poesias de jessier

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Comicio em Beco Estreito Jessier Quirino "Pra se fazer um comício Em tempo de eleição Não carece de arrodei Nem dinheiro muito não Basta um F-4000 Ou qualquer mei caminhão Entalado em beco estreito E um bandeirado má feito Cruzando em dez posição. Um locutor tabacudo De converseiro comprido Uns alto-falante rouco Que espalhe o alarido Microfone com flanela Ou vermelha ou amarela Conforme a cor do partido Uma ganbiarra véa Banguela no acender Quatro faixa de bramante Escrito qualquer dizer Dois pistom e um taró Pode até ficar melhor Uma torcida pra torcer Aí é subir pra riba Meia dúzia de corruto Quatro babão, cinco puta Uns oito capanga bruto E acunhar na promessa E a pisadinha é essa: Três promessa por minuto. Anunciar a chegança Do corruto ganhador Pedir o "V" da vitória Dos dedo dos eleitor E mandar que os vira-lata Do bojo da passeata Traga o home no andor. Protegendo o monossílabo De dedada e beliscão A cavalo na cacunda Chega o dono da eleição Faz boca de fechecler E nesse qué-ré-qué-qué Vez por outra um foguetão. Com voz de vento encanado Com os viva dos babão É só dizer que é mentira Sua fama de ladrão Falar dos roubo dos home E tá ganha a eleição. E terminada a campanha Faturada a votação Foda-se povo, pistom Foda-se caminhão Promessa, meta e programa... É só mergulhar na Brahma E curtir a posição. Sendo um cabra despachudo De politiquice quente Batedorzão de carteira Vigaristão competente É só mandar pros otário A foto num calendário Bem família, bem decente: Ele, um diabo sério, honrado Ela, uma diaba influente Bem vestido e bem posado Até parecendo gente Carregando a tiracolo Sem pose, sem protocolo Um diabozinho inocente". --oo(0)oo-- A Morrença Dos Meus Cumpade Jessier Quirino (ninguém sabe se a morte é virgula, ponto-e-vírgula ou ponto final No interior, quando morre um “cumpade”, Mas desses “cumpade” de alma boa

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Poesias bem humoradas de Jessier Quirino

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Page 1: Poesias de Jessier

Comicio em Beco EstreitoJessier Quirino

"Pra se fazer um comício Em tempo de eleição Não carece de arrodei Nem dinheiro muito nãoBasta um F-4000 Ou qualquer mei caminhão Entalado em beco estreito E um bandeirado má feito Cruzando em dez posição.

Um locutor tabacudo De converseiro comprido Uns alto-falante rouco Que espalhe o alarido Microfone com flanela Ou vermelha ou amarela Conforme a cor do partido

Uma ganbiarra véa Banguela no acender Quatro faixa de bramante Escrito qualquer dizer Dois pistom e um taró Pode até ficar melhor Uma torcida pra torcer

Aí é subir pra riba Meia dúzia de corruto Quatro babão, cinco puta Uns oito capanga bruto E acunhar na promessa E a pisadinha é essa: Três promessa por minuto.

Anunciar a chegança Do corruto ganhador Pedir o "V" da vitória Dos dedo dos eleitor E mandar que os vira-lata Do bojo da passeata Traga o home no andor.

Protegendo o monossílabo De dedada e beliscão A cavalo na cacunda Chega o dono da eleição Faz boca de fechecler E nesse qué-ré-qué-qué Vez por outra um foguetão.

Com voz de vento encanado Com os viva dos babão É só dizer que é mentira Sua fama de ladrão Falar dos roubo dos home E tá ganha a eleição.

E terminada a campanha Faturada a votação Foda-se povo, pistom Foda-se caminhão Promessa, meta e programa... É só mergulhar na Brahma E curtir a posição.

Sendo um cabra despachudo De politiquice quente Batedorzão de carteira Vigaristão competente É só mandar pros otário A foto num calendário Bem família, bem decente:

Ele, um diabo sério, honrado Ela, uma diaba influente Bem vestido e bem posado Até parecendo gente Carregando a tiracolo Sem pose, sem protocolo Um diabozinho inocente".

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A Morrença Dos Meus CumpadeJessier Quirino

(ninguém sabe se a morte é virgula, ponto-e-vírgula ou ponto finalNo interior, quando morre um “cumpade”,Mas desses “cumpade” de alma boa e manso viver,Aí o matuto, lamentando essa perda, diz:“a morte é um doido limpando mato”"a morrença dos meus cumpade” trata dessa edição de capa dura da vida)

Mas como é que pode?Dois caba tá vivo,Forgoso, garboso,Da vida se rir!Os coro da testa sem nunca franzir,Disposto na luta,Lutando com pente,Sem mesmo dar canso de ser um

Page 2: Poesias de Jessier

vivente,Um corre pro sul mó de “podregir”,O outro “pogrede” mesmo por aquiA morte carrega os dois indivíduo,Dá uma descurpa:“morreu por derito,O outro, coitado, morreu de nuí.”

Cumpade “coitim” bateu a biela,Sem “frei” nas estrada, em riba dum fó.Pedim defuntou-se no “mei” dum forró,Honório pifou com a mão na bainha,Quem enviuvou gorete e ritinha,Foi joão “cascaver” e bento cotóBié de zé tôta fechou o paletó,Mudou-se pro céu cumpade biliu,Cumpade zé danta ninguém nunca viu,Mas dizem que foi-se daqui pra “mió”.

Quem bateu as bota foi zé bacamarte,Findou-se de vez cumpade zulu,Quem empacotou-se com tanta pituFoi pinga, meloso, meota e topada.Ginura já tava na última moradaQuando pediu baixa o vaqueiro zebuFoi pro beleléu nas bandas do sulVeúca, moreno, ponez e zezimMimosa se foi que nem “passarim”Baixou sete palmos, luis do exu

Deu uma roleta lá no meio da feira,Juntou-se um bocado com seu criadorDeu adeus ao mundo mané vendedorFoi chegada a hora de biu das jumentaFoi pro rol dos bom, cumpade pimentaBiu “pedo” firmino por fim descansouDisseram que nino também “botoou”Sargento já foi promovido a defuntoTiraram cirila de lá de pé junto

Perdi meu cumpade,Não sei quando eu vou

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A Morte do MatadorJessier Quirino

E o mestre Vital Farias dá de garra do violão e com força e erudição acompanha musicalmente o poema "A Morte do Matador")

Eu num gosto dessa históriaQue agora eu vou contáHistória de valentiaDe brabeza e de fuáHistória de muitas morte"Pru" muita farta de sorteeu só morri no "finár".

Eu nasci "ditriminado"A ser grande atiradô"Ditriminado" a ser "brabo""Espaiadêro" de "horrô""Sapecadô" de bofete"Brigadô" de caniveteFaca, peixeira e facãoTrinchete, foice e enxadaDe revolver e espingardaMetralhadora e canhão.

Eu nasci "desaprovido"Dos lado que todos têmNum tenho lado criançaLado mulé, nem do bemSó tenho lado abusadoE não fico sossegadoDo lado de seu ninguém.

Confesso, sou injuadoMais sério do que defuntoNum sou de trocar risadaNum sou puxar assuntoNum fujo da "bandidage"E tendo mula "selvage"Se for pra muntá eu munto.

Já matei vinte valenteMatei uns dez valentãoUns vinte e tanto safadoUns oitocentos ladrãoDe traideiro, um punhadoDe vigarista afamadoNum me lembro, uma purção.

Eu inté perdi a contaDe quantos tiro já deiMas as bala que "cuspiro""Chegaro" adonde mireiPra não "dizere" a "bobage"Q'eu falo muita "vantage"Uns, dois ou três eu errei.

