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nimados, pero no mucho A difíceis anos de crise, a Argentina já pode saudar sua recuperação – e, em vários aspectos, até mesmo um crescimento real. Os reflexos da es- tabilização política e do avanço do PIB, na média de 8% ao ano, podem ser observados no consumo e no faturamento das redes varejistas. O volume de ven- das dos supermercados foi 24,9% maior em janeiro do que no mesmo mês de 2007, informam dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), depois dos Supermercadistas argentinos comemoram crescimento da economia e do consumo no país. Ainda enfrentam, no entanto, questões que ameaçam o franco desenvolvimento do setor seguindo a tendência de dezembro, quando a alta foi de 22,8%. Além de comprar mais, os argentinos voltam a privilegiar marcas em detrimento de preços. Conforme estudo da CCR Auditoria de Mercado, as marcas líderes e premium, que perderam espaço em 2003, apresentam hoje consumo maior do que os patamares de 2001, último ano pré-crise. “A recuperação vem acontecendo ao longo dos últimos três anos”, salienta Roberto Gilio, presidente da Federação Argentina de Supermercados e Auto- Serviço (Fasa), entidade empresarial que congrega câmaras regionais. “Não podemos pensar, no en- tanto, que o setor vá crescer interminavelmente. Já se percebe um crescimento mais orientado a certas categorias de produtos, como bebidas e perfumaria, e não a outras, como alimentos.” Os mesmos fatores que contribuem para o desenvolvimento econômico geram o fantasma da inflação na Argentina. A recomposição financeira da classe média aumentou a demanda e também os preços. O índice de 8,5% de inflação em 2007, divul- gado pelo governo argentino, vem sendo contestado por economistas e consumidores. Segundo dados não-oficiais, a taxa poderia chegar a 20%. Para tentar reduzir o impacto dos aumentos de preços no bolso do consumidor, a presidente Cris- tina Kirchner segue a cartilha iniciada pelo marido Néstor: aposta no controle de preços. A política, Gilio, da Fasa: empresas nacionais precisam de crédito Svendla Chaves 42 Revista AGAS (março/abril 2008) mercado

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nimados, pero no mucho

Adifíceis anos de crise, a Argentina já

pode saudar sua recuperação – e, em vários aspectos, até mesmo um crescimento real. Os reflexos da es-tabilização política e do avanço do PIB, na média de 8% ao ano, podem ser observados no consumo e no faturamento das redes varejistas. O volume de ven-das dos supermercados foi 24,9% maior em janeiro do que no mesmo mês de 2007, informam dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec),

depois dos

Supermercadistas argentinos

comemoram crescimento da economia

e do consumo no país. Ainda enfrentam,

no entanto, questões que ameaçam o

franco desenvolvimento do setor

seguindo a tendência de dezembro, quando a alta foi de 22,8%. Além de comprar mais, os argentinos voltam a privilegiar marcas em detrimento de preços. Conforme estudo da CCR Auditoria de Mercado, as marcas líderes e premium, que perderam espaço em 2003, apresentam hoje consumo maior do que os patamares de 2001, último ano pré-crise.

“A recuperação vem acontecendo ao longo dos últimos três anos”, salienta Roberto Gilio, presidente da Federação Argentina de Supermercados e Auto-Serviço (Fasa), entidade empresarial que congrega câmaras regionais. “Não podemos pensar, no en-tanto, que o setor vá crescer interminavelmente. Já se percebe um crescimento mais orientado a certas categorias de produtos, como bebidas e perfumaria, e não a outras, como alimentos.”

Os mesmos fatores que contribuem para o desenvolvimento econômico geram o fantasma da inflação na Argentina. A recomposição financeira da classe média aumentou a demanda e também os preços. O índice de 8,5% de inflação em 2007, divul-gado pelo governo argentino, vem sendo contestado por economistas e consumidores. Segundo dados não-oficiais, a taxa poderia chegar a 20%.

Para tentar reduzir o impacto dos aumentos de preços no bolso do consumidor, a presidente Cris-tina Kirchner segue a cartilha iniciada pelo marido Néstor: aposta no controle de preços. A política,

Gilio, da Fasa: empresas nacionais precisam de crédito

Svendla Chaves

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adotada há aproximadamente dois anos, envolve a negociação de tabelas e reajustes com a indústria e o comércio. No final de fevereiro, por exemplo, o governo acordou com os setores produtivo e varejista uma “cesta básica escolar” de 50 produtos, que mantiveram preços semelhantes aos prati-cados em março do ano passado.

Aliado a uma crise energética, fortes chuvas e vantagens na exportação, o controle de preços provocou dificuldades de abaste-cimento em 2007. Produtos básicos e de preços mais baixos começaram a sumir das gôndolas, criando um cenário atípico. “Por um lado, o grande volume de compras deixa de configurar poder de negociação, pois a indústria já está com sua produção comprometida, o que afeta as grandes cadeias. De outra parte, as pequenas e médias empresas são as mais prejudicadas, princi-palmente no interior do país, pois enfrentam custos maiores de logística e transporte”, explica Gilio.

Desafios para as pequenas

Como no Brasil, o setor supermercadista de médio porte enfrenta dificuldades em fun-ção de altos tributos, informalidade e segurança pública. Segundo o presidente da Fasa, no entanto, a grande concentração do ramo é o principal obstáculo para o desenvolvimento das redes menores (veja quadro na página 44).

