidadeencontra-seoServiode ProteoeAtendimentoEspecializadoaFamliaseIndivduos(PAEFI),que realizaoacompanhamentonassituaesdetodosostiposdeviolncia intrafamiliar. Na proteo social especial de alta complexidade encontram-se os servios de acolhimentos para idosos acima de 60 anos de idade, ou mais, de ambosossexos,independentese/oucomdiversosgrausdedependncia.A naturezadoacolhimentodeverserprovisriae,excepcionalmente,delonga permanncia,quandoesgotadastodasaspossibilidadesdeautosustentoe convvio com os familiares (Resoluo n109/2009 CNAS2). De acordo com a PNAS o servio de acolhimento institucional para idosos deve incentivarodesenvolvimentodoprotagonismoedecapacidadesparaa realizaodeatividadesdavidadiria(AVD);desenvolvercondiespara preservaodaindependnciaeoautocuidado;promoveroacessorenda. Quantosmodalidadessoprevistas(1)atendimentoemunidaderesidencial comgruposdeat10idososacolhidos;(2)atendimentoemunidade institucionalcomcaractersticadomiciliarqueacolheidososcomdiferentes necessidadesegrausdedependncia.Devemserdesenvolvidasaesque asseguramaconvivnciacomfamiliares,amigosepessoasderefernciade forma contnua, bem como o acesso s atividades culturais, educativa, ldica e delazernacomunidade.Quantocapacidadedeatendimentodasunidades deve seguir as normas da Vigilncia Sanitria. Sistema nico de Sade (SUS) teorias/visesdemundoqueestecarregaconsigo.Dessemodo,oexercciodoolharcrtico abre cortinas, permitindo ir alm do concreto visualizado (CARDOSO DE OLIVEIRA, 2000). 2ConselhoNacionaldeAssistnciaSocial-CNASqueaprovaaTipificaoNacionalde Servios socioassistenciais. REVISTA PORTAL de Divulgao, n.42, Ano V. Set/Out/ Nov. 2014, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista 85 No que diz respeito Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa (PNSPI), a Portaria GM n 2.528, de 19 de outubro de 2006, do Ministrio da Sade define que a ateno sade dessa populao ter como porta de entrada a Ateno Bsica,SadedaFamlia,tendocomorefernciaarededeservios especializada de mdia e alta complexidade. A PNSPI prev como diretrizes, a promoodoEnvelhecimentoativoesaudvel;implantaodeserviosde atenodomiciliar;acolhimentopreferencialemunidadesdesade, respeitandoocritrioderisco;fortalecimentodaparticipaosocial,entre outras. AVigilnciaSanitria,atravsdaResoluodaDiretoriaColegiada(RDC)n 283,de26desetembrode2005,daAgnciaNacionaldeVigilnciaSanitria (ANVISA), estabelece normas de funcionamento para as Instituies de Longa Permanncia para Idosos (ILPIs). Segundo o documento ILPIs so: [...]instituiesgovernamentaisounogovernamentais, decarterresidencial,destinadoadomicliocoletivode pessoascomidadeigualousuperiora60anos,comou semsuportefamiliar,emcondiesdeliberdade, dignidade e cidadania (ANVISA , 2005) Anormadefineosgrausdedependnciadosidososquenecessitamde assistncianasAtividadesdaVidaDiria3eascondiesgeraisde organizao institucional. So considerados os graus de dependncia: a)graudedependnciaIsoindependentes,masprecisamde equipamentosdeautoajuda,portanto,umcuidadorparacada20idosos,com carga horria de 8 horas/dia; b)graudedependnciaIIsodependentescomatetrsatividadesde autocuidadoparaAVDs,portanto,umcuidadorparacada10idosos,ou fracionado por turno; c) grau de dependncia III so idosos com dependncia que necessitam da assistnciaemtodasasatividadesdeautocuidadoparaasAVDs,oucom comprometimentointelectual,portanto,umcuidadorparacada6idosos,ou fracionado por turno. Normatizaaspectoscomestruturafsica(identificaoexterna,iluminao, ventilao,acessibilidadecomescadas,rampaseelevadores4);itensde segurana;quadroderecursoshumanos;serviodenutrioediettica; assistnciasade;condiesdehigieneedesinfeco;manejodolixo; 3AtividadesdaVidaDiria(AVD):dizemrespeitoacapacidadedecuidadospessoaisede rotinas:alimentar,vestir,tomarbanho,arrumar-se,usarobanheiro,movimentao, transferncia: AtividadesInstrumentaisdaVidaDiria(AIVD):exigeumaelaboraomaior:preparar alimentao,lavarroupas;cuidardoespao/casa,fazercompras,usarotelefone,controlar dinheiro; usar medicamentos. 