O dia que eu morriFoi quando tu me "olhô"Todas "fulôre" que "chêra"Naquele dia "cheirô"Todas estrela que "bria"Naquele dia "briou"As "passarada" que cantaNaquele dia cantôTodo "brabo" que não chora

Page 3: Poesias de Jessier

Naquele dia "chorô"Porque todo "amô" que mataNaquele dia matô.

"Pru" riba de tantos causoSei que morrê não mereçoTô no céu, tô nos teus braçoDe quaje nada padeçoPor isso a partir "dagora"Só vou contá minha históriamorrendo já no começo.

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Agruras da Lata D'águaJessier Quirino

...E eu que fui enjeitadaSó porque era furada.Me botaram um pau na boca,Sabão grudaram no furo,Me obrigaram a levar águaMuitas vezes pendurada,Muitas vezes num jumento.Era aquele sofrimento,As juntas enferrujadas.Fiquei com o fundo comido.Quando pensei que tivesse Minha batalha cumprido,Um remendo me fizeram:Tome madeira no fundoE tome água e leva água,E tome água e leva água.

Daí nasceu minha mágua:O pau da boca caía,Os beiços não resistiam.Me fizeram um troca-troca:Lá vem o fundo pra boca,Lá vai o pau para o fundo.Que trocado mais sem graçaNa frente de todo mundo.E tome água e leva águaE tome água e leva água.

Já quase toda enfadada,Provei lavagem de porco,Ai mexeram de novo:Botaram o pau na beirada.E assim desconchavada,Medi areia e cimento,Carreguei muito concretoMolhado duro e friento,Sofri de peitos aberto,Levei baque dei peitada.

Me amassaram as beiradas,Cortaram minhas entranhas.Lá fui eu assar castanha,Fui por fim escancarada.Servi de cocho de porcoServi também de latada.

Se a coisa não complica,Talvez eu seja uma bicaPela próxima invernada.E inverno é chuva, é água,E eu encherei outras latasCumprindo minha jornada.

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Além Das PrecesJessier Quirino

A triste seca já voltouE a asa-branca agourou e já bateu a asaPlantação defunta no oitão de casaO chão em brasaA triste seca já voltou

Ô arco-íris, sopre um vento coloridoQue o verde do teu vestido se espalhe na plantação,Que o amarelo seja puro e adocicado,E que a brancura seja a cor da floração,E que o vermelho sejam flores parecidasCom os beicinhos das luzidas, “caboquinhas” do sertão

Que não se veja um sertanejo se ajoelhandoPedindo chuva perante Cristo sonolentosQue não se veja um solo rachado e sedentoQue sem sustento, às vezes se ajoelhandoQue não se veja baraúna jejuando,Chorando folha numa paisagem cinzentaQue não se veja fila de latas sedentas,Salário d’água matando a sede matando

Ô arco-íris, sopre um vento coloridoQue a fita do teu vestido faça uma festa de corEu quero ver resina de catingueiraSer o chiclete na boca do meu amorE que a sanfona toque um xote na

Page 4: Poesias de Jessier

colheitaPra dança das borboletas enfeitadeiras de flor

(Quem vive pelo sertão já vive sertanejadoPois a chuva não choveja, nem troveja no cerradoE o sertanejo valente guarda sempre uma sementePro inverno abençoado)

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Baixe as armas, comedorJessier Quirino

Oh morena, oh moreninhaDeixa de morenaçãoLarga dessas invençãoDe nós dois sozim ficarMode evitar confusãoLarga dessas invençãoPense da zabumbaçãoE se teu pai desconfiar?

E vai que tu pega enxaquecaE vai que eu sou bom de curarE vai que tu arrisca um verboE vai que eu saiba verbiarVai que eu vire flecha doidaE vai que tu quer se flecharVai que tu seja espoleta

E vai que eu seja um malagueta

Feito goela de dragãoE vai que tu vem toda belaDe laço e fita amarelaVai que tu se passarelaVai que eu seja o rés do chãoVai que tu arriba a saiaVai que eu veja o essenciáVai que tu pede embreagemVai que eu saiba debrear

Vai que tu venta pro norteVai que sou todim jangadaVai que eu seja um taboleiroE vai que eu seja cocadaVai que tu se enrouxinó-las

Vai que eu seja passarinhoVai que eu saia da gaiolaVai que amostre o ninho

E vai que tu sois moça anja Vai que eu seja um pecadorVai que tu sois gozo eternoVai que eu sou rojão do amorVai que teu “ui ui, meu bem”Acorde o véi roncadorVai que esse véi grite braboCom o revolver no meu rabo:

- Baixe as arma, comedor!

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Bandeira nordestinaJessier Quirino

A bandeira nordestina É uma planta iluminadaÉ qualquer raiz plantada Mostrando o caule maduroE quando o sol varre o escuro Com luz e sombra no chãoÉ quando germina o grãoÉ quando esbarra o machado

É quando o tronco hasteadoÉ sombra pro polegarÉ sombra pro fura-boloÉ sobra pro seu vizinhoÉ sombra para o mindinhoÉ sombra prum passarinhoÉ sombra prum meninoteÉ sombra prum rapazote

É sombra prum cidadãoÉ sombra para um terreiroÉ sombra pro povo inteiroDo litoral ao sertãoEssa bandeira que eu faloTem cores de poesiaTem verde-folha-avoadaAmarelo-jaca-aberta

Em tudo que é vegetalTem bandeira desfraldadaNo duro da baraúnaNo forte da aroeiraNo bandejar buliçosoDas folhas das bananeirasDas bandeirolas dos coentrosE na marca sertaneja:O rijo e forte umbuzeiro

Page 5: Poesias de Jessier

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Bolero de IsabelJessier Quirino

É um nó dado por são pedroE arrochado por são cosme e damiãoÉ uma paixão, é tentação, é um repenteIgual ao quente do miolo do vulcão

É um nó dado por são pedroE arrochado por são cosme e damiãoÉ uma paixão, é tentação, é um repenteIgual ao quente do miolo do vulcão

Quer ver o bom?É o aguado quando leva açúcarÉ ter a cuca, açucarado num beijo roubadoÉ um pecado confessado, compadre serenoLevar sereno no terreiro bem enluaradoÉ pinicado do chuvisco no chão, pinicandoFicar bestando com o inverno bem arrelampadoÉ o recado do cabocla num beijo mandando“tá namorando a cabocla do recado”

É um nó dado por são pedroE arrochado por são cosme e damiãoÉ uma paixão, é tentação, é um repenteIgual ao quente do miolo do vulcão

Quer ver desejo?É o desejo tando desejandoA lua olhando esse amor na brecha do telhadoÉ rodeado do peru peruando a peruaÉ canarim, é galeguim, é cantando o canárioZé do rosário bolerando com dona isabelDona isabel embolerando com zé do rosárioImaginário de paixão voraz e proibidaEscapulida, proibida pro imaginário

Quer ver cenário?É o vermelho da aurodidadeÉ a claridade amarelada do amanhecerÉ ver correr um aguaceiro pelo rio

abaixoÉ ver um cacho de banana amadurecerAnoitecer vendo o gelo do branco da luaA pele nua com a lua a resplandecerÉ ver nascer um desejo com a inverniaÉ a harmonia que o inverno faz nascer(miolo, miolo, miolo do vulcão...)

Quer ver desejo?É o desejo tando desejandoA lua olhando esse amor na brecha do telhadoÉ rodeado do peru peruando a peruaÉ canarim, é galeguim, é cantando o canárioZé do rosário bolerando com dona isabelDona isabel embolerando com zé do rosárioImaginário de paixão voraz e proibidaEscapulida, proibida pro imaginárioQuer ver cenário?É o vermelho da aurodidadeÉ a claridade amarelada do amanhecerÉ ver correr um aguaceiro pelo rio abaixoÉ ver um cacho de banana amadurecerAnoitecer vendo o gelo do branco da luaA pele nua com a lua a resplandecerÉ ver nascer um desejo com a inverniaÉ a harmonia que o inverno faz nascer

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E o povo gritando amémJessier Quirino

Eu já tô com esta idadePapai beirando os noventaLouvo pela mocidadeCom vinte, trinta e quarentaDizia em tom revoltando:- Este é um governo safado,Mais um governo que vemPerante a lei fundiáriaFará uma reforma agráriaE o povo gritando amém!

