agenda the e a música autoral teresinense

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA – MEC UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI PRÓ-REITORIA DE ESTUDOS DE GRADUAÇÃO – PREG CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO - CCE DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL PROJETOS EXPERIMENTAIS – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO JOSÉ ORLANDO DA SILVA JÚNIOR A IMPORTÂNCIA DO AGENDATHE.COM.BR PARA O DESENVOLVIMENTO DA MÚSICA AUTORAL “ALTERNATIVA” DE TERESINA RELATÓRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO FINAL TERESINA, PI SETEMBRO DE 2013

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Page 1: Agenda the e a música autoral teresinense

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA – MEC

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPIPRÓ-REITORIA DE ESTUDOS DE GRADUAÇÃO – PREG

CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO - CCEDEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

PROJETOS EXPERIMENTAIS – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

JOSÉ ORLANDO DA SILVA JÚNIOR

A IMPORTÂNCIA DO AGENDATHE.COM.BR PARA O DESENVOLVIMENTO DA MÚSICA AUTORAL “ALTERNATIVA” DE TERESINA

RELATÓRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO FINAL

TERESINA, PI

SETEMBRO DE 2013

Page 2: Agenda the e a música autoral teresinense

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA – MEC

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPIPRÓ-REITORIA DE ESTUDOS DE GRADUAÇÃO – PREG

CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO - CCEDEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

PROJETOS EXPERIMENTAIS – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

JOSÉ ORLANDO DA SILVA JÚNIOR

A IMPORTÂNCIA DO AGENDATHE.COM.BR PARA O DESENVOLVIMENTO DA MÚSICA AUTORAL “ALTERNATIVA” DE TERESINA

RELATÓRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO FINAL

Relatório final do Trabalho de Conclusão de Curso, pré-requisito apresentado à UFPI como instrumento de avaliação para obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo na Universidade Federal do Piauí, período 2013.1

Orientador: Eliezer Menda

TERESINA, PI

SETEMBRO DE 2013

Page 3: Agenda the e a música autoral teresinense

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer minha mãe - Solange, por desde o inicio da minha vida me proporcionar a

oportunidade de ter uma educação de qualidade e nesta fase de produção do Trabalho de Conclusão

de Curso sempre me apoiou, principalmente nos momentos em que ela percebia meu cansaço,

agradecer também a meus irmãos por me incentivarem e mostrarem que eu era capaz de fazê-lo.

Agradecimento também a toda a família, por me manter sempre em contato com essa cultura da

música alternativa teresinense e me apoiar na construção desse projeto. Agradecer nominalmente a

minhas tias Shirley e Stela e a meu tio Sandro por me fazer compreender a importância do tema e

me apoiarem durante o percurso.

Quero dizer também um muito obrigado a meu amigo e colega de trabalho Monteiro Júnior, por

disponibilizar equipamentos da Doroteu Filmes para filmagem e edição do documentário. 'Valeu

cumpade!'. Agradecer a Central Criativa em nome do João Carlos que junto a Doroteu Filmes

divide espaço físico da produtora e permitiu que eu estivesse por lá por vários dias para que a

edição pudesse ser feita da melhor forma possível.

Agradecer a todos que cederam entrevista: Marco Foyce, Ricardo Totte, André “Café” Oliveira,

Sérgio Holom, Rubinho Figueiredo, Diego Barbosa e em especial a Jônatas Freitas, que começou a

me aturar em conversas sobre o projeto muito antes de iniciada a disciplina de Estudo Orientado da

Pesquisa II, onde foi construído o projeto para o TCC. Você é um grande amigo.

Agradecer a meu orientador, Eliezer Menda, que me deu liberdade para a construção do

documentário, mas que sempre que se fez necessário encontrou-se presente me auxiliando no que

necessitei, foi de ajuda vital na construção deste relatório.

Além de todos que acreditaram que este projeto poderia se realizar ou que me ajudaram de alguma

forma, são muitos, não citarei nomes para evitar injustiças.

Ainda, agradecer a todos os amigos que eu fiz durante meu período como estudante da UFPI. Ao

movimento estudantil que me engrandeceu incalculavelmente como pessoa, seja na ENECOM,

MECOM ou Movimento Geral, espero não perder contato. A todos os professores do curso de

comunicação com todos aprendi alguma coisa, com uns mais outros menos.

Page 4: Agenda the e a música autoral teresinense

RESUMO

Este relatório foi produzido como parte integrante do trabalho final da disciplina de Projetos

Experimentais – Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). E vem tratar da relação entre música

autoral alternativa teresinense e a mídia local, mais especificamente com a internet e o Agenda

Cultural de Teresina, o www.AgendaThe.com.br.

O documentário trata, num primeiro momento, do contexto musical teresinense, das dificuldades de

se trabalhar com cultura do estado, e ao final, da relação dessa produção musical com a mídia, como

ocorre esse diálogo, quais as convergências e divergências.

Em complemento ao documentário, vem o relatório com a base teórica para melhor entender os

processos abordados no filme. Traz discussões sobre música alternativa, a identidade cultural

piauiense e teresinense, indústria cultural, como a mídia agenda essa produção, além de debater

sobre juízos de gosto.

Palavras-chave: identidade cultural piauiense; música autoral; música alternativa; gosto; indústria

cultural.

Page 5: Agenda the e a música autoral teresinense

Sumário

1. Introdução.......................................................................................................................................01

2. Referencial Teórico.........................................................................................................................04

3. Metodologia....................................................................................................................................15

4. Considerações Finais......................................................................................................................20

5. Referenciais Bibliográficas............................................................................................................22

Page 6: Agenda the e a música autoral teresinense

1 – INTRODUÇÃO

Como trabalho de conclusão de curso, na disciplina de Projetos Experimentais, do curso de

Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo foi produzido um documentário relacionando

bandas de música autoral alternativa teresinense dos anos 2000 para cá com a importância da

internet para a divulgação de seus trabalhos, visto que, pelo que foi relatado nas entrevistas

coletadas, por motivos apontados no próprio documentário, a grande mídia não pauta esse tipo de

banda e nem projetos relacionados a estas, salvaguardando raríssimas exceções. Mesmo assim,

como bem frisou Ricardo Totte em entrevista que parecia que havia no ar uma voz dizendo para que

se fosse feito música autoral e aquilo inspirou o surgimento de diversas bandas em Teresina.

Este relatório divide-se em seis partes, são elas: 1- Introdução, este texto de apresentação do

relatório. 2- Contextualização Teórica onde é apresentado o objeto AgendaThe além de

contextualizar a música autoral no momento destacado no documentário. 3- Referencial Teórico,

são apresentadas as teorias e pensamentos que embasam o as ideias trazidas no documentário,

dando enfase na identidade cultural piauiense e teresinense, características da produção musical

autoral local e como estes pontos dialogam com a mídia. 4- Metodologia, descreve como ocorreu

todo o processo de criação e produção de todo o trabalho final para a disciplina de Projetos

Experimentais, além de apresentar os personagens e algumas das dificuldades/problemas

encontradas. 5- Considerações Finais, como o nome propõe, são as conclusões tidas após a

produção tanto do documentário quanto do relatório. 6- Referencias Bibliográficas, são os

livros/textos utilizados para construção do trabalho como um todo.

Page 7: Agenda the e a música autoral teresinense

2 – CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA

Na segunda metade da primeira década dos anos 2000 Teresina vivia um contexto musical

bastante interessante, que já era fomentado desde o fim dos anos 90 com a produção autoral local,

mas que foi fortalecido principalmente com o Festival Piauí Pop que abriu espaço para bandas

piauienses/teresinenses para o grande público – público que em situações normais não vai a

apresentações de bandas ditas locais – além de outros festivais secundários que passaram a ocorrer e

sempre com participação destas bandas.

