alberto de oliveira poesias quarta serie
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7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
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100
ALBERTO
DE
OLIVEIRA
POESIAS
QUARTA
SERIE
(1912-1925.
3.a
EDIO
ODE
CVICA
ALMA E
CO
CHEIRO
DE
FLOR
RUNAS
QUE
FALAM
CAMAR
ARDENTE
RAMO
DE
ARVORE
PQ
9697
1912
.
4
LIVRARIA
FRANCISCO
ALVES
)
DE
JANEIRO
S.
PAULO
BELLO
HORIZONTE
1928
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POESIAS
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7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
7/260
JORGE
JOBIM
DEDICO
ESTE
IJVRO
ALBERTO
DE
OLIVEIRA
-
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-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
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wwwwwwwwww
Agora
tarde para
novo
rumo
Dar
ao
sequioso
espirito;
outra
via
No
terei
de
mostrar-lhe
e
phantasia
Alm
desta
em
que
peno
e
me
consumo.
Ahi,
de
sol
nascente
a
sol
a
prumo,
Deste
ao
declnio
e
ao desmaiar
do
dia,
Tenho
ido
emps
do
ideal
que
me
alumia,
A lidar
com
o
que
vo,
sonho,
fumo.
Ahi
me
hei-de
ficar
at
cansado
Cahir, inda abenoando
o
doce
e
amigo
Instrumento
em
que
canto
e
a
alma
me
encerra
Abenoando-o por sempre andar commigo
E
bem
ou
mal.
aos
versos
me
haver dado
Um
raio
do esplendor
de
minha
terra.
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CVICA
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ODE
CVICA
13
Corei,
vindo o
vero,
com
os
seus
dias
enxutos,
~)e
topzio
e
rubi
os
teus
melhores
fructos;
Onde
vae
minha
luz,
a
terra
estua e
via,
Cinge
cada
collina
aurifulgente flammeo,
E
ao
murmur de
aguas e
ar,
um
verde
epithalainio
A
serra
movedia.
Ergue-te
dia
ha
muito
amanha
essas
campinas,
Sema-as;
faze
ouvir
as
tuas
officinas,
Rouqueje
a
forja,
cante
a
serra,
estronde o
malho
E grato
me
ha de ser,
baixando
no
horizonte,
Beijar
num
raio
extremo
o
suor
de
tua
fronte
E
abenoar-
te
o
trabalho
Diz-lhe
o
Mar:
Quando
aqui,
nesta
regio,
ignota
Ainda,
certa
vez
aportou
uma
frota,
Dei-lhe
enseada
segura
e
gente
que
trazia;
Um
altar
se
improviza, uma
cruz
se
alevanta,
Vem o gentio a
ouvir
o
que
se
reza
e
canta
luz
clara
do
dia.
E
voz
nova
a
invocar
um
novo
deus,
em
meio
De
silencio
e
de
espanto,
eu.
das nos
em
meu seio
As
velas
a
embalar
concavas e redondas,
Como
crente
tambm,
prece ento ouvida
De
cem boccas alli,
juntei
a
commovida
Prece
das
minhas
ondas.
-
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14
POESIAS
Rezei.
Rezo
por
ti. Ao teu
doce
contacto,
Ora
o
saibro
sentindo,
ora
a
pedra,
ora
o
matto,
Feliz,
por
te
servir
meu
dorso
atlanteo
inclino;
No
espelho,
de
que so
minhas praias
moldura..
Reflectindo
a
grandeza
aos cos,
se
me afigura
Reflectir teu
destino.
Raro
me enturba
a face afflico ou
desgosto,
To bem
ao
p
de
ti
me
sinto
Xo
meu
rosto
Este
reflexo
verde
e o
azul
de
um co
sem
brunias
Tornam-me o
parecer
mais remansado e
lindo;
Com
que
beijos te
beijo,
a
ondular-me, sorrindo
Meu
sorriso de
espumas
Dormes?
Mas
j
teu
somno
ha
tanto
tempo
embalo
Que
dormir
ser
esse?...
Accorda
eis-me
vassallo
A
obedecer-te em
quanto ordenes
de
teu
throno;
Das
riquezas
que
tens
carrega
as
minhas
vagas,
Anima
com
o
trabalho estes
portos
e
plagas.
Sae do
torpor
do
somno
Diz-lhe
a
Terra:
No beija
o
Mar, o
Sol
no
banha
Outra,
como
eu.
em vio
e
em riquezas
tamanha
E
desde
quando, em
flor
ainda, semi-na.
Os
meus
seios
te abri.
sombreados
de
palmeiras,
Oai mais tarde os
sertes
me entraste
com
as
bandeiras,
Perteno-te, sou tua
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ODE
CVICA
15
Dei-te
e mal
sabes
quanto
vasto
este
thesouro
Minha,
minas
de
prata e
minhas minas de
ouro,
Diamantes sem iguaes
no
mundo,
coloradas
Pedras
raro
lavor
de minhas
of
ficinas,
Verdes,
rseas,
azues
ou
negras turmalinas,
Euclasas
e
granadas;
E
as
rochas de granito,
e
os
meus
mrmores claros
Como
outros nunca
viu
Xaxos branquear-lhe.
ou
Paros
E
as jazidas de cobre,
e
as
de
galena, e ferro,
E
o
gesso, e
o enxofre,
e
o
frivel schisto,
e
o
carvo
rudo,
Tudo
quanto
servir-te
acaso
possa,
tudo
Quanto
em
meu
seio
encerro
E
as
mattas.
e
a
amplido de
campos
admirveis.
Ondulados
ou
chos,
ubertosos
e
arveis,
Rebrilhantes
da
chuva
ou
do lentor
da noute,
E
onde
uma
leira
abrindo,
e
tua
mo acaso,
Por
um gro
que
me
ds.
eu em pequeno
prazo
Cem,
generosa, dou-te.
Vem
cultival-os
Vem
Terra,
a
ba
amiga
Opima
e
liberal,
sem
desmaio
ou
fadiga
Amar
Longe
torpor
e cio
que te
consomem
Quero
sentir-te
em
mim,
dentro
em
minhas
montanhas.
Dentro
no seio meu,
dentro em
minhas
entranhas,
Com
os
teus
msculos
de
homem
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16
Cinge-me,
contra
ti num
abrao
me
aperta
E
deixa
diffundir-te
almo
calor.
Desperta
Corre-me
em
longo
beijo
os
longos
membros,
talha
Com
alvio
e picareta
as
minhas carnes
vivas,
Rodem
por
sobre
mim
tuas
locomotivas,
Mas
vive,
mas
trabalha
li
em
vo o
appllo
Em
meio
s
pompas
e
esplendores
Desta
America,
sobre
um
estendal
de
flores
Descahida a cabea,
o
thorax arquejante,
Ou
doente
ou
a
dormir
como em
terras
do
Oriente,
Entre molles
cochins, rei
sensual
e
indolente,
Jaz
prostrado
o
Gigante.
E
havemos
de
o
deixar
nessa
inaco
nefasta,
Em
que
todo o
vigor
se
lhe
adormenta
e
gasta.
Como corroe
ao
ferro
e o
estraga
o
oxydo vil?
No
quente
sangue
ainda
em suas
veias
bate...
Quebremos
o
deliquio
ou morbidez
que o
abate,
Ergamos
o
Brasil
Basta
um pouco de sol para que
nvoa
espessa
Se
dissolva,
e
vivaz,
ao
seu lume. apparea
Desassombrado
e verde
a
rir-se
o
valle
em flor
Para
a
Ptria
arrancar
a
esse
fatal marasmo.
Basta
um
pouco de
f,
um pouco de
enthusiasmo,
Basta
um
pouco
de amor
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POESIAS
Terra
da Ptria mais,
com
o
amor
que a todos
prende
E
os
auna alma
e
alma:
desde
onde
se
estende
O
Amazonas l em
cima s
plancies
do
Sul,
Todo
o
paiz com
o
co,
que da
remota
e
pobre
Taba
do
indio
cidade, immenso, a todos cobre,
Como
um
velario
azul.