Feito um bicho oprimidoSofrendo apuro e desgosto

Page 6: Poesias de Jessier

Papai ficou convencidoQue rei morrido é rei postoNo dia da eleiçãoPapai virou cidadãoMamãe, cidadã tambémVotaram em força contráriaQuerendo a reforma agráriaE o povo gritando amém!

A coisa foi piorandoPro lado dos pioraisE a tal reforma ficandoPra trás, pra trás e pra trásHoje o poeta QuirinoDiante de um VivaldinoNão abro nem para um tremAbordando este problemaMeto o pau com meus poemasE o povo gritando amém

A coisa se melhorandoCheio de mais, mais e mais, maisE a tal reforma ficandoPra trás, pra trás e pra trásHoje o poeta QuirinoDiante de um VivaldinoNão abro nem para um tremAbordando este problemaMeto o pau com meus poemasE o povo gritando amém

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Entre o pente e o repenteJessier Quirino

Não sou esses balai todo!Sou meio desleriado.E quando ligo o deligo: tõe-õe-õe-õe-õe-õe!Vejo que só tenho arranco, ao me ver ali parado.Minhas dúvidas são campestres.Minhas rimas são risais. Baldias, uns diasDe prourar alegias nas baixas dos tristezais.Pela rodagem dos versos, eu sempre solto um olá!Pra quem está desolado. Os meus olhares piscosos? São piscos

de alegria.Alegria é manga espada, é sempre verde e amarela.Tanto, que às vezes penso até com certa doidiceQue sou filho da escrotice do bico do peito dela.E quando cismo dos peitosDespedaço de minh'alma versos angelicais.Até despertei paixão, me chamaram de Romeu.Atá consegui aplausos que o bandeirinha não deu.Toneladas de paixão e dessas bem toneladasE o bandeirinha... Ahhh! Bandeirinha! não deu.Nas matas dos leitos secos os sertôes torno a rimar.É rima caçando rima feito o fuxico dos galos.Rimo de Maria Macho à Sinhazinha Dafé.Sertão de Chico Baygon, sertão de Chico DéDa mulherização das jumentinhasDas coitadas das galinhasDas maridanças de solteiro, do desrelato de vaqueiro- Descontramantelo da vida - Do Cariri e do Agreste.E nordestando o Nordeste sou quase um Cabra da Peste!Sou vaqueiro, cangaceiroSou matuto, sim senhor.Eu sou Cagado e Cuspido Paisagem de Interior.

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Fé meninaJessier Quirino

Aos poucos ela se estréiaSe espelhaSe emparelhaSe brechaSe avexaSe acalmaSe isolaSe desnudaSe tesudaSe chuviscaSe sabonetaSe tapeiaSe depilaSe orvalha

Page 7: Poesias de Jessier

Se toalhaSe enxutaSe hidrataSe escovaSe desodoraSe farejaSe calcinhaSe saiaSe camisetaSe retocaSe bonitaSe benditaSe vicejaSe lampejaSe meninaSe gataSe heroínaSe tigresaSe mulherSe joga na vista deleSe afeiçoaSe apuraSe afinaSe mimaSe climaSe bem-me-querSe namoraSe demoraSe chegaSe aprochegaSe encabulaSe melindraSe recataSe afastaSe dificultaSe negaSe negaSe negaSe titubeiaSe insinuaSe permiteSe à luaSe enfraqueceSe esqueceSe entregaSe chamegaSe beijaSe re-beijaSe caríciaSe ameigaSe marasmaSe instigaSe descortinaSe inflamaSe faíscaSe incendeiaSe inundaSe serpenteiaSe galopaSe ofega

Se avassalaSe emboraSe desnortaSe doidejaSe trimilicaSe transbordaSe zarolhaSe estartalhaSe estonteiaSe estrondaSe estupefaSe estafaSe triunfaSe fulminaSe glorifica

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HABEAS-CORPUS PASSARINHOJessier Quirino

Defensor de sabiáQue é sucesso na gaiolaExige que seu clienteResponda ao sucesso em liberdade

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Linda não, aquelas tuiaJessier Quirino

Olha só a caboquinha que baixou no meu sonharLinda não, aquelas tuiaMeu sonho foi pras cucuia quando dei fé de olhar.Bem dizer, o jeito dela era um cristal de flanela de tanto fofo e brilharDe lindeza bem muitona, de fofura desossadaBeicinho do bago grosso de bicudez encarnadaUm pilãozinho de cintura, dez léguas de formosura de vastidão deleitadaCriaturinha agarroza, festejosa no chegarCosquenta pelo cangote, mulecota nos coisarCom três horas de espio, não dá pro cabra espiarDe tanto perigo afoito, trinta e sete, trinta e oito, os chinelins de pisarDois risquin de sobrancelha, os ói azul

Page 8: Poesias de Jessier

festejadoPlatibandinha de testa, sem franzido ou pinicadoLinda não, aquelas tuiaDei dois viva de aleluia, nesse sonho iluminado.

Mas repare meu cumpade, Cuma se deu o sonhadoA mãe dela intrometeu-se, de oxente interrogadoEu só estou, caboquinha, tu essa hora sozinha nesse sonho amatutadoSois cabocla apetrechada, de padrescíceras virtudesNão te mete no destroço de viver de sonho e osso com o fulaninho dos grudesTu sois a miss lindeira, primeira nata da nataBaliza tricampeã do estadual da PrataSois cabocla zero um, dos CPF tudinZero um das bonitezas, rainha das maciezas, sois discípla do pudimVai-te embora desse sonho, repara teu atrapalhoTu podes morrer pisada pelos coturnos do orvalhoSerá que tu não enxerga que esse sonho é coisa ruim?Se teu pai não fizer não nada, dou-te uma surra bem dada, com uma fita de cetim

Acordei mais retesado, do que tora de imbúiaBanhei o rosto vincado, com quatro águas de cuiaNunca mais sonhei com ela.Uh... desorderinha delaLinda não, aquelas tuia.

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Lua de TapiocaJessier Quirino

Quando a lua se faz de tapiocaCom a goma e o coco a me banharSinto meu coração corcovearPor estar no abandono abandonadoE sozinho que nem boi de aradoMe avermelho que é ver flor de quipáE se algum alegreiro me jogarTanto assim de alegria, eu arrenegoPorque fico que nem olho de cegoQue só serve somente pra chorar.

É a lua acendendo a lamparinaE meu facho de luz a se apagarCom as bochecha chorada a se chorarTaliquá mamão verde catucadoMas porém, sinto meu peito caiadoQuando vejo de longe o riso teuIgualmente a um morrido que viveuPeço que teu socorro não demoreE que só minha fala te sonoreE que dentro de ti só more eu.

