agua na indústria

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Uma análise da visão do setor industrial da região do Alto Iguaçu e Afluentes do Ribeira. José R. Borghetti e Antônio Ostrensky

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II 

 

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III 

 

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IV 

 

BORGHETTI, José Roberto; OSTRENSKY, Antonio.

Água na Indústria: Uma análise da visão do setor industrial da região do Alto Iguaçu e afluentes do Ribeira/José Roberto Borghetti e Antonio Ostrensky. Apoio Técnico: Débora Pestana da Silva e Francis Mara Vieira Schuster Pinto, Curitiba, 2014. 70 fl: il.; 29 cm.

Executor: Plankton – Soluções em Meio Ambiente. Responsável Técnica: Dra. Débora Pestana da Silva (Bióloga). Contratante: Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP).

Imagem de capa: Hill+Knowlton Strategies.

1. Água. 2. Setor Industrial. 3. Alto Iguaçu. 4. Recursos hídricos.

I. Borghetti, José Roberto. II. Ostrensky, Antonio. III. Plankton Soluções em

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SUMÁRIO GERAL: ÁGUA NA INDÚSTRIA

Apresentação ........................................................................................................ 1 

Prefácio 1 ............................................................................................................... 2 

Prefácio 2 ............................................................................................................... 4 

1  SUMÁRIO EXECUTIVO .......................................................................... 6 

2  A BACIA DO ALTO IGUAÇU E ALTO RIBEIRA ............................... 11 

3  A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS ................... 15 3.1  O plano de bacias do Alto Iguaçu e afluentes do Alto Ribeira ................... 18 

4  MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA ................. 20 4.1  O trabalho realizado ...................................................................................... 20 4.2  Caracterização das empresas participantes ................................................ 20 4.3  Certificações e exportação ............................................................................ 22 4.4  Outorga e cobrança pelo uso da água .......................................................... 23 4.5  Ações e iniciativas para o uso mais eficiente da água em processos e

produtos ..................................................................................................................... 27 4.6  Impactos ambientais ...................................................................................... 29 4.7  Capacitação do corpo técnicos da indústria na área ambiental ................ 35 

5  ÁGUA E MEIO AMBIENTE SEGUNDO A VISÃO DO SETOR INDUSTRIAL ...................................................................................................... 37 

5.1  Irineu Roveda Junior ....................................................................................... 37 5.2  José Antonio Fares .......................................................................................... 38 5.3  Marco Secco .................................................................................................... 38 5.4  Rafael Cesar da Costa .................................................................................... 39 5.5  Considerações finais sobre as respostas apresentadas ............................... 40 

5.5.1  Indústrias e os recursos hídricos ......................................................................... 40 5.5.2  O papel da FIEP ........................................................................................................ 42 

6  ENTREVISTA COM O PRESIDENTE ................................................... 44 

7  ANEXO I .................................................................................................. 48 

8  ANEXO II ................................................................................................. 62 

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Apresentação

O documento “Água na Indústria: Uma análise da visão do setor industrial da região do Alto Iguaçu e afluentes do Ribeira” é uma iniciativa da FIEP, em parceria com a empresa Plankton Soluções em Meio Ambiente. O trabalho realizado teve como propósito avaliar a visão do setor industrial acerca de seu papel como agente da conservação dos recursos hídricos na bacia do Alto Iguaçu.

O ponto de partida para esse trabalho foi a cobrança pelo uso da água, estabelecida pelo Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira e à utilização dos recursos arrecadados a partir desta cobrança. Os usuários industriais das águas dessas bacias, na Região Metropolitana de Curitiba, são os primeiros da região Sul do Brasil a ter que pagar pelo uso da água.

Em um primeiro momento o valor cobrado dos consumidores industriais é apenas simbólico (R$ 0,01/m3 para cada metro cúbico captado de águas superficiais; R$ 0,02 para cada metro cúbico captado de águas subterrâneas; R$ 0,10 para cada metro cúbico consumido). Porém, é fácil deduzir que muito em breve o pagamento pelo uso de águas captadas (ou seja, águas outras que não aquelas tratadas pela Sanepar) não apenas será uma regra para todos os consumidores industriais, como o valor cobrado tenderá a aumentar significativamente.

Mas, além disso, a questão da água vai muito além do simples valor cobrado por esse indispensável e limitado recurso natural, de alto valor ecológico e econômico. Basta observar o que tem acontecido na região Sudeste, em que a longa estiagem e o déficit hídrico a ela associado levaram ao aumento acentuado nos valores pagos pelo uso da água e, mesmo assim, isso não garantiu às indústrias acesso à água e muitas tiveram que reduzir seu ritmo dede produção.

A preocupação do Sistema FIEP com as questões ambientais é hoje algo bastante concreto, manifesta não apenas no trabalho aqui apresentado, mas na própria criação de uma Gerência de Meio Ambiente e Sustentabilidade, que deverá atuar fortemente no planejamento e no suporte às ações ambientais da FIEP junto aos seus afiliados.

O trabalho de diagnóstico da visão do setor industrial sobre o tema água e recursos naturais em geral, foi desenvolvido a partir de um extenso questionário dividido em três etapas: identificação da indústria e do responsável pelas informações; questões específicas sobre a cobrança pelo uso da água; questões gerais sobre a visão e sobre as ações ambientais da empresa.

Este trabalho faz parte de um processo irreversível de enfrentamento dos problemas ambientais; de utilização racional dos recursos naturais; de responsabilidade quanto ao uso da água e à conservação das bacias hidrográficas; de aplicação de tecnologias cada vez mais eficientes, voltadas à produção de produtos e sistemas compatíveis com as demandas da sociedade. Um processo que não afeta ou envolve apenas a indústria, mas a todos, indistintamente. Um processo que será decisivo para que a palavra "sustentabilidade" tenha de fato algum sentido. Porque, se nada for feito e de forma eficiente, a conta, como sempre, será cobrada de todos os brasileiros.

Edson Luiz Campagnolo Presidente

FIEP

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Prefácio 1

Dentre todos os inúmeros recursos naturais explorados pelo homem, talvez nenhum tenha a importância da água para a manutenção da vida na Terra. Não importa quem somos, o que fazemos, onde vivemos, o que ou o quanto temos... Sem água simplesmente não somos nada, não sobrevivemos.

Mas, a disponibilidade de água doce, e de modo ainda mais evidente, as águas superficiais, é ínfima se comparada com o volume total de água presente no planeta. Para se ter uma ideia, 97,5% da água na Terra está nos oceanos. Ou seja, é salgada e não serve nem para o consumidor e nem para a maioria das indústrias. Apenas 2,5% da água do planeta é água doce e, desse total, somente 1,2% está presente em rios, lagos e reservatórios. Além disso, ao contrário do que muita gente pensa, água não é um recurso natural renovável, mas apenas reciclável. Podemos limpar e purificar a água, mas não criá-la em larga escala. Assim, a água que temos hoje no planeta é exatamente a mesma água que havia na Terra na época dos dinossauros.

Essa água, que passa pelos seus ciclos naturais de evaporação, transpiração, condensação, precipitação, escoamento e infiltração, é utilizada de forma múltipla por todos nós: para abastecimento da população, para a produção agrícola, para o transporte, para o lazer, para a geração de energia e, no contexto do trabalho aqui realizado pela FIEP, para os processos produtivos industriais.

Então, é evidente que se não utilizarmos adequadamente essa água, teremos custos cada vez mais elevados para o seu tratamento (reciclagem), para que ela possa ser utilizada para o abastecimento da população ou como base para os processos industriais. Custos mais elevados significam sempre exclusão. Ou seja, quem não tiver condições financeiras para adquiri-la poderá ficar sem água, ou sem acesso aos produtos industriais que precisam de água para ser produzidos (e quase todos eles, de fato, utilizam água em algum ponto de seu processo produtivo).

As demandas da indústria por água variam de setor para setor. Em toda e qualquer indústria a água é utilizada para o chamado "consumo humano" (utilizada em ambientes sanitários, vestiários, cozinhas e refeitórios, bebedouros, equipamentos de emergência). Mas, ela também pode ser usada como matéria prima, naqueles casos em que ela é incorporada ao produto final, a exemplo do que ocorre nas indústrias de bebidas, de produtos de higiene pessoal e limpeza doméstica, de cosmética, de alimentos e conservas e de farmácias), ou nos casos em que é utilizada para a obtenção de outros produtos (por exemplo, o hidrogênio por meio da eletrólise da água). A água pode ser utilizada como fluido auxiliar (por exemplo, na preparação de suspensões e soluções químicas, compostos intermediários, reagentes químicos, veiculo, ou para operações de lavagem); na geração de energia (por meio de transformação da energia cinética, potencial ou térmica, da água, em energia mecânica e posteriormente em energia elétrica); como fluido de aquecimento e/ou resfriamento (como fluido de transporte de calor para remoção de calor de misturas reativas ou outros dispositivos que necessitem de resfriamento devido a geração de calor); além de vários outros usos (combate a incêndio, rega de áreas verdes ou incorporação em diversos subprodutos gerados nos processos industriais, seja na fase sólida, liquida ou gasosa).

Por outro lado, o aumento da população e de suas demandas por padrões cada vez melhores de vida leva ao aumento das atividades técnico-industriais, promovendo o crescimento

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econômico, mas gerando um aumento da demanda por água na indústria. Assim, o chamado "desenvolvimento sustentável" só existe se consegue conciliar crescimento econômico e conservação dos recursos naturais. Caso contrário, o desenvolvimento nunca será sustentável.

Assim, como um dos grandes usuários da água, o setor industrial não pode se abster da sua corresponsabilidade pela gestão, pelo uso mais racional e cada vez mais eficiente dos recursos hídricos. Nesse contexto, o presente documento apresenta um painel bastante interessante e atual sobre como a indústria da região do Alto Iguaçu e dos Afluentes do Alto Ribeira encara hoje o desafio de, não apenas ter que pagar pelo direito de usar os recursos hídricos, mas também de usá-los de forma adequada.

Infelizmente, não temos no país uma política de gestão minimamente eficiente da água, o que acaba levando, como única alternativa, a um modelo decentralizado e descoordenado de gestão dos recursos hídricos. Um modelo muito mais difícil de apresentar resultados concretos porque depende da conscientização e de ações coletivas em relação ao uso e à apropriação desse recurso natural.

O trabalho realizado pela FIEP não é apenas um registro dessa visão do setor industrial sobre o tema. Ele vai muito além disso, ao instigar as pessoas que estão ligados ao setor industrial a buscar soluções para problemas que, apesar de coletivos, dependem de ações individuais.

Nelson Hubner Coordenador do Conselho Temático

do Meio Ambiente Sistema FIEP

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Prefácio 2

Vivemos um tempo em que falar de mudanças climáticas em escala global não é mais coisa para o futuro. Não é mais tema para se tratar como "o mundo que vamos deixar para as gerações futuras". Não! Discutimos hoje o que ainda podemos fazer para evitar que nossas próprias vidas se transformem em um verdadeiro pesadelo, que é um mundo com déficit hídrico.

Em escala mundial, a indústria tem papel fundamental no uso da água. Indústrias não operam sem dois insumos básicos: água e energia. Hoje, a preocupação principal dos representantes das indústrias que participaram da pesquisa aqui realizada (como poderá ser constatado pela leitura deste documento desenvolvido pela FIEP) é maior com a energia que propriamente com a água. Contudo, é preciso lembrar que um dos usos múltiplos da água é justamente a produção de energia para o desenvolvimento econômico. Hoje, o setor energético consome cerca de 8% de toda água doce do planeta e até 40% do recurso em países em desenvolvimento. A energia também é um insumo-chave na cadeia de valor da água, sendo utilizada para movimentar e tratar a própria água.

