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Page 1: Amazônia em Devaneios - Capa - Agropedia brasilisainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/130061/1/Amazonia... · poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999),

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Raimundo Brabo

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Neste conjunto de vinte poesias Raimundo Brabo parece observar o panorama da Amazônia através da janela de uma casa imaginária. A sua origem anfíbia, natural de Macapá, onde defronta o grande rio Amazonas lutar com o oceano Atlântico antes de terminar a sua jornada, parece refletir seus pensamentos. O rio que sofre a influência das marés com seus barcos e os açaizais nas suas margens , da t erra encharcada, da contemplação das chuvas e das gotas de água e a visão da cidade de Belém, banhada pelo luar. É uma várzea que pulula de vida vegetal, animal, aquática, aves, entre outros; uma várzea com vida humana, representada pelas comunidades, portos, cidades, catadores de fruto de açaí, palmito e caranguejo, pescadores , agricultores , madeireiros, pecuaristas, barqueiros, praias e muito mais, o n d e t o d o s l u t a m p e l a sobrevivência, uns destruindo os recursos naturais, outros com maior respeito pelo ecossistema, de onde provém seu sustento. É uma várzea povoada por r i b e i r i n h o s c o r a j o s o s e destemidos que não se assustam c o m o h u m o r d o r i o , acostumados com a sincronia das cheias.

Alfredo Homma

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Marabá, 2002

Raimundo Brabo

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AMAZÔNIA EM DEVANEIOS

Copyright by Raimundo Nonato Brabo Alves, 2002

Capa e ilustração: Rildo BrasilRevisão: Maria de Nazaré Magalhães

Pedro Paulo Pereira SábadoEditoração Eletrônica: Edson D. Sousa

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio,

sem a expressa autorização do autor.

Alves, Raimundo Nonato Brabo, 1952-

Amazônia em Devaneios (Poemas) Marabá:

68 p.

1. Poesia brasileira 1. Título: Amazônia em Devaneios

Impresso no BrasilMarabá - PA

2002

Editora Correio do Tocantins, 2002.

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À memória de meu pai, o “Caboco” Alves, de quem herdei, com muito orgulho, grande parte de seus atributos. À minha mãe Lucimar, que entre as muitas de suas virtudes, ensinou-me a perseverança. À minha esposa Joana, companheira inseparável, por prazeirosos 27 anos de convivência. Aos meus filhos Débora Christiane, André Luís e Felícia Cristina, que pelos seus projetos de vida, continuarei investindo todas as minhas esperanças. Aos meus netos Samir e Luiz Fernando, que me proporcionam uma renovação de vida.

Dedico.

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PREFÁCIO.................................................................................. 07

LAMENTO AMAZÔNICO....................................................... 13

POLUIÇÃO.................................................................................. 16

A BÊNÇÃO.................................................................................. 18

MULHER DO CAMPO............................................................... 21

A NAU CAPITÂNIA.................................................................. 25

CELEIRO...................................................................................... 27

AÇAÍ............................................................................................. 29

CHUVA DA TARDE.................................................................. 33

CÍRIO DE NAZARÉ................................................................... 35

ENCONTRO............................................................................... 40

LOUVAÇÃO.............................................................................. 41

GOTA D'ÁGUA......................................................................... 43

MARÉS........................................................................................ 45

MINHA JANELA....................................................................... 48

NATUREZA MORTA................................................................ 51

BELÉM AO LUAR...................................................................... 54

O BARCO..................................................................................... 57

O EMIGRANTE.......................................................................... 59

PAI................................................................................................ 62

QUEIMADAS.............................................................................. 65

ÍNDICE

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PREFÁCIO

Tomei conhecimento das qualidades poéticas de Raimundo Brabo, por ocasião da viagem que realizamos para o Sudeste Paraense, para ministrar palestras para atender ao Programa Alternativas para Queimadas, em julho de 2000. Estimulei-o que prosseguisse, uma vez que notei um forte apelo social e uma angústia quanto aos problemas humanos presentes clamando por soluções.

Ao aceitar esta incumbência, foi com muita honra, a despeito de que os meus conhecimentos sobre poetas, poesias e sua análise serem bastante limitados. Há um grande preconceito contra os poetas e poesias, que para muitas pessoas restringem ao preparo para o vestibular.

Mas não podemos esquecer que os poetas, com a fragilidade de seus versos, conseguiram derrotar exércitos e governos poderosos, mudar muitas idéias e a sociedade. Foram os versos de Castro Alves (1847-1871), que faleceu com 24 anos, ao declamar Navio Negreiro e Vozes d'África, que envergonharam a sociedade da época, iniciando a luta contra a escravidão negra. Foram os versos de Geraldo Vandré, que incomodaram os generais da ditadura militar e ajudaram na redemocratização do país.

Os grandes pensadores da humanidade, em todos os tempos, vêm tentando responder a três perguntas que qualquer ser humano se faz um dia ou outro: Quem sou? De onde vim?

