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Page 1: ALTERNATIVAS CRIATIVAS DA BIBLIA

Aliança Bíblica Universitária do Brasil Propostas

ESTUDO BÍBLICO:ALTERNATIVAS CRIATIVAS PARA FALAR DA VERDADE QUE

LIBERTA

Obrigado Deus

Faz muito tempo que me pedem para escrever sobre este assunto. E eu sempre quis faze-lo, que havia já muita coisa em meu coração, resultado da caminhada na ABU e na Igreja, de leituras e experiências que andei fazendo... Que bom que estou tendo este tempo e esta oportunidade de partilhar o que o Pai me deu de tão bom grado... Graças a Ele.

Introdução

Quando a gente fala em estudo bíblico, muita gente torce logo a cara: uns porque não gostam da Bíblia mesmo, sentem-se ameaçados e inseguros, ainda não se sentem à vontade, ainda não se acostumaram com as coisas de Deus, falta-lhes intimidade, não conseguem desnudar-se diante do Pai; outros porque associam a experiência do estudo bíblico a uma exposição monótona e incômoda, que trata de questões completamente estranhas às suas experiências quotidianas e às suas necessidades humanas e espirituais. A proposta que eu vou apresentar aqui é uma discussão de formas “alternativas” de fazer estudos bíblicos como estratégia para devolver o interesse pela Bíblia ao segundo grupo (quanto ao primeiro grupo, a questão é mais profunda...).

A forma como levamos a Palavra de Deus às pessoas é muito importante (embora não seja a mais importante) e pode contribuir para que alguém se disponha a ouvir um pouco mais ou para que se aborreça e não queira mais ouvir falar no assunto. Uma mensagem tão maravilhosa como o Evangelho merece ser compartilhada de maneira viva, inteligente e criativa, como são as pessoas que estudam a Bíblia. O problema é que às vezes a gente se esquece deste detalhe. Alguns elementos me parecem úteis para ativar a memória da gente na hora de partilhar da Verdade que liberta com outras pessoas. Minha sugestão é que a gente os discuta conceitualmente a princípio, para depois aplicá-los de alguma maneira em exemplos.

1. Criatividade

Deus criou o homem cheio de criatividade e inteligência. Tenho certeza de que Ele fez isso de propósito, tanto que um dos primeiros “trabalhos” dados ao homem por Deus foi dar nome aos animais – o que exige, ninguém duvida, uma certa criatividade, não? Ele também criou a gente inteligente, capaz de dar continuidade ao Seu projeto criador, Ele concedeu à humanidade o honroso privilégio de ser co-participante da criação! E a gente joga tudo isso fora não poucas vezes! Seja quando usa a capacidade de criar para fazer o mal, seja quando simplesmente se nega a usar essa capacidade.

Isto também me parece ser verdade quando se trata de estudo bíblico e a gente pensa que é heresia, pecado ou sacrilégio usar as habilidades naturais dadas pelo Eterno. Pois eu digo que é essencial usar a criatividade no estudo da bíblia. Não tenha medo de fazer isto. Crie, recrie, recreie. Criar é atividade que dá vida ao homem porque resgata/relembra nele a semelhança como o Criador de todas as coisas. Daí que atividades criativas geralmente são atividades recreativas também, onde a gente pode rir e divertir-se – parece que é justamente neste momento que a gente teme, pois a cultura religiosa farisaica diz que o Deus é sério, zangado e sisudo: as coisas que Lhe dizem respeito devem sê-lo de igual modo, nada de diversão... Mentira cultural. Se o Eterno deu talentos para a gente, não foi para ficarem enterrados. Mas como é que a gente desenvolve a criatividade?

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Bom, o primeiro passo é conscientizar-se de que tem criatividade. Muitas pessoas têm-me dito que não têm criatividade nenhuma, e são sinceras quando me dizem isto, eu acredito; não sabem que quando fazem esta afirmação estão negando a parte de sua semelhança com o Criador. Note que eu falei acima de desenvolver a criatividade. Eu parto do pressuposto (bíblico) de que todo mundo a tem. Se você acha que não tem, está na hora de mudar de idéia, em nome de Jesus.

