poesias eternizadas

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Eu quero ser D. Quixote Fernando Peixoto Para amarmo-nos Fernando Peixoto Memória Carlos Drummond de Andrade Coletânea escolhida I Carlos Drummond de Andrade Coletânea escolhida II Carlos Drummond de Andrade Duas poesias de Gilka Machado Eterno Vinícius de Moraes Mário Quintana... dos meus arquivos Quatro poesias de Giuseppe Ghiaroni João Guimarães Rosa Paulo Leminski Fernando Pessoa ... coisas Uma grande paixão Pablo Neruda A loucura do poeta - Fernando Peixoto Reflexão Fernando Peixoto O Evangelho segundo o poeta Fernando Peixoto Meus oito anos Cassimiro de Abreu O que é Simpatia (A uma menina) - Cassimiro de Abreu Economia Giuseppe Guiaroni Coletânea escolhida J. G. de Araújo Jorge Quatro poemas de Machado de Assis Dois poemas de Gonçalves Dias Três poesias de Olavo Bilac Três poesias de Olegário Mariano

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Page 1: Poesias eternizadas

Eu quero ser D. Quixote – Fernando Peixoto

Para amarmo-nos – Fernando Peixoto

Memória – Carlos Drummond de Andrade

Coletânea escolhida I – Carlos Drummond de Andrade

Coletânea escolhida II – Carlos Drummond de Andrade

Duas poesias de Gilka Machado

Eterno Vinícius de Moraes

Mário Quintana... dos meus arquivos

Quatro poesias de Giuseppe Ghiaroni

João Guimarães Rosa

Paulo Leminski

Fernando Pessoa ... coisas

Uma grande paixão – Pablo Neruda

A loucura do poeta - Fernando Peixoto

Reflexão – Fernando Peixoto

O Evangelho segundo o poeta – Fernando Peixoto

Meus oito anos – Cassimiro de Abreu

O que é Simpatia (A uma menina) - Cassimiro de Abreu

Economia – Giuseppe Guiaroni

Coletânea escolhida – J. G. de Araújo Jorge

Quatro poemas de Machado de Assis

Dois poemas de Gonçalves Dias

Três poesias de Olavo Bilac

Três poesias de Olegário Mariano

Page 2: Poesias eternizadas

EU QUERO SER D. QUIXOTE

Vou desfiando o rosário

dos anos que vão passando.

Viro a folha ao calendário:

doze meses me esperando

acalentam novos sonhos com dias bem mais risonhos

que os que se foram gastando

na escalada da Vida

em que sempre fui teimando.

As cores com que me acenam,

as promessas de bonança,

não serão peças que encenam

no Teatro da Esperança?

Não será o Novo Ano

mais três actos de ilusões nesta comédia de engano

que traz, ao cair do pano,

consigo mais frustrações?

Sei que parto em desvantagem

imitando D. Quixote

pra esta incerta viagem

em busca de melhor sorte,

sei que a força é desigual

lutando contra a voragem

dos que se aliam ao Mal

para obterem vantagem.

Mas hei-de encontrar coragem

para saber distinguir

nos mistérios dos caminhos

as visões alucinantes

com que me irão confundir:

Page 3: Poesias eternizadas

― o que vejo são gigantes

que me tentam iludir

ou não passam de moinhos?

Vou evitar enredar-me

nas malhas de nova teia

e fugir para furtar-me

ao desejo que estonteia

de, parado, extasiar-me

nesse canto de sereia

que tentará afogar-me

roubando-me a Dulcineia.

Se quero Sancho ao meu lado é porque a sua sageza

é o saber validado

pela própria Natureza:

é saber equilibrado

a suster o desvario

chamando-me à razão

quando dela me desvio.

Rocinante há-de ensinar-me

nessa doce pacatez

a caminhar devagar:

- cada passo em sua vez. E nessa sabedoria

que só a idade acrescenta

descobriremos a via

de que a Vida se alimenta.

Seguirei, pois, os caminhos

(por vezes os mais distantes)

que me segrede a Razão.

Que eu prefiro ver moinhos

e dar combate aos gigantes

que me toldam a visão.

Se há algo que me alicia

a tomar a decisão

de frente e de forma audaz

que, creio, serei capaz,

é não crer que é utopia

dar aos outros minha mão

para alcançarmos a Paz.

Nesta crença me renovo

E me torno inda mais forte:

Quero mesmo um ano NOVO! EU QUERO SER D. QUIXOTE!

FERNANDO PEIXOTO

31 de Dezembro de 2007

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Page 4: Poesias eternizadas

PARA AMARMO-NOS

Que sirva sobretudo o nosso amor

para mudar o que anda à nossa volta, porque eu não posso amar com tanta dor

que acende no meu peito esta revolta.

Não quero sublimar o meu prazer

olhando para o lado, em detrimento

do que vejo, do que me faz doer,

e me traz a náusea, o sofrimento.

Para amarmo-nos temos de sentir

e traçar claramente a nossa sorte.

Para amarmo-nos temos de partir

numa luta contínua contra a morte.

Só então teremos o direito

de olhar de frente o mundo em desafio

buscando um ser mais livre e mais perfeito

terminando com este desvario.

Teremos de vencer este cansaço

que empurra o nosso corpo à letargia

e darmos nossas mãos, o nosso abraço

para erguer no Futuro um Novo Dia.

Amando desta forma travaremos

o cruel apetite da cobiça

e só das nossas mãos suspenderemos

o fiel da balança da Justiça.

FERNANDO PEIXOTO

Portugal, 06.01.2008

Início

Page 5: Poesias eternizadas

Memória

Amar o perdido

deixa confundido

este coração.

Nada pode o olvido

contra o sem sentido

apelo do Não.

As coisas tangíveis

tornam-se insensíveis

à palma da mão

Mas as coisas findas

muito mais que lindas,

essas ficarão.

Início

Page 6: Poesias eternizadas

Além da Terra, Além do Céu

Além da Terra,

além do Céu,

no trampolim do

sem-fim das estrelas,

no rastro dos astros,

na magnólia das nebulosas.

Além, muito além do sistema solar,

até onde alcançam

o pensamento e o coração,

vamos!

vamos conjugar

o verbo fundamental essencial,

Page 7: Poesias eternizadas

o verbo transcendente,

acima das gramáticas

e do medo e da moeda e da política,

o verbo sempre amar,

o verbo pluriamar,

razão de ser e de viver.

AUSÊNCIA

Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim.

Ainda que mal

Ainda que mal pergunte,

ainda que mal respondas;

ainda que mal te entenda,

ainda que mal repitas;

ainda que mal insista,

ainda que mal desculpes;

ainda que mal me exprimas,

ainda que mal me julgues;

ainda que mal me mostre,

ainda que mal me vejas;

ainda que mal te encare,

ainda que mal te furtes;

ainda que mal te sigas,

ainda que mal te voltes;

ainda que mal te ame,

ainda que mal o saibas;

ainda que mal te agarre,

ainda que mal te mates;

ainda que mal te pergunto,

e me queimando em teu seio,

me salvo e me dano: amor

Page 8: Poesias eternizadas

MÃOS DADAS

Não serei o poeta de um mundo caduco.

Também não cantarei o mundo futuro.

Estou preso à vida e olho meus companheiros.

Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.

Entre eles, considero a enorme realidade.

O presente é tão grande, não nos afastemos,

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,

não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,

não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,

a vida presente.

DESTRUIÇÃO

Os amantes se amam cruelmente

e com se amarem tanto não se vêem.

Um se beija no outro, refletido.

Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados

pelo mimo de amar: e não percebem

quanto se pulverizam no enlaçar-se,

e como o que era mundo volve a nada.

Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma

que os passeia de leve, assim a cobra

se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.

deixaram de existir, mas o existido

continua a doer eternamente.

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Page 9: Poesias eternizadas

By: Carlos Drumond de Andrade.

Não serei o poeta de um mundo caduco.

Também não cantarei o mundo futuro.

Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.

Entre eles, considero a enorme realidade.

O presente é tão grande, não nos afastemos.

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,

não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,

não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,

não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,

a vida presente.

RECEITA PARA NÃO ENGORDAR SEM

NECESSIDADE DE INGERIR ARROZ

INTEGRAL E CHÁ DE JASMIN

Carlos Drummond de Andrade

In: Poesia errante

Pratique o amor integral

uma vez por dia

Page 10: Poesias eternizadas

desde a aurora matinal

até a hora em que o mocho espia.