As implicações relacionadas à água já deixaram de ser uma questão operacional para se transformar em assunto estratégico, tanto para países quanto para as corporações. O problema não é mais "mundial", ou seja, longe de nós. O problema hoje é o sistema Cantareira, são os níveis dos reservatórios do Capivari-Cachoeira ou da Voçoroca. O problema literalmente está chegando às nossas casas, às nossas empresas... Se não o enfrentarmos adequadamente, só tende a piorar.

As mudanças do clima terão impacto absolutamente relevantes na disponibilidade de água e, fundamentalmente, nas condições de previsão e avaliação dos riscos para o setor produtivo e para a sociedade. A capacidade da economia nacional de cumprir suas aspirações de crescimento passará, necessariamente, pelo gerenciamento sustentável dos recursos hídricos e pela preocupação com a dimensão humana do tema "água".

Nesse contexto, é claro que o gerenciamento da água vem se tornando uma questão relevante para as indústrias, pois trata diretamente de suas operações, da oferta desses insumo essencial para toda a cadeia produtiva e, em última instância da sua licença social para realizar negócios.

Há números que mostram essa preocupação do setor industrial em participar das decisões sobre o uso e o gerenciamento dos recursos hídricos. Levantamento realizado pela CNI, em 2013, aponta que o setor industrial conta com mais de 700 representações nos diversos colegiados de recursos hídricos, sendo um dos setores mais engajados na construção de uma boa gestão das águas no país. Ou seja, a indústria reconhece seus desafios e está disposta a buscar um diálogo com governos e com a sociedade na busca por soluções compartilhadas.

O setor industrial também é plenamente consciente de que se a crescente demanda pela água faz com que as preocupações com o recurso sejam globais – especialmente em função das mudanças climáticas -, as soluções devem obrigatoriamente ser locais. Até porque o transporte de água por longas distâncias quase nunca é viável.

Verter as preocupações globais com a água para soluções locais requer investimentos e soluções ligadas à inovação e à sustentabilidade. Esses dois elementos serão essenciais para a

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competitividade das indústrias nas próximas décadas. Conservação do ambiente e uso eficiente de todo e qualquer recurso natural nos processos produtivos, combinados com ações voltadas à garantia de equidade social, são os pilares do desenvolvimento sustentável.

O Sistema FIEP estrutura-se para oferecer parcerias estratégicas para seus filiados em relação aos recursos hídricos, sinalizando para seus parceiros e para a sociedade em geral que pode atuar como agente de articulação e representação do setor industrial em relação à agenda da sustentabilidade, aportando contribuições e soluções para que empresas e industriais possam ser proativos e cada vez mais competitivos em suas operações.

O presente documento tem justamente como objetivo contextualizar a situação atual e tendências associadas ao uso e governança da água, bem como compartilhar a visão do setor industrial do Alto Iguaçu e dos afluentes do Alto Ribeira para o aprimoramento da sua própria gestão e minimização dos riscos associados ao seu uso. Por isso, este documento serve não apenas como leitura, mas como fonte de consulta e de reflexão.

Irineu Roveda Júnior Assessor da Presidência

Sistema FIEP

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SUMÁRIO EXECUTIVO

 

1 SUMÁRIO EXECUTIVO

O presente projeto foi realizado com o objetivo de iniciar, no âmbito da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, um processo de discussão e de ações voltadas ao tema “água na indústria”. A primeira motivação para a sua realização é a cobrança pelo uso da água, estabelecida pelo Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira. Mas, a questão do uso de recursos hídricos extrapola atualmente o impacto causado por tal cobrança.

Observa-se, muito em função da crise de abastecimento de água que vem se alastrando pela região Sudeste e, de forma mais específica, no estado de São Paulo, que os problemas relacionados à disponibilidade hídrica deixaram de ser exclusivos da região Nordeste e começam a bater em nossas próprias portas. Assim, mais cedo ou mais tarde, as indústrias terão que inserir este tema entre suas preocupações e prioridades.

Segundo nossa consciência coletiva, parecia ser normal ver pela TV pessoas andando por quilômetros e quilômetros de distância para disputar um pouco de água barrenta e contaminada com bois, vacas ou porcos. Como esse problema vem desde que o Brasil foi descoberto, achávamos isso realmente normal. Mas, agora, com a crise instalada na região Sudeste, a busca sobre formas de se utilizar mais racional e eficientemente os recursos hídricos não é mais uma questão regional, mas sim uma necessidade nacional, afetando indistintamente os consumidores residenciais, o setor agrícola e o setor industrial do país.

Fonte: Maxres

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SUMÁRIO EXECUTIVO

 

Apesar de o Brasil ser considerado um país com uma (teórica) abundância de água, talvez até aqui não precisamos nos dar conta de que a lei da oferta e da procura também se aplica à água e aos recursos hídricos. Como a distribuição de água no país é irregular; como a água é um insumo indispensável para quase todas as indústrias; como a demanda por água, tanto para uso residencial quanto agrícola e industrial, só aumenta; como o nível de tratamento de esgotos e efluentes não consegue aumentar na mesma proporção da demanda; tem-se aí um previsível cenário para os próximos anos:

• Aumento contínuo da demanda por água, especialmente se o país conseguir reverter a tendência de redução do seu baixo ritmo de crescimento econômico verificado nos últimos 25 anos;

• Aumento da pressão pelo grau de modernização do Estado, ampliando sua capacidade de gestão, de formulação e implementação de políticas públicas relacionadas aos recursos hídricos;

• Consequente aumento do rigor nos processos relacionados à captação, uso, reúso de água, descarte de efluentes e redução de perdas nos processos industriais;

• Consolidação de um disputado e irreversível cenário de economia globalizada, que força a conscientização da indústria quanto a uma substancial mudança nos processos de transformação, pela incorporação de práticas de produção mais limpa;

• Aumento dos custos para obtenção e direito de uso de água na indústria; • Pressão por aumento do ritmo da inovação tecnológica na indústria, na agroindústria e

no saneamento nacionais.

Com relação a este último ponto, essa é também uma questão estratégica. O bom aproveitamento dos recursos hídricos é hoje preocupação da agenda internacional e deve crescer de relevância nos próximos anos, em grande parte por sua escassez.

Tem havido um inegável avanço no desenvolvimento científico e tecnológico, particularmente nos processos relacionados ao consumo, ao uso e reúso e à despoluição das águas. Isso, por sua vez, cria um cenário favorável para inserção internacional daqueles países dotados de fatores tradicionais (trabalho e recursos naturais), que consigam compatibilizar as inovações tecnológicas decorrentes da sua inserção na nova “Economia do Conhecimento”, podendo produzir um novo dinamismo em suas economias.

Em termos de gestão de recursos hídricos, o modelo que vem sendo tentado no país é a construção de consensos1, tendo como unidade geográfica as bacias hidrográficas, e como agentes os comitês de bacia hidrográfica. No caso específico da região metropolitana de Curitiba, alvo do presente trabalho, o principal fórum de discussão sobre água e recursos hídricos é o Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira, criado em 2006.

Tal modelo prevê a implementação de programas de responsabilidade social que promovam a despoluição dos corpos d’água, em complemento aos programas de incentivo governamentais. Porém, na prática, essa teórica "descentralização" acaba não funcionando e o poder público

1 A construção de consenso é um método participativo e inclusivo de elaboração de consenso pautado no 

diálogo.  É  instrumento  especialmente  útil  para  diálogos  que  envolvem múltiplas  partes  e múltiplos 

interesses que necessitem  ser articulados na propositura de normas, projetos, acordos ou ações que 

visem ao benefício e à satisfação mútuos, assim como à preservação das diferenças entre os envolvidos. 

http://www.mediare.com.br/08artigos_10construcaodeconsenso.html 

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SUMÁRIO EXECUTIVO

 

continua determinando as prioridades, ações e investimentos, em detrimento dos demais setores representados nos comitês de bacia.

Assim, como um grande usuário dos recursos hídricos, é muito importante que o setor industrial instalado na região do alto Iguaçu e representado pela FIEP, crie um fórum interno de discussão e orientação aos seus afiliados e que esteja, de fato, envolvido no processo de planejamento, regulamentação e gestão dos recursos hídricos.

Fonte: Maurílio Cheli - Acervo: IPPUC

O trabalho aqui realizado esteve inserido neste contexto de avaliação da indústria como agente da conservação dos recursos hídricos na bacia do alto Iguaçu e afluentes do Alto Ribeira. Ele foi baseado na elaboração de um diagnóstico sobre a visão do setor industrial em relação à cobrança pelo uso da água, estabelecida pelo Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira e a utilização dos recursos gerados a partir desta.

Para isso, foi desenvolvido um extenso questionário dividido em três etapas: identificação da indústria e do responsável pelas informações; questões específicas sobre a cobrança pelo uso da água; questões gerais sobre a visão ambiental da empresa.

A seguir, foi feita a identificação das 72 empresas localizadas na região do Alto Iguaçu que já pagam pelo uso da água. As empresas foram contatadas através e-mail e, posteriormente, por telefone. Uma vez identificados os responsáveis técnicos e apresentada a proposta de trabalho, o questionário foi disponibilizado de modo a ser respondido online. Dessas, representantes de 20 empresas responderam, o que perfaz uma taxa de retorno de 28%. Dez delas possuem mais de 500 funcionários, sendo classificadas como grandes empresas; sete possuem entre 100 e 499 funcionários (médias empresas) e três possuem entre 20 e 99 funcionários (pequenas empresas).

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SUMÁRIO EXECUTIVO

 

Alguns detalhes das respostas chamaram a atenção, como, por exemplo, o fato de que metade das empresas que responderam ao questionário afirmarem que pretendem manter os atuais volumes outorgados de água, enquanto a outra metade se divide igualmente entre as que pretendem aumentar e as que pretendem reduzir os volumes outorgados.

Representantes de cinco empresas afirmaram que a cobrança pelo uso da água captada causou impacto no custo final de produção. Entre eles, apenas dois reportaram a relevância deste impacto, estimado em 0,45% em um dos casos e em 0,1 % no outro caso. Os representantes de 12 empresas concordam com a cobrança pelo uso da água.

Representantes de sete empresas afirmaram que concordam com o pagamento mesmo que os valores fossem mais altos do que os cobrados atualmente, seis responderam que não concordam e dois não souberam responder.

Quando questionados se a cobrança pelo uso da água tem incentivado melhorias nos processos da indústria ou se os eventuais

aprimoramentos aconteceriam mesmo sem a cobrança, 13 representantes responderam que não. Alguns justificaram que a relação custo/benefício não incentivaria essas modificações. Outros que as melhorias vêm acontecendo independentemente da cobrança, em parte por política ambiental ou econômica da empresas. Ou seja, antecipando-se a qualquer legislação, muitas indústrias já estariam incorporando em seus processos práticas ambientalmente mais adequadas.

Fica também claro pelas respostas que as empresas de

grande porte dispõem de condições técnicas e financeiras para implantar essas práticas, enquanto as pequenas empresas podem precisar de apoio e orientação para adotarem sistemas e práticas mais eficientes em suas unidades produtivas.

Em paralelo à aplicação do questionário junto aos representantes das indústrias, um outro questionário específico foi preparado e aplicado a quatro representantes-chave da FIEP: Irineu Roveda Júnior, advogado, assessor da presidência; José Antonio Fares, psicólogo e gestor

Tabela 1. Relação das empresas que responderam à pesquisa.

