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ALDO LAVAGNINI (MAGISTER)

MANUAL DO COMPANHEIRO MAOMTRADUO: Roger Avis

Porto Velho RO 2007

Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini

Sntese simblica do Grau de Companheiro Maom

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini

APRESENTAOOs manuais de Aldo Lavagnini so, talvez, os escritos manicos mais difundidos em lngua castelhana. Apesar de alguns objetarem sobre a tica s vezes moralista, s vezes racionalista de algumas partes desses manuais, so, entretanto, poderosos auxiliares no conhecimento de nossa Ordem e uma bssola que norteia as possibilidades do conhecimento manico. As suas consideraes sobre o simbolismo da maonaria e dos aspectos esotricos do ensinamento so, segundo nossa tica pessoal, um blsamo. Cada vez mais a forma tem prevalecido sobre a essncia, muitas vezes decorrente do desconhecimento do sentido da iniciao manica, e de quais objetivos a Organizao deve manter como principais. O Grau de Companheiro, muito bem contemplado no presente manual, o incio do aprofundamento terico na maonaria, haja vista que seus ensinamentos, em data mais remota, eram o pice do conhecimento operativo. Com a criao de um terceiro grau independente, apesar das adaptaes que o Grau de Companheiro sofreu, ainda assim manteve diversos ensinos que so extremamente necessrios quele que busca a efetivao do conhecimento manico em seu prprio ser. Devemos declarar, expressando nossa viso particular -partilhada por outros tantos Irmos, que a maonaria, em primeiro lugar, deve ser vista fundamentalmente como uma sociedade esotrica1 e inicitica, cuja transmisso do conhecimento propicia a libertao gradual do homem, objetivando sua Realizao espiritual, no confundindo espiritualidade com religio, como soe acontecer na atualidade, sendo esta apenas um aspecto, ainda que importante, daquela. bvio est que o superior sempre conter, em termos de espiritualidade, o inferior. E que o conhecimento esotrico, sendo superior ao conhecimento exotrico, tem sua perspectiva muito mais aprofundada do que este. Portanto, busca o Reino de Deus e sua Justia e todas as outras coisas lhe sero dadas por acrscimo. E, corroborando com o que dissemos, Chuang Tse diz no Grande Supremo: Aquele que sabe o que do Cu e o que sabe o que do Homem alcanou verdadeiramente o cimo (da sabedoria). Aquele que sabe o que do Cu, molda sua vida segundo o Cu. Aquele que sabe o que do Homem, pode ainda usar sua cincia para desenvolver o conhecimento do desconhecido, vivendo at o fim dos seus dias e no perecendo jovem, eis a perfeio do saber. Nisso, entretanto, h uma falha. O saber correto depende dos objetos, mas os objetos da cincia so relativos e incertos (mutveis). Como se pode saber que o natural no realmente doO esotrico nada tem a ver com magias ou feitiarias, ou sequer com ocultismo, como a vulgo costuma tratar.1

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini homem, e o que do homem no realmente natural? Ns devemos, antes de tudo, ter homens verdadeiros antes de termos a cincia verdadeira. (grifo nosso) O manual de Lavagnini nos espelha esta possibilidade, inclusive fazendo as inter-relaes to caras a alguns maons, entre a simblica e a moral. Contudo, o vigor deste manual est, precisamente, nos momentos em que mostra a pureza da simblica manica como extremamente ligada aos aspectos metafsicos, sendo aquela proveniente destes. E, a partir do momento em que o maom lanar a verdadeira luz sobre seu corao, ou melhor, deixar que sua Luz Interior realmente se expresse e se estabelea, vai saber moldar sua vida conforme o Cu. E ao moldar sua vida conforme o Cu, mais possibilidades de tornar efetiva sua felicidade e da que os rodeiam, pois Aquele que segue o Caminho Perfeito no deseja estar cheio de coisa alguma2. SOBRE A TRADUO Existem, atualmente, tradues circulando pelos meios eletrnicos deste manual. Contudo, no contm as figuras traduzidas e, portanto, so tradues incompletas. Quando buscamos utilizar destas tradues, que julgamos terem sido de vital importncia no nosso conhecimento manico, percebemos que estavam truncadas, faltando partes dos escritos e, at, faltando um captulo completo! Por este motivo, decidimos realizar novamente a traduo, desde o comeo, alm de inserirmos as figuras e fazermos uma edio mais cuidadosa. No encontramos interesse das editoras brasileiras em publicar a obra de Lavagnini. Por este motivo, dispusemos de nossas tradues em meio eletrnico, objetivando que chegue a um nmero maior de Irmos, solicitando, sempre, que mantenham a obra imperturbada, sem alteraes considerveis ao serem transmitidas ou expostas em estudos. Algumas figuras foram retrabalhadas, outras completamente redesenhadas quando julgamos necessrio (como no caso das figuras que precisavam ser traduzidas), sempre buscando seguir o esprito da obra original. Decidimos manter o texto sobre a histria da maonaria com os detalhes originais, conforme sua poca, at como expresso da situao histrica que acontecia no mundo na poca em que foi escrito (dcadas de 1930 e 1940). Em alguns momentos, apenas, buscamos informar alguns dados atuais (2008), apenas para serem utilizados como termo de comparao aos dados apresentados pelo autor. Todas estas intervenes estaro marcadas com N.T.. O Tradutor

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Lao Tzu Tao Te King XV A Exibio da Qualidade.

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini

DEDICADO AOS IRMOS COMPANHEIROSEste segundo grau no qual fostes admitido, o resultado natural dos vossos esforos; primeiramente: tendo aprendido, tereis de provar, ou seja, demonstrar na prtica, com uma atividade fecunda, os vossos conhecimentos e reconhecimentos interiores. Nisso essencialmente se insere a qualidade de Companheiro, ou obreiro da inteligncia construtora, no qual se converteu como resultado de um aprendizado fiel e perseverante. Sua iniciao efetiva nessa arte, como obreiro ou artista, o faz companheiro de todos os que praticam em comunho de ideais e objetivos, compartilhando o po dos conhecimentos e capacidades, adquiridos por meio do estudo e da experincia, como resultado dos esforos numa atividade til e construtiva. O sentimento de solidariedade ou companheirismo que nasce de to ntima comunho, , e deveria ser, a caracterstica fundamental deste grau manico. O aprendiz, em virtude de seus conhecimentos ainda rudimentares, e de sua incapacidade simblica para uma obra realmente eficiente, por no ter sido ainda provadas sua perseverana e firmeza de propsitos, no pode sentir ainda esta solidariedade que nasce do sentimento de igualdade com os que praticam a Arte; sendo que deve esforar-se constantemente para estar alinhado com os Princpios, e poder chegar assim em nvel com aqueles que se estabeleceram nos mesmos. A liberdade o ideal e a aspirao do Aprendiz, cujos esforos se dirigem principalmente a libertar-se dos julgo das paixes, dos erros e vcios; j que cada vcio um vnculo que o detm, retardando o seu progresso. Por meio do esforo vertical, simbolizado pelo prumo (em sentido oposto gravidade das propenses negativas que constituem a polaridade inferior de seu ser), chega a conquistar aquela liberdade que s se encontra na fidelidade aos Ideais, Princpios e Aspiraes mais elevados de nosso ser. A igualdade deve ser a caracterstica principal do Companheiro que aspira elevar-se interiormente at o seu mais elevado Ideal e, em conseqncia, ao nvel dos que se esforam no mesmo caminho e para as mesmas finalidades. Enquanto para a fraternidade no pode ser, se no o resultado de haver-se identificado de uma maneira ainda mais ntima com seus irmos, quaisquer que sejam as diferenas exteriores que, como barreiras, aparentam elevar-se algumas vezes entre os homens. Sem dvida, o aprendizado que o Aspirante terminou simbolicamente, ao ser admitido no segundo grau, ainda no est concludo: onde quer que estejamos e em qualquer condio, em qualquer grau manico no deixamos de ser aprendizes, porque sempre temos algo a aprender. E este desejo ou atitude para aprender a condio permanente de toda possibilidade de progresso interior. Porm qualidade de aprendiz deve agregar-se algo mais: a capacidade de demonstrar e colocar em prtica em atividade construtiva os conhecimentos adquiridos, e por meio desta capacidade realizadora como se chega a converter-se em verdadeiros Companheiros. Igualmente, a capacidade de alcanar um estado mental de firmeza, perseverana e igualdade no os dispensa da necessidade de seguir esforando-se para estar constantemente em prumo com os seus ideais, princpios e aspiraes espirituais.

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini Cada grau manico simboliza, pois, uma condio, qualidade, prerrogativa, dever e responsabilidade que se somam s precedentes sem que nos dispensem de cumprir com as mesmas. Portanto, qualidade de Companheiro deve agregar-se a de Aprendiz de maneira que, sem que cesse o esforo de aprender e progredir, esta atividade se faa fecunda e produtiva, segundo o expressa o sentido da palavra que indica a passagem do primeiro ao segundo grau. Assim, pois, por haver sido admitido em um grau superior, no deveis esquecer vossa instruo de Aprendiz, nem tampouco deixar de continuar estudando e meditando o simbolismo do primeiro grau: o malho, o cinzel e o esquadro no so menos necessrios pelo fato de que aprendestes tambm o uso do compasso, da alavanca e da rgua, que os complementam, porm no os substituem. Cada grau manico , sobretudo, um novo grau de compreenso da mesma doutrina, um grau situado alm da capacidade no uso dos mesmos instrumentos, cujas infinitas possibilidades dependem somente de nosso desenvolvimento interior. Com o mesmo malho e cinzel, far o humilde canteiro ao princpio de sua carreira, uma pedra toscamente lapidada; o obreiro esperto um trabalho muito mais proveitoso para os objetivos da construo; um artista de maior habilidade saber fazer dela um capitel ou outra obra ornamental. Porm o escultor que sabe expressar na mesma pedra um ideal de beleza, far dos mesmos instrumentos um uso infinitamente superior, e o valor de sua obra ser por certo muito maior. O mesmo ocorre com os graus manicos, caracterizados tanto por uma maior capacidade no uso dos primeiros e fundamentais instrumentos da Arte, como por novos instrumentos simblicos desconhecidos nos primeiros graus. Porm, o uso sempre perfeito dos instrumentos elementares, o que torna teis e proveitosos os demais instrumentos, que de nada serviriam, para aqueles que no tivessem aprendido ainda a manejar os primeiros. No esqueais, portanto, ao ingressar nessa segunda etapa de vossa carreira manica, que todo vosso progresso nela, como nas posteriores, depende de vossa crescente capacidade de interpretar os elementos fundamentais do simbolismo da Arte, aprendendo a viv-los e realiz-los de uma forma sempre mais perfeita e proveitosa; j que cada grau no outra coisa que uma melhor, mais iluminada, elevada e profunda compreenso e realizao do programa de Aprendiz, que ser para sempre a base do Edifcio Manico, dado que no seu simbolismo est concentrada toda a doutrina que se desenvolve e se explica nos graus posteriores.

