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1 AGRICULTURA EMPRESARIAL: NOVIDADES E DESAFIOS PARA A PESQUISA SOBRE O RURAL Eve Anne Bühler Universidade Paris 8 Vincennes-St-Denis Núcleo de pesquisa UMR LADYSS [email protected] Valter Lúcio de Oliveira Universidade Federal Fluminense [email protected] Resumo Objetiva-se com este trabalho apresentar reflexões preliminares de uma pesquisa em andamento junto aos grandes produtores agrícolas do Oeste da Bahia. Parte-se da constatação de que as muitas mudanças ocorridas recentemente no meio rural e no setor agrícola tem feito emergir novos perfis de produtores agrícolas e novas lógicas de relações sociais e espaciais. Nota-se, por exemplo, a forte presença de grande investidores que passam a atuar na agricultura segundo lógica similar àquela que investem em outros setores da economia introduzindo, assim, elementos que vão compor dinâmicas até então inexistentes nesse meio. Acerca de boa parte dessas transformações ainda não se produziu grandes estudos acadêmicos e, nesse sentido, tal artigo apresenta, mais do que respostas conclusivas, problematizações desafiadoras às ciências sociais. Palavras-chave: Agricultura empresarial. Redes socioeconômicas. Territorialização. Oeste da Bahia. Desenvolvimento local. Globalização. Introdução O meio rural e o setor agrícola têm experimentado significativas e constantes mudanças. A crise energética e as perspectivas abertas com os agrocombustíveis, a forte e freqüente variação nos preços das commodities, a preocupação com a segurança e soberania alimentares, as inovações tecnológicas (especialmente as da biotecnologia), a acentuada mercantilização do campo, o fenômeno crescente de estrangeirização das terras etc, são transformações que conduzem à novas lógicas de ação na agricultura e no campo e sugerem formulações e reformulações das questões para as agendas de pesquisas e para os formuladores de políticas públicas. A agricultura, que já foi considerada um setor pouco atrativo ao capital, especialmente devido às suas especificidades naturais e econômicas (RAMOS, 2007; MANN; DIKINSON, 1987), vive atualmente um processo de forte atração de investidores não especificamente vinculados a tal setor. Assiste-se a um interesse crescente e

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AGRICULTURA EMPRESARIAL: NOVIDADES E DESAFIOS PARA A PESQUISA SOBRE O RURAL

Eve Anne Bühler Universidade Paris 8 Vincennes-St-Denis

Núcleo de pesquisa UMR LADYSS [email protected]

Valter Lúcio de Oliveira

Universidade Federal Fluminense [email protected]

Resumo Objetiva-se com este trabalho apresentar reflexões preliminares de uma pesquisa em andamento junto aos grandes produtores agrícolas do Oeste da Bahia. Parte-se da constatação de que as muitas mudanças ocorridas recentemente no meio rural e no setor agrícola tem feito emergir novos perfis de produtores agrícolas e novas lógicas de relações sociais e espaciais. Nota-se, por exemplo, a forte presença de grande investidores que passam a atuar na agricultura segundo lógica similar àquela que investem em outros setores da economia introduzindo, assim, elementos que vão compor dinâmicas até então inexistentes nesse meio. Acerca de boa parte dessas transformações ainda não se produziu grandes estudos acadêmicos e, nesse sentido, tal artigo apresenta, mais do que respostas conclusivas, problematizações desafiadoras às ciências sociais. Palavras-chave: Agricultura empresarial. Redes socioeconômicas. Territorialização. Oeste da Bahia. Desenvolvimento local. Globalização. Introdução O meio rural e o setor agrícola têm experimentado significativas e constantes mudanças.

A crise energética e as perspectivas abertas com os agrocombustíveis, a forte e

freqüente variação nos preços das commodities, a preocupação com a segurança e

soberania alimentares, as inovações tecnológicas (especialmente as da biotecnologia), a

acentuada mercantilização do campo, o fenômeno crescente de estrangeirização das

terras etc, são transformações que conduzem à novas lógicas de ação na agricultura e no

campo e sugerem formulações e reformulações das questões para as agendas de

pesquisas e para os formuladores de políticas públicas.

A agricultura, que já foi considerada um setor pouco atrativo ao capital, especialmente

devido às suas especificidades naturais e econômicas (RAMOS, 2007; MANN;

DIKINSON, 1987), vive atualmente um processo de forte atração de investidores não

especificamente vinculados a tal setor. Assiste-se a um interesse crescente e

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diversificado que vem definindo diferentes formas de relações com o território e

produzindo novas dinâmicas sociais tanto no plano local quanto global.

Considerando especialmente o caso brasileiro, a ocupação do seu meio rural se fez de

forma bastante heterogênea, porém marcada por uma estrutura fundiária altamente

concentrada o que historicamente vem sendo motivo de muitos conflitos agrários. Face

a essa situação, as ciências sociais construíram categorias de análise que permitem a

compreensão de grande parte dos atores relacionados com o setor agrícola e, dessa

forma, tem feito avançar o conhecimento dos grupos sociais presente no campo,

especialmente no que tange a sua diversidade de atuação e interesses. Assim, foram se

consolidando abordagens voltadas à pequena propriedade, à qual se associa os estudos

sobre o campesinato ou o agricultor familiar, e à grande propriedade à qual se associa

os estudos sobre as plantations, as fazendas de pecuárias ou, mais recentemente, sobre o

agronegócio. No entanto, considerando esta habitual divisão (tantos nos meios políticos

quanto acadêmicos) entre agricultura familiar e agricultura patronali, é possível afirmar

que as ciências sociais, e a geografia em particular, dedicaram maior atenção à primeira,

seja por razões políticas (as lutas sociais do campo tem seus prolongamentos na

academia) ou pela sua factibilidade (acesso a determinados atores, informações etc.).