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Para onde vou? Cabe exatamente a sensibilidade do poeta interpretar essa angústia e esperança, em uma sociedade marcada pela corrupção, da competição a todo custo, da falta de princípios, da injustiça, entre outros. Robert Putnan, em um clássico livro que analisou a diferença do desenvolvimento entre o norte e o sul da Itália, coloca como uma das principais razões dessa diferença, o que ele chama de valores morais da sociedade. Enquanto o norte da Itália apresenta um progresso sem precedentes, o sul, ao contrário está apegado à corrupção, à máfia e outras aberrações morais.

Fazer poesia não exige títulos acadêmicos, mas a sensibilidade de traduzir os sentimentos da sociedade. O grande poeta cearense Antônio Gonçalves da Silva, nascido em 1909, com passagem pela Amazônia, mais conhecido como Patativa do Assaré, cursou apenas quatro meses de escola. Pequeno agricultor, é hoje um poeta conhecido nacionalmente. A sua poesia mostrando a dureza da vida no sertão, os políticos que só chegam nesses lugares quando precisam de votos, a morte causada pela pura falta de alimento ou de atendimento, em meio a tanta miséria, como se fosse a coisa mais natural e, também das boas coisas de sua terra, as festinhas, os costumes, a natureza, cativaram o país.

Sem falar do épico Morte e Vida Severina (1965), do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999), adaptado para o teatro e a televisão, retratando o drama da estrutura agrária nordestina. Poeta iniciante, Raimundo Brabo tem um pouco de tudo isso e utiliza a sua experiência agronômica para servir de lastro nas suas interpretações, onde o anti-positivismo e os limites da razão, conflitam nessa interpretação filosófica e telúrica da Amazônia.

Para os profissionais da área de ciências agrárias, é um grande orgulho, o lançamento deste conjunto de poesias de

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Raimundo Brabo, afirmando que o tecnicismo não pode ser um campo estéril, mas que ela é constituída, também, por almas, paixões, pessoas, lutas, interesses e muito mais. Talvez se tivesse mais poetas, a sensibilidade e a solidariedade para com a sociedade seria mais proveitosa e mais humanística.

A sensibilidade dos poetas faz com que a dor assuma contexto abstrato, bem como conseguem captar o momento em que o tempo parece parar, sentimento percebido por todos àqueles que já sentiram a morte de algum parente ou amigo ou, até mesmo quando a História faz seu ponto de inflexão.

Numa sociedade em que as aberrações passam a ser o cotidiano normal das notícias diárias e o tecido social parece fragmentar, a primeira impressão é que os poetas pouco podem fazer para mudar esse quadro. A história das civilizações parece demonstrar o contrário, indicando que o progresso da humanidade coincide com a maior qualidade das liberdades individuais.

Neste conjunto de vinte poesias Raimundo Brabo parece observar o panorama da Amazônia através da janela de uma casa imaginária. A sua origem anfíbia, natural de Macapá, onde defronta o grande rio Amazonas lutar com o oceano Atlântico antes de terminar a sua jornada, parece refletir seus pensamentos. O rio que sofre a influência das marés com seus barcos e os açaizais nas suas margens, da terra encharcada, da contemplação das chuvas e das gotas de água e a visão da cidade de Belém, banhada pelo luar.

É uma várzea que pulula de vida vegetal, animal, aquática, aves, entre outros; uma várzea com vida humana, representada pelas comunidades, portos, cidades, catadores de fruto de açaí, palmito e caranguejo, pescadores, agricultores, madeireiros, pecuaristas, barqueiros, praias e muito mais, onde todos lutam pela sobrevivência, uns destruindo os recursos

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naturais, outros com maior respeito pelo ecossistema, de onde provém seu sustento. É uma várzea povoada por ribeirinhos corajosos e destemidos que não se assustam com o humor do rio, acostumados com a sincronia das cheias.

Na Amazônia, o rio sempre foi o principal meio de transporte até o advento das estradas, ferrovias e do avião. Foram pelos rios de água preta, rios de água barrenta, rios transparentes e rios de outras cores, que se consolidou a ocupação desta região, cujo labiríntico mundo aquático está carregado de História. Este mesmo rio, atualmente, carrega também dejetos urbanos, lixo, erosão, madeira, mercúrio, violência, fé, entre outros, bem como o seu livre curso modificado, numa êxtase de agonia e progresso.

O poeta transfigura-se dessa janela imaginária e passa a olhar a Amazônia como se fosse um ente espiritual, com angústia: em vez da Natureza comandar o Homem, é o Homem que passa a comandar a Natureza. A fumaça das derrubadas e queimadas, o grito e o lamento da natureza destruída, parecem ecoar nos nossos ouvidos com o barulho das motosserras, da queda das árvores, da biodiversidade despejada e das labaredas e da fumaça a arder os olhos.