Não perca um minuto só

neste regime sensacional.

Pois a vida é um sonho e, se tudo é pó,

que seja pó de amor integral.

by Carlos Drummond de Andrade

―Se procurar bem você acaba encontrando.

Não a explicação (duvidosa) da vida,

Mas a poesia (inexplicável) da vida.‖

by Carlos Drummond de Andrade

"... Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada,

aconchegada nos meus braços, que rio

e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim."

AS SEM RAZÕES DO AMOR

"Eu te amo porque te amo

Não precisas ser amante,

e nem sempre sabes sê-lo.

Eu te amo porque te amo.

Amor é estado de graça

e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,

é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse.

Amor foge a dicionários

e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo bastante ou a mim.

Porque amor não se troca,

Page 11: Poesias eternizadas

não se conjuga, nem se ama. Porque amor é amor a nada,

feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,

e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam)

a cada instante de amor."

AMOR E SEU TEMPO

Amor é privilégio de maduros

estendidos na mais estreita cama,

que se torna a mais larga e mais relvosa,

roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,

o prêmio subterrâneo e coruscante,

leitura de relâmpago cifrado,

que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço terrestre,

salvo o minuto de ouro no relógio

minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,

depois de se arquivar toda a ciência

herdada, ouvida. Amor começa tarde.

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Page 12: Poesias eternizadas

Gilka Machado

(1893/1980)

Pelo telefone

Ignoro quem tu és,

de onde vens,

aonde irás;

amo-te pelo enigma pertinaz

que em ti me atrai e me intimida,

por essa música mendaz

de tua voz

que alvoroçou minha audição

e me vem desviando a vida

de seu destino de solidão.

Ignoro quem tu és,

de onde vens,

aonde irás...

Fala-me sempre,

mente mais;

não te posso exprimir o pavor que me invade,

as aflições que me consomem,

ao meditar na triste realidade

de que deve ser feita

essa tua alma de homem.

Ignoro quem tu és,

de onde vens,

aonde irás,

audaz

desconhecido;

tua palavra mente ao meu ouvido,

mas não mente essa voz que me treslouca!

— Ela é o amor que me chama por tua boca,

num apelo tristonho,

Page 13: Poesias eternizadas

de saudade;

é a exortação do sonho

à minha rara sensibilidade.

Ignoro quem tu és,

de onde vens,

aonde irás:

amo a ilusão que tua voz me traz.

a falsidade em que procuro crer.

Fala-me sempre, mente mais,

que de mim só mereces tanto apreço,

ó nebuloso, porque desconheço

as humanas misérias de teu ser!

Mas nesta solidão a que me imponho,

quando quedo em silêncio

a te aguardar a voz,

como se torna teu enigma atroz,

que ânsia de estrangular este formoso sonho,

de transpor os espaços,

de bem te conhecer,

de me atirar depressa,

inteira,

nos teus braços,

de te possuir só para te esquecer!...

Lembranças

Teus retratos — figuras esmaecidas;

mostram pouco, muito pouco do que foste.

Tuas cartas — palavras em desgaste,

dizem menos, muito menos

do que outrora me diziam

teus silêncios afagantes...

Só o espelho da minha memória

conserva nítida, imutável

a projeção de tua formosura,

só nos folhos dos meus sentidos

pairam vívidas

em relevo

as frases que teu carinho

soube nelas imprimir.

Sou a urna funerária de tua beleza

que a saudade

embalsamou.

Quando chegar o meu instante derradeiro

só então, mais do que eu,

tu morrerás

Page 14: Poesias eternizadas

em mim.

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Page 15: Poesias eternizadas

"São demais os perigos desta vida

Pra quem tem paixão principalmente

Quando uma lua chega de repente

E se deixa no céu, como esquecida

E se ao luar que atua desvairado

Vem se unir uma música qualquer

Aí então é preciso ter cuidado

Porque deve andar perto uma mulher..."

A carta que não foi mandada

Paris, outono de 73

Estou no nosso bar mais uma vez

E escrevo pra dizer

Que é a mesma taça e a mesma luz

Brilhando no champanhe em vários tons azuis

No espelho em frente eu sou mais um freguês

Um homem que já foi feliz, talvez

E vejo que em seu rosto correm lágrimas de dor

Saudades, certamente, de algum grande amor

Mas ao vê-lo assim tão triste e só

Sou eu que estou chorando

Page 16: Poesias eternizadas

Lágrimas iguais

E, a vida é assim, o tempo passa

E fica relembrando

Canções do amor demais

Sim, será mais um, mais um qualquer

Que vem de vez em quando

E olha para trás

É, existe sempre uma mulher

Pra se ficar pensando

Nem sei… nem lembro mais

ai, quem me dera

Ai quem me dera terminasse a espera

Retornasse o canto, simples e sem fim

E ouvindo o canto, se chorasse tanto

Que do mundo o pranto, se estancasse enfim

Ai quem me dera ver morrer a fera

Ver nascer o anjo, ver brotar a flor

Ai quem me dera uma manhã feliz

Ai quem me dera uma estação de amor…

Ah se as pessoas se tornassem boas

E cantassem moas e tivessem paz

E pelas ruas se abraçassem nuas

E duas a duas fossem ser casais

Ai quem me dera ao som de madrigais

Ver todo mundo para sempre afim

E a liberdade nunca ser demais

E não haver mais solidão ruim

Ai quem me dera ouvir um nunca mais

Dizer que a vida vai ser sempre assim

E ao fim da espera

Ouvir na primavera

Alguém chamar por mim

Ai quem me dera ao som de madrigais

Ver todo mundo para sempre afim

E a liberdade nunca ser demais

E não haver mais solidão ruim

Ai quem me dera ouvir um nunca mais

Dizer que a vida vai ser sempre assim

E ao fim da espera

Ouvir na primavera

Alguém chamar por mim

Page 17: Poesias eternizadas

Menino morto pelas ladeiras de Ouro Preto

Hoje a pátina do tempo cobre também o céu de outono

Para o teu enterro de anjinho, menino morto

Menino morto pelas ladeiras de Ouro Preto.

Berçam-te o sono essas velhas pedras por onde se esforça

Teu caixãozinho trêmulo, aberto em branco e rosa.

Nem rosas para o teu sono, menino morto

Menino morto pelas ladeiras de Ouro Preto.

Nem rosas para colorir teu rosto de cera

Tuas mãozinhas em prece, teu cabelo louro cortado rente...

Abre bem teus olhos opacos, menino morto

Menino morto pelas ladeiras de Ouro Preto.

Acima de ti o céu é antigo, não te compreende.

Mas logo terás, no Cemitério das Mercês-de-Cima

Caramujos e gongolos da terra para brincar como gostavas

Nos baldios do velho córrego, menino morto

Menino morto pelas ladeiras de Ouro Preto.

Ah, pequenino cadáver a mirar o tempo

Que doçura a tua; como saíste do meu peito

Para esta negra tarde a chover cinzas...

Que miséria a tua, menino morto

Que pobrinhos os garotos que te acompanham

Empunhando flores do mato pelas ladeiras de Ouro Preto...

Que vazio restou o mundo com a tua ausência...

Que silentes as casas... que desesperado o crepúsculo

A desfolhar as primeiras pétalas de treva...

1952

in Novos Poemas (II)

in Poesia completa e prosa: "Poesia varia"

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Page 18: Poesias eternizadas

PROJETO DE PREFÁCIO

―Sábias agudezas... refinamentos...

- não!

Nada disso encontrarás aqui.

Um poema não é para te distraíres

como com essas imagens mutantes de caleidoscópios.

Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe

Um poema não é também quando paras no fim,

porque um verdadeiro poema continua sempre...

Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte

não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras.‖

RECORDO AINDA

Recordo ainda... e nada mais me importa...

Aqueles dias de uma luz tão mansa

Que me deixavam, sempre, de lembrança,

Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança

Soprando cinzas pela noite morta!

E eu pendurei na galharia torta

Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, aí,

Embora idade e senso eu aparente

Não vos iludais o velho que aqui vai:

Page 19: Poesias eternizadas

Eu quero os meus brinquedos novamente!

Sou um pobre menino... acreditai!...

Que envelheceu, um dia, de repente!...

INSCRIÇÃO PARA UM PORTÃO DE CEMITÉRIO

Na mesma pedra se encontram,

Conforme o povo traduz,

Quando se nasce - uma estrela,

Quando se morre - uma cruz.