Nome da indústria Água Mineral Naturale Ltda. BRASILSAT HARALD S/A COCELPA - Companhia de Celulose e Papel do Paraná Companhia Siderúrgica Nacional Frigorífico Argus Ltda. Furukawa Industrial S.A. Gerdau Hugo Cini S.A. IBQ - Indústrias Químicas S.A Iguaçu Celulose, papel S.A. Importadora de Frutas La Violetera Ltda. Isogama Indústria Química Ltda. Leão Alimentos e Bebidas Ltda. MULTILIT Fibrocimento Ltda. Resinas Yser Ltda. Solo Vivo Fertilizantes SPAL Indústria Brasileira de Bebidas TERRA RICA Indústria e Comércio de Calcários e Fertilizantes de Solo Ltda. Volkswagen do Brasil Volvo

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SUMÁRIO EXECUTIVO

10 

 

empresarial, superintendente do SESI/IEL; Marco Secco, pedagogo, pós-graduado em gestão empresarial e logística, Diretor do SENAI no Paraná; e Rafael Cesar da Costa, arquiteto e urbanista com competências nas áreas de habitação, governança e infraestrutura urbana, gerente de Meio Ambiente da FIEP. Também foi feita uma entrevista com o presidente da FIEP

Essa parte do trabalho, realizada junto aos principais representantes da FIEP, teve por objetivo ajudar a compreender a visão do setor industrial sobre o tema em análise, porém, na visão de profissionais que estão à frente de cargos estratégicos na Federação das Indústrias do Estado do Paraná.

Em termos gerais, os resultados mostram que existe, sim, uma preocupação do setor industrial com a utilização mais racional e eficiente da água. Isso cria um cenário adequado para que o tema seja efetivamente incorporado ao planejamento institucional do próprio Sistema FIEP, de forma que o setor industrial seja um agente ativo de um processo de gestão dos recursos hídricos que está só começando.

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A BACIA DO ALTO IGUAÇU E ALTO RIBEIRA

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2 A BACIA DO ALTO IGUAÇU E ALTO RIBEIRA

O estado do Paraná é fisicamente dividido em 16 Bacias Hidrográficas (Figura 1) e a Resolução 49/06 do Conselho Estadual de Recursos Hídricos agrupa estas bacias em 12 Unidades Hidrográficas (Figura 2), sendo uma delas as bacias do Alto Iguaçu, Afluentes do Rio Negro e Afluentes do Alto Ribeira. Nessa Resolução a área de abrangência do Alto Iguaçu e Alto Ribeira compreende a bacia do Rio Iguaçu até imediatamente à jusante da confluência com o Rio Negro e toda a bacia do rio Ribeira em território paranaense, até a divisa com São Paulo.

A área de abrangência da Bacia do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira é de aproximadamente 5.870 km², incluindo as seguintes bacias:

Bacia do rio Açungui, das nascentes até a jusante do reservatório projetado para abastecimento público, compreendendo uma área parcial de 1.285 km²;

Bacia do rio Capivari, das nascentes até o reservatório da UHE Parigot Souza (Capivari-Cachoeira), compreendendo uma área parcial de 955 km²;

Bacia do Alto Iguaçu, desde suas cabeceiras, situadas nos contrafortes ocidentais da Serra do Mar, até as corredeiras situadas no município de Porto Amazonas, compreendendo uma área parcial de 3.638 km².

Estão inseridos nessa área 26 municípios (Figura 3), sendo 19 da RMC: Curitiba, Rio Branco do Sul, Bocaiúva do Sul, Colombo, Campina Grande do Sul, Quatro Barras, Piraquara, Pinhais, São José dos Pinhais, Fazenda Rio Grande, Mandirituba, Araucária, Contenda, Balsa Nova, Lapa, Campo Largo, Campo Magro, Almirante Tamandaré, Itaperuçu, além de Porto Amazonas, Agudos do Sul, Campo do Tenente, Palmeira, Piên, Quitandinha e Tijucas do Sul, não pertencentes à RMC.

De acordo com o Censo Demográfico do IBGE realizado em 2000, a área dos estudos possuiria uma população de aproximadamente 2,7 milhões de habitantes, sendo 93% deste total constituído de população urbana.

Page 17: Agua na Indústria

A BACIA DO ALTO IGUAÇU E ALTO RIBEIRA

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Figura 1.Bacias hidrográficas do Paraná Fonte: SEMA, SUDHERSA

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A BACIA DO ALTO IGUAÇU E ALTO RIBEIRA

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Figura 2.Unidades hidrográficas do Paraná Fonte: SEMA, SUDHERSA

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A BACIA DO ALTO IGUAÇU E ALTO RIBEIRA

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Figura 3. Municípios da região do Alto Iguaçu e Alto Ribeira. Fonte: IBGE

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A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS

 

3 A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS

HÍDRICOS

A Lei nº 9.433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, estabelece como um dos seus instrumentos de gestão a cobrança pelo uso de recursos hídricos, que tem como objetivos (Seção IV, artigo 19):

I - reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor;

II - incentivar a racionalização do uso da água;

III - obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos

Assim, a cobrança é uma remuneração pelo uso de um bem público, que deve ser utilizada em projetos destinados à gestão, recuperação e proteção dos recursos hídricos dentro das bacias hidrográficas em que são gerados.

Compete à Agência Nacional de Águas (ANA) arrecadar e repassar os valores arrecadados à Agência de Água da Bacia, ou à entidade delegatária de funções de Agência de Água, conforme determina a Lei nº 10.881/04.

Até o momento, em rios de domínio da União, a cobrança foi implementada na Bacia do Rio Paraíba do Sul, nas Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, na Bacia do Rio São Francisco e na Bacia do Rio Doce. Em rios de domínio do Estado do Rio de Janeiro, além das bacias afluentes ao rio Paraíba do Sul, o instrumento foi implementado nas bacias do rio Guandu, da Baía da Ilha Grande, da Baía da Guanabara, do Lago São João, do rio Macaé e rio das Ostras e do rio Itabapoana. Em rios de domínio do Estado de São Paulo, além das bacias afluentes ao rio Paraíba do Sul e aos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, a cobrança foi implementada nas bacias dos rios Sorocaba-Médio Tietê, Alto Tietê, Baixo Tietê e Baixada Santista. Em rios de domínio do Estado de Minas Gerais, além das bacias afluentes aos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e ao rio Doce a cobrança foi implementada nas bacias dos rios Velhas e Araguari. Em rios de domínio do Estado do Paraná, a cobrança só foi iniciada nas bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira (Figura 4).

Na Tabela 2 é apresentada uma lista contendo a identificação das empresas localizadas nas bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira que já precisam pagar pelo uso da água. Segundos dados da ANA, o valor arrecadado com a cobrança pelo uso da água nessas bacias, em 2013, foi de R$ 945.372,00.

Desta forma, tanto o comitê de bacia, quanto a cobrança pelo uso da água são fatos concretos e irreversíveis em um contexto em que o uso racional dos recursos hídricos deixou de ser uma mera retórica e passou a impactar economicamente seus usuários.

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A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS

 

Figura 4. Mapa com um panorama da situação da cobrança pelo uso da água no Brasil. Fonte: Agência Nacional de Águas

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A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS

 

Tabela 2. Relação das indústrias instaladas na região do Alto Iguaçu e Alto Ribeira e que devem pagar pelo uso da água.

RAZÃO SOCIAL Água Mineral Frescale Ltda. Água Mineral Graciosa Ltda. Água Mineral Jordão - Extração e Comércio de Água Mineral Ltda. Água Mineral Naturale Ltda. Água Mineral Prata da Serra Ltda. Araucária Nitrogenados S.A - Valefértil Arauco do Brasil S.A. (Destivando Poços) Areal Chueda Ltda Aves Aliança Produção e Comercialização de Frango Para Corte Ltda Berneck S.A. Painéis e Serrados Brasilsat Harald S.A. Britânia Eletrodomésticos S.A. Cervejaria Curitiba Ltda. Charlex Indústria Têxtil Ltda. Cocelpa Companhia de Bebidas Das Américas - Ambev Companhia de Cimento Itambé Companhia Providência Indústria e Comércio Copel Transmissão - Ueg Araucária Petrobras Coquepar - Companhia de Coque Calcinado de Petróleo S.A. Csn - Cia, Siderurgica Nacional Dixie Toga S/A Durlicouros Ind. e Com. de Couros, Exportação e Importação Ltda.

Dynea Brasil S.A. - Arauco Electrolux Fábrica de Papel e Papelão Nossa Senhora da Penha S.A. Faurecia Automotive do Brasil Ltda. Frigorífico Argus Furukawa Industrial S. A. Produtos Elétricos Gerdau Operação Aços Longos Brasil S.A. Gl Eletro-Eletrônicos Ltda. Gpc Química S.A. Grupo Vinícula Famíglia Zanlorenzi Bigfer (Hettich do Brasil Ltda) Hugo Cini S.A. Indústria de Bebidas e Conexos Ibq Indústrias Químicas Ltda.

RAZÃO SOCIAL Iguaçu Celulose Papel S.A. Imcopa - Importação, Exportação e Indústria de Óleos S.A. Importadora de Frutas La Violetera Ltda. Ingredion Brasil Ingredientes Industriais Ltda Isdralit Indústria e Comércio Ltda. Isogama Indústria Química Ltda. Juliatto, Fogiatto & Cia. Ltda. Labra Indústria Brasileira de Lápis S.A. Leão Alimentos e Bebidas Ltda Michel Thierry do Brasil Indústria Têxtil Ltda Momentive Química do Brasil Ltda Mondelez Brasil Ltda (Kraft Foods Brasil S.A.) Multilit Fibrocimento Ltda. Norberto Shin-Iti Esumi Peccin Agro Industrial Ltda Pedreira Roça Grande Ltda. Pepsico do Brasil Ltda. Peróxidos do Brasil Ltda. Petróleo Brasileiro S.A. Petrobras Plásticos Metalma S.A. Potencial Biodiesel Ltda. Primos Agroindustrial Ltda. Resinas Yser Ltda. Siderquímica Indústria e Comércio de Produtos Químicos Solo Vivo Indústria e Comércio de Fertilizantes Ltda . Souza Cruz S/A Spaipa S.A. Indústria Brasileira de Bebidas Taurus Blindagens Ltda. Termotécnica Ltda Terra Rica Ind. e Com. de Calcário e Fertilizantes do Solo Ltda Trombini Embalagens S/A Vale Fértil Indústrias Alimentícias Ltda. Volkswagen do Brasil Indústria de Veículos Automotores Ltda Volvo do Brasil Veículos Ltda. Votorantim Cimentos S.A Whb Fundição S/A

Fonte: Águas Paraná

Page 23: Agua na Indústria

A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS

 

3.1 O plano de bacias do Alto Iguaçu e afluentes do Alto Ribeira

A Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental – SUDERHSA (atual Instituto das Águas do Paraná) desenvolveu, no período entre 2007-2013, o “Plano da Bacia do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira”. A finalização dos trabalhos deste Plano foi publicada em julho de 2013, em um documento que apresentava, entre outros resultados, o Plano de Ações nas Bacias, relacionando o conjunto de programas, subprogramas e ações específicas que visam atender às necessidades identificadas no desenvolvimento do Plano das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira2 (Figura 5)

Segundo esse documento, os programas, subprogramas e ações específicas contribuem para o direcionamento da aplicação dos recursos provenientes da cobrança pelo direito do uso da água.