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Matuto Doente Das PartesJessier Quirino

No tronco do ser humano,Nos “finar” mais derradeiroTem uma rosquinha enfezadaQue quando tá inflamadaIncomoda o corpo inteiroSe tossir, se faz presenteE se chorar se faz também

O “cabra” não pode nadaCom nada se entretémEu lhe digo, meu “cumpade”Não desejo essa “mardade” pra rosca de seu ninguém

Não sei o nome da cujaDesta cuja eu tiro o jaO que resta é quase nadaBote o nada na paradaQuero ver tu agüentar

Eu lhe digo meu “cumpade”Que é grande humilhaçãoUm cabra do meu quilate,Adoecido das parte,Fazer uma operação

Não suportando mais dor,O meu ato derradeiroFoi procurar um doutorDo bocado arengueiro

Do bocado arengueiro,Feijoeiro, fiofó, bufante,Frescó, lorto, apito,Brote e bozó.De furico, fedegoso,Piscante, pelado, boga,Fosquete, frinfra, sedémZueiro, ficha, vintém,De ás de copa e de foba.De oiti, “oi” de porco,

Page 9: Poesias de Jessier

“ané” de couro e cagueiro,De girassol, goiaba,Roseta, rosa,Rabada, boto, zero,“miaieiro”, de nó dos fundo,Buzeco, de sonoro e pregueado,Rabichol, furo, argola,“ané” de ouro e de sola,Boca de “veia” e zangado

Um doutor de aro treze,De peidante e zé de boga,Que não aperte o danadoNem deixe com muita folga, “né”?Um doutor “picialista” em bocada tarraqueta,Doutor de quinca, dentrol,Zé besquete, carrapetaDoutor de rosca,Rosquinha, tareco,Frasco e obrónCeguinho, botico, zero,Tripa gaiteira, fonfom,“miaieiro”, mucumbuco,Boraco, proa, polgueiro,Forever, cloaca, urna,Gritador, frango e fueiro

Cano de escape, pretinho,Rodinha, x.p.t.o.,Zerinho, “subiador”,Tripa oca e fiofóUm doutor de elitório ou de boca de caçapaQue não seja inimigo,Também não seja meu chapaTratador de canto escuro,De boréu e de cheiroso,De formiróide alvado,De parreco e de manhoso,De xambica e sibasol,Apolônio e fobilário,Bilé, brioco e “roxim”Fresado, anilha e cagárioVaso preto, zé careta,Olho cego e espoleta,Fuzil, fioto e foário

Não é doutor de ovário,É doutor de orió!De cá pra nós e bostoque,De futrico e de ilhó,De coliseu e caneco,Roscofe, forno e botãoDe disco, de farinheiro,De jolie, fundo e fundão,De cuovades, fichinha,Que não vinha com gracinhaE que não tenha o dedão.Um doutor de zé de quinca,

Canal dois e cagadorBuzina, vesúvio, cego,Federais, sim senhor“fagüieiro”, zé zoada,Rosquete e fim de regadaEu só queria um doutor!

O doutor se preparou-se,Parecia galileuAprumou um telescópioQuem viu estrela fui euEle disse:“arriba as pernas”Eu disse:“tenha calma, sonho meu”A partir daquela hora,Perante nossa senhora,Não sei o que “assucedeu”

Com as forças da humildade,Já me sinto mais “mior”Me desejo um ânus novo,Cheio de “velso” e forróE pros “cumpade”, com franqueza,Desejo grande riqueza:Saúde no fiofó.

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MERENDA CORRIQUEIRAJessier Quirino

Ah, se minh`aula retornassePro giz da minha infânciaPro meu caderno encapadoE o meu nome escancarado:EU, Primeiro Ano A.Ah, Primeiro ano A!A professora: “Bom-dia!!!”A bolsa, a banca, a foliaA turma do dia-a-diaA lei da DiretoriaA sineta, a correriaA hora de merendar…Ah, se minh`aula retornassePro meu recreio de infância:Pro ritual da lancheiraDa merenda corriqueira:O copo – irmão da garrafaO bolo, o ponche, a toalha,Goiaba, biscoito, pão…Não há no mundo dos cheirosNa mais antiga distânciaCheiro melhor que a fragrânciaDessa lancheira de infância.Não há no reino das coresNos arco-íris, bandeiras

Page 10: Poesias de Jessier

Nos frutos das romãzeirasAmora, amor que avermelha,Um rubro mais coloridoQue o tom da minha lancheira.Enganam-se os poetasTrovadores, seresteirosQue celebram Chão de EstrelasVersejando sem razãoAo dizer, de vão em vãoQue a ventura desta vidaÉ a cabrocha, o luar e o violão.É não!!!A mais doce ventura desta vidaÉ a lancheira, os recreios e a lição.

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MEU NOME NÃO TEM SUSTANÇAJessier Quirino

Eu quero trocar meu nomePrum nome mais verdadeiroPois Nuca de ZebedeuNão tem sustança nem cheiro.Quero um nome de DoutorGraúdo, respeitador:Astragildo de Medeiro.

Astragildo de MedeiroÔ nomezim arretadoCom ele bem adubadoEu era um filosofeiroE dizia em toda altura:– O Raso não tem FunduraNo Planeta Brasileiro!

O Raso não tem funduraIa pro Repórter EssoIa ser grande sucessoA minha filosofuraOs doutor naquela alturaEspalhava o boateiroE dizia: “Meu cumpade,O dono dessa verdadeÉ Astragildo de Medeiro”.

Já um nome apeiticadoJá um nomezim reimosoJá não é consideradoJá não pode ser famoso:…O Raso não tem FunduraCom bravura digo eu.Os doutor logo adverte:Pelo que se assucedeu

A má-palavra se herdaPois quem falou essa merdaFoi Nuca de Zebedeu.

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O CUSCUZ DO DIA-A-DIAJessier Quirino

Em matéria de mei doidoEu me sinto mais ou menosDei com as palavras no palcoFeito um Biu de paletóSeverino pra platéia.Usei palavras plebeiasQue nunca puderam entrarEm discurso ou poesia.Palavras soltas, baldiasDaquelas só disponíveisNas últimas nuvens do céu.Conversei com flamboaiãsNo puro flamboaianês.Despejei cachos de lágrimasPros versos de Assaré.Beijos de rapaduraPro vozeirão de LuizSofri adivinhadurasNo sertão do pensamento.Senti, naquele momentoQue isso era um fazimentoDemocrático feito jeans.Sem rodeio e sem pantinsSem nhenhenhém, sem besteiraFiz de velhas cuscuzeirasUm gordo baú de flandreForjado em Campina GrandeCom três tons de serventia:Deixar minha poesiaMeu verso e meu converseiroCom textura cor e cheiroDo cuscuz do dia-a-dia.

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O DIA EM QUE DEUS ADEUSOU-SEJessier Quirino

…Quando Deus adeusou-se por inteiroFez os poetas, as musas e as rosas.Ao cabo do sétimo diaDeus atirou pra cima e no escuro.Na lona celestial

Page 11: Poesias de Jessier

Abriu goteiras de estrelasE o rombo brilhante do luar.

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Paixão de Atlântico na beira do marJessier Quirino

Não passo de um pobre e minúsculo AtlânticoDiante da moça que vem se banharPrincesa dos raios de brilho solarQue mostra pra gente que o ouro é raléUma espuma finíssima me veste a maréQual nata de leite depois de amornarE a Deusa se achega, de bem compararDescida das nuvens que rimam com sonhoE eu pobre Oceano, não tenho tamanhoDe ser seu parceiro de beira de mar.

E a moça abeirando meus véus de espumaOlhar de cupido a me recearAqui… bem aqui! O cabelo a voarDe cor, cor-de-cuia de louro brejeiroSeus pés, de mansinho, me tocam primeiroE a boca em suspiro aspira o meu arRecolhe os bracinhos a se arrupiarE se carrapixam os poros e pelosOs outros primores, eu nem pude vê-losMorri de Atlântico na beira do mar.

De lenda e sereia a moça se agachaE põe-se ditosa a me baldearUm fogo de afago me faz fervilharBorbulhas de flauta perfume resedaUma pele macia – qual capa de sedaDos amendoins no afã de torrarNo raso das águas se faz cobrejarEm colcha de espuma de puro chenillE o “A” de paixão se afoga no tilNa onda de Atlântico da beira do mar.

Parafuso de cabo de serrote

Jessier Quirino

Tem uma placa de Fanta encardidaA bodega da rua enladeiradaMeia dúzia de portas arqueadasE uma grande ingazeira na esquinaA ladeira pra frente se declinaE a calçada vai reta niveladaForma palmos de altura de calçadaQue nos dias de feira o bodegueiroFaz comércio rasteiro e barateiroNum assoalho de lona amarelada.

