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ALFABETIZAÇÃO DOS SURDOS POR MEIO DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO L2
COM O APOIO DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS (ELS - SIGN WRITING)
Leoni Ramos Souza Nascimento1
Genivaldo Oliveira Santos Filho2
Rozilda Ramos dos Santos Oliveira3
Eixo temático: GT7 - Educação, Linguagens e Artes
RESUMO:
Neste artigo objetivou-se em apresentar a Escrita da Língua de Sinais (ELS - SIGN WRITING) como
suporte didático para aprendizagem da Língua Portuguesa (LP) escrita. A escrita surge a partir das
preocupações nas civilizações em registrar os acontecimentos. No entanto, ossurdos brasileiros não
possuem habilidades em adquirir a escrita da LP tal qual um nativo, pelo fato da LP possuiruma
estrutura que se enquadra em Língua Oral. Logo, a ELS dará este suporte para escrever a LP como
segunda língua (L2). Para alcançar este objetivo, fizemos uma pesquisa qualitativa do tipo
bibliográfico. Contamos com teóricos a exemplo de Capovilla (2006);Stumpf (2005); Dallan (2010);
Quadros e Karnopp (2004); Strobel e Fernandes (1998) e outros.
PALAVRAS-CHAVE:Escrita da Língua de Sinais (ELS - SIGN WRITING). Língua Portuguesa
(LP). Surdo.Escrita.
ABSTRACT:
This article aims to present in Writing Sign Language (ELS - SIGN WRITING) as a teaching support
for learning Portuguese Language (LP) writing. The writing comes from concerns civilizations to
record the events. However, Brazilian deaf don’t have skills in acquiring the writing of LP just like a
native, because the LP has a structure that fits in Oral Language. Therefore, the ELS will give this
support to write the LP as a second language (L2). To accomplish this, we have made a qualitative
research of bibliographical. We’ve theoretical example ofCapovilla (2006); Stumpf (2005); Dallan
(2010); Qaudros and Karnopp (2004); Strobel and Fernandes (1998) and others.
KEYWORDS: Sign Writing (SW). Portuguese Language (LP).Deaf. Writing.
1Graduado em Letras LIBRAS-Licenciatura, pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor Auxiliar
Efetivo da Universidade Federal de Rondônia. Pós-Graduado Lato Senso em LIBRAS: Educação Inclusiva, Faculdade São Luís de França. E-mail: [email protected] 2Mestrando em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Especialistaem Libras - Língua Brasileira
de Sinais. Graduação em Letras/ Português. Proficiência em Tradução/intérprete de Libras (PROLIBRAS) e Proficiência em professor de Libras (PROLIBRAS) - realizado pelo MEC - Secretária de Educação Especial. Ex. Presidente da AILES - Associação dos Interpretes de Língua Brasileira de Sinais do Estado de Sergipe. Membro do grupo NUPPIEPED da UFS. E-mail: [email protected]. 3Graduada em Letras/Português. Pós-Graduada Lato Senso em LIBRAS. Proficiência de Uso e Ensino de LIBRAS,
Nível superior (PROLIBRAS). Intérprete no Tribunal de Justiça de Sergipe e Programa Câmara em Ação (TV ATALAIA). Associada da AILES - Associação dos Interpretes de LIBRAS de Sergipe. Drª Honorária em Direitos Humanos. E-mail: [email protected]
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INTRODUÇÃO
Alfabetização dos surdos requer, sobretudo, um conjunto de práticas de
comunicação sociocultural, com utilização de materiais didáticos, sejam eles escritos ou
materiais visuais. Os surdos como minoria linguística, compartilham de singularidades típicas
de uma comunidade que tem como marca principal o uso de uma língua, a Língua de Sinais
(LS). Portanto, elementos linguísticos e culturais distintos se encontram nessa minoria. As
estratégias metodológicas para a alfabetização do surdo se percorrem no contexto do
desenvolvimento social, histórico, cultural, e internalizadas a partir de uma linha de
pensamento contínuo, não determinado, como práticas sociais orais e escritas, diluindo assim
o universo da escrita (KLEIMAN, 1995; ROJO, 2001; SIGNORINI, 2001).
