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Alfabetização

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Alfabetização

ERA UMA VEZ UMA CIDADE QUE POSSUÍA UMA COMUNIDADE, QUE POSSUÍA UMA ESCOLA. MAS OS MUROS DESSA ESCOLAERAM FECHADOS A ESSA COMUNIDADE. DE REPENTE, CAÍRAM-SE OS MUROS E NÃO SE SABIA MAIS ONDE TERMINAVA A ESCOLA, ONDE COMEÇAVA A COMUNIDADE. E A CIDADE PASSOU A SER UMA GRANDE AVENTURA DO

CONHECIMENTO.

Texto extraído do DVD "O Direito de Aprender", uma realização daAssociação Cidade Escola Aprendiz, em parceria com a UNICEF.

Alfabetização

SÉRIE

CADERNOS PEDAGÓGICOS2

123

54

6

A Série Mais Educação 05

07

08

09

13

13

Apresentação do Caderno

Uma pequena introdução ou histórias para quem gosta de re!etir…

Alguns apontamentos para a construção de uma proposta de alfabetização

Alfabetizar é possível

Por que há um contingente tão grande de crianças e também de jovens e de adultos que frequentam a escola, ano após ano, e não aprendem a ler e a escrever?

Será que a questão é o método?7 14

89

10

1211

13

Mas… O que aconteceu?

A inscrição simbólica das pessoas na cultura escrita é que possibilita que elas encontrem sentidos e "nalidades na alfabetização.

Outro jeito de olhar aluno e alfabetização

Alguns princípios importantes

14

1615

1718

Entendendo como pensam os alfabetizandos

O que pensa o aluno que compreende a escrita pré-silabicamente?

Orientações didáticas para o trabalho com alunos que fazem hipótese pré-silábica de escrita

O que pensa o aluno que compreende a escrita silabicamente?

O que pensa o aluno que escreve alfabeticamente?

Orientações didáticas para o trabalho com alunos que fazem hipóteses alfabética de escrita

Objetivos de aprendizagem para os alunos que fazem hipóteses alfabéticas de escrita

16

19

20

21

22

23

25

27

30

31

32

19 O trabalho por grupos diferenciados 33

2021

Jogos na alfabetização

Construindo um ambiente favorável à educação

35

36

22 Referências 39

05

P!ensar na elaboração de uma proposta de Educação Integral como política pública

impregnado das práticas disciplinares da modernidade. O processo educativo, que se

dinamiza na vida social contemporânea, não pode continuar sustentando a certeza de

do conhecimento universal. Também não é mais possível acreditar que o sucesso da educação

está em uma proposta curricular homogênea e descontextualizada da vida do estudante.

Romper esses limites político-pedagógicos que enclausuram o processo educacional na

partir dele que será possível promover a ampliação das experiências educadoras sintonizadas

sua responsabilidade pela educação, sem perder seu papel de protagonista, porque sua ação é

Série Mais Educação

Texto Referência para o Debate Nacional, Rede de Saberes: pressupostos

para projetos pedagógicos de Educação Integral e Gestão Intersetorial no Território, apresenta os

Cadernos Pedagógicos do Programa Mais Educação pensados e elaborados para contribuir

perspectiva da Educação Integral.

1A Série Mais Educação

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da socie-

dade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu

para o trabalho”. (Art. 205, CF)

06

Educação Econômica.

Em cada um dos cadernos apresentados, sugere-se caminhos para a elaboração de propostas

pedagógicas a partir do diálogo entre os saberes acadêmicos e os saberes da comunidade. A

e a organização escolar visualizando a cidade e a comunidade como locais potencialmente

educadores.

devem ser entendidas como uma apresentação de modelos prontos para serem colocados em

pública brasileira!

 072Apresentação do Caderno

E!autorias.

nos enredos das aprendizagens da leitura e da escrita.

considerado como regular como em sua extensão.

Os sentidos da leitura e da escrita vão se produzindo nos trânsitos pelos espaços do bairro,

da comunidade, da cidade, na busca de uma leitura do mundo, de corpo inteiro, quando se lê a

O seguir etapas rígidas, com todos ao mesmo tempo, pode ser uma das causas dos insucessos

que se desenvolvem em descompasso com os momentos de aprendizagem de cada criança e com

suas expectativas de ler e de escrever.

apontando para práticas pedagógicas que, acreditamos, possam ser propulsoras de aprendizagens

contando algumas.

E!chegava a hora do recreio e elas não haviam copiado…

E o tempo, como na letra da música “A linda rosa juvenil”, correu a passar, a passar e aquelas

O curioso é que elas entraram na escola cheias de esperança, porque iriam aprender a ler e a

em histórias, notícias, rezas, cantorias e tantas outras coisas.