Se espalha uma colcha de mangalho:É cabestro, é cangalha e é peixeiraUrupema, pilão, desnatadeiraCandeeiro, cabaço e armadorEnxadeco, fueiro, e amoladorAlpercata, chicote e landuáArataca, bisaco e alguidarPé de cabra, chocalho e dobradiçaSe olhar duma vez dá uma doidiçaQue é capaz do matuto se endoidar.

É bodega pequena cor de gisSortimento surtindo grande efeitoMeia dúzia de frascos de confeitoCarrossel de açúcar dos gurisQuerosene se encontra nos barrisOnde a gata amamenta a gataiadaSacaria de boca arregaçadaGargarejo de milhos e farelosDois ou três tamboretes em flageloPro conforto de toda freguesada.

No balcão de madeira descascadaDuas torres de vidro são vitrinesA de cá mais parece um magazineCom perfume e cartelas de GilleteBrilhantina safada, caniveteSabonete, batom... tudo entrempadoFilizolla balança bem ao ladoSeus dois pratos com pesos reluzentesDá justeza de peso a toda genteConvencendo o freguês desconfiado.

A Segunda vitrine é de pão doceÉ tareco, siquilho e cocoroteBroa, solda, bolacha de pacoteBolo fofo e jaú esfarofadoUm porrete serrado e lapidadoFaz o peso prum março de papelSe embrulha de tudo a granelE por dentro se encontra uma gavetaDonde desembainha-se a cadernetaDo freguês pagador e mais fiel.

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Prateleiras são tábuas enjanbradas Com um caibro servindo de escoraTem também não sei qual Nossa SenhoraCom um jarrinho de louça bem do ladoUm trapézio de flandres areadosUm jirau com manteiga de latãoEncostado ao lado do balcãoUm caneiro embicando uma lapadaPassa as costas da mão pelas beiçadasSe apruma e sai dando trupicão.

Tem cabides de copos penduradosE um curral de cachaça e de conhaqueLogo ao lado se vê carne de charqueTira gosto dos goles caneadosPelotões de garrafas bem fardadosNas paredes e dentro dos caixotesTem rodilha de fumo dando um boteE um trinchete enfiado num sabãoBodegueiro despacha a um artesão Parafuso de cabo de serrote.

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Pobrema CardíucoJessier Quirino

Pobrema cardíucoJessier quirinoMas cumpade véio eu vou dizer um negóço a voceis...Umacoisa qui num inziste no sertããõ.......é pobrema cardíuco.O pobrema cardíuco é uma duença que se adquére com o virus da letra “i”Imposto de renda,iptu,icms,implacamento de carro,ingarrafamento i istresse!Essas são as palava que causa pobrema cardíuco.E no sertão num tem essas palava .Ai mãe disse:- pedo tu cuida no teu pobrema cardíuco, qui tu ta passano da idade,ai eu fui pa campina grande procurar um doutor coraçãozista,o dotô mandõ eu disimbesta in cima de uma correa,cum duas bengala pa sigurar.ai eu subi na correa e ele cumeçô a butar a correa pa disimbestar,e eu disimbeste im riba da correa, eu disse

pode correr? ai ele butou correa e eu começê a disimbestar o doto disse ta cansado?E eu disse ochente! e ouvera de eu me cansá cumumá correa???Se eu vou todo dia no alto do bode buscar lenha,se eu vou todo dia no riacho dos caçóte buscar agua,ouvera de eu me cançá cumá correa???bota correa dotô..Ai o doto buto correa ,butou correa , butou correa...ai eu disimbeste in cima do correa.. e fiquê lá...e fui na pisadinha... na pisadinha... na pisadinha... quase que eu mato a correa de cansasso...ela ficou toda mole , butou pra esquentar , o dotô disse :Senta aqui nessa cama.Butou umas chupetinha nos meus peito...ligou a televisão do computador,e eu assisti meu coração fon-cio-nando!A coisa mais linda do mundo é um coração foncionando.Aparece na telinha assim uns risquim pa cima e pa baixoUmtrisco umpum e uma linha, umtrisco umpum e uma linha umtrisco umpum e uma liiiiiinha.... o doto me deu o resultado nummm papé,eu butei numa modulra e dei de presente a mãe.mae buto na parede de lado do coração de jesuis,o coração de jeusis cuma coroa de ispinho,e o meu cum umtrisco umpum e uma linha.Passado uns 5 , 6 meis...ai mae disse ô pedo,tu sabe quem ta vindo pu sertão pa disaluviar de um pobrema cardiuco???adeirado teu primo!!!Ai eu disse ah!! mãe adeirado foi pa são palo quandera minino,o pau qui mais tem em sampalo é o virus da letra” i” ingarrafamento,istrésse!essa palava istrésse é de são paulo!!todo mundo lá tem essa palava istreeesse mãe! eu so cunheço um noidestino que foi pa são paulo que num pegou essa palava istresse...foi luiz di lindú. luiz de lindú só teve um istresse na vida ,foi quando ele cortou o dedo...cortou o dedo num acidente ai pronto ficou puralí...vai e coisa ,ai começou,a fundar sindicato,fazer greve,bate de frente cum patrao fundá partido , tumar cachaça chegou a presidente da república e num tem pobrema cardíuco mãe!mair diga a deirado qui venha simbora,diga a adeirado qui venha simbora ai nisso

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aderado chegou...Eu disse adeirado o qui foi qui tu tivesse em são paulo? eu tive um pobrema cardíuco,o doto feiz um caceterismo,e disse qui eu num tivesse isstresse e qui eu cumesse uma cumida rica in ferro! ai eu disse voce vei pu lugar certo!pur que o sertão num tem istresse, voce vai tumá sopa de feixo demola de caminhão,suco de radiador de arrural,e mãe vai fazer sandáia japoneza no leite de coco qui é rica in burracha, voce vai ficar cum o coração novo..e nois vai fazer coisa qui num da istresse,pastorar passarim em barde de açude e pescarr....Nóis tava no riacho dus caçóte pescando quando eu de pur fé derardo puf! teve um piripaque. eu disse meu deur du céu a derardo vai ter um pobrema cardiuco... ele levato e disse n,ão pedo eu num tive umpobrema cardiuco eu tive um istresse... eu dise qui diabo di istresse aderardo??tu num sabe o que o sertão nuntem essa palavra istresse???o sertão é mais tranquile du qui nossa sinhora rezando balançano os péis numa nuve...ele disse eu tive um istresse com essa cascavéi qui ta nos meus pés balançando o maracá!Marrapáis conde eu olhei pá os pés de adrerardo, tinha uma cascavéi da grussura de um vrido de ineiscafè! eu tive uma raiva tão da mulesta dessa cascavéi rapaz... pur qui foi uma inresponsbilidade dela!!!! tá intendendo ? as cascavei num rái de dezoito légua da fazenda do meu pai , elas tudim cunhece os rudrigue de mederos e num tinha nada qui essa cascavéi ta nos pés de aderardo,qui ela sabe que aderardo é rudrigue de mederos e sabe qui adererdo é meu primo ....ai eu butei um oíá de guerra pa cascavéi... conde ela viu meu olhá de guerra!!

