al thawra - março 2012

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A Revolução continua! Al Thawra N o 1 - março / abril 2012

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Al Thawra - Março 2012

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Page 1: Al Thawra - Março 2012

A Revolução continua!

Al ThawraNo 1 - março / abril 2012

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Editorial

Enquanto os le-vantes continuam a sacudir o mundo árabe, no fechamen-to deste boletim, o registro de mais um ataque por parte de Israel à faixa de Gaza. Segundo notí-

cias veiculadas pela imprensa internacio-nal, o saldo em apenas quatro dias (a partir de 9 de março) foi de 25 mortos e mais de 70 feridos. Na mesma semana, o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, esteve em Washington para pedir apoio a invasão ao Irã. De olho no seu eleitorado, o presiden-te dos Estados Unidos, Barack Obama, contudo, prefere aguardar. Mas faz ques-tão de declarar o sagrado apoio ao estado sionista. A solidariedade internacional faz-se fundamental.

Enquanto isso, tendo protagonizado grandes revoluções em 2011, que resul-taram na queda de quatro ditaduras, o mundo árabe permanece movimentado. No Egito, as massas voltam às ruas, assim como no Bahrein. Na Líbia, a população rechaça o governo interino do Conselho Nacional de Transição e o prenúncio é de que continue a se levantar para assegurar as necessárias transformações. Na Síria, a revolução atinge o ponto alto. Sem qual-quer possibilidade de recuo diante de um ditador sanguinário, a situação avança

para uma guerra civil.Peça chave no jogo geopolítico na re-

gião, a Palestina anseia por mudanças. Enquanto isso, seus cidadãos promovem suas próprias manifestações, seja em so-lidariedade às revoluções nos países vizi-nhos, seja contra o apartheid a que estão submetidos. A resistência dentro e fora dos territórios ocupados segue. Em 25 de fe-vereiro último, 8 mil marcharam contra os assentamentos e a política segregacionis-ta em Al Khalil (nome árabe da cidade de Hebron, na Cisjordânia). Em 30 de março, Dia da Terra para os palestinos, uma gran-de marcha rumo a Al Quds (Jerusalém) está programada.

Os palestinos expandem ainda o cha-mado por BDS (boicotes, desinvestimen-tos e sanções) ao apartheid de Israel. Na contramão, o governo brasileiro tem fir-mado nos últimos anos acordos militares com Israel e universidades consagradas têm ampliado os convênios de cooperação com instituições que sustentam a ocupa-ção de territórios palestinos. Diante desse cenário, intensificar a campanha de BDS em âmbito nacional é imprescindível. Pro-gramado para ocorrer em Porto Alegre, entre 28 de novembro e 1o de dezembro deste ano, o Fórum Social Palestina Livre reveste-se de grande importância para se amplificar essa iniciativa em todo o Brasil e na América Latina. Além de levantar essa bandeira, é o momento de a solidariedade

internacional erguer suas vozes pelo direi-to de retorno, o fim da ocupação israelense e a liberdade aos presos políticos, entre outras demandas urgentes dos palestinos e palestinas. O ano de 2012 promete.

Diante de toda essa movimentação, nós, que estivemos envolvidos em construir so-lidariedade a todas as revoluções (Egito, Tunísia, Líbia, Síria, Iêmen e Bahrein) e à resistência palestina, decidimos lançar este boletim para discutir as perspectivas desse grandioso processo revolucionário e desfazer mitos. Não é um informativo acadêmico, é um boletim para os ativistas que estão diretamente envolvidos nos mo-vimentos de solidariedade. Neste primeiro número, artigos sobre a Palestina, a Síria, o Egito, a Líbia e também sobre o prota-gonismo feminino nas revoluções, no mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher. E uma entrevista sobre docu-mentário gravado em campos de refugia-dos palestinos situados na Jordânia.

Boas lutas!

Soraya [email protected]

Mohamed [email protected]

Fábio [email protected]

Na onda das revoluções

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BDS para denunciar e combatero apartheid na Palestina

“A definição legal para apartheid se aplica a qualquer situação no mundo em que se encontram três elementos centrais: dois grupos raciais podem ser identifica-dos; atos desumanos são cometidos contra o grupo subordinado; e ações são cometi-das sistematicamente no contexto de um regime institucionalizado de dominação de um grupo sobre outro”. O conceito foi apresentado pelo Tribunal Russell sobre a Palestina em sessão realizada em novem-bro de 2011 na África do Sul que concluiu ser o regime imposto por Israel aos pales-tinos de apartheid.

A conclusão fundamenta-se em fatos. Entre eles, a discriminação cotidiana im-posta aos palestinos que vivem desde 1948 sob estado teocrático judeu – cerca de 1,5 milhão (20% do total da população que ali se encontra). Apesar de terem direito a voto, não têm reconhecidos os mesmos

direitos humanos que o restante da popu-lação, por não serem judeus. Além disso, os 3,9 milhões que vivem nos territórios ocupados ilegalmente por Israel em 1967 – ou seja, Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental – não podem transitar livremente entre as cidades da Palestina, submetidos a uma diferenciação nas cores de placas de automóveis e documentos de identidade. Há estradas exclusivas para colonos ju-deus e uma série de aparatos, como muros, cercas, checkpoints, que impedem ou di-ficultam sua circulação, garantem a colo-nização sobre as terras árabes e o controle militar por parte da potência ocupante.

O regime de apartheid, como observou o Tribunal Russell, é proibido pela lei in-ternacional e considerado crime contra a humanidade – determinação motivada pe-lo modelo que prevaleceu na África do Sul até os anos 90 de segregação de negros e, portanto, sua distinção em relação aos brancos.

Em clara violação de princípios uni-versais, Israel promove um apartheid que chega a ser ainda mais grave do que aque-le. Segundo a jornalista Naomi Klein de-nuncia em seu livro “A doutrina do choque – a ascensão do capitalismo de desastre”, “as semelhanças são grandes, mas há di-

ferenças também. Os bantustões da África do Sul eram, essencialmente, acampamen-tos de trabalho, uma forma de manter os trabalhadores africanos sob estreita vigi-lância e controle e forçá-los a trabalhar nas minas por baixos salários.

Israel construiu um sistema destinado a fazer o oposto: impedir que os trabalha-dores trabalhem, com uma rede de amplas cercas de contenção, para milhões de pes-soas que foram classificadas como huma-nidade excedente”.

Em outras palavras, enquanto os negros na terra de Nelson Mandela eram autoriza-dos a sair dos guetos mediante passes para servir de mão de obra barata, nos territórios ocupados, imigrantes foram usados como substituição à força de trabalho nativa. Es-ses, ainda segundo Klein, serviriam para consolidar a face mais visível da agressiva colonização israelense – com a multipli-cação de assentamentos judeus em terras árabes, impulsionada em especial por uma leva de russos após os acordos de Oslo em 1993. Entre esse ano e 2000, o número de colonos dobrou, conforme escreveu a jor-nalista.

Como Klein demonstra no livro “A doutrina do choque”, Oslo foi um ponto de virada numa política que sempre teve

Soraya Misleh

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Diante de uma economia a solidificar o regime de apartheid, o contraponto veio sob a forma de um chamado da socieda-de civil palestina por BDS (boicotes, de-sinvestimentos e sanções). Feito em 9 de julho de 2005 e reiterado desde então, traz como proposta que governos e sociedade civil de todo o mundo promovam embar-gos e sanções a Israel até que se reconhe-çam os direitos fundamentais do povo palestino. Assim, tem como metas: o fim imediato da ocupação militar e coloniza-ção de terras árabes e a derrubada do muro de segregação, que vem sendo construído na Cisjordânia desde 2002 e divide terras, famílias e impede a livre circulação; a ga-rantia de igualdade de direitos civis a to-dos os habitantes do território histórico da Palestina, independentemente de religião ou etnia; e o respeito ao direito de retor-no dos refugiados palestinos às suas terras e propriedades (estimados em cerca de 6 milhões em todo o mundo).

