alterações linguísticas na demência de tipo alzheimer - um e

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  • Universidade de Aveiro

    2011

    Seco Autnoma das Cincias da Sade, Departamento de Electrnica, Telecomunicaes

    e Informtica,

    Departamento de Lnguas e Culturas

    ANA PAULA

    SILVA ALMEIDA

    Alteraes lingusticas na Demncia de Tipo

    Alzheimer - um estudo com doentes em fase inicial

  • Universidade de Aveiro

    2011

    Seco Autnoma das Cincias da Sade, Departamento de Electrnica, Telecomunicaes e Informtica,

    Departamento de Lnguas e Culturas

    ANA PAULA

    SILVA ALMEIDA

    Alteraes lingusticas na Demncia do Tipo

    Alzheimer - um estudo com doentes em fase inicial

    Dissertao apresentada Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Cincias da Fala e da Audio, realizada sob a orientao cientfica da Prof. Doutora Rosa Ldia Coimbra, Professora Auxiliar do Departamento de Lnguas e Culturas da Universidade de Aveiro e do Prof. Doutor scar Ribeiro, Professor Adjunto Convidado da Escola Superior de Sade da Universidade de Aveiro

  • Dedico este trabalho minha av que muito me ensinou sobre a Demncia do Tipo Alzheimer.

  • o jri

    presidente Prof. Dr. Antnio Joaquim da Silva Teixeira Professor Auxiliar do Departamento de Electrnica, Telecomunicaes e Informtica da Universidade de Aveiro

    Prof. Dr. Ana Maria Roza de Oliveira Henriques de Oliveira

    Professora Coordenadora da Escola Superior de Educao de Viseu

    Prof. Dr. Rosa Ldia Torres do Couto Coimbra e Silva

    Professora Auxiliar do Departamento de Lnguas e Culturas da Universidade de Aveiro

    Prof. Dr. Oscar Manuel Soares Ribeiro

    Equiparado a Professor Adjunto da Escola Superior de Sade da Universidade de Aveiro

  • agradecimentos

    Agradeo a preciosa colaborao dos meus orientadores na elaborao deste estudo. Agradeo tambm ao meu marido que sempre me motivou nos momentos mais difceis.

  • palavras-chave

    resumo

    Linguagem, Doena de Alzheimer, Demncia. Actualmente assiste-se a um aumento significativo da populao idosa, devido ao aumento da esperana mdia de vida. O envelhecimento da populao acarreta problemas de sade, sendo que a linguagem um importante factor para se manter um estilo de vida saudvel e social. O presente estudo pretende identificar as dificuldades de linguagem/comunicao que os indivduos enfrentam quando apresentam um quadro demencial do tipo Alzheimer e evidenciar as possibilidades da utilizao da PALPA-P junto desta populao. Tendo-se detectado uma lacuna em Portugal relativamente ao papel do Terapeuta da Fala na interveno da linguagem em pacientes com demncia do tipo Alzheimer, pretende-se tambm com este estudo enfatizar a importncia do trabalho deste profissional no mbito de uma equipa multidisciplinar. Objectivos: Verificar a existncia de diferenas na linguagem de doentes com e sem Alzheimer. Metodologia: Avaliou-se grupos de oito doentes com DTA e oito indivduos sem DTA. Aplicou-se cinco provas da PALPAP, nomeadamente Repetio de Frases, Leitura de Frases, Nomeao Oral, Compreenso Oral das relaes Locativas e Escrita e Morfologia. Realizou-se a anotao dos resultados obtidos, assim como uma anlise comparativa entre os dois grupos estudados. Resultados: Verificou-se a existncia de diferenas estatisticamente significativas para as provas Repetio de Frases, Leitura de frases, Nomeao Oral, Compreenso Oral de Relaes Locativas. Na prova Escrita e Morfologia, embora o desempenho dos doentes com DTA tenha sido bastante inferior ao grupo sem DTA, os resultados no foram estatisticamente significativos. Concluso: De um modo geral verificou-se um desempenho inferior dos doentes com DTA quando comparados ao grupo sem DTA. Os resultados apontam para alteraes da linguagem em doentes com DTA mesmo em fases iniciais.

  • keywords

    abstract

    Language, Alzheimers Disease, Dementia.

    Nowadays, we are witnessing a significant increase of the elderly population, due to the increase of life expectancy. Population aging leads to health problems, and language is an important instrumentr to maintain a healthy and social lifestyle. This study aims to identify the problems in language/communication that individuals have to face when they have a dementia of the Alzheimer type and highlight the possibilities of using the Palpa-P with this population. It was detected a shortcoming in Portugal, regarding he role of the Speech Therapist in language intervention in patients with Alzheimer's dementia, so the aim of this study is also to emphasise the importance of this professional work within a multidisciplinary team. Aims: checking the existence of differences in language of patients with or without Alzheimer. Methodology: Groups of eight patients were evaluated with DTA and eight individuals without DTA. Five tests of Palpa-P were applied, namely "Repeating sentences," "Reading Sentences", "Oral Appointment," "Listening comprehension of locative relations " and "Writing and Morphology." The results were registered, as well as the comparative analysis between the two groups studied. Results: existence of statistically significant differences for the tests of "repeating sentences," "Reading sentences", "Oral Appointment" "Listening comprehension of locative relations . In the "Written and Morphology" test, although the performance of patients with DTA has been much lower than the group without DTA, the results were not statistically significant.

    Conclusion: there was a lower performance of patients with DTA compared to those without DTA. The results indicate changes of language in patients with DTA even in early stages.

  • i

    ndice:

    1. Introduo ..................................................................................................................... 1

    2. Enquadramento Terico

    2.1 A actualidade e evoluo da Demncia do Tipo de Alzheimer .............................. 3

    2.2 Critrios de Diagnstico da Doena de Alzheimer e outros exames

    complementares ............................................................................................................ 4

    2.3 Factores de risco e factores protectores na Demncia do Tipo Alzheimer ............ 6

    2.4. Neuropatologia da Doena de Alzheimer .............................................................. 8

    2.5 Fases da DA ............................................................................................................ 9

    2.6 O trabalho do Terapeuta da Fala com indivduos com DTA ................................ 13

    2.7 Avaliao da linguagem na Doena de Alzheimer ............................................... 14

    2.8 Alteraes de linguagem na DTA: caractersticas, avaliao e implicaes ........ 16

    2.9 Optimizar a comunicao em indivduos com DTA ............................................ 21

    3. Metodologia

    3.1 Participantes ......................................................................................................... 23

    3.2 Procedimentos ...................................................................................................... 24

    3.3 Material ................................................................................................................. 25

    4. Resultados

    4.1 Anlise dos resultados do MMSE ........................................................................ 27

    4.2 Anlise dos resultados nas provas aplicadas da PALPA-P .................................. 28

    4.3 Discusso dos resultados obtidos ........................................................................ 33

    5. Concluso

    5.1 Resumo do trabalho efectuado ............................................................................. 36

    5.2 Principais resultados e concluses ........................................................................ 36

    5.3 Critrios / sugestes de continuidade ................................................................... 37

    Bibliografia ................................................................................................................. 38

    Anexos ........................................................................................................................ 41

  • ii

    ndice de Tabelas

    Tabela 1: Critrios de diagnstico da Doena de Alzheimer segundo DSM-IV-TR

    Tabela 2: Critrios de diagnstico da Doena de Alzheimer segundo NINCDS-

    ADRDA

    Tabela 3: Factores de risco e proteco da doena de Alzheimer

    Tabela 4: Sinais e sintomas das 4 fases da doena de Alzheimer

    Tabela 5: Clinical Dementia Rating

    Tabela 6: Escala de Deteriorao Global

    Tabela 7: Escalas e Testes na demncia de uso na clnica e investigao na avaliao

    do estado mental de adultos seleccionados pelo Grupo de Estudos do Envelhecimento

    Cerebral e Demncias

    Tabela 8: Resumo das principais alteraes da linguagem em fase inicial na Doena

    de Alzheimer

    Tabela 9: Indivduos avaliados com DTA

    Tabela 10: Indivduos avaliados sem DTA

    Tabela 11: Resultados do exame MMSE no grupo de doentes com DTA

    Tabela 12: Mdia e desvio-padro da prova Repetio de Frases

    Tabela 13: Mdia e desvio-padro da prova Leitura de Frases

    Tabela 14: Mdia e desvio-padro da prova Escrita e Morfologia

    Tabela 15: Mdia e desvio-padro da prova Nomeao Oral

    Tabela 16: Mdia e desvio-padro da prova Compreenso Oral de Relaes

    Locativas

    Tabela 17: Teste de Mann-Whitney para as provas Repetio de Frases, Leitura

    de Frases, Escrita e Morfologia, Nomeao Oral, Compreenso Oral das Relaes

    Locativas.

  • iii

    ndice de Figuras

    Figura 1: Exemplo da prova Leitura de Frases num indivduo com DTA

    Figura 2: Escrita de um indivduo com DTA

    Figura 3: Escrita de um indivduo sem DTA

    Figura 4: Parte da assinatura de um indivduo com DTA

    Figura 5: Prova de Nomeao Oral de um indivduo com DTA

    Figura 6: Prova de Nomeao Oral de um indivduo com DTA

  • iv

    Glossrio de Termos

    Placas senis/ emaranhados neurofibrilhares acumulao de protenas anmalas no

    crebro.

    Degenerescncia neurofibrilar emaranhados de neurnios mortos.

    Apo E tipo de protena que se encontra nos alelos dos cromossomas.

    Apraxia - perda da capacidade de realizar movimentos coordenados.

    Agnosia incapacidade para reconhecer pessoas ou objectos.

    Afasia perturbao da capacidade de compreender e formular linguagem.

    Agrafia perda da destreza da escrita.

  • 1

    1. INTRODUO

    O estudo da doena de Alzheimer , actualmente, uma rea de grande investigao e

    preocupao por parte dos profissionais de sade em todo o mundo (Touchon e Portet,

    2002).

    A doena de Alzheimer est associada a alteraes cognitivas, entre elas a

    linguagem, que vai agravando e progredindo no decorrer da doena.

    Existe uma forte preocupao pelo crescimento da populao idosa a nvel mundial e

    pelos problemas que podero desencadear, nomeadamente o crescimento de doenas

    incapacitantes como a doena de Alzheimer (DA).

    Tm sido feitas investigaes e relatos acerca das alteraes lingusticas (Ortiz,

    Bertolucci, 2005; Mac-Kay, 2004; Mansur, Carthery e Caramelli, 2005) assim como

    tcnicas de estimulao.

    A minha motivao para este trabalho prende-se ao facto de haver escassas

    informaes documentadas no Portugus-Europeu para as alteraes que ocorrem ao nvel

    da linguagem em fases iniciais na doena de Alzheimer.

    Objectivos do estudo

    O presente estudo tem como objectivo avaliar as alteraes da linguagem em doentes

    com demncia de tipo Alzheimer (DTA) em fase inicial e contrastar os resultados obtidos

    com um grupo de pessoas da mesma faixa etria sem alterao cognitiva. Adicionalmente, o

    estudo pretende averiguar, a nvel exploratrio, as potencialidades da utilizao da PALPA-

    P (Provas de Avaliao da Linguagem e Afasia em Portugus) neste grupo particular de

    doentes.