A partir dessa explosão de festivais, teve inicio um processo de surgimento de diversas

bandas sempre com um caráter tido por alternativo – músicas com temas e pegadas regionais, indie

rock e reggae principalmente – e consequentemente houve o surgimento de casa de eventos

especializadas em shows desta natureza.

Ao mesmo tempo que ocorria o boom das bandas alternativas teresinenses na segunda

metade da década passada também foi o período da popularização das redes sociais online

inicialmente com o Orkut1 e mais recentemente com o Facebook2 e os produtores de eventos

perceberam que grande parte do público presente nos eventos alternativos eram/são frequentadores

assíduos destas redes. Em pouco tempo as redes sociais estavam sendo bombardeadas por flyers de

eventos tanto pelo fato já citado acima quanto pelo baixo custo desta nova forma de veiculação e

divulgação. Entretanto, não havia um “local” específico para a postagem destes flyers, eles eram

postados aleatoriamente na redes e tornava-se bastante complicado saber quais eram todas as

opções pro fim de semana, por exemplo. As postagens, principalmente no Orkut por serem feitas

através dos scrapbooks, eram muito restritas a quem fazia parte do grupo de amigos dos produtores

logo a expansão do público acontecia de maneira lenta e nem sempre efetiva, no Facebook, pelas

opções de compartilhamento, essa divulgação melhorou mas ainda não era o ideal, surgia a

necessidade da existência de um local onde todos os eventos pudessem ser encontrados de maneira

simples e efetivamente divulgada.

Outro fator que instigou a necessidade da criação desse espaço de divulgação comum foi a

falta de interesse da grande mídia em tornar público este tipo de evento. A única visibilidade que

estas bandas locais têm na mídia é quando estarão presentes em grandes festivais e além disso ainda

assim é mínima essa apresentação, pois o foco sempre é em que vem de outros lugares para tocar

aqui.

Pela necessidade deste local é que é criado a agenda cultural de Teresina, cujo link inicial

era www.theculturalizando.blogspot.com e após a parceira com o grupo de agendas culturais de

1 Orkut. Www.orkut.com – rede social que teve seu auge no Brasil entre 2005 e 2006.2 Facebook. Www.facebook.com – rede social mais popular no Brasil atualmente. Possui opções de

compartilhamento de conteúdo que permite divulgações em proporções de progressões geométricas – PG.

Page 8: Agenda the e a música autoral teresinense

todo o país passou a ser encontrado pelo link www.agendathe.com.br.

Percebendo esta necessidade por também ser frequentador das redes sociais e dos eventos

tidos alternativos, Jônatas Freitas, no inicio de 2009 cria o blog e passa a buscar os flyers postados

nas redes sociais e pô-los na sua página. A ideia foi aprovada pelo público e o blog, em pouco

tempo, passou a ter milhares de acessos/mês e foram os produtores que passaram a procurar o blog

para terem seus eventos divulgados no local online.

Da forma que este documentário foi dirigido, dividido em dois momentos pode-se

compreender melhor em que contexto se deu a evolução da música alternativa autoral teresinense

do novo milênio e de que maneiras se deu e se dá o diálogo entre este tipo de manifestação cultural

underground e as diversas mídias disponíveis e quais são seus pontos positivos e negativos – como

será melhor detalhado na metodologia – no primeiro, o foco é no contexto musical, origem das

bandas, quais as dificuldades, como se deu esse início; já a segunda parte do filme tem por foco a

divulgação do trabalho das bandas, porque se torna necessário a utilização da internet para este

divulgação, e onde entra o AgendaThe dentro do contexto da divulgação da cultural

teresinense/piauiense (por ser o site de divulgação da cultura alternativa mais acessado do estado do

Piauí). Partindo desta divisão pode-se compreender a importância deste trabalho, já que ele torna-se,

antes de tudo, uma auto-crítica contextualizada realizada pelos músicos e protagonistas da cultura

da capital, permitindo a quem assistir ao vídeo entender minimamente a situação cultural da cidade

da última década, por outro lado torna-se uma crítica construtiva aos profissionais da mídia que

ocupam as editorias de cultura e, ao mesmo tempo, um apelo, para que estes comunicadores se

voltem para a cultura alternativa e leve-á ao grande público.

Com o documentário constata-se que a música autoral local possui qualidade, mas ainda

assim falta profissionalismo. Constata-se também que esta falta de profissionalismo se dá, muitas

vezes por falta de apoio – no caso em questão – apoio da mídia.

Para tratar este tema da música autoral alternativa local e sua relação com as mídias foi

produzido um filme documentário dentro do estilo criação do Modo Expositivo, que traz a

historicidade da coisa, ou seja, retrata e contextualiza o tema a partir da fala dos entrevistados. A

proposta foi criar um diálogo entre os diversos personagens entrevistados para o documentário. É

formado um dialogismo no momento da edição onde é possível trazer um filme coeso com o tema

proposto e sem alteração de sentidos sem a utilização da ferramenta de narração. Em alguns

momentos ocorrem legendas, mas no sentido de facilitar o entendimento sem que seja necessário

um prolongamento maior do vídeo. Foi utilizada também imagens de eventos e músicas de bandas

locais conhecidas com o intuito de aproximar o telespectador e, ao mesmo tempo, dar uma

dinamicidade maior ao documentário.

Page 9: Agenda the e a música autoral teresinense

3 – REFERÊNCIAL TEÓRICO

Para que este filme pudesse ser realizado fez-se necessário se debruçar sobre alguns

conceitos. Estes conceitos foram fundamentais para o bom andamento do vídeo, tanto os

primordiais como o que diferencia um documentário de um outro gênero cinematográfico e, após

este, quais tipos de documentários foram utilizados e porque, quanto os fundamentados para uma

melhor contextualização como a identidade cultural do regionalismo piauiense e como é a atuação

da mídia neste processo de auto conhecimento, e aprofundando um pouco mais, buscou-se entender

as concepções de gosto individual e coletivamente constituído compreendendo-o como uma

construção a partir do acesso de um grupo a este, visto que para que se possa criar um um juízo de

valor, seja ele positivo ou negativo, com relação a determinado objeto simbólico cultural – tratando

especificamente da música, que é o objeto de estudo deste trabalho – faz-se obrigatoriamente

necessário que se conheça o mesmo tal como quais suas referências genealógicas.

Segundo Nichols, toda produção audiovisual que tem por objetivo contar uma história é

considerado um documentário, no sentido de que sempre ocorre uma reprodução inspirada em

valores, culturas e/ou comportamentos da realidade vivida ou observada. Esta reprodução pode ser

desenvolvida partindo de sonhos, desejos, medos ou pesadelos criando assim um universo paralelo

visualizado pelo público através das telas de cinemas no qual muitos de seus pontos de vista e

características estéticas, críticas ou reflexivas se diferenciam do mundo real. Este tipo de produção é

chamado pelo autor de documentário ficcional ou simplesmente cinema de ficção. Entretanto,

também pode buscar ser uma representação verossímil de um fragmento da realidade, a partir do

reconhecimento da existência de um problema/situação real o documentarista passa a se relacionar

com os agentes sociais responsáveis de alguma maneira por aquele(a) determinado(a)

problema/situação afim de compreender as suas nuances, quais os mecanismos existentes naquele

nicho. Este é o documentário de não-ficção. Para Nichols (2009), “these views put before us social

issues and current events, recurring problems and possible solutions. The bond between

documentary and the historical world is deep and profound.”3.

Dentro desta perspectiva, deve-se sempre preocupar-se com a forma que esta realidade está

sendo apresentada ao telespectador, um documentário (por questões didáticas, ao referir-se ao

documentário não-ficcional, será falado somente documentário, e com relação a documentários

ficcionais, apenas ficção), assim como qualquer outra produção audiovisual, é produzido com um

objetivo – apresentar e fomentar discussões sobre o tema proposto – e isso deve ser respeitado, no

3 “Essas visões nos põem diante de questões e acontecimentos atuais, problemas recorrentes e possíveis soluções. O vínculo entre o documentário e a realidade é íntima e profunda. Tradução do autor.

