alvodemaia (07-2011)

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Revisto histórico... Alvor-Silves & Odemaia Julho de 2011. Volume 2, nº 7. O cozinheiro e o sanduíche Cavaleiro do Corvo Gillray leva-nos a Cook e a Sandwich… Daí partimos para Gerritsz e Abrolhos… (página 32) A Merica e a longitude (página 11) (página 26) alvor-silves.blogspot.com odemaia.blogspot.com Página 1 Alvor-Silves 2 ... Augusto de Pinho Leal 5 ... Contos de reis (2) 7 ... Seres e DaQin 9 ... Theatrum Mundi Sinico 11 ... Cavaleiro do Corvo 14 ... Sair da Foz 16 ... Carpo 19 ... Às Portas Cáspias 22 ... Portas do Ródão 26 ... A Merica e a longitude 28 ... Alberigo e Amerigo - Américo e a Merica 30 ... Marco Polo... mapa com barco! 32 ... O cozinheiro e o sanduíche 35 ... Declinação magnética e longitude 38 ... O espírito da letra 41 ... As sete monarquias OdeMaia 46 ... Kazan e Kursk 48 ... O leão de Techialoyan 48 ... Naica e os cristais gigantes 50 ... Tempestade Saturnina As sete monarquias Kazan e Kursk (página 46) Manuel de Figueiredo enuncia as sete monarquias “do mundo” e fazemos as devidas ilustrações (página 41)

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Page 1: AlvodeMaia (07-2011)

Revisto histórico... Alvor-Silves & OdemaiaJulho de 2011. Volume 2, nº 7.

O cozinheiro e o sanduíche Cavaleiro do CorvoGillray leva-nos aCook e a Sandwich…Daí partimos paraGerritsz e Abrolhos…(página 32)

A Merica e a longitude

(página 11)

(página 26)

alvor-silves.blogspot.com odemaia.blogspot.com Página 1

Alvor-Silves2 ... Augusto de Pinho Leal5 ... Contos de reis (2)7 ... Seres e DaQin9 ... Theatrum Mundi Sinico11 ... Cavaleiro do Corvo14 ... Sair da Foz16 ... Carpo19 ... Às Portas Cáspias22 ... Portas do Ródão26 ... A Merica e a longitude28 ... Alberigo e Amerigo - Américo e a Merica30 ... Marco Polo... mapa com barco!32 ... O cozinheiro e o sanduíche35 ... Declinação magnética e longitude38 ... O espírito da letra41 ... As sete monarquiasOdeMaia46 ... Kazan e Kursk48 ... O leão de Techialoyan48 ... Naica e os cristais gigantes50 ... Tempestade Saturnina

As sete monarquias

Kazan e Kursk(página 46)

Manuel de Figueiredo enuncia as sete monarquias “domundo” e fazemos as devidas ilustrações(página 41)

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Augusto de Pinho LealAlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Augusto de Pinho Leal (1816-84) compilou amonumental obra corográfica Portugal Antigo eModerno, terminada em 1890 pelo Padre AugustoFerreira. Com este historiador, um miguelistainfluenciado por Pedro de Mariz, amigo de CamiloCastelo Branco (através do qual terá conseguido apermissão de publicação), vemos talvez os últimosapontamentos sobre as "estórias antigas" e ainfluência que ainda se manifestava nas diversasregiões portuguesas.Quem quiser informações sobre uma determinadalocalidade, poderá encontrar nesta obra materialinteressante, incluindo assuntos doutras corografiasque já fizemos referência.O quase desconhecimento desta grande obra é facilmente compreendido por quem segue este blog, eserá mais um caso de memória danada subrepticiamente.Colimbria e ConimbrigaLembramos, por exemplo, o texto de Pedro Mariz sobre a torre pentagonal de Coimbra - entãoatribuída a Hércules, e terraplanada à época do Marquês de Pombal.Pinho Leal retoma o assunto, de forma ligeira, mandando uma ligeira piada ao facto do ObservatórioAstronómico estar agendado para as calendas gregas (recordamos que teria sido o motivo invocadopara a terraplanagem, um complemento do terramoto pombalino). Acrescenta que a Torre teria a

Augusto Pinho Leal (por Rafael Bordalo Pinheiro)

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/augusto-de-pinho-leal.html Página 2

para a terraplanagem, um complemento do terramoto pombalino). Acrescenta que a Torre teria ainscrição:Quinaria turris Herculea fundata manu

atribuída a D. Fernando, aquando da reconstrução do Castelo de Coimbra. D. Fernando, que teriaprovavelmente já naus em todos os locais que seriam depois descobertos, mas sem autorização deRoma (notamos que a excomunhão foi frequente nos reis da Primeira Dinastia, dita de Borgonha, masque aqui dizemos de Bolonha).A esta manifestação de base "quinária", ou pentagonal, na torre de Hércules, Pinho Leal acrescenta aproximidade de outra torre muito alta (provavelmente a de D. Afonso Henriques). Nesse local ficaagora o Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra (ver tese de doutoramento naFLUP, 2008, de Adriaan De Man, pág. 255). Depois da acção do Marquês e outros marqueses, restaramas torres do Anto e Almedina.Pinho Leal menciona ainda a existência de duas "Coimbras", já reportada em 652 d.C. num concílio emToledo do rei Recesvindo, onde haveria "dois bispos, cada um de sua Coimbra", reportando essainformação a João Vaseu (João Vaseo) e André de Resende. Haveria pois um "colimbriense" e outro"conimbricense", conforme os registos! Uma mudança de L para N faria aqui a diferença ou confusão.Arrisca duas explicações para os nomes, que nos parecem pertinentes:

• Conimbriga, vai reportá-la aos Cónios, e à contracção Cuneu+briga, na menção externa de"povoação dos cónios", mas não deixa de mencionar algum consenso sobre a fundação em 308a.C. pelos celtas da Gália, e descartar a hipótese de ter sido fundada pelo mítico Brigo.• Colimbria, coloca-a fundanda por Hércules Líbio em 1788 a.C., e é original arriscando acontracção do nome em Herculíbia, de onde teria ficado só o Colíbia... que teria dadoCollimbria.

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Uma povoação ficaria na margem norte, e outra na margem sul do Mondego, mas devemos pensar natopografia à época e na possível grande entrada marítima que se estendia até à zona de Coimbra (vermapa), e que pelo curso do actual Rio dos Mouros chegaria a Condeixa, e a Conimbriga... o posteriorrecúo marítimo levou ao progressivo abandono desta povoação que ficou como Condeixa-a-Nova (verainda o registo sobre o comércio de âncoras).Mais curiosamente vai afirmar que Colimbria teria sido habitada antes por 9 nações bárbaras:- egípcios, fenícios, gregos, celtas, romanos, suevos, alanos, godos, e mourosA menção ao Egipto sai completamente do registo habitual, e é primeira que a vemos escrita, aindaque já tivéssemos arriscado isso no texto Egitânia. Porém, vai mais longe... conforme explica, sabe queestá "fora da moda" dos "autores modernos" (como um Herculano, que suprime os camposHerculanos, quase renegando uma influência do seu próprio nome...), mas não quer atribuir fantasiaaos mesmos "autores antigos" que depois servem de referência para outro material.Concordamos plenamente, com a contradição assinalada a esses "modernaços"!

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/augusto-de-pinho-leal.html Página 3

Perto de Condeixa: Buracas do Casmilo. Ponte "Filipina" sobre o Rio dos Mouros (ou Rio Carália).[As buracas são ditas "fenómenos geológicos naturais", e quanto à ponte... chamar-lhe filipina... talvez, se o construtor se chamava Filipe!]

Lysia, Ulyssipo, LisboaNo quarto volume, tem um longo texto sobre Lisboa, com uma breve exposição sobre a sua história...Logo depois de divagar sobre a sua fundação por Elisas, Lysias, ou Luso, bisneto de Noé, que teriadado o nome Lysia, refere a lenda de Ulisses enquanto fundador de Ulyssipo ou Ulyssea. Parece nãoser adepto dessa hipótese e refere a eventual confusão de Elisas com Ulisses.O mais interessante será a parte seguinte... diz Pinho Leal:Não se pode dizer ao certo quem foram os primeiros habitantes de Lisboa; mas segundo osmelhores escritores, foram os caldeus e babilónios, ou iberos, que tinham fugido àtirania de Nemrod, rei da Babilónia, pelos anos 1900 do mundo [ou seja 2100 a.C.]

Nemrod, também bisneto de Noé, é o suposto construtor dafamosa Torre de Babel, e ainda marido da rainha Semiramis.Quase só faltaria uma ligação da Iberia aos caldeus ebabilónios... ainda que já a tivéssemos aqui sinalizado pela via deNabucodonosor. Porém, esta ligação é bem anterior! Se do Ebrofalámos em Ebreus, já poderíamos ter ligado as diversas Caldasibéricas aos Caldeus... porém seria gratuito, já que não havianada de específico nesse sentido!

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Se esta confusão e acumulação na presença de vários povos pode parecer estranha a muitos, é menosincipiente do que resumir a presença na Iberia (ou noutras paragens europeias) a celtas, cartaginesese romanos.Mas, também aqui Pinho Leal não avança mais do que isto... passa a Baco, que teria aportado emLisboa, com uma colónia de gregos, que se juntaram aos caldeus e babilónios aí refugiados. Lísiassendo o futuro rei, filho de Baco, leva Pinho Leal a supor uma confusão com entre este e o Elisas, ouLísias, bisneto de Noé, com uma diferença de 787 anos entre eles.Reconhecendo alguma inconsistência nos diversos escritos, considera uma grande mistura entrehipóteses e teses, passando à ocupação pelos celtas, que reporta a 1005 a.C., quase seguidos 50 anosdepois pelos fenícios, por volta de 600 a.C. pelos cartagineses, e em 200 a.C. pelos romanos. Mencionaentão que Julio César recupera a cidade renomeando-a Felicitas Julia, e dando-lhe o estatuto demunicípio romano.A história continua, com um detalhe razoável, nomeando extensivamente os sismos e outrascatástrofes que se abateram sobre a cidade.... Procurando fazendo uma descrição enumerativa, nãodeixa de apontar uma série de acontecimentos que serão novidade para uma larga maioria de leitores!

Alvor-Silves, publicado em 2 de Julho de 2011

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/augusto-de-pinho-leal.html Página 4

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Contos de reis (2)AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Há quase um ano atrás, escrevemos a este propósito:O valor da moeda reside numa fé de que ela será reconhecida como troca em qualquertransacção social. Serve razoavelmente as pretensões materiais, mas tem ainda comoameaça os valores espirituais ou morais, embebidos na sociedade, através da cultura ereligião. Não é aí capaz de servir como moeda eficaz, vai contando apenas com aprogressiva menorização desses valores, ao edificar uma sociedade materialista.

Estando os aspectos materiais indexados a um valor, a omnipotência material será efectiva através damoeda...Quais são as restrições?• a maior restrição prática é que a lógica pragmática de que "tudo tem um preço" não éainda universal…

Quando os indivíduos duma sociedade aceitarem que todos os seus bens e actos são contabilizáveiseconomicamente, através do dinheiro, então quem estiver capacitado de cunhar moeda pode agirquase como semideus, omnipotente material.Acaba por deter não apenas a possibilidade de adquirir qualquer bem, mas também a possibilidade deseduzir qualquer vontade, pelo preço exigido.Só que esta lógica de transformação de alguns homens em semideuses sociais conta com um pequenodetalhe - é necessário criar uma desigualdade económica de grandes proporções. Ou seja, é preciso tercidadãos em situação económica instável... já que doutra forma, socialmente protegida, dificilmenteaceitarão reduzir a sua personalidade ou vontade numa troca comercial.No estado actual do desenvolvimento tecnológico seria possível, de forma concertada, ter basicamente

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/contos-de-reis-2.html Página 5

No estado actual do desenvolvimento tecnológico seria possível, de forma concertada, ter basicamentetoda a população mundial com um nível de vida próximo da classe média portuguesa... e falamos deforma ecologicamente sustentada, com o trabalho de menos de 10% da população mundial.Como é natural, as classes mais abastadas dificilmente estariam dispostas a abdicar do seu nível actualde vida, para se moverem no sentido desse equilíbrio.Não queremos ser completamente triviais acerca deste assunto... na prática uma situação de equilíbriopode ser muito instável. Ou seja, as hierarquias, quando não existem, desenvolvem-se naturalmentepelo espírito competitivo, que é inato, e que educacionalmente é incentivado numa economia demercado. A maioria das pessoas acaba por formar um modelo em que é de alguma forma "oprotagonista" e não apenas "um figurante", igual a tantos outros. Como é óbvio, numa sociedadeequalitária em que não há protagonistas, quebra-se essa motivação individualista...Se isto é natural, é igualmente perigoso... no sentido em que, num estado equalitário, novos grupospoderiam surgir organizados para tomar controlo sobre uma sociedade resignada.O perigo é mais sério, perante a possibilidade humana de convencer grandes massas, criando ilusõesde superioridade que arrastam violência e destruição. Ou seja, é necessário ter sob algum controlo asmanifestações de superioridade individual, que são assim mais facilmente detectáveis pelo desejo inatode ascenção social.Analogamente, uma das formas da sociedade combater o crime, estando ciente da incapacidade da suaerradicação completa, é controlá-lo, aceitando manifestações que previnam atempadamente odesenvolvimento de outras formas incontroláveis. Os jovens infractores são conduzidos a umacompetição com velhos instalados, sendo normalmente anulados por esses "conhecidos" do sistema. Asociedade pode assim esconder uma faceta de actuação ilegal, tendo como objectivo a prevençãodescontrolada de manifestações mais graves…