Face a imagens e fatos que comprovam o apartheid a que tem sido submetida essa população, em diversas partes do globo a campanha de BDS tem se intensificado. Na Europa, governos como o da Noruega

desinvestiram em contratos com empresas israelenses. Ademais, cidadãos comuns recusam-se a comprar produtos oriundos da potência ocupante, sindicatos e inte-lectuais têm se engajado nessa luta, bem como universidades têm cancelado convê-nios de cooperação com instituições que mantêm e legitimam o regime de segre-gação. Nos Estados Unidos, também tem

havido mobilizações nesse sentido. No Brasil, organizações sociais, estudantis, sindicais e populares começam a impul-sionar a iniciativa. Reunidas na Frente em Defesa do Povo Palestino, lançaram em 20 de setembro de 2011 a campanha nacional por BDS.

Tal ação faz-se fundamental perante forte ofensiva por parte de Israel em con-quistar mercados aqui e em toda a América Latina. Investida essa que tem encontrado guarida por parte do governo brasileiro, na contramão da tendência de fortalecimento do BDS ao apartheid de Israel em outras partes do globo e em franco descumpri-mento das suas obrigações em não assistir a violações do direito internacional. Nessa linha, o País ratificou em 2007 o TLC (Tra-tado de Livre Comércio) Mercosul-Israel e tem ampliado os acordos militares com o estado sionista. De acordo com estudo feito pela organização palestina Stop the Wall, o TLC em questão inclui até mesmo a venda de produtos e serviços feitos em assentamentos ilegais na Cisjordânia.

Ainda conforme aponta a análise, a cooperação e os contratos militares vêm sendo facilitados por um acordo de coo-peração de segurança firmado entre a po-tência ocupante e o Executivo Federal em novembro de 2010.

Fortalecendo essa parceria, as Forças Armadas brasileiras abriram um escritório em Tel Aviv, capital de Israel, em 2003. E têm havido constantes intercâmbios, com delegações daqui sendo enviadas para o estado sionista e de lá sendo acolhidas no território nacional – o qual tem servido como ponte para que empresas israelen-ses entrem em contato com países latino-americanos, conforme declarações dadas publicamente por autoridades brasileiras.

Complementa esse apoio a instalação no País de indústrias armamentistas, como a Elbit Systems em Porto Alegre. Tal, também segundo denuncia a organização palestina, “fornece armas que o Exército israelense usa para o assassinato de civis, bem como equipamentos para o muro do

Boicotes, desinvestimentos e sanções

na sua base a limpeza étnica dos habitan-tes nativos – os palestinos. De 1948, ano que marca a sua nakba (catástrofe), com a criação unilateral do Estado de Israel, até então havia certa interdependência econô-mica, a qual foi interrompida.

“Todos os dias, cerca de 150 mil pales-tinos deixavam suas casas em Gaza e na Cisjordânia para limpar as ruas e construir as estradas em Israel, ao mesmo tempo em que agricultores e comerciantes enchiam

caminhões com produtos para vender em Israel e em outras partes do território”, aponta Klein na obra. Após os acordos de 1993, o estado judeu se fechou a essa mão de obra, que desafiava o projeto sionista de exclusão dessa população.

Simultaneamente, Israel passou a se apresentar, nas palavras da jornalista, “como uma espécie de shopping center de tecnologias de segurança nacional”. Em seu livro, a autora afirma que, ao final

de 2006, ano da recente invasão de Israel ao Líbano, a economia do estado sionista, baseada fortemente na exportação militar, expandiu-se vertiginosamente (8%), ao mesmo tempo em que acentuou-se a de-sigualdade social dentro da própria socie-dade israelense e as taxas de pobreza nos territórios palestinos alcançaram índices alarmantes (70%).

Aline Baker

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apartheid e os assentamentos na Cisjordâ-nia”.

A companhia comprou várias empresas nacionais entre as quais a AEL Sistemas, que tem contratos com a Embraer (Em-presa Brasileira de Aeronáutica). De olho nos Jogos Olímpicos de 2016 e na Copa do Mundo de 2014 – a serem sediados em território nacional, duplicará até 2013 seus investimentos no Brasil, o que foi assegu-rado em visita do prefeito da capital gaú-cha, José Fortunati, a Israel em fevereiro último. Iniciativas como essa levaram o Brasil a alçar a vergonhosa classificação de segundo maior importador de armas de Israel, como afirmou o coordenador do Stop the Wall, Jamal Juma, em visita ao País em novembro último. Pressionar, portanto, o governo brasileiro a que rompa unilateralmente de imediato esses acordos é objeto crucial da campanha por BDS lançada em setembro último.

Além disso, seu objetivo é conscientizar os consumidores sobre o apartheid promo-vido contra os palestinos e, dessa forma, levá-los a se engajarem na campanha de

boicotes a produtos da potência ocupante. Entre eles, estão os da marca Café Três Corações, cuja empresa firmou joint ven-ture com a israelense Strauss Coffee, que

teria divulgado em seu site em hebraico a cooperação com o exército sionista. Pela colaboração, a marca vem sendo boicota-da em países da Europa.

Cessar a cooperação acadêmica e culturalEssa é outra linha de frente nessa luta.

Entre seus adeptos estão a própria Naomi Klein e o cantor Roger Waters, o qual fará turnê pelo Brasil em abril próximo, pas-sando inclusive por Porto Alegre.

Conforme escreve o ativista Omar Bar-ghouti em “BDS – Boycott, divestment, sanctions, the global struggle for Pales-tinian rights”, nesse sentido, o chamado palestino reivindica: cessar qualquer for-ma de cooperação acadêmica e cultural, colaboração ou projetos com instituições israelenses; suspender todas as formas de fundos e subsídios a essas e “desinvestir”

nelas; trabalhar para condenar as políticas de Israel e pressionar pela adoção de re-soluções nesse sentido; apoiar instituições acadêmicas e culturais palestinas sem con-trapartida em relação ao estado sionista. A prisão sistemática de intelectuais por parte de Israel pode servir de ingrediente a for-talecer essa iniciativa.

No País, denunciar arbitrariedades co-mo essa é tarefa essencial da campanha por BDS, perante um quadro nada alenta-dor em que instituições de ensino superior têm firmado convênios de cooperação com instituições israelenses. Uma das princi-

pais, a USP (Universidade de São Pau-lo), tem seguido por esse caminho des-de 1994. Um desses acordos, inclusive, é com a Universidade de Ariel, situada na colônia que leva esse nome, um dos maiores assentamentos israelenses em terras palestinas. Firmado em 2010 com o Instituto de Ciências Matemá-ticas e de Computação da universidade pública paulista, tem vigência de cinco anos.

Além de afronta ao direito interna-cional, tais acordos funcionam, como afirmou Indra Habash, da Frente Pales-tina da USP, em artigo de sua autoria sobre o tema, “como instrumento faci-litador e normalizador da situação de ilegalidade das colônias israelenses, da construção do muro de separação e dos crimes cometidos contra os palestinos”.