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini

PRIMEIRA PARTEO DESENVOLVIMENTO HISTRICO DA MAONARIA MODERNAAssim como ao grau de Aprendiz, buscando responder pergunta "De onde viemos?", atribudo o estudo das origens primevas de nossa Ordem, conforme o esboamos no primeiro Manual desta srie, assim igualmente especial competncia do segundo grau simblico responder pergunta "Quem somos?", estudando a histria da Maonaria Moderna. Os incios da Maonaria, segundo atualmente a conhecemos, devem-se principalmente ao estado de decadncia em que se encontravam nos fins do sculo XVII as antigas guildas de construtores, assim como as demais corporaes de ofcio, que tinham florescido nos sculos anteriores, alcanando seu apogeu cerca do fim da Idade Mdia. As causas desta decadncia foram, por um lado, a diminuio do ardor religioso que se seguiu Reforma, de maneira que a construo das igrejas foi dando lugar de outros edifcios profanos, tanto pblicos como privados; e por outro, um grau maior de especializao dos operrios em seus respectivos trabalhos, e a falta de convenincia por parte destes de seguirem se reunindo em grmios organizados para a prtica de uma arte determinada. Precisamente por esta razo, no mesmo sculo XVII se propagou a prtica de serem admitidos nessas guildas de construtores membros honorrios (ou maons aceitos), ainda totalmente estranhos prtica da arte de construir, mas que cooperavam para sustent-las material e moralmente. O dia em que estes maons aceitos comearam a prevalecer sobre os de ofcio, e se lhes concederam cargos de direo (dos quais a princpio estavam excludos), foi justamente aquilo que sinalizou a transformao conhecida com o nome de maonaria operativa em especulativa; ainda que o desenvolvimento desta caracterstica houvesse que ser bem gradual, no estando de maneira nenhuma necessariamente comprometida pela presena de membros honorrios, apesar do nmero destes.

A "GRANDE LOJA" DE LONDRESAssim foi que, em 1717, os escassos membros remanescentes de quatro lojas londrinas, que tinham os seus lugares de encontro (segundo o costume naquela poca), em quatro diferentes estalagens3, decidiram celebrarem juntos na estalagem da Macieira sua reunio anual de 24 de junho (dia de So Joo Batista). Nessa reunio, depois tornada tradicional por essa razo histrica, sem que os seus participantes pudessem dar-se conta disso, tratando de buscar uma soluo para as suas condies, que nos ltimos tempos se encontravam cada vez menos prsperas, os presentes decidiram se juntar na que depois (em 1738) passaram a chamar Grande Loja, elegendo paraAs quatro diferentes estalagens eram as seguintes: 1) The Goose and Gridiron (o Ganso e o Grilo); 2) The Crown (A Coroa); 3) The Apple Tree (A Macieira); e 4) The Rummer and Grapes (A Taa e as Uvas) [N. T].3

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini presidi-la oficiais especiais, que deviam promover a sua prosperidade. Esses foram: Anthony Sayer, homem desconhecido e de modesta condio, inteiramente estranho ao ofcio de pedreiro, que foi nomeado Gro-Mestre; Jacob Lamball, carpinteiro; Joseph Elliot, capito; foram eleitos grandes vigilantes4. Dado que essas Lojas no eram as nicas ento existentes (algumas das outras, como a de Preston, chegaram at os nossos dias), no h dvida de que de nenhuma maneira poderiam tratar, ento, de escolherem um "Gro Mestre dos Maons", pois para tal no tinham autoridade, mas apenas [para eleger um Gro-Mestre] dessas quatro Lojas, no se podendo sequer assegurar que tal ttulo foi efetivamente utilizado nessa ocasio, ainda que o pudesse muito bem ter sido, com esta atribuio especfica. Sem dvida, somente depois, e por mrito de homens que, sob diversas circunstncias foram atrados a essa "Grande Loja", que as denominaes de Gro Mestre e Grande Loja adquiriram real significado e importncia. O desenvolvimento futuro de nossa Instituio, a partir dessa modesta reunio, no estava de nenhuma forma condicionado mesma, e s se deve Fora Espiritual que aproveitou e vivificou esse pequeno e modesto agrupamento do qual brotou um movimento que se estendeu para toda a superfcie da terra. Sempre so, pois, as idias que operam no mundo, acima dos indivduos que se fazem seus meios, veculos e instrumentos; e fora das idias, que animam e inspiram os homens, se deve todo o progresso e toda a obra ou instituio de alguma importncia, por traz daqueles que aparecem exteriormente como seus fundadores e expoentes. No que particularmente se refere Maonaria, no h dvida que suas origens mais verdadeiras, melhor que nesses homens de boa vontade e de inteligncia medocre, que unicamente se preocupavam em salvar suas lojas da decadncia que as ameaava, por meio da unio das mesmas. Devem-se buscar essas origens na Idia Espiritual central, que oculta no seu cerne, o verdadeiro segredo manico, assim como das demais idias relacionadas com aquela, das quais se fez, em diferentes momentos e circunstncias especiais. A essa idia central, ainda oculta e secreta para a maioria de seus adeptos, tambm devemos o conjunto de tradies, alegorias, smbolos e mistrios, que tem vindo se apropriando, e em parte criando e modificando, para embelezar e dar maior brilho a seus trabalhos, cujas origens, como a de seus cerimoniais, so antiqssimos, tendo nos sido transmitindo atravs de diferentes civilizaes que se desenvolveram sucessivamente sobre o nosso planeta. Desse ponto de vista est perfeitamente justificado o empenho dos primeiros historiadores manicos, comeando com Anderson, e dos que fizeram ou adaptaram os seus rituais, para relacionar nossa instituio com todos os movimentos espirituais e tradies msticas iniciticas da Antigidade, segundo tambm tratamos de faz-lo no manual do Aprendiz.. Pois se certo que a Maonaria Moderna tem sua iniciao nessa fortuita agremiao de quatro Lojas que se juntando, puderam salvar-se da dissoluo a que pareciam inevitavelmente destinadas - como so todas as coisas que no sabem renovarse quando chega o momento oportuno - e que, dessa maneira prosperaram muito alm de suas expectativas, no menos certo que souberam recorrer em segredo herana de4

Estes dados s aparecem na segunda edio (de 1738) do Livro das Constituies, de Anderson.

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini todos os segredos, mistrios e tradies, assim como souberam fazer-se o receptculo das grandes e nobres idias que constituem um fermento vital e um impulso renovador no meio em que atuavam. E se pela natureza da Obra pode se reconhecer o Artista que soube conceber e realizar, se julgamos a Maonaria pela mstica beleza de seu conjunto simblicoritualstico, a essa Obra no se pode dar outro qualificativo seno o de magistral. Em sua essncia mais ntima e profunda, e qualquer que possa ser sua filiao exterior e aparente, no pode ser seno Obra de Mestres na acepo mais profunda da palavra. Esta essncia ntima o Logos, ou verdadeira palavra que deve ser buscada em toda Loja justa e perfeita, a Idia Espiritual que na mesma deve se realizar. Esta mesma Idia, cujas latentes possibilidades depois vieram se desenvolvendo -e maiores que estas esperam ainda a oportunidade para poder vir luz- foi a semente da rvore poderosa que representa a Maonaria Moderna: um meio destinado ao reconhecimento e prtica da fraternidade, um crisol de idias e ideais, e um movimento libertador das conscincias e dos povos.

PRIMEIROS DIRIGENTESNas posteriores assemblias solsticiais de 1718 e 1719, foram eleitos GroMestres da Grande Loja de Londres, respectivamente, George Payne e Jean Theophile Desaguliers, o primeiro dos quais tomou novamente o malhete presidencial de 1720. A estes dois homens deve a nascente Grande Loja o impulso espiritual renovador; assim como as linhas ideolgicas que depois caracterizaram a Maonaria moderna. O primeiro, ex-funcionrio governamental, homem muito ativo, enrgico e de posio desafogada, parece ter sido levado Sociedade, qual levou o prestgio de sua personalidade e de suas numerosas relaes sociais, por sua afeio para as antiguidades. O segundo, nascido em La Rochelle e filho de um pastor huguenote, telogo e jurista, amigo pessoal de Newton e vice-presidente da Real Sociedade de Londres, contribuiu, sobretudo, especialmente em colaborao com Anderson, com o desenvolvimento de sua parte ideolgica. Estes tambm foram que atraram Sociedade outras eminentes personalidades como o Duque de Montague quem, em 1721, aceitou a nomeao de Gro-Mestre, sucedendo a G. Payne. A eleio, feita com a representao de doze Lojas, de um membro da nobreza, foi sem dvida muito acertada em seu objetivo de assegurar Ordem prestgio e prosperidade material: ficou na moda, pois, o pertencer Maonaria, buscando-se nela uma espcie de patente de reputao e honradez. Fez-se ento necessrio formular de uma maneira mais clara e completa tanto os princpios como os estatutos e regulamentos da Ordem, sobre a base das antigas Constituies colecionadas por G. Payne, e das General Regulations compiladas por este no segundo ano de sua presidncia. Desta maneira, o Duque de Montague encarregou o Rev. James Anderson, que foi valiosamente assistido em sua obra por G. Payne e J. T. Desaguliers, de colocar "s Antigas Constituies Gticas numa forma nova e melhor". 9

Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini Assim nasceu o "Livro das Constituies dos Franco-maons" tratando da "Histria, Deveres e Regulamentos daquela Antiqssima e Mui Venervel Fraternidade". O manuscrito foi examinado pela primeira vez por uma comisso de 14 irmos, nomeada a fins do mesmo ano de 1721 pelo Duque de Montague, e foi aprovado em 25 de maro seguinte, com as emendas sugeridas por estes, depois do que se ordenou sua impresso, estando 24 Lojas representadas na assemblia. O livro foi publicado e apresentado solenemente por Anderson na assemblia da Grande Loja que se verificou em 17 de janeiro de 1723, sendo ento confirmado e proclamado Gro-Mestre o Duque de Wharton, que se havia feito nomear como tal em 24 de junho do ano anterior, numa assemblia convocada irregularmente por este. Sucedeu-lhe o Conde de Dalkeith, continuando-se depois com o mesmo costume de eleger para o cargo de Gro-Mestre um membro distinto da nobreza.

A CONSTITUIO DE ANDERSONA obra de Anderson tem sido sempre considerada nos ambientes manicos com muita benevolncia, sem indagar-se at que ponto seu prprio Livro das Constituies corresponderia com "as Antigas Constituies Gticas" que no nos foram transmitidas5, e passando por cima das faltas, enganos, omisses e invenes que possa conter. A histria legendria das origens manicas que aqui se relata descansa, como natural, sobre a Bblia, livro que para os povos anglo-saxes foi sempre objeto de especial venerao. Caim e os descendentes dele, como de Seth, so considerados como os primeiros edificadores, mencionando-se a seguir a Arca de No, que "embora de madeira, foi fabricada segundo os princpios da Geometria e das regras da Maonaria". No e seus trs filhos foram, assim, "verdadeiros maons que, depois do dilvio, conservaram as tradies e artes dos antediluvianos e as transmitiram amplamente a seus filhos". Depois do que so mencionados os Caldeus e os Egpcios, e os descendentes de Jafet que emigraram "s ilhas dos gentis", como [sendo] todos igualmente hbeis na Arte Manica. Consideram-se os israelitas, ao sarem do Egito, como "todo um povo de maons, bem instrudos sob a guia de seu Gro-Mestre Moiss, que s vezes os reuniu em uma Loja geral e regular". Finalmente se fala da construo do Templo de Jerusalm, por Salomo, sendo Hiram o "Mestre da Obra". Tambm Nabucodonosor, depois de ter destrudo e saqueado esse mesmo Templo, se lhe atribudo ter posto "seu corao na Maonaria", construindo as muralhas e os edifcios de sua cidade, secundado pelos hbeis artfices que da Judia e de outros pases tinha levado cativos Babilnia. Tambm so citados os Gregos, Pitgoras, os Romanos e os saxes que, "com natural disposio Maonaria, muito em breve imitaram os asiticos, gregos e

Nos anais manicos, diz-se haver queimado em 1720 (sendo Payne o Gro-Mestre) vrios antigos manuscritos para prevenir de que pudessem cair em mos estranhas.

