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Bilinguismo: Práticas para a Educação de Surdos Profª Drª Nídia Regina Limeira de Sá

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Page 1: Bilinguismo: Práticas para a Educação de Surdos...comum, o ensino de Libras e o ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos, devem

Bilinguismo:

Práticas para a Educação

de Surdos

Profª Drª Nídia Regina Limeira de Sá

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• Quando falamos de Educação Bilíngue temos a impressão de que estamos falando da mesma coisa... mas o que acontece é justamente uma grande confusão de entendimentos.

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Há uma tentativa de nos fazer crer que Educação Bilíngue é sinônimo de Educação Inclusiva.

MAS, NA ESCOLA CHAMADA INCLUSIVA:

• A surdez é inventada através do referente ouvinte...

• é vista como uma deficiência que marca o corpo determinando sua aprendizagem...

• Surdos “corrigidos”, “tratados”, “normalizados” por meio de terapias, treinamentos orofaciais, implantes...

• E é marcado o benefício de os ouvintes estarem com os surdos.

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• A Educação Bilíngue ainda precisa ser defendida no Brasil.

• Pessoas que detêm poder de decisão não conhecem a especificidade da Educação de Surdos. Confundem Educação de Surdos com Educação das pessoas com deficiência ou com Educação Especial.

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• Que tipo de educação bilíngue seria mais adequada para que os surdos possam vir a ser bilíngues equilibrados e serem respeitados enquanto minoria linguística?

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Ponto de partida inegociável:

Libras como primeira língua e língua de instrução e

Língua Portuguesa como segunda língua. (Skliar, 1998)

Com base nos direitos linguísticos e culturais dos surdos, numa perspectiva socioantropológica.

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EDUCAÇÃO BILÍNGUE(Libras/Língua Portuguesa)

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Base legal

Decreto 5626/2005

As instituições federais de ensino devem garantir, obrigatoriamente, às pessoas surdas acesso à comunicação, à informação e à educação, nos processos seletivos, nas atividades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades de educação, desde a educação infantil até à superior. (Art. 14)

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Base legal

“São denominadas escolas ou classes de educação bilíngue aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo processo educativo”.

(Decreto 5626/2005, Cap. VI, Art. 22, § 1º)

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Base legal

Art. 15. Para complementar o currículo da base nacional comum, o ensino de Libras e o ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos, devem ser ministrados em uma perspectiva dialógica, funcional e instrumental, como:

I - atividades ou complementação curricular específica na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental; e

II - áreas de conhecimento, como disciplinas curriculares, nos anos finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior.

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O que é ser bilíngüe?

É ser capaz de exprimir naturalmente os pensamentos mais complexos de maneira

fluida e natural, em duas línguas.

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• UNESCO: “é um axioma afirmar que a língua materna, a língua natural, constitui a forma ideal para ensinar uma criança. Obrigar um grupo a utilizar uma língua diferente da sua (...) contribui para que essa criança, vítima de uma proibição, seja excluída cada dia da vida nacional”. (1954, apud Skliar, 1989)

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• Há diversos tipos de Bilinguismo.

• Há diversos tipos de Educação “Bilíngue”.

Adjetivação desejável

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Educação bilíngue NÃO é a que meramente disponibiliza tradutores/intérpretes.

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A educação bilíngue envolve duas

línguas com prestígios sociais

diferentes, por isto,

há que se tomar decisões

sobre como se irá hierarquizar

as línguas envolvidas.

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Não há língua sem comunidade linguística.

• As instituições escolares precisam promover projetos de aquisição de primeira língua (L1).

• Isto demanda que as escolas bilíngues sejam espaços de aquisição natural e precoce da língua de sinais.

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Para a criança surda, o processo de aquisiçãoda língua de sinais ocorre pela via visual, e é igual ao processo de aquisição de qualquer língua.

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L2 L1 L2L1

monolíngüe ideal monolíngüe ideal bilíngüe ideal

O ideal seria um BILINGUISMO EQUILIBRADO...

+ =

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Mas... geralmente o que há é um BILINGUISMO INCIPIENTE.

A REALIDADE BRASILEIRA DAS ESCOLAS CHAMADAS INCLUSIVAS:

Geralmente o professor não sabe língua de sinais.

Geralmente falta intérpretes em sala de aula.