Page 10: Agenda the e a música autoral teresinense

entanto, diferentemente de uma produção cinematográfica ficcional, um documentário não possui

um roteiro engessado no qual deve ser seguido para que, por fim, possa-se alcançar o final desejado,

muito pelo contrário, o roteiro de uma produção não-ficcional ocorre numa construção gradativa e

coletivizada (é construído pela equipe responsável pela produção do filme em parceria com os

entrevistados e personagens atores sociais4 participantes da produção). Mesmo com o filme estando

sujeito a variação de viés, o cineasta deve prosseguir com o filme, mantendo a responsabilidade de

apresentar os fatos como são apresentados a ele. “This quality alone often provides a basis for

belief: we see what was there before the camera; it must be true.5” (Nichols, 2009 p. 02).

Continuando com a conceituação de documentário, compreendendo o mesmo como uma

produção cinematográfica interessada em apresentar uma produção com alto grau de

verossimilhança no que tange a realidade observada na qual se percebeu o problema/situação que

inspirou o filme, deve-se frisar que há diversas maneiras de se trabalhar a realidade dentro de um

documentário, ainda de acordo com Nichols, afirma-se que existam 6 sub-gêneros de

documentários, ou simplesmente, 6 formas de se fazer documentários. Os modos são, poético,

expositivo, participativo, observacional, reflexivo e performático.

A melhor maneira de tornar compreensível os motivos que acarretaram na escolha da

produção de um documentário trabalhado na linha do sub-gênero expositivo mas com um pé

presente no poético, é fazendo uma rápida caracterização de cada um dos demais sub-gêneros. 1 –

participativo é aquele que mais se assemelha ao campo da antropologia, onde o cinegrafista age tal

qual um antropólogo, convivendo com os membros do grupo pesquisado, compartilhando sua

cultura, suas atividades, passa a integrar a comunidade de modo a conquistar a confiança de seus

membros e assim conhecer mais a fundo suas características, esta técnica é conhecida como

observação participativa.

The social sciences have long promoted the study of social groups. Anthropology, for example, remains heavily defined by the practice of field work, where an anthropologist lives among a people for an extended period of time and then writes up what she has learned.6 (NICHOLS, 2009 p. 115)

2 – o modo observacional, como o próprio nome já propõe, tem o documentarista somente como um

4 Social Actors adj. Trazido por Bill Nichols em seu livro “Introduction to Documentary”, apresentando o que seriam os personagens não-atores dentro do documentário, ou seja, anônimos que levam um pouco de suas experiencias para o filme.

5 “Esta qualidade por si só, muitas vezes fornece a base para a crença: Nós vemos que está diante da câmera; pode ser verdade”. Tradução do autor.

6 “As ciências sociais tem por muito tempo promovido o estudo sobre grupos sociais. A antropologia, por exemplo, é fortemente definida pelas práticas nos campos sociais, um antropólogo vive entre entre um povo por um longo período de tempo e escreve sobre o que aprendeu”. Tradução do autor.

Page 11: Agenda the e a música autoral teresinense

observador, ele apenas grava o que ocorre naquele ambiente num determinado momento. Não há

interferência de maneira alguma. O cineasta comporta-se como alguém que visualiza a ocorrência

de um incidente a distância e que nada pode fazer a respeito. É um modelo que que surgiu após a

segunda guerra mundial, mas que teve seu auge na década de 60 principalmente acompanhando

grupos musicais em suas turnês. Em outras palavras, “we look in on life as it is lived. Social actors

engage with one another, ignoring the filmmakers.7” (Nichols, 2009 p. 111). 3 – O modo reflexivo

tem por foco os processos de negociação entre o cineasta e o espectador. O sub-gênero reflexivo

além de trazer um apanhado histórico sobre o tema em questão traz também uma atuação

humanista, no sentido que puxar o debate sobre quais os motivos deste contexto e que

consequências afetarão o grupo estudado por conta deste contexto. No caso do modo reflexivo, o

documentarista é, de fato, membro deste grupo, tem interesse em seus problemas e como resolvê-

los, diferentemente do modo participativo onde o pesquisador necessita ser aceito pelo grupo e

somente após isso, ser capaz de produzir seu filme. 4 – o performático trabalha com a subjetividade,

busca apresentar a individualidade dos personagens, suas significações. É um documentário que

trabalha questões emocionais, a memória dos personagens, suas crenças e a partir daí propõem uma

leitura de mundo, seja dentro de um grupo familiar, de igrejas ou setores do governo. É um filme

que aponta os valores do nicho em questão e, em seguida, retrata a visão de mundo deste nicho por

conta de seus valores. Ou ainda,

the institutional framework (governments and churches, families and marriages) and specific social practices (love and war, competition and cooperation) that make up a society. Performative documentary underscores the complexity of our knowledge of the world by emphasizing its subjective and affective dimensions. (NICHOLS, 2009 p. 131)8.

Dar-se-á uma atenção especial aos 2 sub-gêneros restantes especificados por Bill Nichols

visto que estes, modos expositivo e poético, foram os que inspiraram as técnicas para a produção do

documentário em questão. O modo expositivo fez parte dos planos desde o inicio, quando se pensou

em fazer um documentário com essa temática. Trazendo um conteúdo com historicidade e

contextualização do assunto, o expositivo foi o modo ideal para este trabalho. É uma forma de

documentar fatos que propõe um diálogo direto com o espectador, este diálogo geralmente vem

através de narração, podendo ocorrer de duas maneiras, ou com a ferramenta chamada Voz de deus

ou com voz da autoridade. Na primeira ocasião, a voz de deus, é a situação em que o espectador

7 “Nós filmamos a vida como ela é. Atores sociais engajados uns com os outros. Ignorando os cineastas.” Tradução do autor.8 “o quadro institucional (governos e igrejas, famílias e casamentos) e práticas sociais específicas (amor e guerra,

competição e cooperação) que compõem a sociedade. O documentário performático ressalta a complexidade de nosso conhecimento de mundo enfatizando suas dimensões subjetivas e afetivas”. Tradução do autor.

Page 12: Agenda the e a música autoral teresinense

apenas ouve o narrador, há a presença do audio e, sobreposto a ele, são postas imagens que

ratificam o que é dito. Ao se utilizar da Voz de deus, é necessário que o narrador seja profissional,

alguém de voz polida e segura, e de palavras bem pronunciadas, deve-se imprimir credibilidade. Já

a ferramenta Voz da autoridade, como o próprio nome já supõe, o narrador será apresentado.

Geralmente alguém com vasto conhecimento na área. É bastante utilizado também na televisão,

principalmente em telejornais quando existe o interesse em fortalecer uma argumentação em

detrimento de outras.

No caso do documentário sobre o AgendaThe e a música autoral alternativa teresinense, não

houve a utilização de nenhuma das duas ferramentas. Utilizou-se sim, de títulos (legendas) para

facilitar o entendimento do que estava sendo exposto. Ao invés de se trazer esta historicidade para o

documentário através de narração, foi buscada a inovação, de modo que, o que seria revelado na

narração foi previamente fomentado na formulação das perguntas aos entrevistados, e partindo de

suas respostas, se criou um contexto situacional onde os espectadores puderam se localizar bem

dentro do tempo-espaço da produção musico-cultural vivida na época e seu diálogo com a mídia.

O estilo de documentário poético surge na proposta de filme acima citada após a obtenção

de todas as imagens necessárias para que a produção atingisse exito, ou seja, na pós-produção. É no

momento da edição que ocorre a percepção que se utilizando o estilo poético de documentário teria-

se um enriquecimento do conteúdo. Para esta produção buscou-se inspiração no sub-gênero poético

no ponto da edição. Onde deixa-se de lado a continuidade e ritmo da (ou das, neste caso em

especial) entrevista fazendo recortes de tempo e vídeo de modo a fazer sentido para quem o assiste.