Como divulga ela em seu texto, relatório do AIC (Alternative Information Center) não deixa dúvidas sobre isso. Aponta que “todas as principais instituições acadêmi-cas em Israel estão envolvidas na ocupação e apoiam plenamente as forças de seguran-ça israelenses e suas políticas em relação aos palestinos”. E ainda que a educação ali “não é isenta de questões políticas e suas universidades são parte indispensável do regime de apartheid israelense”. Frente a isso, a autora conclui: “A longo prazo, os países e suas instituições perderão credibi-lidade se não defenderem, de fato, o direi-to internacional e humanitário e os valores universais garantidos ao povo palestino, incluindo os direitos à autodeterminação, à igualdade e ao retorno.”

Claro está que a campanha por BDS ao apartheid de Israel é estratégica. Elevá-la ao topo da lista da solidariedade interna-cional pela Palestina é, portanto, tarefa urgente. O Fórum Social Palestina Livre, a se realizar entre 28 de novembro e 1o de dezembro em Porto Alegre, pode servir de impulso nesse sentido. O que exige que se consolide como espaço de discussão e de-liberação de iniciativas concretas para se pôr fim a mais de 60 anos de colonização e limpeza étnica sionistas. Uma intifada por boicotes, desinvestimentos e sanções é o caminho para firmar-se na Palestina o que Omar Barghouti denomina em seus escri-tos “momento África do Sul”.

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Líbia: povo comemora aniversário da revolução

“Homens, mulheres e crianças tomaram as ruas de Trípoli, Ben-gazi, Misrata e outras cidades no entardecer da quinta-feira para iniciar as celebra-ções.” Dessa forma a Al Jazeera descreveu as manifestações em todo o país no aniver-sário da revolução, em 17 de fevereiro de 2012. “Eu não tenho palavras para descre-ver minha felicidade. Toda Trípoli está em júbilo”, afirmou Naima Misrati, uma mo-radora de Trípoli, àquele jornal.

No entanto, essa alegria não é comparti-lhada pelo governo interino nomeado pelo CNT (Conselho Nacional de Transição), nem pelas potências colonialistas. O go-verno não organizou nenhuma comemora-ção oficial, sob alegação de respeito aos 15 mil mortos pelas forças de Kadafi durante a revolução. Na verdade, está desprestigia-do junto à população, mal pode aparecer em público e não tem o controle do país. O repórter Tony Birtley, da Al Jazeera, re-lata: “As milícias estão fora de controle e muito bem armadas. Quando encontrei o vice-primeiro-ministro, ele disse: ‘Você tem que entender que nossa segurança ain-da está nas mãos deles (as milícias). Nós

precisamos deles para a segurança’”.O desespero das potências colonialistas

é visível. O New York Times afirma que a situação na Líbia é de caos crescente por conta de “um governo cuja autoridade não vai além dos seus escritórios e de milícias fartamente armadas”. O mesmo porta-voz do imperialismo estadunidense relata que só em Misrata, um dos centros da revolu-ção, há cerca de 250 milícias populares, segundo grupos de direitos humanos.

No último dia 2 de março, a ONU (Or-ganização das Nações Unidas) divulgou um relatório que critica a fragilidade do governo interino em coibir as ações das milícias revolucionárias, que, na sua ava-liação, violam os direitos humanos e o estado de direito. O relatório reconhece

que o governo Kadafi cometeu crimes con-tra a humanidade, mas afirma que as milícias também cometeram abusos: prisões em massa de apoiadores do ditador e execuções extrajudiciais, como a do próprio Kadafi. Além disso, critica a perseguição aos mo-radores de Tawergha pelas milícias de Mis-rata. Esse último local resistiu durante meses a um cerco sanguiná-

rio de Kadafi organizado a partir da cidade de Tawergha. Curiosamente, tal relatório critica ainda a falta de investigações sobre os bombardeios da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) que mataram pelo menos 60 civis e feriram outros 55, segundo a ONU.

É claro que numa revolução contra um ditador assassino se estabelece uma jus-tiça revolucionária. Mussolini, preso em Milão, foi executado “extrajudicialmente” e seu corpo exposto aos moradores por vá-rios dias. Após a revolução cubana, os im-perialistas protestaram contra a execução "extrajudicial" de contrarrevolucionários no paredão. Não é difícil prever o que fará a população síria quando colocar as mãos no ditador assassino Bashar el-Assad.

Armamento e poderO desespero dos países imperialistas é

compreensível. Kadafi já caiu há seis me-ses, mas a produção de petróleo ainda está em 40% do volume anterior à revolução, e o governo transitório do CNT, que é aliado do imperialismo, não tem o controle sobre centenas de milícias populares que são o poder efetivo nas ruas.

O imperialismo quer o desarmamento imediato das milícias populares para asse-gurar seus interesses. Mas a história mostra que os interesses da revolução são outros. Já no século XIX, o revolucionário socia-lista Karl Marx defendia o armamento da população através de milícias como um direito democrático do povo trabalhador, já que o monopólio de armas nas mãos do Estado só interessaria aos burgueses capi-talistas.

A posse das armas na verdade determi-

na quem tem o poder. Essa é a lição da re-volução no Egito. Desprovidos de armas, os revolucionários egípcios são reprimidos pela polícia do regime e não conseguem estabelecer um novo poder. Na Líbia não é assim.

No dia 13 de fevereiro último, a Asso-ciated Press relatou que representantes de 100 milícias da região oeste da Líbia, onde ficam Trípoli e as cidades nas montanhas

de Nafusah, formaram uma nova federação para evitar disputas internas às milícias e para pressionar por direitos e reformas. O líder da nova federação, coronel Mokhtar Fernana, denunciou que o governo interino quer sequestrar a revolução, desarmando as milícias revolucionárias e formando um novo exército com kadafistas. Ele afirmou que os milicianos não entregarão armas para um governo corrupto.

Fábio Bosco

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PerspectivasA proposta do governo interino e das

potências colonialistas é clara: constituir um governo forte ligado ao imperialismo para desarmar a população e retomar in-tegralmente a exportação de petróleo aos países europeus.

Para isso, estão chamando eleições para uma Assembleia Constituinte, em 23 de junho. Nessa, 20 assentos entre 200 serão destinados às mulheres. Esperam que das eleições surja um governo com legitimidade para impor uma ordem ca-pitalista. Ao mesmo tempo, para ganhar tempo, aumentaram os salários dos traba-lhadores.

Os revolucionários precisam trilhar um caminho diferente. As milícias estão atomizadas e, às vezes, lutam entre si. É necessário uní-las em uma federação nacional que destitua o governo interino

e assuma o poder. Sua missão é julgar e punir os líderes kadafistas, garantir am-plas liberdades democráticas para que a população trabalhadora possa governar, com direito de organizar sindicatos livres e partidos políticos, e nacionalizar o pe-tróleo para atender as demandas sociais por emprego, salário, educação, saúde e moradia.

Além disso, um governo revolucio-nário dos trabalhadores tem que apoiar a extensão da revolução a todos os países árabes e enfrentar Israel e as potências imperialistas.

O principal obstáculo está na ausência de uma organização política revolucio-nária que lute por constituir esse poder alternativo baseado nas milícias popula-res armadas contra o governo interino do CNT e o imperialismo.

Muammar Kadafi (1942-2011)Do nacionalismo árabe ...

Em setembro de 1969, o coronel Ka-dafi afasta o rei Idris e assume o poder. Seguindo o exemplo do egípcio Gamal Adbel Nasser, instaura um regime sem liberdades democráticas, mas que en-frenta os interesses imperialistas.

Seu governo fecha as bases militares estrangeiras em solo líbio e nacionaliza

a principal riqueza do país, o petróleo, cujos recursos passa a utilizar para ele-var o nível de vida da população.

No plano internacional, Kadafi apoiou lutas e organizações nacionalis-tas e socialistas em vários países, entre as quais o Congresso Nacional Africano de Nelson Mandela, que liderou a revo-

lução negra contra o apartheid na África do Sul, e o IRA (Exército Republicano Irlandês), que lutava contra a ocupação britânica.