    Os indivduos sero sujeitos a avaliao da compreenso da linguagem,

    nomeadamente a compreenso oral de relaes locativas, da expresso da linguagem

    (nomeao oral de imagens e repetio oral de frases), da leitura de frases e da escrita de

    palavras (iniciao e execuo). Estima-se que o grupo dos doentes com demncia de tipo

    Alzheimer em fase inicial apresente um nvel de desempenho inferior em todas as tarefas,

    sendo este particularmente significativo nas tarefas de expresso oral e escrita.

    Com este trabalho estabeleceram-se as seguintes hipteses de investigao:

    Os indivduos com DTA em fase inicial diferem dos indivduos sem demncia

    quanto capacidade de compreenso da linguagem.

    Os indivduos com DTA em fase inicial diferem dos indivduos sem demncia

    quanto capacidade de nomeao oral de imagens.

    Os indivduos com DTA em fase inicial diferem dos indivduos sem demncia

    quanto capacidade de repetio oral de frases.

    Os indivduos com DTA em fase inicial diferem dos indivduos sem demncia

    quanto capacidade de leitura de frases.

  • 2

    Os indivduos com DTA em fase inicial diferem dos indivduos sem demncia

    quanto capacidade de escrita de palavras.

    Em indivduos com DTA em fase inicial verifica-se dificuldade em iniciar a

    escrita quando comparados com indivduos sem demncia.

    Estrutura da dissertao

    Este trabalho composto por cinco captulos. No primeiro feita uma breve

    introduo ao tema abordado na dissertao e so descritos os objectivos deste estudo e a

    sua estrutura. No segundo captulo apresentada a reviso bibliogrfica da linguagem em

    indivduos com Demncia do Tipo Alzheimer. No terceiro captulo define-se a metodologia

    usada nesta dissertao, faz-se uma caracterizao da amostra, definio dos procedimentos

    e dos instrumentos de avaliao utilizados. No quarto captulo so apresentados os

    resultados e feita a sua discusso. No quinto e ltimo captulo surgem as principais

    concluses, assim como as limitaes do estudo e sugestes de continuidade.

  • 3

    2. ENQUADRAMENTO TERICO

    2.1 A actualidade e a evoluo da Demncia do Tipo Alzheimer

    Actualmente assiste-se a um aumento da populao idosa na maioria dos pases do

    mundo e Portugal no uma excepo. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatstica

    (INE) em 2006 verificava-se a existncia de 112 idosos para 100 jovens. O factor idade

    encontra-se intrinsecamente relacionado com o aumento do nmero de enfermidades

    verificadas nesta populao, sendo as demncias a principal patologia mental que afecta esta

    faixa etria.

    Segundo dados da ONU em 1950 existiam no mundo um total de 200 milhes de

    pessoas com idade superior a 60 anos, em 1970 existiam 307 milhes e no ano 2000 so j

    508 milhes. Na Europa 80 milhes de pessoas tm mais do que 60 anos e em Portugal

    estima-se que mais de 70000 pessoas sofram de demncia de tipo Alzheimer (DTA)

    (APFADA, 2008). Presentemente, existem cerca de 17 a 25 milhes de pessoas com DTA,

    das quais 8 a 15% corresponde a populao com mais de 65 anos. Nos pases desenvolvidos

    a DTA a terceira causa de morte, aps as doenas cardiovasculares e cancro (Dominguez,

    1994).

    Estes dados remetem-nos para um envelhecimento demogrfico rpido e progressivo

    para o qual se podem apontar duas causas. Por um lado, o aumento da esperana de vida,

    vivendo-se hoje mais tempo e com melhor qualidade de vida; por outro, a diminuio das

    taxas de natalidade: nos pases desenvolvidos tem-se assistido a uma diminuio das taxas

    de natalidade, sobretudo nos pases desenvolvidos e muito provavelmente devido a factores

    econmicos e culturais.

    A doena de Alzheimer uma doena neurodegenerativa do Sistema Nervoso

    Central caracterizada clinicamente por uma demncia progressiva e histologicamente pela

    presena de placas senis e degenerao neurofibrilhar. Trata-se de uma doena que

    habitualmente tem incio a partir dos 40 anos e o seu estudo remonta ao ano de 1907 quando

    Alois Alzheimer acompanhou uma utente (Augusta D.) com caractersticas especficas. Estas

    consistiam numa rpida e progressiva perda de memria, alucinaes, desorientao

    espcio-temporal, parania, alteraes de comportamento e graves perturbaes da

    linguagem. Aps a morte da utente, Alois Alzheimer realizou um estudo histolgico do seu

    crebro onde foram identificadas placas senis e neurticas, assim como alteraes

    arterioesclerticas cerebrais.

    A denominao de Doena de Alzheimer foi introduzida por Kraepelin na sua oitava

    edio do Manual de Psiquiatria, em 1910.

    A DTA representa cerca de 60% dos casos de demncia e a mais conhecida

    demncia cortical. Tal como outro tipo de demncias, a Demncia do Tipo Alzheimer s

    tem um diagnstico definitivo post mortem.

    O termo demncia descrito por uma deteriorao gradual das capacidades

    intelectuais e cognitivas. Segundo a Classificao Internacional das Doenas da Organizao

  • 4

    Mundial de Sade (CID 10) a demncia definida como: uma sndroma resultante da

    doena do crebro, em geral de natureza crnica ou progressiva no qual se registam

    alteraes de mltiplas funes nervosas superiores incluindo a memria, o pensamento, a

    orientao, a compreenso, o clculo, a linguagem e o raciocnio. O estado da conscincia

    no est enevoado. As perturbaes das funes cognitivas so muitas vezes acompanhadas,

    e por vezes precedidas por deteriorao do controlo emocional, do comportamento social e

    da motivao.

    As investigaes sobre a demncia de tipo Alzheimer focam vrios aspectos sobre a

    doena, apresentando um deles um interesse bastante actual: a linguagem. Este aspecto

    cognitivo revela-se muito importante para a manuteno de um estilo de vida social activo.

    2.2 Critrios de Diagnstico da Doena de Alzheimer e outros exames

    complementares

    Os critrios de diagnstico propostos sob o ponto de vista clnico para a DTA so os

    critrios do Manual Diagnstico e Estatstico de Perturbaes Mentais (DSM) e os critrios

    do National Institute of Neurological and Communicative Disorders and Strocke and

    Alzheimers Disease and Related Disorders Association (NINCDS/ADRDA).

    Os critrios do DSM-IV-TR remetem-nos para a existncia de perturbaes de

    memria e cognitivas, de evoluo progressiva que tm repercusses na vida social ou

    profissional da pessoa. Baseia-se essencialmente em dados clnicos (Areias Grilo, 2009).

    Relativamente aos critrios do NINCDS/ADRDA estes distinguem trs nveis de

    diagnstico: possvel, provvel e certo. Estes critrios exigem a presena de dfice cognitivo

    e a suspeita de sindroma demencial confirmada por testes.

    Critrios de diagnstico da demncia de tipo Alzheimer (DSM-IV-TR)

    A- Aparecimento de dfices cognitivos mltiplos, que se manifestem, simultaneamente, por:

    1) Uma alterao da memria (diminuio da capacidade para a aprender informaes novas ou para recordar

    informaes aprendidas anteriormente);

    2) Uma (ou vrias) das seguintes perturbaes cognitivas:

    a) Afasia;

    b) Apraxia (alterao da capacidade para realizar uma actividade motora, apesar de as funes motoras se

    encontrarem intactas);

    c) Agnosia (impossibilidade de reconhecer ou identificar objectos, apesar das funes sensoriais se

    encontrarem intactas);

    d) Perturbao das funes de execuo (fazer projectos, organizar, ordenar no tempo, usar o pensamento

    abstracto).

    B- Os dfices cognitivos dos critrios A1 e A2 encontrarem-se na origem de uma alterao significativa do

    funcionamento social ou profissional e representam um declnio significativo em relao ao nvel de

    funcionamento anterior.

    C- A evoluo caracteriza-se por um incio progressivo e um declnio cognitivo contnuo.

    D- Os dfices cognitivos dos critrios A1 e A2 no se devem a:

    1) Outras afeces do sistema nervoso central que podem acarretar dfices progressivos da memria e do

    funcionamento cognitivo (por exemplo: doena crebro-vascular, doenaa de Parkinson, doena de

    Huntington, hematoma subdural, hidrocefalia com tenso normal, tumor cerebral);

    2) Alteraes gerais que podem conduzir a uma demncia (por exemplo: hipotiroidismo, carncia em vitamina

    B12 ou folatos, pelagra, hipercalcemia, neurossfilis, infecco por VIH);

  • 5

    3) Afeces causadas por uma substncia.

    E- Os dfices no surgem de modo exclusivo no decurso da evoluo de uma confuso mental.

    F- A perturbao no pode ser explicada por uma alterao no Eixo I (por exemplo: perturbao depressiva

    grave, esquizofrenia).

    Com incio precoce: quando a idade de incio inferior ou igual a 65 anos.

    290.11 com confuso mental: quando a confuso mental se vem juntar a uma demncia;

    290.12 com ideias delirantes: quando as ideias delirantes so o sintoma predominante;

    290.13 com humor depressivo: quando o humor depressivo constitui a principal caracterstica

    (especialmente os quadros clnicos que apresentam todos os critrios sintomticos de um episdio

    depressivo grave). No se faz um diagnstico separado de perturbaes do humor devidas a uma situao

    clnica geral;

    290.10 no complicada: quando nenhum dos elementos precedentes predominante no quadro clnico.

    Com incio tardio: quando a idade de incio superior a 65 anos.

    290.11 com confuso mental: quando a confuso mental se vem juntar a uma demncia;

    290.12 com ideias delirantes: quando as ideias delirantes so o sintoma predominante;

    290.13 com humor depressivo: quando o humor depressivo constitui a principal caracterstica

    (especialmente os quadros clnicos que apresentam todos os critrios sintomticos de um episdio

    depressivo grave). No se faz um diagnstico separado de perturbaes do humor devidas a uma situao

    clnica geral;

    290.10 no complicada: quando nenhum dos elementos precedentes predominante no quadro clnico.

    Tabela 1: Critrios de diagnstico da Doena de Alzheimer segundo DSM-IV-TR

    Critrios de diagnstico da Doena de Alzheimer segundo NINCDS-ADRDA

    1. Os critrios de diagnstico de DA provvel so:

    - Sndrome demencial evocada pelos dados clnicos, objectivada por uma escala como a MMS, a escala de

    Blessed ou um exame similar e confirmado por testes neuropsicolgicos;

    - Presena de dfices relativos a, pelo menos, duas funes cognitivas;

    - Agravamento progressivo das perturbaes cognitivas;

    - Ausncia de perturbaes da vigilncia;

    - Incio entre os 40 e os 90 anos de idade;

    - Ausncia de doenas sistmicas ou cerebrais que possam causar perturbaes cognitivas progressivas.