Portanto, pela atenção que a agricultura familiar atraiu e atrai ainda hoje temos, à

disposição, muitos elementos para compreender sua dinâmica produtiva e reprodutiva

(econômica, social e cultural) e para caracterizar este tipo de agricultura e seus agentes

que, está claro, reúne uma grande diversidade de perfis e uma forte complexidade em

sua configuração (OLIVEIRA, 1991; SCHNEIDER, 2006). Já o segundo grupo, que se

convencionou situá-lo em contraponto a essa agricultura familiar, não recebeu a mesma

atenção. O “agronegócio” foi alvo de muitas pesquisas setoriais e quantitativas no

campo disciplinar da economiaii (como os estudos voltados para as cadeias produtivas) e

da gestão além, é claro, de escritos mais engajados na sua defesa ou crítica. Mas não há

muitas pesquisas acumuladas que tenham se dedicado à sua compreensão desde o

campo epistemológico da geografia humana e da sociologia (sobretudo em tempos mais

recentes). Estudos que não tenham um compromisso normativo e que, dessa forma,

contribua para jogar luz sobre esse cenário ainda pouco inteligível.

Nesse sentido, esse artigo tem por objetivo apresentar alguns resultados preliminares de

uma pesquisa em curso e levantar questões problematizadoras acerca do que

designaremos de agricultura empresarial (para escapar de denominações ainda pouco

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consensuais e carregadas de conteúdo ideológico: agronegócio ou agricultura patronal);

um perfil de agricultura que tem adquirido amplo destaque social, econômico e político

no Brasil. Trataremos de descrever algumas tendências recentes que apontam para a

necessidade de conhecer melhor seus estabelecimentos, sua diversidade, as mudanças

que vêm sofrendo e os atores que a fazem funcionar. Entendemos que se trata de um

meio social bastante diversificado e que reúne lógicas de ação e formas de inserção

territorial que precisam ser mais bem investigadas.

Dados secundários obtidos especialmente através de meios de comunicação

especializados e dados primários coletados a partir de trabalhos de campo realizados nos

meses de Agosto de 2011 e fevereiros de 2012 apontam para vários indícios de que está

em curso uma nova forma de atuação na agricultura de larga escala. Nota-se que esta

agricultura está ganhando maior expressão e tem atraído investidores habituados a

atuarem no mercado financeiro e também aqueles que investem no setor produtivo

industrial. Esses produtores agrícolas estão, mais do que em outras épocas, fortemente

vinculados aos circuitos internacionais do mercado das commodities e das empresas

transnacionais dependentes de matéria prima agrícola. Nesse caso, nas análises das

estratégias competitivas, como aquelas referidas em Porter (1993) no campo das

vantagens concorrenciais internacionais em uma determinada indústriaiii, os recursos

naturais, tais como terra e clima, ganham maior importância juntamente com os recursos

humanos. Daí o significativo interesse pela instalação de grandes fazendas altamente

produtivas em áreas que não estão próximas aos grandes centros, mas que oferecem

estes recursos naturais em abundânciaiv.

Por ser um fenômeno que tem ganhado maior amplitude recentemente, ele ainda é

bastante desconhecido e tem sido fonte de poucos estudos acadêmicos. O que se

questiona são as dinâmicas sociais que a ele estão vinculadas, como por exemplo: quem

são esses produtores rurais, a partir de onde atuam, quais as suas lógicas de atuação ?

Alem disso, para no campo mais específico da geografia, se questiona as conseqüências

dessas atuações na organização do espaço rural e nas relações que aí se constroem entre

diferentes tipos de atores. Desenvolveremos melhor essas idéias à seguir.

Onde pesquisar os grandes agricultores ? A dinâmica socioeconômica e espacial da agricultura de grande porte, influenciada

fortemente pelo processo de globalização, induz a pensar que grande parte do setor

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agrícola experimenta uma conformação cujos contornos depende, cada vez menos, deste

grupo sócio-profissionalv historicamente composto por agricultores. O próprio discurso

frequentemente veiculado pelas mídias especializadas busca novas designações para

evitar a identificação com categorias já existentes recusando, assim, a associação à

imagem socialmente sedimentada do “agricultor”. Exemplo desse exercício semântico

pode ser notado pela adoção da categoria “agroempresário”, utilizada para designar um

determinado perfil de investidor no setor agrícola. Parece-nos, portanto, que tal

realidade demanda uma atenção científica que vá além dessas construções que emergem

a partir das disputas simbólicas que são expressões de interesses diversos.

Pretendemos tentar compreender parte dos elementos que estão agindo e influenciando

algumas mudanças atualmente notadas. Temas relacionados à agroenergia,

biotecnologia, avanços tecnológicos, integração agricultura e indústria etc, certamente

vem impondo novas práticas e opções aos atores da agricultura por influenciar os

mercados, os modos de fazer agricultura e, necessariamente, as redes sócio-profissionais

dos produtores. Essas redes, que passam a incluir atores mais periféricos à atividade de

produção no campo, mas que estão fortemente inseridos nos setores agroindustrial,

mercantil ou financeiro, servem de elos na transmissão de tendências entre o global e o

local. Levá-los em conta como vetores dessas mudanças permite entender, de maneira

empírica e prática, as interações entre o surgimento de “novos atores” na agricultura, a

influência da globalização e o processo de tecnificação do sistema agroalimentar.