O segundo passo é aprender a ter uma visão criativa das coisas. A forma como vemos as coisas podem transformá-las e recriá-las de maneira impressionante. Uma visão criativa é uma visão que transforma a realidade. Não nega, mas transforma. Era assim que Cristo fazia milagres: onde os outros viam um endemoniado, Ele via um liberto em potencial; onde todos viam cinco pães de cevada e dois peixinhos, Ele via muitos e muitos pedacinhos de pães e peixes, suficientes para alimentar uma multidão; onde todos viam um morto, ele via um ressuscitado; onde todos viam pecadores, Ele via possíveis regenerados, arrependidos. E ainda hoje, quando todos não têm mais esperança, e a gente mesmo vê a humanidade plena de maldade e injustiça, o sacrifício criador de Cristo continua de pé, afirmando a cada dia sua visão criativa/recreativa, pois criadora/recriadora da humanidade: Cristo vê toda a humanidade como alvo de um sacrifício redentor, e, portanto, potencialmente regenerada para Deus (eu disse potencialmente!).

Cristo é impressionantemente criativo! Então você me dirá que é fácil ser criativo, sendo Cristo. Tudo bem, mas as crianças também são extremamente criativas, elas têm uma visão criativa das coisas, uma visão que transforma a realidade – você também já foi criança, não foi? Lembro-me de que quando eu era criança não tinha essa história de brinquedo não, que era muito caro. Eu sonhava com um carrinho de ano em ano, no aniversário (e quase sempre o presente era roupa!!!). Sem problema: um pedaço de osso velho vira um boi para uma fazenda de faz-de-conta; dum prendedor de roupas eu fazia um jato de combate ou uma nave espacial, ou um foguete. Eu tinha uma coleção de seixos que poderiam transformar-se em quase tudo o que eu quisesse... Eu não perdi este hábito: uma fotografia de revista pode dar uma boa reflexão bíblica, posso jogar “boca-de-forno” com idosos para ensinar a importância da obediência ao “Rei”; posso entrar de faz-de-conta dentro de uma destas historinhas da Bíblia, daí eu levo um montão de gente comigo e, depois, já não é mais faz-de-conta, porque a Palavra é viva, real, e a realidade lá de dentro não tem nada de faz-de-conta, é tudo história da vida da gente mesmo. Então todo mundo é transformado! A água se torna em vinho!

O terceiro passo é trabalhar com os elementos de que você dispõe. Geralmente a criatividade não exige uma enormidade de recursos ou ferramentas mirabolantes. Ela trabalha com os poucos e parcos recursos de que a gente dispõe no quotidiano e com os que a gente encontra no quotidiano do outro também. Isso é fundamental no estudo da Bíblia: lançar mão da realidade do outro para agir sobre ela criativamente. Mais uma vez o exemplo de Cristo é interessante: com a mulher samaritana, ao meio dia, na beira de um poço, Ele fala sobre sede e água, depois age criativamente sobre esta realidade, fazendo a mulher descobrir a sede espiritual dela e a Água da Vida que poderia matar esta sede. É bom ouvir as palavras e as pregações de Jesus e ver que elas não são – para a surpresa de todos – um discurso alienígena. O Senhor usa criativamente a realidade das pessoas que o cercam para falar do Reino dos Céus. Ele fala de sementes, de casamento, de servos e senhores, de banquetes, de reis, de donas de casa que procuram uma moeda perdida, de ovelhas, de vinhas, de vinho, de pão... Não adianta a gente traçar planos mirabolantes usando mil e um recursos para compartilharmos a Cristo criativamente, se a criatividade não atuar sobre a vida das pessoas com que a gente se dispôs a “brincar”.