    2. O diagnstico de DA provvel apoiado por:

    - Deteriorao progressiva na linguagem (afasia), das realizaes gestuais (apraxia) ou da percepo

    (agnosia);

    - Diminuio das actividades quotidianas e aparecimento de perturbaes do comportamento;

    - Antecedentes familiares de perturbaes similares;

    - Os resultados dos exames complementares: ausncia de anomalia no lquido cefalorraquidiano (LCR)

    interpretados pelos mtodos habituais; EEG normal ou que apresente anomalias no especficas, como,

    por exemplo, aumento dos ritmos lentos; sinais de atrofia cerebral no TDM, que se revela progressiva

    medida que se repetem os exames.

    3. Existem outros sinais clnicos compatveis com o diagnstico de DA, depois de eliminadas as outras

    causas de demncia:

    - Existncia de nveis na evoluo de da progresso da doena;

    - Sintomas associados: depresso, insnia, incontinncia, delrio, iluses, alucinaes, reaces de

    catstrofe (verbais, emocionais ou fsicas), perturbaes sexuais, perda de peso;

    - Presena, nalguns doentes, sobretudo num estdio avanado, de outros sinais neurolgicos: rigidez,

    mioclonias, perturbaes da marcha, crises de epilepsia.

    4. Sintomas que tornam o diagnstico de DA improvvel:

    - Incio sbito, apoplectiforme;

    - Dfices neurolgicos focais, tais como: hemiparesia, dfice de sensibilidade, do campo visual,

    descoordenao numa fase precoce da doena;

    - Crises de epilepsia ou perturbaes da marcha no incio da doena.

    5. Pode ser estabelecido um diagnstico possvel de DA:

    - Perante uma sndrome demencial, na ausncia de outras afeces sistmicas, neurolgicas ou

    psiquitricas que possam explicar os sintomas e em presena de variaes no modo de incio, nos

  • 6

    sintomas iniciais e na evoluo;

    - Em presena de uma outra afeco sistmica ou cerebral, susceptvel de causar uma demncia, mas que

    no considerada como sendo a causa da doena;

    - Perante um dfice cognitivo limitado a uma nica funo, de evoluo progressiva e grave, na ausncia

    de outra causa identificvel.

    6. O diagnstico de DA certo s quando se encontram associados:

    - Os critrios de DA provvel com

    - Os sinais histopatolgicos obtidos atravs de biopsia ou autpsia.

    Tabela 2: Critrios de diagnstico da Doena de Alzheimer segundo NINCDS-

    ADRDA

    Os exames laboratoriais tm um valor importante para um melhor diagnstico da

    DTA. Entre eles, destacam-se a anlise ao sangue e a anlise ao lquido cefalorraquidiano

    (LCR) (Nitrini et al, 2005). Outros exames de clara importncia so os exames de

    neuroimagem. A tomografia computorizada (TAC) e a ressonncia magntica nuclear

    (RMN) permitem excluir outras causas de demncia. Indivduos com demncia,

    principalmente em fase inicial, podem no apresentar sinais de atrofia cerebral, enquanto

    outros podero apresentar esses mesmos sinais, mas tm as funes cognitivas intactas. As

    alteraes da massa branca tm que ser cuidadosamente interpretadas, pois no garantem

    uma patologia demencial. A RMN de alta resoluo pode mostrar atrofia hipocmpica, onde

    so observadas alteraes mais precoces da doena (Nitrini et al, 2005)

    Estudos feitos com positron emission tomography (PET) e single photon emission

    computed tomography (SPECT) tm revelado uma reduo bilateral e assimtrica do fluxo

    sanguneo e do metabolismo em regies temporais e temporo-parientais. No entanto, estas

    alteraes podero no estar presentes em fases iniciais da DTA e podero aparecer noutros

    tipos de demncia, como a vascular e a secundria doena de Parkinson (Nitrini et al,

    2005; Boller e Duyckaersts, 1997). O eletroencefalograma (EEG) e o EEG quantitativo

    tambm so recomendados como mtodo auxiliar, principalmente quando o diagnstico

    permanecer aberto aps avaliaes clnicas inicias (Nitrini et al, 2005). J o uso de tcnicas

    mais sofisticadas, como os potenciais evocados, tem demonstrado um atraso na latncia do

    P300. No entanto, esta evidncia poder tambm estar presente em depresses, casos de

    esquizofrenia e outras demncias.

    Todos os critrios e exames complementares apenas podero apontar para um

    diagnstico provvel da DTA. O seu diagnstico definitivo ainda continua a ser feito apenas

    post-mortem.

    2.3 Factores de risco e factores protectores na Demncia do Tipo Alzheimer

    So cada vez mais estudados e mais conhecidos os factores de risco da DTA assim

    como alguns factores que parecem ter um papel protector (Touchon e Portet, 2002; Pea-

    Casanova, 1999). Neste contexto, a idade , sem dvida, um factor de risco e o principal.

    Estudos demonstram que 5% da DTA afecta pessoas com mais de 65 anos de idade e mais

  • 7

    de 50% na populao com mais de 85 anos (Pea-Casanova, 1999). Observa-se tambm

    uma maior prevalncia da doena em mulheres (Rorsman, Hagnell e Lanke 1986; Yoshitake

    et al., 1995; citados por Martin et al.,2002) que se poder justificar pela diferena na

    esperana mdia de vida entre os sexos.

    Vrios estudos tm sido realizados sobre alteraes cromossmicas. Os indivduos

    portadores de Trissomia 21 que atinjam uma determinada idade adulta tm uma forte

    probabilidade de sofrer a doena. Estes indivduos apresentam uma alterao no

    cromossoma 21, sendo sugerido que este cromossoma seja responsvel pelas alteraes

    neuronais que se verificavam na Doena de Alzheimer. No entanto, mais estudos tm

    demonstrado que no s o cromossoma 21, mas tambm o 1, 14 e 19 tm implicaes na

    DA, principalmente em familiares. (Boller e Duyckaerts, 1997; Touchon e Portet, 2002)

    O gene da apolipoprotena E (Apo E) desempenha um papel importante no

    aparecimento da doena de Alzheimer. Est presente tanto em casos familiares como em

    casos espordicos. A presena do alelo e4 foi descrita como factor de risco por Roses e

    colaboradores da Duke University na Carolina do Norte. Mais de 50% dos doentes de

    Alzheimer possuem pelo menos um alelo e4. O risco de aparecimento da doena

    multiplicado por 3 a 6 nos portadores de um s alelo e4 e por 6 a 12 em pessoas com dois

    alelos e4. J os alelos a2 e a3 parecem apresentar papel protector (Pea-Casanova, 1999).

    Os traumatismos cranianos so considerados tambm um factor de risco, na medida

    em que a probabilidade do aparecimento da doena se multiplica em 1.8 (Martin et al, 2002;

    Pea-Casanova, 1999).

    Estudos epidemiolgicos sugerem que a DTA tem uma incidncia similar em todo o

    mundo. Apenas encontram duas excepes: no Japo, onde a maioria dos casos com

    demncia provm de AVC e no da DTA; e em frica especulando-se que em reas menos

    industrializadas se encontram casos de DTA em menor nmero (Boller e Duyckaerts, 1997).

    O nvel de instruo um outro factor de risco. Vrios estudos demonstram que a

    prevalncia da demncia est relacionada com o nvel de instruo e que mais frequente

    em indivduos com baixa escolaridade. Estes estudos podem ter algumas explicaes. Por

    um lado ainda no foi totalmente excluda a possibilidade dos analfabetos apresentarem

    dificuldades na interpretao de testes cognitivos; por outro lado, sabe-se que a educao

    pode aumentar as densidades sinpticas permitindo um acumular de reservas e, por

    conseguinte, atrasar o aparecimento da demncia (Boller e Duyckaerts, 1997; Touchon e

    Portet, 2002).

    Outros factores como a idade parental de nascimento, doenas da tiride, depresso e

    traumatismos crneo-enceflicos podero tambm estar relacionados com o aparecimento da

    DTA, mas ainda no existem estudos suficientes que o comprovem.

    A tomada regular de medicamentos com aco anti-oxidante parece tornar mais lenta

    a evoluo da doena (Touchon e Portet, 2002). Um outro estudo realizado no departamento

    de Patologia e Nutrio da Universidade Case Western Reserve de Cleveland (Ohio)

    verificou que as pessoas que no sofriam de Alzheimer consumiam maior quantidade de

    nutrientes antioxidantes (Pea-Casanova, 1999).

    O uso de anti-inflamatrios no esterides (AINS) aponta tambm para uma

    diminuio do risco da doena (Touchon e Portet, 2002; Pea-Casanova, 1999). Um estudo

    efectuado em Baltimore mostrou que o risco de doena diminui para 0,65, depois de um

  • 8

    tratamento regular com durao de pelo menos dois anos, e para 0,40 quando o tratamento

    se ultrapassava os dois anos. (Touchon e Portet, 2002).

    Um outro factor considerado protector o uso de estrognios em mulheres na

    menopausa. Verificou-se uma diminuio em pelos menos 45% em relao s mulheres que

    no foram tratadas (Touchon e Portet, 2002; Pea-Casanova, 1999). A tabela 3 apresenta

    resumidamente os principais factores de risco e proteco.

    Factores de risco Factores de proteco

    Idade

    Antecedentes familiares de demncia

    Gene de vulnerabilidade (alelo e4 da ApoE)

    Sexo feminino

    Baixo nvel sociocultural

    Antecedentes de traumatismo craniano

    Antecedentes de Trissomia 21

    Hipertenso arterial

    Alelo e2 e a3 da ApoE

    Elevado nvel sociocultural

    Terapia de substituio por estrognios

    Papel protector dos AINS e anti-oxidantes

    Tabela 3: Factores de risco e proteco da doena de Alzheimer (Touchon e Portet,

    2002, Pea-Casanova 1999).

    2.4 Neuropatologia da Doena de Alzheimer

    Encontra-se comprovado que a deteriorao cognitiva se encontra associada ao

    processo fisiolgico do envelhecimento. A DTA conduz a uma neurodegenerescncia que

    afecta tambm as funes cognitivas (Moreira e Oliveira, 2005) e sendo assim, torna-se

    necessrio fazer a distino entre as alteraes cognitivas resultantes do processo de

    envelhecimento normal e as alteraes cognitivas resultantes de processos demenciais. Os

    testes laboratoriais tornam-se imprescindveis para a realizao do diagnstico da DTA

    (Boller e Duyckaerts, 1997), no entanto o diagnstico definitivo s feito post mortem aps

    o estudo neuropatolgico do tecido cerebral (Castro-Caldas e Mendona, 2005). Com este

    estudo possvel verificar em doentes com DTA a presena de caractersticas

    neuropatologicas: as placas senis e a degenerescncia neurofribilar.

    As placas senis e os emaranhados neurofibrilhares diferem na forma, tomografia e

    marcadores bioqumicos. As primeiras so leses complexas, o que dificulta a sua anlise e

    so constitudas por agregados de protena -amilide. Esta protena resulta de uma

    molcula precursora mais espessa, a APP (Amyloide Precursor Protein). A degenerescncia

    neurofibrilar, por sua vez, uma leso intraneuronal, cujo principal componente a protena

    tau.