A grande questão, entretanto, é como executar tudo isso. O volume de recursos advindos da cobrança pelo uso da água precisaria ser muito superior aos valores que serão efetivamente captados para que tais programas possam ser desenvolvidos. A outra opção seria investir dinheiro público para complementar os montantes necessários.

O setor industrial relaciona-se, em maior ou menor grau, com vários dos programas e subprogramas apresentados na Figura 5. Contudo, está mais diretamente relacionado com o processo de gerenciamento dos recursos hídricos (uma vez que a forma como obtém a água empregada em seu processo produtivo e a forma como dispõe seus resíduos e efluentes interage com esse processo de gestão); conservação e proteção dos corpos d´água (principalmente aquelas indústrias localizadas às margens de corpos hídricos); promoção do uso racional dos recursos hídricos e na educação ambiental e na comunicação social.

A experiência na área tributária mostra que a tendência ao longo do tempo será o Poder Público aumentar cada vez mais os valores cobrados pelo uso dos recursos hídricos sem, contudo, conseguir resolver os graves problemas ambientais relacionados. Nesse cenário, os usuários (incluindo-se aí a indústria) seriam duplamente penalizados, por pagarem cada vez mais e terem serviços cada vez piores.

Para se evitar que isso aconteça, a indústria precisa ser enxergada como um verdadeiro parceiro e participar ativamente do processo decisório nas questões relacionadas à gestão e à conservação dos recursos hídricos.

2  Disponível  em: 

http://www.aguasparana.pr.gov.br/arquivos/File/COALIAR/Publicacoes/plano_de_bacias/finalizacao_pl

ano.pdf 

Page 24: Agua na Indústria

 

A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS

19 

 

Figura 5. Relação dos programas e subprogramas propostos no Plano de Ações nas Bacias

Fonte: SEMA, SUDHERSA

GERENCIAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS

Sistema de informações em recursos hídricos

Estudos e levantamentos para apoio ao Sistema de Suporte à Decisão para Gestão de Recursos Hídricos

Gestão Integrada dos Recursos Hídricos

Monitoramento quali-quantitativo das águas superficiais e subterrâneas

Desenvolvimento de instrumentos normativos de proteção da qualidade das águas subterrâneas

Monitoramento dos lançamentos de efluentes domésticos e industriais, e respectivas outorgas

Monitoramento das fontes difusas de poluição urbana e por insumos agrícolas

RECUPERAÇÃO DA QUALIDADE DOS CORPOS D´ÁGUA

Tratamento dos Efluentes Urbanos, Efluentes das ETA e ETE, disposição final dos Iodos das ETE e dos sistemas de disposição final dos resíduos sólidos urbanos

CONSERVAÇÃO E PROTEÇÃO DOS CORPOS D´ÁGUA

Estudos de viabilidade e aperfeiçoamentos da legislação de proteção dos mananciais atuais e futuros

Recomposição da vegetação ciliar e da cobertura vegetal e disciplinamento do uso do solo

PROMOÇÃO DO USO RACIONAL DOS 

RECURSOS HÍDRICOS

Racionalização do uso da água no sistema de abastecimento urbano

Apoio à atividade industrial

PREVENÇÃO E DEFESA CONTRA EVENTOS HIDROLÓGICOS EXTREMOS

Estabelecimento e apoio às medidas não estruturais e às atividades de Defesa Civil

Operação de sistemas de alerta, radares meteorológicos e redes telemétricas

Projetos e obras de desassoreamento, retificação, canalização de cursos d'água e estruturas para contenção de cheias

Monitoramento dos indicadores de estiagem prolongada

CAPACITAÇÃO TÉCNICA, EDUCAÇÃO AMBIENTAL 

E COMUNICAÇÃO SOCIAL

Treinamento e capacitação dos membros do Comitê e corpo técnico da Gerência de Bacia

Apoio e treinamento aos municípios para elaboração de projetos e captação de recursos

Ampliação do conhecimento da sociedade quanto à gestão dos recursos hídricos

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MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

20 

 

4 MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA

INDÚSTRIA

4.1 O trabalho realizado

Com apoio da FIEP, foi realizado, entre fevereiro e agosto de 2014, um trabalho que teve por objetivo levantar informações que permitissem criar um painel sobre a visão do setor industrial instalado na região do Alto Iguaçu e Alto Ribeira sobre questões ligadas à água e à conservação dos recursos hídricos.

Um formulário contendo questões sobre esses temas foi preparado e encaminhado, através da própria FIEP, às 72 empresas localizadas na região de estudo e que atualmente pagam pelo uso da água ao Comitê de Bacias. Também foram feitos contatos pessoais com representantes dessas indústrias, convidando-os a participar da pesquisa. No final, 20 indústrias, totalizando 28% do universo pesquisado, aceitaram participar. Nas páginas seguintes são apresentadas as principais respostas dadas pelos representantes das indústrias participantes.

Conforme ficou acordado com esses representantes, as respostas não serão analisadas ou apresentadas de forma individualizada, mas sim de forma agrupada, permitindo uma avaliação da visão geral do setor industrial sobre os temas tratados.

4.2 Caracterização das empresas participantes

Nas tabelas e gráficos, estruturados exclusivamente a partir das respostas apresentadas pelos representantes das indústrias, são identificadas as respectivas questões que originaram as respostas. No Anexo I pode-se consultar o questionário completo.

A indústria mais antiga que participou deste estudo tem 110 anos de fundação/instalação no Brasil, a mais nova tem cinco anos e a média de tempo de fundação/instalação é de 35,4 anos.

Tabela 3. Identificação das Indústrias participantes da pesquisa.

Nome da indústria Ano de instalação

Hugo Cini S.A. 1904

Frigorífico Argus Ltda. 1954

IBQ - Indústrias Químicas S.A 1961

COCELPA - Companhia de Celulose e Papel do Paraná 1963

Page 26: Agua na Indústria

 

MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

21 

 

Nome da indústria Ano de instalação

SPAL Indústria Brasileira de Bebidas 1971

TERRA RICA Indústria e Comércio de Calcários e Fertilizantes de Solo Ltda. 1973

BRASILSAT HARALD S/A 1974

Furukawa Industrial S.A. 1977

Volvo 1977

Iguaçu Celulose, papel S.A. 1981

Gerdau 1982

Importadora de Frutas La Violetera Ltda. 1984

Isogama Indústria Química Ltda. 1987

Resinas Yser Ltda. 1988

Solo Vivo Fertilizantes 1991

MULTILIT Fibrocimento Ltda. 1994

Volkswagen do Brasil 1999

Companhia Siderúrgica Nacional 2001

Água Mineral Naturale Ltda. 2002

Leão Alimentos e Bebidas Ltda. 2009

Das empresas participantes, dez são consideradas grandes (com mais de 500 funcionários); sete médias (entre 100 a 499 funcionários) e três são pequenas (de 20 a 99) funcionários.

Empresas de pelo menos 11 setores listados no sistema de Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) participaram da pesquisa.

Tabela 4. Código CNAE das empresas que participaram da pesquisa.

Indústrias/Empresas por CNAE Total Extração de minerais não-metálicos 1 Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos 1 Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos 1 Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos 1 Fabricação de produtos de minerais não-metálicos 1 Metalurgia 1 Fabricação de bebidas 2 Fabricação de celulose, papel e produtos de papel 2 Fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias 2 Fabricação de produtos alimentícios 4 Fabricação de produtos químicos 4

Os questionários foram respondidos fundamentalmente por técnicos de nível superior. Mas, em alguns casos, também por técnicos ou tecnólogos e também por pessoas com o ensino

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MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

22 

 

médio completo. Esses resultados, por si só, indicam que muitas das respostas podem ser fruto mais de uma visão mais pessoal que propriamente institucional sobre os temas tratados. Por isso, o presente estudo não tem e nem foi planejado para ter rigor científico. Ainda assim, deve-se ressaltar que as respostas foram dadas por pessoas indicadas pelas respectivas empresas.

Figura 6. Formação do responsável pelo preenchimento do questionário.

4.3 Certificações e exportação

Sete grandes indústrias, quatro médias e uma pequena possuem algum tipo de certificação. Entre essas 12 empresas, dez são empresas que exportam seus produtos. Já entre as oito que não possuem certificação, duas são de grande porte, quatro são de médio porte e duas são de pequeno porte. Entre elas, cinco são indústrias exportadoras.

Tipo de certificação Número de Indústrias

ISO 9001 10 ISO14001 9 ISO 22000 1 FSSC 22000 1 OHSAS 18001 2 Rótulo Ecológico ABNT. 1 FSC Cadeia de custódia 1 Certificado LEED (Leadership in Energy and Environmental Design - NEW CONSTRUCTION)

1

5%

25%

70%

Ensino Médio completo Técnico ou tecnólogo Ensino Superior

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MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

23 

 

Mercados para onde exporta Número de Indústrias

Mercosul 11 União Europeia 1 América Latina 1 África 1 EUA 1 Diversos 1

Motivos por não ter certificação Número de Indústrias

Financeiro. O processo é muito caro ou as alterações necessárias para obter a certificação são muito caras 3

Técnico. O processo é muito complexo ou as alterações necessárias para obter a certificação são muito complexas

1

Não tem interesse 4 Não tem conhecimento 1

As certificações mais frequentes são a ISO 9001 e a ISO 14001. Isso pode significar que as empresas não estão apenas visando a qualidade de gestão, mas também começam a focar, por inciativa própria, ou por pressão dos clientes, na questão ambiental quando da definição de seus processos e produtos.

No entanto, entre os clientes dessas indústrias, os que se interessaram em saber sobre a situação ambiental eram, em sua maioria, clientes nacionais e não exportadores, o que pode indicar que as indústrias que buscam aprimorar seus processos em relação ao meio ambiente o fazem por conscientização própria.

Clientes e/ou parceiros comerciais já questionaram sobre a situação ambiental da indústria?

Número

SIM 9 NÃO 11 Em caso afirmativo, eram clientes estrangeiros? Número

SIM (Argentina e Uruguai 1 NÃO 8 Em caso de clientes nacionais, era cliente exportador? Número

SIM 2 NÃO 6

4.4 Outorga e cobrança pelo uso da água

Das indústrias que responderam ao questionário, 15 possuem outorga para captação e cinco não possuem. Entre as cinco indústrias que não possuem outorga, três são de grande porte e duas de médio porte.

Page 29: Agua na Indústria

 

MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

24 

 

A média anual de captação declarada foi de 451.028,34 m3/ano, sendo que o menor volume declarado foi de 84 m3/ano e o maior de 500 m3/hora, o que corresponde a 4.380.000 m3/ano. Quanto aos volumes outorgados para os próximos três anos:

Há estimativa de aumento ou redução dos volumes outorgados de captação (m³/ano) para os próximos 3 anos?

Número de Indústrias

Sim Aumento 5 Sim Redução 5 Não 10

Quando perguntados sobre a tendência de aumento ou redução dos volumes outorgados

de água para os próximos três anos, as respostas variaram bastante:

Estimativa quanto ao volume outorgado (%) para os próximos três anos

Aumento

35 40 0,5 0,11

1

Redução

0,2 N/R

0,0937 50 20

Apenas cinco dos responsáveis pelas informações prestadas afirmaram que a cobrança pelo

uso da água captada causou impacto no custo final de produção. Entre elas, apenas duas reportaram a relevância deste impacto, estimado em 0,45% em um dos casos e em 0,1 % no outro caso.

Doze empresas concordam com a cobrança pelo uso da água, As justificativas para essa concordância estão descritas abaixo (ipsis litteris):

“A empresa vê essa pratica como uma forma de conscientização ambiental dos grandes consumidores de água do estado”.

