adriano de paiva reis · 2019. 8. 31. · pedagogia histórico-crítica na construção da...
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Adriano de Paiva Reis
Carla Cristina Carvalho Pereira
Leonardo Docena Pina
Renata Aparecida Alves Landim
(Organizadores)
Pedagogia Histoacuterico-Criacutetica e
Educaccedilatildeo Fiacutesica
Juiz de Fora
2013
Este livro ou pane dele naacuteo pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizaccedilatildeo expressa da editora
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U N IV E R S ID A D E FED ERA L D E JU IZ D E FORA
R e i t o r
H e n r iq u e D u q u e d e M i r a n d a C hav e s F i lh o
V ic e -R e it o r
Joseacute L u iz R e z e n d e P e re ira
EDITORAU F J F
D iret o r da E d it o r a U F JF P residen t e d o
C o n s e l h o Ed it o r ia l
A n t e n o r Sa l ze r R o d r ig u e s
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St u d io E d it o ra UFJF
P r o jet o G ragrave i ic o E d it o r a ccedil atilde o C apa
A l e x a n d r e Aacute lvaro S ilva
R evisaacuteo d e P ortu gu ecircs
Ja c k s o n L e o c aacute d io
Rm sAo de N orm as T eacutecn icas
N a t h a l ie Reis I ta b o r a I
Pedagogia hisloacuterico-criacutetica e Educaccedilatildeo Fiacutesica Adriano de Paiva Reis
[ et al] organizadores - Juiz de Fora Editora UFJF 2013
196 p
ISBN 978-85-7672-175-8
1 Pedagogia - Histoacuteria - Critica 2 Pedagogia criacutetica 3
Educaccedilatildeo fisica 1 Reis Adriano dc Paiva
CDU 37013(091)
Este livro obedece agraves normas do Acordo Ortograacutefico da Liacutengua Portuguesa promulgado pelo
Decreto n 6583 de 29 de setembro de 2008
E d i t o r a UFJF
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(32) 3229-76 46 secretariaeditoraulfcombr
distribuicaocditoraufjfedubr
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Prefaacutecio
Celi Nelza Zulke Tajfarel
Introduccedilatildeo_________________________________________________ 15
Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira Hajime Takeuchi
Nozaki Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim
Capiacutetulo I
Sobre a funccedilatildeo e especificidade da educaccedilatildeo escolar
no mundo contemporacircneo ________________________________________________________ 23
Andreacute Silva Martins
Capiacutetulo II
() ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e a formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos
cm busca dos fundamentos teoacutericos e metodoloacutegicos ___________________________17
Adriano de Paiva Reis Aacutelvaro de Azeredo Quelhas Carla Cristina Carvaliw
Pereira Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim
Capiacutetulo III
produccedilatildeo da cultura luacutedica em jogos eletrocircnicos____________________________63
Priscila Rocha Rodrigues Renata Aparecida Alves Landim Ihiago
Barreto Maciel e Victoria de Faacutetima de Mello
lt upiacutemlo IV
V ilt liltc)es entre esporte e sauacutede no capitalismo temati-
uniu ion tradiccedilotildees na educaccedilatildeo escolar________________________________________ 21
Carlos Eduardo de Souza Leonardo Docena Pina e Mocircnica Jardim Lopes
v gt laquo ip i l U I O V
O M M A como ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo____________________________________ 109
Adriano de Paiva Reis Graziany Penna Dias Rafael Loures dos Reis
Bellei e Renata Aparecida Alves Landim
Capiacutetulo VI
A voz da periferia o H ip H o p enquanto possibilidade de
trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ________________________________________129
Adriano de Paiva Reis Carta Cristina Carvalho Pereira Giovana de
Carvaliyo Castro Herbert Hischter Chaves de Paula Marcelo Silva dos Santos
Capiacutetulo VII
A disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutestica_____________________________149
Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel
Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees
Capiacutetulo V III
O lugar e hora do circo na escola reflexotildees sobre a reinven-
ccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircnea----------------------1Z1
Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira
e Frederico Duarte Gomes Tostes
Sobre os autores 191
PREFACIO
No momento em que os estudos sobre a escola capitalista demonsshy
tram a sua degeneraccedilatildeo e decomposiccedilatildeo o seu esvaziamento proposishy
tal e seu rebaixamento teoacuterico para desqualificar a formaccedilatildeo da classe
trabalhadora na mais tenra idade surge contraditoriamente fruto de
experiecircncias concretas no chatildeo desta mesma escola a obra organizada
por Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira Leonardo
Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim intitulada Pedagogia histoacuterico-criacutetica e Educaccedilatildeo Fiacutesica
Do que trata este livro que lhe confere uma singularidade iacutempar
em meio a confrontos e conflitos de classe cada vez mais acirrados
Como uma das autoras do Livro Metodologia do Ensino da
Educaccedilatildeo Fiacutesica (COLETIVO DE AUTORES 1992) e portanto
testemunha histoacuterica de um esforccedilo nacional de mais de 20 anos enshy
frentando a criacutetica a didaacutetica e a organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico
na escola capitalista reconheccedilo que o propoacutesito dos autores do livro eacute
de vital importacircncia para a formaccedilatildeo escolarizada de crianccedilas e jovens
ms quais tecircm sido negados os conteuacutedos que permitem a humanizashy
ccedilatildeo como o satildeo os conteuacutedos da cultura corporal
Como demonstram os autores da obra - jovens intelectuais mili-
lanies culturais de formaccedilatildeo marxista - natildeo satildeo quaisquer conteuacutedos
I serem tratados na escola que garantiratildeo a humanizaccedilatildeo e natildeo eacute qual-
lt | i u t meacutetodo no trato com o conhecimento que asseguraraacute a formaccedilatildeo
lt miiK ipatoacuteria Satildeo conteuacutedos tratados com criteacuterios considerando a
iriicse o desenvolvimento a atribuiccedilatildeo de sentidos e significados agraves ati-
iilules corporais ao longo do percurso histoacuterico da humanidade Cri-
laquo nos que dizem respeito agraves capacidades cognoscentes e cognoscitivas
laquolltraquo estudantes compreendendo-as na totalidade do ser humano con-
lotmc e xplica a teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural a contemporanei-
raquobulllt laquolos conteuacutedos e seu conhecimento por sucessivas aproximaccedilotildees ao
iltlt n ui lura corporal que permitem os saltos qualitativos do
nm i iilo sincreacutetico e da mera sistematizaccedilatildeo de dados da realidade
i Ugtlt i u h t de novas siacutenteses qualitativamente superiores com autodeshy
terminaccedilatildeo e criatividade Aprimora-se assim pelas atividades corposhy
rais tratadas com o rigor do meacutetodo toda a capacidade do ser humano
Percurso este que deve ser recuperado por cada um de noacutes sem o qual
natildeo nos humanizamos E isto eacute possiacutevel pela educaccedilatildeo principalmente
escolarizada que forma seres humanos porque incide nas suas funccedilotildees
psicoloacutegicas superiores pelas atividades relacionais com os demais seres
humanos com a natureza com a cultura e consigo mesmo Por isto
esta obra eacute de fundamental importacircncia
Na introduccedilatildeo os autores Adriano de Paiva Reis Carla Cristina
Carvalho Pereira Hajime Takeuchi Nozaky Leonardo Docena Pina e
Renata Aparecida Alves Landim tratam de refletir sobre os limites e
possibilidades da discussatildeo sobre a didaacutetica da Educaccedilatildeo Fiacutesica Assushy
mem os autores a posiccedilatildeo teoacuterica e reconhecem que a ldquoperspectiva da
reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal presente no livro Metodologia
do Ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e denominada por noacutes de abordagem
Criacutetico-superadora foi eacute e seraacute um marco enquanto referecircncia mais
desenvolvida fundamentada em uma teoria marxista de educaccedilatildeo na
teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural na teoria do conhecimento mate-
rialista-histoacuterica-dialeacutetica e na Pedagogia histoacuterico-criacutetica
Justificam e assumem assim os autores que a Educaccedilatildeo Fiacutesica
ao transmitir os conhecimentos historicamente acumulados sobre a
cultura corporal se justifica na escola por socializar um conhecimento
essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade
A partir destas posiccedilotildees iniciais enfrentam o desafio e as difishy
culdades de organizarplanejarsistematizar o ensino da Educaccedilatildeo
Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corshy
poral Tensionam durante a obra o par dialeacutetico conteuacutedo-meacutetodo
modulador de alteraccedilotildees significativas na organizaccedilatildeo do trabalho
pedagoacutegico na salaquadra de aula e na escola
O trabalho com os professores da educaccedilatildeo baacutesica demonsshy
tra que aleacutem dos problemas na formaccedilatildeo faltam referecircncias conshy
cretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas com os diversos
conteuacutedos da cultura corporal E nesta busca lanccedilam-se os autoshy
res nos trazendo uma contribuiccedilatildeo de grande relevacircncia
O que eacute descrito no livro eacute fruto de um trabalho coletivo de mais de 20
professores e que ganha sistematizaccedilatildeo nos escritos destes jovens professores
que se dispuseram a ampliar os conhecimentos a respeito da metodologia
Criacutetico-superadora aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal
Tratam portanto da criacutetica agrave didaacutetica mas natildeo com a pretensatildeo
de resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
que estatildeo relacionados com as condiccedilotildees de vida e de trabalho dos
professores e estudantes Ou seja reconhecem as determinaccedilotildees da
economia poliacutetica que pesam sobre a escola e que natildeo seraacute somente
a iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores que resolveraacute a complexidade
que eacute o processo de destruiccedilatildeo das forccedilas produtivas a destruiccedilatildeo da
escola e a destruiccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico
Com muita honestidade cientiacutefica reconhecem os limites da
discussatildeo didaacutetica frente ao problema da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica
mas ressaltam a importacircncia da obra para ampliar as possibilidades
de transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar
O livro estaacute organizado em oito capiacutetulos que se articulam de forma
consistente e coerente Inicialmente os autores propotildeem uma discussatildeo
de caraacuteter mais geral abordando a funccedilatildeo e especificidade da escola e da
Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemporacircneo A partir da delimitaccedilatildeo clara
da concepccedilatildeo de educaccedilatildeo e de Educaccedilatildeo Fiacutesica que defendem passam
entatildeo a discutir a praacutetica pedagoacutegica atraveacutes de uma seacuterie de artigos sobre
possibilidades de temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos da cultura
inrporal - jogos esporte luta ginaacutestica danccedila e circo
() texto assinado por Andreacute Silva Martins trata de questionar a
Iunccedilatildeo social da escola e dentro dela o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica
lis natildeo o faz desprovido de dados que permitem constatar e explicar
ltmio a Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar foi uma ativida-
llt lt tijltgt objetivo central era promover o desenvolvimento da aptidatildeo
i ilt j ltgt lt|iklsquo foi alterado como foram alteradas as bases econocircmica
| x raquoI i i h i da sociedade brasileira que implicaram em alteraccedilotildees na
oli i i onsequentemente na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar
lt K iinores do texto sobre ldquoO ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e
(bulliniHio de sujeitos histoacutericos em busca dos fundamentos
teoacutericos e metodoloacutegicosrdquo tratam de demonstrar o surgimento
de propostas com outros princiacutepios definidores para a praacutetica
pedagoacutegica nos idos dos anos 1980 e 1990 Tratam das propostas
demonstrando nexos e relaccedilotildees entre a metodologia do ensino
as teorias educacionais pedagoacutegica a teoria do conhecimento e
o projeto histoacuterico Anunciam assim em um trabalho coletivo
novas bases da Educaccedilatildeo Fiacutesica na Rede de Ensino
Com base nos estudos de Saviani (1987) sobre Escola e Deshy
mocracia satildeo discutidas as tendecircncias da educaccedilatildeo e levanta-se de
iniacutecio a hipoacutetese de que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas
ainda possuem um papel a cumprir mdash contribuir na superaccedilatildeo do
capitalismo com o que temos pleno acordo
Ao tecer criacuteticas agraves concepccedilotildees sobre a educaccedilatildeo escolar o livro
traz uma contribuiccedilatildeo agrave educaccedilatildeo em geral e para todas as aacutereas de coshy
nhecimento que se organizam no interior da escola Defende-se por
fim a finalidade da educaccedilatildeo escolar para a emancipaccedilatildeo humana
Ao apresentar a perspectiva marxista de emancipaccedilatildeo humana
Aacutelvaro de Azeredo Quelhas Adriano de Paiva Reis Carla Cristina
Carvalho Pereira Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves
Landim recuperam os elementos histoacutericos apresentados por claacutessishy
cos como Marx e Engels que permitem afirmar a existecircncia sim de
uma teoria marxista da educaccedilatildeo Teoria esta que vem sendo sisteshy
maticamente negada na formaccedilatildeo dos professores A partir da base
teoacuterica mais geral adentram nas sistematizaccedilotildees sobre Educaccedilatildeo e
Trabalho para por fim reconhecer a importacircncia da mediaccedilatildeo da
Pedagogia histoacuterico-criacutetica na construccedilatildeo da metodologia do ensino
dos conteuacutedos especiacuteficos da cultura corporal na escola destacando
a obra Metodologia do Ensino de Educaccedilatildeo Fiacutesica do Coletivo de Aushy
tores (1992) obra onde eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal visando elevar a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enshy
quanto sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em
que vive Para tanto parte-se da praacutetica social que eacute problematizada
pela constataccedilatildeo sistematizaccedilatildeo compreensatildeo e explicaccedilatildeo cientiacutefishy
ca do real visando a praacutexis revolucionaacuteria criativa superadora o que
somente eacute possiacutevel com a ampliaccedilatildeo aprofundamento do conhecishy
mento historicamente acumulado e a autodeterminaccedilatildeo dos estushy
dantes Daiacute a relevacircncia social do trato com os conteuacutedos segundo
a teoria do conhecimento dialeacutetica-materialista-histoacuterica Portanto
natildeo seraacute qualquer conteuacutedo e muito menos qualquer meacutetodo para
tratar o conhecimento que permitiraacute a elevaccedilatildeo da capacidade teoacuterishy
ca dos estudantes E necessaacuterio o meacutetodo explicado e demonstrado
por Marx e Engels aplicado ao ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica na escola
- o meacutetodo materialista histoacuterico-dialeacutetico enquanto loacutegica e teoria
do conhecimento
Nos capiacutetulos seguintes a coerente e consistente abordagem
teoacuterica eacute demonstrada no trato com ldquoA produccedilatildeo da cultura luacutedica
em jogos eletrocircnicos rdquo texto de autoria de Renata Aparecida Alves
Landim Victoacuteria de Faacutetima de Mello Priscila Rocha Rodrigues e
Thiago Barreto Maciel Os autores partem da praacutetica social conshy
creta para chegar a uma nova siacutentese superior sobre este conteuacutedo
permitindo agraves crianccedilas e jovens se apropriarem de elementos da
cultura que por si soacute natildeo se datildeo a conhecer
No texto de autoria de Leonardo Docena Pina Carlos Edushy
ardo de Souza Mocircnica Jardim Lopes eacute demonstrado o meacutetodo de
elevaccedilatildeo da capacidade de reflexatildeo dos estudantes sobre a cultura
inrporal no trato com o conteuacutedo esporte e sauacutede O texto intitu-
lido ldquoAs relaccedilotildees entre esporte e sauacutede no capitalismo tematizando
i oiuradiccedilotildees na educaccedilatildeo escolarrdquo demonstra todo o processo que
v ulmina na nova siacutentese qualitativamente superior ao conhecimento
lt aoacuteiico sincreacutetico sobre o tema demonstrado no iniacutecio
Para tratar do conteuacutedo lutas delimitou-se ldquoO MM A como
nova lace da luta espetaacuteculordquo Os autores Renata Aparecida Alves Lanshy
dim Adriano de Paiva Reis Grazyani Penna Dias e Rafael Loures dos
K r Hcllei usaram com rigor o meacutetodo partindo da praacutetica social e a
bull u iornuido apoacutes um processo de problematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de
1 11u i i i i k i u o s sem os quais natildeo se explica o fenocircmeno atual das lutas
thim io ao conteuacutedo danccedila os autores Carla Cristina Carvalho
INlt ii i iliimo de Paiva Reis Giovana de Carvalho Castro Marcelo
monstrar a loacutegica no trato com o conhecimento dentro da rigorosidade
do meacutetodo Demonstram tambeacutem a elevaccedilatildeo do pensamento teoacuterico
dos estudantes sobre o assunto O texto ldquoA voz da periferia o Hip Hop
enquanto possibilidade de trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo eacute um
primor e contribuiraacute muito para consubstanciar uma abordagem mais
rigorosa de conteuacutedos contemporacircneos nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
No trato com o conteuacutedo da ginaacutestica no capiacutetulo intitulado
ldquoA disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutesticardquo os autores
Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel Roshy
drigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees conseguem elevar a
capacidade dos estudantes de elaborarem uma siacutentese qualitativa no
pensamento que permitiraacute a autodeterminaccedilatildeo para a praacutetica corposhy
ral de um conteuacutedo vital e que vem sendo negligenciado na escola
A retomada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica do conteuacutedo circo
conforme propotildeem Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvashy
lho Pereira e Frederico Duarte Gomes Tostes demonstra como um
conteuacutedo histoacuterico que data na origem dos tempos do feudalismo
pode adquirir um sentido e um significado humanamente elevado
pelo entendimento compreensatildeo e elaboraccedilatildeo de novas possibilidashy
des de accedilatildeo No trato com o conteuacutedo das atividades circenses no
texto intitulado ldquoO lugar e hora do circo na escola reflexatildeo sobre
a reinvenccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircneardquo os
autores demonstram o criteacuterio da rigorosidade e seriedade cientiacutefica
para tratar de um conteuacutedo da cultura que nos permite conhecer
compreender explicar e criar possibilidades riquiacutessimas de atividashy
des culturais com sentido e significado humanizante
Prezados leitores ressalto que esta obra eacute singular relevante e
vital porque como dizem os autores em um dos textos ldquoEm tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas as esferas da vida a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda maior Epreciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabalhadora construshyamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contribuindo para a desmistifiacutecaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta rdquo
12
tivos de Autores no Brasil e quiccedilaacute na Ameacuterica Latina que de norte
a sul de leste a oeste estatildeo recuperando desenvolvendo utilizanshy
do outros paracircmetros teoacutericos-metodoloacutegicos sintonizados com oushy
tro projeto histoacuterico superador agrave loacutegica do capital e portanto com a
perspectiva de formaccedilatildeo humana emancipatoacuteria significando isto a
superaccedilatildeo da sociedade de classes
Com esta obra juntamente com outras de igual propoacutesito
consolida-se no Brasil uma Educaccedilatildeo Fiacutesica de base marxista Cons-
troi-se assim tambeacutem pela via do trabalho pedagoacutegico a subjetivishy
dade humana visto que as condiccedilotildees objetivas para a revoluccedilatildeo jaacute
estatildeo postas faltam as condiccedilotildees subjetivas As forccedilas produtivas
deixaram de crescer e estatildeo em franca destruiccedilatildeo A isto reage este
jovem COLETIVO DE AUTORES que nos alenta a seguirmos
perseguindo em tempos de transiccedilatildeo um outro modo de produccedilatildeo
da vida Que todas as crianccedilas jovens e adultos das escolas puacuteblishy
cas na cidade e no campo tenham garantida esta qualidade aqui
demonstrada no ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica
Celi Nelza Zuumllke Tajfarel
(Universidade Federal da Bahia - UFBA)
INTRODUCcedilAtildeO
LIMITES E POSSIBILIDADES DA DISCUSSAtildeO SOBRE DIDAacuteTICA DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA
Adriano de Paiva Reis
Carla Cristina Carvalho Pereira
Hajime Takeuchi Nozaki
Leonardo Docena Pina
Renata Aparecida Alves Landim
Por mais de um seacuteculo a histoacuteria da
Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar
foi marcada por sua caracterizaccedilatildeo como uma
atividade cujo objetivo central era promover
0 desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica dos indishy
viacuteduos A partir do final da deacutecada de 1970
acompanhando um amplo movimento de luta
pela redemocratizaccedilatildeo da sociedade brasileira
assistimos a um periacuteodo de denuacutencias sobre o
atrelamento da aacuterea a uma concepccedilatildeo exclushy
sivamente bioloacutegica de homemmovimento
que cumpria um papel conservador no que
tange agraves relaccedilotildees sociais
Apoacutes esse periacuteodo de criacuteticas sobretudo
ao final dos anos de 1980 e iniacutecio dos anos
de 1 990 comeccedilam a surgir novas propostas
para a Educaccedilatildeo Fiacutesica definindo princiacutepios
identificadores de uma nova praacutetica pedashy
goacutegica Desde entatildeo podemos evidenciar
diversos avanccedilos no sentido da construccedilatildeo
di Educaccedilatildeo Fiacutesica como componente cur-
liiulnr tanto no plano da legislaccedilatildeo e das
01 ieniaccedilotildees educacionais como no plano das
propostas construiacutedas e implementadas em diversas redes de ensino
pelo paiacutes Mas no que pese todo esse avanccedilo produzido a crise no campo teoacuterico (FRIGOTTO 2001) acabou por influenciar a redefishy
niccedilatildeo das propostas pedagoacutegicas criacuteticas da aacuterea que passaram a ser
consideradas muitas vezes insuficientes inadequadas e ateacute mesmo
ultrapassadas para atender agraves supostas demandas de um novo mundoConsiderando que os fundamentos centrais da sociedade na qual
vivemos se mantecircm presentes ainda hoje embora com bases renovashy
das compreendemos que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas
ainda possuem um papel a cumprir qual seja o de contribuir para a
superaccedilatildeo do capitalismo - e de todas as formas de opressatildeo que se
intensificam nesse modo de produccedilatildeo da existecircncia humana1
Nessa linha reconhecemos que a perspectiva da reflexatildeo criacutetica soshybre a cultura corporal (COLETIVO DE AUTORES 1992)2 tambeacutem
conhecida como ldquoabordagem Criacutetico-superadorardquo foi um marco mdash e
ainda se manteacutem como referecircncia mais desenvolvida mdash para a Educashy
ccedilatildeo Fiacutesica uma vez que ao se fundamentar na Pedagogia histoacuterico-
-criacutetica articulou esse componente curricular ao que haacute de mais avanshy
ccedilado no debate sobre o papel da escola sendo capaz de entrelaccedilar a
formaccedilatildeo humana aos interesses e necessidades da classe trabalhadora
A partir da delimitaccedilatildeo de uma aacuterea de conhecimento denominada
de cultura corporal essa perspectiva definiu a Educaccedilatildeo Fiacutesica como
disciplina responsaacutevel por promover na escola uma tematizaccedilatildeo soshy
bre a relaccedilatildeo dos grandes problemas sociais contemporacircneos com os
conteuacutedos jogos danccedilas lutas ginaacutestica esporte malabarismo con-
torcionismo miacutemica e outros (COLETIVO DE AUTORES 1992)
A transmissatildeo dos conhecimentos historicamente acumulados sobre
a cultura corporal define a especificidade pedagoacutegica da Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica sua presenccedila na escola justifica-se por socializar um saber que
1 Adotamos a classificaccedilatildeo das pedagogias - em criacuteticas e natildeo criacuteticas - elaboradas por Saviani
(2006)
2 Tendo em visra o processo histoacuterico que envolveu a elaboraccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do livro
Metodologia do Ensino da Educaccedilatildeo Coletivo de Autores foi o termo adotado originalmente
para designar sua autoria expressando um sentido poliacutetico e o esforccedilo de ratificar o caraacuteter
coletivo e o projeto histoacuterico com o qual a obra estava articulada no contexto de sua
publicaccedilatildeo pela editora Cortez em 1992
16
natildeo eacute transmitido pelas demais disciplinas mas que se constitui como
elemento essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade
Apesar do avanccedilo teoacuterico promovido pelas recentes discussotildees
sobre a Pedagogia histoacuterico-criacutetica e a metodologia Criacutetico-supera-
dora deparamo-nos com inuacutemeros depoimentos de professores da
educaccedilatildeo baacutesica sobre a dificuldade de organizarplanejarsistematishy
zar o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo
criacutetica sobre a cultura corporal Aleacutem das criacuteticas aos cursos de forshy
maccedilatildeo de professores da aacuterea muitas vezes voltados aos campos natildeo
escolares de atuaccedilatildeo e subordinados agrave dimensatildeo predominantemenshy
te bioloacutegica de ser humano os professores tecircm se queixado da falta
de referecircncias concretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas
com os diversos conteuacutedos da cultura corporal3
A constataccedilatildeo desses problemas e desafios impulsionou a organishy
zaccedilatildeo de um grupo - composto predominantemente por professores
da rede puacuteblica municipal de Juiz de Fora mdash com o objetivo de amshy
pliar os conhecimentos a respeito da metodologia Criacutetico-superadora
aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal Hoje o grupo eacute
formado por cerca de vinte professores e conta com assessoria de dois
docentes da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz
de Fora4 os quais tecircm dialogado conosco ao longo do processo
Sem viacutenculo institucional nem apoio financeiro para pesshy
quisa o grupo tem se dedicado agrave realizaccedilatildeo de estudos pesquisas
e experiecircncias voltadas ao aprimoramento de nossa praacutetica pedashy
goacutegica na escola Apoacutes dois anos de trabalho conjunto sentimos
a necessidade de dar um passo a mais qual seja o de iniciar a soshy
cializaccedilatildeo das experiecircncias pedagoacutegicas desenvolvidas nas escolas
municipais de Juiz de Fora A elaboraccedilatildeo dessa obra surgiu porshy
tanto a partir da necessidade de ampliar nossos conhecimentos
sobre os conteuacutedos da cultura corporal e suas possibilidades de
abordagem metodoloacutegica na escola A constituiccedilatildeo de um grupo
envolvendo professores da rede puacuteblica municipal e federal pershy
3 A respeito da problemaacutetica referente agrave formaccedilatildeo de professores no contexto atual
sugerimos a leitura dos estudos de Costa (2009) Arce (2000) e Teixeira (2009)
4 Estamos nos referindo aos professores Aacutelvaro de Azeredo Quelhas e Andreacute Silva Martins
mitiu o estudo debate e sistematizaccedilatildeo de experiecircncias pedagoacuteshy
gicas desenvolvidas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Consideramos que a divulgaccedilatildeo dessas experiecircncias pode
constituir-se como instrumento para o aprimoramento da praacutetica
pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo soacute porque socializa os planos
de unidade desenvolvidos juntamente com textos de fundamenshy
taccedilatildeo teoacuterica de cada conteuacutedo trabalhado mas tambeacutem porque
contribui para que outros professores se insiram no debate consshy
truam novas experiecircncias eou discutam novas possibilidades
E importante destacar que ao reconhecermos a importacircncia do
debate sobre a didaacutetica para o aprimoramento do trabalho pedagoacutegishy
co nas escolas natildeo o consideramos suficiente para resolver o problema
do ensino na Educaccedilatildeo Fiacutesica Ou seja nossa iniciativa embora seja
importante e necessaacuteria natildeo tem a pretensatildeo nem a capacidade de
resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Aleacutem das limitaccedilotildees que envolvem muitos cursos de formaccedilatildeo
de professores encontramos outras determinaccedilotildees que acabam por
contribuir para que a escola natildeo cumpra seu papel de transmissatildeo do
conhecimento Embora natildeo sejamos capazes de reunir neste artigo
todos os problemas encontrados em grande parte das escolas da rede
puacuteblica municipal de ensino faz-se necessaacuterio destacar em linhas geshy
rais que as condiccedilotildees de vida (e de trabalho) de grande parte dos
professores e alunos natildeo satildeo muito favoraacuteveis Soma-se a isso o fato
de que as estruturas fiacutesicas precaacuterias recursos materiais insuficientes
grande nuacutemero de alunos por turmas e pouco reconhecimento profisshy
sional tendem a dificultar ainda mais o desenvolvimento do trabalho
do prazer e da vontade de lecionar Tambeacutem natildeo podemos deixar de
destacar que em muitos casos a Educaccedilatildeo Fiacutesica assume o posto de
disciplina de segundo escalatildeo sobretudo nas escolas de Educaccedilatildeo Inshy
fantil e dos anos iniciais do ensino fundamental onde os professores
de Educaccedilatildeo Fiacutesica Artes e Muacutesica por exemplo dificilmente partishy
cipam do conselho de classe o que evidencia a (des)valorizaccedilatildeo de sua
atividade docente na escola frente outras disciplinas como Portuguecircs
e Matemaacutetica consideradas mais importantes sob a oacutetica do capital
18
Consideramos que o professor mdash das diferentes aacutereas do conhecimento
- tem o papel de transmitir o conhecimento cientiacutefico artiacutestico e filosoacutefico
aos alunos mas natildeo compreendemos que sua funccedilatildeo possa ser tatildeo facilshy
mente exercida como supotildeem os defensores do neoprodutivismo para os
quais se espera que o docente exerccedila todo um conjunto de funccedilotildees com o
maacuteximo de produtividade e o miacutenimo de dispecircndio isto eacute com modestos
salaacuterios5 Compreendemos conforme destaca Saviani (2011) que se o proshy
fessor fosse bem remunerado no acircmbito de uma carreira docente que lhe
garantisse jornada integral em uma uacutenica escola ele poderia exercer sem
maiores problemas muitas funccedilotildees a ele atribuiacutedas Mas natildeo eacute esse o caso
Analisando a precarizaccedilatildeo do trabalho do professor Costa (2009)
evidencia que as consequecircncias da alienaccedilatildeo na atividade docente natildeo
se restringem ao ensino e a aprendizagem mas envolvem a proacutepria vida
do professor A autora constata que o processo de alienaccedilatildeo constroacutei
uma relaccedilatildeo professoresalunos distorcida em que os
segundos passam a imputar aos professores o tratamenshy
to que deveriam dar aos reais representantes da violecircnshy
cia do Estado burguecircs que os tem oprimido durante
toda a sua trajetoacuteria escolar E os professores passam
a ver os alunos como aqueles que materializam a falta
de respeito e o desprestiacutegio da categoria profissional na
sociedade nas manifestaccedilotildees de falta de respeito e ateacute
mesmo a violecircncia (COSTA 2009 p 72)
Natildeo obstante a alienaccedilatildeo do trabalho do professor ainda
gera desumanizaccedilatildeo o mais violento de todos os aspectos Conshy
forme afirma Costa (2009) o professor nem sempre tem a opccedilatildeo
de buscar outras formas para suprir sua subsistecircncia
Os seres humanos submetidos agrave alienaccedilatildeo mesmo vivenshy
do o sofrimento no trabalho o desgaste fiacutesico e mental a
dilapidaccedilatildeo moral ainda assim permanecem em relaccedilotildees
de trabalho destrutivas ateacute esgotarem os limites de suas
capacidades ou ateacute serem descartados pelo capital Nesse
momento em geral as consequecircncias vividas pelo trabalho
jaacute satildeo irreversiacuteveis Embora experimente a deterioraccedilatildeo de
sua sauacutede a negaccedilatildeo da natureza formativa da educaccedilatildeo
presente todos ograves dias nas ingerecircncias das mantenedoras e
5 Sobre o neoprodutivismo na educaccedilatildeo escolar brasileira conferir Saviani (2011)
do Estado na sua atividade laborai o professor natildeo pode
se furtar ao trabalho como meio de subsistecircncia devido agrave
sua dependecircncia total da vida urbana e do consumo que
ela impoacutee assim como ocorre com todas as outras categoshy
rias do proletariado (COSTA 2009 p 76-77)
Ao abordar essas reflexotildees buscamos explicitar nossa discordacircncia em
relaccedilatildeo agraves perspectivas ideoloacutegicas predominantes defensoras da ideia de
que o ecircxito da escola e da poliacutetica educacional que a orienta depende apenas
da iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores Atualmente fala-se muito no proshy
fessor como protagonista da mudanccedila mas natildeo lhe satildeo oferecidas muitas
condiccedilotildees para isso Defende-se que o professor assuma uma postura inoshy
vadora desenvolva praacuteticas de ensino renovadas busque o conhecimento
produzido ainda que as condiccedilotildees sejam muito desfavoraacuteveis para tanto
Conforme alerta Duarte (2006) a ideia comumente defendida pelos meios
de comunicaccedilatildeo eacute a de que o professor deve ser ldquogente que fazrdquo
Naacuteo eacute mero acaso que atualmente seja taacuteo difundido em
educaccedilatildeo o discurso voltado para as caracteriacutesticas definishy
doras de um bom professor de um professor que reflete
sobre sua praacutetica e realiza um trabalho de qualidade messhy
mo em condiccedilotildees adversas Uma variante desse discurso eacute
aquela em que em vez de falar-se de um professor que eacute
gente que faz fala-se de uma escola em que os professores
coletivamente de preferecircncia de matildeos dadas com a comushy
nidade transformam em exemplo de sucesso escolar Em
nome da superaccedilatildeo dos discursos imobilistas eacute adotado
um discurso no qual a passagem do fracasso ao sucesso
torna-se uma questatildeo de forccedila de vontade de alguns indishy
viacuteduos ou melhor de um coletivo de uma comunidade
O resultado ideoloacutegico pretendido ou natildeo eacute bastante
claro o descompromisso do Estado a despolitizaccedilatildeo dos
problemas educacionais e a abdicaccedilatildeo do ideal de lutar por
uma transformaccedilatildeo radical da sociedade pela superaccedilatildeo
do capitalismo e pela construccedilatildeo de uma sociedade sociashy
lista A saiacuteda passa a ser a das soluccedilotildees locais comunitaacuterias
individuais (DUARTE 2006 p 141)
Feitas essas consideraccedilotildees sintetizamos nossa compreensatildeo soshy
bre os limites da discussatildeo didaacutetica que apresentamos neste livro
Trata-se de uma discussatildeo insuficiente se considerarmos o problema
da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica em sua radicalidade mas ao mesmo
20
tempo importante uma vez que pode ampliar as possibilidades de
transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica
O presente livro organizado numa perspectiva de unidade realiza
nos dois primeiros artigos uma discussatildeo de caraacuteter mais geral sobre a
funccedilatildeoespecificidade da escola e da Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemshy
poracircneo Os demais artigos abordam possibilidades de desenvolvimento
de praacuteticas pedagoacutegicas com temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos
da cultura corporal circo lutas ginaacutestica danccedila jogos e esporte
As experiecircncias pedagoacutegicas apresentadas foram desenvolvidas
com a segunda etapa do Ensino Fundamental e com o Ensino Meacuteshy
dio mas obviamente podem sofrer adaptaccedilotildees para serem tratadas
em outros niacuteveis de ensino Os artigos que tratam dos conteuacutedos da
cultura corporal nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica foram redigidos em subshy
grupos de autores coordenados pelos organizadores da obra e ao final
do processo todos os artigos foram lidos e discutidos coletivamente
Apesar de consideramos a capoeira como um conteuacutedo esshy
peciacutefico e importante da cultura corporal ela natildeo foi abordada
neste livro devido aos limites espaciais e temporais para conclushy
satildeo da obra No nosso planejamento inicial constava um artigo
especiacutefico para abordar esse conteuacutedo poreacutem com o andamento
do estudo constatamos que natildeo teriacuteamos tempo suficiente para
ibordaacute-lo Assim fazemos questatildeo de destacar que assumimos a
iiiscncia da capoeira como uma diacutevida e reafirmamos a necessida-
ilr de abordaacute-la em publicaccedilotildees e debates posteriores
( )s temas selecionados buscaram relacionar os conteuacutedos da cultura
iniporal a problemas sociais presentes na praacutetica social dos alunos bus-
i nulo ultrapassar a simples praacutetica pela praacutetica e promover uma reflexatildeo
i tiacutetii a sobre o modo como os jogos as lutas as danccedilas os esportes os
ru iacutecios ginaacutesticos as atividades circenses se expressam em nosso temshy
po I Vsse modo uma questatildeo que atravessou todos os planos de unidade
i i sltnuinte como a cultura corporal patrimocircnio da humanidade tem
I bull ipKgtpriada e subordinada agrave dinacircmica do consumo capitalista
Irsquooi iacuteim gostariacuteamos de registrar nossos agradecimentos pela
i pouibilizaccedilatildeo dos recursos para a publicaccedilatildeo desta ediccedilatildeo do
livro por meio do Fundo de Apoio agrave Pesquisa na Educaccedilatildeo Baacutesica
- FAPEB mdash da Prefeitura de Juiz de Fora A busca de um financiashy
mento puacuteblico e a distribuiccedilatildeo gratuita dessa obra estaacute relacionada
agrave nossa perspectiva de produccedilatildeoapropriaccedilatildeo coletiva do conhecishy
mento Agradecemos ainda a todos os professores e alunos que
estiveram envolvidos na realizaccedilatildeo desse projeto permitindo divishy
dir experiecircncias e construir conhecimentos que agora socializamos
neste livro
Referecircncias
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Anais Caxambu ANPED 2009 p 1-17
CAPIacuteTULO I
SOBRE A FUNCcedilAtildeO E ESPECIFICIDADE DA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR NO M UNDO CONTEMPORAcircNEO
Andreacute Silva Martins
O presente capiacutetulo tem por objetivo apreshy
sentar uma reflexatildeo sobre a funccedilatildeo e especificishy
dade da educaccedilatildeo escolar na atualidade Nossa
intenccedilatildeo mais ampla eacute problematizar as perspecshy
tivas relacionadas agrave funccedilatildeo social da escola e sua
especificidade no processo de formaccedilatildeo humashy
na procurando indicar uma alternativa poliacutetico-
-pedagoacutegica aos discursos e praacuteticas dominantes
As questotildees que orientam nossa reflexatildeo
podem ser assim descritas Qual a funccedilatildeo
social da instituiccedilatildeo escolar na atualidade
A instituiccedilatildeo escolar possui uma especificishy
dade frente os demais processos formativos
de nossa sociedade Quais satildeo os desafios da
Escola Puacuteblica brasileira no seacuteculo XXI
Para responder estas questotildees organizashy
mos o texto em trecircs partes Na primeira busshy
camos recuperar a gecircnese da instituiccedilatildeo escoshy
lar e sua especificidade no processo formativo
Em seguida realizamos uma anaacutelise sobre duas
concepccedilotildees que vecircm orientando a definiccedilatildeo da
finalidade da educaccedilatildeo escolar Por fim com
base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica apresentashy
mos uma siacutentese do que pode vir a ser a insshy
tituiccedilatildeo escolar na atualidade tendo em vista
os interesses da ampla maioria da populaccedilatildeo
Nossa expectativa eacute contribuir para as reflexotildees sobre o tema e oferecer
elementos para a compreensatildeo criacutetica da funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar
Sobre a gecircnese da instituiccedilatildeo escolar
A escola eacute uma instituiccedilatildeo social relativamente nova que se
consolidou e se popularizou a partir do processo de intensificaccedilatildeo
da complexidade da vida social gerada pelas mudanccedilas nas relaccedilotildees
sociais envolvendo o crescimento da urbanizaccedilatildeo e desenvolvimenshy
to do industrialismo sobre as formas tradicionais de estruturaccedilatildeo de
poder e de redefiniccedilatildeo das bases de produccedilatildeo material e simboacutelica
vinculadas agrave existecircncia humana Isso significa que a instituiccedilatildeo esshy
colar surge como expressatildeo cultural de um tempo histoacuterico com a
finalidade de assegurar uma especificidade na formaccedilatildeo humana
Antes da existecircncia da escola nas sociedades tradicionais os proshy
cessos formativos se realizavam diretamente nas dinacircmicas de constishy
tuiccedilatildeo da vida natildeo requerendo maiores exigecircncias muito menos ritos
formais para sua ocorrecircncia No cotidiano as trocas de conhecimentos
gerados pela experiecircncia geracional ou pela vida cotidiana de uma dada
comunidade constituiacuteam a base dos processos formativos necessaacuterios agrave
construccedilatildeo da vida A educaccedilatildeo fluiacutea nas dinacircmicas de trabalhovida
sem delimitaccedilotildees mais precisas de tempo e espaccedilo A experiecircncia e a
informalidade se constituiacuteam como referecircncias dos processos formatishy
vos Nessa dinacircmica o domiacutenio de conhecimentos sistematizados era
dispensaacutevel ao homem comum A formaccedilatildeo intelectual era restrita aos
pequenos grupos que atuavam em funccedilotildees administrativas e clericais
Quando muito com raras exceccedilotildees o acesso do povo aos rudimentos
da leitura e da escrita ficava circunscrito agraves iniciativas isoladas princishy
palmente a cargo de ordens religiosas que reforccedilavam a manutenccedilatildeo da
ordem estabelecida (FERREIRA 2001) ou a grupos de artesatildeos preoshy
cupados com a organizaccedilatildeo da produccedilatildeo (ENGUITA 1989)
O processo social poliacutetico e econocircmico de ruptura com a trashy
diccedilatildeo feudal protagonizada pela classe burguesa nas sociedades eushy
ropeias produziu novas determinaccedilotildees para que a formaccedilatildeo humana
ultrapassasse as referecircncias educativas precedentes Em outras pala-
24
vras a dinacircmica social emergente apresentava os primeiros sinais de
que a experiecircncia e a informalidade ofereciam sinais de esgotamenshy
to isso porque estavam em curso novas exigecircncias para organizar a
vida social e os meios necessaacuterios agrave sua existecircncia
A valorizaccedilatildeo do chamado ldquohomem-livrerdquo a ideia de progresso as
formas emergentes de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de mercadorias e a defesa da
propriedade privada no centro da vida social que foram sendo consolidadas
apoacutes as revoluccedilotildees burguesas exigiam novas referecircncias educativas Na conshy
cepccedilatildeo da classe emergente a massa populacional disforme e sem identishy
dade poliacutetico-ideoloacutegica precisava ser preparada para ocupar o seu lugar na
nova ordem a partir de novas regras sociais de vida e trabalho A imagem do
atraso representado pelo camponecircs isolado e restrito ao espaccedilo rural precishy
sava ser substituiacuteda pela simbologia do progresso representada pelo homem
urbano - trabalhador ldquolivrerdquo Organizado na cidade envolvido nas relaccedilotildees
comerciais de novo tipo e envolvido na passagem da oficina para manufashy
tura e desta para a induacutestria nascente o ldquonovo homemrdquo deveria ser disciplishy
nado socialmente para compreender os novos coacutedigos culturais Se para os
adultos da classe trabalhadora a vida urbana continha os elementos educashy
tivos da disciplina social capitalista principalmente os de caraacuteter repressivo
a educaccedilatildeo das crianccedilas urbanas para a vida social exigia um pouco mais O
surgimento da escola de massas tem suas origens vinculadas a esse processo
de longa duraccedilatildeo confirmada na consolidaccedilatildeo do periacuteodo histoacuterico denoshy
minado de modernidade A especificidade da escola residia na compreenshy
satildeo de que algo a mais deveria ser oferecido ultrapassando as experiecircncias
educativas realizadas pela famiacutelia pelas religiotildees pela convivecircncia
Em ritmos diversos a expansatildeo da instituiccedilatildeo escolar puacutebli-
1 foi se tornando uma realidade nas formaccedilotildees sociais em geral
viabilizada por meio do Estado capitalista Aleacutem da escolarizaccedilatildeo
obrigatoacuteria com extensatildeo restrita foram sendo instituiacutedas bases
rei ais para o ensino realizado na escola puacuteblica de massas O do-
miacutenkrdos rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo passou a
laei parte da formaccedilatildeo do trabalhador urbano O desafio era for-
1 1 1 i eorporcidade infantil (o sentirpensaragir) desde cedo dentro
ilo ideal do ldquohomem novordquo
As teacutecnicas de ensino e de controle bem como a organizaccedilatildeo do
espaccedilo e das rotinas marcaram a constituiccedilatildeo da escola moderna Sem
elidir outros processos educativos a instituiccedilatildeo escolar foi se tornando
importante instrumento do processo civilizatoacuterio capitalista
Enquanto a escola de massas assumiu a educaccedilatildeo das crianccedilas da
classe trabalhadora para o exerciacutecio da submissatildeo intelectual e moral
formando o cidadatildeo-trabalhador produtivo da modernidade outro tipo
de escola foi assegurado para a preparaccedilatildeo ampla de grupos de crianccedilas
e adolescentes da classe burguesa As distinccedilotildees fundamentais do proshy
cesso formativo dos dirigentes e dirigidos se expressaram no tempo de
escolarizaccedilatildeo no espaccedilo destinado agraves praacuteticas educativas bem como na
quantidade-qualidade de acesso aos conhecimentos sistematizados Inshy
distintamente a racionalizaccedilatildeo do processo pedagoacutegico buscou responshy
der agraves especificidades do papel econocircmico-poliacutetico das classes sociais
tendo como referecircncia a dinacircmica da vida urbano-industrial1 e a necesshy
sidade dos coacutedigos culturais Vale lembrar que o princiacutepio do dualismo
educacional jaacute havia sido traccedilado por John Locke no seacuteculo XVII antes
mesmo do advento da escolarizaccedilatildeo de massas (ENGUITA 1989)
Mesmo oferecendo um acesso restrito ao conhecimento sisshy
tematizado e assegurando uma formaccedilatildeo intelectual e moral para
a submissatildeo a escola para os trabalhadores foi sendo consolidada
nas formaccedilotildees sociais capitalistas a partir do reconhecimento de
sua contribuiccedilatildeo especiacutefica dentro do processo educativo mais
amplo Embora este processo tenha se dado em ritmo variado -
dependendo do reconhecimento da classe dominante sobre a im shy
portacircncia da ampliaccedilatildeo do domiacutenio dos coacutedigos culturais e das
lutas travadas em torno do acesso agrave educaccedilatildeo - a escola foi sendo
legitimada por sua especificidade educativa Sobre este processo
mais geral Ferreira (2001 p 193) observa que
Chegados agrave transiccedilatildeo do seacuteculo X IX para o seacutecushy
lo XX a burguesia sustenta e participa do poder
1 Enquanto a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo infantil da classe trabalhadora das cidades passou a
ser ordenada pelo menos enquanto tendecircncia em edificaccedilotildees projetadas para tal fim pela
adoccedilatildeo de turmas seriadas por programas bem definidos e com professores treinados a
educaccedilatildeo no campo ainda que concentrando boa parcela das crianccedilas seguiu marcada
pelo improviso de instalaccedilotildees de recursos didaacuteticos e de pessoal
mas hesita entre a cultura do passado e a dinacircmica
imposta pelo progresso A burguesia sabe por exshy
periecircncia proacutepria que nada eacute definitivo e uniforshy
me Mas tambeacutem sabe que a sociedade burguesa
precisa de ordem e estabilidade e que os interesshy
ses divergentes que encerra podem arruinaacute-la Ela
precisa por isso estar bem informada para agir
em conformidade com o momento Necessita soshy
bretudo de dominar os saberes que lhe asseguram
a administraccedilatildeo do poder Ela sabe que a compeshy
tecircncia eacute a qualidade chave do sucesso A escola
tem sido fundamentalmente uma instituiccedilatildeo cara
agrave burguesia Isso natildeo significa que natildeo tenha sido
uacutetil a outras forccedilas sociais e que natildeo tenha servido
interesses contraacuterios aos dos burgueses
A histoacuteria da escolarizaccedilatildeo na formaccedilatildeo social brasileira seshy
guiu pelo menos enquanto tendecircncia o movimento educacional
das formaccedilotildees capitalistas centrais No entanto considerando
que o Brasil foi palco de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo tardia sob
mediaccedilatildeo de uma revoluccedilatildeo burguesa de tipo natildeo-claacutessica (FERshy
NANDES 1976) explicada pelo conceito de revoluccedilatildeo passiva
(GRAMSCI 1999) e que isto resultou numa inserccedilatildeo subordinashy
da do paiacutes no cenaacuterio internacional eacute possiacutevel afirmar que a escola
puacuteblica de massas expressou em sua particularidade e com contrashy
diccedilotildees a opccedilatildeo poliacutetica da classe dominante brasileira
Basta considerar que enquanto os paiacuteses centrais jaacute haviam
avanccedilado no movimento de universalizaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo baacutesica
ainda no seacuteculo XIX no Brasil ao longo do seacuteculo XX predomishy
nou um processo restritivo de acesso dos trabalhadores agrave educaccedilatildeo
escolar Os que escaparam do analfabetismo em geral encontraram
barreiras objetivas para concluir o que denominamos hoje de Enshy
sino Fundamental Foi somente no limiar do seacuteculo XXI que este
niacutevel de escolarizaccedilatildeo foi universalizado2
2 O atraso educacional brasileiro pode ser explicitado nas questotildees legais que envolvem o Ensino
Meacutedio A Constituiccedilatildeo de 1988 - chamada por muitos de ldquoConstituiccedilatildeo Cidadatilderdquo - estabeleceu
no artigo 208 inciso II ldquoprogressiva extensatildeo de obrigatoriedade e gratuidade do ensino meacutediordquo
mesmo diante dos sinais de mudanccedilas poliacuteticas e econocircmicas significativas no mundo capitalista
O Ensino Meacutedio foi projetado para poucos naquele contexto Somente em 2009 por meio da
Emenda Constitucional ndeg 59 este niacutevel de ensino se tornou obrigatoacuterio no paiacutes
w avanccedilo lento e restritivo da escolarizaccedilatildeo brasileira foi resultado
das relaccedilotildees de poder travadas ao longo do seacuteculo XX mediadas pelas
relaccedilotildees de produccedilatildeo Predominava na classe dominante a compreenshy
satildeo de que o acesso agrave educaccedilatildeo deveria ser programado para atender o
miacutenimo necessaacuterio ao padratildeo de qualificaccedilatildeo exigido pela dinacircmica da
sociedade urbano-industrial em seu desenvolvimento tecnoloacutegico e exishy
gecircncias poliacuteticas e ideoloacutegicas Esse posicionamento contrastava com as
lutas operaacuterias do iniacutecio do seacuteculo XX que reivindicavam acesso agrave edushy
caccedilatildeo puacuteblica e com a manifestaccedilatildeo dos signataacuterios do ldquoManifesto dos
Pioneiros da Educaccedilatildeordquo de 1932 que reivindicava uma escola puacuteblica
de qualidade para todos Contudo na correlaccedilatildeo de forccedilas e consideshy
rando a dinacircmica das relaccedilotildees de produccedilatildeo para a grande maioria o
acesso ao conhecimento sistematizado natildeo ultrapassou o domiacutenio dos
rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo A ideia de que a escolashy
rizaccedilatildeo deveria se constituir num patrimocircnio de poucos predominou
Em que pesem o atraso educacional e as restriccedilotildees de acesso
agrave escola puacuteblica a historiografia da educaccedilatildeo brasileira por reshy
cortes e bases epistemoloacutegicas distintas apresenta fartos elemenshy
tos que demonstram a ligaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar e projeto
civilizatoacuterio conduzido pela classe dominante no paiacutes desde o
iniacutecio do seacuteculo XX confirmando a especificidade da instituiccedilatildeo
escolar no processo de formaccedilatildeo humana
Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar as concepccedilotildees dominantes
Apesar do reconhecimento social sobre a importacircncia e esshy
pecificidade da instituiccedilatildeo escolar no processo educativo mais
amplo eacute necessaacuterio observar que existem divergecircncias quanto agrave
finalidade da educaccedilatildeo escolar Para enfrentar esta questatildeo opshy
tamos por um recorte de duas das mais relevantes formulaccedilotildees
contemporacircneas sobre o tema Nossa opccedilatildeo metodoloacutegica conshy
siste na caracterizaccedilatildeo e anaacutelise das concepccedilotildees procurando evishy
denciar suas implicaccedilotildees para a formaccedilatildeo humana
28
Concepccedilatildeo 1 A finalidade da educaccedilatildeo escolar eacute preparar recursos humanos para impulsionar o desenvolvimento econocircmico
Esta formulaccedilatildeo foi apresentada no cenaacuterio brasileiro nos anos
de 1970 no contexto do regime ditatorial viabilizado pelo golpe em-
presarial-militar de 1964 Traduzindo uma teoria surgida nos Estados
Unidos o bloco no poder do regime ditatorial e seus intelectuais se
encarregaram de viabilizar que os principais enunciados da teoria esshy
tadunidense fossem veiculados para ordenar a funccedilatildeo da escola a parshy
tir da redefiniccedilatildeo da poliacutetica de educaccedilatildeo da legislaccedilatildeo educacional
da organizaccedilatildeo curricular e das praacuteticas pedagoacutegicas A grande meta
era subordinar a educaccedilatildeo escolar ao projeto de desenvolvimento ecoshy
nocircmico Mas o que significa estabelecer que a funccedilatildeo da escola eacute conshy
tribuir para o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes
A teoria acima referida foi sistematizada porTeodoro Schultz
(1963 1971) Parte da premissa de que o conceito de ldquocapitalrdquo se
refere natildeo soacute agraves coisas materiais mas tambeacutem aos seres humanos
Schultz se refere agraves habilidades adquiridas principalmente pela
educaccedilatildeo escolar que interferem na atividade produtiva O conheshy
cimento c as habilidades teacutecnicas seriam expressotildees particulares de
ldquocapitalrdquo uma vez que se vinculam ao aumento da capacidade de
produccedilatildeo A preocupaccedilatildeo do autor com o alargamento do conceishy
to de capital se vincula agrave busca por compreender os diferenciais de
produtividade gerados pelo esforccedilo humano O resultado de sua
formulaccedilatildeo foi denominado de ldquocapital humanordquo
A ampliaccedilatildeo do conceito de capital proposto por Schultz reafirma
a tese da economia poliacutetica burguesa de que todos indistintamente
satildeo capitalistas a diferenccedila baacutesica seria a seguinte uns satildeo possuidores
dos meios de produccedilatildeo e outros da forccedila de trabalho Explicitando o
significado de sua teoria Schultz (1963 p 12-13) afirma que
A recusa em considerar as habilidades adquiridas
pelo homem (habilidades que ampliaram a proshy
dutividade econocircmica desse homem) como uma
forma de capital como bens produzidos da pro-
duccedilatildeo como resultado de um investimento tem
estimulado o conceito restritivo patentemente
errocircneo de que o trabalho prescinde do capital
e de que somente importa o nuacutemero de homens-
-hora [] Os trabalhadores vecircm-se tornando cashy
pitalistas no sentido de que tecircm adquirido muito
conhecimento e diversas habilidades que represhy
sentam valor econocircmico
Na esteira dessa intrigante formulaccedilatildeo Schultz procurou afirmar
que a importacircncia da escolarizaccedilatildeo residia precisamente em ldquovalor
econocircmicordquo Investimentos em educaccedilatildeo resultariam no aumento de
capital humano e na consequente elevaccedilatildeo das taxas de lucro A teoria
do capital humano considera que a educaccedilatildeo deve ser planejada como
fator de desenvolvimento econocircmico e natildeo como direito social
A proposiccedilatildeo consiste em relacionar o ser humano no mesmo
patamar de instrumentos utilizados na produccedilatildeo capitalista Nessa
linha a esquematizaccedilatildeo teoacuterica atestava que a elevaccedilatildeo da escolashy
ridade de um povo ou de cada indiviacuteduo seria diretamente proshy
porcional ao aumento da capacidade de trabalho e ao aumento da
riqueza pessoal sendo que a soma de todas as riquezas significaria
no crescimento da riqueza de uma naccedilatildeo 3
Para Schultz (1971) o valor da educaccedilatildeo estaria na habilitaccedilatildeo de
pessoas para lidar com situaccedilotildees de desequiliacutebrio de mudanccedila e de rupshy
tura O quantum de educaccedilatildeo deveria ser pensado em funccedilatildeo das necessishy
dades de geraccedilatildeo de competecircncias para a eficiecircncia produtiva no trabalho
A anaacutelise de Frigotto (1986) revela os limites e o significashy
do da teoria do capital humano Revela o seu vieacutes empiricista
sua perspectiva epistemoloacutegica baseada no positivismo e o caraacuteter
poliacutetico-ideoloacutegico centrado na economia poliacutetica burguesa
3 Em outras palavras as pessoas ricas seriam aquelas que mais teriam recebido
investimentos em capital humano consequentemente a pessoa pobre seria aquela
que natildeo conseguiu desenvolver o seu capital humano Os paiacuteses mais ricos seriam
aqueles que teriam realizado o maior esforccedilo de elevaccedilatildeo do patamar meacutedio de
racionalidade de seu povo por meio da escola e os paiacuteses mais pobres os que menos
investiram nesse quesitoVale lembrar que a teoria de Schultz nunca conseguiu
explicar o caso brasileiro que de um lado manteacutem-se como uma das maiores
economias do mundo de outro o paiacutes apresenta peacutessimos indicadores educacionais
que comprovam a fragilidade da educaccedilatildeo escolar brasileira
30
No Brasil as repercussotildees da teoria do capital humano foram sigshy
nificativas durante o periacuteodo ditatorial abrangendo vaacuterios aspectos (a)
financiamento da educaccedilatildeo o orccedilamento da educaccedilatildeo passou a ser
definido com base nos mesmos criteacuterios adotados nos investimentos do
setor produtivo (b) planejamento educacional estabeleceu a vincula-
ccedilatildeo direta e imediata entre educaccedilatildeo e setor produtivo - o Plano Setorial
de Educaccedilatildeo e Cultura de 19721974 deixa isso claro (c) legislaccedilatildeo
uma nova lei de Diretrizes e Bases foi estabelecida (lei 569271) para
ordenar a educaccedilatildeo brasileira - chamada ldquoformaccedilatildeo especializadardquo no 2o
grau (atual Ensino Meacutedio) pode ser tomada como um dos exemplos da
vinculaccedilatildeo proposta entre educaccedilatildeo e economia (d) concepccedilatildeo pedashy
goacutegica afirmaccedilatildeo do tecnicismo como referecircncia para os processos forshy
niuivos procurando estabelecer a objetividade do trabalho pedagoacutegico
1 partir da precisatildeo das teacutecnicas e tecnologias de ensino
Apesar das criacuteticas e resistecircncias a teoria do capital humano
iiio foi definitivamente superada Ao contraacuterio desde os anos
laquoU 1990 a teoria vem sendo atualizada e difundida por vaacuterios
mielectuais orgacircnicos da classe burguesa A novidade eacute que a
educaccedilatildeo aleacutem de resultar na elevaccedilatildeo do capital humano deve
timbeacutem desenvolver o chamado capital social Isso significa que
1 Iunccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar foi ampliada embora a perspectiva
i onomicista continue preponderando4
Se o desenvolvimento do capital humano tem interferecircncia direta
mi i questatildeo econocircmica o capital social por sua vez relaciona-se com
i i|iK staacuteo social de forma mais precisa com a coesatildeo poliacutetica e ideoloacutegica
1 iiiballuidores ao projeto hegemocircnico de sociabilidade O capital social
bull ii u licionado agrave elevaccedilatildeo de algumas chamadas variaacuteveis relacionadas agraves
bull bullIuluias humanas que repercutem nas relaccedilotildees comunitaacuterias entre elas a
bull h gt1 u i accedilaacutelt gt a confianccedila muacutetua e a capacidade de participaccedilatildeo (PUTNAM
lt h)M A tese sugere que a elevaccedilatildeo do capital social permitiraacute que os indi-
il icssjliar que natildeo se trata de sobreposiccedilatildeo de accedilotildees mas sim a especificaccedilatildeo de
mi i vi-nccedilotildecs educativas visando assegurar a formaccedilatildeo humana no acircmbito escolar As
u iiiLiccedilotildees de Gustavo Ioschpe intelectual orgacircnico da burguesia satildeo reveladoras
iVni bull llt lui outros ganhos comunicantes associados com a educaccedilatildeo maior toleracircncia
bull u it-iii ia social melhores cuidados com a sauacutede tendecircncias democraacuteticas controle
I iu|miImis violentosrdquo (IOSCHPE 2004 p 67)
viduos se organizem para solucionar os problemas sociais que os afligem
sem necessariamente depender da intervenccedilatildeo paternalista estatal
O projeto de educaccedilatildeo referenciado na teoria do capital e
ampliado com o acreacutescimo da teoria do capital social reconhece
a especificidade da educaccedilatildeo escolar No entanto as referecircncias
sobre a funccedilatildeo da instituiccedilatildeo escolar satildeo restritivas e pragmaacutetishy
cas Sob o ponto de vista mais amplo significa reafirmar que os
subalternos natildeo nasceram para assumir a condiccedilatildeo de classe d ishy
rigente Especificamente sobre o processo pedagoacutegico significa
estabelecer uma formaccedilatildeo de caraacuteter minimalista em que o acesso
ao conhecimento sistematizado na escola ocorreraacute respeitando o
m iacutenimo necessaacuterio para simplesmente desenvolver uma racionashy
lidade instrumental base das competecircncias para a empregabili-
dade O fundamento pedagoacutegico desta concepccedilatildeo estaacute alicerccedilada
na pedagogia das competecircncias (RAM OS 2001) cabendo agrave esshy
cola somente orientar a formaccedilatildeo do trabalhador-cidadatildeo produshy
tivo eficiente em sua condiccedilatildeo de subalternidade
Concepccedilatildeo 2 A funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar eacute formar para a cidadania
Na sociedade capitalista o acesso ao conhecimento sisteshy
matizado estaacute subordinado agrave condiccedilatildeo de classe podendo ser
alterado em funccedilatildeo dos resultados provisoacuterios das lutas poliacuteticas
na educaccedilatildeo conforme destacado anteriormente Nesse sentido
as disputas envolvendo o acesso ao conhecimento ocorrem porshy
que a ciecircncia e a tecnologia se converteram em forccedila produtiva
e instrumento de poder O controle sobre o conhecimento sisteshy
matizado portanto passou a fazer parte da estrateacutegia de dom ishy
naccedilatildeo de classe na sociedade capitalista Diante disso parece-nos
relevante indagar o que significa afirmar que a funccedilatildeo da escola
se destina a preparar para a cidadania Como fica o acesso ao
conhecimento sistematizado nesta concepccedilatildeo
Primeiramente devemos considerar que a cidadania eacute uma consshy
truccedilatildeo resultante das contradiccedilotildees internas das revoluccedilotildees burguesas
32
Embora se no passado representasse um avanccedilo frente agrave velha ordem
feudal ou escravista e se na atualidade expresse tambeacutem um avanccedilo
frente aos regimes e praacuteticas autoritaacuterias eacute importante lembrar que
este constructo designa apenas o reconhecimento da igualdade forshy
mal entre seres humanos que vivem condiccedilotildees poliacuteticas e econocircmicas
profundamente desiguais Em outras palavras o estatuto da cidadania
natildeo altera em absolutamente nada a realidade da dominaccedilatildeo poliacutetica e
exploraccedilatildeo econocircmica realizadas na sociedade capitalista
Um aspecto importante a ser considerado se refere agravequilo que
fundamenta o preceito de cidadania De modo geral o cidadatildeo
natildeo tem identidade de classe mas sim uma condiccedilatildeo individual E
cidadatildeo tanto o que explora e domina quanto aquele que eacute exploshy
rado e dominado por outro O cidadatildeo eacute o indiviacuteduo e natildeo uma
coletividade regulado por um estatuto juriacutedico e certas normas
sociais no contexto de um Estado Portanto ser cidadatildeo significa
integrar-se na vida social a partir da regulaccedilatildeo formal e de valores
indicando o pertencimento poliacutetico A definiccedilatildeo apresentada por
lt mivez (1990 p 15) confirma esta compreensatildeo
A cidadania define a pertenccedila a um Estado Ela daacute
ao indiviacuteduo um status juriacutedico ao qual se ligam dishy
reitos e deveres particulares Esse status depende das
leis proacuteprias de cada Estado e pode-se afirmar que
haacute tantos tipos de cidadatildeos quanto tipos de Estados
O problema da cidadania poreacutem natildeo eacute apenas proshy
blema juriacutedico ou constitucional se provoca debates
apaixonados eacute porque coloca a questatildeo do modo de
inserccedilatildeo do indiviacuteduo em sua comunidade assim
como de sua relaccedilatildeo com o poder poliacutetico
lt luo de ser cidadatildeo natildeo assegura a igualdade de condiccedilotildees
1 vidi e trabalho em um contexto de profunda desigualdade
moiiiua poliacutetica e social Muito menos assegura a possibili-
l raquolt dc ser diferente no contexto em que a igualdade formal se
ilgt In r procurando uniformizar a todos A cidadania portan-
bull i ui li ii a possibilidade da atuaccedilatildeo poliacutetica de indiviacuteduos e
ni i |i 1 1 ic as sociais dentro dos limites da ordem existente5
I iliIr poliacutetica denominamos o direito de organizaccedilatildeo de representaccedilatildeo e de
l i I h preacutesentantes atraveacutes do voto
As inuacutemeras adjetivaccedilotildees propostas ao conceito sinalizam as restriccedilotildees
de sua inserccedilatildeo na praacutetica social concreta Na lista de adjetivaccedilotildees encontrashy
mos ldquocidadania participativardquo ldquocidadania efetivardquo ldquocidadania emancipadardquo
ldquocidadania ativardquo ldquocidadania eacuteticardquo ldquocidadania popularrdquo entre outras6
Natildeo queremos com essa delimitaccedilatildeo invalidar a importacircncia da
cidadania no passado e no presente na sociedade capitalista especialshy
mente para a formaccedilatildeo social brasileira Ao contraacuterio acreditamos
que legalidade constituiacuteda no estatuto juriacutedico dos direitos individushy
ais e poliacuteticos - envolvendo a possibilidade de organizaccedilatildeo de represhy
sentaccedilatildeo de coletivos e de possibilidades de escolhas de representantes
atraveacutes do voto mdash natildeo eacute passiacutevel de desprezo Entretanto o que busshy
camos assinalar eacute que vincular o projeto de educaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo da
cidadania eacute insuficiente pois a cidadania natildeo pressupotildee a superaccedilatildeo
da ordem capitalista (TONET 2005)
Cabe lembrar que nas sociedades capitalistas dependentes como
eacute o caso da sociedade brasileira a exploraccedilatildeo se materializa em supe-
rexploraccedilatildeo a participaccedilatildeo poliacutetica eacute sempre condicionada a marcos
juriacutedicos restritivos a concentraccedilatildeo da renda e da propriedade eacute extreshy
mada a polarizaccedilatildeo social eacute mais evidente e a dominaccedilatildeo ideoloacutegica eacute
maciccedila (CA RDO SO 2006) Considerando que os indicadores sociais
e econocircmicos confirmam esta observaccedilatildeo acreditamos que limitar a
finalidade da escola para a produccedilatildeo da cidadania eacute algo insuficiente
E importante considerar que a vinculaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar
e cidadania possui um lastro histoacuterico importante no Brasil De modo
mais amplo talvez esta vinculaccedilatildeo possa ser creditada como resposta
dos educadores progressistas agrave experiecircncia vivida pelos trabalhadores
brasileiros no contexto da ditadura empresarial-militar que perdurou
por cerca de vinte anos Se esta hipoacutetese estiver correta poderemos
afirmar que a educaccedilatildeo para a cidadania representou um posicionashy
mento criacutetico frente ao regime autoritaacuterio agrave cultura poliacutetica consershy
6 A produccedilatildeo acadecircmica sobre o tema eacute consideraacutevel Aleacutem de teses
dissertaccedilotildees e artigos cientiacuteficos a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e cidadania foi
abordada em diferentes obras Eis alguns livros sobre o tema Buffa et al
(1987) Ferreira (1993) Demo (1994) Libacircneo (1998)
34
vadora ao clicntelismo e ao patrimonialismo presentes na vida social
Sobre o acesso ao conhecimento sistematizado para Libacircneo (1998)
o exerciacutecio para a cidadania exigiria o domiacutenio dos conhecimentos
sistematizados como ferramentas individuais para a intervenccedilatildeo na
realidade Apesar da perspectiva progressista da formulaccedilatildeo acreditashy
mos que educar para a cidadania eacute diferente de educar para compreshy
ensatildeo dos limites histoacutericos e teoacutericos da cidadania
Aleacutem das formulaccedilotildees progressistas sobre a educaccedilatildeo escolar e
cidadania existem tambeacutem obras de caraacuteter conservador que buscam
reafirmar aquilo que Neves (2005) define como a nova pedagogia da
hegemonia por meio da educaccedilatildeo escolar As formulaccedilotildees de Delors
(1996) e Morin (2000) divulgadas sobre a chancela da Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas satildeo casos exemplares que repercutem na definiccedilatildeo da
poliacutetica educacional em nosso paiacutes nos anos recentes de nossa histoacuteria7
Para Delors ldquona escola eacute que deve comeccedilar a educaccedilatildeo para
uma cidadania consciente e ativardquo (1996 p 28)s Entretanto peshy
los limites teoacutericos e histoacutericos do conceito e considerando suas
opccedilotildees ideoloacutegicas o maacuteximo que Delors consegue eacute reafirmar
com novas palavras as velhas construccedilotildees que envolvem a temaacutetica
educaccedilatildeo para a cidadania Em suas palavras
Mas como aprender a conviver nesta aldeia global
se somos incapazes de viver em paz nas comunidades
naturais a que pertencemos naccedilatildeo regiatildeo cidade alshy
deia vizinhanccedila A questatildeo central da democracia eacute
saber se desejamos e somos capazes de participar da
vida em comunidade conveacutem natildeo esquecer que esse
desejo depende do sentido da responsabilidade de
cada um (DELORS 1996 p 7-8)
A tese explicita claramente os limites da cidadania revelando que
sua vinculaccedilatildeo se estabelece com o indiviacuteduo e natildeo com as coletividashy
des Por meio da chamada cidadania consciente e ativa Delors retoma
Acredi tamos que parte dessas formulaccedilotildees saacuteo tributaacuterias da concepccedilatildeo pedagoacutegica escolanovista
Para entender o que isso significa em termos poliacuteticos e filosoacuteficos recomendamos a leitura de
Saviani (1987) especialmente o capiacutetulo dois ldquoEscola e democracia I a Teoria da Curvatura
da Varardquo
8 Os adjetivos ldquoconscienterdquo e ldquoativordquo demonstram a intenccedilatildeo de estabelecer uma atualizaccedilatildeo
da cidadania tal como assinalados anteriormente
o individualismo como valor moral radical reafirmando a formulaccedilatildeo
valorizada pela doutrina liberal e pelos projetos neoliberal e neoliberal
da terceira via Estes limites podem ser verificados em outra afirmaccedilatildeo
Um sentimento de vertigem apodera-se de nossos
contemporacircneos divididos entre essa globalizaccedilatildeo - a
cujas manifestaccedilotildees eles satildeo obrigados agraves vezes a se
submeterem mdash e a busca pessoal de suas raiacutezes refeshy
recircncias e filiaccedilotildees
A educaccedilaacuteo deve enfrentar esse problema porque na
perspectiva do parto doloroso de uma sociedade munshy
dial ela situa-se mais do que nunca 110 acircmago do deshy
senvolvimento da pessoa e das comunidades sua misshy
satildeo consiste em permitir que todos sem exceccedilatildeo faccedilam
frutificar seus talentos e suas potencialidades criativas
o que implica por parte de cada um a capacidade de assumir sua proacutepria responsabilidade e de realizar seu proshyjeto pessoal (D ELO RS 1996 p 10 grifo nosso)
Aleacutem dos aspectos citados cabe destacar o conteuacutedo ideoloacutegico
dos princiacutepios valorativos da educaccedilatildeo para a cidadania sistematizada
por Jacques Delors Segundo Duarte (2008) estes princiacutepios satildeo orienshy
tados pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo De modo geral os prinshy
ciacutepios convergem para a afirmaccedilatildeo do individualismo como valor moral
radical A tiacutetulo de exemplo podemos citar a hierarquizaccedilatildeo das formas
de aprendizagem realizadas pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo
Duarte (2008) verifica que para esta corrente pedagoacutegica eacute mais releshy
vante e significativo aprender sozinho do que pela mediaccedilatildeo do outro
Isso significa a ratificaccedilatildeo do individualismo como valor morai radical e
define o conteuacutedo da chamada cidadania consciente e ativa
A posiccedilatildeo de Edgar Morin se apresenta na mesma perspectiva trashy
ccedilada por Jacques Delors Delineando as bases para a educaccedilatildeo escolar
formar o chamado cidadatildeo planetaacuterio do seacuteculo XXI o autor afirma que
Podemos considerar que a plenitude e a livre
expressatildeo dos indiviacuteduos-sujeitos constituem
nosso propoacutesito eacutetico e poliacutetico sem entreshy
tanto pensarmos que constituem a proacutepria
finalidade da triacuteade indiviacutediwsociedadelespeacute-
cie A complexidade humana natildeo poderia ser
compreendida dissociada dos elementos que
a constituem todo desenvolvimento verdadeishyramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais das parshyticipaccedilotildees comunitaacuterias e do sentimento de pershytencer agrave espeacutecie humana (MORIN 2000 p
54-55 grifo do autor)
Mais uma vez o indiviacuteduo atomizado e sem identidade de
classe portanto diluiacutedo nas relaccedilotildees sociais eacute apresentado como
referecircncia central da formulaccedilatildeo
A finalidade da formaccedilatildeo do chamado cidadatildeo planetaacuterio eacute
e xplicitada da seguinte forma
O problema da compreensatildeo tornou-se crucial para
os humanos E por este motivo deve ser uma das
finalidades da educaccedilatildeo do futuro Lembremo-
-nos de que nenhuma teacutecnica de comunicaccedilatildeo do
telefone agrave Internet traz por si mesma a compreshy
ensatildeo A compreensatildeo natildeo pode ser quantificada
Educar para compreender a matemaacutetica ou uma
disciplina determinada eacute uma coisa educar para a
compreensatildeo humana eacute outra Nela encontra-se a
missatildeo propriamente espiritual da educaccedilatildeo ensishy
nar a compreensatildeo entre as pessoas como condiccedilatildeo
e garantia da solidariedade intelectual e moral da
humanidade (M O R IN 2000 p 94)
construccedilatildeo de uma sociedade solidaacuteria eacute de fato algo re-
bull iiiu Entretanto a formulaccedilatildeo de Morin aposta na solidarie-
tllt lsquocm alterar as condiccedilotildees objetivas de vida Eacute possiacutevel esta-
bull I ei i solidariedade num contexto marcado pela exploraccedilatildeo e
|m 11 iloi iaccedilatildeo das coisas em detrimento da condiccedilatildeo humana
I ui siacutentese o que se busca eacute na verdade o estabelecimento de
d u pu(o entre as classes sociais sobre o controle e direccedilatildeo
1 lt liiiijMicsa Desse modo a funccedilatildeo da escola do seacuteculo XXI
i i ili pcli cidadania seraacute a de reafirmar a manutenccedilatildeo das rela-
bull | raquodei e xistentes com o aprofundamento da subserviecircncia da
u ii iliilliulora Aleacutem disso nesta concepccedilatildeo o conhecimento
sistematizado cede lugar agrave experiecircncia imediata ou quando muito
na perspectiva progressista agrave reflexatildeo sobre formas de intervenccedilatildeo
na vida poliacutetica da escola da comunidade ou do paiacutes
Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar educar para a emancipaccedilatildeo humana
O consenso em torno da legitimidade da instituiccedilatildeo escolar
na sociedade contemporacircnea eacute um dado consolidado certamente
influenciado pelas concepccedilotildees anteriormente analisadas Entretanshy
to um problema persiste tais formulaccedilotildees restringem a formaccedilatildeo
humana e consequentemente limitam as possibilidades de insershy
ccedilatildeo no mundo real Diante disso cabe uma questatildeo a educaccedilatildeo
escolar pode oferecer outra perspectiva formativa que supere o
economicismo da teoria do capital humano e a orientaccedilatildeo politi-
cista da educaccedilatildeo para a cidadania Qual o papel do conhecimento
sistematizado nesta alternativa pedagoacutegica
Foi procurando responder a esta questatildeo que alguns educadores brashy
sileiros procuraram delinear uma nova possibilidade pedagoacutegica sobre a esshy
pecificidade e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar tendo em vista a necessidade de
elevar a escolarizaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes da classe trabalhadora9
Esta concepccedilatildeo pedagoacutegica foi sistematizada a partir da anaacutelishy
se criacutetica sobre a configuraccedilatildeo e dinacircmica da sociedade capitalista
Conhecendo os limites desta forma cultural de organizaccedilatildeo da vida
o segundo passo foi analisar as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes
considerando as necessidades da classe trabalhadora e os objetivos
da classe burguesa A primeira constataccedilatildeo foi que os processos de
dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo tiacutepicos das formaccedilotildees sociais capitalistas
impedem a emancipaccedilatildeo humana A segunda constataccedilatildeo foi que
as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes eram expressotildees especiacuteficas do
projeto de sociedade da classe dominante A siacutentese desta anaacutelise
9 A principal figura deste esforccedilo foi Dermeval Saviani que desde os anos finais de 1960
jaacute refletia sobre a necessidade e possibilidades de sistematizar uma teoria da educaccedilatildeo
que superasse tanto as teorias natildeo criacuteticas da educaccedilatildeo quanto agraves teorias criacutetico-
reprodutivistas Para compreender este processo ver Saviani (1987 2003)
38
pode ser assim descrita eacute necessaacuterio superar as teorias e experiecircncias
existentes fornecendo aos educadores uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo
que esteja vinculada ao compromisso com a emancipaccedilatildeo da classe
trabalhadora (SAVIANI 2003) O resultado desta sistematizaccedilatildeo
foi denominado de Pedagogia histoacuterico-criacutetica Sua fundamentaccedilatildeo
encontra-se alicerccedilada no materialismo histoacuterico
O ponto de partida desta concepccedilatildeo foi compreender a condishy
ccedilatildeo humana e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo na vida social Sobre o primeishy
ro aspecto recuperando as ideias de Friedrich Engels e Karl Marx
a Pedagogia histoacuterico-criacutetica afirma que os seres humanos precisam
criar permanentemente as condiccedilotildees de sua existecircncia Enquanto os
outros animais se adaptam ao mundo natural coletivamente os seres
humanos transformam este mesmo mundo para viabilizar a existecircncia
da vida produzindo cultura Em outras palavras natildeo encontramos
tudo de que precisamos pronto somos obrigados a produzir formas
materiais e natildeo materiais necessaacuterias agrave vida mdash formas que nascem da
necessidade objetiva (alimentaccedilatildeo por exemplo) e dos desejos e fanshy
tasias - e a transmitir estas formas para outras geraccedilotildees
Os seres humanos criam estas condiccedilotildees por meio de uma cashy
pacidade que desenvolveram ao longo da histoacuteria a capacidade de
antecipar no plano do pensamento e traduzir esta antecipaccedilatildeo em
accedilotildees concretas e intencionais para viabilizar a vida - algo que Engels
e Marx denominam de trabalho Por meio do trabalho - uma forma
bem mais elaborada que a accedilatildeo instintiva dos demais animais para
suprir as necessidades e vontades que os seres humanos possuem os
seres humanos ultrapassaram a determinaccedilatildeo bioloacutegica para assumir
a condiccedilatildeo mais complexa ser cultural Por cultura compreende-se
a forma de organizaccedilatildeo e produccedilatildeo da vida que envolve a poliacutetica
a economia as artes os haacutebitos e costumes predominantes em uma
formaccedilatildeo social e tempo histoacuterico (CHAUI 1995)
Com base nesta compreensatildeo a funccedilatildeo da educaccedilatildeo para a Pedashy
gogia histoacuterico-criacutetica se vincula agrave produccedilatildeo da existecircncia humana porshy
tanto a condiccedilatildeo de cultura Enquanto predominou na criaccedilatildeo e orgashy
nizaccedilatildeo das condiccedilotildees de existecircncia processos mais simples de trabalho
foi possiacutevel educar os mais novos no proacuteprio processo de trabalho Na
medida em que a criaccedilatildeo das condiccedilotildees humanas se tornou mais comshy
plexa aleacutem dos processos informais foi requerida a institucionalizaccedilatildeo
da educaccedilatildeo na forma escolar Conforme indicamos na primeira parte
deste texto a escola foi criada para oferecer as bases para a produccedilatildeo
coletiva da existecircncia humana
Contudo cabe ressaltar que a produccedilatildeo da existecircncia hushy
mana se faz por meio de relaccedilotildees sociais Estas relaccedilotildees assushy
mem formas especiacuteficas envolvendo a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
poliacutetico-econocircmica de grupos sociais sobre outros grupos sociais
Significa afirmar que a relaccedilatildeo entre trabalho e educaccedilatildeo foi senshy
do delineada a partir do conteuacutedo e da forma como as relaccedilotildees
sociais de desenvolvem na sociedade de classes
O projeto dominante defende que a classe trabalhadora deve ser
mantida na condiccedilatildeo de subalternidade soacutecio-poliacutetico-econocircmica A
orientaccedilatildeo eacute para que as crianccedilas e adolescentes desta classe sejam edushy
cados para se tornarem um ldquorecurso humanordquo para o desenvolvimento
econocircmico capitalista e para obedecer as ldquoregras sociaisrdquo para a harmonia
social desta sociedade contraditoacuteria
Reconhecendo que os seres humanos podem viver em outras
condiccedilotildees e verificando que o projeto dominante encontra resisshy
tecircncia na dinacircmica escolar a Pedagogia histoacuterico-criacutetica procura
oferecer aos educadores criacuteticos uma teoria educacional alternashy
tiva de caraacuteter contra-hegemocircnico A perspectiva eacute afirmar que
os alunos da classe trabalhadora precisam ser educados para assushy
mirem as condiccedilotildees subjetivas necessaacuterias agrave direccedilatildeo do processo
histoacuterico tendo em vista a emancipaccedilatildeo humana 10
A perspectiva eacute que os alunos ( Io) compreendam criticamenshy
te a organizaccedilatildeo e dinacircmica das formas de produccedilatildeo da existecircncia
10 Eacute importante deixar claro que natildeo eacute a educaccedilatildeo escolar que realizaraacute a emancipaccedilatildeo humana
mas sim a mudanccedila na forma de produzir a existecircncia humana Contudo sem educaccedilatildeo
essa mudanccedila jamais ocorreraacute Por emancipaccedilatildeo humana entendemos a condiccedilatildeo social
poliacutetica e econocircmica que permitiraacute ao gecircnero humano superar efetivamente todas as formas
de dominaccedilatildeo exploraccedilatildeo e opressatildeo Tratar da emancipaccedilatildeo humana significa projetar a
necessidade da realizaccedilatildeo plena do ser social em comunhatildeo com o meio ambiente e com os
demais seres humanos significa projetar a sociabilidade autocircnoma e verdadeiramente livre
An
humana especialmente a forma capitalista (2o) dominem os coshy
nhecimentos sistematizados e as formas culturais existentes comshy
preendendo-os como produto e instrumento necessaacuterio agrave produccedilatildeo
da existecircncia (3o) desenvolvam a loacutegica dialeacutetica de organizaccedilatildeo do
pensamento para superar a loacutegica formal e a passividade intelectual
em busca da autonomia do pensar (SAVIANI 1987 2003)
Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamental que os alushy
nos natildeo soacute assimilem conhecimentos mas que construam sentishy
dos e significados sobre a relaccedilatildeo entre conhecimento-trabalho-
-vida no mundo real complexo e contraditoacuterio Os conteuacutedos
das disciplinas que compotildeem o curriacuteculo escolar ao inveacutes de
orientar para a abstraccedilatildeo do pensamento ou ordenar a racionalishy
dade teacutecnica para o simples fazer podem estabelecer mediaccedilotildees
importantes para ampliar a compreensatildeo sobre as dimensotildees da
produccedilatildeo da existecircncia humana Trata-se de reestabelecer o nexo
orgacircnico entre vidatrabalho e educaccedilatildeo
Nessa linha o ensino e aprendizagem do conhecimento sistematizashy
do envolveraacute a compreensatildeo da realidade vivida a partir do diaacutelogo com
os conhecimentos espontacircneos e aqueles advindos da experiecircncia Natildeo se
trata de negar o conhecimento espontacircneo e o conhecimento gerado pela
experiecircncia Ao contraacuterio para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamenshy
tal oferecer novas possibilidades de interpretaccedilatildeo desses conhecimentos e
seus significados para a vida humana O que se busca entatildeo eacute ultrapassar o
senso comum a superficialidade e a abstraccedilatildeo para assegurar que a aproshy
priaccedilatildeo do conhecimento sistematizado permita compreender e atuar nos
processos de produccedilatildeo da existecircncia humana e das relaccedilotildees de poder neshy
les envolvidas Nesta concepccedilatildeo os conteuacutedos escolares ao inveacutes de frios
e vazios como eacute tiacutepico da pedagogia tradicional e pedagogia tecnicista
produzem sentidos e significados para o professor e o aluno porque se
vinculam de forma mais ou menos indireta aos processos reais de produshy
ccedilatildeo material e simboacutelica dos meios necessaacuterios agrave vida e agrave interpretaccedilatildeo das
relaccedilotildees de poder envolvidas nestes processos
Enquanto sujeitos do processo educativo professores e alunos
partem juntos da praacutetica social isto eacute da realidade vivida pela hu-
manidade para compreender o mundo real interpretar as formas
de produccedilatildeo deste mundo e estabelecer possibilidades de agir nele
E claro que enquanto espaccedilo social a escola se materializa enquanto
instacircncia de sociabilidade onde haacute encontros humanos ricos e profundos
para a experiecircncia de crianccedilas e adolescentes Entretanto o que justifica a
especificidade da instituiccedilatildeo escolar natildeo eacute o simples conviacutevio ainda que
ele seja importante mas sim a necessidade de apropriaccedilatildeo coletiva do
conhecimento sistematizado tendo em vista a compreensatildeo da condiccedilatildeo
humana e as possibilidades de intervenccedilatildeo no mundo
Reconhecer a especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute importante
para que as praacuteticas pedagoacutegicas natildeo sejam orientadas para rebaixar
a escolarizaccedilatildeo destinada aos filhos da classe trabalhadora Enquanto
espaccedilo de vivecircncia coletiva a instituiccedilatildeo escolar deve ter claro que
funccedilatildeo deve cumprir na sociedade Esvaziar o curriacuteculo escolar de coshy
nhecimento sistematizado e valorizar os saberes advindos da experiecircnshy
cia imediata como centro do processo educativo eacute um meio que vem
sendo usado para comprometer a formaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes
da classe trabalhadora mantendo-os na condiccedilatildeo de subalternidade
O desafio proposto pela Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute tornar a
instituiccedilatildeo escolar numa instacircncia que socializa os conhecimentos sisshy
tematizados para permitir o domiacutenio dos meios necessaacuterios agrave insershy
ccedilatildeo ativa na vida social com o horizonte da emancipaccedilatildeo humana E
possibilitar que os processos pedagoacutegicos escolares assegurem a todos
indistintamente aquilo que se tornou indispensaacutevel para compreenshy
deragir ono mundo o conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico
Consideraccedilotildees finais
Vivemos numa sociedade de classes Sob esta condiccedilatildeo penshy
sar a funccedilatildeo e especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute tratar dos
projetos formativos que disputam a formaccedilatildeo humana nesta soshy
ciedade E tambeacutem considerar a posiccedilatildeo das perspectivas pedashy
goacutegicas em relaccedilatildeo ao tratamento dispensado ao conhecimento
sistematizado E compreender que as definiccedilotildees pedagoacutegicas natildeo
satildeo simples escolhas teacutecnicas ou arbitraacuterias
42
Isso revela que o trabalho educativo na sociedade de classes
eacute algo muito complexo que exige do professor rigor na tomada
de posiccedilotildees compromisso poliacutetico com um projeto de sociedade
que assume o domiacutenio dos instrumentos pedagoacutegicos para transshy
formar a intenccedilatildeo educativa em algo real na formaccedilatildeo humana
As possibilidades teoacutericas existem e elas se vinculam aos inshy
teresses de classe Haacute quem defenda que basta preparar a forccedila
de trabalho para o desenvolvimento capitalista Haacute quem acredite
que educar para a cidadania eacute suficiente para assegurar direitos Jaacute
existem intelectuais orgacircnicos da classe burguesa que reconhecem
que eacute preciso que a escola eduque o ldquocidadatildeo trabalhador produtishy
vordquo uma siacutentese das correntes acima indicadas
Entretanto as possibilidades acima apresentadas satildeo insuficienshy
tes para a classe trabalhadora pois o economicismo e politicismo peshy
dagoacutegicos - e as possiacuteveis siacutenteses geradas entre eles - se vinculam
ainda ao plano da conservaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais
Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute preciso educar para contrishy
buir com o desafiador e difiacutecil processo de valorizaccedilatildeo da vida humashy
na e natildeo das coisas e construccedilatildeo da emancipaccedilatildeo Sua perspectiva
eacute oferecer aos educadores do campo criacutetico uma alternativa teoacuterica e
metodoloacutegica para a construccedilatildeo da mudanccedila valorizando a instituishy
ccedilatildeo escolar em um espaccedilo rico e dinacircmico de ensino-aprendizagem
repleto de sentidos e significados para os que precisam romper com
a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo de classes
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CAPIacuteTULO II
0 ENSINO DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA E A FORMACcedilAtildeO DE SUJEITOS HISTOacuteRICOS EM BUSCA DOS FUNDAMENTOS TEOacuteRICOS E METODOLOacuteGICOS
Adriano de Paiva Reis
Alvaro de Azeredo Quelhas
Carla Cristina Carvalho Pereira
Leonardo Docena Pina
Renata Aparecida Alves Landim
Neste texto apresentamos os fundashy
mentos teoacutericos e metodoloacutegicos da persshy
pectiva de Educaccedilatildeo Fiacutesica que busca proshy
mover uma reflexatildeo criacutetica sobre a cultura
corporal Partimos da discussatildeo sobre a exisshy
tecircncia de dois distintos e contraditoacuterios proshy
jetos de formaccedilatildeo humana um que busca
assegurar a adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves atushy
ais relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e outro que tem
como horizonte a formaccedilatildeo de sujeitos criacuteshy
ticos e transformadores da sua proacutepria hisshy
toacuteria Com base no materialismo histoacuterico-
-dialeacutetico na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e
na abordagem Criacutetico-superadora apresenshy
tamos uma possibilidade didaacutetica que busca
abordar os conteuacutedos da cultura corporal de
modo ativo e dinacircmico tendo como ponto
de partida e de chegada a praacutetica social de
modo a permitir a ampliaccedilatildeo da compreenshy
satildeoaccedilatildeo dos alunos sobre a realidade
A relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo e a perspectiva dominante de formaccedilatildeo humana
O trabalho e a educaccedilatildeo satildeo atividades especificamente humanas e
estatildeo relacionadas ao processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura pelo
conjunto dos homens Por meio do trabalho o homem transforma intenshy
cionalmente a natureza para satisfazer suas necessidades criando uma reshy
alidade sociocultural um mundo especificamente humano portador de
produccedilotildees culturais (materiais e natildeo materiais) cada vez mais desenvolvidas
Para relacionar-se com os outros seres humanos inserindo-se em
determinada fase do desenvolvimento histoacuterico da humanidade cada
indiviacuteduo singular precisa apropriar-se da riqueza da experiecircncia humashy
na acumulada na cultura pois as aptidotildees e funccedilotildees humanas historicashy
mente formadas natildeo se reproduzem pela hereditariedade mas precisam
ser formadas isto eacute transmitidas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo A esse processhy
so de transmissatildeo da cultura produzida histoacuterica e coletivamente pelo
conjunto dos homens mdash que permite a formaccedilatildeo da humanidade em
cada indiviacuteduo singular - denomina-se educaccedilatildeo (SAVIANI 2005)
Entretanto como as formas assumidas pelo trabalho nos dishy
versos modos de produccedilatildeo da existecircncia humana satildeo fenocircmenos
construiacutedos concretamente nas relaccedilotildees sociais a formaccedilatildeo humana
tende a ser determinada pelos processos histoacutericos De acordo com
Marx (2005) no modo de produccedilatildeo capitalista - aquele que estaacute
fundado na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo e na aproshy
priaccedilatildeo privada dos produtos do trabalho - a relaccedilatildeo do homem
com o mundo aparece invertida de tal forma que o trabalho assashy
lariado caracteriacutestico da moderna sociedade burguesa resulta num
estranhamento do homem com o seu trabalho o trabalho de ativishy
dade de realizaccedilatildeo do homem eacute transformado em ldquo[] desrealizaccedilatildeo
do trabalhador a objetivaccedilatildeo como perda e servidatildeo do objeto a
apropriaccedilatildeo com alienaccedilatildeo1rdquo (MARX 2005 p 1 12)
i Em Marx (2005) a alienaccedilatildeo corresponde ao estranhamento total do homem com a natureza
com a humanidade e com ele proacuteprio sendo que a base de todas essas relaccedilotildees sociais estranhas
c a alienaccedilatildeo do proacuteprio trabalho O u seja a partir da expropriaccedilatildeo do produto e do processo
de seu trabalho o homem passa a alienar-se de sua vida como um todo
Tendo em vista que o trabalho na sociedade capitalista eacute contrashy
ditoriamente fundamento da existecircncia humana e meio de alienaccedilatildeo
pensar o trabalho como princiacutepio educativo implica em visualizar
dois projetos distintos de educaccedilatildeo escolar um que busca adaptar os
indiviacuteduos agraves atuais relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo e outro que visa
alcanccedilar o pleno desenvolvimento da iiiacutedividualidade livre e universal (DUARTE 2006) algo atrelado agrave construccedilatildeo de uma nova sociedashy
de na qual estejam superadas as relaccedilotildees sociais alienadas
Na perspectiva voltada agrave reproduccedilatildeo do capital a educaccedilatildeo
tem servido como meio de adaptar o indiviacuteduo agraves condiccedilotildees hisshy
toacutericas da produccedilatildeo negando o potencial criativo e transformador
da realidade que o homem possui impedindo-o de reconhecer-se
como sujeito da histoacuteria Como analisam criticamente Frigotto
Ciavatta e Ramos (2005) o sentido economicista atribuiacutedo agrave edushy
caccedilatildeo a tem proclamado como instrumento de formaccedilatildeo para o
trabalho no seu sentido historicamente alienado dando origem
agrave noccedilatildeo ideoloacutegica da escola como promotora da ascensatildeo social
Este fato pode ser observado em mitos como o da empregabilidade
e do empreendedorismo que vigoram hoje em dia
Diversas anaacutelises realizadas sobre a relaccedilatildeo entre trabalho e
educaccedilatildeo como as realizadas por Ramos (2006) e Kuenzer (2007)
por exemplo evidenciam que no contexto de transiccedilatildeo do modo
laquoIr produccedilatildeo capitalista para o regime de acumulaccedilatildeo flexiacutevel2
1 implantaccedilatildeo de um novo paradigma produtivo e a emergecircncia
Jr novas demandas de ajustamento social provocaram uma nova
loi nia de ser do trabalhador que estabeleceu exigecircncias significa-
iivimente diferentes daquelas em curso ateacute entatildeo O u seja uma
nov a dinacircmica de produccedilatildeo e novos meacutetodos de trabalho passaram
I gtc acordo com as anaacutelises dc Harvey (2006) a partir da deacutecada dc 1970 com a explosatildeo
laquoli nova crise de superacumulaccedilatildeo capitalista inicia-se um periacuteodo de reestruturaccedilatildeo
lt miocircmica e de reajustamento social e poliacutetico marcando a passagem para um novo
irgime de acumulaccedilatildeo ldquoA acumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo surge em contraposiccedilatildeo agrave rigidez do
Inulismo ldquoEla se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho dos mercados de
uibalho dos produtos e padrotildees de consumordquo (1IARVKY 2006 p 140)
a exigir um tipo novo de trabalhador e de homem3 Assim para
atender aos interesses de valorizaccedilatildeo do capital vecircm ocorrendo
diversas alteraccedilotildees nos projetos e processos de formaccedilatildeo humana
a fim de ajustaacute-los agraves novas formas de organizaccedilatildeo do trabalho e
aos novos padrotildees de sociabilidade capitalista
Com base na argumentaccedilatildeo de que ingressamos na chamada ldquosocieshy
dade do conhecimentordquo a educaccedilatildeo passa a ser proclamada como uma
tarefa para toda a vida e a noccedilatildeo de competecircncia assume centralidade na
educaccedilatildeo escolar Para se consolidar como categoria ordenadora da relaccedilatildeo
trabalho-educaccedilatildeo a noccedilatildeo de competecircncia se inscreve num movimento
de afirmaccedilatildeo e negaccedilatildeo do conceito de qualificaccedilatildeo promovendo a valoshy
rizaccedilatildeo da sua dimensatildeo experimental agrave custa do enfraquecimento da sua
dimensatildeo conceituai e social (RAMOS 2006)
O enfraquecimento da dimensatildeo social da qualificaccedilatildeo pode ser
constatado nos discursos que proclamam um novo papel para a educashy
ccedilatildeo escolar natildeo mais formar para um determinado posto ou emprego
mas sim gerar potencial de empregabilidade De acordo com Gentili
(2005) a empregabilidade eacute o eufemismo da desigualdade estrutural
que caracteriza o mercado de trabalho e sintetiza a incapacidade mdash tamshy
beacutem estrutural mdash da educaccedilatildeo em cumprir sua promessa integradora
Conforme explica o autor esse conceito ganhou espaccedilo e centralidade
a partir da deacutecada de 1990 sendo definido como eixo fundamental de
um conjunto de poliacuteticas supostamente destinadas agrave diminuiccedilatildeo de risshy
cos sociais gerados pelo desemprego Para o discurso dominante o conshy
ceito de empregabilidade natildeo significa garantia de integraccedilatildeo mas apeshy
nas melhores condiccedilotildees para competir na luta pelos poucos empregos
disponiacuteveis no mercado de trabalho Esse conceito segundo o autor
acaba com a concepccedilatildeo do emprego e da renda como esferas de direito
3 Tomamos essa expressatildeo emprestada de Gramsci (1976) que foi originalmente utilizada
em Americanismo e Fordismo e sugere que um novo tipo de trabalho e de produccedilatildeo traz a
necessidade de formar um novo tipo de homem pois ldquo[] novos meacutetodos de trabalho estatildeo
indissoluvelmente ligados a um determinado modo de viver de pensar e de sentir a vida
natildeo eacute possiacutevel obter ecircxito num campo sem obter resultados tangiacuteveis no outrordquo (p 396)
4 De acordo com Frigotto (1998) o termo ldquosociedade do conhecimentordquo diz respeito a um
deslocamento conceituai da teoria do capital humano buscando alinhar ideologicamente
a educaccedilatildeo agrave nova materialidade e mascarar a realidade do desemprego estrutural
pois parte do entendimento de que a posse de determinadas condiccedilotildees
de empregabilidade natildeo garante a inserccedilatildeo no mercado de trabalho
No que se refere agrave concepccedilatildeo de conhecimento subjacente agrave noccedilatildeo de
competecircncia Ramos (2006) conclui que por estar pautada numa ldquoconcepshy
ccedilatildeo natural-funcionalista de homemrdquo esta noccedilatildeo abriga uma ldquoconcepccedilatildeo
subjetivo-relativista de conhecimentordquo que reforccedila o irracionalismo poacutes-
-moderno5 configurando-se como uma noccedilatildeo adaptadora do comportashy
mento humano agrave instabilidade da vida no capitalismo tardio
A perspectiva educacional ancorada na noccedilatildeo de competecircncia busshy
ca alterar a maneira de ser da classe trabalhadora adequando-a aos novos
valores necessaacuterios agrave manutenccedilatildeo das relaccedilotildees capitalistas No que tange
ao curriacuteculo essa noccedilatildeo privilegia os objetivos atitudinais comportamen-
tais e procedimentais ligados ao saber agir e saber fazer secundarizando e
subordinando os conhecimentos agraves situaccedilotildees praacuteticas uma vez que soacute satildeo
considerados vaacutelidos os conhecimentos que apresentam aplicabilidade no
desempenho das atividades de produccedilatildeo6
A pedagogia das competecircncias aleacutem de ser uma importanshy
te referecircncia pedagoacutegica defendida pelos intelectuais da classe
dominante natildeo estaacute soacute na defesa dos interesses capitalistas no
campo da educaccedilatildeo escolar pelo contraacuterio ganha forccedila na meshy
dida em que se alinha a outras concepccedilotildees que negam a escola
tomo instituiccedilatildeo responsaacutevel pela transmissatildeo do conhecimento
sistematizado como eacute o caso do construtivismo
Para desenvolver competecircncias eacute preciso antes de
tudo trabalhar por problemas e projetos propor
tarefas complexas e desafios que incitem os alunos
a mobilizar seus conhecimentos e cm certa medida
completaacute-los Isso pressupotildee uma pedagogia ativa
Com relaccedilaacuteo ao relativisino poacutes-moderno as anaacutelises de Harvey (2006) permitem
compreender que a necessidade capitalista de acelerar o tempo de giro do capital atraveacutes
ltli aceleraccedilatildeo da produccedilatildeo da troca e do consumo de mercadorias tem promovido
iima intensificaccedilatildeo da compressatildeo do tempo-espaccedilo influenciado as formas poacutes-
modernas de pensar sentir e agir acentuando a volatilidade e efemeridade valorizando
bull i instantacircneo e o descartaacutevel o que tem implicado na consideraccedilatildeo de que qualquer
perspectiva totalizante de conhecimento eacute inatingiacutevel
Ni realidade esta secundarizaccedilatildeo do conhecimento em favor de comportamentos
bull 1 iM-rvaacuteveis natildeo eacute novidade e em certa medida reedita os princiacutepios da Escola Nova (cf
I l AUTH 2001) e da Pedagogia do Domiacutenio (cf RAMOS 2006)
cooperativa aberta para a cidade ou para o bairro
seja na zona urbana ou rural Os professores devem
parar de pensar que dar aulas eacute o cerne da profissatildeo
Ensinar hoje deveria consistir cm conceber encaishy
xar e regular situaccedilotildees de aprendizagem seguindo os
princiacutepios pedagoacutegicos ativos e construtivistas Para
os professores adeptos de uma visatildeo construtivista
e interacionista de aprendizagem trabalhar no deshy
senvolvimento de competecircncias natildeo eacute uma ruptura
(PERRENOUD 2000 apud DUARTE 2003 p 6)
O trecho do trabalho de Perrenoud citado por Duarte (2003)
permite segundo este incluir a Pedagogia das Competecircncias - junshy
tamente com o Construtivismo a Escola Nova os estudos na linha
do ldquoProfessor Reflexivordquo dentre outros mdash no grupo das chamadas ldquoPe-
dagogias do Aprender a Aprenderrdquo que visam produzir uma maior
adaptabilidade dos indiviacuteduos agraves alteraccedilotildees do capitalismo7
As reflexotildees apresentadas ateacute aqui nos colocam diante do desafio
de construir as possibilidades de desenvolvimento dc uma perspectiva de
educaccedilatildeo que supere a loacutegica adaptadora da formaccedilatildeo mediada pelo lema
ldquoaprender a aprenderrdquo ou mais especificamente pela noccedilatildeo de aquisiccedilatildeo
de competecircncias para empregabilidade Por outro lado isso nos remete
ao resgate do significado de escola unitaacuteria de uma educaccedilatildeo politeacutecnica
e de uma formaccedilatildeo omnilateral na qual a formaccedilatildeo humana volta-se para
a apreensatildeo do conhecimento sistematizado em todas as suas dimensotildees
premissa fundamental para a formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos e criacuteticos
A perspectiva marxista de formaccedilatildeo humana como possibilidade de oposiccedilatildeo agrave perspectiva dominante de educaccedilatildeo escolar
Tendo como horizonte um projeto educativo voltado agrave superaccedilatildeo
do capitalismo Frigotto (1985) aponta a politecnia como concepccedilatildeo de
educaccedilatildeo que interessa agrave classe trabalhadora por estar fundamentada
na superaccedilatildeo da divisatildeo entre teoria e praacutetica em direccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do
homem em todas as suas dimensotildees - formaccedilatildeo omnilateral
Uma anaacutelise dai Pedagogias do Aprender a Aprender eacute apresentada em Duarte (2006)
A concepccedilatildeo de uma educaccedilatildeo politeacutecnica tem origem na
compreensatildeo do homem como um ser de muacuteltiplas atividades
Marx e Engels (1989) indicam que o homem natildeo deve limitar
seu desenvolvimento a uma das partes do seu corpo da sua inshy
teligecircncia ou de sua sensibilidade o homem todo e todo hoshy
mem deve constantemente humanizar-se pelo trabalho Desse
modo a educaccedilatildeo deveria ter como objeto de sua preocupaccedilatildeo o
desenvolvimento do homem nas suas maacuteximas potencialidades
partindo do pressuposto de que ele eacute capaz de captar a realidade
e dela se apropriar com todos os seus sentidos de maneira comshy
preensiva e como ser total (MARX 2005)
A concepccedilatildeo de formaccedilatildeo politeacutecnica fundamenta-se no mashy
terialismo histoacuterico dialeacutetico englobando de modo indissociaacuteshy
vel uma concepccedilatildeo pedagoacutegica uma perspectiva de trabalho e
um projeto de sociedade que garante agrave politecnia uma coerecircncia
entre meacutetodo concepccedilatildeo de mundo e praacutexis Ou seja a politecnia
apoia-se na anaacutelise das transformaccedilotildees dos processos de trabalho
que estatildeo na base das relaccedilotildees de produccedilatildeo capitalista (dimensatildeo
infraestrutural) Essa anaacutelise eacute realizada sob a perspectiva de um
projeto utoacutepico-revolucionaacuterio de construccedilatildeo de uma sociedade
sem classes (dimensatildeo utoacutepica) Essas duas dimensotildees acabam
por desembocar em propostas de accedilatildeo educativa (dimensatildeo peshy
dagoacutegica) que tecircm como finalidade contribuir para a formaccedilatildeo
do homem em todas as suas dimensotildees (RODRIGU ES 1998)
No que tange agrave concepccedilatildeo de escola pensada como um espaccedilo
de luta pela hegemonia8 da classe trabalhadora a defesa se faz no
sentido de uma escola que possibilite ao homem desenvolver suas
capacidades produtivas e intelectuais de forma unificada Nesta
perspectiva Gramsci (2004) defende um tipo de escola unitaacuteria que
ao mesmo passo encaminhe o jovem para a escolha profissional e
lorme sujeitos capazes de dirigir e controlar os rumos da vida em soshy
Adotamos o conceito de hegemonia conforme define Gramsci (2000) uma relaccedilatildeo de
poder presente nas sociedades capitalistas que expressa a dominaccedilatildeo de uma ou mais
fraccedilotildees dcclasse sobre o conjunto de sua proacutepria classe e das classes antagocircnicas em que
o econocircmico e o poliacutetico expressam a ldquodireccedilatildeo moral e intelectualrdquo a ser seguida pelo
conjunto da sociedade
ciedade Para tal esta escola deve promover a elevaccedilatildeo cultural9 dos
jovens preparando-os para a atividade social autocircnoma e criativa
A escola uacutenica do trabalho como estrutura busca a superaccedilatildeo das
trajetoacuterias de distribuiccedilatildeo desigual do saber a politecnia como conteshy
uacutedo visa construir uma organizaccedilatildeo curricular que resgate a totalidade
dos conhecimentos cientiacuteficos artiacutesticos filosoacuteficos e instrumentais
que regem os processos produtivos a dialeacutetica como meacutetodo caminha
no sentido da reunificaccedilatildeo entre ciecircncia e teacutecnica entre formaccedilatildeo geshy
ral e profissional entre teoria e praacutetica permitindo aos alunos comshy
preenderem o processo de construccedilatildeo do conhecimento
No entanto eacute importante salientar que a concepccedilatildeo de escola
unitaacuteria e de formaccedilatildeo politeacutecnica deve ser tomada como referecircncia
num processo mais amplo qual seja o de luta pela transformaccedilatildeo
da sociedade pois como elaborou Marx (1984) um modelo de
educaccedilatildeo que busque a unidade entre teoria e praacutetica entra em conshy
tradiccedilatildeo com a forma capitalista de produzir e dividir o trabalho
sendo que o uacutenico caminho para subverter essa ordem seria o desenshy
volvimento dessas contradiccedilotildees
Nesse sentido considerando a dinacircmica do processo de proshy
duccedilatildeoreproduccedilatildeo da cultura a defesa da escola como instituiccedilatildeo
responsaacutevel pela transmissatildeo-assimilaccedilatildeo do conhecimento sistemashy
tizado torna-se indispensaacutevel para que cada indiviacuteduo da espeacutecie
humana possa se inserir na histoacuteria social desenvolvendo-se em suas
maacuteximas potencialidades E exatamente nessa linha que se configura
a definiccedilatildeo de Saviani (2006) sobre o papel da escola na perspectiva
da Pedagogia histoacuterico-criacutetica
O movimento pedagoacutegico que deu origem agrave Pedagogia hisshy
toacuterico-criacutetica surge no final da deacutecada de 1970 como resposta
9 No atual ambiente ideoloacutegico no qual predomina a ideologia neoliberal e poacutes-
moderna falar em elevaccedilatildeo cultural pode se constituir como algo um tanto quanto
polecircmico Contudo fazemos questatildeo de destacar que na perspectiva marxista
com a qual trabalhamos ldquo[] natildeo haacute margem nem para o evolucionismo ingecircnuo
(seja no plano da histoacuteria da organizaccedilatildeo social humana seja no plano da histoacuteria
do conhecimento) nem para o relativismo que nega a existecircncia de formas mais
desenvolvidas de vida social e de conhecimento nem finalmente para o subjeti-
vismo que nega o conhecimento como apropriaccedilatildeo da realidade objetiva pelo
pensamentordquo (DU A RT E 2003 p 77)
agrave necessidade de encontrar alternativa agrave pedagogia dominante
Saviani (2005) explica que naquele contexto imperava a necesshy
sidade histoacuterica especialmente no caso brasileiro de criticar a
pedagogia oficial sobretudo para evidenciar seu caraacuteter reproshy
dutor De acordo com os autores da eacutepoca cada setor da cultushy
ra como o sistema de ensino por exemplo desempenharia seu
papel na reproduccedilatildeo da sociedade A medida que essas ideias
se difundiam as chamadas teorias criacutetico-reprodutivistas0 ganhashy
vam forccedila para consolidar o entendimento de que a educaccedilatildeo
escolar sempre desempenharia o papel de reproduccedilatildeo Essas teoshy
rias foram se formulando e se difundindo ao mesmo tempo em
que eram assimiladas no Brasil como instrumento utilizado para
fustigar a poliacutetica educacional do Regime Militar (SAVIANI
2005) Se por um lado as teorias criacutetico-reprodutivistas foram
importantes para evidenciar o papel desempenhado pela pedagoshy
gia oficial no contexto do Regime Militar no Brasil por outro
lado natildeo forneceram alternativas para se contrapor agrave pedagogia
dominante Neste sentido Saviani (2005 p 135) afirma que
a luta contra a ditadura tambeacutem implicava a forshy
mulaccedilatildeo dc alternativas No campo educacional
o problema colocava-se nos seguintes termos se a
pedagogia oficial era inaceitaacutevel qual seria entatildeo
a orientaccedilatildeo alternativa aceitaacutevel A visatildeo criacutetico-
reprodutivista natildeo dava resposta para essa pergunshy
ta Natildeo tinha uma proposta de orientaccedilatildeo Fazia a
criacutetica do existente mostrando que este desempeshy
nhava a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo
Portanto era necessaacuterio formular uma proposta pedagoacutegica
que estivesse atenta aos determinantes sociais da educaccedilatildeo e que
permitisse articular de forma dialeacutetica o trabalho pedagoacutegico
com as relaccedilotildees sociais deveria levar em conta a accedilatildeo reciacuteproca
em que a educaccedilatildeo embora determinada em suas relaccedilotildees com
10 Saviani (2006) denomina de teorias criacutetico-reprodutivistas aquelas que por um lado
postulam a compreensatildeo da educaccedilatildeo a partir de seus condicionantes sociais mas por
outro lado chegam agrave conclusatildeo de que a funccedilatildeo da proacutepria educaccedilatildeo eacute reproduzir a
sociedade na qual ela se insere
a sociedade reage ativamente sobre o elemento determinante
(SAVIANI 2005) Assim como desdobramento desse processo
que buscou encontrar alternativa agrave pedagogia dominante a Peshy
dagogia histoacuterico-criacutetica surgiu como uma proposta pedagoacutegica
fundamentada no materialismo histoacuterico cuja tarefa em relaccedilatildeo
agrave educaccedilatildeo escolar implica a) identificar as formas mais desenshy
volvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicashy
mente reconhecendo as condiccedilotildees de sua produccedilatildeo e compreenshy
dendo as suas principais manifestaccedilotildees bem como as tendecircncias
atuais de transformaccedilatildeo b) converter o saber objetivo em saber
escolar de modo que se torne assimilaacutevel pelos alunos no espaccedilo
e tempo escolares c) prover os meios necessaacuterios para que os
alunos natildeo apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultashy
do mas apreendam o processo de sua produccedilatildeo bem como as
tendecircncias de sua transformaccedilatildeo (SAVIANI 2005)
Segundo o autor a escola eacute uma instituiccedilatildeo cujo papel conshy
siste na socializaccedilatildeo do saber sistematizado Natildeo se trata portanshy
to de qualquer tipo de saber ldquoa escola diz respeito ao conhecishy
mento elaborado e natildeo ao conhecimento espontacircneo ao saber
sistematizado e natildeo ao saber fragmentado agrave cultura erudita e
natildeo agrave cultura popularrdquo (SAVIANI 2006 p 14) Destacar esse
posicionamento eacute importante sobretudo porque tambeacutem eacute posshy
siacutevel encontrar na Educaccedilatildeo Fiacutesica tendecircncias que negam a aproshy
priaccedilatildeo do saber sistematizado por parte das fraccedilotildees menos prishy
vilegiadas da classe trabalhadora ao proclamar como seu papel
central o desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica ou a ldquovalorizaccedilatildeo
da cultura popularrdquo em detrimento da cultura erudita
Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica a defesa da escola como espashy
ccedilo de socializaccedilatildeo do saber sistematizado eacute essencial para assegurar o
caraacuteter contraditoacuterio da educaccedilatildeo e afirmar os interesses dos trabalhashy
dores uma vez que dominar os conhecimentos mais desenvolvidos
produzidos pela humanidade no campo das ciecircncias das artes e da fishy
losofia eacute condiccedilatildeo para o processo de emancipaccedilatildeo (SAVIANI 2006)
11 Uma criacutetica ao paradigma da aptidatildeo fiacutesica foi desenvolvida pelo Coletivo de Autores (1992)
cr
A perspectiva histoacuterico-criacutetica na Educaccedilatildeo Fiacutesica direcionando o olhar para a metodologia Criacutetico- superadora
A busca de alternativas agrave pedagogia dominante atingiu tambeacutem a
Educaccedilatildeo Fiacutesica possibilitando articular a praacutetica pedagoacutegica na aacuterea
a um novo projeto de sociedade Desde o final da deacutecada de 1970
com o processo frequentemente denominado de ldquoredemocratizaccedilatildeo
da sociedade brasileirardquo inuacutemeros estudos passaram a questionar o
papel que vinha sendo assumido pela Educaccedilatildeo Fiacutesica em nosso paiacutes
qual seja o de educar os indiviacuteduos em conformidade com as necesshy
sidades do modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Os
crescentes questionamentos que ganharam forccedila na deacutecada de 1980
colocaram em xeque o quadro de referecircncias que havia direcionado a
Educaccedilatildeo Fiacutesica por mais de um seacuteculo A inflexatildeo na aacuterea configurashy
da como uma crise de legitimidade inaugurou um periacuteodo de buscas
para se construir a autonomia pedagoacutegica da aacuterea frente a um quadro
histoacuterico de viacutenculo ao projeto dominante
Nesse processo um importante marco para a educaccedilatildeo escolar foi
a publicaccedilatildeo na deacutecada de 1990 do livro Metodologia do Ensino de lducaccedilaacuteo Fiacutesica escrito por um grupo que se autodenominou de Coshy
letivo de Autores (1992) Nessa obra eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal mdash uma tendecircncia que pautada
na Pedagogia histoacuterico-criacutetica visa a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enquanto
sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em que vive
Para formar esse tipo de sujeito o paradigma da reflexatildeo criacuteti-
i i sobre a cultura corporal defende a tematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de
lorma criacutetico-superadora A tematizaccedilatildeo defendida por esta proposta
ibrange a compreensatildeo das relaccedilotildees de interdependecircncia que os dife-
H iiies conteuacutedos da cultura corporal tecircm com os grandes problemas
bull gtlt Hraquo-poliacuteticos atuais como ldquo[] ecologia papeacuteis sexuais sauacutede puacute-
I 1 u i relaccedilotildees de trabalho preconceitos sociais raciais da deficiecircncia
bull I i wlhice distribuiccedilatildeo do solo urbano distribuiccedilatildeo de renda diacutevida
i u i na e outrosrdquo (COLETIVO DE AUTORES 1992 p 62-63)
Assim busca-se desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as formas
de representaccedilatildeo do mundo exteriorizadas pela expressatildeo corporal
que o ser humano tem produzido no decorrer da histoacuteria dentre as
quais pode-se destacar jogos danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esshy
porte malabarismos contorcionismos miacutemica e outros que podem
ser identificados como formas de representaccedilatildeo simboacutelica de realishy
dades vividas pelo homem historicamente criadas e culturalmente
desenvolvidas (COLETIVO DE AUTORES 1992)
Portanto pode-se afirmar que a metodologia Criacutetico-superado-
ra ao alinhar-se agrave perspectiva pedagoacutegica defendida por Dermeval
Saviani busca propor novos caminhos para a apropriaccedilatildeo do conheshy
cimento na escola inclusive pela organizaccedilatildeo metodoloacutegica fundashy
mentada nos cinco passos do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do coshy
nhecimento a saber identificaccedilatildeo da praacutetica social problematizaccedilatildeo
instrumentalizaccedilatildeo catarse e retorno agrave praacutetica social
O ponto de partida para a apropriaccedilatildeo do conhecimento na escola
eacute a praacutetica social (SAVIANI 2006) Nesse passo conforme apresentado
por Gasparin (2005) realiza-se um primeiro contato com o tema a ser
estudado para evidenciar suas relaccedilotildees com a vida cotidiana visando
mobilizar os alunos para o processo pedagoacutegico Segundo este autor a
identificaccedilatildeo da praacutetica social pode ser dividida em duas partes a saber
anuacutencio e vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos No anuacutencio dos conteuacutedos aponta-se o que seraacute estudado e quais os objetivos a serem alcanccedilados
Na vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos identifica-se o que os alunos jaacute sashy
bem c o que eles gostariam de saber mais sobre o assunto em questatildeo
O segundo passo do meacutetodo dialeacutetico de construccedilatildeo do conhecishy
mento escolar eacute a problematizaccedilatildeo fase na qual se busca ldquo[] detectar
que questotildees precisam ser resolvidas no acircmbito da praacutetica social e em
consequecircncia que conhecimento eacute necessaacuterio dominarrdquo (SAVIANI
2006 p 71) A partir dessa afirmaccedilatildeo dois importantes aspectos foram
salientados por Gasparin (2005) que merecem um devido destaque
O primeiro deles diz respeito agraves questotildees da praacutetica social que deshy
vem ser detectadas O autor esclarece com base no proacuteprio Saviani
que o foco deve ser concentrado nas grandes questotildees que desafiam a
sociedade nos principais problemas que precisam ser resolvidos natildeo
soacute na escola ou pela escola mas no acircmbito da sociedade Para isso
afirma que deve ser feita uma seleccedilatildeo do que eacute fundamental visto que
os principais problemas postos pela praacutetica social nem sempre podem
ser tratados na sua totalidade em cada aacuterea do conhecimento O ldquofunshy
damentalrdquo vale dizer refere-se aos aspectos relacionados ao conteuacutedo
estabelecido pelo curriacuteculo escolar ou aos conhecimentos trabalhados
em uma determinada unidade do programa Com base nesse entendishy
mento pode-se dizer que a problematizaccedilatildeo deve selecionar e discutir
os problemas que tecircm origem na praacutetica social mas que ao mesmo
tempo se ligam ao conteuacutedo a ser trabalhado trata-se de uma seleccedilatildeo
e discussatildeo de grandes questotildees sociais poreacutem inseridas e especificadas
no conteuacutedo da unidade que estaacute sendo estudada (GASPARIN 2005)
O segundo aspecto a ser destacado refere-se a qual conhecimento
eacute necessaacuterio dominar para resolver os problemas da praacutetica social Gas-
parin (2005) explica que de maneira geral os conteuacutedos satildeo quase
sempre transmitidos aos educandos por uma uacutenica dimensatildeo a con-
eeitual-cientiacutefica Em virtude da ecircnfase geralmente atribuiacuteda a essa dishy
mensatildeo do conteuacutedo o autor alerta o seguinte eacute necessaacuterio lembrar
no processo de construccedilatildeo do conhecimento que a ciecircncia tambeacutem eacute
iiin produto social originada de necessidades histoacutericas econocircmicas
poliacuteiicas ideoloacutegicas filosoacuteficas religiosas teacutecnicas dentre outras Tenshy
do i in vista o fato de que existem muacuteltiplas dimensotildees que revestem
os dilerentes conteuacutedos faz-se necessaacuterio abordar na construccedilatildeo do
- ltgtii1k-ciacutemento natildeo soacute a dimensatildeo conceitual-cientiacutefica A necessidade
llt 1 1 mscender a abordagem centrada na dimensatildeo conceitual-cientiacutefica
jMivuacuten do entendimento de que a anaacutelise do real deve considerar suas
muacuteltiplas dimensotildees visto que a realidade social envolve sempre uma
tuii de perspectivas um conjunto de aspectos interdependentes que
u ui ser entendidos para a resoluccedilatildeo dos problemas postos pela praacute-
laquo iil Eacute importante destacar esse aspecto sobretudo porque na
u lo 1 iacutesica a ecircnfase do processo pedagoacutegico geralmente eacute concen-
raquo i iu is rlementos teacutecnicos e taacuteticos o que desconsidera as muacuteltiplas
bull t M ii raquors que revestem o conteuacutedo em questatildeo
Assim duas tarefas principais podem ser operacionalizadas na
problematizaccedilatildeo A primeira delas envolve o questionamento da praacuteshy
tica social e do conteuacutedo escolar Trata-se de um momento em que satildeo
apresentadas e discutidas as razotildees sociais pelas quais se deve aprender o
conteuacutedo proposto de modo que os alunos possam entender melhor o
que seraacute estudado identificar os principais problemas postos pela praacuteshy
tica social e pelos conteuacutedos e ainda entender a necessidade eou vashy
lidade do conteuacutedo curricular proposto para solucionar eou entender
melhor os problemas da praacutetica social (GASPARIN 2005) A segunda
tarefa que pode ser realizada na problematizaccedilatildeo refere-se agraves dimensotildees
do conteuacutedo a serem trabalhadas Em linhas gerais pode-se dizer que
essa tarefa consiste em definir as dimensotildees que se deseja estudar Para
tanto pode-se partir do conteuacutedo a ser trabalhado de modo a elaborar
questotildees desafiadoras que expressem dimensotildees especiacuteficas referentes agrave
natureza do conteuacutedo como por exemplo as dimensotildees cientiacutefico-
-conceituais sociais econocircmicas culturais histoacutericas filosoacuteficas moshy
rais eacuteticas esteacuteticas legais e doutrinaacuterias (GASPARIN 2005)
O passo seguinte a instrumentalizaccedilatildeo segundo Gasparin (2005) eacute o
caminho atraveacutes do qual o conteuacutedo sistematizado eacute posto agrave disposiccedilatildeo dos
alunos para que o assimilem o recriem e ao incorporaacute-lo transformem-no
em instrumento cultural para transformaccedilatildeo da realidade Esse terceiro passhy
so do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do conhecimento consiste no moshy
mento em que os alunos vatildeo se apropriar das ferramentas culturais necesshy
saacuterias agrave luta social que travam diariamente para se libertar das condiccedilotildees de
opressatildeo em que vivem ou seja trata-se da fase na qual ocorre a apropriaccedilatildeo
dos instrumentos teoacutericos e praacuteticos necessaacuterios ao equacionamento dos
problemas detectados na praacutetica social (SAVIANI 2006)
De acordo com Saviani (2006) o quarto passo do meacutetodo eacute a ldquocashy
tarserdquo momento de expressatildeo elaborada da nova forma de entendimenshy
to da praacutetica social a que se ascendeu ldquoTrata-se da efetiva incorporaccedilatildeo
dos instrumentos culturais transformados agora em elementos ativos
de transformaccedilatildeo socialrdquo (SAVIANI 2006 p 72) Pode-se dizer que a
catarse eacute a demonstraccedilatildeo teoacuterica do ponto de chegada do niacutevel superior
atingido pelos alunos (GASPARJN 2005)
Por fim no retorno agrave praacutetica social temos a nova maneira de comshy
preender a realidade e de posicionar-se diante dela eacute a manifestaccedilatildeo
da nova postura praacutetica da nova atitude da nova visatildeo do conteuacutedo
no cotidiano Trata-se de acordo com Gasparin (2005) do momento
de accedilatildeo consciente em prol da transformaccedilatildeo da realidade a partir do
retorno agrave praacutetica social agora entendida de forma mais elaborada
Levando em conta esses diferentes momentos do meacutetodo dialeacutetico
de construccedilatildeo do conhecimento o ensino dos diferentes conteuacutedos que
compotildeem a cultura corporal permite aos alunos se apropriarem dos coshy
nhecimentos acumulados historicamente pela humanidade Trata-se de
um importante passo no sentido de enriquecer a concepccedilatildeo de mundo
dos alunos uma vez que o acesso ao saber sistematizado sobre jogos
esporte luta danccedila ginaacutestica circo por exemplo se constitui como
elemento indispensaacutevel para leitura dessa dimensatildeo da realidade
Consideraccedilotildees finais
O artigo em tela apresentou a concepccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica de
Educaccedilatildeo Fiacutesica que embasa as praacuteticas pedagoacutegicas discutidas ao longo
deste livro destacando sua articulaccedilatildeo com um projeto de formaccedilatildeo hushy
mana criacutetico agraves relaccedilotildees sociais capitalistas visando superar a perspectiva
de adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves exigecircncias do mundo do trabalho
Com base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e na abordagem Criacutetico-
-superadora o objetivo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute promover uma
reflexatildeo criacutetica sobre diferentes conteuacutedostemas da cultura corporal
seguindo um caminho metodoloacutegico que busca ampliar a compreensatildeo
e accedilatildeo dos sujeitos sobre a realidade em que vivem
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CAPIacuteTULO III
A PRODUCcedilAtildeO DA CULTURA LUacuteDICA EM JOGOS ELETROcircNICOS
Priscila Rocha Rodrigues
Renata Aparecida Alves Landim
Tl)iago Barreto Maciel
Victoacuteria de Faacutetima de Mello
Abordar os jogos e as brincadeiras como
conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica pode parecer
um lugar comum pois existe um consenso
por parte dos educadores acerca da presenshy
ccedila dessas praacuteticas corporais nas aulas dessa
disciplina Entretanto muitas vezes o trashy
balho desenvolvido nas escolas opera uma
instrumentalizaccedilatildeo dos jogos utilizando os
mesmos como meios para a aprendizagem
dos esportes ou de outras mateacuterias de enshy
sino De acordo com Bracht et al (1995)
esse processo dilui os jogos de seu contexshy
to soacutecio-cultural passando a consideraacute-los
como um recurso metodoloacutegico e natildeo como
um conteuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Consideramos que para tratar os joshy
gos e as brincadeiras1 como conteuacutedo de
ensino eacute preciso superar a mera praacutetica e
I Em diversos idiomas os termos jogos brincadeiras e
brinquedo satildeo tratados como sinocircnimos e em outros uma
uacutenica palavra guarda os trcs significados Visando distinguir
os termos Kishimoto (2003) considera como brinquedo o
objetosuporte - concreto ou ideoloacutegico - da brincadeira
como brincadeira a conduta estruturada por regras e como
jogo a descficcedilaacuteo tanto do objeto como das regras durante um
determinado templaquo gt Neste texto adotaremos a conceituaccedilatildeo
de brinquedo como suporte da brincadeira mas naacuteo faremos
promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre os jogos como uma forma
proacutepria de expressatildeo da cultura corporal Os jogos satildeo resultados
do processo criativo cio homem para modificar imaginariamente
a realidade e o presente tendo em vista finalidades luacutedicas (C O shy
LETIVO DE AUTORES 1992) Eles tecircm significados dentro do
conjunto da produccedilatildeo humana por isso guardam em seu interior
as caracteriacutesticas do modo de organizaccedilatildeo social num dado moshy
mento histoacuterico sendo marcados por continuidades e rupturas em
relaccedilatildeo aos jogos e brincadeiras de outras eacutepocas
Na atualidade o modo de vida das pessoas sobretudo nos
grandes conglomerados urbanos tem favorecido a substituiccedilatildeo parshy
cial ou total dos jogos traciicionais provenientes da cultura popular
pelos videogames produtos da induacutestria cultural Nesse sentido
consideramos que promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as es-
pecificidades e os dilemas que envolvem os jogos eletrocircnicos como
uma manifestaccedilatildeo luacutedica tipicamente contemporacircnea pode ajudar a
compreender o proacuteprio tempo 1 1 0 qual vivemos
lendo em vista a realizaccedilatildeo de uma discussatildeo teoacuterico-metodo-
loacutegica sobre os jogos e a socializaccedilatildeo de uma experiecircncia concreta
organizamos este artigo em trecircs partes aleacutem dessa introduccedilatildeo e das
consideraccedilotildees finais Na primeira abordaremos os jogos como uma
manifestaccedilatildeo da cultura corporal e suas implicaccedilotildees para as aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesica Na segunda trataremos das formas de expressatildeo dos
jogos na sociedade contemporacircnea Na terceira parte apresentaremos
uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos para os alunos dos
anos finais cio ensino fundamental seguida do plano de unidade
Os jogos e as brincadeiras como conteuacutedos para as aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Em nosso tempo um dos grandes estudiosos sobre os jogos foi
Huizinga Em sua obra claacutessica ldquoHomo Ludens rdquo publicada origishy
nalmente em 1938 ele analisou a natureza e o significado do jogo
como fenocircmeno cultural De acordo com Huizinga (2000) o jogo eacute
uma das manifestaccedilotildees mais antigas da humanidade e sempre esteve
associado ao divertimento e ao prazer com a finalidade de dar um
sentido luacutedico para a existecircncia humana Nas palavras do autor
[] o jogo eacute uma atividade ou ocupaccedilatildeo volunshy
taacuteria exercida dentro de certos e determinados
limites de tempo e de espaccedilo segundo regras lishy
vremente consentidas mas absolutamente obrigashy
toacuterias dotado de um fim em si mesmo acompashy
nhado de um sentimento de tensatildeo e de alegria e
de uma consciecircncia de ser diferente da ldquovida quoshy
tidianardquo (H U IZ IN G A 2000 p 24)
Apesar de buscar se distanciar dos objetivos de satisfaccedilatildeo imeshy
diata da vida atraveacutes da criaccedilatildeo e praacutetica de diversos tipos de jogos
todo jogo desde as idades mais remotas ateacute os dias atuais eacute um
produto do ldquotrabalhordquo 2 e por isso estaacute subordinado agraves formas
histoacutericas assumidas pela atividade humana em diferentes modos de
produccedilatildeo social da existecircncia ldquoOs homens fazem sua histoacuteria mas
natildeo a fazem como querem natildeo a fazem sob circunstacircncias de sua
escolha e sim sob aquelas com que se defronta diretamente legadas
e transmitidas pelo passadordquo (MARX 1978 p 329)
Uma caracteriacutestica marcante em todos os jogos e brincashy
deiras eacute a existecircncia de uma situaccedilatildeo imaginaacuteria e de regras que
expliacutecita ou implicitamente ordenam e conduzem as accedilotildees dos
jogadores Como descreve Vygotsky (2007) no processo de deshy
senvolvimento das brincadeiras da crianccedila haacute um processo que
vai do jogo de papeacuteis com situaccedilotildees imaginaacuterias expliacutecitas e com
regras impliacutecitas aos jogos com regras expliacutecitas e situaccedilotildees imashy
ginaacuterias ocultas Para esse autor os jogos satildeo condutas que im ishy
tam as accedilotildees reais por isso sofrem influecircncia das relaccedilotildees sociais
num jogo de papeacuteis da crianccedila por exemplo a situaccedilatildeo imaginaacuteshy
ria incorpora elementos e regras de comportamento do contexto
cultural adquiridos por meio da interaccedilatildeo com os outros
2 O trabalho eacute para Marx e Engels (1989) a atividade vital e por excelecircncia humana a partir
dele o homem modifica intencionalmente a natureza para atender suas necessidades e cria
novas necessidades produzindo sua proacutepria vida Desse modo por meio do trabalho o
homem transforma ao mesmo tempo a si mesmo e as formas de se organizar socialmente
criando histoacuterica e coletivamente um mundo especificamente humano o mundo da cultura
Outro aspecto que merece ser destacado eacute que todo jogo tem sua
existecircncia em um tempo-espaccedilo relacionado agrave sua localizaccedilatildeo histoacuterishy
ca e geograacutefica De acordo com Kishimoto (2003) uma mesma conshy
duta pode ser jogo ou natildeo-jogo em diferentes culturas dependendo
do significado a ele atribuiacutedo Os brinquedos tambeacutem devem ser enshy
tendidos como objetos culturais pois natildeo podem ser compreendidos
fora do contexto histoacuterico e social em que foram criados Se para uma
crianccedila europeia a boneca significa um brinquedo para populaccedilotildees
indiacutegenas tem o sentido de siacutembolo religioso
Desse modo mesmo que o jogo seja compreendido como
uma accedilatildeo de livre expressatildeo da crianccedila a sua praacutetica cotidiana
revela formas diferenciadas de jogar de acordo com o modo de
organizaccedilatildeo do trabalho e da vida dos povos praticantes Orlick
(1978) destaca como os padrotildees de partilha das sociedades satildeo reshy
fletidos e reforccedilados nos jogos e brincadeiras infantis Atraveacutes deles
as crianccedilas aprendem os modelos de comportamento dos adultos e
vatildeo sendo preparadas para a vida em sociedade
Esse coletivo considera que para configurar o jogo como conshy
teuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ele deve ser tratado pedagogishy
camente tendo em vista uma aprendizagem que amplie o niacutevel de
compreensatildeo dos alunos sobre o mundo Para tal consideramos que
ter accsso ao conhecimento sistematizado sobre os jogos e brincashy
deiras eacute essencial para que as crianccedilas e jovens possam agir sobre a
realidade social de forma totalizante incluindo em suas possibilidashy
des de accedilatildeo a dimensatildeo luacutedica da produccedilatildeo cultural humana Nesse
sentido se apropriar da cultura jaacute produzida eacute fundamental para
explorar o jaacute existente e a partir daiacute criar o novo dando novos
sentidos e significados aos jogos e brincadeiras
Considerar os jogos como manifestaccedilotildees da cultura corporal signifishy
ca retraccedilaacute-Ios desde sua gecircnese desvendando como eles eram e como satildeo
hoje buscando uma intervenccedilatildeo consciente sobre a realidade
Sua importacircncia enquanto conteuacutedo da EF estaacute
na representaccedilatildeo das raiacutezes histoacutericas e culturais
de diversos povos bem como as transformaccedilotildees
ocorridas ao longo do tempo que possam ter cau-
sado modificaccedilotildees no modo como se joga detershy
minado jogo em vaacuterias partes do mundo Egrave imporshy
tante tambeacutem considerar o jogo em seu processo
de criaccedilatildeo recriaccedilatildeo e readaptaccedilatildeo levando-se em
conta as possiacuteveis influecircncias poliacuteticas econocircmishy
cas e sociais pelas quais tenha passado dando-lhe
uma nova configuraccedilatildeo e uma compreensatildeo criacutetishy
ca (BRITO 2006 p 61)
Desse modo deve-se privilegiar uma abordagem sobre os
jogos que possibilite o conhecimento de suas principais caracteshy
riacutesticas como forma de manifestaccedilatildeo especiacutefica da cultura corshy
poral e naacuteo de forma subordinada ao esporte A flexibilidade eacute a
palavra chave para entender o jogo quanto agraves regras organizaccedilatildeo
espaccedilo-tempo nuacutemero de jogadores nomeaccedilatildeo caraacuteter compeshy
titivo ou cooperativo (JU IZ DE FORA 2000)
O trabalho com os jogos e brincadeiras deve permitir a
compreensatildeo do processo de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo da culshy
tura bem como suas continuidades e modificaccedilotildees histoacutericas
De acordo com o Coletivo de Autores (1992) a elaboraccedilatildeo de
um programa desse conteuacutedo ao longo dos anos de escolarizaccedilatildeo
deve considerar a memoacuteria luacutedica da comunidade e oferecer o
conhecimento da diversidade de jogos e brincadeiras existentes
nas diferentes regiotildees do paiacutes e do mundo
A ideia motriz eacute entender que os jogos como criaccedilotildees humanas
que objetivam o prazer e o divertimento num dado contexto histoacuterico-
-social refletem mas tambeacutem podem forjar valores e comportamentos
Desse modo o trabalho com os jogos deve instrumentalizar os alunos
natildeo apenas para utilizar a cultura luacutedica mas tambeacutem compreendecirc-la
como produccedilatildeo humana passiacutevel de constante criaccedilatildeo e recriaccedilatildeo
Devido agrave necessidade de selecionar temas de relevacircncia social
que instrumentalizem os alunos para uma accedilatildeo criacutetica frente agrave realishy
dade nos debruccedilamos sobre uma forma especiacutefica de manifestaccedilatildeo
da praacutetica luacutedica dos indiviacuteduos na atualidade - os jogos eletrocircni-
cos- buscando tratar de sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na
sociedade capitalista e suas relaccedilotildees com os jogos tradicionais
Os games formas de manifestaccedilatildeo dos jogos na sociedade contemporacircnea
Em pleno seacuteculo XXI as crianccedilas ainda brincam de piques
jogos com bola jogos de tabuleiro dentre tantos outros de forshy
ma muito semelhante aos seus pais avoacutes e bisavoacutes A esses tipos
de jogos que foram capazes de atravessar o tempo chamamos
de jogos tradicionais Eles tecircm como caracteriacutesticas centrais o
fato de pertencerem ao domiacutenio puacuteblico e serem transmitidos de
geraccedilatildeo em geraccedilatildeo De acordo com Kishimoto (2003) os jogos
tradicionais satildeo considerados como parte da cultura popular e
expressam as formas de consciecircncia de um povo num dado moshy
mento histoacuterico Esses jogos satildeo transmitidos oralmente e por
incorporarem criaccedilotildees anocircnimas das geraccedilotildees que vatildeo se suceshy
dendo estatildeo sempre em transformaccedilatildeo
Com base nesta definiccedilatildeo podemos considerar que existe uma fashy
cilidade da apropriaccedilatildeo e vivecircncia dos jogos tradicionais que satildeo tiacutepicos
da regiatildeo de pertencimento do aluno mesmo que de forma fragmentashy
da e caoacutetica proveniente do senso comum Tal fato se daacute justamente por
entendermos que os jogos tradicionais antes de tudo satildeo populares a
cabo do termo ou seja tecircm uma ampla inserccedilatildeo na sociedade Outro
fator que garante essa popularidade eacute que eles satildeo transmitidos atraveacutes
das geraccedilotildees e para sua praacutetica natildeo eacute necessaacuterio nenhum material sofisshy
ticado Dessa forma o alijamento dos meios de produccedilatildeo e dos produshy
tos do trabalho da maior parte da populaccedilatildeo natildeo acaba por ser um fator
determinante apesar de central no acesso a esse patrimocircnio cultural da
humanidade que satildeo os jogos tradicionais ou populares3
Embora diversos jogos tradicionais possam ser aprendidos
praticados de forma gratuita e permaneccedilam muito presentes no
cotidiano das crianccedilas e adolescentes eles vecircm perdendo espaccedilo
3 Neste texto utilizaremos os termos jogos tradicionais e jogos populares como sinocircnimos devido
ao fato de ambos possuiacuterem a mesma dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo marcadas pela
produccedilatildeo coletiva e reproduccedilatildeo oral entre as geraccedilotildees o que nos permite consideraacute-los como
patrimocircnios da cultura popular De acordo com SANTOS (2009) os termos tradicional
popular e folclore representam o conhecimento sobre um jogo por parte majoritaacuteria da
populaccedilatildeo sendo esse conhecimento na maioria das vezes advindo do senso comum
)
sobretudo nas grandes cidades para os jogos eletrocircnicos formas
de expressatildeo dos jogos tipicamente contemporacircneas
Os jogos eletrocircnicos4 estatildeo presentes na praacutetica social cotidiashy
na das pessoas em escala mundial e fazem parte da vida de inuacutemeras
crianccedilas e adolescentes brasileiros mesmo daqueles para os quais
os jogos satildeo apenas desejos de consumo Os games estatildeo por toda
parte natildeo apenas nos aparelhos especiacuteficos para os jogos (consoles
e portaacuteteis) mas tambeacutem nos computadores ipads e telefones celushy
lares podendo ainda ser jogados pela internet em sites e nas redes
sociais Deve ser difiacutecil para as crianccedilas e jovens de hoje pensarem
que houve um tempo em que natildeo existiam jogos digitais
A histoacuteria dos jogos eletrocircnicos tem iniacutecio no final dos anos
de 1950 no contexto da guerra fria quando comeccedilam a ser criashy
dos protoacutetipos de videogames com a incorporaccedilatildeo da tecnoloshy
gia disponiacutevel na eacutepoca Um dos precursores do videogame foi
W illian Higinbotham um fiacutesico que atuava num laboratoacuterio nushy
clear e havia trabalhado no projeto da primeira bomba atocircmica
ele criou em 1958 um jogo eletrocircnico com linhas rudimentares
o tecircnis para dois Em 1966 eacute criado por Ralph Baer o primeiro
console caseiro o Magnavox Odissey (A ERA 2007)
Entretanto eacute a partir dos anos de 1970 acompanhando o desenvolvishy
mento dos computadores pessoais que os jogos eletrocircnicos se tornam mais
expressivos Em 1972 com a criaccedilatildeo do ldquoPongrdquo (fliperama que simula uma
partida de tecircnis de mesa) os games comeccedilam a ficar agrave disposiccedilatildeo do puacuteblishy
co em geral O seu desenvolvedor Nolan Bushenell percebeu o potencial
dos jogos eletrocircnicos como um negoacutecio e fundou a ATARI empresa que
marcou o surgimento da induacutestria do videogame (ALVES 2004)
Entre a deacutecada de 1970 e a deacutecada de 1980 devido agrave manifestashy
ccedilatildeo de uma crise ciacuteclica de superproduccedilatildeo do sistema capitalista tem
iniacutecio um processo que podemos chamar de mundializaccedilatildeo econocircmi-
4 Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais nos quais o jogador interage com imagens
enviadas a uma tela geralmente uma televisatildeo ou monitor Os games satildeo programas
(sofrwares) instalados ou acessados em um sistema eletrocircnicoaparelho preparado
para rodaacute-lo (Hardware) Existem vaacuterios gecircneros de jogos eletrocircnicos como jogos de
accedilatildeo (plataforma de corrida de tiro) de estrateacutegia de lutacombate de esporte de
simulaccedilatildeo Role Playing Games (RPG) e de tabuleiro
caJy em que o capital parte em busca de novas aacutereas visando explorar
condiccedilotildees mais rentaacuteveis de produccedilatildeo e expandir mercados consushy
midores E justamente nesse contexto que a induacutestria cultural ganha
impulso e os jogos eletrocircnicos satildeo disseminados pelos quatro cantos
do mundo com grande potencial de escoamento de mercadorias
Nas duas uacuteltimas deacutecadas fruto de uma germinaccedilatildeo iniciada no
poacutes-terceira revoluccedilatildeo industrial ou revoluccedilatildeo tecnocientiacutefica que
proporcionou o surgimento de atividades que empregam a alta tecshy
nologia como a informaacutetica a microeletrocircnica o avanccedilo das telecoshy
municaccedilotildees e a biotecnologia os jogos eletrocircnicos tecircm seguido e tamshy
beacutem contribuiacutedo com os avanccedilos tecnoloacutegicos Se compararmos os
primeiros games com os jogos de hoje constataremos que eles deram
grandes saltos qualitativos de graacuteficos bi para graacuteficos tridimensionais
que permitiram aperfeiccediloar e personalizar os enredos e personagens
atingindo uma qualidade de imagem som e movimento tatildeo bons que
os jogos mais parecem realidades virtuais As inovaccedilotildees tecnoloacutegicas
e criativas satildeo produzidas numa velocidade cada vez maior materiashy
lizando-se rapidamente numa nova mercadoria a ser comercializada
O mercado dos games eacute de alta lucratividade com projeccedilotildees
de faturamento no acircmbito mundial para 2013 de US$ 735 bilhotildees
e girando no mercado interno aproximadamente R$ 875 milhotildees
- valor referente ao ano de 2008 (ABRAGAMES 2008) Aleacutem da
venda de uma enxurrada de produtos relacionados agrave praacutetica dos joshy
gos eletrocircnicos existe uma espeacutecie de economia virtual com comshy
pra e venda de mercadorias e identidades digitais (avatares) 6
5 O termo mundializaccedilatildeo eacute utilizado por Chesnais (1996) com a intenccedilatildeo de diminuir
a falta de nitidez conceituai e o caraacuteter ideoloacutegico do termo globalizaccedilatildeo que sugere
a ideia de uma perspectiva integradora Para o autor o termo mundializaccedilatildeo permite
pensar melhor esta fase especiacutefica do processo de internacionalizaccedilatildeo do capital em
busca de regiotildees com recursos ou mercados visando sua valorizaccedilatildeo Neste processo de
liberalizaccedilatildeo econocircmica e financeira haacute um agravamento da polarizaccedilatildeo entre regiotildees
centrais e perifeacutericas do capitalismo tanto em escala internacional como nacional
6 Essa economia virtual eacute muito comum nos jogos on-line de representaccedilatildeo da vida real
como Farm Ville The Sims Social e Second Life O Second Life possui uma unidade
monetaacuteria proacutepria o Linden Dollar atraveacutes da qual as pessoas podem comprar quase
tudo dentro do jogo Em 2009 o site do jogo movimentou 549 milhotildees de doacutelares Soacute
no primeiro trimestre de 2010 as movimentaccedilotildees financeiras entre usuaacuterios chegaram
a 160 milhotildees de doacutelares e a arrecadaccedilatildeo da loja virtual oficial foi de 23 milhotildees
(LUCRATIVO 2010)
Aqui cabe uma reflexatildeo sobre a dinacircmica social que envolve a proshy
duccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos e suas diferenccedilas em relaccedilatildeo
aos jogos tradicionais Os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos acompashy
nhando os avanccedilos tecnoloacutegicos do momento e norteados pelo afatilde da
esteira mercadoloacutegica tornando-se obsoletos rapidamente Bem difeshy
rente dos jogos tradicionais que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo cm geraccedilatildeo
e apesar de sofrerem algumas modificaccedilotildees resistem ao teste do tempo
Desse modo podemos dizer que os jogos eletrocircnicos natildeo podem ser
considerados como populares pelo menos por dois motivos primeiro
pelo fato dos jogos de hoje natildeo serem os mesmos de amanhatilde e segunshy
do devido agrave exigecircncia de produtos especializados para a praacutetica dos
mesmos o que por si soacute jaacute os torna inacessiacuteveis a uma parcela signifishy
cativa da populaccedilatildeo que natildeo possui condiccedilotildees de consumo
Entretanto ao mesmo tempo em que existe uma ruptura entre esshy
ses dois tipos de jogos podemos notar uma estreita relaccedilatildeo entre eles jaacute
que muitos jogos eletrocircnicos satildeo na realidade versotildees virtuais de antigos
jogos tradicionais como os jogos de tabuleiro o boliche a queimada
os jogos de cartas os quebra-cabeccedilas entre outros O que sugere uma
perspectiva de continuidade na produccedilatildeo da cultura luacutedica
Temos como pressuposto baacutesico que o trabalho educativo
consiste em transmitir o conhecimento historicamente produzido
a fim de contribuir para que os nossos alunos possam ter acesso
aos conhecimentos mais desenvolvidos produzidos historicamenshy
te pela humanidade para que possam enriquecer-se como indishy
viacuteduos e atuarem como homens do seu tempo Entretanto aqui
evidenciamos uma grande contradiccedilatildeo da nossa sociedade pois
devido ao modo de produccedilatildeo capitalista esses conhecimentos que
os proacuteprios trabalhadores ajudaramajudam a construir lhes satildeo
negados7 No caso dos jogos eletrocircnicos apesar de existir uma
enorme difusatildeo sobre os mesmos vemos que a maioria da classe
trabalhadora natildeo tem real acesso a esta produccedilatildeo cultural
7 O acesso agraves tecnologias digitais aumentou nos uacuteltimos anos mas ainda eacute m uito
significativo o nuacutemero de pessoas sem acesso real a esses bens sociais De acordo
com o PNAD 2009 apenas 35 dos domiciacutelios brasileiros investigados tinham
microcomputador e somente 274 tinham arlaquolaquo -------M n
Esteban Clua - professor do departamento de computaccedilatildeo da
UFF- em entrevista concedida agrave Agecircncia Brasil destacou que o Brasil eacute
o quarto maior consumidor de jogos eletrocircnicos do mundo sendo que
existe uma massa de aproximadamente 39 milhotildees de usuaacuterios ativos
desses jogos ou seja aproximadamente 20 da populaccedilatildeo brasileira
(GANDRA 2011) Com base nisso cabe a noacutes lanccedilarmos algumas
perguntas que tipo de acesso eacute esse Quais fatores levam os outros 80
da populaccedilatildeo brasileira a natildeo jogarem E por que os jovens e crianccedilas
mesmo os que sequer tecircm as condiccedilotildees de garantir a sua subsistecircncia se
veem hipnotizadas por essas mercadorias
Os jogos eletrocircnicos como qualquer produccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo satildeo
bons nem ruins por natureza natildeo se trata de criticaacute-los de forma saudosista
mas de permitir aos alunos uma atuaccedilatildeo criacutetica e consciente frente a esses
jogos que auxilie a superar o fetiche da tecnologia e a alienaccedilatildeo frente agrave messhy
ma Quando tomadas como valores de uso a ciecircncia e a tecnologia estatildeo
a serviccedilo da melhoria das condiccedilotildees de vida e da possibilidade de dilatar o
tempo livre para que o homem produza novos sentidos para sua existecircncia
natildeo apenas pela necessidade de comer vestir dormir morar mas tambeacutem
por finalidades luacutedicas Nesse sentido Frigotto (2005) aponta que as tecshy
nologias satildeo como extensotildees dos sentidos e membros dos seres humanos
Mas sob as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo da sociedade capitalista o que era para
aumentar o tempo livre intensifica a exploraccedilatildeo e a alienaccedilatildeo
Com isso entendemos que natildeo haacute neutralidade no desenvolvimento
tecnoloacutegico pelo contraacuterio ele materializa-se em meio a todas as condenshy
saccedilotildees de forccedilas que permeiam a sociedade de classes Por isso apesar do
discurso que prega o acesso pleno agraves benesses do desenvolvimento capitashy
lista a natildeo democratizaccedilatildeo dos bens culturais produzidos pela humanidade
nos mostra o contraacuterio No caso dos jogos eletrocircnicos observamos que sua
dinacircmica de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo como mercadorias estaacute intimamente
ligada agrave loacutegica desigual e predatoacuteria do consumismo capitalista8
8 Os jogos eletrocircnicos como expressotildees culturais refletem a sociedade em que nascem mas
ao mesmo tempo tambeacutem ajudam a educar os consumidores passivos para esse padratildeo
civilizatoacuterio Kosik (1995) ajuda a refletir sobre essa dinacircmica dialeacutetica a partir do caso
da arte ldquotoda obra de arte apresenta um duplo caraacuteter em indissoluacutevel unidade eacute expressatildeo da realidade mas ao mesmo tempo cria a realidade uma realidade que natildeo existe fora da obra ou antes da obra mas precisamente na obrardquo (p 128)
Vale destacar que os grandes expoentes e exportadores histoacutericos
dos jogos eletrocircnicos satildeo as naccedilotildees imperialistas norte-americana e
japonesa Como reflexo disso carregam muitos dos valores tiacutepicos de
paiacuteses de capitalismo central como o individualismo a competiccedilatildeo
exacerbada o consumo desenfreado e a naturalizaccedilatildeo da violecircncia
Aliaacutes a questatildeo da violecircncia presente em diversos jogos eletrocircnicos
eacute uma das grandes polecircmicas que envolvem a praacutetica desses jogos No
que tange ao conteuacutedo violento dos games merecem destaque jogos
que pontuam a realizaccedilatildeo de crimes atropelamentos praacutetica de agresshy
sotildees em ambiente escolar perseguiccedilatildeo e morte de supostos terroristas
e os que simulam guerras e conflitos armados entre paiacuteses e povos Natildeo
eacute raro vermos mateacuterias jornaliacutesticas que associam o uso excessivo de
games a situaccedilotildees de violecircncia real o caso mais emblemaacutetico foi o masshy
sacre ocorrido em 1999 na Escola de Ensino Meacutedio Colombine em
Littleton no estado do Colorado (EUA)
De acordo com Alves (2004) a violecircncia como forma de linshy
guagem envolve ao mesmo tempo aspectos econocircmicos sociais
poliacuteticos culturais e afetivos por isso natildeo podemos adotar uma
atitude reducionista em culpar exclusivamente os jogos eletrocircnicos
pela violecircncia pois eles mesmos satildeo reflexotildeesprojeccedilotildees de uma
sociedade que banaliza a violecircncia A autora destaca tambeacutem que
uma questatildeo crucial a se pensar eacute que a violecircncia tem sido transshy
formada nas diversas miacutedias num grande espetaacuteculo por isso ela
vende e os adolescentes satildeo seduzidos pelas cenas de violecircncia para
consumirem produtos ldquoTanto a espetacularizaccedilatildeo quanto a este-
tizaccedilatildeo da violecircncia vecircm sendo bastante potencializadas nos jogos
eletrocircnicos em que a morte cada vez mais violenta passa a ser
sinocircnimo muitas vezes de grandes vendasrdquo (ALVES 2004 p 79)
Esse caraacuteter sedutor dos games de violecircncia eacute utilizado ateacute
pelas forccedilas armadas estadunidenses para estimular o alistamenshy
to militar e treinar recrutas Com esses objetivos o exeacutercito dos
EUA com a colaboraccedilatildeo do departamento de defesa norte-ame-
ricano criou o Americans Army um jogo de tiro em primeira
pessoa no qual os jogadores simulam combates militares reais
(IMASATO M ESQUITA 200$) O jogo disponibilizado grashy
tuitamente para o puacuteblico desde 04 de julho de 2002 possui
milhares dc jogadores pelo mundo todo inclusive no Brasil
Nesse exemplo os atos de agredirmatar personagens durante
o jogo natildeo satildeo utilizados apenas com sentidos luacutedicos mas tambeacutem
com a finalidade de criar nos jovens o desejo de realizar essas accedilotildees
na vida real A criaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de games como esse sem granshy
des criacuteticas por parte do puacuteblico permite visualizar o quanto a vioshy
lecircncia eacute vista com algo natural em nossa sociedade Com apoio nas
elaboraccedilotildees de Marx (1996) consideramos que a base dessa naturashy
lizaccedilatildeo satildeo as proacuteprias relaccedilotildees sociais capitalistas que transformam
tudo em mercadoria inclusive o trabalho humano fazendo parecer
que relaccedilotildees entre pessoas reais satildeo relaccedilotildees entre coisas
De um modo geral o homem cria instrumentos para satisfashy
zer suas necessidades dando sentidos humanos para as coisas mas
ao fazer isso gera novos interesses e necessidade transformando
sua proacutepria forma de viver Ou seja a tecnologia produzida pelo
homem passa a determinar suas accedilotildees e seu modo de vida Na
atualidade a criaccedilatildeo da rede mundial de computadores mudou
sensivelmente a forma de interaccedilatildeo entre as pessoas no caso dos
jogos eletrocircnicos a internet permitiu o compartilhamento de joshy
gos entre pessoas ao redor do mundo inteiro9 Desse modo os
jogos eletrocircnicos como criaccedilotildees humanas para satisfazer suas neshy
cessidades luacutedicas modificam o modo como os homens satisfazem
essas mesmas necessidades alterando os espaccedilos-tempos outrora
ocupados pelos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais
Nas grandes cidades convivemos com a falta de espaccedilos puacuteblishy
cos para brincar com o tracircnsito intenso com o alto grau de violecircnshy
cia e poluiccedilatildeo entre outros fatores que favorecem a diminuiccedilatildeo do
tempo destinado agraves experiecircncias corporais reais e sua substituiccedilatildeo
parcial ou total por praacuteticas virtuais como as possibilitadas pelos
9 Os jogos Massively Multiplayer on-line (M M Os) possibilitam vaacuterias pessoas
competirem pela internet criando comunidades de gamers gerando um novo modelo
de interatividade via jogos eletrocircnicos Nesse modelo as pessoas representam uma
segunda identidade e se relacionam atraveacutes dela Aleacutem disso existem torneios esportivos
multiplayer que permitem transformar esses games em profissatildeo (A ERA 2007)
jogos eletrocircnicos Os consoles mais modernos permitem inclusive
novas experiecircncias interativas com o corpo onde praacuteticas corporais
- como jogos tradicionais esportes danccedilas lutas e ginaacutestica - poshy
dem ser feitas dentro de um jogo virtual ressignificando a proacutepria
forma de vivecircncia da cultura corporal dentro e fora das telas
Os jogos eletrocircnicos tambeacutem tecircm sido produzidos e utilishy
zados para propoacutesitos que ultrapassam a diversatildeo Nesse sentishy
do merece destaque uma rede internacional chamada Game for change trata-se de uma organizaccedilatildeo social sem fins lucrativos
criada em 2004 nos EUA e com filiais na Europa Aacutesia e Ameacuterishy
ca Latina O objetivo dessa organizaccedilatildeo eacute promover a pesquisa
criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de jogos digitais que contribuam com
mudanccedilas sociais Os jogos satildeo elaborados por sistemas de parshy
cerias e seu conteuacutedo eacute sempre educativo levando o jogador a
buscar soluccedilotildees para problemas econocircmicos ambientais e diploshy
maacuteticos Os melhores games satildeo premiados em um festival que
reuacutene representantes do governo e da sociedade civil10
Desse modo consideramos que abordar as manifestaccedilotildees
contemporacircneas dos jogos eacute essencial para que os alunos possam
atuar como sujeitos de seu tempo tambeacutem na esfera luacutedica No
caso dos jogos eletrocircnicos eacute preciso tratar de sua historicidade
abordando as diversas geraccedilotildees de jogos que apesar de envolshy
verem conhecimentos coletivos se tornam privileacutegio de poucos
na dinacircmica de produccedilatildeo capitalista Para aleacutem do mundo do
entretenimento os games tecircm cumprido funccedilotildees econocircmicas
poliacuteticas e educativas que precisam ser abordadas para uma comshy
preensatildeo mais ampla das relaccedilotildees nem sempre evidentes entre o
real e o virtual no mundo dos jogos
10 Apesar de ser considerado um avanccedilo em relaccedilaacuteo aos games estritamente comerciais por
abordar problemaacuteticas de fundo social alertamos que esses jogos buscam na conciliaccedilatildeo
de classes as soluccedilotildees para problemas extremamente complexos e muitos originados
reforccedilados pelas proacuteprias relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo capitalista alinhando-se portanto
agrave ideologia da responsabilidade Em linhas gerais o objetivo dessa ideologia desenvolvida
a partir do final dos anos de 1990 em consonacircncia com o neoliberalismo de terceira via
eacute articular as accedilotildees do empresariado em torno das questotildees sociais buscando construir
conscnsos entre as classes e suas fraccedilotildees de modo a garantir o processo de dominaccedilatildeo
capitalista por meio do convpnr im pnm IacuteW A B T IM C iacutenno
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com os jogos eletrocircnicos
As crianccedilas e jovens cotidianamente se divertem consomem
e interagem atraveacutes dos jogos eletrocircnicos que natildeo satildeo apenas
brinquedos pois satildeo formas de expressatildeo de sentimentos e deshy
sejos das novas geraccedilotildees Por isso concordamos com Silveira e
Torres (2007) que adotar apenas uma atitude normativa e conshy
troladora em relaccedilatildeo aos jogos eletrocircnicos sem abordar aspectos
teacutecnicos poliacuteticos econocircmicos e eacuteticos que envolvem essa forma
de expressatildeo dos jogos prejudica o desenvolvimento de uma vishy
satildeo criacutetica frente a essa produccedilatildeo cultural
Com a intenccedilatildeo de contribuir para a superaccedilatildeo desses limites
construiacutemos uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos dishy
recionada aos alunos do 7o ano do ensino fundamental Com emshy
basamento na Pedagogia histoacuterico-criacutetica dividimos didaticamente
essa experiecircncia em cinco passos buscando envolver os educandos
no processo de ensino-aprendizagem e propiciar um percurso edushy
cativo que amplie sua compreensatildeo e accedilatildeo sobre o tema
No primeiro momento identificaccedilatildeo da praacutetica social buscashy
mos apresentar os conteuacutedos que seratildeo abordados dentro da unidashy
de e como eles se expressam na praacutetica cotidiana dos alunos Para
que os alunos identifiquem o tema seraacute apresentada uma sequecircncia
de imagens sobre os jogos eletrocircnicos e os alunos seratildeo questionashy
dos sobre o que jaacute sabem e o que gostariam de aprender sobre esses
tipos de jogos Logo em seguida seratildeo apresentados os toacutepicos de
conteuacutedos abordados na unidade a saber conceito de jogos eletrocircshy
nicos os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos a virtualizaccedilatildeo
dos jogos tradicionais os games como grande negoacutecio e os desafios
e possibilidades trazidos pelos games na atualidade
Na problematizaccedilatildeo inicialmente seratildeo debatidas quesshy
totildees que buscaratildeo despertar a curiosidade dos alunos pelo tema
como quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem
Como as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por
que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia Em seguishy
da seratildeo lanccediladas questotildees-problemas que articulam a praacutetica
social concreta dos alunos com o conteuacutedo tratado na unidade
As questotildees foram orientadas com base em diversas dimensotildees
do conteuacutedo a saber conceituai histoacuterica cultural poliacuteticas
econocircmicas social e eacutetica conforme pode ser visto no plano de
unidade apresentado a seguir
A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento de apropriaccedilatildeo do coshy
nhecimento sistematizado a fim de que os alunos ampliem sua
compreensatildeo sobre as problematizaccedilotildees lanccediladas Para tal seratildeo
desenvolvidas accedilotildees como discussotildees debates experimentaccedilatildeo
de jogos na forma tradicional e eletrocircnica aulas expositivas e
apresentaccedilatildeo de documentaacuterios Nessa etapa a falta de recursos
como aparelhos especiacuteficos para jogos eletrocircnicos pode ser subsshy
tituiacuteda por versotildees de jogos para computadoresaparelhos celulashy
res e ou transformaccedilatildeo de jogos virtuais em jogos reais
Na catarse momento no qual os alunos devem ser capazes
de responder as questotildees-problemas com base no conhecimento
sistematizado eles participaratildeo de um quiz educativo sobre jogos
eletrocircnicos com a intenccedilatildeo de auxiliaacute-los na elaboraccedilatildeo de uma
siacutentese entre o saber cotidiano e o conhecimento cientiacutefico Nosshy
sa expectativa eacute que os alunos compreendam as principais caracshy
teriacutesticas dos jogos eletrocircnicos como uma forma de manifestaccedilatildeo
dos jogosbrincadeiras tipicamente contemporacircnea
Ao final do trabalho buscando um retorno agrave praacutetica social os alunos seratildeo estimulados a pocircr em accedilatildeo a nova visatildeo sobre
o conteuacutedotema em tela Nesse sentido seraacute proposta a consshy
truccedilatildeo de um blog que socialize os conhecimentos apreendidos
sobre os jogos eletrocircnicos e a realizaccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo sobre
o desenvolvimento histoacuterico dos jogos eletrocircnicos
Plano de Unidade Os jogos eletrocircnicos e a sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na sociedade contemporacircnea
Conteuacutedo jogos
Turmas 7o ano
Nuacutemero de aulas 12
Objetivo Geral Compreender a dinacircmica social que envolve a
produccedilatildeo e a reproduccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos permitindo o uso
criacutetico desses jogos nos momentos de lazer
1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL
11 Anuacutencio do conteuacutedo
Toacutepicos de conteuacutedo c objetivos especiacuteficos
bull Toacutepico 1 O que satildeo jogos eletrocircnicos
Objetivo especiacutefico Conceituar os jogos eletrocircnicos e
suas formas de manifestaccedilatildeo para distingui-los de oushy
tros tipos de jogos em especial dos jogos tradicionais
bull Toacutepico 2 Os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos
Objetivo especiacutefico Conhecer a origem e as transforshy
maccedilotildees histoacutericas dos jogos eletrocircnicos buscando
entender a influecircncia do contexto histoacuterico e do
avanccedilo tecnoloacutegico na configuraccedilatildeo desses jogos
bull Toacutepico 3 A virtualizaccedilatildeo dos jogos tradicionais
Objetivo especiacutefico Identificar jogos eletrocircnicos insshy
pirados em jogos tradicionais a fim de entender as
relaccedilotildees entre os dois tipos de jogos como produshy
ccedilotildees culturais luacutedicas
bull Toacutepico 4 Os games como um grande negoacutecio
Objetivo especiacutefico Compreender o processo de proshy
duccedilatildeo disseminaccedilatildeo e consumo dos jogos eletrocircnicos
a fim de compreender os papeacuteis econocircmicos poliacuteshy
ticos e sociais assumidos por esses jogos
bull Toacutepico 5 Geraccedilatildeo game over desafios e possibilidades11
Objetivo especiacutefico Reconhecer os benefiacuteciosmalefiacuteshy
cios trazidos pela praacutetica regular dos jogos eletrocircnicos e
suas possibilidades para a cultura corporal permitindo
o uso consciente e equilibrado desses jogos nos moshy
mentos de lazer
12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos
bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Os jogos
eletrocircnicos podem ser jogados em aparelhos proacuteprios
computadores e celulares existem games para jogar
sozinho em dupla e em grupo as pessoas mais velhas natildeo
brincavam com esses jogos
bull O que gostariam de saber mais Por que os jogos eletrocircnicos
satildeo conteuacutedos da Educaccedilatildeo Fiacutesica Quais os jogos eletrocircnicos
mais conhecidos
2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO
21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo
Quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem Como
as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por que os jogos
eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia
11 Elaboramos esse uacuteltimo toacutepico de conteuacutedo de forma bem flexiacutevel para que possa atender
as demandas que surgirem e ser abordado de acordo com recursos disponiacuteveis para seu
desenvolvimento Por isso na instrumentalizaccedilatildeo relativa a esse toacutepico apresentamos
diversas possibilidades de accedilotildees e recursos
12 Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
QUESTOtildeES PROBLEMATIZADORAS
Conceituai
O que satildeo jogos eletrocircnicos Que tipos de jogos eletrocircnicos
existem Os jogos eletrocircnicos podem ser considerados como
ldquojogos popularesrdquo
Histoacuterica
As brincadeiras e as formas de se divertir mudaram com o
passar do tempo Quando surgiram os jogos eletrocircnicos
Qual eacute a origemhistoacuteria de alguns dos principais jogos eleshy
trocircnicos Por que eles sempre mudam
Social
Por que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns atualmente
Quais finalidades sociais eles tecircm cumprido Quais as possishy
bilidades de uso criacutetico dos games
Econocircmica
Como os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos c distribuiacutedos
Haacute faacutecil acessibilidade a todos para vivenciar esses jogos
Quanto custam os aparelhos e miacutedias para acesso aos jogos
eletrocircnicos Existe uma economia virtual
Poliacutetica
Existem espaccedilos puacuteblicos apropriados para brincar e jogar
com seguranccedila em nossa cidade Existem espaccedilos puacuteblicos
para jogar jogos eletrocircnicos
Eacutetica
Quais valores podem ser evidenciados nos jogos eletrocircnicos
Os jogos satildeo violentos Existem jogos eletrocircnicos criacuteticos
aos valores sociais Existem games cooperativos
Cultural
Os jogos eletrocircnicos satildeo difundidos em todas as culturas
Existem jogos eletrocircnicos universais Os jogos mais comuns
variam de paiacutes para paiacutes e de regiatildeo para regiatildeo Qual a relashy
ccedilatildeo entre os jogos eletrocircnicos e os jogos tradicionais
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
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011)
4) SIacuteNTESE SUPERIOR
41 Siacutentese teoacuterica do aluno
Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais de variados gecircneros
que necessitam de aparelhos eletrocircnicos com tecnologias especiacuteshy
ficas para serem jogados Apesar de muitos desses jogos serem reshy
sultado da virtualizaccedilatildeo de jogos tradicionais eles naacuteo podem ser
considerados jogos populares pois satildeo produzidos e distribuiacutedos
sob a forma de mercadorias (conceituai e cultural) Os jogos eleshy
trocircnicos estabelecem uma relaccedilatildeo estreita com o contexto no qual
foram criados incorporando diversos avanccedilos tecnoloacutegicos que
permitem a constante ampliaccedilatildeo da qualidade de imagem som e
movimento dos mesmos (histoacuterica) Na atualidade a forma de orshy
ganizaccedilatildeo das grandes cidades o aumento da violecircncia e a falta de
espaccedilos puacuteblicos para o lazer tecircm favorecido a substituiccedilatildeo parcial
ou total dos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais por jogos
eletrocircnicos (soacutecio-poliacutetica) Os jogos eletrocircnicos satildeo muito divulshy
gados pela miacutedia de massas e datildeo grandes lucros agrave induacutestria cultushy
ral enquanto a grande maioria das crianccedilas ainda natildeo tenha acesso
pleno a essas produccedilotildees pois a dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo
desses jogos se insere no mundo das mercadorias (soacutecio-econocircmi-
ca) Os jogos eletrocircnicos estatildeo inseridos na contraditoacuteria dinacircmica
capitalista e por isso refletem valores sociais como a violecircncia e a
competitividade mas tambeacutem podem forjar outros valores como a
cooperaccedilatildeo e a solidariedade (eacutetica)
42- Expressatildeo da siacutentese
Participar de um quiz de perguntas e respostas sobre os jogos
eletrocircnicos buscando expressar o que foi apreendido durante as aulas
i) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL
Quadro 3- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
ACcedilOacuteES DO ALUNO
Registrar e divulgar os conhecimentos
apreendidos sobre os jogos eletrocircnicos
1 - Construir e divulgar um blog
sobre os jogos eletrocircnicos (conshy
teuacutedo histoacuteria tipos de jogos
benefiacutecios problemas links e esshy
paccedilos para jogar gratuitamente)
Contribuir para a criaccedilatildeo de espaccedilos-
-tempos destinados agrave discussatildeo sobre
os games
2 - Montar uma exposiccedilatildeo que
funcione como linha do tempo
dos jogos
Ampliar os conhecimentos sobre os
jogos eletrocircnicos
3 - Pesquisar mais sobre os jogos
eletrocircnicos
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees finais
A concretizaccedilatildeo de uma proposta de ensino com os jogos eletrocircshy
nicos eacute sem duacutevidas um grande desafio seja pela falta de recursos adeshy
quados seja pela dificuldade em trabalhar com as novas tecnologias e
ateacute pela resistecircncia da comunidade escolar ao tratamento desse tema
pela escola Entretanto defendemos que abordar os games como exshy
pressotildees contemporacircneas dos jogos e brincadeiras eacute imprescindiacutevel se
pretendemos que nossos alunos compreendam a realidade em que vishy
vem e atuem como sujeitos do seu proacuteprio tempo
Com base nessa constataccedilatildeo a nossa intenccedilatildeo foi abrir o diaacutelogo
sobre as possibilidades de trabalho com os jogos eletrocircnicos como conteshy
uacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica Nesse sentido a experiecircncia pedagoacutegica
descrita nesse artigo buscou abordar os jogos eletrocircnicos em suas muacuteltishy
plas dimensotildees visando contribuir para que os alunos reconheccedilam essa
nroducatildeo cultural luacutedica como construccedilatildeo de homens e mulheres reais
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CAPIacuteTULO IV
AS RELACcedilOtildeES ENTRE ESPORTE E SAUacuteDE NO CAPITALISMO TEM ATIZANDO CONTRADICcedilOtildeES NA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR
Carlos Eduardo de Souza
Leonardo Docena Pina
Mocircnica Jardim Lopes
De maneira mais ou menos intensa o esshy
porre se apresenta de diferentes formas em nossa
vida Seja atraveacutes da televisatildeo de jornais de reshy
vistas ou da proacutepria praacutetica de diferentes modashy
lidades nos relacionamos quase que diariamente
com o esporte Poreacutem a relaccedilatildeo que estabeleceshy
mos em nosso cotidiano com essa manifestaccedilatildeo
cultural natildeo proporciona sua real compreensatildeo
E por isso que muitos lidam com o esporte diashy
riamente sem compreender sua relaccedilatildeo com os
processos histoacutericos Da mesma forma muitos
acabam por reproduzir a noccedilatildeo dominante exshy
pressa na ideia de que esporte promove sauacutede
Iniciamos o texto com essa reflexatildeo por
consideraacute-la importante para discutirmos o
ensino do esporte na escola Afinal por que eacute
importante ensinar esporte nas aulas de Edushy
caccedilatildeo Fiacutesica se este jaacute estaacute presente em nosso
dia a dia fora da escola Seria o ensino do esshy
porte realmente necessaacuterio aos alunos
A resposta a essas questotildees nos remete
inicialmente ao fato de que desde a deacutecada
de 1990 com a divulgaccedilatildeo da perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a
cultura corporal (COLET IVO DE AUTORES 1992) foi ampliashy
da a possibilidade de relacionar a Educaccedilatildeo Fiacutesica com a formaccedilatildeo
de sujeitos histoacutericos capazes de compreender a realidade de modo
a nela intervir criticamente Orientada na Pedagogia histoacuterico-criacuteti-
ca (SAVIANI 2005a) tal perspectiva trouxe novas formas de aborshy
dagem dos conteuacutedos As aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica antes pensadas
com o objetivo de desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica de treinamenshy
to teacutecnico de recreaccedilatildeo de aprendizagem motora dentre outros
puderam ser superadas por uma nova tarefa de transmissatildeo do saber
sistematizado necessaacuterio agrave compreensatildeo da realidade
Para alcanccedilar a nova tarefa a que se propotildee a perspectiva
da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal os conteuacutedos passashy
ram a demandar uma tematizaccedilatildeo criacutetico-superadora No caso da
manifestaccedilatildeo cultural que nos propomos a refletir no presente
capiacutetulo as indicaccedilotildees do Coletivo de Autores (1992) fornecem
a base para trataacute-la pedagogicamente de modo a superar as caracshy
teriacutesticas impostas pela sociedade capitalista Imprim ir um novo
sentidosignificado ao esporte implica a consideraccedilatildeo de alguns
elementos jaacute retomados por Assis (2001) Um deles eacute a necesshy
sidade de realizar uma leitura criacutetica do esporte sobretudo para
compreender as mediaccedilotildees que o integram agraves relaccedilotildees sociais de
produccedilatildeo da existecircncia humana Sem refletir criticamente sobre
o esporte corre-se o risco de natildeo compreender sua funccedilatildeo na
reproduccedilatildeo do capitalismo ou de desconsiderar a possibilidade
de esse fenocircmeno cultural servir a outro projeto de sociedade
Outro aspecto reside na necessidade de consideraacute-lo um
conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica A constataccedilatildeo de que o esporte vishy
nha atendendo historicamente aos interesses dominantes fez com
que alguns professores se distanciassem do ensino do esporte na
escola Na verdade por considerar que o esporte relaciona-se ao
processo de reproduccedilatildeo do capitalismo natildeo pretendemos afastaacute-
-lo da educaccedilatildeo escolar Pelo contraacuterio ressaltamos a necessidade
de tematizaacute-Io na escola visto que a transmissatildeo do saber objeshy
tivo historicamente acumulado sobre essa praacutetica cultural pode
se transformar em instrumento cultural de luta contra as forshy
mas de dominaccedilatildeo a que estatildeo submetidos os membros da classe
trabalhadora ainda hoje Daiacute a defesa do Coletivo de Autores
(1992) para desmitificar o esporte atraveacutes da oferta na escola
do conhecimento que permita aos alunos criticaacute-lo dentro de um
determinado contexto histoacuterico
Conforme afirma Assis (2001) o esporte traz consigo possishy
bilidades contraditoacuterias de modo que eacute possiacutevel enfatizar situashy
ccedilotildees que privilegiam a solidariedade sobre a rivalidade o coletivo
sobre o individual a autonomia sobre a submissatildeo a cooperaccedilatildeo
sobre a disputa a distribuiccedilatildeo sobre a apropriaccedilatildeo a abundacircncia
sobre a escassez a confianccedila muacutetua sobre a suspeita a descon-
traccedilatildeo sobre a tensatildeo a perseveranccedila sobre a desistecircncia e ainda
a vontade de continuar jogando em contraposiccedilatildeo agrave pressa para
terminar a partida e configurar resultados
A partir desses apontamentos torna-se possiacutevel afirmar que o
ensino desse conteuacutedo pode permitir aos alunos a apropriaccedilatildeo das
formas mais desenvolvidas do saber objetivo sobre o esporte que se
encontra acumulado na cultura Compreender o esporte demanda a
apropriaccedilatildeo do conhecimento jaacute produzido sobre ele Tal apropriashy
ccedilatildeo possibilita a compreensatildeo de suas contradiccedilotildees e consequenteshy
mente estabelecer novas relaccedilotildees com essa manifestaccedilatildeo cultural
Conforme afirma Saviani (2006) dominar a cultura erudita
eacute necessaacuterio aos membros da classe trabalhadora para que possam
fazer valer os seus interesses jaacute que a classe dominante faz uso
exatamente dos conteuacutedos culturais para legitimar e consolidar
sua dominaccedilatildeo Redirecionando essa reflexatildeo para o ensino do
esporte podemos concluir que o domiacutenio do conhecimento sisshy
tematizado sobre essa manifestaccedilatildeo cultural tambeacutem se constitui
como instrumento indispensaacutevel uma vez que os conhecimentos
adquiridos no cotidiano tendem a ser insuficientes para atuaccedilatildeo
dos indiviacuteduos enquanto sujeitos da histoacuteria
Esporte sauacutede e o modo vidatrabalho no capitalismo
Embora seja muito propagada atualmente sobretudo pela atushy
accedilatildeo de governos e Organismos Internacionais como a Organizaccedilatildeo
das Naccedilotildees Unidas (ONU) o Banco Mundial (BM) e o Fundo Moshy
netaacuterio Internacional (FMI) a ideologia que afirma de forma mecacircshy
nica o esporte como sauacutede carece de anaacutelise concreta da realidade
onde estatildeo inseridas as classes fundamentais1 Na perspectiva que
sustenta nosso estudo o entendimento do esporte da sauacutede e da posshy
siacutevel relaccedilatildeo entre esses dois temas soacute pode ser alcanccedilado se forem
confrontados e aferidos no conjunto da dinacircmica das relaccedilotildees sociais
existentes no modo vidatrabalho capitalista
O fenocircmeno cultural ldquoesporterdquo toma forma no seacuteculo XVIII no
periacuteodo de revoluccedilatildeo e afirmaccedilatildeo da burguesia enquanto classe domishy
nante Segundo Hobsbawm (1988) o esporte foi ldquoformalizado em torshy
no dessa eacutepoca na Inglaterra que lhe ofereceu o modelo e o vocabulaacuteshy
rio alastrou-se como um incecircndio aos demais paiacutesesrdquo (p 255) sendo
tambeacutem fruto segundo Bracht (2005) de ldquomodificaccedilatildeo poderiacuteamos
dizer de esportivizaccedilatildeo de elementos da cultura corporal de movimento
das classes populares inglesas como os jogos popularesrdquo (p 13) cuja
funccedilatildeo era basicamente de comemorar ou festejar datas
Foi tambeacutem nessa eacutepoca - da revoluccedilatildeo industrial - que os trabashy
lhadores passaram a conhecer o chamado ldquotempo livrerdquo que era exashy
tamente o tempo no qual se encontravam livres das obrigaccedilotildees fabris
0 preenchimento desse tempo para promover melhorias no trabalho
produtivo e na conformaccedilatildeo ideoloacutegica para uma melhor extraccedilatildeo da
mais-valia deveria abarcar valores e concepccedilotildees de mundo proacuteprias de
uma burguesia emergente (SILVA 1994) Tais valores se expressavam
diretamente no esporte uma vez que permitia o desenvolvimento de
1 Quando uma pequena parcela dos homens toma para si os meios de produccedilatildeo criam-se
contraditoriamente na sociedade duas classes a dos que detecircm os meios de produccedilatildeo e
aqueles que necessitam vender o uacutenico bem que lhes restou sua Forccedila de trabalho Essa
relaccedilatildeo contraditoacuteria e conflitante enrre os homens requer formas de dominaccedilatildeo por
exemplo as ideologias Entendendo ldquoideologiardquo natildeo como ilusatildeo ou supersticcedilatildeo mas
uma forma material especiacutefica de consciecircncia social (MESZAROS 2004)
determinadas formas de pensar e agir a exemplo da lealdade senso
de responsabilidade esforccedilo pessoal espiacuterito de equipe dentre outros
(TAFFAREL SANTOS JUN IOR 2009)
Proni (2002) ao traduzir a concepccedilatildeo de esporte desenvolvida
por Brohm cria um trabalho fecundo de elementos para compreshy
ensatildeo desse tema Segundo o autor a hipoacutetese central de Brohm se
sustenta no entendimento de que o sistema esportivo moderno eacute o
reflexo da universalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo da forma de vida predomishy
nante que tem sua origem na economia capitalista na qual impera
o espiacuterito industrial a mentalidade do rendimento e do ecircxito ldquoO
intercacircmbio de mercadorias e de capital tiveram como consequecircncia
o intercacircmbio de ideias e a difusatildeo de praacuteticas esportivasrdquo (PRONI
2002 p 38) Ainda segundo o autor satildeo quatro fatores que Brohm
diz ser responsaacuteveis pelo desenvolvimento do esporte
(a) O aumento do tempo livre e o desenvolvimento do
oacutecio (que ocupa um lugar de destaque na civilizaccedilatildeo do
lazer) (b) a universalizaccedilatildeo dos intercacircmbios medianshy
te os transportes e os meios de comunicaccedilatildeo de massa
(o esporte converte-se em ldquomercadoria culturalrdquo graccedilas
a sua natureza comospolita) (c) revoluccedilatildeo teacutecnico -
cientiacutefica (que reflete-se na busca da eficiecircncia corposhy
ral nos novos materiais e equipamentos inclusive no
surgimento de novas modalidades esportivas) (d) e a
revoluccedilatildeo democraacutetico mdash burguesa e o enfrentamento
das naccedilotildees no plano internacional (isto eacute a dinacircmica
poliacutetico mdash ideoloacutegica) (PRONI 2002 p 39)
O esporte dentro dessa perspectiva carrega os valores e os pashy
drotildees de desenvolvimento do Estado liberal Difunde uma forma
de conviacutevio e inspira desejos de mudanccedilas individuais Aproxima
as classes sociais ocultando o antagonismo poliacutetico-econocircmico e
a relaccedilatildeo de exploraccedilatildeo existente entre elas Ou seja um produto
da sociedade industrial que vem servindo em larga medida como
elemento de difusatildeo do ideaacuterio e dos interesses da classe dominanshy
te Assim para Brohm a essecircncia do esporte
eacute a ideologia democraacutetica tiacutepica de uma sociedade
que precisa cultivar um ideal humanitaacuterio (liberdade
igualdade fraternidade) e ao mesmo tempo velar suas
estruturas de classe e seus mecanismos de dominaccedilatildeo
Por isso o autor enfatiza o papel da instituiccedilatildeo esporshy
tiva como estrutura simboacutelica e aparato ideoloacutegico do
Estado (PRONI 2002 p 39-40)
Desse modo Brohm iraacute concluir que o esporte eacute por excelecircnshy
cia algo nefasto para os trabalhadores servindo unicamente para
o fortalecimento das forccedilas e da identidade burguesa (BRACHT
2005) Essa se torna uma visatildeo estreita da realidade Considerashy
mos que a cultura esportiva de fato carrega os valores capitalistas
e nesse sentido tem servido como instrumento a serviccedilo da domishy
naccedilatildeo burguesa Mas isso natildeo eacute tudo Acreditamos que a anaacutelise do
esporte de forma mais profiacutecua deve ser aferida no conjunto das
contradiccedilotildees que envolvem a relaccedilatildeo capital-trabalho E na luta
de classes que as culturas vatildeo se amoldando Portanto o esporte
natildeo eacute uma instituiccedilatildeo que paira acima dos conflitos sociais natildeo
sendo em si nem ldquobom nem ldquoruimrdquo Trata-se da expressatildeo de uma
condensaccedilatildeo de forccedilas na qual hegemonicamente os valores da
classe burguesa sobressaem em relaccedilatildeo aos da classe trabalhadora
Nos dias de hoje a articulaccedilatildeo do esporte com os interesshy
ses da classe dominante pode ser evidenciada pela relaccedilatildeo co-
mumente estabelecida entre a praacutetica de esporte e a obtenccedilatildeo de
sauacutede Exemplo disso eacute a defesa da O N U de que as principais
causas de ateacute 60 das mortes no mundo estatildeo ligadas a pessoas
inativas e que o esporte e a Educaccedilatildeo Fiacutesica ldquosatildeo cruciais para a
vida longa e saudaacutevel O esporte melhora a sauacutede e o bem-estar
aumenta a expectativa de vida e reduz o risco de vaacuterias doenccedilas
natildeo-transmissiacuteveis incluindo a doenccedila cardiacuteacardquo (ON U 2003 p
7 traduccedilatildeo nossa) aleacutem de ser essencial para manter a ldquosauacutede da
menterdquo e construir ldquovaliosas conexotildees sociaisrdquo
Segundo Delia Fonte e Loureiro (1997) eacute a visatildeo funcionalista
sobre a sauacutede que permite afirmar a praacutetica de esporte como soluccedilatildeo
para os malefiacutecios da vida moderna Para os autores essa afirmaccedilatildeo
demonstra a superficialidade com a qual tem se abordado o tema sauacuteshy
de Na visatildeo funcionalista as doenccedilas ou ldquomorbidadesrdquo natildeo tecircm nada
a ver com as relaccedilotildees sociais concretas e sim com um desvio dos indishy
viacuteduos ou seja uma natildeo adesatildeo consciente a haacutebitos mais saudaacuteveis
Delia Fonte e Loureiro (1997) nos ajudam a entender a rashy
zatildeo que leva os Organismos Internacionais a difundir tais com-
preensotildees sobre o tema Conforme afirmam os autores
a estrutura social capitalista determina e legitima vaacuterias
ideacuteias valores e atitudes altamente patoloacutegicos Por um
processo de naturalizaccedilatildeo essas patologias saacuteo apresenshy
tadas como inerentes ao ser humano Longe de serem
compreendidas como patologias elas satildeo tidas como
qualidades Assim aceita-se como normal a busca do
lucro como objetivo de toda atividade econocircmica a exshy
ploraccedilatildeo do homem pelo homem o individualismo a
competitividade e a ambiccedilatildeo como valores modernos a
repressatildeo de ideacuteias e sentimentos rotulados como tabus
a satisfaccedilatildeo imediata de desejos como traduccedilatildeo da felishy
cidade a reificaccedilatildeo das pessoas e das relaccedilotildees sociais e a
alienaccedilatildeo (DELLA FONTE LOUREIRO 1997 p 2)
Em outras palavras o modo de vidatrabalho ainda sob a eacutegide
de uma sociedade classista conserva uma estrutura de poder e uma
poliacutetica mundial de grandes impactos no que concerne agrave sobrevivecircnshy
cia dos indiviacuteduos Nessa direccedilatildeo a preocupaccedilatildeo dos Organismos Inshy
ternacionais consiste tambeacutem em criar ideologias capazes de situar
os indiviacuteduos como uacutenicos culpados ou responsaacuteveis pelo seu estado
de sauacutede independentemente de suas condiccedilotildees de vidatrabalho
Os riscos derivados do modo capitalista de produccedilatildeo da
existecircncia humana satildeo diversos e ligados a inuacutemeras causas tais
como aqueles provenientes do ambiente de trabalho como rashy
diaccedilotildees ruiacutedos frio e calor intenso pressotildees anormais umidade
poeiras gases vapores compostos quiacutemicos esforccedilo fiacutesico intenshy
so controle de alta produtividade trabalho noturno monotoshy
nia trabalho repetitivo maacutequinas e estruturas mal conservadas
entre outros (SOUZA 2011) Vale destacar que ateacute mesmo os
esportistas de alto rendimento sentem os efeitos degradantes do
trabalho no capitalismo o que pode ser expresso natildeo apenas pelo
alto iacutendice de lesotildees mas tambeacutem pelo uso de substacircncias preshy
judiciais agrave sauacutede voltadas ao a u m e n rn Alt c mdash
a isso outros problemas como o aumento do iacutendice de depresshy
satildeo por exemplo que tambeacutem tem atingido atletas2
Mesmo os que natildeo sofrem tais efeitos durante a venda de sua
forccedila de trabalho estatildeo de alguma forma sujeitos agraves implicaccedilotildees do
modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Exemplo disso
satildeo as implicaccedilotildees da degradaccedilatildeo ambiental produzida e intensificada
pelo capitalismo Trata-se de mais uma evidecircncia de que os riscos desshy
sa forma de organizaccedilatildeo social agrave vida humana hoje atingem a todos
A repercussatildeo negativa das relaccedilotildees capitalistas contemporacircshy
neas nas formaccedilotildees sociais ainda eacute agravada com o aumento da
desigualdade social perdas de direitos trabalhistas aumento da
exploraccedilatildeo aumento da violecircncia no campo e nas cidades surtos
de doenccedilas e principalmente a natildeo garantia de direitos baacutesicos
como sauacutede transporte educaccedilatildeo e outros Problemas como esshy
ses tendem a ser contrabalanceados a partir da foacutermula maacutegica
que o esporte assume na oacutetica funcionalista
A pretensa sauacutede relacionada agrave praacutetica do esporte tatildeo defendida
pelos Organismos Internacionais e governos serve duplamente agrave reshy
produccedilatildeo do capitalismo Se de um lado busca convencer as pessoas
de que a ldquoausecircncia de sauacutederdquo eacute uma escolha consciente e natural de
haacutebitos natildeo saudaacuteveis por outro busca ocultar as contradiccedilotildees do
modo de vidatrabalho em uma sociedade de classes O esporte nesshy
se caso torna-se um poderoso instrumento para dinamizar toda essa
estrutura ideoloacutegica de manutenccedilatildeo das relaccedilotildees sociais capitalistas
exatamente a forma de organizaccedilatildeo social que natildeo permite - a todos
- obter condiccedilotildees dignas de trabalho de vida bem como acesso iguashy
litaacuterio a tecnologias e serviccedilos de sauacutede
Em siacutentese pode-se dizer que o desenvolvimento do esporte eacute
algo circunscrito numa totalidade moldada pelo antagonismo das
classes existentes Essa produccedilatildeo cultural assume aspectos compleshy
xos e contraditoacuterios Seus valores moralizantes imbuiacutedos do pensa-
2 A respeito disso ver reportagem ldquoMal do seacuteculo depressatildeo aproxima trageacutedias do mundo
do futebolrdquo (BELPIEDE 2011)
3
mento liberal buscam fortalecer e universalizar um modo de vida
trabalho que coincide com os interesses da classe dominante Trata-
-se de uma forma de educar eacutetica e politicamente os subalternos
definindo um padratildeo de sociabilidade3 A deformaccedilatildeo das praacuteticas
populares e sua adequaccedilatildeo agrave ordem capitalista geram perda parcial
de identidades e possibilidades de autocriaccedilatildeo e transformaccedilatildeo Enshy
tretanto a busca de formas alternativas que visem o resgate das vonshy
tades meacutetodos e anseios dos trabalhadores natildeo eacute algo simples devishy
do ao processo funcional de obscurecimento da realidade Trata-se
de algo importante e possiacutevel a partir do esporte
Considerar o esporte como algo acabado sem espaccedilo para
explorar a contradiccedilatildeo natildeo interessa agrave organizaccedilatildeo da classe trashy
balhadora ldquoUma coisa eacute submeter o esporte aos interesses dos goshy
vernantes e outra eacute tratar pedagogicamente criacutetica reflexiva e
criativamente o esporte enquanto conteuacutedo de ensino e campo de
vivecircncia socialrdquo (TAFFAREL SA N TO S JU N IO R 2009 p 33)
construiacutedo por meacutetodos proacuteprios que visam atender aos anseios
e aspiraccedilotildees dos trabalhadores Ou seja os subalternos devem ser
ldquocapazes de compreender antecipar e contrastar os movimentos
das classes dominantesrdquo (DIAS 2006 p 13)
Entendemos que a condiccedilatildeo da transformaccedilatildeo da sociedade
ou seja a sociabilidade historicamente emancipada livre da domishy
naccedilatildeo de classe seraacute fruto da capacidade de enxergarmos a conshy
tradiccedilatildeo e nela atuarmos no sentido de superaacute-la poliacutetica e econoshy
micamente O que deve ser extirpado da histoacuteria dos homens natildeo
eacute o esporte mas as relaccedilotildees de produccedilatildeo que amoldam culturas e
mentes para servir agrave dominaccedilatildeo de uma classe sobre a outra
Compreender a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede a partir dos funshy
damentos aqui apresentados possibilita criticar a visatildeo funcionalisshy
ta o que pode ser um importante passo para pocircr fim agrave subordinashy
ccedilatildeo do esporte ao projeto histoacuterico da classe dominante
3 Para compreender como a institucionalizaccedilatildeo do esporte na aparelhagem estatal vem
contribuindo para a formaccedilatildeo da sociabilidade capitalista no Brasil recorrer ao estudo de
Souza (2011)
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o conteuacutedo esporte
Com o intuito de articular o ensino do esporte ao que considerashy
mos ser o papel da escola elaboramos uma proposta de trabalho pedashy
goacutegico com o tema esporte e sauacutede a ser desenvolvida com alunos do
oitavo ano da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de ForaMG
O primeiro contato dos alunos com o conteuacutedo a ser trabashy
lhado na unidade didaacutetica em questatildeo ocorreraacute na identificaccedilatildeo da praacutetica social onde apontaremos o assunto que seraacute desenvolvido
durante as aulas Tambeacutem buscaremos apreender o conhecimento
preliminar dos discentes bem como as questotildees que tecircm interesse
de ampliar o saber Apresentaremos o conteuacutedo Esporte delimitanshy
do o seguinte questionamento que direcionaraacute nossas aulas Esporte eacute sauacutede Em seguida cada aluno individualmente deveraacute elaborar
um texto explicitando sua compreensatildeo sobre essa questatildeo geral a
fim de captarmos os saberes construiacutedos pela vivecircncia cotidiana dos
alunos Espera-se com isso que os alunos maniiacuteestem o conhecishy
mento que possuem sobre a temaacutetica estabelecendo ou natildeo uma
relaccedilatildeo entre a praacutetica esportiva e a obtenccedilatildeo de sauacutede
Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto iniciaremos uma discussatildeo geral
sobre a temaacutetica e explicitaremos os toacutepicos que seratildeo abordados
durante o trabalho com o tema a saber sauacutede uma questatildeo
social as lesotildees e a depressatildeo cm atletas do esporte de rendishy
mento os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo vivenciando
diferentes modalidades esportivas Em seguida apresentaremos
os objetivos as atividades a serem desenvolvidas assim como a
importacircncia de se estudar esse tema
A seleccedilatildeo de questotildees sociais que permeiam o conteuacutedo aborshy
dado instigando o debate e a reflexatildeo dos alunos se expressa no
segundo passo metodoloacutegico a problematizaccedilatildeo Nesta etapa seleshy
cionaremos as dimensotildees do conteuacutedo que seratildeo trabalhadas esshy
tabelecendo os questionamentos relacionados agrave praacutetica social tal
como sugere o plano de unidade apresentado a seguir
Na instrumentalizaccedilatildeo fase na qual ocorre de fato a aproshy
priaccedilatildeo do conhecimento por parte do aluno pretendemos desenshy
volver atividades que contribuam para a elaboraccedilatildeo de respostas
aos questionamentos sistematizados anteriormente As atividashy
des docentes e discentes voltadas agrave transmissatildeoapropriaccedilatildeo do
conhecimento sistematizado vatildeo envolver exposiccedilatildeo do conteuacutedo
pelo professor anaacutelise de viacutedeos c documentaacuterios que abordem
a temaacutetica da sauacutede e do esporte leitura discussatildeo e anaacutelise de
reportagens sobre o tema pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privashy
dos) disponiacuteveis para a praacutetica de esporte na cidade vivecircncia das
modalidades esportivas mais conhecidas no paiacutes dentre outros
Para captar se os alunos se apropriaram do conhecimento elashy
borado que os capacita a responder as questotildees levantadas na pro-
blematizaccedilatildeo pretendemos aplicar uma atividade na qual os alunos
individualmente possam produzir um texto dissertativo sobre a seshy
guinte questatildeo geral esporte eacute sauacutede Espera-se que os alunos sejam
capazes de expressar o conhecimento adquirido se aproximando
do entendimento de que a sauacutede eacute uma questatildeo social e portanto
envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporshy
te atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por
exemplo Espera-se que os alunos superem o entendimento predoshy
minante do senso comum expressando que a praacutetica de esporte
por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacutede e mais por questotildees
ideoloacutegicas o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo vem sendo veiculado com a
intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsabilidade por sua
proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus direitos
baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos
que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo
Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto pretendemos discutir as diferenshy
tes abordagens do tema apresentadas pelos alunos inclusive posshy
sibilitando a eles comparar o texto produzido neste momento na
catarse com o texto produzido no iniacutecio do processo pedagoacutegishy
co Aleacutem disso os alunos devem produzir em grupos um cartaz
alertando a comunidade escolar sobre a problemaacutetica estudada
No retorno agrave praacutetica social pretendemos finalizar o trabalho
pedagoacutegico definindo juntamente com os alunos novas intenshy
ccedilotildees e propostas de accedilatildeo mdash a partir da nova forma de compreenshy
der e de lidar com o conteuacutedotema em questatildeo
Plano de unidade
Esporte eacute sauacutede
DISCIPLINA Educaccedilatildeo Fiacutesica
AN O DE ESCOLARIDADE 8o ano do Ensino Fundamental
C O N T E Uacute D O Esporte
U N ID A D E Esporte c sauacutede
N Uacute M ERO DE AULAS 10 aulas
OBJETIVOS GERAIS
bull Entender a sauacutede como uma questatildeo social resultado
das condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo meio
ambiente trabalho transporte acesso aos serviccedilos de
sauacutede dentre outros de modo a adotar uma postura
favoraacutevel agrave superaccedilatildeo dos problemas sociais concretos
que determinam a obtenccedilatildeo da sauacutede
bull Vivenciar atividades esportivas enfatizando novos
sentidossignificados para posicionar-se favoravelmente agrave
transformaccedilatildeo do esporte
bull Refletir sobre os iacutendices de lesotildees e distuacuterbios emocionais
em atletas do esporte de rendimento
bull Analisar diferentes discursos sobre esporte e sauacutede
para posicionar-se criticamente diante das concepccedilotildees
que estabelecem uma relaccedilatildeo direta entre a praacutetica de
esporte e a obtenccedilatildeo de sauacutede
1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL
11 Anuacutencio dos conteuacutedos
TOacutePICOS
bull Sauacutede uma questatildeo social
bull As lesotildees e a depressatildeo em atletas do esporte de rendimento
bull Os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo
bull Vivenciando diferentes modalidades esportivas
12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos
bull O que os alunos sabem a praacutetica de esporte estaacute relacionada
agrave obtenccedilatildeo de sauacutede praticar esporte faz bem agrave sauacutede
bull O que os alunos querem saber mais o que eacute necessaacuterio
para termos uma vida saudaacutevel Quais satildeo os esportes mais
conhecidos no Brasil Quais esportes tecircm o maior iacutendice
de lesotildees
2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO
21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo
O que vocecircs entendem por sauacutede O esporte promove sauacutede
Por quecirc Qual a importacircncia de se estudar o tema ldquoesporte eacute sauacutederdquo
22 Dimensotildees do conteuacutedo
bull Dimensatildeo conceituai O que eacute sauacutede Quais os principais
benefiacutecios da praacutetica correta e adequada de exerciacutecios
fiacutesicos Como a praacutetica esportiva melhora nossa sauacutede
bull Dimensatildeo histoacuterica os espaccedilos puacuteblicos destinados agrave praacutetica
de esporte em nossa cidade estatildeo diminuindo nos uacuteltimos
anos E os espaccedilos que cobram aluguel para utilizaccedilatildeo Seraacute
que esses espaccedilos estatildeo diminuindo ou aumentando
bull Dimensatildeo econocircmica- por que no esporte de rendimento as
lesotildees satildeo muito comuns
bull Dimensatildeo social se o esporte combate a depressatildeo por que
tem aumentado o nuacutemero de casos de atletas com essa
doenccedila A obtenccedilatildeo da sauacutede estaacute sempre presente nos
esportes de alto rendimento O uso de substacircncias para
melhorar o rendimento e a grande incidecircncia de lesotildees nos
atletas eacute indicativo de sauacutede
bull Dimensatildeo poliacuteticarsquo haacute algum programa social que propaga
o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo ou que nele se fundamenta O
lema esporte e sauacutede tem alguma importacircncia poliacutetica Haacute
poliacuteticas puacuteblicas de incentivo agrave praacutetica esportiva na sua
cidade
bull Dimensatildeo cultural Qual a influecircncia da miacutedia na relaccedilatildeo
entre esporte e sauacutede
bull Dimensatildeo ideoloacutegica Por que eacute tatildeo difundida a ideia de que
esporte eacute sauacutede A exigecircncia da capacidade fiacutesica dos atletas
nos esportes de alto rendimento eacute sinocircnimo de sauacutede
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
31 Accedilotildees docentes e discentes
bull Anaacutelise de viacutedeos e documentaacuterios
bull Vivecircncia das modalidades esportivas mais conhecidas no
paiacutes
bull Exposiccedilatildeo do conteuacutedo pelo professor
bull Pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privados) disponiacuteveis para
a praacutetica de esporte na cidade
bull Leitura e anaacutelise de reportagens
32 Recursos mdash humanos e materiais
Livros revistas jornais slides bolas tv dvd folhas de papel
4) CATARSE
41 Siacutentese teoacuterica do aluno
O esporte tem se apresentado atualmente como elemento crucial para
obter sauacutede e alcanccedilar uma vida saudaacutevel A praacutetica de esporte quase semshy
pre estaacute diretamente relacionada agrave sauacutede Poreacutem uma anaacutelise mais cuidashy
dosa do tema esporte e sauacutede nos permite criticar e superar essas compre-
ensotildees predominantes Em primeiro lugar a sauacutede eacute uma questatildeo social
que envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporte
atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por exemplo
Assim a praacutetica de esporte por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacuteshy
de Ateacute mesmo alguns esportistas de alto rendimento acabam por adquirir
problemas de sauacutede em virtude de sua atividade de trabalho seja por utilishy
zar substacircncias seja por se machucar durante treinos ou competiccedilotildees Em
segundo lugar eacute importante destacar que muitas vezes o lema ldquoesporte eacute
sauacutederdquo eacute veiculado com a intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsashy
bilidade por sua proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus
direitos baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos
que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo
42 Expressatildeo da siacutentese
Elaboraccedilatildeo de texto dissertativo produccedilatildeo (em grupo) de um
cartaz sobre o tema estudado
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO
Quadro 1- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO 52 AltyOacuteES DO ALUNO
Saber mais sobre esporte e sauacutede Ler artigos acadecircmicos sobre esporte e sauacutede
Situar-se criticamente frente agraves formulaccedilotildees
sobre esporte e sauacutede utilizando o conhecishy
mento adquirido para compreendecirc-las critishy
camente
Analisar formulaccedilotildees sobre esporte e sauacutede
veiculadas pela miacutedia
Manifestar uma atitude favoraacutevel agrave transforshy
maccedilatildeo do esporte
Vivenciar modalidades esportivas dando
um novo significado a essas praacuteticas de
m odo que a competiccedilatildeo a concorrecircncia
o rendimento e a disputa por exemplo
sejam substituiacutedos por valores que sociashy
lizam privilegiam o coletivo garantam a
solidariedade e respeito humano dentre
outros
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildes Finais
O presente texto buscou apresentar uma proposta pedagoacutegica
de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
tendo como referecircncia os fundamentos da Pedagogia histoacuterico-
-criacutetica Buscamos com essa proposta ampliar a compreensatildeo dos
alunos sobre o tema e consequentemente possibilitar-lhes transshy
cender noccedilotildees cotidianas sobre a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede
Ao socializara referida proposta no presente artigo natildeo pretenshy
demos oferecer uma ldquoreceitardquo mas sim apresentar uma das inuacutemeshy
ras possibilidades de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte
Ainda consideramos importante destacar que as dificuldades imshy
postas pelas condiccedilotildees de vida e trabalho de grande parte dos professhy
sores das redes puacuteblicas municipal e estadual de ensino assim como as
degradantes condiccedilotildees de vida a que estatildeo expostos muitos dos nossos
alunos satildeo apenas alguns dos fatores que podem dificultar o desenshy
volvimento do trabalho pedagoacutegico voltado agrave transmissatildeo do conheshy
cimento sistematizado na educaccedilatildeo escolar As precaacuterias condiccedilotildees de
vidatrabalho por sua vez reiteram nosso entendimento de que a luta
pela socializaccedilatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo se esgota no
debate pedagoacutegico entre as diferentes concepccedilotildees uma vez que engloshy
ba tambeacutem a luta pela escola puacuteblica que deve ser enfrentada em sua
radicalidade tal como alerta Saviani (2005b p 257)
O desafio posto pela sociedade de classes do tipo
capitalista agrave educaccedilatildeo puacuteblica soacute poderaacute ser enfrenshy
tado em sentido proacuteprio isto eacute radicalmente com
a superaccedilatildeo dessa forma de sociedade A luta pela
escola puacuteblica coincide portanto com a luta pelo
socialismo por ser este uma forma de produccedilatildeo
que socializa os meios de produccedilatildeo superando sua
apropriaccedilatildeo privada Com isso socializa-se o saber
viabilizando sua apropriaccedilatildeo pelos trabalhadores
isto eacute pelo conjunto da populaccedilatildeo
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CAPIacuteTULO V
0 MMA COMO NOVA FACE DA LUTA ESPETAacuteCULO
Adriano de Paiva Reis
Graziany Penna Dias
Rafael Loures dos Reis Bellei
Renata Aparecida Alves Landim
O presente capiacutetulo tem por intenccedilatildeo trazer
contribuiccedilotildees sobre a possibilidade de trabalho
com o conteuacutedo lutas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica Entendemos que abordar as lutas na escola
natildeo eacute tarefa faacutecil pois esse conteuacutedo impotildee como
veremos algumas dificuldades ateacute mesmo pela
compreensatildeo equivocada dos proacuteprios professoshy
res e comunidade escolar sobre esse elemento da
cultura corporal Natildeo obstante compreendemos
que o trabalho pedagoacutegico com esse conteuacutedo eacute
possiacutevel e necessaacuterio pois nosso objetivo eacute que os
alunos ultrapassem uma concepccedilatildeo sincreacutetica e
caoacutetica sobre a realidade a partir da apropriaccedilatildeo
de conhecimentos que os permitam superar as vishy
sotildees parciais que predominam no senso comum
Partindo desse pressuposto optamos por
abordar uma temaacutetica que tem chamado a atenshy
ccedilatildeo de nossos alunos na atualidade o fenocircmeno
das Artes Marciais Mistas modalidade de luta
esportiva alardeada pela miacutedia e alvo de muitas
polecircmicas Nossa perspectiva neste texto seraacute reashy
lizar uma breve discussatildeo sobre o tema e apontar
referecircncias metodoloacutegicas para seu tratamento
nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica em conformidade com o referencial teoacuterico-
-metodoloacutegico proposto pelo Coletivo de Autores (1992)
As lutas e seu lugar na escola formaccedilatildeo de lutadores ou sujeitos
A partir da definiccedilatildeo do grande campo da cultura corporal as
lutasartes marciais1 passaram a figurar como importante conteuacutedo
das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica O reconhecimento da necessidade de
tratamento pedagoacutegico das lutas na escola pode ser comprovado em
diversas orientaccedilotildeespropostas curriculares em niacutevel nacional estashy
dual e municipal e em escritos de diversos autores da aacuterea
Natildeo obstante em que pese essa produccedilatildeo ela ainda tem sido
incipiente em termos de lograr accedilotildees (pedagoacutegicas) efetivas para os
diferentes niacuteveis da educaccedilatildeo escolar A parca produccedilatildeo cientiacutefica
abordando as lutas na escola pode ser comprovada se comparada agrave
produccedilatildeo de outros conteuacutedos como o esporte o jogo e a ginaacutestica
Os professores de Educaccedilatildeo Fiacutesica tambeacutem apontam algumas
dificuldades ao procurar trabalhar esse conteuacutedo em suas aulas
como a falta de materiais roupas e espaccedilos adequados De acorshy
do com Nascimento e Almeida (2007) os principais argumentos
para a restriccedilatildeo do trabalho com o conteuacutedo satildeo a falta de vivecircncia
cotidianaacadecircmica em lutas por parte dos professores e a preocushy
paccedilatildeo com a violecircncia que julgam ser intriacutenseca agrave praacutetica das lutas
tornando-as incompatiacuteveis com as finalidades da escola
Apesar de compreendermos esses argumentos acreditamos que
devemos lutar pela formaccedilatildeo continuada e pelos recursos materiais que
nos permitam trabalhar de forma ainda mais qualificada com as lutas
por serem importantes conteuacutedos para a Educaccedilatildeo Fiacutesica De acordo
com os pressupostos que este coletivo se propotildee a trabalhar entendeshy
mos que as lutas configuram-se como um dos elementos da cultura
1 A lguns autores operam distinccedilotildees conceituais entre os termos Artes Marciais
e Lutas Respeitando os objetivos e limites deste texto optamos por natildeo entrar
nesta polecircmica e trabalhar os dois termos dentro do conteuacutedo lutas Partimos do
pressuposto de que apesar de nem toda luta ser considerada uma arte marcial toda
arte marcial eacute em si uma luta Para aprofundar neste assunto ver Lanccedilanova (2006)
corporal dada sua importacircncia nos mais diversos periacuteodos histoacutericos e
pela perspectiva da sua produccedilatildeo com base na realidade sociai concreta
sendo essa accedilatildeo elemento singular do gecircnero humano3 e que por isso se
diferencia da accedilatildeo instintiva do atacar e defender dos animais
As lutas estatildeo presentes nos mais variados espaccedilos como nas atishy
vidades extracurriculares de muitas escolas nas Olimpiacuteadas em acashy
demias nos clubes e na miacutedia (das mais variadas formas) fazendo os
alunos terem uma aproximaccedilatildeo maior com essa manifestaccedilatildeo corporal
Entretanto esse contato se faz geralmente na perspectiva do senshy
so comum reduzindo as lutas aos coacutedigos do esporte de rendimento
em que pesem por exemplo a oficializaccedilatildeo de regras comparaccedilatildeo de
resultados institucionalizaccedilatildeo racionalizaccedilatildeo das praacuteticastreinamenshy
to e busca da maximizaccedilatildeo do desempenho elementos proacuteprios do
processo de esportivizaccedilatildeo a que outras manifestaccedilotildees como o jogo e
a danccedila vem sofrendo tambeacutem (GONZAacuteLEZ 2005)
O boxe eacute um bom exemplo desse processo de esportivizashy
ccedilatildeo Ele foi criado a partir de disputas nas feiras da Inglaterra
dos seacuteculos XV III e X IX e sua sistematizaccedilatildeo como esporte se
deu mediante o objetivo de organizar o tempo livre4 dos trabashy
lhadores das faacutebricas bem como ldquodosarrdquo a violecircncia O mesmo
aconteceu com a luta greco-romana e mais tarde com as lutas
2 Na linha do Coletivo de Autores (1992 p 38) a cultura corporal eacute o ldquo[] acervo de
formas de representaccedilatildeo do mundo que o homem tem produzido no decorrer da histoacuteria
exteriorizadas pela expressatildeo corporal jogo danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte
malabarismo contorcionismo miacutemica e outros que podem ser identificados como formas
de representaccedilotildees simboacutelicas de realidades vividas pelo homem historicamente criadas e
culturalmente desenvolvidasrdquo
3 A expressatildeo gecircnero humano eacute utilizada no lugar de espeacutecie humana natildeo por acaso mas
pautada nas elaboraccedilotildees de Duarte (2001) O autor natildeo descarta a ideia de que o ser humano
faz parte da espeacutecie humana poreacutem ele avanccedila nessa elaboraccedilatildeo De acordo com ele a
categoria espeacutecie humana se refere agrave identificaccedilatildeo do homem por seus elementos bioloacutegicos
jaacute a categoria gecircnero humano destaca as caracteriacutesticas humanas que satildeo formadas ao longo
da histoacuteria social natildeo transmissiacuteveis pela heranccedila geneacutetica ldquoA categoria de gecircnero humano
natildeo se reduz agravequilo que eacute comum a todos os homens natildeo eacute uma mera generalizaccedilatildeo de
caracteriacutesticas empiricamente verificaacuteveis em todo e qualquer ser humano Gecircnero humano
eacute uma categoria que expressa a siacutentese em cada momento histoacuterico de toda objetivaccedilatildeo
humana ateacute aquele momentordquo (DUARTE 2001 p 26)
4 Estamos entendendo tempo livre como aquele livre das obrigaccedilotildees sociais e cotidianas
pois no modelo social em que vivemos nenhum tempo pode ser considerado livre mas
regulado por alguma determinaccedilatildeo social Para saber mais ver Mascarenhalaquo
orientais (Caratecirc Taekwondocirc Kung-fu Jiu-jistu Judocirc etc) o
que nos permite apontar uma mudanccedila paradigmaacutetica das lutas
desde suas origens ateacute os dias atuais
De um modo geral as lutas tecircm suas conotaccedilotildees primordiais
associadas agraves praacuteticas para a guerra sendo posteriormente adotadas
como um caminho para se alcanccedilar um estilo de vida mais equilibrashy
do e paciacutefico Nessa linha Hausen (2004) descreve o processo histoacuterishy
co de desenvolvimento das lutas de origem oriental que surgiram de
danccedilas praticadas no periacuteodo neoliacutetico e foram sendo sistematizadas
com o intuito de defesa mas para aleacutem disso elas foram adquirindo
sentidossignificado mais amplos como a busca de aprimoramento
corporal espiritual eacutetico moral e intelectual
Nos dias atuais as lutas se apresentam de forma massificada e
descaracterizada dos seus objetivos originais como os filosoacuteficos e os
de desenvolvimento humano (BARROS GABRIEL 2011) Os filshy
mes desenhos animados jogos virtuais e academias de ginaacutestica enshy
tre outros espaccedilos muitas das vezes deturpam os significados autecircnshy
ticos das lutas fazendo com que esse importante elemento cultural se
perca diante das demandas do capitalismo internacionalizado
Quase sempre encaradas como espetaacuteculos maravilhosos de pancadashy
ria e violecircncia a miacutedia deturpa o sentido e significado original das lutas torshy
nando-as sinocircnimo de violecircncia e crueldade com os inimigos Este imagishy
naacuterio criado faz com que os praticantes de lutas se tornem super-heroacuteis que
combatem o mal atraveacutes da violecircncia que gradativatildemente ldquodessensibiliza
os mais novos acerca da violecircncia do choque e do terror de ver algueacutem senshy
do agredido Desenvolvendo essa toleracircncia agrave violecircncia precisaratildeo de cada
vez mais violecircncia para serem entretidos rdquo (LANCcedilANOVA 2006 p 7)
A defesa que fazemos em torno desse conteuacutedo se daacute na compreshy
ensatildeo de que essa manifestaccedilatildeo da cultura corporal muito tem a con-
5 Segundo Marta (2009) a disseminaccedilatildeo das artes marciais orientais para outros paiacuteses
desencadeou um processo de ocidentalizaccedilatildeo com progressiva transformaccedilatildeo das
mesmas em produtos que para tornarem-se mais acessiacuteveisaceitaacuteveis comeccedilam a ser
destituiacutedos de seus rituais e valores tradicionais sendo a esportivizaccedilatildeo um elemento
chave desse processo Vale lembrar que a ocidentalizaccedilatildeo natildeo ocorre apenas com as
lutas mas com toda a cultura de tal modo que podemos falar em ocidentalizaccedilatildeo da
comida da moda do padratildeo de beleza dos estilos de vida das praacuteticas corporais etc
tribuir na formaccedilatildeo criacutetica do nosso aluno visto que a atuaccedilatildeo como
sujeito histoacuterico requer o acesso aos conhecimentos acumulados sobre
as lutas e seus significados como realidades histoacuterico-sociais
Compreendemos que cada tipo de luta eacute uma manifestaccedilatildeo
dotada de trajetoacuteria singular pois satildeo criadas pelos homens conshy
forme os interesses sociais culturais poliacuteticos econocircmicos e filoshy
soacuteficos nos vaacuterios periacuteodos histoacutericos e modos de produccedilatildeo6 Desse
modo as lutas tornam-se campo feacutertil na compreensatildeo da realidashy
de como produccedilatildeo histoacuterica e que por isso podem ser reinventashy
das segundo suas necessidades e interesses Aliaacutes o fazer histoacuteria eacute
expressatildeo proacutepria do gecircnero humano Nas palavras de Hobsbawm
(2010) enquanto houver ser humano haveraacute histoacuteria
A perspectiva de trabalho com as lutas dentro da escola natildeo
tem como objetivo formar o lutador de certa modalidade mas sim
formar o sujeito histoacuterico E pensar isso perfaz entender que o ensishy
no de lutas justifica-se quando ele possibilita ao aluno compreender
de forma criacutetica os condicionantes histoacutericos e sociais que fizeram
das lutas o que satildeo hoje bem como possibilitar-lhe usufruir sob
outras perspectivas o praticarvivenciar essa manifestaccedilatildeo
Artes Marciais Mistas
O resultado de toda essa esportivizaccedilatildeoocidentalizaccedilatildeo das
artes marciais da falta de sensibilidade dessa sociedade cada vez
mais competitiva e da busca incansaacutevel por audiecircncia e conseshy
quentemente por lucro se cristaliza em uma simples sigla ldquoianshy
querdquo MMA Mixed M artial Arts) ou Artes Marciais Mistas O
M M A eacute uma luta esportiva em que teacutecnicas de variadas modalishy
dades de lutasartes marciais satildeo utilizadas devidamente esvaziashy
das de seus significados filosoacuteficos e histoacutericos originais e com um
acreacutescimo de brutalidade dotada de sentido econocircmico
6 Modo de produccedilatildeo eacute uma categoria utilizada por Marx com o intuito de discriminar
as diferenccedilas que cada eacutepoca histoacuterica possui em funccedilatildeo das suas forccedilas produtivas e
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo Assim podemos falar em modo de produccedilatildeo escravista
feudalista capitalista Para saber mais ver Huni (2005)
Selecionamos como temaacutetica dessa unidade de lutas essa
modalidade por entendermos que seu apelo midiaacutetico tem chashy
mado muita atenccedilatildeo entre os jovens em nossa sociedade nos uacutelshy
timos anos Essa popularizaccedilatildeo traz algumas questotildees que devem
ser socializadas e discutidas com nossos alunos tais como a orishy
gem dessa luta esportiva o papel da miacutedia na sua difusatildeo a sua
relaccedilatildeo com a violecircncia e com a mercadorizaccedilatildeo das lutas entre
muitas outras que possam surgir de acordo com o interesse e
aprofundamento dos alunos na temaacutetica
Os primeiros indiacutecios de lutas mistas estatildeo relacionados com
a Greacutecia antiga Tal luta era denominada de Pankration uma
combinaccedilatildeo de duas palavras gregas p a n que significa tudo ou
vaacuterios e kratos que significa forccedila7 Mas registros de algo pareshy
cido ressurgem por volta da segunda deacutecada do seacuteculo passado
aqui no Brasil quando membros da famiacutelia Gracie a fim de
divulgar uma modalidade de luta por eles adaptada do Jiu-jitsu
japonecircs e mais tarde denominada Jiu-jitsu brasileiro criaram o
ldquoGracie Challengerdquo ou ldquoDesafio dos Gracierdquo Os irmatildeos Gracie
desafiavam qualquer lutador de qualquer modalidade a fim de
demonstrar que a sua teacutecnica era mais eficiente Esses desafios