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini romanos na instalao de Lojas", traando uma histria sumria sobre o desenvolvimento da Arte Manica na Inglaterra. Somente na segunda edio da obra, redigida no ano de 1738, so dadas escassas notcias sobre a fundao da primeira Grande Loja que teve lugar em 1717, dizendo-se unicamente na primeira que naquela poca, em Londres como em outros lugares, "floresciam diversas e dignas lojas individuais que celebravam um conselho trimestral e uma junta geral anual para nelas conservar sabiamente as formas e os usos da muito antiga e venervel Ordem, cuidar devidamente da Arte Real e conservar a argamassa da confraternidade, a fim de que a Instituio se parecesse com uma abbada bem ajustada".

DEVERES MANICOSSegue uma recopilao dos Deveres de um Franco-maom "recolhidos de antigos documentos", que tratam: (1) de Deus e da Religio, (2) do Chefe de Estado e seus subordinados, (3) das Lojas, (4) dos Mestres, Vigilantes, Companheiros e Aprendizes, (5) dos trabalhos da Oficina, e (6) da conduta na Loja como fora da mesma, em passos perdidos, em presena de profanos, no lar e na vizinhana. No que concerne a Deus e Religio diz: "Um maom est obrigado, como tal, a obedecer lei moral; e, se compreende a Arte, nunca se far um ateu estpido, nem um libertino irreligioso". "Embora, nos tempos passados, os Maons estivessem obrigados, em cada pas, a praticar a correspondente religio6, qualquer que fosse, estima-se agora mais oportuna que no se lhes imponha outra religio, fora daquela sobre a qual todos os homens esto de acordo, lhes deixando toda liberdade quanto a suas opinies particulares. Assim, pois, suficiente que sejam homens bons e leais, honrados e probos, quaisquer que sejam as confisses ou convices que os distinguirem". "Assim a Maonaria se far o centro de unio e o meio para estabelecer uma sincera amizade entre pessoas que, fora dela, houvessem sempre se mantido mutuamente afastadas". Sobre o assunto da autoridade civil escreve: "O Maom um sdito pacfico ante os poderes civis, em qualquer lugar em que resida ou trabalhe; nunca deve estar comprometido em compls ou conspiraes contra a paz e a prosperidade da nao, nem comportar-se incorretamente com os magistrados subalternos, porque a guerra, a efuso de sangue e as insurreies foram em todo tempo funestas para a Maonaria" (...). "Ento, se um Irmo se rebelar contra o Estado, ele no dever ser estimulado em sua rebelio, entretanto ele pode ser digno de pena por ser um homem infeliz; e, se no condenado por qualquer outro crime, a leal Irmandade precisa e deve repudiar a sua rebelio, no deixando margem para qualquer desconfiana poltica perante o GovernoConforme o costume exterior dos iniciados de todos os tempos. Ter que notar que este ponto constitua uma reforma das antigas obrigaes manicas, as que especificavam fidelidade Santa Igreja catlica.6

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini vigente; mas no devem expuls-lo da Loja, permanecendo inalienvel a sua relao com esta". E sobre a conduta na Loja nos recomenda: "Que seus desgostos e pleitos no passem nunca a soleira da Loja; mais ainda: evitem as controvrsias sobre religies, nacionalidades e poltica, pois, em nossa qualidade de Maons no professamos mais que a religio Universal antes mencionada. Por outro lado, somos de todas as naes, de todos os idiomas, de todas as raas, e se exclumos toda poltica pela razo de que nunca contribuiu no passado prosperidade das lojas, nem o far no futuro".

A "ESSNCIA" DA MAONARIA MODERNADestes extratos se depreende a orientao tomada naquele tempo pelo movimento que produziu a Maonaria Moderna, cujos princpios fundamentais podem formular-se como segue: 1) Um reconhecimento implcito da Universalidade da Verdade acima de toda opinio, crena, confuso ou convico. 2) A necessidade de obedecer Lei Moral, como caracterstica e conditio sine qua non da qualidade de Maom. 3) A prtica da tolerncia em matria de crenas, opinies e convices. 4) O respeito, reconhecimento e obedincia Autoridade Constituda, desaprovando-se toda forma de insurreio ou rebeldia, embora no se considere como crime que merea a expulso da Loja. 5) A necessidade de fazer nas Lojas um trabalho construtivo, procurando o que una aos irmos e fugindo daquilo que os divida. 6) A prtica de uma fraternidade sincera e efetiva, sem distino de raa, nacionalidade e religio, deixando fora das Lojas toda disputa, questo ou diferena pessoal. 7) Considerar e julgar os homens por suas qualidades interiores, espirituais, intelectuais e morais, mais que pelas distines exteriores de raa, posio social, nascimento e fortuna. A promulgao destes princpios realmente universais (que constituem a essncia do humanismo e cuja perfeita aplicao faria desaparecer todas as diferenas entre os homens, todo motivo de luta e de inimizade, fazendo reinar onde quer a Harmonia e a Paz), no livro de Anderson foi o que atraiu Sociedade um nmero crescente de simpatias e ocasionou sua rpida expanso e difuso em todos os pases. Todos os idealistas se sentiram no dever de colaborao [com a Maonaria], encontrando nesta um campo de ao e uma fortuna exterior apropriados para expressar e realizar seus particulares propsitos e idias. Assim foi como convergiram nela os

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini homens mais distintos da poca e se fundiram muitos esforos at ento isolados e desagregados.

MULTIPLICAO DAS LOJASPelo duplo impulso da exposio dos Princpios e do prestgio pessoal de seus Gro-Mestres, assim como dos que se agruparam ao movimento, as Lojas se multiplicaram rapidamente: as doze Lojas que tinham tomado parte na eleio do Duque de Montague ascenderam a 20 ao fim do ano, e 49 Lojas foram representadas na assemblia de 1725. Mas no se deve acreditar que neste nmero fossem compreendidas todas as Lojas ento existentes: muitas das que existiam em 1717 no se aderiram ao movimento iniciado pela nascente Grande Loja por vrias razes, dentre elas a de acreditar usurpadora a autoridade desta, e preferiram permanecer independentes. Algumas Lojas no aprovaram as novidades introduzidas no Livro das Constituies, sustentando a obrigao da crena em Deus e a fidelidade s prticas religiosas; e isto, assim como outras razes, produziu, como veremos, um cisma que conduziu fundao de outra Grande Loja. Alm de incrementar-se na Inglaterra, Esccia e Irlanda, o nmero de Lojas passou muito em breve a multiplicar-se sobre o continente, estendendo o movimento em todo mundo civilizado. As primeiras Lojas que se constituram fora da Inglaterra, com base no modelo das inglesas (seja antes quanto depois da fundao da Grande Loja), foram constitudas em geral por maons isolados; desejosos de propagar o Ideal manico, em virtude do direito que acreditavam inerente a esta qualidade. Toda vez que um maom isolado, desejoso de formar uma Loja, no podia juntar-se com outro, ou com outros dois para formar uma loja manica simples, procedia a iniciar privadamente a um profano que acreditava digno de pertencer Ordem; os dois juntos procediam iniciao de um terceiro, formando-se assim a Loja simples, que posteriormente podia fazer-se justa e perfeita. Assim, pois, no primeiro perodo, a maioria das Lojas se formou simplesmente em virtude deste natural direito manico, independentemente de toda carta patente ou da autorizao de uma Grande Loja, cuja autoridade nem todos reconheciam, reservando-se outras Lojas o fazer-se expedir mais tarde uma patente regular. Um local qualquer, disposto para o caso, com a condio de que pudesse fecharse e estar ao abrigo das indiscries profanas, era tudo o que se necessitava para as reunies, traando-se no cho cada vez, com giz, os desenhos simblicos que o transformavam no Templo dos mistrios manicos. Assim, pois, muitas destas Lojas, que contriburam formao de maons e rpida propagao da Ordem em sua nova orientao, puderam formar-se e dissolver-se sem deixar nenhum vestgio ou lembrana. Por conseqncia muito difcil fixar com

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini segurana a data do comeo da Maonaria Moderna nos diferentes pases: como sempre, as origens se acham envoltas na obscurido. O trabalho das Lojas, segundo o costume ingls, consistia essencialmente nas recepes ou iniciaes, que se faziam com mximo cuidado e ateno, e s que se alternavam com muita freqncia festividades e gapes fraternais consolidando-se ao redor de uma mesa comum o esprito de igualdade e a solidariedade entre seus membros. No se havia ainda introduzido o costume de tratar diferentes temas, e especialmente se furtavam de todas as discusses que pudessem comprometer a harmonia e o bom entendimento entre os irmos. Entretanto, sempre se praticava alguma forma de beneficncia. Por esta razo as Lojas se constituram especialmente nas estalagens que costumavam ser freqentadas por pessoas distintas. Ali se alternava a vida exterior de sociedade com os ntimos trabalhos do ritual. Como na Inglaterra, tambm na Frana encontramos as primeiras Lojas das que se tm notcias histricas, instaladas em estalagens. Duas delas foram constitudas, respectivamente em 1725 e 1729, em Paris, na casa de um dono de estalagem ingls cuja estalagem levava o nome de "Au Louis d'Argent"; a ltima destas obteve em 1733 a carta patente nmero 90 da Grande Loja de Londres. Nesse mesmo ano as Oficinas pertencentes Grande Loja chegaram ao nmero 109. Nestas Lojas tambm se renderam homens eminentes, e durante o gro-mestrado do Duque de Wharton, os Maons comearam a se mostrar em pblico com suas insgnias simblicas.

O DESENVOLVIMENTO NA INGLATERRAA Loja de York foi talvez a mais importante dentre as que no reconheceram a autoridade da Grande Loja londrina e se mantiveram separadas. Considerava-se como a Oficina mais antiga, fazendo remontar suas origens ao ano 600, no qual o Rei Edwin sentou-se nela "como Gro-Mestre". Em 1725 assumiu o ttulo de "Grande Loja de York", dizendo que a seu Gro-Mestre correspondia ser reconhecido como tal em toda a Inglaterra; mas no fundou nem teve outras Lojas sob sua dependncia at 40 anos depois. Esta Grande Loja, que professava e praticava os mesmos princpios que a Grande Loja de Londres, no foi para esta causa de dificuldades; mas foi o suficiente aquela que se lhe ops em 1751 e se constituiu virtualmente em 1753: Nasceu esta principalmente pela iniciativa de um irlands, Lorenzo Dermot (na Irlanda, desde 1724, j se tinha baseado uma Grande Loja a semelhana da de Londres), iniciado em Dublin em 1740, que, visitando uma Oficina londrina em 1748, no esteve muito satisfeito com as inovaes que encontrou nos rituais. Formou ento um movimento que tinha por objetivo uma maior fidelidade aos usos antigos, e sete Lojas se lhe uniram em Londres em 1751, fundando uma Grande Loja da qual foi Grande Secretrio.

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini A nova Grande Loja distinguia a seus membros com o nome de Ancient Masons, em contraposio com os Modern Masons, da que se constituiu em 1717, apoiando sua constituio sobre outra supostamente datada do ano 926. No prosperou esta Grande Loja menos que a outra, qual fez uma sria concorrncia (dado que a denominao de antigos conduzia maiores simpatias que a de modernos), chegando a ter em 1813, quando finalmente se uniram as duas Grandes Lojas, entre as quais j quase no havia nenhuma diferena, 359 oficinas sob sua jurisdio. Foram constitudas por estas duas Grandes Lojas muitas Lojas regimentais, formadas por militares e que se transladavam com eles, e tambm algumas Lojas martimas, a bordo dos navios de guerra. Alm das Grandes Lojas citadas existia em Edimburgo a Grande Loja da Esccia, fundada por 34 Lojas em 1736.

