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LUIZ ~ TAPAJOS USO do território na A azô ia

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LUIZ ~TAPAJOS

USO do território na A azô ia

DaniPesquisador do MlI5ft I~_ f:I"j'-ilIJlll'!5:.

Dano:Pesquisador do Muse•• "-'_, e.lÍI.M lIl'Si;.

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Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuâriaEmbrapa Amazônia Oriental

Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento

SÃO LUIZ DO TAPAJÓSuso do território na Amazônia

Otávio do CantoAdriano Venturieri

Editores Técnicos

Embrapa Amazônia OrientalBelém,PA

2007

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Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:

Embrapa Amazônia OrientalTv. Dr. Enéas Pinheiro, s!nCaixa Postal 48. CEP 66095-100 - Belém, PAFone: (91) 3204-1000Fax: (91) 3276-9845E-mail: [email protected]

Supervisão editorial: Adelina BelémRevisão de texto: luciane Chedid Meio BorgesNormalização: Adelina BelémSupervisão gráfica: Williams B. CordovilProjeto gráfico, capa e diagramação: Williams B. Cordovil

l' ediçãol' impressão (2007): 500 exemplares

Todos os direitos reservadosA reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte,

constitui violação dos Direitos Autorais (lei nO9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (ClP)Ernbrapa Amazônia Oriental

São luiz do Tapajós: uso do território na Amazônia! Editores TécnicosOtávio do Canto, Adriano Venturieri.-- Belém: Embrapa AmazôniaOriental, 2007.87 p.: ilj 15 X zzcrn

ISBN 978-85-87690-69-2

1.Zoneamento Ecológico-Econômico - São luiz do Tapajós - Pará.2. Dinâmica socioespacial. 3. Interpretação do uso da terra.4. Cobertura vegetal. S. Biodiversidade. I. Canto, Otávio do. 11.Venturieri, Adriano. 111. Embrapa Amazônia Oriental.

CDD: 333.7098115

© Embrapa 2007

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Apresentação

No ano de 2003, foi iniciado, pelo professor Otávio doCanto, um estudo sobre a dinâmica territorial de comunidadesribeirinhas do Baixo Tapajós, intitulado Modo de vida e uso doterritório no Baixo Tapaiôs. Esse empreendimento ocorreu, até oano de 2004, no interior do Projeto Caruso, liderado porprofessores da Université du Québec à Montréal (UQAM).

Em 2005 e 2006, a pesquisa passou a ser desenvolvida pormeio do Projeto Zoneamento Ecológico-Econômico da Área deInfluência da Rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém), do GovernoFederal, coordenado pelo pesquisador Adriano Venturieri. A partirdaí, foram realizadas diversas visitas às comunidades, dentre elasSão Luiz do Tapajós, com o objetivo de ampliar os estudos que onovo projeto julgou necessário. Nessas circunstâncias, estiveramem campo pesquisadores da Universidade Federal do Pará(UFPA), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa) e do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG).

Este pequeno livro, portanto, é uma síntese de estudosinterdisciplinares realizados sobre o território de umacomunidade localizada às margens das primeiras corredeiras doRio Tapajós. Local este no qual, segundo registros de Viagem aoTapajós, de Henri Coudreau (1896), se encontra o limite dochamado Baixo Tapajós.

As comunidades do Baixo Tapajós apresentamdiferenciações quanto à sua constituição e formas de sereproduzirem. No entanto, possuem em comum a ameaça doprocesso de expansão das pastagens sobre seus territórios. Issose aplica fundamentalmente às comunidades que se encontramfora das chamadas "Áreas Especiais" (Flona, Resex e Parna).

Para se entender a dinâmica do uso do território em SãoLuiz do Tapajós, foram valorizados três aspectos fundamentais: adinâmica socioespacial, a interpretação do uso da terra e dacobertura vegetal e, finalmente, a biodiversidade, com ênfasepara o Campo dos Perdidos.

Os Editores

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Prefácio

Foi com grande honra que recebi o convite para prefaciar olivro" São Luiz do T 'apajâs: uso do território na Amazônia" , escrito poruma equipe de pesquisadores da Université du Quebec àMontéal, Universidade Federal do Pará, Universidade Estadualdo Maranhão, Embrapa Amazônia Oriental, Centro de EducaçãoTécnica do Estado do Pará e Museu Paraense Emílio Goe1di.

É interessante compu1sar esta obra com os relatos dosprimeiros exploradores que viajaram pela Amazônia, como HenriCoudreau (1859-1899) e sua esposa, que subiram o Rio Tapajóscom grandes dificuldades, e também de cronistas da épocacontemporânea, como Eimar Franco, que relata na obra "OTapajós que eu vi" a vivência no início do século XX, descrevendoa natureza intocada e pura. Essa mesma percepção pode seralcançada nas leituras das viagens de personagens como: padreJoão Daniel (1772-1776), Príncipe Adalberto da Prússia(1811-1873), [ean Baptiste von Spix (1781-1826), KarlFriedrich Philipp von Martius (1794-1868), Henry WalterBates (1825-1892), casal [ean Louiz Rodo1phe Agassiz(1807-1873) e Elizabeth Cabot Cary Agassiz, TheodoreRoosevelt (1858-1919), entre outros.

Apesar de os autores não mencionarem nos seus textos, agrande contribuição deste livro será a de induzir a elaboração depolíticas públicas, baseadas no microcosmo de São Luiz doTapajós, que tipifica as milhares de comunidades espalhadas nosmais recônditos rincões da Amazônia. Cada comunidade comsua história, seus pioneiros, seus heróis, suas lutas, na busca desonhos e esperanças. Se queremos atingir o desmatamento zerona Amazônia, a solução parte do entendimento do microcosmode São Luiz do Tapajós, que adota práticas agrícolas neolíticas,no aproveitamento sistemático dos recursos naturais disponíveise na sua luta pela sobrevivência, conectado com mercadosdistantes sem a sua percepção. A solução do macrocosmoamazônico depende, portanto, das soluções de milhares de SãoLuiz do Tapajós existentes na Amazônia.

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Os primeiros viajantes do século XIX mencionam sempre apresença dos seringueiros nas mais distantes paragens dos altosrios, alguns em confrontos diretos com os indígenas, tal qual,hoje, os madeireiros vão em busca da madeira, retirando-a até oseu esgotamento. Com São Luiz do Tapajós não foi diferenteneste sentido.

Nesses locais, a vida pára, dando tempo ao tempo àsoportunidades de progresso, como ocorreu na perspectiva deRodovia Transamazônica passar em São Luiz do Tapajós.Passaram-se os dois ciclos da borracha e a modemidade foirepresentada por quatro orelhões e pela chegada da energia elétricacom a Usina Hidrelétrica de Tucuruí. O trecho Altamira-Itaitubafoi inaugurado no dia 27 de setembro de 1972, pelo presidenteEmílio Garrastazu Médici (1905-1985) e o Ministro MárioAndreazza (1918-1988). A energia de Tucuruí, em Itaituba,inaugurada no dia 10 de junho de 1999, foi possível com aconclusão da terceira torre de transmissão mais alta do mundo,com 160 m, e outras duas torres com 135 m e 114 m, importadasda Itália, necessárias para transpor o Rio Tapajós, com 1.200 m delargura. Isso indica que a modemidade tecnológica é possível aténos locais mais distantes da Amazônia, por meio da utilização delaptops, celulares, aviões a jato, etc. Tudo isso contrasta com atecnologia agrícola que ainda exige descobertas locais, suaadaptação, características de clima, solos, entre outros.

Dessa forma, entendo que este livro tem, também, umagrande importância para o futuro, daqui a 100 ou 200 anos, umavez que estamos lendo os relatos dos primeiros viajantes daAmazônia. Constitui fotografia de uma comunidade, reflexo demilhares de outras, como as diversas pirâmides que marcaram osciclos econômicos da Amazônia, como as igrejas mais antigas deBelém do ciclo do cacau, os Teatros da Paz e Amazonas do ciclo daborracha, a Alça Viária, as torres de transmissão em ltaituba, etc.Toma-se possível verificar se essas sociedades conseguiram evitarque novas Zonas Bragantinas se espalhassem no interior dafloresta amazônica, como manchas de destruição.

Os autores, com certeza, devem ter sentido uma angústiaao cruzarem com belas paisagens do Rio Tapajós e pensaremcomo poderiam levar o desenvolvimento mais adequado para

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essas populações. Como reduzir os desmatamentos e asqueimadas que já substituíram a floresta original para menos dametade do seu território? Seria fomentar o ecoturismo?Incentivar a extração de peixes ornamentais? Promover maioresinvestimentos sociais rotulados de políticas assistencialistas?Quando é que o crédito de carbono vai se tomar realidadeconcreta para as populações amazônicas?

Vários autores questionam a existência do desenvolvimentosustentado, como o americano Herman Daly (1938), o egípcioSalah El Serafy (1927) e o romeno Nicholas Geogescu-Roegen(1906-1994). Esses teóricos destacam a importância deconsiderarmos que a população humana está em francocrescimento, assim como o balanço energético das atividades, ospadrões de produção e consumo, entre outras variáveis.Argumentam que o desenvolvimento sustentado só seriapossível se tivéssemos crescimento zero, mas um desenvolvimentomais sustentável seria possível. Ao considerarmos que os EstadosUnidos, com menos de 4 % da população mundial, consomem20 % dos recursos naturais do planeta, se todos adotassem ospadrões de produção e consumo americano, daria para suportar,no máximo, 20 % da atual população mundial. Mas o grandeparadoxo é que mesmo com os padrões de produção e consumode São Luiz do Tapajós, na apologia de um subdesenvolvimentosustentado, também não seria possível lidar com a contínuadestruição dos recursos naturais.

Os investimentos no homem, como educação e saúde, sempredefendidos pelo sueco Gunnar Myrdal (1898-1987), ganhadordo Prêmio Nobel de Economia de 1974, representam, talvez, amaior esperança da população, a redenção de São Luiz deTapajós e de outras milhares de comunidades. Que essascomunidades não vejam o reflexo da cidadania como meroscurrais eleitorais, que as políticas' públicas, quando chegarem,não se transformem em meros instrumentos de assistencialismopúblico, que essas pessoas tenham condições de decidir sobre seupróprio destino e futuro.

