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Revta bras. Ent. 41(2-4): 285-288 30.09.1998 .l.::1::1tS ··L .;, 1 , ' SP-1998.00101 ~ ~ _ .... Afídeos da alfafa no Brasil (Homoptera, Aphidoidea) C.R. Sonsa-Silva' J.M. Pacheco' J.B. Rassini' F.A. lIharco J AnSTRACT. ALFALFA APIIIDS IN BRAZIL (HOMOPTERA, ArIllDOIDEA). lhe following aphid species are rcgistered on alfalfa (Medicago sativa L.) at São Carlos, state of São Paulo, Brazil. for the first time: Acyrthosiphon pisum (Harris, 1776), A. kondoi Shinji. 1938, Therioaphis tri{olii (Monell, 1882), F. maculata Buckton, 1899 and Aphis craccivoro Koch, 1854. The last species is recorded, for the first time, 011 alfalfa crops in Brazil. The species are brief1y redescribed and an identification key is presentcd. K"YWORIlS. APIItDIDAE; MEIJICAGO SATlVA; BRAZIL. INTRODUÇÃO RESULTADOS E DISCUSSÃO No Brasil a alfafa é cultivada principalmente nos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e mais recente- mente, Minas Gerais e São Paulo. O maior produtor é o Rio Grande do Sul, com 80% da área cultivada, significando algo em tomo de 16.000 ha. Os outros Estados somam ao todo 5.000 ha (SAIBRO, 1984). É utilizada como forragem para ca- valos e dieta suplementar para vacas em épocas de pastagens deficientes. Suporta uma entomofauna diversificada onde particularmente os afideos ocasionam sérios danos. No presente trabalho procurou-se identificar e caracteri- zar os atldeos coletados na cultura da alfafa na região de São Carlos, SP. ~ .•... MATERIAL E MÉTODOS Os afideos foram coletados no periodo de 14 de julho a 11 de outubro de 1995, em alfafa cultivada na área experimental do Centro de Pesquisa de Pecuária do Sudeste, CPPSE, São Carlos, SP, integrado à Rede Nacional de Avaliação de Culti- vares de Alfafa (RENACAL) com ensaio de avaliação de 29 cultivares. Esses ensaios foram conduzidos, segundo normas da RENACAL, em delineamento experimental de blocos ao acaso, repetidos três vezes. As parcelas eram constituídas de cinco fileiras de 5 m de comprimento, espaçadas de 30 em (1,50 x 5 m). As parcelas não tinham corredores entre si, en- quanto que entre os blocos os corredores eram de 1,50 m. Nesses ensaios a cv. Crioula foi utilizada como padrão. As coletas foram realizadas ao acaso, diretamente sobre as plan- tas. Para cada gênero indica-se a classificação adotada por 1LHARCO(1992). Foram ideutificadas quatro espécies de afideos no experi- mento com alfafa no CPPSE: Acyrtliosiphon pisum (Barris. 1776), A kotuloi Shinji, 1938, Aphis cl'l1ceivora Koch, 1854 (Aphididae) e Therioaphis trifolii (Monell, 1882) f. maculata Buckton, 1899 (Drepanosiphidac). Para a região de São Car- los essas são as primeiras observações na cultura; no caso de I A. trifolii f. maculata é o primeiro registro para o Estado de São Paulo e, quanto a Aphis eraeeivora, é o primeiro relato em alfafa para o Brasil. Caracterização das espécies: Acyrthosiphon pisum: são afideos, em média, grandes, com longas antenas e pernas, sifões muito afilados. Colora- ção verde ou vermelha, encontrando-se no Brasil as formas esverdeadas. Nas regiões temperadas são holocíclicos sobre várias leguminosas (Fabaceae). Em legiões de clima quente são provavelmente anolocíclicos facultativos (BLACKMAN & EASTOP, 1984), como é o caso na Argentina (NIETO NA FRIA et a/.. 1994), e muito provavelmente no Brasil. Hospedeiros gerais da espécie: Leguminosas e Capsella bursapastoris, segundo SOUSA-SILVA & ILHARCO (1995). Hospedeiros no Brasil: Lens esculenta, de acordo com GALLO et alo (1988); Medieago saliva, segundo KALVELAGE (1990) e Pisum sativum, conforme PICANÇO et alo (1993). Distribuição geográfica e origem: cosmopolita (desco- nhecido na Austrália, exceto Tasmânia) (SOUSA-SILVA & ILHARCO, 1995), com provável origem paleártica (BLACKMAN & EASTOP, 1984). Distribuição no Brasil: Lages, SC (KALvELAGE, 1990), Viçosa, MG (PICANÇO et a/., 1993). I. Laburatório de Entomulogia. Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos, Caixa Postal 676; 13565-905 São Carlos S}', Brasil. 2. Centro Nacio;lal de Pesquisa de Pecuária do Sudeste, Caixa Postal 339; 13560-970 São Carlos SI'. Brasil. 3. Secção de Equilibrio Biológico de Afideos, Estação Agronómica Nacional, Quinta do Marquês 2780 Oeiras, Portugal.

