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    Roda da FortunaRevista Eletrnica sobre Antiguidade e Medievo

    Electronic Journal about Antiquity and Middle AgesActas del II Congreso Internacional de Jvenes Medievalistas Ciudad de Cceres

    La Guerra en la Edad Media: fuentes y metodologa, nuevas perspectivas, difusin y sociedad actual

    Bruno Gonalves Alvaro1

    Um estudo sobre a atuao guerreira dos bispos-senhoresnos sculos XI e XII: desmembramentos da pesquisa

    A Study about the Military Actions of the Bishops-lords in the 11thand 12thcenturies: dismemberment of research

    Resumo:

    A comunicao aqui apresentada tem por objetivo trazer tona os primeirosapontamentos a respeito da atuao guerreira do episcopado no decorrer do sculoXI e XII levando em considerao a condio senhorial dos mesmos. Neste caso, osenunciados guerra e senhorio nos parecem ser o ponto de partida para analisar asrelaes de poder calcadas em negociaes definidas graas ao posicionamentosenhorial-episcopal de certos indivduos. Est investigao em curso tem sidodesenvolvida no mbito do Programa de Ps-Graduao em Histria daUniversidade Federal de Sergipe onde atuo como professor e orientador de

    mestrado.Palavras-chave:Guerra; Senhorio; Episcopado.

    Abstract:

    This presentation have as aim to carry out and present the first appointmentsconcerning to the warrior proceeding of the episcopate during the 11 th and 12thcenturies, according to your condition of landlord. In this case, the enunciation on

    war and seigniory seems us the point of departure to analyse the relationship ofpower, which is based on negotiations according to the position as seigniory and as

    episcopal of some characters. This research in course have been developed in thePrograma de Ps-Graduao em Histria of the Universidade Federal de Sergipe,

    where I teaching in the Master programme.Keywords:

    War; Seigniory; Episcopate.

    1Professor Adjunto I de Histria Medieval no Departamento de Histria e do Programa de Ps-Graduaoem Histria da Universidade Federal de Sergipe. Pesquisador associado do Vivarium Laboratrio de

    Estudos da Antiguidade e do Medievo (www.vivariumhist.com).

    http://www.vivariumhist.com/http://www.vivariumhist.com/http://www.vivariumhist.com/http://www.vivariumhist.com/
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    Um estudo sobre a atuao guerreira dos bispos-senhores nos sculos XI e XII:desmembramentos da pesquisa

    Roda da Fortuna. Revista Eletrnica sobre Antiguidade e Medievo2014, Volume 3, Nmero 1-1 (Nmero Especial), pp. 10-31. ISSN: 2014-7430

    Introduo

    Os apontamentos que aqui apresento no possuem objetivos conclusivos,tampouco, sacramentaro respostas aos questionamentos que venho medebruando. Em suma, no trago aqui aos colegas um fim de investigao. Mas, sim,o primeiro passo, as primeiras reflexes de um trabalho que me tomar flego,tempo e que, no tenho dvidas, necessitar de maturao atravs de dilogoconstante com outros pesquisadores.

    Sendo assim, fundamental salientar um agradecimento especial Direo

    deste II Congreso Internacional de Jvenes Medievalistas Ciudad de Cceres pelaoportunidade de interagir com a temtica proposta neste corrente ano de 2013: Laguerra en la Edad Media: fuentes y metodologa, nuevas perspectivas, difusin y sociedad actual.No obstante, minha exposio ter como pano de fundo as relaes do que venhochamado de poder senhorial-episcopal, minha investigao em curso tem melevado a observar, cada vez mais, como a guerra na Idade Mdia, suas estratgias,relaes firmadas, motivaes e consequncias influenciaram profundamente asrelaes de poder e os tensionamentos entre os diversos tipos de senhoriomedievais e os poderes neles envolvidos.2

    Como bem salientou Francisco Garca Fitz, seja qual for o perodo histricoe praticamente em todas as culturas, las actividades guerreras y el entremadoorganizativo que las rodea han marcado, de manera ms o menos profunda, elcarcter de las relaciones sociales, el dessarollo de las instituciones (...)(Garca Fitz,1998: 9). Finalmente, ele alerta ao fato de que a influncia da guerra na Idade Mdiaalcanou nveis notveis, estando imbricada de maneira densa nas esferas sociais(Garca Fitz, 1998: 9).

    Ou seja, frente ao que foi afirmado acima, penso, deste modo, que estudar asrelaes mantidas nos senhorios episcopais deixando ausente a atuao militar dos

    bispos senhores, inclusive, melhor seria nos referirmos a eles como senhoresbispos,3 incorrer no equvoco de pensar que aquilo que se d como bvio nopossui nas suas entrelinhas subsdios pertinentes para a problematizao emHistria.

    2A discusso sobre o senhorio na Idade Mdia vasta e complexa, indicamos sobre o tema (Barthlemy,2002: 465-476; Fontana i Lzaro, 1977; Guerreau, 1982; Guerreau, 2002: 19-30; Guerreau, 1998: 91-116; SezSnchez, 2010).