O épico-social, utilizando de hipérboles e antíteses é apresentado numa sucessão vertiginosa de metáforas que procuram traduzir a mesma idéia. O social como tema da poesia, é visível no sentido da tragédia humana, na busca de novas esperanças, pode ser interpretado na figura do migrante, que deixa seu torrão natal, da benção derradeira, dos familiares como se fosse um enterro vivo, para novos encontros.

Como metáfora, os quinhentos anos da descoberta do Brasil, esconde o medieval e o moderno, a destruição dos primitivos habitantes transformados em recordações de nomes de aviões, ruas e praças, a iniquidade da distribuição de renda e a

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injustiça. Mostra o conflito entre o bem e o mal, identificando com o ritmo da vida social, expressando a busca da humanidade por redenção, justiça e liberdade. O poeta Raimundo Brabo tem um papel messiânico e afinado com o momento histórico que procura traduzir seus pensamentos.

A antítese dessas poesias é a busca de uma utopia plausível para a Amazônia que o poeta tenta imaginar. Uma Amazônia, com mais justiça; uma Amazônia sem crianças na rua; uma Amazônia sem desmatamento e queimadas; uma Amazônia onde não haja fome nem miséria; uma Amazônia sem desemprego; uma Amazônia sem violências no campo; uma Amazônia com habitação condigna para todos; uma Amazônia com nível de renda adequado; uma Amazônia com soberania; enfim, uma nova Amazônia. É o que essas singelas poesias procuram ajudar, para sonhar e alcançar esses objetivos.

Belém, 18 de junho de 2002

Alfredo Homma

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LAMENTO AMAZÔNICO

Há cem milhões de anos, floresta me formei,Exuberante, diversificada, complexamente equilibrada.Luz, água, solo, laboratório de vida reciclada,Ciclo de vida e morte me tornei.

Tudo que meu ventre vier a gerar,São meus rebentos, filhos da terra,Alguns de vida curta, outros pra se eternizar,Completa harmonia do universo a configurar.

Há 500 anos, floresta virgem debutei,Exuberante, diversificada, complexamente equilibrada,Não tardou a descoberta, cobiça desvairada,Estuprada, violentada, prostituída me tornei.

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Aos que primeiro me espezinharam,Tomados de gana e imensa ilusão,Apresentou-se a miragem de belas mulheres,De Amazônia chamaram, eternamente minha região.

Mesmo gigantesca, imponente e misteriosa,Presenciei impotente, o martírio de minha prole prodigiosa.Assassinados, aprisionados e escravizados,De grandes nações, meus filhos se reduziram a povoados.

Não satisfeitos com hediondo massacre,Meus algozes, amolaram machado e facão,Abateram milhões de minhas árvores centenárias,Com a mesma fúria de um furacão.

Algumas sofreram cortes, outras seus poros sangraram,Para jorrar o látex e a essência que a côrte queria,Mesmo que no futuro incerto o destino seria,A morte certa das árvores que secaram.

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Nem minhas entranhas foram poupadas,A procura de ouro em imensos grotões.Para suprir o reino dos nobres de muitas divisas,Com crateras fiquei em muitas regiões.

Nem meus cristalinos leitos foram esquecidos,E turvados de barro, como nuvens escuras em turbilhões,A mercê da insaciável saga de piratas perdidos,Que implacáveis, exploram-me por gerações.

Meu equilíbrio é quebrado por tudo que é retirado,Minerais, plantas, mamíferos, insetos, peixes e invertebrados.Quanto tempo resistirei, a sangria de minhas veias?Para que um dia, eu não venha ser somente passado.

Minha esperança é que hoje, dizem que sou pulmão do mundo,Quem sabe um sentimento profundo de preservação, venha se propagar?E assim minha permanência, haverá de se assegurar,Para que as futuras gerações, possam me testemunhar.

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POLUIÇÃO

Afetam-me em todos os sentidos,Mesmo que não haja sensação.

Sem que eu perceba,Caminho para a morte lenta,Vítima da global poluição.

Da água, do ar que algumas vezes,Não consigo respirar.

Poluição sonora, radioativa, eletromagnética,Toda forma, que em muitos casos,

Meus sentidos não conseguem captar.

Que poluição a que me torna dependente,E contamina o sangue em minhas veias?

Prometem-me um mundo virtual diferente,Quando a realidade é sempre decadente!

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Com a sensação de prazeroso conforto,Sou induzido ao consumismo exagerado.

É a poluição febril de minha mente,Criando em meu ser, demanda permanente.Mesmo que não saiba de que, ou para que,

Sinto a angústia de querer sempre mais, avidamente.

Mas por que essa angústia torturante,Se já experimentei as venturas da modernidade?

Será que minhas raízes, não estão a querer,Levar-me de volta a um passado distante?

Quem sabe ao prazer de beber,A água fria da fonte que desliza cristalina.

De comer o peixe moqueado,À margem do igarapé em que foi recém-pescado,

De tirar a cesta sob a tosca cabana de palha ao lado.De banhar-me ao por do sol, na mesma fonte,

Que revigorada e purificada com a energiaDo Universo, se renova a cada instante.