Opunha-se à existência do Estado de Israel. Por conta dessa política, a Líbia foi atacada pela força aérea estaduniden-se em 1986.

... a lacaio do imperialismo

Em 1999, Kadafi entregou ao impe-rialismo dois líbios suspeitos de explodir o jato da Pan Am que sobrevoava a cida-de de Lockerbie, na Escócia, em 1986. Em 2003 ele aceitou indenizar as famí-lias com US$ 2,7 bilhões.

Em 2001, Kadafi foi um dos primei-ros líderes árabes a condenar os ataques de 11 de setembro em Nova Iorque e o primeiro a exigir a prisão de Bin Laden, dando apoio tácito à invasão do Afega-nistão.

Iniciou então uma colaboração com serviços secretos estadunidense e britâ-nico e outros governos ocidentais sobre “terrorismo”, armas nucleares e imigra-ção. Tony Blair, então primeiro-ministro britânico, e Condoleeza Rice, então se-cretária de Estado dos EUA, visitaram Kadafi em Trípoli. O ditador líbio de-clarou à Al Jazeera sobre Condoleeza: “Eu a admiro e estou orgulhoso sobre a maneira como ela dá ordens aos líderes árabes.”

Nos últimos anos, patrocinou a cam-panha eleitoral de Nicolás Sarkozy, che-fe do imperialismo francês, e era amigo de Sílvio Berlusconi, então primeiro-ministro italiano.

Abandonou a luta contra Israel e pas-sou a defender um estado único que cha-mava de "Isratina" (Israel + Palestina).

Na Líbia, promoveu um amplo pro-grama de privatizações, incluindo o pe-tróleo. Seu filho Saif defendia implantar zonas francas para corporações multina-cionais, transformar o país num paraíso fiscal livre de impostos para estrangeiros e numa Dubai do norte da África com hotéis de luxo.

Para eliminar qualquer dissidência, promovia execuções públicas televisio-nadas para toda a população líbia. Bom-bardeou Benghazi e outras cidades para coibir um levante liderado por islâmicos. Assassinou 1.200 prisioneiros na prisão de Abu Salim.

No entanto, a revolução democrática

iniciada em Benghazi em 15 de feverei-ro de 2011 foi o seu fim. A população se revoltou contra a prisão de um advoga-do. O desemprego era de 30%, o descaso com a população era tanto que até mes-mo o lixo se acumulava nas ruas, sem coleta.

A revolução se espalhou por todo o país. As potências imperialistas aliadas de Kadafi perceberam que o ditador não teria mais condições de defender seus interesses e em 19 de março iniciaram bombardeios contra a Líbia. O objetivo foi impedir que uma revolução demo-crática vitoriosa ameaçasse os interesses das multinacionais.

As milícias revolucionárias entraram em Trípoli em 12 de agosto. Em 20 de outubro, as milícias populares de Misra-ta encontraram o ditador e o executaram imediatamente aos gritos de "Deus é Grande" e tiros ao ar. Imitando o ditador, seu corpo foi disponibilizado para exibi-ção pública.

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Síria: armar os revolucionários para derrubar Bashar e retomar as colinas de Golã

Mohamed El-Kadri

Há um ano, no dia 15 de março, come-çou a revolução síria. Inspirada nas revolu-ções tunisiana, egípcia e líbia, a população de Deraa tomou as ruas para protestar con-tra a prisão de crianças que supostamen-te pixaram um muro e exigir reformas. A resposta do ditador Bashar veio rápida e cruel. Comandada por seu irmão Maher, a quarta divisão assassinou dissidentes, su-focando os protestos em Deraa.

No entanto, a revolução radicalizou e se nacionalizou. Toda sexta-feira era a mesma coisa. De Deraa a Idlib, passando por Hama e Homs, e de Deir el Zour aos subúrbios de Damasco, o povo vai às ruas cantando: “Vá embora Bashar”. Comitês de Coordenação Local se formaram em várias cidades, vilas e bairros. Em todas as

manifestações há cristãos, drusos, curdos, ismaelitas e alauítas junto com sunitas que cantam: “Um, um, um, o povo sírio é um só”.

Às vésperas do Ramadan, as mobiliza-ções em Hama chegaram a 500 mil pes-soas. Durante o Ramadan, temendo que as mobilizações semanais se tornassem diá-rias, Bashar atacou Hama, matando cente-nas de sírios.

Mesmo assim as mobilizações conti-nuam em várias cidades. A economia está quase paralisada. A produção agrícola des-pencou, a inflação é de 20% ao ano, e a libra síria caiu pela metade frente ao dólar em um ano. Soldados se recusam a atacar manifestantes e desertam. Surge o Exérci-to da Síria livre.

Agora Bashar fez outro massacre exemplar. Por três semanas atacou bairros de Homs, arrasando Bab Amr. Homs, essa cidade maravilhosa, tem um alto grau de organização. O jornalista Nir Rosen, da Al Jazeera, descreve em um artigo: “O Conselho Revolucionário de Homs foi formado em setembro. Ele tem comitês de segurança, mídia, manifestações, assistên-cia médica, ajuda humanitária e assuntos legais. Em janeiro, eles alimentavam 16 mil famílias em toda a província. Sua li-derança é eleita e vive clandestinamente”. Isso mostra que a revolução não é uma criação estrangeira. como diz Bashar, mas sim uma verdadeira revolução popular, com líderes em cada cidade síria.

O massacre em Homs e em outras ci-dades coloca a necessidade de armamento para se defender da violência do regime.

O mesmo jornalista da Al Jazeera escreve: “A insurgência síria não é bem armada, nem bem financiada”. Os revolucionários compram suas armas de contrabandistas que as trazem do Iraque, Líbano e Tur-quia. Ou ainda de integrantes do próprio exército sírio. Mas isso não é o bastante para enfrentar Bashar. A maior parte do financiamento vem de sírios vivendo no exterior.

A intervenção estrangeira não é uma solução. Se a revolução avançar, é possí-vel que o imperialismo ou a Liga Árabe intervenham. Mas o objetivo deles não é fortalecer a revolução, e sim paralisá-la e destruí-la. Os países imperialistas querem defender seus interesses econômicos e po-líticos, que estão ameaçados pela revolu-ção. A Liga Árabe teme que uma vitória da revolução alimente movimentos seme-lhantes em seus países.

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Nacionalistas e “esquerdistas” apoiando a ditaduraSob a alegação de que se posicionam

em defesa do povo sírio, líderes naciona-listas como o presidente Chávez e Fidel Castro, juntamente com o Hezbollah e partidos comunistas em todo o mundo, na prática estão apoiando a ditadura de Bashar.

No início, diziam que o regime do Baath era anti-imperialista. Mas como explicar que esse regime mandou 5 mil soldados para combater Saddam Hus-sein junto com os Estados Unidos e as potências europeias na primeira guerra do Golfo? Como explicar a invasão do Líbano em 1976, atendendo a um pedido de Kissinger para atacar o Movimento Nacional Libanês liderado por Kamal Jumblatt, com a participação da OLP (Organização pela Libertação da Pales-tina), dos xiitas, dos sunitas e dos vários partidos comunistas, que estavam às por-tas de tomar o poder no Líbano contra as forças fascistas da Falange? Como expli-car a passividade do regime sírio frente à ocupação das colinas de Golã por Israel? Hoje a fronteira com a Síria é a mais se-gura para Israel.