O quarto passo é aprender a utilizar o inusitado, o inesperado. É quando a gente surpreende as pessoas. Ninguém espera pelo que a gente vai dizer ou fazer e, de repente... Esta é a parte mais difícil, porém não porque exija mais da gente enquanto seres criativos. É justamente o contrário: quando a gente aprende a ter uma visão criativa das coisas, a gente vira um perigo, a gente subverte a ordem estabelecida. Às vezes isto é excelente e necessário para que brote uma nova vida onde só havia sequidão de estio, mas outras vezes a gente tende a exagerar; por isso, nesta parte a gente precisa de muita sabedoria

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vinda do coração do Eterno para conhecer os limites. A gente não pode temer, pois Cristo não temeu em ser criativo e libertador diante dos fariseus; mas a gente também não pode menosprezar aquele que está ao lado da gente no Reino só porque ele tem outra perspectiva de criatividade.

Um outro cuidado que a gente precisa ter nesta fase é com a confiança. Quando as coisas funcionam direitinho a gente tende a pôr demasiada confiança na forma e no modelo como elas foram feitas. Se tudo correr bem, é por causa do Deus que criou tudo, só por causa dEle, pois se a gente usou de criatividade, essa foi uma habilidade dada por Ele. Glórias sejam, pois, a Ele. Sempre a Ele. Amém.

2. Amor pelas pessoas

Esta deve ser a principal motivação do nosso trabalho, deve permeá-lo por inteiro. Parece estranho falar disso num texto sobre criatividade, mas a gente não pode esquecer que o contexto é de compartilhamento da Boa Nova do Senhor, uma Boa Nova de amor. É inadmissível, portanto, partilhá-la fora de uma relação de amor profundo para com aqueles com quem se partilha. Criatividade sem amor é mecânica oca, infértil; é técnica seca, vazia e impessoal. A criatividade de Deus é expressão do seu amor, porquanto expressão de seu próprio ser (Deus é amor); a criatividade de Cristo no anúncio do Evangelho se dá dentro da relação pessoal de amor que Ele tem com cada um – e é assim também que a gente é transformado, regenerado, recriado pelo Pai: num ato de amor. Se você não sente amor pelas pessoas com quem pretende compartilhar a Verdade, está na hora de repensar sua prática evangelística.

3. Oração e direção de Deus.

Se a criatividade sem amor é mecânica oca, sem oração e direção de Deus ela não é nada. É impossível compartilhar da Boa Nova, sem intimidade com seu autor e consumador. Quando a gente compartilhar os exemplos práticos, vocês vão ver que, a princípio, qualquer pessoa pode tomar de um texto bíblico e fazer um estudo nos moldes aqui propostos. Parece que esta é uma tentação que a gente enfrenta a todo o momento: achar que a técnica pela técnica torna a gente independente de Deus para compartilhar a Bíblia com outras pessoas; a gente esquece que o Eterno é o autor da Bíblia. É fundamental separar tempo para orar e preparar os estudos – muito mais tempo para orar que para preparar, eu diria –, é preciso rogar a misericórdia do Pai sobre a vida da gente e daqueles com que a gente vai estar compartilhando a Palavra. Pessoalmente, já tive várias experiências em que o estudo estava tão tecnicamente bem feito, eu estava tão entusiasmado pelo texto, pelas pessoas, pelo trabalho que iria ser feito, que esqueci do “Patrão”, do Dono da tarefa, dAquele para quem ela é feita. Dito e feito: foi uma experiência frustrante para mim, eu me senti péssimo, não houve edificação...

4. Exemplos práticos.

Agora a gente vai discutir um pouco alguns exemplos práticos da aplicação do que discutimos acima.

4.1 EBI em forma de Teatro

Neste modelo a gente transforma o texto bíblico num drama, enche de vida e sentimentos o fato narrado na Bíblia. O objetivo é trazer o texto para dentro da vida das pessoas, trazendo as pessoas para dentro do texto através da identificação com os personagens, seus problemas e seus sentimentos. O que a gente faz é oferecer às Pernambuco, fevereiro de 2001. 3

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pessoas a oportunidade de viver o texto bíblico para descobrir que aquilo não é faz-de-conta, mas que é o que eles vivem no quotidiano. As pessoas vão descobrir que a Bíblia é a biografia delas, o diário do relacionamento delas consigo mesmas, com Deus e com o próximo.