ficaram conhecidos como Vale-Tudo8 (AWI 2012)
Mais tarde no iniacutecio dos anos de 1990 nos EUA Rorion Gracie
e outros soacutecios criaram o primeiro torneio UFC (Ultimate Fighting
Championship) Com um formato um pouco diferente dos torneios de
ldquoVale-Tudordquo anteriores - como por exemplo o abandono do ringue e
7 O Pankration era unia espeacutecie de luta de solo que fazia parte das provas dos Jogos
Oliacutempicos sendo um dos acontecimentos mais populares da antiguidade Segundo Elias
e Dunning (1992) o niacutevel de violecircncia permitido nessa luta era muito elevado as regras
eram tradicionais e muito flexiacuteveis havia um juiz mas natildeo havia limite de tempo e o
combate durava ateacute que um dos oponentes desistisse por isso muitas vezes terminava com
a mutilaccedilatildeo ou morte do adversaacuterio O Pankration natildeo pode ser considerado um esporte
pois esse termo soacute pode ser suficientemente utilizado a partir do seacuteculo XV III em referecircncia
agraves praacuteticas corporais regidas por regras escritas e regulamentadas por instituiccedilotildees especiacuteficas
8 No fim da deacutecada de 1920 ocorreu o primeiro confronto puacuteblico desse gecircnero na ocasiatildeo
foi chamado de estilo versus estilo soacute depois a imprensa comeccedilou a se referir a esse confronto
como Vale Tudo (AWI 2012) Na deacutecada de I960 a violecircncia de algumas lutas criou uma
resistecircncia ao Vale Tudo que chegou a ser proibido no Brasil Ele ressurgiu entre as deacutecadas
de 1980 e 1990 num combate entre lutadores de Jiu-jitsu e Luta Livre mas enfraqueceu
novamente devido ao alto grau de violecircncia inclusive por parte do puacuteblico (MM A 2010)
a criaccedilatildeo do octoacutegono9 mdash o UFC chamou a atenccedilatildeo com lutadores de
diversas modalidades se enfrentando com regras miacutenimas e sem restrishy
ccedilatildeo de tempo Logo surgiram outros torneios como ldquoPRIDErdquo e ldquoOpen
Free Style Japanrdquo que se tornaram sucesso nas TV s por assinatura Poshy
reacutem juntamente com o sucesso de espectadores10 vieram as restriccedilotildees
em diversos estados por todos os EUA (MMA 2010)
Em pouco tempo de existecircncia dessas competiccedilotildees os lutashy
dores perceberam que aliar as diversas modalidades de lutas que
permitissem a eles lutarem em peacute e no chatildeo os tornaria mais comshy
petitivos Essa mistura de estilos de lutas e habilidades se tornou
conhecida como Artes Marciais Mistas (D ISCOVER UFC 2012)
Natildeo apenas Anderson mas nossos melhores lutadores
sabem se moldar de acordo com a situaccedilatildeo diante
das adversidades E uma qualidade indispensaacutevel do
MMA Por permitir o uso de golpes das mais diversas
modalidades o esporte acaba premiando a capacidashy
de de improviso do atleta diante de tantas variaacuteveis
Nisso as artes marciais mistas se assemelham agrave paixatildeo
nacional o futebol notoriamente um dos esportes
que menos se presta a ldquoensaiosrdquo e um dos mais impreshy
visiacuteveis que existem (AWI 2012 p 289)
No iniacutecio do seacuteculo XXI o UFC retorna reformulado com reshy
gras mais riacutegidas para poder agradar as autoridades que antes o proishy
biram limite de tempo divisatildeo de categorias por peso e seleccedilatildeo crishy
teriosa de lutadores De acordo com Awi (2012) hoje o MMA em
seus principais eventos eacute um esporte regulamentado com exames
perioacutedicos testes antidoping e regras bem claras
Na atualidade o UFC marca que domina 90 do mercashy
do mundial do M M A vincula o espetaacuteculo de entretenimento ao
consumo dos mais diversos produtos como aparelhos de ginaacutesshy
tica roupas videogames bonecos e DVDs Uma noite do evento
9 v -Segundo Rorion Grace a ideia do octoacutegono (espeacutecie de jaula com oito lados) era
justamente impedir os lutadores de fugirem do espaccedilo de luta durante a ldquopancadariardquo a
fim de atrair mais puacuteblico e chegar agrave televisatildeo (M M A 2010)t10 Na primeira ediccedilatildeo do UFC 85 mil lares americanos pagaram para ver a luta ao
vivo na televisatildeo na segunda foram 120 mil na terceira 180 mil e na quarta 260
mil pagantes (AW I 2012)
gera em meacutedia 70 milhotildees de reais Estima-se que a marca ldquoUFCrdquo
comprada haacute 12 anos por 2 milhotildees de doacutelares hoje eacute avaliada
em mais de 13 bilhatildeo de doacutelares 11 (AWI 2012) Neste quadro o
M M A ascende como ldquonovardquo face da luta-espetaacuteculo12 assumindo
o posto outrora ocupado pelo boxe que hoje estaacute em segundo plashy
no dentro do mercado das lutas esportivas
O esporte hoje eacute considerado ldquofebre mundialrdquo o nuacutemero de fatildes
soacute aumenta com o passar dos anos e as criacuteticas tambeacutem Recentemenshy
te em entrevista ao jornal Folha de Satildeo Paulo o bi-campeatildeo mundial
de boxe Eder Jofre fala criticavam o boxe porque era violento mas
perto do M M A eacute baleacute (PERTO 2012) E as criacuteticas natildeo param
por aiacute outra pessoa a questionar a civilidade da modalidade foi um
dos fundadores da torcida organizada ldquoGaviotildees da Fielrdquo considerada
uma das mais violentas do paiacutes Questionado sobre a violecircncia das
torcidas organizadas hoje em dia Chico Malfitanni em entrevista agrave
Folha de Satildeo Paulo declara ldquoos meios de comunicaccedilatildeo satildeo os maiores
incentivadores Outro dia o Sportv estava metendo o pau nas orgashy
nizadas agraves 1 lh30 da manhatilde Nisso entram cenas do MMA sangue
escorrendo O Galvatildeo [Bueno] gritando direita esquerda o cara soshy
cando o outro e isso eacute civilizadordquo (REIS 2012)
Apesar de algumas regras terem sido incluiacutedas para proibir eou limishy
tar o uso de alguns golpes durante os combates o niacutevel de violecircncia preshy
sente nas lutas de M M A eacute inegaacutevel De acordo com Awi (2012 p 19-20)
E rarissiacutemo uma ediccedilatildeo do UFC que termine
sem que pelo menos um lutador tenha de receshy
ber atendimento hospitalar antes de voltar para
casa Embora ateacute hoje soacute se tenha registrado duas
mortes por conta de lesotildees sofridas durante um
combate a variedade de golpes tramaacuteticos potildee em
11 O UFC eacute apontado pelos executivos americanos como a marca esportiva mais valiosa dos
Estados Unidos agrave frente da NFL (Futebol Americano) e da NBA (Basquete) Segundo
Awi (2012) Dana White e os irmaacuteos Fertita atuais administradores do UFC deram
o grande pulo do gato da marca ao perceberem que naacuteo bastava a luta era preciso
transformaacute-la num espetaacuteculo de entretenimento de massas
12 Utilizamos o termo ldquonovardquo entre aspas porque consideramos que o formato do M M A eacute novo
mas o seu conteuacutedo naacuteo eacute pois revela a apropriaccedilatildeo de teacutecnicas de lutas jaacute existentes
risco sim a integridade fiacutesica dos lutadores Mas
tambeacutem eacute verdade que o niacutevel de seguranccedila hoje eacute
bastante aceitaacutevel mdash e natildeo para de crescer
A polecircmica sobre o niacutevel de agressividade que envolve os comshy
bates de Artes Marciais Mistas traz agrave tona uma importante reflexatildeo
estaria o M M A incitando a violecircncia entre as pessoas
De acordo com Freire (2012) a questatildeo natildeo eacute tatildeo linear asshy
sim pois a agressividade presente no M M A natildeo seria a mesma
temida pelas pessoas em seus cotidianos mas sim a violecircncia transshy
formada em um espetaacuteculo de entretenimento O autor defende
seguindo a esteira de Nobert Elias que o puacuteblico experimenta um
momento de fruiccedilatildeo e prazer consumindo uma violecircncia controlashy
da por certas regrasteacutecnicas natildeo necessariamente praticando-a o
que poderia ser considerada uma conquista civilizatoacuteria13
Entretanto eacute importante destacar que o niacutevel de violecircncia
encontrado no M M A precisa ser compreendido no interior das
relaccedilotildees sociais capitalistas que na atualidade tecircm corroiacutedo o
tecido social No capitalismo a busca incessante pelo lucro eacute o
grande objetivo a ser atingido por isso a vidaintegridade do
lutador (visto como mercadoria viva) e o respeito ao adversaacuterio
soacute fazem sentido agrave medida que contribuem para esse objetivo
Nessa direccedilatildeo Duarte (2000) qualifica a sociedade capitalista
como hipoacutecrita pois ao transformar tudo em mercadoria ela
torna-se indiferente ao desenvolvimento moral dos indiviacuteduos
sendo que cedo ou tarde ela encontra meios de superar os lim ishy
tes outrora impostos para exploraccedilatildeo Assim agrave medida que se
torna mais aguda a crise da sociedade capitalista atual aumenta
13 Elias e Dunning (1992) evidenciam o caraacuteter de complementaridade entre esporte
e avanccedilo da civilizaccedilatildeo Os autores defendem que a criaccedilatildeo de regras sociais que
pacificaram as formas de disputa poliacutetica ocorre paralelamente ao desenvolvimento
de formas de exerciacutecio regulado da exciiacuteaccedilatildeo reprimida nas atividades seacuterias da vida
Neste contexto o esporte teria uma finalidade cataacutertica jaacute que deveria criar tensotildees
imaginaacuterias reguladas por teacutecnicas e regras permitindo a realizaccedilatildeo de uma violecircncia
controlada satisfazendo necessidades de excitaccedilatildeo dos participantes eou espectadores
ainda mais a alienaccedilatildeo da moral14 prevalecendo nesse contexto o
individualismo e o egoiacutesmo exacerbado
Desse modo o M M A tem demonstrado alinhamento com o prinshy
ciacutepio basilar do capitalismo a busca impiedosa pela valorizaccedilatildeo do cashy
pital sendo suas regras e apropriaccedilotildees teacutecnicas subordinadas a esse fim
O propoacutesito central dessa luta esportiva eacute manter o puacuteblico fascinado
para vender imagens roupas e demais mercadorias associadas agrave sua praacuteshy
tica Mas contraditoriamente o MMA por carregar em seu interior
fragmentos de diversas artes marciais e caracteriacutesticas do nosso tempo
desde que problematizado pode ajudar a entender os desafios e possishy
bilidades colocados para as lutas no contexto atual
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com as lutas
Com base nessa discussatildeo propomos uma unidade de ensino
que aborda o M M A como temaacutetica dentro do conteuacutedo lutas O plashy
no de unidade descrito abaixo foi elaborado para ser trabalhado com
alunos do oitavo ano do ensino fundamental
Seguindo os pressupostos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica o prishy
meiro passo eacute a identificaccedilatildeo dos dados da realidade onde temos uma
primeira impressatildeo dos alunos sobre o tema a ser trabalhado Como
atividade desse momento propomos organizar os alunos em gnipos
e pedir a eles que faccedilam um cartaz em uma folha de cartolina a parshy
tir de questotildees previamente elaboradas pelo professor As perguntas
enumeradas abaixo no plano de unidade deveratildeo ser respondidas
atraveacutes de ilustraccedilotildees fotografias eou reportagens que seratildeo disponishy
bilizadas para alunos atraveacutes de jornais esportivos ou paacuteginas da intershy
net A ideia geral eacute que os alunos indiquem qual eacute a luta mais famosa
14 De acordo com Duarte (2000) a discussatildeo sobre moral na sociedade capitalista eacute feita de
maneira alienada ou seja descolada dos valores que orientam a vida concreta das pessoas
Isso porque uma discussatildeo radical levaria agrave constataccedilatildeo de que o sistema capitalista eacute
avesso agraves questotildees morais jaacute que a proacutepria loacutegica do sistema eacute maximizar a exploraccedilatildeo dos
seres humanos sem limites para ampliar a acumulaccedilatildeo de capital Desse modo a base
concreta dessa alienaccedilatildeo moral eacute a proacutepria alienaccedilatildeo do trabalho atividade essencialmente
humana Nesse processo o homem eacute alienado natildeo apenas do produto e da atividade do
trabalho mas tambeacutem de si mesmo da relaccedilatildeo com o outro e com o gecircnero humano
na atualidade Esta atividade teraacute como objetivo averiguar o niacutevel de
compreensatildeo dos alunos sobre o M M A enquanto principal luta dos
tempos atuais Ao final desta atividade seraacute exposto aos alunos o conshy
teuacutedo e a temaacutetica que seraacute trabalhada questionando-os acerca do
que gostariam de saber a mais sobre o tema
Na problematizaccedilatildeo seratildeo levantadas algumas questotildees importanshy
tes para a discussatildeo do tema buscando orientar o aluno no processo de
apreensatildeo ativa do conhecimento Conforme pode ser visto no plano
de unidade seratildeo lanccediladas questotildees que abordam diversas dimensotildees
do conhecimento que seratildeo trabalhadas tais como o processo histoacuterico
de criaccedilatildeo do MMA sua evoluccedilatildeo as teacutecnicas baacutesicas desta luta os
interesses econocircmicos e as relaccedilotildees deste tema com a sociedade atual
A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento onde as atividades desenvolshy
vidas estatildeo voltadas para a aquisiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico por
parte dos alunos visando ampliar o niacutevel de consciecircncia dos mesmos
acerca do MM A e das suas interfaces com os tempos atuais No caso
em tela as atividades seratildeo exibiccedilatildeo de filmes e viacutedeos vivecircncia de
algumas modalidades de lutas discussotildees leituras de textos etc
A elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia pode ser verificada na cashy
tarse momento no qual haacute uma reinterpretaccedilatildeo da realidade desta
vez com o amparo do conhecimento cientiacutefico apreendido Como
sugestatildeo propomos a construccedilatildeo de um viacutedeo sobre os temas aborshy
dados a realizaccedilatildeo de um juacuteri simulado sobre o M M A e a criaccedilatildeo
de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais para debater o assunto
A ideia eacute que o aluno tenha se aproximado da percepccedilatildeo de que o
M M A eacute uma luta esportiva que utiliza teacutecnicas de diversas outras lushy
tas Na atualidade o MMA atraveacutes da marca UFC eacute uma das moshy
dalidades esportivas mais divulgadas e lucrativas do mundo Entreshy
tanto agrave medida que as teacutecnicas das lutas vatildeo sendo apropriadas para
seu uso competitivo nos torneios de M M A vai sendo aprofundado
o processo de descaracterizaccedilatildeo dessas modalidades em relaccedilatildeo aos
seus princiacutepios e valores originais O alto grau de violecircncia associado
agraves lutas dentro e fora dos octoacutegonos pode ser apontado como um
dos resultados desses processos de descaracterizaccedilatildeo
A uacuteltima etapa do plano de unidade eacute o retorno agrave praacutetica social ou
o momento de utilizar este conhecimento apreendido para uma nova
compreensatildeo e accedilatildeo sobre a realidade Assim propomos a divulgaccedilatildeo
dos materiais construiacutedos e socializaccedilatildeo com os outros alunos da escola
Plano de Unidade iMMA - a ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo
OBJETIVO GERAL
Compreender o M M A e suas relaccedilotildees com o mercado da luta-
-espetaacuteculo a fim de assumir uma postura criacutetica frente ao processo
de massificaccedilatildeo das lutas a partir desta modalidade
Toacutepicos de Conteuacutedo e objetivos especiacuteficos
1 - M M A que luta eacute essa
bull Ampliar conhecimentos sobre o MMA para distingui-lo de
outras modalidades de luta
bull Identificar os principais estilos de lutas seus golpes e
fundamentos teacutecnicos que compotildeem o MMA
2 - Origem e histoacuteria do M M A
bull Conhecer a origem e o processo de disseminaccedilatildeo do MMA
a fim de identificar a dinacircmica social que envolve a produccedilatildeo
dessa praacutetica da cultura corporal
3 - As lutas e seu processo de descaracterizaccedilatildeo
bull Diferenciar lutas de briga
bull Entender o processo de descaracterizaccedilatildeo das lutas
esportivizadas
bull Identificar o M M A como luta esportiva suas regras
categorias e competiccedilotildees
4 - M MA Miacutedia e Mercado a luta-espetaacuteculo como grande negoacutecio
bull Identificar o papel da miacutedia no processo de difusatildeo do
M M A
bull Compreender os interesses econocircmicos envolvidos nas
competiccedilotildees de MMA
5 - O MMA e a espetacularizaccedilaacuteo da violecircncia
bull Apreender a relaccedilatildeo entre o M M A e a espetacularizaccedilaacuteo da
violecircncia em nossa sociedade
bull Debater a relaccedilatildeo entre violecircncia e lutas
1) Praacutetica Social Inicial do Conteuacutedo
Material de Apoio Jornais e revistas esportivas (pode ser
feito tambeacutem na sala de informaacutetica utilizando os sites esportishy
vos mais populares) cartolinas canetinhas laacutepis de cor caneta
cola e tesoura
Accedilatildeo Dividir os alunos em grupos de no maacuteximo seis pesshy
soas A cada grupo deveraacute ser dado um questionaacuterio para ser
respondido na folha de cartolina e um nuacutemero suficiente de jorshy
nais esportivos (ou paacuteginas principais impressas dos noticiaacuterios
esportivos on-line) As perguntas satildeo
bull Qual eacute a luta mais famosa nos dias atuais
bull Quem eacute o melhor lutador atual
bull Quais satildeo as regras
bull Qual eacute o espaccedilo onde ela acontece
bull Quem a inventou
bull Onde podemos assistir esta luta
Os alunos deveratildeo procurar nos jornais fotografias eou reporshy
tagens sobre a luta que foi respondida como mais famosa (muito
provavelmente seraacute respondida que o M M A eacute a luta mais popular)
Os cartazes deveratildeo ser apresentados para os outros grupos
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MM A para distingui-lo de oushy
tras modalidades
Identificar os principais estilos
de lutas golpes e fundamenshy
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MMA
Conceituai
Teacutecnica
Pesquisa na sala de informaacutetica
Ler reportagens sobre o MMA
Viacutedeos imagens e textos
disponiacuteveis no blog ldquoConteshy
uacutedo e Meacutetodo nas aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Origem e histoacuteria
do M M A
Conhecer a origem e o processhy
so de disseminaccedilatildeo do MMA a
fim de identificar a dinacircmica soshy
cial que envolve a produccedilatildeo desshy
sa praacutetica da cultura corporal
HistoacutericaExibiccedilatildeo do Documentaacuterio da
Sportv sobre o MMA
Documentaacuterio ldquoMMA
a luta que levou o boxe agrave
lonardquo
Os links para acesso aos videos filmes e documentaacuterios citados no quadro abaixo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Disponiacutevel em lthttpcoledvoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012
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com
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(2011)
4) CATARSE
41- Siacutentese teoacuterica do aluno
A catarse seraacute demonstrada com registros durante as aulas exshy
pressando que o MM A (Mixed Martial Arts) eacute uma luta esportiviza-
da criada a partir de uma forma de disputa para a disseminaccedilatildeo do
Jiu-jitsu brasileiro como a melhor das artes marciais Eram embates
entre lutadores de teacutecnicas distintas com lutadores de Jiu-jitsu prinshy
cipalmente Com a exarcebaccedilatildeo da violecircncia principalmente fora dos
ringues a famiacutelia Grace se muda para os EUA e comeccedila a criar uma
nova forma de disputa com regras espaccedilo adequado e teacutecnicas espeshy
ciacuteficas Surge assim o Vale Tudo e posteriormente o UFC e outras
modalidades Atualmente o UFC eacute uma das modalidades esportivas
mais lucrativas do mundo e uma das mais violentas associando teacutecshy
nicas de diversas lutas (Boxe Jiu-jitsu Muai thay Aikidocirc etc) sem
contudo valorizar os aspectos filosoacuteficos e princiacutepios originais das lushy
tas como respeito ao adversaacuterio e a si mesmo Muitas pessoas treinam
MMA para brigas de rua e torneios sem contudo entender o sentido
da criaccedilatildeo destas teacutecnicas pois estatildeo descaracterizadas atendendo a
interesses econocircmicos que vatildeo muito aleacutem da simples autodefesa
42 - Expressatildeo da Siacutentese
Construccedilatildeo de um viacutedeo sobre o MMA abordando de forma
criacutetica os temas estudados nas aulas ou construccedilatildeo de cartazes reshy
alizaccedilatildeo de um juacuteri simulado discutindo a temaacutetica e criaccedilatildeo de um
foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a temaacutetica
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO
Quadro 3 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
Conhecer mais sobre o M M A e suas difeshy
renccedilas de outros estilos
Pesquisar ler textos e assistir viacutedeos
sobre o M M A
Contribuir para a socializaccedilatildeo dos conhecishy
mentos sobre as lutas e para divulgaccedilatildeo de
espaccedilos de discussotildees sobre as mesmas
Convidar os demais alunos da escola para
f acessarem os viacutedeos e participarem dos
foacuteruns de discussatildeo sobre as lutas
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (201 1)
Consideraccedilotildees Finais
A formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos 1 1 0 acircmbito da cultura corporal
passa pela apreensatildeo de conhecimentos teoacuterico-praacuteticos que permitam agir
criticamente frente aos grandes fenocircmenos esportivos para aleacutem de sua
aparecircncia No caso das lutas o pouco acesso aos conhecimentos histoacutericos
teacutecnicos e filosoacuteficos das mesmas pode contribuir para gerar a substituiccedilatildeo
de sua praacutetica salutar pelo consumo passivo de espetaacuteculos esportivos muishy
tas vezes regados com alto grau de violecircncia A proposta de ensino com a
tematizaccedilatildeo das Artes Marciais Mistas buscou contribuir para pensar no
papel de mediaccedilatildeo que a Educaccedilatildeo Fiacutesica pode ter na formaccedilatildeo de sujeitos
criacuteticos ao fenocircmeno de descaracterizaccedilatildeo e mercadorizaccedilatildeo das lutas
Referecircncias
AWI F Filho teu naacuteo foge agrave luta como os lutadores brasileiros transformaram o
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CAPIacuteTULO VI
A VOZ DA PERIFERIA O HIP HOP ENQUANTO POSSIBILIDADE DE TRABALHO NAS AULAS DE EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA
Adriano de Paiva Reis
Carla Cristina Carvalho Pereira
Giovana de Carvalho Castro
Herbert Hischter Chaves de Paula
Marcelo Silva dos Santos
Apesar da infinidade de possibilidades de
trabalho nos curriacuteculos escolares historicamenshy
te a danccedila foi tratada pela escola numa perspecshy
tiva funcional tendo como objetivo principal a
formaccedilatildeo do corpo feminino em contrapartida
agraves praacuteticas ginaacutesticas destinadas aos homens1
O fato eacute que o trabalho com a danccedila nas
escolas quase natildeo eacute realizado ou eacute realizado de
forma superficial e esvaziada A danccedila eacute recoshy
nhecida como atividade extracurricular - geralshy
mente o aprofundamento do trabalho com as
teacutecnicas de uma determinada modalidade - ou
eacute tratada como componente folcloacuterico no inshy
terior das escolas seja pela Educaccedilatildeo Fiacutesica ou
1 A discussatildeo acerca das praacuteticas corporais destinadas a
homens e mulheres ao longo da histoacuteria da Educaccedilatildeo
Fiacutesica no Brasil pode ser encontrada em Ghiraldelli
Juacutenior (1994) O autor situa historicamente a visatildeo
sexista da Educaccedilatildeo Fiacutesica na sociedade brasileira
demonstrando o papel da ginaacutestica para moldar o corpo
saudaacutevel robusto e harmonioso dos homens enquanto
que para as meninas as praacuteticas eram voltadas para a
danccedila a expressatildeo corporal o teatro e a poesia visando
pela Educaccedilatildeo Artiacutestica limitando-se muitas vezes agrave montagem de
coreografias para festas e comemoraccedilotildees da escola Raramente a danccedila eacute
valorizada por ter um conhecimento proacuteprio e uma linguagem expresshy
siva especiacutefica (BRASILEIRO 2003 FIAM ONCINI 2003)
A resistecircncia dos alunos em participar das aulas de danccedila na esshy
cola constitui um fator a ser considerado assim como a dificuldade
por parte de muitos professores em trabalhar com esse conteuacutedo sob a
alegaccedilatildeo de natildeo possuiacuterem conhecimento especiacutefico em nenhuma moshy
dalidade de danccedila problema agravado pelos curriacuteculos predominanteshy
mente esportivizados da maioria dos cursos de graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo
Fiacutesica No entanto entendendo que a funccedilatildeo primordial da escola eacute
a socializaccedilatildeo do saber historicamente produzido (SAVIANI 1997)
coloca-se como tarefa fundamental a sistematizaccedilatildeo de uma praacutexis edushy
cativa superadora em danccedila tendo em vista proporcionar aos alunos
uma apreensatildeo contextualizada e criacutetica acerca dessa linguagem
Na perspectiva da reflexatildeo sobre a cultura corporal a danccedila - enshy
tendida enquanto uma das expressotildees do patrimocircnio cultural da hushy
manidade - eacute um conteuacutedo a ser conhecido estudado produzido no
acircmbito escolar Nesta linha eacute preciso que o professor rompa com as
formas tradicionais mecanizadas e estereotipadas de danccedila proporshy
cionando ao aluno o conhecimento de suas verdadeiras possibilidades
corporais desenvolvendo a criatividade e a expressividade
A escolha da temaacutetica a ser abordada nas aulas deve partir
da necessidade de compreensatildeo e explicaccedilatildeo da realidade concreshy
ta do aluno oferecendo subsiacutedios para que ele compreenda os
determinantes soacutecio-histoacutericos de sua condiccedilatildeo de classe social
(C O LE T IV O DE AUTORES 1992)
Neste sentido escolhemos abordar o break enquanto modalishy
dade de danccedila atrelada ao movimento Hip Hop A definiccedilatildeo dessa
temaacutetica deveu-se agrave sua popularidade entre os alunos e agrave confusatildeo
conceituai acerca do Hip Hop uma vez que este eacute tratado apenas
como um estilo musical ou uma forma de danccedilar Assim torna-se neshy
cessaacuterio abordar e discutir as contradiccedilotildees existentes entre a essecircncia
do Hip Hop enquanto movimento de criacutetica e contestaccedilatildeo social e
sua mercadorizaccedilatildeo c esvaziamento pelos meios de comunicaccedilatildeo
O Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia e criacutetica social
O Hip Hop natildeo eacute apenas um estilo musical ou um tipo de
danccedila Trata-se na verdade de uma importante manifestaccedilatildeo culshy
tural produzida enquanto um movimento de resistecircncia da perishy
feria da classe menos favorecida - que natildeo coincidentemente eacute
representada majoritariamente por negros2 A origem do termo eacute
bastante controversa mas muitos pesquisadores atribuem sua criashy
ccedilatildeo a Afrika Bambaataa3 Suas origens remontam aos EUA por
volta dos anos de 1970 nos subuacuterbios de Nova York e de Chicago
atrelado agraves expressotildees culturais das comunidades jamaicanas latishy
nas e afro-americanas Nesses guetos - habitados majoritariamente
por uma populaccedilatildeo negra4 e assolados pela pobreza traacutefico de
drogas racismo ausecircncia de educaccedilatildeo e de espaccedilos de lazer mdash o
movimento Hip Hop nasceu a partir de accedilotildees para conter a violecircnshy
2 Satildeo os negros que ocupam a maioria das estatiacutesticas de desemprego mortalidade infantil
analfabetismo que possuem as piores condiccedilotildees de moradia a maioria que ocupa os
presiacutedios e as ruas etc A discussatildeo sobre a marginalizaccedilaacuteo do negro no Brasil ganha forccedila a
partir dos anos iniciais deste seacuteculo demonstrando a importacircncia do movimento negro no
cenaacuterio dos movimentos sociais no paiacutes Entretanto dentro do proacuteprio movimento negro
natildeo haacute unidade principalmente no que se refere agrave discussatildeo entre a relaccedilatildeo raccedilaclasse Por
esta razatildeo achamos fundamental demarcar nossa posiccedilatildeo dentro dessa discussatildeo apesar
de estarmos atentos ao fato de que uma das caracteriacutesticas do capitalismo eacute ser indiferente
agraves identidades sociais das pessoas que explora o fato de natildeo necessitar natildeo significa que
de fato natildeo se aproveite e natildeo decirc continuidade agrave opressatildeo racial O capitalismo que
massacra trabalhadores mundo afora eacute ainda mais perverso com aqueles setores que foram
marginalizados como eacute o caso dos negros (W O O D 2003)
3 Afrika Bambaataa - pseudocircnimo de Kevin Donovan - eacute de forma quase unacircnime
considerado o responsaacutevel por plantar as bases sobre as quais o Hip Hop se desenvolveu
Nascido e criado no violento bairro do Bronx (Nova Iorque) chegou agrave lideranccedila dos Black
Spades uma das mais fortes e violentas gangues da regiatildeo Sua vida comeccedilou a mudar
quando numa viagem agrave Aacutefrica no iniacutecio dos anos 1970 assistiu ao filme Zulu sobre
a luta entre africanos e ingleses no seacuteculo X IX Foi deste documentaacuterio que ele retirou o
nome pelo qual eacute conhecido hoje O filme tambeacutem despertou no mesmo um novo olhar
acerca de suas origens motivando-o a formar sua proacutepria naccedilatildeo Zulu bem como a buscar
raquo meios para cooptar jovens das gangues para ela Disponiacutevel em lthttpogloboglobo
comculturaconsiderado-pai-do-hip-hop-do-funk-carioca-afrika-bambaataa-faz-show-
no-rio-303106lixzz20554zE00gt Acesso cm 2 ago 2012
4 Aleacutem dos negros os guetos de Nova York eram ocupados por imigrantes latinos oriundos
principalmente do Meacutexico e de Porto Rico tambeacutem considerados inferiores por sua pele
morena e olhos indiacutegenas herdados de seus antepassados tambeacutem escravizados
cia e promover a conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessishy
dade de luta contra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis
Desta forma o Hip Hop atrela-se agraves calorosas discussotildees que trashy
zem agrave tona os embates e as contradiccedilotildees da sociedade norte-americana
Neste contexto emergem lideranccedilas negras como Martin Luther King
e Malcom X e grupos que lutavam pela igualdade de direitos como
os Panteras Negras Embora divergentes em suas propostas agregaram
em torno de suas ideias uma populaccedilatildeo que ansiava por mudanccedilas no
modelo social entatildeo vigente que condenava a populaccedilatildeo negra a uma
invisibilidade negando-lhe a possibilidade de uma efetiva participaccedilatildeo
social e poliacutetica Tais demandas refletiram na produccedilatildeo musical e o
rock mdash que tambeacutem nasceu negro tatildeo aderente nos anos de 1960 mdash
mostrou-se impotente para dar voz a esse novo contexto
Os guetos abraccedilaram o soul e prestaram reverencia a muacutesicas como
uSay it loud Im black and proudrdquo (diga alto sou negro e orgulhoso)
cantada aos berros por James Brown inspirado na frase do liacuteder sul africano
Steve Biko Ao soul juntou-se o ftink furioso do qual James Brown tamshy
beacutem foi um iacutecone imageacutetico Estava pronto o terreno do qual brotaria o
Hip Hop lanccediladas as sementes do soul do funk e da luta pelos direitos civis
da populaccedilatildeo negra A ele se uniu o rap que remonta as raiacutezes da oralidade
africana sintetizada na figura dos griots5 Os guetos apropriaram-se desta
tradiccedilatildeo e a reinventaram atraveacutes das batalhas de improviso que contavam
histoacuterias de seu cotidiano marcando assim o nascimento do freestyle6
Outra figura fundamental para o Hip Hop foi o DJ Kool Herc
imigrante jamaicano a quem se atribui a criaccedilatildeo dos breaks (trechos de
muacutesicas usados como bases) No final dos anos de 1960 Herc trouxe da
Jamaica para o Bronx a teacutecnica dos famosos sound systems de Kingston
5 Os ldquogriotsrdquo satildeo os guardiotildees inteacuterpretes e cantores da histoacuteria oral de muitos povos
africanos A figura do griot tem uma enorme importacircncia na preservaccedilatildeo da palavra da
narraccedilatildeo do mito africano ldquoNa praacutetica eles funcionam como escritores sem papel nem
pena Ortografam na oralidade aquilo que deve permanecer embutido na memoacuteria e no
coraccedilatildeo dos seus familiares e conterracircneos no sentido de manter incrustada a identidade
do seu ser e das suas raiacutezes fundamentada em grande parte no seu passado e nos seus
predecessoresrdquo BIJOacute1AS Maria Griots mdash os inteacuterpretes musicais da Histoacuteria africana
Disponiacutevel em lthttpwwwruadireitacommusicainfogriots-os-interpretes-musicais-
da-historia-africanagt Acesso em 23 jul 2012
6 Estilo livre muacutesica de improviso mediante desafios
Como os trechos usados como base eram curtos Herc teve a ideia de usar
um mixer e dois discos idecircnticos o que permitia a repeticcedilatildeo indefinida de
um determinado trecho da mesma muacutesica (PIMENTEL 1997)
Foi um disciacutepulo do DJ jamaicano mdash Grandmaster Flash - quem
criou o ldquoscratchrdquo que eacute a utilizaccedilatildeo da agulha do toca-discos arrashy
nhando o vinil em sentido anti-horaacuterio como instrumento musical
Aleacutem disso ldquoFlash entregava um microfone para que os danccedilarinos
pudessem improvisar discursos acompanhando o ritmo da muacutesica
(uma espeacutecie de repente-eleacutetrico que ficou conhecido como rap - os
lsquorepentistasrsquo satildeo chamados de rappers ou MCs isto eacute lsquomasters of ceri-
mony)rdquo (VIANNA JUacuteN IOR 1988 p 38)
Desta feita aos breaks aliou-se a forccedila das mensagens trazidas
pelos rappers atribuindo peso agrave expressatildeo mesmo sob condiccedilotildees lishy
mitadas de recursos e ausecircncia de instrumentos
Paralelamente ao rap outras manifestaccedilotildees artiacutesticas se desenshy
volviam nos guetos americanos Em meados da deacutecada de 1960 os
jovens dos subuacuterbios de Nova York comeccedilaram a ldquopicharrdquo as pareshy
des com seus nomes Assim surge o grafitti inicialmente como tag
(assinatura) como forma de retratar a realidade como forma de
participaccedilatildeo e de resistecircncia Logo a colocaccedilatildeo das tags em locais
cada vez mais inoacutespitos virou um novo elemento da disputa que foi
apropriado pelas gangues como forma de demarcaccedilatildeo de territoacuterios
dentro dos guetos Mais tarde o desenho foi introduzido ao tag
abrindo-se um novo leque de trabalhos para os grafiteiros
Na mesma eacutepoca surge o break dance nome atribuiacutedo pelo Dj
Herc para definir um estilo de danccedila caracterizado por miacutemicas imitashy
ccedilotildees de robocircs e acrobacias com influecircncias das mais diversas das artes
marciais agraves danccedilas urbanas da eacutepoca e que representassem os conflitos
e o cotidiano dos guetos nova-iorquinos O nome atribuiacutedo por Herc
justifica-se agrave medida em que ldquoos jovens que iam agraves festas danccedilavam no
Break da muacutesica que era o nome dado a sua teacutecnica de interromper a
batida mais forte da muacutesica como se ela estivesse quebrada e se repeshy
tisse por alguns segundosrdquo (SILVA 2010 p 32) A respeito da danccedila
Pimentel (1997 p 8) destaca que esta desenvolveu-se
[] ao sabor da contorccedilatildeo dos brcaks entre e dentro
das muacutesicas formando um novo corpo riacutetmico no inshy
terior das mesmas e conduzindo o DJ e seu puacuteblico a
uma nova forma de abordagem do tema reconstruiacutedo
e reinterpretaacutevel atraveacutes da danccedila das quebras riacutetmishy
cas Danccedilar o break consiste literalmente na execuccedilatildeo
de passos que procuram imitar essa ruptura e essa forshy
ma sincopada de reconstruir o proacuteprio ritmo
Nas ruas de Nova Iorque grupos (crews) se encontravam para
definir quem danccedilava melhor dando origem agraves chamadas batalhas ou rachas de break As batalhas entre as crews eram manifestaccedilotildees de
rua que tinham o propoacutesito de chamar a atenccedilatildeo do poder puacuteblishy
co sobre a situaccedilatildeo do afro-americano em relaccedilatildeo ao seu modo de
sobrevivecircncia e portanto tinham uma conotaccedilatildeo poliacutetica (LEAtildeO
2006) O break foi ganhando outros espaccedilos e passou a ser danccedilado
tambeacutem nas festas (as chamadas Black Parties)
Alguns autores consideram que o break no Hip Hop eacute formado
por trecircs estilos de danccedila originais o break bboying (caracterizada
pelos movimentos de chatildeo como top rock up rock foot work booga- loo e freeze aleacutem dos giros de cabeccedila mortais o moinho de vento7) o Popingg (estilo de danccedila urbana que foi incorporada ao Hip Hop
onde o danccedilarino imita robocircs aleacutem de ondulaccedilotildees com o tronco e
quadris) e o Locking (danccedila urbana incorporada ao Hip Hop que
indica as direccedilotildees no espaccedilo apontando o dedo) Por outro lado haacute
quem afirme que esses trecircs estilos satildeo danccedilas diferentes e somente o
break eacute a danccedila original por ser a primeira a ser incorporada como
elemento do Hip Hop (SILVA 2010)8
Desta feita rappers breakers e grafiteiros logo se viram diante
das mesmas anguacutestias e desafios cotidianos Daiacute para a coletiviza-
ccedilatildeo de suas accedilotildees foi um pequeno passo dando origem a naccedilotildees
associaccedilotildees posses e entidades para divulgaccedilatildeo do Hip Hop
7 A descriccedilatildeo e tutoriais desses movimentos estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e
Meacutetodo nas auias de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lt httpcoletivoedulisicajf
blogspotcombrgt Acesso em 12 dez 2012
8 Devido agrave riqueza de possibilidades consideramos os trecircs estilos para o trabalho
que realizamos com os alunos numa escola municipai de Juiz de Fora trabalho este
descrito ao final do presente artigo
Assim muito mais que ldquopular balanccedilando os quadrisrdquo - trashy
duccedilatildeo do termo do inglecircs - o Hip Hop configura-se como um
movimento social que busca promover a conscientizaccedilatildeo da popushy
laccedilatildeo jovem afro-americana atraveacutes da uniatildeo de diversas manifesshy
taccedilotildees artiacutesticas representadas por um conjunto de quatro elemenshy
tos a) o break que eacute a danccedila oficial praticada pelos Bboys e Bgirls
b) o rap que eacute o canto falado ao som de pick - ups ou mesmo de
ritmos feitos com a boca e o corpo c) o DJ (disk jockey) que atua
nos pick - ups acompanhando a falacanto dos MCs (mestre de
cerimocircnia) e d) o grafitti que eacute a arte nos muros vagotildees de trens
e espaccedilos deteriorados - uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para a
necessidade de revitalizaccedilatildeo desses espaccedilos (BENEDITO 2004)
E esse movimento que chega ao Brasil - influenciado pelo
lema do Black Power e pela admiraccedilatildeo aos Panteras Negras mdash
num contexto em que gangues urbanas conquistavam espaccedilo
embaladas por pequenos conflitos armados (armas brancas prinshy
cipalmente) e pelas muacutesicas do soul norte-americano Nosso ldquorashy
cismo agrave brasileirardquo natildeo dava margem para os conflitos diretos
pelos quais passou a sociedade norte-americana mas isso natildeo
significa a ausecircncia de poliacuteticas marginalizantes para a populaccedilatildeo
negra e afrodescendente no Brasil9
Como em outros paiacuteses diaspoacutericos o H ip Hop encontrou
no Brasil terreno feacutertil Sua chegada data de meados dos anos de
1980 em Satildeo Paulo Em 1988 foi lanccedilado o primeiro registro
fonograacutefico de rap nacional a coletacircnea ldquoHip-Hop Cultura de
Ruardquo pela gravadora Eldorado Com apoio puacuteblico da prefeitura
de Satildeo Paulo organizou-se a primeira associaccedilatildeo oficial de H ip
Hop no Brasil o M H 2 0 - Movimento Hip-Hop Organizado
9 A inserccedilatildeo do negro no poacutes-aboliccedilaacuteo tem sido alvo de diversos estudos Tais pesquisas
apontam para as dificuldades da populaccedilatildeo afrodescendente em ser reconhecida como
parte da sociedade brasileira e discutem o processo de marginalizaccedilatildeo imposto a esse
segmento Um dos aspectos mais relevantes dessa segmentaccedilatildeo eacute revelado nas pesquisas
que indicam a criminalizaccedilatildeo das praacuteticas culturais afrodescendentes presentes em nosso
coacutedigo penal ateacute 1940 Para maiores informaccedilotildees consultar Holloway (1997)
A descaracterizaccedilatildeo do Hip Hop a voz da periferia transmutada em mercadoria rentaacutevel
Identificamos hoje uma tentativa de esvaziamento e de descashy
racterizaccedilatildeo do H ip Hop enquanto movimento de luta e contestaccedilatildeo
social A induacutestria cultural vem cooptando essa forma de resistecircncia
em favor do capital transformando-o em um filatildeo de mercado vazio
de conteuacutedo histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico e ressignificado a partir
dos interesses da cultura hegemocircnica
O movimento mdash que sempre viveu e se propagou por fora dos
esquemas formais de comunicaccedilatildeo de massa sem espaccedilo nas raacutedios
comerciais e com trabalhos lanccedilados em gravadoras independentes
(MARTINS 1998) mdash atualmente ldquodesce o morrordquo indo parar nas
boates de classe meacutedia nas raacutedios e nas novelas e programas das prinshy
cipais emissoras de televisatildeo
A problemaacutetica da mercadorizaccedilatildeo do Hip Hop natildeo estaacute des-
zonectada do processo de transformaccedilatildeo e de mudanccedila que se faz
Dresente na sociedade de uma forma geral Jameson (2000) denuncia
^ue a emergente mudanccedila histoacuterica ocorrida na vida no ocidente para
jma nova forma de capitalismo trouxe a tese de que as questotildees cul-
urais tendem a se propagar para as econocircmicas e sociais Segundo o
iutor ldquoa produccedilatildeo das mercadorias eacute agora um fenocircmeno cultural no
lual se compram os produtos tanto por sua imagem quanto por seu
iacuteso imediato [] Nesse sentido a economia se transforma em uma
juestatildeo culturalrdquo (JAMESON 2000 p 22)
Na loacutegica cultural do capitalismo tardio onde o consumo
bull o principal meio de realizaccedilatildeo ldquoo prazer o lazer a seduccedilatildeo e a
ida eroacutetica satildeo trazidos para o acircmbito do poder do dinheiro e da
raquoreocupaccedilatildeo de mercadoriasrdquo (HARVEY 1992 p 99) Ao mes-
no tempo em que temos a sofisticaccedilatildeo das necessidades e dos seus
neios por um lado temos de outro uma abstrata simplificaccedilatildeo
las necessidades No campo especiacutefico da cultura a arte se tornou
ambeacutem uma mercadoria e o artista foi transformado em um pro-
utor de mercadorias (F ISCHER 1982)
Rappers ganharam status na induacutestria cultural sobretudo a
norte-americana e viraram ldquoastrosrdquo em todo o mundo Figuras como
Gangster RAP Dr Dree e Snoopy Dog aparecem na miacutedia preganshy
do e praticando a violecircncia adotando atitudes e produzindo letras
que demonstram hostilidade ao pobre e agrave mulher O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos contextos sendo empregashy
do para classificar um estilo de muacutesica de danccedila ou um jeito de se
vestir conhecido como estilo B-boy associado a marcas esportivas
especiacuteficas (boneacute tecircnis etc) Neste sentido
[] os aspectos do processo de mercadorizaccedilatildeo da
vestimenta das muacutesicas dos shows que possuem um
alto custo financeiro mostram essa refuncionaliza-
ccedilatildeo para garantir uma dada hegemonia tornando o
Hip Hop em determinados casos uma praacutetica disshy
tanciada da reflexatildeo de sua origem e da possibilidade
de ser uma forma de luta contra a opressatildeo Nesses
casos aquilo que servia para caracterizaacute-lo como
popular eacute justamente o que eacute transmutado o seu
sentido (AVILA et al 2005 p 64)
Aleacutem disso atraveacutes de poliacuteticas assistencialistas e compensashy
toacuterias o poder puacuteblico frequentemente apropria-se dos elementos
do Hip Hop num discurso apologeacutetico que o rotula enquanto
ldquosalvador da paacutetriardquo a partir da responsabilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos
pelas suas mazelas sociais justamente o oposto do que preconiza
o movimento O Hip Hop ligado agrave criacutetica poliacutetica e social e agrave
conscientizaccedilatildeo acerca da necessidade da organizaccedilatildeo coletiva tem
como intuito provocar mudanccedilas sociais e garantir direitos essenshy
ciais que satildeo responsabilidade do poder puacuteblico
Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo feita pelos meios de coshy
municaccedilatildeo a essecircncia do movimento permanece inalterada Atualshy
mente os movimentos organizados de Hip Hop buscam discutir a
discriminaccedilatildeo racial os problemas sociais a realidade da periferia
discussotildees estas materializadas nas letras do rap E esse Hip Hop
que pretendemos resgatar com nossos alunos contextualizando-o e
desvelando o que eacute a essecircncia desse movimento
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a danccedila
Elaboramos entatildeo um planejamento para ser desenvolvishy
do com alunos do 9o ano de uma escola municipal de Juiz de
Fora A proposta foi abordar o Hip Hop discutindo-o desde sua
origem enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social passhy
sando pela caracterizaccedilatildeo dos elementos que o compotildeem ateacute a
discussatildeo e anaacutelise criacutetica do que hoje eacute conhecido e difundido
pela miacutedia enquanto ldquoH ip Hoprdquo
Demos uma ecircnfase especial ao break por tratar-se de uma unishy
dade onde o conteuacutedo proposto era a danccedila Aqui tivemos espaccedilo
privilegiado para discutir as formas mecanizadas e estereotipadas de
danccedila impostas pela miacutedia e problematizamos a mera repeticcedilatildeo ou
imitaccedilatildeo a que muitas vezes se resumem as aulas de danccedila Numa oushy
tra perspectiva o break abre possibilidades de trabalhar a criatividade
e a expressividade jaacute que a essecircncia desse estilo eacute a improvisaccedilatildeo a (re)
criaccedilatildeo de movimentos Nas rodas de improvisaccedilatildeo cada participante
cria seu proacuteprio estilo e constroacutei suas sequecircncias de movimentos a
partir dos elementos teacutecnicos baacutesicos
Assim na identificaccedilatildeo da praacutetica social dividimos os alunos
em grupos e exibimos clipes de artistas diversos (Gabriel o pensador
Racionais M C rsquoS Beyonceacute Emicida etc) solicitando que ao final de
cada um eles respondessem em uma folha o nome e o estilo musical
do artista em questatildeo As respostas foram apresentadas a maioria deshy
las definia todos os clipes exibidos como sendo ldquoHip HoprdquoApoacutes esse primeiro momento iniciamos um debate com os alushy
nos lanccedilando algumas questotildees problematizadoras O que eacute Hip
Hop Hip Hop eacute danccedila O u eacute muacutesica Um estilo musical Como
surgiu o Hip Hop Existem muitos artistas negros no Hip Hop As
respostas dos alunos e a discussatildeo do tema foram registradas a fim de
fazer uma comparaccedilatildeo no final do trabalho
Na instrumentalizaccedilatildeo trabalhamos os seguintes toacutepicos de
conteuacutedo a histoacuteria do H ip Hop os quatro elementos que o
constituem (rap DJ grafitti10 break) bem como a influecircncia
dos meios de comunicaccedilatildeo na forma de disseminaccedilatildeo do Hip
Hop lanccedilando matildeo de recursos pedagoacutegicos como viacutedeos docushy
mentaacuterios reportagens letras de muacutesica dentre outros a fim de
que os alunos tivessem uma nova percepccedilatildeo do movimento Hip
Hop nas suas mais diversas dimensotildees No caso especiacutefico da
danccedila trabalhamos as teacutecnicas baacutesicas dos trecircs estilos de danccedila
do break (Bboing Popping e Locking) explorando a capacidade
de criaccedilatildeo e improvisaccedilatildeo dos alunos
Na catarse momento de elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia
dos alunos acerca do tema propomos a organizaccedilatildeo de um fesshy
tival de Hip Hop onde os alunos foram divididos em grupos e
demonstraram as teacutecnicas aprendidas bem como a exibiccedilatildeo de
um painel com os pontos abordados durante a unidade didaacutetica
No retorno agrave praacutetica social quando os alunos utilizam este
novo conhecimento para intervir criticamente na realidade soshy
cial a proposta foi realizar a produccedilatildeo de textos dos temas aborshy
dados nas aulas divulgando-os em um blog
PLANO DE UNIDADE
Tiacutetulo da Unidade O Movimento Hip Hop e a induacutestria cultural
OBJETIVO GERAL
Compreender o Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia
expressatildeo e denuacutencia de um grupo social
10 Ao elaborarmos o planejamento e apresentarmos a proposta para o coletivo da escola
abriu-se a possibilidade de um trabalho conjunto com a professora de Artes da turma por
isso pudemos aprofundar o trabalho com o grafitti
11 Viacutedeos e tutoriais usados para a preparaccedilatildeo das aulas e domiacutenio das teacutecnicas fundamentais
de cada um dos estilos do break estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas
aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt
Acesso em 10 dez 2012
Quadro 1- Anuacutencio do conteuacutedo
Toacutepico de Conteuacutedo t )bjetivos Especiacuteficos
Histoacuteria do H ip Hop
Conhecer a histoacuteria do Hip Hop e compreender sua essecircnshy
cia enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social
Identificar as caracteriacutesticas e manifestaccedilotildees do H ip Hop
no Brasil da atualidade
Os quatro elementos do movishy
mento H ip Hop
Identificar e conceituar os quatro elementos que constishy
tuem o movimento H ip Hop
Compreender a relaccedilatildeo de cada um dos elementos com o
movimento H ip Hop
Rhythm and Poetry
Compreender o rap enquanto o ldquocanto faladordquo que deshy
nuncia a injusticcedila e a opressatildeo de um grupo social
Conhecer teacutecnicas de construccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap
Arte nos Muros
Entender a histoacuteria e a evoluccedilatildeo do grafitti
Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo com o movimento H ip
Hop
Conhecer o grafitti na atualidade e suas linhas de expressatildeo
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de grafitagem
Aumente o som DJUuml
Identificar a ldquobatida quebradardquo (break) que caracteriza a
base musical do H ip Hop
Compreender o papel do DJ no H ip Hop
Estabelecer a diferenciaccedilatildeo entre o DJ e o M C (Mestre
de Cerimocircnia)
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de scratch e de mixagem
ldquoBatalhardquo entre crews
Analisar o papel do break enquanto expressatildeo corporal
ligada ao H ip Hop
Identificar os estilos do break sua origem e as vaacuterias forshy
mas de movimentaccedilatildeo
Relacionar os movimentos corporais ao ldquobreakrdquo da muacutesica
Aprender teacutecnicas baacutesicas de cada um dos estilos de break
O Hip Hop que passa na TV
Analisar a influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo na forma
de disseminaccedilatildeo do movimento H ip Hop
Compreender a banalizaccedilatildeo do movimento H ip Hop e
sua desconstruccedilatildeo pelo mercado
ontc elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
1) PRAacuteTICA SOCIAL IN ICIAL DO CONTEUacuteDO
11 Vivecircncia do Conteuacutedo
bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Hip Hop eacute um tipo
de muacutesica as muacutesicas criticam os ricos Hip Hop eacute uma danccedila
de rua etc
bull O que eles gostariam de saber a mais Como satildeo os passos
do Hip Hop como criar um rap como montar uma muacutesica
mixada etc
2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO
Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees
problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas
Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
$ v h W ccedil f v V j i v1 Tv S
t j j j fM IacuteW iacute lE i YSX IIP)
Histoacuteria do Hip HopHistoacuterica
Social
Como surgiu o Hip Hop Por que ele
surgiu Por que tem tantos artistas neshy
gros no Hip Hop
Os quatro elementos do movishy
mento H ip HopConceituai
Quais satildeo os elementos que constishy
tuem o Hip Hop Como se caracteshy
riza cada um deles
Rhythm and PoetryConceituai
Social
O que eacute rap De que falam as letras
dos raps Que mensagem querem
transmitir
Arte nos MurosLegal
Teacutecnica
Grafitar e pichar satildeo a mesma coishy
sa O que significa esse desenhos
nos muros
Aumente o som DJ Conceituai
0 que faz um DJ Qual a relaccedilatildeo
entre o DJ e o rap DJ e M C satildeo a
mesma pessoa Como eacute o ritmo da
danccedila no H ip Hop
ldquoBatalhardquo entre crewsConceituai
Teacutecnica
Como se danccedila no H ip Hop Qual
eacute o nome dessa danccedila Por que a
danccedila se chama ldquobreakrdquo Quais satildeo
os principais passos
O H ip Hop que passa na TV
Poliacutetica
Social
Econocircmica
Quais satildeo os rappers que aparecem
nos programas de TV Quais ideias
defendem em seus raps Os valores
dc que classe social representam
Fonte elaboraccedilatildeo nroacutenria m m
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo
bull
Histoacuteria do H ip
Hop
Conhecer a histoacuteria do H ip
H op e compreender sua essecircnshy
cia enquanto movimento de
contestaccedilatildeo c criacutetica social
Identificar as caracteriacutesticas e
manifestaccedilotildees do H ip H op no
Brasil da atualidade
Histoacuterica
Social
Apresentaccedilatildeo de dados estatiacutesticos sobre a
situaccedilatildeo do negro na sociedade brasileira
Exibiccedilatildeo de filmes e textos sobre a segreshy
gaccedilatildeo racial nos EUA e comparaccedilatildeo com
a realidade brasileira
Exibiccedilatildeo de documentaacuterio situando a
origem do H ip Hop
Exibiccedilatildeo de clipes de muacutesica que caracteshy
rizem a essecircncia do H ip Hop
Viacutedeos diversos65
Documentaacuterio ldquoH ip Hop em m oshy
vimentordquo
Documentaacuterio ldquoA Histoacuteria Do Hip
Hoprdquo
Os quatro eleshy
mentos do movishy
mento H ip Hop
Identificar e conceituar os
quatro elementos que constishy
tuem o movimento H ip Hop
Compreender a relaccedilatildeo de
cada um dos elementos com o
movimento H ip Hop
Conceituai
Social
Textos e viacutedeos sobre cada um dos eleshy
mentos
Viacutedeos produzidos pelos professores
Textos sobre os elementos do H ip
Hop
Os links paia acesso aos videos e textos utilizados na instrumentalizaccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em
lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012
=S
Rhythm and
Poetry
Compreender o rap enquanto
o ldquocanto faladordquo que denuncia
a injusticcedila e a opressatildeo de um
grupo social
Conhecer teacutecnicas de construshy
ccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap
Conceituai
Social
Teacutecnica
Anaacutelises de raps relacionados agrave realidade
social da periferia
Pesquisa sobre a estrutura e as teacutecnicas de
construccedilatildeo de um rap
Criaccedilatildeo individual eou coletiva de raps a
partir de temas propostos
Muacutesicas de grupos de rap
Clipe Negro Drama (Racionais)
Capiacutetulo sobre H ip Hop do livro D ishy
daacutetico do Paranaacute (Educaccedilatildeo Fiacutesica)
Arte nos Muros
v
Entender a histoacuteria e a evolushy
ccedilatildeo do grafitti
Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo
com o movimento H ip Hop
Conhecer o grafitti na atualishy
dade e suas linhas de expressatildeo
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de
grafitagem
Histoacuterica
Legal
Teacutecnica
Viacutedeo sobre a histoacuteria e evoluccedilatildeo do grafitti
Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das tags (asshy
sinaturas)
Viacutedeos produzidos pelos professores
Material de desenho para a vivecircnshy
cia das teacutecnicas das tags
Tintas e sprays para grafitar as tags
trabalhadas no papelatildeo ou no muro
Aumente o som
DJUuml
Identificar a ldquobatida quebrashy
dardquo (break) que caracteriza a
base musical do H ip Hop
Compreender o papel do D J
no H ip Hop
Estabelecer a diferenciaccedilatildeo enshy
tre o D J e o M C
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de
scratch e de mixagem
Conceituai
Teacutecnica
Identificaccedilatildeo da batida ldquoquebradardquo da
muacutesica e comparaccedilatildeo com outros ritmos
como por exemplo o funk
Vivecircncia de elementos baacutesicos de mixagem
Construccedilatildeo de bases mixadas das muacutesicas
Muacutesicas diversas
Mesas de mixagem ou programas
de computador para mixagem
Tutoriais diversos sobre mixagem
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Fonte
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proacute
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base
em
Gas
par
in
(2011)
4) CATARSE
41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno
O Hip Hop eacute uma das mais importantes manifestaccedilotildees joshy
vens da atualidade Surgiu nos Estados Unidos nos subuacuterbios de
Nova York e Chicago na deacutecada de 1970 habitados majoritaria-
mentepor uma populaccedilatildeo negra e assolados pela pobreza traacutefico
de drogas racismo e ausecircncia de espaccedilos de lazer A cultura Hip
Hop nasce a partir de accedilotildees para conter a violecircncia e promover a
conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessidade de luta conshy
tra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis
O Hip Hop eacute composto por 4 elementos a saber o break o
rap o DJ e o grafitti No Brasil o Hip Hop encontra na deacutecada
de 1980 um terreno fecundo para o seu desenvolvimento e o Hip
Hop ganha espaccedilo enquanto um meio de luta mobilizaccedilatildeo e dishy
vulgaccedilatildeo das desigualdades sociais e raciais
Entretanto a induacutestria da muacutesica se aproveita da popularishy
dade do Hip Hop transformando-o em uma mercadoria e descashy
racterizando-o enquanto movimento social e de contestaccedilatildeo No
caso especiacutefico da danccedila acontece uma reproduccedilatildeo de coreografias
montadas perdendo o sentido da expressatildeo corporal e a criatividashy
de que fazem parte da essecircncia do break
O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos conshy
textos sendo empregado para classificar um estilo de muacutesica de
danccedila ou um jeito de se vestir conhecido como estilo B-boy asshy
sociado a marcas esportivas especiacuteficas sem contudo representar
os seus objetivos gerais de contestaccedilatildeo social
42 - Expressatildeo da Siacutentese
Construccedilatildeo de paineacuteis sobre os elementos do Hip Hop orgashy
nizaccedilatildeo de um festival de Hip Hop apresentando os pontos discu-jf
tidos na unidade de ensino
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO
Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
Conhecer mais sobre o Hip Hop sua
essecircncia e tendecircncias
Ler pesquisar e conhecer pessoas
do Movimento Hip Hop
Socializar os conhecimentos aprendishy
dos sobre o Hip Hop
Produccedilatildeo de textos eou docushy
mentaacuterios sobre os elementos a
histoacuteria e a descaracterizaccedilatildeo do
Hip Hop
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees finais
Em tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas
as esferas da vicia a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda
maior E preciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabashy
lhadora construamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contrishy
buindo para a desmistificaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta
Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo imposta pela miacutedia eacute
preciso compreender que a essecircncia do movimento Hip Hop ainda
permanece inalterada Neste sentido situar historicamente o Hip
Hop no contexto socioeconocircmico e cultural em que surgiu mdash desshy
velando sua essecircncia enquanto movimento de contestaccedilatildeo poliacutetica
e social - contribui para a compreensatildeo do aluno enquanto agente
de sua histoacuteria capaz de atuar e transformar atraveacutes de accedilotildees conshy
cretas o seu meio e as condiccedilotildees materiais de sua existecircncia
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3
CAPIacuteTULO VII
A DISCIPLINARIZACcedilAtildeO DOS CORPOS POR MEIO DA GINAacuteSTICA
I^eonardo Docena Pina
Miguel Fabiano de Faria
Nathagravelia Sixel Rodrigues
Ramon Mendes da Costa Magalhatildees
A ginaacutestica como conteuacutedo da Educaccedilatildeo
Fiacutesica natildeo deve ser vista como uma manifestashy
ccedilatildeo recente uma vez que se trata de uma praacutetishy
ca bastante antiga na escola se considerada em
relaccedilatildeo a outros conteuacutedos da cultura corporal
Tendo em vista as transformaccedilotildees ocorridas
com a ginaacutestica ao longo da histoacuteria algumas
questotildees emergem e conferem significados agrave
proposta deste capiacutetulo atualmente a ginaacutestishy
ca permanece como um conteuacutedo nas aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesica Como se configura a ginaacutestica
nessas aulas Como os corpos dos sujeitos enshy
volvidos nessa praacutetica satildeo abordados dentro e
fora da escola Como a sociedade compreende
esses corpos e delega agrave ginaacutestica a competecircncia
por conformaacute-los Questotildees como essas contrishy
buem para a compreensatildeo dos significados que
a praacutetica corporal ginaacutestica assume ou poderia
assumir como conteiido escolar
Compreender a ginaacutestica como conteuacuteshy
do da Educaccedilatildeo Fiacutesica nos remete ao iniacutecio
do seacuteculo XIX quando essa produccedilatildeo cultural
passou a ser considerada cientiacutefica fruto das
distintas formas de se pensar os exerciacutecios fiacutesicos em paiacuteses europeus
surgindo assim os meacutetodos ou escolas de ginaacutestica integrantes do
chamado Movimento Ginaacutestico Europeu Nessa perspectiva buscou-
-se imprimir um caraacuteter de utilidade aos exerciacutecios fiacutesicos em que
foram negadas as praacuteticas populares de artistas de rua de circo acroshy
batas que as apresentavam como espetaacuteculo trazendo o corpo como
centro de entretenimento (SOARES 1998 2001a 2001b)
Ainda segundo a autora eacute nos princiacutepios de ordem e disciplina forshy
mulados pelo Movimento Ginaacutestico Europeu bem como do afastamenshy
to do nuacutecleo primordial do divertimento que a Ginaacutestica se afirmou
como parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos Uma praacutetica capaz de potenshy
cializar a utilidade dos gestos e oferecer um espetaacuteculo ldquocontroladordquo e
institucionalizado dos usos do corpo em negaccedilatildeo aos elementos cecircnicos
funambulescos e acrobaacuteticos (SOARES 1998)
Precursora da Educaccedilatildeo Fiacutesica a Ginaacutestica cientiacutefica se afirmou
ao longo do seacuteculo X IX como siacutentese do pensamento cientiacutefico no
ocidente europeu e integrante dos novos coacutedigos de civilidade o que
vai justificar sua presenccedila no curriacuteculo escolar tambeacutem no Brasil
Como vimos a ginaacutestica foi uma das primeiras praacuteticas corposhy
rais a ser inserida na educaccedilatildeo escolar no seacuteculo XIX tanto que sua
denominaccedilatildeo ldquoGymnasticardquo foi por muitos anos considerada a proacuteshy
pria disciplina escolar sendo paulatinamente substituiacuteda no iniacutecio do
seacuteculo XX pela denominaccedilatildeo ldquoEducaccedilatildeo Physicardquo1
No Brasil ateacute as deacutecadas de 1920 e 1930 a ginaacutestica era uma
praacutetica privilegiada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica sendo orientada por
dois primados da educaccedilatildeo escolar Primeiramente o ldquoprimado da orshy
topediardquo esteve relacionado com a correccedilatildeo de desvios e com o endirei-
tamento dos corpos pretendendo constituir sujeitos robustos e higieshy
nizados Posteriormente o ldquoprimado da eficiecircnciardquo visava construir o
1 Tal expressatildeo areacute enratildeo possuiacutea um sentido mais amplo vinculado ao discurso da ldquohygienerdquo
(G O N D RA 2004) e ao pensamento de Herbert Spencer em que a educaccedilatildeo integral
seria apoiada em trecircs pilares a ldquoeducaccedilatildeo intellectual moral e physicardquo (VAGO 2002)
Assim essa ldquoeducaccedilatildeo physicardquo englobou natildeo soacute a ldquogymnasticardquo os ldquoexerciacutecios physicosrdquo e as
ldquoevoluccedilotildees militaresrdquo como tambeacutem abarcou a organizaccedilatildeo dos tempos e espaccedilos escolares a
distribuiccedilatildeo da luz a boa ventilaccedilatildeo do ambiente a disposiccedilatildeo e o formato do mobiliaacuterio o
nuacutemero de alunos por turma as refeiccedilotildees os recreios enfim todos os haacutebitos saudaacuteveis que
garantiriam o pleno ldquodesenvolvimento physicordquo dos alunos
trabalhador necessaacuterio agrave induacutestria que deveria ser dotado natildeo somente
de corpos ldquoerectosrdquo mas sobretudo de corpos eficientes prontos para
o trabalho em conjunto que de maneira eficaz tivesse rendimento em
forma de produto e de resultado (VAGO 2002)
Nesse sentido Carvalho (1997) apresenta argumentos para comshy
preender os discursos educacionais que no Brasil a partir do final do
seacuteculo XIX e nas primeiras quatro deacutecadas do seacuteculo XX procuraram
ldquo[] legitimar-se enquanto saber pedagoacutegico de tipo novo moderno experimental e cientiacuteficordquo (CARVALHO 1997 p 269) Assim ldquo[]
trabalha com duas metaacuteforas da disciplina - disciplina como ortopeshy
dia e disciplina como eficiecircnciardquo (CARVALHO 1997 p 269) De
acordo com a autora a partir da deacutecada de 1920 eacute possiacutevel perceber
uma sutil mudanccedila no discurso pedagoacutegico no Brasil
O resultado desse movimento eacute que a eficiecircncia passa a ser um
primado orientador para a escola Com efeito Vago (2002) amplia
que natildeo seria diferente para a ginaacutestica a qual migraria de uma preshy
ocupaccedilatildeo com a correccedilatildeo o endireitamento e a constituiccedilatildeo dos corshy
pos para uma preocupaccedilatildeo com a eficiecircncia dos gestos aliada aos
pressupostos da ldquovida modernardquo2
A partir das deacutecadas de 1940 e 1950 a ginaacutestica foi perdendo
espaccedilo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica para o esporte3 Atualmente
em muitas escolas esse conteuacutedo quando trabalhado tende a ser
abordado com praacuteticas descontextualizadas como apecircndice dos esshy
portes aquecimento relaxamento preparaccedilatildeo fiacutesica subsumindo
seu caraacuteter poliacutetico e social em suma natildeo o considerando como
patrimocircnio cultural a ser apropriado pela humanidade tal como
nos mostra Almeida (2005) Contudo pensar a ginaacutestica como
um conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute pensar em uma possibilidade
2 Sobre este assunto destacamos tambeacutem o trabalho de Schneider (2004)
3 Apoacutes a II Guerra Mundial num contexto de intensa urbanizaccedilatildeo e desenvolvimento
bdquoindustrial assistimos a um processo de esportivizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica influenciado
pela cultura europeia Neste momento a Educaccedilatildeo Fiacutesica passa a ter uma relaccedilatildeo de
subordinaccedilatildeo agrave instituiccedilatildeo esportiva tendo seus objetivos baseados na aptidatildeo fiacutesica
e iniciaccedilatildeo esportiva Os coacutedigos do Esporte de Rendimento como competiccedilatildeo
sucesso individual e rendimento satildeo incorporados pela Educaccedilatildeo Fiacutesica neste periacuteodo
demonstrando sua articulaccedilatildeo com a poliacutetica educacional tecnicista e seu papel na
reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais hegemocircnicas
de ampliaccedilatildeo cultural que deve privilegiar a formaccedilatildeo humana em
sua totalidade Como apresenta Ayoub (2003 p 87) aprender gishy
naacutestica na escola significa ldquoestudar vivenciar conhecer compreenshy
der perceber confrontar interpretar problematizar compartilhar
apreender as inuacutemeras interpretaccedilotildees da ginaacutestica e produzir novos
significados e novas possibilidades de expressatildeo giacutemnicardquo
Veremos no presente capiacutetulo que a ginaacutestica contemporacircnea
dentro e fora da escola pode estar imprimindo algumas permanecircncias
da ginaacutestica cientiacutefica do seacuteculo XIX entretanto sob uma nova roushy
pagem Essas permanecircncias podem ser percebidas tanto com relaccedilatildeo agrave
sua metodologia em grande medida enraizada na repeticcedilatildeo de gestos
padronizados quanto com relaccedilatildeo agraves finalidades a ela associadas que
sugerem uma nova leitura para a ldquocorreccedilatildeordquo e ldquoconstituiccedilatildeo dos corposrdquo
bem como para a ldquoeficiecircncia dos gestosrdquo associada ao mundo produtivo
e aos interesses da classe dominante
A ginaacutestica no processo de disciplinarizaccedilatildeo
O corpo dos indiviacuteduos como mais um instrumento da
produccedilatildeo passava a constituir uma preocupaccedilatildeo da classe
no poder Tornava-se necessaacuterio nele investir Todavia esse
investimento deveria ser limitado para que o corpo nunshy
ca pudesse ir aleacutem de um corpo de um ldquobom animalrdquo
Era preciso adestraacute-lo desenvolver-lhe o vigor fiacutesico desde
cedo disciplinaacute-lo enfim para sua funccedilatildeo na produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo do capital (SOARES 2001a p 33)
A partir do conceito de disciplina Foucault (1987) descreve um
processo no qual satildeo formados haacutebitos costumes modos de pensar e
agir orientados para a formaccedilatildeo dos chamados corpos doacuteceis - indiviacuteduos
que podem ser submetidos utilizados transformados e aperfeiccediloados
Em suas reflexotildees o chamado ldquopoder disciplinarrdquo possui como funccedilatildeo
maior a de ldquoadestrarrdquo os indiviacuteduos fabricando sujeitos ao mesmo temshy
po produtivos economicamente e submissos politicamente
Os processos disciplinares segundo o autor assumiram no decorshy
rer dos seacuteculos XVII e XVIII formas gerais de dominaccedilatildeo diferentes
da escravidatildeo da domesticidade da vassalidade e do ascetismo por
exemplo visto que este novo contexto histoacuterico eacute o momento no qual
nasce uma arte do corpo humano que visa natildeo unicamente o aumento
de suas habilidades mas a formaccedilatildeo de uma relaccedilatildeo que no mesmo
mecanismo o torna tanto mais obediente quanto eacute mais uacutetil ldquoForma-
-se entatildeo uma poliacutetica das coerccedilotildees que satildeo um trabalho sobre o corpo
uma manipulaccedilatildeo calculada de seus elementos de seus gestos de seus
comportamentosrdquo (FOUCAULT 1987 p 119)
Nesse processo as teacutecnicas de distribuiccedilatildeo dos indiviacuteduos no espashy
ccedilo assim como o controle da atividade pela regulaccedilatildeo do tempo e pelo
adestramento dos gestos vatildeo configurando novas praacuteticas em diferentes
instituiccedilotildees Assim as faacutebricas os quarteacuteis os hospitais e tambeacutem as
escolas se configuram como locais responsaacuteveis para a disciplinarizaccedilatildeo
dos indiviacuteduos No caso do ambiente escolar essa formaccedilatildeo demandava
a manutenccedilatildeo dos alunos entre as paredes da sala de aula submetidos
ao olhar vigilante do professor o tempo suficiente para domar seu cashy
raacuteter e dar forma adequada a seu comportamento (ENGU1TA 1989)
E com esse mesmo objetivo no que se refere ao projeto de
formaccedilatildeo humana que a ginaacutestica por meio dos meacutetodos ginaacutesshy
ticos foi incorporada pelas concepccedilotildees educacionais do final do
seacuteculo XV III e iniacutecio do seacuteculo X IX (SOARES 2001a)
Regenerar a raccedila promover a sauacutede (sem alterar as condiccedilotildees
degradantes de vida) desenvolver a vontade a forccedila a ldquoenergiardquo (para
servir agrave paacutetria e agrave induacutestria) foram algumas das finalidades atribuiacutedas
agrave ginaacutestica no contexto de consolidaccedilatildeo do capitalismo na Europa A
ecircnfase na disciplinarizaccedilatildeo dos corpos acabou por delinear na educashy
ccedilatildeo escolar uma praacutetica pedagoacutegica na qual sessotildees de ginaacutestica tratashy
vam os alunos de forma homogecircnea com accedilotildees reduzidas agrave repeticcedilatildeo
de movimentos estereotipados tal como sugere Marinho (19--) ao
descrever uma liccedilatildeo de ginaacutestica orientada pelo Meacutetodo Francecircs
Para fazer executar um movimento o instrutor
comanda - ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo devendo este
comando ser substituiacutedo para as crianccedilas pela adshy
vertecircncia ldquoAtenccedilatildeordquo Se o movimento exige uma poshy
siccedilatildeo de partida o instrutor a indicaraacute lt rnminJraquo-
ldquoPosiccedilatildeordquo Enuncia o exerciacutecio e ao comando ldquoCoshy
meccedilarrdquo Todos executam o movimento prescrito As
posiccedilotildees de partida dos ldquoassouplissementsrdquo assimeacuteshy
tricos satildeo a princiacutepio tomadas agrave esquerda Termishy
nado o exerciacutecio nesta posiccedilatildeo o instrutor comanda
ldquoMudarrdquo Os alunos retornam agrave posiccedilatildeo de partida agrave
direita e executam novamente o exerciacutecio prescrito
Ao comando de ldquoCessarrdquo todo o movimento cessa
sem precipitaccedilatildeo e a posiccedilatildeo de partida eacute retomada
A posiccedilatildeo de partida soacute eacute deixada ao comando de
ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo No comando de ldquoDescanshy
ccedilarrdquo os alunos permanecem no lugar sem serem
obrigados a conservar a posiccedilatildeo primitiva e a imobishy
lidade (M A R IN H O 19- p 110-111)
Conforme explica Soares (2001a) todo o ideaacuterio colocado em
praacutetica pelo pensamento higienista do qual resulta o modelo de aula
descrito acima impocircs uma disciplina que pretendia adequar o corpo ao
trabalho fabril tornando-o mais doacutecil e submisso sob a oacutetica poliacutetica
e ao mesmo tempo mais aacutegil forte e robusto sob a oacutetica da produccedilatildeo
E importante considerar a possibilidade de o processo de dis-
ciplinarizaccedilatildeo mdash descrito por Foucault e incorporado de forma sushy
bordinada por Soares (2001a) - natildeo ter sido totalmente superado
ou seja esse fenocircmeno pode estar se apresentando ainda nos dias
de hoje de uma nova forma atualizada
Na concepccedilatildeo gramsciana todo esse processo de ldquodisciplinariza-
ccedilatildeordquo pode ser compreendido como uma tentativa - da classe domishy
nante mdash de formaccedilatildeo teacutecnica e de conformaccedilatildeo eacutetico-poliacutetica das masshy
sas com o intuito de reconfigurar o modo de vida em conformidade
com as demandas colocadas pelo modo de produccedilatildeo da existecircncia
humana em expansatildeo naquele contexto histoacuterico
Em Americanismo e Fordismo Gramsci (2001 p 251) explica
que ldquoa vida na induacutestria exige um aprendizado geralrdquo um processhy
so de adaptaccedilatildeo psicofiacutesica a determinadas condiccedilotildees de trabalho
de nutriccedilatildeo de habitaccedilatildeo de costumes de valores algo que natildeo
eacute inato natural mas exige ser adquirido Portanto a partir dessa
reflexatildeo torna-se possiacutevel compreender que no modo de produccedilatildeo
da vida em formaccedilatildeo no contexto histoacuterico de incorporaccedilatildeo dos meacuteshy
todos ginaacutesticos na escola os exerciacutecios fiacutesicos desempenhavam um
papel importante uma vez que o novo tipo de homem demandado
pelo bloco no poder deveria possuir um corpo saudaacutevel forte aacutegil
e disciplinado construiacutedo a partir da adoccedilatildeo de um novo modo de
vida E exatamente para contribuir com a formaccedilatildeo desse novo tipo
de homem que a ginaacutestica estruturada dentro ou fora da instituishy
ccedilatildeo escolar passou a constituir um dos mecanismos utilizados para
instrumentalizar a vontade adequar e reorganizar gestos e atitudes
necessaacuterios agrave reproduccedilatildeo da sociedade4
A questatildeo que necessitamos discutir refere-se agrave possibilidade
de existecircncia de um processo contemporacircneo de mesmo tipo mas
atualizado voltado agrave formaccedilatildeo de um novo modo de vida necessaacuteshy
rio agrave reproduccedilatildeo do capitalismo contemporacircneo Portanto quesshy
tionamos seraacute que a ginaacutestica contemporacircnea se relaciona com a
formaccedilatildeo de novos corpos doacuteceis A ginaacutestica hoje atende de alguma
forma aos interesses de reproduccedilatildeo da sociedade Existem elementos
contraditoacuterios que permitem uma apropriaccedilatildeo criacutetica da ginaacutestica
Longe de assumir a tarefa de esgotar as reflexotildees sobre o tema
entendemos ser necessaacuterio destacar inicialmente que as modifishy
caccedilotildees ocorridas no capitalismo a partir da deacutecada de 1970 em
resposta agrave chamada crise do keynesianismo-fordismo represenshy
taram uma mudanccedila no regime de acumulaccedilatildeo - do fordismo agrave
ldquoacumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo (HARVEY 2007) Ao modelo fordista seshy
gundo Chauiacute (2001) o bloco no poder respondeu com a terceirishy
zaccedilatildeo a desregulamentaccedilatildeo o predomiacutenio do capital financeiro
a dispersatildeo e fragmentaccedilatildeo da produccedilatildeo aleacutem da centralizaccedilatildeo
velocidade da informaccedilatildeo e da velocidade das mudanccedilas tecnoloacuteshy
gicas ao modelo keynesiano do Estado de Bem-Estar o bloco no
poder respondeu com a ideia do ldquoEstado m iacutenimordquo a desregulaccedilatildeo
do mercado a competitividade e a privatizaccedilatildeo da esfera puacuteblica
As modificaccedilotildees provenientes desse processo de reproduccedilatildeo
do capitalismo natildeo atingiram apenas a organizaccedilatildeo de grandes
______________ 4 Natildeo eacute objetivo deste texto discutir as distinccedilotildees entre Foucault e Gramsci no que diz respeito
ao conceito de disciplina Optamos por trabalhar com a vertente marxista incorporando de
lorma subordinada ao nosso referencial as contribuiccedilotildees que Foucault daacute ao tema
empresas jaacute consolidadas no mercado mas tambeacutem novos emshy
preendimentos como as academias de ginaacutestica por exemplo5
Conforme evidencia Furtado (2007) as academias vecircm acomshy
panhando a tendecircncia de implementaccedilatildeo dos elementos centrais
da acumulaccedilatildeo flexiacutevel passando a funcionar em uma dinacircmica
caracterizada pela flexibilidade pela introduccedilatildeo de equipamentos
com tecnologia cada vez mais avanccedilada pela diversificaccedilatildeo das
mercadorias oferecidas e tambeacutem pelo ldquofoco no clienterdquo que
pode ser evidenciado pela constante busca de ldquonovasrdquo ofertas e
novidades capazes de atrair e reter consumidores
As aulas de ginaacutestica saacuteo por exemplo ldquoaulas-showrdquo
com equipamentos iluminaccedilatildeo decoraccedilatildeo e sonorishy
zaccedilatildeo que favorecem ao ldquoespetaacuteculordquo e desempenham
um papel importante na seduccedilatildeo do cliente Assim
tambeacutem eacute toda a complexa estrutura que possui a acashy
demia ou seja natildeo eacute soacute a aula que deve ser um ldquoshowrdquo
e sim tambeacutem toda a academia com decoraccedilatildeo sonorishy
zaccedilatildeo iluminaccedilatildeo e equipamentos que desempenhem
funccedilotildees de encantar e atender aos desejos dos clientes
de experimentar sensaccedilotildees diversas dentre elas a sensashy
ccedilatildeo de ldquostatusrdquo (FURTADO 2007 p 311)
E interessante destacar que o formato atrativo das aulas tende a
captar de forma mais eficiente os consumidores visto que eles acabam
desconsiderando os incipientes resultados reais obtidos pela realizaccedilatildeo
das aulas de determinados programas que na verdade se sustentam
mais pelos fatores de cunho emocional do que pelos ganhos obtidos
com sua praacutetica Ao analisar as teacutecnicas de inovaccedilatildeo do empresariado
do Fitness mais especificamente um determinado programa da franshy
quia Curves Mascarenhas et al (2007) constatam que a pseudossensa-
ccedilatildeo de bem-estar sauacutede e beleza produzida pelas aulas eacute acompanhada
por um amplo e intenso processo de persuasatildeo comum agraves cartilhas
de marketing para academias Segundo os autores a base de legitima-
5 A acumulaccedilatildeo flexiacutevel eacute marcada dentre outros aspectos pela superaccedilatildeo da
rigidez caracteriacutestica do fordismo se apoiando na flexibilidade dos processos
e mercados de trabalho aleacutem dos produtos e padrotildees de consumo Para
compreender melhor como as modificaccedilotildees no regime de acumulaccedilatildeo
afetaram a aacuterea Fitness recorrer agrave Quelhas (2012)
ccedilatildeo racional tecno-cientiacutefica eacute secundarizada frente ao acreacutescimo de
inovaccedilotildees criativas de base emocional Talvez isso explique ao menos
em parte por que ainda hoje sejam consideradas bastante atrativas
algumas aulas de ginaacutestica de academia que em muito se assemelham
agraves sessotildees de ginaacutestica do seacuteculo passado Estamos nos referindo aos
atuais formatos padronizados de sessotildees de ginaacutestica que se orientam
na repeticcedilatildeo de movimentos estereotipados geralmente com mesma
intensidade a serem realizados pelos alunos em conformidade com
comandos do professor - ou de uma voz jaacute gravada a ser reproduzida
em aparelhos eletroeletrocircnicos Conforme evidenciam Toledo e Pires
(2008) alguns programas tendem a desconsiderar na aula dificuldashy
des ou niacutevel de condicionamento fiacutesico dos alunos uma vez que os
professores muitas vezes tecircm que seguir com exatidatildeo a aula desshy
crita na apostila e ensinada nos cursos assim como natildeo podem sair
da posiccedilatildeo de ldquoatores eperformersrdquo para corrigir eou dar uma atenccedilatildeo
especial ao aluno com dificuldades durante a aula As autoras mencioshy
nam por sua vez que esses elementos ao serem considerados pelos
alunos como determinantes de insatisfaccedilatildeo estatildeo sendo revistos pershy
mitindo aos professores sua modificaccedilatildeo
O incentivo ao consumo das ldquonovasrdquo modalidades de ginaacutestica
de academia ainda eacute acompanhado pela forte influecircncia da miacutedia na
organizaccedilatildeo dos valores dominantes Natildeo soacute o medo de engordar mas
uma gama de valores e comportamentos atrelados ao culto ao corpo
tem contribuiacutedo significativamente para a difusatildeo de um padratildeo a ser
almejado e - em alguns casos - para o desenvolvimento dos chamados
transtornos alimentares como a anorexia por exemplo6
Em virtude da discussatildeo realizada torna-se importante quesshy
tionar se a difusatildeo de valores responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de novos
desejos relacionados ao consumo das mercadorias a serem vendishy
das nas academias de ginaacutestica hoje se constitui como uma forma
atual de disciplinarizaccedilatildeo subordinando os indiviacuteduos aos interesshy
ses dominantes Da mesma forma a difusatildeo de receitas exerciacutecios
------------ 6 A influecircncia da miacutedia no culto ao corpo foi trabalhada por Berger (2007 2010) Sobre
anorexia destacam-se os textos de Cordas (2004) Giordani (2006) e ainda o de Niemeyer e
Kruse (2008)
ou programas de ginastica milagrosos pode estar desempenhanshy
do importante funccedilatildeo educativa sobretudo no caso das pessoas
que natildeo dominam o conhecimento necessaacuterio para criticaacute-los e
por isso acabam por aderir ao consumo de mercadorias que nem
sempre produzem o resultado desejado
Consideramos que a transmissatildeo do conhecimento historicamente
sistematizado pela humanidade sobre o tema se constitui como um passo
importante para superar esse possiacutevel processo atual de ldquoadestramentordquo
A praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a ginaacutestica
Na perspectiva que orienta este trabalho o trato pedagoacutegico com a
ginaacutestica na escola deve se articular agrave tarefa de socializaccedilatildeo das formas mais
desenvolvidas do conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico produzido
pela humanidade ao longo do tempo uma vez que possibilita aos alunos asshy
sumir uma nova postura na praacutetica social qual seja a de sujeito histoacuterico7
No caso do tema abordado neste artigo isso significa transmitir um conheshy
cimento que permita aos alunos assumir uma nova relaccedilatildeo com a ginaacutestica
Compreendendo que o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos
corpos se constitui como um possiacutevel tema a ser trabalhado na
escola desenvolvemos um trabalho pedagoacutegico orientado pela
Pedagogia histoacuterico-criacutetica com uma turma (composta por 30
alunos de ambos os sexos) do segundo ano do Ensino Meacutedio no
Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste
de Minas Gerais (IF Sudeste M G ) Campus Juiz de Fora8 A seshy
7 A respeito disso ver Coletivo de Autores (1992)
8 Essa experiecircncia foi resultado de um Estaacutegio Curricular Obrigatoacuterio desenvolvido em
2011 quando Nathaacutelia Sixel Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees cursavam
a Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacutesica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Tal experiecircncia deu origem a um Trabalho de Conclusatildeo de Curso (MAGALHAtildeES
RODRIG UES 2011) orientado por Leonardo Docena Pina na eacutepoca professor substituto
da FACED-UFJF As discussotildees realizadas entre os acadecircmicos o orientador e Miguel Fabiano
de Faria professor da turma do IF Sudeste M G que recebeu os estagiaacuterios demandaram a
continuidade do estudo abordando novas reflexotildees que naquela ocasiatildeo natildeo puderam ser
feitas O presente texto portanto parte da experiecircncia de estaacutegio mas natildeo se limita a este uma
vez que elaboramos outro plano de trabalho para englobar novas dimensotildees do conteuacutedo natildeo
abordadas naquela ocasiatildeo Para facilitar a compreensatildeo dos aspectos didaacuteticos expostos neste
texto apresentaremos o planejamento mais elaborado como experiecircncia jaacute desenvolvida
guir apresentamos a experiecircncia desenvolvida a partir dos passos
metodoloacutegicos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica
Na identificaccedilatildeo da praacutetica social buscamos debater as seguintes
questotildees a ginaacutestica de hoje eacute igual agrave de antigamente Ela sofre influecircnshy
cia da miacutedia Existem diferenccedilas entre as praacuteticas de ginaacutestica voltadas
para a esteacutetica ou para a sauacutede Ginaacutestica promove sauacutede Qualquer
exerciacutecio que praticamos faz nosso corpo ldquoqueimarrdquo gordura Em seshy
guida os alunos foram informados de que estudariacuteamos algumas reshy
laccedilotildees entre ginaacutestica e sociedade ao longo da histoacuteria a partir de um
meacutetodo de apreensatildeo da realidade que tem o objetivo de transformar a
sociedade em que vivemos Os seguintes toacutepicos foram apresentados a
importacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise dos discurshy
sos da sauacutede e da esteacutetica a ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do
seacuteculo XIX aos dias de hoje a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos
desejos e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave
ginaacutestica introduccedilatildeo aos fundamentos cientiacuteficos do treinamento car-
diorrespiratoacuterio Cada um desses toacutepicos foi apresentado em conjunto
com os objetivos formulados sistematizados no plano de unidade
Ainda neste momento buscou-se identificar o que os alunos jaacute
sabiam sobre o tema Eles identificaram a praacutetica da ginaacutestica como
importante para a sauacutede e apontaram os ldquoobjetivos esteacuteticosrdquo como
influecircncia para aderir agrave praacutetica de ginaacutestica poreacutem natildeo demonstrashy
ram compreender o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
O processo de aprimoramento da compreensatildeo dos alunos
sobre o tema foi direcionado por questionamentos referentes agraves
suas respectivas dimensotildees conforme apresentado na problema-
tizaccedilatildeo disposta no plano de unidade
Para transmitir os conhecimentos necessaacuterios agrave compreenshy
satildeo das questotildees levantadas na problematizaccedilatildeo optou-se por
trabalhar na instrumentalizaccedilatildeo com atividades embasadas prinshy
cipalmente nas discussotildees apresentadas em Soares (1998) Soshy
ares (2001a) Angulski et al (2006) e Mcardle Katch e Katch
(2003) Aleacutem de aulas expositivas trabalhamos o conteuacutedo por
meio de vivecircncia praacutetica da ginaacutestica
Iniciamos esra fase com uma exposiccedilatildeo que abordou a evoluccedilatildeo
da Ginaacutestica ao longo da Histoacuteria enfatizando as formas originais de
disciplinarizaccedilatildeo Ou seja nos concentramos nos Meacutetodos Ginaacutesticos
e discutimos sua influecircncia na configuraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica em
meados do seacuteculo XIX Logo apoacutes a exposiccedilatildeo uma vivecircncia praacutetica
foi realizada (nos moldes do Meacutetodo Francecircs) de modo a ampliar
a compreensatildeo da forma como era trabalhado esse conteuacutedo antishy
gamente aleacutem de buscar novos elementos para enriquecimento da
discussatildeo sobre a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Para discutir a expressatildeo contemporacircnea dessa produccedilatildeo cultural
apresentamos diferentes tipos de praacuteticas de ginaacutestica para vivecircncia e
posterior discussatildeo dos objetivos que levam as pessoas a praticaacute-las
esteacutetica ou sauacutede Salientamos neste momento alguns benefiacutecios da
ginaacutestica para a qualidade de vida e se esses estatildeo tambeacutem ligados agrave
esteacutetica O aprimoramento da compreensatildeo dos alunos sobre os beshy
nefiacutecios da ginaacutestica tambeacutem foi acompanhado por uma exposiccedilatildeo
dos modos de afericcedilatildeo da frequecircncia cardiacuteaca e das diferentes zonas
de treinamento e consumo de substratos energeacuteticos Assim pudemos
vivenciar algumas praacuteticas de ginaacutestica controlando a intensidade do
exerciacutecio de acordo com diferentes zonas alvo estipuladas Por fim
ainda na discussatildeo sobre esse tema buscamos situar a sauacutede e a qualishy
dade de vida como questotildees sociais a partir de uma exposiccedilatildeo seguida
da discussatildeo de reportagens previamente selecionadas
Ainda na instrumentalizaccedilatildeo apoacutes leituras indicadas para os alushy
nos realizarem em casa discutimos a influecircncia da miacutedia na praacutetica
de ginaacutestica nos modelos de corpo e nas accedilotildees para obtecirc-los Em
seguida elaboramos paineacuteis com recortes e reportagens de revistas
problematizando o tema Cada grupo apresentou seu painel ao final
Para explicitar a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy
naacutestica em sua expressatildeo contemporacircnea acreditamos que eacute posshy
siacutevel discutir a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos
e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave
ginaacutestica Aleacutem do mais a vivecircncia (seguida da problematizaccedilatildeo)
de alguns programas de ginaacutestica vendidos nas academias hoje
0
permite ao aluno compreender possiacuteveis traccedilos de disciplinariza-
ccedilaacuteo que se mantecircm ainda que de forma renovada
Ao final das atividades na catarse foi possiacutevel identificar que granshy
de parte dos alunos manifestou uma nova compreensatildeo da relaccedilatildeo exisshy
tente entre a ginaacutestica e a Educaccedilatildeo Fiacutesica nos diferentes momentos
da histoacuteria A nova maneira de entender o conteuacutedo mostrou-se mais
elaborada com domiacutenio de conceitos e entendimento de implicaccedilotildees
da sociedade na ginaacutestica e da ginaacutestica na sociedade Desafiados a sinshy
tetizar o que aprenderam os alunos se aproximaram do entendimenshy
to de que a ginaacutestica eacute uma atividade corporal que no seacuteculo XJX
atraveacutes dos meacutetodos ginaacutesticos atrelou-se agrave eugenia higiene assentada
no discurso da melhoria da sauacutede dos trabalhadores e da elevaccedilatildeo da
eficiecircncia no processo de produccedilatildeo No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre
ginaacutestica e qualidade de vida expressaram que a ginaacutestica isoladamente
natildeo garante melhora da sauacutedequalidade de vida pois estas estatildeo aliashy
das ao acesso agrave habitaccedilatildeo atendimento meacutedico transporte garantia
de emprego condiccedilotildees de trabalho seguras saneamento baacutesico e alishy
mentaccedilatildeo de qualidade dentre outros Enfatizaram o entendimento de
que a ginaacutestica tem desempenhado um papel secundaacuterio nas praacuteticas
de Educaccedilatildeo Fiacutesica no entanto tem sido objeto de ldquomercado rizaccedilatildeordquo
no cotidiano dos indiviacuteduos influenciados pela miacutedia A ginaacutestica soshy
bretudo sua praacutetica na busca de um padratildeo de corpo ideal tambeacutem
foi discutida sendo os meios iliacutecitos e exagerados como anabolizan-
tes esteroides dietas excessivas apontados como agentes nocivos que
poderiam levar a doenccedilas como a vigorexia anorexia e bulimia Neste
momento tambeacutem puderam se aproximar do entendimento de que dishy
ferentes intensidades nos exerciacutecios produzem efeitos distintos no nosso
corpo E ainda que a intensidade do exerciacutecio pode ser mensurada
atraveacutes da frequecircncia cardiacuteaca de maneira faacutecil e funcional9
Para os alunos expressarem a siacutentese a que ascenderam utilizamos
um trabalho final no qual foi proposto um ldquoquizrdquo educativo seguido
de uma discussatildeo o que permitiu abordar todo conteuacutedo trabalhado4
9 Naquela ocasiatildeo natildeo foi possiacutevel aprofundar o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
em suas formas contemporacircneas razatildeo que nos limitou a trabalhar apenas com as formas
originais desse processo conforme mencionado anirrinrmfnrraquo
A finalizaccedilatildeo das atividades na praacutetica social final envolveu a deshy
finiccedilatildeo de intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo no sentido de explicitar que a
apropriaccedilatildeo do conhecimento historicamente elaborado sobre a ginaacutesshy
tica possibilita aprimorar a atuaccedilatildeo na praacutetica social contribuindo para
uma postura criacutetica frente o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos10
Plano de unidade
A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Instiuiccedilatildeo Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia
Juiz de Fora
Disciplina Educaccedilatildeo Fiacutesica
Ano de escolaridade turma 2o ano do ensino meacutedio
Conteuacutedo Ginaacutestica
Unidade A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Nuacutemeros de aulas 8-10
OBJETIVOS GERAIS
bull Identificar a sauacutede e a esteacutetica como elementos centrais nos
discursos dominantes atualmente sobre a importacircncia da
praacutetica de ginaacutestica de modo a reconhecer suas implicaccedilotildees
sociais
bull Compreender o papel desempenhado pelos Meacutetodos
Ginaacutesticos na educaccedilatildeo dos corpos no seacuteculo XIX a fim
de enumerar possiacuteveis elementos de continuidaderuptura
em relaccedilatildeo agrave praacutetica de ginaacutestica em academias atualmente
bull Refletir sobre a influecircncia da miacutedia no incentivo ao
consumo de mercadorias relacionadas agrave ginaacutestica de
modo a posicionar-se criticamente diante das formulaccedilotildees
predominantes
10 Quadro detalhado sobre as intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo encontra-se no planejamento
apresentado a seguir
bull Conhecer alguns princiacutepios baacutesicos do treinamento
cardiorrespiratoacuterio para aplicaacute-los em suas praacuteticas corporais
e utilizaacute-los na anaacutelise das receitas milagrosas difundidas
atualmente
1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL
11 Anuacutencio dos conteuacutedos
Conteuacutedo ginaacutestica
Tema A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Toacutepicos
bull A im portacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise
dos discursos da sauacutede e da esteacutetica
bull A ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do seacuteculo X I X aos
dias de hoje
bull A influecircncia da m iacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos e
necessidades para o consum o de mercadorias relacionadas agrave
ginaacutestica
bull Introduccedilatildeo aos fundam entos cientiacuteficos do treinam ento
cardiorrespiratoacuterio
12 Vivecircncia do conteuacutedo
bull O que os alunos sabem ginaacutestica emagrece faz bem agrave sauacutede
haacute diferentes formas praticada em diferentes lugares
bull O que os alunos gostariam de saber todo exerciacutecio fiacutesico
eacute ginaacutestica Por quanto tempo preciso praticar ginaacutestica
para emagrecer Musculaccedilatildeo eacute ginaacutestica Como ficar com o
corpo igual aos praticantes de ginaacutestica competitiva Todas
as pessoas podem praticar todos os tipos de ginaacutestica Como
a ginaacutestica pode favorecer a prevenccedilatildeo de doenccedilas
2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO
21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo
A ginaacutestica de hoje eacute igual a de antigamente Ela sofre influecircncia da
miacutedia Existem diferenccedilas entre a praacutetica voltada agrave esteacutetica ou agrave sanrW
22 Dimensotildees do conteuacutedo
Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
D IM E N S Otilde E S Q U E ST Otilde E S P R O B L E M A T IZ A D O R A S
Conceituai
O que eacute ginaacutestica A ginaacutestica voltada para a sauacutede ou para a esteacutetica
se configura da mesma forma Toda ginaacutestica tem as mesmas caracteshy
riacutesticas O que eacute frequecircncia cardiacuteaca e qual sua relaccedilatildeo com as diferenshy
tes imensidades do exerciacutecio fiacutesico Quais sinais emitidos pelo nosso
corpo nos permitem estimar a queima ou natildeo de gordura O que eacute
disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Econocircmica
0 padratildeo de corpo perfeito tem alguma utilidade econocircmica Todos
tecircm condiccedilotildees de usufruir das possibilidades que o mercado oferece para
a melhora da qualidade de vida da populaccedilatildeo O desejo crescente pela
busca de novas modalidades de ginaacutestica de academia tem funccedilatildeo ecoshy
nocircmica importante nos dias de hoje
Histoacuterica
A ginaacutestica sempre se apresentou da mesma forma ao longo da hisshy
toacuteria H aacute diferenccedilas e semelhanccedilas entre a praacutetica de antigamente
e a atual Qual a funccedilatildeo atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto de sua
inserccedilatildeo na escola
CulturalCom o a miacutedia influencia nossos haacutebitos A miacutedia influenciava as
praacuteticas de ginaacutestica antigamente tambeacutem
Esteacutetica
Sempre existiu padratildeo de corpo A m iacutedia difundia algum padratildeo
de corpo antigamente A praacutetica de ginaacutestica tem sido realizada
somente para a obtenccedilatildeo de um corpo belo Essa difusatildeo de um
padratildeo de corpo ideal cria na populaccedilatildeo desejos e imagens sobre
seus proacuteprios corpos
Poliacutetica
A praacutetica de ginaacutestica por si soacute favorece a melhoria da sauacutede da
populaccedilatildeo de forma isolada ou outros fatores como renda morashy
dia emprego transporte atendimento meacutedico e alimentaccedilatildeo satildeo
importantes
Teacutecnica
Com o aferir a frequecircncia cardiacuteaca Com o identificar a intensidade dos
exerciacutecios Com o definir as zonas de treinamento a partir da afericcedilatildeo
da frequecircncia cardiacuteaca Quais satildeo os gestos que definem os movimenshy
tos da ginaacutestica
7onte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
31 Accediloacutees docentes e discentes
bull Exposiccedilatildeo do professor
bull Vivecircncia de diferentes formas de ginaacutestica passando dos
Meacutetodos Ginaacutesticos agraves modalidades contemporacircneas de
ginaacutestica de academia
bull Discussatildeo de textos com os alunos
bull Visualizaccedilatildeo anaacutelise e debate de documentaacuterioreportagem
em viacutedeo
bull Vivecircncia praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos mdash aferindo a frequecircncia
cardiacuteaca de si mesmo e do companheiro aleacutem de controlar
a zona alvo em diferentes intensidades
bull Elaboraccedilatildeo de painel com recortes e reportagens de jornais
eou revistas
32 Recursos materiais
Jornais revistas internet slides e materiais para praacutetica de gishy
naacutestica
4) CATARSE
41 Siacutentese teoacuterica do aluno
Com o desenvolvimento da sociedade capitalista na Europa
do seacuteculo XIX a Ginaacutestica Cientiacutefica ou Meacutetodos Ginaacutesticos acashy
baram por assumir a funccedilatildeo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos Para
subordinar poliacutetica e economicamente os indiviacuteduos agraves exigecircncias
das relaccedilotildees sociais dominantes naquele contexto a ginaacutestica foi
inclusive inserida nas escolas onde era praticada atraveacutes de exershy
ciacutecios padronizados com pouco ou nenhum espaccedilo para reflexotildees
dos alunos que deveriam executar os movimentos conforme os
comandos do professor (instrutor) Assim buscava-se contribuir
para formar sujeitos produtivos economicamente e ao mesmo
empo submissos politicamente capazes de contribuir para o de-
envolvimento das relaccedilotildees sociais que se aprofundavam na eacutepoca
Ao longo da histoacuteria a ginaacutestica passou por inuacutemeras trans-
ormaccedilotildees e atualmente seu viacutenculo com o discurso da promoshy
ccedilatildeo da sauacutede e da esteacutetica tem lhe garantido a manutenccedilatildeo de
am status privilegiado dentre as manifestaccedilotildees da cultura corposhy
ral Poreacutem se antigamente a educaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy
naacutestica visava formar um homem forte e apto ao trabalho fabril
atualmente a ginaacutestica parece atrelada a um processo educativo
voltado ao consumo desenfreado de mercadorias sejam as ldquonovasrdquo
modalidades oferecidas nas academias ou os diversos produtos que
visam agrave obtenccedilatildeo de um padratildeo de corpo ideal
Enquanto a busca desenfreada pelo padratildeo de corpo perfeito
acaba por influenciar transtornos como anorexia vigorexia e buli-
mia o discurso orientado na relaccedilatildeo (direta) entre praacutetica de ginaacutestishy
ca e obtenccedilatildeo da sauacutede acaba por mascarar o fato de que a qualidade
de vida e a sauacutede satildeo conceitos que envolvem condiccedilotildees de vida
como habitaccedilatildeo emprego condiccedilotildees de trabalho atendimento meacuteshy
dico de qualidade alimentaccedilatildeo dentre outros
A anaacutelise do processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes
da ginaacutestica e a apropriaccedilatildeo dos fundamentos baacutesicos do treinashy
mento cardiorrespiratoacuterio nos auxiliam no desenvolvimento de
uma postura criacutetica com a ginaacutestica a sociedade contemporacircnea e
seus discursos predominantes sobre o tema
42 Expressatildeo da siacutentese
Realizaccedilatildeo de prova e participaccedilatildeo em um quiz educativo ambos
abordando todo conteuacutedo estudado
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO
Quadro 2 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
1 Conhecer mais sobre a ginaacutestica1 Leitura de revistas e artigos soshy
bre ginaacutesticas
2 Discutir o comportamento dos inshy
diviacuteduos e suas praacuteticas de ginaacutestica
de acordo com seus objetivos sauacutede
eou esteacutetica
2 Observar e perguntar aos memshy
bros da sua comunidade se pratishy
cam e por que praticam ginaacutestica
e informaacute-los de seus limites e beshy
nefiacutecios
3 Posicionar-se criticamente sobre a
influecircncia da miacutedia nas praacuteticas de gishy
naacutesticas atuais
3 Numa discussatildeo sobre a gishy
naacutestica manifestar sua opiniatildeo
argumentando a favor ou contra
de acordo com o conhecimento
adquirido criticar a difusatildeo do
padratildeo de corpo ideal
4 Difundir o entendimento de que
outros fatores interferem na qualishy
dade de vida dos indiviacuteduos aleacutem da
ginaacutestica
4 Explicar a outras pessoas que
fatores como acesso agrave habitaccedilatildeo
atendimento meacutedico transporte
garantia de emprego condiccedilotildees
de trabalho seguras saneamento
baacutesico e alimentaccedilatildeo de qualidashy
de tambeacutem interferem na qualishy
dade de vida da populaccedilatildeo aleacutem
da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos
5 Realizar exerciacutecios na intensidade
de acordo com seus objetivos
5 Controlar sua frequecircncia cardiacute
aca durante a praacutetica de ginaacutestica e
demais exerciacutecios fiacutesicos
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees Finais
Este texto buscou apresentar uma experiecircncia pedagoacutegica na qual
a ginaacutestica foi trabalhada na escola sob orientaccedilatildeo da Pedagogia his-
toacuterico-criacutetica Destacamos que essa experiecircncia deve ser vista com um
olhar mais profundo pois cada escola tem caracteriacutesticas especiacuteficas e
singularidades que podem facilitar ou dificultar o processo pedagoacutegico
Vale ressaltar que a experiecircncia descrita natildeo esgota as inuacutemeras
possibilidades de trabalho a serem desenvolvidas com o tema ou com
a ginaacutestica Da mesma forma o conhecimento transmitido se constishy
tui apenas como parte do amplo leque de conhecimentos necessaacuterios
para o desenvolvimento de uma leitura criacutetica da realidade
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CAPIacuteTULO VIII
0 LUGAR E HORA DO CIRCO NA ESCOLA REFLEXOtildeES SOBRE A REINVENCcedilAtildeO DA CULTURA CIRCENSE NA SOCIEDADE CONTEMPORAcircNEA
Adriano de Paiva Reis
Carla Cristina Carvalho Pereira
Frederico Duarte Gomes Tostes
Haacute sempre um pouco de circo no corashy
ccedilatildeo de toda crianccedila Haacute sempre um pouco de
crianccedila no coraccedilatildeo de todo adulto Dentro de
noacutes despertam ecos as faceacutecias do palhaccedilo o
encanto da bailarina a cavalo as proezas do
trapeacutezio o destemor do homem que enfrenta
leotildees e tigres O fasciacutenio que aureola nossas
recordaccedilotildees vem do resto de infacircncia que -
felizmente - ainda ficou em noacutes E enquanto
houver ressoando alegre e contagiante um
riso de crianccedila haveraacute sempre um grito enshy
tusiaacutestico pronto a explodir - Viva o circo
(RUIZ 1987)
A arte circense eacute para muitos estudiosos
considerada uma das manifestaccedilotildees culturais
mais tradicionais do mundo Sobrevivendo de
geraccedilatildeo a geraccedilatildeo o circo vem perdurando no
tempo Maacutegicos trapezistas malabaristas pashy
lhaccedilos domadores e encantadores de animais
selvagens o fasciacutenio despertado pelo circo traz
encantamento e mexe com o imaginaacuterio do
homem haacute anos independente da idade
Marginalizada durante muito tempo as atividades circenses
hoje viraram nicho de mercado O circo vem ocupando cada vez
mais espaccedilo e ganhando maior visibilidade nos dias atuais seja
em academias de ginaacutesticas clubes escolas para formaccedilatildeo de cirshy
censes semaacuteforos dentre outros
Embora a produccedilatildeo teoacuterica a respeito do tema tenha crescido a
partir do iniacutecio dos anos 2000 e um nuacutemero significativo de artigos
sobre esse conteuacutedo esteja sendo publicado nos principais perioacutedishy
cos de Educaccedilatildeo Fiacutesica do paiacutes a maior parte dos trabalhos limita-se
ao resgate histoacuterico tendo em vista a preservaccedilatildeo do circo enquanto
patrimocircnio cultural ou a relatos de experiecircncias desenvolvidas
A inclusatildeo do circo nos curriacuteculos escolares eacute justificada
2 m muitos casos a partir do provaacutevel desenvolvimento das cashy
pacidades fiacutesicas agilidade resistecircncia cardiovascular equiliacutebrio
ldquohabilidades motorasrdquo em geral Ainda satildeo destacados aspectos
omo autoconhecimento automotivaccedilatildeo e superaccedilatildeo dos medos
ileacutem de cooperaccedilatildeo socializaccedilatildeo interaccedilatildeo ajuda muacutetua criashy
ratildeo de viacutenculo afetivo alegria espontacircnea e consciecircncia corpo-
al1 Embora possam ser considerados importantes entendemos
jue tais elementos por si soacute natildeo justificam a presenccedila desse
onteuacutedo na educaccedilatildeo escolar
A nosso ver a inclusatildeo das atividades circenses nos curriacuteculos
scolares articula-se ao que consideramos ser o papel da escola
[uai seja o ldquode socializaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico filosoacutefi-
o e artiacutestico produzido pela humanidade atraveacutes dos tempos em nas formas mais elevadasrdquo (EIDT DUARTE 2007 p 54 grifo
to autor) E imprescindiacutevel compreender as atividades circenses
nquanto produto da atividade humana um resultado do desen-
olvimento histoacuterico que precisa ser apropriado Cada um dos
lementos que constituem o circo (malabarismo equilibrismo
laacutegica etc) eacute carregado de sentidos e significados construiacutedos
istoricamente e modificados socialmente identificando assim o
Costa Tiaen e Sambugari (2007) Bortoleto (2003) Silva (1996) Silva e
Cacircmara (2009) Duprat e Bortoleto (2007)
homem como produtor e transformador da cultura Cabe agrave escoshy
la trabalhar com esse conteuacutedo contextualizando-o problemati-
zando-o estabelecendo correlaccedilotildees pertinentes entre as atividades
circenses e o processo histoacuterico em que se desenvolveram desmis-
tificando algumas modificaccedilotildees pelas quais passou ao longo dos
tempos Assim torna-se possiacutevel articular o ensino das atividades
circenses com a formaccedilatildeo do sujeito histoacuterico consciente da neshy
cessidade de superaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo
O desafio a ser superado eacute a construccedilatildeo de propostas pedagoacutegishy
cas viaacuteveis consistentes e coesas que contribuam para uma anaacutelise
criacutetica e uma compreensatildeo abrangente do universo circense visando
[] desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre o
acervo de formas de representaccedilatildeo do mundo que o
homem tem produzido no decorrer da histoacuteria exshy
teriorizadas pela expressatildeo corporal jogos danccedilas
lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte malabarismo
contorcionismo miacutemica e outros que podem ser
identificados como formas de representaccedilatildeo simshy
boacutelica de realidades vividas pelo homem historicashy
mente criadas e culturalmente desenvolvidas (C O shy
LETIVO DE AUTORES 1992 p 38)
Nesta perspectiva defendemos que as atividades circenses poshy
dem ser encaradas como um conteuacutedo especiacutefico extrapolando
algumas anaacutelises que a entendem enquanto parte constituinte da
ginaacutestica Apesar de determinados elementos como as acrobacias
apresentarem similaridades com o conteuacutedo da ginaacutestica fica evishy
dente que o processo com que esses elementos se apresentam denshy
tro do universo do circo eacute bem diferente daquele onde surgiu e
se desenvolveu a ginaacutestica2 Aleacutem disso outros elementos como
o palhaccedilo e as maacutegicas natildeo podem ser compreendidos enquanto
movimentos giacutemnicos e no nosso entendimento omiti-los seria
uma forma de fragmentar o conhecimento a respeito do circo
2 De acordo com Soares (2005) as acrobacias circenses influenciaram a
Ginaacutestica Francesa meacutetodo desenvolvido a partir da ordenaccedilatildeo e organizaccedilatildeo
de movimentos de acrobatas funacircmbulos e saltimbancos de maneira a
produzir maior eficiecircncia e economizar eneraia
A produccedilatildeo da arte circense como modo de vida
A arte circense eacute considerada uma das manifestaccedilotildees culturais mais
antigas do mundo sendo impossiacutevel precisar sua origem Sabe-se que
as modalidades circenses que hoje conhecemos decorrem de praacuteticas
que foram surgindo em momentos contextos e lugares diferentes a
partir dos costumes de uma regiatildeo ou paiacutes com o objetivo de entreter
louvar ou homenagear a deuses valorizar conquistas de guerras ou satildeo
corporificadas a partir da necessidade do homem de adestrar animais
para auxiacutelio no transporte ou em atividades de trabalho
O circo ldquomodernordquo como espetaacuteculo pago uma lona cobrindo um
picadeiro onde se apresentam trapezistas malabaristas equilibristas eacute
muito recente e seria por assim dizer a forma moderna de um antiquiacutesshy
simo entretenimento de diversos povos e culturas (TORRES 1998) A
estrutura do circo moderno remonta ao seacuteculo XVIII quando o inglecircs
Philip Astley ex-oficial da Cavalaria Britacircnica criou um espetaacuteculo de
equilibrismo equestre apresentado numa pista circular O espetaacuteculo criashy
do por Astley apresentava uma estrutura que atendia a um puacuteblico espeshy
ciacutefico da sociedade o rigor a postura e a elegacircncia da arte equestre consshy
tituiacuteam um siacutembolo de status social e muito agradavam a aristocracia
Entretanto os grupos circenses da eacutepoca comeccedilaram a notar que
as apresentaccedilotildees ganhariam muito mais espectadores se conseguissem
atingir uma classe social emergente naquela eacutepoca a burguesia Foshy
ram entatildeo incorporados outros artistas mdash funambulescos malabarisshy
tas acrobatas saltadores e adestradores de animais3 - que desafiavam
os limites corporais e morais e o espetaacuteculo foi reorganizado de forma
que pudesse ser mais atrativo (DUPRAT 2007)
3 Apesar dos animais historicamente participarem do espetaacuteculo circense a legislaccedilatildeo atual
vem restringindo sua utilizaccedilatildeo Aleacutem do Decreto ndeg 2464534 referente a maus tratos e
crueldade aos animais a Lei de Proteccedilatildeo agrave Fauna (Lei 519767) prevecirc pena de reclusatildeo para
casos de animais silvestres mantidos em locais sem higiene sujeitados a trabalhos insalubres
alimentaccedilatildeo inadequada ou insuficiente dentre outros A Portaria 10894 regulamenta as
condiccedilotildees para a estadia dos animais em zooloacutegicos e circos cabendo agraves prefeituras autorizarem
ou natildeo a fixaccedilatildeo de circos que utilizem animais em seus nuacutemeros Este eacute um ponto bastante
polecircmico pois apesar dos ambientalistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos
alegando maus tratos mdash seja nos meacutetodos de adestramento ou pelo fato de retiraacute-los de seu
habitat natural mdash haacute quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute crueldade e
tampouco insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais
Contraditoriamente na Europa receacutem-industrializada do
seacutec XIX o universo gestual caracteriacutestico do circo apresentava
liberdade e descompromisso contrariando o pensamento burguecircs
da eacutepoca que defendia a utilidade de qualquer atividade fora do
mundo do trabalho Contrapondo-se agrave liberdade e ao luacutedico das
atividades circenses primava-se pelos exerciacutecios fiacutesicos cuidadoshy
samente pensados para finalidades especiacuteficas a partir dos grupos
musculares e de funccedilotildees orgacircnicas (SOARES 2005)
O circo permitia agrave plateia transitar do maacutegico e fascinante agrave
aberraccedilatildeo despertando os mais ambiacuteguos sentimentos Acrobatas
trapezistas e funacircmbulos desafiavam as leis da fiacutesica desprezando o
peso de seus corpos enquanto homens domavam animais selvagens
engoliam fogo faziam reviver animais mortos aleacutem de exibirem deshy
formaccedilotildees fiacutesicas Esses estrangeiros nocircmades fascinantes artistas cirshy
censes eram cada vez mais temidos pela elite dirigente pois
traziam o corpo como espetaacuteculo Invertiam a ordem
das coisas Andavam com as matildeos lanccedilavam-se ao
espaccedilo contorciam-se e encaixavam-se em potes cm
cestos imitavam bichos vozes produziam sons com
as mais diferentes partes do corpo cuspiam fogo
vertiam liacutequidos inesperados gargalhavam viviam
em grupos Opunham-se assim aos novos cacircnones
do corpo acabado perfeito fechado limpo e isolado
que a ciecircncia construiacutera da vida fixa e disciplinada
que a nova ordem exigia (SOARES 2005 p 25)
Como eram rentaacuteveis os espetaacuteculos circenses proliferaram-se
por toda a Europa com um crescente nuacutemero de grupos de artistas
apresentando-se na sua maioria em instalaccedilotildees fixas ao ar livre ou
em anfiteatros adaptados o que demonstra grande influecircncia do
circo nas formas de divertimento e entretenimento da populaccedilatildeo e
da burguesia crescente Satildeo estas companhias que emigraram mais
tarde para outros continentes (SILVA 2003 DUPRAT 2007)
E nos Estados Unidos que a arena do circo ganha um mastro
central e uma tenda surgindo os moldes do ldquocirco americanordquo ou
circo de lona Nas matildeos de PhineasTaylor Barnum mdash homem de neshy
goacutecios e eficiente publicitaacuterio a enorme tenda colorida aleacutem de
proporcionar maior conforto aos espectadores tornou-se uma exceshy
lente forma de divulgar e vender o espetaacuteculo Ao mudar de cidade
toda a estrutura era desmontada e levada pelo grupo
Com a possibilidade de adquirirem maior mobilidashy
de aliada agrave incorporaccedilatildeo de artistas dos vaacuterios paiacuteses
por onde passava o circo consolidava-se como um
espaccedilo de muacuteltiplas linguagens artiacutesticas que pressushy
punha todo um conjunto de saberes definidores de
novas formas de produccedilatildeo e organizaccedilatildeo de espetaacuteshy
culo animais mistura de nacionalidades acrobacias
nuacutemeros aeacutereos magia shows de variedades represhy
sentaccedilotildees teatrais com pantomimas e entradas de
palhaccedilos com ou sem diaacutelogo Para os defensores do
ldquocirco purordquo era um espetaacuteculo ecleacutetico demais que
mais parecia music hall um teatro de variedades do
que circo Apesar das criacuteticas e debates em torno dos
espetaacuteculos circenses a montagem e produccedilatildeo dos
mesmos continham as principais formas de expresshy
sotildees artiacutesticas contemporacircneas apresentando um reshy
sultado que misturava music hall variedades teatro
(cenas cocircmicas pantomimas operetas) ginaacutestica
acrobacia e animais (SILVA 2007 p 51)
Este modo de organizaccedilatildeo pressupunha certas caracteriacutesticas
definidoras e distintivas do grupo circense como o nomadismo e
uma forma coletiva de constituiccedilatildeo do profissional artista baseada
na transmissatildeo oral do conjunto de saberes e praacuteticas acumuladas a
partir da vivecircncia na lona A organizaccedilatildeo familiar era a base de susshy
tentaccedilatildeo do circo inclusive no que se refere agraves relaccedilotildees de trabalho
Era comum que todos soubessem um pouco de todos os aspectos
que envolviam aquela produccedilatildeo desde a rotina diaacuteria do circo - como
armar e desarmar a tenda preparar os nuacutemeros e peccedilas de teatro
cuidar dos animais limpeza do ambiente dentre outros mdash ateacute as teacutecshy
nicas ou habilidades especiacuteficas da apresentaccedilatildeo As crianccedilas cabia a
responsabilidade de preservar a tradiccedilatildeo Por causa da vida nocircmade
eram alfabetizadas nas escolas das cidades por onde o circo passava ou
por uma pessoa do proacuteprio circo Aqueles que natildeo nasciam no circo
mas que a ele se incorporavam passavam pelo mesmo ritual de aprenshy
dizagem ao qual passavam os menores
O circo no tempo da induacutestria do entretenimento
Essa estrutura do circo tradicional comeccedilou a sofrer alguma alteshy
raccedilatildeo jaacute na deacutecada de 1920 na entatildeo Uniatildeo Sovieacutetica4 mas eacute a partir
dos anos de 1970 entretanto que consolidou-se um movimento de
reestruturaccedilatildeo do circo - fruto do envolvimento de artistas de diversas
origens em paiacuteses da Europa Ocidental Austraacutelia Canadaacute e Brasil
fazendo com que o ensino das artes circenses extrapolasse o reduto da
lona e quebrasse assim uma de suas grandes tradiccedilotildees a transmissatildeo
de conhecimento de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SILVA ABREU 2009)
O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy
ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX aleacutem da facilishy
dade de acesso agrave informaccedilatildeo e da fluidez da cultura no entanto
ocasionaram uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves
apresentaccedilotildees circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios
e dos terrenos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidashy
des mdash a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de
uma poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que
inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais O
fato eacute que nos anos de 1970 havia mais de 2000 companhias cirshy
censes espalhadas pelo Paiacutes e em 2009 esse nuacutemero era estimado
em 500 circos de pequeno meacutedio e grande porte5
Circenses tradicionais preocupados com o futuro encaminham
seus filhos para a vida urbana fora das lonas Escolas de circo passaram
a formar novos artistas rompendo-se a relaccedilatildeo de ldquopertencimentordquo agrave trashy
diccedilatildeo circense O modelo familiar de circo sofreu uma ruptura abrindo
espaccedilo para o que se conhece atualmente como Circo Novo
4 Na deacutecada de 1920 logo apoacutes a Revoluccedilatildeo Russa iniciou-se na antiga Uniatildeo Sovieacutetica
um movimento de construccedilatildeo de escolas de circo para fora da lona ou para fora do
grupo familiar circense a partir da nacionalizaccedilatildeo do circo e dos teatros pelo governo
sovieacutetico (DUPRAT 2007) Apesar de natildeo ser objetivo deste artigo discutir o contexto
histoacuterico e poliacutetico desse fato natildeo podemos deixar de mencionaacute-lo por constituir a
primeira experiecircncia de uma escola de circo fora do processo de formaccedilatildeosocializaccedilatildeo
aprendizagem que sempre foi dado sob a lona
f5 Dados obtidos no site do Ministeacuterio da Cultura Disponiacutevel em lthttpwww
culturagovbrsite20090327funarte-estima-que-brasil-tenha-500-grupos-
circensesgt Acesso em 14 jul 2012
Neste sentido
o circo como um todo natildeo mais se responsabiliza pela
continuaccedilatildeo do ensino artiacutestico da geraccedilatildeo seguinte
este passou a ser responsabilidade de cada famiacutelia que
escolhe onde seus filhos vatildeo estudar na escola formal
ou no circo A partir da deacutecada de 1970 no Brasil
algumas escolas de circo foram fundadas por artistas
preocupados em transmitir a teacutecnica circense em fazer
a profissatildeo renascer todavia natildeo mais necessariamente
com os filhos de gente de circo (SILVA 1996 p 9)
O circo teve que se reinventar para sobreviver Considerado
como o ldquoCirco do Homemrdquo por valorizar somente o ser humano
em suas performances o Circo Novo busca adequar-se ao mercashy
do artiacutestico dos novos tempos
A tecnologia assume um papel fundamental nesse processo pois
permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalanche tecshy
noloacutegica os grandes circos se apropriam das produccedilotildees e se renovam
constantemente enquanto muitos circos pequenos sucumbem agrave conshy
correcircncia por natildeo coseguirem acompanhar esse movimento
A mercantilizaccedilatildeo que domina a quase totalidade das relaccedilotildees soshy
ciais e a submissatildeo da cultura da sauacutede e da educaccedilatildeo - e tambeacutem das
praacuteticas corporais mdash aos interesses do capital trazem uma consequente
descaracterizaccedilatildeo do universo do circo Como empresa o ldquocirco novordquo
adota uma forte divisatildeo do trabalho contando com profissionais resshy
ponsaacuteveis para as mais diversas tarefas e funccedilotildees
A principal mudanccedila que caracteriza o chamado ldquocirco novordquo
refere-se agrave relaccedilatildeo familiar o circo torna-se uma grande empresa
Os artistas natildeo mais pertencem agraves famiacutelias circenses satildeo ex-atleshy
tas ou profissionais formados em escolas de circo e contratados
pelas grandes companhias De acordo com Silva (1996) natildeo eacute
mais a famiacutelia que eacute contratada mas o artista um nuacutemero um
especialista que tem um determinado conhecimento especiacutefico
da tarefa e natildeo mais do funcionamento do circo como um todo
tornando o conjunto do conhecimento sobre o circo fragmentashy
do e hierarquizado Nesse sentido
O modo de transmissatildeo oral do circo-lamilu Im m i
sido quebrado A ideacuteia de que o artista tiniu qm lt i
completo - no sentido de que cada indiviacuteduo liu
parte de uma comunidade e a sobrevivecircncia do gi upo
dependia do seu trabalho como um todo - natildeo niiis
fundamenta o aprendizado Daacute-se origem a uma novi
maneira de se ser artista de circo e a novas formas draquo
organizaccedilatildeo do trabalho (SILVA 1996 p 153)
O exemplo mais representativo do circo-empresa - e o de
maior impacto midiaacutetico - eacute a Companhia de Entretenimento
Circo de Soleil considerado o maior impeacuterio circense do mundo
Utilizando o que haacute de mais contemporacircneo para o entretenimenshy
to do puacuteblico conta com 21 espetaacuteculos sendo 12 em turnecirc em 5
continentes aleacutem de 9 espetaacuteculos residentes (exclusivamente nos
Estados Unidos) O Circo de Soleil emprega mais de 5000 funcioshy
naacuterios em todo o mundo sendo mais de 1300 artistas contratados
A maioria desses artistas eacute composta por ex-atletas danccedilarinos
profissionais personagens de sucesso nos meios de comunicaccedilatildeo
que representam cerca de 50 nacionalidades e falam 25 idiomas
diferentes Mais de 100 milhotildees de pessoas jaacute assistiram aos espeshy
taacuteculos do circo desde sua fundaccedilatildeo em 19846
Unindo danccedila teatro e circo a elementos da tecnologia como efeishy
tos de luz e som computaccedilatildeo graacutefica conhecimentos de diversas aacutereas
para a performance de um artistaatleta este novo modelo requer artistas
polivalentes como por exemplo malabaristas-acrobatas acrobatas-clo-
wn clown-muacutesico etc No circo novo o mais importante natildeo eacute o mais
complicado arriscado ou sobre-humano mas o mais belo plaacutestico vishy
sual esteacutetico etc(BORTOLETO MACHADO 2003)
Aleacutem disso as atividades circenses viraram nicho cle mercado
e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de circo a
academias de ginaacutestica A arte circense tambeacutem eacute utilizada como
praacutetica assistencialista por ON Gs e outras entidades filantroacutepicas
como ldquoinstrumento pedagoacutegicordquo na busca da ldquomelhoria de vidardquo
dos envolvidos nos projetos (F IG U E IREDO 2007)
6 Dados obtidos no site do Circo de Soleil Disponiacutevel em lthttpwwwcirquedusoleil
comenwelcomeaspxgt Acesso em- n
Eacute esse universo do circo que propomos trazer para a escola de forshy
ma a possibilitar ao aluno a apropriaccedilatildeo do conhecimento e a adoccedilatildeo de
uma postura criacutetica frente agrave atual configuraccedilatildeo do espetaacuteculo circense
Apresentamos a seguir o relato de uma experiecircncia pedagoacutegica realishy
zada com alunos do 6o ano de uma escola municipal de Juiz de Fora
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o circo
Ao iniciarmos a unidade buscamos identificar o niacutevel de consshy
ciecircncia dos alunos acerca do circo e os possiacuteveis interesses sobre a teshy
maacutetica Foram exibidos alguns viacutedeos de apresentaccedilotildees diversas (circo
tradicional C irque de Soleil apresentaccedilotildees de rua apresentaccedilotildees em
festas infantis na televisatildeo etc) Apoacutes a exibiccedilatildeo os alunos respondeshy
ram a duas questotildees O que eacute o circo Onde encontramos o circo atushy
almente As respostas foram registradas pelo professor A seguir foshy
ram explicitados os pontos que seriam abordados dentro do conteuacutedo
(histoacuteria e evoluccedilatildeo do circo as modalidades relaccedilotildees de trabalho e a
questatildeo ambiental) objetivos e atividades que seriam desenvolvidas
O segundo momento dentro da unidade didaacutetica foi a seleccedilatildeo de
questotildees relevantes para a discussatildeo e reflexatildeo dos alunos ou seja a problc-
matizaccedilatildeo Neste ponto foram delimitadas ainda as dimensotildees do conheshy
cimento a serem abordadas conforme apontamos no plano de unidade
No momento da instrumentalizaccedilatildeo foram desenvolvidas atividades
i accedilotildees tais como exibiccedilatildeo de viacutedeos leitura de textos vivecircncia das mais
iiversas modalidades circenses construccedilatildeo de materiais entre outras
Como forma de analisarmos o quanto o aluno apreendeu so-
gtre o conteuacutedo trabalhado propomos a criaccedilatildeo de uma apostila
obre o circo com a divisatildeo em grupos para a elaboraccedilatildeo de tex-
os sobre os toacutepicos de conteuacutedo trabalhados O objetivo desta
itividade consistiu em verificar o niacutevel de evoluccedilatildeo dos alunos
m relaccedilatildeo ao conhecimento sobre o circo (sua histoacuteria as moda-
idades teacutecnicas baacutesicas construccedilatildeo de materiais para a praacutetica
is novas configuraccedilotildees do circo atual os motivos pelos quais
iacuteoje existem poucos circos tradicionais as relaccedilotildees de trabalho
lentro do picadeiro dentre outros pontos) Outra atividade foi
a criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre 1 un
lizaccedilatildeo de animais nos espetaacuteculos circenses
No retorno agrave praacutetica social os alunos aprofundaram seus conltc
cimentos sobre o circo atraveacutes da pesquisa de textos e viacutedeos sobiv ltraquo
aspectos discutidos nas aulas e socializaram os conhecimentos com ou
tros alunos da escola atraveacutes da montagem de um espetaacuteculo circense
Plano de Unidade O lugar e hora do circo na escola
OBJETIVO GERAL
Compreender o circo enquanto manifestaccedilatildeo cultural a fim
de assumir postura criacutetica frente agraves novas configuraccedilotildees do espeshy
taacuteculo circense atual
Quadro 1 - Anuacutencio do conteuacutedo
M iacuteK IacuteS S amp K bull C i Jrsquo irfiiacuteV-rsquo P f
A histoacuteria do circo
Conhecer a histoacuteria do circo e suas transforshy
maccedilotildees
Identificar as diversas formas de apresentaccedilatildeo das
atividades circenses na atualidade (circo tradicional
circo novo atividades de rua festas infantis circo
social etc)
As modalidades circenses
Identificar as modalidades existentes no circo
malabarismo equilibrismo acrobacia maacutegica e
palhaccedilo
Vivenciar as principais modalidades que constituem
o circo
Construir materiais que possibilitem a experiecircncia
das modalidades circenses
O circo nos tempos atuais
Compreender as novas configuraccedilotildees do circo na atushy
alidade relacionando-as agraves exigecircncias da atual fase do
modo de produccedilatildeo capitalista (relaccedilotildees comerciais leis
trabalhistas trabalho infantil informalidade legislaccedilatildeo
de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos etc)
Circo legal tem animal
Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave utilizaccedilatildeo de anishy
mais no circo
Posicionar-se criticamente frente agrave utilizaccedilatildeo de
animais no circo
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
1) PRAacuteTICA SOCIAL IN IC IAL D O CONTEUacuteDO
11 Vivecircncia do Conteuacutedo
bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo O circo eacute um
espetaacuteculo com vaacuterios artistas eacute divertido tem maacutegica
palhaccedilo acrobatas ldquoanimais ferozesrdquo tem gente que faz
circo na rua etc
bull O que eles gostariam de saber a mais Como surgiu o circo
Como fazer maacutegica malabarismo equilibrismo etc Como
sobrevive um artista de circo Como satildeo tratados os animais
que vivem no circo
2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO
Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees
problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas
Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
TOacutePICO DE
CONTEUacuteDO DIMENSOtildeES
bulltgt t bull
QUESTAtildeO PROBLEMA
Respeitaacutevel puacuteblishy
co o circo chegouConceituai
O que eacute o circo
O que eacute circo tradicional
O que eacute circo novo
A histoacuteria do circo Histoacuterica
Quem inventou o circo
Onde ele surgiu
O circo de hoje eacute igual ao de antigashy
mente
Quais satildeo as modificaccedilotildees pelas quais
o circo passou ateacute hoje
As modalidades cirshy
censes
Conceituai
Teacutecnica
Quais satildeo as modalidades que constishy
tuem o circo
Quais satildeo as teacutecnicas baacutesicas das moshy
dalidades circenses
O circo nos tempos
atuais
Econocircmica
Poliacutetica
Social
Legal
Onde vemos artistas de circo
Por que natildeo temos tantos circos se
apresentando hoje em dia
Os artistas de circo recebem salaacuterio
Quais as condiccedilotildees sociais e de trabashy
lho de um artista de circo ldquofamosordquo e
de um circo ldquosimplesrdquo
Quanto custa um ingresso de um cirshy
co famoso
Como eacute a relaccedilatildeo da crianccedila com o
trabalho no circo
O que precisa para um circo se estabeleshy
cer em uma cidade
Por que o circo vai embora
Circo legal tem anishy
mal V
Poliacutetica
Legal
Histoacuterica
gt
Como os animais foram incorporashy
dos ao circo
Como o circo conseguia os animais
para suas apresentaccedilotildees
E permitido ter animais selvagens no
circo atualmente
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo
x lsquo bull --ir Ywl-ft bull V Avbdquo iacutei - - iacute
- Conteuacutedo Dimensotildees v l p sect p |
Respeitaacutevel puacuteblico
o circo chegou
Conceituar circo
Compreender o circo enquanto
produccedilatildeo histoacuterica do homem
ConceituaiExposiccedilatildeo teoacuterica e exibiccedilatildeo de viacutedeos
sobre o circo
Viacutedeo produzido pelos autores disshy
poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy
do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo86
A histoacuteria do circo
Conhecer a histoacuteria do circo e suas
transformaccedilotildees
Identificar as diversas formas de
apresentaccedilatildeo das atividades circenshy
ses na atualidade (circo tradicional
circo novo atividades de rua festas
infantis circo social etc)
Relacionar a expansatildeo das atividashy
des circenses com a configuraccedilatildeo
da sociedade atual
Histoacuterica
Econocircmica
Poliacutetica
Exibiccedilatildeo de viacutedeos e fotos sobre a histoacuteria
do circo e as mais diversas formas de apreshy
sentaccedilatildeo das atividades circenses atuais
Leituras de textos sobre a histoacuteria do circo
Textos sobre a histoacuteria do circo
Viacutedeo produzido pelos autores disshy
poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy
do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
7 Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012
8 Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03Ieis18069htmgt Acesso em 09042013
laquo M M
As modalidades cirshy
censes
Identificar as modalidades exisshy
tentes no circo malabarismo
equilibrismo acrobacia maacutegica e
palhaccedilo
Vivenciar as principais modalidashy
des que constituem o circo
Construir materiais que possibilishy
tem a experiecircncia das modalidades
circenses
Conceituai
Teacutecnica
Exibiccedilatildeo de viacutedeos editados das modalishy
dades do circo Acrobacias (individuais
coletivas de solo e aeacutereas) Malabarismo
(dc contato equiliacutebrio dinacircmico giros-
coacutepico e de lanccedilamento) Equilibrismo
Maacutegica Palhaccedilo (Cara Branca Miacutemico
Augusto Vagabundo Augusto Europeu)
Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das princishy
pais modalidades circenses
Construccedilatildeo de materiais para a vivecircncia
dessas modalidades
Viacutedeos disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo
e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Bolas de soprar garrafas pet jornal
fita adesiva barbante cabos de vassoushy
ra cilindros de papelatildeo ou canos de
ferro para construccedilatildeo dos materiais
Materiais para a vivecircncia bolinhas
de borracha claves swings rola-rola
diabolocircs devilstick etc
O circo nos tempos
atuais
Compreender as novas configurashy
ccedilotildees do circo na atualidade relacio-
nando-as agraves exigecircncias da atual fase
do modo de produccedilatildeo capitalista
(relaccedilotildees comerciais leis trabalhisshy
tas trabalho infantil informalidade
legislaccedilatildeo de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteshy
blicos etc)
Econocircmica
Poliacutetica
Social
Legal
Exibiccedilatildeo e discussatildeo do programa ldquoProshy
fissatildeo Repoacuterterrdquo sobre o circo
Anaacutelise da legislaccedilatildeo (ECA87 lei ambienshy
tal e leis de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos)
Viacutedeo disponiacutevel em no blog ldquoConshy
teuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educashy
ccedilatildeo Fiacutesicardquo
ECA
Leis ambientais e de locaccedilatildeo de espashy
ccedilos puacuteblicos
Circo legal tem anishy
mal
Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave
utilizaccedilatildeo de animais no circo
Posicionarmdashse criticamente frente agrave
utilizaccedilatildeo de animais no circo
Poliacutetica
Legal
Histoacuterica
Exibiccedilatildeo de viacutedeos e leitura de textos que
discutam a questatildeo dos animais do circo
Anaacutelise da legislaccedilatildeo ambiental
Organizaccedilatildeo de um juacuteri simulado
Viacutedeos e textos disponiacuteveis no blog
ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
4) CATARSE
41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno
O circo eacute uma das manifestaccedilotildees culturais mais tradicionais da
humanidade que encanta pela capacidade de transformar o banal em
inacreditaacutevel transformar o impossiacutevel em coisa simples Ao mesmo
tempo sua sobrevivecircncia oscila entre o popular e a falta de incentivo
entre a vontade de fazer parte e o alto custo dos espetaacuteculos
No decorrer dos anos o circo se modificou antes as famiacutelias
tradicionais faziam da vida embaixo da lona um lar vaacuterias viashy
gens e seu trabalho Entretanto agora artistas e admiradores se
apresentam nas ruas em grandes e pequenos circos em grandes
empresas de entretenimento nas escolas nas academias espaccedilos
puacuteblicos e privados
Fazem parte do espetaacuteculo circense apresentaccedilotildees de malashy
barismo equilibrismo maacutegica palhaccedilos e acrobacias cujo prinshy
cipal objetivo eacute a diversatildeo do puacuteblico o que requer o aprendizashy
do de teacutecnicas especiacuteficas e treinamento diaacuterio por muitos anos
O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy
ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX ocasionaram
uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves apresentaccedilotildees
circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios e dos tershy
renos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidades mdash
a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de uma
poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que
inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais
Em menos de 30 anos o nuacutemero de circos existentes no Brasil
reduziu-se significativamente abrindo espaccedilo para as grandes
companhias de circo onde os artistas natildeo mais pertencem agraves
famiacutelias circenses satildeo ex-atletas ou profissionais formados em
escolas de circo e contratados pelas grandes companhias que tem
um determinado conhecimento especiacutefico da tarefa e natildeo mais o
conhecimento do funcionamento do circo como um todo
Aleacutem disso a tecnologia assume um papel fundamental no espetaacuteshy
culo pois permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalan
che tecnoloacutegica os grandes circos se apropriam das prod i iccedilolaquo bull laquo
novam constantemente enquanto muitos circos pequenos mu uiuU
agrave concorrecircncia por natildeo conseguirem acompanhar esse movimento
Atualmente as atividades circenses viraram nicho de nu 1 laquo raquo
do e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de 1 1 1 1
a academias de ginaacutestica
Apesar dos animais historicamente participarem do espeta
culo circense a legislaccedilatildeo atual vem restringindo sua utilizaccedilatildeo
protegendo-os de maus tratos e condiccedilotildees insalubres de vida
Este eacute um ponto bastante polecircmico pois apesar dos ambienshy
talistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos haacute
quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute cruelshy
dade ou insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais
42 Expressatildeo da Siacutentese
bull Construccedilatildeo de uma apostila sobre o circo abordando os
temas trabalhados nas aulas
bull Criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a
utilizaccedilatildeo de animais no circo
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO
Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
A p ro fu n d a r os conhecim entos sobre
o circo
Pesquisar textos e viacutedeos sobre
os aspectos discutidos nas aulas
Socializar os conhecim entos apreenshy
didos durante as aulas
M ontagem de u m espetaacuteculo
circense
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees finais
Destacamos que o presente texto pretendeu apenas apresentar
uma dentre as inuacutemeras possibilidades pedagoacutegicas de trabalho com
esse universo tatildeo rico e tatildeo fascinante como o universo circense
Buscou-se conhecer a histoacuteria do circo analisando suas transformashy
ccedilotildees ao longo dos tempos identificar e vivenciar as diversas modalidashy
des de forma contextuaiizada e desmistificada Compreender as relaccedilotildees
de trabalho existentes no circo tradicional e nas manifestaccedilotildees circenses
atuais significa compreender o circo enquanto produto da atividade hushy
mana resultado do desenvolvimento histoacuterico parte importante do pashy
trimocircnio cultural humano que precisa ser transmitido pela escola
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T O R R E S A O circo no Brasil Rio de Janeiro F U N A R T E Ed Atraccedilotildees 1998
SOBRE OS AUTORES
Adriano de Paiva Reis eacute professor de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Prefeishy
tura Municipal de Juiz de Fora desde 2010 Graduado em Educaccedilatildeo
Fiacutesica pela UFJF desde 2008 foi Professor substituto do Coleacutegio de
Aplicaccedilatildeo Joatildeo XXIII Bolsista dos projetos ldquoPortal do Professor do
M ECrdquo e extensatildeo ldquoNovas Experiecircncias Pedagoacutegicas em Educaccedilatildeo
Fiacutesica Escolarrdquo E-mail adriano_reisrocketmailcom
Aacutelvaro de Azeredo Quelhas eacute Doutor em Ciecircncias Sociais pela Unishy
versidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo - Campus Mariacutelia
Mestrado em Educaccedilatildeo Fiacutesica na aacuterea de ldquoPedagogia da Educaccedilatildeo Fiacutesica
e do Esporterdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Especializaccedilatildeo
nas aacutereas de ldquoFutebolrdquo e ldquoEducaccedilatildeo Psicomotora na Educaccedilatildeo Fiacutesica do Io
graurdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Licenciado em Edushy
caccedilatildeo Fiacutesica e Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Trabalhou na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (1985-1997) como
professor do ensino fundamental (disciplina - Educaccedilatildeo Fiacutesica) aleacutem de
possuir experiecircncia como professor em academias de ginaacutestica e treinador
esportivo em clubes e empresas E professor do Departamento de Educaccedilatildeo
da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz de Fora desde
abril de 1997 E membro do Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educashy
ccedilatildeo (NETEC) da FACEDUFJF Seus estudos e pesquisas estatildeo voltados
para as transformaccedilotildees no mundo do trabalho e as formas de reestruturaccedilatildeo
produtiva com foco na precarizaccedilatildeo do trabalho em interface com os proshy
cessos educativos E-mail alvaroquelhasuolcombr
Andreacute Silva Martins eacute professor da Faculdade de Educaccedilatildeo
da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) onde integra o
Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo E vinculado tamshy
beacutem ao Coletivo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJV
Fiocruz) Integra o quadro docente do Programa de Poacutes-Gradua-
ccedilatildeo da UFJF E Mestre e Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade
Federal Fluminense E-mail andresilvamartinsglobocom
Carla Cristina Carvalho Pereira eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
(1996) poacutes graduada em Ednrarotilder cmdash 1
sidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestra em Educaccedilatildeo (2003)
pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Atua como professora da
rede municipal de Juiz de Fora desde 1998 Estuda temas relacionados
agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar nas aacutereas de danccedila-educaccedilatildeo planejamento e
avaliaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica E-mail carlacccphotmailcom
Carlos Eduardo de Souza eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestre em
Educaccedilatildeo pela UFJF Atua como professor da rede municipal e
particular em Juiz de Fora E-mail kadusjnyahoocombr
Frederico Duarte Gomes Tostes possui Licenciatura e Bachashy
relado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF) Estagiou em escolas puacuteblicas de Juiz de Fora e foi bolsista no
Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo Joatildeo XX III da Universidade Federal de Juiz de
Fora onde atuou no projeto de extensatildeo de Atividades Circenses para
alunos do ensino fundamental Atualmente faz cursos na Escola de
Circo Carequinha em Juiz de Fora E-mail fred_hikohotmailcom
Giovana de Carvalho Castro eacute professora da rede municipal de Juiz
de Fora Possui graduaccedilatildeo em Histoacuteria (2001) e mestrado em Ciecircncia da
Religiatildeo (2005) pela Universidade Federal de Juiz de Fora Tem experishy
ecircncia na aacuterea de Histoacuteria e Ciecircncia da Religiatildeo com ecircnfase em Histoacuteria
do Brasil Metodologia do Ensino de Histoacuteria Patrimocircnio Cultural Hisshy
toacuteria da Aacutefrica e Cultura Religiosa E-mail giovanahistoriabolcombr
Graziany Penna Dias possui Licenciatura cm Educaccedilatildeo Fiacutesica pela
Universidade Federal de Juiz de Fora (2000) e Mestrado em Educaccedilatildeo
pela Universidade Federal Fluminense (2006) Eacute vinculado ao Coletishy
vo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJVFiocruz) Atualmente
eacute professor do Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do
Sudeste de Minas - IFSUDESTEMG - Campus Juiz de Fora Estuda
temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar lazer poliacutetica educacional
e a relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo E-mail grazianydiasifsudestemgedubr
Hajime Takeuchi Nozaki possui Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1993) mestrado
em Educaccedilatildeo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1997)
e doutorado em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense
(2004) no campo Trabalho e Educaccedilatildeo Atualmente eacute professor asshy
sociado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Leciona na
graduaccedilatildeo no campus de Trecircs Lagoas e na poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo
no campus de Corumbaacute Dedica-se aos estudos na aacuterea de Trabalho
e Educaccedilatildeo atuando principalmente nos seguintes temas mundo do
trabalho e Educaccedilatildeo Fiacutesica formaccedilatildeo humana qualificaccedilatildeo dos trabashy
lhadores da faacutebrica E-mail hajimenozakiuolcombr
Herbert Hischter Chaves de Paula eacute graduado em Educaccedilatildeo
Fiacutesica pela Universidade Salgado de Oliveira - Universo (Juiz de
Fora) e poacutes-graduado em Danccedila e Consciecircncia Corporal pela Unishy
versidade Gama Filho (Belo Horizonte) E ator bailarino produtor
diretor e coreoacutegrafo e atua como professor de Danccedila e Teatro na
rede municipal de Juiz de Fora E-mail hhcpl911hotmailcom
Leonardo Docena Pina eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica e Messhy
tre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Atualmente cursa o doutorado em Educaccedilatildeo nessa mesma instituiccedilatildeo
e atua como professor da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de
ForaMG Desde 2008 integra o Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e
Educaccedilatildeo da UFJF E-mail leodocenayahoocombr
Marcelo Silva dos Santos possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2001) mestrado em Edushy
caccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense (2005) e eacute doutorando
em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana na Universidade do Esshy
tado do Rio de Janeiro (UERJ) Estuda temas relacionados agrave aacuterea de
trabalho e educaccedilatildeo Atualmente eacute professor do IFET Sudeste e da
rede municipal de Juiz de Fora E-mail marceloss2003igcombr
Miguel Fabiano de Faria eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela
UFJF e Mestre em Educaccedilatildeo pela UFMG Atua como professor na
educaccedilatildeo baacutesica e superior no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia
e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais - Campus Juiz de Fora Esshy
tuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar Lazer e Histoacuteria da
Educaccedilatildeo E-mail miguelfariaifsudestemgedubr
Mocircnica Jardim Lopes eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica e mes-
tranda em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Atua como professora da rede puacuteblica de ensino dos municiacutepios de
Juiz de Fora (MG) e de Trecircs Rios (RJ) E militante do Movimento
Nacional Contra a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica
(MNCR) E-mail monicajlopesyahoocombr
Nathaacutelia Sixel Rodrigues eacute Licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora Estagiou em Escolas puacuteshy
blicas da cidade como IFET e Escola Municipal Professora Thereza
Falei onde buscou tematizar o conteuacutedo Ginaacutestica na Educaccedilatildeo
Fiacutesica Atualmente atua como professora de ginaacutestica em academias
de Juiz de Fora E-mail naty_sixelhotmailcom
Priscila Rocha Rodrigues eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Atua como
professora de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de
ensino em Juiz de ForaMG E-mail prixrochayahoocombr
Rafael Loures dos Reis Bellei atua como professor do ensino
fundamental nas redes municipais de Juiz de Fora-MG eTrecircs Rios-
-RJ e no ensino fundamental e meacutedio na rede particular de Juiz
de Fora-MG O autor eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela UFJF
Estuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar e a relaccedilatildeo
trabalho-Educaccedilatildeo Fiacutesica M ilita no Movimento Nacional Contra
a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica - M NCR
E-mail rafabelleiyahoocombr
Ramon Mendes da Costa Magalhatildees possui Licenciatura e
Bacharelado pela Faculdade de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desportos (FA-
EFID) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) no ano de
2011 atualmente residente de Educaccedilatildeo Fiacutesica do programa de Reshy
sidecircncia Multiprofissional em Sauacutede do Adulto com Foco em Doshy
enccedilas Crocircnico Degenerativas no Hospital Universitaacuterio da Univershy
sidade Federal de Juiz de Fora (HUUFJF) no periacuteodo 20122014
E-mail ramon_mc_magalhaeshotmailcom
Renata Aparecida Alves Landim eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) especialista
m Educaccedilaacuteo Fiacutesica escolar pela UFJF e mestre em educaccedilatildeo pela
Universidade Federal Fluminense (UFF) Atualmente eacute professora do
ensino fundamental na rede puacuteblica municipal de Juiz de l o i i jgti
fessora temporaacuteria da Faculdade de Educaccedilatildeo da UFJF E v i i u ulraquolaquoi raquo
ao nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo da UFJE I m u i raquo
temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar poliacutetica educaraquo i o n i l
trabalho-educaccedilatildeo E-mail renatalandimhotmailcom
Thiago Barreto Maciel possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesui
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2007) Especializaccedilatildeo em
aspectos metodoloacutegicos e conceituais da pesquisa Cientiacutefica pela Uni
versidade Federal de Juiz de Fora (2008) Atualmente eacute professor do
Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste de
Minas Gerais - Campus Barbacena Tem experiecircncia na aacuterea de Edushy
caccedilatildeo Fiacutesica com ecircnfase em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana
E-mail tbarretomacielgmailcom
Victoacuteria de Faacutetima de Mello eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especialista em
Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar pela mesma instituiccedilatildeo Atua como professora
de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de ensino em Juiz
de Fora Atualmente dirige o Sind-Ute (Sindicato dos Trabalhadores
em educaccedilatildeo de Minas Gerais) E-mail vicmellloyahoocombr
I n f o r m a ccedil otilde e s G r aacute f ic a s
Formato 16 x 23 cm
Mancha graacutefica 112 x 194 cm
Tipologia Myriad Pro - Adobe Garamond Pro
Papel Offset 90gm2 (miolo) - Cartatildeo Supremo 250gm2 (capa)
Tiragem 500 exemplares
Impressatildeo e acabamento Graacutefica e Editora Brasil Ltda
Este livro ou pane dele naacuteo pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizaccedilatildeo expressa da editora
O conteuacutedo desta obra aleacutem de autorizaccedilotildees relacionadas aacute permissatildeo de uso de imagens eou textos de outro(s) autor(es)
eacute de inteira responsabilidade do(s) autor(es) eou organizador(es)
U N IV E R S ID A D E FED ERA L D E JU IZ D E FORA
R e i t o r
H e n r iq u e D u q u e d e M i r a n d a C hav e s F i lh o
V ic e -R e it o r
Joseacute L u iz R e z e n d e P e re ira
EDITORAU F J F
D iret o r da E d it o r a U F JF P residen t e d o
C o n s e l h o Ed it o r ia l
A n t e n o r Sa l ze r R o d r ig u e s
C o n s e l h o E d it o r ia l
A f o n s o C elso C a r v a lh o R o d r ig u e s
Fa b r iacutec io A l v im C a r v a lh o
Fr e d e r ic o Br a id a
H e n r iq u e N o g u e ir a R e is
R o g eacute r io C a s a g r a n d e
Su e m M a r ia d o s R e is Sa n t o s
St u d io E d it o ra UFJF
P r o jet o G ragrave i ic o E d it o r a ccedil atilde o C apa
A l e x a n d r e Aacute lvaro S ilva
R evisaacuteo d e P ortu gu ecircs
Ja c k s o n L e o c aacute d io
Rm sAo de N orm as T eacutecn icas
N a t h a l ie Reis I ta b o r a I
Pedagogia hisloacuterico-criacutetica e Educaccedilatildeo Fiacutesica Adriano de Paiva Reis
[ et al] organizadores - Juiz de Fora Editora UFJF 2013
196 p
ISBN 978-85-7672-175-8
1 Pedagogia - Histoacuteria - Critica 2 Pedagogia criacutetica 3
Educaccedilatildeo fisica 1 Reis Adriano dc Paiva
CDU 37013(091)
Este livro obedece agraves normas do Acordo Ortograacutefico da Liacutengua Portuguesa promulgado pelo
Decreto n 6583 de 29 de setembro de 2008
E d i t o r a UFJF
R u a Benjam in C o n s ta n t 790 C e n t r o - Juiz de Fora - M G
Cep 36015 -4 0 0 FoneFax (32 ) 3229-76 45
(32) 3229-76 46 secretariaeditoraulfcombr
distribuicaocditoraufjfedubr
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Prefaacutecio
Celi Nelza Zulke Tajfarel
Introduccedilatildeo_________________________________________________ 15
Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira Hajime Takeuchi
Nozaki Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim
Capiacutetulo I
Sobre a funccedilatildeo e especificidade da educaccedilatildeo escolar
no mundo contemporacircneo ________________________________________________________ 23
Andreacute Silva Martins
Capiacutetulo II
() ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e a formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos
cm busca dos fundamentos teoacutericos e metodoloacutegicos ___________________________17
Adriano de Paiva Reis Aacutelvaro de Azeredo Quelhas Carla Cristina Carvaliw
Pereira Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim
Capiacutetulo III
produccedilatildeo da cultura luacutedica em jogos eletrocircnicos____________________________63
Priscila Rocha Rodrigues Renata Aparecida Alves Landim Ihiago
Barreto Maciel e Victoria de Faacutetima de Mello
lt upiacutemlo IV
V ilt liltc)es entre esporte e sauacutede no capitalismo temati-
uniu ion tradiccedilotildees na educaccedilatildeo escolar________________________________________ 21
Carlos Eduardo de Souza Leonardo Docena Pina e Mocircnica Jardim Lopes
v gt laquo ip i l U I O V
O M M A como ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo____________________________________ 109
Adriano de Paiva Reis Graziany Penna Dias Rafael Loures dos Reis
Bellei e Renata Aparecida Alves Landim
Capiacutetulo VI
A voz da periferia o H ip H o p enquanto possibilidade de
trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ________________________________________129
Adriano de Paiva Reis Carta Cristina Carvalho Pereira Giovana de
Carvaliyo Castro Herbert Hischter Chaves de Paula Marcelo Silva dos Santos
Capiacutetulo VII
A disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutestica_____________________________149
Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel
Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees
Capiacutetulo V III
O lugar e hora do circo na escola reflexotildees sobre a reinven-
ccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircnea----------------------1Z1
Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira
e Frederico Duarte Gomes Tostes
Sobre os autores 191
PREFACIO
No momento em que os estudos sobre a escola capitalista demonsshy
tram a sua degeneraccedilatildeo e decomposiccedilatildeo o seu esvaziamento proposishy
tal e seu rebaixamento teoacuterico para desqualificar a formaccedilatildeo da classe
trabalhadora na mais tenra idade surge contraditoriamente fruto de
experiecircncias concretas no chatildeo desta mesma escola a obra organizada
por Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira Leonardo
Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim intitulada Pedagogia histoacuterico-criacutetica e Educaccedilatildeo Fiacutesica
Do que trata este livro que lhe confere uma singularidade iacutempar
em meio a confrontos e conflitos de classe cada vez mais acirrados
Como uma das autoras do Livro Metodologia do Ensino da
Educaccedilatildeo Fiacutesica (COLETIVO DE AUTORES 1992) e portanto
testemunha histoacuterica de um esforccedilo nacional de mais de 20 anos enshy
frentando a criacutetica a didaacutetica e a organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico
na escola capitalista reconheccedilo que o propoacutesito dos autores do livro eacute
de vital importacircncia para a formaccedilatildeo escolarizada de crianccedilas e jovens
ms quais tecircm sido negados os conteuacutedos que permitem a humanizashy
ccedilatildeo como o satildeo os conteuacutedos da cultura corporal
Como demonstram os autores da obra - jovens intelectuais mili-
lanies culturais de formaccedilatildeo marxista - natildeo satildeo quaisquer conteuacutedos
I serem tratados na escola que garantiratildeo a humanizaccedilatildeo e natildeo eacute qual-
lt | i u t meacutetodo no trato com o conhecimento que asseguraraacute a formaccedilatildeo
lt miiK ipatoacuteria Satildeo conteuacutedos tratados com criteacuterios considerando a
iriicse o desenvolvimento a atribuiccedilatildeo de sentidos e significados agraves ati-
iilules corporais ao longo do percurso histoacuterico da humanidade Cri-
laquo nos que dizem respeito agraves capacidades cognoscentes e cognoscitivas
laquolltraquo estudantes compreendendo-as na totalidade do ser humano con-
lotmc e xplica a teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural a contemporanei-
raquobulllt laquolos conteuacutedos e seu conhecimento por sucessivas aproximaccedilotildees ao
iltlt n ui lura corporal que permitem os saltos qualitativos do
nm i iilo sincreacutetico e da mera sistematizaccedilatildeo de dados da realidade
i Ugtlt i u h t de novas siacutenteses qualitativamente superiores com autodeshy
terminaccedilatildeo e criatividade Aprimora-se assim pelas atividades corposhy
rais tratadas com o rigor do meacutetodo toda a capacidade do ser humano
Percurso este que deve ser recuperado por cada um de noacutes sem o qual
natildeo nos humanizamos E isto eacute possiacutevel pela educaccedilatildeo principalmente
escolarizada que forma seres humanos porque incide nas suas funccedilotildees
psicoloacutegicas superiores pelas atividades relacionais com os demais seres
humanos com a natureza com a cultura e consigo mesmo Por isto
esta obra eacute de fundamental importacircncia
Na introduccedilatildeo os autores Adriano de Paiva Reis Carla Cristina
Carvalho Pereira Hajime Takeuchi Nozaky Leonardo Docena Pina e
Renata Aparecida Alves Landim tratam de refletir sobre os limites e
possibilidades da discussatildeo sobre a didaacutetica da Educaccedilatildeo Fiacutesica Assushy
mem os autores a posiccedilatildeo teoacuterica e reconhecem que a ldquoperspectiva da
reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal presente no livro Metodologia
do Ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e denominada por noacutes de abordagem
Criacutetico-superadora foi eacute e seraacute um marco enquanto referecircncia mais
desenvolvida fundamentada em uma teoria marxista de educaccedilatildeo na
teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural na teoria do conhecimento mate-
rialista-histoacuterica-dialeacutetica e na Pedagogia histoacuterico-criacutetica
Justificam e assumem assim os autores que a Educaccedilatildeo Fiacutesica
ao transmitir os conhecimentos historicamente acumulados sobre a
cultura corporal se justifica na escola por socializar um conhecimento
essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade
A partir destas posiccedilotildees iniciais enfrentam o desafio e as difishy
culdades de organizarplanejarsistematizar o ensino da Educaccedilatildeo
Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corshy
poral Tensionam durante a obra o par dialeacutetico conteuacutedo-meacutetodo
modulador de alteraccedilotildees significativas na organizaccedilatildeo do trabalho
pedagoacutegico na salaquadra de aula e na escola
O trabalho com os professores da educaccedilatildeo baacutesica demonsshy
tra que aleacutem dos problemas na formaccedilatildeo faltam referecircncias conshy
cretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas com os diversos
conteuacutedos da cultura corporal E nesta busca lanccedilam-se os autoshy
res nos trazendo uma contribuiccedilatildeo de grande relevacircncia
O que eacute descrito no livro eacute fruto de um trabalho coletivo de mais de 20
professores e que ganha sistematizaccedilatildeo nos escritos destes jovens professores
que se dispuseram a ampliar os conhecimentos a respeito da metodologia
Criacutetico-superadora aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal
Tratam portanto da criacutetica agrave didaacutetica mas natildeo com a pretensatildeo
de resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
que estatildeo relacionados com as condiccedilotildees de vida e de trabalho dos
professores e estudantes Ou seja reconhecem as determinaccedilotildees da
economia poliacutetica que pesam sobre a escola e que natildeo seraacute somente
a iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores que resolveraacute a complexidade
que eacute o processo de destruiccedilatildeo das forccedilas produtivas a destruiccedilatildeo da
escola e a destruiccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico
Com muita honestidade cientiacutefica reconhecem os limites da
discussatildeo didaacutetica frente ao problema da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica
mas ressaltam a importacircncia da obra para ampliar as possibilidades
de transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar
O livro estaacute organizado em oito capiacutetulos que se articulam de forma
consistente e coerente Inicialmente os autores propotildeem uma discussatildeo
de caraacuteter mais geral abordando a funccedilatildeo e especificidade da escola e da
Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemporacircneo A partir da delimitaccedilatildeo clara
da concepccedilatildeo de educaccedilatildeo e de Educaccedilatildeo Fiacutesica que defendem passam
entatildeo a discutir a praacutetica pedagoacutegica atraveacutes de uma seacuterie de artigos sobre
possibilidades de temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos da cultura
inrporal - jogos esporte luta ginaacutestica danccedila e circo
() texto assinado por Andreacute Silva Martins trata de questionar a
Iunccedilatildeo social da escola e dentro dela o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica
lis natildeo o faz desprovido de dados que permitem constatar e explicar
ltmio a Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar foi uma ativida-
llt lt tijltgt objetivo central era promover o desenvolvimento da aptidatildeo
i ilt j ltgt lt|iklsquo foi alterado como foram alteradas as bases econocircmica
| x raquoI i i h i da sociedade brasileira que implicaram em alteraccedilotildees na
oli i i onsequentemente na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar
lt K iinores do texto sobre ldquoO ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e
(bulliniHio de sujeitos histoacutericos em busca dos fundamentos
teoacutericos e metodoloacutegicosrdquo tratam de demonstrar o surgimento
de propostas com outros princiacutepios definidores para a praacutetica
pedagoacutegica nos idos dos anos 1980 e 1990 Tratam das propostas
demonstrando nexos e relaccedilotildees entre a metodologia do ensino
as teorias educacionais pedagoacutegica a teoria do conhecimento e
o projeto histoacuterico Anunciam assim em um trabalho coletivo
novas bases da Educaccedilatildeo Fiacutesica na Rede de Ensino
Com base nos estudos de Saviani (1987) sobre Escola e Deshy
mocracia satildeo discutidas as tendecircncias da educaccedilatildeo e levanta-se de
iniacutecio a hipoacutetese de que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas
ainda possuem um papel a cumprir mdash contribuir na superaccedilatildeo do
capitalismo com o que temos pleno acordo
Ao tecer criacuteticas agraves concepccedilotildees sobre a educaccedilatildeo escolar o livro
traz uma contribuiccedilatildeo agrave educaccedilatildeo em geral e para todas as aacutereas de coshy
nhecimento que se organizam no interior da escola Defende-se por
fim a finalidade da educaccedilatildeo escolar para a emancipaccedilatildeo humana
Ao apresentar a perspectiva marxista de emancipaccedilatildeo humana
Aacutelvaro de Azeredo Quelhas Adriano de Paiva Reis Carla Cristina
Carvalho Pereira Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves
Landim recuperam os elementos histoacutericos apresentados por claacutessishy
cos como Marx e Engels que permitem afirmar a existecircncia sim de
uma teoria marxista da educaccedilatildeo Teoria esta que vem sendo sisteshy
maticamente negada na formaccedilatildeo dos professores A partir da base
teoacuterica mais geral adentram nas sistematizaccedilotildees sobre Educaccedilatildeo e
Trabalho para por fim reconhecer a importacircncia da mediaccedilatildeo da
Pedagogia histoacuterico-criacutetica na construccedilatildeo da metodologia do ensino
dos conteuacutedos especiacuteficos da cultura corporal na escola destacando
a obra Metodologia do Ensino de Educaccedilatildeo Fiacutesica do Coletivo de Aushy
tores (1992) obra onde eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal visando elevar a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enshy
quanto sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em
que vive Para tanto parte-se da praacutetica social que eacute problematizada
pela constataccedilatildeo sistematizaccedilatildeo compreensatildeo e explicaccedilatildeo cientiacutefishy
ca do real visando a praacutexis revolucionaacuteria criativa superadora o que
somente eacute possiacutevel com a ampliaccedilatildeo aprofundamento do conhecishy
mento historicamente acumulado e a autodeterminaccedilatildeo dos estushy
dantes Daiacute a relevacircncia social do trato com os conteuacutedos segundo
a teoria do conhecimento dialeacutetica-materialista-histoacuterica Portanto
natildeo seraacute qualquer conteuacutedo e muito menos qualquer meacutetodo para
tratar o conhecimento que permitiraacute a elevaccedilatildeo da capacidade teoacuterishy
ca dos estudantes E necessaacuterio o meacutetodo explicado e demonstrado
por Marx e Engels aplicado ao ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica na escola
- o meacutetodo materialista histoacuterico-dialeacutetico enquanto loacutegica e teoria
do conhecimento
Nos capiacutetulos seguintes a coerente e consistente abordagem
teoacuterica eacute demonstrada no trato com ldquoA produccedilatildeo da cultura luacutedica
em jogos eletrocircnicos rdquo texto de autoria de Renata Aparecida Alves
Landim Victoacuteria de Faacutetima de Mello Priscila Rocha Rodrigues e
Thiago Barreto Maciel Os autores partem da praacutetica social conshy
creta para chegar a uma nova siacutentese superior sobre este conteuacutedo
permitindo agraves crianccedilas e jovens se apropriarem de elementos da
cultura que por si soacute natildeo se datildeo a conhecer
No texto de autoria de Leonardo Docena Pina Carlos Edushy
ardo de Souza Mocircnica Jardim Lopes eacute demonstrado o meacutetodo de
elevaccedilatildeo da capacidade de reflexatildeo dos estudantes sobre a cultura
inrporal no trato com o conteuacutedo esporte e sauacutede O texto intitu-
lido ldquoAs relaccedilotildees entre esporte e sauacutede no capitalismo tematizando
i oiuradiccedilotildees na educaccedilatildeo escolarrdquo demonstra todo o processo que
v ulmina na nova siacutentese qualitativamente superior ao conhecimento
lt aoacuteiico sincreacutetico sobre o tema demonstrado no iniacutecio
Para tratar do conteuacutedo lutas delimitou-se ldquoO MM A como
nova lace da luta espetaacuteculordquo Os autores Renata Aparecida Alves Lanshy
dim Adriano de Paiva Reis Grazyani Penna Dias e Rafael Loures dos
K r Hcllei usaram com rigor o meacutetodo partindo da praacutetica social e a
bull u iornuido apoacutes um processo de problematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de
1 11u i i i i k i u o s sem os quais natildeo se explica o fenocircmeno atual das lutas
thim io ao conteuacutedo danccedila os autores Carla Cristina Carvalho
INlt ii i iliimo de Paiva Reis Giovana de Carvalho Castro Marcelo
monstrar a loacutegica no trato com o conhecimento dentro da rigorosidade
do meacutetodo Demonstram tambeacutem a elevaccedilatildeo do pensamento teoacuterico
dos estudantes sobre o assunto O texto ldquoA voz da periferia o Hip Hop
enquanto possibilidade de trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo eacute um
primor e contribuiraacute muito para consubstanciar uma abordagem mais
rigorosa de conteuacutedos contemporacircneos nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
No trato com o conteuacutedo da ginaacutestica no capiacutetulo intitulado
ldquoA disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutesticardquo os autores
Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel Roshy
drigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees conseguem elevar a
capacidade dos estudantes de elaborarem uma siacutentese qualitativa no
pensamento que permitiraacute a autodeterminaccedilatildeo para a praacutetica corposhy
ral de um conteuacutedo vital e que vem sendo negligenciado na escola
A retomada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica do conteuacutedo circo
conforme propotildeem Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvashy
lho Pereira e Frederico Duarte Gomes Tostes demonstra como um
conteuacutedo histoacuterico que data na origem dos tempos do feudalismo
pode adquirir um sentido e um significado humanamente elevado
pelo entendimento compreensatildeo e elaboraccedilatildeo de novas possibilidashy
des de accedilatildeo No trato com o conteuacutedo das atividades circenses no
texto intitulado ldquoO lugar e hora do circo na escola reflexatildeo sobre
a reinvenccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircneardquo os
autores demonstram o criteacuterio da rigorosidade e seriedade cientiacutefica
para tratar de um conteuacutedo da cultura que nos permite conhecer
compreender explicar e criar possibilidades riquiacutessimas de atividashy
des culturais com sentido e significado humanizante
Prezados leitores ressalto que esta obra eacute singular relevante e
vital porque como dizem os autores em um dos textos ldquoEm tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas as esferas da vida a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda maior Epreciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabalhadora construshyamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contribuindo para a desmistifiacutecaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta rdquo
12
tivos de Autores no Brasil e quiccedilaacute na Ameacuterica Latina que de norte
a sul de leste a oeste estatildeo recuperando desenvolvendo utilizanshy
do outros paracircmetros teoacutericos-metodoloacutegicos sintonizados com oushy
tro projeto histoacuterico superador agrave loacutegica do capital e portanto com a
perspectiva de formaccedilatildeo humana emancipatoacuteria significando isto a
superaccedilatildeo da sociedade de classes
Com esta obra juntamente com outras de igual propoacutesito
consolida-se no Brasil uma Educaccedilatildeo Fiacutesica de base marxista Cons-
troi-se assim tambeacutem pela via do trabalho pedagoacutegico a subjetivishy
dade humana visto que as condiccedilotildees objetivas para a revoluccedilatildeo jaacute
estatildeo postas faltam as condiccedilotildees subjetivas As forccedilas produtivas
deixaram de crescer e estatildeo em franca destruiccedilatildeo A isto reage este
jovem COLETIVO DE AUTORES que nos alenta a seguirmos
perseguindo em tempos de transiccedilatildeo um outro modo de produccedilatildeo
da vida Que todas as crianccedilas jovens e adultos das escolas puacuteblishy
cas na cidade e no campo tenham garantida esta qualidade aqui
demonstrada no ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica
Celi Nelza Zuumllke Tajfarel
(Universidade Federal da Bahia - UFBA)
INTRODUCcedilAtildeO
LIMITES E POSSIBILIDADES DA DISCUSSAtildeO SOBRE DIDAacuteTICA DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA
Adriano de Paiva Reis
Carla Cristina Carvalho Pereira
Hajime Takeuchi Nozaki
Leonardo Docena Pina
Renata Aparecida Alves Landim
Por mais de um seacuteculo a histoacuteria da
Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar
foi marcada por sua caracterizaccedilatildeo como uma
atividade cujo objetivo central era promover
0 desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica dos indishy
viacuteduos A partir do final da deacutecada de 1970
acompanhando um amplo movimento de luta
pela redemocratizaccedilatildeo da sociedade brasileira
assistimos a um periacuteodo de denuacutencias sobre o
atrelamento da aacuterea a uma concepccedilatildeo exclushy
sivamente bioloacutegica de homemmovimento
que cumpria um papel conservador no que
tange agraves relaccedilotildees sociais
Apoacutes esse periacuteodo de criacuteticas sobretudo
ao final dos anos de 1980 e iniacutecio dos anos
de 1 990 comeccedilam a surgir novas propostas
para a Educaccedilatildeo Fiacutesica definindo princiacutepios
identificadores de uma nova praacutetica pedashy
goacutegica Desde entatildeo podemos evidenciar
diversos avanccedilos no sentido da construccedilatildeo
di Educaccedilatildeo Fiacutesica como componente cur-
liiulnr tanto no plano da legislaccedilatildeo e das
01 ieniaccedilotildees educacionais como no plano das
propostas construiacutedas e implementadas em diversas redes de ensino
pelo paiacutes Mas no que pese todo esse avanccedilo produzido a crise no campo teoacuterico (FRIGOTTO 2001) acabou por influenciar a redefishy
niccedilatildeo das propostas pedagoacutegicas criacuteticas da aacuterea que passaram a ser
consideradas muitas vezes insuficientes inadequadas e ateacute mesmo
ultrapassadas para atender agraves supostas demandas de um novo mundoConsiderando que os fundamentos centrais da sociedade na qual
vivemos se mantecircm presentes ainda hoje embora com bases renovashy
das compreendemos que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas
ainda possuem um papel a cumprir qual seja o de contribuir para a
superaccedilatildeo do capitalismo - e de todas as formas de opressatildeo que se
intensificam nesse modo de produccedilatildeo da existecircncia humana1
Nessa linha reconhecemos que a perspectiva da reflexatildeo criacutetica soshybre a cultura corporal (COLETIVO DE AUTORES 1992)2 tambeacutem
conhecida como ldquoabordagem Criacutetico-superadorardquo foi um marco mdash e
ainda se manteacutem como referecircncia mais desenvolvida mdash para a Educashy
ccedilatildeo Fiacutesica uma vez que ao se fundamentar na Pedagogia histoacuterico-
-criacutetica articulou esse componente curricular ao que haacute de mais avanshy
ccedilado no debate sobre o papel da escola sendo capaz de entrelaccedilar a
formaccedilatildeo humana aos interesses e necessidades da classe trabalhadora
A partir da delimitaccedilatildeo de uma aacuterea de conhecimento denominada
de cultura corporal essa perspectiva definiu a Educaccedilatildeo Fiacutesica como
disciplina responsaacutevel por promover na escola uma tematizaccedilatildeo soshy
bre a relaccedilatildeo dos grandes problemas sociais contemporacircneos com os
conteuacutedos jogos danccedilas lutas ginaacutestica esporte malabarismo con-
torcionismo miacutemica e outros (COLETIVO DE AUTORES 1992)
A transmissatildeo dos conhecimentos historicamente acumulados sobre
a cultura corporal define a especificidade pedagoacutegica da Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica sua presenccedila na escola justifica-se por socializar um saber que
1 Adotamos a classificaccedilatildeo das pedagogias - em criacuteticas e natildeo criacuteticas - elaboradas por Saviani
(2006)
2 Tendo em visra o processo histoacuterico que envolveu a elaboraccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do livro
Metodologia do Ensino da Educaccedilatildeo Coletivo de Autores foi o termo adotado originalmente
para designar sua autoria expressando um sentido poliacutetico e o esforccedilo de ratificar o caraacuteter
coletivo e o projeto histoacuterico com o qual a obra estava articulada no contexto de sua
publicaccedilatildeo pela editora Cortez em 1992
16
natildeo eacute transmitido pelas demais disciplinas mas que se constitui como
elemento essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade
Apesar do avanccedilo teoacuterico promovido pelas recentes discussotildees
sobre a Pedagogia histoacuterico-criacutetica e a metodologia Criacutetico-supera-
dora deparamo-nos com inuacutemeros depoimentos de professores da
educaccedilatildeo baacutesica sobre a dificuldade de organizarplanejarsistematishy
zar o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo
criacutetica sobre a cultura corporal Aleacutem das criacuteticas aos cursos de forshy
maccedilatildeo de professores da aacuterea muitas vezes voltados aos campos natildeo
escolares de atuaccedilatildeo e subordinados agrave dimensatildeo predominantemenshy
te bioloacutegica de ser humano os professores tecircm se queixado da falta
de referecircncias concretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas
com os diversos conteuacutedos da cultura corporal3
A constataccedilatildeo desses problemas e desafios impulsionou a organishy
zaccedilatildeo de um grupo - composto predominantemente por professores
da rede puacuteblica municipal de Juiz de Fora mdash com o objetivo de amshy
pliar os conhecimentos a respeito da metodologia Criacutetico-superadora
aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal Hoje o grupo eacute
formado por cerca de vinte professores e conta com assessoria de dois
docentes da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz
de Fora4 os quais tecircm dialogado conosco ao longo do processo
Sem viacutenculo institucional nem apoio financeiro para pesshy
quisa o grupo tem se dedicado agrave realizaccedilatildeo de estudos pesquisas
e experiecircncias voltadas ao aprimoramento de nossa praacutetica pedashy
goacutegica na escola Apoacutes dois anos de trabalho conjunto sentimos
a necessidade de dar um passo a mais qual seja o de iniciar a soshy
cializaccedilatildeo das experiecircncias pedagoacutegicas desenvolvidas nas escolas
municipais de Juiz de Fora A elaboraccedilatildeo dessa obra surgiu porshy
tanto a partir da necessidade de ampliar nossos conhecimentos
sobre os conteuacutedos da cultura corporal e suas possibilidades de
abordagem metodoloacutegica na escola A constituiccedilatildeo de um grupo
envolvendo professores da rede puacuteblica municipal e federal pershy
3 A respeito da problemaacutetica referente agrave formaccedilatildeo de professores no contexto atual
sugerimos a leitura dos estudos de Costa (2009) Arce (2000) e Teixeira (2009)
4 Estamos nos referindo aos professores Aacutelvaro de Azeredo Quelhas e Andreacute Silva Martins
mitiu o estudo debate e sistematizaccedilatildeo de experiecircncias pedagoacuteshy
gicas desenvolvidas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Consideramos que a divulgaccedilatildeo dessas experiecircncias pode
constituir-se como instrumento para o aprimoramento da praacutetica
pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo soacute porque socializa os planos
de unidade desenvolvidos juntamente com textos de fundamenshy
taccedilatildeo teoacuterica de cada conteuacutedo trabalhado mas tambeacutem porque
contribui para que outros professores se insiram no debate consshy
truam novas experiecircncias eou discutam novas possibilidades
E importante destacar que ao reconhecermos a importacircncia do
debate sobre a didaacutetica para o aprimoramento do trabalho pedagoacutegishy
co nas escolas natildeo o consideramos suficiente para resolver o problema
do ensino na Educaccedilatildeo Fiacutesica Ou seja nossa iniciativa embora seja
importante e necessaacuteria natildeo tem a pretensatildeo nem a capacidade de
resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Aleacutem das limitaccedilotildees que envolvem muitos cursos de formaccedilatildeo
de professores encontramos outras determinaccedilotildees que acabam por
contribuir para que a escola natildeo cumpra seu papel de transmissatildeo do
conhecimento Embora natildeo sejamos capazes de reunir neste artigo
todos os problemas encontrados em grande parte das escolas da rede
puacuteblica municipal de ensino faz-se necessaacuterio destacar em linhas geshy
rais que as condiccedilotildees de vida (e de trabalho) de grande parte dos
professores e alunos natildeo satildeo muito favoraacuteveis Soma-se a isso o fato
de que as estruturas fiacutesicas precaacuterias recursos materiais insuficientes
grande nuacutemero de alunos por turmas e pouco reconhecimento profisshy
sional tendem a dificultar ainda mais o desenvolvimento do trabalho
do prazer e da vontade de lecionar Tambeacutem natildeo podemos deixar de
destacar que em muitos casos a Educaccedilatildeo Fiacutesica assume o posto de
disciplina de segundo escalatildeo sobretudo nas escolas de Educaccedilatildeo Inshy
fantil e dos anos iniciais do ensino fundamental onde os professores
de Educaccedilatildeo Fiacutesica Artes e Muacutesica por exemplo dificilmente partishy
cipam do conselho de classe o que evidencia a (des)valorizaccedilatildeo de sua
atividade docente na escola frente outras disciplinas como Portuguecircs
e Matemaacutetica consideradas mais importantes sob a oacutetica do capital
18
Consideramos que o professor mdash das diferentes aacutereas do conhecimento
- tem o papel de transmitir o conhecimento cientiacutefico artiacutestico e filosoacutefico
aos alunos mas natildeo compreendemos que sua funccedilatildeo possa ser tatildeo facilshy
mente exercida como supotildeem os defensores do neoprodutivismo para os
quais se espera que o docente exerccedila todo um conjunto de funccedilotildees com o
maacuteximo de produtividade e o miacutenimo de dispecircndio isto eacute com modestos
salaacuterios5 Compreendemos conforme destaca Saviani (2011) que se o proshy
fessor fosse bem remunerado no acircmbito de uma carreira docente que lhe
garantisse jornada integral em uma uacutenica escola ele poderia exercer sem
maiores problemas muitas funccedilotildees a ele atribuiacutedas Mas natildeo eacute esse o caso
Analisando a precarizaccedilatildeo do trabalho do professor Costa (2009)
evidencia que as consequecircncias da alienaccedilatildeo na atividade docente natildeo
se restringem ao ensino e a aprendizagem mas envolvem a proacutepria vida
do professor A autora constata que o processo de alienaccedilatildeo constroacutei
uma relaccedilatildeo professoresalunos distorcida em que os
segundos passam a imputar aos professores o tratamenshy
to que deveriam dar aos reais representantes da violecircnshy
cia do Estado burguecircs que os tem oprimido durante
toda a sua trajetoacuteria escolar E os professores passam
a ver os alunos como aqueles que materializam a falta
de respeito e o desprestiacutegio da categoria profissional na
sociedade nas manifestaccedilotildees de falta de respeito e ateacute
mesmo a violecircncia (COSTA 2009 p 72)
Natildeo obstante a alienaccedilatildeo do trabalho do professor ainda
gera desumanizaccedilatildeo o mais violento de todos os aspectos Conshy
forme afirma Costa (2009) o professor nem sempre tem a opccedilatildeo
de buscar outras formas para suprir sua subsistecircncia
Os seres humanos submetidos agrave alienaccedilatildeo mesmo vivenshy
do o sofrimento no trabalho o desgaste fiacutesico e mental a
dilapidaccedilatildeo moral ainda assim permanecem em relaccedilotildees
de trabalho destrutivas ateacute esgotarem os limites de suas
capacidades ou ateacute serem descartados pelo capital Nesse
momento em geral as consequecircncias vividas pelo trabalho
jaacute satildeo irreversiacuteveis Embora experimente a deterioraccedilatildeo de
sua sauacutede a negaccedilatildeo da natureza formativa da educaccedilatildeo
presente todos ograves dias nas ingerecircncias das mantenedoras e
5 Sobre o neoprodutivismo na educaccedilatildeo escolar brasileira conferir Saviani (2011)
do Estado na sua atividade laborai o professor natildeo pode
se furtar ao trabalho como meio de subsistecircncia devido agrave
sua dependecircncia total da vida urbana e do consumo que
ela impoacutee assim como ocorre com todas as outras categoshy
rias do proletariado (COSTA 2009 p 76-77)
Ao abordar essas reflexotildees buscamos explicitar nossa discordacircncia em
relaccedilatildeo agraves perspectivas ideoloacutegicas predominantes defensoras da ideia de
que o ecircxito da escola e da poliacutetica educacional que a orienta depende apenas
da iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores Atualmente fala-se muito no proshy
fessor como protagonista da mudanccedila mas natildeo lhe satildeo oferecidas muitas
condiccedilotildees para isso Defende-se que o professor assuma uma postura inoshy
vadora desenvolva praacuteticas de ensino renovadas busque o conhecimento
produzido ainda que as condiccedilotildees sejam muito desfavoraacuteveis para tanto
Conforme alerta Duarte (2006) a ideia comumente defendida pelos meios
de comunicaccedilatildeo eacute a de que o professor deve ser ldquogente que fazrdquo
Naacuteo eacute mero acaso que atualmente seja taacuteo difundido em
educaccedilatildeo o discurso voltado para as caracteriacutesticas definishy
doras de um bom professor de um professor que reflete
sobre sua praacutetica e realiza um trabalho de qualidade messhy
mo em condiccedilotildees adversas Uma variante desse discurso eacute
aquela em que em vez de falar-se de um professor que eacute
gente que faz fala-se de uma escola em que os professores
coletivamente de preferecircncia de matildeos dadas com a comushy
nidade transformam em exemplo de sucesso escolar Em
nome da superaccedilatildeo dos discursos imobilistas eacute adotado
um discurso no qual a passagem do fracasso ao sucesso
torna-se uma questatildeo de forccedila de vontade de alguns indishy
viacuteduos ou melhor de um coletivo de uma comunidade
O resultado ideoloacutegico pretendido ou natildeo eacute bastante
claro o descompromisso do Estado a despolitizaccedilatildeo dos
problemas educacionais e a abdicaccedilatildeo do ideal de lutar por
uma transformaccedilatildeo radical da sociedade pela superaccedilatildeo
do capitalismo e pela construccedilatildeo de uma sociedade sociashy
lista A saiacuteda passa a ser a das soluccedilotildees locais comunitaacuterias
individuais (DUARTE 2006 p 141)
Feitas essas consideraccedilotildees sintetizamos nossa compreensatildeo soshy
bre os limites da discussatildeo didaacutetica que apresentamos neste livro
Trata-se de uma discussatildeo insuficiente se considerarmos o problema
da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica em sua radicalidade mas ao mesmo
20
tempo importante uma vez que pode ampliar as possibilidades de
transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica
O presente livro organizado numa perspectiva de unidade realiza
nos dois primeiros artigos uma discussatildeo de caraacuteter mais geral sobre a
funccedilatildeoespecificidade da escola e da Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemshy
poracircneo Os demais artigos abordam possibilidades de desenvolvimento
de praacuteticas pedagoacutegicas com temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos
da cultura corporal circo lutas ginaacutestica danccedila jogos e esporte
As experiecircncias pedagoacutegicas apresentadas foram desenvolvidas
com a segunda etapa do Ensino Fundamental e com o Ensino Meacuteshy
dio mas obviamente podem sofrer adaptaccedilotildees para serem tratadas
em outros niacuteveis de ensino Os artigos que tratam dos conteuacutedos da
cultura corporal nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica foram redigidos em subshy
grupos de autores coordenados pelos organizadores da obra e ao final
do processo todos os artigos foram lidos e discutidos coletivamente
Apesar de consideramos a capoeira como um conteuacutedo esshy
peciacutefico e importante da cultura corporal ela natildeo foi abordada
neste livro devido aos limites espaciais e temporais para conclushy
satildeo da obra No nosso planejamento inicial constava um artigo
especiacutefico para abordar esse conteuacutedo poreacutem com o andamento
do estudo constatamos que natildeo teriacuteamos tempo suficiente para
ibordaacute-lo Assim fazemos questatildeo de destacar que assumimos a
iiiscncia da capoeira como uma diacutevida e reafirmamos a necessida-
ilr de abordaacute-la em publicaccedilotildees e debates posteriores
( )s temas selecionados buscaram relacionar os conteuacutedos da cultura
iniporal a problemas sociais presentes na praacutetica social dos alunos bus-
i nulo ultrapassar a simples praacutetica pela praacutetica e promover uma reflexatildeo
i tiacutetii a sobre o modo como os jogos as lutas as danccedilas os esportes os
ru iacutecios ginaacutesticos as atividades circenses se expressam em nosso temshy
po I Vsse modo uma questatildeo que atravessou todos os planos de unidade
i i sltnuinte como a cultura corporal patrimocircnio da humanidade tem
I bull ipKgtpriada e subordinada agrave dinacircmica do consumo capitalista
Irsquooi iacuteim gostariacuteamos de registrar nossos agradecimentos pela
i pouibilizaccedilatildeo dos recursos para a publicaccedilatildeo desta ediccedilatildeo do
livro por meio do Fundo de Apoio agrave Pesquisa na Educaccedilatildeo Baacutesica
- FAPEB mdash da Prefeitura de Juiz de Fora A busca de um financiashy
mento puacuteblico e a distribuiccedilatildeo gratuita dessa obra estaacute relacionada
agrave nossa perspectiva de produccedilatildeoapropriaccedilatildeo coletiva do conhecishy
mento Agradecemos ainda a todos os professores e alunos que
estiveram envolvidos na realizaccedilatildeo desse projeto permitindo divishy
dir experiecircncias e construir conhecimentos que agora socializamos
neste livro
Referecircncias
ARCE A A formaccedilatildeo de professores sob a oacutetica construtivista primeiras aproximashy
ccedilotildees e alguns questionamentos In DUARTE N (org) Sobre o construti-
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DUARTE N Vigotski e o ldquoaprendera aprenderrdquo apropriaccedilotildees neoliberais e poacutes-
-modernas da teoria vigotskiana 4 ed Campinas Autores Associados 2006
FRIGOTTO G A nova e a velha faces da crise do capital e o labirinto dos reshy
ferenciais teoacutericos In FRIGOTTO G CIAVATTA M (Org) Teoria e
educaccedilaacuteo no labirinto do capital 2 ed Petroacutepolis Vozes 2001 p 23-50
SAVIANI D Escola e democracia 38 ed Campinas Autores Associados 2006
_______ Histoacuteria das ideias pedagoacutegicas no Brasil 3 ed Campinas Autores
Associados 2011
TEIXEIRA L A poliacutetica de formaccedilatildeo docente no Brasil fundamentos teoacutericos
e epistemoloacutegicos In Reuniatildeo Anual da ANPED 32 2009 Caxambu
Anais Caxambu ANPED 2009 p 1-17
CAPIacuteTULO I
SOBRE A FUNCcedilAtildeO E ESPECIFICIDADE DA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR NO M UNDO CONTEMPORAcircNEO
Andreacute Silva Martins
O presente capiacutetulo tem por objetivo apreshy
sentar uma reflexatildeo sobre a funccedilatildeo e especificishy
dade da educaccedilatildeo escolar na atualidade Nossa
intenccedilatildeo mais ampla eacute problematizar as perspecshy
tivas relacionadas agrave funccedilatildeo social da escola e sua
especificidade no processo de formaccedilatildeo humashy
na procurando indicar uma alternativa poliacutetico-
-pedagoacutegica aos discursos e praacuteticas dominantes
As questotildees que orientam nossa reflexatildeo
podem ser assim descritas Qual a funccedilatildeo
social da instituiccedilatildeo escolar na atualidade
A instituiccedilatildeo escolar possui uma especificishy
dade frente os demais processos formativos
de nossa sociedade Quais satildeo os desafios da
Escola Puacuteblica brasileira no seacuteculo XXI
Para responder estas questotildees organizashy
mos o texto em trecircs partes Na primeira busshy
camos recuperar a gecircnese da instituiccedilatildeo escoshy
lar e sua especificidade no processo formativo
Em seguida realizamos uma anaacutelise sobre duas
concepccedilotildees que vecircm orientando a definiccedilatildeo da
finalidade da educaccedilatildeo escolar Por fim com
base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica apresentashy
mos uma siacutentese do que pode vir a ser a insshy
tituiccedilatildeo escolar na atualidade tendo em vista
os interesses da ampla maioria da populaccedilatildeo
Nossa expectativa eacute contribuir para as reflexotildees sobre o tema e oferecer
elementos para a compreensatildeo criacutetica da funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar
Sobre a gecircnese da instituiccedilatildeo escolar
A escola eacute uma instituiccedilatildeo social relativamente nova que se
consolidou e se popularizou a partir do processo de intensificaccedilatildeo
da complexidade da vida social gerada pelas mudanccedilas nas relaccedilotildees
sociais envolvendo o crescimento da urbanizaccedilatildeo e desenvolvimenshy
to do industrialismo sobre as formas tradicionais de estruturaccedilatildeo de
poder e de redefiniccedilatildeo das bases de produccedilatildeo material e simboacutelica
vinculadas agrave existecircncia humana Isso significa que a instituiccedilatildeo esshy
colar surge como expressatildeo cultural de um tempo histoacuterico com a
finalidade de assegurar uma especificidade na formaccedilatildeo humana
Antes da existecircncia da escola nas sociedades tradicionais os proshy
cessos formativos se realizavam diretamente nas dinacircmicas de constishy
tuiccedilatildeo da vida natildeo requerendo maiores exigecircncias muito menos ritos
formais para sua ocorrecircncia No cotidiano as trocas de conhecimentos
gerados pela experiecircncia geracional ou pela vida cotidiana de uma dada
comunidade constituiacuteam a base dos processos formativos necessaacuterios agrave
construccedilatildeo da vida A educaccedilatildeo fluiacutea nas dinacircmicas de trabalhovida
sem delimitaccedilotildees mais precisas de tempo e espaccedilo A experiecircncia e a
informalidade se constituiacuteam como referecircncias dos processos formatishy
vos Nessa dinacircmica o domiacutenio de conhecimentos sistematizados era
dispensaacutevel ao homem comum A formaccedilatildeo intelectual era restrita aos
pequenos grupos que atuavam em funccedilotildees administrativas e clericais
Quando muito com raras exceccedilotildees o acesso do povo aos rudimentos
da leitura e da escrita ficava circunscrito agraves iniciativas isoladas princishy
palmente a cargo de ordens religiosas que reforccedilavam a manutenccedilatildeo da
ordem estabelecida (FERREIRA 2001) ou a grupos de artesatildeos preoshy
cupados com a organizaccedilatildeo da produccedilatildeo (ENGUITA 1989)
O processo social poliacutetico e econocircmico de ruptura com a trashy
diccedilatildeo feudal protagonizada pela classe burguesa nas sociedades eushy
ropeias produziu novas determinaccedilotildees para que a formaccedilatildeo humana
ultrapassasse as referecircncias educativas precedentes Em outras pala-
24
vras a dinacircmica social emergente apresentava os primeiros sinais de
que a experiecircncia e a informalidade ofereciam sinais de esgotamenshy
to isso porque estavam em curso novas exigecircncias para organizar a
vida social e os meios necessaacuterios agrave sua existecircncia
A valorizaccedilatildeo do chamado ldquohomem-livrerdquo a ideia de progresso as
formas emergentes de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de mercadorias e a defesa da
propriedade privada no centro da vida social que foram sendo consolidadas
apoacutes as revoluccedilotildees burguesas exigiam novas referecircncias educativas Na conshy
cepccedilatildeo da classe emergente a massa populacional disforme e sem identishy
dade poliacutetico-ideoloacutegica precisava ser preparada para ocupar o seu lugar na
nova ordem a partir de novas regras sociais de vida e trabalho A imagem do
atraso representado pelo camponecircs isolado e restrito ao espaccedilo rural precishy
sava ser substituiacuteda pela simbologia do progresso representada pelo homem
urbano - trabalhador ldquolivrerdquo Organizado na cidade envolvido nas relaccedilotildees
comerciais de novo tipo e envolvido na passagem da oficina para manufashy
tura e desta para a induacutestria nascente o ldquonovo homemrdquo deveria ser disciplishy
nado socialmente para compreender os novos coacutedigos culturais Se para os
adultos da classe trabalhadora a vida urbana continha os elementos educashy
tivos da disciplina social capitalista principalmente os de caraacuteter repressivo
a educaccedilatildeo das crianccedilas urbanas para a vida social exigia um pouco mais O
surgimento da escola de massas tem suas origens vinculadas a esse processo
de longa duraccedilatildeo confirmada na consolidaccedilatildeo do periacuteodo histoacuterico denoshy
minado de modernidade A especificidade da escola residia na compreenshy
satildeo de que algo a mais deveria ser oferecido ultrapassando as experiecircncias
educativas realizadas pela famiacutelia pelas religiotildees pela convivecircncia
Em ritmos diversos a expansatildeo da instituiccedilatildeo escolar puacutebli-
1 foi se tornando uma realidade nas formaccedilotildees sociais em geral
viabilizada por meio do Estado capitalista Aleacutem da escolarizaccedilatildeo
obrigatoacuteria com extensatildeo restrita foram sendo instituiacutedas bases
rei ais para o ensino realizado na escola puacuteblica de massas O do-
miacutenkrdos rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo passou a
laei parte da formaccedilatildeo do trabalhador urbano O desafio era for-
1 1 1 i eorporcidade infantil (o sentirpensaragir) desde cedo dentro
ilo ideal do ldquohomem novordquo
As teacutecnicas de ensino e de controle bem como a organizaccedilatildeo do
espaccedilo e das rotinas marcaram a constituiccedilatildeo da escola moderna Sem
elidir outros processos educativos a instituiccedilatildeo escolar foi se tornando
importante instrumento do processo civilizatoacuterio capitalista
Enquanto a escola de massas assumiu a educaccedilatildeo das crianccedilas da
classe trabalhadora para o exerciacutecio da submissatildeo intelectual e moral
formando o cidadatildeo-trabalhador produtivo da modernidade outro tipo
de escola foi assegurado para a preparaccedilatildeo ampla de grupos de crianccedilas
e adolescentes da classe burguesa As distinccedilotildees fundamentais do proshy
cesso formativo dos dirigentes e dirigidos se expressaram no tempo de
escolarizaccedilatildeo no espaccedilo destinado agraves praacuteticas educativas bem como na
quantidade-qualidade de acesso aos conhecimentos sistematizados Inshy
distintamente a racionalizaccedilatildeo do processo pedagoacutegico buscou responshy
der agraves especificidades do papel econocircmico-poliacutetico das classes sociais
tendo como referecircncia a dinacircmica da vida urbano-industrial1 e a necesshy
sidade dos coacutedigos culturais Vale lembrar que o princiacutepio do dualismo
educacional jaacute havia sido traccedilado por John Locke no seacuteculo XVII antes
mesmo do advento da escolarizaccedilatildeo de massas (ENGUITA 1989)
Mesmo oferecendo um acesso restrito ao conhecimento sisshy
tematizado e assegurando uma formaccedilatildeo intelectual e moral para
a submissatildeo a escola para os trabalhadores foi sendo consolidada
nas formaccedilotildees sociais capitalistas a partir do reconhecimento de
sua contribuiccedilatildeo especiacutefica dentro do processo educativo mais
amplo Embora este processo tenha se dado em ritmo variado -
dependendo do reconhecimento da classe dominante sobre a im shy
portacircncia da ampliaccedilatildeo do domiacutenio dos coacutedigos culturais e das
lutas travadas em torno do acesso agrave educaccedilatildeo - a escola foi sendo
legitimada por sua especificidade educativa Sobre este processo
mais geral Ferreira (2001 p 193) observa que
Chegados agrave transiccedilatildeo do seacuteculo X IX para o seacutecushy
lo XX a burguesia sustenta e participa do poder
1 Enquanto a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo infantil da classe trabalhadora das cidades passou a
ser ordenada pelo menos enquanto tendecircncia em edificaccedilotildees projetadas para tal fim pela
adoccedilatildeo de turmas seriadas por programas bem definidos e com professores treinados a
educaccedilatildeo no campo ainda que concentrando boa parcela das crianccedilas seguiu marcada
pelo improviso de instalaccedilotildees de recursos didaacuteticos e de pessoal
mas hesita entre a cultura do passado e a dinacircmica
imposta pelo progresso A burguesia sabe por exshy
periecircncia proacutepria que nada eacute definitivo e uniforshy
me Mas tambeacutem sabe que a sociedade burguesa
precisa de ordem e estabilidade e que os interesshy
ses divergentes que encerra podem arruinaacute-la Ela
precisa por isso estar bem informada para agir
em conformidade com o momento Necessita soshy
bretudo de dominar os saberes que lhe asseguram
a administraccedilatildeo do poder Ela sabe que a compeshy
tecircncia eacute a qualidade chave do sucesso A escola
tem sido fundamentalmente uma instituiccedilatildeo cara
agrave burguesia Isso natildeo significa que natildeo tenha sido
uacutetil a outras forccedilas sociais e que natildeo tenha servido
interesses contraacuterios aos dos burgueses
A histoacuteria da escolarizaccedilatildeo na formaccedilatildeo social brasileira seshy
guiu pelo menos enquanto tendecircncia o movimento educacional
das formaccedilotildees capitalistas centrais No entanto considerando
que o Brasil foi palco de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo tardia sob
mediaccedilatildeo de uma revoluccedilatildeo burguesa de tipo natildeo-claacutessica (FERshy
NANDES 1976) explicada pelo conceito de revoluccedilatildeo passiva
(GRAMSCI 1999) e que isto resultou numa inserccedilatildeo subordinashy
da do paiacutes no cenaacuterio internacional eacute possiacutevel afirmar que a escola
puacuteblica de massas expressou em sua particularidade e com contrashy
diccedilotildees a opccedilatildeo poliacutetica da classe dominante brasileira
Basta considerar que enquanto os paiacuteses centrais jaacute haviam
avanccedilado no movimento de universalizaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo baacutesica
ainda no seacuteculo XIX no Brasil ao longo do seacuteculo XX predomishy
nou um processo restritivo de acesso dos trabalhadores agrave educaccedilatildeo
escolar Os que escaparam do analfabetismo em geral encontraram
barreiras objetivas para concluir o que denominamos hoje de Enshy
sino Fundamental Foi somente no limiar do seacuteculo XXI que este
niacutevel de escolarizaccedilatildeo foi universalizado2
2 O atraso educacional brasileiro pode ser explicitado nas questotildees legais que envolvem o Ensino
Meacutedio A Constituiccedilatildeo de 1988 - chamada por muitos de ldquoConstituiccedilatildeo Cidadatilderdquo - estabeleceu
no artigo 208 inciso II ldquoprogressiva extensatildeo de obrigatoriedade e gratuidade do ensino meacutediordquo
mesmo diante dos sinais de mudanccedilas poliacuteticas e econocircmicas significativas no mundo capitalista
O Ensino Meacutedio foi projetado para poucos naquele contexto Somente em 2009 por meio da
Emenda Constitucional ndeg 59 este niacutevel de ensino se tornou obrigatoacuterio no paiacutes
w avanccedilo lento e restritivo da escolarizaccedilatildeo brasileira foi resultado
das relaccedilotildees de poder travadas ao longo do seacuteculo XX mediadas pelas
relaccedilotildees de produccedilatildeo Predominava na classe dominante a compreenshy
satildeo de que o acesso agrave educaccedilatildeo deveria ser programado para atender o
miacutenimo necessaacuterio ao padratildeo de qualificaccedilatildeo exigido pela dinacircmica da
sociedade urbano-industrial em seu desenvolvimento tecnoloacutegico e exishy
gecircncias poliacuteticas e ideoloacutegicas Esse posicionamento contrastava com as
lutas operaacuterias do iniacutecio do seacuteculo XX que reivindicavam acesso agrave edushy
caccedilatildeo puacuteblica e com a manifestaccedilatildeo dos signataacuterios do ldquoManifesto dos
Pioneiros da Educaccedilatildeordquo de 1932 que reivindicava uma escola puacuteblica
de qualidade para todos Contudo na correlaccedilatildeo de forccedilas e consideshy
rando a dinacircmica das relaccedilotildees de produccedilatildeo para a grande maioria o
acesso ao conhecimento sistematizado natildeo ultrapassou o domiacutenio dos
rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo A ideia de que a escolashy
rizaccedilatildeo deveria se constituir num patrimocircnio de poucos predominou
Em que pesem o atraso educacional e as restriccedilotildees de acesso
agrave escola puacuteblica a historiografia da educaccedilatildeo brasileira por reshy
cortes e bases epistemoloacutegicas distintas apresenta fartos elemenshy
tos que demonstram a ligaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar e projeto
civilizatoacuterio conduzido pela classe dominante no paiacutes desde o
iniacutecio do seacuteculo XX confirmando a especificidade da instituiccedilatildeo
escolar no processo de formaccedilatildeo humana
Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar as concepccedilotildees dominantes
Apesar do reconhecimento social sobre a importacircncia e esshy
pecificidade da instituiccedilatildeo escolar no processo educativo mais
amplo eacute necessaacuterio observar que existem divergecircncias quanto agrave
finalidade da educaccedilatildeo escolar Para enfrentar esta questatildeo opshy
tamos por um recorte de duas das mais relevantes formulaccedilotildees
contemporacircneas sobre o tema Nossa opccedilatildeo metodoloacutegica conshy
siste na caracterizaccedilatildeo e anaacutelise das concepccedilotildees procurando evishy
denciar suas implicaccedilotildees para a formaccedilatildeo humana
28
Concepccedilatildeo 1 A finalidade da educaccedilatildeo escolar eacute preparar recursos humanos para impulsionar o desenvolvimento econocircmico
Esta formulaccedilatildeo foi apresentada no cenaacuterio brasileiro nos anos
de 1970 no contexto do regime ditatorial viabilizado pelo golpe em-
presarial-militar de 1964 Traduzindo uma teoria surgida nos Estados
Unidos o bloco no poder do regime ditatorial e seus intelectuais se
encarregaram de viabilizar que os principais enunciados da teoria esshy
tadunidense fossem veiculados para ordenar a funccedilatildeo da escola a parshy
tir da redefiniccedilatildeo da poliacutetica de educaccedilatildeo da legislaccedilatildeo educacional
da organizaccedilatildeo curricular e das praacuteticas pedagoacutegicas A grande meta
era subordinar a educaccedilatildeo escolar ao projeto de desenvolvimento ecoshy
nocircmico Mas o que significa estabelecer que a funccedilatildeo da escola eacute conshy
tribuir para o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes
A teoria acima referida foi sistematizada porTeodoro Schultz
(1963 1971) Parte da premissa de que o conceito de ldquocapitalrdquo se
refere natildeo soacute agraves coisas materiais mas tambeacutem aos seres humanos
Schultz se refere agraves habilidades adquiridas principalmente pela
educaccedilatildeo escolar que interferem na atividade produtiva O conheshy
cimento c as habilidades teacutecnicas seriam expressotildees particulares de
ldquocapitalrdquo uma vez que se vinculam ao aumento da capacidade de
produccedilatildeo A preocupaccedilatildeo do autor com o alargamento do conceishy
to de capital se vincula agrave busca por compreender os diferenciais de
produtividade gerados pelo esforccedilo humano O resultado de sua
formulaccedilatildeo foi denominado de ldquocapital humanordquo
A ampliaccedilatildeo do conceito de capital proposto por Schultz reafirma
a tese da economia poliacutetica burguesa de que todos indistintamente
satildeo capitalistas a diferenccedila baacutesica seria a seguinte uns satildeo possuidores
dos meios de produccedilatildeo e outros da forccedila de trabalho Explicitando o
significado de sua teoria Schultz (1963 p 12-13) afirma que
A recusa em considerar as habilidades adquiridas
pelo homem (habilidades que ampliaram a proshy
dutividade econocircmica desse homem) como uma
forma de capital como bens produzidos da pro-
duccedilatildeo como resultado de um investimento tem
estimulado o conceito restritivo patentemente
errocircneo de que o trabalho prescinde do capital
e de que somente importa o nuacutemero de homens-
-hora [] Os trabalhadores vecircm-se tornando cashy
pitalistas no sentido de que tecircm adquirido muito
conhecimento e diversas habilidades que represhy
sentam valor econocircmico
Na esteira dessa intrigante formulaccedilatildeo Schultz procurou afirmar
que a importacircncia da escolarizaccedilatildeo residia precisamente em ldquovalor
econocircmicordquo Investimentos em educaccedilatildeo resultariam no aumento de
capital humano e na consequente elevaccedilatildeo das taxas de lucro A teoria
do capital humano considera que a educaccedilatildeo deve ser planejada como
fator de desenvolvimento econocircmico e natildeo como direito social
A proposiccedilatildeo consiste em relacionar o ser humano no mesmo
patamar de instrumentos utilizados na produccedilatildeo capitalista Nessa
linha a esquematizaccedilatildeo teoacuterica atestava que a elevaccedilatildeo da escolashy
ridade de um povo ou de cada indiviacuteduo seria diretamente proshy
porcional ao aumento da capacidade de trabalho e ao aumento da
riqueza pessoal sendo que a soma de todas as riquezas significaria
no crescimento da riqueza de uma naccedilatildeo 3
Para Schultz (1971) o valor da educaccedilatildeo estaria na habilitaccedilatildeo de
pessoas para lidar com situaccedilotildees de desequiliacutebrio de mudanccedila e de rupshy
tura O quantum de educaccedilatildeo deveria ser pensado em funccedilatildeo das necessishy
dades de geraccedilatildeo de competecircncias para a eficiecircncia produtiva no trabalho
A anaacutelise de Frigotto (1986) revela os limites e o significashy
do da teoria do capital humano Revela o seu vieacutes empiricista
sua perspectiva epistemoloacutegica baseada no positivismo e o caraacuteter
poliacutetico-ideoloacutegico centrado na economia poliacutetica burguesa
3 Em outras palavras as pessoas ricas seriam aquelas que mais teriam recebido
investimentos em capital humano consequentemente a pessoa pobre seria aquela
que natildeo conseguiu desenvolver o seu capital humano Os paiacuteses mais ricos seriam
aqueles que teriam realizado o maior esforccedilo de elevaccedilatildeo do patamar meacutedio de
racionalidade de seu povo por meio da escola e os paiacuteses mais pobres os que menos
investiram nesse quesitoVale lembrar que a teoria de Schultz nunca conseguiu
explicar o caso brasileiro que de um lado manteacutem-se como uma das maiores
economias do mundo de outro o paiacutes apresenta peacutessimos indicadores educacionais
que comprovam a fragilidade da educaccedilatildeo escolar brasileira
30
No Brasil as repercussotildees da teoria do capital humano foram sigshy
nificativas durante o periacuteodo ditatorial abrangendo vaacuterios aspectos (a)
financiamento da educaccedilatildeo o orccedilamento da educaccedilatildeo passou a ser
definido com base nos mesmos criteacuterios adotados nos investimentos do
setor produtivo (b) planejamento educacional estabeleceu a vincula-
ccedilatildeo direta e imediata entre educaccedilatildeo e setor produtivo - o Plano Setorial
de Educaccedilatildeo e Cultura de 19721974 deixa isso claro (c) legislaccedilatildeo
uma nova lei de Diretrizes e Bases foi estabelecida (lei 569271) para
ordenar a educaccedilatildeo brasileira - chamada ldquoformaccedilatildeo especializadardquo no 2o
grau (atual Ensino Meacutedio) pode ser tomada como um dos exemplos da
vinculaccedilatildeo proposta entre educaccedilatildeo e economia (d) concepccedilatildeo pedashy
goacutegica afirmaccedilatildeo do tecnicismo como referecircncia para os processos forshy
niuivos procurando estabelecer a objetividade do trabalho pedagoacutegico
1 partir da precisatildeo das teacutecnicas e tecnologias de ensino
Apesar das criacuteticas e resistecircncias a teoria do capital humano
iiio foi definitivamente superada Ao contraacuterio desde os anos
laquoU 1990 a teoria vem sendo atualizada e difundida por vaacuterios
mielectuais orgacircnicos da classe burguesa A novidade eacute que a
educaccedilatildeo aleacutem de resultar na elevaccedilatildeo do capital humano deve
timbeacutem desenvolver o chamado capital social Isso significa que
1 Iunccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar foi ampliada embora a perspectiva
i onomicista continue preponderando4
Se o desenvolvimento do capital humano tem interferecircncia direta
mi i questatildeo econocircmica o capital social por sua vez relaciona-se com
i i|iK staacuteo social de forma mais precisa com a coesatildeo poliacutetica e ideoloacutegica
1 iiiballuidores ao projeto hegemocircnico de sociabilidade O capital social
bull ii u licionado agrave elevaccedilatildeo de algumas chamadas variaacuteveis relacionadas agraves
bull bullIuluias humanas que repercutem nas relaccedilotildees comunitaacuterias entre elas a
bull h gt1 u i accedilaacutelt gt a confianccedila muacutetua e a capacidade de participaccedilatildeo (PUTNAM
lt h)M A tese sugere que a elevaccedilatildeo do capital social permitiraacute que os indi-
il icssjliar que natildeo se trata de sobreposiccedilatildeo de accedilotildees mas sim a especificaccedilatildeo de
mi i vi-nccedilotildecs educativas visando assegurar a formaccedilatildeo humana no acircmbito escolar As
u iiiLiccedilotildees de Gustavo Ioschpe intelectual orgacircnico da burguesia satildeo reveladoras
iVni bull llt lui outros ganhos comunicantes associados com a educaccedilatildeo maior toleracircncia
bull u it-iii ia social melhores cuidados com a sauacutede tendecircncias democraacuteticas controle
I iu|miImis violentosrdquo (IOSCHPE 2004 p 67)
viduos se organizem para solucionar os problemas sociais que os afligem
sem necessariamente depender da intervenccedilatildeo paternalista estatal
O projeto de educaccedilatildeo referenciado na teoria do capital e
ampliado com o acreacutescimo da teoria do capital social reconhece
a especificidade da educaccedilatildeo escolar No entanto as referecircncias
sobre a funccedilatildeo da instituiccedilatildeo escolar satildeo restritivas e pragmaacutetishy
cas Sob o ponto de vista mais amplo significa reafirmar que os
subalternos natildeo nasceram para assumir a condiccedilatildeo de classe d ishy
rigente Especificamente sobre o processo pedagoacutegico significa
estabelecer uma formaccedilatildeo de caraacuteter minimalista em que o acesso
ao conhecimento sistematizado na escola ocorreraacute respeitando o
m iacutenimo necessaacuterio para simplesmente desenvolver uma racionashy
lidade instrumental base das competecircncias para a empregabili-
dade O fundamento pedagoacutegico desta concepccedilatildeo estaacute alicerccedilada
na pedagogia das competecircncias (RAM OS 2001) cabendo agrave esshy
cola somente orientar a formaccedilatildeo do trabalhador-cidadatildeo produshy
tivo eficiente em sua condiccedilatildeo de subalternidade
Concepccedilatildeo 2 A funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar eacute formar para a cidadania
Na sociedade capitalista o acesso ao conhecimento sisteshy
matizado estaacute subordinado agrave condiccedilatildeo de classe podendo ser
alterado em funccedilatildeo dos resultados provisoacuterios das lutas poliacuteticas
na educaccedilatildeo conforme destacado anteriormente Nesse sentido
as disputas envolvendo o acesso ao conhecimento ocorrem porshy
que a ciecircncia e a tecnologia se converteram em forccedila produtiva
e instrumento de poder O controle sobre o conhecimento sisteshy
matizado portanto passou a fazer parte da estrateacutegia de dom ishy
naccedilatildeo de classe na sociedade capitalista Diante disso parece-nos
relevante indagar o que significa afirmar que a funccedilatildeo da escola
se destina a preparar para a cidadania Como fica o acesso ao
conhecimento sistematizado nesta concepccedilatildeo
Primeiramente devemos considerar que a cidadania eacute uma consshy
truccedilatildeo resultante das contradiccedilotildees internas das revoluccedilotildees burguesas
32
Embora se no passado representasse um avanccedilo frente agrave velha ordem
feudal ou escravista e se na atualidade expresse tambeacutem um avanccedilo
frente aos regimes e praacuteticas autoritaacuterias eacute importante lembrar que
este constructo designa apenas o reconhecimento da igualdade forshy
mal entre seres humanos que vivem condiccedilotildees poliacuteticas e econocircmicas
profundamente desiguais Em outras palavras o estatuto da cidadania
natildeo altera em absolutamente nada a realidade da dominaccedilatildeo poliacutetica e
exploraccedilatildeo econocircmica realizadas na sociedade capitalista
Um aspecto importante a ser considerado se refere agravequilo que
fundamenta o preceito de cidadania De modo geral o cidadatildeo
natildeo tem identidade de classe mas sim uma condiccedilatildeo individual E
cidadatildeo tanto o que explora e domina quanto aquele que eacute exploshy
rado e dominado por outro O cidadatildeo eacute o indiviacuteduo e natildeo uma
coletividade regulado por um estatuto juriacutedico e certas normas
sociais no contexto de um Estado Portanto ser cidadatildeo significa
integrar-se na vida social a partir da regulaccedilatildeo formal e de valores
indicando o pertencimento poliacutetico A definiccedilatildeo apresentada por
lt mivez (1990 p 15) confirma esta compreensatildeo
A cidadania define a pertenccedila a um Estado Ela daacute
ao indiviacuteduo um status juriacutedico ao qual se ligam dishy
reitos e deveres particulares Esse status depende das
leis proacuteprias de cada Estado e pode-se afirmar que
haacute tantos tipos de cidadatildeos quanto tipos de Estados
O problema da cidadania poreacutem natildeo eacute apenas proshy
blema juriacutedico ou constitucional se provoca debates
apaixonados eacute porque coloca a questatildeo do modo de
inserccedilatildeo do indiviacuteduo em sua comunidade assim
como de sua relaccedilatildeo com o poder poliacutetico
lt luo de ser cidadatildeo natildeo assegura a igualdade de condiccedilotildees
1 vidi e trabalho em um contexto de profunda desigualdade
moiiiua poliacutetica e social Muito menos assegura a possibili-
l raquolt dc ser diferente no contexto em que a igualdade formal se
ilgt In r procurando uniformizar a todos A cidadania portan-
bull i ui li ii a possibilidade da atuaccedilatildeo poliacutetica de indiviacuteduos e
ni i |i 1 1 ic as sociais dentro dos limites da ordem existente5
I iliIr poliacutetica denominamos o direito de organizaccedilatildeo de representaccedilatildeo e de
l i I h preacutesentantes atraveacutes do voto
As inuacutemeras adjetivaccedilotildees propostas ao conceito sinalizam as restriccedilotildees
de sua inserccedilatildeo na praacutetica social concreta Na lista de adjetivaccedilotildees encontrashy
mos ldquocidadania participativardquo ldquocidadania efetivardquo ldquocidadania emancipadardquo
ldquocidadania ativardquo ldquocidadania eacuteticardquo ldquocidadania popularrdquo entre outras6
Natildeo queremos com essa delimitaccedilatildeo invalidar a importacircncia da
cidadania no passado e no presente na sociedade capitalista especialshy
mente para a formaccedilatildeo social brasileira Ao contraacuterio acreditamos
que legalidade constituiacuteda no estatuto juriacutedico dos direitos individushy
ais e poliacuteticos - envolvendo a possibilidade de organizaccedilatildeo de represhy
sentaccedilatildeo de coletivos e de possibilidades de escolhas de representantes
atraveacutes do voto mdash natildeo eacute passiacutevel de desprezo Entretanto o que busshy
camos assinalar eacute que vincular o projeto de educaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo da
cidadania eacute insuficiente pois a cidadania natildeo pressupotildee a superaccedilatildeo
da ordem capitalista (TONET 2005)
Cabe lembrar que nas sociedades capitalistas dependentes como
eacute o caso da sociedade brasileira a exploraccedilatildeo se materializa em supe-
rexploraccedilatildeo a participaccedilatildeo poliacutetica eacute sempre condicionada a marcos
juriacutedicos restritivos a concentraccedilatildeo da renda e da propriedade eacute extreshy
mada a polarizaccedilatildeo social eacute mais evidente e a dominaccedilatildeo ideoloacutegica eacute
maciccedila (CA RDO SO 2006) Considerando que os indicadores sociais
e econocircmicos confirmam esta observaccedilatildeo acreditamos que limitar a
finalidade da escola para a produccedilatildeo da cidadania eacute algo insuficiente
E importante considerar que a vinculaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar
e cidadania possui um lastro histoacuterico importante no Brasil De modo
mais amplo talvez esta vinculaccedilatildeo possa ser creditada como resposta
dos educadores progressistas agrave experiecircncia vivida pelos trabalhadores
brasileiros no contexto da ditadura empresarial-militar que perdurou
por cerca de vinte anos Se esta hipoacutetese estiver correta poderemos
afirmar que a educaccedilatildeo para a cidadania representou um posicionashy
mento criacutetico frente ao regime autoritaacuterio agrave cultura poliacutetica consershy
6 A produccedilatildeo acadecircmica sobre o tema eacute consideraacutevel Aleacutem de teses
dissertaccedilotildees e artigos cientiacuteficos a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e cidadania foi
abordada em diferentes obras Eis alguns livros sobre o tema Buffa et al
(1987) Ferreira (1993) Demo (1994) Libacircneo (1998)
34
vadora ao clicntelismo e ao patrimonialismo presentes na vida social
Sobre o acesso ao conhecimento sistematizado para Libacircneo (1998)
o exerciacutecio para a cidadania exigiria o domiacutenio dos conhecimentos
sistematizados como ferramentas individuais para a intervenccedilatildeo na
realidade Apesar da perspectiva progressista da formulaccedilatildeo acreditashy
mos que educar para a cidadania eacute diferente de educar para compreshy
ensatildeo dos limites histoacutericos e teoacutericos da cidadania
Aleacutem das formulaccedilotildees progressistas sobre a educaccedilatildeo escolar e
cidadania existem tambeacutem obras de caraacuteter conservador que buscam
reafirmar aquilo que Neves (2005) define como a nova pedagogia da
hegemonia por meio da educaccedilatildeo escolar As formulaccedilotildees de Delors
(1996) e Morin (2000) divulgadas sobre a chancela da Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas satildeo casos exemplares que repercutem na definiccedilatildeo da
poliacutetica educacional em nosso paiacutes nos anos recentes de nossa histoacuteria7
Para Delors ldquona escola eacute que deve comeccedilar a educaccedilatildeo para
uma cidadania consciente e ativardquo (1996 p 28)s Entretanto peshy
los limites teoacutericos e histoacutericos do conceito e considerando suas
opccedilotildees ideoloacutegicas o maacuteximo que Delors consegue eacute reafirmar
com novas palavras as velhas construccedilotildees que envolvem a temaacutetica
educaccedilatildeo para a cidadania Em suas palavras
Mas como aprender a conviver nesta aldeia global
se somos incapazes de viver em paz nas comunidades
naturais a que pertencemos naccedilatildeo regiatildeo cidade alshy
deia vizinhanccedila A questatildeo central da democracia eacute