Ensinae
esse
amor
da
ptria,
com
a
grandeza
Do
que
nosso.
lio
vasta
da Natureza
A
dos
homens juntae. e
a historia
da
Nao.
No
vos ho
de
faltar nomes,
que
amando
a terra,
A
gloriaram
na paz
ou
nos
campos
de
guerra,
Penna ou
espada
na
mo
Revocae
de onde esto
em
sombra
e
esquecimento,
Esses
nomes
Reluza,
em
nobre ensinamento,
Resurrecto
de
outrora
o
espirito
viril,
E
lembrando-os
no bem
diffundido
ou sonhado,
Imitando-os
no
amor,
amando-os
e
ao
passado,
Amemos
o
Brasil
Lembrae-os Nem vos passe
o
louvor merecido
lingua cujos sons
a
lhe cantar no
ouvido
Leva
o
extrangeiro, como echos
de
edenea voz,
Lingua
de povo
irmo,
noutra
parte
falada,
Mas
que
aqui se
enriquece,
avulta
e mais agrada
Por mais
doce
entre
ns.
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ODE
CVICA
'
E
com
a lngua,
lembrae
os que
numero e
graa
Mais lhe deram,
cantando,
'e em
cujos
versos
passa
Ora
amorosa
e
ardente,
ora
triste
e
infeliz,
Ensombrada
de
magua,
ebriada
de
perfumes,
Ensoada de
paixo, em
gritos
e
queixumes,
A
alma
deste
paiz.
Gorgeie a
escola.
E
voz da
escola se misture
A
de
todo
labor,
se
enxada,
e
segure,
Mina,
engenho,
tear...
Ao
coqueiral
de
p,
Passando,
a
ventania
une
todas
as
palmas:
Corra
um
sopro
de vida
e
una
todas
as
almas
No
trabalho
e
na
f.
Longe este desamor
e feia
indif
ferena
Hausto mais forte
de
ar,
hausto
e
mais luz
de
crena
Dae-o
vs
a beber
e
animo
varonil
Recua
toda
sombra
ao
sol
triumphal
que
avana:
Fazei
surgir
o
sol,
entre
hymnos
de
esperana,
Levantae
o
Brasil
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ww^wwwww^ww
O
SUPREMO
REMDIO
Na
terra, aos homens
tua dr no
contes.
Fala ao
co.
O
co
ama
ao que
o
procura.
Ergue os olhos
alm
dos
horizontes:
E' l que vida est
o
remdio
ou cura.
A
toda
alma que
soffre
em
grutas,
fontes,
Nos insectos
e
hrutos da espessura.
Grimpas
de arvores, pincaros
de
montes
Esto,
ohserva-os.
apontando
a
altura.
Aponta-a em
cada igreja
a flecha esguia
Do
campanrio,
e
quando,
j
sem
velas,
A no no
mar.
desconjuntada
j.
Vae a afundir,
por
entre
a ventania,
O grande mastro,
amigo
das
estrellas,
Aos
marinheiros
apontando-a est.
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24
POESIAS
RIO
VERDE
Vae
o
trem
da
Sul-mineira
Que
formoso
o
sul de
Minas
Deixando
atrs,
na
carreira,
Montes,
banhados,
campina-.
Mas
campinas
e
banhados
E
novos
montes
ahi vm
E
passam,
como
apressados
Da mesma
pressa
do trem.
O
rio, que
Ora
barrento,
Sendo verde,
descortinas,
Segue-te a
cada
momento
Xaquellas
terras de
Minas.
Rio Verde
sem
verdura.
Com
que
nelle
a
se rever
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-
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26
POESIAS
Retine
ao
longo
das
aguas
O
rio
do
sul de
Minas.
E
com
o
trem
como
parado
Ahi
fica
um
momento
ento,
A
villa
mineira
ao
lado
Vendo
a
sorrir.
Conceio
Conceio
do
Rio
Verde,
De
verdes
fartas
campinas.
E
co
azul
que
se
perde.
Sem
fim,
nos
confins
de
Minas
Tambm
fiquei
um
momento,
Em
meu
comprido
viajar,
A
ver
enlevado e
attento
Teu
panorama
sem
par.
Lembram-me em
saudoso
anseio
As
horas quasi
divinas
De
hospedagem
em
teu
seio.
Saudvel
torro
de
Minas
Lembram-me
uns
sons que
se
ouviam,
Longos,
chorosos
e
vos
.
.
-
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ALMA 3
CO
27
Eram
harpas
que
gemiam
Tangidas
de
areas
mos;
Harpas
verdes
balouantes,
Balouantes
casuarinas.
Em
que
perpassam
descantes
Do
vento e
do
co de
Minas.
E
quellas
notas
eoleas
Juntavam-se,
como
affins,
Os
perfumes
das
magnlias,
Das
murtas e
dos
jasmins.
Rio
Verde sem
verdores,
Tuas
aguas
peregrinas
Tambm
o cheiro
das
flores
Bebem
nos
ares
de
Minas,
Bebem-no
e
vo-se ...
No
mundo
Tudo
chegar
e
partir,
Vo-se
ellas
ao
mar
profundo,
Eu a
que
mar
terei de
ir?
Rio,
vs
no
longe a
imagem
Da
foz, a que
te
destinas,
Eu...
Fosse o meu
fim de
viagem
Este
pedao de
Minas
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
30/260
28
POESIAS
A
CANCELLA
DA
ESTRADA
Bate
a cancella
da
estrada
Constantemente.
Cavalleiro,
disparada,
L
vae
no cavallo
ardente.
Cavalleiro em
descuidada
Marcha,
l
vem
indolente.
Passa, onda levantada
A
poeira, toldando
o
ambiente.
Bate
a cancella
da
estrada
Constantemente.
Bate,
e
exaspera-se
e
brada
Ou chora
contra
o
batente:
(Ningum lhe
ouve
na arrastada,
Roufenha
voz
o que sente)
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
31/260
ALMA E
CO
29
Minha
vida
desgraada
Repouso
no
me
consente
Vivo
a
bater
nesta estrada
Constantemente.
Moos,
moas,
de
tornada
De
alguma festa, em
ridente
Chusma
inquieta e
alvoroada,
Passaram
ruidosamente.
Desta inda
se
ouve a
risada,
Daquelle o
beijo...
Plangente
Bate a cancella da
estrada
Constantemente.
Agora,
noiva
coroada
De capella
alvinitente;
Segue
o
noivo
a
sua amada,
Um
carro
atrs,
outro
frente.
Agora,
uma cruz alada...
Um
enterro.
Quanta
gente
Bate
a
cancella
da
estrada
Constantemente.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
32/260
30
Bate
ao vir a
madrugada,
Bate,
ao
ir-se
o
sol
no
poente;
(Das
sombras
pela
calada
Seu
bater
mais
dolente)
Bate,
se
noite
enluarada,
Se
escura
a
noite
e
silente;
Bate
a cancella da
estrada
Constantemente.
Nossa Aida aquella
estrada,
Com os
que passam diariamente
E
aps
si
da
caminhada
A
poeira deixam somente.
Corao,
como a
cansada
Cancella
de
som
gemente,
Bates a
tua
pancada
Constantemente.
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7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
33/260
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7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
34/260
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7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
35/260
ALMA
E CO
33
Riu
do
amor.
que
elle,
arguto
e
sbio,
Chanceou com amarga
zombaria,
Tdio
e
irriso.
Moo
ainda,
sem
uma queixa,
Apressando
o
mortal
excidio,
Com
impavidez,
Como
um in-folio,
a
vida
fecha,
Vasando
a taa do suicdio
De uma
s vez.
E
talvez
dorme...
Xo
se
dando
Do
que
elle
foi,
fartos
de
vida,
Baixando
do
ar,
Grrulos
pssaros
em
bando
Na
cruz
de
mrmore
esquecida
Lhe
vm
pousar.
E
como
ha
sol
no
cemitrio
E
do
alto
co
a tudo
inunda
Almo
calor,
Canta
o
emplumado
bando
areo,
Espanejando-se
luz
fecunda:
Amor
Amor
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
36/260
34
POESIAS
RAUSO
Para
o
Sol receber
na
luz primeira,
Noiva
do
Sol,
como
em festiva
sala,
Noiva
de Rei
toda
era
vio e gala
No
pomar verde
a
verde
laranjeira.