É um modelo preferencialmente recomendado para textos narrativos, o que não impede que sejam usados às vezes também para textos poéticos. O primeiro passo é identificar no texto a trama, os personagens e as ações desenvolvidas por eles, o que não é difícil particularmente nos textos do evangelho, onde geralmente a estrutura é:

Situação inicial/problema

Intervenção de Cristo/Solução

Situação final/resultados da ação de Cristo.

Nas demais narrativas bíblicas a estrutura não é muito diferente, sempre haverá uma situação inicial, um problema, a ação de Deus ou decisão humana e uma situação final. Este passo pressupõe que a leitura e compreensão do texto tenham sido efetuadas com êxito, não restando questões quanto à estrutura do texto, vocabulário, contexto imediato e geral em que ele está inserido etc.

O segundo passo é identificar os sentimentos, as motivações, o contexto emocional que cerca a trama. Neste momento, a ajuda de leituras sobre o contexto sócio-cultural em que a história aconteceu é muito importante, a gente precisa cercar-se de todas as informações possíveis para subsidiar nosso desenho do drama. Vai haver muitas lacunas de informação, e é exatamente aí que a gente entra com a nossa imaginação e criatividade, supondo, sugerindo, inferindo, deduzindo, ou simplesmente “brincando” de faz-de-conta.

O terceiro passo é montar uma tabela com todos os dados obtidos sobre os personagens e as ações, extraindo daí um perfil de cada personagem e as lições a serem aprendidas (aplicação). A partir daí é que a gente monta o roteiro de trabalho.

O quarto passo é montar o roteiro de trabalho. Aqui a gente tem que decidir como vai ser aplicado o estudo. Há várias maneiras de se usar o drama em grupo: pode-se encenar o texto; pode-se fazer uma entrevista em que cada pessoa do grupo (pode-se fazer em duplas também) vai representar determinado personagem e responder a perguntas como se fosse tal personagem; pode-se solicitar ao grupo que elabore perguntas para algum personagem escolhido (aí a gente tem que estar preparado para responder...)

Tomemos como exemplo o texto de João 8.1-11, o famoso caso da mulher adúltera. Comecemos:

1 – PERSONAGENS:

Jesus, o povo, os escribas e fariseus e a mulher adúltera.

2 – ENREDO:

Jesus ensina ao povo no templo.

Os escribas e fariseus apresentam a Jesus uma mulher que havia sido flagrada em adultério. Eles a acusam e citam a Lei de Moisés que determinava que tais mulheres fossem apedrejadas.

Jesus não se pronuncia a respeito

Os escribas insistem em que Jesus emita sua opinião.

Jesus diz que aquele que não tivesse pecado poderia atirar a primeira pedra.

Os escribas e fariseus saem um a um, a começar pelos mais velhos, acusados pelas suas consciências.

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Jesus pergunta a mulher onde estão seus acusadores, que ninguém a condenara, ao que a mulher responde: “ninguém”.

Jesus “absolve” a mulher, mandando-a ir e não mais pecar.

3 – CONTEXTO

Jesus: chegara ao templo de madrugada, vindo do monte das oliveiras, aonde provavelmente ele teria ido orar. Sentimentos predominantes em Cristo neste texto: tranqüilidade, paciência, amor, bondade, mansidão, misericórdia etc.

Escribas e fariseus: neles predominam a inveja e o ódio. Inveja com relação a Cristo, pois “todo o povo ia ter com ele”; ódio, tanto em relação a Cristo quanto em relação à mulher. Eles tentam confrontar o sentimento de amor e misericórdia de Cristo com a Lei, na esperança de que o Mestre entrasse em contradição e pudesse também ser acusado.