saber se desejamos e somos capazes de participar da
vida em comunidade conveacutem natildeo esquecer que esse
desejo depende do sentido da responsabilidade de
cada um (DELORS 1996 p 7-8)
A tese explicita claramente os limites da cidadania revelando que
sua vinculaccedilatildeo se estabelece com o indiviacuteduo e natildeo com as coletividashy
des Por meio da chamada cidadania consciente e ativa Delors retoma
Acredi tamos que parte dessas formulaccedilotildees saacuteo tributaacuterias da concepccedilatildeo pedagoacutegica escolanovista
Para entender o que isso significa em termos poliacuteticos e filosoacuteficos recomendamos a leitura de
Saviani (1987) especialmente o capiacutetulo dois ldquoEscola e democracia I a Teoria da Curvatura
da Varardquo
8 Os adjetivos ldquoconscienterdquo e ldquoativordquo demonstram a intenccedilatildeo de estabelecer uma atualizaccedilatildeo
da cidadania tal como assinalados anteriormente
o individualismo como valor moral radical reafirmando a formulaccedilatildeo
valorizada pela doutrina liberal e pelos projetos neoliberal e neoliberal
da terceira via Estes limites podem ser verificados em outra afirmaccedilatildeo
Um sentimento de vertigem apodera-se de nossos
contemporacircneos divididos entre essa globalizaccedilatildeo - a
cujas manifestaccedilotildees eles satildeo obrigados agraves vezes a se
submeterem mdash e a busca pessoal de suas raiacutezes refeshy
recircncias e filiaccedilotildees
A educaccedilaacuteo deve enfrentar esse problema porque na
perspectiva do parto doloroso de uma sociedade munshy
dial ela situa-se mais do que nunca 110 acircmago do deshy
senvolvimento da pessoa e das comunidades sua misshy
satildeo consiste em permitir que todos sem exceccedilatildeo faccedilam
frutificar seus talentos e suas potencialidades criativas
o que implica por parte de cada um a capacidade de assumir sua proacutepria responsabilidade e de realizar seu proshyjeto pessoal (D ELO RS 1996 p 10 grifo nosso)
Aleacutem dos aspectos citados cabe destacar o conteuacutedo ideoloacutegico
dos princiacutepios valorativos da educaccedilatildeo para a cidadania sistematizada
por Jacques Delors Segundo Duarte (2008) estes princiacutepios satildeo orienshy
tados pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo De modo geral os prinshy
ciacutepios convergem para a afirmaccedilatildeo do individualismo como valor moral
radical A tiacutetulo de exemplo podemos citar a hierarquizaccedilatildeo das formas
de aprendizagem realizadas pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo
Duarte (2008) verifica que para esta corrente pedagoacutegica eacute mais releshy
vante e significativo aprender sozinho do que pela mediaccedilatildeo do outro
Isso significa a ratificaccedilatildeo do individualismo como valor morai radical e
define o conteuacutedo da chamada cidadania consciente e ativa
A posiccedilatildeo de Edgar Morin se apresenta na mesma perspectiva trashy
ccedilada por Jacques Delors Delineando as bases para a educaccedilatildeo escolar
formar o chamado cidadatildeo planetaacuterio do seacuteculo XXI o autor afirma que
Podemos considerar que a plenitude e a livre
expressatildeo dos indiviacuteduos-sujeitos constituem
nosso propoacutesito eacutetico e poliacutetico sem entreshy
tanto pensarmos que constituem a proacutepria
finalidade da triacuteade indiviacutediwsociedadelespeacute-
cie A complexidade humana natildeo poderia ser
compreendida dissociada dos elementos que
a constituem todo desenvolvimento verdadeishyramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais das parshyticipaccedilotildees comunitaacuterias e do sentimento de pershytencer agrave espeacutecie humana (MORIN 2000 p
54-55 grifo do autor)
Mais uma vez o indiviacuteduo atomizado e sem identidade de
classe portanto diluiacutedo nas relaccedilotildees sociais eacute apresentado como
referecircncia central da formulaccedilatildeo
A finalidade da formaccedilatildeo do chamado cidadatildeo planetaacuterio eacute
e xplicitada da seguinte forma
O problema da compreensatildeo tornou-se crucial para
os humanos E por este motivo deve ser uma das
finalidades da educaccedilatildeo do futuro Lembremo-
-nos de que nenhuma teacutecnica de comunicaccedilatildeo do
telefone agrave Internet traz por si mesma a compreshy
ensatildeo A compreensatildeo natildeo pode ser quantificada
Educar para compreender a matemaacutetica ou uma
disciplina determinada eacute uma coisa educar para a
compreensatildeo humana eacute outra Nela encontra-se a
missatildeo propriamente espiritual da educaccedilatildeo ensishy
nar a compreensatildeo entre as pessoas como condiccedilatildeo
e garantia da solidariedade intelectual e moral da
humanidade (M O R IN 2000 p 94)
construccedilatildeo de uma sociedade solidaacuteria eacute de fato algo re-
bull iiiu Entretanto a formulaccedilatildeo de Morin aposta na solidarie-
tllt lsquocm alterar as condiccedilotildees objetivas de vida Eacute possiacutevel esta-
bull I ei i solidariedade num contexto marcado pela exploraccedilatildeo e
|m 11 iloi iaccedilatildeo das coisas em detrimento da condiccedilatildeo humana
I ui siacutentese o que se busca eacute na verdade o estabelecimento de
d u pu(o entre as classes sociais sobre o controle e direccedilatildeo
1 lt liiiijMicsa Desse modo a funccedilatildeo da escola do seacuteculo XXI
i i ili pcli cidadania seraacute a de reafirmar a manutenccedilatildeo das rela-
bull | raquodei e xistentes com o aprofundamento da subserviecircncia da
u ii iliilliulora Aleacutem disso nesta concepccedilatildeo o conhecimento
sistematizado cede lugar agrave experiecircncia imediata ou quando muito
na perspectiva progressista agrave reflexatildeo sobre formas de intervenccedilatildeo
na vida poliacutetica da escola da comunidade ou do paiacutes
Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar educar para a emancipaccedilatildeo humana
O consenso em torno da legitimidade da instituiccedilatildeo escolar
na sociedade contemporacircnea eacute um dado consolidado certamente
influenciado pelas concepccedilotildees anteriormente analisadas Entretanshy
to um problema persiste tais formulaccedilotildees restringem a formaccedilatildeo
humana e consequentemente limitam as possibilidades de insershy
ccedilatildeo no mundo real Diante disso cabe uma questatildeo a educaccedilatildeo
escolar pode oferecer outra perspectiva formativa que supere o
economicismo da teoria do capital humano e a orientaccedilatildeo politi-
cista da educaccedilatildeo para a cidadania Qual o papel do conhecimento
sistematizado nesta alternativa pedagoacutegica
Foi procurando responder a esta questatildeo que alguns educadores brashy
sileiros procuraram delinear uma nova possibilidade pedagoacutegica sobre a esshy
pecificidade e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar tendo em vista a necessidade de
elevar a escolarizaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes da classe trabalhadora9
Esta concepccedilatildeo pedagoacutegica foi sistematizada a partir da anaacutelishy
se criacutetica sobre a configuraccedilatildeo e dinacircmica da sociedade capitalista
Conhecendo os limites desta forma cultural de organizaccedilatildeo da vida
o segundo passo foi analisar as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes
considerando as necessidades da classe trabalhadora e os objetivos
da classe burguesa A primeira constataccedilatildeo foi que os processos de
dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo tiacutepicos das formaccedilotildees sociais capitalistas
impedem a emancipaccedilatildeo humana A segunda constataccedilatildeo foi que
as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes eram expressotildees especiacuteficas do
projeto de sociedade da classe dominante A siacutentese desta anaacutelise
9 A principal figura deste esforccedilo foi Dermeval Saviani que desde os anos finais de 1960
jaacute refletia sobre a necessidade e possibilidades de sistematizar uma teoria da educaccedilatildeo
que superasse tanto as teorias natildeo criacuteticas da educaccedilatildeo quanto agraves teorias criacutetico-
reprodutivistas Para compreender este processo ver Saviani (1987 2003)
38
pode ser assim descrita eacute necessaacuterio superar as teorias e experiecircncias
existentes fornecendo aos educadores uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo
que esteja vinculada ao compromisso com a emancipaccedilatildeo da classe
trabalhadora (SAVIANI 2003) O resultado desta sistematizaccedilatildeo
foi denominado de Pedagogia histoacuterico-criacutetica Sua fundamentaccedilatildeo
encontra-se alicerccedilada no materialismo histoacuterico
O ponto de partida desta concepccedilatildeo foi compreender a condishy
ccedilatildeo humana e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo na vida social Sobre o primeishy
ro aspecto recuperando as ideias de Friedrich Engels e Karl Marx
a Pedagogia histoacuterico-criacutetica afirma que os seres humanos precisam
criar permanentemente as condiccedilotildees de sua existecircncia Enquanto os
outros animais se adaptam ao mundo natural coletivamente os seres
humanos transformam este mesmo mundo para viabilizar a existecircncia
da vida produzindo cultura Em outras palavras natildeo encontramos
tudo de que precisamos pronto somos obrigados a produzir formas
materiais e natildeo materiais necessaacuterias agrave vida mdash formas que nascem da
necessidade objetiva (alimentaccedilatildeo por exemplo) e dos desejos e fanshy
tasias - e a transmitir estas formas para outras geraccedilotildees
Os seres humanos criam estas condiccedilotildees por meio de uma cashy
pacidade que desenvolveram ao longo da histoacuteria a capacidade de
antecipar no plano do pensamento e traduzir esta antecipaccedilatildeo em
accedilotildees concretas e intencionais para viabilizar a vida - algo que Engels
e Marx denominam de trabalho Por meio do trabalho - uma forma
bem mais elaborada que a accedilatildeo instintiva dos demais animais para
suprir as necessidades e vontades que os seres humanos possuem os
seres humanos ultrapassaram a determinaccedilatildeo bioloacutegica para assumir
a condiccedilatildeo mais complexa ser cultural Por cultura compreende-se
a forma de organizaccedilatildeo e produccedilatildeo da vida que envolve a poliacutetica
a economia as artes os haacutebitos e costumes predominantes em uma
formaccedilatildeo social e tempo histoacuterico (CHAUI 1995)
Com base nesta compreensatildeo a funccedilatildeo da educaccedilatildeo para a Pedashy
gogia histoacuterico-criacutetica se vincula agrave produccedilatildeo da existecircncia humana porshy
tanto a condiccedilatildeo de cultura Enquanto predominou na criaccedilatildeo e orgashy
nizaccedilatildeo das condiccedilotildees de existecircncia processos mais simples de trabalho
foi possiacutevel educar os mais novos no proacuteprio processo de trabalho Na
medida em que a criaccedilatildeo das condiccedilotildees humanas se tornou mais comshy
plexa aleacutem dos processos informais foi requerida a institucionalizaccedilatildeo
da educaccedilatildeo na forma escolar Conforme indicamos na primeira parte
deste texto a escola foi criada para oferecer as bases para a produccedilatildeo
coletiva da existecircncia humana
Contudo cabe ressaltar que a produccedilatildeo da existecircncia hushy
mana se faz por meio de relaccedilotildees sociais Estas relaccedilotildees assushy
mem formas especiacuteficas envolvendo a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
poliacutetico-econocircmica de grupos sociais sobre outros grupos sociais
Significa afirmar que a relaccedilatildeo entre trabalho e educaccedilatildeo foi senshy
do delineada a partir do conteuacutedo e da forma como as relaccedilotildees
sociais de desenvolvem na sociedade de classes
O projeto dominante defende que a classe trabalhadora deve ser
mantida na condiccedilatildeo de subalternidade soacutecio-poliacutetico-econocircmica A
orientaccedilatildeo eacute para que as crianccedilas e adolescentes desta classe sejam edushy
cados para se tornarem um ldquorecurso humanordquo para o desenvolvimento
econocircmico capitalista e para obedecer as ldquoregras sociaisrdquo para a harmonia
social desta sociedade contraditoacuteria
Reconhecendo que os seres humanos podem viver em outras
condiccedilotildees e verificando que o projeto dominante encontra resisshy
tecircncia na dinacircmica escolar a Pedagogia histoacuterico-criacutetica procura
oferecer aos educadores criacuteticos uma teoria educacional alternashy
tiva de caraacuteter contra-hegemocircnico A perspectiva eacute afirmar que
os alunos da classe trabalhadora precisam ser educados para assushy
mirem as condiccedilotildees subjetivas necessaacuterias agrave direccedilatildeo do processo
histoacuterico tendo em vista a emancipaccedilatildeo humana 10
A perspectiva eacute que os alunos ( Io) compreendam criticamenshy
te a organizaccedilatildeo e dinacircmica das formas de produccedilatildeo da existecircncia
10 Eacute importante deixar claro que natildeo eacute a educaccedilatildeo escolar que realizaraacute a emancipaccedilatildeo humana
mas sim a mudanccedila na forma de produzir a existecircncia humana Contudo sem educaccedilatildeo
essa mudanccedila jamais ocorreraacute Por emancipaccedilatildeo humana entendemos a condiccedilatildeo social
poliacutetica e econocircmica que permitiraacute ao gecircnero humano superar efetivamente todas as formas
de dominaccedilatildeo exploraccedilatildeo e opressatildeo Tratar da emancipaccedilatildeo humana significa projetar a
necessidade da realizaccedilatildeo plena do ser social em comunhatildeo com o meio ambiente e com os
demais seres humanos significa projetar a sociabilidade autocircnoma e verdadeiramente livre
An
humana especialmente a forma capitalista (2o) dominem os coshy
nhecimentos sistematizados e as formas culturais existentes comshy
preendendo-os como produto e instrumento necessaacuterio agrave produccedilatildeo
da existecircncia (3o) desenvolvam a loacutegica dialeacutetica de organizaccedilatildeo do
pensamento para superar a loacutegica formal e a passividade intelectual
em busca da autonomia do pensar (SAVIANI 1987 2003)
Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamental que os alushy
nos natildeo soacute assimilem conhecimentos mas que construam sentishy
dos e significados sobre a relaccedilatildeo entre conhecimento-trabalho-
-vida no mundo real complexo e contraditoacuterio Os conteuacutedos
das disciplinas que compotildeem o curriacuteculo escolar ao inveacutes de
orientar para a abstraccedilatildeo do pensamento ou ordenar a racionalishy
dade teacutecnica para o simples fazer podem estabelecer mediaccedilotildees
importantes para ampliar a compreensatildeo sobre as dimensotildees da
produccedilatildeo da existecircncia humana Trata-se de reestabelecer o nexo
orgacircnico entre vidatrabalho e educaccedilatildeo
Nessa linha o ensino e aprendizagem do conhecimento sistematizashy
do envolveraacute a compreensatildeo da realidade vivida a partir do diaacutelogo com
os conhecimentos espontacircneos e aqueles advindos da experiecircncia Natildeo se
trata de negar o conhecimento espontacircneo e o conhecimento gerado pela
experiecircncia Ao contraacuterio para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamenshy
tal oferecer novas possibilidades de interpretaccedilatildeo desses conhecimentos e
seus significados para a vida humana O que se busca entatildeo eacute ultrapassar o
senso comum a superficialidade e a abstraccedilatildeo para assegurar que a aproshy
priaccedilatildeo do conhecimento sistematizado permita compreender e atuar nos
processos de produccedilatildeo da existecircncia humana e das relaccedilotildees de poder neshy
les envolvidas Nesta concepccedilatildeo os conteuacutedos escolares ao inveacutes de frios
e vazios como eacute tiacutepico da pedagogia tradicional e pedagogia tecnicista
produzem sentidos e significados para o professor e o aluno porque se
vinculam de forma mais ou menos indireta aos processos reais de produshy
ccedilatildeo material e simboacutelica dos meios necessaacuterios agrave vida e agrave interpretaccedilatildeo das
relaccedilotildees de poder envolvidas nestes processos
Enquanto sujeitos do processo educativo professores e alunos
partem juntos da praacutetica social isto eacute da realidade vivida pela hu-
manidade para compreender o mundo real interpretar as formas
de produccedilatildeo deste mundo e estabelecer possibilidades de agir nele
E claro que enquanto espaccedilo social a escola se materializa enquanto
instacircncia de sociabilidade onde haacute encontros humanos ricos e profundos
para a experiecircncia de crianccedilas e adolescentes Entretanto o que justifica a
especificidade da instituiccedilatildeo escolar natildeo eacute o simples conviacutevio ainda que
ele seja importante mas sim a necessidade de apropriaccedilatildeo coletiva do
conhecimento sistematizado tendo em vista a compreensatildeo da condiccedilatildeo
humana e as possibilidades de intervenccedilatildeo no mundo
Reconhecer a especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute importante
para que as praacuteticas pedagoacutegicas natildeo sejam orientadas para rebaixar
a escolarizaccedilatildeo destinada aos filhos da classe trabalhadora Enquanto
espaccedilo de vivecircncia coletiva a instituiccedilatildeo escolar deve ter claro que
funccedilatildeo deve cumprir na sociedade Esvaziar o curriacuteculo escolar de coshy
nhecimento sistematizado e valorizar os saberes advindos da experiecircnshy
cia imediata como centro do processo educativo eacute um meio que vem
sendo usado para comprometer a formaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes
da classe trabalhadora mantendo-os na condiccedilatildeo de subalternidade
O desafio proposto pela Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute tornar a
instituiccedilatildeo escolar numa instacircncia que socializa os conhecimentos sisshy
tematizados para permitir o domiacutenio dos meios necessaacuterios agrave insershy
ccedilatildeo ativa na vida social com o horizonte da emancipaccedilatildeo humana E
possibilitar que os processos pedagoacutegicos escolares assegurem a todos
indistintamente aquilo que se tornou indispensaacutevel para compreenshy
deragir ono mundo o conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico
Consideraccedilotildees finais
Vivemos numa sociedade de classes Sob esta condiccedilatildeo penshy
sar a funccedilatildeo e especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute tratar dos
projetos formativos que disputam a formaccedilatildeo humana nesta soshy
ciedade E tambeacutem considerar a posiccedilatildeo das perspectivas pedashy
goacutegicas em relaccedilatildeo ao tratamento dispensado ao conhecimento
sistematizado E compreender que as definiccedilotildees pedagoacutegicas natildeo
satildeo simples escolhas teacutecnicas ou arbitraacuterias
42
Isso revela que o trabalho educativo na sociedade de classes
eacute algo muito complexo que exige do professor rigor na tomada
de posiccedilotildees compromisso poliacutetico com um projeto de sociedade
que assume o domiacutenio dos instrumentos pedagoacutegicos para transshy
formar a intenccedilatildeo educativa em algo real na formaccedilatildeo humana
As possibilidades teoacutericas existem e elas se vinculam aos inshy
teresses de classe Haacute quem defenda que basta preparar a forccedila
de trabalho para o desenvolvimento capitalista Haacute quem acredite
que educar para a cidadania eacute suficiente para assegurar direitos Jaacute
existem intelectuais orgacircnicos da classe burguesa que reconhecem
que eacute preciso que a escola eduque o ldquocidadatildeo trabalhador produtishy
vordquo uma siacutentese das correntes acima indicadas
Entretanto as possibilidades acima apresentadas satildeo insuficienshy
tes para a classe trabalhadora pois o economicismo e politicismo peshy
dagoacutegicos - e as possiacuteveis siacutenteses geradas entre eles - se vinculam
ainda ao plano da conservaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais
Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute preciso educar para contrishy
buir com o desafiador e difiacutecil processo de valorizaccedilatildeo da vida humashy
na e natildeo das coisas e construccedilatildeo da emancipaccedilatildeo Sua perspectiva
eacute oferecer aos educadores do campo criacutetico uma alternativa teoacuterica e
metodoloacutegica para a construccedilatildeo da mudanccedila valorizando a instituishy
ccedilatildeo escolar em um espaccedilo rico e dinacircmico de ensino-aprendizagem
repleto de sentidos e significados para os que precisam romper com
a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo de classes
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CAPIacuteTULO II
0 ENSINO DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA E A FORMACcedilAtildeO DE SUJEITOS HISTOacuteRICOS EM BUSCA DOS FUNDAMENTOS TEOacuteRICOS E METODOLOacuteGICOS
Adriano de Paiva Reis
Alvaro de Azeredo Quelhas
Carla Cristina Carvalho Pereira
Leonardo Docena Pina
Renata Aparecida Alves Landim
Neste texto apresentamos os fundashy
mentos teoacutericos e metodoloacutegicos da persshy
pectiva de Educaccedilatildeo Fiacutesica que busca proshy
mover uma reflexatildeo criacutetica sobre a cultura
corporal Partimos da discussatildeo sobre a exisshy
tecircncia de dois distintos e contraditoacuterios proshy
jetos de formaccedilatildeo humana um que busca
assegurar a adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves atushy
ais relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e outro que tem
como horizonte a formaccedilatildeo de sujeitos criacuteshy
ticos e transformadores da sua proacutepria hisshy
toacuteria Com base no materialismo histoacuterico-
-dialeacutetico na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e
na abordagem Criacutetico-superadora apresenshy
tamos uma possibilidade didaacutetica que busca
abordar os conteuacutedos da cultura corporal de
modo ativo e dinacircmico tendo como ponto
de partida e de chegada a praacutetica social de
modo a permitir a ampliaccedilatildeo da compreenshy
satildeoaccedilatildeo dos alunos sobre a realidade
A relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo e a perspectiva dominante de formaccedilatildeo humana
O trabalho e a educaccedilatildeo satildeo atividades especificamente humanas e
estatildeo relacionadas ao processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura pelo
conjunto dos homens Por meio do trabalho o homem transforma intenshy
cionalmente a natureza para satisfazer suas necessidades criando uma reshy
alidade sociocultural um mundo especificamente humano portador de
produccedilotildees culturais (materiais e natildeo materiais) cada vez mais desenvolvidas
Para relacionar-se com os outros seres humanos inserindo-se em
determinada fase do desenvolvimento histoacuterico da humanidade cada
indiviacuteduo singular precisa apropriar-se da riqueza da experiecircncia humashy
na acumulada na cultura pois as aptidotildees e funccedilotildees humanas historicashy
mente formadas natildeo se reproduzem pela hereditariedade mas precisam
ser formadas isto eacute transmitidas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo A esse processhy
so de transmissatildeo da cultura produzida histoacuterica e coletivamente pelo
conjunto dos homens mdash que permite a formaccedilatildeo da humanidade em
cada indiviacuteduo singular - denomina-se educaccedilatildeo (SAVIANI 2005)
Entretanto como as formas assumidas pelo trabalho nos dishy
versos modos de produccedilatildeo da existecircncia humana satildeo fenocircmenos
construiacutedos concretamente nas relaccedilotildees sociais a formaccedilatildeo humana
tende a ser determinada pelos processos histoacutericos De acordo com
Marx (2005) no modo de produccedilatildeo capitalista - aquele que estaacute
fundado na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo e na aproshy
priaccedilatildeo privada dos produtos do trabalho - a relaccedilatildeo do homem
com o mundo aparece invertida de tal forma que o trabalho assashy
lariado caracteriacutestico da moderna sociedade burguesa resulta num
estranhamento do homem com o seu trabalho o trabalho de ativishy
dade de realizaccedilatildeo do homem eacute transformado em ldquo[] desrealizaccedilatildeo
do trabalhador a objetivaccedilatildeo como perda e servidatildeo do objeto a
apropriaccedilatildeo com alienaccedilatildeo1rdquo (MARX 2005 p 1 12)
i Em Marx (2005) a alienaccedilatildeo corresponde ao estranhamento total do homem com a natureza
com a humanidade e com ele proacuteprio sendo que a base de todas essas relaccedilotildees sociais estranhas
c a alienaccedilatildeo do proacuteprio trabalho O u seja a partir da expropriaccedilatildeo do produto e do processo
de seu trabalho o homem passa a alienar-se de sua vida como um todo
Tendo em vista que o trabalho na sociedade capitalista eacute contrashy
ditoriamente fundamento da existecircncia humana e meio de alienaccedilatildeo
pensar o trabalho como princiacutepio educativo implica em visualizar
dois projetos distintos de educaccedilatildeo escolar um que busca adaptar os
indiviacuteduos agraves atuais relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo e outro que visa
alcanccedilar o pleno desenvolvimento da iiiacutedividualidade livre e universal (DUARTE 2006) algo atrelado agrave construccedilatildeo de uma nova sociedashy
de na qual estejam superadas as relaccedilotildees sociais alienadas
Na perspectiva voltada agrave reproduccedilatildeo do capital a educaccedilatildeo
tem servido como meio de adaptar o indiviacuteduo agraves condiccedilotildees hisshy
toacutericas da produccedilatildeo negando o potencial criativo e transformador
da realidade que o homem possui impedindo-o de reconhecer-se
como sujeito da histoacuteria Como analisam criticamente Frigotto
Ciavatta e Ramos (2005) o sentido economicista atribuiacutedo agrave edushy
caccedilatildeo a tem proclamado como instrumento de formaccedilatildeo para o
trabalho no seu sentido historicamente alienado dando origem
agrave noccedilatildeo ideoloacutegica da escola como promotora da ascensatildeo social
Este fato pode ser observado em mitos como o da empregabilidade
e do empreendedorismo que vigoram hoje em dia
Diversas anaacutelises realizadas sobre a relaccedilatildeo entre trabalho e
educaccedilatildeo como as realizadas por Ramos (2006) e Kuenzer (2007)
por exemplo evidenciam que no contexto de transiccedilatildeo do modo
laquoIr produccedilatildeo capitalista para o regime de acumulaccedilatildeo flexiacutevel2
1 implantaccedilatildeo de um novo paradigma produtivo e a emergecircncia
Jr novas demandas de ajustamento social provocaram uma nova
loi nia de ser do trabalhador que estabeleceu exigecircncias significa-
iivimente diferentes daquelas em curso ateacute entatildeo O u seja uma
nov a dinacircmica de produccedilatildeo e novos meacutetodos de trabalho passaram
I gtc acordo com as anaacutelises dc Harvey (2006) a partir da deacutecada dc 1970 com a explosatildeo
laquoli nova crise de superacumulaccedilatildeo capitalista inicia-se um periacuteodo de reestruturaccedilatildeo
lt miocircmica e de reajustamento social e poliacutetico marcando a passagem para um novo
irgime de acumulaccedilatildeo ldquoA acumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo surge em contraposiccedilatildeo agrave rigidez do
Inulismo ldquoEla se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho dos mercados de
uibalho dos produtos e padrotildees de consumordquo (1IARVKY 2006 p 140)
a exigir um tipo novo de trabalhador e de homem3 Assim para
atender aos interesses de valorizaccedilatildeo do capital vecircm ocorrendo
diversas alteraccedilotildees nos projetos e processos de formaccedilatildeo humana
a fim de ajustaacute-los agraves novas formas de organizaccedilatildeo do trabalho e
aos novos padrotildees de sociabilidade capitalista
Com base na argumentaccedilatildeo de que ingressamos na chamada ldquosocieshy
dade do conhecimentordquo a educaccedilatildeo passa a ser proclamada como uma
tarefa para toda a vida e a noccedilatildeo de competecircncia assume centralidade na
educaccedilatildeo escolar Para se consolidar como categoria ordenadora da relaccedilatildeo
trabalho-educaccedilatildeo a noccedilatildeo de competecircncia se inscreve num movimento
de afirmaccedilatildeo e negaccedilatildeo do conceito de qualificaccedilatildeo promovendo a valoshy
rizaccedilatildeo da sua dimensatildeo experimental agrave custa do enfraquecimento da sua
dimensatildeo conceituai e social (RAMOS 2006)
O enfraquecimento da dimensatildeo social da qualificaccedilatildeo pode ser
constatado nos discursos que proclamam um novo papel para a educashy
ccedilatildeo escolar natildeo mais formar para um determinado posto ou emprego
mas sim gerar potencial de empregabilidade De acordo com Gentili
(2005) a empregabilidade eacute o eufemismo da desigualdade estrutural
que caracteriza o mercado de trabalho e sintetiza a incapacidade mdash tamshy
beacutem estrutural mdash da educaccedilatildeo em cumprir sua promessa integradora
Conforme explica o autor esse conceito ganhou espaccedilo e centralidade
a partir da deacutecada de 1990 sendo definido como eixo fundamental de
um conjunto de poliacuteticas supostamente destinadas agrave diminuiccedilatildeo de risshy
cos sociais gerados pelo desemprego Para o discurso dominante o conshy
ceito de empregabilidade natildeo significa garantia de integraccedilatildeo mas apeshy
nas melhores condiccedilotildees para competir na luta pelos poucos empregos
disponiacuteveis no mercado de trabalho Esse conceito segundo o autor
acaba com a concepccedilatildeo do emprego e da renda como esferas de direito
3 Tomamos essa expressatildeo emprestada de Gramsci (1976) que foi originalmente utilizada
em Americanismo e Fordismo e sugere que um novo tipo de trabalho e de produccedilatildeo traz a
necessidade de formar um novo tipo de homem pois ldquo[] novos meacutetodos de trabalho estatildeo
indissoluvelmente ligados a um determinado modo de viver de pensar e de sentir a vida
natildeo eacute possiacutevel obter ecircxito num campo sem obter resultados tangiacuteveis no outrordquo (p 396)
4 De acordo com Frigotto (1998) o termo ldquosociedade do conhecimentordquo diz respeito a um
deslocamento conceituai da teoria do capital humano buscando alinhar ideologicamente
a educaccedilatildeo agrave nova materialidade e mascarar a realidade do desemprego estrutural
pois parte do entendimento de que a posse de determinadas condiccedilotildees
de empregabilidade natildeo garante a inserccedilatildeo no mercado de trabalho
No que se refere agrave concepccedilatildeo de conhecimento subjacente agrave noccedilatildeo de
competecircncia Ramos (2006) conclui que por estar pautada numa ldquoconcepshy
ccedilatildeo natural-funcionalista de homemrdquo esta noccedilatildeo abriga uma ldquoconcepccedilatildeo
subjetivo-relativista de conhecimentordquo que reforccedila o irracionalismo poacutes-
-moderno5 configurando-se como uma noccedilatildeo adaptadora do comportashy
mento humano agrave instabilidade da vida no capitalismo tardio
A perspectiva educacional ancorada na noccedilatildeo de competecircncia busshy
ca alterar a maneira de ser da classe trabalhadora adequando-a aos novos
valores necessaacuterios agrave manutenccedilatildeo das relaccedilotildees capitalistas No que tange
ao curriacuteculo essa noccedilatildeo privilegia os objetivos atitudinais comportamen-
tais e procedimentais ligados ao saber agir e saber fazer secundarizando e
subordinando os conhecimentos agraves situaccedilotildees praacuteticas uma vez que soacute satildeo
considerados vaacutelidos os conhecimentos que apresentam aplicabilidade no
desempenho das atividades de produccedilatildeo6
A pedagogia das competecircncias aleacutem de ser uma importanshy
te referecircncia pedagoacutegica defendida pelos intelectuais da classe
dominante natildeo estaacute soacute na defesa dos interesses capitalistas no
campo da educaccedilatildeo escolar pelo contraacuterio ganha forccedila na meshy
dida em que se alinha a outras concepccedilotildees que negam a escola
tomo instituiccedilatildeo responsaacutevel pela transmissatildeo do conhecimento
sistematizado como eacute o caso do construtivismo
Para desenvolver competecircncias eacute preciso antes de
tudo trabalhar por problemas e projetos propor
tarefas complexas e desafios que incitem os alunos
a mobilizar seus conhecimentos e cm certa medida
completaacute-los Isso pressupotildee uma pedagogia ativa
Com relaccedilaacuteo ao relativisino poacutes-moderno as anaacutelises de Harvey (2006) permitem
compreender que a necessidade capitalista de acelerar o tempo de giro do capital atraveacutes
ltli aceleraccedilatildeo da produccedilatildeo da troca e do consumo de mercadorias tem promovido
iima intensificaccedilatildeo da compressatildeo do tempo-espaccedilo influenciado as formas poacutes-
modernas de pensar sentir e agir acentuando a volatilidade e efemeridade valorizando
bull i instantacircneo e o descartaacutevel o que tem implicado na consideraccedilatildeo de que qualquer
perspectiva totalizante de conhecimento eacute inatingiacutevel
Ni realidade esta secundarizaccedilatildeo do conhecimento em favor de comportamentos
bull 1 iM-rvaacuteveis natildeo eacute novidade e em certa medida reedita os princiacutepios da Escola Nova (cf
I l AUTH 2001) e da Pedagogia do Domiacutenio (cf RAMOS 2006)
cooperativa aberta para a cidade ou para o bairro
seja na zona urbana ou rural Os professores devem
parar de pensar que dar aulas eacute o cerne da profissatildeo
Ensinar hoje deveria consistir cm conceber encaishy
xar e regular situaccedilotildees de aprendizagem seguindo os
princiacutepios pedagoacutegicos ativos e construtivistas Para
os professores adeptos de uma visatildeo construtivista
e interacionista de aprendizagem trabalhar no deshy
senvolvimento de competecircncias natildeo eacute uma ruptura
(PERRENOUD 2000 apud DUARTE 2003 p 6)
O trecho do trabalho de Perrenoud citado por Duarte (2003)
permite segundo este incluir a Pedagogia das Competecircncias - junshy
tamente com o Construtivismo a Escola Nova os estudos na linha
do ldquoProfessor Reflexivordquo dentre outros mdash no grupo das chamadas ldquoPe-
dagogias do Aprender a Aprenderrdquo que visam produzir uma maior
adaptabilidade dos indiviacuteduos agraves alteraccedilotildees do capitalismo7
As reflexotildees apresentadas ateacute aqui nos colocam diante do desafio
de construir as possibilidades de desenvolvimento dc uma perspectiva de
educaccedilatildeo que supere a loacutegica adaptadora da formaccedilatildeo mediada pelo lema
ldquoaprender a aprenderrdquo ou mais especificamente pela noccedilatildeo de aquisiccedilatildeo
de competecircncias para empregabilidade Por outro lado isso nos remete
ao resgate do significado de escola unitaacuteria de uma educaccedilatildeo politeacutecnica
e de uma formaccedilatildeo omnilateral na qual a formaccedilatildeo humana volta-se para
a apreensatildeo do conhecimento sistematizado em todas as suas dimensotildees
premissa fundamental para a formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos e criacuteticos
A perspectiva marxista de formaccedilatildeo humana como possibilidade de oposiccedilatildeo agrave perspectiva dominante de educaccedilatildeo escolar
Tendo como horizonte um projeto educativo voltado agrave superaccedilatildeo
do capitalismo Frigotto (1985) aponta a politecnia como concepccedilatildeo de
educaccedilatildeo que interessa agrave classe trabalhadora por estar fundamentada
na superaccedilatildeo da divisatildeo entre teoria e praacutetica em direccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do
homem em todas as suas dimensotildees - formaccedilatildeo omnilateral
Uma anaacutelise dai Pedagogias do Aprender a Aprender eacute apresentada em Duarte (2006)
A concepccedilatildeo de uma educaccedilatildeo politeacutecnica tem origem na
compreensatildeo do homem como um ser de muacuteltiplas atividades
Marx e Engels (1989) indicam que o homem natildeo deve limitar
seu desenvolvimento a uma das partes do seu corpo da sua inshy
teligecircncia ou de sua sensibilidade o homem todo e todo hoshy
mem deve constantemente humanizar-se pelo trabalho Desse
modo a educaccedilatildeo deveria ter como objeto de sua preocupaccedilatildeo o
desenvolvimento do homem nas suas maacuteximas potencialidades
partindo do pressuposto de que ele eacute capaz de captar a realidade
e dela se apropriar com todos os seus sentidos de maneira comshy
preensiva e como ser total (MARX 2005)
A concepccedilatildeo de formaccedilatildeo politeacutecnica fundamenta-se no mashy
terialismo histoacuterico dialeacutetico englobando de modo indissociaacuteshy
vel uma concepccedilatildeo pedagoacutegica uma perspectiva de trabalho e
um projeto de sociedade que garante agrave politecnia uma coerecircncia
entre meacutetodo concepccedilatildeo de mundo e praacutexis Ou seja a politecnia
apoia-se na anaacutelise das transformaccedilotildees dos processos de trabalho
que estatildeo na base das relaccedilotildees de produccedilatildeo capitalista (dimensatildeo
infraestrutural) Essa anaacutelise eacute realizada sob a perspectiva de um
projeto utoacutepico-revolucionaacuterio de construccedilatildeo de uma sociedade
sem classes (dimensatildeo utoacutepica) Essas duas dimensotildees acabam
por desembocar em propostas de accedilatildeo educativa (dimensatildeo peshy
dagoacutegica) que tecircm como finalidade contribuir para a formaccedilatildeo
do homem em todas as suas dimensotildees (RODRIGU ES 1998)
No que tange agrave concepccedilatildeo de escola pensada como um espaccedilo
de luta pela hegemonia8 da classe trabalhadora a defesa se faz no
sentido de uma escola que possibilite ao homem desenvolver suas
capacidades produtivas e intelectuais de forma unificada Nesta
perspectiva Gramsci (2004) defende um tipo de escola unitaacuteria que
ao mesmo passo encaminhe o jovem para a escolha profissional e
lorme sujeitos capazes de dirigir e controlar os rumos da vida em soshy
Adotamos o conceito de hegemonia conforme define Gramsci (2000) uma relaccedilatildeo de
poder presente nas sociedades capitalistas que expressa a dominaccedilatildeo de uma ou mais
fraccedilotildees dcclasse sobre o conjunto de sua proacutepria classe e das classes antagocircnicas em que
o econocircmico e o poliacutetico expressam a ldquodireccedilatildeo moral e intelectualrdquo a ser seguida pelo
conjunto da sociedade
ciedade Para tal esta escola deve promover a elevaccedilatildeo cultural9 dos
jovens preparando-os para a atividade social autocircnoma e criativa
A escola uacutenica do trabalho como estrutura busca a superaccedilatildeo das
trajetoacuterias de distribuiccedilatildeo desigual do saber a politecnia como conteshy
uacutedo visa construir uma organizaccedilatildeo curricular que resgate a totalidade
dos conhecimentos cientiacuteficos artiacutesticos filosoacuteficos e instrumentais
que regem os processos produtivos a dialeacutetica como meacutetodo caminha
no sentido da reunificaccedilatildeo entre ciecircncia e teacutecnica entre formaccedilatildeo geshy
ral e profissional entre teoria e praacutetica permitindo aos alunos comshy
preenderem o processo de construccedilatildeo do conhecimento
No entanto eacute importante salientar que a concepccedilatildeo de escola
unitaacuteria e de formaccedilatildeo politeacutecnica deve ser tomada como referecircncia
num processo mais amplo qual seja o de luta pela transformaccedilatildeo
da sociedade pois como elaborou Marx (1984) um modelo de
educaccedilatildeo que busque a unidade entre teoria e praacutetica entra em conshy
tradiccedilatildeo com a forma capitalista de produzir e dividir o trabalho
sendo que o uacutenico caminho para subverter essa ordem seria o desenshy
volvimento dessas contradiccedilotildees
Nesse sentido considerando a dinacircmica do processo de proshy
duccedilatildeoreproduccedilatildeo da cultura a defesa da escola como instituiccedilatildeo
responsaacutevel pela transmissatildeo-assimilaccedilatildeo do conhecimento sistemashy
tizado torna-se indispensaacutevel para que cada indiviacuteduo da espeacutecie
humana possa se inserir na histoacuteria social desenvolvendo-se em suas
maacuteximas potencialidades E exatamente nessa linha que se configura
a definiccedilatildeo de Saviani (2006) sobre o papel da escola na perspectiva
da Pedagogia histoacuterico-criacutetica
O movimento pedagoacutegico que deu origem agrave Pedagogia hisshy
toacuterico-criacutetica surge no final da deacutecada de 1970 como resposta
9 No atual ambiente ideoloacutegico no qual predomina a ideologia neoliberal e poacutes-
moderna falar em elevaccedilatildeo cultural pode se constituir como algo um tanto quanto
polecircmico Contudo fazemos questatildeo de destacar que na perspectiva marxista
com a qual trabalhamos ldquo[] natildeo haacute margem nem para o evolucionismo ingecircnuo
(seja no plano da histoacuteria da organizaccedilatildeo social humana seja no plano da histoacuteria
do conhecimento) nem para o relativismo que nega a existecircncia de formas mais
desenvolvidas de vida social e de conhecimento nem finalmente para o subjeti-
vismo que nega o conhecimento como apropriaccedilatildeo da realidade objetiva pelo
pensamentordquo (DU A RT E 2003 p 77)
agrave necessidade de encontrar alternativa agrave pedagogia dominante
Saviani (2005) explica que naquele contexto imperava a necesshy
sidade histoacuterica especialmente no caso brasileiro de criticar a
pedagogia oficial sobretudo para evidenciar seu caraacuteter reproshy
dutor De acordo com os autores da eacutepoca cada setor da cultushy
ra como o sistema de ensino por exemplo desempenharia seu
papel na reproduccedilatildeo da sociedade A medida que essas ideias
se difundiam as chamadas teorias criacutetico-reprodutivistas0 ganhashy
vam forccedila para consolidar o entendimento de que a educaccedilatildeo
escolar sempre desempenharia o papel de reproduccedilatildeo Essas teoshy
rias foram se formulando e se difundindo ao mesmo tempo em
que eram assimiladas no Brasil como instrumento utilizado para
fustigar a poliacutetica educacional do Regime Militar (SAVIANI
2005) Se por um lado as teorias criacutetico-reprodutivistas foram
importantes para evidenciar o papel desempenhado pela pedagoshy
gia oficial no contexto do Regime Militar no Brasil por outro
lado natildeo forneceram alternativas para se contrapor agrave pedagogia
dominante Neste sentido Saviani (2005 p 135) afirma que
a luta contra a ditadura tambeacutem implicava a forshy
mulaccedilatildeo dc alternativas No campo educacional
o problema colocava-se nos seguintes termos se a
pedagogia oficial era inaceitaacutevel qual seria entatildeo
a orientaccedilatildeo alternativa aceitaacutevel A visatildeo criacutetico-
reprodutivista natildeo dava resposta para essa pergunshy
ta Natildeo tinha uma proposta de orientaccedilatildeo Fazia a
criacutetica do existente mostrando que este desempeshy
nhava a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo
Portanto era necessaacuterio formular uma proposta pedagoacutegica
que estivesse atenta aos determinantes sociais da educaccedilatildeo e que
permitisse articular de forma dialeacutetica o trabalho pedagoacutegico
com as relaccedilotildees sociais deveria levar em conta a accedilatildeo reciacuteproca
em que a educaccedilatildeo embora determinada em suas relaccedilotildees com
10 Saviani (2006) denomina de teorias criacutetico-reprodutivistas aquelas que por um lado
postulam a compreensatildeo da educaccedilatildeo a partir de seus condicionantes sociais mas por
outro lado chegam agrave conclusatildeo de que a funccedilatildeo da proacutepria educaccedilatildeo eacute reproduzir a
sociedade na qual ela se insere
a sociedade reage ativamente sobre o elemento determinante
(SAVIANI 2005) Assim como desdobramento desse processo
que buscou encontrar alternativa agrave pedagogia dominante a Peshy
dagogia histoacuterico-criacutetica surgiu como uma proposta pedagoacutegica
fundamentada no materialismo histoacuterico cuja tarefa em relaccedilatildeo
agrave educaccedilatildeo escolar implica a) identificar as formas mais desenshy
volvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicashy
mente reconhecendo as condiccedilotildees de sua produccedilatildeo e compreenshy
dendo as suas principais manifestaccedilotildees bem como as tendecircncias
atuais de transformaccedilatildeo b) converter o saber objetivo em saber
escolar de modo que se torne assimilaacutevel pelos alunos no espaccedilo
e tempo escolares c) prover os meios necessaacuterios para que os
alunos natildeo apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultashy
do mas apreendam o processo de sua produccedilatildeo bem como as
tendecircncias de sua transformaccedilatildeo (SAVIANI 2005)
Segundo o autor a escola eacute uma instituiccedilatildeo cujo papel conshy
siste na socializaccedilatildeo do saber sistematizado Natildeo se trata portanshy
to de qualquer tipo de saber ldquoa escola diz respeito ao conhecishy
mento elaborado e natildeo ao conhecimento espontacircneo ao saber
sistematizado e natildeo ao saber fragmentado agrave cultura erudita e
natildeo agrave cultura popularrdquo (SAVIANI 2006 p 14) Destacar esse
posicionamento eacute importante sobretudo porque tambeacutem eacute posshy
siacutevel encontrar na Educaccedilatildeo Fiacutesica tendecircncias que negam a aproshy
priaccedilatildeo do saber sistematizado por parte das fraccedilotildees menos prishy
vilegiadas da classe trabalhadora ao proclamar como seu papel
central o desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica ou a ldquovalorizaccedilatildeo
da cultura popularrdquo em detrimento da cultura erudita
Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica a defesa da escola como espashy
ccedilo de socializaccedilatildeo do saber sistematizado eacute essencial para assegurar o
caraacuteter contraditoacuterio da educaccedilatildeo e afirmar os interesses dos trabalhashy
dores uma vez que dominar os conhecimentos mais desenvolvidos
produzidos pela humanidade no campo das ciecircncias das artes e da fishy
losofia eacute condiccedilatildeo para o processo de emancipaccedilatildeo (SAVIANI 2006)
11 Uma criacutetica ao paradigma da aptidatildeo fiacutesica foi desenvolvida pelo Coletivo de Autores (1992)
cr
A perspectiva histoacuterico-criacutetica na Educaccedilatildeo Fiacutesica direcionando o olhar para a metodologia Criacutetico- superadora
A busca de alternativas agrave pedagogia dominante atingiu tambeacutem a
Educaccedilatildeo Fiacutesica possibilitando articular a praacutetica pedagoacutegica na aacuterea
a um novo projeto de sociedade Desde o final da deacutecada de 1970
com o processo frequentemente denominado de ldquoredemocratizaccedilatildeo
da sociedade brasileirardquo inuacutemeros estudos passaram a questionar o
papel que vinha sendo assumido pela Educaccedilatildeo Fiacutesica em nosso paiacutes
qual seja o de educar os indiviacuteduos em conformidade com as necesshy
sidades do modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Os
crescentes questionamentos que ganharam forccedila na deacutecada de 1980
colocaram em xeque o quadro de referecircncias que havia direcionado a
Educaccedilatildeo Fiacutesica por mais de um seacuteculo A inflexatildeo na aacuterea configurashy
da como uma crise de legitimidade inaugurou um periacuteodo de buscas
para se construir a autonomia pedagoacutegica da aacuterea frente a um quadro
histoacuterico de viacutenculo ao projeto dominante
Nesse processo um importante marco para a educaccedilatildeo escolar foi
a publicaccedilatildeo na deacutecada de 1990 do livro Metodologia do Ensino de lducaccedilaacuteo Fiacutesica escrito por um grupo que se autodenominou de Coshy
letivo de Autores (1992) Nessa obra eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal mdash uma tendecircncia que pautada
na Pedagogia histoacuterico-criacutetica visa a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enquanto
sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em que vive
Para formar esse tipo de sujeito o paradigma da reflexatildeo criacuteti-
i i sobre a cultura corporal defende a tematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de
lorma criacutetico-superadora A tematizaccedilatildeo defendida por esta proposta
ibrange a compreensatildeo das relaccedilotildees de interdependecircncia que os dife-
H iiies conteuacutedos da cultura corporal tecircm com os grandes problemas
bull gtlt Hraquo-poliacuteticos atuais como ldquo[] ecologia papeacuteis sexuais sauacutede puacute-
I 1 u i relaccedilotildees de trabalho preconceitos sociais raciais da deficiecircncia
bull I i wlhice distribuiccedilatildeo do solo urbano distribuiccedilatildeo de renda diacutevida
i u i na e outrosrdquo (COLETIVO DE AUTORES 1992 p 62-63)
Assim busca-se desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as formas
de representaccedilatildeo do mundo exteriorizadas pela expressatildeo corporal
que o ser humano tem produzido no decorrer da histoacuteria dentre as
quais pode-se destacar jogos danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esshy
porte malabarismos contorcionismos miacutemica e outros que podem
ser identificados como formas de representaccedilatildeo simboacutelica de realishy
dades vividas pelo homem historicamente criadas e culturalmente
desenvolvidas (COLETIVO DE AUTORES 1992)
Portanto pode-se afirmar que a metodologia Criacutetico-superado-
ra ao alinhar-se agrave perspectiva pedagoacutegica defendida por Dermeval
Saviani busca propor novos caminhos para a apropriaccedilatildeo do conheshy
cimento na escola inclusive pela organizaccedilatildeo metodoloacutegica fundashy
mentada nos cinco passos do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do coshy
nhecimento a saber identificaccedilatildeo da praacutetica social problematizaccedilatildeo
instrumentalizaccedilatildeo catarse e retorno agrave praacutetica social
O ponto de partida para a apropriaccedilatildeo do conhecimento na escola
eacute a praacutetica social (SAVIANI 2006) Nesse passo conforme apresentado
por Gasparin (2005) realiza-se um primeiro contato com o tema a ser
estudado para evidenciar suas relaccedilotildees com a vida cotidiana visando
mobilizar os alunos para o processo pedagoacutegico Segundo este autor a
identificaccedilatildeo da praacutetica social pode ser dividida em duas partes a saber
anuacutencio e vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos No anuacutencio dos conteuacutedos aponta-se o que seraacute estudado e quais os objetivos a serem alcanccedilados
Na vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos identifica-se o que os alunos jaacute sashy
bem c o que eles gostariam de saber mais sobre o assunto em questatildeo
O segundo passo do meacutetodo dialeacutetico de construccedilatildeo do conhecishy
mento escolar eacute a problematizaccedilatildeo fase na qual se busca ldquo[] detectar
que questotildees precisam ser resolvidas no acircmbito da praacutetica social e em
consequecircncia que conhecimento eacute necessaacuterio dominarrdquo (SAVIANI
2006 p 71) A partir dessa afirmaccedilatildeo dois importantes aspectos foram
salientados por Gasparin (2005) que merecem um devido destaque
O primeiro deles diz respeito agraves questotildees da praacutetica social que deshy
vem ser detectadas O autor esclarece com base no proacuteprio Saviani
que o foco deve ser concentrado nas grandes questotildees que desafiam a
sociedade nos principais problemas que precisam ser resolvidos natildeo
soacute na escola ou pela escola mas no acircmbito da sociedade Para isso
afirma que deve ser feita uma seleccedilatildeo do que eacute fundamental visto que
os principais problemas postos pela praacutetica social nem sempre podem
ser tratados na sua totalidade em cada aacuterea do conhecimento O ldquofunshy
damentalrdquo vale dizer refere-se aos aspectos relacionados ao conteuacutedo
estabelecido pelo curriacuteculo escolar ou aos conhecimentos trabalhados
em uma determinada unidade do programa Com base nesse entendishy
mento pode-se dizer que a problematizaccedilatildeo deve selecionar e discutir
os problemas que tecircm origem na praacutetica social mas que ao mesmo
tempo se ligam ao conteuacutedo a ser trabalhado trata-se de uma seleccedilatildeo
e discussatildeo de grandes questotildees sociais poreacutem inseridas e especificadas
no conteuacutedo da unidade que estaacute sendo estudada (GASPARIN 2005)
O segundo aspecto a ser destacado refere-se a qual conhecimento
eacute necessaacuterio dominar para resolver os problemas da praacutetica social Gas-
parin (2005) explica que de maneira geral os conteuacutedos satildeo quase
sempre transmitidos aos educandos por uma uacutenica dimensatildeo a con-
eeitual-cientiacutefica Em virtude da ecircnfase geralmente atribuiacuteda a essa dishy
mensatildeo do conteuacutedo o autor alerta o seguinte eacute necessaacuterio lembrar
no processo de construccedilatildeo do conhecimento que a ciecircncia tambeacutem eacute
iiin produto social originada de necessidades histoacutericas econocircmicas
poliacuteiicas ideoloacutegicas filosoacuteficas religiosas teacutecnicas dentre outras Tenshy
do i in vista o fato de que existem muacuteltiplas dimensotildees que revestem
os dilerentes conteuacutedos faz-se necessaacuterio abordar na construccedilatildeo do
- ltgtii1k-ciacutemento natildeo soacute a dimensatildeo conceitual-cientiacutefica A necessidade
llt 1 1 mscender a abordagem centrada na dimensatildeo conceitual-cientiacutefica
jMivuacuten do entendimento de que a anaacutelise do real deve considerar suas
muacuteltiplas dimensotildees visto que a realidade social envolve sempre uma
tuii de perspectivas um conjunto de aspectos interdependentes que
u ui ser entendidos para a resoluccedilatildeo dos problemas postos pela praacute-
laquo iil Eacute importante destacar esse aspecto sobretudo porque na
u lo 1 iacutesica a ecircnfase do processo pedagoacutegico geralmente eacute concen-
raquo i iu is rlementos teacutecnicos e taacuteticos o que desconsidera as muacuteltiplas
bull t M ii raquors que revestem o conteuacutedo em questatildeo
Assim duas tarefas principais podem ser operacionalizadas na
problematizaccedilatildeo A primeira delas envolve o questionamento da praacuteshy
tica social e do conteuacutedo escolar Trata-se de um momento em que satildeo
apresentadas e discutidas as razotildees sociais pelas quais se deve aprender o
conteuacutedo proposto de modo que os alunos possam entender melhor o
que seraacute estudado identificar os principais problemas postos pela praacuteshy
tica social e pelos conteuacutedos e ainda entender a necessidade eou vashy
lidade do conteuacutedo curricular proposto para solucionar eou entender
melhor os problemas da praacutetica social (GASPARIN 2005) A segunda
tarefa que pode ser realizada na problematizaccedilatildeo refere-se agraves dimensotildees
do conteuacutedo a serem trabalhadas Em linhas gerais pode-se dizer que
essa tarefa consiste em definir as dimensotildees que se deseja estudar Para
tanto pode-se partir do conteuacutedo a ser trabalhado de modo a elaborar
questotildees desafiadoras que expressem dimensotildees especiacuteficas referentes agrave
natureza do conteuacutedo como por exemplo as dimensotildees cientiacutefico-
-conceituais sociais econocircmicas culturais histoacutericas filosoacuteficas moshy
rais eacuteticas esteacuteticas legais e doutrinaacuterias (GASPARIN 2005)
O passo seguinte a instrumentalizaccedilatildeo segundo Gasparin (2005) eacute o
caminho atraveacutes do qual o conteuacutedo sistematizado eacute posto agrave disposiccedilatildeo dos
alunos para que o assimilem o recriem e ao incorporaacute-lo transformem-no
em instrumento cultural para transformaccedilatildeo da realidade Esse terceiro passhy
so do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do conhecimento consiste no moshy
mento em que os alunos vatildeo se apropriar das ferramentas culturais necesshy
saacuterias agrave luta social que travam diariamente para se libertar das condiccedilotildees de
opressatildeo em que vivem ou seja trata-se da fase na qual ocorre a apropriaccedilatildeo
dos instrumentos teoacutericos e praacuteticos necessaacuterios ao equacionamento dos
problemas detectados na praacutetica social (SAVIANI 2006)
De acordo com Saviani (2006) o quarto passo do meacutetodo eacute a ldquocashy
tarserdquo momento de expressatildeo elaborada da nova forma de entendimenshy
to da praacutetica social a que se ascendeu ldquoTrata-se da efetiva incorporaccedilatildeo
dos instrumentos culturais transformados agora em elementos ativos
de transformaccedilatildeo socialrdquo (SAVIANI 2006 p 72) Pode-se dizer que a
catarse eacute a demonstraccedilatildeo teoacuterica do ponto de chegada do niacutevel superior
atingido pelos alunos (GASPARJN 2005)
Por fim no retorno agrave praacutetica social temos a nova maneira de comshy
preender a realidade e de posicionar-se diante dela eacute a manifestaccedilatildeo
da nova postura praacutetica da nova atitude da nova visatildeo do conteuacutedo
no cotidiano Trata-se de acordo com Gasparin (2005) do momento
de accedilatildeo consciente em prol da transformaccedilatildeo da realidade a partir do
retorno agrave praacutetica social agora entendida de forma mais elaborada
Levando em conta esses diferentes momentos do meacutetodo dialeacutetico
de construccedilatildeo do conhecimento o ensino dos diferentes conteuacutedos que
compotildeem a cultura corporal permite aos alunos se apropriarem dos coshy
nhecimentos acumulados historicamente pela humanidade Trata-se de
um importante passo no sentido de enriquecer a concepccedilatildeo de mundo
dos alunos uma vez que o acesso ao saber sistematizado sobre jogos
esporte luta danccedila ginaacutestica circo por exemplo se constitui como
elemento indispensaacutevel para leitura dessa dimensatildeo da realidade
Consideraccedilotildees finais
O artigo em tela apresentou a concepccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica de
Educaccedilatildeo Fiacutesica que embasa as praacuteticas pedagoacutegicas discutidas ao longo
deste livro destacando sua articulaccedilatildeo com um projeto de formaccedilatildeo hushy
mana criacutetico agraves relaccedilotildees sociais capitalistas visando superar a perspectiva
de adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves exigecircncias do mundo do trabalho
Com base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e na abordagem Criacutetico-
-superadora o objetivo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute promover uma
reflexatildeo criacutetica sobre diferentes conteuacutedostemas da cultura corporal
seguindo um caminho metodoloacutegico que busca ampliar a compreensatildeo
e accedilatildeo dos sujeitos sobre a realidade em que vivem
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CAPIacuteTULO III
A PRODUCcedilAtildeO DA CULTURA LUacuteDICA EM JOGOS ELETROcircNICOS
Priscila Rocha Rodrigues
Renata Aparecida Alves Landim
Tl)iago Barreto Maciel
Victoacuteria de Faacutetima de Mello
Abordar os jogos e as brincadeiras como
conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica pode parecer
um lugar comum pois existe um consenso
por parte dos educadores acerca da presenshy
ccedila dessas praacuteticas corporais nas aulas dessa
disciplina Entretanto muitas vezes o trashy
balho desenvolvido nas escolas opera uma
instrumentalizaccedilatildeo dos jogos utilizando os
mesmos como meios para a aprendizagem
dos esportes ou de outras mateacuterias de enshy
sino De acordo com Bracht et al (1995)
esse processo dilui os jogos de seu contexshy
to soacutecio-cultural passando a consideraacute-los
como um recurso metodoloacutegico e natildeo como
um conteuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Consideramos que para tratar os joshy
gos e as brincadeiras1 como conteuacutedo de
ensino eacute preciso superar a mera praacutetica e
I Em diversos idiomas os termos jogos brincadeiras e
brinquedo satildeo tratados como sinocircnimos e em outros uma
uacutenica palavra guarda os trcs significados Visando distinguir
os termos Kishimoto (2003) considera como brinquedo o
objetosuporte - concreto ou ideoloacutegico - da brincadeira
como brincadeira a conduta estruturada por regras e como
jogo a descficcedilaacuteo tanto do objeto como das regras durante um
determinado templaquo gt Neste texto adotaremos a conceituaccedilatildeo
de brinquedo como suporte da brincadeira mas naacuteo faremos
promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre os jogos como uma forma
proacutepria de expressatildeo da cultura corporal Os jogos satildeo resultados
do processo criativo cio homem para modificar imaginariamente
a realidade e o presente tendo em vista finalidades luacutedicas (C O shy
LETIVO DE AUTORES 1992) Eles tecircm significados dentro do
conjunto da produccedilatildeo humana por isso guardam em seu interior
as caracteriacutesticas do modo de organizaccedilatildeo social num dado moshy
mento histoacuterico sendo marcados por continuidades e rupturas em
relaccedilatildeo aos jogos e brincadeiras de outras eacutepocas
Na atualidade o modo de vida das pessoas sobretudo nos
grandes conglomerados urbanos tem favorecido a substituiccedilatildeo parshy
cial ou total dos jogos traciicionais provenientes da cultura popular
pelos videogames produtos da induacutestria cultural Nesse sentido
consideramos que promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as es-
pecificidades e os dilemas que envolvem os jogos eletrocircnicos como
uma manifestaccedilatildeo luacutedica tipicamente contemporacircnea pode ajudar a
compreender o proacuteprio tempo 1 1 0 qual vivemos
lendo em vista a realizaccedilatildeo de uma discussatildeo teoacuterico-metodo-
loacutegica sobre os jogos e a socializaccedilatildeo de uma experiecircncia concreta
organizamos este artigo em trecircs partes aleacutem dessa introduccedilatildeo e das
consideraccedilotildees finais Na primeira abordaremos os jogos como uma
manifestaccedilatildeo da cultura corporal e suas implicaccedilotildees para as aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesica Na segunda trataremos das formas de expressatildeo dos
jogos na sociedade contemporacircnea Na terceira parte apresentaremos
uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos para os alunos dos
anos finais cio ensino fundamental seguida do plano de unidade
Os jogos e as brincadeiras como conteuacutedos para as aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Em nosso tempo um dos grandes estudiosos sobre os jogos foi
Huizinga Em sua obra claacutessica ldquoHomo Ludens rdquo publicada origishy
nalmente em 1938 ele analisou a natureza e o significado do jogo
como fenocircmeno cultural De acordo com Huizinga (2000) o jogo eacute
uma das manifestaccedilotildees mais antigas da humanidade e sempre esteve
associado ao divertimento e ao prazer com a finalidade de dar um
sentido luacutedico para a existecircncia humana Nas palavras do autor
[] o jogo eacute uma atividade ou ocupaccedilatildeo volunshy
taacuteria exercida dentro de certos e determinados
limites de tempo e de espaccedilo segundo regras lishy
vremente consentidas mas absolutamente obrigashy
toacuterias dotado de um fim em si mesmo acompashy
nhado de um sentimento de tensatildeo e de alegria e
de uma consciecircncia de ser diferente da ldquovida quoshy
tidianardquo (H U IZ IN G A 2000 p 24)
Apesar de buscar se distanciar dos objetivos de satisfaccedilatildeo imeshy
diata da vida atraveacutes da criaccedilatildeo e praacutetica de diversos tipos de jogos
todo jogo desde as idades mais remotas ateacute os dias atuais eacute um
produto do ldquotrabalhordquo 2 e por isso estaacute subordinado agraves formas
histoacutericas assumidas pela atividade humana em diferentes modos de
produccedilatildeo social da existecircncia ldquoOs homens fazem sua histoacuteria mas
natildeo a fazem como querem natildeo a fazem sob circunstacircncias de sua
escolha e sim sob aquelas com que se defronta diretamente legadas
e transmitidas pelo passadordquo (MARX 1978 p 329)
Uma caracteriacutestica marcante em todos os jogos e brincashy
deiras eacute a existecircncia de uma situaccedilatildeo imaginaacuteria e de regras que
expliacutecita ou implicitamente ordenam e conduzem as accedilotildees dos
jogadores Como descreve Vygotsky (2007) no processo de deshy
senvolvimento das brincadeiras da crianccedila haacute um processo que
vai do jogo de papeacuteis com situaccedilotildees imaginaacuterias expliacutecitas e com
regras impliacutecitas aos jogos com regras expliacutecitas e situaccedilotildees imashy
ginaacuterias ocultas Para esse autor os jogos satildeo condutas que im ishy
tam as accedilotildees reais por isso sofrem influecircncia das relaccedilotildees sociais
num jogo de papeacuteis da crianccedila por exemplo a situaccedilatildeo imaginaacuteshy
ria incorpora elementos e regras de comportamento do contexto
cultural adquiridos por meio da interaccedilatildeo com os outros
2 O trabalho eacute para Marx e Engels (1989) a atividade vital e por excelecircncia humana a partir
dele o homem modifica intencionalmente a natureza para atender suas necessidades e cria
novas necessidades produzindo sua proacutepria vida Desse modo por meio do trabalho o
homem transforma ao mesmo tempo a si mesmo e as formas de se organizar socialmente
criando histoacuterica e coletivamente um mundo especificamente humano o mundo da cultura
Outro aspecto que merece ser destacado eacute que todo jogo tem sua
existecircncia em um tempo-espaccedilo relacionado agrave sua localizaccedilatildeo histoacuterishy
ca e geograacutefica De acordo com Kishimoto (2003) uma mesma conshy
duta pode ser jogo ou natildeo-jogo em diferentes culturas dependendo
do significado a ele atribuiacutedo Os brinquedos tambeacutem devem ser enshy
tendidos como objetos culturais pois natildeo podem ser compreendidos
fora do contexto histoacuterico e social em que foram criados Se para uma
crianccedila europeia a boneca significa um brinquedo para populaccedilotildees
indiacutegenas tem o sentido de siacutembolo religioso
Desse modo mesmo que o jogo seja compreendido como
uma accedilatildeo de livre expressatildeo da crianccedila a sua praacutetica cotidiana
revela formas diferenciadas de jogar de acordo com o modo de
organizaccedilatildeo do trabalho e da vida dos povos praticantes Orlick
(1978) destaca como os padrotildees de partilha das sociedades satildeo reshy
fletidos e reforccedilados nos jogos e brincadeiras infantis Atraveacutes deles
as crianccedilas aprendem os modelos de comportamento dos adultos e
vatildeo sendo preparadas para a vida em sociedade
Esse coletivo considera que para configurar o jogo como conshy
teuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ele deve ser tratado pedagogishy
camente tendo em vista uma aprendizagem que amplie o niacutevel de
compreensatildeo dos alunos sobre o mundo Para tal consideramos que
ter accsso ao conhecimento sistematizado sobre os jogos e brincashy
deiras eacute essencial para que as crianccedilas e jovens possam agir sobre a
realidade social de forma totalizante incluindo em suas possibilidashy
des de accedilatildeo a dimensatildeo luacutedica da produccedilatildeo cultural humana Nesse
sentido se apropriar da cultura jaacute produzida eacute fundamental para
explorar o jaacute existente e a partir daiacute criar o novo dando novos
sentidos e significados aos jogos e brincadeiras
Considerar os jogos como manifestaccedilotildees da cultura corporal signifishy
ca retraccedilaacute-Ios desde sua gecircnese desvendando como eles eram e como satildeo
hoje buscando uma intervenccedilatildeo consciente sobre a realidade
Sua importacircncia enquanto conteuacutedo da EF estaacute
na representaccedilatildeo das raiacutezes histoacutericas e culturais
de diversos povos bem como as transformaccedilotildees
ocorridas ao longo do tempo que possam ter cau-
sado modificaccedilotildees no modo como se joga detershy
minado jogo em vaacuterias partes do mundo Egrave imporshy
tante tambeacutem considerar o jogo em seu processo
de criaccedilatildeo recriaccedilatildeo e readaptaccedilatildeo levando-se em
conta as possiacuteveis influecircncias poliacuteticas econocircmishy
cas e sociais pelas quais tenha passado dando-lhe
uma nova configuraccedilatildeo e uma compreensatildeo criacutetishy
ca (BRITO 2006 p 61)
Desse modo deve-se privilegiar uma abordagem sobre os
jogos que possibilite o conhecimento de suas principais caracteshy
riacutesticas como forma de manifestaccedilatildeo especiacutefica da cultura corshy
poral e naacuteo de forma subordinada ao esporte A flexibilidade eacute a
palavra chave para entender o jogo quanto agraves regras organizaccedilatildeo
espaccedilo-tempo nuacutemero de jogadores nomeaccedilatildeo caraacuteter compeshy
titivo ou cooperativo (JU IZ DE FORA 2000)
O trabalho com os jogos e brincadeiras deve permitir a
compreensatildeo do processo de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo da culshy
tura bem como suas continuidades e modificaccedilotildees histoacutericas
De acordo com o Coletivo de Autores (1992) a elaboraccedilatildeo de
um programa desse conteuacutedo ao longo dos anos de escolarizaccedilatildeo
deve considerar a memoacuteria luacutedica da comunidade e oferecer o
conhecimento da diversidade de jogos e brincadeiras existentes
nas diferentes regiotildees do paiacutes e do mundo
A ideia motriz eacute entender que os jogos como criaccedilotildees humanas
que objetivam o prazer e o divertimento num dado contexto histoacuterico-
-social refletem mas tambeacutem podem forjar valores e comportamentos
Desse modo o trabalho com os jogos deve instrumentalizar os alunos
natildeo apenas para utilizar a cultura luacutedica mas tambeacutem compreendecirc-la
como produccedilatildeo humana passiacutevel de constante criaccedilatildeo e recriaccedilatildeo
Devido agrave necessidade de selecionar temas de relevacircncia social
que instrumentalizem os alunos para uma accedilatildeo criacutetica frente agrave realishy
dade nos debruccedilamos sobre uma forma especiacutefica de manifestaccedilatildeo
da praacutetica luacutedica dos indiviacuteduos na atualidade - os jogos eletrocircni-
cos- buscando tratar de sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na
sociedade capitalista e suas relaccedilotildees com os jogos tradicionais
Os games formas de manifestaccedilatildeo dos jogos na sociedade contemporacircnea
Em pleno seacuteculo XXI as crianccedilas ainda brincam de piques
jogos com bola jogos de tabuleiro dentre tantos outros de forshy
ma muito semelhante aos seus pais avoacutes e bisavoacutes A esses tipos
de jogos que foram capazes de atravessar o tempo chamamos
de jogos tradicionais Eles tecircm como caracteriacutesticas centrais o
fato de pertencerem ao domiacutenio puacuteblico e serem transmitidos de
geraccedilatildeo em geraccedilatildeo De acordo com Kishimoto (2003) os jogos
tradicionais satildeo considerados como parte da cultura popular e
expressam as formas de consciecircncia de um povo num dado moshy
mento histoacuterico Esses jogos satildeo transmitidos oralmente e por
incorporarem criaccedilotildees anocircnimas das geraccedilotildees que vatildeo se suceshy
dendo estatildeo sempre em transformaccedilatildeo
Com base nesta definiccedilatildeo podemos considerar que existe uma fashy
cilidade da apropriaccedilatildeo e vivecircncia dos jogos tradicionais que satildeo tiacutepicos
da regiatildeo de pertencimento do aluno mesmo que de forma fragmentashy
da e caoacutetica proveniente do senso comum Tal fato se daacute justamente por
entendermos que os jogos tradicionais antes de tudo satildeo populares a
cabo do termo ou seja tecircm uma ampla inserccedilatildeo na sociedade Outro
fator que garante essa popularidade eacute que eles satildeo transmitidos atraveacutes
das geraccedilotildees e para sua praacutetica natildeo eacute necessaacuterio nenhum material sofisshy
ticado Dessa forma o alijamento dos meios de produccedilatildeo e dos produshy
tos do trabalho da maior parte da populaccedilatildeo natildeo acaba por ser um fator
determinante apesar de central no acesso a esse patrimocircnio cultural da
humanidade que satildeo os jogos tradicionais ou populares3
Embora diversos jogos tradicionais possam ser aprendidos
praticados de forma gratuita e permaneccedilam muito presentes no
cotidiano das crianccedilas e adolescentes eles vecircm perdendo espaccedilo
3 Neste texto utilizaremos os termos jogos tradicionais e jogos populares como sinocircnimos devido
ao fato de ambos possuiacuterem a mesma dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo marcadas pela
produccedilatildeo coletiva e reproduccedilatildeo oral entre as geraccedilotildees o que nos permite consideraacute-los como
patrimocircnios da cultura popular De acordo com SANTOS (2009) os termos tradicional
popular e folclore representam o conhecimento sobre um jogo por parte majoritaacuteria da
populaccedilatildeo sendo esse conhecimento na maioria das vezes advindo do senso comum
)
sobretudo nas grandes cidades para os jogos eletrocircnicos formas
de expressatildeo dos jogos tipicamente contemporacircneas
Os jogos eletrocircnicos4 estatildeo presentes na praacutetica social cotidiashy
na das pessoas em escala mundial e fazem parte da vida de inuacutemeras
crianccedilas e adolescentes brasileiros mesmo daqueles para os quais
os jogos satildeo apenas desejos de consumo Os games estatildeo por toda
parte natildeo apenas nos aparelhos especiacuteficos para os jogos (consoles
e portaacuteteis) mas tambeacutem nos computadores ipads e telefones celushy
lares podendo ainda ser jogados pela internet em sites e nas redes
sociais Deve ser difiacutecil para as crianccedilas e jovens de hoje pensarem
que houve um tempo em que natildeo existiam jogos digitais
A histoacuteria dos jogos eletrocircnicos tem iniacutecio no final dos anos
de 1950 no contexto da guerra fria quando comeccedilam a ser criashy
dos protoacutetipos de videogames com a incorporaccedilatildeo da tecnoloshy
gia disponiacutevel na eacutepoca Um dos precursores do videogame foi
W illian Higinbotham um fiacutesico que atuava num laboratoacuterio nushy
clear e havia trabalhado no projeto da primeira bomba atocircmica
ele criou em 1958 um jogo eletrocircnico com linhas rudimentares
o tecircnis para dois Em 1966 eacute criado por Ralph Baer o primeiro
console caseiro o Magnavox Odissey (A ERA 2007)
Entretanto eacute a partir dos anos de 1970 acompanhando o desenvolvishy
mento dos computadores pessoais que os jogos eletrocircnicos se tornam mais
expressivos Em 1972 com a criaccedilatildeo do ldquoPongrdquo (fliperama que simula uma
partida de tecircnis de mesa) os games comeccedilam a ficar agrave disposiccedilatildeo do puacuteblishy
co em geral O seu desenvolvedor Nolan Bushenell percebeu o potencial
dos jogos eletrocircnicos como um negoacutecio e fundou a ATARI empresa que
marcou o surgimento da induacutestria do videogame (ALVES 2004)
Entre a deacutecada de 1970 e a deacutecada de 1980 devido agrave manifestashy
ccedilatildeo de uma crise ciacuteclica de superproduccedilatildeo do sistema capitalista tem
iniacutecio um processo que podemos chamar de mundializaccedilatildeo econocircmi-
4 Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais nos quais o jogador interage com imagens
enviadas a uma tela geralmente uma televisatildeo ou monitor Os games satildeo programas
(sofrwares) instalados ou acessados em um sistema eletrocircnicoaparelho preparado
para rodaacute-lo (Hardware) Existem vaacuterios gecircneros de jogos eletrocircnicos como jogos de
accedilatildeo (plataforma de corrida de tiro) de estrateacutegia de lutacombate de esporte de
simulaccedilatildeo Role Playing Games (RPG) e de tabuleiro
caJy em que o capital parte em busca de novas aacutereas visando explorar
condiccedilotildees mais rentaacuteveis de produccedilatildeo e expandir mercados consushy
midores E justamente nesse contexto que a induacutestria cultural ganha
impulso e os jogos eletrocircnicos satildeo disseminados pelos quatro cantos
do mundo com grande potencial de escoamento de mercadorias
Nas duas uacuteltimas deacutecadas fruto de uma germinaccedilatildeo iniciada no
poacutes-terceira revoluccedilatildeo industrial ou revoluccedilatildeo tecnocientiacutefica que
proporcionou o surgimento de atividades que empregam a alta tecshy
nologia como a informaacutetica a microeletrocircnica o avanccedilo das telecoshy
municaccedilotildees e a biotecnologia os jogos eletrocircnicos tecircm seguido e tamshy
beacutem contribuiacutedo com os avanccedilos tecnoloacutegicos Se compararmos os
primeiros games com os jogos de hoje constataremos que eles deram
grandes saltos qualitativos de graacuteficos bi para graacuteficos tridimensionais
que permitiram aperfeiccediloar e personalizar os enredos e personagens
atingindo uma qualidade de imagem som e movimento tatildeo bons que
os jogos mais parecem realidades virtuais As inovaccedilotildees tecnoloacutegicas
e criativas satildeo produzidas numa velocidade cada vez maior materiashy
lizando-se rapidamente numa nova mercadoria a ser comercializada
O mercado dos games eacute de alta lucratividade com projeccedilotildees
de faturamento no acircmbito mundial para 2013 de US$ 735 bilhotildees
e girando no mercado interno aproximadamente R$ 875 milhotildees
- valor referente ao ano de 2008 (ABRAGAMES 2008) Aleacutem da
venda de uma enxurrada de produtos relacionados agrave praacutetica dos joshy
gos eletrocircnicos existe uma espeacutecie de economia virtual com comshy
pra e venda de mercadorias e identidades digitais (avatares) 6
5 O termo mundializaccedilatildeo eacute utilizado por Chesnais (1996) com a intenccedilatildeo de diminuir
a falta de nitidez conceituai e o caraacuteter ideoloacutegico do termo globalizaccedilatildeo que sugere
a ideia de uma perspectiva integradora Para o autor o termo mundializaccedilatildeo permite
pensar melhor esta fase especiacutefica do processo de internacionalizaccedilatildeo do capital em
busca de regiotildees com recursos ou mercados visando sua valorizaccedilatildeo Neste processo de
liberalizaccedilatildeo econocircmica e financeira haacute um agravamento da polarizaccedilatildeo entre regiotildees
centrais e perifeacutericas do capitalismo tanto em escala internacional como nacional
6 Essa economia virtual eacute muito comum nos jogos on-line de representaccedilatildeo da vida real
como Farm Ville The Sims Social e Second Life O Second Life possui uma unidade
monetaacuteria proacutepria o Linden Dollar atraveacutes da qual as pessoas podem comprar quase
tudo dentro do jogo Em 2009 o site do jogo movimentou 549 milhotildees de doacutelares Soacute
no primeiro trimestre de 2010 as movimentaccedilotildees financeiras entre usuaacuterios chegaram
a 160 milhotildees de doacutelares e a arrecadaccedilatildeo da loja virtual oficial foi de 23 milhotildees
(LUCRATIVO 2010)
Aqui cabe uma reflexatildeo sobre a dinacircmica social que envolve a proshy
duccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos e suas diferenccedilas em relaccedilatildeo
aos jogos tradicionais Os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos acompashy
nhando os avanccedilos tecnoloacutegicos do momento e norteados pelo afatilde da
esteira mercadoloacutegica tornando-se obsoletos rapidamente Bem difeshy
rente dos jogos tradicionais que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo cm geraccedilatildeo
e apesar de sofrerem algumas modificaccedilotildees resistem ao teste do tempo
Desse modo podemos dizer que os jogos eletrocircnicos natildeo podem ser
considerados como populares pelo menos por dois motivos primeiro
pelo fato dos jogos de hoje natildeo serem os mesmos de amanhatilde e segunshy
do devido agrave exigecircncia de produtos especializados para a praacutetica dos
mesmos o que por si soacute jaacute os torna inacessiacuteveis a uma parcela signifishy
cativa da populaccedilatildeo que natildeo possui condiccedilotildees de consumo
Entretanto ao mesmo tempo em que existe uma ruptura entre esshy
ses dois tipos de jogos podemos notar uma estreita relaccedilatildeo entre eles jaacute
que muitos jogos eletrocircnicos satildeo na realidade versotildees virtuais de antigos
jogos tradicionais como os jogos de tabuleiro o boliche a queimada
os jogos de cartas os quebra-cabeccedilas entre outros O que sugere uma
perspectiva de continuidade na produccedilatildeo da cultura luacutedica
Temos como pressuposto baacutesico que o trabalho educativo
consiste em transmitir o conhecimento historicamente produzido
a fim de contribuir para que os nossos alunos possam ter acesso
aos conhecimentos mais desenvolvidos produzidos historicamenshy
te pela humanidade para que possam enriquecer-se como indishy
viacuteduos e atuarem como homens do seu tempo Entretanto aqui
evidenciamos uma grande contradiccedilatildeo da nossa sociedade pois
devido ao modo de produccedilatildeo capitalista esses conhecimentos que
os proacuteprios trabalhadores ajudaramajudam a construir lhes satildeo
negados7 No caso dos jogos eletrocircnicos apesar de existir uma
enorme difusatildeo sobre os mesmos vemos que a maioria da classe
trabalhadora natildeo tem real acesso a esta produccedilatildeo cultural
7 O acesso agraves tecnologias digitais aumentou nos uacuteltimos anos mas ainda eacute m uito
significativo o nuacutemero de pessoas sem acesso real a esses bens sociais De acordo
com o PNAD 2009 apenas 35 dos domiciacutelios brasileiros investigados tinham
microcomputador e somente 274 tinham arlaquolaquo -------M n
Esteban Clua - professor do departamento de computaccedilatildeo da
UFF- em entrevista concedida agrave Agecircncia Brasil destacou que o Brasil eacute
o quarto maior consumidor de jogos eletrocircnicos do mundo sendo que
existe uma massa de aproximadamente 39 milhotildees de usuaacuterios ativos
desses jogos ou seja aproximadamente 20 da populaccedilatildeo brasileira
(GANDRA 2011) Com base nisso cabe a noacutes lanccedilarmos algumas
perguntas que tipo de acesso eacute esse Quais fatores levam os outros 80
da populaccedilatildeo brasileira a natildeo jogarem E por que os jovens e crianccedilas
mesmo os que sequer tecircm as condiccedilotildees de garantir a sua subsistecircncia se
veem hipnotizadas por essas mercadorias
Os jogos eletrocircnicos como qualquer produccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo satildeo
bons nem ruins por natureza natildeo se trata de criticaacute-los de forma saudosista
mas de permitir aos alunos uma atuaccedilatildeo criacutetica e consciente frente a esses
jogos que auxilie a superar o fetiche da tecnologia e a alienaccedilatildeo frente agrave messhy
ma Quando tomadas como valores de uso a ciecircncia e a tecnologia estatildeo
a serviccedilo da melhoria das condiccedilotildees de vida e da possibilidade de dilatar o
tempo livre para que o homem produza novos sentidos para sua existecircncia
natildeo apenas pela necessidade de comer vestir dormir morar mas tambeacutem
por finalidades luacutedicas Nesse sentido Frigotto (2005) aponta que as tecshy
nologias satildeo como extensotildees dos sentidos e membros dos seres humanos
Mas sob as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo da sociedade capitalista o que era para
aumentar o tempo livre intensifica a exploraccedilatildeo e a alienaccedilatildeo
Com isso entendemos que natildeo haacute neutralidade no desenvolvimento
tecnoloacutegico pelo contraacuterio ele materializa-se em meio a todas as condenshy
saccedilotildees de forccedilas que permeiam a sociedade de classes Por isso apesar do
discurso que prega o acesso pleno agraves benesses do desenvolvimento capitashy
lista a natildeo democratizaccedilatildeo dos bens culturais produzidos pela humanidade
nos mostra o contraacuterio No caso dos jogos eletrocircnicos observamos que sua
dinacircmica de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo como mercadorias estaacute intimamente
ligada agrave loacutegica desigual e predatoacuteria do consumismo capitalista8
8 Os jogos eletrocircnicos como expressotildees culturais refletem a sociedade em que nascem mas
ao mesmo tempo tambeacutem ajudam a educar os consumidores passivos para esse padratildeo
civilizatoacuterio Kosik (1995) ajuda a refletir sobre essa dinacircmica dialeacutetica a partir do caso
da arte ldquotoda obra de arte apresenta um duplo caraacuteter em indissoluacutevel unidade eacute expressatildeo da realidade mas ao mesmo tempo cria a realidade uma realidade que natildeo existe fora da obra ou antes da obra mas precisamente na obrardquo (p 128)
Vale destacar que os grandes expoentes e exportadores histoacutericos
dos jogos eletrocircnicos satildeo as naccedilotildees imperialistas norte-americana e
japonesa Como reflexo disso carregam muitos dos valores tiacutepicos de
paiacuteses de capitalismo central como o individualismo a competiccedilatildeo
exacerbada o consumo desenfreado e a naturalizaccedilatildeo da violecircncia
Aliaacutes a questatildeo da violecircncia presente em diversos jogos eletrocircnicos
eacute uma das grandes polecircmicas que envolvem a praacutetica desses jogos No
que tange ao conteuacutedo violento dos games merecem destaque jogos
que pontuam a realizaccedilatildeo de crimes atropelamentos praacutetica de agresshy
sotildees em ambiente escolar perseguiccedilatildeo e morte de supostos terroristas
e os que simulam guerras e conflitos armados entre paiacuteses e povos Natildeo
eacute raro vermos mateacuterias jornaliacutesticas que associam o uso excessivo de
games a situaccedilotildees de violecircncia real o caso mais emblemaacutetico foi o masshy
sacre ocorrido em 1999 na Escola de Ensino Meacutedio Colombine em
Littleton no estado do Colorado (EUA)
De acordo com Alves (2004) a violecircncia como forma de linshy
guagem envolve ao mesmo tempo aspectos econocircmicos sociais
poliacuteticos culturais e afetivos por isso natildeo podemos adotar uma
atitude reducionista em culpar exclusivamente os jogos eletrocircnicos
pela violecircncia pois eles mesmos satildeo reflexotildeesprojeccedilotildees de uma
sociedade que banaliza a violecircncia A autora destaca tambeacutem que
uma questatildeo crucial a se pensar eacute que a violecircncia tem sido transshy
formada nas diversas miacutedias num grande espetaacuteculo por isso ela
vende e os adolescentes satildeo seduzidos pelas cenas de violecircncia para
consumirem produtos ldquoTanto a espetacularizaccedilatildeo quanto a este-
tizaccedilatildeo da violecircncia vecircm sendo bastante potencializadas nos jogos
eletrocircnicos em que a morte cada vez mais violenta passa a ser
sinocircnimo muitas vezes de grandes vendasrdquo (ALVES 2004 p 79)
Esse caraacuteter sedutor dos games de violecircncia eacute utilizado ateacute
pelas forccedilas armadas estadunidenses para estimular o alistamenshy
to militar e treinar recrutas Com esses objetivos o exeacutercito dos
EUA com a colaboraccedilatildeo do departamento de defesa norte-ame-
ricano criou o Americans Army um jogo de tiro em primeira
pessoa no qual os jogadores simulam combates militares reais
(IMASATO M ESQUITA 200$) O jogo disponibilizado grashy
tuitamente para o puacuteblico desde 04 de julho de 2002 possui
milhares dc jogadores pelo mundo todo inclusive no Brasil
Nesse exemplo os atos de agredirmatar personagens durante
o jogo natildeo satildeo utilizados apenas com sentidos luacutedicos mas tambeacutem
com a finalidade de criar nos jovens o desejo de realizar essas accedilotildees
na vida real A criaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de games como esse sem granshy
des criacuteticas por parte do puacuteblico permite visualizar o quanto a vioshy
lecircncia eacute vista com algo natural em nossa sociedade Com apoio nas
elaboraccedilotildees de Marx (1996) consideramos que a base dessa naturashy
lizaccedilatildeo satildeo as proacuteprias relaccedilotildees sociais capitalistas que transformam
tudo em mercadoria inclusive o trabalho humano fazendo parecer
que relaccedilotildees entre pessoas reais satildeo relaccedilotildees entre coisas
De um modo geral o homem cria instrumentos para satisfashy
zer suas necessidades dando sentidos humanos para as coisas mas
ao fazer isso gera novos interesses e necessidade transformando
sua proacutepria forma de viver Ou seja a tecnologia produzida pelo
homem passa a determinar suas accedilotildees e seu modo de vida Na
atualidade a criaccedilatildeo da rede mundial de computadores mudou
sensivelmente a forma de interaccedilatildeo entre as pessoas no caso dos
jogos eletrocircnicos a internet permitiu o compartilhamento de joshy
gos entre pessoas ao redor do mundo inteiro9 Desse modo os
jogos eletrocircnicos como criaccedilotildees humanas para satisfazer suas neshy
cessidades luacutedicas modificam o modo como os homens satisfazem
essas mesmas necessidades alterando os espaccedilos-tempos outrora
ocupados pelos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais
Nas grandes cidades convivemos com a falta de espaccedilos puacuteblishy
cos para brincar com o tracircnsito intenso com o alto grau de violecircnshy
cia e poluiccedilatildeo entre outros fatores que favorecem a diminuiccedilatildeo do
tempo destinado agraves experiecircncias corporais reais e sua substituiccedilatildeo
parcial ou total por praacuteticas virtuais como as possibilitadas pelos
9 Os jogos Massively Multiplayer on-line (M M Os) possibilitam vaacuterias pessoas
competirem pela internet criando comunidades de gamers gerando um novo modelo
de interatividade via jogos eletrocircnicos Nesse modelo as pessoas representam uma
segunda identidade e se relacionam atraveacutes dela Aleacutem disso existem torneios esportivos
multiplayer que permitem transformar esses games em profissatildeo (A ERA 2007)
jogos eletrocircnicos Os consoles mais modernos permitem inclusive
novas experiecircncias interativas com o corpo onde praacuteticas corporais
- como jogos tradicionais esportes danccedilas lutas e ginaacutestica - poshy
dem ser feitas dentro de um jogo virtual ressignificando a proacutepria
forma de vivecircncia da cultura corporal dentro e fora das telas
Os jogos eletrocircnicos tambeacutem tecircm sido produzidos e utilishy
zados para propoacutesitos que ultrapassam a diversatildeo Nesse sentishy
do merece destaque uma rede internacional chamada Game for change trata-se de uma organizaccedilatildeo social sem fins lucrativos
criada em 2004 nos EUA e com filiais na Europa Aacutesia e Ameacuterishy
ca Latina O objetivo dessa organizaccedilatildeo eacute promover a pesquisa
criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de jogos digitais que contribuam com
mudanccedilas sociais Os jogos satildeo elaborados por sistemas de parshy
cerias e seu conteuacutedo eacute sempre educativo levando o jogador a
buscar soluccedilotildees para problemas econocircmicos ambientais e diploshy
maacuteticos Os melhores games satildeo premiados em um festival que
reuacutene representantes do governo e da sociedade civil10
Desse modo consideramos que abordar as manifestaccedilotildees
contemporacircneas dos jogos eacute essencial para que os alunos possam
atuar como sujeitos de seu tempo tambeacutem na esfera luacutedica No
caso dos jogos eletrocircnicos eacute preciso tratar de sua historicidade
abordando as diversas geraccedilotildees de jogos que apesar de envolshy
verem conhecimentos coletivos se tornam privileacutegio de poucos
na dinacircmica de produccedilatildeo capitalista Para aleacutem do mundo do
entretenimento os games tecircm cumprido funccedilotildees econocircmicas
poliacuteticas e educativas que precisam ser abordadas para uma comshy
preensatildeo mais ampla das relaccedilotildees nem sempre evidentes entre o
real e o virtual no mundo dos jogos
10 Apesar de ser considerado um avanccedilo em relaccedilaacuteo aos games estritamente comerciais por
abordar problemaacuteticas de fundo social alertamos que esses jogos buscam na conciliaccedilatildeo
de classes as soluccedilotildees para problemas extremamente complexos e muitos originados
reforccedilados pelas proacuteprias relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo capitalista alinhando-se portanto
agrave ideologia da responsabilidade Em linhas gerais o objetivo dessa ideologia desenvolvida
a partir do final dos anos de 1990 em consonacircncia com o neoliberalismo de terceira via
eacute articular as accedilotildees do empresariado em torno das questotildees sociais buscando construir
conscnsos entre as classes e suas fraccedilotildees de modo a garantir o processo de dominaccedilatildeo
capitalista por meio do convpnr im pnm IacuteW A B T IM C iacutenno
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com os jogos eletrocircnicos
As crianccedilas e jovens cotidianamente se divertem consomem
e interagem atraveacutes dos jogos eletrocircnicos que natildeo satildeo apenas
brinquedos pois satildeo formas de expressatildeo de sentimentos e deshy
sejos das novas geraccedilotildees Por isso concordamos com Silveira e
Torres (2007) que adotar apenas uma atitude normativa e conshy
troladora em relaccedilatildeo aos jogos eletrocircnicos sem abordar aspectos
teacutecnicos poliacuteticos econocircmicos e eacuteticos que envolvem essa forma
de expressatildeo dos jogos prejudica o desenvolvimento de uma vishy
satildeo criacutetica frente a essa produccedilatildeo cultural
Com a intenccedilatildeo de contribuir para a superaccedilatildeo desses limites
construiacutemos uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos dishy
recionada aos alunos do 7o ano do ensino fundamental Com emshy
basamento na Pedagogia histoacuterico-criacutetica dividimos didaticamente
essa experiecircncia em cinco passos buscando envolver os educandos
no processo de ensino-aprendizagem e propiciar um percurso edushy
cativo que amplie sua compreensatildeo e accedilatildeo sobre o tema
No primeiro momento identificaccedilatildeo da praacutetica social buscashy
mos apresentar os conteuacutedos que seratildeo abordados dentro da unidashy
de e como eles se expressam na praacutetica cotidiana dos alunos Para
que os alunos identifiquem o tema seraacute apresentada uma sequecircncia
de imagens sobre os jogos eletrocircnicos e os alunos seratildeo questionashy
dos sobre o que jaacute sabem e o que gostariam de aprender sobre esses
tipos de jogos Logo em seguida seratildeo apresentados os toacutepicos de
conteuacutedos abordados na unidade a saber conceito de jogos eletrocircshy
nicos os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos a virtualizaccedilatildeo
dos jogos tradicionais os games como grande negoacutecio e os desafios
e possibilidades trazidos pelos games na atualidade
Na problematizaccedilatildeo inicialmente seratildeo debatidas quesshy
totildees que buscaratildeo despertar a curiosidade dos alunos pelo tema
como quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem
Como as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por
que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia Em seguishy
da seratildeo lanccediladas questotildees-problemas que articulam a praacutetica
social concreta dos alunos com o conteuacutedo tratado na unidade
As questotildees foram orientadas com base em diversas dimensotildees
do conteuacutedo a saber conceituai histoacuterica cultural poliacuteticas
econocircmicas social e eacutetica conforme pode ser visto no plano de
unidade apresentado a seguir
A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento de apropriaccedilatildeo do coshy
nhecimento sistematizado a fim de que os alunos ampliem sua
compreensatildeo sobre as problematizaccedilotildees lanccediladas Para tal seratildeo
desenvolvidas accedilotildees como discussotildees debates experimentaccedilatildeo
de jogos na forma tradicional e eletrocircnica aulas expositivas e
apresentaccedilatildeo de documentaacuterios Nessa etapa a falta de recursos
como aparelhos especiacuteficos para jogos eletrocircnicos pode ser subsshy
tituiacuteda por versotildees de jogos para computadoresaparelhos celulashy
res e ou transformaccedilatildeo de jogos virtuais em jogos reais
Na catarse momento no qual os alunos devem ser capazes
de responder as questotildees-problemas com base no conhecimento
sistematizado eles participaratildeo de um quiz educativo sobre jogos
eletrocircnicos com a intenccedilatildeo de auxiliaacute-los na elaboraccedilatildeo de uma
siacutentese entre o saber cotidiano e o conhecimento cientiacutefico Nosshy
sa expectativa eacute que os alunos compreendam as principais caracshy
teriacutesticas dos jogos eletrocircnicos como uma forma de manifestaccedilatildeo
dos jogosbrincadeiras tipicamente contemporacircnea
Ao final do trabalho buscando um retorno agrave praacutetica social os alunos seratildeo estimulados a pocircr em accedilatildeo a nova visatildeo sobre
o conteuacutedotema em tela Nesse sentido seraacute proposta a consshy
truccedilatildeo de um blog que socialize os conhecimentos apreendidos
sobre os jogos eletrocircnicos e a realizaccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo sobre
o desenvolvimento histoacuterico dos jogos eletrocircnicos
Plano de Unidade Os jogos eletrocircnicos e a sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na sociedade contemporacircnea
Conteuacutedo jogos
Turmas 7o ano
Nuacutemero de aulas 12
Objetivo Geral Compreender a dinacircmica social que envolve a
produccedilatildeo e a reproduccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos permitindo o uso
criacutetico desses jogos nos momentos de lazer
1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL
11 Anuacutencio do conteuacutedo
Toacutepicos de conteuacutedo c objetivos especiacuteficos
bull Toacutepico 1 O que satildeo jogos eletrocircnicos
Objetivo especiacutefico Conceituar os jogos eletrocircnicos e
suas formas de manifestaccedilatildeo para distingui-los de oushy
tros tipos de jogos em especial dos jogos tradicionais
bull Toacutepico 2 Os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos
Objetivo especiacutefico Conhecer a origem e as transforshy
maccedilotildees histoacutericas dos jogos eletrocircnicos buscando
entender a influecircncia do contexto histoacuterico e do
avanccedilo tecnoloacutegico na configuraccedilatildeo desses jogos
bull Toacutepico 3 A virtualizaccedilatildeo dos jogos tradicionais
Objetivo especiacutefico Identificar jogos eletrocircnicos insshy
pirados em jogos tradicionais a fim de entender as
relaccedilotildees entre os dois tipos de jogos como produshy
ccedilotildees culturais luacutedicas
bull Toacutepico 4 Os games como um grande negoacutecio
Objetivo especiacutefico Compreender o processo de proshy
duccedilatildeo disseminaccedilatildeo e consumo dos jogos eletrocircnicos
a fim de compreender os papeacuteis econocircmicos poliacuteshy
ticos e sociais assumidos por esses jogos
bull Toacutepico 5 Geraccedilatildeo game over desafios e possibilidades11
Objetivo especiacutefico Reconhecer os benefiacuteciosmalefiacuteshy
cios trazidos pela praacutetica regular dos jogos eletrocircnicos e
suas possibilidades para a cultura corporal permitindo
o uso consciente e equilibrado desses jogos nos moshy
mentos de lazer
12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos
bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Os jogos
eletrocircnicos podem ser jogados em aparelhos proacuteprios
computadores e celulares existem games para jogar
sozinho em dupla e em grupo as pessoas mais velhas natildeo
brincavam com esses jogos
bull O que gostariam de saber mais Por que os jogos eletrocircnicos
satildeo conteuacutedos da Educaccedilatildeo Fiacutesica Quais os jogos eletrocircnicos
mais conhecidos
2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO
21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo
Quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem Como
as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por que os jogos
eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia
11 Elaboramos esse uacuteltimo toacutepico de conteuacutedo de forma bem flexiacutevel para que possa atender
as demandas que surgirem e ser abordado de acordo com recursos disponiacuteveis para seu
desenvolvimento Por isso na instrumentalizaccedilatildeo relativa a esse toacutepico apresentamos
diversas possibilidades de accedilotildees e recursos
12 Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
QUESTOtildeES PROBLEMATIZADORAS
Conceituai
O que satildeo jogos eletrocircnicos Que tipos de jogos eletrocircnicos
existem Os jogos eletrocircnicos podem ser considerados como
ldquojogos popularesrdquo
Histoacuterica
As brincadeiras e as formas de se divertir mudaram com o
passar do tempo Quando surgiram os jogos eletrocircnicos
Qual eacute a origemhistoacuteria de alguns dos principais jogos eleshy
trocircnicos Por que eles sempre mudam
Social
Por que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns atualmente
Quais finalidades sociais eles tecircm cumprido Quais as possishy
bilidades de uso criacutetico dos games
Econocircmica
Como os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos c distribuiacutedos
Haacute faacutecil acessibilidade a todos para vivenciar esses jogos
Quanto custam os aparelhos e miacutedias para acesso aos jogos
eletrocircnicos Existe uma economia virtual
Poliacutetica
Existem espaccedilos puacuteblicos apropriados para brincar e jogar
com seguranccedila em nossa cidade Existem espaccedilos puacuteblicos
para jogar jogos eletrocircnicos
Eacutetica
Quais valores podem ser evidenciados nos jogos eletrocircnicos
Os jogos satildeo violentos Existem jogos eletrocircnicos criacuteticos
aos valores sociais Existem games cooperativos
Cultural
Os jogos eletrocircnicos satildeo difundidos em todas as culturas
Existem jogos eletrocircnicos universais Os jogos mais comuns
variam de paiacutes para paiacutes e de regiatildeo para regiatildeo Qual a relashy
ccedilatildeo entre os jogos eletrocircnicos e os jogos tradicionais
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
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4) SIacuteNTESE SUPERIOR
41 Siacutentese teoacuterica do aluno
Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais de variados gecircneros
que necessitam de aparelhos eletrocircnicos com tecnologias especiacuteshy
ficas para serem jogados Apesar de muitos desses jogos serem reshy
sultado da virtualizaccedilatildeo de jogos tradicionais eles naacuteo podem ser
considerados jogos populares pois satildeo produzidos e distribuiacutedos
sob a forma de mercadorias (conceituai e cultural) Os jogos eleshy
trocircnicos estabelecem uma relaccedilatildeo estreita com o contexto no qual
foram criados incorporando diversos avanccedilos tecnoloacutegicos que
permitem a constante ampliaccedilatildeo da qualidade de imagem som e
movimento dos mesmos (histoacuterica) Na atualidade a forma de orshy
ganizaccedilatildeo das grandes cidades o aumento da violecircncia e a falta de
espaccedilos puacuteblicos para o lazer tecircm favorecido a substituiccedilatildeo parcial
ou total dos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais por jogos
eletrocircnicos (soacutecio-poliacutetica) Os jogos eletrocircnicos satildeo muito divulshy
gados pela miacutedia de massas e datildeo grandes lucros agrave induacutestria cultushy
ral enquanto a grande maioria das crianccedilas ainda natildeo tenha acesso
pleno a essas produccedilotildees pois a dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo
desses jogos se insere no mundo das mercadorias (soacutecio-econocircmi-
ca) Os jogos eletrocircnicos estatildeo inseridos na contraditoacuteria dinacircmica
capitalista e por isso refletem valores sociais como a violecircncia e a
competitividade mas tambeacutem podem forjar outros valores como a
cooperaccedilatildeo e a solidariedade (eacutetica)
42- Expressatildeo da siacutentese
Participar de um quiz de perguntas e respostas sobre os jogos
eletrocircnicos buscando expressar o que foi apreendido durante as aulas
i) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL
Quadro 3- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
ACcedilOacuteES DO ALUNO
Registrar e divulgar os conhecimentos
apreendidos sobre os jogos eletrocircnicos
1 - Construir e divulgar um blog
sobre os jogos eletrocircnicos (conshy
teuacutedo histoacuteria tipos de jogos
benefiacutecios problemas links e esshy
paccedilos para jogar gratuitamente)
Contribuir para a criaccedilatildeo de espaccedilos-
-tempos destinados agrave discussatildeo sobre
os games
2 - Montar uma exposiccedilatildeo que
funcione como linha do tempo
dos jogos
Ampliar os conhecimentos sobre os
jogos eletrocircnicos
3 - Pesquisar mais sobre os jogos
eletrocircnicos
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees finais
A concretizaccedilatildeo de uma proposta de ensino com os jogos eletrocircshy
nicos eacute sem duacutevidas um grande desafio seja pela falta de recursos adeshy
quados seja pela dificuldade em trabalhar com as novas tecnologias e
ateacute pela resistecircncia da comunidade escolar ao tratamento desse tema
pela escola Entretanto defendemos que abordar os games como exshy
pressotildees contemporacircneas dos jogos e brincadeiras eacute imprescindiacutevel se
pretendemos que nossos alunos compreendam a realidade em que vishy
vem e atuem como sujeitos do seu proacuteprio tempo
Com base nessa constataccedilatildeo a nossa intenccedilatildeo foi abrir o diaacutelogo
sobre as possibilidades de trabalho com os jogos eletrocircnicos como conteshy
uacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica Nesse sentido a experiecircncia pedagoacutegica
descrita nesse artigo buscou abordar os jogos eletrocircnicos em suas muacuteltishy
plas dimensotildees visando contribuir para que os alunos reconheccedilam essa
nroducatildeo cultural luacutedica como construccedilatildeo de homens e mulheres reais
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CAPIacuteTULO IV
AS RELACcedilOtildeES ENTRE ESPORTE E SAUacuteDE NO CAPITALISMO TEM ATIZANDO CONTRADICcedilOtildeES NA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR
Carlos Eduardo de Souza
Leonardo Docena Pina
Mocircnica Jardim Lopes
De maneira mais ou menos intensa o esshy
porre se apresenta de diferentes formas em nossa
vida Seja atraveacutes da televisatildeo de jornais de reshy
vistas ou da proacutepria praacutetica de diferentes modashy
lidades nos relacionamos quase que diariamente
com o esporte Poreacutem a relaccedilatildeo que estabeleceshy
mos em nosso cotidiano com essa manifestaccedilatildeo
cultural natildeo proporciona sua real compreensatildeo
E por isso que muitos lidam com o esporte diashy
riamente sem compreender sua relaccedilatildeo com os
processos histoacutericos Da mesma forma muitos
acabam por reproduzir a noccedilatildeo dominante exshy
pressa na ideia de que esporte promove sauacutede
Iniciamos o texto com essa reflexatildeo por
consideraacute-la importante para discutirmos o
ensino do esporte na escola Afinal por que eacute
importante ensinar esporte nas aulas de Edushy
caccedilatildeo Fiacutesica se este jaacute estaacute presente em nosso
dia a dia fora da escola Seria o ensino do esshy
porte realmente necessaacuterio aos alunos
A resposta a essas questotildees nos remete
inicialmente ao fato de que desde a deacutecada
de 1990 com a divulgaccedilatildeo da perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a
cultura corporal (COLET IVO DE AUTORES 1992) foi ampliashy
da a possibilidade de relacionar a Educaccedilatildeo Fiacutesica com a formaccedilatildeo
de sujeitos histoacutericos capazes de compreender a realidade de modo
a nela intervir criticamente Orientada na Pedagogia histoacuterico-criacuteti-
ca (SAVIANI 2005a) tal perspectiva trouxe novas formas de aborshy
dagem dos conteuacutedos As aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica antes pensadas
com o objetivo de desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica de treinamenshy
to teacutecnico de recreaccedilatildeo de aprendizagem motora dentre outros
puderam ser superadas por uma nova tarefa de transmissatildeo do saber
sistematizado necessaacuterio agrave compreensatildeo da realidade
Para alcanccedilar a nova tarefa a que se propotildee a perspectiva
da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal os conteuacutedos passashy
ram a demandar uma tematizaccedilatildeo criacutetico-superadora No caso da
manifestaccedilatildeo cultural que nos propomos a refletir no presente
capiacutetulo as indicaccedilotildees do Coletivo de Autores (1992) fornecem
a base para trataacute-la pedagogicamente de modo a superar as caracshy
teriacutesticas impostas pela sociedade capitalista Imprim ir um novo
sentidosignificado ao esporte implica a consideraccedilatildeo de alguns
elementos jaacute retomados por Assis (2001) Um deles eacute a necesshy
sidade de realizar uma leitura criacutetica do esporte sobretudo para
compreender as mediaccedilotildees que o integram agraves relaccedilotildees sociais de
produccedilatildeo da existecircncia humana Sem refletir criticamente sobre
o esporte corre-se o risco de natildeo compreender sua funccedilatildeo na
reproduccedilatildeo do capitalismo ou de desconsiderar a possibilidade
de esse fenocircmeno cultural servir a outro projeto de sociedade
Outro aspecto reside na necessidade de consideraacute-lo um
conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica A constataccedilatildeo de que o esporte vishy
nha atendendo historicamente aos interesses dominantes fez com
que alguns professores se distanciassem do ensino do esporte na
escola Na verdade por considerar que o esporte relaciona-se ao
processo de reproduccedilatildeo do capitalismo natildeo pretendemos afastaacute-
-lo da educaccedilatildeo escolar Pelo contraacuterio ressaltamos a necessidade
de tematizaacute-Io na escola visto que a transmissatildeo do saber objeshy
tivo historicamente acumulado sobre essa praacutetica cultural pode
se transformar em instrumento cultural de luta contra as forshy
mas de dominaccedilatildeo a que estatildeo submetidos os membros da classe
trabalhadora ainda hoje Daiacute a defesa do Coletivo de Autores
(1992) para desmitificar o esporte atraveacutes da oferta na escola
do conhecimento que permita aos alunos criticaacute-lo dentro de um
determinado contexto histoacuterico
Conforme afirma Assis (2001) o esporte traz consigo possishy
bilidades contraditoacuterias de modo que eacute possiacutevel enfatizar situashy
ccedilotildees que privilegiam a solidariedade sobre a rivalidade o coletivo
sobre o individual a autonomia sobre a submissatildeo a cooperaccedilatildeo
sobre a disputa a distribuiccedilatildeo sobre a apropriaccedilatildeo a abundacircncia
sobre a escassez a confianccedila muacutetua sobre a suspeita a descon-
traccedilatildeo sobre a tensatildeo a perseveranccedila sobre a desistecircncia e ainda
a vontade de continuar jogando em contraposiccedilatildeo agrave pressa para
terminar a partida e configurar resultados
A partir desses apontamentos torna-se possiacutevel afirmar que o
ensino desse conteuacutedo pode permitir aos alunos a apropriaccedilatildeo das
formas mais desenvolvidas do saber objetivo sobre o esporte que se
encontra acumulado na cultura Compreender o esporte demanda a
apropriaccedilatildeo do conhecimento jaacute produzido sobre ele Tal apropriashy
ccedilatildeo possibilita a compreensatildeo de suas contradiccedilotildees e consequenteshy
mente estabelecer novas relaccedilotildees com essa manifestaccedilatildeo cultural
Conforme afirma Saviani (2006) dominar a cultura erudita
eacute necessaacuterio aos membros da classe trabalhadora para que possam
fazer valer os seus interesses jaacute que a classe dominante faz uso
exatamente dos conteuacutedos culturais para legitimar e consolidar
sua dominaccedilatildeo Redirecionando essa reflexatildeo para o ensino do
esporte podemos concluir que o domiacutenio do conhecimento sisshy
tematizado sobre essa manifestaccedilatildeo cultural tambeacutem se constitui
como instrumento indispensaacutevel uma vez que os conhecimentos
adquiridos no cotidiano tendem a ser insuficientes para atuaccedilatildeo
dos indiviacuteduos enquanto sujeitos da histoacuteria
Esporte sauacutede e o modo vidatrabalho no capitalismo
Embora seja muito propagada atualmente sobretudo pela atushy
accedilatildeo de governos e Organismos Internacionais como a Organizaccedilatildeo
das Naccedilotildees Unidas (ONU) o Banco Mundial (BM) e o Fundo Moshy
netaacuterio Internacional (FMI) a ideologia que afirma de forma mecacircshy
nica o esporte como sauacutede carece de anaacutelise concreta da realidade
onde estatildeo inseridas as classes fundamentais1 Na perspectiva que
sustenta nosso estudo o entendimento do esporte da sauacutede e da posshy
siacutevel relaccedilatildeo entre esses dois temas soacute pode ser alcanccedilado se forem
confrontados e aferidos no conjunto da dinacircmica das relaccedilotildees sociais
existentes no modo vidatrabalho capitalista
O fenocircmeno cultural ldquoesporterdquo toma forma no seacuteculo XVIII no
periacuteodo de revoluccedilatildeo e afirmaccedilatildeo da burguesia enquanto classe domishy
nante Segundo Hobsbawm (1988) o esporte foi ldquoformalizado em torshy
no dessa eacutepoca na Inglaterra que lhe ofereceu o modelo e o vocabulaacuteshy
rio alastrou-se como um incecircndio aos demais paiacutesesrdquo (p 255) sendo
tambeacutem fruto segundo Bracht (2005) de ldquomodificaccedilatildeo poderiacuteamos
dizer de esportivizaccedilatildeo de elementos da cultura corporal de movimento
das classes populares inglesas como os jogos popularesrdquo (p 13) cuja
funccedilatildeo era basicamente de comemorar ou festejar datas
Foi tambeacutem nessa eacutepoca - da revoluccedilatildeo industrial - que os trabashy
lhadores passaram a conhecer o chamado ldquotempo livrerdquo que era exashy
tamente o tempo no qual se encontravam livres das obrigaccedilotildees fabris
0 preenchimento desse tempo para promover melhorias no trabalho
produtivo e na conformaccedilatildeo ideoloacutegica para uma melhor extraccedilatildeo da
mais-valia deveria abarcar valores e concepccedilotildees de mundo proacuteprias de
uma burguesia emergente (SILVA 1994) Tais valores se expressavam
diretamente no esporte uma vez que permitia o desenvolvimento de
1 Quando uma pequena parcela dos homens toma para si os meios de produccedilatildeo criam-se
contraditoriamente na sociedade duas classes a dos que detecircm os meios de produccedilatildeo e
aqueles que necessitam vender o uacutenico bem que lhes restou sua Forccedila de trabalho Essa
relaccedilatildeo contraditoacuteria e conflitante enrre os homens requer formas de dominaccedilatildeo por
exemplo as ideologias Entendendo ldquoideologiardquo natildeo como ilusatildeo ou supersticcedilatildeo mas
uma forma material especiacutefica de consciecircncia social (MESZAROS 2004)
determinadas formas de pensar e agir a exemplo da lealdade senso
de responsabilidade esforccedilo pessoal espiacuterito de equipe dentre outros
(TAFFAREL SANTOS JUN IOR 2009)
Proni (2002) ao traduzir a concepccedilatildeo de esporte desenvolvida
por Brohm cria um trabalho fecundo de elementos para compreshy
ensatildeo desse tema Segundo o autor a hipoacutetese central de Brohm se
sustenta no entendimento de que o sistema esportivo moderno eacute o
reflexo da universalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo da forma de vida predomishy
nante que tem sua origem na economia capitalista na qual impera
o espiacuterito industrial a mentalidade do rendimento e do ecircxito ldquoO
intercacircmbio de mercadorias e de capital tiveram como consequecircncia
o intercacircmbio de ideias e a difusatildeo de praacuteticas esportivasrdquo (PRONI
2002 p 38) Ainda segundo o autor satildeo quatro fatores que Brohm
diz ser responsaacuteveis pelo desenvolvimento do esporte
(a) O aumento do tempo livre e o desenvolvimento do
oacutecio (que ocupa um lugar de destaque na civilizaccedilatildeo do
lazer) (b) a universalizaccedilatildeo dos intercacircmbios medianshy
te os transportes e os meios de comunicaccedilatildeo de massa
(o esporte converte-se em ldquomercadoria culturalrdquo graccedilas
a sua natureza comospolita) (c) revoluccedilatildeo teacutecnico -
cientiacutefica (que reflete-se na busca da eficiecircncia corposhy
ral nos novos materiais e equipamentos inclusive no
surgimento de novas modalidades esportivas) (d) e a
revoluccedilatildeo democraacutetico mdash burguesa e o enfrentamento
das naccedilotildees no plano internacional (isto eacute a dinacircmica
poliacutetico mdash ideoloacutegica) (PRONI 2002 p 39)
O esporte dentro dessa perspectiva carrega os valores e os pashy
drotildees de desenvolvimento do Estado liberal Difunde uma forma
de conviacutevio e inspira desejos de mudanccedilas individuais Aproxima
as classes sociais ocultando o antagonismo poliacutetico-econocircmico e
a relaccedilatildeo de exploraccedilatildeo existente entre elas Ou seja um produto
da sociedade industrial que vem servindo em larga medida como
elemento de difusatildeo do ideaacuterio e dos interesses da classe dominanshy
te Assim para Brohm a essecircncia do esporte
eacute a ideologia democraacutetica tiacutepica de uma sociedade
que precisa cultivar um ideal humanitaacuterio (liberdade
igualdade fraternidade) e ao mesmo tempo velar suas
estruturas de classe e seus mecanismos de dominaccedilatildeo
Por isso o autor enfatiza o papel da instituiccedilatildeo esporshy
tiva como estrutura simboacutelica e aparato ideoloacutegico do
Estado (PRONI 2002 p 39-40)
Desse modo Brohm iraacute concluir que o esporte eacute por excelecircnshy
cia algo nefasto para os trabalhadores servindo unicamente para
o fortalecimento das forccedilas e da identidade burguesa (BRACHT
2005) Essa se torna uma visatildeo estreita da realidade Considerashy
mos que a cultura esportiva de fato carrega os valores capitalistas
e nesse sentido tem servido como instrumento a serviccedilo da domishy
naccedilatildeo burguesa Mas isso natildeo eacute tudo Acreditamos que a anaacutelise do
esporte de forma mais profiacutecua deve ser aferida no conjunto das
contradiccedilotildees que envolvem a relaccedilatildeo capital-trabalho E na luta
de classes que as culturas vatildeo se amoldando Portanto o esporte
natildeo eacute uma instituiccedilatildeo que paira acima dos conflitos sociais natildeo
sendo em si nem ldquobom nem ldquoruimrdquo Trata-se da expressatildeo de uma
condensaccedilatildeo de forccedilas na qual hegemonicamente os valores da
classe burguesa sobressaem em relaccedilatildeo aos da classe trabalhadora
Nos dias de hoje a articulaccedilatildeo do esporte com os interesshy
ses da classe dominante pode ser evidenciada pela relaccedilatildeo co-
mumente estabelecida entre a praacutetica de esporte e a obtenccedilatildeo de
sauacutede Exemplo disso eacute a defesa da O N U de que as principais
causas de ateacute 60 das mortes no mundo estatildeo ligadas a pessoas
inativas e que o esporte e a Educaccedilatildeo Fiacutesica ldquosatildeo cruciais para a
vida longa e saudaacutevel O esporte melhora a sauacutede e o bem-estar
aumenta a expectativa de vida e reduz o risco de vaacuterias doenccedilas
natildeo-transmissiacuteveis incluindo a doenccedila cardiacuteacardquo (ON U 2003 p
7 traduccedilatildeo nossa) aleacutem de ser essencial para manter a ldquosauacutede da
menterdquo e construir ldquovaliosas conexotildees sociaisrdquo
Segundo Delia Fonte e Loureiro (1997) eacute a visatildeo funcionalista
sobre a sauacutede que permite afirmar a praacutetica de esporte como soluccedilatildeo
para os malefiacutecios da vida moderna Para os autores essa afirmaccedilatildeo
demonstra a superficialidade com a qual tem se abordado o tema sauacuteshy
de Na visatildeo funcionalista as doenccedilas ou ldquomorbidadesrdquo natildeo tecircm nada
a ver com as relaccedilotildees sociais concretas e sim com um desvio dos indishy
viacuteduos ou seja uma natildeo adesatildeo consciente a haacutebitos mais saudaacuteveis
Delia Fonte e Loureiro (1997) nos ajudam a entender a rashy
zatildeo que leva os Organismos Internacionais a difundir tais com-
preensotildees sobre o tema Conforme afirmam os autores
a estrutura social capitalista determina e legitima vaacuterias
ideacuteias valores e atitudes altamente patoloacutegicos Por um
processo de naturalizaccedilatildeo essas patologias saacuteo apresenshy
tadas como inerentes ao ser humano Longe de serem
compreendidas como patologias elas satildeo tidas como
qualidades Assim aceita-se como normal a busca do
lucro como objetivo de toda atividade econocircmica a exshy
ploraccedilatildeo do homem pelo homem o individualismo a
competitividade e a ambiccedilatildeo como valores modernos a
repressatildeo de ideacuteias e sentimentos rotulados como tabus
a satisfaccedilatildeo imediata de desejos como traduccedilatildeo da felishy
cidade a reificaccedilatildeo das pessoas e das relaccedilotildees sociais e a
alienaccedilatildeo (DELLA FONTE LOUREIRO 1997 p 2)
Em outras palavras o modo de vidatrabalho ainda sob a eacutegide
de uma sociedade classista conserva uma estrutura de poder e uma
poliacutetica mundial de grandes impactos no que concerne agrave sobrevivecircnshy
cia dos indiviacuteduos Nessa direccedilatildeo a preocupaccedilatildeo dos Organismos Inshy
ternacionais consiste tambeacutem em criar ideologias capazes de situar
os indiviacuteduos como uacutenicos culpados ou responsaacuteveis pelo seu estado
de sauacutede independentemente de suas condiccedilotildees de vidatrabalho
Os riscos derivados do modo capitalista de produccedilatildeo da
existecircncia humana satildeo diversos e ligados a inuacutemeras causas tais
como aqueles provenientes do ambiente de trabalho como rashy
diaccedilotildees ruiacutedos frio e calor intenso pressotildees anormais umidade
poeiras gases vapores compostos quiacutemicos esforccedilo fiacutesico intenshy
so controle de alta produtividade trabalho noturno monotoshy
nia trabalho repetitivo maacutequinas e estruturas mal conservadas
entre outros (SOUZA 2011) Vale destacar que ateacute mesmo os
esportistas de alto rendimento sentem os efeitos degradantes do
trabalho no capitalismo o que pode ser expresso natildeo apenas pelo
alto iacutendice de lesotildees mas tambeacutem pelo uso de substacircncias preshy
judiciais agrave sauacutede voltadas ao a u m e n rn Alt c mdash
a isso outros problemas como o aumento do iacutendice de depresshy
satildeo por exemplo que tambeacutem tem atingido atletas2
Mesmo os que natildeo sofrem tais efeitos durante a venda de sua
forccedila de trabalho estatildeo de alguma forma sujeitos agraves implicaccedilotildees do
modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Exemplo disso
satildeo as implicaccedilotildees da degradaccedilatildeo ambiental produzida e intensificada
pelo capitalismo Trata-se de mais uma evidecircncia de que os riscos desshy
sa forma de organizaccedilatildeo social agrave vida humana hoje atingem a todos
A repercussatildeo negativa das relaccedilotildees capitalistas contemporacircshy
neas nas formaccedilotildees sociais ainda eacute agravada com o aumento da
desigualdade social perdas de direitos trabalhistas aumento da
exploraccedilatildeo aumento da violecircncia no campo e nas cidades surtos
de doenccedilas e principalmente a natildeo garantia de direitos baacutesicos
como sauacutede transporte educaccedilatildeo e outros Problemas como esshy
ses tendem a ser contrabalanceados a partir da foacutermula maacutegica
que o esporte assume na oacutetica funcionalista
A pretensa sauacutede relacionada agrave praacutetica do esporte tatildeo defendida
pelos Organismos Internacionais e governos serve duplamente agrave reshy
produccedilatildeo do capitalismo Se de um lado busca convencer as pessoas
de que a ldquoausecircncia de sauacutederdquo eacute uma escolha consciente e natural de
haacutebitos natildeo saudaacuteveis por outro busca ocultar as contradiccedilotildees do
modo de vidatrabalho em uma sociedade de classes O esporte nesshy
se caso torna-se um poderoso instrumento para dinamizar toda essa
estrutura ideoloacutegica de manutenccedilatildeo das relaccedilotildees sociais capitalistas
exatamente a forma de organizaccedilatildeo social que natildeo permite - a todos
- obter condiccedilotildees dignas de trabalho de vida bem como acesso iguashy
litaacuterio a tecnologias e serviccedilos de sauacutede
Em siacutentese pode-se dizer que o desenvolvimento do esporte eacute
algo circunscrito numa totalidade moldada pelo antagonismo das
classes existentes Essa produccedilatildeo cultural assume aspectos compleshy
xos e contraditoacuterios Seus valores moralizantes imbuiacutedos do pensa-
2 A respeito disso ver reportagem ldquoMal do seacuteculo depressatildeo aproxima trageacutedias do mundo
do futebolrdquo (BELPIEDE 2011)
3
mento liberal buscam fortalecer e universalizar um modo de vida
trabalho que coincide com os interesses da classe dominante Trata-
-se de uma forma de educar eacutetica e politicamente os subalternos
definindo um padratildeo de sociabilidade3 A deformaccedilatildeo das praacuteticas
populares e sua adequaccedilatildeo agrave ordem capitalista geram perda parcial
de identidades e possibilidades de autocriaccedilatildeo e transformaccedilatildeo Enshy
tretanto a busca de formas alternativas que visem o resgate das vonshy
tades meacutetodos e anseios dos trabalhadores natildeo eacute algo simples devishy
do ao processo funcional de obscurecimento da realidade Trata-se
de algo importante e possiacutevel a partir do esporte
Considerar o esporte como algo acabado sem espaccedilo para
explorar a contradiccedilatildeo natildeo interessa agrave organizaccedilatildeo da classe trashy
balhadora ldquoUma coisa eacute submeter o esporte aos interesses dos goshy
vernantes e outra eacute tratar pedagogicamente criacutetica reflexiva e
criativamente o esporte enquanto conteuacutedo de ensino e campo de
vivecircncia socialrdquo (TAFFAREL SA N TO S JU N IO R 2009 p 33)
construiacutedo por meacutetodos proacuteprios que visam atender aos anseios
e aspiraccedilotildees dos trabalhadores Ou seja os subalternos devem ser
ldquocapazes de compreender antecipar e contrastar os movimentos
das classes dominantesrdquo (DIAS 2006 p 13)
Entendemos que a condiccedilatildeo da transformaccedilatildeo da sociedade
ou seja a sociabilidade historicamente emancipada livre da domishy
naccedilatildeo de classe seraacute fruto da capacidade de enxergarmos a conshy
tradiccedilatildeo e nela atuarmos no sentido de superaacute-la poliacutetica e econoshy
micamente O que deve ser extirpado da histoacuteria dos homens natildeo
eacute o esporte mas as relaccedilotildees de produccedilatildeo que amoldam culturas e
mentes para servir agrave dominaccedilatildeo de uma classe sobre a outra
Compreender a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede a partir dos funshy
damentos aqui apresentados possibilita criticar a visatildeo funcionalisshy
ta o que pode ser um importante passo para pocircr fim agrave subordinashy
ccedilatildeo do esporte ao projeto histoacuterico da classe dominante
3 Para compreender como a institucionalizaccedilatildeo do esporte na aparelhagem estatal vem
contribuindo para a formaccedilatildeo da sociabilidade capitalista no Brasil recorrer ao estudo de
Souza (2011)
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o conteuacutedo esporte
Com o intuito de articular o ensino do esporte ao que considerashy
mos ser o papel da escola elaboramos uma proposta de trabalho pedashy
goacutegico com o tema esporte e sauacutede a ser desenvolvida com alunos do
oitavo ano da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de ForaMG
O primeiro contato dos alunos com o conteuacutedo a ser trabashy
lhado na unidade didaacutetica em questatildeo ocorreraacute na identificaccedilatildeo da praacutetica social onde apontaremos o assunto que seraacute desenvolvido
durante as aulas Tambeacutem buscaremos apreender o conhecimento
preliminar dos discentes bem como as questotildees que tecircm interesse
de ampliar o saber Apresentaremos o conteuacutedo Esporte delimitanshy
do o seguinte questionamento que direcionaraacute nossas aulas Esporte eacute sauacutede Em seguida cada aluno individualmente deveraacute elaborar
um texto explicitando sua compreensatildeo sobre essa questatildeo geral a
fim de captarmos os saberes construiacutedos pela vivecircncia cotidiana dos
alunos Espera-se com isso que os alunos maniiacuteestem o conhecishy
mento que possuem sobre a temaacutetica estabelecendo ou natildeo uma
relaccedilatildeo entre a praacutetica esportiva e a obtenccedilatildeo de sauacutede
Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto iniciaremos uma discussatildeo geral
sobre a temaacutetica e explicitaremos os toacutepicos que seratildeo abordados
durante o trabalho com o tema a saber sauacutede uma questatildeo
social as lesotildees e a depressatildeo cm atletas do esporte de rendishy
mento os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo vivenciando
diferentes modalidades esportivas Em seguida apresentaremos
os objetivos as atividades a serem desenvolvidas assim como a
importacircncia de se estudar esse tema
A seleccedilatildeo de questotildees sociais que permeiam o conteuacutedo aborshy
dado instigando o debate e a reflexatildeo dos alunos se expressa no
segundo passo metodoloacutegico a problematizaccedilatildeo Nesta etapa seleshy
cionaremos as dimensotildees do conteuacutedo que seratildeo trabalhadas esshy
tabelecendo os questionamentos relacionados agrave praacutetica social tal
como sugere o plano de unidade apresentado a seguir
Na instrumentalizaccedilatildeo fase na qual ocorre de fato a aproshy
priaccedilatildeo do conhecimento por parte do aluno pretendemos desenshy
volver atividades que contribuam para a elaboraccedilatildeo de respostas
aos questionamentos sistematizados anteriormente As atividashy
des docentes e discentes voltadas agrave transmissatildeoapropriaccedilatildeo do
conhecimento sistematizado vatildeo envolver exposiccedilatildeo do conteuacutedo
pelo professor anaacutelise de viacutedeos c documentaacuterios que abordem
a temaacutetica da sauacutede e do esporte leitura discussatildeo e anaacutelise de
reportagens sobre o tema pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privashy
dos) disponiacuteveis para a praacutetica de esporte na cidade vivecircncia das
modalidades esportivas mais conhecidas no paiacutes dentre outros
Para captar se os alunos se apropriaram do conhecimento elashy
borado que os capacita a responder as questotildees levantadas na pro-
blematizaccedilatildeo pretendemos aplicar uma atividade na qual os alunos
individualmente possam produzir um texto dissertativo sobre a seshy
guinte questatildeo geral esporte eacute sauacutede Espera-se que os alunos sejam
capazes de expressar o conhecimento adquirido se aproximando
do entendimento de que a sauacutede eacute uma questatildeo social e portanto
envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporshy
te atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por
exemplo Espera-se que os alunos superem o entendimento predoshy
minante do senso comum expressando que a praacutetica de esporte
por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacutede e mais por questotildees
ideoloacutegicas o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo vem sendo veiculado com a
intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsabilidade por sua
proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus direitos
baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos
que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo
Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto pretendemos discutir as diferenshy
tes abordagens do tema apresentadas pelos alunos inclusive posshy
sibilitando a eles comparar o texto produzido neste momento na
catarse com o texto produzido no iniacutecio do processo pedagoacutegishy
co Aleacutem disso os alunos devem produzir em grupos um cartaz
alertando a comunidade escolar sobre a problemaacutetica estudada
No retorno agrave praacutetica social pretendemos finalizar o trabalho
pedagoacutegico definindo juntamente com os alunos novas intenshy
ccedilotildees e propostas de accedilatildeo mdash a partir da nova forma de compreenshy
der e de lidar com o conteuacutedotema em questatildeo
Plano de unidade
Esporte eacute sauacutede
DISCIPLINA Educaccedilatildeo Fiacutesica
AN O DE ESCOLARIDADE 8o ano do Ensino Fundamental
C O N T E Uacute D O Esporte
U N ID A D E Esporte c sauacutede
N Uacute M ERO DE AULAS 10 aulas
OBJETIVOS GERAIS
bull Entender a sauacutede como uma questatildeo social resultado
das condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo meio
ambiente trabalho transporte acesso aos serviccedilos de
sauacutede dentre outros de modo a adotar uma postura
favoraacutevel agrave superaccedilatildeo dos problemas sociais concretos
que determinam a obtenccedilatildeo da sauacutede
bull Vivenciar atividades esportivas enfatizando novos
sentidossignificados para posicionar-se favoravelmente agrave
transformaccedilatildeo do esporte
bull Refletir sobre os iacutendices de lesotildees e distuacuterbios emocionais
em atletas do esporte de rendimento
bull Analisar diferentes discursos sobre esporte e sauacutede
para posicionar-se criticamente diante das concepccedilotildees
que estabelecem uma relaccedilatildeo direta entre a praacutetica de
esporte e a obtenccedilatildeo de sauacutede
1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL
11 Anuacutencio dos conteuacutedos
TOacutePICOS
bull Sauacutede uma questatildeo social
bull As lesotildees e a depressatildeo em atletas do esporte de rendimento
bull Os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo
bull Vivenciando diferentes modalidades esportivas
12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos
bull O que os alunos sabem a praacutetica de esporte estaacute relacionada
agrave obtenccedilatildeo de sauacutede praticar esporte faz bem agrave sauacutede
bull O que os alunos querem saber mais o que eacute necessaacuterio
para termos uma vida saudaacutevel Quais satildeo os esportes mais
conhecidos no Brasil Quais esportes tecircm o maior iacutendice
de lesotildees
2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO
21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo
O que vocecircs entendem por sauacutede O esporte promove sauacutede
Por quecirc Qual a importacircncia de se estudar o tema ldquoesporte eacute sauacutederdquo
22 Dimensotildees do conteuacutedo
bull Dimensatildeo conceituai O que eacute sauacutede Quais os principais
benefiacutecios da praacutetica correta e adequada de exerciacutecios
fiacutesicos Como a praacutetica esportiva melhora nossa sauacutede
bull Dimensatildeo histoacuterica os espaccedilos puacuteblicos destinados agrave praacutetica
de esporte em nossa cidade estatildeo diminuindo nos uacuteltimos
anos E os espaccedilos que cobram aluguel para utilizaccedilatildeo Seraacute
que esses espaccedilos estatildeo diminuindo ou aumentando
bull Dimensatildeo econocircmica- por que no esporte de rendimento as
lesotildees satildeo muito comuns
bull Dimensatildeo social se o esporte combate a depressatildeo por que
tem aumentado o nuacutemero de casos de atletas com essa
doenccedila A obtenccedilatildeo da sauacutede estaacute sempre presente nos
esportes de alto rendimento O uso de substacircncias para
melhorar o rendimento e a grande incidecircncia de lesotildees nos
atletas eacute indicativo de sauacutede
bull Dimensatildeo poliacuteticarsquo haacute algum programa social que propaga
o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo ou que nele se fundamenta O
lema esporte e sauacutede tem alguma importacircncia poliacutetica Haacute
poliacuteticas puacuteblicas de incentivo agrave praacutetica esportiva na sua
cidade
bull Dimensatildeo cultural Qual a influecircncia da miacutedia na relaccedilatildeo
entre esporte e sauacutede
bull Dimensatildeo ideoloacutegica Por que eacute tatildeo difundida a ideia de que
esporte eacute sauacutede A exigecircncia da capacidade fiacutesica dos atletas
nos esportes de alto rendimento eacute sinocircnimo de sauacutede
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
31 Accedilotildees docentes e discentes
bull Anaacutelise de viacutedeos e documentaacuterios
bull Vivecircncia das modalidades esportivas mais conhecidas no
paiacutes
bull Exposiccedilatildeo do conteuacutedo pelo professor
bull Pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privados) disponiacuteveis para
a praacutetica de esporte na cidade
bull Leitura e anaacutelise de reportagens
32 Recursos mdash humanos e materiais
Livros revistas jornais slides bolas tv dvd folhas de papel
4) CATARSE
41 Siacutentese teoacuterica do aluno
O esporte tem se apresentado atualmente como elemento crucial para
obter sauacutede e alcanccedilar uma vida saudaacutevel A praacutetica de esporte quase semshy
pre estaacute diretamente relacionada agrave sauacutede Poreacutem uma anaacutelise mais cuidashy
dosa do tema esporte e sauacutede nos permite criticar e superar essas compre-
ensotildees predominantes Em primeiro lugar a sauacutede eacute uma questatildeo social
que envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporte
atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por exemplo
Assim a praacutetica de esporte por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacuteshy
de Ateacute mesmo alguns esportistas de alto rendimento acabam por adquirir
problemas de sauacutede em virtude de sua atividade de trabalho seja por utilishy
zar substacircncias seja por se machucar durante treinos ou competiccedilotildees Em
segundo lugar eacute importante destacar que muitas vezes o lema ldquoesporte eacute
sauacutederdquo eacute veiculado com a intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsashy
bilidade por sua proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus
direitos baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos
que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo
42 Expressatildeo da siacutentese
Elaboraccedilatildeo de texto dissertativo produccedilatildeo (em grupo) de um
cartaz sobre o tema estudado
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO
Quadro 1- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO 52 AltyOacuteES DO ALUNO
Saber mais sobre esporte e sauacutede Ler artigos acadecircmicos sobre esporte e sauacutede
Situar-se criticamente frente agraves formulaccedilotildees
sobre esporte e sauacutede utilizando o conhecishy
mento adquirido para compreendecirc-las critishy
camente
Analisar formulaccedilotildees sobre esporte e sauacutede
veiculadas pela miacutedia
Manifestar uma atitude favoraacutevel agrave transforshy
maccedilatildeo do esporte
Vivenciar modalidades esportivas dando
um novo significado a essas praacuteticas de
m odo que a competiccedilatildeo a concorrecircncia
o rendimento e a disputa por exemplo
sejam substituiacutedos por valores que sociashy
lizam privilegiam o coletivo garantam a
solidariedade e respeito humano dentre
outros
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildes Finais
O presente texto buscou apresentar uma proposta pedagoacutegica
de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
tendo como referecircncia os fundamentos da Pedagogia histoacuterico-
-criacutetica Buscamos com essa proposta ampliar a compreensatildeo dos
alunos sobre o tema e consequentemente possibilitar-lhes transshy
cender noccedilotildees cotidianas sobre a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede
Ao socializara referida proposta no presente artigo natildeo pretenshy
demos oferecer uma ldquoreceitardquo mas sim apresentar uma das inuacutemeshy
ras possibilidades de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte
Ainda consideramos importante destacar que as dificuldades imshy
postas pelas condiccedilotildees de vida e trabalho de grande parte dos professhy
sores das redes puacuteblicas municipal e estadual de ensino assim como as
degradantes condiccedilotildees de vida a que estatildeo expostos muitos dos nossos
alunos satildeo apenas alguns dos fatores que podem dificultar o desenshy
volvimento do trabalho pedagoacutegico voltado agrave transmissatildeo do conheshy
cimento sistematizado na educaccedilatildeo escolar As precaacuterias condiccedilotildees de
vidatrabalho por sua vez reiteram nosso entendimento de que a luta
pela socializaccedilatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo se esgota no
debate pedagoacutegico entre as diferentes concepccedilotildees uma vez que engloshy
ba tambeacutem a luta pela escola puacuteblica que deve ser enfrentada em sua
radicalidade tal como alerta Saviani (2005b p 257)
O desafio posto pela sociedade de classes do tipo
capitalista agrave educaccedilatildeo puacuteblica soacute poderaacute ser enfrenshy
tado em sentido proacuteprio isto eacute radicalmente com
a superaccedilatildeo dessa forma de sociedade A luta pela
escola puacuteblica coincide portanto com a luta pelo
socialismo por ser este uma forma de produccedilatildeo
que socializa os meios de produccedilatildeo superando sua
apropriaccedilatildeo privada Com isso socializa-se o saber
viabilizando sua apropriaccedilatildeo pelos trabalhadores
isto eacute pelo conjunto da populaccedilatildeo
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CAPIacuteTULO V
0 MMA COMO NOVA FACE DA LUTA ESPETAacuteCULO
Adriano de Paiva Reis
Graziany Penna Dias
Rafael Loures dos Reis Bellei
Renata Aparecida Alves Landim
O presente capiacutetulo tem por intenccedilatildeo trazer
contribuiccedilotildees sobre a possibilidade de trabalho
com o conteuacutedo lutas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica Entendemos que abordar as lutas na escola
natildeo eacute tarefa faacutecil pois esse conteuacutedo impotildee como
veremos algumas dificuldades ateacute mesmo pela
compreensatildeo equivocada dos proacuteprios professoshy
res e comunidade escolar sobre esse elemento da
cultura corporal Natildeo obstante compreendemos
que o trabalho pedagoacutegico com esse conteuacutedo eacute
possiacutevel e necessaacuterio pois nosso objetivo eacute que os
alunos ultrapassem uma concepccedilatildeo sincreacutetica e
caoacutetica sobre a realidade a partir da apropriaccedilatildeo
de conhecimentos que os permitam superar as vishy
sotildees parciais que predominam no senso comum
Partindo desse pressuposto optamos por
abordar uma temaacutetica que tem chamado a atenshy
ccedilatildeo de nossos alunos na atualidade o fenocircmeno
das Artes Marciais Mistas modalidade de luta
esportiva alardeada pela miacutedia e alvo de muitas
polecircmicas Nossa perspectiva neste texto seraacute reashy
lizar uma breve discussatildeo sobre o tema e apontar
referecircncias metodoloacutegicas para seu tratamento
nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica em conformidade com o referencial teoacuterico-
-metodoloacutegico proposto pelo Coletivo de Autores (1992)
As lutas e seu lugar na escola formaccedilatildeo de lutadores ou sujeitos
A partir da definiccedilatildeo do grande campo da cultura corporal as
lutasartes marciais1 passaram a figurar como importante conteuacutedo
das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica O reconhecimento da necessidade de
tratamento pedagoacutegico das lutas na escola pode ser comprovado em
diversas orientaccedilotildeespropostas curriculares em niacutevel nacional estashy
dual e municipal e em escritos de diversos autores da aacuterea
Natildeo obstante em que pese essa produccedilatildeo ela ainda tem sido
incipiente em termos de lograr accedilotildees (pedagoacutegicas) efetivas para os
diferentes niacuteveis da educaccedilatildeo escolar A parca produccedilatildeo cientiacutefica
abordando as lutas na escola pode ser comprovada se comparada agrave
produccedilatildeo de outros conteuacutedos como o esporte o jogo e a ginaacutestica
Os professores de Educaccedilatildeo Fiacutesica tambeacutem apontam algumas
dificuldades ao procurar trabalhar esse conteuacutedo em suas aulas
como a falta de materiais roupas e espaccedilos adequados De acorshy
do com Nascimento e Almeida (2007) os principais argumentos
para a restriccedilatildeo do trabalho com o conteuacutedo satildeo a falta de vivecircncia
cotidianaacadecircmica em lutas por parte dos professores e a preocushy
paccedilatildeo com a violecircncia que julgam ser intriacutenseca agrave praacutetica das lutas
tornando-as incompatiacuteveis com as finalidades da escola
Apesar de compreendermos esses argumentos acreditamos que
devemos lutar pela formaccedilatildeo continuada e pelos recursos materiais que
nos permitam trabalhar de forma ainda mais qualificada com as lutas
por serem importantes conteuacutedos para a Educaccedilatildeo Fiacutesica De acordo
com os pressupostos que este coletivo se propotildee a trabalhar entendeshy
mos que as lutas configuram-se como um dos elementos da cultura
1 A lguns autores operam distinccedilotildees conceituais entre os termos Artes Marciais
e Lutas Respeitando os objetivos e limites deste texto optamos por natildeo entrar
nesta polecircmica e trabalhar os dois termos dentro do conteuacutedo lutas Partimos do
pressuposto de que apesar de nem toda luta ser considerada uma arte marcial toda
arte marcial eacute em si uma luta Para aprofundar neste assunto ver Lanccedilanova (2006)
corporal dada sua importacircncia nos mais diversos periacuteodos histoacutericos e
pela perspectiva da sua produccedilatildeo com base na realidade sociai concreta
sendo essa accedilatildeo elemento singular do gecircnero humano3 e que por isso se
diferencia da accedilatildeo instintiva do atacar e defender dos animais
As lutas estatildeo presentes nos mais variados espaccedilos como nas atishy
vidades extracurriculares de muitas escolas nas Olimpiacuteadas em acashy
demias nos clubes e na miacutedia (das mais variadas formas) fazendo os
alunos terem uma aproximaccedilatildeo maior com essa manifestaccedilatildeo corporal
Entretanto esse contato se faz geralmente na perspectiva do senshy
so comum reduzindo as lutas aos coacutedigos do esporte de rendimento
em que pesem por exemplo a oficializaccedilatildeo de regras comparaccedilatildeo de
resultados institucionalizaccedilatildeo racionalizaccedilatildeo das praacuteticastreinamenshy
to e busca da maximizaccedilatildeo do desempenho elementos proacuteprios do
processo de esportivizaccedilatildeo a que outras manifestaccedilotildees como o jogo e
a danccedila vem sofrendo tambeacutem (GONZAacuteLEZ 2005)
O boxe eacute um bom exemplo desse processo de esportivizashy
ccedilatildeo Ele foi criado a partir de disputas nas feiras da Inglaterra
dos seacuteculos XV III e X IX e sua sistematizaccedilatildeo como esporte se
deu mediante o objetivo de organizar o tempo livre4 dos trabashy
lhadores das faacutebricas bem como ldquodosarrdquo a violecircncia O mesmo
aconteceu com a luta greco-romana e mais tarde com as lutas
2 Na linha do Coletivo de Autores (1992 p 38) a cultura corporal eacute o ldquo[] acervo de
formas de representaccedilatildeo do mundo que o homem tem produzido no decorrer da histoacuteria
exteriorizadas pela expressatildeo corporal jogo danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte
malabarismo contorcionismo miacutemica e outros que podem ser identificados como formas
de representaccedilotildees simboacutelicas de realidades vividas pelo homem historicamente criadas e
culturalmente desenvolvidasrdquo
3 A expressatildeo gecircnero humano eacute utilizada no lugar de espeacutecie humana natildeo por acaso mas
pautada nas elaboraccedilotildees de Duarte (2001) O autor natildeo descarta a ideia de que o ser humano
faz parte da espeacutecie humana poreacutem ele avanccedila nessa elaboraccedilatildeo De acordo com ele a
categoria espeacutecie humana se refere agrave identificaccedilatildeo do homem por seus elementos bioloacutegicos
jaacute a categoria gecircnero humano destaca as caracteriacutesticas humanas que satildeo formadas ao longo
da histoacuteria social natildeo transmissiacuteveis pela heranccedila geneacutetica ldquoA categoria de gecircnero humano
natildeo se reduz agravequilo que eacute comum a todos os homens natildeo eacute uma mera generalizaccedilatildeo de
caracteriacutesticas empiricamente verificaacuteveis em todo e qualquer ser humano Gecircnero humano
eacute uma categoria que expressa a siacutentese em cada momento histoacuterico de toda objetivaccedilatildeo
humana ateacute aquele momentordquo (DUARTE 2001 p 26)
4 Estamos entendendo tempo livre como aquele livre das obrigaccedilotildees sociais e cotidianas
pois no modelo social em que vivemos nenhum tempo pode ser considerado livre mas
regulado por alguma determinaccedilatildeo social Para saber mais ver Mascarenhalaquo
orientais (Caratecirc Taekwondocirc Kung-fu Jiu-jistu Judocirc etc) o
que nos permite apontar uma mudanccedila paradigmaacutetica das lutas
desde suas origens ateacute os dias atuais
De um modo geral as lutas tecircm suas conotaccedilotildees primordiais
associadas agraves praacuteticas para a guerra sendo posteriormente adotadas
como um caminho para se alcanccedilar um estilo de vida mais equilibrashy
do e paciacutefico Nessa linha Hausen (2004) descreve o processo histoacuterishy
co de desenvolvimento das lutas de origem oriental que surgiram de
danccedilas praticadas no periacuteodo neoliacutetico e foram sendo sistematizadas
com o intuito de defesa mas para aleacutem disso elas foram adquirindo
sentidossignificado mais amplos como a busca de aprimoramento
corporal espiritual eacutetico moral e intelectual
Nos dias atuais as lutas se apresentam de forma massificada e
descaracterizada dos seus objetivos originais como os filosoacuteficos e os
de desenvolvimento humano (BARROS GABRIEL 2011) Os filshy
mes desenhos animados jogos virtuais e academias de ginaacutestica enshy
tre outros espaccedilos muitas das vezes deturpam os significados autecircnshy
ticos das lutas fazendo com que esse importante elemento cultural se
perca diante das demandas do capitalismo internacionalizado
Quase sempre encaradas como espetaacuteculos maravilhosos de pancadashy
ria e violecircncia a miacutedia deturpa o sentido e significado original das lutas torshy
nando-as sinocircnimo de violecircncia e crueldade com os inimigos Este imagishy
naacuterio criado faz com que os praticantes de lutas se tornem super-heroacuteis que
combatem o mal atraveacutes da violecircncia que gradativatildemente ldquodessensibiliza
os mais novos acerca da violecircncia do choque e do terror de ver algueacutem senshy
do agredido Desenvolvendo essa toleracircncia agrave violecircncia precisaratildeo de cada
vez mais violecircncia para serem entretidos rdquo (LANCcedilANOVA 2006 p 7)
A defesa que fazemos em torno desse conteuacutedo se daacute na compreshy
ensatildeo de que essa manifestaccedilatildeo da cultura corporal muito tem a con-
5 Segundo Marta (2009) a disseminaccedilatildeo das artes marciais orientais para outros paiacuteses
desencadeou um processo de ocidentalizaccedilatildeo com progressiva transformaccedilatildeo das
mesmas em produtos que para tornarem-se mais acessiacuteveisaceitaacuteveis comeccedilam a ser
destituiacutedos de seus rituais e valores tradicionais sendo a esportivizaccedilatildeo um elemento
chave desse processo Vale lembrar que a ocidentalizaccedilatildeo natildeo ocorre apenas com as
lutas mas com toda a cultura de tal modo que podemos falar em ocidentalizaccedilatildeo da
comida da moda do padratildeo de beleza dos estilos de vida das praacuteticas corporais etc
tribuir na formaccedilatildeo criacutetica do nosso aluno visto que a atuaccedilatildeo como
sujeito histoacuterico requer o acesso aos conhecimentos acumulados sobre
as lutas e seus significados como realidades histoacuterico-sociais
Compreendemos que cada tipo de luta eacute uma manifestaccedilatildeo
dotada de trajetoacuteria singular pois satildeo criadas pelos homens conshy
forme os interesses sociais culturais poliacuteticos econocircmicos e filoshy
soacuteficos nos vaacuterios periacuteodos histoacutericos e modos de produccedilatildeo6 Desse
modo as lutas tornam-se campo feacutertil na compreensatildeo da realidashy
de como produccedilatildeo histoacuterica e que por isso podem ser reinventashy
das segundo suas necessidades e interesses Aliaacutes o fazer histoacuteria eacute
expressatildeo proacutepria do gecircnero humano Nas palavras de Hobsbawm
(2010) enquanto houver ser humano haveraacute histoacuteria
A perspectiva de trabalho com as lutas dentro da escola natildeo
tem como objetivo formar o lutador de certa modalidade mas sim
formar o sujeito histoacuterico E pensar isso perfaz entender que o ensishy
no de lutas justifica-se quando ele possibilita ao aluno compreender
de forma criacutetica os condicionantes histoacutericos e sociais que fizeram
das lutas o que satildeo hoje bem como possibilitar-lhe usufruir sob
outras perspectivas o praticarvivenciar essa manifestaccedilatildeo
Artes Marciais Mistas
O resultado de toda essa esportivizaccedilatildeoocidentalizaccedilatildeo das
artes marciais da falta de sensibilidade dessa sociedade cada vez
mais competitiva e da busca incansaacutevel por audiecircncia e conseshy
quentemente por lucro se cristaliza em uma simples sigla ldquoianshy
querdquo MMA Mixed M artial Arts) ou Artes Marciais Mistas O
M M A eacute uma luta esportiva em que teacutecnicas de variadas modalishy
dades de lutasartes marciais satildeo utilizadas devidamente esvaziashy
das de seus significados filosoacuteficos e histoacutericos originais e com um
acreacutescimo de brutalidade dotada de sentido econocircmico
6 Modo de produccedilatildeo eacute uma categoria utilizada por Marx com o intuito de discriminar
as diferenccedilas que cada eacutepoca histoacuterica possui em funccedilatildeo das suas forccedilas produtivas e
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo Assim podemos falar em modo de produccedilatildeo escravista
feudalista capitalista Para saber mais ver Huni (2005)
Selecionamos como temaacutetica dessa unidade de lutas essa
modalidade por entendermos que seu apelo midiaacutetico tem chashy
mado muita atenccedilatildeo entre os jovens em nossa sociedade nos uacutelshy
timos anos Essa popularizaccedilatildeo traz algumas questotildees que devem
ser socializadas e discutidas com nossos alunos tais como a orishy
gem dessa luta esportiva o papel da miacutedia na sua difusatildeo a sua
relaccedilatildeo com a violecircncia e com a mercadorizaccedilatildeo das lutas entre
muitas outras que possam surgir de acordo com o interesse e
aprofundamento dos alunos na temaacutetica
Os primeiros indiacutecios de lutas mistas estatildeo relacionados com
a Greacutecia antiga Tal luta era denominada de Pankration uma
combinaccedilatildeo de duas palavras gregas p a n que significa tudo ou
vaacuterios e kratos que significa forccedila7 Mas registros de algo pareshy
cido ressurgem por volta da segunda deacutecada do seacuteculo passado
aqui no Brasil quando membros da famiacutelia Gracie a fim de
divulgar uma modalidade de luta por eles adaptada do Jiu-jitsu
japonecircs e mais tarde denominada Jiu-jitsu brasileiro criaram o
ldquoGracie Challengerdquo ou ldquoDesafio dos Gracierdquo Os irmatildeos Gracie
desafiavam qualquer lutador de qualquer modalidade a fim de
demonstrar que a sua teacutecnica era mais eficiente Esses desafios
ficaram conhecidos como Vale-Tudo8 (AWI 2012)
Mais tarde no iniacutecio dos anos de 1990 nos EUA Rorion Gracie
e outros soacutecios criaram o primeiro torneio UFC (Ultimate Fighting
Championship) Com um formato um pouco diferente dos torneios de
ldquoVale-Tudordquo anteriores - como por exemplo o abandono do ringue e
7 O Pankration era unia espeacutecie de luta de solo que fazia parte das provas dos Jogos
Oliacutempicos sendo um dos acontecimentos mais populares da antiguidade Segundo Elias
e Dunning (1992) o niacutevel de violecircncia permitido nessa luta era muito elevado as regras
eram tradicionais e muito flexiacuteveis havia um juiz mas natildeo havia limite de tempo e o
combate durava ateacute que um dos oponentes desistisse por isso muitas vezes terminava com
a mutilaccedilatildeo ou morte do adversaacuterio O Pankration natildeo pode ser considerado um esporte
pois esse termo soacute pode ser suficientemente utilizado a partir do seacuteculo XV III em referecircncia
agraves praacuteticas corporais regidas por regras escritas e regulamentadas por instituiccedilotildees especiacuteficas
8 No fim da deacutecada de 1920 ocorreu o primeiro confronto puacuteblico desse gecircnero na ocasiatildeo
foi chamado de estilo versus estilo soacute depois a imprensa comeccedilou a se referir a esse confronto
como Vale Tudo (AWI 2012) Na deacutecada de I960 a violecircncia de algumas lutas criou uma
resistecircncia ao Vale Tudo que chegou a ser proibido no Brasil Ele ressurgiu entre as deacutecadas
de 1980 e 1990 num combate entre lutadores de Jiu-jitsu e Luta Livre mas enfraqueceu
novamente devido ao alto grau de violecircncia inclusive por parte do puacuteblico (MM A 2010)
a criaccedilatildeo do octoacutegono9 mdash o UFC chamou a atenccedilatildeo com lutadores de
diversas modalidades se enfrentando com regras miacutenimas e sem restrishy
ccedilatildeo de tempo Logo surgiram outros torneios como ldquoPRIDErdquo e ldquoOpen
Free Style Japanrdquo que se tornaram sucesso nas TV s por assinatura Poshy
reacutem juntamente com o sucesso de espectadores10 vieram as restriccedilotildees
em diversos estados por todos os EUA (MMA 2010)
Em pouco tempo de existecircncia dessas competiccedilotildees os lutashy
dores perceberam que aliar as diversas modalidades de lutas que
permitissem a eles lutarem em peacute e no chatildeo os tornaria mais comshy
petitivos Essa mistura de estilos de lutas e habilidades se tornou
conhecida como Artes Marciais Mistas (D ISCOVER UFC 2012)
Natildeo apenas Anderson mas nossos melhores lutadores
sabem se moldar de acordo com a situaccedilatildeo diante
das adversidades E uma qualidade indispensaacutevel do
MMA Por permitir o uso de golpes das mais diversas
modalidades o esporte acaba premiando a capacidashy
de de improviso do atleta diante de tantas variaacuteveis
Nisso as artes marciais mistas se assemelham agrave paixatildeo
nacional o futebol notoriamente um dos esportes
que menos se presta a ldquoensaiosrdquo e um dos mais impreshy
visiacuteveis que existem (AWI 2012 p 289)
No iniacutecio do seacuteculo XXI o UFC retorna reformulado com reshy
gras mais riacutegidas para poder agradar as autoridades que antes o proishy
biram limite de tempo divisatildeo de categorias por peso e seleccedilatildeo crishy
teriosa de lutadores De acordo com Awi (2012) hoje o MMA em
seus principais eventos eacute um esporte regulamentado com exames
perioacutedicos testes antidoping e regras bem claras
Na atualidade o UFC marca que domina 90 do mercashy
do mundial do M M A vincula o espetaacuteculo de entretenimento ao
consumo dos mais diversos produtos como aparelhos de ginaacutesshy
tica roupas videogames bonecos e DVDs Uma noite do evento
9 v -Segundo Rorion Grace a ideia do octoacutegono (espeacutecie de jaula com oito lados) era
justamente impedir os lutadores de fugirem do espaccedilo de luta durante a ldquopancadariardquo a
fim de atrair mais puacuteblico e chegar agrave televisatildeo (M M A 2010)t10 Na primeira ediccedilatildeo do UFC 85 mil lares americanos pagaram para ver a luta ao
vivo na televisatildeo na segunda foram 120 mil na terceira 180 mil e na quarta 260
mil pagantes (AW I 2012)
gera em meacutedia 70 milhotildees de reais Estima-se que a marca ldquoUFCrdquo
comprada haacute 12 anos por 2 milhotildees de doacutelares hoje eacute avaliada
em mais de 13 bilhatildeo de doacutelares 11 (AWI 2012) Neste quadro o
M M A ascende como ldquonovardquo face da luta-espetaacuteculo12 assumindo
o posto outrora ocupado pelo boxe que hoje estaacute em segundo plashy
no dentro do mercado das lutas esportivas
O esporte hoje eacute considerado ldquofebre mundialrdquo o nuacutemero de fatildes
soacute aumenta com o passar dos anos e as criacuteticas tambeacutem Recentemenshy
te em entrevista ao jornal Folha de Satildeo Paulo o bi-campeatildeo mundial
de boxe Eder Jofre fala criticavam o boxe porque era violento mas
perto do M M A eacute baleacute (PERTO 2012) E as criacuteticas natildeo param
por aiacute outra pessoa a questionar a civilidade da modalidade foi um
dos fundadores da torcida organizada ldquoGaviotildees da Fielrdquo considerada
uma das mais violentas do paiacutes Questionado sobre a violecircncia das
torcidas organizadas hoje em dia Chico Malfitanni em entrevista agrave
Folha de Satildeo Paulo declara ldquoos meios de comunicaccedilatildeo satildeo os maiores
incentivadores Outro dia o Sportv estava metendo o pau nas orgashy
nizadas agraves 1 lh30 da manhatilde Nisso entram cenas do MMA sangue
escorrendo O Galvatildeo [Bueno] gritando direita esquerda o cara soshy
cando o outro e isso eacute civilizadordquo (REIS 2012)
Apesar de algumas regras terem sido incluiacutedas para proibir eou limishy
tar o uso de alguns golpes durante os combates o niacutevel de violecircncia preshy
sente nas lutas de M M A eacute inegaacutevel De acordo com Awi (2012 p 19-20)
E rarissiacutemo uma ediccedilatildeo do UFC que termine
sem que pelo menos um lutador tenha de receshy
ber atendimento hospitalar antes de voltar para
casa Embora ateacute hoje soacute se tenha registrado duas
mortes por conta de lesotildees sofridas durante um
combate a variedade de golpes tramaacuteticos potildee em
11 O UFC eacute apontado pelos executivos americanos como a marca esportiva mais valiosa dos
Estados Unidos agrave frente da NFL (Futebol Americano) e da NBA (Basquete) Segundo
Awi (2012) Dana White e os irmaacuteos Fertita atuais administradores do UFC deram
o grande pulo do gato da marca ao perceberem que naacuteo bastava a luta era preciso
transformaacute-la num espetaacuteculo de entretenimento de massas
12 Utilizamos o termo ldquonovardquo entre aspas porque consideramos que o formato do M M A eacute novo
mas o seu conteuacutedo naacuteo eacute pois revela a apropriaccedilatildeo de teacutecnicas de lutas jaacute existentes
risco sim a integridade fiacutesica dos lutadores Mas
tambeacutem eacute verdade que o niacutevel de seguranccedila hoje eacute
bastante aceitaacutevel mdash e natildeo para de crescer
A polecircmica sobre o niacutevel de agressividade que envolve os comshy
bates de Artes Marciais Mistas traz agrave tona uma importante reflexatildeo
estaria o M M A incitando a violecircncia entre as pessoas
De acordo com Freire (2012) a questatildeo natildeo eacute tatildeo linear asshy
sim pois a agressividade presente no M M A natildeo seria a mesma
temida pelas pessoas em seus cotidianos mas sim a violecircncia transshy
formada em um espetaacuteculo de entretenimento O autor defende
seguindo a esteira de Nobert Elias que o puacuteblico experimenta um
momento de fruiccedilatildeo e prazer consumindo uma violecircncia controlashy
da por certas regrasteacutecnicas natildeo necessariamente praticando-a o
que poderia ser considerada uma conquista civilizatoacuteria13
Entretanto eacute importante destacar que o niacutevel de violecircncia
encontrado no M M A precisa ser compreendido no interior das
relaccedilotildees sociais capitalistas que na atualidade tecircm corroiacutedo o
tecido social No capitalismo a busca incessante pelo lucro eacute o
grande objetivo a ser atingido por isso a vidaintegridade do
lutador (visto como mercadoria viva) e o respeito ao adversaacuterio
soacute fazem sentido agrave medida que contribuem para esse objetivo
Nessa direccedilatildeo Duarte (2000) qualifica a sociedade capitalista
como hipoacutecrita pois ao transformar tudo em mercadoria ela
torna-se indiferente ao desenvolvimento moral dos indiviacuteduos
sendo que cedo ou tarde ela encontra meios de superar os lim ishy
tes outrora impostos para exploraccedilatildeo Assim agrave medida que se
torna mais aguda a crise da sociedade capitalista atual aumenta
13 Elias e Dunning (1992) evidenciam o caraacuteter de complementaridade entre esporte
e avanccedilo da civilizaccedilatildeo Os autores defendem que a criaccedilatildeo de regras sociais que
pacificaram as formas de disputa poliacutetica ocorre paralelamente ao desenvolvimento
de formas de exerciacutecio regulado da exciiacuteaccedilatildeo reprimida nas atividades seacuterias da vida
Neste contexto o esporte teria uma finalidade cataacutertica jaacute que deveria criar tensotildees
imaginaacuterias reguladas por teacutecnicas e regras permitindo a realizaccedilatildeo de uma violecircncia
controlada satisfazendo necessidades de excitaccedilatildeo dos participantes eou espectadores
ainda mais a alienaccedilatildeo da moral14 prevalecendo nesse contexto o
individualismo e o egoiacutesmo exacerbado
Desse modo o M M A tem demonstrado alinhamento com o prinshy
ciacutepio basilar do capitalismo a busca impiedosa pela valorizaccedilatildeo do cashy
pital sendo suas regras e apropriaccedilotildees teacutecnicas subordinadas a esse fim
O propoacutesito central dessa luta esportiva eacute manter o puacuteblico fascinado
para vender imagens roupas e demais mercadorias associadas agrave sua praacuteshy
tica Mas contraditoriamente o MMA por carregar em seu interior
fragmentos de diversas artes marciais e caracteriacutesticas do nosso tempo
desde que problematizado pode ajudar a entender os desafios e possishy
bilidades colocados para as lutas no contexto atual
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com as lutas
Com base nessa discussatildeo propomos uma unidade de ensino
que aborda o M M A como temaacutetica dentro do conteuacutedo lutas O plashy
no de unidade descrito abaixo foi elaborado para ser trabalhado com
alunos do oitavo ano do ensino fundamental
Seguindo os pressupostos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica o prishy
meiro passo eacute a identificaccedilatildeo dos dados da realidade onde temos uma
primeira impressatildeo dos alunos sobre o tema a ser trabalhado Como
atividade desse momento propomos organizar os alunos em gnipos
e pedir a eles que faccedilam um cartaz em uma folha de cartolina a parshy
tir de questotildees previamente elaboradas pelo professor As perguntas
enumeradas abaixo no plano de unidade deveratildeo ser respondidas
atraveacutes de ilustraccedilotildees fotografias eou reportagens que seratildeo disponishy
bilizadas para alunos atraveacutes de jornais esportivos ou paacuteginas da intershy
net A ideia geral eacute que os alunos indiquem qual eacute a luta mais famosa
14 De acordo com Duarte (2000) a discussatildeo sobre moral na sociedade capitalista eacute feita de
maneira alienada ou seja descolada dos valores que orientam a vida concreta das pessoas
Isso porque uma discussatildeo radical levaria agrave constataccedilatildeo de que o sistema capitalista eacute
avesso agraves questotildees morais jaacute que a proacutepria loacutegica do sistema eacute maximizar a exploraccedilatildeo dos
seres humanos sem limites para ampliar a acumulaccedilatildeo de capital Desse modo a base
concreta dessa alienaccedilatildeo moral eacute a proacutepria alienaccedilatildeo do trabalho atividade essencialmente
humana Nesse processo o homem eacute alienado natildeo apenas do produto e da atividade do
trabalho mas tambeacutem de si mesmo da relaccedilatildeo com o outro e com o gecircnero humano
na atualidade Esta atividade teraacute como objetivo averiguar o niacutevel de
compreensatildeo dos alunos sobre o M M A enquanto principal luta dos
tempos atuais Ao final desta atividade seraacute exposto aos alunos o conshy
teuacutedo e a temaacutetica que seraacute trabalhada questionando-os acerca do
que gostariam de saber a mais sobre o tema
Na problematizaccedilatildeo seratildeo levantadas algumas questotildees importanshy
tes para a discussatildeo do tema buscando orientar o aluno no processo de
apreensatildeo ativa do conhecimento Conforme pode ser visto no plano
de unidade seratildeo lanccediladas questotildees que abordam diversas dimensotildees
do conhecimento que seratildeo trabalhadas tais como o processo histoacuterico
de criaccedilatildeo do MMA sua evoluccedilatildeo as teacutecnicas baacutesicas desta luta os
interesses econocircmicos e as relaccedilotildees deste tema com a sociedade atual
A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento onde as atividades desenvolshy
vidas estatildeo voltadas para a aquisiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico por
parte dos alunos visando ampliar o niacutevel de consciecircncia dos mesmos
acerca do MM A e das suas interfaces com os tempos atuais No caso
em tela as atividades seratildeo exibiccedilatildeo de filmes e viacutedeos vivecircncia de
algumas modalidades de lutas discussotildees leituras de textos etc
A elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia pode ser verificada na cashy
tarse momento no qual haacute uma reinterpretaccedilatildeo da realidade desta
vez com o amparo do conhecimento cientiacutefico apreendido Como
sugestatildeo propomos a construccedilatildeo de um viacutedeo sobre os temas aborshy
dados a realizaccedilatildeo de um juacuteri simulado sobre o M M A e a criaccedilatildeo
de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais para debater o assunto
A ideia eacute que o aluno tenha se aproximado da percepccedilatildeo de que o
M M A eacute uma luta esportiva que utiliza teacutecnicas de diversas outras lushy
tas Na atualidade o MMA atraveacutes da marca UFC eacute uma das moshy
dalidades esportivas mais divulgadas e lucrativas do mundo Entreshy
tanto agrave medida que as teacutecnicas das lutas vatildeo sendo apropriadas para
seu uso competitivo nos torneios de M M A vai sendo aprofundado
o processo de descaracterizaccedilatildeo dessas modalidades em relaccedilatildeo aos
seus princiacutepios e valores originais O alto grau de violecircncia associado
agraves lutas dentro e fora dos octoacutegonos pode ser apontado como um
dos resultados desses processos de descaracterizaccedilatildeo
A uacuteltima etapa do plano de unidade eacute o retorno agrave praacutetica social ou
o momento de utilizar este conhecimento apreendido para uma nova
compreensatildeo e accedilatildeo sobre a realidade Assim propomos a divulgaccedilatildeo
dos materiais construiacutedos e socializaccedilatildeo com os outros alunos da escola
Plano de Unidade iMMA - a ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo
OBJETIVO GERAL
Compreender o M M A e suas relaccedilotildees com o mercado da luta-
-espetaacuteculo a fim de assumir uma postura criacutetica frente ao processo
de massificaccedilatildeo das lutas a partir desta modalidade
Toacutepicos de Conteuacutedo e objetivos especiacuteficos
1 - M M A que luta eacute essa
bull Ampliar conhecimentos sobre o MMA para distingui-lo de
outras modalidades de luta
bull Identificar os principais estilos de lutas seus golpes e
fundamentos teacutecnicos que compotildeem o MMA
2 - Origem e histoacuteria do M M A
bull Conhecer a origem e o processo de disseminaccedilatildeo do MMA
a fim de identificar a dinacircmica social que envolve a produccedilatildeo
dessa praacutetica da cultura corporal
3 - As lutas e seu processo de descaracterizaccedilatildeo
bull Diferenciar lutas de briga
bull Entender o processo de descaracterizaccedilatildeo das lutas
esportivizadas
bull Identificar o M M A como luta esportiva suas regras
categorias e competiccedilotildees
4 - M MA Miacutedia e Mercado a luta-espetaacuteculo como grande negoacutecio
bull Identificar o papel da miacutedia no processo de difusatildeo do
M M A
bull Compreender os interesses econocircmicos envolvidos nas
competiccedilotildees de MMA
5 - O MMA e a espetacularizaccedilaacuteo da violecircncia
bull Apreender a relaccedilatildeo entre o M M A e a espetacularizaccedilaacuteo da
violecircncia em nossa sociedade
bull Debater a relaccedilatildeo entre violecircncia e lutas
1) Praacutetica Social Inicial do Conteuacutedo
Material de Apoio Jornais e revistas esportivas (pode ser
feito tambeacutem na sala de informaacutetica utilizando os sites esportishy
vos mais populares) cartolinas canetinhas laacutepis de cor caneta
cola e tesoura
Accedilatildeo Dividir os alunos em grupos de no maacuteximo seis pesshy
soas A cada grupo deveraacute ser dado um questionaacuterio para ser
respondido na folha de cartolina e um nuacutemero suficiente de jorshy
nais esportivos (ou paacuteginas principais impressas dos noticiaacuterios
esportivos on-line) As perguntas satildeo
bull Qual eacute a luta mais famosa nos dias atuais
bull Quem eacute o melhor lutador atual
bull Quais satildeo as regras
bull Qual eacute o espaccedilo onde ela acontece
bull Quem a inventou
bull Onde podemos assistir esta luta
Os alunos deveratildeo procurar nos jornais fotografias eou reporshy
tagens sobre a luta que foi respondida como mais famosa (muito
provavelmente seraacute respondida que o M M A eacute a luta mais popular)
Os cartazes deveratildeo ser apresentados para os outros grupos
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3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO15
Quadro 2- Instrumentalizaccedilatildeo
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MMA que luta eacute
essa
Ampliar conhecimentos sobre o
MM A para distingui-lo de oushy
tras modalidades
Identificar os principais estilos
de lutas golpes e fundamenshy
tos teacutecnicos que compotildeem o
MMA
Conceituai
Teacutecnica
Pesquisa na sala de informaacutetica
Ler reportagens sobre o MMA
Viacutedeos imagens e textos
disponiacuteveis no blog ldquoConteshy
uacutedo e Meacutetodo nas aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Origem e histoacuteria
do M M A
Conhecer a origem e o processhy
so de disseminaccedilatildeo do MMA a
fim de identificar a dinacircmica soshy
cial que envolve a produccedilatildeo desshy
sa praacutetica da cultura corporal
HistoacutericaExibiccedilatildeo do Documentaacuterio da
Sportv sobre o MMA
Documentaacuterio ldquoMMA
a luta que levou o boxe agrave
lonardquo
Os links para acesso aos videos filmes e documentaacuterios citados no quadro abaixo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Disponiacutevel em lthttpcoledvoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012
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accedilatildeo
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oacutepria
com
base
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parin
(2011)
4) CATARSE
41- Siacutentese teoacuterica do aluno
A catarse seraacute demonstrada com registros durante as aulas exshy
pressando que o MM A (Mixed Martial Arts) eacute uma luta esportiviza-
da criada a partir de uma forma de disputa para a disseminaccedilatildeo do
Jiu-jitsu brasileiro como a melhor das artes marciais Eram embates
entre lutadores de teacutecnicas distintas com lutadores de Jiu-jitsu prinshy
cipalmente Com a exarcebaccedilatildeo da violecircncia principalmente fora dos
ringues a famiacutelia Grace se muda para os EUA e comeccedila a criar uma
nova forma de disputa com regras espaccedilo adequado e teacutecnicas espeshy
ciacuteficas Surge assim o Vale Tudo e posteriormente o UFC e outras
modalidades Atualmente o UFC eacute uma das modalidades esportivas
mais lucrativas do mundo e uma das mais violentas associando teacutecshy
nicas de diversas lutas (Boxe Jiu-jitsu Muai thay Aikidocirc etc) sem
contudo valorizar os aspectos filosoacuteficos e princiacutepios originais das lushy
tas como respeito ao adversaacuterio e a si mesmo Muitas pessoas treinam
MMA para brigas de rua e torneios sem contudo entender o sentido
da criaccedilatildeo destas teacutecnicas pois estatildeo descaracterizadas atendendo a
interesses econocircmicos que vatildeo muito aleacutem da simples autodefesa
42 - Expressatildeo da Siacutentese
Construccedilatildeo de um viacutedeo sobre o MMA abordando de forma
criacutetica os temas estudados nas aulas ou construccedilatildeo de cartazes reshy
alizaccedilatildeo de um juacuteri simulado discutindo a temaacutetica e criaccedilatildeo de um
foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a temaacutetica
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO
Quadro 3 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
Conhecer mais sobre o M M A e suas difeshy
renccedilas de outros estilos
Pesquisar ler textos e assistir viacutedeos
sobre o M M A
Contribuir para a socializaccedilatildeo dos conhecishy
mentos sobre as lutas e para divulgaccedilatildeo de
espaccedilos de discussotildees sobre as mesmas
Convidar os demais alunos da escola para
f acessarem os viacutedeos e participarem dos
foacuteruns de discussatildeo sobre as lutas
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (201 1)
Consideraccedilotildees Finais
A formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos 1 1 0 acircmbito da cultura corporal
passa pela apreensatildeo de conhecimentos teoacuterico-praacuteticos que permitam agir
criticamente frente aos grandes fenocircmenos esportivos para aleacutem de sua
aparecircncia No caso das lutas o pouco acesso aos conhecimentos histoacutericos
teacutecnicos e filosoacuteficos das mesmas pode contribuir para gerar a substituiccedilatildeo
de sua praacutetica salutar pelo consumo passivo de espetaacuteculos esportivos muishy
tas vezes regados com alto grau de violecircncia A proposta de ensino com a
tematizaccedilatildeo das Artes Marciais Mistas buscou contribuir para pensar no
papel de mediaccedilatildeo que a Educaccedilatildeo Fiacutesica pode ter na formaccedilatildeo de sujeitos
criacuteticos ao fenocircmeno de descaracterizaccedilatildeo e mercadorizaccedilatildeo das lutas
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CAPIacuteTULO VI
A VOZ DA PERIFERIA O HIP HOP ENQUANTO POSSIBILIDADE DE TRABALHO NAS AULAS DE EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA
Adriano de Paiva Reis
Carla Cristina Carvalho Pereira
Giovana de Carvalho Castro
Herbert Hischter Chaves de Paula
Marcelo Silva dos Santos
Apesar da infinidade de possibilidades de
trabalho nos curriacuteculos escolares historicamenshy
te a danccedila foi tratada pela escola numa perspecshy
tiva funcional tendo como objetivo principal a
formaccedilatildeo do corpo feminino em contrapartida
agraves praacuteticas ginaacutesticas destinadas aos homens1
O fato eacute que o trabalho com a danccedila nas
escolas quase natildeo eacute realizado ou eacute realizado de
forma superficial e esvaziada A danccedila eacute recoshy
nhecida como atividade extracurricular - geralshy
mente o aprofundamento do trabalho com as
teacutecnicas de uma determinada modalidade - ou
eacute tratada como componente folcloacuterico no inshy
terior das escolas seja pela Educaccedilatildeo Fiacutesica ou
1 A discussatildeo acerca das praacuteticas corporais destinadas a
homens e mulheres ao longo da histoacuteria da Educaccedilatildeo
Fiacutesica no Brasil pode ser encontrada em Ghiraldelli
Juacutenior (1994) O autor situa historicamente a visatildeo
sexista da Educaccedilatildeo Fiacutesica na sociedade brasileira
demonstrando o papel da ginaacutestica para moldar o corpo
saudaacutevel robusto e harmonioso dos homens enquanto
que para as meninas as praacuteticas eram voltadas para a
danccedila a expressatildeo corporal o teatro e a poesia visando
pela Educaccedilatildeo Artiacutestica limitando-se muitas vezes agrave montagem de
coreografias para festas e comemoraccedilotildees da escola Raramente a danccedila eacute
valorizada por ter um conhecimento proacuteprio e uma linguagem expresshy
siva especiacutefica (BRASILEIRO 2003 FIAM ONCINI 2003)
A resistecircncia dos alunos em participar das aulas de danccedila na esshy
cola constitui um fator a ser considerado assim como a dificuldade
por parte de muitos professores em trabalhar com esse conteuacutedo sob a
alegaccedilatildeo de natildeo possuiacuterem conhecimento especiacutefico em nenhuma moshy
dalidade de danccedila problema agravado pelos curriacuteculos predominanteshy
mente esportivizados da maioria dos cursos de graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo
Fiacutesica No entanto entendendo que a funccedilatildeo primordial da escola eacute
a socializaccedilatildeo do saber historicamente produzido (SAVIANI 1997)
coloca-se como tarefa fundamental a sistematizaccedilatildeo de uma praacutexis edushy
cativa superadora em danccedila tendo em vista proporcionar aos alunos
uma apreensatildeo contextualizada e criacutetica acerca dessa linguagem
Na perspectiva da reflexatildeo sobre a cultura corporal a danccedila - enshy
tendida enquanto uma das expressotildees do patrimocircnio cultural da hushy
manidade - eacute um conteuacutedo a ser conhecido estudado produzido no
acircmbito escolar Nesta linha eacute preciso que o professor rompa com as
formas tradicionais mecanizadas e estereotipadas de danccedila proporshy
cionando ao aluno o conhecimento de suas verdadeiras possibilidades
corporais desenvolvendo a criatividade e a expressividade
A escolha da temaacutetica a ser abordada nas aulas deve partir
da necessidade de compreensatildeo e explicaccedilatildeo da realidade concreshy
ta do aluno oferecendo subsiacutedios para que ele compreenda os
determinantes soacutecio-histoacutericos de sua condiccedilatildeo de classe social
(C O LE T IV O DE AUTORES 1992)
Neste sentido escolhemos abordar o break enquanto modalishy
dade de danccedila atrelada ao movimento Hip Hop A definiccedilatildeo dessa
temaacutetica deveu-se agrave sua popularidade entre os alunos e agrave confusatildeo
conceituai acerca do Hip Hop uma vez que este eacute tratado apenas
como um estilo musical ou uma forma de danccedilar Assim torna-se neshy
cessaacuterio abordar e discutir as contradiccedilotildees existentes entre a essecircncia
do Hip Hop enquanto movimento de criacutetica e contestaccedilatildeo social e
sua mercadorizaccedilatildeo c esvaziamento pelos meios de comunicaccedilatildeo
O Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia e criacutetica social
O Hip Hop natildeo eacute apenas um estilo musical ou um tipo de
danccedila Trata-se na verdade de uma importante manifestaccedilatildeo culshy
tural produzida enquanto um movimento de resistecircncia da perishy
feria da classe menos favorecida - que natildeo coincidentemente eacute
representada majoritariamente por negros2 A origem do termo eacute
bastante controversa mas muitos pesquisadores atribuem sua criashy
ccedilatildeo a Afrika Bambaataa3 Suas origens remontam aos EUA por
volta dos anos de 1970 nos subuacuterbios de Nova York e de Chicago
atrelado agraves expressotildees culturais das comunidades jamaicanas latishy
nas e afro-americanas Nesses guetos - habitados majoritariamente
por uma populaccedilatildeo negra4 e assolados pela pobreza traacutefico de
drogas racismo ausecircncia de educaccedilatildeo e de espaccedilos de lazer mdash o
movimento Hip Hop nasceu a partir de accedilotildees para conter a violecircnshy
2 Satildeo os negros que ocupam a maioria das estatiacutesticas de desemprego mortalidade infantil
analfabetismo que possuem as piores condiccedilotildees de moradia a maioria que ocupa os
presiacutedios e as ruas etc A discussatildeo sobre a marginalizaccedilaacuteo do negro no Brasil ganha forccedila a
partir dos anos iniciais deste seacuteculo demonstrando a importacircncia do movimento negro no
cenaacuterio dos movimentos sociais no paiacutes Entretanto dentro do proacuteprio movimento negro
natildeo haacute unidade principalmente no que se refere agrave discussatildeo entre a relaccedilatildeo raccedilaclasse Por
esta razatildeo achamos fundamental demarcar nossa posiccedilatildeo dentro dessa discussatildeo apesar
de estarmos atentos ao fato de que uma das caracteriacutesticas do capitalismo eacute ser indiferente
agraves identidades sociais das pessoas que explora o fato de natildeo necessitar natildeo significa que
de fato natildeo se aproveite e natildeo decirc continuidade agrave opressatildeo racial O capitalismo que
massacra trabalhadores mundo afora eacute ainda mais perverso com aqueles setores que foram
marginalizados como eacute o caso dos negros (W O O D 2003)
3 Afrika Bambaataa - pseudocircnimo de Kevin Donovan - eacute de forma quase unacircnime
considerado o responsaacutevel por plantar as bases sobre as quais o Hip Hop se desenvolveu
Nascido e criado no violento bairro do Bronx (Nova Iorque) chegou agrave lideranccedila dos Black
Spades uma das mais fortes e violentas gangues da regiatildeo Sua vida comeccedilou a mudar
quando numa viagem agrave Aacutefrica no iniacutecio dos anos 1970 assistiu ao filme Zulu sobre
a luta entre africanos e ingleses no seacuteculo X IX Foi deste documentaacuterio que ele retirou o
nome pelo qual eacute conhecido hoje O filme tambeacutem despertou no mesmo um novo olhar
acerca de suas origens motivando-o a formar sua proacutepria naccedilatildeo Zulu bem como a buscar
raquo meios para cooptar jovens das gangues para ela Disponiacutevel em lthttpogloboglobo
comculturaconsiderado-pai-do-hip-hop-do-funk-carioca-afrika-bambaataa-faz-show-
no-rio-303106lixzz20554zE00gt Acesso cm 2 ago 2012
4 Aleacutem dos negros os guetos de Nova York eram ocupados por imigrantes latinos oriundos
principalmente do Meacutexico e de Porto Rico tambeacutem considerados inferiores por sua pele
morena e olhos indiacutegenas herdados de seus antepassados tambeacutem escravizados
cia e promover a conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessishy
dade de luta contra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis
Desta forma o Hip Hop atrela-se agraves calorosas discussotildees que trashy
zem agrave tona os embates e as contradiccedilotildees da sociedade norte-americana
Neste contexto emergem lideranccedilas negras como Martin Luther King
e Malcom X e grupos que lutavam pela igualdade de direitos como
os Panteras Negras Embora divergentes em suas propostas agregaram
em torno de suas ideias uma populaccedilatildeo que ansiava por mudanccedilas no
modelo social entatildeo vigente que condenava a populaccedilatildeo negra a uma
invisibilidade negando-lhe a possibilidade de uma efetiva participaccedilatildeo
social e poliacutetica Tais demandas refletiram na produccedilatildeo musical e o
rock mdash que tambeacutem nasceu negro tatildeo aderente nos anos de 1960 mdash
mostrou-se impotente para dar voz a esse novo contexto
Os guetos abraccedilaram o soul e prestaram reverencia a muacutesicas como
uSay it loud Im black and proudrdquo (diga alto sou negro e orgulhoso)
cantada aos berros por James Brown inspirado na frase do liacuteder sul africano
Steve Biko Ao soul juntou-se o ftink furioso do qual James Brown tamshy
beacutem foi um iacutecone imageacutetico Estava pronto o terreno do qual brotaria o
Hip Hop lanccediladas as sementes do soul do funk e da luta pelos direitos civis
da populaccedilatildeo negra A ele se uniu o rap que remonta as raiacutezes da oralidade
africana sintetizada na figura dos griots5 Os guetos apropriaram-se desta
tradiccedilatildeo e a reinventaram atraveacutes das batalhas de improviso que contavam
histoacuterias de seu cotidiano marcando assim o nascimento do freestyle6
Outra figura fundamental para o Hip Hop foi o DJ Kool Herc
imigrante jamaicano a quem se atribui a criaccedilatildeo dos breaks (trechos de
muacutesicas usados como bases) No final dos anos de 1960 Herc trouxe da
Jamaica para o Bronx a teacutecnica dos famosos sound systems de Kingston
5 Os ldquogriotsrdquo satildeo os guardiotildees inteacuterpretes e cantores da histoacuteria oral de muitos povos
africanos A figura do griot tem uma enorme importacircncia na preservaccedilatildeo da palavra da
narraccedilatildeo do mito africano ldquoNa praacutetica eles funcionam como escritores sem papel nem
pena Ortografam na oralidade aquilo que deve permanecer embutido na memoacuteria e no
coraccedilatildeo dos seus familiares e conterracircneos no sentido de manter incrustada a identidade
do seu ser e das suas raiacutezes fundamentada em grande parte no seu passado e nos seus
predecessoresrdquo BIJOacute1AS Maria Griots mdash os inteacuterpretes musicais da Histoacuteria africana
Disponiacutevel em lthttpwwwruadireitacommusicainfogriots-os-interpretes-musicais-
da-historia-africanagt Acesso em 23 jul 2012
6 Estilo livre muacutesica de improviso mediante desafios
Como os trechos usados como base eram curtos Herc teve a ideia de usar
um mixer e dois discos idecircnticos o que permitia a repeticcedilatildeo indefinida de
um determinado trecho da mesma muacutesica (PIMENTEL 1997)
Foi um disciacutepulo do DJ jamaicano mdash Grandmaster Flash - quem
criou o ldquoscratchrdquo que eacute a utilizaccedilatildeo da agulha do toca-discos arrashy
nhando o vinil em sentido anti-horaacuterio como instrumento musical
Aleacutem disso ldquoFlash entregava um microfone para que os danccedilarinos
pudessem improvisar discursos acompanhando o ritmo da muacutesica
(uma espeacutecie de repente-eleacutetrico que ficou conhecido como rap - os
lsquorepentistasrsquo satildeo chamados de rappers ou MCs isto eacute lsquomasters of ceri-
mony)rdquo (VIANNA JUacuteN IOR 1988 p 38)
Desta feita aos breaks aliou-se a forccedila das mensagens trazidas
pelos rappers atribuindo peso agrave expressatildeo mesmo sob condiccedilotildees lishy
mitadas de recursos e ausecircncia de instrumentos
Paralelamente ao rap outras manifestaccedilotildees artiacutesticas se desenshy
volviam nos guetos americanos Em meados da deacutecada de 1960 os
jovens dos subuacuterbios de Nova York comeccedilaram a ldquopicharrdquo as pareshy
des com seus nomes Assim surge o grafitti inicialmente como tag
(assinatura) como forma de retratar a realidade como forma de
participaccedilatildeo e de resistecircncia Logo a colocaccedilatildeo das tags em locais
cada vez mais inoacutespitos virou um novo elemento da disputa que foi
apropriado pelas gangues como forma de demarcaccedilatildeo de territoacuterios
dentro dos guetos Mais tarde o desenho foi introduzido ao tag
abrindo-se um novo leque de trabalhos para os grafiteiros
Na mesma eacutepoca surge o break dance nome atribuiacutedo pelo Dj
Herc para definir um estilo de danccedila caracterizado por miacutemicas imitashy
ccedilotildees de robocircs e acrobacias com influecircncias das mais diversas das artes
marciais agraves danccedilas urbanas da eacutepoca e que representassem os conflitos
e o cotidiano dos guetos nova-iorquinos O nome atribuiacutedo por Herc
justifica-se agrave medida em que ldquoos jovens que iam agraves festas danccedilavam no
Break da muacutesica que era o nome dado a sua teacutecnica de interromper a
batida mais forte da muacutesica como se ela estivesse quebrada e se repeshy
tisse por alguns segundosrdquo (SILVA 2010 p 32) A respeito da danccedila
Pimentel (1997 p 8) destaca que esta desenvolveu-se
[] ao sabor da contorccedilatildeo dos brcaks entre e dentro
das muacutesicas formando um novo corpo riacutetmico no inshy
terior das mesmas e conduzindo o DJ e seu puacuteblico a
uma nova forma de abordagem do tema reconstruiacutedo
e reinterpretaacutevel atraveacutes da danccedila das quebras riacutetmishy
cas Danccedilar o break consiste literalmente na execuccedilatildeo
de passos que procuram imitar essa ruptura e essa forshy
ma sincopada de reconstruir o proacuteprio ritmo
Nas ruas de Nova Iorque grupos (crews) se encontravam para
definir quem danccedilava melhor dando origem agraves chamadas batalhas ou rachas de break As batalhas entre as crews eram manifestaccedilotildees de
rua que tinham o propoacutesito de chamar a atenccedilatildeo do poder puacuteblishy
co sobre a situaccedilatildeo do afro-americano em relaccedilatildeo ao seu modo de
sobrevivecircncia e portanto tinham uma conotaccedilatildeo poliacutetica (LEAtildeO
2006) O break foi ganhando outros espaccedilos e passou a ser danccedilado
tambeacutem nas festas (as chamadas Black Parties)
Alguns autores consideram que o break no Hip Hop eacute formado
por trecircs estilos de danccedila originais o break bboying (caracterizada
pelos movimentos de chatildeo como top rock up rock foot work booga- loo e freeze aleacutem dos giros de cabeccedila mortais o moinho de vento7) o Popingg (estilo de danccedila urbana que foi incorporada ao Hip Hop
onde o danccedilarino imita robocircs aleacutem de ondulaccedilotildees com o tronco e
quadris) e o Locking (danccedila urbana incorporada ao Hip Hop que
indica as direccedilotildees no espaccedilo apontando o dedo) Por outro lado haacute
quem afirme que esses trecircs estilos satildeo danccedilas diferentes e somente o
break eacute a danccedila original por ser a primeira a ser incorporada como
elemento do Hip Hop (SILVA 2010)8
Desta feita rappers breakers e grafiteiros logo se viram diante
das mesmas anguacutestias e desafios cotidianos Daiacute para a coletiviza-
ccedilatildeo de suas accedilotildees foi um pequeno passo dando origem a naccedilotildees
associaccedilotildees posses e entidades para divulgaccedilatildeo do Hip Hop
7 A descriccedilatildeo e tutoriais desses movimentos estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e
Meacutetodo nas auias de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lt httpcoletivoedulisicajf
blogspotcombrgt Acesso em 12 dez 2012
8 Devido agrave riqueza de possibilidades consideramos os trecircs estilos para o trabalho
que realizamos com os alunos numa escola municipai de Juiz de Fora trabalho este
descrito ao final do presente artigo
Assim muito mais que ldquopular balanccedilando os quadrisrdquo - trashy
duccedilatildeo do termo do inglecircs - o Hip Hop configura-se como um
movimento social que busca promover a conscientizaccedilatildeo da popushy
laccedilatildeo jovem afro-americana atraveacutes da uniatildeo de diversas manifesshy
taccedilotildees artiacutesticas representadas por um conjunto de quatro elemenshy
tos a) o break que eacute a danccedila oficial praticada pelos Bboys e Bgirls
b) o rap que eacute o canto falado ao som de pick - ups ou mesmo de
ritmos feitos com a boca e o corpo c) o DJ (disk jockey) que atua
nos pick - ups acompanhando a falacanto dos MCs (mestre de
cerimocircnia) e d) o grafitti que eacute a arte nos muros vagotildees de trens
e espaccedilos deteriorados - uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para a
necessidade de revitalizaccedilatildeo desses espaccedilos (BENEDITO 2004)
E esse movimento que chega ao Brasil - influenciado pelo
lema do Black Power e pela admiraccedilatildeo aos Panteras Negras mdash
num contexto em que gangues urbanas conquistavam espaccedilo
embaladas por pequenos conflitos armados (armas brancas prinshy
cipalmente) e pelas muacutesicas do soul norte-americano Nosso ldquorashy
cismo agrave brasileirardquo natildeo dava margem para os conflitos diretos
pelos quais passou a sociedade norte-americana mas isso natildeo
significa a ausecircncia de poliacuteticas marginalizantes para a populaccedilatildeo
negra e afrodescendente no Brasil9
Como em outros paiacuteses diaspoacutericos o H ip Hop encontrou
no Brasil terreno feacutertil Sua chegada data de meados dos anos de
1980 em Satildeo Paulo Em 1988 foi lanccedilado o primeiro registro
fonograacutefico de rap nacional a coletacircnea ldquoHip-Hop Cultura de
Ruardquo pela gravadora Eldorado Com apoio puacuteblico da prefeitura
de Satildeo Paulo organizou-se a primeira associaccedilatildeo oficial de H ip
Hop no Brasil o M H 2 0 - Movimento Hip-Hop Organizado
9 A inserccedilatildeo do negro no poacutes-aboliccedilaacuteo tem sido alvo de diversos estudos Tais pesquisas
apontam para as dificuldades da populaccedilatildeo afrodescendente em ser reconhecida como
parte da sociedade brasileira e discutem o processo de marginalizaccedilatildeo imposto a esse
segmento Um dos aspectos mais relevantes dessa segmentaccedilatildeo eacute revelado nas pesquisas
que indicam a criminalizaccedilatildeo das praacuteticas culturais afrodescendentes presentes em nosso
coacutedigo penal ateacute 1940 Para maiores informaccedilotildees consultar Holloway (1997)
A descaracterizaccedilatildeo do Hip Hop a voz da periferia transmutada em mercadoria rentaacutevel
Identificamos hoje uma tentativa de esvaziamento e de descashy
racterizaccedilatildeo do H ip Hop enquanto movimento de luta e contestaccedilatildeo
social A induacutestria cultural vem cooptando essa forma de resistecircncia
em favor do capital transformando-o em um filatildeo de mercado vazio
de conteuacutedo histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico e ressignificado a partir
dos interesses da cultura hegemocircnica
O movimento mdash que sempre viveu e se propagou por fora dos
esquemas formais de comunicaccedilatildeo de massa sem espaccedilo nas raacutedios
comerciais e com trabalhos lanccedilados em gravadoras independentes
(MARTINS 1998) mdash atualmente ldquodesce o morrordquo indo parar nas
boates de classe meacutedia nas raacutedios e nas novelas e programas das prinshy
cipais emissoras de televisatildeo
A problemaacutetica da mercadorizaccedilatildeo do Hip Hop natildeo estaacute des-
zonectada do processo de transformaccedilatildeo e de mudanccedila que se faz
Dresente na sociedade de uma forma geral Jameson (2000) denuncia
^ue a emergente mudanccedila histoacuterica ocorrida na vida no ocidente para
jma nova forma de capitalismo trouxe a tese de que as questotildees cul-
urais tendem a se propagar para as econocircmicas e sociais Segundo o
iutor ldquoa produccedilatildeo das mercadorias eacute agora um fenocircmeno cultural no
lual se compram os produtos tanto por sua imagem quanto por seu
iacuteso imediato [] Nesse sentido a economia se transforma em uma
juestatildeo culturalrdquo (JAMESON 2000 p 22)
Na loacutegica cultural do capitalismo tardio onde o consumo
bull o principal meio de realizaccedilatildeo ldquoo prazer o lazer a seduccedilatildeo e a
ida eroacutetica satildeo trazidos para o acircmbito do poder do dinheiro e da
raquoreocupaccedilatildeo de mercadoriasrdquo (HARVEY 1992 p 99) Ao mes-
no tempo em que temos a sofisticaccedilatildeo das necessidades e dos seus
neios por um lado temos de outro uma abstrata simplificaccedilatildeo
las necessidades No campo especiacutefico da cultura a arte se tornou
ambeacutem uma mercadoria e o artista foi transformado em um pro-
utor de mercadorias (F ISCHER 1982)
Rappers ganharam status na induacutestria cultural sobretudo a
norte-americana e viraram ldquoastrosrdquo em todo o mundo Figuras como
Gangster RAP Dr Dree e Snoopy Dog aparecem na miacutedia preganshy
do e praticando a violecircncia adotando atitudes e produzindo letras
que demonstram hostilidade ao pobre e agrave mulher O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos contextos sendo empregashy
do para classificar um estilo de muacutesica de danccedila ou um jeito de se
vestir conhecido como estilo B-boy associado a marcas esportivas
especiacuteficas (boneacute tecircnis etc) Neste sentido
[] os aspectos do processo de mercadorizaccedilatildeo da
vestimenta das muacutesicas dos shows que possuem um
alto custo financeiro mostram essa refuncionaliza-
ccedilatildeo para garantir uma dada hegemonia tornando o
Hip Hop em determinados casos uma praacutetica disshy
tanciada da reflexatildeo de sua origem e da possibilidade
de ser uma forma de luta contra a opressatildeo Nesses
casos aquilo que servia para caracterizaacute-lo como
popular eacute justamente o que eacute transmutado o seu
sentido (AVILA et al 2005 p 64)
Aleacutem disso atraveacutes de poliacuteticas assistencialistas e compensashy
toacuterias o poder puacuteblico frequentemente apropria-se dos elementos
do Hip Hop num discurso apologeacutetico que o rotula enquanto
ldquosalvador da paacutetriardquo a partir da responsabilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos
pelas suas mazelas sociais justamente o oposto do que preconiza
o movimento O Hip Hop ligado agrave criacutetica poliacutetica e social e agrave
conscientizaccedilatildeo acerca da necessidade da organizaccedilatildeo coletiva tem
como intuito provocar mudanccedilas sociais e garantir direitos essenshy
ciais que satildeo responsabilidade do poder puacuteblico
Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo feita pelos meios de coshy
municaccedilatildeo a essecircncia do movimento permanece inalterada Atualshy
mente os movimentos organizados de Hip Hop buscam discutir a
discriminaccedilatildeo racial os problemas sociais a realidade da periferia
discussotildees estas materializadas nas letras do rap E esse Hip Hop
que pretendemos resgatar com nossos alunos contextualizando-o e
desvelando o que eacute a essecircncia desse movimento
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a danccedila
Elaboramos entatildeo um planejamento para ser desenvolvishy
do com alunos do 9o ano de uma escola municipal de Juiz de
Fora A proposta foi abordar o Hip Hop discutindo-o desde sua
origem enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social passhy
sando pela caracterizaccedilatildeo dos elementos que o compotildeem ateacute a
discussatildeo e anaacutelise criacutetica do que hoje eacute conhecido e difundido
pela miacutedia enquanto ldquoH ip Hoprdquo
Demos uma ecircnfase especial ao break por tratar-se de uma unishy
dade onde o conteuacutedo proposto era a danccedila Aqui tivemos espaccedilo
privilegiado para discutir as formas mecanizadas e estereotipadas de
danccedila impostas pela miacutedia e problematizamos a mera repeticcedilatildeo ou
imitaccedilatildeo a que muitas vezes se resumem as aulas de danccedila Numa oushy
tra perspectiva o break abre possibilidades de trabalhar a criatividade
e a expressividade jaacute que a essecircncia desse estilo eacute a improvisaccedilatildeo a (re)
criaccedilatildeo de movimentos Nas rodas de improvisaccedilatildeo cada participante
cria seu proacuteprio estilo e constroacutei suas sequecircncias de movimentos a
partir dos elementos teacutecnicos baacutesicos
Assim na identificaccedilatildeo da praacutetica social dividimos os alunos
em grupos e exibimos clipes de artistas diversos (Gabriel o pensador
Racionais M C rsquoS Beyonceacute Emicida etc) solicitando que ao final de
cada um eles respondessem em uma folha o nome e o estilo musical
do artista em questatildeo As respostas foram apresentadas a maioria deshy
las definia todos os clipes exibidos como sendo ldquoHip HoprdquoApoacutes esse primeiro momento iniciamos um debate com os alushy
nos lanccedilando algumas questotildees problematizadoras O que eacute Hip
Hop Hip Hop eacute danccedila O u eacute muacutesica Um estilo musical Como
surgiu o Hip Hop Existem muitos artistas negros no Hip Hop As
respostas dos alunos e a discussatildeo do tema foram registradas a fim de
fazer uma comparaccedilatildeo no final do trabalho
Na instrumentalizaccedilatildeo trabalhamos os seguintes toacutepicos de
conteuacutedo a histoacuteria do H ip Hop os quatro elementos que o
constituem (rap DJ grafitti10 break) bem como a influecircncia
dos meios de comunicaccedilatildeo na forma de disseminaccedilatildeo do Hip
Hop lanccedilando matildeo de recursos pedagoacutegicos como viacutedeos docushy
mentaacuterios reportagens letras de muacutesica dentre outros a fim de
que os alunos tivessem uma nova percepccedilatildeo do movimento Hip
Hop nas suas mais diversas dimensotildees No caso especiacutefico da
danccedila trabalhamos as teacutecnicas baacutesicas dos trecircs estilos de danccedila
do break (Bboing Popping e Locking) explorando a capacidade
de criaccedilatildeo e improvisaccedilatildeo dos alunos
Na catarse momento de elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia
dos alunos acerca do tema propomos a organizaccedilatildeo de um fesshy
tival de Hip Hop onde os alunos foram divididos em grupos e
demonstraram as teacutecnicas aprendidas bem como a exibiccedilatildeo de
um painel com os pontos abordados durante a unidade didaacutetica
No retorno agrave praacutetica social quando os alunos utilizam este
novo conhecimento para intervir criticamente na realidade soshy
cial a proposta foi realizar a produccedilatildeo de textos dos temas aborshy
dados nas aulas divulgando-os em um blog
PLANO DE UNIDADE
Tiacutetulo da Unidade O Movimento Hip Hop e a induacutestria cultural
OBJETIVO GERAL
Compreender o Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia
expressatildeo e denuacutencia de um grupo social
10 Ao elaborarmos o planejamento e apresentarmos a proposta para o coletivo da escola
abriu-se a possibilidade de um trabalho conjunto com a professora de Artes da turma por
isso pudemos aprofundar o trabalho com o grafitti
11 Viacutedeos e tutoriais usados para a preparaccedilatildeo das aulas e domiacutenio das teacutecnicas fundamentais
de cada um dos estilos do break estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas
aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt
Acesso em 10 dez 2012
Quadro 1- Anuacutencio do conteuacutedo
Toacutepico de Conteuacutedo t )bjetivos Especiacuteficos
Histoacuteria do H ip Hop
Conhecer a histoacuteria do Hip Hop e compreender sua essecircnshy
cia enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social
Identificar as caracteriacutesticas e manifestaccedilotildees do H ip Hop
no Brasil da atualidade
Os quatro elementos do movishy
mento H ip Hop
Identificar e conceituar os quatro elementos que constishy
tuem o movimento H ip Hop
Compreender a relaccedilatildeo de cada um dos elementos com o
movimento H ip Hop
Rhythm and Poetry
Compreender o rap enquanto o ldquocanto faladordquo que deshy
nuncia a injusticcedila e a opressatildeo de um grupo social
Conhecer teacutecnicas de construccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap
Arte nos Muros
Entender a histoacuteria e a evoluccedilatildeo do grafitti
Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo com o movimento H ip
Hop
Conhecer o grafitti na atualidade e suas linhas de expressatildeo
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de grafitagem
Aumente o som DJUuml
Identificar a ldquobatida quebradardquo (break) que caracteriza a
base musical do H ip Hop
Compreender o papel do DJ no H ip Hop
Estabelecer a diferenciaccedilatildeo entre o DJ e o M C (Mestre
de Cerimocircnia)
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de scratch e de mixagem
ldquoBatalhardquo entre crews
Analisar o papel do break enquanto expressatildeo corporal
ligada ao H ip Hop
Identificar os estilos do break sua origem e as vaacuterias forshy
mas de movimentaccedilatildeo
Relacionar os movimentos corporais ao ldquobreakrdquo da muacutesica
Aprender teacutecnicas baacutesicas de cada um dos estilos de break
O Hip Hop que passa na TV
Analisar a influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo na forma
de disseminaccedilatildeo do movimento H ip Hop
Compreender a banalizaccedilatildeo do movimento H ip Hop e
sua desconstruccedilatildeo pelo mercado
ontc elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
1) PRAacuteTICA SOCIAL IN ICIAL DO CONTEUacuteDO
11 Vivecircncia do Conteuacutedo
bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Hip Hop eacute um tipo
de muacutesica as muacutesicas criticam os ricos Hip Hop eacute uma danccedila
de rua etc
bull O que eles gostariam de saber a mais Como satildeo os passos
do Hip Hop como criar um rap como montar uma muacutesica
mixada etc
2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO
Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees
problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas
Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
$ v h W ccedil f v V j i v1 Tv S
t j j j fM IacuteW iacute lE i YSX IIP)
Histoacuteria do Hip HopHistoacuterica
Social
Como surgiu o Hip Hop Por que ele
surgiu Por que tem tantos artistas neshy
gros no Hip Hop
Os quatro elementos do movishy
mento H ip HopConceituai
Quais satildeo os elementos que constishy
tuem o Hip Hop Como se caracteshy
riza cada um deles
Rhythm and PoetryConceituai
Social
O que eacute rap De que falam as letras
dos raps Que mensagem querem
transmitir
Arte nos MurosLegal
Teacutecnica
Grafitar e pichar satildeo a mesma coishy
sa O que significa esse desenhos
nos muros
Aumente o som DJ Conceituai
0 que faz um DJ Qual a relaccedilatildeo
entre o DJ e o rap DJ e M C satildeo a
mesma pessoa Como eacute o ritmo da
danccedila no H ip Hop
ldquoBatalhardquo entre crewsConceituai
Teacutecnica
Como se danccedila no H ip Hop Qual
eacute o nome dessa danccedila Por que a
danccedila se chama ldquobreakrdquo Quais satildeo
os principais passos
O H ip Hop que passa na TV
Poliacutetica
Social
Econocircmica
Quais satildeo os rappers que aparecem
nos programas de TV Quais ideias
defendem em seus raps Os valores
dc que classe social representam
Fonte elaboraccedilatildeo nroacutenria m m
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo
bull
Histoacuteria do H ip
Hop
Conhecer a histoacuteria do H ip
H op e compreender sua essecircnshy
cia enquanto movimento de
contestaccedilatildeo c criacutetica social
Identificar as caracteriacutesticas e
manifestaccedilotildees do H ip H op no
Brasil da atualidade
Histoacuterica
Social
Apresentaccedilatildeo de dados estatiacutesticos sobre a
situaccedilatildeo do negro na sociedade brasileira
Exibiccedilatildeo de filmes e textos sobre a segreshy
gaccedilatildeo racial nos EUA e comparaccedilatildeo com
a realidade brasileira
Exibiccedilatildeo de documentaacuterio situando a
origem do H ip Hop
Exibiccedilatildeo de clipes de muacutesica que caracteshy
rizem a essecircncia do H ip Hop
Viacutedeos diversos65
Documentaacuterio ldquoH ip Hop em m oshy
vimentordquo
Documentaacuterio ldquoA Histoacuteria Do Hip
Hoprdquo
Os quatro eleshy
mentos do movishy
mento H ip Hop
Identificar e conceituar os
quatro elementos que constishy
tuem o movimento H ip Hop
Compreender a relaccedilatildeo de
cada um dos elementos com o
movimento H ip Hop
Conceituai
Social
Textos e viacutedeos sobre cada um dos eleshy
mentos
Viacutedeos produzidos pelos professores
Textos sobre os elementos do H ip
Hop
Os links paia acesso aos videos e textos utilizados na instrumentalizaccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em
lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012
=S
Rhythm and
Poetry
Compreender o rap enquanto
o ldquocanto faladordquo que denuncia
a injusticcedila e a opressatildeo de um
grupo social
Conhecer teacutecnicas de construshy
ccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap
Conceituai
Social
Teacutecnica
Anaacutelises de raps relacionados agrave realidade
social da periferia
Pesquisa sobre a estrutura e as teacutecnicas de
construccedilatildeo de um rap
Criaccedilatildeo individual eou coletiva de raps a
partir de temas propostos
Muacutesicas de grupos de rap
Clipe Negro Drama (Racionais)
Capiacutetulo sobre H ip Hop do livro D ishy
daacutetico do Paranaacute (Educaccedilatildeo Fiacutesica)
Arte nos Muros
v
Entender a histoacuteria e a evolushy
ccedilatildeo do grafitti
Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo
com o movimento H ip Hop
Conhecer o grafitti na atualishy
dade e suas linhas de expressatildeo
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de
grafitagem
Histoacuterica
Legal
Teacutecnica
Viacutedeo sobre a histoacuteria e evoluccedilatildeo do grafitti
Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das tags (asshy
sinaturas)
Viacutedeos produzidos pelos professores
Material de desenho para a vivecircnshy
cia das teacutecnicas das tags
Tintas e sprays para grafitar as tags
trabalhadas no papelatildeo ou no muro
Aumente o som
DJUuml
Identificar a ldquobatida quebrashy
dardquo (break) que caracteriza a
base musical do H ip Hop
Compreender o papel do D J
no H ip Hop
Estabelecer a diferenciaccedilatildeo enshy
tre o D J e o M C
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de
scratch e de mixagem
Conceituai
Teacutecnica
Identificaccedilatildeo da batida ldquoquebradardquo da
muacutesica e comparaccedilatildeo com outros ritmos
como por exemplo o funk
Vivecircncia de elementos baacutesicos de mixagem
Construccedilatildeo de bases mixadas das muacutesicas
Muacutesicas diversas
Mesas de mixagem ou programas
de computador para mixagem
Tutoriais diversos sobre mixagem
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Fonte
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Gas
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(2011)
4) CATARSE
41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno
O Hip Hop eacute uma das mais importantes manifestaccedilotildees joshy
vens da atualidade Surgiu nos Estados Unidos nos subuacuterbios de
Nova York e Chicago na deacutecada de 1970 habitados majoritaria-
mentepor uma populaccedilatildeo negra e assolados pela pobreza traacutefico
de drogas racismo e ausecircncia de espaccedilos de lazer A cultura Hip
Hop nasce a partir de accedilotildees para conter a violecircncia e promover a
conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessidade de luta conshy
tra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis
O Hip Hop eacute composto por 4 elementos a saber o break o
rap o DJ e o grafitti No Brasil o Hip Hop encontra na deacutecada
de 1980 um terreno fecundo para o seu desenvolvimento e o Hip
Hop ganha espaccedilo enquanto um meio de luta mobilizaccedilatildeo e dishy
vulgaccedilatildeo das desigualdades sociais e raciais
Entretanto a induacutestria da muacutesica se aproveita da popularishy
dade do Hip Hop transformando-o em uma mercadoria e descashy
racterizando-o enquanto movimento social e de contestaccedilatildeo No
caso especiacutefico da danccedila acontece uma reproduccedilatildeo de coreografias
montadas perdendo o sentido da expressatildeo corporal e a criatividashy
de que fazem parte da essecircncia do break
O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos conshy
textos sendo empregado para classificar um estilo de muacutesica de
danccedila ou um jeito de se vestir conhecido como estilo B-boy asshy
sociado a marcas esportivas especiacuteficas sem contudo representar
os seus objetivos gerais de contestaccedilatildeo social
42 - Expressatildeo da Siacutentese
Construccedilatildeo de paineacuteis sobre os elementos do Hip Hop orgashy
nizaccedilatildeo de um festival de Hip Hop apresentando os pontos discu-jf
tidos na unidade de ensino
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO
Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
Conhecer mais sobre o Hip Hop sua
essecircncia e tendecircncias
Ler pesquisar e conhecer pessoas
do Movimento Hip Hop
Socializar os conhecimentos aprendishy
dos sobre o Hip Hop
Produccedilatildeo de textos eou docushy
mentaacuterios sobre os elementos a
histoacuteria e a descaracterizaccedilatildeo do
Hip Hop
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees finais
Em tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas
as esferas da vicia a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda
maior E preciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabashy
lhadora construamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contrishy
buindo para a desmistificaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta
Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo imposta pela miacutedia eacute
preciso compreender que a essecircncia do movimento Hip Hop ainda
permanece inalterada Neste sentido situar historicamente o Hip
Hop no contexto socioeconocircmico e cultural em que surgiu mdash desshy
velando sua essecircncia enquanto movimento de contestaccedilatildeo poliacutetica
e social - contribui para a compreensatildeo do aluno enquanto agente
de sua histoacuteria capaz de atuar e transformar atraveacutes de accedilotildees conshy
cretas o seu meio e as condiccedilotildees materiais de sua existecircncia
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3
CAPIacuteTULO VII
A DISCIPLINARIZACcedilAtildeO DOS CORPOS POR MEIO DA GINAacuteSTICA
I^eonardo Docena Pina
Miguel Fabiano de Faria
Nathagravelia Sixel Rodrigues
Ramon Mendes da Costa Magalhatildees
A ginaacutestica como conteuacutedo da Educaccedilatildeo
Fiacutesica natildeo deve ser vista como uma manifestashy
ccedilatildeo recente uma vez que se trata de uma praacutetishy
ca bastante antiga na escola se considerada em
relaccedilatildeo a outros conteuacutedos da cultura corporal
Tendo em vista as transformaccedilotildees ocorridas
com a ginaacutestica ao longo da histoacuteria algumas
questotildees emergem e conferem significados agrave
proposta deste capiacutetulo atualmente a ginaacutestishy
ca permanece como um conteuacutedo nas aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesica Como se configura a ginaacutestica
nessas aulas Como os corpos dos sujeitos enshy
volvidos nessa praacutetica satildeo abordados dentro e
fora da escola Como a sociedade compreende
esses corpos e delega agrave ginaacutestica a competecircncia
por conformaacute-los Questotildees como essas contrishy
buem para a compreensatildeo dos significados que
a praacutetica corporal ginaacutestica assume ou poderia
assumir como conteiido escolar
Compreender a ginaacutestica como conteuacuteshy
do da Educaccedilatildeo Fiacutesica nos remete ao iniacutecio
do seacuteculo XIX quando essa produccedilatildeo cultural
passou a ser considerada cientiacutefica fruto das
distintas formas de se pensar os exerciacutecios fiacutesicos em paiacuteses europeus
surgindo assim os meacutetodos ou escolas de ginaacutestica integrantes do
chamado Movimento Ginaacutestico Europeu Nessa perspectiva buscou-
-se imprimir um caraacuteter de utilidade aos exerciacutecios fiacutesicos em que
foram negadas as praacuteticas populares de artistas de rua de circo acroshy
batas que as apresentavam como espetaacuteculo trazendo o corpo como
centro de entretenimento (SOARES 1998 2001a 2001b)
Ainda segundo a autora eacute nos princiacutepios de ordem e disciplina forshy
mulados pelo Movimento Ginaacutestico Europeu bem como do afastamenshy
to do nuacutecleo primordial do divertimento que a Ginaacutestica se afirmou
como parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos Uma praacutetica capaz de potenshy
cializar a utilidade dos gestos e oferecer um espetaacuteculo ldquocontroladordquo e
institucionalizado dos usos do corpo em negaccedilatildeo aos elementos cecircnicos
funambulescos e acrobaacuteticos (SOARES 1998)
Precursora da Educaccedilatildeo Fiacutesica a Ginaacutestica cientiacutefica se afirmou
ao longo do seacuteculo X IX como siacutentese do pensamento cientiacutefico no
ocidente europeu e integrante dos novos coacutedigos de civilidade o que
vai justificar sua presenccedila no curriacuteculo escolar tambeacutem no Brasil
Como vimos a ginaacutestica foi uma das primeiras praacuteticas corposhy
rais a ser inserida na educaccedilatildeo escolar no seacuteculo XIX tanto que sua
denominaccedilatildeo ldquoGymnasticardquo foi por muitos anos considerada a proacuteshy
pria disciplina escolar sendo paulatinamente substituiacuteda no iniacutecio do
seacuteculo XX pela denominaccedilatildeo ldquoEducaccedilatildeo Physicardquo1
No Brasil ateacute as deacutecadas de 1920 e 1930 a ginaacutestica era uma
praacutetica privilegiada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica sendo orientada por
dois primados da educaccedilatildeo escolar Primeiramente o ldquoprimado da orshy
topediardquo esteve relacionado com a correccedilatildeo de desvios e com o endirei-
tamento dos corpos pretendendo constituir sujeitos robustos e higieshy
nizados Posteriormente o ldquoprimado da eficiecircnciardquo visava construir o
1 Tal expressatildeo areacute enratildeo possuiacutea um sentido mais amplo vinculado ao discurso da ldquohygienerdquo
(G O N D RA 2004) e ao pensamento de Herbert Spencer em que a educaccedilatildeo integral
seria apoiada em trecircs pilares a ldquoeducaccedilatildeo intellectual moral e physicardquo (VAGO 2002)
Assim essa ldquoeducaccedilatildeo physicardquo englobou natildeo soacute a ldquogymnasticardquo os ldquoexerciacutecios physicosrdquo e as
ldquoevoluccedilotildees militaresrdquo como tambeacutem abarcou a organizaccedilatildeo dos tempos e espaccedilos escolares a
distribuiccedilatildeo da luz a boa ventilaccedilatildeo do ambiente a disposiccedilatildeo e o formato do mobiliaacuterio o
nuacutemero de alunos por turma as refeiccedilotildees os recreios enfim todos os haacutebitos saudaacuteveis que
garantiriam o pleno ldquodesenvolvimento physicordquo dos alunos
trabalhador necessaacuterio agrave induacutestria que deveria ser dotado natildeo somente
de corpos ldquoerectosrdquo mas sobretudo de corpos eficientes prontos para
o trabalho em conjunto que de maneira eficaz tivesse rendimento em
forma de produto e de resultado (VAGO 2002)
Nesse sentido Carvalho (1997) apresenta argumentos para comshy
preender os discursos educacionais que no Brasil a partir do final do
seacuteculo XIX e nas primeiras quatro deacutecadas do seacuteculo XX procuraram
ldquo[] legitimar-se enquanto saber pedagoacutegico de tipo novo moderno experimental e cientiacuteficordquo (CARVALHO 1997 p 269) Assim ldquo[]
trabalha com duas metaacuteforas da disciplina - disciplina como ortopeshy
dia e disciplina como eficiecircnciardquo (CARVALHO 1997 p 269) De
acordo com a autora a partir da deacutecada de 1920 eacute possiacutevel perceber
uma sutil mudanccedila no discurso pedagoacutegico no Brasil
O resultado desse movimento eacute que a eficiecircncia passa a ser um
primado orientador para a escola Com efeito Vago (2002) amplia
que natildeo seria diferente para a ginaacutestica a qual migraria de uma preshy
ocupaccedilatildeo com a correccedilatildeo o endireitamento e a constituiccedilatildeo dos corshy
pos para uma preocupaccedilatildeo com a eficiecircncia dos gestos aliada aos
pressupostos da ldquovida modernardquo2
A partir das deacutecadas de 1940 e 1950 a ginaacutestica foi perdendo
espaccedilo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica para o esporte3 Atualmente
em muitas escolas esse conteuacutedo quando trabalhado tende a ser
abordado com praacuteticas descontextualizadas como apecircndice dos esshy
portes aquecimento relaxamento preparaccedilatildeo fiacutesica subsumindo
seu caraacuteter poliacutetico e social em suma natildeo o considerando como
patrimocircnio cultural a ser apropriado pela humanidade tal como
nos mostra Almeida (2005) Contudo pensar a ginaacutestica como
um conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute pensar em uma possibilidade
2 Sobre este assunto destacamos tambeacutem o trabalho de Schneider (2004)
3 Apoacutes a II Guerra Mundial num contexto de intensa urbanizaccedilatildeo e desenvolvimento
bdquoindustrial assistimos a um processo de esportivizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica influenciado
pela cultura europeia Neste momento a Educaccedilatildeo Fiacutesica passa a ter uma relaccedilatildeo de
subordinaccedilatildeo agrave instituiccedilatildeo esportiva tendo seus objetivos baseados na aptidatildeo fiacutesica
e iniciaccedilatildeo esportiva Os coacutedigos do Esporte de Rendimento como competiccedilatildeo
sucesso individual e rendimento satildeo incorporados pela Educaccedilatildeo Fiacutesica neste periacuteodo
demonstrando sua articulaccedilatildeo com a poliacutetica educacional tecnicista e seu papel na
reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais hegemocircnicas
de ampliaccedilatildeo cultural que deve privilegiar a formaccedilatildeo humana em
sua totalidade Como apresenta Ayoub (2003 p 87) aprender gishy
naacutestica na escola significa ldquoestudar vivenciar conhecer compreenshy
der perceber confrontar interpretar problematizar compartilhar
apreender as inuacutemeras interpretaccedilotildees da ginaacutestica e produzir novos
significados e novas possibilidades de expressatildeo giacutemnicardquo
Veremos no presente capiacutetulo que a ginaacutestica contemporacircnea
dentro e fora da escola pode estar imprimindo algumas permanecircncias
da ginaacutestica cientiacutefica do seacuteculo XIX entretanto sob uma nova roushy
pagem Essas permanecircncias podem ser percebidas tanto com relaccedilatildeo agrave
sua metodologia em grande medida enraizada na repeticcedilatildeo de gestos
padronizados quanto com relaccedilatildeo agraves finalidades a ela associadas que
sugerem uma nova leitura para a ldquocorreccedilatildeordquo e ldquoconstituiccedilatildeo dos corposrdquo
bem como para a ldquoeficiecircncia dos gestosrdquo associada ao mundo produtivo
e aos interesses da classe dominante
A ginaacutestica no processo de disciplinarizaccedilatildeo
O corpo dos indiviacuteduos como mais um instrumento da
produccedilatildeo passava a constituir uma preocupaccedilatildeo da classe
no poder Tornava-se necessaacuterio nele investir Todavia esse
investimento deveria ser limitado para que o corpo nunshy
ca pudesse ir aleacutem de um corpo de um ldquobom animalrdquo
Era preciso adestraacute-lo desenvolver-lhe o vigor fiacutesico desde
cedo disciplinaacute-lo enfim para sua funccedilatildeo na produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo do capital (SOARES 2001a p 33)
A partir do conceito de disciplina Foucault (1987) descreve um
processo no qual satildeo formados haacutebitos costumes modos de pensar e
agir orientados para a formaccedilatildeo dos chamados corpos doacuteceis - indiviacuteduos
que podem ser submetidos utilizados transformados e aperfeiccediloados
Em suas reflexotildees o chamado ldquopoder disciplinarrdquo possui como funccedilatildeo
maior a de ldquoadestrarrdquo os indiviacuteduos fabricando sujeitos ao mesmo temshy
po produtivos economicamente e submissos politicamente
Os processos disciplinares segundo o autor assumiram no decorshy
rer dos seacuteculos XVII e XVIII formas gerais de dominaccedilatildeo diferentes
da escravidatildeo da domesticidade da vassalidade e do ascetismo por
exemplo visto que este novo contexto histoacuterico eacute o momento no qual
nasce uma arte do corpo humano que visa natildeo unicamente o aumento
de suas habilidades mas a formaccedilatildeo de uma relaccedilatildeo que no mesmo
mecanismo o torna tanto mais obediente quanto eacute mais uacutetil ldquoForma-
-se entatildeo uma poliacutetica das coerccedilotildees que satildeo um trabalho sobre o corpo
uma manipulaccedilatildeo calculada de seus elementos de seus gestos de seus
comportamentosrdquo (FOUCAULT 1987 p 119)
Nesse processo as teacutecnicas de distribuiccedilatildeo dos indiviacuteduos no espashy
ccedilo assim como o controle da atividade pela regulaccedilatildeo do tempo e pelo
adestramento dos gestos vatildeo configurando novas praacuteticas em diferentes
instituiccedilotildees Assim as faacutebricas os quarteacuteis os hospitais e tambeacutem as
escolas se configuram como locais responsaacuteveis para a disciplinarizaccedilatildeo
dos indiviacuteduos No caso do ambiente escolar essa formaccedilatildeo demandava
a manutenccedilatildeo dos alunos entre as paredes da sala de aula submetidos
ao olhar vigilante do professor o tempo suficiente para domar seu cashy
raacuteter e dar forma adequada a seu comportamento (ENGU1TA 1989)