Escreve Immanuel Wallerstein: “A Síria tem sido um vizinho árabe relati-vamente tranquilo, uma ilha de estabili-dade para os israelenses. Sim, os sírios ajudam o Hezbollah, mas o Hezbollah

também tem se mantido calmo”. Ele conclui: “Por que iriam os israelenses querer correr o risco de uma turbulenta Síria pós-baathista? Quem assumiria o poder? Não iria querer reforçar as suas credenciais ampliando a jihad contra Is-rael? E a queda de Assad não abalaria a estabilidade relativa que o Líbano parece agora desfrutar? O resultado não acaba-ria por ser uma renovação do radicalismo do Hezbollah? Israel tem muito a perder, e não muito a ganhar, se Assad cair.”

Outro argumento dos apoiadores de Bashar é que a Síria apoia os palestinos. Todos conhecem a famosa frase de Yas-sir Arafat sobre o regime sírio: “Assad fi Lubnan wa arnab fi jaulan” – Assad é um leão no Líbano (contra os palestinos) e um coelho nas colinas de Golã (contra Israel). O regime sírio nunca reconheceu a OLP e ajudou a expulsá-la do Líbano em 1982. Os palestinos sabem disso. Muitos lutadores passaram pelas prisões do regime sírio. Muitos palestinos não apoiam Bashar. Ismail Hanieh, do Ha-mas, discursou: “Um povo que luta por liberdade e justiça contra a ocupação sio-nista da Palestina jamais poderia apoiar um regime que mata seu povo que pede liberdade e justiça”. Cem intelectuais pa-lestinos fizeram um manifesto apoiando a revolução na Síria. E o jornalista Nir

Rosen, da Al Jazeera, informa naquele jornal que vários grupos palestinos estão ajudando a revolução dentro da Síria.

Por fim, a chamada ingerência estran-geira do imperialismo e das ditaduras do Golfo na Síria. Em primeiro lugar, os apoiadores de Bashar não fazem men-ção à interferência da Rússia e do Irã, que têm dado assistência logística ao re-gime. Em segundo lugar, se os Estados Unidos, a Europa e a Liga Árabe tives-sem intervido, Bashar já estaria deposto. Eles não deram nem o mínimo, que são armas, para o povo sírio se defender da ditadura. Por isso, Bashar massacra o povo sírio impunemente, como fez em Bab Amr.

Para terminar, um chamado em par-ticular ao Hezbollah. Vocês conhecem o que foi a ocupação síria no Líbano por 30 anos. Vocês sabem que, na primeira oportunidade, Bashar vai negociar com Israel e entregar o Hezbollah como mo-eda de troca. Vocês sabem dos massa-cres que Bashar está fazendo contra seu povo, e há milhares de refugiados no Líbano. É hora de mudar de posição. O Hezbollah tem que seguir o exemplo do Hamas, romper com Bashar e apoiar a revolução. Esse é o caminho da liberta-ção do mundo árabe frente a Israel e ao imperialismo.

A proposta da Liga Árabe, apoiada pe-los Estados Unidos e países europeus, é que Bashar se afaste do governo e seu vice assuma, negociando com a oposição. Ora, o regime não é apenas Bashar, mas o ban-do que está com ele. Nessa proposta das ditaduras árabes, Maher Assad, o irmão assassino de Bashar, continuaria à frente da quarta divisão do exército.

Até o momento, as potências imperia-listas não querem intervir, nem as ditadu-ras árabes. Essa é a conclusão do sociólogo Immanuel Wallerstein: “Por mais que seja elevado o volume da retórica e por mais terrível que seja a guerra civil, ninguém quer realmente que Assad saia. Arábia Saudita, Estados Unidos, Israel, Turquia e França, nenhum desses países quer inter-

vir diretamente no conflito sírio”.A solução é exigir que todos os países

forneçam armas para os revolucionários seguirem a luta. O povo sírio tem o direi-to de decidir democraticamente os rumos de seu país e de se armar. Com armas, o exército vai se dividir, e a revolução vai vencer.

A revolução na Síria só vai estar com-pleta com a queda de Bashar e das elites dominantes, e com a retomada das colinas de Golã. Os revolucionários têm que de-clarar desde já que não vão colaborar com Israel, como Bashar tem feito. A retomada das colinas será um golpe contra Israel e vai fortalecer a luta dos palestinos. Revo-lução até a vitória sempre!

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Egito: revolução e consciência de classe

Revoluções em curso não são feitas apenas por momentos de glória. O dia 11 de fevereiro de 2012, data do aniversário da queda do presidente egípcio Hosni Mu-barak, certamente não foi um deles.

Movimentos da juventude, relembran-do a greve geral que há um ano derrubou o então ditador, decidiram investir todas as suas esperanças em uma nova paralisação da economia contra os remanescentes do antigo regime. Suas expectativas se assen-tavam, na prática, em uma mobilização semi-espontânea das massas operárias em

torno de temas quase puramente políticos. Após muita expectativa, só o movimento estudantil entrou em greve.

O fato de que nenhum setor da classe trabalhadora paralisou surpreendeu até os mais cautelosos dos observadores.

Em um país com um movimento ope-rário em franco ascenso e uma forte po-litização nas ruas, o grau de apatia frente ao chamado desanimou boa parte dos ati-vistas egípcios. A derrota, porém, deixa importantes lições ao jovem movimento revolucionário do país.

Uma consciência em construçãoMohamad Said, dirigente do recém

fundado sindicato independente dos pe-troleiros de Alexandria, viajou por mais de cinco horas de trem para ser entrevistado. Trajando um terno verde oliva, claramente destacado para sua tarefa internacionalis-ta, Mohamad carregava debaixo dos bra-ços livros de sua autoria para presentear seus entrevistadores estrangeiros.

O tema do seu texto passa longe da luta

de classes. Ele revela, de forma bastante pitoresca, o grau de consciência da van-guarda do operariado egípcio. O sindica-lista redigiu um livro a respeito dos des-perdícios e gastos supérfluos na indústria de petróleo do país.

O assunto é preocupação central desse maquinista com formação técnica em con-tabilidade. “Nossa produção de riquezas é uma vergonha, se tivéssemos mais contro-

le e eficiência, o Egito seria um país muito mais rico”, afirma. Com precisão de con-tador, passa quase uma hora detalhando os problemas técnicos da indústria petroleira do país. Para ele, seu recém fundado sindi-cato tem papel central em propor métodos para elevar e melhor organizar a produção nacional. Em alguns momentos, fica difícil discernir se estamos diante de um militan-te sindical ou um gerente do Estado.

Aldo Sauda, direto do Cairo

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Uma nova conjunturaA queda de Mubarak, em boa parte pro-

duto da militância de homens e mulheres como Mohamad, abriu um novo momen-to na organização da classe trabalhadora egípcia. Juntamente com a derrubada do regime, a antiga lei sobre organização sin-dical, que proibia sindicatos independen-tes, foi rescindida pela junta militar que atualmente governa o país. Quatro meses depois da abolição da lei, sob pressão dos sindicalistas independentes, a antiga cen-tral pelega, atrelada ao Ministério do Tra-balho e ao partido do governo, teve toda a sua cúpula dirigente demitida.

Tal dispensa, assim como a abolição da lei sindical revelam o caráter incompleto da revolução no Egito. Enquanto a central pelega não possui mais uma direção polí-tica stricto sensu, o governo em momento

algum anunciou a sua abolição. Na prática, a entidade foi coloca-da na geladeira, podendo ser tira-da de lá quando o governo acredi-tar ser conveniente.

A própria derrubada da antiga lei sindical carrega uma dualida-de. Se por um lado o fim da odia-da lei atende a uma reivindicação histórica da classe trabalhadora, por outro, o Egito se encontra hoje sem uma legislação espe-cífica para reger o direito de organização sindical.