    As leses da placa senil encontram-se em numerosas reas corticais, mesmo em

    estdios precoces da doena. As degenerescncias neurofibrilares tm uma topografia

    selectiva e uma progresso prpria.

  • 9

    2.5 Fases da DTA

    A DTA tem um incio gradual e os seus sintomas vo-se desenvolvendo e agravando

    ao longo do tempo. Desde o incio da doena at ao estdio mais avanado pode ocorrer uma

    durao entre 2 a 20 anos, mas o mais frequente entre os 5 e os 10 anos (Ochoa et al,

    1996).

    Trata-se de uma doena que apresenta fases distintas de progresso. Segundo Barreto

    (2005) na fase inicial, os primeiros sinais comeam por ser a falha de memria. Nesta fase o

    indivduo revela dificuldades em se recordar de factos recentes, descrever acontecimentos e

    em reconhecer pessoas familiares. So frequentes as desorientaes, em que o indivduo se

    perde em lugares, quer desconhecidos, quer familiares. Deixa de ter noo do tempo,

    fazendo confuso com o ano, ms e dia da semana. As alteraes de linguagem tambm se

    fazem notar e so evidentes as dificuldades em efectuar clculos e utilizar o dinheiro.

    Notam-se tambm alteraes da personalidade, em que o indivduo se torna mais

    egocntrico e desinibido; pode falar com linguagem inapropriada e inadequada para

    determinadas situaes. Deixa de se preocupar com a sua prpria imagem, esquecendo-se

    muitas vezes da sua higiene diria e pessoal. Nesta fase, tambm comum alguma

    instabilidade emocional sendo que doente poder ter crises depressivas, ideias de suicdio,

    apatia e ansiedade.

    Em fases intermdias a deteriorao cognitiva torna-se mais evidente. Verifica-se um

    aumento da dificuldade em organizar actos motores intencionais (apraxia), no sendo capaz

    de se vestir ou alimentar sozinho. A comunicao fica severamente comprometida, na

    medida em que o doente no capaz de manter um tpico de conversao. notria uma

    incapacidade de reconhecer objectos, lugares e rostos. So frequentes as alucinaes, onde o

    indivduo afirma que v objectos/pessoas no espao onde se encontra. No consegue fazer a

    diferenciao entre as imagens/fotos de pessoas reais. Irrompem certos fenmenos

    delirantes, em que o indivduo pensa que os outros pretendem a sua morte, que foi raptado,

    etc. Aparecem atitudes de agressividade e h uma maior agitao. So evidentes tambm

    alteraes do sono, em que o paciente poder passar vrias horas durante a noite acordado e

    poder adormecer durante o dia ou ento levantar-se durante a noite e dizer que tem de ir

    trabalhar (Ochoa, 1996). As incapacidades para o clculo tornam-se muito evidentes, no

    sendo capaz de gerir as contas de casa e do banco.

    Numa fase terminal, o doente demonstra apatia crescente e uma incapacidade

    notria de reconhecer pessoas. Por vezes, a alimentao tem de ser feita por sonda

    nasogstrica (Barreto, 2005). Como perde a coordenao motora, a postura erecta e a

    marcha, o doente fica limitado a uma cama. A memria a curto prazo encontra-se totalmente

    comprometida, o doente no capaz de se recordar o que comeu imediatamente aps a

    refeio. Verifica-se uma dependncia total do cuidador. A sua expresso est reduzida a

    monosslabas ou rudos (Ochoa, 1996). Tende a levar qualquer objecto boca.

    Marques-Teixeira prope quatro fases da doena de Alzheimer que se explicitam na

    seguinte tabela:

  • 10

    Fase 1 Ligeira Fase 2 Moderada Fase 3 Grave Fase 4 Muito grave

    *Durao de 1 a 3

    anos;

    *Pouco conscincia

    da doena;

    *Anomia ligeira;

    *Alteraes de

    personalidade;

    *Diminuio da

    capacidade de

    resoluo de

    problemas;

    *Diminuio da

    capacidade de lidar

    com situaes

    difceis;

    *Labilidade

    emocional;

    *Ausncia da

    capacidade de

    pensamento

    abstracto;

    *Esquecimento;

    *Perda de memria a

    curto prazo:

    *Alteraes de fala;

    *Isolamento social.

    *Durao de 2 a 10

    anos;

    *Alteraes mnsicas

    profundas;

    *Alteraes

    cognitivas em dois ou

    mais dos seguintes

    aspectos:

    Anomia

    Agnosia

    Apraxia

    Afasia

    *Diminuio

    acentuada da

    capacidade de juzo;

    *Comportamento

    errtico/bizarro;

    *Preocupaes

    infundadas;

    *Rptus violentos.

    *Durao de 8 a 12

    anos;

    *Alteraes graves

    de todas as funes

    cognitivas;

    *Comprometimento

    fsico, rigidez

    muscular

    generalizada;

    *Incontinncia;

    *Incapacidade para

    reconhecer membros

    da famlia;

    *Incapacidade para

    desenvolver

    actividades

    quotidianas bsicas.

    *Perda de todas as

    capacidades;

    *Perda da capacidade

    verbal, da

    coordenao motora

    e de todas as funes

    mnsicas;

    *Incapacidade de

    reconhecimento de

    qualquer pessoa;

    *Despersonalizao.

    Tabela 4: Sinais e sintomas das 4 fases da doena de Alzheimer (Marques-Teixeira, 2001)

    Sendo a DTA uma doena neurodegenerativa progressiva so utilizados vrios

    instrumentos que permitem uma viso sobre a sua evoluo. Uma das escalas mais utilizadas

    para este efeito a Clinical Dementia Rating (CDR)

    Nenhuma Suspeita Ligeira Moderada Grave

    Memria Sem perda de

    memria ou

    esquecimentos

    ligeiros e

    inconstantes

    Esquecimentos

    ligeiros e

    consistentes;

    recordao

    parcial dos

    acontecimentos.

    Esquecimento

    benigno.

    Perda de memria

    moderada mais

    acentuada para

    factos recentes, o

    defeito interfere

    com as actividades

    do dia-a-dia.

    Perda grave de

    memria;

    permanece

    apenas o

    material muito

    apreendido; o

    novo material

    perde-se

    rapidamente.

    Grave perda de

    memria; s

    permanecem

    fragmentos.

    Orientao Bem orientado Bem orientado

    com ligeira

    dificuldade nas

    relaes

    temporais.

    Dificuldade

    moderada com as

    relaes de tempo;

    orientado no

    espao durante a

    observao; pode

    apresentar

    desorientao

    geogrfica noutros

    locais.

    Dificuldade

    grave nas

    relaes

    temporais;

    quase sempre

    desorientado no

    tempo e muitas

    vezes no

    espao.

    Apenas

    orientado

    quanto sua

    pessoa.

    Juzo e Resolve bem os Ligeira Moderada Dificuldade Incapaz de

  • 11

    resoluo de

    problemas

    problemas do

    dia-a-dia; lida

    bem com

    negcios ou

    dinheiro.

    dificuldade em

    resolver

    problemas,

    semelhanas e

    diferenas.

    dificuldade em

    resolver problemas

    e diferenas. Juzo

    social geralmente

    mantido.

    grave em

    resolver

    problemas,

    semelhanas e

    diferenas.

    Juzo social

    geralmente

    diminudo.

    resolver

    problemas ou de

    ter qualquer

    juzo crtico.

    Actividades na

    comunidade

    Independente na

    sua actividade

    profissional,

    comprar,

    voluntariado e

    actividades

    sociais.

    Ligeira

    dificuldade

    nessas

    actividades

    Incapaz de

    funcionar

    independentemente

    nessas actividades,

    embora seja capaz

    de desempenhar

    algumas; numa

    avaliao

    superficial parece

    normal.

    Sem possibilidade de um

    desempenho fora de casa.

    Parece bem para

    ser levado a

    actividades fora

    de casa.

    Tem um aspecto

    demasiado

    doente para ser

    levado a

    actividades fora

    de casa.

    Casa e

    passatempos

    Vida de casa,

    passatempos e

    interesses

    intelectuais

    mantidos

    Vida de casa,

    passatempos e

    interesses

    intelectuais

    ligeiramente

    afectados.

    Diminuio ligeira,

    mas evidente na

    realizao das

    tarefas domsticas,

    abandono das mais

    complexas; os

    passatempos e

    interesses mais

    complicados

    tambm so

    abandonados.

    S realiza as

    tarefas mais

    simples.

    Interesses muito

    limitados e

    pouco mantidos.

    Sem qualquer

    actividade

    significativa

    dentro de casa.

    Cuidado pessoal Capacidade completa para cuidar de

    si prprio.

    Necessita de ser

    lembrado

    Requer

    assistncia no

    vestir, higiene e

    guarda dos

    objectos

    pessoais.

    Requer muita

    ajuda nos

    cuidados

    pessoais,

    incontinncia

    frequente-

    Tabela 5: Clinical Dementia Rating (Mendona, Garcia e Guerreiro, 2003)

    A evoluo da DA poder ser definida em sete estdios atravs da Global

    Deterioration Scale (GDS), definida por Reisberg et al (1982; 1986).

    GDS- 1: Ausncia de alterao

    cognitiva. Corresponde ao indivduo

    normal.

    Ausncia de queixas subjectivas;

    Ausncia de transtornos evidentes da memria na entrevista clnica

    GDS 2: Diminuio cognitiva muito

    leve. Corresponde s alteraes da

    memria associadas idade.

    Queixas subjectivas de defeitos na memria, sobretudo em:

    a) Esquecimento de onde colocou objectos familiares;

    b) Dvida em nomes previamente conhecidos;

    Sem evidncia objectiva de alteraes da memria no exame clnico;

    Sem dfice objectivo no trabalho ou em situaes sociais;

    Existe um pleno conhecimento da sintomatologia.

    GDS 3: Alterao cognitiva leve.

    Corresponde perturbao cognitiva

    ligeira.

    Primeiras alteraes evidentes: manifestaes em uma ou mais das seguintes

    reas:

    a) O paciente pode perder-se num lugar familiar;

    b) Os seus colegas notam um rendimento laboral pobre;

    c) As pessoas mais prximas apercebem-se de problemas na evocao de

    palavras e nomes;

    d) Ao lerem um pargrafo de um livro retm pouco material;

  • 12

    e) Podem mostrar uma capacidade muito diminuda na recordao das

    pessoas que conhecerem recentemente;

    f) Podem perder ou colocar num lugar inadequado objectos de valor;

    g) Na explorao clnica pode estar evidente um problema de concentrao;

    As alteraes objectivas da memria observam-se unicamente com uma

    entrevista intensiva;

    Surge um decrscimo de rendimento em situaes laborais ou sociais

    exigentes;

    O paciente manifesta um desconhecimento e negao dos sintomas;

    Os sintomas so acompanhados de ansiedade discreta a moderada.