E com esse mesmo objetivo no que se refere ao projeto de
formaccedilatildeo humana que a ginaacutestica por meio dos meacutetodos ginaacutesshy
ticos foi incorporada pelas concepccedilotildees educacionais do final do
seacuteculo XV III e iniacutecio do seacuteculo X IX (SOARES 2001a)
Regenerar a raccedila promover a sauacutede (sem alterar as condiccedilotildees
degradantes de vida) desenvolver a vontade a forccedila a ldquoenergiardquo (para
servir agrave paacutetria e agrave induacutestria) foram algumas das finalidades atribuiacutedas
agrave ginaacutestica no contexto de consolidaccedilatildeo do capitalismo na Europa A
ecircnfase na disciplinarizaccedilatildeo dos corpos acabou por delinear na educashy
ccedilatildeo escolar uma praacutetica pedagoacutegica na qual sessotildees de ginaacutestica tratashy
vam os alunos de forma homogecircnea com accedilotildees reduzidas agrave repeticcedilatildeo
de movimentos estereotipados tal como sugere Marinho (19--) ao
descrever uma liccedilatildeo de ginaacutestica orientada pelo Meacutetodo Francecircs
Para fazer executar um movimento o instrutor
comanda - ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo devendo este
comando ser substituiacutedo para as crianccedilas pela adshy
vertecircncia ldquoAtenccedilatildeordquo Se o movimento exige uma poshy
siccedilatildeo de partida o instrutor a indicaraacute lt rnminJraquo-
ldquoPosiccedilatildeordquo Enuncia o exerciacutecio e ao comando ldquoCoshy
meccedilarrdquo Todos executam o movimento prescrito As
posiccedilotildees de partida dos ldquoassouplissementsrdquo assimeacuteshy
tricos satildeo a princiacutepio tomadas agrave esquerda Termishy
nado o exerciacutecio nesta posiccedilatildeo o instrutor comanda
ldquoMudarrdquo Os alunos retornam agrave posiccedilatildeo de partida agrave
direita e executam novamente o exerciacutecio prescrito
Ao comando de ldquoCessarrdquo todo o movimento cessa
sem precipitaccedilatildeo e a posiccedilatildeo de partida eacute retomada
A posiccedilatildeo de partida soacute eacute deixada ao comando de
ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo No comando de ldquoDescanshy
ccedilarrdquo os alunos permanecem no lugar sem serem
obrigados a conservar a posiccedilatildeo primitiva e a imobishy
lidade (M A R IN H O 19- p 110-111)
Conforme explica Soares (2001a) todo o ideaacuterio colocado em
praacutetica pelo pensamento higienista do qual resulta o modelo de aula
descrito acima impocircs uma disciplina que pretendia adequar o corpo ao
trabalho fabril tornando-o mais doacutecil e submisso sob a oacutetica poliacutetica
e ao mesmo tempo mais aacutegil forte e robusto sob a oacutetica da produccedilatildeo
E importante considerar a possibilidade de o processo de dis-
ciplinarizaccedilatildeo mdash descrito por Foucault e incorporado de forma sushy
bordinada por Soares (2001a) - natildeo ter sido totalmente superado
ou seja esse fenocircmeno pode estar se apresentando ainda nos dias
de hoje de uma nova forma atualizada
Na concepccedilatildeo gramsciana todo esse processo de ldquodisciplinariza-
ccedilatildeordquo pode ser compreendido como uma tentativa - da classe domishy
nante mdash de formaccedilatildeo teacutecnica e de conformaccedilatildeo eacutetico-poliacutetica das masshy
sas com o intuito de reconfigurar o modo de vida em conformidade
com as demandas colocadas pelo modo de produccedilatildeo da existecircncia
humana em expansatildeo naquele contexto histoacuterico
Em Americanismo e Fordismo Gramsci (2001 p 251) explica
que ldquoa vida na induacutestria exige um aprendizado geralrdquo um processhy
so de adaptaccedilatildeo psicofiacutesica a determinadas condiccedilotildees de trabalho
de nutriccedilatildeo de habitaccedilatildeo de costumes de valores algo que natildeo
eacute inato natural mas exige ser adquirido Portanto a partir dessa
reflexatildeo torna-se possiacutevel compreender que no modo de produccedilatildeo
da vida em formaccedilatildeo no contexto histoacuterico de incorporaccedilatildeo dos meacuteshy
todos ginaacutesticos na escola os exerciacutecios fiacutesicos desempenhavam um
papel importante uma vez que o novo tipo de homem demandado
pelo bloco no poder deveria possuir um corpo saudaacutevel forte aacutegil
e disciplinado construiacutedo a partir da adoccedilatildeo de um novo modo de
vida E exatamente para contribuir com a formaccedilatildeo desse novo tipo
de homem que a ginaacutestica estruturada dentro ou fora da instituishy
ccedilatildeo escolar passou a constituir um dos mecanismos utilizados para
instrumentalizar a vontade adequar e reorganizar gestos e atitudes
necessaacuterios agrave reproduccedilatildeo da sociedade4
A questatildeo que necessitamos discutir refere-se agrave possibilidade
de existecircncia de um processo contemporacircneo de mesmo tipo mas
atualizado voltado agrave formaccedilatildeo de um novo modo de vida necessaacuteshy
rio agrave reproduccedilatildeo do capitalismo contemporacircneo Portanto quesshy
tionamos seraacute que a ginaacutestica contemporacircnea se relaciona com a
formaccedilatildeo de novos corpos doacuteceis A ginaacutestica hoje atende de alguma
forma aos interesses de reproduccedilatildeo da sociedade Existem elementos
contraditoacuterios que permitem uma apropriaccedilatildeo criacutetica da ginaacutestica
Longe de assumir a tarefa de esgotar as reflexotildees sobre o tema
entendemos ser necessaacuterio destacar inicialmente que as modifishy
caccedilotildees ocorridas no capitalismo a partir da deacutecada de 1970 em
resposta agrave chamada crise do keynesianismo-fordismo represenshy
taram uma mudanccedila no regime de acumulaccedilatildeo - do fordismo agrave
ldquoacumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo (HARVEY 2007) Ao modelo fordista seshy
gundo Chauiacute (2001) o bloco no poder respondeu com a terceirishy
zaccedilatildeo a desregulamentaccedilatildeo o predomiacutenio do capital financeiro
a dispersatildeo e fragmentaccedilatildeo da produccedilatildeo aleacutem da centralizaccedilatildeo
velocidade da informaccedilatildeo e da velocidade das mudanccedilas tecnoloacuteshy
gicas ao modelo keynesiano do Estado de Bem-Estar o bloco no
poder respondeu com a ideia do ldquoEstado m iacutenimordquo a desregulaccedilatildeo
do mercado a competitividade e a privatizaccedilatildeo da esfera puacuteblica
As modificaccedilotildees provenientes desse processo de reproduccedilatildeo
do capitalismo natildeo atingiram apenas a organizaccedilatildeo de grandes
______________ 4 Natildeo eacute objetivo deste texto discutir as distinccedilotildees entre Foucault e Gramsci no que diz respeito
ao conceito de disciplina Optamos por trabalhar com a vertente marxista incorporando de
lorma subordinada ao nosso referencial as contribuiccedilotildees que Foucault daacute ao tema
empresas jaacute consolidadas no mercado mas tambeacutem novos emshy
preendimentos como as academias de ginaacutestica por exemplo5
Conforme evidencia Furtado (2007) as academias vecircm acomshy
panhando a tendecircncia de implementaccedilatildeo dos elementos centrais
da acumulaccedilatildeo flexiacutevel passando a funcionar em uma dinacircmica
caracterizada pela flexibilidade pela introduccedilatildeo de equipamentos
com tecnologia cada vez mais avanccedilada pela diversificaccedilatildeo das
mercadorias oferecidas e tambeacutem pelo ldquofoco no clienterdquo que
pode ser evidenciado pela constante busca de ldquonovasrdquo ofertas e
novidades capazes de atrair e reter consumidores
As aulas de ginaacutestica saacuteo por exemplo ldquoaulas-showrdquo
com equipamentos iluminaccedilatildeo decoraccedilatildeo e sonorishy
zaccedilatildeo que favorecem ao ldquoespetaacuteculordquo e desempenham
um papel importante na seduccedilatildeo do cliente Assim
tambeacutem eacute toda a complexa estrutura que possui a acashy
demia ou seja natildeo eacute soacute a aula que deve ser um ldquoshowrdquo
e sim tambeacutem toda a academia com decoraccedilatildeo sonorishy
zaccedilatildeo iluminaccedilatildeo e equipamentos que desempenhem
funccedilotildees de encantar e atender aos desejos dos clientes
de experimentar sensaccedilotildees diversas dentre elas a sensashy
ccedilatildeo de ldquostatusrdquo (FURTADO 2007 p 311)
E interessante destacar que o formato atrativo das aulas tende a
captar de forma mais eficiente os consumidores visto que eles acabam
desconsiderando os incipientes resultados reais obtidos pela realizaccedilatildeo
das aulas de determinados programas que na verdade se sustentam
mais pelos fatores de cunho emocional do que pelos ganhos obtidos
com sua praacutetica Ao analisar as teacutecnicas de inovaccedilatildeo do empresariado
do Fitness mais especificamente um determinado programa da franshy
quia Curves Mascarenhas et al (2007) constatam que a pseudossensa-
ccedilatildeo de bem-estar sauacutede e beleza produzida pelas aulas eacute acompanhada
por um amplo e intenso processo de persuasatildeo comum agraves cartilhas
de marketing para academias Segundo os autores a base de legitima-
5 A acumulaccedilatildeo flexiacutevel eacute marcada dentre outros aspectos pela superaccedilatildeo da
rigidez caracteriacutestica do fordismo se apoiando na flexibilidade dos processos
e mercados de trabalho aleacutem dos produtos e padrotildees de consumo Para
compreender melhor como as modificaccedilotildees no regime de acumulaccedilatildeo
afetaram a aacuterea Fitness recorrer agrave Quelhas (2012)
ccedilatildeo racional tecno-cientiacutefica eacute secundarizada frente ao acreacutescimo de
inovaccedilotildees criativas de base emocional Talvez isso explique ao menos
em parte por que ainda hoje sejam consideradas bastante atrativas
algumas aulas de ginaacutestica de academia que em muito se assemelham
agraves sessotildees de ginaacutestica do seacuteculo passado Estamos nos referindo aos
atuais formatos padronizados de sessotildees de ginaacutestica que se orientam
na repeticcedilatildeo de movimentos estereotipados geralmente com mesma
intensidade a serem realizados pelos alunos em conformidade com
comandos do professor - ou de uma voz jaacute gravada a ser reproduzida
em aparelhos eletroeletrocircnicos Conforme evidenciam Toledo e Pires
(2008) alguns programas tendem a desconsiderar na aula dificuldashy
des ou niacutevel de condicionamento fiacutesico dos alunos uma vez que os
professores muitas vezes tecircm que seguir com exatidatildeo a aula desshy
crita na apostila e ensinada nos cursos assim como natildeo podem sair
da posiccedilatildeo de ldquoatores eperformersrdquo para corrigir eou dar uma atenccedilatildeo
especial ao aluno com dificuldades durante a aula As autoras mencioshy
nam por sua vez que esses elementos ao serem considerados pelos
alunos como determinantes de insatisfaccedilatildeo estatildeo sendo revistos pershy
mitindo aos professores sua modificaccedilatildeo
O incentivo ao consumo das ldquonovasrdquo modalidades de ginaacutestica
de academia ainda eacute acompanhado pela forte influecircncia da miacutedia na
organizaccedilatildeo dos valores dominantes Natildeo soacute o medo de engordar mas
uma gama de valores e comportamentos atrelados ao culto ao corpo
tem contribuiacutedo significativamente para a difusatildeo de um padratildeo a ser
almejado e - em alguns casos - para o desenvolvimento dos chamados
transtornos alimentares como a anorexia por exemplo6
Em virtude da discussatildeo realizada torna-se importante quesshy
tionar se a difusatildeo de valores responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de novos
desejos relacionados ao consumo das mercadorias a serem vendishy
das nas academias de ginaacutestica hoje se constitui como uma forma
atual de disciplinarizaccedilatildeo subordinando os indiviacuteduos aos interesshy
ses dominantes Da mesma forma a difusatildeo de receitas exerciacutecios
------------ 6 A influecircncia da miacutedia no culto ao corpo foi trabalhada por Berger (2007 2010) Sobre
anorexia destacam-se os textos de Cordas (2004) Giordani (2006) e ainda o de Niemeyer e
Kruse (2008)
ou programas de ginastica milagrosos pode estar desempenhanshy
do importante funccedilatildeo educativa sobretudo no caso das pessoas
que natildeo dominam o conhecimento necessaacuterio para criticaacute-los e
por isso acabam por aderir ao consumo de mercadorias que nem
sempre produzem o resultado desejado
Consideramos que a transmissatildeo do conhecimento historicamente
sistematizado pela humanidade sobre o tema se constitui como um passo
importante para superar esse possiacutevel processo atual de ldquoadestramentordquo
A praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a ginaacutestica
Na perspectiva que orienta este trabalho o trato pedagoacutegico com a
ginaacutestica na escola deve se articular agrave tarefa de socializaccedilatildeo das formas mais
desenvolvidas do conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico produzido
pela humanidade ao longo do tempo uma vez que possibilita aos alunos asshy
sumir uma nova postura na praacutetica social qual seja a de sujeito histoacuterico7
No caso do tema abordado neste artigo isso significa transmitir um conheshy
cimento que permita aos alunos assumir uma nova relaccedilatildeo com a ginaacutestica
Compreendendo que o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos
corpos se constitui como um possiacutevel tema a ser trabalhado na
escola desenvolvemos um trabalho pedagoacutegico orientado pela
Pedagogia histoacuterico-criacutetica com uma turma (composta por 30
alunos de ambos os sexos) do segundo ano do Ensino Meacutedio no
Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste
de Minas Gerais (IF Sudeste M G ) Campus Juiz de Fora8 A seshy
7 A respeito disso ver Coletivo de Autores (1992)
8 Essa experiecircncia foi resultado de um Estaacutegio Curricular Obrigatoacuterio desenvolvido em
2011 quando Nathaacutelia Sixel Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees cursavam
a Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacutesica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Tal experiecircncia deu origem a um Trabalho de Conclusatildeo de Curso (MAGALHAtildeES
RODRIG UES 2011) orientado por Leonardo Docena Pina na eacutepoca professor substituto
da FACED-UFJF As discussotildees realizadas entre os acadecircmicos o orientador e Miguel Fabiano
de Faria professor da turma do IF Sudeste M G que recebeu os estagiaacuterios demandaram a
continuidade do estudo abordando novas reflexotildees que naquela ocasiatildeo natildeo puderam ser
feitas O presente texto portanto parte da experiecircncia de estaacutegio mas natildeo se limita a este uma
vez que elaboramos outro plano de trabalho para englobar novas dimensotildees do conteuacutedo natildeo
abordadas naquela ocasiatildeo Para facilitar a compreensatildeo dos aspectos didaacuteticos expostos neste
texto apresentaremos o planejamento mais elaborado como experiecircncia jaacute desenvolvida
guir apresentamos a experiecircncia desenvolvida a partir dos passos
metodoloacutegicos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica
Na identificaccedilatildeo da praacutetica social buscamos debater as seguintes
questotildees a ginaacutestica de hoje eacute igual agrave de antigamente Ela sofre influecircnshy
cia da miacutedia Existem diferenccedilas entre as praacuteticas de ginaacutestica voltadas
para a esteacutetica ou para a sauacutede Ginaacutestica promove sauacutede Qualquer
exerciacutecio que praticamos faz nosso corpo ldquoqueimarrdquo gordura Em seshy
guida os alunos foram informados de que estudariacuteamos algumas reshy
laccedilotildees entre ginaacutestica e sociedade ao longo da histoacuteria a partir de um
meacutetodo de apreensatildeo da realidade que tem o objetivo de transformar a
sociedade em que vivemos Os seguintes toacutepicos foram apresentados a
importacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise dos discurshy
sos da sauacutede e da esteacutetica a ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do
seacuteculo XIX aos dias de hoje a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos
desejos e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave
ginaacutestica introduccedilatildeo aos fundamentos cientiacuteficos do treinamento car-
diorrespiratoacuterio Cada um desses toacutepicos foi apresentado em conjunto
com os objetivos formulados sistematizados no plano de unidade
Ainda neste momento buscou-se identificar o que os alunos jaacute
sabiam sobre o tema Eles identificaram a praacutetica da ginaacutestica como
importante para a sauacutede e apontaram os ldquoobjetivos esteacuteticosrdquo como
influecircncia para aderir agrave praacutetica de ginaacutestica poreacutem natildeo demonstrashy
ram compreender o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
O processo de aprimoramento da compreensatildeo dos alunos
sobre o tema foi direcionado por questionamentos referentes agraves
suas respectivas dimensotildees conforme apresentado na problema-
tizaccedilatildeo disposta no plano de unidade
Para transmitir os conhecimentos necessaacuterios agrave compreenshy
satildeo das questotildees levantadas na problematizaccedilatildeo optou-se por
trabalhar na instrumentalizaccedilatildeo com atividades embasadas prinshy
cipalmente nas discussotildees apresentadas em Soares (1998) Soshy
ares (2001a) Angulski et al (2006) e Mcardle Katch e Katch
(2003) Aleacutem de aulas expositivas trabalhamos o conteuacutedo por
meio de vivecircncia praacutetica da ginaacutestica
Iniciamos esra fase com uma exposiccedilatildeo que abordou a evoluccedilatildeo
da Ginaacutestica ao longo da Histoacuteria enfatizando as formas originais de
disciplinarizaccedilatildeo Ou seja nos concentramos nos Meacutetodos Ginaacutesticos
e discutimos sua influecircncia na configuraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica em
meados do seacuteculo XIX Logo apoacutes a exposiccedilatildeo uma vivecircncia praacutetica
foi realizada (nos moldes do Meacutetodo Francecircs) de modo a ampliar
a compreensatildeo da forma como era trabalhado esse conteuacutedo antishy
gamente aleacutem de buscar novos elementos para enriquecimento da
discussatildeo sobre a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Para discutir a expressatildeo contemporacircnea dessa produccedilatildeo cultural
apresentamos diferentes tipos de praacuteticas de ginaacutestica para vivecircncia e
posterior discussatildeo dos objetivos que levam as pessoas a praticaacute-las
esteacutetica ou sauacutede Salientamos neste momento alguns benefiacutecios da
ginaacutestica para a qualidade de vida e se esses estatildeo tambeacutem ligados agrave
esteacutetica O aprimoramento da compreensatildeo dos alunos sobre os beshy
nefiacutecios da ginaacutestica tambeacutem foi acompanhado por uma exposiccedilatildeo
dos modos de afericcedilatildeo da frequecircncia cardiacuteaca e das diferentes zonas
de treinamento e consumo de substratos energeacuteticos Assim pudemos
vivenciar algumas praacuteticas de ginaacutestica controlando a intensidade do
exerciacutecio de acordo com diferentes zonas alvo estipuladas Por fim
ainda na discussatildeo sobre esse tema buscamos situar a sauacutede e a qualishy
dade de vida como questotildees sociais a partir de uma exposiccedilatildeo seguida
da discussatildeo de reportagens previamente selecionadas
Ainda na instrumentalizaccedilatildeo apoacutes leituras indicadas para os alushy
nos realizarem em casa discutimos a influecircncia da miacutedia na praacutetica
de ginaacutestica nos modelos de corpo e nas accedilotildees para obtecirc-los Em
seguida elaboramos paineacuteis com recortes e reportagens de revistas
problematizando o tema Cada grupo apresentou seu painel ao final
Para explicitar a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy
naacutestica em sua expressatildeo contemporacircnea acreditamos que eacute posshy
siacutevel discutir a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos
e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave
ginaacutestica Aleacutem do mais a vivecircncia (seguida da problematizaccedilatildeo)
de alguns programas de ginaacutestica vendidos nas academias hoje
0
permite ao aluno compreender possiacuteveis traccedilos de disciplinariza-
ccedilaacuteo que se mantecircm ainda que de forma renovada
Ao final das atividades na catarse foi possiacutevel identificar que granshy
de parte dos alunos manifestou uma nova compreensatildeo da relaccedilatildeo exisshy
tente entre a ginaacutestica e a Educaccedilatildeo Fiacutesica nos diferentes momentos
da histoacuteria A nova maneira de entender o conteuacutedo mostrou-se mais
elaborada com domiacutenio de conceitos e entendimento de implicaccedilotildees
da sociedade na ginaacutestica e da ginaacutestica na sociedade Desafiados a sinshy
tetizar o que aprenderam os alunos se aproximaram do entendimenshy
to de que a ginaacutestica eacute uma atividade corporal que no seacuteculo XJX
atraveacutes dos meacutetodos ginaacutesticos atrelou-se agrave eugenia higiene assentada
no discurso da melhoria da sauacutede dos trabalhadores e da elevaccedilatildeo da
eficiecircncia no processo de produccedilatildeo No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre
ginaacutestica e qualidade de vida expressaram que a ginaacutestica isoladamente
natildeo garante melhora da sauacutedequalidade de vida pois estas estatildeo aliashy
das ao acesso agrave habitaccedilatildeo atendimento meacutedico transporte garantia
de emprego condiccedilotildees de trabalho seguras saneamento baacutesico e alishy
mentaccedilatildeo de qualidade dentre outros Enfatizaram o entendimento de
que a ginaacutestica tem desempenhado um papel secundaacuterio nas praacuteticas
de Educaccedilatildeo Fiacutesica no entanto tem sido objeto de ldquomercado rizaccedilatildeordquo
no cotidiano dos indiviacuteduos influenciados pela miacutedia A ginaacutestica soshy
bretudo sua praacutetica na busca de um padratildeo de corpo ideal tambeacutem
foi discutida sendo os meios iliacutecitos e exagerados como anabolizan-
tes esteroides dietas excessivas apontados como agentes nocivos que
poderiam levar a doenccedilas como a vigorexia anorexia e bulimia Neste
momento tambeacutem puderam se aproximar do entendimento de que dishy
ferentes intensidades nos exerciacutecios produzem efeitos distintos no nosso
corpo E ainda que a intensidade do exerciacutecio pode ser mensurada
atraveacutes da frequecircncia cardiacuteaca de maneira faacutecil e funcional9
Para os alunos expressarem a siacutentese a que ascenderam utilizamos
um trabalho final no qual foi proposto um ldquoquizrdquo educativo seguido
de uma discussatildeo o que permitiu abordar todo conteuacutedo trabalhado4
9 Naquela ocasiatildeo natildeo foi possiacutevel aprofundar o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
em suas formas contemporacircneas razatildeo que nos limitou a trabalhar apenas com as formas
originais desse processo conforme mencionado anirrinrmfnrraquo
A finalizaccedilatildeo das atividades na praacutetica social final envolveu a deshy
finiccedilatildeo de intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo no sentido de explicitar que a
apropriaccedilatildeo do conhecimento historicamente elaborado sobre a ginaacutesshy
tica possibilita aprimorar a atuaccedilatildeo na praacutetica social contribuindo para
uma postura criacutetica frente o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos10
Plano de unidade
A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Instiuiccedilatildeo Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia
Juiz de Fora
Disciplina Educaccedilatildeo Fiacutesica
Ano de escolaridade turma 2o ano do ensino meacutedio
Conteuacutedo Ginaacutestica
Unidade A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Nuacutemeros de aulas 8-10
OBJETIVOS GERAIS
bull Identificar a sauacutede e a esteacutetica como elementos centrais nos
discursos dominantes atualmente sobre a importacircncia da
praacutetica de ginaacutestica de modo a reconhecer suas implicaccedilotildees
sociais
bull Compreender o papel desempenhado pelos Meacutetodos
Ginaacutesticos na educaccedilatildeo dos corpos no seacuteculo XIX a fim
de enumerar possiacuteveis elementos de continuidaderuptura
em relaccedilatildeo agrave praacutetica de ginaacutestica em academias atualmente
bull Refletir sobre a influecircncia da miacutedia no incentivo ao
consumo de mercadorias relacionadas agrave ginaacutestica de
modo a posicionar-se criticamente diante das formulaccedilotildees
predominantes
10 Quadro detalhado sobre as intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo encontra-se no planejamento
apresentado a seguir
bull Conhecer alguns princiacutepios baacutesicos do treinamento
cardiorrespiratoacuterio para aplicaacute-los em suas praacuteticas corporais
e utilizaacute-los na anaacutelise das receitas milagrosas difundidas
atualmente
1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL
11 Anuacutencio dos conteuacutedos
Conteuacutedo ginaacutestica
Tema A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Toacutepicos
bull A im portacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise
dos discursos da sauacutede e da esteacutetica
bull A ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do seacuteculo X I X aos
dias de hoje
bull A influecircncia da m iacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos e
necessidades para o consum o de mercadorias relacionadas agrave
ginaacutestica
bull Introduccedilatildeo aos fundam entos cientiacuteficos do treinam ento
cardiorrespiratoacuterio
12 Vivecircncia do conteuacutedo
bull O que os alunos sabem ginaacutestica emagrece faz bem agrave sauacutede
haacute diferentes formas praticada em diferentes lugares
bull O que os alunos gostariam de saber todo exerciacutecio fiacutesico
eacute ginaacutestica Por quanto tempo preciso praticar ginaacutestica
para emagrecer Musculaccedilatildeo eacute ginaacutestica Como ficar com o
corpo igual aos praticantes de ginaacutestica competitiva Todas
as pessoas podem praticar todos os tipos de ginaacutestica Como
a ginaacutestica pode favorecer a prevenccedilatildeo de doenccedilas
2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO
21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo
A ginaacutestica de hoje eacute igual a de antigamente Ela sofre influecircncia da
miacutedia Existem diferenccedilas entre a praacutetica voltada agrave esteacutetica ou agrave sanrW
22 Dimensotildees do conteuacutedo
Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
D IM E N S Otilde E S Q U E ST Otilde E S P R O B L E M A T IZ A D O R A S
Conceituai
O que eacute ginaacutestica A ginaacutestica voltada para a sauacutede ou para a esteacutetica
se configura da mesma forma Toda ginaacutestica tem as mesmas caracteshy
riacutesticas O que eacute frequecircncia cardiacuteaca e qual sua relaccedilatildeo com as diferenshy
tes imensidades do exerciacutecio fiacutesico Quais sinais emitidos pelo nosso
corpo nos permitem estimar a queima ou natildeo de gordura O que eacute
disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Econocircmica
0 padratildeo de corpo perfeito tem alguma utilidade econocircmica Todos
tecircm condiccedilotildees de usufruir das possibilidades que o mercado oferece para
a melhora da qualidade de vida da populaccedilatildeo O desejo crescente pela
busca de novas modalidades de ginaacutestica de academia tem funccedilatildeo ecoshy
nocircmica importante nos dias de hoje
Histoacuterica
A ginaacutestica sempre se apresentou da mesma forma ao longo da hisshy
toacuteria H aacute diferenccedilas e semelhanccedilas entre a praacutetica de antigamente
e a atual Qual a funccedilatildeo atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto de sua
inserccedilatildeo na escola
CulturalCom o a miacutedia influencia nossos haacutebitos A miacutedia influenciava as
praacuteticas de ginaacutestica antigamente tambeacutem
Esteacutetica
Sempre existiu padratildeo de corpo A m iacutedia difundia algum padratildeo
de corpo antigamente A praacutetica de ginaacutestica tem sido realizada
somente para a obtenccedilatildeo de um corpo belo Essa difusatildeo de um
padratildeo de corpo ideal cria na populaccedilatildeo desejos e imagens sobre
seus proacuteprios corpos
Poliacutetica
A praacutetica de ginaacutestica por si soacute favorece a melhoria da sauacutede da
populaccedilatildeo de forma isolada ou outros fatores como renda morashy
dia emprego transporte atendimento meacutedico e alimentaccedilatildeo satildeo
importantes
Teacutecnica
Com o aferir a frequecircncia cardiacuteaca Com o identificar a intensidade dos
exerciacutecios Com o definir as zonas de treinamento a partir da afericcedilatildeo
da frequecircncia cardiacuteaca Quais satildeo os gestos que definem os movimenshy
tos da ginaacutestica
7onte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
31 Accediloacutees docentes e discentes
bull Exposiccedilatildeo do professor
bull Vivecircncia de diferentes formas de ginaacutestica passando dos
Meacutetodos Ginaacutesticos agraves modalidades contemporacircneas de
ginaacutestica de academia
bull Discussatildeo de textos com os alunos
bull Visualizaccedilatildeo anaacutelise e debate de documentaacuterioreportagem
em viacutedeo
bull Vivecircncia praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos mdash aferindo a frequecircncia
cardiacuteaca de si mesmo e do companheiro aleacutem de controlar
a zona alvo em diferentes intensidades
bull Elaboraccedilatildeo de painel com recortes e reportagens de jornais
eou revistas
32 Recursos materiais
Jornais revistas internet slides e materiais para praacutetica de gishy
naacutestica
4) CATARSE
41 Siacutentese teoacuterica do aluno
Com o desenvolvimento da sociedade capitalista na Europa
do seacuteculo XIX a Ginaacutestica Cientiacutefica ou Meacutetodos Ginaacutesticos acashy
baram por assumir a funccedilatildeo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos Para
subordinar poliacutetica e economicamente os indiviacuteduos agraves exigecircncias
das relaccedilotildees sociais dominantes naquele contexto a ginaacutestica foi
inclusive inserida nas escolas onde era praticada atraveacutes de exershy
ciacutecios padronizados com pouco ou nenhum espaccedilo para reflexotildees
dos alunos que deveriam executar os movimentos conforme os
comandos do professor (instrutor) Assim buscava-se contribuir
para formar sujeitos produtivos economicamente e ao mesmo
empo submissos politicamente capazes de contribuir para o de-
envolvimento das relaccedilotildees sociais que se aprofundavam na eacutepoca
Ao longo da histoacuteria a ginaacutestica passou por inuacutemeras trans-
ormaccedilotildees e atualmente seu viacutenculo com o discurso da promoshy
ccedilatildeo da sauacutede e da esteacutetica tem lhe garantido a manutenccedilatildeo de
am status privilegiado dentre as manifestaccedilotildees da cultura corposhy
ral Poreacutem se antigamente a educaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy
naacutestica visava formar um homem forte e apto ao trabalho fabril
atualmente a ginaacutestica parece atrelada a um processo educativo
voltado ao consumo desenfreado de mercadorias sejam as ldquonovasrdquo
modalidades oferecidas nas academias ou os diversos produtos que
visam agrave obtenccedilatildeo de um padratildeo de corpo ideal
Enquanto a busca desenfreada pelo padratildeo de corpo perfeito
acaba por influenciar transtornos como anorexia vigorexia e buli-
mia o discurso orientado na relaccedilatildeo (direta) entre praacutetica de ginaacutestishy
ca e obtenccedilatildeo da sauacutede acaba por mascarar o fato de que a qualidade
de vida e a sauacutede satildeo conceitos que envolvem condiccedilotildees de vida
como habitaccedilatildeo emprego condiccedilotildees de trabalho atendimento meacuteshy
dico de qualidade alimentaccedilatildeo dentre outros
A anaacutelise do processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes
da ginaacutestica e a apropriaccedilatildeo dos fundamentos baacutesicos do treinashy
mento cardiorrespiratoacuterio nos auxiliam no desenvolvimento de
uma postura criacutetica com a ginaacutestica a sociedade contemporacircnea e
seus discursos predominantes sobre o tema
42 Expressatildeo da siacutentese
Realizaccedilatildeo de prova e participaccedilatildeo em um quiz educativo ambos
abordando todo conteuacutedo estudado
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO
Quadro 2 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
1 Conhecer mais sobre a ginaacutestica1 Leitura de revistas e artigos soshy
bre ginaacutesticas
2 Discutir o comportamento dos inshy
diviacuteduos e suas praacuteticas de ginaacutestica
de acordo com seus objetivos sauacutede
eou esteacutetica
2 Observar e perguntar aos memshy
bros da sua comunidade se pratishy
cam e por que praticam ginaacutestica
e informaacute-los de seus limites e beshy
nefiacutecios
3 Posicionar-se criticamente sobre a
influecircncia da miacutedia nas praacuteticas de gishy
naacutesticas atuais
3 Numa discussatildeo sobre a gishy
naacutestica manifestar sua opiniatildeo
argumentando a favor ou contra
de acordo com o conhecimento
adquirido criticar a difusatildeo do
padratildeo de corpo ideal
4 Difundir o entendimento de que
outros fatores interferem na qualishy
dade de vida dos indiviacuteduos aleacutem da
ginaacutestica
4 Explicar a outras pessoas que
fatores como acesso agrave habitaccedilatildeo
atendimento meacutedico transporte
garantia de emprego condiccedilotildees
de trabalho seguras saneamento
baacutesico e alimentaccedilatildeo de qualidashy
de tambeacutem interferem na qualishy
dade de vida da populaccedilatildeo aleacutem
da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos
5 Realizar exerciacutecios na intensidade
de acordo com seus objetivos
5 Controlar sua frequecircncia cardiacute
aca durante a praacutetica de ginaacutestica e
demais exerciacutecios fiacutesicos
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees Finais
Este texto buscou apresentar uma experiecircncia pedagoacutegica na qual
a ginaacutestica foi trabalhada na escola sob orientaccedilatildeo da Pedagogia his-
toacuterico-criacutetica Destacamos que essa experiecircncia deve ser vista com um
olhar mais profundo pois cada escola tem caracteriacutesticas especiacuteficas e
singularidades que podem facilitar ou dificultar o processo pedagoacutegico
Vale ressaltar que a experiecircncia descrita natildeo esgota as inuacutemeras
possibilidades de trabalho a serem desenvolvidas com o tema ou com
a ginaacutestica Da mesma forma o conhecimento transmitido se constishy
tui apenas como parte do amplo leque de conhecimentos necessaacuterios
para o desenvolvimento de uma leitura criacutetica da realidade
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CAPIacuteTULO VIII
0 LUGAR E HORA DO CIRCO NA ESCOLA REFLEXOtildeES SOBRE A REINVENCcedilAtildeO DA CULTURA CIRCENSE NA SOCIEDADE CONTEMPORAcircNEA
Adriano de Paiva Reis
Carla Cristina Carvalho Pereira
Frederico Duarte Gomes Tostes
Haacute sempre um pouco de circo no corashy
ccedilatildeo de toda crianccedila Haacute sempre um pouco de
crianccedila no coraccedilatildeo de todo adulto Dentro de
noacutes despertam ecos as faceacutecias do palhaccedilo o
encanto da bailarina a cavalo as proezas do
trapeacutezio o destemor do homem que enfrenta
leotildees e tigres O fasciacutenio que aureola nossas
recordaccedilotildees vem do resto de infacircncia que -
felizmente - ainda ficou em noacutes E enquanto
houver ressoando alegre e contagiante um
riso de crianccedila haveraacute sempre um grito enshy
tusiaacutestico pronto a explodir - Viva o circo
(RUIZ 1987)
A arte circense eacute para muitos estudiosos
considerada uma das manifestaccedilotildees culturais
mais tradicionais do mundo Sobrevivendo de
geraccedilatildeo a geraccedilatildeo o circo vem perdurando no
tempo Maacutegicos trapezistas malabaristas pashy
lhaccedilos domadores e encantadores de animais
selvagens o fasciacutenio despertado pelo circo traz
encantamento e mexe com o imaginaacuterio do
homem haacute anos independente da idade
Marginalizada durante muito tempo as atividades circenses
hoje viraram nicho de mercado O circo vem ocupando cada vez
mais espaccedilo e ganhando maior visibilidade nos dias atuais seja
em academias de ginaacutesticas clubes escolas para formaccedilatildeo de cirshy
censes semaacuteforos dentre outros
Embora a produccedilatildeo teoacuterica a respeito do tema tenha crescido a
partir do iniacutecio dos anos 2000 e um nuacutemero significativo de artigos
sobre esse conteuacutedo esteja sendo publicado nos principais perioacutedishy
cos de Educaccedilatildeo Fiacutesica do paiacutes a maior parte dos trabalhos limita-se
ao resgate histoacuterico tendo em vista a preservaccedilatildeo do circo enquanto
patrimocircnio cultural ou a relatos de experiecircncias desenvolvidas
A inclusatildeo do circo nos curriacuteculos escolares eacute justificada
2 m muitos casos a partir do provaacutevel desenvolvimento das cashy
pacidades fiacutesicas agilidade resistecircncia cardiovascular equiliacutebrio
ldquohabilidades motorasrdquo em geral Ainda satildeo destacados aspectos
omo autoconhecimento automotivaccedilatildeo e superaccedilatildeo dos medos
ileacutem de cooperaccedilatildeo socializaccedilatildeo interaccedilatildeo ajuda muacutetua criashy
ratildeo de viacutenculo afetivo alegria espontacircnea e consciecircncia corpo-
al1 Embora possam ser considerados importantes entendemos
jue tais elementos por si soacute natildeo justificam a presenccedila desse
onteuacutedo na educaccedilatildeo escolar
A nosso ver a inclusatildeo das atividades circenses nos curriacuteculos
scolares articula-se ao que consideramos ser o papel da escola
[uai seja o ldquode socializaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico filosoacutefi-
o e artiacutestico produzido pela humanidade atraveacutes dos tempos em nas formas mais elevadasrdquo (EIDT DUARTE 2007 p 54 grifo
to autor) E imprescindiacutevel compreender as atividades circenses
nquanto produto da atividade humana um resultado do desen-
olvimento histoacuterico que precisa ser apropriado Cada um dos
lementos que constituem o circo (malabarismo equilibrismo
laacutegica etc) eacute carregado de sentidos e significados construiacutedos
istoricamente e modificados socialmente identificando assim o
Costa Tiaen e Sambugari (2007) Bortoleto (2003) Silva (1996) Silva e
Cacircmara (2009) Duprat e Bortoleto (2007)
homem como produtor e transformador da cultura Cabe agrave escoshy
la trabalhar com esse conteuacutedo contextualizando-o problemati-
zando-o estabelecendo correlaccedilotildees pertinentes entre as atividades
circenses e o processo histoacuterico em que se desenvolveram desmis-
tificando algumas modificaccedilotildees pelas quais passou ao longo dos
tempos Assim torna-se possiacutevel articular o ensino das atividades
circenses com a formaccedilatildeo do sujeito histoacuterico consciente da neshy
cessidade de superaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo
O desafio a ser superado eacute a construccedilatildeo de propostas pedagoacutegishy
cas viaacuteveis consistentes e coesas que contribuam para uma anaacutelise
criacutetica e uma compreensatildeo abrangente do universo circense visando
[] desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre o
acervo de formas de representaccedilatildeo do mundo que o
homem tem produzido no decorrer da histoacuteria exshy
teriorizadas pela expressatildeo corporal jogos danccedilas
lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte malabarismo
contorcionismo miacutemica e outros que podem ser
identificados como formas de representaccedilatildeo simshy
boacutelica de realidades vividas pelo homem historicashy
mente criadas e culturalmente desenvolvidas (C O shy
LETIVO DE AUTORES 1992 p 38)
Nesta perspectiva defendemos que as atividades circenses poshy
dem ser encaradas como um conteuacutedo especiacutefico extrapolando
algumas anaacutelises que a entendem enquanto parte constituinte da
ginaacutestica Apesar de determinados elementos como as acrobacias
apresentarem similaridades com o conteuacutedo da ginaacutestica fica evishy
dente que o processo com que esses elementos se apresentam denshy
tro do universo do circo eacute bem diferente daquele onde surgiu e
se desenvolveu a ginaacutestica2 Aleacutem disso outros elementos como
o palhaccedilo e as maacutegicas natildeo podem ser compreendidos enquanto
movimentos giacutemnicos e no nosso entendimento omiti-los seria
uma forma de fragmentar o conhecimento a respeito do circo
2 De acordo com Soares (2005) as acrobacias circenses influenciaram a
Ginaacutestica Francesa meacutetodo desenvolvido a partir da ordenaccedilatildeo e organizaccedilatildeo
de movimentos de acrobatas funacircmbulos e saltimbancos de maneira a
produzir maior eficiecircncia e economizar eneraia
A produccedilatildeo da arte circense como modo de vida
A arte circense eacute considerada uma das manifestaccedilotildees culturais mais
antigas do mundo sendo impossiacutevel precisar sua origem Sabe-se que
as modalidades circenses que hoje conhecemos decorrem de praacuteticas
que foram surgindo em momentos contextos e lugares diferentes a
partir dos costumes de uma regiatildeo ou paiacutes com o objetivo de entreter
louvar ou homenagear a deuses valorizar conquistas de guerras ou satildeo
corporificadas a partir da necessidade do homem de adestrar animais
para auxiacutelio no transporte ou em atividades de trabalho
O circo ldquomodernordquo como espetaacuteculo pago uma lona cobrindo um
picadeiro onde se apresentam trapezistas malabaristas equilibristas eacute
muito recente e seria por assim dizer a forma moderna de um antiquiacutesshy
simo entretenimento de diversos povos e culturas (TORRES 1998) A
estrutura do circo moderno remonta ao seacuteculo XVIII quando o inglecircs
Philip Astley ex-oficial da Cavalaria Britacircnica criou um espetaacuteculo de
equilibrismo equestre apresentado numa pista circular O espetaacuteculo criashy
do por Astley apresentava uma estrutura que atendia a um puacuteblico espeshy
ciacutefico da sociedade o rigor a postura e a elegacircncia da arte equestre consshy
tituiacuteam um siacutembolo de status social e muito agradavam a aristocracia
Entretanto os grupos circenses da eacutepoca comeccedilaram a notar que
as apresentaccedilotildees ganhariam muito mais espectadores se conseguissem
atingir uma classe social emergente naquela eacutepoca a burguesia Foshy
ram entatildeo incorporados outros artistas mdash funambulescos malabarisshy
tas acrobatas saltadores e adestradores de animais3 - que desafiavam
os limites corporais e morais e o espetaacuteculo foi reorganizado de forma
que pudesse ser mais atrativo (DUPRAT 2007)
3 Apesar dos animais historicamente participarem do espetaacuteculo circense a legislaccedilatildeo atual
vem restringindo sua utilizaccedilatildeo Aleacutem do Decreto ndeg 2464534 referente a maus tratos e
crueldade aos animais a Lei de Proteccedilatildeo agrave Fauna (Lei 519767) prevecirc pena de reclusatildeo para
casos de animais silvestres mantidos em locais sem higiene sujeitados a trabalhos insalubres
alimentaccedilatildeo inadequada ou insuficiente dentre outros A Portaria 10894 regulamenta as
condiccedilotildees para a estadia dos animais em zooloacutegicos e circos cabendo agraves prefeituras autorizarem
ou natildeo a fixaccedilatildeo de circos que utilizem animais em seus nuacutemeros Este eacute um ponto bastante
polecircmico pois apesar dos ambientalistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos
alegando maus tratos mdash seja nos meacutetodos de adestramento ou pelo fato de retiraacute-los de seu
habitat natural mdash haacute quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute crueldade e
tampouco insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais
Contraditoriamente na Europa receacutem-industrializada do
seacutec XIX o universo gestual caracteriacutestico do circo apresentava
liberdade e descompromisso contrariando o pensamento burguecircs
da eacutepoca que defendia a utilidade de qualquer atividade fora do
mundo do trabalho Contrapondo-se agrave liberdade e ao luacutedico das
atividades circenses primava-se pelos exerciacutecios fiacutesicos cuidadoshy
samente pensados para finalidades especiacuteficas a partir dos grupos
musculares e de funccedilotildees orgacircnicas (SOARES 2005)
O circo permitia agrave plateia transitar do maacutegico e fascinante agrave
aberraccedilatildeo despertando os mais ambiacuteguos sentimentos Acrobatas
trapezistas e funacircmbulos desafiavam as leis da fiacutesica desprezando o
peso de seus corpos enquanto homens domavam animais selvagens
engoliam fogo faziam reviver animais mortos aleacutem de exibirem deshy
formaccedilotildees fiacutesicas Esses estrangeiros nocircmades fascinantes artistas cirshy
censes eram cada vez mais temidos pela elite dirigente pois
traziam o corpo como espetaacuteculo Invertiam a ordem
das coisas Andavam com as matildeos lanccedilavam-se ao
espaccedilo contorciam-se e encaixavam-se em potes cm
cestos imitavam bichos vozes produziam sons com
as mais diferentes partes do corpo cuspiam fogo
vertiam liacutequidos inesperados gargalhavam viviam
em grupos Opunham-se assim aos novos cacircnones
do corpo acabado perfeito fechado limpo e isolado
que a ciecircncia construiacutera da vida fixa e disciplinada
que a nova ordem exigia (SOARES 2005 p 25)
Como eram rentaacuteveis os espetaacuteculos circenses proliferaram-se
por toda a Europa com um crescente nuacutemero de grupos de artistas
apresentando-se na sua maioria em instalaccedilotildees fixas ao ar livre ou
em anfiteatros adaptados o que demonstra grande influecircncia do
circo nas formas de divertimento e entretenimento da populaccedilatildeo e
da burguesia crescente Satildeo estas companhias que emigraram mais
tarde para outros continentes (SILVA 2003 DUPRAT 2007)
E nos Estados Unidos que a arena do circo ganha um mastro
central e uma tenda surgindo os moldes do ldquocirco americanordquo ou
circo de lona Nas matildeos de PhineasTaylor Barnum mdash homem de neshy
goacutecios e eficiente publicitaacuterio a enorme tenda colorida aleacutem de
proporcionar maior conforto aos espectadores tornou-se uma exceshy
lente forma de divulgar e vender o espetaacuteculo Ao mudar de cidade
toda a estrutura era desmontada e levada pelo grupo
Com a possibilidade de adquirirem maior mobilidashy
de aliada agrave incorporaccedilatildeo de artistas dos vaacuterios paiacuteses
por onde passava o circo consolidava-se como um
espaccedilo de muacuteltiplas linguagens artiacutesticas que pressushy
punha todo um conjunto de saberes definidores de
novas formas de produccedilatildeo e organizaccedilatildeo de espetaacuteshy
culo animais mistura de nacionalidades acrobacias
nuacutemeros aeacutereos magia shows de variedades represhy
sentaccedilotildees teatrais com pantomimas e entradas de
palhaccedilos com ou sem diaacutelogo Para os defensores do
ldquocirco purordquo era um espetaacuteculo ecleacutetico demais que
mais parecia music hall um teatro de variedades do
que circo Apesar das criacuteticas e debates em torno dos
espetaacuteculos circenses a montagem e produccedilatildeo dos
mesmos continham as principais formas de expresshy
sotildees artiacutesticas contemporacircneas apresentando um reshy
sultado que misturava music hall variedades teatro
(cenas cocircmicas pantomimas operetas) ginaacutestica
acrobacia e animais (SILVA 2007 p 51)
Este modo de organizaccedilatildeo pressupunha certas caracteriacutesticas
definidoras e distintivas do grupo circense como o nomadismo e
uma forma coletiva de constituiccedilatildeo do profissional artista baseada
na transmissatildeo oral do conjunto de saberes e praacuteticas acumuladas a
partir da vivecircncia na lona A organizaccedilatildeo familiar era a base de susshy
tentaccedilatildeo do circo inclusive no que se refere agraves relaccedilotildees de trabalho
Era comum que todos soubessem um pouco de todos os aspectos
que envolviam aquela produccedilatildeo desde a rotina diaacuteria do circo - como
armar e desarmar a tenda preparar os nuacutemeros e peccedilas de teatro
cuidar dos animais limpeza do ambiente dentre outros mdash ateacute as teacutecshy
nicas ou habilidades especiacuteficas da apresentaccedilatildeo As crianccedilas cabia a
responsabilidade de preservar a tradiccedilatildeo Por causa da vida nocircmade
eram alfabetizadas nas escolas das cidades por onde o circo passava ou
por uma pessoa do proacuteprio circo Aqueles que natildeo nasciam no circo
mas que a ele se incorporavam passavam pelo mesmo ritual de aprenshy
dizagem ao qual passavam os menores
O circo no tempo da induacutestria do entretenimento
Essa estrutura do circo tradicional comeccedilou a sofrer alguma alteshy
raccedilatildeo jaacute na deacutecada de 1920 na entatildeo Uniatildeo Sovieacutetica4 mas eacute a partir
dos anos de 1970 entretanto que consolidou-se um movimento de
reestruturaccedilatildeo do circo - fruto do envolvimento de artistas de diversas
origens em paiacuteses da Europa Ocidental Austraacutelia Canadaacute e Brasil
fazendo com que o ensino das artes circenses extrapolasse o reduto da
lona e quebrasse assim uma de suas grandes tradiccedilotildees a transmissatildeo
de conhecimento de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SILVA ABREU 2009)
O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy
ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX aleacutem da facilishy
dade de acesso agrave informaccedilatildeo e da fluidez da cultura no entanto
ocasionaram uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves
apresentaccedilotildees circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios
e dos terrenos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidashy
des mdash a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de
uma poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que
inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais O
fato eacute que nos anos de 1970 havia mais de 2000 companhias cirshy
censes espalhadas pelo Paiacutes e em 2009 esse nuacutemero era estimado
em 500 circos de pequeno meacutedio e grande porte5
Circenses tradicionais preocupados com o futuro encaminham
seus filhos para a vida urbana fora das lonas Escolas de circo passaram
a formar novos artistas rompendo-se a relaccedilatildeo de ldquopertencimentordquo agrave trashy
diccedilatildeo circense O modelo familiar de circo sofreu uma ruptura abrindo
espaccedilo para o que se conhece atualmente como Circo Novo
4 Na deacutecada de 1920 logo apoacutes a Revoluccedilatildeo Russa iniciou-se na antiga Uniatildeo Sovieacutetica
um movimento de construccedilatildeo de escolas de circo para fora da lona ou para fora do
grupo familiar circense a partir da nacionalizaccedilatildeo do circo e dos teatros pelo governo
sovieacutetico (DUPRAT 2007) Apesar de natildeo ser objetivo deste artigo discutir o contexto
histoacuterico e poliacutetico desse fato natildeo podemos deixar de mencionaacute-lo por constituir a
primeira experiecircncia de uma escola de circo fora do processo de formaccedilatildeosocializaccedilatildeo
aprendizagem que sempre foi dado sob a lona
f5 Dados obtidos no site do Ministeacuterio da Cultura Disponiacutevel em lthttpwww
culturagovbrsite20090327funarte-estima-que-brasil-tenha-500-grupos-
circensesgt Acesso em 14 jul 2012
Neste sentido
o circo como um todo natildeo mais se responsabiliza pela
continuaccedilatildeo do ensino artiacutestico da geraccedilatildeo seguinte
este passou a ser responsabilidade de cada famiacutelia que
escolhe onde seus filhos vatildeo estudar na escola formal
ou no circo A partir da deacutecada de 1970 no Brasil
algumas escolas de circo foram fundadas por artistas
preocupados em transmitir a teacutecnica circense em fazer
a profissatildeo renascer todavia natildeo mais necessariamente
com os filhos de gente de circo (SILVA 1996 p 9)
O circo teve que se reinventar para sobreviver Considerado
como o ldquoCirco do Homemrdquo por valorizar somente o ser humano
em suas performances o Circo Novo busca adequar-se ao mercashy
do artiacutestico dos novos tempos
A tecnologia assume um papel fundamental nesse processo pois
permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalanche tecshy
noloacutegica os grandes circos se apropriam das produccedilotildees e se renovam
constantemente enquanto muitos circos pequenos sucumbem agrave conshy
correcircncia por natildeo coseguirem acompanhar esse movimento
A mercantilizaccedilatildeo que domina a quase totalidade das relaccedilotildees soshy
ciais e a submissatildeo da cultura da sauacutede e da educaccedilatildeo - e tambeacutem das
praacuteticas corporais mdash aos interesses do capital trazem uma consequente
descaracterizaccedilatildeo do universo do circo Como empresa o ldquocirco novordquo
adota uma forte divisatildeo do trabalho contando com profissionais resshy
ponsaacuteveis para as mais diversas tarefas e funccedilotildees
A principal mudanccedila que caracteriza o chamado ldquocirco novordquo
refere-se agrave relaccedilatildeo familiar o circo torna-se uma grande empresa
Os artistas natildeo mais pertencem agraves famiacutelias circenses satildeo ex-atleshy
tas ou profissionais formados em escolas de circo e contratados
pelas grandes companhias De acordo com Silva (1996) natildeo eacute
mais a famiacutelia que eacute contratada mas o artista um nuacutemero um
especialista que tem um determinado conhecimento especiacutefico
da tarefa e natildeo mais do funcionamento do circo como um todo
tornando o conjunto do conhecimento sobre o circo fragmentashy
do e hierarquizado Nesse sentido
O modo de transmissatildeo oral do circo-lamilu Im m i
sido quebrado A ideacuteia de que o artista tiniu qm lt i
completo - no sentido de que cada indiviacuteduo liu
parte de uma comunidade e a sobrevivecircncia do gi upo
dependia do seu trabalho como um todo - natildeo niiis
fundamenta o aprendizado Daacute-se origem a uma novi
maneira de se ser artista de circo e a novas formas draquo
organizaccedilatildeo do trabalho (SILVA 1996 p 153)
O exemplo mais representativo do circo-empresa - e o de
maior impacto midiaacutetico - eacute a Companhia de Entretenimento
Circo de Soleil considerado o maior impeacuterio circense do mundo
Utilizando o que haacute de mais contemporacircneo para o entretenimenshy
to do puacuteblico conta com 21 espetaacuteculos sendo 12 em turnecirc em 5
continentes aleacutem de 9 espetaacuteculos residentes (exclusivamente nos
Estados Unidos) O Circo de Soleil emprega mais de 5000 funcioshy
naacuterios em todo o mundo sendo mais de 1300 artistas contratados
A maioria desses artistas eacute composta por ex-atletas danccedilarinos
profissionais personagens de sucesso nos meios de comunicaccedilatildeo
que representam cerca de 50 nacionalidades e falam 25 idiomas
diferentes Mais de 100 milhotildees de pessoas jaacute assistiram aos espeshy
taacuteculos do circo desde sua fundaccedilatildeo em 19846
Unindo danccedila teatro e circo a elementos da tecnologia como efeishy
tos de luz e som computaccedilatildeo graacutefica conhecimentos de diversas aacutereas
para a performance de um artistaatleta este novo modelo requer artistas
polivalentes como por exemplo malabaristas-acrobatas acrobatas-clo-
wn clown-muacutesico etc No circo novo o mais importante natildeo eacute o mais
complicado arriscado ou sobre-humano mas o mais belo plaacutestico vishy
sual esteacutetico etc(BORTOLETO MACHADO 2003)
Aleacutem disso as atividades circenses viraram nicho cle mercado
e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de circo a
academias de ginaacutestica A arte circense tambeacutem eacute utilizada como
praacutetica assistencialista por ON Gs e outras entidades filantroacutepicas
como ldquoinstrumento pedagoacutegicordquo na busca da ldquomelhoria de vidardquo
dos envolvidos nos projetos (F IG U E IREDO 2007)
6 Dados obtidos no site do Circo de Soleil Disponiacutevel em lthttpwwwcirquedusoleil
comenwelcomeaspxgt Acesso em- n
Eacute esse universo do circo que propomos trazer para a escola de forshy
ma a possibilitar ao aluno a apropriaccedilatildeo do conhecimento e a adoccedilatildeo de
uma postura criacutetica frente agrave atual configuraccedilatildeo do espetaacuteculo circense
Apresentamos a seguir o relato de uma experiecircncia pedagoacutegica realishy
zada com alunos do 6o ano de uma escola municipal de Juiz de Fora
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o circo
Ao iniciarmos a unidade buscamos identificar o niacutevel de consshy
ciecircncia dos alunos acerca do circo e os possiacuteveis interesses sobre a teshy
maacutetica Foram exibidos alguns viacutedeos de apresentaccedilotildees diversas (circo
tradicional C irque de Soleil apresentaccedilotildees de rua apresentaccedilotildees em
festas infantis na televisatildeo etc) Apoacutes a exibiccedilatildeo os alunos respondeshy
ram a duas questotildees O que eacute o circo Onde encontramos o circo atushy
almente As respostas foram registradas pelo professor A seguir foshy
ram explicitados os pontos que seriam abordados dentro do conteuacutedo
(histoacuteria e evoluccedilatildeo do circo as modalidades relaccedilotildees de trabalho e a
questatildeo ambiental) objetivos e atividades que seriam desenvolvidas
O segundo momento dentro da unidade didaacutetica foi a seleccedilatildeo de
questotildees relevantes para a discussatildeo e reflexatildeo dos alunos ou seja a problc-
matizaccedilatildeo Neste ponto foram delimitadas ainda as dimensotildees do conheshy
cimento a serem abordadas conforme apontamos no plano de unidade
No momento da instrumentalizaccedilatildeo foram desenvolvidas atividades
i accedilotildees tais como exibiccedilatildeo de viacutedeos leitura de textos vivecircncia das mais
iiversas modalidades circenses construccedilatildeo de materiais entre outras
Como forma de analisarmos o quanto o aluno apreendeu so-
gtre o conteuacutedo trabalhado propomos a criaccedilatildeo de uma apostila
obre o circo com a divisatildeo em grupos para a elaboraccedilatildeo de tex-
os sobre os toacutepicos de conteuacutedo trabalhados O objetivo desta
itividade consistiu em verificar o niacutevel de evoluccedilatildeo dos alunos
m relaccedilatildeo ao conhecimento sobre o circo (sua histoacuteria as moda-
idades teacutecnicas baacutesicas construccedilatildeo de materiais para a praacutetica
is novas configuraccedilotildees do circo atual os motivos pelos quais
iacuteoje existem poucos circos tradicionais as relaccedilotildees de trabalho
lentro do picadeiro dentre outros pontos) Outra atividade foi
a criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre 1 un
lizaccedilatildeo de animais nos espetaacuteculos circenses
No retorno agrave praacutetica social os alunos aprofundaram seus conltc
cimentos sobre o circo atraveacutes da pesquisa de textos e viacutedeos sobiv ltraquo
aspectos discutidos nas aulas e socializaram os conhecimentos com ou
tros alunos da escola atraveacutes da montagem de um espetaacuteculo circense
Plano de Unidade O lugar e hora do circo na escola
OBJETIVO GERAL
Compreender o circo enquanto manifestaccedilatildeo cultural a fim
de assumir postura criacutetica frente agraves novas configuraccedilotildees do espeshy
taacuteculo circense atual
Quadro 1 - Anuacutencio do conteuacutedo
M iacuteK IacuteS S amp K bull C i Jrsquo irfiiacuteV-rsquo P f
A histoacuteria do circo
Conhecer a histoacuteria do circo e suas transforshy
maccedilotildees
Identificar as diversas formas de apresentaccedilatildeo das
atividades circenses na atualidade (circo tradicional
circo novo atividades de rua festas infantis circo
social etc)
As modalidades circenses
Identificar as modalidades existentes no circo
malabarismo equilibrismo acrobacia maacutegica e
palhaccedilo
Vivenciar as principais modalidades que constituem
o circo
Construir materiais que possibilitem a experiecircncia
das modalidades circenses
O circo nos tempos atuais
Compreender as novas configuraccedilotildees do circo na atushy
alidade relacionando-as agraves exigecircncias da atual fase do
modo de produccedilatildeo capitalista (relaccedilotildees comerciais leis
trabalhistas trabalho infantil informalidade legislaccedilatildeo
de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos etc)
Circo legal tem animal
Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave utilizaccedilatildeo de anishy
mais no circo
Posicionar-se criticamente frente agrave utilizaccedilatildeo de
animais no circo
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
1) PRAacuteTICA SOCIAL IN IC IAL D O CONTEUacuteDO
11 Vivecircncia do Conteuacutedo
bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo O circo eacute um
espetaacuteculo com vaacuterios artistas eacute divertido tem maacutegica
palhaccedilo acrobatas ldquoanimais ferozesrdquo tem gente que faz
circo na rua etc
bull O que eles gostariam de saber a mais Como surgiu o circo
Como fazer maacutegica malabarismo equilibrismo etc Como
sobrevive um artista de circo Como satildeo tratados os animais
que vivem no circo
2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO
Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees
problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas
Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
TOacutePICO DE
CONTEUacuteDO DIMENSOtildeES
bulltgt t bull
QUESTAtildeO PROBLEMA
Respeitaacutevel puacuteblishy
co o circo chegouConceituai
O que eacute o circo
O que eacute circo tradicional
O que eacute circo novo
A histoacuteria do circo Histoacuterica
Quem inventou o circo
Onde ele surgiu
O circo de hoje eacute igual ao de antigashy
mente
Quais satildeo as modificaccedilotildees pelas quais
o circo passou ateacute hoje
As modalidades cirshy
censes
Conceituai
Teacutecnica
Quais satildeo as modalidades que constishy
tuem o circo
Quais satildeo as teacutecnicas baacutesicas das moshy
dalidades circenses
O circo nos tempos
atuais
Econocircmica
Poliacutetica
Social
Legal
Onde vemos artistas de circo
Por que natildeo temos tantos circos se
apresentando hoje em dia
Os artistas de circo recebem salaacuterio
Quais as condiccedilotildees sociais e de trabashy
lho de um artista de circo ldquofamosordquo e
de um circo ldquosimplesrdquo
Quanto custa um ingresso de um cirshy
co famoso
Como eacute a relaccedilatildeo da crianccedila com o
trabalho no circo
O que precisa para um circo se estabeleshy
cer em uma cidade
Por que o circo vai embora
Circo legal tem anishy
mal V
Poliacutetica
Legal
Histoacuterica
gt
Como os animais foram incorporashy
dos ao circo
Como o circo conseguia os animais
para suas apresentaccedilotildees
E permitido ter animais selvagens no
circo atualmente
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo
x lsquo bull --ir Ywl-ft bull V Avbdquo iacutei - - iacute
- Conteuacutedo Dimensotildees v l p sect p |
Respeitaacutevel puacuteblico
o circo chegou
Conceituar circo
Compreender o circo enquanto
produccedilatildeo histoacuterica do homem
ConceituaiExposiccedilatildeo teoacuterica e exibiccedilatildeo de viacutedeos
sobre o circo
Viacutedeo produzido pelos autores disshy
poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy
do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo86
A histoacuteria do circo
Conhecer a histoacuteria do circo e suas
transformaccedilotildees
Identificar as diversas formas de
apresentaccedilatildeo das atividades circenshy
ses na atualidade (circo tradicional
circo novo atividades de rua festas
infantis circo social etc)
Relacionar a expansatildeo das atividashy
des circenses com a configuraccedilatildeo
da sociedade atual
Histoacuterica
Econocircmica
Poliacutetica
Exibiccedilatildeo de viacutedeos e fotos sobre a histoacuteria
do circo e as mais diversas formas de apreshy
sentaccedilatildeo das atividades circenses atuais
Leituras de textos sobre a histoacuteria do circo
Textos sobre a histoacuteria do circo
Viacutedeo produzido pelos autores disshy
poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy
do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
7 Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012
8 Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03Ieis18069htmgt Acesso em 09042013
laquo M M
As modalidades cirshy
censes
Identificar as modalidades exisshy
tentes no circo malabarismo
equilibrismo acrobacia maacutegica e
palhaccedilo
Vivenciar as principais modalidashy
des que constituem o circo
Construir materiais que possibilishy
tem a experiecircncia das modalidades
circenses
Conceituai
Teacutecnica
Exibiccedilatildeo de viacutedeos editados das modalishy
dades do circo Acrobacias (individuais
coletivas de solo e aeacutereas) Malabarismo
(dc contato equiliacutebrio dinacircmico giros-
coacutepico e de lanccedilamento) Equilibrismo
Maacutegica Palhaccedilo (Cara Branca Miacutemico
Augusto Vagabundo Augusto Europeu)
Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das princishy
pais modalidades circenses
Construccedilatildeo de materiais para a vivecircncia
dessas modalidades
Viacutedeos disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo
e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Bolas de soprar garrafas pet jornal
fita adesiva barbante cabos de vassoushy
ra cilindros de papelatildeo ou canos de
ferro para construccedilatildeo dos materiais
Materiais para a vivecircncia bolinhas
de borracha claves swings rola-rola
diabolocircs devilstick etc
O circo nos tempos
atuais
Compreender as novas configurashy
ccedilotildees do circo na atualidade relacio-
nando-as agraves exigecircncias da atual fase
do modo de produccedilatildeo capitalista
(relaccedilotildees comerciais leis trabalhisshy
tas trabalho infantil informalidade
legislaccedilatildeo de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteshy
blicos etc)
Econocircmica
Poliacutetica
Social
Legal
Exibiccedilatildeo e discussatildeo do programa ldquoProshy
fissatildeo Repoacuterterrdquo sobre o circo
Anaacutelise da legislaccedilatildeo (ECA87 lei ambienshy
tal e leis de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos)
Viacutedeo disponiacutevel em no blog ldquoConshy
teuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educashy
ccedilatildeo Fiacutesicardquo
ECA
Leis ambientais e de locaccedilatildeo de espashy
ccedilos puacuteblicos
Circo legal tem anishy
mal
Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave
utilizaccedilatildeo de animais no circo
Posicionarmdashse criticamente frente agrave
utilizaccedilatildeo de animais no circo
Poliacutetica
Legal
Histoacuterica
Exibiccedilatildeo de viacutedeos e leitura de textos que
discutam a questatildeo dos animais do circo
Anaacutelise da legislaccedilatildeo ambiental
Organizaccedilatildeo de um juacuteri simulado
Viacutedeos e textos disponiacuteveis no blog
ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
4) CATARSE
41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno
O circo eacute uma das manifestaccedilotildees culturais mais tradicionais da
humanidade que encanta pela capacidade de transformar o banal em
inacreditaacutevel transformar o impossiacutevel em coisa simples Ao mesmo
tempo sua sobrevivecircncia oscila entre o popular e a falta de incentivo
entre a vontade de fazer parte e o alto custo dos espetaacuteculos
No decorrer dos anos o circo se modificou antes as famiacutelias
tradicionais faziam da vida embaixo da lona um lar vaacuterias viashy
gens e seu trabalho Entretanto agora artistas e admiradores se
apresentam nas ruas em grandes e pequenos circos em grandes
empresas de entretenimento nas escolas nas academias espaccedilos
puacuteblicos e privados
Fazem parte do espetaacuteculo circense apresentaccedilotildees de malashy
barismo equilibrismo maacutegica palhaccedilos e acrobacias cujo prinshy
cipal objetivo eacute a diversatildeo do puacuteblico o que requer o aprendizashy
do de teacutecnicas especiacuteficas e treinamento diaacuterio por muitos anos
O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy
ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX ocasionaram
uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves apresentaccedilotildees
circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios e dos tershy
renos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidades mdash
a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de uma
poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que
inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais
Em menos de 30 anos o nuacutemero de circos existentes no Brasil
reduziu-se significativamente abrindo espaccedilo para as grandes
companhias de circo onde os artistas natildeo mais pertencem agraves
famiacutelias circenses satildeo ex-atletas ou profissionais formados em
escolas de circo e contratados pelas grandes companhias que tem
um determinado conhecimento especiacutefico da tarefa e natildeo mais o
conhecimento do funcionamento do circo como um todo
Aleacutem disso a tecnologia assume um papel fundamental no espetaacuteshy
culo pois permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalan
che tecnoloacutegica os grandes circos se apropriam das prod i iccedilolaquo bull laquo
novam constantemente enquanto muitos circos pequenos mu uiuU
agrave concorrecircncia por natildeo conseguirem acompanhar esse movimento
Atualmente as atividades circenses viraram nicho de nu 1 laquo raquo
do e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de 1 1 1 1
a academias de ginaacutestica
Apesar dos animais historicamente participarem do espeta
culo circense a legislaccedilatildeo atual vem restringindo sua utilizaccedilatildeo
protegendo-os de maus tratos e condiccedilotildees insalubres de vida
Este eacute um ponto bastante polecircmico pois apesar dos ambienshy
talistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos haacute
quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute cruelshy
dade ou insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais
42 Expressatildeo da Siacutentese
bull Construccedilatildeo de uma apostila sobre o circo abordando os
temas trabalhados nas aulas
bull Criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a
utilizaccedilatildeo de animais no circo
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO
Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
A p ro fu n d a r os conhecim entos sobre
o circo
Pesquisar textos e viacutedeos sobre
os aspectos discutidos nas aulas
Socializar os conhecim entos apreenshy
didos durante as aulas
M ontagem de u m espetaacuteculo
circense
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees finais
Destacamos que o presente texto pretendeu apenas apresentar
uma dentre as inuacutemeras possibilidades pedagoacutegicas de trabalho com
esse universo tatildeo rico e tatildeo fascinante como o universo circense
Buscou-se conhecer a histoacuteria do circo analisando suas transformashy
ccedilotildees ao longo dos tempos identificar e vivenciar as diversas modalidashy
des de forma contextuaiizada e desmistificada Compreender as relaccedilotildees
de trabalho existentes no circo tradicional e nas manifestaccedilotildees circenses
atuais significa compreender o circo enquanto produto da atividade hushy
mana resultado do desenvolvimento histoacuterico parte importante do pashy
trimocircnio cultural humano que precisa ser transmitido pela escola
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SILVA E As muacuteltiplas linguagens da teatralidade circense Benjamin de Oliveishy
ra e o Circo-Teatro no Brasil do final do seacuteculo XIX e inicio do seacuteculo XX
Tese (Doutorado em Histoacuteria)-Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas
Universidade Estadual de Campinas Campinas 2003
_________ Circo-teatro Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil
Satildeo Paulo Altana 2007
_________ O circo sua arte c seus saberes o circo no Brasil do final do seacuteculo XIX
a meados do XX Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria) - Instituto de Filosofia
e Ciecircncias Humanas Universidade Estadual de Campinas Campinas 1996
SILVA E CAcircMARA R S O ensino de arte circense no Brasil breve histoacuterico
e algumas reflexotildees 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwcirconteudocombr
index phpoption=com_contentampview=articleampid= 1134o-ensino-de-arte-
-circense-no-brasil-breve-historico-e-aIgumas-reflexoesampcatid= l47artigosamp
Itemid=505gtAcesso em 15 jul 2012
SILVA E ABREU L A de Respeitaacutevel puacuteblico o circo em cena Rio de Ja-
neiro Funarte 2009
SOARES C L Imagens da educaccedilatildeo no corpo estudo a partir da ginaacutestica franshy
cesa no seacuteculo XIX 3 ed Campinas Autores Associados 2005
T O R R E S A O circo no Brasil Rio de Janeiro F U N A R T E Ed Atraccedilotildees 1998
SOBRE OS AUTORES
Adriano de Paiva Reis eacute professor de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Prefeishy
tura Municipal de Juiz de Fora desde 2010 Graduado em Educaccedilatildeo
Fiacutesica pela UFJF desde 2008 foi Professor substituto do Coleacutegio de
Aplicaccedilatildeo Joatildeo XXIII Bolsista dos projetos ldquoPortal do Professor do
M ECrdquo e extensatildeo ldquoNovas Experiecircncias Pedagoacutegicas em Educaccedilatildeo
Fiacutesica Escolarrdquo E-mail adriano_reisrocketmailcom
Aacutelvaro de Azeredo Quelhas eacute Doutor em Ciecircncias Sociais pela Unishy
versidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo - Campus Mariacutelia
Mestrado em Educaccedilatildeo Fiacutesica na aacuterea de ldquoPedagogia da Educaccedilatildeo Fiacutesica
e do Esporterdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Especializaccedilatildeo
nas aacutereas de ldquoFutebolrdquo e ldquoEducaccedilatildeo Psicomotora na Educaccedilatildeo Fiacutesica do Io
graurdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Licenciado em Edushy
caccedilatildeo Fiacutesica e Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Trabalhou na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (1985-1997) como
professor do ensino fundamental (disciplina - Educaccedilatildeo Fiacutesica) aleacutem de
possuir experiecircncia como professor em academias de ginaacutestica e treinador
esportivo em clubes e empresas E professor do Departamento de Educaccedilatildeo
da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz de Fora desde
abril de 1997 E membro do Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educashy
ccedilatildeo (NETEC) da FACEDUFJF Seus estudos e pesquisas estatildeo voltados
para as transformaccedilotildees no mundo do trabalho e as formas de reestruturaccedilatildeo
produtiva com foco na precarizaccedilatildeo do trabalho em interface com os proshy
cessos educativos E-mail alvaroquelhasuolcombr
Andreacute Silva Martins eacute professor da Faculdade de Educaccedilatildeo
da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) onde integra o
Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo E vinculado tamshy
beacutem ao Coletivo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJV
Fiocruz) Integra o quadro docente do Programa de Poacutes-Gradua-
ccedilatildeo da UFJF E Mestre e Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade
Federal Fluminense E-mail andresilvamartinsglobocom
Carla Cristina Carvalho Pereira eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
(1996) poacutes graduada em Ednrarotilder cmdash 1
sidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestra em Educaccedilatildeo (2003)
pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Atua como professora da
rede municipal de Juiz de Fora desde 1998 Estuda temas relacionados
agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar nas aacutereas de danccedila-educaccedilatildeo planejamento e
avaliaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica E-mail carlacccphotmailcom
Carlos Eduardo de Souza eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestre em
Educaccedilatildeo pela UFJF Atua como professor da rede municipal e
particular em Juiz de Fora E-mail kadusjnyahoocombr
Frederico Duarte Gomes Tostes possui Licenciatura e Bachashy
relado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF) Estagiou em escolas puacuteblicas de Juiz de Fora e foi bolsista no
Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo Joatildeo XX III da Universidade Federal de Juiz de
Fora onde atuou no projeto de extensatildeo de Atividades Circenses para
alunos do ensino fundamental Atualmente faz cursos na Escola de
Circo Carequinha em Juiz de Fora E-mail fred_hikohotmailcom
Giovana de Carvalho Castro eacute professora da rede municipal de Juiz
de Fora Possui graduaccedilatildeo em Histoacuteria (2001) e mestrado em Ciecircncia da
Religiatildeo (2005) pela Universidade Federal de Juiz de Fora Tem experishy
ecircncia na aacuterea de Histoacuteria e Ciecircncia da Religiatildeo com ecircnfase em Histoacuteria
do Brasil Metodologia do Ensino de Histoacuteria Patrimocircnio Cultural Hisshy
toacuteria da Aacutefrica e Cultura Religiosa E-mail giovanahistoriabolcombr
Graziany Penna Dias possui Licenciatura cm Educaccedilatildeo Fiacutesica pela
Universidade Federal de Juiz de Fora (2000) e Mestrado em Educaccedilatildeo
pela Universidade Federal Fluminense (2006) Eacute vinculado ao Coletishy
vo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJVFiocruz) Atualmente
eacute professor do Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do
Sudeste de Minas - IFSUDESTEMG - Campus Juiz de Fora Estuda
temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar lazer poliacutetica educacional
e a relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo E-mail grazianydiasifsudestemgedubr
Hajime Takeuchi Nozaki possui Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1993) mestrado
em Educaccedilatildeo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1997)
e doutorado em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense
(2004) no campo Trabalho e Educaccedilatildeo Atualmente eacute professor asshy
sociado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Leciona na
graduaccedilatildeo no campus de Trecircs Lagoas e na poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo
no campus de Corumbaacute Dedica-se aos estudos na aacuterea de Trabalho
e Educaccedilatildeo atuando principalmente nos seguintes temas mundo do
trabalho e Educaccedilatildeo Fiacutesica formaccedilatildeo humana qualificaccedilatildeo dos trabashy
lhadores da faacutebrica E-mail hajimenozakiuolcombr
Herbert Hischter Chaves de Paula eacute graduado em Educaccedilatildeo
Fiacutesica pela Universidade Salgado de Oliveira - Universo (Juiz de
Fora) e poacutes-graduado em Danccedila e Consciecircncia Corporal pela Unishy
versidade Gama Filho (Belo Horizonte) E ator bailarino produtor
diretor e coreoacutegrafo e atua como professor de Danccedila e Teatro na
rede municipal de Juiz de Fora E-mail hhcpl911hotmailcom
Leonardo Docena Pina eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica e Messhy
tre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Atualmente cursa o doutorado em Educaccedilatildeo nessa mesma instituiccedilatildeo
e atua como professor da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de
ForaMG Desde 2008 integra o Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e
Educaccedilatildeo da UFJF E-mail leodocenayahoocombr
Marcelo Silva dos Santos possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2001) mestrado em Edushy
caccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense (2005) e eacute doutorando
em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana na Universidade do Esshy
tado do Rio de Janeiro (UERJ) Estuda temas relacionados agrave aacuterea de
trabalho e educaccedilatildeo Atualmente eacute professor do IFET Sudeste e da
rede municipal de Juiz de Fora E-mail marceloss2003igcombr
Miguel Fabiano de Faria eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela
UFJF e Mestre em Educaccedilatildeo pela UFMG Atua como professor na
educaccedilatildeo baacutesica e superior no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia
e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais - Campus Juiz de Fora Esshy
tuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar Lazer e Histoacuteria da
Educaccedilatildeo E-mail miguelfariaifsudestemgedubr
Mocircnica Jardim Lopes eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica e mes-
tranda em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Atua como professora da rede puacuteblica de ensino dos municiacutepios de
Juiz de Fora (MG) e de Trecircs Rios (RJ) E militante do Movimento
Nacional Contra a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica
(MNCR) E-mail monicajlopesyahoocombr
Nathaacutelia Sixel Rodrigues eacute Licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora Estagiou em Escolas puacuteshy
blicas da cidade como IFET e Escola Municipal Professora Thereza
Falei onde buscou tematizar o conteuacutedo Ginaacutestica na Educaccedilatildeo
Fiacutesica Atualmente atua como professora de ginaacutestica em academias
de Juiz de Fora E-mail naty_sixelhotmailcom
Priscila Rocha Rodrigues eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Atua como
professora de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de
ensino em Juiz de ForaMG E-mail prixrochayahoocombr
Rafael Loures dos Reis Bellei atua como professor do ensino
fundamental nas redes municipais de Juiz de Fora-MG eTrecircs Rios-
-RJ e no ensino fundamental e meacutedio na rede particular de Juiz
de Fora-MG O autor eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela UFJF
Estuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar e a relaccedilatildeo
trabalho-Educaccedilatildeo Fiacutesica M ilita no Movimento Nacional Contra
a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica - M NCR
E-mail rafabelleiyahoocombr
Ramon Mendes da Costa Magalhatildees possui Licenciatura e
Bacharelado pela Faculdade de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desportos (FA-
EFID) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) no ano de
2011 atualmente residente de Educaccedilatildeo Fiacutesica do programa de Reshy
sidecircncia Multiprofissional em Sauacutede do Adulto com Foco em Doshy
enccedilas Crocircnico Degenerativas no Hospital Universitaacuterio da Univershy
sidade Federal de Juiz de Fora (HUUFJF) no periacuteodo 20122014
E-mail ramon_mc_magalhaeshotmailcom
Renata Aparecida Alves Landim eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) especialista
m Educaccedilaacuteo Fiacutesica escolar pela UFJF e mestre em educaccedilatildeo pela
Universidade Federal Fluminense (UFF) Atualmente eacute professora do
ensino fundamental na rede puacuteblica municipal de Juiz de l o i i jgti
fessora temporaacuteria da Faculdade de Educaccedilatildeo da UFJF E v i i u ulraquolaquoi raquo
ao nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo da UFJE I m u i raquo
temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar poliacutetica educaraquo i o n i l
trabalho-educaccedilatildeo E-mail renatalandimhotmailcom
Thiago Barreto Maciel possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesui
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2007) Especializaccedilatildeo em
aspectos metodoloacutegicos e conceituais da pesquisa Cientiacutefica pela Uni
versidade Federal de Juiz de Fora (2008) Atualmente eacute professor do
Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste de
Minas Gerais - Campus Barbacena Tem experiecircncia na aacuterea de Edushy
caccedilatildeo Fiacutesica com ecircnfase em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana
E-mail tbarretomacielgmailcom
Victoacuteria de Faacutetima de Mello eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especialista em
Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar pela mesma instituiccedilatildeo Atua como professora
de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de ensino em Juiz
de Fora Atualmente dirige o Sind-Ute (Sindicato dos Trabalhadores
em educaccedilatildeo de Minas Gerais) E-mail vicmellloyahoocombr
I n f o r m a ccedil otilde e s G r aacute f ic a s
Formato 16 x 23 cm
Mancha graacutefica 112 x 194 cm
Tipologia Myriad Pro - Adobe Garamond Pro
Papel Offset 90gm2 (miolo) - Cartatildeo Supremo 250gm2 (capa)
Tiragem 500 exemplares
Impressatildeo e acabamento Graacutefica e Editora Brasil Ltda
Prefaacutecio
Celi Nelza Zulke Tajfarel
Introduccedilatildeo_________________________________________________ 15
Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira Hajime Takeuchi
Nozaki Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim
Capiacutetulo I
Sobre a funccedilatildeo e especificidade da educaccedilatildeo escolar
no mundo contemporacircneo ________________________________________________________ 23
Andreacute Silva Martins
Capiacutetulo II
() ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e a formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos
cm busca dos fundamentos teoacutericos e metodoloacutegicos ___________________________17
Adriano de Paiva Reis Aacutelvaro de Azeredo Quelhas Carla Cristina Carvaliw
Pereira Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim
Capiacutetulo III
produccedilatildeo da cultura luacutedica em jogos eletrocircnicos____________________________63
Priscila Rocha Rodrigues Renata Aparecida Alves Landim Ihiago
Barreto Maciel e Victoria de Faacutetima de Mello
lt upiacutemlo IV
V ilt liltc)es entre esporte e sauacutede no capitalismo temati-
uniu ion tradiccedilotildees na educaccedilatildeo escolar________________________________________ 21
Carlos Eduardo de Souza Leonardo Docena Pina e Mocircnica Jardim Lopes
v gt laquo ip i l U I O V
O M M A como ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo____________________________________ 109
Adriano de Paiva Reis Graziany Penna Dias Rafael Loures dos Reis
Bellei e Renata Aparecida Alves Landim
Capiacutetulo VI
A voz da periferia o H ip H o p enquanto possibilidade de
trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ________________________________________129
Adriano de Paiva Reis Carta Cristina Carvalho Pereira Giovana de
Carvaliyo Castro Herbert Hischter Chaves de Paula Marcelo Silva dos Santos
Capiacutetulo VII
A disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutestica_____________________________149
Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel
Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees
Capiacutetulo V III
O lugar e hora do circo na escola reflexotildees sobre a reinven-
ccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircnea----------------------1Z1
Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira
e Frederico Duarte Gomes Tostes
Sobre os autores 191
PREFACIO
No momento em que os estudos sobre a escola capitalista demonsshy
tram a sua degeneraccedilatildeo e decomposiccedilatildeo o seu esvaziamento proposishy
tal e seu rebaixamento teoacuterico para desqualificar a formaccedilatildeo da classe
trabalhadora na mais tenra idade surge contraditoriamente fruto de
experiecircncias concretas no chatildeo desta mesma escola a obra organizada
por Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira Leonardo
Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim intitulada Pedagogia histoacuterico-criacutetica e Educaccedilatildeo Fiacutesica
Do que trata este livro que lhe confere uma singularidade iacutempar
em meio a confrontos e conflitos de classe cada vez mais acirrados
Como uma das autoras do Livro Metodologia do Ensino da
Educaccedilatildeo Fiacutesica (COLETIVO DE AUTORES 1992) e portanto
testemunha histoacuterica de um esforccedilo nacional de mais de 20 anos enshy
frentando a criacutetica a didaacutetica e a organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico
na escola capitalista reconheccedilo que o propoacutesito dos autores do livro eacute
de vital importacircncia para a formaccedilatildeo escolarizada de crianccedilas e jovens
ms quais tecircm sido negados os conteuacutedos que permitem a humanizashy
ccedilatildeo como o satildeo os conteuacutedos da cultura corporal
Como demonstram os autores da obra - jovens intelectuais mili-
lanies culturais de formaccedilatildeo marxista - natildeo satildeo quaisquer conteuacutedos
I serem tratados na escola que garantiratildeo a humanizaccedilatildeo e natildeo eacute qual-
lt | i u t meacutetodo no trato com o conhecimento que asseguraraacute a formaccedilatildeo
lt miiK ipatoacuteria Satildeo conteuacutedos tratados com criteacuterios considerando a
iriicse o desenvolvimento a atribuiccedilatildeo de sentidos e significados agraves ati-
iilules corporais ao longo do percurso histoacuterico da humanidade Cri-
laquo nos que dizem respeito agraves capacidades cognoscentes e cognoscitivas
laquolltraquo estudantes compreendendo-as na totalidade do ser humano con-
lotmc e xplica a teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural a contemporanei-
raquobulllt laquolos conteuacutedos e seu conhecimento por sucessivas aproximaccedilotildees ao
iltlt n ui lura corporal que permitem os saltos qualitativos do
nm i iilo sincreacutetico e da mera sistematizaccedilatildeo de dados da realidade
i Ugtlt i u h t de novas siacutenteses qualitativamente superiores com autodeshy
terminaccedilatildeo e criatividade Aprimora-se assim pelas atividades corposhy
rais tratadas com o rigor do meacutetodo toda a capacidade do ser humano
Percurso este que deve ser recuperado por cada um de noacutes sem o qual
natildeo nos humanizamos E isto eacute possiacutevel pela educaccedilatildeo principalmente
escolarizada que forma seres humanos porque incide nas suas funccedilotildees
psicoloacutegicas superiores pelas atividades relacionais com os demais seres
humanos com a natureza com a cultura e consigo mesmo Por isto
esta obra eacute de fundamental importacircncia
Na introduccedilatildeo os autores Adriano de Paiva Reis Carla Cristina
Carvalho Pereira Hajime Takeuchi Nozaky Leonardo Docena Pina e
Renata Aparecida Alves Landim tratam de refletir sobre os limites e
possibilidades da discussatildeo sobre a didaacutetica da Educaccedilatildeo Fiacutesica Assushy
mem os autores a posiccedilatildeo teoacuterica e reconhecem que a ldquoperspectiva da
reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal presente no livro Metodologia
do Ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e denominada por noacutes de abordagem
Criacutetico-superadora foi eacute e seraacute um marco enquanto referecircncia mais
desenvolvida fundamentada em uma teoria marxista de educaccedilatildeo na
teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural na teoria do conhecimento mate-
rialista-histoacuterica-dialeacutetica e na Pedagogia histoacuterico-criacutetica
Justificam e assumem assim os autores que a Educaccedilatildeo Fiacutesica
ao transmitir os conhecimentos historicamente acumulados sobre a
cultura corporal se justifica na escola por socializar um conhecimento
essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade
A partir destas posiccedilotildees iniciais enfrentam o desafio e as difishy
culdades de organizarplanejarsistematizar o ensino da Educaccedilatildeo
Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corshy
poral Tensionam durante a obra o par dialeacutetico conteuacutedo-meacutetodo
modulador de alteraccedilotildees significativas na organizaccedilatildeo do trabalho
pedagoacutegico na salaquadra de aula e na escola
O trabalho com os professores da educaccedilatildeo baacutesica demonsshy
tra que aleacutem dos problemas na formaccedilatildeo faltam referecircncias conshy
cretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas com os diversos
conteuacutedos da cultura corporal E nesta busca lanccedilam-se os autoshy
res nos trazendo uma contribuiccedilatildeo de grande relevacircncia
O que eacute descrito no livro eacute fruto de um trabalho coletivo de mais de 20
professores e que ganha sistematizaccedilatildeo nos escritos destes jovens professores
que se dispuseram a ampliar os conhecimentos a respeito da metodologia
Criacutetico-superadora aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal
Tratam portanto da criacutetica agrave didaacutetica mas natildeo com a pretensatildeo
de resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
que estatildeo relacionados com as condiccedilotildees de vida e de trabalho dos
professores e estudantes Ou seja reconhecem as determinaccedilotildees da
economia poliacutetica que pesam sobre a escola e que natildeo seraacute somente
a iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores que resolveraacute a complexidade
que eacute o processo de destruiccedilatildeo das forccedilas produtivas a destruiccedilatildeo da
escola e a destruiccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico
Com muita honestidade cientiacutefica reconhecem os limites da
discussatildeo didaacutetica frente ao problema da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica
mas ressaltam a importacircncia da obra para ampliar as possibilidades
de transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar
O livro estaacute organizado em oito capiacutetulos que se articulam de forma
consistente e coerente Inicialmente os autores propotildeem uma discussatildeo
de caraacuteter mais geral abordando a funccedilatildeo e especificidade da escola e da
Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemporacircneo A partir da delimitaccedilatildeo clara
da concepccedilatildeo de educaccedilatildeo e de Educaccedilatildeo Fiacutesica que defendem passam
entatildeo a discutir a praacutetica pedagoacutegica atraveacutes de uma seacuterie de artigos sobre
possibilidades de temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos da cultura
inrporal - jogos esporte luta ginaacutestica danccedila e circo
() texto assinado por Andreacute Silva Martins trata de questionar a
Iunccedilatildeo social da escola e dentro dela o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica
lis natildeo o faz desprovido de dados que permitem constatar e explicar
ltmio a Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar foi uma ativida-
llt lt tijltgt objetivo central era promover o desenvolvimento da aptidatildeo
i ilt j ltgt lt|iklsquo foi alterado como foram alteradas as bases econocircmica
| x raquoI i i h i da sociedade brasileira que implicaram em alteraccedilotildees na
oli i i onsequentemente na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar
lt K iinores do texto sobre ldquoO ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e
(bulliniHio de sujeitos histoacutericos em busca dos fundamentos
teoacutericos e metodoloacutegicosrdquo tratam de demonstrar o surgimento
de propostas com outros princiacutepios definidores para a praacutetica
pedagoacutegica nos idos dos anos 1980 e 1990 Tratam das propostas
demonstrando nexos e relaccedilotildees entre a metodologia do ensino
as teorias educacionais pedagoacutegica a teoria do conhecimento e
o projeto histoacuterico Anunciam assim em um trabalho coletivo
novas bases da Educaccedilatildeo Fiacutesica na Rede de Ensino
Com base nos estudos de Saviani (1987) sobre Escola e Deshy
mocracia satildeo discutidas as tendecircncias da educaccedilatildeo e levanta-se de
iniacutecio a hipoacutetese de que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas
ainda possuem um papel a cumprir mdash contribuir na superaccedilatildeo do
capitalismo com o que temos pleno acordo
Ao tecer criacuteticas agraves concepccedilotildees sobre a educaccedilatildeo escolar o livro
traz uma contribuiccedilatildeo agrave educaccedilatildeo em geral e para todas as aacutereas de coshy
nhecimento que se organizam no interior da escola Defende-se por
fim a finalidade da educaccedilatildeo escolar para a emancipaccedilatildeo humana
Ao apresentar a perspectiva marxista de emancipaccedilatildeo humana
Aacutelvaro de Azeredo Quelhas Adriano de Paiva Reis Carla Cristina
Carvalho Pereira Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves
Landim recuperam os elementos histoacutericos apresentados por claacutessishy
cos como Marx e Engels que permitem afirmar a existecircncia sim de
uma teoria marxista da educaccedilatildeo Teoria esta que vem sendo sisteshy
maticamente negada na formaccedilatildeo dos professores A partir da base
teoacuterica mais geral adentram nas sistematizaccedilotildees sobre Educaccedilatildeo e
Trabalho para por fim reconhecer a importacircncia da mediaccedilatildeo da
Pedagogia histoacuterico-criacutetica na construccedilatildeo da metodologia do ensino
dos conteuacutedos especiacuteficos da cultura corporal na escola destacando
a obra Metodologia do Ensino de Educaccedilatildeo Fiacutesica do Coletivo de Aushy
tores (1992) obra onde eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal visando elevar a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enshy
quanto sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em
que vive Para tanto parte-se da praacutetica social que eacute problematizada
pela constataccedilatildeo sistematizaccedilatildeo compreensatildeo e explicaccedilatildeo cientiacutefishy
ca do real visando a praacutexis revolucionaacuteria criativa superadora o que
somente eacute possiacutevel com a ampliaccedilatildeo aprofundamento do conhecishy
mento historicamente acumulado e a autodeterminaccedilatildeo dos estushy
dantes Daiacute a relevacircncia social do trato com os conteuacutedos segundo
a teoria do conhecimento dialeacutetica-materialista-histoacuterica Portanto
natildeo seraacute qualquer conteuacutedo e muito menos qualquer meacutetodo para
tratar o conhecimento que permitiraacute a elevaccedilatildeo da capacidade teoacuterishy
ca dos estudantes E necessaacuterio o meacutetodo explicado e demonstrado
por Marx e Engels aplicado ao ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica na escola
- o meacutetodo materialista histoacuterico-dialeacutetico enquanto loacutegica e teoria
do conhecimento
Nos capiacutetulos seguintes a coerente e consistente abordagem
teoacuterica eacute demonstrada no trato com ldquoA produccedilatildeo da cultura luacutedica
em jogos eletrocircnicos rdquo texto de autoria de Renata Aparecida Alves
Landim Victoacuteria de Faacutetima de Mello Priscila Rocha Rodrigues e
Thiago Barreto Maciel Os autores partem da praacutetica social conshy
creta para chegar a uma nova siacutentese superior sobre este conteuacutedo
permitindo agraves crianccedilas e jovens se apropriarem de elementos da
cultura que por si soacute natildeo se datildeo a conhecer
No texto de autoria de Leonardo Docena Pina Carlos Edushy
ardo de Souza Mocircnica Jardim Lopes eacute demonstrado o meacutetodo de
elevaccedilatildeo da capacidade de reflexatildeo dos estudantes sobre a cultura
inrporal no trato com o conteuacutedo esporte e sauacutede O texto intitu-
lido ldquoAs relaccedilotildees entre esporte e sauacutede no capitalismo tematizando
i oiuradiccedilotildees na educaccedilatildeo escolarrdquo demonstra todo o processo que
v ulmina na nova siacutentese qualitativamente superior ao conhecimento
lt aoacuteiico sincreacutetico sobre o tema demonstrado no iniacutecio
Para tratar do conteuacutedo lutas delimitou-se ldquoO MM A como
nova lace da luta espetaacuteculordquo Os autores Renata Aparecida Alves Lanshy
dim Adriano de Paiva Reis Grazyani Penna Dias e Rafael Loures dos
K r Hcllei usaram com rigor o meacutetodo partindo da praacutetica social e a
bull u iornuido apoacutes um processo de problematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de
1 11u i i i i k i u o s sem os quais natildeo se explica o fenocircmeno atual das lutas
thim io ao conteuacutedo danccedila os autores Carla Cristina Carvalho
INlt ii i iliimo de Paiva Reis Giovana de Carvalho Castro Marcelo
monstrar a loacutegica no trato com o conhecimento dentro da rigorosidade
do meacutetodo Demonstram tambeacutem a elevaccedilatildeo do pensamento teoacuterico
dos estudantes sobre o assunto O texto ldquoA voz da periferia o Hip Hop
enquanto possibilidade de trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo eacute um
primor e contribuiraacute muito para consubstanciar uma abordagem mais
rigorosa de conteuacutedos contemporacircneos nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
No trato com o conteuacutedo da ginaacutestica no capiacutetulo intitulado
ldquoA disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutesticardquo os autores
Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel Roshy
drigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees conseguem elevar a
capacidade dos estudantes de elaborarem uma siacutentese qualitativa no
pensamento que permitiraacute a autodeterminaccedilatildeo para a praacutetica corposhy
ral de um conteuacutedo vital e que vem sendo negligenciado na escola
A retomada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica do conteuacutedo circo
conforme propotildeem Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvashy
lho Pereira e Frederico Duarte Gomes Tostes demonstra como um
conteuacutedo histoacuterico que data na origem dos tempos do feudalismo
pode adquirir um sentido e um significado humanamente elevado
pelo entendimento compreensatildeo e elaboraccedilatildeo de novas possibilidashy
des de accedilatildeo No trato com o conteuacutedo das atividades circenses no
texto intitulado ldquoO lugar e hora do circo na escola reflexatildeo sobre
a reinvenccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircneardquo os
autores demonstram o criteacuterio da rigorosidade e seriedade cientiacutefica
para tratar de um conteuacutedo da cultura que nos permite conhecer
compreender explicar e criar possibilidades riquiacutessimas de atividashy
des culturais com sentido e significado humanizante
Prezados leitores ressalto que esta obra eacute singular relevante e
vital porque como dizem os autores em um dos textos ldquoEm tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas as esferas da vida a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda maior Epreciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabalhadora construshyamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contribuindo para a desmistifiacutecaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta rdquo
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tivos de Autores no Brasil e quiccedilaacute na Ameacuterica Latina que de norte
a sul de leste a oeste estatildeo recuperando desenvolvendo utilizanshy
do outros paracircmetros teoacutericos-metodoloacutegicos sintonizados com oushy
tro projeto histoacuterico superador agrave loacutegica do capital e portanto com a
perspectiva de formaccedilatildeo humana emancipatoacuteria significando isto a
superaccedilatildeo da sociedade de classes
Com esta obra juntamente com outras de igual propoacutesito
consolida-se no Brasil uma Educaccedilatildeo Fiacutesica de base marxista Cons-
troi-se assim tambeacutem pela via do trabalho pedagoacutegico a subjetivishy
dade humana visto que as condiccedilotildees objetivas para a revoluccedilatildeo jaacute
estatildeo postas faltam as condiccedilotildees subjetivas As forccedilas produtivas
deixaram de crescer e estatildeo em franca destruiccedilatildeo A isto reage este
jovem COLETIVO DE AUTORES que nos alenta a seguirmos
perseguindo em tempos de transiccedilatildeo um outro modo de produccedilatildeo
da vida Que todas as crianccedilas jovens e adultos das escolas puacuteblishy
cas na cidade e no campo tenham garantida esta qualidade aqui
demonstrada no ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica
Celi Nelza Zuumllke Tajfarel
(Universidade Federal da Bahia - UFBA)
INTRODUCcedilAtildeO
LIMITES E POSSIBILIDADES DA DISCUSSAtildeO SOBRE DIDAacuteTICA DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA
Adriano de Paiva Reis
Carla Cristina Carvalho Pereira
Hajime Takeuchi Nozaki
Leonardo Docena Pina
Renata Aparecida Alves Landim
Por mais de um seacuteculo a histoacuteria da
Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar
foi marcada por sua caracterizaccedilatildeo como uma
atividade cujo objetivo central era promover
0 desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica dos indishy
viacuteduos A partir do final da deacutecada de 1970
acompanhando um amplo movimento de luta
pela redemocratizaccedilatildeo da sociedade brasileira
assistimos a um periacuteodo de denuacutencias sobre o
atrelamento da aacuterea a uma concepccedilatildeo exclushy
sivamente bioloacutegica de homemmovimento
que cumpria um papel conservador no que
tange agraves relaccedilotildees sociais
Apoacutes esse periacuteodo de criacuteticas sobretudo
ao final dos anos de 1980 e iniacutecio dos anos
de 1 990 comeccedilam a surgir novas propostas
para a Educaccedilatildeo Fiacutesica definindo princiacutepios
identificadores de uma nova praacutetica pedashy
goacutegica Desde entatildeo podemos evidenciar
diversos avanccedilos no sentido da construccedilatildeo
di Educaccedilatildeo Fiacutesica como componente cur-
liiulnr tanto no plano da legislaccedilatildeo e das
01 ieniaccedilotildees educacionais como no plano das
propostas construiacutedas e implementadas em diversas redes de ensino
pelo paiacutes Mas no que pese todo esse avanccedilo produzido a crise no campo teoacuterico (FRIGOTTO 2001) acabou por influenciar a redefishy
niccedilatildeo das propostas pedagoacutegicas criacuteticas da aacuterea que passaram a ser
consideradas muitas vezes insuficientes inadequadas e ateacute mesmo
ultrapassadas para atender agraves supostas demandas de um novo mundoConsiderando que os fundamentos centrais da sociedade na qual
vivemos se mantecircm presentes ainda hoje embora com bases renovashy
das compreendemos que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas
ainda possuem um papel a cumprir qual seja o de contribuir para a
superaccedilatildeo do capitalismo - e de todas as formas de opressatildeo que se
intensificam nesse modo de produccedilatildeo da existecircncia humana1
Nessa linha reconhecemos que a perspectiva da reflexatildeo criacutetica soshybre a cultura corporal (COLETIVO DE AUTORES 1992)2 tambeacutem
conhecida como ldquoabordagem Criacutetico-superadorardquo foi um marco mdash e
ainda se manteacutem como referecircncia mais desenvolvida mdash para a Educashy
ccedilatildeo Fiacutesica uma vez que ao se fundamentar na Pedagogia histoacuterico-
-criacutetica articulou esse componente curricular ao que haacute de mais avanshy
ccedilado no debate sobre o papel da escola sendo capaz de entrelaccedilar a
formaccedilatildeo humana aos interesses e necessidades da classe trabalhadora
A partir da delimitaccedilatildeo de uma aacuterea de conhecimento denominada
de cultura corporal essa perspectiva definiu a Educaccedilatildeo Fiacutesica como
disciplina responsaacutevel por promover na escola uma tematizaccedilatildeo soshy
bre a relaccedilatildeo dos grandes problemas sociais contemporacircneos com os
conteuacutedos jogos danccedilas lutas ginaacutestica esporte malabarismo con-
torcionismo miacutemica e outros (COLETIVO DE AUTORES 1992)
A transmissatildeo dos conhecimentos historicamente acumulados sobre
a cultura corporal define a especificidade pedagoacutegica da Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica sua presenccedila na escola justifica-se por socializar um saber que
1 Adotamos a classificaccedilatildeo das pedagogias - em criacuteticas e natildeo criacuteticas - elaboradas por Saviani
(2006)
2 Tendo em visra o processo histoacuterico que envolveu a elaboraccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do livro
Metodologia do Ensino da Educaccedilatildeo Coletivo de Autores foi o termo adotado originalmente
para designar sua autoria expressando um sentido poliacutetico e o esforccedilo de ratificar o caraacuteter
coletivo e o projeto histoacuterico com o qual a obra estava articulada no contexto de sua
publicaccedilatildeo pela editora Cortez em 1992
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natildeo eacute transmitido pelas demais disciplinas mas que se constitui como
elemento essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade
Apesar do avanccedilo teoacuterico promovido pelas recentes discussotildees
sobre a Pedagogia histoacuterico-criacutetica e a metodologia Criacutetico-supera-
dora deparamo-nos com inuacutemeros depoimentos de professores da
educaccedilatildeo baacutesica sobre a dificuldade de organizarplanejarsistematishy
zar o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo
criacutetica sobre a cultura corporal Aleacutem das criacuteticas aos cursos de forshy
maccedilatildeo de professores da aacuterea muitas vezes voltados aos campos natildeo
escolares de atuaccedilatildeo e subordinados agrave dimensatildeo predominantemenshy
te bioloacutegica de ser humano os professores tecircm se queixado da falta
de referecircncias concretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas
com os diversos conteuacutedos da cultura corporal3
A constataccedilatildeo desses problemas e desafios impulsionou a organishy
zaccedilatildeo de um grupo - composto predominantemente por professores
da rede puacuteblica municipal de Juiz de Fora mdash com o objetivo de amshy
pliar os conhecimentos a respeito da metodologia Criacutetico-superadora
aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal Hoje o grupo eacute
formado por cerca de vinte professores e conta com assessoria de dois
docentes da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz
de Fora4 os quais tecircm dialogado conosco ao longo do processo
Sem viacutenculo institucional nem apoio financeiro para pesshy
quisa o grupo tem se dedicado agrave realizaccedilatildeo de estudos pesquisas
e experiecircncias voltadas ao aprimoramento de nossa praacutetica pedashy
goacutegica na escola Apoacutes dois anos de trabalho conjunto sentimos
a necessidade de dar um passo a mais qual seja o de iniciar a soshy
cializaccedilatildeo das experiecircncias pedagoacutegicas desenvolvidas nas escolas
municipais de Juiz de Fora A elaboraccedilatildeo dessa obra surgiu porshy
tanto a partir da necessidade de ampliar nossos conhecimentos
sobre os conteuacutedos da cultura corporal e suas possibilidades de
abordagem metodoloacutegica na escola A constituiccedilatildeo de um grupo
envolvendo professores da rede puacuteblica municipal e federal pershy
3 A respeito da problemaacutetica referente agrave formaccedilatildeo de professores no contexto atual
sugerimos a leitura dos estudos de Costa (2009) Arce (2000) e Teixeira (2009)
4 Estamos nos referindo aos professores Aacutelvaro de Azeredo Quelhas e Andreacute Silva Martins
mitiu o estudo debate e sistematizaccedilatildeo de experiecircncias pedagoacuteshy
gicas desenvolvidas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Consideramos que a divulgaccedilatildeo dessas experiecircncias pode
constituir-se como instrumento para o aprimoramento da praacutetica
pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo soacute porque socializa os planos
de unidade desenvolvidos juntamente com textos de fundamenshy
taccedilatildeo teoacuterica de cada conteuacutedo trabalhado mas tambeacutem porque
contribui para que outros professores se insiram no debate consshy
truam novas experiecircncias eou discutam novas possibilidades
E importante destacar que ao reconhecermos a importacircncia do
debate sobre a didaacutetica para o aprimoramento do trabalho pedagoacutegishy
co nas escolas natildeo o consideramos suficiente para resolver o problema
do ensino na Educaccedilatildeo Fiacutesica Ou seja nossa iniciativa embora seja
importante e necessaacuteria natildeo tem a pretensatildeo nem a capacidade de
resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Aleacutem das limitaccedilotildees que envolvem muitos cursos de formaccedilatildeo
de professores encontramos outras determinaccedilotildees que acabam por
contribuir para que a escola natildeo cumpra seu papel de transmissatildeo do
conhecimento Embora natildeo sejamos capazes de reunir neste artigo
todos os problemas encontrados em grande parte das escolas da rede
puacuteblica municipal de ensino faz-se necessaacuterio destacar em linhas geshy
rais que as condiccedilotildees de vida (e de trabalho) de grande parte dos
professores e alunos natildeo satildeo muito favoraacuteveis Soma-se a isso o fato
de que as estruturas fiacutesicas precaacuterias recursos materiais insuficientes
grande nuacutemero de alunos por turmas e pouco reconhecimento profisshy
sional tendem a dificultar ainda mais o desenvolvimento do trabalho
do prazer e da vontade de lecionar Tambeacutem natildeo podemos deixar de
destacar que em muitos casos a Educaccedilatildeo Fiacutesica assume o posto de
disciplina de segundo escalatildeo sobretudo nas escolas de Educaccedilatildeo Inshy
fantil e dos anos iniciais do ensino fundamental onde os professores
de Educaccedilatildeo Fiacutesica Artes e Muacutesica por exemplo dificilmente partishy
cipam do conselho de classe o que evidencia a (des)valorizaccedilatildeo de sua
atividade docente na escola frente outras disciplinas como Portuguecircs
e Matemaacutetica consideradas mais importantes sob a oacutetica do capital
18
Consideramos que o professor mdash das diferentes aacutereas do conhecimento
- tem o papel de transmitir o conhecimento cientiacutefico artiacutestico e filosoacutefico
aos alunos mas natildeo compreendemos que sua funccedilatildeo possa ser tatildeo facilshy
mente exercida como supotildeem os defensores do neoprodutivismo para os
quais se espera que o docente exerccedila todo um conjunto de funccedilotildees com o
maacuteximo de produtividade e o miacutenimo de dispecircndio isto eacute com modestos
salaacuterios5 Compreendemos conforme destaca Saviani (2011) que se o proshy
fessor fosse bem remunerado no acircmbito de uma carreira docente que lhe
garantisse jornada integral em uma uacutenica escola ele poderia exercer sem
maiores problemas muitas funccedilotildees a ele atribuiacutedas Mas natildeo eacute esse o caso
Analisando a precarizaccedilatildeo do trabalho do professor Costa (2009)
evidencia que as consequecircncias da alienaccedilatildeo na atividade docente natildeo
se restringem ao ensino e a aprendizagem mas envolvem a proacutepria vida
do professor A autora constata que o processo de alienaccedilatildeo constroacutei
uma relaccedilatildeo professoresalunos distorcida em que os
segundos passam a imputar aos professores o tratamenshy
to que deveriam dar aos reais representantes da violecircnshy
cia do Estado burguecircs que os tem oprimido durante
toda a sua trajetoacuteria escolar E os professores passam
a ver os alunos como aqueles que materializam a falta
de respeito e o desprestiacutegio da categoria profissional na
sociedade nas manifestaccedilotildees de falta de respeito e ateacute
mesmo a violecircncia (COSTA 2009 p 72)
Natildeo obstante a alienaccedilatildeo do trabalho do professor ainda
gera desumanizaccedilatildeo o mais violento de todos os aspectos Conshy
forme afirma Costa (2009) o professor nem sempre tem a opccedilatildeo
de buscar outras formas para suprir sua subsistecircncia
Os seres humanos submetidos agrave alienaccedilatildeo mesmo vivenshy
do o sofrimento no trabalho o desgaste fiacutesico e mental a
dilapidaccedilatildeo moral ainda assim permanecem em relaccedilotildees
de trabalho destrutivas ateacute esgotarem os limites de suas
capacidades ou ateacute serem descartados pelo capital Nesse
momento em geral as consequecircncias vividas pelo trabalho
jaacute satildeo irreversiacuteveis Embora experimente a deterioraccedilatildeo de
sua sauacutede a negaccedilatildeo da natureza formativa da educaccedilatildeo
presente todos ograves dias nas ingerecircncias das mantenedoras e
5 Sobre o neoprodutivismo na educaccedilatildeo escolar brasileira conferir Saviani (2011)
do Estado na sua atividade laborai o professor natildeo pode
se furtar ao trabalho como meio de subsistecircncia devido agrave
sua dependecircncia total da vida urbana e do consumo que
ela impoacutee assim como ocorre com todas as outras categoshy
rias do proletariado (COSTA 2009 p 76-77)
Ao abordar essas reflexotildees buscamos explicitar nossa discordacircncia em
relaccedilatildeo agraves perspectivas ideoloacutegicas predominantes defensoras da ideia de
que o ecircxito da escola e da poliacutetica educacional que a orienta depende apenas
da iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores Atualmente fala-se muito no proshy
fessor como protagonista da mudanccedila mas natildeo lhe satildeo oferecidas muitas
condiccedilotildees para isso Defende-se que o professor assuma uma postura inoshy
vadora desenvolva praacuteticas de ensino renovadas busque o conhecimento
produzido ainda que as condiccedilotildees sejam muito desfavoraacuteveis para tanto
Conforme alerta Duarte (2006) a ideia comumente defendida pelos meios
de comunicaccedilatildeo eacute a de que o professor deve ser ldquogente que fazrdquo
Naacuteo eacute mero acaso que atualmente seja taacuteo difundido em
educaccedilatildeo o discurso voltado para as caracteriacutesticas definishy
doras de um bom professor de um professor que reflete
sobre sua praacutetica e realiza um trabalho de qualidade messhy
mo em condiccedilotildees adversas Uma variante desse discurso eacute
aquela em que em vez de falar-se de um professor que eacute
gente que faz fala-se de uma escola em que os professores
coletivamente de preferecircncia de matildeos dadas com a comushy
nidade transformam em exemplo de sucesso escolar Em
nome da superaccedilatildeo dos discursos imobilistas eacute adotado
um discurso no qual a passagem do fracasso ao sucesso
torna-se uma questatildeo de forccedila de vontade de alguns indishy
viacuteduos ou melhor de um coletivo de uma comunidade
O resultado ideoloacutegico pretendido ou natildeo eacute bastante
claro o descompromisso do Estado a despolitizaccedilatildeo dos
problemas educacionais e a abdicaccedilatildeo do ideal de lutar por
uma transformaccedilatildeo radical da sociedade pela superaccedilatildeo
do capitalismo e pela construccedilatildeo de uma sociedade sociashy
lista A saiacuteda passa a ser a das soluccedilotildees locais comunitaacuterias
individuais (DUARTE 2006 p 141)
Feitas essas consideraccedilotildees sintetizamos nossa compreensatildeo soshy
bre os limites da discussatildeo didaacutetica que apresentamos neste livro
Trata-se de uma discussatildeo insuficiente se considerarmos o problema
da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica em sua radicalidade mas ao mesmo
20
tempo importante uma vez que pode ampliar as possibilidades de
transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica
O presente livro organizado numa perspectiva de unidade realiza
nos dois primeiros artigos uma discussatildeo de caraacuteter mais geral sobre a
funccedilatildeoespecificidade da escola e da Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemshy
poracircneo Os demais artigos abordam possibilidades de desenvolvimento
de praacuteticas pedagoacutegicas com temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos
da cultura corporal circo lutas ginaacutestica danccedila jogos e esporte
As experiecircncias pedagoacutegicas apresentadas foram desenvolvidas
com a segunda etapa do Ensino Fundamental e com o Ensino Meacuteshy
dio mas obviamente podem sofrer adaptaccedilotildees para serem tratadas
em outros niacuteveis de ensino Os artigos que tratam dos conteuacutedos da
cultura corporal nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica foram redigidos em subshy
grupos de autores coordenados pelos organizadores da obra e ao final
do processo todos os artigos foram lidos e discutidos coletivamente
Apesar de consideramos a capoeira como um conteuacutedo esshy
peciacutefico e importante da cultura corporal ela natildeo foi abordada
neste livro devido aos limites espaciais e temporais para conclushy
satildeo da obra No nosso planejamento inicial constava um artigo
especiacutefico para abordar esse conteuacutedo poreacutem com o andamento
do estudo constatamos que natildeo teriacuteamos tempo suficiente para
ibordaacute-lo Assim fazemos questatildeo de destacar que assumimos a
iiiscncia da capoeira como uma diacutevida e reafirmamos a necessida-
ilr de abordaacute-la em publicaccedilotildees e debates posteriores
( )s temas selecionados buscaram relacionar os conteuacutedos da cultura
iniporal a problemas sociais presentes na praacutetica social dos alunos bus-
i nulo ultrapassar a simples praacutetica pela praacutetica e promover uma reflexatildeo
i tiacutetii a sobre o modo como os jogos as lutas as danccedilas os esportes os
ru iacutecios ginaacutesticos as atividades circenses se expressam em nosso temshy
po I Vsse modo uma questatildeo que atravessou todos os planos de unidade
i i sltnuinte como a cultura corporal patrimocircnio da humanidade tem
I bull ipKgtpriada e subordinada agrave dinacircmica do consumo capitalista
Irsquooi iacuteim gostariacuteamos de registrar nossos agradecimentos pela
i pouibilizaccedilatildeo dos recursos para a publicaccedilatildeo desta ediccedilatildeo do
livro por meio do Fundo de Apoio agrave Pesquisa na Educaccedilatildeo Baacutesica
- FAPEB mdash da Prefeitura de Juiz de Fora A busca de um financiashy
mento puacuteblico e a distribuiccedilatildeo gratuita dessa obra estaacute relacionada
agrave nossa perspectiva de produccedilatildeoapropriaccedilatildeo coletiva do conhecishy
mento Agradecemos ainda a todos os professores e alunos que
estiveram envolvidos na realizaccedilatildeo desse projeto permitindo divishy
dir experiecircncias e construir conhecimentos que agora socializamos
neste livro
Referecircncias
ARCE A A formaccedilatildeo de professores sob a oacutetica construtivista primeiras aproximashy
ccedilotildees e alguns questionamentos In DUARTE N (org) Sobre o construti-
vismo Campinas Autores Associados 2000
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NETO E SOUZA G (Org) A proletarizaccedilatildeo do professor neoliberalis-
mo na educaccedilatildeo 2 ed Satildeo Paulo Sundermann 2009 p 59-100
DUARTE N Vigotski e o ldquoaprendera aprenderrdquo apropriaccedilotildees neoliberais e poacutes-
-modernas da teoria vigotskiana 4 ed Campinas Autores Associados 2006
FRIGOTTO G A nova e a velha faces da crise do capital e o labirinto dos reshy
ferenciais teoacutericos In FRIGOTTO G CIAVATTA M (Org) Teoria e
educaccedilaacuteo no labirinto do capital 2 ed Petroacutepolis Vozes 2001 p 23-50
SAVIANI D Escola e democracia 38 ed Campinas Autores Associados 2006
_______ Histoacuteria das ideias pedagoacutegicas no Brasil 3 ed Campinas Autores
Associados 2011
TEIXEIRA L A poliacutetica de formaccedilatildeo docente no Brasil fundamentos teoacutericos
e epistemoloacutegicos In Reuniatildeo Anual da ANPED 32 2009 Caxambu
Anais Caxambu ANPED 2009 p 1-17
CAPIacuteTULO I
SOBRE A FUNCcedilAtildeO E ESPECIFICIDADE DA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR NO M UNDO CONTEMPORAcircNEO
Andreacute Silva Martins
O presente capiacutetulo tem por objetivo apreshy
sentar uma reflexatildeo sobre a funccedilatildeo e especificishy
dade da educaccedilatildeo escolar na atualidade Nossa
intenccedilatildeo mais ampla eacute problematizar as perspecshy
tivas relacionadas agrave funccedilatildeo social da escola e sua
especificidade no processo de formaccedilatildeo humashy
na procurando indicar uma alternativa poliacutetico-
-pedagoacutegica aos discursos e praacuteticas dominantes
As questotildees que orientam nossa reflexatildeo
podem ser assim descritas Qual a funccedilatildeo
social da instituiccedilatildeo escolar na atualidade
A instituiccedilatildeo escolar possui uma especificishy
dade frente os demais processos formativos
de nossa sociedade Quais satildeo os desafios da
Escola Puacuteblica brasileira no seacuteculo XXI
Para responder estas questotildees organizashy
mos o texto em trecircs partes Na primeira busshy
camos recuperar a gecircnese da instituiccedilatildeo escoshy
lar e sua especificidade no processo formativo
Em seguida realizamos uma anaacutelise sobre duas
concepccedilotildees que vecircm orientando a definiccedilatildeo da
finalidade da educaccedilatildeo escolar Por fim com
base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica apresentashy
mos uma siacutentese do que pode vir a ser a insshy
tituiccedilatildeo escolar na atualidade tendo em vista
os interesses da ampla maioria da populaccedilatildeo
Nossa expectativa eacute contribuir para as reflexotildees sobre o tema e oferecer
elementos para a compreensatildeo criacutetica da funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar
Sobre a gecircnese da instituiccedilatildeo escolar
A escola eacute uma instituiccedilatildeo social relativamente nova que se
consolidou e se popularizou a partir do processo de intensificaccedilatildeo
da complexidade da vida social gerada pelas mudanccedilas nas relaccedilotildees
sociais envolvendo o crescimento da urbanizaccedilatildeo e desenvolvimenshy
to do industrialismo sobre as formas tradicionais de estruturaccedilatildeo de
poder e de redefiniccedilatildeo das bases de produccedilatildeo material e simboacutelica
vinculadas agrave existecircncia humana Isso significa que a instituiccedilatildeo esshy
colar surge como expressatildeo cultural de um tempo histoacuterico com a
finalidade de assegurar uma especificidade na formaccedilatildeo humana
Antes da existecircncia da escola nas sociedades tradicionais os proshy
cessos formativos se realizavam diretamente nas dinacircmicas de constishy
tuiccedilatildeo da vida natildeo requerendo maiores exigecircncias muito menos ritos
formais para sua ocorrecircncia No cotidiano as trocas de conhecimentos
gerados pela experiecircncia geracional ou pela vida cotidiana de uma dada
comunidade constituiacuteam a base dos processos formativos necessaacuterios agrave
construccedilatildeo da vida A educaccedilatildeo fluiacutea nas dinacircmicas de trabalhovida
sem delimitaccedilotildees mais precisas de tempo e espaccedilo A experiecircncia e a
informalidade se constituiacuteam como referecircncias dos processos formatishy
vos Nessa dinacircmica o domiacutenio de conhecimentos sistematizados era
dispensaacutevel ao homem comum A formaccedilatildeo intelectual era restrita aos
pequenos grupos que atuavam em funccedilotildees administrativas e clericais
Quando muito com raras exceccedilotildees o acesso do povo aos rudimentos
da leitura e da escrita ficava circunscrito agraves iniciativas isoladas princishy
palmente a cargo de ordens religiosas que reforccedilavam a manutenccedilatildeo da
ordem estabelecida (FERREIRA 2001) ou a grupos de artesatildeos preoshy
cupados com a organizaccedilatildeo da produccedilatildeo (ENGUITA 1989)
O processo social poliacutetico e econocircmico de ruptura com a trashy
diccedilatildeo feudal protagonizada pela classe burguesa nas sociedades eushy
ropeias produziu novas determinaccedilotildees para que a formaccedilatildeo humana
ultrapassasse as referecircncias educativas precedentes Em outras pala-
24
vras a dinacircmica social emergente apresentava os primeiros sinais de
que a experiecircncia e a informalidade ofereciam sinais de esgotamenshy
to isso porque estavam em curso novas exigecircncias para organizar a
vida social e os meios necessaacuterios agrave sua existecircncia
A valorizaccedilatildeo do chamado ldquohomem-livrerdquo a ideia de progresso as
formas emergentes de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de mercadorias e a defesa da
propriedade privada no centro da vida social que foram sendo consolidadas
apoacutes as revoluccedilotildees burguesas exigiam novas referecircncias educativas Na conshy
cepccedilatildeo da classe emergente a massa populacional disforme e sem identishy
dade poliacutetico-ideoloacutegica precisava ser preparada para ocupar o seu lugar na
nova ordem a partir de novas regras sociais de vida e trabalho A imagem do
atraso representado pelo camponecircs isolado e restrito ao espaccedilo rural precishy
sava ser substituiacuteda pela simbologia do progresso representada pelo homem
urbano - trabalhador ldquolivrerdquo Organizado na cidade envolvido nas relaccedilotildees
comerciais de novo tipo e envolvido na passagem da oficina para manufashy
tura e desta para a induacutestria nascente o ldquonovo homemrdquo deveria ser disciplishy
nado socialmente para compreender os novos coacutedigos culturais Se para os
adultos da classe trabalhadora a vida urbana continha os elementos educashy
tivos da disciplina social capitalista principalmente os de caraacuteter repressivo
a educaccedilatildeo das crianccedilas urbanas para a vida social exigia um pouco mais O
surgimento da escola de massas tem suas origens vinculadas a esse processo
de longa duraccedilatildeo confirmada na consolidaccedilatildeo do periacuteodo histoacuterico denoshy
minado de modernidade A especificidade da escola residia na compreenshy
satildeo de que algo a mais deveria ser oferecido ultrapassando as experiecircncias
educativas realizadas pela famiacutelia pelas religiotildees pela convivecircncia
Em ritmos diversos a expansatildeo da instituiccedilatildeo escolar puacutebli-
1 foi se tornando uma realidade nas formaccedilotildees sociais em geral
viabilizada por meio do Estado capitalista Aleacutem da escolarizaccedilatildeo
obrigatoacuteria com extensatildeo restrita foram sendo instituiacutedas bases
rei ais para o ensino realizado na escola puacuteblica de massas O do-
miacutenkrdos rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo passou a
laei parte da formaccedilatildeo do trabalhador urbano O desafio era for-
1 1 1 i eorporcidade infantil (o sentirpensaragir) desde cedo dentro
ilo ideal do ldquohomem novordquo
As teacutecnicas de ensino e de controle bem como a organizaccedilatildeo do
espaccedilo e das rotinas marcaram a constituiccedilatildeo da escola moderna Sem
elidir outros processos educativos a instituiccedilatildeo escolar foi se tornando
importante instrumento do processo civilizatoacuterio capitalista
Enquanto a escola de massas assumiu a educaccedilatildeo das crianccedilas da
classe trabalhadora para o exerciacutecio da submissatildeo intelectual e moral
formando o cidadatildeo-trabalhador produtivo da modernidade outro tipo
de escola foi assegurado para a preparaccedilatildeo ampla de grupos de crianccedilas
e adolescentes da classe burguesa As distinccedilotildees fundamentais do proshy
cesso formativo dos dirigentes e dirigidos se expressaram no tempo de
escolarizaccedilatildeo no espaccedilo destinado agraves praacuteticas educativas bem como na
quantidade-qualidade de acesso aos conhecimentos sistematizados Inshy
distintamente a racionalizaccedilatildeo do processo pedagoacutegico buscou responshy
der agraves especificidades do papel econocircmico-poliacutetico das classes sociais
tendo como referecircncia a dinacircmica da vida urbano-industrial1 e a necesshy
sidade dos coacutedigos culturais Vale lembrar que o princiacutepio do dualismo
educacional jaacute havia sido traccedilado por John Locke no seacuteculo XVII antes
mesmo do advento da escolarizaccedilatildeo de massas (ENGUITA 1989)
Mesmo oferecendo um acesso restrito ao conhecimento sisshy
tematizado e assegurando uma formaccedilatildeo intelectual e moral para
a submissatildeo a escola para os trabalhadores foi sendo consolidada
nas formaccedilotildees sociais capitalistas a partir do reconhecimento de
sua contribuiccedilatildeo especiacutefica dentro do processo educativo mais
amplo Embora este processo tenha se dado em ritmo variado -
dependendo do reconhecimento da classe dominante sobre a im shy
portacircncia da ampliaccedilatildeo do domiacutenio dos coacutedigos culturais e das
lutas travadas em torno do acesso agrave educaccedilatildeo - a escola foi sendo
legitimada por sua especificidade educativa Sobre este processo
mais geral Ferreira (2001 p 193) observa que
Chegados agrave transiccedilatildeo do seacuteculo X IX para o seacutecushy
lo XX a burguesia sustenta e participa do poder
1 Enquanto a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo infantil da classe trabalhadora das cidades passou a
ser ordenada pelo menos enquanto tendecircncia em edificaccedilotildees projetadas para tal fim pela
adoccedilatildeo de turmas seriadas por programas bem definidos e com professores treinados a
educaccedilatildeo no campo ainda que concentrando boa parcela das crianccedilas seguiu marcada
pelo improviso de instalaccedilotildees de recursos didaacuteticos e de pessoal
mas hesita entre a cultura do passado e a dinacircmica
imposta pelo progresso A burguesia sabe por exshy
periecircncia proacutepria que nada eacute definitivo e uniforshy
me Mas tambeacutem sabe que a sociedade burguesa
precisa de ordem e estabilidade e que os interesshy
ses divergentes que encerra podem arruinaacute-la Ela
precisa por isso estar bem informada para agir
em conformidade com o momento Necessita soshy
bretudo de dominar os saberes que lhe asseguram
a administraccedilatildeo do poder Ela sabe que a compeshy
tecircncia eacute a qualidade chave do sucesso A escola
tem sido fundamentalmente uma instituiccedilatildeo cara
agrave burguesia Isso natildeo significa que natildeo tenha sido
uacutetil a outras forccedilas sociais e que natildeo tenha servido
interesses contraacuterios aos dos burgueses
A histoacuteria da escolarizaccedilatildeo na formaccedilatildeo social brasileira seshy
guiu pelo menos enquanto tendecircncia o movimento educacional
das formaccedilotildees capitalistas centrais No entanto considerando
que o Brasil foi palco de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo tardia sob
mediaccedilatildeo de uma revoluccedilatildeo burguesa de tipo natildeo-claacutessica (FERshy
NANDES 1976) explicada pelo conceito de revoluccedilatildeo passiva
(GRAMSCI 1999) e que isto resultou numa inserccedilatildeo subordinashy
da do paiacutes no cenaacuterio internacional eacute possiacutevel afirmar que a escola
puacuteblica de massas expressou em sua particularidade e com contrashy
diccedilotildees a opccedilatildeo poliacutetica da classe dominante brasileira
Basta considerar que enquanto os paiacuteses centrais jaacute haviam
avanccedilado no movimento de universalizaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo baacutesica
ainda no seacuteculo XIX no Brasil ao longo do seacuteculo XX predomishy
nou um processo restritivo de acesso dos trabalhadores agrave educaccedilatildeo
escolar Os que escaparam do analfabetismo em geral encontraram
barreiras objetivas para concluir o que denominamos hoje de Enshy
sino Fundamental Foi somente no limiar do seacuteculo XXI que este
niacutevel de escolarizaccedilatildeo foi universalizado2
2 O atraso educacional brasileiro pode ser explicitado nas questotildees legais que envolvem o Ensino
Meacutedio A Constituiccedilatildeo de 1988 - chamada por muitos de ldquoConstituiccedilatildeo Cidadatilderdquo - estabeleceu
no artigo 208 inciso II ldquoprogressiva extensatildeo de obrigatoriedade e gratuidade do ensino meacutediordquo
mesmo diante dos sinais de mudanccedilas poliacuteticas e econocircmicas significativas no mundo capitalista
O Ensino Meacutedio foi projetado para poucos naquele contexto Somente em 2009 por meio da
Emenda Constitucional ndeg 59 este niacutevel de ensino se tornou obrigatoacuterio no paiacutes
w avanccedilo lento e restritivo da escolarizaccedilatildeo brasileira foi resultado
das relaccedilotildees de poder travadas ao longo do seacuteculo XX mediadas pelas
relaccedilotildees de produccedilatildeo Predominava na classe dominante a compreenshy
satildeo de que o acesso agrave educaccedilatildeo deveria ser programado para atender o
miacutenimo necessaacuterio ao padratildeo de qualificaccedilatildeo exigido pela dinacircmica da
sociedade urbano-industrial em seu desenvolvimento tecnoloacutegico e exishy
gecircncias poliacuteticas e ideoloacutegicas Esse posicionamento contrastava com as
lutas operaacuterias do iniacutecio do seacuteculo XX que reivindicavam acesso agrave edushy
caccedilatildeo puacuteblica e com a manifestaccedilatildeo dos signataacuterios do ldquoManifesto dos
Pioneiros da Educaccedilatildeordquo de 1932 que reivindicava uma escola puacuteblica
de qualidade para todos Contudo na correlaccedilatildeo de forccedilas e consideshy
rando a dinacircmica das relaccedilotildees de produccedilatildeo para a grande maioria o
acesso ao conhecimento sistematizado natildeo ultrapassou o domiacutenio dos
rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo A ideia de que a escolashy
rizaccedilatildeo deveria se constituir num patrimocircnio de poucos predominou
Em que pesem o atraso educacional e as restriccedilotildees de acesso
agrave escola puacuteblica a historiografia da educaccedilatildeo brasileira por reshy
cortes e bases epistemoloacutegicas distintas apresenta fartos elemenshy
tos que demonstram a ligaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar e projeto
civilizatoacuterio conduzido pela classe dominante no paiacutes desde o
iniacutecio do seacuteculo XX confirmando a especificidade da instituiccedilatildeo
escolar no processo de formaccedilatildeo humana
Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar as concepccedilotildees dominantes
Apesar do reconhecimento social sobre a importacircncia e esshy
pecificidade da instituiccedilatildeo escolar no processo educativo mais
amplo eacute necessaacuterio observar que existem divergecircncias quanto agrave
finalidade da educaccedilatildeo escolar Para enfrentar esta questatildeo opshy
tamos por um recorte de duas das mais relevantes formulaccedilotildees
contemporacircneas sobre o tema Nossa opccedilatildeo metodoloacutegica conshy
siste na caracterizaccedilatildeo e anaacutelise das concepccedilotildees procurando evishy
denciar suas implicaccedilotildees para a formaccedilatildeo humana
28
Concepccedilatildeo 1 A finalidade da educaccedilatildeo escolar eacute preparar recursos humanos para impulsionar o desenvolvimento econocircmico
Esta formulaccedilatildeo foi apresentada no cenaacuterio brasileiro nos anos
de 1970 no contexto do regime ditatorial viabilizado pelo golpe em-
presarial-militar de 1964 Traduzindo uma teoria surgida nos Estados
Unidos o bloco no poder do regime ditatorial e seus intelectuais se
encarregaram de viabilizar que os principais enunciados da teoria esshy
tadunidense fossem veiculados para ordenar a funccedilatildeo da escola a parshy
tir da redefiniccedilatildeo da poliacutetica de educaccedilatildeo da legislaccedilatildeo educacional
da organizaccedilatildeo curricular e das praacuteticas pedagoacutegicas A grande meta
era subordinar a educaccedilatildeo escolar ao projeto de desenvolvimento ecoshy
nocircmico Mas o que significa estabelecer que a funccedilatildeo da escola eacute conshy
tribuir para o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes
A teoria acima referida foi sistematizada porTeodoro Schultz
(1963 1971) Parte da premissa de que o conceito de ldquocapitalrdquo se
refere natildeo soacute agraves coisas materiais mas tambeacutem aos seres humanos
Schultz se refere agraves habilidades adquiridas principalmente pela
educaccedilatildeo escolar que interferem na atividade produtiva O conheshy
cimento c as habilidades teacutecnicas seriam expressotildees particulares de
ldquocapitalrdquo uma vez que se vinculam ao aumento da capacidade de
produccedilatildeo A preocupaccedilatildeo do autor com o alargamento do conceishy
to de capital se vincula agrave busca por compreender os diferenciais de
produtividade gerados pelo esforccedilo humano O resultado de sua
formulaccedilatildeo foi denominado de ldquocapital humanordquo
A ampliaccedilatildeo do conceito de capital proposto por Schultz reafirma
a tese da economia poliacutetica burguesa de que todos indistintamente
satildeo capitalistas a diferenccedila baacutesica seria a seguinte uns satildeo possuidores
dos meios de produccedilatildeo e outros da forccedila de trabalho Explicitando o
significado de sua teoria Schultz (1963 p 12-13) afirma que
A recusa em considerar as habilidades adquiridas
pelo homem (habilidades que ampliaram a proshy
dutividade econocircmica desse homem) como uma
forma de capital como bens produzidos da pro-
duccedilatildeo como resultado de um investimento tem
estimulado o conceito restritivo patentemente
errocircneo de que o trabalho prescinde do capital
e de que somente importa o nuacutemero de homens-
-hora [] Os trabalhadores vecircm-se tornando cashy
pitalistas no sentido de que tecircm adquirido muito
conhecimento e diversas habilidades que represhy
sentam valor econocircmico
Na esteira dessa intrigante formulaccedilatildeo Schultz procurou afirmar
que a importacircncia da escolarizaccedilatildeo residia precisamente em ldquovalor
econocircmicordquo Investimentos em educaccedilatildeo resultariam no aumento de
capital humano e na consequente elevaccedilatildeo das taxas de lucro A teoria
do capital humano considera que a educaccedilatildeo deve ser planejada como
fator de desenvolvimento econocircmico e natildeo como direito social
A proposiccedilatildeo consiste em relacionar o ser humano no mesmo
patamar de instrumentos utilizados na produccedilatildeo capitalista Nessa
linha a esquematizaccedilatildeo teoacuterica atestava que a elevaccedilatildeo da escolashy
ridade de um povo ou de cada indiviacuteduo seria diretamente proshy
porcional ao aumento da capacidade de trabalho e ao aumento da
riqueza pessoal sendo que a soma de todas as riquezas significaria
no crescimento da riqueza de uma naccedilatildeo 3
Para Schultz (1971) o valor da educaccedilatildeo estaria na habilitaccedilatildeo de
pessoas para lidar com situaccedilotildees de desequiliacutebrio de mudanccedila e de rupshy
tura O quantum de educaccedilatildeo deveria ser pensado em funccedilatildeo das necessishy
dades de geraccedilatildeo de competecircncias para a eficiecircncia produtiva no trabalho
A anaacutelise de Frigotto (1986) revela os limites e o significashy
do da teoria do capital humano Revela o seu vieacutes empiricista
sua perspectiva epistemoloacutegica baseada no positivismo e o caraacuteter
poliacutetico-ideoloacutegico centrado na economia poliacutetica burguesa
3 Em outras palavras as pessoas ricas seriam aquelas que mais teriam recebido
investimentos em capital humano consequentemente a pessoa pobre seria aquela
que natildeo conseguiu desenvolver o seu capital humano Os paiacuteses mais ricos seriam
aqueles que teriam realizado o maior esforccedilo de elevaccedilatildeo do patamar meacutedio de
racionalidade de seu povo por meio da escola e os paiacuteses mais pobres os que menos
investiram nesse quesitoVale lembrar que a teoria de Schultz nunca conseguiu
explicar o caso brasileiro que de um lado manteacutem-se como uma das maiores
economias do mundo de outro o paiacutes apresenta peacutessimos indicadores educacionais
que comprovam a fragilidade da educaccedilatildeo escolar brasileira
30
No Brasil as repercussotildees da teoria do capital humano foram sigshy
nificativas durante o periacuteodo ditatorial abrangendo vaacuterios aspectos (a)
financiamento da educaccedilatildeo o orccedilamento da educaccedilatildeo passou a ser
definido com base nos mesmos criteacuterios adotados nos investimentos do
setor produtivo (b) planejamento educacional estabeleceu a vincula-
ccedilatildeo direta e imediata entre educaccedilatildeo e setor produtivo - o Plano Setorial
de Educaccedilatildeo e Cultura de 19721974 deixa isso claro (c) legislaccedilatildeo
uma nova lei de Diretrizes e Bases foi estabelecida (lei 569271) para
ordenar a educaccedilatildeo brasileira - chamada ldquoformaccedilatildeo especializadardquo no 2o
grau (atual Ensino Meacutedio) pode ser tomada como um dos exemplos da
vinculaccedilatildeo proposta entre educaccedilatildeo e economia (d) concepccedilatildeo pedashy
goacutegica afirmaccedilatildeo do tecnicismo como referecircncia para os processos forshy
niuivos procurando estabelecer a objetividade do trabalho pedagoacutegico
1 partir da precisatildeo das teacutecnicas e tecnologias de ensino
Apesar das criacuteticas e resistecircncias a teoria do capital humano
iiio foi definitivamente superada Ao contraacuterio desde os anos
laquoU 1990 a teoria vem sendo atualizada e difundida por vaacuterios
mielectuais orgacircnicos da classe burguesa A novidade eacute que a
educaccedilatildeo aleacutem de resultar na elevaccedilatildeo do capital humano deve
timbeacutem desenvolver o chamado capital social Isso significa que
1 Iunccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar foi ampliada embora a perspectiva
i onomicista continue preponderando4
Se o desenvolvimento do capital humano tem interferecircncia direta
mi i questatildeo econocircmica o capital social por sua vez relaciona-se com
i i|iK staacuteo social de forma mais precisa com a coesatildeo poliacutetica e ideoloacutegica
1 iiiballuidores ao projeto hegemocircnico de sociabilidade O capital social
bull ii u licionado agrave elevaccedilatildeo de algumas chamadas variaacuteveis relacionadas agraves
bull bullIuluias humanas que repercutem nas relaccedilotildees comunitaacuterias entre elas a
bull h gt1 u i accedilaacutelt gt a confianccedila muacutetua e a capacidade de participaccedilatildeo (PUTNAM
lt h)M A tese sugere que a elevaccedilatildeo do capital social permitiraacute que os indi-
il icssjliar que natildeo se trata de sobreposiccedilatildeo de accedilotildees mas sim a especificaccedilatildeo de
mi i vi-nccedilotildecs educativas visando assegurar a formaccedilatildeo humana no acircmbito escolar As
u iiiLiccedilotildees de Gustavo Ioschpe intelectual orgacircnico da burguesia satildeo reveladoras
iVni bull llt lui outros ganhos comunicantes associados com a educaccedilatildeo maior toleracircncia
bull u it-iii ia social melhores cuidados com a sauacutede tendecircncias democraacuteticas controle
I iu|miImis violentosrdquo (IOSCHPE 2004 p 67)
viduos se organizem para solucionar os problemas sociais que os afligem
sem necessariamente depender da intervenccedilatildeo paternalista estatal
O projeto de educaccedilatildeo referenciado na teoria do capital e
ampliado com o acreacutescimo da teoria do capital social reconhece
a especificidade da educaccedilatildeo escolar No entanto as referecircncias
sobre a funccedilatildeo da instituiccedilatildeo escolar satildeo restritivas e pragmaacutetishy
cas Sob o ponto de vista mais amplo significa reafirmar que os
subalternos natildeo nasceram para assumir a condiccedilatildeo de classe d ishy
rigente Especificamente sobre o processo pedagoacutegico significa
estabelecer uma formaccedilatildeo de caraacuteter minimalista em que o acesso
ao conhecimento sistematizado na escola ocorreraacute respeitando o
m iacutenimo necessaacuterio para simplesmente desenvolver uma racionashy
lidade instrumental base das competecircncias para a empregabili-
dade O fundamento pedagoacutegico desta concepccedilatildeo estaacute alicerccedilada
na pedagogia das competecircncias (RAM OS 2001) cabendo agrave esshy
cola somente orientar a formaccedilatildeo do trabalhador-cidadatildeo produshy
tivo eficiente em sua condiccedilatildeo de subalternidade
Concepccedilatildeo 2 A funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar eacute formar para a cidadania
Na sociedade capitalista o acesso ao conhecimento sisteshy
matizado estaacute subordinado agrave condiccedilatildeo de classe podendo ser
alterado em funccedilatildeo dos resultados provisoacuterios das lutas poliacuteticas
na educaccedilatildeo conforme destacado anteriormente Nesse sentido
as disputas envolvendo o acesso ao conhecimento ocorrem porshy
que a ciecircncia e a tecnologia se converteram em forccedila produtiva
e instrumento de poder O controle sobre o conhecimento sisteshy
matizado portanto passou a fazer parte da estrateacutegia de dom ishy
naccedilatildeo de classe na sociedade capitalista Diante disso parece-nos
relevante indagar o que significa afirmar que a funccedilatildeo da escola
se destina a preparar para a cidadania Como fica o acesso ao
conhecimento sistematizado nesta concepccedilatildeo
Primeiramente devemos considerar que a cidadania eacute uma consshy
truccedilatildeo resultante das contradiccedilotildees internas das revoluccedilotildees burguesas
32
Embora se no passado representasse um avanccedilo frente agrave velha ordem
feudal ou escravista e se na atualidade expresse tambeacutem um avanccedilo
frente aos regimes e praacuteticas autoritaacuterias eacute importante lembrar que
este constructo designa apenas o reconhecimento da igualdade forshy
mal entre seres humanos que vivem condiccedilotildees poliacuteticas e econocircmicas
profundamente desiguais Em outras palavras o estatuto da cidadania
natildeo altera em absolutamente nada a realidade da dominaccedilatildeo poliacutetica e
exploraccedilatildeo econocircmica realizadas na sociedade capitalista
Um aspecto importante a ser considerado se refere agravequilo que
fundamenta o preceito de cidadania De modo geral o cidadatildeo
natildeo tem identidade de classe mas sim uma condiccedilatildeo individual E
cidadatildeo tanto o que explora e domina quanto aquele que eacute exploshy
rado e dominado por outro O cidadatildeo eacute o indiviacuteduo e natildeo uma
coletividade regulado por um estatuto juriacutedico e certas normas
sociais no contexto de um Estado Portanto ser cidadatildeo significa
integrar-se na vida social a partir da regulaccedilatildeo formal e de valores
indicando o pertencimento poliacutetico A definiccedilatildeo apresentada por
lt mivez (1990 p 15) confirma esta compreensatildeo
A cidadania define a pertenccedila a um Estado Ela daacute
ao indiviacuteduo um status juriacutedico ao qual se ligam dishy
reitos e deveres particulares Esse status depende das
leis proacuteprias de cada Estado e pode-se afirmar que
haacute tantos tipos de cidadatildeos quanto tipos de Estados
O problema da cidadania poreacutem natildeo eacute apenas proshy
blema juriacutedico ou constitucional se provoca debates
apaixonados eacute porque coloca a questatildeo do modo de
inserccedilatildeo do indiviacuteduo em sua comunidade assim
como de sua relaccedilatildeo com o poder poliacutetico
lt luo de ser cidadatildeo natildeo assegura a igualdade de condiccedilotildees
1 vidi e trabalho em um contexto de profunda desigualdade
moiiiua poliacutetica e social Muito menos assegura a possibili-
l raquolt dc ser diferente no contexto em que a igualdade formal se
ilgt In r procurando uniformizar a todos A cidadania portan-
bull i ui li ii a possibilidade da atuaccedilatildeo poliacutetica de indiviacuteduos e
ni i |i 1 1 ic as sociais dentro dos limites da ordem existente5
I iliIr poliacutetica denominamos o direito de organizaccedilatildeo de representaccedilatildeo e de
l i I h preacutesentantes atraveacutes do voto
As inuacutemeras adjetivaccedilotildees propostas ao conceito sinalizam as restriccedilotildees
de sua inserccedilatildeo na praacutetica social concreta Na lista de adjetivaccedilotildees encontrashy
mos ldquocidadania participativardquo ldquocidadania efetivardquo ldquocidadania emancipadardquo
ldquocidadania ativardquo ldquocidadania eacuteticardquo ldquocidadania popularrdquo entre outras6
Natildeo queremos com essa delimitaccedilatildeo invalidar a importacircncia da
cidadania no passado e no presente na sociedade capitalista especialshy
mente para a formaccedilatildeo social brasileira Ao contraacuterio acreditamos
que legalidade constituiacuteda no estatuto juriacutedico dos direitos individushy
ais e poliacuteticos - envolvendo a possibilidade de organizaccedilatildeo de represhy
sentaccedilatildeo de coletivos e de possibilidades de escolhas de representantes
atraveacutes do voto mdash natildeo eacute passiacutevel de desprezo Entretanto o que busshy
camos assinalar eacute que vincular o projeto de educaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo da
cidadania eacute insuficiente pois a cidadania natildeo pressupotildee a superaccedilatildeo
da ordem capitalista (TONET 2005)
Cabe lembrar que nas sociedades capitalistas dependentes como
eacute o caso da sociedade brasileira a exploraccedilatildeo se materializa em supe-
rexploraccedilatildeo a participaccedilatildeo poliacutetica eacute sempre condicionada a marcos
juriacutedicos restritivos a concentraccedilatildeo da renda e da propriedade eacute extreshy
mada a polarizaccedilatildeo social eacute mais evidente e a dominaccedilatildeo ideoloacutegica eacute
maciccedila (CA RDO SO 2006) Considerando que os indicadores sociais
e econocircmicos confirmam esta observaccedilatildeo acreditamos que limitar a
finalidade da escola para a produccedilatildeo da cidadania eacute algo insuficiente
E importante considerar que a vinculaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar
e cidadania possui um lastro histoacuterico importante no Brasil De modo
mais amplo talvez esta vinculaccedilatildeo possa ser creditada como resposta
dos educadores progressistas agrave experiecircncia vivida pelos trabalhadores
brasileiros no contexto da ditadura empresarial-militar que perdurou
por cerca de vinte anos Se esta hipoacutetese estiver correta poderemos
afirmar que a educaccedilatildeo para a cidadania representou um posicionashy
mento criacutetico frente ao regime autoritaacuterio agrave cultura poliacutetica consershy
6 A produccedilatildeo acadecircmica sobre o tema eacute consideraacutevel Aleacutem de teses
dissertaccedilotildees e artigos cientiacuteficos a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e cidadania foi
abordada em diferentes obras Eis alguns livros sobre o tema Buffa et al
(1987) Ferreira (1993) Demo (1994) Libacircneo (1998)
34
vadora ao clicntelismo e ao patrimonialismo presentes na vida social
Sobre o acesso ao conhecimento sistematizado para Libacircneo (1998)
o exerciacutecio para a cidadania exigiria o domiacutenio dos conhecimentos
sistematizados como ferramentas individuais para a intervenccedilatildeo na
realidade Apesar da perspectiva progressista da formulaccedilatildeo acreditashy
mos que educar para a cidadania eacute diferente de educar para compreshy
ensatildeo dos limites histoacutericos e teoacutericos da cidadania
Aleacutem das formulaccedilotildees progressistas sobre a educaccedilatildeo escolar e
cidadania existem tambeacutem obras de caraacuteter conservador que buscam
reafirmar aquilo que Neves (2005) define como a nova pedagogia da
hegemonia por meio da educaccedilatildeo escolar As formulaccedilotildees de Delors
(1996) e Morin (2000) divulgadas sobre a chancela da Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas satildeo casos exemplares que repercutem na definiccedilatildeo da
poliacutetica educacional em nosso paiacutes nos anos recentes de nossa histoacuteria7
Para Delors ldquona escola eacute que deve comeccedilar a educaccedilatildeo para
uma cidadania consciente e ativardquo (1996 p 28)s Entretanto peshy
los limites teoacutericos e histoacutericos do conceito e considerando suas
opccedilotildees ideoloacutegicas o maacuteximo que Delors consegue eacute reafirmar
com novas palavras as velhas construccedilotildees que envolvem a temaacutetica
educaccedilatildeo para a cidadania Em suas palavras
Mas como aprender a conviver nesta aldeia global
se somos incapazes de viver em paz nas comunidades
naturais a que pertencemos naccedilatildeo regiatildeo cidade alshy
deia vizinhanccedila A questatildeo central da democracia eacute
saber se desejamos e somos capazes de participar da
vida em comunidade conveacutem natildeo esquecer que esse
desejo depende do sentido da responsabilidade de
cada um (DELORS 1996 p 7-8)
A tese explicita claramente os limites da cidadania revelando que
sua vinculaccedilatildeo se estabelece com o indiviacuteduo e natildeo com as coletividashy
des Por meio da chamada cidadania consciente e ativa Delors retoma
Acredi tamos que parte dessas formulaccedilotildees saacuteo tributaacuterias da concepccedilatildeo pedagoacutegica escolanovista
Para entender o que isso significa em termos poliacuteticos e filosoacuteficos recomendamos a leitura de
Saviani (1987) especialmente o capiacutetulo dois ldquoEscola e democracia I a Teoria da Curvatura
da Varardquo
8 Os adjetivos ldquoconscienterdquo e ldquoativordquo demonstram a intenccedilatildeo de estabelecer uma atualizaccedilatildeo
da cidadania tal como assinalados anteriormente
o individualismo como valor moral radical reafirmando a formulaccedilatildeo
valorizada pela doutrina liberal e pelos projetos neoliberal e neoliberal
da terceira via Estes limites podem ser verificados em outra afirmaccedilatildeo
Um sentimento de vertigem apodera-se de nossos
contemporacircneos divididos entre essa globalizaccedilatildeo - a
cujas manifestaccedilotildees eles satildeo obrigados agraves vezes a se
submeterem mdash e a busca pessoal de suas raiacutezes refeshy
recircncias e filiaccedilotildees
A educaccedilaacuteo deve enfrentar esse problema porque na
perspectiva do parto doloroso de uma sociedade munshy
dial ela situa-se mais do que nunca 110 acircmago do deshy
senvolvimento da pessoa e das comunidades sua misshy
satildeo consiste em permitir que todos sem exceccedilatildeo faccedilam
frutificar seus talentos e suas potencialidades criativas
o que implica por parte de cada um a capacidade de assumir sua proacutepria responsabilidade e de realizar seu proshyjeto pessoal (D ELO RS 1996 p 10 grifo nosso)
Aleacutem dos aspectos citados cabe destacar o conteuacutedo ideoloacutegico
dos princiacutepios valorativos da educaccedilatildeo para a cidadania sistematizada
por Jacques Delors Segundo Duarte (2008) estes princiacutepios satildeo orienshy
tados pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo De modo geral os prinshy
ciacutepios convergem para a afirmaccedilatildeo do individualismo como valor moral
radical A tiacutetulo de exemplo podemos citar a hierarquizaccedilatildeo das formas
de aprendizagem realizadas pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo
Duarte (2008) verifica que para esta corrente pedagoacutegica eacute mais releshy
vante e significativo aprender sozinho do que pela mediaccedilatildeo do outro
Isso significa a ratificaccedilatildeo do individualismo como valor morai radical e
define o conteuacutedo da chamada cidadania consciente e ativa
A posiccedilatildeo de Edgar Morin se apresenta na mesma perspectiva trashy
ccedilada por Jacques Delors Delineando as bases para a educaccedilatildeo escolar
formar o chamado cidadatildeo planetaacuterio do seacuteculo XXI o autor afirma que
Podemos considerar que a plenitude e a livre
expressatildeo dos indiviacuteduos-sujeitos constituem
nosso propoacutesito eacutetico e poliacutetico sem entreshy
tanto pensarmos que constituem a proacutepria
finalidade da triacuteade indiviacutediwsociedadelespeacute-
cie A complexidade humana natildeo poderia ser
compreendida dissociada dos elementos que
a constituem todo desenvolvimento verdadeishyramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais das parshyticipaccedilotildees comunitaacuterias e do sentimento de pershytencer agrave espeacutecie humana (MORIN 2000 p
54-55 grifo do autor)
Mais uma vez o indiviacuteduo atomizado e sem identidade de
classe portanto diluiacutedo nas relaccedilotildees sociais eacute apresentado como
referecircncia central da formulaccedilatildeo
A finalidade da formaccedilatildeo do chamado cidadatildeo planetaacuterio eacute
e xplicitada da seguinte forma
O problema da compreensatildeo tornou-se crucial para
os humanos E por este motivo deve ser uma das
finalidades da educaccedilatildeo do futuro Lembremo-
-nos de que nenhuma teacutecnica de comunicaccedilatildeo do
telefone agrave Internet traz por si mesma a compreshy
ensatildeo A compreensatildeo natildeo pode ser quantificada
Educar para compreender a matemaacutetica ou uma
disciplina determinada eacute uma coisa educar para a
compreensatildeo humana eacute outra Nela encontra-se a
missatildeo propriamente espiritual da educaccedilatildeo ensishy
nar a compreensatildeo entre as pessoas como condiccedilatildeo
e garantia da solidariedade intelectual e moral da
humanidade (M O R IN 2000 p 94)
construccedilatildeo de uma sociedade solidaacuteria eacute de fato algo re-
bull iiiu Entretanto a formulaccedilatildeo de Morin aposta na solidarie-
tllt lsquocm alterar as condiccedilotildees objetivas de vida Eacute possiacutevel esta-
bull I ei i solidariedade num contexto marcado pela exploraccedilatildeo e
|m 11 iloi iaccedilatildeo das coisas em detrimento da condiccedilatildeo humana
I ui siacutentese o que se busca eacute na verdade o estabelecimento de
d u pu(o entre as classes sociais sobre o controle e direccedilatildeo
1 lt liiiijMicsa Desse modo a funccedilatildeo da escola do seacuteculo XXI
i i ili pcli cidadania seraacute a de reafirmar a manutenccedilatildeo das rela-
bull | raquodei e xistentes com o aprofundamento da subserviecircncia da
u ii iliilliulora Aleacutem disso nesta concepccedilatildeo o conhecimento
sistematizado cede lugar agrave experiecircncia imediata ou quando muito
na perspectiva progressista agrave reflexatildeo sobre formas de intervenccedilatildeo
na vida poliacutetica da escola da comunidade ou do paiacutes
Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar educar para a emancipaccedilatildeo humana
O consenso em torno da legitimidade da instituiccedilatildeo escolar
na sociedade contemporacircnea eacute um dado consolidado certamente
influenciado pelas concepccedilotildees anteriormente analisadas Entretanshy
to um problema persiste tais formulaccedilotildees restringem a formaccedilatildeo
humana e consequentemente limitam as possibilidades de insershy
ccedilatildeo no mundo real Diante disso cabe uma questatildeo a educaccedilatildeo
escolar pode oferecer outra perspectiva formativa que supere o
economicismo da teoria do capital humano e a orientaccedilatildeo politi-
cista da educaccedilatildeo para a cidadania Qual o papel do conhecimento
sistematizado nesta alternativa pedagoacutegica
Foi procurando responder a esta questatildeo que alguns educadores brashy
sileiros procuraram delinear uma nova possibilidade pedagoacutegica sobre a esshy
pecificidade e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar tendo em vista a necessidade de
elevar a escolarizaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes da classe trabalhadora9
Esta concepccedilatildeo pedagoacutegica foi sistematizada a partir da anaacutelishy
se criacutetica sobre a configuraccedilatildeo e dinacircmica da sociedade capitalista
Conhecendo os limites desta forma cultural de organizaccedilatildeo da vida
o segundo passo foi analisar as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes
considerando as necessidades da classe trabalhadora e os objetivos
da classe burguesa A primeira constataccedilatildeo foi que os processos de
dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo tiacutepicos das formaccedilotildees sociais capitalistas
impedem a emancipaccedilatildeo humana A segunda constataccedilatildeo foi que
as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes eram expressotildees especiacuteficas do
projeto de sociedade da classe dominante A siacutentese desta anaacutelise
9 A principal figura deste esforccedilo foi Dermeval Saviani que desde os anos finais de 1960
jaacute refletia sobre a necessidade e possibilidades de sistematizar uma teoria da educaccedilatildeo
que superasse tanto as teorias natildeo criacuteticas da educaccedilatildeo quanto agraves teorias criacutetico-
reprodutivistas Para compreender este processo ver Saviani (1987 2003)
38
pode ser assim descrita eacute necessaacuterio superar as teorias e experiecircncias
existentes fornecendo aos educadores uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo
que esteja vinculada ao compromisso com a emancipaccedilatildeo da classe
trabalhadora (SAVIANI 2003) O resultado desta sistematizaccedilatildeo
foi denominado de Pedagogia histoacuterico-criacutetica Sua fundamentaccedilatildeo
encontra-se alicerccedilada no materialismo histoacuterico
O ponto de partida desta concepccedilatildeo foi compreender a condishy
ccedilatildeo humana e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo na vida social Sobre o primeishy
ro aspecto recuperando as ideias de Friedrich Engels e Karl Marx
a Pedagogia histoacuterico-criacutetica afirma que os seres humanos precisam
criar permanentemente as condiccedilotildees de sua existecircncia Enquanto os
outros animais se adaptam ao mundo natural coletivamente os seres
humanos transformam este mesmo mundo para viabilizar a existecircncia
da vida produzindo cultura Em outras palavras natildeo encontramos
tudo de que precisamos pronto somos obrigados a produzir formas
materiais e natildeo materiais necessaacuterias agrave vida mdash formas que nascem da
necessidade objetiva (alimentaccedilatildeo por exemplo) e dos desejos e fanshy
tasias - e a transmitir estas formas para outras geraccedilotildees
Os seres humanos criam estas condiccedilotildees por meio de uma cashy
pacidade que desenvolveram ao longo da histoacuteria a capacidade de
antecipar no plano do pensamento e traduzir esta antecipaccedilatildeo em
accedilotildees concretas e intencionais para viabilizar a vida - algo que Engels
e Marx denominam de trabalho Por meio do trabalho - uma forma
bem mais elaborada que a accedilatildeo instintiva dos demais animais para
suprir as necessidades e vontades que os seres humanos possuem os
seres humanos ultrapassaram a determinaccedilatildeo bioloacutegica para assumir
a condiccedilatildeo mais complexa ser cultural Por cultura compreende-se
a forma de organizaccedilatildeo e produccedilatildeo da vida que envolve a poliacutetica
a economia as artes os haacutebitos e costumes predominantes em uma
formaccedilatildeo social e tempo histoacuterico (CHAUI 1995)
Com base nesta compreensatildeo a funccedilatildeo da educaccedilatildeo para a Pedashy
gogia histoacuterico-criacutetica se vincula agrave produccedilatildeo da existecircncia humana porshy
tanto a condiccedilatildeo de cultura Enquanto predominou na criaccedilatildeo e orgashy
nizaccedilatildeo das condiccedilotildees de existecircncia processos mais simples de trabalho
foi possiacutevel educar os mais novos no proacuteprio processo de trabalho Na
medida em que a criaccedilatildeo das condiccedilotildees humanas se tornou mais comshy
plexa aleacutem dos processos informais foi requerida a institucionalizaccedilatildeo
da educaccedilatildeo na forma escolar Conforme indicamos na primeira parte
deste texto a escola foi criada para oferecer as bases para a produccedilatildeo
coletiva da existecircncia humana
Contudo cabe ressaltar que a produccedilatildeo da existecircncia hushy
mana se faz por meio de relaccedilotildees sociais Estas relaccedilotildees assushy
mem formas especiacuteficas envolvendo a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
poliacutetico-econocircmica de grupos sociais sobre outros grupos sociais
Significa afirmar que a relaccedilatildeo entre trabalho e educaccedilatildeo foi senshy
do delineada a partir do conteuacutedo e da forma como as relaccedilotildees
sociais de desenvolvem na sociedade de classes
O projeto dominante defende que a classe trabalhadora deve ser
mantida na condiccedilatildeo de subalternidade soacutecio-poliacutetico-econocircmica A
orientaccedilatildeo eacute para que as crianccedilas e adolescentes desta classe sejam edushy
cados para se tornarem um ldquorecurso humanordquo para o desenvolvimento
econocircmico capitalista e para obedecer as ldquoregras sociaisrdquo para a harmonia
social desta sociedade contraditoacuteria
Reconhecendo que os seres humanos podem viver em outras
condiccedilotildees e verificando que o projeto dominante encontra resisshy
tecircncia na dinacircmica escolar a Pedagogia histoacuterico-criacutetica procura
oferecer aos educadores criacuteticos uma teoria educacional alternashy
tiva de caraacuteter contra-hegemocircnico A perspectiva eacute afirmar que
os alunos da classe trabalhadora precisam ser educados para assushy
mirem as condiccedilotildees subjetivas necessaacuterias agrave direccedilatildeo do processo
histoacuterico tendo em vista a emancipaccedilatildeo humana 10
A perspectiva eacute que os alunos ( Io) compreendam criticamenshy
te a organizaccedilatildeo e dinacircmica das formas de produccedilatildeo da existecircncia
10 Eacute importante deixar claro que natildeo eacute a educaccedilatildeo escolar que realizaraacute a emancipaccedilatildeo humana
mas sim a mudanccedila na forma de produzir a existecircncia humana Contudo sem educaccedilatildeo
essa mudanccedila jamais ocorreraacute Por emancipaccedilatildeo humana entendemos a condiccedilatildeo social
poliacutetica e econocircmica que permitiraacute ao gecircnero humano superar efetivamente todas as formas
de dominaccedilatildeo exploraccedilatildeo e opressatildeo Tratar da emancipaccedilatildeo humana significa projetar a
necessidade da realizaccedilatildeo plena do ser social em comunhatildeo com o meio ambiente e com os
demais seres humanos significa projetar a sociabilidade autocircnoma e verdadeiramente livre
An
humana especialmente a forma capitalista (2o) dominem os coshy
nhecimentos sistematizados e as formas culturais existentes comshy
preendendo-os como produto e instrumento necessaacuterio agrave produccedilatildeo
da existecircncia (3o) desenvolvam a loacutegica dialeacutetica de organizaccedilatildeo do
pensamento para superar a loacutegica formal e a passividade intelectual
em busca da autonomia do pensar (SAVIANI 1987 2003)
Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamental que os alushy
nos natildeo soacute assimilem conhecimentos mas que construam sentishy
dos e significados sobre a relaccedilatildeo entre conhecimento-trabalho-
-vida no mundo real complexo e contraditoacuterio Os conteuacutedos
das disciplinas que compotildeem o curriacuteculo escolar ao inveacutes de
orientar para a abstraccedilatildeo do pensamento ou ordenar a racionalishy
dade teacutecnica para o simples fazer podem estabelecer mediaccedilotildees
importantes para ampliar a compreensatildeo sobre as dimensotildees da
produccedilatildeo da existecircncia humana Trata-se de reestabelecer o nexo
orgacircnico entre vidatrabalho e educaccedilatildeo
Nessa linha o ensino e aprendizagem do conhecimento sistematizashy
do envolveraacute a compreensatildeo da realidade vivida a partir do diaacutelogo com
os conhecimentos espontacircneos e aqueles advindos da experiecircncia Natildeo se
trata de negar o conhecimento espontacircneo e o conhecimento gerado pela
experiecircncia Ao contraacuterio para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamenshy
tal oferecer novas possibilidades de interpretaccedilatildeo desses conhecimentos e
seus significados para a vida humana O que se busca entatildeo eacute ultrapassar o
senso comum a superficialidade e a abstraccedilatildeo para assegurar que a aproshy
priaccedilatildeo do conhecimento sistematizado permita compreender e atuar nos
processos de produccedilatildeo da existecircncia humana e das relaccedilotildees de poder neshy
les envolvidas Nesta concepccedilatildeo os conteuacutedos escolares ao inveacutes de frios
e vazios como eacute tiacutepico da pedagogia tradicional e pedagogia tecnicista
produzem sentidos e significados para o professor e o aluno porque se
vinculam de forma mais ou menos indireta aos processos reais de produshy
ccedilatildeo material e simboacutelica dos meios necessaacuterios agrave vida e agrave interpretaccedilatildeo das
relaccedilotildees de poder envolvidas nestes processos
Enquanto sujeitos do processo educativo professores e alunos
partem juntos da praacutetica social isto eacute da realidade vivida pela hu-
manidade para compreender o mundo real interpretar as formas
de produccedilatildeo deste mundo e estabelecer possibilidades de agir nele
E claro que enquanto espaccedilo social a escola se materializa enquanto
instacircncia de sociabilidade onde haacute encontros humanos ricos e profundos
para a experiecircncia de crianccedilas e adolescentes Entretanto o que justifica a
especificidade da instituiccedilatildeo escolar natildeo eacute o simples conviacutevio ainda que
ele seja importante mas sim a necessidade de apropriaccedilatildeo coletiva do
conhecimento sistematizado tendo em vista a compreensatildeo da condiccedilatildeo
humana e as possibilidades de intervenccedilatildeo no mundo
Reconhecer a especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute importante
para que as praacuteticas pedagoacutegicas natildeo sejam orientadas para rebaixar
a escolarizaccedilatildeo destinada aos filhos da classe trabalhadora Enquanto
espaccedilo de vivecircncia coletiva a instituiccedilatildeo escolar deve ter claro que
funccedilatildeo deve cumprir na sociedade Esvaziar o curriacuteculo escolar de coshy
nhecimento sistematizado e valorizar os saberes advindos da experiecircnshy
cia imediata como centro do processo educativo eacute um meio que vem
sendo usado para comprometer a formaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes
da classe trabalhadora mantendo-os na condiccedilatildeo de subalternidade
O desafio proposto pela Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute tornar a
instituiccedilatildeo escolar numa instacircncia que socializa os conhecimentos sisshy
tematizados para permitir o domiacutenio dos meios necessaacuterios agrave insershy
ccedilatildeo ativa na vida social com o horizonte da emancipaccedilatildeo humana E
possibilitar que os processos pedagoacutegicos escolares assegurem a todos
indistintamente aquilo que se tornou indispensaacutevel para compreenshy
deragir ono mundo o conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico
Consideraccedilotildees finais
Vivemos numa sociedade de classes Sob esta condiccedilatildeo penshy
sar a funccedilatildeo e especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute tratar dos
projetos formativos que disputam a formaccedilatildeo humana nesta soshy
ciedade E tambeacutem considerar a posiccedilatildeo das perspectivas pedashy
goacutegicas em relaccedilatildeo ao tratamento dispensado ao conhecimento
sistematizado E compreender que as definiccedilotildees pedagoacutegicas natildeo
satildeo simples escolhas teacutecnicas ou arbitraacuterias
42
Isso revela que o trabalho educativo na sociedade de classes
eacute algo muito complexo que exige do professor rigor na tomada
de posiccedilotildees compromisso poliacutetico com um projeto de sociedade
que assume o domiacutenio dos instrumentos pedagoacutegicos para transshy
formar a intenccedilatildeo educativa em algo real na formaccedilatildeo humana
As possibilidades teoacutericas existem e elas se vinculam aos inshy
teresses de classe Haacute quem defenda que basta preparar a forccedila
de trabalho para o desenvolvimento capitalista Haacute quem acredite
que educar para a cidadania eacute suficiente para assegurar direitos Jaacute
existem intelectuais orgacircnicos da classe burguesa que reconhecem
que eacute preciso que a escola eduque o ldquocidadatildeo trabalhador produtishy
vordquo uma siacutentese das correntes acima indicadas
Entretanto as possibilidades acima apresentadas satildeo insuficienshy
tes para a classe trabalhadora pois o economicismo e politicismo peshy
dagoacutegicos - e as possiacuteveis siacutenteses geradas entre eles - se vinculam
ainda ao plano da conservaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais
Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute preciso educar para contrishy
buir com o desafiador e difiacutecil processo de valorizaccedilatildeo da vida humashy
na e natildeo das coisas e construccedilatildeo da emancipaccedilatildeo Sua perspectiva
eacute oferecer aos educadores do campo criacutetico uma alternativa teoacuterica e
metodoloacutegica para a construccedilatildeo da mudanccedila valorizando a instituishy
ccedilatildeo escolar em um espaccedilo rico e dinacircmico de ensino-aprendizagem
repleto de sentidos e significados para os que precisam romper com
a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo de classes
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CAPIacuteTULO II
0 ENSINO DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA E A FORMACcedilAtildeO DE SUJEITOS HISTOacuteRICOS EM BUSCA DOS FUNDAMENTOS TEOacuteRICOS E METODOLOacuteGICOS
Adriano de Paiva Reis
Alvaro de Azeredo Quelhas
Carla Cristina Carvalho Pereira
Leonardo Docena Pina
Renata Aparecida Alves Landim
Neste texto apresentamos os fundashy
mentos teoacutericos e metodoloacutegicos da persshy
pectiva de Educaccedilatildeo Fiacutesica que busca proshy
mover uma reflexatildeo criacutetica sobre a cultura
corporal Partimos da discussatildeo sobre a exisshy
tecircncia de dois distintos e contraditoacuterios proshy
jetos de formaccedilatildeo humana um que busca
assegurar a adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves atushy
ais relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e outro que tem
como horizonte a formaccedilatildeo de sujeitos criacuteshy
ticos e transformadores da sua proacutepria hisshy
toacuteria Com base no materialismo histoacuterico-
-dialeacutetico na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e
na abordagem Criacutetico-superadora apresenshy
tamos uma possibilidade didaacutetica que busca
abordar os conteuacutedos da cultura corporal de
modo ativo e dinacircmico tendo como ponto
de partida e de chegada a praacutetica social de
modo a permitir a ampliaccedilatildeo da compreenshy
satildeoaccedilatildeo dos alunos sobre a realidade
A relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo e a perspectiva dominante de formaccedilatildeo humana
O trabalho e a educaccedilatildeo satildeo atividades especificamente humanas e
estatildeo relacionadas ao processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura pelo
conjunto dos homens Por meio do trabalho o homem transforma intenshy
cionalmente a natureza para satisfazer suas necessidades criando uma reshy
alidade sociocultural um mundo especificamente humano portador de
produccedilotildees culturais (materiais e natildeo materiais) cada vez mais desenvolvidas
Para relacionar-se com os outros seres humanos inserindo-se em
determinada fase do desenvolvimento histoacuterico da humanidade cada
indiviacuteduo singular precisa apropriar-se da riqueza da experiecircncia humashy
na acumulada na cultura pois as aptidotildees e funccedilotildees humanas historicashy
mente formadas natildeo se reproduzem pela hereditariedade mas precisam
ser formadas isto eacute transmitidas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo A esse processhy
so de transmissatildeo da cultura produzida histoacuterica e coletivamente pelo
conjunto dos homens mdash que permite a formaccedilatildeo da humanidade em
cada indiviacuteduo singular - denomina-se educaccedilatildeo (SAVIANI 2005)
Entretanto como as formas assumidas pelo trabalho nos dishy
versos modos de produccedilatildeo da existecircncia humana satildeo fenocircmenos
construiacutedos concretamente nas relaccedilotildees sociais a formaccedilatildeo humana
tende a ser determinada pelos processos histoacutericos De acordo com
Marx (2005) no modo de produccedilatildeo capitalista - aquele que estaacute
fundado na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo e na aproshy
priaccedilatildeo privada dos produtos do trabalho - a relaccedilatildeo do homem
com o mundo aparece invertida de tal forma que o trabalho assashy
lariado caracteriacutestico da moderna sociedade burguesa resulta num
estranhamento do homem com o seu trabalho o trabalho de ativishy
dade de realizaccedilatildeo do homem eacute transformado em ldquo[] desrealizaccedilatildeo
do trabalhador a objetivaccedilatildeo como perda e servidatildeo do objeto a
apropriaccedilatildeo com alienaccedilatildeo1rdquo (MARX 2005 p 1 12)
i Em Marx (2005) a alienaccedilatildeo corresponde ao estranhamento total do homem com a natureza
com a humanidade e com ele proacuteprio sendo que a base de todas essas relaccedilotildees sociais estranhas
c a alienaccedilatildeo do proacuteprio trabalho O u seja a partir da expropriaccedilatildeo do produto e do processo
de seu trabalho o homem passa a alienar-se de sua vida como um todo
Tendo em vista que o trabalho na sociedade capitalista eacute contrashy
ditoriamente fundamento da existecircncia humana e meio de alienaccedilatildeo
pensar o trabalho como princiacutepio educativo implica em visualizar
dois projetos distintos de educaccedilatildeo escolar um que busca adaptar os
indiviacuteduos agraves atuais relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo e outro que visa
alcanccedilar o pleno desenvolvimento da iiiacutedividualidade livre e universal (DUARTE 2006) algo atrelado agrave construccedilatildeo de uma nova sociedashy
de na qual estejam superadas as relaccedilotildees sociais alienadas
Na perspectiva voltada agrave reproduccedilatildeo do capital a educaccedilatildeo
tem servido como meio de adaptar o indiviacuteduo agraves condiccedilotildees hisshy
toacutericas da produccedilatildeo negando o potencial criativo e transformador
da realidade que o homem possui impedindo-o de reconhecer-se
como sujeito da histoacuteria Como analisam criticamente Frigotto
Ciavatta e Ramos (2005) o sentido economicista atribuiacutedo agrave edushy
caccedilatildeo a tem proclamado como instrumento de formaccedilatildeo para o
trabalho no seu sentido historicamente alienado dando origem
agrave noccedilatildeo ideoloacutegica da escola como promotora da ascensatildeo social
Este fato pode ser observado em mitos como o da empregabilidade
e do empreendedorismo que vigoram hoje em dia
Diversas anaacutelises realizadas sobre a relaccedilatildeo entre trabalho e
educaccedilatildeo como as realizadas por Ramos (2006) e Kuenzer (2007)
por exemplo evidenciam que no contexto de transiccedilatildeo do modo
laquoIr produccedilatildeo capitalista para o regime de acumulaccedilatildeo flexiacutevel2
1 implantaccedilatildeo de um novo paradigma produtivo e a emergecircncia
Jr novas demandas de ajustamento social provocaram uma nova
loi nia de ser do trabalhador que estabeleceu exigecircncias significa-
iivimente diferentes daquelas em curso ateacute entatildeo O u seja uma
nov a dinacircmica de produccedilatildeo e novos meacutetodos de trabalho passaram
I gtc acordo com as anaacutelises dc Harvey (2006) a partir da deacutecada dc 1970 com a explosatildeo
laquoli nova crise de superacumulaccedilatildeo capitalista inicia-se um periacuteodo de reestruturaccedilatildeo
lt miocircmica e de reajustamento social e poliacutetico marcando a passagem para um novo
irgime de acumulaccedilatildeo ldquoA acumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo surge em contraposiccedilatildeo agrave rigidez do
Inulismo ldquoEla se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho dos mercados de
uibalho dos produtos e padrotildees de consumordquo (1IARVKY 2006 p 140)
a exigir um tipo novo de trabalhador e de homem3 Assim para
atender aos interesses de valorizaccedilatildeo do capital vecircm ocorrendo
diversas alteraccedilotildees nos projetos e processos de formaccedilatildeo humana
a fim de ajustaacute-los agraves novas formas de organizaccedilatildeo do trabalho e
aos novos padrotildees de sociabilidade capitalista
Com base na argumentaccedilatildeo de que ingressamos na chamada ldquosocieshy
dade do conhecimentordquo a educaccedilatildeo passa a ser proclamada como uma
tarefa para toda a vida e a noccedilatildeo de competecircncia assume centralidade na
educaccedilatildeo escolar Para se consolidar como categoria ordenadora da relaccedilatildeo
trabalho-educaccedilatildeo a noccedilatildeo de competecircncia se inscreve num movimento
de afirmaccedilatildeo e negaccedilatildeo do conceito de qualificaccedilatildeo promovendo a valoshy
rizaccedilatildeo da sua dimensatildeo experimental agrave custa do enfraquecimento da sua
dimensatildeo conceituai e social (RAMOS 2006)
O enfraquecimento da dimensatildeo social da qualificaccedilatildeo pode ser
constatado nos discursos que proclamam um novo papel para a educashy
ccedilatildeo escolar natildeo mais formar para um determinado posto ou emprego
mas sim gerar potencial de empregabilidade De acordo com Gentili
(2005) a empregabilidade eacute o eufemismo da desigualdade estrutural
que caracteriza o mercado de trabalho e sintetiza a incapacidade mdash tamshy
beacutem estrutural mdash da educaccedilatildeo em cumprir sua promessa integradora
Conforme explica o autor esse conceito ganhou espaccedilo e centralidade
a partir da deacutecada de 1990 sendo definido como eixo fundamental de
um conjunto de poliacuteticas supostamente destinadas agrave diminuiccedilatildeo de risshy
cos sociais gerados pelo desemprego Para o discurso dominante o conshy
ceito de empregabilidade natildeo significa garantia de integraccedilatildeo mas apeshy
nas melhores condiccedilotildees para competir na luta pelos poucos empregos
disponiacuteveis no mercado de trabalho Esse conceito segundo o autor
acaba com a concepccedilatildeo do emprego e da renda como esferas de direito
3 Tomamos essa expressatildeo emprestada de Gramsci (1976) que foi originalmente utilizada
em Americanismo e Fordismo e sugere que um novo tipo de trabalho e de produccedilatildeo traz a
necessidade de formar um novo tipo de homem pois ldquo[] novos meacutetodos de trabalho estatildeo
indissoluvelmente ligados a um determinado modo de viver de pensar e de sentir a vida
natildeo eacute possiacutevel obter ecircxito num campo sem obter resultados tangiacuteveis no outrordquo (p 396)
4 De acordo com Frigotto (1998) o termo ldquosociedade do conhecimentordquo diz respeito a um
deslocamento conceituai da teoria do capital humano buscando alinhar ideologicamente
a educaccedilatildeo agrave nova materialidade e mascarar a realidade do desemprego estrutural
pois parte do entendimento de que a posse de determinadas condiccedilotildees
de empregabilidade natildeo garante a inserccedilatildeo no mercado de trabalho
No que se refere agrave concepccedilatildeo de conhecimento subjacente agrave noccedilatildeo de
competecircncia Ramos (2006) conclui que por estar pautada numa ldquoconcepshy
ccedilatildeo natural-funcionalista de homemrdquo esta noccedilatildeo abriga uma ldquoconcepccedilatildeo
subjetivo-relativista de conhecimentordquo que reforccedila o irracionalismo poacutes-
-moderno5 configurando-se como uma noccedilatildeo adaptadora do comportashy
mento humano agrave instabilidade da vida no capitalismo tardio
A perspectiva educacional ancorada na noccedilatildeo de competecircncia busshy
ca alterar a maneira de ser da classe trabalhadora adequando-a aos novos
valores necessaacuterios agrave manutenccedilatildeo das relaccedilotildees capitalistas No que tange
ao curriacuteculo essa noccedilatildeo privilegia os objetivos atitudinais comportamen-
tais e procedimentais ligados ao saber agir e saber fazer secundarizando e
subordinando os conhecimentos agraves situaccedilotildees praacuteticas uma vez que soacute satildeo
considerados vaacutelidos os conhecimentos que apresentam aplicabilidade no
desempenho das atividades de produccedilatildeo6
A pedagogia das competecircncias aleacutem de ser uma importanshy
te referecircncia pedagoacutegica defendida pelos intelectuais da classe
dominante natildeo estaacute soacute na defesa dos interesses capitalistas no
campo da educaccedilatildeo escolar pelo contraacuterio ganha forccedila na meshy
dida em que se alinha a outras concepccedilotildees que negam a escola
tomo instituiccedilatildeo responsaacutevel pela transmissatildeo do conhecimento
sistematizado como eacute o caso do construtivismo
Para desenvolver competecircncias eacute preciso antes de
tudo trabalhar por problemas e projetos propor
tarefas complexas e desafios que incitem os alunos
a mobilizar seus conhecimentos e cm certa medida
completaacute-los Isso pressupotildee uma pedagogia ativa
Com relaccedilaacuteo ao relativisino poacutes-moderno as anaacutelises de Harvey (2006) permitem
compreender que a necessidade capitalista de acelerar o tempo de giro do capital atraveacutes
ltli aceleraccedilatildeo da produccedilatildeo da troca e do consumo de mercadorias tem promovido
iima intensificaccedilatildeo da compressatildeo do tempo-espaccedilo influenciado as formas poacutes-
modernas de pensar sentir e agir acentuando a volatilidade e efemeridade valorizando
bull i instantacircneo e o descartaacutevel o que tem implicado na consideraccedilatildeo de que qualquer
perspectiva totalizante de conhecimento eacute inatingiacutevel
Ni realidade esta secundarizaccedilatildeo do conhecimento em favor de comportamentos
bull 1 iM-rvaacuteveis natildeo eacute novidade e em certa medida reedita os princiacutepios da Escola Nova (cf
I l AUTH 2001) e da Pedagogia do Domiacutenio (cf RAMOS 2006)
cooperativa aberta para a cidade ou para o bairro
seja na zona urbana ou rural Os professores devem
parar de pensar que dar aulas eacute o cerne da profissatildeo
Ensinar hoje deveria consistir cm conceber encaishy
xar e regular situaccedilotildees de aprendizagem seguindo os
princiacutepios pedagoacutegicos ativos e construtivistas Para
os professores adeptos de uma visatildeo construtivista
e interacionista de aprendizagem trabalhar no deshy
senvolvimento de competecircncias natildeo eacute uma ruptura
(PERRENOUD 2000 apud DUARTE 2003 p 6)
O trecho do trabalho de Perrenoud citado por Duarte (2003)
permite segundo este incluir a Pedagogia das Competecircncias - junshy
tamente com o Construtivismo a Escola Nova os estudos na linha
do ldquoProfessor Reflexivordquo dentre outros mdash no grupo das chamadas ldquoPe-
dagogias do Aprender a Aprenderrdquo que visam produzir uma maior
adaptabilidade dos indiviacuteduos agraves alteraccedilotildees do capitalismo7
As reflexotildees apresentadas ateacute aqui nos colocam diante do desafio
de construir as possibilidades de desenvolvimento dc uma perspectiva de
educaccedilatildeo que supere a loacutegica adaptadora da formaccedilatildeo mediada pelo lema
ldquoaprender a aprenderrdquo ou mais especificamente pela noccedilatildeo de aquisiccedilatildeo
de competecircncias para empregabilidade Por outro lado isso nos remete
ao resgate do significado de escola unitaacuteria de uma educaccedilatildeo politeacutecnica
e de uma formaccedilatildeo omnilateral na qual a formaccedilatildeo humana volta-se para
a apreensatildeo do conhecimento sistematizado em todas as suas dimensotildees
premissa fundamental para a formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos e criacuteticos
A perspectiva marxista de formaccedilatildeo humana como possibilidade de oposiccedilatildeo agrave perspectiva dominante de educaccedilatildeo escolar
Tendo como horizonte um projeto educativo voltado agrave superaccedilatildeo
do capitalismo Frigotto (1985) aponta a politecnia como concepccedilatildeo de
educaccedilatildeo que interessa agrave classe trabalhadora por estar fundamentada
na superaccedilatildeo da divisatildeo entre teoria e praacutetica em direccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do
homem em todas as suas dimensotildees - formaccedilatildeo omnilateral
Uma anaacutelise dai Pedagogias do Aprender a Aprender eacute apresentada em Duarte (2006)
A concepccedilatildeo de uma educaccedilatildeo politeacutecnica tem origem na
compreensatildeo do homem como um ser de muacuteltiplas atividades
Marx e Engels (1989) indicam que o homem natildeo deve limitar
seu desenvolvimento a uma das partes do seu corpo da sua inshy
teligecircncia ou de sua sensibilidade o homem todo e todo hoshy
mem deve constantemente humanizar-se pelo trabalho Desse
modo a educaccedilatildeo deveria ter como objeto de sua preocupaccedilatildeo o
desenvolvimento do homem nas suas maacuteximas potencialidades
partindo do pressuposto de que ele eacute capaz de captar a realidade
e dela se apropriar com todos os seus sentidos de maneira comshy
preensiva e como ser total (MARX 2005)
A concepccedilatildeo de formaccedilatildeo politeacutecnica fundamenta-se no mashy
terialismo histoacuterico dialeacutetico englobando de modo indissociaacuteshy
vel uma concepccedilatildeo pedagoacutegica uma perspectiva de trabalho e
um projeto de sociedade que garante agrave politecnia uma coerecircncia
entre meacutetodo concepccedilatildeo de mundo e praacutexis Ou seja a politecnia
apoia-se na anaacutelise das transformaccedilotildees dos processos de trabalho
que estatildeo na base das relaccedilotildees de produccedilatildeo capitalista (dimensatildeo
infraestrutural) Essa anaacutelise eacute realizada sob a perspectiva de um
projeto utoacutepico-revolucionaacuterio de construccedilatildeo de uma sociedade
sem classes (dimensatildeo utoacutepica) Essas duas dimensotildees acabam
por desembocar em propostas de accedilatildeo educativa (dimensatildeo peshy
dagoacutegica) que tecircm como finalidade contribuir para a formaccedilatildeo
do homem em todas as suas dimensotildees (RODRIGU ES 1998)
No que tange agrave concepccedilatildeo de escola pensada como um espaccedilo
de luta pela hegemonia8 da classe trabalhadora a defesa se faz no
sentido de uma escola que possibilite ao homem desenvolver suas
capacidades produtivas e intelectuais de forma unificada Nesta
perspectiva Gramsci (2004) defende um tipo de escola unitaacuteria que
ao mesmo passo encaminhe o jovem para a escolha profissional e
lorme sujeitos capazes de dirigir e controlar os rumos da vida em soshy
Adotamos o conceito de hegemonia conforme define Gramsci (2000) uma relaccedilatildeo de
poder presente nas sociedades capitalistas que expressa a dominaccedilatildeo de uma ou mais
fraccedilotildees dcclasse sobre o conjunto de sua proacutepria classe e das classes antagocircnicas em que
o econocircmico e o poliacutetico expressam a ldquodireccedilatildeo moral e intelectualrdquo a ser seguida pelo
conjunto da sociedade
ciedade Para tal esta escola deve promover a elevaccedilatildeo cultural9 dos
jovens preparando-os para a atividade social autocircnoma e criativa
A escola uacutenica do trabalho como estrutura busca a superaccedilatildeo das
trajetoacuterias de distribuiccedilatildeo desigual do saber a politecnia como conteshy
uacutedo visa construir uma organizaccedilatildeo curricular que resgate a totalidade
dos conhecimentos cientiacuteficos artiacutesticos filosoacuteficos e instrumentais
que regem os processos produtivos a dialeacutetica como meacutetodo caminha
no sentido da reunificaccedilatildeo entre ciecircncia e teacutecnica entre formaccedilatildeo geshy
ral e profissional entre teoria e praacutetica permitindo aos alunos comshy
preenderem o processo de construccedilatildeo do conhecimento
No entanto eacute importante salientar que a concepccedilatildeo de escola
unitaacuteria e de formaccedilatildeo politeacutecnica deve ser tomada como referecircncia
num processo mais amplo qual seja o de luta pela transformaccedilatildeo
da sociedade pois como elaborou Marx (1984) um modelo de
educaccedilatildeo que busque a unidade entre teoria e praacutetica entra em conshy
tradiccedilatildeo com a forma capitalista de produzir e dividir o trabalho
sendo que o uacutenico caminho para subverter essa ordem seria o desenshy
volvimento dessas contradiccedilotildees
Nesse sentido considerando a dinacircmica do processo de proshy
duccedilatildeoreproduccedilatildeo da cultura a defesa da escola como instituiccedilatildeo
responsaacutevel pela transmissatildeo-assimilaccedilatildeo do conhecimento sistemashy
tizado torna-se indispensaacutevel para que cada indiviacuteduo da espeacutecie
humana possa se inserir na histoacuteria social desenvolvendo-se em suas
maacuteximas potencialidades E exatamente nessa linha que se configura
a definiccedilatildeo de Saviani (2006) sobre o papel da escola na perspectiva
da Pedagogia histoacuterico-criacutetica
O movimento pedagoacutegico que deu origem agrave Pedagogia hisshy
toacuterico-criacutetica surge no final da deacutecada de 1970 como resposta
9 No atual ambiente ideoloacutegico no qual predomina a ideologia neoliberal e poacutes-
moderna falar em elevaccedilatildeo cultural pode se constituir como algo um tanto quanto
polecircmico Contudo fazemos questatildeo de destacar que na perspectiva marxista
com a qual trabalhamos ldquo[] natildeo haacute margem nem para o evolucionismo ingecircnuo
(seja no plano da histoacuteria da organizaccedilatildeo social humana seja no plano da histoacuteria
do conhecimento) nem para o relativismo que nega a existecircncia de formas mais
desenvolvidas de vida social e de conhecimento nem finalmente para o subjeti-
vismo que nega o conhecimento como apropriaccedilatildeo da realidade objetiva pelo
pensamentordquo (DU A RT E 2003 p 77)
agrave necessidade de encontrar alternativa agrave pedagogia dominante
Saviani (2005) explica que naquele contexto imperava a necesshy
sidade histoacuterica especialmente no caso brasileiro de criticar a
pedagogia oficial sobretudo para evidenciar seu caraacuteter reproshy
dutor De acordo com os autores da eacutepoca cada setor da cultushy
ra como o sistema de ensino por exemplo desempenharia seu
papel na reproduccedilatildeo da sociedade A medida que essas ideias
se difundiam as chamadas teorias criacutetico-reprodutivistas0 ganhashy
vam forccedila para consolidar o entendimento de que a educaccedilatildeo
escolar sempre desempenharia o papel de reproduccedilatildeo Essas teoshy
rias foram se formulando e se difundindo ao mesmo tempo em
que eram assimiladas no Brasil como instrumento utilizado para
fustigar a poliacutetica educacional do Regime Militar (SAVIANI
2005) Se por um lado as teorias criacutetico-reprodutivistas foram
importantes para evidenciar o papel desempenhado pela pedagoshy
gia oficial no contexto do Regime Militar no Brasil por outro
lado natildeo forneceram alternativas para se contrapor agrave pedagogia
dominante Neste sentido Saviani (2005 p 135) afirma que
a luta contra a ditadura tambeacutem implicava a forshy
mulaccedilatildeo dc alternativas No campo educacional
o problema colocava-se nos seguintes termos se a
pedagogia oficial era inaceitaacutevel qual seria entatildeo
a orientaccedilatildeo alternativa aceitaacutevel A visatildeo criacutetico-
reprodutivista natildeo dava resposta para essa pergunshy
ta Natildeo tinha uma proposta de orientaccedilatildeo Fazia a
criacutetica do existente mostrando que este desempeshy
nhava a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo
Portanto era necessaacuterio formular uma proposta pedagoacutegica
que estivesse atenta aos determinantes sociais da educaccedilatildeo e que
permitisse articular de forma dialeacutetica o trabalho pedagoacutegico
com as relaccedilotildees sociais deveria levar em conta a accedilatildeo reciacuteproca
em que a educaccedilatildeo embora determinada em suas relaccedilotildees com
10 Saviani (2006) denomina de teorias criacutetico-reprodutivistas aquelas que por um lado
postulam a compreensatildeo da educaccedilatildeo a partir de seus condicionantes sociais mas por
outro lado chegam agrave conclusatildeo de que a funccedilatildeo da proacutepria educaccedilatildeo eacute reproduzir a
sociedade na qual ela se insere
a sociedade reage ativamente sobre o elemento determinante
(SAVIANI 2005) Assim como desdobramento desse processo
que buscou encontrar alternativa agrave pedagogia dominante a Peshy
dagogia histoacuterico-criacutetica surgiu como uma proposta pedagoacutegica
fundamentada no materialismo histoacuterico cuja tarefa em relaccedilatildeo
agrave educaccedilatildeo escolar implica a) identificar as formas mais desenshy
volvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicashy
mente reconhecendo as condiccedilotildees de sua produccedilatildeo e compreenshy
dendo as suas principais manifestaccedilotildees bem como as tendecircncias
atuais de transformaccedilatildeo b) converter o saber objetivo em saber
escolar de modo que se torne assimilaacutevel pelos alunos no espaccedilo
e tempo escolares c) prover os meios necessaacuterios para que os
alunos natildeo apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultashy
do mas apreendam o processo de sua produccedilatildeo bem como as
tendecircncias de sua transformaccedilatildeo (SAVIANI 2005)
Segundo o autor a escola eacute uma instituiccedilatildeo cujo papel conshy
siste na socializaccedilatildeo do saber sistematizado Natildeo se trata portanshy
to de qualquer tipo de saber ldquoa escola diz respeito ao conhecishy
mento elaborado e natildeo ao conhecimento espontacircneo ao saber
sistematizado e natildeo ao saber fragmentado agrave cultura erudita e
natildeo agrave cultura popularrdquo (SAVIANI 2006 p 14) Destacar esse
posicionamento eacute importante sobretudo porque tambeacutem eacute posshy
siacutevel encontrar na Educaccedilatildeo Fiacutesica tendecircncias que negam a aproshy
priaccedilatildeo do saber sistematizado por parte das fraccedilotildees menos prishy
vilegiadas da classe trabalhadora ao proclamar como seu papel
central o desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica ou a ldquovalorizaccedilatildeo
da cultura popularrdquo em detrimento da cultura erudita
Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica a defesa da escola como espashy
ccedilo de socializaccedilatildeo do saber sistematizado eacute essencial para assegurar o
caraacuteter contraditoacuterio da educaccedilatildeo e afirmar os interesses dos trabalhashy
dores uma vez que dominar os conhecimentos mais desenvolvidos
produzidos pela humanidade no campo das ciecircncias das artes e da fishy
losofia eacute condiccedilatildeo para o processo de emancipaccedilatildeo (SAVIANI 2006)
11 Uma criacutetica ao paradigma da aptidatildeo fiacutesica foi desenvolvida pelo Coletivo de Autores (1992)
cr
A perspectiva histoacuterico-criacutetica na Educaccedilatildeo Fiacutesica direcionando o olhar para a metodologia Criacutetico- superadora
A busca de alternativas agrave pedagogia dominante atingiu tambeacutem a
Educaccedilatildeo Fiacutesica possibilitando articular a praacutetica pedagoacutegica na aacuterea
a um novo projeto de sociedade Desde o final da deacutecada de 1970
com o processo frequentemente denominado de ldquoredemocratizaccedilatildeo
da sociedade brasileirardquo inuacutemeros estudos passaram a questionar o
papel que vinha sendo assumido pela Educaccedilatildeo Fiacutesica em nosso paiacutes
qual seja o de educar os indiviacuteduos em conformidade com as necesshy
sidades do modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Os
crescentes questionamentos que ganharam forccedila na deacutecada de 1980
colocaram em xeque o quadro de referecircncias que havia direcionado a
Educaccedilatildeo Fiacutesica por mais de um seacuteculo A inflexatildeo na aacuterea configurashy
da como uma crise de legitimidade inaugurou um periacuteodo de buscas
para se construir a autonomia pedagoacutegica da aacuterea frente a um quadro
histoacuterico de viacutenculo ao projeto dominante
Nesse processo um importante marco para a educaccedilatildeo escolar foi
a publicaccedilatildeo na deacutecada de 1990 do livro Metodologia do Ensino de lducaccedilaacuteo Fiacutesica escrito por um grupo que se autodenominou de Coshy
letivo de Autores (1992) Nessa obra eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal mdash uma tendecircncia que pautada
na Pedagogia histoacuterico-criacutetica visa a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enquanto
sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em que vive
Para formar esse tipo de sujeito o paradigma da reflexatildeo criacuteti-
i i sobre a cultura corporal defende a tematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de
lorma criacutetico-superadora A tematizaccedilatildeo defendida por esta proposta
ibrange a compreensatildeo das relaccedilotildees de interdependecircncia que os dife-
H iiies conteuacutedos da cultura corporal tecircm com os grandes problemas
bull gtlt Hraquo-poliacuteticos atuais como ldquo[] ecologia papeacuteis sexuais sauacutede puacute-
I 1 u i relaccedilotildees de trabalho preconceitos sociais raciais da deficiecircncia
bull I i wlhice distribuiccedilatildeo do solo urbano distribuiccedilatildeo de renda diacutevida
i u i na e outrosrdquo (COLETIVO DE AUTORES 1992 p 62-63)
Assim busca-se desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as formas
de representaccedilatildeo do mundo exteriorizadas pela expressatildeo corporal
que o ser humano tem produzido no decorrer da histoacuteria dentre as
quais pode-se destacar jogos danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esshy
porte malabarismos contorcionismos miacutemica e outros que podem
ser identificados como formas de representaccedilatildeo simboacutelica de realishy
dades vividas pelo homem historicamente criadas e culturalmente
desenvolvidas (COLETIVO DE AUTORES 1992)
Portanto pode-se afirmar que a metodologia Criacutetico-superado-
ra ao alinhar-se agrave perspectiva pedagoacutegica defendida por Dermeval
Saviani busca propor novos caminhos para a apropriaccedilatildeo do conheshy
cimento na escola inclusive pela organizaccedilatildeo metodoloacutegica fundashy
mentada nos cinco passos do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do coshy
nhecimento a saber identificaccedilatildeo da praacutetica social problematizaccedilatildeo
instrumentalizaccedilatildeo catarse e retorno agrave praacutetica social
O ponto de partida para a apropriaccedilatildeo do conhecimento na escola
eacute a praacutetica social (SAVIANI 2006) Nesse passo conforme apresentado
por Gasparin (2005) realiza-se um primeiro contato com o tema a ser
estudado para evidenciar suas relaccedilotildees com a vida cotidiana visando
mobilizar os alunos para o processo pedagoacutegico Segundo este autor a
identificaccedilatildeo da praacutetica social pode ser dividida em duas partes a saber
anuacutencio e vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos No anuacutencio dos conteuacutedos aponta-se o que seraacute estudado e quais os objetivos a serem alcanccedilados
Na vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos identifica-se o que os alunos jaacute sashy
bem c o que eles gostariam de saber mais sobre o assunto em questatildeo
O segundo passo do meacutetodo dialeacutetico de construccedilatildeo do conhecishy
mento escolar eacute a problematizaccedilatildeo fase na qual se busca ldquo[] detectar
que questotildees precisam ser resolvidas no acircmbito da praacutetica social e em
consequecircncia que conhecimento eacute necessaacuterio dominarrdquo (SAVIANI
2006 p 71) A partir dessa afirmaccedilatildeo dois importantes aspectos foram
salientados por Gasparin (2005) que merecem um devido destaque
O primeiro deles diz respeito agraves questotildees da praacutetica social que deshy
vem ser detectadas O autor esclarece com base no proacuteprio Saviani
que o foco deve ser concentrado nas grandes questotildees que desafiam a
sociedade nos principais problemas que precisam ser resolvidos natildeo
soacute na escola ou pela escola mas no acircmbito da sociedade Para isso
afirma que deve ser feita uma seleccedilatildeo do que eacute fundamental visto que
os principais problemas postos pela praacutetica social nem sempre podem
ser tratados na sua totalidade em cada aacuterea do conhecimento O ldquofunshy
damentalrdquo vale dizer refere-se aos aspectos relacionados ao conteuacutedo
estabelecido pelo curriacuteculo escolar ou aos conhecimentos trabalhados
em uma determinada unidade do programa Com base nesse entendishy
mento pode-se dizer que a problematizaccedilatildeo deve selecionar e discutir
os problemas que tecircm origem na praacutetica social mas que ao mesmo
tempo se ligam ao conteuacutedo a ser trabalhado trata-se de uma seleccedilatildeo
e discussatildeo de grandes questotildees sociais poreacutem inseridas e especificadas
no conteuacutedo da unidade que estaacute sendo estudada (GASPARIN 2005)
O segundo aspecto a ser destacado refere-se a qual conhecimento
eacute necessaacuterio dominar para resolver os problemas da praacutetica social Gas-
parin (2005) explica que de maneira geral os conteuacutedos satildeo quase
sempre transmitidos aos educandos por uma uacutenica dimensatildeo a con-
eeitual-cientiacutefica Em virtude da ecircnfase geralmente atribuiacuteda a essa dishy
mensatildeo do conteuacutedo o autor alerta o seguinte eacute necessaacuterio lembrar
no processo de construccedilatildeo do conhecimento que a ciecircncia tambeacutem eacute
iiin produto social originada de necessidades histoacutericas econocircmicas
poliacuteiicas ideoloacutegicas filosoacuteficas religiosas teacutecnicas dentre outras Tenshy
do i in vista o fato de que existem muacuteltiplas dimensotildees que revestem
os dilerentes conteuacutedos faz-se necessaacuterio abordar na construccedilatildeo do
- ltgtii1k-ciacutemento natildeo soacute a dimensatildeo conceitual-cientiacutefica A necessidade
llt 1 1 mscender a abordagem centrada na dimensatildeo conceitual-cientiacutefica
jMivuacuten do entendimento de que a anaacutelise do real deve considerar suas
muacuteltiplas dimensotildees visto que a realidade social envolve sempre uma
tuii de perspectivas um conjunto de aspectos interdependentes que
u ui ser entendidos para a resoluccedilatildeo dos problemas postos pela praacute-
laquo iil Eacute importante destacar esse aspecto sobretudo porque na
u lo 1 iacutesica a ecircnfase do processo pedagoacutegico geralmente eacute concen-
raquo i iu is rlementos teacutecnicos e taacuteticos o que desconsidera as muacuteltiplas
bull t M ii raquors que revestem o conteuacutedo em questatildeo
Assim duas tarefas principais podem ser operacionalizadas na
problematizaccedilatildeo A primeira delas envolve o questionamento da praacuteshy
tica social e do conteuacutedo escolar Trata-se de um momento em que satildeo
apresentadas e discutidas as razotildees sociais pelas quais se deve aprender o
conteuacutedo proposto de modo que os alunos possam entender melhor o
que seraacute estudado identificar os principais problemas postos pela praacuteshy
tica social e pelos conteuacutedos e ainda entender a necessidade eou vashy
lidade do conteuacutedo curricular proposto para solucionar eou entender
melhor os problemas da praacutetica social (GASPARIN 2005) A segunda
tarefa que pode ser realizada na problematizaccedilatildeo refere-se agraves dimensotildees
do conteuacutedo a serem trabalhadas Em linhas gerais pode-se dizer que
essa tarefa consiste em definir as dimensotildees que se deseja estudar Para
tanto pode-se partir do conteuacutedo a ser trabalhado de modo a elaborar
questotildees desafiadoras que expressem dimensotildees especiacuteficas referentes agrave
natureza do conteuacutedo como por exemplo as dimensotildees cientiacutefico-
-conceituais sociais econocircmicas culturais histoacutericas filosoacuteficas moshy
rais eacuteticas esteacuteticas legais e doutrinaacuterias (GASPARIN 2005)
O passo seguinte a instrumentalizaccedilatildeo segundo Gasparin (2005) eacute o
caminho atraveacutes do qual o conteuacutedo sistematizado eacute posto agrave disposiccedilatildeo dos
alunos para que o assimilem o recriem e ao incorporaacute-lo transformem-no
em instrumento cultural para transformaccedilatildeo da realidade Esse terceiro passhy
so do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do conhecimento consiste no moshy
mento em que os alunos vatildeo se apropriar das ferramentas culturais necesshy
saacuterias agrave luta social que travam diariamente para se libertar das condiccedilotildees de
opressatildeo em que vivem ou seja trata-se da fase na qual ocorre a apropriaccedilatildeo
dos instrumentos teoacutericos e praacuteticos necessaacuterios ao equacionamento dos
problemas detectados na praacutetica social (SAVIANI 2006)
De acordo com Saviani (2006) o quarto passo do meacutetodo eacute a ldquocashy
tarserdquo momento de expressatildeo elaborada da nova forma de entendimenshy
to da praacutetica social a que se ascendeu ldquoTrata-se da efetiva incorporaccedilatildeo
dos instrumentos culturais transformados agora em elementos ativos
de transformaccedilatildeo socialrdquo (SAVIANI 2006 p 72) Pode-se dizer que a
catarse eacute a demonstraccedilatildeo teoacuterica do ponto de chegada do niacutevel superior
atingido pelos alunos (GASPARJN 2005)
Por fim no retorno agrave praacutetica social temos a nova maneira de comshy
preender a realidade e de posicionar-se diante dela eacute a manifestaccedilatildeo
da nova postura praacutetica da nova atitude da nova visatildeo do conteuacutedo
no cotidiano Trata-se de acordo com Gasparin (2005) do momento
de accedilatildeo consciente em prol da transformaccedilatildeo da realidade a partir do
retorno agrave praacutetica social agora entendida de forma mais elaborada
Levando em conta esses diferentes momentos do meacutetodo dialeacutetico
de construccedilatildeo do conhecimento o ensino dos diferentes conteuacutedos que
compotildeem a cultura corporal permite aos alunos se apropriarem dos coshy
nhecimentos acumulados historicamente pela humanidade Trata-se de
um importante passo no sentido de enriquecer a concepccedilatildeo de mundo
dos alunos uma vez que o acesso ao saber sistematizado sobre jogos
esporte luta danccedila ginaacutestica circo por exemplo se constitui como
elemento indispensaacutevel para leitura dessa dimensatildeo da realidade
Consideraccedilotildees finais
O artigo em tela apresentou a concepccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica de
Educaccedilatildeo Fiacutesica que embasa as praacuteticas pedagoacutegicas discutidas ao longo
deste livro destacando sua articulaccedilatildeo com um projeto de formaccedilatildeo hushy
mana criacutetico agraves relaccedilotildees sociais capitalistas visando superar a perspectiva
de adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves exigecircncias do mundo do trabalho
Com base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e na abordagem Criacutetico-
-superadora o objetivo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute promover uma
reflexatildeo criacutetica sobre diferentes conteuacutedostemas da cultura corporal
seguindo um caminho metodoloacutegico que busca ampliar a compreensatildeo
e accedilatildeo dos sujeitos sobre a realidade em que vivem
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CAPIacuteTULO III
A PRODUCcedilAtildeO DA CULTURA LUacuteDICA EM JOGOS ELETROcircNICOS
Priscila Rocha Rodrigues
Renata Aparecida Alves Landim
Tl)iago Barreto Maciel
Victoacuteria de Faacutetima de Mello
Abordar os jogos e as brincadeiras como
conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica pode parecer
um lugar comum pois existe um consenso
por parte dos educadores acerca da presenshy
ccedila dessas praacuteticas corporais nas aulas dessa
disciplina Entretanto muitas vezes o trashy
balho desenvolvido nas escolas opera uma
instrumentalizaccedilatildeo dos jogos utilizando os
mesmos como meios para a aprendizagem
dos esportes ou de outras mateacuterias de enshy
sino De acordo com Bracht et al (1995)
esse processo dilui os jogos de seu contexshy
to soacutecio-cultural passando a consideraacute-los
como um recurso metodoloacutegico e natildeo como
um conteuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Consideramos que para tratar os joshy
gos e as brincadeiras1 como conteuacutedo de
ensino eacute preciso superar a mera praacutetica e
I Em diversos idiomas os termos jogos brincadeiras e
brinquedo satildeo tratados como sinocircnimos e em outros uma
uacutenica palavra guarda os trcs significados Visando distinguir
os termos Kishimoto (2003) considera como brinquedo o
objetosuporte - concreto ou ideoloacutegico - da brincadeira
como brincadeira a conduta estruturada por regras e como
jogo a descficcedilaacuteo tanto do objeto como das regras durante um
determinado templaquo gt Neste texto adotaremos a conceituaccedilatildeo
de brinquedo como suporte da brincadeira mas naacuteo faremos
promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre os jogos como uma forma
proacutepria de expressatildeo da cultura corporal Os jogos satildeo resultados
do processo criativo cio homem para modificar imaginariamente
a realidade e o presente tendo em vista finalidades luacutedicas (C O shy
LETIVO DE AUTORES 1992) Eles tecircm significados dentro do
conjunto da produccedilatildeo humana por isso guardam em seu interior
as caracteriacutesticas do modo de organizaccedilatildeo social num dado moshy
mento histoacuterico sendo marcados por continuidades e rupturas em
relaccedilatildeo aos jogos e brincadeiras de outras eacutepocas
Na atualidade o modo de vida das pessoas sobretudo nos
grandes conglomerados urbanos tem favorecido a substituiccedilatildeo parshy
cial ou total dos jogos traciicionais provenientes da cultura popular
pelos videogames produtos da induacutestria cultural Nesse sentido
consideramos que promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as es-
pecificidades e os dilemas que envolvem os jogos eletrocircnicos como
uma manifestaccedilatildeo luacutedica tipicamente contemporacircnea pode ajudar a
compreender o proacuteprio tempo 1 1 0 qual vivemos
lendo em vista a realizaccedilatildeo de uma discussatildeo teoacuterico-metodo-
loacutegica sobre os jogos e a socializaccedilatildeo de uma experiecircncia concreta
organizamos este artigo em trecircs partes aleacutem dessa introduccedilatildeo e das
consideraccedilotildees finais Na primeira abordaremos os jogos como uma
manifestaccedilatildeo da cultura corporal e suas implicaccedilotildees para as aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesica Na segunda trataremos das formas de expressatildeo dos
jogos na sociedade contemporacircnea Na terceira parte apresentaremos
uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos para os alunos dos
anos finais cio ensino fundamental seguida do plano de unidade
Os jogos e as brincadeiras como conteuacutedos para as aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Em nosso tempo um dos grandes estudiosos sobre os jogos foi
Huizinga Em sua obra claacutessica ldquoHomo Ludens rdquo publicada origishy
nalmente em 1938 ele analisou a natureza e o significado do jogo
como fenocircmeno cultural De acordo com Huizinga (2000) o jogo eacute
uma das manifestaccedilotildees mais antigas da humanidade e sempre esteve
associado ao divertimento e ao prazer com a finalidade de dar um
sentido luacutedico para a existecircncia humana Nas palavras do autor
[] o jogo eacute uma atividade ou ocupaccedilatildeo volunshy
taacuteria exercida dentro de certos e determinados
limites de tempo e de espaccedilo segundo regras lishy
vremente consentidas mas absolutamente obrigashy
toacuterias dotado de um fim em si mesmo acompashy
nhado de um sentimento de tensatildeo e de alegria e
de uma consciecircncia de ser diferente da ldquovida quoshy
tidianardquo (H U IZ IN G A 2000 p 24)
Apesar de buscar se distanciar dos objetivos de satisfaccedilatildeo imeshy
diata da vida atraveacutes da criaccedilatildeo e praacutetica de diversos tipos de jogos
todo jogo desde as idades mais remotas ateacute os dias atuais eacute um
produto do ldquotrabalhordquo 2 e por isso estaacute subordinado agraves formas
histoacutericas assumidas pela atividade humana em diferentes modos de
produccedilatildeo social da existecircncia ldquoOs homens fazem sua histoacuteria mas
natildeo a fazem como querem natildeo a fazem sob circunstacircncias de sua
escolha e sim sob aquelas com que se defronta diretamente legadas
e transmitidas pelo passadordquo (MARX 1978 p 329)
Uma caracteriacutestica marcante em todos os jogos e brincashy
deiras eacute a existecircncia de uma situaccedilatildeo imaginaacuteria e de regras que
expliacutecita ou implicitamente ordenam e conduzem as accedilotildees dos
jogadores Como descreve Vygotsky (2007) no processo de deshy
senvolvimento das brincadeiras da crianccedila haacute um processo que
vai do jogo de papeacuteis com situaccedilotildees imaginaacuterias expliacutecitas e com
regras impliacutecitas aos jogos com regras expliacutecitas e situaccedilotildees imashy
ginaacuterias ocultas Para esse autor os jogos satildeo condutas que im ishy
tam as accedilotildees reais por isso sofrem influecircncia das relaccedilotildees sociais
num jogo de papeacuteis da crianccedila por exemplo a situaccedilatildeo imaginaacuteshy
ria incorpora elementos e regras de comportamento do contexto
cultural adquiridos por meio da interaccedilatildeo com os outros
2 O trabalho eacute para Marx e Engels (1989) a atividade vital e por excelecircncia humana a partir
dele o homem modifica intencionalmente a natureza para atender suas necessidades e cria
novas necessidades produzindo sua proacutepria vida Desse modo por meio do trabalho o
homem transforma ao mesmo tempo a si mesmo e as formas de se organizar socialmente
criando histoacuterica e coletivamente um mundo especificamente humano o mundo da cultura
Outro aspecto que merece ser destacado eacute que todo jogo tem sua
existecircncia em um tempo-espaccedilo relacionado agrave sua localizaccedilatildeo histoacuterishy
ca e geograacutefica De acordo com Kishimoto (2003) uma mesma conshy
duta pode ser jogo ou natildeo-jogo em diferentes culturas dependendo
do significado a ele atribuiacutedo Os brinquedos tambeacutem devem ser enshy
tendidos como objetos culturais pois natildeo podem ser compreendidos
fora do contexto histoacuterico e social em que foram criados Se para uma
crianccedila europeia a boneca significa um brinquedo para populaccedilotildees
indiacutegenas tem o sentido de siacutembolo religioso
Desse modo mesmo que o jogo seja compreendido como
uma accedilatildeo de livre expressatildeo da crianccedila a sua praacutetica cotidiana
revela formas diferenciadas de jogar de acordo com o modo de
organizaccedilatildeo do trabalho e da vida dos povos praticantes Orlick
(1978) destaca como os padrotildees de partilha das sociedades satildeo reshy
fletidos e reforccedilados nos jogos e brincadeiras infantis Atraveacutes deles
as crianccedilas aprendem os modelos de comportamento dos adultos e
vatildeo sendo preparadas para a vida em sociedade
Esse coletivo considera que para configurar o jogo como conshy
teuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ele deve ser tratado pedagogishy
camente tendo em vista uma aprendizagem que amplie o niacutevel de
compreensatildeo dos alunos sobre o mundo Para tal consideramos que
ter accsso ao conhecimento sistematizado sobre os jogos e brincashy
deiras eacute essencial para que as crianccedilas e jovens possam agir sobre a
realidade social de forma totalizante incluindo em suas possibilidashy
des de accedilatildeo a dimensatildeo luacutedica da produccedilatildeo cultural humana Nesse
sentido se apropriar da cultura jaacute produzida eacute fundamental para
explorar o jaacute existente e a partir daiacute criar o novo dando novos
sentidos e significados aos jogos e brincadeiras
Considerar os jogos como manifestaccedilotildees da cultura corporal signifishy
ca retraccedilaacute-Ios desde sua gecircnese desvendando como eles eram e como satildeo
hoje buscando uma intervenccedilatildeo consciente sobre a realidade
Sua importacircncia enquanto conteuacutedo da EF estaacute
na representaccedilatildeo das raiacutezes histoacutericas e culturais
de diversos povos bem como as transformaccedilotildees
ocorridas ao longo do tempo que possam ter cau-
sado modificaccedilotildees no modo como se joga detershy
minado jogo em vaacuterias partes do mundo Egrave imporshy
tante tambeacutem considerar o jogo em seu processo
de criaccedilatildeo recriaccedilatildeo e readaptaccedilatildeo levando-se em
conta as possiacuteveis influecircncias poliacuteticas econocircmishy
cas e sociais pelas quais tenha passado dando-lhe
uma nova configuraccedilatildeo e uma compreensatildeo criacutetishy
ca (BRITO 2006 p 61)
Desse modo deve-se privilegiar uma abordagem sobre os
jogos que possibilite o conhecimento de suas principais caracteshy
riacutesticas como forma de manifestaccedilatildeo especiacutefica da cultura corshy
poral e naacuteo de forma subordinada ao esporte A flexibilidade eacute a
palavra chave para entender o jogo quanto agraves regras organizaccedilatildeo
espaccedilo-tempo nuacutemero de jogadores nomeaccedilatildeo caraacuteter compeshy
titivo ou cooperativo (JU IZ DE FORA 2000)
O trabalho com os jogos e brincadeiras deve permitir a
compreensatildeo do processo de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo da culshy
tura bem como suas continuidades e modificaccedilotildees histoacutericas
De acordo com o Coletivo de Autores (1992) a elaboraccedilatildeo de
um programa desse conteuacutedo ao longo dos anos de escolarizaccedilatildeo
deve considerar a memoacuteria luacutedica da comunidade e oferecer o
conhecimento da diversidade de jogos e brincadeiras existentes
nas diferentes regiotildees do paiacutes e do mundo
A ideia motriz eacute entender que os jogos como criaccedilotildees humanas
que objetivam o prazer e o divertimento num dado contexto histoacuterico-
-social refletem mas tambeacutem podem forjar valores e comportamentos
Desse modo o trabalho com os jogos deve instrumentalizar os alunos
natildeo apenas para utilizar a cultura luacutedica mas tambeacutem compreendecirc-la
como produccedilatildeo humana passiacutevel de constante criaccedilatildeo e recriaccedilatildeo
Devido agrave necessidade de selecionar temas de relevacircncia social
que instrumentalizem os alunos para uma accedilatildeo criacutetica frente agrave realishy
dade nos debruccedilamos sobre uma forma especiacutefica de manifestaccedilatildeo
da praacutetica luacutedica dos indiviacuteduos na atualidade - os jogos eletrocircni-
cos- buscando tratar de sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na
sociedade capitalista e suas relaccedilotildees com os jogos tradicionais
Os games formas de manifestaccedilatildeo dos jogos na sociedade contemporacircnea
Em pleno seacuteculo XXI as crianccedilas ainda brincam de piques
jogos com bola jogos de tabuleiro dentre tantos outros de forshy
ma muito semelhante aos seus pais avoacutes e bisavoacutes A esses tipos
de jogos que foram capazes de atravessar o tempo chamamos
de jogos tradicionais Eles tecircm como caracteriacutesticas centrais o
fato de pertencerem ao domiacutenio puacuteblico e serem transmitidos de
geraccedilatildeo em geraccedilatildeo De acordo com Kishimoto (2003) os jogos
tradicionais satildeo considerados como parte da cultura popular e
expressam as formas de consciecircncia de um povo num dado moshy
mento histoacuterico Esses jogos satildeo transmitidos oralmente e por
incorporarem criaccedilotildees anocircnimas das geraccedilotildees que vatildeo se suceshy
dendo estatildeo sempre em transformaccedilatildeo
Com base nesta definiccedilatildeo podemos considerar que existe uma fashy
cilidade da apropriaccedilatildeo e vivecircncia dos jogos tradicionais que satildeo tiacutepicos
da regiatildeo de pertencimento do aluno mesmo que de forma fragmentashy
da e caoacutetica proveniente do senso comum Tal fato se daacute justamente por
entendermos que os jogos tradicionais antes de tudo satildeo populares a
cabo do termo ou seja tecircm uma ampla inserccedilatildeo na sociedade Outro