Mulher: seu sentimento é de medo e culpa. Não lhe resta mais esperança e ela está condenada à morte por conta de seu pecado – a lei é clara.

O contexto sócio-cultural desfavorece completamente a mulher – e é interessante notar que a Lei também prescrevia a condenação de morte para o homem que adulterasse e, no entanto o parceiro da mulher sequer é citado no texto – mas o que mais a oprime é o seu próprio pecado, cujo resultado é a morte.

A partir dos dados relacionados acima, seguindo o roteiro proposto, detalhando mais ou menos conforme a necessidade do grupo, os objetivos específicos do estudo, a duração, o estilo do facilitador do trabalho etc, chegaremos a uma série de informações que constituem o conteúdo do estudo. A metodologia e a forma de organizar as informações são as mesmas do EBI “clássico”: observação, interpretação e aplicação. A diferença é como vamos abordar e montar as questões. No caso específico deste texto, posso perceber as seguintes alternativas:

a) Dividir o grupo em três sub grupos, cada um dos quais vai representar um dos personagens do episódio. A tarefa é que eles leiam e releiam a história tomando como ponto de vista o personagem dado, procurem identificar os sentimentos que envolviam o personagem a partir de suas ações, palavras e da situação em que estava inserido. Algumas perguntas prévias podem ser fornecidas como base para reflexão e discussão no próprio sub grupo. Fazer uma entrevista com os grupos com perguntas previamente elaboradas e que se desenvolvam na seqüência: “compreensão, interpretação, aplicação”. É recomendável que se incluam perguntas que apelem para a imaginação do grupo, o que deve ser feito com cuidado para que não se distancie do texto bíblico. O objetivo deste apelo à imaginação é envolver mais e mais o grupo na trama e na situação proposta para reflexão no estudo bíblico. É recomendável estimular o debate entre os participantes interpretando os personagens. Neste caso, por exemplo, quem estiver aplicando o estudo pode perguntar ao grupo que representa a mulher se ela tem alguma questão a fazer aos fariseus ou a Cristo.

b) Pedir que as pessoas escolham um personagem da história e reescrevam a narrativa em primeira pessoa do ponto de vista do personagem escolhido (neste caso, a história poderia ser contada do ponto de vista dos fariseus, da mulher ou de Jesus).

c) Apresentar-se como um dos personagens e dispor-se a responder as perguntas do grupo, interpretando este personagem.

NOTA: Esta alternativa exige um preparo bem maior de quem dirige o estudo pois as perguntas são desconhecidas. É preciso profundo conhecimento do texto e internalização do personagem focalizado, de seus sentimentos, atitudes, perfil... para que se possa interpreta-lo com convencimento, envolvendo os demais participantes e fazendo-lhes compreender com profundidade o que o texto bíblico quer ensinar. Quando as perguntas feitas pelo grupo se desviam do assunto em foco, ou do texto, é válido recontar a história

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em primeira pessoa, interpretando o personagem selecionado, para trazer novamente o grupo para dentro do texto.

4.2 Uso da representação cênica ou simbólica

Vários textos da Bíblia, por sua característica simbólica e dramática, se prestam a uma adaptação para representação com, pelo ou para o grupo de estudo, sempre com o objetivo de trazer as pessoas para dentro do drama proposto pela Palavra. Às vezes a representação não se resume ao texto verbal, mas inclui elementos simbólicos cênicos que a Bíblia propõe. Lembra-me, por exemplo, o texto de João 13.1-17, em que há o relato de Jesus lavando os pés dos discípulos. Para esta passagem, teríamos a seguinte atividade, aplicável a pequenos grupos (até 8 ou 10 pessoas):

a) O impacto inicial está em você trazer para a reunião de estudo bíblico uma vasilha com água e uma toalha (dobre-a bem, para gerar suspense).

