amanda siqueira torres cunha
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN
AMANDA SIQUEIRA TORRES CUNHA
A COLEO EDUCAO ARTSTICAENTRE AS PRESCRIES LEGAIS E AS PRTICAS EDITORIAIS
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN
AMANDA SIQUEIRA TORRES CUNHA
EDUCAO ARTSTICA NO CONTEXTO DA LEI ENTRE AS PRESCRIES LEGAIS E AS PRTICAS EDITORIAIS
CURITIBA
2015
NO CONTEXTO DA LEI N 5.692/71: ENTRE AS PRESCRIES LEGAIS E AS PRTICAS EDITORIAIS
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AMANDA SIQUEIRA TORRES CUNHA
A COLEO EDUCAO ARTSTICA NO CONTEXTO DA LEI N 5.692/71: ENTRE AS PRESCRIES LEGAIS E AS PRTICAS EDITORIAIS
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao, Linha de Pesquisa Histria e Historiografia da Educao, Setor de Educao, Universidade Federal do Paran, como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Educao.
Orientador: Profa. Dra. Dulce Regina Baggio Osinski.
CURITIBA 2015
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Catalogao na publicao Mariluci Zanela CRB 9/1233
Biblioteca de Cincias Humanas e Educao - UFPR Cunha, Amanda Siqueira Torres
A Coleo Educao Artstica no contexto da Lei n 5.692/71: entre as prescries legais e as prticas editoriais / Amanda Siqueira Torres
Cunha Curitiba, 2015. 271 f.
Orientadora: Profa. Dra. Dulce Regina Baggio Osinski Dissertao (Mestrado em Educao) Setor de Cincias Humanas da
Universidade Federal do Paran. 1. Educao - Histria. 2. Educao artstica (Ensino fundamental)
Estudo e ensino. 3. Brasil. Lei de diretrizes e bases do ensino de 1 e 2 graus (1971). 4. Livros didticos. I.Ttulo.
CDD 372.5
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Dedico minha famlia.
Ao meu esposo Joo Paulo, ao meu pai Torres, minha me
Filomena e aos meus irmos Abner e Ada.
Obrigada por serem teto e cho.
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Ora, sensibilidades se exprimem em atos, ritos,
palavras e imagens, em objetos da vida material em materialidades do espao construdo.
[...] um conceito se impe, dizendo respeito a algo que se encontra no cerne daquilo que o historiador pretende
atingir: as sensibilidades de um outro tempo e de um outro no tempo, fazendo o passado existir no presente.
Sandra Pesavento
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AGRADECIMENTOS
Agradeo pela oportunidade de explorar as sensibilidades de outro tempo e
de um outro no tempo, fazendo o passado existir no presente. desafio e privilgio!
Por isso meu reconhecimento primeiro a Deus.
Ao fazerem minhas as palavras de Pesavento, manifesto ainda minha
gratido queles que de modo concreto possibilitaram tamanha prerrogativa.
minha querida orientadora, professora Dulce Regina Baggio Osinski, por
sua direo precisa. Obrigada pela autonomia dispensada e pela presena
constante. Agradeo pela honestidade e confiana, que me possibilitaram trilhar
caminhos seguros na pesquisa.
Aos meus estimados mestres do Departamento de Artes e Msica
(DEARTES-UFPR). Em especial, minha gratido professora Consuelo Schlichta,
pela insistncia em afirmar-me como futura pesquisadora (nos primeiros dias de
aula!), incentivando-me na trajetria. Alm dos muitos emprstimos de livros,
caronas, cafs e pacincia para discutir com uma aluna exageradamente detalhista
em algumas questes. Obrigada por tudo, sempre!
Agradeo tambm aos professores Paulo Reis, Tnia Bloomfield, Geraldo
Leo, Stephanie Batista e Fernando Bini que desenvolveram bases importantes na
minha formao em Arte.
Aos meus professores do mestrado pelo incentivo e disponibilidade.
professora Nadia Gaiofatto, que, de maneira simples e generosa, conduziu o
Seminrio I, a fim de sedimentar princpios fundamentais na pesquisa historiogrfica
para nossa jovem turma.
Aos professores Marcus Levy Bencostta, Cludio de S e Ricardo Carneiro
Antonio, pelo Seminrio Especial Fotografia e Educao, que promoveu o acesso a
bibliografia especfica, alm da boa vontade singular para com minha obsesso em
discutir a imagem.
Em particular, ao professor Ricardo, por ter sido leitor atencioso, levantando
consideraes bastante oportunas durante o Seminrio III do Mestrado.
professora Liane Bertucci, por tornar profundas, e no menos divertidas,
as discusses.
professora Leziany Daniel, pelas falas tranquilas e rigor acadmico.
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professora Gizele de Souza, que tambm fortaleceu minha confiana no
caminho trilhado. Enfim, obrigada por contriburem com minha paixo pela pesquisa
em Histria da Educao.
Agradeo ainda professora Tnia Braga Garcia, por sua colaborao
generosa na disciplina Manuais Didticos e Escolarizao, acolhendo-me com fortes
bases tericos sobre o tema, na Linha Cultura, Escola, Ensino (UFPR).
s professoras - membros da Banca Examinadora. Em especial,
professora Vera Teresa Valdemarin do Campus de Araraquara da Universidade
Estadual Paulista (UNESP), pela disponibilidade em participar da banca e por ofertar
generosamente subsdios para alm dos estudos restritos em impressos didticos.
s professoras Consuelo Schlichta e Nadia Gonalves, pelos pertinentes
apontamentos e valiosas contribuies para o caminhar da pesquisa.
Ao Programa de Ps-Graduao e ao Setor de Educao da Universidade
Federal do Paran (PPGE-UFPR), pelo suporte oferecido.
Aos servidores da secretaria PPGE-UFPR, pela inestimvel colaborao.
Ao Grupo de Estudo GPHIE (Grupo de Pesquisa em Histria, Intelectuais e
Educao da UFPR), coordenado pelo professor Carlos Eduardo Vieira, pela
oportunidade de compartilhar minha investigao e pelo acolhimento mpar.
Ao Programa de bolsas da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de
Nvel Superior - CAPES do Governo Federal, pela concesso financeira para a
pesquisa. Principalmente, aos contribuintes brasileiros que efetivamente investiram
em meus estudos desde a graduao, aos quais devo o retorno.
Biblioteca Pblica do Paran, pelo espao de memria e fomento
pesquisa.
Finalmente, os meus mais especiais agradecimentos ao meu amado
companheiro e amigo Joo Paulo Camelo Cunha, sem o qual o percurso seria
menos agradvel, ou mesmo, improvvel. Obrigada por mostrar-me que o
conhecimento verdadeiramente irresistvel!
Tambm ao meu amado pai, Francisco Torres, por estimular em mim o amor
pela leitura e escrita. Pela disciplina e pela poesia, obrigada pai! minha amada
me, Filomena Torres; agradeo por me doar olhos de curiosa, me fazendo querer
saber e explicar tudo.
Ao meu irmo Abner Torres, pela torcida e pelas inmeras respostas de
carter tcnico e afetivo, mesmo que via interurbano. Enfim, obrigada por estimarem
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minhas vitrias, vibrando com cada pequena conquista, mesmo que a 3.500
quilmetros de distncia.
A Ada Torres, por querer dividir sua alegria de modo presente e algumas
informaes prticas tambm. Quem diria? Irm mais velha, aprendendo com a mais
nova? Mistrios do conhecimento.
Aos meus queridos amigos do mestrado e doutorado Carla Ukan, Ester
Kolling, Sibeli Colere, Julia Tocchetto, Flvia Oganauskas, Sabrina Cadori, Rudimar
Bertotti, Iriana Vezzani, Etienne Barbosa, Silvete Arajo e Silvia de Ross, pelo
companheirismo acadmico e aconchego constante, alm dos encontros
gastronmicos.
Por fim, a todos que, de algum modo, contriburam com esta privilegiada
expedio ao passado, meus mais sinceros agradecimentos.
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RESUMO
Esta dissertao tem como objetivo analisar as relaes entre as prescries legais e as efetivas escolhas editoriais em livros didticos publicados no perodo da Lei Federal n 5.692/71, a qual inaugurou a obrigatoriedade da Educao Artstica nos ensinos de 1 e 2 graus. Em especial, problematiza as interaes entre as imagens de obras de artes e os textos em livros didticos na qualidade de recursos especficos aos contedos da nova rea. Nesta investigao, tomou-se como objeto e fonte uma das primeiras colees para o ensino inaugural, intitulada Educao Artstica, da editora mineira L, publicada entre 1975 e 1978. Ademais, pretendeu-se desnudar os desdobramentos da Lei no que diz respeito inicial produo de livros didticos para a recente rea. No cotejamento das fontes, consideraram-se outros livros didticos para a Educao Artstica, produzidos na mesma dcada, alm de manuais de Desenho Geomtrico dos anos de 1960, enquanto principais compndios voltados ao estmulo da produo grfica, antes da obrigatoriedade da arte na escola. Foram arregimentados documentos oficiais que regulavam o ensino e a formao do professor da rea, tais como o prprio texto da Lei n 5.692/71, pareceres do Ministrio da Educao e Cultura (MEC), indicaes do Conselho Federal de Educao (CFE) e decretos presidenciais. Como meio de anlise, elegeu-se confrontar tais documentos oficiais com os livros didticos. Ainda destacou-se o estudo material dos livros, a partir das investigaes sobre impressos em Roger Chartier (1998; 1990). Ao problematizar a imagem de obra de arte enquanto forma e contedo, o historiador da arte Erwin Panofsky (1976) coopera igualmente com a anlise. De modo semelhante, as consideraes do filsofo Francis Wolff (2005), alm de alguns apontamentos de Lcia Sataella (2012), foram relevantes para o exame das relaes entre elementos textuais e imagticos na coleo. Ao se privilegiar o estudo das formas materiais, foi possvel observar avanos na qualidade grfica dos impressos, enquanto produtos do desenvolvimento tcnico e econmico editorial, crescente desde os anos 1960. Para alm de possveis vantagens acrescidas, as mudanas grficas nos livros didticos, que envolveram novas maneiras dos usos dos textos e das imagens, foram capazes de revelar, inclusive, afinidades entre as polticas pblicas para a educao nacional e os desejos comerciais do mercado de publicaes didticas no Brasil. No caso da coleo, embora apresente tendncias regionalistas, as imagens de obras de arte e os textos participam com a proposta de um ensino que privilegia a pintura e a histria da arte europeia dos sculos XIX e XX, em detrimento aos interesses de promoo do nacionalismo, propostos na legislao. Por outro lado, tambm explcito o mrito dado formao profissional, conforme os pareceres do CFE previam. Tais aspectos colaboram para a verificao de algumas distncias e aproximaes entre o prescritivo e o efetivado na produo didtica para a Educao Artstica no perodo da ditadura civil-militar no Brasil.