ai disse:A an qui nusseio que ,... eu disse an qui nusseio que não qui você ta errada!! ela disse an qui nusseio que... eu disse: você ta errada!!! ai ela quiria correr conde ela preparou pa correr eu butei o pé..ai ela subiu pa me morder rapaoz , ai eu de de garra com ela cuma mão , pegue ela asiim pelo percosso de lumas tapa na zorea e disse: cascaver !!! fila da puta! tu

quer me matar de veigonha quenga safada?!?!tu quer qui o povo pense qui riachos caçóte é o riio tietê,e qui esse barde de açúde é a venida polista quenga safada ?!?!?!?! tu num sabe que aderardo tem pobrema cardiuco!?!?!?! ai ela butou a linguinha pra fora e disse discurpe, ai adrerardo feis vuuuup! rapaiz ele deu um tique tão cachorro da mulesta qui incheu o bosso da camisa de terra e ralou a orea no chão,chegou lá no posto de saude butando os bofe pra fora ai o dotô disse: o sinhô ta sentindo falta de ar?? ai ele disse não.. eu to sintino é farta de sao paulo.ai nisso eu fui chegano,é dexe,dexe,dexe ele ir pa sao paulo , dexe ele ir pa sao paulo pur que um cabô co qui numpode ver uma casacaver pidindo discurpa a um sertanejo, um caba desse tem mais é qui ta im são paulo deixe ele ir ,deixe ele ir... ai pronto aderardo foi simbora ai nisso o doto me chamou...ei vamo acertar as conta?eu disse vamo!!!!!!!!!ai o doto disse : tem prano de sauude?? eu disse tem não eu nuntinha prano de aduecer...ai ele disse : home quer saber de uma coisa? vá simbóra!vá simbora ai eu disse: ochente!!! parece qui pego ar....

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Politicagem - Tire seu político do caminho - De domingo agora a oitoJessier Quirino

A tal da politicagem?É o acento circunflexo da palavrinha cocôÉ feito brigar com um gambáPois mesmo o cabra ganhandoSai arranhado e fedendoÉ dirigir dando réO cabra tem três espelhos E ainda olha pra trásE pode prestar atenção:Na boca do candidato é o mesmo Mané LuisTrabalho, honestidadeTrabalho, honestidade

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Por quê?Porque o povo gosta de mentira!Seu Manezinho BoleiroSuplente de merda vivaFoi dar uma de sinceroDizendo o que pretendiaTrabalhar de terça à quintaE roubar só o normalTeve uma queda de votação tão pra baixoQue até hoje ainda é suplenteTaí, fila da puta!

Tire seu político do caminhoQue eu quero passar com o eleitorHoje, pra esses peste eu sou ChiquinhoFí de Seu Chico aboiadorMas amanhã sou Chico véi que não dá tréguaAssim, táqui pra tu, fí duma éguaDe domingo agora a oitoÉ dia de eleiçãoÉ dia do pleiteanteDo fundo do coraçãoPerguntar: o que desejas?A quem tem de louça um cacoDe terra só tem nas unhasE mora de inquilinoNuma casa de botãoDe domingo agora a oitoÉ dia “arreganha-cofre”É de ajudar os que sofremÉ dia do estende a mãoE se agarrar com farraposDe mastigar vinte saposE não ter indigestãoÉ dia de expor na falaQue bem conhece o riscadoNinguém come mais insossoNinguém bebe mais salgadoDe domingo agora a oitoNão relampeja e nem choveÉ o dia que nos comoveÉ o grande dia “D”Agora, o dia “fuD”Vai ser de domingo à nove

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Rasga Rabo Bagunçador de BagunçaJessier Quirino

Trupizupe oia tu num me assustacom a fama da tua valentia

porque esta macheza é freguesia e até nem me parece tão robusta uma boa palmada não me custa pois no fundo eu te acho delicado se tu és um valente escolado eu quebrei no cacete a tua escola o teu mestre saiu de padiola e teu supervisor invertebrado.

No jardim de infância eu fui valente e o nome da escola era bufete no primário estudei no canivete no ginásio no bote de serpente como eu era um aluno inteligente logo cedo já tinha me formado Lampião tinha sido reprovado por froxura e por falta de frieza hoje, pós-graduado em malvadeza, vendo pena de morte no mercado.

Eu sou topada de unha encravadaSou gilete no mei do tobogãSou o flagra da foda no divãSou feiúra dum talho de inchadaSou um choque no furo da tomadaSou ferrugem na agulha de injeçãoSou judeu se vingando de alemãoCata-vento voando num comícioSou a falta de droga num hospícioQueimadura de larva de vulcão.

Sou rolo compressor desgovernadoLibanês dirigindo um carro-bombaSou uns 300 quilos de marombaDespencando do braço levantadoSou carrasco esperando um condenadoSou a queda fatal da guilhotinaMetralhada cruel de uma chacinaMarretada no dedo polegarEu sou o fósforo acesso pra fumarQue explodiu o tambor de gasolina.

Eu sou a folha perversa da urtigaDespontando no vaso sanitárioQuerosene na mão do incendiárioSolitária mexendo na barrigaSou machado afiado numa brigaSou o chifre botado em RomeuSou Menguele com raiva de judeuSou o tiro certeiro do arpãoSou a aids injetada no machãoQue enlouquece jurando que não deu.

Eu sou navalha na mão de delinqüenteJacaré triturando um caçadorTirotei dentro dum elevadorAraldite numa escova de denteEu sou ninho de cobra num acidente

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Sou ladrão seqüestrando um delegadoComeine depois do atentadoSou 500 mil watts de energiaSou tesoura cruel de cirurgiaQue ficou na barriga do operado.

Eu sou o estouro brutal de uma boiadaSou a fúria de um tubarão famintoCão de guarda trancado num recintoSou três tapas depois de uma facadaEu sou rinoceronte em disparadaExplosão de usina nuclearSou mudança que cai do décimo andarSou o corte inflamado do punhalCianureto maior que sonrrisalQue o nazista obrigou a mastigar.

Eu sou o maior beliscão do alicateMaçarico cortando gente ruimTiro ao alvo na cara de DelfimCriolina na sopa de tomateEu sou o pênalti perdido num empateSou scania sem frei na contramãoGente besta coberto de razãoMatador disfarçado de molengoSou torcida irada do flamengoPerseguindo o juiz que foi ladrão.

Eu sou explosão de foguete iranianoQue subiu carregado de safadoSou negrada invadindo o senadoDando o golpe em galego africanoPeixerada de paraibanoSou mijada na cara do doutorInstrumento de esquartejadorSou engasgo com bola de sinucaEu sou o tiro certeiro de bazucaQue matou o infeliz do ditador

Trupizupe prepara a tua cova é chegado o dia da decisão vai fazer tua última comunhão pois eu já preparei a tua prova de arame farpado vai ter sova vai lembrando do teu aprendizado pois eu já to ficando endiabrado só de raiva já dei um saculejo dei até beliscão num azulejo mas ainda não to mal-humorado.

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Turista BrasileiroJessier Quirino

Eu comprei uma Kombi véia pra fazer turismo

Menino foi um abismo que me aconteceu (2x)Eu botei uma cama dentro, eu botei uma banheraTelefone, geladera e não botei pneuNo meio do caminho, o pneu de um pipocoFoi aí que eu fiquei môco sem poder rodarEu disse pra morena, sou turista brasileroNão nasci pra borrachero vâmo passearTava no Ceará, que é vizinho do SaaraBotei um óculos na cara como um bom turistaSaí com uma morena com destino ignoradoFeliz e admirado, dando uma de artistaNo meio do passeio, com a nega dentro do matoTive que pagar o pato da situaçãoUsando a tentação que é melhor do que dinheiroEla fugiu com o borracheiro e me deixou na mão

Me deixou na mão, me deixou na mãoEla fugiu como borracheiro e me deixou na mão (2x)

_Mai Rapaz, o homem saiu de casa disguaritado de pneuPorque não passou em "Totinha" de Timbauba?_Agora, é Silverio Pessoa em pessoa