Tomamos como estudo de caso e alvo de um projeto de pesquisa sobre o tema, o Oeste

da Bahia, devido ao fato de ali estar concentrado grande parte dos “antigos” agricultores

e novos investidores agrícolas. Portanto, é um local privilegiado para o encontro com

tais atores e para a compreensão dos processos sócio-espaciais adstritos à grande

agricultura. Luis Eduardo Magalhães e Barreiras são os principais municípios desta

regiãovi e são consideradas referências para o “agronegócio” ali desenvolvido e que está

em processo de expansão para regiões adjacentes. A pesquisadora Denise Elias,

especializada nos estudos acerca da geografia do “agronegócio” irá definir tais cidades

como “Cidades do Agronegócio”, inspirada no que Milton Santos chamou de “Cidades

do Campo”, em consideração ao fato de estarem amplamente condicionadas pela

dinâmica de tal setor econômico (Ver, ELIAS, 2006; ELIAS; PEQUENO, 2005). Luis

Eduardo Magalhães foi emancipada de Barreiras em março de 2000, depois de cerca de

aproximadamente trinta anos de instalação progressiva de agricultores de médio e

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grande porte, especializados na produção de commodities agrícolas e usando técnicas

das mais recentes. Desde então, não tem cessado seu crescimento demográfico sob o

impulso da criação de renda e de empregos ligados à produção agrícola e às atividades

subjacentes. Em 2007 sua população era de 44.310 e passou à 60.105 habitantes em

2010 segundo dados do IBGE. Com relação à área plantada com lavoura temporária, os

dados apresentados na tabela abaixo ilustram o crescimento da agricultura da região. É

interessante ressaltar que esse processo é regular ao longo do tempo e não parece

apontar para sua estabilização no curto prazo.

Área plantada com lavoura temporária (ha)

MESOREGIÃO 1990 1995 2000 2005 2009 Aumento (%) Extremo Oeste da Bahia 480.790 721.019 984.637 1.386.399 1.601.216 333

Fonte: IBGE

Alguns municípios dessa região tiveram crescimento ainda mais espetacular, como é o

caso de Formosa do Rio Preto que, no mesmo período acima, contou com um

incremento em sua área plantada com lavoura temporária de mais de 750%, segundo

dados do IBGE.

O interesse por esta região também é devido ser esta a origem de grande parte dos

agricultores e investidores que estão expandindo seus negócios para novas áreas de

fronteiras agrícolas vizinhas. É o caso da região conhecida como “Mapito”vii. Esta área

vem sendo definida como o mais novo “eldorado” para os grandes empreendimentos

agropecuários. Esse discurso alia a identificação das potencialidades dessa região à

idéia, que já foi utilizada para outras áreas da Amazônia (e mesmo para o Oeste da

Bahia), de que se trata de um “fim de mundo” vazio e desabitado “um paraíso para os

agricultores”. Como assinalado por um dos empresários atuantes na região: "É um lugar

estratégico para quem atua no mercado de commodities agrícolas." Um pequeno extrato

de uma matéria publicada em uma revista de grande circulação dá o tom do discurso

acerca de tal região: O acesso é difícil, as estradas são um verdadeiro caos e em alguns lugares não há, sequer, energia elétrica. Mas ainda assim esse fim de mundo se tornou sinônimo de grandes investimentos numa espécie de Eldorado. Essa é a região do "Mapito", onde Maranhão, Tocantins e Piauí convergem num imenso planalto de terras agricultáveis e de chuvas regulares - um paraíso para os agricultores. (Revista Isto É Dinheiro, ed. 632, acessado em 07/13/2011)

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O Oeste da Bahia (juntamente com a região do Mapito) tem experimentado, ao longo

dos últimos 20 anos, transformações intensas diretamente vinculadas ao setor agrícola.

Essa região conforma, portanto, um espaço empírico privilegiado para pesquisar as

variadas expressões dos empreendimentos agrícolas. Como ilustração da acelerada

transformação que está ocorrendo naquela região, na Tabela 01 pode ser notado a

evolução do tamanho da área plantada em três microregiões que fazem parte da região

de Mapito e são aquelas que apresentaram um crescimento destacado no período que vai

de 1990 a 2009 (ultimo dado disponível).

Evolução da área plantada com culturas temporárias em três Microregiões de Mapito (ha)

MICROREGIÕES 1990 1995 2000 2005 2009 Aumento (%)

Gerais de Balsas - MA 66.357 82.261 177.778 281.291 284.701 430 Alto Médio Gurguéia - PI 7.350 30.735 47.079 93.351 115.617 1573 Jalapão - TO 21.296 15.570 20.919 143.367 135.976 638

Fonte: IBGE

Duas idas à campo em 2011 e 2012 para recolher dados primários, mostraram que o Oeste

baiano contêm uma grande diversidade de atores correspondendo ao que se pode designar

por “grande agricultura”. Existem por exemplo estabelecimentos agrícolas pertencendo às

famílias de colonos gaúchos provenientes do sul, que migraram à partir dos anos 1970 à

procura de terra (HAESBAERT, 1997) e que atualmente atingem uma dimensão de vários

milhares de hectares, lidando com verdadeiras empresas de produção de grãos. Por outro

lado, se encontram propriedades pertencentes à investidores originários do Sudeste ou do

Sul do pais, que nem mesmo moram na região na qual possuem sua propriedade e atuam

com a ajuda de assalariados e gestores especializados; se encontram também grandes

grupos, financiados por investidores nacionais ou estrangeiros (OLIVEIRA, 2010), alguns

deles agindo através de fundos de investimento. Essas primeiras constatações

confirmaram a necessidade de conhecer melhor as características dos produtores

agrícolas, para tentar entender quais os pontos comuns e quais as diferenças entre eles

enquanto atores socioeconômicos e produtores do espaço (LEFÈBVRE, 2000).