Palavras-chave: Educao Artstica; Livro didtico; Imagem de obra de arte Histria da Educao; Lei n 5.692/71.
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ABSTRACT
The objective of this dissertation is to analyze the relationship between legal requirements and tacit editorial choices in textbooks published under Brazilian Federal Law No. 5,692/71, which established obligatory arts education in elementary and high school. More specifically, it discusses the interactions between images of works of art and the texts within the textbooks, as well as the quality of specific resources which apply to the content of this new area. An object and source of this investigation was one of the first collections for this new area of education, entitled Educao Artistica (Arts Education), published between 1975 and 1978 by the Minas Gerais publisher L. Additionally, this study intends to demonstrate the consequences of this Law on the initial production of textbooks for the new subject. In analyzing the source material, other arts education textbooks from the same decade were considered along with geometric design manuals from the 1960s as the main textbooks for stimulating graphic production before art education was made mandatory. Official documents regulating teaching and teacher education in the area were also included, such as the text of Law No. 5.692/71 from the Ministry of Education and Culture (MEC), statements of the Federal Council of Education (CFE), and presidential decrees. To conduct the analysis, these official documents were contrasted with the textbooks. The study of materials from these textbooks was also highlighted, based on investigations into printing done by Roger Chartier (1998; 1990). The art historian Erwin Panofsky (1976) also contributed to this kind of analysis with his discussion of images of works of art as both form and content. Similarly, considerations by the philosopher Francis Wolff (2005) and some notes from Lcia Sataella (2012) were pertinent for examining the relations between textual and pictorial elements in the collection under study. By favoring the study of material forms, it was possible to observe improvements in the graphic quality of printed materials as products of technical and economic developments in publishing, which had been improving since the 1960s. In addition to the possible advantages they accrued, the graphic changes in textbooks involved new ways of using texts and pictorial elements, and were even able to reveal affinities between public policies for national education and the commercial desires of the educational publishing market in Brazil. Although the collection exhibited regionalistic trends, the images of the works of art and texts proposed teaching which focused on painting and the history of European art from the nineteenth and twentieth centuries, to the detriment of promoting nationalism, which was proposed in the legislation. On the other hand, the text is explicit with regard to the value given to professional training, conforming with the statements by the Federal Council of Education. These features assist in verifying some differences and similarities between the prescriptive and effective in didactic production for arts education during the civil-military dictatorship in Brazil.
Keywords: Arts Education; Textbook; Picture of work of art, History of Education; Law N 5.692/71.
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - SOUZA, WLADIMIR ALVES. ARTES PLSTICAS II COLEO DA FENAME BIBLIOTECA EDUCAO E CULTURA, 1980 ............................................................................. 42
FIGURA 2 - FENAME E BLOCH. COLEO BIBLIOTECA EDUCAO E CULTURA, 1980 ............................................................................................................................................................... 44
FIGURA 3 - SOUZA, WLADIMIR ALVES. ARTES PLSTICAS II - COLEO BIBLIOTECA EDUCAO E CULTURA, 1980 ..................................................................................................... 45
FIGURA 4 - SPERNDIO, AMADEU E MATTEI, RIGOLLETO, 1959. DESENHO DE ORNAMENTO EMCURSO COMPLETO DE DESENHO ............................................................ 54
FIGURA 5 - SPERNDIO E MATTEI, 1959. INTRUMENTOS PARA DESENHO GEOMTRICO EM CURSO COMPLETO DE DESENHO .......................................................... 62
FIGURA 6 - SPERNDIO E MATTEI, 1959. INTRUMENTOS PARA DESENHO GEOMTRICO EM CURSO COMPLETO DE DESENHO .......................................................... 63
FIGURA 7 - SPERNDIO, AMADEU E MATTEI, RIGOLLETO, 1959 ...................................... 64
FIGURA 8 - FLEITAS, ORNALDO, 1977. COMUNICAO PELA ARTE ................................ 68
FIGURA 9 - FLEITAS, ORNALDO, 1977. COMUNICAO PELA ARTE ................................ 73
FIGURA 10 - FLEITAS, ORNALDO, 1978. LIVRO COMUNICAO PELA ARTE, 1978 ...... 75
FIGURA 11 - FLEITAS, ORNALDO, 1978. DETALHE DO LIVRO COMUNICAO PELA ARTE .................................................................................................................................................... 76
FIGURA 12- FLEITAS, ORNALDO, 1977. LIVRO COMUNICAO PELA ARTE .................. 78
FIGURA 13 - MICHELNGELO. O ATLANTE PRISIONEIRO, MRMORE, (1530-1536) FLORENA ....................................................................................................................................... 107
FIGURA 14 - WARHOL, ANDY, 1967. UM POUCO DE ARTE PARA SUA VIDA ................ 113
FIGURA 15 - OBRA IMPERATRIZ TEODORA E SUA CORTE (SCULO VI) NA COLEO EDUCAO ARTSTICA, 1978 ..................................................................................................... 117
FIGURA 16 - ENCICLOPDIA AS BELAS ARTES (1971) E COLEO EDUCAO ARTSTICA, 1978 ............................................................................................................................. 118
FIGURA 17 - FLEITAS, ORNALDO, 1978. COLEO COMUNICAO PELA ARTE ....... 121
FIGURA 18 - FREYRE, GILBERTO, 1973. CONTRACAPA DO LIVRO ALM DO APENAS MODERNO ........................................................................................................................................ 123
FIGURA 19 - CAPA VOL. I - COLEO EDUCAO ARTSTICA, 1978.............................. 127
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FIGURA 20 - CAPA VOL.II - COLEO EDUCAO ARTSTICA, 1978.............................. 131
FIGURA 21 - LOMBADAS DA COLEO EDUCAO ARTSTICA...................................... 134
FIGURA 22 - COLEO EDUCAO ARTSTICA (VOL. I), 1975 ......................................... 134
FIGURA 23 - COLEOEDUCAO ARTSTICA (VOL. II), 1978 ......................................... 134
FIGURA 24 - FICHA TCNICA VOL. I - COLEO EDUCAO ARTSTICA, 1975 .......... 136
FIGURA 25 - FICHA TCNICA VOL. II - COLEO EDUCAO ARTSTICA, 1978 ......... 137
FIGURA 26 - SUMRIO VOL. I - COLEO EDUCAO ARTSTICA, 1975 ...................... 143
FIGURA 27 - SUMRIO VOL. II - COLEO EDUCAO ARTSTICA, 1978 ..................... 144
FIGURA 28 - COLUNAGEMNA COLEO EDUCAO ARTSTICA, 1978 ........................ 146
FIGURA 29 - CONTRASTE CROMTICO ENTRE AS PGINAS DA COLEO ............... 148
FIGURA 30 - DOCUMENTARIO ICONOGRFICO DA COLEO EDUCAO ARTSTICA, 1978 .................................................................................................................................................... 150
FIGURA 31 - VAN GOGH, VICENT. JARDIM DO HOSPITAL DE ARLES (1888-1889) ...... 151
FIGURA 32 - FOTOGRAFIA DE CORAL NA COLEO EDUCAO ARTSTICA ............ 153
FIGURA 33 - ILUSTRAES NA COLEO EDUCAO ARTSTICA ................................ 154
FURA 34 - IMAGEM DE ESQUEMAS DIDTICOS NA COLEO EDUCAO ARTSTICA ............................................................................................................................................................. 156
FIGURA 35 - ESQUEMA DIDTICO DE ORQUESTRA NA COLEO EDUCAO ARTSTICA ........................................................................................................................................ 157
FIGURA 36 - LOGOTIPO NA COLEO EDUCAO ARTSTICA ....................................... 158
FIGURA 37 - CARICATURA E CARTUM NA COLEO EDUCAO ARTSTICA ............ 159
FIGURA 38 - CARTAZ NA COLEO EDUCAO ARTSTICA ............................................ 161
FIGURA 39 - JORNAIS NA COLEO EDUCAO ARTSTICA .......................................... 162
FIGURA 40 - IMAGEM DE INSTRUMENTOS MUSICAL NA COLEO EDUCAO ARTSTICA ........................................................................................................................................ 167
FIGURA 41 - DA VINCI, LEONARDO. A LTIMA CEIA (1405-1408) ..................................... 174
FIGURA 42 - ESTUDO DE PARTITURA NA COLEOEDUCAO ARTSTICA .............. 179
FIGURA 43 - RENN MAGRITTE - LA TRAHISON DES IMAGES (1929), ........................... 205
FIGURA 44 - MAGEM ILUSTRA TEXTO NA COLEO .......................................................... 210
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FIGURA 45 - IMAGEM ILUSTRA TEXTO NA COLEO ......................................................... 212
FIGURA 46 - DEBRET, JEAN-BAPTISTE. NDIOS COROADOS EM RETIRADA (1839) .. 213
FIGURA 47 - IMAGEM EXEMPLIFICA O CONTEDO DO TEXTO NA COLEO ............ 216
FIGURA 48 - TEXTO COMPARA DUAS IMAGENS NA COLEO ....................................... 218
FIGURA 49 - ASSOCIAO ENTRE IMAGENS E TEXTOS PARA DEMONSTRAR PROCESSOS DE PRODUO NA COLEO ......................................................................... 220
FIGURA 50 - LIVRO DA COLEO EDUCAO ARTSTICA, 1978 ..................................... 222
FIGURA 51 - BERNINI, GIAN LORENZO. O XTASE DE SANTA TERESA, (1645-1652) 223
FIGURA 52 - IMAGEM LIDA E INTERPRETADA PELO TEXTO NA COLEO ................. 225
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LISTA DE GRFICOS
GRFICO 1 - CATEGORIAS DE IMAGENS DA COLEO (VOLUME I) .......................... 163
GRFICO 2 - CATEGORIAS DE IMAGENS DA COLEO (VOLUME II) ......................... 164
GRFICO 3 - CATEGORIAS DE IMAGENS DA COLEO COMPLETA ......................... 165
GRFICO 4 - IMAGENS DE OBRAS POR SEO NA COLEO (VOLUME I) .............. 176