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Há ainda uma outra razão para algum desequilíbrio social e que será simples... a necessidade de incutirum objectivo à generalidade da população, que se irá manifestar pela condução desse objectivo nosentido da posse individual e reconhecimento comunitário.Esta dissertação anterior pressupõe um controlo efectivo, justificável por "boas intenções globais",detido por uma certa elite, quase incógnita, que retiraria os frutos da sua prevalência económica comoefeito lateral da sua missão. Essa necessidade de prevalência económica começa a ficarcompletamente injustificada quando as diferenças se vão acentuando, em vez de diminuirem, criandofocos de perturbação social... o que mais parece justificar os interesses privados, do que acautelarqualquer "boa intenção global".A situação torna-se ainda mais implosiva, quando em vez de se colocarem objectivos além da Terra,por exemplo, numa exploração espacial, esses são reduzidos ou quase anulados.A Libra é nome de moeda antiga, cuja designação permanece nalguns países, sendo mais conhecida ainglesa. A Libra é ainda uma unidade de pesagem material, associada à palavra latina "balança",representado o equilíbrio, e o signo de transição, após o equinócio de outono (seria o sétimo mês pelatradição astrológica, que mantém Peixes como último signo)...Foi também a divisa adoptada pelo Infante D. Pedro:

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/contos-de-reis-2.html Página 6

A moeda, sob qualquer forma, transformou-se num símbolo de fé estável, pelo exacto valor materialque esperamos obter com ela. A redução de valores a essa quantificação monetária reflecte o sucessode harmonização financeira, e da redução da maioria dos valores numa tradução em expectativamaterial.No entanto, convém notar que mais do que o número afixado, é a informação que define o seu valor.Não sendo sempre de ouro, cada novo rei, ou imperador, tinha a necessidade de afirmar umaindependência política cunhando a sua moeda... foi por exemplo o caso de D. António, Prior do Crato,que cunhou ainda moeda própria. Tivesse havido harmonia entre os portugueses para aceitar apenasessa moeda, e de pouco teria valido o ouro filipino. A falta de fé na moeda de D. António foi reflexo dasubmissão voluntária dos portugueses a uma lógica global protagonizada por Filipe II, com todo oexagero de manifestações bajulatórias, conforme as ocorridas em Lisboa, a que se somou a falha dos"amigos de Peniche".Mais do que instrumento para uma simples troca comercial, na sua manifestação em comunidade amoeda reflecte ainda a adesão ao modelo social instituído, que faz fé nessa aceitação.Na situação de duas moedas a circular, representando projectos políticos diferentes, caberia aoscidadãos optar pela escolha do modelo em que fariam fé, funcionando para as suas trocas... e jásabemos o que aconteceu com o Prior do Crato!

Alvor-Silves, publicado em 6 de Julho de 2011

Page 7: AlvodeMaia (07-2011)

Seres e DaQinAlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Tendo mencionado os Seres, designação que os Romanos usariam para os Chineses, é interessantenotar que em português o significado de "seres" adequa-se ainda hoje a uma noção abstracta para umpovo indefinido.A grande vantagem da wikipedia é a partilha de conhecimento ainda pelo outro lado... e assimpodemos chegar ao contraponto - os Chineses designariam o império Romano por DaQin, e a visão domundo pelo lado chinês, seria representada num mapa denominado Sihai Huayi Zongtu, em quecolocámos algumas legendas, para dar seguimento à ideia de que o Oceano Ocidental para os chinesesseria definido pela extensão do Mar Cáspio, conforma mapa já apresentado

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/seres-daqin.html Página 7

Mapa Sihai Huayi Zongtu e o mapa com o Cáspio enquanto mar.Apesar de estar datado para o Séc. XVI, o mapa chinês ao referir a designação DaQin apontaclaramente para tempos de memória do contacto com o outro império, o Qin ocidental, o DaQin.Pela extensão de água que se prolongaria do Mar Cáspio até à Sibéria, justifica-se que Da Qin, oimpério Romano, fosse considerado para além do Oceano Ocidental, o prolongamento do Cáspio.Apesar de estar representado um oceano circundante, notamos que sem uma efectiva visita porterritórios já dominados por Romanos e Partos-persas, seria delicada a confirmação da ligação terrestrefeita apenas na zona persa.

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

É reportada a especial embaixada de Zhang Qian às zonas ocidentais logo no Séc II a.C., no início dadinastia Han. Na wikipedia [Roman embassies to China] é ainda referida a descrição do historiador romanoFlorus (no tempo de Augusto):Even the rest of the nations of the world which were not subject to the imperial sway weresensible of its grandeur, and looked with reverence to the Roman people, the greatconqueror of nations. Thus even Scythians and Sarmatians sent envoys to seek thefriendship of Rome. Nay, the Seres came likewise, and the Indians who dwelt beneath thevertical sun, bringing presents of precious stones and pearls and elephants, but thinkingall of less moment than the vastness of the journey which they had undertaken, andwhich they said had occupied four years. In truth it needed but to look at their complexionto see that they were people of another world than ours.

A última frase "... para ver que eram povos de um mundo diferente do nosso" aplica-se não só aosSeres, mas também aos Indianos, Citas, Sarmácios. A jornada de algumas embaixadas teria chegado adurar quatro anos.Um ponto que já tinha merecido a nossa atenção, e que volta a estar presente neste excerto, é aimportância que era dada aos indianos que "habitavam zonas debaixo do Sol vertical". A inexistênciade sombra que podia ocorrer nestas paragens era considerada como algo excêntrico.Ora, estando a India bem acima da linha equatorial, esta observação só faz sentido como referência àlinha definindo o Trópico de Cancer... ou seja, conforme já mencionámos é possível que na época deAugusto este Trópico estivesse bem abaixo do ponto actual, abaixo da conhecida Arabia Felix e acimado sul da India... ou seja, perto dos 10º de latitude.Catigara vietnamitaNas referências às paragens orientais, aparece Catigara (ou Kattigara), enquanto o porto mais oriental

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/seres-daqin.html Página 8

Nas referências às paragens orientais, aparece Catigara (ou Kattigara), enquanto o porto mais orientaldo Mar Índico, e que já foi identificado com a zona do Delta de Mekong, mais propriamente com Oc Eo.O Vietname tem uma particularidade interessante que é ser praticamente o único país asiático queadoptou o alfabeto latino (ver colocação no mapa Proel.org dos alfabetos), supostamente por influênciados missionários portugueses no Séc. XVI e XVII. É aliás no Delta de Mekong, na zona de Catigara, queCamões teria salvo a nado os seus Lusíadas!Aparentemente terão sido recuperados achados romanos nessa zona do Delta do Mekong... o que podedar um significado bem mais antigo à presença do alfabeto latino nessas paragens! Teria sido depoisdisfarçado pela presença e influência europeia posterior...

Alvor-Silves, publicado em 7 de Julho de 2011

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Theatrum Mundi SinicoAlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Pelo lado chinês, encontramos uma versão sínica de um mapa muito semelhante ao Theatrum Mundide Lavanha, ou de Ortélio, denominada Wanguo Quantu, e datada c. 1620:

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/theatrum-mundi-sinico.html Página 9

Wanguo Quantu, mapa do jesuíta Giulio Aleni (c. 1620)

É justificado o mapa pela colocação central do Império do Meio, evitando assim a tradicional colocaçãoeuropeia nessa posição central. Podemos ver que os chineses não pareciam ter problemas em aceitarum mapa que evidenciasse o Estreito de Anian (dito de Bering), ao contrário do que foi depois referidopor Carvalho da Costa (ver texto sobre Nova Zimla). Aliás o contorno americano, ou da costa russa,parece reflectir o conhecimento geral dessa zona, tal como já tinha sido verificado nos outros"theatrum mundi".Antes, teria aparecido no tratado Sancai Tuhui um outro mapa, o Shanhai Yudi Quantu (1606, combase em Matteo Ricci), que mostrava uma concepção mais próxima dos primeiros mapas europeus doSéc. XVI (como o de Waldseemuller):

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Mapa Shanhai Yudi Quantu (1606), aqui com tradução de Roderich Ptak.

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/theatrum-mundi-sinico.html Página 10

Mapa Shanhai Yudi Quantu (1606), aqui com tradução de Roderich Ptak.Na tradução deste mapa é possível ver algumas legendas curiosas:

• Um Mar Vermelho "oriental" na península californiana, conforme mencionado aqui nos Sinais Vermelhos eanteriormente. Aparece também o habitual Mar Vermelho "ocidental" na África.• Yawaima - no noroeste americano, que corresponderia à zona de Fusang (o nome Yawai pode sugerir algumaconexão a Hawai).• Mar de Keluotuo - que poderá ser a Baía de Hudson.• Na Europa apenas a França é nomeada... enquanto que na zona ibérica é escrito "mais de 30 reinos", podendoreferir-se a toda a Europa! Parece ainda haver uma confusão entre o Mar Negro e o Cáspio (o que não nossurpreende).• A Líbia é a África, e na zona do Atlas é colocada a legenda "montanhas mais altas da Terra"• A sul, a Magellania refere já a confusão de concatenação da Austrália com a a Antártida - de um lado fala-se em"terra de papagaios", e do outro na Terra do Fogo e "picos brancos". A legenda dirá ainda que "poucos teriamchegado a essas paragens a sul".

Se o outro mapa tem a clara marca do cartógrafo ocidental (Giulio Aleni), neste mapa reflectem-semais as influências na concepção e nomenclatura, especialmente pela referência a Magalhães. Não separece notar nenhuma cartografia própria dos chineses, mantendo as mesmas restrições/mitosocidentais, especialmente sobre a parte sul na "Magellania". O "mar gelado" aparece apenasmencionado a norte do Canadá...Sendo expectável que os chineses tivessem conhecimento, pelas grandes navegações que teriam feito,de outras paragens, como por exemplo a Austrália, estes mapas mostram uma grande sintonia no queera transmitido a Ocidente e a Oriente(*)... sugerindo a existência de uma única ordem globaldominante!(*) Esta concepção restritiva é ainda visível em mapas coreanos, mesmo do séc. XIX.

Alvor-Silves, publicado em 8 de Julho de 2011

Page 11: AlvodeMaia (07-2011)

Cavaleiro do CorvoAlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Apareceram hoje novas notícias sobre achados arqueológicos nos Açores. Seguimos os links que nos foram indicados porCalisto, e ainda o site da APIA:• http://www.tvi24.iol.pt/fotos/1/174259• http://www.jornaldiario.com/ver_noticia.php?id=36036&d=1• http://www.apia.pt/

fotografias em TVI24.iol

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/theatrum-mundi-sinico.html Página 11

Estas notícias de hoje seguem uma notícia anterior de Março, com novos dados e fotografias,colocando em cima da mesa a presença humana nas ilhas açorianas antes da colonização portuguesa.Dadas as imagens supra, dificilmente podemos falar em "descobertas", trata-se muito mais de umatentativa de "des-cobrir", no sentido das nossas explorações quinhentistas, ou seja, trata-se de "retirardo encobrimento" estes achados no Monte Brasil, perto de Angra do Heroísmo... que devem serconhecidos dos locais e de alguns visitantes. O importante é reunir provas que não deixem dúvidassobre a antiguidade dos monumentos... e esperar pela resposta do sistema - mas, desde a primáriadesvalorização, até bizarras explicações alternativas, tudo vai sendo possível para manter oencobrimento!Ao mesmo tempo fomos encontrar no Arquivo da RTP-Açores um apontamento sobre o livro "Cavaleiro daIlha do Corvo":• http://tv1.rtp.pt/icmblogs/rtp/comunidades/?m=06&y=2009&d=07

Refere o livro do Prof. Joaquim Fernandes, daUniversidade Fernando Pessoa, sobre a estátua que jáfoi aqui referida várias vezes, mencionada por Damiãode Góis, e que teve esboço de Duarte d'Armas.Há três anos, esse autor enviou ao blog.thomar.orgum anúncio de publicação do livro "O Cavaleiro da Ilhado Corvo" na colecção Temas e Debates, do Círculo deLeitores, e vimos também agora uma referência àpublicação em Abril de 2011, na editora Bússola, doRio de Janeiro. Esboço da Estátua do Cavaleiro do Corvo (dita Ilha do Marco)

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Para nosso registo, citamos aqui parte do texto que complementa a informação que já tinhamos:A este estranho monumento juntou-se a descoberta, no século XVIII, de um não menos perturbador vasode cerâmica, achado nas ruínas de uma casa, no litoral da mesma ilha, repleto de moedas de ouro e deprata fenícias, que, segundo numismatas da época e não só, datariam de, aproximadamente, entre os anos340 e 320 antes de Cristo.As descobertas fabulosas não se ficaram por aqui: viajantes estrangeiros, no decurso do século XVI,alegaram ter encontrado inscrições supostamente fenícias de Canaã (Palestina), numa gruta da ilha de S.Miguel. Por fim, em 1976, nesta mesma ilha, haveria de ser desenterrado um amuleto com inscrições deuma escrita fenícia tardia, entre os séculos VII e IX da era cristã.Todas estas perplexidades levaram Joaquim Fernandes a encetar uma longa e exaustiva investigaçãobibliográfica e documental e a escrever O Cavaleiro da Ilha do Corvo.No romance, o autor refere um testemunho que reforça de modo evidente o relato de Damião de Góis: ummapa dos irmãos Pizzigani, de 1367, descoberto em Parma, apresenta um desenho com uma figura explícitaostentando uma legenda em latim onde se diz: Estas eram as estátuas diante das colunas de Hércules...Ora esse desenho está colocado à latitude dos Açores, no meio do Atlântico, sugerindo a tradição dasEstátuas como marcos-limites do oceano navegável ou conhecido e serviriam para avisar os perigos quecorriam os navegadores mais ousados. Mais ainda: a historiografia árabe, do século X, por exemplo, fazreferência a essas mesmas estátuas e à sua eventual função de marco dos limites navegáveis, o quecredibiliza, por outra via, o testemunho de Damião de Góis. Demasiadas coincidências, pois, para umsimples rumor ou lenda...