Neste documentário fez-se necessária a presença de 7 personalidades com vasto conhecimento na

cultura teresinense, muitas vezes as falas dialogaram entre si, seja no sentido de convergirem ou

divergirem, por conta disso, avaliou-se ser interessante existir esse dialogismo trazido pelo estilo

poético. Pois o sub-gênero poético

shares a common terrain with the modernist avant-garde. The poetic mode sacrifices the conventions of continuity editing and the sense of a very specific location in time and place that follows from it to explore associations and patterns that involve temporal rhythms and spatial juxtapositions9. (NICHOLS, 2009 p. 102)

Entender como se constrói a identidade cultural teresinense é um dos pontos vitais para o

exito da pesquisa, e consequentemente, do documentário. Para a melhor compreensão desta

identidade cultural dos dias atuais é salutar que haja uma visualização ampla da formação do estado

9 “compartilha um terreno comum ao modernismo de vanguarda. O modo poético sacrifica as convenções de continuidade e edição e o senso de localização específica no tempo e espaço da sequencia para explorar associações e padrões que envolvem ritmos temporais e justaposições espaciais”. Tradução do autor.

Page 13: Agenda the e a música autoral teresinense

piauiense e formatação de seu povo.

Trazendo um rápido apanhado histórico percebemos que o Piauí sofreu o processo

“civilizatório” tardio pela inexistência de litoral em seu território e também por conta da falta do

litoral a ocupação do estado se deu de maneira inversa se levado em consideração os demais estados

da região nordeste. O surgimento das vilas e, futuramente das cidades, se deu a partir do interior,

com as fazendas de gado. Isso foi fator determinante de todo um processo de construção da

identidade cultural do Piauí.

Por conta principalmente da falta de litoral em seu território, o Piauí sofreu por um longo

período um isolamento cultural. Era difícil a chegada ao estado o que contribuiu para o

fortalecimento de uma cultura voltada para a criação de gado, com a mão de ferro dos coronéis e a

legitimação e valorização do vaqueiro. Cultura esta que é bastante notável até os dias de hoje.

Entretanto, a falta de litoral no território piauiense favoreceu, desde sua formação, a hibridização

da cultura10 de seu povo. Visto que nos demais estados nordestinos ocorria constante fluxo de

estrangeiros, sendo eles principalmente holandeses, ingleses e franceses (portugueses não são

citados por colonizarem todo o território brasileiro). Para que estes estrangeiros pudessem chegar ao

Piauí obrigatoriamente deveriam cruzar outros estados nordestinos, o que os punha em contato

constante com outras culturas (principalmente indígena e negra, além das europeias) por longos

períodos.

Com o passar do anos, com o desenvolvimento do estado piauiense e a obtenção da cidade

de Parnaíba através de negociações com o estado do Ceará, houve um fluxo ainda maior de

estrangeiros e cada povo se aglomerou numa região distinta, causando uma diversificação cultural

dentro do território, como traz o exemplo dado por Janete Rodrigues:

Sotaques, danças, culinárias e hábitos de vida em geral podem ser facilmente localizados como elementos culturais diferenciadores dessas populações dentro do próprio Estado. Podemos citar, por exemplo, Parnaíba, que possui ainda hoje algumas marcas de influencias da cultura inglesa; Amarante, conhecida pela sua diversidade de danças folclóricas, com a dança do Cavalo Piancó, Pagode de Amarante, entre outras heranças da colonização portuguesa; Floriano, pela forte presença da cultura Sírio-libanesa. (RODRIGUES, 2006 p. 69)

Com a transferência da capital para Teresina, cidade posicionada entre dois grandes rios

navegáveis (à época), houve um súbito aumento do fluxo de pessoas e mercadorias na região

10 Hibridismo cultural. Conceito trazido por García Canclini. Caracteriza a convergência cultural que ocorre no mundo pós-moderno. Surgimento de uma cultura hibrida, fusão de culturas permitindo assim a formação de uma cultura mundial genérica, onde ainda se veem objetos de uma cultura específica mas não se é capaz de delimitar fronteiras entre culturas diversas.

Page 14: Agenda the e a música autoral teresinense

ocasionando uma centralização do processo de hibridização cultural. Então, houve a convergência

entre culturas estrangeiras, povos originários, africanos, vaqueiros além de culturas urbanas

fomentadas principalmente por conta do fortalecimento do capitalismo.

Para Janete Rodrigues, esta hibridização cultural piauiense enraizada no sentimento coletivo

popular desde o “inicio da história” do Estado provocou na população uma sensação de déficit

identitário. Não existe, no senso comum, uma identidade genuinamente piauiense o que dificulta o

surgimento e fortalecimento de grupos de apoio e incentivo a cultura, principalmente no que tange à

cultura popular. Em outras palavras, a cultura piauiense, e consequentemente a teresinense, é

ancorada em valores de culturas diversas, o que, na prática, não causa um déficit cultural e sim, uma

espécie de superávit11 cultural.

Esta densa diversificação de culturas dentro do Piauí também é facilmente identificada ao se

analisar bandas autorais que buscam uma linha regionalista. Que buscam musicar sentimentos

culturais coletivos através de uma pegada alternativa12. Essa diversidade musico-cultural existente

na música autoral alternativa teresinense é interessante, por ser, de fato, uma auto-localização de sua

posição dentro da cultura nacional. A música autoral alternativa teresinense se identifica

culturalmente por sua miscigenação de gêneros. A presença de 3, 4, 5 ou até mais vertentes musicais

na composição musical das bandas não é privilégio de poucas, é regra dentro da produção local

como aponta o estudo de Leila Lima de Sousa sobre a produção musical das bandas Validuaté e

Batuque Elétrico:

Os ritmos musicais são diversos e, na maioria das vezes, agregam características das regiões onde foram criados. As bandas Batuque Elétrico e Validuaté produzem uma identidade musical própria através da mistura de diferentes ritmos musicais presentes em diferentes regiões brasileiras. A mistura de todos esses diferentes ritmos dá origem a uma música genuinamente piauiense, diversificada, que ganha aos poucos destaque frente ao cenário musical nacional. (SOUSA, 2013 p.06)

Durante o documentário sobre a música autoral alternativa teresinense e o AgendaThe foi

aberta uma discussão na qual o objetivo era entender como agendamento musico-cultural da mídia

local e porque a cultura alternativa não é pautada e a partir daí compreender a importância da

internet e das redes sociais para a divulgação desta cultura alternativa. Para isso, faz-se necessário

que sejam respondidos alguns questionamentos. Quem é essa mídia local e quais seus critérios de

agendamento? Se utilizando de conceitos criados pela Escola de Frankfurt ao se tratar de indústria

11 Superávit. Termo utilizado por economistas para caracterizar saldo positivo no balanço financeiro. Contrário de Déficit (saldo negativo). Na sentença em questão significa presença de vasta diversidade cultural.12 Alternativo. Proposta de trabalho diferente do convencional. Música alternativa, proposta diferenciada de música do

que é comumente agendado, agendamento este geralmente pautado pela grande mídia.

Page 15: Agenda the e a música autoral teresinense

cultural e do pensamento de Schneider, em seu livro Música e Capital Mediático, porque esta

cultura alternativa é ofuscada de modo a tornar-se quase inexistente, midiaticamente falando? E, por

fim, levantar alguns temas sobre cibercultura e as redes sociais para a cultura alternativa.

A mídia local é uma espécie de extensão da mídia nacional. Ela trabalha com os mesmo

princípios de agendamento, sempre com temas mais generalistas, pois seu foco é o grande público,

há a necessidade de abranger o maior número de pessoas possível, e, para isso, age tal qual a

nacional, com temas como educação, segurança, saúde, informando de maneira distante e

descontextualizada, na desculpa de buscar a imparcialidade.