    3Sobre este aspecto, que no meramente semntico ou estilstico, me referirei de forma mais concreta no

    decorrer de meu texto.

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    Em uma passagem que tenho considerado exegtica sobre o quanto a prticamilitar episcopal influenciou nas relaes de poder nos senhorios de bispos na Idade

    Mdia, o medievalista francs Marc Bloch nos alerta:

    No so precisos, acima de tudo, prelados capazes de governar e at defazer a guerra? Bruno de Toul que, com o nome de Leo IX, se tornariaum papa muito santo, devia a sua s episcopal, especialmente, squalidades de que tinha dado provas como oficial de tropas. s igrejaspobres, o soberano d, de preferencia, bispos ricos (Bloch, 1982: 388).

    Ora, no h, certamente, nenhuma novidade de que bispos empunhavam

    com o mesmo fervor bculos e espadas. Entretanto, me questiono: at que pontoisto no influenciou suas relaes/condies senhoriais? Ou seja, tomando dereboque a afirmao de Bloch: mesmo a elevao condio episcopal, em algunscasos especficos, no teve o fazer a guerra, o atuar militarmente nas hostes,influncia importante para o fortalecimento de um ou outro bispo? No seriamantes de tudo senhores da guerra para serem melhores pastores de ovelhas e vice-

    versa?

    Nesta breve apresentao, e na investigao que venho conduzindo, estas eoutras perguntas tm norteado minhas reflexes. Alerto que minha anlise est

    inserida num projeto de pesquisa mais amplo, iniciado em agosto de 2013 eintitulado: Idade Mdia e Modernidade: Um estudo sobre as relaes de poder na sociedadesenhorial ibrica atravs da documentao e da historiografia, vinculado ao Departamento deHistria e ao Programa de Ps-Graduao em Histria da Universidade Federal deSergipe.

    Esse projeto tem como intuito principal analisar a documentao senhorialepiscopal de diversas igrejas da Pennsula Ibrica e verificar comparativamentecomo em cada uma delas relacionava-se com a monarquia castelhana entre ossculos XI e XIII e, consequentemente, como se davam os tensionamentos,

    negociaes e relaes de poder inerentes ao senhorio. Um de seus desdobramentos justamente pensar a atuao dos bispos na guerra na Idade Mdia e como issoinfluenciou ou no na sua condio de senhores e na manifestao daquilo queentendemos como poder senhorial-episcopal.

    Uma vez apresentada a problemtica, destaco que este texto estarorganizado em trs partes, a primeira delas e que expomos logo a seguir, diz respeitoao conceito de poder que temos empregado aqui para pensar a atuao militar dossenhores bispos e o que temos entendido por poder senhorial-episcopal. Apsisto, por questes bvias de espao apresentaremos a documentao de um dos

    casos especficos da nossa pesquisa em andamento: O senhorio episcopal de

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    Sigenza. E concluiremos com uma rpida referncia de seus bispos na guerra e oque consideramos como motivaes para tal.

    A alquimia entre o bculo e a espada: O poder senhorial-episcopal comoexemplo de amlgama

    Para mim, o principal ponto de partida para entender a atuao dos bisposnos conflitos armados na Idade Mdia, tem sido o senhorio. Eu tenho inferido queas relaes firmadas entre bispados e monarquiasou mesmo foras laicas locais contriburam de maneira substancial para a incurso episcopal na guerra.

    Diante de tal realidade, trs aspectos devem ser observados: 1) o senhorio nas suas mais diversas facetas como elemento chave das relaes entre igrejas emonarquia; 2) a no desvinculao, na prtica cotidiana, entre a atuao episcopal esenhorial no caso de dioceses senhorizadas e, com isso, 3) o poder senhorial-episcopal como resultado de tal fuso (atuao episcopal e senhorial de certo bispo).

    Uma vez que o termo poder tem sido utilizadopor mim na pesquisa comosinnimo das tensas relaes que ocorrem dentro de algumas organizaes sociais,na qual os interesses especficos so fomentados ao mesmo tempo em que,

    dialeticamente, reincidem e transformam um universo mais amplo de interesses epropsitos socialmente partilhados, o poder senhorial-episcopal o resultado da noseparao, na prtica cotidiana, do exerccio de governo do Senhorio e da Diocesepelo bispo como uma coisa s.4Ou seja, separar na anlise das decises oriundasdas relaes entre episcopado e monarquia a condio senhorial dos bispos a frentedas dioceses, dotando de sentido meramente religioso e eclesistico osposicionamentos dos bispados verificados na documentao, seria incorrer no errode transpor para a Idade Mdia lgicas presentes apenas numa Modernidade jconsolidada com instituies e suas funes bem definidas.5

    O que estou afirmando de forma veemente que o que tenho observado nasdioceses possuidoras de senhorios, os mais diversos possveis, que os bispos eem alguns casos, tambm o cabido no separam na prtica o que decisomeramente diocesana ou meramente administrativa.6

    4Sobre o conceito de poder adotado, ver Given (1997).

