aluno com surdez
DESCRIPTION
LIBRASTRANSCRIPT
Módulo II - Teórico
AGENDA 1 - TEXTO 1:
O ALUNO COM SURDEZ
Simone Ghedini Costa Milanez
A deficiência auditiva é a diminuição da acuidade para ouvir sons,
devido a fatores que afetam o ouvido externo (OE), médio (OM) ou interno
(OI), ou ainda, lesões no nervo auditivo. Com base nesta definição e em
dados de exames audiológicos, as conseqüências destes prejuízos, o tipo
de intervenção que é possível e, o provável sucesso desta intervenção, é
determinado por vários fatores, dentre os quais destacamos a localização
da deficiência auditiva, as causas da deficiência auditiva, a época de
instalação da deficiência auditiva, o grau da deficiência auditiva em decibéis
(dB), a estabilidade do limiar e a coexistência de outros fatores.
1- Quanto à localização da deficiência auditiva:
A perda auditiva pode resultar de problemas em qualquer uma das
partes do sistema auditivo (OE, OM, e OI) individualmente ou em
combinação.
2- Quanto às causas da deficiência auditiva:
Podem ser divididas de acordo com a época de acometimento do
sistema auditivo:
- Causas pré-natais: o distúrbio ocorre antes do nascimento, ainda na vida
intra-uterina. Estão envolvidos fatores genéticos e hereditários, doenças
Módulo II - Teórico
adquiridas pela mãe (rubéola, toxoplasmose, sífilis, citomegalovírus),
drogas ototóxicas, fumo e álcool, exposição a raio X e consangüinidade.
- Causas peri-natais: quando a audição é acometida durante o nascimento
ou nas primeiras horas de vida. Os fatores relacionados são anóxia de
parto, baixo peso, traumatismo de parto, prematuridade e pós-maturidade,
entre outros.
- Causas pós-natais: o acometimento do sistema auditivo ocorre após o
nascimento. Dentre estas causas destacamos as doenças infecto-
contagiosas adquiridas pela criança, tais como sarampo, meningite,
caxumba, medicamentos ototóxicos, otites recorrentes e traumatismo
crânio-encefálico.
3- Quanto à época de instalação da deficiência auditiva:
- Deficiência auditiva congênita: a criança nasce com a perda de audição
em decorrência de fatores pré e peri-natais.
- Deficiência auditiva adquirida: o indivíduo adquire a perda de audição no
transcorrer da vida (causas pós-natais). Pode ocorrer antes do período de
aquisição da linguagem oral (pré-lingual) ou após o mesmo (pós-lingual).
4- Quanto ao grau da deficiência auditiva em dB:
A deficiência auditiva pode ser classificada de acordo com os limiares
tonais obtidos durante a realização da audiometria tonal. No Quadro 1,
podemos visualizar a classificação segundo quatro autores.
Quadro 1 – Classificação da surdez quanto ao grau de comprometimento, indicado
pela perda em dB.
Módulo II - Teórico
Autores
Classificação
Streng
(1960)
Davis &
Silvermam (1985)
OMS (1980) Boothroyd (1982)
Normal 0-25 0-25 0-15
Prejuízos
brandos
20-30
Leve 30-40 26-40 26-40 15-30
Moderado 40-60 41-70 41-55 31-60
Severo 60-80 71-90 56-90 61-90
Profundo Acima de 80 Acima de 90 Acima de 90 Acima de 90
DEFICIÊNCIA AUDITIVA E O DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃO
1- Características da comunicação oral na deficiência auditiva leve:
- Percebe todos os sons da fala;
- Adquiri a linguagem oral espontaneamente;
- O problema é tardiamente descoberto;
- Dificilmente é colocado o aparelho de amplificação sonora individual
(AASI).
2- Características da comunicação oral na deficiência auditiva moderada:
- Geralmente há atraso na aquisição da linguagem oral;
- Apresenta alterações articulatórias (trocas na fala);
- Não percebe todos os sons da fala com mesma clareza;
- Dificuldade em perceber a fala em ambientes ruidosos;
- Indicação de AASI;
- São crianças desatentas e com dificuldade no aprendizado da leitura e da
escrita.
3- Características da comunicação oral na deficiência auditiva severa:
Módulo II - Teórico
- Dificilmente adquiri fala e linguagem espontaneamente;
- Pode adquirir vocábulos isolados se a família estiver atenta;
- Pode perceber sons fortes;
- Utiliza-se da leitura orofacial (LOF);
- Indicação do uso do AASI.