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A BÊNÇÃO

Olha parceiro!Vai buscar o teu caminho,Que o Senhor te ilumine,Com a fartura no celeiro.

Olha parceiro!Vai em busca de tua amada,Que o Senhor te encaminhe,

Para a eterna namorada.

Olha parceiro!Vai construir tua família,

Que o Senhor dirija sempre,Na mais plena harmonia.

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Olha parceiro!Vai escolher o teu recanto,

Que o Senhor te mostre em sonho,O mais belo paradeiro.

Olha parceiro!Vai formar tua manada,

Que o Senhor te dê a sorte,De crescer com este terneiro.

Olha Parceiro!Vai em busca de tua paz,Que o Senhor te faça crer,

Que está em tua alma por inteiro.

Olha parceiro!O que quer que vá em busca,

Que o Senhor te faça ver,Que tudo aqui é passageiro.

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MULHER DO CAMPO

Ah! Maria lutadora,Muitos não queiram tua rotina!

De acordar dia após dia,Antes de todos, muito cedo,Sem refazer tua canseira,Da jornada que se finda.

De pés descalços,No frio chão da tosca cabana,

Sob a penumbra de uma fraca lamparina,Sopra com toda força que te resta,

A brasa dormida do meio das cinzas.Reacende teu fogão de barro,Passa um cheiroso café moca,

E recomeça tua rotina.

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Ah! Maria lutadora,Muitos não queiram a tua sina!Quando o sol ainda nem raiou,

Já te encontras no roçado,Meio curvada para frente,No vai-e-vem da capina.

Ah! Maria lutadora,Muitos não queiram tua rotina!Como não te cansas de cumprir,

Todo dia com essa faxina?Quanto mais limpas o roçado

Mais viçoso brota o iço,Para aumentar tua capina.

Ah! Maria lutadora,Muitos não queiram a tua sina!

De colher a mandioca,Ralar pacientemente toda massa,

Espremer o tipiti para extrair o tucupi,Cortar a lenha para o forno,

E torrar nossa farinha.

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Ao vai-e-vem do rodo,Sobre o lustroso cobre do forno,

Até que a farinha chegue ao ponto,Mesmo exausta, encontras inspiração

De cantarolar pra teu amado,As venturas do coração.

Ah! Maria lutadora,Mesmo com toda essa faxina,

Ainda consegues ser a mãe carinhosa,Desta prole numerosa, que deve ser o teu consolo,

Nos momentos mais difíceis,Desta vida de rotinas.

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A NAU CAPITÂNIA

Que tristeza terias hoje Cabral,Se pudesses ver tua nau,

Atracada em porto inseguro,Como inútil amontoado de pau.

Bem que muitos tentaram,Por muitas vezes, fazê-la zarpar,Mas parecendo um brinquedo,

A réplica mal conseguiu adornar.

Se dela hoje dependesses,Não descobririas o Brasil,

E pra tua alma o grande infortúnio,De perder missa com o irmão gentio.

Enquanto há 500 anos,Lastros de pedras usavam,

Informaram-me que em tua nau,Contrapesos de chumbo esnobavam.

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Na réplica de tua caravela Cabral,Fundamentos da náutica foram esquecidos,

Nem tremularam as velas,Muito menos o motor enrustido.

Quanta falta fez a escola de Sagres,Com a habilidade de seus artesãos,

Precisos no corte de falcaças e quilhas,Mestres na arte da navegação.

Alegaram que não havia disponível,A planta da histórica embarcação,

Quando sobram estaleiros no norte,Que herdaram de Sagres, a arte da construção.

Quem sabe daqui a cinco séculos Cabral,Não passaremos por tantos apuros,

E faremos tua nau Capitânia navegar,Pelo menos até Porto Seguro!

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CELEIRO

Antes do alvorecer,Mãos calejadas se juntam em oração,Suplicam a Deus por mais um dia,

A Vossa divina proteção.

Após um copo de café quente,Mãos calejadas lavram o chão.Produzem o pão de cada dia,

De irmãos da cidade que nunca verão.

Mesmo exaustas dia após dia,Continuam a saga da produção,Esperando obter farta colheita,

Sem grande remuneração.

Ao entardecer,Mãos calejadas se juntam em oração,

Agradecem a Deus por todas as graças,Mesmo aquelas que nunca terão.

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AÇAÍ

Sobre a manta de solo fértil repousei,Umedecida com o orvalho da noite e as marés do dia,Intumescida, como que prenhe germinei.Cravei minhas raízes, como se garras fossem,Broto vigoroso como um palito, neste solo despontei.Linda manhã de sol, aponto o céu, com duas folhas reluzentes,Sou açaí, palmeira exuberante, da flora amazônica a mais atraente.

Enquanto cresço, balançam outras plantas sobre mim,Ao embalo da brisa fria que venta da costa,Como se fossem bailarinas a dançar.Neste rico cenário de monocromia verdejante,A natureza reproduz sua ópera e prepara um rico manjar.Para que todos em harmonia se deliciem,Do equilíbrio da vida, contudo sem esbanjar.