    5Ver sobre isso, por exemplo (Bobbio, Matteucci, Pasquino, 1998; Hespanha, 1994).

    6Aqui observa-se, por exemplo, como a dicotomia eclesistico e laico no sempre foi to bem definido

    como a historiografia nos d a entender.

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    Alguns autores, no excessivo cuidado na diferenciao entre diocese esenhorio, parecem ignorar um dado fundamental presente ao menos nos casos que

    tenho me deparado em minha pesquisa: a simbiose entre as funes senhoriais eepiscopais quando o senhorio era entregue nas mos de um bispo e no que issoacarretava. Ora, pensar, como identifiquei em alguns trabalhos, que no exerccioprtico os prelados diferenciavam ou separavam suas obrigaes senhoriais-episcopais , no mnimo, ilusrio.

    Adrin Blzquez Garbajosa afirma que:

    Obispo y seor son, pues, dos poderes distintos aunque encarnados en

    este caso en una misma persona, al igual un seor laico poda ser almismo tiempo miembro de un consejo de Castilla o corregidor de unaciudad sin que por ello existiese confusin de poderes entre susposesiones seoriales y sus funciones en tanto que representante de laautoridad real. En el caso del obispo-seor la potesdad eclesisticarepresenta, en cierto modo, la causa profunda de la donacin seorial: aljefe religioso se le concede una potesdad civil en la ciudad cabeza de suobispado, aumentando as su prestigio y engrandecindolo a la vista desus feligreses. Esa misma deferenciacin entre dicesis y seoro esaplicable sin duda, a todos los seoros episcopales espaoles (BlzquezGarbajosa, 1988: 58).

    Apesar de eu reconhecer que diocese e senhorio so duas instnciasdiferentes e, consequentemente, dois espaos de poder distintos, defendo, repito,que quando se encontram unidos nas mos de um mesmo representante, o bispo,no h distino prtica no exerccio da autoridade do poder senhorial. Por isso,inclusive, o denomino, de poder senhorial-episcopal e no apenas senhorial.

    Assim, me vejo obrigado a matizar as consideraes deste historiadorespanhol, justamente por discordar da perspectiva de que estes dois poderesdistintos no exerccio cotidiano da autoridade senhorial-episcopal sejam

    distinguidos, separados pela persona que os detm. Como eu disse anteriormente,insistir nesta perspectiva , no mnimo, incorrer num equvoco.

    Finalmente, considero que pensar o poder senhorial-episcopal como umamlgama, apresenta, no mnimo, duas vantagens substanciais para minhainvestigao: Possibilita-me reconhecer a especificidade de um campo de poderdemarcado poltica e institucionalmente pela existncia, por exemplo, da monarquiacastelhano-leonesa, mas, ao mesmo tempo, indica que este campo s alcana sentidose compreendido nas tenses decorrentes da condio senhorial dos envolvidos,uma vez que no podemos ignorar que a monarquia tambm era possuidora de

    senhorios na Idade Mdia.

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    Por fim, em segundo lugar, a vantagem de perceber que o poder senhorial-

    episcopal a assimetria de posies sociais e diferena de interesses, logo, uma arenaaberta ao conflito e luta. Entretanto, pressupe, ao mesmo tempo, cooperao,solidariedade, envolvimento e aproximao.

    Assim, eu defendo que o senhorio um dos elementos chave paraentendermos os muitos motivos da incurso dos bispos na guerra na Idade Mdia,pois, como afirma Given:

    Lordship is probably one of the first social bonds that springs to mind

    when we think about medieval social solidarities. It is a complexphenomenon, embrancing a wide variety of relationships. These rangefrom intimate, face-to-face ties of a master and his household retainersto the highly formalized, and often emotionally distant, relationships of agreat prince and his subjects (Given, 1997: 169-170).

    A seguir exemplificarei a manifestao do poder senhorial-episcopal e suasrelaes com a atuao dos bispos na guerra tomando por base o caso da diocese deSigenza e sua documentao.

    Um estudo de caso: O corpusdocumental seguntino

    A documentao diplomtica da diocese de Sigenza no recebeu, aindahoje, um estudo crtico especfico aps a sua publicao por Toribio Minguella y

    Arnedo, em 1910, como anexo de sua Historia de la Dicesis de Sigenza y sus Obispos(Minguella y Arnedo, 1910: 347-389). Seu cartulrio foi estudado por Carlos SezSnchez em dois artigos especficos: Ordenar y conservar en la catedral de Sigenza (siglos

    XII-XIII), de 2001, e Orden, conservacin y ostentacin: el cartulrio de la catedral de Sigenza

    (c. 1212), publicado em 2006 (Sez Snchez, 2001: 75-92; Sez Snchez, 2006, 171-199).