fator que garante essa popularidade eacute que eles satildeo transmitidos atraveacutes
das geraccedilotildees e para sua praacutetica natildeo eacute necessaacuterio nenhum material sofisshy
ticado Dessa forma o alijamento dos meios de produccedilatildeo e dos produshy
tos do trabalho da maior parte da populaccedilatildeo natildeo acaba por ser um fator
determinante apesar de central no acesso a esse patrimocircnio cultural da
humanidade que satildeo os jogos tradicionais ou populares3
Embora diversos jogos tradicionais possam ser aprendidos
praticados de forma gratuita e permaneccedilam muito presentes no
cotidiano das crianccedilas e adolescentes eles vecircm perdendo espaccedilo
3 Neste texto utilizaremos os termos jogos tradicionais e jogos populares como sinocircnimos devido
ao fato de ambos possuiacuterem a mesma dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo marcadas pela
produccedilatildeo coletiva e reproduccedilatildeo oral entre as geraccedilotildees o que nos permite consideraacute-los como
patrimocircnios da cultura popular De acordo com SANTOS (2009) os termos tradicional
popular e folclore representam o conhecimento sobre um jogo por parte majoritaacuteria da
populaccedilatildeo sendo esse conhecimento na maioria das vezes advindo do senso comum
)
sobretudo nas grandes cidades para os jogos eletrocircnicos formas
de expressatildeo dos jogos tipicamente contemporacircneas
Os jogos eletrocircnicos4 estatildeo presentes na praacutetica social cotidiashy
na das pessoas em escala mundial e fazem parte da vida de inuacutemeras
crianccedilas e adolescentes brasileiros mesmo daqueles para os quais
os jogos satildeo apenas desejos de consumo Os games estatildeo por toda
parte natildeo apenas nos aparelhos especiacuteficos para os jogos (consoles
e portaacuteteis) mas tambeacutem nos computadores ipads e telefones celushy
lares podendo ainda ser jogados pela internet em sites e nas redes
sociais Deve ser difiacutecil para as crianccedilas e jovens de hoje pensarem
que houve um tempo em que natildeo existiam jogos digitais
A histoacuteria dos jogos eletrocircnicos tem iniacutecio no final dos anos
de 1950 no contexto da guerra fria quando comeccedilam a ser criashy
dos protoacutetipos de videogames com a incorporaccedilatildeo da tecnoloshy
gia disponiacutevel na eacutepoca Um dos precursores do videogame foi
W illian Higinbotham um fiacutesico que atuava num laboratoacuterio nushy
clear e havia trabalhado no projeto da primeira bomba atocircmica
ele criou em 1958 um jogo eletrocircnico com linhas rudimentares
o tecircnis para dois Em 1966 eacute criado por Ralph Baer o primeiro
console caseiro o Magnavox Odissey (A ERA 2007)
Entretanto eacute a partir dos anos de 1970 acompanhando o desenvolvishy
mento dos computadores pessoais que os jogos eletrocircnicos se tornam mais
expressivos Em 1972 com a criaccedilatildeo do ldquoPongrdquo (fliperama que simula uma
partida de tecircnis de mesa) os games comeccedilam a ficar agrave disposiccedilatildeo do puacuteblishy
co em geral O seu desenvolvedor Nolan Bushenell percebeu o potencial
dos jogos eletrocircnicos como um negoacutecio e fundou a ATARI empresa que
marcou o surgimento da induacutestria do videogame (ALVES 2004)
Entre a deacutecada de 1970 e a deacutecada de 1980 devido agrave manifestashy
ccedilatildeo de uma crise ciacuteclica de superproduccedilatildeo do sistema capitalista tem
iniacutecio um processo que podemos chamar de mundializaccedilatildeo econocircmi-
4 Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais nos quais o jogador interage com imagens
enviadas a uma tela geralmente uma televisatildeo ou monitor Os games satildeo programas
(sofrwares) instalados ou acessados em um sistema eletrocircnicoaparelho preparado
para rodaacute-lo (Hardware) Existem vaacuterios gecircneros de jogos eletrocircnicos como jogos de
accedilatildeo (plataforma de corrida de tiro) de estrateacutegia de lutacombate de esporte de
simulaccedilatildeo Role Playing Games (RPG) e de tabuleiro
caJy em que o capital parte em busca de novas aacutereas visando explorar
condiccedilotildees mais rentaacuteveis de produccedilatildeo e expandir mercados consushy
midores E justamente nesse contexto que a induacutestria cultural ganha
impulso e os jogos eletrocircnicos satildeo disseminados pelos quatro cantos
do mundo com grande potencial de escoamento de mercadorias
Nas duas uacuteltimas deacutecadas fruto de uma germinaccedilatildeo iniciada no
poacutes-terceira revoluccedilatildeo industrial ou revoluccedilatildeo tecnocientiacutefica que
proporcionou o surgimento de atividades que empregam a alta tecshy
nologia como a informaacutetica a microeletrocircnica o avanccedilo das telecoshy
municaccedilotildees e a biotecnologia os jogos eletrocircnicos tecircm seguido e tamshy
beacutem contribuiacutedo com os avanccedilos tecnoloacutegicos Se compararmos os
primeiros games com os jogos de hoje constataremos que eles deram
grandes saltos qualitativos de graacuteficos bi para graacuteficos tridimensionais
que permitiram aperfeiccediloar e personalizar os enredos e personagens
atingindo uma qualidade de imagem som e movimento tatildeo bons que
os jogos mais parecem realidades virtuais As inovaccedilotildees tecnoloacutegicas
e criativas satildeo produzidas numa velocidade cada vez maior materiashy
lizando-se rapidamente numa nova mercadoria a ser comercializada
O mercado dos games eacute de alta lucratividade com projeccedilotildees
de faturamento no acircmbito mundial para 2013 de US$ 735 bilhotildees
e girando no mercado interno aproximadamente R$ 875 milhotildees
- valor referente ao ano de 2008 (ABRAGAMES 2008) Aleacutem da
venda de uma enxurrada de produtos relacionados agrave praacutetica dos joshy
gos eletrocircnicos existe uma espeacutecie de economia virtual com comshy
pra e venda de mercadorias e identidades digitais (avatares) 6
5 O termo mundializaccedilatildeo eacute utilizado por Chesnais (1996) com a intenccedilatildeo de diminuir
a falta de nitidez conceituai e o caraacuteter ideoloacutegico do termo globalizaccedilatildeo que sugere
a ideia de uma perspectiva integradora Para o autor o termo mundializaccedilatildeo permite
pensar melhor esta fase especiacutefica do processo de internacionalizaccedilatildeo do capital em
busca de regiotildees com recursos ou mercados visando sua valorizaccedilatildeo Neste processo de
liberalizaccedilatildeo econocircmica e financeira haacute um agravamento da polarizaccedilatildeo entre regiotildees
centrais e perifeacutericas do capitalismo tanto em escala internacional como nacional
6 Essa economia virtual eacute muito comum nos jogos on-line de representaccedilatildeo da vida real
como Farm Ville The Sims Social e Second Life O Second Life possui uma unidade
monetaacuteria proacutepria o Linden Dollar atraveacutes da qual as pessoas podem comprar quase
tudo dentro do jogo Em 2009 o site do jogo movimentou 549 milhotildees de doacutelares Soacute
no primeiro trimestre de 2010 as movimentaccedilotildees financeiras entre usuaacuterios chegaram
a 160 milhotildees de doacutelares e a arrecadaccedilatildeo da loja virtual oficial foi de 23 milhotildees
(LUCRATIVO 2010)
Aqui cabe uma reflexatildeo sobre a dinacircmica social que envolve a proshy
duccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos e suas diferenccedilas em relaccedilatildeo
aos jogos tradicionais Os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos acompashy
nhando os avanccedilos tecnoloacutegicos do momento e norteados pelo afatilde da
esteira mercadoloacutegica tornando-se obsoletos rapidamente Bem difeshy
rente dos jogos tradicionais que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo cm geraccedilatildeo
e apesar de sofrerem algumas modificaccedilotildees resistem ao teste do tempo
Desse modo podemos dizer que os jogos eletrocircnicos natildeo podem ser
considerados como populares pelo menos por dois motivos primeiro
pelo fato dos jogos de hoje natildeo serem os mesmos de amanhatilde e segunshy
do devido agrave exigecircncia de produtos especializados para a praacutetica dos
mesmos o que por si soacute jaacute os torna inacessiacuteveis a uma parcela signifishy
cativa da populaccedilatildeo que natildeo possui condiccedilotildees de consumo
Entretanto ao mesmo tempo em que existe uma ruptura entre esshy
ses dois tipos de jogos podemos notar uma estreita relaccedilatildeo entre eles jaacute
que muitos jogos eletrocircnicos satildeo na realidade versotildees virtuais de antigos
jogos tradicionais como os jogos de tabuleiro o boliche a queimada
os jogos de cartas os quebra-cabeccedilas entre outros O que sugere uma
perspectiva de continuidade na produccedilatildeo da cultura luacutedica
Temos como pressuposto baacutesico que o trabalho educativo
consiste em transmitir o conhecimento historicamente produzido
a fim de contribuir para que os nossos alunos possam ter acesso
aos conhecimentos mais desenvolvidos produzidos historicamenshy
te pela humanidade para que possam enriquecer-se como indishy
viacuteduos e atuarem como homens do seu tempo Entretanto aqui
evidenciamos uma grande contradiccedilatildeo da nossa sociedade pois
devido ao modo de produccedilatildeo capitalista esses conhecimentos que
os proacuteprios trabalhadores ajudaramajudam a construir lhes satildeo
negados7 No caso dos jogos eletrocircnicos apesar de existir uma
enorme difusatildeo sobre os mesmos vemos que a maioria da classe
trabalhadora natildeo tem real acesso a esta produccedilatildeo cultural
7 O acesso agraves tecnologias digitais aumentou nos uacuteltimos anos mas ainda eacute m uito
significativo o nuacutemero de pessoas sem acesso real a esses bens sociais De acordo
com o PNAD 2009 apenas 35 dos domiciacutelios brasileiros investigados tinham
microcomputador e somente 274 tinham arlaquolaquo -------M n
Esteban Clua - professor do departamento de computaccedilatildeo da
UFF- em entrevista concedida agrave Agecircncia Brasil destacou que o Brasil eacute
o quarto maior consumidor de jogos eletrocircnicos do mundo sendo que
existe uma massa de aproximadamente 39 milhotildees de usuaacuterios ativos
desses jogos ou seja aproximadamente 20 da populaccedilatildeo brasileira
(GANDRA 2011) Com base nisso cabe a noacutes lanccedilarmos algumas
perguntas que tipo de acesso eacute esse Quais fatores levam os outros 80
da populaccedilatildeo brasileira a natildeo jogarem E por que os jovens e crianccedilas
mesmo os que sequer tecircm as condiccedilotildees de garantir a sua subsistecircncia se
veem hipnotizadas por essas mercadorias
Os jogos eletrocircnicos como qualquer produccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo satildeo
bons nem ruins por natureza natildeo se trata de criticaacute-los de forma saudosista
mas de permitir aos alunos uma atuaccedilatildeo criacutetica e consciente frente a esses
jogos que auxilie a superar o fetiche da tecnologia e a alienaccedilatildeo frente agrave messhy
ma Quando tomadas como valores de uso a ciecircncia e a tecnologia estatildeo
a serviccedilo da melhoria das condiccedilotildees de vida e da possibilidade de dilatar o
tempo livre para que o homem produza novos sentidos para sua existecircncia
natildeo apenas pela necessidade de comer vestir dormir morar mas tambeacutem
por finalidades luacutedicas Nesse sentido Frigotto (2005) aponta que as tecshy
nologias satildeo como extensotildees dos sentidos e membros dos seres humanos
Mas sob as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo da sociedade capitalista o que era para
aumentar o tempo livre intensifica a exploraccedilatildeo e a alienaccedilatildeo
Com isso entendemos que natildeo haacute neutralidade no desenvolvimento
tecnoloacutegico pelo contraacuterio ele materializa-se em meio a todas as condenshy
saccedilotildees de forccedilas que permeiam a sociedade de classes Por isso apesar do
discurso que prega o acesso pleno agraves benesses do desenvolvimento capitashy
lista a natildeo democratizaccedilatildeo dos bens culturais produzidos pela humanidade
nos mostra o contraacuterio No caso dos jogos eletrocircnicos observamos que sua
dinacircmica de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo como mercadorias estaacute intimamente
ligada agrave loacutegica desigual e predatoacuteria do consumismo capitalista8
8 Os jogos eletrocircnicos como expressotildees culturais refletem a sociedade em que nascem mas
ao mesmo tempo tambeacutem ajudam a educar os consumidores passivos para esse padratildeo
civilizatoacuterio Kosik (1995) ajuda a refletir sobre essa dinacircmica dialeacutetica a partir do caso
da arte ldquotoda obra de arte apresenta um duplo caraacuteter em indissoluacutevel unidade eacute expressatildeo da realidade mas ao mesmo tempo cria a realidade uma realidade que natildeo existe fora da obra ou antes da obra mas precisamente na obrardquo (p 128)
Vale destacar que os grandes expoentes e exportadores histoacutericos
dos jogos eletrocircnicos satildeo as naccedilotildees imperialistas norte-americana e
japonesa Como reflexo disso carregam muitos dos valores tiacutepicos de
paiacuteses de capitalismo central como o individualismo a competiccedilatildeo
exacerbada o consumo desenfreado e a naturalizaccedilatildeo da violecircncia
Aliaacutes a questatildeo da violecircncia presente em diversos jogos eletrocircnicos
eacute uma das grandes polecircmicas que envolvem a praacutetica desses jogos No
que tange ao conteuacutedo violento dos games merecem destaque jogos
que pontuam a realizaccedilatildeo de crimes atropelamentos praacutetica de agresshy
sotildees em ambiente escolar perseguiccedilatildeo e morte de supostos terroristas
e os que simulam guerras e conflitos armados entre paiacuteses e povos Natildeo
eacute raro vermos mateacuterias jornaliacutesticas que associam o uso excessivo de
games a situaccedilotildees de violecircncia real o caso mais emblemaacutetico foi o masshy
sacre ocorrido em 1999 na Escola de Ensino Meacutedio Colombine em
Littleton no estado do Colorado (EUA)
De acordo com Alves (2004) a violecircncia como forma de linshy
guagem envolve ao mesmo tempo aspectos econocircmicos sociais
poliacuteticos culturais e afetivos por isso natildeo podemos adotar uma
atitude reducionista em culpar exclusivamente os jogos eletrocircnicos
pela violecircncia pois eles mesmos satildeo reflexotildeesprojeccedilotildees de uma
sociedade que banaliza a violecircncia A autora destaca tambeacutem que
uma questatildeo crucial a se pensar eacute que a violecircncia tem sido transshy
formada nas diversas miacutedias num grande espetaacuteculo por isso ela
vende e os adolescentes satildeo seduzidos pelas cenas de violecircncia para
consumirem produtos ldquoTanto a espetacularizaccedilatildeo quanto a este-
tizaccedilatildeo da violecircncia vecircm sendo bastante potencializadas nos jogos
eletrocircnicos em que a morte cada vez mais violenta passa a ser
sinocircnimo muitas vezes de grandes vendasrdquo (ALVES 2004 p 79)
Esse caraacuteter sedutor dos games de violecircncia eacute utilizado ateacute
pelas forccedilas armadas estadunidenses para estimular o alistamenshy
to militar e treinar recrutas Com esses objetivos o exeacutercito dos
EUA com a colaboraccedilatildeo do departamento de defesa norte-ame-
ricano criou o Americans Army um jogo de tiro em primeira
pessoa no qual os jogadores simulam combates militares reais
(IMASATO M ESQUITA 200$) O jogo disponibilizado grashy
tuitamente para o puacuteblico desde 04 de julho de 2002 possui
milhares dc jogadores pelo mundo todo inclusive no Brasil
Nesse exemplo os atos de agredirmatar personagens durante
o jogo natildeo satildeo utilizados apenas com sentidos luacutedicos mas tambeacutem
com a finalidade de criar nos jovens o desejo de realizar essas accedilotildees
na vida real A criaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de games como esse sem granshy
des criacuteticas por parte do puacuteblico permite visualizar o quanto a vioshy
lecircncia eacute vista com algo natural em nossa sociedade Com apoio nas
elaboraccedilotildees de Marx (1996) consideramos que a base dessa naturashy
lizaccedilatildeo satildeo as proacuteprias relaccedilotildees sociais capitalistas que transformam
tudo em mercadoria inclusive o trabalho humano fazendo parecer
que relaccedilotildees entre pessoas reais satildeo relaccedilotildees entre coisas
De um modo geral o homem cria instrumentos para satisfashy
zer suas necessidades dando sentidos humanos para as coisas mas
ao fazer isso gera novos interesses e necessidade transformando
sua proacutepria forma de viver Ou seja a tecnologia produzida pelo
homem passa a determinar suas accedilotildees e seu modo de vida Na
atualidade a criaccedilatildeo da rede mundial de computadores mudou
sensivelmente a forma de interaccedilatildeo entre as pessoas no caso dos
jogos eletrocircnicos a internet permitiu o compartilhamento de joshy
gos entre pessoas ao redor do mundo inteiro9 Desse modo os
jogos eletrocircnicos como criaccedilotildees humanas para satisfazer suas neshy
cessidades luacutedicas modificam o modo como os homens satisfazem
essas mesmas necessidades alterando os espaccedilos-tempos outrora
ocupados pelos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais
Nas grandes cidades convivemos com a falta de espaccedilos puacuteblishy
cos para brincar com o tracircnsito intenso com o alto grau de violecircnshy
cia e poluiccedilatildeo entre outros fatores que favorecem a diminuiccedilatildeo do
tempo destinado agraves experiecircncias corporais reais e sua substituiccedilatildeo
parcial ou total por praacuteticas virtuais como as possibilitadas pelos
9 Os jogos Massively Multiplayer on-line (M M Os) possibilitam vaacuterias pessoas
competirem pela internet criando comunidades de gamers gerando um novo modelo
de interatividade via jogos eletrocircnicos Nesse modelo as pessoas representam uma
segunda identidade e se relacionam atraveacutes dela Aleacutem disso existem torneios esportivos
multiplayer que permitem transformar esses games em profissatildeo (A ERA 2007)
jogos eletrocircnicos Os consoles mais modernos permitem inclusive
novas experiecircncias interativas com o corpo onde praacuteticas corporais
- como jogos tradicionais esportes danccedilas lutas e ginaacutestica - poshy
dem ser feitas dentro de um jogo virtual ressignificando a proacutepria
forma de vivecircncia da cultura corporal dentro e fora das telas
Os jogos eletrocircnicos tambeacutem tecircm sido produzidos e utilishy
zados para propoacutesitos que ultrapassam a diversatildeo Nesse sentishy
do merece destaque uma rede internacional chamada Game for change trata-se de uma organizaccedilatildeo social sem fins lucrativos
criada em 2004 nos EUA e com filiais na Europa Aacutesia e Ameacuterishy
ca Latina O objetivo dessa organizaccedilatildeo eacute promover a pesquisa
criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de jogos digitais que contribuam com
mudanccedilas sociais Os jogos satildeo elaborados por sistemas de parshy
cerias e seu conteuacutedo eacute sempre educativo levando o jogador a
buscar soluccedilotildees para problemas econocircmicos ambientais e diploshy
maacuteticos Os melhores games satildeo premiados em um festival que
reuacutene representantes do governo e da sociedade civil10
Desse modo consideramos que abordar as manifestaccedilotildees
contemporacircneas dos jogos eacute essencial para que os alunos possam
atuar como sujeitos de seu tempo tambeacutem na esfera luacutedica No
caso dos jogos eletrocircnicos eacute preciso tratar de sua historicidade
abordando as diversas geraccedilotildees de jogos que apesar de envolshy
verem conhecimentos coletivos se tornam privileacutegio de poucos
na dinacircmica de produccedilatildeo capitalista Para aleacutem do mundo do
entretenimento os games tecircm cumprido funccedilotildees econocircmicas
poliacuteticas e educativas que precisam ser abordadas para uma comshy
preensatildeo mais ampla das relaccedilotildees nem sempre evidentes entre o
real e o virtual no mundo dos jogos
10 Apesar de ser considerado um avanccedilo em relaccedilaacuteo aos games estritamente comerciais por
abordar problemaacuteticas de fundo social alertamos que esses jogos buscam na conciliaccedilatildeo
de classes as soluccedilotildees para problemas extremamente complexos e muitos originados
reforccedilados pelas proacuteprias relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo capitalista alinhando-se portanto
agrave ideologia da responsabilidade Em linhas gerais o objetivo dessa ideologia desenvolvida
a partir do final dos anos de 1990 em consonacircncia com o neoliberalismo de terceira via
eacute articular as accedilotildees do empresariado em torno das questotildees sociais buscando construir
conscnsos entre as classes e suas fraccedilotildees de modo a garantir o processo de dominaccedilatildeo
capitalista por meio do convpnr im pnm IacuteW A B T IM C iacutenno
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com os jogos eletrocircnicos
As crianccedilas e jovens cotidianamente se divertem consomem
e interagem atraveacutes dos jogos eletrocircnicos que natildeo satildeo apenas
brinquedos pois satildeo formas de expressatildeo de sentimentos e deshy
sejos das novas geraccedilotildees Por isso concordamos com Silveira e
Torres (2007) que adotar apenas uma atitude normativa e conshy
troladora em relaccedilatildeo aos jogos eletrocircnicos sem abordar aspectos
teacutecnicos poliacuteticos econocircmicos e eacuteticos que envolvem essa forma
de expressatildeo dos jogos prejudica o desenvolvimento de uma vishy
satildeo criacutetica frente a essa produccedilatildeo cultural
Com a intenccedilatildeo de contribuir para a superaccedilatildeo desses limites
construiacutemos uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos dishy
recionada aos alunos do 7o ano do ensino fundamental Com emshy
basamento na Pedagogia histoacuterico-criacutetica dividimos didaticamente
essa experiecircncia em cinco passos buscando envolver os educandos
no processo de ensino-aprendizagem e propiciar um percurso edushy
cativo que amplie sua compreensatildeo e accedilatildeo sobre o tema
No primeiro momento identificaccedilatildeo da praacutetica social buscashy
mos apresentar os conteuacutedos que seratildeo abordados dentro da unidashy
de e como eles se expressam na praacutetica cotidiana dos alunos Para
que os alunos identifiquem o tema seraacute apresentada uma sequecircncia
de imagens sobre os jogos eletrocircnicos e os alunos seratildeo questionashy
dos sobre o que jaacute sabem e o que gostariam de aprender sobre esses
tipos de jogos Logo em seguida seratildeo apresentados os toacutepicos de
conteuacutedos abordados na unidade a saber conceito de jogos eletrocircshy
nicos os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos a virtualizaccedilatildeo
dos jogos tradicionais os games como grande negoacutecio e os desafios
e possibilidades trazidos pelos games na atualidade
Na problematizaccedilatildeo inicialmente seratildeo debatidas quesshy
totildees que buscaratildeo despertar a curiosidade dos alunos pelo tema
como quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem
Como as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por
que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia Em seguishy
da seratildeo lanccediladas questotildees-problemas que articulam a praacutetica
social concreta dos alunos com o conteuacutedo tratado na unidade
As questotildees foram orientadas com base em diversas dimensotildees
do conteuacutedo a saber conceituai histoacuterica cultural poliacuteticas
econocircmicas social e eacutetica conforme pode ser visto no plano de
unidade apresentado a seguir
A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento de apropriaccedilatildeo do coshy
nhecimento sistematizado a fim de que os alunos ampliem sua
compreensatildeo sobre as problematizaccedilotildees lanccediladas Para tal seratildeo
desenvolvidas accedilotildees como discussotildees debates experimentaccedilatildeo
de jogos na forma tradicional e eletrocircnica aulas expositivas e
apresentaccedilatildeo de documentaacuterios Nessa etapa a falta de recursos
como aparelhos especiacuteficos para jogos eletrocircnicos pode ser subsshy
tituiacuteda por versotildees de jogos para computadoresaparelhos celulashy
res e ou transformaccedilatildeo de jogos virtuais em jogos reais
Na catarse momento no qual os alunos devem ser capazes
de responder as questotildees-problemas com base no conhecimento
sistematizado eles participaratildeo de um quiz educativo sobre jogos
eletrocircnicos com a intenccedilatildeo de auxiliaacute-los na elaboraccedilatildeo de uma
siacutentese entre o saber cotidiano e o conhecimento cientiacutefico Nosshy
sa expectativa eacute que os alunos compreendam as principais caracshy
teriacutesticas dos jogos eletrocircnicos como uma forma de manifestaccedilatildeo
dos jogosbrincadeiras tipicamente contemporacircnea
Ao final do trabalho buscando um retorno agrave praacutetica social os alunos seratildeo estimulados a pocircr em accedilatildeo a nova visatildeo sobre
o conteuacutedotema em tela Nesse sentido seraacute proposta a consshy
truccedilatildeo de um blog que socialize os conhecimentos apreendidos
sobre os jogos eletrocircnicos e a realizaccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo sobre
o desenvolvimento histoacuterico dos jogos eletrocircnicos
Plano de Unidade Os jogos eletrocircnicos e a sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na sociedade contemporacircnea
Conteuacutedo jogos
Turmas 7o ano
Nuacutemero de aulas 12
Objetivo Geral Compreender a dinacircmica social que envolve a
produccedilatildeo e a reproduccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos permitindo o uso
criacutetico desses jogos nos momentos de lazer
1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL
11 Anuacutencio do conteuacutedo
Toacutepicos de conteuacutedo c objetivos especiacuteficos
bull Toacutepico 1 O que satildeo jogos eletrocircnicos
Objetivo especiacutefico Conceituar os jogos eletrocircnicos e
suas formas de manifestaccedilatildeo para distingui-los de oushy
tros tipos de jogos em especial dos jogos tradicionais
bull Toacutepico 2 Os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos
Objetivo especiacutefico Conhecer a origem e as transforshy
maccedilotildees histoacutericas dos jogos eletrocircnicos buscando
entender a influecircncia do contexto histoacuterico e do
avanccedilo tecnoloacutegico na configuraccedilatildeo desses jogos
bull Toacutepico 3 A virtualizaccedilatildeo dos jogos tradicionais
Objetivo especiacutefico Identificar jogos eletrocircnicos insshy
pirados em jogos tradicionais a fim de entender as
relaccedilotildees entre os dois tipos de jogos como produshy
ccedilotildees culturais luacutedicas
bull Toacutepico 4 Os games como um grande negoacutecio
Objetivo especiacutefico Compreender o processo de proshy
duccedilatildeo disseminaccedilatildeo e consumo dos jogos eletrocircnicos
a fim de compreender os papeacuteis econocircmicos poliacuteshy
ticos e sociais assumidos por esses jogos
bull Toacutepico 5 Geraccedilatildeo game over desafios e possibilidades11
Objetivo especiacutefico Reconhecer os benefiacuteciosmalefiacuteshy
cios trazidos pela praacutetica regular dos jogos eletrocircnicos e
suas possibilidades para a cultura corporal permitindo
o uso consciente e equilibrado desses jogos nos moshy
mentos de lazer
12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos
bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Os jogos
eletrocircnicos podem ser jogados em aparelhos proacuteprios
computadores e celulares existem games para jogar
sozinho em dupla e em grupo as pessoas mais velhas natildeo
brincavam com esses jogos
bull O que gostariam de saber mais Por que os jogos eletrocircnicos
satildeo conteuacutedos da Educaccedilatildeo Fiacutesica Quais os jogos eletrocircnicos
mais conhecidos
2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO
21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo
Quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem Como
as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por que os jogos
eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia
11 Elaboramos esse uacuteltimo toacutepico de conteuacutedo de forma bem flexiacutevel para que possa atender
as demandas que surgirem e ser abordado de acordo com recursos disponiacuteveis para seu
desenvolvimento Por isso na instrumentalizaccedilatildeo relativa a esse toacutepico apresentamos
diversas possibilidades de accedilotildees e recursos
12 Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
QUESTOtildeES PROBLEMATIZADORAS
Conceituai
O que satildeo jogos eletrocircnicos Que tipos de jogos eletrocircnicos
existem Os jogos eletrocircnicos podem ser considerados como
ldquojogos popularesrdquo
Histoacuterica
As brincadeiras e as formas de se divertir mudaram com o
passar do tempo Quando surgiram os jogos eletrocircnicos
Qual eacute a origemhistoacuteria de alguns dos principais jogos eleshy
trocircnicos Por que eles sempre mudam
Social
Por que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns atualmente
Quais finalidades sociais eles tecircm cumprido Quais as possishy
bilidades de uso criacutetico dos games
Econocircmica
Como os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos c distribuiacutedos
Haacute faacutecil acessibilidade a todos para vivenciar esses jogos
Quanto custam os aparelhos e miacutedias para acesso aos jogos
eletrocircnicos Existe uma economia virtual
Poliacutetica
Existem espaccedilos puacuteblicos apropriados para brincar e jogar
com seguranccedila em nossa cidade Existem espaccedilos puacuteblicos
para jogar jogos eletrocircnicos
Eacutetica
Quais valores podem ser evidenciados nos jogos eletrocircnicos
Os jogos satildeo violentos Existem jogos eletrocircnicos criacuteticos
aos valores sociais Existem games cooperativos
Cultural
Os jogos eletrocircnicos satildeo difundidos em todas as culturas
Existem jogos eletrocircnicos universais Os jogos mais comuns
variam de paiacutes para paiacutes e de regiatildeo para regiatildeo Qual a relashy
ccedilatildeo entre os jogos eletrocircnicos e os jogos tradicionais
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
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4) SIacuteNTESE SUPERIOR
41 Siacutentese teoacuterica do aluno
Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais de variados gecircneros
que necessitam de aparelhos eletrocircnicos com tecnologias especiacuteshy
ficas para serem jogados Apesar de muitos desses jogos serem reshy
sultado da virtualizaccedilatildeo de jogos tradicionais eles naacuteo podem ser
considerados jogos populares pois satildeo produzidos e distribuiacutedos
sob a forma de mercadorias (conceituai e cultural) Os jogos eleshy
trocircnicos estabelecem uma relaccedilatildeo estreita com o contexto no qual
foram criados incorporando diversos avanccedilos tecnoloacutegicos que
permitem a constante ampliaccedilatildeo da qualidade de imagem som e
movimento dos mesmos (histoacuterica) Na atualidade a forma de orshy
ganizaccedilatildeo das grandes cidades o aumento da violecircncia e a falta de
espaccedilos puacuteblicos para o lazer tecircm favorecido a substituiccedilatildeo parcial
ou total dos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais por jogos
eletrocircnicos (soacutecio-poliacutetica) Os jogos eletrocircnicos satildeo muito divulshy
gados pela miacutedia de massas e datildeo grandes lucros agrave induacutestria cultushy
ral enquanto a grande maioria das crianccedilas ainda natildeo tenha acesso
pleno a essas produccedilotildees pois a dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo
desses jogos se insere no mundo das mercadorias (soacutecio-econocircmi-
ca) Os jogos eletrocircnicos estatildeo inseridos na contraditoacuteria dinacircmica
capitalista e por isso refletem valores sociais como a violecircncia e a
competitividade mas tambeacutem podem forjar outros valores como a
cooperaccedilatildeo e a solidariedade (eacutetica)
42- Expressatildeo da siacutentese
Participar de um quiz de perguntas e respostas sobre os jogos
eletrocircnicos buscando expressar o que foi apreendido durante as aulas
i) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL
Quadro 3- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
ACcedilOacuteES DO ALUNO
Registrar e divulgar os conhecimentos
apreendidos sobre os jogos eletrocircnicos
1 - Construir e divulgar um blog
sobre os jogos eletrocircnicos (conshy
teuacutedo histoacuteria tipos de jogos
benefiacutecios problemas links e esshy
paccedilos para jogar gratuitamente)
Contribuir para a criaccedilatildeo de espaccedilos-
-tempos destinados agrave discussatildeo sobre
os games
2 - Montar uma exposiccedilatildeo que
funcione como linha do tempo
dos jogos
Ampliar os conhecimentos sobre os
jogos eletrocircnicos
3 - Pesquisar mais sobre os jogos
eletrocircnicos
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees finais
A concretizaccedilatildeo de uma proposta de ensino com os jogos eletrocircshy
nicos eacute sem duacutevidas um grande desafio seja pela falta de recursos adeshy
quados seja pela dificuldade em trabalhar com as novas tecnologias e
ateacute pela resistecircncia da comunidade escolar ao tratamento desse tema
pela escola Entretanto defendemos que abordar os games como exshy
pressotildees contemporacircneas dos jogos e brincadeiras eacute imprescindiacutevel se
pretendemos que nossos alunos compreendam a realidade em que vishy
vem e atuem como sujeitos do seu proacuteprio tempo
Com base nessa constataccedilatildeo a nossa intenccedilatildeo foi abrir o diaacutelogo
sobre as possibilidades de trabalho com os jogos eletrocircnicos como conteshy
uacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica Nesse sentido a experiecircncia pedagoacutegica
descrita nesse artigo buscou abordar os jogos eletrocircnicos em suas muacuteltishy
plas dimensotildees visando contribuir para que os alunos reconheccedilam essa
nroducatildeo cultural luacutedica como construccedilatildeo de homens e mulheres reais
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CAPIacuteTULO IV
AS RELACcedilOtildeES ENTRE ESPORTE E SAUacuteDE NO CAPITALISMO TEM ATIZANDO CONTRADICcedilOtildeES NA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR
Carlos Eduardo de Souza
Leonardo Docena Pina
Mocircnica Jardim Lopes
De maneira mais ou menos intensa o esshy
porre se apresenta de diferentes formas em nossa
vida Seja atraveacutes da televisatildeo de jornais de reshy
vistas ou da proacutepria praacutetica de diferentes modashy
lidades nos relacionamos quase que diariamente
com o esporte Poreacutem a relaccedilatildeo que estabeleceshy
mos em nosso cotidiano com essa manifestaccedilatildeo
cultural natildeo proporciona sua real compreensatildeo
E por isso que muitos lidam com o esporte diashy
riamente sem compreender sua relaccedilatildeo com os
processos histoacutericos Da mesma forma muitos
acabam por reproduzir a noccedilatildeo dominante exshy
pressa na ideia de que esporte promove sauacutede
Iniciamos o texto com essa reflexatildeo por
consideraacute-la importante para discutirmos o
ensino do esporte na escola Afinal por que eacute
importante ensinar esporte nas aulas de Edushy
caccedilatildeo Fiacutesica se este jaacute estaacute presente em nosso
dia a dia fora da escola Seria o ensino do esshy
porte realmente necessaacuterio aos alunos
A resposta a essas questotildees nos remete
inicialmente ao fato de que desde a deacutecada
de 1990 com a divulgaccedilatildeo da perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a
cultura corporal (COLET IVO DE AUTORES 1992) foi ampliashy
da a possibilidade de relacionar a Educaccedilatildeo Fiacutesica com a formaccedilatildeo
de sujeitos histoacutericos capazes de compreender a realidade de modo
a nela intervir criticamente Orientada na Pedagogia histoacuterico-criacuteti-
ca (SAVIANI 2005a) tal perspectiva trouxe novas formas de aborshy
dagem dos conteuacutedos As aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica antes pensadas
com o objetivo de desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica de treinamenshy
to teacutecnico de recreaccedilatildeo de aprendizagem motora dentre outros
puderam ser superadas por uma nova tarefa de transmissatildeo do saber
sistematizado necessaacuterio agrave compreensatildeo da realidade
Para alcanccedilar a nova tarefa a que se propotildee a perspectiva
da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal os conteuacutedos passashy
ram a demandar uma tematizaccedilatildeo criacutetico-superadora No caso da
manifestaccedilatildeo cultural que nos propomos a refletir no presente
capiacutetulo as indicaccedilotildees do Coletivo de Autores (1992) fornecem
a base para trataacute-la pedagogicamente de modo a superar as caracshy
teriacutesticas impostas pela sociedade capitalista Imprim ir um novo
sentidosignificado ao esporte implica a consideraccedilatildeo de alguns
elementos jaacute retomados por Assis (2001) Um deles eacute a necesshy
sidade de realizar uma leitura criacutetica do esporte sobretudo para
compreender as mediaccedilotildees que o integram agraves relaccedilotildees sociais de
produccedilatildeo da existecircncia humana Sem refletir criticamente sobre
o esporte corre-se o risco de natildeo compreender sua funccedilatildeo na
reproduccedilatildeo do capitalismo ou de desconsiderar a possibilidade
de esse fenocircmeno cultural servir a outro projeto de sociedade
Outro aspecto reside na necessidade de consideraacute-lo um
conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica A constataccedilatildeo de que o esporte vishy
nha atendendo historicamente aos interesses dominantes fez com
que alguns professores se distanciassem do ensino do esporte na
escola Na verdade por considerar que o esporte relaciona-se ao
processo de reproduccedilatildeo do capitalismo natildeo pretendemos afastaacute-
-lo da educaccedilatildeo escolar Pelo contraacuterio ressaltamos a necessidade
de tematizaacute-Io na escola visto que a transmissatildeo do saber objeshy
tivo historicamente acumulado sobre essa praacutetica cultural pode
se transformar em instrumento cultural de luta contra as forshy
mas de dominaccedilatildeo a que estatildeo submetidos os membros da classe
trabalhadora ainda hoje Daiacute a defesa do Coletivo de Autores
(1992) para desmitificar o esporte atraveacutes da oferta na escola
do conhecimento que permita aos alunos criticaacute-lo dentro de um
determinado contexto histoacuterico
Conforme afirma Assis (2001) o esporte traz consigo possishy
bilidades contraditoacuterias de modo que eacute possiacutevel enfatizar situashy
ccedilotildees que privilegiam a solidariedade sobre a rivalidade o coletivo
sobre o individual a autonomia sobre a submissatildeo a cooperaccedilatildeo
sobre a disputa a distribuiccedilatildeo sobre a apropriaccedilatildeo a abundacircncia
sobre a escassez a confianccedila muacutetua sobre a suspeita a descon-
traccedilatildeo sobre a tensatildeo a perseveranccedila sobre a desistecircncia e ainda
a vontade de continuar jogando em contraposiccedilatildeo agrave pressa para
terminar a partida e configurar resultados
A partir desses apontamentos torna-se possiacutevel afirmar que o
ensino desse conteuacutedo pode permitir aos alunos a apropriaccedilatildeo das
formas mais desenvolvidas do saber objetivo sobre o esporte que se
encontra acumulado na cultura Compreender o esporte demanda a
apropriaccedilatildeo do conhecimento jaacute produzido sobre ele Tal apropriashy
ccedilatildeo possibilita a compreensatildeo de suas contradiccedilotildees e consequenteshy
mente estabelecer novas relaccedilotildees com essa manifestaccedilatildeo cultural
Conforme afirma Saviani (2006) dominar a cultura erudita
eacute necessaacuterio aos membros da classe trabalhadora para que possam
fazer valer os seus interesses jaacute que a classe dominante faz uso
exatamente dos conteuacutedos culturais para legitimar e consolidar
sua dominaccedilatildeo Redirecionando essa reflexatildeo para o ensino do
esporte podemos concluir que o domiacutenio do conhecimento sisshy
tematizado sobre essa manifestaccedilatildeo cultural tambeacutem se constitui
como instrumento indispensaacutevel uma vez que os conhecimentos
adquiridos no cotidiano tendem a ser insuficientes para atuaccedilatildeo
dos indiviacuteduos enquanto sujeitos da histoacuteria
Esporte sauacutede e o modo vidatrabalho no capitalismo
Embora seja muito propagada atualmente sobretudo pela atushy
accedilatildeo de governos e Organismos Internacionais como a Organizaccedilatildeo
das Naccedilotildees Unidas (ONU) o Banco Mundial (BM) e o Fundo Moshy
netaacuterio Internacional (FMI) a ideologia que afirma de forma mecacircshy
nica o esporte como sauacutede carece de anaacutelise concreta da realidade
onde estatildeo inseridas as classes fundamentais1 Na perspectiva que
sustenta nosso estudo o entendimento do esporte da sauacutede e da posshy
siacutevel relaccedilatildeo entre esses dois temas soacute pode ser alcanccedilado se forem
confrontados e aferidos no conjunto da dinacircmica das relaccedilotildees sociais
existentes no modo vidatrabalho capitalista
O fenocircmeno cultural ldquoesporterdquo toma forma no seacuteculo XVIII no
periacuteodo de revoluccedilatildeo e afirmaccedilatildeo da burguesia enquanto classe domishy
nante Segundo Hobsbawm (1988) o esporte foi ldquoformalizado em torshy
no dessa eacutepoca na Inglaterra que lhe ofereceu o modelo e o vocabulaacuteshy
rio alastrou-se como um incecircndio aos demais paiacutesesrdquo (p 255) sendo
tambeacutem fruto segundo Bracht (2005) de ldquomodificaccedilatildeo poderiacuteamos
dizer de esportivizaccedilatildeo de elementos da cultura corporal de movimento
das classes populares inglesas como os jogos popularesrdquo (p 13) cuja
funccedilatildeo era basicamente de comemorar ou festejar datas
Foi tambeacutem nessa eacutepoca - da revoluccedilatildeo industrial - que os trabashy
lhadores passaram a conhecer o chamado ldquotempo livrerdquo que era exashy
tamente o tempo no qual se encontravam livres das obrigaccedilotildees fabris
0 preenchimento desse tempo para promover melhorias no trabalho
produtivo e na conformaccedilatildeo ideoloacutegica para uma melhor extraccedilatildeo da
mais-valia deveria abarcar valores e concepccedilotildees de mundo proacuteprias de
uma burguesia emergente (SILVA 1994) Tais valores se expressavam
diretamente no esporte uma vez que permitia o desenvolvimento de
1 Quando uma pequena parcela dos homens toma para si os meios de produccedilatildeo criam-se
contraditoriamente na sociedade duas classes a dos que detecircm os meios de produccedilatildeo e
aqueles que necessitam vender o uacutenico bem que lhes restou sua Forccedila de trabalho Essa
relaccedilatildeo contraditoacuteria e conflitante enrre os homens requer formas de dominaccedilatildeo por
exemplo as ideologias Entendendo ldquoideologiardquo natildeo como ilusatildeo ou supersticcedilatildeo mas
uma forma material especiacutefica de consciecircncia social (MESZAROS 2004)
determinadas formas de pensar e agir a exemplo da lealdade senso
de responsabilidade esforccedilo pessoal espiacuterito de equipe dentre outros
(TAFFAREL SANTOS JUN IOR 2009)
Proni (2002) ao traduzir a concepccedilatildeo de esporte desenvolvida
por Brohm cria um trabalho fecundo de elementos para compreshy
ensatildeo desse tema Segundo o autor a hipoacutetese central de Brohm se
sustenta no entendimento de que o sistema esportivo moderno eacute o
reflexo da universalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo da forma de vida predomishy
nante que tem sua origem na economia capitalista na qual impera
o espiacuterito industrial a mentalidade do rendimento e do ecircxito ldquoO
intercacircmbio de mercadorias e de capital tiveram como consequecircncia
o intercacircmbio de ideias e a difusatildeo de praacuteticas esportivasrdquo (PRONI
2002 p 38) Ainda segundo o autor satildeo quatro fatores que Brohm
diz ser responsaacuteveis pelo desenvolvimento do esporte
(a) O aumento do tempo livre e o desenvolvimento do
oacutecio (que ocupa um lugar de destaque na civilizaccedilatildeo do
lazer) (b) a universalizaccedilatildeo dos intercacircmbios medianshy
te os transportes e os meios de comunicaccedilatildeo de massa
(o esporte converte-se em ldquomercadoria culturalrdquo graccedilas
a sua natureza comospolita) (c) revoluccedilatildeo teacutecnico -
cientiacutefica (que reflete-se na busca da eficiecircncia corposhy
ral nos novos materiais e equipamentos inclusive no
surgimento de novas modalidades esportivas) (d) e a
revoluccedilatildeo democraacutetico mdash burguesa e o enfrentamento
das naccedilotildees no plano internacional (isto eacute a dinacircmica
poliacutetico mdash ideoloacutegica) (PRONI 2002 p 39)
O esporte dentro dessa perspectiva carrega os valores e os pashy
drotildees de desenvolvimento do Estado liberal Difunde uma forma
de conviacutevio e inspira desejos de mudanccedilas individuais Aproxima
as classes sociais ocultando o antagonismo poliacutetico-econocircmico e
a relaccedilatildeo de exploraccedilatildeo existente entre elas Ou seja um produto
da sociedade industrial que vem servindo em larga medida como
elemento de difusatildeo do ideaacuterio e dos interesses da classe dominanshy
te Assim para Brohm a essecircncia do esporte
eacute a ideologia democraacutetica tiacutepica de uma sociedade
que precisa cultivar um ideal humanitaacuterio (liberdade
igualdade fraternidade) e ao mesmo tempo velar suas
estruturas de classe e seus mecanismos de dominaccedilatildeo
Por isso o autor enfatiza o papel da instituiccedilatildeo esporshy
tiva como estrutura simboacutelica e aparato ideoloacutegico do
Estado (PRONI 2002 p 39-40)
Desse modo Brohm iraacute concluir que o esporte eacute por excelecircnshy
cia algo nefasto para os trabalhadores servindo unicamente para
o fortalecimento das forccedilas e da identidade burguesa (BRACHT
2005) Essa se torna uma visatildeo estreita da realidade Considerashy
mos que a cultura esportiva de fato carrega os valores capitalistas
e nesse sentido tem servido como instrumento a serviccedilo da domishy
naccedilatildeo burguesa Mas isso natildeo eacute tudo Acreditamos que a anaacutelise do
esporte de forma mais profiacutecua deve ser aferida no conjunto das
contradiccedilotildees que envolvem a relaccedilatildeo capital-trabalho E na luta
de classes que as culturas vatildeo se amoldando Portanto o esporte
natildeo eacute uma instituiccedilatildeo que paira acima dos conflitos sociais natildeo
sendo em si nem ldquobom nem ldquoruimrdquo Trata-se da expressatildeo de uma
condensaccedilatildeo de forccedilas na qual hegemonicamente os valores da
classe burguesa sobressaem em relaccedilatildeo aos da classe trabalhadora
Nos dias de hoje a articulaccedilatildeo do esporte com os interesshy
ses da classe dominante pode ser evidenciada pela relaccedilatildeo co-
mumente estabelecida entre a praacutetica de esporte e a obtenccedilatildeo de
sauacutede Exemplo disso eacute a defesa da O N U de que as principais
causas de ateacute 60 das mortes no mundo estatildeo ligadas a pessoas
inativas e que o esporte e a Educaccedilatildeo Fiacutesica ldquosatildeo cruciais para a
vida longa e saudaacutevel O esporte melhora a sauacutede e o bem-estar
aumenta a expectativa de vida e reduz o risco de vaacuterias doenccedilas
natildeo-transmissiacuteveis incluindo a doenccedila cardiacuteacardquo (ON U 2003 p
7 traduccedilatildeo nossa) aleacutem de ser essencial para manter a ldquosauacutede da
menterdquo e construir ldquovaliosas conexotildees sociaisrdquo
Segundo Delia Fonte e Loureiro (1997) eacute a visatildeo funcionalista
sobre a sauacutede que permite afirmar a praacutetica de esporte como soluccedilatildeo
para os malefiacutecios da vida moderna Para os autores essa afirmaccedilatildeo
demonstra a superficialidade com a qual tem se abordado o tema sauacuteshy
de Na visatildeo funcionalista as doenccedilas ou ldquomorbidadesrdquo natildeo tecircm nada
a ver com as relaccedilotildees sociais concretas e sim com um desvio dos indishy
viacuteduos ou seja uma natildeo adesatildeo consciente a haacutebitos mais saudaacuteveis
Delia Fonte e Loureiro (1997) nos ajudam a entender a rashy
zatildeo que leva os Organismos Internacionais a difundir tais com-
preensotildees sobre o tema Conforme afirmam os autores
a estrutura social capitalista determina e legitima vaacuterias
ideacuteias valores e atitudes altamente patoloacutegicos Por um
processo de naturalizaccedilatildeo essas patologias saacuteo apresenshy
tadas como inerentes ao ser humano Longe de serem
compreendidas como patologias elas satildeo tidas como
qualidades Assim aceita-se como normal a busca do
lucro como objetivo de toda atividade econocircmica a exshy
ploraccedilatildeo do homem pelo homem o individualismo a
competitividade e a ambiccedilatildeo como valores modernos a
repressatildeo de ideacuteias e sentimentos rotulados como tabus
a satisfaccedilatildeo imediata de desejos como traduccedilatildeo da felishy
cidade a reificaccedilatildeo das pessoas e das relaccedilotildees sociais e a
alienaccedilatildeo (DELLA FONTE LOUREIRO 1997 p 2)
Em outras palavras o modo de vidatrabalho ainda sob a eacutegide
de uma sociedade classista conserva uma estrutura de poder e uma
poliacutetica mundial de grandes impactos no que concerne agrave sobrevivecircnshy
cia dos indiviacuteduos Nessa direccedilatildeo a preocupaccedilatildeo dos Organismos Inshy
ternacionais consiste tambeacutem em criar ideologias capazes de situar
os indiviacuteduos como uacutenicos culpados ou responsaacuteveis pelo seu estado
de sauacutede independentemente de suas condiccedilotildees de vidatrabalho
Os riscos derivados do modo capitalista de produccedilatildeo da
existecircncia humana satildeo diversos e ligados a inuacutemeras causas tais
como aqueles provenientes do ambiente de trabalho como rashy
diaccedilotildees ruiacutedos frio e calor intenso pressotildees anormais umidade
poeiras gases vapores compostos quiacutemicos esforccedilo fiacutesico intenshy
so controle de alta produtividade trabalho noturno monotoshy
nia trabalho repetitivo maacutequinas e estruturas mal conservadas
entre outros (SOUZA 2011) Vale destacar que ateacute mesmo os
esportistas de alto rendimento sentem os efeitos degradantes do
trabalho no capitalismo o que pode ser expresso natildeo apenas pelo
alto iacutendice de lesotildees mas tambeacutem pelo uso de substacircncias preshy
judiciais agrave sauacutede voltadas ao a u m e n rn Alt c mdash
a isso outros problemas como o aumento do iacutendice de depresshy
satildeo por exemplo que tambeacutem tem atingido atletas2
Mesmo os que natildeo sofrem tais efeitos durante a venda de sua
forccedila de trabalho estatildeo de alguma forma sujeitos agraves implicaccedilotildees do
modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Exemplo disso
satildeo as implicaccedilotildees da degradaccedilatildeo ambiental produzida e intensificada
pelo capitalismo Trata-se de mais uma evidecircncia de que os riscos desshy
sa forma de organizaccedilatildeo social agrave vida humana hoje atingem a todos
A repercussatildeo negativa das relaccedilotildees capitalistas contemporacircshy
neas nas formaccedilotildees sociais ainda eacute agravada com o aumento da
desigualdade social perdas de direitos trabalhistas aumento da
exploraccedilatildeo aumento da violecircncia no campo e nas cidades surtos
de doenccedilas e principalmente a natildeo garantia de direitos baacutesicos
como sauacutede transporte educaccedilatildeo e outros Problemas como esshy
ses tendem a ser contrabalanceados a partir da foacutermula maacutegica
que o esporte assume na oacutetica funcionalista
A pretensa sauacutede relacionada agrave praacutetica do esporte tatildeo defendida
pelos Organismos Internacionais e governos serve duplamente agrave reshy
produccedilatildeo do capitalismo Se de um lado busca convencer as pessoas
de que a ldquoausecircncia de sauacutederdquo eacute uma escolha consciente e natural de
haacutebitos natildeo saudaacuteveis por outro busca ocultar as contradiccedilotildees do
modo de vidatrabalho em uma sociedade de classes O esporte nesshy
se caso torna-se um poderoso instrumento para dinamizar toda essa
estrutura ideoloacutegica de manutenccedilatildeo das relaccedilotildees sociais capitalistas
exatamente a forma de organizaccedilatildeo social que natildeo permite - a todos
- obter condiccedilotildees dignas de trabalho de vida bem como acesso iguashy
litaacuterio a tecnologias e serviccedilos de sauacutede
Em siacutentese pode-se dizer que o desenvolvimento do esporte eacute
algo circunscrito numa totalidade moldada pelo antagonismo das
classes existentes Essa produccedilatildeo cultural assume aspectos compleshy
xos e contraditoacuterios Seus valores moralizantes imbuiacutedos do pensa-
2 A respeito disso ver reportagem ldquoMal do seacuteculo depressatildeo aproxima trageacutedias do mundo
do futebolrdquo (BELPIEDE 2011)
3
mento liberal buscam fortalecer e universalizar um modo de vida
trabalho que coincide com os interesses da classe dominante Trata-
-se de uma forma de educar eacutetica e politicamente os subalternos
definindo um padratildeo de sociabilidade3 A deformaccedilatildeo das praacuteticas
populares e sua adequaccedilatildeo agrave ordem capitalista geram perda parcial
de identidades e possibilidades de autocriaccedilatildeo e transformaccedilatildeo Enshy
tretanto a busca de formas alternativas que visem o resgate das vonshy
tades meacutetodos e anseios dos trabalhadores natildeo eacute algo simples devishy
do ao processo funcional de obscurecimento da realidade Trata-se
de algo importante e possiacutevel a partir do esporte
Considerar o esporte como algo acabado sem espaccedilo para
explorar a contradiccedilatildeo natildeo interessa agrave organizaccedilatildeo da classe trashy
balhadora ldquoUma coisa eacute submeter o esporte aos interesses dos goshy
vernantes e outra eacute tratar pedagogicamente criacutetica reflexiva e
criativamente o esporte enquanto conteuacutedo de ensino e campo de
vivecircncia socialrdquo (TAFFAREL SA N TO S JU N IO R 2009 p 33)
construiacutedo por meacutetodos proacuteprios que visam atender aos anseios
e aspiraccedilotildees dos trabalhadores Ou seja os subalternos devem ser
ldquocapazes de compreender antecipar e contrastar os movimentos
das classes dominantesrdquo (DIAS 2006 p 13)
Entendemos que a condiccedilatildeo da transformaccedilatildeo da sociedade
ou seja a sociabilidade historicamente emancipada livre da domishy
naccedilatildeo de classe seraacute fruto da capacidade de enxergarmos a conshy
tradiccedilatildeo e nela atuarmos no sentido de superaacute-la poliacutetica e econoshy
micamente O que deve ser extirpado da histoacuteria dos homens natildeo
eacute o esporte mas as relaccedilotildees de produccedilatildeo que amoldam culturas e
mentes para servir agrave dominaccedilatildeo de uma classe sobre a outra
Compreender a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede a partir dos funshy
damentos aqui apresentados possibilita criticar a visatildeo funcionalisshy
ta o que pode ser um importante passo para pocircr fim agrave subordinashy
ccedilatildeo do esporte ao projeto histoacuterico da classe dominante
3 Para compreender como a institucionalizaccedilatildeo do esporte na aparelhagem estatal vem
contribuindo para a formaccedilatildeo da sociabilidade capitalista no Brasil recorrer ao estudo de
Souza (2011)
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o conteuacutedo esporte
Com o intuito de articular o ensino do esporte ao que considerashy
mos ser o papel da escola elaboramos uma proposta de trabalho pedashy
goacutegico com o tema esporte e sauacutede a ser desenvolvida com alunos do
oitavo ano da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de ForaMG
O primeiro contato dos alunos com o conteuacutedo a ser trabashy
lhado na unidade didaacutetica em questatildeo ocorreraacute na identificaccedilatildeo da praacutetica social onde apontaremos o assunto que seraacute desenvolvido
durante as aulas Tambeacutem buscaremos apreender o conhecimento
preliminar dos discentes bem como as questotildees que tecircm interesse
de ampliar o saber Apresentaremos o conteuacutedo Esporte delimitanshy
do o seguinte questionamento que direcionaraacute nossas aulas Esporte eacute sauacutede Em seguida cada aluno individualmente deveraacute elaborar
um texto explicitando sua compreensatildeo sobre essa questatildeo geral a
fim de captarmos os saberes construiacutedos pela vivecircncia cotidiana dos
alunos Espera-se com isso que os alunos maniiacuteestem o conhecishy
mento que possuem sobre a temaacutetica estabelecendo ou natildeo uma
relaccedilatildeo entre a praacutetica esportiva e a obtenccedilatildeo de sauacutede
Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto iniciaremos uma discussatildeo geral
sobre a temaacutetica e explicitaremos os toacutepicos que seratildeo abordados
durante o trabalho com o tema a saber sauacutede uma questatildeo
social as lesotildees e a depressatildeo cm atletas do esporte de rendishy
mento os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo vivenciando
diferentes modalidades esportivas Em seguida apresentaremos
os objetivos as atividades a serem desenvolvidas assim como a
importacircncia de se estudar esse tema
A seleccedilatildeo de questotildees sociais que permeiam o conteuacutedo aborshy
dado instigando o debate e a reflexatildeo dos alunos se expressa no
segundo passo metodoloacutegico a problematizaccedilatildeo Nesta etapa seleshy
cionaremos as dimensotildees do conteuacutedo que seratildeo trabalhadas esshy
tabelecendo os questionamentos relacionados agrave praacutetica social tal
como sugere o plano de unidade apresentado a seguir
Na instrumentalizaccedilatildeo fase na qual ocorre de fato a aproshy
priaccedilatildeo do conhecimento por parte do aluno pretendemos desenshy
volver atividades que contribuam para a elaboraccedilatildeo de respostas
aos questionamentos sistematizados anteriormente As atividashy
des docentes e discentes voltadas agrave transmissatildeoapropriaccedilatildeo do
conhecimento sistematizado vatildeo envolver exposiccedilatildeo do conteuacutedo
pelo professor anaacutelise de viacutedeos c documentaacuterios que abordem
a temaacutetica da sauacutede e do esporte leitura discussatildeo e anaacutelise de
reportagens sobre o tema pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privashy
dos) disponiacuteveis para a praacutetica de esporte na cidade vivecircncia das
modalidades esportivas mais conhecidas no paiacutes dentre outros
Para captar se os alunos se apropriaram do conhecimento elashy
borado que os capacita a responder as questotildees levantadas na pro-
blematizaccedilatildeo pretendemos aplicar uma atividade na qual os alunos
individualmente possam produzir um texto dissertativo sobre a seshy
guinte questatildeo geral esporte eacute sauacutede Espera-se que os alunos sejam
capazes de expressar o conhecimento adquirido se aproximando
do entendimento de que a sauacutede eacute uma questatildeo social e portanto
envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporshy
te atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por
exemplo Espera-se que os alunos superem o entendimento predoshy
minante do senso comum expressando que a praacutetica de esporte
por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacutede e mais por questotildees
ideoloacutegicas o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo vem sendo veiculado com a
intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsabilidade por sua
proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus direitos
baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos
que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo
Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto pretendemos discutir as diferenshy
tes abordagens do tema apresentadas pelos alunos inclusive posshy
sibilitando a eles comparar o texto produzido neste momento na
catarse com o texto produzido no iniacutecio do processo pedagoacutegishy
co Aleacutem disso os alunos devem produzir em grupos um cartaz
alertando a comunidade escolar sobre a problemaacutetica estudada
No retorno agrave praacutetica social pretendemos finalizar o trabalho
pedagoacutegico definindo juntamente com os alunos novas intenshy
ccedilotildees e propostas de accedilatildeo mdash a partir da nova forma de compreenshy
der e de lidar com o conteuacutedotema em questatildeo
Plano de unidade
Esporte eacute sauacutede
DISCIPLINA Educaccedilatildeo Fiacutesica
AN O DE ESCOLARIDADE 8o ano do Ensino Fundamental
C O N T E Uacute D O Esporte
U N ID A D E Esporte c sauacutede
N Uacute M ERO DE AULAS 10 aulas
OBJETIVOS GERAIS
bull Entender a sauacutede como uma questatildeo social resultado
das condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo meio
ambiente trabalho transporte acesso aos serviccedilos de
sauacutede dentre outros de modo a adotar uma postura
favoraacutevel agrave superaccedilatildeo dos problemas sociais concretos
que determinam a obtenccedilatildeo da sauacutede
bull Vivenciar atividades esportivas enfatizando novos
sentidossignificados para posicionar-se favoravelmente agrave
transformaccedilatildeo do esporte
bull Refletir sobre os iacutendices de lesotildees e distuacuterbios emocionais
em atletas do esporte de rendimento
bull Analisar diferentes discursos sobre esporte e sauacutede
para posicionar-se criticamente diante das concepccedilotildees
que estabelecem uma relaccedilatildeo direta entre a praacutetica de
esporte e a obtenccedilatildeo de sauacutede
1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL
11 Anuacutencio dos conteuacutedos
TOacutePICOS
bull Sauacutede uma questatildeo social
bull As lesotildees e a depressatildeo em atletas do esporte de rendimento
bull Os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo
bull Vivenciando diferentes modalidades esportivas
12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos
bull O que os alunos sabem a praacutetica de esporte estaacute relacionada
agrave obtenccedilatildeo de sauacutede praticar esporte faz bem agrave sauacutede
bull O que os alunos querem saber mais o que eacute necessaacuterio
para termos uma vida saudaacutevel Quais satildeo os esportes mais
conhecidos no Brasil Quais esportes tecircm o maior iacutendice
de lesotildees
2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO
21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo
O que vocecircs entendem por sauacutede O esporte promove sauacutede
Por quecirc Qual a importacircncia de se estudar o tema ldquoesporte eacute sauacutederdquo
22 Dimensotildees do conteuacutedo
bull Dimensatildeo conceituai O que eacute sauacutede Quais os principais
benefiacutecios da praacutetica correta e adequada de exerciacutecios
fiacutesicos Como a praacutetica esportiva melhora nossa sauacutede
bull Dimensatildeo histoacuterica os espaccedilos puacuteblicos destinados agrave praacutetica
de esporte em nossa cidade estatildeo diminuindo nos uacuteltimos
anos E os espaccedilos que cobram aluguel para utilizaccedilatildeo Seraacute
que esses espaccedilos estatildeo diminuindo ou aumentando
bull Dimensatildeo econocircmica- por que no esporte de rendimento as
lesotildees satildeo muito comuns
bull Dimensatildeo social se o esporte combate a depressatildeo por que
tem aumentado o nuacutemero de casos de atletas com essa
doenccedila A obtenccedilatildeo da sauacutede estaacute sempre presente nos
esportes de alto rendimento O uso de substacircncias para
melhorar o rendimento e a grande incidecircncia de lesotildees nos
atletas eacute indicativo de sauacutede
bull Dimensatildeo poliacuteticarsquo haacute algum programa social que propaga
o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo ou que nele se fundamenta O
lema esporte e sauacutede tem alguma importacircncia poliacutetica Haacute
poliacuteticas puacuteblicas de incentivo agrave praacutetica esportiva na sua
cidade
bull Dimensatildeo cultural Qual a influecircncia da miacutedia na relaccedilatildeo
entre esporte e sauacutede
bull Dimensatildeo ideoloacutegica Por que eacute tatildeo difundida a ideia de que
esporte eacute sauacutede A exigecircncia da capacidade fiacutesica dos atletas
nos esportes de alto rendimento eacute sinocircnimo de sauacutede
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
31 Accedilotildees docentes e discentes
bull Anaacutelise de viacutedeos e documentaacuterios
bull Vivecircncia das modalidades esportivas mais conhecidas no
paiacutes
bull Exposiccedilatildeo do conteuacutedo pelo professor
bull Pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privados) disponiacuteveis para
a praacutetica de esporte na cidade
bull Leitura e anaacutelise de reportagens
32 Recursos mdash humanos e materiais
Livros revistas jornais slides bolas tv dvd folhas de papel
4) CATARSE
41 Siacutentese teoacuterica do aluno
O esporte tem se apresentado atualmente como elemento crucial para
obter sauacutede e alcanccedilar uma vida saudaacutevel A praacutetica de esporte quase semshy
pre estaacute diretamente relacionada agrave sauacutede Poreacutem uma anaacutelise mais cuidashy
dosa do tema esporte e sauacutede nos permite criticar e superar essas compre-
ensotildees predominantes Em primeiro lugar a sauacutede eacute uma questatildeo social
que envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporte
atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por exemplo
Assim a praacutetica de esporte por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacuteshy
de Ateacute mesmo alguns esportistas de alto rendimento acabam por adquirir
problemas de sauacutede em virtude de sua atividade de trabalho seja por utilishy
zar substacircncias seja por se machucar durante treinos ou competiccedilotildees Em
segundo lugar eacute importante destacar que muitas vezes o lema ldquoesporte eacute
sauacutederdquo eacute veiculado com a intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsashy
bilidade por sua proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus
direitos baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos
que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo
42 Expressatildeo da siacutentese
Elaboraccedilatildeo de texto dissertativo produccedilatildeo (em grupo) de um
cartaz sobre o tema estudado
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO
Quadro 1- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO 52 AltyOacuteES DO ALUNO
Saber mais sobre esporte e sauacutede Ler artigos acadecircmicos sobre esporte e sauacutede
Situar-se criticamente frente agraves formulaccedilotildees
sobre esporte e sauacutede utilizando o conhecishy
mento adquirido para compreendecirc-las critishy
camente
Analisar formulaccedilotildees sobre esporte e sauacutede
veiculadas pela miacutedia
Manifestar uma atitude favoraacutevel agrave transforshy
maccedilatildeo do esporte
Vivenciar modalidades esportivas dando
um novo significado a essas praacuteticas de
m odo que a competiccedilatildeo a concorrecircncia
o rendimento e a disputa por exemplo
sejam substituiacutedos por valores que sociashy
lizam privilegiam o coletivo garantam a
solidariedade e respeito humano dentre
outros
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildes Finais
O presente texto buscou apresentar uma proposta pedagoacutegica
de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
tendo como referecircncia os fundamentos da Pedagogia histoacuterico-
-criacutetica Buscamos com essa proposta ampliar a compreensatildeo dos
alunos sobre o tema e consequentemente possibilitar-lhes transshy
cender noccedilotildees cotidianas sobre a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede
Ao socializara referida proposta no presente artigo natildeo pretenshy
demos oferecer uma ldquoreceitardquo mas sim apresentar uma das inuacutemeshy
ras possibilidades de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte
Ainda consideramos importante destacar que as dificuldades imshy
postas pelas condiccedilotildees de vida e trabalho de grande parte dos professhy
sores das redes puacuteblicas municipal e estadual de ensino assim como as
degradantes condiccedilotildees de vida a que estatildeo expostos muitos dos nossos
alunos satildeo apenas alguns dos fatores que podem dificultar o desenshy
volvimento do trabalho pedagoacutegico voltado agrave transmissatildeo do conheshy
cimento sistematizado na educaccedilatildeo escolar As precaacuterias condiccedilotildees de
vidatrabalho por sua vez reiteram nosso entendimento de que a luta
pela socializaccedilatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo se esgota no
debate pedagoacutegico entre as diferentes concepccedilotildees uma vez que engloshy
ba tambeacutem a luta pela escola puacuteblica que deve ser enfrentada em sua
radicalidade tal como alerta Saviani (2005b p 257)
O desafio posto pela sociedade de classes do tipo
capitalista agrave educaccedilatildeo puacuteblica soacute poderaacute ser enfrenshy
tado em sentido proacuteprio isto eacute radicalmente com
a superaccedilatildeo dessa forma de sociedade A luta pela
escola puacuteblica coincide portanto com a luta pelo
socialismo por ser este uma forma de produccedilatildeo
que socializa os meios de produccedilatildeo superando sua
apropriaccedilatildeo privada Com isso socializa-se o saber
viabilizando sua apropriaccedilatildeo pelos trabalhadores
isto eacute pelo conjunto da populaccedilatildeo
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Rafael Loures dos Reis Bellei
Renata Aparecida Alves Landim
O presente capiacutetulo tem por intenccedilatildeo trazer
contribuiccedilotildees sobre a possibilidade de trabalho
com o conteuacutedo lutas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica Entendemos que abordar as lutas na escola
natildeo eacute tarefa faacutecil pois esse conteuacutedo impotildee como
veremos algumas dificuldades ateacute mesmo pela
compreensatildeo equivocada dos proacuteprios professoshy
res e comunidade escolar sobre esse elemento da
cultura corporal Natildeo obstante compreendemos
que o trabalho pedagoacutegico com esse conteuacutedo eacute
possiacutevel e necessaacuterio pois nosso objetivo eacute que os
alunos ultrapassem uma concepccedilatildeo sincreacutetica e
caoacutetica sobre a realidade a partir da apropriaccedilatildeo
de conhecimentos que os permitam superar as vishy
sotildees parciais que predominam no senso comum
Partindo desse pressuposto optamos por
abordar uma temaacutetica que tem chamado a atenshy
ccedilatildeo de nossos alunos na atualidade o fenocircmeno
das Artes Marciais Mistas modalidade de luta
esportiva alardeada pela miacutedia e alvo de muitas
polecircmicas Nossa perspectiva neste texto seraacute reashy
lizar uma breve discussatildeo sobre o tema e apontar
referecircncias metodoloacutegicas para seu tratamento
nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica em conformidade com o referencial teoacuterico-
-metodoloacutegico proposto pelo Coletivo de Autores (1992)
As lutas e seu lugar na escola formaccedilatildeo de lutadores ou sujeitos
A partir da definiccedilatildeo do grande campo da cultura corporal as
lutasartes marciais1 passaram a figurar como importante conteuacutedo
das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica O reconhecimento da necessidade de
tratamento pedagoacutegico das lutas na escola pode ser comprovado em
diversas orientaccedilotildeespropostas curriculares em niacutevel nacional estashy
dual e municipal e em escritos de diversos autores da aacuterea
Natildeo obstante em que pese essa produccedilatildeo ela ainda tem sido
incipiente em termos de lograr accedilotildees (pedagoacutegicas) efetivas para os
diferentes niacuteveis da educaccedilatildeo escolar A parca produccedilatildeo cientiacutefica
abordando as lutas na escola pode ser comprovada se comparada agrave
produccedilatildeo de outros conteuacutedos como o esporte o jogo e a ginaacutestica
Os professores de Educaccedilatildeo Fiacutesica tambeacutem apontam algumas
dificuldades ao procurar trabalhar esse conteuacutedo em suas aulas
como a falta de materiais roupas e espaccedilos adequados De acorshy
do com Nascimento e Almeida (2007) os principais argumentos
para a restriccedilatildeo do trabalho com o conteuacutedo satildeo a falta de vivecircncia
cotidianaacadecircmica em lutas por parte dos professores e a preocushy
paccedilatildeo com a violecircncia que julgam ser intriacutenseca agrave praacutetica das lutas
tornando-as incompatiacuteveis com as finalidades da escola
Apesar de compreendermos esses argumentos acreditamos que
devemos lutar pela formaccedilatildeo continuada e pelos recursos materiais que
nos permitam trabalhar de forma ainda mais qualificada com as lutas
por serem importantes conteuacutedos para a Educaccedilatildeo Fiacutesica De acordo
com os pressupostos que este coletivo se propotildee a trabalhar entendeshy
mos que as lutas configuram-se como um dos elementos da cultura
1 A lguns autores operam distinccedilotildees conceituais entre os termos Artes Marciais
e Lutas Respeitando os objetivos e limites deste texto optamos por natildeo entrar
nesta polecircmica e trabalhar os dois termos dentro do conteuacutedo lutas Partimos do
pressuposto de que apesar de nem toda luta ser considerada uma arte marcial toda
arte marcial eacute em si uma luta Para aprofundar neste assunto ver Lanccedilanova (2006)
corporal dada sua importacircncia nos mais diversos periacuteodos histoacutericos e
pela perspectiva da sua produccedilatildeo com base na realidade sociai concreta
sendo essa accedilatildeo elemento singular do gecircnero humano3 e que por isso se
diferencia da accedilatildeo instintiva do atacar e defender dos animais
As lutas estatildeo presentes nos mais variados espaccedilos como nas atishy
vidades extracurriculares de muitas escolas nas Olimpiacuteadas em acashy
demias nos clubes e na miacutedia (das mais variadas formas) fazendo os
alunos terem uma aproximaccedilatildeo maior com essa manifestaccedilatildeo corporal
Entretanto esse contato se faz geralmente na perspectiva do senshy
so comum reduzindo as lutas aos coacutedigos do esporte de rendimento
em que pesem por exemplo a oficializaccedilatildeo de regras comparaccedilatildeo de
resultados institucionalizaccedilatildeo racionalizaccedilatildeo das praacuteticastreinamenshy
to e busca da maximizaccedilatildeo do desempenho elementos proacuteprios do
processo de esportivizaccedilatildeo a que outras manifestaccedilotildees como o jogo e
a danccedila vem sofrendo tambeacutem (GONZAacuteLEZ 2005)
O boxe eacute um bom exemplo desse processo de esportivizashy
ccedilatildeo Ele foi criado a partir de disputas nas feiras da Inglaterra
dos seacuteculos XV III e X IX e sua sistematizaccedilatildeo como esporte se
deu mediante o objetivo de organizar o tempo livre4 dos trabashy
lhadores das faacutebricas bem como ldquodosarrdquo a violecircncia O mesmo
aconteceu com a luta greco-romana e mais tarde com as lutas
2 Na linha do Coletivo de Autores (1992 p 38) a cultura corporal eacute o ldquo[] acervo de
formas de representaccedilatildeo do mundo que o homem tem produzido no decorrer da histoacuteria
exteriorizadas pela expressatildeo corporal jogo danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte
malabarismo contorcionismo miacutemica e outros que podem ser identificados como formas
de representaccedilotildees simboacutelicas de realidades vividas pelo homem historicamente criadas e
culturalmente desenvolvidasrdquo
3 A expressatildeo gecircnero humano eacute utilizada no lugar de espeacutecie humana natildeo por acaso mas
pautada nas elaboraccedilotildees de Duarte (2001) O autor natildeo descarta a ideia de que o ser humano
faz parte da espeacutecie humana poreacutem ele avanccedila nessa elaboraccedilatildeo De acordo com ele a
categoria espeacutecie humana se refere agrave identificaccedilatildeo do homem por seus elementos bioloacutegicos
jaacute a categoria gecircnero humano destaca as caracteriacutesticas humanas que satildeo formadas ao longo
da histoacuteria social natildeo transmissiacuteveis pela heranccedila geneacutetica ldquoA categoria de gecircnero humano
natildeo se reduz agravequilo que eacute comum a todos os homens natildeo eacute uma mera generalizaccedilatildeo de
caracteriacutesticas empiricamente verificaacuteveis em todo e qualquer ser humano Gecircnero humano
eacute uma categoria que expressa a siacutentese em cada momento histoacuterico de toda objetivaccedilatildeo
humana ateacute aquele momentordquo (DUARTE 2001 p 26)
4 Estamos entendendo tempo livre como aquele livre das obrigaccedilotildees sociais e cotidianas
pois no modelo social em que vivemos nenhum tempo pode ser considerado livre mas
regulado por alguma determinaccedilatildeo social Para saber mais ver Mascarenhalaquo
orientais (Caratecirc Taekwondocirc Kung-fu Jiu-jistu Judocirc etc) o
que nos permite apontar uma mudanccedila paradigmaacutetica das lutas
desde suas origens ateacute os dias atuais
De um modo geral as lutas tecircm suas conotaccedilotildees primordiais
associadas agraves praacuteticas para a guerra sendo posteriormente adotadas
como um caminho para se alcanccedilar um estilo de vida mais equilibrashy
do e paciacutefico Nessa linha Hausen (2004) descreve o processo histoacuterishy
co de desenvolvimento das lutas de origem oriental que surgiram de
danccedilas praticadas no periacuteodo neoliacutetico e foram sendo sistematizadas
com o intuito de defesa mas para aleacutem disso elas foram adquirindo
sentidossignificado mais amplos como a busca de aprimoramento
corporal espiritual eacutetico moral e intelectual
Nos dias atuais as lutas se apresentam de forma massificada e
descaracterizada dos seus objetivos originais como os filosoacuteficos e os
de desenvolvimento humano (BARROS GABRIEL 2011) Os filshy
mes desenhos animados jogos virtuais e academias de ginaacutestica enshy
tre outros espaccedilos muitas das vezes deturpam os significados autecircnshy
ticos das lutas fazendo com que esse importante elemento cultural se
perca diante das demandas do capitalismo internacionalizado
Quase sempre encaradas como espetaacuteculos maravilhosos de pancadashy
ria e violecircncia a miacutedia deturpa o sentido e significado original das lutas torshy
nando-as sinocircnimo de violecircncia e crueldade com os inimigos Este imagishy
naacuterio criado faz com que os praticantes de lutas se tornem super-heroacuteis que
combatem o mal atraveacutes da violecircncia que gradativatildemente ldquodessensibiliza
os mais novos acerca da violecircncia do choque e do terror de ver algueacutem senshy
do agredido Desenvolvendo essa toleracircncia agrave violecircncia precisaratildeo de cada
vez mais violecircncia para serem entretidos rdquo (LANCcedilANOVA 2006 p 7)
A defesa que fazemos em torno desse conteuacutedo se daacute na compreshy
ensatildeo de que essa manifestaccedilatildeo da cultura corporal muito tem a con-
5 Segundo Marta (2009) a disseminaccedilatildeo das artes marciais orientais para outros paiacuteses
desencadeou um processo de ocidentalizaccedilatildeo com progressiva transformaccedilatildeo das
mesmas em produtos que para tornarem-se mais acessiacuteveisaceitaacuteveis comeccedilam a ser
destituiacutedos de seus rituais e valores tradicionais sendo a esportivizaccedilatildeo um elemento
chave desse processo Vale lembrar que a ocidentalizaccedilatildeo natildeo ocorre apenas com as
lutas mas com toda a cultura de tal modo que podemos falar em ocidentalizaccedilatildeo da
comida da moda do padratildeo de beleza dos estilos de vida das praacuteticas corporais etc
tribuir na formaccedilatildeo criacutetica do nosso aluno visto que a atuaccedilatildeo como
sujeito histoacuterico requer o acesso aos conhecimentos acumulados sobre
as lutas e seus significados como realidades histoacuterico-sociais
Compreendemos que cada tipo de luta eacute uma manifestaccedilatildeo
dotada de trajetoacuteria singular pois satildeo criadas pelos homens conshy
forme os interesses sociais culturais poliacuteticos econocircmicos e filoshy
soacuteficos nos vaacuterios periacuteodos histoacutericos e modos de produccedilatildeo6 Desse
modo as lutas tornam-se campo feacutertil na compreensatildeo da realidashy
de como produccedilatildeo histoacuterica e que por isso podem ser reinventashy
das segundo suas necessidades e interesses Aliaacutes o fazer histoacuteria eacute
expressatildeo proacutepria do gecircnero humano Nas palavras de Hobsbawm
(2010) enquanto houver ser humano haveraacute histoacuteria
A perspectiva de trabalho com as lutas dentro da escola natildeo
tem como objetivo formar o lutador de certa modalidade mas sim
formar o sujeito histoacuterico E pensar isso perfaz entender que o ensishy
no de lutas justifica-se quando ele possibilita ao aluno compreender
de forma criacutetica os condicionantes histoacutericos e sociais que fizeram
das lutas o que satildeo hoje bem como possibilitar-lhe usufruir sob
outras perspectivas o praticarvivenciar essa manifestaccedilatildeo
Artes Marciais Mistas
O resultado de toda essa esportivizaccedilatildeoocidentalizaccedilatildeo das
artes marciais da falta de sensibilidade dessa sociedade cada vez
mais competitiva e da busca incansaacutevel por audiecircncia e conseshy
quentemente por lucro se cristaliza em uma simples sigla ldquoianshy
querdquo MMA Mixed M artial Arts) ou Artes Marciais Mistas O
M M A eacute uma luta esportiva em que teacutecnicas de variadas modalishy
dades de lutasartes marciais satildeo utilizadas devidamente esvaziashy
das de seus significados filosoacuteficos e histoacutericos originais e com um
acreacutescimo de brutalidade dotada de sentido econocircmico
6 Modo de produccedilatildeo eacute uma categoria utilizada por Marx com o intuito de discriminar
as diferenccedilas que cada eacutepoca histoacuterica possui em funccedilatildeo das suas forccedilas produtivas e
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo Assim podemos falar em modo de produccedilatildeo escravista
feudalista capitalista Para saber mais ver Huni (2005)
Selecionamos como temaacutetica dessa unidade de lutas essa
modalidade por entendermos que seu apelo midiaacutetico tem chashy
mado muita atenccedilatildeo entre os jovens em nossa sociedade nos uacutelshy
timos anos Essa popularizaccedilatildeo traz algumas questotildees que devem
ser socializadas e discutidas com nossos alunos tais como a orishy
gem dessa luta esportiva o papel da miacutedia na sua difusatildeo a sua
relaccedilatildeo com a violecircncia e com a mercadorizaccedilatildeo das lutas entre
muitas outras que possam surgir de acordo com o interesse e
aprofundamento dos alunos na temaacutetica
Os primeiros indiacutecios de lutas mistas estatildeo relacionados com
a Greacutecia antiga Tal luta era denominada de Pankration uma
combinaccedilatildeo de duas palavras gregas p a n que significa tudo ou
vaacuterios e kratos que significa forccedila7 Mas registros de algo pareshy
cido ressurgem por volta da segunda deacutecada do seacuteculo passado
aqui no Brasil quando membros da famiacutelia Gracie a fim de
divulgar uma modalidade de luta por eles adaptada do Jiu-jitsu
japonecircs e mais tarde denominada Jiu-jitsu brasileiro criaram o
ldquoGracie Challengerdquo ou ldquoDesafio dos Gracierdquo Os irmatildeos Gracie
desafiavam qualquer lutador de qualquer modalidade a fim de
demonstrar que a sua teacutecnica era mais eficiente Esses desafios
ficaram conhecidos como Vale-Tudo8 (AWI 2012)
Mais tarde no iniacutecio dos anos de 1990 nos EUA Rorion Gracie
e outros soacutecios criaram o primeiro torneio UFC (Ultimate Fighting
Championship) Com um formato um pouco diferente dos torneios de
ldquoVale-Tudordquo anteriores - como por exemplo o abandono do ringue e
7 O Pankration era unia espeacutecie de luta de solo que fazia parte das provas dos Jogos
Oliacutempicos sendo um dos acontecimentos mais populares da antiguidade Segundo Elias
e Dunning (1992) o niacutevel de violecircncia permitido nessa luta era muito elevado as regras
eram tradicionais e muito flexiacuteveis havia um juiz mas natildeo havia limite de tempo e o
combate durava ateacute que um dos oponentes desistisse por isso muitas vezes terminava com
a mutilaccedilatildeo ou morte do adversaacuterio O Pankration natildeo pode ser considerado um esporte
pois esse termo soacute pode ser suficientemente utilizado a partir do seacuteculo XV III em referecircncia
agraves praacuteticas corporais regidas por regras escritas e regulamentadas por instituiccedilotildees especiacuteficas
8 No fim da deacutecada de 1920 ocorreu o primeiro confronto puacuteblico desse gecircnero na ocasiatildeo
foi chamado de estilo versus estilo soacute depois a imprensa comeccedilou a se referir a esse confronto
como Vale Tudo (AWI 2012) Na deacutecada de I960 a violecircncia de algumas lutas criou uma
resistecircncia ao Vale Tudo que chegou a ser proibido no Brasil Ele ressurgiu entre as deacutecadas
de 1980 e 1990 num combate entre lutadores de Jiu-jitsu e Luta Livre mas enfraqueceu
novamente devido ao alto grau de violecircncia inclusive por parte do puacuteblico (MM A 2010)
a criaccedilatildeo do octoacutegono9 mdash o UFC chamou a atenccedilatildeo com lutadores de
diversas modalidades se enfrentando com regras miacutenimas e sem restrishy
ccedilatildeo de tempo Logo surgiram outros torneios como ldquoPRIDErdquo e ldquoOpen
Free Style Japanrdquo que se tornaram sucesso nas TV s por assinatura Poshy
reacutem juntamente com o sucesso de espectadores10 vieram as restriccedilotildees
em diversos estados por todos os EUA (MMA 2010)
Em pouco tempo de existecircncia dessas competiccedilotildees os lutashy
dores perceberam que aliar as diversas modalidades de lutas que
permitissem a eles lutarem em peacute e no chatildeo os tornaria mais comshy
petitivos Essa mistura de estilos de lutas e habilidades se tornou
conhecida como Artes Marciais Mistas (D ISCOVER UFC 2012)
Natildeo apenas Anderson mas nossos melhores lutadores
sabem se moldar de acordo com a situaccedilatildeo diante
das adversidades E uma qualidade indispensaacutevel do
MMA Por permitir o uso de golpes das mais diversas
modalidades o esporte acaba premiando a capacidashy
de de improviso do atleta diante de tantas variaacuteveis
Nisso as artes marciais mistas se assemelham agrave paixatildeo
nacional o futebol notoriamente um dos esportes
que menos se presta a ldquoensaiosrdquo e um dos mais impreshy
visiacuteveis que existem (AWI 2012 p 289)
No iniacutecio do seacuteculo XXI o UFC retorna reformulado com reshy
gras mais riacutegidas para poder agradar as autoridades que antes o proishy
biram limite de tempo divisatildeo de categorias por peso e seleccedilatildeo crishy
teriosa de lutadores De acordo com Awi (2012) hoje o MMA em
seus principais eventos eacute um esporte regulamentado com exames
perioacutedicos testes antidoping e regras bem claras
Na atualidade o UFC marca que domina 90 do mercashy
do mundial do M M A vincula o espetaacuteculo de entretenimento ao
consumo dos mais diversos produtos como aparelhos de ginaacutesshy
tica roupas videogames bonecos e DVDs Uma noite do evento
9 v -Segundo Rorion Grace a ideia do octoacutegono (espeacutecie de jaula com oito lados) era
justamente impedir os lutadores de fugirem do espaccedilo de luta durante a ldquopancadariardquo a
fim de atrair mais puacuteblico e chegar agrave televisatildeo (M M A 2010)t10 Na primeira ediccedilatildeo do UFC 85 mil lares americanos pagaram para ver a luta ao
vivo na televisatildeo na segunda foram 120 mil na terceira 180 mil e na quarta 260
mil pagantes (AW I 2012)
gera em meacutedia 70 milhotildees de reais Estima-se que a marca ldquoUFCrdquo
comprada haacute 12 anos por 2 milhotildees de doacutelares hoje eacute avaliada
em mais de 13 bilhatildeo de doacutelares 11 (AWI 2012) Neste quadro o
M M A ascende como ldquonovardquo face da luta-espetaacuteculo12 assumindo
o posto outrora ocupado pelo boxe que hoje estaacute em segundo plashy
no dentro do mercado das lutas esportivas
O esporte hoje eacute considerado ldquofebre mundialrdquo o nuacutemero de fatildes
soacute aumenta com o passar dos anos e as criacuteticas tambeacutem Recentemenshy
te em entrevista ao jornal Folha de Satildeo Paulo o bi-campeatildeo mundial
de boxe Eder Jofre fala criticavam o boxe porque era violento mas
perto do M M A eacute baleacute (PERTO 2012) E as criacuteticas natildeo param
por aiacute outra pessoa a questionar a civilidade da modalidade foi um
dos fundadores da torcida organizada ldquoGaviotildees da Fielrdquo considerada
uma das mais violentas do paiacutes Questionado sobre a violecircncia das
torcidas organizadas hoje em dia Chico Malfitanni em entrevista agrave
Folha de Satildeo Paulo declara ldquoos meios de comunicaccedilatildeo satildeo os maiores
incentivadores Outro dia o Sportv estava metendo o pau nas orgashy
nizadas agraves 1 lh30 da manhatilde Nisso entram cenas do MMA sangue
escorrendo O Galvatildeo [Bueno] gritando direita esquerda o cara soshy
cando o outro e isso eacute civilizadordquo (REIS 2012)
Apesar de algumas regras terem sido incluiacutedas para proibir eou limishy
tar o uso de alguns golpes durante os combates o niacutevel de violecircncia preshy
sente nas lutas de M M A eacute inegaacutevel De acordo com Awi (2012 p 19-20)
E rarissiacutemo uma ediccedilatildeo do UFC que termine
sem que pelo menos um lutador tenha de receshy
ber atendimento hospitalar antes de voltar para
casa Embora ateacute hoje soacute se tenha registrado duas
mortes por conta de lesotildees sofridas durante um
combate a variedade de golpes tramaacuteticos potildee em
11 O UFC eacute apontado pelos executivos americanos como a marca esportiva mais valiosa dos
Estados Unidos agrave frente da NFL (Futebol Americano) e da NBA (Basquete) Segundo
Awi (2012) Dana White e os irmaacuteos Fertita atuais administradores do UFC deram
o grande pulo do gato da marca ao perceberem que naacuteo bastava a luta era preciso
transformaacute-la num espetaacuteculo de entretenimento de massas
12 Utilizamos o termo ldquonovardquo entre aspas porque consideramos que o formato do M M A eacute novo
mas o seu conteuacutedo naacuteo eacute pois revela a apropriaccedilatildeo de teacutecnicas de lutas jaacute existentes
risco sim a integridade fiacutesica dos lutadores Mas
tambeacutem eacute verdade que o niacutevel de seguranccedila hoje eacute
bastante aceitaacutevel mdash e natildeo para de crescer
A polecircmica sobre o niacutevel de agressividade que envolve os comshy
bates de Artes Marciais Mistas traz agrave tona uma importante reflexatildeo
estaria o M M A incitando a violecircncia entre as pessoas
De acordo com Freire (2012) a questatildeo natildeo eacute tatildeo linear asshy
sim pois a agressividade presente no M M A natildeo seria a mesma
temida pelas pessoas em seus cotidianos mas sim a violecircncia transshy
formada em um espetaacuteculo de entretenimento O autor defende
seguindo a esteira de Nobert Elias que o puacuteblico experimenta um
momento de fruiccedilatildeo e prazer consumindo uma violecircncia controlashy
da por certas regrasteacutecnicas natildeo necessariamente praticando-a o
que poderia ser considerada uma conquista civilizatoacuteria13
Entretanto eacute importante destacar que o niacutevel de violecircncia
encontrado no M M A precisa ser compreendido no interior das
relaccedilotildees sociais capitalistas que na atualidade tecircm corroiacutedo o
tecido social No capitalismo a busca incessante pelo lucro eacute o
grande objetivo a ser atingido por isso a vidaintegridade do
lutador (visto como mercadoria viva) e o respeito ao adversaacuterio
soacute fazem sentido agrave medida que contribuem para esse objetivo
Nessa direccedilatildeo Duarte (2000) qualifica a sociedade capitalista
como hipoacutecrita pois ao transformar tudo em mercadoria ela
torna-se indiferente ao desenvolvimento moral dos indiviacuteduos
sendo que cedo ou tarde ela encontra meios de superar os lim ishy
tes outrora impostos para exploraccedilatildeo Assim agrave medida que se
torna mais aguda a crise da sociedade capitalista atual aumenta
13 Elias e Dunning (1992) evidenciam o caraacuteter de complementaridade entre esporte
e avanccedilo da civilizaccedilatildeo Os autores defendem que a criaccedilatildeo de regras sociais que
pacificaram as formas de disputa poliacutetica ocorre paralelamente ao desenvolvimento
de formas de exerciacutecio regulado da exciiacuteaccedilatildeo reprimida nas atividades seacuterias da vida
Neste contexto o esporte teria uma finalidade cataacutertica jaacute que deveria criar tensotildees
imaginaacuterias reguladas por teacutecnicas e regras permitindo a realizaccedilatildeo de uma violecircncia
controlada satisfazendo necessidades de excitaccedilatildeo dos participantes eou espectadores
ainda mais a alienaccedilatildeo da moral14 prevalecendo nesse contexto o
individualismo e o egoiacutesmo exacerbado
Desse modo o M M A tem demonstrado alinhamento com o prinshy
ciacutepio basilar do capitalismo a busca impiedosa pela valorizaccedilatildeo do cashy
pital sendo suas regras e apropriaccedilotildees teacutecnicas subordinadas a esse fim
O propoacutesito central dessa luta esportiva eacute manter o puacuteblico fascinado
para vender imagens roupas e demais mercadorias associadas agrave sua praacuteshy
tica Mas contraditoriamente o MMA por carregar em seu interior
fragmentos de diversas artes marciais e caracteriacutesticas do nosso tempo
desde que problematizado pode ajudar a entender os desafios e possishy
bilidades colocados para as lutas no contexto atual
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com as lutas
Com base nessa discussatildeo propomos uma unidade de ensino
que aborda o M M A como temaacutetica dentro do conteuacutedo lutas O plashy
no de unidade descrito abaixo foi elaborado para ser trabalhado com
alunos do oitavo ano do ensino fundamental
Seguindo os pressupostos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica o prishy
meiro passo eacute a identificaccedilatildeo dos dados da realidade onde temos uma
primeira impressatildeo dos alunos sobre o tema a ser trabalhado Como
atividade desse momento propomos organizar os alunos em gnipos
e pedir a eles que faccedilam um cartaz em uma folha de cartolina a parshy
tir de questotildees previamente elaboradas pelo professor As perguntas
enumeradas abaixo no plano de unidade deveratildeo ser respondidas
atraveacutes de ilustraccedilotildees fotografias eou reportagens que seratildeo disponishy
bilizadas para alunos atraveacutes de jornais esportivos ou paacuteginas da intershy
net A ideia geral eacute que os alunos indiquem qual eacute a luta mais famosa
14 De acordo com Duarte (2000) a discussatildeo sobre moral na sociedade capitalista eacute feita de
maneira alienada ou seja descolada dos valores que orientam a vida concreta das pessoas
Isso porque uma discussatildeo radical levaria agrave constataccedilatildeo de que o sistema capitalista eacute
avesso agraves questotildees morais jaacute que a proacutepria loacutegica do sistema eacute maximizar a exploraccedilatildeo dos
seres humanos sem limites para ampliar a acumulaccedilatildeo de capital Desse modo a base
concreta dessa alienaccedilatildeo moral eacute a proacutepria alienaccedilatildeo do trabalho atividade essencialmente
humana Nesse processo o homem eacute alienado natildeo apenas do produto e da atividade do
trabalho mas tambeacutem de si mesmo da relaccedilatildeo com o outro e com o gecircnero humano
na atualidade Esta atividade teraacute como objetivo averiguar o niacutevel de
compreensatildeo dos alunos sobre o M M A enquanto principal luta dos
tempos atuais Ao final desta atividade seraacute exposto aos alunos o conshy
teuacutedo e a temaacutetica que seraacute trabalhada questionando-os acerca do
que gostariam de saber a mais sobre o tema
Na problematizaccedilatildeo seratildeo levantadas algumas questotildees importanshy
tes para a discussatildeo do tema buscando orientar o aluno no processo de
apreensatildeo ativa do conhecimento Conforme pode ser visto no plano
de unidade seratildeo lanccediladas questotildees que abordam diversas dimensotildees
do conhecimento que seratildeo trabalhadas tais como o processo histoacuterico
de criaccedilatildeo do MMA sua evoluccedilatildeo as teacutecnicas baacutesicas desta luta os
interesses econocircmicos e as relaccedilotildees deste tema com a sociedade atual
A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento onde as atividades desenvolshy
vidas estatildeo voltadas para a aquisiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico por
parte dos alunos visando ampliar o niacutevel de consciecircncia dos mesmos
acerca do MM A e das suas interfaces com os tempos atuais No caso
em tela as atividades seratildeo exibiccedilatildeo de filmes e viacutedeos vivecircncia de
algumas modalidades de lutas discussotildees leituras de textos etc
A elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia pode ser verificada na cashy
tarse momento no qual haacute uma reinterpretaccedilatildeo da realidade desta
vez com o amparo do conhecimento cientiacutefico apreendido Como
sugestatildeo propomos a construccedilatildeo de um viacutedeo sobre os temas aborshy
dados a realizaccedilatildeo de um juacuteri simulado sobre o M M A e a criaccedilatildeo
de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais para debater o assunto
A ideia eacute que o aluno tenha se aproximado da percepccedilatildeo de que o
M M A eacute uma luta esportiva que utiliza teacutecnicas de diversas outras lushy
tas Na atualidade o MMA atraveacutes da marca UFC eacute uma das moshy
dalidades esportivas mais divulgadas e lucrativas do mundo Entreshy
tanto agrave medida que as teacutecnicas das lutas vatildeo sendo apropriadas para
seu uso competitivo nos torneios de M M A vai sendo aprofundado
o processo de descaracterizaccedilatildeo dessas modalidades em relaccedilatildeo aos
seus princiacutepios e valores originais O alto grau de violecircncia associado
agraves lutas dentro e fora dos octoacutegonos pode ser apontado como um
dos resultados desses processos de descaracterizaccedilatildeo
A uacuteltima etapa do plano de unidade eacute o retorno agrave praacutetica social ou
o momento de utilizar este conhecimento apreendido para uma nova
compreensatildeo e accedilatildeo sobre a realidade Assim propomos a divulgaccedilatildeo
dos materiais construiacutedos e socializaccedilatildeo com os outros alunos da escola
Plano de Unidade iMMA - a ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo
OBJETIVO GERAL
Compreender o M M A e suas relaccedilotildees com o mercado da luta-
-espetaacuteculo a fim de assumir uma postura criacutetica frente ao processo
de massificaccedilatildeo das lutas a partir desta modalidade
Toacutepicos de Conteuacutedo e objetivos especiacuteficos
1 - M M A que luta eacute essa
bull Ampliar conhecimentos sobre o MMA para distingui-lo de
outras modalidades de luta
bull Identificar os principais estilos de lutas seus golpes e
fundamentos teacutecnicos que compotildeem o MMA
2 - Origem e histoacuteria do M M A
bull Conhecer a origem e o processo de disseminaccedilatildeo do MMA
a fim de identificar a dinacircmica social que envolve a produccedilatildeo
dessa praacutetica da cultura corporal
3 - As lutas e seu processo de descaracterizaccedilatildeo
bull Diferenciar lutas de briga
bull Entender o processo de descaracterizaccedilatildeo das lutas
esportivizadas
bull Identificar o M M A como luta esportiva suas regras
categorias e competiccedilotildees
4 - M MA Miacutedia e Mercado a luta-espetaacuteculo como grande negoacutecio
bull Identificar o papel da miacutedia no processo de difusatildeo do
M M A
bull Compreender os interesses econocircmicos envolvidos nas
competiccedilotildees de MMA
5 - O MMA e a espetacularizaccedilaacuteo da violecircncia
bull Apreender a relaccedilatildeo entre o M M A e a espetacularizaccedilaacuteo da
violecircncia em nossa sociedade
bull Debater a relaccedilatildeo entre violecircncia e lutas
1) Praacutetica Social Inicial do Conteuacutedo
Material de Apoio Jornais e revistas esportivas (pode ser
feito tambeacutem na sala de informaacutetica utilizando os sites esportishy
vos mais populares) cartolinas canetinhas laacutepis de cor caneta
cola e tesoura
Accedilatildeo Dividir os alunos em grupos de no maacuteximo seis pesshy
soas A cada grupo deveraacute ser dado um questionaacuterio para ser
respondido na folha de cartolina e um nuacutemero suficiente de jorshy
nais esportivos (ou paacuteginas principais impressas dos noticiaacuterios
esportivos on-line) As perguntas satildeo
bull Qual eacute a luta mais famosa nos dias atuais
bull Quem eacute o melhor lutador atual
bull Quais satildeo as regras
bull Qual eacute o espaccedilo onde ela acontece
bull Quem a inventou
bull Onde podemos assistir esta luta
Os alunos deveratildeo procurar nos jornais fotografias eou reporshy
tagens sobre a luta que foi respondida como mais famosa (muito
provavelmente seraacute respondida que o M M A eacute a luta mais popular)
Os cartazes deveratildeo ser apresentados para os outros grupos
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3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO15
Quadro 2- Instrumentalizaccedilatildeo
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MMA que luta eacute
essa
Ampliar conhecimentos sobre o
MM A para distingui-lo de oushy
tras modalidades
Identificar os principais estilos
de lutas golpes e fundamenshy
tos teacutecnicos que compotildeem o
MMA
Conceituai
Teacutecnica
Pesquisa na sala de informaacutetica
Ler reportagens sobre o MMA
Viacutedeos imagens e textos
disponiacuteveis no blog ldquoConteshy
uacutedo e Meacutetodo nas aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Origem e histoacuteria
do M M A
Conhecer a origem e o processhy
so de disseminaccedilatildeo do MMA a
fim de identificar a dinacircmica soshy
cial que envolve a produccedilatildeo desshy
sa praacutetica da cultura corporal
HistoacutericaExibiccedilatildeo do Documentaacuterio da
Sportv sobre o MMA
Documentaacuterio ldquoMMA
a luta que levou o boxe agrave
lonardquo
Os links para acesso aos videos filmes e documentaacuterios citados no quadro abaixo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Disponiacutevel em lthttpcoledvoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012
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(2011)
4) CATARSE
41- Siacutentese teoacuterica do aluno
A catarse seraacute demonstrada com registros durante as aulas exshy
pressando que o MM A (Mixed Martial Arts) eacute uma luta esportiviza-
da criada a partir de uma forma de disputa para a disseminaccedilatildeo do
Jiu-jitsu brasileiro como a melhor das artes marciais Eram embates
entre lutadores de teacutecnicas distintas com lutadores de Jiu-jitsu prinshy
cipalmente Com a exarcebaccedilatildeo da violecircncia principalmente fora dos
ringues a famiacutelia Grace se muda para os EUA e comeccedila a criar uma
nova forma de disputa com regras espaccedilo adequado e teacutecnicas espeshy
ciacuteficas Surge assim o Vale Tudo e posteriormente o UFC e outras
modalidades Atualmente o UFC eacute uma das modalidades esportivas
mais lucrativas do mundo e uma das mais violentas associando teacutecshy
nicas de diversas lutas (Boxe Jiu-jitsu Muai thay Aikidocirc etc) sem
contudo valorizar os aspectos filosoacuteficos e princiacutepios originais das lushy
tas como respeito ao adversaacuterio e a si mesmo Muitas pessoas treinam
MMA para brigas de rua e torneios sem contudo entender o sentido
da criaccedilatildeo destas teacutecnicas pois estatildeo descaracterizadas atendendo a
interesses econocircmicos que vatildeo muito aleacutem da simples autodefesa
42 - Expressatildeo da Siacutentese
Construccedilatildeo de um viacutedeo sobre o MMA abordando de forma
criacutetica os temas estudados nas aulas ou construccedilatildeo de cartazes reshy
alizaccedilatildeo de um juacuteri simulado discutindo a temaacutetica e criaccedilatildeo de um
foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a temaacutetica
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO
Quadro 3 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
Conhecer mais sobre o M M A e suas difeshy
renccedilas de outros estilos
Pesquisar ler textos e assistir viacutedeos
sobre o M M A
Contribuir para a socializaccedilatildeo dos conhecishy
mentos sobre as lutas e para divulgaccedilatildeo de
espaccedilos de discussotildees sobre as mesmas
Convidar os demais alunos da escola para
f acessarem os viacutedeos e participarem dos
foacuteruns de discussatildeo sobre as lutas
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (201 1)
Consideraccedilotildees Finais
A formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos 1 1 0 acircmbito da cultura corporal
passa pela apreensatildeo de conhecimentos teoacuterico-praacuteticos que permitam agir
criticamente frente aos grandes fenocircmenos esportivos para aleacutem de sua
aparecircncia No caso das lutas o pouco acesso aos conhecimentos histoacutericos
teacutecnicos e filosoacuteficos das mesmas pode contribuir para gerar a substituiccedilatildeo
de sua praacutetica salutar pelo consumo passivo de espetaacuteculos esportivos muishy
tas vezes regados com alto grau de violecircncia A proposta de ensino com a
tematizaccedilatildeo das Artes Marciais Mistas buscou contribuir para pensar no
papel de mediaccedilatildeo que a Educaccedilatildeo Fiacutesica pode ter na formaccedilatildeo de sujeitos
criacuteticos ao fenocircmeno de descaracterizaccedilatildeo e mercadorizaccedilatildeo das lutas
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CAPIacuteTULO VI
A VOZ DA PERIFERIA O HIP HOP ENQUANTO POSSIBILIDADE DE TRABALHO NAS AULAS DE EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA
Adriano de Paiva Reis
Carla Cristina Carvalho Pereira
Giovana de Carvalho Castro
Herbert Hischter Chaves de Paula
Marcelo Silva dos Santos
Apesar da infinidade de possibilidades de
trabalho nos curriacuteculos escolares historicamenshy
te a danccedila foi tratada pela escola numa perspecshy
tiva funcional tendo como objetivo principal a
formaccedilatildeo do corpo feminino em contrapartida
agraves praacuteticas ginaacutesticas destinadas aos homens1
O fato eacute que o trabalho com a danccedila nas
escolas quase natildeo eacute realizado ou eacute realizado de
forma superficial e esvaziada A danccedila eacute recoshy
nhecida como atividade extracurricular - geralshy
mente o aprofundamento do trabalho com as
teacutecnicas de uma determinada modalidade - ou
eacute tratada como componente folcloacuterico no inshy
terior das escolas seja pela Educaccedilatildeo Fiacutesica ou
1 A discussatildeo acerca das praacuteticas corporais destinadas a
homens e mulheres ao longo da histoacuteria da Educaccedilatildeo
Fiacutesica no Brasil pode ser encontrada em Ghiraldelli
Juacutenior (1994) O autor situa historicamente a visatildeo
sexista da Educaccedilatildeo Fiacutesica na sociedade brasileira
demonstrando o papel da ginaacutestica para moldar o corpo
saudaacutevel robusto e harmonioso dos homens enquanto
que para as meninas as praacuteticas eram voltadas para a
danccedila a expressatildeo corporal o teatro e a poesia visando
pela Educaccedilatildeo Artiacutestica limitando-se muitas vezes agrave montagem de
coreografias para festas e comemoraccedilotildees da escola Raramente a danccedila eacute
valorizada por ter um conhecimento proacuteprio e uma linguagem expresshy
siva especiacutefica (BRASILEIRO 2003 FIAM ONCINI 2003)
A resistecircncia dos alunos em participar das aulas de danccedila na esshy
cola constitui um fator a ser considerado assim como a dificuldade
por parte de muitos professores em trabalhar com esse conteuacutedo sob a
alegaccedilatildeo de natildeo possuiacuterem conhecimento especiacutefico em nenhuma moshy
dalidade de danccedila problema agravado pelos curriacuteculos predominanteshy
mente esportivizados da maioria dos cursos de graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo
Fiacutesica No entanto entendendo que a funccedilatildeo primordial da escola eacute
a socializaccedilatildeo do saber historicamente produzido (SAVIANI 1997)
coloca-se como tarefa fundamental a sistematizaccedilatildeo de uma praacutexis edushy
cativa superadora em danccedila tendo em vista proporcionar aos alunos
uma apreensatildeo contextualizada e criacutetica acerca dessa linguagem
Na perspectiva da reflexatildeo sobre a cultura corporal a danccedila - enshy
tendida enquanto uma das expressotildees do patrimocircnio cultural da hushy
manidade - eacute um conteuacutedo a ser conhecido estudado produzido no
acircmbito escolar Nesta linha eacute preciso que o professor rompa com as
formas tradicionais mecanizadas e estereotipadas de danccedila proporshy
cionando ao aluno o conhecimento de suas verdadeiras possibilidades
corporais desenvolvendo a criatividade e a expressividade
A escolha da temaacutetica a ser abordada nas aulas deve partir
da necessidade de compreensatildeo e explicaccedilatildeo da realidade concreshy
ta do aluno oferecendo subsiacutedios para que ele compreenda os
determinantes soacutecio-histoacutericos de sua condiccedilatildeo de classe social
(C O LE T IV O DE AUTORES 1992)
Neste sentido escolhemos abordar o break enquanto modalishy
dade de danccedila atrelada ao movimento Hip Hop A definiccedilatildeo dessa
temaacutetica deveu-se agrave sua popularidade entre os alunos e agrave confusatildeo
conceituai acerca do Hip Hop uma vez que este eacute tratado apenas
como um estilo musical ou uma forma de danccedilar Assim torna-se neshy
cessaacuterio abordar e discutir as contradiccedilotildees existentes entre a essecircncia
do Hip Hop enquanto movimento de criacutetica e contestaccedilatildeo social e
sua mercadorizaccedilatildeo c esvaziamento pelos meios de comunicaccedilatildeo
O Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia e criacutetica social
O Hip Hop natildeo eacute apenas um estilo musical ou um tipo de
danccedila Trata-se na verdade de uma importante manifestaccedilatildeo culshy
tural produzida enquanto um movimento de resistecircncia da perishy
feria da classe menos favorecida - que natildeo coincidentemente eacute
representada majoritariamente por negros2 A origem do termo eacute
bastante controversa mas muitos pesquisadores atribuem sua criashy
ccedilatildeo a Afrika Bambaataa3 Suas origens remontam aos EUA por
volta dos anos de 1970 nos subuacuterbios de Nova York e de Chicago
atrelado agraves expressotildees culturais das comunidades jamaicanas latishy
nas e afro-americanas Nesses guetos - habitados majoritariamente
por uma populaccedilatildeo negra4 e assolados pela pobreza traacutefico de
drogas racismo ausecircncia de educaccedilatildeo e de espaccedilos de lazer mdash o
movimento Hip Hop nasceu a partir de accedilotildees para conter a violecircnshy
2 Satildeo os negros que ocupam a maioria das estatiacutesticas de desemprego mortalidade infantil
analfabetismo que possuem as piores condiccedilotildees de moradia a maioria que ocupa os
presiacutedios e as ruas etc A discussatildeo sobre a marginalizaccedilaacuteo do negro no Brasil ganha forccedila a
partir dos anos iniciais deste seacuteculo demonstrando a importacircncia do movimento negro no
cenaacuterio dos movimentos sociais no paiacutes Entretanto dentro do proacuteprio movimento negro
natildeo haacute unidade principalmente no que se refere agrave discussatildeo entre a relaccedilatildeo raccedilaclasse Por
esta razatildeo achamos fundamental demarcar nossa posiccedilatildeo dentro dessa discussatildeo apesar
de estarmos atentos ao fato de que uma das caracteriacutesticas do capitalismo eacute ser indiferente
agraves identidades sociais das pessoas que explora o fato de natildeo necessitar natildeo significa que
de fato natildeo se aproveite e natildeo decirc continuidade agrave opressatildeo racial O capitalismo que
massacra trabalhadores mundo afora eacute ainda mais perverso com aqueles setores que foram
marginalizados como eacute o caso dos negros (W O O D 2003)
3 Afrika Bambaataa - pseudocircnimo de Kevin Donovan - eacute de forma quase unacircnime
considerado o responsaacutevel por plantar as bases sobre as quais o Hip Hop se desenvolveu
Nascido e criado no violento bairro do Bronx (Nova Iorque) chegou agrave lideranccedila dos Black
Spades uma das mais fortes e violentas gangues da regiatildeo Sua vida comeccedilou a mudar
quando numa viagem agrave Aacutefrica no iniacutecio dos anos 1970 assistiu ao filme Zulu sobre
a luta entre africanos e ingleses no seacuteculo X IX Foi deste documentaacuterio que ele retirou o
nome pelo qual eacute conhecido hoje O filme tambeacutem despertou no mesmo um novo olhar
acerca de suas origens motivando-o a formar sua proacutepria naccedilatildeo Zulu bem como a buscar
raquo meios para cooptar jovens das gangues para ela Disponiacutevel em lthttpogloboglobo
comculturaconsiderado-pai-do-hip-hop-do-funk-carioca-afrika-bambaataa-faz-show-
no-rio-303106lixzz20554zE00gt Acesso cm 2 ago 2012
4 Aleacutem dos negros os guetos de Nova York eram ocupados por imigrantes latinos oriundos
principalmente do Meacutexico e de Porto Rico tambeacutem considerados inferiores por sua pele
morena e olhos indiacutegenas herdados de seus antepassados tambeacutem escravizados
cia e promover a conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessishy
dade de luta contra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis
Desta forma o Hip Hop atrela-se agraves calorosas discussotildees que trashy
zem agrave tona os embates e as contradiccedilotildees da sociedade norte-americana
Neste contexto emergem lideranccedilas negras como Martin Luther King
e Malcom X e grupos que lutavam pela igualdade de direitos como
os Panteras Negras Embora divergentes em suas propostas agregaram
em torno de suas ideias uma populaccedilatildeo que ansiava por mudanccedilas no
modelo social entatildeo vigente que condenava a populaccedilatildeo negra a uma
invisibilidade negando-lhe a possibilidade de uma efetiva participaccedilatildeo
social e poliacutetica Tais demandas refletiram na produccedilatildeo musical e o
rock mdash que tambeacutem nasceu negro tatildeo aderente nos anos de 1960 mdash
mostrou-se impotente para dar voz a esse novo contexto
Os guetos abraccedilaram o soul e prestaram reverencia a muacutesicas como
uSay it loud Im black and proudrdquo (diga alto sou negro e orgulhoso)
cantada aos berros por James Brown inspirado na frase do liacuteder sul africano
Steve Biko Ao soul juntou-se o ftink furioso do qual James Brown tamshy
beacutem foi um iacutecone imageacutetico Estava pronto o terreno do qual brotaria o
Hip Hop lanccediladas as sementes do soul do funk e da luta pelos direitos civis
da populaccedilatildeo negra A ele se uniu o rap que remonta as raiacutezes da oralidade
africana sintetizada na figura dos griots5 Os guetos apropriaram-se desta
tradiccedilatildeo e a reinventaram atraveacutes das batalhas de improviso que contavam
histoacuterias de seu cotidiano marcando assim o nascimento do freestyle6
Outra figura fundamental para o Hip Hop foi o DJ Kool Herc
imigrante jamaicano a quem se atribui a criaccedilatildeo dos breaks (trechos de
muacutesicas usados como bases) No final dos anos de 1960 Herc trouxe da
Jamaica para o Bronx a teacutecnica dos famosos sound systems de Kingston
5 Os ldquogriotsrdquo satildeo os guardiotildees inteacuterpretes e cantores da histoacuteria oral de muitos povos
africanos A figura do griot tem uma enorme importacircncia na preservaccedilatildeo da palavra da
narraccedilatildeo do mito africano ldquoNa praacutetica eles funcionam como escritores sem papel nem
pena Ortografam na oralidade aquilo que deve permanecer embutido na memoacuteria e no
coraccedilatildeo dos seus familiares e conterracircneos no sentido de manter incrustada a identidade
do seu ser e das suas raiacutezes fundamentada em grande parte no seu passado e nos seus
predecessoresrdquo BIJOacute1AS Maria Griots mdash os inteacuterpretes musicais da Histoacuteria africana
Disponiacutevel em lthttpwwwruadireitacommusicainfogriots-os-interpretes-musicais-
da-historia-africanagt Acesso em 23 jul 2012
6 Estilo livre muacutesica de improviso mediante desafios
Como os trechos usados como base eram curtos Herc teve a ideia de usar
um mixer e dois discos idecircnticos o que permitia a repeticcedilatildeo indefinida de
um determinado trecho da mesma muacutesica (PIMENTEL 1997)
Foi um disciacutepulo do DJ jamaicano mdash Grandmaster Flash - quem
criou o ldquoscratchrdquo que eacute a utilizaccedilatildeo da agulha do toca-discos arrashy
nhando o vinil em sentido anti-horaacuterio como instrumento musical
Aleacutem disso ldquoFlash entregava um microfone para que os danccedilarinos
pudessem improvisar discursos acompanhando o ritmo da muacutesica
(uma espeacutecie de repente-eleacutetrico que ficou conhecido como rap - os
lsquorepentistasrsquo satildeo chamados de rappers ou MCs isto eacute lsquomasters of ceri-
mony)rdquo (VIANNA JUacuteN IOR 1988 p 38)
Desta feita aos breaks aliou-se a forccedila das mensagens trazidas
pelos rappers atribuindo peso agrave expressatildeo mesmo sob condiccedilotildees lishy
mitadas de recursos e ausecircncia de instrumentos
Paralelamente ao rap outras manifestaccedilotildees artiacutesticas se desenshy
volviam nos guetos americanos Em meados da deacutecada de 1960 os
jovens dos subuacuterbios de Nova York comeccedilaram a ldquopicharrdquo as pareshy
des com seus nomes Assim surge o grafitti inicialmente como tag
(assinatura) como forma de retratar a realidade como forma de
participaccedilatildeo e de resistecircncia Logo a colocaccedilatildeo das tags em locais
cada vez mais inoacutespitos virou um novo elemento da disputa que foi
apropriado pelas gangues como forma de demarcaccedilatildeo de territoacuterios
dentro dos guetos Mais tarde o desenho foi introduzido ao tag
abrindo-se um novo leque de trabalhos para os grafiteiros
Na mesma eacutepoca surge o break dance nome atribuiacutedo pelo Dj
Herc para definir um estilo de danccedila caracterizado por miacutemicas imitashy
ccedilotildees de robocircs e acrobacias com influecircncias das mais diversas das artes
marciais agraves danccedilas urbanas da eacutepoca e que representassem os conflitos
e o cotidiano dos guetos nova-iorquinos O nome atribuiacutedo por Herc
justifica-se agrave medida em que ldquoos jovens que iam agraves festas danccedilavam no
Break da muacutesica que era o nome dado a sua teacutecnica de interromper a
batida mais forte da muacutesica como se ela estivesse quebrada e se repeshy
tisse por alguns segundosrdquo (SILVA 2010 p 32) A respeito da danccedila
Pimentel (1997 p 8) destaca que esta desenvolveu-se
[] ao sabor da contorccedilatildeo dos brcaks entre e dentro
das muacutesicas formando um novo corpo riacutetmico no inshy
terior das mesmas e conduzindo o DJ e seu puacuteblico a
uma nova forma de abordagem do tema reconstruiacutedo
e reinterpretaacutevel atraveacutes da danccedila das quebras riacutetmishy
cas Danccedilar o break consiste literalmente na execuccedilatildeo
de passos que procuram imitar essa ruptura e essa forshy
ma sincopada de reconstruir o proacuteprio ritmo
Nas ruas de Nova Iorque grupos (crews) se encontravam para
definir quem danccedilava melhor dando origem agraves chamadas batalhas ou rachas de break As batalhas entre as crews eram manifestaccedilotildees de
rua que tinham o propoacutesito de chamar a atenccedilatildeo do poder puacuteblishy
co sobre a situaccedilatildeo do afro-americano em relaccedilatildeo ao seu modo de
sobrevivecircncia e portanto tinham uma conotaccedilatildeo poliacutetica (LEAtildeO
2006) O break foi ganhando outros espaccedilos e passou a ser danccedilado
tambeacutem nas festas (as chamadas Black Parties)
Alguns autores consideram que o break no Hip Hop eacute formado
por trecircs estilos de danccedila originais o break bboying (caracterizada
pelos movimentos de chatildeo como top rock up rock foot work booga- loo e freeze aleacutem dos giros de cabeccedila mortais o moinho de vento7) o Popingg (estilo de danccedila urbana que foi incorporada ao Hip Hop
onde o danccedilarino imita robocircs aleacutem de ondulaccedilotildees com o tronco e
quadris) e o Locking (danccedila urbana incorporada ao Hip Hop que
indica as direccedilotildees no espaccedilo apontando o dedo) Por outro lado haacute
quem afirme que esses trecircs estilos satildeo danccedilas diferentes e somente o
break eacute a danccedila original por ser a primeira a ser incorporada como
elemento do Hip Hop (SILVA 2010)8
Desta feita rappers breakers e grafiteiros logo se viram diante
das mesmas anguacutestias e desafios cotidianos Daiacute para a coletiviza-
ccedilatildeo de suas accedilotildees foi um pequeno passo dando origem a naccedilotildees
associaccedilotildees posses e entidades para divulgaccedilatildeo do Hip Hop
7 A descriccedilatildeo e tutoriais desses movimentos estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e
Meacutetodo nas auias de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lt httpcoletivoedulisicajf
blogspotcombrgt Acesso em 12 dez 2012
8 Devido agrave riqueza de possibilidades consideramos os trecircs estilos para o trabalho
que realizamos com os alunos numa escola municipai de Juiz de Fora trabalho este
descrito ao final do presente artigo
Assim muito mais que ldquopular balanccedilando os quadrisrdquo - trashy
duccedilatildeo do termo do inglecircs - o Hip Hop configura-se como um
movimento social que busca promover a conscientizaccedilatildeo da popushy
laccedilatildeo jovem afro-americana atraveacutes da uniatildeo de diversas manifesshy
taccedilotildees artiacutesticas representadas por um conjunto de quatro elemenshy
tos a) o break que eacute a danccedila oficial praticada pelos Bboys e Bgirls
b) o rap que eacute o canto falado ao som de pick - ups ou mesmo de
ritmos feitos com a boca e o corpo c) o DJ (disk jockey) que atua
nos pick - ups acompanhando a falacanto dos MCs (mestre de
cerimocircnia) e d) o grafitti que eacute a arte nos muros vagotildees de trens
e espaccedilos deteriorados - uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para a
necessidade de revitalizaccedilatildeo desses espaccedilos (BENEDITO 2004)
E esse movimento que chega ao Brasil - influenciado pelo
lema do Black Power e pela admiraccedilatildeo aos Panteras Negras mdash
num contexto em que gangues urbanas conquistavam espaccedilo
embaladas por pequenos conflitos armados (armas brancas prinshy
cipalmente) e pelas muacutesicas do soul norte-americano Nosso ldquorashy
cismo agrave brasileirardquo natildeo dava margem para os conflitos diretos
pelos quais passou a sociedade norte-americana mas isso natildeo
significa a ausecircncia de poliacuteticas marginalizantes para a populaccedilatildeo
negra e afrodescendente no Brasil9
Como em outros paiacuteses diaspoacutericos o H ip Hop encontrou
no Brasil terreno feacutertil Sua chegada data de meados dos anos de
1980 em Satildeo Paulo Em 1988 foi lanccedilado o primeiro registro
fonograacutefico de rap nacional a coletacircnea ldquoHip-Hop Cultura de
Ruardquo pela gravadora Eldorado Com apoio puacuteblico da prefeitura
de Satildeo Paulo organizou-se a primeira associaccedilatildeo oficial de H ip
Hop no Brasil o M H 2 0 - Movimento Hip-Hop Organizado
9 A inserccedilatildeo do negro no poacutes-aboliccedilaacuteo tem sido alvo de diversos estudos Tais pesquisas
apontam para as dificuldades da populaccedilatildeo afrodescendente em ser reconhecida como
parte da sociedade brasileira e discutem o processo de marginalizaccedilatildeo imposto a esse
segmento Um dos aspectos mais relevantes dessa segmentaccedilatildeo eacute revelado nas pesquisas
que indicam a criminalizaccedilatildeo das praacuteticas culturais afrodescendentes presentes em nosso
coacutedigo penal ateacute 1940 Para maiores informaccedilotildees consultar Holloway (1997)
A descaracterizaccedilatildeo do Hip Hop a voz da periferia transmutada em mercadoria rentaacutevel
Identificamos hoje uma tentativa de esvaziamento e de descashy
racterizaccedilatildeo do H ip Hop enquanto movimento de luta e contestaccedilatildeo
social A induacutestria cultural vem cooptando essa forma de resistecircncia
em favor do capital transformando-o em um filatildeo de mercado vazio
de conteuacutedo histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico e ressignificado a partir
dos interesses da cultura hegemocircnica
O movimento mdash que sempre viveu e se propagou por fora dos
esquemas formais de comunicaccedilatildeo de massa sem espaccedilo nas raacutedios
comerciais e com trabalhos lanccedilados em gravadoras independentes
(MARTINS 1998) mdash atualmente ldquodesce o morrordquo indo parar nas
boates de classe meacutedia nas raacutedios e nas novelas e programas das prinshy
cipais emissoras de televisatildeo
A problemaacutetica da mercadorizaccedilatildeo do Hip Hop natildeo estaacute des-
zonectada do processo de transformaccedilatildeo e de mudanccedila que se faz
Dresente na sociedade de uma forma geral Jameson (2000) denuncia
^ue a emergente mudanccedila histoacuterica ocorrida na vida no ocidente para
jma nova forma de capitalismo trouxe a tese de que as questotildees cul-
urais tendem a se propagar para as econocircmicas e sociais Segundo o
iutor ldquoa produccedilatildeo das mercadorias eacute agora um fenocircmeno cultural no
lual se compram os produtos tanto por sua imagem quanto por seu
iacuteso imediato [] Nesse sentido a economia se transforma em uma
juestatildeo culturalrdquo (JAMESON 2000 p 22)
Na loacutegica cultural do capitalismo tardio onde o consumo
bull o principal meio de realizaccedilatildeo ldquoo prazer o lazer a seduccedilatildeo e a
ida eroacutetica satildeo trazidos para o acircmbito do poder do dinheiro e da
raquoreocupaccedilatildeo de mercadoriasrdquo (HARVEY 1992 p 99) Ao mes-
no tempo em que temos a sofisticaccedilatildeo das necessidades e dos seus
neios por um lado temos de outro uma abstrata simplificaccedilatildeo
las necessidades No campo especiacutefico da cultura a arte se tornou
ambeacutem uma mercadoria e o artista foi transformado em um pro-
utor de mercadorias (F ISCHER 1982)
Rappers ganharam status na induacutestria cultural sobretudo a
norte-americana e viraram ldquoastrosrdquo em todo o mundo Figuras como
Gangster RAP Dr Dree e Snoopy Dog aparecem na miacutedia preganshy
do e praticando a violecircncia adotando atitudes e produzindo letras
que demonstram hostilidade ao pobre e agrave mulher O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos contextos sendo empregashy
do para classificar um estilo de muacutesica de danccedila ou um jeito de se
vestir conhecido como estilo B-boy associado a marcas esportivas
especiacuteficas (boneacute tecircnis etc) Neste sentido
[] os aspectos do processo de mercadorizaccedilatildeo da
vestimenta das muacutesicas dos shows que possuem um
alto custo financeiro mostram essa refuncionaliza-
ccedilatildeo para garantir uma dada hegemonia tornando o
Hip Hop em determinados casos uma praacutetica disshy
tanciada da reflexatildeo de sua origem e da possibilidade
de ser uma forma de luta contra a opressatildeo Nesses
casos aquilo que servia para caracterizaacute-lo como
popular eacute justamente o que eacute transmutado o seu
sentido (AVILA et al 2005 p 64)
Aleacutem disso atraveacutes de poliacuteticas assistencialistas e compensashy
toacuterias o poder puacuteblico frequentemente apropria-se dos elementos
do Hip Hop num discurso apologeacutetico que o rotula enquanto
ldquosalvador da paacutetriardquo a partir da responsabilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos
pelas suas mazelas sociais justamente o oposto do que preconiza
o movimento O Hip Hop ligado agrave criacutetica poliacutetica e social e agrave
conscientizaccedilatildeo acerca da necessidade da organizaccedilatildeo coletiva tem
como intuito provocar mudanccedilas sociais e garantir direitos essenshy
ciais que satildeo responsabilidade do poder puacuteblico
Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo feita pelos meios de coshy
municaccedilatildeo a essecircncia do movimento permanece inalterada Atualshy
mente os movimentos organizados de Hip Hop buscam discutir a
discriminaccedilatildeo racial os problemas sociais a realidade da periferia
discussotildees estas materializadas nas letras do rap E esse Hip Hop
que pretendemos resgatar com nossos alunos contextualizando-o e
desvelando o que eacute a essecircncia desse movimento
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a danccedila
Elaboramos entatildeo um planejamento para ser desenvolvishy
do com alunos do 9o ano de uma escola municipal de Juiz de
Fora A proposta foi abordar o Hip Hop discutindo-o desde sua
origem enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social passhy
sando pela caracterizaccedilatildeo dos elementos que o compotildeem ateacute a
discussatildeo e anaacutelise criacutetica do que hoje eacute conhecido e difundido
pela miacutedia enquanto ldquoH ip Hoprdquo
Demos uma ecircnfase especial ao break por tratar-se de uma unishy
dade onde o conteuacutedo proposto era a danccedila Aqui tivemos espaccedilo
privilegiado para discutir as formas mecanizadas e estereotipadas de
danccedila impostas pela miacutedia e problematizamos a mera repeticcedilatildeo ou
imitaccedilatildeo a que muitas vezes se resumem as aulas de danccedila Numa oushy
tra perspectiva o break abre possibilidades de trabalhar a criatividade
e a expressividade jaacute que a essecircncia desse estilo eacute a improvisaccedilatildeo a (re)
criaccedilatildeo de movimentos Nas rodas de improvisaccedilatildeo cada participante
cria seu proacuteprio estilo e constroacutei suas sequecircncias de movimentos a
partir dos elementos teacutecnicos baacutesicos
Assim na identificaccedilatildeo da praacutetica social dividimos os alunos
em grupos e exibimos clipes de artistas diversos (Gabriel o pensador
Racionais M C rsquoS Beyonceacute Emicida etc) solicitando que ao final de
cada um eles respondessem em uma folha o nome e o estilo musical
do artista em questatildeo As respostas foram apresentadas a maioria deshy
las definia todos os clipes exibidos como sendo ldquoHip HoprdquoApoacutes esse primeiro momento iniciamos um debate com os alushy
nos lanccedilando algumas questotildees problematizadoras O que eacute Hip
Hop Hip Hop eacute danccedila O u eacute muacutesica Um estilo musical Como
surgiu o Hip Hop Existem muitos artistas negros no Hip Hop As
respostas dos alunos e a discussatildeo do tema foram registradas a fim de
fazer uma comparaccedilatildeo no final do trabalho
Na instrumentalizaccedilatildeo trabalhamos os seguintes toacutepicos de
conteuacutedo a histoacuteria do H ip Hop os quatro elementos que o
constituem (rap DJ grafitti10 break) bem como a influecircncia
dos meios de comunicaccedilatildeo na forma de disseminaccedilatildeo do Hip
Hop lanccedilando matildeo de recursos pedagoacutegicos como viacutedeos docushy
mentaacuterios reportagens letras de muacutesica dentre outros a fim de
que os alunos tivessem uma nova percepccedilatildeo do movimento Hip
Hop nas suas mais diversas dimensotildees No caso especiacutefico da
danccedila trabalhamos as teacutecnicas baacutesicas dos trecircs estilos de danccedila
do break (Bboing Popping e Locking) explorando a capacidade
de criaccedilatildeo e improvisaccedilatildeo dos alunos
Na catarse momento de elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia
dos alunos acerca do tema propomos a organizaccedilatildeo de um fesshy
tival de Hip Hop onde os alunos foram divididos em grupos e
demonstraram as teacutecnicas aprendidas bem como a exibiccedilatildeo de
um painel com os pontos abordados durante a unidade didaacutetica
No retorno agrave praacutetica social quando os alunos utilizam este
novo conhecimento para intervir criticamente na realidade soshy
cial a proposta foi realizar a produccedilatildeo de textos dos temas aborshy
dados nas aulas divulgando-os em um blog
PLANO DE UNIDADE
Tiacutetulo da Unidade O Movimento Hip Hop e a induacutestria cultural
OBJETIVO GERAL
Compreender o Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia
expressatildeo e denuacutencia de um grupo social
10 Ao elaborarmos o planejamento e apresentarmos a proposta para o coletivo da escola
abriu-se a possibilidade de um trabalho conjunto com a professora de Artes da turma por
isso pudemos aprofundar o trabalho com o grafitti
11 Viacutedeos e tutoriais usados para a preparaccedilatildeo das aulas e domiacutenio das teacutecnicas fundamentais
de cada um dos estilos do break estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas
aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt
Acesso em 10 dez 2012
Quadro 1- Anuacutencio do conteuacutedo
Toacutepico de Conteuacutedo t )bjetivos Especiacuteficos
Histoacuteria do H ip Hop
Conhecer a histoacuteria do Hip Hop e compreender sua essecircnshy
cia enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social
Identificar as caracteriacutesticas e manifestaccedilotildees do H ip Hop
no Brasil da atualidade
Os quatro elementos do movishy
mento H ip Hop
Identificar e conceituar os quatro elementos que constishy
tuem o movimento H ip Hop
Compreender a relaccedilatildeo de cada um dos elementos com o
movimento H ip Hop
Rhythm and Poetry
Compreender o rap enquanto o ldquocanto faladordquo que deshy
nuncia a injusticcedila e a opressatildeo de um grupo social
Conhecer teacutecnicas de construccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap
Arte nos Muros
Entender a histoacuteria e a evoluccedilatildeo do grafitti
Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo com o movimento H ip
Hop
Conhecer o grafitti na atualidade e suas linhas de expressatildeo
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de grafitagem
Aumente o som DJUuml
Identificar a ldquobatida quebradardquo (break) que caracteriza a
base musical do H ip Hop
Compreender o papel do DJ no H ip Hop
Estabelecer a diferenciaccedilatildeo entre o DJ e o M C (Mestre
de Cerimocircnia)
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de scratch e de mixagem
ldquoBatalhardquo entre crews
Analisar o papel do break enquanto expressatildeo corporal
ligada ao H ip Hop
Identificar os estilos do break sua origem e as vaacuterias forshy
mas de movimentaccedilatildeo
Relacionar os movimentos corporais ao ldquobreakrdquo da muacutesica
Aprender teacutecnicas baacutesicas de cada um dos estilos de break
O Hip Hop que passa na TV
Analisar a influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo na forma
de disseminaccedilatildeo do movimento H ip Hop
Compreender a banalizaccedilatildeo do movimento H ip Hop e
sua desconstruccedilatildeo pelo mercado
ontc elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
1) PRAacuteTICA SOCIAL IN ICIAL DO CONTEUacuteDO
11 Vivecircncia do Conteuacutedo
bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Hip Hop eacute um tipo
de muacutesica as muacutesicas criticam os ricos Hip Hop eacute uma danccedila
de rua etc
bull O que eles gostariam de saber a mais Como satildeo os passos
do Hip Hop como criar um rap como montar uma muacutesica
mixada etc
2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO
Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees
problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas
Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
$ v h W ccedil f v V j i v1 Tv S
t j j j fM IacuteW iacute lE i YSX IIP)
Histoacuteria do Hip HopHistoacuterica
Social
Como surgiu o Hip Hop Por que ele
surgiu Por que tem tantos artistas neshy
gros no Hip Hop
Os quatro elementos do movishy
mento H ip HopConceituai
Quais satildeo os elementos que constishy
tuem o Hip Hop Como se caracteshy
riza cada um deles
Rhythm and PoetryConceituai
Social
O que eacute rap De que falam as letras
dos raps Que mensagem querem
transmitir
Arte nos MurosLegal
Teacutecnica
Grafitar e pichar satildeo a mesma coishy
sa O que significa esse desenhos
nos muros
Aumente o som DJ Conceituai
0 que faz um DJ Qual a relaccedilatildeo
entre o DJ e o rap DJ e M C satildeo a
mesma pessoa Como eacute o ritmo da
danccedila no H ip Hop
ldquoBatalhardquo entre crewsConceituai
Teacutecnica
Como se danccedila no H ip Hop Qual
eacute o nome dessa danccedila Por que a
danccedila se chama ldquobreakrdquo Quais satildeo
os principais passos
O H ip Hop que passa na TV
Poliacutetica
Social
Econocircmica
Quais satildeo os rappers que aparecem
nos programas de TV Quais ideias
defendem em seus raps Os valores
dc que classe social representam
Fonte elaboraccedilatildeo nroacutenria m m
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo
bull
Histoacuteria do H ip
Hop
Conhecer a histoacuteria do H ip
H op e compreender sua essecircnshy
cia enquanto movimento de
contestaccedilatildeo c criacutetica social
Identificar as caracteriacutesticas e
manifestaccedilotildees do H ip H op no
Brasil da atualidade
Histoacuterica
Social
Apresentaccedilatildeo de dados estatiacutesticos sobre a
situaccedilatildeo do negro na sociedade brasileira
Exibiccedilatildeo de filmes e textos sobre a segreshy
gaccedilatildeo racial nos EUA e comparaccedilatildeo com
a realidade brasileira
Exibiccedilatildeo de documentaacuterio situando a
origem do H ip Hop
Exibiccedilatildeo de clipes de muacutesica que caracteshy
rizem a essecircncia do H ip Hop
Viacutedeos diversos65
Documentaacuterio ldquoH ip Hop em m oshy
vimentordquo
Documentaacuterio ldquoA Histoacuteria Do Hip
Hoprdquo
Os quatro eleshy
mentos do movishy
mento H ip Hop
Identificar e conceituar os
quatro elementos que constishy
tuem o movimento H ip Hop
Compreender a relaccedilatildeo de
cada um dos elementos com o
movimento H ip Hop
Conceituai
Social
Textos e viacutedeos sobre cada um dos eleshy
mentos
Viacutedeos produzidos pelos professores
Textos sobre os elementos do H ip
Hop
Os links paia acesso aos videos e textos utilizados na instrumentalizaccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em
lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012
=S
Rhythm and
Poetry
Compreender o rap enquanto
o ldquocanto faladordquo que denuncia
a injusticcedila e a opressatildeo de um
grupo social
Conhecer teacutecnicas de construshy
ccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap
Conceituai
Social
Teacutecnica
Anaacutelises de raps relacionados agrave realidade
social da periferia
Pesquisa sobre a estrutura e as teacutecnicas de
construccedilatildeo de um rap
Criaccedilatildeo individual eou coletiva de raps a
partir de temas propostos
Muacutesicas de grupos de rap
Clipe Negro Drama (Racionais)
Capiacutetulo sobre H ip Hop do livro D ishy
daacutetico do Paranaacute (Educaccedilatildeo Fiacutesica)
Arte nos Muros
v
Entender a histoacuteria e a evolushy
ccedilatildeo do grafitti
Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo
com o movimento H ip Hop
Conhecer o grafitti na atualishy
dade e suas linhas de expressatildeo
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de
grafitagem
Histoacuterica
Legal
Teacutecnica
Viacutedeo sobre a histoacuteria e evoluccedilatildeo do grafitti
Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das tags (asshy
sinaturas)
Viacutedeos produzidos pelos professores
Material de desenho para a vivecircnshy
cia das teacutecnicas das tags
Tintas e sprays para grafitar as tags
trabalhadas no papelatildeo ou no muro
Aumente o som
DJUuml
Identificar a ldquobatida quebrashy
dardquo (break) que caracteriza a
base musical do H ip Hop
Compreender o papel do D J
no H ip Hop
Estabelecer a diferenciaccedilatildeo enshy
tre o D J e o M C
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de
scratch e de mixagem
Conceituai
Teacutecnica
Identificaccedilatildeo da batida ldquoquebradardquo da
muacutesica e comparaccedilatildeo com outros ritmos
como por exemplo o funk
Vivecircncia de elementos baacutesicos de mixagem
Construccedilatildeo de bases mixadas das muacutesicas
Muacutesicas diversas
Mesas de mixagem ou programas
de computador para mixagem
Tutoriais diversos sobre mixagem
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Fonte
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ccedilatildeo
proacute
pri
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base
em
Gas
par
in
(2011)
4) CATARSE
41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno
O Hip Hop eacute uma das mais importantes manifestaccedilotildees joshy
vens da atualidade Surgiu nos Estados Unidos nos subuacuterbios de
Nova York e Chicago na deacutecada de 1970 habitados majoritaria-
mentepor uma populaccedilatildeo negra e assolados pela pobreza traacutefico
de drogas racismo e ausecircncia de espaccedilos de lazer A cultura Hip
Hop nasce a partir de accedilotildees para conter a violecircncia e promover a
conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessidade de luta conshy
tra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis
O Hip Hop eacute composto por 4 elementos a saber o break o
rap o DJ e o grafitti No Brasil o Hip Hop encontra na deacutecada
de 1980 um terreno fecundo para o seu desenvolvimento e o Hip
Hop ganha espaccedilo enquanto um meio de luta mobilizaccedilatildeo e dishy
vulgaccedilatildeo das desigualdades sociais e raciais
Entretanto a induacutestria da muacutesica se aproveita da popularishy
dade do Hip Hop transformando-o em uma mercadoria e descashy
racterizando-o enquanto movimento social e de contestaccedilatildeo No
caso especiacutefico da danccedila acontece uma reproduccedilatildeo de coreografias
montadas perdendo o sentido da expressatildeo corporal e a criatividashy
de que fazem parte da essecircncia do break
O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos conshy
textos sendo empregado para classificar um estilo de muacutesica de
danccedila ou um jeito de se vestir conhecido como estilo B-boy asshy
sociado a marcas esportivas especiacuteficas sem contudo representar
os seus objetivos gerais de contestaccedilatildeo social
42 - Expressatildeo da Siacutentese
Construccedilatildeo de paineacuteis sobre os elementos do Hip Hop orgashy
nizaccedilatildeo de um festival de Hip Hop apresentando os pontos discu-jf
tidos na unidade de ensino
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO
Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
Conhecer mais sobre o Hip Hop sua
essecircncia e tendecircncias
Ler pesquisar e conhecer pessoas
do Movimento Hip Hop
Socializar os conhecimentos aprendishy
dos sobre o Hip Hop
Produccedilatildeo de textos eou docushy
mentaacuterios sobre os elementos a
histoacuteria e a descaracterizaccedilatildeo do
Hip Hop
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees finais
Em tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas
as esferas da vicia a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda
maior E preciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabashy
lhadora construamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contrishy
buindo para a desmistificaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta
Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo imposta pela miacutedia eacute
preciso compreender que a essecircncia do movimento Hip Hop ainda
permanece inalterada Neste sentido situar historicamente o Hip
Hop no contexto socioeconocircmico e cultural em que surgiu mdash desshy
velando sua essecircncia enquanto movimento de contestaccedilatildeo poliacutetica
e social - contribui para a compreensatildeo do aluno enquanto agente
de sua histoacuteria capaz de atuar e transformar atraveacutes de accedilotildees conshy
cretas o seu meio e as condiccedilotildees materiais de sua existecircncia
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e compromisso social Monografia (Graduaccedilatildeo no curso de Licenciatura em
Educaccedilatildeo Fiacutesica) mdash Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis
2010
VIANNA JUacute N IO R H P O baile funk carioca Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Antroshy
pologia Social)mdashPrograma de poacutes-graduaccedilatildeo em Antropologia Social Univershy
sidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 1988
W O O D E M Democracia contra capitalismo a renovaccedilatildeo do materialismo
histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003
3
CAPIacuteTULO VII
A DISCIPLINARIZACcedilAtildeO DOS CORPOS POR MEIO DA GINAacuteSTICA
I^eonardo Docena Pina
Miguel Fabiano de Faria
Nathagravelia Sixel Rodrigues
Ramon Mendes da Costa Magalhatildees
A ginaacutestica como conteuacutedo da Educaccedilatildeo
Fiacutesica natildeo deve ser vista como uma manifestashy
ccedilatildeo recente uma vez que se trata de uma praacutetishy
ca bastante antiga na escola se considerada em
relaccedilatildeo a outros conteuacutedos da cultura corporal
Tendo em vista as transformaccedilotildees ocorridas
com a ginaacutestica ao longo da histoacuteria algumas
questotildees emergem e conferem significados agrave
proposta deste capiacutetulo atualmente a ginaacutestishy
ca permanece como um conteuacutedo nas aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesica Como se configura a ginaacutestica
nessas aulas Como os corpos dos sujeitos enshy
volvidos nessa praacutetica satildeo abordados dentro e
fora da escola Como a sociedade compreende
esses corpos e delega agrave ginaacutestica a competecircncia
por conformaacute-los Questotildees como essas contrishy
buem para a compreensatildeo dos significados que
a praacutetica corporal ginaacutestica assume ou poderia
assumir como conteiido escolar
Compreender a ginaacutestica como conteuacuteshy
do da Educaccedilatildeo Fiacutesica nos remete ao iniacutecio
do seacuteculo XIX quando essa produccedilatildeo cultural
passou a ser considerada cientiacutefica fruto das
distintas formas de se pensar os exerciacutecios fiacutesicos em paiacuteses europeus
surgindo assim os meacutetodos ou escolas de ginaacutestica integrantes do
chamado Movimento Ginaacutestico Europeu Nessa perspectiva buscou-
-se imprimir um caraacuteter de utilidade aos exerciacutecios fiacutesicos em que
foram negadas as praacuteticas populares de artistas de rua de circo acroshy
batas que as apresentavam como espetaacuteculo trazendo o corpo como
centro de entretenimento (SOARES 1998 2001a 2001b)
Ainda segundo a autora eacute nos princiacutepios de ordem e disciplina forshy
mulados pelo Movimento Ginaacutestico Europeu bem como do afastamenshy
to do nuacutecleo primordial do divertimento que a Ginaacutestica se afirmou
como parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos Uma praacutetica capaz de potenshy
cializar a utilidade dos gestos e oferecer um espetaacuteculo ldquocontroladordquo e
institucionalizado dos usos do corpo em negaccedilatildeo aos elementos cecircnicos
funambulescos e acrobaacuteticos (SOARES 1998)
Precursora da Educaccedilatildeo Fiacutesica a Ginaacutestica cientiacutefica se afirmou
ao longo do seacuteculo X IX como siacutentese do pensamento cientiacutefico no
ocidente europeu e integrante dos novos coacutedigos de civilidade o que
vai justificar sua presenccedila no curriacuteculo escolar tambeacutem no Brasil
Como vimos a ginaacutestica foi uma das primeiras praacuteticas corposhy
rais a ser inserida na educaccedilatildeo escolar no seacuteculo XIX tanto que sua
denominaccedilatildeo ldquoGymnasticardquo foi por muitos anos considerada a proacuteshy
pria disciplina escolar sendo paulatinamente substituiacuteda no iniacutecio do
seacuteculo XX pela denominaccedilatildeo ldquoEducaccedilatildeo Physicardquo1
No Brasil ateacute as deacutecadas de 1920 e 1930 a ginaacutestica era uma
praacutetica privilegiada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica sendo orientada por
dois primados da educaccedilatildeo escolar Primeiramente o ldquoprimado da orshy
topediardquo esteve relacionado com a correccedilatildeo de desvios e com o endirei-
tamento dos corpos pretendendo constituir sujeitos robustos e higieshy
nizados Posteriormente o ldquoprimado da eficiecircnciardquo visava construir o
1 Tal expressatildeo areacute enratildeo possuiacutea um sentido mais amplo vinculado ao discurso da ldquohygienerdquo
(G O N D RA 2004) e ao pensamento de Herbert Spencer em que a educaccedilatildeo integral
seria apoiada em trecircs pilares a ldquoeducaccedilatildeo intellectual moral e physicardquo (VAGO 2002)
Assim essa ldquoeducaccedilatildeo physicardquo englobou natildeo soacute a ldquogymnasticardquo os ldquoexerciacutecios physicosrdquo e as
ldquoevoluccedilotildees militaresrdquo como tambeacutem abarcou a organizaccedilatildeo dos tempos e espaccedilos escolares a
distribuiccedilatildeo da luz a boa ventilaccedilatildeo do ambiente a disposiccedilatildeo e o formato do mobiliaacuterio o
nuacutemero de alunos por turma as refeiccedilotildees os recreios enfim todos os haacutebitos saudaacuteveis que
garantiriam o pleno ldquodesenvolvimento physicordquo dos alunos
trabalhador necessaacuterio agrave induacutestria que deveria ser dotado natildeo somente
de corpos ldquoerectosrdquo mas sobretudo de corpos eficientes prontos para
o trabalho em conjunto que de maneira eficaz tivesse rendimento em
forma de produto e de resultado (VAGO 2002)
Nesse sentido Carvalho (1997) apresenta argumentos para comshy
preender os discursos educacionais que no Brasil a partir do final do
seacuteculo XIX e nas primeiras quatro deacutecadas do seacuteculo XX procuraram
ldquo[] legitimar-se enquanto saber pedagoacutegico de tipo novo moderno experimental e cientiacuteficordquo (CARVALHO 1997 p 269) Assim ldquo[]
trabalha com duas metaacuteforas da disciplina - disciplina como ortopeshy
dia e disciplina como eficiecircnciardquo (CARVALHO 1997 p 269) De
acordo com a autora a partir da deacutecada de 1920 eacute possiacutevel perceber
uma sutil mudanccedila no discurso pedagoacutegico no Brasil
O resultado desse movimento eacute que a eficiecircncia passa a ser um
primado orientador para a escola Com efeito Vago (2002) amplia
que natildeo seria diferente para a ginaacutestica a qual migraria de uma preshy
ocupaccedilatildeo com a correccedilatildeo o endireitamento e a constituiccedilatildeo dos corshy
pos para uma preocupaccedilatildeo com a eficiecircncia dos gestos aliada aos
pressupostos da ldquovida modernardquo2
A partir das deacutecadas de 1940 e 1950 a ginaacutestica foi perdendo
espaccedilo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica para o esporte3 Atualmente
em muitas escolas esse conteuacutedo quando trabalhado tende a ser
abordado com praacuteticas descontextualizadas como apecircndice dos esshy
portes aquecimento relaxamento preparaccedilatildeo fiacutesica subsumindo
seu caraacuteter poliacutetico e social em suma natildeo o considerando como
patrimocircnio cultural a ser apropriado pela humanidade tal como
nos mostra Almeida (2005) Contudo pensar a ginaacutestica como
um conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute pensar em uma possibilidade
2 Sobre este assunto destacamos tambeacutem o trabalho de Schneider (2004)
3 Apoacutes a II Guerra Mundial num contexto de intensa urbanizaccedilatildeo e desenvolvimento
bdquoindustrial assistimos a um processo de esportivizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica influenciado
pela cultura europeia Neste momento a Educaccedilatildeo Fiacutesica passa a ter uma relaccedilatildeo de
subordinaccedilatildeo agrave instituiccedilatildeo esportiva tendo seus objetivos baseados na aptidatildeo fiacutesica
e iniciaccedilatildeo esportiva Os coacutedigos do Esporte de Rendimento como competiccedilatildeo
sucesso individual e rendimento satildeo incorporados pela Educaccedilatildeo Fiacutesica neste periacuteodo
demonstrando sua articulaccedilatildeo com a poliacutetica educacional tecnicista e seu papel na
reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais hegemocircnicas
de ampliaccedilatildeo cultural que deve privilegiar a formaccedilatildeo humana em
sua totalidade Como apresenta Ayoub (2003 p 87) aprender gishy
naacutestica na escola significa ldquoestudar vivenciar conhecer compreenshy
der perceber confrontar interpretar problematizar compartilhar
apreender as inuacutemeras interpretaccedilotildees da ginaacutestica e produzir novos
significados e novas possibilidades de expressatildeo giacutemnicardquo
Veremos no presente capiacutetulo que a ginaacutestica contemporacircnea
dentro e fora da escola pode estar imprimindo algumas permanecircncias
da ginaacutestica cientiacutefica do seacuteculo XIX entretanto sob uma nova roushy
pagem Essas permanecircncias podem ser percebidas tanto com relaccedilatildeo agrave
sua metodologia em grande medida enraizada na repeticcedilatildeo de gestos
padronizados quanto com relaccedilatildeo agraves finalidades a ela associadas que
sugerem uma nova leitura para a ldquocorreccedilatildeordquo e ldquoconstituiccedilatildeo dos corposrdquo
bem como para a ldquoeficiecircncia dos gestosrdquo associada ao mundo produtivo
e aos interesses da classe dominante
A ginaacutestica no processo de disciplinarizaccedilatildeo
O corpo dos indiviacuteduos como mais um instrumento da
produccedilatildeo passava a constituir uma preocupaccedilatildeo da classe
no poder Tornava-se necessaacuterio nele investir Todavia esse
investimento deveria ser limitado para que o corpo nunshy
ca pudesse ir aleacutem de um corpo de um ldquobom animalrdquo
Era preciso adestraacute-lo desenvolver-lhe o vigor fiacutesico desde
cedo disciplinaacute-lo enfim para sua funccedilatildeo na produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo do capital (SOARES 2001a p 33)
A partir do conceito de disciplina Foucault (1987) descreve um
processo no qual satildeo formados haacutebitos costumes modos de pensar e
agir orientados para a formaccedilatildeo dos chamados corpos doacuteceis - indiviacuteduos
que podem ser submetidos utilizados transformados e aperfeiccediloados
Em suas reflexotildees o chamado ldquopoder disciplinarrdquo possui como funccedilatildeo
maior a de ldquoadestrarrdquo os indiviacuteduos fabricando sujeitos ao mesmo temshy
po produtivos economicamente e submissos politicamente
Os processos disciplinares segundo o autor assumiram no decorshy
rer dos seacuteculos XVII e XVIII formas gerais de dominaccedilatildeo diferentes
da escravidatildeo da domesticidade da vassalidade e do ascetismo por
exemplo visto que este novo contexto histoacuterico eacute o momento no qual
nasce uma arte do corpo humano que visa natildeo unicamente o aumento
de suas habilidades mas a formaccedilatildeo de uma relaccedilatildeo que no mesmo
mecanismo o torna tanto mais obediente quanto eacute mais uacutetil ldquoForma-
-se entatildeo uma poliacutetica das coerccedilotildees que satildeo um trabalho sobre o corpo
uma manipulaccedilatildeo calculada de seus elementos de seus gestos de seus
comportamentosrdquo (FOUCAULT 1987 p 119)
Nesse processo as teacutecnicas de distribuiccedilatildeo dos indiviacuteduos no espashy
ccedilo assim como o controle da atividade pela regulaccedilatildeo do tempo e pelo
adestramento dos gestos vatildeo configurando novas praacuteticas em diferentes
instituiccedilotildees Assim as faacutebricas os quarteacuteis os hospitais e tambeacutem as
escolas se configuram como locais responsaacuteveis para a disciplinarizaccedilatildeo
dos indiviacuteduos No caso do ambiente escolar essa formaccedilatildeo demandava
a manutenccedilatildeo dos alunos entre as paredes da sala de aula submetidos
ao olhar vigilante do professor o tempo suficiente para domar seu cashy
raacuteter e dar forma adequada a seu comportamento (ENGU1TA 1989)
E com esse mesmo objetivo no que se refere ao projeto de
formaccedilatildeo humana que a ginaacutestica por meio dos meacutetodos ginaacutesshy
ticos foi incorporada pelas concepccedilotildees educacionais do final do
seacuteculo XV III e iniacutecio do seacuteculo X IX (SOARES 2001a)
Regenerar a raccedila promover a sauacutede (sem alterar as condiccedilotildees
degradantes de vida) desenvolver a vontade a forccedila a ldquoenergiardquo (para
servir agrave paacutetria e agrave induacutestria) foram algumas das finalidades atribuiacutedas
agrave ginaacutestica no contexto de consolidaccedilatildeo do capitalismo na Europa A
ecircnfase na disciplinarizaccedilatildeo dos corpos acabou por delinear na educashy
ccedilatildeo escolar uma praacutetica pedagoacutegica na qual sessotildees de ginaacutestica tratashy
vam os alunos de forma homogecircnea com accedilotildees reduzidas agrave repeticcedilatildeo
de movimentos estereotipados tal como sugere Marinho (19--) ao
descrever uma liccedilatildeo de ginaacutestica orientada pelo Meacutetodo Francecircs
Para fazer executar um movimento o instrutor
comanda - ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo devendo este
comando ser substituiacutedo para as crianccedilas pela adshy
vertecircncia ldquoAtenccedilatildeordquo Se o movimento exige uma poshy
siccedilatildeo de partida o instrutor a indicaraacute lt rnminJraquo-
ldquoPosiccedilatildeordquo Enuncia o exerciacutecio e ao comando ldquoCoshy
meccedilarrdquo Todos executam o movimento prescrito As
posiccedilotildees de partida dos ldquoassouplissementsrdquo assimeacuteshy
tricos satildeo a princiacutepio tomadas agrave esquerda Termishy
nado o exerciacutecio nesta posiccedilatildeo o instrutor comanda
ldquoMudarrdquo Os alunos retornam agrave posiccedilatildeo de partida agrave
direita e executam novamente o exerciacutecio prescrito
Ao comando de ldquoCessarrdquo todo o movimento cessa
sem precipitaccedilatildeo e a posiccedilatildeo de partida eacute retomada
A posiccedilatildeo de partida soacute eacute deixada ao comando de
ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo No comando de ldquoDescanshy
ccedilarrdquo os alunos permanecem no lugar sem serem
obrigados a conservar a posiccedilatildeo primitiva e a imobishy
lidade (M A R IN H O 19- p 110-111)
Conforme explica Soares (2001a) todo o ideaacuterio colocado em
praacutetica pelo pensamento higienista do qual resulta o modelo de aula
descrito acima impocircs uma disciplina que pretendia adequar o corpo ao
trabalho fabril tornando-o mais doacutecil e submisso sob a oacutetica poliacutetica
e ao mesmo tempo mais aacutegil forte e robusto sob a oacutetica da produccedilatildeo
E importante considerar a possibilidade de o processo de dis-
ciplinarizaccedilatildeo mdash descrito por Foucault e incorporado de forma sushy
bordinada por Soares (2001a) - natildeo ter sido totalmente superado
ou seja esse fenocircmeno pode estar se apresentando ainda nos dias
de hoje de uma nova forma atualizada
Na concepccedilatildeo gramsciana todo esse processo de ldquodisciplinariza-
ccedilatildeordquo pode ser compreendido como uma tentativa - da classe domishy
nante mdash de formaccedilatildeo teacutecnica e de conformaccedilatildeo eacutetico-poliacutetica das masshy
sas com o intuito de reconfigurar o modo de vida em conformidade
com as demandas colocadas pelo modo de produccedilatildeo da existecircncia
humana em expansatildeo naquele contexto histoacuterico
Em Americanismo e Fordismo Gramsci (2001 p 251) explica
que ldquoa vida na induacutestria exige um aprendizado geralrdquo um processhy
so de adaptaccedilatildeo psicofiacutesica a determinadas condiccedilotildees de trabalho
de nutriccedilatildeo de habitaccedilatildeo de costumes de valores algo que natildeo
eacute inato natural mas exige ser adquirido Portanto a partir dessa
reflexatildeo torna-se possiacutevel compreender que no modo de produccedilatildeo
da vida em formaccedilatildeo no contexto histoacuterico de incorporaccedilatildeo dos meacuteshy
todos ginaacutesticos na escola os exerciacutecios fiacutesicos desempenhavam um
papel importante uma vez que o novo tipo de homem demandado
pelo bloco no poder deveria possuir um corpo saudaacutevel forte aacutegil
e disciplinado construiacutedo a partir da adoccedilatildeo de um novo modo de
vida E exatamente para contribuir com a formaccedilatildeo desse novo tipo
de homem que a ginaacutestica estruturada dentro ou fora da instituishy
ccedilatildeo escolar passou a constituir um dos mecanismos utilizados para
instrumentalizar a vontade adequar e reorganizar gestos e atitudes
necessaacuterios agrave reproduccedilatildeo da sociedade4
A questatildeo que necessitamos discutir refere-se agrave possibilidade
de existecircncia de um processo contemporacircneo de mesmo tipo mas
atualizado voltado agrave formaccedilatildeo de um novo modo de vida necessaacuteshy
rio agrave reproduccedilatildeo do capitalismo contemporacircneo Portanto quesshy
tionamos seraacute que a ginaacutestica contemporacircnea se relaciona com a
formaccedilatildeo de novos corpos doacuteceis A ginaacutestica hoje atende de alguma
forma aos interesses de reproduccedilatildeo da sociedade Existem elementos
contraditoacuterios que permitem uma apropriaccedilatildeo criacutetica da ginaacutestica
Longe de assumir a tarefa de esgotar as reflexotildees sobre o tema
entendemos ser necessaacuterio destacar inicialmente que as modifishy
caccedilotildees ocorridas no capitalismo a partir da deacutecada de 1970 em
resposta agrave chamada crise do keynesianismo-fordismo represenshy
taram uma mudanccedila no regime de acumulaccedilatildeo - do fordismo agrave
ldquoacumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo (HARVEY 2007) Ao modelo fordista seshy
gundo Chauiacute (2001) o bloco no poder respondeu com a terceirishy
zaccedilatildeo a desregulamentaccedilatildeo o predomiacutenio do capital financeiro
a dispersatildeo e fragmentaccedilatildeo da produccedilatildeo aleacutem da centralizaccedilatildeo
velocidade da informaccedilatildeo e da velocidade das mudanccedilas tecnoloacuteshy
gicas ao modelo keynesiano do Estado de Bem-Estar o bloco no
poder respondeu com a ideia do ldquoEstado m iacutenimordquo a desregulaccedilatildeo
do mercado a competitividade e a privatizaccedilatildeo da esfera puacuteblica
As modificaccedilotildees provenientes desse processo de reproduccedilatildeo
do capitalismo natildeo atingiram apenas a organizaccedilatildeo de grandes
______________ 4 Natildeo eacute objetivo deste texto discutir as distinccedilotildees entre Foucault e Gramsci no que diz respeito
ao conceito de disciplina Optamos por trabalhar com a vertente marxista incorporando de
lorma subordinada ao nosso referencial as contribuiccedilotildees que Foucault daacute ao tema
empresas jaacute consolidadas no mercado mas tambeacutem novos emshy
preendimentos como as academias de ginaacutestica por exemplo5
Conforme evidencia Furtado (2007) as academias vecircm acomshy
panhando a tendecircncia de implementaccedilatildeo dos elementos centrais
da acumulaccedilatildeo flexiacutevel passando a funcionar em uma dinacircmica
caracterizada pela flexibilidade pela introduccedilatildeo de equipamentos
com tecnologia cada vez mais avanccedilada pela diversificaccedilatildeo das
mercadorias oferecidas e tambeacutem pelo ldquofoco no clienterdquo que
pode ser evidenciado pela constante busca de ldquonovasrdquo ofertas e
novidades capazes de atrair e reter consumidores
As aulas de ginaacutestica saacuteo por exemplo ldquoaulas-showrdquo
com equipamentos iluminaccedilatildeo decoraccedilatildeo e sonorishy
zaccedilatildeo que favorecem ao ldquoespetaacuteculordquo e desempenham
um papel importante na seduccedilatildeo do cliente Assim
tambeacutem eacute toda a complexa estrutura que possui a acashy
demia ou seja natildeo eacute soacute a aula que deve ser um ldquoshowrdquo
e sim tambeacutem toda a academia com decoraccedilatildeo sonorishy
zaccedilatildeo iluminaccedilatildeo e equipamentos que desempenhem
funccedilotildees de encantar e atender aos desejos dos clientes
de experimentar sensaccedilotildees diversas dentre elas a sensashy
ccedilatildeo de ldquostatusrdquo (FURTADO 2007 p 311)
E interessante destacar que o formato atrativo das aulas tende a
captar de forma mais eficiente os consumidores visto que eles acabam
desconsiderando os incipientes resultados reais obtidos pela realizaccedilatildeo
das aulas de determinados programas que na verdade se sustentam
mais pelos fatores de cunho emocional do que pelos ganhos obtidos
com sua praacutetica Ao analisar as teacutecnicas de inovaccedilatildeo do empresariado
do Fitness mais especificamente um determinado programa da franshy
quia Curves Mascarenhas et al (2007) constatam que a pseudossensa-
ccedilatildeo de bem-estar sauacutede e beleza produzida pelas aulas eacute acompanhada
por um amplo e intenso processo de persuasatildeo comum agraves cartilhas
de marketing para academias Segundo os autores a base de legitima-
5 A acumulaccedilatildeo flexiacutevel eacute marcada dentre outros aspectos pela superaccedilatildeo da
rigidez caracteriacutestica do fordismo se apoiando na flexibilidade dos processos
e mercados de trabalho aleacutem dos produtos e padrotildees de consumo Para
compreender melhor como as modificaccedilotildees no regime de acumulaccedilatildeo
afetaram a aacuterea Fitness recorrer agrave Quelhas (2012)
ccedilatildeo racional tecno-cientiacutefica eacute secundarizada frente ao acreacutescimo de
inovaccedilotildees criativas de base emocional Talvez isso explique ao menos
em parte por que ainda hoje sejam consideradas bastante atrativas
algumas aulas de ginaacutestica de academia que em muito se assemelham
agraves sessotildees de ginaacutestica do seacuteculo passado Estamos nos referindo aos
atuais formatos padronizados de sessotildees de ginaacutestica que se orientam
na repeticcedilatildeo de movimentos estereotipados geralmente com mesma
intensidade a serem realizados pelos alunos em conformidade com
comandos do professor - ou de uma voz jaacute gravada a ser reproduzida
em aparelhos eletroeletrocircnicos Conforme evidenciam Toledo e Pires
(2008) alguns programas tendem a desconsiderar na aula dificuldashy
des ou niacutevel de condicionamento fiacutesico dos alunos uma vez que os
professores muitas vezes tecircm que seguir com exatidatildeo a aula desshy
crita na apostila e ensinada nos cursos assim como natildeo podem sair
da posiccedilatildeo de ldquoatores eperformersrdquo para corrigir eou dar uma atenccedilatildeo
especial ao aluno com dificuldades durante a aula As autoras mencioshy
nam por sua vez que esses elementos ao serem considerados pelos
alunos como determinantes de insatisfaccedilatildeo estatildeo sendo revistos pershy
mitindo aos professores sua modificaccedilatildeo
O incentivo ao consumo das ldquonovasrdquo modalidades de ginaacutestica
de academia ainda eacute acompanhado pela forte influecircncia da miacutedia na
organizaccedilatildeo dos valores dominantes Natildeo soacute o medo de engordar mas
uma gama de valores e comportamentos atrelados ao culto ao corpo
tem contribuiacutedo significativamente para a difusatildeo de um padratildeo a ser
almejado e - em alguns casos - para o desenvolvimento dos chamados
transtornos alimentares como a anorexia por exemplo6
Em virtude da discussatildeo realizada torna-se importante quesshy
tionar se a difusatildeo de valores responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de novos
desejos relacionados ao consumo das mercadorias a serem vendishy
das nas academias de ginaacutestica hoje se constitui como uma forma
atual de disciplinarizaccedilatildeo subordinando os indiviacuteduos aos interesshy
ses dominantes Da mesma forma a difusatildeo de receitas exerciacutecios
------------ 6 A influecircncia da miacutedia no culto ao corpo foi trabalhada por Berger (2007 2010) Sobre
anorexia destacam-se os textos de Cordas (2004) Giordani (2006) e ainda o de Niemeyer e
Kruse (2008)
ou programas de ginastica milagrosos pode estar desempenhanshy
do importante funccedilatildeo educativa sobretudo no caso das pessoas
que natildeo dominam o conhecimento necessaacuterio para criticaacute-los e
por isso acabam por aderir ao consumo de mercadorias que nem
sempre produzem o resultado desejado
Consideramos que a transmissatildeo do conhecimento historicamente
sistematizado pela humanidade sobre o tema se constitui como um passo
importante para superar esse possiacutevel processo atual de ldquoadestramentordquo
A praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a ginaacutestica
Na perspectiva que orienta este trabalho o trato pedagoacutegico com a
ginaacutestica na escola deve se articular agrave tarefa de socializaccedilatildeo das formas mais
desenvolvidas do conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico produzido
pela humanidade ao longo do tempo uma vez que possibilita aos alunos asshy
sumir uma nova postura na praacutetica social qual seja a de sujeito histoacuterico7
No caso do tema abordado neste artigo isso significa transmitir um conheshy
cimento que permita aos alunos assumir uma nova relaccedilatildeo com a ginaacutestica
Compreendendo que o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos
corpos se constitui como um possiacutevel tema a ser trabalhado na
escola desenvolvemos um trabalho pedagoacutegico orientado pela
Pedagogia histoacuterico-criacutetica com uma turma (composta por 30
alunos de ambos os sexos) do segundo ano do Ensino Meacutedio no
Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste
de Minas Gerais (IF Sudeste M G ) Campus Juiz de Fora8 A seshy
7 A respeito disso ver Coletivo de Autores (1992)
8 Essa experiecircncia foi resultado de um Estaacutegio Curricular Obrigatoacuterio desenvolvido em
2011 quando Nathaacutelia Sixel Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees cursavam
a Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacutesica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Tal experiecircncia deu origem a um Trabalho de Conclusatildeo de Curso (MAGALHAtildeES
RODRIG UES 2011) orientado por Leonardo Docena Pina na eacutepoca professor substituto
da FACED-UFJF As discussotildees realizadas entre os acadecircmicos o orientador e Miguel Fabiano
de Faria professor da turma do IF Sudeste M G que recebeu os estagiaacuterios demandaram a
continuidade do estudo abordando novas reflexotildees que naquela ocasiatildeo natildeo puderam ser
feitas O presente texto portanto parte da experiecircncia de estaacutegio mas natildeo se limita a este uma
vez que elaboramos outro plano de trabalho para englobar novas dimensotildees do conteuacutedo natildeo
abordadas naquela ocasiatildeo Para facilitar a compreensatildeo dos aspectos didaacuteticos expostos neste
texto apresentaremos o planejamento mais elaborado como experiecircncia jaacute desenvolvida
guir apresentamos a experiecircncia desenvolvida a partir dos passos
metodoloacutegicos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica
Na identificaccedilatildeo da praacutetica social buscamos debater as seguintes
questotildees a ginaacutestica de hoje eacute igual agrave de antigamente Ela sofre influecircnshy
cia da miacutedia Existem diferenccedilas entre as praacuteticas de ginaacutestica voltadas
para a esteacutetica ou para a sauacutede Ginaacutestica promove sauacutede Qualquer
exerciacutecio que praticamos faz nosso corpo ldquoqueimarrdquo gordura Em seshy
guida os alunos foram informados de que estudariacuteamos algumas reshy
laccedilotildees entre ginaacutestica e sociedade ao longo da histoacuteria a partir de um
meacutetodo de apreensatildeo da realidade que tem o objetivo de transformar a
sociedade em que vivemos Os seguintes toacutepicos foram apresentados a
importacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise dos discurshy
sos da sauacutede e da esteacutetica a ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do
seacuteculo XIX aos dias de hoje a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos
desejos e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave
ginaacutestica introduccedilatildeo aos fundamentos cientiacuteficos do treinamento car-
diorrespiratoacuterio Cada um desses toacutepicos foi apresentado em conjunto
com os objetivos formulados sistematizados no plano de unidade
Ainda neste momento buscou-se identificar o que os alunos jaacute
sabiam sobre o tema Eles identificaram a praacutetica da ginaacutestica como
importante para a sauacutede e apontaram os ldquoobjetivos esteacuteticosrdquo como
influecircncia para aderir agrave praacutetica de ginaacutestica poreacutem natildeo demonstrashy
ram compreender o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
O processo de aprimoramento da compreensatildeo dos alunos
sobre o tema foi direcionado por questionamentos referentes agraves
suas respectivas dimensotildees conforme apresentado na problema-
tizaccedilatildeo disposta no plano de unidade
Para transmitir os conhecimentos necessaacuterios agrave compreenshy
satildeo das questotildees levantadas na problematizaccedilatildeo optou-se por
trabalhar na instrumentalizaccedilatildeo com atividades embasadas prinshy
cipalmente nas discussotildees apresentadas em Soares (1998) Soshy
ares (2001a) Angulski et al (2006) e Mcardle Katch e Katch
(2003) Aleacutem de aulas expositivas trabalhamos o conteuacutedo por
meio de vivecircncia praacutetica da ginaacutestica
Iniciamos esra fase com uma exposiccedilatildeo que abordou a evoluccedilatildeo
da Ginaacutestica ao longo da Histoacuteria enfatizando as formas originais de
disciplinarizaccedilatildeo Ou seja nos concentramos nos Meacutetodos Ginaacutesticos
e discutimos sua influecircncia na configuraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica em
meados do seacuteculo XIX Logo apoacutes a exposiccedilatildeo uma vivecircncia praacutetica
foi realizada (nos moldes do Meacutetodo Francecircs) de modo a ampliar
a compreensatildeo da forma como era trabalhado esse conteuacutedo antishy
gamente aleacutem de buscar novos elementos para enriquecimento da
discussatildeo sobre a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Para discutir a expressatildeo contemporacircnea dessa produccedilatildeo cultural
apresentamos diferentes tipos de praacuteticas de ginaacutestica para vivecircncia e
posterior discussatildeo dos objetivos que levam as pessoas a praticaacute-las
esteacutetica ou sauacutede Salientamos neste momento alguns benefiacutecios da
ginaacutestica para a qualidade de vida e se esses estatildeo tambeacutem ligados agrave
esteacutetica O aprimoramento da compreensatildeo dos alunos sobre os beshy
nefiacutecios da ginaacutestica tambeacutem foi acompanhado por uma exposiccedilatildeo
dos modos de afericcedilatildeo da frequecircncia cardiacuteaca e das diferentes zonas
de treinamento e consumo de substratos energeacuteticos Assim pudemos
vivenciar algumas praacuteticas de ginaacutestica controlando a intensidade do
exerciacutecio de acordo com diferentes zonas alvo estipuladas Por fim
ainda na discussatildeo sobre esse tema buscamos situar a sauacutede e a qualishy
dade de vida como questotildees sociais a partir de uma exposiccedilatildeo seguida
da discussatildeo de reportagens previamente selecionadas
Ainda na instrumentalizaccedilatildeo apoacutes leituras indicadas para os alushy
nos realizarem em casa discutimos a influecircncia da miacutedia na praacutetica
de ginaacutestica nos modelos de corpo e nas accedilotildees para obtecirc-los Em
seguida elaboramos paineacuteis com recortes e reportagens de revistas
problematizando o tema Cada grupo apresentou seu painel ao final
Para explicitar a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy
naacutestica em sua expressatildeo contemporacircnea acreditamos que eacute posshy
siacutevel discutir a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos
e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave
ginaacutestica Aleacutem do mais a vivecircncia (seguida da problematizaccedilatildeo)
de alguns programas de ginaacutestica vendidos nas academias hoje
0
permite ao aluno compreender possiacuteveis traccedilos de disciplinariza-
ccedilaacuteo que se mantecircm ainda que de forma renovada
Ao final das atividades na catarse foi possiacutevel identificar que granshy
de parte dos alunos manifestou uma nova compreensatildeo da relaccedilatildeo exisshy
tente entre a ginaacutestica e a Educaccedilatildeo Fiacutesica nos diferentes momentos
da histoacuteria A nova maneira de entender o conteuacutedo mostrou-se mais
elaborada com domiacutenio de conceitos e entendimento de implicaccedilotildees
da sociedade na ginaacutestica e da ginaacutestica na sociedade Desafiados a sinshy
tetizar o que aprenderam os alunos se aproximaram do entendimenshy
to de que a ginaacutestica eacute uma atividade corporal que no seacuteculo XJX
atraveacutes dos meacutetodos ginaacutesticos atrelou-se agrave eugenia higiene assentada
no discurso da melhoria da sauacutede dos trabalhadores e da elevaccedilatildeo da
eficiecircncia no processo de produccedilatildeo No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre
ginaacutestica e qualidade de vida expressaram que a ginaacutestica isoladamente
natildeo garante melhora da sauacutedequalidade de vida pois estas estatildeo aliashy
das ao acesso agrave habitaccedilatildeo atendimento meacutedico transporte garantia
de emprego condiccedilotildees de trabalho seguras saneamento baacutesico e alishy
mentaccedilatildeo de qualidade dentre outros Enfatizaram o entendimento de
que a ginaacutestica tem desempenhado um papel secundaacuterio nas praacuteticas
de Educaccedilatildeo Fiacutesica no entanto tem sido objeto de ldquomercado rizaccedilatildeordquo
no cotidiano dos indiviacuteduos influenciados pela miacutedia A ginaacutestica soshy
bretudo sua praacutetica na busca de um padratildeo de corpo ideal tambeacutem
foi discutida sendo os meios iliacutecitos e exagerados como anabolizan-
tes esteroides dietas excessivas apontados como agentes nocivos que
poderiam levar a doenccedilas como a vigorexia anorexia e bulimia Neste
momento tambeacutem puderam se aproximar do entendimento de que dishy
ferentes intensidades nos exerciacutecios produzem efeitos distintos no nosso
corpo E ainda que a intensidade do exerciacutecio pode ser mensurada
atraveacutes da frequecircncia cardiacuteaca de maneira faacutecil e funcional9
Para os alunos expressarem a siacutentese a que ascenderam utilizamos
um trabalho final no qual foi proposto um ldquoquizrdquo educativo seguido
de uma discussatildeo o que permitiu abordar todo conteuacutedo trabalhado4
9 Naquela ocasiatildeo natildeo foi possiacutevel aprofundar o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
em suas formas contemporacircneas razatildeo que nos limitou a trabalhar apenas com as formas
originais desse processo conforme mencionado anirrinrmfnrraquo
A finalizaccedilatildeo das atividades na praacutetica social final envolveu a deshy
finiccedilatildeo de intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo no sentido de explicitar que a
apropriaccedilatildeo do conhecimento historicamente elaborado sobre a ginaacutesshy
tica possibilita aprimorar a atuaccedilatildeo na praacutetica social contribuindo para
uma postura criacutetica frente o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos10
Plano de unidade
A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Instiuiccedilatildeo Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia
Juiz de Fora
Disciplina Educaccedilatildeo Fiacutesica
Ano de escolaridade turma 2o ano do ensino meacutedio
Conteuacutedo Ginaacutestica
Unidade A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Nuacutemeros de aulas 8-10
OBJETIVOS GERAIS
bull Identificar a sauacutede e a esteacutetica como elementos centrais nos
discursos dominantes atualmente sobre a importacircncia da
praacutetica de ginaacutestica de modo a reconhecer suas implicaccedilotildees
sociais
bull Compreender o papel desempenhado pelos Meacutetodos
Ginaacutesticos na educaccedilatildeo dos corpos no seacuteculo XIX a fim
de enumerar possiacuteveis elementos de continuidaderuptura
em relaccedilatildeo agrave praacutetica de ginaacutestica em academias atualmente
bull Refletir sobre a influecircncia da miacutedia no incentivo ao
consumo de mercadorias relacionadas agrave ginaacutestica de
modo a posicionar-se criticamente diante das formulaccedilotildees
predominantes
10 Quadro detalhado sobre as intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo encontra-se no planejamento
apresentado a seguir
bull Conhecer alguns princiacutepios baacutesicos do treinamento
cardiorrespiratoacuterio para aplicaacute-los em suas praacuteticas corporais
e utilizaacute-los na anaacutelise das receitas milagrosas difundidas
atualmente
1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL
11 Anuacutencio dos conteuacutedos
Conteuacutedo ginaacutestica
Tema A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Toacutepicos
bull A im portacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise
dos discursos da sauacutede e da esteacutetica
bull A ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do seacuteculo X I X aos
dias de hoje
bull A influecircncia da m iacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos e
necessidades para o consum o de mercadorias relacionadas agrave
ginaacutestica
bull Introduccedilatildeo aos fundam entos cientiacuteficos do treinam ento
cardiorrespiratoacuterio
12 Vivecircncia do conteuacutedo
bull O que os alunos sabem ginaacutestica emagrece faz bem agrave sauacutede
haacute diferentes formas praticada em diferentes lugares
bull O que os alunos gostariam de saber todo exerciacutecio fiacutesico
eacute ginaacutestica Por quanto tempo preciso praticar ginaacutestica
para emagrecer Musculaccedilatildeo eacute ginaacutestica Como ficar com o
corpo igual aos praticantes de ginaacutestica competitiva Todas
as pessoas podem praticar todos os tipos de ginaacutestica Como
a ginaacutestica pode favorecer a prevenccedilatildeo de doenccedilas
2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO
21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo
A ginaacutestica de hoje eacute igual a de antigamente Ela sofre influecircncia da
miacutedia Existem diferenccedilas entre a praacutetica voltada agrave esteacutetica ou agrave sanrW
22 Dimensotildees do conteuacutedo
Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
D IM E N S Otilde E S Q U E ST Otilde E S P R O B L E M A T IZ A D O R A S
Conceituai
O que eacute ginaacutestica A ginaacutestica voltada para a sauacutede ou para a esteacutetica
se configura da mesma forma Toda ginaacutestica tem as mesmas caracteshy
riacutesticas O que eacute frequecircncia cardiacuteaca e qual sua relaccedilatildeo com as diferenshy
tes imensidades do exerciacutecio fiacutesico Quais sinais emitidos pelo nosso
corpo nos permitem estimar a queima ou natildeo de gordura O que eacute
disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Econocircmica
0 padratildeo de corpo perfeito tem alguma utilidade econocircmica Todos
tecircm condiccedilotildees de usufruir das possibilidades que o mercado oferece para
a melhora da qualidade de vida da populaccedilatildeo O desejo crescente pela
busca de novas modalidades de ginaacutestica de academia tem funccedilatildeo ecoshy
nocircmica importante nos dias de hoje
Histoacuterica
A ginaacutestica sempre se apresentou da mesma forma ao longo da hisshy
toacuteria H aacute diferenccedilas e semelhanccedilas entre a praacutetica de antigamente
e a atual Qual a funccedilatildeo atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto de sua
inserccedilatildeo na escola
CulturalCom o a miacutedia influencia nossos haacutebitos A miacutedia influenciava as
praacuteticas de ginaacutestica antigamente tambeacutem
Esteacutetica
Sempre existiu padratildeo de corpo A m iacutedia difundia algum padratildeo
de corpo antigamente A praacutetica de ginaacutestica tem sido realizada
somente para a obtenccedilatildeo de um corpo belo Essa difusatildeo de um
padratildeo de corpo ideal cria na populaccedilatildeo desejos e imagens sobre
seus proacuteprios corpos
Poliacutetica
A praacutetica de ginaacutestica por si soacute favorece a melhoria da sauacutede da
populaccedilatildeo de forma isolada ou outros fatores como renda morashy
dia emprego transporte atendimento meacutedico e alimentaccedilatildeo satildeo
importantes
Teacutecnica
Com o aferir a frequecircncia cardiacuteaca Com o identificar a intensidade dos
exerciacutecios Com o definir as zonas de treinamento a partir da afericcedilatildeo
da frequecircncia cardiacuteaca Quais satildeo os gestos que definem os movimenshy
tos da ginaacutestica
7onte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
31 Accediloacutees docentes e discentes
bull Exposiccedilatildeo do professor
bull Vivecircncia de diferentes formas de ginaacutestica passando dos
Meacutetodos Ginaacutesticos agraves modalidades contemporacircneas de
ginaacutestica de academia
bull Discussatildeo de textos com os alunos
bull Visualizaccedilatildeo anaacutelise e debate de documentaacuterioreportagem
em viacutedeo
bull Vivecircncia praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos mdash aferindo a frequecircncia
cardiacuteaca de si mesmo e do companheiro aleacutem de controlar
a zona alvo em diferentes intensidades
bull Elaboraccedilatildeo de painel com recortes e reportagens de jornais
eou revistas
32 Recursos materiais
Jornais revistas internet slides e materiais para praacutetica de gishy
naacutestica
4) CATARSE
41 Siacutentese teoacuterica do aluno
Com o desenvolvimento da sociedade capitalista na Europa
do seacuteculo XIX a Ginaacutestica Cientiacutefica ou Meacutetodos Ginaacutesticos acashy
baram por assumir a funccedilatildeo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos Para
subordinar poliacutetica e economicamente os indiviacuteduos agraves exigecircncias
das relaccedilotildees sociais dominantes naquele contexto a ginaacutestica foi
inclusive inserida nas escolas onde era praticada atraveacutes de exershy
ciacutecios padronizados com pouco ou nenhum espaccedilo para reflexotildees
dos alunos que deveriam executar os movimentos conforme os
comandos do professor (instrutor) Assim buscava-se contribuir
para formar sujeitos produtivos economicamente e ao mesmo
empo submissos politicamente capazes de contribuir para o de-
envolvimento das relaccedilotildees sociais que se aprofundavam na eacutepoca
Ao longo da histoacuteria a ginaacutestica passou por inuacutemeras trans-
ormaccedilotildees e atualmente seu viacutenculo com o discurso da promoshy
ccedilatildeo da sauacutede e da esteacutetica tem lhe garantido a manutenccedilatildeo de
am status privilegiado dentre as manifestaccedilotildees da cultura corposhy
ral Poreacutem se antigamente a educaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy
naacutestica visava formar um homem forte e apto ao trabalho fabril
atualmente a ginaacutestica parece atrelada a um processo educativo
voltado ao consumo desenfreado de mercadorias sejam as ldquonovasrdquo
modalidades oferecidas nas academias ou os diversos produtos que
visam agrave obtenccedilatildeo de um padratildeo de corpo ideal
Enquanto a busca desenfreada pelo padratildeo de corpo perfeito
acaba por influenciar transtornos como anorexia vigorexia e buli-
mia o discurso orientado na relaccedilatildeo (direta) entre praacutetica de ginaacutestishy
ca e obtenccedilatildeo da sauacutede acaba por mascarar o fato de que a qualidade
de vida e a sauacutede satildeo conceitos que envolvem condiccedilotildees de vida
como habitaccedilatildeo emprego condiccedilotildees de trabalho atendimento meacuteshy
dico de qualidade alimentaccedilatildeo dentre outros
A anaacutelise do processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes
da ginaacutestica e a apropriaccedilatildeo dos fundamentos baacutesicos do treinashy
mento cardiorrespiratoacuterio nos auxiliam no desenvolvimento de
uma postura criacutetica com a ginaacutestica a sociedade contemporacircnea e
seus discursos predominantes sobre o tema
42 Expressatildeo da siacutentese
Realizaccedilatildeo de prova e participaccedilatildeo em um quiz educativo ambos
abordando todo conteuacutedo estudado
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO
Quadro 2 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
1 Conhecer mais sobre a ginaacutestica1 Leitura de revistas e artigos soshy
bre ginaacutesticas
2 Discutir o comportamento dos inshy
diviacuteduos e suas praacuteticas de ginaacutestica
de acordo com seus objetivos sauacutede
eou esteacutetica
2 Observar e perguntar aos memshy
bros da sua comunidade se pratishy
cam e por que praticam ginaacutestica
e informaacute-los de seus limites e beshy
nefiacutecios
3 Posicionar-se criticamente sobre a
influecircncia da miacutedia nas praacuteticas de gishy
naacutesticas atuais
3 Numa discussatildeo sobre a gishy
naacutestica manifestar sua opiniatildeo
argumentando a favor ou contra
de acordo com o conhecimento
adquirido criticar a difusatildeo do
padratildeo de corpo ideal
4 Difundir o entendimento de que
outros fatores interferem na qualishy
dade de vida dos indiviacuteduos aleacutem da
ginaacutestica
4 Explicar a outras pessoas que
fatores como acesso agrave habitaccedilatildeo
atendimento meacutedico transporte
garantia de emprego condiccedilotildees
de trabalho seguras saneamento
baacutesico e alimentaccedilatildeo de qualidashy
de tambeacutem interferem na qualishy
dade de vida da populaccedilatildeo aleacutem
da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos
5 Realizar exerciacutecios na intensidade
de acordo com seus objetivos
5 Controlar sua frequecircncia cardiacute
aca durante a praacutetica de ginaacutestica e
demais exerciacutecios fiacutesicos
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees Finais
Este texto buscou apresentar uma experiecircncia pedagoacutegica na qual
a ginaacutestica foi trabalhada na escola sob orientaccedilatildeo da Pedagogia his-
toacuterico-criacutetica Destacamos que essa experiecircncia deve ser vista com um
olhar mais profundo pois cada escola tem caracteriacutesticas especiacuteficas e
singularidades que podem facilitar ou dificultar o processo pedagoacutegico
Vale ressaltar que a experiecircncia descrita natildeo esgota as inuacutemeras
possibilidades de trabalho a serem desenvolvidas com o tema ou com
a ginaacutestica Da mesma forma o conhecimento transmitido se constishy
tui apenas como parte do amplo leque de conhecimentos necessaacuterios
para o desenvolvimento de uma leitura criacutetica da realidade
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CAPIacuteTULO VIII
0 LUGAR E HORA DO CIRCO NA ESCOLA REFLEXOtildeES SOBRE A REINVENCcedilAtildeO DA CULTURA CIRCENSE NA SOCIEDADE CONTEMPORAcircNEA
Adriano de Paiva Reis
Carla Cristina Carvalho Pereira
Frederico Duarte Gomes Tostes
Haacute sempre um pouco de circo no corashy
ccedilatildeo de toda crianccedila Haacute sempre um pouco de
crianccedila no coraccedilatildeo de todo adulto Dentro de
noacutes despertam ecos as faceacutecias do palhaccedilo o
encanto da bailarina a cavalo as proezas do
trapeacutezio o destemor do homem que enfrenta
leotildees e tigres O fasciacutenio que aureola nossas
recordaccedilotildees vem do resto de infacircncia que -
felizmente - ainda ficou em noacutes E enquanto
houver ressoando alegre e contagiante um
riso de crianccedila haveraacute sempre um grito enshy
tusiaacutestico pronto a explodir - Viva o circo
(RUIZ 1987)
A arte circense eacute para muitos estudiosos
considerada uma das manifestaccedilotildees culturais
mais tradicionais do mundo Sobrevivendo de
geraccedilatildeo a geraccedilatildeo o circo vem perdurando no
tempo Maacutegicos trapezistas malabaristas pashy
lhaccedilos domadores e encantadores de animais
selvagens o fasciacutenio despertado pelo circo traz
encantamento e mexe com o imaginaacuterio do
homem haacute anos independente da idade
Marginalizada durante muito tempo as atividades circenses
hoje viraram nicho de mercado O circo vem ocupando cada vez
mais espaccedilo e ganhando maior visibilidade nos dias atuais seja
em academias de ginaacutesticas clubes escolas para formaccedilatildeo de cirshy
censes semaacuteforos dentre outros
Embora a produccedilatildeo teoacuterica a respeito do tema tenha crescido a
partir do iniacutecio dos anos 2000 e um nuacutemero significativo de artigos
sobre esse conteuacutedo esteja sendo publicado nos principais perioacutedishy
cos de Educaccedilatildeo Fiacutesica do paiacutes a maior parte dos trabalhos limita-se
ao resgate histoacuterico tendo em vista a preservaccedilatildeo do circo enquanto
patrimocircnio cultural ou a relatos de experiecircncias desenvolvidas
A inclusatildeo do circo nos curriacuteculos escolares eacute justificada
2 m muitos casos a partir do provaacutevel desenvolvimento das cashy
pacidades fiacutesicas agilidade resistecircncia cardiovascular equiliacutebrio
ldquohabilidades motorasrdquo em geral Ainda satildeo destacados aspectos
omo autoconhecimento automotivaccedilatildeo e superaccedilatildeo dos medos
ileacutem de cooperaccedilatildeo socializaccedilatildeo interaccedilatildeo ajuda muacutetua criashy
ratildeo de viacutenculo afetivo alegria espontacircnea e consciecircncia corpo-
al1 Embora possam ser considerados importantes entendemos
jue tais elementos por si soacute natildeo justificam a presenccedila desse
onteuacutedo na educaccedilatildeo escolar
A nosso ver a inclusatildeo das atividades circenses nos curriacuteculos
scolares articula-se ao que consideramos ser o papel da escola
[uai seja o ldquode socializaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico filosoacutefi-
o e artiacutestico produzido pela humanidade atraveacutes dos tempos em nas formas mais elevadasrdquo (EIDT DUARTE 2007 p 54 grifo
to autor) E imprescindiacutevel compreender as atividades circenses
nquanto produto da atividade humana um resultado do desen-
olvimento histoacuterico que precisa ser apropriado Cada um dos
lementos que constituem o circo (malabarismo equilibrismo
laacutegica etc) eacute carregado de sentidos e significados construiacutedos
istoricamente e modificados socialmente identificando assim o
Costa Tiaen e Sambugari (2007) Bortoleto (2003) Silva (1996) Silva e
Cacircmara (2009) Duprat e Bortoleto (2007)
homem como produtor e transformador da cultura Cabe agrave escoshy
la trabalhar com esse conteuacutedo contextualizando-o problemati-
zando-o estabelecendo correlaccedilotildees pertinentes entre as atividades
circenses e o processo histoacuterico em que se desenvolveram desmis-
tificando algumas modificaccedilotildees pelas quais passou ao longo dos
tempos Assim torna-se possiacutevel articular o ensino das atividades
circenses com a formaccedilatildeo do sujeito histoacuterico consciente da neshy
cessidade de superaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo
O desafio a ser superado eacute a construccedilatildeo de propostas pedagoacutegishy
cas viaacuteveis consistentes e coesas que contribuam para uma anaacutelise
criacutetica e uma compreensatildeo abrangente do universo circense visando
[] desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre o
acervo de formas de representaccedilatildeo do mundo que o
homem tem produzido no decorrer da histoacuteria exshy
teriorizadas pela expressatildeo corporal jogos danccedilas
lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte malabarismo
contorcionismo miacutemica e outros que podem ser
identificados como formas de representaccedilatildeo simshy
boacutelica de realidades vividas pelo homem historicashy
mente criadas e culturalmente desenvolvidas (C O shy
LETIVO DE AUTORES 1992 p 38)
Nesta perspectiva defendemos que as atividades circenses poshy
dem ser encaradas como um conteuacutedo especiacutefico extrapolando
algumas anaacutelises que a entendem enquanto parte constituinte da
ginaacutestica Apesar de determinados elementos como as acrobacias
apresentarem similaridades com o conteuacutedo da ginaacutestica fica evishy
dente que o processo com que esses elementos se apresentam denshy
tro do universo do circo eacute bem diferente daquele onde surgiu e
se desenvolveu a ginaacutestica2 Aleacutem disso outros elementos como
o palhaccedilo e as maacutegicas natildeo podem ser compreendidos enquanto
movimentos giacutemnicos e no nosso entendimento omiti-los seria
uma forma de fragmentar o conhecimento a respeito do circo
2 De acordo com Soares (2005) as acrobacias circenses influenciaram a
Ginaacutestica Francesa meacutetodo desenvolvido a partir da ordenaccedilatildeo e organizaccedilatildeo
de movimentos de acrobatas funacircmbulos e saltimbancos de maneira a
produzir maior eficiecircncia e economizar eneraia
A produccedilatildeo da arte circense como modo de vida
A arte circense eacute considerada uma das manifestaccedilotildees culturais mais
antigas do mundo sendo impossiacutevel precisar sua origem Sabe-se que
as modalidades circenses que hoje conhecemos decorrem de praacuteticas
que foram surgindo em momentos contextos e lugares diferentes a
partir dos costumes de uma regiatildeo ou paiacutes com o objetivo de entreter
louvar ou homenagear a deuses valorizar conquistas de guerras ou satildeo
corporificadas a partir da necessidade do homem de adestrar animais
para auxiacutelio no transporte ou em atividades de trabalho
O circo ldquomodernordquo como espetaacuteculo pago uma lona cobrindo um
picadeiro onde se apresentam trapezistas malabaristas equilibristas eacute
muito recente e seria por assim dizer a forma moderna de um antiquiacutesshy
simo entretenimento de diversos povos e culturas (TORRES 1998) A
estrutura do circo moderno remonta ao seacuteculo XVIII quando o inglecircs
Philip Astley ex-oficial da Cavalaria Britacircnica criou um espetaacuteculo de
equilibrismo equestre apresentado numa pista circular O espetaacuteculo criashy
do por Astley apresentava uma estrutura que atendia a um puacuteblico espeshy
ciacutefico da sociedade o rigor a postura e a elegacircncia da arte equestre consshy
tituiacuteam um siacutembolo de status social e muito agradavam a aristocracia
Entretanto os grupos circenses da eacutepoca comeccedilaram a notar que
as apresentaccedilotildees ganhariam muito mais espectadores se conseguissem
atingir uma classe social emergente naquela eacutepoca a burguesia Foshy
ram entatildeo incorporados outros artistas mdash funambulescos malabarisshy
tas acrobatas saltadores e adestradores de animais3 - que desafiavam
os limites corporais e morais e o espetaacuteculo foi reorganizado de forma
que pudesse ser mais atrativo (DUPRAT 2007)
3 Apesar dos animais historicamente participarem do espetaacuteculo circense a legislaccedilatildeo atual
vem restringindo sua utilizaccedilatildeo Aleacutem do Decreto ndeg 2464534 referente a maus tratos e
crueldade aos animais a Lei de Proteccedilatildeo agrave Fauna (Lei 519767) prevecirc pena de reclusatildeo para
casos de animais silvestres mantidos em locais sem higiene sujeitados a trabalhos insalubres
alimentaccedilatildeo inadequada ou insuficiente dentre outros A Portaria 10894 regulamenta as
condiccedilotildees para a estadia dos animais em zooloacutegicos e circos cabendo agraves prefeituras autorizarem
ou natildeo a fixaccedilatildeo de circos que utilizem animais em seus nuacutemeros Este eacute um ponto bastante
polecircmico pois apesar dos ambientalistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos
alegando maus tratos mdash seja nos meacutetodos de adestramento ou pelo fato de retiraacute-los de seu
habitat natural mdash haacute quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute crueldade e
tampouco insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais
Contraditoriamente na Europa receacutem-industrializada do
seacutec XIX o universo gestual caracteriacutestico do circo apresentava
liberdade e descompromisso contrariando o pensamento burguecircs
da eacutepoca que defendia a utilidade de qualquer atividade fora do
mundo do trabalho Contrapondo-se agrave liberdade e ao luacutedico das
atividades circenses primava-se pelos exerciacutecios fiacutesicos cuidadoshy
samente pensados para finalidades especiacuteficas a partir dos grupos
musculares e de funccedilotildees orgacircnicas (SOARES 2005)
O circo permitia agrave plateia transitar do maacutegico e fascinante agrave
aberraccedilatildeo despertando os mais ambiacuteguos sentimentos Acrobatas
trapezistas e funacircmbulos desafiavam as leis da fiacutesica desprezando o
peso de seus corpos enquanto homens domavam animais selvagens
engoliam fogo faziam reviver animais mortos aleacutem de exibirem deshy
formaccedilotildees fiacutesicas Esses estrangeiros nocircmades fascinantes artistas cirshy
censes eram cada vez mais temidos pela elite dirigente pois
traziam o corpo como espetaacuteculo Invertiam a ordem
das coisas Andavam com as matildeos lanccedilavam-se ao
espaccedilo contorciam-se e encaixavam-se em potes cm
cestos imitavam bichos vozes produziam sons com
as mais diferentes partes do corpo cuspiam fogo
vertiam liacutequidos inesperados gargalhavam viviam
em grupos Opunham-se assim aos novos cacircnones
do corpo acabado perfeito fechado limpo e isolado
que a ciecircncia construiacutera da vida fixa e disciplinada
que a nova ordem exigia (SOARES 2005 p 25)
Como eram rentaacuteveis os espetaacuteculos circenses proliferaram-se
por toda a Europa com um crescente nuacutemero de grupos de artistas
apresentando-se na sua maioria em instalaccedilotildees fixas ao ar livre ou
em anfiteatros adaptados o que demonstra grande influecircncia do
circo nas formas de divertimento e entretenimento da populaccedilatildeo e
da burguesia crescente Satildeo estas companhias que emigraram mais
tarde para outros continentes (SILVA 2003 DUPRAT 2007)
E nos Estados Unidos que a arena do circo ganha um mastro
central e uma tenda surgindo os moldes do ldquocirco americanordquo ou
circo de lona Nas matildeos de PhineasTaylor Barnum mdash homem de neshy
goacutecios e eficiente publicitaacuterio a enorme tenda colorida aleacutem de
proporcionar maior conforto aos espectadores tornou-se uma exceshy
lente forma de divulgar e vender o espetaacuteculo Ao mudar de cidade
toda a estrutura era desmontada e levada pelo grupo
Com a possibilidade de adquirirem maior mobilidashy
de aliada agrave incorporaccedilatildeo de artistas dos vaacuterios paiacuteses
por onde passava o circo consolidava-se como um
espaccedilo de muacuteltiplas linguagens artiacutesticas que pressushy
punha todo um conjunto de saberes definidores de
novas formas de produccedilatildeo e organizaccedilatildeo de espetaacuteshy
culo animais mistura de nacionalidades acrobacias
nuacutemeros aeacutereos magia shows de variedades represhy
sentaccedilotildees teatrais com pantomimas e entradas de
palhaccedilos com ou sem diaacutelogo Para os defensores do
ldquocirco purordquo era um espetaacuteculo ecleacutetico demais que
mais parecia music hall um teatro de variedades do
que circo Apesar das criacuteticas e debates em torno dos
espetaacuteculos circenses a montagem e produccedilatildeo dos
mesmos continham as principais formas de expresshy
sotildees artiacutesticas contemporacircneas apresentando um reshy
sultado que misturava music hall variedades teatro
(cenas cocircmicas pantomimas operetas) ginaacutestica
acrobacia e animais (SILVA 2007 p 51)
Este modo de organizaccedilatildeo pressupunha certas caracteriacutesticas
definidoras e distintivas do grupo circense como o nomadismo e
uma forma coletiva de constituiccedilatildeo do profissional artista baseada
na transmissatildeo oral do conjunto de saberes e praacuteticas acumuladas a
partir da vivecircncia na lona A organizaccedilatildeo familiar era a base de susshy
tentaccedilatildeo do circo inclusive no que se refere agraves relaccedilotildees de trabalho
Era comum que todos soubessem um pouco de todos os aspectos
que envolviam aquela produccedilatildeo desde a rotina diaacuteria do circo - como
armar e desarmar a tenda preparar os nuacutemeros e peccedilas de teatro
cuidar dos animais limpeza do ambiente dentre outros mdash ateacute as teacutecshy
nicas ou habilidades especiacuteficas da apresentaccedilatildeo As crianccedilas cabia a
responsabilidade de preservar a tradiccedilatildeo Por causa da vida nocircmade
eram alfabetizadas nas escolas das cidades por onde o circo passava ou
por uma pessoa do proacuteprio circo Aqueles que natildeo nasciam no circo
mas que a ele se incorporavam passavam pelo mesmo ritual de aprenshy
dizagem ao qual passavam os menores
O circo no tempo da induacutestria do entretenimento
Essa estrutura do circo tradicional comeccedilou a sofrer alguma alteshy
raccedilatildeo jaacute na deacutecada de 1920 na entatildeo Uniatildeo Sovieacutetica4 mas eacute a partir
dos anos de 1970 entretanto que consolidou-se um movimento de
reestruturaccedilatildeo do circo - fruto do envolvimento de artistas de diversas
origens em paiacuteses da Europa Ocidental Austraacutelia Canadaacute e Brasil
fazendo com que o ensino das artes circenses extrapolasse o reduto da
lona e quebrasse assim uma de suas grandes tradiccedilotildees a transmissatildeo
de conhecimento de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SILVA ABREU 2009)
O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy
ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX aleacutem da facilishy
dade de acesso agrave informaccedilatildeo e da fluidez da cultura no entanto
ocasionaram uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves
apresentaccedilotildees circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios
e dos terrenos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidashy
des mdash a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de
uma poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que
inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais O
fato eacute que nos anos de 1970 havia mais de 2000 companhias cirshy
censes espalhadas pelo Paiacutes e em 2009 esse nuacutemero era estimado
em 500 circos de pequeno meacutedio e grande porte5
Circenses tradicionais preocupados com o futuro encaminham
seus filhos para a vida urbana fora das lonas Escolas de circo passaram
a formar novos artistas rompendo-se a relaccedilatildeo de ldquopertencimentordquo agrave trashy
diccedilatildeo circense O modelo familiar de circo sofreu uma ruptura abrindo
espaccedilo para o que se conhece atualmente como Circo Novo
4 Na deacutecada de 1920 logo apoacutes a Revoluccedilatildeo Russa iniciou-se na antiga Uniatildeo Sovieacutetica
um movimento de construccedilatildeo de escolas de circo para fora da lona ou para fora do
grupo familiar circense a partir da nacionalizaccedilatildeo do circo e dos teatros pelo governo
sovieacutetico (DUPRAT 2007) Apesar de natildeo ser objetivo deste artigo discutir o contexto
histoacuterico e poliacutetico desse fato natildeo podemos deixar de mencionaacute-lo por constituir a
primeira experiecircncia de uma escola de circo fora do processo de formaccedilatildeosocializaccedilatildeo
aprendizagem que sempre foi dado sob a lona
f5 Dados obtidos no site do Ministeacuterio da Cultura Disponiacutevel em lthttpwww
culturagovbrsite20090327funarte-estima-que-brasil-tenha-500-grupos-
circensesgt Acesso em 14 jul 2012
Neste sentido
o circo como um todo natildeo mais se responsabiliza pela
continuaccedilatildeo do ensino artiacutestico da geraccedilatildeo seguinte
este passou a ser responsabilidade de cada famiacutelia que
escolhe onde seus filhos vatildeo estudar na escola formal
ou no circo A partir da deacutecada de 1970 no Brasil
algumas escolas de circo foram fundadas por artistas
preocupados em transmitir a teacutecnica circense em fazer
a profissatildeo renascer todavia natildeo mais necessariamente
com os filhos de gente de circo (SILVA 1996 p 9)
O circo teve que se reinventar para sobreviver Considerado
como o ldquoCirco do Homemrdquo por valorizar somente o ser humano
em suas performances o Circo Novo busca adequar-se ao mercashy
do artiacutestico dos novos tempos
A tecnologia assume um papel fundamental nesse processo pois
permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalanche tecshy
noloacutegica os grandes circos se apropriam das produccedilotildees e se renovam
constantemente enquanto muitos circos pequenos sucumbem agrave conshy
correcircncia por natildeo coseguirem acompanhar esse movimento
A mercantilizaccedilatildeo que domina a quase totalidade das relaccedilotildees soshy
ciais e a submissatildeo da cultura da sauacutede e da educaccedilatildeo - e tambeacutem das
praacuteticas corporais mdash aos interesses do capital trazem uma consequente
descaracterizaccedilatildeo do universo do circo Como empresa o ldquocirco novordquo
adota uma forte divisatildeo do trabalho contando com profissionais resshy
ponsaacuteveis para as mais diversas tarefas e funccedilotildees
A principal mudanccedila que caracteriza o chamado ldquocirco novordquo
refere-se agrave relaccedilatildeo familiar o circo torna-se uma grande empresa
Os artistas natildeo mais pertencem agraves famiacutelias circenses satildeo ex-atleshy
tas ou profissionais formados em escolas de circo e contratados
pelas grandes companhias De acordo com Silva (1996) natildeo eacute
mais a famiacutelia que eacute contratada mas o artista um nuacutemero um
especialista que tem um determinado conhecimento especiacutefico
da tarefa e natildeo mais do funcionamento do circo como um todo
tornando o conjunto do conhecimento sobre o circo fragmentashy
do e hierarquizado Nesse sentido
O modo de transmissatildeo oral do circo-lamilu Im m i
sido quebrado A ideacuteia de que o artista tiniu qm lt i
completo - no sentido de que cada indiviacuteduo liu
parte de uma comunidade e a sobrevivecircncia do gi upo
dependia do seu trabalho como um todo - natildeo niiis
fundamenta o aprendizado Daacute-se origem a uma novi
maneira de se ser artista de circo e a novas formas draquo
organizaccedilatildeo do trabalho (SILVA 1996 p 153)
O exemplo mais representativo do circo-empresa - e o de
maior impacto midiaacutetico - eacute a Companhia de Entretenimento
Circo de Soleil considerado o maior impeacuterio circense do mundo
Utilizando o que haacute de mais contemporacircneo para o entretenimenshy
to do puacuteblico conta com 21 espetaacuteculos sendo 12 em turnecirc em 5
continentes aleacutem de 9 espetaacuteculos residentes (exclusivamente nos
Estados Unidos) O Circo de Soleil emprega mais de 5000 funcioshy
naacuterios em todo o mundo sendo mais de 1300 artistas contratados
A maioria desses artistas eacute composta por ex-atletas danccedilarinos
profissionais personagens de sucesso nos meios de comunicaccedilatildeo
que representam cerca de 50 nacionalidades e falam 25 idiomas
diferentes Mais de 100 milhotildees de pessoas jaacute assistiram aos espeshy
taacuteculos do circo desde sua fundaccedilatildeo em 19846
Unindo danccedila teatro e circo a elementos da tecnologia como efeishy
tos de luz e som computaccedilatildeo graacutefica conhecimentos de diversas aacutereas
para a performance de um artistaatleta este novo modelo requer artistas
polivalentes como por exemplo malabaristas-acrobatas acrobatas-clo-
wn clown-muacutesico etc No circo novo o mais importante natildeo eacute o mais
complicado arriscado ou sobre-humano mas o mais belo plaacutestico vishy
sual esteacutetico etc(BORTOLETO MACHADO 2003)
Aleacutem disso as atividades circenses viraram nicho cle mercado
e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de circo a
academias de ginaacutestica A arte circense tambeacutem eacute utilizada como
praacutetica assistencialista por ON Gs e outras entidades filantroacutepicas
como ldquoinstrumento pedagoacutegicordquo na busca da ldquomelhoria de vidardquo
dos envolvidos nos projetos (F IG U E IREDO 2007)
6 Dados obtidos no site do Circo de Soleil Disponiacutevel em lthttpwwwcirquedusoleil
comenwelcomeaspxgt Acesso em- n
Eacute esse universo do circo que propomos trazer para a escola de forshy
ma a possibilitar ao aluno a apropriaccedilatildeo do conhecimento e a adoccedilatildeo de
uma postura criacutetica frente agrave atual configuraccedilatildeo do espetaacuteculo circense
Apresentamos a seguir o relato de uma experiecircncia pedagoacutegica realishy
zada com alunos do 6o ano de uma escola municipal de Juiz de Fora
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o circo
Ao iniciarmos a unidade buscamos identificar o niacutevel de consshy
ciecircncia dos alunos acerca do circo e os possiacuteveis interesses sobre a teshy
maacutetica Foram exibidos alguns viacutedeos de apresentaccedilotildees diversas (circo
tradicional C irque de Soleil apresentaccedilotildees de rua apresentaccedilotildees em
festas infantis na televisatildeo etc) Apoacutes a exibiccedilatildeo os alunos respondeshy
ram a duas questotildees O que eacute o circo Onde encontramos o circo atushy
almente As respostas foram registradas pelo professor A seguir foshy
ram explicitados os pontos que seriam abordados dentro do conteuacutedo
(histoacuteria e evoluccedilatildeo do circo as modalidades relaccedilotildees de trabalho e a
questatildeo ambiental) objetivos e atividades que seriam desenvolvidas
O segundo momento dentro da unidade didaacutetica foi a seleccedilatildeo de
questotildees relevantes para a discussatildeo e reflexatildeo dos alunos ou seja a problc-
matizaccedilatildeo Neste ponto foram delimitadas ainda as dimensotildees do conheshy
cimento a serem abordadas conforme apontamos no plano de unidade
No momento da instrumentalizaccedilatildeo foram desenvolvidas atividades
i accedilotildees tais como exibiccedilatildeo de viacutedeos leitura de textos vivecircncia das mais
iiversas modalidades circenses construccedilatildeo de materiais entre outras
Como forma de analisarmos o quanto o aluno apreendeu so-
gtre o conteuacutedo trabalhado propomos a criaccedilatildeo de uma apostila
obre o circo com a divisatildeo em grupos para a elaboraccedilatildeo de tex-
os sobre os toacutepicos de conteuacutedo trabalhados O objetivo desta
itividade consistiu em verificar o niacutevel de evoluccedilatildeo dos alunos
m relaccedilatildeo ao conhecimento sobre o circo (sua histoacuteria as moda-
idades teacutecnicas baacutesicas construccedilatildeo de materiais para a praacutetica
is novas configuraccedilotildees do circo atual os motivos pelos quais
iacuteoje existem poucos circos tradicionais as relaccedilotildees de trabalho
lentro do picadeiro dentre outros pontos) Outra atividade foi
a criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre 1 un
lizaccedilatildeo de animais nos espetaacuteculos circenses
No retorno agrave praacutetica social os alunos aprofundaram seus conltc
cimentos sobre o circo atraveacutes da pesquisa de textos e viacutedeos sobiv ltraquo
aspectos discutidos nas aulas e socializaram os conhecimentos com ou
tros alunos da escola atraveacutes da montagem de um espetaacuteculo circense
Plano de Unidade O lugar e hora do circo na escola
OBJETIVO GERAL
Compreender o circo enquanto manifestaccedilatildeo cultural a fim
de assumir postura criacutetica frente agraves novas configuraccedilotildees do espeshy
taacuteculo circense atual
Quadro 1 - Anuacutencio do conteuacutedo
M iacuteK IacuteS S amp K bull C i Jrsquo irfiiacuteV-rsquo P f
A histoacuteria do circo
Conhecer a histoacuteria do circo e suas transforshy
maccedilotildees
Identificar as diversas formas de apresentaccedilatildeo das
atividades circenses na atualidade (circo tradicional
circo novo atividades de rua festas infantis circo
social etc)
As modalidades circenses
Identificar as modalidades existentes no circo
malabarismo equilibrismo acrobacia maacutegica e
palhaccedilo
Vivenciar as principais modalidades que constituem
o circo
Construir materiais que possibilitem a experiecircncia
das modalidades circenses
O circo nos tempos atuais
Compreender as novas configuraccedilotildees do circo na atushy
alidade relacionando-as agraves exigecircncias da atual fase do
modo de produccedilatildeo capitalista (relaccedilotildees comerciais leis
trabalhistas trabalho infantil informalidade legislaccedilatildeo
de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos etc)
Circo legal tem animal
Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave utilizaccedilatildeo de anishy
mais no circo
Posicionar-se criticamente frente agrave utilizaccedilatildeo de
animais no circo
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
1) PRAacuteTICA SOCIAL IN IC IAL D O CONTEUacuteDO
11 Vivecircncia do Conteuacutedo
bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo O circo eacute um
espetaacuteculo com vaacuterios artistas eacute divertido tem maacutegica
palhaccedilo acrobatas ldquoanimais ferozesrdquo tem gente que faz
circo na rua etc
bull O que eles gostariam de saber a mais Como surgiu o circo
Como fazer maacutegica malabarismo equilibrismo etc Como
sobrevive um artista de circo Como satildeo tratados os animais
que vivem no circo
2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO
Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees
problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas
Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
TOacutePICO DE
CONTEUacuteDO DIMENSOtildeES
bulltgt t bull
QUESTAtildeO PROBLEMA
Respeitaacutevel puacuteblishy
co o circo chegouConceituai
O que eacute o circo
O que eacute circo tradicional
O que eacute circo novo
A histoacuteria do circo Histoacuterica
Quem inventou o circo
Onde ele surgiu
O circo de hoje eacute igual ao de antigashy
mente
Quais satildeo as modificaccedilotildees pelas quais
o circo passou ateacute hoje
As modalidades cirshy
censes
Conceituai
Teacutecnica
Quais satildeo as modalidades que constishy
tuem o circo
Quais satildeo as teacutecnicas baacutesicas das moshy
dalidades circenses
O circo nos tempos
atuais
Econocircmica
Poliacutetica
Social
Legal
Onde vemos artistas de circo
Por que natildeo temos tantos circos se
apresentando hoje em dia
Os artistas de circo recebem salaacuterio
Quais as condiccedilotildees sociais e de trabashy
lho de um artista de circo ldquofamosordquo e
de um circo ldquosimplesrdquo
Quanto custa um ingresso de um cirshy
co famoso
Como eacute a relaccedilatildeo da crianccedila com o
trabalho no circo
O que precisa para um circo se estabeleshy
cer em uma cidade
Por que o circo vai embora
Circo legal tem anishy
mal V
Poliacutetica
Legal
Histoacuterica
gt
Como os animais foram incorporashy
dos ao circo
Como o circo conseguia os animais
para suas apresentaccedilotildees
E permitido ter animais selvagens no
circo atualmente
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo
x lsquo bull --ir Ywl-ft bull V Avbdquo iacutei - - iacute
- Conteuacutedo Dimensotildees v l p sect p |
Respeitaacutevel puacuteblico
o circo chegou
Conceituar circo
Compreender o circo enquanto
produccedilatildeo histoacuterica do homem
ConceituaiExposiccedilatildeo teoacuterica e exibiccedilatildeo de viacutedeos
sobre o circo
Viacutedeo produzido pelos autores disshy
poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy
do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo86
A histoacuteria do circo
Conhecer a histoacuteria do circo e suas
transformaccedilotildees
Identificar as diversas formas de
apresentaccedilatildeo das atividades circenshy
ses na atualidade (circo tradicional
circo novo atividades de rua festas
infantis circo social etc)
Relacionar a expansatildeo das atividashy
des circenses com a configuraccedilatildeo
da sociedade atual
Histoacuterica
Econocircmica
Poliacutetica
Exibiccedilatildeo de viacutedeos e fotos sobre a histoacuteria
do circo e as mais diversas formas de apreshy
sentaccedilatildeo das atividades circenses atuais
Leituras de textos sobre a histoacuteria do circo
Textos sobre a histoacuteria do circo
Viacutedeo produzido pelos autores disshy
poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy
do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
7 Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012
8 Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03Ieis18069htmgt Acesso em 09042013
laquo M M
As modalidades cirshy
censes
Identificar as modalidades exisshy
tentes no circo malabarismo
equilibrismo acrobacia maacutegica e
palhaccedilo
Vivenciar as principais modalidashy
des que constituem o circo
Construir materiais que possibilishy
tem a experiecircncia das modalidades
circenses
Conceituai
Teacutecnica
Exibiccedilatildeo de viacutedeos editados das modalishy
dades do circo Acrobacias (individuais
coletivas de solo e aeacutereas) Malabarismo
(dc contato equiliacutebrio dinacircmico giros-
coacutepico e de lanccedilamento) Equilibrismo
Maacutegica Palhaccedilo (Cara Branca Miacutemico
Augusto Vagabundo Augusto Europeu)
Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das princishy
pais modalidades circenses
Construccedilatildeo de materiais para a vivecircncia
dessas modalidades
Viacutedeos disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo
e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Bolas de soprar garrafas pet jornal
fita adesiva barbante cabos de vassoushy
ra cilindros de papelatildeo ou canos de
ferro para construccedilatildeo dos materiais
Materiais para a vivecircncia bolinhas
de borracha claves swings rola-rola
diabolocircs devilstick etc
O circo nos tempos
atuais
Compreender as novas configurashy
ccedilotildees do circo na atualidade relacio-
nando-as agraves exigecircncias da atual fase
do modo de produccedilatildeo capitalista
(relaccedilotildees comerciais leis trabalhisshy
tas trabalho infantil informalidade
legislaccedilatildeo de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteshy
blicos etc)
Econocircmica
Poliacutetica
Social
Legal
Exibiccedilatildeo e discussatildeo do programa ldquoProshy
fissatildeo Repoacuterterrdquo sobre o circo
Anaacutelise da legislaccedilatildeo (ECA87 lei ambienshy
tal e leis de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos)
Viacutedeo disponiacutevel em no blog ldquoConshy
teuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educashy
ccedilatildeo Fiacutesicardquo
ECA
Leis ambientais e de locaccedilatildeo de espashy
ccedilos puacuteblicos
Circo legal tem anishy
mal
Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave
utilizaccedilatildeo de animais no circo
Posicionarmdashse criticamente frente agrave
utilizaccedilatildeo de animais no circo
Poliacutetica
Legal
Histoacuterica
Exibiccedilatildeo de viacutedeos e leitura de textos que
discutam a questatildeo dos animais do circo
Anaacutelise da legislaccedilatildeo ambiental
Organizaccedilatildeo de um juacuteri simulado
Viacutedeos e textos disponiacuteveis no blog
ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
4) CATARSE
41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno
O circo eacute uma das manifestaccedilotildees culturais mais tradicionais da
humanidade que encanta pela capacidade de transformar o banal em
inacreditaacutevel transformar o impossiacutevel em coisa simples Ao mesmo
tempo sua sobrevivecircncia oscila entre o popular e a falta de incentivo
entre a vontade de fazer parte e o alto custo dos espetaacuteculos
No decorrer dos anos o circo se modificou antes as famiacutelias
tradicionais faziam da vida embaixo da lona um lar vaacuterias viashy
gens e seu trabalho Entretanto agora artistas e admiradores se
apresentam nas ruas em grandes e pequenos circos em grandes
empresas de entretenimento nas escolas nas academias espaccedilos
puacuteblicos e privados
Fazem parte do espetaacuteculo circense apresentaccedilotildees de malashy
barismo equilibrismo maacutegica palhaccedilos e acrobacias cujo prinshy
cipal objetivo eacute a diversatildeo do puacuteblico o que requer o aprendizashy
do de teacutecnicas especiacuteficas e treinamento diaacuterio por muitos anos
O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy
ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX ocasionaram
uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves apresentaccedilotildees
circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios e dos tershy
renos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidades mdash
a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de uma
poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que
inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais
Em menos de 30 anos o nuacutemero de circos existentes no Brasil
reduziu-se significativamente abrindo espaccedilo para as grandes
companhias de circo onde os artistas natildeo mais pertencem agraves
famiacutelias circenses satildeo ex-atletas ou profissionais formados em
escolas de circo e contratados pelas grandes companhias que tem
um determinado conhecimento especiacutefico da tarefa e natildeo mais o
conhecimento do funcionamento do circo como um todo
Aleacutem disso a tecnologia assume um papel fundamental no espetaacuteshy
culo pois permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalan
che tecnoloacutegica os grandes circos se apropriam das prod i iccedilolaquo bull laquo
novam constantemente enquanto muitos circos pequenos mu uiuU
agrave concorrecircncia por natildeo conseguirem acompanhar esse movimento
Atualmente as atividades circenses viraram nicho de nu 1 laquo raquo
do e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de 1 1 1 1
a academias de ginaacutestica
Apesar dos animais historicamente participarem do espeta
culo circense a legislaccedilatildeo atual vem restringindo sua utilizaccedilatildeo
protegendo-os de maus tratos e condiccedilotildees insalubres de vida
Este eacute um ponto bastante polecircmico pois apesar dos ambienshy
talistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos haacute
quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute cruelshy
dade ou insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais
42 Expressatildeo da Siacutentese
bull Construccedilatildeo de uma apostila sobre o circo abordando os
temas trabalhados nas aulas
bull Criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a
utilizaccedilatildeo de animais no circo
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO
Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
A p ro fu n d a r os conhecim entos sobre
o circo
Pesquisar textos e viacutedeos sobre
os aspectos discutidos nas aulas
Socializar os conhecim entos apreenshy
didos durante as aulas
M ontagem de u m espetaacuteculo
circense
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees finais
Destacamos que o presente texto pretendeu apenas apresentar
uma dentre as inuacutemeras possibilidades pedagoacutegicas de trabalho com
esse universo tatildeo rico e tatildeo fascinante como o universo circense
Buscou-se conhecer a histoacuteria do circo analisando suas transformashy
ccedilotildees ao longo dos tempos identificar e vivenciar as diversas modalidashy
des de forma contextuaiizada e desmistificada Compreender as relaccedilotildees
de trabalho existentes no circo tradicional e nas manifestaccedilotildees circenses
atuais significa compreender o circo enquanto produto da atividade hushy
mana resultado do desenvolvimento histoacuterico parte importante do pashy
trimocircnio cultural humano que precisa ser transmitido pela escola
Referecircncias
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DUPRAT R M BORTOLETO Marco Antocircnio Coelho Educaccedilatildeo Fiacutesica Escoshy
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SOBRE OS AUTORES