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Rapidamente cresço, desponta minha primeira floração,Da cor das madeixas loiras de uma sereia,De perfume indescritível, como se fosse uma rara loção.Visitam-me arapuás e coloridos colibris,Sorvendo meu néctar, em luminosas manhãs de verão,Gratos, tornam minha flor fecunda,Cobrindo-me do pólem, da sagrada reprodução.

Na estiagem, meus frutos amadurecem,Da cor dos cabelos negros das lindas mestiças.Começa um grande banquete, quando sou alimento de muita cobiça,De tucanos, papagaios e maracanãs, todos se embevecem,Como num só refrão, escuto na mata uma grande sinfonia,É gratidão da passarada pela fartura,Que a natureza oferece dia após dia.

Para os caboclos, é o pico da safra do açaí,Hora de limpar o alguidar e demais apetrechos,Trançar a peneira, enrolar a peconha de buriti,Preparar o cigarro de palha, empunhar o bornéo de sarrapilha,

AMAZÔNIA EM DEVANEIOS

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Raimundo Brabo 31

Deslizar a montaria, rio acima na maré enchente,Como um sagüi, escalar-me com incrível destreza,E colher os meus cachos de ricas sementes.

Movimento o comércio do Ver-o-pêso na estação,Com dezenas, centenas de rasas de açaí,Barcos chegam, carregados do convés ao porão,Com os paneiros arrumados, desenhando um colorido painel,Começa na feira uma espécie de frenético leilão.É uma imensa cadeia produtiva, de coletores a batedeiras,Gerando emprego e renda para uma multidão.

Por mãos femininas e habilidosas,Meus numerosos frutos, macerados e amolecidos são,Em tacho ao fogo, sob imersão em água morna,A ponto de não queimar a mão.Em alguidar de argila são amassados,Num vai-e-vem, depois peneirados,Quando viro cremoso suco cor da paixão.

Típica iguaria a que represento,Com farinha d'água ou tapioca,Tradicional alimento da região,Tanto de ricos, pobres e excluídos,Que me apreciam com peixe salgado e camarão.

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Raimundo Brabo32

Com luz ou bandeira vermelha, me anunciam,Chegou o açaí lá no Seu João!

De minhas robustas e linheiras hastes saem à estrutura,Que os caboclos somente com entalhes preparam a armação,De outras palmas retiram as folhas, que fazem a cobertura,De suas toscas palhoças, com riqueza de precisão.Casa de paxiúba, que dos índios herdaram a arquitetura,Sempre ventilada e fria, mesmo no longo e escaldante verão,Adequada ao merecido repouso de tão simples criaturas.

Meu martírio começa quando sou abatida,E retiraram meu cerne para exportação,Em busca do rápido lucro, como aves de rapina,Clandestinamente me dizimam sem reposição.A esperança é que agora meu suco,Desperta também interesse fora da região,Quem sabe assim serei poupada,Da implacável e terrível depredação.

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Raimundo Brabo 33

CHUVA DA TARDE

Vem chuva da tarde, nos traz toda a alegria!Renova nossas forças, nossas esperanças,Revitaliza nossos fermentos, conserva nossas manias.Resfria nossas correntes de vento, reativa nossos sentimentos,Nos faz mais fraternos, neste mundo de tormentos.

Vem chuva da tarde, mas vem todo dia!Vem sempre lá do Guamá, rumo à baía de Guajará,Mas vem amena tipo garoa, sem tuas forças sombrias.Irriga nossas mangueiras, enche nossas vertentes,Cobre de brilho prateado, nossa linda Belém do Pará.

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Raimundo Brabo34

Vem chuva da tarde, nos traz toda alegria!Da cantoria dos pássaros, em busca de proteção,De crianças brincando, de barquinhos na maresia.Do coaxar das pererecas que povoam nossas lagoas,Do cricrilar dos grilos na periferia.

Vem chuva da tarde, mas vem todo dia!Às vezes com maré vazante, levando saudades,Às vezes com maré enchente, trazendo as velas da pescaria.No convés a esperança de quem em terra ficou,De quebrar o jejum de todo dia.

Vem chuva da tarde, nos traz toda alegria!Fortalece nossos sentimentos e emoções,Pra depois de tua estiagem, rever a pessoa amada,Como se fosse a primeira namorada,No último encontro de férias de verão.

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CÍRIO DE NAZARÉ

Oh! Virgem de Nazaré,Há 300 anos, reafirmai a nossa fé.

Revelai-nos a Vossa milagrosa imagem,Por via do caboclo Plácido José,

Na Província do Grão Pará,Às margens de um igarapé.

Oh! Santa Padroeira dos paraenses,Protetora dos humildes e excluídos,

Só a Vossa infinita bondade,No segundo domingo de outubro,

Poderia reunir na fé, a tantos romeiros.