“A preocupação da empresa é que a cobrança seja justa e que esses recursos arrecadados se destinem a melhorias dos recursos hídricos disponíveis”.

“Viabiliza o recebimento de recursos para implementação de ações focadas nas prioridades da bacia”.

“Sim mas desde que seja dado um prazo para adequação ao uso consciente e elaboração de um projeto de reutilização/aproveitamento.”

Page 30: Agua na Indústria

 

MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

25 

 

“Sim, desde que seja uma cobrança justa e desde que sejam usados estes recursos para recuperação ou manutenção da bacia hidrográfica”.

“Como as empresas utilizam os recursos hídricos em grande escala, nada mais justo que uma cobrança por parte do governo com a intenção de garantir a sustentabilidade dos nossos recursos naturais”.

“Acreditamos que esta cobrança aumenta o controle do uso deste recurso natural”.

“Sim, Se for um valor simbólico e for usado para recuperação de rios e córregos”.

“Desde que seja revertido para a prevenção e ou preservação desses recursos não há problemas”.

“Uma ferramenta para uso consciente dos recursos hídricos”.

Duas empresas que concordaram com a cobrança, não justificaram a resposta. Das oito empresas que não concordam com a cobrança, cinco justificaram dessa forma sua posição:

“Não concordamos, pois a finalidade do uso da água, é para envase de bebida e a tributação no produto já é demasiadamente alta no Brasil, além do que a exploração da fonte é consciente não absorvendo toda sua capacidade, mantendo uma sustentabilidade natural da vazão. Neste país, sempre se começa com um valor baixo e em poucos anos os valores sobem sem qualquer justificativa cabível” (empresa de produção de bebidas).

“Acreditamos que falta clareza quanto a aplicação do dinheiro arrecadado. Aliado a isso, não temos garantias de que este valor, que até o momento é simbólico, não sofrerá aumento com o passar do tempo”.

“As empresas já trabalham com pesadas cargas tributárias e a cada ano nasce uma nova forma de cobrança de pagamento de novas taxas, a empresa investe em meio ambiente com ações sócio ambientais relevantes porém não recebe nem um benefício do governo por estas ações.

“Pois já pagamos pelo consumo. Vamos pagar novamente?”.

“Porque já recolhemos pelo DNPM o CFEM que também é pela captação da água e mais do estamos recolhendo para o Instituto das águas, o que caracteriza uma bitributação.

Uma das perguntas complementares relacionadas ao tema era: “Se os valores cobrados fossem mais altos, a indústria ainda concordaria com a cobrança? Justifique”.

Page 31: Agua na Indústria

 

MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

26 

 

Sete empresas afirmaram que concordam com o pagamento mesmo que os valores fossem mais altos do que os cobrados atualmente, seis empresas responderam que não concordam e duas não souberam responder. As que concordam com o pagamento justificaram assim:

“Sim, pois sendo a água um bem de uso comum, cabe aos consumidores desse recurso contribuir para o monitoramento e preservação do mesmo. Pensando e sustentabilidade da própria atividade industrial”.

“Sim, desde que de forma justa e que os recursos se destinem a projetos de melhorias da qualidade dos recursos hídricos”.

“Concordaria, desde que haja um período de adaptação”.

“O aumento dos valores poderá ter impacto no custo final de produto e competitividade da empresa. O aumento dos valores poderá ocorrer desde que o impacto seja irrelevante para o custo do produto final”.

“Concordaria caso seja justificado, por motivos reais, o uso desse valor”.

“Sim, desde que compatíveis com a realidade da empresa e não comprometa a sustentabilidade do negócio e a viabilidade dela no país/ estado”.

Duas empresas não souberam responder, afirmando que caberia analisar melhor a situação. As empresas que se manifestaram contrárias a qualquer aumento no valor cobrado justificaram assim sua posição:

‘Não. As grandes empresas já investem em seu tratamento de efluentes e em projetos de minimização de efluentes. Possuem outorgas de descarte e mantém monitoramento e controle. Já pagam pelo consumo dos poços e participam do Comitê de Bacias. Demais recursos devem vir de outros órgãos, por exemplo ANA, investimento do governo que precisam compartilhar esta responsabilidade em resolver a poluição da bacia causada em boa parte de forma difusa pelas pequenas empresas e falta de saneamento”.

“Não concordamos. O valor cobrado atualmente não impactou no produto final."

“Se for um valor alto não”.

“Não concordamos, pois essas taxas só tendem a aumentar”.

“Não, tornaria totalmente inviável o negócio.

Quando a pergunta foi: "A cobrança pelo uso da água tem incentivado melhorias nos processos da indústria ou os eventuais aprimoramentos aconteceriam mesmo sem a cobrança?", treze indústrias responderam que não. Algumas justificaram que o valor sendo muito baixo não incentivariam essas modificações. Outras que as melhorias vêm acontecendo

Page 32: Agua na Indústria

 

MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

27 

 

independentemente da cobrança, em parte por política ambiental ou econômica da empresas. Ou seja, muitas indústrias já estão incorporando em seus processos práticas ambientalmente mais adequadas.

Seis indústrias responderam que a cobrança serve de incentivo, sendo mais uma justificativa para o aprimoramento, ainda que as indústrias não tenham conhecimento sobre a destinação dos recursos obtidos a partir da cobrança pelo uso da água.

A indústria conhece a destinação dos recursos que são obtidos com a cobrança do uso da água?

Sim 2

Não 18

Este resultado demonstra a necessidade de um maior esclarecimento a respeito da destinação dos recursos oriundos da cobrança do uso da água, já que a maioria não conhece, e para que essa cobrança não fique incorporada como mais uma taxa.

4.5 Ações e iniciativas para o uso mais eficiente da água em processos e produtos

A maior parte das empresas investiu em ações relacionadas à área ambiental no último ano.

Figura 7. A indústria investiu na área ambiental nos últimos 12 meses?

16

1

3

Sim Não Não sabe responder

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MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

28 

 

Representantes de 18 indústrias afirmaram que a empresa adota ações e iniciativas com a finalidade de utilizar a água de forma mais eficiente em seus processos e produtos. Os programas desenvolvidos pelas indústrias em relação ao uso mais racional da água não são recentes, têm em média 8 anos. Dez empresas informaram os investimentos que realizaram ou que ainda pretendem realizar com este fim.

Das duas empresas que afirmaram não possuir esse tipo de iniciativa, apenas uma justificou. Em sua resposta, afirmou que:

“A empresa possui um sistema de gestão com acompanhamento do consumo específico de agua, o qual está alinhado ao consumo médio do segmento”.

Quatorze indústrias responderam que adotam ações e iniciativas para a redução do lançamento de carga orgânica no rio. Entre essas, apenas uma não definiu quais seriam essas ações. Entre as que responderam que não adotam essas ações, várias justificaram que não lançam efluentes nos corpos hídricos.

Ações e iniciativas

Estimativa de investimento

anual (em reais)

Estimativas de metas de redução para os próximos

anos

Plano de ação para readequação da ETE e redução da carga poluidora.

R$ 4.000.000,00 N/D

Existe um plano de ação permanente. R$ 120.000,00

Considerando que o limite para carga de DBO é de 50 mg/l a meta para os próximos anos e estabilizar ao redor de 30 mg/l.

Reduzir perdas no processo, Monitoramento e controle da dosagem de químicos, Utilização de produtos não biodegradáveis, medição de consumo e água por processo.

N/D O objetivo é reduzir a carga, não está estabelecida meta específica.

Utilização de peneiras, separação e linhas de processo e lagoas de decantação Aproximadamente

R$ 30.000,00 Não saberia precisar

Análise do processo, análise de eficiência, redução de carga inicial do efluente, com ações preventivas de redução de perdas, melhorias de processo, investimento em tecnologia tanto em equipamentos quanto produtos.

R$ 150.000,00 Da ordem de R$ 500.000,00.

Tratamento efetuado do efluente na ETA. Melhoria da ETA e em estudo com a empresa que administra a nossa estação de tratamento.

R$ 120.000,00 N/D

Monitoramento da ETE. Busca por produtos mais eficientes e menor gasto econômico.

N/D Não existem metas de redução.

Treinamento e conscientização N/D N/D Novas tecnologias de tratamento de efluentes para essa redução N/D N/D

Conscientização N/D Não haverá redução dos parâmetro e sim do volume gerado

Nos últimos anos a empresa realizou diversos investimentos que aumentaram a eficiência do tratamento e redução da carga poluidora,

N/D N/D

Page 34: Agua na Indústria

 

MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

29 

 

Ações e iniciativas

Estimativa de investimento

anual (em reais)

Estimativas de metas de redução para os próximos

anos

mantendo-se 70% abaixo do limite estabelecido.

Estação de Tratamento de Efluentes por sistema de lodos ativados, estudo de viabilidade de reúso do efluente tratado para irrigação.

Gastos somente com consumo

de energia elétrica e poucos

produtos químicos

Nosso sistema atende 90% de remoção

Tratamento de efluentes. N/D N/D

Por fim, 15% dos técnicos que responderam ao formulário afirmaram que a indústria não realiza nenhum tipo de registro sistemático de atividades relacionadas aos principais temas ambientais do seu processo industrial. Por outro lado, tais registros indicados no formulário são realizados pela maioria, principalmente em relação aos resíduos sólidos gerados.

Figura 8. Registros sistemáticos feitos pela indústria

4.6 Impactos ambientais

O questionário também teve como objetivo avaliar a percepção do setor industrial em relação à poluição ambiental, tanto a forma como a poluição afeta eventualmente a empresa quanto a poluição que eventualmente é causada pela própria empresa.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

a. Volume captado de água (em rios ou atravésde poços artesianos)

b. Volume descartado de efluentes semtratamento prévio

c. Volume descartado de efluentes apóstratamento prévio

d. Emissões atmosféricas

e. Geração de resíduos sólidos

f. Horas de treinamento e capacitação depessoal para ações ligadas ao meio ambiente

g. Procedimentos de gestão ambiental

h. Incidentes ambientais

i. Auditorias ambientais periódicas

j. No momento não há nenhum registro

Número de respostas

Page 35: Agua na Indústria

 

MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

30 

 

Dentre os impactos externos mais significativos identificados destacam-se a preocupação com o uso intenso de recursos naturais, especialmente água, energia e combustível.

No caso dos impactos ocasionados pelas indústrias, a situação praticamente se repete. Os mais citados foram: o uso intenso de energia elétrica ou combustível (que alia impacto ambiental com econômico) e o uso intenso da água, além da geração de resíduos sólidos perigosos e dos efluentes gerados durante o processo produtivo.

Figura 9. Como os impactos ambientais externos afetam a atividade da indústria

13

12

10

9

8 8

9

7 7

5 5

4

5

7

8

9 9

7

1 1

5

2

4

3

1

2

4

1

2

1

4

1 1 1

2 2

0

2

4

6

8

10

12

14

Resíduossólidos nãoperigosos

Resíduossólidos

perigosos

Uso intensode energiaelétrica ou

combustível

Uso intensode água

Efluentessanitários

Efluentes deprocessos

produtivos

Vibrações eruídos

Emissõesatmosféricas

Odor

Não afetam Afetam pouco Afetam Afetam muito

Page 36: Agua na Indústria

 

MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

31 

 

Figura 10. Grau de importância dos impactos ambientais ocasionados pela indústria durante a realização de suas atividades.