4- Características da comunicação oral na deficiência auditiva profunda:
- Não detecta os sons da fala o que impede o desenvolvimento da
linguagem oral;
- Detecta ruídos muito intensos (bombas, motores potentes);
- Podem usar gestos indicativos e ou representativos;
- Usam fala jargonada;
- Indicação AASI e LIBRAS.
APARELHOS DE AMPLIFICAÇÃO SONORA INDIVIDUAIS
O uso do AASI tem como finalidade a amplificação sonora, da forma
mais satisfatória e adequada possível, facilitando a audição do surdo. É o
instrumento utilizado para facilitar a educação e o desenvolvimento psico-
social e intelectual do aluno surdo.
1- Aparelhos Retroauriculares
Todos os seus componentes estão colocados em uma pequena caixa
que se adapta atrás do pavilhão auricular, preso ao molde por meio de um
tubo plástico. São encontrados em vários tamanhos e cores e possuem
espaço suficiente para acomodar vários controles. São indicados para
qualquer grau de perda auditiva.
Módulo II - Teórico
2- Aparelhos Intra-aurais
Os componentes estão inseridos na área da concha e meato acústico
externo do usuário e, depois de confeccionados, servem anatomicamente
para o usuário. O circuito é montado de acordo com as características da
perda auditiva e são esteticamente mais aceitos por serem de menor
tamanho. O som é mais natural, pois seu efeito é direcional e a saída do
receptor é mais próxima à membrana do tímpano.
IMPLANTE COCLEAR
O Implante Coclear (IC) é um dispositivo que proporciona às pessoas
com perda auditiva profunda uma audição útil e uma maior habilidade
quanto à comunicação. Sua função é levar diretamente ao nervo auditivo a
informação sonora previamente transformada em sinais elétricos,
conferindo ao usuário maior consciência sonora, melhora na leitura
orofacial, no controle da voz e na discriminação verbal.
TÉCNICAS E RECURSOS USADOS PARA A COMUNICAÇÃO COM O
ALUNO COM SURDEZ
1- Leitura orofacial (LOF)
A leitura orofacial é definida como a capacidade de compreender uma
mensagem falada por meio de pistas visuais a partir do movimento de
lábios e expressão da face (Kozlowski, 1997). A LOF é difícil e permite
apenas uma compreensão limitada da mensagem. Dependente das
Módulo II - Teórico
capacidades sensoriais, da capacidade que o indivíduo pode ter para utilizar
e associar códigos verbais e não-verbais, da memória, da atenção e de
processos lingüísticos. Os códigos utilizados podem ser fornecidos pelo
locutor, pela mensagem e pelo meio ambiente (Erber, 1974).
No processo de aprendizagem da leitura orofacial, devemos considerar
alguns aspectos importantes que podem interferir ou influenciar o processo:
percepção visual, meio ambiente, fatores de facilitação, códigos não-
verbais, idade e a motivação.
A leitura orofacial é um comportamento que pode ser aprendido. Os
estudos e atuações práticas têm demonstrado que, muitas vezes, a única
possibilidade de a criança surda poder ter acesso à língua oral é por meio
da leitura orofacial.
2- Desenvolvimento da Função Auditiva
Após 1945, quando os aparelhos de amplificação sonora individual
foram difundidos, é que se tornou totalmente aceita a reabilitação auditiva.
Mesmo aumentando a amplificação dos sons, por meio do aparelho de
amplificação sonoro individual (AASI), a criança ainda ouve um som
distorcido, uma vez que determinadas lesões na cóclea ou vias auditivas
comprometem a identificação e discriminação de determinados tipos de
sons, principalmente os relacionados com a linguagem oral.
Em alguns casos, o sinal auditivo que a criança surda recebe não é
suficiente para compreender por completo a recepção lingüística, mas
aumenta a possibilidade, principalmente, quando associada à informação
de outros meios sensoriais, como no caso da leitura orofacial.
Cada aluno surdo pode aproveitar o treinamento auditivo, independente
do seu grau da perda auditiva. Entretanto, quanto maior a perda auditiva,
Módulo II - Teórico
maiores serão as suas dificuldades para aproveitar a audição residual para
se comunicar.
Em muitos casos, o sucesso do treinamento auditivo só pode ser medido
em termos de percepção. É considerado o principal componente do
processo de reabilitação do indivíduo. O objetivo não é melhorar a audição,
mas estimular os resíduos auditivos do indivíduo que tenha alguma perda
auditiva, para que desta forma, contribua na melhora dos seus processos
comunicativos.