4LeidaAcessibilidade,DecretoLein5296,de2dedezembrode2004,auxiliarna manuteno e no apoio independncia funcional da pessoa idosa; bem como, os dispositivos da ABNT NRB 9050 da Associao Brasileira de Normas Tcnicas para acessibilidade. REVISTA PORTAL de Divulgao, n.42, Ano V. Set/Out/ Nov. 2014, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista 86 controlepragasurbanas;cuidadoscomosidososedocumentaojurdica, alm da notificao compulsria, monitoramento e avaliao. Estatuto do Idoso - Lei n 10.741/2003 (artigos 35; 48; 49 e 50) OEstatutodoIdosorepresentouumavanonosentidodemaior reconhecimentoaosdireitosdaspessoasidosas,entretantoaprticaest distantedaobedinciaaosdispositivoslegais,eenfrentamdesafiosde diversas magnitudes, desde as que exigem maior investimento pelo Estado at aquelasrelacionadascomafaltadegestoestratgicajuntoaosservios existentes na rede. A efetivao dos dispositivos da norma (artigos 35, 48, 49 e 50) que rege sobre as entidades de atendimento ao idoso, se depara com um histricodeserviosdeILPIsofertadosporinstituiessemfinslucrativos, organizadospelasociedadecivil,namaioriamantidapelovoluntariado,tanto combensmateriaiscomorecursoshumanos,quenemsemprepossuem planosdeatuaodeformaclaraeobjetiva,almdopoucoinvestimentodo poder pblico OEstatutodoIdosodefinepessoaidosacomoaquelacom60anosoumais. Deigualmodo,oart.1,daResoluon283/2005,item2,dispequeesta normaseaplicaatodamoradiacoletivadepessoascomidadeigualou superiora60anos.Paraofuncionamentodosserviosdeatenopessoa idosa deve-se caracterizar o tipo de servio ofertado - Casa Lar, Instituio de LongaPermannciaparaIdosos,Repblicaeprovidenciaradocumentao necessria e recursos humanos mnimos exigidos. Asinstituiesdevematenderaosparmetrosbsicosdefuncionamento, porm ainda expressivo o nmero daquelas que no possuem alguns desses documentos,(a)inscrionoCNPJ;todasasinstituiesespecficaspara idososdevemefetuaroregistronorgosanitriocompetentemunicipal, fixandoo(b)alvardeFuncionamentodaVigilnciaSanitriaMunicipal;a instituiodeveter(c)estatutoeregulamentosqueinformaosobjetivos,a estrutura da sua organizao, o pblico a ser atendido, os servios oferecidos e asnormasbsicasqueregemainstituio;devecontarcomum(d) responsveltcnico,detentordettulodeumadasprofissesdareade sade,queresponderpelainstituiojuntoautoridadesanitria;(e) obrigatoriedadenaassinaturadoContratodeprestaodeserviosentre instituies e os idosos (Estatuto do Idoso no art. 50, inciso I), contendo o tipo de atendimento prestado, as obrigaes da entidade e prestaes decorrentes do contrato, inclusive preo. Asentidadesprivadasdevemobservarosdireitosbsicosdoconsumidor idosos previstos no art. 6 do Cdigo de Defesa do Consumidor; As instituies deveromanter(f)registroatualizadodaspessoasatendidas,constandode nome completo, data de nascimento, sexo, nome e endereo de um familiar ou responsvel.Almdosdadosacimadevemseranexadasaoregistro informaesdemonstrandoacapacidadefuncionaleoestadodesadedo indivduo,afimdeadequarosserviossnecessidadesdapessoaaser atendida. REVISTA PORTAL de Divulgao, n.42, Ano