O Cavaleiro e os CorvosJá aqui apontámos o facto sui generis de D. Afonso Henriques, indo para além de Ourique, teria feitouma incursão ao Algarve, então território muçulmano, para resgatar o corpo de S. Vicente que estariano Promontório Sacrum.Concerteza que as "certezas" ficam para a historiografia oficial... aqui, sendo local de hipóteses e

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/theatrum-mundi-sinico.html Página 12

Concerteza que as "certezas" ficam para a historiografia oficial... aqui, sendo local de hipóteses e"estórias" pessoais, ficamos com uma dúvida pela tradição associada com a presença dos corvos naembarcação, onde seguiu o corpo de S. Vicente. Poderiam os corvos representar o corpo junto àestátua da ilha, no ponto mais ocidental... que ainda antes de ser descoberta já aparecia nos mapascom a referência Corvi Marini?Seria esse o limite de navegação para D. Fuas que ficou simbolizado na Nazaré?... sendo que a latitudeem que se situa o Corvo é 39º40' e tem como correspondente continental os pinhais acima da Nazaré,com o Sítio/Pederneira colocado a 39º36' ? Uma diferença de apenas 4 minutos do grau...Teria resistido D. Fuas a seguir a direcção americana apontada pelo Cavaleiro do Corvo?Ponta DelgadaConvém notar que nem sempre é preciso afastar-mo-nos muito para encontrarmos peças de interesse.Numa zona que já faz parte de Ponta Delgada, tirei esta fotografia num baldio que está já delimitado epronto para intervenção de construção:

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Ficamos com a sensação clara de haver aí uma ponte antiga, soterrada por terras agora removidaspelo construtor. Talvez um incómodo para o empreiteiro, mas que arrisca a ser temporário...Em Ponta Delgada não podemos fazer aquele exercício habitual de classificar todas as pontes comoromanas ou medievais...Os detalhes intrigantes aparecem-nos à vista desarmada, resta saber se os queremos ver e questionar,ou se nos deixamos guiar como caolhos!

Alvor-Silves, publicado em 10 de Julho de 2011

Nota adicional (12/07/2011):Para além do esboço acima, a conhecida imagem daestátua equestre de Marco Aurélio corresponderazoavelmente à descrição feita por Damião de Góis(a mão direita também aponta uma direcção, poréma esquerda não se coloca sobre o dorso do cavalo).Já tinha colocado antes um comentário sobre umapossível ligação da estátua a Marco Aurélio (ouAlexandre), mas dado o esboço a invocação daestátua equestre de Marco Aurélio quase

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/theatrum-mundi-sinico.html Página 13

estátua equestre de Marco Aurélio quasedispensaria comentários adicionais.Acrescentamos que após Marco Aurélio, com o filho Cómodo oImpério Romano entrou num período conturbado (retratado nofilme Gladiador).

Se a pequena Ilha do Corvo foi também chamada Ilha do Marco, talvez dispensasse o Aurélio... já quea direcção apontava para as áureas riquezas americanas.É possível que Marco Aurélio tivesse sido tentado a passar o limite colocado no Marco da ilha, seguindona direcção do Cavaleiro do Corvo, pelo que se teria associado com uma estátua equestre semelhante.

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Sair do FozAlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Umas ruínas, das mais interessantes que se encontram em Portugal, são as da chamada "alfândega"de Salir do Porto:

Estando razoavelmente abrigadas do mar e da rebentação, a degradação das ruínas tem-se mantidobranda ao longo das últimas décadas, e será talvez caso único de edifícios muito antigos, que ainda seencontram junto à orla costeira. A entrada da barra de Salir e S. Martinho do Porto serviria umaextensa baía que se estenderia até Alfeizerão, que era o Porto marítimo, muito importante até ao Séc.XVII, conforme já aqui assinalámos, havendo diversa documentação.

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/sair-da-foz.html Página 14

XVII, conforme já aqui assinalámos, havendo diversa documentação.Diz Pinho Leal que o nome Salir do Porto será etimologicamente "Sair do Porto", pois o verbo "sair"dizia-se "salir", tal como ainda acontece em espanhol. Curiosamente, diz ainda que "salir" tinha outrosignificado antigo, o de "falecer"... e ao contrário do que chegámos a pensar, "salir" nada parece ter aver com "salinas".Originalmente a povoação chamar-se-ia "Salir da Foz", talvez invocando a foz do rio Tornada, aindaque hoje este se trate basicamente de um ribeiro. Pinho Leal não deixa de referir que se trata de umapovoação muito antiga:Esta povoação é antiquissima, e ficava a poucadistância da famosa cidade da antiga Lusitaniachamada Eburobriga.Na sequência de registo já aqui colocado sobre azona contígua da Pederneira, e pedras da Serrada Pescaria, importa observar as ruínas doedifício da "alfândega":Parece-nos claro que podemos identificardiferentes tipos de construção sobre a mesmaestrutura.A parte do topo, mais recente, identificada por(1), é a que se encontra predominantemente emtodo a estrutura dos edifícios adjacentes. Trata-sede um muro conglomerado de pequenas pedrasirregulares, o que contrasta significativamentecom a base que tem ficado visível.

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

A parte seguinte mostra uma base de pedras bastante maiores, umas que estariampredominantemente à superfície (2), e outras que devem ter estado quase sempre imersas (3) e (4). Aestrutura, especialmente da junção das pedras (4) denota uma construção regular antiga diferente dacolocada depois em (3) e (2), provavelmente numa época romana, e especialmente da estruturasuperior, provavelmente medieval. É possível que a estrutura (4) remonte a tempos anteriores aosromanos, dando razão à menção "antiquíssima" dada por Pinho Leal.Estas ruínas do edifício da "alfândega" estão numa zona exígua, em que ainda hoje há pouco (ouquase nenhum) espaço entre o íngreme monte e a água. A povoação de Salir do Porto está situadabem mais longe, fora da zona da praia, talvez num nível que antigamente fosse apropriado ao nívelmarítimo. Estes edifícios surgem assim fora do conjunto da vila, e ainda que a finalidade fosse aalfândega ou outra (fala-se também na reparação de navios ao tempo de D. Dinis, ou da construção(!)da nau São Gabriel...), há ainda hoje um motivo de atracção, que leva aquele ponto muita gente dasredondezas. Trata-se da chamada "Pocinha" de Salir, que é uma fonte de água doce que brota no meiodas rochas marítimas. Tem apenas um cano largo, de aspecto muito antigo, por onde a água jorraabundantemente há séculos... e poderá ter servido como fonte de abastecimento de água natural,antes da saída dos navios para alto mar. Hoje há ainda alguma romaria local a essa fonte de água,baseada numa tradição popular de propriedades medicinais...No topo desse monte, promontório sul da barra,do lado de Salir do Porto, encontra-se ainda umacapela em ruínas, denominada Capela deSant'Ana, sobre a qual não consegui encontrarmuitos pormenores - aparenta ter estado jáabandonada na época do censo do Marquês de

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abandonada na época do censo do Marquês dePombal.A sua construção parece basear-se no mesmoconglomerado que vemos na "alfândega",provavelmente de época medieval, mas o arco"romano" que ainda define a porta de entradaparece estar lá há bastante mais tempo. Se épossível associá-lo a uma primitiva construçãomedieval, também não será inverosímel quehouvesse uma estrutura bem mais antiga, deonde se aproveitaram as colunas quadradas e oarco circular, que aparentam destoar da restanteconstrução.Dentro dos limites da vila, encontra-se ainda um castro sinalizado, que chegou a merecer algumaatenção arqueológica. Estas outras estruturas mais visíveis não estão sinalizadas, ficaram quasepropositadamente ao abandono dos tempos e dos elementos, sem que ainda hoje pareça havernenhuma intenção de as conservar, são aquelas que nos prendem mais a atenção, pois parecem serregistos inconvenientes, convenientemente ignorados...

Alvor-Silves, publicado em 11 de Julho de 2011

Capela de Sant'Ana (Salir do Porto).

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CarpoAlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Como complemento dual ao texto Tarso, ficaria incompleto não falardo Carpo, mesmo que pareça ser algo que surge do pé para a mão...Há sempre alguma dúvida em fazer associações, porque é muito fácilassociar coisas completamente distintas, sem que hajanecessariamente uma relação. Esse é o caminho restritivo, queconhecemos bem, que nos guia na precaução, mas que não deveconduzir à inibição.Neste caso do "carpo" a linha condutora não tem a mesmasustentação do "tarso"... tem a sua própria razão.

CárpatosOs Cárpatos são montanhas que se estendem da Eslováquia, pela Polónia, Ucrânia, e Roménia até àfronteira Sérvia. O nome das montanhas foi apontado por Ptolomeu e associado a um povodenominado Carpos. [Carpians]Ora, indo recuperar um mapa anterior (sobre a viagem de Jasão), reparamos que as montanhas dosCárpatos estão praticamente coladas às montanhas dos Balcãs:

Os primeiros RX de Roentgen, em 1896.

____ relembrando que já havíamos referido aparticularidade da região húngara aparecer como

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O Danúbio esculpiu uma paisagem de gargantas,entre as duas cadeias montanhosas, no seupercurso para nascente, que termina no MarNegro. Não foi só o Danúbio que foi escultor nasPortas de Ferro...

particularidade da região húngara aparecer comouma planície ao nível do mar, que assim apareceneste mapa colocada como lago.O notável é que estas duas grandes cadeiasmontanhosas separam-se nas chamadas Portas deFerro, sulcadas pelo curso do Danúbio, numaextensão de 134 Km.

Danúbio nas Portas de Ferro

Decebalus Rex (Dragan fecit)

Quem fizer o cruzeiro pelo Danúbio, ficarácertamente surpreendido por uma enormeescultura na montanha invocando Decebalus, quefoi feita entre 1994 e 2004, por um promotorromeno, Constantin Dragan... fecit.

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Para além das dificuldades inerentes à obra, não devemos esquecer que este período de dez anosinclui uma turbulência na zona, não tanto na parte romena, mas mais na parte sérvia.

Não longe, encontra-se a célebre Ponte de Trajano, de que já aqui falámos [batalha-dos-tres-reis],a propósito "de uma ponte de Lisboa há muitos mil anos".

Uma estátua desta dimensões num pilar natural do rio,não deixa de despertar a invocação de Tolkien, no filme"Senhor dos Anéis", relativa aos "pilares dos reis" da"terra média". Constantin Dragan, sendo historiadorpode apenas ter querido homenagear o mítico reiDecebalus, mas a obra também não deixa de sugerirque naquelas Portas podem ter estado esculturas que o"tempo" apagou…Filme "Senhor dos Anéis" - pilares dos reis

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Relevo invocando a morte de Decebalus, derrotado por Trajano

O anel dos Cárpatos completa-se juntando aIliria, as montanhas balcânicas, fechandocomo uma bacia Ilíaca sobre a planíciehúngara. A divisão entre os Cárpatos e osBalcãs surge singularmente como umabrecha nos Portões de Ferro (que nãodevemos confundir com a Cortina de Ferro,ainda que a sua divisão com uma Jugoslávianeutral tivesse passado por esse ponto doDanúbio).Esta brecha chega a reduzir-se a 150 metrosde largo, mas com 53 metros deprofundidade... um trabalho de erosãonotável para o Danúbio, podendo mesmodizer-se quase de precisão cirúrgica!

Esboço da Ponte de Trajano sobre o Danúbio (comprimento ~ 1 200 metros); Vestígios da ponte (princípio do Séc. XX);Placa de Trajano (Tabula Traiana)... o que resta depois da construção da barragem Dardap I em 1972, que submergiu o conjunto.

Na sua expedição contra os Dácios, Trajano terá derrotado Decebalus, que se suicida para evitar ocativeiro, cortando a própria garganta, conforme ilustrado no relevo romano:

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Essa erosão é tanto mais um prodígio "natural" se atendermos a que o rio desde a zona de Budapestevai serpenteando calmamente a Hungria a um nível próximo de 100 m até chegar a Belgrado, comaproximadamente 80 m de altitude... são muitos milhares de quilómetros de extensão, com umainclinação reduzidíssima, até desaguar no Mar Negro.

CarpetaniCarpetanos era ainda o nome de um dos povos ibéricos assinalados por Estrabo. Ao falar no Tejo diz:The river contains much fish, and is full of oysters. It takes its rise amongst theKeltiberians, and flows through the [country of the] Vettones, Carpetani, andLusitani, towards the west;

Portanto os Carpetanos viveriam provavelmente na zona montanhosa da Extremadura espanhola,sendo "vizinhos" dos Lusitanos. É claro que aqui convém não ignorar que etimologicamente temos apalavra "escarpa", que era ainda latina, e que se liga a uma possível origem dos "carpos", tendo osignificado de rocha na língua albanesa, na Ilíria.Estrabo diz ainda que devido à estóica resistência Galaica, muitos dos Lusitanos tinham passado adesignar-se como Galegos.Já aqui mencionámos que a Galicia era uma região da Ucrânia (e Polónia), convém agora dizer queesta região se situa exactamente na zona dos Cárpatos, nesses países.A Roménia tem ainda o episódio singular de manter uma língua latina, com a desculpa de ter resultadode uma política romana de colonização agressiva, que basicamente teria substituído os Dácios deDecebalus por colonos romanos.

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LethesO que aqui falamos é de uma possível conexão entre povos em extremidades diferentes, e de umesquecimento, tal como o simbolizado pelo Rio Lethes - Lima. Estrabo menciona um outro detalherelativo à lenda do esquecimento no Rio Lima. Se já tínhamos mencionado a ligação entre os nomes anorte (como Astorga) e os nomes a sul (como Conistorga), e as desavenças internas que podem atéser reflectidas no nome "Endovélico", Estrabo conta que o episódio que teria dado fama ao Limaresultava de uma desavença, da morte de um líder, e da dispersão dos que habitavam as margens doGuadiana para norte do Lima:

Decebalus por colonos romanos.Porém, estoutra eventual ligação deixa outra pista para essa ligação linguística... poderia acontecer queesses povos - em partes tão distintas - estivessem ligados por uma língua e cultura semelhante.Essa conexão seria marítima, não através do Mediterrâneo, mas sim através da costa oceânicaeuropeia, que se estenderia com ligação até ao Mar Negro... até que essa ligação desapareceu, com ofecho final do Tanais.