Além do agronegócio enquanto categoria Em relação ao aspecto designativo, voltamos ao que já foi brevemente apontado

anteriormente para justificar e acentuar a opção que fizemos de nos afastar da categoria

“agronegócio”.

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Tem sido constante no Brasil a presença do termo agronegócio nos debates políticos e

nos meios de comunicação de massa, especialmente para destacar sua importância e os

constantes superávits na balança comercial desse setor. Mas esse termo, de tão

associado a lutas políticas, acabou por se tornar uma designação classificatória que

esclarece muito pouco acerca das características que pretende reunir. Pode-se dizer que

se tornou uma expressão ideológica de grupos sociais disformes e difusos. Ou seja, ao

se falar e “exigir” que se fale em agronegócioviii se produz um efeito performático que é

o de tornar existente enquanto realidade concreta aquilo que só existe enquanto um

espaço de relações (BOURDIEU, 1999, p.137). Isso significa dizer que não existe uma

substancia, algo que possa ser delimitado de forma precisa como agronegócio. O

agronegócio está sendo construído como tal. Apenas dessa forma é possível que certos

grupos dominantes, porta vozes de grupos sociais disformes, recolham os benefícios de

reivindicações junto aos governos e outras instituições se valendo de contrapartidas

produtivas e representativas difíceis de serem delimitadas. As referências, por exemplo,

ao “agronegócio familiar” converge para esse sentido de desfazer fronteiras e unir toda

a diversidade sob um mesmo “guarda chuva” conceitual.

Se, do ponto de vista da sua objetividade, como quer GRAZIANO DA SILVA (2010,

p.158), “não faz nenhum sentido excluir previamente um determinado ator social que

esteja envolvido [em determinadas] cadeias produtivas, como é o caso da agricultura

familiar” daquilo que é enunciado como agronegócio, do ponto de vista do seu efeito

social e subjetivo tal neutralidade e objetividade não existem. Portanto, se na disputa

por definir e construir a realidade certos conceitos perderam o sentido – arbitrário por

definição – que esteve na sua origem ou ao qual se agregaram novos sentidos, não é do

nosso interesse determinar, a partir de algum poder de enunciação, aquele lado que está

mais próximo da verdade original e objetiva dos fatos. É dever do cientista social ir

além dessas disputas e compreender as relações sociais subjacentes.

No caso, renunciamos a esta designação devido a tal compreensão. Antes de nos

convencermos de que o uso do termo agronegócio não imporia um viés já na origem do

que está sendo pesquisado, seria necessário tomar esse conceito ele próprio como objeto

de análise, o que não constitui, a priori, interesse dessa apresentação. Dessa forma,

optamos por designar o nosso objeto de reflexão apenas como “grande agricultura” e

seus agentes: os grandes produtores agrícolas. Tomamos como principal referência para

tal recorte a definição de grande propriedade contida na legislação brasileira, ou seja,

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aquela que possui acima de 15 módulos fiscaisix (Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de

1993). Com isso escapamos da armadilha político-social e conceitual contida no termo

agronegócio e, ao mesmo tempo, utilizamos uma categoria que, por ter um caráter legal,

permitiu uma melhor realização do recorte empírico por ocasião do trabalho de campo.

As mudanças no campo e na agricultura Como já salientado, por trás do que estamos chamando “grande agricultura” há um

universo social bastante diversificado e complexo. Entre estes que são considerados

grandes produtores, ainda é possível encontrar formas familiares tradicionais de

organização da produção, definindo um grupo social para quem a terra se constitui em

patrimônio sobre o qual a família se reproduz ao longo de gerações. Esta reprodução

pode se dar tanto baseada em um formato extensivo de produção com baixo uso de

tecnologia e mão de obra, quanto com uso intensivo de tecnologia e pouca mão de obra,

definindo um perfil designado de “empresarial familiar” (BÜHLER, 2008, p.430). Deve

ser acentuado que com o desenvolvimento de novas tecnologias, muitas dessas famílias

logram produzir em extensas áreas sem a necessidade da contratação de grande número

de trabalhadores externos. Reproduzem-se baseados no uso intensivo dos fatores de

produção, especialmente tecnológicos. Em ambos os casos (intenso uso de tecnologia

ou não), não há uma divisão muito clara entre aqueles que gerenciam e detêm o capital e

aqueles que trabalham na propriedade.

Ao lado desse perfil de agricultor existem aqueles que estão, da mesma forma, fundados

sobre uma estrutura familiar de gerenciamento do empreendimento agrícola, mas

adotando um tipo de estratégia empresarial que se aproxima mais fortemente de uma

empresa rural. O trabalho produtivo é conduzido, majoritariamente (ou exclusivamente),

por mão de obra externa e possui significativo capital tecnológico e menor vinculação

com o patrimônio fundiário. Esse tipo de agricultor configura um perfil do tipo

“empresarial patrimonial” (BUHLER, 2008, p.430) que visa à geração de lucro e

rendimento com dominância da escala de produção, perpetuação e incremento de um

patrimônio que se transmita no interior da família.