Neste universo da alfabetização, a problemática que vem sendo combatida é a
questão da Língua de Sinais (LS) serem ágrafas. Os desconhecedores desta língua, a julgam
como inferior, incompleta, ou ainda como um conjunto de códigos criados para suprir uma
necessidade comunicativa familiar, e que LS não possuem um sistema de escrita. No entanto,
desde a década de 1970, a Escrita da Língua de Sinais (ELS) ou Sign Writing (SW) vem
sendo aceito pela comunidade surda. Ressaltamos que outras propostas de Escrita de Sinais
foram criadas, anteriormente ou posteriormente do surgimento SW, focamos somente no SW
pelo fato que esse sistema ter contribuído em estudos como sistema lingüístico de escrita e
possibilitar uma analise descritiva dos elementos manuais e não manuais constitutivos dessa
língua. Sendo assim, a escrita ainda não é um sistema lingüístico oficial brasileiro, devido a
esta situação, a problemática da língua ainda se mantém.
A realização deste trabalho justifica-se devido à necessidade de maior
compreensão sobre a utilização educacional da ELS. Sabemos que conforme a Lei 10. 436/22
de Abril de 2002, que reconhece a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como língua oficial
das comunidades surda do Brasil, a Língua Portuguesa (LP) não pode ser substituída, em seu
uso oficial, pela Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), mas os surdos, em sala de aula,
poderão desenvolver-se melhor com o registro de sua língua natural, atingindo, assim, a
aprendizagem significativa. Presume-se que seja relevante o conhecimento da ELS, para que
na inclusão educacional dos surdos, estes estejam contemplados em uma proposta que almeja
a utilização, na sala de aula, de uma escrita que expresse sentimentos, ideias e opiniões e
principalmente a cultura e a identidade surda.
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O papel ainda é um recurso bastante utilizado para registrar informações, na nossa
sociedade. Por este motivo, a ELS em sincronia com a LIBRAS, possibilita a assimilação do
português como Segunda Língua (L2). Pois a partir do conhecimento linguístico de uma
Língua Natural (LN), o individuo tem habilidade cognitiva para adquirir conhecimentos
linguísticos de uma L2. Isto é muito diferente de meramente utilizar desenhos das
configurações de mãos, como o alfabeto manual. Embora, os vídeos ilustrativos produzidos
em LIBRAS e a interação da língua dentro da sala de aula, são instrumentos impar para a
reflexão do valor da LS para o surdo. No entanto a utilização da ELS torna-se fundamental
para a continuidade do processo de alfabetização. A ELS, assim como a LIBRAS, expressa no
papel características peculiar das LS como as Configurações de Mãos (CM), Ponto de
Articulação (PA), Movimentos (M), Orientações da Mão (Or.) e as Expressões Não manuais
(ENM). Para o surdo ter sucesso no desempenho linguístico no processo de aquisição de uma
segunda língua, a ELS é uma ferramenta indispensável. Por envolver uma composição de
unidades mínimas de significado, ela consegue compor textos.
Para alcançar o objetivo deste artigo, fizemos uma pesquisa qualitativa do tipo
bibliográfico. Contamos com teóricos a exemplo de Capovilla (2006); Stumpf (2005); Dallan
(2010); Quadros e Karnopp (2004); Strobel e Fernandes (1998) e outros.
1. CRIANÇA SURDA VESUS CRIANÇA OUVINTE: PARADGMA DA
APRENDIZAGEM
No processo da educação infantil ao promover experiências significativas de
aprendizagem da Língua Portuguesa (LP), dar-se por meio de um trabalho com a língua oral e
escrita, uma vez que a ampliação das capacidades de comunicação e expressão e de acesso ao
mundo letrado pelas crianças se institui na sala de aula do ensino regular.
Ser alfabetizado nessa concepção nos indaga a pensar como a noção de
aprendizagem, sobre a qual a aprendizagem do LP escrito venha ser uma representação da
fala, criando uma dicotomia entra a oralidade e a escrita. Nesta perspectiva, a alfabetização, às
vezes, está relacionada ao desenvolvimento das capacidades ligadas às quatro competências
linguísticas fundamentais: ler e escrever, falar, escutar (MELLO; MILLER, 2008).
A criança no processo de aquisição da língua que seja oral ou escrita, idealizamos
que a criança ao chegar à escola já possui um conhecimento sobre a língua, tanto por meio da
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língua oral durante a interação entre falantes da língua, quanto no convívio com a língua
escrita na interação com os outros seres humanos na sociedade. Sendo assim, a criança ao
entrar na escola, o professor deve investigar o que ela já sabe a respeito da língua oral ou
escrita para dar continuidade ao processo de aprendizagem.