Lidaram
sem
descanso a
noite
inteira
Mos de
invisveis
aias
a
alfaial-a;
Brando
queixume
a
alma
impaciente
exhala,
O
vo
de
npcias rumoreja
e
cheira.
Espera. Eis
que,
porm,
de
encontro
ao
seio
O
vento
a
enlaa, a
beija,
a
envolve
toda,
Redomoinhando em sbita
rajada.
B
quando o Sol para esposal-a veio,
Quasi
despida a
viu. Voavam-lhe
em roda
As flores
da
coroa desfolhada...
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
37/260
ALMA
E
CO
35
EM
PLENO
SONHO
(
Maria
Eugenia
Celso)
A
almas,
como a que
tens.
hora e
mais
hora
Absortas
no
ideal da
perfeio,
A
Poesia,
nos
tempos
mos de
agora
Sem
religio,
uma
religio.
Seu
culto,
como
o
desta,
as embevece,
E
a ss,
contrictas,
em
fervor
infindo,
Dizem
o
verso,
qual
se
diz a
prece,
Entre as
luzes
do altar e
o
rgo
ouvindo.
Monjas
reclusas
em
si
mesmas,
oram,
As
contas a
passar,
em
devoo,
Do rosrio das
lagrimas
que
choram,
Buscando
seu ideal de
perfeio
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
38/260
36
POESIAS
EM
PLEXO SOXHO.
E'
o
cxtasi.
Bemdicta
A
Arte
que
assim
te
eleva grande Luz,
(Embora
na ascenso
clara
e
infinita
Vergues
ao peso
de
invisvel
Cruz.)
Bemdicta,
que
aos
que
a
servem galardoa,
Aureolando-os
de
um
fulgor
do
Empyrio,
(Embora
sob
os
raios
da
coroa
Se
escondam os
espinhos do
martyrio.)
E
em
teus
lbios
bemdicto eternamente
O
hymno
de
f,
que
lhes revoa
flux.
Em toda
alma
de poeta
ha um templo
e
ha
um
crente.
Toda
orao
um
vo
para
a
luz.
-
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39/260
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
40/260
38
Em
seu
chegar e
se
ir
Dando
um
sorrir;
Petrpolis,
no
ha-de
Quem
te
habitou,
cidade,
Nvoas
que
a
um
sopro
esfumas,
Ar
que
perfumas;
Tuas
compridas
lleas
De
hortencias e
de
azleas,
Manhs
e
entardecer
Nunca
esquecer
Petrpolis,
a
ver-te
Torno,
e
qual
torno, adverte,
Torno,
a
alma
combalida
De
tanta
lida.
Torno,
mudado
o
aspeito,
Cansado e
oppresso o
peito,
Exangue e sem aco
O
corao.
Vim-te pedir
alento.
D-m'o,
que a
lento
e
lento
Venturas de
outros
dias
Todas
perdi-as.
-
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41/260
-
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40
POESIAS
Errados
traz
por
esta
Via
funesta
Suba
daqui,
deste
ermo
O
corao
enfermo,
E
possa,
nuvens,
voar
Comvosco no
ar
Levae-m'o,
nuvens,
aonde
O
eterno
bem se
esconde...
Que
nsia
de alturas
fora
Rolar
nesta
hora
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
43/260
ALMA
E
CO
41
O
CEO DE
CURITYBA
Que
co
Prata
e
carmim. Que
estrella
dalva, e
aurora
E agora
o sol
E
agora
o
dia
Ampla
e
sonora
Diz
uma
voz
: Cantae
Cantam
a
par
e
par
As
aves,
canta
o
bosque,
onde
almo
nctar
liba
O
insecto,
o
rio canta.
. . O
co
de
Curityba
Me faz
cantar.
Que co
Carmim
e
bronze. Entrou,
radiante
e
immenso,
O sol. Hora
de paz, hora
de
myrrha
e
incenso.
lOrae
diz uma voz. Um
sino
plange.
No
ar
Anjos
rezam, talvez.
Em solitria riba
Scisma
absorto
um
pinheiro.
O'
co
de
Curityba
Me
faz
orar.
Que
co
bano
e
fogo.
A
Natureza
dorme.
Dorme
a
cidade.
Eu s,
deante da noite
enorme,
Penso
e
soffro
e
levanto
s
estrellas
o
olhar.
:
Sonha
diz
uma
voz,
ao
que
mais
alto arriba
Que co
Socgo
e
luz... O
co
de
Curityba
Me
faz
sonhar.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
44/260
42
CEO
FLUMINENSE
Chamas-me
a vr
os
cos de
outros
paizes,
Tambm
claros,
azues
ou
de gneas
cores,
Mas no
violentos,
no abrasadores
Como
este, brbaro
e
implacvel,
dizes.
O co
que
offendes
e de que
maldizes,
Basta-me
emtanto
:
amo-o
com
os
seus fulgores,
Aman>no
poetas,
amam-no pintores,
Os que
vivem
do
sonho,
e
os
infelizes.
Desde
a
infncia,
as
mos postas,
ajoelhado,
Rezando
ao
p
de
minha
me,
que
o
vejo.
Segue-me
sempre.
.
.
E
ora
da
vida
ao
fim,
Em
vindo
o
ultimo
somno,
meu
desejo
Tl-o
sereno
assim, todo
estrellado,
Ou
todo sol,
aberto
sobre
mim.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
45/260
ALMA
E CEO
43
AGUAS
PASSADAS
No
me
com
agua
passada
O
moinho
diz
o
rifo.
Como
dos
mais diferente
O
moinho do
corao
Passada embora,
presente
E'
sempre
a
agua,
em
que
lhe
vo
Levados
confusamente
O
amor,
o
sonho,
a
illuso.
Quanta
esperana afogada
E
quanta
recordao
Biam
nessa
agua
corrente
E
a
tornar-lhe
sempre esto
E
vendo-as
no
ansiar
frequente,
Pulsao
a
pulsao,
Me
e
me eternamente
O
moinho
do
corao
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
46/260
44
POESIAS
SERRA
DO PALMITAL
Foi l
onde ha
uma serra,
e
os
esplendores
Do
sol
num
valle
;
onde
um
rebanho
pasce
De ariscas
borboletas
multicores,
E
onde de
tanta
flor,
que
ao
p
lhes
nasce,
Cheiram
os
rios,
cheiram
como
as
flores;
Foi l,
onde
eu
talvez
melhor
ficasse
S
com um
nico
amor,
sem
que provasse
Tanto
o
mel
como
o
fel
de
outros amores;
Foi
l
que
a
vez
primeira
amei.
Por
terra
Tudo cahiu,
talvez,
tudo com
os
annos
Ou
jaz
mudado
ou
jaz
disperso ao
vento
;
De
p
deve somente
estar
a
serra,
Como
eu,
sobrevivendo
a
tantos
damnos,
Para
que
maior
seja o
sentimento.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
47/260
ALMA
E
CO
45
TROPEL
DE
VAGAS
Vr
em
seu
movimento
as
vagas,
homem,
E'
vermo-nos:
succedem-se
no
infindo
Horisonte
em
tropel,
aiando ou
rindo,
E
em
lucta
umas
com
outras
se
consomem.
Nem
aoites
de ventos
ha
que
as
domem.
Mas
a
hora
de
quebrar
chega.
. .
Vm
vindo,
E
rolam,
tombam, e
em
clamor
refluindo,
No
mesmo
pego.
de
onde
vm, se
somem.
vagalhes
deixae
vosso
atrevido
Entono
Bero
agora, o
grande
oceano,
Sepulcro
em
pouco,
vos
ter
sumido,
E
quaes
somos
em
nosso
orgulho
insano,
P
levantado
e
em
breve
p
cahido
Aguas
planas
sereis
no
equoreo
plano.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
48/260
46
POESIAS
PASSANDO
Vi
de
passagem,
viajando
(Melhor,
voando)
no
trem um rio
E uma
arvore
e
um
banco.