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Page 1: Afídeos da alfafa no Brasil (Homoptera, Aphidoidea) · Afideos da alfafa 287 A. eraecivora é considerado vetor de dois dos principais vírus da alfafa, mosaico e enações (SWENSON,

Revta bras. Ent. 41(2-4): 285-288 30.09.1998

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~ ~_ ....

Afídeos da alfafa no Brasil(Homoptera, Aphidoidea)

C.R. Sonsa-Silva'J.M. Pacheco'

J.B. Rassini'F.A. lIharcoJ

AnSTRACT. ALFALFA APIIIDS IN BRAZIL (HOMOPTERA, ArIllDOIDEA). lhe following aphid species are rcgistered on alfalfa(Medicago sativa L.) at São Carlos, state of São Paulo, Brazil. for the first time: Acyrthosiphon pisum (Harris, 1776), A. kondoiShinji. 1938, Therioaphis tri{olii (Monell, 1882), F. maculata Buckton, 1899 and Aphis craccivoro Koch, 1854. The last species isrecorded, for the first time, 011 alfalfa crops in Brazil. The species are brief1y redescribed and an identification key is presentcd.

K"YWORIlS. APIItDIDAE; MEIJICAGO SATlVA; BRAZIL.

INTRODUÇÃO RESULTADOS E DISCUSSÃO

No Brasil a alfafa é cultivada principalmente nos Estadosdo Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e mais recente-mente, Minas Gerais e São Paulo. O maior produtor é o RioGrande do Sul, com 80% da área cultivada, significando algoem tomo de 16.000 ha. Os outros Estados somam ao todo5.000 ha (SAIBRO, 1984). É utilizada como forragem para ca-valos e dieta suplementar para vacas em épocas de pastagensdeficientes. Suporta uma entomofauna diversificada ondeparticularmente os afideos ocasionam sérios danos.

No presente trabalho procurou-se identificar e caracteri-zar os atldeos coletados na cultura da alfafa na região de SãoCarlos, SP. ~.•...

MATERIAL E MÉTODOS

Os afideos foram coletados no periodo de 14 de julho a 11de outubro de 1995, em alfafa cultivada na área experimentaldo Centro de Pesquisa de Pecuária do Sudeste, CPPSE, SãoCarlos, SP, integrado à Rede Nacional de Avaliação de Culti-vares de Alfafa (RENACAL) com ensaio de avaliação de 29cultivares. Esses ensaios foram conduzidos, segundo normasda RENACAL, em delineamento experimental de blocos aoacaso, repetidos três vezes. As parcelas eram constituídas decinco fileiras de 5 m de comprimento, espaçadas de 30 em(1,50 x 5 m). As parcelas não tinham corredores entre si, en-quanto que entre os blocos os corredores eram de 1,50 m.Nesses ensaios a cv. Crioula foi utilizada como padrão. Ascoletas foram realizadas ao acaso, diretamente sobre as plan-tas.

Para cada gênero indica-se a classificação adotada por1LHARCO(1992).

Foram ideutificadas quatro espécies de afideos no experi-mento com alfafa no CPPSE: Acyrtliosiphon pisum (Barris.1776), A kotuloi Shinji, 1938, Aphis cl'l1ceivora Koch, 1854(Aphididae) e Therioaphis trifolii (Monell, 1882) f. maculataBuckton, 1899 (Drepanosiphidac). Para a região de São Car-los essas são as primeiras observações na cultura; no caso de

I

A. trifolii f. maculata é o primeiro registro para o Estado deSão Paulo e, quanto a Aphis eraeeivora, é o primeiro relatoem alfafa para o Brasil.