Para Vygotsky (2007) a criança ao rabisca constrói um significado naquilo que
esta rabiscando, porem não compreende o objeto como uma representação. Para que a criança
consiga alcançar o progresso da aprendizagem, segundo Vygotsky (2007), deve descobrir o
além do rabiscar, ou seja, é que a criança também pode desenhar a fala.
No entanto, faz-se necessário que a criança através das descobertas consiga uma
aprendizagem eficaz. O que propomos é “ensinar às crianças a linguagem escrita, e não
apenas a escrita das letras”. (Vygotsky, 2007, p.157). Segundo Cummins (2000), seria eficaz
se a criança fosse alfabetizada em sua própria língua. No entanto vale ressaltar que a escrita
alfabética não consegue captar as relações de significados da LS. Porem se torna
extremamente importante os surdos adquirirem conhecimentos do português como segunda
língua na modalidade escrita, para assim socializar-se com melhor desenvoltura, criando uma
independência social. O processo de aprendizagem individual do aluno depende diretamente
das ferramentas desenvolvidas pelo professor. Este conhecimento empírico serve de base para
possíveis intervenções para um entendimento melhor da própria prática em sala de aula.
Segundo Capovilla (2006) existe uma continuidade quando a criança ouvinte
pensa, fala e escreve tudo em sua língua. Codificar e decodificar grafemas com os fonemas
favorece a aquisição fonológica da língua. Sendo que com as crianças surdas esse fenômeno
inexiste pelo fato dela pensar e falar em LS, cujo canal de produção difere das Línguas Orais
(LO). As interações comunicativas entre as LS e a LP escrita possibilitam a conscientização
do valor das respectivas línguas e suas especificidades. Essas interações em prática trarão
base para aquisição da leitura em ELS, da mesma forma para a o desenvolvimento da leitura e
escrita da LP como segunda língua.
O que nos preocupam é em vê nos ambientes educacionais onde o surdo está
inserido. Adquirir um nível de alfabetização é participar das práticas discursivas, seja ela oral
(domínio da Língua de Sinais) ou escrita (ELS).
2. ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS (ELS – SIGN WRITNG): SISTEMA
LINGUISTICO
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A Escrita da Língua de Sinais (ELS) é sistema linguístico carrega todos os
elementos que compõe os sinais, uma vez que o estudo sobre a ELS teve início em 1960, pelo
linguista americano William Stokoe, abrindo caminho para outros estudos fonológicos,
morfológicos, sintáticos, semióticos, pragmáticos, etc.
Esse sistema de escrita difere dos ideogramas em que várias frases e informações
podem se resumir em um símbolo, pois expressa na escrita tudo o que for sinalizado. O fato
da LIBRAS possui uma gramática com estrutura própria, facilitando assim o manuseara ELS,
ou seja, garante o registro da estrutura sinalizada da LIBRAS para a escrita, sem perder
nenhum detalhe, tornando possível que pessoas registrem informações de uma língua visual-
espacial.
Segundo os estudiosos Viader, Pertusa e Vinardeledo (1999) assunto, são
possíveis o uso da ELS, pois:
“usando suas estruturas, sintaxe e gramáticas próprias, sem o uso simultâneo
e alternativo da língua falada. Respeita-se seu status linguístico como língua.
Se expressa com elementos prosódicos e reflexões próprias” (VIADER,
PERTUSA e VINARDELE, 1999, p. 54).
Se refletíssemos sobre que os surdos deveriam utilizar a escrita conforme a “fala”
da LP, seria quase impossível, pois como poderiam expressar-se por regras gramaticais de
uma língua oral auditiva à qual não tem acesso natural? Portanto, podemos afirmar que a ELS
torna possível a inserção do sujeito surdo num processo de alfabetização que respeita suas
especificidades linguísticas.
O estudioso Stokoe (apud Quadros e Karnopp, 2004), ao propor a composição
dos sinais, apresentou em três parâmetros principais: configuração de mão – CM; locação da
mão – L; movimento da mão – M. Posteriormente, outros parâmetros foram acrescentados às
pesquisas da fonologia de sinais, são eles: orientação da mão – O; expressões faciais e
corporais – EFC.