E
tantas
cousas
mais
(Tantas
j
tinha visto)
fui
olhando
Por
desfastio
Pontes,
barrancos,
outros
rios,
animaes.
Ovelhas,
bois, carros
de
bois.
campinas,
Capes,
ilhas
perdidas
na
planura.
Lavouras,
catingaes,
descampados,
usinas;
Agora
escura
De um
lado
a
matta,
Um
cruzeiro defronte.
Agora uma
cascata,
Agora
um
rancho,
agora
um'
moinho,
agora
um
monte:
E
ia-se
tudo,
ia-se-me
passagem.
Sem
me
emtanto ficar
de
tanta
cousa
imagem
Imagem,
s,
alli,
do
trem
ao
solavanco,
Uma
me
acompanhava :
era
a
daquelle
banco
E
aquella
arvore
e
rio;
eu
a
guardava,
e s.
No
que
redomoinhava,
entre
a
luz e
entre
o
p,
Na paizagem, no co,
deante de
mim, somente
-
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49/260
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
50/260
48
POESIAS
CORBELHA DE ROSAS
Neste
comeo de
anno rduos
labores,
Por
bas-festas, me
quiz dar a
vida
Do-me as
cousas
que
trato, a
mesma
lida,
Mesma
incommodidade
e
dissabores;
D-me
o
sol
estival
seus
crus
ardores,
Sem
sombra
alguma
fresca
e
appetecida
D-me
um doer de
saudade...
Em despedida
Do-me
os
sonhos
adeus.
Tu
me ds
flores.
Bem hajas, pois,
bonssima
Angelita
Tua
alma
aqui
domestica
volta,
Xas flores
que me
ds,
brinca
e
palpita:
Sinto-lhe
as
asas
de
invisvel
nume
E
respiro-a neste
ar,
na
casa cheia
Como
o
meu
corao,
de
seu
perfume.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
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ALMA
E
CJi
49
VIDROS
OPACOS
Fita nos
olhos
teus,
sorrindo,
Alice
Os
grandes
olhos
negros
requebrados,
Mas os
teus
v
do
albugo da
velhice
Semi-apagados.
Em
seus espelhos
turvos
se
demora
A
examinar
se
ainda
oh
vo
desejo
Do moo, do
varo,
do homem
de
outr'ora
Resta
ura
lampejo.
Nada
mais
resta. A
alma
entanguida
e
escura
Apenas
treme
superficie baa.
Olha
a
moa, olha, insiste...
Assim procura
Numa
vidraa,
-
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52/260
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
53/260
ALMA
E
CEO
51
O MAIOR
PESAR
(De
Bedros
Tourjan,
poeta
armnio)
No
vr
fonte,
onde
de
um
hausto
Sede
de
amor
estancar;
Moo,
j
senti
r-me exhausto,
No
c
meu
maior
pesar.
Sem
tr
de um
beijo
a
doura,
Ir
a
fronte repousar
Na
lagea da
sepultura,
No meu
maior pesar.
Antes
da
noiva
querida
Em
meus
braos
apertar,
Cerrar num
tumulo
a
vida.
No
meu
maior pesar.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
54/260
52
POESIAS
Viver
em
misera
choa,
Ar
impuro
a
respirar,
Soffrer
o
mais
que
se
possa,
No
meu maior pesar.
Meu
maior
pesar
vr-te,
Ptria
infeliz,
a
penar;
Morrer,
sem
poder
valer-te.
Este
o
meu
maior
pesar.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
55/260
ALMA E CO
53
SENSITIVA
Algum
talvez
inveja
a
sensitiva
Que
ahi
por
nossos
campos
apparece,
E
em
cada
flor
traz
uma
chaga
viva,
E em cada
espinho
mostra o
que
padece.
No cho
ou
pedras
que
a
retm
captiva,
Roja a
planta
infeliz,
mas
se
acontece
Tocal-a
alguma
vez mo
compassiva,
Fecha
uma a
uma
as
folhas
e
adormece.
Algum talvez
a
inveje,
afagiie-o
embora
Piedosa
mo
na
angustia
que o
devora,
Procurando
abafar-lhe
queixas
e
ais,
Pois
to
rebelde
a
tudo
e to
violento
s
vezes
dentro
na
alma
o
soffrimento
Que
dar-lhe
estremos
irrital-o
mais.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
56/260
04
POESIAS
O NICO
THESOURO
(Francisco
Villaespesa)
Sonhando
achar
mirfico thesouro,
Como
um
gnomo
ao
claro
de
uma
lanterna,
Desci
de
minha vida atra
caverna.
Desci, mas
em
vez
do
ouro
Que
imaginava
e
gemmas
fabulosas,
Dei
apenas
com
os
olhos
Em serpes
venenosas,
Enroscadas
e
presas entre
abrolhos...
Eram. como num
cho
de
pez
ou
lava,
Carves,
ascuas que
foram
1
,
incendidas
Paixes de
todo desapparecidas
Cinzas
de
escorpios,
ossos
De
guias
apodrecidas...
Desci ainda...
E
vi
branquearem
rotas
Esculpturas,
pedaos
De
mrmores
e
jaspes de remotas
Architecturas,
mutilados braos
De alguma
Vnus...
Eis
do
sorvedouro
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
57/260
ALMA
E
CO
55
Alcano
o
fundo,
e ao
fundo,
rutilante,
Entre
um
monto
de
escorias
e destroos,
Deparou-se-me
aos olhos
um
diamante...
A
lagrima
primeira
que
chorada
Foi
por
mim
em
saudosa
despedida.
Ah
e
era
essa
lagrima
irisada
O
nico thesouro
De
minha
vida.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
58/260
56
POESIAS
QUEM
CANTA,
SEU
MAL
ESPANTA
Voltas
Nem sempre, se
o
corao
Excrucia
dr
pungente.
Pde.
como
allivio,
a
gente
Fazer
delia
uma cano.
Dr ha
ahi
que
to
vehemente
Se
aferra
s
fibras,
e tanta
Que
nada
a
distrae
e
espanta.
Pde-se
ir.
se
acaso
dr
Que
a
alma no
subjuga
e
invade.
Dr
de
um
dia
de
saudade,
Dr
de
um
s
dia
de amor.
Dr, que
ao nosso
rosto
a
cr
No
muda
e
mal nos
quebranta
. .
Essa
qualquer
cousa
a
espanta.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
59/260
ALMA
E
CO
57
Essa
em cantigas se
vae,
Como
no
ar a
paina
leve
Peitos,
a que ella
se
atreve,
Se
a
quereis
fora,
cantae
Derrete-se
como
a
neve
Que
o
vento sacode
planta,
Qualquer
sopro
a
leva
e
espanta.
Mas
a
dr
surda e
feroz,
Que
tocada
se
exaspera,
E
passeia
dentro
em
ns,
Como
em
sua jaula
a
fera,
Amansal-a
com
que
voz,
Se ella
nos tolhe
a
garganta?
Nada
a
distrae,
nada
a
espanta.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
60/260
58
POESIAS
FREMOR
Supponho
achar-me
s
vezes quando penso,
Voltado
sobre
mim,
no que
hei
vivido,
Ao
p
de
um
mar, de
onde
um
clamor
immenso
De
humanas vozes vem
ferir-me
o
ouvido.
E
afflico
e
terror
na
alma no
veno.
Conhecendo gemido
por
gemido
Tudo
o
que
amei,
agora sob
extenso
Lenol
de
negras
aguas
submergido.
E
inda
parece um
brao
no
ar
se
agita,
E
chamando-me, como
em
scena
inferna,
Espectral
multido
lugente
e
afflicta
Grita,
e esses
brados
que
ululando soam,
Dentro
em meu
corao,
como
em
caverna,
Abalando-o,
rememoros reboam.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
61/260
ALMA E
CO
59
o
lrio
intangvel
Vi-me
em sonho
a
nadar
por
um
pntano
escuro,
Inteiramente
escuro.
A
agua
era
grossa
e
infecta,
o
ar
adensado e
impuro;
E
eu, agitado e
afflicto,
a
submergir-me todo,
A
conspurcar-
me
todo
No
ptrido
marnel
de esverdinhado iodo.