Tal limbo legislativo tem permitido ao empresariado total liberdade nos seus ataques ao movimento operário. Não que tal fato não se desse nos dias de Muba-rak, mas a ausência dos instrumentos do

Estado para controlar o movimento dos trabalhadores introduziu uma dinâmica in-teiramente nova na luta de classes. Se por um lado a burguesia bate com força, o pro-letariado, mesmo que com pautas pouco radicalizadas, tem tentado responder com igual vigor, muitas vezes chegando até a “deter” por dias os gerentes das fábricas.

Os petroleiros de AlexandriaFundador do sindicato de sua compa-

nhia, Mohamad representa um dos setores mais radicalizados do movimento operá-rio egípcio. Seu sindicato teve uma parti-cipação importante na onda de greves de setembro de 2011, que parou por volta de 700 mil trabalhadores. O movimento, en-tretanto, sofreu duras retaliações.

A direção do sindicato livre, segundo

o militante, foi em boa parte demitida de seus empregos. Visando desmontar o novo sindicato, gerentes industriais, acompa-nhados por oficiais do governo, obriga-ram os operários filiados a se desfiliarem da entidade, sob ameaça de retaliações no trabalho. Junto a isso, um novo sindicato atrelado às empresas petroleiras (muitas delas multinacionais) foi fundado em Ale-xandria.

Sindicatos no setor privado eram algo inexistente até a queda de Mubarak. A abertura econômica e o processo de priva-tizações, lentamente iniciados na década de 70 e acelerados durante os anos 2000, transformaram radicalmente as relações de trabalho nacionais. A antiga lei que regia a organização dos trabalhadores, na

prática, proibia a formação de sindicatos nas empresas particulares, em que os mais básicos direitos sociais eram negados.

No atual vácuo legislativo, as empresas estão rapidamente organizando entidades atreladas a elas para assim impedir um possível avanço do sindicalismo indepen-dente. A maioria repete o modelo político dos sindicatos oficiais atrelados ao antigo regime, com funções semi-estatais acopla-das a sua estrutura, como a de organizar a aposentadoria de seus filiados.

Não por acaso, o sindicato independen-te, com seus dirigentes demitidos, sua base obrigada a se desfiliar da entidade, e tendo que competir com uma instituição estatal que controla direitos básicos da cidadania, foi duramente enfraquecido.

A luta continuaApesar dos desafios, Mohamad e seus

companheiros petroleiros continuam fir-mes na luta. “Depois de criarmos os sin-dicatos de base nas fábricas e os dos tra-balhadores de Alexandria, agora estamos filiados à central sindical independente”, afirma o militante. “Junto com ela, esta-mos redigindo nossas contribuições para a nova legislação sindical.”

Mohamad também faz parte da “Juven-tude Revolucionária dos Trabalhadores do Petróleo”, algo um tanto quanto curioso, dada a idade avançada do militante. “Te-nho mais de 50 anos, mais isso não im-porta”, explica com um sorriso no rosto.

“Juventude é estado de espírito, e não um período específico de tempo.”

Entusiasmado, aponta no jornal do gru-po o ícone dos jovens, o ativista Rafez Sa-lama, de mais de 90 anos.

“Ele participou de todas as guerras con-tra Israel, foi preso diversas vezes pela di-tadura e mesmo aos 90 anos fez questão de ir todos os dias aos atos de rua contra Mubarak”, conta.

Assim como os jovens que chamaram a greve geral, Mohamad defende a imediata retirada dos militares da política. “Temos que completar nossa revolução. Fortale-cendo a luta da classe trabalhadora, con-

seguiremos derrubar os remanescentes do regime”, enfatiza.

Questionado sobre a greve geral, de re-pente, indo no sentido inteiramente oposto de tudo o que vinha dizendo, o sindicalista muda o tom: “Sou contra. Não podemos espalhar desordem no país... Esse tipo de iniciativa atrapalha a produção.” Retor-nando rapidamente ao tema de seu livro, com um palavreado que em boa parte re-produz o discurso do governo, o operário afirma de forma convencida à sua plateia: “Precisamos garantir o crescimento do Egito. A eficiência na indústria tem de ser nossa prioridade.”

Texto publicado no site da revista Caros Amigos: www.terra.carosamigos.com

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Na linha de frente, as mulheres

As revoluções no mundo árabe vêm der-rubando não só ditaduras e trazendo à tona suas relações com o império. Vêm também desconstruindo estereótipos. Entre eles, as tão frequentes quanto equivocadas gene-ralizações em relação às mulheres árabes.

No Brasil e em várias partes do globo, a imagem transmitida por agências de notí-cias internacionais e mídias corporativas é de um grupo absolutamente homogêneo. São mulheres cobertas com véus, submis-sas, que escondem uma sensualidade in-trínseca por trás de suas pesadas roupas, normalmente de cor escura. O colorido da diversificada e rica sociedade árabe é deli-beradamente omitido.

O primeiro mito que as revoluções que tiveram início na Tunísia em fins de 2010 e se alastraram por diversos países colo-cou por terra foi de que essas mulheres ja-mais se colocariam na linha de frente das batalhas por direitos. Os levantes que der-rubaram até agora quatro ditaduras e con-tinuam em curso demonstraram que seu protagonismo foi e tem sido fundamental para pôr fim a regimes opressores. No Egi-to, tornou-se comum a cena de milhares de mulheres na Praça Tahrir. Ao se congelar essa imagem, outro mito é desfeito: o de que todas elas usam véus. O senso co-mum, fundamentado na ideia de que toda árabe é muçulmana, é desafiado (como se não houvesse outras religiões ou nenhuma fé no seio dessas sociedades e todas as is-lâmicas usassem obrigatoriamente véu, o

que também é uma falácia). Há mulheres cobertas, descobertas, com roupas de todo tipo, como em qualquer outra sociedade.

A ideia de que as muçulmanas estão à margem desses processos também é des-montada no curso das revoluções. A egíp-cia feminista Nawal El Saadawi, que pôde ser vista ao lado de outras lutadoras nas grandes manifestações na Praça Tahrir, ex-plica em seus escritos que o Islã chega a ser mais suave no que se refere às diferenças de gênero. O que ocorre é que a religião tem sido usada como meio de dominação, mediante distintas interpretações, de modo a favorecer o grupo político hegemônico e manter a opressão de classe.

O que ainda está por ser desconstruído é a ideia de que a participação feminina em revoluções no mundo árabe é novida-de. Quem elucida esse tema é Nawal. Em seu único livro traduzido para o português, “A face oculta de Eva - As mulheres do mundo árabe”, ela salienta: “A história tem descrito, com falsidade, muitos dos fatos relacionados ao sexo feminino. As mulheres árabes não são mentalmente deficientes, como os homens e a história, escrita por eles, tendem a afirmar, tampou-co são frágeis e passivas. Ao contrário,

Soraya Misleh

Page 13: Al Thawra - Março 2012

Protagonismo históricoEm seu livro, Nawal descreve uma

série de acontecimentos que não deixam dúvidas de seu protagonismo histórico em diversas áreas – nos campos de batalha, na literatura, na poesia. Ela cita diversos no-mes femininos que inclusive combateram nas fileiras do profeta Maomé ou contra ele e seus seguidores, na era islâmica. As próprias esposas do profeta eram exem-plos de mulheres firmes, que não abriam mão de seus direitos.

Dando um salto no tempo até o início do século XX, a escritora relata que no Egito foram as mulheres as primeiras a de-flagrar greves, ocupar fábricas e marchar por direitos. Participaram ativamente na revolução nacional de 1919, contra o im-perialismo britânico. No país, em 1923, foi fundada a Federação das Mulheres. Em outra revolução, em 1956, arrancaram o direito a voto.