Alvor-Silves, publicado em 14 de Julho de 2011

Around it dwell the Keltici, a kindred race to those who are situated along theGuadiana. They say that these latter, together with the Turduli, having undertaken anexpedition thither, quarrelled after they had crossed the river Lima, and, besides thesedition, their leader having also died, they remained scattered there, and from thiscircumstance the river was called the Lethe.

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Às Portas CáspiasAlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

A progressão de Alexandre Magno em direcção aoOriente tem um episódio que foi retratado numromance iniciado no Séc. III, com variações noprimeiro período medieval, denominado o "Romancede Alexandre". As variações incluem uma exploraçãosubaquática do próprio Alexandre... _____________

... o que pelo menos mostrará que a ideia deexplorar os fundos marinhos não foi certamenteideia recente, e esteve presente, pelo menos noimaginário humano, desde a Antiguidade.Romance de Alexandre (edição russa, Séc. XVII)

Porém o episódio que talvez tenha ficado como mais simbólico é a estória de Alexandre definir umamuralha contra Gog e Magog, personagens bíblicos, episódio que até se encontrará mencionado noCorão (na identificação de Alexandre a Dhul Qarnayn).A ideia terá sido construir uma muralha (ou portas de ferro...) para impedir uma invasão dos povosdo norte, descritos como Gog e Magog, enquanto gigantes lendários. Esta invocação tem sidoatribuída a uma tentativa de controlar invasões do Norte, e diverge desde se considerar o perigo dasAmazonas, o perigo dos Godos, ou até a ameaça Mongol. Neste último sentido é atribuída uma

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Amazonas, o perigo dos Godos, ou até a ameaça Mongol. Neste último sentido é atribuída umaconfusão entre a muralha de Alexandre e a própria muralha da China... feita com o mesmo propósito!No sentido de associar os Godos a Gog fala-se na semelhança do nome (Goth e Gog), e finalmente opróprio romance estabelece uma relação com Taléstris, uma rainha amazona.

Rubens: a cabeça de Ciro é entregue a Tomiris

A conexão com as rainhas amazonas tinha já outro protagonistaanterior.Com efeito, a rainha amazona Tomiris (ou Thamiris), comovingança da morte de seu filho, teria ordenado que a cabeça deCiro fosse mergulhada em sangue:

A história oficial não confirmaeste funesto destino para Ciro,o Grande, que assimterminaria a sua imensa sagade conquistas numa vingançaAmazona.Há alguma consonância emreportar a sua morte embatalha com os Citas...designação geral onde sepoderiam enquadrar asAmazonas, ou pelo menosuma rainha Tomiris.

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

No mesmo sentido, Alexandre Magno parece ter reportado uma proposta de casamento com umaprincesa ou rainha dos Citas, que poderia ser Taléstris, entendida enquanto amazona.Parece haver uma certa relutância em aceitar um reino com um poder no feminino, neste caso o reinodas Amazonas, sendo que há diversas evidências de sociedades matriarcais. Por outro lado, constata-se ainda que todos os grandes impérios da Antiguidade tiveram como limite de progressão asparagens mais setentrionais... os romanos debatiam-se dificilmente com os godos, e parece nuncaterem conseguido um controlo sobre a parte norte do Mar Negro.Conforme temos aqui insistido, é bastante natural que a configuração geográfica fosse especialmentediferente, e estava a alterar-se na altura de Alexandre (ou mesmo já de Ciro), com a diminuição donível do mar. As terras contíguas aos montes Urais deixavam de estar isoladas enquanto ilhas numOceano setentrional, e ao fechar-se progressivamente num Mar Negro, por um lado, e num MarCáspio, pelo outro... tornava mais real a ameaça de invasão por povos desse mítico Norte de citas,tártaros, ou amazonas...Um desses pontos de ligação seria exactamente o istmo (ou península) caucasiana.A construção de uma defesa que permitisse evitar a invasão terrestre, que entretanto se tornavapossível, aproveitando a cadeia montanhosa do Cáucaso, é algo que parece fazer sentido estratégico.Portas Cáspias de DerbentEssa linha de defesa foi aliásefectuada em Derbent.As Portas Cáspias de Derbent parecemdatar pelo menos do períodosassânida persa, mas podem bem

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Derbent - Portas Cáspias

sassânida persa, mas podem bemassentar numa linha de defesa jáanterior. Uma parte é mesmoconhecida como Muralha deAlexandre, e ainda que não sejareportada a Alexandre, pode bemresultar de uma construção Seleucida,imediatamente posterior.

A grande muralha de Gorgan e Tahge-Bostan (historicaliran.blogspot.com)

Portas Cáspias de GorganDe forma semelhante, na parte sudeste do Mar Cáspio, estão as Muralhas de Gorgan, já datadas pelomenos até ao império Parto-Persa, império sucessor dos Seleucidas macedónicos, em 247 a. C. Estasmuralhas estendem-se por uma vasta linha, que as torna segundas em comprimento, com 195 Km.Sendo claramente superadas em extensão pela imensa Muralha da China, o propósito seriapossivelmente o mesmo, evitando uma invasão tártara pelas margens do Cáspio.

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Como Gorgan estaria na rota de progressão de Alexandre, pode ser considerado mais naturalassociar-lhe estoutra muralha. Porém, parece mais natural que no curto e intenso reinado deAlexandre apenas se possa ter planeado tal empreendimento. Qualquer concretização ligada aAlexandre deverá ser relegada para a dinastia do seu sucessor, o general Seleuco.

Caricatura que mostra como os gigantes Gog e Magogsustentam o Paddy inglês.

Gog e MagogO Mar Cáspio que agora tende a desaparecer, seria azona de defesa perante as ameaças de Citas,Tártaros ou Mongóis. A identificação dos gigantesbíblicos Gog e Magog (neto de Noé) aos Citas é feitapor Flávio Josefo, com uma conotação de povosbárbaros, e que são até ligados ao Apocalipse!Independentemente disso, os gigantes Gog e Magogsão até considerados como patronos da City deLondres e estão ligados a mitos de gigantes nas ilhasbritânicas: __________________________________

Sendo claramente superadas em extensão pelaimensa Muralha da China, o propósito seriapossivelmente o mesmo, evitando uma invasãotártara pelas margens do Cáspio.

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/as-portas-caspias.html Página 21

sustentam o Paddy inglês.

Alvor-Silves, publicado em 15 de Julho de 2011

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Portas do RódãoAlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Nesta sequência de "portas", e tal como Olinda, também nos lembrámos das Portas do Ródão... e que estariam na zonaatribuída aos Carpetanos, povo ibérico.Aqui falha-nos o último volume de Pinho Leal que poderá ter algum comentário a propósito de Vila Velha de Rodão.Encontrámos menção a Vila Velha de Ródão na Corografia (1708) de António Carvalho da Costa, mas não especifica o quesignificará "velho" neste caso, poderá remeter-se à formação da nacionalidade, ou anterior. Nos territórios adjacentes, mas emponto bastante mais elevado, encontra-se o Castelo de Wamba (ou Vamba).Um bom texto relativamente a reabilitação arqueológica desse Castelo e da Capela próxima, pode ser encontrado naAssociação de Estudos do Alto Tejo.

http://www.altotejo.org/acafa/docs/Estudos_e_Trabalhos/Capela_e_Castelo_de_Rodao.pdf

Focando-nos mais na Portas do Ródão,começamos por uma gravura antiga, de 1823(por William Westall) ______________________

Quer-nos parecer que a paisagem mudouconsideravelmente, já que as escarpas parecemna gravura muito mais acentuadas, seatendermos a imagens mais recentes da mesmavista de jusante (poente):

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/portas-do-rodao.html Página 22

Passage of the Tagus at Villa-Velha (Westall, 1823)

Parece ter havido entretanto uma erosão acentuada, já que as imagens do Séc. XIX dão uma ideia decortes limpos, quebrando a rocha a pique, algo que se terá atenuado significativamente nestesséculos seguintes. Por outro lado, nota-se na imagem de Turner que o rio seria razoavelmente baixo,não se notando o forte caudal. Sobre esse assunto, fomos encontrar uma outra referência:

Podemos falar em exagero do artista... porémnão parece ser o caso de Westall, e temosalguma confirmação da diferença pela imagemvista do lado nascente (C. Turner, 1811): _____

Imagem aérea das Portas do Rodão

Pass of the Tagus at Villa Velha into Alemtejo (C. Turner, 1811)

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

A pouca distância do porto de Villa-Velha, corre o Tejo por entre dois altos montes definíssimo mármore, formando uma espécie de garganta, a que chamam as portas doRodão. Pelas influências do, Marquez de Pombal se fez o mesmo, rio navegavel até aoporto de Villa Velha, que fica dentro desta garganta. Junto do porto havia humaFazenda e Casas, em cuja porta se viam as armas, do Marquez, que são huma Estrellaentre uma, quaderna, de crescentes. (Poesias de Cruz e Silva, 1805)

http://books.google.pt/books?id=ml1HAAAAYAAJ

Ou seja, concluímos que os cortes abruptos, vistos nas gravuras do início do Séc. XIX, eram provávelresultado da "fresca intervenção" do Marquês de Pombal, no sentido de tornar o rio mais navegável.Tal como acontecia com o Rio Douro, que tinha uma forte cascata perto de S. João da Pesqueira,chamado o "Cachão do Douro", é possível que algo semelhante se passasse nas Portas do Rodão.Acrescentamos este texto de J. J. Forrester (1854):

The Tagus (that beautiful river which our forefathers used to ascend without difficulty as far as Toledo [cf.Faria e Sousa]) has been fearfully neglected. During the winter season, in some situations, the current isfive feet per second; and at the place called Vallada, where the river is 1330 feet wide, the volume of waterthat descends in that time is not less than 100,000 cubick feet. At the Portas do Rodão, 150 feet wide, thecurrent is twelve feet per second; so that a volume of 7776 millions of cubick feet of water passes throughthis gorge in one day.The Portas do Rodão, on the Tagus, are similar to the Cachão on the river Douro, that is to say, during thewet season, the passage being narrow, the river above naturally overflows its banks, and lays the countryunder water. Now one of two things,— either widen the passage to give egress to the waters, or store themup for irrigation purposes, preserves for fish, &c.The idea is not originally ours. It is the conviction of the much-injured and persecuted Portuguese author,Bento De Moura (born 1702), who proposed to construct a dam and form an enormous deposit of water, 20leagues square, during the winter, so as to leave its rich deposits and manure on the land, and prepare it

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/portas-do-rodao.html Página 23

Ou seja, no sentido inverso ao do Marquês, Bento deMoura tinha proposto construir uma barragem.Isto é interessante, pois podemos ter uma ideia daconsequência dessa barragem: ____________________

Por uma simples inspecção de altitude a 200 metros (asmontanhas laterais ultrapassam os 300 m), o terrenoformaria uma bacia natural que se estenderia atéIdanha-a-Nova, criando um lago artificial... seria esta aideia de Bento de Moura. Assim, se havia algumarepresa natural de água, parece certo que o Marquêsacabou com ela... e com um nível baixo, anavegabilidade ficou também comprometida, exceptopara pequenas embarcações, conforme se pode ver nasgravuras.

leagues square, during the winter, so as to leave its rich deposits and manure on the land, and prepare itfor cultivation in the summer. "Rivers," says Senhor de Moura, "bring down earth in proportion of 15 to 1 ofsand. From 5 to 25 years, 1000 moios of earth would be deposited, and would produce 10,000 moios ofgrain, or in a few years the deposits would yield ten times their weight in grain.” (pag.111)

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

A associação a Wamba é discutida, mas atendendo aque os visigodos tiveram o cuidado de renomear Idanhacomo Egitania, reconstruí-la depois da destruiçãosueva... e outros detalhes (Pinho Leal diz que Wambaseria natural da zona), mostrará o interesse que osvisigodos tiveram pela região.

Castelo de WambaO rei visigodo Wamba (672-680) ficou ligado a uma antiga fortaleza, no monte norte das Portas doRódão, da qual ainda se mantém uma torre quadrada interessante:

As gravuras não mencionam o nome Ródão... oacrescento de Ródão a Vila Velha pareceu-nos serposterior às invasões francesas, mas o registo de1708 não deixa dúvidas sobre a origem anterior donome. Não queremos deixar de notar uma associaçãofonética de Ródão a Ródano, e alguma semelhançana paisagem das Gargantas do Ródano (Rhône)...Gargantas do Ródano

(imagem de NotreFamille.com)

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/portas-do-rodao.html Página 24

Com as Portas do Ródão fechadas ao Tejo, esteformaria um lago interior que se estenderia até à zonade Idanha-a-Nova, e anteriormente talvez mesmopróximo de Idanha-a-Velha. Estas vilas que aparecemhoje como isoladas nos limites montanhosos da Serrada Estrela, poderiam ter tido um lago natural resultanteda acumulação de águas do Tejo. Uma primeiracedência da rocha teria causado a deslocalização deIdanha-a-Velha para Idanha-a-Nova, mas a ideia denavegabilidade do Marquês teria terminado comqualquer ideia de recuperar o lago interno, conformeparecia pretender Bento de Moura.Torre de Wamba (Portas do Rodão)

Pinho Leal diz que "alguns" davam também o nome de Hircania a Idanha-a-Velha (que diz ser umadas primeiras vilas lusitanas, fundada c. 500 a.C.)... lembrando-nos que o mar Hircanio eraexactamente a designação do Cáspio, não deixamos de ver aqui uma alusão a um mar interno.Egitania foi um bispado importante na época visigoda, e a cidade terá mudado de nome para Eydaiana época árabe, de onde viria o nome Idanha. A nova Idanha parece ser só mencionada já com D.Sancho I.