GRFICO 5 - IMAGENS DE OBRAS POR SEO NA COLEO (VOLUME II) ............. 178
GRFICO 6 - LINGUAGENS ARTSTICA NA COLEO (VOLUME I) ............................. 182
GRFICO 7 - LINGUAGENS ARTSTICA NA COLEO (VOLUME II) ............................ 189
GRFICO 8 - PERODO DAS OBRAS DA COLEO (VOLUME I) .................................. 190
GRFICO 9 - PERODO DAS OBRAS DA COLEO (VOLUME II) ................................. 191
GRFICO 10 - ORIGENS DAS OBRAS DA COLEO (VOLUME I) ................................ 192
GRFICO 11 - ORIGENS DAS OBRAS DA COLEO (VOLUME II) ............................... 193
GRFICO 12 - NACIONALIDADES DOS ARTISTAS NA COLEO (VOLUME I) ............ 194
GRFICO 13 - NACIONALIDADES DOS ARTISTASNA COLEO (VOLUME II) ............ 195
GRFICO 14 - NACIONALIDADES DOS ARTISTAS NA COLEO COMPLETA ............ 196
GRFICO 15 - CONTINENTES DOS ARTISTAS NA COLEO (VOLUME I) .................. 197
GRFICO 16 - CONTINENTES DOS ARTISTAS NA COLEO (VOLUME II) ................. 198
GRFICO 17 - CONTINENTES DOS ARTISTAS NA COLEO COMPLETA .................. 199
GRFICO 18 - ORIGEM DOS ARTSTAS BRASILEIROS NA COLEO COMPLETA .... 202
GRFICO 19 - RELAES ENTRE IMAGEM E TEXTO NA COLEO EDUCAO ARTSTICA (VOLUME I) .................................................................................................... 227
GRFICO 20 - RELAES ENTRE IMAGEM E TEXTO NA COLEO EDUCAO ARTSTICA (VOLUME II) ................................................................................................... 228
GRFICO 21 - RELAES ENTRE IMAGEM E TEXTO NA COLEO EDUCAO ARTSTICA (VOLUME II) ................................................................................................... 229
GRFICO 22 - RELAES ENTRE TEXTO E IMAGEM NA COLEO COMPLETA ...... 230
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LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - DOCUMENTOS OFICIAIS SOBRE A EDUCAO ARTSTICA (1 E 2 GRAUS)............................................................................................................................... 84
TABELA 2 - FORMAO DO PROFESSOR DE EDUCAO ARTSTICA (1 E 2 GRAUS) ............................................................................................................................................ 87
TABELA 3 - ASSUNTOS DA COLEO (VOLUME I) ......................................................... 97
TABELA 4 - ASSUNTOS DA COLEO (VOLUME II) ........................................................ 97
TABELA 5 - NMERO DE IMAGENS DE OBRAS NA COLEO (VOLUME I) ................ 176
TABELA 6 - NMERO DE IMAGENS DE OBRAS NA COLEO (VOLUME II) ............... 177
TABELA 7 - OBRAS DA COLEO (VOLUME I) .............................................................. 180
TABELA 8 - OBRAS DA COLEO (VOLUME II) ............................................................. 182
TABELA 9 - OBRAS DA COLEO (VOLUME II) ............................................................. 183
TABELA 10 - OBRAS DA COLEO (VOLUME II) ........................................................... 184
TABELA 11 - OBRAS DA COLEO (VOLUME II) ........................................................... 185
TABELA 12 - OBRAS DA COLEO (VOLUME II) ........................................................... 186
TABELA 13 - OBRAS DA COLEO (VOLUME II) ........................................................... 187
TABELA 14 - OBRAS DA COLEO (VOLUME II) ........................................................... 188
TABELA 15 - RELAES ENTRE TEXTO E IMAGEM DESTACADAS NA COLEO .... 226
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LISTA DE SIGLAS
ANPAP- Associao Nacional dos Pesquisadores em Artes Plsticas
CFE - Conselho Federal de Educao
CNE - Conselho Nacional de Educao
CNLD - Comisso Nacional do Livro Didtico
COLTED - Comisso do Livro Tcnico e do Livro Didtico
DBAE - Disciplined Based Art Education
DNE - Departamento Nacional de Educao
DES - Diretoria do Ensino Secundrio
EAB - Escolinha de Arte do Brasil
EBA - Escola de Belas Artes
ESG - Escola Superior de Guerra
FEA - Fundao de Educao Artstica
Fename - Fundao Nacional do Material Escolar
FLD - Fundo do Livro Didtico
IBEP - Editora Instituto Brasileiro de Edies Pedaggicas
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
INL - Instituto Nacional do Livro
LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
MEA - Movimento Escolinhas de Arte
MEC - Ministrio da Educao e Cultura
MEC - USAID - Unio das siglas Ministrio da Educao (MEC) e United States Agency for International Development (USAID). MNBA - Museu Nacional de Belas Artes (Brasil) OSPB - Organizao Social e Poltica do Brasil
PLIDEF - Programa do Livro Didtico para o Ensino Fundamental
PNELM - Programa Nacional do Livro Didtico para o Ensino Mdio
PNLD - Programa Nacional do Livro Didtico
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Snel - Sindicato Nacional de Editores e Livreiros
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UFPR - Universidade Federal do Paran
USAID - Agncia Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional
USP - Universidade de So Paulo
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SUMRIO
INTRODUO ...................................................................................................................... 4
1. O LIVRO PARA A EDUCAO ARTSTICA NO CONTEXTO DA LEI 5.692/71 ......... 23
1.1 LIVRO DIDTICO NACIONAL: DOS DESDOBRAMENTOS DA POLTICA VARGAS (1930-1945) LEI 5.692/71.............................................................................. 29
1.2 O LIVRO DIDTICO DE EDUCAO ARTSTICA: UM FRUTO DA LEI. .............. 36
1.3 DOS VELHOS MANUAIS DE DESENHO GEOMTRICO NOVA DISNEYLNDIA PEDAGGICA? .................................................................................. 48
1.4 ENTRE OS DOCUMENTOS OFICIAIS E O TRABALHO EDITORIAL ................... 83
2 COLEO EDUCAO ARTSTICA: COMPREENDER E APRECIAR A ARTE .... 93
2.1 DA ABSTRAO LEGAL AOS LIVROS CONCRETOS ........................................ 97
2.2 FOLHEANDO A COLEO: ESTUDO DA MATERIALIDADE ............................. 126
2.3 ARTE EM EDUCAO ARTSTICA: AS OBRAS DA COLEO ........................ 172
2.4 IMAGEM E PALAVRA EM EDUCAO ARTSTICA ........................................... 203
3 CONSIDERAES FINAIS........................................................................................ 232
FONTES ............................................................................................................................ 240
REFERNCIAS ................................................................................................................. 244
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INTRODUO
A presente dissertao toma por objeto e fonte de pesquisa a coleo de
livros didticos1 Educao Artstica, publicada em Belo Horizonte (MG) pela Editora
L, entre 1975 e 1978. Este conjunto de obras, voltadas ao ensino de primeiro grau,
de autoria dos professores mineiros Ivone Luzia Vieira e Jos Adolfo Moura,
contando com a participao de Jan Deckers na composio grfica, diagramador
holands radicado no Brasil. O contexto de produo dessas publicaes foi o Brasil
da dcada de 1970, marcado pela ditadura civil-militar2 (1964-1985). Tal momento,
contudo, interpretado como contraditrio, uma vez que:
[...] ao mesmo tempo em que foi o mais duro, autoritrio e repressivo, com muitas contestaes, tambm foi de euforia, por vrias razes, como a copa do mundo de futebol de 1970 e a vitria brasileira, e o crescimento econmico e seus reflexos em emprego, urbanizao e na cultura do pas, que contriburam significativamente para a adeso de boa parte da populao, s diretrizes desenvolvimentistas do governo (GONALVES E RANZI, 2012, p. 7).
Dessas circunstncias polticas e sociais, os reflexos no crescimento
econmico impulsionaram o consumo de bens no Brasil, inclusive de livros didticos,
tornando essa produo parte de um considervel negcio empresarial. Em especial
este setor ascendia desde os anos de 1960, com a ampliao da rede escolar. Por
consequncia houve um aumento da produo, circulao e consumo de tais
materiais para uma maior parcela do pblico nas escolas. Alm disso, acordos de
financiamentos internacionais, que injetaram fartos recursos na educao do Pas,
respondiam pelo desenvolvimento do setor de produo do livro didtico no Brasil.
Destaca-se a srie de acordos conhecidos como MEC/USAID, assinados entre o
Ministrio da Educao (MEC) e a Agncia dos Estados Unidos para o
Desenvolvimento Internacional (USAID), que tinha por finalidade reformar a
educao no Brasil. 1Tomou-se a expresso livros didticos no que refere-se aos livros destinados aos alunos conforme o Decreto-Lei n 1.006, de 30 de dezembro de 1938, o qual definiu compndios ou livros didticos, como livros que expem parcialmente a matria das disciplinas constantes dos programas escolares (BRASIL, 1938). 2Esta expresso, conforme designada por Nadia Gonalves e Sirlei Ranzi, organizadoras da obra Educao na ditadura civil-militar: polticas, iderios e prticas (Paran, 1964-1985), aqui adotada por se entender: [...] que grande parte da populao brasileira, alm de empresrios, polticos, religiosos estudantes e sindicatos, participaram apoiando diretamente e/ou omitindo-se dos governos desse perodo (GONALVES E RANZI, 2012, p. 7).
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Dentro dessa pretenso de reforma, na dcada de 1970, o Governo Emlio G.
Mdici promulgou a Lei Federal n 5.692, de 1971, com o intento de modificar a
educao em todos os nveis. Tal ao ocorreu em sintonia com a Doutrina de
Segurana Nacional e Desenvolvimento - DSND, proposta pela Escola Superior de
Guerra ESG3 (GONALVES, 2011, p. 1). A lei fixou as Diretrizes para o ensino de
1. e 2. graus, inclusive, instituindo a entrada oficial da Educao Artstica nos
currculos plenos dos estabelecimentos de ensino.
Como desdobramento disso, o mercado do livro didtico viu-se frente
demanda por ttulos que permeassem tambm a nova rea, como no caso da
Editora L, ao preparar e publicar sua coleo. Na mesma dcada, relaes
comerciais entre o Governo e as editoras continuaram assegurando o fortalecimento
do setor pelos contratos consolidados para a coedio de livros didticos a serem
distribudos pelo Estado brasileiro.