Nacionalmente, o agendamento midiático da música sofre influência quase que total da

indústria cultural. Como aponta Schneider em trecho retirado de uma notícia publicada no jornal O

Globo, “hoje, cinco grandes grupos de comunicação controlam mais de 80% das vendas de discos

do mundo.” (SCHNEIDER, 2003 p. 113), este é um dado alarmante para quem segue uma linha de

produção divergente a proposta pela Indústria cultural. Apesar de não comungar de ideais propostos

pela indústria cultural, principalmente com ideias de Benjamin e Adorno de que o simples fato de

copiar-se um objeto artístico é um ato em confronto a produções artísticas por destruir a aura

criada/posta pelo artista àquele objeto. Este relatório credita a indústria cultural a acusação de

produção de produtos culturais objetivados à manutenção do status quo. A elite produzindo e

apresentando um modelo único de cultura para as massas. “Em seu estudo sobre os programas

musicais no rádio, Adorno criticara o estatuto da música, rebaixado ao estado de ornamento da vida

cotidiana, denunciando o que ele chama de “felicidade fraudulenta da arte afirmativa, ou seja, uma

arte integrada ao sistema””. (MATTELART e MATTELART, 2009 p. 76).

Para a indústria cultural, qualquer elemento cultural existente na sociedade é passível de

tornar-se um produto midiaticamente aceito. Ocorre o processo de coisificação, desde meados do

século passado, o mundo passa por um processo de esvaziamento cultural, “hoje, praticamente tudo

é passível de se tornar produto consumível e, portanto, alvo da indústria cultural. Tanto a cultura de

elite quanto a popular têm passado por processos de esvaziamento de seus conteúdos para atingir

realmente o grande público.” (GUERRA e MATTOS, 2008 p. 06). Isso é facilmente percebido na

música brasileira, onde, nos últimos 20 anos, as principais manifestações musico-culturais do país

foram tomadas pela indústria cultural e tiveram seus valores reduzidos a, primeiramente, desilusões

amorosas e, após, simplesmente sexo. Isso é observado nas letras de estilos musicais tidos como

populares, como o caso do forró, do sertanejo, e mais escancaradamente pode-se notar na

swingueira. Como no exemplo a seguir, com um trecho da banda de swingueira, Black Style:

“Mama Eu – Black Style

Que delíííííícia

Page 16: Agenda the e a música autoral teresinense

Mama eu, mama eu, mama mama mama eu (2x)

Mama eu, mama eu, mama mama mama eu (2x)

As novinhas de hoje em dia

Você já sabe como é que é

Elas ficam facinho no pagode

Já era ou já é

Não se troca telefone

Não se dá msn

É meu barco do amor

Apertando sua mente

Chama ela no cantinho

Descobriu é perigoso

Ela vai descendo

E vai fazendo gostoso” 13

Em contrapartida, os grupos musicais autorais alternativos teresinenses buscam temas

'menos interessantes para o povo'14. Muitas cantam causos ou situações vivenciadas no interior do

estado em comunidades simples.

O Sapucaia, desde sua fundação vem com um repertório cheio de Piauí, suas riquezas dentro do contexto da cultura popular. Grupo influenciado por diferentes gêneros musicais tendo como marca a literatura de cordel somada aos instrumentos de percussão usados em várias vertentes da música, juntamente com guitarras distorcidas com muitos riffs e solos, adaptando o som ao contexto da música atual.15

Já outras bandas trazem cirandas, sempre misturando com a temática atual, como bem demonstra

Leila de Sousa:

13 Trecho da música Mama Eu, da banda de swingueira, Black Style retirado de http://letras.mus.br/black-style/2000706/.

14 “Se, por outro lado, julgamos fundamental que se leve em conta que são os diferentes lastros na experiência concreta que asseguram leituras distintas dos mesmos produtos simbólicos, e que o que é selecionado para ser reproduzido e posto em circulação, apesar de excludente (o que é inevitável em uma seleção), atende, de alguma forma, a alguma demanda existente (que não é todavia fruto do “gosto popular” como expressão “natural” da alma popular, mas da formação dos consumidores, determinada por sua posição em meio às relações de trabalho), por outro lado julgamos ainda mais importante identificar a espantosa unidade de aprovação social, ainda que sob leituras transversais, dos mesmos discursos e gostos hegemônicos. Em outras palavras, o fato de haverem leituras distintas de, por exemplo, um conjunto de discursos políticos ou religiosos, de canções ou de telenovelas, não anula um outro fato a nosso ver mais relevante: é somente este conjunto, e não outros existentes, que é posto em circulação. Por quê? Por que é o que o “povo” gosta? Mas quem é o “povo”? E, seja quem for, quem garante que não gostaria de outras coisas? E o que significa “gostar”?” (SCHNEIDER, 2003 p. 17)

15 Trecho retirado de release enviado pela banda Sapucaia.

Page 17: Agenda the e a música autoral teresinense

Letras que retratam a simplicidade do cotidiano do homem piauiense ganham espaço ao lado de versos que falam do advento da internet, de culturas globais e do comportamento contemporâneo dos indivíduos.

As duas bandas fazem uma mistura entre velhos e novos elementos culturais piauienses e agregam toda essa mistura a elementos globais que interferem diretamente na construção das identidades culturais do estado. (SOUSA, 2013 p. 06)

André “Café” teoriza durante entrevista concedida para a produção do documentário que

esta forma de produção musical é ofuscada pela grande mídia por, muitas vezes, se apresentar de

maneira contrária a convencional. É aversa ao machismo e homofobia, e não trabalha o conceito

feminino com comercialismos e rasteiros apelos sexuais.

O objetivo deste trabalho não é dogmatizar a música autoral alternativa, é sabido que

existem bandas nesta linha que têm produções machistas e/ou homofóbicas, o objetivo é apontar

que estas bandas são exceções. Logo, pela maioria ir contra estes (e, as vezes outros) valores

hegemônicos a produção autoral alternativa teresinense não é pautada pela grande mídia local.

Entretanto, Marco Schneider é contrário a ideia de que esta proposta musical é simplesmente

desinteressante ao grande público antes mesmo que este seja apresentado a primeira, já que para ele

é impossível se formar um juízo de gosto sobre determinado objeto cultural sem que este seja de seu

conhecimento. “requer maior ou menor conhecimento do código e maior ou menor repertório de

referências: não se pode emitir um juízo de gosto a respeito de um poema escrito em javanês sem

que se conheça pela menos o idioma javanês, para não falar da história e dos costumes de Java etc.”

(SCHNEIDER, 2003 p. 100).

Confirmando ainda, a fala de André “Café” Oliveira sobre o desinteresse da mídia local para

com a cultura alternativa está a hipótese da Agenda Settings ou simplesmente, Agendamento. Há

quem defenda que a mídia não determina o que os receptores da informação devem pensar sobre os

temas veiculados, todavia, de um modo geral a mídia é quem determina sobre o quê deve se pensar

e fazer parte das rodas de conversa. Ou seja, a mídia “pode, na maior parte das vezes, não conseguir

dizer às pessoas como pensar, tem, no entanto, uma capacidade espantosa para dizer aos seus

próprios leitores sobre que temas devem pensar qualquer coisa” (WOLF apud COHEN, 1999 p.

144).