Mas quantos que aqui repousam

Hão de emendar-nos assim:

"Ponham-me a cruz no princípio...

E a luz da estrela no fim!

BILHETE

Se tu me amas,

ama-me baixinho.

Não o grites de cima dos telhados,

deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,

enfim,

...tem de ser bem devagarinho,

.....amada,

...que a vida é breve,

.....e o amor

z...mais breve ainda.

by Mário Quintana

―Com o tempo você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa,

você precisa, em primeiro lugar , não precisar dela. Percebe também que

aquele alguém que você ama(ou acha que ama)e que não quer nada com você,

definitivamente não o alguém da sua vida. Você aprende a gostar de você, a

cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você. O

segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas

venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava

procurando, mas quem estava procurando por você!‖

Page 20: Poesias eternizadas

DAS UTOPIAS

Se as coisas são inatingíveis... ora!

Não é motivo para não querê-las...

Que tristes os caminhos se não fora

A mágica presença das estrelas!

Mario Quintana - Espelho Mágico

(Mário Quintana in “A cor do invisível”)

―A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,

Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.

Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali…

Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!‖

Palavras que nunca te direi…

A primeira é a carta de Catherine, atirada ao mar, três dias antes de morrer..

Arquivado em: Amor, Citações, Felicidade, Livros, Prece, Solidão

«A todos os navios no mar.

A todos os portos de abastecimento.

Para a minha Família.

E para todos os amigos e desconhecidos.

Isto é uma mensagem e uma oração.

A mensagem que as minhas viagens me ensinaram uma grande verdade.

Já tinha aquilo que todos procuram e que poucos encontram:

Aquela pessoa no mundo que nasci para amar para sempre.

Uma pessoa como eu da zona de Otter Blank, do misterioso Atlântico Azul.

Uma pessoa rica em tesouros singelos, que se fez aquilo que é.

Um porto em que estou sempre em casa.

E não há vento ou sarilho, nem mesmo uma pequena morte capaz de destruir

esta fortaleza.

A oração é a pedir que toda a gente encontre um amor assim e através dele

seja curado.

Se a minha oração for ouvida toda a culpa será apagada e todos os remorsos e

toda a raiva será extinta.

Por favor Deus.

Amén.»

Início

Page 21: Poesias eternizadas

Giuseppe Ghiaroni

Pontos de Vista

Na minha infância,quando eu me excedia

quando eu fazia alguma coisa errada

se alguém ralhava minha mãe dizia

-Ele é uma criança,não entende nada!

Por dentro eu ria satisfeito e mudo.

Eu era um homem, entendia tudo.

Hoje que escrevo poemas

e pareço ter tido algum estudo

dizem quando me vêem com os meus problemas:

-Ele é um homem, ele entende tudo!

Por dentro, alma confusa e atarantada

eu sou criança, não entendo nada. ...

Economia

―Dá de ti. Dá de ti quanto puderes:

o talento, a energia, o coração.

Dá de ti para os homens e as mulheres

como as árvores dão e as fontes dão.

Não somente os sapatos que não queres

e a capa que não usas no verão.

Darás tudo o que fores e tiveres:

o talento, a energia, o coração.

Darás sem refletir, sem ser notado,

Page 22: Poesias eternizadas

de modo que ninguém diga obrigado

nem te deva dinheiro ou gratidão.

E com que espanto notarás, um dia,

que viveste fazendo economia

de talento, energia e coração!‖...

Intermezzo

Um ligeiro intervalo de esperança

foi a nossa escapada da rotina:

cada dia uma glória repentina

cada noite a euforia da mudança.

Um ligeiro intervalo de esperança

e eu julguei ter achado o ouro e a mina.

Vi no teu rosto aquela luz divina,

voltei a ser poeta e a ser criança.

Foi a nossa embriaguez dos impossíveis,

ilusão de vencer os invencíveis

e de alcançar o que ninguém alcança.

Mas foi bom. Foi tão mais do que mereço,

que hoje, em desespero,eu te agradeço

um ligeiro intervalo de esperança!

PREVISÃO

Um dia, será velho

Nesse dia, tu só terás os anos e o juízo

E andarás procurando o paraíso

Numa igreja qualquer da freguesia.

Terás a boca flácida, a mão fria

O olhar tão vago, o andar tão preciso

Que as mocinhas na idade do sorriso

Te lançarão sorrisos de ironia.

Mas disso tu não sofrerás

Page 23: Poesias eternizadas

Porquanto ainda poderás causar espanto

Contando as glórias que tivestes aqui.

E contarás numa vaidade austera

Que num ano qualquer da nossa era

Uma ‗mulher‘ morreu de amor por ti.

Início

Page 24: Poesias eternizadas

João Guimarães Rosa

"Quando escrevo, repito o que já vivi antes.

E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.

Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo

vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser

um crocodilo porque amo os grandes rios,

pois são profundos como a alma de um homem.

Na superfície são muito vivazes e claros,

mas nas profundezas são tranqüilos e escuros

como o sofrimento dos homens."

Frases escolhidas

"O correr da vida embrulha tudo.

A vida é assim: esquenta e esfria,

aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.

O que ela quer da gente é coragem..."

―Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre

um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de

a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das

grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar, é todos contra os

acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no

fim dá certo.‖

"Já não se encontrarão os meus olhos nos teus olhos. Já não se adoçará

junto a ti a minha dor, mas por onde for levarei o teu olhar e para onde

fores levarás a minha dor."

―Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas

não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão

sempre mudando."

Page 25: Poesias eternizadas

―Sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega

e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na

idéia, querendo e ajudando, mas quando é destino dado, maior que o

miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear

com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois."

―(...) a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma

nunca se deve de tolerar ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é

a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o

tempo governando a idéia e o sentir da gente; o que isso era falta de

soberania, e farta bobice, e fato é."

―Que isso foi o que sempre me invocou, o senhor sabe: eu careço de que

o bom seja bom e o ruim ruim, que dum lado esteja o preto e do outro o

branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da

tristeza! Quero os todos pastos demarcados... Como é que posso com

este mundo? Este mundo é muito misturado.‖

―-Adianta querer saber muita coisa? O senhor sabia, lá para cima - me

disseram. Mas, de repente chegou neste sertão, viu tudo diverso

diferente, o que nunca tinha visto. Sabença aprendida não adiantou para

nada... Serviu algum?‖

―Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos. Ou a ausência

deles. Duvida? Quando nada acontece há um milagre que não estamos

vendo. ―

Mal-entendido

Na boda de um camarão com uma lagosta,

levantaram um brinde ao transatlântico

que passou por cima para os cumprimentar...

Falta de armas

Dois caracóis chocaram, de leve, as suas casas,

e mexeram tentáculos , um dia inteiro,

pedindo-se mil desculpas...

Reportagem - Pág-69

Eu quis chamar o homem, para lhe dar um sorriso,

mas ele ia já longe, sem se voltar nunca,

como quem não tem frente, como quem só tem costas...

GARGALHADA

Quando me disseste que não mais me amavas,

e que ias partir,

dura, precisa, bela e inabalável,

com a impassibilidade de um executor,

Page 26: Poesias eternizadas

dilatou-se em mim o pavor das cavernas vazias...

Mas olhei-te bem nos olhos,

belos como o veludo das lagartas verdes,

e porque já houvesse lágrimas nos meus olhos,

tive pena de ti, de mim, de todos,

e me ri

da inutilidade das torturas predestinadas,

guardadas para nós, desde a treva das épocas,

quando a inexperiência dos Deuses

ainda não criara o mundo...

Início

Page 27: Poesias eternizadas

Paulo

Leminski

"quando eu vi você

tive uma idéia brilhante

foi como se eu olhasse

de dentro de um diamante

e meu olho ganhasse

mil faces num só instante

basta um instante

e um olhar vira romance"

Viver

de noite

me fez

senhor

do fogo...

A vocês

eu deixo

o sono.

O sonho não,

esse

eu mesmo

carrego.

‖Amor, então,

também, acaba?

Não, que eu saiba.

O que eu sei

é que se transforma

numa matéria-prima

que a vida se encarrega

de transformar em raiva.