Tal crescimento desencadeou melhorias na qualidade material dos livros,
marcados por uma remodelao nas suas configuraes grficas. Contriburam
tambm para tanto, os avanos4 nas condies tcnicas de impresso e confeco
dos livros didticos, sobretudo, na segunda metade do sculo XX. Os avanos
tcnicos estimularam o emprego de imagens nesse tipo de publicao. Ademais, o
desenvolvimento de algumas prticas que privilegiavam o espao dado imagem na
educao no final do sculo XX, como o mtodo da leitura de imagens5, intensificou,
3A Escola Superior de Guerra foi criada pela Lei n 785, de 20 de agosto de 1949, tendo como objetivo treinar pessoal para exercer funes a respeito da direo e planejamento da segurana nacional. Integrando civis e militares, a ESG teve como fundadores alguns oficiais que foram participantes da Fora Expedicionria Brasileira (FEB) na Itlia, porm, sob os auspcios dos EUA. A partir de 1964, a instituio demonstra mais claramente a fora de sua doutrina na poltica nacional (GONALVES, 2011, p 2). 4Referimo-nos aos avanos que as tcnicas de impresso receberam a partir da segunda metade dos anos 1960 e incio dos anos 1970. Ainda durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), com processo de abertura industrializao da imprensa, este setor passou a ganhar mais aporte do Estado. Com a criao do Ministrio das Comunicaes em 1965, os meios de comunicao impressos, como os jornais e as revistas, encontram mais fora para se desenvolver em termos econmicos e tcnicos. Nos anos 1970, os parques grficos brasileiros desfrutavam de melhores condies tcnicas de impresso, como pelo desenvolvimento do offset e da clicheria (onde se produz o clich, espcie de carimbo de zinco), assim, eram produzidas imagens cada vez mais ntidas. Neste momento, tambm o setor do livro didtico recebeu atualizao dos meios tcnicos de produo e impresso de textos e imagens. 5No caso do ensino da arte no Brasil, a leitura de imagem foi amplamente debatida a partir anos 1980, com destaque para o trabalho pioneiro de Ana Mae Barbosa sobre a imagem na sala de aula, proposto aos professores participantes do curso de treinamento no Festival de Campos do Jordo em So Paulo, em 1983 (BARBOSA, 1989). Enquanto diretora do Museu de Arte Contempornea da Universidade de So Paulo, Barbosa sistematizou e promoveu aes a partir do que denominou, a princpio, de Triangulao Ps Colonialista do Ensino da Arte no Brasil, posteriormente Metodologia
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cada vez mais, o emprego deste imaginrio6 nas escolas, estimulando-se a
impresso de reprodues iconogrficas junto aos textos didticos (FERRARO,
1999).
O termo leitura usado principalmente para designar o ato de decodificar um
texto escrito. No entanto, tal terminologia tem sido tambm empregada para definir a
prtica da anlise interpretativa de uma imagem. Isso vai ao encontro dos
apontamentos de Pareyson (1989), ao destacar que o termo leitura tambm pode
designar a interpretao de obras de qualquer forma de arte, no somente quelas
da palavra. Neste sentido:
Ler, conseqentemente, compreender a imagem naquilo que pretende exprimir, indagar-se sobre os sentidos dessa construo, apreender as configuraes histricas e culturais, ideolgicas e polticas desvelando aquilo que no se apresenta imediatamente na imagem. A imagem ainda pressupe um objeto a ser lido e tambm um agente leitor, mediados por cdigos de um determinado sistema simblico (SCHLICHTA, 2010, p. 6).
Diante das interseces entre texto e imagem na educao, as fotografias, as
ilustraes e as reprodues de obras de arte vm acompanhando os textos
escolares.
Com relao multiplicidade dos sentidos dados palavra imagem, entende-
se que esta: [...] a representao reprodutvel de uma coisa ausente nica, que
lhe empresta alguns traos aparentes e visveis (WOLFF, 2005, p. 23). Portanto,
pode-se considerar que as imagens so composies materiais ou virtuais,
bidimensionais, reproduzveis por inmeras vezes, podendo ser de valores onerosos
ou acessveis, notveis ou corriqueiras, avulsas ou encerradas em impressos e
meios eletrnicos. Alm disso, a partir delas, possvel visualizar determinado
objeto ou indivduo fisicamente ausente. Logo, as imagens possuem a capacidade
visual de representar algo.
Em nossa anlise conferimos especial destaque s imagens de obras de arte,
enquanto reprodues de trabalhos considerados artsticos. Para tanto, toma-se o
Triangular ou Proposta Triangular e finalmente, Abordagem triangular. Tal mtodo consiste em trs aspectos: contextualizao histrica; fazer artstico e apreciao artstica, em que se inscreve o processo de leitura e interpretao das imagens. Na virada dos anos 1980 e 1990, a metodologia foi experimentada em escolas pblicas do municpio de So Paulo, a partir de reprodues de obras, sendo esta prtica difundida pelo pas nos anos seguintes. 6A despeito da variedade de sentidos possveis, tomou-se o termo imaginrio restritamente na acepo de um repertrio ou conjunto de imagens.
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sentido atribudo pelo historiador da arte Ernest Gombrich (1995, p. 15), ao
argumentar que: Nada existe realmente a que se possa chamar de Arte. Existem
somente artistas. Por conseguinte, no adotamos conceito uno e permanente para
arte, visto que essa deriva do trabalho inventivo dos homens. Da mesma forma que
os conceitos de artista e de arte variam de acordo com o tempo, o conceito de obra
de arte tambm instvel.
Para o estudioso em esttica Luigi Pareyson (1989) tambm a obra de arte
est vinculada histria e, de acordo com sua compreenso, ela um objeto que
deriva de trs concepes: [...] arte como fazer, como conhecer e como exprimir
(PAREYSON, 1989, p.73). Tais concepes ora se contrapem e se excluem, ora se
aliam e se combinam de maneiras diferentes na histria. Deste modo, a obra de arte
resultante do trabalho criador dos homens, que varia tanto em seu contedo, como
em sua forma, no tempo e no espao.
Em nossa pesquisa, a nfase dada s imagens de obras de arte deriva do
intento de se compreender o contexto de produo de uma coleo didtica lanada
para a recm-criada Educao Artstica no Brasil dos anos de 1970. Em particular,
buscamos refletir ainda sobre as relaes percebidas entre as imagens de obras de
arte e os textos para o ensino da rea.
Os livros didticos de Educao Artstica, enquanto mediadores de saberes
e mercadorias, esto inseridos tambm no encadeamento da produo, distribuio
e consumo de arte. Por meio de reprodues, estes livros, adequada ou
inadequadamente, promovem o acesso de seus leitores a objetos historicamente
considerados artsticos. Por isso, as instncias da produo, distribuio e consumo
dos objetos de arte tambm perpassam nossa anlise (CANCLINI, 1984).
Ao refletirmos sobre tal problemtica, atribumos continuidade a um caminho
de investigao iniciado durante a graduao em Artes Visuais7. Deste lugar, no
sentido empregado por Certeau8 (1982), ao enfatizar que toda pesquisa
7A autora cursou Licenciatura em Artes Visuais no Departamento de Artes e Msica da Universidade Federal do Paran de 2009 a 2013. Como aluna bolsista de iniciao cientfica, participou do Projeto de pesquisa Processos de mediao em espaos culturais e escolares, coordenado pela Prof. Dr. Consuelo Schlichta. Esse projeto objetivou produzir metodologias de educao em arte, incorporando investigaes sobre os processos de mediao em espaos culturais e escolares, articulando conceitos como a alfabetizao artstico-visual e apreciao da produo de obras de arte e artefatos da cultura. 8Jean Michel Emmanuel de la Barge De Certeau nasceu em 1925, na cidade de Chambery, Frana, regio da Savoia. Foi um estudioso em histria, filosofia, teologia, antropologia e psicanlise. Seus escritos contribuem sobremaneira nas reflexes sobre o prprio fazer historiogrfico.
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historiogrfica se articula com um lugar de produo, consideramos vrios autores e
matrizes tericas que abordam a temtica das imagens9. Porm, para a presente
anlise, encontramos espao na aproximao entre as pesquisas em histria da
educao e as investigaes em arte. Por tal razo, acolhemos o que salientou
Lucien Febvre (1878-1956) em 1932, ou seja, ao que o historiador chamou de
derrubar as velhas paredes antiquadas, referindo-se ao desejo de romperem-se as
barreiras estritamente disciplinares na prtica historiogrfica, como lembra Le Goff
(1996, p. 540).
Tal aproximao se efetiva ainda pela redefinio de antigos objetos a partir
de questionamentos renovados pela historiografia (REVEL, 2010). Jacques Le Goff10
(1996) tambm assinala a extenso dada ao documento histrico pela Nova Histria
para alm da tradio de Langlois e Seignobos11, fundada essencialmente nos
textos escritos. Assim, o historiador atenta para a multiplicidade de objetos e
documentos pertinentes nova concepo historiogrfica, descendente do
movimento francs dos Annalles12, iniciado em 1929.
9Mltiplos so os enfoques e as apreciaes sobre as problemticas da imagem, evidenciados por estudos tericos de diversas reas que se apropriam das investigaes de autores do campo da filosofia como Francis Wolff (2005), ou na psicologia como Michael Parsons (1989) e Rudolf Arnheim, (1991). Na Histria com Peter Burke (2004), e na Histria da Arte como Ernest Gombrich (1995), alm dos estudos iconogrficos de Erwin Panofsky (1989) e nas pesquisas de Heinrich Wlfflin (2006). Tambm se colocam investigaes ancoradas nos estudos em semitica de Charles Pierce (1999) e na psicanlise de Sigmund Freud (1937), entre outros vrios olhares lanados sobre as questes do imaginrio. 10Jacques Le Goff (1924-2014) amplifica a ideia de documento histrico, para alm da noo positivista do escrito como prova do acontecimento, ao discutir na obra Histria e Memria (1996) as relaes denominadas de Documento/Monumento. Para o historiador, monumento tudo aquilo que evoca o passado, testemunha de uma poca. Assim o monumento tem como caracterstica principal o movimento de ligar-se ao poder de perpetuao, voluntria ou involuntria, das sociedades histricas, por isso, considerado um legado a memria coletiva. Tambm, o historiador ressalta que o monumento um reenviar de testemunhos que s numa parcela mnima so testemunhos escritos. Assim, o [...] documento monumento, resulta do esforo das sociedades histricas para impor ao futuro, voluntariamente ou involuntariamente, determinada imagem de si prprias (LE GOFF, 1996, p. 536). Deste modo, a imagem tambm documento/monumento, tornando-se objeto de crtica dos historiadores. 11Os historiadores franceses Charles Seignobos (1854-1942) e Charles-Victor Langlois (1863-1929), apoiando-se na ideia de que [...] onde no h documentos, no h histria, em Introduo aos Estudos Histricos (1898) propunham um mtodo a partir dos documentos escritos oficiais. Assim, contemplam uma histria factual e essencialmente poltica. Apesar de suas contribuies em torno do rigor metodolgico no fazer historiogrfico, esta concepo foi criticada pelo movimento francs dos Analles, ao se admitir o alargamento do conceito de documento histrico para alm do suporte escrito. 12O movimento historiogrfico francs dos Analles foi fundado por Marc Bloch e Lucien Febvre em 1929, na Universidade de Estrasburgo, a partir da revista Annales dhistorie conomique et Sociale, e propunha a renovao da perspectiva sujeita histria dos acontecimentos (histoire vnementielle). Tendo tambm contado com as contribuies de Fernand Braudel, este movimento ampliou os
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Como desdobramento desse movimento, a partir das dcadas de 1960 e
1970, pela Histria Cultural, reafirma-se as atribuies de outros documentos como
fontes de interesse para a historiografia, ao serem valorizadas as diversas
dimenses da vida social13. A imagem tomada como fonte ou problematizada de
modo mais acentuado em trabalhos de historiadores como Georges Duby14 (1919-
1996). Tal abertura amplia o espao dado ao documento iconogrfico tambm para
as pesquisas em histria da educao. Semelhantemente a imagem interpretada
nesta pesquisa como objeto de estudo to pertinente quanto os textos escritos.