Por conta da indisponibilidade de espaço da grande mídia para a produção autoral

alternativa, a opção vai viável foi a migração para a internet. Com o advento da internet 2.0 se

tornou algo deveras interessante para as bandas de material alternativo a sua participação nestes

espaços. Com a possibilidade de um maior compartilhamento de materiais e com a web 2.0 tendo

com um dos princípios base a interatividade estes grupos podem apresentar seu material de maneira

Page 18: Agenda the e a música autoral teresinense

satisfatória (se fizer um bom trabalho de marketing) e, em tempo real são capazes e de receber a

opinião do público. Este é um dos fatores que permite sobrevivência deste estilo de produção não só

dentro do Piauí, mas em todo o país (quiçá no mundo). E foi dentro desta perspectiva de utilização

de um meio simples e barato mas com eficácia comprovada que surge a Agenda Cultural de

Teresina com o objetivo de alavancar este mercado promissor musico-culturalmente falando e, com

isso, fomentar o surgimento de grupos, a produção de eventos e a criação de projetos para que esse

eixo cultural possa se manter.

A partir das conceituações apresentadas neste relatório pode-se perceber, na prática, que a

música autoral alternativa teresinense utilizada no documentário se encaixa na tradução identitária

local tanto pela mistura de temas presentes nas composições como no mix de ritmos. Esta

identidade também é percebida nas falas de alguns entrevistados e, principalmente na composição

do cenário da entrevista concedida pelo músico Marco Foyce. No ambiente em que a entrevista

ocorre é possível perceber a presença de objetos referentes a culturas diversas.

Além disso, pode ser percebida esta discussão sobre a mídia em grande parte dos discursos

apresentados no documentário. Neste caso, ocorre uma divergência entre algumas falas pois a

maioria dos entrevistados aponta que há um desinteresse da mídia para com esse tipo de produção

autoral e, por outro lado, Rubinho Figueiredo – funcionário da FM-UFPI – argumenta que ocorre o

desinteresse pelas duas partes. Ele afirma que os músicos e bandas desta linha ainda trabalham de

forma bastante amadora, causando um problema duplo, pois, com isso, não tem condições de

produzir e conduzir projetos de qualidade satisfatória, e, por acontecer isso, não conseguem atrair o

interesse da mídia. Mas, mesmo assim, Rubinho acredita que grande parte da grande mídia finge

não ver o trabalho deste nicho simplesmente por questões financeiras, já que, por questões já

discutidas anteriormente neste tópico, a produção alternativa autoral não consegue atingir

satisfatoriamente o povo (o grande público), o gosto popular.

Mas o principal discurso presente no documentário no que se refere a mídia, converge com o

de André, apresentado anteriormente (ver página 12). acredita-se que não é de interesse da mídia

que este tipo de produção seja divulgado, por trabalhar com valores diferentes, e muitas vezes até

contrários, aos publicizados pela imprensa através da hipótese do agendamento.

Page 19: Agenda the e a música autoral teresinense

4 – METODOLOGIA

Este documento vem com o intuito de relatar quais foram os procedimentos tomados durante

todo o processo de produção da disciplina Projetos Experimentais – trabalho de conclusão de curso,

que, neste caso, será a produção de um documentário em todas as suas instancias, desde a pesquisa,

passando pela produção, filmagem, direção e edição, além deste relatório escrito apresentando

como se deu todo o processo, além de falar um pouco sobre quais métodos e técnicas foram

aplicadas e o porquê destas.

O processo de produção do documentário se deu de forma bem tranquila e dentro do prazo

estipulado ainda no projeto apresentado no semestre anterior para a disciplina de Estudo Orientado

da Pesquisa II. Somente algumas entrevistas tiveram que ser feitas no mês de julho, por uma

questão de logística, pois as datas para a utilização do equipamento de filmagem estavam meio

'atropeladas', mas não houveram prejuízos para o processo.

Inicialmente, foram lidos trechos de Mídias de Identidades Culturais – Um estudo de

recepção midiática do Balé Folclórico de Teresina no Piauí, uma tese de doutoramento da Prof. Dr.

Janete de Páscoa Rodrigues; Os Intelectuais e a Organização da Cultura de Antonio Gramsci; e

livros mais técnicos como Introdução à Teoria do Cinema de Robert Stam e Introduction to

Documentary de Bill Nichols; além de Música e Capital Midiático de Marco Schneider, lido na

íntegra.

Cada entrevista teve duração média de 20 minutos e foram bastante esclarecedoras. Houve

um total de 7 personagens ouvidos e filmados. Foram eles Jônatas Freitas, idealizador e realizador

do Blog/website AgendaThe.com.br. Jornalista, estudante de relações públicas na UESPI, Jônatas

sempre teve interesse por música e cultura, ainda no ensino médio criou um blog de poesias em

parceria com 2 amigos, Márcio Rodrigues e Hélio Júnior. Hoje, além do AgendaThe, Jônatas faz

parte de uma blues rock band chamada Fenomenais Partidos Baixos. “Eu criei o blog para dar

espaço para quem não é visto, aqui não importa a quantidade e sim, a qualidade” (Jônatas Freitas

em entrevista concedida para a produção). Ricardo Totte, músico e produtor cultural de longa data

na capital. Grande fomentador da música e da cultura regionalista teresinense. “Surgiu numa

brincadeira, da necessidade que tínhamos de trabalhar com arte […] nós tínhamos reuniões onde

cada um apresentava uma música e veio a ideia de formar uma banda” (Ricardo Totte, em entrevista

concedida a produção). Marco Foyce, músico na banda Sapucaia e CaféTheFoyce, ingressou na

vida musical através do metal, mas com o passar do tempo percebeu que o que queria realmente

tocar era música regional. “Com as vivências com relação ao cenário mesmo, Piauí, Teresina. Por

estar sempre no interior, convivendo com gente simples, o forró mais tradicional feito mesmo no

Page 20: Agenda the e a música autoral teresinense

chão batido, por tudo isso, a forma mais fácil de entrar na música era com aquilo que eu vivi

realmente que é a música regional. (Marco Foyce, em entrevista concedida a produção). Sérgio

Holom, músico, radialista e proprietário do Espaço Cultural Tenda Alternativa, sempre teve contato

com a música, toca diversos instrumentos musicais e além de tocar na banda de metal Samantha.

“Os dois trabalhos são interessantes [produção cover e produção autoral], ai vai depender qual o seu

intuito com a música […] mas se você sabe compor, por que não compor? (Sérgio Holom, em

entrevista concedida a produção). André “Café” Oliveira, jornalista, músico e poeta, participou de

diversos campeonatos de poesia em sua época de colégio, tempos depois ministrou oficinas de

argila no Salão Internacional de Humor. É um dos fundadores do grupo ativista poético Sociedade

dos Poetas por Vir, além de tocar nas bandas Sapucaia, CaféTheFoyce e Santa Maria. “Não é que a

grande mídia não veja com bons olhos a produção autoral alternativa, ela simplesmente não quer

ver [a produção], saca? (André “Café” Oliveira, em entrevista concedida a produção). Rubinho

Figueiredo, músico e programador musical da FM Universitária 96,7. Participa da cena autoral

alternativa teresinense há muito tempo, atualmente toca com Edivaldo Nascimento. “No meu ponto

de vista tem que haver uma unidade maior, uma unicidade, uma multiplicidade de bandas que

estejam trabalhando em bloco, para que, de repente, essa cena possa ser mais bem respeitada, mais

bem vista” (Rubinho Figueiredo, em entrevista concedida a produção). Diego Barbosa, estudante

universitário e apreciador da produção cultural local. “O Agenda é essencial, tá favoritado16 lá, todo

dia tenho que olhar para saber o que vai rolar na cidade” (Diego Barbosa, em entrevista concedida a

produção).

Outro ponto pertinente a ser tocado a respeito das entrevistas é que buscou-se que nenhum

dos entrevistados olhassem diretamente para a câmera, houve uma certa dificuldade pelo fato na

maioria das entrevistas televisionadas querer-se que olhe-se diretamente para a câmera. O objetivo

de não se olhar direto para a câmera é dar ao diálogo uma ideia de pensatividade, fortalecendo

assim a proposta de dar historicidade ao filme. Com isso, buscou-se também dar um ar atemporal ao

documentário, pois não olhando para a câmera tem-se a sensação de o personagem estar

conversando sozinho, a sensação de não haver a presença de um entrevistador. Além de promover a

ideia de estar se falando sempre de uma experiência vivida, este ar pensativo faz com que o diálogo

entre os personagens do vídeo flua melhor, todos fazendo parte da mesma experiencia cultural,

construída coletivamente, cada um de seu ponto de vista.