A cada Círio de Nazaré,Renova-se a esperança deste povo cristão,

Uns pagam as promessas das graças obtidas,Outros invocam a Vossa divina proteção,

E assim a cada ano que passa,Na romaria se concentra uma multidão.

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Raimundo Brabo 35

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É o romeiro com a maquete na cabeça,Que agradece a conquista da moradia.É o extrator com a pêra de caranguejo,Agradecendo pela fartura do mangue,

Que lhe assegura o sustento dia após dia.É o pescador com a réplica de sua canoa,

Agradecendo à Virgem que o salvou,Do tenebroso naufrágio na maresia.

É o romeiro oferecendo as muletas,Agradecendo à Virgem de Nazaré,

Por tê-lo livrado da paralisia.É o pai com o primogênito no colo,Retribuindo à Milagrosa Padroeira,

A graça de tê-lo com vida ainda neste dia.

Oh! Virgem Poderosa!Os estivadores Vos agradecem,

Pela recuperação de seus empregos,Após o período de grande recessão.

E por muitos anos mantém a tradiçãoDe Vos homenagear com salva de fogos,

Por esta graça e pela riqueza desta região.

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Raimundo Brabo36

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Raimundo Brabo 37

Os pés descalços, as mãos calejadas,É o sacrifício pelas graças alcançadas,

Do romeiro que conduz a corda,Protegendo a berlinda da Virgem Imaculada.

É o ponto culminante da procissão,Como se todos ali, tivessem como missão,Penitenciar todos os pecados desta nação.

No Domingo do Círio de Nazaré,Depois da profissão de fé a Virgem Maria,É tradição paraense, o almoço em família,

Em que se deliciam muitas iguarias.Do pato no tucupi, da maniçoba à feijoada,

Algumas vezes quebra-se o protocolo,E a festa, estende-se pelas calçadas.

É a fraternidade que se renova entre as pessoas,Com a devoção à Virgem Imaculada.

Por uma quinzena,Continuam as profissões de fé,Tendo como ponto de encontro,As novenas a Nossa Senhora,Na linda Basílica de Nazaré.

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Raimundo Brabo38

É também tradicional,O passeio em família no arraial,Saborear pipoca e algodão doce,

Comprar corrupios de papel coloridoE brinquedos de miriti para a criançada.

Amarrar fitinhas no pulso como lembrança,Sempre encomendando uma graça,À Milagrosa Virgem Imaculada.

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ENCONTRO

Pólos opostos se atraem,Regendo todas as relações,Alquimia de vida eterna,Que brota aos turbilhões.

Desde o microscópico ser,A mais evoluída forma de criação,

Tudo é fruto de um encontro,Regado a muita emoção.

Quanta vida ainda virá,Ao longo das gerações?

Homens, animais e vegetais,Todos no mesmo destino,

Da eterna evolução.

Vida explode em turbilhão,No céu, no mar e na terraComo um enorme trovão.

É o grande milagre do Criador,Que o homem convencionou

Chamá-lo de amor.

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Raimundo Brabo40

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LOUVAÇÃO

Mãos que lavram a terra,Que amassam o pão,

Que moldam a argila,Que escavam o chão.

Mãos que afagam,Que abençoam,Que torturam,

Que concedem o perdão.

Mãos que acariciam,Que outras vezes se postam em vão.

Que suplicam,Que reproduzem oração.

Todo dia, toda vida,Juntas em direção aos céus,

Louvam a Deus,Pelo dom da criação.

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Raimundo Brabo 43

GOTA D'ÁGUA

Sou a gota d'água que brota na flor do campo,Nas ensolaradas manhãs da estação de verão.Que alimenta o beija-flor de colorido matiz,Dançando suave a coreografia da Criação.

Sou o orvalho que umedece e amacia a relva,Que alimenta as manadas de todo o sertão.

Que recicla os nutrientes na forragem verdejante,Enriquecendo as pastagens deste grande rincão.

Sou a gota d'água que umedece o solo,Que faz brotar a semente que cai no chão.Das frondosas árvores de nossas florestas,Que fazem a rica paisagem desta nação.

Sou a gota d'água que na fotossíntese,Desdobra-se em energia na luz solar.

Produzindo a glicose que sustenta a vida,De todos os seres que venham a gerar.

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Raimundo Brabo44

Sou a gota que cai na nascente de nossas vertentes,Que alimentam nossos cristalinos e ricos

mananciais,Produzindo o vapor da chuva sempre reincidente,

Da hidrologia amazônica de meandros descomunais.

Sou a gota que mata a sede do recém-nascido,E do maltrapilho errante em busca de chão.

Que refresca as tardes quentes de nossa planície,Que ameniza o tórrido clima desta região.

Sou a gota d'água da chuva providencial,Que apaga o incêndio criminoso ou acidental.

Renovando a esperança de vida de muitas pessoas,Minimizando o risco da iminente perda material.

Sou a gota d'água da lágrima de toda essa gente,Que chora a contaminação de nossas vertentes.Profetizando a catástrofe que virá pela frente,Se não fizerem de mim um bem permanente.