Em particular, conferimos relevncia s imagens de obras de arte em uma
coleo de livros didticos. Esses so objetos em constante reconstruo pela
complexidade das questes que os livros escolares geram para o pesquisador
(CHOPPIN, 2000). Nesse sentido, a coleo Educao Artstica tomada como
objeto e fonte capaz de responder sobre os modos como uma determinada realidade
social foi construda, pensada, dada a ler (CHARTIER, 1990). Contudo, no trabalho
historiogrfico as fontes no se entregam ao pesquisador. Antes, dependem de uma
viso que as questiona e critica:
As fontes permitem encontrar e reconhecer: encontrar materialmente e reconhecer culturalmente a intencionalidade inerente ao seu processo de produo. Para encontrar necessrio procurar e estar disponvel ao encontro: no basta olhar, necessrio ver. Para reconhecer necessrio atribuir significado, isto , ler e indicar os signos e os vestgios como sinais (RAGAZZINI, 2001, p. 14).
Na gnese desta pesquisa, as possibilidades de fontes a serem interrogadas
eram muitas, pelo nmero de publicaes para Educao Artstica dos anos 1970
localizados em acervos pblicos e em lojas de livros usados. Entretanto, na busca
das fontes, a princpio no Acervo da Biblioteca Pblica do Paran, os livros da
coleo Educao Artstica (1975-1978)15 apresentaram quantidade significativa de
objetos de interesse da historiografia, at ento, marginalizados ou ignorados pela histria essencialmente poltica. 13A esse respeito, Peter Burke enfatizou interesses para a nova histria. Por exemplo, aspectos como a infncia, a morte, a loucura, o clima, os odores, a sujeira e a limpeza, os gestos, o corpo, a fala e o silncio, a feminilidade e a leitura (BURKE, 1992, p.11). 14Georges Duby (1919-1996) deu especial repercusso ao estudo do imaginrio medieval. Porm no tomou as imagens como meros adornos, mas como fontes, ou seja, como documentos capazes de estabelecer relaes preciosas para o ofcio crtico do historiador. 15Os livros da coleo so encontrados em parte na Biblioteca Pblica do Paran em Curitiba e em So Jos dos Pinhais, alm da Biblioteca Infanto-juvenil Monteiro Lobato, em So Paulo (SP). H volumes pertencentes ao acervo pessoal da pesquisadora, adquiridos em lojas virtuais e fsicas.
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imagens de obras de arte, se comparados a outros do mesmo perodo. Isto
contribuiu para definirmos esta coleo como objeto e fonte de interesse.
Portanto, em primeiro lugar, a seleo da coleo nasceu da percepo do
acentuado nmero de imagens de obras de arte, o que colaborou tambm para a
anlise sobre as concepes de ensino de arte adotadas nesse contexto. Alm
disso, por encontrar-se completa, tal fonte permite perceber as relaes entre o que
foi prescrito desde 1971, pela Lei 5.692, e demais documentos oficiais
consequentes, e o que foi efetivado no trabalho autoral de uma mesma coletnea
didtica idealizada para a Educao Artstica.
Ao analisarmos essas fontes, compreendemos o livro didtico enquanto um
artefato prprio da cultura escolar no sentido atribudo por Dominique Julia, que a
descreve:
[...] como um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de prticas que permitem a transmisso desses conhecimentos e a incorporao desses comportamentos; normas e prticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as pocas (finalidades religiosas, sociopolticas ou simplesmente de socializao) (JULIA, 2011, p. 10).
vista disso, os livros didticos so objetos que tendem a coordenar a
transmisso dos conhecimentos, e, por consequncia, relacionam-se com a
legislao educacional vigente. Assim, na seleo das fontes primrias, a legislao
para a educao tratada como fonte capaz de materializar o discurso da dimenso
poltica (VALDEMARIN, 2007; FARIA FILHO, 1998). Alm do prprio texto da Lei
5.692/71, outros documentos foram arregimentados nesta anlise, tais como os
pareceres do MEC, as indicaes do Conselho Federal de Educao (CFE), alm de
certos decretos presidenciais e dos textos de Valnir Chagas, enquanto relator do
Grupo de Trabalho (G.T.) responsvel pela formulao da Lei 5.692/71.
Tais documentos apresentam-se como fontes para se problematizar
afinidades e desencontros entre as prescries oficiais e as efetivas prticas na
produo editorial dos livros didticos. Refletem tambm as escolhas feitas em
relao aos interesses oficiais para a Educao Artstica naquele perodo. Isso
Constam tambm exemplares da coletnea na Biblioteca da Universidade de Uberlndia (MG) e na Biblioteca Central do Campus do Centro Universitrio Patos de Minas (UNIPAM). Alm destes acervos, a Biblioteca Municipal de Gara (SP) tambm dispe de um exemplar. A Biblioteca Pblica Municipal Lafayette Rodrigues Pereira, situada em Conselheiro Laffayete (MG) igualmente mantm exemplares da coleo.
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porque nas publicaes didticas possvel verificar uma reinterpretao do
currculo escolar frente lei para a educao (VALDEMARIN, 2007). Isso ocorre,
principalmente, pelas ligaes comerciais entre o Estado e as editoras.
Os estudos que privilegiam os livros como fontes e como objetos de
pesquisa tambm se relacionam com a Histria Cultural, como na nfase concedida
s imagens. A esse respeito, conferimos destaque aos trabalhos de Roger Chartier
(1990, 1994), que, ancorado em Henri-Jean Martin16, Don Mckenzie17 e Armando
Petrucci18, se debrua para alm das anlises aliceradas na recepo do escrito. O
autor enfatiza a crtica normatizao dos textos, os quais tentam impor modos de
leitura. Do mesmo modo, Chartier atribui proeminncia ao suporte material do
impresso, que est intimamente ligado s formas como ele chega aos seus leitores
(CHARTIER, 2001).
Por isso, acerca do procedimento metodolgico, levantamento, seleo e
contextualizao das fontes, a presente anlise concebe o livro didtico enquanto
objeto que depende do estudo de sua materialidade. Como argumenta Chartier
(1990a, p.189): [...] preciso lembrar que no h texto fora do suporte que lhe
permite ser lido (ou ouvido) [...].
O autor destaca ainda que os impressos possuem dois conjuntos de
dispositivos que pretendem atribuir sentidos ao leitor de uma forma clara ou ainda
inconsciente. O primeiro corresponde aos dispositivos propriamente textuais, que
16Henri-Jean Martin (1924-2007) foi historiador e professor francs da cole Nationale de Chartes. Fazendo justia aos tericos que lhes inspiraram, Chartier destaca Lappartion du livre (1999), de Martin ao lado de Lucien Febrve, obra fundadora de uma nova histria do livro. Chartier Ainda acentua que Henri-Jean Martin, nos trabalhos que se seguiram, [...] no poupou esforos para ampliar o questionamento, deslocando a ateno para os ofcios e o mundo do livro, as mutaes na paginao e na apresentao dos textos e, finalmente, as sucessivas modalidades de sua legibilidade (CHARTIER, 2010, p. 7). 17Don Mckenzie (1931-1999), historiador nascido na Nova Zelndia, foi professor em Oxford da ctedra de Textual Criticism. Sobre o terico Chartier ressalta que: Ao assentar a sociologia dos textos no estudo de suas formas materiais, Don Mckenzie no se afastava das significaes intelectuais ou estticas das obras. Pelo contrrio. E na perspectiva por ele aberta que situarei um ensino que se prope a nunca separar a compreenso histrica dos escritos da descrio morfolgica dos objetos que os trazem (CHARTIER, 2008, p. 8). Segundo Mckenzie (2004, p. 15), a sua sociologia dos textos [] tambm nos direciona a considerar as interaes e motivaes humanas que os textos envolvem em cada estgio de sua produo, transmisso e consumo. Isso nos alerta para o papel das instituies e suas prprias estruturas complexas em afetar as formas de discurso social, passado e presente. 18Armando Petrucci, nascido em Roma (1932), foi filsofo e historiador do livro. Segundo Chartier, o trabalho de Petrucci [...] um exemplo magnfico da ligao necessria entre uma erudio escrupulosa e a mais inventiva das histrias sociais. O autor ainda expressa: Gostaramos aqui de reter a lio fundamental que ele nos d, a de sempre associar, numa mesma anlise, os papis atribudos ao escrito, as formas e suportes da escrita, e as maneiras de ler (CHARTIER, 2010, p. 8).
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so diretamente desejados por seu autor e que tendem a impor o que Chartier
define como protocolos de leitura (2001). Estes podem ser entendidos como
indicaes do autor da obra para os sentidos pretendidos nos textos e, por isso,
podem esboar um leitor ideal. Um segundo conjunto de dispositivos, porm, se
entrecruza com o primeiro. So os elementos grficos, ou seja, a disposio e a
diviso do texto, sua tipografia e suas ilustraes. Chartier ainda destaca: Do
mesmo modo, a imagem, no frontispcio ou na pgina do ttulo, na orla do texto ou
na sua ltima pgina, classifica o texto, sugere uma leitura, constri um significado.
Ela protocolo de leitura, indcio identificador (CHARTIER, 1990, p. 133). Esta
segunda instncia da produo de um livro no compete escrita, mas impresso,
pois no decidida propriamente pelo autor, mas pelo editor-livreiro, o que tambm
pode sugerir outras leituras pretendidas (CHARTIER, 2001).
Neste sentido, Chartier (1990, 2001) contribui com as reflexes, auxiliando-
nos na compreenso dos livros, inclusive, nas suas organizaes materiais como
propostas de significados dirigidos aos seus possveis leitores. A partir disso,
evidencia-se tambm que o livro didtico produto de uma ampla cadeia de
processos. Afinal, no se deve esquecer que:
[...] O livro papel e tinta formando a mancha (a rea impressa de uma pgina); o que ali se imprime passa por edio e copidesque (que muitas vezes introduzem alteraes no texto original), reviso e preparao de texto, que, ento, organizado em pginas (paginao), de acordo com um projeto editorial; as pginas formam cadernos de um certo formato, que so colados ou costurados e encadernados, recebendo procedimentos de acabamento editorial e grfico; para, finalmente, ser distribudo, e (eventualmente) lido (MUNAKATA, 2012, p.184).