A MAONARIA NA FRANADepois da Inglaterra, foi a Frana o primeiro pas no qual fincou suas razes a Maonaria Moderna. Lojas isoladas fundadas por ingleses, parecem ter existido neste pas antes de 1700; mas disto no se tem a segurana histrica. As primeiras quatro Lojas parisienses, sobre as que se acham notcias certas, reuniram-se em 1736, estando presentes cerca de 60 membros, e procedendo-se pela primeira vez eleio de um Gro-Mestre na pessoa do Charles Radcliff, Conde de Derwentwater, fundador que foi da primeira Loja na estalagem Au Louis d'Argent. Devendo este abandonar o pas, foi eleito em 1738, numa segunda assemblia, como Gro-Mestre ad vitam, Louis de Pardaillon, Duque de Antin, que aceitou o cargo, apesar de que o Rei Luis XV tivesse ameaado com a Bastilha o francs que a aceitasse. Comeam nesta poca as primeiras graves hostilidades contra a Maonaria, tanto de carter poltico quanto religioso. As primeiras suspeitas nasceram quando esta j no se limitava a reunir entre si elementos estrangeiros, mas admitia igualmente a membros da nobreza e cidados ordinrios, confraternizando mutuamente com toda aparncia de conspirao. Ento as Lojas foram vigiadas e se chegou at a suspend-las, prendendo os Maons e aqueles que os hospedavam; entretanto, tudo isto no obstaculizou seu processo, e as Lojas seguiram reunindo-se, aumentando as precaues, e at o perigo a que se expuseram fez mais atrativo o pertencer a elas. Tampouco impediram seu progresso a bula de Clemente XII e os meios que se usaram para difamar a Maonaria e p-la em ridculo, como j havia sido feito na Inglaterra; quando em 1743 morreu prematuramente o Duque de Antin, havia na Frana mais de 200 Lojas, 22 das quais atuavam em Paris. Remonta-se a esta poca, e precisamente aos 21 de maro de 1737, o famoso discurso de Andrew Michael de Ramsay, Grande Orador da Ordem, pronunciado durante uma recepo, e que tanta importncia teve depois por suas mltiplas repercusses, as que ocasionaram por um lado a concepo e criao daquela famosa 15

Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini obra que foi a Enciclopdia, e pelo outro movimento conhecido com o nome de Mestres Escoceses, que comearam por juntar um quarto grau privilegiado (isto tambm tinha sido feito pela Grande Loja dissidente fundada na Inglaterra em 1751, com o nome de Real Arco), que depois se multiplicou em uma srie de graus suplementares que queriam reproduzir as antigas Ordens cavalheirescas, crescendo at os 33 graus atuais do Rito Escocs Antigo e Aceito7. Esta ltima novidade no foi a princpio muito bem acolhida, e um artigo dos Regulamentos Gerais da "Grande Loja Inglesa da Frana" (como assim se chamava ento) no reconhecia aos Mestres Escoceses direito ou privilgio acima dos trs graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. Entretanto, doze anos mais tarde, repudiando o nome de Grande Loja Inglesa pelo simples de "Grande Loja da Frana", e revisando os Estatutos, reconheceu-se aos Mestres Escoceses, tal como aos Mestres das Lojas, o privilgio de permanecer cobertos nas sesses, assim como o direito de inspecionar as Lojas restabelecendo a ordem quando fosse necessrio. O Conde de Clermont, que em 1743 tinha sido eleito em substituio ao Duque de Antin, no levou a srio o cargo aceito, e at transcorridos os primeiros quatro anos no se atreveu a ostentar o ttulo de Grande Mestre. Para se esquivar de sua responsabilidade escolheu a princpio um substituto que no foi mais ativo que ele, e depois a um intrigante "mestre de baile" que levantou veementes protestos, recusandose a maioria dos componentes da Grande Loja a se reunir sob sua presidncia. Apesar de ter sido, em 1762, destitudo de seu cargo e substitudo pelo Deputado Gro-Mestre e no obstante a boa vontade deste, no se pde evitar a anarquia, que levaram as Lojas completa autonomia, dissolvendo-se virtualmente a Grande Loja; esta, por mandato do rei, ficou suspensa em 1767, quatro anos antes da morte do Conde de Clermont. Nesta ocasio foi novamente convocada, sendo eleito Gro-Mestre o Duque de Chartres. E como a princpio no se faziam muitas iluses os maons franceses sobre suas funes essencialmente honorficas, nomeou-se tambm, como Administrador General, ao Duque de Luxemburgo, destinado a substitu-lo efetivamente. O Duque de Luxemburgo, que tinha ento 33 anos, tomou com muito zelo e ardor seu cargo, elaborando um plano completo de reorganizao, convocando em Assemblia, para aprov-lo, os representantes de todas as Lojas da Frana. Ficou assim constituda a Grande Loja Nacional, sendo representadas permanentemente na mesma, por meio de deputados, todas as Lojas, junto autoridade central diretiva que tomou o nome de Grande Oriente da Frana. Tambm se ps fim ao privilgio dos Mestres de Lojas, que se consideravam at ento vitalcios, estipulando-se que todas as oficinas escolhessem anualmente a seus oficiais. Como nem todas as Lojas reconheceram estas reformas, formou-se, tambm, em oposio com o Grande Oriente, a Grande Loja de Clermont, que reconhecia igualmente como Gro-Mestre ao Duque de Chartres. Tambm tiveram existncia na Frana, nesta poca, vrios ritos e ordens mais ou menos relacionados com a Maonaria, entre os quais o rito dos Escolhidos Cohen87 8

Veja-se para estes nosso Manual do Mestre Secreto. Cohen significa sacerdote, em hebraico.

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini fundado por Martinez de Pasqually, que teve entre seus adeptos o celebrado Louis Claude de Saint Martin chamado o Filsofo Desconhecido. Igualmente deve ser notado o rito de Menfis-Misraim ou Maonaria Egpcia fundado por Jos Blsamo, mais conhecido com o nome de Conde de Cagliostro, que admitia mulher e compreendia 96 graus. Vrias associaes destinadas a dar mulher participao nos trabalhos manicos foram criadas cerca da metade do sculo XVIII; e em 1774 a Maonaria concordou oficialmente em reconhecer a Maonaria de Adoo, com um rito especialmente elaborado para a mulher, constituindo-se ento muitas Lojas femininas. De 1773 a 1789 tomou a Maonaria na Frana um impulso formidvel, passando de 600 o nmero das Lojas, sem contar perto de 70 Lojas regimentais. Fizeram-se iniciar nela os homens mais conhecidos da poca, dentre eles Voltaire, idade de oitenta anos, que foi recebido em 1778, apresentado por Franklin e Court de Gebelin, sendo a assemblia presidida pelo clebre astrnomo Lalande. Com a Revoluo, a Maonaria suspendeu na Frana suas atividades. Atribui-selhe erroneamente ter tomado nesta uma participao direta, embora seja certo que a teve na revoluo intelectual que a precedeu, com a afirmao do trinmio liberdadeigualdade-fraternidade que, interpretado profanamente, pde ter sido causa indireta de muitos excessos. Mas um conhecimento mais profundo da verdadeira essncia da Instituio, e de como deva realmente interpretar-se esse trinmio, pe-na acima de toda efetiva responsabilidade naquele cataclismo, de que foi tambm uma das vtimas.

PRIMEIROS ANTEMASO primeiro antema contra a Maonaria foi lanado como o dissemos, em 1738, pelo papa Clemente XII, havendo-se preocupado muito o clero de ento de que "homens de todas as religies e de todas as seitas, satisfeitos com a pretendida aparncia de certa classe de honradez natural, fossem aliados em estreito e misterioso lao". O segredo manico (cuja verdadeira natureza tratamos de pr em evidencia nestes manuais) foi o ponto de acusao fundamental contra a Ordem. Os homens em geral, e at mais as autoridades, soem desconfiar e ter medo de tudo aquilo que no chegam a compreender: a crena no mal (o verdadeiro pecado original do homem) faz-lhes supor que ali deva esconder-se algo mau e indesejvel e, portanto, atribuem facilmente ms intenes at onde no h o menor vestgio delas. Assim nasce a suspeita, e desta passa algum facilmente acusao, condenao e perseguio. A encclica no teve o mesmo efeito em todos os pases: enquanto nos Estados Pontifcios e na Pennsula Ibrica, a qualidade de maom se castigou at com a pena de morte (e no lhe faltaram Maonaria seus mrtires), na Frana, pelo contrrio, nem esta encclica nem a seguinte (que o Parlamento francs recusou registrar) foram tomadas em considerao: prelados e sacerdotes seguiram sendo recepcionados nas Lojas, dado que tal qualidade lhes abria facilmente suas portas.

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini Uma segunda bula papal, lanada em 1751, por Bento XIV, foi tambm causa, nos pases acima mencionados, de perseguies sangrentas, considerando-se nestes como se fora um crime, o privilgio de pertencer Ordem.

O EXRDIO NA ITLIAA Maonaria conforme o uso ingls foi introduzida na Itlia ao redor de 1733, por Charles Sackville, em Florena, a princpio unicamente entre os ingleses que visitavam as Academias, aos quais no demoraram em se juntarem vrios italianos dentre os mais cultos. A idia se propagou rapidamente primeiro em Toscana, e depois em toda a pennsula. Fundou-se uma Loja em Livorno, na qual trabalhavam harmonicamente catlicos, protestantes e judeus e que, precisamente por tal razo, no demorou em excitar as Suspeitas do clero romano, preocupado pela nascente sociedade na qual via, sobretudo, um perigo para sua hegemonia espiritual. E isto foi a origem da encclica in eminenti da qual acabamos de falar. O antema pontifical no pde rebater o auge da Maonaria, que seguiu difundindo-se, naquela mesma poca, pelas principais cidades da Itlia setentrional. Mas um Maom florentino, Tommaso Crudili, denunciado involuntariamente pela indiscrio entusiasta de um abade companheiro de Loja, teve que pagar com a tortura e com a morte a conseqncia da mesma (apesar de ter sido posto em liberdade pela enrgica interveno do Duque Francisco Esteban, iniciado em Haia em 1731) o crime de pertencer Sociedade. Em Npoles, a Maonaria floresceu notavelmente, constituindo-se ali, em meados do sculo [XVIII], uma Grande Loja, enquanto outras oficinas da pennsula dependiam da de Londres. No teve nenhuma restrio sob o reinado do Carlos VII, mas no ocorreu o mesmo com seu sucessor Fernando IV, que chegou a odiar Instituio por sua prpria debilidade de carter, temendo s provas da iniciao. Entretanto, os maons napolitanos receberam durante certo tempo a ajuda e amparo inesperado da rainha Carolina, que fez a princpio revogar o decreto, suprimindo as sanes penais contra os maons (1783); mas, depois, a morte de sua irm Maria Antonieta na revoluo francesa foi a razo desta simpatia se alterasse totalmente.