Que coisas interessantes essas crianças reprovadas sabiam e que nunca puderam mostrar? O

que elas pensavam sobre a escrita?

investigador para as ações dos aprendizes da vida, do mundo e, neste mundo, o da escrita.

compreender o modo como as crianças aprendem a ler e a escrever, e direcionar nossas práticas,

Teríamos muitas histórias a contar, neste texto, mas selecionamos algumas.

Camila tem três anos. Tem uma irmã em idade escolar e vive num ambiente que se pode

considerar muito rico em eventos de letramento, mas não parecia estar interessada pelo

mundo da escrita.

0608 3 Uma pequena introdução ou histórias para quem gosta de re!etir…

Certa noite, ela estava no banheiro escovando os dentes. Sua irmã pegou o tubo de pasta dental e apontou para a marca, perguntando:— Tem alguma coisa escrita aqui?Ela olhou bem, passou o dedinho por cima das letras e disse:

Agora que nos tornamos cúmplices de suas

aventuras de leitura, conseguimos enxergar

textos que estão em muitos lugares por

onde ela anda e em materiais escritos com

os quais ela convive: sinais de trânsito,

placas, cartazes, revistas, objetos, rótulos,

embalagens…

também de três anos, que disse, andando pela

rua com a avó, enquanto esta caminhava e ele

— Lendo? Quê?

Que tal nos tornarmos cúmplices das aventuras de leitura e de escrita de todas as crianças,

explorando, valorizando o que sabem e trabalhando, a partir daí, para que avancem em suas

hipóteses?

escolar propriamente dito, mas incluímos também o entorno, a comunidade, o bairro, a cidade,

O!

09

4Alguns apontamentos para a construção de uma proposta de alfabetização

Ela já estava imersano mundo da escrita,

construindo suas hipóteses de leitura,

apenas não havia sido provocada para

mostrar seus conhecimentos

10

investigativos têm nos mostrado que, para aprender a ler e a escrever, é preciso produção de

linguísticas.

Para aprender a ler e a escrever é preciso conviver com as diferentes unidades linguísticas que devem, portanto, ser trabalhadas em todos os espaços educativos.

[…] Tudo está na palavra… Uma ideia inteira muda, porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que lhe obedeceu. As palavras têm peso, plumas, pelos, têm tudo que se

lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ter raízes… São antiguíssimas e recentíssimas […]

(NERUDA, P. In: NETO, A.G. A produção de textos na escola, 1988.)

Múltiplas Unidades

Linguísticas

Memorizar, construir

um repertório

palavras e textos

reconhecer,comparar, analisar

Copiar, “ler”,cantar,

declamar

11

Aprender a lere a escreveré também...

Cantar, Dançar,Brincar, Jogar

Olhar, Sentir,Descobrir

Ler quandoainda não se sabe ler,recorrendo a letras

de música e qualquertexto memorizado, emmúltiplos portadoresde textos e tipologias

textuais

Conviver,Compartilhar,

Cooperar

Aprender com o corpo inteiro, com o espaço, com diversos

materiais, com textos, com palavras e letras.

Explorar múltiplos materiais deleitura – roteiros mapas, embalagens

rótulos, jornais, revistas, bulas deremédio, quadrinhos, bilhetes, receitas,

cartas, Bíblias, folheto de oração, folders,cartazes, canções de igreja, cantigas de

roda e letras de música

Algumas possibilidades

de viver os processosde ler e escrever

Escrever mesmo quando ainda

não se sabe escrever

Viver a sala de aula, ou outros espaços, como um

grande livro de texto

Trabalhar, jogar e brincar com palavras e letras

móveis.

Produzir e explorar texto, quando já se

sabeler. Compartilhar

Leituras

Construir textos coletivos e realizar leituras orientadas

12letramento não se dão desvinculados dos múltiplos campos do saber e estes, estão intimamente

O acompanhamento pedagógico, trabalhado no caderno do qual este texto é integrante, aborda

importância da água na natureza. Todas as ações, aqui propostas, podem ser realizadas, interligadas

quando de palavras, textos…

Educação Integral.

Suzana Pacheco no texto sobre letramento

Nestes apontamentos de possibilidades de ações pedagógicas há alguns princípios importantes

MúltiplosTemas: ricas

possibilidades deler e de escrever

Esporte e LazerPromoção da

Saúde

Comunicação e Uso de Mídias

Cultura Digital

Cultura e ArtesDireitos Humanos em Educação

EducaçãoEconômica

EducaçãoAmbiental

Investigação no Campodas Ciências da Natureza

13

A história das crianças que copiavam a data nos remete a reprovações, insucessos e esta é uma

Por que tantas crianças não aprendem na escola o que se pensa que deveriam aprender?

muitas vezes, não acontece e a interrogação persiste.

