agregação de escolas - oficio ao mec

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Agregação de Escolas - Oficio ao MEC

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Page 1: Agregação de Escolas - Oficio ao MEC

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Exmo. Senhor,

Ministro da Educação e Ciência Nuno Crato

Lisboa, 04 de Maio de 2012

Assunto: Agregação de Escolas

Exmo. Senhor Ministro da Educação,

A Resolução do Conselho de Ministros n.º 44/2010, de 14 de Junho, prevê a

reorganização “gradual” dos Agrupamentos e das Escolas não agrupadas, “em função das

especificidades de cada Escola ” e com uma “dimensão adequada ao desenvolvimento do seu

projecto educativo” (cf. ponto 8 da Resolução).

O Despacho n.º 4463/2011, de 1 de Março, determina que as propostas de agregação

são precedidas de consulta aos Conselhos Gerais dos Agrupamentos e Escolas e aos Municípios

respectivos, os quais devem pronunciar-se no prazo máximo de 10 dias, equivalendo o silêncio

à aceitação tácita das propostas. (cf. ponto 3 do Despacho).

As propostas de agregação de Agrupamentos de Escolas devem conter os seguintes

elementos:

a) Finalidades da agregação dos Agrupamentos de Escolas e Escolas não agrupadas;

b) Escolas a integrar no Agrupamento resultante da agregação, com indicação dos

respectivos níveis e ciclos de educação e ensino ministrados;

c) Escola prevista para acolher a sede do Agrupamento resultante da Agregação, onde

funcionarão os Órgãos de Direcção, Administração e Gestão. (cf. ponto 4 do Despacho).

Neste quadro, a Federação Regional de Lisboa das Associações de Pais, actuando

sempre e só em nome do interesse dos Alunos e dos Pais que representa, pretende manifestar

a sua indignação e surpresa perante a ligeireza com que o Ministério da Educação e Ciência

desrespeita o princípio da estabilidade do ensino e menospreza o trabalho complexo e moroso

que Professores, Alunos, Pais e Encarregados de Educação, Pessoal não Docente, e

representantes dos Municípios e das Comunidades locais desenvolveram ao longo dos últimos

anos.

As diligências do Ministério da Educação e Ciência para destituir administrativamente

os actuais Órgãos de Gestão e Administração escolar põem fim a um processo já iniciado, mas

que está ainda longe de ter tempo de vida que permita de forma séria e consequente fazer

uma avaliação e retirar conclusões ponderadas sobre o modelo em vigor, conforme ressalta

dos princípios e normas do Decreto-Lei n.º 75/2008, designadamente:

- os mandatos do Conselho Geral e do Director têm a duração de quatro anos (artigos

16.º e 25.º, respectivamente);

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- os membros do Conselho Geral só podem ser substituídos se perderem a qualidade

que determinou a respectiva eleição ou designação (artigo 16.º);

- o mandato do Director só pode cessar por deliberação do Conselho Geral em caso de

manifesta desadequação da respectiva gestão ou na sequência de aplicação de sanção

disciplinar (artigo 25.º);

- o Conselho Geral pode deliberar a recondução do Director por um novo mandato

(artigo 25.º);

- ao Conselho Geral cabe a aprovação das regras fundamentais de funcionamento da

Escola (regulamento interno), as decisões estratégicas (projecto educativo) e o

acompanhamento da sua concretização (cf. Preâmbulo).

Esta breve súmula basta para comprovar que o Ministério desrespeita as suas próprias

normas, uma vez que há mandatos de Órgãos de Direcção e Gestão que não foram concluídos,

e que não é possível executar os projectos educativos existentes nas várias Escolas, projectos

estes que assentam em princípios, definem metas, objectivos e estratégias adequados à

concreta realidade da comunidade escolar em causa.

Acresce, ainda, uma evidente contradição com o que afirma a própria lei – o cargo de

Director destina-se a dar às Escolas “condições para que se afirmem boas lideranças e

lideranças eficazes, para que em cada Escola exista um rosto, um primeiro responsável, dotado

de autoridade necessária para desenvolver o projecto educativo de Escola e executar

localmente as medidas de política educativa” (Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 75/2008 de 22 de

Abril).

Ora, cria-se um órgão unipessoal para que este objectivo seja alcançado e, afinal, onde

fica “o rosto” de cada Escola?

A citada legislação contraria a estabilidade do sistema de Administração e Gestão

escolar, consagrada no Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de Abril, e é concebida com base em

critérios puramente administrativos, que ignoram as realidades pedagógicas que devem

nortear as decisões relativas à rede escolar.