    GDS 4: Alterao cognitiva

    moderada. Corresponde a uma

    demncia num estdio leve.

    Alteraes claramente definidas, numa entrevista clnica cuidadosa, nas

    seguintes reas:

    a) Conhecimento diminudo dos acontecimentos actuais e recentes;

    b) O paciente pode apresentar um certo dfice na recordao da sua prpria

    histria pessoal;

    c) Alteraes de concentrao manifestada na organizao de sequncias;

    d) Capacidade diminuda de viajar, gerir as finanas, entre outras.

    Ocorre ainda a incapacidade para realizar tarefas complexas;

    A negao o mecanismo de defesa dominante;

    Diminuio do afecto e abandono nas situaes mais exigentes.

    Normalmente no existem alteraes nas seguintes reas:

    a) Orientao no tempo;

    b) Reconhecimento de pessoas e caras familiares;

    c) Capacidade de se deslocar a lugares familiares;

    GDS 5: Alterao cognitiva moderada

    grave. Corresponde a uma demncia

    num estdio moderado.

    O paciente no pode sobreviver muito tempo sem alguma assistncia;

    No recorda dados relevantes da sua vida actual: a sua morada ou nmero de

    telefone de muitos anos, os nomes de familiares prximos (como os netos), o

    nome da escola, entre outros;

    frequente uma certa desorientao no tempo (dia do ms, dia da semana,

    estao) ou no espao;

    Uma pessoa com um maior nvel educacional pode ter dificuldade em fazer

    contagens para trs desde 40 de quatro em quatro, ou desde 20 de dois em

    dois;

    Mantm o conhecimento de acontecimentos mais marcantes;

    Sabe o seu nome e normalmente o da sua esposa (marido) e filhos;

    No requer assistncia nem na higiene pessoal nem na alimentao, contudo

    pode ter dificuldade na escolha da roupa mais adequada.

    GDS 6: Alterao cognitiva grave.

    Corresponde a uma demncia num

    estdio moderadamente grave.

    Ocasionalmente pode duvidar do nome da sua esposa (marido), sendo esta,

    normalmente, a pessoa que depende totalmente para sobreviver;

    Desconhece os acontecimentos e experincias recentes da sua vida;

    Mantm um certo conhecimento da sua vida passada, contudo muito

    fragmentado;

    Geralmente desconhece a sua data de nascimento, a estao em que se

    encontra, o ano, etc.;

    Pode ser incapaz de contar a partir de 10 no sentido inverso, ou mesmo na

    contagem normal;

    Requer uma certa assistncia nas actividades quotidianas. Pode ter

    incontinncia ou requerer ajuda para se deslocar, no entanto, pode ir a

    lugares familiares;

    O ritmo diurno est frequentemente alterado;

    Na maioria das situaes recordam o seu nome;

    Frequentemente consegue distinguir as pessoas familiares dos estranhos que

    se encontram sua volta;

    Ocorrem mudanas emocionais e de personalidade muito variadas, como por

    exemplo:

    a) Conduta delirante: pode acusar a sua esposa de impostora, falar com

    pessoas inexistentes ou falar com a sua imagem no espelho;

  • 13

    b) Sintomas obsessivos, como actividades repetitivas de limpeza;

    c) Sintomas de ansiedade, agitao e inclusive comportamentos violentos,

    que no existiam;

    d) Abulia cognitiva, perda de desejos, falta de elaborao de um

    pensamento para de determinar uma aco proposicional.

    Tabela 6: Escala de Deteriorao Global

    2.6 O trabalho do Terapeuta da Fala com indivduos com DTA

    A interveno dos profissionais de sade com indivduos com DTA visa uma

    manuteno e / ou estimulao das suas capacidades fsicas, cognitivas e emocionais. Para

    tal, o Terapeuta da Fala dever incluir uma equipa constituda por profissionais da Medicina,

    Enfermagem, Nutrio, Fisioterapia, Terapia Ocupacional e Psicologia. No mbito de uma

    equipa multidisciplinar importante existir uma distribuio de tarefas.

    Sendo assim, equipa mdica ocupa-se da avaliao e acompanhamento do estado de

    sade fsica e clnica do indivduo. Aos Enfermeiros cabem tarefas como assistncia

    hospitalar e domiciliria, auxlio aos familiares para administrao de medicamentos. O

    Fisioterapeuta dedica-se s actividades para melhorar complicaes musculares, sseas e de

    marcha. O Terapeuta Ocupacional empenha-se em promover a independncia fsica e

    prxica do indivduo, atravs da criao de estratgias que facilitem a execuo das

    actividades da vida diria. O Nutricionista dar informaes sobre a alimentao do

    indivduo, uma vez que em quadros demenciais se verifica uma diminuio do apetite. O

    Psiclogo dar suporte na reestruturao emocional e psquica no s ao indivduo com

    DTA como tambm a sua famlia no sentido de reduzir os sintomas de depresso, ansiedade,

    medo e angstia perante a doena.

    Neste contexto, valoriza-se tambm a actuao do terapeuta da fala, uma vez que

    este o profissional de sade responsvel pela preveno, avaliao, interveno e estudo da

    comunicao humana e suas perturbaes, em indivduos de todas as faixas etrias. A sua

    actuao direcciona-se para a reabilitao da linguagem, fala, voz, deglutio e fluncia.

    (D.L. 261/93, de 24 de Julho e D.L. 564/99 de 21 de Dezembro - Classificao Nacional de

    Profisses, 2006).

    O Terapeuta da Fala poder participar e contribuir no diagnstico das demncias j

    em estdios iniciais, onde so verificadas perturbaes ao nvel do discurso e ao nvel da

    capacidade semntica; at estdios mais avanados onde se constatam sinais afsicos e

    alteraes mais acentuadas na componente sintctica. Estas alteraes verificadas na

    linguagem e comunicao so tambm importantes para a obteno do diagnstico

    diferencial. (Mac-Kay, 2004)

    A interveno de um Terapeuta da Fala em processos demenciais tem-se mostrado

    importante na medida em que permite obter resultados teraputicos, quando estes so bem

    adaptados fase evolutiva do paciente (Ramos, 2002). Com o crescimento da populao

    idosa e o aumento da incidncia e prevalncia de casos de DTA, os Terapeutas da Fala tm

    um papel primordial na avaliao e tratamento das alteraes da linguagem e distrbios da

  • 14

    comunicao, incluindo a interveno directa com o paciente assim como as orientaes

    fornecidas aos cuidadores (ASHA, 2005).

    A sua interveno na rea da linguagem com indivduos com DTA dever comportar

    a estimulao da componente compreensiva e expressiva. Em relao primeira dever

    orientar-se o cuidador e familiares no sentido de optimizar a comunicao, promover a

    manuteno do contacto ocular para com o indivduo com demncia, assim como estimular a

    criao de imagens mentais sobre o tpico de conversao, as quais ajudam a uma melhor

    capacidade de compreenso. Relativamente expresso, devero ser usadas pistas

    especficas, associadas a imagem mental, o que tem interferido positivamente na produo

    verbal oral do indivduo (Alvarez, vila e Carvalho, 2001).

    Estudos recentes apontam para uma plasticidade neuronal em idosos saudveis e com

    DTA (Rosenzweig e Bennett, 1996, citados por Alvarez, vila e Carvalho, 2001). Assim

    sendo, exerccios de estimulao incitam a capacidade que o crebro tem de se auto-

    organizar. Exerccios cognitivos feitos durante a estimulao em indivduos com DTA

    podem trazer resultados positivos na organizao das funes cerebrais (Mirmiram et al,

    1996, citados por Alvarez, vila e Carvalho, 2001).

    Em 2003, vila, publicou resultados de reabilitao neuropsicolgica, onde foram

    trabalhados dfices de memria, linguagem e actividades da vida diria. Verificou que

    houve uma melhoria significativa na linguagem dos indivduos com DTA leve.

    Na realidade a reabilitao neuropsicolgica das funes de linguagem tem mostrado

    evidncias de trazer impacto positivo no tratamento de pacientes com DTA, principalmente

    quando aliada ao tratamento medicamentoso (Areias Grilo, 2009) sendo que o mais utilizado

    passa pela prescrio de inibidores de acetilcolinesterase (Touchon e Portet, 2002;

    Mendona e Couto, 2005).

    O tratamento da DTA dever ser plurimodal, recorrendo-se a teraputica

    farmacolgica e no farmacolgica (Touchon e Portet, 2002; Mendona e Couto, 2005;

    Guerreiro, 2005). A ltima comporta a estimulao cognitiva, cuidados de terapia da fala,

    psicoterapia, entre outros (Areias Grilo, 2009).

    Os objectivos da estimulao devem ser sempre adaptados a cada indivduo sempre

    com a colaborao dos familiares / cuidadores, mdicos, enfermeiros, neuropsiclogos e

    outros profissionais da rea da sade com o objectivo de garantir a manuteno da

    autonomia de forma a promover uma maior qualidade de vida (Grilo, 2009).

    2.7 Avaliao da linguagem na Doena de Alzheimer

    Quando h suspeita de demncia devem ser aplicados, normalmente, testes breves

    para despistagem. Um exame amplamente utilizado o Mini-Mental State Examination

    (MMSE). O MMSE um teste breve e j se encontra validado para a populao Portuguesa

    (Guerreiro et al, 1994). Trata-se de um instrumento de rastreio til para detectar uma

    suspeita de demncia, mas no para se fazer um diagnstico.

  • 15

    A avaliao da linguagem em indivduos com DTA dever comear desde que o

    utente entra na consulta de Terapia da Fala. Durante uma conversa informal inicial pode-se

    tirar j muitas caractersticas da sua linguagem, tanto a nvel compreensivo como

    expressivo. A linguagem do indivduo com demncia tem sido avaliada no Portugus-

    Brasileiro com os mesmos instrumentos usados para o diagnstico da Afasia, tais como:

    Bateria de Diagnstico de Afasia de Boston, a Westem Aphasia Batery, o Token Test e

    o Teste de Nomeao de Boston. Estes instrumentos apresentam algumas restries: o

    facto de serem construdas e apropriadas para o diagnstico de afasia e no de quadros

    demenciais. No entanto, permitem um diagnstico qualitativo e quantitativo, mostrando as

    alteraes ao nvel da linguagem. Podem ser utilizados tambm outros instrumentos de

    avaliao mais especficos, como por exemplo o ADAS-Cog (Alzheimer Disease

    Assessment Scale). O discurso espontneo poder ser avaliado atravs da descrio de uma

    imagem como, por exemplo, a de Goodglass.

    Em Portugal, o Grupo de Estudos de Envelhecimento Cerebral e Demncia sugere

    uma avaliao atravs das seguintes escalas e testes:

    Sub-escala cognitiva da Alzheimers Disease Assessment Scale (ADAS-cog)

    Bateria de testes individuais breves. Inclui recordao de palavras, nomeao, comandos, praxis construtiva,

    orientao, reconhecimento de palavras, linguagem falada e compreenso, procura de palavras e recordao de

    instrues do teste.