No
alto,
ennoitado
azul
as
estrellas
brilhavam,
Phantasticas
brilhavam
Estriges
e
vises, roando-me, passavam.
E
eu
seguia
a
bracear
pelo
pntano
escuro.
Inteiramente
escuro.
A
agua era
grossa e infecta,
o
ar
adensado
e
impuro.
Fluctuava
minha
frente
um grande
lirio
branco,
Um
lirio muito branco.
Eu
tentava colhl-o,
em
convulsivo arranco,
Estendia-lhe
a mo,
o
lirio
me
fugia,
Fugia, refugia,
A boiar,
a
boiar
na agua
estanque
e
sombria.
E
uma
voz
escutei que
me
dizia:
A
vida
E'
este
pntano,
a
vida
Alma,
feliz sers
se
em
lodo
vil
mettida,
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
62/260
60
POESIAS
Alcanares
a
flor
de
ideal
que
tens
em
frente .
E
o
lirio
minha
frente,
Muito
branco,
a
sorrir,
quasi resplandecente,
Ia
sempre
a
fugir,
o
grande
lirio branco;
E
eu
buscava
alcanal-o
em
convulsivo
arranco.
E
da
noite
no
escuro
Debatia-me
em
vo
pelo
pntano escuro.
E a agua
era grossa
e
infecta,
e o
ar adensado
e
impuro.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
63/260
lLma
e
co 61
DEPOIS DA CHUVA
Vestem-se
agora
os
muros
De
lichenes
e
musgos;
Choveu.
Folhas
cr de
esmeralda
Abenoam
molhadas
O
co.
O
sol
das
cinco e
meia
Obliquo,
na alameda
Fulgir
Gottas
ahi
cahidas
Faz,
como
pedraria
De
Ophir.
Contando
em
breve
lua
Abrir-se.
todo
espuma
Na
cr,
Da magnoleira vae-se
Desabrochando
o
clice
Da
flor.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
64/260
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
65/260
ALMA
E
OO
63
A'
LEILAH
GUIMARES
De
chuvas
hoje
o
teu
dia
Nesta
cidade;
por
l,
Em
Campos,
talvez
sorria
Ura
sol
festivo,
Leilah.
Que
s
vezes,
neste
inconstante
Clima
mosso
isto
se
d:
Chove
aqui,
mais
adeante
E'
o co
sem
nuvens,
Leilah.
Co
sem
nuvens,
disse,
olhando
As
nuvens
do
co
de
c,
Seja
sempre,
e
ledo
e
brando
Tua
existncia,
Leilah.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
66/260
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
67/260
ALMA E
CEO
65
ARCO-IRIS
E'
finda a
guerra.
Ainda
ha
uni
ruidar de
tambores,
Exploses,
surda
artilheria ao
longe,
a
uivar...
Sete
cores
vestindo,
entre
o
co
e
entre
o
mar,
Um grande
arco
triumphal
refulge.
Vencedores
E
vencidos
quaes
so
nesta
dentre as
maiores
Maior
batalha? qual, de todos
singular,
O
here ou
semi-deus
na
peleja
sem
par?
O
grande
arco
triumphal
brilha
comi as sete
cores.
E'
a
apotheose.
Esperae.
Mais uns
momentos,
e
esse
A
quem
cinge a
cabea
a
estemma
da
victoria,
Rei dos
reis,
sol
dos soes,
alli
vereis passar.
Mas no
o attinge
o
nosso olhar em
sua
gloria.
Vae-se.
Ainda um
canho
troa.
Desapparece
Do
grande arco triumphal
a
architectura no
ar.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
68/260
66
POESIAS
FEIRA
DE IRRACIONAES
(De
um
poeta
akabe)
V
por qual
mais te inclinas
Destes
dois
animaes,
Ambos
irracionaes,
Ambos
de
longas
clinas
Preferes
a
mulher?
o
cavallo
preferes?
O
cavallo
o
melhor
de
todos os cavallos,
E
mais
bella
a
mulher
de
todas
as mulheres.
Hesitas
?
Leva
ento
os dois
: pe
garupa
Do cavallo a mulher,
e por
brenhas
e
vallos
Vae, amigo, upa
upa
A
correr,
a correr
Com o
cavallo
e
a
mulher.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
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ALMA E
CO
67
EM SANTA
THEREZA
No
dia
de
annos
de
Irene,
Depois
de
tarde
sombria,
Chuva
grossa
e
vento
infrene,
Luar
magico
apparecia.
Deixmos
luzes
da
mesa,
Para
ir
vel-o
do
jardim.
L
em
cima em
Santa
Thereza,
Que
bella
uma
noite
assim
Com
os seus mil fogos,
embaixo
A
cidade
se estendia.
Fogos
inteis
que
um
facho
Maior
a
tudo alumia;
-
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68
POESIAS
Casas
alumia
e
montes,
Montes
alumia
e
mar.
Mar
alumia,
horizontes
E
cos,
sereno
a
brilhar.
Olhava-o
d'ao
p
da
escada,
Quando
chegaste,
Maria,
Nervosa
mo
delicada
Oue
me
estendeste,
tremia.
Vinhas
sem
esse
que
presa
Te
quiz
de seu
nscio
amor,
E
te
ensombrou
de
tristeza
Os
teus
vinte
annos
em
flor.
Fomo-nos
para
o
terrao,
Onde
por
columna
esguia,
Todo
jasmins,
num
abrao
Um
jasmineiro
subia.
Virao,
que
de
costume
Ahi
corre,
vinda do
co,
Perfumes
num
s
perfume
Juntou
de
jasmins
e
teu.
-
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ALMA B CO
69
Era
a
minh'alma, e
era
a
tua,
Que
o
mesmo
desejo
unia...
Mas passou
no
co
a
lua,
Passou
da
noite
a
magia,
Passou
o sopro
fagueiro,
Assomo
de
amor passou,
Passou
dos
jasmins
o
cheiro,
O teu
algum
o
aspirou...
Brilhe
o
co como
brilhava,
J
lhe
ho
acho
poesia.
Ah
se eu
tornasse
onde
estava
Com o
luar que
ento fazia
-
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-
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-
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72
POESIAS
Priso
o
espao,
priso o
mundo
Gaiola
grande
que
prende
e
encerra
Tudo,
homens,
bichos,
o
mar
c
a
terra.
E
dos
dois mundos,
o
enorme,
o
vario
Mundo
de
todos, trreo
e
celeste,
E
o
seu,
s
delle,
melhor
este.
IV
Canta.
Cantando,
feliz canrio.
Dizer
parece:
Vs,
a
quem
vejo
Voando
mais
largo, no vos
invejo
Certo
agradvel com as leves pennas
E'
ir
singrando,
singrando,
aos
pares,
Acima
e
abaixo
por estes
ares.
Mas,
amiguinhos,
a
quantas penas
Andaes
expostos e
a
que
ciladas
Alapes tredos,
tiros, pedradas...
-
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ALMA
B OO
73
E
quantas
vezes
no vos
assalta
O
inverno,
e
s
chuvas, papo vasio,
Rolaes
transidos
de
fome
e
frio
Captivo
embora,
nada
me
falta,
Suppre-me
em
tudo
quem
me
consola
Com
o
seu
carinho.
Viva
a
eaiola
-
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-
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ALMA
E
CO
?
5
II
MARIA
DA
GLORIA
Maria
da
Gloria,
a
gloria
Que
buscamos,
illuso.
Nesta
vida
transitria
Somente
ha
uma
gloria:
a
gloria
Do
corao;
Gloria,
Maria
da
Gloria,
Que
vae
aonde
as
mais
no
vo;
As
mais
dos
homens
na
historia
Ficam;
esta
excelsa
gloria
Sobe
onde
os
Anjos
esto.
De
outra
Maria
da
Gloria
Apprendi
esta
lio:
Gloria
eterna
e
meritria
Somente
uma
existe:
a
gloria
Do
corao.
-
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76
POESIAS
III
VELAS
NO
MAR
Sonhos...
Por que
chorar
os
que
se
vo
embora?