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Raimundo Brabo 45

MARÉS

Oh! Fluxo de maré enchente,No teu rebojo, traz a esperança

De melhores dias, pra toda essa gente!

Refluxo de maré vazante,Leva em tua corrente, toda sorte de desilusão,

Que possa atormentar essa multidão!

Oh! Fluxo de maré enchente,Traz em tuas águas, o rico e fertilizante humos,E promove farta colheita pra toda essa gente!

Refluxo de maré vazante,Leva em tua corrente, toda sorte de mazelas,

Que nos deixe livre de muitas seqüelas!

Oh! Fluxo de maré enchente,Traz em tuas espumantes marolas, o farto cardume,

E sacia a fome de toda essa gente!

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Raimundo Brabo46

Refluxo de maré vazante,Leva para bem longe, todas as nossas fraquezas,

Que possam nos livrar de tantas incertezas!

Oh! Fluxo de maré enchente,Traz em tuas águas, variadas sementes,

E refloresta a margem de muitas vertentes!

Refluxo de maré vazante,Sepulta em tuas águas barrentas, toda nossa

ambição,E conserva em equilíbrio nossa região!

Oh! Fluxo de maré enchente,Reflete para nos em tuas ondas, o brilho da lua,E craveja sempre de bons sonhos nossas mentes!

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Raimundo Brabo48

MINHA JANELA

O tempo passa correndo,Da janela vejo rodar,

Minha novela de vida,Que a mente como uma fita,

Não se cansa de gravar.

Já vi carroças passando,De muitos bois a arrastar,Entregando todos os dias,Do leite ao tijolo de barro,Da terra preta a plantar.

Da janela já vi passar,Crianças alegres rumo à escola,Fardadas de azul e alvo algodão,Levando em suas rotas sacolas,

Cartilhas da sagrada lição.

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Raimundo Brabo 49

E por lembrar de crianças,Quantas vezes vi passar,O pipoqueiro da esquina,Sempre tocando a buzina,

Para o apetite dos curumins despertar.

Lembro no carnaval,Todo ano a desfilar,O Bloco da Banda,

Tocando a marchinha,Que os foliões apreciavam dançar.

Quantas vezes no São João,Vi o boi animado a passar,

Índios, cangaceiros e a catitinha,Sempre entoando alegres modinhas,

Lembranças que o tempo não vai apagar.

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Raimundo Brabo50

Quantas vezes eu vi,Todos na procissão,

Caminhando em oração,Cantando com muito louvor,

À Nossa Senhora da Conceição.

Muitas mulheres bonitas,Quantas da janela eu vi passar,

Altas, magras e pequenas,Mas somente por uma morena,

Eu fui me apaixonar.

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Raimundo Brabo 51

NATUREZA MORTA

Quantas pontas de vara emergem do mar.Mas que mar que não existe!

São apenas varas que restam da floresta,Na macega verde, que teima com a chuva rebrotar.

São apenas varas que restam da floresta,Que nossa insensatez acaba de queimar.

Umas nos parecem almas,Pedindo o perdão que não virá.Outras nos parecem guerreiros,

Egressos da luta inglória,Que acabou de terminar.

Quantas mataram a fome,Outras serviram de abrigo.

Hoje parece que apenas choram,Neste vale estéril e devasso,

A perda de seus entes queridos.

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Raimundo Brabo52

O que é mais mórbido de se ver?As varas despontando do mangue sucumbindo,

Ou as varas da floresta que teimaram não caindo.Tanto as varas do mangue quanto às varas da

floresta,Destinamo-las como herança um lugar comum,

Um mar de lamas, um mar de cinzas.

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Raimundo Brabo54

BELÉM AO LUAR

Belém, quando te vejo linda em plena noite de luar,Revejo aquela histórica Belém de Nazaré,

E tenho a impressão que vou ver a estrela guia,Cortando o horizonte a iluminar.

Refletes linda, radiante, mil luzes cintilantes,Como pirilampos no mar a flutuar.

Lua prateada, parece que brilhas mais,Na linda cidade de Belém do Grão Pará!

Estimulas a paixão dos namorados,A inspiração dos compositores apaixonados,

A eterna saga dos conquistadores,E o curso das marés dos pescadores.

Brilha lua prateada, ilumina toda esta planície,Do rio Guamá à baia de Guajará.

Estimula o brio dos dançarinos de quadrilha,Nas festas juninas de arraial.

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Raimundo Brabo 55

Brilha lua prateada,Depois da chuva passageira estiar.

Reflete tua luz nas reluzentes mangueiras,Parecendo pingentes ao vento a balançar.

Brilha lua prateada, ilumina toda esta baia,Reflete teu brilho neste espelho d'água reluzente,

Ilumina o barquinho branco que desliza silenciosamente,

Como a noiva, com seu branco véu a arrastar.

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Raimundo Brabo 57

O BARCO

Manhã fria,De meia estação,O barco desliza,

Rio abaixo, rio acimaLevando gente, levando emoção.