Entre estes, também é freqüente os agricultores que estão estreitamente vinculados a

empresas beneficiadoras. Toda sua forma de gerir e produzir são dependentes da

demanda e dos pacotes tecnológicos determinados por tais empresas. A autonomia

dessas propriedades é praticamente inexistente. Atualmente tem destaque as empresas

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de celulose que, além de adquirirem grandes áreas para a implementação da silvicultura

(com especial interesse na região que está sendo pesquisada), também estabelecem

contratos com os proprietários rurais locais.

Parte significativa desses agricultores considerados até aqui passaram por um processo

de migração como estratégia para se reproduzir como agricultor familiar (SILVESTRO

ET AL, 2003). Há muitos estudos que se dedicaram a compreender o processo de

migração dos agricultores (sobretudo oriundos da região Sul) para as várias regiões do

país e inclusive para outros países limítrofes (HAESBAERT, 1997; BUHLER, 2006;

SOUCHAUD, 2002; TAVARES DOS SANTOS, 1993). No Oeste baiano por exemplo,

não são desprezíveis os estudos já realizados, especialmente aqueles interessados nessa

agricultura anteriormente destacada que, apesar de grande, tem base familiar e partilha a

característica de ser, em sua maior parte, realizada por gaúchos (HAESBAERT, 1997;

ANDRADE, 2008; GASPAR, 2010; ALVES, 2006). Os gaúchos são, com frequência,

apresentados como detentores de um certo ethos desbravador e colonizador que, por

comparação a outros migrantes, o movimento de migrar é socialmente valorizado

(BUHLER, 2006). Os gaúchos se distinguem pelas características de formarem

“colônias” e manterem seus hábitos culturais e uma estruturação social e produtiva

fundamentalmente familiar.

Mas o componente familiar nem sempre está presente ; convive com outros atores da

agricultura ainda mais diferentes, marcados por uma lógica empreendedora sem se

reconhecer enquanto agricultor. São os chamados “agroempresários”, em forte

crescimento no Oeste da Bahia e nas regiões adjacentes: grandes investidores nacionais

e internacionais que compram ou arrendam terras em diferentes partes do globo e

investem na produção de commodities.

É importante alertar que não é recente o fato de grandes empresas e investidores se

interessarem em investir seu capital na aquisição de terras em várias partes do Brasil.

Esse processo vem se acentuando ao menos desde a Lei de Terras de 1850, que

determinou uma nova relação com a terra mediada pela renda fundiária (MARTINS,

2010). A busca pela maximização dessa renda fundiária atraiu muitos investidores para

regiões de fronteira agrícola motivando a ocorrência de muitos conflitos sócio-

ambientais, especialmente na Região Amazônica (ESTERCI, 1987; MARTINS, 2009;

FIGUEIRA, 2004). Os maiores interesses se concentram, sobretudo, na especulação

fundiária e na perspectiva de diversificar a fonte de renda (industrial, comercial,

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agrícola). No entanto, o que está sendo percebido atualmente é que essa nova leva de

investidores é mais diversa e sua chegada se faz a partir de novas formas de inserção

local, de novas relações sociais e novos investimentos produtivos. Esse tipo de

agricultura também vem sendo denominada de “Agricultura Corporativa” (BATISTA;

INÁCIO, 2011)

Tal agricultura parece se beneficiar das dinâmicas geopolíticas e econômicas definidas

pelo processo de globalização da economia que imprime suas marcas em praticamente

todas as nações. É comum se dizer que com a globalização o mais simples agricultor

brasileiro está, inevitavelmente, conectado ao mercado mundial e se preocupa com os

vários fatores que podem afetar o movimento dos preços dos seus produtos, mas esse

processo de globalização também tem introduzido novas dinâmicas e novos atores no

campo produtivo (BONANO; MARSDEN; GRAZIANO DA SILVA, 1999). O

mercado de terras tem gerado interesses em grupos estrangeiros privados e, alguns

destes, vinculados aos interesses de governos de outros países (LEITE, SAUER, 2010;

OLIVEIRA, 2010; FERNADES, 2011).

O aquecimento do mercado internacional de terras, determinado pelo interesse desses

investidores estrangeiros, tem relação com o crescimento populacional, com a limitação

de áreas produtivas em seus países e a ampla variação no preço das commodities. Está

associado também às perspectivas relacionadas à agroenergia e à segurança alimentar, o

que tem feito com que muitos governos e investidores explorem estas possibilidades de

adquirirem e/ou arrendarem terras em outros países, com destaque para aqueles dos

continentes africano e latino americano (ALLAVERDIAN, 2010; MERLET;

PERDRIAULT, 2010). Essa situação tem feito com que as realidades rurais e urbanas

em certas regiões se transformem rapidamente e ampliem a complexidade das relações

sociais locais.

Tais fatos podem ser exemplificados a partir do caso de uma empresa argentina que

iniciou suas atividades na região do Oeste da Bahia explorando grandes áreas sem que

fossem necessárias a aquisição de todas as terras necessárias e mesmo sem a aquisição

de todo maquinário. Em parte da área explorada, optou pelo arrendamento e pela

terceirização da produção com agricultores locais, introduzindo na agricultura uma

lógica mais presente no meio industrial (GUIBERT, 2009). Ocorre que em certas

situações os próprios fazendeiros locais oferecem suas terras e suas máquinas para

serem usadas por tais “agroempresários”. Mesmo sendo ainda marginal, todo esse

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processo deixa evidente que os recursos naturais têm um peso muito mais acentuado

nesse tipo de investimento quando comparado às indústrias. Mas, como notado, é

incorporado na agricultura certas lógicas das grandes corporaçõesx (PORTER, 2006). É

a projeção sobre os espaços rurais de necessidades provenientes dos grande centros

urbanos e informadas por lógicas vinculadas à urbanização do meio rural que, por sua

vez, envolve atores locais e internacionais. Ainda assim, esse processo de

industrialização da agricultura e urbanização do rural fica condicionado a determinadas

particularidades da agricultura que serão analisados na próxima seção.