Alfredo HommaPesquisador da Embrapa Amazônia Oriental

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, .urnanoCapítulo 1

Dinâmica socioespacial de São Luiz do Tapajós

Otávio do Canto; Marc Lucotte; Robert Davidson

Origem 11

Configuração territorial 15Comunidade ribeirinha 18Tempo de residência e estrutura populacional 21O Parque Nacional da Amazônia 24A religião 25Principais ocupações dos chefes 26Apesca 28

Capítulo 2

Análise do uso da terra e cobertura vegetal de São Luiz doTapajós por meio da interpretação de imagens de satélite

Andréa Coelho; Adriano Venturieri; Otávio do Canto

Metodologia de análise 34Uso da terra e cobertura vegetal em São Luiz do Tapajós .40

Capítulo 3

A vegetação da campinarana do Campo dos Perdidosem São Luiz do Tapajós: subsídios para a criaçãode uma unidade de conservação

Leandro V. Ferreira; Dãrio D. Amara], Jorge L. G. Pereira; Denise de A. Cunha;

Dadey C. Lea!; Camila da S. Furtado; Kelly C. M. da Silva;Cados da S. Rosário; Daniel G. do Nascimento

A conservação da biodiversidade 49Por que o Campo dos Perdidos é importante paraa conservação da biodiversidade? ~ 52As formações vegetais do Campo dos Perdidos 54A importância social do Campo dos Perdidos 55Recomendações para instrumentalizar a criação daARIE no Campo dos Perdidos em São Luiz do Tapajós 63

Apêndice de fotos de São Luiz do Tapajós 71

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Dinâmica socioespacial deSão Luiz do Tapajós

Otávio do Cantol; Marc Lucotte2

; Robert Davidson3

São Luiz do Tapajós está localizado a 56° 14' 59.8" W e04° 27' 29.2" S, à margem direita do Rio Tapajós, próximo aoParque Nacional da Amazônia (Parna), Município de Itaituba, asudoeste do Estado do Pará (Fig.l).

Origem

A origem de São Luiz do Tapajós vincula-se à formação deum pequeno povoado na ilha de Lauritânia, lugar estratégicopara a circulação de recursos florestais. Os registros apontam parao limiar do século :XX, uma vez que Henri Coudreau, ao passarpelas primeiras corredeiras do Rio Tapajós, registrou, em 1895, oque se segue:

Logo após as primeiras hesitações, hoje já se podeperceber que o lugar mais apropriado para abrigar ogrande centro do Tapajós navegável é o seu ponto decontato com o Tapajós encachoeirado. Ficariaadmirado se não visse aí se formar, dentro de algunsanos, alguma cidadezinha de rápido desenvolvimento(COUDREAU, 1977, p. 24).

I Universidade Federal do Pará (UFPA).2 Institut des Sciences de I'Environrnent/ISE/UQAM.3 Biodôrne de Montréal.

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MAPA DE LOCALIZAÇÃODE SÃO t.uiz DO TAPAJÓS

ITAlTUBA - PA

LEGENDAd Núcleo de povoamento

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1\/ Rodovia federal

.• ~ Drenagem

rz..z1 Unidades de conservação

FONTE: Base digital do IBGEMinistério do Meio Ambiente (MMA).Elaboração: Otávio do Canto

Fig. 1. Mapa de Localização de São Luiz do Tapajós - Itaituba, PA.

São Luiz do Tapajós, ao longo da sua história, se tornou umexpressivo entreposto comercial liderado pelos comerciantes depeles de animais silvestres, ovos de tartaruga, castanha-do-pará,borracha e ouro". Não obstante, a atividade extrativista daborracha foi a que mais se destacou e dinamizou a economiaregional, atraindo migrantes, principalmente nordestinos.

Ao longo dos anos, os grupos sociais que chegaram àregião foram assimilando com os grupos locais a convivênciacom os ambientes. Muitos, porém, aprenderam e ensinaram aviver uma espécie de simbiose com os rios, tornando-severdadeiros ribeirinhos.

4 A exploração de ouro na Província Mineral do Tapajós teve início em 1958, maisprecisamente no Rio das Tropas (GASPAR, 1990). Os garimpos do Tapajós, de acordocom os dados oficiais, já foram um dos maiores produtores de ouro do Estado do Pará.Entre 1987 e 1992, a produção aurífera de Itaituba foi acima de 55 % da produção totaldo Estado (LEAL, 1996).

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Os seringais encontravam-se naturalmente disseminadospelas bordas do Rio Tapajós e pelo interior da florestaheterogênea e densa. Entretanto, a dispersão das seringueiras(Hevea brasiliensisi entre si tomava lenta a produção do látex ediminuía a possibilidade de concorrência com os cultivos dooriente implantados pelos ingleses.

Na década de 1940, dada à existência da Segunda GuerraMundial, ocorreu o reaquecimento da atividade gomífera naAmazônia, conhecida como "segundo ciclo da borracha". Nesseperíodo, surgiram os chamados "soldados da borracha", homensvindos para a Amazônia, principalmente do nordeste brasileiro,recrutados pelo governo como "aliados na guerra". A principalfunção desses homens era se embrenhar nas matas em busca delátex para abastecer as demandas industriais dos países aliados,liderados pelos Estados Unidos.

Nesse contexto, São Luiz do Tapajós adquiriu novamenteimportância econômica na região, sobretudo com a instalação daempresa Alto Tapajós, de capital americano e brasileiro (este comfinanciamento do Banco da Borracha, atual Banco daAmazônia), posteriormente comprada pela Cia. Arruda & Pinto.Desse modo, os habitantes de São Luiz do Tapajós vivenciaramrelativa prosperidade, estimulada por um conjunto de atividadesdecorrentes do comércio de látex.

A infra-estrutura criada em São Luiz do Tapajós denotava asua importância na dinâmica produtiva da borracha. Havia casade aviamento, compra e controle dos seringais, além de um portoequipado para receber navios cargueiros.

A presença do antigo porto de São Luiz do Tapajós aindaapresenta sinais por meio da memória dos moradores mais antigose de suas ruínas, juntamente com uma antiga casa de comércio,parcialmente conservada, como pode ser observado na Fig. 2.

O fim da Segunda Guerra Mundial e o surgimento daborracha sintética concorreram para o novo declínio da atividadeextrativista da borracha na Amazônia e, conseqüentemente,aquela liderada pelos comerciantes de São Luiz do Tapajós.

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Fig. 2. Casa de comércio construída no período da borrachaem São Luiz do Tapajós - Itaituba, PA.Fonte: Canto, O. do. Projeto Caruso (junho de 2003) .

A partir da desestruturação do processo produtivo daborracha, uma nova organização espacial se estabeleceugradativamente na Amazônia. Dessa maneira, o espaço deprodução e vivência passou pela reestruturação de suasatividades produtivas.

Em São Luiz do Tapajós, essa reestruturação produtiva sedeu a partir da retomada de aspectos fundamentais do seu modode vidas, baseado na pesca e na agricultura familiar desubsistência, com destaque para as roças de mandioca, milho,feijão, arroz, banana e uma pequena parcela de pessoas sededicando à criação de gado bovino.

5 Modo de vida é a expressão utilizada para designar o conjunto de ações desenvolvidaspor um determinado grupo humano a fim de assegurar a sua existência (MARX, 1982).

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Configuração territoriar

São Luiz do Tapajós ainda apresenta um significativosistema natural de rara beleza, constituído pelo seguinte: florestadensa; belas praias, que surgem no período em que baixa o níveldas águas do Rio Tapajós: afloramentos rochosos; igarapés deáguas cristalinas; proximidade do Parque Nacional da Amazônia,que se mantém com elevado grau de preservação das suascondições originais, além das famosas corredeiras do Tapajós(Fig. 3). No entanto, esse potencial ainda é pouco explorado e acomunidade se ressente da falta de incentivo para que se crie ainfra-estrutura necessária para atrair turistas.

Fig. 3. Corredeiras de São Luiz do Tapajós - Itaituba, PA.Fonte: Canto, O. do. Projeto Caruso (setembro, 2004).

6 "A configuração territorial é dada pelo conjunto formado pelos sistemas naturaisexistentes em um dado país ou numa dada área e pelos acréscimos que os homenssuperimpuseram a esses sistemas naturais[ ...] A configuração territorial, ou configuraçãogeográfica, tem pois urna existência material própria, mas sua existência social, isto é, suaexistência real, somente lhe é dada pelo fato das relações sociais[ ...] No começo da históriado homem, a configuração territorial é simplesmente um conjunto dos complexosnaturais. À medida que a história vai fazendo-se, a configuração territorial é dada pelasobras dos homens: estradas, plantações, casas, depósitos, portos, fábricas, cidades, etc;verdadeiras próteses" (SANTOS, 1996, p. 51).

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A infra-estrutura da comunidade é composta de umbarracão comunitário; uma escola de ensino fundamental, comtrês salas de aula; quatro telefones públicos; um posto de saúde eenergia elétrica originária da Usina Hidrelétrica de Tucuruí,desde 2006, por meio do Programa Luz Para Todos, do GovernoLula. O campo de futebol, o barracão comunitário e a praça emfrente à igreja católica são os locais de lazer mais freqüentadospelos moradores.

O padrão construtivo da maioria das casas de São Luiz do .Tapajós ainda hoje é constituído de paredes de taipa ou madeira,cuja cobertura é feita de palha ou telha. Não obstante,encontramos várias construções em alvenaria coberta de telha. Amaioria das residências não dispõe de serviços de abastecimentode água. Nesse caso, para consumo doméstico, usam água do rio ede poço, como pode ser observado na Fig. 4.

Fig. 4. Abastecimento de água em São Luiz do Tapajós -Itaituba, PA.Fonte: Canto, O. do. Projeto Caruso (setembro, 2004).

Do ponto de vista da delimitação da configuraçãoterritorial de São Luiz do Tapajós, a pesquisa foi exaustiva, umavez que demandou um árduo trabalho de levantamento dasinformações junto às unidades familiares, envolvendo entrevistasobre suas atividades, georreferenciamento de todas as

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residências, sobretudo aquelas distanciadas do núcleo depovoamento e interpretação de imagens de satélite.

Concebeu-se, inicialmente, uma configuração territorialarbitrária para realizar a primeira investida a campo, de modoque sua representação aproximava de um quadrado com umponto ao centro indicando a existência de um núcleo depovoamento às margens do Rio Tapajós.

Após os estudos realizados por meio das entrevistas, dogeorreferenciamento (residências, roças, pastos) e dainterpretação das imagens de satélite, partiu-se para umasegunda fase de representação da configuração territorial. Dessamaneira, foi produzida uma carta-imagem contendo o conjuntodas informações colhidas em São Luiz do Tapajós.

No segundo trabalho de campo, em 2004, foi apresentada acarta-imagem acompanhada de estímulos e orientações para que osmoradores pudessem fazer a leitura e interpretação da mesma,contribuindo para o seu refinamento e a correção dos possíveisequívocos de representação. Assim, o trabalho foi realizado compequenos grupos, em média de três a quatro pessoas. Por meio desseprocesso, chegou-se ao que foi chamado de "limite dialogado",justamente por ter sido o resultado de um conjunto de técnicas ediálogos com os moradores de São Luiz do Tapajós (Fig. 5).