E!escolares.

Talvez devêssemos examinar essa questão pelo seu avesso:

O que leva esses alunos a terem sucesso no seu processo de alfabetização?

palavra, na leitura do mundo, ou precedido pela leitura do mundo.

Todas as crianças podem aprender as crianças são facilmente alfabetizáveis.Os alunos estão em momentos diferentes de suas aprendizagens.O espaço tem sua poética, e, por isso, é fundamental criar ambientes favoráveis para a aprendizagem:

- organizados- agradáveis- bonitos- provocadores de sentimentos, de identidades e construção de laços de pertencimento

5Alfabetizar é possível

Por que há um contingente tão grande de crianças e também de jovens e de adultos que frequentam a escola, ano após ano, e

não aprendem a ler e a escrever?6

14inicia em um momento determinado e nem se restringe a rituais repetitivos de leitura e de escrita,

mas começa na própria vida, quando as crianças gesticulam, esboçam sorrisos, movimentam seu

de gestos de outros, leem outros sorrisos, expressões de aprovação, desaprovação, processo esse,

que segue pelos caminhos do lúdico, de práticas sociais de leitura e escrita, que se relacionam ao

por onde anda a criança e ao modo como se estabelecem as interações.

A divulgação dos resultados das avaliações a que vem sendo submetida à educação, no Brasil,

hegemônicos produziram os escandalosos índices de reprovação que tanto nos mobilizaram por

Outra declara que os maus resultados atuais são o resultado das práticas chamadas

a volta aos métodos fônicos é um retrocesso

por não valorizar os contextos sociais e culturais em que a aprendizagem se dá. Além disso,

nosso país, na maioria das salas de aula de todas as regiões, os métodos de orientação fônica

seguiram dominando nas últimas décadas.

os sintéticos

os analíticos

sintéticos, quanto analíticos é mais antiga do que as políticas de implantação de educação pública

e democrática.

“é com o valor que se há de ler e não com o nome das letras”da silabação, porque considerava que “não se deve consentir que as crianças soletrem, mas que pronunciem as sílabas”.

7 Será que a questão é o método?

15MUITA CALMA, ENTÃO!!!

Se a solução dos problemas de alfabetização, no Brasil, dependesse apenas da escolha do “método certo”, como vimos antes, já seria para termos zerado a produção de analfabetos.

sendo ora um, ora outro colocado no banco dos réus. Esgotadas as polêmicas dos métodos, pelo

psicogenéticos, com orientações variadas, desde antropológicas, psico e sociolinguísticas, até

mas desempenha relevante papel, se, devidamente estudada e tomada como uma base teórica

importante, para orientar práticas pedagógicas que considerem também outros campos de estudos.

era homogêneo e que todos os alunos ingressantes na escola partiriam do mesmo ponto, rumo ao

insucessos.

A TRAJETÓRIA DAS CRIANÇAS NO PROCESSO DE ALFABETIZAR-SE

Alguns estudos têm nos ajudado a entender mellhor como as crianças aprendem a ler e a escrever, trilhando um percurso que pode começar muito antes de sua entrada na instituição escolar. Os trabalhos de Jean Piaget sobre a formação de símbolo nas crianças nos apontaram o caminho percorrido por elas, por meio das etapas da imitação, da imitação diferida e do jogo simbólico até a constituição do processo de simbolização. Vygotsky estudou a relação entre pensamento, linguagem oral e escrita. Emília Ferreiro e suas colaboradoras provaram que as crianças constroem e reconstroem hipóteses sobre a língua escrita, na interação com este objeto cultural e com os falantes de sua língua, desde que a escrita se torne objeto de sua atenção. As pesquisadoras descobriram fases no desenvolvimento da compreensão da escrita a que deram os nomes de pré-alfabéticas (pré-silábica e silábica), alfabéticas e pós-alfabéticas (já incluindo ortográfica) as “etapas” percorridas pela criança até a contrução do sistema de escrita alfabético.

16

Trocamos os métodos pelos discursos que criticam os métodos

Essa última ideia, aliás, bastante evidente, diz respeito ao processo mais amplo de inserção na

. Não se trata

Por que isso aconteceu?

Na verdade, à escola e aos educadores cabe entender que há muitos jeitos de não estar ainda alfabetizado, porque as pessoas constroem diferentes hipóteses sobre o que seja a escrita e sobre como se escreve e como se lê, ou seja, há múltiplos pontos de partida e são também, múltiplos os caminhos para a chegada.