Caracterização das espécies:

Acyrthosiphon pisum: são afideos, em média, grandes,com longas antenas e pernas, sifões muito afilados. Colora-ção verde ou vermelha, encontrando-se no Brasil as formasesverdeadas. Nas regiões temperadas são holocíclicos sobrevárias leguminosas (Fabaceae). Em legiões de clima quentesão provavelmente anolocíclicos facultativos (BLACKMAN &EASTOP, 1984), como é o caso na Argentina (NIETO NA FRIAet a/ .. 1994), e muito provavelmente no Brasil.

Hospedeiros gerais da espécie: Leguminosas e Capsellabursapastoris, segundo SOUSA-SILVA & ILHARCO (1995).

Hospedeiros no Brasil: Lens esculenta, de acordo comGALLO et alo (1988); Medieago saliva, segundo KALVELAGE(1990) e Pisum sativum, conforme PICANÇO et alo (1993).

Distribuição geográfica e origem: cosmopolita (desco-nhecido na Austrália, exceto Tasmânia) (SOUSA-SILVA &ILHARCO, 1995), com provável origem paleártica(BLACKMAN & EASTOP, 1984).

Distribuição no Brasil: Lages, SC (KALvELAGE, 1990),Viçosa, MG (PICANÇO et a/., 1993).

I. Laburatório de Entomulogia. Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, Universidade Federal de São Carlos, Caixa Postal 676; 13565-905 SãoCarlos S}', Brasil.

2. Centro Nacio;lal de Pesquisa de Pecuária do Sudeste, Caixa Postal 339; 13560-970 São Carlos SI'. Brasil.3. Secção de Equilibrio Biológico de Afideos, Estação Agronómica Nacional, Quinta do Marquês 2780 Oeiras, Portugal.

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}86 Sousa-Silva et aI.h, í i

Hábito's e Danos: ILHARCO & LOURENÇO (1987) observa-ram que ninfas de A. pisum vivem. freqüentemente, escondi-das em folhas enroladas e por isso passam despercebidas.Quando perturbados. adultos e ninfas deixam-se cair imedia-tamente, permanecendo imóveis por algum tempo; esse com-portamento também foi observado por KALVELAGE (017. cil.)no Brasil, referindo que ataques severos provocam o amare-lecimento e enrolamento das folhas e encurtamento dos en-trenós das hastes. reduzindo sensivelmente a produção deforragem. Observou também uma maior proliferação de fo-lhas, sendo essas menores que em plantas não atacadas. e quea maior sensibilidade da alfafa ao ataque ocorre também noinício do rebrote.

De acordo com LECLANT el aI. (1973) A. pisum é vetor dopea enation mosaic virus e pea leaf-roll virus, dois vírus per-sistentes de Medicago saliva, além do mosaico da alfafa, umvírus não-persistente. Com isso chamam a atenção para a ne-cessidade de maiores pesquisas de campo e laboratório COI11

esses afídeos. No Brasil a ocorrência desses vírus ainda nãofoi registrada.' \

Inimigos naturais: KALVELAGE (1990) cita os predadoresCycloneda sanguinea e Eriopsis connexa (Coleoptera. Coe-cinellidae): larvas de crisopídeos e sirfídeos. Entre os parasi-tóides, Aphidius sp. (Hymenoptera, Aphidiidae). Ressaltatambém a ação dos fungos Entomoplithora spp. causandogrande mortalidade em ambientes relativamente úmidos. Naregião de São Carlos predadores como coccinelídeos. criso-pideos e sirfideos também foram observados na cultura de al-fafa. Dentre os parasitóides já foi identificado Aphidius ervi.

Na Argentina. ARMiÓN ( 1990) cita os predadores Eriop-sis connexa e Hippodantia convergem (Coleoptera. Cocei-nellidae). corno os mais importantes. Dentre os parasitóides,além de Praon volucre (Hyrnenoptera, Aphidiidae), apontaAphidius smithi e Aphidius avi, importados dos Estados Uni-dos. multiplicados em laboratório e posteriormente liberadosem 1972 na região dos pampas. Ambos os parasitóides se es-tabeleceram e se di fundiram com rapidez, tornando-se con-troladores eficazes desses afideos. Os fungos Entomophthoraspp. também são citados pelo autor.