O "limite dialogado" é o espaço de vivência onde elesproduzem a sua territorialidade, apropriando-se de porções doespaço a partir do trabalho e do conhecimento relativo aosprocessos naturais, ou seja, por meio do seu modo de vida. Porisso foram imprescindíveis as entrevistas sobre as comunidadesvizinhas; a identificação das unidades familiares de São Luiz doTapajós; os locais onde exercem suas atividades, sejam elasreligiosas, de lazer, ou produtivas, tais como: agrícola, pesca,criação, etc. Por outro lado, a convivência que permitiu asobservações de modo direto foi indispensável para quechegássemos às conclusões observadas na Fig. 6.

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Fig. 5. Professores da Escola São Luiz do Tapajós expondotrabalho de construção do "limite dialogado" de São Luiz doTapajós - Itaituba, PA.Fonte: Canto, O. do. Projeto Caruso (agosto, 2005).

Conmnidade ribeirinha

A partir da cidade de Itaituba, pode-se chegar a São Luizdo Tapajós pelo Rio Tapajós, nas embarcações de saídasdiárias, ou pela estrada vicinal que dá acesso à comunidade dePimental, como o posterior uso da estrada construída pelaCompanhia Agroindustrial de Monte Alegre (Caima) para otransporte de matéria-prima suplementar (pozalana) para ofabrico de cimento. A estrada liga a área de exploração ao portoconstruído por essa empresa nas proximidades do núcleo deSão Luiz do Tapajós.

A relação dos habitantes de São Luiz do Tapajós com oambiente vai além de sua mera localização às margens doTapajós. Nessa comunidade, a organização social com suastécnicas de subsistência, apesar de apresentar muitos sinais dedepredação da cobertura vegetal em seu território, tem mostradouma relação equilibrada entre seus habitantes e o ambiente.Situação que tenderá a se modificar substancialmente com arecente construção da estrada da Caima e a chegada da linha de

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transmissão de energia elétrica proveniente da Usina Hidrelétricade Tucuruí, antiga reivindicação da comunidade.

MAPA DA CONFIGURAÇÃOTERRITORIAL DE SÃO unzDO TAPAJÓS -ITAlTUBAlPA

LEGENDA

d Núcleo de povoamento=. Roça/pasto

I , Limite dialogadoN Rodovia federal/ \ I Vicinal

20 40 60Km ]

,,,,,,····

FONTE: Base dignal do IBGE.Imagem Landsatórbita/ponto 228063ano, 2001,Trabalho de campo realizado 2003,2004. 2005, 2006.

Elaboração: Otávio do Canto

12'

Fig. 6. Mapa da configuração territorial de São Luiz do Tapajós - Itaituba, PA.

Apesar da existência do sistema de telefonia e da chegadada estrada na comunidade, o Rio Tapajós continua sendo aprincipal via por onde se dão os fluxos entre a comunidade e acidade de Itaituba. É por ele que pessoas e mercadorias chegam esaem da comunidade ao longo do ano, utilizando uma navegaçãoque se faz com forte conhecimento empírico diante do ciclo anualdas águas do rio (Fig. 7).

o Rio Tapajós certamente não comanda a vida, mas é peçafundamental na organização socioespacial de São Luiz doTapajós. O rio aqui tem vários significados e importância. Naesfera da circulação de informações, ele se mostra presente pela

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sociabilidade em torno dos jirais instalados em suas margens,utilizados para lavar roupa, louça, tratar peixe, etc. Assim,enquanto trabalham, as pessoas conversam sobre assuntosdiversos e trocam suas experiências. Por outro lado, o rio tambémé local de higiene pessoal e lazer dos grupos familiares.Acredita-se que os repetidos banhos e as brincadeiras no rio sãoaspectos da cultura herdada dos índios mundurukus, ainda hojepresentes no seio da comunidade (Fig. 8).

Movimento anual das águas do rio Tapajós, 1992 a 1997

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-c-1996

-<>-1997

Fig. 7. Movimento anual das águas do Rio Tapajós, 1992 a 1997.Fonte: Capitania dos Portos, Santarém, PA. Sistematização dos dados:Canto, O. do. (1998: 45).

Fig. 8. Senhoras e crianças em tomo dos jirais em São Luizdo Tapajós - Itaituba, PA.Fonte: Canto, O. do. Projeto Caruso (setembro, 2005).

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Durante a pesquisa, também foram observados, como partedo modo de vida, sistemas explicativos próprios, uma espécie derelação mítico-material com a natureza, para explicar a razão dosseus medos. A natureza é algo que se distancia pelo medo e seaproxima na construção material da vida. Tudo isso decorreconcomitantemente, o que certamente revela a existência desistemas complexos desenvolvidos por esses ribeirinhos para lidarcom suas realidades. Assim,

A natureza não se limita à condição de base material desua vida; natureza e comunidade fazem parte de umaúnica estrutura orgânica. Nessas condições,água-terra-organização social formam algo indissociável,um amálgama (CANTO, 1998, p. 155).

Portanto, é nessa perspectiva que se entende São Luiz doTapajós como uma comunidade tipicamente ribeirinha, emborase saiba que a comunidade é dinâmica e os agentesmodemizadores (televisão, telefonia, energia constante, estrada)têm, como em todo lugar, papel de (re)estruturadores espaciais e,por conseguinte, impõem novas qualidades, tanto do ponto devista do espaço, como do modo de vida das pessoas.

TeIllpo de residência e estrutura pop'ulaciorial

A observação do tempo de residência dos chefes dasunidades familiares de São Luiz do Tapajós (Fig. 9) é um dosfatores que denotam a antiguidade dessa comunidade. Mais de63 % dos chefes de família são residentes por tempo superior a20 anos e somente 17,11 % têm menos de 10 anos deresidência. Aproximadamente, 82 % deles são nativos ouoriginários de localidades do próprio Estado do Pará. Assim, asimigrações registram cerca de 18 % distribuídos da seguinteforma: 10 % de maranhenses e 8 % de goianos, cearenses,paraibanos e matogrossenses.

A comunidade de São Luiz do Tapajós é constituída de 111unidades familiares, com um total de 564 habitantes, cujacomposição por sexo e idade está sintetizada na Fig. 10.

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Tempo de residência em São Luiz do Tapaj6s - 2003

~.-----------------------~:):)+--------

25 +--------o rrenos de 10 anosD10a19an05

.20 a 39 anos

B40 ou + anosa Sem resposta

O Sem U'lforrreção

20 t--------•..15

10

Chefe

Fig_ 9_Tempo de residência em São Luiz do Tapajós - 2003.Fonte: Canto, O. do. Projeto Caruso (2003).

HOMENSMULHERES

Fig. 10. População residente por sexo e idade em São Luizdo Tapajós.Fonte: Canto, O. do. Projeto Caruso (2003).

A pirâmide etária de São Luiz do Tapajós demonstra queocorre um amplo domínio da população jovem e que osnascimentos do sexo feminino suplantam ligeiramente os de sexomasculino. Não obstante, à medida que a pirâmide indica oenvelhecimento da população, a proporção entre mulheres ehomens decresce, sendo maior o número de idosos homens. Essefenômeno pode ser explicado pelo fato de a migração femininaser mais comum que a masculina, motivada, dentre outrosfatores, por uma maior oportunidade que as mulheres jovensencontram para se empregar em casas de famílias na cidade.Muitas delas buscam dar continuidade a seus estudos e vêemnisso uma oportunidade. Por outro lado, a migração masculinafoi muito acentuada durante as décadas de 1980 e 1990,estimulada pelo garimpo de ouro no alto Rio Tapajós, no Rio[amanxim e por outros garimpos na região. Atualmente, a

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migração tem se demonstrado estável, apesar da abertura daestrada da Caima e da chegada da energia, fatores que, segundoos moradores, têm provocado um maior movimento de pessoasem São Luiz do Tapajós.

A expectativa de vida é baixa, somente 7,0 1 % doshomens e 5,21 % das mulheres têm idade igualou superior a65 anos; 36,53 % dos homens e 35,76 % das mulheres sãoadultos; 56,46 % dos homens e 59,03 % das mulheres sãocrianças e jovens. Portanto, muitos habitantes da comunidade,mais da metade deles, se encontram na idade escolar e sãoatendidos por uma escola com três salas de aula de ensinofundamental. A escola atende 207 alunos, o que significa que36,70 % da população de São Luiz do Tapajós estavafreqüentando a escola no ano de 2003.

A maior parte dos chefes das unidades familiares, bem comoo restante da população, possui o ensino fundamental incompletoe 17,55 % encontram-se em idade não escolar, ou seja, possuemmenos de 6 anos de idade. Isso pode ser observado na Fig. 11.

Escolaridade em São luiz do Tapajós

DChefe .Outros C

----•• ---

325300275250225

jl200I 175

150125100755025O

A AI P EPI EFC EMC 51E N5R 51

Fig. 11. A - Analfabeto; Al- Alfabetizado; P - Pré-escolar; EFI -Ensino Fundamental Incompleto; EFC - Ensino FundamentalCompleto; EMC - Ensino Médio Completo; SIE - Sem IdadeEscolar; NSR - ão Soube Responder; SI - Sem Informação.Fonte: Canto, O. do. Projeto Caruso (2003).

Parte significativa dos habitantes da comunidade de SãoLuiz do Tapajós é constituída por índios de descendênciamunduruku ou descendentes miscigenados com brancos e/ounegros, processo que vem se dando ao longo da história dacomunidade. Por isso é comum o casamento entre as três etnias.

-

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Observou-se, entretanto, que o grupo indígena se constitui naparcela de maior carência social e econômica no interior dacomunidade (Fig. 12).

Fig. 12. Indio Karu e sua família em São Luiz do Tapajós -Itaituba, PA.Fonte: Canto, O. do. Projeto Caruso (setembro, 2004).

o Parque Nacional da .Amazôrria

Um importante fator no processo de constituição dacomunidade de São Luiz do Tapajós está no deslocamento deantigos moradores da área transformada no Parque Nacional daAmazônia (Parna da Amazônia).

A criação do Parna deu-se no contexto do Programa deIntegração Nacional (PIN), que, ao imobilizar uma área de 6milhões de hectares de terra, o conhecido Polígono deAltamira, para a "reforma agrária", disponibilizou cerca de ummilhão de hectares para conservação, nascendo, assim, umasdas primeiras unidades de conservação na Amazônia. Esse fatoindica a inauguração, também por parte do governo, de umapolítica de "preservação" ambiental, embora o principalobjetivo governamental fosse estimular a ocupação de terrassob a influência da Rodovia Transamazônica e estabelecerprogramas agropecuários.