Independente da responsabilidade ou hierarquia entre os agentes nas
escolhas feitas para a produo dos livros didticos, como em qualquer impresso,
esses tendem a atribuir significados ao leitor pelos dispositivos textuais e grficos
propostos. Por isso, nessa pesquisa so enfatizadas as tenses entre os elementos
textuais e os imagticos da coleo Educao Artstica. Desta forma, as reflexes
recaem sobre a concepo editorial dos livros didticos nas relaes entre imagens
de obras de arte e textos.
Nossa investigao realizada tambm a partir das contribuies do filosofo
Francis Wolff (2005), que, tomando o conceito de representao, problematiza as
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imagens e os textos, caracterizando-os em suas potencialidades e limitaes na
comunicao visual.
Ainda, as consideraes de Lucia Santaella (2012) contribuem para a
percepo de certas relaes entre imagem e texto. A autora prope possveis
articulaes entre tais elementos de ordens sintticas, semnticas e pragmticas,
como ser visto.
Alm destes, os estudos iconolgicos do crtico e historiador da arte Erwin
Panofsky (1976) se colocam como meios de anlise das imagens de obras de arte
em suas classificaes e crticas. O autor pauta sua perspectiva para alm da
descrio puramente formal das obras em favor de um estudo que objetiva seus
contedos. Assim, considera que as imagens possuem significados secundrios,
que dependem de nveis mais complexos de aproximao com o contexto histrico e
cultural de uma dada produo. Deste modo, Panofsky extrapola concepes
positivistas de uma evoluo do estilo na histria da arte, o que significa no deixar
de lado as especificidades contextuais dos objetos artsticos.
A partir de tais discusses, como objetivo geral, a presente pesquisa
pretende analisar a coleo Educao Artstica, no que se refere s escolhas
editoriais tomadas frente promulgao da Lei 5.692/71, entendidas como formas
de assimilao do contexto legislativo da educao em um trabalho editorial.
Enquanto objetivos especficos, busca estudar a coleo conferindo
evidncias s relaes entre imagens de obras de arte e textos, observadas por
meio das consideraes de Wolff (2005), Panofsky (1976) e Santaella (2015). Alm
disso, analisa-se a coleo em sua materialidade, destacando-se os protocolos de
leitura propostos, enquanto indicaes dos sentidos pretendidos pelos textos e pelos
arranjos grficos (CHARTIER, 2001).
Em suma, prope-se um olhar fundamentado em dois nveis de ao. Em
primeiro lugar, na anlise das escolhas editoriais perante a legislao; em seguida,
em um tensionamento entre as imagens de obra de arte e os textos nos livros
didticos.
A periodizao estabelecida inicia-se mais precisamente em 1971, ano da
promulgao da Lei 5.692, e se estende a 1975, ano da publicao da coleo.
Embora a mesma tenha sido publicada at 1978, no sofreu alteraes de qualquer
natureza nas suas diferentes edies.
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Como o presente estudo, as investigaes que se debruam sobre a
temtica da histria do ensino de arte no Brasil tm encontrado espao frtil no
mbito da pesquisa em Educao. A esse respeito, essencial assinalar as
primeiras contribuies tericas evidenciadas no contexto nacional. exemplar o
trabalho de Ana Mae Barbosa (1979), que nos anos de 1970, a partir de suas
pesquisas de mestrado (1974) e doutorado (1978), suscita o debate em torno do
papel do educador e do ensino de arte no Brasil. Com postura marcadamente
poltica em favor do fortalecimento de uma rea naquela poca ainda incipiente,
a autora busca subsdios histricos para compreender a situao do ensino da arte
em seu tempo. Para tanto, questiona seus primrdios e contempla um panorama
geral sobre o tema no caso brasileiro (BARBOSA, 1979).
Com a criao do curso de ps-graduao em Artes na Escola de
Comunicao e Artes da Universidade de So Paulo (USP) em 1983, alm da
promoo de eventos como o I Simpsio Internacional de Histria da Arte-Educao
em 1984, organizado pela mesma instituio, ampliaram-se os alcances em torno
deste debate, os quais contriburam para a sistematizao de novas pesquisas
sobre o ensino de arte no Brasil.
Como exemplo destes trabalhos menciona-se a pesquisa de Maria Helosa
Ferraz (1987, 1989), que tambm analisa a constituio nacional do ensino de arte.
No mesmo contexto, a Associao Nacional dos Pesquisadores em Artes Plsticas
(ANPAP), a qual foi criada em Braslia em 1986, cooperou para a produo
acadmica sobre o ensino de artes e sua histria no Brasil. A instituio ainda tem
conferido espao para estas e outras problemticas relacionadas rea de arte.
Dentre as produes mais recentes, possvel mencionar os trabalhos
concretizados no Programa de Ps-Graduao em Educao, na linha de Histria e
Historiografia da Educao da Universidade Federal do Paran (UFPR), na qual a
presente pesquisa se insere. Os trabalhos realizados, abordando o contexto
paranaense, tm se concentrado em estudos sobre intelectuais e modernidade,
alm de contemplarem pesquisas em torno da histria das instituies escolares. No
entanto, alguns deles j apontam para investigaes sobre os impressos enquanto
objetos e fontes de pesquisas, a exemplo de jornais, peridicos e manuais ou livros
didticos.
Com relao vertente centrada nas pesquisas sobre intelectuais,
destacam-se a dissertao e a tese de Dulce Osinski (1998, 2006), as quais abrem
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os estudos sobre a temtica da histria do ensino da arte no referido contexto
institucional. No primeiro estudo, a pesquisadora investiga a introduo do ensino de
artes no Paran, entre meados do sculo XIX e incio do sculo XX, concretizado
pela atuao dos imigrantes Mariano de Lima, Alfredo Andersen, Guido Viaro e o
casal Emma e Ricardo Koch. Em sua tese, Osinski aprofunda-se na trajetria
intelectual de Guido Viaro enquanto artista e educador, enfatizando sua atuao na
criao do Centro Juvenil em Artes Plsticas (CJAP), em 1953. O CJAP era uma
instituio direcionada ao desenvolvimento artstico da criana e tambm formao
de educadores em arte, fruto das primeiras experincias de Viaro nos anos de 1930.
Tais experincias antecedem a da Escolinha de Arte do Brasil (EAB), projeto
criado no Rio de Janeiro em 1948, que teve frente o artista pernambucano
Augusto Rodrigues (1913-1993), o qual atuou como espao extracurricular de ensino
de arte. Este projeto tambm contou com a contribuio da artista gacha Lcia
Alencastro Valentim (1913-1987), dentre outros.
O pesquisador Ricardo Carneiro Antonio (2001), ao refletir sobre a histria
das instituies em sua dissertao, analisou a trajetria da escola de pintura e
desenho fundada por Alfredo Andersen em Curitiba, de 1902 a 1962. O autor situa o
contexto histrico e artstico da instituio e identifica aspectos relativos aos
conceitos e mtodos de ensino de arte privilegiados na referida escola. Em sua tese,
Antonio (2008) investiga o momento do projeto de implantao de Escolinhas de
Arte desenvolvido em escolas primrias paranaenses, entre 1960 e 1970. Este
estudo aproxima-se de nossa pesquisa pelo recorte histrico, que permitiu perceber
nuances do encontro do ensino de arte com o iderio das escolinhas, tendo em vista
os redirecionamentos a partir da Lei 5692/71, sobretudo, no que tange formao
docente. No caso paranaense, Antonio destaca mudanas na formao do professor
de arte e ressalta tenses entre os propsitos das escolinhas e os objetivos da
Educao Artstica na escola regular, cujo resultado foi a necessidade de adaptao
dos professores como alternativa de permanncia no ensino de artes.
Seguindo a mesma vertente, Giovana Simo (2003) estudou a implantao
dessas escolas na rede oficial de ensino de Curitiba, considerando mudanas na
cultura escolar local e evidenciando a atuao de Emma Koch em tal processo na
rede pblica da capital paranaense. Tambm tendo investigado uma instituio,
Luciana Santana (2004) analisou o projeto de ensino de artes e ofcios no Paran,
atravs da iniciativa de Antnio Mariano de Lima da criao da Escola de Desenho e
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Pintura em 1886, que, em 1897 foi nomeada Escola de Belas Artes e Indstrias do
Paran.
Rossano Silva (2009) tambm investigou problemticas pertinentes histria
do ensino de arte no contexto paranaense. O pesquisador abordou a atuao de
Erasmo Pilloto no Paran (1930 a 1950), com destaque para o papel atribudo arte
no pensamento desse intelectual. Da mesma forma, Joo Paulo de Souza da Silva
(2013) realizou pesquisa de mestrado sobre as ideias educativas de Eny Caldeira no
Instituto de Educao do Paran (IEP), em suas aes modernizadoras e em
participaes sobre a composio de instituies como a Escola Experimental Maria
Montessori e o Centro Juvenil de Artes Plsticas.
Os estudos supracitados contribuem na medida em que, a partir de diferentes
frentes, problematizam a histria do ensino da arte no interior ou fora dos
estabelecimentos escolares e os intelectuais como protagonistas das aes
impetradas em favor da educao em arte.
Dentro deste contexto institucional, tem-se aberto tambm espao para os
estudos sobre os impressos, como na tese de Roberlayne Roballo (2012), que
analisa os manuais de Histria da Educao pertencentes Coleo Atualidades
Pedaggicas (1933-1977). Para a autora, a histria desses livros se insere na
Histria Cultural, alm de apresentar peculiaridades histria da educao e
histria da leitura. Roballo trabalha a partir de duas frentes de anlise: a do discurso
e a da materialidade, a fim de compreender os sentidos pedaggicos presentes
nos impressos. Segundo a autora, a Editora Francisco Alves (1954) tornou-se o
principal espao de publicao desses livros na primeira metade do sculo XX,
seguida pela Editora Melhoramentos (1915) e pela Companhia Editora Nacional
(1925). A partir da segunda metade do sculo XX, foco de interesse de nossa
anlise, a modelao da imprensa em escala industrial forjou, no processo de
publicao de livros didticos, velocidade e qualidade de impresso, para diminuir as
despesas financeiras da produo dos livros nacionais. Roballo contribuiu com a
presente pesquisa ao tecer reflexes sobre a materialidade dos livros enquanto meio
de anlise para alm dos textos. Assim, foi possvel verificar o quanto as formas
fsicas dos impressos didticos podem gerar sentidos para as prticas escolares.
Ao trabalhar com a educao em um sentido ampliado e tomar como objeto
e fonte um impresso direcionado ao pblico em geral, Vezzani (2013) desenvolveu
um estudo sobre a Galeria Ilustrada (1988-1989): uma publicao paranaense que
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circulou no final do sculo XIX. A autora se props a investigar as ideias
relacionadas educao, civilizao e modernidade, a partir de discursos de textos
e litografias contidos nesses impressos. Na revista, as imagens de obras de arte no
eram veiculadas como elementos meramente decorativos, mas contextualizadas
como aspectos capazes de estimular a reflexo do leitor. A pesquisadora colabora
com nossa investigao ao refletir sobre as imagens de reprodues artsticas como
elementos que deflagravam a modernizao da imprensa pela sua reproduo e as
entende, sobretudo, como artefatos de fora educativa.