Outros logo
viro,
para se
irem
tambm
Sonhos que vo...
sonhos
que
vm.
E'
isto o nosso mar,
em
que
vs
barra
a
fora
Sahindo,
e
entrando
a
um
tempo,
s
mil,
em confuso,
Velas que
vm
. .
.
velas que
vo.
-
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ALMA
E
OO
77
IV
TRADUZINDO
UMA
QUEIXA
O
melhor
dos
amores
dura
um
dia
Ou
pouco
mais;
neste
pequeno
espao
Todo
elle
cabe,
todo
se
irradia,
Sem
tristezas,
sem
pausas,
sem
cansao.
Sc
vae
alm,
das
asas
com
que
outrora
O
fabularam,
como
fresca
espuma
Bolha a
bolha
se
apaga,
de
hora
em
hora
Vo-lhe
as
plumas
cahindo
pluma
a
pluma.
Se
indaalm
vae,
perde
de
todo
as
pennas,
No
va
mais
;
adeus,
alturas e
astros
Pisam-no
aos
ps
em
casa,
vive
apenas
Como
animal
domestico,
de
rastros...
-
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-
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ALMA E
CO
85
Tambm
de
alguns
a
quem
hospedes
receber
Em teu seio
quizeste
e
pesar
em
prazer
Lhes
mudaste
e
em
sorriso
a
lagrima
ou
gemido,
Nestas
aves
talvez
torna
reconhecido
O
espirito,
a
lembrar a
ventura fugaz
De
horas,
que
todas
viu
se
lhe
escoarem em
paz,
Repouso,
lhano
achego
e
serena
alegria.
Possa
eu
como
esses
ser
possa
mimYalma
em
dia
Que o corao
me diz
no
vir
longe,
talvez,
Tambm
aqui
tornar,
e
vr-vos outra
vez,
Andorinhas
do
co
de
Campinas
Vestida
De pennas
como
vs,
os
momentos
de
vida
Aqui vividos, possa
acaso
recordar
Doudeje
como
vs
na
pureza
deste ar;
Sobre
a
cidade
e
sobre
as
arvores vizinhas
Paire
tarde comvosco, leves andorinhas
E
comvosco no
pouso
hora
em
que
a
noite vem,
Durma
e sonhe
feliz
andorinha
tambm.
-
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86
POESIAS
SUAVIDADE
(Amado
Nervo)
Affiz-me
ha
tanto
a assim
viver
penando
Que
hei-de
acabar
tranquillo
e
sem
queixume.
A
minha dr
continua
como um gume
Que
fora de
cortar
se
vae
gastando.
Torva ao
principio,
agora
quasi
leda,
Ella me
segue
pelo
meu deserto;
Dos males o cilicio
em
que me
aperto,
Foi
de
crina
algum tempo,
hoje
de
seda.
Tristeza
de
hontem ora
me
fluctua
Vaga
e
do mundo
vo
foge os
alardes;
Alguma
cousa
tem
do
fim
das
tardes,
Alguma
do
ether ou pallor
da
lua.
-
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92
POESIAS
FORMIGUINHA
Desta
velha janella
exigua
fresta
Elegeu
por
morada
uma formiga.
Ao peitoril,
como
por
praa
antiga,
Se
de
passeio,
a
vr
o
sol.
em
festa.
Foge
ao
menor
rumor, lpida e lesta,
(Lembrando-me,
permitte
que
t'o
diga,
A
almazinha que
tens,
querida
amiga,
E
que
a
todos
se
esquiva
por
modesta).
Se
surprehendida
acaso
e o
tempo
estreito
Para
tornar,
fugindo, frincha
escura,
Sbito estaca...
nem
um
passo
alm
E ruiva
como
a
luz,
e de
mistura
Com a
luz,
na
luz se
some
de tal
geito,
Que
estando
vista,
no
a
v
ningum.
-
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ALMA
E
CO
99
Se
o
no cedes
ao
Bem.
,Elle
ouve e
de
improviso
Illumina-lhe
o
rosto
espiritual
sorriso...
Desde
hoje o
que
possuo,
santa
Caridade,
E'
teu
diz
leva-o, d-o
misera
orfandade,
Veste-a,
agasalha-a
bem,
e
satisfeito
expiro.
Seu
espirito
aqui
paira
neste
retiro,
Nesta
casa
que
sua. A
recordar-lhe o
exemplo,
Entre
as
bnos
que
inspira,
amemol-o em seu
templo
-
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-
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ALMA R CO
101
Salve, Poetisa
montevideana,
cheia
de
graa
Teu
livro
as
horas
Ao
que
o
l
doura-as,
resplandecendo
como
uma
aurora;
Aurora
irm
Da
que
enche
os
cos
e
nciles
irradia.
s
tu, em
quem
presinto
o
grande
dia
Que
has
de
ser
amanh.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
104/260
102
POESIAS
LTBELLULA
flor
da agua
do tanque ou
da
corrente
Va
a
fugaz
libellula
erradia
De
asas de
vidro
e
prata,
flor somente,
Que, como
vivo
espelho, arde
e
irradia;
Somente
flor...
Que
importa, refulgente,
Ao fundo algum thesouro
lhe sorria,
Ouro haja,
ou
lama?
Passa
indifferente,
Folga,
doudeja, toda
se
extasia
flor.
.
.
que
isso
lhe
basta ao
leve
e
brando
Voo:
tremula
e
clara
reflectida
Na
agua acenando-lhe
a
illuso
celeste.
Como
que sabe,
flor
somente voando
Que
aprofundar
as cousas,
como
a
vida,
E'
tirar-lhes
o
encanto
que
as reveste.
-
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-
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106
POESIAS
AVES
NO
POUSO
So
aves que
se recolhem
Para dormir
seu
leve
somno.
Umas escolhem
grimpas de
arvoredo
E
ahi ficam, como num throno;
Outras
pousam mais
baixo;
outras
escolhem
Baixando
do
ar,
Os
penhascos do mar.
Inda
conversam em segredo,
Asas
agitam,
Piam,
atitam.
.
Mas adormecem.
Horas suaves
As
do
repouso,
aves
Pudesse eu,
como
vs,
tendo cansado
De tanto a um
lado e
outro
lado
Andar,
a
ir
e
vir,
Tambm
dormir
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
109/260
ALMA E
CO
107
VELHICE
Velhice
Amigo,
diz-me
um
amigo,
Diz, e
verdade:
Sabe
que a
boa
idade
a
ultima
idade,
E
s
bem
feliz
de
envelhecer
commigo.
Poucos
vingam
o
cimo
em
que
ora
estamos;
Arvores
altas,
no
nos
toca
os
ramos
O
sopro
mo
que
ahi
em
baixo
as
mais
agita.
Bemdita
e
rebemdita
A
idade
austera
e
nobre a
que
chegamos.
Diz, e
verdade.
.
Mas
que
saudade
Das
horas
loucas
da
mocidade
Velhice
Amigo,
diz
inda
o
amigo,
Diz, e
verdade:
Ha
nada
igual
a
esta
serenidade?
Fora
de
ns
o
amor
tredo
e
inimigo,
Vemos
que
longe
indmita
rebenta
E
rola
em
mar
de
nuvens
a
tormenta.
-
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-
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111/260
-
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112/260
110
POESIAS
Morra...
A tarde
ao
cahir
me
tome
ao
seio,
Seja-me o seu
claro
camar
ardente;
Yistam-me
os
esplendores
do
Occidente,
Setins do azul,, purpuras do
arrebol.
Morra... E
antes
de
em sitio
escuro
e
feio
Jazer,
deixem-me
um
pouco
socegado,
A
dormir
em meu
fretro
dourado,
Que
o
meu dia
de
sol.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
113/260
CHEIRO
DE
FLOR
(NOTAS
DE
UM
VERANISTA)
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
114/260
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
115/260
wwwwwwwwww
22
de
Janeiro.
No alto, cintado
de
nuvens
Relampejantes,
ao
morrer
do
dia,
Emerge,
sobranceiro
a
tudo,
o
pncaro
Da
serrania.