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A criação do Parna, em 1974, foi inspirada nos parquesamericanos que não concebem unidades de conservaçãohabitadas, recriando, assim, a dicotomia "povos" e "parque". Noentanto, na área do Parna, havia diversas unidades familiares quese reproduziam por meio da extração de borracha, coleta dacastanha, caça, pesca e pequenos cultivos agrícolas,principalmente da mandioca. Essas pessoas foram pressionadas aabandonar a área com a promessa de que seriam indenizadas,porém os depoimentos obtidos em campo revelaram atos deintimidação, violência e o não cumprimento integral do processoindenizatório prometido pelos agentes do governo aos antigosmoradores. Como relata sr. Domingos, "foi ordem do governo,eles chegaram e disseram que nós tinha que sair de lá, mas quenão se preocupasse, a gente ia receber uma indenização, mas eununca recebi um tostão sequer" (COELHO, 2006, p. 28).

A imposição não se limitou ao abandono da terra por partedos antigos moradores, mas a todo seu modo de vida, uma vezque muitos deles saíram das margens do Rio Tapajós e passarama viver às margens da Rodovia Transamazônica. Outros seguirampara a cidade ou comunidades mais próximas, como foi o casodaqueles que se dirigiram para São Luiz do Tapajós.

O Sr. Domingos (Fig. 13) faz parte de um grupo deex-moradores do Parque que buscaram se estabelecer o maispróximo possível da área onde moravam. Sua propriedade selocaliza à margem direita do Tapajós, exatamente em frente aoParque, e está integrada à comunidade de São Luiz do Tapajós.

A religião

A igreja católica considera São Luiz Gonzaga como o SantoPadroeiro da comunidade de São Luiz do Tapajós. Suascomemorações são realizadas no mês de junho e, nesse período, acomunidade recebe visita de várias outras comunidades, comoPimenta!, Raiol, Nova Canaã e da cidade de Itaituba. A festamescla o religioso e o profano e, nesse contexto, todos se divertemnuma esfera comemorativa. No último dia das comemorações,chamado de "dia da festa", várias atividades são desenvolvidas,

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tais como: leilões de bolos, galinhas, patos e outros tipos debrindes. Além disso, é o dia da escolha da garota São Luiz doTapajós. Desse modo, os parentes e amigos das candidatasarrecadam fundos com o objetivo de eleger a sua preferida. Tododinheiro arrecadado é destinado aos "interesses" do Santo.

Fig. 13. Antigo morador da área onde foi criado o ParqueNacional daAmazônia. São Luiz do Tapajós - Itaituba, PA.Fonte: Canto, O. do. Projeto Caruso (setembro, 2004).

As atividades das igrejas em São Luiz do Tapajós não têmpapel exclusivamente de cunho religioso. Elas adquirem papelsocial da maior importância, pois é comum a participação nascomemorações como opção de lazer, principalmente em setratando da igreja católica, que dispõe da grande maioria dos fiéis(64,18 %), possui o melhor espaço de manifestação e acabapromovendo o maior envolvimento comunitário. Ainda assim,18,61 % da comunidade têm seu credo na Assembléia de Deus,4,25 % na Igreja Batista e 1,06 % na Evangélica (Fig. 14).

Principais ocupações dos chefes

São Luiz do Tapajós vive basicamente da agriculturafamiliar de subsistência com culturas temporárias. A atividade"agrícola se baseia na técnica de retirada da cobertura vegetal

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seguida de queima. Primeiro, o agricultor realiza a "broca" -limpeza da vegetação mais baixa, realizada em geral com terçadoou foice -, depois é retirada a vegetação mais robusta,geralmente com o uso do machado ou motosserra, na maioriadas vezes pagando aluguel do equipamento e/ou diária de umespecialista para fazer a derrubada da floresta. Após esseprocesso, espera-se a secagem natural da vegetação para efetuar aqueimada. Depois disso, dependendo do grau da queimada, érealizada a coivara para eliminar as sobras da vegetação que nãofoi inteiramente queimada. Esse processo de preparo do solo parao plantio se dá entre os meses de agosto e novembro, e amão-de-obra é basicamente familiar.

Calólica

Ass. de Deus

Batera pEvangé~ca pAdvenlista

OuIras

Semrelig~I

Sem resposta

Sem Wiformaçêo bO 10 20 30 40 50 60 70

%

Fig. 14. Religião em São Luiz do Tapajós - 2003.Fonte: Canto, O. do. Projeto Caruso (2003).

Os agricultores utilizam o sistema de rotação de terra. Dessamaneira, a cada período que varia de 3 a 5 anos, o roçado atual éabandonado e um outro é aberto, geralmente em área de mata. Aárea do antigo roçado é abandonada para a regeneração davegetação. Esse método é utilizado como estratégia pararecuperação natural dos solos. Isso é fundamental para melhorprodutividade na próxima utilização. Por outro lado, as áreas deantigas roças podem dar lugar ao pasto. Inclusive, algumas famíliaspossuem pastagens mesmo sem possuir gado. Elas alimentam apossibilidade de um dia poderem desenvolver sua criação.

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Em São Luiz do Tapajós, o uso do solo por meio dapecuária é visível nos pastos, que se estendem pelo território dacomunidade. Entretanto, somente uma família destacou apecuária, ao lado do comércio, como sua principal atividade. Issopode ser confirmado pelos dados da Fig. 15.

Principal ocupação do chefe em São Luiz do Tapajós - 2003

~~I-+---· --I~jx· . ~Fig. 15. Principal ocupação do chefe em São Luiz doTapajós - 2003.Fonte: Canto, O. do. Projeto Caruso (2003).

A prática do sistema produtivo de corte e queima gera áreasnas quais é plantado capim para ampliar ou formar novos pastos esuprir a necessidade de expansão da pecuária, que pode ocorrer deduas formas: com o aumento "natural" do número de reses oudecorrente de maior capitalização e investimento na compra denovos animais. Essa situação, por sua vez, é menos representativa,em virtude do baixo nível de renda desses produtores.

A criação de gado, para os pequenos produtores, o"gadinho", como é conhecido no Baixo Amazonas, tambémfunciona como uma espécie de poupança a que eles podemrecorrer em caso de doença, dívida ou outro tipo de necessidade.Algumas vezes, essa criação já pode se manifestar como o iníciode um processo de capitalização dessas comunidades.

A pesca

A pesca é uma atividade vital tanto para aqueles quevivem diretamente dela, pescadores ribeirinhos, como paraaqueles que pescam somente para o seu consumo, uma vez que o

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pescado é um dos componentes mais importantes na dietaalimentar da comunidade.

Em São Luiz do Tapajós, existem diferentes modalidades depesca, tanto aquela realizada por pessoas de fora (pesca esportiva eornamental), como a realizada por seus habitantes (artesanal desubsistência). Essas três modalidades têm tido coexistência pacífica,embora os territórios de pesca (Fig.16) estejam superpostos, mas astécnicas de pesca e seus objetivos são diferentes, minimizando asdisputas e, por conseguinte, os conflitos.

56"'16' 56°14'

N

MAPA DO TERRITÓRIOw*. DE PESCA DE SÃO unzDO TAPAJÓS -ITAlTUBAlPA

s

LEGENDA

d Núcleo de povoamento.. .:t Porto (J)

'" N Rodovia federal ,O.~/ \ I Vicinal C.~O Pesca esportiva ~cs.::J Pesca ornamental

O"C

Pesca artesanal N

de subsistência ':;D Drenagem

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[ O 2 3Km ]

FONTE: Base digital do IBGE.Trabalho de campo realizado 2003,2004, 2005, 2006,

Elaboração: Otavio do Canto

56"16' 56°14'

Fig. 16. Mapa do território de pesca de São Luiz do Tapajós - Itaituba, PA.

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Pesca esportiva ou amadora é aquela realizada porvisitantes ou turistas, todavia se constitui em urna modalidade depesca ainda pouco difundida. No entanto, há um embrião dessamodalidade se desenvolvendo em São Luiz do Tapajós, por meiode iniciativa turística do município. A pesca esportiva tende autilizar arte de pesca corno anzóis e linhas, de acordo com asespécies que se pretendem pescar, dentre elas o tucunaré (Ciehlaspp.), o surubim (Pseudoplaystoma trigrinum), etc.

A pesca ornamental é urna atividade voltada para omercado de peixes ornamentais. A captura dos peixes é realizadapor meio de técnicas de mergulho livre ou auxiliada porcompressor de ar. A produtividade desse tipo de pesca tende aaumentar durante o período de seca em decorrência da menorprofundidade e maior concentração desses tipos de peixes nasrochas submersas, facilitando sua captura. Essa modalidade depesca é pouco difundida em São Luiz do Tapajós, embora ocorracom maior intensidade em comunidades vizinhas.

A pesca de subsistência é urna modalidade que tem cornopropósito a obtenção de alimento, embora urna parte possa sercomercializada com o objetivo de obter gêneros para atender àsnecessidades básicas. Essa atividade é desenvolvida por quasetodos os membros de São Luiz do Tapajós, incluindo homens,mulheres e crianças. Os utensílios utilizados variam de acordo como período de cheia e vazante do rio, assim corno o pescado maisconsumido em cada período. Dentre eles: aracú comum iLepotinunspp.), jaraqui (Semaprochilodus taenirus), pacu (Mylossoma spp.) ,tucunaré (Ciehla spp.) e tambaqui (Colossoma macropomum).

Junto com a fabricação de farinha de mandioca, a pesca desubsistência é a atividade mais significativa na reprodução dacomunidade, já que o peixe e a farinha de mandioca são a base dasua alimentação. Não obstante, a pesca não figura corno atividadeprincipal dos membros da comunidade, em virtude de suarealização ser basicamente para o consumo direto. A pesca em SãoLuiz do Tapajós é atividade corriqueira e, muitas vezes, não érealizada corno trabalho, mas corno lazer. Talvez, por isso, poucoschefes das unidades familiares a colocam corno principal atividade.

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Referências

CANTO, O. do. Várzea e varzeiros: a vida de um lugar no BaixoAmazonas. 1998. Dissertação (Mestrado) - Faculdade deFilosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de SãoPaulo, São Paulo, 1998.

COELHO, A. Análise e representação do uso da terra ecobertura vegetal nas comunidades de São Luiz do Tapajóse Nova Canaã na Região do Baixo Tapajós. 2006. Trabalho deConclusão de Curso (Graduação em Geografia) - UniversidadeFederal do Pará, Belém, 2006.