Dezoito indústrias adotam ações de controle/ prevenção ou minimização dos impactos provocados por elas mesmas, uma não adota e uma não respondeu a essa questão. Importante destacar que todos os eventuais impactos ocasionados e apontados pelos responsáveis técnicos como os mais significativos possuem ações de minimização ou de mitigação relacionadas:

Figura 11. Ações de controle/ prevenção/ minimização adotadas para os impactos ocasionados pela indústria e considerados satisfatórios na percepção da própria indústria

4

6

32

4

7

23

7

9

5 5

7

9

3

9 910

43

56

5 56

433

67

5

2

5

34

00

2

4

6

8

10

12

Inexistente Pouco importante Importante Muito importante

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

a. Reciclagem ou reaproveitamento dematérias-primas ou materiais

b. Disposição adequada de resíduos sólidos

c. Redução do uso de água por produtoproduzido

d. Redução do uso de energia por produtoproduzido

e. Construção de uma estação de tratamentode efluentes (ETE)

f. Introdução de equipamentos para controlede emissões atmosféricas

g. Introdução de equipamentos para controlede ruídos e vibrações

h. Mudança significativa dos processosindustriais para reduzir desperdícios e…

Não respondeu

Page 37: Agua na Indústria

 

MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

32 

 

Segundo as respostas apresentadas, são diversos os motivos que levam uma indústria a adotar esse tipo de ação. Em ordem de importância, a necessidade de se adequar à legislação ambiental, seguida de motivos de ordem de consciência ambiental e de redução de custos.

Um único representante de empresa respondeu o porquê a indústria não realizava ações nesse sentido: devido ao custo elevado de investimento.

Figura 12. Motivos que levaram a sua indústria a implantar iniciativas para minimizar/evitar problemas ambientais.

Entre as 20 indústrias, apenas duas afirmaram que não realizarão investimentos na área ambiental nos próximos 12 meses.

As ações futuras mais importantes apontadas pela pesquisa foram: a obtenção ou renovação de licença de operação, seguida da implementação do reúso da água e a realização de auditorias ambientais periódicas.

0 2 4 6 8 10 12 14 16

a. Necessidade de adequação à legislaçãoambiental

b. Obtenção de certificação ambiental

c. Preservação do meio ambiente

d. Melhorar a imagem peranteclientes/consumidores

e. Adequação às exigências de órgãosfinanciadores

f. Adequação às exigências do mercado

g. Aumento de receita com a venda deresíduos

h. Redução de custos de produção

i. Melhoria da qualidade de vida dosfuncionários

j. Conscientização ambiental da indústria

k. Responsabilidade Social da indústria

l. Manter padrões de produção

Não respondeu

Número de respostas

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MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

33 

 

Ao mesmo tempo, as ações não consideradas em um planejamento futuro foram a obtenção de licença ambiental para expansão ou nova planta, a realização de projetos/parcerias com comunidades ou ONG’s e a certificação pela ISO 14000. Essa última ação foi considerada como “inexistente” (ou que não se pretende implementar) pelo mesmo número de indústrias que já possui essa certificação.

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MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

34 

 

Figura 13. Importância das ações ambientais futuras na visão da empresa.

3 3

2

6

5

3

8

2

6

4

33

5

4 4

5 5

1

2

4

5

4

5

6

5

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1

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2

7 7

3

9

6

9

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11

8

14

3

4

10

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Implantar acoleta seletiva

em todos ossetores

Alterarinfraestrutura

para seadequar a um

sistema degestão

ambiental

Introduzirprocedimentosou Sistema de

GestãoAmbiental

Certificar-sepela ISO14.000

Comprarequipamentopara controle

ambiental

Implementaro reuso da

água

Obter licençaambiental

para expansão/ nova planta

Obter ourenovar

licença deoperação

Realizarprojetos em

parceria comcomunidades /

ONGs

Utilizar aimagem

ambiental daindústria nomarketing

institucional

Realizarauditoriasambientaisperiódicas

Inexistente Pouco importante Importante Muito importante

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MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

35 

 

4.7 Capacitação do corpo técnicos da indústria na área ambiental

Quando questionados sobre quais os temas ambientais de maior interesse das indústrias em relação à capacitação de seu corpo técnico, os entrevistados podiam escolher entre as opções apresentadas ou manifestar opções complementares. Neste caso, apenas um dos técnicos optou por acrescentar uma nova área temática (eficiência energética). Dentre as opções apresentadas, a preferência recaiu sobre gestão, tratamento e disposição de efluentes líquidos.

Figura 14. Temas ambientais nos quais a indústria teria interesse em capacitar seus técnicos

Quando questionados sobre a utilidade de se promover as capacitações indicadas na pergunta anterior, mais uma vez, houve uma resposta espontânea: otimizar o tratamento de efluentes, afim de reduzir custos de tratamento e disposição de lodo. Dentre os demais, a visão de que as capacitações estão inseridas em um contexto de melhorias contínuas dos processos industriais.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

a. Tecnologias limpas

b. Sistema de Gestão Ambiental

c.Gestão, tratamento e disposição deefluentes líquidos

d. Produção mais limpa

e. Gestão, tratamento e disposição deresíduos sólidos

f. Gestão, tratamento e disposição deemissões atmosféricas

g. Sistema de Gestão Integrada (SGI),

h. Prevenção da poluição

i. Educação ambiental

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MEIO AMBIENTE E ÁGUA NA VISÃO DA INDÚSTRIA

36 

 

Figura 15. Para que as capacitações técnicas seriam importantes?

0 2 4 6 8 10 12 14 16

a. Melhor disposição dos resíduos

b. Atender aos requerimentos da licençaambiental

c. Atender legislação específica

d. Atingir a excelência ambiental

e. Programa de melhoria contínua da indústria

f. Atender a política ambiental

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SEGUNDO A VISÃO DO SETOR INDUSTRIAL

37 

 

5 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SEGUNDO A VISÃO DO

SETOR INDUSTRIAL

Em paralelo à aplicação do questionário (Anexo II) junto aos representantes das indústrias, um outro questionário específico foi preparado e aplicado a quatro representantes-chave da FIEP: Irineu Roveda Júnior, advogado, assessor da presidência; José Antonio Fares, psicólogo e gestor empresarial, superintendente do SESI/IEL; Marco Secco, pedagogo, pós-graduado em gestão empresarial e logística, Diretor do SENAI no Paraná; Rafael Cesar da Costa, arquiteto e urbanista com competências nas áreas de habitação, governança e infraestrutura urbana, gerente de Meio Ambiente da FIEP.

O questionário, neste caso, teve por objetivo ajudar a compreender a visão do setor industrial sobre o tema em análise, porém, desta feita, avaliando a visão de profissionais que estão à frente de cargos estratégicos na Federação das Indústrias do Estado do Paraná.

A seguir, será apresentado um breve resumo da visão manifestada por eles sobre o tema recursos hídricos e meio ambiente no setor industrial.

5.1 Irineu Roveda Junior

A FIEP tem uma compreensão geral sobre a visão que as indústrias têm sobre o tema. Não tem acesso aos detalhes, características técnicas ou demanda específica por água das indústrias ou pelos diferentes setores industriais, mas compreende muito bem a forma de ação, as demandas e as prioridades desses setores.

Acredita que o setor industrial possui alternativas tecnológicas para enfrentar as demandas da sociedade e da própria legislação, mas, de maneira geral, acaba agindo de forma responsiva e principalmente quando exigida. Hoje, a maioria das indústrias adota, segundo ele, iniciativas de redução de lançamento de efluentes ou de cargas poluidoras em geral. Mas, apesar disso, a questão ambiental não é ainda um tema prioritário para elas.

O setor age principalmente pela necessidade de se adequar à legislação ambiental; pela necessidade de preservação do meio ambiente; para melhorar a imagem perante clientes/consumidores; buscando a redução de custos de produção; visando a melhoria da qualidade de vida dos seus funcionários.

Dentre os fatores que inibem maiores investimentos em questões ambientais, destaca: a falta de fontes de financiamentos; os custos elevados de investimentos; a falta de especialistas em questão ambiental na indústria; a burocracia dos órgãos responsáveis; a regulamentação ambiental, que muda com frequência.

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SEGUNDO A VISÃO DO SETOR INDUSTRIAL

38 

 

Algumas de suas opiniões foram integralmente confirmadas pelas entrevistas realizadas junto ao setor industrial, como, por exemplo, a de que a indústria desconhece o destino dos valores arrecadados com a cobrança pela água; que as indústrias são indiferentes quanto à cobrança pela água, mas que isso só acontece porque os valores cobrados ainda são simbólicos. Caso os valores cobrados se elevem essa posição do setor industrial tende a mudar.

Por fim, Roveda destaca a criação da Gerência de Meio Ambiente e Sustentabilidade da FIEP. Essa gerência deverá atuar fortemente no delineamento das ações ambientais da FIEP junto aos seus afiliados.

5.2 José Antonio Fares

Compartilha a mesma visão manifestada pelo Dr. Roveda Jr. de que a FIEP não tem acesso aos detalhes, às características técnicas ou à demanda específica por água das indústrias ou pelos diferentes setores industriais.

Ressalta que a cobrança pelo uso da água não tem impacto na busca por melhorias e aumento de eficiência nos processos de utilização de água; que as indústrias não concordam com o pagamento pelo uso da água, mas que estão atualmente mais preocupadas com a questão do marketing ambiental que propriamente com a questão dos valores cobrados pelo uso da água.

Também chama a atenção para o fato de que as indústrias não têm conhecimento sobre a destinação dos recursos gerados pela cobrança pelo uso da água.

Tem como opinião que apenas a minoria das indústrias adota ações de redução de cargas poluidoras lançadas no ambiente e que maiores investimentos na questão ambiental acabam sendo limitados por questões da cultura empresariais e pelos custos envolvidos. Segundo ele, a indústria costuma agir de forma responsiva, para atender às determinações da legislação.

Explica que a FIEP não tem orçamento próprio destinado a ações ambientais e que, no caso do SESI, há uma forte ação educativa junto aos alunos de suas escolas e através dessa ação, o tema água e meio ambiente é tratado e discutido, como meio de formação de agentes multiplicadores.

5.3 Marco Secco

Estima que nos próximos três anos haverá um aumento de 10 a 12% dos volumes outorgados de água demandados pelas indústrias, com especial destaque para a indústria de papel e celulose e de mineração.

Estima que a cobrança pelo uso da água atualmente impacta em cerca de 0,05% os custos finais de produção e que o setor industrial, de uma forma geral, não concorda

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SEGUNDO A VISÃO DO SETOR INDUSTRIAL

39 

 

com a cobrança e que teme que o valor seja aumentado com eventuais aumentos nos custos estabelecidos pelo Comitê de Bacias.

Assim como os demais entrevistados, afirma que a indústria desconhece o destino dos valores arrecadados com a cobrança pela água e que a indústria acaba se motivando mais pela questão do "marketing verde" que propriamente pela necessidade de pagar pelo uso da água.

Concorda com o Dr. Fares ao dizer que apenas uma minoria das indústrias adota ações para redução de suas cargas poluidoras e que isso tem razões culturais e financeiras.

Explica que o SENAI procura sensibilizar e motivar o setor industrial, mostrando o lado positivo de se investir nas questões ambientais, além de oferecer consultoria a seus afiliados para a certificação da ISO 14.000. Além disso, o SENAI tem realizado uma série de trabalhos técnicos para ofertar às indústrias a adequação às bases legais, com foco principal nas questões de resíduos e efluentes.

Afirma que 4 a 5% do orçamento do SENAI (que totalizou R$ 350 milhões em 2014) é investido em ações na área ambiental, principalmente em seus laboratórios.