Localizada no referido contexto institucional, a presente investigao trata da
introduo da Educao Artstica frente Lei 5692/71, ao visitar e examinar livros
didticos dessa rea referentes dcada de 1970. A exemplo dessa ateno dada
ao livro como objeto e fonte de pesquisa, Batista (1999) ressalta que, nos ltimos
anos, assiste-se a uma renovao deste interesse na histria da educao, em
decorrncia da influncia de estudos na rea da sociologia, da histria do livro e da
leitura, tendo como exemplo os trabalhos de Robert Darnton (1990), Michel De
Certeau (1990) e Roger Chartier (1990).
Nessa direo, as investigaes evidenciam um considervel nmero de
nomenclaturas e de abordagens para esse tipo de impresso, frequentemente
referido tambm como manual didtico, livro-texto ou livro escolar. Tal objeto visto,
por vezes, como um simples volume para aperfeioar o aluno ou para auxiliar o
professor na tarefa educativa cotidiana. Contudo, o conceito deste objeto
malevel. Afinal, como esclarece Choppin (2000, p. 209): se um manual difcil de
definir porque sob uma banalidade aparente, aparece como um assunto bastante
complexo. Assume simultaneamente vrias funes e pode ter vises de natureza
diferentes.
Ainda corroborando com tal complexidade, nas pesquisas em educao o
livro didtico pode ser tomado simultaneamente enquanto:
[...] material impresso, estruturado, destinado ou adequado a ser utilizado num processo de aprendizagem ou formao, materiais caracterizados pela seriao dos contedos, mercadoria, depositrio de contedos educacionais, instrumentos pedaggicos, portador de um sistema de valores, suporte na formulao de uma histria nacional, fontes de registro de experincias e de relaes pedaggicas ligados a polticas pedaggicas de poca, e ainda como material, elevadores de ngulos do cotidiano escolar e do fazer-se da cultura nacional (GATTI JR, 2004, p.34-35).
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Diante de tais possibilidades de abordagem, o livro didtico analisado sob
diferentes prismas pelos pesquisadores da historia da educao, a exemplo de Circe
Bittencourt (1993), que, a partir de sua tese de doutorado, produziu trabalho de
referncia para o debate em torno da histria do livro didtico e da leitura no Brasil.
A autora reala esse artefato como elemento de poltica pblica e como parte
relevante da cultura escolar.
Marisa Lajolo e Regina Ziberman (1999) tambm se debruam sobre o
objeto livro didtico e enfatizam peculiaridades desse tipo de publicao na histria
da educao. As estudiosas no apenas ressaltam o papel dos livros didticos como
suportes de saberes, mas como mercadorias, tecendo crticas sobre a dimenso
econmica dos processos de produo, distribuio e consumo desses impressos
(LAJOLO e ZILBERMAN, 1999).
Ao lanar um olhar sobre os manuais didticos como elementos vinculados
aos mtodos de ensino, s prticas docentes e transmisso cultural, Vera Teresa
Valdemarin (2000, 2004, 2010) contribui para o avano da temtica. A autora analisa
manuais didticos ancorados no Mtodo de Ensino Intuitivo, produzidos no sculo
XIX, e levanta possibilidades interpretativas nesse tipo de investigao. Alm disso,
Valdemarin coopera com nossa discusso ao enfatizar o estudo dos corpos dos
manuais como frente de anlise das selees culturais feitas a partir da legislao
para a educao em vigor (VALDEMARIN, 2007, p. 316).
Os estudos de Antnio Batista (1999) tambm fornecem subsdio s nossas
reflexes, pois discutem particularidades desse tipo de fonte. Apontam para o caso
brasileiro e para os desdobramentos da larga modernizao do setor de produo
de livros didticos nas dcadas de 1960 e 1970, perodo de maior interesse da
presente anlise. Sua pesquisa evidencia que existia uma tendncia geral dos livros
didticos dos anos 1960 em realizar um modo de mediao que possibilitava ao
professor um alto grau de autonomia em relao ao manual, cujo acesso aos
contedos dependia em maior alcance da interferncia do professor, em
comparao com os livros dos anos seguintes. A partir dos anos 1970, os livros
didticos marcadamente passaram a ser organizados como estudos dirigidos aos
alunos, tornando a interveno do educador mais dispensvel nesse sentido.
Em pesquisa realizada com Oliveira Galvo (2010), Batista tambm reala o
livro didtico enquanto objeto e fonte, ao direcionar para possveis caminhos
metodolgicos e problemas decorrentes dessa categoria de anlise. Em parceria
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com um grupo de pesquisadores mineiros e pernambucanos, esses autores
estudam a circulao de manuais escolares no perodo imperial das ento
provncias de Pernambuco e Minas Gerais, e avaliam as contribuies desses
impressos na dimenso histrica da cultura escolar e social, os quais, em sua
opinio:
[...] reproduzem e condicionam um modo de organizao da cultura escolar, concepes pedaggicas, maneiras de escolarizar saberes. Eles so, portanto, realmente, objetos por meio dos quais se pode buscar construir a histria dos modos de conceber, pelo Estado, a formao ideolgica da criana, bem como dos processos pelos quais a escola constri sua cultura, seus saberes, suas prticas (GALVO e BATISTA, 2010, p.166).
O estudo aponta para o cotejamento entre livros escolares, legislao e
documentos produzidos pelo Estado, interpretados como elementos que buscam
instituir e normatizar a educao. Tais discusses so pertinentes nossa anlise
para se entender algumas limitaes e potencialidades destas tipologias de fontes.
Os autores Brbara Freitag, Valria Mota e Wanderley da Costa (1993)
debatem o estado da arte do livro didtico no Brasil dos anos de 1990 e avaliam a
produo editorial didtica luz das mudanas na legislao do perodo aqui
proposto. Suas consideraes apresentam subsdios sobre as polticas nacionais
para o livro didtico no Brasil durante o sculo XX, contribuindo expressivamente
para nossa anlise.
Alm dos autores citados, Joo Batista Oliveira (1984), Snia Guimares
(1984) e Helena Bomeny (1984), igualmente pesquisaram as polticas para o livro
didtico no Brasil. Na introduo de suas anlises, os estudiosos destacam que o
livro didtico nacional fruto da abertura e da proliferao das escolas no Pas.
Realam tambm aspectos econmicos dessa produo, na qual o livro didtico se
sobressai como um produto/mercadoria inerente ao universo mercadolgico editorial
(OLIVEIRA et. al., 1984). Em especial, as crticas de Bomeny (1984) fornecem
elementos para nossas reflexes acerca da estrutura das polticas pblicas para a
educao nacional, como tambm Freitag, et., al (1993) e Batista (1999), que
cooperam para a observao da intrincada relao entre a legislao educacional e
o mercado de produo editorial didtica no Brasil. Por estes motivos, fundamental
o dilogo com tais autores.
No que se refere aos estudos sobre os livros didticos de arte, Maria Jos
Subtil (2012) considera que estes so desdobramentos da obrigatoriedade da
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Educao Artstica. A autora apresenta alguns antecedentes histricos da
institucionalizao do ensino de arte e analisa publicaes didticas da rea
referentes ao perodo da Lei 5.692/71. Subtil cita caractersticas gerais dessas
publicaes, lanando olhar sobre o encaminhamento editorial frente referida Lei.
Entretanto, a autora no se detm nas questes concernentes s imagens nas
publicaes didticas, como o fazem Consuelo Schlichta (2010) e Marcolino de
Oliveira Neto (2008), ambos em uma perspectiva da produo contempornea.
Schlichta (2010) se debrua sobre a problemtica em torno do livro didtico
de arte e questiona seu papel de formador do olhar do aluno em relao
apreciao dos objetos artstico-culturais. A autora tambm lana luz sobre as
potencialidades das imagens nesse tipo de livro, enquanto propiciadoras do acesso
produo artstica. Nossa pesquisa encontra afinidades com tais questes ao
refletir sobre as relaes entre as imagens de obras de arte e os textos inseridos nos
livros de Educao Artstica, porm, em nosso caso, ainda nos anos de 1970.
Oliveira Neto, que tambm toma o livro didtico de arte como matria central
de sua pesquisa, problematiza os contedos tnico-raciais inseridos nos impressos,
e cria um quadro conceitual via hermenutica da profundidade em John B.
Thompson (2009). Por conseguinte, o autor norteia sua anlise em busca da
ideologia por trs da iconologia do livro didtico de arte. Destaca ainda que, nas
pesquisas por ele analisadas, no se percebe grande preocupao com a crtica
iconogrfica especializada, o que denotou uma hierarquia do escrito sobre o
iconogrfico nos estudos em educao. Nossa pesquisa, embora tenha as imagens
no livro didtico como ponto relevante, no as toma na perspectiva proposta por
Oliveira Neto (2012), mas busca compreender aspectos sobre as decises editoriais
tomadas para uma produo didtica voltada inaugural Educao Artstica.
As imagens, enquanto componentes dos livros didticos, tambm tm sido
estudadas por vrios autores, como Clia Belmiro (2002, s. p.), que assinala
mudanas paradigmticas no cotidiano escolar nos anos de 1970, momento de forte
influncia de Teorias da Comunicao. A autora salienta que, nesse contexto,
ampliou-se o nmero de imagens impressas nos livros didticos, marcadas pelo uso
da cor. Naquela dcada, portanto, os livros didticos passaram por alteraes
significativas em suas formas grficas e, em meio a tais inovaes formais, iniciou-
se a publicao dos primeiros livros para o ensino de Educao Artstica.
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Tomando como referncia a produo visitada, esta pesquisa volta-se ao
contexto inicial de produo didtica especfica para a Educao Artstica. O
trabalho se justifica pela percepo do espao ainda pouco ocupado por
investigaes que analisem as articulaes entre as prescries oficiais e as
prticas editorias nas obras didticas, sobretudo as daquele perodo, marcado pela
incluso de polticas pblicas para o ensino de arte nas escolas.
Alm disso, ao investigar a coleo Educao Artstica, a presente pesquisa
inaugura um estudo sobre a coletnea e lana especial olhar para as relaes entre
imagens de obras de arte e textos contidos nos livros, com o intuito de perceber
concepes de ensino de arte. Contribui-se, assim, para os debates acerca da
histria do livro escolar no Brasil e para as pesquisas em histria da educao em
arte.