COUDREAU, H. Viagem ao Tapajós. São Paulo: Itatiaia, 1979.

GASPAR, E. dos S. Os "Bamburrados" do Tapajós. 1990.Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal da Paraíba, JoãoPessoa, 1990.

LEAL, J. W. L. et al. Programa de Integração Mineral doMunicípio de Itaituba - PRIMAZ. [S.l. : S.n.] 1996.

MARX,K.; ENGELS, F.A Ideologia alemã. São Paulo: LivrariaEditora Ciências Humanas, 1982. Tradução de José Carlos Brunie Marco Aurélio Nogueira.

SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo razão eemoção. São Paulo: Hucitec, 1996.

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Análise do uso da terra e cobertura vegetalde São Luiz do Tapajós por meio dainterpretação de imagens de satélite

Andréa Coelho I; Adriano Venturier/; Otávio do Canto3

o uso da terra na comunidade de São Luiz do Tapajós estávoltado, principalmente, para as atividades relacionadas à agriculturafamiliar de subsistência com culturas temporárias de mandioca,arroz, milho e feijão. As técnicas de cultivo são rudimentares,baseiam-se em conhecimentos tradicionais de derrubada, corte equeima da cobertura vegetal. Esse processo de preparo da terrageralmente ocorre entre os meses de agosto e novembro, utilizando,sobretudo, mão-de-obra familiar e de agregados.

Os agricultores utilizam o sistema de rotação de terra, emque a cada período, que pode variar de 3 a 5 anos, o roçado éabandonado para o descanso do solo. Dessa maneira, um novolocal é preparado, prioritariamente em uma área de floresta, sedisponível dentro da propriedade da unidade familiar. Casocontrário, é reutilizada uma área onde já ocorreu a regeneraçãoda vegetação, chamada de capoeira. Na Fig. 1, pode ser vista apreparação de um roçado para cultivo de arroz e mandioca, numaárea de capoeira.

Algumas famílias se dedicam também à criação de gadocomo atividade complementar, além de a mesma funcionar comouma espécie de poupança familiar. Pode-se perceber, no entanto,

I Mestranda em Ciências Ambientais - EmbrapalUFPNMPEG.2 Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental- Embrapa/CPATU.3 Professor de Geografia da Universidade Federal do Pará - UFPA

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que grande parte dos agricultores possui pequenas áreas compastagens, sem necessariamente possuir gado. Tal situação seexplica pelo fato de esses agricultores terem expectativa de umdia também se dedicarem à criação de gado.

Fig. I. Preparação da terra para cultivo de arroz e mandiocaem São Luiz do Tapajós - Itaituba, PA.Fonte: Canto, O. do. Projeto Caruso (outubro, 2004).

o extratrvismo florestal é uma prática de subsistênciacomum entre parte dos habitantes de São Luiz do Tapajós. Dafloresta, são extraídos vários produtos, tais como: madeiras,ervas, cipós, palhas, castanha-do-pará (Bertholletia excelsa), bacaba(Oenocarpus mapora H. Karsten), patauá (Oenocarpus batauaMart) , açaí (Euterpe oleracea), andiroba (Carapa guiancnsisv,copaíba (Copaifera sp), buriti (Mauritia vinijera e M. jlexuosa), uxi(Endopleura uchi), etc.

Metodologia de análise

Para a análise do uso da terra e cobertura vegetal em SãoLuiz do Tapajós, utilizou-se metodologia que integra técnicas eprodutos de sensoriamento remoto, geoprocessamento etrabalho de campo.

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Foram empregadas imagens em formato digital'TM/Landsat 5, órbita/ponto 228/063, referente aos anos de1997,2001 e 2005, como pode ser observado nas cartas-imagens(Fig. 2, 3 e 4). A escolha das imagens obedeceu ao critério datemporalidade, com quatro anos de diferença entre elas, e àausência de nuvens e sombras que pudessem comprometer asanálises. As bandas espectrais selecionadas são referentes àsfaixas do vermelho (TM 3), infravermelho próximo (TM 4) einfravermelho médio (TM 5), composição colorida RSG4B3, asquais vêm sendo usualmente utilizadas para levantamentos deuso da terra.

CARTA·IMAGEM DE SÃOlUIZ DO TAPAJÓS

ITAITUBA - PARÁ - 1997

LEGENDAI' I limite dialogado

CONVENÇÕES• Núcleo de povoamentoN Rodovia federal1\' Vicinal

Umite do PARNA

FONTEBase DIgital do IBGE Imagem dosatélite LANOSAT TIM 5 cornpostçãccolorida R5G483 1997Trabalho de campo realIZado em 20032004 200S e 2006ElaboraçAo Andréa Coelho

Adnano VentunenOtáVIO do Canto

Fig. 2. Carta-imagem de São Luiz do Tapajós - 1997

4 Imagem digital pode ser descrita como uma matriz bidimensional de números inteirosque corresponde a medidas discretas de radiância espectral de uma área.

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CARTA-IMAGEM DE SÃOLUIZ DO TAPAJÓS

ITAITUBA - PARÁ - 2001

LEGENDA/' I Umite dialogado

CONVENÇOES• Núcleo de povoamentoN Rodovia federal1,1 Vicinal

Umite do PARNA

FONTEBase Di!;jtat do t8GE; Imagem dosatélite LANDSAT TIM 5, composiçãocolorida R5G483, 2001.Trabalho de campo realizado em 2003;2004, 2005 e 2006Elaboração' Andréa Coelho

Adríano VenturieríOtávio do Canto

Fig. 3_ Carta-imagem de São Luiz do Tapajós - 200 I

A entrada e análise dos dados foram conduzidas noSoftware Spring (Sistema para Processamento de InformaçõesGeorreferenciadas) for Windows, versão 4_2, desenvolvido peloInstituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Para a geração dos mapas temáticos, foi utilizado o métodode classificação não supervisionada de regiões (VENTURIERI,2003), que consiste na associação da imagem resultante doprocesso de segmentação de imagens (VENTURIERI, 1996) àsclasses observadas em campo, gerando, desta forma, um maparelativo ao uso da terra e cobertura vegetal.

As atividades desenvolvidas no campo envolveram,simultaneamente, o reconhecimento e a caracterização dasfeições de uso da terra e cobertura vegetal presentes na área de

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CARTA·IMAGEM DE SÃOLUIZ DO TAPAJÓS

ITAlTUBA· PARÁ· 2005

LEGENDAI \ I Umite dialogado

CONVENÇÕES• Núcleo de povoamento

N Rodovia federal1\1 Vicinal

limite do PARNA

50'

FONTEBase DiQltal do IBGE; Imagem dosatélite lANOSAT TIM 5, composiçãocolonda R5G4B3, 2005.Trabalho de campo realizado em 2003,2004, 2005 e 2000Elaboração: Andréa Coelho

Adnano VenturienOtávio do Canto

Fig. 4. Carta-imagem de São Luiz do Tapajós - 2005

estudo. A escolha das áreas apresentadas considerou umadistribuição espacial homogênea dentro do território dacomunidade, contemplando os diferentes ambientesfitoecológicos. Assim, O reconhecimento e a caracterização do usoda terra e da cobertura vegetal foram efetuados por meio dacorrelação entre as feições espectrais presentes nas imagensselecionadas com o padrão de uso observado no campo.

Tendo como elemento balizador a escala de 1:50.000 paratrabalho e 1:100.000 para apresentação e os produtos adotadospara a execução deste trabalho (imagens TM/Landsat), foiconcebida uma legenda temática, em que as definições dasclasses obedeceram às respostas observadas para os alvos deinteresse segundo atributos espectrais, tais como: cor, forma,textura e padrão.

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Com base na avaliação das imagens, no apoio de dadosbibliográficos e nos resultados do trabalho de campo realizadona comunidade entre 2003 e 2006, definiu-se urna legendatemática simplificada, composta de seis classes: uso, coberturavegetal, corpos d'água, áreas arenosas, afloramentos rochosos enúcleo da comunidade.

Para os variados tipos de uso da terra, optou-se por urnalegenda de classe única chamada uso, a qual representa todas asatividades agropecuárias praticadas no território da comunidade.Isso se deu em função do tamanho reduzido da área cultivada,além de a mesma apresentar diversidade de sistemas deprodução, muitas vezes mesclando agricultura e pasto, o quetomou inviável sua individualização em função da resoluçãoespacial" do sensor utilizado, que é de 30 m.

A classe cobertura vegetal foi subdividida em três: floresta,capoeira e campinarana. Desse modo, quando é utilizada a classetemáticajloresta, estão sendo consideradas as formações florestaisnativas que não sofreram mudanças significativas derivadas dasatividades humanas, perceptíveis nas imagens de satélite. Veja naFig. 5 um recorte da área florestada pertencente ao território dacomunidade de São Luiz do Tapajós.

A classe temática Capoeira refere-se à regeneração dacobertura vegetal em diversos estágios de desenvolvimento, quevão desde urna área de uso agropecuário abandonado parapousio" até um pasto sujo pela presença de invasoras, corno aspalmáceas. Esta condição é muito comum na região,principalmente quando se trata de propriedades em que oprodutor não possui meios para manter as áreas livres davegetação indesejável. Observe, na Fig. 6, o recorte de urnacapoeira que estava sendo derrubada para dar lugar ao plantio demandioca e milho, na comunidade de São Luiz do Tapajós.

5 Resolução espacial: uma área determinada da superfície terrestre correspondente a umpixel.

6 Pousio: prática que prevê a interrupção do uso agrossilvopastoril do solo por um ou maisanos para possibilitar a recuperação de sua fertílídade, em período que a vegetaçãonativa não atinja o estágio médio de regeneração.

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Fig. 5. Floresta em São Luiz do Tapajós - Itaituba, PA.Fonte: Canto, O. do. Projeto Caruso (outubro, 2004).

Fig. 6. Capoeira em São Luiz do Tapajós - Itaituba, PA.Fonte: Canto, O. do. Projeto Caruso (outubro, 2004).

A classe Campinarana representa um tipo especial devegetação encontrada no Campo dos Perdidos, denominaçãodada pelos seus antigos ocupantes, os índios mundurukus, que aocupavam como território de caça. A campinarana compreendeum complexo constituído de vegetação arbustivo-herbácea e seráobjeto de análise do próximo capítulo.

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A classe Corpos d'água refere-se às águas interiores,constituídas pelos rios, lagos e igarapés. Áreas arenosasrepresentam as praias que surgem quando as águas do RioTapajós baixam e, finalmente, a classe denominada afloramentosrochosos representa as rochas que surgem às margens ou no meiodo rio em função da subida e descida anual das águas e de suascaracterísticas geomorfológicas de planalto cristalino.