V. Set/Out/ Nov. 2014, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista 87 Aindarecomentadoqueasinstituiesmantenhamarquivadorelatrios mensais,quepoderoserexigidoaqualquermomentopelaautoridade sanitriacompetente,contendoonomedosinternos,umsumrio individualizadonoquesereferesadeesnecessidadessociais,e informaesdecarteradministrativo.Areafsica,destinadaaosidosos, deve ser planejada, levando-se em conta que parcela significativa dos usurios apresenta,oupodeviraapresentar,dificuldadesdelocomooemaior vulnerabilidadeaacidentes.Osprdiosdeverodispordemeiosque possibilitem o rpido escoamento, em segurana dos residentes, em casos de emergncia,deacordocomasnormasestabelecidaspeloCorpode Bombeiros5. TambmforamprevistasaesnoPlanodeAoparaEnfrentamentoda ViolnciacontraaPessoaIdosa,entreelas,acriaodeCentrosde PrevenoViolnciaContraaPessoaIdosa,comfinalidadedematriciaros atendimentos s vtimas idosas e familiares, capacitao de recursos humanos paragestoresdeILPIs,cuidadoresdeidosos,aesarticuladascomos servios da rede local. Consideraes Somuitososdesafiosdalongevidadeparaasfamlias,decorrentesdafalta de efetivao de polticas de suporte ao cuidador familiar; reduo do tamanho dasfamlias,emdecorrnciadaquedadafecundidade;mortalidade;maior participaodamulhernomercadodetrabalho,quehistoricamenteeraa responsvelpeloscuidados;aumentodonmerodeseparaes,casaissem filhos,idososmorandosozinhos;laosfamiliaresfrouxos,quereduzema perspectivadeenvelhecimentoemambientefamiliarseguro,associadoa escassez das politicas voltadas aos idosos. Faz-senecessrioqueasinstituiesdeacolhimentobusquemreestruturara oferta de servios, de modo a propiciar espaos de convivncia que respeitem aindividualidade,autonomiaeprivacidade,valorizaodahistriadevidado idoso,preservaodosvnculoseparticipaonacomunidade.Aperspectiva dearticulaocomarededeservios,atuandoemparceriacomasreasde Sade,Educao,Esporte,Cultura,Lazer,dentreoutras,contribuirna adaptaodatransfernciadodomicliodoidosoaoespaocoletivo,com acompanhamento na reorganizao nas novas relaes sociais. Tambm deve ser considerada a provisoriedade da institucionalizao, a partir daofertacomserviosdeoutrasmodalidadesdeapoiofamiliar,tantode moradia como de cuidados, tais como, Grupo e Centro de Convivncia (idosos independentesefamiliares);Centro-Dia(idososcomlimitaespararealizar AVDs);Repblica(residnciaparaidososindependentes,co-financiadacom seusrecursos);reinserofamiliar(programasdetransfernciaderendapara asfamliaspermaneceremcomseusidosos),alfabetizao,retornocidade 5 http://www.mpba.mp.br/atuacao/cidadania/geido/legislacao REVISTA PORTAL de Divulgao, n.42, Ano V. Set/Out/ Nov. 2014, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista 88 de origem, programas de gerao de renda e insero no mercado de trabalho e programas habitacionais. Devemserofertados,igualmente,serviosdeapoioeacompanhamentoao idosoefamiliarduranteoprocessodeinstitucionalizao,visandomelhor adaptaoeaceitao,poissodiversososquestionamentoseresistncias, tantodosfamiliaresquantodosidosos,nopercursodetransferncia, envolvendosentimentosdemedo,inseguranaeabandono.Corroborapara esse entendimento, a tendncia de profissionais da rea culpar o familiar pela situao,semreconhecerqueesteprecisadeorientaes,suporte biopsicossocial e acesso rede de servios, no sentido de dividir a sobrecarga defunes,muitasvezes,comduplajornada-cuidadodofamiliare necessidade de atividade remunerada fora de domicilio. Nessaperspectiva,existemalgunsservios,aindaescassos,queauxiliama