ACI'I"II}(}siphol1 kondoi: espécie semelhante à anterior. di-ferenciando-se dela pela coloração em tom verde-azulado,ausência de pigmentação na articulação entre os antenômeros111e IV. O diâmetro dos sifões a meio comprimento é distin-tamente maior que igual diâmetro do '" segmento das ante-nas. Anolociclicos na maior parte de sua área de distribuição.

Hospedeiros gerais da espécie: espécies dos gêneros Me-dicago, Melilotus. Trifolium, Dorycnium, LUIIlS, Astragalus.Lens. segundo SOtJSA-SILVA & IUIARCO (1995).

Hospedeiros no Brasil: Medicago saliva. de acordo comOUVElRA et alo (19R6).

Distribuição geográfica e origem: Estados Unidos, Méxi-co. América do Sul, Irã, Afeganistão, Paquistão, índia, Chi-na, Manchúria, Coréia, Japão, África do Sul, Austrália, NovaZelândia. (SOUSA-SILVA & IUtARCO, 1995); lemen (vanMARTEN et a/., 1994).

Revia hrns. Ent. 41{ 2-4). I"111M

De acordo com BLACKMAN & EASTOP (1984). A. kondoitem origem desconhecida mas provavelmente vem de algu-ma região temperada da Ásia.

Distribuição no Brasil: Piracicaba, SI' (OLIVEIRA et 0/ ..1986).

Hábitos e Danos: ARAGÓN (1990), na Argentina, observaque as colônias do pulgão-verde-azulado estabelecem-se so-bre talos e folhas da alfaia, reproduzindo-se ativamente desdemeados de julho, época que o pulgão-vcrde-da-alfafa está au-sente devido ao frio. Localiza-se preferencialmente nos bro-tos apicais e. em caso de movimentos bruscos, não sedesprendem facilmente da planta. Cita o seu aparecimentonas Costas dos Estados Unidos em 1974; na Nova Zelândiaem 1975, e em 1976na Austrália e Argentina. Em todos essespaíses o dano ocasionado foi de grande intensidade, reduzin-do a produção de forragem até 40% durante o ataque na pri-mavera.

OUVEIRA et alo (1986), em Piracicaba, SP. observaramataques intensos desses afídeos em Dezcmbro/l9S4 e emMaio e Dezembro/1985 cujos resultados provocaram retar-damento no crescimento elas plantas e engruvinhamento dasfolhas com conseqüente prejuízo na produção.

Inimigos naturais: na Argentina ARAGÓN (1990) cita osparasitóides Praon volucre e Aphidius ervi; dentre os preda-dores. coccinelideogj; larvas de sirfideos: como patógenos,os fungos Entomophthora spp.

Aphis croccivora: são pulgões de tamanho mediano:adultos ápteros com dorso abdominal negro e muito brilhanteque contrasta com partes esbranquiçadas das antenas e per-nas. Os alados têm faixas transversais esclcrotinizaelas nodorso do abdome, poucos rinários secundários (3-8), restritosao 111segmento antcna\. Ilolocíclicos nas regiões de climafrio e anolocíclicos em climas temperados e quentes(IIOLMAN, 1974).

Hospedeiros gerais da espécie: poli Iago mas com prefe-rência por leguminosas (SOUSA-SILV A & IUIARCO. 1995)

Hospedeiros no Brasil: Amaranthus sp. e Indigofera .\11-

matrana, segundo UERGAMIN (1957) e SI LVA et alo (I96X):Phaseolus vulgaris e Amaranthus sp .. de acordo com COSTAet ai. (1972); Phaseolus VII/garis, Pisum sativum e Viciafaba, segundo GALLO et alo ( 1988).

Distribuição geográfica: cosmopolita (SOUSA-SIl. VA &ILJ-IARCO. 1995) COIII provável origem na parte ocidental daregião Paleártica (1I0LMAN, 1974).

Distribuição no Brasil: Linhares, ES (OLIVEIRA et ai ..1977), São Paulo (BERGAMIN, 1957; COSTA et al., 1972).

Hábitos e danos: na Argentina, ARAGÓN (J 990) mencio-na que esses afídeos formam colônias muito densas no talodas plantas. Esse comportamento também foi observado emcultivo de alfafa na região de São Carlos. Ainda ARAGÓN (op.

cil.) relata ataques intensos desses afideos nos meses de Mar-ço, Abril e Maio de 1985 nos alfafais de Córdoba, Oeste deBuenos Aircs, La Pampa, Santa Fé, San Juan e Mendoza. Osdanos caracterizaram-se por diminuição do crescimento, de-formação, enrugamento de folhas e brotos da alfafa.