As particularidades da agricultura e as mudanças conceituais Compreender as transformações ocorridas na agricultura, inserida no contexto maior do

capitalismo, sempre foi uma questão desafiante para muitos teóricos sociais. Muitas

formulações e revisões foram feitas na medida em que os atores sociais atuantes na

agricultura iam se reinventando e motivando a novas análises. O fim do campesinato e

sua diferenciação social determinado pelo desenvolvimento do capitalismo no campo

(LÊNIN, 1988 [1899]; KAUTSKY (1986 [1899]), HOBSBAWN (1995), MENDRAS,

1984); a consolidação de uma agricultura familiar fortemente integrada ao mercado

(ABRAMOVAY, 1992; VEIGA, 1995), a persistência de formas não capitalista na

agricultura (MARTINS, 2010), o debate a respeito da recampesinização da agricultura

(PLOEG, 2008), a emergência da questão ambiental (DEAN, 1996) etc, são questões

que foram e continuam, a cada período, determinando novos rumos às análises das

ciências sociais voltadas para os processos sociais rurais.

É justo afirmar que, em grande medida, as previsões marxistas que partiam da

constatação de que a agricultura camponesa caminhava inelutavelmente para sua

extinção não se confirmaram integralmente. Essa extinção se efetivaria a partir de um

processo de concentração dos meios de produção que conduziria esse formato social de

se fazer agricultura a experimentar uma dinâmica de diferenciação que estabeleceria

uma distinção básica entre dois grupos sociais: uma pequena parte se consolidaria como

“burguesia” agroindustrial e uma grande parte em “proletário”. Passados mais de cem

anos desde que LÊNIN (1988 [1899]) fez tais considerações, constatamos que mesmo

nos países onde o capitalismo mais se desenvolveu, a agricultura de características

camponesas resiste, ainda que de forma altamente mercantilizada (PLOEG, 2008).

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Da mesma forma, certas teses apoiadas em noções desenvolvidas por KAUTSKY (1986

[1899]) como o “apropriacionismo” e o “substitucionismo” na agricultura também não

se concretizaram de maneira absoluta. Estas teses apontavam, respectivamente, para a

possibilidade da indústria capitalista em se apropriar de elementos necessários ao

processo de produção agrícola ou mesmo a própria substituição de determinados

produtos, inclusive para a alimentação, por produtos gerados de modo fabril. As

condições objetivas que GOOLDMAN, SORJ E WILKNSON, (1990) sugerem para

sustentar tais teorias aparecem definitivamente com as modernas biotecnologias.

Nesse debate em relação aos rumos do desenvolvimento capitalista na agricultura,

algumas análises colocaram em relevo o quanto este setor da economia continha

dimensões hostis ao capital. Vários estudos deram conta de que existiam muitos

“Obstáculos ao desenvolvimento da agricultura capitalista” (MAN; DIKINSON,

1987). Esta frase entre aspas é justamente o título de um breve artigo no qual estes

autores marxistas apresentam uma discussão em torno das particularidades que faz da

agricultura um setor diferente dos demais setores da economia e, por isso, menos

atrativo ao grande capital. É a partir desta explicação que vai justificar a permanência e

consolidação de um formato de agricultura cuja gestão do patrimônio, da produção

agrícola e da mão de obra está baseada, fundamentalmente, na famíliaxi. O

desenvolvimento desses argumentos se coloca em contraposição a outros autores

marxistasxii, comentados anteriormente, que previram o desaparecimento deste tipo de

agricultor à medida que o capitalismo fosse penetrando no campo. Os aspectos centrais

que compõe tais particularidades se concentram basicamente ao redor das questões

ambientais e à própria natureza da agricultura. É dizer que muitos dos aspectos

edafoclimáticos, do caráter perecível de parte significativa de seus produtos ou o alto

investimento em sua armazenagem além da dinâmica sazonal da produção e do

conseqüente emprego de mão de obra, faz da agricultura um setor de difícil

industrialização e, portanto, pouco atrativo aos investidores capitalistas.

Algumas outras questões, que definiam a agricultura como um setor de significativo

risco e hostil à obtenção de taxas de lucros similares a outros setores da economia,

podem ser apontadas a partir de RAMOS (2007, p.23-24):

- Dupla baixa elasticidade da demanda, significando que não há um aumento

significativo no consumo de certo produto quando este diminui seu preço e nem quando

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se aumenta a renda dos consumidores. O aumento na demando, para ser expressivo, se

daria no aumento demográfico.

- Sazonalidade produtiva e demanda contínua. Tal característica impõem custos de

estocagem e grande variação no preço dos produtos ao longo de certo período.

- Os diferentes ciclos de produção (perene e anual), impõem, em certos casos, a

imobilização de um grande capital em investimento que fica exposto aos riscos naturais.

- Dispersão geográfica, dificultando as potencialidades de uma economia territorial

- Os limites à economia de escala. Há estudos que demonstram que não ocorre

incremento nos lucros (diminuindo os custos) proporcionalmente ao aumento da áreaxiii.