    Escala de Deteriorao Global (GDS)

    Escala de 7 pontuaes de gravidade ou do estdio da demncia.

    Avaliao clnica da demncia (CDR)

    Estrevista estruturada com o doente e a famlia.

    Proficincia pontuada em 6 domnios : memria, orientao, juzo e resoluo de problemas, actividades

    comunitrias, actividades quotidianas e lazer, cuidados pessoais.

    Avaliao breve do estado mental (Mini Mental State Examination)

    Teste que faz uma avaliao breve sobre a orientao, reteno, ateno e clculo, evocao e linguagem

    Escala de Depresso Geritrica ( Geriatric Depression Scale)

    Escala que foi concedida para auto-avaliao do estado depressivo do doente

    Escala Cornell para a depresso na demncia (Cornell Scale for Depression in Dementia)

    Escala que avalia sinais relacionados com o humor, perturbaes comportamentais, sinais fsicos, funes

    cclicas e perturbaes do pensamento.

    Inventrio Neuropsiquitrico (Neuropsychiatric Inventory NPI)

    Tem por objectivo obter informao relativamente existncia de psicopatologia em pacientes com alteraes

    cerebrais. Avalia dez itens do comportamento (delrios, alucinaes, agitao, depresso, ansiedade, euforia,

    apatia, desinibio, irritabilidade, comportamento motor aberrante) e dois itens neurovegetativos

    (comportamentos nocturnos e apetite/alteraes alimentares).

    Avaliao da incapacidade funcional na demncia (Disability Assessment for Dementia Scale DAD)

    Avalia questes relacionadas com o quotidiano como a higiene, o vestir, controlo de esfncteres,

    alimentao, preparao de refeies, utilizao do telefone, sair rua, finanas e correspondncia,

    medicao, lazer e trabalho domstico.

    Tabela 7: Escalas e Testes na demncia de uso na clnica e investigao na

    avaliao do estado mental de adultos seleccionados pelo Grupo de Estudos do

    Envelhecimento Cerebral e Demncias (GEECD).

  • 16

    2.8 Alteraes de linguagem na DTA: caractersticas clnicas e implicaes na

    comunicao do doente

    Na DTA as alteraes da linguagem esto presentes desde cedo, estimando-se que

    seja um dos maiores sintomas apresentados pelos pacientes (Keetesz, 1994, citado por

    Morris e Worsley, 2003). No entanto, muitas das vezes os familiares dos doentes associam

    as alteraes lingusticas a uma perda auditiva (Rabadn, 1998).

    So relatadas alteraes ao nvel da componente semntica da linguagem e alguma

    preservao dos componentes fonolgicos e sintcticos (pelo menos em fase inicial da

    DTA). O agravamento das alteraes lingusticas est relacionado com o comprometimento

    cognitivo (Mansur et al, 2005). Em fases posteriores, o indivduo poder manter as suas

    capacidades comunicativas, no entanto verifica-se uma diminuio do seu discurso

    espontneo, vocabulrio e dificuldades no encadeamento de ideias para formular o seu

    contedo discursivo. Estudos recentes (Bayles et al, 2000, citado por Mansur et al, 2005)

    demonstram uma permanncia de conhecimento da linguagem, uma vez que em estadios

    avanados a pessoa com DTA consegue reconhecer o seu prprio nome e fazer repeties.

    Compreenso da linguagem oral

    Capacidade fontico-fonolgica: Indivduos com DTA apresentam dificuldades em

    sintetizar e processar informao fornecida pela fala (Mansur et al, 2005)

    Capacidade lxico-semntica: Como j foi referido as alteraes lxico-semnticas

    encontram-se desde as fases iniciais da demncia. As alteraes que comprometem a

    componente lxico-semntica podero estar relacionadas com as deterioraes das estruturas

    que contm esses conceitos, com as dificuldades de aceder a essas estruturas ou ento a um

    comprometimento destas duas. (Rabadn, 1998; Mansur et al, 2005).

    Compreenso de frases: Vrios estudos foram elaborados com base em discurso

    espontneo e aceitou-se durante muito tempo que no existiam alteraes ao nvel sintctico,

    uma vez que os indivduos no faziam omisses dos morfemas gramaticais, mantinham a

    estrutura sintctica e o emprego da classe de palavras (Illes, 1990; Kempler, 1995, citado por

    Mansur et al, 2005). Porm, actualmente com o uso de testes mais especficos os indivduos

    com DTA apresentam dificuldades na compreenso de frases complexas, com voz passiva e

    frases extensas. Estas dificuldades podero estar relacionadas com o efeito da sobrecarga na

    capacidade de armazenamento da memria a curto prazo, desordens multifactoriais que

    envolvem variveis relacionadas com aspectos semnticos e com efeitos de processamento.

    Expresso da linguagem oral

    Capacidade fontico-fonolgica: Os indivduos com DTA tm sido considerados

    fluentes por no apresentarem alteraes fontico-fonolgicas da produo at estdios mais

    avanados da doena. No entanto, tm-se verificado alteraes em estdios iniciais da DTA

    em sub-grupos de indivduos.

  • 17

    Capacidade sintctica: Kempler (1995), citado por Mansur et al (2005) defendeu uma

    preservao sintctica em indivduos com DTA. No entanto, outros investigadores defendem

    que essa mesma preservao estereotipada e limitada a contextos rotineiros.

    Capacidade lxico-semntica: Esta capacidade avaliada com provas de nomeao e

    fluncia verbal. A maior parte dos estudos tem revelado que os indivduos em estdios

    iniciais da demncia apresentam dificuldades para encontrar certas palavras no discurso

    espontneo e mostram dificuldades para nomear objectos ou aces quando so solicitados.

    Evidenciam tambm dificuldades na evocao de nomes de categorias semnticas apesar de

    conservarem uma boa fluidez na criao de palavras comeadas por determinada letra

    (Monsch, et all, 1992, citado por Rabadn, 1998). O mesmo no foi constatado em estdios

    mais avanados (Bertolluci, 2000; Mansur et al, 2005). Por vezes podero estar presentes

    limitaes nos dois tipos de fluncia as quais podero ser resultado das deficincias na

    informao semntica e nas estratgias de busca ou podero estar relacionadas com dfices

    visuo-espaciais. Assiste-se a um aumento de episdios de na ponta da lngua em

    actividades de evocao e nomeao. Estes episdios sugerem alteraes na seleco e

    busca de palavras (Malagn, et al 2005). Num estudo realizado com exerccios de fluncia

    verbal ficou demonstrado que a escolaridade afecta o nmero de itens produzidos na

    categoria semntica quanto maior o grau de escolaridade, maior o nmero de itens.

    Todavia, estas diferenas no se verificaram no grupo de pessoas com DTA o que nos

    sugere que a influncia da escolaridade pode desaparecer (Caramelli, 2001). A fala destes

    indivduos mostra-se vazia em termos de contedo, devido deteriorao das estruturas que

    reduz a informao disponvel e devido s alteraes semnticas que permitem apenas um

    pensamento vago e no concreto. Muitas vezes o discurso no chega ao final, porque os

    problemas ao nvel da memria dilaceram a estrutura discursiva pensada inicialmente. Esta

    justificao tambm se considera vlida para explicar a dificuldade em manter um tpico de

    conversao.

    Capacidade discursiva: Indivduos com DTA produzem, na sua generalidade, um

    menor nmero de frases tanto com suporte de imagens como sem suporte visual. Na

    descrio de uma sequncia de acontecimentos produzem um grande nmero de preposies

    irrelevantes, mesmo quando tm suporte visual. Num estudo com indivduos com DTA onde

    foi utilizado suporte visual, verificaram-se perdas no componente semntico; nalguns desses

    indivduos foi verificada uma produo fragmentada (Bastos, 2000, citado por Mansur et al,

    2005). No entanto, em discurso espontneo, estes indivduos produziram enunciados longos,

    com encadeamentos lgicos, levando a autora a levantar a hiptese de dificuldades de

    processamento visual.

    Vrios autores escreveram sobre enunciados inacabados em situaes de produo

    discursiva oral em entrevistas e em conversaes. A ttulo de exemplo, em 1996, Mansur

    (citado por Mansur et al, 2005) estudou rupturas de formulao e processos de reformulao

    em indivduos com DTA leve a moderada constatando que as reformulaes estavam

    afectadas pelo agravamento da doena. Verificou tambm um aumento significativo de

    repeties no grupo com DTA moderada e comprovou-se um nmero reduzido de parfrases

    e uma diminuio significativas das correces nos casos mais graves.

  • 18

    Linguagem escrita

    Leitura: A leitura em voz alta encontra-se intacta ao longo do processo demencial,

    mesmo aps ter sido perdida a capacidade de compreender aquilo que foi lido (Bayles,

    Tomoeda e Trosset, 1993, citados por Mansur et al, 2005; Rabadn, 1998). Alguns estudos

    destinados anlise da frequncia, extenso, regularidade e lexicalidade na leitura das

    palavras e verificaram que a leitura em voz alta no se encontra preservada nestes indivduos

    (Passafiume et all, 2000; Patterson, 1994, citados por Mansur et al, 2005). Estes conseguem

    ler palavras pouco frequentes, pseudo-palavras e palavras irregulares facto que significa que

    o acesso lexical se encontra ileso; no entanto demonstram dificuldades na leitura de palavras

    irregulares de baixa frequncia e na compreenso do texto lido (Mansur et al, 2005). A

    dificuldade de leitura na DTA tem sido justificada pela deteriorao das capacidades

    semnticas. Vrios estudos referiam uma preservao da capacidade de leitura, mas no

    utilizavam palavras irregulares, logo no seriam detectadas as falhas semnticas (Fromm et

    al, 1991; Patterson et al, 1994; citados por Mansur et al, 2005).

    Tambm as alteraes da compreenso de leitura esto presentes em estdios iniciais

    da DTA. Tm sido tambm queixas frequentes dos indivduos, uma vez que a leitura de

    textos e frases est relacionada com outros mecanismos que esto implicados na demncia,

    como o caso da memria operacional.

    Escrita: A agrafia uma perturbao frequente e precoce na DTA. Os erros

    ortogrficos so tambm constantes assim como os dfices prxicos e motores da escrita.

    Estes sintomas so geralmente mais graves do que os verificados na linguagem oral e

    podero mesmo anteced-los (Horner et all, 1988, citado por Mansur et al. 2005).

    So verificadas dificuldades em iniciar espontaneamente a escrita. Anlises feitas a

    textos elaborados a partir de estmulos visuais, em doentes com DTA de ligeira a grave,

    demonstram que havia uma pobre organizao, ideias repetidas, pouca informao e

    informao irrelevante. Foram observados erros ortogrficos, na sua maioria erros de

    grafemas - adies, omisses, substituies e alteraes da posio de um grafema na

    palavra - (Rabadn, 1998; Mansur et al, 2005) e alteraes prxicas. Na escrita predominam

    as frases curtas e descries simples (Malagn, 2005). Em fases mais avanadas da

    demncia surgem dificuldades gramaticais e na organizao espacial. Em paralelo ao que

    ocorre na componente discursiva oral, pensa-se que possa existir tambm na produo de

    textos escritos a interaco de perturbaes lingusticas e cognitivas.