Após a gravação de todas as entrevistas, foram feitas as gravações de trechos do show da

banda Sapucaia numa das culturais do Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação Social –

ENECOM – ocorrido em Teresina, na UFPI. E, para que houvesse uma maior variedade musical

16 Favoritado. Tornar favorito. Opção existente no mundo da internet utilizado para acessos rápidos a determinados links.

Page 21: Agenda the e a música autoral teresinense

imagética foi feito o pedido para a banda Batuque Elétrico, em nome de Ricardo Totte, para que se

pudesse utilizar de vídeos da banda publicados na internet. Terminando assim a primeira parte da

produção do trabalho para a disciplina Projetos Experimentais – TCC.

A segunda parte foi o processo de edição. Por utilizar o equipamento da produtora Doroteu

Filmes, houveram problemas para marcar datas de utilização. Após a resolução desse impasse, se

deu o processo de edição. Durante o processo de gravação foi produzido um total de 21GB de

imagens entre entrevistas e gravações de eventos.

Para a edição, utilizou-se o programa Adobe Premiere, num Mac pc. No primeiro momento,

foram postas todas as entrevistas na timeline do programa com o intuito de fazer uma triagem, fazer

uma seleção para ver quais trechos ficaram bem gravados e têm falas interessantes para a produção

do documentário. Ao final do primeiro processo de triagem, permaneceram na timeline cerca de 1

hora de entrevistas – este processo inicial durou em torno de 7 horas (primeiro dia de edição). No

segundo momento da edição, foi dado inicio a um processo denominado por Willian Bonner como

'colocar o elefante na casinha do cachorro'. No projeto norteador do trabalho de conclusão de curso,

foi estipulado que o documentário teria no máximo 10 minutos de duração, e esta foi uma das

maiores dificuldades. Como contextualizar e apresentar argumentações diversas (as vezes

divergentes) sobre um tema e menos de 10 minutos?

A solução pensada foi sempre que possível buscar utilizar frases rápidas, curtas e de fácil

entendimento, pronunciadas pelos entrevistados, de modo a fazer com que elas conseguissem

dialogar entre si de modo a fazer sentido. A atividade do segundo dia de edições foi basicamente

este.

No terceiro dia foi dado inicio a edição propriamente dita. A montagem começou a ser feita.

A principal dificuldade deste dia foi iniciar. Como abrir o filme de uma forma que prenda a atenção

de quem vá assistir, e a fala de Totte foi ideal, ela por si só conseguiu definir o sentimento da época,

do momento, em menos de 5 segundos, Ricardo Totte conseguiu laçar a atenção do espectador e

após, com a fala de Foyce, este espectador deixa-se seduzir por completo, de forma a obrigar-se a

ver o filme até o final. Depois de iniciado, avaliou-se que o ideal seria dividir o filme em dois

momentos, no primeiro com a contextualização cultural antes e hoje, e após, com a apresentação do

AgendaThe e sua importância para a cena local, e a relação dessa cena com a mídia de um modo

geral. Os dois momentos do filme foram divididos por imagens de eventos, não ocorre divisão por

capítulos.

Essa montagem durou aproximadamente 9 horas e foi ocorrendo instintivamente, ou seja,

não foi criado um roteiro previamente. Com o fim da montagem, foi dado inicio ao melhoramento

das imagens e áudios, este é um processo um pouco mais trabalhoso, já que deve ser feito de

Page 22: Agenda the e a música autoral teresinense

fragmento por fragmento. Ao final, o vídeo foi assistido diversas vezes para que pudesse ser

identificada alguma possível falha. Foi percebida a necessidade de um título do inicio conceituando

música autoral e, para isso, teve-se que alongar um pouco a trilha sonora, causando um pequeno

desconforto sonoro no momento alongado. Também achou-se necessária a presença física do

AgendaThe no documentário, e, por isso, colocou-se alguns prints17 sobrepostos a entrevistados.

O maior problema identificado no documentário foi a falta de compatibilidade no que diz

respeito a quantidade de fremes entre as imagens gravadas e o formato utilizado na edição, havendo

assim, perda de definição de imagens com movimentos bruscos.

O terceiro e último momento da produção do trabalho de conclusão de curso pela disciplina

Projetos Experimentais é a produção deste relatório. Foi a etapa na qual teve-se mais dificuldade

principalmente para delimitar o referencial teórico.

Para escrever a apresentação não houveram maiores dificuldades, já que pode-se tomar por

base a apresentação já utilizada no próprio projeto construído no período anterior, fez-se necessário

apenas alguns ajustes por conta de alterações ocorridas no decorrer do processo de produção e

adicionar informações novas, como falas retiradas de entrevistas e constatações obtidas após a

produção do documentário, além de inserir imagens com o objetivo tanto de ilustrar como de situar

o leitor desse projeto em tempo-espaço.

Para a elaboração do referencial teórico deste relatório foi necessário, antes de tudo, um

planejamento para que se entendesse quais seriam os principais pontos a serem tocados. Com isso,

delimitou-se que este referencial teórico teria três focos. O primeiro deles foi a parte técnica, com o

que é documentário e quais os tipos de documentários existentes, a partir daí explicar quais os tipos

adotados e porque. Para isso, foi utilizado o livro Introduction to Documentary, de Bill Nichols no

qual se faz a conceituação do que é documentário, apontando-o como qualquer produção

cinematográfica com interesse em contar uma história, entretanto, ao dar continuidade a leitura

entende-se que este tipo de documentário proposto neste relatório é chamado por Nichols de

documentário não-ficção, mas convencionou-se a chamá-lo neste texto somente documentário. Viu-

se também que, segundo o autor, existem 6 tipo de documentários, são eles o participativo,

expositivo, reflexivo, poético, observacional e performático. No documentário AgendaThe e a

Música Autoral de Teresina avaliou-se que os melhores tipos a serem utilizados na produção seriam

o expositivo, por seu caráter de produção e reprodução do contexto através da historicidade e o

poético por sua não-linearidade, dissociando as falas do tempo-espaço do filme e realocando-as na

timeline do filme pondo-as em diálogo entre si de modo a fazer sentido.

17 Print Screem. Fotografar a tela, cria-se um arquivo em formato JPG com todos os elementos presentes na tela do computador no momento que o botão Print Screem é pressionado.

Page 23: Agenda the e a música autoral teresinense

O segundo foco veio com o objetivo de entender o que caracteriza essa música autoral

alternativa, quais são os regionalismos presentes, como se constrói a identidade cultural piauiense e

teresinense e como ela se reflete na música. Para isso, foi utilizado como publicação base a tese de

doutoramento da professora doutora Janete de Páscoa Rodrigues, Mídias de Identidades Culturais –

Um estudo de recepção midiática do Balé Folclórico de Teresina no Piauí, a partir dessa leitura

pode-se entender melhor o que é esta cultura regional piauiense e como ela se formou, com isso,

partiu-se para leituras mais direcionadas ao tema da música com os artigos Cultura Jovem em

Movimentos Alternativos de Teresina-PI de Edmara de Castro Pinto e Maria do Carmo Alves do

Bonfim e O híbrido na cultura piauiense: uma análise das composições das bandas Batuque Elétrico

e Validuaté, da mestranda em comunicação na UFPI Leila Lima de Sousa.