Adriano de Paiva Reis eacute professor de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Prefeishy
tura Municipal de Juiz de Fora desde 2010 Graduado em Educaccedilatildeo
Fiacutesica pela UFJF desde 2008 foi Professor substituto do Coleacutegio de
Aplicaccedilatildeo Joatildeo XXIII Bolsista dos projetos ldquoPortal do Professor do
M ECrdquo e extensatildeo ldquoNovas Experiecircncias Pedagoacutegicas em Educaccedilatildeo
Fiacutesica Escolarrdquo E-mail adriano_reisrocketmailcom
Aacutelvaro de Azeredo Quelhas eacute Doutor em Ciecircncias Sociais pela Unishy
versidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo - Campus Mariacutelia
Mestrado em Educaccedilatildeo Fiacutesica na aacuterea de ldquoPedagogia da Educaccedilatildeo Fiacutesica
e do Esporterdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Especializaccedilatildeo
nas aacutereas de ldquoFutebolrdquo e ldquoEducaccedilatildeo Psicomotora na Educaccedilatildeo Fiacutesica do Io
graurdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Licenciado em Edushy
caccedilatildeo Fiacutesica e Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Trabalhou na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (1985-1997) como
professor do ensino fundamental (disciplina - Educaccedilatildeo Fiacutesica) aleacutem de
possuir experiecircncia como professor em academias de ginaacutestica e treinador
esportivo em clubes e empresas E professor do Departamento de Educaccedilatildeo
da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz de Fora desde
abril de 1997 E membro do Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educashy
ccedilatildeo (NETEC) da FACEDUFJF Seus estudos e pesquisas estatildeo voltados
para as transformaccedilotildees no mundo do trabalho e as formas de reestruturaccedilatildeo
produtiva com foco na precarizaccedilatildeo do trabalho em interface com os proshy
cessos educativos E-mail alvaroquelhasuolcombr
Andreacute Silva Martins eacute professor da Faculdade de Educaccedilatildeo
da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) onde integra o
Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo E vinculado tamshy
beacutem ao Coletivo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJV
Fiocruz) Integra o quadro docente do Programa de Poacutes-Gradua-
ccedilatildeo da UFJF E Mestre e Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade
Federal Fluminense E-mail andresilvamartinsglobocom
Carla Cristina Carvalho Pereira eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
(1996) poacutes graduada em Ednrarotilder cmdash 1
sidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestra em Educaccedilatildeo (2003)
pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Atua como professora da
rede municipal de Juiz de Fora desde 1998 Estuda temas relacionados
agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar nas aacutereas de danccedila-educaccedilatildeo planejamento e
avaliaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica E-mail carlacccphotmailcom
Carlos Eduardo de Souza eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestre em
Educaccedilatildeo pela UFJF Atua como professor da rede municipal e
particular em Juiz de Fora E-mail kadusjnyahoocombr
Frederico Duarte Gomes Tostes possui Licenciatura e Bachashy
relado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF) Estagiou em escolas puacuteblicas de Juiz de Fora e foi bolsista no
Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo Joatildeo XX III da Universidade Federal de Juiz de
Fora onde atuou no projeto de extensatildeo de Atividades Circenses para
alunos do ensino fundamental Atualmente faz cursos na Escola de
Circo Carequinha em Juiz de Fora E-mail fred_hikohotmailcom
Giovana de Carvalho Castro eacute professora da rede municipal de Juiz
de Fora Possui graduaccedilatildeo em Histoacuteria (2001) e mestrado em Ciecircncia da
Religiatildeo (2005) pela Universidade Federal de Juiz de Fora Tem experishy
ecircncia na aacuterea de Histoacuteria e Ciecircncia da Religiatildeo com ecircnfase em Histoacuteria
do Brasil Metodologia do Ensino de Histoacuteria Patrimocircnio Cultural Hisshy
toacuteria da Aacutefrica e Cultura Religiosa E-mail giovanahistoriabolcombr
Graziany Penna Dias possui Licenciatura cm Educaccedilatildeo Fiacutesica pela
Universidade Federal de Juiz de Fora (2000) e Mestrado em Educaccedilatildeo
pela Universidade Federal Fluminense (2006) Eacute vinculado ao Coletishy
vo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJVFiocruz) Atualmente
eacute professor do Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do
Sudeste de Minas - IFSUDESTEMG - Campus Juiz de Fora Estuda
temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar lazer poliacutetica educacional
e a relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo E-mail grazianydiasifsudestemgedubr
Hajime Takeuchi Nozaki possui Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1993) mestrado
em Educaccedilatildeo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1997)
e doutorado em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense
(2004) no campo Trabalho e Educaccedilatildeo Atualmente eacute professor asshy
sociado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Leciona na
graduaccedilatildeo no campus de Trecircs Lagoas e na poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo
no campus de Corumbaacute Dedica-se aos estudos na aacuterea de Trabalho
e Educaccedilatildeo atuando principalmente nos seguintes temas mundo do
trabalho e Educaccedilatildeo Fiacutesica formaccedilatildeo humana qualificaccedilatildeo dos trabashy
lhadores da faacutebrica E-mail hajimenozakiuolcombr
Herbert Hischter Chaves de Paula eacute graduado em Educaccedilatildeo
Fiacutesica pela Universidade Salgado de Oliveira - Universo (Juiz de
Fora) e poacutes-graduado em Danccedila e Consciecircncia Corporal pela Unishy
versidade Gama Filho (Belo Horizonte) E ator bailarino produtor
diretor e coreoacutegrafo e atua como professor de Danccedila e Teatro na
rede municipal de Juiz de Fora E-mail hhcpl911hotmailcom
Leonardo Docena Pina eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica e Messhy
tre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Atualmente cursa o doutorado em Educaccedilatildeo nessa mesma instituiccedilatildeo
e atua como professor da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de
ForaMG Desde 2008 integra o Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e
Educaccedilatildeo da UFJF E-mail leodocenayahoocombr
Marcelo Silva dos Santos possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2001) mestrado em Edushy
caccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense (2005) e eacute doutorando
em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana na Universidade do Esshy
tado do Rio de Janeiro (UERJ) Estuda temas relacionados agrave aacuterea de
trabalho e educaccedilatildeo Atualmente eacute professor do IFET Sudeste e da
rede municipal de Juiz de Fora E-mail marceloss2003igcombr
Miguel Fabiano de Faria eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela
UFJF e Mestre em Educaccedilatildeo pela UFMG Atua como professor na
educaccedilatildeo baacutesica e superior no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia
e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais - Campus Juiz de Fora Esshy
tuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar Lazer e Histoacuteria da
Educaccedilatildeo E-mail miguelfariaifsudestemgedubr
Mocircnica Jardim Lopes eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica e mes-
tranda em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Atua como professora da rede puacuteblica de ensino dos municiacutepios de
Juiz de Fora (MG) e de Trecircs Rios (RJ) E militante do Movimento
Nacional Contra a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica
(MNCR) E-mail monicajlopesyahoocombr
Nathaacutelia Sixel Rodrigues eacute Licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora Estagiou em Escolas puacuteshy
blicas da cidade como IFET e Escola Municipal Professora Thereza
Falei onde buscou tematizar o conteuacutedo Ginaacutestica na Educaccedilatildeo
Fiacutesica Atualmente atua como professora de ginaacutestica em academias
de Juiz de Fora E-mail naty_sixelhotmailcom
Priscila Rocha Rodrigues eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Atua como
professora de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de
ensino em Juiz de ForaMG E-mail prixrochayahoocombr
Rafael Loures dos Reis Bellei atua como professor do ensino
fundamental nas redes municipais de Juiz de Fora-MG eTrecircs Rios-
-RJ e no ensino fundamental e meacutedio na rede particular de Juiz
de Fora-MG O autor eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela UFJF
Estuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar e a relaccedilatildeo
trabalho-Educaccedilatildeo Fiacutesica M ilita no Movimento Nacional Contra
a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica - M NCR
E-mail rafabelleiyahoocombr
Ramon Mendes da Costa Magalhatildees possui Licenciatura e
Bacharelado pela Faculdade de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desportos (FA-
EFID) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) no ano de
2011 atualmente residente de Educaccedilatildeo Fiacutesica do programa de Reshy
sidecircncia Multiprofissional em Sauacutede do Adulto com Foco em Doshy
enccedilas Crocircnico Degenerativas no Hospital Universitaacuterio da Univershy
sidade Federal de Juiz de Fora (HUUFJF) no periacuteodo 20122014
E-mail ramon_mc_magalhaeshotmailcom
Renata Aparecida Alves Landim eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) especialista
m Educaccedilaacuteo Fiacutesica escolar pela UFJF e mestre em educaccedilatildeo pela
Universidade Federal Fluminense (UFF) Atualmente eacute professora do
ensino fundamental na rede puacuteblica municipal de Juiz de l o i i jgti
fessora temporaacuteria da Faculdade de Educaccedilatildeo da UFJF E v i i u ulraquolaquoi raquo
ao nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo da UFJE I m u i raquo
temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar poliacutetica educaraquo i o n i l
trabalho-educaccedilatildeo E-mail renatalandimhotmailcom
Thiago Barreto Maciel possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesui
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2007) Especializaccedilatildeo em
aspectos metodoloacutegicos e conceituais da pesquisa Cientiacutefica pela Uni
versidade Federal de Juiz de Fora (2008) Atualmente eacute professor do
Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste de
Minas Gerais - Campus Barbacena Tem experiecircncia na aacuterea de Edushy
caccedilatildeo Fiacutesica com ecircnfase em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana
E-mail tbarretomacielgmailcom
Victoacuteria de Faacutetima de Mello eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especialista em
Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar pela mesma instituiccedilatildeo Atua como professora
de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de ensino em Juiz
de Fora Atualmente dirige o Sind-Ute (Sindicato dos Trabalhadores
em educaccedilatildeo de Minas Gerais) E-mail vicmellloyahoocombr
I n f o r m a ccedil otilde e s G r aacute f ic a s
Formato 16 x 23 cm
Mancha graacutefica 112 x 194 cm
Tipologia Myriad Pro - Adobe Garamond Pro
Papel Offset 90gm2 (miolo) - Cartatildeo Supremo 250gm2 (capa)
Tiragem 500 exemplares
Impressatildeo e acabamento Graacutefica e Editora Brasil Ltda
v gt laquo ip i l U I O V
O M M A como ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo____________________________________ 109
Adriano de Paiva Reis Graziany Penna Dias Rafael Loures dos Reis
Bellei e Renata Aparecida Alves Landim
Capiacutetulo VI
A voz da periferia o H ip H o p enquanto possibilidade de
trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ________________________________________129
Adriano de Paiva Reis Carta Cristina Carvalho Pereira Giovana de
Carvaliyo Castro Herbert Hischter Chaves de Paula Marcelo Silva dos Santos
Capiacutetulo VII
A disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutestica_____________________________149
Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel
Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees
Capiacutetulo V III
O lugar e hora do circo na escola reflexotildees sobre a reinven-
ccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircnea----------------------1Z1
Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira
e Frederico Duarte Gomes Tostes
Sobre os autores 191
PREFACIO
No momento em que os estudos sobre a escola capitalista demonsshy
tram a sua degeneraccedilatildeo e decomposiccedilatildeo o seu esvaziamento proposishy
tal e seu rebaixamento teoacuterico para desqualificar a formaccedilatildeo da classe
trabalhadora na mais tenra idade surge contraditoriamente fruto de
experiecircncias concretas no chatildeo desta mesma escola a obra organizada
por Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira Leonardo
Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim intitulada Pedagogia histoacuterico-criacutetica e Educaccedilatildeo Fiacutesica
Do que trata este livro que lhe confere uma singularidade iacutempar
em meio a confrontos e conflitos de classe cada vez mais acirrados
Como uma das autoras do Livro Metodologia do Ensino da
Educaccedilatildeo Fiacutesica (COLETIVO DE AUTORES 1992) e portanto
testemunha histoacuterica de um esforccedilo nacional de mais de 20 anos enshy
frentando a criacutetica a didaacutetica e a organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico
na escola capitalista reconheccedilo que o propoacutesito dos autores do livro eacute
de vital importacircncia para a formaccedilatildeo escolarizada de crianccedilas e jovens
ms quais tecircm sido negados os conteuacutedos que permitem a humanizashy
ccedilatildeo como o satildeo os conteuacutedos da cultura corporal
Como demonstram os autores da obra - jovens intelectuais mili-
lanies culturais de formaccedilatildeo marxista - natildeo satildeo quaisquer conteuacutedos
I serem tratados na escola que garantiratildeo a humanizaccedilatildeo e natildeo eacute qual-
lt | i u t meacutetodo no trato com o conhecimento que asseguraraacute a formaccedilatildeo
lt miiK ipatoacuteria Satildeo conteuacutedos tratados com criteacuterios considerando a
iriicse o desenvolvimento a atribuiccedilatildeo de sentidos e significados agraves ati-
iilules corporais ao longo do percurso histoacuterico da humanidade Cri-
laquo nos que dizem respeito agraves capacidades cognoscentes e cognoscitivas
laquolltraquo estudantes compreendendo-as na totalidade do ser humano con-
lotmc e xplica a teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural a contemporanei-
raquobulllt laquolos conteuacutedos e seu conhecimento por sucessivas aproximaccedilotildees ao
iltlt n ui lura corporal que permitem os saltos qualitativos do
nm i iilo sincreacutetico e da mera sistematizaccedilatildeo de dados da realidade
i Ugtlt i u h t de novas siacutenteses qualitativamente superiores com autodeshy
terminaccedilatildeo e criatividade Aprimora-se assim pelas atividades corposhy
rais tratadas com o rigor do meacutetodo toda a capacidade do ser humano
Percurso este que deve ser recuperado por cada um de noacutes sem o qual
natildeo nos humanizamos E isto eacute possiacutevel pela educaccedilatildeo principalmente
escolarizada que forma seres humanos porque incide nas suas funccedilotildees
psicoloacutegicas superiores pelas atividades relacionais com os demais seres
humanos com a natureza com a cultura e consigo mesmo Por isto
esta obra eacute de fundamental importacircncia
Na introduccedilatildeo os autores Adriano de Paiva Reis Carla Cristina
Carvalho Pereira Hajime Takeuchi Nozaky Leonardo Docena Pina e
Renata Aparecida Alves Landim tratam de refletir sobre os limites e
possibilidades da discussatildeo sobre a didaacutetica da Educaccedilatildeo Fiacutesica Assushy
mem os autores a posiccedilatildeo teoacuterica e reconhecem que a ldquoperspectiva da
reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal presente no livro Metodologia
do Ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e denominada por noacutes de abordagem
Criacutetico-superadora foi eacute e seraacute um marco enquanto referecircncia mais
desenvolvida fundamentada em uma teoria marxista de educaccedilatildeo na
teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural na teoria do conhecimento mate-
rialista-histoacuterica-dialeacutetica e na Pedagogia histoacuterico-criacutetica
Justificam e assumem assim os autores que a Educaccedilatildeo Fiacutesica
ao transmitir os conhecimentos historicamente acumulados sobre a
cultura corporal se justifica na escola por socializar um conhecimento
essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade
A partir destas posiccedilotildees iniciais enfrentam o desafio e as difishy
culdades de organizarplanejarsistematizar o ensino da Educaccedilatildeo
Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corshy
poral Tensionam durante a obra o par dialeacutetico conteuacutedo-meacutetodo
modulador de alteraccedilotildees significativas na organizaccedilatildeo do trabalho
pedagoacutegico na salaquadra de aula e na escola
O trabalho com os professores da educaccedilatildeo baacutesica demonsshy
tra que aleacutem dos problemas na formaccedilatildeo faltam referecircncias conshy
cretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas com os diversos
conteuacutedos da cultura corporal E nesta busca lanccedilam-se os autoshy
res nos trazendo uma contribuiccedilatildeo de grande relevacircncia
O que eacute descrito no livro eacute fruto de um trabalho coletivo de mais de 20
professores e que ganha sistematizaccedilatildeo nos escritos destes jovens professores
que se dispuseram a ampliar os conhecimentos a respeito da metodologia
Criacutetico-superadora aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal
Tratam portanto da criacutetica agrave didaacutetica mas natildeo com a pretensatildeo
de resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
que estatildeo relacionados com as condiccedilotildees de vida e de trabalho dos
professores e estudantes Ou seja reconhecem as determinaccedilotildees da
economia poliacutetica que pesam sobre a escola e que natildeo seraacute somente
a iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores que resolveraacute a complexidade
que eacute o processo de destruiccedilatildeo das forccedilas produtivas a destruiccedilatildeo da
escola e a destruiccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico
Com muita honestidade cientiacutefica reconhecem os limites da
discussatildeo didaacutetica frente ao problema da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica
mas ressaltam a importacircncia da obra para ampliar as possibilidades
de transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar
O livro estaacute organizado em oito capiacutetulos que se articulam de forma
consistente e coerente Inicialmente os autores propotildeem uma discussatildeo
de caraacuteter mais geral abordando a funccedilatildeo e especificidade da escola e da
Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemporacircneo A partir da delimitaccedilatildeo clara
da concepccedilatildeo de educaccedilatildeo e de Educaccedilatildeo Fiacutesica que defendem passam
entatildeo a discutir a praacutetica pedagoacutegica atraveacutes de uma seacuterie de artigos sobre
possibilidades de temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos da cultura
inrporal - jogos esporte luta ginaacutestica danccedila e circo
() texto assinado por Andreacute Silva Martins trata de questionar a
Iunccedilatildeo social da escola e dentro dela o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica
lis natildeo o faz desprovido de dados que permitem constatar e explicar
ltmio a Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar foi uma ativida-
llt lt tijltgt objetivo central era promover o desenvolvimento da aptidatildeo
i ilt j ltgt lt|iklsquo foi alterado como foram alteradas as bases econocircmica
| x raquoI i i h i da sociedade brasileira que implicaram em alteraccedilotildees na
oli i i onsequentemente na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar
lt K iinores do texto sobre ldquoO ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e
(bulliniHio de sujeitos histoacutericos em busca dos fundamentos
teoacutericos e metodoloacutegicosrdquo tratam de demonstrar o surgimento
de propostas com outros princiacutepios definidores para a praacutetica
pedagoacutegica nos idos dos anos 1980 e 1990 Tratam das propostas
demonstrando nexos e relaccedilotildees entre a metodologia do ensino
as teorias educacionais pedagoacutegica a teoria do conhecimento e
o projeto histoacuterico Anunciam assim em um trabalho coletivo
novas bases da Educaccedilatildeo Fiacutesica na Rede de Ensino
Com base nos estudos de Saviani (1987) sobre Escola e Deshy
mocracia satildeo discutidas as tendecircncias da educaccedilatildeo e levanta-se de
iniacutecio a hipoacutetese de que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas
ainda possuem um papel a cumprir mdash contribuir na superaccedilatildeo do
capitalismo com o que temos pleno acordo
Ao tecer criacuteticas agraves concepccedilotildees sobre a educaccedilatildeo escolar o livro
traz uma contribuiccedilatildeo agrave educaccedilatildeo em geral e para todas as aacutereas de coshy
nhecimento que se organizam no interior da escola Defende-se por
fim a finalidade da educaccedilatildeo escolar para a emancipaccedilatildeo humana
Ao apresentar a perspectiva marxista de emancipaccedilatildeo humana
Aacutelvaro de Azeredo Quelhas Adriano de Paiva Reis Carla Cristina
Carvalho Pereira Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves
Landim recuperam os elementos histoacutericos apresentados por claacutessishy
cos como Marx e Engels que permitem afirmar a existecircncia sim de
uma teoria marxista da educaccedilatildeo Teoria esta que vem sendo sisteshy
maticamente negada na formaccedilatildeo dos professores A partir da base
teoacuterica mais geral adentram nas sistematizaccedilotildees sobre Educaccedilatildeo e
Trabalho para por fim reconhecer a importacircncia da mediaccedilatildeo da
Pedagogia histoacuterico-criacutetica na construccedilatildeo da metodologia do ensino
dos conteuacutedos especiacuteficos da cultura corporal na escola destacando
a obra Metodologia do Ensino de Educaccedilatildeo Fiacutesica do Coletivo de Aushy
tores (1992) obra onde eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal visando elevar a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enshy
quanto sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em
que vive Para tanto parte-se da praacutetica social que eacute problematizada
pela constataccedilatildeo sistematizaccedilatildeo compreensatildeo e explicaccedilatildeo cientiacutefishy
ca do real visando a praacutexis revolucionaacuteria criativa superadora o que
somente eacute possiacutevel com a ampliaccedilatildeo aprofundamento do conhecishy
mento historicamente acumulado e a autodeterminaccedilatildeo dos estushy
dantes Daiacute a relevacircncia social do trato com os conteuacutedos segundo
a teoria do conhecimento dialeacutetica-materialista-histoacuterica Portanto
natildeo seraacute qualquer conteuacutedo e muito menos qualquer meacutetodo para
tratar o conhecimento que permitiraacute a elevaccedilatildeo da capacidade teoacuterishy
ca dos estudantes E necessaacuterio o meacutetodo explicado e demonstrado
por Marx e Engels aplicado ao ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica na escola
- o meacutetodo materialista histoacuterico-dialeacutetico enquanto loacutegica e teoria
do conhecimento
Nos capiacutetulos seguintes a coerente e consistente abordagem
teoacuterica eacute demonstrada no trato com ldquoA produccedilatildeo da cultura luacutedica
em jogos eletrocircnicos rdquo texto de autoria de Renata Aparecida Alves
Landim Victoacuteria de Faacutetima de Mello Priscila Rocha Rodrigues e
Thiago Barreto Maciel Os autores partem da praacutetica social conshy
creta para chegar a uma nova siacutentese superior sobre este conteuacutedo
permitindo agraves crianccedilas e jovens se apropriarem de elementos da
cultura que por si soacute natildeo se datildeo a conhecer
No texto de autoria de Leonardo Docena Pina Carlos Edushy
ardo de Souza Mocircnica Jardim Lopes eacute demonstrado o meacutetodo de
elevaccedilatildeo da capacidade de reflexatildeo dos estudantes sobre a cultura
inrporal no trato com o conteuacutedo esporte e sauacutede O texto intitu-
lido ldquoAs relaccedilotildees entre esporte e sauacutede no capitalismo tematizando
i oiuradiccedilotildees na educaccedilatildeo escolarrdquo demonstra todo o processo que
v ulmina na nova siacutentese qualitativamente superior ao conhecimento
lt aoacuteiico sincreacutetico sobre o tema demonstrado no iniacutecio
Para tratar do conteuacutedo lutas delimitou-se ldquoO MM A como
nova lace da luta espetaacuteculordquo Os autores Renata Aparecida Alves Lanshy
dim Adriano de Paiva Reis Grazyani Penna Dias e Rafael Loures dos
K r Hcllei usaram com rigor o meacutetodo partindo da praacutetica social e a
bull u iornuido apoacutes um processo de problematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de
1 11u i i i i k i u o s sem os quais natildeo se explica o fenocircmeno atual das lutas
thim io ao conteuacutedo danccedila os autores Carla Cristina Carvalho
INlt ii i iliimo de Paiva Reis Giovana de Carvalho Castro Marcelo
monstrar a loacutegica no trato com o conhecimento dentro da rigorosidade
do meacutetodo Demonstram tambeacutem a elevaccedilatildeo do pensamento teoacuterico
dos estudantes sobre o assunto O texto ldquoA voz da periferia o Hip Hop
enquanto possibilidade de trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo eacute um
primor e contribuiraacute muito para consubstanciar uma abordagem mais
rigorosa de conteuacutedos contemporacircneos nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
No trato com o conteuacutedo da ginaacutestica no capiacutetulo intitulado
ldquoA disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutesticardquo os autores
Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel Roshy
drigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees conseguem elevar a
capacidade dos estudantes de elaborarem uma siacutentese qualitativa no
pensamento que permitiraacute a autodeterminaccedilatildeo para a praacutetica corposhy
ral de um conteuacutedo vital e que vem sendo negligenciado na escola
A retomada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica do conteuacutedo circo
conforme propotildeem Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvashy
lho Pereira e Frederico Duarte Gomes Tostes demonstra como um
conteuacutedo histoacuterico que data na origem dos tempos do feudalismo
pode adquirir um sentido e um significado humanamente elevado
pelo entendimento compreensatildeo e elaboraccedilatildeo de novas possibilidashy
des de accedilatildeo No trato com o conteuacutedo das atividades circenses no
texto intitulado ldquoO lugar e hora do circo na escola reflexatildeo sobre
a reinvenccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircneardquo os
autores demonstram o criteacuterio da rigorosidade e seriedade cientiacutefica
para tratar de um conteuacutedo da cultura que nos permite conhecer
compreender explicar e criar possibilidades riquiacutessimas de atividashy
des culturais com sentido e significado humanizante
Prezados leitores ressalto que esta obra eacute singular relevante e
vital porque como dizem os autores em um dos textos ldquoEm tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas as esferas da vida a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda maior Epreciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabalhadora construshyamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contribuindo para a desmistifiacutecaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta rdquo
12
tivos de Autores no Brasil e quiccedilaacute na Ameacuterica Latina que de norte
a sul de leste a oeste estatildeo recuperando desenvolvendo utilizanshy
do outros paracircmetros teoacutericos-metodoloacutegicos sintonizados com oushy
tro projeto histoacuterico superador agrave loacutegica do capital e portanto com a
perspectiva de formaccedilatildeo humana emancipatoacuteria significando isto a
superaccedilatildeo da sociedade de classes
Com esta obra juntamente com outras de igual propoacutesito
consolida-se no Brasil uma Educaccedilatildeo Fiacutesica de base marxista Cons-
troi-se assim tambeacutem pela via do trabalho pedagoacutegico a subjetivishy
dade humana visto que as condiccedilotildees objetivas para a revoluccedilatildeo jaacute
estatildeo postas faltam as condiccedilotildees subjetivas As forccedilas produtivas
deixaram de crescer e estatildeo em franca destruiccedilatildeo A isto reage este
jovem COLETIVO DE AUTORES que nos alenta a seguirmos
perseguindo em tempos de transiccedilatildeo um outro modo de produccedilatildeo
da vida Que todas as crianccedilas jovens e adultos das escolas puacuteblishy
cas na cidade e no campo tenham garantida esta qualidade aqui
demonstrada no ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica
Celi Nelza Zuumllke Tajfarel
(Universidade Federal da Bahia - UFBA)
INTRODUCcedilAtildeO
LIMITES E POSSIBILIDADES DA DISCUSSAtildeO SOBRE DIDAacuteTICA DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA
Adriano de Paiva Reis
Carla Cristina Carvalho Pereira
Hajime Takeuchi Nozaki
Leonardo Docena Pina
Renata Aparecida Alves Landim
Por mais de um seacuteculo a histoacuteria da
Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar
foi marcada por sua caracterizaccedilatildeo como uma
atividade cujo objetivo central era promover
0 desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica dos indishy
viacuteduos A partir do final da deacutecada de 1970
acompanhando um amplo movimento de luta
pela redemocratizaccedilatildeo da sociedade brasileira
assistimos a um periacuteodo de denuacutencias sobre o
atrelamento da aacuterea a uma concepccedilatildeo exclushy
sivamente bioloacutegica de homemmovimento
que cumpria um papel conservador no que
tange agraves relaccedilotildees sociais
Apoacutes esse periacuteodo de criacuteticas sobretudo
ao final dos anos de 1980 e iniacutecio dos anos
de 1 990 comeccedilam a surgir novas propostas
para a Educaccedilatildeo Fiacutesica definindo princiacutepios
identificadores de uma nova praacutetica pedashy
goacutegica Desde entatildeo podemos evidenciar
diversos avanccedilos no sentido da construccedilatildeo
di Educaccedilatildeo Fiacutesica como componente cur-
liiulnr tanto no plano da legislaccedilatildeo e das
01 ieniaccedilotildees educacionais como no plano das
propostas construiacutedas e implementadas em diversas redes de ensino
pelo paiacutes Mas no que pese todo esse avanccedilo produzido a crise no campo teoacuterico (FRIGOTTO 2001) acabou por influenciar a redefishy
niccedilatildeo das propostas pedagoacutegicas criacuteticas da aacuterea que passaram a ser
consideradas muitas vezes insuficientes inadequadas e ateacute mesmo
ultrapassadas para atender agraves supostas demandas de um novo mundoConsiderando que os fundamentos centrais da sociedade na qual
vivemos se mantecircm presentes ainda hoje embora com bases renovashy
das compreendemos que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas
ainda possuem um papel a cumprir qual seja o de contribuir para a
superaccedilatildeo do capitalismo - e de todas as formas de opressatildeo que se
intensificam nesse modo de produccedilatildeo da existecircncia humana1
Nessa linha reconhecemos que a perspectiva da reflexatildeo criacutetica soshybre a cultura corporal (COLETIVO DE AUTORES 1992)2 tambeacutem
conhecida como ldquoabordagem Criacutetico-superadorardquo foi um marco mdash e
ainda se manteacutem como referecircncia mais desenvolvida mdash para a Educashy
ccedilatildeo Fiacutesica uma vez que ao se fundamentar na Pedagogia histoacuterico-
-criacutetica articulou esse componente curricular ao que haacute de mais avanshy
ccedilado no debate sobre o papel da escola sendo capaz de entrelaccedilar a
formaccedilatildeo humana aos interesses e necessidades da classe trabalhadora
A partir da delimitaccedilatildeo de uma aacuterea de conhecimento denominada
de cultura corporal essa perspectiva definiu a Educaccedilatildeo Fiacutesica como
disciplina responsaacutevel por promover na escola uma tematizaccedilatildeo soshy
bre a relaccedilatildeo dos grandes problemas sociais contemporacircneos com os
conteuacutedos jogos danccedilas lutas ginaacutestica esporte malabarismo con-
torcionismo miacutemica e outros (COLETIVO DE AUTORES 1992)
A transmissatildeo dos conhecimentos historicamente acumulados sobre
a cultura corporal define a especificidade pedagoacutegica da Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica sua presenccedila na escola justifica-se por socializar um saber que
1 Adotamos a classificaccedilatildeo das pedagogias - em criacuteticas e natildeo criacuteticas - elaboradas por Saviani
(2006)
2 Tendo em visra o processo histoacuterico que envolveu a elaboraccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do livro
Metodologia do Ensino da Educaccedilatildeo Coletivo de Autores foi o termo adotado originalmente
para designar sua autoria expressando um sentido poliacutetico e o esforccedilo de ratificar o caraacuteter
coletivo e o projeto histoacuterico com o qual a obra estava articulada no contexto de sua
publicaccedilatildeo pela editora Cortez em 1992
16
natildeo eacute transmitido pelas demais disciplinas mas que se constitui como
elemento essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade
Apesar do avanccedilo teoacuterico promovido pelas recentes discussotildees
sobre a Pedagogia histoacuterico-criacutetica e a metodologia Criacutetico-supera-
dora deparamo-nos com inuacutemeros depoimentos de professores da
educaccedilatildeo baacutesica sobre a dificuldade de organizarplanejarsistematishy
zar o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo
criacutetica sobre a cultura corporal Aleacutem das criacuteticas aos cursos de forshy
maccedilatildeo de professores da aacuterea muitas vezes voltados aos campos natildeo
escolares de atuaccedilatildeo e subordinados agrave dimensatildeo predominantemenshy
te bioloacutegica de ser humano os professores tecircm se queixado da falta
de referecircncias concretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas
com os diversos conteuacutedos da cultura corporal3
A constataccedilatildeo desses problemas e desafios impulsionou a organishy
zaccedilatildeo de um grupo - composto predominantemente por professores
da rede puacuteblica municipal de Juiz de Fora mdash com o objetivo de amshy
pliar os conhecimentos a respeito da metodologia Criacutetico-superadora
aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal Hoje o grupo eacute
formado por cerca de vinte professores e conta com assessoria de dois
docentes da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz
de Fora4 os quais tecircm dialogado conosco ao longo do processo
Sem viacutenculo institucional nem apoio financeiro para pesshy
quisa o grupo tem se dedicado agrave realizaccedilatildeo de estudos pesquisas
e experiecircncias voltadas ao aprimoramento de nossa praacutetica pedashy
goacutegica na escola Apoacutes dois anos de trabalho conjunto sentimos
a necessidade de dar um passo a mais qual seja o de iniciar a soshy
cializaccedilatildeo das experiecircncias pedagoacutegicas desenvolvidas nas escolas
municipais de Juiz de Fora A elaboraccedilatildeo dessa obra surgiu porshy
tanto a partir da necessidade de ampliar nossos conhecimentos
sobre os conteuacutedos da cultura corporal e suas possibilidades de
abordagem metodoloacutegica na escola A constituiccedilatildeo de um grupo
envolvendo professores da rede puacuteblica municipal e federal pershy
3 A respeito da problemaacutetica referente agrave formaccedilatildeo de professores no contexto atual
sugerimos a leitura dos estudos de Costa (2009) Arce (2000) e Teixeira (2009)
4 Estamos nos referindo aos professores Aacutelvaro de Azeredo Quelhas e Andreacute Silva Martins
mitiu o estudo debate e sistematizaccedilatildeo de experiecircncias pedagoacuteshy
gicas desenvolvidas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Consideramos que a divulgaccedilatildeo dessas experiecircncias pode
constituir-se como instrumento para o aprimoramento da praacutetica
pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo soacute porque socializa os planos
de unidade desenvolvidos juntamente com textos de fundamenshy
taccedilatildeo teoacuterica de cada conteuacutedo trabalhado mas tambeacutem porque
contribui para que outros professores se insiram no debate consshy
truam novas experiecircncias eou discutam novas possibilidades
E importante destacar que ao reconhecermos a importacircncia do
debate sobre a didaacutetica para o aprimoramento do trabalho pedagoacutegishy
co nas escolas natildeo o consideramos suficiente para resolver o problema
do ensino na Educaccedilatildeo Fiacutesica Ou seja nossa iniciativa embora seja
importante e necessaacuteria natildeo tem a pretensatildeo nem a capacidade de
resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Aleacutem das limitaccedilotildees que envolvem muitos cursos de formaccedilatildeo
de professores encontramos outras determinaccedilotildees que acabam por
contribuir para que a escola natildeo cumpra seu papel de transmissatildeo do
conhecimento Embora natildeo sejamos capazes de reunir neste artigo
todos os problemas encontrados em grande parte das escolas da rede
puacuteblica municipal de ensino faz-se necessaacuterio destacar em linhas geshy
rais que as condiccedilotildees de vida (e de trabalho) de grande parte dos
professores e alunos natildeo satildeo muito favoraacuteveis Soma-se a isso o fato
de que as estruturas fiacutesicas precaacuterias recursos materiais insuficientes
grande nuacutemero de alunos por turmas e pouco reconhecimento profisshy
sional tendem a dificultar ainda mais o desenvolvimento do trabalho
do prazer e da vontade de lecionar Tambeacutem natildeo podemos deixar de
destacar que em muitos casos a Educaccedilatildeo Fiacutesica assume o posto de
disciplina de segundo escalatildeo sobretudo nas escolas de Educaccedilatildeo Inshy
fantil e dos anos iniciais do ensino fundamental onde os professores
de Educaccedilatildeo Fiacutesica Artes e Muacutesica por exemplo dificilmente partishy
cipam do conselho de classe o que evidencia a (des)valorizaccedilatildeo de sua
atividade docente na escola frente outras disciplinas como Portuguecircs
e Matemaacutetica consideradas mais importantes sob a oacutetica do capital
18
Consideramos que o professor mdash das diferentes aacutereas do conhecimento
- tem o papel de transmitir o conhecimento cientiacutefico artiacutestico e filosoacutefico
aos alunos mas natildeo compreendemos que sua funccedilatildeo possa ser tatildeo facilshy
mente exercida como supotildeem os defensores do neoprodutivismo para os
quais se espera que o docente exerccedila todo um conjunto de funccedilotildees com o
maacuteximo de produtividade e o miacutenimo de dispecircndio isto eacute com modestos
salaacuterios5 Compreendemos conforme destaca Saviani (2011) que se o proshy
fessor fosse bem remunerado no acircmbito de uma carreira docente que lhe
garantisse jornada integral em uma uacutenica escola ele poderia exercer sem
maiores problemas muitas funccedilotildees a ele atribuiacutedas Mas natildeo eacute esse o caso
Analisando a precarizaccedilatildeo do trabalho do professor Costa (2009)
evidencia que as consequecircncias da alienaccedilatildeo na atividade docente natildeo
se restringem ao ensino e a aprendizagem mas envolvem a proacutepria vida
do professor A autora constata que o processo de alienaccedilatildeo constroacutei
uma relaccedilatildeo professoresalunos distorcida em que os
segundos passam a imputar aos professores o tratamenshy
to que deveriam dar aos reais representantes da violecircnshy
cia do Estado burguecircs que os tem oprimido durante
toda a sua trajetoacuteria escolar E os professores passam
a ver os alunos como aqueles que materializam a falta
de respeito e o desprestiacutegio da categoria profissional na
sociedade nas manifestaccedilotildees de falta de respeito e ateacute
mesmo a violecircncia (COSTA 2009 p 72)
Natildeo obstante a alienaccedilatildeo do trabalho do professor ainda
gera desumanizaccedilatildeo o mais violento de todos os aspectos Conshy
forme afirma Costa (2009) o professor nem sempre tem a opccedilatildeo
de buscar outras formas para suprir sua subsistecircncia
Os seres humanos submetidos agrave alienaccedilatildeo mesmo vivenshy
do o sofrimento no trabalho o desgaste fiacutesico e mental a
dilapidaccedilatildeo moral ainda assim permanecem em relaccedilotildees
de trabalho destrutivas ateacute esgotarem os limites de suas
capacidades ou ateacute serem descartados pelo capital Nesse
momento em geral as consequecircncias vividas pelo trabalho
jaacute satildeo irreversiacuteveis Embora experimente a deterioraccedilatildeo de
sua sauacutede a negaccedilatildeo da natureza formativa da educaccedilatildeo
presente todos ograves dias nas ingerecircncias das mantenedoras e
5 Sobre o neoprodutivismo na educaccedilatildeo escolar brasileira conferir Saviani (2011)
do Estado na sua atividade laborai o professor natildeo pode
se furtar ao trabalho como meio de subsistecircncia devido agrave
sua dependecircncia total da vida urbana e do consumo que
ela impoacutee assim como ocorre com todas as outras categoshy
rias do proletariado (COSTA 2009 p 76-77)
Ao abordar essas reflexotildees buscamos explicitar nossa discordacircncia em
relaccedilatildeo agraves perspectivas ideoloacutegicas predominantes defensoras da ideia de
que o ecircxito da escola e da poliacutetica educacional que a orienta depende apenas
da iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores Atualmente fala-se muito no proshy
fessor como protagonista da mudanccedila mas natildeo lhe satildeo oferecidas muitas
condiccedilotildees para isso Defende-se que o professor assuma uma postura inoshy
vadora desenvolva praacuteticas de ensino renovadas busque o conhecimento
produzido ainda que as condiccedilotildees sejam muito desfavoraacuteveis para tanto
Conforme alerta Duarte (2006) a ideia comumente defendida pelos meios
de comunicaccedilatildeo eacute a de que o professor deve ser ldquogente que fazrdquo
Naacuteo eacute mero acaso que atualmente seja taacuteo difundido em
educaccedilatildeo o discurso voltado para as caracteriacutesticas definishy
doras de um bom professor de um professor que reflete
sobre sua praacutetica e realiza um trabalho de qualidade messhy
mo em condiccedilotildees adversas Uma variante desse discurso eacute
aquela em que em vez de falar-se de um professor que eacute
gente que faz fala-se de uma escola em que os professores
coletivamente de preferecircncia de matildeos dadas com a comushy
nidade transformam em exemplo de sucesso escolar Em
nome da superaccedilatildeo dos discursos imobilistas eacute adotado
um discurso no qual a passagem do fracasso ao sucesso
torna-se uma questatildeo de forccedila de vontade de alguns indishy
viacuteduos ou melhor de um coletivo de uma comunidade
O resultado ideoloacutegico pretendido ou natildeo eacute bastante
claro o descompromisso do Estado a despolitizaccedilatildeo dos
problemas educacionais e a abdicaccedilatildeo do ideal de lutar por
uma transformaccedilatildeo radical da sociedade pela superaccedilatildeo
do capitalismo e pela construccedilatildeo de uma sociedade sociashy
lista A saiacuteda passa a ser a das soluccedilotildees locais comunitaacuterias
individuais (DUARTE 2006 p 141)
Feitas essas consideraccedilotildees sintetizamos nossa compreensatildeo soshy
bre os limites da discussatildeo didaacutetica que apresentamos neste livro
Trata-se de uma discussatildeo insuficiente se considerarmos o problema
da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica em sua radicalidade mas ao mesmo
20
tempo importante uma vez que pode ampliar as possibilidades de
transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica
O presente livro organizado numa perspectiva de unidade realiza
nos dois primeiros artigos uma discussatildeo de caraacuteter mais geral sobre a
funccedilatildeoespecificidade da escola e da Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemshy
poracircneo Os demais artigos abordam possibilidades de desenvolvimento
de praacuteticas pedagoacutegicas com temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos
da cultura corporal circo lutas ginaacutestica danccedila jogos e esporte
As experiecircncias pedagoacutegicas apresentadas foram desenvolvidas
com a segunda etapa do Ensino Fundamental e com o Ensino Meacuteshy
dio mas obviamente podem sofrer adaptaccedilotildees para serem tratadas
em outros niacuteveis de ensino Os artigos que tratam dos conteuacutedos da
cultura corporal nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica foram redigidos em subshy
grupos de autores coordenados pelos organizadores da obra e ao final
do processo todos os artigos foram lidos e discutidos coletivamente
Apesar de consideramos a capoeira como um conteuacutedo esshy
peciacutefico e importante da cultura corporal ela natildeo foi abordada
neste livro devido aos limites espaciais e temporais para conclushy
satildeo da obra No nosso planejamento inicial constava um artigo
especiacutefico para abordar esse conteuacutedo poreacutem com o andamento
do estudo constatamos que natildeo teriacuteamos tempo suficiente para
ibordaacute-lo Assim fazemos questatildeo de destacar que assumimos a
iiiscncia da capoeira como uma diacutevida e reafirmamos a necessida-
ilr de abordaacute-la em publicaccedilotildees e debates posteriores
( )s temas selecionados buscaram relacionar os conteuacutedos da cultura
iniporal a problemas sociais presentes na praacutetica social dos alunos bus-
i nulo ultrapassar a simples praacutetica pela praacutetica e promover uma reflexatildeo
i tiacutetii a sobre o modo como os jogos as lutas as danccedilas os esportes os
ru iacutecios ginaacutesticos as atividades circenses se expressam em nosso temshy
po I Vsse modo uma questatildeo que atravessou todos os planos de unidade
i i sltnuinte como a cultura corporal patrimocircnio da humanidade tem
I bull ipKgtpriada e subordinada agrave dinacircmica do consumo capitalista
Irsquooi iacuteim gostariacuteamos de registrar nossos agradecimentos pela
i pouibilizaccedilatildeo dos recursos para a publicaccedilatildeo desta ediccedilatildeo do
livro por meio do Fundo de Apoio agrave Pesquisa na Educaccedilatildeo Baacutesica
- FAPEB mdash da Prefeitura de Juiz de Fora A busca de um financiashy
mento puacuteblico e a distribuiccedilatildeo gratuita dessa obra estaacute relacionada
agrave nossa perspectiva de produccedilatildeoapropriaccedilatildeo coletiva do conhecishy
mento Agradecemos ainda a todos os professores e alunos que
estiveram envolvidos na realizaccedilatildeo desse projeto permitindo divishy
dir experiecircncias e construir conhecimentos que agora socializamos
neste livro
Referecircncias
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FRIGOTTO G A nova e a velha faces da crise do capital e o labirinto dos reshy
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SAVIANI D Escola e democracia 38 ed Campinas Autores Associados 2006
_______ Histoacuteria das ideias pedagoacutegicas no Brasil 3 ed Campinas Autores
Associados 2011
TEIXEIRA L A poliacutetica de formaccedilatildeo docente no Brasil fundamentos teoacutericos
e epistemoloacutegicos In Reuniatildeo Anual da ANPED 32 2009 Caxambu
Anais Caxambu ANPED 2009 p 1-17
CAPIacuteTULO I
SOBRE A FUNCcedilAtildeO E ESPECIFICIDADE DA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR NO M UNDO CONTEMPORAcircNEO
Andreacute Silva Martins
O presente capiacutetulo tem por objetivo apreshy
sentar uma reflexatildeo sobre a funccedilatildeo e especificishy
dade da educaccedilatildeo escolar na atualidade Nossa
intenccedilatildeo mais ampla eacute problematizar as perspecshy
tivas relacionadas agrave funccedilatildeo social da escola e sua
especificidade no processo de formaccedilatildeo humashy
na procurando indicar uma alternativa poliacutetico-
-pedagoacutegica aos discursos e praacuteticas dominantes
As questotildees que orientam nossa reflexatildeo
podem ser assim descritas Qual a funccedilatildeo
social da instituiccedilatildeo escolar na atualidade
A instituiccedilatildeo escolar possui uma especificishy
dade frente os demais processos formativos
de nossa sociedade Quais satildeo os desafios da
Escola Puacuteblica brasileira no seacuteculo XXI
Para responder estas questotildees organizashy
mos o texto em trecircs partes Na primeira busshy
camos recuperar a gecircnese da instituiccedilatildeo escoshy
lar e sua especificidade no processo formativo
Em seguida realizamos uma anaacutelise sobre duas
concepccedilotildees que vecircm orientando a definiccedilatildeo da
finalidade da educaccedilatildeo escolar Por fim com
base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica apresentashy
mos uma siacutentese do que pode vir a ser a insshy
tituiccedilatildeo escolar na atualidade tendo em vista
os interesses da ampla maioria da populaccedilatildeo
Nossa expectativa eacute contribuir para as reflexotildees sobre o tema e oferecer
elementos para a compreensatildeo criacutetica da funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar
Sobre a gecircnese da instituiccedilatildeo escolar
A escola eacute uma instituiccedilatildeo social relativamente nova que se
consolidou e se popularizou a partir do processo de intensificaccedilatildeo
da complexidade da vida social gerada pelas mudanccedilas nas relaccedilotildees
sociais envolvendo o crescimento da urbanizaccedilatildeo e desenvolvimenshy
to do industrialismo sobre as formas tradicionais de estruturaccedilatildeo de
poder e de redefiniccedilatildeo das bases de produccedilatildeo material e simboacutelica
vinculadas agrave existecircncia humana Isso significa que a instituiccedilatildeo esshy
colar surge como expressatildeo cultural de um tempo histoacuterico com a
finalidade de assegurar uma especificidade na formaccedilatildeo humana
Antes da existecircncia da escola nas sociedades tradicionais os proshy
cessos formativos se realizavam diretamente nas dinacircmicas de constishy
tuiccedilatildeo da vida natildeo requerendo maiores exigecircncias muito menos ritos
formais para sua ocorrecircncia No cotidiano as trocas de conhecimentos
gerados pela experiecircncia geracional ou pela vida cotidiana de uma dada
comunidade constituiacuteam a base dos processos formativos necessaacuterios agrave
construccedilatildeo da vida A educaccedilatildeo fluiacutea nas dinacircmicas de trabalhovida
sem delimitaccedilotildees mais precisas de tempo e espaccedilo A experiecircncia e a
informalidade se constituiacuteam como referecircncias dos processos formatishy
vos Nessa dinacircmica o domiacutenio de conhecimentos sistematizados era
dispensaacutevel ao homem comum A formaccedilatildeo intelectual era restrita aos
pequenos grupos que atuavam em funccedilotildees administrativas e clericais
Quando muito com raras exceccedilotildees o acesso do povo aos rudimentos
da leitura e da escrita ficava circunscrito agraves iniciativas isoladas princishy
palmente a cargo de ordens religiosas que reforccedilavam a manutenccedilatildeo da
ordem estabelecida (FERREIRA 2001) ou a grupos de artesatildeos preoshy
cupados com a organizaccedilatildeo da produccedilatildeo (ENGUITA 1989)
O processo social poliacutetico e econocircmico de ruptura com a trashy
diccedilatildeo feudal protagonizada pela classe burguesa nas sociedades eushy
ropeias produziu novas determinaccedilotildees para que a formaccedilatildeo humana
ultrapassasse as referecircncias educativas precedentes Em outras pala-
24
vras a dinacircmica social emergente apresentava os primeiros sinais de
que a experiecircncia e a informalidade ofereciam sinais de esgotamenshy
to isso porque estavam em curso novas exigecircncias para organizar a
vida social e os meios necessaacuterios agrave sua existecircncia
A valorizaccedilatildeo do chamado ldquohomem-livrerdquo a ideia de progresso as
formas emergentes de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de mercadorias e a defesa da
propriedade privada no centro da vida social que foram sendo consolidadas
apoacutes as revoluccedilotildees burguesas exigiam novas referecircncias educativas Na conshy
cepccedilatildeo da classe emergente a massa populacional disforme e sem identishy
dade poliacutetico-ideoloacutegica precisava ser preparada para ocupar o seu lugar na
nova ordem a partir de novas regras sociais de vida e trabalho A imagem do
atraso representado pelo camponecircs isolado e restrito ao espaccedilo rural precishy
sava ser substituiacuteda pela simbologia do progresso representada pelo homem
urbano - trabalhador ldquolivrerdquo Organizado na cidade envolvido nas relaccedilotildees
comerciais de novo tipo e envolvido na passagem da oficina para manufashy
tura e desta para a induacutestria nascente o ldquonovo homemrdquo deveria ser disciplishy
nado socialmente para compreender os novos coacutedigos culturais Se para os
adultos da classe trabalhadora a vida urbana continha os elementos educashy
tivos da disciplina social capitalista principalmente os de caraacuteter repressivo
a educaccedilatildeo das crianccedilas urbanas para a vida social exigia um pouco mais O
surgimento da escola de massas tem suas origens vinculadas a esse processo
de longa duraccedilatildeo confirmada na consolidaccedilatildeo do periacuteodo histoacuterico denoshy
minado de modernidade A especificidade da escola residia na compreenshy
satildeo de que algo a mais deveria ser oferecido ultrapassando as experiecircncias
educativas realizadas pela famiacutelia pelas religiotildees pela convivecircncia
Em ritmos diversos a expansatildeo da instituiccedilatildeo escolar puacutebli-
1 foi se tornando uma realidade nas formaccedilotildees sociais em geral
viabilizada por meio do Estado capitalista Aleacutem da escolarizaccedilatildeo
obrigatoacuteria com extensatildeo restrita foram sendo instituiacutedas bases
rei ais para o ensino realizado na escola puacuteblica de massas O do-
miacutenkrdos rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo passou a
laei parte da formaccedilatildeo do trabalhador urbano O desafio era for-
1 1 1 i eorporcidade infantil (o sentirpensaragir) desde cedo dentro
ilo ideal do ldquohomem novordquo
As teacutecnicas de ensino e de controle bem como a organizaccedilatildeo do
espaccedilo e das rotinas marcaram a constituiccedilatildeo da escola moderna Sem
elidir outros processos educativos a instituiccedilatildeo escolar foi se tornando
importante instrumento do processo civilizatoacuterio capitalista
Enquanto a escola de massas assumiu a educaccedilatildeo das crianccedilas da
classe trabalhadora para o exerciacutecio da submissatildeo intelectual e moral
formando o cidadatildeo-trabalhador produtivo da modernidade outro tipo
de escola foi assegurado para a preparaccedilatildeo ampla de grupos de crianccedilas
e adolescentes da classe burguesa As distinccedilotildees fundamentais do proshy
cesso formativo dos dirigentes e dirigidos se expressaram no tempo de
escolarizaccedilatildeo no espaccedilo destinado agraves praacuteticas educativas bem como na
quantidade-qualidade de acesso aos conhecimentos sistematizados Inshy
distintamente a racionalizaccedilatildeo do processo pedagoacutegico buscou responshy
der agraves especificidades do papel econocircmico-poliacutetico das classes sociais
tendo como referecircncia a dinacircmica da vida urbano-industrial1 e a necesshy
sidade dos coacutedigos culturais Vale lembrar que o princiacutepio do dualismo
educacional jaacute havia sido traccedilado por John Locke no seacuteculo XVII antes
mesmo do advento da escolarizaccedilatildeo de massas (ENGUITA 1989)
Mesmo oferecendo um acesso restrito ao conhecimento sisshy
tematizado e assegurando uma formaccedilatildeo intelectual e moral para
a submissatildeo a escola para os trabalhadores foi sendo consolidada
nas formaccedilotildees sociais capitalistas a partir do reconhecimento de
sua contribuiccedilatildeo especiacutefica dentro do processo educativo mais
amplo Embora este processo tenha se dado em ritmo variado -
dependendo do reconhecimento da classe dominante sobre a im shy
portacircncia da ampliaccedilatildeo do domiacutenio dos coacutedigos culturais e das
lutas travadas em torno do acesso agrave educaccedilatildeo - a escola foi sendo
legitimada por sua especificidade educativa Sobre este processo
mais geral Ferreira (2001 p 193) observa que
Chegados agrave transiccedilatildeo do seacuteculo X IX para o seacutecushy
lo XX a burguesia sustenta e participa do poder
1 Enquanto a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo infantil da classe trabalhadora das cidades passou a
ser ordenada pelo menos enquanto tendecircncia em edificaccedilotildees projetadas para tal fim pela
adoccedilatildeo de turmas seriadas por programas bem definidos e com professores treinados a
educaccedilatildeo no campo ainda que concentrando boa parcela das crianccedilas seguiu marcada
pelo improviso de instalaccedilotildees de recursos didaacuteticos e de pessoal
mas hesita entre a cultura do passado e a dinacircmica
imposta pelo progresso A burguesia sabe por exshy
periecircncia proacutepria que nada eacute definitivo e uniforshy
me Mas tambeacutem sabe que a sociedade burguesa
precisa de ordem e estabilidade e que os interesshy
ses divergentes que encerra podem arruinaacute-la Ela
precisa por isso estar bem informada para agir
em conformidade com o momento Necessita soshy
bretudo de dominar os saberes que lhe asseguram
a administraccedilatildeo do poder Ela sabe que a compeshy
tecircncia eacute a qualidade chave do sucesso A escola
tem sido fundamentalmente uma instituiccedilatildeo cara
agrave burguesia Isso natildeo significa que natildeo tenha sido
uacutetil a outras forccedilas sociais e que natildeo tenha servido
interesses contraacuterios aos dos burgueses
A histoacuteria da escolarizaccedilatildeo na formaccedilatildeo social brasileira seshy
guiu pelo menos enquanto tendecircncia o movimento educacional
das formaccedilotildees capitalistas centrais No entanto considerando
que o Brasil foi palco de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo tardia sob
mediaccedilatildeo de uma revoluccedilatildeo burguesa de tipo natildeo-claacutessica (FERshy
NANDES 1976) explicada pelo conceito de revoluccedilatildeo passiva
(GRAMSCI 1999) e que isto resultou numa inserccedilatildeo subordinashy
da do paiacutes no cenaacuterio internacional eacute possiacutevel afirmar que a escola
puacuteblica de massas expressou em sua particularidade e com contrashy
diccedilotildees a opccedilatildeo poliacutetica da classe dominante brasileira
Basta considerar que enquanto os paiacuteses centrais jaacute haviam
avanccedilado no movimento de universalizaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo baacutesica
ainda no seacuteculo XIX no Brasil ao longo do seacuteculo XX predomishy
nou um processo restritivo de acesso dos trabalhadores agrave educaccedilatildeo
escolar Os que escaparam do analfabetismo em geral encontraram
barreiras objetivas para concluir o que denominamos hoje de Enshy
sino Fundamental Foi somente no limiar do seacuteculo XXI que este
niacutevel de escolarizaccedilatildeo foi universalizado2
2 O atraso educacional brasileiro pode ser explicitado nas questotildees legais que envolvem o Ensino
Meacutedio A Constituiccedilatildeo de 1988 - chamada por muitos de ldquoConstituiccedilatildeo Cidadatilderdquo - estabeleceu
no artigo 208 inciso II ldquoprogressiva extensatildeo de obrigatoriedade e gratuidade do ensino meacutediordquo
mesmo diante dos sinais de mudanccedilas poliacuteticas e econocircmicas significativas no mundo capitalista
O Ensino Meacutedio foi projetado para poucos naquele contexto Somente em 2009 por meio da
Emenda Constitucional ndeg 59 este niacutevel de ensino se tornou obrigatoacuterio no paiacutes
w avanccedilo lento e restritivo da escolarizaccedilatildeo brasileira foi resultado
das relaccedilotildees de poder travadas ao longo do seacuteculo XX mediadas pelas
relaccedilotildees de produccedilatildeo Predominava na classe dominante a compreenshy
satildeo de que o acesso agrave educaccedilatildeo deveria ser programado para atender o
miacutenimo necessaacuterio ao padratildeo de qualificaccedilatildeo exigido pela dinacircmica da
sociedade urbano-industrial em seu desenvolvimento tecnoloacutegico e exishy
gecircncias poliacuteticas e ideoloacutegicas Esse posicionamento contrastava com as
lutas operaacuterias do iniacutecio do seacuteculo XX que reivindicavam acesso agrave edushy
caccedilatildeo puacuteblica e com a manifestaccedilatildeo dos signataacuterios do ldquoManifesto dos
Pioneiros da Educaccedilatildeordquo de 1932 que reivindicava uma escola puacuteblica
de qualidade para todos Contudo na correlaccedilatildeo de forccedilas e consideshy
rando a dinacircmica das relaccedilotildees de produccedilatildeo para a grande maioria o
acesso ao conhecimento sistematizado natildeo ultrapassou o domiacutenio dos
rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo A ideia de que a escolashy
rizaccedilatildeo deveria se constituir num patrimocircnio de poucos predominou
Em que pesem o atraso educacional e as restriccedilotildees de acesso
agrave escola puacuteblica a historiografia da educaccedilatildeo brasileira por reshy
cortes e bases epistemoloacutegicas distintas apresenta fartos elemenshy
tos que demonstram a ligaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar e projeto
civilizatoacuterio conduzido pela classe dominante no paiacutes desde o
iniacutecio do seacuteculo XX confirmando a especificidade da instituiccedilatildeo
escolar no processo de formaccedilatildeo humana
Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar as concepccedilotildees dominantes
Apesar do reconhecimento social sobre a importacircncia e esshy
pecificidade da instituiccedilatildeo escolar no processo educativo mais
amplo eacute necessaacuterio observar que existem divergecircncias quanto agrave
finalidade da educaccedilatildeo escolar Para enfrentar esta questatildeo opshy
tamos por um recorte de duas das mais relevantes formulaccedilotildees
contemporacircneas sobre o tema Nossa opccedilatildeo metodoloacutegica conshy
siste na caracterizaccedilatildeo e anaacutelise das concepccedilotildees procurando evishy
denciar suas implicaccedilotildees para a formaccedilatildeo humana
28
Concepccedilatildeo 1 A finalidade da educaccedilatildeo escolar eacute preparar recursos humanos para impulsionar o desenvolvimento econocircmico
Esta formulaccedilatildeo foi apresentada no cenaacuterio brasileiro nos anos
de 1970 no contexto do regime ditatorial viabilizado pelo golpe em-
presarial-militar de 1964 Traduzindo uma teoria surgida nos Estados
Unidos o bloco no poder do regime ditatorial e seus intelectuais se
encarregaram de viabilizar que os principais enunciados da teoria esshy
tadunidense fossem veiculados para ordenar a funccedilatildeo da escola a parshy
tir da redefiniccedilatildeo da poliacutetica de educaccedilatildeo da legislaccedilatildeo educacional
da organizaccedilatildeo curricular e das praacuteticas pedagoacutegicas A grande meta
era subordinar a educaccedilatildeo escolar ao projeto de desenvolvimento ecoshy
nocircmico Mas o que significa estabelecer que a funccedilatildeo da escola eacute conshy
tribuir para o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes
A teoria acima referida foi sistematizada porTeodoro Schultz
(1963 1971) Parte da premissa de que o conceito de ldquocapitalrdquo se
refere natildeo soacute agraves coisas materiais mas tambeacutem aos seres humanos
Schultz se refere agraves habilidades adquiridas principalmente pela
educaccedilatildeo escolar que interferem na atividade produtiva O conheshy
cimento c as habilidades teacutecnicas seriam expressotildees particulares de
ldquocapitalrdquo uma vez que se vinculam ao aumento da capacidade de
produccedilatildeo A preocupaccedilatildeo do autor com o alargamento do conceishy
to de capital se vincula agrave busca por compreender os diferenciais de
produtividade gerados pelo esforccedilo humano O resultado de sua
formulaccedilatildeo foi denominado de ldquocapital humanordquo
A ampliaccedilatildeo do conceito de capital proposto por Schultz reafirma
a tese da economia poliacutetica burguesa de que todos indistintamente
satildeo capitalistas a diferenccedila baacutesica seria a seguinte uns satildeo possuidores
dos meios de produccedilatildeo e outros da forccedila de trabalho Explicitando o
significado de sua teoria Schultz (1963 p 12-13) afirma que
A recusa em considerar as habilidades adquiridas
pelo homem (habilidades que ampliaram a proshy
dutividade econocircmica desse homem) como uma
forma de capital como bens produzidos da pro-
duccedilatildeo como resultado de um investimento tem
estimulado o conceito restritivo patentemente
errocircneo de que o trabalho prescinde do capital
e de que somente importa o nuacutemero de homens-
-hora [] Os trabalhadores vecircm-se tornando cashy
pitalistas no sentido de que tecircm adquirido muito
conhecimento e diversas habilidades que represhy
sentam valor econocircmico
Na esteira dessa intrigante formulaccedilatildeo Schultz procurou afirmar
que a importacircncia da escolarizaccedilatildeo residia precisamente em ldquovalor
econocircmicordquo Investimentos em educaccedilatildeo resultariam no aumento de
capital humano e na consequente elevaccedilatildeo das taxas de lucro A teoria
do capital humano considera que a educaccedilatildeo deve ser planejada como
fator de desenvolvimento econocircmico e natildeo como direito social
A proposiccedilatildeo consiste em relacionar o ser humano no mesmo
patamar de instrumentos utilizados na produccedilatildeo capitalista Nessa
linha a esquematizaccedilatildeo teoacuterica atestava que a elevaccedilatildeo da escolashy
ridade de um povo ou de cada indiviacuteduo seria diretamente proshy
porcional ao aumento da capacidade de trabalho e ao aumento da
riqueza pessoal sendo que a soma de todas as riquezas significaria
no crescimento da riqueza de uma naccedilatildeo 3
Para Schultz (1971) o valor da educaccedilatildeo estaria na habilitaccedilatildeo de
pessoas para lidar com situaccedilotildees de desequiliacutebrio de mudanccedila e de rupshy
tura O quantum de educaccedilatildeo deveria ser pensado em funccedilatildeo das necessishy
dades de geraccedilatildeo de competecircncias para a eficiecircncia produtiva no trabalho
A anaacutelise de Frigotto (1986) revela os limites e o significashy
do da teoria do capital humano Revela o seu vieacutes empiricista
sua perspectiva epistemoloacutegica baseada no positivismo e o caraacuteter
poliacutetico-ideoloacutegico centrado na economia poliacutetica burguesa
3 Em outras palavras as pessoas ricas seriam aquelas que mais teriam recebido
investimentos em capital humano consequentemente a pessoa pobre seria aquela
que natildeo conseguiu desenvolver o seu capital humano Os paiacuteses mais ricos seriam
aqueles que teriam realizado o maior esforccedilo de elevaccedilatildeo do patamar meacutedio de
racionalidade de seu povo por meio da escola e os paiacuteses mais pobres os que menos
investiram nesse quesitoVale lembrar que a teoria de Schultz nunca conseguiu
explicar o caso brasileiro que de um lado manteacutem-se como uma das maiores
economias do mundo de outro o paiacutes apresenta peacutessimos indicadores educacionais
que comprovam a fragilidade da educaccedilatildeo escolar brasileira
30
No Brasil as repercussotildees da teoria do capital humano foram sigshy
nificativas durante o periacuteodo ditatorial abrangendo vaacuterios aspectos (a)
financiamento da educaccedilatildeo o orccedilamento da educaccedilatildeo passou a ser
definido com base nos mesmos criteacuterios adotados nos investimentos do
setor produtivo (b) planejamento educacional estabeleceu a vincula-
ccedilatildeo direta e imediata entre educaccedilatildeo e setor produtivo - o Plano Setorial
de Educaccedilatildeo e Cultura de 19721974 deixa isso claro (c) legislaccedilatildeo
uma nova lei de Diretrizes e Bases foi estabelecida (lei 569271) para
ordenar a educaccedilatildeo brasileira - chamada ldquoformaccedilatildeo especializadardquo no 2o
grau (atual Ensino Meacutedio) pode ser tomada como um dos exemplos da
vinculaccedilatildeo proposta entre educaccedilatildeo e economia (d) concepccedilatildeo pedashy
goacutegica afirmaccedilatildeo do tecnicismo como referecircncia para os processos forshy
niuivos procurando estabelecer a objetividade do trabalho pedagoacutegico
1 partir da precisatildeo das teacutecnicas e tecnologias de ensino
Apesar das criacuteticas e resistecircncias a teoria do capital humano
iiio foi definitivamente superada Ao contraacuterio desde os anos
laquoU 1990 a teoria vem sendo atualizada e difundida por vaacuterios
mielectuais orgacircnicos da classe burguesa A novidade eacute que a
educaccedilatildeo aleacutem de resultar na elevaccedilatildeo do capital humano deve
timbeacutem desenvolver o chamado capital social Isso significa que
1 Iunccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar foi ampliada embora a perspectiva
i onomicista continue preponderando4
Se o desenvolvimento do capital humano tem interferecircncia direta
mi i questatildeo econocircmica o capital social por sua vez relaciona-se com
i i|iK staacuteo social de forma mais precisa com a coesatildeo poliacutetica e ideoloacutegica
1 iiiballuidores ao projeto hegemocircnico de sociabilidade O capital social
bull ii u licionado agrave elevaccedilatildeo de algumas chamadas variaacuteveis relacionadas agraves
bull bullIuluias humanas que repercutem nas relaccedilotildees comunitaacuterias entre elas a
bull h gt1 u i accedilaacutelt gt a confianccedila muacutetua e a capacidade de participaccedilatildeo (PUTNAM
lt h)M A tese sugere que a elevaccedilatildeo do capital social permitiraacute que os indi-
il icssjliar que natildeo se trata de sobreposiccedilatildeo de accedilotildees mas sim a especificaccedilatildeo de
mi i vi-nccedilotildecs educativas visando assegurar a formaccedilatildeo humana no acircmbito escolar As
u iiiLiccedilotildees de Gustavo Ioschpe intelectual orgacircnico da burguesia satildeo reveladoras
iVni bull llt lui outros ganhos comunicantes associados com a educaccedilatildeo maior toleracircncia
bull u it-iii ia social melhores cuidados com a sauacutede tendecircncias democraacuteticas controle
I iu|miImis violentosrdquo (IOSCHPE 2004 p 67)
viduos se organizem para solucionar os problemas sociais que os afligem
sem necessariamente depender da intervenccedilatildeo paternalista estatal
O projeto de educaccedilatildeo referenciado na teoria do capital e
ampliado com o acreacutescimo da teoria do capital social reconhece
a especificidade da educaccedilatildeo escolar No entanto as referecircncias
sobre a funccedilatildeo da instituiccedilatildeo escolar satildeo restritivas e pragmaacutetishy
cas Sob o ponto de vista mais amplo significa reafirmar que os
subalternos natildeo nasceram para assumir a condiccedilatildeo de classe d ishy
rigente Especificamente sobre o processo pedagoacutegico significa
estabelecer uma formaccedilatildeo de caraacuteter minimalista em que o acesso
ao conhecimento sistematizado na escola ocorreraacute respeitando o
m iacutenimo necessaacuterio para simplesmente desenvolver uma racionashy
lidade instrumental base das competecircncias para a empregabili-
dade O fundamento pedagoacutegico desta concepccedilatildeo estaacute alicerccedilada
na pedagogia das competecircncias (RAM OS 2001) cabendo agrave esshy
cola somente orientar a formaccedilatildeo do trabalhador-cidadatildeo produshy
tivo eficiente em sua condiccedilatildeo de subalternidade
Concepccedilatildeo 2 A funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar eacute formar para a cidadania
Na sociedade capitalista o acesso ao conhecimento sisteshy
matizado estaacute subordinado agrave condiccedilatildeo de classe podendo ser
alterado em funccedilatildeo dos resultados provisoacuterios das lutas poliacuteticas
na educaccedilatildeo conforme destacado anteriormente Nesse sentido
as disputas envolvendo o acesso ao conhecimento ocorrem porshy
que a ciecircncia e a tecnologia se converteram em forccedila produtiva
e instrumento de poder O controle sobre o conhecimento sisteshy
matizado portanto passou a fazer parte da estrateacutegia de dom ishy
naccedilatildeo de classe na sociedade capitalista Diante disso parece-nos
relevante indagar o que significa afirmar que a funccedilatildeo da escola
se destina a preparar para a cidadania Como fica o acesso ao
conhecimento sistematizado nesta concepccedilatildeo
Primeiramente devemos considerar que a cidadania eacute uma consshy
truccedilatildeo resultante das contradiccedilotildees internas das revoluccedilotildees burguesas
32
Embora se no passado representasse um avanccedilo frente agrave velha ordem
feudal ou escravista e se na atualidade expresse tambeacutem um avanccedilo
frente aos regimes e praacuteticas autoritaacuterias eacute importante lembrar que
este constructo designa apenas o reconhecimento da igualdade forshy
mal entre seres humanos que vivem condiccedilotildees poliacuteticas e econocircmicas
profundamente desiguais Em outras palavras o estatuto da cidadania
natildeo altera em absolutamente nada a realidade da dominaccedilatildeo poliacutetica e
exploraccedilatildeo econocircmica realizadas na sociedade capitalista
Um aspecto importante a ser considerado se refere agravequilo que
fundamenta o preceito de cidadania De modo geral o cidadatildeo
natildeo tem identidade de classe mas sim uma condiccedilatildeo individual E
cidadatildeo tanto o que explora e domina quanto aquele que eacute exploshy
rado e dominado por outro O cidadatildeo eacute o indiviacuteduo e natildeo uma
coletividade regulado por um estatuto juriacutedico e certas normas
sociais no contexto de um Estado Portanto ser cidadatildeo significa
integrar-se na vida social a partir da regulaccedilatildeo formal e de valores
indicando o pertencimento poliacutetico A definiccedilatildeo apresentada por
lt mivez (1990 p 15) confirma esta compreensatildeo
A cidadania define a pertenccedila a um Estado Ela daacute
ao indiviacuteduo um status juriacutedico ao qual se ligam dishy
reitos e deveres particulares Esse status depende das
leis proacuteprias de cada Estado e pode-se afirmar que
haacute tantos tipos de cidadatildeos quanto tipos de Estados
O problema da cidadania poreacutem natildeo eacute apenas proshy
blema juriacutedico ou constitucional se provoca debates
apaixonados eacute porque coloca a questatildeo do modo de
inserccedilatildeo do indiviacuteduo em sua comunidade assim
como de sua relaccedilatildeo com o poder poliacutetico
lt luo de ser cidadatildeo natildeo assegura a igualdade de condiccedilotildees
1 vidi e trabalho em um contexto de profunda desigualdade
moiiiua poliacutetica e social Muito menos assegura a possibili-
l raquolt dc ser diferente no contexto em que a igualdade formal se
ilgt In r procurando uniformizar a todos A cidadania portan-
bull i ui li ii a possibilidade da atuaccedilatildeo poliacutetica de indiviacuteduos e
ni i |i 1 1 ic as sociais dentro dos limites da ordem existente5
I iliIr poliacutetica denominamos o direito de organizaccedilatildeo de representaccedilatildeo e de
l i I h preacutesentantes atraveacutes do voto
As inuacutemeras adjetivaccedilotildees propostas ao conceito sinalizam as restriccedilotildees
de sua inserccedilatildeo na praacutetica social concreta Na lista de adjetivaccedilotildees encontrashy
mos ldquocidadania participativardquo ldquocidadania efetivardquo ldquocidadania emancipadardquo
ldquocidadania ativardquo ldquocidadania eacuteticardquo ldquocidadania popularrdquo entre outras6
Natildeo queremos com essa delimitaccedilatildeo invalidar a importacircncia da
cidadania no passado e no presente na sociedade capitalista especialshy
mente para a formaccedilatildeo social brasileira Ao contraacuterio acreditamos
que legalidade constituiacuteda no estatuto juriacutedico dos direitos individushy
ais e poliacuteticos - envolvendo a possibilidade de organizaccedilatildeo de represhy
sentaccedilatildeo de coletivos e de possibilidades de escolhas de representantes
atraveacutes do voto mdash natildeo eacute passiacutevel de desprezo Entretanto o que busshy
camos assinalar eacute que vincular o projeto de educaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo da
cidadania eacute insuficiente pois a cidadania natildeo pressupotildee a superaccedilatildeo
da ordem capitalista (TONET 2005)
Cabe lembrar que nas sociedades capitalistas dependentes como
eacute o caso da sociedade brasileira a exploraccedilatildeo se materializa em supe-
rexploraccedilatildeo a participaccedilatildeo poliacutetica eacute sempre condicionada a marcos
juriacutedicos restritivos a concentraccedilatildeo da renda e da propriedade eacute extreshy
mada a polarizaccedilatildeo social eacute mais evidente e a dominaccedilatildeo ideoloacutegica eacute
maciccedila (CA RDO SO 2006) Considerando que os indicadores sociais
e econocircmicos confirmam esta observaccedilatildeo acreditamos que limitar a
finalidade da escola para a produccedilatildeo da cidadania eacute algo insuficiente
E importante considerar que a vinculaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar
e cidadania possui um lastro histoacuterico importante no Brasil De modo
mais amplo talvez esta vinculaccedilatildeo possa ser creditada como resposta
dos educadores progressistas agrave experiecircncia vivida pelos trabalhadores
brasileiros no contexto da ditadura empresarial-militar que perdurou
por cerca de vinte anos Se esta hipoacutetese estiver correta poderemos
afirmar que a educaccedilatildeo para a cidadania representou um posicionashy
mento criacutetico frente ao regime autoritaacuterio agrave cultura poliacutetica consershy
6 A produccedilatildeo acadecircmica sobre o tema eacute consideraacutevel Aleacutem de teses
dissertaccedilotildees e artigos cientiacuteficos a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e cidadania foi
abordada em diferentes obras Eis alguns livros sobre o tema Buffa et al
(1987) Ferreira (1993) Demo (1994) Libacircneo (1998)
34
vadora ao clicntelismo e ao patrimonialismo presentes na vida social
Sobre o acesso ao conhecimento sistematizado para Libacircneo (1998)
o exerciacutecio para a cidadania exigiria o domiacutenio dos conhecimentos
sistematizados como ferramentas individuais para a intervenccedilatildeo na
realidade Apesar da perspectiva progressista da formulaccedilatildeo acreditashy
mos que educar para a cidadania eacute diferente de educar para compreshy
ensatildeo dos limites histoacutericos e teoacutericos da cidadania
Aleacutem das formulaccedilotildees progressistas sobre a educaccedilatildeo escolar e
cidadania existem tambeacutem obras de caraacuteter conservador que buscam
reafirmar aquilo que Neves (2005) define como a nova pedagogia da
hegemonia por meio da educaccedilatildeo escolar As formulaccedilotildees de Delors
(1996) e Morin (2000) divulgadas sobre a chancela da Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas satildeo casos exemplares que repercutem na definiccedilatildeo da
poliacutetica educacional em nosso paiacutes nos anos recentes de nossa histoacuteria7
Para Delors ldquona escola eacute que deve comeccedilar a educaccedilatildeo para
uma cidadania consciente e ativardquo (1996 p 28)s Entretanto peshy
los limites teoacutericos e histoacutericos do conceito e considerando suas
opccedilotildees ideoloacutegicas o maacuteximo que Delors consegue eacute reafirmar
com novas palavras as velhas construccedilotildees que envolvem a temaacutetica
educaccedilatildeo para a cidadania Em suas palavras
Mas como aprender a conviver nesta aldeia global
se somos incapazes de viver em paz nas comunidades
naturais a que pertencemos naccedilatildeo regiatildeo cidade alshy
deia vizinhanccedila A questatildeo central da democracia eacute
saber se desejamos e somos capazes de participar da
vida em comunidade conveacutem natildeo esquecer que esse
desejo depende do sentido da responsabilidade de
cada um (DELORS 1996 p 7-8)
A tese explicita claramente os limites da cidadania revelando que
sua vinculaccedilatildeo se estabelece com o indiviacuteduo e natildeo com as coletividashy
des Por meio da chamada cidadania consciente e ativa Delors retoma
Acredi tamos que parte dessas formulaccedilotildees saacuteo tributaacuterias da concepccedilatildeo pedagoacutegica escolanovista
Para entender o que isso significa em termos poliacuteticos e filosoacuteficos recomendamos a leitura de
Saviani (1987) especialmente o capiacutetulo dois ldquoEscola e democracia I a Teoria da Curvatura
da Varardquo
8 Os adjetivos ldquoconscienterdquo e ldquoativordquo demonstram a intenccedilatildeo de estabelecer uma atualizaccedilatildeo
da cidadania tal como assinalados anteriormente
o individualismo como valor moral radical reafirmando a formulaccedilatildeo
valorizada pela doutrina liberal e pelos projetos neoliberal e neoliberal
da terceira via Estes limites podem ser verificados em outra afirmaccedilatildeo
Um sentimento de vertigem apodera-se de nossos
contemporacircneos divididos entre essa globalizaccedilatildeo - a
cujas manifestaccedilotildees eles satildeo obrigados agraves vezes a se
submeterem mdash e a busca pessoal de suas raiacutezes refeshy
recircncias e filiaccedilotildees
A educaccedilaacuteo deve enfrentar esse problema porque na
perspectiva do parto doloroso de uma sociedade munshy
dial ela situa-se mais do que nunca 110 acircmago do deshy
senvolvimento da pessoa e das comunidades sua misshy
satildeo consiste em permitir que todos sem exceccedilatildeo faccedilam
frutificar seus talentos e suas potencialidades criativas
o que implica por parte de cada um a capacidade de assumir sua proacutepria responsabilidade e de realizar seu proshyjeto pessoal (D ELO RS 1996 p 10 grifo nosso)
Aleacutem dos aspectos citados cabe destacar o conteuacutedo ideoloacutegico
dos princiacutepios valorativos da educaccedilatildeo para a cidadania sistematizada
por Jacques Delors Segundo Duarte (2008) estes princiacutepios satildeo orienshy
tados pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo De modo geral os prinshy
ciacutepios convergem para a afirmaccedilatildeo do individualismo como valor moral
radical A tiacutetulo de exemplo podemos citar a hierarquizaccedilatildeo das formas
de aprendizagem realizadas pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo
Duarte (2008) verifica que para esta corrente pedagoacutegica eacute mais releshy
vante e significativo aprender sozinho do que pela mediaccedilatildeo do outro
Isso significa a ratificaccedilatildeo do individualismo como valor morai radical e
define o conteuacutedo da chamada cidadania consciente e ativa
A posiccedilatildeo de Edgar Morin se apresenta na mesma perspectiva trashy
ccedilada por Jacques Delors Delineando as bases para a educaccedilatildeo escolar
formar o chamado cidadatildeo planetaacuterio do seacuteculo XXI o autor afirma que
Podemos considerar que a plenitude e a livre
expressatildeo dos indiviacuteduos-sujeitos constituem
nosso propoacutesito eacutetico e poliacutetico sem entreshy
tanto pensarmos que constituem a proacutepria
finalidade da triacuteade indiviacutediwsociedadelespeacute-
cie A complexidade humana natildeo poderia ser
compreendida dissociada dos elementos que
a constituem todo desenvolvimento verdadeishyramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais das parshyticipaccedilotildees comunitaacuterias e do sentimento de pershytencer agrave espeacutecie humana (MORIN 2000 p
54-55 grifo do autor)
Mais uma vez o indiviacuteduo atomizado e sem identidade de
classe portanto diluiacutedo nas relaccedilotildees sociais eacute apresentado como
referecircncia central da formulaccedilatildeo
A finalidade da formaccedilatildeo do chamado cidadatildeo planetaacuterio eacute
e xplicitada da seguinte forma
O problema da compreensatildeo tornou-se crucial para
os humanos E por este motivo deve ser uma das
finalidades da educaccedilatildeo do futuro Lembremo-
-nos de que nenhuma teacutecnica de comunicaccedilatildeo do
telefone agrave Internet traz por si mesma a compreshy
ensatildeo A compreensatildeo natildeo pode ser quantificada
Educar para compreender a matemaacutetica ou uma
disciplina determinada eacute uma coisa educar para a
compreensatildeo humana eacute outra Nela encontra-se a
missatildeo propriamente espiritual da educaccedilatildeo ensishy
nar a compreensatildeo entre as pessoas como condiccedilatildeo
e garantia da solidariedade intelectual e moral da
humanidade (M O R IN 2000 p 94)
construccedilatildeo de uma sociedade solidaacuteria eacute de fato algo re-
bull iiiu Entretanto a formulaccedilatildeo de Morin aposta na solidarie-
tllt lsquocm alterar as condiccedilotildees objetivas de vida Eacute possiacutevel esta-
bull I ei i solidariedade num contexto marcado pela exploraccedilatildeo e
|m 11 iloi iaccedilatildeo das coisas em detrimento da condiccedilatildeo humana
I ui siacutentese o que se busca eacute na verdade o estabelecimento de
d u pu(o entre as classes sociais sobre o controle e direccedilatildeo
1 lt liiiijMicsa Desse modo a funccedilatildeo da escola do seacuteculo XXI
i i ili pcli cidadania seraacute a de reafirmar a manutenccedilatildeo das rela-
bull | raquodei e xistentes com o aprofundamento da subserviecircncia da
u ii iliilliulora Aleacutem disso nesta concepccedilatildeo o conhecimento
sistematizado cede lugar agrave experiecircncia imediata ou quando muito
na perspectiva progressista agrave reflexatildeo sobre formas de intervenccedilatildeo
na vida poliacutetica da escola da comunidade ou do paiacutes
Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar educar para a emancipaccedilatildeo humana
O consenso em torno da legitimidade da instituiccedilatildeo escolar
na sociedade contemporacircnea eacute um dado consolidado certamente
influenciado pelas concepccedilotildees anteriormente analisadas Entretanshy
to um problema persiste tais formulaccedilotildees restringem a formaccedilatildeo
humana e consequentemente limitam as possibilidades de insershy
ccedilatildeo no mundo real Diante disso cabe uma questatildeo a educaccedilatildeo
escolar pode oferecer outra perspectiva formativa que supere o
economicismo da teoria do capital humano e a orientaccedilatildeo politi-
cista da educaccedilatildeo para a cidadania Qual o papel do conhecimento
sistematizado nesta alternativa pedagoacutegica
Foi procurando responder a esta questatildeo que alguns educadores brashy
sileiros procuraram delinear uma nova possibilidade pedagoacutegica sobre a esshy
pecificidade e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar tendo em vista a necessidade de
elevar a escolarizaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes da classe trabalhadora9
Esta concepccedilatildeo pedagoacutegica foi sistematizada a partir da anaacutelishy
se criacutetica sobre a configuraccedilatildeo e dinacircmica da sociedade capitalista
Conhecendo os limites desta forma cultural de organizaccedilatildeo da vida
o segundo passo foi analisar as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes
considerando as necessidades da classe trabalhadora e os objetivos
da classe burguesa A primeira constataccedilatildeo foi que os processos de
dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo tiacutepicos das formaccedilotildees sociais capitalistas
impedem a emancipaccedilatildeo humana A segunda constataccedilatildeo foi que
as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes eram expressotildees especiacuteficas do
projeto de sociedade da classe dominante A siacutentese desta anaacutelise
9 A principal figura deste esforccedilo foi Dermeval Saviani que desde os anos finais de 1960
jaacute refletia sobre a necessidade e possibilidades de sistematizar uma teoria da educaccedilatildeo
que superasse tanto as teorias natildeo criacuteticas da educaccedilatildeo quanto agraves teorias criacutetico-
reprodutivistas Para compreender este processo ver Saviani (1987 2003)
38
pode ser assim descrita eacute necessaacuterio superar as teorias e experiecircncias
existentes fornecendo aos educadores uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo
que esteja vinculada ao compromisso com a emancipaccedilatildeo da classe
trabalhadora (SAVIANI 2003) O resultado desta sistematizaccedilatildeo
foi denominado de Pedagogia histoacuterico-criacutetica Sua fundamentaccedilatildeo
encontra-se alicerccedilada no materialismo histoacuterico
O ponto de partida desta concepccedilatildeo foi compreender a condishy
ccedilatildeo humana e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo na vida social Sobre o primeishy
ro aspecto recuperando as ideias de Friedrich Engels e Karl Marx
a Pedagogia histoacuterico-criacutetica afirma que os seres humanos precisam
criar permanentemente as condiccedilotildees de sua existecircncia Enquanto os
outros animais se adaptam ao mundo natural coletivamente os seres
humanos transformam este mesmo mundo para viabilizar a existecircncia
da vida produzindo cultura Em outras palavras natildeo encontramos
tudo de que precisamos pronto somos obrigados a produzir formas
materiais e natildeo materiais necessaacuterias agrave vida mdash formas que nascem da
necessidade objetiva (alimentaccedilatildeo por exemplo) e dos desejos e fanshy
tasias - e a transmitir estas formas para outras geraccedilotildees
Os seres humanos criam estas condiccedilotildees por meio de uma cashy
pacidade que desenvolveram ao longo da histoacuteria a capacidade de
antecipar no plano do pensamento e traduzir esta antecipaccedilatildeo em
accedilotildees concretas e intencionais para viabilizar a vida - algo que Engels
e Marx denominam de trabalho Por meio do trabalho - uma forma
bem mais elaborada que a accedilatildeo instintiva dos demais animais para
suprir as necessidades e vontades que os seres humanos possuem os
seres humanos ultrapassaram a determinaccedilatildeo bioloacutegica para assumir
a condiccedilatildeo mais complexa ser cultural Por cultura compreende-se
a forma de organizaccedilatildeo e produccedilatildeo da vida que envolve a poliacutetica
a economia as artes os haacutebitos e costumes predominantes em uma
formaccedilatildeo social e tempo histoacuterico (CHAUI 1995)
Com base nesta compreensatildeo a funccedilatildeo da educaccedilatildeo para a Pedashy
gogia histoacuterico-criacutetica se vincula agrave produccedilatildeo da existecircncia humana porshy
tanto a condiccedilatildeo de cultura Enquanto predominou na criaccedilatildeo e orgashy
nizaccedilatildeo das condiccedilotildees de existecircncia processos mais simples de trabalho
foi possiacutevel educar os mais novos no proacuteprio processo de trabalho Na
medida em que a criaccedilatildeo das condiccedilotildees humanas se tornou mais comshy
plexa aleacutem dos processos informais foi requerida a institucionalizaccedilatildeo
da educaccedilatildeo na forma escolar Conforme indicamos na primeira parte
deste texto a escola foi criada para oferecer as bases para a produccedilatildeo
coletiva da existecircncia humana
Contudo cabe ressaltar que a produccedilatildeo da existecircncia hushy
mana se faz por meio de relaccedilotildees sociais Estas relaccedilotildees assushy
mem formas especiacuteficas envolvendo a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
poliacutetico-econocircmica de grupos sociais sobre outros grupos sociais
Significa afirmar que a relaccedilatildeo entre trabalho e educaccedilatildeo foi senshy
do delineada a partir do conteuacutedo e da forma como as relaccedilotildees
sociais de desenvolvem na sociedade de classes
O projeto dominante defende que a classe trabalhadora deve ser
mantida na condiccedilatildeo de subalternidade soacutecio-poliacutetico-econocircmica A
orientaccedilatildeo eacute para que as crianccedilas e adolescentes desta classe sejam edushy
cados para se tornarem um ldquorecurso humanordquo para o desenvolvimento
econocircmico capitalista e para obedecer as ldquoregras sociaisrdquo para a harmonia
social desta sociedade contraditoacuteria
Reconhecendo que os seres humanos podem viver em outras
condiccedilotildees e verificando que o projeto dominante encontra resisshy
tecircncia na dinacircmica escolar a Pedagogia histoacuterico-criacutetica procura
oferecer aos educadores criacuteticos uma teoria educacional alternashy
tiva de caraacuteter contra-hegemocircnico A perspectiva eacute afirmar que
os alunos da classe trabalhadora precisam ser educados para assushy
mirem as condiccedilotildees subjetivas necessaacuterias agrave direccedilatildeo do processo
histoacuterico tendo em vista a emancipaccedilatildeo humana 10
A perspectiva eacute que os alunos ( Io) compreendam criticamenshy
te a organizaccedilatildeo e dinacircmica das formas de produccedilatildeo da existecircncia
10 Eacute importante deixar claro que natildeo eacute a educaccedilatildeo escolar que realizaraacute a emancipaccedilatildeo humana
mas sim a mudanccedila na forma de produzir a existecircncia humana Contudo sem educaccedilatildeo
essa mudanccedila jamais ocorreraacute Por emancipaccedilatildeo humana entendemos a condiccedilatildeo social
poliacutetica e econocircmica que permitiraacute ao gecircnero humano superar efetivamente todas as formas
de dominaccedilatildeo exploraccedilatildeo e opressatildeo Tratar da emancipaccedilatildeo humana significa projetar a
necessidade da realizaccedilatildeo plena do ser social em comunhatildeo com o meio ambiente e com os
demais seres humanos significa projetar a sociabilidade autocircnoma e verdadeiramente livre
An
humana especialmente a forma capitalista (2o) dominem os coshy
nhecimentos sistematizados e as formas culturais existentes comshy
preendendo-os como produto e instrumento necessaacuterio agrave produccedilatildeo
da existecircncia (3o) desenvolvam a loacutegica dialeacutetica de organizaccedilatildeo do
pensamento para superar a loacutegica formal e a passividade intelectual
em busca da autonomia do pensar (SAVIANI 1987 2003)
Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamental que os alushy
nos natildeo soacute assimilem conhecimentos mas que construam sentishy
dos e significados sobre a relaccedilatildeo entre conhecimento-trabalho-
-vida no mundo real complexo e contraditoacuterio Os conteuacutedos
das disciplinas que compotildeem o curriacuteculo escolar ao inveacutes de
orientar para a abstraccedilatildeo do pensamento ou ordenar a racionalishy
dade teacutecnica para o simples fazer podem estabelecer mediaccedilotildees
importantes para ampliar a compreensatildeo sobre as dimensotildees da
produccedilatildeo da existecircncia humana Trata-se de reestabelecer o nexo
orgacircnico entre vidatrabalho e educaccedilatildeo
Nessa linha o ensino e aprendizagem do conhecimento sistematizashy
do envolveraacute a compreensatildeo da realidade vivida a partir do diaacutelogo com
os conhecimentos espontacircneos e aqueles advindos da experiecircncia Natildeo se
trata de negar o conhecimento espontacircneo e o conhecimento gerado pela
experiecircncia Ao contraacuterio para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamenshy
tal oferecer novas possibilidades de interpretaccedilatildeo desses conhecimentos e
seus significados para a vida humana O que se busca entatildeo eacute ultrapassar o
senso comum a superficialidade e a abstraccedilatildeo para assegurar que a aproshy
priaccedilatildeo do conhecimento sistematizado permita compreender e atuar nos
processos de produccedilatildeo da existecircncia humana e das relaccedilotildees de poder neshy
les envolvidas Nesta concepccedilatildeo os conteuacutedos escolares ao inveacutes de frios
e vazios como eacute tiacutepico da pedagogia tradicional e pedagogia tecnicista
produzem sentidos e significados para o professor e o aluno porque se
vinculam de forma mais ou menos indireta aos processos reais de produshy
ccedilatildeo material e simboacutelica dos meios necessaacuterios agrave vida e agrave interpretaccedilatildeo das
relaccedilotildees de poder envolvidas nestes processos
Enquanto sujeitos do processo educativo professores e alunos
partem juntos da praacutetica social isto eacute da realidade vivida pela hu-
manidade para compreender o mundo real interpretar as formas
de produccedilatildeo deste mundo e estabelecer possibilidades de agir nele
E claro que enquanto espaccedilo social a escola se materializa enquanto
instacircncia de sociabilidade onde haacute encontros humanos ricos e profundos
para a experiecircncia de crianccedilas e adolescentes Entretanto o que justifica a
especificidade da instituiccedilatildeo escolar natildeo eacute o simples conviacutevio ainda que
ele seja importante mas sim a necessidade de apropriaccedilatildeo coletiva do
conhecimento sistematizado tendo em vista a compreensatildeo da condiccedilatildeo
humana e as possibilidades de intervenccedilatildeo no mundo
Reconhecer a especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute importante
para que as praacuteticas pedagoacutegicas natildeo sejam orientadas para rebaixar
a escolarizaccedilatildeo destinada aos filhos da classe trabalhadora Enquanto
espaccedilo de vivecircncia coletiva a instituiccedilatildeo escolar deve ter claro que
funccedilatildeo deve cumprir na sociedade Esvaziar o curriacuteculo escolar de coshy
nhecimento sistematizado e valorizar os saberes advindos da experiecircnshy
cia imediata como centro do processo educativo eacute um meio que vem
sendo usado para comprometer a formaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes
da classe trabalhadora mantendo-os na condiccedilatildeo de subalternidade
O desafio proposto pela Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute tornar a
instituiccedilatildeo escolar numa instacircncia que socializa os conhecimentos sisshy
tematizados para permitir o domiacutenio dos meios necessaacuterios agrave insershy
ccedilatildeo ativa na vida social com o horizonte da emancipaccedilatildeo humana E
possibilitar que os processos pedagoacutegicos escolares assegurem a todos
indistintamente aquilo que se tornou indispensaacutevel para compreenshy
deragir ono mundo o conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico
Consideraccedilotildees finais
Vivemos numa sociedade de classes Sob esta condiccedilatildeo penshy
sar a funccedilatildeo e especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute tratar dos
projetos formativos que disputam a formaccedilatildeo humana nesta soshy
ciedade E tambeacutem considerar a posiccedilatildeo das perspectivas pedashy
goacutegicas em relaccedilatildeo ao tratamento dispensado ao conhecimento
sistematizado E compreender que as definiccedilotildees pedagoacutegicas natildeo
satildeo simples escolhas teacutecnicas ou arbitraacuterias
42
Isso revela que o trabalho educativo na sociedade de classes
eacute algo muito complexo que exige do professor rigor na tomada
de posiccedilotildees compromisso poliacutetico com um projeto de sociedade
que assume o domiacutenio dos instrumentos pedagoacutegicos para transshy
formar a intenccedilatildeo educativa em algo real na formaccedilatildeo humana
As possibilidades teoacutericas existem e elas se vinculam aos inshy
teresses de classe Haacute quem defenda que basta preparar a forccedila
de trabalho para o desenvolvimento capitalista Haacute quem acredite
que educar para a cidadania eacute suficiente para assegurar direitos Jaacute
existem intelectuais orgacircnicos da classe burguesa que reconhecem
que eacute preciso que a escola eduque o ldquocidadatildeo trabalhador produtishy
vordquo uma siacutentese das correntes acima indicadas
Entretanto as possibilidades acima apresentadas satildeo insuficienshy
tes para a classe trabalhadora pois o economicismo e politicismo peshy
dagoacutegicos - e as possiacuteveis siacutenteses geradas entre eles - se vinculam
ainda ao plano da conservaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais
Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute preciso educar para contrishy
buir com o desafiador e difiacutecil processo de valorizaccedilatildeo da vida humashy
na e natildeo das coisas e construccedilatildeo da emancipaccedilatildeo Sua perspectiva
eacute oferecer aos educadores do campo criacutetico uma alternativa teoacuterica e
metodoloacutegica para a construccedilatildeo da mudanccedila valorizando a instituishy
ccedilatildeo escolar em um espaccedilo rico e dinacircmico de ensino-aprendizagem
repleto de sentidos e significados para os que precisam romper com
a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo de classes
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CAPIacuteTULO II
0 ENSINO DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA E A FORMACcedilAtildeO DE SUJEITOS HISTOacuteRICOS EM BUSCA DOS FUNDAMENTOS TEOacuteRICOS E METODOLOacuteGICOS
Adriano de Paiva Reis
Alvaro de Azeredo Quelhas
Carla Cristina Carvalho Pereira
Leonardo Docena Pina
Renata Aparecida Alves Landim
Neste texto apresentamos os fundashy
mentos teoacutericos e metodoloacutegicos da persshy
pectiva de Educaccedilatildeo Fiacutesica que busca proshy
mover uma reflexatildeo criacutetica sobre a cultura
corporal Partimos da discussatildeo sobre a exisshy
tecircncia de dois distintos e contraditoacuterios proshy
jetos de formaccedilatildeo humana um que busca
assegurar a adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves atushy
ais relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e outro que tem
como horizonte a formaccedilatildeo de sujeitos criacuteshy
ticos e transformadores da sua proacutepria hisshy
toacuteria Com base no materialismo histoacuterico-
-dialeacutetico na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e
na abordagem Criacutetico-superadora apresenshy
tamos uma possibilidade didaacutetica que busca
abordar os conteuacutedos da cultura corporal de
modo ativo e dinacircmico tendo como ponto
de partida e de chegada a praacutetica social de
modo a permitir a ampliaccedilatildeo da compreenshy
satildeoaccedilatildeo dos alunos sobre a realidade
A relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo e a perspectiva dominante de formaccedilatildeo humana
O trabalho e a educaccedilatildeo satildeo atividades especificamente humanas e
estatildeo relacionadas ao processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura pelo
conjunto dos homens Por meio do trabalho o homem transforma intenshy
cionalmente a natureza para satisfazer suas necessidades criando uma reshy
alidade sociocultural um mundo especificamente humano portador de
produccedilotildees culturais (materiais e natildeo materiais) cada vez mais desenvolvidas
Para relacionar-se com os outros seres humanos inserindo-se em
determinada fase do desenvolvimento histoacuterico da humanidade cada
indiviacuteduo singular precisa apropriar-se da riqueza da experiecircncia humashy
na acumulada na cultura pois as aptidotildees e funccedilotildees humanas historicashy
mente formadas natildeo se reproduzem pela hereditariedade mas precisam
ser formadas isto eacute transmitidas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo A esse processhy
so de transmissatildeo da cultura produzida histoacuterica e coletivamente pelo
conjunto dos homens mdash que permite a formaccedilatildeo da humanidade em
cada indiviacuteduo singular - denomina-se educaccedilatildeo (SAVIANI 2005)
Entretanto como as formas assumidas pelo trabalho nos dishy
versos modos de produccedilatildeo da existecircncia humana satildeo fenocircmenos
construiacutedos concretamente nas relaccedilotildees sociais a formaccedilatildeo humana
tende a ser determinada pelos processos histoacutericos De acordo com
Marx (2005) no modo de produccedilatildeo capitalista - aquele que estaacute
fundado na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo e na aproshy
priaccedilatildeo privada dos produtos do trabalho - a relaccedilatildeo do homem
com o mundo aparece invertida de tal forma que o trabalho assashy
lariado caracteriacutestico da moderna sociedade burguesa resulta num
estranhamento do homem com o seu trabalho o trabalho de ativishy
dade de realizaccedilatildeo do homem eacute transformado em ldquo[] desrealizaccedilatildeo
do trabalhador a objetivaccedilatildeo como perda e servidatildeo do objeto a
apropriaccedilatildeo com alienaccedilatildeo1rdquo (MARX 2005 p 1 12)
i Em Marx (2005) a alienaccedilatildeo corresponde ao estranhamento total do homem com a natureza
com a humanidade e com ele proacuteprio sendo que a base de todas essas relaccedilotildees sociais estranhas
c a alienaccedilatildeo do proacuteprio trabalho O u seja a partir da expropriaccedilatildeo do produto e do processo
de seu trabalho o homem passa a alienar-se de sua vida como um todo
Tendo em vista que o trabalho na sociedade capitalista eacute contrashy
ditoriamente fundamento da existecircncia humana e meio de alienaccedilatildeo
pensar o trabalho como princiacutepio educativo implica em visualizar
dois projetos distintos de educaccedilatildeo escolar um que busca adaptar os
indiviacuteduos agraves atuais relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo e outro que visa
alcanccedilar o pleno desenvolvimento da iiiacutedividualidade livre e universal (DUARTE 2006) algo atrelado agrave construccedilatildeo de uma nova sociedashy
de na qual estejam superadas as relaccedilotildees sociais alienadas
Na perspectiva voltada agrave reproduccedilatildeo do capital a educaccedilatildeo
tem servido como meio de adaptar o indiviacuteduo agraves condiccedilotildees hisshy
toacutericas da produccedilatildeo negando o potencial criativo e transformador
da realidade que o homem possui impedindo-o de reconhecer-se
como sujeito da histoacuteria Como analisam criticamente Frigotto
Ciavatta e Ramos (2005) o sentido economicista atribuiacutedo agrave edushy
caccedilatildeo a tem proclamado como instrumento de formaccedilatildeo para o
trabalho no seu sentido historicamente alienado dando origem
agrave noccedilatildeo ideoloacutegica da escola como promotora da ascensatildeo social
Este fato pode ser observado em mitos como o da empregabilidade
e do empreendedorismo que vigoram hoje em dia
Diversas anaacutelises realizadas sobre a relaccedilatildeo entre trabalho e
educaccedilatildeo como as realizadas por Ramos (2006) e Kuenzer (2007)
por exemplo evidenciam que no contexto de transiccedilatildeo do modo
laquoIr produccedilatildeo capitalista para o regime de acumulaccedilatildeo flexiacutevel2
1 implantaccedilatildeo de um novo paradigma produtivo e a emergecircncia
Jr novas demandas de ajustamento social provocaram uma nova
loi nia de ser do trabalhador que estabeleceu exigecircncias significa-
iivimente diferentes daquelas em curso ateacute entatildeo O u seja uma
nov a dinacircmica de produccedilatildeo e novos meacutetodos de trabalho passaram
I gtc acordo com as anaacutelises dc Harvey (2006) a partir da deacutecada dc 1970 com a explosatildeo
laquoli nova crise de superacumulaccedilatildeo capitalista inicia-se um periacuteodo de reestruturaccedilatildeo
lt miocircmica e de reajustamento social e poliacutetico marcando a passagem para um novo
irgime de acumulaccedilatildeo ldquoA acumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo surge em contraposiccedilatildeo agrave rigidez do
Inulismo ldquoEla se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho dos mercados de
uibalho dos produtos e padrotildees de consumordquo (1IARVKY 2006 p 140)
a exigir um tipo novo de trabalhador e de homem3 Assim para
atender aos interesses de valorizaccedilatildeo do capital vecircm ocorrendo
diversas alteraccedilotildees nos projetos e processos de formaccedilatildeo humana
a fim de ajustaacute-los agraves novas formas de organizaccedilatildeo do trabalho e
aos novos padrotildees de sociabilidade capitalista
Com base na argumentaccedilatildeo de que ingressamos na chamada ldquosocieshy
dade do conhecimentordquo a educaccedilatildeo passa a ser proclamada como uma
tarefa para toda a vida e a noccedilatildeo de competecircncia assume centralidade na
educaccedilatildeo escolar Para se consolidar como categoria ordenadora da relaccedilatildeo
trabalho-educaccedilatildeo a noccedilatildeo de competecircncia se inscreve num movimento
de afirmaccedilatildeo e negaccedilatildeo do conceito de qualificaccedilatildeo promovendo a valoshy
rizaccedilatildeo da sua dimensatildeo experimental agrave custa do enfraquecimento da sua
dimensatildeo conceituai e social (RAMOS 2006)
O enfraquecimento da dimensatildeo social da qualificaccedilatildeo pode ser
constatado nos discursos que proclamam um novo papel para a educashy
ccedilatildeo escolar natildeo mais formar para um determinado posto ou emprego
mas sim gerar potencial de empregabilidade De acordo com Gentili
(2005) a empregabilidade eacute o eufemismo da desigualdade estrutural
que caracteriza o mercado de trabalho e sintetiza a incapacidade mdash tamshy
beacutem estrutural mdash da educaccedilatildeo em cumprir sua promessa integradora
Conforme explica o autor esse conceito ganhou espaccedilo e centralidade
a partir da deacutecada de 1990 sendo definido como eixo fundamental de
um conjunto de poliacuteticas supostamente destinadas agrave diminuiccedilatildeo de risshy
cos sociais gerados pelo desemprego Para o discurso dominante o conshy
ceito de empregabilidade natildeo significa garantia de integraccedilatildeo mas apeshy
nas melhores condiccedilotildees para competir na luta pelos poucos empregos
disponiacuteveis no mercado de trabalho Esse conceito segundo o autor
acaba com a concepccedilatildeo do emprego e da renda como esferas de direito
3 Tomamos essa expressatildeo emprestada de Gramsci (1976) que foi originalmente utilizada
em Americanismo e Fordismo e sugere que um novo tipo de trabalho e de produccedilatildeo traz a
necessidade de formar um novo tipo de homem pois ldquo[] novos meacutetodos de trabalho estatildeo
indissoluvelmente ligados a um determinado modo de viver de pensar e de sentir a vida
natildeo eacute possiacutevel obter ecircxito num campo sem obter resultados tangiacuteveis no outrordquo (p 396)
4 De acordo com Frigotto (1998) o termo ldquosociedade do conhecimentordquo diz respeito a um
deslocamento conceituai da teoria do capital humano buscando alinhar ideologicamente
a educaccedilatildeo agrave nova materialidade e mascarar a realidade do desemprego estrutural
pois parte do entendimento de que a posse de determinadas condiccedilotildees
de empregabilidade natildeo garante a inserccedilatildeo no mercado de trabalho
No que se refere agrave concepccedilatildeo de conhecimento subjacente agrave noccedilatildeo de
competecircncia Ramos (2006) conclui que por estar pautada numa ldquoconcepshy
ccedilatildeo natural-funcionalista de homemrdquo esta noccedilatildeo abriga uma ldquoconcepccedilatildeo
subjetivo-relativista de conhecimentordquo que reforccedila o irracionalismo poacutes-
-moderno5 configurando-se como uma noccedilatildeo adaptadora do comportashy
mento humano agrave instabilidade da vida no capitalismo tardio
A perspectiva educacional ancorada na noccedilatildeo de competecircncia busshy
ca alterar a maneira de ser da classe trabalhadora adequando-a aos novos
valores necessaacuterios agrave manutenccedilatildeo das relaccedilotildees capitalistas No que tange
ao curriacuteculo essa noccedilatildeo privilegia os objetivos atitudinais comportamen-
tais e procedimentais ligados ao saber agir e saber fazer secundarizando e
subordinando os conhecimentos agraves situaccedilotildees praacuteticas uma vez que soacute satildeo
considerados vaacutelidos os conhecimentos que apresentam aplicabilidade no
desempenho das atividades de produccedilatildeo6
A pedagogia das competecircncias aleacutem de ser uma importanshy
te referecircncia pedagoacutegica defendida pelos intelectuais da classe
dominante natildeo estaacute soacute na defesa dos interesses capitalistas no
campo da educaccedilatildeo escolar pelo contraacuterio ganha forccedila na meshy
dida em que se alinha a outras concepccedilotildees que negam a escola
tomo instituiccedilatildeo responsaacutevel pela transmissatildeo do conhecimento
sistematizado como eacute o caso do construtivismo
Para desenvolver competecircncias eacute preciso antes de
tudo trabalhar por problemas e projetos propor
tarefas complexas e desafios que incitem os alunos
a mobilizar seus conhecimentos e cm certa medida
completaacute-los Isso pressupotildee uma pedagogia ativa
Com relaccedilaacuteo ao relativisino poacutes-moderno as anaacutelises de Harvey (2006) permitem
compreender que a necessidade capitalista de acelerar o tempo de giro do capital atraveacutes
ltli aceleraccedilatildeo da produccedilatildeo da troca e do consumo de mercadorias tem promovido
iima intensificaccedilatildeo da compressatildeo do tempo-espaccedilo influenciado as formas poacutes-
modernas de pensar sentir e agir acentuando a volatilidade e efemeridade valorizando
bull i instantacircneo e o descartaacutevel o que tem implicado na consideraccedilatildeo de que qualquer
perspectiva totalizante de conhecimento eacute inatingiacutevel
Ni realidade esta secundarizaccedilatildeo do conhecimento em favor de comportamentos
bull 1 iM-rvaacuteveis natildeo eacute novidade e em certa medida reedita os princiacutepios da Escola Nova (cf
I l AUTH 2001) e da Pedagogia do Domiacutenio (cf RAMOS 2006)
cooperativa aberta para a cidade ou para o bairro
seja na zona urbana ou rural Os professores devem
parar de pensar que dar aulas eacute o cerne da profissatildeo
Ensinar hoje deveria consistir cm conceber encaishy
xar e regular situaccedilotildees de aprendizagem seguindo os
princiacutepios pedagoacutegicos ativos e construtivistas Para
os professores adeptos de uma visatildeo construtivista
e interacionista de aprendizagem trabalhar no deshy
senvolvimento de competecircncias natildeo eacute uma ruptura
(PERRENOUD 2000 apud DUARTE 2003 p 6)
O trecho do trabalho de Perrenoud citado por Duarte (2003)
permite segundo este incluir a Pedagogia das Competecircncias - junshy
tamente com o Construtivismo a Escola Nova os estudos na linha
do ldquoProfessor Reflexivordquo dentre outros mdash no grupo das chamadas ldquoPe-
dagogias do Aprender a Aprenderrdquo que visam produzir uma maior
adaptabilidade dos indiviacuteduos agraves alteraccedilotildees do capitalismo7
As reflexotildees apresentadas ateacute aqui nos colocam diante do desafio
de construir as possibilidades de desenvolvimento dc uma perspectiva de
educaccedilatildeo que supere a loacutegica adaptadora da formaccedilatildeo mediada pelo lema
ldquoaprender a aprenderrdquo ou mais especificamente pela noccedilatildeo de aquisiccedilatildeo
de competecircncias para empregabilidade Por outro lado isso nos remete
ao resgate do significado de escola unitaacuteria de uma educaccedilatildeo politeacutecnica
e de uma formaccedilatildeo omnilateral na qual a formaccedilatildeo humana volta-se para
a apreensatildeo do conhecimento sistematizado em todas as suas dimensotildees
premissa fundamental para a formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos e criacuteticos
A perspectiva marxista de formaccedilatildeo humana como possibilidade de oposiccedilatildeo agrave perspectiva dominante de educaccedilatildeo escolar
Tendo como horizonte um projeto educativo voltado agrave superaccedilatildeo
do capitalismo Frigotto (1985) aponta a politecnia como concepccedilatildeo de
educaccedilatildeo que interessa agrave classe trabalhadora por estar fundamentada
na superaccedilatildeo da divisatildeo entre teoria e praacutetica em direccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do
homem em todas as suas dimensotildees - formaccedilatildeo omnilateral
Uma anaacutelise dai Pedagogias do Aprender a Aprender eacute apresentada em Duarte (2006)
A concepccedilatildeo de uma educaccedilatildeo politeacutecnica tem origem na
compreensatildeo do homem como um ser de muacuteltiplas atividades
Marx e Engels (1989) indicam que o homem natildeo deve limitar
seu desenvolvimento a uma das partes do seu corpo da sua inshy
teligecircncia ou de sua sensibilidade o homem todo e todo hoshy
mem deve constantemente humanizar-se pelo trabalho Desse
modo a educaccedilatildeo deveria ter como objeto de sua preocupaccedilatildeo o
desenvolvimento do homem nas suas maacuteximas potencialidades
partindo do pressuposto de que ele eacute capaz de captar a realidade
e dela se apropriar com todos os seus sentidos de maneira comshy
preensiva e como ser total (MARX 2005)
A concepccedilatildeo de formaccedilatildeo politeacutecnica fundamenta-se no mashy
terialismo histoacuterico dialeacutetico englobando de modo indissociaacuteshy
vel uma concepccedilatildeo pedagoacutegica uma perspectiva de trabalho e
um projeto de sociedade que garante agrave politecnia uma coerecircncia
entre meacutetodo concepccedilatildeo de mundo e praacutexis Ou seja a politecnia
apoia-se na anaacutelise das transformaccedilotildees dos processos de trabalho
que estatildeo na base das relaccedilotildees de produccedilatildeo capitalista (dimensatildeo
infraestrutural) Essa anaacutelise eacute realizada sob a perspectiva de um
projeto utoacutepico-revolucionaacuterio de construccedilatildeo de uma sociedade
sem classes (dimensatildeo utoacutepica) Essas duas dimensotildees acabam
por desembocar em propostas de accedilatildeo educativa (dimensatildeo peshy
dagoacutegica) que tecircm como finalidade contribuir para a formaccedilatildeo
do homem em todas as suas dimensotildees (RODRIGU ES 1998)
No que tange agrave concepccedilatildeo de escola pensada como um espaccedilo
de luta pela hegemonia8 da classe trabalhadora a defesa se faz no
sentido de uma escola que possibilite ao homem desenvolver suas
capacidades produtivas e intelectuais de forma unificada Nesta
perspectiva Gramsci (2004) defende um tipo de escola unitaacuteria que
ao mesmo passo encaminhe o jovem para a escolha profissional e
lorme sujeitos capazes de dirigir e controlar os rumos da vida em soshy
Adotamos o conceito de hegemonia conforme define Gramsci (2000) uma relaccedilatildeo de
poder presente nas sociedades capitalistas que expressa a dominaccedilatildeo de uma ou mais
fraccedilotildees dcclasse sobre o conjunto de sua proacutepria classe e das classes antagocircnicas em que
o econocircmico e o poliacutetico expressam a ldquodireccedilatildeo moral e intelectualrdquo a ser seguida pelo
conjunto da sociedade
ciedade Para tal esta escola deve promover a elevaccedilatildeo cultural9 dos
jovens preparando-os para a atividade social autocircnoma e criativa
A escola uacutenica do trabalho como estrutura busca a superaccedilatildeo das
trajetoacuterias de distribuiccedilatildeo desigual do saber a politecnia como conteshy
uacutedo visa construir uma organizaccedilatildeo curricular que resgate a totalidade
dos conhecimentos cientiacuteficos artiacutesticos filosoacuteficos e instrumentais
que regem os processos produtivos a dialeacutetica como meacutetodo caminha
no sentido da reunificaccedilatildeo entre ciecircncia e teacutecnica entre formaccedilatildeo geshy
ral e profissional entre teoria e praacutetica permitindo aos alunos comshy
preenderem o processo de construccedilatildeo do conhecimento
No entanto eacute importante salientar que a concepccedilatildeo de escola
unitaacuteria e de formaccedilatildeo politeacutecnica deve ser tomada como referecircncia
num processo mais amplo qual seja o de luta pela transformaccedilatildeo
da sociedade pois como elaborou Marx (1984) um modelo de
educaccedilatildeo que busque a unidade entre teoria e praacutetica entra em conshy
tradiccedilatildeo com a forma capitalista de produzir e dividir o trabalho
sendo que o uacutenico caminho para subverter essa ordem seria o desenshy
volvimento dessas contradiccedilotildees
Nesse sentido considerando a dinacircmica do processo de proshy
duccedilatildeoreproduccedilatildeo da cultura a defesa da escola como instituiccedilatildeo
responsaacutevel pela transmissatildeo-assimilaccedilatildeo do conhecimento sistemashy
tizado torna-se indispensaacutevel para que cada indiviacuteduo da espeacutecie
humana possa se inserir na histoacuteria social desenvolvendo-se em suas
maacuteximas potencialidades E exatamente nessa linha que se configura
a definiccedilatildeo de Saviani (2006) sobre o papel da escola na perspectiva
da Pedagogia histoacuterico-criacutetica
O movimento pedagoacutegico que deu origem agrave Pedagogia hisshy
toacuterico-criacutetica surge no final da deacutecada de 1970 como resposta
9 No atual ambiente ideoloacutegico no qual predomina a ideologia neoliberal e poacutes-
moderna falar em elevaccedilatildeo cultural pode se constituir como algo um tanto quanto
polecircmico Contudo fazemos questatildeo de destacar que na perspectiva marxista
com a qual trabalhamos ldquo[] natildeo haacute margem nem para o evolucionismo ingecircnuo
(seja no plano da histoacuteria da organizaccedilatildeo social humana seja no plano da histoacuteria
do conhecimento) nem para o relativismo que nega a existecircncia de formas mais
desenvolvidas de vida social e de conhecimento nem finalmente para o subjeti-
vismo que nega o conhecimento como apropriaccedilatildeo da realidade objetiva pelo
pensamentordquo (DU A RT E 2003 p 77)
agrave necessidade de encontrar alternativa agrave pedagogia dominante
Saviani (2005) explica que naquele contexto imperava a necesshy
sidade histoacuterica especialmente no caso brasileiro de criticar a
pedagogia oficial sobretudo para evidenciar seu caraacuteter reproshy
dutor De acordo com os autores da eacutepoca cada setor da cultushy
ra como o sistema de ensino por exemplo desempenharia seu
papel na reproduccedilatildeo da sociedade A medida que essas ideias
se difundiam as chamadas teorias criacutetico-reprodutivistas0 ganhashy
vam forccedila para consolidar o entendimento de que a educaccedilatildeo
escolar sempre desempenharia o papel de reproduccedilatildeo Essas teoshy
rias foram se formulando e se difundindo ao mesmo tempo em
que eram assimiladas no Brasil como instrumento utilizado para
fustigar a poliacutetica educacional do Regime Militar (SAVIANI
2005) Se por um lado as teorias criacutetico-reprodutivistas foram
importantes para evidenciar o papel desempenhado pela pedagoshy
gia oficial no contexto do Regime Militar no Brasil por outro
lado natildeo forneceram alternativas para se contrapor agrave pedagogia
dominante Neste sentido Saviani (2005 p 135) afirma que
a luta contra a ditadura tambeacutem implicava a forshy
mulaccedilatildeo dc alternativas No campo educacional
o problema colocava-se nos seguintes termos se a
pedagogia oficial era inaceitaacutevel qual seria entatildeo
a orientaccedilatildeo alternativa aceitaacutevel A visatildeo criacutetico-
reprodutivista natildeo dava resposta para essa pergunshy
ta Natildeo tinha uma proposta de orientaccedilatildeo Fazia a
criacutetica do existente mostrando que este desempeshy
nhava a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo
Portanto era necessaacuterio formular uma proposta pedagoacutegica
que estivesse atenta aos determinantes sociais da educaccedilatildeo e que
permitisse articular de forma dialeacutetica o trabalho pedagoacutegico
com as relaccedilotildees sociais deveria levar em conta a accedilatildeo reciacuteproca
em que a educaccedilatildeo embora determinada em suas relaccedilotildees com
10 Saviani (2006) denomina de teorias criacutetico-reprodutivistas aquelas que por um lado
postulam a compreensatildeo da educaccedilatildeo a partir de seus condicionantes sociais mas por
outro lado chegam agrave conclusatildeo de que a funccedilatildeo da proacutepria educaccedilatildeo eacute reproduzir a
sociedade na qual ela se insere
a sociedade reage ativamente sobre o elemento determinante
(SAVIANI 2005) Assim como desdobramento desse processo
que buscou encontrar alternativa agrave pedagogia dominante a Peshy
dagogia histoacuterico-criacutetica surgiu como uma proposta pedagoacutegica
fundamentada no materialismo histoacuterico cuja tarefa em relaccedilatildeo
agrave educaccedilatildeo escolar implica a) identificar as formas mais desenshy
volvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicashy
mente reconhecendo as condiccedilotildees de sua produccedilatildeo e compreenshy
dendo as suas principais manifestaccedilotildees bem como as tendecircncias
atuais de transformaccedilatildeo b) converter o saber objetivo em saber
escolar de modo que se torne assimilaacutevel pelos alunos no espaccedilo
e tempo escolares c) prover os meios necessaacuterios para que os
alunos natildeo apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultashy
do mas apreendam o processo de sua produccedilatildeo bem como as
tendecircncias de sua transformaccedilatildeo (SAVIANI 2005)
Segundo o autor a escola eacute uma instituiccedilatildeo cujo papel conshy
siste na socializaccedilatildeo do saber sistematizado Natildeo se trata portanshy
to de qualquer tipo de saber ldquoa escola diz respeito ao conhecishy
mento elaborado e natildeo ao conhecimento espontacircneo ao saber
sistematizado e natildeo ao saber fragmentado agrave cultura erudita e
natildeo agrave cultura popularrdquo (SAVIANI 2006 p 14) Destacar esse
posicionamento eacute importante sobretudo porque tambeacutem eacute posshy
siacutevel encontrar na Educaccedilatildeo Fiacutesica tendecircncias que negam a aproshy
priaccedilatildeo do saber sistematizado por parte das fraccedilotildees menos prishy
vilegiadas da classe trabalhadora ao proclamar como seu papel
central o desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica ou a ldquovalorizaccedilatildeo
da cultura popularrdquo em detrimento da cultura erudita
Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica a defesa da escola como espashy
ccedilo de socializaccedilatildeo do saber sistematizado eacute essencial para assegurar o
caraacuteter contraditoacuterio da educaccedilatildeo e afirmar os interesses dos trabalhashy
dores uma vez que dominar os conhecimentos mais desenvolvidos
produzidos pela humanidade no campo das ciecircncias das artes e da fishy
losofia eacute condiccedilatildeo para o processo de emancipaccedilatildeo (SAVIANI 2006)
11 Uma criacutetica ao paradigma da aptidatildeo fiacutesica foi desenvolvida pelo Coletivo de Autores (1992)
cr
A perspectiva histoacuterico-criacutetica na Educaccedilatildeo Fiacutesica direcionando o olhar para a metodologia Criacutetico- superadora
A busca de alternativas agrave pedagogia dominante atingiu tambeacutem a
Educaccedilatildeo Fiacutesica possibilitando articular a praacutetica pedagoacutegica na aacuterea
a um novo projeto de sociedade Desde o final da deacutecada de 1970
com o processo frequentemente denominado de ldquoredemocratizaccedilatildeo
da sociedade brasileirardquo inuacutemeros estudos passaram a questionar o
papel que vinha sendo assumido pela Educaccedilatildeo Fiacutesica em nosso paiacutes
qual seja o de educar os indiviacuteduos em conformidade com as necesshy
sidades do modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Os
crescentes questionamentos que ganharam forccedila na deacutecada de 1980
colocaram em xeque o quadro de referecircncias que havia direcionado a
Educaccedilatildeo Fiacutesica por mais de um seacuteculo A inflexatildeo na aacuterea configurashy
da como uma crise de legitimidade inaugurou um periacuteodo de buscas
para se construir a autonomia pedagoacutegica da aacuterea frente a um quadro
histoacuterico de viacutenculo ao projeto dominante
Nesse processo um importante marco para a educaccedilatildeo escolar foi
a publicaccedilatildeo na deacutecada de 1990 do livro Metodologia do Ensino de lducaccedilaacuteo Fiacutesica escrito por um grupo que se autodenominou de Coshy
letivo de Autores (1992) Nessa obra eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal mdash uma tendecircncia que pautada
na Pedagogia histoacuterico-criacutetica visa a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enquanto
sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em que vive
Para formar esse tipo de sujeito o paradigma da reflexatildeo criacuteti-
i i sobre a cultura corporal defende a tematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de
lorma criacutetico-superadora A tematizaccedilatildeo defendida por esta proposta
ibrange a compreensatildeo das relaccedilotildees de interdependecircncia que os dife-
H iiies conteuacutedos da cultura corporal tecircm com os grandes problemas
bull gtlt Hraquo-poliacuteticos atuais como ldquo[] ecologia papeacuteis sexuais sauacutede puacute-
I 1 u i relaccedilotildees de trabalho preconceitos sociais raciais da deficiecircncia
bull I i wlhice distribuiccedilatildeo do solo urbano distribuiccedilatildeo de renda diacutevida
i u i na e outrosrdquo (COLETIVO DE AUTORES 1992 p 62-63)
Assim busca-se desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as formas
de representaccedilatildeo do mundo exteriorizadas pela expressatildeo corporal
que o ser humano tem produzido no decorrer da histoacuteria dentre as
quais pode-se destacar jogos danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esshy
porte malabarismos contorcionismos miacutemica e outros que podem
ser identificados como formas de representaccedilatildeo simboacutelica de realishy
dades vividas pelo homem historicamente criadas e culturalmente
desenvolvidas (COLETIVO DE AUTORES 1992)
Portanto pode-se afirmar que a metodologia Criacutetico-superado-
ra ao alinhar-se agrave perspectiva pedagoacutegica defendida por Dermeval
Saviani busca propor novos caminhos para a apropriaccedilatildeo do conheshy
cimento na escola inclusive pela organizaccedilatildeo metodoloacutegica fundashy
mentada nos cinco passos do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do coshy
nhecimento a saber identificaccedilatildeo da praacutetica social problematizaccedilatildeo
instrumentalizaccedilatildeo catarse e retorno agrave praacutetica social
O ponto de partida para a apropriaccedilatildeo do conhecimento na escola
eacute a praacutetica social (SAVIANI 2006) Nesse passo conforme apresentado
por Gasparin (2005) realiza-se um primeiro contato com o tema a ser
estudado para evidenciar suas relaccedilotildees com a vida cotidiana visando
mobilizar os alunos para o processo pedagoacutegico Segundo este autor a
identificaccedilatildeo da praacutetica social pode ser dividida em duas partes a saber
anuacutencio e vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos No anuacutencio dos conteuacutedos aponta-se o que seraacute estudado e quais os objetivos a serem alcanccedilados
Na vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos identifica-se o que os alunos jaacute sashy
bem c o que eles gostariam de saber mais sobre o assunto em questatildeo
O segundo passo do meacutetodo dialeacutetico de construccedilatildeo do conhecishy
mento escolar eacute a problematizaccedilatildeo fase na qual se busca ldquo[] detectar
que questotildees precisam ser resolvidas no acircmbito da praacutetica social e em
consequecircncia que conhecimento eacute necessaacuterio dominarrdquo (SAVIANI
2006 p 71) A partir dessa afirmaccedilatildeo dois importantes aspectos foram
salientados por Gasparin (2005) que merecem um devido destaque
O primeiro deles diz respeito agraves questotildees da praacutetica social que deshy
vem ser detectadas O autor esclarece com base no proacuteprio Saviani
que o foco deve ser concentrado nas grandes questotildees que desafiam a
sociedade nos principais problemas que precisam ser resolvidos natildeo
soacute na escola ou pela escola mas no acircmbito da sociedade Para isso
afirma que deve ser feita uma seleccedilatildeo do que eacute fundamental visto que
os principais problemas postos pela praacutetica social nem sempre podem
ser tratados na sua totalidade em cada aacuterea do conhecimento O ldquofunshy
damentalrdquo vale dizer refere-se aos aspectos relacionados ao conteuacutedo
estabelecido pelo curriacuteculo escolar ou aos conhecimentos trabalhados
em uma determinada unidade do programa Com base nesse entendishy
mento pode-se dizer que a problematizaccedilatildeo deve selecionar e discutir
os problemas que tecircm origem na praacutetica social mas que ao mesmo
tempo se ligam ao conteuacutedo a ser trabalhado trata-se de uma seleccedilatildeo
e discussatildeo de grandes questotildees sociais poreacutem inseridas e especificadas
no conteuacutedo da unidade que estaacute sendo estudada (GASPARIN 2005)
O segundo aspecto a ser destacado refere-se a qual conhecimento
eacute necessaacuterio dominar para resolver os problemas da praacutetica social Gas-
parin (2005) explica que de maneira geral os conteuacutedos satildeo quase
sempre transmitidos aos educandos por uma uacutenica dimensatildeo a con-
eeitual-cientiacutefica Em virtude da ecircnfase geralmente atribuiacuteda a essa dishy
mensatildeo do conteuacutedo o autor alerta o seguinte eacute necessaacuterio lembrar
no processo de construccedilatildeo do conhecimento que a ciecircncia tambeacutem eacute
iiin produto social originada de necessidades histoacutericas econocircmicas
poliacuteiicas ideoloacutegicas filosoacuteficas religiosas teacutecnicas dentre outras Tenshy
do i in vista o fato de que existem muacuteltiplas dimensotildees que revestem
os dilerentes conteuacutedos faz-se necessaacuterio abordar na construccedilatildeo do
- ltgtii1k-ciacutemento natildeo soacute a dimensatildeo conceitual-cientiacutefica A necessidade
llt 1 1 mscender a abordagem centrada na dimensatildeo conceitual-cientiacutefica
jMivuacuten do entendimento de que a anaacutelise do real deve considerar suas
muacuteltiplas dimensotildees visto que a realidade social envolve sempre uma
tuii de perspectivas um conjunto de aspectos interdependentes que
u ui ser entendidos para a resoluccedilatildeo dos problemas postos pela praacute-
laquo iil Eacute importante destacar esse aspecto sobretudo porque na
u lo 1 iacutesica a ecircnfase do processo pedagoacutegico geralmente eacute concen-
raquo i iu is rlementos teacutecnicos e taacuteticos o que desconsidera as muacuteltiplas
bull t M ii raquors que revestem o conteuacutedo em questatildeo
Assim duas tarefas principais podem ser operacionalizadas na
problematizaccedilatildeo A primeira delas envolve o questionamento da praacuteshy
tica social e do conteuacutedo escolar Trata-se de um momento em que satildeo
apresentadas e discutidas as razotildees sociais pelas quais se deve aprender o
conteuacutedo proposto de modo que os alunos possam entender melhor o
que seraacute estudado identificar os principais problemas postos pela praacuteshy
tica social e pelos conteuacutedos e ainda entender a necessidade eou vashy
lidade do conteuacutedo curricular proposto para solucionar eou entender
melhor os problemas da praacutetica social (GASPARIN 2005) A segunda
tarefa que pode ser realizada na problematizaccedilatildeo refere-se agraves dimensotildees
do conteuacutedo a serem trabalhadas Em linhas gerais pode-se dizer que
essa tarefa consiste em definir as dimensotildees que se deseja estudar Para
tanto pode-se partir do conteuacutedo a ser trabalhado de modo a elaborar
questotildees desafiadoras que expressem dimensotildees especiacuteficas referentes agrave
natureza do conteuacutedo como por exemplo as dimensotildees cientiacutefico-
-conceituais sociais econocircmicas culturais histoacutericas filosoacuteficas moshy
rais eacuteticas esteacuteticas legais e doutrinaacuterias (GASPARIN 2005)
O passo seguinte a instrumentalizaccedilatildeo segundo Gasparin (2005) eacute o
caminho atraveacutes do qual o conteuacutedo sistematizado eacute posto agrave disposiccedilatildeo dos
alunos para que o assimilem o recriem e ao incorporaacute-lo transformem-no
em instrumento cultural para transformaccedilatildeo da realidade Esse terceiro passhy
so do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do conhecimento consiste no moshy
mento em que os alunos vatildeo se apropriar das ferramentas culturais necesshy
saacuterias agrave luta social que travam diariamente para se libertar das condiccedilotildees de
opressatildeo em que vivem ou seja trata-se da fase na qual ocorre a apropriaccedilatildeo
dos instrumentos teoacutericos e praacuteticos necessaacuterios ao equacionamento dos
problemas detectados na praacutetica social (SAVIANI 2006)
De acordo com Saviani (2006) o quarto passo do meacutetodo eacute a ldquocashy
tarserdquo momento de expressatildeo elaborada da nova forma de entendimenshy
to da praacutetica social a que se ascendeu ldquoTrata-se da efetiva incorporaccedilatildeo
dos instrumentos culturais transformados agora em elementos ativos
de transformaccedilatildeo socialrdquo (SAVIANI 2006 p 72) Pode-se dizer que a
catarse eacute a demonstraccedilatildeo teoacuterica do ponto de chegada do niacutevel superior
atingido pelos alunos (GASPARJN 2005)
Por fim no retorno agrave praacutetica social temos a nova maneira de comshy
preender a realidade e de posicionar-se diante dela eacute a manifestaccedilatildeo
da nova postura praacutetica da nova atitude da nova visatildeo do conteuacutedo
no cotidiano Trata-se de acordo com Gasparin (2005) do momento
de accedilatildeo consciente em prol da transformaccedilatildeo da realidade a partir do
retorno agrave praacutetica social agora entendida de forma mais elaborada
Levando em conta esses diferentes momentos do meacutetodo dialeacutetico
de construccedilatildeo do conhecimento o ensino dos diferentes conteuacutedos que
compotildeem a cultura corporal permite aos alunos se apropriarem dos coshy
nhecimentos acumulados historicamente pela humanidade Trata-se de
um importante passo no sentido de enriquecer a concepccedilatildeo de mundo
dos alunos uma vez que o acesso ao saber sistematizado sobre jogos
esporte luta danccedila ginaacutestica circo por exemplo se constitui como
elemento indispensaacutevel para leitura dessa dimensatildeo da realidade
Consideraccedilotildees finais
O artigo em tela apresentou a concepccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica de
Educaccedilatildeo Fiacutesica que embasa as praacuteticas pedagoacutegicas discutidas ao longo
deste livro destacando sua articulaccedilatildeo com um projeto de formaccedilatildeo hushy
mana criacutetico agraves relaccedilotildees sociais capitalistas visando superar a perspectiva
de adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves exigecircncias do mundo do trabalho
Com base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e na abordagem Criacutetico-
-superadora o objetivo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute promover uma
reflexatildeo criacutetica sobre diferentes conteuacutedostemas da cultura corporal
seguindo um caminho metodoloacutegico que busca ampliar a compreensatildeo
e accedilatildeo dos sujeitos sobre a realidade em que vivem
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Campinas Autores Associados 2003
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Satildeo Paulo Cortez 2006
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____ Pedagogia histoacuterico-criacutetica primeiras aproximaccedilotildees 9 ed Campinas
Autores Associados 2005
CAPIacuteTULO III
A PRODUCcedilAtildeO DA CULTURA LUacuteDICA EM JOGOS ELETROcircNICOS
Priscila Rocha Rodrigues
Renata Aparecida Alves Landim
Tl)iago Barreto Maciel
Victoacuteria de Faacutetima de Mello
Abordar os jogos e as brincadeiras como
conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica pode parecer
um lugar comum pois existe um consenso
por parte dos educadores acerca da presenshy
ccedila dessas praacuteticas corporais nas aulas dessa
disciplina Entretanto muitas vezes o trashy
balho desenvolvido nas escolas opera uma
instrumentalizaccedilatildeo dos jogos utilizando os
mesmos como meios para a aprendizagem
dos esportes ou de outras mateacuterias de enshy
sino De acordo com Bracht et al (1995)
esse processo dilui os jogos de seu contexshy
to soacutecio-cultural passando a consideraacute-los
como um recurso metodoloacutegico e natildeo como
um conteuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Consideramos que para tratar os joshy
gos e as brincadeiras1 como conteuacutedo de
ensino eacute preciso superar a mera praacutetica e
I Em diversos idiomas os termos jogos brincadeiras e
brinquedo satildeo tratados como sinocircnimos e em outros uma
uacutenica palavra guarda os trcs significados Visando distinguir
os termos Kishimoto (2003) considera como brinquedo o
objetosuporte - concreto ou ideoloacutegico - da brincadeira
como brincadeira a conduta estruturada por regras e como
jogo a descficcedilaacuteo tanto do objeto como das regras durante um
determinado templaquo gt Neste texto adotaremos a conceituaccedilatildeo
de brinquedo como suporte da brincadeira mas naacuteo faremos
promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre os jogos como uma forma
proacutepria de expressatildeo da cultura corporal Os jogos satildeo resultados
do processo criativo cio homem para modificar imaginariamente
a realidade e o presente tendo em vista finalidades luacutedicas (C O shy
LETIVO DE AUTORES 1992) Eles tecircm significados dentro do
conjunto da produccedilatildeo humana por isso guardam em seu interior
as caracteriacutesticas do modo de organizaccedilatildeo social num dado moshy
mento histoacuterico sendo marcados por continuidades e rupturas em
relaccedilatildeo aos jogos e brincadeiras de outras eacutepocas
Na atualidade o modo de vida das pessoas sobretudo nos
grandes conglomerados urbanos tem favorecido a substituiccedilatildeo parshy
cial ou total dos jogos traciicionais provenientes da cultura popular
pelos videogames produtos da induacutestria cultural Nesse sentido
consideramos que promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as es-
pecificidades e os dilemas que envolvem os jogos eletrocircnicos como
uma manifestaccedilatildeo luacutedica tipicamente contemporacircnea pode ajudar a
compreender o proacuteprio tempo 1 1 0 qual vivemos
lendo em vista a realizaccedilatildeo de uma discussatildeo teoacuterico-metodo-
loacutegica sobre os jogos e a socializaccedilatildeo de uma experiecircncia concreta
organizamos este artigo em trecircs partes aleacutem dessa introduccedilatildeo e das
consideraccedilotildees finais Na primeira abordaremos os jogos como uma
manifestaccedilatildeo da cultura corporal e suas implicaccedilotildees para as aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesica Na segunda trataremos das formas de expressatildeo dos
jogos na sociedade contemporacircnea Na terceira parte apresentaremos
uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos para os alunos dos
anos finais cio ensino fundamental seguida do plano de unidade
Os jogos e as brincadeiras como conteuacutedos para as aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Em nosso tempo um dos grandes estudiosos sobre os jogos foi
Huizinga Em sua obra claacutessica ldquoHomo Ludens rdquo publicada origishy
nalmente em 1938 ele analisou a natureza e o significado do jogo
como fenocircmeno cultural De acordo com Huizinga (2000) o jogo eacute
uma das manifestaccedilotildees mais antigas da humanidade e sempre esteve
associado ao divertimento e ao prazer com a finalidade de dar um
sentido luacutedico para a existecircncia humana Nas palavras do autor
[] o jogo eacute uma atividade ou ocupaccedilatildeo volunshy
taacuteria exercida dentro de certos e determinados
limites de tempo e de espaccedilo segundo regras lishy
vremente consentidas mas absolutamente obrigashy
toacuterias dotado de um fim em si mesmo acompashy
nhado de um sentimento de tensatildeo e de alegria e
de uma consciecircncia de ser diferente da ldquovida quoshy
tidianardquo (H U IZ IN G A 2000 p 24)
Apesar de buscar se distanciar dos objetivos de satisfaccedilatildeo imeshy
diata da vida atraveacutes da criaccedilatildeo e praacutetica de diversos tipos de jogos
todo jogo desde as idades mais remotas ateacute os dias atuais eacute um
produto do ldquotrabalhordquo 2 e por isso estaacute subordinado agraves formas
histoacutericas assumidas pela atividade humana em diferentes modos de
produccedilatildeo social da existecircncia ldquoOs homens fazem sua histoacuteria mas
natildeo a fazem como querem natildeo a fazem sob circunstacircncias de sua
escolha e sim sob aquelas com que se defronta diretamente legadas
e transmitidas pelo passadordquo (MARX 1978 p 329)
Uma caracteriacutestica marcante em todos os jogos e brincashy
deiras eacute a existecircncia de uma situaccedilatildeo imaginaacuteria e de regras que
expliacutecita ou implicitamente ordenam e conduzem as accedilotildees dos
jogadores Como descreve Vygotsky (2007) no processo de deshy
senvolvimento das brincadeiras da crianccedila haacute um processo que
vai do jogo de papeacuteis com situaccedilotildees imaginaacuterias expliacutecitas e com
regras impliacutecitas aos jogos com regras expliacutecitas e situaccedilotildees imashy
ginaacuterias ocultas Para esse autor os jogos satildeo condutas que im ishy
tam as accedilotildees reais por isso sofrem influecircncia das relaccedilotildees sociais
num jogo de papeacuteis da crianccedila por exemplo a situaccedilatildeo imaginaacuteshy
ria incorpora elementos e regras de comportamento do contexto
cultural adquiridos por meio da interaccedilatildeo com os outros
2 O trabalho eacute para Marx e Engels (1989) a atividade vital e por excelecircncia humana a partir
dele o homem modifica intencionalmente a natureza para atender suas necessidades e cria
novas necessidades produzindo sua proacutepria vida Desse modo por meio do trabalho o
homem transforma ao mesmo tempo a si mesmo e as formas de se organizar socialmente
criando histoacuterica e coletivamente um mundo especificamente humano o mundo da cultura
Outro aspecto que merece ser destacado eacute que todo jogo tem sua
existecircncia em um tempo-espaccedilo relacionado agrave sua localizaccedilatildeo histoacuterishy
ca e geograacutefica De acordo com Kishimoto (2003) uma mesma conshy
duta pode ser jogo ou natildeo-jogo em diferentes culturas dependendo
do significado a ele atribuiacutedo Os brinquedos tambeacutem devem ser enshy
tendidos como objetos culturais pois natildeo podem ser compreendidos
fora do contexto histoacuterico e social em que foram criados Se para uma
crianccedila europeia a boneca significa um brinquedo para populaccedilotildees
indiacutegenas tem o sentido de siacutembolo religioso
Desse modo mesmo que o jogo seja compreendido como
uma accedilatildeo de livre expressatildeo da crianccedila a sua praacutetica cotidiana
revela formas diferenciadas de jogar de acordo com o modo de
organizaccedilatildeo do trabalho e da vida dos povos praticantes Orlick
(1978) destaca como os padrotildees de partilha das sociedades satildeo reshy
fletidos e reforccedilados nos jogos e brincadeiras infantis Atraveacutes deles
as crianccedilas aprendem os modelos de comportamento dos adultos e
vatildeo sendo preparadas para a vida em sociedade
Esse coletivo considera que para configurar o jogo como conshy
teuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ele deve ser tratado pedagogishy
camente tendo em vista uma aprendizagem que amplie o niacutevel de
compreensatildeo dos alunos sobre o mundo Para tal consideramos que
ter accsso ao conhecimento sistematizado sobre os jogos e brincashy
deiras eacute essencial para que as crianccedilas e jovens possam agir sobre a
realidade social de forma totalizante incluindo em suas possibilidashy
des de accedilatildeo a dimensatildeo luacutedica da produccedilatildeo cultural humana Nesse
sentido se apropriar da cultura jaacute produzida eacute fundamental para
explorar o jaacute existente e a partir daiacute criar o novo dando novos
sentidos e significados aos jogos e brincadeiras
Considerar os jogos como manifestaccedilotildees da cultura corporal signifishy
ca retraccedilaacute-Ios desde sua gecircnese desvendando como eles eram e como satildeo
hoje buscando uma intervenccedilatildeo consciente sobre a realidade
Sua importacircncia enquanto conteuacutedo da EF estaacute
na representaccedilatildeo das raiacutezes histoacutericas e culturais
de diversos povos bem como as transformaccedilotildees
ocorridas ao longo do tempo que possam ter cau-
sado modificaccedilotildees no modo como se joga detershy
minado jogo em vaacuterias partes do mundo Egrave imporshy
tante tambeacutem considerar o jogo em seu processo
de criaccedilatildeo recriaccedilatildeo e readaptaccedilatildeo levando-se em
conta as possiacuteveis influecircncias poliacuteticas econocircmishy
cas e sociais pelas quais tenha passado dando-lhe
uma nova configuraccedilatildeo e uma compreensatildeo criacutetishy
ca (BRITO 2006 p 61)
Desse modo deve-se privilegiar uma abordagem sobre os
jogos que possibilite o conhecimento de suas principais caracteshy
riacutesticas como forma de manifestaccedilatildeo especiacutefica da cultura corshy
poral e naacuteo de forma subordinada ao esporte A flexibilidade eacute a
palavra chave para entender o jogo quanto agraves regras organizaccedilatildeo
espaccedilo-tempo nuacutemero de jogadores nomeaccedilatildeo caraacuteter compeshy
titivo ou cooperativo (JU IZ DE FORA 2000)
O trabalho com os jogos e brincadeiras deve permitir a
compreensatildeo do processo de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo da culshy
tura bem como suas continuidades e modificaccedilotildees histoacutericas
De acordo com o Coletivo de Autores (1992) a elaboraccedilatildeo de
um programa desse conteuacutedo ao longo dos anos de escolarizaccedilatildeo
deve considerar a memoacuteria luacutedica da comunidade e oferecer o
conhecimento da diversidade de jogos e brincadeiras existentes
nas diferentes regiotildees do paiacutes e do mundo
A ideia motriz eacute entender que os jogos como criaccedilotildees humanas
que objetivam o prazer e o divertimento num dado contexto histoacuterico-
-social refletem mas tambeacutem podem forjar valores e comportamentos
Desse modo o trabalho com os jogos deve instrumentalizar os alunos
natildeo apenas para utilizar a cultura luacutedica mas tambeacutem compreendecirc-la
como produccedilatildeo humana passiacutevel de constante criaccedilatildeo e recriaccedilatildeo
Devido agrave necessidade de selecionar temas de relevacircncia social
que instrumentalizem os alunos para uma accedilatildeo criacutetica frente agrave realishy
dade nos debruccedilamos sobre uma forma especiacutefica de manifestaccedilatildeo
da praacutetica luacutedica dos indiviacuteduos na atualidade - os jogos eletrocircni-
cos- buscando tratar de sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na
sociedade capitalista e suas relaccedilotildees com os jogos tradicionais
Os games formas de manifestaccedilatildeo dos jogos na sociedade contemporacircnea
Em pleno seacuteculo XXI as crianccedilas ainda brincam de piques
jogos com bola jogos de tabuleiro dentre tantos outros de forshy
ma muito semelhante aos seus pais avoacutes e bisavoacutes A esses tipos
de jogos que foram capazes de atravessar o tempo chamamos
de jogos tradicionais Eles tecircm como caracteriacutesticas centrais o
fato de pertencerem ao domiacutenio puacuteblico e serem transmitidos de
geraccedilatildeo em geraccedilatildeo De acordo com Kishimoto (2003) os jogos
tradicionais satildeo considerados como parte da cultura popular e
expressam as formas de consciecircncia de um povo num dado moshy
mento histoacuterico Esses jogos satildeo transmitidos oralmente e por
incorporarem criaccedilotildees anocircnimas das geraccedilotildees que vatildeo se suceshy
dendo estatildeo sempre em transformaccedilatildeo
Com base nesta definiccedilatildeo podemos considerar que existe uma fashy
cilidade da apropriaccedilatildeo e vivecircncia dos jogos tradicionais que satildeo tiacutepicos
da regiatildeo de pertencimento do aluno mesmo que de forma fragmentashy
da e caoacutetica proveniente do senso comum Tal fato se daacute justamente por
entendermos que os jogos tradicionais antes de tudo satildeo populares a
cabo do termo ou seja tecircm uma ampla inserccedilatildeo na sociedade Outro
fator que garante essa popularidade eacute que eles satildeo transmitidos atraveacutes
das geraccedilotildees e para sua praacutetica natildeo eacute necessaacuterio nenhum material sofisshy
ticado Dessa forma o alijamento dos meios de produccedilatildeo e dos produshy
tos do trabalho da maior parte da populaccedilatildeo natildeo acaba por ser um fator
determinante apesar de central no acesso a esse patrimocircnio cultural da
humanidade que satildeo os jogos tradicionais ou populares3
Embora diversos jogos tradicionais possam ser aprendidos
praticados de forma gratuita e permaneccedilam muito presentes no
cotidiano das crianccedilas e adolescentes eles vecircm perdendo espaccedilo
3 Neste texto utilizaremos os termos jogos tradicionais e jogos populares como sinocircnimos devido
ao fato de ambos possuiacuterem a mesma dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo marcadas pela
produccedilatildeo coletiva e reproduccedilatildeo oral entre as geraccedilotildees o que nos permite consideraacute-los como
patrimocircnios da cultura popular De acordo com SANTOS (2009) os termos tradicional
popular e folclore representam o conhecimento sobre um jogo por parte majoritaacuteria da
populaccedilatildeo sendo esse conhecimento na maioria das vezes advindo do senso comum
)
sobretudo nas grandes cidades para os jogos eletrocircnicos formas
de expressatildeo dos jogos tipicamente contemporacircneas
Os jogos eletrocircnicos4 estatildeo presentes na praacutetica social cotidiashy
na das pessoas em escala mundial e fazem parte da vida de inuacutemeras
crianccedilas e adolescentes brasileiros mesmo daqueles para os quais
os jogos satildeo apenas desejos de consumo Os games estatildeo por toda
parte natildeo apenas nos aparelhos especiacuteficos para os jogos (consoles
e portaacuteteis) mas tambeacutem nos computadores ipads e telefones celushy
lares podendo ainda ser jogados pela internet em sites e nas redes
sociais Deve ser difiacutecil para as crianccedilas e jovens de hoje pensarem
que houve um tempo em que natildeo existiam jogos digitais
A histoacuteria dos jogos eletrocircnicos tem iniacutecio no final dos anos
de 1950 no contexto da guerra fria quando comeccedilam a ser criashy
dos protoacutetipos de videogames com a incorporaccedilatildeo da tecnoloshy
gia disponiacutevel na eacutepoca Um dos precursores do videogame foi
W illian Higinbotham um fiacutesico que atuava num laboratoacuterio nushy
clear e havia trabalhado no projeto da primeira bomba atocircmica
ele criou em 1958 um jogo eletrocircnico com linhas rudimentares
o tecircnis para dois Em 1966 eacute criado por Ralph Baer o primeiro
console caseiro o Magnavox Odissey (A ERA 2007)
Entretanto eacute a partir dos anos de 1970 acompanhando o desenvolvishy
mento dos computadores pessoais que os jogos eletrocircnicos se tornam mais
expressivos Em 1972 com a criaccedilatildeo do ldquoPongrdquo (fliperama que simula uma
partida de tecircnis de mesa) os games comeccedilam a ficar agrave disposiccedilatildeo do puacuteblishy
co em geral O seu desenvolvedor Nolan Bushenell percebeu o potencial
dos jogos eletrocircnicos como um negoacutecio e fundou a ATARI empresa que
marcou o surgimento da induacutestria do videogame (ALVES 2004)
Entre a deacutecada de 1970 e a deacutecada de 1980 devido agrave manifestashy
ccedilatildeo de uma crise ciacuteclica de superproduccedilatildeo do sistema capitalista tem
iniacutecio um processo que podemos chamar de mundializaccedilatildeo econocircmi-
4 Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais nos quais o jogador interage com imagens
enviadas a uma tela geralmente uma televisatildeo ou monitor Os games satildeo programas
(sofrwares) instalados ou acessados em um sistema eletrocircnicoaparelho preparado
para rodaacute-lo (Hardware) Existem vaacuterios gecircneros de jogos eletrocircnicos como jogos de
accedilatildeo (plataforma de corrida de tiro) de estrateacutegia de lutacombate de esporte de
simulaccedilatildeo Role Playing Games (RPG) e de tabuleiro
caJy em que o capital parte em busca de novas aacutereas visando explorar
condiccedilotildees mais rentaacuteveis de produccedilatildeo e expandir mercados consushy
midores E justamente nesse contexto que a induacutestria cultural ganha
impulso e os jogos eletrocircnicos satildeo disseminados pelos quatro cantos
do mundo com grande potencial de escoamento de mercadorias
Nas duas uacuteltimas deacutecadas fruto de uma germinaccedilatildeo iniciada no
poacutes-terceira revoluccedilatildeo industrial ou revoluccedilatildeo tecnocientiacutefica que
proporcionou o surgimento de atividades que empregam a alta tecshy
nologia como a informaacutetica a microeletrocircnica o avanccedilo das telecoshy
municaccedilotildees e a biotecnologia os jogos eletrocircnicos tecircm seguido e tamshy
beacutem contribuiacutedo com os avanccedilos tecnoloacutegicos Se compararmos os
primeiros games com os jogos de hoje constataremos que eles deram
grandes saltos qualitativos de graacuteficos bi para graacuteficos tridimensionais
que permitiram aperfeiccediloar e personalizar os enredos e personagens
atingindo uma qualidade de imagem som e movimento tatildeo bons que
os jogos mais parecem realidades virtuais As inovaccedilotildees tecnoloacutegicas
e criativas satildeo produzidas numa velocidade cada vez maior materiashy
lizando-se rapidamente numa nova mercadoria a ser comercializada
O mercado dos games eacute de alta lucratividade com projeccedilotildees
de faturamento no acircmbito mundial para 2013 de US$ 735 bilhotildees
e girando no mercado interno aproximadamente R$ 875 milhotildees
- valor referente ao ano de 2008 (ABRAGAMES 2008) Aleacutem da
venda de uma enxurrada de produtos relacionados agrave praacutetica dos joshy
gos eletrocircnicos existe uma espeacutecie de economia virtual com comshy
pra e venda de mercadorias e identidades digitais (avatares) 6
5 O termo mundializaccedilatildeo eacute utilizado por Chesnais (1996) com a intenccedilatildeo de diminuir
a falta de nitidez conceituai e o caraacuteter ideoloacutegico do termo globalizaccedilatildeo que sugere
a ideia de uma perspectiva integradora Para o autor o termo mundializaccedilatildeo permite
pensar melhor esta fase especiacutefica do processo de internacionalizaccedilatildeo do capital em
busca de regiotildees com recursos ou mercados visando sua valorizaccedilatildeo Neste processo de
liberalizaccedilatildeo econocircmica e financeira haacute um agravamento da polarizaccedilatildeo entre regiotildees
centrais e perifeacutericas do capitalismo tanto em escala internacional como nacional
6 Essa economia virtual eacute muito comum nos jogos on-line de representaccedilatildeo da vida real
como Farm Ville The Sims Social e Second Life O Second Life possui uma unidade
monetaacuteria proacutepria o Linden Dollar atraveacutes da qual as pessoas podem comprar quase
tudo dentro do jogo Em 2009 o site do jogo movimentou 549 milhotildees de doacutelares Soacute
no primeiro trimestre de 2010 as movimentaccedilotildees financeiras entre usuaacuterios chegaram
a 160 milhotildees de doacutelares e a arrecadaccedilatildeo da loja virtual oficial foi de 23 milhotildees
(LUCRATIVO 2010)
Aqui cabe uma reflexatildeo sobre a dinacircmica social que envolve a proshy
duccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos e suas diferenccedilas em relaccedilatildeo
aos jogos tradicionais Os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos acompashy
nhando os avanccedilos tecnoloacutegicos do momento e norteados pelo afatilde da
esteira mercadoloacutegica tornando-se obsoletos rapidamente Bem difeshy
rente dos jogos tradicionais que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo cm geraccedilatildeo
e apesar de sofrerem algumas modificaccedilotildees resistem ao teste do tempo
Desse modo podemos dizer que os jogos eletrocircnicos natildeo podem ser
considerados como populares pelo menos por dois motivos primeiro
pelo fato dos jogos de hoje natildeo serem os mesmos de amanhatilde e segunshy
do devido agrave exigecircncia de produtos especializados para a praacutetica dos
mesmos o que por si soacute jaacute os torna inacessiacuteveis a uma parcela signifishy
cativa da populaccedilatildeo que natildeo possui condiccedilotildees de consumo
Entretanto ao mesmo tempo em que existe uma ruptura entre esshy
ses dois tipos de jogos podemos notar uma estreita relaccedilatildeo entre eles jaacute
que muitos jogos eletrocircnicos satildeo na realidade versotildees virtuais de antigos
jogos tradicionais como os jogos de tabuleiro o boliche a queimada
os jogos de cartas os quebra-cabeccedilas entre outros O que sugere uma
perspectiva de continuidade na produccedilatildeo da cultura luacutedica
Temos como pressuposto baacutesico que o trabalho educativo
consiste em transmitir o conhecimento historicamente produzido
a fim de contribuir para que os nossos alunos possam ter acesso
aos conhecimentos mais desenvolvidos produzidos historicamenshy
te pela humanidade para que possam enriquecer-se como indishy
viacuteduos e atuarem como homens do seu tempo Entretanto aqui
evidenciamos uma grande contradiccedilatildeo da nossa sociedade pois
devido ao modo de produccedilatildeo capitalista esses conhecimentos que
os proacuteprios trabalhadores ajudaramajudam a construir lhes satildeo
negados7 No caso dos jogos eletrocircnicos apesar de existir uma
enorme difusatildeo sobre os mesmos vemos que a maioria da classe
trabalhadora natildeo tem real acesso a esta produccedilatildeo cultural
7 O acesso agraves tecnologias digitais aumentou nos uacuteltimos anos mas ainda eacute m uito
significativo o nuacutemero de pessoas sem acesso real a esses bens sociais De acordo
com o PNAD 2009 apenas 35 dos domiciacutelios brasileiros investigados tinham
microcomputador e somente 274 tinham arlaquolaquo -------M n
Esteban Clua - professor do departamento de computaccedilatildeo da
UFF- em entrevista concedida agrave Agecircncia Brasil destacou que o Brasil eacute
o quarto maior consumidor de jogos eletrocircnicos do mundo sendo que
existe uma massa de aproximadamente 39 milhotildees de usuaacuterios ativos
desses jogos ou seja aproximadamente 20 da populaccedilatildeo brasileira
(GANDRA 2011) Com base nisso cabe a noacutes lanccedilarmos algumas
perguntas que tipo de acesso eacute esse Quais fatores levam os outros 80
da populaccedilatildeo brasileira a natildeo jogarem E por que os jovens e crianccedilas
mesmo os que sequer tecircm as condiccedilotildees de garantir a sua subsistecircncia se
veem hipnotizadas por essas mercadorias
Os jogos eletrocircnicos como qualquer produccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo satildeo
bons nem ruins por natureza natildeo se trata de criticaacute-los de forma saudosista
mas de permitir aos alunos uma atuaccedilatildeo criacutetica e consciente frente a esses
jogos que auxilie a superar o fetiche da tecnologia e a alienaccedilatildeo frente agrave messhy
ma Quando tomadas como valores de uso a ciecircncia e a tecnologia estatildeo
a serviccedilo da melhoria das condiccedilotildees de vida e da possibilidade de dilatar o
tempo livre para que o homem produza novos sentidos para sua existecircncia
natildeo apenas pela necessidade de comer vestir dormir morar mas tambeacutem
por finalidades luacutedicas Nesse sentido Frigotto (2005) aponta que as tecshy
nologias satildeo como extensotildees dos sentidos e membros dos seres humanos
Mas sob as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo da sociedade capitalista o que era para
aumentar o tempo livre intensifica a exploraccedilatildeo e a alienaccedilatildeo
Com isso entendemos que natildeo haacute neutralidade no desenvolvimento
tecnoloacutegico pelo contraacuterio ele materializa-se em meio a todas as condenshy
saccedilotildees de forccedilas que permeiam a sociedade de classes Por isso apesar do
discurso que prega o acesso pleno agraves benesses do desenvolvimento capitashy
lista a natildeo democratizaccedilatildeo dos bens culturais produzidos pela humanidade
nos mostra o contraacuterio No caso dos jogos eletrocircnicos observamos que sua
dinacircmica de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo como mercadorias estaacute intimamente
ligada agrave loacutegica desigual e predatoacuteria do consumismo capitalista8
8 Os jogos eletrocircnicos como expressotildees culturais refletem a sociedade em que nascem mas
ao mesmo tempo tambeacutem ajudam a educar os consumidores passivos para esse padratildeo
civilizatoacuterio Kosik (1995) ajuda a refletir sobre essa dinacircmica dialeacutetica a partir do caso
da arte ldquotoda obra de arte apresenta um duplo caraacuteter em indissoluacutevel unidade eacute expressatildeo da realidade mas ao mesmo tempo cria a realidade uma realidade que natildeo existe fora da obra ou antes da obra mas precisamente na obrardquo (p 128)
Vale destacar que os grandes expoentes e exportadores histoacutericos
dos jogos eletrocircnicos satildeo as naccedilotildees imperialistas norte-americana e
japonesa Como reflexo disso carregam muitos dos valores tiacutepicos de
paiacuteses de capitalismo central como o individualismo a competiccedilatildeo
exacerbada o consumo desenfreado e a naturalizaccedilatildeo da violecircncia
Aliaacutes a questatildeo da violecircncia presente em diversos jogos eletrocircnicos
eacute uma das grandes polecircmicas que envolvem a praacutetica desses jogos No
que tange ao conteuacutedo violento dos games merecem destaque jogos
que pontuam a realizaccedilatildeo de crimes atropelamentos praacutetica de agresshy
sotildees em ambiente escolar perseguiccedilatildeo e morte de supostos terroristas
e os que simulam guerras e conflitos armados entre paiacuteses e povos Natildeo
eacute raro vermos mateacuterias jornaliacutesticas que associam o uso excessivo de
games a situaccedilotildees de violecircncia real o caso mais emblemaacutetico foi o masshy
sacre ocorrido em 1999 na Escola de Ensino Meacutedio Colombine em
Littleton no estado do Colorado (EUA)
De acordo com Alves (2004) a violecircncia como forma de linshy
guagem envolve ao mesmo tempo aspectos econocircmicos sociais
poliacuteticos culturais e afetivos por isso natildeo podemos adotar uma
atitude reducionista em culpar exclusivamente os jogos eletrocircnicos
pela violecircncia pois eles mesmos satildeo reflexotildeesprojeccedilotildees de uma
sociedade que banaliza a violecircncia A autora destaca tambeacutem que
uma questatildeo crucial a se pensar eacute que a violecircncia tem sido transshy
formada nas diversas miacutedias num grande espetaacuteculo por isso ela
vende e os adolescentes satildeo seduzidos pelas cenas de violecircncia para
consumirem produtos ldquoTanto a espetacularizaccedilatildeo quanto a este-
tizaccedilatildeo da violecircncia vecircm sendo bastante potencializadas nos jogos
eletrocircnicos em que a morte cada vez mais violenta passa a ser
sinocircnimo muitas vezes de grandes vendasrdquo (ALVES 2004 p 79)
Esse caraacuteter sedutor dos games de violecircncia eacute utilizado ateacute
pelas forccedilas armadas estadunidenses para estimular o alistamenshy
to militar e treinar recrutas Com esses objetivos o exeacutercito dos
EUA com a colaboraccedilatildeo do departamento de defesa norte-ame-
ricano criou o Americans Army um jogo de tiro em primeira
pessoa no qual os jogadores simulam combates militares reais
(IMASATO M ESQUITA 200$) O jogo disponibilizado grashy
tuitamente para o puacuteblico desde 04 de julho de 2002 possui
milhares dc jogadores pelo mundo todo inclusive no Brasil
Nesse exemplo os atos de agredirmatar personagens durante
o jogo natildeo satildeo utilizados apenas com sentidos luacutedicos mas tambeacutem
com a finalidade de criar nos jovens o desejo de realizar essas accedilotildees
na vida real A criaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de games como esse sem granshy
des criacuteticas por parte do puacuteblico permite visualizar o quanto a vioshy
lecircncia eacute vista com algo natural em nossa sociedade Com apoio nas
elaboraccedilotildees de Marx (1996) consideramos que a base dessa naturashy
lizaccedilatildeo satildeo as proacuteprias relaccedilotildees sociais capitalistas que transformam
tudo em mercadoria inclusive o trabalho humano fazendo parecer
que relaccedilotildees entre pessoas reais satildeo relaccedilotildees entre coisas
De um modo geral o homem cria instrumentos para satisfashy
zer suas necessidades dando sentidos humanos para as coisas mas
ao fazer isso gera novos interesses e necessidade transformando
sua proacutepria forma de viver Ou seja a tecnologia produzida pelo
homem passa a determinar suas accedilotildees e seu modo de vida Na
atualidade a criaccedilatildeo da rede mundial de computadores mudou
sensivelmente a forma de interaccedilatildeo entre as pessoas no caso dos
jogos eletrocircnicos a internet permitiu o compartilhamento de joshy
gos entre pessoas ao redor do mundo inteiro9 Desse modo os
jogos eletrocircnicos como criaccedilotildees humanas para satisfazer suas neshy
cessidades luacutedicas modificam o modo como os homens satisfazem
essas mesmas necessidades alterando os espaccedilos-tempos outrora
ocupados pelos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais
Nas grandes cidades convivemos com a falta de espaccedilos puacuteblishy
cos para brincar com o tracircnsito intenso com o alto grau de violecircnshy
cia e poluiccedilatildeo entre outros fatores que favorecem a diminuiccedilatildeo do
tempo destinado agraves experiecircncias corporais reais e sua substituiccedilatildeo
parcial ou total por praacuteticas virtuais como as possibilitadas pelos
9 Os jogos Massively Multiplayer on-line (M M Os) possibilitam vaacuterias pessoas
competirem pela internet criando comunidades de gamers gerando um novo modelo
de interatividade via jogos eletrocircnicos Nesse modelo as pessoas representam uma
segunda identidade e se relacionam atraveacutes dela Aleacutem disso existem torneios esportivos
multiplayer que permitem transformar esses games em profissatildeo (A ERA 2007)
jogos eletrocircnicos Os consoles mais modernos permitem inclusive
novas experiecircncias interativas com o corpo onde praacuteticas corporais
- como jogos tradicionais esportes danccedilas lutas e ginaacutestica - poshy
dem ser feitas dentro de um jogo virtual ressignificando a proacutepria
forma de vivecircncia da cultura corporal dentro e fora das telas
Os jogos eletrocircnicos tambeacutem tecircm sido produzidos e utilishy
zados para propoacutesitos que ultrapassam a diversatildeo Nesse sentishy
do merece destaque uma rede internacional chamada Game for change trata-se de uma organizaccedilatildeo social sem fins lucrativos
criada em 2004 nos EUA e com filiais na Europa Aacutesia e Ameacuterishy
ca Latina O objetivo dessa organizaccedilatildeo eacute promover a pesquisa
criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de jogos digitais que contribuam com
mudanccedilas sociais Os jogos satildeo elaborados por sistemas de parshy
cerias e seu conteuacutedo eacute sempre educativo levando o jogador a
buscar soluccedilotildees para problemas econocircmicos ambientais e diploshy
maacuteticos Os melhores games satildeo premiados em um festival que
reuacutene representantes do governo e da sociedade civil10
Desse modo consideramos que abordar as manifestaccedilotildees
contemporacircneas dos jogos eacute essencial para que os alunos possam
atuar como sujeitos de seu tempo tambeacutem na esfera luacutedica No
caso dos jogos eletrocircnicos eacute preciso tratar de sua historicidade
abordando as diversas geraccedilotildees de jogos que apesar de envolshy
verem conhecimentos coletivos se tornam privileacutegio de poucos
na dinacircmica de produccedilatildeo capitalista Para aleacutem do mundo do
entretenimento os games tecircm cumprido funccedilotildees econocircmicas
poliacuteticas e educativas que precisam ser abordadas para uma comshy
preensatildeo mais ampla das relaccedilotildees nem sempre evidentes entre o
real e o virtual no mundo dos jogos
10 Apesar de ser considerado um avanccedilo em relaccedilaacuteo aos games estritamente comerciais por
abordar problemaacuteticas de fundo social alertamos que esses jogos buscam na conciliaccedilatildeo
de classes as soluccedilotildees para problemas extremamente complexos e muitos originados
reforccedilados pelas proacuteprias relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo capitalista alinhando-se portanto
agrave ideologia da responsabilidade Em linhas gerais o objetivo dessa ideologia desenvolvida
a partir do final dos anos de 1990 em consonacircncia com o neoliberalismo de terceira via
eacute articular as accedilotildees do empresariado em torno das questotildees sociais buscando construir
conscnsos entre as classes e suas fraccedilotildees de modo a garantir o processo de dominaccedilatildeo
capitalista por meio do convpnr im pnm IacuteW A B T IM C iacutenno
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com os jogos eletrocircnicos
As crianccedilas e jovens cotidianamente se divertem consomem
e interagem atraveacutes dos jogos eletrocircnicos que natildeo satildeo apenas
brinquedos pois satildeo formas de expressatildeo de sentimentos e deshy
sejos das novas geraccedilotildees Por isso concordamos com Silveira e
Torres (2007) que adotar apenas uma atitude normativa e conshy
troladora em relaccedilatildeo aos jogos eletrocircnicos sem abordar aspectos
teacutecnicos poliacuteticos econocircmicos e eacuteticos que envolvem essa forma
de expressatildeo dos jogos prejudica o desenvolvimento de uma vishy
satildeo criacutetica frente a essa produccedilatildeo cultural
Com a intenccedilatildeo de contribuir para a superaccedilatildeo desses limites
construiacutemos uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos dishy
recionada aos alunos do 7o ano do ensino fundamental Com emshy
basamento na Pedagogia histoacuterico-criacutetica dividimos didaticamente
essa experiecircncia em cinco passos buscando envolver os educandos
no processo de ensino-aprendizagem e propiciar um percurso edushy
cativo que amplie sua compreensatildeo e accedilatildeo sobre o tema
No primeiro momento identificaccedilatildeo da praacutetica social buscashy
mos apresentar os conteuacutedos que seratildeo abordados dentro da unidashy
de e como eles se expressam na praacutetica cotidiana dos alunos Para
que os alunos identifiquem o tema seraacute apresentada uma sequecircncia
de imagens sobre os jogos eletrocircnicos e os alunos seratildeo questionashy
dos sobre o que jaacute sabem e o que gostariam de aprender sobre esses
tipos de jogos Logo em seguida seratildeo apresentados os toacutepicos de
conteuacutedos abordados na unidade a saber conceito de jogos eletrocircshy
nicos os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos a virtualizaccedilatildeo
dos jogos tradicionais os games como grande negoacutecio e os desafios
e possibilidades trazidos pelos games na atualidade
Na problematizaccedilatildeo inicialmente seratildeo debatidas quesshy
totildees que buscaratildeo despertar a curiosidade dos alunos pelo tema
como quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem
Como as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por
que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia Em seguishy
da seratildeo lanccediladas questotildees-problemas que articulam a praacutetica
social concreta dos alunos com o conteuacutedo tratado na unidade
As questotildees foram orientadas com base em diversas dimensotildees
do conteuacutedo a saber conceituai histoacuterica cultural poliacuteticas
econocircmicas social e eacutetica conforme pode ser visto no plano de
unidade apresentado a seguir
A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento de apropriaccedilatildeo do coshy
nhecimento sistematizado a fim de que os alunos ampliem sua
compreensatildeo sobre as problematizaccedilotildees lanccediladas Para tal seratildeo
desenvolvidas accedilotildees como discussotildees debates experimentaccedilatildeo
de jogos na forma tradicional e eletrocircnica aulas expositivas e
apresentaccedilatildeo de documentaacuterios Nessa etapa a falta de recursos
como aparelhos especiacuteficos para jogos eletrocircnicos pode ser subsshy
tituiacuteda por versotildees de jogos para computadoresaparelhos celulashy
res e ou transformaccedilatildeo de jogos virtuais em jogos reais
Na catarse momento no qual os alunos devem ser capazes
de responder as questotildees-problemas com base no conhecimento
sistematizado eles participaratildeo de um quiz educativo sobre jogos
eletrocircnicos com a intenccedilatildeo de auxiliaacute-los na elaboraccedilatildeo de uma
siacutentese entre o saber cotidiano e o conhecimento cientiacutefico Nosshy
sa expectativa eacute que os alunos compreendam as principais caracshy
teriacutesticas dos jogos eletrocircnicos como uma forma de manifestaccedilatildeo
dos jogosbrincadeiras tipicamente contemporacircnea
Ao final do trabalho buscando um retorno agrave praacutetica social os alunos seratildeo estimulados a pocircr em accedilatildeo a nova visatildeo sobre
o conteuacutedotema em tela Nesse sentido seraacute proposta a consshy
truccedilatildeo de um blog que socialize os conhecimentos apreendidos
sobre os jogos eletrocircnicos e a realizaccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo sobre
o desenvolvimento histoacuterico dos jogos eletrocircnicos
Plano de Unidade Os jogos eletrocircnicos e a sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na sociedade contemporacircnea
Conteuacutedo jogos
Turmas 7o ano
Nuacutemero de aulas 12
Objetivo Geral Compreender a dinacircmica social que envolve a
produccedilatildeo e a reproduccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos permitindo o uso
criacutetico desses jogos nos momentos de lazer
1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL
11 Anuacutencio do conteuacutedo
Toacutepicos de conteuacutedo c objetivos especiacuteficos
bull Toacutepico 1 O que satildeo jogos eletrocircnicos
Objetivo especiacutefico Conceituar os jogos eletrocircnicos e
suas formas de manifestaccedilatildeo para distingui-los de oushy
tros tipos de jogos em especial dos jogos tradicionais
bull Toacutepico 2 Os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos
Objetivo especiacutefico Conhecer a origem e as transforshy
maccedilotildees histoacutericas dos jogos eletrocircnicos buscando
entender a influecircncia do contexto histoacuterico e do
avanccedilo tecnoloacutegico na configuraccedilatildeo desses jogos
bull Toacutepico 3 A virtualizaccedilatildeo dos jogos tradicionais
Objetivo especiacutefico Identificar jogos eletrocircnicos insshy
pirados em jogos tradicionais a fim de entender as
relaccedilotildees entre os dois tipos de jogos como produshy
ccedilotildees culturais luacutedicas
bull Toacutepico 4 Os games como um grande negoacutecio
Objetivo especiacutefico Compreender o processo de proshy
duccedilatildeo disseminaccedilatildeo e consumo dos jogos eletrocircnicos
a fim de compreender os papeacuteis econocircmicos poliacuteshy
ticos e sociais assumidos por esses jogos
bull Toacutepico 5 Geraccedilatildeo game over desafios e possibilidades11
Objetivo especiacutefico Reconhecer os benefiacuteciosmalefiacuteshy
cios trazidos pela praacutetica regular dos jogos eletrocircnicos e
suas possibilidades para a cultura corporal permitindo
o uso consciente e equilibrado desses jogos nos moshy
mentos de lazer
12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos
bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Os jogos
eletrocircnicos podem ser jogados em aparelhos proacuteprios
computadores e celulares existem games para jogar
sozinho em dupla e em grupo as pessoas mais velhas natildeo
brincavam com esses jogos
bull O que gostariam de saber mais Por que os jogos eletrocircnicos
satildeo conteuacutedos da Educaccedilatildeo Fiacutesica Quais os jogos eletrocircnicos
mais conhecidos
2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO
21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo
Quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem Como
as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por que os jogos
eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia
11 Elaboramos esse uacuteltimo toacutepico de conteuacutedo de forma bem flexiacutevel para que possa atender
as demandas que surgirem e ser abordado de acordo com recursos disponiacuteveis para seu
desenvolvimento Por isso na instrumentalizaccedilatildeo relativa a esse toacutepico apresentamos
diversas possibilidades de accedilotildees e recursos
12 Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
QUESTOtildeES PROBLEMATIZADORAS
Conceituai
O que satildeo jogos eletrocircnicos Que tipos de jogos eletrocircnicos
existem Os jogos eletrocircnicos podem ser considerados como
ldquojogos popularesrdquo
Histoacuterica
As brincadeiras e as formas de se divertir mudaram com o
passar do tempo Quando surgiram os jogos eletrocircnicos
Qual eacute a origemhistoacuteria de alguns dos principais jogos eleshy
trocircnicos Por que eles sempre mudam
Social
Por que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns atualmente
Quais finalidades sociais eles tecircm cumprido Quais as possishy
bilidades de uso criacutetico dos games
Econocircmica
Como os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos c distribuiacutedos
Haacute faacutecil acessibilidade a todos para vivenciar esses jogos
Quanto custam os aparelhos e miacutedias para acesso aos jogos
eletrocircnicos Existe uma economia virtual
Poliacutetica
Existem espaccedilos puacuteblicos apropriados para brincar e jogar
com seguranccedila em nossa cidade Existem espaccedilos puacuteblicos
para jogar jogos eletrocircnicos
Eacutetica
Quais valores podem ser evidenciados nos jogos eletrocircnicos
Os jogos satildeo violentos Existem jogos eletrocircnicos criacuteticos
aos valores sociais Existem games cooperativos
Cultural
Os jogos eletrocircnicos satildeo difundidos em todas as culturas
Existem jogos eletrocircnicos universais Os jogos mais comuns
variam de paiacutes para paiacutes e de regiatildeo para regiatildeo Qual a relashy
ccedilatildeo entre os jogos eletrocircnicos e os jogos tradicionais
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
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4) SIacuteNTESE SUPERIOR
41 Siacutentese teoacuterica do aluno
Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais de variados gecircneros
que necessitam de aparelhos eletrocircnicos com tecnologias especiacuteshy
ficas para serem jogados Apesar de muitos desses jogos serem reshy
sultado da virtualizaccedilatildeo de jogos tradicionais eles naacuteo podem ser
considerados jogos populares pois satildeo produzidos e distribuiacutedos
sob a forma de mercadorias (conceituai e cultural) Os jogos eleshy
trocircnicos estabelecem uma relaccedilatildeo estreita com o contexto no qual
foram criados incorporando diversos avanccedilos tecnoloacutegicos que
permitem a constante ampliaccedilatildeo da qualidade de imagem som e
movimento dos mesmos (histoacuterica) Na atualidade a forma de orshy
ganizaccedilatildeo das grandes cidades o aumento da violecircncia e a falta de
espaccedilos puacuteblicos para o lazer tecircm favorecido a substituiccedilatildeo parcial
ou total dos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais por jogos
eletrocircnicos (soacutecio-poliacutetica) Os jogos eletrocircnicos satildeo muito divulshy
gados pela miacutedia de massas e datildeo grandes lucros agrave induacutestria cultushy
ral enquanto a grande maioria das crianccedilas ainda natildeo tenha acesso
pleno a essas produccedilotildees pois a dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo
desses jogos se insere no mundo das mercadorias (soacutecio-econocircmi-
ca) Os jogos eletrocircnicos estatildeo inseridos na contraditoacuteria dinacircmica
capitalista e por isso refletem valores sociais como a violecircncia e a
competitividade mas tambeacutem podem forjar outros valores como a
cooperaccedilatildeo e a solidariedade (eacutetica)
42- Expressatildeo da siacutentese
Participar de um quiz de perguntas e respostas sobre os jogos
eletrocircnicos buscando expressar o que foi apreendido durante as aulas
i) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL
Quadro 3- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
ACcedilOacuteES DO ALUNO
Registrar e divulgar os conhecimentos
apreendidos sobre os jogos eletrocircnicos
1 - Construir e divulgar um blog
sobre os jogos eletrocircnicos (conshy
teuacutedo histoacuteria tipos de jogos
benefiacutecios problemas links e esshy
paccedilos para jogar gratuitamente)
Contribuir para a criaccedilatildeo de espaccedilos-
-tempos destinados agrave discussatildeo sobre
os games
2 - Montar uma exposiccedilatildeo que
funcione como linha do tempo
dos jogos
Ampliar os conhecimentos sobre os
jogos eletrocircnicos
3 - Pesquisar mais sobre os jogos
eletrocircnicos
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees finais
A concretizaccedilatildeo de uma proposta de ensino com os jogos eletrocircshy
nicos eacute sem duacutevidas um grande desafio seja pela falta de recursos adeshy
quados seja pela dificuldade em trabalhar com as novas tecnologias e
ateacute pela resistecircncia da comunidade escolar ao tratamento desse tema
pela escola Entretanto defendemos que abordar os games como exshy
pressotildees contemporacircneas dos jogos e brincadeiras eacute imprescindiacutevel se
pretendemos que nossos alunos compreendam a realidade em que vishy
vem e atuem como sujeitos do seu proacuteprio tempo
Com base nessa constataccedilatildeo a nossa intenccedilatildeo foi abrir o diaacutelogo
sobre as possibilidades de trabalho com os jogos eletrocircnicos como conteshy
uacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica Nesse sentido a experiecircncia pedagoacutegica
descrita nesse artigo buscou abordar os jogos eletrocircnicos em suas muacuteltishy
plas dimensotildees visando contribuir para que os alunos reconheccedilam essa
nroducatildeo cultural luacutedica como construccedilatildeo de homens e mulheres reais
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CAPIacuteTULO IV
AS RELACcedilOtildeES ENTRE ESPORTE E SAUacuteDE NO CAPITALISMO TEM ATIZANDO CONTRADICcedilOtildeES NA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR
Carlos Eduardo de Souza
Leonardo Docena Pina
Mocircnica Jardim Lopes
De maneira mais ou menos intensa o esshy
porre se apresenta de diferentes formas em nossa
vida Seja atraveacutes da televisatildeo de jornais de reshy
vistas ou da proacutepria praacutetica de diferentes modashy
lidades nos relacionamos quase que diariamente
com o esporte Poreacutem a relaccedilatildeo que estabeleceshy
mos em nosso cotidiano com essa manifestaccedilatildeo
cultural natildeo proporciona sua real compreensatildeo
E por isso que muitos lidam com o esporte diashy
riamente sem compreender sua relaccedilatildeo com os
processos histoacutericos Da mesma forma muitos
acabam por reproduzir a noccedilatildeo dominante exshy
pressa na ideia de que esporte promove sauacutede
Iniciamos o texto com essa reflexatildeo por
consideraacute-la importante para discutirmos o
ensino do esporte na escola Afinal por que eacute
importante ensinar esporte nas aulas de Edushy
caccedilatildeo Fiacutesica se este jaacute estaacute presente em nosso
dia a dia fora da escola Seria o ensino do esshy
porte realmente necessaacuterio aos alunos
A resposta a essas questotildees nos remete
inicialmente ao fato de que desde a deacutecada
de 1990 com a divulgaccedilatildeo da perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a
cultura corporal (COLET IVO DE AUTORES 1992) foi ampliashy
da a possibilidade de relacionar a Educaccedilatildeo Fiacutesica com a formaccedilatildeo
de sujeitos histoacutericos capazes de compreender a realidade de modo
a nela intervir criticamente Orientada na Pedagogia histoacuterico-criacuteti-
ca (SAVIANI 2005a) tal perspectiva trouxe novas formas de aborshy
dagem dos conteuacutedos As aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica antes pensadas
com o objetivo de desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica de treinamenshy
to teacutecnico de recreaccedilatildeo de aprendizagem motora dentre outros
puderam ser superadas por uma nova tarefa de transmissatildeo do saber
sistematizado necessaacuterio agrave compreensatildeo da realidade
Para alcanccedilar a nova tarefa a que se propotildee a perspectiva
da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal os conteuacutedos passashy
ram a demandar uma tematizaccedilatildeo criacutetico-superadora No caso da
manifestaccedilatildeo cultural que nos propomos a refletir no presente
capiacutetulo as indicaccedilotildees do Coletivo de Autores (1992) fornecem
a base para trataacute-la pedagogicamente de modo a superar as caracshy
teriacutesticas impostas pela sociedade capitalista Imprim ir um novo
sentidosignificado ao esporte implica a consideraccedilatildeo de alguns
elementos jaacute retomados por Assis (2001) Um deles eacute a necesshy
sidade de realizar uma leitura criacutetica do esporte sobretudo para
compreender as mediaccedilotildees que o integram agraves relaccedilotildees sociais de
produccedilatildeo da existecircncia humana Sem refletir criticamente sobre
o esporte corre-se o risco de natildeo compreender sua funccedilatildeo na
reproduccedilatildeo do capitalismo ou de desconsiderar a possibilidade
de esse fenocircmeno cultural servir a outro projeto de sociedade
Outro aspecto reside na necessidade de consideraacute-lo um
conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica A constataccedilatildeo de que o esporte vishy
nha atendendo historicamente aos interesses dominantes fez com
que alguns professores se distanciassem do ensino do esporte na
escola Na verdade por considerar que o esporte relaciona-se ao
processo de reproduccedilatildeo do capitalismo natildeo pretendemos afastaacute-
-lo da educaccedilatildeo escolar Pelo contraacuterio ressaltamos a necessidade
de tematizaacute-Io na escola visto que a transmissatildeo do saber objeshy
tivo historicamente acumulado sobre essa praacutetica cultural pode
se transformar em instrumento cultural de luta contra as forshy
mas de dominaccedilatildeo a que estatildeo submetidos os membros da classe
trabalhadora ainda hoje Daiacute a defesa do Coletivo de Autores
(1992) para desmitificar o esporte atraveacutes da oferta na escola
do conhecimento que permita aos alunos criticaacute-lo dentro de um
determinado contexto histoacuterico
Conforme afirma Assis (2001) o esporte traz consigo possishy
bilidades contraditoacuterias de modo que eacute possiacutevel enfatizar situashy
ccedilotildees que privilegiam a solidariedade sobre a rivalidade o coletivo
sobre o individual a autonomia sobre a submissatildeo a cooperaccedilatildeo
sobre a disputa a distribuiccedilatildeo sobre a apropriaccedilatildeo a abundacircncia
sobre a escassez a confianccedila muacutetua sobre a suspeita a descon-
traccedilatildeo sobre a tensatildeo a perseveranccedila sobre a desistecircncia e ainda
a vontade de continuar jogando em contraposiccedilatildeo agrave pressa para
terminar a partida e configurar resultados
A partir desses apontamentos torna-se possiacutevel afirmar que o
ensino desse conteuacutedo pode permitir aos alunos a apropriaccedilatildeo das
formas mais desenvolvidas do saber objetivo sobre o esporte que se
encontra acumulado na cultura Compreender o esporte demanda a
apropriaccedilatildeo do conhecimento jaacute produzido sobre ele Tal apropriashy
ccedilatildeo possibilita a compreensatildeo de suas contradiccedilotildees e consequenteshy
mente estabelecer novas relaccedilotildees com essa manifestaccedilatildeo cultural
Conforme afirma Saviani (2006) dominar a cultura erudita
eacute necessaacuterio aos membros da classe trabalhadora para que possam
fazer valer os seus interesses jaacute que a classe dominante faz uso
exatamente dos conteuacutedos culturais para legitimar e consolidar
sua dominaccedilatildeo Redirecionando essa reflexatildeo para o ensino do
esporte podemos concluir que o domiacutenio do conhecimento sisshy
tematizado sobre essa manifestaccedilatildeo cultural tambeacutem se constitui
como instrumento indispensaacutevel uma vez que os conhecimentos
adquiridos no cotidiano tendem a ser insuficientes para atuaccedilatildeo
dos indiviacuteduos enquanto sujeitos da histoacuteria
Esporte sauacutede e o modo vidatrabalho no capitalismo
Embora seja muito propagada atualmente sobretudo pela atushy
accedilatildeo de governos e Organismos Internacionais como a Organizaccedilatildeo
das Naccedilotildees Unidas (ONU) o Banco Mundial (BM) e o Fundo Moshy
netaacuterio Internacional (FMI) a ideologia que afirma de forma mecacircshy
nica o esporte como sauacutede carece de anaacutelise concreta da realidade
onde estatildeo inseridas as classes fundamentais1 Na perspectiva que
sustenta nosso estudo o entendimento do esporte da sauacutede e da posshy
siacutevel relaccedilatildeo entre esses dois temas soacute pode ser alcanccedilado se forem
confrontados e aferidos no conjunto da dinacircmica das relaccedilotildees sociais
existentes no modo vidatrabalho capitalista
O fenocircmeno cultural ldquoesporterdquo toma forma no seacuteculo XVIII no
periacuteodo de revoluccedilatildeo e afirmaccedilatildeo da burguesia enquanto classe domishy
nante Segundo Hobsbawm (1988) o esporte foi ldquoformalizado em torshy
no dessa eacutepoca na Inglaterra que lhe ofereceu o modelo e o vocabulaacuteshy
rio alastrou-se como um incecircndio aos demais paiacutesesrdquo (p 255) sendo
tambeacutem fruto segundo Bracht (2005) de ldquomodificaccedilatildeo poderiacuteamos
dizer de esportivizaccedilatildeo de elementos da cultura corporal de movimento
das classes populares inglesas como os jogos popularesrdquo (p 13) cuja
funccedilatildeo era basicamente de comemorar ou festejar datas
Foi tambeacutem nessa eacutepoca - da revoluccedilatildeo industrial - que os trabashy
lhadores passaram a conhecer o chamado ldquotempo livrerdquo que era exashy
tamente o tempo no qual se encontravam livres das obrigaccedilotildees fabris
0 preenchimento desse tempo para promover melhorias no trabalho
produtivo e na conformaccedilatildeo ideoloacutegica para uma melhor extraccedilatildeo da
mais-valia deveria abarcar valores e concepccedilotildees de mundo proacuteprias de
uma burguesia emergente (SILVA 1994) Tais valores se expressavam
diretamente no esporte uma vez que permitia o desenvolvimento de
1 Quando uma pequena parcela dos homens toma para si os meios de produccedilatildeo criam-se
contraditoriamente na sociedade duas classes a dos que detecircm os meios de produccedilatildeo e
aqueles que necessitam vender o uacutenico bem que lhes restou sua Forccedila de trabalho Essa
relaccedilatildeo contraditoacuteria e conflitante enrre os homens requer formas de dominaccedilatildeo por
exemplo as ideologias Entendendo ldquoideologiardquo natildeo como ilusatildeo ou supersticcedilatildeo mas
uma forma material especiacutefica de consciecircncia social (MESZAROS 2004)
determinadas formas de pensar e agir a exemplo da lealdade senso
de responsabilidade esforccedilo pessoal espiacuterito de equipe dentre outros
(TAFFAREL SANTOS JUN IOR 2009)
Proni (2002) ao traduzir a concepccedilatildeo de esporte desenvolvida
por Brohm cria um trabalho fecundo de elementos para compreshy
ensatildeo desse tema Segundo o autor a hipoacutetese central de Brohm se
sustenta no entendimento de que o sistema esportivo moderno eacute o
reflexo da universalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo da forma de vida predomishy
nante que tem sua origem na economia capitalista na qual impera
o espiacuterito industrial a mentalidade do rendimento e do ecircxito ldquoO
intercacircmbio de mercadorias e de capital tiveram como consequecircncia
o intercacircmbio de ideias e a difusatildeo de praacuteticas esportivasrdquo (PRONI
2002 p 38) Ainda segundo o autor satildeo quatro fatores que Brohm
diz ser responsaacuteveis pelo desenvolvimento do esporte
(a) O aumento do tempo livre e o desenvolvimento do
oacutecio (que ocupa um lugar de destaque na civilizaccedilatildeo do
lazer) (b) a universalizaccedilatildeo dos intercacircmbios medianshy
te os transportes e os meios de comunicaccedilatildeo de massa
(o esporte converte-se em ldquomercadoria culturalrdquo graccedilas
a sua natureza comospolita) (c) revoluccedilatildeo teacutecnico -
cientiacutefica (que reflete-se na busca da eficiecircncia corposhy
ral nos novos materiais e equipamentos inclusive no
surgimento de novas modalidades esportivas) (d) e a
revoluccedilatildeo democraacutetico mdash burguesa e o enfrentamento
das naccedilotildees no plano internacional (isto eacute a dinacircmica
poliacutetico mdash ideoloacutegica) (PRONI 2002 p 39)
O esporte dentro dessa perspectiva carrega os valores e os pashy
drotildees de desenvolvimento do Estado liberal Difunde uma forma
de conviacutevio e inspira desejos de mudanccedilas individuais Aproxima
as classes sociais ocultando o antagonismo poliacutetico-econocircmico e
a relaccedilatildeo de exploraccedilatildeo existente entre elas Ou seja um produto
da sociedade industrial que vem servindo em larga medida como
elemento de difusatildeo do ideaacuterio e dos interesses da classe dominanshy
te Assim para Brohm a essecircncia do esporte
eacute a ideologia democraacutetica tiacutepica de uma sociedade
que precisa cultivar um ideal humanitaacuterio (liberdade
igualdade fraternidade) e ao mesmo tempo velar suas
estruturas de classe e seus mecanismos de dominaccedilatildeo
Por isso o autor enfatiza o papel da instituiccedilatildeo esporshy
tiva como estrutura simboacutelica e aparato ideoloacutegico do
Estado (PRONI 2002 p 39-40)
Desse modo Brohm iraacute concluir que o esporte eacute por excelecircnshy
cia algo nefasto para os trabalhadores servindo unicamente para
o fortalecimento das forccedilas e da identidade burguesa (BRACHT
2005) Essa se torna uma visatildeo estreita da realidade Considerashy
mos que a cultura esportiva de fato carrega os valores capitalistas
e nesse sentido tem servido como instrumento a serviccedilo da domishy
naccedilatildeo burguesa Mas isso natildeo eacute tudo Acreditamos que a anaacutelise do
esporte de forma mais profiacutecua deve ser aferida no conjunto das
contradiccedilotildees que envolvem a relaccedilatildeo capital-trabalho E na luta
de classes que as culturas vatildeo se amoldando Portanto o esporte
natildeo eacute uma instituiccedilatildeo que paira acima dos conflitos sociais natildeo
sendo em si nem ldquobom nem ldquoruimrdquo Trata-se da expressatildeo de uma
condensaccedilatildeo de forccedilas na qual hegemonicamente os valores da
classe burguesa sobressaem em relaccedilatildeo aos da classe trabalhadora
Nos dias de hoje a articulaccedilatildeo do esporte com os interesshy
ses da classe dominante pode ser evidenciada pela relaccedilatildeo co-
mumente estabelecida entre a praacutetica de esporte e a obtenccedilatildeo de
sauacutede Exemplo disso eacute a defesa da O N U de que as principais
causas de ateacute 60 das mortes no mundo estatildeo ligadas a pessoas
inativas e que o esporte e a Educaccedilatildeo Fiacutesica ldquosatildeo cruciais para a
vida longa e saudaacutevel O esporte melhora a sauacutede e o bem-estar
aumenta a expectativa de vida e reduz o risco de vaacuterias doenccedilas
natildeo-transmissiacuteveis incluindo a doenccedila cardiacuteacardquo (ON U 2003 p
7 traduccedilatildeo nossa) aleacutem de ser essencial para manter a ldquosauacutede da
menterdquo e construir ldquovaliosas conexotildees sociaisrdquo
Segundo Delia Fonte e Loureiro (1997) eacute a visatildeo funcionalista
sobre a sauacutede que permite afirmar a praacutetica de esporte como soluccedilatildeo
para os malefiacutecios da vida moderna Para os autores essa afirmaccedilatildeo
demonstra a superficialidade com a qual tem se abordado o tema sauacuteshy
de Na visatildeo funcionalista as doenccedilas ou ldquomorbidadesrdquo natildeo tecircm nada
a ver com as relaccedilotildees sociais concretas e sim com um desvio dos indishy
viacuteduos ou seja uma natildeo adesatildeo consciente a haacutebitos mais saudaacuteveis
Delia Fonte e Loureiro (1997) nos ajudam a entender a rashy
zatildeo que leva os Organismos Internacionais a difundir tais com-
preensotildees sobre o tema Conforme afirmam os autores
a estrutura social capitalista determina e legitima vaacuterias
ideacuteias valores e atitudes altamente patoloacutegicos Por um
processo de naturalizaccedilatildeo essas patologias saacuteo apresenshy
tadas como inerentes ao ser humano Longe de serem
compreendidas como patologias elas satildeo tidas como
qualidades Assim aceita-se como normal a busca do
lucro como objetivo de toda atividade econocircmica a exshy
ploraccedilatildeo do homem pelo homem o individualismo a
competitividade e a ambiccedilatildeo como valores modernos a
repressatildeo de ideacuteias e sentimentos rotulados como tabus
a satisfaccedilatildeo imediata de desejos como traduccedilatildeo da felishy
cidade a reificaccedilatildeo das pessoas e das relaccedilotildees sociais e a
alienaccedilatildeo (DELLA FONTE LOUREIRO 1997 p 2)
Em outras palavras o modo de vidatrabalho ainda sob a eacutegide
de uma sociedade classista conserva uma estrutura de poder e uma
poliacutetica mundial de grandes impactos no que concerne agrave sobrevivecircnshy
cia dos indiviacuteduos Nessa direccedilatildeo a preocupaccedilatildeo dos Organismos Inshy
ternacionais consiste tambeacutem em criar ideologias capazes de situar
os indiviacuteduos como uacutenicos culpados ou responsaacuteveis pelo seu estado
de sauacutede independentemente de suas condiccedilotildees de vidatrabalho
Os riscos derivados do modo capitalista de produccedilatildeo da
existecircncia humana satildeo diversos e ligados a inuacutemeras causas tais
como aqueles provenientes do ambiente de trabalho como rashy
diaccedilotildees ruiacutedos frio e calor intenso pressotildees anormais umidade
poeiras gases vapores compostos quiacutemicos esforccedilo fiacutesico intenshy
so controle de alta produtividade trabalho noturno monotoshy
nia trabalho repetitivo maacutequinas e estruturas mal conservadas
entre outros (SOUZA 2011) Vale destacar que ateacute mesmo os
esportistas de alto rendimento sentem os efeitos degradantes do
trabalho no capitalismo o que pode ser expresso natildeo apenas pelo
alto iacutendice de lesotildees mas tambeacutem pelo uso de substacircncias preshy
judiciais agrave sauacutede voltadas ao a u m e n rn Alt c mdash
a isso outros problemas como o aumento do iacutendice de depresshy
satildeo por exemplo que tambeacutem tem atingido atletas2
Mesmo os que natildeo sofrem tais efeitos durante a venda de sua
forccedila de trabalho estatildeo de alguma forma sujeitos agraves implicaccedilotildees do
modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Exemplo disso
satildeo as implicaccedilotildees da degradaccedilatildeo ambiental produzida e intensificada
pelo capitalismo Trata-se de mais uma evidecircncia de que os riscos desshy
sa forma de organizaccedilatildeo social agrave vida humana hoje atingem a todos
A repercussatildeo negativa das relaccedilotildees capitalistas contemporacircshy
neas nas formaccedilotildees sociais ainda eacute agravada com o aumento da
desigualdade social perdas de direitos trabalhistas aumento da
exploraccedilatildeo aumento da violecircncia no campo e nas cidades surtos
de doenccedilas e principalmente a natildeo garantia de direitos baacutesicos
como sauacutede transporte educaccedilatildeo e outros Problemas como esshy
ses tendem a ser contrabalanceados a partir da foacutermula maacutegica
que o esporte assume na oacutetica funcionalista
A pretensa sauacutede relacionada agrave praacutetica do esporte tatildeo defendida
pelos Organismos Internacionais e governos serve duplamente agrave reshy
produccedilatildeo do capitalismo Se de um lado busca convencer as pessoas
de que a ldquoausecircncia de sauacutederdquo eacute uma escolha consciente e natural de
haacutebitos natildeo saudaacuteveis por outro busca ocultar as contradiccedilotildees do
modo de vidatrabalho em uma sociedade de classes O esporte nesshy
se caso torna-se um poderoso instrumento para dinamizar toda essa
estrutura ideoloacutegica de manutenccedilatildeo das relaccedilotildees sociais capitalistas
exatamente a forma de organizaccedilatildeo social que natildeo permite - a todos
- obter condiccedilotildees dignas de trabalho de vida bem como acesso iguashy
litaacuterio a tecnologias e serviccedilos de sauacutede
Em siacutentese pode-se dizer que o desenvolvimento do esporte eacute
algo circunscrito numa totalidade moldada pelo antagonismo das
classes existentes Essa produccedilatildeo cultural assume aspectos compleshy
xos e contraditoacuterios Seus valores moralizantes imbuiacutedos do pensa-
2 A respeito disso ver reportagem ldquoMal do seacuteculo depressatildeo aproxima trageacutedias do mundo
do futebolrdquo (BELPIEDE 2011)
3
mento liberal buscam fortalecer e universalizar um modo de vida
trabalho que coincide com os interesses da classe dominante Trata-
-se de uma forma de educar eacutetica e politicamente os subalternos
definindo um padratildeo de sociabilidade3 A deformaccedilatildeo das praacuteticas
populares e sua adequaccedilatildeo agrave ordem capitalista geram perda parcial
de identidades e possibilidades de autocriaccedilatildeo e transformaccedilatildeo Enshy
tretanto a busca de formas alternativas que visem o resgate das vonshy
tades meacutetodos e anseios dos trabalhadores natildeo eacute algo simples devishy
do ao processo funcional de obscurecimento da realidade Trata-se
de algo importante e possiacutevel a partir do esporte
Considerar o esporte como algo acabado sem espaccedilo para
explorar a contradiccedilatildeo natildeo interessa agrave organizaccedilatildeo da classe trashy
balhadora ldquoUma coisa eacute submeter o esporte aos interesses dos goshy
vernantes e outra eacute tratar pedagogicamente criacutetica reflexiva e
criativamente o esporte enquanto conteuacutedo de ensino e campo de
vivecircncia socialrdquo (TAFFAREL SA N TO S JU N IO R 2009 p 33)
construiacutedo por meacutetodos proacuteprios que visam atender aos anseios
e aspiraccedilotildees dos trabalhadores Ou seja os subalternos devem ser
ldquocapazes de compreender antecipar e contrastar os movimentos
das classes dominantesrdquo (DIAS 2006 p 13)
Entendemos que a condiccedilatildeo da transformaccedilatildeo da sociedade
ou seja a sociabilidade historicamente emancipada livre da domishy
naccedilatildeo de classe seraacute fruto da capacidade de enxergarmos a conshy
tradiccedilatildeo e nela atuarmos no sentido de superaacute-la poliacutetica e econoshy
micamente O que deve ser extirpado da histoacuteria dos homens natildeo
eacute o esporte mas as relaccedilotildees de produccedilatildeo que amoldam culturas e
mentes para servir agrave dominaccedilatildeo de uma classe sobre a outra
Compreender a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede a partir dos funshy
damentos aqui apresentados possibilita criticar a visatildeo funcionalisshy
ta o que pode ser um importante passo para pocircr fim agrave subordinashy
ccedilatildeo do esporte ao projeto histoacuterico da classe dominante
3 Para compreender como a institucionalizaccedilatildeo do esporte na aparelhagem estatal vem
contribuindo para a formaccedilatildeo da sociabilidade capitalista no Brasil recorrer ao estudo de
Souza (2011)
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o conteuacutedo esporte
Com o intuito de articular o ensino do esporte ao que considerashy
mos ser o papel da escola elaboramos uma proposta de trabalho pedashy
goacutegico com o tema esporte e sauacutede a ser desenvolvida com alunos do
oitavo ano da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de ForaMG
O primeiro contato dos alunos com o conteuacutedo a ser trabashy
lhado na unidade didaacutetica em questatildeo ocorreraacute na identificaccedilatildeo da praacutetica social onde apontaremos o assunto que seraacute desenvolvido
durante as aulas Tambeacutem buscaremos apreender o conhecimento
preliminar dos discentes bem como as questotildees que tecircm interesse
de ampliar o saber Apresentaremos o conteuacutedo Esporte delimitanshy
do o seguinte questionamento que direcionaraacute nossas aulas Esporte eacute sauacutede Em seguida cada aluno individualmente deveraacute elaborar
um texto explicitando sua compreensatildeo sobre essa questatildeo geral a
fim de captarmos os saberes construiacutedos pela vivecircncia cotidiana dos
alunos Espera-se com isso que os alunos maniiacuteestem o conhecishy
mento que possuem sobre a temaacutetica estabelecendo ou natildeo uma
relaccedilatildeo entre a praacutetica esportiva e a obtenccedilatildeo de sauacutede
Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto iniciaremos uma discussatildeo geral
sobre a temaacutetica e explicitaremos os toacutepicos que seratildeo abordados
durante o trabalho com o tema a saber sauacutede uma questatildeo
social as lesotildees e a depressatildeo cm atletas do esporte de rendishy
mento os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo vivenciando
diferentes modalidades esportivas Em seguida apresentaremos
os objetivos as atividades a serem desenvolvidas assim como a
importacircncia de se estudar esse tema
A seleccedilatildeo de questotildees sociais que permeiam o conteuacutedo aborshy
dado instigando o debate e a reflexatildeo dos alunos se expressa no
segundo passo metodoloacutegico a problematizaccedilatildeo Nesta etapa seleshy
cionaremos as dimensotildees do conteuacutedo que seratildeo trabalhadas esshy
tabelecendo os questionamentos relacionados agrave praacutetica social tal
como sugere o plano de unidade apresentado a seguir
Na instrumentalizaccedilatildeo fase na qual ocorre de fato a aproshy
priaccedilatildeo do conhecimento por parte do aluno pretendemos desenshy
volver atividades que contribuam para a elaboraccedilatildeo de respostas
aos questionamentos sistematizados anteriormente As atividashy
des docentes e discentes voltadas agrave transmissatildeoapropriaccedilatildeo do
conhecimento sistematizado vatildeo envolver exposiccedilatildeo do conteuacutedo
pelo professor anaacutelise de viacutedeos c documentaacuterios que abordem
a temaacutetica da sauacutede e do esporte leitura discussatildeo e anaacutelise de
reportagens sobre o tema pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privashy
dos) disponiacuteveis para a praacutetica de esporte na cidade vivecircncia das
modalidades esportivas mais conhecidas no paiacutes dentre outros
Para captar se os alunos se apropriaram do conhecimento elashy
borado que os capacita a responder as questotildees levantadas na pro-
blematizaccedilatildeo pretendemos aplicar uma atividade na qual os alunos
individualmente possam produzir um texto dissertativo sobre a seshy
guinte questatildeo geral esporte eacute sauacutede Espera-se que os alunos sejam
capazes de expressar o conhecimento adquirido se aproximando
do entendimento de que a sauacutede eacute uma questatildeo social e portanto
envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporshy
te atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por
exemplo Espera-se que os alunos superem o entendimento predoshy
minante do senso comum expressando que a praacutetica de esporte
por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacutede e mais por questotildees
ideoloacutegicas o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo vem sendo veiculado com a
intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsabilidade por sua
proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus direitos
baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos
que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo
Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto pretendemos discutir as diferenshy
tes abordagens do tema apresentadas pelos alunos inclusive posshy
sibilitando a eles comparar o texto produzido neste momento na
catarse com o texto produzido no iniacutecio do processo pedagoacutegishy
co Aleacutem disso os alunos devem produzir em grupos um cartaz
alertando a comunidade escolar sobre a problemaacutetica estudada
No retorno agrave praacutetica social pretendemos finalizar o trabalho
pedagoacutegico definindo juntamente com os alunos novas intenshy
ccedilotildees e propostas de accedilatildeo mdash a partir da nova forma de compreenshy
der e de lidar com o conteuacutedotema em questatildeo
Plano de unidade
Esporte eacute sauacutede
DISCIPLINA Educaccedilatildeo Fiacutesica
AN O DE ESCOLARIDADE 8o ano do Ensino Fundamental
C O N T E Uacute D O Esporte
U N ID A D E Esporte c sauacutede
N Uacute M ERO DE AULAS 10 aulas
OBJETIVOS GERAIS
bull Entender a sauacutede como uma questatildeo social resultado
das condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo meio
ambiente trabalho transporte acesso aos serviccedilos de
sauacutede dentre outros de modo a adotar uma postura
favoraacutevel agrave superaccedilatildeo dos problemas sociais concretos
que determinam a obtenccedilatildeo da sauacutede
bull Vivenciar atividades esportivas enfatizando novos
sentidossignificados para posicionar-se favoravelmente agrave
transformaccedilatildeo do esporte
bull Refletir sobre os iacutendices de lesotildees e distuacuterbios emocionais
em atletas do esporte de rendimento
bull Analisar diferentes discursos sobre esporte e sauacutede
para posicionar-se criticamente diante das concepccedilotildees
que estabelecem uma relaccedilatildeo direta entre a praacutetica de
esporte e a obtenccedilatildeo de sauacutede
1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL
11 Anuacutencio dos conteuacutedos
TOacutePICOS
bull Sauacutede uma questatildeo social
bull As lesotildees e a depressatildeo em atletas do esporte de rendimento
bull Os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo
bull Vivenciando diferentes modalidades esportivas
12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos
bull O que os alunos sabem a praacutetica de esporte estaacute relacionada
agrave obtenccedilatildeo de sauacutede praticar esporte faz bem agrave sauacutede
bull O que os alunos querem saber mais o que eacute necessaacuterio
para termos uma vida saudaacutevel Quais satildeo os esportes mais
conhecidos no Brasil Quais esportes tecircm o maior iacutendice
de lesotildees
2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO
21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo
O que vocecircs entendem por sauacutede O esporte promove sauacutede
Por quecirc Qual a importacircncia de se estudar o tema ldquoesporte eacute sauacutederdquo
22 Dimensotildees do conteuacutedo
bull Dimensatildeo conceituai O que eacute sauacutede Quais os principais
benefiacutecios da praacutetica correta e adequada de exerciacutecios
fiacutesicos Como a praacutetica esportiva melhora nossa sauacutede
bull Dimensatildeo histoacuterica os espaccedilos puacuteblicos destinados agrave praacutetica
de esporte em nossa cidade estatildeo diminuindo nos uacuteltimos
anos E os espaccedilos que cobram aluguel para utilizaccedilatildeo Seraacute
que esses espaccedilos estatildeo diminuindo ou aumentando
bull Dimensatildeo econocircmica- por que no esporte de rendimento as
lesotildees satildeo muito comuns
bull Dimensatildeo social se o esporte combate a depressatildeo por que
tem aumentado o nuacutemero de casos de atletas com essa
doenccedila A obtenccedilatildeo da sauacutede estaacute sempre presente nos
esportes de alto rendimento O uso de substacircncias para
melhorar o rendimento e a grande incidecircncia de lesotildees nos
atletas eacute indicativo de sauacutede
bull Dimensatildeo poliacuteticarsquo haacute algum programa social que propaga
o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo ou que nele se fundamenta O
lema esporte e sauacutede tem alguma importacircncia poliacutetica Haacute
poliacuteticas puacuteblicas de incentivo agrave praacutetica esportiva na sua
cidade
bull Dimensatildeo cultural Qual a influecircncia da miacutedia na relaccedilatildeo
entre esporte e sauacutede
bull Dimensatildeo ideoloacutegica Por que eacute tatildeo difundida a ideia de que
esporte eacute sauacutede A exigecircncia da capacidade fiacutesica dos atletas
nos esportes de alto rendimento eacute sinocircnimo de sauacutede
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
31 Accedilotildees docentes e discentes
bull Anaacutelise de viacutedeos e documentaacuterios
bull Vivecircncia das modalidades esportivas mais conhecidas no
paiacutes
bull Exposiccedilatildeo do conteuacutedo pelo professor
bull Pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privados) disponiacuteveis para
a praacutetica de esporte na cidade
bull Leitura e anaacutelise de reportagens
32 Recursos mdash humanos e materiais
Livros revistas jornais slides bolas tv dvd folhas de papel
4) CATARSE
41 Siacutentese teoacuterica do aluno
O esporte tem se apresentado atualmente como elemento crucial para
obter sauacutede e alcanccedilar uma vida saudaacutevel A praacutetica de esporte quase semshy
pre estaacute diretamente relacionada agrave sauacutede Poreacutem uma anaacutelise mais cuidashy
dosa do tema esporte e sauacutede nos permite criticar e superar essas compre-
ensotildees predominantes Em primeiro lugar a sauacutede eacute uma questatildeo social
que envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporte
atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por exemplo
Assim a praacutetica de esporte por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacuteshy
de Ateacute mesmo alguns esportistas de alto rendimento acabam por adquirir
problemas de sauacutede em virtude de sua atividade de trabalho seja por utilishy
zar substacircncias seja por se machucar durante treinos ou competiccedilotildees Em
segundo lugar eacute importante destacar que muitas vezes o lema ldquoesporte eacute
sauacutederdquo eacute veiculado com a intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsashy
bilidade por sua proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus
direitos baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos
que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo
42 Expressatildeo da siacutentese
Elaboraccedilatildeo de texto dissertativo produccedilatildeo (em grupo) de um
cartaz sobre o tema estudado
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO
Quadro 1- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO 52 AltyOacuteES DO ALUNO
Saber mais sobre esporte e sauacutede Ler artigos acadecircmicos sobre esporte e sauacutede
Situar-se criticamente frente agraves formulaccedilotildees
sobre esporte e sauacutede utilizando o conhecishy
mento adquirido para compreendecirc-las critishy
camente
Analisar formulaccedilotildees sobre esporte e sauacutede
veiculadas pela miacutedia
Manifestar uma atitude favoraacutevel agrave transforshy
maccedilatildeo do esporte
Vivenciar modalidades esportivas dando
um novo significado a essas praacuteticas de
m odo que a competiccedilatildeo a concorrecircncia
o rendimento e a disputa por exemplo
sejam substituiacutedos por valores que sociashy
lizam privilegiam o coletivo garantam a
solidariedade e respeito humano dentre
outros
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildes Finais
O presente texto buscou apresentar uma proposta pedagoacutegica
de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
tendo como referecircncia os fundamentos da Pedagogia histoacuterico-
-criacutetica Buscamos com essa proposta ampliar a compreensatildeo dos
alunos sobre o tema e consequentemente possibilitar-lhes transshy
cender noccedilotildees cotidianas sobre a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede
Ao socializara referida proposta no presente artigo natildeo pretenshy
demos oferecer uma ldquoreceitardquo mas sim apresentar uma das inuacutemeshy
ras possibilidades de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte
Ainda consideramos importante destacar que as dificuldades imshy
postas pelas condiccedilotildees de vida e trabalho de grande parte dos professhy
sores das redes puacuteblicas municipal e estadual de ensino assim como as
degradantes condiccedilotildees de vida a que estatildeo expostos muitos dos nossos
alunos satildeo apenas alguns dos fatores que podem dificultar o desenshy
volvimento do trabalho pedagoacutegico voltado agrave transmissatildeo do conheshy
cimento sistematizado na educaccedilatildeo escolar As precaacuterias condiccedilotildees de
vidatrabalho por sua vez reiteram nosso entendimento de que a luta
pela socializaccedilatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo se esgota no
debate pedagoacutegico entre as diferentes concepccedilotildees uma vez que engloshy
ba tambeacutem a luta pela escola puacuteblica que deve ser enfrentada em sua
radicalidade tal como alerta Saviani (2005b p 257)
O desafio posto pela sociedade de classes do tipo
capitalista agrave educaccedilatildeo puacuteblica soacute poderaacute ser enfrenshy
tado em sentido proacuteprio isto eacute radicalmente com
a superaccedilatildeo dessa forma de sociedade A luta pela
escola puacuteblica coincide portanto com a luta pelo
socialismo por ser este uma forma de produccedilatildeo
que socializa os meios de produccedilatildeo superando sua
apropriaccedilatildeo privada Com isso socializa-se o saber
viabilizando sua apropriaccedilatildeo pelos trabalhadores
isto eacute pelo conjunto da populaccedilatildeo
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CAPIacuteTULO V
0 MMA COMO NOVA FACE DA LUTA ESPETAacuteCULO
Adriano de Paiva Reis
Graziany Penna Dias
Rafael Loures dos Reis Bellei
Renata Aparecida Alves Landim
O presente capiacutetulo tem por intenccedilatildeo trazer
contribuiccedilotildees sobre a possibilidade de trabalho
com o conteuacutedo lutas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica Entendemos que abordar as lutas na escola
natildeo eacute tarefa faacutecil pois esse conteuacutedo impotildee como
veremos algumas dificuldades ateacute mesmo pela
compreensatildeo equivocada dos proacuteprios professoshy
res e comunidade escolar sobre esse elemento da
cultura corporal Natildeo obstante compreendemos
que o trabalho pedagoacutegico com esse conteuacutedo eacute
possiacutevel e necessaacuterio pois nosso objetivo eacute que os
alunos ultrapassem uma concepccedilatildeo sincreacutetica e
caoacutetica sobre a realidade a partir da apropriaccedilatildeo
de conhecimentos que os permitam superar as vishy
sotildees parciais que predominam no senso comum
Partindo desse pressuposto optamos por
abordar uma temaacutetica que tem chamado a atenshy
ccedilatildeo de nossos alunos na atualidade o fenocircmeno
das Artes Marciais Mistas modalidade de luta
esportiva alardeada pela miacutedia e alvo de muitas
polecircmicas Nossa perspectiva neste texto seraacute reashy
lizar uma breve discussatildeo sobre o tema e apontar
referecircncias metodoloacutegicas para seu tratamento
nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica em conformidade com o referencial teoacuterico-
-metodoloacutegico proposto pelo Coletivo de Autores (1992)
As lutas e seu lugar na escola formaccedilatildeo de lutadores ou sujeitos
A partir da definiccedilatildeo do grande campo da cultura corporal as
lutasartes marciais1 passaram a figurar como importante conteuacutedo
das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica O reconhecimento da necessidade de
tratamento pedagoacutegico das lutas na escola pode ser comprovado em
diversas orientaccedilotildeespropostas curriculares em niacutevel nacional estashy
dual e municipal e em escritos de diversos autores da aacuterea
Natildeo obstante em que pese essa produccedilatildeo ela ainda tem sido
incipiente em termos de lograr accedilotildees (pedagoacutegicas) efetivas para os
diferentes niacuteveis da educaccedilatildeo escolar A parca produccedilatildeo cientiacutefica
abordando as lutas na escola pode ser comprovada se comparada agrave
produccedilatildeo de outros conteuacutedos como o esporte o jogo e a ginaacutestica
Os professores de Educaccedilatildeo Fiacutesica tambeacutem apontam algumas
dificuldades ao procurar trabalhar esse conteuacutedo em suas aulas
como a falta de materiais roupas e espaccedilos adequados De acorshy
do com Nascimento e Almeida (2007) os principais argumentos
para a restriccedilatildeo do trabalho com o conteuacutedo satildeo a falta de vivecircncia
cotidianaacadecircmica em lutas por parte dos professores e a preocushy
paccedilatildeo com a violecircncia que julgam ser intriacutenseca agrave praacutetica das lutas
tornando-as incompatiacuteveis com as finalidades da escola
Apesar de compreendermos esses argumentos acreditamos que
devemos lutar pela formaccedilatildeo continuada e pelos recursos materiais que
nos permitam trabalhar de forma ainda mais qualificada com as lutas
por serem importantes conteuacutedos para a Educaccedilatildeo Fiacutesica De acordo
com os pressupostos que este coletivo se propotildee a trabalhar entendeshy
mos que as lutas configuram-se como um dos elementos da cultura
1 A lguns autores operam distinccedilotildees conceituais entre os termos Artes Marciais
e Lutas Respeitando os objetivos e limites deste texto optamos por natildeo entrar
nesta polecircmica e trabalhar os dois termos dentro do conteuacutedo lutas Partimos do
pressuposto de que apesar de nem toda luta ser considerada uma arte marcial toda
arte marcial eacute em si uma luta Para aprofundar neste assunto ver Lanccedilanova (2006)
corporal dada sua importacircncia nos mais diversos periacuteodos histoacutericos e
pela perspectiva da sua produccedilatildeo com base na realidade sociai concreta
sendo essa accedilatildeo elemento singular do gecircnero humano3 e que por isso se
diferencia da accedilatildeo instintiva do atacar e defender dos animais
As lutas estatildeo presentes nos mais variados espaccedilos como nas atishy
vidades extracurriculares de muitas escolas nas Olimpiacuteadas em acashy
demias nos clubes e na miacutedia (das mais variadas formas) fazendo os
alunos terem uma aproximaccedilatildeo maior com essa manifestaccedilatildeo corporal
Entretanto esse contato se faz geralmente na perspectiva do senshy
so comum reduzindo as lutas aos coacutedigos do esporte de rendimento
em que pesem por exemplo a oficializaccedilatildeo de regras comparaccedilatildeo de