    Foram analisados textos escritos para determinar factores que prenunciam a

    demncia. Nessa anlise verificou-se que indivduos com DTA, na juventude elaboravam

    textos com uma sintaxe simplificada, o que demonstra, indirectamente, um contedo

    semntico pobre.

    As alteraes da escrita tm sido associadas a duas causas distintas: prxicas e

    lingusticas. Vrios autores verificaram alteraes mais significativas na escrita de palavras

    irregulares e predominncia de erros de regularizao (palavras irregulares escritas com base

    em regras de converso). Vrios autores justificaram a dificuldade de escrita de palavras

    irregulares com a perda de representaes ortogrficas do lxico ou dificuldades de acesso a

    essas representaes (Mansur et al, 2005). No entanto, outros associam essa alterao a um

    dfice lexical independente e prprio da escrita.

  • 19

    A evoluo das alteraes da escrita foi estudada em indivduos com DTA ligeira e

    moderada, onde se diferenciaram trs fases. A primeira foi denominada fase de dfice

    ligeiro, na qual se constataram poucos erros e distrbios lxico-semnticos. A fase

    intermediria (dois) em que predominaram erros grafmicos e regularizaes, que ocorreram

    em palavras irregulares e pseuso-palavras. A fase avanada (trs) onde prevaleceram

    desordens graves em todo o tipo de palavras. Frequentemente existiam erros mistos e

    dificuldades grafo-motoras ( Platel et al, 1993, citados por Mansur et al, 2005)

    Mac-Kay (2004) descreve trs estdios progressivos nas alteraes da linguagem na

    DTA: estdio inicial (demncia leve), estdio mdio (demncia moderada) e estdio tardio

    (demncia severa). O estdio inicial caracteriza-se pela dificuldade nas estruturas

    lingusticas complexas, diminuio da compreenso da leitura e da elaborao de tpicos

    narrativos; manuteno relativa do acesso lexical; manuteno adequada dos tpicos

    narrativos, da gramtica, do discurso descritivo, da leitura, da cpia e do ditado; boa

    capacidade de expressar as necessidades e emoes. O estdio mdio caracteriza-se pelas

    dificuldades de orientao no espao e no tempo, estabelecimento de sequncias,

    compreenso da leitura, organizao de ideias e disnomia; a cpia mantm-se preservada,

    assim como a gramtica e a compreenso do vocabulrio referente s actividades da vida

    diria. No ltimo estdio (tardio) as dificuldades so cada vez mais graves no discurso oral e

    escrito; a comunicao reduz-se a respostas de sim/no; a expresso das necessidades

    bsicas inconsistente e a manuteno de um dilogo s possvel com apoio e ajuda dos

    interlocutores. Allison et al , citado por Thompson (1987) referem a existncia de mutismo e

    de alguma ecollia.

    Todas estas alteraes verificadas ao nvel da compreenso e expresso da

    linguagem, oral e escrita, acarretam comprometimentos sociais aos indivduos com DTA.

    Potkins, et al (2003) demonstraram que alteraes na linguagem, principalmente a

    expressiva, estavam relacionadas com a presena de delrios. O comprometimento

    compreensivo da linguagem estava associado a comportamentos motores aberrantes. O

    comprometimento ao nvel da linguagem reduzia a participao nas actividades sociais.

    Alm desta associao a comportamentos psicopatolgicos mais severos, evidente que as

    alteraes anteriormente descritas promovem dificuldades comunicativas entre as pessoas

    com DTA e os seus mais directos interlocutores, nomeadamente os cuidadores formais e/ou

    informais. Dificuldades na comunicao fomentam conflitos na relao, isolamento social e

    quadros depressivos (Small et al. 2003). Small et al. (2005) estudaram as principais

    dificuldades comunicativas na DA e demonstraram que os cuidadores identificaram vrias

    actividades da vida diria onde a comunicao era um problema major.

    Compreenso Dificuldades na compreenso de frases complexas

    Dificuldades na compreenso da leitura

    Expresso Dificuldades na nomeao oral de diferentes imagens/objectos

    Diminuio da fluncia verbal

    Diminuio do nmero de frases na descrio de imagens e discurso

    espontneo

  • 20

    Frases inacabadas

    Emprego de perfrases

    Leitura Relativamente preservada

    Escrita Agrafia mesmo em estdios muito precoces

    Dificuldades em iniciar a escrita espontaneamente

    Apraxia

    Tabela 8: Resumo das principais alteraes da linguagem em fase inicial na Doena de

    Alzheimer

    Neste contexto, cabe aos profissionais a sugesto e ensino de estratgias para

    compensar os dfices comunicativos da pessoa com demncia. habitual o profissional de

    sade indicar ao cuidador para falar de forma pausada, uma vez que os indivduos com DTA

    demoram mais tempo para processar a informao. No entanto, Small et al. (2003) no

    encontraram evidncias de melhoria na comunicao com esta estratgia. Outra indicao

    que os profissionais do aos cuidadores a simplificao de frases, uma vez que se verifica

    uma reduo da memria e de capacidade de ateno/concentrao indivduos com DTA

    tm mais dificuldades em compreender frases complexas do que simples. Tambm se tm

    aconselhado os cuidadores a repetir o que disseram ao indivduo com DTA exactamente

    como da primeira vez, pois acredita-se que no consiga encontrar semelhanas entre duas

    frases idnticas.

    Cada estratgia apresentada tem que ser usada de forma muito cautelosa. Por

    exemplo, o facto de se falar pausadamente provavelmente iria aumentar as dificuldades

    sobre a capacidade de memria dos indivduos, ou seja, um prolongamento do discurso no

    tempo, implicaria que mantivessem por um maior perodo de tempo as informaes. Sendo

    assim, o doente poderia perder contedo importante daquilo que lhe tinha sido transmitido.

    Pela mesma linha de pensamento, usar a mesma frase poder ser uma boa estratgia se o

    indivduo tiver compreendido o discurso, caso contrrio deve-se alterar o contedo frsico.

    Portanto, fundamental ter em conta as limitaes comunicativas individuais de cada pessoa

    com DTA, bem como as idiossincrasias contextuais.

    At hoje, foram feitos vrios estudos sobre a eficcia das estratgias comunicativas.

    Foi utilizado o Token Test e constatou-se que os doentes apresentaram uma melhor

    compreenso em frases simples do que complexas. No entanto, uma diminuio da

    velocidade de fala no contribuiu para uma melhoria da compreenso. Small et al. (2005)

    estudaram a influncia do uso de frases complexas, velocidade de fala e repetio de frases

    num grupo de pessoas com DA ligeira a moderada. Os resultados da investigao

    demonstraram que no havia nenhuma melhoria de compreenso quando as frases eram

    apresentadas de uma forma mais lenta. Verificou-se tambm que as frases simples eram

    mais facilmente compreendidas do que as complexas, porm a compreenso das frases

    complexas melhorava quando estas eram repetidas. Por ltimo, provou-se tambm uma

    melhoria na compreenso de frases quando estas eram repetidas, quer na ntegra quer de

    forma parafraseada.

  • 21

    2.9 Optimizar a comunicao em indivduos com DTA

    Como j foi referido anteriormente a deteriorao da linguagem uma das principais

    caractersticas na DTA. Esta deteriorao que inicialmente se verifica na capacidade de

    nomeao verbal, culmina na total perda da linguagem na sua forma oral e escrita. Face a

    esta situao os cuidadores tm de encontrar formas adequadas, durante a evoluo da

    doena, para poder continuar a comunicar com o doente. Encontrando estratgias que

    permitam ao doente fazer expressar as suas necessidades e sentimentos um importante

    passo para a diminuio da sua ansiedade e aumento da sua auto-estima.

    A comunicao no se cinge apenas forma verbal. Existem muitas outras formas de

    conseguir que o parceiro comunicativo compreenda o contedo da nossa mensagem.

    A linguagem verbal oral realiza-se atravs de palavras. Pode ser expressiva fala e

    escrita e compreensiva compreenso e leitura. Na linguagem no verbal so utilizados os

    gestos, as posturas corporais, contacto ocular, etc.

    Numa primeira fase da doena so j notrios alguns declnios na linguagem. O seu

    interlocutor tem um papel muito importante na manuteno da comunicao com o

    indivduo com DTA. Zavaleta, (2006) apresenta algumas estratgias para a comunicao se

    tornar mais funcional. A saber:

    Incluir o indivduo na conversao;

    Evitar que se sinta desprezado;

    Falar de forma clara e se necessrio voltar a repetir o que dissemos;

    Simplificar a informao que queremos transmitir;

    Manter o contacto ocular, para que ele sinta que queremos comunicar;

    medida que a doena vai avanando, as falhas lingusticas tornam-se mais

    evidentes. Na segunda fase, moderada, os indivduos com DTA apresentam um maior

    empobrecimento de vocabulrio. Seguem algumas recomendaes para os seus parceiros

    comunicativos:

    Ser paciente a escutar o que dizem e mostrar compreenso no contedo do

    seu discurso;

    Dar mais tempo para se expressar, evitando interromper o seu raciocnio;

    Falar em tom baixo, caso contrrio podem pensar que estamos a repreend-lo;

    Utilizar frases simples e curtas e, se possvel, acompanhadas de gestos;

    Fazer perguntas simples de resposta dicotmica - sim e no;

    Mostrar que o escutamos e compreendemos atravs de linguagem no verbal;

    Evitar pronomes este, aquele

    Na terceira fase o comprometimento lingustico muito grave pelo que se deve

    facilitar a comunicao com a introduo de expresses corporais e gestos. A seguir

    encontram-se algumas tcnicas que podero auxiliar os cuidadores no processo de

    comunicao:

    Tentar comunicar com o doente com contacto ocular e fsico;

  • 22

    Estar atentos a alteraes de postura como a inquietude e nervosismo, pois

    podero ser indicativos de alguma necessidade do doente;

    Notar que alguns sinais como levar a mo boca podem ser indicativos de

    fome ou sede;

    Utilizar linguagem no verbal para obtermos informaes do doente e para

    que este entenda o que pretendemos transmitir;

    Repetir e reformular o nosso discurso para facilitar a compreenso;

    Cham-lo pelo seu nome de modo a captar a sua ateno;

    Comunicar atravs de imagens de revistas, livros, desenhos, etc.

    Para alm destas tcnicas facilitadoras existem outras que devero ser evitadas:

    Falar alto e depressa como se estivssemos a repreender;

    Fazer de conta que percebemos, quando na realidade no acedemos ao

    contedo da mensagem;

    Falar sobre o doente como se ele no estivesse presente;

    Falar em ambientes ruidosos e com vrias pessoas a falar ao mesmo tempo;

    Falarmos pelo doente;

    Cansar o indivduo com DTA com exerccios de comunicao complexos e

    prolongados;

    Trat-lo de forma autoritria e infantil.