Todos numa só direção,Quanta esperança, quanta aspiração

Todos nutrem no peito,À vontade de ser eleito,

De ser cidadão.

Manhã fria,De meia estação,O barco aporta,

E todos se vão, em oposta direção,Quem sabe outra vez,

Novamente a se encontrar,Quando tudo recomeçará.

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Raimundo Brabo 59

O EMIGRANTE

Vou para o norte,Em busca de sorte,Pensando que dias,

Melhores virão.

Vou para o norte,Em busca de sorte,

Onde sonho ganhar,Meu pedaço de chão.

Vou para o norte,Em busca de sorte,Querendo erguer,O meu barracão.

Vou para o norte,Em busca de sorte,Onde espero colher,Meu pedaço de pão.

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Raimundo Brabo60

Vou para o norte,Em busca de sorte,

Pretendendo ganhar,Meu honrado quinhão.

Vou para o norte,Em busca de sorte,

Onde espero encontrar,Meu amor de verão.

Vou para o norte,Em busca de sorte,Pensando em criar,Filhos que nascerão.

Vou para o norte,Em busca de sorte,Quem sabe por lá,Eu serei cidadão.

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Raimundo Brabo 61

Vou para o norte,Em busca de sorte,

Pensando em cumprir,Com minha missão.

Vou para o norte,Em busca de sorte,

Que um dia eu descanse,Com Deus no coração.

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Raimundo Brabo62

PAI

Ensinaste-me os primeiros passos,Como um velho lobo do mar,

Entre tombos e balanços,Aprendi a caminhar.

Logo me distanciava,E tu sempre a me observar,

Tendo sempre na mente,Que eu tinha,

O mundo a conquistar.

Ensinaste-me a primeira fala,Quando mal sabia balbuciar,

Repeti mama, repeti papa,Pra espanto de todos,

Comecei a falar.

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Lembro as primeiras letras,Que me ensinaste a combinar,Formavam palavras simples,Que eu tinha que soletrar.

Fui crescendo e aprendendo,A cada dia uma nova lição,

Na escola da vida,Ensinaste-me a ser cidadão.

Hoje eu lembro de tudo,Com saudade, com carinho.Tento retribuir ao mundo,

Com muita dedicação,Cada momento de ensino.

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Raimundo Brabo 63

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Raimundo Brabo 65

QUEIMADAS

Não destrua nossas riquezas,Ateando fogo na vegetação.

Não mate a vida de nossas florestas,Quebrando o equilíbrio da região.

Pense no ar que a criança respira,Na fragilidade de seu pulmão,

Que tem o direito de crescer com saúde,Para vir a ser um bom cidadão.

Não queime a vida de nossas savanas,Levando nossas espécies a extinção.

Não seja o algoz de plantas e pássaros,Conserve os recursos da futura geração.

Pense na delicadeza do filhote no ninho,Acuado pelo fogo da seca estação,

Que poderia ter proteção e carinho,Da ação coletiva de toda a nação.

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Não queime o patrimônio de muitas famílias,Que é o sacrifício de muitas gerações,

Transformando em cinza casas e mobílias,Resultando apenas grandes frustrações.

Pense na fertilidade do solo que vem reduzindo,A cada queimada que se realiza,

Resultando em colheitas sempre decaindo,Expondo a ferida da fome que não cicatriza.

Não queime a esperança de vida saudável,Dádiva que Deus, a todos legou,

Tenha com todos os seres, relação amigável,E seja o irmão que o Senhor desejou.

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AMAZÔNIA EM DEVANEIOS

Raimundo Brabo 67

O AUTOR

RAIMUNDO NONATO BRABO ALVES, nasceu em 1º

de setembro de 1952, na cidade de Macapá, capital do atual

Estado do Amapá, onde viveu toda a sua infância e

adolescência. Graduou-se em Engenharia Agronômica pela

Faculdade de Ciências Agrárias do Pará em 1975. Recebeu o

título de Mestre em Agronomia em 1987, pela Escola Superior

de Agricultura de Lavras MG. Seus poemas, além de nos levar

ao deleite de nossas peculiaridades regionais, retratam as

observações feitas como agrônomo ao longo de 10 anos de

extensão rural e 15 anos de pesquisa, fruto da convivência do

dia a dia com os pequenos produtores, frente a realidade rural

amazônica. Induzem-nos a uma reflexão, sobre a necessidade da

preservação de nossos recursos naturais, como tributo às

futuras gerações.

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Para os profissionais da área de ciências agrárias, é um grande orgulho, o lançamento deste conjunto de poesias de Raimundo Brabo, afirmando que o tecnicismo não pode ser um campo estéril, mas que ela é constituída, também, por almas, paixões, pessoas, lutas, interesses e muito mais. Talvez se tivesse mais poetas, a sensibilidade e a solidariedade para com a sociedade seria mais proveitosa e mais humanística.

Alfredo Homma