3- Treinamento fonoarticulatório
A articulação é a parte mecânica da emissão dos sons e palavras, sendo
um meio necessário para a expressão oral. As emissões orais estão
vinculadas a um conjunto de atuações do sistema respiratório e do
digestivo, possibilitando a articulação dos fonemas com qualidade vocal.
Adquirir e desenvolver a fala exige, principalmente, a audição na medida
em que os aspectos articulatórios e prosódicos contidos na fala pressupõem
a retenção de uma imagem acústica que possibilitará o monitoramento da
própria fala.
Em função da dificuldade auditiva, o aluno surdo fica impossibilitado de
desenvolver padrões adequados, exigindo para isso um treinamento de fala
que envolve componentes essenciais: respiração, voz, ritmo da fala,
entonação e articulação dos fonemas, vogais, consoantes e suas
combinações.
Desta forma, o professor deve adequar a seleção do fonema e da
palavra para cada aluno, respeitando o seu desenvolvimento e suas
necessidades. Normalmente, o treino específico das estruturas
fonoarticulatórias deve ser realizado por profissionais da área de
Módulo II - Teórico
fonoaudiologia. Mas é de fundamental importância que esse trabalho deva
estar vinculado com as atividades escolares.
4- Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS)
Estudos recentes apontam a Língua Brasileira de Sinais como o
principal meio de comunicação da pessoa surda com perda auditiva profunda,
visto que, se constitui em uma língua viso-espacial adquirida naturalmente por
essa população. Além disso, sua aquisição promove o desenvolvimento
cognitivo – lingüístico – emocional paralelo ao verificado na criança ouvinte,
bem como a construção de uma auto-imagem positiva do sujeito como
indivíduo surdo.
Inicialmente a língua de sinais foi considerada como sendo agramatival,
ilógica e, portanto, inferior à língua oral. Entretanto, trabalhos lingüísticos
iniciados por Stokoe (1960), demonstraram que toda Língua de Sinais é uma
língua completa com características morfológicas, sintáticas, semânticas e
pragmáticas, sendo assim, autônoma na sua estrutura.
Geralmente, o estabelecimento do sistema lingüístico da pessoa surda
ocorre a partir da informação visual. Assim, a Língua de Sinais se constitui em
um elemento insubstituível ao desenvolvimento da simbolização e da
conceitualização, sendo por isso mesmo, fundamental para o processo de
escolarização. Além disso, a Língua de Sinais oferece ao surdo a chance de
sentir que pertence a uma comunidade, que tem uma identidade própria.
O acesso à Língua de Sinais dependerá do envolvimento da família com
falantes nativos da Língua de Sinais e, também da escola, que poderá usar tal
língua como instrumento efetivo de comunicação com os alunos com surdez.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Módulo II - Teórico
BALLANTYNE, J.; MARTIN, M. C.; MARTIN, A. Surdez. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1995.
BEVILACQUA, M. C. A criança deficiente auditiva e a escola. São Paulo: CLR Balieiro, 1987. Cadernos Brasileiros de Educação, v.2.
BOOTHROYD, A. Hearing impairments in children. New York: Prentice Hall, 1982.
FERNANDES, E. Problemas lingüísticos e cognitivos do surdo. São Paulo: Agir, 1990.
FROSTIG, M., MULLER, H. Discapacidades específicas de aprendizaje en niños: detección y tratamiento. Buenos Aires: Panamericana, 1986.
GÓES, M.C. Linguagem, Educação e Surdez. Ed. ed, Campinas, SP: Autores Associados, 2ª ed 1999.
GOLDFELD, M. A criança surda. São Paulo: Plexus, 1997.
KOZLOWSKI, L. A percepção auditiva e visual da fala. Rio de Janeiro: Revinter, 1997.
LINS, F. A. C., OLIVEIRA, E. S. A tecnologia dos sistemas de freqüência modulada como recurso para a inclusão do portador de deficiência auditiva no ensino regular. I Seminário ATIID - Acessibilidade, Tecnologia da Informação e Inclusão Digital, São Paulo, 28-29/08/01, disponível em http://www.fsp.usp.br/acessibilidade
MENYUK, P. Aquisição e desenvolvimento da linguagem. São Paulo: Pioneira, 1975.
MOURA, M. C. O surdo: caminhos para uma nova identidade. Rio de Janeiro: Renvinter, 2000.
QUADROS, R.M. A educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
QUADROS, R.M. Língua de Sinais Brasileira.: Estudos lingüísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
SÁNCHES, C. La increible y triste historia de la sordera. Merida: Ceprosord, 1990.