resultados institucionalizaccedilatildeo racionalizaccedilatildeo das praacuteticastreinamenshy
to e busca da maximizaccedilatildeo do desempenho elementos proacuteprios do
processo de esportivizaccedilatildeo a que outras manifestaccedilotildees como o jogo e
a danccedila vem sofrendo tambeacutem (GONZAacuteLEZ 2005)
O boxe eacute um bom exemplo desse processo de esportivizashy
ccedilatildeo Ele foi criado a partir de disputas nas feiras da Inglaterra
dos seacuteculos XV III e X IX e sua sistematizaccedilatildeo como esporte se
deu mediante o objetivo de organizar o tempo livre4 dos trabashy
lhadores das faacutebricas bem como ldquodosarrdquo a violecircncia O mesmo
aconteceu com a luta greco-romana e mais tarde com as lutas
2 Na linha do Coletivo de Autores (1992 p 38) a cultura corporal eacute o ldquo[] acervo de
formas de representaccedilatildeo do mundo que o homem tem produzido no decorrer da histoacuteria
exteriorizadas pela expressatildeo corporal jogo danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte
malabarismo contorcionismo miacutemica e outros que podem ser identificados como formas
de representaccedilotildees simboacutelicas de realidades vividas pelo homem historicamente criadas e
culturalmente desenvolvidasrdquo
3 A expressatildeo gecircnero humano eacute utilizada no lugar de espeacutecie humana natildeo por acaso mas
pautada nas elaboraccedilotildees de Duarte (2001) O autor natildeo descarta a ideia de que o ser humano
faz parte da espeacutecie humana poreacutem ele avanccedila nessa elaboraccedilatildeo De acordo com ele a
categoria espeacutecie humana se refere agrave identificaccedilatildeo do homem por seus elementos bioloacutegicos
jaacute a categoria gecircnero humano destaca as caracteriacutesticas humanas que satildeo formadas ao longo
da histoacuteria social natildeo transmissiacuteveis pela heranccedila geneacutetica ldquoA categoria de gecircnero humano
natildeo se reduz agravequilo que eacute comum a todos os homens natildeo eacute uma mera generalizaccedilatildeo de
caracteriacutesticas empiricamente verificaacuteveis em todo e qualquer ser humano Gecircnero humano
eacute uma categoria que expressa a siacutentese em cada momento histoacuterico de toda objetivaccedilatildeo
humana ateacute aquele momentordquo (DUARTE 2001 p 26)
4 Estamos entendendo tempo livre como aquele livre das obrigaccedilotildees sociais e cotidianas
pois no modelo social em que vivemos nenhum tempo pode ser considerado livre mas
regulado por alguma determinaccedilatildeo social Para saber mais ver Mascarenhalaquo
orientais (Caratecirc Taekwondocirc Kung-fu Jiu-jistu Judocirc etc) o
que nos permite apontar uma mudanccedila paradigmaacutetica das lutas
desde suas origens ateacute os dias atuais
De um modo geral as lutas tecircm suas conotaccedilotildees primordiais
associadas agraves praacuteticas para a guerra sendo posteriormente adotadas
como um caminho para se alcanccedilar um estilo de vida mais equilibrashy
do e paciacutefico Nessa linha Hausen (2004) descreve o processo histoacuterishy
co de desenvolvimento das lutas de origem oriental que surgiram de
danccedilas praticadas no periacuteodo neoliacutetico e foram sendo sistematizadas
com o intuito de defesa mas para aleacutem disso elas foram adquirindo
sentidossignificado mais amplos como a busca de aprimoramento
corporal espiritual eacutetico moral e intelectual
Nos dias atuais as lutas se apresentam de forma massificada e
descaracterizada dos seus objetivos originais como os filosoacuteficos e os
de desenvolvimento humano (BARROS GABRIEL 2011) Os filshy
mes desenhos animados jogos virtuais e academias de ginaacutestica enshy
tre outros espaccedilos muitas das vezes deturpam os significados autecircnshy
ticos das lutas fazendo com que esse importante elemento cultural se
perca diante das demandas do capitalismo internacionalizado
Quase sempre encaradas como espetaacuteculos maravilhosos de pancadashy
ria e violecircncia a miacutedia deturpa o sentido e significado original das lutas torshy
nando-as sinocircnimo de violecircncia e crueldade com os inimigos Este imagishy
naacuterio criado faz com que os praticantes de lutas se tornem super-heroacuteis que
combatem o mal atraveacutes da violecircncia que gradativatildemente ldquodessensibiliza
os mais novos acerca da violecircncia do choque e do terror de ver algueacutem senshy
do agredido Desenvolvendo essa toleracircncia agrave violecircncia precisaratildeo de cada
vez mais violecircncia para serem entretidos rdquo (LANCcedilANOVA 2006 p 7)
A defesa que fazemos em torno desse conteuacutedo se daacute na compreshy
ensatildeo de que essa manifestaccedilatildeo da cultura corporal muito tem a con-
5 Segundo Marta (2009) a disseminaccedilatildeo das artes marciais orientais para outros paiacuteses
desencadeou um processo de ocidentalizaccedilatildeo com progressiva transformaccedilatildeo das
mesmas em produtos que para tornarem-se mais acessiacuteveisaceitaacuteveis comeccedilam a ser
destituiacutedos de seus rituais e valores tradicionais sendo a esportivizaccedilatildeo um elemento
chave desse processo Vale lembrar que a ocidentalizaccedilatildeo natildeo ocorre apenas com as
lutas mas com toda a cultura de tal modo que podemos falar em ocidentalizaccedilatildeo da
comida da moda do padratildeo de beleza dos estilos de vida das praacuteticas corporais etc
tribuir na formaccedilatildeo criacutetica do nosso aluno visto que a atuaccedilatildeo como
sujeito histoacuterico requer o acesso aos conhecimentos acumulados sobre
as lutas e seus significados como realidades histoacuterico-sociais
Compreendemos que cada tipo de luta eacute uma manifestaccedilatildeo
dotada de trajetoacuteria singular pois satildeo criadas pelos homens conshy
forme os interesses sociais culturais poliacuteticos econocircmicos e filoshy
soacuteficos nos vaacuterios periacuteodos histoacutericos e modos de produccedilatildeo6 Desse
modo as lutas tornam-se campo feacutertil na compreensatildeo da realidashy
de como produccedilatildeo histoacuterica e que por isso podem ser reinventashy
das segundo suas necessidades e interesses Aliaacutes o fazer histoacuteria eacute
expressatildeo proacutepria do gecircnero humano Nas palavras de Hobsbawm
(2010) enquanto houver ser humano haveraacute histoacuteria
A perspectiva de trabalho com as lutas dentro da escola natildeo
tem como objetivo formar o lutador de certa modalidade mas sim
formar o sujeito histoacuterico E pensar isso perfaz entender que o ensishy
no de lutas justifica-se quando ele possibilita ao aluno compreender
de forma criacutetica os condicionantes histoacutericos e sociais que fizeram
das lutas o que satildeo hoje bem como possibilitar-lhe usufruir sob
outras perspectivas o praticarvivenciar essa manifestaccedilatildeo
Artes Marciais Mistas
O resultado de toda essa esportivizaccedilatildeoocidentalizaccedilatildeo das
artes marciais da falta de sensibilidade dessa sociedade cada vez
mais competitiva e da busca incansaacutevel por audiecircncia e conseshy
quentemente por lucro se cristaliza em uma simples sigla ldquoianshy
querdquo MMA Mixed M artial Arts) ou Artes Marciais Mistas O
M M A eacute uma luta esportiva em que teacutecnicas de variadas modalishy
dades de lutasartes marciais satildeo utilizadas devidamente esvaziashy
das de seus significados filosoacuteficos e histoacutericos originais e com um
acreacutescimo de brutalidade dotada de sentido econocircmico
6 Modo de produccedilatildeo eacute uma categoria utilizada por Marx com o intuito de discriminar
as diferenccedilas que cada eacutepoca histoacuterica possui em funccedilatildeo das suas forccedilas produtivas e
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo Assim podemos falar em modo de produccedilatildeo escravista
feudalista capitalista Para saber mais ver Huni (2005)
Selecionamos como temaacutetica dessa unidade de lutas essa
modalidade por entendermos que seu apelo midiaacutetico tem chashy
mado muita atenccedilatildeo entre os jovens em nossa sociedade nos uacutelshy
timos anos Essa popularizaccedilatildeo traz algumas questotildees que devem
ser socializadas e discutidas com nossos alunos tais como a orishy
gem dessa luta esportiva o papel da miacutedia na sua difusatildeo a sua
relaccedilatildeo com a violecircncia e com a mercadorizaccedilatildeo das lutas entre
muitas outras que possam surgir de acordo com o interesse e
aprofundamento dos alunos na temaacutetica
Os primeiros indiacutecios de lutas mistas estatildeo relacionados com
a Greacutecia antiga Tal luta era denominada de Pankration uma
combinaccedilatildeo de duas palavras gregas p a n que significa tudo ou
vaacuterios e kratos que significa forccedila7 Mas registros de algo pareshy
cido ressurgem por volta da segunda deacutecada do seacuteculo passado
aqui no Brasil quando membros da famiacutelia Gracie a fim de
divulgar uma modalidade de luta por eles adaptada do Jiu-jitsu
japonecircs e mais tarde denominada Jiu-jitsu brasileiro criaram o
ldquoGracie Challengerdquo ou ldquoDesafio dos Gracierdquo Os irmatildeos Gracie
desafiavam qualquer lutador de qualquer modalidade a fim de
demonstrar que a sua teacutecnica era mais eficiente Esses desafios
ficaram conhecidos como Vale-Tudo8 (AWI 2012)
Mais tarde no iniacutecio dos anos de 1990 nos EUA Rorion Gracie
e outros soacutecios criaram o primeiro torneio UFC (Ultimate Fighting
Championship) Com um formato um pouco diferente dos torneios de
ldquoVale-Tudordquo anteriores - como por exemplo o abandono do ringue e
7 O Pankration era unia espeacutecie de luta de solo que fazia parte das provas dos Jogos
Oliacutempicos sendo um dos acontecimentos mais populares da antiguidade Segundo Elias
e Dunning (1992) o niacutevel de violecircncia permitido nessa luta era muito elevado as regras
eram tradicionais e muito flexiacuteveis havia um juiz mas natildeo havia limite de tempo e o
combate durava ateacute que um dos oponentes desistisse por isso muitas vezes terminava com
a mutilaccedilatildeo ou morte do adversaacuterio O Pankration natildeo pode ser considerado um esporte
pois esse termo soacute pode ser suficientemente utilizado a partir do seacuteculo XV III em referecircncia
agraves praacuteticas corporais regidas por regras escritas e regulamentadas por instituiccedilotildees especiacuteficas
8 No fim da deacutecada de 1920 ocorreu o primeiro confronto puacuteblico desse gecircnero na ocasiatildeo
foi chamado de estilo versus estilo soacute depois a imprensa comeccedilou a se referir a esse confronto
como Vale Tudo (AWI 2012) Na deacutecada de I960 a violecircncia de algumas lutas criou uma
resistecircncia ao Vale Tudo que chegou a ser proibido no Brasil Ele ressurgiu entre as deacutecadas
de 1980 e 1990 num combate entre lutadores de Jiu-jitsu e Luta Livre mas enfraqueceu
novamente devido ao alto grau de violecircncia inclusive por parte do puacuteblico (MM A 2010)
a criaccedilatildeo do octoacutegono9 mdash o UFC chamou a atenccedilatildeo com lutadores de
diversas modalidades se enfrentando com regras miacutenimas e sem restrishy
ccedilatildeo de tempo Logo surgiram outros torneios como ldquoPRIDErdquo e ldquoOpen
Free Style Japanrdquo que se tornaram sucesso nas TV s por assinatura Poshy
reacutem juntamente com o sucesso de espectadores10 vieram as restriccedilotildees
em diversos estados por todos os EUA (MMA 2010)
Em pouco tempo de existecircncia dessas competiccedilotildees os lutashy
dores perceberam que aliar as diversas modalidades de lutas que
permitissem a eles lutarem em peacute e no chatildeo os tornaria mais comshy
petitivos Essa mistura de estilos de lutas e habilidades se tornou
conhecida como Artes Marciais Mistas (D ISCOVER UFC 2012)
Natildeo apenas Anderson mas nossos melhores lutadores
sabem se moldar de acordo com a situaccedilatildeo diante
das adversidades E uma qualidade indispensaacutevel do
MMA Por permitir o uso de golpes das mais diversas
modalidades o esporte acaba premiando a capacidashy
de de improviso do atleta diante de tantas variaacuteveis
Nisso as artes marciais mistas se assemelham agrave paixatildeo
nacional o futebol notoriamente um dos esportes
que menos se presta a ldquoensaiosrdquo e um dos mais impreshy
visiacuteveis que existem (AWI 2012 p 289)
No iniacutecio do seacuteculo XXI o UFC retorna reformulado com reshy
gras mais riacutegidas para poder agradar as autoridades que antes o proishy
biram limite de tempo divisatildeo de categorias por peso e seleccedilatildeo crishy
teriosa de lutadores De acordo com Awi (2012) hoje o MMA em
seus principais eventos eacute um esporte regulamentado com exames
perioacutedicos testes antidoping e regras bem claras
Na atualidade o UFC marca que domina 90 do mercashy
do mundial do M M A vincula o espetaacuteculo de entretenimento ao
consumo dos mais diversos produtos como aparelhos de ginaacutesshy
tica roupas videogames bonecos e DVDs Uma noite do evento
9 v -Segundo Rorion Grace a ideia do octoacutegono (espeacutecie de jaula com oito lados) era
justamente impedir os lutadores de fugirem do espaccedilo de luta durante a ldquopancadariardquo a
fim de atrair mais puacuteblico e chegar agrave televisatildeo (M M A 2010)t10 Na primeira ediccedilatildeo do UFC 85 mil lares americanos pagaram para ver a luta ao
vivo na televisatildeo na segunda foram 120 mil na terceira 180 mil e na quarta 260
mil pagantes (AW I 2012)
gera em meacutedia 70 milhotildees de reais Estima-se que a marca ldquoUFCrdquo
comprada haacute 12 anos por 2 milhotildees de doacutelares hoje eacute avaliada
em mais de 13 bilhatildeo de doacutelares 11 (AWI 2012) Neste quadro o
M M A ascende como ldquonovardquo face da luta-espetaacuteculo12 assumindo
o posto outrora ocupado pelo boxe que hoje estaacute em segundo plashy
no dentro do mercado das lutas esportivas
O esporte hoje eacute considerado ldquofebre mundialrdquo o nuacutemero de fatildes
soacute aumenta com o passar dos anos e as criacuteticas tambeacutem Recentemenshy
te em entrevista ao jornal Folha de Satildeo Paulo o bi-campeatildeo mundial
de boxe Eder Jofre fala criticavam o boxe porque era violento mas
perto do M M A eacute baleacute (PERTO 2012) E as criacuteticas natildeo param
por aiacute outra pessoa a questionar a civilidade da modalidade foi um
dos fundadores da torcida organizada ldquoGaviotildees da Fielrdquo considerada
uma das mais violentas do paiacutes Questionado sobre a violecircncia das
torcidas organizadas hoje em dia Chico Malfitanni em entrevista agrave
Folha de Satildeo Paulo declara ldquoos meios de comunicaccedilatildeo satildeo os maiores
incentivadores Outro dia o Sportv estava metendo o pau nas orgashy
nizadas agraves 1 lh30 da manhatilde Nisso entram cenas do MMA sangue
escorrendo O Galvatildeo [Bueno] gritando direita esquerda o cara soshy
cando o outro e isso eacute civilizadordquo (REIS 2012)
Apesar de algumas regras terem sido incluiacutedas para proibir eou limishy
tar o uso de alguns golpes durante os combates o niacutevel de violecircncia preshy
sente nas lutas de M M A eacute inegaacutevel De acordo com Awi (2012 p 19-20)
E rarissiacutemo uma ediccedilatildeo do UFC que termine
sem que pelo menos um lutador tenha de receshy
ber atendimento hospitalar antes de voltar para
casa Embora ateacute hoje soacute se tenha registrado duas
mortes por conta de lesotildees sofridas durante um
combate a variedade de golpes tramaacuteticos potildee em
11 O UFC eacute apontado pelos executivos americanos como a marca esportiva mais valiosa dos
Estados Unidos agrave frente da NFL (Futebol Americano) e da NBA (Basquete) Segundo
Awi (2012) Dana White e os irmaacuteos Fertita atuais administradores do UFC deram
o grande pulo do gato da marca ao perceberem que naacuteo bastava a luta era preciso
transformaacute-la num espetaacuteculo de entretenimento de massas
12 Utilizamos o termo ldquonovardquo entre aspas porque consideramos que o formato do M M A eacute novo
mas o seu conteuacutedo naacuteo eacute pois revela a apropriaccedilatildeo de teacutecnicas de lutas jaacute existentes
risco sim a integridade fiacutesica dos lutadores Mas
tambeacutem eacute verdade que o niacutevel de seguranccedila hoje eacute
bastante aceitaacutevel mdash e natildeo para de crescer
A polecircmica sobre o niacutevel de agressividade que envolve os comshy
bates de Artes Marciais Mistas traz agrave tona uma importante reflexatildeo
estaria o M M A incitando a violecircncia entre as pessoas
De acordo com Freire (2012) a questatildeo natildeo eacute tatildeo linear asshy
sim pois a agressividade presente no M M A natildeo seria a mesma
temida pelas pessoas em seus cotidianos mas sim a violecircncia transshy
formada em um espetaacuteculo de entretenimento O autor defende
seguindo a esteira de Nobert Elias que o puacuteblico experimenta um
momento de fruiccedilatildeo e prazer consumindo uma violecircncia controlashy
da por certas regrasteacutecnicas natildeo necessariamente praticando-a o
que poderia ser considerada uma conquista civilizatoacuteria13
Entretanto eacute importante destacar que o niacutevel de violecircncia
encontrado no M M A precisa ser compreendido no interior das
relaccedilotildees sociais capitalistas que na atualidade tecircm corroiacutedo o
tecido social No capitalismo a busca incessante pelo lucro eacute o
grande objetivo a ser atingido por isso a vidaintegridade do
lutador (visto como mercadoria viva) e o respeito ao adversaacuterio
soacute fazem sentido agrave medida que contribuem para esse objetivo
Nessa direccedilatildeo Duarte (2000) qualifica a sociedade capitalista
como hipoacutecrita pois ao transformar tudo em mercadoria ela
torna-se indiferente ao desenvolvimento moral dos indiviacuteduos
sendo que cedo ou tarde ela encontra meios de superar os lim ishy
tes outrora impostos para exploraccedilatildeo Assim agrave medida que se
torna mais aguda a crise da sociedade capitalista atual aumenta
13 Elias e Dunning (1992) evidenciam o caraacuteter de complementaridade entre esporte
e avanccedilo da civilizaccedilatildeo Os autores defendem que a criaccedilatildeo de regras sociais que
pacificaram as formas de disputa poliacutetica ocorre paralelamente ao desenvolvimento
de formas de exerciacutecio regulado da exciiacuteaccedilatildeo reprimida nas atividades seacuterias da vida
Neste contexto o esporte teria uma finalidade cataacutertica jaacute que deveria criar tensotildees
imaginaacuterias reguladas por teacutecnicas e regras permitindo a realizaccedilatildeo de uma violecircncia
controlada satisfazendo necessidades de excitaccedilatildeo dos participantes eou espectadores
ainda mais a alienaccedilatildeo da moral14 prevalecendo nesse contexto o
individualismo e o egoiacutesmo exacerbado
Desse modo o M M A tem demonstrado alinhamento com o prinshy
ciacutepio basilar do capitalismo a busca impiedosa pela valorizaccedilatildeo do cashy
pital sendo suas regras e apropriaccedilotildees teacutecnicas subordinadas a esse fim
O propoacutesito central dessa luta esportiva eacute manter o puacuteblico fascinado
para vender imagens roupas e demais mercadorias associadas agrave sua praacuteshy
tica Mas contraditoriamente o MMA por carregar em seu interior
fragmentos de diversas artes marciais e caracteriacutesticas do nosso tempo
desde que problematizado pode ajudar a entender os desafios e possishy
bilidades colocados para as lutas no contexto atual
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com as lutas
Com base nessa discussatildeo propomos uma unidade de ensino
que aborda o M M A como temaacutetica dentro do conteuacutedo lutas O plashy
no de unidade descrito abaixo foi elaborado para ser trabalhado com
alunos do oitavo ano do ensino fundamental
Seguindo os pressupostos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica o prishy
meiro passo eacute a identificaccedilatildeo dos dados da realidade onde temos uma
primeira impressatildeo dos alunos sobre o tema a ser trabalhado Como
atividade desse momento propomos organizar os alunos em gnipos
e pedir a eles que faccedilam um cartaz em uma folha de cartolina a parshy
tir de questotildees previamente elaboradas pelo professor As perguntas
enumeradas abaixo no plano de unidade deveratildeo ser respondidas
atraveacutes de ilustraccedilotildees fotografias eou reportagens que seratildeo disponishy
bilizadas para alunos atraveacutes de jornais esportivos ou paacuteginas da intershy
net A ideia geral eacute que os alunos indiquem qual eacute a luta mais famosa
14 De acordo com Duarte (2000) a discussatildeo sobre moral na sociedade capitalista eacute feita de
maneira alienada ou seja descolada dos valores que orientam a vida concreta das pessoas
Isso porque uma discussatildeo radical levaria agrave constataccedilatildeo de que o sistema capitalista eacute
avesso agraves questotildees morais jaacute que a proacutepria loacutegica do sistema eacute maximizar a exploraccedilatildeo dos
seres humanos sem limites para ampliar a acumulaccedilatildeo de capital Desse modo a base
concreta dessa alienaccedilatildeo moral eacute a proacutepria alienaccedilatildeo do trabalho atividade essencialmente
humana Nesse processo o homem eacute alienado natildeo apenas do produto e da atividade do
trabalho mas tambeacutem de si mesmo da relaccedilatildeo com o outro e com o gecircnero humano
na atualidade Esta atividade teraacute como objetivo averiguar o niacutevel de
compreensatildeo dos alunos sobre o M M A enquanto principal luta dos
tempos atuais Ao final desta atividade seraacute exposto aos alunos o conshy
teuacutedo e a temaacutetica que seraacute trabalhada questionando-os acerca do
que gostariam de saber a mais sobre o tema
Na problematizaccedilatildeo seratildeo levantadas algumas questotildees importanshy
tes para a discussatildeo do tema buscando orientar o aluno no processo de
apreensatildeo ativa do conhecimento Conforme pode ser visto no plano
de unidade seratildeo lanccediladas questotildees que abordam diversas dimensotildees
do conhecimento que seratildeo trabalhadas tais como o processo histoacuterico
de criaccedilatildeo do MMA sua evoluccedilatildeo as teacutecnicas baacutesicas desta luta os
interesses econocircmicos e as relaccedilotildees deste tema com a sociedade atual
A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento onde as atividades desenvolshy
vidas estatildeo voltadas para a aquisiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico por
parte dos alunos visando ampliar o niacutevel de consciecircncia dos mesmos
acerca do MM A e das suas interfaces com os tempos atuais No caso
em tela as atividades seratildeo exibiccedilatildeo de filmes e viacutedeos vivecircncia de
algumas modalidades de lutas discussotildees leituras de textos etc
A elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia pode ser verificada na cashy
tarse momento no qual haacute uma reinterpretaccedilatildeo da realidade desta
vez com o amparo do conhecimento cientiacutefico apreendido Como
sugestatildeo propomos a construccedilatildeo de um viacutedeo sobre os temas aborshy
dados a realizaccedilatildeo de um juacuteri simulado sobre o M M A e a criaccedilatildeo
de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais para debater o assunto
A ideia eacute que o aluno tenha se aproximado da percepccedilatildeo de que o
M M A eacute uma luta esportiva que utiliza teacutecnicas de diversas outras lushy
tas Na atualidade o MMA atraveacutes da marca UFC eacute uma das moshy
dalidades esportivas mais divulgadas e lucrativas do mundo Entreshy
tanto agrave medida que as teacutecnicas das lutas vatildeo sendo apropriadas para
seu uso competitivo nos torneios de M M A vai sendo aprofundado
o processo de descaracterizaccedilatildeo dessas modalidades em relaccedilatildeo aos
seus princiacutepios e valores originais O alto grau de violecircncia associado
agraves lutas dentro e fora dos octoacutegonos pode ser apontado como um
dos resultados desses processos de descaracterizaccedilatildeo
A uacuteltima etapa do plano de unidade eacute o retorno agrave praacutetica social ou
o momento de utilizar este conhecimento apreendido para uma nova
compreensatildeo e accedilatildeo sobre a realidade Assim propomos a divulgaccedilatildeo
dos materiais construiacutedos e socializaccedilatildeo com os outros alunos da escola
Plano de Unidade iMMA - a ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo
OBJETIVO GERAL
Compreender o M M A e suas relaccedilotildees com o mercado da luta-
-espetaacuteculo a fim de assumir uma postura criacutetica frente ao processo
de massificaccedilatildeo das lutas a partir desta modalidade
Toacutepicos de Conteuacutedo e objetivos especiacuteficos
1 - M M A que luta eacute essa
bull Ampliar conhecimentos sobre o MMA para distingui-lo de
outras modalidades de luta
bull Identificar os principais estilos de lutas seus golpes e
fundamentos teacutecnicos que compotildeem o MMA
2 - Origem e histoacuteria do M M A
bull Conhecer a origem e o processo de disseminaccedilatildeo do MMA
a fim de identificar a dinacircmica social que envolve a produccedilatildeo
dessa praacutetica da cultura corporal
3 - As lutas e seu processo de descaracterizaccedilatildeo
bull Diferenciar lutas de briga
bull Entender o processo de descaracterizaccedilatildeo das lutas
esportivizadas
bull Identificar o M M A como luta esportiva suas regras
categorias e competiccedilotildees
4 - M MA Miacutedia e Mercado a luta-espetaacuteculo como grande negoacutecio
bull Identificar o papel da miacutedia no processo de difusatildeo do
M M A
bull Compreender os interesses econocircmicos envolvidos nas
competiccedilotildees de MMA
5 - O MMA e a espetacularizaccedilaacuteo da violecircncia
bull Apreender a relaccedilatildeo entre o M M A e a espetacularizaccedilaacuteo da
violecircncia em nossa sociedade
bull Debater a relaccedilatildeo entre violecircncia e lutas
1) Praacutetica Social Inicial do Conteuacutedo
Material de Apoio Jornais e revistas esportivas (pode ser
feito tambeacutem na sala de informaacutetica utilizando os sites esportishy
vos mais populares) cartolinas canetinhas laacutepis de cor caneta
cola e tesoura
Accedilatildeo Dividir os alunos em grupos de no maacuteximo seis pesshy
soas A cada grupo deveraacute ser dado um questionaacuterio para ser
respondido na folha de cartolina e um nuacutemero suficiente de jorshy
nais esportivos (ou paacuteginas principais impressas dos noticiaacuterios
esportivos on-line) As perguntas satildeo
bull Qual eacute a luta mais famosa nos dias atuais
bull Quem eacute o melhor lutador atual
bull Quais satildeo as regras
bull Qual eacute o espaccedilo onde ela acontece
bull Quem a inventou
bull Onde podemos assistir esta luta
Os alunos deveratildeo procurar nos jornais fotografias eou reporshy
tagens sobre a luta que foi respondida como mais famosa (muito
provavelmente seraacute respondida que o M M A eacute a luta mais popular)
Os cartazes deveratildeo ser apresentados para os outros grupos
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3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO15
Quadro 2- Instrumentalizaccedilatildeo
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MMA que luta eacute
essa
Ampliar conhecimentos sobre o
MM A para distingui-lo de oushy
tras modalidades
Identificar os principais estilos
de lutas golpes e fundamenshy
tos teacutecnicos que compotildeem o
MMA
Conceituai
Teacutecnica
Pesquisa na sala de informaacutetica
Ler reportagens sobre o MMA
Viacutedeos imagens e textos
disponiacuteveis no blog ldquoConteshy
uacutedo e Meacutetodo nas aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Origem e histoacuteria
do M M A
Conhecer a origem e o processhy
so de disseminaccedilatildeo do MMA a
fim de identificar a dinacircmica soshy
cial que envolve a produccedilatildeo desshy
sa praacutetica da cultura corporal
HistoacutericaExibiccedilatildeo do Documentaacuterio da
Sportv sobre o MMA
Documentaacuterio ldquoMMA
a luta que levou o boxe agrave
lonardquo
Os links para acesso aos videos filmes e documentaacuterios citados no quadro abaixo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Disponiacutevel em lthttpcoledvoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012
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(2011)
4) CATARSE
41- Siacutentese teoacuterica do aluno
A catarse seraacute demonstrada com registros durante as aulas exshy
pressando que o MM A (Mixed Martial Arts) eacute uma luta esportiviza-
da criada a partir de uma forma de disputa para a disseminaccedilatildeo do
Jiu-jitsu brasileiro como a melhor das artes marciais Eram embates
entre lutadores de teacutecnicas distintas com lutadores de Jiu-jitsu prinshy
cipalmente Com a exarcebaccedilatildeo da violecircncia principalmente fora dos
ringues a famiacutelia Grace se muda para os EUA e comeccedila a criar uma
nova forma de disputa com regras espaccedilo adequado e teacutecnicas espeshy
ciacuteficas Surge assim o Vale Tudo e posteriormente o UFC e outras
modalidades Atualmente o UFC eacute uma das modalidades esportivas
mais lucrativas do mundo e uma das mais violentas associando teacutecshy
nicas de diversas lutas (Boxe Jiu-jitsu Muai thay Aikidocirc etc) sem
contudo valorizar os aspectos filosoacuteficos e princiacutepios originais das lushy
tas como respeito ao adversaacuterio e a si mesmo Muitas pessoas treinam
MMA para brigas de rua e torneios sem contudo entender o sentido
da criaccedilatildeo destas teacutecnicas pois estatildeo descaracterizadas atendendo a
interesses econocircmicos que vatildeo muito aleacutem da simples autodefesa
42 - Expressatildeo da Siacutentese
Construccedilatildeo de um viacutedeo sobre o MMA abordando de forma
criacutetica os temas estudados nas aulas ou construccedilatildeo de cartazes reshy
alizaccedilatildeo de um juacuteri simulado discutindo a temaacutetica e criaccedilatildeo de um
foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a temaacutetica
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO
Quadro 3 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
Conhecer mais sobre o M M A e suas difeshy
renccedilas de outros estilos
Pesquisar ler textos e assistir viacutedeos
sobre o M M A
Contribuir para a socializaccedilatildeo dos conhecishy
mentos sobre as lutas e para divulgaccedilatildeo de
espaccedilos de discussotildees sobre as mesmas
Convidar os demais alunos da escola para
f acessarem os viacutedeos e participarem dos
foacuteruns de discussatildeo sobre as lutas
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (201 1)
Consideraccedilotildees Finais
A formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos 1 1 0 acircmbito da cultura corporal
passa pela apreensatildeo de conhecimentos teoacuterico-praacuteticos que permitam agir
criticamente frente aos grandes fenocircmenos esportivos para aleacutem de sua
aparecircncia No caso das lutas o pouco acesso aos conhecimentos histoacutericos
teacutecnicos e filosoacuteficos das mesmas pode contribuir para gerar a substituiccedilatildeo
de sua praacutetica salutar pelo consumo passivo de espetaacuteculos esportivos muishy
tas vezes regados com alto grau de violecircncia A proposta de ensino com a
tematizaccedilatildeo das Artes Marciais Mistas buscou contribuir para pensar no
papel de mediaccedilatildeo que a Educaccedilatildeo Fiacutesica pode ter na formaccedilatildeo de sujeitos
criacuteticos ao fenocircmeno de descaracterizaccedilatildeo e mercadorizaccedilatildeo das lutas
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CAPIacuteTULO VI
A VOZ DA PERIFERIA O HIP HOP ENQUANTO POSSIBILIDADE DE TRABALHO NAS AULAS DE EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA
Adriano de Paiva Reis
Carla Cristina Carvalho Pereira
Giovana de Carvalho Castro
Herbert Hischter Chaves de Paula
Marcelo Silva dos Santos
Apesar da infinidade de possibilidades de
trabalho nos curriacuteculos escolares historicamenshy
te a danccedila foi tratada pela escola numa perspecshy
tiva funcional tendo como objetivo principal a
formaccedilatildeo do corpo feminino em contrapartida
agraves praacuteticas ginaacutesticas destinadas aos homens1
O fato eacute que o trabalho com a danccedila nas
escolas quase natildeo eacute realizado ou eacute realizado de
forma superficial e esvaziada A danccedila eacute recoshy
nhecida como atividade extracurricular - geralshy
mente o aprofundamento do trabalho com as
teacutecnicas de uma determinada modalidade - ou
eacute tratada como componente folcloacuterico no inshy
terior das escolas seja pela Educaccedilatildeo Fiacutesica ou
1 A discussatildeo acerca das praacuteticas corporais destinadas a
homens e mulheres ao longo da histoacuteria da Educaccedilatildeo
Fiacutesica no Brasil pode ser encontrada em Ghiraldelli
Juacutenior (1994) O autor situa historicamente a visatildeo
sexista da Educaccedilatildeo Fiacutesica na sociedade brasileira
demonstrando o papel da ginaacutestica para moldar o corpo
saudaacutevel robusto e harmonioso dos homens enquanto
que para as meninas as praacuteticas eram voltadas para a
danccedila a expressatildeo corporal o teatro e a poesia visando
pela Educaccedilatildeo Artiacutestica limitando-se muitas vezes agrave montagem de
coreografias para festas e comemoraccedilotildees da escola Raramente a danccedila eacute
valorizada por ter um conhecimento proacuteprio e uma linguagem expresshy
siva especiacutefica (BRASILEIRO 2003 FIAM ONCINI 2003)
A resistecircncia dos alunos em participar das aulas de danccedila na esshy
cola constitui um fator a ser considerado assim como a dificuldade
por parte de muitos professores em trabalhar com esse conteuacutedo sob a
alegaccedilatildeo de natildeo possuiacuterem conhecimento especiacutefico em nenhuma moshy
dalidade de danccedila problema agravado pelos curriacuteculos predominanteshy
mente esportivizados da maioria dos cursos de graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo
Fiacutesica No entanto entendendo que a funccedilatildeo primordial da escola eacute
a socializaccedilatildeo do saber historicamente produzido (SAVIANI 1997)
coloca-se como tarefa fundamental a sistematizaccedilatildeo de uma praacutexis edushy
cativa superadora em danccedila tendo em vista proporcionar aos alunos
uma apreensatildeo contextualizada e criacutetica acerca dessa linguagem
Na perspectiva da reflexatildeo sobre a cultura corporal a danccedila - enshy
tendida enquanto uma das expressotildees do patrimocircnio cultural da hushy
manidade - eacute um conteuacutedo a ser conhecido estudado produzido no
acircmbito escolar Nesta linha eacute preciso que o professor rompa com as
formas tradicionais mecanizadas e estereotipadas de danccedila proporshy
cionando ao aluno o conhecimento de suas verdadeiras possibilidades
corporais desenvolvendo a criatividade e a expressividade
A escolha da temaacutetica a ser abordada nas aulas deve partir
da necessidade de compreensatildeo e explicaccedilatildeo da realidade concreshy
ta do aluno oferecendo subsiacutedios para que ele compreenda os
determinantes soacutecio-histoacutericos de sua condiccedilatildeo de classe social
(C O LE T IV O DE AUTORES 1992)
Neste sentido escolhemos abordar o break enquanto modalishy
dade de danccedila atrelada ao movimento Hip Hop A definiccedilatildeo dessa
temaacutetica deveu-se agrave sua popularidade entre os alunos e agrave confusatildeo
conceituai acerca do Hip Hop uma vez que este eacute tratado apenas
como um estilo musical ou uma forma de danccedilar Assim torna-se neshy
cessaacuterio abordar e discutir as contradiccedilotildees existentes entre a essecircncia
do Hip Hop enquanto movimento de criacutetica e contestaccedilatildeo social e
sua mercadorizaccedilatildeo c esvaziamento pelos meios de comunicaccedilatildeo
O Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia e criacutetica social
O Hip Hop natildeo eacute apenas um estilo musical ou um tipo de
danccedila Trata-se na verdade de uma importante manifestaccedilatildeo culshy
tural produzida enquanto um movimento de resistecircncia da perishy
feria da classe menos favorecida - que natildeo coincidentemente eacute
representada majoritariamente por negros2 A origem do termo eacute
bastante controversa mas muitos pesquisadores atribuem sua criashy
ccedilatildeo a Afrika Bambaataa3 Suas origens remontam aos EUA por
volta dos anos de 1970 nos subuacuterbios de Nova York e de Chicago
atrelado agraves expressotildees culturais das comunidades jamaicanas latishy
nas e afro-americanas Nesses guetos - habitados majoritariamente
por uma populaccedilatildeo negra4 e assolados pela pobreza traacutefico de
drogas racismo ausecircncia de educaccedilatildeo e de espaccedilos de lazer mdash o
movimento Hip Hop nasceu a partir de accedilotildees para conter a violecircnshy
2 Satildeo os negros que ocupam a maioria das estatiacutesticas de desemprego mortalidade infantil
analfabetismo que possuem as piores condiccedilotildees de moradia a maioria que ocupa os
presiacutedios e as ruas etc A discussatildeo sobre a marginalizaccedilaacuteo do negro no Brasil ganha forccedila a
partir dos anos iniciais deste seacuteculo demonstrando a importacircncia do movimento negro no
cenaacuterio dos movimentos sociais no paiacutes Entretanto dentro do proacuteprio movimento negro
natildeo haacute unidade principalmente no que se refere agrave discussatildeo entre a relaccedilatildeo raccedilaclasse Por
esta razatildeo achamos fundamental demarcar nossa posiccedilatildeo dentro dessa discussatildeo apesar
de estarmos atentos ao fato de que uma das caracteriacutesticas do capitalismo eacute ser indiferente
agraves identidades sociais das pessoas que explora o fato de natildeo necessitar natildeo significa que
de fato natildeo se aproveite e natildeo decirc continuidade agrave opressatildeo racial O capitalismo que
massacra trabalhadores mundo afora eacute ainda mais perverso com aqueles setores que foram
marginalizados como eacute o caso dos negros (W O O D 2003)
3 Afrika Bambaataa - pseudocircnimo de Kevin Donovan - eacute de forma quase unacircnime
considerado o responsaacutevel por plantar as bases sobre as quais o Hip Hop se desenvolveu
Nascido e criado no violento bairro do Bronx (Nova Iorque) chegou agrave lideranccedila dos Black
Spades uma das mais fortes e violentas gangues da regiatildeo Sua vida comeccedilou a mudar
quando numa viagem agrave Aacutefrica no iniacutecio dos anos 1970 assistiu ao filme Zulu sobre
a luta entre africanos e ingleses no seacuteculo X IX Foi deste documentaacuterio que ele retirou o
nome pelo qual eacute conhecido hoje O filme tambeacutem despertou no mesmo um novo olhar
acerca de suas origens motivando-o a formar sua proacutepria naccedilatildeo Zulu bem como a buscar
raquo meios para cooptar jovens das gangues para ela Disponiacutevel em lthttpogloboglobo
comculturaconsiderado-pai-do-hip-hop-do-funk-carioca-afrika-bambaataa-faz-show-
no-rio-303106lixzz20554zE00gt Acesso cm 2 ago 2012
4 Aleacutem dos negros os guetos de Nova York eram ocupados por imigrantes latinos oriundos
principalmente do Meacutexico e de Porto Rico tambeacutem considerados inferiores por sua pele
morena e olhos indiacutegenas herdados de seus antepassados tambeacutem escravizados
cia e promover a conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessishy
dade de luta contra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis
Desta forma o Hip Hop atrela-se agraves calorosas discussotildees que trashy
zem agrave tona os embates e as contradiccedilotildees da sociedade norte-americana
Neste contexto emergem lideranccedilas negras como Martin Luther King
e Malcom X e grupos que lutavam pela igualdade de direitos como
os Panteras Negras Embora divergentes em suas propostas agregaram
em torno de suas ideias uma populaccedilatildeo que ansiava por mudanccedilas no
modelo social entatildeo vigente que condenava a populaccedilatildeo negra a uma
invisibilidade negando-lhe a possibilidade de uma efetiva participaccedilatildeo
social e poliacutetica Tais demandas refletiram na produccedilatildeo musical e o
rock mdash que tambeacutem nasceu negro tatildeo aderente nos anos de 1960 mdash
mostrou-se impotente para dar voz a esse novo contexto
Os guetos abraccedilaram o soul e prestaram reverencia a muacutesicas como
uSay it loud Im black and proudrdquo (diga alto sou negro e orgulhoso)
cantada aos berros por James Brown inspirado na frase do liacuteder sul africano
Steve Biko Ao soul juntou-se o ftink furioso do qual James Brown tamshy
beacutem foi um iacutecone imageacutetico Estava pronto o terreno do qual brotaria o
Hip Hop lanccediladas as sementes do soul do funk e da luta pelos direitos civis
da populaccedilatildeo negra A ele se uniu o rap que remonta as raiacutezes da oralidade
africana sintetizada na figura dos griots5 Os guetos apropriaram-se desta
tradiccedilatildeo e a reinventaram atraveacutes das batalhas de improviso que contavam
histoacuterias de seu cotidiano marcando assim o nascimento do freestyle6
Outra figura fundamental para o Hip Hop foi o DJ Kool Herc
imigrante jamaicano a quem se atribui a criaccedilatildeo dos breaks (trechos de
muacutesicas usados como bases) No final dos anos de 1960 Herc trouxe da
Jamaica para o Bronx a teacutecnica dos famosos sound systems de Kingston
5 Os ldquogriotsrdquo satildeo os guardiotildees inteacuterpretes e cantores da histoacuteria oral de muitos povos
africanos A figura do griot tem uma enorme importacircncia na preservaccedilatildeo da palavra da
narraccedilatildeo do mito africano ldquoNa praacutetica eles funcionam como escritores sem papel nem
pena Ortografam na oralidade aquilo que deve permanecer embutido na memoacuteria e no
coraccedilatildeo dos seus familiares e conterracircneos no sentido de manter incrustada a identidade
do seu ser e das suas raiacutezes fundamentada em grande parte no seu passado e nos seus
predecessoresrdquo BIJOacute1AS Maria Griots mdash os inteacuterpretes musicais da Histoacuteria africana
Disponiacutevel em lthttpwwwruadireitacommusicainfogriots-os-interpretes-musicais-
da-historia-africanagt Acesso em 23 jul 2012
6 Estilo livre muacutesica de improviso mediante desafios
Como os trechos usados como base eram curtos Herc teve a ideia de usar
um mixer e dois discos idecircnticos o que permitia a repeticcedilatildeo indefinida de
um determinado trecho da mesma muacutesica (PIMENTEL 1997)
Foi um disciacutepulo do DJ jamaicano mdash Grandmaster Flash - quem
criou o ldquoscratchrdquo que eacute a utilizaccedilatildeo da agulha do toca-discos arrashy
nhando o vinil em sentido anti-horaacuterio como instrumento musical
Aleacutem disso ldquoFlash entregava um microfone para que os danccedilarinos
pudessem improvisar discursos acompanhando o ritmo da muacutesica
(uma espeacutecie de repente-eleacutetrico que ficou conhecido como rap - os
lsquorepentistasrsquo satildeo chamados de rappers ou MCs isto eacute lsquomasters of ceri-
mony)rdquo (VIANNA JUacuteN IOR 1988 p 38)
Desta feita aos breaks aliou-se a forccedila das mensagens trazidas
pelos rappers atribuindo peso agrave expressatildeo mesmo sob condiccedilotildees lishy
mitadas de recursos e ausecircncia de instrumentos
Paralelamente ao rap outras manifestaccedilotildees artiacutesticas se desenshy
volviam nos guetos americanos Em meados da deacutecada de 1960 os
jovens dos subuacuterbios de Nova York comeccedilaram a ldquopicharrdquo as pareshy
des com seus nomes Assim surge o grafitti inicialmente como tag
(assinatura) como forma de retratar a realidade como forma de
participaccedilatildeo e de resistecircncia Logo a colocaccedilatildeo das tags em locais
cada vez mais inoacutespitos virou um novo elemento da disputa que foi
apropriado pelas gangues como forma de demarcaccedilatildeo de territoacuterios
dentro dos guetos Mais tarde o desenho foi introduzido ao tag
abrindo-se um novo leque de trabalhos para os grafiteiros
Na mesma eacutepoca surge o break dance nome atribuiacutedo pelo Dj
Herc para definir um estilo de danccedila caracterizado por miacutemicas imitashy
ccedilotildees de robocircs e acrobacias com influecircncias das mais diversas das artes
marciais agraves danccedilas urbanas da eacutepoca e que representassem os conflitos
e o cotidiano dos guetos nova-iorquinos O nome atribuiacutedo por Herc
justifica-se agrave medida em que ldquoos jovens que iam agraves festas danccedilavam no
Break da muacutesica que era o nome dado a sua teacutecnica de interromper a
batida mais forte da muacutesica como se ela estivesse quebrada e se repeshy
tisse por alguns segundosrdquo (SILVA 2010 p 32) A respeito da danccedila
Pimentel (1997 p 8) destaca que esta desenvolveu-se
[] ao sabor da contorccedilatildeo dos brcaks entre e dentro
das muacutesicas formando um novo corpo riacutetmico no inshy
terior das mesmas e conduzindo o DJ e seu puacuteblico a
uma nova forma de abordagem do tema reconstruiacutedo
e reinterpretaacutevel atraveacutes da danccedila das quebras riacutetmishy
cas Danccedilar o break consiste literalmente na execuccedilatildeo
de passos que procuram imitar essa ruptura e essa forshy
ma sincopada de reconstruir o proacuteprio ritmo
Nas ruas de Nova Iorque grupos (crews) se encontravam para
definir quem danccedilava melhor dando origem agraves chamadas batalhas ou rachas de break As batalhas entre as crews eram manifestaccedilotildees de
rua que tinham o propoacutesito de chamar a atenccedilatildeo do poder puacuteblishy
co sobre a situaccedilatildeo do afro-americano em relaccedilatildeo ao seu modo de
sobrevivecircncia e portanto tinham uma conotaccedilatildeo poliacutetica (LEAtildeO
2006) O break foi ganhando outros espaccedilos e passou a ser danccedilado
tambeacutem nas festas (as chamadas Black Parties)
Alguns autores consideram que o break no Hip Hop eacute formado
por trecircs estilos de danccedila originais o break bboying (caracterizada
pelos movimentos de chatildeo como top rock up rock foot work booga- loo e freeze aleacutem dos giros de cabeccedila mortais o moinho de vento7) o Popingg (estilo de danccedila urbana que foi incorporada ao Hip Hop
onde o danccedilarino imita robocircs aleacutem de ondulaccedilotildees com o tronco e
quadris) e o Locking (danccedila urbana incorporada ao Hip Hop que
indica as direccedilotildees no espaccedilo apontando o dedo) Por outro lado haacute
quem afirme que esses trecircs estilos satildeo danccedilas diferentes e somente o
break eacute a danccedila original por ser a primeira a ser incorporada como
elemento do Hip Hop (SILVA 2010)8
Desta feita rappers breakers e grafiteiros logo se viram diante
das mesmas anguacutestias e desafios cotidianos Daiacute para a coletiviza-
ccedilatildeo de suas accedilotildees foi um pequeno passo dando origem a naccedilotildees
associaccedilotildees posses e entidades para divulgaccedilatildeo do Hip Hop
7 A descriccedilatildeo e tutoriais desses movimentos estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e
Meacutetodo nas auias de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lt httpcoletivoedulisicajf
blogspotcombrgt Acesso em 12 dez 2012
8 Devido agrave riqueza de possibilidades consideramos os trecircs estilos para o trabalho
que realizamos com os alunos numa escola municipai de Juiz de Fora trabalho este
descrito ao final do presente artigo
Assim muito mais que ldquopular balanccedilando os quadrisrdquo - trashy
duccedilatildeo do termo do inglecircs - o Hip Hop configura-se como um
movimento social que busca promover a conscientizaccedilatildeo da popushy
laccedilatildeo jovem afro-americana atraveacutes da uniatildeo de diversas manifesshy
taccedilotildees artiacutesticas representadas por um conjunto de quatro elemenshy
tos a) o break que eacute a danccedila oficial praticada pelos Bboys e Bgirls
b) o rap que eacute o canto falado ao som de pick - ups ou mesmo de
ritmos feitos com a boca e o corpo c) o DJ (disk jockey) que atua
nos pick - ups acompanhando a falacanto dos MCs (mestre de
cerimocircnia) e d) o grafitti que eacute a arte nos muros vagotildees de trens
e espaccedilos deteriorados - uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para a
necessidade de revitalizaccedilatildeo desses espaccedilos (BENEDITO 2004)
E esse movimento que chega ao Brasil - influenciado pelo
lema do Black Power e pela admiraccedilatildeo aos Panteras Negras mdash
num contexto em que gangues urbanas conquistavam espaccedilo
embaladas por pequenos conflitos armados (armas brancas prinshy
cipalmente) e pelas muacutesicas do soul norte-americano Nosso ldquorashy
cismo agrave brasileirardquo natildeo dava margem para os conflitos diretos
pelos quais passou a sociedade norte-americana mas isso natildeo
significa a ausecircncia de poliacuteticas marginalizantes para a populaccedilatildeo
negra e afrodescendente no Brasil9
Como em outros paiacuteses diaspoacutericos o H ip Hop encontrou
no Brasil terreno feacutertil Sua chegada data de meados dos anos de
1980 em Satildeo Paulo Em 1988 foi lanccedilado o primeiro registro
fonograacutefico de rap nacional a coletacircnea ldquoHip-Hop Cultura de
Ruardquo pela gravadora Eldorado Com apoio puacuteblico da prefeitura
de Satildeo Paulo organizou-se a primeira associaccedilatildeo oficial de H ip
Hop no Brasil o M H 2 0 - Movimento Hip-Hop Organizado
9 A inserccedilatildeo do negro no poacutes-aboliccedilaacuteo tem sido alvo de diversos estudos Tais pesquisas
apontam para as dificuldades da populaccedilatildeo afrodescendente em ser reconhecida como
parte da sociedade brasileira e discutem o processo de marginalizaccedilatildeo imposto a esse
segmento Um dos aspectos mais relevantes dessa segmentaccedilatildeo eacute revelado nas pesquisas
que indicam a criminalizaccedilatildeo das praacuteticas culturais afrodescendentes presentes em nosso
coacutedigo penal ateacute 1940 Para maiores informaccedilotildees consultar Holloway (1997)
A descaracterizaccedilatildeo do Hip Hop a voz da periferia transmutada em mercadoria rentaacutevel
Identificamos hoje uma tentativa de esvaziamento e de descashy
racterizaccedilatildeo do H ip Hop enquanto movimento de luta e contestaccedilatildeo
social A induacutestria cultural vem cooptando essa forma de resistecircncia
em favor do capital transformando-o em um filatildeo de mercado vazio
de conteuacutedo histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico e ressignificado a partir
dos interesses da cultura hegemocircnica
O movimento mdash que sempre viveu e se propagou por fora dos
esquemas formais de comunicaccedilatildeo de massa sem espaccedilo nas raacutedios
comerciais e com trabalhos lanccedilados em gravadoras independentes
(MARTINS 1998) mdash atualmente ldquodesce o morrordquo indo parar nas
boates de classe meacutedia nas raacutedios e nas novelas e programas das prinshy
cipais emissoras de televisatildeo
A problemaacutetica da mercadorizaccedilatildeo do Hip Hop natildeo estaacute des-
zonectada do processo de transformaccedilatildeo e de mudanccedila que se faz
Dresente na sociedade de uma forma geral Jameson (2000) denuncia
^ue a emergente mudanccedila histoacuterica ocorrida na vida no ocidente para
jma nova forma de capitalismo trouxe a tese de que as questotildees cul-
urais tendem a se propagar para as econocircmicas e sociais Segundo o
iutor ldquoa produccedilatildeo das mercadorias eacute agora um fenocircmeno cultural no
lual se compram os produtos tanto por sua imagem quanto por seu
iacuteso imediato [] Nesse sentido a economia se transforma em uma
juestatildeo culturalrdquo (JAMESON 2000 p 22)
Na loacutegica cultural do capitalismo tardio onde o consumo
bull o principal meio de realizaccedilatildeo ldquoo prazer o lazer a seduccedilatildeo e a
ida eroacutetica satildeo trazidos para o acircmbito do poder do dinheiro e da
raquoreocupaccedilatildeo de mercadoriasrdquo (HARVEY 1992 p 99) Ao mes-
no tempo em que temos a sofisticaccedilatildeo das necessidades e dos seus
neios por um lado temos de outro uma abstrata simplificaccedilatildeo
las necessidades No campo especiacutefico da cultura a arte se tornou
ambeacutem uma mercadoria e o artista foi transformado em um pro-
utor de mercadorias (F ISCHER 1982)
Rappers ganharam status na induacutestria cultural sobretudo a
norte-americana e viraram ldquoastrosrdquo em todo o mundo Figuras como
Gangster RAP Dr Dree e Snoopy Dog aparecem na miacutedia preganshy
do e praticando a violecircncia adotando atitudes e produzindo letras
que demonstram hostilidade ao pobre e agrave mulher O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos contextos sendo empregashy
do para classificar um estilo de muacutesica de danccedila ou um jeito de se
vestir conhecido como estilo B-boy associado a marcas esportivas
especiacuteficas (boneacute tecircnis etc) Neste sentido
[] os aspectos do processo de mercadorizaccedilatildeo da
vestimenta das muacutesicas dos shows que possuem um
alto custo financeiro mostram essa refuncionaliza-
ccedilatildeo para garantir uma dada hegemonia tornando o
Hip Hop em determinados casos uma praacutetica disshy
tanciada da reflexatildeo de sua origem e da possibilidade
de ser uma forma de luta contra a opressatildeo Nesses
casos aquilo que servia para caracterizaacute-lo como
popular eacute justamente o que eacute transmutado o seu
sentido (AVILA et al 2005 p 64)
Aleacutem disso atraveacutes de poliacuteticas assistencialistas e compensashy
toacuterias o poder puacuteblico frequentemente apropria-se dos elementos
do Hip Hop num discurso apologeacutetico que o rotula enquanto
ldquosalvador da paacutetriardquo a partir da responsabilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos
pelas suas mazelas sociais justamente o oposto do que preconiza
o movimento O Hip Hop ligado agrave criacutetica poliacutetica e social e agrave
conscientizaccedilatildeo acerca da necessidade da organizaccedilatildeo coletiva tem
como intuito provocar mudanccedilas sociais e garantir direitos essenshy
ciais que satildeo responsabilidade do poder puacuteblico
Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo feita pelos meios de coshy
municaccedilatildeo a essecircncia do movimento permanece inalterada Atualshy
mente os movimentos organizados de Hip Hop buscam discutir a
discriminaccedilatildeo racial os problemas sociais a realidade da periferia
discussotildees estas materializadas nas letras do rap E esse Hip Hop
que pretendemos resgatar com nossos alunos contextualizando-o e
desvelando o que eacute a essecircncia desse movimento
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a danccedila
Elaboramos entatildeo um planejamento para ser desenvolvishy
do com alunos do 9o ano de uma escola municipal de Juiz de
Fora A proposta foi abordar o Hip Hop discutindo-o desde sua
origem enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social passhy
sando pela caracterizaccedilatildeo dos elementos que o compotildeem ateacute a
discussatildeo e anaacutelise criacutetica do que hoje eacute conhecido e difundido
pela miacutedia enquanto ldquoH ip Hoprdquo
Demos uma ecircnfase especial ao break por tratar-se de uma unishy
dade onde o conteuacutedo proposto era a danccedila Aqui tivemos espaccedilo
privilegiado para discutir as formas mecanizadas e estereotipadas de
danccedila impostas pela miacutedia e problematizamos a mera repeticcedilatildeo ou
imitaccedilatildeo a que muitas vezes se resumem as aulas de danccedila Numa oushy
tra perspectiva o break abre possibilidades de trabalhar a criatividade
e a expressividade jaacute que a essecircncia desse estilo eacute a improvisaccedilatildeo a (re)
criaccedilatildeo de movimentos Nas rodas de improvisaccedilatildeo cada participante
cria seu proacuteprio estilo e constroacutei suas sequecircncias de movimentos a
partir dos elementos teacutecnicos baacutesicos
Assim na identificaccedilatildeo da praacutetica social dividimos os alunos
em grupos e exibimos clipes de artistas diversos (Gabriel o pensador
Racionais M C rsquoS Beyonceacute Emicida etc) solicitando que ao final de
cada um eles respondessem em uma folha o nome e o estilo musical
do artista em questatildeo As respostas foram apresentadas a maioria deshy
las definia todos os clipes exibidos como sendo ldquoHip HoprdquoApoacutes esse primeiro momento iniciamos um debate com os alushy
nos lanccedilando algumas questotildees problematizadoras O que eacute Hip
Hop Hip Hop eacute danccedila O u eacute muacutesica Um estilo musical Como
surgiu o Hip Hop Existem muitos artistas negros no Hip Hop As
respostas dos alunos e a discussatildeo do tema foram registradas a fim de
fazer uma comparaccedilatildeo no final do trabalho
Na instrumentalizaccedilatildeo trabalhamos os seguintes toacutepicos de
conteuacutedo a histoacuteria do H ip Hop os quatro elementos que o
constituem (rap DJ grafitti10 break) bem como a influecircncia
dos meios de comunicaccedilatildeo na forma de disseminaccedilatildeo do Hip
Hop lanccedilando matildeo de recursos pedagoacutegicos como viacutedeos docushy
mentaacuterios reportagens letras de muacutesica dentre outros a fim de
que os alunos tivessem uma nova percepccedilatildeo do movimento Hip
Hop nas suas mais diversas dimensotildees No caso especiacutefico da
danccedila trabalhamos as teacutecnicas baacutesicas dos trecircs estilos de danccedila
do break (Bboing Popping e Locking) explorando a capacidade
de criaccedilatildeo e improvisaccedilatildeo dos alunos
Na catarse momento de elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia
dos alunos acerca do tema propomos a organizaccedilatildeo de um fesshy
tival de Hip Hop onde os alunos foram divididos em grupos e
demonstraram as teacutecnicas aprendidas bem como a exibiccedilatildeo de
um painel com os pontos abordados durante a unidade didaacutetica
No retorno agrave praacutetica social quando os alunos utilizam este
novo conhecimento para intervir criticamente na realidade soshy
cial a proposta foi realizar a produccedilatildeo de textos dos temas aborshy
dados nas aulas divulgando-os em um blog
PLANO DE UNIDADE
Tiacutetulo da Unidade O Movimento Hip Hop e a induacutestria cultural
OBJETIVO GERAL
Compreender o Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia
expressatildeo e denuacutencia de um grupo social
10 Ao elaborarmos o planejamento e apresentarmos a proposta para o coletivo da escola
abriu-se a possibilidade de um trabalho conjunto com a professora de Artes da turma por
isso pudemos aprofundar o trabalho com o grafitti
11 Viacutedeos e tutoriais usados para a preparaccedilatildeo das aulas e domiacutenio das teacutecnicas fundamentais
de cada um dos estilos do break estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas
aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt
Acesso em 10 dez 2012
Quadro 1- Anuacutencio do conteuacutedo
Toacutepico de Conteuacutedo t )bjetivos Especiacuteficos
Histoacuteria do H ip Hop
Conhecer a histoacuteria do Hip Hop e compreender sua essecircnshy
cia enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social
Identificar as caracteriacutesticas e manifestaccedilotildees do H ip Hop
no Brasil da atualidade
Os quatro elementos do movishy
mento H ip Hop
Identificar e conceituar os quatro elementos que constishy
tuem o movimento H ip Hop
Compreender a relaccedilatildeo de cada um dos elementos com o
movimento H ip Hop
Rhythm and Poetry
Compreender o rap enquanto o ldquocanto faladordquo que deshy
nuncia a injusticcedila e a opressatildeo de um grupo social
Conhecer teacutecnicas de construccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap
Arte nos Muros
Entender a histoacuteria e a evoluccedilatildeo do grafitti
Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo com o movimento H ip
Hop
Conhecer o grafitti na atualidade e suas linhas de expressatildeo
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de grafitagem
Aumente o som DJUuml
Identificar a ldquobatida quebradardquo (break) que caracteriza a
base musical do H ip Hop
Compreender o papel do DJ no H ip Hop
Estabelecer a diferenciaccedilatildeo entre o DJ e o M C (Mestre
de Cerimocircnia)
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de scratch e de mixagem
ldquoBatalhardquo entre crews
Analisar o papel do break enquanto expressatildeo corporal
ligada ao H ip Hop
Identificar os estilos do break sua origem e as vaacuterias forshy
mas de movimentaccedilatildeo
Relacionar os movimentos corporais ao ldquobreakrdquo da muacutesica
Aprender teacutecnicas baacutesicas de cada um dos estilos de break
O Hip Hop que passa na TV
Analisar a influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo na forma
de disseminaccedilatildeo do movimento H ip Hop
Compreender a banalizaccedilatildeo do movimento H ip Hop e
sua desconstruccedilatildeo pelo mercado
ontc elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
1) PRAacuteTICA SOCIAL IN ICIAL DO CONTEUacuteDO
11 Vivecircncia do Conteuacutedo
bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Hip Hop eacute um tipo
de muacutesica as muacutesicas criticam os ricos Hip Hop eacute uma danccedila
de rua etc
bull O que eles gostariam de saber a mais Como satildeo os passos
do Hip Hop como criar um rap como montar uma muacutesica
mixada etc
2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO
Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees
problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas
Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
$ v h W ccedil f v V j i v1 Tv S
t j j j fM IacuteW iacute lE i YSX IIP)
Histoacuteria do Hip HopHistoacuterica
Social
Como surgiu o Hip Hop Por que ele
surgiu Por que tem tantos artistas neshy
gros no Hip Hop
Os quatro elementos do movishy
mento H ip HopConceituai
Quais satildeo os elementos que constishy
tuem o Hip Hop Como se caracteshy
riza cada um deles
Rhythm and PoetryConceituai
Social
O que eacute rap De que falam as letras
dos raps Que mensagem querem
transmitir
Arte nos MurosLegal
Teacutecnica
Grafitar e pichar satildeo a mesma coishy
sa O que significa esse desenhos
nos muros
Aumente o som DJ Conceituai
0 que faz um DJ Qual a relaccedilatildeo
entre o DJ e o rap DJ e M C satildeo a
mesma pessoa Como eacute o ritmo da
danccedila no H ip Hop
ldquoBatalhardquo entre crewsConceituai
Teacutecnica
Como se danccedila no H ip Hop Qual
eacute o nome dessa danccedila Por que a
danccedila se chama ldquobreakrdquo Quais satildeo
os principais passos
O H ip Hop que passa na TV
Poliacutetica
Social
Econocircmica
Quais satildeo os rappers que aparecem
nos programas de TV Quais ideias
defendem em seus raps Os valores
dc que classe social representam
Fonte elaboraccedilatildeo nroacutenria m m
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo
bull
Histoacuteria do H ip
Hop
Conhecer a histoacuteria do H ip
H op e compreender sua essecircnshy
cia enquanto movimento de
contestaccedilatildeo c criacutetica social
Identificar as caracteriacutesticas e
manifestaccedilotildees do H ip H op no
Brasil da atualidade
Histoacuterica
Social
Apresentaccedilatildeo de dados estatiacutesticos sobre a
situaccedilatildeo do negro na sociedade brasileira
Exibiccedilatildeo de filmes e textos sobre a segreshy
gaccedilatildeo racial nos EUA e comparaccedilatildeo com
a realidade brasileira
Exibiccedilatildeo de documentaacuterio situando a
origem do H ip Hop
Exibiccedilatildeo de clipes de muacutesica que caracteshy
rizem a essecircncia do H ip Hop
Viacutedeos diversos65
Documentaacuterio ldquoH ip Hop em m oshy
vimentordquo
Documentaacuterio ldquoA Histoacuteria Do Hip
Hoprdquo
Os quatro eleshy
mentos do movishy
mento H ip Hop
Identificar e conceituar os
quatro elementos que constishy
tuem o movimento H ip Hop
Compreender a relaccedilatildeo de
cada um dos elementos com o
movimento H ip Hop
Conceituai
Social
Textos e viacutedeos sobre cada um dos eleshy
mentos
Viacutedeos produzidos pelos professores
Textos sobre os elementos do H ip
Hop
Os links paia acesso aos videos e textos utilizados na instrumentalizaccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em
lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012
=S
Rhythm and
Poetry
Compreender o rap enquanto
o ldquocanto faladordquo que denuncia
a injusticcedila e a opressatildeo de um
grupo social
Conhecer teacutecnicas de construshy
ccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap
Conceituai
Social
Teacutecnica
Anaacutelises de raps relacionados agrave realidade
social da periferia
Pesquisa sobre a estrutura e as teacutecnicas de
construccedilatildeo de um rap
Criaccedilatildeo individual eou coletiva de raps a
partir de temas propostos
Muacutesicas de grupos de rap
Clipe Negro Drama (Racionais)
Capiacutetulo sobre H ip Hop do livro D ishy
daacutetico do Paranaacute (Educaccedilatildeo Fiacutesica)
Arte nos Muros
v
Entender a histoacuteria e a evolushy
ccedilatildeo do grafitti
Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo
com o movimento H ip Hop
Conhecer o grafitti na atualishy
dade e suas linhas de expressatildeo
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de
grafitagem
Histoacuterica
Legal
Teacutecnica
Viacutedeo sobre a histoacuteria e evoluccedilatildeo do grafitti
Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das tags (asshy
sinaturas)
Viacutedeos produzidos pelos professores
Material de desenho para a vivecircnshy
cia das teacutecnicas das tags
Tintas e sprays para grafitar as tags
trabalhadas no papelatildeo ou no muro
Aumente o som
DJUuml
Identificar a ldquobatida quebrashy
dardquo (break) que caracteriza a
base musical do H ip Hop
Compreender o papel do D J
no H ip Hop
Estabelecer a diferenciaccedilatildeo enshy
tre o D J e o M C
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de
scratch e de mixagem
Conceituai
Teacutecnica
Identificaccedilatildeo da batida ldquoquebradardquo da
muacutesica e comparaccedilatildeo com outros ritmos
como por exemplo o funk
Vivecircncia de elementos baacutesicos de mixagem
Construccedilatildeo de bases mixadas das muacutesicas
Muacutesicas diversas
Mesas de mixagem ou programas
de computador para mixagem
Tutoriais diversos sobre mixagem
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Fonte
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proacute
pri
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base
em
Gas
par
in
(2011)
4) CATARSE
41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno
O Hip Hop eacute uma das mais importantes manifestaccedilotildees joshy
vens da atualidade Surgiu nos Estados Unidos nos subuacuterbios de
Nova York e Chicago na deacutecada de 1970 habitados majoritaria-
mentepor uma populaccedilatildeo negra e assolados pela pobreza traacutefico
de drogas racismo e ausecircncia de espaccedilos de lazer A cultura Hip
Hop nasce a partir de accedilotildees para conter a violecircncia e promover a
conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessidade de luta conshy
tra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis
O Hip Hop eacute composto por 4 elementos a saber o break o
rap o DJ e o grafitti No Brasil o Hip Hop encontra na deacutecada
de 1980 um terreno fecundo para o seu desenvolvimento e o Hip
Hop ganha espaccedilo enquanto um meio de luta mobilizaccedilatildeo e dishy
vulgaccedilatildeo das desigualdades sociais e raciais
Entretanto a induacutestria da muacutesica se aproveita da popularishy
dade do Hip Hop transformando-o em uma mercadoria e descashy
racterizando-o enquanto movimento social e de contestaccedilatildeo No
caso especiacutefico da danccedila acontece uma reproduccedilatildeo de coreografias
montadas perdendo o sentido da expressatildeo corporal e a criatividashy
de que fazem parte da essecircncia do break
O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos conshy
textos sendo empregado para classificar um estilo de muacutesica de
danccedila ou um jeito de se vestir conhecido como estilo B-boy asshy
sociado a marcas esportivas especiacuteficas sem contudo representar
os seus objetivos gerais de contestaccedilatildeo social
42 - Expressatildeo da Siacutentese
Construccedilatildeo de paineacuteis sobre os elementos do Hip Hop orgashy
nizaccedilatildeo de um festival de Hip Hop apresentando os pontos discu-jf
tidos na unidade de ensino
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO
Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
Conhecer mais sobre o Hip Hop sua
essecircncia e tendecircncias
Ler pesquisar e conhecer pessoas
do Movimento Hip Hop
Socializar os conhecimentos aprendishy
dos sobre o Hip Hop
Produccedilatildeo de textos eou docushy
mentaacuterios sobre os elementos a
histoacuteria e a descaracterizaccedilatildeo do
Hip Hop
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees finais
Em tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas
as esferas da vicia a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda
maior E preciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabashy
lhadora construamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contrishy
buindo para a desmistificaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta
Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo imposta pela miacutedia eacute
preciso compreender que a essecircncia do movimento Hip Hop ainda
permanece inalterada Neste sentido situar historicamente o Hip
Hop no contexto socioeconocircmico e cultural em que surgiu mdash desshy
velando sua essecircncia enquanto movimento de contestaccedilatildeo poliacutetica
e social - contribui para a compreensatildeo do aluno enquanto agente
de sua histoacuteria capaz de atuar e transformar atraveacutes de accedilotildees conshy
cretas o seu meio e as condiccedilotildees materiais de sua existecircncia
Referecircncias
AVILA A B et al Hip Hop e cultura revelando algumas ambiguidades In
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Nauemblu Ciecircncia amp Arte 2005 v 3
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3
CAPIacuteTULO VII
A DISCIPLINARIZACcedilAtildeO DOS CORPOS POR MEIO DA GINAacuteSTICA
I^eonardo Docena Pina
Miguel Fabiano de Faria
Nathagravelia Sixel Rodrigues
Ramon Mendes da Costa Magalhatildees
A ginaacutestica como conteuacutedo da Educaccedilatildeo
Fiacutesica natildeo deve ser vista como uma manifestashy
ccedilatildeo recente uma vez que se trata de uma praacutetishy
ca bastante antiga na escola se considerada em
relaccedilatildeo a outros conteuacutedos da cultura corporal
Tendo em vista as transformaccedilotildees ocorridas
com a ginaacutestica ao longo da histoacuteria algumas
questotildees emergem e conferem significados agrave
proposta deste capiacutetulo atualmente a ginaacutestishy
ca permanece como um conteuacutedo nas aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesica Como se configura a ginaacutestica
nessas aulas Como os corpos dos sujeitos enshy
volvidos nessa praacutetica satildeo abordados dentro e
fora da escola Como a sociedade compreende
esses corpos e delega agrave ginaacutestica a competecircncia
por conformaacute-los Questotildees como essas contrishy
buem para a compreensatildeo dos significados que
a praacutetica corporal ginaacutestica assume ou poderia
assumir como conteiido escolar
Compreender a ginaacutestica como conteuacuteshy
do da Educaccedilatildeo Fiacutesica nos remete ao iniacutecio
do seacuteculo XIX quando essa produccedilatildeo cultural
passou a ser considerada cientiacutefica fruto das
distintas formas de se pensar os exerciacutecios fiacutesicos em paiacuteses europeus
surgindo assim os meacutetodos ou escolas de ginaacutestica integrantes do
chamado Movimento Ginaacutestico Europeu Nessa perspectiva buscou-
-se imprimir um caraacuteter de utilidade aos exerciacutecios fiacutesicos em que
foram negadas as praacuteticas populares de artistas de rua de circo acroshy
batas que as apresentavam como espetaacuteculo trazendo o corpo como
centro de entretenimento (SOARES 1998 2001a 2001b)
Ainda segundo a autora eacute nos princiacutepios de ordem e disciplina forshy
mulados pelo Movimento Ginaacutestico Europeu bem como do afastamenshy
to do nuacutecleo primordial do divertimento que a Ginaacutestica se afirmou
como parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos Uma praacutetica capaz de potenshy
cializar a utilidade dos gestos e oferecer um espetaacuteculo ldquocontroladordquo e
institucionalizado dos usos do corpo em negaccedilatildeo aos elementos cecircnicos
funambulescos e acrobaacuteticos (SOARES 1998)
Precursora da Educaccedilatildeo Fiacutesica a Ginaacutestica cientiacutefica se afirmou
ao longo do seacuteculo X IX como siacutentese do pensamento cientiacutefico no
ocidente europeu e integrante dos novos coacutedigos de civilidade o que
vai justificar sua presenccedila no curriacuteculo escolar tambeacutem no Brasil
Como vimos a ginaacutestica foi uma das primeiras praacuteticas corposhy
rais a ser inserida na educaccedilatildeo escolar no seacuteculo XIX tanto que sua
denominaccedilatildeo ldquoGymnasticardquo foi por muitos anos considerada a proacuteshy
pria disciplina escolar sendo paulatinamente substituiacuteda no iniacutecio do
seacuteculo XX pela denominaccedilatildeo ldquoEducaccedilatildeo Physicardquo1
No Brasil ateacute as deacutecadas de 1920 e 1930 a ginaacutestica era uma
praacutetica privilegiada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica sendo orientada por
dois primados da educaccedilatildeo escolar Primeiramente o ldquoprimado da orshy
topediardquo esteve relacionado com a correccedilatildeo de desvios e com o endirei-
tamento dos corpos pretendendo constituir sujeitos robustos e higieshy
nizados Posteriormente o ldquoprimado da eficiecircnciardquo visava construir o
1 Tal expressatildeo areacute enratildeo possuiacutea um sentido mais amplo vinculado ao discurso da ldquohygienerdquo
(G O N D RA 2004) e ao pensamento de Herbert Spencer em que a educaccedilatildeo integral
seria apoiada em trecircs pilares a ldquoeducaccedilatildeo intellectual moral e physicardquo (VAGO 2002)
Assim essa ldquoeducaccedilatildeo physicardquo englobou natildeo soacute a ldquogymnasticardquo os ldquoexerciacutecios physicosrdquo e as
ldquoevoluccedilotildees militaresrdquo como tambeacutem abarcou a organizaccedilatildeo dos tempos e espaccedilos escolares a
distribuiccedilatildeo da luz a boa ventilaccedilatildeo do ambiente a disposiccedilatildeo e o formato do mobiliaacuterio o
nuacutemero de alunos por turma as refeiccedilotildees os recreios enfim todos os haacutebitos saudaacuteveis que
garantiriam o pleno ldquodesenvolvimento physicordquo dos alunos
trabalhador necessaacuterio agrave induacutestria que deveria ser dotado natildeo somente
de corpos ldquoerectosrdquo mas sobretudo de corpos eficientes prontos para
o trabalho em conjunto que de maneira eficaz tivesse rendimento em
forma de produto e de resultado (VAGO 2002)
Nesse sentido Carvalho (1997) apresenta argumentos para comshy
preender os discursos educacionais que no Brasil a partir do final do
seacuteculo XIX e nas primeiras quatro deacutecadas do seacuteculo XX procuraram
ldquo[] legitimar-se enquanto saber pedagoacutegico de tipo novo moderno experimental e cientiacuteficordquo (CARVALHO 1997 p 269) Assim ldquo[]
trabalha com duas metaacuteforas da disciplina - disciplina como ortopeshy
dia e disciplina como eficiecircnciardquo (CARVALHO 1997 p 269) De
acordo com a autora a partir da deacutecada de 1920 eacute possiacutevel perceber
uma sutil mudanccedila no discurso pedagoacutegico no Brasil
O resultado desse movimento eacute que a eficiecircncia passa a ser um
primado orientador para a escola Com efeito Vago (2002) amplia
que natildeo seria diferente para a ginaacutestica a qual migraria de uma preshy
ocupaccedilatildeo com a correccedilatildeo o endireitamento e a constituiccedilatildeo dos corshy
pos para uma preocupaccedilatildeo com a eficiecircncia dos gestos aliada aos
pressupostos da ldquovida modernardquo2
A partir das deacutecadas de 1940 e 1950 a ginaacutestica foi perdendo
espaccedilo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica para o esporte3 Atualmente
em muitas escolas esse conteuacutedo quando trabalhado tende a ser
abordado com praacuteticas descontextualizadas como apecircndice dos esshy
portes aquecimento relaxamento preparaccedilatildeo fiacutesica subsumindo
seu caraacuteter poliacutetico e social em suma natildeo o considerando como
patrimocircnio cultural a ser apropriado pela humanidade tal como
nos mostra Almeida (2005) Contudo pensar a ginaacutestica como
um conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute pensar em uma possibilidade
2 Sobre este assunto destacamos tambeacutem o trabalho de Schneider (2004)
3 Apoacutes a II Guerra Mundial num contexto de intensa urbanizaccedilatildeo e desenvolvimento
bdquoindustrial assistimos a um processo de esportivizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica influenciado
pela cultura europeia Neste momento a Educaccedilatildeo Fiacutesica passa a ter uma relaccedilatildeo de
subordinaccedilatildeo agrave instituiccedilatildeo esportiva tendo seus objetivos baseados na aptidatildeo fiacutesica
e iniciaccedilatildeo esportiva Os coacutedigos do Esporte de Rendimento como competiccedilatildeo
sucesso individual e rendimento satildeo incorporados pela Educaccedilatildeo Fiacutesica neste periacuteodo
demonstrando sua articulaccedilatildeo com a poliacutetica educacional tecnicista e seu papel na
reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais hegemocircnicas
de ampliaccedilatildeo cultural que deve privilegiar a formaccedilatildeo humana em
sua totalidade Como apresenta Ayoub (2003 p 87) aprender gishy
naacutestica na escola significa ldquoestudar vivenciar conhecer compreenshy
der perceber confrontar interpretar problematizar compartilhar
apreender as inuacutemeras interpretaccedilotildees da ginaacutestica e produzir novos
significados e novas possibilidades de expressatildeo giacutemnicardquo
Veremos no presente capiacutetulo que a ginaacutestica contemporacircnea
dentro e fora da escola pode estar imprimindo algumas permanecircncias
da ginaacutestica cientiacutefica do seacuteculo XIX entretanto sob uma nova roushy
pagem Essas permanecircncias podem ser percebidas tanto com relaccedilatildeo agrave
sua metodologia em grande medida enraizada na repeticcedilatildeo de gestos
padronizados quanto com relaccedilatildeo agraves finalidades a ela associadas que
sugerem uma nova leitura para a ldquocorreccedilatildeordquo e ldquoconstituiccedilatildeo dos corposrdquo
bem como para a ldquoeficiecircncia dos gestosrdquo associada ao mundo produtivo
e aos interesses da classe dominante
A ginaacutestica no processo de disciplinarizaccedilatildeo
O corpo dos indiviacuteduos como mais um instrumento da
produccedilatildeo passava a constituir uma preocupaccedilatildeo da classe
no poder Tornava-se necessaacuterio nele investir Todavia esse
investimento deveria ser limitado para que o corpo nunshy
ca pudesse ir aleacutem de um corpo de um ldquobom animalrdquo
Era preciso adestraacute-lo desenvolver-lhe o vigor fiacutesico desde
cedo disciplinaacute-lo enfim para sua funccedilatildeo na produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo do capital (SOARES 2001a p 33)
A partir do conceito de disciplina Foucault (1987) descreve um
processo no qual satildeo formados haacutebitos costumes modos de pensar e
agir orientados para a formaccedilatildeo dos chamados corpos doacuteceis - indiviacuteduos
que podem ser submetidos utilizados transformados e aperfeiccediloados
Em suas reflexotildees o chamado ldquopoder disciplinarrdquo possui como funccedilatildeo
maior a de ldquoadestrarrdquo os indiviacuteduos fabricando sujeitos ao mesmo temshy
po produtivos economicamente e submissos politicamente
Os processos disciplinares segundo o autor assumiram no decorshy
rer dos seacuteculos XVII e XVIII formas gerais de dominaccedilatildeo diferentes
da escravidatildeo da domesticidade da vassalidade e do ascetismo por
exemplo visto que este novo contexto histoacuterico eacute o momento no qual
nasce uma arte do corpo humano que visa natildeo unicamente o aumento
de suas habilidades mas a formaccedilatildeo de uma relaccedilatildeo que no mesmo
mecanismo o torna tanto mais obediente quanto eacute mais uacutetil ldquoForma-
-se entatildeo uma poliacutetica das coerccedilotildees que satildeo um trabalho sobre o corpo
uma manipulaccedilatildeo calculada de seus elementos de seus gestos de seus
comportamentosrdquo (FOUCAULT 1987 p 119)
Nesse processo as teacutecnicas de distribuiccedilatildeo dos indiviacuteduos no espashy
ccedilo assim como o controle da atividade pela regulaccedilatildeo do tempo e pelo
adestramento dos gestos vatildeo configurando novas praacuteticas em diferentes
instituiccedilotildees Assim as faacutebricas os quarteacuteis os hospitais e tambeacutem as
escolas se configuram como locais responsaacuteveis para a disciplinarizaccedilatildeo
dos indiviacuteduos No caso do ambiente escolar essa formaccedilatildeo demandava
a manutenccedilatildeo dos alunos entre as paredes da sala de aula submetidos
ao olhar vigilante do professor o tempo suficiente para domar seu cashy
raacuteter e dar forma adequada a seu comportamento (ENGU1TA 1989)
E com esse mesmo objetivo no que se refere ao projeto de
formaccedilatildeo humana que a ginaacutestica por meio dos meacutetodos ginaacutesshy
ticos foi incorporada pelas concepccedilotildees educacionais do final do
seacuteculo XV III e iniacutecio do seacuteculo X IX (SOARES 2001a)
Regenerar a raccedila promover a sauacutede (sem alterar as condiccedilotildees
degradantes de vida) desenvolver a vontade a forccedila a ldquoenergiardquo (para
servir agrave paacutetria e agrave induacutestria) foram algumas das finalidades atribuiacutedas
agrave ginaacutestica no contexto de consolidaccedilatildeo do capitalismo na Europa A
ecircnfase na disciplinarizaccedilatildeo dos corpos acabou por delinear na educashy
ccedilatildeo escolar uma praacutetica pedagoacutegica na qual sessotildees de ginaacutestica tratashy
vam os alunos de forma homogecircnea com accedilotildees reduzidas agrave repeticcedilatildeo
de movimentos estereotipados tal como sugere Marinho (19--) ao
descrever uma liccedilatildeo de ginaacutestica orientada pelo Meacutetodo Francecircs
Para fazer executar um movimento o instrutor
comanda - ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo devendo este
comando ser substituiacutedo para as crianccedilas pela adshy
vertecircncia ldquoAtenccedilatildeordquo Se o movimento exige uma poshy
siccedilatildeo de partida o instrutor a indicaraacute lt rnminJraquo-
ldquoPosiccedilatildeordquo Enuncia o exerciacutecio e ao comando ldquoCoshy
meccedilarrdquo Todos executam o movimento prescrito As
posiccedilotildees de partida dos ldquoassouplissementsrdquo assimeacuteshy
tricos satildeo a princiacutepio tomadas agrave esquerda Termishy
nado o exerciacutecio nesta posiccedilatildeo o instrutor comanda
ldquoMudarrdquo Os alunos retornam agrave posiccedilatildeo de partida agrave
direita e executam novamente o exerciacutecio prescrito
Ao comando de ldquoCessarrdquo todo o movimento cessa
sem precipitaccedilatildeo e a posiccedilatildeo de partida eacute retomada
A posiccedilatildeo de partida soacute eacute deixada ao comando de
ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo No comando de ldquoDescanshy
ccedilarrdquo os alunos permanecem no lugar sem serem
obrigados a conservar a posiccedilatildeo primitiva e a imobishy
lidade (M A R IN H O 19- p 110-111)
Conforme explica Soares (2001a) todo o ideaacuterio colocado em
praacutetica pelo pensamento higienista do qual resulta o modelo de aula
descrito acima impocircs uma disciplina que pretendia adequar o corpo ao
trabalho fabril tornando-o mais doacutecil e submisso sob a oacutetica poliacutetica
e ao mesmo tempo mais aacutegil forte e robusto sob a oacutetica da produccedilatildeo
E importante considerar a possibilidade de o processo de dis-
ciplinarizaccedilatildeo mdash descrito por Foucault e incorporado de forma sushy
bordinada por Soares (2001a) - natildeo ter sido totalmente superado
ou seja esse fenocircmeno pode estar se apresentando ainda nos dias
de hoje de uma nova forma atualizada
Na concepccedilatildeo gramsciana todo esse processo de ldquodisciplinariza-
ccedilatildeordquo pode ser compreendido como uma tentativa - da classe domishy
nante mdash de formaccedilatildeo teacutecnica e de conformaccedilatildeo eacutetico-poliacutetica das masshy
sas com o intuito de reconfigurar o modo de vida em conformidade
com as demandas colocadas pelo modo de produccedilatildeo da existecircncia
humana em expansatildeo naquele contexto histoacuterico
Em Americanismo e Fordismo Gramsci (2001 p 251) explica
que ldquoa vida na induacutestria exige um aprendizado geralrdquo um processhy
so de adaptaccedilatildeo psicofiacutesica a determinadas condiccedilotildees de trabalho
de nutriccedilatildeo de habitaccedilatildeo de costumes de valores algo que natildeo
eacute inato natural mas exige ser adquirido Portanto a partir dessa
reflexatildeo torna-se possiacutevel compreender que no modo de produccedilatildeo
da vida em formaccedilatildeo no contexto histoacuterico de incorporaccedilatildeo dos meacuteshy
todos ginaacutesticos na escola os exerciacutecios fiacutesicos desempenhavam um
papel importante uma vez que o novo tipo de homem demandado
pelo bloco no poder deveria possuir um corpo saudaacutevel forte aacutegil
e disciplinado construiacutedo a partir da adoccedilatildeo de um novo modo de
vida E exatamente para contribuir com a formaccedilatildeo desse novo tipo
de homem que a ginaacutestica estruturada dentro ou fora da instituishy
ccedilatildeo escolar passou a constituir um dos mecanismos utilizados para
instrumentalizar a vontade adequar e reorganizar gestos e atitudes
necessaacuterios agrave reproduccedilatildeo da sociedade4
A questatildeo que necessitamos discutir refere-se agrave possibilidade
de existecircncia de um processo contemporacircneo de mesmo tipo mas
atualizado voltado agrave formaccedilatildeo de um novo modo de vida necessaacuteshy
rio agrave reproduccedilatildeo do capitalismo contemporacircneo Portanto quesshy
tionamos seraacute que a ginaacutestica contemporacircnea se relaciona com a
formaccedilatildeo de novos corpos doacuteceis A ginaacutestica hoje atende de alguma
forma aos interesses de reproduccedilatildeo da sociedade Existem elementos
contraditoacuterios que permitem uma apropriaccedilatildeo criacutetica da ginaacutestica
Longe de assumir a tarefa de esgotar as reflexotildees sobre o tema
entendemos ser necessaacuterio destacar inicialmente que as modifishy
caccedilotildees ocorridas no capitalismo a partir da deacutecada de 1970 em
resposta agrave chamada crise do keynesianismo-fordismo represenshy
taram uma mudanccedila no regime de acumulaccedilatildeo - do fordismo agrave
ldquoacumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo (HARVEY 2007) Ao modelo fordista seshy
gundo Chauiacute (2001) o bloco no poder respondeu com a terceirishy
zaccedilatildeo a desregulamentaccedilatildeo o predomiacutenio do capital financeiro
a dispersatildeo e fragmentaccedilatildeo da produccedilatildeo aleacutem da centralizaccedilatildeo
velocidade da informaccedilatildeo e da velocidade das mudanccedilas tecnoloacuteshy
gicas ao modelo keynesiano do Estado de Bem-Estar o bloco no
poder respondeu com a ideia do ldquoEstado m iacutenimordquo a desregulaccedilatildeo
do mercado a competitividade e a privatizaccedilatildeo da esfera puacuteblica
As modificaccedilotildees provenientes desse processo de reproduccedilatildeo
do capitalismo natildeo atingiram apenas a organizaccedilatildeo de grandes
______________ 4 Natildeo eacute objetivo deste texto discutir as distinccedilotildees entre Foucault e Gramsci no que diz respeito
ao conceito de disciplina Optamos por trabalhar com a vertente marxista incorporando de
lorma subordinada ao nosso referencial as contribuiccedilotildees que Foucault daacute ao tema
empresas jaacute consolidadas no mercado mas tambeacutem novos emshy
preendimentos como as academias de ginaacutestica por exemplo5
Conforme evidencia Furtado (2007) as academias vecircm acomshy
panhando a tendecircncia de implementaccedilatildeo dos elementos centrais
da acumulaccedilatildeo flexiacutevel passando a funcionar em uma dinacircmica
caracterizada pela flexibilidade pela introduccedilatildeo de equipamentos
com tecnologia cada vez mais avanccedilada pela diversificaccedilatildeo das
mercadorias oferecidas e tambeacutem pelo ldquofoco no clienterdquo que
pode ser evidenciado pela constante busca de ldquonovasrdquo ofertas e
novidades capazes de atrair e reter consumidores
As aulas de ginaacutestica saacuteo por exemplo ldquoaulas-showrdquo
com equipamentos iluminaccedilatildeo decoraccedilatildeo e sonorishy
zaccedilatildeo que favorecem ao ldquoespetaacuteculordquo e desempenham
um papel importante na seduccedilatildeo do cliente Assim
tambeacutem eacute toda a complexa estrutura que possui a acashy
demia ou seja natildeo eacute soacute a aula que deve ser um ldquoshowrdquo
e sim tambeacutem toda a academia com decoraccedilatildeo sonorishy
zaccedilatildeo iluminaccedilatildeo e equipamentos que desempenhem
funccedilotildees de encantar e atender aos desejos dos clientes
de experimentar sensaccedilotildees diversas dentre elas a sensashy
ccedilatildeo de ldquostatusrdquo (FURTADO 2007 p 311)
E interessante destacar que o formato atrativo das aulas tende a
captar de forma mais eficiente os consumidores visto que eles acabam
desconsiderando os incipientes resultados reais obtidos pela realizaccedilatildeo
das aulas de determinados programas que na verdade se sustentam
mais pelos fatores de cunho emocional do que pelos ganhos obtidos
com sua praacutetica Ao analisar as teacutecnicas de inovaccedilatildeo do empresariado
do Fitness mais especificamente um determinado programa da franshy
quia Curves Mascarenhas et al (2007) constatam que a pseudossensa-
ccedilatildeo de bem-estar sauacutede e beleza produzida pelas aulas eacute acompanhada
por um amplo e intenso processo de persuasatildeo comum agraves cartilhas
de marketing para academias Segundo os autores a base de legitima-
5 A acumulaccedilatildeo flexiacutevel eacute marcada dentre outros aspectos pela superaccedilatildeo da
rigidez caracteriacutestica do fordismo se apoiando na flexibilidade dos processos
e mercados de trabalho aleacutem dos produtos e padrotildees de consumo Para
compreender melhor como as modificaccedilotildees no regime de acumulaccedilatildeo
afetaram a aacuterea Fitness recorrer agrave Quelhas (2012)
ccedilatildeo racional tecno-cientiacutefica eacute secundarizada frente ao acreacutescimo de
inovaccedilotildees criativas de base emocional Talvez isso explique ao menos
em parte por que ainda hoje sejam consideradas bastante atrativas
algumas aulas de ginaacutestica de academia que em muito se assemelham
agraves sessotildees de ginaacutestica do seacuteculo passado Estamos nos referindo aos
atuais formatos padronizados de sessotildees de ginaacutestica que se orientam
na repeticcedilatildeo de movimentos estereotipados geralmente com mesma
intensidade a serem realizados pelos alunos em conformidade com
comandos do professor - ou de uma voz jaacute gravada a ser reproduzida
em aparelhos eletroeletrocircnicos Conforme evidenciam Toledo e Pires
(2008) alguns programas tendem a desconsiderar na aula dificuldashy
des ou niacutevel de condicionamento fiacutesico dos alunos uma vez que os
professores muitas vezes tecircm que seguir com exatidatildeo a aula desshy
crita na apostila e ensinada nos cursos assim como natildeo podem sair
da posiccedilatildeo de ldquoatores eperformersrdquo para corrigir eou dar uma atenccedilatildeo
especial ao aluno com dificuldades durante a aula As autoras mencioshy
nam por sua vez que esses elementos ao serem considerados pelos
alunos como determinantes de insatisfaccedilatildeo estatildeo sendo revistos pershy
mitindo aos professores sua modificaccedilatildeo
O incentivo ao consumo das ldquonovasrdquo modalidades de ginaacutestica
de academia ainda eacute acompanhado pela forte influecircncia da miacutedia na
organizaccedilatildeo dos valores dominantes Natildeo soacute o medo de engordar mas
uma gama de valores e comportamentos atrelados ao culto ao corpo
tem contribuiacutedo significativamente para a difusatildeo de um padratildeo a ser
almejado e - em alguns casos - para o desenvolvimento dos chamados
transtornos alimentares como a anorexia por exemplo6
Em virtude da discussatildeo realizada torna-se importante quesshy
tionar se a difusatildeo de valores responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de novos
desejos relacionados ao consumo das mercadorias a serem vendishy
das nas academias de ginaacutestica hoje se constitui como uma forma
atual de disciplinarizaccedilatildeo subordinando os indiviacuteduos aos interesshy
ses dominantes Da mesma forma a difusatildeo de receitas exerciacutecios
------------ 6 A influecircncia da miacutedia no culto ao corpo foi trabalhada por Berger (2007 2010) Sobre
anorexia destacam-se os textos de Cordas (2004) Giordani (2006) e ainda o de Niemeyer e
Kruse (2008)
ou programas de ginastica milagrosos pode estar desempenhanshy
do importante funccedilatildeo educativa sobretudo no caso das pessoas
que natildeo dominam o conhecimento necessaacuterio para criticaacute-los e
por isso acabam por aderir ao consumo de mercadorias que nem
sempre produzem o resultado desejado
Consideramos que a transmissatildeo do conhecimento historicamente
sistematizado pela humanidade sobre o tema se constitui como um passo
importante para superar esse possiacutevel processo atual de ldquoadestramentordquo
A praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a ginaacutestica
Na perspectiva que orienta este trabalho o trato pedagoacutegico com a
ginaacutestica na escola deve se articular agrave tarefa de socializaccedilatildeo das formas mais
desenvolvidas do conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico produzido
pela humanidade ao longo do tempo uma vez que possibilita aos alunos asshy
sumir uma nova postura na praacutetica social qual seja a de sujeito histoacuterico7
No caso do tema abordado neste artigo isso significa transmitir um conheshy
cimento que permita aos alunos assumir uma nova relaccedilatildeo com a ginaacutestica
Compreendendo que o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos
corpos se constitui como um possiacutevel tema a ser trabalhado na
escola desenvolvemos um trabalho pedagoacutegico orientado pela
Pedagogia histoacuterico-criacutetica com uma turma (composta por 30
alunos de ambos os sexos) do segundo ano do Ensino Meacutedio no
Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste
de Minas Gerais (IF Sudeste M G ) Campus Juiz de Fora8 A seshy
7 A respeito disso ver Coletivo de Autores (1992)
8 Essa experiecircncia foi resultado de um Estaacutegio Curricular Obrigatoacuterio desenvolvido em
2011 quando Nathaacutelia Sixel Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees cursavam
a Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacutesica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Tal experiecircncia deu origem a um Trabalho de Conclusatildeo de Curso (MAGALHAtildeES
RODRIG UES 2011) orientado por Leonardo Docena Pina na eacutepoca professor substituto
da FACED-UFJF As discussotildees realizadas entre os acadecircmicos o orientador e Miguel Fabiano
de Faria professor da turma do IF Sudeste M G que recebeu os estagiaacuterios demandaram a
continuidade do estudo abordando novas reflexotildees que naquela ocasiatildeo natildeo puderam ser
feitas O presente texto portanto parte da experiecircncia de estaacutegio mas natildeo se limita a este uma
vez que elaboramos outro plano de trabalho para englobar novas dimensotildees do conteuacutedo natildeo
abordadas naquela ocasiatildeo Para facilitar a compreensatildeo dos aspectos didaacuteticos expostos neste
texto apresentaremos o planejamento mais elaborado como experiecircncia jaacute desenvolvida
guir apresentamos a experiecircncia desenvolvida a partir dos passos
metodoloacutegicos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica
Na identificaccedilatildeo da praacutetica social buscamos debater as seguintes
questotildees a ginaacutestica de hoje eacute igual agrave de antigamente Ela sofre influecircnshy
cia da miacutedia Existem diferenccedilas entre as praacuteticas de ginaacutestica voltadas
para a esteacutetica ou para a sauacutede Ginaacutestica promove sauacutede Qualquer
exerciacutecio que praticamos faz nosso corpo ldquoqueimarrdquo gordura Em seshy
guida os alunos foram informados de que estudariacuteamos algumas reshy
laccedilotildees entre ginaacutestica e sociedade ao longo da histoacuteria a partir de um
meacutetodo de apreensatildeo da realidade que tem o objetivo de transformar a
sociedade em que vivemos Os seguintes toacutepicos foram apresentados a
importacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise dos discurshy
sos da sauacutede e da esteacutetica a ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do
seacuteculo XIX aos dias de hoje a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos
desejos e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave
ginaacutestica introduccedilatildeo aos fundamentos cientiacuteficos do treinamento car-
diorrespiratoacuterio Cada um desses toacutepicos foi apresentado em conjunto
com os objetivos formulados sistematizados no plano de unidade
Ainda neste momento buscou-se identificar o que os alunos jaacute
sabiam sobre o tema Eles identificaram a praacutetica da ginaacutestica como
importante para a sauacutede e apontaram os ldquoobjetivos esteacuteticosrdquo como
influecircncia para aderir agrave praacutetica de ginaacutestica poreacutem natildeo demonstrashy
ram compreender o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
O processo de aprimoramento da compreensatildeo dos alunos
sobre o tema foi direcionado por questionamentos referentes agraves
suas respectivas dimensotildees conforme apresentado na problema-
tizaccedilatildeo disposta no plano de unidade
Para transmitir os conhecimentos necessaacuterios agrave compreenshy
satildeo das questotildees levantadas na problematizaccedilatildeo optou-se por
trabalhar na instrumentalizaccedilatildeo com atividades embasadas prinshy
cipalmente nas discussotildees apresentadas em Soares (1998) Soshy
ares (2001a) Angulski et al (2006) e Mcardle Katch e Katch
(2003) Aleacutem de aulas expositivas trabalhamos o conteuacutedo por
meio de vivecircncia praacutetica da ginaacutestica
Iniciamos esra fase com uma exposiccedilatildeo que abordou a evoluccedilatildeo
da Ginaacutestica ao longo da Histoacuteria enfatizando as formas originais de
disciplinarizaccedilatildeo Ou seja nos concentramos nos Meacutetodos Ginaacutesticos
e discutimos sua influecircncia na configuraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica em
meados do seacuteculo XIX Logo apoacutes a exposiccedilatildeo uma vivecircncia praacutetica
foi realizada (nos moldes do Meacutetodo Francecircs) de modo a ampliar
a compreensatildeo da forma como era trabalhado esse conteuacutedo antishy
gamente aleacutem de buscar novos elementos para enriquecimento da
discussatildeo sobre a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Para discutir a expressatildeo contemporacircnea dessa produccedilatildeo cultural
apresentamos diferentes tipos de praacuteticas de ginaacutestica para vivecircncia e
posterior discussatildeo dos objetivos que levam as pessoas a praticaacute-las
esteacutetica ou sauacutede Salientamos neste momento alguns benefiacutecios da
ginaacutestica para a qualidade de vida e se esses estatildeo tambeacutem ligados agrave
esteacutetica O aprimoramento da compreensatildeo dos alunos sobre os beshy
nefiacutecios da ginaacutestica tambeacutem foi acompanhado por uma exposiccedilatildeo
dos modos de afericcedilatildeo da frequecircncia cardiacuteaca e das diferentes zonas
de treinamento e consumo de substratos energeacuteticos Assim pudemos
vivenciar algumas praacuteticas de ginaacutestica controlando a intensidade do
exerciacutecio de acordo com diferentes zonas alvo estipuladas Por fim
ainda na discussatildeo sobre esse tema buscamos situar a sauacutede e a qualishy
dade de vida como questotildees sociais a partir de uma exposiccedilatildeo seguida
da discussatildeo de reportagens previamente selecionadas
Ainda na instrumentalizaccedilatildeo apoacutes leituras indicadas para os alushy
nos realizarem em casa discutimos a influecircncia da miacutedia na praacutetica
de ginaacutestica nos modelos de corpo e nas accedilotildees para obtecirc-los Em
seguida elaboramos paineacuteis com recortes e reportagens de revistas
problematizando o tema Cada grupo apresentou seu painel ao final
Para explicitar a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy
naacutestica em sua expressatildeo contemporacircnea acreditamos que eacute posshy
siacutevel discutir a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos
e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave
ginaacutestica Aleacutem do mais a vivecircncia (seguida da problematizaccedilatildeo)
de alguns programas de ginaacutestica vendidos nas academias hoje
0
permite ao aluno compreender possiacuteveis traccedilos de disciplinariza-
ccedilaacuteo que se mantecircm ainda que de forma renovada
Ao final das atividades na catarse foi possiacutevel identificar que granshy
de parte dos alunos manifestou uma nova compreensatildeo da relaccedilatildeo exisshy
tente entre a ginaacutestica e a Educaccedilatildeo Fiacutesica nos diferentes momentos
da histoacuteria A nova maneira de entender o conteuacutedo mostrou-se mais
elaborada com domiacutenio de conceitos e entendimento de implicaccedilotildees
da sociedade na ginaacutestica e da ginaacutestica na sociedade Desafiados a sinshy
tetizar o que aprenderam os alunos se aproximaram do entendimenshy
to de que a ginaacutestica eacute uma atividade corporal que no seacuteculo XJX
atraveacutes dos meacutetodos ginaacutesticos atrelou-se agrave eugenia higiene assentada
no discurso da melhoria da sauacutede dos trabalhadores e da elevaccedilatildeo da
eficiecircncia no processo de produccedilatildeo No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre
ginaacutestica e qualidade de vida expressaram que a ginaacutestica isoladamente
natildeo garante melhora da sauacutedequalidade de vida pois estas estatildeo aliashy
das ao acesso agrave habitaccedilatildeo atendimento meacutedico transporte garantia
de emprego condiccedilotildees de trabalho seguras saneamento baacutesico e alishy
mentaccedilatildeo de qualidade dentre outros Enfatizaram o entendimento de
que a ginaacutestica tem desempenhado um papel secundaacuterio nas praacuteticas
de Educaccedilatildeo Fiacutesica no entanto tem sido objeto de ldquomercado rizaccedilatildeordquo
no cotidiano dos indiviacuteduos influenciados pela miacutedia A ginaacutestica soshy
bretudo sua praacutetica na busca de um padratildeo de corpo ideal tambeacutem
foi discutida sendo os meios iliacutecitos e exagerados como anabolizan-
tes esteroides dietas excessivas apontados como agentes nocivos que
poderiam levar a doenccedilas como a vigorexia anorexia e bulimia Neste
momento tambeacutem puderam se aproximar do entendimento de que dishy
ferentes intensidades nos exerciacutecios produzem efeitos distintos no nosso
corpo E ainda que a intensidade do exerciacutecio pode ser mensurada
atraveacutes da frequecircncia cardiacuteaca de maneira faacutecil e funcional9
Para os alunos expressarem a siacutentese a que ascenderam utilizamos
um trabalho final no qual foi proposto um ldquoquizrdquo educativo seguido
de uma discussatildeo o que permitiu abordar todo conteuacutedo trabalhado4
9 Naquela ocasiatildeo natildeo foi possiacutevel aprofundar o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
em suas formas contemporacircneas razatildeo que nos limitou a trabalhar apenas com as formas
originais desse processo conforme mencionado anirrinrmfnrraquo
A finalizaccedilatildeo das atividades na praacutetica social final envolveu a deshy
finiccedilatildeo de intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo no sentido de explicitar que a
apropriaccedilatildeo do conhecimento historicamente elaborado sobre a ginaacutesshy
tica possibilita aprimorar a atuaccedilatildeo na praacutetica social contribuindo para
uma postura criacutetica frente o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos10
Plano de unidade
A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Instiuiccedilatildeo Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia
Juiz de Fora
Disciplina Educaccedilatildeo Fiacutesica
Ano de escolaridade turma 2o ano do ensino meacutedio
Conteuacutedo Ginaacutestica
Unidade A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Nuacutemeros de aulas 8-10
OBJETIVOS GERAIS
bull Identificar a sauacutede e a esteacutetica como elementos centrais nos
discursos dominantes atualmente sobre a importacircncia da
praacutetica de ginaacutestica de modo a reconhecer suas implicaccedilotildees
sociais
bull Compreender o papel desempenhado pelos Meacutetodos
Ginaacutesticos na educaccedilatildeo dos corpos no seacuteculo XIX a fim
de enumerar possiacuteveis elementos de continuidaderuptura
em relaccedilatildeo agrave praacutetica de ginaacutestica em academias atualmente
bull Refletir sobre a influecircncia da miacutedia no incentivo ao
consumo de mercadorias relacionadas agrave ginaacutestica de
modo a posicionar-se criticamente diante das formulaccedilotildees
predominantes
10 Quadro detalhado sobre as intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo encontra-se no planejamento
apresentado a seguir
bull Conhecer alguns princiacutepios baacutesicos do treinamento
cardiorrespiratoacuterio para aplicaacute-los em suas praacuteticas corporais
e utilizaacute-los na anaacutelise das receitas milagrosas difundidas
atualmente
1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL
11 Anuacutencio dos conteuacutedos
Conteuacutedo ginaacutestica
Tema A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Toacutepicos
bull A im portacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise
dos discursos da sauacutede e da esteacutetica
bull A ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do seacuteculo X I X aos
dias de hoje
bull A influecircncia da m iacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos e
necessidades para o consum o de mercadorias relacionadas agrave
ginaacutestica
bull Introduccedilatildeo aos fundam entos cientiacuteficos do treinam ento
cardiorrespiratoacuterio
12 Vivecircncia do conteuacutedo
bull O que os alunos sabem ginaacutestica emagrece faz bem agrave sauacutede
haacute diferentes formas praticada em diferentes lugares
bull O que os alunos gostariam de saber todo exerciacutecio fiacutesico
eacute ginaacutestica Por quanto tempo preciso praticar ginaacutestica
para emagrecer Musculaccedilatildeo eacute ginaacutestica Como ficar com o
corpo igual aos praticantes de ginaacutestica competitiva Todas
as pessoas podem praticar todos os tipos de ginaacutestica Como
a ginaacutestica pode favorecer a prevenccedilatildeo de doenccedilas
2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO
21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo
A ginaacutestica de hoje eacute igual a de antigamente Ela sofre influecircncia da
miacutedia Existem diferenccedilas entre a praacutetica voltada agrave esteacutetica ou agrave sanrW
22 Dimensotildees do conteuacutedo
Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
D IM E N S Otilde E S Q U E ST Otilde E S P R O B L E M A T IZ A D O R A S
Conceituai
O que eacute ginaacutestica A ginaacutestica voltada para a sauacutede ou para a esteacutetica
se configura da mesma forma Toda ginaacutestica tem as mesmas caracteshy
riacutesticas O que eacute frequecircncia cardiacuteaca e qual sua relaccedilatildeo com as diferenshy
tes imensidades do exerciacutecio fiacutesico Quais sinais emitidos pelo nosso
corpo nos permitem estimar a queima ou natildeo de gordura O que eacute
disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Econocircmica
0 padratildeo de corpo perfeito tem alguma utilidade econocircmica Todos
tecircm condiccedilotildees de usufruir das possibilidades que o mercado oferece para
a melhora da qualidade de vida da populaccedilatildeo O desejo crescente pela
busca de novas modalidades de ginaacutestica de academia tem funccedilatildeo ecoshy
nocircmica importante nos dias de hoje
Histoacuterica
A ginaacutestica sempre se apresentou da mesma forma ao longo da hisshy
toacuteria H aacute diferenccedilas e semelhanccedilas entre a praacutetica de antigamente
e a atual Qual a funccedilatildeo atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto de sua
inserccedilatildeo na escola
CulturalCom o a miacutedia influencia nossos haacutebitos A miacutedia influenciava as
praacuteticas de ginaacutestica antigamente tambeacutem
Esteacutetica
Sempre existiu padratildeo de corpo A m iacutedia difundia algum padratildeo
de corpo antigamente A praacutetica de ginaacutestica tem sido realizada
somente para a obtenccedilatildeo de um corpo belo Essa difusatildeo de um
padratildeo de corpo ideal cria na populaccedilatildeo desejos e imagens sobre
seus proacuteprios corpos
Poliacutetica
A praacutetica de ginaacutestica por si soacute favorece a melhoria da sauacutede da
populaccedilatildeo de forma isolada ou outros fatores como renda morashy
dia emprego transporte atendimento meacutedico e alimentaccedilatildeo satildeo
importantes
Teacutecnica
Com o aferir a frequecircncia cardiacuteaca Com o identificar a intensidade dos
exerciacutecios Com o definir as zonas de treinamento a partir da afericcedilatildeo
da frequecircncia cardiacuteaca Quais satildeo os gestos que definem os movimenshy
tos da ginaacutestica
7onte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
31 Accediloacutees docentes e discentes
bull Exposiccedilatildeo do professor
bull Vivecircncia de diferentes formas de ginaacutestica passando dos
Meacutetodos Ginaacutesticos agraves modalidades contemporacircneas de
ginaacutestica de academia
bull Discussatildeo de textos com os alunos
bull Visualizaccedilatildeo anaacutelise e debate de documentaacuterioreportagem
em viacutedeo
bull Vivecircncia praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos mdash aferindo a frequecircncia
cardiacuteaca de si mesmo e do companheiro aleacutem de controlar
a zona alvo em diferentes intensidades
bull Elaboraccedilatildeo de painel com recortes e reportagens de jornais
eou revistas
32 Recursos materiais
Jornais revistas internet slides e materiais para praacutetica de gishy
naacutestica
4) CATARSE
41 Siacutentese teoacuterica do aluno
Com o desenvolvimento da sociedade capitalista na Europa
do seacuteculo XIX a Ginaacutestica Cientiacutefica ou Meacutetodos Ginaacutesticos acashy
baram por assumir a funccedilatildeo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos Para
subordinar poliacutetica e economicamente os indiviacuteduos agraves exigecircncias
das relaccedilotildees sociais dominantes naquele contexto a ginaacutestica foi
inclusive inserida nas escolas onde era praticada atraveacutes de exershy
ciacutecios padronizados com pouco ou nenhum espaccedilo para reflexotildees
dos alunos que deveriam executar os movimentos conforme os
comandos do professor (instrutor) Assim buscava-se contribuir
para formar sujeitos produtivos economicamente e ao mesmo
empo submissos politicamente capazes de contribuir para o de-
envolvimento das relaccedilotildees sociais que se aprofundavam na eacutepoca
Ao longo da histoacuteria a ginaacutestica passou por inuacutemeras trans-
ormaccedilotildees e atualmente seu viacutenculo com o discurso da promoshy
ccedilatildeo da sauacutede e da esteacutetica tem lhe garantido a manutenccedilatildeo de
am status privilegiado dentre as manifestaccedilotildees da cultura corposhy
ral Poreacutem se antigamente a educaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy
naacutestica visava formar um homem forte e apto ao trabalho fabril
atualmente a ginaacutestica parece atrelada a um processo educativo
voltado ao consumo desenfreado de mercadorias sejam as ldquonovasrdquo
modalidades oferecidas nas academias ou os diversos produtos que
visam agrave obtenccedilatildeo de um padratildeo de corpo ideal
Enquanto a busca desenfreada pelo padratildeo de corpo perfeito
acaba por influenciar transtornos como anorexia vigorexia e buli-
mia o discurso orientado na relaccedilatildeo (direta) entre praacutetica de ginaacutestishy
ca e obtenccedilatildeo da sauacutede acaba por mascarar o fato de que a qualidade
de vida e a sauacutede satildeo conceitos que envolvem condiccedilotildees de vida
como habitaccedilatildeo emprego condiccedilotildees de trabalho atendimento meacuteshy
dico de qualidade alimentaccedilatildeo dentre outros
A anaacutelise do processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes
da ginaacutestica e a apropriaccedilatildeo dos fundamentos baacutesicos do treinashy
mento cardiorrespiratoacuterio nos auxiliam no desenvolvimento de
uma postura criacutetica com a ginaacutestica a sociedade contemporacircnea e
seus discursos predominantes sobre o tema
42 Expressatildeo da siacutentese
Realizaccedilatildeo de prova e participaccedilatildeo em um quiz educativo ambos
abordando todo conteuacutedo estudado
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO
Quadro 2 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
1 Conhecer mais sobre a ginaacutestica1 Leitura de revistas e artigos soshy
bre ginaacutesticas
2 Discutir o comportamento dos inshy
diviacuteduos e suas praacuteticas de ginaacutestica
de acordo com seus objetivos sauacutede
eou esteacutetica
2 Observar e perguntar aos memshy
bros da sua comunidade se pratishy
cam e por que praticam ginaacutestica
e informaacute-los de seus limites e beshy
nefiacutecios
3 Posicionar-se criticamente sobre a
influecircncia da miacutedia nas praacuteticas de gishy
naacutesticas atuais
3 Numa discussatildeo sobre a gishy
naacutestica manifestar sua opiniatildeo
argumentando a favor ou contra
de acordo com o conhecimento
adquirido criticar a difusatildeo do
padratildeo de corpo ideal
4 Difundir o entendimento de que
outros fatores interferem na qualishy
dade de vida dos indiviacuteduos aleacutem da
ginaacutestica
4 Explicar a outras pessoas que
fatores como acesso agrave habitaccedilatildeo
atendimento meacutedico transporte
garantia de emprego condiccedilotildees
de trabalho seguras saneamento
baacutesico e alimentaccedilatildeo de qualidashy
de tambeacutem interferem na qualishy
dade de vida da populaccedilatildeo aleacutem
da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos
5 Realizar exerciacutecios na intensidade
de acordo com seus objetivos
5 Controlar sua frequecircncia cardiacute
aca durante a praacutetica de ginaacutestica e
demais exerciacutecios fiacutesicos
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees Finais
Este texto buscou apresentar uma experiecircncia pedagoacutegica na qual
a ginaacutestica foi trabalhada na escola sob orientaccedilatildeo da Pedagogia his-
toacuterico-criacutetica Destacamos que essa experiecircncia deve ser vista com um
olhar mais profundo pois cada escola tem caracteriacutesticas especiacuteficas e
singularidades que podem facilitar ou dificultar o processo pedagoacutegico
Vale ressaltar que a experiecircncia descrita natildeo esgota as inuacutemeras
possibilidades de trabalho a serem desenvolvidas com o tema ou com
a ginaacutestica Da mesma forma o conhecimento transmitido se constishy
tui apenas como parte do amplo leque de conhecimentos necessaacuterios
para o desenvolvimento de uma leitura criacutetica da realidade
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CAPIacuteTULO VIII
0 LUGAR E HORA DO CIRCO NA ESCOLA REFLEXOtildeES SOBRE A REINVENCcedilAtildeO DA CULTURA CIRCENSE NA SOCIEDADE CONTEMPORAcircNEA
Adriano de Paiva Reis
Carla Cristina Carvalho Pereira
Frederico Duarte Gomes Tostes
Haacute sempre um pouco de circo no corashy
ccedilatildeo de toda crianccedila Haacute sempre um pouco de
crianccedila no coraccedilatildeo de todo adulto Dentro de
noacutes despertam ecos as faceacutecias do palhaccedilo o
encanto da bailarina a cavalo as proezas do
trapeacutezio o destemor do homem que enfrenta
leotildees e tigres O fasciacutenio que aureola nossas
recordaccedilotildees vem do resto de infacircncia que -
felizmente - ainda ficou em noacutes E enquanto
houver ressoando alegre e contagiante um
riso de crianccedila haveraacute sempre um grito enshy
tusiaacutestico pronto a explodir - Viva o circo
(RUIZ 1987)
A arte circense eacute para muitos estudiosos
considerada uma das manifestaccedilotildees culturais
mais tradicionais do mundo Sobrevivendo de
geraccedilatildeo a geraccedilatildeo o circo vem perdurando no
tempo Maacutegicos trapezistas malabaristas pashy
lhaccedilos domadores e encantadores de animais
selvagens o fasciacutenio despertado pelo circo traz
encantamento e mexe com o imaginaacuterio do
homem haacute anos independente da idade
Marginalizada durante muito tempo as atividades circenses
hoje viraram nicho de mercado O circo vem ocupando cada vez
mais espaccedilo e ganhando maior visibilidade nos dias atuais seja
em academias de ginaacutesticas clubes escolas para formaccedilatildeo de cirshy
censes semaacuteforos dentre outros
Embora a produccedilatildeo teoacuterica a respeito do tema tenha crescido a
partir do iniacutecio dos anos 2000 e um nuacutemero significativo de artigos
sobre esse conteuacutedo esteja sendo publicado nos principais perioacutedishy
cos de Educaccedilatildeo Fiacutesica do paiacutes a maior parte dos trabalhos limita-se
ao resgate histoacuterico tendo em vista a preservaccedilatildeo do circo enquanto
patrimocircnio cultural ou a relatos de experiecircncias desenvolvidas
A inclusatildeo do circo nos curriacuteculos escolares eacute justificada
2 m muitos casos a partir do provaacutevel desenvolvimento das cashy
pacidades fiacutesicas agilidade resistecircncia cardiovascular equiliacutebrio
ldquohabilidades motorasrdquo em geral Ainda satildeo destacados aspectos
omo autoconhecimento automotivaccedilatildeo e superaccedilatildeo dos medos
ileacutem de cooperaccedilatildeo socializaccedilatildeo interaccedilatildeo ajuda muacutetua criashy
ratildeo de viacutenculo afetivo alegria espontacircnea e consciecircncia corpo-
al1 Embora possam ser considerados importantes entendemos
jue tais elementos por si soacute natildeo justificam a presenccedila desse
onteuacutedo na educaccedilatildeo escolar
A nosso ver a inclusatildeo das atividades circenses nos curriacuteculos
scolares articula-se ao que consideramos ser o papel da escola
[uai seja o ldquode socializaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico filosoacutefi-
o e artiacutestico produzido pela humanidade atraveacutes dos tempos em nas formas mais elevadasrdquo (EIDT DUARTE 2007 p 54 grifo
to autor) E imprescindiacutevel compreender as atividades circenses
nquanto produto da atividade humana um resultado do desen-
olvimento histoacuterico que precisa ser apropriado Cada um dos
lementos que constituem o circo (malabarismo equilibrismo
laacutegica etc) eacute carregado de sentidos e significados construiacutedos
istoricamente e modificados socialmente identificando assim o
Costa Tiaen e Sambugari (2007) Bortoleto (2003) Silva (1996) Silva e
Cacircmara (2009) Duprat e Bortoleto (2007)
homem como produtor e transformador da cultura Cabe agrave escoshy
la trabalhar com esse conteuacutedo contextualizando-o problemati-
zando-o estabelecendo correlaccedilotildees pertinentes entre as atividades
circenses e o processo histoacuterico em que se desenvolveram desmis-
tificando algumas modificaccedilotildees pelas quais passou ao longo dos
tempos Assim torna-se possiacutevel articular o ensino das atividades
circenses com a formaccedilatildeo do sujeito histoacuterico consciente da neshy
cessidade de superaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo
O desafio a ser superado eacute a construccedilatildeo de propostas pedagoacutegishy
cas viaacuteveis consistentes e coesas que contribuam para uma anaacutelise
criacutetica e uma compreensatildeo abrangente do universo circense visando
[] desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre o
acervo de formas de representaccedilatildeo do mundo que o
homem tem produzido no decorrer da histoacuteria exshy
teriorizadas pela expressatildeo corporal jogos danccedilas
lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte malabarismo
contorcionismo miacutemica e outros que podem ser
identificados como formas de representaccedilatildeo simshy
boacutelica de realidades vividas pelo homem historicashy
mente criadas e culturalmente desenvolvidas (C O shy
LETIVO DE AUTORES 1992 p 38)
Nesta perspectiva defendemos que as atividades circenses poshy
dem ser encaradas como um conteuacutedo especiacutefico extrapolando
algumas anaacutelises que a entendem enquanto parte constituinte da
ginaacutestica Apesar de determinados elementos como as acrobacias
apresentarem similaridades com o conteuacutedo da ginaacutestica fica evishy
dente que o processo com que esses elementos se apresentam denshy
tro do universo do circo eacute bem diferente daquele onde surgiu e
se desenvolveu a ginaacutestica2 Aleacutem disso outros elementos como
o palhaccedilo e as maacutegicas natildeo podem ser compreendidos enquanto
movimentos giacutemnicos e no nosso entendimento omiti-los seria
uma forma de fragmentar o conhecimento a respeito do circo
2 De acordo com Soares (2005) as acrobacias circenses influenciaram a
Ginaacutestica Francesa meacutetodo desenvolvido a partir da ordenaccedilatildeo e organizaccedilatildeo
de movimentos de acrobatas funacircmbulos e saltimbancos de maneira a
produzir maior eficiecircncia e economizar eneraia
A produccedilatildeo da arte circense como modo de vida
A arte circense eacute considerada uma das manifestaccedilotildees culturais mais
antigas do mundo sendo impossiacutevel precisar sua origem Sabe-se que
as modalidades circenses que hoje conhecemos decorrem de praacuteticas
que foram surgindo em momentos contextos e lugares diferentes a
partir dos costumes de uma regiatildeo ou paiacutes com o objetivo de entreter
louvar ou homenagear a deuses valorizar conquistas de guerras ou satildeo
corporificadas a partir da necessidade do homem de adestrar animais
para auxiacutelio no transporte ou em atividades de trabalho
O circo ldquomodernordquo como espetaacuteculo pago uma lona cobrindo um
picadeiro onde se apresentam trapezistas malabaristas equilibristas eacute
muito recente e seria por assim dizer a forma moderna de um antiquiacutesshy
simo entretenimento de diversos povos e culturas (TORRES 1998) A
estrutura do circo moderno remonta ao seacuteculo XVIII quando o inglecircs
Philip Astley ex-oficial da Cavalaria Britacircnica criou um espetaacuteculo de
equilibrismo equestre apresentado numa pista circular O espetaacuteculo criashy
do por Astley apresentava uma estrutura que atendia a um puacuteblico espeshy
ciacutefico da sociedade o rigor a postura e a elegacircncia da arte equestre consshy
tituiacuteam um siacutembolo de status social e muito agradavam a aristocracia
Entretanto os grupos circenses da eacutepoca comeccedilaram a notar que
as apresentaccedilotildees ganhariam muito mais espectadores se conseguissem
atingir uma classe social emergente naquela eacutepoca a burguesia Foshy
ram entatildeo incorporados outros artistas mdash funambulescos malabarisshy
tas acrobatas saltadores e adestradores de animais3 - que desafiavam
os limites corporais e morais e o espetaacuteculo foi reorganizado de forma
que pudesse ser mais atrativo (DUPRAT 2007)
3 Apesar dos animais historicamente participarem do espetaacuteculo circense a legislaccedilatildeo atual
vem restringindo sua utilizaccedilatildeo Aleacutem do Decreto ndeg 2464534 referente a maus tratos e
crueldade aos animais a Lei de Proteccedilatildeo agrave Fauna (Lei 519767) prevecirc pena de reclusatildeo para
casos de animais silvestres mantidos em locais sem higiene sujeitados a trabalhos insalubres
alimentaccedilatildeo inadequada ou insuficiente dentre outros A Portaria 10894 regulamenta as
condiccedilotildees para a estadia dos animais em zooloacutegicos e circos cabendo agraves prefeituras autorizarem
ou natildeo a fixaccedilatildeo de circos que utilizem animais em seus nuacutemeros Este eacute um ponto bastante
polecircmico pois apesar dos ambientalistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos
alegando maus tratos mdash seja nos meacutetodos de adestramento ou pelo fato de retiraacute-los de seu
habitat natural mdash haacute quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute crueldade e
tampouco insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais
Contraditoriamente na Europa receacutem-industrializada do
seacutec XIX o universo gestual caracteriacutestico do circo apresentava
liberdade e descompromisso contrariando o pensamento burguecircs
da eacutepoca que defendia a utilidade de qualquer atividade fora do
mundo do trabalho Contrapondo-se agrave liberdade e ao luacutedico das
atividades circenses primava-se pelos exerciacutecios fiacutesicos cuidadoshy
samente pensados para finalidades especiacuteficas a partir dos grupos
musculares e de funccedilotildees orgacircnicas (SOARES 2005)
O circo permitia agrave plateia transitar do maacutegico e fascinante agrave
aberraccedilatildeo despertando os mais ambiacuteguos sentimentos Acrobatas
trapezistas e funacircmbulos desafiavam as leis da fiacutesica desprezando o
peso de seus corpos enquanto homens domavam animais selvagens
engoliam fogo faziam reviver animais mortos aleacutem de exibirem deshy
formaccedilotildees fiacutesicas Esses estrangeiros nocircmades fascinantes artistas cirshy
censes eram cada vez mais temidos pela elite dirigente pois
traziam o corpo como espetaacuteculo Invertiam a ordem
das coisas Andavam com as matildeos lanccedilavam-se ao
espaccedilo contorciam-se e encaixavam-se em potes cm
cestos imitavam bichos vozes produziam sons com
as mais diferentes partes do corpo cuspiam fogo
vertiam liacutequidos inesperados gargalhavam viviam
em grupos Opunham-se assim aos novos cacircnones
do corpo acabado perfeito fechado limpo e isolado
que a ciecircncia construiacutera da vida fixa e disciplinada
que a nova ordem exigia (SOARES 2005 p 25)
Como eram rentaacuteveis os espetaacuteculos circenses proliferaram-se
por toda a Europa com um crescente nuacutemero de grupos de artistas
apresentando-se na sua maioria em instalaccedilotildees fixas ao ar livre ou
em anfiteatros adaptados o que demonstra grande influecircncia do
circo nas formas de divertimento e entretenimento da populaccedilatildeo e
da burguesia crescente Satildeo estas companhias que emigraram mais
tarde para outros continentes (SILVA 2003 DUPRAT 2007)
E nos Estados Unidos que a arena do circo ganha um mastro
central e uma tenda surgindo os moldes do ldquocirco americanordquo ou
circo de lona Nas matildeos de PhineasTaylor Barnum mdash homem de neshy
goacutecios e eficiente publicitaacuterio a enorme tenda colorida aleacutem de
proporcionar maior conforto aos espectadores tornou-se uma exceshy
lente forma de divulgar e vender o espetaacuteculo Ao mudar de cidade
toda a estrutura era desmontada e levada pelo grupo
Com a possibilidade de adquirirem maior mobilidashy
de aliada agrave incorporaccedilatildeo de artistas dos vaacuterios paiacuteses
por onde passava o circo consolidava-se como um
espaccedilo de muacuteltiplas linguagens artiacutesticas que pressushy
punha todo um conjunto de saberes definidores de
novas formas de produccedilatildeo e organizaccedilatildeo de espetaacuteshy
culo animais mistura de nacionalidades acrobacias
nuacutemeros aeacutereos magia shows de variedades represhy
sentaccedilotildees teatrais com pantomimas e entradas de
palhaccedilos com ou sem diaacutelogo Para os defensores do
ldquocirco purordquo era um espetaacuteculo ecleacutetico demais que
mais parecia music hall um teatro de variedades do
que circo Apesar das criacuteticas e debates em torno dos
espetaacuteculos circenses a montagem e produccedilatildeo dos
mesmos continham as principais formas de expresshy
sotildees artiacutesticas contemporacircneas apresentando um reshy
sultado que misturava music hall variedades teatro
(cenas cocircmicas pantomimas operetas) ginaacutestica
acrobacia e animais (SILVA 2007 p 51)
Este modo de organizaccedilatildeo pressupunha certas caracteriacutesticas
definidoras e distintivas do grupo circense como o nomadismo e
uma forma coletiva de constituiccedilatildeo do profissional artista baseada
na transmissatildeo oral do conjunto de saberes e praacuteticas acumuladas a
partir da vivecircncia na lona A organizaccedilatildeo familiar era a base de susshy
tentaccedilatildeo do circo inclusive no que se refere agraves relaccedilotildees de trabalho
Era comum que todos soubessem um pouco de todos os aspectos
que envolviam aquela produccedilatildeo desde a rotina diaacuteria do circo - como
armar e desarmar a tenda preparar os nuacutemeros e peccedilas de teatro
cuidar dos animais limpeza do ambiente dentre outros mdash ateacute as teacutecshy
nicas ou habilidades especiacuteficas da apresentaccedilatildeo As crianccedilas cabia a
responsabilidade de preservar a tradiccedilatildeo Por causa da vida nocircmade
eram alfabetizadas nas escolas das cidades por onde o circo passava ou
por uma pessoa do proacuteprio circo Aqueles que natildeo nasciam no circo
mas que a ele se incorporavam passavam pelo mesmo ritual de aprenshy
dizagem ao qual passavam os menores
O circo no tempo da induacutestria do entretenimento
Essa estrutura do circo tradicional comeccedilou a sofrer alguma alteshy
raccedilatildeo jaacute na deacutecada de 1920 na entatildeo Uniatildeo Sovieacutetica4 mas eacute a partir
dos anos de 1970 entretanto que consolidou-se um movimento de
reestruturaccedilatildeo do circo - fruto do envolvimento de artistas de diversas
origens em paiacuteses da Europa Ocidental Austraacutelia Canadaacute e Brasil
fazendo com que o ensino das artes circenses extrapolasse o reduto da
lona e quebrasse assim uma de suas grandes tradiccedilotildees a transmissatildeo
de conhecimento de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SILVA ABREU 2009)
O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy
ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX aleacutem da facilishy
dade de acesso agrave informaccedilatildeo e da fluidez da cultura no entanto
ocasionaram uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves
apresentaccedilotildees circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios
e dos terrenos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidashy
des mdash a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de
uma poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que
inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais O
fato eacute que nos anos de 1970 havia mais de 2000 companhias cirshy
censes espalhadas pelo Paiacutes e em 2009 esse nuacutemero era estimado
em 500 circos de pequeno meacutedio e grande porte5
Circenses tradicionais preocupados com o futuro encaminham
seus filhos para a vida urbana fora das lonas Escolas de circo passaram
a formar novos artistas rompendo-se a relaccedilatildeo de ldquopertencimentordquo agrave trashy
diccedilatildeo circense O modelo familiar de circo sofreu uma ruptura abrindo
espaccedilo para o que se conhece atualmente como Circo Novo
4 Na deacutecada de 1920 logo apoacutes a Revoluccedilatildeo Russa iniciou-se na antiga Uniatildeo Sovieacutetica
um movimento de construccedilatildeo de escolas de circo para fora da lona ou para fora do
grupo familiar circense a partir da nacionalizaccedilatildeo do circo e dos teatros pelo governo
sovieacutetico (DUPRAT 2007) Apesar de natildeo ser objetivo deste artigo discutir o contexto
histoacuterico e poliacutetico desse fato natildeo podemos deixar de mencionaacute-lo por constituir a
primeira experiecircncia de uma escola de circo fora do processo de formaccedilatildeosocializaccedilatildeo
aprendizagem que sempre foi dado sob a lona
f5 Dados obtidos no site do Ministeacuterio da Cultura Disponiacutevel em lthttpwww
culturagovbrsite20090327funarte-estima-que-brasil-tenha-500-grupos-
circensesgt Acesso em 14 jul 2012
Neste sentido
o circo como um todo natildeo mais se responsabiliza pela
continuaccedilatildeo do ensino artiacutestico da geraccedilatildeo seguinte
este passou a ser responsabilidade de cada famiacutelia que
escolhe onde seus filhos vatildeo estudar na escola formal
ou no circo A partir da deacutecada de 1970 no Brasil
algumas escolas de circo foram fundadas por artistas
preocupados em transmitir a teacutecnica circense em fazer
a profissatildeo renascer todavia natildeo mais necessariamente
com os filhos de gente de circo (SILVA 1996 p 9)
O circo teve que se reinventar para sobreviver Considerado
como o ldquoCirco do Homemrdquo por valorizar somente o ser humano
em suas performances o Circo Novo busca adequar-se ao mercashy
do artiacutestico dos novos tempos
A tecnologia assume um papel fundamental nesse processo pois
permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalanche tecshy
noloacutegica os grandes circos se apropriam das produccedilotildees e se renovam
constantemente enquanto muitos circos pequenos sucumbem agrave conshy
correcircncia por natildeo coseguirem acompanhar esse movimento
A mercantilizaccedilatildeo que domina a quase totalidade das relaccedilotildees soshy
ciais e a submissatildeo da cultura da sauacutede e da educaccedilatildeo - e tambeacutem das
praacuteticas corporais mdash aos interesses do capital trazem uma consequente
descaracterizaccedilatildeo do universo do circo Como empresa o ldquocirco novordquo
adota uma forte divisatildeo do trabalho contando com profissionais resshy
ponsaacuteveis para as mais diversas tarefas e funccedilotildees
A principal mudanccedila que caracteriza o chamado ldquocirco novordquo
refere-se agrave relaccedilatildeo familiar o circo torna-se uma grande empresa
Os artistas natildeo mais pertencem agraves famiacutelias circenses satildeo ex-atleshy
tas ou profissionais formados em escolas de circo e contratados
pelas grandes companhias De acordo com Silva (1996) natildeo eacute
mais a famiacutelia que eacute contratada mas o artista um nuacutemero um
especialista que tem um determinado conhecimento especiacutefico
da tarefa e natildeo mais do funcionamento do circo como um todo
tornando o conjunto do conhecimento sobre o circo fragmentashy
do e hierarquizado Nesse sentido
O modo de transmissatildeo oral do circo-lamilu Im m i
sido quebrado A ideacuteia de que o artista tiniu qm lt i
completo - no sentido de que cada indiviacuteduo liu
parte de uma comunidade e a sobrevivecircncia do gi upo
dependia do seu trabalho como um todo - natildeo niiis
fundamenta o aprendizado Daacute-se origem a uma novi
maneira de se ser artista de circo e a novas formas draquo
organizaccedilatildeo do trabalho (SILVA 1996 p 153)
O exemplo mais representativo do circo-empresa - e o de
maior impacto midiaacutetico - eacute a Companhia de Entretenimento
Circo de Soleil considerado o maior impeacuterio circense do mundo
Utilizando o que haacute de mais contemporacircneo para o entretenimenshy
to do puacuteblico conta com 21 espetaacuteculos sendo 12 em turnecirc em 5
continentes aleacutem de 9 espetaacuteculos residentes (exclusivamente nos
Estados Unidos) O Circo de Soleil emprega mais de 5000 funcioshy
naacuterios em todo o mundo sendo mais de 1300 artistas contratados
A maioria desses artistas eacute composta por ex-atletas danccedilarinos
profissionais personagens de sucesso nos meios de comunicaccedilatildeo
que representam cerca de 50 nacionalidades e falam 25 idiomas
diferentes Mais de 100 milhotildees de pessoas jaacute assistiram aos espeshy
taacuteculos do circo desde sua fundaccedilatildeo em 19846
Unindo danccedila teatro e circo a elementos da tecnologia como efeishy
tos de luz e som computaccedilatildeo graacutefica conhecimentos de diversas aacutereas
para a performance de um artistaatleta este novo modelo requer artistas
polivalentes como por exemplo malabaristas-acrobatas acrobatas-clo-
wn clown-muacutesico etc No circo novo o mais importante natildeo eacute o mais
complicado arriscado ou sobre-humano mas o mais belo plaacutestico vishy
sual esteacutetico etc(BORTOLETO MACHADO 2003)
Aleacutem disso as atividades circenses viraram nicho cle mercado
e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de circo a
academias de ginaacutestica A arte circense tambeacutem eacute utilizada como
praacutetica assistencialista por ON Gs e outras entidades filantroacutepicas
como ldquoinstrumento pedagoacutegicordquo na busca da ldquomelhoria de vidardquo
dos envolvidos nos projetos (F IG U E IREDO 2007)
6 Dados obtidos no site do Circo de Soleil Disponiacutevel em lthttpwwwcirquedusoleil
comenwelcomeaspxgt Acesso em- n
Eacute esse universo do circo que propomos trazer para a escola de forshy
ma a possibilitar ao aluno a apropriaccedilatildeo do conhecimento e a adoccedilatildeo de
uma postura criacutetica frente agrave atual configuraccedilatildeo do espetaacuteculo circense
Apresentamos a seguir o relato de uma experiecircncia pedagoacutegica realishy
zada com alunos do 6o ano de uma escola municipal de Juiz de Fora
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o circo
Ao iniciarmos a unidade buscamos identificar o niacutevel de consshy
ciecircncia dos alunos acerca do circo e os possiacuteveis interesses sobre a teshy
maacutetica Foram exibidos alguns viacutedeos de apresentaccedilotildees diversas (circo
tradicional C irque de Soleil apresentaccedilotildees de rua apresentaccedilotildees em
festas infantis na televisatildeo etc) Apoacutes a exibiccedilatildeo os alunos respondeshy
ram a duas questotildees O que eacute o circo Onde encontramos o circo atushy
almente As respostas foram registradas pelo professor A seguir foshy
ram explicitados os pontos que seriam abordados dentro do conteuacutedo
(histoacuteria e evoluccedilatildeo do circo as modalidades relaccedilotildees de trabalho e a
questatildeo ambiental) objetivos e atividades que seriam desenvolvidas
O segundo momento dentro da unidade didaacutetica foi a seleccedilatildeo de
questotildees relevantes para a discussatildeo e reflexatildeo dos alunos ou seja a problc-
matizaccedilatildeo Neste ponto foram delimitadas ainda as dimensotildees do conheshy
cimento a serem abordadas conforme apontamos no plano de unidade
No momento da instrumentalizaccedilatildeo foram desenvolvidas atividades
i accedilotildees tais como exibiccedilatildeo de viacutedeos leitura de textos vivecircncia das mais
iiversas modalidades circenses construccedilatildeo de materiais entre outras
Como forma de analisarmos o quanto o aluno apreendeu so-
gtre o conteuacutedo trabalhado propomos a criaccedilatildeo de uma apostila
obre o circo com a divisatildeo em grupos para a elaboraccedilatildeo de tex-
os sobre os toacutepicos de conteuacutedo trabalhados O objetivo desta
itividade consistiu em verificar o niacutevel de evoluccedilatildeo dos alunos
m relaccedilatildeo ao conhecimento sobre o circo (sua histoacuteria as moda-
idades teacutecnicas baacutesicas construccedilatildeo de materiais para a praacutetica
is novas configuraccedilotildees do circo atual os motivos pelos quais
iacuteoje existem poucos circos tradicionais as relaccedilotildees de trabalho
lentro do picadeiro dentre outros pontos) Outra atividade foi
a criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre 1 un
lizaccedilatildeo de animais nos espetaacuteculos circenses
No retorno agrave praacutetica social os alunos aprofundaram seus conltc
cimentos sobre o circo atraveacutes da pesquisa de textos e viacutedeos sobiv ltraquo
aspectos discutidos nas aulas e socializaram os conhecimentos com ou
tros alunos da escola atraveacutes da montagem de um espetaacuteculo circense
Plano de Unidade O lugar e hora do circo na escola
OBJETIVO GERAL
Compreender o circo enquanto manifestaccedilatildeo cultural a fim
de assumir postura criacutetica frente agraves novas configuraccedilotildees do espeshy
taacuteculo circense atual
Quadro 1 - Anuacutencio do conteuacutedo
M iacuteK IacuteS S amp K bull C i Jrsquo irfiiacuteV-rsquo P f
A histoacuteria do circo
Conhecer a histoacuteria do circo e suas transforshy
maccedilotildees
Identificar as diversas formas de apresentaccedilatildeo das
atividades circenses na atualidade (circo tradicional
circo novo atividades de rua festas infantis circo
social etc)
As modalidades circenses
Identificar as modalidades existentes no circo
malabarismo equilibrismo acrobacia maacutegica e
palhaccedilo
Vivenciar as principais modalidades que constituem
o circo
Construir materiais que possibilitem a experiecircncia
das modalidades circenses
O circo nos tempos atuais
Compreender as novas configuraccedilotildees do circo na atushy
alidade relacionando-as agraves exigecircncias da atual fase do
modo de produccedilatildeo capitalista (relaccedilotildees comerciais leis
trabalhistas trabalho infantil informalidade legislaccedilatildeo
de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos etc)
Circo legal tem animal
Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave utilizaccedilatildeo de anishy
mais no circo
Posicionar-se criticamente frente agrave utilizaccedilatildeo de
animais no circo
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
1) PRAacuteTICA SOCIAL IN IC IAL D O CONTEUacuteDO
11 Vivecircncia do Conteuacutedo
bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo O circo eacute um
espetaacuteculo com vaacuterios artistas eacute divertido tem maacutegica
palhaccedilo acrobatas ldquoanimais ferozesrdquo tem gente que faz
circo na rua etc
bull O que eles gostariam de saber a mais Como surgiu o circo
Como fazer maacutegica malabarismo equilibrismo etc Como
sobrevive um artista de circo Como satildeo tratados os animais
que vivem no circo
2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO
Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees
problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas
Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
TOacutePICO DE
CONTEUacuteDO DIMENSOtildeES
bulltgt t bull
QUESTAtildeO PROBLEMA
Respeitaacutevel puacuteblishy
co o circo chegouConceituai
O que eacute o circo
O que eacute circo tradicional
O que eacute circo novo
A histoacuteria do circo Histoacuterica
Quem inventou o circo
Onde ele surgiu
O circo de hoje eacute igual ao de antigashy
mente
Quais satildeo as modificaccedilotildees pelas quais
o circo passou ateacute hoje
As modalidades cirshy
censes
Conceituai
Teacutecnica
Quais satildeo as modalidades que constishy
tuem o circo
Quais satildeo as teacutecnicas baacutesicas das moshy
dalidades circenses
O circo nos tempos
atuais
Econocircmica
Poliacutetica
Social
Legal
Onde vemos artistas de circo
Por que natildeo temos tantos circos se
apresentando hoje em dia
Os artistas de circo recebem salaacuterio
Quais as condiccedilotildees sociais e de trabashy
lho de um artista de circo ldquofamosordquo e
de um circo ldquosimplesrdquo
Quanto custa um ingresso de um cirshy
co famoso
Como eacute a relaccedilatildeo da crianccedila com o
trabalho no circo
O que precisa para um circo se estabeleshy
cer em uma cidade
Por que o circo vai embora
Circo legal tem anishy
mal V
Poliacutetica
Legal
Histoacuterica
gt
Como os animais foram incorporashy
dos ao circo
Como o circo conseguia os animais
para suas apresentaccedilotildees
E permitido ter animais selvagens no
circo atualmente
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo
x lsquo bull --ir Ywl-ft bull V Avbdquo iacutei - - iacute
- Conteuacutedo Dimensotildees v l p sect p |
Respeitaacutevel puacuteblico
o circo chegou
Conceituar circo
Compreender o circo enquanto
produccedilatildeo histoacuterica do homem
ConceituaiExposiccedilatildeo teoacuterica e exibiccedilatildeo de viacutedeos
sobre o circo
Viacutedeo produzido pelos autores disshy
poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy
do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo86
A histoacuteria do circo
Conhecer a histoacuteria do circo e suas
transformaccedilotildees
Identificar as diversas formas de
apresentaccedilatildeo das atividades circenshy
ses na atualidade (circo tradicional
circo novo atividades de rua festas
infantis circo social etc)
Relacionar a expansatildeo das atividashy
des circenses com a configuraccedilatildeo
da sociedade atual
Histoacuterica
Econocircmica
Poliacutetica
Exibiccedilatildeo de viacutedeos e fotos sobre a histoacuteria
do circo e as mais diversas formas de apreshy
sentaccedilatildeo das atividades circenses atuais
Leituras de textos sobre a histoacuteria do circo
Textos sobre a histoacuteria do circo
Viacutedeo produzido pelos autores disshy
poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy
do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
7 Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012
8 Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03Ieis18069htmgt Acesso em 09042013
laquo M M
As modalidades cirshy
censes
Identificar as modalidades exisshy
tentes no circo malabarismo
equilibrismo acrobacia maacutegica e
palhaccedilo
Vivenciar as principais modalidashy
des que constituem o circo
Construir materiais que possibilishy
tem a experiecircncia das modalidades
circenses
Conceituai
Teacutecnica
Exibiccedilatildeo de viacutedeos editados das modalishy
dades do circo Acrobacias (individuais
coletivas de solo e aeacutereas) Malabarismo
(dc contato equiliacutebrio dinacircmico giros-
coacutepico e de lanccedilamento) Equilibrismo
Maacutegica Palhaccedilo (Cara Branca Miacutemico
Augusto Vagabundo Augusto Europeu)
Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das princishy
pais modalidades circenses
Construccedilatildeo de materiais para a vivecircncia
dessas modalidades
Viacutedeos disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo
e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Bolas de soprar garrafas pet jornal
fita adesiva barbante cabos de vassoushy
ra cilindros de papelatildeo ou canos de
ferro para construccedilatildeo dos materiais
Materiais para a vivecircncia bolinhas
de borracha claves swings rola-rola
diabolocircs devilstick etc
O circo nos tempos
atuais
Compreender as novas configurashy
ccedilotildees do circo na atualidade relacio-
nando-as agraves exigecircncias da atual fase
do modo de produccedilatildeo capitalista
(relaccedilotildees comerciais leis trabalhisshy
tas trabalho infantil informalidade
legislaccedilatildeo de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteshy
blicos etc)
Econocircmica
Poliacutetica
Social
Legal
Exibiccedilatildeo e discussatildeo do programa ldquoProshy
fissatildeo Repoacuterterrdquo sobre o circo
Anaacutelise da legislaccedilatildeo (ECA87 lei ambienshy
tal e leis de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos)
Viacutedeo disponiacutevel em no blog ldquoConshy
teuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educashy
ccedilatildeo Fiacutesicardquo
ECA
Leis ambientais e de locaccedilatildeo de espashy
ccedilos puacuteblicos
Circo legal tem anishy
mal
Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave
utilizaccedilatildeo de animais no circo
Posicionarmdashse criticamente frente agrave
utilizaccedilatildeo de animais no circo
Poliacutetica
Legal
Histoacuterica
Exibiccedilatildeo de viacutedeos e leitura de textos que
discutam a questatildeo dos animais do circo
Anaacutelise da legislaccedilatildeo ambiental
Organizaccedilatildeo de um juacuteri simulado
Viacutedeos e textos disponiacuteveis no blog
ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
4) CATARSE
41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno
O circo eacute uma das manifestaccedilotildees culturais mais tradicionais da
humanidade que encanta pela capacidade de transformar o banal em
inacreditaacutevel transformar o impossiacutevel em coisa simples Ao mesmo
tempo sua sobrevivecircncia oscila entre o popular e a falta de incentivo
entre a vontade de fazer parte e o alto custo dos espetaacuteculos
No decorrer dos anos o circo se modificou antes as famiacutelias
tradicionais faziam da vida embaixo da lona um lar vaacuterias viashy
gens e seu trabalho Entretanto agora artistas e admiradores se
apresentam nas ruas em grandes e pequenos circos em grandes
empresas de entretenimento nas escolas nas academias espaccedilos
puacuteblicos e privados
Fazem parte do espetaacuteculo circense apresentaccedilotildees de malashy
barismo equilibrismo maacutegica palhaccedilos e acrobacias cujo prinshy
cipal objetivo eacute a diversatildeo do puacuteblico o que requer o aprendizashy
do de teacutecnicas especiacuteficas e treinamento diaacuterio por muitos anos
O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy
ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX ocasionaram
uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves apresentaccedilotildees
circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios e dos tershy
renos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidades mdash
a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de uma
poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que
inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais
Em menos de 30 anos o nuacutemero de circos existentes no Brasil
reduziu-se significativamente abrindo espaccedilo para as grandes
companhias de circo onde os artistas natildeo mais pertencem agraves
famiacutelias circenses satildeo ex-atletas ou profissionais formados em
escolas de circo e contratados pelas grandes companhias que tem
um determinado conhecimento especiacutefico da tarefa e natildeo mais o
conhecimento do funcionamento do circo como um todo
Aleacutem disso a tecnologia assume um papel fundamental no espetaacuteshy
culo pois permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalan
che tecnoloacutegica os grandes circos se apropriam das prod i iccedilolaquo bull laquo
novam constantemente enquanto muitos circos pequenos mu uiuU
agrave concorrecircncia por natildeo conseguirem acompanhar esse movimento
Atualmente as atividades circenses viraram nicho de nu 1 laquo raquo
do e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de 1 1 1 1
a academias de ginaacutestica
Apesar dos animais historicamente participarem do espeta
culo circense a legislaccedilatildeo atual vem restringindo sua utilizaccedilatildeo
protegendo-os de maus tratos e condiccedilotildees insalubres de vida
Este eacute um ponto bastante polecircmico pois apesar dos ambienshy
talistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos haacute
quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute cruelshy
dade ou insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais
42 Expressatildeo da Siacutentese
bull Construccedilatildeo de uma apostila sobre o circo abordando os
temas trabalhados nas aulas
bull Criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a
utilizaccedilatildeo de animais no circo
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO
Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
A p ro fu n d a r os conhecim entos sobre
o circo
Pesquisar textos e viacutedeos sobre
os aspectos discutidos nas aulas
Socializar os conhecim entos apreenshy
didos durante as aulas
M ontagem de u m espetaacuteculo
circense
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees finais
Destacamos que o presente texto pretendeu apenas apresentar
uma dentre as inuacutemeras possibilidades pedagoacutegicas de trabalho com
esse universo tatildeo rico e tatildeo fascinante como o universo circense
Buscou-se conhecer a histoacuteria do circo analisando suas transformashy
ccedilotildees ao longo dos tempos identificar e vivenciar as diversas modalidashy
des de forma contextuaiizada e desmistificada Compreender as relaccedilotildees
de trabalho existentes no circo tradicional e nas manifestaccedilotildees circenses
atuais significa compreender o circo enquanto produto da atividade hushy
mana resultado do desenvolvimento histoacuterico parte importante do pashy
trimocircnio cultural humano que precisa ser transmitido pela escola
Referecircncias
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SOBRE OS AUTORES
Adriano de Paiva Reis eacute professor de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Prefeishy
tura Municipal de Juiz de Fora desde 2010 Graduado em Educaccedilatildeo
Fiacutesica pela UFJF desde 2008 foi Professor substituto do Coleacutegio de
Aplicaccedilatildeo Joatildeo XXIII Bolsista dos projetos ldquoPortal do Professor do
M ECrdquo e extensatildeo ldquoNovas Experiecircncias Pedagoacutegicas em Educaccedilatildeo
Fiacutesica Escolarrdquo E-mail adriano_reisrocketmailcom
Aacutelvaro de Azeredo Quelhas eacute Doutor em Ciecircncias Sociais pela Unishy
versidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo - Campus Mariacutelia
Mestrado em Educaccedilatildeo Fiacutesica na aacuterea de ldquoPedagogia da Educaccedilatildeo Fiacutesica
e do Esporterdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Especializaccedilatildeo
nas aacutereas de ldquoFutebolrdquo e ldquoEducaccedilatildeo Psicomotora na Educaccedilatildeo Fiacutesica do Io
graurdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Licenciado em Edushy
caccedilatildeo Fiacutesica e Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Trabalhou na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (1985-1997) como
professor do ensino fundamental (disciplina - Educaccedilatildeo Fiacutesica) aleacutem de
possuir experiecircncia como professor em academias de ginaacutestica e treinador
esportivo em clubes e empresas E professor do Departamento de Educaccedilatildeo
da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz de Fora desde
abril de 1997 E membro do Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educashy
ccedilatildeo (NETEC) da FACEDUFJF Seus estudos e pesquisas estatildeo voltados
para as transformaccedilotildees no mundo do trabalho e as formas de reestruturaccedilatildeo
produtiva com foco na precarizaccedilatildeo do trabalho em interface com os proshy
cessos educativos E-mail alvaroquelhasuolcombr
Andreacute Silva Martins eacute professor da Faculdade de Educaccedilatildeo
da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) onde integra o
Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo E vinculado tamshy
beacutem ao Coletivo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJV
Fiocruz) Integra o quadro docente do Programa de Poacutes-Gradua-
ccedilatildeo da UFJF E Mestre e Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade
Federal Fluminense E-mail andresilvamartinsglobocom
Carla Cristina Carvalho Pereira eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
(1996) poacutes graduada em Ednrarotilder cmdash 1
sidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestra em Educaccedilatildeo (2003)
pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Atua como professora da
rede municipal de Juiz de Fora desde 1998 Estuda temas relacionados
agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar nas aacutereas de danccedila-educaccedilatildeo planejamento e
avaliaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica E-mail carlacccphotmailcom
Carlos Eduardo de Souza eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestre em
Educaccedilatildeo pela UFJF Atua como professor da rede municipal e
particular em Juiz de Fora E-mail kadusjnyahoocombr
Frederico Duarte Gomes Tostes possui Licenciatura e Bachashy
relado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF) Estagiou em escolas puacuteblicas de Juiz de Fora e foi bolsista no
Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo Joatildeo XX III da Universidade Federal de Juiz de
Fora onde atuou no projeto de extensatildeo de Atividades Circenses para
alunos do ensino fundamental Atualmente faz cursos na Escola de
Circo Carequinha em Juiz de Fora E-mail fred_hikohotmailcom
Giovana de Carvalho Castro eacute professora da rede municipal de Juiz
de Fora Possui graduaccedilatildeo em Histoacuteria (2001) e mestrado em Ciecircncia da
Religiatildeo (2005) pela Universidade Federal de Juiz de Fora Tem experishy
ecircncia na aacuterea de Histoacuteria e Ciecircncia da Religiatildeo com ecircnfase em Histoacuteria
do Brasil Metodologia do Ensino de Histoacuteria Patrimocircnio Cultural Hisshy
toacuteria da Aacutefrica e Cultura Religiosa E-mail giovanahistoriabolcombr
Graziany Penna Dias possui Licenciatura cm Educaccedilatildeo Fiacutesica pela
Universidade Federal de Juiz de Fora (2000) e Mestrado em Educaccedilatildeo
pela Universidade Federal Fluminense (2006) Eacute vinculado ao Coletishy
vo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJVFiocruz) Atualmente
eacute professor do Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do
Sudeste de Minas - IFSUDESTEMG - Campus Juiz de Fora Estuda
temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar lazer poliacutetica educacional
e a relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo E-mail grazianydiasifsudestemgedubr
Hajime Takeuchi Nozaki possui Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1993) mestrado
em Educaccedilatildeo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1997)
e doutorado em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense
(2004) no campo Trabalho e Educaccedilatildeo Atualmente eacute professor asshy
sociado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Leciona na
graduaccedilatildeo no campus de Trecircs Lagoas e na poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo
no campus de Corumbaacute Dedica-se aos estudos na aacuterea de Trabalho
e Educaccedilatildeo atuando principalmente nos seguintes temas mundo do
trabalho e Educaccedilatildeo Fiacutesica formaccedilatildeo humana qualificaccedilatildeo dos trabashy
lhadores da faacutebrica E-mail hajimenozakiuolcombr
Herbert Hischter Chaves de Paula eacute graduado em Educaccedilatildeo
Fiacutesica pela Universidade Salgado de Oliveira - Universo (Juiz de
Fora) e poacutes-graduado em Danccedila e Consciecircncia Corporal pela Unishy
versidade Gama Filho (Belo Horizonte) E ator bailarino produtor
diretor e coreoacutegrafo e atua como professor de Danccedila e Teatro na
rede municipal de Juiz de Fora E-mail hhcpl911hotmailcom
Leonardo Docena Pina eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica e Messhy
tre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Atualmente cursa o doutorado em Educaccedilatildeo nessa mesma instituiccedilatildeo
e atua como professor da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de
ForaMG Desde 2008 integra o Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e
Educaccedilatildeo da UFJF E-mail leodocenayahoocombr
Marcelo Silva dos Santos possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2001) mestrado em Edushy
caccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense (2005) e eacute doutorando
em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana na Universidade do Esshy
tado do Rio de Janeiro (UERJ) Estuda temas relacionados agrave aacuterea de
trabalho e educaccedilatildeo Atualmente eacute professor do IFET Sudeste e da
rede municipal de Juiz de Fora E-mail marceloss2003igcombr
Miguel Fabiano de Faria eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela
UFJF e Mestre em Educaccedilatildeo pela UFMG Atua como professor na
educaccedilatildeo baacutesica e superior no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia
e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais - Campus Juiz de Fora Esshy
tuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar Lazer e Histoacuteria da
Educaccedilatildeo E-mail miguelfariaifsudestemgedubr
Mocircnica Jardim Lopes eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica e mes-
tranda em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Atua como professora da rede puacuteblica de ensino dos municiacutepios de
Juiz de Fora (MG) e de Trecircs Rios (RJ) E militante do Movimento
Nacional Contra a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica
(MNCR) E-mail monicajlopesyahoocombr
Nathaacutelia Sixel Rodrigues eacute Licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora Estagiou em Escolas puacuteshy
blicas da cidade como IFET e Escola Municipal Professora Thereza
Falei onde buscou tematizar o conteuacutedo Ginaacutestica na Educaccedilatildeo
Fiacutesica Atualmente atua como professora de ginaacutestica em academias
de Juiz de Fora E-mail naty_sixelhotmailcom
Priscila Rocha Rodrigues eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Atua como
professora de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de
ensino em Juiz de ForaMG E-mail prixrochayahoocombr
Rafael Loures dos Reis Bellei atua como professor do ensino
fundamental nas redes municipais de Juiz de Fora-MG eTrecircs Rios-
-RJ e no ensino fundamental e meacutedio na rede particular de Juiz
de Fora-MG O autor eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela UFJF
Estuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar e a relaccedilatildeo
trabalho-Educaccedilatildeo Fiacutesica M ilita no Movimento Nacional Contra
a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica - M NCR
E-mail rafabelleiyahoocombr
Ramon Mendes da Costa Magalhatildees possui Licenciatura e
Bacharelado pela Faculdade de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desportos (FA-
EFID) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) no ano de
2011 atualmente residente de Educaccedilatildeo Fiacutesica do programa de Reshy
sidecircncia Multiprofissional em Sauacutede do Adulto com Foco em Doshy
enccedilas Crocircnico Degenerativas no Hospital Universitaacuterio da Univershy
sidade Federal de Juiz de Fora (HUUFJF) no periacuteodo 20122014
E-mail ramon_mc_magalhaeshotmailcom
Renata Aparecida Alves Landim eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) especialista
m Educaccedilaacuteo Fiacutesica escolar pela UFJF e mestre em educaccedilatildeo pela
Universidade Federal Fluminense (UFF) Atualmente eacute professora do
ensino fundamental na rede puacuteblica municipal de Juiz de l o i i jgti
fessora temporaacuteria da Faculdade de Educaccedilatildeo da UFJF E v i i u ulraquolaquoi raquo
ao nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo da UFJE I m u i raquo
temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar poliacutetica educaraquo i o n i l
trabalho-educaccedilatildeo E-mail renatalandimhotmailcom
Thiago Barreto Maciel possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesui
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2007) Especializaccedilatildeo em
aspectos metodoloacutegicos e conceituais da pesquisa Cientiacutefica pela Uni
versidade Federal de Juiz de Fora (2008) Atualmente eacute professor do
Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste de
Minas Gerais - Campus Barbacena Tem experiecircncia na aacuterea de Edushy
caccedilatildeo Fiacutesica com ecircnfase em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana
E-mail tbarretomacielgmailcom
Victoacuteria de Faacutetima de Mello eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especialista em
Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar pela mesma instituiccedilatildeo Atua como professora
de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de ensino em Juiz
de Fora Atualmente dirige o Sind-Ute (Sindicato dos Trabalhadores
em educaccedilatildeo de Minas Gerais) E-mail vicmellloyahoocombr
I n f o r m a ccedil otilde e s G r aacute f ic a s
Formato 16 x 23 cm
Mancha graacutefica 112 x 194 cm
Tipologia Myriad Pro - Adobe Garamond Pro
Papel Offset 90gm2 (miolo) - Cartatildeo Supremo 250gm2 (capa)
Tiragem 500 exemplares
Impressatildeo e acabamento Graacutefica e Editora Brasil Ltda
PREFACIO
No momento em que os estudos sobre a escola capitalista demonsshy
tram a sua degeneraccedilatildeo e decomposiccedilatildeo o seu esvaziamento proposishy
tal e seu rebaixamento teoacuterico para desqualificar a formaccedilatildeo da classe
trabalhadora na mais tenra idade surge contraditoriamente fruto de
experiecircncias concretas no chatildeo desta mesma escola a obra organizada
por Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira Leonardo
Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim intitulada Pedagogia histoacuterico-criacutetica e Educaccedilatildeo Fiacutesica
Do que trata este livro que lhe confere uma singularidade iacutempar
em meio a confrontos e conflitos de classe cada vez mais acirrados
Como uma das autoras do Livro Metodologia do Ensino da
Educaccedilatildeo Fiacutesica (COLETIVO DE AUTORES 1992) e portanto
testemunha histoacuterica de um esforccedilo nacional de mais de 20 anos enshy
frentando a criacutetica a didaacutetica e a organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico
na escola capitalista reconheccedilo que o propoacutesito dos autores do livro eacute
de vital importacircncia para a formaccedilatildeo escolarizada de crianccedilas e jovens
ms quais tecircm sido negados os conteuacutedos que permitem a humanizashy
ccedilatildeo como o satildeo os conteuacutedos da cultura corporal
Como demonstram os autores da obra - jovens intelectuais mili-
lanies culturais de formaccedilatildeo marxista - natildeo satildeo quaisquer conteuacutedos
I serem tratados na escola que garantiratildeo a humanizaccedilatildeo e natildeo eacute qual-
lt | i u t meacutetodo no trato com o conhecimento que asseguraraacute a formaccedilatildeo
lt miiK ipatoacuteria Satildeo conteuacutedos tratados com criteacuterios considerando a
iriicse o desenvolvimento a atribuiccedilatildeo de sentidos e significados agraves ati-
iilules corporais ao longo do percurso histoacuterico da humanidade Cri-
laquo nos que dizem respeito agraves capacidades cognoscentes e cognoscitivas
laquolltraquo estudantes compreendendo-as na totalidade do ser humano con-
lotmc e xplica a teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural a contemporanei-
raquobulllt laquolos conteuacutedos e seu conhecimento por sucessivas aproximaccedilotildees ao
iltlt n ui lura corporal que permitem os saltos qualitativos do
nm i iilo sincreacutetico e da mera sistematizaccedilatildeo de dados da realidade
i Ugtlt i u h t de novas siacutenteses qualitativamente superiores com autodeshy
terminaccedilatildeo e criatividade Aprimora-se assim pelas atividades corposhy
rais tratadas com o rigor do meacutetodo toda a capacidade do ser humano
Percurso este que deve ser recuperado por cada um de noacutes sem o qual
natildeo nos humanizamos E isto eacute possiacutevel pela educaccedilatildeo principalmente
escolarizada que forma seres humanos porque incide nas suas funccedilotildees
psicoloacutegicas superiores pelas atividades relacionais com os demais seres
humanos com a natureza com a cultura e consigo mesmo Por isto
esta obra eacute de fundamental importacircncia
Na introduccedilatildeo os autores Adriano de Paiva Reis Carla Cristina
Carvalho Pereira Hajime Takeuchi Nozaky Leonardo Docena Pina e
Renata Aparecida Alves Landim tratam de refletir sobre os limites e
possibilidades da discussatildeo sobre a didaacutetica da Educaccedilatildeo Fiacutesica Assushy
mem os autores a posiccedilatildeo teoacuterica e reconhecem que a ldquoperspectiva da
reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal presente no livro Metodologia
do Ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e denominada por noacutes de abordagem
Criacutetico-superadora foi eacute e seraacute um marco enquanto referecircncia mais
desenvolvida fundamentada em uma teoria marxista de educaccedilatildeo na
teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural na teoria do conhecimento mate-
rialista-histoacuterica-dialeacutetica e na Pedagogia histoacuterico-criacutetica
Justificam e assumem assim os autores que a Educaccedilatildeo Fiacutesica
ao transmitir os conhecimentos historicamente acumulados sobre a
cultura corporal se justifica na escola por socializar um conhecimento
essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade
A partir destas posiccedilotildees iniciais enfrentam o desafio e as difishy
culdades de organizarplanejarsistematizar o ensino da Educaccedilatildeo
Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corshy
poral Tensionam durante a obra o par dialeacutetico conteuacutedo-meacutetodo
modulador de alteraccedilotildees significativas na organizaccedilatildeo do trabalho
pedagoacutegico na salaquadra de aula e na escola
O trabalho com os professores da educaccedilatildeo baacutesica demonsshy
tra que aleacutem dos problemas na formaccedilatildeo faltam referecircncias conshy
cretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas com os diversos
conteuacutedos da cultura corporal E nesta busca lanccedilam-se os autoshy
res nos trazendo uma contribuiccedilatildeo de grande relevacircncia
O que eacute descrito no livro eacute fruto de um trabalho coletivo de mais de 20
professores e que ganha sistematizaccedilatildeo nos escritos destes jovens professores
que se dispuseram a ampliar os conhecimentos a respeito da metodologia
Criacutetico-superadora aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal
Tratam portanto da criacutetica agrave didaacutetica mas natildeo com a pretensatildeo
de resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
que estatildeo relacionados com as condiccedilotildees de vida e de trabalho dos
professores e estudantes Ou seja reconhecem as determinaccedilotildees da
economia poliacutetica que pesam sobre a escola e que natildeo seraacute somente
a iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores que resolveraacute a complexidade
que eacute o processo de destruiccedilatildeo das forccedilas produtivas a destruiccedilatildeo da
escola e a destruiccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico
Com muita honestidade cientiacutefica reconhecem os limites da
discussatildeo didaacutetica frente ao problema da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica
mas ressaltam a importacircncia da obra para ampliar as possibilidades
de transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar
O livro estaacute organizado em oito capiacutetulos que se articulam de forma
consistente e coerente Inicialmente os autores propotildeem uma discussatildeo
de caraacuteter mais geral abordando a funccedilatildeo e especificidade da escola e da
Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemporacircneo A partir da delimitaccedilatildeo clara
da concepccedilatildeo de educaccedilatildeo e de Educaccedilatildeo Fiacutesica que defendem passam
entatildeo a discutir a praacutetica pedagoacutegica atraveacutes de uma seacuterie de artigos sobre
possibilidades de temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos da cultura
inrporal - jogos esporte luta ginaacutestica danccedila e circo
() texto assinado por Andreacute Silva Martins trata de questionar a
Iunccedilatildeo social da escola e dentro dela o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica
lis natildeo o faz desprovido de dados que permitem constatar e explicar
ltmio a Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar foi uma ativida-
llt lt tijltgt objetivo central era promover o desenvolvimento da aptidatildeo
i ilt j ltgt lt|iklsquo foi alterado como foram alteradas as bases econocircmica
| x raquoI i i h i da sociedade brasileira que implicaram em alteraccedilotildees na
oli i i onsequentemente na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar
lt K iinores do texto sobre ldquoO ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e
(bulliniHio de sujeitos histoacutericos em busca dos fundamentos
teoacutericos e metodoloacutegicosrdquo tratam de demonstrar o surgimento
de propostas com outros princiacutepios definidores para a praacutetica
pedagoacutegica nos idos dos anos 1980 e 1990 Tratam das propostas
demonstrando nexos e relaccedilotildees entre a metodologia do ensino
as teorias educacionais pedagoacutegica a teoria do conhecimento e
o projeto histoacuterico Anunciam assim em um trabalho coletivo
novas bases da Educaccedilatildeo Fiacutesica na Rede de Ensino
Com base nos estudos de Saviani (1987) sobre Escola e Deshy
mocracia satildeo discutidas as tendecircncias da educaccedilatildeo e levanta-se de
iniacutecio a hipoacutetese de que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas
ainda possuem um papel a cumprir mdash contribuir na superaccedilatildeo do
capitalismo com o que temos pleno acordo
Ao tecer criacuteticas agraves concepccedilotildees sobre a educaccedilatildeo escolar o livro
traz uma contribuiccedilatildeo agrave educaccedilatildeo em geral e para todas as aacutereas de coshy
nhecimento que se organizam no interior da escola Defende-se por
fim a finalidade da educaccedilatildeo escolar para a emancipaccedilatildeo humana
Ao apresentar a perspectiva marxista de emancipaccedilatildeo humana
Aacutelvaro de Azeredo Quelhas Adriano de Paiva Reis Carla Cristina
Carvalho Pereira Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves
Landim recuperam os elementos histoacutericos apresentados por claacutessishy
cos como Marx e Engels que permitem afirmar a existecircncia sim de
uma teoria marxista da educaccedilatildeo Teoria esta que vem sendo sisteshy
maticamente negada na formaccedilatildeo dos professores A partir da base
teoacuterica mais geral adentram nas sistematizaccedilotildees sobre Educaccedilatildeo e
Trabalho para por fim reconhecer a importacircncia da mediaccedilatildeo da
Pedagogia histoacuterico-criacutetica na construccedilatildeo da metodologia do ensino
dos conteuacutedos especiacuteficos da cultura corporal na escola destacando
a obra Metodologia do Ensino de Educaccedilatildeo Fiacutesica do Coletivo de Aushy
tores (1992) obra onde eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal visando elevar a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enshy
quanto sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em
que vive Para tanto parte-se da praacutetica social que eacute problematizada
pela constataccedilatildeo sistematizaccedilatildeo compreensatildeo e explicaccedilatildeo cientiacutefishy
ca do real visando a praacutexis revolucionaacuteria criativa superadora o que
somente eacute possiacutevel com a ampliaccedilatildeo aprofundamento do conhecishy
mento historicamente acumulado e a autodeterminaccedilatildeo dos estushy
dantes Daiacute a relevacircncia social do trato com os conteuacutedos segundo
a teoria do conhecimento dialeacutetica-materialista-histoacuterica Portanto
natildeo seraacute qualquer conteuacutedo e muito menos qualquer meacutetodo para
tratar o conhecimento que permitiraacute a elevaccedilatildeo da capacidade teoacuterishy
ca dos estudantes E necessaacuterio o meacutetodo explicado e demonstrado
por Marx e Engels aplicado ao ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica na escola
- o meacutetodo materialista histoacuterico-dialeacutetico enquanto loacutegica e teoria
do conhecimento
Nos capiacutetulos seguintes a coerente e consistente abordagem
teoacuterica eacute demonstrada no trato com ldquoA produccedilatildeo da cultura luacutedica
em jogos eletrocircnicos rdquo texto de autoria de Renata Aparecida Alves
Landim Victoacuteria de Faacutetima de Mello Priscila Rocha Rodrigues e
Thiago Barreto Maciel Os autores partem da praacutetica social conshy
creta para chegar a uma nova siacutentese superior sobre este conteuacutedo
permitindo agraves crianccedilas e jovens se apropriarem de elementos da
cultura que por si soacute natildeo se datildeo a conhecer
No texto de autoria de Leonardo Docena Pina Carlos Edushy
ardo de Souza Mocircnica Jardim Lopes eacute demonstrado o meacutetodo de
elevaccedilatildeo da capacidade de reflexatildeo dos estudantes sobre a cultura
inrporal no trato com o conteuacutedo esporte e sauacutede O texto intitu-
lido ldquoAs relaccedilotildees entre esporte e sauacutede no capitalismo tematizando
i oiuradiccedilotildees na educaccedilatildeo escolarrdquo demonstra todo o processo que
v ulmina na nova siacutentese qualitativamente superior ao conhecimento
lt aoacuteiico sincreacutetico sobre o tema demonstrado no iniacutecio
Para tratar do conteuacutedo lutas delimitou-se ldquoO MM A como
nova lace da luta espetaacuteculordquo Os autores Renata Aparecida Alves Lanshy
dim Adriano de Paiva Reis Grazyani Penna Dias e Rafael Loures dos
K r Hcllei usaram com rigor o meacutetodo partindo da praacutetica social e a
bull u iornuido apoacutes um processo de problematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de
1 11u i i i i k i u o s sem os quais natildeo se explica o fenocircmeno atual das lutas
thim io ao conteuacutedo danccedila os autores Carla Cristina Carvalho
INlt ii i iliimo de Paiva Reis Giovana de Carvalho Castro Marcelo
monstrar a loacutegica no trato com o conhecimento dentro da rigorosidade
do meacutetodo Demonstram tambeacutem a elevaccedilatildeo do pensamento teoacuterico
dos estudantes sobre o assunto O texto ldquoA voz da periferia o Hip Hop
enquanto possibilidade de trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo eacute um
primor e contribuiraacute muito para consubstanciar uma abordagem mais
rigorosa de conteuacutedos contemporacircneos nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
No trato com o conteuacutedo da ginaacutestica no capiacutetulo intitulado
ldquoA disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutesticardquo os autores
Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel Roshy
drigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees conseguem elevar a
capacidade dos estudantes de elaborarem uma siacutentese qualitativa no
pensamento que permitiraacute a autodeterminaccedilatildeo para a praacutetica corposhy
ral de um conteuacutedo vital e que vem sendo negligenciado na escola
A retomada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica do conteuacutedo circo
conforme propotildeem Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvashy
lho Pereira e Frederico Duarte Gomes Tostes demonstra como um
conteuacutedo histoacuterico que data na origem dos tempos do feudalismo
pode adquirir um sentido e um significado humanamente elevado
pelo entendimento compreensatildeo e elaboraccedilatildeo de novas possibilidashy
des de accedilatildeo No trato com o conteuacutedo das atividades circenses no
texto intitulado ldquoO lugar e hora do circo na escola reflexatildeo sobre
a reinvenccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircneardquo os
autores demonstram o criteacuterio da rigorosidade e seriedade cientiacutefica
para tratar de um conteuacutedo da cultura que nos permite conhecer
compreender explicar e criar possibilidades riquiacutessimas de atividashy
des culturais com sentido e significado humanizante
Prezados leitores ressalto que esta obra eacute singular relevante e
vital porque como dizem os autores em um dos textos ldquoEm tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas as esferas da vida a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda maior Epreciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabalhadora construshyamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contribuindo para a desmistifiacutecaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta rdquo
12
tivos de Autores no Brasil e quiccedilaacute na Ameacuterica Latina que de norte
a sul de leste a oeste estatildeo recuperando desenvolvendo utilizanshy
do outros paracircmetros teoacutericos-metodoloacutegicos sintonizados com oushy
tro projeto histoacuterico superador agrave loacutegica do capital e portanto com a
perspectiva de formaccedilatildeo humana emancipatoacuteria significando isto a
superaccedilatildeo da sociedade de classes
Com esta obra juntamente com outras de igual propoacutesito
consolida-se no Brasil uma Educaccedilatildeo Fiacutesica de base marxista Cons-
troi-se assim tambeacutem pela via do trabalho pedagoacutegico a subjetivishy
dade humana visto que as condiccedilotildees objetivas para a revoluccedilatildeo jaacute
estatildeo postas faltam as condiccedilotildees subjetivas As forccedilas produtivas
deixaram de crescer e estatildeo em franca destruiccedilatildeo A isto reage este
jovem COLETIVO DE AUTORES que nos alenta a seguirmos
perseguindo em tempos de transiccedilatildeo um outro modo de produccedilatildeo
da vida Que todas as crianccedilas jovens e adultos das escolas puacuteblishy
cas na cidade e no campo tenham garantida esta qualidade aqui
demonstrada no ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica
Celi Nelza Zuumllke Tajfarel
(Universidade Federal da Bahia - UFBA)
INTRODUCcedilAtildeO
LIMITES E POSSIBILIDADES DA DISCUSSAtildeO SOBRE DIDAacuteTICA DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA
Adriano de Paiva Reis
Carla Cristina Carvalho Pereira
Hajime Takeuchi Nozaki
Leonardo Docena Pina
Renata Aparecida Alves Landim
Por mais de um seacuteculo a histoacuteria da
Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar
foi marcada por sua caracterizaccedilatildeo como uma
atividade cujo objetivo central era promover
0 desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica dos indishy
viacuteduos A partir do final da deacutecada de 1970
acompanhando um amplo movimento de luta
pela redemocratizaccedilatildeo da sociedade brasileira
assistimos a um periacuteodo de denuacutencias sobre o
atrelamento da aacuterea a uma concepccedilatildeo exclushy
sivamente bioloacutegica de homemmovimento
que cumpria um papel conservador no que
tange agraves relaccedilotildees sociais
Apoacutes esse periacuteodo de criacuteticas sobretudo
ao final dos anos de 1980 e iniacutecio dos anos
de 1 990 comeccedilam a surgir novas propostas
para a Educaccedilatildeo Fiacutesica definindo princiacutepios
identificadores de uma nova praacutetica pedashy
goacutegica Desde entatildeo podemos evidenciar
diversos avanccedilos no sentido da construccedilatildeo
di Educaccedilatildeo Fiacutesica como componente cur-
liiulnr tanto no plano da legislaccedilatildeo e das
01 ieniaccedilotildees educacionais como no plano das
propostas construiacutedas e implementadas em diversas redes de ensino
pelo paiacutes Mas no que pese todo esse avanccedilo produzido a crise no campo teoacuterico (FRIGOTTO 2001) acabou por influenciar a redefishy
niccedilatildeo das propostas pedagoacutegicas criacuteticas da aacuterea que passaram a ser
consideradas muitas vezes insuficientes inadequadas e ateacute mesmo
ultrapassadas para atender agraves supostas demandas de um novo mundoConsiderando que os fundamentos centrais da sociedade na qual
vivemos se mantecircm presentes ainda hoje embora com bases renovashy
das compreendemos que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas
ainda possuem um papel a cumprir qual seja o de contribuir para a
superaccedilatildeo do capitalismo - e de todas as formas de opressatildeo que se
intensificam nesse modo de produccedilatildeo da existecircncia humana1
Nessa linha reconhecemos que a perspectiva da reflexatildeo criacutetica soshybre a cultura corporal (COLETIVO DE AUTORES 1992)2 tambeacutem
conhecida como ldquoabordagem Criacutetico-superadorardquo foi um marco mdash e
ainda se manteacutem como referecircncia mais desenvolvida mdash para a Educashy
ccedilatildeo Fiacutesica uma vez que ao se fundamentar na Pedagogia histoacuterico-
-criacutetica articulou esse componente curricular ao que haacute de mais avanshy
ccedilado no debate sobre o papel da escola sendo capaz de entrelaccedilar a
formaccedilatildeo humana aos interesses e necessidades da classe trabalhadora
A partir da delimitaccedilatildeo de uma aacuterea de conhecimento denominada
de cultura corporal essa perspectiva definiu a Educaccedilatildeo Fiacutesica como
disciplina responsaacutevel por promover na escola uma tematizaccedilatildeo soshy
bre a relaccedilatildeo dos grandes problemas sociais contemporacircneos com os
conteuacutedos jogos danccedilas lutas ginaacutestica esporte malabarismo con-
torcionismo miacutemica e outros (COLETIVO DE AUTORES 1992)
A transmissatildeo dos conhecimentos historicamente acumulados sobre
a cultura corporal define a especificidade pedagoacutegica da Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica sua presenccedila na escola justifica-se por socializar um saber que
1 Adotamos a classificaccedilatildeo das pedagogias - em criacuteticas e natildeo criacuteticas - elaboradas por Saviani
(2006)
2 Tendo em visra o processo histoacuterico que envolveu a elaboraccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do livro
Metodologia do Ensino da Educaccedilatildeo Coletivo de Autores foi o termo adotado originalmente
para designar sua autoria expressando um sentido poliacutetico e o esforccedilo de ratificar o caraacuteter
coletivo e o projeto histoacuterico com o qual a obra estava articulada no contexto de sua
publicaccedilatildeo pela editora Cortez em 1992
16
natildeo eacute transmitido pelas demais disciplinas mas que se constitui como
elemento essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade
Apesar do avanccedilo teoacuterico promovido pelas recentes discussotildees
sobre a Pedagogia histoacuterico-criacutetica e a metodologia Criacutetico-supera-
dora deparamo-nos com inuacutemeros depoimentos de professores da
educaccedilatildeo baacutesica sobre a dificuldade de organizarplanejarsistematishy
zar o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo
criacutetica sobre a cultura corporal Aleacutem das criacuteticas aos cursos de forshy
maccedilatildeo de professores da aacuterea muitas vezes voltados aos campos natildeo
escolares de atuaccedilatildeo e subordinados agrave dimensatildeo predominantemenshy
te bioloacutegica de ser humano os professores tecircm se queixado da falta
de referecircncias concretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas
com os diversos conteuacutedos da cultura corporal3
A constataccedilatildeo desses problemas e desafios impulsionou a organishy
zaccedilatildeo de um grupo - composto predominantemente por professores
da rede puacuteblica municipal de Juiz de Fora mdash com o objetivo de amshy
pliar os conhecimentos a respeito da metodologia Criacutetico-superadora
aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal Hoje o grupo eacute
formado por cerca de vinte professores e conta com assessoria de dois
docentes da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz
de Fora4 os quais tecircm dialogado conosco ao longo do processo
Sem viacutenculo institucional nem apoio financeiro para pesshy
quisa o grupo tem se dedicado agrave realizaccedilatildeo de estudos pesquisas
e experiecircncias voltadas ao aprimoramento de nossa praacutetica pedashy
goacutegica na escola Apoacutes dois anos de trabalho conjunto sentimos
a necessidade de dar um passo a mais qual seja o de iniciar a soshy
cializaccedilatildeo das experiecircncias pedagoacutegicas desenvolvidas nas escolas
municipais de Juiz de Fora A elaboraccedilatildeo dessa obra surgiu porshy
tanto a partir da necessidade de ampliar nossos conhecimentos
sobre os conteuacutedos da cultura corporal e suas possibilidades de
abordagem metodoloacutegica na escola A constituiccedilatildeo de um grupo
envolvendo professores da rede puacuteblica municipal e federal pershy
3 A respeito da problemaacutetica referente agrave formaccedilatildeo de professores no contexto atual
sugerimos a leitura dos estudos de Costa (2009) Arce (2000) e Teixeira (2009)
4 Estamos nos referindo aos professores Aacutelvaro de Azeredo Quelhas e Andreacute Silva Martins
mitiu o estudo debate e sistematizaccedilatildeo de experiecircncias pedagoacuteshy
gicas desenvolvidas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Consideramos que a divulgaccedilatildeo dessas experiecircncias pode
constituir-se como instrumento para o aprimoramento da praacutetica
pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo soacute porque socializa os planos
de unidade desenvolvidos juntamente com textos de fundamenshy
taccedilatildeo teoacuterica de cada conteuacutedo trabalhado mas tambeacutem porque
contribui para que outros professores se insiram no debate consshy
truam novas experiecircncias eou discutam novas possibilidades
E importante destacar que ao reconhecermos a importacircncia do
debate sobre a didaacutetica para o aprimoramento do trabalho pedagoacutegishy
co nas escolas natildeo o consideramos suficiente para resolver o problema
do ensino na Educaccedilatildeo Fiacutesica Ou seja nossa iniciativa embora seja
importante e necessaacuteria natildeo tem a pretensatildeo nem a capacidade de
resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Aleacutem das limitaccedilotildees que envolvem muitos cursos de formaccedilatildeo
de professores encontramos outras determinaccedilotildees que acabam por
contribuir para que a escola natildeo cumpra seu papel de transmissatildeo do
conhecimento Embora natildeo sejamos capazes de reunir neste artigo
todos os problemas encontrados em grande parte das escolas da rede
puacuteblica municipal de ensino faz-se necessaacuterio destacar em linhas geshy
rais que as condiccedilotildees de vida (e de trabalho) de grande parte dos
professores e alunos natildeo satildeo muito favoraacuteveis Soma-se a isso o fato
de que as estruturas fiacutesicas precaacuterias recursos materiais insuficientes
grande nuacutemero de alunos por turmas e pouco reconhecimento profisshy
sional tendem a dificultar ainda mais o desenvolvimento do trabalho
do prazer e da vontade de lecionar Tambeacutem natildeo podemos deixar de
destacar que em muitos casos a Educaccedilatildeo Fiacutesica assume o posto de
disciplina de segundo escalatildeo sobretudo nas escolas de Educaccedilatildeo Inshy
fantil e dos anos iniciais do ensino fundamental onde os professores
de Educaccedilatildeo Fiacutesica Artes e Muacutesica por exemplo dificilmente partishy
cipam do conselho de classe o que evidencia a (des)valorizaccedilatildeo de sua
atividade docente na escola frente outras disciplinas como Portuguecircs
e Matemaacutetica consideradas mais importantes sob a oacutetica do capital
18
Consideramos que o professor mdash das diferentes aacutereas do conhecimento
- tem o papel de transmitir o conhecimento cientiacutefico artiacutestico e filosoacutefico
aos alunos mas natildeo compreendemos que sua funccedilatildeo possa ser tatildeo facilshy
mente exercida como supotildeem os defensores do neoprodutivismo para os
quais se espera que o docente exerccedila todo um conjunto de funccedilotildees com o
maacuteximo de produtividade e o miacutenimo de dispecircndio isto eacute com modestos
salaacuterios5 Compreendemos conforme destaca Saviani (2011) que se o proshy
fessor fosse bem remunerado no acircmbito de uma carreira docente que lhe
garantisse jornada integral em uma uacutenica escola ele poderia exercer sem
maiores problemas muitas funccedilotildees a ele atribuiacutedas Mas natildeo eacute esse o caso
Analisando a precarizaccedilatildeo do trabalho do professor Costa (2009)
evidencia que as consequecircncias da alienaccedilatildeo na atividade docente natildeo
se restringem ao ensino e a aprendizagem mas envolvem a proacutepria vida
do professor A autora constata que o processo de alienaccedilatildeo constroacutei
uma relaccedilatildeo professoresalunos distorcida em que os
segundos passam a imputar aos professores o tratamenshy
to que deveriam dar aos reais representantes da violecircnshy
cia do Estado burguecircs que os tem oprimido durante
toda a sua trajetoacuteria escolar E os professores passam
a ver os alunos como aqueles que materializam a falta
de respeito e o desprestiacutegio da categoria profissional na
sociedade nas manifestaccedilotildees de falta de respeito e ateacute
mesmo a violecircncia (COSTA 2009 p 72)
Natildeo obstante a alienaccedilatildeo do trabalho do professor ainda
gera desumanizaccedilatildeo o mais violento de todos os aspectos Conshy
forme afirma Costa (2009) o professor nem sempre tem a opccedilatildeo
de buscar outras formas para suprir sua subsistecircncia
Os seres humanos submetidos agrave alienaccedilatildeo mesmo vivenshy
do o sofrimento no trabalho o desgaste fiacutesico e mental a
dilapidaccedilatildeo moral ainda assim permanecem em relaccedilotildees
de trabalho destrutivas ateacute esgotarem os limites de suas
capacidades ou ateacute serem descartados pelo capital Nesse
momento em geral as consequecircncias vividas pelo trabalho
jaacute satildeo irreversiacuteveis Embora experimente a deterioraccedilatildeo de
sua sauacutede a negaccedilatildeo da natureza formativa da educaccedilatildeo
presente todos ograves dias nas ingerecircncias das mantenedoras e
5 Sobre o neoprodutivismo na educaccedilatildeo escolar brasileira conferir Saviani (2011)
do Estado na sua atividade laborai o professor natildeo pode
se furtar ao trabalho como meio de subsistecircncia devido agrave
sua dependecircncia total da vida urbana e do consumo que
ela impoacutee assim como ocorre com todas as outras categoshy
rias do proletariado (COSTA 2009 p 76-77)
Ao abordar essas reflexotildees buscamos explicitar nossa discordacircncia em
relaccedilatildeo agraves perspectivas ideoloacutegicas predominantes defensoras da ideia de
que o ecircxito da escola e da poliacutetica educacional que a orienta depende apenas
da iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores Atualmente fala-se muito no proshy
fessor como protagonista da mudanccedila mas natildeo lhe satildeo oferecidas muitas
condiccedilotildees para isso Defende-se que o professor assuma uma postura inoshy
vadora desenvolva praacuteticas de ensino renovadas busque o conhecimento
produzido ainda que as condiccedilotildees sejam muito desfavoraacuteveis para tanto
Conforme alerta Duarte (2006) a ideia comumente defendida pelos meios
de comunicaccedilatildeo eacute a de que o professor deve ser ldquogente que fazrdquo
Naacuteo eacute mero acaso que atualmente seja taacuteo difundido em
educaccedilatildeo o discurso voltado para as caracteriacutesticas definishy
doras de um bom professor de um professor que reflete
sobre sua praacutetica e realiza um trabalho de qualidade messhy
mo em condiccedilotildees adversas Uma variante desse discurso eacute
aquela em que em vez de falar-se de um professor que eacute
gente que faz fala-se de uma escola em que os professores
coletivamente de preferecircncia de matildeos dadas com a comushy
nidade transformam em exemplo de sucesso escolar Em
nome da superaccedilatildeo dos discursos imobilistas eacute adotado
um discurso no qual a passagem do fracasso ao sucesso
torna-se uma questatildeo de forccedila de vontade de alguns indishy
viacuteduos ou melhor de um coletivo de uma comunidade
O resultado ideoloacutegico pretendido ou natildeo eacute bastante
claro o descompromisso do Estado a despolitizaccedilatildeo dos
problemas educacionais e a abdicaccedilatildeo do ideal de lutar por
uma transformaccedilatildeo radical da sociedade pela superaccedilatildeo
do capitalismo e pela construccedilatildeo de uma sociedade sociashy
lista A saiacuteda passa a ser a das soluccedilotildees locais comunitaacuterias
individuais (DUARTE 2006 p 141)
Feitas essas consideraccedilotildees sintetizamos nossa compreensatildeo soshy
bre os limites da discussatildeo didaacutetica que apresentamos neste livro
Trata-se de uma discussatildeo insuficiente se considerarmos o problema
da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica em sua radicalidade mas ao mesmo
20
tempo importante uma vez que pode ampliar as possibilidades de
transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica
O presente livro organizado numa perspectiva de unidade realiza
nos dois primeiros artigos uma discussatildeo de caraacuteter mais geral sobre a
funccedilatildeoespecificidade da escola e da Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemshy
poracircneo Os demais artigos abordam possibilidades de desenvolvimento
de praacuteticas pedagoacutegicas com temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos
da cultura corporal circo lutas ginaacutestica danccedila jogos e esporte
As experiecircncias pedagoacutegicas apresentadas foram desenvolvidas
com a segunda etapa do Ensino Fundamental e com o Ensino Meacuteshy
dio mas obviamente podem sofrer adaptaccedilotildees para serem tratadas
em outros niacuteveis de ensino Os artigos que tratam dos conteuacutedos da
cultura corporal nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica foram redigidos em subshy
grupos de autores coordenados pelos organizadores da obra e ao final
do processo todos os artigos foram lidos e discutidos coletivamente
Apesar de consideramos a capoeira como um conteuacutedo esshy
peciacutefico e importante da cultura corporal ela natildeo foi abordada
neste livro devido aos limites espaciais e temporais para conclushy
satildeo da obra No nosso planejamento inicial constava um artigo
especiacutefico para abordar esse conteuacutedo poreacutem com o andamento
do estudo constatamos que natildeo teriacuteamos tempo suficiente para
ibordaacute-lo Assim fazemos questatildeo de destacar que assumimos a
iiiscncia da capoeira como uma diacutevida e reafirmamos a necessida-
ilr de abordaacute-la em publicaccedilotildees e debates posteriores
( )s temas selecionados buscaram relacionar os conteuacutedos da cultura
iniporal a problemas sociais presentes na praacutetica social dos alunos bus-
i nulo ultrapassar a simples praacutetica pela praacutetica e promover uma reflexatildeo
i tiacutetii a sobre o modo como os jogos as lutas as danccedilas os esportes os
ru iacutecios ginaacutesticos as atividades circenses se expressam em nosso temshy
po I Vsse modo uma questatildeo que atravessou todos os planos de unidade
i i sltnuinte como a cultura corporal patrimocircnio da humanidade tem
I bull ipKgtpriada e subordinada agrave dinacircmica do consumo capitalista
Irsquooi iacuteim gostariacuteamos de registrar nossos agradecimentos pela
i pouibilizaccedilatildeo dos recursos para a publicaccedilatildeo desta ediccedilatildeo do
livro por meio do Fundo de Apoio agrave Pesquisa na Educaccedilatildeo Baacutesica
- FAPEB mdash da Prefeitura de Juiz de Fora A busca de um financiashy
mento puacuteblico e a distribuiccedilatildeo gratuita dessa obra estaacute relacionada
agrave nossa perspectiva de produccedilatildeoapropriaccedilatildeo coletiva do conhecishy
mento Agradecemos ainda a todos os professores e alunos que
estiveram envolvidos na realizaccedilatildeo desse projeto permitindo divishy
dir experiecircncias e construir conhecimentos que agora socializamos
neste livro
Referecircncias
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ccedilotildees e alguns questionamentos In DUARTE N (org) Sobre o construti-
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COSTA A Entre a dilapidaccedilatildeo moral e a missatildeo redentorista o processo de alienashy
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NETO E SOUZA G (Org) A proletarizaccedilatildeo do professor neoliberalis-
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DUARTE N Vigotski e o ldquoaprendera aprenderrdquo apropriaccedilotildees neoliberais e poacutes-
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Anais Caxambu ANPED 2009 p 1-17
CAPIacuteTULO I
SOBRE A FUNCcedilAtildeO E ESPECIFICIDADE DA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR NO M UNDO CONTEMPORAcircNEO
Andreacute Silva Martins
O presente capiacutetulo tem por objetivo apreshy
sentar uma reflexatildeo sobre a funccedilatildeo e especificishy
dade da educaccedilatildeo escolar na atualidade Nossa
intenccedilatildeo mais ampla eacute problematizar as perspecshy
tivas relacionadas agrave funccedilatildeo social da escola e sua
especificidade no processo de formaccedilatildeo humashy
na procurando indicar uma alternativa poliacutetico-
-pedagoacutegica aos discursos e praacuteticas dominantes
As questotildees que orientam nossa reflexatildeo
podem ser assim descritas Qual a funccedilatildeo
social da instituiccedilatildeo escolar na atualidade
A instituiccedilatildeo escolar possui uma especificishy
dade frente os demais processos formativos
de nossa sociedade Quais satildeo os desafios da
Escola Puacuteblica brasileira no seacuteculo XXI
Para responder estas questotildees organizashy
mos o texto em trecircs partes Na primeira busshy
camos recuperar a gecircnese da instituiccedilatildeo escoshy
lar e sua especificidade no processo formativo
Em seguida realizamos uma anaacutelise sobre duas
concepccedilotildees que vecircm orientando a definiccedilatildeo da
finalidade da educaccedilatildeo escolar Por fim com
base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica apresentashy
mos uma siacutentese do que pode vir a ser a insshy
tituiccedilatildeo escolar na atualidade tendo em vista
os interesses da ampla maioria da populaccedilatildeo
Nossa expectativa eacute contribuir para as reflexotildees sobre o tema e oferecer
elementos para a compreensatildeo criacutetica da funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar
Sobre a gecircnese da instituiccedilatildeo escolar
A escola eacute uma instituiccedilatildeo social relativamente nova que se
consolidou e se popularizou a partir do processo de intensificaccedilatildeo
da complexidade da vida social gerada pelas mudanccedilas nas relaccedilotildees
sociais envolvendo o crescimento da urbanizaccedilatildeo e desenvolvimenshy
to do industrialismo sobre as formas tradicionais de estruturaccedilatildeo de
poder e de redefiniccedilatildeo das bases de produccedilatildeo material e simboacutelica
vinculadas agrave existecircncia humana Isso significa que a instituiccedilatildeo esshy
colar surge como expressatildeo cultural de um tempo histoacuterico com a
finalidade de assegurar uma especificidade na formaccedilatildeo humana
Antes da existecircncia da escola nas sociedades tradicionais os proshy
cessos formativos se realizavam diretamente nas dinacircmicas de constishy
tuiccedilatildeo da vida natildeo requerendo maiores exigecircncias muito menos ritos
formais para sua ocorrecircncia No cotidiano as trocas de conhecimentos
gerados pela experiecircncia geracional ou pela vida cotidiana de uma dada
comunidade constituiacuteam a base dos processos formativos necessaacuterios agrave
construccedilatildeo da vida A educaccedilatildeo fluiacutea nas dinacircmicas de trabalhovida
sem delimitaccedilotildees mais precisas de tempo e espaccedilo A experiecircncia e a
informalidade se constituiacuteam como referecircncias dos processos formatishy
vos Nessa dinacircmica o domiacutenio de conhecimentos sistematizados era
dispensaacutevel ao homem comum A formaccedilatildeo intelectual era restrita aos
pequenos grupos que atuavam em funccedilotildees administrativas e clericais
Quando muito com raras exceccedilotildees o acesso do povo aos rudimentos
da leitura e da escrita ficava circunscrito agraves iniciativas isoladas princishy
palmente a cargo de ordens religiosas que reforccedilavam a manutenccedilatildeo da
ordem estabelecida (FERREIRA 2001) ou a grupos de artesatildeos preoshy
cupados com a organizaccedilatildeo da produccedilatildeo (ENGUITA 1989)
O processo social poliacutetico e econocircmico de ruptura com a trashy
diccedilatildeo feudal protagonizada pela classe burguesa nas sociedades eushy
ropeias produziu novas determinaccedilotildees para que a formaccedilatildeo humana
ultrapassasse as referecircncias educativas precedentes Em outras pala-
24
vras a dinacircmica social emergente apresentava os primeiros sinais de
que a experiecircncia e a informalidade ofereciam sinais de esgotamenshy
to isso porque estavam em curso novas exigecircncias para organizar a
vida social e os meios necessaacuterios agrave sua existecircncia
A valorizaccedilatildeo do chamado ldquohomem-livrerdquo a ideia de progresso as
formas emergentes de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de mercadorias e a defesa da
propriedade privada no centro da vida social que foram sendo consolidadas
apoacutes as revoluccedilotildees burguesas exigiam novas referecircncias educativas Na conshy
cepccedilatildeo da classe emergente a massa populacional disforme e sem identishy
dade poliacutetico-ideoloacutegica precisava ser preparada para ocupar o seu lugar na
nova ordem a partir de novas regras sociais de vida e trabalho A imagem do
atraso representado pelo camponecircs isolado e restrito ao espaccedilo rural precishy
sava ser substituiacuteda pela simbologia do progresso representada pelo homem
urbano - trabalhador ldquolivrerdquo Organizado na cidade envolvido nas relaccedilotildees
comerciais de novo tipo e envolvido na passagem da oficina para manufashy
tura e desta para a induacutestria nascente o ldquonovo homemrdquo deveria ser disciplishy
nado socialmente para compreender os novos coacutedigos culturais Se para os
adultos da classe trabalhadora a vida urbana continha os elementos educashy
tivos da disciplina social capitalista principalmente os de caraacuteter repressivo
a educaccedilatildeo das crianccedilas urbanas para a vida social exigia um pouco mais O
surgimento da escola de massas tem suas origens vinculadas a esse processo
de longa duraccedilatildeo confirmada na consolidaccedilatildeo do periacuteodo histoacuterico denoshy
minado de modernidade A especificidade da escola residia na compreenshy
satildeo de que algo a mais deveria ser oferecido ultrapassando as experiecircncias
educativas realizadas pela famiacutelia pelas religiotildees pela convivecircncia
Em ritmos diversos a expansatildeo da instituiccedilatildeo escolar puacutebli-
1 foi se tornando uma realidade nas formaccedilotildees sociais em geral
viabilizada por meio do Estado capitalista Aleacutem da escolarizaccedilatildeo
obrigatoacuteria com extensatildeo restrita foram sendo instituiacutedas bases
rei ais para o ensino realizado na escola puacuteblica de massas O do-
miacutenkrdos rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo passou a
laei parte da formaccedilatildeo do trabalhador urbano O desafio era for-
1 1 1 i eorporcidade infantil (o sentirpensaragir) desde cedo dentro
ilo ideal do ldquohomem novordquo
As teacutecnicas de ensino e de controle bem como a organizaccedilatildeo do
espaccedilo e das rotinas marcaram a constituiccedilatildeo da escola moderna Sem
elidir outros processos educativos a instituiccedilatildeo escolar foi se tornando
importante instrumento do processo civilizatoacuterio capitalista
Enquanto a escola de massas assumiu a educaccedilatildeo das crianccedilas da
classe trabalhadora para o exerciacutecio da submissatildeo intelectual e moral
formando o cidadatildeo-trabalhador produtivo da modernidade outro tipo
de escola foi assegurado para a preparaccedilatildeo ampla de grupos de crianccedilas
e adolescentes da classe burguesa As distinccedilotildees fundamentais do proshy
cesso formativo dos dirigentes e dirigidos se expressaram no tempo de
escolarizaccedilatildeo no espaccedilo destinado agraves praacuteticas educativas bem como na
quantidade-qualidade de acesso aos conhecimentos sistematizados Inshy
distintamente a racionalizaccedilatildeo do processo pedagoacutegico buscou responshy
der agraves especificidades do papel econocircmico-poliacutetico das classes sociais
tendo como referecircncia a dinacircmica da vida urbano-industrial1 e a necesshy
sidade dos coacutedigos culturais Vale lembrar que o princiacutepio do dualismo
educacional jaacute havia sido traccedilado por John Locke no seacuteculo XVII antes
mesmo do advento da escolarizaccedilatildeo de massas (ENGUITA 1989)
Mesmo oferecendo um acesso restrito ao conhecimento sisshy
tematizado e assegurando uma formaccedilatildeo intelectual e moral para
a submissatildeo a escola para os trabalhadores foi sendo consolidada
nas formaccedilotildees sociais capitalistas a partir do reconhecimento de
sua contribuiccedilatildeo especiacutefica dentro do processo educativo mais
amplo Embora este processo tenha se dado em ritmo variado -
dependendo do reconhecimento da classe dominante sobre a im shy
portacircncia da ampliaccedilatildeo do domiacutenio dos coacutedigos culturais e das
lutas travadas em torno do acesso agrave educaccedilatildeo - a escola foi sendo
legitimada por sua especificidade educativa Sobre este processo
mais geral Ferreira (2001 p 193) observa que
Chegados agrave transiccedilatildeo do seacuteculo X IX para o seacutecushy
lo XX a burguesia sustenta e participa do poder
1 Enquanto a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo infantil da classe trabalhadora das cidades passou a
ser ordenada pelo menos enquanto tendecircncia em edificaccedilotildees projetadas para tal fim pela
adoccedilatildeo de turmas seriadas por programas bem definidos e com professores treinados a
educaccedilatildeo no campo ainda que concentrando boa parcela das crianccedilas seguiu marcada
pelo improviso de instalaccedilotildees de recursos didaacuteticos e de pessoal
mas hesita entre a cultura do passado e a dinacircmica
imposta pelo progresso A burguesia sabe por exshy
periecircncia proacutepria que nada eacute definitivo e uniforshy
me Mas tambeacutem sabe que a sociedade burguesa
precisa de ordem e estabilidade e que os interesshy
ses divergentes que encerra podem arruinaacute-la Ela
precisa por isso estar bem informada para agir
em conformidade com o momento Necessita soshy
bretudo de dominar os saberes que lhe asseguram
a administraccedilatildeo do poder Ela sabe que a compeshy
tecircncia eacute a qualidade chave do sucesso A escola
tem sido fundamentalmente uma instituiccedilatildeo cara
agrave burguesia Isso natildeo significa que natildeo tenha sido
uacutetil a outras forccedilas sociais e que natildeo tenha servido
interesses contraacuterios aos dos burgueses
A histoacuteria da escolarizaccedilatildeo na formaccedilatildeo social brasileira seshy
guiu pelo menos enquanto tendecircncia o movimento educacional
das formaccedilotildees capitalistas centrais No entanto considerando
que o Brasil foi palco de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo tardia sob
mediaccedilatildeo de uma revoluccedilatildeo burguesa de tipo natildeo-claacutessica (FERshy
NANDES 1976) explicada pelo conceito de revoluccedilatildeo passiva
(GRAMSCI 1999) e que isto resultou numa inserccedilatildeo subordinashy
da do paiacutes no cenaacuterio internacional eacute possiacutevel afirmar que a escola
puacuteblica de massas expressou em sua particularidade e com contrashy
diccedilotildees a opccedilatildeo poliacutetica da classe dominante brasileira
Basta considerar que enquanto os paiacuteses centrais jaacute haviam
avanccedilado no movimento de universalizaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo baacutesica
ainda no seacuteculo XIX no Brasil ao longo do seacuteculo XX predomishy
nou um processo restritivo de acesso dos trabalhadores agrave educaccedilatildeo
escolar Os que escaparam do analfabetismo em geral encontraram
barreiras objetivas para concluir o que denominamos hoje de Enshy
sino Fundamental Foi somente no limiar do seacuteculo XXI que este
niacutevel de escolarizaccedilatildeo foi universalizado2
2 O atraso educacional brasileiro pode ser explicitado nas questotildees legais que envolvem o Ensino
Meacutedio A Constituiccedilatildeo de 1988 - chamada por muitos de ldquoConstituiccedilatildeo Cidadatilderdquo - estabeleceu
no artigo 208 inciso II ldquoprogressiva extensatildeo de obrigatoriedade e gratuidade do ensino meacutediordquo
mesmo diante dos sinais de mudanccedilas poliacuteticas e econocircmicas significativas no mundo capitalista
O Ensino Meacutedio foi projetado para poucos naquele contexto Somente em 2009 por meio da
Emenda Constitucional ndeg 59 este niacutevel de ensino se tornou obrigatoacuterio no paiacutes
w avanccedilo lento e restritivo da escolarizaccedilatildeo brasileira foi resultado
das relaccedilotildees de poder travadas ao longo do seacuteculo XX mediadas pelas
relaccedilotildees de produccedilatildeo Predominava na classe dominante a compreenshy
satildeo de que o acesso agrave educaccedilatildeo deveria ser programado para atender o
miacutenimo necessaacuterio ao padratildeo de qualificaccedilatildeo exigido pela dinacircmica da
sociedade urbano-industrial em seu desenvolvimento tecnoloacutegico e exishy
gecircncias poliacuteticas e ideoloacutegicas Esse posicionamento contrastava com as
lutas operaacuterias do iniacutecio do seacuteculo XX que reivindicavam acesso agrave edushy
caccedilatildeo puacuteblica e com a manifestaccedilatildeo dos signataacuterios do ldquoManifesto dos
Pioneiros da Educaccedilatildeordquo de 1932 que reivindicava uma escola puacuteblica
de qualidade para todos Contudo na correlaccedilatildeo de forccedilas e consideshy
rando a dinacircmica das relaccedilotildees de produccedilatildeo para a grande maioria o
acesso ao conhecimento sistematizado natildeo ultrapassou o domiacutenio dos
rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo A ideia de que a escolashy
rizaccedilatildeo deveria se constituir num patrimocircnio de poucos predominou
Em que pesem o atraso educacional e as restriccedilotildees de acesso
agrave escola puacuteblica a historiografia da educaccedilatildeo brasileira por reshy
cortes e bases epistemoloacutegicas distintas apresenta fartos elemenshy
tos que demonstram a ligaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar e projeto
civilizatoacuterio conduzido pela classe dominante no paiacutes desde o
iniacutecio do seacuteculo XX confirmando a especificidade da instituiccedilatildeo
escolar no processo de formaccedilatildeo humana
Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar as concepccedilotildees dominantes
Apesar do reconhecimento social sobre a importacircncia e esshy
pecificidade da instituiccedilatildeo escolar no processo educativo mais
amplo eacute necessaacuterio observar que existem divergecircncias quanto agrave
finalidade da educaccedilatildeo escolar Para enfrentar esta questatildeo opshy
tamos por um recorte de duas das mais relevantes formulaccedilotildees
contemporacircneas sobre o tema Nossa opccedilatildeo metodoloacutegica conshy
siste na caracterizaccedilatildeo e anaacutelise das concepccedilotildees procurando evishy
denciar suas implicaccedilotildees para a formaccedilatildeo humana
28
Concepccedilatildeo 1 A finalidade da educaccedilatildeo escolar eacute preparar recursos humanos para impulsionar o desenvolvimento econocircmico
Esta formulaccedilatildeo foi apresentada no cenaacuterio brasileiro nos anos
de 1970 no contexto do regime ditatorial viabilizado pelo golpe em-
presarial-militar de 1964 Traduzindo uma teoria surgida nos Estados
Unidos o bloco no poder do regime ditatorial e seus intelectuais se
encarregaram de viabilizar que os principais enunciados da teoria esshy
tadunidense fossem veiculados para ordenar a funccedilatildeo da escola a parshy
tir da redefiniccedilatildeo da poliacutetica de educaccedilatildeo da legislaccedilatildeo educacional
da organizaccedilatildeo curricular e das praacuteticas pedagoacutegicas A grande meta
era subordinar a educaccedilatildeo escolar ao projeto de desenvolvimento ecoshy
nocircmico Mas o que significa estabelecer que a funccedilatildeo da escola eacute conshy
tribuir para o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes
A teoria acima referida foi sistematizada porTeodoro Schultz
(1963 1971) Parte da premissa de que o conceito de ldquocapitalrdquo se
refere natildeo soacute agraves coisas materiais mas tambeacutem aos seres humanos
Schultz se refere agraves habilidades adquiridas principalmente pela
educaccedilatildeo escolar que interferem na atividade produtiva O conheshy
cimento c as habilidades teacutecnicas seriam expressotildees particulares de
ldquocapitalrdquo uma vez que se vinculam ao aumento da capacidade de
produccedilatildeo A preocupaccedilatildeo do autor com o alargamento do conceishy
to de capital se vincula agrave busca por compreender os diferenciais de
produtividade gerados pelo esforccedilo humano O resultado de sua
formulaccedilatildeo foi denominado de ldquocapital humanordquo
A ampliaccedilatildeo do conceito de capital proposto por Schultz reafirma
a tese da economia poliacutetica burguesa de que todos indistintamente
satildeo capitalistas a diferenccedila baacutesica seria a seguinte uns satildeo possuidores
dos meios de produccedilatildeo e outros da forccedila de trabalho Explicitando o
significado de sua teoria Schultz (1963 p 12-13) afirma que
A recusa em considerar as habilidades adquiridas
pelo homem (habilidades que ampliaram a proshy
dutividade econocircmica desse homem) como uma
forma de capital como bens produzidos da pro-
duccedilatildeo como resultado de um investimento tem
estimulado o conceito restritivo patentemente
errocircneo de que o trabalho prescinde do capital
e de que somente importa o nuacutemero de homens-
-hora [] Os trabalhadores vecircm-se tornando cashy
pitalistas no sentido de que tecircm adquirido muito
conhecimento e diversas habilidades que represhy
sentam valor econocircmico
Na esteira dessa intrigante formulaccedilatildeo Schultz procurou afirmar
que a importacircncia da escolarizaccedilatildeo residia precisamente em ldquovalor
econocircmicordquo Investimentos em educaccedilatildeo resultariam no aumento de
capital humano e na consequente elevaccedilatildeo das taxas de lucro A teoria
do capital humano considera que a educaccedilatildeo deve ser planejada como
fator de desenvolvimento econocircmico e natildeo como direito social
A proposiccedilatildeo consiste em relacionar o ser humano no mesmo
patamar de instrumentos utilizados na produccedilatildeo capitalista Nessa
linha a esquematizaccedilatildeo teoacuterica atestava que a elevaccedilatildeo da escolashy
ridade de um povo ou de cada indiviacuteduo seria diretamente proshy
porcional ao aumento da capacidade de trabalho e ao aumento da
riqueza pessoal sendo que a soma de todas as riquezas significaria
no crescimento da riqueza de uma naccedilatildeo 3
Para Schultz (1971) o valor da educaccedilatildeo estaria na habilitaccedilatildeo de
pessoas para lidar com situaccedilotildees de desequiliacutebrio de mudanccedila e de rupshy
tura O quantum de educaccedilatildeo deveria ser pensado em funccedilatildeo das necessishy
dades de geraccedilatildeo de competecircncias para a eficiecircncia produtiva no trabalho
A anaacutelise de Frigotto (1986) revela os limites e o significashy
do da teoria do capital humano Revela o seu vieacutes empiricista
sua perspectiva epistemoloacutegica baseada no positivismo e o caraacuteter
poliacutetico-ideoloacutegico centrado na economia poliacutetica burguesa
3 Em outras palavras as pessoas ricas seriam aquelas que mais teriam recebido
investimentos em capital humano consequentemente a pessoa pobre seria aquela
que natildeo conseguiu desenvolver o seu capital humano Os paiacuteses mais ricos seriam
aqueles que teriam realizado o maior esforccedilo de elevaccedilatildeo do patamar meacutedio de
racionalidade de seu povo por meio da escola e os paiacuteses mais pobres os que menos
investiram nesse quesitoVale lembrar que a teoria de Schultz nunca conseguiu
explicar o caso brasileiro que de um lado manteacutem-se como uma das maiores
economias do mundo de outro o paiacutes apresenta peacutessimos indicadores educacionais
que comprovam a fragilidade da educaccedilatildeo escolar brasileira
30
No Brasil as repercussotildees da teoria do capital humano foram sigshy
nificativas durante o periacuteodo ditatorial abrangendo vaacuterios aspectos (a)
financiamento da educaccedilatildeo o orccedilamento da educaccedilatildeo passou a ser
definido com base nos mesmos criteacuterios adotados nos investimentos do
setor produtivo (b) planejamento educacional estabeleceu a vincula-
ccedilatildeo direta e imediata entre educaccedilatildeo e setor produtivo - o Plano Setorial
de Educaccedilatildeo e Cultura de 19721974 deixa isso claro (c) legislaccedilatildeo
uma nova lei de Diretrizes e Bases foi estabelecida (lei 569271) para
ordenar a educaccedilatildeo brasileira - chamada ldquoformaccedilatildeo especializadardquo no 2o
grau (atual Ensino Meacutedio) pode ser tomada como um dos exemplos da
vinculaccedilatildeo proposta entre educaccedilatildeo e economia (d) concepccedilatildeo pedashy
goacutegica afirmaccedilatildeo do tecnicismo como referecircncia para os processos forshy
niuivos procurando estabelecer a objetividade do trabalho pedagoacutegico
1 partir da precisatildeo das teacutecnicas e tecnologias de ensino
Apesar das criacuteticas e resistecircncias a teoria do capital humano
iiio foi definitivamente superada Ao contraacuterio desde os anos
laquoU 1990 a teoria vem sendo atualizada e difundida por vaacuterios
mielectuais orgacircnicos da classe burguesa A novidade eacute que a
educaccedilatildeo aleacutem de resultar na elevaccedilatildeo do capital humano deve
timbeacutem desenvolver o chamado capital social Isso significa que
1 Iunccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar foi ampliada embora a perspectiva
i onomicista continue preponderando4
Se o desenvolvimento do capital humano tem interferecircncia direta
mi i questatildeo econocircmica o capital social por sua vez relaciona-se com
i i|iK staacuteo social de forma mais precisa com a coesatildeo poliacutetica e ideoloacutegica
1 iiiballuidores ao projeto hegemocircnico de sociabilidade O capital social
bull ii u licionado agrave elevaccedilatildeo de algumas chamadas variaacuteveis relacionadas agraves
bull bullIuluias humanas que repercutem nas relaccedilotildees comunitaacuterias entre elas a
bull h gt1 u i accedilaacutelt gt a confianccedila muacutetua e a capacidade de participaccedilatildeo (PUTNAM
lt h)M A tese sugere que a elevaccedilatildeo do capital social permitiraacute que os indi-
il icssjliar que natildeo se trata de sobreposiccedilatildeo de accedilotildees mas sim a especificaccedilatildeo de
mi i vi-nccedilotildecs educativas visando assegurar a formaccedilatildeo humana no acircmbito escolar As
u iiiLiccedilotildees de Gustavo Ioschpe intelectual orgacircnico da burguesia satildeo reveladoras
iVni bull llt lui outros ganhos comunicantes associados com a educaccedilatildeo maior toleracircncia
bull u it-iii ia social melhores cuidados com a sauacutede tendecircncias democraacuteticas controle
I iu|miImis violentosrdquo (IOSCHPE 2004 p 67)
viduos se organizem para solucionar os problemas sociais que os afligem
sem necessariamente depender da intervenccedilatildeo paternalista estatal
O projeto de educaccedilatildeo referenciado na teoria do capital e
ampliado com o acreacutescimo da teoria do capital social reconhece
a especificidade da educaccedilatildeo escolar No entanto as referecircncias
sobre a funccedilatildeo da instituiccedilatildeo escolar satildeo restritivas e pragmaacutetishy
cas Sob o ponto de vista mais amplo significa reafirmar que os
subalternos natildeo nasceram para assumir a condiccedilatildeo de classe d ishy
rigente Especificamente sobre o processo pedagoacutegico significa
estabelecer uma formaccedilatildeo de caraacuteter minimalista em que o acesso
ao conhecimento sistematizado na escola ocorreraacute respeitando o
m iacutenimo necessaacuterio para simplesmente desenvolver uma racionashy
lidade instrumental base das competecircncias para a empregabili-
dade O fundamento pedagoacutegico desta concepccedilatildeo estaacute alicerccedilada
na pedagogia das competecircncias (RAM OS 2001) cabendo agrave esshy
cola somente orientar a formaccedilatildeo do trabalhador-cidadatildeo produshy
tivo eficiente em sua condiccedilatildeo de subalternidade
Concepccedilatildeo 2 A funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar eacute formar para a cidadania
Na sociedade capitalista o acesso ao conhecimento sisteshy
matizado estaacute subordinado agrave condiccedilatildeo de classe podendo ser
alterado em funccedilatildeo dos resultados provisoacuterios das lutas poliacuteticas
na educaccedilatildeo conforme destacado anteriormente Nesse sentido
as disputas envolvendo o acesso ao conhecimento ocorrem porshy
que a ciecircncia e a tecnologia se converteram em forccedila produtiva
e instrumento de poder O controle sobre o conhecimento sisteshy
matizado portanto passou a fazer parte da estrateacutegia de dom ishy
naccedilatildeo de classe na sociedade capitalista Diante disso parece-nos
relevante indagar o que significa afirmar que a funccedilatildeo da escola
se destina a preparar para a cidadania Como fica o acesso ao
conhecimento sistematizado nesta concepccedilatildeo
Primeiramente devemos considerar que a cidadania eacute uma consshy
truccedilatildeo resultante das contradiccedilotildees internas das revoluccedilotildees burguesas
32
Embora se no passado representasse um avanccedilo frente agrave velha ordem
feudal ou escravista e se na atualidade expresse tambeacutem um avanccedilo
frente aos regimes e praacuteticas autoritaacuterias eacute importante lembrar que
este constructo designa apenas o reconhecimento da igualdade forshy
mal entre seres humanos que vivem condiccedilotildees poliacuteticas e econocircmicas
profundamente desiguais Em outras palavras o estatuto da cidadania
natildeo altera em absolutamente nada a realidade da dominaccedilatildeo poliacutetica e
exploraccedilatildeo econocircmica realizadas na sociedade capitalista
Um aspecto importante a ser considerado se refere agravequilo que
fundamenta o preceito de cidadania De modo geral o cidadatildeo
natildeo tem identidade de classe mas sim uma condiccedilatildeo individual E
cidadatildeo tanto o que explora e domina quanto aquele que eacute exploshy
rado e dominado por outro O cidadatildeo eacute o indiviacuteduo e natildeo uma
coletividade regulado por um estatuto juriacutedico e certas normas
sociais no contexto de um Estado Portanto ser cidadatildeo significa
integrar-se na vida social a partir da regulaccedilatildeo formal e de valores
indicando o pertencimento poliacutetico A definiccedilatildeo apresentada por
lt mivez (1990 p 15) confirma esta compreensatildeo
A cidadania define a pertenccedila a um Estado Ela daacute
ao indiviacuteduo um status juriacutedico ao qual se ligam dishy
reitos e deveres particulares Esse status depende das
leis proacuteprias de cada Estado e pode-se afirmar que
haacute tantos tipos de cidadatildeos quanto tipos de Estados
O problema da cidadania poreacutem natildeo eacute apenas proshy
blema juriacutedico ou constitucional se provoca debates
apaixonados eacute porque coloca a questatildeo do modo de
inserccedilatildeo do indiviacuteduo em sua comunidade assim
como de sua relaccedilatildeo com o poder poliacutetico
lt luo de ser cidadatildeo natildeo assegura a igualdade de condiccedilotildees
1 vidi e trabalho em um contexto de profunda desigualdade
moiiiua poliacutetica e social Muito menos assegura a possibili-
l raquolt dc ser diferente no contexto em que a igualdade formal se
ilgt In r procurando uniformizar a todos A cidadania portan-
bull i ui li ii a possibilidade da atuaccedilatildeo poliacutetica de indiviacuteduos e
ni i |i 1 1 ic as sociais dentro dos limites da ordem existente5
I iliIr poliacutetica denominamos o direito de organizaccedilatildeo de representaccedilatildeo e de