5.4 Rafael Cesar da Costa

O resultado deste estudo demonstra a importância de um papel ativo da indústria na construção de propostas que garantam a boa gestão dos recursos hídricos no Paraná. Neste sentido, é papel da FIEP fortalecer a participação do setor industrial nas discussões sobre a utilização dos recursos provenientes da cobrança pelo uso da água, de forma que este fundo seja utilizado para a promover práticas de reuso, tratamentos mais eficientes de efluentes e aumento da eficiência operacional. Para assumir este papel, a Federação visa estruturar uma rede estadual de recursos hídricos da indústria, de forma a unificar a voz de representação do setor industrial nos diversos comitês de bacias hidrográficas do estado.

Da mesma forma como a logística reversa de produtos industrializados, a escassez hídrica traz uma oportunidade para que as indústrias se modernizem e utilizem tecnologias e sistemas que visem reduzir custos e melhorar a sustentabilidade do ciclo de vida dos seus produtos. Este contexto gera por consequência um aumento da competividade da indústria paranaense no cenário nacional e internacional. No entanto, para que este cenário ocorra, a FIEP e sua base de empresas associadas devem estar bem informadas e presentes nas discussões em âmbito estadual e nacional, para que as dificuldades enfrentadas possam ser revertidas em políticas públicas que promovam um bom ambiente regulatório e fácil acesso a investimentos em melhorias de processos e infraestrutura.

Por fim, a criação da Gerência de Meio Ambiente e Sustentabilidade, em julho deste ano,

reforça a preocupação da Federação em trazer a agenda ambiental mais próxima aos seus afiliados. Com a nova estrutura, o Sistema FIEP poderá consolidar a sua visão de olhar o

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SEGUNDO A VISÃO DO SETOR INDUSTRIAL

40 

 

meio ambiente não como uma ameaça, mas sim como uma oportunidade para promover o desenvolvimento sustentável da indústria do Alto Iguaçu, Alto Ribeira e de todo o Paraná.

5.5 Considerações finais sobre as respostas apresentadas

5.5.1 Indústrias e os recursos hídricos

Sem que haja nisso qualquer juízo de valor, é um fato que nas últimas décadas, as empresas deixaram de ser vistas apenas como instituições econômicas, com responsabilidade para resolver os problemas meramente econômicos – do tipo o que produzir como produzir e para quem produzir – e passaram a ser cobradas também em relação a questões de caráter social, político e ambiental, tais como: controle da poluição, segurança do trabalho, qualidade de produtos, assistência social, defesa de grupos minoritários, etc.

Neste contexto, a literatura que trata desse tema e as próprias respostas dadas pelos participantes deste estudo permitem afirmar que a adoção desses procedimentos por parte das empresas dificilmente surge espontaneamente. A preocupação ambiental dos empresários e a conscientização tem tido influência de três grandes forças que interagem simultaneamente: o governo, a sociedade e o mercado.

O aumento (ainda que lento e gradual) da conscientização da sociedade em relação à conservação ambiental e, no caso em voga, ao uso racional dos recursos hídricos, tem acarretado pressões governamentais e de entidades não governamentais, além das comunidades, sobre as empresas, para que assumam a responsabilidade pelo controle ou redução das emissões de efluentes e resíduos gerados em seus processos produtivos. Aumenta também a pressão para que as empresas se responsabilizem, inclusive, pela destinação final dos produtos, após seu consumo, a chamada logística reversa.

Essa preocupação com a redução de impactos na indústria ficou evidente nas respostas apresentadas nos questionários, até mesmo porque a redução de impactos pode ser associada ao aumento de eficiência e redução de custos. O fato, é que atualmente é impossível as empresas ficarem alheias ao tema.

Difícil, porém, é avaliar o papel do mercado nesse processo, pois participaram da pesquisa empresas de 11 setores tão distintos quanto extração de minerais não-metálicos, bebidas, indústrias automotoras e de produtos alimentícios.

O que se observa, porém, é que o mercado tem, pouco a pouco, exercido também influência na adoção de práticas ambientais por parte das empresas. Os processos de abertura comercial têm intensificado a competição entre países e empresas. As organizações que oferecem produtos/serviços ecologicamente corretos começam a ser encaradas de uma forma especial no mercado mundial, onde um novo consumidor começa a ser moldado para diferenciar produtos e serviços pelo desempenho ambiental de quem os oferta.

O aumento do número de empresas certificadas, de rótulos ou selos verdes, em muitos países, nas últimas décadas é um indicador da importância do desempenho ambiental como critério

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SEGUNDO A VISÃO DO SETOR INDUSTRIAL

41 

 

definidor das escolhas por parte dos consumidores na hora de realizar suas compras. Um dos certificados de maior destaque internacional é o da ISO 14001, que atesta o compromisso da organização com a melhoria contínua do seu desempenho ambiental. Algumas das empresas que participaram do presente estudo já possuem esse certificado, mas são ainda a minoria. Talvez isso aconteça porque essa "venda" de uma imagem ambientalmente correta ainda não se traduza automaticamente em benefícios financeiros, como chamou a atenção o Dr. Roveda Jr. durante a entrevista realizada com ele. Mas, essa é uma tendência que só tem se intensificado.

O fato é que a gestão ambiental tem ganhado importância na indústria, como mostram as respostas apresentadas pelos representantes do setor. A grande maioria das empresas participantes adota algum procedimento de gestão ambiental. Usam também isso como forma de externar à sociedade sua preocupação com o desenvolvimento sustentável, ao mesmo tempo em que buscam a manutenção de suas fontes de recursos naturais (o que fica claro quando da preocupação com os impactos causados em relação ao uso e disponibilidade de água e de combustíveis).

Alguns mercados internacionais começam também a discriminar produtos potencialmente poluidores e premiam os produtos “verdes”. Por outro, a crescente internacionalização da economia brasileira, com a entrada de empresas estrangeiras e processos de fusão e aquisição, tem introduzido modificações no comportamento dos empresários, especialmente naqueles que colocam seus produtos em países onde a regulamentação ambiental é mais restrita.

A partir do conjunto de respostas obtidas nos questionários apresentados, observa-se que o setorial industrial da região do Alto Iguaçu, confirmando o que foi apontado pelos representantes da FIEP, apresenta condições e alternativas técnicas e tecnológicas para se adaptar às demandas ambientais estabelecidas pela sociedade, pelo mercado ou pela legislação e já investe efetivamente nisso. Porém, também ficou absolutamente evidente que não o faz motivado pela cobrança pelo uso da água (pergunta inicial do presente estudo), mas pelas pressões que começam a ser exercidas pelo mercado ou pelas oportunidades oferecidas através do marketing verde, e, principalmente, pela legislação ambiental.

Atender as exigências legais em relação ao uso e reúso da água e ao descarte de efluentes são uma preocupação efetiva das indústrias. Contudo, o tema água e recursos hídricos ainda está longe de ser prioritário na agenda das empresas, ficando certamente atrás de temas considerados por elas como mais relevantes, como custos e disponibilidade energética, por exemplo. Então, apenas na medida em que tais exigência legais implicam em aumento de custos ou em necessidade de grandes investimentos, esses temas passam a despertar a atenção mais direta e efetiva por parte das indústrias.

Por isso, se hoje a cobrança pelo uso da água é visto pelo setor industrial apenas como mais uma forma do Estado de criar taxas e tributos para arrecadar recursos, há também um certo temor de que essa cobrança possa tornar-se um fator verdadeiramente impactante nos custos dos produtos industriais, caso os valores cobrados pelo uso da água deixem de ser simbólicos e passem a ser mais significativos.

Analisando a questão tendo como foco o Comitê de Bacia, têm se certamente um dilema que todos sabem onde vai desaguar: 1) os valores cobrados pelo uso da água são simbólicos, tão simbólicos que nem chegam a ter caráter educativo; 2) por outro lado, são uma grande diferença em relação há alguns poucos anos atrás, quando sua cobrança não era nem mesmo cogitada; 3) mas,

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SEGUNDO A VISÃO DO SETOR INDUSTRIAL

42 

 

também são insuficientes para investir na melhoria efetiva das condições hidrográficas regional, tanto que nenhum representante das indústrias declarou conhecer o destino e a aplicação dos recursos captados, o que significa, indiretamente, que melhorias nas condições ambientais nos locais onde as indústrias estão instaladas não estão ocorrendo ou, se estão, são muito pequenas para serem percebidas.

Obviamente, como sempre acontece no Brasil, a tendência é que logo será levantada a hipótese de que tais melhorias não acontecem porque os valores arrecadados são muito baixos e que a solução será cobrar pela água segundo a importância que esse recurso tem para cada setor industrial ou então segundo seu valor ecológico. Aliás, cobrar muito da sociedade e utilizar extremamente mal os recursos arrecadados são uma praga epidêmica no Estado brasileiro. As indústrias sabem disso, mas optam por reagir responsivamente. É aí que entra, ou que poderia entrar, a FIEP.

5.5.2 O papel da FIEP

O cenário desenhado como resultado do presente estudo mostra que a FIEP, assim como suas entidades associadas, como o SENAI e o SESI, poderá ter papel de grande protagonismo no processo de interação entre o setor industrial, o Estado (e, consequentemente, com as questões legais), o mercado e a sociedade.

Como principal representante do setor industrial do estado do Paraná, cabe à FIEP antecipar-se aos fatos e oferecer aos seus afiliados um dos insumos mais importantes para a sobrevivência e para o sucesso de qualquer empresa nos tempos atuais: informação.

Atualmente, informação é a base para o sucesso empresarial, já que a mesma ajuda a aumentar o conhecimento das organizações sobre temas estratégicos; orienta suas ações, ajudando-as a reduzir suas incertezas na tomada de decisão. Nesse sentido, quem detém a informação e sabe usá-la como um recurso para a definição de estratégias conseguirá uma maior eficiência e se tornará mais competitivo.

As grandes empresas possivelmente têm acesso a tais informações estratégicas relacionadas, no caso em foco, às questões ambientais e, mais especificamente, aos recursos hídricos. Têm também a capacidade de se antecipar aos fatos e se adaptar mais rapidamente às exigências do Estado, da sociedade e do mercado. Entretanto, as médias e, principalmente, as pequenas empresas, possivelmente não tenham tal capacidade e é aí que se abre atualmente uma brecha importante para o papel de protagonismo reservado à FIEP.

Também, como membro do Comitê das Bacias do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira, a FIEP tem um papel importante na discussão dos temas centrais relacionados ao uso e reúso de água e o lançamento de efluentes pelas indústrias.

O momento é de oportunidade para que a FIEP, na qualidade de representante do setor industrial e até mesmo as indústrias, individualmente, exerçam uma participação mais ativa no processo decisório de aplicação dos valores pagos por elas pelo uso da água e no próprio processo de definição das normas que deverão reger o uso dos recursos hídricos pelas indústrias nos próximos anos.

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SEGUNDO A VISÃO DO SETOR INDUSTRIAL

43 

 

O momento é também importante para que o setor industrial contribua, de forma mais efetiva para a conservação desses recursos hídricos na região onde as indústrias estão instaladas, de forma a garantir seu acesso à agua e minimizar as chances de que ocorra aqui o que tem acontecido em São Paulo, em função não apenas da falta de chuvas, mas principalmente em função da falta de planejamento. Com a conservação de mananciais, com uso mais racional e eficiente da água, com a aplicação de práticas sistemáticas de reúso e tratamento adequado de efluentes, reduzem-se as possibilidades de escassez, mesmo em um já estabelecido contextos de alterações climáticas globais.