NA PENNSULA IBRICAA pennsula ibrica tem, indubitavelmente, a primazia no martirolgio manico, embora o privilgio de ter iniciado a perseguio contra os maons corresponda mais ao clero catlico da Holanda que, desde 1734, incitou com suas calnias s massas ignorantes, fazendo com que fora invadida uma Loja em Amsterd, destruindo os mveis e cometendo-se violncias com as pessoas. Devido perseguio de que foi objeto, embora as primeiras lojas fossem constitudas em 1726 e 1727, respectivamente em Gibraltar e Madrid, demorou-se para a Espanha quase meio sculo antes que pudesse constituir uma Grande Loja, sob o

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini reinado de Carlos III, mais liberal que seu predecessor, que tinha autorizado o desterro dos maons e dado carta branca Inquisio. Quase simultaneamente Espanha (1727), foi introduzida a Maonaria em Portugal pelo capito escocs sir George Gordon; mas desde 1735 se comeou a derramar sangue dos maons pela obra de um frade fantico que denunciou 17 irmos por conspirao e heresia. Desde ento os pedreiros livres foram caados, condenados morte e atormentados nas formas mais brbaras, at o reinado de Jos I. Em Madrid, os primeiros maons foram presos e conduzidos aos crceres da Inquisio em 1740: oito deles foram condenados s gals, outros a diferentes penas. A Maonaria foi tolerada e pde prosperar unicamente durante o mencionado reinado de Carlos III (1759-1788), depois do qual se proibiu todo trabalho manico at a entrada dos franceses em 1808. No ano de 1750 tambm floresceu a Maonaria por algum tempo em Portugal, sendo primeiro-ministro do rei Jos I, Sebastio de Carvalho, depois marqus de Pombal, que tinha sido iniciado em Londres em 1744. Este ministro foi muito benfico para o pas ao qual deu uma constituio mais liberal, abolindo a Inquisio e desterrando os jesutas. Mas com a morte do rei, estes se vingaram fazendo-o cair em desgraa com a rainha Maria I e, depois de ter sido condenado a morte e anistiado, teve o ex-ministro que abandonar Lisboa com a idade de 78 anos. Tendo a rainha Maria I repristinado a lei de Joo V contra os maons, estes foram novamente perseguidos: alguns puderam escapar, mas outros tiveram que sofrer por vrios anos as penas da Inquisio. Apesar disto, algumas Lojas seguiram trabalhando em certos navios ingleses ancorados no porto, um dos quais se fez clebre como Fragata Manica. Embora no se ousasse proceder de uma maneira direta execuo dos maons apreendidos, muitos destes morreram nas masmorras.

NA ALEMANHA E USTRIAEmbora Lojas de carter mais transitrio tivessem existido na Alemanha tambm anteriormente (sem falar, naturalmente, das antigas corporaes de construtores de igrejas), a primeira que teve certa importncia e durao parece ter sido a que foi fundada em Hamburgo, em 1737, com o nome francs de Socit des accepts Maons Libres de la Ville d'Hambourg. O Baro de Oberg, Venervel desta, teve no ano seguinte a sorte e a honra de iniciar na Ordem ao prncipe herdeiro Frederico da Prssia. Enquanto o pai deste, ento reinante, havia sempre se oposto introduo da Maonaria em seus estados, Frederico se fez desde o comeo seu protetor, e ao subir ao trono em 1740 declarou publicamente sua qualidade de Maom. A iniciativa do jovem imperador se deveu fundao em Berlim da Loja Os trs Globos, que em 1744 foi elevada categoria de Grande Loja. Desde ento a maonaria pde se desenvolver livremente nesse pas e se estabeleceram Lojas nas principais povoaes alems.

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini Em Viena foi fundada em 1741, pelo bispo de Breslau, a Loja Os trs Canhes, qual pertenceu o imperador Francisco I, que tinha sido iniciado em Haia, em 1731, por Desaguliers, recebendo mais tarde na Inglaterra o grau de Mestre. O imperador protegeu a Maonaria da qual se fez garante numa ocasio quando, em 1743, foram presos por ordem de Maria Teresa os membros de uma Loja. Durante a segunda metade do sculo, na Alemanha como na Frana, houve um especial ardor na criao de graus suplementares aos trs simblicos e manicos propriamente ditos, relacionando a Maonaria com a Ordem do Templo, qual se pretendeu reconstruir, e com outras tendncias msticas da mesma poca. Nasceu assim, dentre outras, a Ordem da Estrita Observncia, fundada em 1754, por Karl von Hund, que embora no tenha sobrevivido morte de seu fundador (em 1776), no deixou de ter certo xito e ampla ressonncia, tambm fora da Alemanha, durante sua breve existncia, e seguiu exercendo sua influncia em outras ordens, como na Martinista, que lhe sucederam. Todas estas ordens, de efmera durao, tiveram, entretanto, uma influncia decisiva na criao do Rito Escocs, primeiro em 25, e em seguida em 33 graus, cuja instituio foi falsamente atribuda ao mesmo imperador Frederico, que parece no haver nunca possudo outros graus que os trs primeiros, desaprovando, alm disso, a introduo de outros graus. Entre os homens mais clebres que, no sculo XVIII, iniciaram-se na Maonaria na Alemanha, e escreveram entusiasticamente sobre a Ordem, citamos a Lessing e Goethe, que foram recebidos nela em 1771 e em 1780, respectivamente.

EM OUTROS PASES DA EUROPANa Blgica, a primeira Loja segundo o uso ingls foi a Perfeita Unio, estabelecida em 1721, que se converteu depois em Grande Loja Provincial. Na Holanda j havia Lojas em 1725, que se regularizaram dez anos mais tarde sob a jurisdio da Grande Loja de Londres. Em 1757, a Grande Loja Provincial tinha treze oficinas e em 1770 se fez independente. Na Sua, a cidade de Genebra e seu canto foram os primeiros onde se formaram Lojas; a vida da Sociedade foi ali muito ativa, mas no menos agitada por causa das cises interiores em que se malgastaram suas energias. Na Sucia, a primeira Loja foi constituda por volta de 1735 pelo Conde Axel Ericson Vrede-Sparre, que tinha sido iniciado em Paris quatro anos antes. Como conseqncia da encclica papal, o rei Frederico I ameaou castigar com a morte a participao em reunies manicas, retardando-se assim o desenvolvimento da Instituio. Depois, entretanto, os reis da Sucia se distinguiram em proteger a Ordem, sendo atualmente uma de suas caractersticas que os monarcas daquele pas unam a esta qualidade a de Gro-Mestres. Uma Grande Loja se constituiu em 1761, reorganizandose em 1780 com um rito especial de 12 graus, que rege na atualidade.

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini Na Polnia, introduzida em 1739, foi proibida pouco depois e demorou em propagar-se at o ltimo quarto do sculo. As Lojas reconheciam a princpio a autoridade do Grande Oriente da Frana, e em 1785 se fundou em Varsvia um Grande Oriente nacional, que chegou a ter em poucos anos mais de 70 oficinas. Tem-se dito que a Maonaria foi introduzida na Rssia por Pedro, o Grande, iniciado numa Loja de Londres. De todos os modos certo que, em 1731, o capito John Phillips foi designado Gro-Mestre Provincial da Rssia pela Grande Loja da Inglaterra, ao qual sucedeu, em 1740, Jaime Keith, que ento servia no exrcito russo. Vrios aristocratas russos, comerciantes e marinheiros se fizeram ento maons. Mais tarde, a idia manica recebeu um notvel impulso pelo clebre gravador Lorenzo Natter, que em Florena havia conhecido Lorde Sackville. Nesta poca de florescimento, a Maonaria russa foi muito influenciada pelos sistemas e ritos Alemes, e duas figuras dominantes nela foram o professor Johann Eugen Schwarz e o escritor Nicolai Ivanovitch Novikoff. Caracterstica da Maonaria Russa foi o desenvolvimento de benficas atividades em favor das massas populares, combatendo o analfabetismo e a incultura, mediante a impresso e difuso de muitas obras de autores estrangeiros, fundao de escolas, hospitais e outras instituies, e iniciativas de beneficncia. Na segunda metade do sculo dominavam dois sistemas rivais, o ingls e o sueco, cuja unio se obteve em 1776. A Maonaria, no princpio protegida por Catarina II, foi depois repudiada por esta Imperatriz, e sua atividade se restringiu notavelmente a fins do sculo, sendo depois proibida por completo durante o reinado de Paulo I [17961801]. Desde ento, a vida da Maonaria na Rssia foi muito precria e ocasional: teve a efmera esperana de poder ressurgir sob o regime de Kerensky, mas encontrou no Bolchevismo um inimigo at mais implacvel que a monarquia derrocada, motivando-se esta ltima perseguio pelo fato de tratar-se de uma Instituio tipicamente burguesa. Tambm se estendeu a Maonaria inglesa, em seu primeiro sculo de vida, em Constantinopla, Egito, Prsia e ndia, at chegar frica do Sul. Em Calcut, a primeira Loja foi fundada em 1728 por sir George Pomfret, e a esta seguiram depois muitas outras nas principais cidades daquele pas. Por volta da metade do sculo XVIII havia Lojas em todas as partes do mundo.

NA AMRICANa Amrica, a primeira Loja parece ter sido fundada em Louisbourg (Canad) em 1721. Quando em 1730, Daniel Coxe era Gro-Mestre Provincial em New Jersey das colnias inglesas da Amrica, estabeleceram-se vrias Lojas e a imprensa deu conta do acontecimento. Benjamim Franklin fez em 1734 a primeira adio americana do Livro das Constituies de Anderson, e no mesmo ano foi eleito Gro-Mestre. A atividade manica se expandiu assim rapidamente. 21

Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini A diviso inglesa entre os Ancient e Modern Masons, no deixou de se refletir em suas colnias, particularmente na Amrica, onde assumiu um carter especial pelos acontecimentos polticos que culminaram na Guerra da Independncia, contando-se entre os modernos especialmente os funcionrios, conservadores e partidrios do governo ingls, e, entre os antigos, os impulsores da Independncia. Apesar de que os trabalhos das Lojas no tiveram um carter verdadeiramente poltico (os Templos sempre foram lugares de reunio onde os prprios adversrios eram acolhidos fraternalmente), nas Lojas dos "antigos" foi concebida e se concretizou a idia da Unio Americana. A maioria dos que realizaram a independncia de tal pas foram maons, como o demonstra o fato de que 53 dos 56 que integraram a declarao de Independncia ostentavam tal ttulo. Washington foi iniciado em 1752, e durante toda sua existncia tomou parte muito ativa na vida manica: todos os atos de sua vida pblica levam impressos os imortais princpios da Instituio. Quando foi eleito Primeiro Presidente dos Estados Unidos, prestou seu juramento sobre a Bblia da St. John's-Lodge, e em 1793, quando se colocou a primeira pedra do Capitlio, apareceu com as insgnias de Venervel honorrio de sua Loja. A atividade manica no sofreu nenhuma interrupo durante a campanha da Independncia, seno que se constituram, nos dois lados, muitas Lojas regimentais que contriburam notavelmente para manter a unio e o esprito de solidariedade entre seus membros, fazendo mais ntimos os laos da disciplina exterior. Tambm entre os adversrios de ambos os campos, o reconhecimento da recproca investidura manica deu lugar a muitos atos de generosidade e, assim como em outros pases tal circunstncia punha em perigo vida e liberdade, aqui no poucos deveram uma ou outra coisa ao fato de serem maons. Estes fatos, e a parte que teve a Ordem no movimento de independncia, explicam a extraordinria difuso que teve depois a Maonaria neste pas, no qual se contam atualmente 82% dos maons do mundo inteiro9.