Ou em rima.‖

Quando chove,

eu chovo,

faz sol,

eu faço,

de noite

anoiteço,

tem deus,

eu rezo,

não tem,

esqueço,

chove de novo,

de novo, chovo,

assobio no vento,

daqui me vejo,

lá vou eu,

gesto no movimento

―Abrindo um antigo caderno

foi que eu descobri:

Antigamente eu era eterno.‖

isso de querer

ser exatamente aquilo

que a gente é

ainda vai

nos levar além

Page 28: Poesias eternizadas

Sujeito Indireto

―Quem dera eu achasse um jeito

de fazer tudo perfeito,

feito a coisa fosse o projeto

e tudo já nascesse satisfeito.

Quem dera eu visse o outro lado,

o lado de lá, lado meio,

onde o triângulo é quadrado

e o torto parece direito.

Quem dera um ângulo reto.

Já começo a ficar cheio

de não saber quando eu falto,

de ser, mim, indireto sujeito.‖

[tenho andado fraco]

tenho andado fraco

levanto a mão

é uma mão de macaco

tenho andado só

lembrando que sou pó

tenho andado tanto

diabo querendo ser santo

tenho andado cheio

o copo pelo meio

tenho andado sem pai

yo no creo en caminos

pero que los hay

hay

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Page 29: Poesias eternizadas

Fernando Pessoa

"Segue o teu destino...

Rega as tuas plantas;

Ama as tuas rosas.

O resto é a sombra

de árvores alheias"

" E falta sempre uma coisa, um copo, uma brisa, uma frase,e a vida dói

quanto mais se goza e quanto mais se inventa"

fernando pessoa(Álvaro de Campos)

―Passou a diligência pela estrada, e foi-se;

E a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia.

Assim é a ação humana pelo mundo fora.

Nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos;

E o sol é sempre pontual todos os dias.‖

Alberto Caeiro

―PEDRAS NO CAMINHO? GUARDO TODAS, UM DIA VOU

CONSTRUIR UM CASTELO...‖

―Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive.‖

Page 30: Poesias eternizadas

A Criança Que Ri na Rua

A CRIANÇA que ri na rua,

A música que vem no acaso,

A tela absurda, a estátua nua,

A bondade que não tem prazo -

Tudo isso excede este rigor

Que o raciocínio dá a tudo,

E tem qualquer cousa de amor,

Ainda que o amor seja mudo

Fernando Pessoa

Cancioneiro

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

Da Lâmpada

(Ricardo Reis)

Da lâmpada noturna

A chama estremece

E o quarto alto ondeia.

Os deuses concedem

Page 31: Poesias eternizadas

Aos seus calmos crentes

Que nunca lhes trema

A chama da vida

Perturbando o aspecto

Do que está em roda,

Mas firme e esguiada

Como preciosa

E antiga pedra,

Guarde a sua calma

Beleza contínua.

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Page 32: Poesias eternizadas

PABLO NERUDA

Quem morre?

Morre lentamente

quem se transforma em escravo do hábito,

repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca

Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não

conhece.

Morre lentamente

quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente

quem evita uma paixão,

quem prefere o preto no branco

e os pingos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,

justamente as que resgatam o brilho dos olhos,

sorrisos dos bocejos,

corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente

quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,

quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,

quem não se permite pelo menos uma vez na vida,

fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente

quem não viaja,

quem não lê,

quem não ouve música,

quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente

quem destrói o seu amor-próprio,

quem não se deixa ajudar.

Page 33: Poesias eternizadas

Morre lentamente,

quem passa os dias queixando-se da sua má sorte

ou da chuva incessante.

Morre lentamente,

quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,

não pergunta sobre um assunto que desconhece

ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,

recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior

que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que

conquistemos

um estágio esplêndido de felicidade.

Traduction d’un discours de Pablo Néruda - Prix Nobel de

littérature 1971

Pablo Neruda

Il meurt lentement

Celui qui ne voyage pas,

Celui qui ne lit pas,

Celui qui n‘écoute pas de musique,

Celui qui ne sait pas trouver grâce à ses yeux.

Il meurt lentement

Celui qui détruit son amour-propre,

Celui qui ne se laisse jamais aider.

Il meurt lentement

Celui qui devient esclave de l‘habitude

Refaisant tous les jours les mêmes chemins,

Celui qui ne change jamais de repère,

Ne se risque jamais à changer la couleur

De ses vêtements

Ou qui ne parle jamais à un inconnu

Il meurt lentement

Celui qui évite la passion

Et son tourbillon d‘émotions

Celles qui redonnent la lumière dans les yeux

Et réparent les coeurs blessés

Il meurt lentement

Celui qui ne change pas de cap

Lorsqu‘il est malheureux

Au travail ou en amour,

Celui qui ne prend pas de risques

Pour réaliser ses rêves,

Page 34: Poesias eternizadas

Celui qui, pas une seule fois dans sa vie,

N‘a fui les conseils sensés.

Vis maintenant !

Risque-toi aujourd‘hui !

Agis tout de suite !

Ne te laisse pas mourir lentement !

Ne te prive pas d‘être heureux ! ―

"Poema 20" de "Veinte poemas de amor y una canción

desesperada)

" De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.

Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.

Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como esta la tuve entre mis brazos,

mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,

y éstos sean los últimos versos que yo le escribo."

NERUDA EN FRANÇAIS

―Il reste que je ne suis qu'un homme, mais plusieurs vous diront quel

homme j'ai été. J'ai toujours lutté pour le peuple et les droits de celui-ci

de se gouverner lui-même, j'en ai frôlé la mort plus d'une fois et j'ai

même dû me sauver de chez moi pour de longues années. Mais toujours

j'ai écrit et aimé la vie. Mon oeuvre a fait le tour du monde et je suis

devenu un symbole pour une jeunesse pleine de vie. Les élèves aimeront

mon Chant général où je tente de faire sentir toute la beauté du monde.

J'aime la vie et le monde. J'ai été heureux dans ma lutte incessante.

Notez cher lecteur qu'un film fut fait sur mes relations avec un postier

lors de mon exil en Italie, un film merveilleux de tendresse mettant en

vedette Philippe Noiret: Il Postino‖

Neruda, Pablo (Neftali Reyes)

Page 35: Poesias eternizadas

FOMOS

Enquanto as tribos e populações

arranham terra e adormecem na mina,

pescando nos espinhos desse inverno,

pregam os pregos em seus ataúdes,

edificam cidades que não moram,

semeiam o pão que amanhã não terão,

para disputar a fome e o perigo.

Se cada dia cai

―Se cada dia cai, dentro de cada noite,

há um poço

onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira

do poço da sombra

e pescar luz caída

com paciência.‖

(Últimos Poemas)

―Tu eras também uma pequena folha

que tremia no meu peito.

O vento da vida pôs-te ali.

A princípio não te vi: não soube

que ias comigo,

até que as tuas raízes

atravessaram o meu peito,

se uniram aos fios do meu sangue,

falaram pela minha boca,

floresceram comigo.‖

―Dois amantes felizes não têm fim nem morte,

nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,

são eternos como é a natureza.‖

―Se sou amado,

quanto mais amado

mais correspondo ao amor.

Se sou esquecido,

devo esquecer também,

Pois amor é feito espelho:

-tem que ter reflexo.‖

Page 36: Poesias eternizadas

―Refugiei-me na poesia com ferocidade de tímido.‖

"Escrever é fácil.

Você começa com uma maiúscula e termina com um ponto final.

No meio, coloca idéias."

―Dá-me amor, me sorri e me ajuda a ser bom.

Não te firas em mim, seria inútil;

Não me firas a mim, porque te feres.‖

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Page 37: Poesias eternizadas

A LOUCURA DO POETA

Fernando Peixoto

Que a voz do Poeta não se cale

Que os olhos do Poeta não se fechem

Que os seus versos sejam a sirene

Que alerta toda a gente à sua volta

Que o poema seja o grito inconformado

Dos braços que se erguem na revolta

Contra os braços curvados e a cerviz

Submissa ao peso da opressão

Que o poema seja sempre vertical

Um relâmpago enorme em noite escura.

Que o Poema seja uma canção

E rasgue o medo em mil pedaços

Page 38: Poesias eternizadas

Com versos de amor e de ternura

Espalhados por mil bocas e mil braços.

Que o Poeta seja mais que um ser humano

E que tanja a lira do seu canto

Elevando a Poesia até ao céu

E que entregue aos homens o seu Fogo

Assumindo o papel de Prometeu.

Quando o Poeta escreve por Amor

A palavra torna-se a armadura

Com que o Homem vence a própria dor

E destrói o vírus da amargura.