b) Após cumprimentar todos e iniciar a reunião, peça para que todos tirem os sapatos – tente não relacionar isto, de imediato, com o fato de você ter trazido a vasilha com água e a toalha, proponha tirar os sapatos como um ato de relaxamento (como de fato é), mas não force nem discrimine ninguém que não o queira fazer.

c) Peça para que todos se sentem (o ideal é que estejam numa sala com cadeiras) e se ponham em silêncio, prestando atenção no que você vai fazer.

d) Solenemente desdobre a toalha, prenda-a na cintura, tome da vasilha com água e vá lavando os pés das pessoas e enxugando-os com a toalha.

e) Após o “ritual”, pergunte o como eles se sentiram, converse um pouco sobre o que eles acham que significa o ato etc (elabore perguntas que façam as pessoas refletirem sobre o que foi representado de forma a deixá-las interessadas e preparadas para a leitura do texto bíblico.

f) Proceda a leitura do texto de Jo 13.1-17. Escolha uma tradução da bíblia de fácil entendimento, cuja leitura possa ser fluente e bem compreendida. Daí em diante, poder-se-ia seguir o estudo como um EBI, mas podemos fazê-lo de maneira diferente:

g) Proponha uma brincadeira de faz-de-conta com o grupo: eles vão fazer de conta que encontraram uma máquina do tempo e de dentro saiu Pedro, com quem eles agora têm a oportunidade de conversar sobre o episódio;

h) Interprete Pedro, apresente-se, cumprimente as pessoas do grupo como alguém que acabou de chegar, comece a contar um pouco do episódio em primeira pessoa. Ponha em evidência: como Pedro se via perante Cristo e os discípulos, o que estava por trás de sua atitude extremista de “ou tudo, ou nada”. Discuta como grupo temas como: liderança, poder, serviço, comunhão (ou união), humildade, baixa estima, orgulho, compromisso.

i) Como estudo evangelístico, enfatize e procure fazer as pessoas refletirem sobre como elas têm reagido à atitude de Cristo de querer lavar-lhes os pés, ou seja, fazer-lhes participantes de seu círculo de intimidade. Elas têm rejeitado, por quê? Acham-se indignas? Têm pecados demais? Não querem ser iguais [aos outros cristãos] como Pedro não queria ser? Não se acham merecedores de tamanha honra? Acham que precisam mudar antes, que Deus não os aceitaria assim?

j) Como estudo devocional para Cristãos, enfatize o serviço e o compromisso. Fale sobre a proposta e o modelo de Reino que Jesus Cristo representou neste episódio do Evangelho, um modelo em que as pessoas são importantes e se integram ao Corpo à medida em que servem.

4.3 Artes Plásticas.

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Este é um campo bastante ignorado e pouco explorado pelos cristãos modernos. Embora tenhamos grandes mestres das artes plásticas no passado, dedicados inteiramente à chamada “arte sacra” – aqui mesmo no Brasil tivemos o célebre Aleijadinho – hoje entre nós evangélicos o espaço e o incentivo a essa forma de expressão artística é muito restrito. Isto se deve em parte à nossa reação contra aquilo que chamamos idolatria católica, no que temos certa razão; por outro lado, fomos parar em outro extremo e abdicamos de uma importante linguagem para comunicação do Evangelho, uma linguagem riquíssima e de forte impacto emocional.

Diante dessa situação, minha proposta é de um projeto de longo prazo, objetivando a apropriação da linguagem, a descoberta de talentos e, por fim, o seu uso como instrumento para a pregação do Evangelho de Cristo:

1ª Fase: Implantação.

Nesta fase temos que identificar potenciais talentos e capacitá-los. Para isto é preciso, no mínimo, montar uma oficina – aqui certamente teremos que contar com a ajuda de um profissional que talvez não seja cristão... – na qual as pessoas vão receber um mínimo de teoria necessária e começarão a produzir algo como amadores. É bom ressaltar que isso não acontece da noite para o dia, há um processo de aprendizagem, de maturação, de desenvolvimento, mas o projeto é de longo prazo. O importante é que os irmãos recebam ajuda e estímulo para se desenvolverem e produzirem. Seria interessante montar um atelier em que o grupo se reúna para orar, estudar e produzir.