A autora complementa: “O Egito não foi o único país árabe no qual a mulher participou ativamente na luta contra o im-perialismo estrangeiro e a opressão inter-na. A mulher em todo o mundo árabe lutou ombro a ombro com o homem pela liberta-ção nacional e pela justiça social.”

Na Síria, no Líbano e na Argélia, tive-ram papel fundamental contra a ocupação francesa. No Iraque, também se opuseram ao imperialismo e contribuíram “para ace-lerar as transformações sociais”.

Na Jordânia, historicamente têm “orga-nizado a luta nas frentes sociais, políticas ou econômicas”. No Sudão, tiveram papel

destacado no movimento nacional de li-bertação contra os ingleses.

No Kuwait, na Líbia, no Iêmen, no Marrocos, têm dado sua contribuição por justiça e liberdade.

Na Palestina, foram pioneiras em pro-testar contra a instalação dos primeiros assentamentos sionistas ainda no final do século XIX, com fins coloniais – e têm re-

sistido aos mais de 60 anos de ocupação israelense na linha de frente. “A extensa lista de mártires serviria para encher as páginas de todo um capítulo, mas entre as mais conhecidas estão Leila Khaled, Fáti-ma Bernaw, Amina Dahbour, Sadis Abou Ghazala e outras cujos feitos intrépidos um dia serão admirados pelas futuras ge-rações de jovens e mulheres.”

as árabes mostraram resistência ao siste-ma patriarcal centenas de anos antes que as americanas e europeias se lançassem a essas mesmas lutas.” Sistema esse que passou a predominar a partir do surgimen-to da noção de propriedade privada e di-visão de classes, como ensina Nawal em sua obra. Em tempos ancestrais, em que predominava o nomadismo e a agricultura de subsistência, as mulheres detinham a igualdade em assuntos sociais, econômi-cos e na esfera política.

Destituídas dessa posição e relegadas às camadas sociais inferiores, as mulheres da região, assim como em outras partes do globo, vêm assumindo a linha de frente na oposição a esse status quo. Assim, ao lon-go dos séculos, têm desempenhado papel fundamental nas lutas contra o colonia-lismo, a dominação, por direitos, justiça. Não poderia ser diferente: acabar com a desigualdade de gênero é bandeira crucial na transformação dessas sociedades. Nes-se ponto, Nawal é categórica: “Enquanto

os assuntos do Estado ou do poder admi-nistrativo forem delegados à mulher dentro de uma estrutura social de classes, baseada no capitalismo e no sistema familiar pa-

triarcal, homens e mulheres hão de perma-necer vítimas da exploração.” Mudar esse estado de coisas mantém-se na ordem do dia de muitas mulheres.

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Documentário aborda direito de retornodos refugiados palestinos

Gabriele Bortolucci / ICÁrabe

Como resultado da contínua limpeza étnica imposta por Israel desde sua cria-ção unilateral há quase 64 anos, milhares de pessoas foram expulsas de suas casas. Atualmente, estima-se que haja aproxima-damente 12 milhões de palestinos e des-cendentes em todo o mundo. Cerca de 4,7 milhões vivem em campos de refugiados em países árabes vizinhos dos territórios ocupados.

Em 2011, o palestino-brasileiro Hasan Zarif, membro do Mopat (Movimento Pa-lestina para Tod@s), esteve na Jordânia e visitou vários campos. Nesses, em condi-ções precárias, encontram-se 1,9 milhão de palestinos.

Durante o período em que conviveu com os refugiados para realizar um do-cumentário - 35 dias -, veio a constatação inexorável: a esperança de retornar a suas terras e propriedades mantém-se viva, en-tre jovens e idosos.

Como observa Zarif, isso prova que Ben Gurion, primeiro-ministro de Israel em 1948 e um dos arquitetos da limpeza étnica que se abateu sobre os palestinos, estava errado, quando, em uma de suas cé-lebres frases, fez a afirmação de que “os velhos morrerão, os jovens esquecerão”.

Em quase 40 entrevistas feitas em di-ferentes campos, com pessoas de distintas faixas etárias, a demonstração de que essa

memória e identidade não serão apagadas.Sob a direção de Zarif, o média-me-

tragem que aponta essa realidade e tem o apoio do ICArabe (Instituto da Cultura Árabe), além da UNI (União Nacional de Entidades Islâmicas) e do Mopat, está em fase de edição.

Tem lançamento previsto para novem-bro deste ano, juntamente com um livro cujas imagens foram colhidas nos campos pela fotógrafa Stella Carvalho. Nesta en-trevista, Zarif - que coordenou também o documentário “Campo da paz”, a ser lan-çado em meados de 2012 - conta um pou-co dessa produção independente e de suas motivações.

Page 15: Al Thawra - Março 2012

1. Como surgiu a ideia de realizar esse documentário e quais são seus objetivos?

A ideia foi dar voz aos refugiados de diversas gerações e pro-piciar conhecimento sobre a questão palestina a partir dessa po-pulação, muitas vezes esquecida. Com isso, o objetivo foi abor-dar o direito inalienável e inegociável de retorno, que é central para que se faça justiça em relação aos palestinos. Nos campos, é possível confirmar isso e que a esperança de voltar está mais viva do que nunca.

2. Qual a realidade que vocês buscaram mostrar com o documentário?

O vídeo foi dividido em duas etapas. Na primeira, recolhemos relatos de idosos que vivenciaram os massacres sofridos pelo povo palestino. Entendemos quão trágico foi seu passado, como tiveram que abandonar seus lares às pressas, como foi viver com a perda de familiares e o impedimento de voltar a suas terras. Com todas essas lembranças, o desejo de retornar é grande. Já a segunda etapa baseia-se em entrevistas com jovens que vivem nos campos de refugiados, que também querem retornar. Todos, sem exceção, querem voltar a sua terra de origem.

3. De que maneira os refugiados lutam pelo direito de re-tornar à Palestina?

A resistência é um direito assegurado pela legislação interna-cional a qualquer povo que viva sob ocupação e opressão. No caso dos palestinos, portanto, não é diferente. A alternativa hoje tem sido recorrer à resistência popular pacífica. No ano passado, tiveram início algumas manifestações realizadas para chamar a atenção do mundo. No aniversário da nakba (termo árabe uti-lizado para se referir à catástrofe palestina em 15 de maio de 1948, data da criação unilateral do Estado de Israel), milhares de jovens palestinos, inclusive muitas mulheres, caminharam até as fronteiras com os territórios ocupados ilegalmente por Isra-el em 1967, expondo sua vontade de retornar à Palestina, num movimento que ficou conhecido como terceira intifada (levante popular). Esse movimento foi divulgado nas redes sociais e teve muitos adeptos.

4. Você poderia nos relatar a visão que os refugiados pos-suem em relação às revoluções atuais?

Eles possuem uma visão de esperança. Veem nas revoluções a possibilidade de mudanças de fato e queda de regimes aliados ao sionismo.

5. Para desenvolver o documentário, vocês fizeram con-tato com alguma organização da Palestina?

Tivemos o auxílio de uma produtora da região e em especial da Khulud, uma refugiada que nos acompanhou durante as fil-magens.

6. Como você vê o papel do Brasil em relação à questão palestina e de que forma a arte contribui para essa aproxi-mação?

Para apoiar verdadeiramente os palestinos, o governo brasi-leiro precisaria rever acordos com Israel, inclusive militares. No ano passado, a Frente em Defesa do Povo Palestino, que reúne diversas organizações da sociedade civil brasileira, lançou uma campanha por boicotes ao apartheid de Israel, atendendo a cha-mado da sociedade civil palestina. Em uma das entrevistas feitas na Jordânia, um palestino especialista em Direito Internacional apontou esse como um dos únicos caminhos possíveis para se chegar à justiça. Além disso, entidades brasileiras, através de projetos culturais relacionados à Palestina, têm contribuído para mudar a imagem desse povo perante a sociedade. É o início da ruptura do preconceito.