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

--- O Parque Natural de Monfrague

SerrasSendo uma zona de grifos, e outras aves de rapina ou não, em belos parques naturais, não deixamosde mencionar outras "portas" semelhantes, na vizinha Extremadura espanhola.Canchos de Ramiro ---

http://alvor-silves.blogspot.com/2011/07/portas-do-rodao.html Página 25

Canchos de Ramiro e ponte sobre o Alagon(afluente do Tejo)

http://serbal.pntic.mec.es/~jror0017/alrededores.html

Ou seja, as portas do Ródão não são muito diferentes da paisagem que o Tejo e afluentes fazem ao"furar" as serras da Extremadura ou Alentejo.E aqui convém mencionar a noção de "Serra"... porque é nestas formações que ela ganha sentido.Estas formações características da Estremadura espanhola e portuguesa, ou do Alentejo, surgemcomo linhas montanhosas bem definidas como se pode ver no mapa (em cima, também na zona deCastelo de Vide/Marvão). São praticamente linhas montanhosas singulares cujos "dentes" são ospicos oscilantes... e por isso têm verdadeira analogia com a noção de "serra", da lâmina de corte. Ageneralização desta palavra a qualquer conjunto montanhoso fez perder a particularidade destasformações quase laminares. Não havendo distinção particular entre o nome desta estrutura "de serra"e os conjuntos montanhosos, poupa-se qualquer justificação particular para a singularidade que estasmontanhas exibem enquanto serras - linhas bem definidas de montanhas que aparecem comoautênticos muros na paisagem.Alvor-Silves, publicado em 16 de Julho de 2011

Salto do Gitano- o Tejo no Parque Natural de Monfrague -

Nota: (17/07/2011) Texto consideravelmente reeditado e corrigido no dia seguinte, por nos ter escapado a menção a Vila Velha do Ródão na Corografia de António Carvalho da Costa, de 1708:

“A Villa Velha de Ródão fica cinco léguas de Castelo-Branco para o Sul, & está fundada num tezo, que banha o rio Tejo (…)”

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A Merica e a longitudeAlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

LongitudeAcerca da longitude já tínhamos aqui citado António Carvalho da Costa que, em 1682, e com brevespalavras, mostrava como era possível saber a correcta longitude de lugares através da observação deeclipses.Sendo a latitude um problema mais fácil, ficava aí claro que eram conhecidos métodos eficazes paradeterminar a posição recorrendo apenas a observações astronómicas. O interesse pelos eclipseslunares seria especialmente um interesse geográfico, com vista a uma correcta cartografia. Assim, atabela de eclipses de 1534, de Jerónimo Chaves, indiciaria isso mesmo.Encontrámos agora outro texto, de Manuel de Figueiredo, de 1603, que coloca as coisas de formamais clara, confirmando as nossas suspeitas de que essa técnica seria bem mais antiga.O texto de Figueiredo é mencionado na literatura especialmente porque detalha a construção dabalestilha, instrumento prático para a determinação de ângulos, e apropriado para a latitude. Aquiinteressa-nos a questão da longitude, mais complicada.“Como se acharam as longitudes das terras.“- é este o título do Capítulo XIII da "Chronographia e Repertório dos Tempos",publicada em 1603 por Manuel de Figueiredo.Começa dizendo:

Grande foi o trabalho que os geógrafos tiveram em achar as longitudes das terras, asquais observaram pelos eclipses da Lua e do Sol, & não haviam de ter tão pouco em atodas elas buscarem a longitude, porque nem todos os meses há eclipses para as

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MericaTalvez mais interessante é o detalhe deFigueiredo designar a América como "A Merica".

Isso poderia passar por erro tipográfico, mas édemasiado propositado para ser qualquer erroacidental:

Menção a "a Merica"

todas elas buscarem a longitude, porque nem todos os meses há eclipses para aspoderem mostrar (...)

Não especifica quem foram os geógrafos, nem quando... apenas explica como se processou:Punham-se dois geógrafos em duas terras (...) esperavam o dia e hora a que havia deacontecer (...) observavam a que hora começava & cotejada uma observação com aoutra, a diferença que entre elas havia essa era a longitude(...).

... algo que já tínhamos suspeitado como sendo o método usando "enviados do reino".[erro-na-longitude]

Duas páginas à frente faz referência às vantagens da "pedra de sevar" (ou cevar, magneto) queteriam marcado a diferença face aos "antigos"... e somos levados a concluir que implicitamenteconsiderava que o processo de eclipses para a longitude era já conhecido desses "antigos". Figueiredosugere que teria sido o magneto a marcar a diferença, pois esses antigos se restringiam ao hemisférionorte com medo de perder a Estrela Polar... que é outra maneira de dizer que tinham medo de"perder o norte", de ficarem desnorteados!

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Se já havia algumas suspeitas do nome Américanão estar necessariamente ligado a AmerigoVespúcio, creio que esta obra de Figueiredo vaiexactamente nesse sentido...A Merica e não América

Fomos encontrar uma canção dos emigrantesitalianos que povoaram o Rio Grande do Sul:Dalla Italia noi siamo partiti;Siamo partiti col nostro onore;Trentasei giorni di macchina e vapore,e nella Merica noi siamo arriva'.Merica, Merica, Merica, cossa saràlo 'sta Merica?Merica, Merica, Merica, un bel mazzolino di fior.Trata-se do dialecto do Veneto (Veneza), que tira o A a America, e aparece como uma claradesfaçatez veneziana ao compatriota, mas rival florentino, Amerigo...Haverá outro sentido para a simples palavra Merica?O google e a wikipedia têm destas coisas, e fomos parar imediatamente a

merica: palavra indonésia com raiz no sânscrito que significa a especiaria pimenta.Afinal, como chamam os ingleses a um tipo de pimenta?

Menção a "a Merica" e "America", por Manuel Figueiredo

Afinal, como chamam os ingleses a um tipo de pimenta?- Chili pepper... chegando mesmo a escrever Chile pepper.A pimenta ou malagueta sempre esteve associada à comida mexicana, azteca e também inca. É claroque também é parte da cozinha indiana, e isso pode reportar perfeitamente uma rota de especiariasque se prestava a unir as índias orientais e ocidentais sob a conveniente confusão!Ou seja... quando os nossos descobrimentos seguiam na rota da Pimenta, é mais natural queestivessem a seguir a rota da Merica. Como dizia Figueiredo: "a cobiça de reinar abriu o caminho paradescobrir tantas riquezas quantas neste novo mundo há"...Se o nome é anterior a Américo Vespúcio, esta semelhança entre "a Merica" e "Americo" pode ser umcaso que já abordei num comentário que aqui fiz- a importância de se chamar Ernesto, neste caso Américo!

Alvor-Silves, publicado em 17 de Julho de 2011

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Alberigo e Amerigo - Américo e a MericaAlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Na sequência da posta anterior sobre A Merica, e começando a faltar saúde e paciência para tanto encobrimento de "gatoescondido com o rabo de fora"...A teoria vigente sobre a nomeação da América, está directamente ligada ao mapa de Waldseemuller.Nesse mapa de 1508 surge pela primeira vez o nome AMERICA.

Cohen diz que isto é falso, e é mais específico:

Usamos aqui o texto de Jonathan Cohen que ébastante ilustrativo sobre a versão oficial, mas dandotambém oportunidade a outras teorias.A partir da sua menção sobre Jan Carew e a teoria"Amerrique", diz o seguinte:Carew moves from the "fictions" of Columbusto those of Vespucci with these strikingwords: "Alberigo Vespucci, and I deliberatelyuse his authentic Christian name, a Florentinedilettante and rascal, corrected Columbus'serror [thinking he had found the Orient] …Vespucci, having sailed to the Americanmainland declared that what Columbus hadindeed stumbled on was a New World."

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Cohen diz que isto é falso, e é mais específico:Vespucci was born in 1454 in Florence, wherehe was baptized, according to the official record,"Amerigho" — not, as Carew asserts, Alberigo.

Este A em AMERICA, com o traço superior, vindo da esquerda, não se encontra em mais nenhuma parte no mapa,

nem nos A de Africa ou Asia...

"Official record" - temos aqui um problema de seriedade...A capa do livro que mostramos é de Fracanzano daMontalboddo, de 1507, com o título:Paesi nouamente retrouati et Nouo Mondo da Alberico Vesputio

(ou seja vemos escrito Alberico Vesputio)Se o silêncio irrita, irrita mais a mentira fabricada.Jan Carew tinha razão, o nome chegou a ser Alberico enão Amerigho, como Cohen pretendia argumentar com asua "versão oficial".

Mas não só... junto ao espécime "raríssimo", encontrámosuma carta anexa de 1968 do "antiquário":

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Este "natural sigilo" terá desaparecido no que diz respeito a esta obra, que foi parar ao domíniopúblico... porém, será caso raro! Do pedreiro ao dono da obra, passando pelo empreiteiro, todos têmo seu pequeno motivo para serem cúmplices, a troco de qualquer coisa... neste caso 8 contos de réis(de 1968)!Como é óbvio se o nome era Alberico, não foi a América que tomou o nome de Vespúcio, foi Vespúcioque tomou o nome de Américo, para ser associado a Merica.Os feitos de Américo, para além de estar associado à trapaça, terão sido outros.Como já aqui falámos [rei-oscar-vai-para…], Vespúcio terá integrado a expedição de Gonçalo Coelho, quepoderá ter atingido a Antártida... algo importante de ser escondido, ao ponto de lhe encontrarem umoutro pedestal, onde o arrumar.Quanto a Alberico, lembramos Alberich... o nome do personagem que Wagner colocou como guardiãodo Anel dos Nibelungos. Se há quem tenha ilustrado de forma sublime o problema subjacente, foisem dúvida Wagner... que preconizava como finale o crepúsculo dos deuses - Götterdammerung:

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Alvor-Silves, publicado em 19 de Julho de 2011

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Marco Polo... mapa com barco!AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

A Maria da Fonte publicou a existência de um enigmático mapa, na Biblioteca do Congresso Americano, que estará associado aMarco Polo, aí também entitulado "map with a ship", que contém inscrições chinesas, e também comentários no dialectoveneziano.As conexões entre a região apresentada e o norte do Pacífico, são evidentes...Pode ver-se claramente a zona do Estreito de Bering (ou Anian), e representadas as Aleutas, o marde Okhotsk, o Japão, e outros contornos do sudeste asiático, por um lado, e o contorno do Alasca,por outro... conforme se procura tornar claro nesta comparação:

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Para além do barco com vela triangular, e do texto, encontramos uma caixa com o que seria a assinatura

do cartógrafo (Marco Polo), onde se vê enquadrado pelo C, M, A, O, O e eventuais P, L inseridos.

Na outra parte do mapa, encontramos um desenho de umbarco, com uma vela triangular, conforme notou a Mariada Fonte, e algumas legendas relativas ao mapa que seencontram descritas no site.

O mapa está datado c. 1290, mas a proveniência não éconfirmada, nem a autenticidade.As notas associadas ao mapa são as seguintes:

• The map, in its ornamental frame, occupies theright side of the sheet. Drawing of a ship and aneight-line explanation of Roman numerals on leftside of the sheet.• Place names in Arabic. Chinese in two columns,on right side of map. Text in Venetian Italian.• Undetermined authenticity.• Provenance unverified.• Pen-and-ink.

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

• Further description of map appeared in article: Bagrow, Leo, 1948. The maps from thehome archives of the descendants of a friend of Marco Polo. Imago Mundi, vol. V.• Includes key to identifying countries and regions designated by Roman numerals.• Translation of the explanation of Roman numerals: Marco Polo.• I. India and the adjacent islands, according to what the Saracens say.• II. Cattigara of Tartary, island of Zipangu and adjacent islands.• III. Peninsula of the Sea Lions.• IV. Islands connected with the Peninsula of the Deer situated 2 to 4 hours of differencefrom the walled provinces of Tartary.• Given to the Library of Congress in 1935 by Mr. Marcian F. Rossi, a retired merchant, whoconsidered himself a descendant of a friend of Marco Polo.

É claro que se poderia tratar de uma falsificação muito sofisticada, mas se alguma coisa espantaneste mapa é a ausência de interesse... ao ponto de ninguém ter-se preocupado em fazê-lo, desde1935 (data da oferta reportada), e a pouca divulgação que o mapa tem.

Alvor-Silves, publicado em 21 de Julho de 2011

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O cozinheiro e o sanduícheAlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Esta posta explica-se com um boneco.

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http://en.wikipedia.org/wiki/File:The_state_tinkers.jpg

Como várias outras caricaturas já apresentadas, é de James Gillray (1780 ou 84).Agora que se fala na noção pomposa de Thinker Tanks, acho Gillray lhes chamaria mais TinkerThanks. Neste sentido, digamos que Gillray diz tratar-se de um painel de funileiros, evitando outratradução mais literal para o português. A panela tem forma de hemisfério ocidental...De casaca azul estará o Conde de Sandwich, e ajoelhado tentando reparar a panela está Lord North,enquanto o rei Jorge III aguarda que os buracos sejam reparados. O estado a que a panela chegou éresultado da acção do cozinheiro... Cook.John Montagu, Conde de Sandwich, enquanto comandante da marinha inglesa, foi entusiasta eprovidenciou o financiamento da expedição de James Cook.Em reconhecimento desse apoio, Cook terá baptizado o Havai como Ilhas Sandwich.

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Da esquerda para a direita: Solander, Banks, Cook, Hawkesworth e Sandwich.Solander era sueco, botânico da escola de Lineu, amigo de Banks…

Há, é claro uma estória sobre sanduíches e a sua "invenção" por Sandwich...Se Colombo teve o seu ovo, pois Sandwich teve o seu sanduíche.Entre o pedaço de pão Asiático e o Americano, Sandwich iria reclamar o bife Pacífico.Não vejo outra sanduíche que não esta... talvez ficando demasiado explícito, no final do Séc. XIX oHavai foi renomeado e apenas ficaram as ilhas Sandwich do Sul.Talvez possamos dizer que a viagem anterior deBougainville e as pretensões francesas foramensanduichadas pelo plano do grupo de Sandwich:

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O problema complicou-se, e conforme Gillray escreve na primeira caricatura:- por cada buraco tapado, abrem-se dois novos !