Eu comprei uma Kombi véia pra fazer turismoMenino foi um abismo que me aconteceu (2x)Eu botei uma cama dentro, eu botei uma banheraTelefone, geladera e não botei pneuNo meio do caminho, o pneu de um pipocoFoi aí que eu fiquei môco sem poder rodarEu disse pra morena, sou turista brasileroNão nasci pra borrachero vâmo passearTava no Ceará, que é vizinho do SaaraBotei um óculos na cara como um bom turistaSaí com uma morena com destino ignoradoFeliz e admirado, numa de artistaNo meio do passeio, com a nega

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dentro do matoTive que pagar o pato da situaçãoUsando a tentação que é melhor do que dinheiroEla fugiu com o borracheiro e me deixou na mão

Me deixou na mão, me deixou na mão, mamãeEla fugiu como borracheiro e me deixou na mão (2x)

Eu comprei uma Kombi véia pra fazer turismoMenino foi um abismo que me aconteceu (2x)Eu botei uma cama dentro, eu botei uma banheraTelefone, geladera e não botei pneuNo meio do caminho, o pneu de um pipocoFoi aí que eu fiquei môco sem poder rodarEu disse pra morena, sou turista brasileroNão nasci pra borrachero vâmo passearTava no Ceará, que é vizinho do SaaraBotei um óculos na cara como um bom turistaSaí com uma morena com destino ignoradoFeliz e admirado, numa de artistaNo meio do passeio, com a nega dentro do matoTive que pagar o pato da situaçãoUsando a tentação que é melhor do que dinheiroEla fugiu com o borracheiro e me deixou na mão

Me deixou na mão, me deixou na mão,Ela fugiu como borracheiro e me deixou na mão (2x)

Eu num te disse que butasse outro pneu, rapaz? (3x)

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Uma paixão pra SantinhaJessier Quirino

Xanduca de Mané GagoTinha querença mais euMe vestia de abraço

Bucanhava os beiço meuEra aquele tirineteParecia dois colcheteEu in nela e ela in nêu.

No apolegar das tetasNos chamego peneradoNas misturação das pernaNos cafuné do molengadoNos beijo mastigadinhoNos açoite de carinhoNós era bem escolado.

Era aquele tudo um poucoEra aquela amoridadeMas faltava na verdadeSensação de friviôcoUm querer, uma pujançaDaquela que dá sustançaNa homencia do cabôco.

No dia que`u vi SantinhaSobrinha do sacristãoO bangalô do meu peitoSe enfeitou feito um pavãoFoi quando esqueci XanducaSem mágoa sem discussãoPois vimos que nós só tinhaUma paixãozinha mixaUma jogada de fichaUma piola de paixão.

Santinha é a indivíduaQue misturou meu pensarQue me deixou friviandoSem nem sequer me olhar

Matutinha aprincesadaMulher de voz aflautadaOlhosa de se olharFulô de beleza finaÉ a tipa da meninaQue se deseja encontrar.

Mas Santinha é quase santaNem percebe o meu amorNão tem na boca um pecadoTem o beicinho encarnadoPintado a lápis de corSó tem olhos pra bondadeMas não faz a caridadeDe enxergar um pecador.

Ah! se eu fosse um monsenhorUm padre, um frei, um vigárioEu achucalhava os sinoDe riba do campanárioEu abria o novenárioEu enfeitava um andorBotava ela impezinha

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Feito uma santa rainhaPadroeira dos amor.

Arranjava um pedestalUm altar um relicárioChamava todas carolaChamava todo igrejárioE dizia em toda alturaCom voz de missionário:Oh! minha santa Santinha!Tire este manto celesteSaia deste relicárioOlhe pra mim e garantaQue vai deixar de ser santaQue`u deixo de ser vigário!

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Virgulino Lampião, Deputado FederáJessier Quirino

Seus Dotôres Deputadofalo sem tutubiápra mostrá que nós matutosabe se pronunciádizê que ta um presídiocom dó e matuticídioa vida nesse lugá

O Brasí surgiu de nósnós tudo que vem da massaderam um nó no mêi de nósque nós desse nó não passae de quatro em quatro anovem vocês com o veio planodesata o nó e se abraça

Tamo chêi dessa bosticede promessa e eleiçãodos que vem de vem em quantose rindo, estendeno a mãocandidato a caloteiroaprendiz de trapaceirocorruto, falso e ladrão.

A coisa ta enveigadata ruim de devenveigámeu sistema neuvosíssimovejo a hora se estoráse estóra eu não enganocuma diz o americanona matança eu tem norrá.

Quero que vocês refritao falá da minha fala

pelo cano do revóvemagine o tamãe da bala.

Vocês que véve arrimadonas bengala do podêdou um chuto na bengalamode alejado corrêdou dedo, faço mungangacanto Ouvira do Ypirangae mando tudo se fudê.

Acunho logo a tramelanas porta da corruçãotoco fogo na lixeirae passo de mão em mãocorto língua de quem mentequebro três ou quatro dentedos Deputado risão.

Político que come uvaem plena safra de mangavai pra lei dos desperdiçonas faca dos meus capanga.

Se eu der um tiro no matoe bater num marinheiroé porque tem mais honestodo que cabra trambiqueirodiante dessa nutiçanão haverá injustiçaé a lei dos cangaceiro.

Os deputado bom de pêiaeu tiro o “W” do nometiro vírgula dos discursoreticença e pisilonesapeco lei pra matutometo bala nesses putoe um viva no microfone.

Matuto que tem saúdepro trabaio ele é capaznós se vira, arruma águaas sementes e o preço em paznão vai sê protecionismoé a lei do Nordestinismodos Problemas Matutais.

Debuiado este discursopros Dotôre e Deputadota dizido minha metapra cem bilhão de roçadodepois não venham dizêque foi golpe de pudêproque não foram avisado

Partido dos Cangaceiroo PC dos naturapela lei da ignorançado Congresso Federá

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assinado CapitãoVirgulino LampiãoDeputado Federá.

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Voltando Pro NordesteJessier Quirino

Seu motorista, siga pro nordesteQue eu sou cabra da peste, quero ver o meu xodóMas na carreira, não passe de uma centena,Ligue o rádio, puxe a antena,Sintonize num forró

Daqui pra frente são três dias de viagem,Eu já to vendo miragemÉ a saudade matadeiraSinto o balanço da minha rede amarela,Quando o carro na banguela embiloca na ladeiraNesse balanço eu sinto cheiro de cachaça,De rolinha com fumaça, cheiro quente de beijuOuço o ciscado do frango de capoeira,Dos pinto na piadeira,Mugido de boi-zebu

Eu tô sentindo cheiro azedo de “coaiada”,Cheiro bom de tripa assada subindo do fogareiroEscuto o berro da “oveia” desgarrada,Chocaiado da boiada,Aboio do boiadeiro,Escuto o choro dos meninos arengando,Só tem doze se criando e a tudim eu quero bemNão vejo a hora de chegar naquela salaDe abrir a minha mala, distribuir os terém

Seu motorista, lá no fim desse asfaltoO senhor pare que eu saltoQue minha goela deu um nóTá vendo aquela dentro daquela rede amarela?Adivinhe quem é elaEla é o meu xodó

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Vou-me Embora pro PassadoJessier Quirino

Vou-me embora pro passadoLá sou amigo do reiLá tem coisas "daqui, ó!"Roy Rogers, Buc JonesRock Lane, Dóris DayVou-me embora pro passado.

Vou-me embora pro passadoPorque lá, é outro astralLá tem carros VemaguetJeep Willes, MaverickTem Gordine, tem BuickTem Candango e tem Rural.

Lá dançarei TwistHully-Gully, Iê-iê-iêLá é uma brasa mora!Só você vendo pra crêAssistirei Rim Tim TimOu mesmo Jinne é um GênioVestirei calças de NycronFaroeste ou DurabemTecidos sanforizadosTergal, Percal e BanlonVerei lances de anáguaCombinação, califonEscutarei Al Di LáDominiqui Niqui NiquiMe fartarei de GrapetteNa farra dos piqueniquesVou-me embora pro passado.