    Nestes textos, o pesquisador ressalta que a pesar de la riqueza de su fondode manuscritos medievales, que se remontan hasta el siglo X, la biblioteca capitularde Sigenza no goza de la fama de otras espaolas (Sez Snchez, 2006: 172),como, por exemplo, Toledo, Sevilha ou mesmo Santiago de Compostela. CarlosSez Snchez identifica esse problema de isolamento e falta de divulgaodocumental situao geogrfica dessa cidade de raiz medieval longe das principais

    via de comunicao (Sez Snchez, 2006: 172).

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    Esses artigos, assim como, por exemplo, os publicados por Almudena E.Gutirrez Garca-Muoz (Garca-Muoz, 2002: 133-142; Garca-Muoz; Sez

    Snchez, 2002: 105-116),7 tm a peculiaridade de por em pauta a importncia eriqueza dos arquivos seguntinos, destacando, fundamentalmente, os do perodomedieval. Contudo, no apresentam nenhum estudo crtico da documentaopropriamente dita.

    No buscarei aqui realizar uma arqueologia da documentao seguntina. Poreste motivo, me fixarei, exclusivamente, na chamada Coleccin Diplomticapresente nolivro j citado Historia de la Dicesis de Sigenza y sus Obispos, publicado por ToribioMinguella y Arnedo. Este extenso trabalho , ainda hoje, a mais completa snteseque se pode ter acesso sobre a histria do referido bispado e sua cidade na Idade

    Mdia. Como ressaltado, ele foi escrito pelo fillogo espanhol e bispo de Sigenza,Minguella y Arnedo, entre 1910 e 1913 (Minguella y Arnedo, 1910; Minguella yArnedo, 1912; Minguella y Arnedo, 1913).

    O que me interessa aqui ressaltar a importante compilao documentalempreendida por Minguella y Arnedo, que no consta como novidade, vide otrabalho de Antonio Carrillo de Mendonza, do sculo XVIII (Carrillo de Mendoza,s/d),8mas que sem dvidas a mais completa ainda hoje. Somente no volume I soapresentados 273 documentos, alguns transcritos do Cartulrio da Catedral deSigenza e outros a partir dos pergaminhos soltos preservados no arquivo

    diocesano. Eles esto presentes nos anexos intitulados Apndices e ColeccinDiplomtica. No volume II so mais 179, sem contar uma lista com mais 19, parte,como um complemento coleo, mas que no foram copiados por parecernos demenos importancia, conforme afirma o autor(Minguella y Arnedo, 1912: 673). Ouseja, desta maneira, so um total de 452 documentos, que vo do ano de 1124 a1529. No sabemos os motivos pelos quais o terceiro volume da obra no segue omesmo padro das demais, no contendo, assim, os Apndices e a ColeccinDiplomtica.

    A Coleccin Diplomtica, na qual esto inseridos os documentos que tenho

    utilizado em minha pesquisa, corresponde ao anexo final do Tomo I do livro7Destaco, tambm, porm em uma linha mais voltada para a divulgao do Arquivo Municipal de Sigenza,os artigos da arquivista seguntina (Donderis Guastavino, 2009: 31-32; Donderis Guastavino, 2007: 38-39;Donderis Guastavino, 2007: 473-482).

    8Encontrei algumas discrepncias sobre o real ttulo da obra. O nome Memrias para la Historia... aparece naquarta folha do manuscrito, aps o Indice de los documentos contenidos en neste volumen, porm, no Diccionariobibliogrfico-histrico, escrito por Tomaz Muoz y Romero, o ttulo bem mais extenso, no entanto, a descriode onde encontrava-se o manuscrito confere com aquela disponibilizada por Minguella y Arnedo em seulivro, assim, como as informaes por mim levantadas no Banco de Dados da Biblioteca Nacional de Espaa.Porm, o manuscrito, no site da instituio e sua disponibilizao digitalizada, est nomeado como Documentosde la Iglesia de Sigenza. Utilizo esta nomenclatura quando nos referimos a obra. Ver sobre isso (Muoz y

    Romero, 1858: 248).

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    Historia de la Dicesis de Sigenza y de sus Obispos. Com um total de 265 documentosdatados entre 1124 a 1300, esta parte da obra de Toribio Miguella y Arnedo cobre

    um longo perodo da histria diplomtica seguntina, tanto de seu senhorio como dadiocese em si.

    Grande parte dos textos compilados por Miguella y Arnedo foram retiradosdo cartulrio da Catedral de Sigenza que, como destaca Carlos Sez Snchez, datado de princpios do sculo XIII (Sez Snchez, 2006: 171, 185). Em termosquantitativos, em relao origem dos textos copiados por Toribio Minguella y

    Arnedo na Coleccin Diplomtica, verifica-se o seguinte parmetro: do total por mimestudado, 24 documentos so oriundos do cartulrio redigido em meados do XIII, amando do bispo seguntino Rodrigo; 7 copiados de manuscritos soltos presentes

    tambm no arquivo diocesano seguntino; dois no possuem identificao de origem(Docs. VI e XIV) e um (Doc. XVII) assinalado como copiado do original e docartulrio, muito provavelmente pelo fato de Minguella y Arnedo ter cotejado osdois exemplares do material.