Se não, vejamos:

- Quais as finalidades dos Agrupamentos e Agregações de Escolas propostos? – (cf.

ponto 4 do Despacho n.º 4463/2011, de 11 de Março)

Não foram apresentadas, nem se conseguem descortinar. Talvez se pretenda, apenas,

uma eventual poupança de meios financeiros que será, certamente, ultrapassada pela perda

de eficiência na gestão de um conjunto tão disperso e constituído por tão distintas realidades.

Nas Escolas devem prevalecer os critérios pedagógicos que aproximem a gestão da

comunidade escolar, que ensinem os Alunos que a autoridade mais do que um privilégio é um

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instrumento de realização de objectivos e que as instituições servem para servir o interesse

Público.

- Nas propostas apresentadas não foi respeitado o ponto 8 da Resolução do Conselho

de Ministros n.º 44/2010 que determina: “o Agrupamento é constituído em função das

especificidades de cada Escola ” e terá uma “dimensão adequada ao desenvolvimento do seu

projecto educativo".

Daqui depreendemos que, o Ministério da Educação, através da DRELVT, pretende que

as Escolas e os Agrupamentos se agreguem a todo o custo, sem cuidar de atender à realidade

concreta de cada comunidade escolar.

De resto, a realidade urbana da Área Metropolitana de Lisboa é diferente da das zonas

rurais na medida em que, naquela, ao contrário desta, a dinâmica Família/Escola é distinta.

Com efeito, nos meios urbanos, a escolha da Escola pela família - de acordo aliás com a lei e a

proposta do Ministério da Educação - é ditada por critérios que têm que ver com vários

factores que não apenas o da residência dos Pais. As Famílias tendem a escolher a Escola em

função do seu local de trabalho ou do percurso que fazem entre o trabalho e a Escola, quando

os Alunos são mais novos, recaindo a escolha em Escolas mais próximas da residência ou bem

servida por transportes mais directos, quando os Alunos já são mais autónomos, não existindo

por isso um percurso escolar contínuo dentro dos mesmos Agrupamentos.

Esta é a realidade e é sobre esta realidade e as circunstâncias concretas de cada Escola

que se deve trabalhar, sob pena de esta reforma mais não ser do que a criação artificial de

espaços de ensino ditados apenas por regras de contenção económica.

Sobre a eventual poupança de meios e rentabilização de recursos que esta medida à

primeira vista parece acarretar, importa considerar que a mesma é mais aparente que real. É

que, sob pena de se perder princípios de eficiência e de boa governança a gestão dos Mega-

agrupamentos ou Agregações, conforme eufemísticamente o Ministério da Educação e Ciência

agora os denomina, em que, segundo as propostas da DRELVT, se chega a atingir os 3000,

4000 Alunos, impõe que o Director seja rodeado de um número de assessores, ou

Subdirectores, ou Coordenadores muito superior ao que existe actualmente, pelo que não se

vislumbra a poupança de recursos que à primeira vista possa aparentar.

Por outro lado, numa cidade como Lisboa, ou Sintra, ou Cascais, ou Oeiras, ou Vila

Franca de Xira, a racionalização dos recursos (nomeadamente pela optimização dos horários

do Pessoal Docente e Assistentes e da utilização dos equipamentos) pressupõe a mobilidade

rápida de Alunos, Professores e Pessoal não Docente que não existe e nem é exequível sob

pena de se poder cair numa enorme perturbação do regular funcionamento das Escolas.

A Escola não é uma empresa que se possa gerir à distância de um longínquo gabinete,

numa rua/Freguesia distante. A Escola exige uma gestão próxima dos seus Recursos Humanos,

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dos seus Alunos e suas Famílias e a tão proclamada autonomia das Escolas é, seguramente, a

antítese de uma centralização sem nexo, e exige um conhecimento muito profundo das

Escolas e das realidades locais.

Assim, entende a FERLAP que, o Ministério da Educação e Ciência deve ouvir e levar

em conta a opinião de cada Escola e de cada Agrupamento, conforme estipula artigo 7.º do

Decreto -Lei n.º 75/2008, de 22 de Abril, bem assim como o nº 1 do Despacho n.º 4463/2011,

de 1 de Março de 2011, que, conhecendo a sua própria realidade saberão escolher o modelo

que melhor assegure a qualidade da Escola Pública e não como é intenção do Ministério da

Educação e Ciência, impor as Agregações sem ter em conta as realidades de cada Escola e de

cada Agrupamento.

Melhores cumprimentos, P’lo Conselho Executivo

Isidoro Roque

Presidente