8 Mas… O que aconteceu?

Eu já estou “no queijo”.

Eles estão

“na vaca”.

Você ainda nãodeu “a lata”?

17dela se encontravam. Quanto aos alunos e ao que estariam compreendendo, só se podia supor que

O Quadro NegroCecília Meireles

Depois que os teoremas ficam demonstrados,quando as equações se tiverem transformado,desenvolvido, revelado;e o mistério das palavras estiver todo aberto em flores;

quando todos os nomes e números se acharem escritose supostamente compreendidos,com vagaroso e leve movimentoo Professor passará uma silenciosa esponjasobre as coisas escritas:

e nos sentiremos outra vez cegos,sem podermos recordar o que julgávamos ter aprendido,e que apenas entrevíramos,com em sonho.

18

da língua escrita, que conseguimos estabelecer uma ponte entre os processos psicológicos e

Além disso, avanços na compreensão em vários campos de investigação que subsidiam

contextualização dos saberes a serem ensinados, para que ocorra aprendizagem.

Em Pensamento e linguagem

letramento ou a cultura escrita.

Quando a psicogênese da língua escrita colocou as concepções sobre a escrita do sujeito não alfabetizado no centro do processo de alfabetização, passou a não fazer mais sentido respeitar a rígida ordem proposta pelos métodos, porque se percebeu que só seria possível ensinar indo ao encontro do que os alunos pensavam.

O inestimável valor da psicogênese da língua escrita é nos permitir saber quais são os saberes prévios necessários à alfabetização que os alunos concretamente trazem ou não desde fora da escola.

A psicogênese da língua escrita não é um método, mas sim, uma teoria psicológica que oferece um modelo de explicação de como se dá a construção da compreensão dos princípios que regem a natureza e o funcionamento do sistema alfabético.

Diferentemente do ensino da linguagem falada, no qual a criança pode se desenvolver por si mesma,

e esforços enormes, por parte do professor e do aluno, podendo-se, dessa forma, tornar fechado em si mesmo, relegando a linguagem escrita viva ao segundo plano. (…)

Essa situação lembra muito o processo de desenvolvimento de uma habilidade técnica, como, por exemplo, o tocar piano: o aluno desenvolve a destreza de seus dedos e aprende quais teclas deve tocar ao mesmo tempo em que lê a partitura; no entanto, ele não está, de forma nenhuma, envolvido na essência da própria música.

19

P!expressar ideias e experiências. Ao contrário, a língua é uma das práticas sociais mais

Nessa situação, o conteúdo do texto não pode provocar nenhuma pergunta, crítica, ideia ou

LETRAMENTO é o exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita

Exige competências variadas, como:

Capacidades de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos: informar ou informar-se,

Interagir com outros, interagir no imaginário, no estético, ampliar conhecimentos, seduzir ou

induzir, divertir-se, orientar-se, para apoio à memória, para catarse;

Habilidades de interpretar e produzir diferentes tipos e gêneros de textos; habilidade de orientar-se pelos protocolos de leitura que marcam o texto ou de lançar mão desses protocolos ao escrever;

Atitudes de inserção efetiva no mundo da escrita, tendo interesse e prazer em ler e escrever, sabendo utilizar a escrita para encontrar ou fornecer informações e conhecimentos, escrevendo ou lendo de forma diferenciada, segundo as circunstâncias, os objetivos, o interlocutor.

[In: RIBEIRO, Vera Masagão (org.). . São Paulo, Global, 2003.]

A inscrição simbólica das pessoas na cultura escrita é que

possibilita que elas encontrem sentidos e "nalidades na alfabetização

9

Tudo isso?”, “Que letrinha pequenininha!”,

“Quantas folhas tem “isso”?”

“Qual é a parte que “tem de ler”?

 20

E como se faz isso?

projeto de letramento,

letramento.

A!teoria psicogenética é um modelo explicativo do processo por que passam as pessoas,

sílabas orais.

ainda há um longo caminho a ser percorrido

até a completa alfabetização, no sentido estrito do termo.

Na escola, avaliado, que o aluno construiu essa compreensão, a sequência didático-pedagógica

precisa ser o investimento em todo um trabalho sistemático de estabelecimento de relações entre

sociocultural.

Um conjunto de atividades que se origine de um interesse real na vida dos alunos e cuja realização envolve o uso da escrita, isto é, a a leitura de textos que de fato circulam na sociedade e a produção de textos que serão lidos, em um trabalho coletivo de alunos e professores, cada um segundo a sua capacidade. É uma prática socialalém da mera aprendizagem da escrita (a aprendizagem dos aspectos formais apenas), transformando objetivos curriculares como “escrever para aprender a escrever” e “ler para aprender a ler” em que “ler e escrever para compreender e aprender aquilo que for relevante para o desenvolvimento e realização do projeto. (2001, p.238)

Outro jeito de olhar aluno e alfabetização

21O quê?