Uso da terra e c01ertura vegetal em São Luiz do T apajós

A abertura da Rodovia Transamazônica (BR-230), nadécada de 1970, produziu um profundo sentimento defrustração para São Luiz do Tapajós, uma vez que a expectativade desenvolvimento criada em tomo dessa grandiosa obra seesvaiu com a mudança do seu trajeto para o outro lado do rio,deixando a comunidade de São Luiz do Tapajós distante de seueixo principal. Essa rodovia federal havia sido inicialmenteprojetada para ter sua rota seguindo pela margem esquerda doRio Tapajós. Isso colocaria São Luiz do Tapajós muito próximode suas margens e, provavelmente, a transformaria em referênciarodoviária na região. Porém, a rota foi alterada na localidade deMiritituba para a margem esquerda do rio, passando pela sede doMunicípio de Itaituba.

Embora muitos moradores de São Luiz do Tapajósreclamem da mudança do eixo da Transamazônica, outroscomemoram a tranqüilidade que vigora nesse espaço de vivência ea manutenção, na comunidade, daquilo que Santos (1996), em ANatureza do Espaço, chamou de "tempo lento". Situação diferentedaquilo que geralmente é encontrado nas bordas das estradas.

Estudos realizados por Venturieri (2003), nas adjacênciasda Rodovia Transamazônica, no Estado do Pará, constataram queo desmatamento costuma ser mais acentuado nas proximidadesdas rodovias e que o mesmo decresce à medida que há afastamentodo seu eixo principal. Esses autores, certamente, não encontraramo "tempo rápido" do qual Santos (1996) se refere na mesma obra.Entretanto, encontraram uma aceleração muito mais acentuadaque a encontrada em São Luiz do Tapajós, principalmente no

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critério desmatamento, uma vez que cerca da metade do seuterritório ainda se encontra coberta por floresta (Fig. 7).

Medida de Classes de Uso e Cobertura Vegetal de São Luiz do Tapajós

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Floresta Capoeira Uso

Fig. 7. Medida de classes de uso da terra e cobertura vegetalde São Luiz do Tapajós.

A análise dos dados obtidos sobre a evolução dodesmatamento no espaço de vivência da comunidade de São Luizdo Tapajós, entre os anos de 1997 (Fig. 8),2001 (Fig. 9) e 2005(Fig. 10), a partir da metodologia utilizada, demonstra que adiminuição das áreas de floresta é proporcional ao aumento dasáreas de capoeira.

Os resultados obtidos com a classificação das imagensutilizadas apontam que o processo de desmatamento éconstante no território da comunidade. No entanto, no últimoperíodo, houve uma redução de 54,2 % no seu índice. As áreade floresta passaram de 53,87 % em 1997 para 47,9 % em 2001,o que representa aumento do desmatamento em 10,7 %. Em2005, o índice foi de 45,1 %, o que correspondeu a um aumentode 5,8 % dessa taxa.

As taxas referentes à classe uso apontam para umatendência de aumento de áreas voltadas para as atividadesprodutivas, mas esses números não são expressivos, sendo de9,15 % em 1997, 9,44 % em 2001 e 11,01 % em 2005, o quedemonstra que as áreas destinadas a essas atividades estão sendoreutilizadas no sistema de pousio e que a produção continuavoltada para a subsistência.

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MAPA DE USO DA TERRAE COBERTURA VEGETALDE SÃO LUIZ DO TAPAJÓSITAlTUBA - PARA, 1997.

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ComunidadeFloresta

_ Capoeira_ Cempnerena_Uso

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tnmte do Parque Nacionalda Amazônia - PARNA

FONTEBase OIjJtal do IBGE fnterpreteçãc deImagem do satélite LANDSAT TIM 5,composição colorida R5G4B3 1997Trabalho de campo realizado em 2003,2004; 2005 e 2006êraboração: Andréa Coelho

Adnano ventunenOtávIO do Canto

Fig. 8. Mapa de uso da terra e cobertura vegetal de São Luiz do Tapajós -Itaituba, PA, 1997.

Em relação às áreas de capoeira, as análises demonstramque o aumento das mesmas reflete a forma de trabalho de grandeparte dos agricultores em frentes de ocupação pioneira naAmazônia. A disponibilidade de floresta, em um primeiromomento, facilita a implantação de cultivos por meio de técnicastradicionais de corte e queima. Esse sistema tradicional depreparo do solo, itinerante dentro da propriedade, tende aaumentar as áreas de capoeira até o momento em que não existamais disponibilidade de áreas de florestas nativas para seremutilizadas nos sistemas de produção agropecuária. Findo oestoque florestal, o produtor retoma às áreas já utilizadas eabandonadas anteriormente, as quais passaram por um processode regeneração (pousio), e inicia-se um novo ciclo produtivo. Amá qualidade das pastagens é outro componente importante paraexplicar o aumento da classe capoeira, pois a presença de

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invasoras, como o babaçu (Orbignya phaZerata Mart.), e o fato demuitas áreas de pasto não possuírem rebanho fazem com quehaja uma regeneração natural de áreas que foram anteriormentedestinadas às atividades produtivas.

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-.MAPA DE USO DA TERRAE COBERTURA VEGETALDE sac LUIZ DO TAPAJÓSITAITUBA • PARA, 2001

LEGENDAClasses

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_ NudeodaComUntdadeRoresta

_ Capoeira_ Campmarana• Uso

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umne do Parque Naaonalda Amezõnra- PARNA

FONTEBase OIiJlaI do IBGE Interpretaçjo delma~m do satelrte lANOSAT TIM 5

l!po$IçlOcolorida R5G483. 2001Trabalho de cam. PO reahzado em 20032004. 2005 e 2006Elaboração Andréa Coelho ~

Adnano VentunenOtaVIO do Canto

Fig. 9. Mapa de uso da terra e cobertura vegetal de São Luiz do Tapajós -Itaituba, PA, 2001.

É importante salientar que o fato de São Luiz do Tapajósutilizar um sistema de produção com base na agricultura familiarnão explica, por si só, o índice de desmatamento em seu território.Será necessário considerar que esses agricultores cultivam osuficie te para sua subsistência, comercializando apenas umaparte do que produzem como forma de atender às suasnecessidades básicas, Na maioria das vezes, essa comercialização érealizada na própria comunidade, inclusive utilizando o sistema detroca. Isso se dá em função da ausência de insumos e tecnologíasadaptadas à sua realidade e que permitam o aumento daprodutividade e sua conseqüente orientação para fins comerciais.

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MAPA DE USO DA TERRAE COBERTURA VEGETALDE SÃO LUIZ DO TAPAJOSITAITUBA • PARÁ. 2005

LEGENDAClasses

AguaAtlOfamentokea Arenosa

_ NudeodaComUf'ldadeAOfesta

_ Capoeira_ CamplOarana_Uso

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urmte do Parque Neccnalda Amazônia - PARNA

FONTEBase DIgital do IBGE. Interpretação deImagem do satélite LANDSAT T/M 5composição ooOfida R5G483 2005Trabalho de campo reehzaoc em 20032004 2005 e 2006BabcuçAo Andrea Coelho ~

Adnano vernoenQl:áV10 do Canto

Fig. 10. Mapa de uso da terra e cobertura vegetal de São Luiz do Tapajós -Itaituba, PA, 2005.

Se considerarmos que 45,10 % do território da comunidadeainda é coberto por floresta, 16,90 % por campinarana e 20,27 %por capoeira, tem-se um total de cobertura vegetal de 85,64 % e11,0 1 % de áreas abertas. Do total do desmatarnento,aproximadamente 36 %, em média, permaneceu como área de usoe 64 % foi convertido em capoeira (Fig. 11, 12 e 13).

Durante os trabalhos de campo realizados no território dacomunidade, constataram-se alterações significativas nas áreasnão desflorestadas. Esse fato demonstra que, apesar de nãohaverem sofrido corte raso, as florestas passam por alto grau deexploração das espécies de valor comercial, constatado pelapresença de clareiras e ramais construidos por madeirei ros noseio da floresta, cujo propósito é o escoamento das taras demadeira. Essa atividade, em geral, é realizada por atores externos

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à comunidade, embora em algumas situações se realize com oconsentimento de seus membros.

Uso da terra e cobertura vegetal em São t.uíz do Tapaj6s • 1997

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Fig. li. Uso da terra e cobertura vegetal em São Luiz doTapajós - 1997.

Uso da terra e cobertura vegetal em São Luiz do Tapajós - 2001

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Fig. 12. Uso da terra e cobertura vegetal em São Luiz doTapajós - 2001.

Uso da terra e cobertura vegetal em São Luiz do Tapaj6s - 2005

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Fig. 13. USO da terra e cobertura vegetal em São Luiz doTapajós - 2005.

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A estrada recentemente construída pela CompanhiaAgroindustrial de Monte Alegre (Caima) no território dacomunidade favorece o acesso a São Luiz do Tapajós pelo ramal doPimental e deste a ltaituba. Esse fator, aliado à chegada da energiaelétrica, proveniente de Usina Hidrelétrica de Tucuruí, contribuipara atrair a vinda de pessoas de fora da comunidade interessadasna abertura de novas áreas, principalmente para pastagens, aexemplo do que já acontece ao longo do ramal do Pimental,comunidade localizada a montante de São Luiz do Tapajós.

O possível avanço dessas pastagens sobre o território dacomunidade, que possui em seu entorno florestas ainda bemconservadas, como a floresta do Periquito, é algo que deve serobjeto de preocupação da comunidade e do poder público, umavez que a sobrevivência dessa comunidade está estreitamenteligada à apropriação e uso de seus recursos naturais. Nãoobstante, a construção dessa estrada é uma reivindicação antigade São Luiz do Tapajós e foi, inclusive, apontada como aprincipal necessidade da comunidade durante a aplicação deformulários em 2003,

Durante o trabalho de campo de 2004, VIVIa-se aexpectativa da sua construção, que seria utilizada para oescoamento de posalana, uma das matérias-primas utilizadas nafabricação de cimento, extraída de uma mina às proximidades dacomunidade. Pelo levantamento realizado, constatou-se que otraçado da estrada passaria dentro do Campo dos Perdidos, comose constata no registro fotográfico (Fig. 14), e também pelonúcleo da mesma,

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Essa situação não foi aceita pela maioria dos membros dacomunidade, que alegaram a falta de segurança comunitária, umavez que os caminhões produziriam muito barulho, poeira e riscosde acidentes, principalmente para as crianças. Em virtude dessapostura, a empresa revisou suas estratégias, fazendo um novopercurso, evitando o núcleo da comunidade e o Campo dosPerdidos, complexo que será analisado no Capítulo 3.

