agricultor experimentador

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Quem disse que agricultura familiar só pode ser praticada na zona rural? O exemplo dessa contradição é um pequeno agricultor que tem um terreno amplo na zona urbana de São Miguel do Tapuio e, com muita boa vontade e trabalho, tira o sustento da família na venda de coentro, cebolinha e milho verde. A história de José Araújo Alves, o Zezinho, como agricultor familiar inicia bem diferente de muita gente do semi-árido. Francisca Vieira Lima, hoje sua esposa, morava na cidade e ele morava na zona rural, mas bem próximo à cidade. Eles se conheceram, casaram e tiveram filhos, mas tinham que cuidar do sustento da família. E decidiram montar uma churrascaria, que eles chamaram de Mandacaru. No caminho diário para a Mandacaru, dona Francisca sempre passava na porta do terreno e o namorava, porque sempre teve vontade de ter um lugar próprio. Foi quando eles venderam uma moto para comprar um terreno de 20 de frente por 40 de fundo. Mas os investimentos não paravam por aí. Eles decidiram também vender a churrascaria para construir a casa. Com o terreno e a casa prontos, ela começou a fazer os canteiros. Mas ainda faltava material, e com a venda da churrascaria já não tinha de onde tirar dinheiro. Foi quando Zezinho decidiu ir para São Paulo para levantar o dinheiro necessário. Quando ele estava com nove meses lá, dona Francisca decidiu ir também, deixando as crianças na casa dos avós. Lá ela trabalhou seis anos e ele ficou sete anos. Durante esse tempo, o dinheiro que ganhavam eles iam investindo na ampliação do terreno aos poucos e mandaram fazer o poço para ter água suficiente para a plantação. Hoje o terreno mede 42 por 60. Zezinho conta que sofreu muito em São Paulo, trabalhando como ajudante de pedreiro na construção civil. Uma experiência que não aconselha para ninguém e que hoje não há necessidade de as pessoas se deslocarem de suas casas para ganhar dinheiro. É necessário só boa vontade e entrar com a cara e a coragem. Na propriedade eles plantam milho, coco, melancia, Piauí Ano 1 | nº 10 | fevereiro | 2009 São Miguel do Tapuio - PI Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Agricultor experimentador Vontade e garra são os lemas de agricultor da zona urbana de São Miguel do Tapuio 1 Agricultura familiar orgânica em plena zona urbana Milho verde é bem vendido na propriedade Projeto Piloto

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Quem disse que agricultura familiar só pode ser praticada na zona rural? O exemplo dessa contradição é um pequeno agricultor que tem um terreno amplo na zona urbana de São Miguel do Tapuio e, com muita boa vontade e trabalho, tira o sustento da família na venda de coentro, cebolinha e milho verde.

A história de José Araújo Alves, o Zezinho, como agricultor familiar inicia bem diferente de muita gente do semi-árido. Francisca Vieira Lima, hoje sua esposa, morava na cidade e ele morava na zona rural, mas bem próximo à cidade. Eles se conheceram, casaram e tiveram filhos, mas tinham que cuidar do sustento da família. E decidiram montar uma churrascaria, que eles chamaram de Mandacaru.

No caminho diário para a Mandacaru, dona Francisca sempre passava na porta do terreno e o namorava, porque sempre teve vontade de ter um lugar próprio. Foi quando eles venderam uma moto para comprar um terreno de 20 de frente por 40 de fundo. Mas os investimentos não paravam por aí.

Eles decidiram também vender a churrascaria para construir a casa.

Com o terreno e a casa prontos, ela começou a fazer os canteiros. Mas ainda faltava material, e com a venda da churrascaria já não tinha de onde tirar dinheiro. Foi quando Zezinho decidiu ir para São Paulo para levantar o dinheiro necessário. Quando ele estava com nove meses lá, dona Francisca decidiu ir também, deixando as crianças na casa dos avós. Lá ela trabalhou seis anos e ele ficou sete anos. Durante esse tempo, o dinheiro que ganhavam eles iam investindo na ampliação do terreno aos poucos e mandaram fazer o poço para ter água suficiente para a plantação. Hoje o terreno mede 42 por 60.