Digamos que um dos "buracos" de Sandwich que o primeiro-ministro Lord North não conseguiu taparfoi a Independência Americana (o desenho sobre Banks é publicado num 4th of July), projecto emque a França se empenhou...Digamos que ainda estava o Endeavour no mar, entre a Nova Zelândia e a Austrália, em 1770, erebentava a rebelião em Boston, o primeiro gesto que levou à guerra de independência americana.Havia certamente uma parte do novos territórios Pacíficos prometidos à França, que acabou por ficarcom algumas ilhas (que ainda hoje mantém), mas a solução de Sandwich terá sido um rude golpe nasaspirações francesas.

…. e sobre Sir Banks, Gillray dá conta da suaapreciação nesta caricatura.

... uma lagarta encontrada nos Mares do Sul é transformada em borboleta pelo Sol imperial.

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Quanto aos holandeses, tiveram que fazer quase de conta que nunca tinham visto a Austrália...Para termos uma ideia da precisão que os mapas holandeses chegaram a ter, basta ver este mapa deGerritsz em 1618, muito antes da viagem de Tasman (1642):Apesar de Gerritsz ser considerado um dosmaiores cartógrafos, o seu trabalho tem poucadivulgação... e percebe-se que não se queiraquestionar a razão pela qual as linhas perfeitasacabam onde acabam em 1628, e que ossucessores até Tasman nada tenham feito paracompletar o circuito.Nem Tasman, nem nenhum seguinte... e éclaro que os portugueses estando com colóniasem Timor, ou os espanhóis com colónias nasFilipinas, continuavam a não acertar com asvelas, e não conseguiam aí navegar para sul!Foi preciso Sandwich e Cook para resolver oassunto!O mapa de Gerritsz tem ainda outrosproblemas... identifica a descoberta deHoutman das ilhas Abrolhos, e apesar de estardatado de 1618 apresenta as descobertas até1628. Parece claro ao inspeccionar o mapa que

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Por via das confusões, e não tivesse ficado registoportuguês com esse nome, apareceram também umasilhas Abrolhos no Brasil. Assim, uma das estórias relataque Houtman terá sido inspirado por essoutras. Não éde espantar, porque Tasman vai repetir a inspiraçãocom Pedra Branca, na Tasmânia, que lhe vai lembrarPedra Branca, perto de Singapura.Por acaso, Abrolhos faz-nos lembrar "Vannila Sky" que na versãooriginal espanhola se chamava "Abre los Ojos"... só a Penelope Cruzseria a mesma.No fundo, um problema de chancela que tem vários aspectos eprotagonistas ao longo dos tempos.Independentemente dos protagonistas,o argumento, esse é intemporal...

Mapa parcial da Australia-sudoeste (1618), por Hassel Gerritsz

1628. Parece claro ao inspeccionar o mapa queas inscrições com as datas e exploradores sãoposteriores à execução do mapa!Quanto ao arquipélago e recifes de Abrolhos...descobertas por Houtman em 1619(!), ficaramdefinitivamente nomeadas Houtman Abrolhos.Open your eyes... abram os olhos, abrolhos!

Nada mais apropriado, desde sempre atéhoje...

Alvor-Silves, publicado em 21 de Julho de 2011

Ilhas australianas de Houtman Abrolhos

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Declinação magnética e longitudeAlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Já foi aqui colocada várias vezes a questão da longitude, mas faltará referir a forma queprovavelmente seria mais usada - declinação magnética. Pensei em fazê-lo depois de ler o Tratado daAgulha de Marear, incluso no Tratado de Marinharia, mas a caligrafia não é das mais atractivas ecompreensíveis... e por outro lado, tendo sido transcrito por Luís de Albuquerque, mereceu atençãorecente por um especialista, não sendo necessária outra contribuição.Posso abordar a questão doutra forma.Como o pólo norte e o pólo norte magnético são diferentes, é possível cruzar dados para ter umanoção da longitude.Segundo Manuel de Figueiredo (Chronographia e repetório dos tempos, 1603, pág. 134), osmarinheiros mais experimentados para além de saberem que as agulhas de marear "não atiravamdireito ao verdadeiro pólo", diziam que se fixava em 8 partes do globo, uma das quais os Açores. Dizainda que em Portugal tomavam 7º25' como declinação. Dá ainda a entender que esta diferença denorte estaria compreendida no tamanho da flor-de-lis que na rosa-de-ventos indicava o norte.Como vemos, se não houvesse declinação nos Açores e havendo 7º em Portugal, entre os dois pontosseria marcada uma diferença contínua que permitiria avaliar a proximidade de um ou do outro ponto,não apenas em termos de latitude, mas assim também em termos de longitude.Seria isso que se usaria nas viagens regulares entre Portugal e os Açores, ou outras?- Aqui o grande problema seria a estabilização da agulha em alto mar... no entanto, poderia serusado.Convém notar que o pólo norte magnético varia consideravelmente, sendo reportada a mudança de

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Convém notar que o pólo norte magnético varia consideravelmente, sendo reportada a mudança de1100 Km durante o Séc. XX, para além de variações diárias num órbita elíptica de 80 Km (verwikipedia [Polo-norte-magnetico]).Ou seja, os valores reportados no Séc. XV estariam desactualizados nos Séc. XVI ou posteriores, eisso talvez justifique algumas consideráveis mudanças nos mapas que fossem assim construídos.Mais, as agulhas também não apontam exactamente para o pólo norte magnético... complicandobastante as coisas! Ou seja, a variação da declinação com a posição está longe de ser uma funçãosimples, depende razoavelmente do local, como se pode ver num mapa de dados no ano 2000:

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Para além dos Açores, Manuel de Figueiredo dá mais dois pontos de declinação zero (a 45º anoroeste e nordeste dessas ilhas), tornando claro que estavam cientes da complexidade das linhas.Dá-nos uma pista histórica para a localização das linhas no Séc. XVI, com 3 pontos para uma linha dedeclinação zero.Qualquer mapa formado com base nas declinações magnéticas teria as deformações decorrentes dacomplexidade destas linhas, o que justificaria algumas formas mais estranhas nos mapas (mas nãotodas... algumas foram propositadas, como já sabemos).Quanto à razão desta diferença magnética, diz Manuel de Figueiredo:

Ainda até agora se não deu na causa porque esta pedra de sevar não atira direita ao pólo domundo, e nem por que atira para o norte, muitos dão muitas razões, mas nenhuma delasacerta(...)

Apesar da justificação com o núcleo ferro-magnético da Terra, a situação está longe de ser muitodiferente da reportada por Figueiredo. Duvido que haja algum bom modelo capaz de prever avariação das linhas para saber onde estarão em 2050... onde há que ter em conta as anomalias.Apesar de se pretender um grande conhecimento, o que se conhece do interior da Terra é tão pouco,ou menor, do que se conhece do espaço exterior. Pelo conhecimento da nossa crosta, pretendemossaber tudo... o que tem algo de simbólico, já que o egocentrismo e comunocentrismo (egocentrismode uma comunidade) tem esta capacidade de, pela crosta, almejar conhecer o infinito e mais além...

Hiparco e longitudes

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Hiparco e longitudesAcerca de latitudes e longitudes, Estrabo cita Hiparco (Livro 1, Cap.1):

`(...) For instance, no one could tell whether Alexandria in Egypt were north or south ofBabylon, nor yet the intervening distance, without observing the latitudes. Again, the onlymeans we possess of becoming acquainted with the longitudes of different places is affordedby the eclipses of the sun and moon.’ Such are the very words of Hipparchus.

Portanto, quando colocámos aqui a questão das medições de longitude, torna-se claro que elas sereportavam à Antiguidade, usando o método de eclipses que encontrámos descrito por Carvalho daCosta, e Manuel de Figueiredo. Este conhecimento nunca terá deixado de estar presente.Como já dissémos, Estrabo tem muita informação, e aproveitamos para colocar mais algumas:(1) Estrabo fala da circumnavegação da África por Menelau:

At the same time the idea of this circumnavigation, which owes its origin to Crates, is notnecessary; we do not mean it was impossible, (for the wanderings of Ulysses are notimpossible)

(2) Estrabo fala da "ideia de Colombo" de atingir a Índia:So that if the extent of the Atlantic Ocean were not an obstacle, we might easily pass by seafrom Iberia to India, still keeping in the same parallel; the remaining portion of which parallel,measured as above in stadia, occupies more than a third of the whole circle

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

(3) Estrabo fala das tentativas de circumnavegação da Terra:Nor is it likely that the Atlantic Ocean is divided into two seas by narrow isthmuses so placedas to prevent circumnavigation: how much more probable that it is confluent anduninterrupted! Those who have returned from an attempt to circumnavigate the earth, do notsay they have been prevented from continuing their voyage by any opposing continent, forthe sea remained perfectly open, but through want of resolution, and the scarcity ofprovision.

(4) Estrabo fala sobre o que era conhecido:For in the east the land occupied by the Indians, and in the west by the Iberians andMaurusians, is wholly encompassed [by water], and so is the greater part on the south andnorth. And as to what remains as yet unexplored by us, because navigators, sailing fromopposite points, have not hitherto fallen in with each other, it is not much, as any one maysee who will compare the distances between those places with which we are alreadyacquainted.

O pouco que faltava para se encontrarem os que partiam da India e da Iberia/Mauritânia, poderia serum pequeno istmo que impedia a circumnavegação, faltava a América central... faltava a resolução,faltavam as provisões... ou antes, faltava a licença de mencionar a Merica ?

Alvor-Silves, publicado em 24 de Julho de 2011

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O espírito da letraAlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Este é um daqueles textos que já deveria ter sido escrito há mais tempo... e diz respeito à ortografia.Antigamente, escrever-se-ia orthographia pela derivação do grego ορθογραφία.Duarte Nunes de Leão, no Séc. XVI, é muito claro relativamente a este assunto - diz que nãodeveríamos perder a raiz histórica das palavras, e assim foi convenção europeia que o ? tinha comocorrespondente o th, e que o f tinha correspondente no ph.Essa ligação histórica perdeu-se no português e castelhano no Séc. XX, já depois de se ter perdido noitaliano, mas manteve-se no norte da Europa. O sul terá sido conduzido a uma via fonética...A ligação fonética até nos poderia levar ainda a tempos mais remotos, mas na prática o que faz éconduzir-nos a uma baralhação de curto prazo, e acentuada perda de memória.Aliás, a sociedade está a ser induzida num processo de progressivo Alzheimer, em que só importa oque ocorre no dia de hoje, e que amanhã será esquecido, renascendo sempre infantilmente.Isso será especialmente notado por quem se dedicar a inspeccionar o sótão da nossa História...Até aqui... nada de muito novo, e por isso vamos buscar um livro de Plínio ao sótão.No Livro VII, Cap. 57, Plínio tem um interessante texto sobre as diversas invenções humanas.Vale a pena ler todas, mas vamos aqui falar da "invenção das letras".Plínio considera serem de origem Assíria, o que mostra a sua sensatez, mas depois dá outras versões:- no Egipto, inventadas por Mercúrio!- pelos Sírios... digamos Fenícios, e que Cadmus teria levado 16 letras para Grécia.Surge depois o ponto notável, ao estabelecer que outras letras estavam ligadas à Guerra de Tróia:θ ξ φ χ - teriam sido inventadas por Palomedes (que enviou Ulisses a Tróia, e foi traído por ele);ζ η ψ ω - teriam sido inventadas pelo poeta Simonides (à época das Termópilas).

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ζ η ψ ω - teriam sido inventadas pelo poeta Simonides (à época das Termópilas).Refere ainda que Aristóteles colocava como 18 e não apenas 16 letras originais, a saber:

α β γ δ ε ζ ι κ λ μ ν ο π ρ ς τ υ φa que correspondem A B G D E Z I C L M N O P R S T U Fe em termos de sons, faltam apenas aqui o J e o V, que os gregos não usaram. Jasão era escritoIasonas, por exemplo, enquanto que o V parece ter sido mesmo ausente.A substituição dos B pelos V não é só pronúncia do Norte, é também sintoma grego... aliás convémreferir que essa é uma relação que pode sustentar a suposta presença grega no Minho.Estas 18 letras parecem mais plausíveis, pois o ζ e o φ seriam precisos para sons comuns como Z e F.Já as restantes letras inventadas pelos gregos vieram acrescentar confusão...- O θ pouco substitui o T, que passou a Th nas transcrições.- O ξ poderia ser escrito Cs... a menos que tivesse sido pretendido fazer o som Ch. Isto é importante,porque a maioria das línguas europeias usa o som, mas não tem uma só letra para ele. Nós nãodizemos "Alecsandre", dizemos "Alechandre"... Um substituto próximo seria o J para "Alejandre" (éisso que os espanhóis fazem, mas fazendo-o R), mas essa letra também não constava no grego.- Quanto ao χ não fazia falta dado haver o κ ou o ς . O mesmo se passando com os η, ψ, ω cujo somestava no E, PS, O... a menos que se pretendesse distinguir Ê e É ou Ô e Ó, mas devemos ter ematenção que os gregos usavam acentos.Poderíamos continuar o relato de Plínio, para a surpreendente revelação de que osBabilónios/Caldeus, teriam registos das estrelas durante centenas de milhares de anos... mas vamosfocar-nos na questão das letras.

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Uma das letras que os gregos não tinham era o Y.Já aqui falámos na confusão entre Lusitânia e Lysitânia, e relação com a Lídia ou a Lícia...Convém perceber melhor porquê. É que o Y (ipsilon) foi usado como substituto do upsilon acentuado? e por isso, quando se escreve Cyprus, os gregos escrevem Κύπρος.Certo!... Mas, e se por acaso se perder o acento na transcrição?Bom, nesse caso passamos a Κυπρος, Cuprus, que já nada tem a ver com Chipre, tem a ver comCobre, Cuprum, cujo símbolo químico é aliás Cu...Acidental, dir-se-à habitualmente e repetidamente... tantos são os acidentes e as coincidências.Porém, voltamos a Plínio, que nos esclarece que a exploração do Cobre teria tido a sua origem onde?No Chipre, pois claro!Será caso único? Claro que não é, é aliás muito frequente.Estamos habituados a ouvir falar das Guerras Púnicas... e o que é que Púnico tem a ver com Cartagoou com os fenícios? A própria wikipedia explica:

O adjectivo "púnico" deriva do nome dado aos cartagineses pelos romanos (Punici) (de Poenici, ou seja, de ascendência fenícia)

Poenici... porque faltou o H, e deveria ser Phoenici.Cai uma letra nas transcrições, a moda pega rapidamente, e a palavra passa a ser usada.Tivesse a coisa sido necessária e os púnicos nada teriam a ver com os fenícios, sem que houvessesuspeita... de tal forma a fonética tinha sido corrompida.Por isso, quando vamos buscar textos gregos e vemos Lysitanos, devemos lembrar que a diferençapara com Lusitanos é só num acento: Λύσιτανῶν ou Λυσιτανῶν e graficamente, se quisermos admitircorrupção em textos antigos é fácil que Lusia: Λυσια, tenha passado para Lydia: Λύδια.