    Como afirma Sez Snchez, os cartulrios so livros nos quais se copiavamos documentos recebidos por algumas instituies. Eles so um fenmeno europeuque surge no sculo X e, ao que tudo indica, na Hispania em finais do sculo XI,sendo utilizados at o XIX (Sez Snchez, 2006: 175). Sua elaborao relaciona-se,na Europa, a um movimento reformador que consiste na ordenao e

    sistematizao dos benefcios eclesisticos, com o objetivo de fazer frente susurpaes laicas (Sez Snchez, 2006: 185; Sez Snchez, 2005, 37-48). No casohispnico, defende-se, como possvel origem para os cartulrios, a ilegibilidade daescrita visigtica dos pergaminhos originais para os clrigos dos sculos XII e XIII eda instabilidade poltica dos reinos de Castela e Leo, o que aconselhava fazer umacpia de segurana dos pergaminhos soltos (Sez Snchez, 2006: 171-199).

    No caso do de Sigenza, o autor d notcias que o seu mais antigo cdicediplomtico, ainda preservado noArchivo Histrico Diocesano de Sigenza, data, como jressaltado, do sculo XIII (Sez Snchez, 2006: 172). Mesmo no sendo meu intuito

    empreender aqui um estudo da biblioteca e do cartulrio do arquivo da Catedralseguntina, trabalho j realizado por Carlos Sez Snchez e Almudena E. GutirrezGarca-Muoz (Garca-Muoz, 2002: 133-142), cabem alguns esclarecimentos.

    Como ressalta Sez Snchez, a personalidade e o alto nvel cultural dosprimeiros prelados seguntinos, de origem francesa, podem ser consideradas as basessobre as quais se assentou a rica biblioteca da catedral, cujo ncleo original estformado por um acervo de livros trazidos da Aquitnia pelo bispo Bernardo de

    Agn. Para ele, isso justifica, por exemplo, a presena de cdices escritos em carolina,letra que no era mais utilizada no momento em que a sede foi conquistada dasmos islmicas (Sez Snchez, 2006: 172). Entre os sculos XII e XIV, a bibliotecade Sigenza chegou a possuir 280 livros. Segundo Sez Snchez, atualmente o

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    arquivo da catedral conta com mais de cem manuscritos medievais, no entanto, faltaser feito um inventrio completo e atualizado (Sez Snchez, 2006: 173).9

    Como destacado por Almudena E. Gutirrez Garca-Muoz:

    Los cdices diplomticos son libros de especial inters en la sociedad ycultura medieval debido a su vital importancia en los procesos deconservacin, transmisin y utilizacin prctica de documentos por lasinstituciones productoras (Garca-Muoz, 2002: 133).

    Criado por iniciativa do bispo seguntino Rodrigo, que esteve frente dadiocese entre 1192 e 1221, o cartulrioda Catedral de Sigenza o resultado de pelomenos trs fases diferentes. A primeira delas compreendeu o perodo de 1207-1212,no qual se realizou a cpia da maior parte da documentao, que inclui osdocumentos do perodo de Bernardo de Agn at 1212. A segunda fase encerra-seem 1250, enquanto a ltima se prolonga a partir dessa data adentrando o perodomoderno (Garca-Muoz, 2002: 134).

    Em seus estudos sobre o cartulrio medieval seguntino, Carlos Sez Snchezfaz interessantes consideraes sobre sua composio e que agora sintetizo. Paraeste autor, as motivaes da elaborao de tal projeto por parte deste bispo de

    Sigenza esto inseridas nos aspectos que j ressaltei anteriormente. Porm, cabemmais algumas observaes. Como alertado, um dos motivos atribudos criao doscartulrios era evitar frequentes perdas, motivadas por roubo, descuido nomanuseio, incndios, para preservar os originais, etc.

    No entanto, Sez Snchez afirma que somado a essas questes prticas equelas de cunho de instabilidade poltica, deve-se adicionar certo desejo deostentao por parte das dioceses. Ele demonstra isso, por exemplo, atravs deoutro cartulrio, o Tumbo Ada Catedral de Santiago de Compostela, confeccionadoem 1129 (Sez Snchez, 2006: 185).

    Segundo o historiador espanhol, em seu prlogo se alude tanto a ilegibilidadedas escrituras como a perda das mesmas para justificar a elaborao do cartulrio.Contudo, para ele, parece evidente, tambm, a j referida vontade de expor agrandeza da sede compostelana, que mediante os adornos e miniaturas presentes nocdice, pretendia mostrar a riqueza da nova dignidade arcebispal que havia sido

    9 Como alertado pelo autor, o ltimo inventrio publicado data de 1926, ou seja, antes da Guerra Civilespanhola, momento que a igreja de Sigenza foi demasiadamente prejudicada. Seu arquivo e biblioteca foramatingidos por vrias bombas, o prdio foi praticamente destrudo e tem-se conhecimento que, no perodo,diversos livros e documentos foram soterrados com os combatentes que se protegiam no local. Ver tambm

    (Manrique Garca, 2009).