famlianocuidado,aexemplodomunicpiodoRiodeJaneirocomoProjeto Idoso em Famlia, que concede benefcio financeiro s famlias com objetivo de inserirosidososeseusfamiliaresnosserviosdisponveisnarede, possibilitando-lhesatendimento,almdeinformaeseorientaesque auxiliemnocuidado.OutroserviooProjeto AgenteExperiente quese caracterizapelaconcessodebolsaa100idosospararealizaratividades como:acompanhamentodosprofissionaisdosCentrosdeRefernciasde AssistnciaSocialemvisitasdomiciliares;participaonolevantamentoda rededeservios;participaonacampanhadevacinaodeidosos; encaminhamento da populao para servios e programas do municpio, dentre outras (ASSIS e POLLO, 2008). NomunicpiodeSoPaulo,existeoprogramadeAcompanhantedeIdosos (PAI),modalidadedecuidadodomiciliarbiopsicossocialapessoasidosasem situaodefragilidadeclnicaevulnerabilidadesocial,quedisponibilizaa prestao dos servios de profissionais da sade e acompanhantes de idosos, para apoio e suporte nas AVDs e para suprir outras necessidades de sade e sociais. REVISTA PORTAL de Divulgao, n.42, Ano V. Set/Out/ Nov. 2014, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista 89 Exemplodeleveehumoradaexperinciapodeserencontradanahistria apresentadanofilmefrancs,ESeVivssemosTodosJuntos?(2011),que possibilitarefletirsobreanecessidadedeplanejamentodavelhiceaindana faseadulta.OfilmedirigidoporStphaneRobelincomelencodeseis personagens,envolvendocincoidosos,ligadosporforteamizadepormaisde 40 anos, e um jovem que se juntou ao grupo para estudar o comportamento e oshbitosdosidososnatesededoutorado.Ogrupoaosedepararcoma foradavelhice,queemcertomomento,inviabilizouamoradiasolitriade umamigoacometidoporAcidenteVascularEnceflico,sedeparacoma propostaviabilizadapelofilho:umacasaderepouso.Avisitadosamigosa essacasaafloraaimagemnegativadoespaoedecisivoparaquejuntos tomassemumaatitudeousadaearriscada,apartirdafugadolocalea organizao para vivenciar os ltimos anos de vida juntos. Aopodemoraremtodosjuntos,surgiuduranteencontrosnasfestas comemorativas,ideiasreprovadas,inicialmente,poralgunscomponentesdo grupo. Mas, no momento que os amigos foram comemorar na casa de repouso edepararamcomavidalimitadadoamigofoiunnimeadecisopara moraremtodosjuntos.Ogrupo-apesardospercalosedoenas(cncer, Alzheimer)-viviaharmoniosamentenacasasemmediresforosnas intensidades dos ltimos anos de suas vidas. Refletircomoqueremosvivenciaravelhicesuscitaos seguintesquestionamentos:Serqueapartirdomomento queassumimosamaioridade,noprecisamosiniciarum planejamento que guie as prximas etapas da vida, inclusive a velhice? Podemos pensar que isso choca com o confisco da eventualidade da vida, mas como evitar a insatisfao de permaneceremumlugarnodesejado?Comoreconhecer seoabandonodapessoaqueamamosfoiumamaneira diferentedeamar,umaformadevinganaouapropriao alheia?Comoosespaoscoletivosdevivncias prolongadas, para pessoas acima de sessenta anos, podem dar continuidade ao fortalecimento das histrias de amor? Referncias ARAJO,ElianaNovaesProcpiode.Prticaspsicogerontolgicasnos cuidados de idosos. Curitiba: Juru, 2012. ASSIS,Mnicade;POLLO,SandraHelenaLima.Instituiesdelonga permannciaparaidosos-ILPIS: desafiosealternativasnomunicpiodoRio de Janeiro. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol. v.11 n.1 Rio de Janeiro,2008. BRASIL. Lei n 10.741, de 1 de outubro de 2003. Dispe sobre o Estatuto do Idoso e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio, Braslia. Disponvel em REVISTA PORTAL de Divulgao, n.42, Ano V. 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