É louco, o Poeta? Deixem lá:

O mundo precisa da loucura.

Portugal

06.08.2007

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Page 39: Poesias eternizadas

REFLEXÃO

Fernando Peixoto

Não ofusques o brilho dos teus olhos

nem te deixes, sequer, entristecer

porque a Vida, apesar dos seus escolhos,

tem sempre um horizonte a renascer.

Mesmo quando a saudade nos tortura

e nos lança nos braços da tristeza

há sempre uma manhã que vem, mais pura

e que inunda de Sol a Natureza.

Não há nada mais belo que sentir,

na doce madrugada, ao acordar,

qu'inda somos capazes de sorrir,

qu'inda somos capazes de sonhar.

Ao assumirmos esta consciência

que em nós se multiplica na vontade,

penetramos no cerne da ciência

e vivemos a Vida, com Verdade!

Portugal, 15.01.2008

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Page 40: Poesias eternizadas

(24/2/2004 - 11:53:26- antevéspera do Natal de 2004 – 23:00:00)

De ti pouco mais sei do que o que li

E apenas pelo que outros me disseram

Mas nunca te escutei, sequer te vi

Nos livros que os antigos escreveram.

E de tudo o que retive e que aprendi

Recordo alguns prodígios que fizeste.

Mas depois, reflectindo, concluí:

Quem foste afinal, Tu? E o que disseste?

Nenhum dos escritores te conheceu,

Nenhum deles jamais te acompanhou.

Nem ao certo se sabe onde nasceu

O Jesus que até hoje a nós chegou.

Por isso é que aprendi a duvidar

E daquilo que li pouco me importa.

Duvidando aprendi a acreditar

Porque ter Fé, sem dúvida, é Fé morta.

Que fizeste, tu, Amigo? Francamente!

Como pudeste cair em tanta asneira?

Tu, que tiveste o mundo à tua frente

E o deixaste cair desta maneira?

Tu, que divino sempre te julgaste

E como filho de Deus te assumiste,

Tu, que a própria família abandonaste

E os míseros aos ricos preferiste

Que surgiste, já homem, sem sabermos

Que fizeste na tua adolescência,

Page 41: Poesias eternizadas

Que caminhos tomaste, sem te vermos,

Onde colheste tu tanta ciência?

Depois permaneceste errando, incerto,

Meditando em contínua oração,

Preparando, sozinho, no deserto

O caminho da tua pregação.

Partiste rumo ao mar para pescar

Com redes de palavras pescadores

Acolheste-os a todos, sem cuidar

Em separar os bons dos pecadores.

Quem eras Tu, que assim se aventurava

Em abalar um mundo instituído?

Quem eras tu, Jesus, que assim falava

De um Novo Deus de amor, desconhecido?

Quem eras tu, surgido de repente

Um pobre, natural de Nazaret,

Acompanhado assim, por tanta gente,

Pregando às multidões a nova Fé?

Que o Velho Testamento transformaste

Num novo Deus, sem fúria nem vingança,

Um novo Deus de Amor, que proclamaste,

Num Novo Testamento de esperança,

Tu, que amaste as crianças com ternura,

Como eternos símbolos de pureza,

Que trilhaste os caminhos da ventura

E foste dos humanos frágil presa,

Que a fome por milagre mitigaste

Em pão que se espalhou com abundância,

Que mesmo aos inimigos abraçaste

Com idêntico amor e tolerância,

Que à mulher conferiste a dignidade

Tornando-a tua amiga e tua irmã,

Pois do seu ventre emerge a humanidade

Que faz de cada parto uma manhã,

Que morreste sozinho, abandonado

Pelo povo que foi o teu algoz,

Exangue e por espinhos cravejado

Suportando na cruz a dor atroz

Questionaste o Pai sobre a razão

De ter-te abandonado nesse instante.

E qual foi a resposta? Um trovão,

Apenas um trovão no céu distante.

Disseram que depois ressuscitaste!

Embora já de forma não terrena,

E que aos olhos daquela a quem amaste

Te mostraste primeiro: Madalena.

Page 42: Poesias eternizadas

Mas não creio que tal seja verdade.

E tudo não passou duma visão

Daquela, para quem a realidade

Eras Tu, inda vivo: uma ilusão.

Eras tu, Jesus, o Deus que amava,

Eras tu, Jesus, a flor eterna,

A pétala da flor que não murchava

No amoroso jardim de Madalena.

E por isso te via a todo o instante

E nunca se sentia em solidão

Porque tinha guardado o seu amante

No cofre mais secreto da paixão.

Para mim nunca foste a divindade,

Aquela que não passa dum conceito,

Foste um Homem apenas, na verdade,

Foste um Homem, apenas, mas PERFEITO.

E se hoje creio em ti desta maneira

Acredita: não é por má vontade.

É por não ver a Humanidade inteira

Seguir o teu exemplo de bondade.

Morreste torturado numa cruz

Às mãos dos que querias libertar.

Mas p‘ra mim tu és sempre esse Jesus

Que eu tanto gostaria de imitar!

Mas tão débil eu sou que não consigo

Ultrapassar os vícios que consomem

O difícil caminho que prossigo

À procura de ti, p‘ra ser um Homem.

Por isso sinto a dor tão pertinaz

De tão perto estar de ti e tão distante,

sentir-me cada vez mais incapaz

de ser igual a ti, ou semelhante.

A minha cruz é de outra natureza

E nada tem em si de misticismo:

É a pesada cruz desta fraqueza

De não poder vencer o meu egoísmo.

E só pensando em ti me tornarei

Capaz de resistir e ser mais forte

Vencendo este percurso que encetei

No dia em que nasci até à morte.

Porque a Vida, Jesus, é mesmo assim,

Um rumo que se traça e se percorre,

Que tem sempre um começo e tem um fim:

Se tudo nasce e vive, tudo morre.

E se de nada mais tenho a certeza,

Pretendo ter ao menos a ambição

Page 43: Poesias eternizadas

De estar conforme a minha natureza

Desta frágil e humana condição.

Do Bem e da Pureza soberano

Foste o fruto de humana concepção.

Eu apenas serei um ser humano

Incapaz de atingir a perfeição.

Se como tu não passo de um mortal

E assumo por inteiro este conceito,

Eu não sou como tu, sou desigual,

Não sou como tu foste: um ser perfeito.

E por isso te quero e te encareço

E por isso te recordo e me ajoelho

Em tributo fraterno. E reconheço

Nos teus humanos actos o Evangelho.

*****

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Page 44: Poesias eternizadas

MEUS OITO ANOS

Cassimiro de Abreu

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

— Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

Page 45: Poesias eternizadas

O mar é — lago sereno,

O céu — um manto azulado,

O mundo — um sonho dourado,

A vida — um hino d'amor!

Que aurora, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d'estrelas,

A terra de aromas cheia

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!

Oh! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!

Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberta o peito,

— Pés descalços, braços nus

— Correndo pelas campinas

Page 46: Poesias eternizadas

A roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;

Rezava às Ave-Marias,

Achava o céu sempre lindo.

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!

................................

Oh! que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

— Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras

Debaixo dos laranjais!

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Page 47: Poesias eternizadas

O QUE É - SIMPATIA

(A uma menina)

Cassimiro de Abreu

Simpatia - é o sentimento

Que nasce num só momento,

Sincero, no coração;

São dois olhares acesos

Bem juntos, unidos, presos

Numa mágica atração.

Simpatia - são dois galhos

Banhados de bons orvalhos

Nas mangueiras do jardim;

Bem longe às vezes nascidos,

Mas que se juntam crescidos

E que se abraçam por fim.

São duas almas bem gêmeas

Que riem no mesmo riso,

Que choram nos mesmos ais;

São vozes de dois amantes,

Duas liras semelhantes,

Ou dois poemas iguais.

Page 48: Poesias eternizadas

Simpatia - meu anjinho,

É o canto do passarinho,

É o doce aroma da flor;

São nuvens dum céu d'Agosto,

É o que m'inspira teu rosto...

- Simpatia - é - quase amor!

………………………

Indaiaçu - 1857.

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Page 49: Poesias eternizadas

Economia

Giuseppe Ghiaroni

“Dá de ti. Dá de ti quanto puderes:

o talento, a energia, o coração.

Dá de ti para os homens e as mulheres

como as árvores dão e as fontes dão.

Não somente os sapatos que não queres

e a capa que não usas no verão.

Darás tudo o que fores e tiveres:

o talento, a energia, o coração.