Classificados como Unidades mínimas de significado, os parâmetros da LS, como
são conhecidos, são compostos pelos cinco itens citados acima. Sendo definido da seguinte
forma: a Configuração de Mãos (CM), de acordo com Strobel e Fernandes (1998), é definida
como a forma tomada pela mão no decorrer da articulação de um sinal. O Ponto de articulação
(PA) é o lugar do corpo ou espaço neutro onde o sinal será executado. Já o Movimento
demonstra o deslocamento da mão e do corpo durante a execução do sinal, possuindo
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diferentes formas e direções. Além disso, os sinais podem ter, ou não, movimentos.
Orientação (O), de acordo com Quadros e Karnopp (2004), significa a direção que a palma da
mão indica na realização do sinal; as Expressões Faciais e Corporais (EFC) distinguem
significados entre sinais. Três são seus parâmetros principais ou maiores: a CM, o M e o PA;
e outros dois constituem seus parâmetros secundários ou menores: O e EFC (FERREIRA-
BRITO, 1990).
Trazendo à tona informações acerca da LIBRAS e da ELS, podemos observar que
a ELS permite um decalque de todos os elementos linguísticos presentes na sinalização em
LS. De acordo com Silva (2012), o Movimento (M) pode ser classificado em duas categorias:
movimentos de dedos e de mãos. O movimento acontece num espaço de sinalização,
correspondente à área onde os sinais são realizados, ou seja, a distância que o braço do
sinalizador alcança à frente, acima e abaixo. Esse espaço pode estar representado no plano
paralelo à parede (vertical), com movimentos para cima e para baixo, escritos com setas
duplas, ou ao plano paralelo ao chão (horizontal), com movimentos para frente e para trás,
escritos com setas simples. Vejamos a figura 1 e 2 abaixo:
Figura 1: O sinal de Curso Figura 2: O sinal de CASA
FONTE: SILVA; GAUTO; SILVA; PATERNO,
2007 p. 34
FONTE: SILVA; GAUTO; SILVA; PATERNO,
2007 p. 34
Nos últimos anos, verificaram que as mudanças significativas por parte da
sociedade no contexto da inserção do surdo, principalmente quanto ao uso da LS. Há muito
tempo a LIBRAS, era considerada um tabu e não língua com estrutura e cognição. Falcão
(2010) argumenta que como ferramenta cognitiva visual, a LIBRAS permite à pessoa surda
viver de forma consciente, participativa, colaborativa e criativa, tornando-se construtora do
próprio ser enquanto sujeito cidadão. Como diz Quadros:
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A voz dos surdos são as mãos e os corpos que pensam, sonham e expressam.
As línguas de sinais envolvem movimentos que podem parecer sem sentido
para muitos, mas que significam a possibilidade de organizar as ideias,
estruturar o pensamento e manifestar o significado da vida dos surdos.
Pensar sobre a Surdez requer penetrar no “mundo” dos surdos e ouvir as
mãos que com alguns movimentos nos dizem o que fazer para tornar
possível o contato entre os mundos envolvidos. Permita-se a “ouvir” estas
mãos. Somente assim será possível mostrar aos surdos como eles podem
“ouvir” o silêncio da palavra escrita. (1997, p.119)
Ferreira-Brito também diz que "a língua é um dos mais importantes veículos de
comunicação e de identidade do indivíduo com sua cultura, seu meio, enfim, de inter-relação
com a comunidade a que pertence" (1990, p.91). É nisso que reafirmamos a nossa
credibilidade e respeito ao cidadão “surdo”: na sua autonomia, como qualquer outro cidadão,
com identidade própria e sendo agente numa sociedade que não deveria discriminá-lo pelo seu
jeito próprio.
Stumpf (2005) relata que surgiram vários sistemas de notação com a tentativa de
romper a problemática da afirmação acerca das LS serem ágrafas. O primeiro foi o de
François Neve (1996); o segundo o de Hamburg Notation System – Ham NoSys; o terceiro
Sistema D` Sing de Paul Jouison, (1990). Por último, o sistema Stokoe Notation, escrito por
Stokoe. De acordo com a mesma autora, de 1919 a 2000, uma equipe de linguistas da
Universidade Gallaudet, juntamente com Stokoe, criaram uma notação que parte de cinco
elementos: o lugar - correspondendo a 12 posições; as configurações de mãos, que são dez; os
movimentos indicando ação, contendo 22 símbolos; e a orientação - com 04 indicações.