Produção e análise fonética das palavras e suas sílabas.Produção de escrita com sentido e função social.

Quando e como?Diariamente.De forma sistemática, contínua e produtiva.

Por que?Porque sem isso a alfabetização não acontece.

U!É comum que as práticas pedagógicas que assumem essa perspectiva agreguem

também uma compreensão interacionista da aprendizagem baseada na concepção de construção

?Alguns princípios importantes

PRIMEIRO: reconstituir os conhecimentos implícitos na ação do aluno, ou seja, avaliar em que nível psicogenético ele se encontra.1SEGUNDO: a partir do reconhecimento do nível psicogenético de cada um, é necessário propor situações didáticas que provoquem a desestabilização das suas concepções de escritaa compreender fenômenos e conceitos novos e adquirir novas competências, ou seja, avançar de nível. 2TERCEIRO: propor atividades nas quais a escrita tenha sentido para os alunos e a partilha de saberes entre as crianças seja não apenas permitida, como estimulada, assim como a consulta a várias fontes.3

 22 a escola não sabe lidar com as diferenças, não sabe como trabalhar a

partir das diferenças assumidas como dado inevitável, e não como castigo

constituída, totalmente ou em parte, por alunos que viveram, até então, excluídos da cultura

PSICOGÊNESE LÍNGUA ESCRITA

processo

grupo social, numa dada cultura, passa até a apropriação da escrita, no sentido de saber usar

Na escola, muitas vezes, se continua esperando uma inexistente classe homogênea em que todos os alunos compreendem perguntas como “o que começa com “b” e sabem qual a palavra que tem mais letras: “borboleta” (um bichinho tão pequeno) ou “boi” (um animal tão grande).

Entendendo como pensam os alfabetizandos

Períodos de equilíbrio em que o sujeito mantém certa compreensão de como se escreve (os níveis ou fases).

qual ela não dá solução ( ).Reequilíbrio em novo nível, mais completo do que o anterior, depois de assimilar e acomodar o novo ao seu esquema cognitivo anterior (hipóteses de como se escreve).

Exige: Compreender a realidade como processo e não como resultado de transmissão apenas. Compreender os erros construtivos para a demonstração de como o aluno entende a natureza e os

mecanismos de funcionamento do código alfabético (é bom lembrar que nem todo erro é “construtivo”, somente aquele que nos informa como o aluno está pensando);

Aproveitar esse tipo de erro do aluno para planejar as aulas, propondo atividades que vão ao encontro do que os alunos necessitam para avançar na compreensão e na habilidade de usar a escrita.

23 A teoria psicogenética de construção da língua escrita proposta por Emília Ferreiro e Ana

Teberosky é: um modelo explicativo do processo por que passam as pessoas até descobrirem

predominância de um esquema de pensamento para compreender e operar com a escrita.

Sua compreensão da escrita se sustenta sobre outros tipos de relação que

não a letra/som

na tentativa de escrever.

critérios

de variedade interna e quantidade mínima de caracteres, em geral, algo em torno de três.

representação escrita, associando, por exemplo, coisas grandes com nomes grandes e coisas

pequenas com nomes pequenos.

sucessivamente.

A!Recorre aos critérios de variedade interna e quantidade mínima de caracteres, em geral, algo

em torno de três.

escrita, associando, por exemplo, coisas grandes com nomes grandes e coisas pequenas com

nomes pequenos.

O que pensa o aluno que compreende a escrita pré-silabicamente?

 24 Exemplo de escrita pré-silábica:

screver implica

registrar foneticamente as palavras e não aquilo a que as palavras se referem

COMO SE FAZ ISSO?

Para que nosso aluno mude seu esquema de pensamento e abandone a hipótese pré-silábica, precisamos fazê-lo descobrir:

que a forma e a posição das letras são arbitrárias e convencionais; o que representam as letras do código alfabético; que a representação gráfica das palavras é estável, isto é, que se escreve uma palavra sempre do

mesmo jeito; que, em português, se escreve da esquerda para a direita e de cima para baixo e se deixa espaços

entre as palavras.

 25

Atividades com o alfabeto

Estabelecer relações entre as letras e os sons que representam por meio de múltiplas atividades

Atividades com palavras

ordem e sentido das letras.

Discriminar oralmente as sílabas das palavras, acompanhando-as com palmas, batidas de pé,

instrumentos musicais, etc.