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Afideos da alfafa 287A. eraecivora é considerado vetor de dois dos principais

vírus da alfafa, mosaico e enações (SWENSON, 1952;LECLANT et al., 1973). Como esse afideo pode produzir for-mas aladas em quantidade, com grande capacidade de vôo,seu papel na dispersão desses vírus deve ser considerado.

Inimigos naturais: na Argentina, o pulgão das legumino-sas é atacado pelo complexo de inimigos naturais que inclu-em predadores como os coccinelídeos e os crisopídeos(ARAGÓN. ·~990).

Therioaphis trifolii f. maculata: ápteros e alados com co-loração variando desde o amarelo-pálido a verde muito claro.Diferencia-se dos outros afídeos da alfafa por apresentar odorso do abdome com fileiras de tubérculos castanho-clarosaté marrom-escuros com cerdas capitadas. Seu tamanho variade 1.4 - 2,2 mm. São holocíclicos monóicos, sobre legumino-sas, em climas frios, e anolocíclicos em regiões de climaquente (BLACKMAN & EAsToP, 1984). LÁZZARI el al . (1996)referem que o primeiro registro desse afideo em alfafa noBrasil foi feito em 1990, no centro-sul do Paraná; a partir deentão, tem sido coletado em outros municípios do Estado. Emarmadilhas amarelas tem sido coletado desde 1992, na regiãometropolitana de Curitiba.

Hospedeiros gerais da espécie: várias espécies de legumi-nosas dos gêneros Astragalus. Lotus, Medicago, Melilotus.Onobrychis, Ononis, e Trifolium, de acordo com BLACKMAN& EASTOP (1984).

Hospedeiros no Brasil: Medicago saliva, segundoLÁZZARI et ai. (1996).

Distribuição geográfica e origem: atualmente com ampladistribuição em diferentes regiões do mundo, conforme rela-tado por vários autores: PASSLOW (1977) para a Austrália;WILSON et al. (1981) para o Canadá; CAMf!RON et ai. (1983)para a Nova Zelândia; BLACKMAN & EASTOP (1984) para aEuropa, Norte e Sul da África, Oriente Médio, Índia, Paquis-tão e Japão. Nos Estados Unidos foi observado pela primeiravez no Estado do Novo México em 1954. Três anos depois jáhavia dispersado por toda a região continental do país, che-gando também ao México (DICKSON, 1959). Na América doSul, ARAGÓN (1990) menciona que para a Argentina T. trifo-lii f. maculata foi observado pela primeira vez em 1983, emBalcarce, no sudoeste da província de Buenos Aires e em1987 foram detectados ataques intensos em Buenos Aires,Córdoba, Santa Fé, e La Pampa, ZlJNIGA & AGUILERA (1989)reportam esse afideo para a Argentina em 1986/87, e em1988 para o Chile. É originário da região peleártica (ILHARCO& LOURENÇO, 1987).

Distribuição no Brasil: região centro-sul e área metropoli-tana de Curitiba, PR (LÁzzARI et ai. 1996). Atualmente, tam-bém em São Carlos, SP.

Hábitos e danos: LÁzzARI et ai. (op eit.) mencionam queT. trifolii f. maculata é uma das principais pragas da alfafa emmuitos países. Atacam preferencialmente as folhas inferio-res, que caem devido à ação da saliva toxicogênica, podendolevar as plantas mais jovens à morte. PADlLLA & YOUNG(1958) citados por ZÚN1GA & AGU1LERA (1989) observam

que esses afídeos preferem congregar-se por baixo dasfolhas,. estabelecendo-se primeiro nas inferiores e posterior-mente, nas superiores; enquanto sobem, as ninfas vão fixan-do-se no talo. 8LACKMAN & EASTOP ( 1984) mencionam suacapacidade para transmitir o alfalfa mosaic virus e o clover(red) vein mosaic, ainda não registrados para o Brasil.