Segundo Stumpf, este sistema foi criado com o intuito de estudar as LS. Nesse aspecto, os
estudos de Stokoe são referenciais para alguns pesquisadores das línguas de sinais.
No entanto, preocupados com a maneira de consolidar os sinais coletados e
elaborados, surdos dinamarqueses encontraram uma solução de registrar os sinais da Língua
de Sinais Dinamarquesa– LSD (DanskTengsprog – DTS). Exatamente na década de 1970, a
Senhora Valerie Sutton, criadora de um sistema de escrita para passos de dança
(Dancewriting), em visita a Dinamarca, possibilitou que estes pesquisadores surdos a
procurassem, para expor suas implicações e analisar se havia possibilidade para a adaptação.
A comunidade surda Dinamarquesa, em contato com a Valerie Sutton, encontrou uma solução
para registrar a Língua de Sinais Dinamarquesa através de um novo sistema de escrita, o SW.
Como exemplo do trabalho executado por Sutton, vejamos abaixo nas figuras 3 e
4, com alguns exemplos do Dancewriting:
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Figura 3: Representação escrita dos passos de
dança.
Figura 4: representação da dança
Fonte: Stumpf, 2007, p. 30 Fonte: Stumpf, 2007, p. 30
Com a ajuda de Sutton foi criado o “CommitteeActionDeaf (DAC)”, referência
mundial a respeito do SW. Em seguida, a ELS ganhou espaço na comunidade surda
internacional. Atualmente esse sistema de escrita faz parte do universo cultural dos surdos.
Desde então, o SW tem sido aceito e disseminado.
A ELS é divulgada para todo o mundo através de um portal na web. Vários países
do mundo reconhecem o uso e o benefício dessa modalidade, entre eles se destacam: os
Estados Unidos, Alemanha, Brasil, Dinamarca, Portugal, Arábia Saudita e China. Na década
de 1990, mais precisamente de 1996, a escrita das línguas de Sinais começou a ser pesquisada
e difundida em território brasileiro. Pesquisas na área da ELS fez com que a PUC/RS –
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - se tornasse pioneira. Segundo Dallan
(2010) em 1996 nesta Universidade surgiram os estudos sobre a ELS, com o professor
Antônio Rocha Costa, que constituiu um grupo com as professoras Márcia Borba e Marianne
Stumpf – pioneiras no estudo da ELS. Para exemplificar esta escrita, na figura 5 mostra o
alfabeto manual:
Figura 5: Escrita do alfabeto no sistema SignWriting.
Fonte: http://www.libras.com.br/signwriting/signwriting-dp1
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É oportuno enfatizar que a ELS tornou-se disciplina obrigatória na graduação em
Letras Libras, da pioneira Universidade Federal de Santa Catarina, e de todos os demais
cursos de Letras Libras no Brasil. A inclusão da ELS como disciplina do curso em Letras –
LIBRAS fortaleceu a cultura surda, carregando assim um novo olhar, cristalizando ideias para
viabilizar o processo de aquisição/aprendizado e letramento numa segunda língua para surdos,
dessa forma, é possível promovermos uma aprendizagem, construindo subsídios
metodológicos para o ensino de português como segunda língua escrita para surdos, com o
apoio da ELS.
De fato, a leitura é um processo de decodificação de signos e nos faz interagir
com o mundo, desenvolve nossa capacidade intelectual e emocional. Porem o aprendizado da
ELS viabilizaria a internalização dos conceitos, pois a mesma agiria em paralelo com a LS
contribuindo para o conhecimento linguístico de uma língua majoritária.
De acordo com Stumpf (2005) mesmo se a criança surda for capaz de converter as
letras na datilologia, ela não obtém o sinal lexical que diariamente ela está acostumada utilizar
em LS, esse é o ponto alto entre o surdo e o ouvinte diante de um processo de alfabetização.
Para que ela compreenda a função social da leitura e da escrita, precisa sentir a necessidade e
o prazer de ler e escrever, fato que raramente se observa entre crianças, jovens e adultos
surdos (SILVA, 2009, p.54).
3. LÍNGUA PORTUGUESA ESCRITA COMO SEGUNDA LÍNGUA (L2): O QUE A
ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS (ELS) TEM A AGREGAR?
A busca por uma escrita não alfabética, uma escrita que independe de estruturas
fonéticas, uma escrita que mapeie a estrutura e as propriedades das LS favorecerá a
continuidade desse processo de aquisição.