Atividades com textos

Relacionar o discurso oral e o texto escrito por meio da leitura diária para eles e com eles.

Distinguir entre imagem e escrita.

menos ambiguidade o que permite a alunos que não sabem ler, pensar sobre a escrita.

produções coletivas, pequenas histórias, letras de música, versos, bilhetes, piadas, parlendas,

dentre outros.

compreensão dos mecanismos de produção da mesma.

Orientações didáticas para o trabalho com alunos que fazem hipótese pré-silábica de escrita

OBJETIVOS PRINCIPAIS

Possibilitar aos alunos...

Reconhecer o alfabeto como um código de representaçãoda linguagem baseado na transcrição fonológica

Reconhecer a arbitrariedade da escrita (letras e palavras)

Conservar a escrita das palavras, reconhecendo aestabilidade da escrita

 26

Relacionar discurso oral

e texto escrito

Associar palavras e objetos

ou imagens

Distinguir entreImagem e Escrita

Participar da leituracoletiva de

textos

Memorizarpalavras

significativas

Reconhecer o caráter arbitrário

dos signos linguísticos

Interagir com múltiplosabecedáriosReconhecer diferentesgêneros de textose suas funções sociais

Escrever diariamenteconforme seu nível

psicogenético

Destacar as iniciais

de palavras significativas

Conservar a escritas daspalavras

Reconhecer as letrase os sinais de pontuação

Analisar a distribuição espacial dos textos

e a orientação das frases

Analisar as le

tras do alfabeto

em todos seus aspecto

s

Realizar variadas análises não silábicas de

palavrascomparando umas com

outras

Reconhecer caráter linear

dos signos linguísticos

Estabelecer relações entreos sons que representam

Participar da escritade textos coletivos

Objetivos de aprendizagem para os alunos que fazem hipóteses

pré-silábicas sobre a escrita

 27

O sujeito que faz hipótese silábica para compreender a escrita já a relaciona com a fala e não com os objetos do mundo real. No dizer de Vygostky (1989), passa a ver no sistema alfabético um “código de signos de 2ª ordem”, ou seja, um código que remete a outro código (no caso, à fala) decorrendo daí que:

ao escrever palavras soltas, o sujeito faz corresponder um símbolo gráfico para cada sílaba oral que consegue perceber.

percebe que não pode escrever as letras como quer, mas precisa seguir os sons da pronúncia das palavras e respeitar sua ordem, o que leva a que as palavras sejam escritas sempre da mesma maneira (estabilidade e permanência da escrita).

pode utilizar letras ou outros signos, conforme seu conhecimento. pode relacionar convenientemente cada letra ao seu som ou não, conforme seu conhecimento

(silábicos com e sem valor sonoro, que escrevem somente com vogais, só com consoantes ou com ambas).

ao escrever frases, inicialmente, representa cada palavra por um sinal gráfico; só posteriormente passa a atribuir um sinal para cada sílaba oral, permite-se escrever qualquer palavra (não mais apenas os nomes), mas não assegura a leitura de terceiros nem a sua própria.

Exemplo de escrita silábica:

O que pensa o aluno que compreende a escrita silabicamente?

 28

Atividades com o alfabeto

sílaba de palavra variada.

Atividades com palavras

desmembramento oral das sílabas, contagem das letra se hipóteses de repartição de palavras

escritas.

Atividades com textos

dentre outros.

pronomes.

OBJETIVOS PRINCIPAIS

Possibilitar aos alunos...

Desenvolver a consciência fonológica, procurando discriminar os fonemas constituintes das sílabas,por meio do trabalho com paradigmas silábicos

Relacionar as letras aos sons que representam.

 29

Objetivos de aprendizagem para

os alunos que fazemhipóteses silábicas

sobre a escrita

Destacaroralmente assílabas das

palavras

Propor hipótesesde repartição de

sílabas de palavrasescritas

Construir e reconhecer paradigmas silábicos,

quando se dá ênfase à primeira letra no contexto da sílaba inicial

extraídas de um contexto com

Analisare compararparadigmas

silábicos

Destacar assílabas iniciais

de palavras

Reconhecer os diferentessuportes dos diferentes tipos de

textos e suas funções sociais

Desenvolver a consciênciafonológica através da

discriminação dos fonemasconstituintes das sílabas notrabalho com paradigmas

silábicos

Realizardiariamente

escrita espontâneaindividual, conforme

seu nívelpsicogenético

Participar daescrita de muitos e

variados textoscoletivos

Reconhecer todas as letrasdo alfabeto, relacionando-as

aos seus sons através daanálise da primeira sílaba de

palavras variadas

 30 O que pensa o aluno que escreve

alfabeticamente?