Zezinho conta que sofreu muito em São Paulo, trabalhando como ajudante de pedreiro na construção civil. Uma experiência que não aconselha para ninguém e que hoje não há necessidade de as pessoas se deslocarem de suas casas para ganhar dinheiro. É necessário só boa vontade e entrar com a cara e a coragem.

Na propriedade eles plantam milho, coco, melancia,

Piauí

Ano 1 | nº 10 | fevereiro | 2009São Miguel do Tapuio - PI

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Agricultor experimentadorVontade e garra são os lemas de agricultor da

zona urbana de São Miguel do Tapuio

1

Agricultura familiar orgânica em plena zona urbana

Milho verde é bem vendido na propriedade

Projeto Piloto

mandioca, mamão, coentro e cebolinha. Destas, somente o milho, o coentro e a cebolinha são comercializados. O restante é usado só para o consumo da família. Dona Francisca conta que tentou plantar pimentão e tomate, mas ainda não deu certo. Mas a força de vontade dessa família não os deixa desistir. E ela vai tentar em outra parte do terreno para ver se dá certo.

E é assim, experimentando, que a família vai tocando os trabalhos. Zezinho conta que já recebeu a instrução de vários técnicos, mas as instruções nunca deram certo no terreno. Então ele decidiu fazer tudo por conta própria. Para cultivar o milho, ensinaram de uma forma, mas não deu certo. Experimentando outras maneiras, ele acertou a forma certa para o tipo de terreno que ele tem e deu resultado: tirou quatro safras de milho ligeiro. E quando a safra é boa ele chega a vender cinco mil espigas em três dias.

O mais importante é a lição agroecológica que essa família dá. Lá eles não cultivam nada com produtos químicos, tudo é orgânico e os restos reaproveitados. Pra combater as pragas, nada de veneno. Eles usam água sanitária diluída em água, sabão em pó e pó de café. E para adubar os canteiros aproveitam a palha de carnaúba, esterco de bode e vaca. O esterco é usado misturado e a palha é usada para segurar a água, deixando o canteiro úmido. O resto do milho que é retirado da plantação é aproveitado para alimentar os animais.

Zezinho conta que o problema inicial era o acesso à água. Quando compraram o terreno e começaram a plantar, tiveram que usar a água da comunidade, porque ainda não tinham poço. E todos os dias enfrentavam problemas com os vizinhos por causa dessa água. Com a conquista do poço, tudo melhorou. Hoje ele utiliza uma mangueira com um aspersor móvel para fazer a irrigação. Trabalho que começa às quatro da manhã e vai até sete, quando o sol começa a esquentar.

A comercialização do produto é feita na própria casa e na feira. Muita gente compra direto na casa para o consumo e para vender na feira. A parte da venda fica com dona Francisca, que conta que só leva para a

cidade quanto tem muito, mas que geralmente as pessoas vão comprar o produto lá. Dessa venda eles tiram uma boa renda, cerca de mil e quinhentos reais por mês, que já deu para mobiliar a casa e garantir fartura para a família.

Zezinho conta que eles não tiveram incentivo algum e que as pessoas que estão sendo beneficiados pelos programas só precisam de vontade mesmo para conseguir ser o próprio patrão. Para ele e dona Francisca a parte difícil foi ir para fora juntar o capital, mas com o trabalho já consolidado eles querem continuar trabalhando para formar os filhos, Douglas e Maria Eduarda, tirando a renda dali. Além disso, querem aumentar o terreno para ampliar a produção de milho até 2010.

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Cultivo é feito sem a utilização de venenos

A expectativa é ampliar a produção do milho

www.asabrasil.org.br

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Projeto PilotoPiauí

O PROJETO PILOTO DO P1+2 ESTÁ SENDO DESENVOLVIDO COM OS SEGUINTES APOIOS:

Ministério doDesenvolvimento Social

e Combate à Fome

Secretaria de Segurança Alimentar

e Nutricional

CENTRO REGIONAL DE ASSESSORIA E CAPACITAÇÃO