Do mesmo modo que a criança ouvinte pode beneficiar-se do uso de uma
escrita alfabética para mapear os fonemas de sua língua falada, a Surda
poderia beneficiar-se sobremaneira de uma escrita visual capaz de mapear os
quiremas de sua LS (CAPOVILLA et al., 2006, p. 1494).
A cultura e a identidade surda se fortaleceriam da mesma forma que o seu
conhecimento linguístico. Visto que a LIBRAS constitui um sistema linguístico (QUADROS
e KARNOPP, 2004) e funciona como a cultura e identidade surda brasileira.
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No que diz respeito à alfabetização, Quadros (1997) relata que em determinado
período do desenvolvimento, as crianças surdas apontam para determinado ponto no espaço e
raciocinam, sinalizam, mas, no momento de expressar o seu pensamento por meio da escrita,
como fazem as crianças ouvintes em fase de alfabetização, é obrigada a expô-lo em uma
escrita oral auditiva, ainda que sua língua natural seja visual e espacial. Seguindo essa linha
de raciocínio, pesquisas foram feitas em ambiente educacionais no estado do Rio Grande do
Sul, onde foram constatadas que crianças surdas adaptavam-se facilmente com o uso do
sistema da ELS.
A LIBRAS, como idioma oficial da comunidade surda brasileira, cumpre sua
função básica, ou seja, permite que o surdo pense, expresse-se, integre-se na sociedade. Nas
relações sociais onde aparecem as reproduções da alteridade surda, observamos as relações de
poder entre surdos e ouvintes, por isto é importante o enfraquecimento da comunidade surda.
Fernandes esclarece que a língua de sinais é:
[...] uma língua natural em organização em todos os níveis gramaticais
prestando-se às mesmas funções das línguas orais. Sua produção realizada
através de recursos gestuais e espaciais e sua percepção são realizadas por
meio de processos visuais por isso é denominada uma língua de modalidade
gestual-visual-espacial (FERNANDES 2001, p.4).
Devido à experiência visual que caracterizam os surdos, a escrita carece de meios
complementares não verbais à expressão. Quando alguém escreve para tornar precisos
conceitos ou ideias, não há algum interlocutor, como na relação de indivíduos em presença, e
o sujeito que escreve o faz para tornar mais exatos seus próprios pensamentos, para verbalizá-
los, desenvolvê-los sem nenhum contato mental com outra pessoa. Para Silva, o ato de
escrever promove a clarificação das ideias, pois a escrita e a maneira da enunciação tem
grande importância na constituição do pensamento. A autora Silva (2012) diz que o sujeito
adulto que se encontra num elevado estágio de domínio da língua escrita, escreve como fala e
como age.
No processo de alfabetização o surdo é imerso a relações cognitivas estabelecidas
por meio da LS para assimilação e organização do pensamento. De acordo com Freire (1982:
20) a leitura do mundo precede a leitura da palavra e a leitura é importante para a
continuidade da leitura daquele. Desse modo, o sistema de ELS possibilita a continuidade
dessa relação cognitiva estabelecida, pois é possível a criação de hipóteses e assim
alfabetizar-se. A leitura faz parte do processo de alfabetização, o português como segunda
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língua ensinada aos surdos com o apoio do sistema de ELS tornará o sujeito surdo capaz de
assimilar de forma mais ágil os conceitos. É sabido que esse procedimento didático deve estar
intrinsicamente relacionado com os objetivos pedagógicos para tamanho desenvolvimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A forma de instruir os surdos a um letramento significativo e louvável nos trazem
inúmeras reflexões acerca do assunto, investigando assim inquietantemente novas teorias e
práticas na área da surdez e da educação dos surdos. Diferentes grupos socioculturais
compartilham também dessa problemática, porem nos atentamos especificamente à minoria
surda, a qual trás como marca principal o uso de uma língua visual e espacial. Metodologias
de ensino do português como segunda língua para os surdos requer uma prática, articulada
com atividades contextualizadas.
A escrita constitui-se como parte fundamental na construção de sentidos em
sujeitos que ainda não foram expostos à aprendizagem formal da escrita. Além disso, a língua
de sinais, a identidade e a cultura surda precisam ser respeitadas na Educação de Surdos, com
recursos pedagógicos e materiais que contenham a ELS, ou seja: recursos que sejam baseados
nas experiências visuais, solidificando assim os conteúdos.
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