Mas todas estas característicasxiv não impediram que houvesse uma forte

industrialização dos insumos e maquinários necessários à produção agrícola e nem um

processo intenso de industrialização dessa produção intermediados por várias cadeias de

comercializaçãoxv. Portanto, apesar dessas características que afugentaram da

agricultura muitos capitalistas voltados para maximização da sua taxa de lucro,

preferindo investir em seus setores a montante e a jusante e deixando esta atividade sob

a responsabilidade predominante de grupos familiares, o que é percebido atualmente é

que muitas transformações sociais passaram a impor novas lógicas de investimentos

nesse setor.

Chegou-se, atualmente, a um estágio em que várias outras mudanças se somam de

forma notadamente aceleradaxvi. Tais mudanças (como o avanço das biotecnologias, das

agroenergias, os riscos relativos à segurança e soberania alimentar, a frequente variação

no preço das commodities etc) passaram a atrair a atenção de governos e investidores.

Esse processo que tem forte relação com a globalização conforme apontado

anteriormente, longe de homogeneizar um espaço social (BONANO, 1999), tem

produzido uma maior diversidade social difícil de ser apreendida. Como salientado por

GRAZIANO DA SILVA (2010), para ser conseqüente com a realidade, não se pode

falar de uma agricultura brasileira, mas sim de agriculturas brasileiras, pois o que se

verifica a esse respeito é a existência de “uma estrutura complexa, heterogênea e

multideterminada”.

Considerações finais Considera-se que a relação desses agricultores com o espaço está regida por uma lógica

fortemente instrumental, segundo a qual a terra perde o sentido de patrimônio e o

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espaço de produção deixa de ser também um espaço de vida como ocorre,

predominantemente, no caso da agricultura familiar (WANDERLEY, 2009). Em

consideração a esta forma de se relacionar com o local, o que marca o processo inicial

de territorialização desses agricultores, antecipando e legitimando sua instalação, é um

certo investimento discursivo em definir a área na qual atuarão como sendo um espaço

de “vazio social” e sobre o qual se desenvolve um bioma natural sem muita

importância, neste caso, o Cerradoxvii. A partir desse discurso, busca-se a constituição de

um território em que o caráter civilizatório, assentado na ideologia do progresso

(DUARTE, 1998; MARTIN; PELEGRINI, 1984), passa a informar as relações sociais e

com o espaço. Ou seja, no lugar do “vazio” se implanta um processo produtivo dotado

de intensa tecnologia e gerido a partir de ferramentas de gestão pouco encontradas em

tal atividade. É a partir desse patamar que se define o parâmetro para marcar o divisor

entre o progresso e o atraso. Esse processo, que inicialmente se dá a partir de uma

desconstrução simbólica, se consolida economicamente e socialmente a partir de

relações de poder (FOUCAULT, 1979) nas quais se vêem enredados vários outros

atores sociais (FERNANDEZ, 2010). Em outros termos, se pode pensar que à partir dos

projetos, interesses e práticas dos novos atores agrícolas, se acirram as relações de poder

e os conflitos, e se transformam a maneira de pensar e de representar o local e as

relações sociais, sobretudo aquela estabelecida entre os atores locais, inclusive dentre os

grandes agricultores. Tais possibilidades abrem um campo de reflexões a ser explorado

nas pesquisas sobre grande agricultura.

Deve ser considerado ainda que com a chegada desses grandes produtores agrícolas

outros atores sociais, políticos e econômicos entram em cena ou reestruturam seus

papeis. Tal processo se estabelece no local, mas também em âmbitos mais globais, e

promove mudanças nas relações sociais e na forma como os habitantes originários do

local passam a refletir acerca de sua história e posição social. O sistema de

representação política também se redefine. Pode-se considerar a hipótese da ocorrência

dessas transformações: a chegada de mão de obra especializada, a transformação de

muitos proprietários em arrendatários, como é o caso, por exemplo, nas áreas de

extensão da cana de açúcar, o fortalecimento dos agentes imobiliários, a emergência de

novos representantes políticos, novas funções dos funcionários públicos, o surgimento

de novas organizações sociais e representativas novos agentes comerciais que passam a

explorar novos nichos do mercado que emerge desse processo etc.

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Assim, outro tema relevante tem a ver com as redes socioeconômicas vinculadas à esses

atores, interna e externamente ao estabelecimentos agrícolas. Os indivíduos ou grupos

empresariais que investem nessas áreas apóiam-se em redes sociais mais diversas e com

maior presença de atores do campo político e do campo econômico. São redes que

apresentam uma extensão social e geográfica bastante ampla. Os vínculos locais

estabelecidos por tais indivíduos provavelmente são mais frágeis e voltados para os

interesses relativos ao empreendimento agrícola que, por sua vez, estão mais fortemente

determinados pelas orientações emanadas de instâncias superiores públicas ou privadas.

As conexões e a manutenção da relação entre estes níveis são realizadas por

funcionários locais. Assim, um melhor conhecimento sobre os atores sociais envolvidos

nas empresas agrícolas, o papel de cada um sobre os lugares onde moram e trabalham

juntamente com as redes sociais das quais fazem parte, pode ser de grande utilidade

para compreender como elas se territorializam e, de forma conjunta, quais as suas

interações com o espaço global.

Pode-se dizer que, com a chegada desses novos produtores agrícolas, se impõe uma

nova configuração ao território. O acesso aos recursos locais é realizado a partir de

lógicas de apropriação e manejo diferentes. Isto significa que novos trabalhadores e

novos sistemas produtivos e outra forma de tratamento dedicada aos fatores de produção

são introduzidos no local. Instaura-se, com isso, um espaço de disputa pela configuração

do território (RAFESTIN, 1980; RIPOLL; VESCHAMBRES, 2002, 2006) que se

efetiva a partir da conjunção de forças micro e macro sociais que se realizam no e desde

o local. É dizer que à imposição de novas configurações ao território se opõem um

movimento de resistência articulado também em diferentes níveis sociais (micro

resistências locais, organizações locais e globais, agentes do campo político, etc).