7. Você coordenou também o documentário “Campo da paz”, realizado em território palestino. Esse trabalho serviu de inspiração no desenvolvimento do filme atual?

“Campo da Paz” foi minha primeira experiência com docu-mentário em território palestino. Existe um leque muito grande para se trabalhar, seja com a cultura, a religião, a história ou hábitos de nosso povo. Daí, então, a ideia de realizar um novo projeto sobre Palestina.

Entrevista publicada no site www.icarabe.org

Page 16: Al Thawra - Março 2012

Manifesto de intelectuais palestinosde apoio à revolução síria:

Não em nosso nome!Como escritores palestinos e signatá-

rios dessa declaração, é uma honra nos apresentarmos à União de Escritores Sí-rios, recentemente formada pelos escri-tores e intelectuais sírios livres, os quais levantam-se junto ao povo à medida que sobem as escadas da liberdade, a qual vem sendo manchada com sangue pelas mãos dos tiranos.

O estabelecimento da União de Escri-tores Sírios constitui um pilar essencial da revolução síria e põe o verdadeiro inte-lectual no seu lugar de direito, ao lado do povo, como parceiro efetivo ao construir uma nova Síria livre do autoritarismo di-nástico - um sistema diverso, democrático, civil, baseado nos direitos do cidadão, de modo a abraçar a liberdade de expressão e criação, um sistema incapaz de falsear o livre arbítrio do intelectual sírio através de estruturas vazias que apropriam os po-tenciais de cultura, usurpam o papel do in-

telectual e falseiam sua vontade, sempre a serviço dos tiranos e seus aparatos.

Agora mais do que nunca, a Síria preci-sa de uma voz madura que discurse a partir de seu coração, uma voz que fortaleça a unidade nacional e proveja força da diver-sidade e riqueza da sociedade síria, a qual servirá como base para construir a demo-cracia.

Recentemente ouvimos um repre-sentante do regime sírio no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) usar da causa palestina e de seu curso doloroso e honroso como pretexto para os aterrorizantes crimes do regime na Síria. Dizemos ao regime sírio e seus representantes: não em nosso nome, tampouco no nome da Palestina, esses crimes serão cometidos em nossa ama-da síria, oh, assassinos.

Não façam da nossa justa causa uma máscara para seus crimes desumanos

contra nossos irmãos e irmãs sírios. Foi o povo sírio que historicamente adotou nossa causa e sacrificou mártires pelo seu intento, não seu regime, do qual temos do-lorosas memórias. Jamais esqueceremos seu papel no massacre de Tel Al-Zaatar em 1976, nem sua terrível investida no campo de Nahr al Bared, próximo a Trípoli, em 1983, ou o cerco aos campos de Beirute em 1985, ou quaisquer outros atos que vêm amargamente enfraquecendo a unida-de nacional palestina. Não usem o nome da Palestina, pois esse já não é seu cartão de vitória.

Uma Síria unida, livre e democrática é do que necessita a Palestina, e essa é a Síria que está nascendo hoje, do ventre de uma revolução sangrenta inflamada por um povo grandioso. Nós estamos confian-tes de que o nome da Palestina permane-cerá no coração desse corajoso povo revo-lucionário e de sua elite cultural.

Mourid Barghouti (poeta e escritor)Taher Riyad (poeta)Ghassan Zaqtan (poeta) Zuhair Abu Shayib (poeta)Azmi Bishara (intelectual)Mahmoud Ar-Rimawi (escritor)Ma’an al-Biyari (escritor e jornalista)Youssef Abu Laouz (poeta)Najwan Darwish (poeta)Rub’i al-Madhoun (novelista)Adel Bishtawi (escritor, novelista e pesquisador)Antoine Shalhat (escritor e crítico)Fakhri Salih (crítico) Hussein Shaweesh (escritor)Huzama Habayeb (escritor e novelista)Nasr Jamil Shaath (poeta)Ahmed Abu Matar (acadêmico, crítico, pesquisador e ativista)Mohammad Khalil (escritor)Youssef Abdel Aziz (poeta)Moussa Barhouma (escritor)Issa Ash-Shu’aibi (escritor)Moussa Hawamdeh (poeta)Na’il Balaawi (poeta)Khalil Qandeel (escritor)Ghazi at-Theeba (poeta)Wissam Joubran (poeta e músico)Omar Shabana (poeta)Qusai al-Labadi (poeta)Ali al-Aamari (poeta)Jihad Hudeib (poeta)Ziad Khaddash (escritor)Nasr Rabah (poeta)Bassem Al Nabrees (poeta e escritor)

Raji Bathish (escritor)Shaher Khadra (poeta)Raed Wahish (poeta)Asma Azaiza (poeta)Mahmoud Abu Hashhash (poeta)Khodr Mahjaz (novelista, poeta, pesquisador e crítico acadêmico)Bassel Abu Hamda (escritor)Ibrahim Jaber Ibrahim (escritor)Abdullah Abu Bakr (poeta)Osama al-Rantisi (escritor)Issam As-Saadi (poeta)Khalid Juma (poeta)Naim al-Khatib (escritor)Akram Abu Samra (poeta)Hanin Juma Takrouri (escritor)Najwa Chamoun (poeta)Mohamad As-Salimi (poeta)Hani As-Salimi (novelista)Bilal Salameh (poeta)Osama Abu Awad (escritor)Jaber Sha’at (poeta)Youssef al-Qadra (poeta)Nesma al-Aklouk (escritor)Othman Hussein (poeta)Rizk al-Biyari (poeta)Yasser al-Wiqaad (poeta)Subhi Hamdan (escritor)Imad Mohsen (escritor)Leila Violet (poeta)Tayseer Muheisen (escritor, crítico e ativista político)Fayez As-Sirsawi (artista visual e poeta)Rajab Abu Sirriyeh (escritor)Fuad Hamada (crítico acadêmico, pesquisador e ativista político)

Mai Nayif (crítica acadêmica, pesquisadora e feminista)Yusri Al-Ghul (escritor e crítico)Hussein Abu An-Najja (escritor e pesquisador acadêmico)Nasr Aliwa (novelista e crítico)Abdel Karim Aliyan (escritor e pesquisador educacional)Walaa Tamraz (pesquisador e escritor político)Omar Sha’aban (escritor e pesquisador)Hassan Mai (escritor e crítico acadêmico)Ma’an Samara (poeta e jornalista)Mohamad Hassouna (acadêmico e crítico)Aoun Abu Safia (novelista)Atif Hamada (poeta e crítico acadêmico)Ghiath al-Madhoun (poeta)Rajaa Ghanem (poeta)Tariq al-Karmi (poeta)Ahmed al-Ashqar (poeta)Ali Abu Khitab (poeta e escritor)Dunia al-Amal Ismail (poeta)Isra Kalash (escritor)Moussa Abu Karash (poeta e escritor)Abdel Fitah Shihada (poeta e novelista)Yasser Abu Jalala (poeta e artista visual)Khalil Hassouna (poeta e novelista)Muheeb al-Barghouti (poeta)Abdel Nasr Aamer (poeta e artista visual)Nidal al-Hamarna (escritor)Ashraf Amro (escritor)Asma Nasr Abu Ayyesh (escritor e jornalista)Maya Abu al-Hiyaat (escritor)Zeinat Abu Shaweesh (escritor)Suzanne Salameh (poeta)