Darás sem refletir, sem ser notado,

de modo que ninguém diga obrigado

nem te deva dinheiro ou gratidão.

E com que espanto notarás, um dia,

que viveste fazendo economia

de talento, energia e coração!”...

Que 2010 seja o ano da fraternidade e da harmonia de todos para todos.

(Bouquet de Cravos & Conchavos)

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Page 50: Poesias eternizadas

Dois Caminhos...

Eu queria te dar minha emoção mais pura,

associar-te ao meu sonho e dividir contigo

migalha por migalha, o pouco de ventura

que pudesse colher no caminho onde sigo...

E esse estranho desejo em que se desfigura

a palavra de amor e pureza que eu digo,

- e queria te dar essa minha ternura

que às vezes, por trair-se ao teu olhar, maldigo...

Bem que eu quis te ofertar meu destino, meu sonho,

minha vida, e até mesmo esta efêmera glória

que desperdiço a cantar nos versos que componho...

Nada quiseste... E assim, os sonhos que viviam,

se ontem, puderam ser um começo de história,

hoje, são dois caminhos que se distanciam...

Esperança

Não! A gente não morre quando quer,

Inda quando as tristezas nos consomem.

Há sempre luz no olhar de uma mulher

E sangue oculto na intenção de um homem.

Mesmo que o tempo seja apenas dor

E da desilusão se fique prisioneiro.

Vai-se um amor? Depois vem outro amor

Talvez maior do que o primeiro.

Sonho que se afogou na baixa-mar,

Page 51: Poesias eternizadas

De novo há de erguer, cheio de fé,

Que mesmo sem ninguém o suspeitar,

Volta a encher a maré.

Não penses que jamais hás de achar fundo

Nem que entre as tuas mãos não terás outra mão.

Pode a vida matar o sonho e o sol e o mundo,

Mas não nos mata o coração.

(Poesia de Maria Helena,– extraído do livro

Concerto a 4 mãos - de JG de Araujo Jorge - 1959 )

Paradoxo

A dor que abate, e punge, e nos tortura,

que julgamos às vezes não ter cura

e o destino nos deu e nos impôs,

é pequenina, é bem menor, e até

já não é dor talvez, dor já não é

dividida por dois.

A alegria que às vezes num segundo

nos dá desejos de abraçar o mundo,

e nos põe tristes, sem querer, depois,

aumenta, cresce, e bem maior se faz,

já não é alegria, é muito mais

dividida por dois.

Estranha essa aritmética da vida,

nem parece ciência, parece arte;

compreendo a dor menor, se dividida,

não entendo é aumentar nossa alegria

se essa mesma alegria

se reparte.

(do livro- Festa de Imagens – 1948)

O verbo amar

Te amei: era de longe que te olhava

e de longe me olhavas vagamente...

Ah, quanta coisa nesse tempo a gente sente,

que a alma da gente faz escrava.

Te amava: como inquieto adolescente,

tremendo ao te enlaçar, e te enlaçava

adivinhando esse mistério ardente

do mundo, em cada beijo que te dava.

Te amo: e ao te amar assim vou conjugando

os tempos todos desse amor, enquanto

segue a vida, vivendo, e eu, vou te amando...

Page 52: Poesias eternizadas

Te amar: é mais que em verbo é a minha lei,

e é por ti que o repito no meu canto:

te amei, te amava, te amo e te amarei!

(do livro -Bazar de Ritmos- 1935)

Desfolhando

Essa boca, pequena, e assim vermelha,

que ao botão de uma rosa se assemelha,

- quanta vez provocava os meus desejos

desabrochando em flor entre os meus beijos...

Essa boca, pequena e mentirosa,

que diz, tanta mentira cor-de-rosa,

- era a taça de amor onde eu saciava

toda a ansiedade da minha alma escrava ...

Beijando-a, compreendia que eras minha...

Meu amor transformava-te em rainha,

teu amor me fazia mais que um rei...

Agora, tu fugiste... E eu sofro, quando

vejo um outro em teus lábios desfolhando

a mesma rosa que eu desabrochei!...

Prelúdio da Gota d' água

Cheio da tua ausência me angustio

a cada hora que passa... a cada instante...

- pelo meu pensamento, como um fio,

és uma gota d'água, tremulante...

Uma gota suspensa e cintilante,

límpida e imóvel como um desafio...

Tua ausência, - é a presença triunfante

daquela gota que ficou no fio. . .

As outras todas, céleres, pingaram,

e caíram na terra onde secaram,

só tu ficaste, última gota, assim

como uma estrela sem ter firmamento,

suspensa ao fio do meu pensamento

e a brilhar, sem cair... dentro de mim...

Cacho de Uva

Vejo em teu corpo, teus seios

redondos, belos, pesados,

como ao tempo das vindimas

os cachos de uva dourados...

Page 53: Poesias eternizadas

E tomo-os nas minhas mãos,

sazonados de calor

para meus lábios sedentos

do vinho do teu amor

Teus seios são cachos de uvas

Uvas da terra ou do céu

Sei que embriagam mais que o vinho

Que são doces mais que o mel

Noturno nº 2

Estás no pensamento,

fixa, presa,

como a estrela no céu

como a nudez da beleza

sob um véu...

Estás no pensamento,

como a espuma na vaga...

Em vão o vai e vem do mar:

ela nunca apaga...

Estás no pensamento

como , na estória, o tema;

como a palavra, no poema;

como o sopro, no vento;

como a música no instrumento;

como o marulho no rio;

como a chama no pavio;

ou o pêndulo, no movimento...

Estás no meu pensamento

como a tatuagem na epiderme;

como a forma na escultura;

como o ritmo no "ballet"...

Como no espírito inerme

a amargura

ou a fé...

Estás no meu pensamento

como o som

na corda distendida;

como, na bússola, o Norte;

como a esperança, na vida;

como na Vida

a Morte!

Page 54: Poesias eternizadas

Volúpia

Quisera te associar à pureza e à candura

quando pensasse em ti... Mas a emoção, teimosa,

transforma sem querer toda a minha ternura

numa estranha lembrança ardente voluptuosa...

Não poderei dizer apenas que és formosa

quando a própria beleza em ti se transfigura,

- e pela tua carne há pétalas de rosa

e no teu corpo há um canto fresco de água pura!

Um sincero pudor vislumbro em teus enleios,

mas se disser que te amo com pureza, eu minto,

- no olhar trago tatuada a visão de teus seios...

E em vão tento associar-te ao céu, à fonte, à flor!

Quando falo de ti, penso em teu corpo, e sinto

que ainda estremece em mim teu último estertor!

Estranha Encruzilhada

Não sei por que cruzou com a tua a minha estrada,

o destino é inconsciente e não sabe o que faz...

- Encontro-te, e afinal, já sei que tu és amada,

encontras-me, e afinal, já é bem tarde demais...

Já não posso esquecer a existência passada,

perdi meu coração - o amor não tenho mais...

- já não tens coração, e a tua alma, coitada,

sofrendo há de ficar sem me esquecer jamais...

Até hoje nesse amor não tínhamos pensado:

é por isso talvez que em silêncio tu choras,

e em silêncio também meu pranto é derramado

Eu cheguei... Tu chegaste... Estranha encruzilhada:

se eu tenho que partir depois que tu me adoras,

se, tu tens que ficar sabendo-te adorada!...

Tonta...

Dizes que ficas tonta... quando em tua boca

ergo a taça da minha a transbordar de beijos,

e te dou a beber dessa champanha louca

que espuma nos meus lábios para os teus desejos.

Dizes... E em teu olhar incendiado talvez,

como que tonto mesmo e ardendo de calor,

vejo se refletir minha própria embriaguez

e o mundo de loucura que há no nosso amor...

E receio por ti e por mim, e receio

Page 55: Poesias eternizadas

que um dia ao te sentir tão junto, eu enlouqueça

e aperte no meu peito a maciez do teu seio...

Dizes que ficas tonta... Hás de então ficar louca!

E eu tomando entre as mãos tua loura cabeça

hei de fazer sangrar de beijos tua boca! ...

Canto de ontem

Vamos, põe teu braço no meu braço, vamos recordar

os velhos tempos

do nosso amor.

Passeávamos assim,

e que frias eram as tuas mãos

no momento do encontro,

e que dóceis teus lábios depois da rendição.

Muitas vezes perdi-me em teus lábios e não soube voltar.