Notas

i Essa divisão e se poderia dizer mesmo contraposição se materializa, em certa medida, na separação entre os ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e do Desenvolvimento Agrário (MDA). ii Veja, dentre muitos outros: Mendes; Padilha Jr. 2007, Ramos, 2007, Batalha; Souza Filho, 2009, Callado, 2011. iii Porter considera a concorrência como um processo dinâmico que envolve 5 fatores hierarquizados: recursos humanos, recursos físicos, saberes, recursos em capital e infraestruturas. iv Dentre as vantagens que fizeram despertar o interesse pela região do Oeste da Bahia (e entorno), são destacadas: baixo valor da terra, regime pluvial favorável às principais culturas agrícolas, relevo que otimiza o uso de maquinário em grandes extensões e, segundo o senso comum, a ocorrência de uma vegetação natural de baixo valor, justificando, mais facilmente, o avanço da fronteira agrícola. v Sobre a categoria sócio-profissional “Agricultor”, ver Hervieu (1996).

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vi Esta região conta com um total de 23 municípios. vii Sigla formada pelas iniciais dos estados do Maranhão, Piauí e Tocantins. Para alguns analistas a Bahia também integra esta zona de interesse dos grandes investidores na agricultura, mas, diferentemente destes estados, ali o “agronegócio” se instalou a mais tempo. viii Como salientado por Heredia et al (2010) o que está sendo referido por agronegócio segue na esteira do processo de modernização da agricultura iniciado, com maior força, na década de 1960. Seria algo como um novo estágio do que em outros tempos se definiu como “Agricultura Moderna” e, posteriormente, como “Complexo Agroindustriais (CAI)”, sem, no entanto, se confundir com tais designações. Acerca do debater que opõe Agricultura Familiar e Agronegócio, a partir de diferentes perspectivas de análises, ver Sauer (2008) e Valente (2008). ix Modulo fiscal é um parâmetro, definido em hectares, adotado para cada município conforme a sua peculiaridade produtiva. Para a região em q uestão o módulo fiscal é, aproximadamente, 75ha. x Mesmo diante da preocupação do governo federal em limitar as possibilidades de aquisição de terras brasileiras por estrangeiros um desses empresários argentino destaca o seguinte: “Nesta sociedade em que vivemos, o que importa não é a propriedade da terra e sim o conhecimento sobre o que fazer com ela. O conhecimento significa capacidade de gestão sobre essas terras e que tipo de serviços você pode prestar. Logo, os fatores clássicos da propriedade nem sempre são fundamentais para um trabalho. Neste caso, o mais importante é propriedade do conhecimento e a disponibilidade de terra para trabalharmos de um jeito ou de outro”. (GLOBOCOPATEL, 2008). xi Que deve ser pensada a partir de vários aspectos relacionados à família, à reprodução social e a partir das dinâmicas comunitárias. Do ponto de vista econômico, a dinâmica baseada na família define uma outra racionalidade econômica especialmente ao se considerar que este tipo de agricultor é detentor do capital e da mão de obra dotando todo esse sistema produtivo e social de certa flexibilidade. (WANDERLEY, 2009). xii O próprio Marx demonstrou evidente hesitação em fazer dessa constatação empírica relativa à Europa Ocidental, uma profecia a ser concretizada em qualquer contexto, como passo inevitável para o desenvolvimento do capitalismo e para a passagem a uma nova fase definida pelo socialismo. Sobre isso, ver os “Rascunhos da carta à Vera Zassulitch de 1881” (MARX, 2005 [1924]). xiii Sobre esse aspecto em específico, ver as análises e o conjunto de dados sistematizados por Veiga (1995). xiv Deve ser acrescentado que o rural e a agricultura também acumularam sobre si uma forte carga de preconceito que fez edificar uma imagem associada ao atraso e à ignorância fazendo-os mais distantes como possibilidades sociocultural e econômico-profissional (MORAES; ARABE; SILVA, 2006; WANDERLEY, 2009) xv Passou-se por um processo definido por Complexo Rural, em que grande parte das necessidades do sistema de produção agrícola predominante era atendida de forma artesanal e internamente às grandes fazendas que, majoritariamente, voltavam-se para os monocultivos. A passagem para o que passou a ser denominado Complexo Agroindustrial (CAI) configurou um forte processo de urbanização e integração vertical da agricultura à indústria promovendo o que RODRIGUES (2009, p.48) chamou de uma divisão social entre o rural e a cidade. xvi A publicação mais recente que reflete a intensa transformação que o meio rural e a agropecuária vem experimentando é a coletânea de artigos organizada por Gasques, Vieira Filho e Navarro (2010). No entanto, tais estudos se voltam apenas para uma das dimensões dessas transformações que é o “econômico-produtivo” e todos os artigos dedicam-se a atualizar interpretações sobre a agricultura brasileira, a partir dos dados do Censo Agropecuário de 2006. xvii O ministro da agricultura Wagner Rossi fez o seguinte comentário em uma reunião do Conselho Federal da Economia: “Lá não tem nada, só Cerrado”. Fazia referencia justamente ao Mapito e ao Oeste da Bahia. (LO PLETE, 2011). Referências ABRAMOVAY, R. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. São Paulo – Campinas: Anpocs/Hucitec/Ed. Unicamp, 1992.

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