Fig. 14. Demarcação de ponto de GPS no Campo dosPerdidosFonte: Canto, O. do. Projeto Caruso (outubro, 2004).

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Referências

COELHO, A. Análise e representação do uso da terra ecobertura vegetal nas comunidades de São Luiz do Tapajóse Nova Canaã na região do Baixo Tapajós, 2006.Trabalho deConclusão de Curso (Graduação em Geografia) - UniversidadeFederal do Pará, Belém. 2006.

SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão eemoção. São Paulo: Hucitec, 1996.

VENTURIERI, A. Segmentação de imagens e lógica. 1996.Dissertação (Mestrado em Sensoriamento Remoto) - InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos.

VENTURlERl, A. A Dinâmica da ocupação pioneira narodovia Transamazônica: Uma abordagem de modelos depaisagem. 2003. Tese (Doutorado em Geografia) - UniversidadeEstadual Paulista, Rio Claro. 2003.

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A vegetação da campinarana do Campodos Perdidos em São Luiz do Tapajós:

subsídios para a criação de umaunidade de conservação

Leandro V. Ferreira1; Dário D. AmaraP;

Jorge L. G. Pereira1; Denise de A. Cunha2

;

Darley C. Lea12; Camila da S. Furtado3

;

Kelly C. M. da Silva4; Carlos da S. Rosário1

;

Daniel G. do Nascimento1•

A conservação da hiodiversidade

A palavra "bíodiversidade" é derivada de "bio", quesignifica "vida", e de "diversidade", que quer dizer "variedade".Sendo assim, a biodiversidade ou diversidade biológicacompreende a totalidade de variedade de formas de vida quepodemos encontrar em nosso planeta (plantas, aves, mamíferos,insetos, microorganismos, homens, etc.), incluindo, ainda, avariabilidade de genes e a diversidade de ecossistemas e suascomplexas interações ecológicas.

Sabe-se que as florestas tropicais apresentam uma ricabiodiversidade e a Floresta Amazônica é um dos locais com asmaiores taxas de biodiversidade do planeta. Trata-se de umaregião natural, que se estende por nove países da América do Sul,

I Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG)2 Universidade Federal do Pará (UFPA)3 Centro de Educação Ténica do Estado do Pará (CEFET)4 Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)

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mas é o Brasil que concentra 64 % desse território espalhado pelonorte do País e cujas fronteiras adentra o Maranhão e os estadosdo Tocantins e Mato Grosso.

Na Amazônia, existem mais de 40 mil espécies de plantasdescritas, das quais 30 mil são endêmicas (ocorrem somentenesta região). Já foram registradas mais de 1.200 espécies de aves(260 endêmicas), 427 de mamíferos (173 endêmicas), 378 derépteis (216 endêmicas) e 427 de anfíbios (364 endêmicas), alémde mais de 3.000 espécies de peixes (SILVA et al. 2005).

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A biodiversidade atinge números extraordinários naAmazônia. Em um hectare da Floresta Amazônica, podem serencontradas de 200 a 350 espécies (NELSON; OLIVEIRA,1999). Dentre os mamíferos, os primatas formam um dos gruposmais diversos. Estudos feitos em várias regiões na Amazôniamostram que ocorrem 14 gêneros de primatas, dos quais cincosão exclusivos dessa região.

A perda da biodiversidade envolve aspectos SOCIaIS,econômicos, culturais e científicos. A situação é particularmentegrave na região tropical, onde as populações humanas crescentese as pressões econômicas estão levando à ampla conversão dasflorestas tropicais em um mosaico de ambientes alterados pelaação antrópica.

Em nenhum lugar do mundo, são derrubadas tantasárvores quanto na Amazônia. Os dados oficiais, elaborados peloInstituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), evidenciamum panorama elevado e crescente para o desmatamento naregião. Já foram eliminados cerca de 680 mil quilômetros deflorestas na região, o que corresponde à superfície da França, e amédia anual dos últimos sete anos é da ordem de mais de 20 milquilômetros quadrados.

Nos últimos anos, o Zoneamento Ecológico-Econômico(ZEE) tem sido a proposta do governo brasileiro para subsidiar asdecisões de planejamento social, econômico e ambiental dodesenvolvimento e do uso do território nacional em basessustentáveis, diminuindo, assim, o impacto na biodiversidade. O

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Programa ZEE tem por objetivo executar o zoneamento emdiversas escalas de tratamento das informações e íntegrá-lo aossistemas de planejamento em todos os níveis da administraçãopública. Nesse sentido, o ZEE toma-se um importanteinstrumento para subsidiar a formulação de políticas territoriaisda União, Estados e Municípios, orientando os diversos níveisdecisórios na adoção de políticas convergentes com as diretrizesde planejamento estratégico do País. Busca, assim, conservar ocapital natural e diminuir os riscos dos investimentos.

Desde 2004, o Governo Federal desenvolve o Plano deDesenvolvimento Regional Sustentável, na área da rodoviaBR-163, ligando o Município de Santarém, oeste do Estado doPará, a Cuiabá, capital do Mato Grosso. O principal objetivo desseplano é o asfaltamento da rodovia, com foco no desenvolvimentojusto e equilibrado do território. O ZEE da BR-163 é um trabalhoque pretende orientar a ocupação dos espaços produtivos doentorno da rodovia e promover o uso racional dos recursosnaturais. Esse trabalho teve início em 2005, envolvendo umaequipe multidisciplinar de diversas instituições. A partir de coletasno campo, os especialistas elaboram diagnósticos, mapas erelatórios das áreas que estão no entorno da rodovia.

A rodovia BR-163 atravessa a Amazônia Central, uma dasáreas mais importantes do ponto de vista de potencialeconômico, diversidade social, biológica e riquezas naturais daregião amazônica. Nela, estão representados os biomas cerrados efloresta amazônica, um vasto estoque de biodiversidade e quatroimensas bacias hidrográficas: Teles Pires, Tapajós, Xingu eAmazonas. É preciso, então, promover o desenvolvimentosustentável de quem vive nessa área, com foco na inclusão social ena conservação dos recursos naturais.

Recentemente, o grupo de biodiversidade que trabalhou noZoneamento da BR-163 recomendou a criação de um programa derede de inventários biológicos nos habitats de enclaves abertos decerrado e campinaranas, na região. O grupo também destacou aimportância de se promover estudos de biologia básica das espécies,pois são poucas as informações disponíveis na literaturaespecializada na região do trecho rodoviário analisado neste estudo.

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Entre os tipos de vegetação prioritários para a conservação,estão as campinas e campinaranas, vegetações abertas queocupam uma pequena proporção de área na Amazônia brasileira.Esses tipos de formações são caracterizadas pelo alto grau deespécies raras e, muitas vezes, endêmicas, sendo áreasfundamentais para a conservação da biodiversidade, poisrepresentam um mosaico de tipos diferentes e peculiares devegetação, resultando em grande heterogeneidade ambiental,que abriga uma alta diversidade filogenética e um nívelsignificativo de endemismos, em comunidades que mesclamelementos amazônicos e elementos de vegetações abertas. Essasformações ocorrem em condições edafológicas que passam porum déficit hídrico extremo nos períodos sem chuva, facilitando apropagação de fogos antropogênicos, pelo acúmulo de biomassaseca sobre o solo (BARBOSA; FERREIRA, 2004).

A campinarana do Campo dos Perdidos' encaixa-seexatamente nesses critérios e, recentemente, foi realizado oprimeiro inventário botânico na região, um dos requisitosexigidos para a recomendação da área na criação de uma unidadede conservação.

Por que o Campo dos Perdidos é importante para aconservação da biodiversidade?

Uma abordagem no uso de distribuição de espeCles foiempregada durante o Workshop 99, realizado em Macapá, AP,Brasil, onde um grande grupo de pesquisadores econservacionistas elaborou uma lista de áreas prioritárias para aconservação da biodiversidade da Amazônia, baseada nascomparações do número, relativo ou absoluto, de espécies, emcritérios de endemismo, riqueza de espécies, espécies raras ouameaçadas e a presença de fenômenos geológicos ou geoquímicosde especial interesse (DINERSTEIN et al. 1995).

Das 370 áreas prioritárias, 21 identificadas pelosespecialistas em fauna (mamíferos, aves, invertebrados e répteis)

5 Veja localização na Fig. I encontrada no Capítulo I deste livro.

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e plantas estão totalmente, ou parcialmente, incluídas na regiãodo Zoneamento Ecológico-Econômico da BR-163 (ZEE BR-163)e foram usadas para gerar o mapa de prioridades de conservaçãopara a região, no qual se verifica claramente a importância daregião do Campo dos Perdidos, identificada como uma "área dealta importância para a conservação da biodiversidade". A Fig. Ié relativa à biodiversidade do Baixo Tapajós.

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MAPA DEBIODIVERSIDADE

l DO BAIXO TAPAJÓS j

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•• Área de alta Importânciarm. Áreas Insuficientementeconhecidas mas deprovâvellmportâncla

• Sede rnurucipald Núcleo de povoamento

, •. " Limite munccet, -,/ \. lirrute estadual

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-----FONTE:Relatorio de biodfversidade!do ZEE-8R 163 iBase digital do IBGE.Elaboração: Leandro Ferrelra j

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Fig. I. Mapa da biodiversidade do Baixo Tapajós.

Nesta região do ZEE da BR-163, foram reconhecidos 12tipos de fitofisionomias com predominância de vegetaçãoflorestal, dominados por floresta ombrófila densa e aberta.Contudo, existem também diversas formações de transições,denominadas por Veloso et ai. (1975), de contatos entre floresta

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densa, estacional com vegetações abertas de savana ecampinarana. As formações abertas ocupam pequena proporçãode área na região, onde as campinaranas e savanas são os gruposmais típicos, ocupando cerca de 0,3 % e 1,2 %, respectivamente.

Estes tipos de formações são caracterizadas pelo alto graude espécies raras e, muitas vezes, endêmicas, sendo áreasfundamentais para a conservação da biodiversidade na região doZEE da BR-163, pois representam um mosaico de tiposdiferentes e peculiares de vegetação, resultando em grandeheterogeneidade ambiental, que abriga alta diversidadefilogenética e nível significativo de endemismos, emcomunidades que mesclam elementos amazônicos e elementosde vegetações abertas.

A localização da campinarana do Campo dos Perdidos éúnica, pois é o único enclave (mancha) deste tipo de formaçãovegetal situado a oeste do Estado do Pará, não incluído emnenhum tipo de área protegida e situado em urna região sobreintensa ação humana, próximo à cidade de Itaituba entre asrodovias BR-230 (Transamazônica) e BR-163(Cuiabá-Santarém). Sendo assim, ações urgentes devem serimplementadas para a conservação dessa área, pois a mesmapode ser drasticamente afetada pela atividade humana.