A MAONARIA NA PRIMEIRA METADE DO SCULO XIXNo princpio do sculo XIX, observa-se em toda parte um novo florescer da Idia Manica. Enquanto nos Estados Unidos se constitui definitivamente o Rito Escocs em 33 graus (1801), que to boa acolhida devia ter depois em todo mundo (apesar de estar hoje demonstrado que o rei Frederico da Prssia, ao qual se atribui sua fundao, em 1786, pouco antes de seu falecimento, nada teve que ver com o assunto), na Inglaterra as duas Grandes Lojas rivais se fundem em 1813, na Grande Loja Unida que aps seguiu sem interrupo frente dos maons da Gr-Bretanha. Na Frana ressuscita com o advento napolenico, embora dominada pela vontade ento imperante, que lhe impuseram seus Gro-Mestres, aspirando fazer dela um instrumento de governo. Por esta razo, embora se enchesse de funcionrios, nem9

Em nmeros atuais (2008), a percentagem de 52%, segundo algumas fontes.

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini todos os antigos maons restabeleceram seus trabalhos. E ao se estender a dominao francesa, [esta] lhe deu um curto parntese de liberdade nos pases onde estava ento perseguida: na Espanha, Portugal, ustria e Itlia. Durante as diferentes guerras que tiveram lugar neste agitado perodo da histria europia, foram muitos os episdios nos quais se revelou a influncia benfica da Maonaria, eliminando os ressentimentos e dios nacionais, e estabelecendo por cima destes os fundamentos de uma Fraternidade Universal e de uma comum compenetrao que possivelmente seja a nica base de uma paz duradoura entre as naes. Muitos so os traos de herosmo com os quais os maons, sobre os campos de batalha, conseguiram com perigo para si mesmos, salvar a vida ou dar a liberdade a inimigos, que se tinham revelado como irmos. E isto se verificava igualmente nos dois campos opositores, sem exceo. Este sentimento de Humanidade, embora possa se constituir uma acusao pelos que esto cegos pela viso estreita de um nacionalismo mal entendido, constitui uma das melhores demonstraes da influncia, sempre benfica, da Instituio: no fazem, por certo, o mesmo os que comungam uma mesma religio, quando se encontram e se reconhecem como tais no campo de batalha.

NOVAS PERSEGUIESCom a queda do Napoleo, comearam novamente na Espanha e Portugal as mais cruis perseguies contra os Maons, quando a Sociedade teve que viver uma vida secreta e extremamente agitada. Embora desde 1868, com o Duque Amadeo de Saboya e com a Repblica proclamada depois, pde na Espanha desenvolver-se livremente por alguns lustros, as perseguies e hostilidades se renovaram em seguida, embora no numa forma to Brbara e violenta como as anteriores. O mesmo aconteceu em Portugal, onde o Grande Oriente Lusitano, constitudo desde 1805, no pde trabalhar livremente at 1862. O antimaonismo se estendeu nesta poca em toda a Europa: na prpria Inglaterra, o ministro Liverpool pediu em 1814, sem o conseguir, sua supresso. Esta se fez efetiva na ustria at 1768, assim como na Rssia virtualmente o seguiu sendo por mais de um sculo (apesar de vrias tentativas espordicas e das 30 Lojas, aproximadamente, que puderam existir durante a guerra), depois de um curto perodo de florescimento, entre 1803 e 1822. Os papas Pio VII, Leo XII, Pio VIII e Pio IX, continuaram confirmando os antemas de seus predecessores, e de forma mais violenta o fez, em 1884, Leo XIII, definindo-a, em sua encclica Humanum genus, como opus diabuli. As palavras do chefe da Igreja tiveram, como natural, larga ressonncia no clero romano, que em toda parte iniciou, de todas as maneiras possveis, uma vasta campanha contra a Maonaria, [campanha esta] qual unicamente se deve (a pesar do carter ecltico da Instituio, que nunca pode ser anti-religiosa) o carter decididamente anticlerical que [a maonaria] tomou em diversos pases.

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini Todas estas acusaes mostram uma falta de conhecimentos da verdadeira natureza e propsitos de nossa Augusta Sociedade, apesar de que seus princpios tenham sido vrias vezes declarados publicamente, em obras das quais, no h dvida, que se encontrem exemplares na prpria Biblioteca do Vaticano. suficiente dizer que o Papa Leo XIII atribui Sociedade comprometer a seus membros, obrigando-os a uma obedincia absoluta, para estar seguros de que aqui no pode referir-se Maonaria conhecida pelos maons, seno mais Companhia de Jesus, cuja imitao a nossa Instituio no foi por certo forjada. O efeito no deixou de fazer-se sentir nos pases catlicos: na Blgica se declarou uma aberta perseguio e os maons, alm de serem excomungados, foram prejudicados material e moralmente. Na Frana se formaram bandos de fanticos que foram percorrendo os diferentes povoados, com objetivo de fazer renegar os maons, mas no conseguiram o xito almejado. E quando em 1861, numa circular relativa s sociedades, o ministro Pessigny se atreve a pr no mesmo nvel Maonaria e s sociedades catlicas, eminentes arcebispos levantam sua voz contra esta tolerncia que consideram como monstruosa impiedade, sem obter nenhum xito. Unicamente durante o reinado de Luis Felipe, at 1848, a Maonaria teve na Frana um perodo de relativa decadncia.

OS "CARBONARI"Em vrios Estados da Itlia, a Maonaria continuou sendo perseguida nesta poca, que preparou a unidade e independncia do pas: desta os maons se fizeram especialmente campees, e muito provvel que tenham sido alguns deles os que fundaram a sociedade secreta dos carbonari (Carbonrios), de carter exclusivamente poltico, que foi por ento erroneamente confundida com a Ordem. Nasceram os Carbonrios10 no sul da Itlia, propondo a liberao e independncia da pennsula do jugo estrangeiro, adotando uma linguagem simblica no qual suas oficinas se chamavam cabanas, suas reunies vendas, seus agregados bons primos, sendo o dever destes a caa aos lobos do bosque, ou seja, a luta contra a tirania. Em seu apogeu, na segunda metade do sculo passado, a sociedade chegou a ter na Itlia quase um milho de aderentes. Outra sociedade poltica, de inspirao manica foi a Giovana Itlia (Jovem a Itlia) fundada por Giuseppe Mazzini, o imortal autor daquele livrinho que se chama "Os deveres do homem", cujo ideal estava compreendido no trinmio Deus-PtriaHumanidade, e que foi o principal preparador moral da independncia daquele pas.

EXPANSO DA MAONARIA NO NOVO CONTINENTETampouco os Estados Unidos ficaram isentos da onda antimanica que se abateu na Europa sobre nossa Instituio, com efeitos muito diferentes. Foi a causa disto10

Os mesmos Carbonrios faziam, entretanto, remontar os origens de sua sociedade por volta do ano 1000 aproximadamente, surgindo ento com finalidades de ajuda recproca, em meio da geral preocupao do fim do mundo, na parte mais setentrional da Itlia (perto dos Alpes orientais).

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini o "Caso Morgan", originado pelo fato de que, em 1826, alguns maons imprudentes cometeram o engano de raptar, com o nico fim de lhe dissuadir de seu intento, a certo William Morgan, canteiro de profisso, que queria publicar um livro sobre a Maonaria, com todos os detalhes dos rituais, smbolos e sinais de reconhecimento. Embora seus raptores fossem condenados e Morgan reaparecesse alguns anos depois, celebraram-se em todas as partes comcios de protesto, culpando-se os irmos de assassinato. Publicaram-se muitos peridicos antimanicos e os maons foram boicotados nos empregos pblicos e privados. Por esta razo muitas Lojas cessaram voluntariamente seus trabalhos. Mas a opinio pblica no demorou em dar-se conta do engano, e quando o presidente Andrew Jackson defendeu abertamente a Ordem Manica proclamando-a como uma Instituio que tem por objeto o bem da humanidade, realou-se novamente seu prestgio, e desde 1838 seu progresso e extenso tiveram ganhos contnuos. No primeiro quarto do sculo XIX, a Maonaria se estendeu igualmente em toda a Amrica Latina, onde j tinha comeado a fincar suas razes do sculo precedente, mas sem alcanar a extenso obtida nos Estados da Unio Norte Americana. Assim a encontramos estabelecida em 1815 em Santo Toms; em 1819, em Honduras; em 1821, em Cuba; em 1822, no Brasil (onde nesta data foi recebido maom o imperador dom Pedro I, depois nomeado Gro-Mestre); em 1823, no Haiti; em 1824, na Colmbia; e em 1825, no Mxico. digna de nota, especialmente, a fundao, em 1814, em Buenos Aires, por iniciativa de San Martin e outros maons, da Loja "Lautaro", cujos membros se fizeram promotores do movimento libertador que conduziu independncia os diferentes estados da Amrica do Sul. Nos anos posteriores, foi se estabelecendo tambm na Austrlia, remontando-se ao sculo anterior sua introduo nas ilhas de Java e Sumatra.

A SEGUNDA METADE DO SCULO [XIX]Apesar das excomunhes da Igreja e da intensa campanha clerical contra ela, a Maonaria seguiu crescendo na segunda metade do sculo, progredindo em quase todos os pases. Na Itlia, tomou nova fora quando, depois da "Expedio dos Mil" [Spedizione dei Mille], Garibaldi foi eleito Gro-Mestre ad vitam. O mesmo escreveu, em 1867, que os maons eram a "parte escolhida do povo italiano". Dois anos depois da tomada de Roma, em ocasio da morte de Mazzini, apareceram pela primeira vez, em 1872, os estandartes manicos pelas ruas da Cidade Eterna. Na Frana, depois de haver-se, nos estatutos de 1849, proclamado obrigatria "a crena em Deus e na imortalidade da alma", mais tarde (depois da terceira Repblica, na qual a Maonaria levou a cabo uma atividade destacadamente poltica, fazendo um

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini importante trabalho patritico), em l877, foi revisado este artigo, suprimindo-se esta clusula, e com a mesma tambm suprimindo a invocao " GDGADU". Este acontecimento atraiu sobre o Grande Oriente da Frana a estigmatizao das Potncias Manicas anglo-saxs, encabeadas pela Grande Loja Unida da Inglaterra, que considerando minadas com esta supresso as prprias bases da Instituio, recusaram reconhec-lo. Trs anos depois se verificou uma ciso entre as Lojas dependentes do Supremo Conselho, constituindo-se estas na "Grande Loja Simblica Escocesa"; mais tarde o Supremo Conselho entendeu oportuno conceder a autonomia a todas as Lojas nos trs graus simblicos, terminando-se em 1897 a ciso com a constituio de uma "Grande Loja da Frana". Enquanto na ustria estava proibida toda atividade manica, na Hungria puderam se constituir vrias Lojas, que se reuniram em 1870 numa Grande Loja, enquanto paralelamente se desenvolvia a atividade de um Supremo Conselho para a administrao dos graus superiores. Todos os Supremos Conselhos do Rito Escocs se reuniram numa Conveno em Lausanne, em 1875, com o propsito de efetuar a unificao universal do Rito, adotando as Grandes Constituies que atualmente o regem. Depois desta data, os Supremos Conselhos seguiram se reunindo a cada qinqnio. Entretanto, na prpria Sua, este Rito no pde se expandir, reconhecendo a Grande Loja Alpina, constituda em 1844, apenas os trs graus simblicos. Na Alemanha, um dos acontecimentos mais importantes da Maonaria, que no cessou de progredir durante todo o sculo, foi a admisso dos judeus, que estavam antes excludos naquele pas pelas Grandes Lojas locais. Tampouco neste pas deixou de se exercer a campanha antimanica, mas, pelo contrrio, a Ordem continuou sendo vista [de maneira honrosa] devido ao favor de prncipes e imperadores que alcanaram dignidade de Gro-Mestres. No se pode omitir nesta superficial exposio da vida manica no sculo passado uma breve informao da campanha difamatria de Lo Taxil, da qual muito se aproveitaram os adversrios de nossa Instituio, e cujo eplogo pretende demonstrar com toda claridade quo infundadas so as acusaes que se fazem Ordem. Foi este o pseudnimo de um tal Gabriel Pags11 que, depois de ter sido educado por jesutas em uma casa de correo, fez-se anticlerical e, por breve tempo, esteve maom, ficando unicamente no primeiro grau e no visitando sua Loja mais que trs vezes. Publicou, a partir de 1885, uma srie de obras antimanicas, que causaram grande impresso e nas quais (como confessou mais tarde) props-se unicamente a explorar a credulidade alheia. Nestas obras, quase de todo fantsticas, diz que os maons se dedicam ao culto do diabo, e muitos outros absurdos dessa espcie. Vrios eclesisticos caram na rede, que culminou em 1896 com um xito sem precedentes no Congresso antimanico de11

Marie Joseph Gabriel Antoine Jogand-Pags [N.T.].