Que era o mundo senão um punhado de perspectivas

que saíam do ponto coração

e se perdiam nos teus olhos?

Tanta cousa esperamos e alguma cousa colhemos

mas que triste, amor, este todo-o-dia matando

o que esperávamos jamais ser tocado pelo tempo.

Tu me queres ainda, eu sei que te aninhas,

por hábito ou por frio

junto ao meu corpo, e esperas.

E eu te quero ainda, muito mais pelo que deixaste

nas raízes mergulhadas

e pelo que representas nas nuvens que se acumulam

do que pelo momento de tédio e ternura, elementos

do nosso coquetel cotidiano…

Vamos, põe teu braço no meu braço, como antigamente,

entrega-me docilmente os teus lábios, e pensa

que eu te beijo há mil anos, num tempo em que seremos

sempre os mesmos

e o nosso amor imortal.

Liberdade

A liberdade é o meu clarim de guerra

e eu sou, no meu viver amplo e sem véus,

como os caminhos soltos pela terra,

como os pássaros livres pelos céus.

Page 56: Poesias eternizadas

Ela é o sol dos caminhos ! Ela é o ar

que os enche os pulmões, é o movimento,

traz num corpo irrequieto como o mar

uma alma errante e boêmia como o vento.

Minha crença, meu Deus, minha bandeira,

razão mesma de ser do meu destino,

há de ser a palavra derradeira

que há de aflorar-me aos lábios como um hino.

Liberdade: Alavanca de montanhas!

Aureolada de louros ou de espinhos

há de cingir-me a fronte nas campanhas,

há de ferir-me os pés pelos caminhos.

Sinto-a viva em meu sangue palpitando

seja utopia ou seja ideal, - que importa?

Quero viver por esse ideal lutando,

quero morrer se essa utopia é morta !

Supremo Orgulho

Nunca soube pedir...Nunca soube implorar...

Nasci, tendo este orgulho em minha lama irrequieta,

- há um brilho que incendeia o meu altivo olhar

de crente superior... de indiferente asceta...

Minha fronte, jamais, eu soube curvar

na atitude servil de uma existência abjeta...

Ninguém é mais que eu!... Ninguém... e este meu ar

de orgulho, vem da glória imensa de ser poeta...

Sou pobre - mas riqueza alguma há igual à minha,

- a mulher que eu amar terá a glória suprema

de um dia se sentir maior que uma rainha....

Terá a glória de saber o seu nome

perpetuado por mim nas estrofes de um poema,

desses que a História guarda e o Tempo não consome!

Teus seios

Teus seios... quando os sinto, quando os beijo

na ânsia febril de amante incontestado,

são pólos recebendo o meu desejo,

nos momentos sublimes de pecado...

E às manhãs... quando acaso, entre lençóis

das roupagens do leito, saltam nus,

lembram, não sei, dois lindos girassóis

fugindo à sombra e procurando a luz!...

Florações róseas de uma carne em flor

Page 57: Poesias eternizadas

que se ostenta a tremer em dois botões

na primavera ardente de um amor

que vive para as nossas sensações...

Túmidos... cheios... palpitantes, como

dois bagos do teu corpo de sereia,

tem um rubro botão em cada pomo

como duas cerejas sobre a areia...

Quando os tenho nas mãos... Quantas delícias!...

Arrepiam-se, trêmulos , sensuais,

e ao contato nervoso das carícias

tocam-me o peito como dois punhais!...

Meu lúbrico prazer sempre consolo

na carne destas ondas revoltadas,

que são como taças emborcadas

no moreno inebriante do teu colo...

(extraído do livro Poemas do Amor Ardente - 1961)

Quando chegares…

Não sei se voltarás

sei que te espero.

Chegues quando chegares,

ainda estarei de pé, mesmo sem dia,

mesmo que seja noite, ainda estarei de pé.

A gente sempre fica acordado

nessa agonia,

à espera de um amor que acabou sendo fé...

Chegues quando chegares,

se houver tempo, colheremos ainda frutos, como ontem,

a sós;

se for tarde demais, nos deitaremos à sombra e

perguntaremos por nós...

(extraído do livro De mãos dadas- 2a edição 1966 )

Tédio

Vontade preguiçosa de apanhar meus nervos

e fechar os meus olhos, como que cansado de olhar ...

e dormir, mas dormir esse sono das pedras

que não podem sonhar ...

Page 58: Poesias eternizadas

ser folha, folha morta, amarela, caindo embalada pelo ar ...

barco solto, sem leme, sem vela, sem nada

ao sabor inconstante do mar a boiar ...

Vontade preguiçosa de encostar a vida num canto,

para descansar ...

E soltar-me em mim mesmo, e soltar-me,

e cair e deixar-me ficar,

sem ter vontade ao menos para bocejar ...

Ah! ...

Vontade preguiçosa de não terminar

estes versos morrendo em ar ...

em ar... em ar ...

Os versos que te dou

Ouve estes versos que te dou, eu

os fiz hoje que sinto o coração contente

enquanto teu amor for meu somente,

eu farei versos...e serei feliz...

E hei de fazê-los pela vida afora,

versos de sonho e de amor, e hei depois

relembrar o passado de nós dois...

esse passado que começa agora...

Estes versos repletos de ternura são

versos meus, mas que são teus, também...

Sozinha, hás de escutá-los sem ninguém que

possa perturbar vossa ventura...

Quando o tempo branquear os teus cabelos

hás de um dia mais tarde, revivê-los nas

lembranças que a vida não desfez...

E ao lê-los...com saudade em tua dor...

hás de rever, chorando, o nosso amor,

hás de lembrar, também, de quem os fez...

Se nesse tempo eu já tiver partido e

outros versos quiseres, teu pedido deixa

ao lado da cruz para onde eu vou...

Quando lá novamente, então tu fores,

Page 59: Poesias eternizadas

pode colher do chão todas as flores, pois

são os versos de amor que ainda te dou.

(poema acima foi extraído do livro ―Meu céu interior‖, Editora Vecchi –

Rio de Janeiro, 1934.)

***********

J. G. de Araújo Jorge (José Guilherme de Araújo Jorge) nasceu na Vila de

Tarauacá, no Estado do Acre, aos 20 de maio de 1914. Ainda jovem iniciou-se

na poesia. Estudou em Coimbra, Portugal, e fez curso de Extensão Cultural na

Universidade de Berlim, Alemanha. Além de escritor, locutor e redator de

programas radiofônicos, professor de História e Literatura, líder estudantil,

tinha política em suas veias. Foi candidato a vários cargos públicos. Elegeu-se

deputado federal pelo Estado da Guanabara, em 1970. Foi reeleito em 1974 e

1978. Mesmo combatidos pelos críticos, seus livros — em número de 36 —

tinham grande aceitação e foram publicados em diversos países. Faleceu no dia

27 de janeiro de 1987.

“A verdade é que me acomodei de tal modo em minha infelicidade, que quase

sou feliz.”

J. G. de Araújo Jorge

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Page 60: Poesias eternizadas

Círculo Vicioso

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:

- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,

que arde no eterno azul, como uma eterna vela !

Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

- Pudesse eu copiar o transparente lume,

que, da grega coluna á gótica janela,

contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela !

Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

- Misera! Tivesse eu aquela enorme, aquela claridade imortal, que toda a luz resume !

Mas o sol, inclinando a rutila capela:

- Pesa-me esta brilhante aureola de nume...

Enfara-me esta azul e desmedida umbela...

Porque não nasci eu um simples vaga-lume?

UN VIEUX PAYS [2]

...juntamente choro e rio.

CAMÕES

Il est un vieux pays, plein d'ombre et de lumière,

Où l'on rêve le jour, où l'on pleure le soir;

Un pays de blasphème, autant que de prière,

Né pour la doute et pour l'espoir.

On n'y voit point de fleurs sans un ver qui les ronge,

Page 61: Poesias eternizadas

Point de mer sans tempête, ou de soleil sans nuit;

Le bonheur y paraît quelquefois dans un songe

Entre les bras du sombre ennui.

L'amour y va souvent, mais c'est tout un délire,

Un désespoir sans fin, une énigme sans mot;

Parfois il rit gaîment, mais de cet affreux rire

Qui n'est peut-être qu'un sanglot.

On va dans ce pays de misère et d'ivresse,

Mais on le voit à peine, on en sort, on a peur;

Je l'habit pourtant, j'y passe na jeunesse...

Hélas! ce pays, c'est mon coeur.