“Nos anos 90 aconteceram diversas aquisições por empresas multinacionais, o que gerou uma diferença muito grande entre os grandes atores deste negócio e os grupos de médio e pequeno portes.” O executivo afirma que há aproximadamente 30 cadeias com bom posicionamento regional. “Embora tenham volumes de compra e poder de negociação muito inferiores aos das grandes redes, estas empresas apresentam um bom desempenho a partir do manejo eficiente dos negócios e da proposta comercial.” Um exemplo são os Supermercados Todo, dirigidos por Gilio, presentes na Cordilheira Sul: a rede detém de 30% a 40% dos mercados em que atua.

Entre as dificuldades enfrentadas está o acesso ao crédito: “As empresas multinacionais podem obter financiamento externamente, por meio de suas matrizes. Mas as demais, que

dependem do sistema financeiro argentino, não conseguem financiamento de médio e longo prazos para fazer novos investimentos”.

A abertura do varejo aos domingos, tema ainda não regulamentado por lei, parece um ponto-chave para compreender a distância entre grandes e pequenos. Conforme indica-ção dos trabalhadores do setor, para abrir aos domingos as empresas devem remunerar em dobro os funcionários. Como as vendas nesse dia beneficiam mais os hipermercados do que os negócios de menor porte, Gilio afirma que muitas câmaras regionais já se colocaram a favor de uma legislação que proíba a abertura de todos os estabelecimentos.

Pesquisas da CCR e da Nielsen Argentina indicam que 2008 será novamente um bom ano para o supermercadismo no outro lado do Rio da Prata, principalmente no interior do país. Apesar das dificuldades de abastecimento e da ameaça da inflação, o consumidor argenti-no está otimista e tem mais dinheiro no bolso. “Tudo indica que manteremos o crescimento em 2008. Os prognósticos médios são de um crescimento inferior ao de 2007, mas aceitável. Se o sistema financeiro não voltar a oferecer crédito ao mercado, é difícil acreditar em um grande desenvolvimento das pequenas. Quanto às grandes, o Wal-Mart fez anúncios de investi-mentos, e a tendência é que os outros atores o acompanhem. Mas em geral são investimentos táticos e moderados”, finaliza Gilio.

Hipermercado Jumbo em Palermo, bairro da moda em Buenos Aires: 50 check-outs e um setor de vinhos com mais de 100m2

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As maiores e mais poderosas

As seis maiores redes de supermercados concentram, segundo dados extra-oficiais, 85% do

mercado argentino. Apenas duas são controladas por grupos nacionais.

CarrefourCom 22 hipermercados, 132 supermercados e 249 lojas de descon-

tos, o grupo francês Carrefour – que se instalou no país vizinho em 1982 – lidera o mercado argentino. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) publicados pelo jornal El Clarín em março de 2007, a rede conta com 31,3% das vendas do setor. Além da bandeira que leva seu nome, a empresa também atua na Argentina por meio dos Supermercados Norte, rede local adquirida em 2000. Está presente em praticamente todas as províncias argentinas.

CencosudA poderosa chilena também aterrissou na Argentina em 1982 e apresentou sólido desenvolvimento nas últi-

mas duas décadas. Além dos hipermercados Jumbo e dos supermercados Disco e Vea (estes adquiridos em 2004), a Cencosud está no país por meio de shopping centers, home centers, centros de entretenimento e restaurantes. Com 264 lojas, entre híper e supermercados, a rede concentra aproximadamente 25% do mercado. A Cencosud chegou, em 2007, aos mercados brasileiro, peruano e colombiano, por meio de aquisições e joint venture.

CotoÚnica rede de capital argentino a competir com as grandes, a

Coto iniciou no ramo de açougues em 1970. O primeiro supermer-cado foi aberto em 1987 em Mar de Ajó, na província de Buenos Aires, e a expansão se deu na capital federal e adjacências. Hoje, são 105 lojas, que contam com cerca de 15% de participação no mercado. A empresa é dirigida por seu fundador, Alfredo Coto.

Wal-MartA gigante norte-americana ainda não tem participação massiva entre os hermanos: uma fatia que não

passa dos 5%. Com 21 supercenters distribuídos nas regiões de Buenos Aires, Central, Cuyo, Pampa e Chaco, o Wal-Mart chegou à Argentina em 1995 e orgulha-se de ser um grande gerador de empregos – 6.900 colaboradores diretos no país, segundo dados da empresa. Em 2003 firmou acordo com a Cencosud para a implantação de home centers da bandeira Easy junto a seus hipermercados.

La AnónimaCom um século de história, a Sociedad Anónima Importadora y Exportadora de la Patagonia iniciou suas

atividades com fazendas, armazéns e uma frota de navios. Conhecida como La Anónima, a empresa voltou-se ao ramo supermercadista nos anos 60 e hoje conta com 113 lojas em 59 cidades argentinas, no centro-sul do país. No setor, opera com as bandeiras La Anónima, Quijote Supermercados e Best Minimercados.

LibertadControlada desde 1998 pelo grupo francês Casino (que no Brasil é sócio de Abílio Diniz no Pão de Açúcar),

a rede Libertad migrou do ramo atacadista e abrange a metade norte da Argentina com hipermercados e negócios variados, que incluem móveis e alimentação. O grupo Casino também apresenta no mercado argentino os produtos da marca Leader Price, comercializados em lojas próprias, pelo Libertad e, em parceria, por La Anónima.

Na Av. 9 de Julho, coração de Buenos Aires, um Carrefour Express marca presença com 12 check-outs

Loja “de cercanía” da

Coto, no centro da capital federal

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