O estudo organiza-se em dois captulos. O primeiro, intitulado O livro de
Educao Artstica no contexto da Lei 5.692/71, trata da produo do livro didtico
nacional. Isso demandou uma incurso no contexto da dcada de 1930, quando a
poltica do governo Vargas para a nacionalizao do livro didtico desenhou a
expanso do mercado editorial especfico no Brasil. Esse momento remete tambm
dcada de 1970, caracterizada por inmeros decretos e leis que balizaram as
relaes comerciais com o setor editorial didtico. Alm disso, nesse captulo,
verificam-se os desdobramentos da Lei 5.692/71 para a produo nacional dos livros
voltados Educao Artstica, contemplando as tendncias grficas relativas ao
tratamento dado s imagens e aos textos nesse tipo de material.
Tambm se tomam manuais de desenho geomtrico publicados em
momento anterior Lei 5.692/71, com o objetivo de problematizar a tradio do
desenho na educao no caso brasileiro. Tais materiais, apoiados em princpios da
geometria, frequentemente propunham uma concepo de estudo aplicado s artes
decorativas, deste modo ligando-se a conceitos de ordem esttica. Alm disso,
discutimos a presena do desenho geomtrico ao dividir espao com outras
linguagens artsticas19, como a pintura e a colagem, nos inaugurais livros de
19Para os estudos em arte, o termo linguagem pode significar um conjunto de cdigos passveis de interpretao, por isso, a percepo sensorial fenmeno base para a compreenso das linguagens artstica. Toma-se essa palavra, portanto, no sentido de linguagem artstica visual, enquanto forma de produo de arte varivel em tcnicas e meios materiais. Alm do desenho, atribui-se a expresso linguagem artstica pintura, escultura, gravura e fotografia, entre outras. comum denominar a expresso linguagem artstica como meio expressivo ou matria da arte, conforme Pareyson (1989).
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Educao Artstica da dcada de 1970. No captulo, destacam-se ainda as
prescries oficiais relativas formao dos licenciados em Educao Artstica, a
fim de se verificar as aproximaes e os distanciamentos entre tais textos legais e o
trabalho editorial efetivado na coleo.
No segundo captulo, intitulado Coleo Educao Artstica: compreender e
apreciar a arte a coletnea situada mais intimamente no contexto de produo de
livros didticos dos anos 1970. Tambm interessa-nos avaliar as articulaes entre
as prescries oficiais e a assimilao autoral nos livros, cotejando-os com um
conjunto de documentos referentes implantao da Educao Artstica nos
currculos de 1 e 2 graus, alm de documentos alusivos criao dos novos
cursos de Licenciatura em Educao Artstica a partir de 1973. Desenvolve-se ainda
a anlise das formas materiais da coleo ao se discutir os protocolos de leitura
indicados nos livros. Tal anlise depende tambm do levantamento das categorias
imagticas e do exame de exerccios constantes nos livros.
Por fim, lana-se mo das imagens de obras de arte presentes na coleo,
destacando as concepes de arte ali contidas e por consequncia de seu ensino.
Buscou-se ainda desnudar as relaes entre as imagens de obras de arte e os
textos didticos, considerando suas aproximaes e distanciamentos, de acordo
com a percepo de suas formas de interao.
Em sntese, a partir do presente trabalho, prope-se uma incurso nessa
coleo didtica concebida em Minas Gerais, pensada e produzida para a recm-
instituda Educao Artstica no perodo da ditadura civil-militar, frente ao contexto
da Lei Federal 5.692/71, em que se projetavam interesses de reconfigurao da
educao no Brasil. Porm, tal problemtica se relaciona intimamente com outro
momento que acena para o debate em torno das polticas para a normatizao dos
primeiros compndios nacionais, perodo este iniciado ainda nos anos de 1930.
Assim, recomenda-se ao leitor que, antes de abrirmos a coleo, voltemo-
nos ao perodo anterior Lei 5.692, a fim de contornamos tanto as aes polticas
para as publicaes didticas no Brasil da primeira metade do sculo XX, quanto os
caminhos primeiros do ensino da arte naquele incio de sculo, finalmente,
culminando em sua oficial institucionalizao a partir de 1971.
O terico acrescenta que a linguagem artstica possui uma dada gramtica, enquanto caractersticas prprias de um determinado meio expressivo.
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1. O LIVRO PARA A EDUCAO ARTSTICA NO CONTEXTO DA LEI 5.692/71 Nos anos de 1990, Freitag et al (1993) afirmavam que o livro didtico no
possua uma histria prpria no Brasil. Naquele momento, os argumentos eram que
sua histria no passava de uma sequncia de decretos, leis e medidas
governamentais que se sucederam a partir de 1930, de forma desordenada e sem a
devida crtica da sociedade. Contudo, ao revermos algumas investigaes
realizadas nos ltimos anos, possvel perceber que o livro didtico passou a
ocupar, cada vez mais, as atenes dos pesquisadores da Educao.
Consideramos que o estudo sistemtico do contexto legislativo da Educao
qualidade preliminar indispensvel a qualquer investigao sobre as edies
escolares (CHOPPIN, 2004). De algum modo, tal contexto condiciona a produo, a
distribuio e o consumo dos livros didticos. Pelo menos dois aspectos dependem
de tal anlise:
[...] um deles para ser bvio, o ordenamento legal do processo pedaggico. Menos bvio , por exemplo, estabelecer o repertrio discursivo que a legislao pe disposio em movimento tendo em vista a conformao do campo pedaggico (FARIA FILHO, 1998, p. 124).
Rever a conjuntura poltica ante a Lei 5.692/71 possibilita desnudar o
repertrio discursivo posto disposio tambm para o setor editorial de produo
do livro didtico. As linhas polticas adotadas para esse tipo de material na dcada
de 1970 confirmam que o seu histrico no Brasil rico em normas e decretos
(FREITAG et al., 1993). Nesse perodo ocorreu a Reforma para os ensinos primrio
e secundrio, por meio da promulgao da Lei Federal n 5.692, de 11 de agosto de
1971, que estabeleceu o ensino da Educao Artstica, entre outras mudanas,
alterando as formas dos currculos.
Na dcada anterior promulgao da lei, o ensino de arte nas escolas
pautava-se principalmente nos estudos de Desenho Geomtrico orientados pela Lei
de Diretrizes e Bases (LDBEN) 20 n 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Esse
aspecto possibilitou meios para a produo grfica dos alunos, inclusive, a partir de
20A ideia da primeira LDB brasileira foi prevista na Constituio Federal de 1934, no Art. 5, como uma das competncias da Unio para traar as diretrizes da educao nacional (BRASIL, 1934). Somente nos anos de 1960, porm, houve sua promulgao.
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padres ornamentais conhecidos como gregas21 ou faixas decorativas. Afinal, como
lembra Barbosa (2013, p. 170), Naquele perodo no tnhamos cursos de arte-
educao nas universidades, apenas cursos para preparar professores de desenho,
principalmente desenho geomtrico.
Atividades como as de Trabalhos Manuais eram obrigatrias nas ento
escolas primrias, normais e secundrias do Pas, asseguradas pelo Artigo 31 da
Constituio Federal, desde 1937. Tambm se destacavam as experincias extra-
escolares22 permitidas pela Constituio. Tambm a partir do artigo 38, 4 da
LDBEN/61, propunham-se para as escolas as
atividades complementares de iniciao artstica, que contavam, por exemplo, com
o estudo do Canto Orfenico23.
Desta forma, essas prticas coexistiam com o estudo de Desenho
Geomtrico, que passava a compor o currculo enquanto uma alternativa de
disciplina complementar optativa. Nesses moldes, de acordo com a LDBEN/61:
Art. 45. No ciclo ginasial sero ministradas nove disciplinas. Pargrafo nico. Alm das prticas educativas, no podero ser ministradas menos de 5 nem mais de 7 disciplinas em cada srie, das quais uma ou duas devem ser optativas e de livre escolha do estabelecimento para cada curso (BRASIL, MEC, 1961).
A mesma lei previa tambm:
Art. 26. O ensino primrio ser ministrado, no mnimo, em quatro sries anuais. Pargrafo nico. Os sistemas de ensino podero estender a sua durao at seis anos, ampliando, nos dois ltimos, os conhecimentos do aluno e iniciando-o em tcnicas de artes aplicadas, adequadas ao sexo e idade (BRASIL, MEC, 1961, grifo nosso).
21As gregas ou faixas decorativas consistem em listas, como fitas retangulares compostas por adornos com padres gregos de representao (OSINSKI, 2006). Estas tm como base a aplicao do desenho geomtrico, mesmo que o objetivo seja de representar motivos orgnicos, como os florais, as rosceas ou as ondulaes. 22O texto da Constituio Federal no Artigo 128 propunha a arte, a cincia e o ensino como livres iniciativa individual e s associaes ou s pessoas coletivas pblicas ou particulares (BRASIL, 1937). 23O ensino de Canto Orfenico foi adotado nos colgios secundrios brasileiros sobre bases nacionalistas a partir de 1931, como resultado da apresentao do projeto de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) ao presidente Getlio Vargas (LMOS JNIOR, 2005). Como disciplina obrigatria, este ensino foi inserido de 1930 a 1960, entendido como elemento de fora nacionalizadora. Contudo, h registros do canto orfenico nos programas primrios desde o final do sculo XIX no Brasil (MONTEIRO e SOUZA, 2003).
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Com os estudos em tcnicas de artes aplicadas, nos ltimos dois anos, o
ensino primrio voltava-se s solues para a produo de objetos comuns, o que
caracterizava uma motivao assentada na utilidade prtica do produto, embora os
interesses de ordem esttica tambm fossem considerados.
O Art. 8 da LDBEN/61 previa que o curso de formao de professores
primrios se faria em trs sries anuais. Em tal formao, entre as disciplinas que
no se prolongavam por mais de um ano, como portugus e matemtica, os estudos
em msica e canto, em educao fsica, recreao, e jogos e ainda em desenho e
artes aplicadas repetiam-se nos trs anos de curso. Assim, a formao do educador
estaria sempre convertida nesses assuntos, possibilitando o emprego das artes
aplicadas tambm no ensino primrio. Esse contedo est relacionado ainda com a
longa tradio do ensino de desenho geomtrico na educao nacional desde
meados do sculo XIX, inclusive, pelas ideias levantadas por Rui Barbosa (1882,
1883), como ser discutido.
Dessa maneira, timidamente inseriam-se assuntos de interesse da arte nas
escolas. Essa acanhada meno na LDB/61 denota a restrio da arte como
componente curricular autnomo no Brasil daquele perodo. Contudo, desde os anos
de 1940, circulavam no Pas ideias conhecidas como Educao pela Arte,
levantadas pelo britnico Hebert Read (2001) em sua obra Education Througth Art
(1943). Read fundamentava-se na importncia da educao esttica para a
regenerao moral da humanidade, enquanto uma necessidade decorrente dos
efeitos devastadores do ps-guerra (ANTONIO, 2012). Pautado na defesa da
espontaneidade infantil, o auto