2ª Fase: Consolidação

Se houver disciplina, aplicação e dedicação ao trabalho pelo grupo no atelier chegará o tempo da primeira exposição/amostra, que pode ser avulsa – mostrando o aprendizado de cada um, seus trabalhos individuais, estudos etc., enfim, mostrando que estão vivos e têm coragem – ou temática – em que um tema é trabalhado por todos. É interessante incluir exposições periódicas em uma data definida do ano, de forma que elas se tornem parte do calendário da escola/universidade; pode-se utilizar datas comemorativas do calendário cristão como pretexto para exposições temáticas: Páscoa, Natal, Pentecostes...

Um conceito interessante em artes plásticas que pode ser trabalhado em reuniões do grupo de estudo é o conceito de instalação, compreendida como um conjunto de peças formando um ambiente no qual o observador se insere – geralmente se usa um espaço delimitado como uma pequena sala ou um canto de uma sala maior para montar uma instalação. A instalação pode ser montada para delimitar o local onde se estudará a Bíblia e pode ser temática de acordo com a série de estudos que for aplicada.

4.4 Jogo

Antes de qualquer coisa, é bom definir a palavra jogo, que aqui não se trata de jogo de azar, mas de brincadeira – sobretudo brincadeira de criança – em que as pessoas se divertem e ao mesmo tempo aprendem e assimilam valores – é por isso que brincamos tanto quando crianças. Jogos representam a realidade concreta e quotidiana e, geralmente, reagimos no jogo como reagiríamos em situações reais. Baseado nisso podemos apreender muito.

Não nos vamos (nem podemos) aprofundar muito no tema, inclusive nossa proposta de uso aqui é um tanto quanto inocente – como as crianças fazem – pois há riscos numa abordagem que queira ir além sem o necessário suporte técnico. Para os interessados, há bons títulos na área de psicodrama que podem ajudar bastante.

Segue abaixo um exemplo com o jogo “Boca de Forno” usado como aquecimento/pretexto para a leitura/estudo da Bíblia (nós o aplicamos em uma classe de terceira idade, foi uma experiência extraordinária!)

Nesta conhecida brincadeira, todo o grupo escuta um suposto porta-voz real que transmite as ordens do Rei. Trava-se o diálogo como jogral, iniciado sempre pelo mandatário do rei, ao qual respondem os súditos:Pernambuco, fevereiro de 2001. 7

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- Boca de forno

- Forno!

- Tirando bolo...

- Bolo

- Abacaxi...

- Xi.

- Maracujá...

- Já.

- Quando eu mandar...

- Vou

- (...)

- Seu Rei mandou dizer que...

E vem a ordem real à quais todos devem obedecer, caso contrário pagarão uma “prenda” (ou cumprirão uma “pena”?) ou então estão fora do jogo.

Três rodadas são suficientes para revelar medo, rivalidade, submissão, entusiasmo, apatia, vergonha... Conteúdos bem interessantes... Mas tão difíceis de trabalhar, se o facilitador da reunião não tiver muita segurança e controle sobre o grupo, que nossa sugestão é apenas comenta-los de passagem e enfatizar o tema obediência que certamente merece destaque aqui. A discussão sobre obedecer ou não a ordem do Rei é uma excelente introdução para um texto como João 15.10-15, num estudo cuja mensagem central seja a obediência a Cristo como condição sine qua non à pertinência ao Reino de Deus. Devem ser realçadas as conseqüências da obediência (a amizade com Cristo: “vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando”) e da desobediência contumaz (“O que não permanece em mim será lançado fora...”), não deixando de relacioná-las com a brincadeira que intruduziu o estudo.

4.5 Música e poesia

A música faz parte do quotidiano litúrgico cristão desde sua origem – e geralmente os cristãos são conhecidos como bons músicos. Quanto ao uso da música (inclusive, e sobretudo, de músicas de compositores não cristãos) como pretexto para estudos criativos, já existe uma tradição na ABU e estudos que podem ser consultados, adaptados e utilizados como referência.