No passado tem Jerônimo Aquele Herói do SertãoTem Coronel LudugeroCom Otrope em discussãoTem passeio de LambretaDe Vespa, de BerlinetaMarinete e Lotação.

Quando toca Pata PataCantam a versão musical"Tá Com a Pulga na Cueca"E dançam a música sapecaÔ Papa Hum Mau MauTem a turma prafrentexCantando Banho de LuaTem bundeira e piniqueira Dando sopa pela ruaVou-me embora pro passado.

Vou-me embora pro passadoQue o passado é bom demais!

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Lá tem meninas "quebrando"Ao cruzar com um rapazElas cheiram a Pó de ArrozDa Cachemere BouquetCoty ou Royal BriarColocam Rouge e LaquêEnglish Lavanda AtkinsonsOu Helena RubinsteinSaem de saia plissadaOu de vestido TubinhoCom jeitinho encabuladoFlertando bem de fininho.

E lá no cinema RexSe vê broto a namorarDe mão dada com o guriCom vestido de organdiCom gola de tafetá.

Os homens lá do passadoSó andam tudo tinindoDe linho DiagonalCamisas Lunfor, a talSapato Clark de cromoOu Passo-Doble esportivoOu Fox do bico finoDe camisas Volta ao MundoCaneta Shafers no bolsoOu Parker 51Só cheirando a Áqua VelvaA sabonete GessyOu Lifebouy, EucalolE junto com o espelhinhoPente Pantera ou FlamengoE uma trunfinha no quengoCintilante como o sol.

Vou-me embora pro passado Lá tem tudo que há de bom!Os mais velhos inda usam Sapatos branco e marrom E chapéu de aba largaRamenzone ou Cury LuxoOuvindo Besame MuchoSolfejando a meio tom.

No passado é outra história!Outra civilização...Tem Alvarenga e Ranchinho Tem Jararaca e RatinhoAprontando a gozaçãoTem assustado à VermuthAo som de Valdir CalmonTem Long-Play da MocamboMas Rosenblit é o bomTem Albertinho LimontaTem também Mamãe DoloresMarcelino Pão e VinhoTem Bat Masterson, tem Lesse

Túnel do Tempo, tem ZorroNão se vê tantos horrores.

Lá no passado tem corso Lança perfume RodouroGeladeira KelvinatorTem rádio com olho mágicoABC a voz de ouroSe ouve Carlos GalhardoEm Audições MusicaisPiano ao cair da tardeCancioneiro de SucessoTem também Repórter EssoCom notícias atuais.

Tem petisqueiro e bufê Junto à mesa de jantarTem bisqüit e bibelôTem louça de toda corBule de ágata, alguidarSe brinca de cabra cegaDe drama, de garrafãoCamoniboi, balinheiraDe rolimã na ladeiraDe rasteira e de pinhão.

Lá, também tem radiola De madeira e baquelita Lá se faz caligrafiaPra modelar a escritaSe estuda a tabuadaDe Teobaldo MirandaOu na Cartilha do PovoLendo Vovô Viu o Ovo E a palmatória é quem manda.Tem na revista O Cruzeiro A beleza femininaTem misse botando bancaCom seu maiô de elancaO famoso CatalinaTem cigarros YolandaContinental e AstóriaTem o Conga Sete VidasTem brilhantina GlostoraEscovas Tek, FrisanteRelógio Eterna MaticCom 24 rubisPontual a toda hora.

Se ouve página sonora Na voz de Ângela Maria"— Será que sou feia?— Não é não senhor!— Então eu sou linda?— Você é um amor!..."

Quando não querem a paqueraMulheres falam: "Passando,Que é pra não enganchar!""Achou ruim dê um jeitim!"

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"Pise na flor e amasse!"E AI e POFE! e quizilaMas o homem não cochilaPassa o pano com o olharSe ela toma PostafenQue é pra bunda aumentarEle empina o polegarFaz sinal de "tudo X"E sai dizendo "Ô Maré!Todo boy, mancando o péInsistindo em conquistar.

No passado tem remédioPra quando se precisarLá tem Doutor de famíliaQue tem prazer de curarLá tem Água RubinatMel Poejo e AsmapanBromil e CapivarolArnica, PhimatosanRegulador XavierTem Saúde da MulherTem Aguardente AlemãTem também CapilotonPentid e TerebentinaXarope de Limão BraboPílulas de Vida do Dr. RossTem também aqui pra nósUma tal Robusterina A saúde feminina.

Vou-me embora pro passadoPra não viver sufocadoPra não morrer poluídoPra não morar enjauladoLá não se vê violênciaNem droga nem tanto mauNão se vê tanto barulhoNem asfalto nem entulhoNo passado é outro astralSe eu tiver qualquer saudadeEscreverei pro presenteE quando eu estiver cansadoDa jornada, do batenteTerei uma cama PatenteDaquelas do selo azulNum quarto calmo e seguroOnde ali descansareiLá sou amigo do reiLá, tem muito mais futuroVou-me embora pro passado

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Zé Qualquer e Chica BoaJessier Quirino

Empurra a cancela ZéAbre o curral da verdadePra mostrar pra mocidadeComo é que vive um ZéSem um conforto sequerCom sua latas furadasE a cacimba tão distanteUm Zé arame farpanteFeito de gente e de fé.

O Zé que se aprisionaAos cacos velhos da enxadaQue nasce herdeiro do nadaE qualquer lado é seu caminhoMedalhas, são seus espinhosQuedas de bois são batalhasSeus braços, duas cangalhasDe taipa e barro é seu ninho.

O Zé metido em gibãoNuma besta atrás dum boiPor entre as juremas pretasPor onde o bicho se foiA poder de grito e oisPeitando graveto tortoUm dos três vai sair mortoOu ele, a besta ou o boi.

É cabôco elefantadoQue não tem medo de cruzQue fita o sol faiscandoDez mil peixeiras de luzO Zé que assim se conduzNas brenhas deste sertãoO Zé Ninguém, Zé QualquerMas o Qualquer desse ZéNão é qualquer qualquer não.

É um Qualquer niqueladoAcabestrado num ZéNão é Zé pra qualquer nomeNem Qualquer pra qualquer ZéDiante desses apoisEu vou dizer quem tu soisPode escrever se quiser:

Sois argumento de foiceSois riacho correntosoTu sois carquejo espinhosoSois calo de coronelSois cor de barro a granelSois couro bom que não mofaSois um doutor sem farofaSem soqueira de anel.

Page 21: Poesias de Jessier

Sois umbuzeiro de estradaSois ninho de carcaráSois folha seca, sois galhoSois fulô de se cheirarSois fruto doce e azedoSois raiz que logo cedoQuer terra pra se enfiar.

No inverno sois caçoteEspelho de céu no chãoChorrochochó de biqueiraEspuma de cachoeiraSois lodo, sois timbungãoSois nuvem quebrando a barraViolino de cigarraAfinando a chiação.

Sois bafo de cuscuzeiraSois caldo de milho quenteSois a canjica do milhoSois milho pessoalmenteTu sois forte no batenteTu sois como milho assadoSe não for bem mastigadoSai inteirinho da gente.

Tu desarruma as tristezasCaçando uma risadinhaSois doido, doido tu soisTu sois um baião-de-doisTu sois pirão de farinhaSois bruto que se ameigaNo amor tu sois manteigaNuma creamecrackerzinha.

Sois um Zé Qualquer do matoProvador de amargorTu sois urro, sois maciçoDevoto do padre CiçoSois matuto rezadorO Zé Qualquer em pessoaMarido de Chica BoaO teu verdadeiro amor.

É Francisca CalimériaFeliciana QualquerChica Boa é apelidoPode chamar quem quiserMas digo as outras pessoasNão digam que Chica "É" boaO cabra que assim caçoaVê direitim quem é Zé.

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Pesquisado por Casey Ryback