Inimigos naturais: na Argentina, ARAGÓN (1990) citauma grande diversidade de predadores corno coccinelídeos,crisopídeos, nabídeos, geocorideos, e sirfidcos, de ocorrênciacomum nos cultivos de alfafa,

Controle: ARAGON (op. cit.) observa que na Califórniaseu controle foi efetuado inicialmente por meio de inseticidasfosforados com amplo espectro de ação o que provocou efei-tos secundários graves, como o aparecimento de raças resis-tentes, destruição da fauna útil com conseqüenteaparecimento de pragas secundárias, contaminação ambieu-tal e intoxicações em animais e pessoas. Esta situação moti-vou a busca de soluções a longo prazo, C0l110 a introdução deinimigos naturais, seleção de variedades resistentes, determi-nação de sistemas de amostragern, níveis de tratamento, e autilização de inseticidas seletivos em doses reduzidas. Atual-mente seu controle está bem estabelecido nos Estados Unidose Austrália onde foram introduzidos três parasitóides do sulda Europa e Oriente Médio: Praon exsoletum Nees, Trioxyscomplanatus Quilis (Hymenoptera, Aphidiidae) e Aphelinusasychis Walker (lIymenoptera, Aphelinidae) (Clausen, 1978citado por ZÚNtGA & AGUILERA, 1989).

Chave para as espécies

A chave que a seguir se apresenta é viável tanto para for-mas ápteras C011l0 para formas aladas, salvo se expressamen-te se indica o contrário. Devem ser utilizados espécimesclarificados, montados em lâminas para observação micros-cópica. No entanto, a cor em vida é também utilizada.

I. Sifões muito curtos, aproximadamente tão longoscomo largos na base, sem rebordo. Cauda capita-da. Placa anal bilobada. Abdome com 6 ou maistubérculos dorsais pigmentados em cada um dossegmentos I~ a 5~, cada tubérculo originando umacerda longa e capitada. Filamcnto terminal das an-tenas de comprimento aproximadamente igual aoda base do VI segmento. Formas aladas com asasas com nervuras espessas, sombreadas, especi-almente nos topos. Em vida, de cor amarelo-pálidoa verde muito claro .Therioaphis trifolii (Monell) r. maculata (Buckton)

Sifões alongados, muito mais longos que largos nabase, com rebordo. Cauda alongada, digitada. Pla-ca anal arredondada. Cordas não capitadas, nãoimplantadas em tubérculos dorsais pigmentados.Filamento terminal das antenas distintamentemais longo do que a base do VI segmento. Formasaladas com asas com nervação não sombreada .. 2

i. ,Revta bras. Eni. 41 Íl·41. 1995

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~~'1~ ,.j?'

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288 Sousa-Silva et aI.

" ~2( I), . ~Sifões e cauda negros. Antenas mais curtas do que o

corpo. Formas ápteras adultas com abdome dor-salmente esclerotinizado e pigmentado de negro,brilhante; ninfas acinzentadas, pruinosas. Formasaladas com placas transversais pigmentadas nolado dorsal do abdome, por vezes, reduzidas. Emvida de cor negra Aphis craccivora Koch

Sifões e cauda pálidos, os primeiros, por vezes, umpouco escurecidos, pelo menos no ápice. Antenasmais longas do que o corpo. Abdome pálido .... 3

3(2). Antenas pálidas, apenas por vezes escurecidas no VIsegmento. I segmento das antenas com 6-8 cerdas.Base do VI segmento das antenas de comprimentoinferior a 1,5 vezes o comprimento do segmentoapical do rostro. Diâmetro dos sifões a meio com-primento distintamente maior do que igual diâme-tro do 11I segmento das antenas. cauda com 6-7cerdas. Em vida de cor verde-azu lada .................. Acyrthosiphon kondoi Shinji

Antenas com a articulação entre os segmentos 11Ie'IV, por vezes, também entre o IV e V, escurecida,o VI escurecido ou não. I segmento antenal com12-23 cerdas. Base do VI segmento das antenas decomprimento superior a 1,5 vezes o comprimentodo segmento apical do rostro. Diâmetro dos sifõesa meio comprimento quando muito igual aodiâmetro a meio do 11Isegmento das antenas. Cau-da com g-13 cerdas. Em vida de cor verde ................. Acyrthosiphon pisum (Harris)

Agradecimentos. Ao biólogo Marcelo Teixeira Tavares pelaidentificação de Aphidius avi e ao Centro de Pesquisa Pecuária do Sudestepelas facilidades concedidas.

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