Q!escrito. Tende, muitas vezes, a generalizar que as sílabas escritas, principalmente as iniciais,

são constituídas de duas letras porque seu universo visual de palavras escritas ainda é restrito e

Além disso, tem um desempenho muito melhor na escrita de palavras soltas do que no texto,

Exemplo de escrita alfabética:

 31

Atividades com o alfabeto

Atividades com palavras

equivocadamente pelos alunos, mas organizando propostas didáticas que problematizem as

Erros motivados por transcrição da fala:

Exemplos:

Erros motivados por trocas de letras com pontos de articulação próximos:

Exemplos:

encontros consonantais,

letras “mudas”:

Exemplos: peneu, adivogado, subistância, sequessualidade, interpletação, pissicologia,

intersequição, repuguinância, etc.

Erros motivados por supercorreção

Exemplo:

Orientações didáticas para o trabalho com alunos que fazem hipóteses alfabética de escrita

Assim, conforme Nunes e Bryant (1985), podemos categorizar os erros ortográficos de maneira a desenvolver o trabalho pedagógico.

OBJETIVOS PRINCIPAIS

Possibilitar aos alunos...

Ler com compreensão textos de seu nível

Desenvolver a consciência fonológica, procurando discriminar os fonemas constituintes das sílabas

Erros motivados por desconsideração das regras contextuais:

Exemplos:

Exemplos:

Erros de separação entre palavras nas frases ou entre sílabas de palavras:

Exemplos:

bigo, etc.

Atividades com textos

com seu nível.

Observar e utilizar os espaços entre as palavras e os sinais de pontuação.

dos textos lidos.

Escrever textos variados diariamente.

Objetivos de aprendizagem para os alunos que fazem hipóteses alfabéticas de escrita

32

desenvolvendo a consciência fonológica e superando a hipótese silábica;

escrita;

onde, comumente, nos primeiros tempos, produz silábico-alfabeticamente ou até silabicamente.

33

A!igualdade e a diversidade constituem o cotidiano de qualquer sala de aula. A

igualdade pode ser entendida como a condição de possibilidade para aprender

aprendizagem em que se encontra cada criança de acordo com sua história, suas

vivências, experiências, interações.

anteriormente.

As propostas e ações de ensino docente, muitas vezes, não encontram correspondência nas

e nos deixam intrigados com as respostas produzidas por esses alunos. Em outras, não

aprendizagens coerentes com as condições de possibilidades de cada um.

ensinar ser seu resultado mais visível.

necessidades de aprendizagem de cada aluno, em particular de cada grupo e da turma como um todo.

processo de ensinar a ler e escrever.

Essa avaliação praticada cotidianamente é a busca permanente de estabelecer diagnósticos

tão precisos quanto possível sobre como os alunos estão compreendendo o sistema de escrita,

com um olhar que, ao mesmo tempo em que não perde o grupo como um todo, volta-se para cada

O trabalho por grupos diferenciados

   34 Assim, deve-se estar atento para oportunizar momentos de atividades coletivas, envolvendo

em duplas em que se proponham outros tipos de atividades.

na medida em que os alunos vão se tornando mais autônomos para se organizar e realizar as

Não são poucos os testemunhos de educadores de que trabalhar pedagogicamente, de modo

Os avanços perseguidos por educandos e educadores não se restringem a aprendizagens dos

com coragem e senso de oportunidade, a respeitar regras de convivência e a escutar o outro.

um nível de comprometimento maior com os resultados, combatem a evasão e oportunizam a

trabalho devidamente avaliada pelo educador.

OS PEQUENOS GRUPOS DE TRABALHO

Nos pequenos grupos os alunos têm oportunidade de trocar ideias, ouvir alternativas de solução e de problemas diferentes das suas e ouvir críticas que são bem mais aceitas no contexto do engajamento numa obra coletiva. Há um impulso difícil de quantificar no processo de aprendizagem de todos nessas oportunidades e, quando avaliamos as situações didáticas planejadas e executadas de maneira a tirar proveito da socialização entre os aprendizes, constatamos o quanto aprender pode ser uma experiência social.

   35

A!educação escolar é responsável pelo desenvolvimento das potencialidades de cada

criança e pela sua inserção gradual no mundo da cultura e da socialização.

respeitar essa característica e aproveitá-la para desencadear aprendizagens de ordens diversas,

incontáveis oportunidades de promover seu desenvolvimento através do que é mais característico

e aprender.

considerando o que está proposto neste texto, é possível valorizar o material didático, realizando

Jogos na alfabetização

USEE

ABUSEJogo da Memóriade Sílabas

Baralho de

Letras e palavrasDominó de

Leitura e escrita Alfabeto Móvel

Varal de Letras

Cartas

para

DitadoBingo

de Letras

   36 Construindo um ambiente favorável

à educação

S!ocorre em qualquer momento do processo de conhecimento da escrita. O texto é a base de tudo.

ambiente rico de estímulos a eventos de letramento variados através de cartazes, publicações,

avisos, sinalizações, murais, convites, lembretes, escritos variados dos alunos, das alunas e de

outras pessoas, dentre muitas outras possibilidades.