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corrupção em textos antigos é fácil que Lusia: Λυσια, tenha passado para Lydia: Λύδια.É por isso que é mais importante manter algum espírito e questionar a letra... os relatos de ouro nosrios vinha dos rios lusitanos, enquanto que o rio Pactolo do Rei Creso (ou Midas) só lendariamente foiassociado a ouro.Curiosamente, os franceses mantêm uma pronúncia ambígua no U fazendo soar um I, talvezjustamente como resto desta ligação Upsilon-Ypsilon.Lembrei-me disto, a propósito de uma interessante conversa com Calisto sobre os cavalos lusitanos.Dizia Calisto:

Os cavaleiros ibéricos evoluíam nos campos de batalha de uma forma característica. Tirandoenorme partido da obediência e agilidade das suas montadas, movimentavam-se com rápidastransições e bruscas mudanças de direcção, o que dificultava em muito as manobras dos seusinimigos. Esta equitação peculiar, foi dada a conhecer ao mundo pelos Cynetes, quando estatribo do sudoeste da Península combateu na Grécia contra os Atenienses, auxiliando a vitóriados Espartanos na guerra do Peloponeso (séc. IV a.C.). Tal facto justifica a origem do termo“gineta”, ainda hoje utilizado para classificar esta forma de montar.

Para além do interesse próprio do texto, que espero que o Calisto complete, a referência a Cyneteslevou-me imediatamente à variação do Y em U, com a possibilidade de ser Cunetes, e assim referir-seaos Cúnios (ou Cónios). Isto tem algum relevo no sentido da discussão anterior, já que os lusitanosdas montanhas, que combatiam a pé e em emboscada, não seriam esses típicos cavaleiros. Houveuma perda do legado dos Cúnios (passando tudo a Lusitano), cujas razões já aqui tentámos explicar...A transformação do C em G, essa já é mais recente, mas também muito conhecida, por isso o Cynetepassou a Ginete... mas de "ginetes" até à ligação com os cónios é que fica a grande distância dasuposição de alteração.

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Não se trata aqui de encontrar relações soltas... essas podem ser casuais, e haverá certamentemuitas que nos levam em erro. Interessa mostrar os casos claros, e alertar para estas diferentesalterações.A reconstrução tem que ser feita mais pelo espírito da consistência do que pela letra exacta.Importaria não perder o rasto, já que ele fica mais ténue, a cada mudança ortográfica... perde-se amemória, e perde-se a identidade. Por vezes, surgem surpresas, pelo efeito oposto, como é o caso deEgito e Egitânia... mas dificilmente terá sido essa a intenção, pelo contrário! Temos que contar comos ingleses e franceses para manter a etimologia...Curiosamente, e a propósito de Egipto, na menção grega de Estrabo tanto aparece Αἰγύπτῳ (Aegypto)como Αἰγυπτῳ (Aegupto)... e se os ingleses têm o Y correctamente, há muito que perderam o AE queera usado pelos romanos neste caso (e também em Etiópia). E se o som PT se mantinha à épocaromana, a haver alguma conexão em Egitânia, ela perder-se-à nas areias do tempo...Terminamos apenas com um interessante pormenor, a propósito da relação entre C e G... a cidade deMálaga era denominada Malaca pelos romanos. Aqui não é preciso explicar sobre que outra Malacafalamos... interessa notar que estas alterações produzem um quase total despiste. Nem sequerpodemos associar o G ao C... ambas foram terceiras letras de alfabeto, porque o G acabou por serusado para se substituir a outras letras, ganhando um significado especial até como símbolomaçónico.Da mesma forma, o H encontrado em textos gregos, como por exemplo em Ἡρακλῆς (Herácles:Hércules) será apenas a forma maiúscula do η (eta), pelo que Eracles seria apropriado... e é por essarazão que não nos importamos de tirar o H a hebreus, ficando Ebreus. Mas, o importante, é que essarazão não basta, é apenas mais um elemento para o acumular de razões... a letra conta, mas apenas

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razão não basta, é apenas mais um elemento para o acumular de razões... a letra conta, mas apenascomo mais um elemento na consistência que pode dar corpo ao espírito de pesquisa.

Alvor-Silves, publicado em 25 de Julho de 2011

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As sete monarquiasAlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Segundo Manuel de Figueiredo teriam existido 7 monarquias até à época em que escrevia:1ª Monarquia - Assírios (2183 a.C - 823 a.C) - de Nembroth (Nimrod) a Sadanalapo (Sardanapalo)2ª Monarquia - Medas e Caldeus (823 a.C - 531 a.C) - de Arbaces a Astiages;de Beloco Sul (??) a Baltazar (Belshazar)3ª Monarquia - Pérsia (531 a.C - 329 a.C) - de Ciro II a Dario III4ª Monarquia - Macedónica (329 a.C - 46 a.C) - de Alexandre Magno à linha sucessória dos generais5ª Monarquia - Romana (46 a.C. - 331 d.C) - de Júlio Cesar a Constantino Magno6ª Monarquia - Constantinopla (331 d.C - 800 d.C) - de Constantino Magno a Carlos Magno7ª Monarquia - Germânica (800 d.C - .... ) - de Carlos Magno até então (1603).A 7ª Monarquia terá terminado em 1806, pois de facto com Francisco II terminou o Sacro-ImpérioGermânico... momentaneamente terá passado para Napoleão, que se sagra imperador em 1804, masa potência que se estabeleceu como reinante foi a Inglaterra, de Jorge III, definitivamente com avitória de 1815 em Waterloo. Esse domínio foi consolidado alguns anos depois, com a Rainha Vitória eDisraeli , mas já era efectivo desde a vitória na Guerra dos Sete Anos (1756-63). Podemos por issofalar de uma 8ª monarquia britânica, que se estende na Commonwealth.O que era entendido por Figueiredo nesta divisão por monarquias seria a definição da potênciadominante. Não vemos aí listada a Grécia, o Egipto, a Fenícia, ou Cartago... mas vemos umasequência ininterrupta!A origem está na Babilónia, e mantém-se nessa parte até ao advento de Alexandre... são quase 2000anos, e como só Júlio César a levará para Roma, temos aí depois outros 2000 anos.

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anos, e como só Júlio César a levará para Roma, temos aí depois outros 2000 anos.Os grandes protagonistas, os "Magnos", estão aí listados, mas também estão outros personagensmenos conhecidos.(1) Para ilustrar Nimrod, que Figueiredo diz ser "o inventor da monarquia", basta apresentar oconhecido quadro de Bruegel sobre a Torre de Babel:Nimrod é visto como alguém que desafiou o poder de Deus,procurando que o homem atingisse esse estatuto divino. Naprática teria tentado essa perfeição instaurando uma tirania,que originou fugas. Uma das fugas dessa tirania teriadesembarcado em Lisboa, de acordo com Pinho Leal. Tendohavido múltiplas fugas, de cuja migração surgiram váriasnações, faz sentido associá-lo à questão da divisão em váriaslínguas. O ponto comum dessas várias tribos dissidentesseria o repúdio à tirania de Nimrod.Dante coloca-o preso no seu Inferno, soltando a fraseenigmática: "Raphèl maí amèche zabí almi ".(2) Há um excepcional quadro de Delacroix que ilustra aqueda de Sardanapalo... o último rei desta primeiramonarquia, deposto por Arbaces.Apesar de Arbaces ser uma figura "demasiado" poucoconhecida, terá dividido o poder entre duas potências - osMedas e os Caldeus/Babilónia. Aqui não haveria apenas umapotência, tendo surgido dois focos de poder. Assurbanipal eNabucodonosor serão protagonistas desse domínio...

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É difícil perceber até que ponto Figueiredo ignora tudo o resto...Por exemplo, nesta divisão, a Guerra de Tróia não tem qualquer efeito na alteração da potênciadominante. A vitória dos Aqueus sobre os Troianos é um facto lateral que não teria tido importânciano domínio da potência Assíria. Isto já para não falar na omissão dos reinos orientais, hindús,mongóis ou chineses... Sobre os Egípcios, Figueiredo irá fazer uma divisão em dinastias, mas não osinclui nas monarquias!Uma possível interpretação é que se os Assírios exerciam um poder sobre o resto do mundo (pelomenos europeu), os Egípcios teriam conseguido apenas manter alguma independência.(3) Da Babilónia, passamos a Persépolis com Ciro II, o Grande. Ciro derrotará os arianos, eestabelecerá o Império Aqueménida/Persa. Se na tradição bíblica as figuras anteriores são malretratadas, o mesmo não se poderá dizer de Ciro, que libertará os judeus do seu cativeiro.

Com Ciro há também uma substituição religiosa, com a instituição do Zoroastrismo, de Zaratustra, eparece ter havido alguma harmonia multicultural sob o seu império. No entanto, nem Ciro, nem Darioou Xerxes, seus sucessores, iriam deixar a política de conquistas... tendo os gregos sido uns dosprincipais visados! É especialmente estranha esta insistência na rivalidade greco-persa que só se terámanifestado acentuadamente com os Aqueménidas, tendo passado despercebida antes, comNabucodonosor ou Assurbanipal, por exemplo.(4) Como contraponto, serão os gregos macedónios a conquistar a Pérsia e a destruir todo o legadocultural existente em Persépolis, com a vitória de Alexandre Magno sobre Dario III, em Ipsus, 333a.C. Alexandre que morrerá aos 33 anos e por isso rapidamente a sua monarquia é dividida pelosgenerais.

Ciro visita os corpos do Rei de Susa (tornado seu aliado) e da mulher que se suicida.

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O estatuto de potência única deixará de existir, convivendo na rivalidade entre Seleucidas,Antigonidas, e Ptolomaicos. É especialmente instrutiva a menção sobre o testamento de Alexandre, aodizer que pretendia circumnavegar... a África(!), mas especialmente que pretendia uma migração depopulações de ocidente para oriente e vice-versa, com o propósito de miscigenação. Que ocidentetinha ele em seu poder? Toda a sua conquista não tinha sido feita no sentido oriental?Se este último desejo tivesse sido satisfeito, pois seria natural encontrar populações ocidentaisdeslocalizadas em territórios orientais, talvez mantendo o seu antigo nome, mas em territóriosdiversos, prestando-se à confusão!

(5) Este domínio multipartido dos generais de Alexandre será quebrado com a ascenção de Roma.O protagonista fulcral será Júlio César... masparece aqui claro que o seu principal papel naconsolidação do império pelo lado romanoocorrerá na destituição do último reduto dolegado de Alexandre. Ou seja, no domínio sobre oEgipto dos Ptolomeus... na cedência de Cleópatra.A última resistente vai sucumbir, depois da vitóriade Octávio Augusto sobre Marco António.Porém, é aqui que importa parar um pouco... nãohá dúvida de que Roma passou a ser amonarquia dominante... mas, antes de Júlio Césarera uma República!Ou seja, a Roma é dado este estatuto, deOu seja, a Roma é dado este estatuto, desucessor para a 5ª monarquia, justamentequando muda esse regime político... como se issofosse condição necessária para um poder que jáestava consolidado desde a queda de Cartago!(Roma já nessa época não teria rival à altura...)Acrescenta-se a isto que os próprios romanos vãoficar muito limitados nas suas progressões.Sintoma destas monarquias... atingemrapidamente uma grande expansão territorial,mas depois estabilizam nesses territórios, nãohavendo propriamente uma segunda expansãosignificativa.

César e Cleópatra

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Há vários factores, que há muito nos fazem suspeitar que este poder monárquico não seria o últimodegrau na cadeia de poder... Sejamos mais precisos. De que forma se instituiu o primeiro podermonárquico e de que forma caíu? Será que caíu? Será que não se manteve activo?Será que os magos afastados pelo Zoroastrismo Aqueménida não procuraram restabelecer o seupoder, nem que tivesse sido para isso necessário apoiar um Alexandre estrangeiro, que foi efémerono seu império... Podemos compreender as restrições romanas nas conquistas, mas dificilmente écompreensível a sua estagnação técnica e de exploração marítima... quanto mais não fosse,progredindo pela costa africana, como teria sido desejo de Alexandre. E essas mesmas restrições vão-se manter de umas monarquias para as suas sucessoras.

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(6) A sexta monarquia parece ser uma passagemformal sem sobressaltos, feita pelo próprioConstantino.Há uma mudança de capital para Bizâncio, e umamudança de religião... só isso são motivos paraconsiderar uma diferença. Até porque a profundadivisão que se irá seguir, entre Império RomanoOcidental e Oriental, justifica isso mesmo.Figueiredo acaba por considerar que a linhasucessória da Monarquia será continuada porBizâncio, e só regressará ao lado Ocidental comCarlos Magno.

(7) A importância que é dada a Carlos Magno temjustamente a ver com essa recuperação do ceptroimperial para o lado ocidental, passando para oSacro-Império Germânico - até à queda dosHabsburgos... formalmente representada na derrotaaustríaca contra Napoleão em Austerlitz.Aliás, a relutância ibérica em abdicar do calendáriohispânico, que começava em Augusto, estará ligada aessa reforma educacional medieval levada a cabo porCarlos Magno. Perante a derrota de Carlos Magno em

Constantino - estátua em York, onde foi aclamado imperador.