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini Trento, com mais de 700 delegados, no qual Lo Taxil foi calorosamente aplaudido. Mas todos os que lhe tinham dado crdito tiveram uma merecida lio quando, no ano seguinte, declarou publicamente ter obtido com suas obras "a maior mistificao da poca moderna". Entretanto, os mistificados no se deram por vencidos, e seguiram e seguem em sua campanha difamatria, da qual certo que nossa Ordem, ainda no se lhe oponha mais que silncio, no pode deixar de sair definitivamente vencedora, pela simples fora da Verdade que proclama e , assim como por seu trabalho construtivo. Desta forma como no mesmo campo dos adversrios da Maonaria se observa j uma mudana de ttica, enquanto os mais inteligentes reconhecem que a calnia e a difamao no podem perdurar muito tempo12.

A MAONARIA ANGLO-SAXA Maonaria se acha hoje pulverizada sobre todo o globo, entre povos de todas as raas. Entretanto, o povo anglo-saxo, o iniciador da idia em sua atuao moderna, tem uma supremacia indiscutvel de superioridade numrica e organizadora, pois em comparao com os maons anglo-saxes outros constituem uma exgua minoria. A Inglaterra segue frente do movimento como custodiadora e defensora da antiga tradio, e sua Grande Loja Unida a continuao direta da que se constituiu em 1717. Formam parte desta membros da famlia real, da nobreza e do clero e homens de todas as crenas e todas as profisses, trabalhando em perfeita harmonia com a tolerncia mais completa de suas opinies individuais. Contam-se, dependendo da Grande Loja Unida, mais de 9000 Lojas com quase um milho de maons, repartidos em 70 Grandes Lojas Provinciais, entre as quais 26 se acham nas colnias. A Grande Loja sustenta muitas instituies de beneficncia. Nos Estados Unidos cada Estado tem sua Grande Loja, com um total de 17.000 Lojas e mais de trs milhes de maons. Praticam-se todos os ritos, com predominncia do Rito Escocs de 33 graus, e h Lojas por toda parte. Os Templos Manicos colossais, que se acham nas principais cidades, do uma idia do predomnio e magnitude do movimento. D-se nas Lojas americanas uma importncia fundamental idia da fraternidade de todos os homens, independentemente de suas respectivas crenas e opinies, reunindo-se vultosas somas para instituies culturais e de beneficncia. No Canad h mais de 1.000 Lojas repartidas em 9 grandes Lojas.

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No acreditamos que se deva dar muita importncia a seu temporrio eclipse quase completo na Europa [N.T. - este livro foi escrito antes da 2. Grande Guerra; o autor est se referindo aos regimes fascistas], devido instaurao e o triunfo dos regimes totalitrios. Acreditamos mais que a Maonaria ganhar deste lapso de inatividade, e que ressurgir inteiramente renovada, e mais forte e eficiente, para enfrentarse com a tarefa social que lhe incumbe.

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini Na Austrlia as Lojas se constituram inicialmente obedincia das trs Grandes Lojas da Inglaterra, Esccia e Irlanda, formando depois sete Grandes Lojas independentes com vrias Centenas de Lojas13.

A MAONARIA EUROPIANa Frana seguem atuando o Grande Oriente e a Grande Loja em forma independente14, mas sem hostilidade, com um total de mais de 600 Lojas e 100 captulos. Alm disso, h um Supremo Conselho para a administrao dos graus superiores dos membros dependentes da Grande Loja, enquanto esta tem com o mesmo objeto um Grande Colgio dos Ritos. Tambm na Frana se acha estabelecida a organizao manica internacional ou CO-maonaria conhecida com o nome de "Direito Humano", com Centenas de oficinas pulverizadas em todo mundo, praticando o Rito Escocs em 33 graus. Esta organizao, considerada irregular pelas demais potncias manicas, acha-se caracterizada pela admisso da mulher em seus trabalhos, em paridade com o homem. O movimento se originou em 1882, com a iniciao da Maria Deraismes feita pela Loja Les Livres Penseurs na Provncia de Paris, que onze anos mais tarde se fez promotora da nova organizao. Atualmente o movimento est estreitamente ligado com a Sociedade a Teosfica. Outras Lojas adotaram os mesmos princpios admitindo mulher em seus trabalhos, e uma Grande Loja Mista se separou em 1914 da CO-maonaria. Na Espanha havia, antes da guerra recente [N.T. - 1936] e da instaurao do regime franquista, mais de cem Lojas organizadas em Grandes Lojas regionais, dependendo de um s Grande Oriente, e outras tantas no Grande Oriente Lusitano, com tendncia decididamente democrtica, sendo todas estas Lojas tambm centros de educao liberal, como natural reao opresso secular da Igreja. As da Espanha favoreceram abertamente efmera repblica socialista, contra os "rebeldes", que de antemo tinham decretado a supresso da Ordem. Na Itlia havia, em 1922, mais de 500 Lojas sob a dependncia do Grande Oriente constitudo imitao da organizao francesa, e um nmero menor Quando Lavagnini fala da Maonaria moderna, ele busca informaes existentes na poca em que escreveu o livro, ou seja, antes do fim da segunda guerra. Portanto, os nmeros mencionados no correspondem realidade atual que qualquer maom mais diligente poder ter acesso aps uma pesquisa. Contudo, optamos por manter os valores por ele indicados at como forma de pesquisa histrica. Ao leitor que chegou at este ponto, alertamos que a leitura do restante desta primeira parte apenas informao histrica da poca, no traduzindo seus nmeros em dados atuais. Em nmeros aproximados de 2005, havia: EUA - 1.500.000; Inglaterra - 250.000; Brasil - 176.000. H fontes que declaram a existncia de um nmero maior de maons. Neste caso, h trabalhos que indicam os seguintes nmeros: EUA 3.190.000; Inglaterra - 1.210.000. No nosso interesse fixar uma controvrsia quanto aos nmeros, mas to somente trazer dados tona [N.T.].14 13

At a conquista alem em 1939 que, como sabido, imps a supresso da Ordem. [N.T. - Atualmente existem diversas potncias em territrio francs. Segundo fontes consultadas, o Grand Orient de France a maior de todas, seguido pela Grande Loge de France e pela Grande Loge Nationale Franaise].

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini obedincia da Serenssima Grande Loja Nacional, dependente de um Supremo Conselho em antagonismo com o Grande Oriente. Ao final desse ano se originou um movimento entre as Lojas desta ltima Obedincia, chegando a maioria destas a unir-se com o Grande Oriente. Entretanto, seguiram subsistindo os dois corpos antagonistas, at que, ao fim de dois anos, desencadeou-se a ofensiva do fascismo contra a Maonaria, cuja supresso decretara Mussolini, apesar de haver em geral a Maonaria favorecido o movimento fascista, e de haver uma maioria de maons at entre os membros do Grande Conselho do partido. Atualmente, numa forma provisria, o Grande Oriente da Itlia se reconstituiu em Londres, esperando o dia no qual lhe seja possvel reatar livremente sua atividade na pennsula cisalpina. Circulam, entretanto, notcias no sentido de que a Maonaria segue existindo na Itlia dentro do regime fascista, e especialmente entre os oficiais do exrcito. Na Sua, a Grande Loja Alpina constitui uma aliana de Lojas simblicas autnomas, cuja atividade se desenvolve principalmente no campo prtico, favorecendo as instituies nacionais e ocupando-se dos grandes problemas internacionais. Um plebiscito de inspirao nazista, que queria acabar com a Ordem na repblica helvtica, foi decidido, pouco antes da Segunda Grande Guerra, em favor desta. Na Blgica, havia 24 Lojas sob a dependncia de um Grande Oriente e um Supremo Conselho para os graus superiores, seguindo um caminho anlogo ao da Maonaria Francesa. O Grande Oriente da Holanda tinha em suas dependncias mais de 100 Lojas, muitas delas nas colnias; a Maonaria holandesa se aproxima da inglesa por seus princpios e fidelidade ao ritual, perseguindo o ideal da fraternidade e da paz universal. A Maonaria alem compreendia, antes do triunfo "nazista", nove Grandes Lojas reunidas em federao (Grosslogenbund) com vrias Centenas de Lojas e dezenas de milhares de maons. Caracterizam-se por sua variedade e pela importncia dada ao lado especulativo, filosfico e educativo da Instituio. Havia muitas Lojas decididamente crists, considerando "a mais alta manifestao divina na vida e nos ensinos do Mestre de Nazar"; e, alm disso, uma Grande Loja chamada Ordem Manica do Sol Nascente, com sede em Hamburgo, considerada pelas demais como irregular. Depois de mais de um sculo de proibio, pde a Maonaria voltar na ustria a seus trabalhos, constituindo-se em 1918 a Grande Loja de Viena, que funcionou regularmente at a anexao da ustria feita pela Alemanha. Outra Grande Loja se constituiu em 1920 na Tchecoslovquia, enquanto que na Hungria a Grande Loja que pde antes desenvolver-se livremente, chegando em 1919 a ter 93 oficinas, foi suprimida definitivamente em 1920, sendo seu edifcio ocupado pela fora pblica. Nos pases escandinavos domina o Rito Sueco em 12 graus de inspirao mstica crist, adotado tambm pela Grande Loja Nacional da Alemanha. Admitem-se, por conseqncia, unicamente os cristos, e o Gro-Mestre o prncipe reinante com o ttulo de Vicarius Salomonis (nome do ltimo grau). Esta concreo da Maonaria eminentemente aristocrtica e contava recentemente com perto de 50 Lojas na Sucia, 16 na Noruega e 12 na Dinamarca.