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    Um estudo sobre a atuao guerreira dos bispos-senhores nos sculos XI e XII:desmembramentos da pesquisa

    Roda da Fortuna. Revista Eletrnica sobre Antiguidade e Medievo2014, Volume 3, Nmero 1-1 (Nmero Especial), pp. 10-31. ISSN: 2014-7430

    dotada alguns anos antes, em 1120 (Sez Snchez, 2006: 185-186). Deste modo, poranalogia, o pesquisador considera ser o mesmo caso para a elaborao do cartulrio

    de Sigenza.

    No que diz respeito sua utilizao, por comportar em apenas um volumegrande parte da documentao diplomtica da diocese, sua consulta se tornafacilitada. Isso demonstra, entre outras coisas, que, apesar de smbolos deostentao, os cdices tambm eram ferramentas de utilizao cotidiana. Comoafirma Carlos Sez Sanchez, las muchas anotaciones marginales que suele haber enlos cartularios hispanos puebran que eran libros que se utilizaban constantemente(Sez Snchez, 2006: 186; Sez Snchez, 1999: 899-916).

    Porm, sobre o cartulriode Sigenza:

    Sigue por tanto el modelo de los libros universitarios nacidos en Pars,Bolonia y Oxford, cuyo fin es el estudio y la consulta. En ellos eranecesario poder encontrar con facilidad cualquier parte de su contenido,hecho que constituye su primer objetivo. [...] el libro seguntino conservauna fuerte tradicin altomedieval. Su ornamentacin es remarcable, porlo cual no es del todo un libro utilitario, sino un libro-tesoro como otrosmuchos altomedievales, con una finalidad de ostentacin del comitente,[...]. Por tanto, algunos de sus elementos sirven para ambos fines, utilidady ostentacin: las iniciales que alternan rojo y azul sirven tanto para uso yfacilidad de bsqueda como para crear un libro lujoso. Por otra parte, y adiferencia de otros cartularios hispanos, no ha sido casi usado, pues susmrgenes se conservan intactos y en muy buen estado. Las anotacionesque hay son ms bien escasas y la inmensa mayora modernas, de lossiglos XVI al XVIII. Es por tanto un libro destinado a perpetuar el saberpero no para ser consultado, mientras que los nuevos libros que nacen alcalor de las universidades son libros para ser ledos y para transmitir sucontenido. Los centros eclesisticos de la alta edad media se limitan acustodiar los libros pero el nuevo libro escolstico conserva, transmite ydivulga el saber. El cartulario seguntino se encuentra por tanto entreambos conceptos (Sez Snchez, 2006: 187-188).

    No caso seguntino, observa-se que seu cartulrio foi confeccionado paraconservar os direitos dos cnegos e dos bispos da catedral, ou seja, ele tem um fimjurdico bem especfico, alm de se enquadrar na situao ao qual esto relacionadosos seus prelados: o duplo exerccio como senhores e bispos. Nada mais justificvelque o bispo Rodrigo de Sigenza, frente instabilidade do reino de Castela naquelemomento, buscasse certa segurana ao copiar e compilar os pergaminhos soltoscom os vrios privilgios obtidos at aquele momento.10

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    Um fato que corrobora com a ideia so as diversas referncias em conclios dos sculos XI ao XIII usurpao de bens da Igreja por parte dos senhores laicos.

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    Em resumo, os cartulrios, de maneira geral, podem ser entendidos em suas

    funes prticas: serviam para guardar os documentos referentes aos direitosadquiridos de forma organizada, prestavam conservao da memria e, por fim,ostentavam a grandeza e riqueza das dioceses (Mendo Carmona, 2005: 119-137).Nesse ltimo quesito, mais uma vez, h um aspecto que deve ser abordado.

    Os bispos de Sigenza entre os sculos XII e XIII gozavam de certoprestgio junto coroa castelhano-leonesa, o que pode ser atestado por meio da suapresena em eventos decisivos e marcantes da poltica monrquica: a conquista deCuenca (1177), batalhas de Alarcos (1195) e Las Navas de Tolosa (1212). Issodemonstra, entre outras coisas, que a atividade senhorial dos seus bispos na guerra

    no se restringiu a Bernardo de Agn, que como demonstrarei, considerado oreconquistador da cidade de Sigenza. Demonstra tambm, como afirma SezSnchez, que suas relaes com a instituio monrquica foram constantes, comoevidencia a abundante documentao real existente no arquivo de sua catedral (SezSnchez, 2006: 191).