Está na poesia, portanto, minha ênfase aqui. Consideremos que a Bíblia está cheia de poesia – além dos livros chamados poéticos, há trechos de poesia espalhados por toda a Bíblia, de Gênesis a Apocalipse. Para aproveitar isto de maneira a divulgar a leitura da Bíblia na escola/universidade, é bom ter em mente que:

A maioria das pessoas tem interesse em poesia, sobretudo se bem declamada/interpretada, num contexto preparado para tal;

Poucas pessoas conhecem a poesia hebraica – como ela se organiza, quais as suas características principais etc

Baseado nisto, propomos duas atividades que podem ser realizadas:

Um recital de poesia Bíblica – composto de salmos, trechos do Cântico dos Cânticos, Eclasiastes, Lamentações de Jeremias etc. O evento deve ser acompanhado de música erudita (se possível, ao vivo, um piano ou um grupo de cordas).

Uma palestra sobre poesia Bíblica, seguido de recital (este é um evento que requer um cuidado técnico maior, na organização dos temas e na seleção dos convidados, sendo recomendável para o pessoal da área de Educação, Artes, Letras ou História).

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Ambas as atividades devem ser planejadas e organizadas com muito cuidado nos detalhes – as pessoas que amam a poesia são exigentes quanto à estética... De preferência devem ser realizadas com o apoio do Centro ou Diretório Acadêmico além de Professores, Diretores e/ou Coordenadores de Curso ou Área. É importante envolver o máximo de gente possível em torno de um projeto cujo centro principal seja – que saibam ou não, quer queiram ou não – a Palavra de Deus.

4.6 Folclore

A discussão sobre a relação entre folclore e Evangelho estão atreladas à discussão geral sobre cultura. Neste sentido é há dois conceitos importantes que precisam ser trazidos:

a) Não existe cultura totalmente imaculada, que não tenha sofrido a influência e a corrupção do pecado;

b) Não existe cultura totalmente corrompida, uma vez que a cultura é uma construção histórica humana e o homem guarda em si aspectos inerentes à sua condição de criado à imagem e semelhança de Deus.

Ao abordar manifestações folclóricas populares é fundamental perguntar quais de seus elementos são nocivos/corrompidos pelo pecado e quais são apenas uma inocente celebração da vida que pode ser lida ou dirigida para uma celebração do Autor da vida.

O trabalho não é fácil e exigem de nós muito discernimento e unção vinda do Bom Deus.

Há algum tempo fizemos uma adaptação do folguedo “bumba-meu-boi”, muito popular aqui em Pernambuco, decompondo seus elementos e transformando-o num auto cristocêntrico que fala das várias tentativas do homem de resgatar a sua vida (salvar-se), sem sucesso, até encontrar Cristo e sua Boa Nova de salvação.

Dentre as várias versões do folguedo que circulam, a que nos pareceu melhor adaptável foi aquela em que a história gira em torno do Boi de um grande fazendeiro que foi morto por um dos empregados da fazenda. Vários personagens entram e saem de cena na tentativa de trazer o bicho de volta à vida, até que por fim a solução é encontrada. O grande trabalho (e este nós ainda não conseguimos levar a termo) é após as adaptações, organizar uma equipe disposta a “brincar” o folguedo adaptado, envolvendo não cristãos numa celebração contextualizada do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Um até logo... e mãos à obra!

Não é de se esperar que um trabalho como este tenha uma conclusão, não pretendo que seja concluído, mas que continue a ser escrito, re-escrito, construído historicamente... É um trabalho coletivo e o que foi aqui posto não passa de propostas a respeito de caminhos a serem seguidos nesta construção.

Assim, a palavra que mais cabe é “Até logo”, pois muito nos encontraremos no Caminho em que esta obra está sendo construída.

Que Deus abençoe a todos.

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