As fonnações vegetais do CalIlpo dos Perdidos

Existem três grandes tipos de vegetação na área do Campodos Perdidos (Fig.2):

a) Floresta de terra firme com dossel contínuo eespécies emergentes de palmeiras.

b) Vegetação com dossel descontínuo formando ilhas.

c) Campos abertos, formados por vegetação arbustivo-herbácea.

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A itnportância social do Catnpo dos Perdidos

o Campo dos Perdidos (Fig. 3 a 8) possui uma grandeimportância para a comunidade de São Luiz do Tapajós, pois éusado como um local de caça e extrativismo pelos comunitários.Na época das chuvas, aparecem os lagos temporários dentro e nosarredores do campo, usados para pesca e coleta de frutossilvestres, principalmente açaí (Euterpe oleraceae) e bacaba(Oenocarpus bacaba), extraídos para consumo próprio ou vendidosna própria comunidade e em Itaituba (COELHO, 2006).

Fig. 2. Detalhe da imagem de satélite mostrando os tipos de vegetaçãoapresentados na campinarana do Campo dos Perdidos.Fonte: Google Earth (2006).

A grande ameaça do Campo dos Perdidos está associada àsatividades ligadas à pecuária, pois, além de ser usado como pastonatural, é comum que seja ateado fogo para limpeza dos pastospróximos aos campos. Contudo, foram registradas diversas espécies

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de grarníneas invasoras, usadas para a alimentação do gadocrescendo em conjunto com as gramíneas nativas dentro da área. Aprática de atear fogo, segundo os moradores locais, também é feitapelas comunidades indígenas para a caça (Fig. 9 e 10).

Fig. 3. Vista geral do campo aberto na campinarana doCampo dos Perdidos.Fonte: Ferreira, L. MPEG (2006).

Fig. 4. Vista geral do campo aberto na campinarana doCampo dos Perdidos.Fonte: Ferreira, L. MPEG ( 2006).

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Fig.5. Moita de vegetação na campinarana do Campo dosPerdidos.Fonte: Ferreira, L. MPEG ( 2006).

Fig. 6. Moitas de vegetação na campinarana do Campo dosPerdidos.Fonte: Ferreira, L. MPEG (2006).

Existe um impasse entre a população de São Luiz do Tapajóse outros habitantes de vilas próximas sobre a situação fundiária doCampo dos Perdidos. Segundo os moradores de São Luiz doTapajós, a área é de domínio público e deve ser conservada para ouso da comunidade. Contudo, moradores de outras comunidades,

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principalmente donos de fazendas, dizem ter documentos queprovam a posse da área. Esses fazendeiros querem a demarcaçãode suas posses para cercar a área do Campo dos Perdidos e evitar aentrada de moradores de outros locais.

Fig. 7. Floresta ombrófila de transição no Campo dosPerdidos.Fonte: Ferreira, L. MPEG (2006).

Fig. 8. Exemplares de buritirana iMauritiella armata Mart.),espécie comum na campinarana do Campo dos Perdidos.Fonte: Ferreira, L. MPEG ( 2006).

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Fig. 9. Efeito de fogo recente na borda do Campo dosPerdidos.Fonte: Ferreira, L. MPEG (2006).

Fig. 10. Efeito do fogo recente no Campo dosPerdidos.Fonte: Ferreira, L. MPEG (2006).

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As declarações espontâneas dos moradores de São Luiz doTapajós e de comunidades próximas indicam uma preocupaçãocom a conservação da área do Campo dos Perdidos e mostramque os mesmos querem a criação de uma unidade deconservação que permita que eles continuem usando a regiãocomo fonte de alimento.

Os pesquisadores relataram à comunidade de São Luiz doTapajós que, para os fins previstos na Lei n''. 9.985, de 18 dejulho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades deConservação da Natureza, uma unidade de conservação édefinida como:

Um espaço territorial e seus recursos ambientais,incluindo as águas jurisdicionais, com característicasnaturais relevantes, legalmente instituído pelo PoderPúblico, com objetivos de conservação e limitesdefinidos, sob regime especial de administração, aoqual se aplicam garantias adequadas de proteção(BRASIL,2000).

No caso específico do Campo dos Perdidos, a categoria deunidade de conservação sugerida é de Uso Sustentável, em que aexploração do ambiente pode ocorrer desde que de maneira agarantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dosprocessos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demaisatributos ecológicos, de forma socialmente justa eeconomicamente viável.

A categoria sugerida é Área de Relevante InteresseEcológico (ARIE), definida como uma área em geral de pequenaextensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana. Trata-se deárea com características naturais extraordinárias ou que abrigaexemplares raros da biota regional e tem como objetivo manter osecossistemas naturais de importância regional ou local e regular ouso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-Io com osobjetivos de conservação da natureza.

A ARIE pode ser constituída por terras públicas ou privadase, respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas

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normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada,localizada em uma Área de Relevante Interesse Ecológico.

Estudos florísticos realizados em vegetação sobre areiabranca no Peru e Brasil indicaram uma riqueza florística baixa,porém, também revelaram dezenas de espécies de plantasendêmicas. Quase 90 % das espécies apresentadas em ambientesassociados com areia branca, os "Varillais" da região de Iquitos,no Peru, são especialistas de vegetação sobre areia branca, muitasdelas endêmicas (GENTRY, 1986; VASQUEZ, 1997).

A região do Campo dos Perdidos é, sem dúvida, de grandeimportância biológica para a conservação da biodiversidade, pois omosaico de campos naturais, campinarana, matas ciliares e florestasapresenta elementos únicos para a conservação (Fig. 11 a 13).

Fig. 11. Espécie de bromélia epífita comum nas vegetaçõesde moitas na Campinarana do Campo dos Perdidos.Fonte: Ferreira, L. MPEG ( 2006).

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Fig. 12. Gênero Gnetum, único genero cipó do grupo dasGimnospermas na Amazônia, comumente encontrado nasvegetações de moitas na Campinarana do Campo dosPerdidos.Fonte: Ferreira, L. MPEG (2006).

Fig. 13. Espécie de bromélia terrestre, comumnas vegetações de moitas na Campinarana doCampo dos Perdidos.Fonte: Ferreira, L. MPEG (2006).

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Recomendações para instrum.entalizar a criação da ARIEno Campo dos Perdidos em São Luiz do Tapajós

• A criação de uma unidade de conservação na área doCampo dos Perdidos deve ser precedida de esclarecimentos àpopulação local sobre a legislação ambiental em vigor naAmazônia, a fim evitar futuros conflitos.

• O Campo dos Perdidos preenche todos os requisitos paraa criação de uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável,na categoria de Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE),graças à sua elevada importância biológica para a conservação dabiodiversidade amazônica.

• Determinação junto ao Incra ou Iterpa da real situaçãofundiária da área onde está situado o Campo dos Perdidos a fimde iniciar-se o processo de consulta pública, um dos primeirospassos para a criação de uma unidade de conservação.

• Ampliação do levantamento botânico e início delevantamentos zoológicos e físicos, que são passos necessários paraa geração de dados que devem constar no relatório, indicando aimportância da área para a conservação da biodiversidade.

• Realização de um maior detalhamento do usosocioeconômico do Campo dos Perdidos pela comunidade de SãoLuiz do Tapajós e suas adjacências.

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Apêndice

São Luiz do Tapajós

Fotos: Otávio do CantoAndréa Coelho I

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Fig.l. Escola São Luiz Gonzaga, em São Luiz do Tapajós (junho, 2003).

Fig. 2. Alunos da Escola São Luiz Gonzaga, em São Luiz do Tapajós(maio,2003).

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Fig. 3. Igreja de São Luiz Gonzaga, em São Luiz do Tapajós (junho, 2003) .

Fig. 4. Residências em São Luiz do Tapajós (junho, 2003).

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Fig. 5. Sr. Domingos e sua esposa, antigos moradores do Parna da Amazônia(setembro, 2004).

Fig. 6. Reunião comunitária em São Luiz do Tapajós (maio, 2003).

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Fig. 8. Padeiro de São Luiz do Tapajós (junho. 2003).

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Fig. 9. Menina atendendo ao telefone público em São Luiz do Tapajós(maio, 2003).

Fig. 10. Crianças aguardam o horário da escola em São Luiz do Tapajós(junho, 2003).

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Fig. 11. Sr. José, motorista de lancha em São Luiz do Tapajós(setembro, 2004).

Fig. 12. Neto e José Antonio durante trabalho de campo (agosto, 2005).

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Fig. 13. Agricultor colhendo arroz em São Luiz do Tapajós (junho, 2003) .

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Fig. 14. Paiol de arroz em São Luiz do Tapajós (junho, 2003),

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Fig. 15. Antonio Baixinho na sua roça de arroz em São Luiz do Tapajós(agosto, 2005).

Fig. 16. Sr. Manoel Lobo na sua roça de mandioca em São Luiz do Tapaj(agosto, 2005).

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Fig. 17. Sr. Caçula na sua roça de arroz em São Luiz do Tapajós (agosto, 2005).

Fig. 18. Sr. João Sozinho na sua roça de mandioca em São Luiz do Tapajós(junho, 2003).

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Fig. 19. Sr. Salim no seu roçado em São Luiz do Tapajós (outubro, 2004

Fig. 20. Sr. Zeca Goiano no seu roçado em São Luiz do Tapajós(setembro, 2004).

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Fig. 21. Criação de gado do Zeca Goiano em São Luiz do Tapajós(agosto, 2005).

Fig. 22. Pescador artesanal em São Luiz do Tapajós (maio, 2003).

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Fig. 24. Senhora pescando no porto de São Luiz do Tapajós (junho, 200"

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Fig. 25. Criança levando peixe para casa em São Luiz do Tapajós(junho, 2003).

Fig. 26. Pesca ornamental próximo de São Luiz do Tapajós (maio, 2003).

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Fig. 27. Peixe ornamental próximo de São Luiz do Tapajós (agosto, 2005

Fig. 28. Caçador de São Luiz do Tapajós (agosto, 2005).

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"'.õFig. 29. Sr. Neguinho mostrando couro de gato maracajá na casa do índio Karuem São Luiz do Tapajós (junho, 2003),

Fig. 30. Corredeiras de São Luiz do Tapajós no "verão" (setembro, 2004).

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Fig. 31. Criança lava louça no jirau em São Luiz do Tapajós (setembro, 2004)

Fig. 32. Mães e filhos em São Luiz do Tapajós (junho, 2003).

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Fig. 33. Preparação para o plantio de mandioca na capoeira em São Luiz doTapajós (junho, 2003).

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