    Por fim, tanto a respeito do constante dilogo com a monarquia de Castela eLeo, como sobre o aspecto de ostentao na origem do cartulrio seguntino:

    Este obispo [Rodrigo] se sabe inferior frente a las figuras de suspredecesores. No olvidemos que Bernardo de Agen, adems de primerobispo de la dicesis fue canciller y capeln de Alfonso VII; Cerebruno,tutor de Alfonso VIII y arzobispo de Toledo, tras abandonar Sigenza; ysus ms inmediato predecesor, San Martn de Finojosa, fue uno de losprimeros abades del monasterio de Santa Mara Huerta y muy cercano ala curia pontificia. Don Rodrigo, aunque personaje notable tambin en sumomento gracias a su participacin en batallas tan importantes como lasde Alarcos y las Navas de Tolosa, no alcanza la categora de suspredecesores. Durante su prelatura la reconquista ya haba concluidoprcticamente en su entorno, por lo que Sigenza pierde su valorestratgico y la posibilidad de aumentar territorios a costa de los

    musulmanes. Una vez limitada la expansin exterior, los ojos de donRodrigo se vuelven hacia el interior de su dicesis y comienzan a mediaren disputas, internas o con dicesis contiguas, en las que el obispoaparece ya sea como parte implicada o como juez (Sez Snchez, 2006:192).

    Sendo assim, evidencia-se que a criao do cartulrio est vinculada necessidade do bispo Rodrigo de Sigenza perpetuar sua memria junto a de seusantecessores, que como demonstrado pelo autor, estiveram nos grandes crculos de

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    poder do perodo. Fora isso, saliento, ainda, a importante informao relacionada gradual perda de importncia estratgico-militar no processo de avano territorial

    sofrida pela diocese seguntina aps Las Navas de Tolosa.11

    Finalmente, Carlos Sez Snchez, em seu estudo detalhado do cartulrioproduzido a mando de Rodrigo de Sigenza, incluindo sua descrio fsica, destaca,por exemplo, que sua anlise possibilita inferir sobre a estrutura hierrquica doarquivo seguntino, uma vez que o cartulrio divide-se na seguinte ordem:

    A os documentos dos reis castelhanos, mximos benfeitores da diocese deSigenza;

    Bos diplomas papais, uma vez que os pontfices romanos s beneficiaram aigreja de forma escassa e distante. Sem contar que se tratam de documentosque se referem a pleitos relacionados a limites de fronteiras com outrasdioceses, inclusive ocasies em que Sigenza saiu derrotada, o que explicariaque os representantes de So Pedro tenham sido relegados a segundo plano naorganizao do cartulrio;

    C documentos emitidos pelos prprios bispos e pelos cnegos da catedral(Sez Snchez, 2006: 176).

    Os artigos de Carlos Sez Snchez e Almudena E. Gutirrez Garca-Muozso sugestivos para aqueles que se interessam pelo estudo das transmisses de textosna Idade Mdia e, ao mesmo tempo, possibilita um conhecimento maior daorganizao original do corpusdocumental aqui apresentado.

    Retomando Coleccin Diplomtica, Toribio Miguella y Arnedo no reproduz aorganizao apresentada acima. Ao contrrio, ele procura uma ordem cronolgicapara a sua compilao documental. Em todo caso, isso no tem sido prejudicial pesquisa, j que meus objetivos no se assemelharam com os estudos empreendidospor Sez Snchez e Garca-Muoz.

    Minguella y Arnedo tem a preocupao de nomear e numerar os documentoscopiados, alguns, no sei se por erro de redao ou impresso, apresentam algunsequvocos nas datas.12No decorrer das nossas tradues do latim para o portugus,foram verificadas, tambm, problemas na grafia de algumas palavras.

    11Um interessante estudo sobre essa conhecida batalha foi publicado em 2005, por Francisco Garca Fitz(Garca Fitz, 2008).

    12 Por exemplo, Minguella y Arnedo assinala uma data e ano no seu ttulo dado ao documento, porm,quando verificamos a datao no contedo do texto, verificamos outra. J que no tive acesso aos

    manuscritos, tanto do cartulrio como os pergaminhos, s posso inferir que ocorreu algum tipo de descuidodo autor em algumas das cpias que realizou.

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    Para ele, deve-se levar em considerao o notvel avano da Reconquista,desde os anos finais do sculo XI, e a necessidade de repovoamento do planalto ao

    Sul e do Vale do Ebro. Somado a isso, a criao das Ordens Militares, queimediatamente convertem-se em titulares de extensos e numerosos senhorios e afixao na Pennsula Ibrica da Ordem de Cister com a criao de importantesabadias so fatores que favoreceram a doao de senhorios. Finalmente, no menosimportante, o influxo feudal ultrapirenaico atravs da casa de Borgonha que comeaa reinar em Castela e Portugal (Ortiz de Villajos, 2000: 137-204).

    Salvador de Mox afirma que:

    Mientras los tres primeros factores favorecieran la constituicin de

    seoros, contribuyendo a su difusin geogrfica en Espaa, el ltimoafect a la evolucin interna de la institucin seorial, que con elincremento de las inmunidades jurisdiccionales engloba una serie defunciones pblicas (Ortiz de Villajos, 2000: 137-204).