A LEITURA

conseguem desenvolver estratégias bastante boas de autonomia vivendo numa cultura letrada.

período, um papel primordial, utilizando, para o reconhecimento de escritas, os mesmos aportes

aluno entra numa outra etapa da leitura em que a pessoa, diante dos estímulos escritos, tenta

reconhecimento acústico das letras.

Depois que se aprende a ler, torna-se impossível calar as vozes silenciosas que nos dizem

nas esquinas, os rótulos nos supermercados, e todo e qualquer espaço que sirva de suporte para

escritas no cotidiano urbano.

Existe o que poderíamos chamar de período pré-alfabético de leitura que engloba os procedimentos, as estratégias, os esquemas do sujeito para lidar com a necessidade da leitura, numa sociedade letrada, antes de ele se alfabetizar. Essa leitura se dá ainda de forma logográfica, isto é, o candidato a leitor aprende as palavras ou quaisquer partes, já que isso não faz sentido para ele. Ele recorre a indícios, contexto e conhecimento da função social que aquele determinado portador de texto exerce na vida que lhe são familiares.

     

37está constantemente submetido numa sociedade letrada.

mais verbos relacionais e menos de ação, argumentos e não descrições. Além disso, eles não se

apoiam na memória como é comum à tradição oral e têm padrões próprios de construção, coesão

e coerência internas. Tudo isso é o aprendizado da escrita, da cultura escrita.

ESTRATÉGIAS DE LEITURA

1. A leitura depende daquilo que o leitor já sabe

circulação dos textos que ele visa (sabe quem os redige, por que e para quem, em que campo de

domínio referencial geral na área de conhecimento considerado (sabe de que assunto

2. A leitura depende da informação não visual

Qualquer coisa que possa reduzir o número de alternativas que o cérebro deve considerar

conhecimento do assunto, o reconhecimento do tipo de diagramação e ilustrações, a utilização

3. Aprende-se a ler lendo

exercícios centrados na distinção de pares de palavras isoladamente, aumentando sua apreensão

sílaba por sílaba.

   38

IMPORTANTE

As crianças dominam a fonética e a ortografia como um resultado de aprenderem a ler e a escrever, e não o contrário disso, ou seja, fonética e ortografia não se constituem como pré-requisitos para a aprendizagem da leitura e da escrita.O modo mais fácil de aprender a ler não é com palavras individuais, mas com passagens significativas de textos, embora, como já vimos neste caderno, as palavras também possam estar carregadas de sentidos e se tornarem palavras-texto.

ler não é essa entrada em espaços desconhecidos,

como certa tradição o subentendeu; é, mais

de protocolos de leitura já constituídos, em presença

de textos já repertoriados.

(VIGNER, 1988)

     

39

Da relação com o saber: elementos para uma teoria

Psicogênese da língua escrita

Cultura escrita e educação

Alfabetização – leitura do mundo, leitura da palavra. Rio de

A importância do ato de Ler

ensino e a formação do professor – alfabetização

de jovens e adultos

Os sentidos da alfabetização

A produção de textos na escola.

. Rio

Letramento e escolarização. Letramento no

O texto - leitura e escrita

A formação social da mente

De boas intenções o inferno está cheio. Ou: Quem se responsabiliza pelas crianças que

estão na escola e não estão aprendendo?

Referências

   40

Realização:

Série Mais Educação

Cadernos Pedagógicos Mais EducaçãoAlfabetização

Agência Traço Leal Comunicação:

Secretaria de Educação BásicaEsplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 500CEP 70.047-900 - Brasília, DFSítio: portal.mec.gov.br/sebE-mail: [email protected]

Organização:Jaqueline MollCoordenação Editorial:Gesuína de Fátima Elias LeclercLeandro da Costa FialhoRevisão Pedagógica:Danise VivianSamira Bandeira de Miranda Lima

Elaboração de texto e edição:Ivany Souza ÁvilaMaria Luiza MoreiraRevisão de textosEllen Neves

Carol LuzArte da CapaDiego GomesConrado Rezende Soares DiagramaçãoCarol Luz Conrado Rezende Soares Diego Gomes

CADERNO ALFABETIZAÇÃO