Contudo, assim como a maioria das indústrias que participaram do estudo, a própria FIEP ainda não tem uma estrutura institucional efetiva para abordar as questões ambientais de interesse de seus afiliados. Aliás, ela sequer tem um orçamento destinado às ações ambientais ou desenvolve programas continuados na área ambiental junto aos seus afiliados, agindo, assim como as indústrias a ela associadas, muito mais de forma reativa que de forma verdadeiramente proativa. Mudar essa realidade pode começar com uma decisão política, mas que certamente terá profundos impactos em um - provável - cenário em que as preocupações com as questões ambientais e com os recursos naturais tenham que ser para valer.

A viabilidade de uma inserção competente do Brasil no disputado cenário da irreversível economia globalizada implica na conscientização da indústria quanto a uma substancial mudança nos processos de transformação, pela incorporação de práticas de produção mais limpa.

No que se refere ao uso racional da água nas plantas industriais, será preciso investir em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, na implantação de sistemas de tratamento avançado de efluentes, em sistemas de conservação, em redução de perdas e no reúso da água. Isto levará a significativos ganhos ambientais, sociais e econômicos. As empresas de grande porte já estão implantando tais práticas, pois dispõem de condições técnicas e financeiras para tanto. As micro e pequenas empresas, entretanto, necessitam de apoio e orientação para adotarem tais sistemas em suas unidades produtivas.

Horácio Lafer Piva Presidente da FIESP entre 1998-2004

(Conservação e Reuso de Água – Manual de

Orientações para o Setor Industrial)

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ENTREVISTA COM O PRESIDENTE

44 

 

6 ENTREVISTA COM O PRESIDENTE

Edson Luiz Campagnolo é um empreendedor por natureza. Nascido em 1959, em Francisco Beltrão, iniciou sua vida empresarial ainda jovem, há mais de 30 anos, ajudando a administrar uma pequena malharia montada por sua mãe na própria casa da família, em Curitiba, para onde haviam se transferido. Depois de experiências no comércio, em 1990 fundou a Rocamp, com sede em Capanema, Sudoeste do Paraná. A pequena fábrica cresceu ao investir na produção de peças para o mercado

corporativo. Atualmente, as empresas Rocamp e Logic, além de seguirem atuando no setor corporativo, fornecem para grandes marcas mundiais do segmento esportivo. A companhia conta com mais de 300 colaboradores, responsáveis pela produção de 70 mil peças ao mês nas unidades fabris instaladas em Capanema, Santo Antônio do Sudoeste, Planalto e Itaipulândia. Campagnolo é presidente da Fiep desde outubro de 2011.

Como a FIEP se relaciona com as indústrias e até que ponto as representa?

A gente costuma dizer que a FIEP defende o interesse de 52.000 CNPJs. Na verdade são 47.000 indústrias que, com o com suas filiais chegam a 52.000 CNPJs, distribuídos em 109 sindicatos empresariais e industriais. De forma compulsória, eles recolhem as

contribuições confederativas. Então a FIEP entende que todos esses sindicatos e setores produtivos e industriais estão, sim, representados e faz a defesa de seus interesses nos mais diversos organismos e áreas.

E até que ponto as indústrias se sentem representadas pela FIEP?

Acho que essa é uma pergunta que nunca ninguém me fez. Eu digo que pode até haver controvérsias, mas penso que as indústrias deveriam, sim, sentir-se representadas. Até porque está muito claro que tudo o que gente fala não tem nenhum tipo de ideologia ou de lado a ser tomado. A gente está transitando

em um ambiente que democrático, convivendo com toda a sociedade. Talvez se fossemos fazer uma pesquisa, haveria respostas dizendo que um ou outro setor não se sinta representado. Mas, se a mesma pesquisa fosse feita há 10 anos, há três anos e agora, ela mostraria que essa percentagem

A disponibilidade de água para a nossa geração é resultado de um processo de milhões de anos e precisamos pensar na nossa responsabilidade com as gerações futuras.

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ENTREVISTA COM O PRESIDENTE

45 

 

vem diminuindo e o setor industrial se sinta, de fato, cada vez mais representado pela FIEP.

Qual é a visão do presidente da FIEP sobre as questões ambientais e, de forma mais específica, a questão da água no setor industrial?

A água como bem comum e como uma dádiva, precisa ter um uso racional. Assim, todas as pessoas, tanto na indústria quanto individualmente, tem a responsabilidade de fazer a sua parte. A disponibilidade de água para a nossa geração é resultado de um processo de milhões de anos e precisamos pensar na nossa responsabilidade com as gerações futuras.

O Sr. Considera que a questão da água ainda não é encarada pelas indústrias como algo verdadeiramente relevante ou um tema tratado ainda individualmente pelas indústrias?

Essa cultura está crescendo. Eu diria que

hoje ela não é pontual, mas sim setorial. Existe hoje um aumento da pressão pelo uso racional dos recursos naturais e as indústrias acabam procurando ajuda para lidar com tais questões.

A situação atual vivida na região Sudeste e, mais especificamente no estado de São Paulo, de alguma forma preocupa os industriais paranaenses?

Talvez as indústrias paranaenses ainda não tenham se dado conta do tamanho do problema. Mas, certamente hoje a

preocupação é maior. Acendeu uma luz amarela, literalmente. Eu considero que se o tema não estava sendo tratado com a devida atenção pelas indústrias, o caso de São Paulo coloca o tema como algo recorrente de agora para frente.

Existe alguma pressão efetiva do mercado ou da sociedade sobre a questão da água e de utilização de recursos naturais, ou esse tema ainda se limita à legislação e às pressões do Estado?

Entendo que esse é ainda um tema novo, mesmo para o mercado ou para sociedade. Ele começou a ser tratado quando levantado pelo Al Gore (ex vice presidente americano, autor do documentário "Uma verdade inconveniente"). Aquilo criou inicialmente um pânico e que logo se mostrou exagerado. Agora, com a questão das usinas hidrelétricas e da questão energética, que está intimamente ligada, a preocupação chega às indústrias.

A maioria das indústrias que respondeu ao questionário afirmou que a cobrança pelo uso da água não incentiva a busca por melhorias no processo industrial. Em 2013 o Comitê de Bacias do Alto Iguaçu arrecadou pouco mais R$ 900.000 pelo uso da água, o que equivale, média a pouco mais de R$ 1.000,00/mês por indústria. Como o sr avalia a questão da cobrança pelo uso da água pelas empresas?

Eu considero que a cobrança deva acontecer. Agora, o valor dela deve ser

A cobrança tem que servir de instrumento de conscientização e os recursos captados inteiramente destinados a investir nos próprios problemas da bacia hidrográfica.

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ENTREVISTA COM O PRESIDENTE

46 

 

discutido. Ainda que estejamos falando em média, R$ 1.000,00 por mês para um pequena empresa pode ser muito. Além disso, a cobrança não deve ser feita de modo que o Estado vá ter nisso uma nova fonte de receita. A cobrança tem que servir de instrumento de conscientização e os recursos captados inteiramente destinados a investir nos próprios problemas da bacia hidrográfica.

Dezoito das vinte indústrias que responderam ao questionário afirmaram desconhecer a destinação dos recursos arrecadados pela cobrança pelo uso da água. Há uma falta de interesse das indústrias em participar desse processo ou é um sinal de que a cobrança pelo uso da água é encarada apenas como mais uma taxa a ser paga e cujos valores serão naturalmente incorporados aos preços finais dos produtos?

É mais ou menos por aí. Mas, entendo que isso passa por uma questão chave: precisamos discutir qual é o tamanho do estado que a gente quer. O estado age hoje criando burocracias. Da parte das empresas, elas começam a procurar meios para superar isso. Mas, isso não acontece apenas na questão ambiental. Em todas as áreas, as empresas precisam buscar meios para ser competitivas. Só que quando as indústrias colocam toda essas burocracias criadas pelo Estado em seus custos, elas deixam de ser competitivas. Então, a pergunta que precisamos fazer é: qual é o modelo de estado que queremos? Qual é o modelo queremos

adotar para que a indústria brasileira seja mais competitiva? Hoje, estamos sendo atropelados por essa discussão de sustentabilidade mundial. Mas, não se têm criados meios para que as indústrias possam de fato de adaptar. Por exemplo, podemos analisar o caso da China. Aparentemente, ela parece começar a fazer o dever de casa, com uma nova legislação ambiental muito mais rigorosa. Mas, ao mesmo tempo, vem transferindo suas principais indústrias poluidoras para outros países da Ásia, como o Vietnam, Bangladesch. Ou seja, estão exportando o abacaxi e se modernizando internamente. Ainda assim, o que estão fazendo internamente não representa nada se comparado ao passivo ambiental que eles têm. Portanto, essa discussão passa fundamentalmente pelo modelo de Estado que queremos.

A maioria das indústria afirmou que investiu no aperfeiçoamento de processos relacionados ao uso de água ou ao tratamento de efluentes nos últimos 3 anos. A água é considerada como um insumo de valor econômico pelas indústrias ou esse investimento ainda é fruto apenas de uma pressão da legislação ambiental?

De fato, a água ainda não é encarada pela maioria das indústrias como algo de valor econômico. Há menos de 15 anos falar em uma Agência Nacional de Águas pareceria ser algo tão absurdo como se criar uma Agência

Quando as indústrias colocam toda essas burocracias criadas pelo Estado em seus custos, elas deixam de ser competitivas. Então, a pergunta que precisamos fazer é: qual é o modelo de estado que queremos?

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ENTREVISTA COM O PRESIDENTE

47 

 

Nacional do Ar. Ou seja, esse é um processo muito recente. Ainda não há uma cultura formada sobre o tema.

Qual é a contribuição às empresas associadas que a FIEP pode ou que pretende dar em relação às questões ambientais e, mais especificamente, em relação ao tema Água nos próximos anos?

Em todas as condições de mercado que a FIEP atual, ela oferece condições diferenciadas para que as empresas se habilitem e busquem os serviços do Sistema FIEP, que lhes serão ofertados de forma subsidiada. Portanto, o Sistema FIEP, principalmente através do SENAI, está à disposição das empresas e nós estamos dispostos a fazer também investimentos. Contudo, é preciso lembrar que nós temos um número muito grande empresas associadas. Tão grande que nós não temos condições de acesso a todas. Porém, elas têm nosso endereço. Quando a legislação começar a bater às suas portas, elas irão buscar as informações e perceberão que aqui encontrarão um parceiro. Mas, é importante que as empresas entendam também que têm

grande responsabilidade em todo esse processo aqui discutido. Não adianta uma empresa apenas exigir os favores do estado para se estabelecer. As empresas também precisam investir. A FIEP sempre estará aqui para ajudar.

Como a FIEP está estruturada ou pretende se estruturar para poder desempenhar tal função?

A gente tem que acompanhar e, se não está interferindo, precisa se envolver mais com a definição de políticas públicas. Se o setor não se envolve mais ativamente, corre o risco de ter que lidar com exigências que tornem o processo produtivo proibitivo. Então é necessário acompanhar e construir as políticas públicas. Mas, é importante ressaltar, que com o aumento da demanda por ações ambientais, não caberá apenas à FIEP ao SENAI prestar esse serviço, pois isso também criará um cenário para que empresas dos setores de prestação de serviço se insiram. Ou seja, o mercado acaba se regulando.

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7 ANEXO I

QUESTIONÁRIO APLICADO AOS REPRESENTANTES DAS INDÚSTRIAS

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8 ANEXO II

QUESTIONÁRIO APLICADO AOS REPRESENTANTES DA FIEP

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