    Como muito bem ressaltou Francisco Garca Fitz, o processo de Reconquista,se entendido como uma atividade que, em certo momento, alcanou um aspecto desacralidade to elevado, que em termos de formao ideolgica converteu-se emuma guerra santa, no contasse apenas com o patrocnio da Igreja, mas, tambm,com a participao ativa e direta do clero (Garca Fitz, 2010: 157). Deste modo, estemedievalista espanhol afirma que:

    La figura del obispo-guerrero resulta relativamente frecuente en elmbito hispnico y, particularmente, en el contexto de la lucha contra elislam, si bien la participacn de dignidades eclesisticas en conflictoscontra cristianos tampoco resulta extraa. Quizs la imagen del obispoJernimo que se ofrece en el Cantar de Mio Cidno pueda ser consideradacomo un modelo aplicable al resto de la jerarqua hispnica, ni siquiera aaquellos personajes eclesisticos que llegaran a tener uma implicacinms asidua en las cuestiones militares. (...) Ciertamente, quizs no debasupornerse que la participacin habitual de los obispos y otros hombresde Iglesia en las guerras fuera siempre tan personal, directa y cruenta

    como expone el poeta, pero desde luego existe constancia suficiente paraafirmar que los clrigos iban armados a los combates con umequipamiento equiparable al de cualquier otro guerrero: lanzas, escudos,espadas, cotas de malla, caballos, arneses... (Garca Fitz, 2010: 157-159).

    Estou de pleno acordo com o autor, inclusive a ponto de defender em minhafala que Bernardo de Agn, bispo reconquistador de Sigenza, est inserido nestecontexto por ele apresentado, assim como, tantos outros bispos (Diego Gelmrez,Rodrigo Jimnez de Rada, etc.). E defendo que juntamente ao processo deReconquista, cuja participao episcopal foi marcante, o senhorio deve ser adicionado

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    principalmente, graas os diversos conflitos enfrentados por Alfonso VII nossubsequentes anos e que geravam a necessidade de apoio e constantes relaes de

    negociao entre ele e o bispo Bernardo de Sigenza (Alvaro, 2013).

    Finalmente, para no me fixar apenas nos anos iniciais do senhorio episcopalde Sigenza e a atuao de seus bispos na guerra, possvel rastrear, em outromomento, mais um senhor episcopal seguntino em evidncia blica:

    Em nome de Deus. Que seja conhecido pelos presentes e pelos queviro que eu R[odrigo], bispo de Sigenza, partindo em expedio contraos sarracenos, recebo do captulo da igreja segontina, mutuamente, Milmaravedses de maiordominuse os setecentos [maravedses] de camerarius,pelos quais obrigo aos mesmos as minhas heranas de peregrino e [as

    existentes ainda] em Romanones, de tal modo que recebamintegralmente os frutos daqueles [bens], excetuados os mencionadosmaravedses, e estabeleo o prior, em nome do captulo, em possessodas mencionadas heranas. Em testemunho destas obrigaes fao apresente pgina e a confirmo com o acrscimo de nosso sinal. Carta [dedoao] feita em Sigenza no ano de 1234 da Era.16

    Em suma, verifica-se que os bispos de Sigenza estiveram atentos e ligadoss conjunturas polticas dos sculos XII e XIII e, de certo modo, apesar dainexistncia da diocese seguntina, tambm no sculo XI. Digo isso, pois, a retomada

    da cidade de Sigenza esteve estritamente relacionada ao contexto poltico que nosremete, ainda, a Alfonso VI e que se arrastar at os primeiros anos de consolidaodo reinado de seu neto, Alfonso VII, que, coincidentemente, caminhamparalelamente restaurao da diocese seguntina e ao desenrolar do governo do seuprimeiro bispo, o j citado Bernardo de Agn.

    Alguns historiadores defendem que as primeiras grandes incurses paraefetiva libertao seguntina ocorreram com Fernando I(Martnez Gmez-Gordo,1985: 65-68; Minguella y Arnedo, 1910; Sevilla Muoz, 1985: 43-56). No entanto,no fundamentam seus argumentos em nenhuma documentao, ou pelo menos

    no deixam isso claro. De qualquer maneira, devido sua posio estratgica e aoprocesso de expanso territorial empreendido pelo monarca supracitado, possvelque a cidade de Sigenza tenha sido alvo de interesse militar da coroa castelhano-

    16In dei nomine. Notum sit presentibus et futuris quod ego R. Segontinus episcopus vadens in expeditionecontra sarracenos accipio mutuo a capitulo segontine ecclesie m. morabentinos de maiordomia et septigentosde camareria pro quibus obligo illis hereditates meas peregrina et Romanones ita videlicet ut fructus earumpercipiant in solutum doc predictos morabentinos integre percipiant et mitto priorem nomine capituli inpossesionem predictarum hereditatum. In testimonium igitur hujus obligationis presentem paginam facio eteam sigilli nostri appositione confirmo. Facta carta segontie sub era m cc xxx iiii. Doc. CXXVII 1196.

    (Minguella y Arnedo, 1910: 484). Traduo para o portugus: Leandro Duarte Rust.

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