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini Na Rssia, a Maonaria existiu secretamente a princpios do sculo XX. Tendo sido descoberta pela polcia, teve que suspender seus trabalhos; depois de uma curta revivescncia durante a guerra, em que chegou a ter em 1947 cerca de 30 Lojas, foi novamente suprimida com o triunfo e a instaurao sangrenta do regime bolchevique, como "o engano mais avesso e infame que faz ao proletariado uma burguesia inclinada para o radicalismo". Na Romnia, havia tambm uma dzia de Lojas fundadas pelo Grande Oriente da Frana e reunidas numa Grande Loja independente. Em Belgrado existiam, a princpios do sculo, vrias Lojas de diferentes sistemas que em 1912 se submeteram a um Supremo Conselho. Em 1919 se constituiu a Grande Loja de Srvios, Croatas e Eslovenos Iugoslavos, semelhana da Sua. A Maonaria srvia foi injustamente acusada de ter tomado parte no atentado de Sarajevo, que originou a guerra europia. Na Grcia, havia antes de sua ocupao pela Alemanha e Itlia um Grande Oriente com cerca de 20 Oficinas, e na Bulgria, uma Grande Loja, nascida em Sofia de uma Loja regularmente instalada pela Grande Loja da Frana antes da primeira guerra europia. Em Constantinopla havia, antes do advento da nova poltica nacionalista, vrios grupos de Lojas de diferentes nacionalidades, alm do Grande Oriente da Turquia, que se constituiu depois da guerra europia, cessando recentemente sua atividade, de uma maneira aparentemente "espontnea", para agradar ao regime imperante.

SIA E FRICANa Sria, a Maonaria muito prspera, contribuindo notavelmente fraternidade e ao bom entendimento entre homens de diferentes raas e crenas. Entre os diferentes povos da sia, a Maonaria se acha muito difundida especialmente na ndia, onde as Lojas foram implantadas pelas trs Grandes Lojas da Inglaterra, Esccia e Irlanda. Nos templos manicos se aplainam admiravelmente as diferenas de raa, casta e religio, e a Instituio realiza neste pas um trabalho verdadeiramente benfico. A Maonaria inglesa tinha sido introduzida igualmente na China e, em 1888, no Japo. No Egito h uma Grande Loja Nacional e mais de 50 oficinas. Outra Grande Loja existe na Repblica da Libria, desde 1850. Em outras partes da frica, h lojas dependentes das organizaes manicas estabelecidas na Inglaterra, Frana e Holanda.

NA AMRICA LATINANo Mxico, a Maonaria se acha atualmente num perodo de reorganizao: h em todo o pas vrias Centenas de Lojas sob a obedincia de diferentes Grandes Lojas, entre as quais as principais so a Grande Loja Vale do Mxico e a Grande Loja Unida

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini de Veracruz. H um Supremo Conselho que trabalha em harmonia com a Grande Loja Vale do Mxico e outras Grandes Lojas que competem com esta na mesma jurisdio do Distrito Federal. Recentemente, muitas LL Independentes, e outras que anteriormente se separaram, foram regularizadas no Vale do Mxico. Alm desse Supremo Conselho reconhecido, h no pas outros trs, de cada um dos quais dependem certo nmero de corpos filosficos: o do Norte (Monterrey), o do Sul (Yucatn) e um Supremo Conselho Nacional na capital. Deve-se tambm destacar o Rito Nacional Mexicano em nove graus, que suprime a frmula " GDGADU", substituindo-a por outra (Ao Triunfo da Verdade e ao Progresso do Gnero Humano), assim como o uso da Bblia. Admite mulher, e colocou outras inovaes, nem todas igualmente felizes, no ritual. Pratica-se o princpio da autonomia das lojas e h muitas Lojas independentes que trabalham amigavelmente e admitem visitantes de qualquer obedincia. O rito dominante o escocs. Os trabalhos se acham dirigidos para a soluo dos grandes problemas sociais e o melhoramento das condies de vida do povo. atribudo injustamente maonaria mexicana o ter determinado a luta religiosa no pas; a maioria dos maons se manteve neutra nessa luta, que deve ser considerada como reao natural ao domnio da Igreja nos sculos passados. O desejo de unificar a Ordem, sentido por muitos Ir de diferentes obedincias, e que pudesse realizar-se por meio de um Grande Oriente, como rgo central coordenador, no pde ainda levar-se a efeito por falta de uma adequada cooperao. Em Cuba, h uma Grande Loja e um Supremo Conselho fundados em 1859 com um nmero aproximado de 200 oficinas. Em Porto Rico, h igualmente uma Grande Loja com 37 Lojas; no Haiti, um Grande Oriente fundado em 1824, com 64 lojas e um nmero quase igual de captulos e arepagos; em So Domingos [Repblica Dominicana], um Supremo Conselho, fundado em 1861, com uma dzia de Lojas. Um Supremo Conselho da Amrica Central foi fundado tambm em San Jos da Costa Rica em 1870: em 1899 se constituiu uma Grande Loja que conta com uma dzia de oficinas. Com igual nmero conta a Grande Loja do Panam e a de El Salvador. Tambm na Guatemala h uma dzia de Lojas sob a jurisdio de uma Grande Loja que substituiu o Grande Oriente da Guatemala, fundado em 1887. Na Colmbia existe um Supremo Conselho desde 1827; havia, alm disso, recentemente, no menos de trs Grandes Lojas antagnicas, que em 1938 anunciaram sua unificao. Tambm em Bogot, por iniciativa da maonaria colombiana, lanou-se nestes anos a idia de uma Confederao Manica Latino Americana. Na Bolvia e Venezuela o nmero de oficinas aparece muito reduzido, dependendo na primeira de um Supremo Conselho fundado em 1833, e na segunda de um Grande Oriente fundado em 1865 e de duas Grandes Lojas mais recentes. No Brasil, a Maonaria estava, at recentemente tempo, muito propagado e ativo, com cerca de 400 Lojas e um nmero considervel de oficinas dos graus 31

Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini superiores, dependentes de um Grande Oriente e de um Supremo Conselho que se fundiram em 1882. A Maonaria se fez promotora neste pas da luta contra a escravido. No Peru e no Chile, como na Sua, a Maonaria se limita unicamente aos trs graus simblicos: h duas Grandes Lojas (a primeira das quais se remonta ao ano 1831 e a segunda a Maio de 1862) que contam com mais de 50 oficinas entre os dois pases. Estes realizam um trabalho muito srio e ativo em benefcio de suas respectivas naes. No Uruguai, h um Supremo Conselho e um Grande Oriente, fundados em 1855, com vinte Lojas aproximadamente. Com a participao do Grande Oriente do Uruguai, foi constitudo tambm em 1859, um Grande Oriente Argentino, que se dissolveu em 1886 e se reconstituiu em 1895, do qual dependem atualmente mais de cem Lojas. Alm disso, h aqui como em outras partes da Amrica, vrias Lojas em obedincia a Grandes Lojas e Grandes Orientes estrangeiros.

O DOMNIO MUNDIAL DA MAONARIAEscreveu-se e se falou recentemente, por inimigos de nossa Instituio e de sua orientao libertadora das conscincias, sobre o domnio internacional que a Maonaria exerceria ou queria exercer, como fim principal de sua organizao. Tem-se dito especialmente que, com seus altos graus, a organizao manica nos diferentes pases se encontra numa obedincia oculta da chamada "internacional hebraica", que tem por fim derrubar todos os governos e de maneira especial as monarquias, estabelecendo uma Repblica Universal com o domnio dos judeus sobre toda a terra. Citam-se a este propsito os "Protocolos dos Sbios de Sio", nos quais particularmente se afirma esta oculta conexo entre a Maonaria e o judasmo, e que encontraram um eco em vrios ambientes nacionalistas, especialmente na Frana e na Alemanha, aproveitando vivamente a ocasio os antimaons para lanar novos dardos contra a Instituio. Alguns deles, como Ludendorff, chegaram s afirmaes mais ridculas, como, por exemplo, a da equivalncia do avental manico com a circunciso judaica. No mesmo campo de nossos adversrios, levantaram-se vozes para declarar lealmente o absurdo destas invenes e lendas que se apiam na ignorncia do que realmente nossa Instituio. No mesmo Congresso Antimanico de Trento, foram pronunciadas as palavras: "Falsa a idia de uma direo central de todas as Lojas do mundo; falsa a idia de chefes desconhecidos e falsa tambm a de segredos ainda no esclarecidos (...)". Quanto aos judeus, suficiente dizer que constituem uma exgua minoria na Instituio, e que foram e seguem sendo excludos em vrios ritos, como, por exemplo, o Sueco, e esto, por conseguinte, muito longe de poder exercer uma decidida influncia. A Bblia obrigatria em quase todos os pases e aberta no evangelho de So Joo prova a evidncia do carter mais cristo que judaico da Maonaria Moderna, assim como o prova certo grau superior. E no que se refere unidade de comando necessria para este domnio, pode assegurar-se que no existe: as diferentes organizaes manicas nacionais se limitam 32

Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini unicamente a reconhecer-se mutuamente sobre a base dos princpios comuns a seus trabalhos e atividade, e este recproco reconhecimento est muito longe de ser universal. Tambm a Associao Manica Internacional de Genebra no tem maior autoridade do que a exercida pela Sociedade das Naes sobre seus componentes, e tampouco conseguiu reunir efetivamente todos os Grandes Corpos que representam oficialmente a Ordem. Alm disso, este suposto comando ou domnio, estas ordens que os maons receberiam ocultamente e obedeceriam cegamente, so fatos contrrios essncia e aos princpios da Sociedade, que quer libertar os homens e no fazer deles anlogos a escravos. Libert-los especialmente do engano, do vcio e dos preconceitos, encaminhando-os pelo caminho da Verdade e da Virtude. O nico e verdadeiro "lao universal" entre os maons est constitudo pelos Princpios que os unem, na medida em que cada maom individualmente os reconhece e pe em prtica, e o nico "domnio" ao qual a Maonaria aspira o da Verdade, fazendo obra de Fraternidade, de Paz e de Cooperao, entre os homens e os povos.

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Manual do Companheiro Maom Aldo Lavagnini

SEGUNDA PARTEO SIGNIFICADO DA CERIMNIA DE RECEPOFala-se algumas vezes de iniciao no segundo e terceiro graus, assim como nos seguintes; este termo imprprio, dado que no pode algum ser iniciado na Maonaria mais que uma vez, [seno] quando ingressa nela no grau de Aprendiz. Depois do que, h um caminho de progresso em diferentes etapas, cada uma das quais precisamente corresponde a um grau manico, ou seja, uma mais perfeita compreenso e realizao do significado da iniciao manica. Por esta razo, em muitos dos Mistrios Antigos, assim como corporaes construtoras, havia uma s e nica cerimnia com a qual se admitia os candidatos aos ensinos esotricos, ou no grmio dos que praticavam a Arte. Na mesma Maonaria no teria havido, segundo alguns, at por algum tempo depois da fundao da Grande Loja de Londres, mais que dois graus, depois do que, com o desenvolvimento ritualstico, viu-se a convenincia da diviso ternria, que ficou depois como uma das principais caractersticas de nossa Ordem. Ainda que na prtica, o descuido em que se acha o formoso grau de que tratamos neste Manual, demonstre como os trs graus no so ainda efetivos. Qualquer que seja a realidade a este propsito, e apesar de que algumas vezes possa ter se perdido de vista a necessria graduao de todo esforo em etapas sucessivas, s com as quais pode conseguir um verdadeiro resultado em qualquer caminho, tal graduao se imps em todos os tempos e em toda forma de atividade, em todo campo prtico ou especulativo. Em qualquer arte ou ensino, em qualquer hierarquia social, inicitica ou religiosa, necessariamente houve e haver constantemente, sob diferentes nomes e at sem nomes especiais, Aprendizes, Companheiros e Mestres; correspondendo o primeiro grau ou etapa ao ingresso ou perodo de noviciado; o segundo, prtica que faz o artista (e, por conseguinte, um verdadeiro companheiro no grmio ou hierarquia em que se encontra); e o terceiro ao domnio completo ou magistrio da Arte, que d a capacidade de ensinar, dirig