Por fim, focou-se na mídia e nos debates sobre Indústria Cultural, puxando além de

discussões contextualizando fatos, envolveu-se também teorias da comunicação, para que se

pudesse entender de maneira satisfatória o posicionamento da mídia quanto a produção autoral

alternativa. Para isso foram utilizados os livros História das Teorias da Comunicação de Mattelart e

Mattelart, Teorias da Comunicação de Mauro Wolf, A indústria Cultural de Guerra e Mattos, Música

e Capital Mediático de Schneider. Além dos livros utilizados em todas as atapas, sempre buscou-se

embasamento nas falas dos entrevistados afim de fazer com que documentário e relatório se tornem

objetos complementares, e não alienígenas entre si.

Page 24: Agenda the e a música autoral teresinense

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este relatório foi produzido como parte integrante do trabalho final para a disciplina

Projetos Experimentais – disciplina final do curso de Comunicação Social com habilitação em

Jornalismo. Para a conclusão da disciplina (e do curso) se produziu além um documentário

relacionando a produção autoral alternativa teresinense e sua relação com a mídia, aprofundando na

importância do site AgendaThe para a divulgação deste tipo de produção, o documentário foi

denominado AgendaThe e a Música Autoral de Teresina – O processo analisado por dentro. Além

do documentário, foram produzidos durante o semestre três relatórios, dois parciais apresentando o

andamento do processo de desenvolvimento dos trabalhos da disciplina, e o terceiro, o relatório

final, este que está sendo finalizado. O relatório final é mais complexo que os anteriores, nele é

necessário que conste não só o relato de como se deu a produção do trabalho em todas as suas

instancias, mas também o porquê das decisões tomadas durante este processo assim como suas

fundamentações teóricas para tal.

Para a produção do documentário fez-se necessário adquirir conhecimento quanto algumas

questões, questões estas solucionadas no decorrer do desenvolvimento deste documentário, como

quem é o AgendaThe e porque lhe é designado tanta importância?

O Agenda Cultural de Teresina é um blog que tem por objetivo primordial a divulgação de

eventos alternativos que ocorrerão principalmente na capital – Teresina, mas também trabalha com

divulgação deste tipo de evento em outras cidades do Estado do Piauí. É um blog que surgiu no ano

de 2009 da necessidade sentida por seu idealizador e fundador, Jônatas Freitas, em ter em um único

local todos os cartazes de divulgação de eventos que ocorrerão no fim de semana, por exemplo.

Segundo ele, antes do blog era muito complicado saber que eventos ocorreriam na cidade, o Orkut

não possuía ferramentas que facilitassem a divulgação online de flyers tal como ocorre com o

Facebook e suas opções de compartilhamento. Depois disso, percebeu-se que o AgendaThe poderia

se tornar uma opção para a divulgação de trabalhos autorais de músicos da capital então foi criado o

projeto autoral em destaque. Este blog é considerado de grande importância da divulgação de

eventos alternativos e trabalhos autorais tanto por ser o primeiro a trabalhar nesse sentido quanto

por seu alcance. O blog tem cerca de 50 mil acessos mensais.

Com isso, sentiu-se a necessidade de entender quem é essa música autoral alternativa

teresinense, como ela se constituiu. Este relatório, após profunda pesquisa, entendeu que antes de

entender quem é ou como se constituiu essa música autoral regionalista, era de suma importância

compreender quais as nuances presentes na cultura desse estado, como ele se identifica

culturalmente. Compreendeu-se que essa identidade cultural se constrói deste do “inicio da história”

Page 25: Agenda the e a música autoral teresinense

do Piauí, com a valorização da saga diária dos vaqueiros e a vida de submissão imposta pelo

coronelismo, em paralelo a isto, tem-se o conglomerado de culturas já com processos de 'hibrização'

em estado adiantado tendo contato com a cultura relativamente isolada do piauiense (isolada pelo

fato de não haver muitas possibilidades de entrada no estado, principalmente pela falta de litoral).

Por conta do genocídio sofrido pelos povos originários da região e deste processo de hibrização – a

forte presença de culturas diversas – desde o século XIX existe um sentimento de ausência de

cultura em meio a maior parte da população.

Entretanto, é a partir dessa mistura de culturas que surge a música regional piauiense. Uma

música marcada pela diversidade de ritmos, tal qual apontou Leila Lima de Sousa (ver página 11). e

o conceito de alternativo vem por projetar-se de maneira contrária ao andamento do que propõe a

indústria cultural. Uma música que pauta temas histórico-regionalistas que dialogam com a

atualidade e desenvolvimento tecnológico contemporâneo enquanto a indústria cultural alavanca

produções relacionadas a romantismos baratos, mercantilização da mulher e propagação de outros

esteriótipos e preconceitos.

Ainda, por esta produção não andar na mesma linha que a cultura que é vendida ao grande

público pela indústria cultural é que acredita-se que a mídia não a agenda. Por crer que este tipo de

pauta não dialoga com o público/receptor da informação e portanto, não traz lucro. E, por conta

desta falta de espaço nas grandes mídias (apesar de algumas dessas mídias trabalhar com esse tipo

de cultura como é o caso da FM – Universitária, apontado por Rubinho Figueiredo no

documentário) as bandas viram a internet como uma forma de escoar sua criação, fazendo com que

parcelas da população pudesse conhecer sua música, e com a internet 2.0, pudesse de forma

instantânea sentir a aceitação ou não do produto.

Enfim, este trabalho em sua completude, com o documentário juntamente ao relatório

escrito, torna-se essencial para um maior conhecimento da cultura regionalista piauiense e

teresinense e, mais especificamente, da produção musico-cultural autoral alternativa teresinense.

Apresentando argumentações pertinentes para caracterizar tanto o contexto histórico da formação da

identidade cultural do estado, quanto o contexto da situação atual da produção cultural local. Além

de debates que ajudam a entender melhor estes conceitos, como os abordando indústria cultural,

juízos de gosto e teorias como a do agendamento. Isso pelo relatório. Em soma a isso, vem o

documentário, onde podemos confirmar o que é discutido no relatório a partir de relatos de alguns

dos protagonistas da produção e fomentação cultural do estado, além de conhecer fatos mais a

fundo, como o contexto em que o AgendaThe foi criado e como vivem o músicos de Teresina. Além

de compreender um pouco mais como ocorre o diálogo entre mídia e cultura alternativa.

Page 26: Agenda the e a música autoral teresinense

6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NICHOLS, Bill. Introduction to Documentary. Bloomington-IN. Indiana University Press. 2009.

RODRIGUES, Janete de Páscoa. Mídias de Identidades Culturais: Um estudo da recepção

midiática do Balé Folclórico de Teresina no Piauí. São Leopoldo-RS. UNISINOS. 2006.

MATTELART, Michelle e Armand. História das Teorias da Comunicação. São Paulo-SP. Loyola.

2009.

SOUSA, Leila Lima de. O híbrido na cultura piauiense: uma análise das composições das Bandas

Batuque Elétrico e Validuaté. Teresina-PI. Revista Temática Ano IX n. 01. 2013.

GRAMSCI, Antonio. Os Intelectuais e a Organização da Cultura. Rio de Janeiro-RJ. Civilização

Brasileira SA. 1982.

WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Mass Media contextos e paradigmas, Novas tendencias,

Efeitos a longo prazo, O Newsmaking. Lisboa-Portugal. Presença. 1999.

SCHNEIDER, Marco. Música e Capital Mediático: Introdução a uma Crítica da Economia

Política do Gosto. Rio de Janeiro-RJ. UFRJ. 2003.

PINTO, Edmara de Castro; BONFIM, Maria do Carmo Alves do. Cultura Jovem em Movimentos

Alternativos de Teresina-PI. Teresina-PI. UFPI.

STAM, Robert. Introdução à Teoria do Cinema. Campinas-SP. Papirus. 2003.

GUERRA, Marco Antonio; MATTOS, Paula de Vincenzo Fidelis Belfort. Indústria Cultural. São

Paulo. Universidade São Judas Tadeu. 2008.