A ênfase na aquisição da língua oral gera um vocabulário limitado e até sem sentido.

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A REALIDADE BRASILEIRA DAS ESCOLAS CHAMADAS INCLUSIVAS:

Os surdos são minoria.

Geralmente não há professores surdos.

eralmente faltam recursos visuais em sala de aula.

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NÃO SIGNIFICA OPOSIÇÃO AO PRINCÍPIO DA INCLUSÃO

O princípio da inclusão não pressupõe necessariamente inclusão escolar. Mais importante que a inclusão escolar é a inclusão social e a inclusão no mundo pleno da linguagem.

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• Geralmente os surdos não têm um conhecimento linguístico aprofundado de sua língua patrimonial, tendo apenas uma competência comunicativa, o que dificulta o uso dessa língua como língua de instrução.

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Contexto atual

A Libras está sendo restrita às salas multifuncionais onde acontece o Atendimento Educacional Especializado – AEE.

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• A maioria das escolas disponíveis aos surdos pode ser considerada bilíngue de manutenção estática porque:

• Não propicia aos seus alunos surdos um conhecimento mais aprofundado da Libras,

• Não propicia a Libras como disciplina curricular em todas as etapas de escolaridade,

• Não utiliza adequadamente essa língua como língua de instrução.

• Não desenvolve materiais didáticos para o ensino da Libras como L1, nem para a Língua Portuguesa como L2.

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• Para atingir o bilinguismo equilibrado, a educação bilíngue precisa ser de manutenção evolutiva porque, esta tem como meta alcançar a mesma competência linguística nas duas línguas utilizadas pelo aluno.

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UM CURRÍCULO

Que enfatize as potencialidades e não as dificuldades, a falta a incompletude, a deficiência (auditiva).

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• UM CURRÍCULO DE EDUCAÇÃO BILÍNGUE...

• Que valorize a língua, a escrita, a literatura, o teatro, bem como os demais artefatos culturais dos surdos.

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UM CURRÍCULO DE EDUCAÇÃO BILÍNGUE...

Que valorize tecnologias e materiais pedagógicos visuais.

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UM CURRÍCULO DE EDUCAÇÃO BILÍNGUE...

Que valorize a política da diferença.

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UM CURRÍCULO DE EDUCAÇÃO BILÍNGUE...

Que seja como documentos de identidade cultural e de pertença.

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UM CURRÍCULO DE EDUCAÇÃO BILÍNGUE...

Que valorize a história

cultural dos surdos.

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UM CURRÍCULO COM DIFERENTES PROPOSTAS:

• para diferentes idades cronológicas,

• para tipos diferentes de surdez,

• para diferentes idades de contato com a língua,

• para diferentes contextos socioculturais.

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QUEREMOS UM BILINGUISMO DE ENRIQUECIMENTO QUE DISPONIBILIZE DUAS LÍNGUAS O TEMPO TODO.

QUAL O TIPO DE AMBIENTE ESCOLAR FAVORÁVEL AO BILINGUISMO ESCOLHIDO?

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• Queremos um currículo que não tenha foco apenas na aprendizagem por meio da disciplina Libras ou da disciplina Língua Portuguesa, mas, na aprendizagem de TODAS as disciplinas.

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Queremos ESCOLAS BILÍNGUES DESURDOS

não de caráter complementar, nem suplementar nem substitutivo, mas

escolas comuns de surdos

(bilíngues, específicas para surdos, diferenciadas e culturalmente referenciadas), baseadas numa política linguística para a comunidade surda.

Escolas que GARANTAM um ambiente linguístico o mais natural possível.

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Referências

FELIPE, Tanya. Aquisição da linguagem e escolas bilíngues para

surdos. In: Revista Amazônida. Revista do Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas. Ano

17, número 1, jan./jun. 2012. Manaus: Editora da Universidade Federal

do Amazonas, 2012.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade, DP&A Editora, 2006.

SÁ, Nídia R.L. Educação de surdos: a caminho do bilinguismo. Rio de

Janeiro: Editora da Universidade Federal Fluminense, 1999.

SÁ, Nídia R.L. Cultura, poder e educação de surdos. Manaus: EDUA.

2002.

SÁ, Nídia R.L. (org.) Surdos: Qual escola? Manaus: Editora Valer e

EDUA. 2011.

SKLIAR, C.B. A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre:

Mediação, 1998.