    A linguagem um problema muito importante para as pessoas com DTA. Tem

    impacto na sua qualidade de vida e interfere com a socializao. A conscincia destes

    problemas tem um forte impacto positivo para a entrada do Terapeuta da Fala nas equipas

    multidisciplinares. necessria uma abordagem precoce para que se possa encontrar

    estratgias especficas para melhorar a comunicao (Links, 1988; citado por Potkins, et al,

    2003).

  • 23

    3 . METODOLOGIA

    3.1 Participantes

    Participaram neste estudo 8 indivduos com DTA e 8 indivduos sem dfices

    cognitivos. Como critrios de incluso para o estudo, definiu-se que os indivduos com DTA

    deveriam estar numa fase inicial da demncia (sem diagnstico de outras doenas do foro

    neurolgico) e que no deveriam estar sujeitos a reabilitao de linguagem ou

    neuropsicolgica. O diagnstico de demncia de tipo Alzheimer foi facultado pelo mdico

    que acompanha o utente. Os indivduos seleccionados tinham idades compreendidas entre os

    70 e os 84, com uma escolaridade que variava entre o 1 e o 4 ano (maioritariamente com o

    3 ano), tal como mostra a tabela:

    *De acordo com os dados da avaliao e da informao clnica fornecida pelo mdico.

    Tabela9: Indviduos avaliados com DTA

    Verifica-se um maior nmero de indivduos do sexo feminino. Estes dados

    corroboram o que se encontra na literatura. O sexo feminino considerado um dos factores

    de risco para o aparecimento da DTA (Touchon e Portet, 2002; Pea-Casanova, 1999).

    No que se refere ao subgrupo de indivduos, sem dfices cognitivos, a maioria do

    sexo feminino e apresenta o terceiro ano de escolaridade no apresentando nenhum dos

    participantes um nvel de estudos superior ao quarto ano.

    Indivduos Idade Escolaridade Sexo GDS*

    i1 84 4 Ano F 4

    i2 72 4 Ano F 4

    i3 75 3 Ano F 4

    i4 73 3 Ano F 4

    i5 70 4 Ano M 4

    i6 76 3 Ano F 4

    i7 78 3 Ano F 4

    i8 78 1 Ano F 4

  • 24

    *No aplicvel

    Tabela 10: Indivduos avaliados sem DTA

    3.2 Procedimentos

    Durante os meses de Maio e Junho de 2009 foi levada a cabo uma avaliao da

    linguagem em indivduos com diagnstico provvel de Alzheimer a utentes do Lar da Santa

    Casa da Misericrdia de So Joo da Madeira e do Centro de Sade de So Joo da Madeira.

    Foram avaliados tambm pacientes sem qualquer comprometimento neurolgico no Centro

    de Apoio Social de Mozelos e Centro de Assistncia Social Infncia e Terceira Idade de

    Sanguedo. As avaliaes foram sujeitas aps autorizao das entidades referidas assim como

    aps assinatura do consentimento informado por parte dos utentes avaliados ou seus

    familiares. No consentimento foi esclarecida a natureza do estudo e salvaguardado o

    anonimato da identidade dos utentes na publicao dos resultados.

    Os idosos foram avaliados numa sala com ambiente acstico adequado e as provas

    administradas individualmente. A ordem de administrao das provas foi igual para todos os

    indivduos, tendo-se iniciado pela prova Repetio de Frases, seguida da Leitura de Frases,

    Escrita e Morfologia, Nomeao Oral e por fim Compreenso Oral de Relaes Locativas.

    As instrues foram dadas de modo igual para todos os indivduos, de acordo com as

    instrues dos instrumentos utilizados (cf. 3.3). A avaliao tinha a durao de

    aproximadamente 45/60 minutos.

    Indivduos Idade Escolaridade Sexo GDS*

    i1 78 3 Ano F

    i2 84 4 Ano F

    i3 70 3 Ano F

    i4 75 3 Ano M

    i5 74 3 Ano F

    i6 78 1 Ano F

    i7 76 4 Ano M

    i8 78 3 Ano F

  • 25

    Repetio de Frases

    Instrues ao indivduo: Vou dizer frases, e queria que repetisse cada uma logo a

    seguir a mim. Eu digo a frase, mal eu acabe o/a (nome da pessoa) repete.

    Leitura de Frases

    Instrues ao indivduo: Leia cada uma das frases em voz alta, o mais claramente

    possvel.

    Escrita e Morfologia

    Instrues ao indivduo: Por favor, escreva cada uma das palavras que eu vou

    dizer.

    Nomeao Oral

    Instrues ao indivduo: Vou mostrar-lhe uma imagem. Por favor, diga-me o que

    ou o que representa.

    Compreenso Oral de Relaes Locativas

    Instrues ao indivduo: Repare na frase que eu vou dizer, qual a imagem certa?

    3.3 Material

    Os indivduos em estudo foram submetidos a uma avaliao do seu estado cognitivo

    com o Mini Mental State Examination (MMSE). O MMSE uma escala que avalia o

    funcionamento cognitivo. Encontra-se j validada para o Portugus-Europeu e composto

    por itens em que se avalia a orientao espacio-temporal, a memria auditiva, o clculo, a

    evocao de palavras, a linguagem (nomeao, repetio de frases, compreenso de ordens,

    leitura e escrita) e habilidade construtiva (cpia de um desenho). Esta escala aplicada

    rapidamente cerca de 10 minutos e tem como pontuao mxima 30 pontos. Considera-

    se com dfice cognitivo uma pontuao igual ou inferior a 15 pontos para analfabetos, igual

    ou inferior a 22 pontos para indivduos entre 1 a 11 anos de escolaridade e igual ou inferior a

    27 pontos para indivduos com escolaridade superior a 11 anos.

    Especificamente para a avaliao dos parmetros da linguagem em estudo, foi

    seleccionada a bateria PALPA-P (Provas de Avaliao da Linguagem e Afasia em

    Portugus). A PALPA-P foi traduzida e adaptada do original ingls Psycholinguistic

    Assessments of Language Processing in Aphasia por Castro, Cal e Gomes (2007) e

    rene 60 tarefas que avaliam quatro aspectos da linguagem: processamento fonolgico,

  • 26

    leitura e escrita, compreenso de frases e semntica de palavras e imagens. Foi criada com o

    objectivo de efectuar uma avaliao das afasias. No entanto, como a PALPA-P uma bateria

    com bastante contedo em termos de linguagem, tambm se considera til na avaliao de

    outras patologias onde a linguagem se encontra alterada, como em situaes demenciais.

    Trata-se de um instrumento til na avaliao das capacidades da linguagem e pode ser usada

    por psiclogos, neuropsiclogos, bem como por terapeutas da fala (Castro et al, 2007). Para

    o estudo seleccionaram-se cinco provas de linguagem, nomeadamente:

    Prova de Repetio de Frases, atravs da qual se avalia a capacidade de

    repetir frases em voz alta. Tem como objectivo verificar em que medida

    alteraes sintcticas e semnticas afectam a capacidade de o indivduo

    processar e produzir uma sequncia de palavras com sentido e

    sintacticamente.

    Prova de Nomeao Oral, atravs da qual se avalia a capacidade de

    nomeao.

    Prova de Leitura de Frases, atravs da qual se avalia a capacidade de ler

    frases em voz alta. O objectivo analisar em que medida as variveis

    sintcticas e semnticas afectam a capacidade do indivduo processar e

    produzir uma sequncia de palavras

    Prova de Escrita e Morfologia, atravs da qual se avalia a escrita

    Prova de Compreenso Oral de Relaes Locativas, atravs da qual se avalia

    a capacidade de compreenso oral de ordens verbais perante imagens.

  • 27

    4 . RESULTADOS

    Neste captulo so apresentados os resultados da anlise das alteraes lingusticas

    verificadas na populao estudada. A anlise inicial incide nos resultados obtidos pelos

    indivduos com DTA no MMSE, qual sucede a anlise da sua capacidade lingustica em

    cada uma das provas seleccionadas, contrastando os resultados da amostra com DTA e sem

    dfices cognitivos. Finalmente, estes aspectos so comparados com resultados de outros

    estudos publicados acerca das alteraes da linguagem em indivduos com DTA.

    4.1 Anlise dos resultados do MMSE

    Tabela11: Resultados do exame MMSE no grupo de doentes com DTA

    Pela tabela anterior podemos verificar que os indivduos avaliados neste estudo

    encontram-se com valores no MMSE entre os 2 pontos e os 22. O MMSE considera que

    existe defeito cognitivo na populao com 1 a 11 anos de escolaridade se os valores forem

    inferiores ou iguais a 22 pontos. Verifica-se, ento que toda a populao avaliada se

    encontra com comprometimento cognitivo.

    Nome Idade Escolaridade Sexo GDS* MMSE

    i1 84 4 Ano F 4 21

    i2 72 4 Ano F 4 13

    i3 75 3 Ano F 4 2

    i4 73 3 Ano F 4 22

    i5 70 4 Ano M 4 21

    i6 76 3 Ano F 4 15

    i7 78 3 Ano F 4 19

    i8 78 1 Ano F 4 20

  • 28

    4.2. Anlise dos resultados nas provas aplicadas da PALPA-P

    Seguidamente sero apresentados os resultados obtidos nos dois grupos avaliados,

    com as respectivas mdias, desvios-padro, mnimos e mximos. Para se verificar a

    existncia de diferenas estatisticamente significativas aplicou-se o Teste de Mann-Whitney

    para todas as provas aplicadas.

    Repetio de Frases

    Como se pode ver na tabela 12, o desempenho do grupo de doentes com DTA foi

    inferior ao desempenho do grupo de indivduos sem DTA.

    Grupo Mdia Desvio-Padro Mnimo Mximo

    Com DTA n=8 25,75 15,97 0 36

    Sem DTA n=8 36,00 00,00 36 36

    Tabela 12: Mdia, Desvio-Padro, Mnimo e Mximo para a prova Repetio de

    Frases

    Leitura de Frases

    Verifica-se pela seguinte tabela que o desempenho do grupo de doentes com DTA

    ficou abaixo do desempenho do grupo sem Alzheimer.

    Grupo Mdia Desvio-Padro Mnimo Mximo

    Com DTA n=8 24,00 15,69 0 36

    Sem DTA n=8 36,00 00,00 36 36

    Tabela 13: Mdia, Desvio-Padro, Mnimo e Mximo para a prova Leitura de

    Frases.

  • 29

    Figura 1: Exemplo da prova Leitura de Frases num indivduo com DTA

    Escrita e Morfologia

    Na tabela seguinte pode-se constatar um desempenho inferior do grupo de doentes

    com DTA quando comparados ao grupo de indivduos sem DTA. Importa salientar que,

    nesta prova, cinco dos oito doentes com DTA recusaram iniciar a escrita e dois desistiram no

    decorrer da mesma.

    Grupo Mdia Desvio-Padro Mnimo Mximo

    Com DTA n=8 8,62 17,72 0 50

    Sem DTA n=8 32,69 27,19 0 57

    Tabela 14: Mdia, Desvio-Padro, Mnimo e Mximo para a prova Escrita e

    Morfologia.

  • 30

    Figura 2: Escrita de um indivduo sem DTA

    Fi