Vejo-o
daqui
do
hotel
desta
cidade
Onde
cheguei
ha
pouco.
Olho-o
e
medito.
L
se
ficou, toda
incommodidade,
Com seu
p,
seu
calor
e
seus rumores,
A
grande Capital
;
aqui, silencio, flores,
O
ar puro
e
este contacto com
o
infinito.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
116/260
114
POESIAS
23
de
Janeiro
Trovejou toda
noite.
Em
rebramir
que
ateira,
Horrveis
os
troves
desde
este
alto
de
serra
Ao
seu
mais
fundo
abysmo abaixo
retumbando.
Algum tempo fiquei
o
espao
em
frente olhando,
Golpeado
do
claro
dos
relmpagos.
Ora
Chove. Que
manh
feia
Lispaireamos fora.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
117/260
CHEIRO
DE FLOR
115
Chove, no
cessa,
no cessa
o
vento;
de
quando em
quando
Trova
;
pelos
vrios declives,
s
enxurradas,
As
aguas
descem
de
salto
cm
salto,
cantarolando.
Passam levados
ramos
e pedras, passam levadas
Folhas
e
flores;
chuva
os
fios
se
entrecruzando,
So
como
teias
de
aranhas, fluidas
e
emmaranhadas.
Com mais
violncia
rasgam-se
as
nuvens em
negro bando
E
tudo
molham, portas,
janellas,
varanda,
escadas.
As
aguas
descem de salto em
salto,
cantarolando.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
118/260
116
POESIAS
Entrei
na
sala
de
jantar.
Jantava-se.
Homens,
mulheres,
Crianas,
garons,
tinir
de
pratos
e
talheres.
Olhei.
Olharam-me.
Indagam quem
eu
sou
provavelmente.
Eu
ningum
vejo
ou s, entre
as
mais, vejo
uma
hospeda
Que
tinha
em
frente:
Cabellos
cr
de
sol,
alvo
elio entre prolas,
Olhos,
lbios,
nariz,
Tudo
perfeito;
mos
lirios
de
cinco
ptalas,
Como
em
verso
no
sei
quem diz;
Para que
descrevel-a?
bella
bella
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
119/260
CHEIRO
DE FLOR
117
24
de Janeiro.
Chama-se
ouvi-lhe
ha pouco
lena
e
no
Helena,
lena,
italiana,
lena
sem
H.
Pobre letra mo fado
hoje
a
expelle
e condemna,
Em tanto
nome
vae cahindo
e
intil
j,
Que
at
o
da
mulher
entre
ns
soberana,
Por
ser to
bella,
Ficou
sem ella.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
120/260
118
POESIAS
25
de Janeiro.
Pia,
grunhe,
regouga,
ulula
o
piano.
Ferve
a dansa no hotel.
Ao ruido insano
Do
horrendo monstro
juntam-se
os
rumores
Que
vm
das salas
e
dos
corredores.
Se no fora
o
mlo
tempo, era remdio
Passear
fora, fugindo,
a tanto tdio,
Mas
chove,
chove
impertinentemente,
Continuamente,
ininterruptamente.
Que noite
vou
passar,
sem um
amigo,
Sem distraco,
ssinho
aqui commigo,
Sem outrem
com quem
fale,
eu que no danso,
Eu
que no
jogo,
ouvindo sem descanso
Cahir l
fora
a
chuva
inexhaurivel
E aqui
no
hotel
este barulho horrivel
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
121/260
CHEIEO
DE
FLOR
H9
27
de
Janeiro.
Fugindo
aos
estos do
vero
doentio,
Veio,
mudando
de ar,
melhor
sade
Beber nestes
mil
metros
de
altitude,
Onde ha
um
frio
europeu
em
pleno
estio.
Acha
tudo
isto
inspido,
sadio,
Talvez
que
mesmo
potico,
mas
rude;
s
distraces
que
ha na
cidade
allude,
Lembra
as
amigas
que
deixou
no
Rio.
Mas o
calor
?
Ora,
o
calor
nem
tanto
Viera
porque
seu medico
o
mandara.
E
os
olhos
de
saphira
transparente,
Assim falando,
tm
o
brilho
e
encanto
Que
ha
nas
aguas
azues
de
Guanabara,
Quando o
dia
mais claro
*e
o
sol
mais
quente.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
122/260
120
POESIAS
30
de
Janeiro.
Em
frente
delia,
a
hospeda
saudosa,
No
salo
de jantar
me fica
a
mesa;
Somente entre
ns
ambos
ha
uma ingleza
Sardenta
e ruiva
e uma senhora
idosa.
E'
de
todas
do
hotel
a
mais formosa;
No
lhe
diz
de seu rosto
o ar
de
tristeza
Com
a
cr
do
trajo,
um
dia
azul
turqueza,
Outro
vivo
salmo
ou
cr
de
rosa.
Dos
braceletes
o
ouro
em
brilho
quente
Morde-lhc
com volpia
os lisos
braos,
Cndido
o
elio,
onde ha
uma
cruz
pendente.
Nem
um
seno
no todo
delia
existe.
E'
bella.
Em
toda
a
sala
olham-na
a
espaos
Moos,
damas,
ancios...
Mas
porque
triste?
-
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123/260
-
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124/260
122
POESIAS
M.
F.
2
de
Fevereiro.
Veio
para
morrer
neste alto;
me lhe
ouvi
Que
o
caminho
do
co fica
mais curto
aqui,
E'
s
um vo,
ou s
questo
de
um
mez,
se tanto.
Tuberculosa,
e
s
tem
quinze
annos
Magdala
E*
seu
nome.
Falei-lhe.
As
sombras
vespertinas
Lentas
entravam
j
pela
deserta
sala
E desfiavam
os
sons
de
soluado pranto
Fora, tangidos
do ar, uns
ps
de
casuarinas.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
125/260
123
CHE1K0
DE
FLOR
3
de
Fevereiro.
Ver
Imbuhy
Fomos
vl-a
hoje,
a
cascata
Lente
joulada
de
estrellas,
Vestida
de
alvor
de
luar.
Sobre
ella
arbustos
e
arvores
a
matta
Inclina
e
a
agreste
accia
as
amarellas
Flores
desfolha
no
ar.
O
grosso
rio
alli,
de
trs
formado,
Precipita-se
em
tremenda
Queda
no
abysmo
sem
fim.
Tece-lhe
a
espuma
fofo
cortinado,
Como
outro
nunca
viu
de
nivea
renda
Leito
nupcial
assim.
De
volta,
esse
docel
alvinitente
Lembro,
e
quella
cujo
rosto
Nessa
excurso
me
sorri,
Ouo
que
o
tinha
ella
tambm
presente
E
lh'o
invejava
na
belleza
e
gosto
cascata
de
Imbuhy
.
.
-
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124
POESIAS
5
de
Fevereiro.
hora
do correio.
De
quemi
ser,
pergunto
a
cada
instante,
A
carta
que lhe
veio?
Ser
do
noivo?
Ter
noivo?
amante?
Leu-a,
depois
no
seio
Guardou-a,
ao
p
da cruz
de ouro
e
hrilhante;
Agora
ledo
e cheio
De
gracioso
sorriso
o
seu
semblante.
Ri-se,
ri-se-me,
como que
a
ventura
Querendo
ou alegria,
que ora sente,
Commigo
se
reparta.
Generosa amiguinha
ingnua
e
pura
Folgo
tambm
com vel-a
assim
contente.
Mas
de quem
a
carta?
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
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CHEIRO
DE
FLOR
125
7
de
Fevereiro.
O
meu
ultimo
pensamento
Hontem,
antes
de
adormecer,
Xo
foram
nem
podiam
ser
Os
morangos
que
nos
serviu o
hotel
sempre
avarento.
Xo
foram
dessa
guerra
assombros
Que
se
contam
descommunaes
Eu
hoje
dou a
tudo
de
hombros,
Pouco
me
importam
paz
ou
guerra,
e
no
leio
jornaes.
No
foi F.
com
o
seu
namoro,
E
escandalosamente
X
Aos
beijos
com...
ao
que
se
diz
Ou
dizem-no
alto
e
bom
som
os
hospedes
em
coro.