[2] Perdoem-se estes versos em francês; e para que de todo em todo não fique a

página aqui perdida lhes dou a tradução que fez dos meus versos o talentoso poeta

maranhense Joaquim Serra:

É um velho país, de luz e sombras,

Onde o dia traz pranto e a noite a cisma;

Um país de orações e de blasfêmia,

Nele a crença na dúvida se abisma.

Aí, mal nasce a flor, o verme a corta,

O mar é um escarcéu, e o sol sombrio;

Se a ventura num sonho transparece

A sufoca em seus braços o fastio.

Quando o amor, qual esfinge indecifrável,

Aí vai a bramir, perdido o siso...

Às vezes ri alegre, e outras vezes

É um triste soluço esse sorriso...

Vive-se nesse país com a mágoa e o riso;

Quem dele se ausentou treme a maldiz;

Mas aí, eu nele passo a mocidade,

Pois é meu coração esse país!

Page 62: Poesias eternizadas

BONS AMIGOS

Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.

Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.

Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.

Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.

Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.

Porque amigo sofre e chora.

Amigo não tem hora pra consolar!

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.

Porque amigo é a direção.

Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.

Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.

Ter amigos é a melhor cumplicidade!

Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,

Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!

A CAROLINA

Querida, ao pé do leito derradeiro

Em que descansas dessa longa vida,

Aqui venho e virei, pobre querida,

Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro

Que, a despeito de toda a humana lida, Fez a nossa existência apetecida

E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, - restos arrancados

Da terra que nos viu passar unidos

E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos

Pensamentos de vida formulados,

São pensamentos idos e vividos.

Machado de Assis

Nasceu em 21 de junho de 1839 no Rio de Janeiro/Brasil.

Nacionalidade: brasileira

Faleceu aos 69 anos no dia 29 de setembro de 1908

Ocupação: romancista, contista, poeta, dramaturgo, cronista, crítico literário, teatrólogo

Assinatura

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Page 63: Poesias eternizadas

Não me deixes!

Debruçada nas águas dum regato

A flor dizia em vão

À corrente, onde bela se mirava:

"Ai, não me deixes, não!

"Comigo fica ou leva-me contigo

"Dos mares à amplidão;

"Límpido ou turvo, te amarei constante;

"Mas não me deixes, não!"

E a corrente passava; novas águas

Após as outras vão;

E a flor sempre a dizer curva na fonte:

"Ai, não me deixes, não!"

E das águas que fogem incessantes

À eterna sucessão

Dizia sempre a flor, e sempre embalde:

"Ai, não me deixes, não!"

Por fim desfalecida e a cor murchada,

Quase a lamber o chão,

Buscava inda a corrente por dizer-lhe

Que a não deixasse, não.

A corrente impiedosa a flor enleia,

Leva-a do seu torrão;

A afundar-se dizia a pobrezinha:

"Não me deixaste, não!"

Page 64: Poesias eternizadas

Canção do exílio

Kennst du das Land, wo die Citronen blühen,

Im dunkeln Laub die Gold-Orangen glühen?

Kennst du es wohl? — Dahin, dahin!

Möchtl ich... ziehn. *

Goethe

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar — sozinho, à noite —

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Coimbra - julho 1843.

* - "Conheces a região onde florescem os limoeiros ?

laranjas de ouro ardem no verde escuro da folhagem;

conheces bem ? Nesse lugar,

eu desejava estar"

(Mignon, de Goethe)

Antônio Gonçalves Dias nasceu em Caxias, no Maranhão em 10 de agosto de 1823.

Faleceu em 03 de novembro de 1864.

Ocupação: poeta, professor, pesquisador e teatrólogo brasileiro. Considerado o principal poeta da primeira geração

do romantismo brasileiro.

Nacionalidade: brasileira

Jornada: estudou Direito em Coimbra, Portugal onde fez sua estréia literária com o poema dedicado à coroação do

Page 65: Poesias eternizadas

Imperador D. Pedro II no Brasil. Depois de escrever o famoso ―Canção do Exílio‖, volta ao Brasil. ―Primeiros

Contos‖ o consagrou poeta.

Seu grande amor: Ana Amélia

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Page 66: Poesias eternizadas

A pátria

Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!

Criança! não verás nenhum país como este!

Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!

A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,

É um seio de mãe a transbordar carinhos.

Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,

Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!

Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!

Vê que grande extensão de matas,

onde impera Fecunda e luminosa,

a eterna primavera!

Boa terra! jamais negou a quem trabalha

O pão que mata a fome, o teto que agasalha...

Quem com o seu suor a fecunda e umedece,

Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!

Criança! não verás país nenhum como este:

Imita na grandeza a terra em que nasceste!

Page 67: Poesias eternizadas

A um poeta

Longe do estéril turbilhão da rua,

Beneditino, escreve! No aconchego

Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego

Do esforço; e a trama viva se construa

De tal modo, que a imagem fique nua,

Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplício

Do mestre. E, natural, o efeito agrade,

Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade,

Arte pura, inimiga do artifício,

E a força e a graça na simplicidade.

Última página

Primavera. Um sorriso aberto em tudo. Os ramos

Numa palpitação de flores e de ninhos.

Doirava o sol de outubro a areia dos caminhos

(Lembras-te, Rosa?) e ao sol de outubro nos amamos.

Verão. (Lembras-te, Dulce?) À beira-mar, sozinhos

Tentou-nos o pecado: olhaste-me... e pecamos;

E o outono desfolhava os roseirais vizinhos,

Ó Laura, a vez primeira em que nos abraçamos...

Veio o inverno. Porém, sentada em meus joelhos,

Nua, presos aos meus os teus lábios vermelhos,

(Lembras-te, Branca?) ardia a tua carne em flor...

Carne, que queres mais? Coração, que mais queres?

Passam as estações e passam as mulheres...

E eu tenho amado tanto! e não conheço o Amor!

Page 68: Poesias eternizadas

Nascimento: 16 de dezembro de 1865 no Rio de Janeiro, Brasil.

Morte: 18 de dezembro de 1918 aos 53 anos de idade.

Nacionalidade: brasileira

Ocupação: poeta

Conhecido por sua atenção à literatura infantil e, principalmente, pela participação cívica, era republicano e

nacionalista. Bilac escreveu a letra do Hino à Bandeira.

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Page 69: Poesias eternizadas

ARCO-ÍRIS

Choveu tanto esta tarde

Que as árvores estão pingando de contentes.

As crianças pobres, em grande alarde,

Molham os pés nas poças reluzentes.

A alegria da luz ainda não veio toda.

Mas há raios de sol brincando nos rosais.

As crianças cantam fazendo roda,

Fazendo roda como os tangarás:

"Chuva com sol!

Casa a raposa com o rouxinol."

De repente, no céu desfraldado em bandeira,

Quase ao alcance da nossa mão,

O Arco-da-Velha abre na tarde brasileira

A cauda em sete cores, de pavão.

— Canto da Minha Terra (1930) —

O Conselho das Árvores

Sofro, luz dos meus olhos, quando dizes

Page 70: Poesias eternizadas

Que a vida não te alenta nem conforta.

Olha o exemplo das árvores felizes

Dentro da solidão da noite morta.

Que lhes importa a dor, que lhes importa

O drama que há no fundo das raízes?

Não sentem quando o vento os ramos corta

E as folhas leva em várias diretrizes?

Que lhes importa a maldição do outono

E os dedos envolventes da garoa,

Se dão sombra às taperas no abandono?!...

Levanta os braços para o firmamento

E canta a vida porque a vida é boa Mesmo esmagada pelo sofrimento.

Castelos na areia

— Que iluminura é aquela, fugidia,

Que o poente à beira-mar beija e incendeia?

— É apenas a criação da fantasia: —

São castelos na areia.

Andam, tontas de sol, brincando as crianças

Como abelhas que voaram da colméia.

Erguem torreões fictícios de esperanças...

São castelos na areia.

Ao canto de um jardim adormecido:

"Por que não crês no afeto que me enleia?

E as palavras que eu disse ao teu ouvido?"

— São castelos na areia.

Olegário Mariano Carneiro da Cunha nasceu em Recufe-Pe no dia 24 de março de 1889.

Faleceu em28 de novembro de 1958 no Rio de Janeiro.

Foi um poeta, político e diplomata brasileiro. Eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros, em substituição a Alberto de

Oliveira, detentor do título depois da morte de Olavo Bilac, o primeiro a obtê-lo.

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