Carlos Magno. Perante a derrota de Carlos Magno emRoncesvalles, os hispânicos não reconheciam porcompleto esse carácter imperial germânico,chancelado por interposto papal e cúria romana.Continuavam a colocar a sua monarquia de referênciacomo sendo a de César e Augusto... vemos aquicomo a questão religiosa não era tão importantequanto a política. O calendário com o Ano Domini,nascimento de Cristo, podia esperar pelosdesenvolvimentos políticos. Assim, não é deestranhar os sucessivos contenciosos com o papadoao longo da 1ª Dinastia Portuguesa.

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Poderiam navegar fora da chancela imperial, mas isso seriam actos não reconhecidos... até que comD. João I a situação muda. O calendário AD é finalmente aceite e o Infante D. Pedro vai-se colocar aoserviço do Imperador Segismundo, e segue-se a autorização de "des-cobrir". Os reinos europeusparecem independentes, mas estão interligados e condicionados pela chancela imperial que éefectivada pela cúria romana e bulas papais.

(8) O poder do Sacro-Império sofre um grande revés com a derrota dos Habsburgos espanhóis naGuerra dos Trinta Anos, entrando em declínio acentuado, concentrando-se especialmente emassegurar o poder do Império Austro-Húngaro. Perante esse desfecho, segue-se um período denações, de absolutismo local, sem a restrição do poder imperial, e ficam por definir os territórios ainda"não descobertos"... Da Guerra dos Trinta Anos até à Guerra dos Sete Anos, esses "novos" territóriosficam em suspenso, e é após o desfecho vitorioso inglês, em 1763, que se seguem, passados poucosanos, as explorações de Cook.

Carlos Magno

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

A queda formal do Sacro-Império na derrota de Austerlitz, coloca um Napoleão na posição dereclamar o ceptro Imperial, e é mais curioso pois é ele próprio que decide colocar a coroa na suacabeça, e depois na cabeça de Josefina... não haveria ninguém com mais poder do que o próprio!

A queda formal do Sacro-Império na derrota de Austerlitz, coloca um Napoleão na posição dereclamar o ceptro Imperial, e é mais curioso pois é ele próprio que decide colocar a coroa na suacabeça, e depois na cabeça de Josefina... não haveria ninguém com mais poder do que o próprio!

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Aparentemente seria assim, mas a partir daí acabaram-se as vitórias napoleónicas... e começa oacentuado declínio que o levará a Elba e depois a Santa Helena. Apesar dessas derrotas, a Françaemerge facilmente, sem os constrangimentos financeiros que vão atormentar os aliados ibéricos noSéc. XIX, destinados a pagar a factura das guerras. Isso tem um motivo estratégico... de qualquerforma, o Sacro-Império acabava de tombar graças à França e a Napoleão. O último episódio datransferência de poder, e fim completo do Império Austro-Húngaro, irá dar-se com a Primeira Guerra.E é claro que podemos ver a Segunda Guerra como uma tentativa gorada de recuperar o ceptroimperial para o lado germânico, entre múltiplos outros factores concorrentes e divergentes...Porém, como dissemos, isto apenas revela uma componente da movimentações, pelo lado visível dasmonarquias dominantes, pelo que não podemos ignorar as componentes menos visíveis...

Alvor-Silves, publicado em 26 de Julho de 2011

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Kazan e KurskAlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Poucos anos após a Restauração da Independência, em 1646, D. João IV institui a ImaculadaConceição como padroeira nacional. O facto tem especial interesse pois anteriormente, na primeiradinastia, seria invocado Sant'Iago, e na segunda dinastia invocava-se São Jorge em batalha - sendoestes os padroeiros nacionais anteriores.Esta mudança invocava uma posição católica clara, já que um dos pontos de maior controvérsia entreprotestantes e católicos era a tendência politeísta do catolicismo, quando o culto mariano e o cultodos santos começou a revelar um panteão divino. Para vermos a adesão popular ao culto marianobasta reparar que não tem equivalente a manifestação de festas, igrejas, e outras invocações a NªSenhora, implantadas no catolicismo ibérico.A posição portuguesa é complicada pois revela uma dualidade na conjuntura de Vestfália. Portugalindependente procurava algum apoio da coligação que tinha esmagado os Habsburgos e o Sacro-Império, mas por outro lado iria acentuar a sua faceta católica ligada à Igreja Romana, onde estarialigado à Espanha. Aliás, as pazes com Espanha ficaram praticamente definitivas desde o Tratado deLisboa de 1668. Esta influência geral do culto mariano é ainda notada no estabelecimento da Nª Sra.de Guadalupe enquanto padroeira das Américas.KazanPara além desta acentuada manifestação mariana ibero-americana, também na Rússia se notou um importante cultomariano. Um dos casos icónicos é a história da Nª Sra. deKazan, imagem encontrada em 1579 na cidade tártara deKazan, na República do Tartaristão. Este precioso ícone foiassociado pelos russos à protecção da invasão polaca-lituana

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associado pelos russos à protecção da invasão polaca-lituanade 1612, invasão sueca de 1709, e napoleónica de 1812,tendo sido roubado em 1904.

O importante ícone russo encontrado em 1579 (ano que sesegue a Alcácer-Quibir) vai depois ter uma históriaportuguesa, através do Exército Azul - Apostolado Mundial deFátima. Nª Sra. de Kazan - réplica de Fátima

Esta organização americana associa-se àpromessa de conversão da Rússia comunista,colocando a sua sede em Fátima. Em 1993,quando já é efectiva essa mudança na Rússia,oferece a João Paulo II uma Nª Sra. de Kazan,comprada em leilão e que estava em Fátimadesde 1970. Apesar de se vir a constatartratar-se de uma réplica do Séc. XVIII,retornará a Kazan em 2005. Lembro bem oedifício com cúpula ortodoxa, que destoava napaisagem de Fátima, que antes era a Pensãodo Exército Azul, e é agora o Domus PacisFatima Hotel.Exército Azul - Domus Pacis Fatima Hotel

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

KurskOutros famosos ícones russos de Nª Senhora são o de Vladimir e o de Kursk:

Perante a vitória bolchevique, o ícone de Nª Sra. de Kursk foi levado pelo Exército Branco para aIgreja Ortodoxa Russa de Nova-Iorque.Kursk foi ainda uma batalha decisiva que determinou a inversão do domínio alemão na 2ª GuerraMundial face às tropas russas.Kursk acabou por ficar definitivamente associado ao nome do submarino que, pretendendo honrar

Nª Sra. de Vladimir; Nª Sra. de Kursk

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Kursk acabou por ficar definitivamente associado ao nome do submarino que, pretendendo honraresta batalha, teve um triste final em Agosto de 2000, ao ter afundado no Mar de Barents com a suatripulação de 118 homens, num incidente envolto em controvérsia e mistério.Porém, o assunto que motivava este texto era outro - a Anomalia Magnética de Kursk.Em Kursk ocorre a maior anomalia magnética terrestre, já conhecida desde 1733. Ou seja, é umazona de grande concentração de ferro magnetizado, que localmente afectará as bússolas.

A suposta constituição interna da Terra, com um núcleoférreo, é usada como boa justificação para a existênciado campo magnético, causada pela rotação terrestre.Porém, não havendo referencial absoluto convém referirque essa rotação terrestre só se manifesta com algumsignificado através do Sol e Lua. O movimento érelativo, e os únicos corpos de dimensão relativasignificativa que testemunham a rotação terrestre são oSol e a Lua. A teoria magnética fica ainda maiscomplicada quando é preciso admitir Hidrogénio"Metálico" para justificar os grandes campos magnéticosde Júpiter ou do Sol... na prática significa colocar umCristal octaédrico de magnetite Fe3O4 .gás com propriedades de sólidos, que poderiam ocorrer a temperaturas muito baixas, mas que só sejustificam através de pressões muito altas, numa zona onde é também suposto ocorrer a fusãonuclear, responsável pelas altíssimas temperaturas... um caldo de explicações e teorias com muita fé,que poucas vezes batem certo! É uma fé mais sofisticada do que aquela que se manifesta nos íconesde Nª Senhora, mas que encerra também muitos mistérios...OdeMaia, publicado em 10 de Julho de 2011

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Naica e os cristais gigantes

AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Na mina de Naica, no meio de um deserto mexicano, zona de Chihuahua, foi encontrada em Abril de2000 uma surpreendente caverna, a uma profundidade de 350 metros.

O leão de TechialoyanOs códigos de Techialoyan são documentos aztecas tardios (entre 1685-1700) que parecem reflectirregistos de propriedade, que estavam a tentar ser recuperados. Para além de usarem já um alfabetolatinizado, são de uma produção independente, e mantêm figuras muito interessantes.Uma dessas figuras é o Leão ____________Qual o contacto que os Aztecas tinhamcom esse animal, a ponto de o incluíremnestes textos?Tinham os espanhóis levado leões, queimpressionaram os Aztecas? Havia leões noMéxico?Um coração e um leão... coração de leão,são invocações estranhas, que dificilmentese justificam numa produção independentede carácter local.

OdeMaia, publicado em 23 de Julho de 2011

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2000 uma surpreendente caverna, a uma profundidade de 350 metros.O notável é a dimensão dos cristais que seproduziram... estamos habituados a verformações de cristais deste tipo, mas emescalas 10 vezes menores. Aqui os cristaissurgem como autênticas colunas queatravessam a caverna.Quando vi estas imagens pensei que setratava de manipulação fotográfica (... jácomeçamos a pensar assim, de formanaturalmente desconfiada), porém oassunto tem merecido a devida atençãocientífica, como podemos ver nareportagem do Discovery Channel

[ http://www.youtube.com/watch?v=KSbId57pzm4 ] Naica project - Discovery channelNuma região "Chihuahua" é um pouco irónico encontrar estruturas gigantescas.Porém esta descoberta não é propriamente um "grande mistério", só o será em termos da escala, edeveria levar os geólogos a reverem algumas das convicções enraizadas. Contudo, é até engraçadover na sequência de vídeos a equipa de especialistas a tentar produzir uma data... o esquema é o"mesmo de sempre", ver o crescimento hoje, durante um ano, e depois dividir pelo tamanho doscristais! É assim que se faz ciência... o que se mede hoje e aqui serve para toda a eternidade e maisalém! Não é que seja um exercício inútil, e pode dar uma ideia... o problema é que passados uns anosesta "primeira aproximação" já serve para quase tudo! A maior piada que daí resultou são asmedições astrofísicas e as conjecturas sobre o "início do universo"...

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

O único ponto aqui, para além de apontar as notáveis imagens, será enfatizar que estas estruturas seencontraram a 350 metros do solo... Nem sequer estamos a explorar a 1 Km no interior da Terra, e jáestamos a encontrar estruturas menos vulgares - que parecem doutros tempos, digamos de umtempo de gigantes. A crosta é suposto ser bastante maior, podendo atingir perto de 100 Km... peloque há uma "infinidade" de desconhecimento interno, especialmente se notarmos que nem asuperfície (por exemplo, as profundezas marítimas) estão bem identificadas. O modelo maissimplificado, que remonta a Rayleigh, já foi revisto para comportar uma divisão entre litosfera eastenosfera, pelas inconsistências das medições sismográficas do terramoto de 1960 no Chile.Não será novidade dizer que bastarão 100 metros de entulho em cima da nossa "avançadissima"civilização, para que ninguém suspeitasse que aqui alguma vez tinha existido alguma coisa! Nosentido contrário, talvez se escavássemos a algumas centenas de metros aparecessem mais grandessurpresas, de outros tempos...Bom, e quem pode fazer perfurações na Terra?As indústrias petrolíferas... e as perfurações vão continuando a ser necessárias, porque o petróleocontinua a não ser substituído por fontes alternativas de energia...

OdeMaia, publicado em 29 de Julho de 2011

http://odemaia.blogspot.com/2011/07/naica-e-os-cristais-gigantes.html Página 49

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Tempestade SaturninaAlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

Em Dezembro de 2010 ocorreu uma "tempestade" em Saturno, de tal forma grande que foi observadaprimeiro por astrónomos amadores...Este facto é em si insólito, já que ocorrências nos planetas (não há assim tantos...) é suposto estarema ser monitorizadas por profissionais. Segundo o site do CICLOPS (Cassini Imaging Central Laboratoryfor Operations), registou-se o seguinte:

[These raw] unprocessed images of Saturn were taken on Dec. 24, 2010. They show anenormous storm in the northern hemisphere of the planet, seen earlier by amateurastronomers and now seen clearly for the first time by Cassini.

Alguém perguntou ainda quando tinham sido vistas pelos "amadores", mas não obteve resposta...Este grande acontecimento teria sido uma oportunidade única, já que a Sonda Cassini estava perto, epor isso "exigiam-se" imagens com algum detalhe, melhor do que as que os amadores viam nos seustelescópios. As imagens tiradas no dia 24 chegaram no dia 27 de Dezembro, mas a velocidade da luzdemora o mesmo para a Cassini do que para os amadores. Não sei se se falou muito mais doassunto...Esquecendo esse detalhe, pegando na imagem depois divulgada pela NASA vemos uma manchaesbranquiçada, digamos demasiado esbranquiçada:Porquê demasiado esbranquiçada?Se colocarmos um bocadito de contraste (gama) na imagem, fica mais claro o que pretendemossalientar:

http://odemaia.blogspot.com/2011/07/tempestade-saturnina.html Página 50

... ou seja, não parece haver qualquer continuidade entre a imagem do planeta e a imagem damancha!Para quem já usou ferramentas de imagem, sabe que uma coisa destas "parece" uma mistura deduas imagens diferentes.A partir daqui, eu aconselharia a quem quiser ter imagens de Saturno, ou outros planetas, a comprarum telescópio, e regressar aos velhos métodos! Mas, não há dúvida que as imagens da NASA sãohabitualmente bem mais bonitas...

OdeMaia, publicado em 31 de Julho de 2011

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AlvoDeMaia (2011) Volume 2, nº 7.

João de Lisboa, 1514

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Volume 2 – Número 7Julho de 2011