O
meu
ultimo
pensamento,
Fique
bem
annotado
aqui,
Foi
ella.
o
meu
doce
tormento:
Vinte
vezes
disse o
seu
nome
lena
adormeci.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
128/260
126
POESIAS
io
de Fevereiro.
lena
outra,
lena ri-se agora
Continuamente,
e
assim
graciosa,
ao vl-a,
Rimo-nos,
ri-se tudo
em
torno
delia,
Do riso seu
vibrao
sonora.
Ri-se
na
sala
um
busto,
uma
aguarella
E
num
quadro
suspenso
uma senhora
De
culos.
Ri-se
o
espelho
que
a
namora
E
parece dizer-lhe
:
s bella
s
bella
Ri-se
de
cima
a
baixo
o
reposteiro
Que a
virao
refranze,
e
deixa em
festa
Entrar
das
malvas
da
varanda
o
cheiro.
A luz
do
dia
auri-azulado
e
lindo
Ri-se
pela vidraa,
e os
vidros desta,
Inda
foscos
de
orvalho,
esto-se
rindo.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
129/260
CHE1B0
DE
FLOR
127
li
de
Fevereiro.
Passeamos
juntos
eu e
ella
Toda
esta
tarde.
Como
bella
Luzem-lhe
nos
olhos,
riem-lhe
nos
lbios,
Cantam-lhe
na
fala.
fremem-lhe
no
peito,
Saltam-lhe
no
sangue,
lume.
effluvio,
encantos,
Attraco,
mysterio,
fora,
herosmo,
gloria,
Os
seus
vinte e
trs
annos
. .
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
130/260
128
poesias
CARNAVAL
li
horas da
noite.
que
alli
soffre
e
cuja
tosse
rouca
Ouo
da
pobre me
por
entre
o
pranto,
Emquanto
o
hotel
todo
festa,
emquanto
Ha um
galanteio
e
um
riso
em
cada
bocca;
A
que
talvez nem
possa a
claridade
Vr do
sol de
amanh
neste co
frio,
Um
triste
pensamento
de piedade
Que
antes de
adormecer
daqui
lhe
envio.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
131/260
CHEIRO
DE
FLOR
129
17
de
Fevereiro.
Nunca
lhe
disse
o
que
por
ella
sinto,
Nunca
lh'o
hei
de
dizer,
E
digo-o
a tudo.
digo-o
ao
seu perfume
Que
ficou
por
onde
ella
passa;
Disse-o
a uma flor
que
lhe
cahiu
do cinto
Na
varanda,
ao escurecer,
A
um
rude
banco
onde
ella
esteve,
disse-o.
Digo-o,
suppondo-os
ser
seu
rir
que
esvoaa,
A
toda
borboleta
ou
vagalume
Digo-o
ella
meu
enlevo
e
meu
supplicio
Em
calma
ou
em
excitao,
Digo-o
falando
ou
mudo,
Digo-o
em sonho
e
accordado,
A tudo
o
tenho
dito
e o
digo
a tudo...
A
ella,
no.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
132/260
130
POESIAS
18
de
Fevereiro.
No dormi.
Ao
relgio
hora
e
mais hora
Ouo.
Queima-me
a
febre,
rinjo os
dentes;
Saio de
em
meio
dos
lenes ardentes
E
escrevo,
nsia
de
amor
que
me
devora
A l(
Porque no tive
o
meu ser
Em
teu
ser,
e
em ti captivo,
Vida
houvesse
qual no vivo,
Vivendo
de
teu
viver?
Porque
no
fui
eu
ao
menos
Parte
do corpo em que existes,
Ncar
de
teus lbios tristes,
Alva
dos
olhos
serenos?
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
133/260
CHEIRO
DE
FLOR
131
Jaspe
nessa
bcca
em flor,
Rubi
nesse
sangue
ardente,
Ida
na
tua
mente,
Em teu
corao
amor ?
Tal
o
desejo cruciante
De ser
teu,
de
pertencer-te,
De
todos
os
dias
vr-te,
De
tocar-te
a
todo
instante
De
comtigo aqui,
alli,
Onde
te
achares, achar-me...
Ah
que
eu
no
possa
annullar-me.
Sumindo-me
todo em ti
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
134/260
132
i
de
Fevereiro.
Ha uma
essncia
que
ella diz do
Oriente,
Mas
no
lhe
diz
o
nome ao
que
a
prepara,
Caron,
Guerlain,
talvez...
essncia rara,
Leve e
subtil, embriagadora
e
quente.
Ntanca a
senti
seno
nella somente,
Como
se
aos
poros da
epiderme
clara
Lhe viera
ou
de
si mesma
se
exhalara,
Qual
a
da
flor
no
matutino ambiente.
E'
o
cheiro
delia,
delia
quando
o
passo
Lhe
ouvimos,
delia
quando
acceita
o
brao
A aleuem
da
sala
e
a
rir-se
os
dois
se
vo;
Sei por
seu
cheiro
ou
descobrir
acerto
Se
est
no
hotel,
se
ausente, longe
ou
perto,
E sei
at
quem
lhe
apertou
a
mo.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
135/260
CHORO DE FLOR
133
20
de
Fevereiro.
Noite de
chuvas
e
ventanias.
Rajadas
frias
Sibilaram,
sibilam, sibilando
Passam
De
quando
em
quando
Xo
quarto
a ss,
Em
suas
pausas ouo uma
voz,
Uma
voz triste,
lamentoso choro
Longo
e
sonoro,
Flebeis surdinas
De
eoleas
harpas.
. .
So as
casuarinas,
So
as trs
casuarinas que
alli
em
frente
Da casa onde
agoniza
a
pobre
doente,
Espectraes
uivam, rumorejando
plangentemente.
-
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136/260
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
137/260
CUEIRO
DE FLB
135
22 de
Fevereiro.
Entrou
na
sala.
Olham-no
em roda
Os
que
alli
esto, a
sala
toda:
Quem ?
Fim de
jantar;
no
centro,
aos
lados,
Homens,
senhoras,
uns
sentados,
Outros de
p.
E'
um rapaz
lpido,
franzino,
Com
muito
em si de
feminino,
E
at
Vistosas
nalgas.
Alvoroo
Entre
as
mulheres :
Lindo
moo
Quem ?
quem ?
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
138/260
136
24
de
Fevereiro.
lena
e
o
recemvindo
hora
e
mais
hora
Passeam
fora
Na
varanda
e
jardim.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
139/260
CHEIEO
DK
FLK
137
25
de
Fevereiro.
lena
arrebatou-o
Ou
elle a
ella.
Esto
Sempre
juntos.
Num
vo
Vo-se,
como
nurfi
vo os
pssaros
se
vo.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
140/260
138
POESIAS
26 de
Fevereiro.
Vi-os
juntos em passeio
A
ponte
ao
rio
transpor;
Elle
e
ella
ambos ao
seio
Traziam
a
mesma
flor.
Vi-os
juntos
junto
matta,
Ao
p
dos
bambuaes
sombrios;
Tornando
cascata, vi-os
Junto
cascata.
Oh meu
sonho
de
demente
Oh
meu
docel nupcial,
Rasgou-te
ella de
repente,
Como
nvoa o
temporal
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
141/260
CHEIRO
DE
FLOR
139
Vi-os
juntos
que
cuidados
De
um
com
o
outro
que
carinhos
Vi-os
juntos
abraados
Os
dois
ssinhos
Vi-os
vi-os
mas
pergunto
Agora,
cahindo
em
mim:
E'
mal
andar-se
assim
junto,
Juntinho
assim?.
.
-
7/25/2019 Alberto de Oliveira Poesias Quarta Serie
142/260
140
POESIAS
Noite
estrellada
Que daqui
vejo
de meu quarto,
ansioso,
D-me
teu calmo,
teu
sidreo
goso,
Deixa-me
olhar-te
na amplido
sem fim
Quero
esquecer.
.
Mas
no,
no vejo nada,
Um
ruido
infernal
me
prende
terra,
Discute-se
no
hotel
a
grande guerra,
Um
arenga,
outro
grita,
um