l i I h preacutesentantes atraveacutes do voto
As inuacutemeras adjetivaccedilotildees propostas ao conceito sinalizam as restriccedilotildees
de sua inserccedilatildeo na praacutetica social concreta Na lista de adjetivaccedilotildees encontrashy
mos ldquocidadania participativardquo ldquocidadania efetivardquo ldquocidadania emancipadardquo
ldquocidadania ativardquo ldquocidadania eacuteticardquo ldquocidadania popularrdquo entre outras6
Natildeo queremos com essa delimitaccedilatildeo invalidar a importacircncia da
cidadania no passado e no presente na sociedade capitalista especialshy
mente para a formaccedilatildeo social brasileira Ao contraacuterio acreditamos
que legalidade constituiacuteda no estatuto juriacutedico dos direitos individushy
ais e poliacuteticos - envolvendo a possibilidade de organizaccedilatildeo de represhy
sentaccedilatildeo de coletivos e de possibilidades de escolhas de representantes
atraveacutes do voto mdash natildeo eacute passiacutevel de desprezo Entretanto o que busshy
camos assinalar eacute que vincular o projeto de educaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo da
cidadania eacute insuficiente pois a cidadania natildeo pressupotildee a superaccedilatildeo
da ordem capitalista (TONET 2005)
Cabe lembrar que nas sociedades capitalistas dependentes como
eacute o caso da sociedade brasileira a exploraccedilatildeo se materializa em supe-
rexploraccedilatildeo a participaccedilatildeo poliacutetica eacute sempre condicionada a marcos
juriacutedicos restritivos a concentraccedilatildeo da renda e da propriedade eacute extreshy
mada a polarizaccedilatildeo social eacute mais evidente e a dominaccedilatildeo ideoloacutegica eacute
maciccedila (CA RDO SO 2006) Considerando que os indicadores sociais
e econocircmicos confirmam esta observaccedilatildeo acreditamos que limitar a
finalidade da escola para a produccedilatildeo da cidadania eacute algo insuficiente
E importante considerar que a vinculaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar
e cidadania possui um lastro histoacuterico importante no Brasil De modo
mais amplo talvez esta vinculaccedilatildeo possa ser creditada como resposta
dos educadores progressistas agrave experiecircncia vivida pelos trabalhadores
brasileiros no contexto da ditadura empresarial-militar que perdurou
por cerca de vinte anos Se esta hipoacutetese estiver correta poderemos
afirmar que a educaccedilatildeo para a cidadania representou um posicionashy
mento criacutetico frente ao regime autoritaacuterio agrave cultura poliacutetica consershy
6 A produccedilatildeo acadecircmica sobre o tema eacute consideraacutevel Aleacutem de teses
dissertaccedilotildees e artigos cientiacuteficos a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e cidadania foi
abordada em diferentes obras Eis alguns livros sobre o tema Buffa et al
(1987) Ferreira (1993) Demo (1994) Libacircneo (1998)
34
vadora ao clicntelismo e ao patrimonialismo presentes na vida social
Sobre o acesso ao conhecimento sistematizado para Libacircneo (1998)
o exerciacutecio para a cidadania exigiria o domiacutenio dos conhecimentos
sistematizados como ferramentas individuais para a intervenccedilatildeo na
realidade Apesar da perspectiva progressista da formulaccedilatildeo acreditashy
mos que educar para a cidadania eacute diferente de educar para compreshy
ensatildeo dos limites histoacutericos e teoacutericos da cidadania
Aleacutem das formulaccedilotildees progressistas sobre a educaccedilatildeo escolar e
cidadania existem tambeacutem obras de caraacuteter conservador que buscam
reafirmar aquilo que Neves (2005) define como a nova pedagogia da
hegemonia por meio da educaccedilatildeo escolar As formulaccedilotildees de Delors
(1996) e Morin (2000) divulgadas sobre a chancela da Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas satildeo casos exemplares que repercutem na definiccedilatildeo da
poliacutetica educacional em nosso paiacutes nos anos recentes de nossa histoacuteria7
Para Delors ldquona escola eacute que deve comeccedilar a educaccedilatildeo para
uma cidadania consciente e ativardquo (1996 p 28)s Entretanto peshy
los limites teoacutericos e histoacutericos do conceito e considerando suas
opccedilotildees ideoloacutegicas o maacuteximo que Delors consegue eacute reafirmar
com novas palavras as velhas construccedilotildees que envolvem a temaacutetica
educaccedilatildeo para a cidadania Em suas palavras
Mas como aprender a conviver nesta aldeia global
se somos incapazes de viver em paz nas comunidades
naturais a que pertencemos naccedilatildeo regiatildeo cidade alshy
deia vizinhanccedila A questatildeo central da democracia eacute
saber se desejamos e somos capazes de participar da
vida em comunidade conveacutem natildeo esquecer que esse
desejo depende do sentido da responsabilidade de
cada um (DELORS 1996 p 7-8)
A tese explicita claramente os limites da cidadania revelando que
sua vinculaccedilatildeo se estabelece com o indiviacuteduo e natildeo com as coletividashy
des Por meio da chamada cidadania consciente e ativa Delors retoma
Acredi tamos que parte dessas formulaccedilotildees saacuteo tributaacuterias da concepccedilatildeo pedagoacutegica escolanovista
Para entender o que isso significa em termos poliacuteticos e filosoacuteficos recomendamos a leitura de
Saviani (1987) especialmente o capiacutetulo dois ldquoEscola e democracia I a Teoria da Curvatura
da Varardquo
8 Os adjetivos ldquoconscienterdquo e ldquoativordquo demonstram a intenccedilatildeo de estabelecer uma atualizaccedilatildeo
da cidadania tal como assinalados anteriormente
o individualismo como valor moral radical reafirmando a formulaccedilatildeo
valorizada pela doutrina liberal e pelos projetos neoliberal e neoliberal
da terceira via Estes limites podem ser verificados em outra afirmaccedilatildeo
Um sentimento de vertigem apodera-se de nossos
contemporacircneos divididos entre essa globalizaccedilatildeo - a
cujas manifestaccedilotildees eles satildeo obrigados agraves vezes a se
submeterem mdash e a busca pessoal de suas raiacutezes refeshy
recircncias e filiaccedilotildees
A educaccedilaacuteo deve enfrentar esse problema porque na
perspectiva do parto doloroso de uma sociedade munshy
dial ela situa-se mais do que nunca 110 acircmago do deshy
senvolvimento da pessoa e das comunidades sua misshy
satildeo consiste em permitir que todos sem exceccedilatildeo faccedilam
frutificar seus talentos e suas potencialidades criativas
o que implica por parte de cada um a capacidade de assumir sua proacutepria responsabilidade e de realizar seu proshyjeto pessoal (D ELO RS 1996 p 10 grifo nosso)
Aleacutem dos aspectos citados cabe destacar o conteuacutedo ideoloacutegico
dos princiacutepios valorativos da educaccedilatildeo para a cidadania sistematizada
por Jacques Delors Segundo Duarte (2008) estes princiacutepios satildeo orienshy
tados pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo De modo geral os prinshy
ciacutepios convergem para a afirmaccedilatildeo do individualismo como valor moral
radical A tiacutetulo de exemplo podemos citar a hierarquizaccedilatildeo das formas
de aprendizagem realizadas pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo
Duarte (2008) verifica que para esta corrente pedagoacutegica eacute mais releshy
vante e significativo aprender sozinho do que pela mediaccedilatildeo do outro
Isso significa a ratificaccedilatildeo do individualismo como valor morai radical e
define o conteuacutedo da chamada cidadania consciente e ativa
A posiccedilatildeo de Edgar Morin se apresenta na mesma perspectiva trashy
ccedilada por Jacques Delors Delineando as bases para a educaccedilatildeo escolar
formar o chamado cidadatildeo planetaacuterio do seacuteculo XXI o autor afirma que
Podemos considerar que a plenitude e a livre
expressatildeo dos indiviacuteduos-sujeitos constituem
nosso propoacutesito eacutetico e poliacutetico sem entreshy
tanto pensarmos que constituem a proacutepria
finalidade da triacuteade indiviacutediwsociedadelespeacute-
cie A complexidade humana natildeo poderia ser
compreendida dissociada dos elementos que
a constituem todo desenvolvimento verdadeishyramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais das parshyticipaccedilotildees comunitaacuterias e do sentimento de pershytencer agrave espeacutecie humana (MORIN 2000 p
54-55 grifo do autor)
Mais uma vez o indiviacuteduo atomizado e sem identidade de
classe portanto diluiacutedo nas relaccedilotildees sociais eacute apresentado como
referecircncia central da formulaccedilatildeo
A finalidade da formaccedilatildeo do chamado cidadatildeo planetaacuterio eacute
e xplicitada da seguinte forma
O problema da compreensatildeo tornou-se crucial para
os humanos E por este motivo deve ser uma das
finalidades da educaccedilatildeo do futuro Lembremo-
-nos de que nenhuma teacutecnica de comunicaccedilatildeo do
telefone agrave Internet traz por si mesma a compreshy
ensatildeo A compreensatildeo natildeo pode ser quantificada
Educar para compreender a matemaacutetica ou uma
disciplina determinada eacute uma coisa educar para a
compreensatildeo humana eacute outra Nela encontra-se a
missatildeo propriamente espiritual da educaccedilatildeo ensishy
nar a compreensatildeo entre as pessoas como condiccedilatildeo
e garantia da solidariedade intelectual e moral da
humanidade (M O R IN 2000 p 94)
construccedilatildeo de uma sociedade solidaacuteria eacute de fato algo re-
bull iiiu Entretanto a formulaccedilatildeo de Morin aposta na solidarie-
tllt lsquocm alterar as condiccedilotildees objetivas de vida Eacute possiacutevel esta-
bull I ei i solidariedade num contexto marcado pela exploraccedilatildeo e
|m 11 iloi iaccedilatildeo das coisas em detrimento da condiccedilatildeo humana
I ui siacutentese o que se busca eacute na verdade o estabelecimento de
d u pu(o entre as classes sociais sobre o controle e direccedilatildeo
1 lt liiiijMicsa Desse modo a funccedilatildeo da escola do seacuteculo XXI
i i ili pcli cidadania seraacute a de reafirmar a manutenccedilatildeo das rela-
bull | raquodei e xistentes com o aprofundamento da subserviecircncia da
u ii iliilliulora Aleacutem disso nesta concepccedilatildeo o conhecimento
sistematizado cede lugar agrave experiecircncia imediata ou quando muito
na perspectiva progressista agrave reflexatildeo sobre formas de intervenccedilatildeo
na vida poliacutetica da escola da comunidade ou do paiacutes
Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar educar para a emancipaccedilatildeo humana
O consenso em torno da legitimidade da instituiccedilatildeo escolar
na sociedade contemporacircnea eacute um dado consolidado certamente
influenciado pelas concepccedilotildees anteriormente analisadas Entretanshy
to um problema persiste tais formulaccedilotildees restringem a formaccedilatildeo
humana e consequentemente limitam as possibilidades de insershy
ccedilatildeo no mundo real Diante disso cabe uma questatildeo a educaccedilatildeo
escolar pode oferecer outra perspectiva formativa que supere o
economicismo da teoria do capital humano e a orientaccedilatildeo politi-
cista da educaccedilatildeo para a cidadania Qual o papel do conhecimento
sistematizado nesta alternativa pedagoacutegica
Foi procurando responder a esta questatildeo que alguns educadores brashy
sileiros procuraram delinear uma nova possibilidade pedagoacutegica sobre a esshy
pecificidade e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar tendo em vista a necessidade de
elevar a escolarizaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes da classe trabalhadora9
Esta concepccedilatildeo pedagoacutegica foi sistematizada a partir da anaacutelishy
se criacutetica sobre a configuraccedilatildeo e dinacircmica da sociedade capitalista
Conhecendo os limites desta forma cultural de organizaccedilatildeo da vida
o segundo passo foi analisar as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes
considerando as necessidades da classe trabalhadora e os objetivos
da classe burguesa A primeira constataccedilatildeo foi que os processos de
dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo tiacutepicos das formaccedilotildees sociais capitalistas
impedem a emancipaccedilatildeo humana A segunda constataccedilatildeo foi que
as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes eram expressotildees especiacuteficas do
projeto de sociedade da classe dominante A siacutentese desta anaacutelise
9 A principal figura deste esforccedilo foi Dermeval Saviani que desde os anos finais de 1960
jaacute refletia sobre a necessidade e possibilidades de sistematizar uma teoria da educaccedilatildeo
que superasse tanto as teorias natildeo criacuteticas da educaccedilatildeo quanto agraves teorias criacutetico-
reprodutivistas Para compreender este processo ver Saviani (1987 2003)
38
pode ser assim descrita eacute necessaacuterio superar as teorias e experiecircncias
existentes fornecendo aos educadores uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo
que esteja vinculada ao compromisso com a emancipaccedilatildeo da classe
trabalhadora (SAVIANI 2003) O resultado desta sistematizaccedilatildeo
foi denominado de Pedagogia histoacuterico-criacutetica Sua fundamentaccedilatildeo
encontra-se alicerccedilada no materialismo histoacuterico
O ponto de partida desta concepccedilatildeo foi compreender a condishy
ccedilatildeo humana e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo na vida social Sobre o primeishy
ro aspecto recuperando as ideias de Friedrich Engels e Karl Marx
a Pedagogia histoacuterico-criacutetica afirma que os seres humanos precisam
criar permanentemente as condiccedilotildees de sua existecircncia Enquanto os
outros animais se adaptam ao mundo natural coletivamente os seres
humanos transformam este mesmo mundo para viabilizar a existecircncia
da vida produzindo cultura Em outras palavras natildeo encontramos
tudo de que precisamos pronto somos obrigados a produzir formas
materiais e natildeo materiais necessaacuterias agrave vida mdash formas que nascem da
necessidade objetiva (alimentaccedilatildeo por exemplo) e dos desejos e fanshy
tasias - e a transmitir estas formas para outras geraccedilotildees
Os seres humanos criam estas condiccedilotildees por meio de uma cashy
pacidade que desenvolveram ao longo da histoacuteria a capacidade de
antecipar no plano do pensamento e traduzir esta antecipaccedilatildeo em
accedilotildees concretas e intencionais para viabilizar a vida - algo que Engels
e Marx denominam de trabalho Por meio do trabalho - uma forma
bem mais elaborada que a accedilatildeo instintiva dos demais animais para
suprir as necessidades e vontades que os seres humanos possuem os
seres humanos ultrapassaram a determinaccedilatildeo bioloacutegica para assumir
a condiccedilatildeo mais complexa ser cultural Por cultura compreende-se
a forma de organizaccedilatildeo e produccedilatildeo da vida que envolve a poliacutetica
a economia as artes os haacutebitos e costumes predominantes em uma
formaccedilatildeo social e tempo histoacuterico (CHAUI 1995)
Com base nesta compreensatildeo a funccedilatildeo da educaccedilatildeo para a Pedashy
gogia histoacuterico-criacutetica se vincula agrave produccedilatildeo da existecircncia humana porshy
tanto a condiccedilatildeo de cultura Enquanto predominou na criaccedilatildeo e orgashy
nizaccedilatildeo das condiccedilotildees de existecircncia processos mais simples de trabalho
foi possiacutevel educar os mais novos no proacuteprio processo de trabalho Na
medida em que a criaccedilatildeo das condiccedilotildees humanas se tornou mais comshy
plexa aleacutem dos processos informais foi requerida a institucionalizaccedilatildeo
da educaccedilatildeo na forma escolar Conforme indicamos na primeira parte
deste texto a escola foi criada para oferecer as bases para a produccedilatildeo
coletiva da existecircncia humana
Contudo cabe ressaltar que a produccedilatildeo da existecircncia hushy
mana se faz por meio de relaccedilotildees sociais Estas relaccedilotildees assushy
mem formas especiacuteficas envolvendo a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo
poliacutetico-econocircmica de grupos sociais sobre outros grupos sociais
Significa afirmar que a relaccedilatildeo entre trabalho e educaccedilatildeo foi senshy
do delineada a partir do conteuacutedo e da forma como as relaccedilotildees
sociais de desenvolvem na sociedade de classes
O projeto dominante defende que a classe trabalhadora deve ser
mantida na condiccedilatildeo de subalternidade soacutecio-poliacutetico-econocircmica A
orientaccedilatildeo eacute para que as crianccedilas e adolescentes desta classe sejam edushy
cados para se tornarem um ldquorecurso humanordquo para o desenvolvimento
econocircmico capitalista e para obedecer as ldquoregras sociaisrdquo para a harmonia
social desta sociedade contraditoacuteria
Reconhecendo que os seres humanos podem viver em outras
condiccedilotildees e verificando que o projeto dominante encontra resisshy
tecircncia na dinacircmica escolar a Pedagogia histoacuterico-criacutetica procura
oferecer aos educadores criacuteticos uma teoria educacional alternashy
tiva de caraacuteter contra-hegemocircnico A perspectiva eacute afirmar que
os alunos da classe trabalhadora precisam ser educados para assushy
mirem as condiccedilotildees subjetivas necessaacuterias agrave direccedilatildeo do processo
histoacuterico tendo em vista a emancipaccedilatildeo humana 10
A perspectiva eacute que os alunos ( Io) compreendam criticamenshy
te a organizaccedilatildeo e dinacircmica das formas de produccedilatildeo da existecircncia
10 Eacute importante deixar claro que natildeo eacute a educaccedilatildeo escolar que realizaraacute a emancipaccedilatildeo humana
mas sim a mudanccedila na forma de produzir a existecircncia humana Contudo sem educaccedilatildeo
essa mudanccedila jamais ocorreraacute Por emancipaccedilatildeo humana entendemos a condiccedilatildeo social
poliacutetica e econocircmica que permitiraacute ao gecircnero humano superar efetivamente todas as formas
de dominaccedilatildeo exploraccedilatildeo e opressatildeo Tratar da emancipaccedilatildeo humana significa projetar a
necessidade da realizaccedilatildeo plena do ser social em comunhatildeo com o meio ambiente e com os
demais seres humanos significa projetar a sociabilidade autocircnoma e verdadeiramente livre
An
humana especialmente a forma capitalista (2o) dominem os coshy
nhecimentos sistematizados e as formas culturais existentes comshy
preendendo-os como produto e instrumento necessaacuterio agrave produccedilatildeo
da existecircncia (3o) desenvolvam a loacutegica dialeacutetica de organizaccedilatildeo do
pensamento para superar a loacutegica formal e a passividade intelectual
em busca da autonomia do pensar (SAVIANI 1987 2003)
Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamental que os alushy
nos natildeo soacute assimilem conhecimentos mas que construam sentishy
dos e significados sobre a relaccedilatildeo entre conhecimento-trabalho-
-vida no mundo real complexo e contraditoacuterio Os conteuacutedos
das disciplinas que compotildeem o curriacuteculo escolar ao inveacutes de
orientar para a abstraccedilatildeo do pensamento ou ordenar a racionalishy
dade teacutecnica para o simples fazer podem estabelecer mediaccedilotildees
importantes para ampliar a compreensatildeo sobre as dimensotildees da
produccedilatildeo da existecircncia humana Trata-se de reestabelecer o nexo
orgacircnico entre vidatrabalho e educaccedilatildeo
Nessa linha o ensino e aprendizagem do conhecimento sistematizashy
do envolveraacute a compreensatildeo da realidade vivida a partir do diaacutelogo com
os conhecimentos espontacircneos e aqueles advindos da experiecircncia Natildeo se
trata de negar o conhecimento espontacircneo e o conhecimento gerado pela
experiecircncia Ao contraacuterio para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamenshy
tal oferecer novas possibilidades de interpretaccedilatildeo desses conhecimentos e
seus significados para a vida humana O que se busca entatildeo eacute ultrapassar o
senso comum a superficialidade e a abstraccedilatildeo para assegurar que a aproshy
priaccedilatildeo do conhecimento sistematizado permita compreender e atuar nos
processos de produccedilatildeo da existecircncia humana e das relaccedilotildees de poder neshy
les envolvidas Nesta concepccedilatildeo os conteuacutedos escolares ao inveacutes de frios
e vazios como eacute tiacutepico da pedagogia tradicional e pedagogia tecnicista
produzem sentidos e significados para o professor e o aluno porque se
vinculam de forma mais ou menos indireta aos processos reais de produshy
ccedilatildeo material e simboacutelica dos meios necessaacuterios agrave vida e agrave interpretaccedilatildeo das
relaccedilotildees de poder envolvidas nestes processos
Enquanto sujeitos do processo educativo professores e alunos
partem juntos da praacutetica social isto eacute da realidade vivida pela hu-
manidade para compreender o mundo real interpretar as formas
de produccedilatildeo deste mundo e estabelecer possibilidades de agir nele
E claro que enquanto espaccedilo social a escola se materializa enquanto
instacircncia de sociabilidade onde haacute encontros humanos ricos e profundos
para a experiecircncia de crianccedilas e adolescentes Entretanto o que justifica a
especificidade da instituiccedilatildeo escolar natildeo eacute o simples conviacutevio ainda que
ele seja importante mas sim a necessidade de apropriaccedilatildeo coletiva do
conhecimento sistematizado tendo em vista a compreensatildeo da condiccedilatildeo
humana e as possibilidades de intervenccedilatildeo no mundo
Reconhecer a especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute importante
para que as praacuteticas pedagoacutegicas natildeo sejam orientadas para rebaixar
a escolarizaccedilatildeo destinada aos filhos da classe trabalhadora Enquanto
espaccedilo de vivecircncia coletiva a instituiccedilatildeo escolar deve ter claro que
funccedilatildeo deve cumprir na sociedade Esvaziar o curriacuteculo escolar de coshy
nhecimento sistematizado e valorizar os saberes advindos da experiecircnshy
cia imediata como centro do processo educativo eacute um meio que vem
sendo usado para comprometer a formaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes
da classe trabalhadora mantendo-os na condiccedilatildeo de subalternidade
O desafio proposto pela Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute tornar a
instituiccedilatildeo escolar numa instacircncia que socializa os conhecimentos sisshy
tematizados para permitir o domiacutenio dos meios necessaacuterios agrave insershy
ccedilatildeo ativa na vida social com o horizonte da emancipaccedilatildeo humana E
possibilitar que os processos pedagoacutegicos escolares assegurem a todos
indistintamente aquilo que se tornou indispensaacutevel para compreenshy
deragir ono mundo o conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico
Consideraccedilotildees finais
Vivemos numa sociedade de classes Sob esta condiccedilatildeo penshy
sar a funccedilatildeo e especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute tratar dos
projetos formativos que disputam a formaccedilatildeo humana nesta soshy
ciedade E tambeacutem considerar a posiccedilatildeo das perspectivas pedashy
goacutegicas em relaccedilatildeo ao tratamento dispensado ao conhecimento
sistematizado E compreender que as definiccedilotildees pedagoacutegicas natildeo
satildeo simples escolhas teacutecnicas ou arbitraacuterias
42
Isso revela que o trabalho educativo na sociedade de classes
eacute algo muito complexo que exige do professor rigor na tomada
de posiccedilotildees compromisso poliacutetico com um projeto de sociedade
que assume o domiacutenio dos instrumentos pedagoacutegicos para transshy
formar a intenccedilatildeo educativa em algo real na formaccedilatildeo humana
As possibilidades teoacutericas existem e elas se vinculam aos inshy
teresses de classe Haacute quem defenda que basta preparar a forccedila
de trabalho para o desenvolvimento capitalista Haacute quem acredite
que educar para a cidadania eacute suficiente para assegurar direitos Jaacute
existem intelectuais orgacircnicos da classe burguesa que reconhecem
que eacute preciso que a escola eduque o ldquocidadatildeo trabalhador produtishy
vordquo uma siacutentese das correntes acima indicadas
Entretanto as possibilidades acima apresentadas satildeo insuficienshy
tes para a classe trabalhadora pois o economicismo e politicismo peshy
dagoacutegicos - e as possiacuteveis siacutenteses geradas entre eles - se vinculam
ainda ao plano da conservaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais
Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute preciso educar para contrishy
buir com o desafiador e difiacutecil processo de valorizaccedilatildeo da vida humashy
na e natildeo das coisas e construccedilatildeo da emancipaccedilatildeo Sua perspectiva
eacute oferecer aos educadores do campo criacutetico uma alternativa teoacuterica e
metodoloacutegica para a construccedilatildeo da mudanccedila valorizando a instituishy
ccedilatildeo escolar em um espaccedilo rico e dinacircmico de ensino-aprendizagem
repleto de sentidos e significados para os que precisam romper com
a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo de classes
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CAPIacuteTULO II
0 ENSINO DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA E A FORMACcedilAtildeO DE SUJEITOS HISTOacuteRICOS EM BUSCA DOS FUNDAMENTOS TEOacuteRICOS E METODOLOacuteGICOS
Adriano de Paiva Reis
Alvaro de Azeredo Quelhas
Carla Cristina Carvalho Pereira
Leonardo Docena Pina
Renata Aparecida Alves Landim
Neste texto apresentamos os fundashy
mentos teoacutericos e metodoloacutegicos da persshy
pectiva de Educaccedilatildeo Fiacutesica que busca proshy
mover uma reflexatildeo criacutetica sobre a cultura
corporal Partimos da discussatildeo sobre a exisshy
tecircncia de dois distintos e contraditoacuterios proshy
jetos de formaccedilatildeo humana um que busca
assegurar a adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves atushy
ais relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e outro que tem
como horizonte a formaccedilatildeo de sujeitos criacuteshy
ticos e transformadores da sua proacutepria hisshy
toacuteria Com base no materialismo histoacuterico-
-dialeacutetico na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e
na abordagem Criacutetico-superadora apresenshy
tamos uma possibilidade didaacutetica que busca
abordar os conteuacutedos da cultura corporal de
modo ativo e dinacircmico tendo como ponto
de partida e de chegada a praacutetica social de
modo a permitir a ampliaccedilatildeo da compreenshy
satildeoaccedilatildeo dos alunos sobre a realidade
A relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo e a perspectiva dominante de formaccedilatildeo humana
O trabalho e a educaccedilatildeo satildeo atividades especificamente humanas e
estatildeo relacionadas ao processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura pelo
conjunto dos homens Por meio do trabalho o homem transforma intenshy
cionalmente a natureza para satisfazer suas necessidades criando uma reshy
alidade sociocultural um mundo especificamente humano portador de
produccedilotildees culturais (materiais e natildeo materiais) cada vez mais desenvolvidas
Para relacionar-se com os outros seres humanos inserindo-se em
determinada fase do desenvolvimento histoacuterico da humanidade cada
indiviacuteduo singular precisa apropriar-se da riqueza da experiecircncia humashy
na acumulada na cultura pois as aptidotildees e funccedilotildees humanas historicashy
mente formadas natildeo se reproduzem pela hereditariedade mas precisam
ser formadas isto eacute transmitidas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo A esse processhy
so de transmissatildeo da cultura produzida histoacuterica e coletivamente pelo
conjunto dos homens mdash que permite a formaccedilatildeo da humanidade em
cada indiviacuteduo singular - denomina-se educaccedilatildeo (SAVIANI 2005)
Entretanto como as formas assumidas pelo trabalho nos dishy
versos modos de produccedilatildeo da existecircncia humana satildeo fenocircmenos
construiacutedos concretamente nas relaccedilotildees sociais a formaccedilatildeo humana
tende a ser determinada pelos processos histoacutericos De acordo com
Marx (2005) no modo de produccedilatildeo capitalista - aquele que estaacute
fundado na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo e na aproshy
priaccedilatildeo privada dos produtos do trabalho - a relaccedilatildeo do homem
com o mundo aparece invertida de tal forma que o trabalho assashy
lariado caracteriacutestico da moderna sociedade burguesa resulta num
estranhamento do homem com o seu trabalho o trabalho de ativishy
dade de realizaccedilatildeo do homem eacute transformado em ldquo[] desrealizaccedilatildeo
do trabalhador a objetivaccedilatildeo como perda e servidatildeo do objeto a
apropriaccedilatildeo com alienaccedilatildeo1rdquo (MARX 2005 p 1 12)
i Em Marx (2005) a alienaccedilatildeo corresponde ao estranhamento total do homem com a natureza
com a humanidade e com ele proacuteprio sendo que a base de todas essas relaccedilotildees sociais estranhas
c a alienaccedilatildeo do proacuteprio trabalho O u seja a partir da expropriaccedilatildeo do produto e do processo
de seu trabalho o homem passa a alienar-se de sua vida como um todo
Tendo em vista que o trabalho na sociedade capitalista eacute contrashy
ditoriamente fundamento da existecircncia humana e meio de alienaccedilatildeo
pensar o trabalho como princiacutepio educativo implica em visualizar
dois projetos distintos de educaccedilatildeo escolar um que busca adaptar os
indiviacuteduos agraves atuais relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo e outro que visa
alcanccedilar o pleno desenvolvimento da iiiacutedividualidade livre e universal (DUARTE 2006) algo atrelado agrave construccedilatildeo de uma nova sociedashy
de na qual estejam superadas as relaccedilotildees sociais alienadas
Na perspectiva voltada agrave reproduccedilatildeo do capital a educaccedilatildeo
tem servido como meio de adaptar o indiviacuteduo agraves condiccedilotildees hisshy
toacutericas da produccedilatildeo negando o potencial criativo e transformador
da realidade que o homem possui impedindo-o de reconhecer-se
como sujeito da histoacuteria Como analisam criticamente Frigotto
Ciavatta e Ramos (2005) o sentido economicista atribuiacutedo agrave edushy
caccedilatildeo a tem proclamado como instrumento de formaccedilatildeo para o
trabalho no seu sentido historicamente alienado dando origem
agrave noccedilatildeo ideoloacutegica da escola como promotora da ascensatildeo social
Este fato pode ser observado em mitos como o da empregabilidade
e do empreendedorismo que vigoram hoje em dia
Diversas anaacutelises realizadas sobre a relaccedilatildeo entre trabalho e
educaccedilatildeo como as realizadas por Ramos (2006) e Kuenzer (2007)
por exemplo evidenciam que no contexto de transiccedilatildeo do modo
laquoIr produccedilatildeo capitalista para o regime de acumulaccedilatildeo flexiacutevel2
1 implantaccedilatildeo de um novo paradigma produtivo e a emergecircncia
Jr novas demandas de ajustamento social provocaram uma nova
loi nia de ser do trabalhador que estabeleceu exigecircncias significa-
iivimente diferentes daquelas em curso ateacute entatildeo O u seja uma
nov a dinacircmica de produccedilatildeo e novos meacutetodos de trabalho passaram
I gtc acordo com as anaacutelises dc Harvey (2006) a partir da deacutecada dc 1970 com a explosatildeo
laquoli nova crise de superacumulaccedilatildeo capitalista inicia-se um periacuteodo de reestruturaccedilatildeo
lt miocircmica e de reajustamento social e poliacutetico marcando a passagem para um novo
irgime de acumulaccedilatildeo ldquoA acumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo surge em contraposiccedilatildeo agrave rigidez do
Inulismo ldquoEla se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho dos mercados de
uibalho dos produtos e padrotildees de consumordquo (1IARVKY 2006 p 140)
a exigir um tipo novo de trabalhador e de homem3 Assim para
atender aos interesses de valorizaccedilatildeo do capital vecircm ocorrendo
diversas alteraccedilotildees nos projetos e processos de formaccedilatildeo humana
a fim de ajustaacute-los agraves novas formas de organizaccedilatildeo do trabalho e
aos novos padrotildees de sociabilidade capitalista
Com base na argumentaccedilatildeo de que ingressamos na chamada ldquosocieshy
dade do conhecimentordquo a educaccedilatildeo passa a ser proclamada como uma
tarefa para toda a vida e a noccedilatildeo de competecircncia assume centralidade na
educaccedilatildeo escolar Para se consolidar como categoria ordenadora da relaccedilatildeo
trabalho-educaccedilatildeo a noccedilatildeo de competecircncia se inscreve num movimento
de afirmaccedilatildeo e negaccedilatildeo do conceito de qualificaccedilatildeo promovendo a valoshy
rizaccedilatildeo da sua dimensatildeo experimental agrave custa do enfraquecimento da sua
dimensatildeo conceituai e social (RAMOS 2006)
O enfraquecimento da dimensatildeo social da qualificaccedilatildeo pode ser
constatado nos discursos que proclamam um novo papel para a educashy
ccedilatildeo escolar natildeo mais formar para um determinado posto ou emprego
mas sim gerar potencial de empregabilidade De acordo com Gentili
(2005) a empregabilidade eacute o eufemismo da desigualdade estrutural
que caracteriza o mercado de trabalho e sintetiza a incapacidade mdash tamshy
beacutem estrutural mdash da educaccedilatildeo em cumprir sua promessa integradora
Conforme explica o autor esse conceito ganhou espaccedilo e centralidade
a partir da deacutecada de 1990 sendo definido como eixo fundamental de
um conjunto de poliacuteticas supostamente destinadas agrave diminuiccedilatildeo de risshy
cos sociais gerados pelo desemprego Para o discurso dominante o conshy
ceito de empregabilidade natildeo significa garantia de integraccedilatildeo mas apeshy
nas melhores condiccedilotildees para competir na luta pelos poucos empregos
disponiacuteveis no mercado de trabalho Esse conceito segundo o autor
acaba com a concepccedilatildeo do emprego e da renda como esferas de direito
3 Tomamos essa expressatildeo emprestada de Gramsci (1976) que foi originalmente utilizada
em Americanismo e Fordismo e sugere que um novo tipo de trabalho e de produccedilatildeo traz a
necessidade de formar um novo tipo de homem pois ldquo[] novos meacutetodos de trabalho estatildeo
indissoluvelmente ligados a um determinado modo de viver de pensar e de sentir a vida
natildeo eacute possiacutevel obter ecircxito num campo sem obter resultados tangiacuteveis no outrordquo (p 396)
4 De acordo com Frigotto (1998) o termo ldquosociedade do conhecimentordquo diz respeito a um
deslocamento conceituai da teoria do capital humano buscando alinhar ideologicamente
a educaccedilatildeo agrave nova materialidade e mascarar a realidade do desemprego estrutural
pois parte do entendimento de que a posse de determinadas condiccedilotildees
de empregabilidade natildeo garante a inserccedilatildeo no mercado de trabalho
No que se refere agrave concepccedilatildeo de conhecimento subjacente agrave noccedilatildeo de
competecircncia Ramos (2006) conclui que por estar pautada numa ldquoconcepshy
ccedilatildeo natural-funcionalista de homemrdquo esta noccedilatildeo abriga uma ldquoconcepccedilatildeo
subjetivo-relativista de conhecimentordquo que reforccedila o irracionalismo poacutes-
-moderno5 configurando-se como uma noccedilatildeo adaptadora do comportashy
mento humano agrave instabilidade da vida no capitalismo tardio
A perspectiva educacional ancorada na noccedilatildeo de competecircncia busshy
ca alterar a maneira de ser da classe trabalhadora adequando-a aos novos
valores necessaacuterios agrave manutenccedilatildeo das relaccedilotildees capitalistas No que tange
ao curriacuteculo essa noccedilatildeo privilegia os objetivos atitudinais comportamen-
tais e procedimentais ligados ao saber agir e saber fazer secundarizando e
subordinando os conhecimentos agraves situaccedilotildees praacuteticas uma vez que soacute satildeo
considerados vaacutelidos os conhecimentos que apresentam aplicabilidade no
desempenho das atividades de produccedilatildeo6
A pedagogia das competecircncias aleacutem de ser uma importanshy
te referecircncia pedagoacutegica defendida pelos intelectuais da classe
dominante natildeo estaacute soacute na defesa dos interesses capitalistas no
campo da educaccedilatildeo escolar pelo contraacuterio ganha forccedila na meshy
dida em que se alinha a outras concepccedilotildees que negam a escola
tomo instituiccedilatildeo responsaacutevel pela transmissatildeo do conhecimento
sistematizado como eacute o caso do construtivismo
Para desenvolver competecircncias eacute preciso antes de
tudo trabalhar por problemas e projetos propor
tarefas complexas e desafios que incitem os alunos
a mobilizar seus conhecimentos e cm certa medida
completaacute-los Isso pressupotildee uma pedagogia ativa
Com relaccedilaacuteo ao relativisino poacutes-moderno as anaacutelises de Harvey (2006) permitem
compreender que a necessidade capitalista de acelerar o tempo de giro do capital atraveacutes
ltli aceleraccedilatildeo da produccedilatildeo da troca e do consumo de mercadorias tem promovido
iima intensificaccedilatildeo da compressatildeo do tempo-espaccedilo influenciado as formas poacutes-
modernas de pensar sentir e agir acentuando a volatilidade e efemeridade valorizando
bull i instantacircneo e o descartaacutevel o que tem implicado na consideraccedilatildeo de que qualquer
perspectiva totalizante de conhecimento eacute inatingiacutevel
Ni realidade esta secundarizaccedilatildeo do conhecimento em favor de comportamentos
bull 1 iM-rvaacuteveis natildeo eacute novidade e em certa medida reedita os princiacutepios da Escola Nova (cf
I l AUTH 2001) e da Pedagogia do Domiacutenio (cf RAMOS 2006)
cooperativa aberta para a cidade ou para o bairro
seja na zona urbana ou rural Os professores devem
parar de pensar que dar aulas eacute o cerne da profissatildeo
Ensinar hoje deveria consistir cm conceber encaishy
xar e regular situaccedilotildees de aprendizagem seguindo os
princiacutepios pedagoacutegicos ativos e construtivistas Para
os professores adeptos de uma visatildeo construtivista
e interacionista de aprendizagem trabalhar no deshy
senvolvimento de competecircncias natildeo eacute uma ruptura
(PERRENOUD 2000 apud DUARTE 2003 p 6)
O trecho do trabalho de Perrenoud citado por Duarte (2003)
permite segundo este incluir a Pedagogia das Competecircncias - junshy
tamente com o Construtivismo a Escola Nova os estudos na linha
do ldquoProfessor Reflexivordquo dentre outros mdash no grupo das chamadas ldquoPe-
dagogias do Aprender a Aprenderrdquo que visam produzir uma maior
adaptabilidade dos indiviacuteduos agraves alteraccedilotildees do capitalismo7
As reflexotildees apresentadas ateacute aqui nos colocam diante do desafio
de construir as possibilidades de desenvolvimento dc uma perspectiva de
educaccedilatildeo que supere a loacutegica adaptadora da formaccedilatildeo mediada pelo lema
ldquoaprender a aprenderrdquo ou mais especificamente pela noccedilatildeo de aquisiccedilatildeo
de competecircncias para empregabilidade Por outro lado isso nos remete
ao resgate do significado de escola unitaacuteria de uma educaccedilatildeo politeacutecnica
e de uma formaccedilatildeo omnilateral na qual a formaccedilatildeo humana volta-se para
a apreensatildeo do conhecimento sistematizado em todas as suas dimensotildees
premissa fundamental para a formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos e criacuteticos
A perspectiva marxista de formaccedilatildeo humana como possibilidade de oposiccedilatildeo agrave perspectiva dominante de educaccedilatildeo escolar
Tendo como horizonte um projeto educativo voltado agrave superaccedilatildeo
do capitalismo Frigotto (1985) aponta a politecnia como concepccedilatildeo de
educaccedilatildeo que interessa agrave classe trabalhadora por estar fundamentada
na superaccedilatildeo da divisatildeo entre teoria e praacutetica em direccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do
homem em todas as suas dimensotildees - formaccedilatildeo omnilateral
Uma anaacutelise dai Pedagogias do Aprender a Aprender eacute apresentada em Duarte (2006)
A concepccedilatildeo de uma educaccedilatildeo politeacutecnica tem origem na
compreensatildeo do homem como um ser de muacuteltiplas atividades
Marx e Engels (1989) indicam que o homem natildeo deve limitar
seu desenvolvimento a uma das partes do seu corpo da sua inshy
teligecircncia ou de sua sensibilidade o homem todo e todo hoshy
mem deve constantemente humanizar-se pelo trabalho Desse
modo a educaccedilatildeo deveria ter como objeto de sua preocupaccedilatildeo o
desenvolvimento do homem nas suas maacuteximas potencialidades
partindo do pressuposto de que ele eacute capaz de captar a realidade
e dela se apropriar com todos os seus sentidos de maneira comshy
preensiva e como ser total (MARX 2005)
A concepccedilatildeo de formaccedilatildeo politeacutecnica fundamenta-se no mashy
terialismo histoacuterico dialeacutetico englobando de modo indissociaacuteshy
vel uma concepccedilatildeo pedagoacutegica uma perspectiva de trabalho e
um projeto de sociedade que garante agrave politecnia uma coerecircncia
entre meacutetodo concepccedilatildeo de mundo e praacutexis Ou seja a politecnia
apoia-se na anaacutelise das transformaccedilotildees dos processos de trabalho
que estatildeo na base das relaccedilotildees de produccedilatildeo capitalista (dimensatildeo
infraestrutural) Essa anaacutelise eacute realizada sob a perspectiva de um
projeto utoacutepico-revolucionaacuterio de construccedilatildeo de uma sociedade
sem classes (dimensatildeo utoacutepica) Essas duas dimensotildees acabam
por desembocar em propostas de accedilatildeo educativa (dimensatildeo peshy
dagoacutegica) que tecircm como finalidade contribuir para a formaccedilatildeo
do homem em todas as suas dimensotildees (RODRIGU ES 1998)
No que tange agrave concepccedilatildeo de escola pensada como um espaccedilo
de luta pela hegemonia8 da classe trabalhadora a defesa se faz no
sentido de uma escola que possibilite ao homem desenvolver suas
capacidades produtivas e intelectuais de forma unificada Nesta
perspectiva Gramsci (2004) defende um tipo de escola unitaacuteria que
ao mesmo passo encaminhe o jovem para a escolha profissional e
lorme sujeitos capazes de dirigir e controlar os rumos da vida em soshy
Adotamos o conceito de hegemonia conforme define Gramsci (2000) uma relaccedilatildeo de
poder presente nas sociedades capitalistas que expressa a dominaccedilatildeo de uma ou mais
fraccedilotildees dcclasse sobre o conjunto de sua proacutepria classe e das classes antagocircnicas em que
o econocircmico e o poliacutetico expressam a ldquodireccedilatildeo moral e intelectualrdquo a ser seguida pelo
conjunto da sociedade
ciedade Para tal esta escola deve promover a elevaccedilatildeo cultural9 dos
jovens preparando-os para a atividade social autocircnoma e criativa
A escola uacutenica do trabalho como estrutura busca a superaccedilatildeo das
trajetoacuterias de distribuiccedilatildeo desigual do saber a politecnia como conteshy
uacutedo visa construir uma organizaccedilatildeo curricular que resgate a totalidade
dos conhecimentos cientiacuteficos artiacutesticos filosoacuteficos e instrumentais
que regem os processos produtivos a dialeacutetica como meacutetodo caminha
no sentido da reunificaccedilatildeo entre ciecircncia e teacutecnica entre formaccedilatildeo geshy
ral e profissional entre teoria e praacutetica permitindo aos alunos comshy
preenderem o processo de construccedilatildeo do conhecimento
No entanto eacute importante salientar que a concepccedilatildeo de escola
unitaacuteria e de formaccedilatildeo politeacutecnica deve ser tomada como referecircncia
num processo mais amplo qual seja o de luta pela transformaccedilatildeo
da sociedade pois como elaborou Marx (1984) um modelo de
educaccedilatildeo que busque a unidade entre teoria e praacutetica entra em conshy
tradiccedilatildeo com a forma capitalista de produzir e dividir o trabalho
sendo que o uacutenico caminho para subverter essa ordem seria o desenshy
volvimento dessas contradiccedilotildees
Nesse sentido considerando a dinacircmica do processo de proshy
duccedilatildeoreproduccedilatildeo da cultura a defesa da escola como instituiccedilatildeo
responsaacutevel pela transmissatildeo-assimilaccedilatildeo do conhecimento sistemashy
tizado torna-se indispensaacutevel para que cada indiviacuteduo da espeacutecie
humana possa se inserir na histoacuteria social desenvolvendo-se em suas
maacuteximas potencialidades E exatamente nessa linha que se configura
a definiccedilatildeo de Saviani (2006) sobre o papel da escola na perspectiva
da Pedagogia histoacuterico-criacutetica
O movimento pedagoacutegico que deu origem agrave Pedagogia hisshy
toacuterico-criacutetica surge no final da deacutecada de 1970 como resposta
9 No atual ambiente ideoloacutegico no qual predomina a ideologia neoliberal e poacutes-
moderna falar em elevaccedilatildeo cultural pode se constituir como algo um tanto quanto
polecircmico Contudo fazemos questatildeo de destacar que na perspectiva marxista
com a qual trabalhamos ldquo[] natildeo haacute margem nem para o evolucionismo ingecircnuo
(seja no plano da histoacuteria da organizaccedilatildeo social humana seja no plano da histoacuteria
do conhecimento) nem para o relativismo que nega a existecircncia de formas mais
desenvolvidas de vida social e de conhecimento nem finalmente para o subjeti-
vismo que nega o conhecimento como apropriaccedilatildeo da realidade objetiva pelo
pensamentordquo (DU A RT E 2003 p 77)
agrave necessidade de encontrar alternativa agrave pedagogia dominante
Saviani (2005) explica que naquele contexto imperava a necesshy
sidade histoacuterica especialmente no caso brasileiro de criticar a
pedagogia oficial sobretudo para evidenciar seu caraacuteter reproshy
dutor De acordo com os autores da eacutepoca cada setor da cultushy
ra como o sistema de ensino por exemplo desempenharia seu
papel na reproduccedilatildeo da sociedade A medida que essas ideias
se difundiam as chamadas teorias criacutetico-reprodutivistas0 ganhashy
vam forccedila para consolidar o entendimento de que a educaccedilatildeo
escolar sempre desempenharia o papel de reproduccedilatildeo Essas teoshy
rias foram se formulando e se difundindo ao mesmo tempo em
que eram assimiladas no Brasil como instrumento utilizado para
fustigar a poliacutetica educacional do Regime Militar (SAVIANI
2005) Se por um lado as teorias criacutetico-reprodutivistas foram
importantes para evidenciar o papel desempenhado pela pedagoshy
gia oficial no contexto do Regime Militar no Brasil por outro
lado natildeo forneceram alternativas para se contrapor agrave pedagogia
dominante Neste sentido Saviani (2005 p 135) afirma que
a luta contra a ditadura tambeacutem implicava a forshy
mulaccedilatildeo dc alternativas No campo educacional
o problema colocava-se nos seguintes termos se a
pedagogia oficial era inaceitaacutevel qual seria entatildeo
a orientaccedilatildeo alternativa aceitaacutevel A visatildeo criacutetico-
reprodutivista natildeo dava resposta para essa pergunshy
ta Natildeo tinha uma proposta de orientaccedilatildeo Fazia a
criacutetica do existente mostrando que este desempeshy
nhava a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo
Portanto era necessaacuterio formular uma proposta pedagoacutegica
que estivesse atenta aos determinantes sociais da educaccedilatildeo e que
permitisse articular de forma dialeacutetica o trabalho pedagoacutegico
com as relaccedilotildees sociais deveria levar em conta a accedilatildeo reciacuteproca
em que a educaccedilatildeo embora determinada em suas relaccedilotildees com
10 Saviani (2006) denomina de teorias criacutetico-reprodutivistas aquelas que por um lado
postulam a compreensatildeo da educaccedilatildeo a partir de seus condicionantes sociais mas por
outro lado chegam agrave conclusatildeo de que a funccedilatildeo da proacutepria educaccedilatildeo eacute reproduzir a
sociedade na qual ela se insere
a sociedade reage ativamente sobre o elemento determinante
(SAVIANI 2005) Assim como desdobramento desse processo
que buscou encontrar alternativa agrave pedagogia dominante a Peshy
dagogia histoacuterico-criacutetica surgiu como uma proposta pedagoacutegica
fundamentada no materialismo histoacuterico cuja tarefa em relaccedilatildeo
agrave educaccedilatildeo escolar implica a) identificar as formas mais desenshy
volvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicashy
mente reconhecendo as condiccedilotildees de sua produccedilatildeo e compreenshy
dendo as suas principais manifestaccedilotildees bem como as tendecircncias
atuais de transformaccedilatildeo b) converter o saber objetivo em saber
escolar de modo que se torne assimilaacutevel pelos alunos no espaccedilo
e tempo escolares c) prover os meios necessaacuterios para que os
alunos natildeo apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultashy
do mas apreendam o processo de sua produccedilatildeo bem como as
tendecircncias de sua transformaccedilatildeo (SAVIANI 2005)
Segundo o autor a escola eacute uma instituiccedilatildeo cujo papel conshy
siste na socializaccedilatildeo do saber sistematizado Natildeo se trata portanshy
to de qualquer tipo de saber ldquoa escola diz respeito ao conhecishy
mento elaborado e natildeo ao conhecimento espontacircneo ao saber
sistematizado e natildeo ao saber fragmentado agrave cultura erudita e
natildeo agrave cultura popularrdquo (SAVIANI 2006 p 14) Destacar esse
posicionamento eacute importante sobretudo porque tambeacutem eacute posshy
siacutevel encontrar na Educaccedilatildeo Fiacutesica tendecircncias que negam a aproshy
priaccedilatildeo do saber sistematizado por parte das fraccedilotildees menos prishy
vilegiadas da classe trabalhadora ao proclamar como seu papel
central o desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica ou a ldquovalorizaccedilatildeo
da cultura popularrdquo em detrimento da cultura erudita
Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica a defesa da escola como espashy
ccedilo de socializaccedilatildeo do saber sistematizado eacute essencial para assegurar o
caraacuteter contraditoacuterio da educaccedilatildeo e afirmar os interesses dos trabalhashy
dores uma vez que dominar os conhecimentos mais desenvolvidos
produzidos pela humanidade no campo das ciecircncias das artes e da fishy
losofia eacute condiccedilatildeo para o processo de emancipaccedilatildeo (SAVIANI 2006)
11 Uma criacutetica ao paradigma da aptidatildeo fiacutesica foi desenvolvida pelo Coletivo de Autores (1992)
cr
A perspectiva histoacuterico-criacutetica na Educaccedilatildeo Fiacutesica direcionando o olhar para a metodologia Criacutetico- superadora
A busca de alternativas agrave pedagogia dominante atingiu tambeacutem a
Educaccedilatildeo Fiacutesica possibilitando articular a praacutetica pedagoacutegica na aacuterea
a um novo projeto de sociedade Desde o final da deacutecada de 1970
com o processo frequentemente denominado de ldquoredemocratizaccedilatildeo
da sociedade brasileirardquo inuacutemeros estudos passaram a questionar o
papel que vinha sendo assumido pela Educaccedilatildeo Fiacutesica em nosso paiacutes
qual seja o de educar os indiviacuteduos em conformidade com as necesshy
sidades do modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Os
crescentes questionamentos que ganharam forccedila na deacutecada de 1980
colocaram em xeque o quadro de referecircncias que havia direcionado a
Educaccedilatildeo Fiacutesica por mais de um seacuteculo A inflexatildeo na aacuterea configurashy
da como uma crise de legitimidade inaugurou um periacuteodo de buscas
para se construir a autonomia pedagoacutegica da aacuterea frente a um quadro
histoacuterico de viacutenculo ao projeto dominante
Nesse processo um importante marco para a educaccedilatildeo escolar foi
a publicaccedilatildeo na deacutecada de 1990 do livro Metodologia do Ensino de lducaccedilaacuteo Fiacutesica escrito por um grupo que se autodenominou de Coshy
letivo de Autores (1992) Nessa obra eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal mdash uma tendecircncia que pautada
na Pedagogia histoacuterico-criacutetica visa a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enquanto
sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em que vive
Para formar esse tipo de sujeito o paradigma da reflexatildeo criacuteti-
i i sobre a cultura corporal defende a tematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de
lorma criacutetico-superadora A tematizaccedilatildeo defendida por esta proposta
ibrange a compreensatildeo das relaccedilotildees de interdependecircncia que os dife-
H iiies conteuacutedos da cultura corporal tecircm com os grandes problemas
bull gtlt Hraquo-poliacuteticos atuais como ldquo[] ecologia papeacuteis sexuais sauacutede puacute-
I 1 u i relaccedilotildees de trabalho preconceitos sociais raciais da deficiecircncia
bull I i wlhice distribuiccedilatildeo do solo urbano distribuiccedilatildeo de renda diacutevida
i u i na e outrosrdquo (COLETIVO DE AUTORES 1992 p 62-63)
Assim busca-se desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as formas
de representaccedilatildeo do mundo exteriorizadas pela expressatildeo corporal
que o ser humano tem produzido no decorrer da histoacuteria dentre as
quais pode-se destacar jogos danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esshy
porte malabarismos contorcionismos miacutemica e outros que podem
ser identificados como formas de representaccedilatildeo simboacutelica de realishy
dades vividas pelo homem historicamente criadas e culturalmente
desenvolvidas (COLETIVO DE AUTORES 1992)
Portanto pode-se afirmar que a metodologia Criacutetico-superado-
ra ao alinhar-se agrave perspectiva pedagoacutegica defendida por Dermeval
Saviani busca propor novos caminhos para a apropriaccedilatildeo do conheshy
cimento na escola inclusive pela organizaccedilatildeo metodoloacutegica fundashy
mentada nos cinco passos do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do coshy
nhecimento a saber identificaccedilatildeo da praacutetica social problematizaccedilatildeo
instrumentalizaccedilatildeo catarse e retorno agrave praacutetica social
O ponto de partida para a apropriaccedilatildeo do conhecimento na escola
eacute a praacutetica social (SAVIANI 2006) Nesse passo conforme apresentado
por Gasparin (2005) realiza-se um primeiro contato com o tema a ser
estudado para evidenciar suas relaccedilotildees com a vida cotidiana visando
mobilizar os alunos para o processo pedagoacutegico Segundo este autor a
identificaccedilatildeo da praacutetica social pode ser dividida em duas partes a saber
anuacutencio e vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos No anuacutencio dos conteuacutedos aponta-se o que seraacute estudado e quais os objetivos a serem alcanccedilados
Na vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos identifica-se o que os alunos jaacute sashy
bem c o que eles gostariam de saber mais sobre o assunto em questatildeo
O segundo passo do meacutetodo dialeacutetico de construccedilatildeo do conhecishy
mento escolar eacute a problematizaccedilatildeo fase na qual se busca ldquo[] detectar
que questotildees precisam ser resolvidas no acircmbito da praacutetica social e em
consequecircncia que conhecimento eacute necessaacuterio dominarrdquo (SAVIANI
2006 p 71) A partir dessa afirmaccedilatildeo dois importantes aspectos foram
salientados por Gasparin (2005) que merecem um devido destaque
O primeiro deles diz respeito agraves questotildees da praacutetica social que deshy
vem ser detectadas O autor esclarece com base no proacuteprio Saviani
que o foco deve ser concentrado nas grandes questotildees que desafiam a
sociedade nos principais problemas que precisam ser resolvidos natildeo
soacute na escola ou pela escola mas no acircmbito da sociedade Para isso
afirma que deve ser feita uma seleccedilatildeo do que eacute fundamental visto que
os principais problemas postos pela praacutetica social nem sempre podem
ser tratados na sua totalidade em cada aacuterea do conhecimento O ldquofunshy
damentalrdquo vale dizer refere-se aos aspectos relacionados ao conteuacutedo
estabelecido pelo curriacuteculo escolar ou aos conhecimentos trabalhados
em uma determinada unidade do programa Com base nesse entendishy
mento pode-se dizer que a problematizaccedilatildeo deve selecionar e discutir
os problemas que tecircm origem na praacutetica social mas que ao mesmo
tempo se ligam ao conteuacutedo a ser trabalhado trata-se de uma seleccedilatildeo
e discussatildeo de grandes questotildees sociais poreacutem inseridas e especificadas
no conteuacutedo da unidade que estaacute sendo estudada (GASPARIN 2005)
O segundo aspecto a ser destacado refere-se a qual conhecimento
eacute necessaacuterio dominar para resolver os problemas da praacutetica social Gas-
parin (2005) explica que de maneira geral os conteuacutedos satildeo quase
sempre transmitidos aos educandos por uma uacutenica dimensatildeo a con-
eeitual-cientiacutefica Em virtude da ecircnfase geralmente atribuiacuteda a essa dishy
mensatildeo do conteuacutedo o autor alerta o seguinte eacute necessaacuterio lembrar
no processo de construccedilatildeo do conhecimento que a ciecircncia tambeacutem eacute
iiin produto social originada de necessidades histoacutericas econocircmicas
poliacuteiicas ideoloacutegicas filosoacuteficas religiosas teacutecnicas dentre outras Tenshy
do i in vista o fato de que existem muacuteltiplas dimensotildees que revestem
os dilerentes conteuacutedos faz-se necessaacuterio abordar na construccedilatildeo do
- ltgtii1k-ciacutemento natildeo soacute a dimensatildeo conceitual-cientiacutefica A necessidade
llt 1 1 mscender a abordagem centrada na dimensatildeo conceitual-cientiacutefica
jMivuacuten do entendimento de que a anaacutelise do real deve considerar suas
muacuteltiplas dimensotildees visto que a realidade social envolve sempre uma
tuii de perspectivas um conjunto de aspectos interdependentes que
u ui ser entendidos para a resoluccedilatildeo dos problemas postos pela praacute-
laquo iil Eacute importante destacar esse aspecto sobretudo porque na
u lo 1 iacutesica a ecircnfase do processo pedagoacutegico geralmente eacute concen-
raquo i iu is rlementos teacutecnicos e taacuteticos o que desconsidera as muacuteltiplas
bull t M ii raquors que revestem o conteuacutedo em questatildeo
Assim duas tarefas principais podem ser operacionalizadas na
problematizaccedilatildeo A primeira delas envolve o questionamento da praacuteshy
tica social e do conteuacutedo escolar Trata-se de um momento em que satildeo
apresentadas e discutidas as razotildees sociais pelas quais se deve aprender o
conteuacutedo proposto de modo que os alunos possam entender melhor o
que seraacute estudado identificar os principais problemas postos pela praacuteshy
tica social e pelos conteuacutedos e ainda entender a necessidade eou vashy
lidade do conteuacutedo curricular proposto para solucionar eou entender
melhor os problemas da praacutetica social (GASPARIN 2005) A segunda
tarefa que pode ser realizada na problematizaccedilatildeo refere-se agraves dimensotildees
do conteuacutedo a serem trabalhadas Em linhas gerais pode-se dizer que
essa tarefa consiste em definir as dimensotildees que se deseja estudar Para
tanto pode-se partir do conteuacutedo a ser trabalhado de modo a elaborar
questotildees desafiadoras que expressem dimensotildees especiacuteficas referentes agrave
natureza do conteuacutedo como por exemplo as dimensotildees cientiacutefico-
-conceituais sociais econocircmicas culturais histoacutericas filosoacuteficas moshy
rais eacuteticas esteacuteticas legais e doutrinaacuterias (GASPARIN 2005)
O passo seguinte a instrumentalizaccedilatildeo segundo Gasparin (2005) eacute o
caminho atraveacutes do qual o conteuacutedo sistematizado eacute posto agrave disposiccedilatildeo dos
alunos para que o assimilem o recriem e ao incorporaacute-lo transformem-no
em instrumento cultural para transformaccedilatildeo da realidade Esse terceiro passhy
so do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do conhecimento consiste no moshy
mento em que os alunos vatildeo se apropriar das ferramentas culturais necesshy
saacuterias agrave luta social que travam diariamente para se libertar das condiccedilotildees de
opressatildeo em que vivem ou seja trata-se da fase na qual ocorre a apropriaccedilatildeo
dos instrumentos teoacutericos e praacuteticos necessaacuterios ao equacionamento dos
problemas detectados na praacutetica social (SAVIANI 2006)
De acordo com Saviani (2006) o quarto passo do meacutetodo eacute a ldquocashy
tarserdquo momento de expressatildeo elaborada da nova forma de entendimenshy
to da praacutetica social a que se ascendeu ldquoTrata-se da efetiva incorporaccedilatildeo
dos instrumentos culturais transformados agora em elementos ativos
de transformaccedilatildeo socialrdquo (SAVIANI 2006 p 72) Pode-se dizer que a
catarse eacute a demonstraccedilatildeo teoacuterica do ponto de chegada do niacutevel superior
atingido pelos alunos (GASPARJN 2005)
Por fim no retorno agrave praacutetica social temos a nova maneira de comshy
preender a realidade e de posicionar-se diante dela eacute a manifestaccedilatildeo
da nova postura praacutetica da nova atitude da nova visatildeo do conteuacutedo
no cotidiano Trata-se de acordo com Gasparin (2005) do momento
de accedilatildeo consciente em prol da transformaccedilatildeo da realidade a partir do
retorno agrave praacutetica social agora entendida de forma mais elaborada
Levando em conta esses diferentes momentos do meacutetodo dialeacutetico
de construccedilatildeo do conhecimento o ensino dos diferentes conteuacutedos que
compotildeem a cultura corporal permite aos alunos se apropriarem dos coshy
nhecimentos acumulados historicamente pela humanidade Trata-se de
um importante passo no sentido de enriquecer a concepccedilatildeo de mundo
dos alunos uma vez que o acesso ao saber sistematizado sobre jogos
esporte luta danccedila ginaacutestica circo por exemplo se constitui como
elemento indispensaacutevel para leitura dessa dimensatildeo da realidade
Consideraccedilotildees finais
O artigo em tela apresentou a concepccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica de
Educaccedilatildeo Fiacutesica que embasa as praacuteticas pedagoacutegicas discutidas ao longo
deste livro destacando sua articulaccedilatildeo com um projeto de formaccedilatildeo hushy
mana criacutetico agraves relaccedilotildees sociais capitalistas visando superar a perspectiva
de adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves exigecircncias do mundo do trabalho
Com base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e na abordagem Criacutetico-
-superadora o objetivo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute promover uma
reflexatildeo criacutetica sobre diferentes conteuacutedostemas da cultura corporal
seguindo um caminho metodoloacutegico que busca ampliar a compreensatildeo
e accedilatildeo dos sujeitos sobre a realidade em que vivem
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CAPIacuteTULO III
A PRODUCcedilAtildeO DA CULTURA LUacuteDICA EM JOGOS ELETROcircNICOS
Priscila Rocha Rodrigues
Renata Aparecida Alves Landim
Tl)iago Barreto Maciel
Victoacuteria de Faacutetima de Mello
Abordar os jogos e as brincadeiras como
conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica pode parecer
um lugar comum pois existe um consenso
por parte dos educadores acerca da presenshy
ccedila dessas praacuteticas corporais nas aulas dessa
disciplina Entretanto muitas vezes o trashy
balho desenvolvido nas escolas opera uma
instrumentalizaccedilatildeo dos jogos utilizando os
mesmos como meios para a aprendizagem
dos esportes ou de outras mateacuterias de enshy
sino De acordo com Bracht et al (1995)
esse processo dilui os jogos de seu contexshy
to soacutecio-cultural passando a consideraacute-los
como um recurso metodoloacutegico e natildeo como
um conteuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Consideramos que para tratar os joshy
gos e as brincadeiras1 como conteuacutedo de
ensino eacute preciso superar a mera praacutetica e
I Em diversos idiomas os termos jogos brincadeiras e
brinquedo satildeo tratados como sinocircnimos e em outros uma
uacutenica palavra guarda os trcs significados Visando distinguir
os termos Kishimoto (2003) considera como brinquedo o
objetosuporte - concreto ou ideoloacutegico - da brincadeira
como brincadeira a conduta estruturada por regras e como
jogo a descficcedilaacuteo tanto do objeto como das regras durante um
determinado templaquo gt Neste texto adotaremos a conceituaccedilatildeo
de brinquedo como suporte da brincadeira mas naacuteo faremos
promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre os jogos como uma forma
proacutepria de expressatildeo da cultura corporal Os jogos satildeo resultados
do processo criativo cio homem para modificar imaginariamente
a realidade e o presente tendo em vista finalidades luacutedicas (C O shy
LETIVO DE AUTORES 1992) Eles tecircm significados dentro do
conjunto da produccedilatildeo humana por isso guardam em seu interior
as caracteriacutesticas do modo de organizaccedilatildeo social num dado moshy
mento histoacuterico sendo marcados por continuidades e rupturas em
relaccedilatildeo aos jogos e brincadeiras de outras eacutepocas
Na atualidade o modo de vida das pessoas sobretudo nos
grandes conglomerados urbanos tem favorecido a substituiccedilatildeo parshy
cial ou total dos jogos traciicionais provenientes da cultura popular
pelos videogames produtos da induacutestria cultural Nesse sentido
consideramos que promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as es-
pecificidades e os dilemas que envolvem os jogos eletrocircnicos como
uma manifestaccedilatildeo luacutedica tipicamente contemporacircnea pode ajudar a
compreender o proacuteprio tempo 1 1 0 qual vivemos
lendo em vista a realizaccedilatildeo de uma discussatildeo teoacuterico-metodo-
loacutegica sobre os jogos e a socializaccedilatildeo de uma experiecircncia concreta
organizamos este artigo em trecircs partes aleacutem dessa introduccedilatildeo e das
consideraccedilotildees finais Na primeira abordaremos os jogos como uma
manifestaccedilatildeo da cultura corporal e suas implicaccedilotildees para as aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesica Na segunda trataremos das formas de expressatildeo dos
jogos na sociedade contemporacircnea Na terceira parte apresentaremos
uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos para os alunos dos
anos finais cio ensino fundamental seguida do plano de unidade
Os jogos e as brincadeiras como conteuacutedos para as aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
Em nosso tempo um dos grandes estudiosos sobre os jogos foi
Huizinga Em sua obra claacutessica ldquoHomo Ludens rdquo publicada origishy
nalmente em 1938 ele analisou a natureza e o significado do jogo
como fenocircmeno cultural De acordo com Huizinga (2000) o jogo eacute
uma das manifestaccedilotildees mais antigas da humanidade e sempre esteve
associado ao divertimento e ao prazer com a finalidade de dar um
sentido luacutedico para a existecircncia humana Nas palavras do autor
[] o jogo eacute uma atividade ou ocupaccedilatildeo volunshy
taacuteria exercida dentro de certos e determinados
limites de tempo e de espaccedilo segundo regras lishy
vremente consentidas mas absolutamente obrigashy
toacuterias dotado de um fim em si mesmo acompashy
nhado de um sentimento de tensatildeo e de alegria e
de uma consciecircncia de ser diferente da ldquovida quoshy
tidianardquo (H U IZ IN G A 2000 p 24)
Apesar de buscar se distanciar dos objetivos de satisfaccedilatildeo imeshy
diata da vida atraveacutes da criaccedilatildeo e praacutetica de diversos tipos de jogos
todo jogo desde as idades mais remotas ateacute os dias atuais eacute um
produto do ldquotrabalhordquo 2 e por isso estaacute subordinado agraves formas
histoacutericas assumidas pela atividade humana em diferentes modos de
produccedilatildeo social da existecircncia ldquoOs homens fazem sua histoacuteria mas
natildeo a fazem como querem natildeo a fazem sob circunstacircncias de sua
escolha e sim sob aquelas com que se defronta diretamente legadas
e transmitidas pelo passadordquo (MARX 1978 p 329)
Uma caracteriacutestica marcante em todos os jogos e brincashy
deiras eacute a existecircncia de uma situaccedilatildeo imaginaacuteria e de regras que
expliacutecita ou implicitamente ordenam e conduzem as accedilotildees dos
jogadores Como descreve Vygotsky (2007) no processo de deshy
senvolvimento das brincadeiras da crianccedila haacute um processo que
vai do jogo de papeacuteis com situaccedilotildees imaginaacuterias expliacutecitas e com
regras impliacutecitas aos jogos com regras expliacutecitas e situaccedilotildees imashy
ginaacuterias ocultas Para esse autor os jogos satildeo condutas que im ishy
tam as accedilotildees reais por isso sofrem influecircncia das relaccedilotildees sociais
num jogo de papeacuteis da crianccedila por exemplo a situaccedilatildeo imaginaacuteshy
ria incorpora elementos e regras de comportamento do contexto
cultural adquiridos por meio da interaccedilatildeo com os outros
2 O trabalho eacute para Marx e Engels (1989) a atividade vital e por excelecircncia humana a partir
dele o homem modifica intencionalmente a natureza para atender suas necessidades e cria
novas necessidades produzindo sua proacutepria vida Desse modo por meio do trabalho o
homem transforma ao mesmo tempo a si mesmo e as formas de se organizar socialmente
criando histoacuterica e coletivamente um mundo especificamente humano o mundo da cultura
Outro aspecto que merece ser destacado eacute que todo jogo tem sua
existecircncia em um tempo-espaccedilo relacionado agrave sua localizaccedilatildeo histoacuterishy
ca e geograacutefica De acordo com Kishimoto (2003) uma mesma conshy
duta pode ser jogo ou natildeo-jogo em diferentes culturas dependendo
do significado a ele atribuiacutedo Os brinquedos tambeacutem devem ser enshy
tendidos como objetos culturais pois natildeo podem ser compreendidos
fora do contexto histoacuterico e social em que foram criados Se para uma
crianccedila europeia a boneca significa um brinquedo para populaccedilotildees
indiacutegenas tem o sentido de siacutembolo religioso
Desse modo mesmo que o jogo seja compreendido como
uma accedilatildeo de livre expressatildeo da crianccedila a sua praacutetica cotidiana
revela formas diferenciadas de jogar de acordo com o modo de
organizaccedilatildeo do trabalho e da vida dos povos praticantes Orlick
(1978) destaca como os padrotildees de partilha das sociedades satildeo reshy
fletidos e reforccedilados nos jogos e brincadeiras infantis Atraveacutes deles
as crianccedilas aprendem os modelos de comportamento dos adultos e
vatildeo sendo preparadas para a vida em sociedade
Esse coletivo considera que para configurar o jogo como conshy
teuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ele deve ser tratado pedagogishy
camente tendo em vista uma aprendizagem que amplie o niacutevel de
compreensatildeo dos alunos sobre o mundo Para tal consideramos que
ter accsso ao conhecimento sistematizado sobre os jogos e brincashy
deiras eacute essencial para que as crianccedilas e jovens possam agir sobre a
realidade social de forma totalizante incluindo em suas possibilidashy
des de accedilatildeo a dimensatildeo luacutedica da produccedilatildeo cultural humana Nesse
sentido se apropriar da cultura jaacute produzida eacute fundamental para
explorar o jaacute existente e a partir daiacute criar o novo dando novos
sentidos e significados aos jogos e brincadeiras
Considerar os jogos como manifestaccedilotildees da cultura corporal signifishy
ca retraccedilaacute-Ios desde sua gecircnese desvendando como eles eram e como satildeo
hoje buscando uma intervenccedilatildeo consciente sobre a realidade
Sua importacircncia enquanto conteuacutedo da EF estaacute
na representaccedilatildeo das raiacutezes histoacutericas e culturais
de diversos povos bem como as transformaccedilotildees
ocorridas ao longo do tempo que possam ter cau-
sado modificaccedilotildees no modo como se joga detershy
minado jogo em vaacuterias partes do mundo Egrave imporshy
tante tambeacutem considerar o jogo em seu processo
de criaccedilatildeo recriaccedilatildeo e readaptaccedilatildeo levando-se em
conta as possiacuteveis influecircncias poliacuteticas econocircmishy
cas e sociais pelas quais tenha passado dando-lhe
uma nova configuraccedilatildeo e uma compreensatildeo criacutetishy
ca (BRITO 2006 p 61)
Desse modo deve-se privilegiar uma abordagem sobre os
jogos que possibilite o conhecimento de suas principais caracteshy
riacutesticas como forma de manifestaccedilatildeo especiacutefica da cultura corshy
poral e naacuteo de forma subordinada ao esporte A flexibilidade eacute a
palavra chave para entender o jogo quanto agraves regras organizaccedilatildeo
espaccedilo-tempo nuacutemero de jogadores nomeaccedilatildeo caraacuteter compeshy
titivo ou cooperativo (JU IZ DE FORA 2000)
O trabalho com os jogos e brincadeiras deve permitir a
compreensatildeo do processo de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo da culshy
tura bem como suas continuidades e modificaccedilotildees histoacutericas
De acordo com o Coletivo de Autores (1992) a elaboraccedilatildeo de
um programa desse conteuacutedo ao longo dos anos de escolarizaccedilatildeo
deve considerar a memoacuteria luacutedica da comunidade e oferecer o
conhecimento da diversidade de jogos e brincadeiras existentes
nas diferentes regiotildees do paiacutes e do mundo
A ideia motriz eacute entender que os jogos como criaccedilotildees humanas
que objetivam o prazer e o divertimento num dado contexto histoacuterico-
-social refletem mas tambeacutem podem forjar valores e comportamentos
Desse modo o trabalho com os jogos deve instrumentalizar os alunos
natildeo apenas para utilizar a cultura luacutedica mas tambeacutem compreendecirc-la
como produccedilatildeo humana passiacutevel de constante criaccedilatildeo e recriaccedilatildeo
Devido agrave necessidade de selecionar temas de relevacircncia social
que instrumentalizem os alunos para uma accedilatildeo criacutetica frente agrave realishy
dade nos debruccedilamos sobre uma forma especiacutefica de manifestaccedilatildeo
da praacutetica luacutedica dos indiviacuteduos na atualidade - os jogos eletrocircni-
cos- buscando tratar de sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na
sociedade capitalista e suas relaccedilotildees com os jogos tradicionais
Os games formas de manifestaccedilatildeo dos jogos na sociedade contemporacircnea
Em pleno seacuteculo XXI as crianccedilas ainda brincam de piques
jogos com bola jogos de tabuleiro dentre tantos outros de forshy
ma muito semelhante aos seus pais avoacutes e bisavoacutes A esses tipos
de jogos que foram capazes de atravessar o tempo chamamos
de jogos tradicionais Eles tecircm como caracteriacutesticas centrais o
fato de pertencerem ao domiacutenio puacuteblico e serem transmitidos de
geraccedilatildeo em geraccedilatildeo De acordo com Kishimoto (2003) os jogos
tradicionais satildeo considerados como parte da cultura popular e
expressam as formas de consciecircncia de um povo num dado moshy
mento histoacuterico Esses jogos satildeo transmitidos oralmente e por
incorporarem criaccedilotildees anocircnimas das geraccedilotildees que vatildeo se suceshy
dendo estatildeo sempre em transformaccedilatildeo
Com base nesta definiccedilatildeo podemos considerar que existe uma fashy
cilidade da apropriaccedilatildeo e vivecircncia dos jogos tradicionais que satildeo tiacutepicos
da regiatildeo de pertencimento do aluno mesmo que de forma fragmentashy
da e caoacutetica proveniente do senso comum Tal fato se daacute justamente por
entendermos que os jogos tradicionais antes de tudo satildeo populares a
cabo do termo ou seja tecircm uma ampla inserccedilatildeo na sociedade Outro
fator que garante essa popularidade eacute que eles satildeo transmitidos atraveacutes
das geraccedilotildees e para sua praacutetica natildeo eacute necessaacuterio nenhum material sofisshy
ticado Dessa forma o alijamento dos meios de produccedilatildeo e dos produshy
tos do trabalho da maior parte da populaccedilatildeo natildeo acaba por ser um fator
determinante apesar de central no acesso a esse patrimocircnio cultural da
humanidade que satildeo os jogos tradicionais ou populares3
Embora diversos jogos tradicionais possam ser aprendidos
praticados de forma gratuita e permaneccedilam muito presentes no
cotidiano das crianccedilas e adolescentes eles vecircm perdendo espaccedilo
3 Neste texto utilizaremos os termos jogos tradicionais e jogos populares como sinocircnimos devido
ao fato de ambos possuiacuterem a mesma dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo marcadas pela
produccedilatildeo coletiva e reproduccedilatildeo oral entre as geraccedilotildees o que nos permite consideraacute-los como
patrimocircnios da cultura popular De acordo com SANTOS (2009) os termos tradicional
popular e folclore representam o conhecimento sobre um jogo por parte majoritaacuteria da
populaccedilatildeo sendo esse conhecimento na maioria das vezes advindo do senso comum
)
sobretudo nas grandes cidades para os jogos eletrocircnicos formas
de expressatildeo dos jogos tipicamente contemporacircneas
Os jogos eletrocircnicos4 estatildeo presentes na praacutetica social cotidiashy
na das pessoas em escala mundial e fazem parte da vida de inuacutemeras
crianccedilas e adolescentes brasileiros mesmo daqueles para os quais
os jogos satildeo apenas desejos de consumo Os games estatildeo por toda
parte natildeo apenas nos aparelhos especiacuteficos para os jogos (consoles
e portaacuteteis) mas tambeacutem nos computadores ipads e telefones celushy
lares podendo ainda ser jogados pela internet em sites e nas redes
sociais Deve ser difiacutecil para as crianccedilas e jovens de hoje pensarem
que houve um tempo em que natildeo existiam jogos digitais
A histoacuteria dos jogos eletrocircnicos tem iniacutecio no final dos anos
de 1950 no contexto da guerra fria quando comeccedilam a ser criashy
dos protoacutetipos de videogames com a incorporaccedilatildeo da tecnoloshy
gia disponiacutevel na eacutepoca Um dos precursores do videogame foi
W illian Higinbotham um fiacutesico que atuava num laboratoacuterio nushy
clear e havia trabalhado no projeto da primeira bomba atocircmica
ele criou em 1958 um jogo eletrocircnico com linhas rudimentares
o tecircnis para dois Em 1966 eacute criado por Ralph Baer o primeiro
console caseiro o Magnavox Odissey (A ERA 2007)
Entretanto eacute a partir dos anos de 1970 acompanhando o desenvolvishy
mento dos computadores pessoais que os jogos eletrocircnicos se tornam mais
expressivos Em 1972 com a criaccedilatildeo do ldquoPongrdquo (fliperama que simula uma
partida de tecircnis de mesa) os games comeccedilam a ficar agrave disposiccedilatildeo do puacuteblishy
co em geral O seu desenvolvedor Nolan Bushenell percebeu o potencial
dos jogos eletrocircnicos como um negoacutecio e fundou a ATARI empresa que
marcou o surgimento da induacutestria do videogame (ALVES 2004)
Entre a deacutecada de 1970 e a deacutecada de 1980 devido agrave manifestashy
ccedilatildeo de uma crise ciacuteclica de superproduccedilatildeo do sistema capitalista tem
iniacutecio um processo que podemos chamar de mundializaccedilatildeo econocircmi-
4 Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais nos quais o jogador interage com imagens
enviadas a uma tela geralmente uma televisatildeo ou monitor Os games satildeo programas
(sofrwares) instalados ou acessados em um sistema eletrocircnicoaparelho preparado
para rodaacute-lo (Hardware) Existem vaacuterios gecircneros de jogos eletrocircnicos como jogos de
accedilatildeo (plataforma de corrida de tiro) de estrateacutegia de lutacombate de esporte de
simulaccedilatildeo Role Playing Games (RPG) e de tabuleiro
caJy em que o capital parte em busca de novas aacutereas visando explorar
condiccedilotildees mais rentaacuteveis de produccedilatildeo e expandir mercados consushy
midores E justamente nesse contexto que a induacutestria cultural ganha
impulso e os jogos eletrocircnicos satildeo disseminados pelos quatro cantos
do mundo com grande potencial de escoamento de mercadorias
Nas duas uacuteltimas deacutecadas fruto de uma germinaccedilatildeo iniciada no
poacutes-terceira revoluccedilatildeo industrial ou revoluccedilatildeo tecnocientiacutefica que
proporcionou o surgimento de atividades que empregam a alta tecshy
nologia como a informaacutetica a microeletrocircnica o avanccedilo das telecoshy
municaccedilotildees e a biotecnologia os jogos eletrocircnicos tecircm seguido e tamshy
beacutem contribuiacutedo com os avanccedilos tecnoloacutegicos Se compararmos os
primeiros games com os jogos de hoje constataremos que eles deram
grandes saltos qualitativos de graacuteficos bi para graacuteficos tridimensionais
que permitiram aperfeiccediloar e personalizar os enredos e personagens
atingindo uma qualidade de imagem som e movimento tatildeo bons que
os jogos mais parecem realidades virtuais As inovaccedilotildees tecnoloacutegicas
e criativas satildeo produzidas numa velocidade cada vez maior materiashy
lizando-se rapidamente numa nova mercadoria a ser comercializada
O mercado dos games eacute de alta lucratividade com projeccedilotildees
de faturamento no acircmbito mundial para 2013 de US$ 735 bilhotildees
e girando no mercado interno aproximadamente R$ 875 milhotildees
- valor referente ao ano de 2008 (ABRAGAMES 2008) Aleacutem da
venda de uma enxurrada de produtos relacionados agrave praacutetica dos joshy
gos eletrocircnicos existe uma espeacutecie de economia virtual com comshy
pra e venda de mercadorias e identidades digitais (avatares) 6
5 O termo mundializaccedilatildeo eacute utilizado por Chesnais (1996) com a intenccedilatildeo de diminuir
a falta de nitidez conceituai e o caraacuteter ideoloacutegico do termo globalizaccedilatildeo que sugere
a ideia de uma perspectiva integradora Para o autor o termo mundializaccedilatildeo permite
pensar melhor esta fase especiacutefica do processo de internacionalizaccedilatildeo do capital em
busca de regiotildees com recursos ou mercados visando sua valorizaccedilatildeo Neste processo de
liberalizaccedilatildeo econocircmica e financeira haacute um agravamento da polarizaccedilatildeo entre regiotildees
centrais e perifeacutericas do capitalismo tanto em escala internacional como nacional
6 Essa economia virtual eacute muito comum nos jogos on-line de representaccedilatildeo da vida real
como Farm Ville The Sims Social e Second Life O Second Life possui uma unidade
monetaacuteria proacutepria o Linden Dollar atraveacutes da qual as pessoas podem comprar quase
tudo dentro do jogo Em 2009 o site do jogo movimentou 549 milhotildees de doacutelares Soacute
no primeiro trimestre de 2010 as movimentaccedilotildees financeiras entre usuaacuterios chegaram
a 160 milhotildees de doacutelares e a arrecadaccedilatildeo da loja virtual oficial foi de 23 milhotildees
(LUCRATIVO 2010)
Aqui cabe uma reflexatildeo sobre a dinacircmica social que envolve a proshy
duccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos e suas diferenccedilas em relaccedilatildeo
aos jogos tradicionais Os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos acompashy
nhando os avanccedilos tecnoloacutegicos do momento e norteados pelo afatilde da
esteira mercadoloacutegica tornando-se obsoletos rapidamente Bem difeshy
rente dos jogos tradicionais que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo cm geraccedilatildeo
e apesar de sofrerem algumas modificaccedilotildees resistem ao teste do tempo
Desse modo podemos dizer que os jogos eletrocircnicos natildeo podem ser
considerados como populares pelo menos por dois motivos primeiro
pelo fato dos jogos de hoje natildeo serem os mesmos de amanhatilde e segunshy
do devido agrave exigecircncia de produtos especializados para a praacutetica dos
mesmos o que por si soacute jaacute os torna inacessiacuteveis a uma parcela signifishy
cativa da populaccedilatildeo que natildeo possui condiccedilotildees de consumo
Entretanto ao mesmo tempo em que existe uma ruptura entre esshy
ses dois tipos de jogos podemos notar uma estreita relaccedilatildeo entre eles jaacute
que muitos jogos eletrocircnicos satildeo na realidade versotildees virtuais de antigos
jogos tradicionais como os jogos de tabuleiro o boliche a queimada
os jogos de cartas os quebra-cabeccedilas entre outros O que sugere uma
perspectiva de continuidade na produccedilatildeo da cultura luacutedica
Temos como pressuposto baacutesico que o trabalho educativo
consiste em transmitir o conhecimento historicamente produzido
a fim de contribuir para que os nossos alunos possam ter acesso
aos conhecimentos mais desenvolvidos produzidos historicamenshy
te pela humanidade para que possam enriquecer-se como indishy
viacuteduos e atuarem como homens do seu tempo Entretanto aqui
evidenciamos uma grande contradiccedilatildeo da nossa sociedade pois
devido ao modo de produccedilatildeo capitalista esses conhecimentos que
os proacuteprios trabalhadores ajudaramajudam a construir lhes satildeo
negados7 No caso dos jogos eletrocircnicos apesar de existir uma
enorme difusatildeo sobre os mesmos vemos que a maioria da classe
trabalhadora natildeo tem real acesso a esta produccedilatildeo cultural
7 O acesso agraves tecnologias digitais aumentou nos uacuteltimos anos mas ainda eacute m uito
significativo o nuacutemero de pessoas sem acesso real a esses bens sociais De acordo
com o PNAD 2009 apenas 35 dos domiciacutelios brasileiros investigados tinham
microcomputador e somente 274 tinham arlaquolaquo -------M n
Esteban Clua - professor do departamento de computaccedilatildeo da
UFF- em entrevista concedida agrave Agecircncia Brasil destacou que o Brasil eacute
o quarto maior consumidor de jogos eletrocircnicos do mundo sendo que
existe uma massa de aproximadamente 39 milhotildees de usuaacuterios ativos
desses jogos ou seja aproximadamente 20 da populaccedilatildeo brasileira
(GANDRA 2011) Com base nisso cabe a noacutes lanccedilarmos algumas
perguntas que tipo de acesso eacute esse Quais fatores levam os outros 80
da populaccedilatildeo brasileira a natildeo jogarem E por que os jovens e crianccedilas
mesmo os que sequer tecircm as condiccedilotildees de garantir a sua subsistecircncia se
veem hipnotizadas por essas mercadorias
Os jogos eletrocircnicos como qualquer produccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo satildeo
bons nem ruins por natureza natildeo se trata de criticaacute-los de forma saudosista
mas de permitir aos alunos uma atuaccedilatildeo criacutetica e consciente frente a esses
jogos que auxilie a superar o fetiche da tecnologia e a alienaccedilatildeo frente agrave messhy
ma Quando tomadas como valores de uso a ciecircncia e a tecnologia estatildeo
a serviccedilo da melhoria das condiccedilotildees de vida e da possibilidade de dilatar o
tempo livre para que o homem produza novos sentidos para sua existecircncia
natildeo apenas pela necessidade de comer vestir dormir morar mas tambeacutem
por finalidades luacutedicas Nesse sentido Frigotto (2005) aponta que as tecshy
nologias satildeo como extensotildees dos sentidos e membros dos seres humanos
Mas sob as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo da sociedade capitalista o que era para
aumentar o tempo livre intensifica a exploraccedilatildeo e a alienaccedilatildeo
Com isso entendemos que natildeo haacute neutralidade no desenvolvimento
tecnoloacutegico pelo contraacuterio ele materializa-se em meio a todas as condenshy
saccedilotildees de forccedilas que permeiam a sociedade de classes Por isso apesar do
discurso que prega o acesso pleno agraves benesses do desenvolvimento capitashy
lista a natildeo democratizaccedilatildeo dos bens culturais produzidos pela humanidade
nos mostra o contraacuterio No caso dos jogos eletrocircnicos observamos que sua
dinacircmica de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo como mercadorias estaacute intimamente
ligada agrave loacutegica desigual e predatoacuteria do consumismo capitalista8
8 Os jogos eletrocircnicos como expressotildees culturais refletem a sociedade em que nascem mas
ao mesmo tempo tambeacutem ajudam a educar os consumidores passivos para esse padratildeo
civilizatoacuterio Kosik (1995) ajuda a refletir sobre essa dinacircmica dialeacutetica a partir do caso
da arte ldquotoda obra de arte apresenta um duplo caraacuteter em indissoluacutevel unidade eacute expressatildeo da realidade mas ao mesmo tempo cria a realidade uma realidade que natildeo existe fora da obra ou antes da obra mas precisamente na obrardquo (p 128)
Vale destacar que os grandes expoentes e exportadores histoacutericos
dos jogos eletrocircnicos satildeo as naccedilotildees imperialistas norte-americana e
japonesa Como reflexo disso carregam muitos dos valores tiacutepicos de
paiacuteses de capitalismo central como o individualismo a competiccedilatildeo
exacerbada o consumo desenfreado e a naturalizaccedilatildeo da violecircncia
Aliaacutes a questatildeo da violecircncia presente em diversos jogos eletrocircnicos
eacute uma das grandes polecircmicas que envolvem a praacutetica desses jogos No
que tange ao conteuacutedo violento dos games merecem destaque jogos
que pontuam a realizaccedilatildeo de crimes atropelamentos praacutetica de agresshy
sotildees em ambiente escolar perseguiccedilatildeo e morte de supostos terroristas
e os que simulam guerras e conflitos armados entre paiacuteses e povos Natildeo
eacute raro vermos mateacuterias jornaliacutesticas que associam o uso excessivo de
games a situaccedilotildees de violecircncia real o caso mais emblemaacutetico foi o masshy
sacre ocorrido em 1999 na Escola de Ensino Meacutedio Colombine em
Littleton no estado do Colorado (EUA)
De acordo com Alves (2004) a violecircncia como forma de linshy
guagem envolve ao mesmo tempo aspectos econocircmicos sociais
poliacuteticos culturais e afetivos por isso natildeo podemos adotar uma
atitude reducionista em culpar exclusivamente os jogos eletrocircnicos
pela violecircncia pois eles mesmos satildeo reflexotildeesprojeccedilotildees de uma
sociedade que banaliza a violecircncia A autora destaca tambeacutem que
uma questatildeo crucial a se pensar eacute que a violecircncia tem sido transshy
formada nas diversas miacutedias num grande espetaacuteculo por isso ela
vende e os adolescentes satildeo seduzidos pelas cenas de violecircncia para
consumirem produtos ldquoTanto a espetacularizaccedilatildeo quanto a este-
tizaccedilatildeo da violecircncia vecircm sendo bastante potencializadas nos jogos
eletrocircnicos em que a morte cada vez mais violenta passa a ser
sinocircnimo muitas vezes de grandes vendasrdquo (ALVES 2004 p 79)
Esse caraacuteter sedutor dos games de violecircncia eacute utilizado ateacute
pelas forccedilas armadas estadunidenses para estimular o alistamenshy
to militar e treinar recrutas Com esses objetivos o exeacutercito dos
EUA com a colaboraccedilatildeo do departamento de defesa norte-ame-
ricano criou o Americans Army um jogo de tiro em primeira
pessoa no qual os jogadores simulam combates militares reais
(IMASATO M ESQUITA 200$) O jogo disponibilizado grashy
tuitamente para o puacuteblico desde 04 de julho de 2002 possui
milhares dc jogadores pelo mundo todo inclusive no Brasil
Nesse exemplo os atos de agredirmatar personagens durante
o jogo natildeo satildeo utilizados apenas com sentidos luacutedicos mas tambeacutem
com a finalidade de criar nos jovens o desejo de realizar essas accedilotildees
na vida real A criaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de games como esse sem granshy
des criacuteticas por parte do puacuteblico permite visualizar o quanto a vioshy
lecircncia eacute vista com algo natural em nossa sociedade Com apoio nas
elaboraccedilotildees de Marx (1996) consideramos que a base dessa naturashy
lizaccedilatildeo satildeo as proacuteprias relaccedilotildees sociais capitalistas que transformam
tudo em mercadoria inclusive o trabalho humano fazendo parecer
que relaccedilotildees entre pessoas reais satildeo relaccedilotildees entre coisas
De um modo geral o homem cria instrumentos para satisfashy
zer suas necessidades dando sentidos humanos para as coisas mas
ao fazer isso gera novos interesses e necessidade transformando
sua proacutepria forma de viver Ou seja a tecnologia produzida pelo
homem passa a determinar suas accedilotildees e seu modo de vida Na
atualidade a criaccedilatildeo da rede mundial de computadores mudou
sensivelmente a forma de interaccedilatildeo entre as pessoas no caso dos
jogos eletrocircnicos a internet permitiu o compartilhamento de joshy
gos entre pessoas ao redor do mundo inteiro9 Desse modo os
jogos eletrocircnicos como criaccedilotildees humanas para satisfazer suas neshy
cessidades luacutedicas modificam o modo como os homens satisfazem
essas mesmas necessidades alterando os espaccedilos-tempos outrora
ocupados pelos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais
Nas grandes cidades convivemos com a falta de espaccedilos puacuteblishy
cos para brincar com o tracircnsito intenso com o alto grau de violecircnshy
cia e poluiccedilatildeo entre outros fatores que favorecem a diminuiccedilatildeo do
tempo destinado agraves experiecircncias corporais reais e sua substituiccedilatildeo
parcial ou total por praacuteticas virtuais como as possibilitadas pelos
9 Os jogos Massively Multiplayer on-line (M M Os) possibilitam vaacuterias pessoas
competirem pela internet criando comunidades de gamers gerando um novo modelo
de interatividade via jogos eletrocircnicos Nesse modelo as pessoas representam uma
segunda identidade e se relacionam atraveacutes dela Aleacutem disso existem torneios esportivos
multiplayer que permitem transformar esses games em profissatildeo (A ERA 2007)
jogos eletrocircnicos Os consoles mais modernos permitem inclusive
novas experiecircncias interativas com o corpo onde praacuteticas corporais
- como jogos tradicionais esportes danccedilas lutas e ginaacutestica - poshy
dem ser feitas dentro de um jogo virtual ressignificando a proacutepria
forma de vivecircncia da cultura corporal dentro e fora das telas
Os jogos eletrocircnicos tambeacutem tecircm sido produzidos e utilishy
zados para propoacutesitos que ultrapassam a diversatildeo Nesse sentishy
do merece destaque uma rede internacional chamada Game for change trata-se de uma organizaccedilatildeo social sem fins lucrativos
criada em 2004 nos EUA e com filiais na Europa Aacutesia e Ameacuterishy
ca Latina O objetivo dessa organizaccedilatildeo eacute promover a pesquisa
criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de jogos digitais que contribuam com
mudanccedilas sociais Os jogos satildeo elaborados por sistemas de parshy
cerias e seu conteuacutedo eacute sempre educativo levando o jogador a
buscar soluccedilotildees para problemas econocircmicos ambientais e diploshy
maacuteticos Os melhores games satildeo premiados em um festival que
reuacutene representantes do governo e da sociedade civil10
Desse modo consideramos que abordar as manifestaccedilotildees
contemporacircneas dos jogos eacute essencial para que os alunos possam
atuar como sujeitos de seu tempo tambeacutem na esfera luacutedica No
caso dos jogos eletrocircnicos eacute preciso tratar de sua historicidade
abordando as diversas geraccedilotildees de jogos que apesar de envolshy
verem conhecimentos coletivos se tornam privileacutegio de poucos
na dinacircmica de produccedilatildeo capitalista Para aleacutem do mundo do
entretenimento os games tecircm cumprido funccedilotildees econocircmicas
poliacuteticas e educativas que precisam ser abordadas para uma comshy
preensatildeo mais ampla das relaccedilotildees nem sempre evidentes entre o
real e o virtual no mundo dos jogos
10 Apesar de ser considerado um avanccedilo em relaccedilaacuteo aos games estritamente comerciais por
abordar problemaacuteticas de fundo social alertamos que esses jogos buscam na conciliaccedilatildeo
de classes as soluccedilotildees para problemas extremamente complexos e muitos originados
reforccedilados pelas proacuteprias relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo capitalista alinhando-se portanto
agrave ideologia da responsabilidade Em linhas gerais o objetivo dessa ideologia desenvolvida
a partir do final dos anos de 1990 em consonacircncia com o neoliberalismo de terceira via
eacute articular as accedilotildees do empresariado em torno das questotildees sociais buscando construir
conscnsos entre as classes e suas fraccedilotildees de modo a garantir o processo de dominaccedilatildeo
capitalista por meio do convpnr im pnm IacuteW A B T IM C iacutenno
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com os jogos eletrocircnicos
As crianccedilas e jovens cotidianamente se divertem consomem
e interagem atraveacutes dos jogos eletrocircnicos que natildeo satildeo apenas
brinquedos pois satildeo formas de expressatildeo de sentimentos e deshy
sejos das novas geraccedilotildees Por isso concordamos com Silveira e
Torres (2007) que adotar apenas uma atitude normativa e conshy
troladora em relaccedilatildeo aos jogos eletrocircnicos sem abordar aspectos
teacutecnicos poliacuteticos econocircmicos e eacuteticos que envolvem essa forma
de expressatildeo dos jogos prejudica o desenvolvimento de uma vishy
satildeo criacutetica frente a essa produccedilatildeo cultural
Com a intenccedilatildeo de contribuir para a superaccedilatildeo desses limites
construiacutemos uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos dishy
recionada aos alunos do 7o ano do ensino fundamental Com emshy
basamento na Pedagogia histoacuterico-criacutetica dividimos didaticamente
essa experiecircncia em cinco passos buscando envolver os educandos
no processo de ensino-aprendizagem e propiciar um percurso edushy
cativo que amplie sua compreensatildeo e accedilatildeo sobre o tema
No primeiro momento identificaccedilatildeo da praacutetica social buscashy
mos apresentar os conteuacutedos que seratildeo abordados dentro da unidashy
de e como eles se expressam na praacutetica cotidiana dos alunos Para
que os alunos identifiquem o tema seraacute apresentada uma sequecircncia
de imagens sobre os jogos eletrocircnicos e os alunos seratildeo questionashy
dos sobre o que jaacute sabem e o que gostariam de aprender sobre esses
tipos de jogos Logo em seguida seratildeo apresentados os toacutepicos de
conteuacutedos abordados na unidade a saber conceito de jogos eletrocircshy
nicos os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos a virtualizaccedilatildeo
dos jogos tradicionais os games como grande negoacutecio e os desafios
e possibilidades trazidos pelos games na atualidade
Na problematizaccedilatildeo inicialmente seratildeo debatidas quesshy
totildees que buscaratildeo despertar a curiosidade dos alunos pelo tema
como quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem
Como as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por
que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia Em seguishy
da seratildeo lanccediladas questotildees-problemas que articulam a praacutetica
social concreta dos alunos com o conteuacutedo tratado na unidade
As questotildees foram orientadas com base em diversas dimensotildees
do conteuacutedo a saber conceituai histoacuterica cultural poliacuteticas
econocircmicas social e eacutetica conforme pode ser visto no plano de
unidade apresentado a seguir
A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento de apropriaccedilatildeo do coshy
nhecimento sistematizado a fim de que os alunos ampliem sua
compreensatildeo sobre as problematizaccedilotildees lanccediladas Para tal seratildeo
desenvolvidas accedilotildees como discussotildees debates experimentaccedilatildeo
de jogos na forma tradicional e eletrocircnica aulas expositivas e
apresentaccedilatildeo de documentaacuterios Nessa etapa a falta de recursos
como aparelhos especiacuteficos para jogos eletrocircnicos pode ser subsshy
tituiacuteda por versotildees de jogos para computadoresaparelhos celulashy
res e ou transformaccedilatildeo de jogos virtuais em jogos reais
Na catarse momento no qual os alunos devem ser capazes
de responder as questotildees-problemas com base no conhecimento
sistematizado eles participaratildeo de um quiz educativo sobre jogos
eletrocircnicos com a intenccedilatildeo de auxiliaacute-los na elaboraccedilatildeo de uma
siacutentese entre o saber cotidiano e o conhecimento cientiacutefico Nosshy
sa expectativa eacute que os alunos compreendam as principais caracshy
teriacutesticas dos jogos eletrocircnicos como uma forma de manifestaccedilatildeo
dos jogosbrincadeiras tipicamente contemporacircnea
Ao final do trabalho buscando um retorno agrave praacutetica social os alunos seratildeo estimulados a pocircr em accedilatildeo a nova visatildeo sobre
o conteuacutedotema em tela Nesse sentido seraacute proposta a consshy
truccedilatildeo de um blog que socialize os conhecimentos apreendidos
sobre os jogos eletrocircnicos e a realizaccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo sobre
o desenvolvimento histoacuterico dos jogos eletrocircnicos
Plano de Unidade Os jogos eletrocircnicos e a sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na sociedade contemporacircnea
Conteuacutedo jogos
Turmas 7o ano
Nuacutemero de aulas 12
Objetivo Geral Compreender a dinacircmica social que envolve a
produccedilatildeo e a reproduccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos permitindo o uso
criacutetico desses jogos nos momentos de lazer
1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL
11 Anuacutencio do conteuacutedo
Toacutepicos de conteuacutedo c objetivos especiacuteficos
bull Toacutepico 1 O que satildeo jogos eletrocircnicos
Objetivo especiacutefico Conceituar os jogos eletrocircnicos e
suas formas de manifestaccedilatildeo para distingui-los de oushy
tros tipos de jogos em especial dos jogos tradicionais
bull Toacutepico 2 Os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos
Objetivo especiacutefico Conhecer a origem e as transforshy
maccedilotildees histoacutericas dos jogos eletrocircnicos buscando
entender a influecircncia do contexto histoacuterico e do
avanccedilo tecnoloacutegico na configuraccedilatildeo desses jogos
bull Toacutepico 3 A virtualizaccedilatildeo dos jogos tradicionais
Objetivo especiacutefico Identificar jogos eletrocircnicos insshy
pirados em jogos tradicionais a fim de entender as
relaccedilotildees entre os dois tipos de jogos como produshy
ccedilotildees culturais luacutedicas
bull Toacutepico 4 Os games como um grande negoacutecio
Objetivo especiacutefico Compreender o processo de proshy
duccedilatildeo disseminaccedilatildeo e consumo dos jogos eletrocircnicos
a fim de compreender os papeacuteis econocircmicos poliacuteshy
ticos e sociais assumidos por esses jogos
bull Toacutepico 5 Geraccedilatildeo game over desafios e possibilidades11
Objetivo especiacutefico Reconhecer os benefiacuteciosmalefiacuteshy
cios trazidos pela praacutetica regular dos jogos eletrocircnicos e
suas possibilidades para a cultura corporal permitindo
o uso consciente e equilibrado desses jogos nos moshy
mentos de lazer
12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos
bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Os jogos
eletrocircnicos podem ser jogados em aparelhos proacuteprios
computadores e celulares existem games para jogar
sozinho em dupla e em grupo as pessoas mais velhas natildeo
brincavam com esses jogos
bull O que gostariam de saber mais Por que os jogos eletrocircnicos
satildeo conteuacutedos da Educaccedilatildeo Fiacutesica Quais os jogos eletrocircnicos
mais conhecidos
2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO
21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo
Quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem Como
as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por que os jogos
eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia
11 Elaboramos esse uacuteltimo toacutepico de conteuacutedo de forma bem flexiacutevel para que possa atender
as demandas que surgirem e ser abordado de acordo com recursos disponiacuteveis para seu
desenvolvimento Por isso na instrumentalizaccedilatildeo relativa a esse toacutepico apresentamos
diversas possibilidades de accedilotildees e recursos
12 Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
QUESTOtildeES PROBLEMATIZADORAS
Conceituai
O que satildeo jogos eletrocircnicos Que tipos de jogos eletrocircnicos
existem Os jogos eletrocircnicos podem ser considerados como
ldquojogos popularesrdquo
Histoacuterica
As brincadeiras e as formas de se divertir mudaram com o
passar do tempo Quando surgiram os jogos eletrocircnicos
Qual eacute a origemhistoacuteria de alguns dos principais jogos eleshy
trocircnicos Por que eles sempre mudam
Social
Por que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns atualmente
Quais finalidades sociais eles tecircm cumprido Quais as possishy
bilidades de uso criacutetico dos games
Econocircmica
Como os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos c distribuiacutedos
Haacute faacutecil acessibilidade a todos para vivenciar esses jogos
Quanto custam os aparelhos e miacutedias para acesso aos jogos
eletrocircnicos Existe uma economia virtual
Poliacutetica
Existem espaccedilos puacuteblicos apropriados para brincar e jogar
com seguranccedila em nossa cidade Existem espaccedilos puacuteblicos
para jogar jogos eletrocircnicos
Eacutetica
Quais valores podem ser evidenciados nos jogos eletrocircnicos
Os jogos satildeo violentos Existem jogos eletrocircnicos criacuteticos
aos valores sociais Existem games cooperativos
Cultural
Os jogos eletrocircnicos satildeo difundidos em todas as culturas
Existem jogos eletrocircnicos universais Os jogos mais comuns
variam de paiacutes para paiacutes e de regiatildeo para regiatildeo Qual a relashy
ccedilatildeo entre os jogos eletrocircnicos e os jogos tradicionais
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
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4) SIacuteNTESE SUPERIOR
41 Siacutentese teoacuterica do aluno
Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais de variados gecircneros
que necessitam de aparelhos eletrocircnicos com tecnologias especiacuteshy
ficas para serem jogados Apesar de muitos desses jogos serem reshy
sultado da virtualizaccedilatildeo de jogos tradicionais eles naacuteo podem ser
considerados jogos populares pois satildeo produzidos e distribuiacutedos
sob a forma de mercadorias (conceituai e cultural) Os jogos eleshy
trocircnicos estabelecem uma relaccedilatildeo estreita com o contexto no qual
foram criados incorporando diversos avanccedilos tecnoloacutegicos que
permitem a constante ampliaccedilatildeo da qualidade de imagem som e
movimento dos mesmos (histoacuterica) Na atualidade a forma de orshy
ganizaccedilatildeo das grandes cidades o aumento da violecircncia e a falta de
espaccedilos puacuteblicos para o lazer tecircm favorecido a substituiccedilatildeo parcial
ou total dos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais por jogos
eletrocircnicos (soacutecio-poliacutetica) Os jogos eletrocircnicos satildeo muito divulshy
gados pela miacutedia de massas e datildeo grandes lucros agrave induacutestria cultushy
ral enquanto a grande maioria das crianccedilas ainda natildeo tenha acesso
pleno a essas produccedilotildees pois a dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo
desses jogos se insere no mundo das mercadorias (soacutecio-econocircmi-
ca) Os jogos eletrocircnicos estatildeo inseridos na contraditoacuteria dinacircmica
capitalista e por isso refletem valores sociais como a violecircncia e a
competitividade mas tambeacutem podem forjar outros valores como a
cooperaccedilatildeo e a solidariedade (eacutetica)
42- Expressatildeo da siacutentese
Participar de um quiz de perguntas e respostas sobre os jogos
eletrocircnicos buscando expressar o que foi apreendido durante as aulas
i) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL
Quadro 3- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
ACcedilOacuteES DO ALUNO
Registrar e divulgar os conhecimentos
apreendidos sobre os jogos eletrocircnicos
1 - Construir e divulgar um blog
sobre os jogos eletrocircnicos (conshy
teuacutedo histoacuteria tipos de jogos
benefiacutecios problemas links e esshy
paccedilos para jogar gratuitamente)
Contribuir para a criaccedilatildeo de espaccedilos-
-tempos destinados agrave discussatildeo sobre
os games
2 - Montar uma exposiccedilatildeo que
funcione como linha do tempo
dos jogos
Ampliar os conhecimentos sobre os
jogos eletrocircnicos
3 - Pesquisar mais sobre os jogos
eletrocircnicos
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees finais
A concretizaccedilatildeo de uma proposta de ensino com os jogos eletrocircshy
nicos eacute sem duacutevidas um grande desafio seja pela falta de recursos adeshy
quados seja pela dificuldade em trabalhar com as novas tecnologias e
ateacute pela resistecircncia da comunidade escolar ao tratamento desse tema
pela escola Entretanto defendemos que abordar os games como exshy
pressotildees contemporacircneas dos jogos e brincadeiras eacute imprescindiacutevel se
pretendemos que nossos alunos compreendam a realidade em que vishy
vem e atuem como sujeitos do seu proacuteprio tempo
Com base nessa constataccedilatildeo a nossa intenccedilatildeo foi abrir o diaacutelogo
sobre as possibilidades de trabalho com os jogos eletrocircnicos como conteshy
uacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica Nesse sentido a experiecircncia pedagoacutegica
descrita nesse artigo buscou abordar os jogos eletrocircnicos em suas muacuteltishy
plas dimensotildees visando contribuir para que os alunos reconheccedilam essa
nroducatildeo cultural luacutedica como construccedilatildeo de homens e mulheres reais
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CAPIacuteTULO IV
AS RELACcedilOtildeES ENTRE ESPORTE E SAUacuteDE NO CAPITALISMO TEM ATIZANDO CONTRADICcedilOtildeES NA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR
Carlos Eduardo de Souza
Leonardo Docena Pina
Mocircnica Jardim Lopes
De maneira mais ou menos intensa o esshy
porre se apresenta de diferentes formas em nossa
vida Seja atraveacutes da televisatildeo de jornais de reshy
vistas ou da proacutepria praacutetica de diferentes modashy
lidades nos relacionamos quase que diariamente
com o esporte Poreacutem a relaccedilatildeo que estabeleceshy
mos em nosso cotidiano com essa manifestaccedilatildeo
cultural natildeo proporciona sua real compreensatildeo
E por isso que muitos lidam com o esporte diashy
riamente sem compreender sua relaccedilatildeo com os
processos histoacutericos Da mesma forma muitos
acabam por reproduzir a noccedilatildeo dominante exshy
pressa na ideia de que esporte promove sauacutede
Iniciamos o texto com essa reflexatildeo por
consideraacute-la importante para discutirmos o
ensino do esporte na escola Afinal por que eacute
importante ensinar esporte nas aulas de Edushy
caccedilatildeo Fiacutesica se este jaacute estaacute presente em nosso
dia a dia fora da escola Seria o ensino do esshy
porte realmente necessaacuterio aos alunos
A resposta a essas questotildees nos remete
inicialmente ao fato de que desde a deacutecada
de 1990 com a divulgaccedilatildeo da perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a
cultura corporal (COLET IVO DE AUTORES 1992) foi ampliashy
da a possibilidade de relacionar a Educaccedilatildeo Fiacutesica com a formaccedilatildeo
de sujeitos histoacutericos capazes de compreender a realidade de modo
a nela intervir criticamente Orientada na Pedagogia histoacuterico-criacuteti-
ca (SAVIANI 2005a) tal perspectiva trouxe novas formas de aborshy
dagem dos conteuacutedos As aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica antes pensadas
com o objetivo de desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica de treinamenshy
to teacutecnico de recreaccedilatildeo de aprendizagem motora dentre outros
puderam ser superadas por uma nova tarefa de transmissatildeo do saber
sistematizado necessaacuterio agrave compreensatildeo da realidade
Para alcanccedilar a nova tarefa a que se propotildee a perspectiva
da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal os conteuacutedos passashy
ram a demandar uma tematizaccedilatildeo criacutetico-superadora No caso da
manifestaccedilatildeo cultural que nos propomos a refletir no presente
capiacutetulo as indicaccedilotildees do Coletivo de Autores (1992) fornecem
a base para trataacute-la pedagogicamente de modo a superar as caracshy
teriacutesticas impostas pela sociedade capitalista Imprim ir um novo
sentidosignificado ao esporte implica a consideraccedilatildeo de alguns
elementos jaacute retomados por Assis (2001) Um deles eacute a necesshy
sidade de realizar uma leitura criacutetica do esporte sobretudo para
compreender as mediaccedilotildees que o integram agraves relaccedilotildees sociais de
produccedilatildeo da existecircncia humana Sem refletir criticamente sobre
o esporte corre-se o risco de natildeo compreender sua funccedilatildeo na
reproduccedilatildeo do capitalismo ou de desconsiderar a possibilidade
de esse fenocircmeno cultural servir a outro projeto de sociedade
Outro aspecto reside na necessidade de consideraacute-lo um
conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica A constataccedilatildeo de que o esporte vishy
nha atendendo historicamente aos interesses dominantes fez com
que alguns professores se distanciassem do ensino do esporte na
escola Na verdade por considerar que o esporte relaciona-se ao
processo de reproduccedilatildeo do capitalismo natildeo pretendemos afastaacute-
-lo da educaccedilatildeo escolar Pelo contraacuterio ressaltamos a necessidade
de tematizaacute-Io na escola visto que a transmissatildeo do saber objeshy
tivo historicamente acumulado sobre essa praacutetica cultural pode
se transformar em instrumento cultural de luta contra as forshy
mas de dominaccedilatildeo a que estatildeo submetidos os membros da classe
trabalhadora ainda hoje Daiacute a defesa do Coletivo de Autores
(1992) para desmitificar o esporte atraveacutes da oferta na escola
do conhecimento que permita aos alunos criticaacute-lo dentro de um
determinado contexto histoacuterico
Conforme afirma Assis (2001) o esporte traz consigo possishy
bilidades contraditoacuterias de modo que eacute possiacutevel enfatizar situashy
ccedilotildees que privilegiam a solidariedade sobre a rivalidade o coletivo
sobre o individual a autonomia sobre a submissatildeo a cooperaccedilatildeo
sobre a disputa a distribuiccedilatildeo sobre a apropriaccedilatildeo a abundacircncia
sobre a escassez a confianccedila muacutetua sobre a suspeita a descon-
traccedilatildeo sobre a tensatildeo a perseveranccedila sobre a desistecircncia e ainda
a vontade de continuar jogando em contraposiccedilatildeo agrave pressa para
terminar a partida e configurar resultados
A partir desses apontamentos torna-se possiacutevel afirmar que o
ensino desse conteuacutedo pode permitir aos alunos a apropriaccedilatildeo das
formas mais desenvolvidas do saber objetivo sobre o esporte que se
encontra acumulado na cultura Compreender o esporte demanda a
apropriaccedilatildeo do conhecimento jaacute produzido sobre ele Tal apropriashy
ccedilatildeo possibilita a compreensatildeo de suas contradiccedilotildees e consequenteshy
mente estabelecer novas relaccedilotildees com essa manifestaccedilatildeo cultural
Conforme afirma Saviani (2006) dominar a cultura erudita
eacute necessaacuterio aos membros da classe trabalhadora para que possam
fazer valer os seus interesses jaacute que a classe dominante faz uso
exatamente dos conteuacutedos culturais para legitimar e consolidar
sua dominaccedilatildeo Redirecionando essa reflexatildeo para o ensino do
esporte podemos concluir que o domiacutenio do conhecimento sisshy
tematizado sobre essa manifestaccedilatildeo cultural tambeacutem se constitui
como instrumento indispensaacutevel uma vez que os conhecimentos
adquiridos no cotidiano tendem a ser insuficientes para atuaccedilatildeo
dos indiviacuteduos enquanto sujeitos da histoacuteria
Esporte sauacutede e o modo vidatrabalho no capitalismo
Embora seja muito propagada atualmente sobretudo pela atushy
accedilatildeo de governos e Organismos Internacionais como a Organizaccedilatildeo
das Naccedilotildees Unidas (ONU) o Banco Mundial (BM) e o Fundo Moshy
netaacuterio Internacional (FMI) a ideologia que afirma de forma mecacircshy
nica o esporte como sauacutede carece de anaacutelise concreta da realidade
onde estatildeo inseridas as classes fundamentais1 Na perspectiva que
sustenta nosso estudo o entendimento do esporte da sauacutede e da posshy
siacutevel relaccedilatildeo entre esses dois temas soacute pode ser alcanccedilado se forem
confrontados e aferidos no conjunto da dinacircmica das relaccedilotildees sociais
existentes no modo vidatrabalho capitalista
O fenocircmeno cultural ldquoesporterdquo toma forma no seacuteculo XVIII no
periacuteodo de revoluccedilatildeo e afirmaccedilatildeo da burguesia enquanto classe domishy
nante Segundo Hobsbawm (1988) o esporte foi ldquoformalizado em torshy
no dessa eacutepoca na Inglaterra que lhe ofereceu o modelo e o vocabulaacuteshy
rio alastrou-se como um incecircndio aos demais paiacutesesrdquo (p 255) sendo
tambeacutem fruto segundo Bracht (2005) de ldquomodificaccedilatildeo poderiacuteamos
dizer de esportivizaccedilatildeo de elementos da cultura corporal de movimento
das classes populares inglesas como os jogos popularesrdquo (p 13) cuja
funccedilatildeo era basicamente de comemorar ou festejar datas
Foi tambeacutem nessa eacutepoca - da revoluccedilatildeo industrial - que os trabashy
lhadores passaram a conhecer o chamado ldquotempo livrerdquo que era exashy
tamente o tempo no qual se encontravam livres das obrigaccedilotildees fabris
0 preenchimento desse tempo para promover melhorias no trabalho
produtivo e na conformaccedilatildeo ideoloacutegica para uma melhor extraccedilatildeo da
mais-valia deveria abarcar valores e concepccedilotildees de mundo proacuteprias de
uma burguesia emergente (SILVA 1994) Tais valores se expressavam
diretamente no esporte uma vez que permitia o desenvolvimento de
1 Quando uma pequena parcela dos homens toma para si os meios de produccedilatildeo criam-se
contraditoriamente na sociedade duas classes a dos que detecircm os meios de produccedilatildeo e
aqueles que necessitam vender o uacutenico bem que lhes restou sua Forccedila de trabalho Essa
relaccedilatildeo contraditoacuteria e conflitante enrre os homens requer formas de dominaccedilatildeo por
exemplo as ideologias Entendendo ldquoideologiardquo natildeo como ilusatildeo ou supersticcedilatildeo mas
uma forma material especiacutefica de consciecircncia social (MESZAROS 2004)
determinadas formas de pensar e agir a exemplo da lealdade senso
de responsabilidade esforccedilo pessoal espiacuterito de equipe dentre outros
(TAFFAREL SANTOS JUN IOR 2009)
Proni (2002) ao traduzir a concepccedilatildeo de esporte desenvolvida
por Brohm cria um trabalho fecundo de elementos para compreshy
ensatildeo desse tema Segundo o autor a hipoacutetese central de Brohm se
sustenta no entendimento de que o sistema esportivo moderno eacute o
reflexo da universalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo da forma de vida predomishy
nante que tem sua origem na economia capitalista na qual impera
o espiacuterito industrial a mentalidade do rendimento e do ecircxito ldquoO
intercacircmbio de mercadorias e de capital tiveram como consequecircncia
o intercacircmbio de ideias e a difusatildeo de praacuteticas esportivasrdquo (PRONI
2002 p 38) Ainda segundo o autor satildeo quatro fatores que Brohm
diz ser responsaacuteveis pelo desenvolvimento do esporte
(a) O aumento do tempo livre e o desenvolvimento do
oacutecio (que ocupa um lugar de destaque na civilizaccedilatildeo do
lazer) (b) a universalizaccedilatildeo dos intercacircmbios medianshy
te os transportes e os meios de comunicaccedilatildeo de massa
(o esporte converte-se em ldquomercadoria culturalrdquo graccedilas
a sua natureza comospolita) (c) revoluccedilatildeo teacutecnico -
cientiacutefica (que reflete-se na busca da eficiecircncia corposhy
ral nos novos materiais e equipamentos inclusive no
surgimento de novas modalidades esportivas) (d) e a
revoluccedilatildeo democraacutetico mdash burguesa e o enfrentamento
das naccedilotildees no plano internacional (isto eacute a dinacircmica
poliacutetico mdash ideoloacutegica) (PRONI 2002 p 39)
O esporte dentro dessa perspectiva carrega os valores e os pashy
drotildees de desenvolvimento do Estado liberal Difunde uma forma
de conviacutevio e inspira desejos de mudanccedilas individuais Aproxima
as classes sociais ocultando o antagonismo poliacutetico-econocircmico e
a relaccedilatildeo de exploraccedilatildeo existente entre elas Ou seja um produto
da sociedade industrial que vem servindo em larga medida como
elemento de difusatildeo do ideaacuterio e dos interesses da classe dominanshy
te Assim para Brohm a essecircncia do esporte
eacute a ideologia democraacutetica tiacutepica de uma sociedade
que precisa cultivar um ideal humanitaacuterio (liberdade
igualdade fraternidade) e ao mesmo tempo velar suas
estruturas de classe e seus mecanismos de dominaccedilatildeo
Por isso o autor enfatiza o papel da instituiccedilatildeo esporshy
tiva como estrutura simboacutelica e aparato ideoloacutegico do
Estado (PRONI 2002 p 39-40)
Desse modo Brohm iraacute concluir que o esporte eacute por excelecircnshy
cia algo nefasto para os trabalhadores servindo unicamente para
o fortalecimento das forccedilas e da identidade burguesa (BRACHT
2005) Essa se torna uma visatildeo estreita da realidade Considerashy
mos que a cultura esportiva de fato carrega os valores capitalistas
e nesse sentido tem servido como instrumento a serviccedilo da domishy
naccedilatildeo burguesa Mas isso natildeo eacute tudo Acreditamos que a anaacutelise do
esporte de forma mais profiacutecua deve ser aferida no conjunto das
contradiccedilotildees que envolvem a relaccedilatildeo capital-trabalho E na luta
de classes que as culturas vatildeo se amoldando Portanto o esporte
natildeo eacute uma instituiccedilatildeo que paira acima dos conflitos sociais natildeo
sendo em si nem ldquobom nem ldquoruimrdquo Trata-se da expressatildeo de uma
condensaccedilatildeo de forccedilas na qual hegemonicamente os valores da
classe burguesa sobressaem em relaccedilatildeo aos da classe trabalhadora
Nos dias de hoje a articulaccedilatildeo do esporte com os interesshy
ses da classe dominante pode ser evidenciada pela relaccedilatildeo co-
mumente estabelecida entre a praacutetica de esporte e a obtenccedilatildeo de
sauacutede Exemplo disso eacute a defesa da O N U de que as principais
causas de ateacute 60 das mortes no mundo estatildeo ligadas a pessoas
inativas e que o esporte e a Educaccedilatildeo Fiacutesica ldquosatildeo cruciais para a
vida longa e saudaacutevel O esporte melhora a sauacutede e o bem-estar
aumenta a expectativa de vida e reduz o risco de vaacuterias doenccedilas
natildeo-transmissiacuteveis incluindo a doenccedila cardiacuteacardquo (ON U 2003 p
7 traduccedilatildeo nossa) aleacutem de ser essencial para manter a ldquosauacutede da
menterdquo e construir ldquovaliosas conexotildees sociaisrdquo
Segundo Delia Fonte e Loureiro (1997) eacute a visatildeo funcionalista
sobre a sauacutede que permite afirmar a praacutetica de esporte como soluccedilatildeo
para os malefiacutecios da vida moderna Para os autores essa afirmaccedilatildeo
demonstra a superficialidade com a qual tem se abordado o tema sauacuteshy
de Na visatildeo funcionalista as doenccedilas ou ldquomorbidadesrdquo natildeo tecircm nada
a ver com as relaccedilotildees sociais concretas e sim com um desvio dos indishy
viacuteduos ou seja uma natildeo adesatildeo consciente a haacutebitos mais saudaacuteveis
Delia Fonte e Loureiro (1997) nos ajudam a entender a rashy
zatildeo que leva os Organismos Internacionais a difundir tais com-
preensotildees sobre o tema Conforme afirmam os autores
a estrutura social capitalista determina e legitima vaacuterias
ideacuteias valores e atitudes altamente patoloacutegicos Por um
processo de naturalizaccedilatildeo essas patologias saacuteo apresenshy
tadas como inerentes ao ser humano Longe de serem
compreendidas como patologias elas satildeo tidas como
qualidades Assim aceita-se como normal a busca do
lucro como objetivo de toda atividade econocircmica a exshy
ploraccedilatildeo do homem pelo homem o individualismo a
competitividade e a ambiccedilatildeo como valores modernos a
repressatildeo de ideacuteias e sentimentos rotulados como tabus
a satisfaccedilatildeo imediata de desejos como traduccedilatildeo da felishy
cidade a reificaccedilatildeo das pessoas e das relaccedilotildees sociais e a
alienaccedilatildeo (DELLA FONTE LOUREIRO 1997 p 2)
Em outras palavras o modo de vidatrabalho ainda sob a eacutegide
de uma sociedade classista conserva uma estrutura de poder e uma
poliacutetica mundial de grandes impactos no que concerne agrave sobrevivecircnshy
cia dos indiviacuteduos Nessa direccedilatildeo a preocupaccedilatildeo dos Organismos Inshy
ternacionais consiste tambeacutem em criar ideologias capazes de situar
os indiviacuteduos como uacutenicos culpados ou responsaacuteveis pelo seu estado
de sauacutede independentemente de suas condiccedilotildees de vidatrabalho
Os riscos derivados do modo capitalista de produccedilatildeo da
existecircncia humana satildeo diversos e ligados a inuacutemeras causas tais
como aqueles provenientes do ambiente de trabalho como rashy
diaccedilotildees ruiacutedos frio e calor intenso pressotildees anormais umidade
poeiras gases vapores compostos quiacutemicos esforccedilo fiacutesico intenshy
so controle de alta produtividade trabalho noturno monotoshy
nia trabalho repetitivo maacutequinas e estruturas mal conservadas
entre outros (SOUZA 2011) Vale destacar que ateacute mesmo os
esportistas de alto rendimento sentem os efeitos degradantes do
trabalho no capitalismo o que pode ser expresso natildeo apenas pelo
alto iacutendice de lesotildees mas tambeacutem pelo uso de substacircncias preshy
judiciais agrave sauacutede voltadas ao a u m e n rn Alt c mdash
a isso outros problemas como o aumento do iacutendice de depresshy
satildeo por exemplo que tambeacutem tem atingido atletas2
Mesmo os que natildeo sofrem tais efeitos durante a venda de sua
forccedila de trabalho estatildeo de alguma forma sujeitos agraves implicaccedilotildees do
modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Exemplo disso
satildeo as implicaccedilotildees da degradaccedilatildeo ambiental produzida e intensificada
pelo capitalismo Trata-se de mais uma evidecircncia de que os riscos desshy
sa forma de organizaccedilatildeo social agrave vida humana hoje atingem a todos
A repercussatildeo negativa das relaccedilotildees capitalistas contemporacircshy
neas nas formaccedilotildees sociais ainda eacute agravada com o aumento da
desigualdade social perdas de direitos trabalhistas aumento da
exploraccedilatildeo aumento da violecircncia no campo e nas cidades surtos
de doenccedilas e principalmente a natildeo garantia de direitos baacutesicos
como sauacutede transporte educaccedilatildeo e outros Problemas como esshy
ses tendem a ser contrabalanceados a partir da foacutermula maacutegica
que o esporte assume na oacutetica funcionalista
A pretensa sauacutede relacionada agrave praacutetica do esporte tatildeo defendida
pelos Organismos Internacionais e governos serve duplamente agrave reshy
produccedilatildeo do capitalismo Se de um lado busca convencer as pessoas
de que a ldquoausecircncia de sauacutederdquo eacute uma escolha consciente e natural de
haacutebitos natildeo saudaacuteveis por outro busca ocultar as contradiccedilotildees do
modo de vidatrabalho em uma sociedade de classes O esporte nesshy
se caso torna-se um poderoso instrumento para dinamizar toda essa
estrutura ideoloacutegica de manutenccedilatildeo das relaccedilotildees sociais capitalistas
exatamente a forma de organizaccedilatildeo social que natildeo permite - a todos
- obter condiccedilotildees dignas de trabalho de vida bem como acesso iguashy
litaacuterio a tecnologias e serviccedilos de sauacutede
Em siacutentese pode-se dizer que o desenvolvimento do esporte eacute
algo circunscrito numa totalidade moldada pelo antagonismo das
classes existentes Essa produccedilatildeo cultural assume aspectos compleshy
xos e contraditoacuterios Seus valores moralizantes imbuiacutedos do pensa-
2 A respeito disso ver reportagem ldquoMal do seacuteculo depressatildeo aproxima trageacutedias do mundo
do futebolrdquo (BELPIEDE 2011)
3
mento liberal buscam fortalecer e universalizar um modo de vida
trabalho que coincide com os interesses da classe dominante Trata-
-se de uma forma de educar eacutetica e politicamente os subalternos
definindo um padratildeo de sociabilidade3 A deformaccedilatildeo das praacuteticas
populares e sua adequaccedilatildeo agrave ordem capitalista geram perda parcial
de identidades e possibilidades de autocriaccedilatildeo e transformaccedilatildeo Enshy
tretanto a busca de formas alternativas que visem o resgate das vonshy
tades meacutetodos e anseios dos trabalhadores natildeo eacute algo simples devishy
do ao processo funcional de obscurecimento da realidade Trata-se
de algo importante e possiacutevel a partir do esporte
Considerar o esporte como algo acabado sem espaccedilo para
explorar a contradiccedilatildeo natildeo interessa agrave organizaccedilatildeo da classe trashy
balhadora ldquoUma coisa eacute submeter o esporte aos interesses dos goshy
vernantes e outra eacute tratar pedagogicamente criacutetica reflexiva e
criativamente o esporte enquanto conteuacutedo de ensino e campo de
vivecircncia socialrdquo (TAFFAREL SA N TO S JU N IO R 2009 p 33)
construiacutedo por meacutetodos proacuteprios que visam atender aos anseios
e aspiraccedilotildees dos trabalhadores Ou seja os subalternos devem ser
ldquocapazes de compreender antecipar e contrastar os movimentos
das classes dominantesrdquo (DIAS 2006 p 13)
Entendemos que a condiccedilatildeo da transformaccedilatildeo da sociedade
ou seja a sociabilidade historicamente emancipada livre da domishy
naccedilatildeo de classe seraacute fruto da capacidade de enxergarmos a conshy
tradiccedilatildeo e nela atuarmos no sentido de superaacute-la poliacutetica e econoshy
micamente O que deve ser extirpado da histoacuteria dos homens natildeo
eacute o esporte mas as relaccedilotildees de produccedilatildeo que amoldam culturas e
mentes para servir agrave dominaccedilatildeo de uma classe sobre a outra
Compreender a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede a partir dos funshy
damentos aqui apresentados possibilita criticar a visatildeo funcionalisshy
ta o que pode ser um importante passo para pocircr fim agrave subordinashy
ccedilatildeo do esporte ao projeto histoacuterico da classe dominante
3 Para compreender como a institucionalizaccedilatildeo do esporte na aparelhagem estatal vem
contribuindo para a formaccedilatildeo da sociabilidade capitalista no Brasil recorrer ao estudo de
Souza (2011)
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o conteuacutedo esporte
Com o intuito de articular o ensino do esporte ao que considerashy
mos ser o papel da escola elaboramos uma proposta de trabalho pedashy
goacutegico com o tema esporte e sauacutede a ser desenvolvida com alunos do
oitavo ano da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de ForaMG
O primeiro contato dos alunos com o conteuacutedo a ser trabashy
lhado na unidade didaacutetica em questatildeo ocorreraacute na identificaccedilatildeo da praacutetica social onde apontaremos o assunto que seraacute desenvolvido
durante as aulas Tambeacutem buscaremos apreender o conhecimento
preliminar dos discentes bem como as questotildees que tecircm interesse
de ampliar o saber Apresentaremos o conteuacutedo Esporte delimitanshy
do o seguinte questionamento que direcionaraacute nossas aulas Esporte eacute sauacutede Em seguida cada aluno individualmente deveraacute elaborar
um texto explicitando sua compreensatildeo sobre essa questatildeo geral a
fim de captarmos os saberes construiacutedos pela vivecircncia cotidiana dos
alunos Espera-se com isso que os alunos maniiacuteestem o conhecishy
mento que possuem sobre a temaacutetica estabelecendo ou natildeo uma
relaccedilatildeo entre a praacutetica esportiva e a obtenccedilatildeo de sauacutede
Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto iniciaremos uma discussatildeo geral
sobre a temaacutetica e explicitaremos os toacutepicos que seratildeo abordados
durante o trabalho com o tema a saber sauacutede uma questatildeo
social as lesotildees e a depressatildeo cm atletas do esporte de rendishy
mento os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo vivenciando
diferentes modalidades esportivas Em seguida apresentaremos
os objetivos as atividades a serem desenvolvidas assim como a
importacircncia de se estudar esse tema
A seleccedilatildeo de questotildees sociais que permeiam o conteuacutedo aborshy
dado instigando o debate e a reflexatildeo dos alunos se expressa no
segundo passo metodoloacutegico a problematizaccedilatildeo Nesta etapa seleshy
cionaremos as dimensotildees do conteuacutedo que seratildeo trabalhadas esshy
tabelecendo os questionamentos relacionados agrave praacutetica social tal
como sugere o plano de unidade apresentado a seguir
Na instrumentalizaccedilatildeo fase na qual ocorre de fato a aproshy
priaccedilatildeo do conhecimento por parte do aluno pretendemos desenshy
volver atividades que contribuam para a elaboraccedilatildeo de respostas
aos questionamentos sistematizados anteriormente As atividashy
des docentes e discentes voltadas agrave transmissatildeoapropriaccedilatildeo do
conhecimento sistematizado vatildeo envolver exposiccedilatildeo do conteuacutedo
pelo professor anaacutelise de viacutedeos c documentaacuterios que abordem
a temaacutetica da sauacutede e do esporte leitura discussatildeo e anaacutelise de
reportagens sobre o tema pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privashy
dos) disponiacuteveis para a praacutetica de esporte na cidade vivecircncia das
modalidades esportivas mais conhecidas no paiacutes dentre outros
Para captar se os alunos se apropriaram do conhecimento elashy
borado que os capacita a responder as questotildees levantadas na pro-
blematizaccedilatildeo pretendemos aplicar uma atividade na qual os alunos
individualmente possam produzir um texto dissertativo sobre a seshy
guinte questatildeo geral esporte eacute sauacutede Espera-se que os alunos sejam
capazes de expressar o conhecimento adquirido se aproximando
do entendimento de que a sauacutede eacute uma questatildeo social e portanto
envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporshy
te atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por
exemplo Espera-se que os alunos superem o entendimento predoshy
minante do senso comum expressando que a praacutetica de esporte
por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacutede e mais por questotildees
ideoloacutegicas o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo vem sendo veiculado com a
intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsabilidade por sua
proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus direitos
baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos
que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo
Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto pretendemos discutir as diferenshy
tes abordagens do tema apresentadas pelos alunos inclusive posshy
sibilitando a eles comparar o texto produzido neste momento na
catarse com o texto produzido no iniacutecio do processo pedagoacutegishy
co Aleacutem disso os alunos devem produzir em grupos um cartaz
alertando a comunidade escolar sobre a problemaacutetica estudada
No retorno agrave praacutetica social pretendemos finalizar o trabalho
pedagoacutegico definindo juntamente com os alunos novas intenshy
ccedilotildees e propostas de accedilatildeo mdash a partir da nova forma de compreenshy
der e de lidar com o conteuacutedotema em questatildeo
Plano de unidade
Esporte eacute sauacutede
DISCIPLINA Educaccedilatildeo Fiacutesica
AN O DE ESCOLARIDADE 8o ano do Ensino Fundamental
C O N T E Uacute D O Esporte
U N ID A D E Esporte c sauacutede
N Uacute M ERO DE AULAS 10 aulas
OBJETIVOS GERAIS
bull Entender a sauacutede como uma questatildeo social resultado
das condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo meio
ambiente trabalho transporte acesso aos serviccedilos de
sauacutede dentre outros de modo a adotar uma postura
favoraacutevel agrave superaccedilatildeo dos problemas sociais concretos
que determinam a obtenccedilatildeo da sauacutede
bull Vivenciar atividades esportivas enfatizando novos
sentidossignificados para posicionar-se favoravelmente agrave
transformaccedilatildeo do esporte
bull Refletir sobre os iacutendices de lesotildees e distuacuterbios emocionais
em atletas do esporte de rendimento
bull Analisar diferentes discursos sobre esporte e sauacutede
para posicionar-se criticamente diante das concepccedilotildees
que estabelecem uma relaccedilatildeo direta entre a praacutetica de
esporte e a obtenccedilatildeo de sauacutede
1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL
11 Anuacutencio dos conteuacutedos
TOacutePICOS
bull Sauacutede uma questatildeo social
bull As lesotildees e a depressatildeo em atletas do esporte de rendimento
bull Os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo
bull Vivenciando diferentes modalidades esportivas
12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos
bull O que os alunos sabem a praacutetica de esporte estaacute relacionada
agrave obtenccedilatildeo de sauacutede praticar esporte faz bem agrave sauacutede
bull O que os alunos querem saber mais o que eacute necessaacuterio
para termos uma vida saudaacutevel Quais satildeo os esportes mais
conhecidos no Brasil Quais esportes tecircm o maior iacutendice
de lesotildees
2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO
21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo
O que vocecircs entendem por sauacutede O esporte promove sauacutede
Por quecirc Qual a importacircncia de se estudar o tema ldquoesporte eacute sauacutederdquo
22 Dimensotildees do conteuacutedo
bull Dimensatildeo conceituai O que eacute sauacutede Quais os principais
benefiacutecios da praacutetica correta e adequada de exerciacutecios
fiacutesicos Como a praacutetica esportiva melhora nossa sauacutede
bull Dimensatildeo histoacuterica os espaccedilos puacuteblicos destinados agrave praacutetica
de esporte em nossa cidade estatildeo diminuindo nos uacuteltimos
anos E os espaccedilos que cobram aluguel para utilizaccedilatildeo Seraacute
que esses espaccedilos estatildeo diminuindo ou aumentando
bull Dimensatildeo econocircmica- por que no esporte de rendimento as
lesotildees satildeo muito comuns
bull Dimensatildeo social se o esporte combate a depressatildeo por que
tem aumentado o nuacutemero de casos de atletas com essa
doenccedila A obtenccedilatildeo da sauacutede estaacute sempre presente nos
esportes de alto rendimento O uso de substacircncias para
melhorar o rendimento e a grande incidecircncia de lesotildees nos
atletas eacute indicativo de sauacutede
bull Dimensatildeo poliacuteticarsquo haacute algum programa social que propaga
o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo ou que nele se fundamenta O
lema esporte e sauacutede tem alguma importacircncia poliacutetica Haacute
poliacuteticas puacuteblicas de incentivo agrave praacutetica esportiva na sua
cidade
bull Dimensatildeo cultural Qual a influecircncia da miacutedia na relaccedilatildeo
entre esporte e sauacutede
bull Dimensatildeo ideoloacutegica Por que eacute tatildeo difundida a ideia de que
esporte eacute sauacutede A exigecircncia da capacidade fiacutesica dos atletas
nos esportes de alto rendimento eacute sinocircnimo de sauacutede
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
31 Accedilotildees docentes e discentes
bull Anaacutelise de viacutedeos e documentaacuterios
bull Vivecircncia das modalidades esportivas mais conhecidas no
paiacutes
bull Exposiccedilatildeo do conteuacutedo pelo professor
bull Pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privados) disponiacuteveis para
a praacutetica de esporte na cidade
bull Leitura e anaacutelise de reportagens
32 Recursos mdash humanos e materiais
Livros revistas jornais slides bolas tv dvd folhas de papel
4) CATARSE
41 Siacutentese teoacuterica do aluno
O esporte tem se apresentado atualmente como elemento crucial para
obter sauacutede e alcanccedilar uma vida saudaacutevel A praacutetica de esporte quase semshy
pre estaacute diretamente relacionada agrave sauacutede Poreacutem uma anaacutelise mais cuidashy
dosa do tema esporte e sauacutede nos permite criticar e superar essas compre-
ensotildees predominantes Em primeiro lugar a sauacutede eacute uma questatildeo social
que envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporte
atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por exemplo
Assim a praacutetica de esporte por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacuteshy
de Ateacute mesmo alguns esportistas de alto rendimento acabam por adquirir
problemas de sauacutede em virtude de sua atividade de trabalho seja por utilishy
zar substacircncias seja por se machucar durante treinos ou competiccedilotildees Em
segundo lugar eacute importante destacar que muitas vezes o lema ldquoesporte eacute
sauacutederdquo eacute veiculado com a intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsashy
bilidade por sua proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus
direitos baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos
que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo
42 Expressatildeo da siacutentese
Elaboraccedilatildeo de texto dissertativo produccedilatildeo (em grupo) de um
cartaz sobre o tema estudado
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO
Quadro 1- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO 52 AltyOacuteES DO ALUNO
Saber mais sobre esporte e sauacutede Ler artigos acadecircmicos sobre esporte e sauacutede
Situar-se criticamente frente agraves formulaccedilotildees
sobre esporte e sauacutede utilizando o conhecishy
mento adquirido para compreendecirc-las critishy
camente
Analisar formulaccedilotildees sobre esporte e sauacutede
veiculadas pela miacutedia
Manifestar uma atitude favoraacutevel agrave transforshy
maccedilatildeo do esporte
Vivenciar modalidades esportivas dando
um novo significado a essas praacuteticas de
m odo que a competiccedilatildeo a concorrecircncia
o rendimento e a disputa por exemplo
sejam substituiacutedos por valores que sociashy
lizam privilegiam o coletivo garantam a
solidariedade e respeito humano dentre
outros
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildes Finais
O presente texto buscou apresentar uma proposta pedagoacutegica
de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica
tendo como referecircncia os fundamentos da Pedagogia histoacuterico-
-criacutetica Buscamos com essa proposta ampliar a compreensatildeo dos
alunos sobre o tema e consequentemente possibilitar-lhes transshy
cender noccedilotildees cotidianas sobre a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede
Ao socializara referida proposta no presente artigo natildeo pretenshy
demos oferecer uma ldquoreceitardquo mas sim apresentar uma das inuacutemeshy
ras possibilidades de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte
Ainda consideramos importante destacar que as dificuldades imshy
postas pelas condiccedilotildees de vida e trabalho de grande parte dos professhy
sores das redes puacuteblicas municipal e estadual de ensino assim como as
degradantes condiccedilotildees de vida a que estatildeo expostos muitos dos nossos
alunos satildeo apenas alguns dos fatores que podem dificultar o desenshy
volvimento do trabalho pedagoacutegico voltado agrave transmissatildeo do conheshy
cimento sistematizado na educaccedilatildeo escolar As precaacuterias condiccedilotildees de
vidatrabalho por sua vez reiteram nosso entendimento de que a luta
pela socializaccedilatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo se esgota no
debate pedagoacutegico entre as diferentes concepccedilotildees uma vez que engloshy
ba tambeacutem a luta pela escola puacuteblica que deve ser enfrentada em sua
radicalidade tal como alerta Saviani (2005b p 257)
O desafio posto pela sociedade de classes do tipo
capitalista agrave educaccedilatildeo puacuteblica soacute poderaacute ser enfrenshy
tado em sentido proacuteprio isto eacute radicalmente com
a superaccedilatildeo dessa forma de sociedade A luta pela
escola puacuteblica coincide portanto com a luta pelo
socialismo por ser este uma forma de produccedilatildeo
que socializa os meios de produccedilatildeo superando sua
apropriaccedilatildeo privada Com isso socializa-se o saber
viabilizando sua apropriaccedilatildeo pelos trabalhadores
isto eacute pelo conjunto da populaccedilatildeo
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rascunho_digitaltextos669htm gt Acesso em 13 jul 2012
CAPIacuteTULO V
0 MMA COMO NOVA FACE DA LUTA ESPETAacuteCULO
Adriano de Paiva Reis
Graziany Penna Dias
Rafael Loures dos Reis Bellei
Renata Aparecida Alves Landim
O presente capiacutetulo tem por intenccedilatildeo trazer
contribuiccedilotildees sobre a possibilidade de trabalho
com o conteuacutedo lutas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica Entendemos que abordar as lutas na escola
natildeo eacute tarefa faacutecil pois esse conteuacutedo impotildee como
veremos algumas dificuldades ateacute mesmo pela
compreensatildeo equivocada dos proacuteprios professoshy
res e comunidade escolar sobre esse elemento da
cultura corporal Natildeo obstante compreendemos
que o trabalho pedagoacutegico com esse conteuacutedo eacute
possiacutevel e necessaacuterio pois nosso objetivo eacute que os
alunos ultrapassem uma concepccedilatildeo sincreacutetica e
caoacutetica sobre a realidade a partir da apropriaccedilatildeo
de conhecimentos que os permitam superar as vishy
sotildees parciais que predominam no senso comum
Partindo desse pressuposto optamos por
abordar uma temaacutetica que tem chamado a atenshy
ccedilatildeo de nossos alunos na atualidade o fenocircmeno
das Artes Marciais Mistas modalidade de luta
esportiva alardeada pela miacutedia e alvo de muitas
polecircmicas Nossa perspectiva neste texto seraacute reashy
lizar uma breve discussatildeo sobre o tema e apontar
referecircncias metodoloacutegicas para seu tratamento
nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica em conformidade com o referencial teoacuterico-
-metodoloacutegico proposto pelo Coletivo de Autores (1992)
As lutas e seu lugar na escola formaccedilatildeo de lutadores ou sujeitos
A partir da definiccedilatildeo do grande campo da cultura corporal as
lutasartes marciais1 passaram a figurar como importante conteuacutedo
das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica O reconhecimento da necessidade de
tratamento pedagoacutegico das lutas na escola pode ser comprovado em
diversas orientaccedilotildeespropostas curriculares em niacutevel nacional estashy
dual e municipal e em escritos de diversos autores da aacuterea
Natildeo obstante em que pese essa produccedilatildeo ela ainda tem sido
incipiente em termos de lograr accedilotildees (pedagoacutegicas) efetivas para os
diferentes niacuteveis da educaccedilatildeo escolar A parca produccedilatildeo cientiacutefica
abordando as lutas na escola pode ser comprovada se comparada agrave
produccedilatildeo de outros conteuacutedos como o esporte o jogo e a ginaacutestica
Os professores de Educaccedilatildeo Fiacutesica tambeacutem apontam algumas
dificuldades ao procurar trabalhar esse conteuacutedo em suas aulas
como a falta de materiais roupas e espaccedilos adequados De acorshy
do com Nascimento e Almeida (2007) os principais argumentos
para a restriccedilatildeo do trabalho com o conteuacutedo satildeo a falta de vivecircncia
cotidianaacadecircmica em lutas por parte dos professores e a preocushy
paccedilatildeo com a violecircncia que julgam ser intriacutenseca agrave praacutetica das lutas
tornando-as incompatiacuteveis com as finalidades da escola
Apesar de compreendermos esses argumentos acreditamos que
devemos lutar pela formaccedilatildeo continuada e pelos recursos materiais que
nos permitam trabalhar de forma ainda mais qualificada com as lutas
por serem importantes conteuacutedos para a Educaccedilatildeo Fiacutesica De acordo
com os pressupostos que este coletivo se propotildee a trabalhar entendeshy
mos que as lutas configuram-se como um dos elementos da cultura
1 A lguns autores operam distinccedilotildees conceituais entre os termos Artes Marciais
e Lutas Respeitando os objetivos e limites deste texto optamos por natildeo entrar
nesta polecircmica e trabalhar os dois termos dentro do conteuacutedo lutas Partimos do
pressuposto de que apesar de nem toda luta ser considerada uma arte marcial toda
arte marcial eacute em si uma luta Para aprofundar neste assunto ver Lanccedilanova (2006)
corporal dada sua importacircncia nos mais diversos periacuteodos histoacutericos e
pela perspectiva da sua produccedilatildeo com base na realidade sociai concreta
sendo essa accedilatildeo elemento singular do gecircnero humano3 e que por isso se
diferencia da accedilatildeo instintiva do atacar e defender dos animais
As lutas estatildeo presentes nos mais variados espaccedilos como nas atishy
vidades extracurriculares de muitas escolas nas Olimpiacuteadas em acashy
demias nos clubes e na miacutedia (das mais variadas formas) fazendo os
alunos terem uma aproximaccedilatildeo maior com essa manifestaccedilatildeo corporal
Entretanto esse contato se faz geralmente na perspectiva do senshy
so comum reduzindo as lutas aos coacutedigos do esporte de rendimento
em que pesem por exemplo a oficializaccedilatildeo de regras comparaccedilatildeo de
resultados institucionalizaccedilatildeo racionalizaccedilatildeo das praacuteticastreinamenshy
to e busca da maximizaccedilatildeo do desempenho elementos proacuteprios do
processo de esportivizaccedilatildeo a que outras manifestaccedilotildees como o jogo e
a danccedila vem sofrendo tambeacutem (GONZAacuteLEZ 2005)
O boxe eacute um bom exemplo desse processo de esportivizashy
ccedilatildeo Ele foi criado a partir de disputas nas feiras da Inglaterra
dos seacuteculos XV III e X IX e sua sistematizaccedilatildeo como esporte se
deu mediante o objetivo de organizar o tempo livre4 dos trabashy
lhadores das faacutebricas bem como ldquodosarrdquo a violecircncia O mesmo
aconteceu com a luta greco-romana e mais tarde com as lutas
2 Na linha do Coletivo de Autores (1992 p 38) a cultura corporal eacute o ldquo[] acervo de
formas de representaccedilatildeo do mundo que o homem tem produzido no decorrer da histoacuteria
exteriorizadas pela expressatildeo corporal jogo danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte
malabarismo contorcionismo miacutemica e outros que podem ser identificados como formas
de representaccedilotildees simboacutelicas de realidades vividas pelo homem historicamente criadas e
culturalmente desenvolvidasrdquo
3 A expressatildeo gecircnero humano eacute utilizada no lugar de espeacutecie humana natildeo por acaso mas
pautada nas elaboraccedilotildees de Duarte (2001) O autor natildeo descarta a ideia de que o ser humano
faz parte da espeacutecie humana poreacutem ele avanccedila nessa elaboraccedilatildeo De acordo com ele a
categoria espeacutecie humana se refere agrave identificaccedilatildeo do homem por seus elementos bioloacutegicos
jaacute a categoria gecircnero humano destaca as caracteriacutesticas humanas que satildeo formadas ao longo
da histoacuteria social natildeo transmissiacuteveis pela heranccedila geneacutetica ldquoA categoria de gecircnero humano
natildeo se reduz agravequilo que eacute comum a todos os homens natildeo eacute uma mera generalizaccedilatildeo de
caracteriacutesticas empiricamente verificaacuteveis em todo e qualquer ser humano Gecircnero humano
eacute uma categoria que expressa a siacutentese em cada momento histoacuterico de toda objetivaccedilatildeo
humana ateacute aquele momentordquo (DUARTE 2001 p 26)
4 Estamos entendendo tempo livre como aquele livre das obrigaccedilotildees sociais e cotidianas
pois no modelo social em que vivemos nenhum tempo pode ser considerado livre mas
regulado por alguma determinaccedilatildeo social Para saber mais ver Mascarenhalaquo
orientais (Caratecirc Taekwondocirc Kung-fu Jiu-jistu Judocirc etc) o
que nos permite apontar uma mudanccedila paradigmaacutetica das lutas
desde suas origens ateacute os dias atuais
De um modo geral as lutas tecircm suas conotaccedilotildees primordiais
associadas agraves praacuteticas para a guerra sendo posteriormente adotadas
como um caminho para se alcanccedilar um estilo de vida mais equilibrashy
do e paciacutefico Nessa linha Hausen (2004) descreve o processo histoacuterishy
co de desenvolvimento das lutas de origem oriental que surgiram de
danccedilas praticadas no periacuteodo neoliacutetico e foram sendo sistematizadas
com o intuito de defesa mas para aleacutem disso elas foram adquirindo
sentidossignificado mais amplos como a busca de aprimoramento
corporal espiritual eacutetico moral e intelectual
Nos dias atuais as lutas se apresentam de forma massificada e
descaracterizada dos seus objetivos originais como os filosoacuteficos e os
de desenvolvimento humano (BARROS GABRIEL 2011) Os filshy
mes desenhos animados jogos virtuais e academias de ginaacutestica enshy
tre outros espaccedilos muitas das vezes deturpam os significados autecircnshy
ticos das lutas fazendo com que esse importante elemento cultural se
perca diante das demandas do capitalismo internacionalizado
Quase sempre encaradas como espetaacuteculos maravilhosos de pancadashy
ria e violecircncia a miacutedia deturpa o sentido e significado original das lutas torshy
nando-as sinocircnimo de violecircncia e crueldade com os inimigos Este imagishy
naacuterio criado faz com que os praticantes de lutas se tornem super-heroacuteis que
combatem o mal atraveacutes da violecircncia que gradativatildemente ldquodessensibiliza
os mais novos acerca da violecircncia do choque e do terror de ver algueacutem senshy
do agredido Desenvolvendo essa toleracircncia agrave violecircncia precisaratildeo de cada
vez mais violecircncia para serem entretidos rdquo (LANCcedilANOVA 2006 p 7)
A defesa que fazemos em torno desse conteuacutedo se daacute na compreshy
ensatildeo de que essa manifestaccedilatildeo da cultura corporal muito tem a con-
5 Segundo Marta (2009) a disseminaccedilatildeo das artes marciais orientais para outros paiacuteses
desencadeou um processo de ocidentalizaccedilatildeo com progressiva transformaccedilatildeo das
mesmas em produtos que para tornarem-se mais acessiacuteveisaceitaacuteveis comeccedilam a ser
destituiacutedos de seus rituais e valores tradicionais sendo a esportivizaccedilatildeo um elemento
chave desse processo Vale lembrar que a ocidentalizaccedilatildeo natildeo ocorre apenas com as
lutas mas com toda a cultura de tal modo que podemos falar em ocidentalizaccedilatildeo da
comida da moda do padratildeo de beleza dos estilos de vida das praacuteticas corporais etc
tribuir na formaccedilatildeo criacutetica do nosso aluno visto que a atuaccedilatildeo como
sujeito histoacuterico requer o acesso aos conhecimentos acumulados sobre
as lutas e seus significados como realidades histoacuterico-sociais
Compreendemos que cada tipo de luta eacute uma manifestaccedilatildeo
dotada de trajetoacuteria singular pois satildeo criadas pelos homens conshy
forme os interesses sociais culturais poliacuteticos econocircmicos e filoshy
soacuteficos nos vaacuterios periacuteodos histoacutericos e modos de produccedilatildeo6 Desse
modo as lutas tornam-se campo feacutertil na compreensatildeo da realidashy
de como produccedilatildeo histoacuterica e que por isso podem ser reinventashy
das segundo suas necessidades e interesses Aliaacutes o fazer histoacuteria eacute
expressatildeo proacutepria do gecircnero humano Nas palavras de Hobsbawm
(2010) enquanto houver ser humano haveraacute histoacuteria
A perspectiva de trabalho com as lutas dentro da escola natildeo
tem como objetivo formar o lutador de certa modalidade mas sim
formar o sujeito histoacuterico E pensar isso perfaz entender que o ensishy
no de lutas justifica-se quando ele possibilita ao aluno compreender
de forma criacutetica os condicionantes histoacutericos e sociais que fizeram
das lutas o que satildeo hoje bem como possibilitar-lhe usufruir sob
outras perspectivas o praticarvivenciar essa manifestaccedilatildeo
Artes Marciais Mistas
O resultado de toda essa esportivizaccedilatildeoocidentalizaccedilatildeo das
artes marciais da falta de sensibilidade dessa sociedade cada vez
mais competitiva e da busca incansaacutevel por audiecircncia e conseshy
quentemente por lucro se cristaliza em uma simples sigla ldquoianshy
querdquo MMA Mixed M artial Arts) ou Artes Marciais Mistas O
M M A eacute uma luta esportiva em que teacutecnicas de variadas modalishy
dades de lutasartes marciais satildeo utilizadas devidamente esvaziashy
das de seus significados filosoacuteficos e histoacutericos originais e com um
acreacutescimo de brutalidade dotada de sentido econocircmico
6 Modo de produccedilatildeo eacute uma categoria utilizada por Marx com o intuito de discriminar
as diferenccedilas que cada eacutepoca histoacuterica possui em funccedilatildeo das suas forccedilas produtivas e
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo Assim podemos falar em modo de produccedilatildeo escravista
feudalista capitalista Para saber mais ver Huni (2005)
Selecionamos como temaacutetica dessa unidade de lutas essa
modalidade por entendermos que seu apelo midiaacutetico tem chashy
mado muita atenccedilatildeo entre os jovens em nossa sociedade nos uacutelshy
timos anos Essa popularizaccedilatildeo traz algumas questotildees que devem
ser socializadas e discutidas com nossos alunos tais como a orishy
gem dessa luta esportiva o papel da miacutedia na sua difusatildeo a sua
relaccedilatildeo com a violecircncia e com a mercadorizaccedilatildeo das lutas entre
muitas outras que possam surgir de acordo com o interesse e
aprofundamento dos alunos na temaacutetica
Os primeiros indiacutecios de lutas mistas estatildeo relacionados com
a Greacutecia antiga Tal luta era denominada de Pankration uma
combinaccedilatildeo de duas palavras gregas p a n que significa tudo ou
vaacuterios e kratos que significa forccedila7 Mas registros de algo pareshy
cido ressurgem por volta da segunda deacutecada do seacuteculo passado
aqui no Brasil quando membros da famiacutelia Gracie a fim de
divulgar uma modalidade de luta por eles adaptada do Jiu-jitsu
japonecircs e mais tarde denominada Jiu-jitsu brasileiro criaram o
ldquoGracie Challengerdquo ou ldquoDesafio dos Gracierdquo Os irmatildeos Gracie
desafiavam qualquer lutador de qualquer modalidade a fim de
demonstrar que a sua teacutecnica era mais eficiente Esses desafios
ficaram conhecidos como Vale-Tudo8 (AWI 2012)
Mais tarde no iniacutecio dos anos de 1990 nos EUA Rorion Gracie
e outros soacutecios criaram o primeiro torneio UFC (Ultimate Fighting
Championship) Com um formato um pouco diferente dos torneios de
ldquoVale-Tudordquo anteriores - como por exemplo o abandono do ringue e
7 O Pankration era unia espeacutecie de luta de solo que fazia parte das provas dos Jogos
Oliacutempicos sendo um dos acontecimentos mais populares da antiguidade Segundo Elias
e Dunning (1992) o niacutevel de violecircncia permitido nessa luta era muito elevado as regras
eram tradicionais e muito flexiacuteveis havia um juiz mas natildeo havia limite de tempo e o
combate durava ateacute que um dos oponentes desistisse por isso muitas vezes terminava com
a mutilaccedilatildeo ou morte do adversaacuterio O Pankration natildeo pode ser considerado um esporte
pois esse termo soacute pode ser suficientemente utilizado a partir do seacuteculo XV III em referecircncia
agraves praacuteticas corporais regidas por regras escritas e regulamentadas por instituiccedilotildees especiacuteficas
8 No fim da deacutecada de 1920 ocorreu o primeiro confronto puacuteblico desse gecircnero na ocasiatildeo
foi chamado de estilo versus estilo soacute depois a imprensa comeccedilou a se referir a esse confronto
como Vale Tudo (AWI 2012) Na deacutecada de I960 a violecircncia de algumas lutas criou uma
resistecircncia ao Vale Tudo que chegou a ser proibido no Brasil Ele ressurgiu entre as deacutecadas
de 1980 e 1990 num combate entre lutadores de Jiu-jitsu e Luta Livre mas enfraqueceu
novamente devido ao alto grau de violecircncia inclusive por parte do puacuteblico (MM A 2010)
a criaccedilatildeo do octoacutegono9 mdash o UFC chamou a atenccedilatildeo com lutadores de
diversas modalidades se enfrentando com regras miacutenimas e sem restrishy
ccedilatildeo de tempo Logo surgiram outros torneios como ldquoPRIDErdquo e ldquoOpen
Free Style Japanrdquo que se tornaram sucesso nas TV s por assinatura Poshy
reacutem juntamente com o sucesso de espectadores10 vieram as restriccedilotildees
em diversos estados por todos os EUA (MMA 2010)
Em pouco tempo de existecircncia dessas competiccedilotildees os lutashy
dores perceberam que aliar as diversas modalidades de lutas que
permitissem a eles lutarem em peacute e no chatildeo os tornaria mais comshy
petitivos Essa mistura de estilos de lutas e habilidades se tornou
conhecida como Artes Marciais Mistas (D ISCOVER UFC 2012)
Natildeo apenas Anderson mas nossos melhores lutadores
sabem se moldar de acordo com a situaccedilatildeo diante
das adversidades E uma qualidade indispensaacutevel do
MMA Por permitir o uso de golpes das mais diversas
modalidades o esporte acaba premiando a capacidashy
de de improviso do atleta diante de tantas variaacuteveis
Nisso as artes marciais mistas se assemelham agrave paixatildeo
nacional o futebol notoriamente um dos esportes
que menos se presta a ldquoensaiosrdquo e um dos mais impreshy
visiacuteveis que existem (AWI 2012 p 289)
No iniacutecio do seacuteculo XXI o UFC retorna reformulado com reshy
gras mais riacutegidas para poder agradar as autoridades que antes o proishy
biram limite de tempo divisatildeo de categorias por peso e seleccedilatildeo crishy
teriosa de lutadores De acordo com Awi (2012) hoje o MMA em
seus principais eventos eacute um esporte regulamentado com exames
perioacutedicos testes antidoping e regras bem claras
Na atualidade o UFC marca que domina 90 do mercashy
do mundial do M M A vincula o espetaacuteculo de entretenimento ao
consumo dos mais diversos produtos como aparelhos de ginaacutesshy
tica roupas videogames bonecos e DVDs Uma noite do evento
9 v -Segundo Rorion Grace a ideia do octoacutegono (espeacutecie de jaula com oito lados) era
justamente impedir os lutadores de fugirem do espaccedilo de luta durante a ldquopancadariardquo a
fim de atrair mais puacuteblico e chegar agrave televisatildeo (M M A 2010)t10 Na primeira ediccedilatildeo do UFC 85 mil lares americanos pagaram para ver a luta ao
vivo na televisatildeo na segunda foram 120 mil na terceira 180 mil e na quarta 260
mil pagantes (AW I 2012)
gera em meacutedia 70 milhotildees de reais Estima-se que a marca ldquoUFCrdquo
comprada haacute 12 anos por 2 milhotildees de doacutelares hoje eacute avaliada
em mais de 13 bilhatildeo de doacutelares 11 (AWI 2012) Neste quadro o
M M A ascende como ldquonovardquo face da luta-espetaacuteculo12 assumindo
o posto outrora ocupado pelo boxe que hoje estaacute em segundo plashy
no dentro do mercado das lutas esportivas
O esporte hoje eacute considerado ldquofebre mundialrdquo o nuacutemero de fatildes
soacute aumenta com o passar dos anos e as criacuteticas tambeacutem Recentemenshy
te em entrevista ao jornal Folha de Satildeo Paulo o bi-campeatildeo mundial
de boxe Eder Jofre fala criticavam o boxe porque era violento mas
perto do M M A eacute baleacute (PERTO 2012) E as criacuteticas natildeo param
por aiacute outra pessoa a questionar a civilidade da modalidade foi um
dos fundadores da torcida organizada ldquoGaviotildees da Fielrdquo considerada
uma das mais violentas do paiacutes Questionado sobre a violecircncia das
torcidas organizadas hoje em dia Chico Malfitanni em entrevista agrave
Folha de Satildeo Paulo declara ldquoos meios de comunicaccedilatildeo satildeo os maiores
incentivadores Outro dia o Sportv estava metendo o pau nas orgashy
nizadas agraves 1 lh30 da manhatilde Nisso entram cenas do MMA sangue
escorrendo O Galvatildeo [Bueno] gritando direita esquerda o cara soshy
cando o outro e isso eacute civilizadordquo (REIS 2012)
Apesar de algumas regras terem sido incluiacutedas para proibir eou limishy
tar o uso de alguns golpes durante os combates o niacutevel de violecircncia preshy
sente nas lutas de M M A eacute inegaacutevel De acordo com Awi (2012 p 19-20)
E rarissiacutemo uma ediccedilatildeo do UFC que termine
sem que pelo menos um lutador tenha de receshy
ber atendimento hospitalar antes de voltar para
casa Embora ateacute hoje soacute se tenha registrado duas
mortes por conta de lesotildees sofridas durante um
combate a variedade de golpes tramaacuteticos potildee em
11 O UFC eacute apontado pelos executivos americanos como a marca esportiva mais valiosa dos
Estados Unidos agrave frente da NFL (Futebol Americano) e da NBA (Basquete) Segundo
Awi (2012) Dana White e os irmaacuteos Fertita atuais administradores do UFC deram
o grande pulo do gato da marca ao perceberem que naacuteo bastava a luta era preciso
transformaacute-la num espetaacuteculo de entretenimento de massas
12 Utilizamos o termo ldquonovardquo entre aspas porque consideramos que o formato do M M A eacute novo
mas o seu conteuacutedo naacuteo eacute pois revela a apropriaccedilatildeo de teacutecnicas de lutas jaacute existentes
risco sim a integridade fiacutesica dos lutadores Mas
tambeacutem eacute verdade que o niacutevel de seguranccedila hoje eacute
bastante aceitaacutevel mdash e natildeo para de crescer
A polecircmica sobre o niacutevel de agressividade que envolve os comshy
bates de Artes Marciais Mistas traz agrave tona uma importante reflexatildeo
estaria o M M A incitando a violecircncia entre as pessoas
De acordo com Freire (2012) a questatildeo natildeo eacute tatildeo linear asshy
sim pois a agressividade presente no M M A natildeo seria a mesma
temida pelas pessoas em seus cotidianos mas sim a violecircncia transshy
formada em um espetaacuteculo de entretenimento O autor defende
seguindo a esteira de Nobert Elias que o puacuteblico experimenta um
momento de fruiccedilatildeo e prazer consumindo uma violecircncia controlashy
da por certas regrasteacutecnicas natildeo necessariamente praticando-a o
que poderia ser considerada uma conquista civilizatoacuteria13
Entretanto eacute importante destacar que o niacutevel de violecircncia
encontrado no M M A precisa ser compreendido no interior das
relaccedilotildees sociais capitalistas que na atualidade tecircm corroiacutedo o
tecido social No capitalismo a busca incessante pelo lucro eacute o
grande objetivo a ser atingido por isso a vidaintegridade do
lutador (visto como mercadoria viva) e o respeito ao adversaacuterio
soacute fazem sentido agrave medida que contribuem para esse objetivo
Nessa direccedilatildeo Duarte (2000) qualifica a sociedade capitalista
como hipoacutecrita pois ao transformar tudo em mercadoria ela
torna-se indiferente ao desenvolvimento moral dos indiviacuteduos
sendo que cedo ou tarde ela encontra meios de superar os lim ishy
tes outrora impostos para exploraccedilatildeo Assim agrave medida que se
torna mais aguda a crise da sociedade capitalista atual aumenta
13 Elias e Dunning (1992) evidenciam o caraacuteter de complementaridade entre esporte
e avanccedilo da civilizaccedilatildeo Os autores defendem que a criaccedilatildeo de regras sociais que
pacificaram as formas de disputa poliacutetica ocorre paralelamente ao desenvolvimento
de formas de exerciacutecio regulado da exciiacuteaccedilatildeo reprimida nas atividades seacuterias da vida
Neste contexto o esporte teria uma finalidade cataacutertica jaacute que deveria criar tensotildees
imaginaacuterias reguladas por teacutecnicas e regras permitindo a realizaccedilatildeo de uma violecircncia
controlada satisfazendo necessidades de excitaccedilatildeo dos participantes eou espectadores
ainda mais a alienaccedilatildeo da moral14 prevalecendo nesse contexto o
individualismo e o egoiacutesmo exacerbado
Desse modo o M M A tem demonstrado alinhamento com o prinshy
ciacutepio basilar do capitalismo a busca impiedosa pela valorizaccedilatildeo do cashy
pital sendo suas regras e apropriaccedilotildees teacutecnicas subordinadas a esse fim
O propoacutesito central dessa luta esportiva eacute manter o puacuteblico fascinado
para vender imagens roupas e demais mercadorias associadas agrave sua praacuteshy
tica Mas contraditoriamente o MMA por carregar em seu interior
fragmentos de diversas artes marciais e caracteriacutesticas do nosso tempo
desde que problematizado pode ajudar a entender os desafios e possishy
bilidades colocados para as lutas no contexto atual
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com as lutas
Com base nessa discussatildeo propomos uma unidade de ensino
que aborda o M M A como temaacutetica dentro do conteuacutedo lutas O plashy
no de unidade descrito abaixo foi elaborado para ser trabalhado com
alunos do oitavo ano do ensino fundamental
Seguindo os pressupostos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica o prishy
meiro passo eacute a identificaccedilatildeo dos dados da realidade onde temos uma
primeira impressatildeo dos alunos sobre o tema a ser trabalhado Como
atividade desse momento propomos organizar os alunos em gnipos
e pedir a eles que faccedilam um cartaz em uma folha de cartolina a parshy
tir de questotildees previamente elaboradas pelo professor As perguntas
enumeradas abaixo no plano de unidade deveratildeo ser respondidas
atraveacutes de ilustraccedilotildees fotografias eou reportagens que seratildeo disponishy
bilizadas para alunos atraveacutes de jornais esportivos ou paacuteginas da intershy
net A ideia geral eacute que os alunos indiquem qual eacute a luta mais famosa
14 De acordo com Duarte (2000) a discussatildeo sobre moral na sociedade capitalista eacute feita de
maneira alienada ou seja descolada dos valores que orientam a vida concreta das pessoas
Isso porque uma discussatildeo radical levaria agrave constataccedilatildeo de que o sistema capitalista eacute
avesso agraves questotildees morais jaacute que a proacutepria loacutegica do sistema eacute maximizar a exploraccedilatildeo dos
seres humanos sem limites para ampliar a acumulaccedilatildeo de capital Desse modo a base
concreta dessa alienaccedilatildeo moral eacute a proacutepria alienaccedilatildeo do trabalho atividade essencialmente
humana Nesse processo o homem eacute alienado natildeo apenas do produto e da atividade do
trabalho mas tambeacutem de si mesmo da relaccedilatildeo com o outro e com o gecircnero humano
na atualidade Esta atividade teraacute como objetivo averiguar o niacutevel de
compreensatildeo dos alunos sobre o M M A enquanto principal luta dos
tempos atuais Ao final desta atividade seraacute exposto aos alunos o conshy
teuacutedo e a temaacutetica que seraacute trabalhada questionando-os acerca do
que gostariam de saber a mais sobre o tema
Na problematizaccedilatildeo seratildeo levantadas algumas questotildees importanshy
tes para a discussatildeo do tema buscando orientar o aluno no processo de
apreensatildeo ativa do conhecimento Conforme pode ser visto no plano
de unidade seratildeo lanccediladas questotildees que abordam diversas dimensotildees
do conhecimento que seratildeo trabalhadas tais como o processo histoacuterico
de criaccedilatildeo do MMA sua evoluccedilatildeo as teacutecnicas baacutesicas desta luta os
interesses econocircmicos e as relaccedilotildees deste tema com a sociedade atual
A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento onde as atividades desenvolshy
vidas estatildeo voltadas para a aquisiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico por
parte dos alunos visando ampliar o niacutevel de consciecircncia dos mesmos
acerca do MM A e das suas interfaces com os tempos atuais No caso
em tela as atividades seratildeo exibiccedilatildeo de filmes e viacutedeos vivecircncia de
algumas modalidades de lutas discussotildees leituras de textos etc
A elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia pode ser verificada na cashy
tarse momento no qual haacute uma reinterpretaccedilatildeo da realidade desta
vez com o amparo do conhecimento cientiacutefico apreendido Como
sugestatildeo propomos a construccedilatildeo de um viacutedeo sobre os temas aborshy
dados a realizaccedilatildeo de um juacuteri simulado sobre o M M A e a criaccedilatildeo
de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais para debater o assunto
A ideia eacute que o aluno tenha se aproximado da percepccedilatildeo de que o
M M A eacute uma luta esportiva que utiliza teacutecnicas de diversas outras lushy
tas Na atualidade o MMA atraveacutes da marca UFC eacute uma das moshy
dalidades esportivas mais divulgadas e lucrativas do mundo Entreshy
tanto agrave medida que as teacutecnicas das lutas vatildeo sendo apropriadas para
seu uso competitivo nos torneios de M M A vai sendo aprofundado
o processo de descaracterizaccedilatildeo dessas modalidades em relaccedilatildeo aos
seus princiacutepios e valores originais O alto grau de violecircncia associado
agraves lutas dentro e fora dos octoacutegonos pode ser apontado como um
dos resultados desses processos de descaracterizaccedilatildeo
A uacuteltima etapa do plano de unidade eacute o retorno agrave praacutetica social ou
o momento de utilizar este conhecimento apreendido para uma nova
compreensatildeo e accedilatildeo sobre a realidade Assim propomos a divulgaccedilatildeo
dos materiais construiacutedos e socializaccedilatildeo com os outros alunos da escola
Plano de Unidade iMMA - a ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo
OBJETIVO GERAL
Compreender o M M A e suas relaccedilotildees com o mercado da luta-
-espetaacuteculo a fim de assumir uma postura criacutetica frente ao processo
de massificaccedilatildeo das lutas a partir desta modalidade
Toacutepicos de Conteuacutedo e objetivos especiacuteficos
1 - M M A que luta eacute essa
bull Ampliar conhecimentos sobre o MMA para distingui-lo de
outras modalidades de luta
bull Identificar os principais estilos de lutas seus golpes e
fundamentos teacutecnicos que compotildeem o MMA
2 - Origem e histoacuteria do M M A
bull Conhecer a origem e o processo de disseminaccedilatildeo do MMA
a fim de identificar a dinacircmica social que envolve a produccedilatildeo
dessa praacutetica da cultura corporal
3 - As lutas e seu processo de descaracterizaccedilatildeo
bull Diferenciar lutas de briga
bull Entender o processo de descaracterizaccedilatildeo das lutas
esportivizadas
bull Identificar o M M A como luta esportiva suas regras
categorias e competiccedilotildees
4 - M MA Miacutedia e Mercado a luta-espetaacuteculo como grande negoacutecio
bull Identificar o papel da miacutedia no processo de difusatildeo do
M M A
bull Compreender os interesses econocircmicos envolvidos nas
competiccedilotildees de MMA
5 - O MMA e a espetacularizaccedilaacuteo da violecircncia
bull Apreender a relaccedilatildeo entre o M M A e a espetacularizaccedilaacuteo da
violecircncia em nossa sociedade
bull Debater a relaccedilatildeo entre violecircncia e lutas
1) Praacutetica Social Inicial do Conteuacutedo
Material de Apoio Jornais e revistas esportivas (pode ser
feito tambeacutem na sala de informaacutetica utilizando os sites esportishy
vos mais populares) cartolinas canetinhas laacutepis de cor caneta
cola e tesoura
Accedilatildeo Dividir os alunos em grupos de no maacuteximo seis pesshy
soas A cada grupo deveraacute ser dado um questionaacuterio para ser
respondido na folha de cartolina e um nuacutemero suficiente de jorshy
nais esportivos (ou paacuteginas principais impressas dos noticiaacuterios
esportivos on-line) As perguntas satildeo
bull Qual eacute a luta mais famosa nos dias atuais
bull Quem eacute o melhor lutador atual
bull Quais satildeo as regras
bull Qual eacute o espaccedilo onde ela acontece
bull Quem a inventou
bull Onde podemos assistir esta luta
Os alunos deveratildeo procurar nos jornais fotografias eou reporshy
tagens sobre a luta que foi respondida como mais famosa (muito
provavelmente seraacute respondida que o M M A eacute a luta mais popular)
Os cartazes deveratildeo ser apresentados para os outros grupos
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3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO15
Quadro 2- Instrumentalizaccedilatildeo
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MMA que luta eacute
essa
Ampliar conhecimentos sobre o
MM A para distingui-lo de oushy
tras modalidades
Identificar os principais estilos
de lutas golpes e fundamenshy
tos teacutecnicos que compotildeem o
MMA
Conceituai
Teacutecnica
Pesquisa na sala de informaacutetica
Ler reportagens sobre o MMA
Viacutedeos imagens e textos
disponiacuteveis no blog ldquoConteshy
uacutedo e Meacutetodo nas aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Origem e histoacuteria
do M M A
Conhecer a origem e o processhy
so de disseminaccedilatildeo do MMA a
fim de identificar a dinacircmica soshy
cial que envolve a produccedilatildeo desshy
sa praacutetica da cultura corporal
HistoacutericaExibiccedilatildeo do Documentaacuterio da
Sportv sobre o MMA
Documentaacuterio ldquoMMA
a luta que levou o boxe agrave
lonardquo
Os links para acesso aos videos filmes e documentaacuterios citados no quadro abaixo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Disponiacutevel em lthttpcoledvoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012
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Gas
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(2011)
4) CATARSE
41- Siacutentese teoacuterica do aluno
A catarse seraacute demonstrada com registros durante as aulas exshy
pressando que o MM A (Mixed Martial Arts) eacute uma luta esportiviza-
da criada a partir de uma forma de disputa para a disseminaccedilatildeo do
Jiu-jitsu brasileiro como a melhor das artes marciais Eram embates
entre lutadores de teacutecnicas distintas com lutadores de Jiu-jitsu prinshy
cipalmente Com a exarcebaccedilatildeo da violecircncia principalmente fora dos
ringues a famiacutelia Grace se muda para os EUA e comeccedila a criar uma
nova forma de disputa com regras espaccedilo adequado e teacutecnicas espeshy
ciacuteficas Surge assim o Vale Tudo e posteriormente o UFC e outras
modalidades Atualmente o UFC eacute uma das modalidades esportivas
mais lucrativas do mundo e uma das mais violentas associando teacutecshy
nicas de diversas lutas (Boxe Jiu-jitsu Muai thay Aikidocirc etc) sem
contudo valorizar os aspectos filosoacuteficos e princiacutepios originais das lushy
tas como respeito ao adversaacuterio e a si mesmo Muitas pessoas treinam
MMA para brigas de rua e torneios sem contudo entender o sentido
da criaccedilatildeo destas teacutecnicas pois estatildeo descaracterizadas atendendo a
interesses econocircmicos que vatildeo muito aleacutem da simples autodefesa
42 - Expressatildeo da Siacutentese
Construccedilatildeo de um viacutedeo sobre o MMA abordando de forma
criacutetica os temas estudados nas aulas ou construccedilatildeo de cartazes reshy
alizaccedilatildeo de um juacuteri simulado discutindo a temaacutetica e criaccedilatildeo de um
foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a temaacutetica
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO
Quadro 3 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
Conhecer mais sobre o M M A e suas difeshy
renccedilas de outros estilos
Pesquisar ler textos e assistir viacutedeos
sobre o M M A
Contribuir para a socializaccedilatildeo dos conhecishy
mentos sobre as lutas e para divulgaccedilatildeo de
espaccedilos de discussotildees sobre as mesmas
Convidar os demais alunos da escola para
f acessarem os viacutedeos e participarem dos
foacuteruns de discussatildeo sobre as lutas
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (201 1)
Consideraccedilotildees Finais
A formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos 1 1 0 acircmbito da cultura corporal
passa pela apreensatildeo de conhecimentos teoacuterico-praacuteticos que permitam agir
criticamente frente aos grandes fenocircmenos esportivos para aleacutem de sua
aparecircncia No caso das lutas o pouco acesso aos conhecimentos histoacutericos
teacutecnicos e filosoacuteficos das mesmas pode contribuir para gerar a substituiccedilatildeo
de sua praacutetica salutar pelo consumo passivo de espetaacuteculos esportivos muishy
tas vezes regados com alto grau de violecircncia A proposta de ensino com a
tematizaccedilatildeo das Artes Marciais Mistas buscou contribuir para pensar no
papel de mediaccedilatildeo que a Educaccedilatildeo Fiacutesica pode ter na formaccedilatildeo de sujeitos
criacuteticos ao fenocircmeno de descaracterizaccedilatildeo e mercadorizaccedilatildeo das lutas
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CAPIacuteTULO VI
A VOZ DA PERIFERIA O HIP HOP ENQUANTO POSSIBILIDADE DE TRABALHO NAS AULAS DE EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA
Adriano de Paiva Reis
Carla Cristina Carvalho Pereira
Giovana de Carvalho Castro
Herbert Hischter Chaves de Paula
Marcelo Silva dos Santos
Apesar da infinidade de possibilidades de
trabalho nos curriacuteculos escolares historicamenshy
te a danccedila foi tratada pela escola numa perspecshy
tiva funcional tendo como objetivo principal a
formaccedilatildeo do corpo feminino em contrapartida
agraves praacuteticas ginaacutesticas destinadas aos homens1
O fato eacute que o trabalho com a danccedila nas
escolas quase natildeo eacute realizado ou eacute realizado de
forma superficial e esvaziada A danccedila eacute recoshy
nhecida como atividade extracurricular - geralshy
mente o aprofundamento do trabalho com as
teacutecnicas de uma determinada modalidade - ou
eacute tratada como componente folcloacuterico no inshy
terior das escolas seja pela Educaccedilatildeo Fiacutesica ou
1 A discussatildeo acerca das praacuteticas corporais destinadas a
homens e mulheres ao longo da histoacuteria da Educaccedilatildeo
Fiacutesica no Brasil pode ser encontrada em Ghiraldelli
Juacutenior (1994) O autor situa historicamente a visatildeo
sexista da Educaccedilatildeo Fiacutesica na sociedade brasileira
demonstrando o papel da ginaacutestica para moldar o corpo
saudaacutevel robusto e harmonioso dos homens enquanto
que para as meninas as praacuteticas eram voltadas para a
danccedila a expressatildeo corporal o teatro e a poesia visando
pela Educaccedilatildeo Artiacutestica limitando-se muitas vezes agrave montagem de
coreografias para festas e comemoraccedilotildees da escola Raramente a danccedila eacute
valorizada por ter um conhecimento proacuteprio e uma linguagem expresshy
siva especiacutefica (BRASILEIRO 2003 FIAM ONCINI 2003)
A resistecircncia dos alunos em participar das aulas de danccedila na esshy
cola constitui um fator a ser considerado assim como a dificuldade
por parte de muitos professores em trabalhar com esse conteuacutedo sob a
alegaccedilatildeo de natildeo possuiacuterem conhecimento especiacutefico em nenhuma moshy
dalidade de danccedila problema agravado pelos curriacuteculos predominanteshy
mente esportivizados da maioria dos cursos de graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo
Fiacutesica No entanto entendendo que a funccedilatildeo primordial da escola eacute
a socializaccedilatildeo do saber historicamente produzido (SAVIANI 1997)
coloca-se como tarefa fundamental a sistematizaccedilatildeo de uma praacutexis edushy
cativa superadora em danccedila tendo em vista proporcionar aos alunos
uma apreensatildeo contextualizada e criacutetica acerca dessa linguagem
Na perspectiva da reflexatildeo sobre a cultura corporal a danccedila - enshy
tendida enquanto uma das expressotildees do patrimocircnio cultural da hushy
manidade - eacute um conteuacutedo a ser conhecido estudado produzido no
acircmbito escolar Nesta linha eacute preciso que o professor rompa com as
formas tradicionais mecanizadas e estereotipadas de danccedila proporshy
cionando ao aluno o conhecimento de suas verdadeiras possibilidades
corporais desenvolvendo a criatividade e a expressividade
A escolha da temaacutetica a ser abordada nas aulas deve partir
da necessidade de compreensatildeo e explicaccedilatildeo da realidade concreshy
ta do aluno oferecendo subsiacutedios para que ele compreenda os
determinantes soacutecio-histoacutericos de sua condiccedilatildeo de classe social
(C O LE T IV O DE AUTORES 1992)
Neste sentido escolhemos abordar o break enquanto modalishy
dade de danccedila atrelada ao movimento Hip Hop A definiccedilatildeo dessa
temaacutetica deveu-se agrave sua popularidade entre os alunos e agrave confusatildeo
conceituai acerca do Hip Hop uma vez que este eacute tratado apenas
como um estilo musical ou uma forma de danccedilar Assim torna-se neshy
cessaacuterio abordar e discutir as contradiccedilotildees existentes entre a essecircncia
do Hip Hop enquanto movimento de criacutetica e contestaccedilatildeo social e
sua mercadorizaccedilatildeo c esvaziamento pelos meios de comunicaccedilatildeo
O Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia e criacutetica social
O Hip Hop natildeo eacute apenas um estilo musical ou um tipo de
danccedila Trata-se na verdade de uma importante manifestaccedilatildeo culshy
tural produzida enquanto um movimento de resistecircncia da perishy
feria da classe menos favorecida - que natildeo coincidentemente eacute
representada majoritariamente por negros2 A origem do termo eacute
bastante controversa mas muitos pesquisadores atribuem sua criashy
ccedilatildeo a Afrika Bambaataa3 Suas origens remontam aos EUA por
volta dos anos de 1970 nos subuacuterbios de Nova York e de Chicago
atrelado agraves expressotildees culturais das comunidades jamaicanas latishy
nas e afro-americanas Nesses guetos - habitados majoritariamente
por uma populaccedilatildeo negra4 e assolados pela pobreza traacutefico de
drogas racismo ausecircncia de educaccedilatildeo e de espaccedilos de lazer mdash o
movimento Hip Hop nasceu a partir de accedilotildees para conter a violecircnshy
2 Satildeo os negros que ocupam a maioria das estatiacutesticas de desemprego mortalidade infantil
analfabetismo que possuem as piores condiccedilotildees de moradia a maioria que ocupa os
presiacutedios e as ruas etc A discussatildeo sobre a marginalizaccedilaacuteo do negro no Brasil ganha forccedila a
partir dos anos iniciais deste seacuteculo demonstrando a importacircncia do movimento negro no
cenaacuterio dos movimentos sociais no paiacutes Entretanto dentro do proacuteprio movimento negro
natildeo haacute unidade principalmente no que se refere agrave discussatildeo entre a relaccedilatildeo raccedilaclasse Por
esta razatildeo achamos fundamental demarcar nossa posiccedilatildeo dentro dessa discussatildeo apesar
de estarmos atentos ao fato de que uma das caracteriacutesticas do capitalismo eacute ser indiferente
agraves identidades sociais das pessoas que explora o fato de natildeo necessitar natildeo significa que
de fato natildeo se aproveite e natildeo decirc continuidade agrave opressatildeo racial O capitalismo que
massacra trabalhadores mundo afora eacute ainda mais perverso com aqueles setores que foram
marginalizados como eacute o caso dos negros (W O O D 2003)
3 Afrika Bambaataa - pseudocircnimo de Kevin Donovan - eacute de forma quase unacircnime
considerado o responsaacutevel por plantar as bases sobre as quais o Hip Hop se desenvolveu
Nascido e criado no violento bairro do Bronx (Nova Iorque) chegou agrave lideranccedila dos Black
Spades uma das mais fortes e violentas gangues da regiatildeo Sua vida comeccedilou a mudar
quando numa viagem agrave Aacutefrica no iniacutecio dos anos 1970 assistiu ao filme Zulu sobre
a luta entre africanos e ingleses no seacuteculo X IX Foi deste documentaacuterio que ele retirou o
nome pelo qual eacute conhecido hoje O filme tambeacutem despertou no mesmo um novo olhar
acerca de suas origens motivando-o a formar sua proacutepria naccedilatildeo Zulu bem como a buscar
raquo meios para cooptar jovens das gangues para ela Disponiacutevel em lthttpogloboglobo
comculturaconsiderado-pai-do-hip-hop-do-funk-carioca-afrika-bambaataa-faz-show-
no-rio-303106lixzz20554zE00gt Acesso cm 2 ago 2012
4 Aleacutem dos negros os guetos de Nova York eram ocupados por imigrantes latinos oriundos
principalmente do Meacutexico e de Porto Rico tambeacutem considerados inferiores por sua pele
morena e olhos indiacutegenas herdados de seus antepassados tambeacutem escravizados
cia e promover a conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessishy
dade de luta contra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis
Desta forma o Hip Hop atrela-se agraves calorosas discussotildees que trashy
zem agrave tona os embates e as contradiccedilotildees da sociedade norte-americana
Neste contexto emergem lideranccedilas negras como Martin Luther King
e Malcom X e grupos que lutavam pela igualdade de direitos como
os Panteras Negras Embora divergentes em suas propostas agregaram
em torno de suas ideias uma populaccedilatildeo que ansiava por mudanccedilas no
modelo social entatildeo vigente que condenava a populaccedilatildeo negra a uma
invisibilidade negando-lhe a possibilidade de uma efetiva participaccedilatildeo
social e poliacutetica Tais demandas refletiram na produccedilatildeo musical e o
rock mdash que tambeacutem nasceu negro tatildeo aderente nos anos de 1960 mdash
mostrou-se impotente para dar voz a esse novo contexto
Os guetos abraccedilaram o soul e prestaram reverencia a muacutesicas como
uSay it loud Im black and proudrdquo (diga alto sou negro e orgulhoso)
cantada aos berros por James Brown inspirado na frase do liacuteder sul africano
Steve Biko Ao soul juntou-se o ftink furioso do qual James Brown tamshy
beacutem foi um iacutecone imageacutetico Estava pronto o terreno do qual brotaria o
Hip Hop lanccediladas as sementes do soul do funk e da luta pelos direitos civis
da populaccedilatildeo negra A ele se uniu o rap que remonta as raiacutezes da oralidade
africana sintetizada na figura dos griots5 Os guetos apropriaram-se desta
tradiccedilatildeo e a reinventaram atraveacutes das batalhas de improviso que contavam
histoacuterias de seu cotidiano marcando assim o nascimento do freestyle6
Outra figura fundamental para o Hip Hop foi o DJ Kool Herc
imigrante jamaicano a quem se atribui a criaccedilatildeo dos breaks (trechos de
muacutesicas usados como bases) No final dos anos de 1960 Herc trouxe da
Jamaica para o Bronx a teacutecnica dos famosos sound systems de Kingston
5 Os ldquogriotsrdquo satildeo os guardiotildees inteacuterpretes e cantores da histoacuteria oral de muitos povos
africanos A figura do griot tem uma enorme importacircncia na preservaccedilatildeo da palavra da
narraccedilatildeo do mito africano ldquoNa praacutetica eles funcionam como escritores sem papel nem
pena Ortografam na oralidade aquilo que deve permanecer embutido na memoacuteria e no
coraccedilatildeo dos seus familiares e conterracircneos no sentido de manter incrustada a identidade
do seu ser e das suas raiacutezes fundamentada em grande parte no seu passado e nos seus
predecessoresrdquo BIJOacute1AS Maria Griots mdash os inteacuterpretes musicais da Histoacuteria africana
Disponiacutevel em lthttpwwwruadireitacommusicainfogriots-os-interpretes-musicais-
da-historia-africanagt Acesso em 23 jul 2012
6 Estilo livre muacutesica de improviso mediante desafios
Como os trechos usados como base eram curtos Herc teve a ideia de usar
um mixer e dois discos idecircnticos o que permitia a repeticcedilatildeo indefinida de
um determinado trecho da mesma muacutesica (PIMENTEL 1997)
Foi um disciacutepulo do DJ jamaicano mdash Grandmaster Flash - quem
criou o ldquoscratchrdquo que eacute a utilizaccedilatildeo da agulha do toca-discos arrashy
nhando o vinil em sentido anti-horaacuterio como instrumento musical
Aleacutem disso ldquoFlash entregava um microfone para que os danccedilarinos
pudessem improvisar discursos acompanhando o ritmo da muacutesica
(uma espeacutecie de repente-eleacutetrico que ficou conhecido como rap - os
lsquorepentistasrsquo satildeo chamados de rappers ou MCs isto eacute lsquomasters of ceri-
mony)rdquo (VIANNA JUacuteN IOR 1988 p 38)
Desta feita aos breaks aliou-se a forccedila das mensagens trazidas
pelos rappers atribuindo peso agrave expressatildeo mesmo sob condiccedilotildees lishy
mitadas de recursos e ausecircncia de instrumentos
Paralelamente ao rap outras manifestaccedilotildees artiacutesticas se desenshy
volviam nos guetos americanos Em meados da deacutecada de 1960 os
jovens dos subuacuterbios de Nova York comeccedilaram a ldquopicharrdquo as pareshy
des com seus nomes Assim surge o grafitti inicialmente como tag
(assinatura) como forma de retratar a realidade como forma de
participaccedilatildeo e de resistecircncia Logo a colocaccedilatildeo das tags em locais
cada vez mais inoacutespitos virou um novo elemento da disputa que foi
apropriado pelas gangues como forma de demarcaccedilatildeo de territoacuterios
dentro dos guetos Mais tarde o desenho foi introduzido ao tag
abrindo-se um novo leque de trabalhos para os grafiteiros
Na mesma eacutepoca surge o break dance nome atribuiacutedo pelo Dj
Herc para definir um estilo de danccedila caracterizado por miacutemicas imitashy
ccedilotildees de robocircs e acrobacias com influecircncias das mais diversas das artes
marciais agraves danccedilas urbanas da eacutepoca e que representassem os conflitos
e o cotidiano dos guetos nova-iorquinos O nome atribuiacutedo por Herc
justifica-se agrave medida em que ldquoos jovens que iam agraves festas danccedilavam no
Break da muacutesica que era o nome dado a sua teacutecnica de interromper a
batida mais forte da muacutesica como se ela estivesse quebrada e se repeshy
tisse por alguns segundosrdquo (SILVA 2010 p 32) A respeito da danccedila
Pimentel (1997 p 8) destaca que esta desenvolveu-se
[] ao sabor da contorccedilatildeo dos brcaks entre e dentro
das muacutesicas formando um novo corpo riacutetmico no inshy
terior das mesmas e conduzindo o DJ e seu puacuteblico a
uma nova forma de abordagem do tema reconstruiacutedo
e reinterpretaacutevel atraveacutes da danccedila das quebras riacutetmishy
cas Danccedilar o break consiste literalmente na execuccedilatildeo
de passos que procuram imitar essa ruptura e essa forshy
ma sincopada de reconstruir o proacuteprio ritmo
Nas ruas de Nova Iorque grupos (crews) se encontravam para
definir quem danccedilava melhor dando origem agraves chamadas batalhas ou rachas de break As batalhas entre as crews eram manifestaccedilotildees de
rua que tinham o propoacutesito de chamar a atenccedilatildeo do poder puacuteblishy
co sobre a situaccedilatildeo do afro-americano em relaccedilatildeo ao seu modo de
sobrevivecircncia e portanto tinham uma conotaccedilatildeo poliacutetica (LEAtildeO
2006) O break foi ganhando outros espaccedilos e passou a ser danccedilado
tambeacutem nas festas (as chamadas Black Parties)
Alguns autores consideram que o break no Hip Hop eacute formado
por trecircs estilos de danccedila originais o break bboying (caracterizada
pelos movimentos de chatildeo como top rock up rock foot work booga- loo e freeze aleacutem dos giros de cabeccedila mortais o moinho de vento7) o Popingg (estilo de danccedila urbana que foi incorporada ao Hip Hop
onde o danccedilarino imita robocircs aleacutem de ondulaccedilotildees com o tronco e
quadris) e o Locking (danccedila urbana incorporada ao Hip Hop que
indica as direccedilotildees no espaccedilo apontando o dedo) Por outro lado haacute
quem afirme que esses trecircs estilos satildeo danccedilas diferentes e somente o
break eacute a danccedila original por ser a primeira a ser incorporada como
elemento do Hip Hop (SILVA 2010)8
Desta feita rappers breakers e grafiteiros logo se viram diante
das mesmas anguacutestias e desafios cotidianos Daiacute para a coletiviza-
ccedilatildeo de suas accedilotildees foi um pequeno passo dando origem a naccedilotildees
associaccedilotildees posses e entidades para divulgaccedilatildeo do Hip Hop
7 A descriccedilatildeo e tutoriais desses movimentos estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e
Meacutetodo nas auias de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lt httpcoletivoedulisicajf
blogspotcombrgt Acesso em 12 dez 2012
8 Devido agrave riqueza de possibilidades consideramos os trecircs estilos para o trabalho
que realizamos com os alunos numa escola municipai de Juiz de Fora trabalho este
descrito ao final do presente artigo
Assim muito mais que ldquopular balanccedilando os quadrisrdquo - trashy
duccedilatildeo do termo do inglecircs - o Hip Hop configura-se como um
movimento social que busca promover a conscientizaccedilatildeo da popushy
laccedilatildeo jovem afro-americana atraveacutes da uniatildeo de diversas manifesshy
taccedilotildees artiacutesticas representadas por um conjunto de quatro elemenshy
tos a) o break que eacute a danccedila oficial praticada pelos Bboys e Bgirls
b) o rap que eacute o canto falado ao som de pick - ups ou mesmo de
ritmos feitos com a boca e o corpo c) o DJ (disk jockey) que atua
nos pick - ups acompanhando a falacanto dos MCs (mestre de
cerimocircnia) e d) o grafitti que eacute a arte nos muros vagotildees de trens
e espaccedilos deteriorados - uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para a
necessidade de revitalizaccedilatildeo desses espaccedilos (BENEDITO 2004)
E esse movimento que chega ao Brasil - influenciado pelo
lema do Black Power e pela admiraccedilatildeo aos Panteras Negras mdash
num contexto em que gangues urbanas conquistavam espaccedilo
embaladas por pequenos conflitos armados (armas brancas prinshy
cipalmente) e pelas muacutesicas do soul norte-americano Nosso ldquorashy
cismo agrave brasileirardquo natildeo dava margem para os conflitos diretos
pelos quais passou a sociedade norte-americana mas isso natildeo
significa a ausecircncia de poliacuteticas marginalizantes para a populaccedilatildeo
negra e afrodescendente no Brasil9
Como em outros paiacuteses diaspoacutericos o H ip Hop encontrou
no Brasil terreno feacutertil Sua chegada data de meados dos anos de
1980 em Satildeo Paulo Em 1988 foi lanccedilado o primeiro registro
fonograacutefico de rap nacional a coletacircnea ldquoHip-Hop Cultura de
Ruardquo pela gravadora Eldorado Com apoio puacuteblico da prefeitura
de Satildeo Paulo organizou-se a primeira associaccedilatildeo oficial de H ip
Hop no Brasil o M H 2 0 - Movimento Hip-Hop Organizado
9 A inserccedilatildeo do negro no poacutes-aboliccedilaacuteo tem sido alvo de diversos estudos Tais pesquisas
apontam para as dificuldades da populaccedilatildeo afrodescendente em ser reconhecida como
parte da sociedade brasileira e discutem o processo de marginalizaccedilatildeo imposto a esse
segmento Um dos aspectos mais relevantes dessa segmentaccedilatildeo eacute revelado nas pesquisas
que indicam a criminalizaccedilatildeo das praacuteticas culturais afrodescendentes presentes em nosso
coacutedigo penal ateacute 1940 Para maiores informaccedilotildees consultar Holloway (1997)
A descaracterizaccedilatildeo do Hip Hop a voz da periferia transmutada em mercadoria rentaacutevel
Identificamos hoje uma tentativa de esvaziamento e de descashy
racterizaccedilatildeo do H ip Hop enquanto movimento de luta e contestaccedilatildeo
social A induacutestria cultural vem cooptando essa forma de resistecircncia
em favor do capital transformando-o em um filatildeo de mercado vazio
de conteuacutedo histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico e ressignificado a partir
dos interesses da cultura hegemocircnica
O movimento mdash que sempre viveu e se propagou por fora dos
esquemas formais de comunicaccedilatildeo de massa sem espaccedilo nas raacutedios
comerciais e com trabalhos lanccedilados em gravadoras independentes
(MARTINS 1998) mdash atualmente ldquodesce o morrordquo indo parar nas
boates de classe meacutedia nas raacutedios e nas novelas e programas das prinshy
cipais emissoras de televisatildeo
A problemaacutetica da mercadorizaccedilatildeo do Hip Hop natildeo estaacute des-
zonectada do processo de transformaccedilatildeo e de mudanccedila que se faz
Dresente na sociedade de uma forma geral Jameson (2000) denuncia
^ue a emergente mudanccedila histoacuterica ocorrida na vida no ocidente para
jma nova forma de capitalismo trouxe a tese de que as questotildees cul-
urais tendem a se propagar para as econocircmicas e sociais Segundo o
iutor ldquoa produccedilatildeo das mercadorias eacute agora um fenocircmeno cultural no
lual se compram os produtos tanto por sua imagem quanto por seu
iacuteso imediato [] Nesse sentido a economia se transforma em uma
juestatildeo culturalrdquo (JAMESON 2000 p 22)
Na loacutegica cultural do capitalismo tardio onde o consumo
bull o principal meio de realizaccedilatildeo ldquoo prazer o lazer a seduccedilatildeo e a
ida eroacutetica satildeo trazidos para o acircmbito do poder do dinheiro e da
raquoreocupaccedilatildeo de mercadoriasrdquo (HARVEY 1992 p 99) Ao mes-
no tempo em que temos a sofisticaccedilatildeo das necessidades e dos seus
neios por um lado temos de outro uma abstrata simplificaccedilatildeo
las necessidades No campo especiacutefico da cultura a arte se tornou
ambeacutem uma mercadoria e o artista foi transformado em um pro-
utor de mercadorias (F ISCHER 1982)
Rappers ganharam status na induacutestria cultural sobretudo a
norte-americana e viraram ldquoastrosrdquo em todo o mundo Figuras como
Gangster RAP Dr Dree e Snoopy Dog aparecem na miacutedia preganshy
do e praticando a violecircncia adotando atitudes e produzindo letras
que demonstram hostilidade ao pobre e agrave mulher O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos contextos sendo empregashy
do para classificar um estilo de muacutesica de danccedila ou um jeito de se
vestir conhecido como estilo B-boy associado a marcas esportivas
especiacuteficas (boneacute tecircnis etc) Neste sentido
[] os aspectos do processo de mercadorizaccedilatildeo da
vestimenta das muacutesicas dos shows que possuem um
alto custo financeiro mostram essa refuncionaliza-
ccedilatildeo para garantir uma dada hegemonia tornando o
Hip Hop em determinados casos uma praacutetica disshy
tanciada da reflexatildeo de sua origem e da possibilidade
de ser uma forma de luta contra a opressatildeo Nesses
casos aquilo que servia para caracterizaacute-lo como
popular eacute justamente o que eacute transmutado o seu
sentido (AVILA et al 2005 p 64)
Aleacutem disso atraveacutes de poliacuteticas assistencialistas e compensashy
toacuterias o poder puacuteblico frequentemente apropria-se dos elementos
do Hip Hop num discurso apologeacutetico que o rotula enquanto
ldquosalvador da paacutetriardquo a partir da responsabilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos
pelas suas mazelas sociais justamente o oposto do que preconiza
o movimento O Hip Hop ligado agrave criacutetica poliacutetica e social e agrave
conscientizaccedilatildeo acerca da necessidade da organizaccedilatildeo coletiva tem
como intuito provocar mudanccedilas sociais e garantir direitos essenshy
ciais que satildeo responsabilidade do poder puacuteblico
Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo feita pelos meios de coshy
municaccedilatildeo a essecircncia do movimento permanece inalterada Atualshy
mente os movimentos organizados de Hip Hop buscam discutir a
discriminaccedilatildeo racial os problemas sociais a realidade da periferia
discussotildees estas materializadas nas letras do rap E esse Hip Hop
que pretendemos resgatar com nossos alunos contextualizando-o e
desvelando o que eacute a essecircncia desse movimento
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a danccedila
Elaboramos entatildeo um planejamento para ser desenvolvishy
do com alunos do 9o ano de uma escola municipal de Juiz de
Fora A proposta foi abordar o Hip Hop discutindo-o desde sua
origem enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social passhy
sando pela caracterizaccedilatildeo dos elementos que o compotildeem ateacute a
discussatildeo e anaacutelise criacutetica do que hoje eacute conhecido e difundido
pela miacutedia enquanto ldquoH ip Hoprdquo
Demos uma ecircnfase especial ao break por tratar-se de uma unishy
dade onde o conteuacutedo proposto era a danccedila Aqui tivemos espaccedilo
privilegiado para discutir as formas mecanizadas e estereotipadas de
danccedila impostas pela miacutedia e problematizamos a mera repeticcedilatildeo ou
imitaccedilatildeo a que muitas vezes se resumem as aulas de danccedila Numa oushy
tra perspectiva o break abre possibilidades de trabalhar a criatividade
e a expressividade jaacute que a essecircncia desse estilo eacute a improvisaccedilatildeo a (re)
criaccedilatildeo de movimentos Nas rodas de improvisaccedilatildeo cada participante
cria seu proacuteprio estilo e constroacutei suas sequecircncias de movimentos a
partir dos elementos teacutecnicos baacutesicos
Assim na identificaccedilatildeo da praacutetica social dividimos os alunos
em grupos e exibimos clipes de artistas diversos (Gabriel o pensador
Racionais M C rsquoS Beyonceacute Emicida etc) solicitando que ao final de
cada um eles respondessem em uma folha o nome e o estilo musical
do artista em questatildeo As respostas foram apresentadas a maioria deshy
las definia todos os clipes exibidos como sendo ldquoHip HoprdquoApoacutes esse primeiro momento iniciamos um debate com os alushy
nos lanccedilando algumas questotildees problematizadoras O que eacute Hip
Hop Hip Hop eacute danccedila O u eacute muacutesica Um estilo musical Como
surgiu o Hip Hop Existem muitos artistas negros no Hip Hop As
respostas dos alunos e a discussatildeo do tema foram registradas a fim de
fazer uma comparaccedilatildeo no final do trabalho
Na instrumentalizaccedilatildeo trabalhamos os seguintes toacutepicos de
conteuacutedo a histoacuteria do H ip Hop os quatro elementos que o
constituem (rap DJ grafitti10 break) bem como a influecircncia
dos meios de comunicaccedilatildeo na forma de disseminaccedilatildeo do Hip
Hop lanccedilando matildeo de recursos pedagoacutegicos como viacutedeos docushy
mentaacuterios reportagens letras de muacutesica dentre outros a fim de
que os alunos tivessem uma nova percepccedilatildeo do movimento Hip
Hop nas suas mais diversas dimensotildees No caso especiacutefico da
danccedila trabalhamos as teacutecnicas baacutesicas dos trecircs estilos de danccedila
do break (Bboing Popping e Locking) explorando a capacidade
de criaccedilatildeo e improvisaccedilatildeo dos alunos
Na catarse momento de elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia
dos alunos acerca do tema propomos a organizaccedilatildeo de um fesshy
tival de Hip Hop onde os alunos foram divididos em grupos e
demonstraram as teacutecnicas aprendidas bem como a exibiccedilatildeo de
um painel com os pontos abordados durante a unidade didaacutetica
No retorno agrave praacutetica social quando os alunos utilizam este
novo conhecimento para intervir criticamente na realidade soshy
cial a proposta foi realizar a produccedilatildeo de textos dos temas aborshy
dados nas aulas divulgando-os em um blog
PLANO DE UNIDADE
Tiacutetulo da Unidade O Movimento Hip Hop e a induacutestria cultural
OBJETIVO GERAL
Compreender o Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia
expressatildeo e denuacutencia de um grupo social
10 Ao elaborarmos o planejamento e apresentarmos a proposta para o coletivo da escola
abriu-se a possibilidade de um trabalho conjunto com a professora de Artes da turma por
isso pudemos aprofundar o trabalho com o grafitti
11 Viacutedeos e tutoriais usados para a preparaccedilatildeo das aulas e domiacutenio das teacutecnicas fundamentais
de cada um dos estilos do break estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas
aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt
Acesso em 10 dez 2012
Quadro 1- Anuacutencio do conteuacutedo
Toacutepico de Conteuacutedo t )bjetivos Especiacuteficos
Histoacuteria do H ip Hop
Conhecer a histoacuteria do Hip Hop e compreender sua essecircnshy
cia enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social
Identificar as caracteriacutesticas e manifestaccedilotildees do H ip Hop
no Brasil da atualidade
Os quatro elementos do movishy
mento H ip Hop
Identificar e conceituar os quatro elementos que constishy
tuem o movimento H ip Hop
Compreender a relaccedilatildeo de cada um dos elementos com o
movimento H ip Hop
Rhythm and Poetry
Compreender o rap enquanto o ldquocanto faladordquo que deshy
nuncia a injusticcedila e a opressatildeo de um grupo social
Conhecer teacutecnicas de construccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap
Arte nos Muros
Entender a histoacuteria e a evoluccedilatildeo do grafitti
Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo com o movimento H ip
Hop
Conhecer o grafitti na atualidade e suas linhas de expressatildeo
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de grafitagem
Aumente o som DJUuml
Identificar a ldquobatida quebradardquo (break) que caracteriza a
base musical do H ip Hop
Compreender o papel do DJ no H ip Hop
Estabelecer a diferenciaccedilatildeo entre o DJ e o M C (Mestre
de Cerimocircnia)
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de scratch e de mixagem
ldquoBatalhardquo entre crews
Analisar o papel do break enquanto expressatildeo corporal
ligada ao H ip Hop
Identificar os estilos do break sua origem e as vaacuterias forshy
mas de movimentaccedilatildeo
Relacionar os movimentos corporais ao ldquobreakrdquo da muacutesica
Aprender teacutecnicas baacutesicas de cada um dos estilos de break
O Hip Hop que passa na TV
Analisar a influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo na forma
de disseminaccedilatildeo do movimento H ip Hop
Compreender a banalizaccedilatildeo do movimento H ip Hop e
sua desconstruccedilatildeo pelo mercado
ontc elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
1) PRAacuteTICA SOCIAL IN ICIAL DO CONTEUacuteDO
11 Vivecircncia do Conteuacutedo
bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Hip Hop eacute um tipo
de muacutesica as muacutesicas criticam os ricos Hip Hop eacute uma danccedila
de rua etc
bull O que eles gostariam de saber a mais Como satildeo os passos
do Hip Hop como criar um rap como montar uma muacutesica
mixada etc
2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO
Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees
problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas
Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
$ v h W ccedil f v V j i v1 Tv S
t j j j fM IacuteW iacute lE i YSX IIP)
Histoacuteria do Hip HopHistoacuterica
Social
Como surgiu o Hip Hop Por que ele
surgiu Por que tem tantos artistas neshy
gros no Hip Hop
Os quatro elementos do movishy
mento H ip HopConceituai
Quais satildeo os elementos que constishy
tuem o Hip Hop Como se caracteshy
riza cada um deles
Rhythm and PoetryConceituai
Social
O que eacute rap De que falam as letras
dos raps Que mensagem querem
transmitir
Arte nos MurosLegal
Teacutecnica
Grafitar e pichar satildeo a mesma coishy
sa O que significa esse desenhos
nos muros
Aumente o som DJ Conceituai
0 que faz um DJ Qual a relaccedilatildeo
entre o DJ e o rap DJ e M C satildeo a
mesma pessoa Como eacute o ritmo da
danccedila no H ip Hop
ldquoBatalhardquo entre crewsConceituai
Teacutecnica
Como se danccedila no H ip Hop Qual
eacute o nome dessa danccedila Por que a
danccedila se chama ldquobreakrdquo Quais satildeo
os principais passos
O H ip Hop que passa na TV
Poliacutetica
Social
Econocircmica
Quais satildeo os rappers que aparecem
nos programas de TV Quais ideias
defendem em seus raps Os valores
dc que classe social representam
Fonte elaboraccedilatildeo nroacutenria m m
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo
bull
Histoacuteria do H ip
Hop
Conhecer a histoacuteria do H ip
H op e compreender sua essecircnshy
cia enquanto movimento de
contestaccedilatildeo c criacutetica social
Identificar as caracteriacutesticas e
manifestaccedilotildees do H ip H op no
Brasil da atualidade
Histoacuterica
Social
Apresentaccedilatildeo de dados estatiacutesticos sobre a
situaccedilatildeo do negro na sociedade brasileira
Exibiccedilatildeo de filmes e textos sobre a segreshy
gaccedilatildeo racial nos EUA e comparaccedilatildeo com
a realidade brasileira
Exibiccedilatildeo de documentaacuterio situando a
origem do H ip Hop
Exibiccedilatildeo de clipes de muacutesica que caracteshy
rizem a essecircncia do H ip Hop
Viacutedeos diversos65
Documentaacuterio ldquoH ip Hop em m oshy
vimentordquo
Documentaacuterio ldquoA Histoacuteria Do Hip
Hoprdquo
Os quatro eleshy
mentos do movishy
mento H ip Hop
Identificar e conceituar os
quatro elementos que constishy
tuem o movimento H ip Hop
Compreender a relaccedilatildeo de
cada um dos elementos com o
movimento H ip Hop
Conceituai
Social
Textos e viacutedeos sobre cada um dos eleshy
mentos
Viacutedeos produzidos pelos professores
Textos sobre os elementos do H ip
Hop
Os links paia acesso aos videos e textos utilizados na instrumentalizaccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em
lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012
=S
Rhythm and
Poetry
Compreender o rap enquanto
o ldquocanto faladordquo que denuncia
a injusticcedila e a opressatildeo de um
grupo social
Conhecer teacutecnicas de construshy
ccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap
Conceituai
Social
Teacutecnica
Anaacutelises de raps relacionados agrave realidade
social da periferia
Pesquisa sobre a estrutura e as teacutecnicas de
construccedilatildeo de um rap
Criaccedilatildeo individual eou coletiva de raps a
partir de temas propostos
Muacutesicas de grupos de rap
Clipe Negro Drama (Racionais)
Capiacutetulo sobre H ip Hop do livro D ishy
daacutetico do Paranaacute (Educaccedilatildeo Fiacutesica)
Arte nos Muros
v
Entender a histoacuteria e a evolushy
ccedilatildeo do grafitti
Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo
com o movimento H ip Hop
Conhecer o grafitti na atualishy
dade e suas linhas de expressatildeo
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de
grafitagem
Histoacuterica
Legal
Teacutecnica
Viacutedeo sobre a histoacuteria e evoluccedilatildeo do grafitti
Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das tags (asshy
sinaturas)
Viacutedeos produzidos pelos professores
Material de desenho para a vivecircnshy
cia das teacutecnicas das tags
Tintas e sprays para grafitar as tags
trabalhadas no papelatildeo ou no muro
Aumente o som
DJUuml
Identificar a ldquobatida quebrashy
dardquo (break) que caracteriza a
base musical do H ip Hop
Compreender o papel do D J
no H ip Hop
Estabelecer a diferenciaccedilatildeo enshy
tre o D J e o M C
Conhecer teacutecnicas baacutesicas de
scratch e de mixagem
Conceituai
Teacutecnica
Identificaccedilatildeo da batida ldquoquebradardquo da
muacutesica e comparaccedilatildeo com outros ritmos
como por exemplo o funk
Vivecircncia de elementos baacutesicos de mixagem
Construccedilatildeo de bases mixadas das muacutesicas
Muacutesicas diversas
Mesas de mixagem ou programas
de computador para mixagem
Tutoriais diversos sobre mixagem
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base
em
Gas
par
in
(2011)
4) CATARSE
41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno
O Hip Hop eacute uma das mais importantes manifestaccedilotildees joshy
vens da atualidade Surgiu nos Estados Unidos nos subuacuterbios de
Nova York e Chicago na deacutecada de 1970 habitados majoritaria-
mentepor uma populaccedilatildeo negra e assolados pela pobreza traacutefico
de drogas racismo e ausecircncia de espaccedilos de lazer A cultura Hip
Hop nasce a partir de accedilotildees para conter a violecircncia e promover a
conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessidade de luta conshy
tra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis
O Hip Hop eacute composto por 4 elementos a saber o break o
rap o DJ e o grafitti No Brasil o Hip Hop encontra na deacutecada
de 1980 um terreno fecundo para o seu desenvolvimento e o Hip
Hop ganha espaccedilo enquanto um meio de luta mobilizaccedilatildeo e dishy
vulgaccedilatildeo das desigualdades sociais e raciais
Entretanto a induacutestria da muacutesica se aproveita da popularishy
dade do Hip Hop transformando-o em uma mercadoria e descashy
racterizando-o enquanto movimento social e de contestaccedilatildeo No
caso especiacutefico da danccedila acontece uma reproduccedilatildeo de coreografias
montadas perdendo o sentido da expressatildeo corporal e a criatividashy
de que fazem parte da essecircncia do break
O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos conshy
textos sendo empregado para classificar um estilo de muacutesica de
danccedila ou um jeito de se vestir conhecido como estilo B-boy asshy
sociado a marcas esportivas especiacuteficas sem contudo representar
os seus objetivos gerais de contestaccedilatildeo social
42 - Expressatildeo da Siacutentese
Construccedilatildeo de paineacuteis sobre os elementos do Hip Hop orgashy
nizaccedilatildeo de um festival de Hip Hop apresentando os pontos discu-jf
tidos na unidade de ensino
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO
Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
Conhecer mais sobre o Hip Hop sua
essecircncia e tendecircncias
Ler pesquisar e conhecer pessoas
do Movimento Hip Hop
Socializar os conhecimentos aprendishy
dos sobre o Hip Hop
Produccedilatildeo de textos eou docushy
mentaacuterios sobre os elementos a
histoacuteria e a descaracterizaccedilatildeo do
Hip Hop
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees finais
Em tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas
as esferas da vicia a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda
maior E preciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabashy
lhadora construamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contrishy
buindo para a desmistificaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta
Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo imposta pela miacutedia eacute
preciso compreender que a essecircncia do movimento Hip Hop ainda
permanece inalterada Neste sentido situar historicamente o Hip
Hop no contexto socioeconocircmico e cultural em que surgiu mdash desshy
velando sua essecircncia enquanto movimento de contestaccedilatildeo poliacutetica
e social - contribui para a compreensatildeo do aluno enquanto agente
de sua histoacuteria capaz de atuar e transformar atraveacutes de accedilotildees conshy
cretas o seu meio e as condiccedilotildees materiais de sua existecircncia
Referecircncias
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3
CAPIacuteTULO VII
A DISCIPLINARIZACcedilAtildeO DOS CORPOS POR MEIO DA GINAacuteSTICA
I^eonardo Docena Pina
Miguel Fabiano de Faria
Nathagravelia Sixel Rodrigues
Ramon Mendes da Costa Magalhatildees
A ginaacutestica como conteuacutedo da Educaccedilatildeo
Fiacutesica natildeo deve ser vista como uma manifestashy
ccedilatildeo recente uma vez que se trata de uma praacutetishy
ca bastante antiga na escola se considerada em
relaccedilatildeo a outros conteuacutedos da cultura corporal
Tendo em vista as transformaccedilotildees ocorridas
com a ginaacutestica ao longo da histoacuteria algumas
questotildees emergem e conferem significados agrave
proposta deste capiacutetulo atualmente a ginaacutestishy
ca permanece como um conteuacutedo nas aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesica Como se configura a ginaacutestica
nessas aulas Como os corpos dos sujeitos enshy
volvidos nessa praacutetica satildeo abordados dentro e
fora da escola Como a sociedade compreende
esses corpos e delega agrave ginaacutestica a competecircncia
por conformaacute-los Questotildees como essas contrishy
buem para a compreensatildeo dos significados que
a praacutetica corporal ginaacutestica assume ou poderia
assumir como conteiido escolar
Compreender a ginaacutestica como conteuacuteshy
do da Educaccedilatildeo Fiacutesica nos remete ao iniacutecio
do seacuteculo XIX quando essa produccedilatildeo cultural
passou a ser considerada cientiacutefica fruto das
distintas formas de se pensar os exerciacutecios fiacutesicos em paiacuteses europeus
surgindo assim os meacutetodos ou escolas de ginaacutestica integrantes do
chamado Movimento Ginaacutestico Europeu Nessa perspectiva buscou-
-se imprimir um caraacuteter de utilidade aos exerciacutecios fiacutesicos em que
foram negadas as praacuteticas populares de artistas de rua de circo acroshy
batas que as apresentavam como espetaacuteculo trazendo o corpo como
centro de entretenimento (SOARES 1998 2001a 2001b)
Ainda segundo a autora eacute nos princiacutepios de ordem e disciplina forshy
mulados pelo Movimento Ginaacutestico Europeu bem como do afastamenshy
to do nuacutecleo primordial do divertimento que a Ginaacutestica se afirmou
como parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos Uma praacutetica capaz de potenshy
cializar a utilidade dos gestos e oferecer um espetaacuteculo ldquocontroladordquo e
institucionalizado dos usos do corpo em negaccedilatildeo aos elementos cecircnicos
funambulescos e acrobaacuteticos (SOARES 1998)
Precursora da Educaccedilatildeo Fiacutesica a Ginaacutestica cientiacutefica se afirmou
ao longo do seacuteculo X IX como siacutentese do pensamento cientiacutefico no
ocidente europeu e integrante dos novos coacutedigos de civilidade o que
vai justificar sua presenccedila no curriacuteculo escolar tambeacutem no Brasil
Como vimos a ginaacutestica foi uma das primeiras praacuteticas corposhy
rais a ser inserida na educaccedilatildeo escolar no seacuteculo XIX tanto que sua
denominaccedilatildeo ldquoGymnasticardquo foi por muitos anos considerada a proacuteshy
pria disciplina escolar sendo paulatinamente substituiacuteda no iniacutecio do
seacuteculo XX pela denominaccedilatildeo ldquoEducaccedilatildeo Physicardquo1
No Brasil ateacute as deacutecadas de 1920 e 1930 a ginaacutestica era uma
praacutetica privilegiada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica sendo orientada por
dois primados da educaccedilatildeo escolar Primeiramente o ldquoprimado da orshy
topediardquo esteve relacionado com a correccedilatildeo de desvios e com o endirei-
tamento dos corpos pretendendo constituir sujeitos robustos e higieshy
nizados Posteriormente o ldquoprimado da eficiecircnciardquo visava construir o
1 Tal expressatildeo areacute enratildeo possuiacutea um sentido mais amplo vinculado ao discurso da ldquohygienerdquo
(G O N D RA 2004) e ao pensamento de Herbert Spencer em que a educaccedilatildeo integral
seria apoiada em trecircs pilares a ldquoeducaccedilatildeo intellectual moral e physicardquo (VAGO 2002)
Assim essa ldquoeducaccedilatildeo physicardquo englobou natildeo soacute a ldquogymnasticardquo os ldquoexerciacutecios physicosrdquo e as
ldquoevoluccedilotildees militaresrdquo como tambeacutem abarcou a organizaccedilatildeo dos tempos e espaccedilos escolares a
distribuiccedilatildeo da luz a boa ventilaccedilatildeo do ambiente a disposiccedilatildeo e o formato do mobiliaacuterio o
nuacutemero de alunos por turma as refeiccedilotildees os recreios enfim todos os haacutebitos saudaacuteveis que
garantiriam o pleno ldquodesenvolvimento physicordquo dos alunos
trabalhador necessaacuterio agrave induacutestria que deveria ser dotado natildeo somente
de corpos ldquoerectosrdquo mas sobretudo de corpos eficientes prontos para
o trabalho em conjunto que de maneira eficaz tivesse rendimento em
forma de produto e de resultado (VAGO 2002)
Nesse sentido Carvalho (1997) apresenta argumentos para comshy
preender os discursos educacionais que no Brasil a partir do final do
seacuteculo XIX e nas primeiras quatro deacutecadas do seacuteculo XX procuraram
ldquo[] legitimar-se enquanto saber pedagoacutegico de tipo novo moderno experimental e cientiacuteficordquo (CARVALHO 1997 p 269) Assim ldquo[]
trabalha com duas metaacuteforas da disciplina - disciplina como ortopeshy
dia e disciplina como eficiecircnciardquo (CARVALHO 1997 p 269) De
acordo com a autora a partir da deacutecada de 1920 eacute possiacutevel perceber
uma sutil mudanccedila no discurso pedagoacutegico no Brasil
O resultado desse movimento eacute que a eficiecircncia passa a ser um
primado orientador para a escola Com efeito Vago (2002) amplia
que natildeo seria diferente para a ginaacutestica a qual migraria de uma preshy
ocupaccedilatildeo com a correccedilatildeo o endireitamento e a constituiccedilatildeo dos corshy
pos para uma preocupaccedilatildeo com a eficiecircncia dos gestos aliada aos
pressupostos da ldquovida modernardquo2
A partir das deacutecadas de 1940 e 1950 a ginaacutestica foi perdendo
espaccedilo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica para o esporte3 Atualmente
em muitas escolas esse conteuacutedo quando trabalhado tende a ser
abordado com praacuteticas descontextualizadas como apecircndice dos esshy
portes aquecimento relaxamento preparaccedilatildeo fiacutesica subsumindo
seu caraacuteter poliacutetico e social em suma natildeo o considerando como
patrimocircnio cultural a ser apropriado pela humanidade tal como
nos mostra Almeida (2005) Contudo pensar a ginaacutestica como
um conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute pensar em uma possibilidade
2 Sobre este assunto destacamos tambeacutem o trabalho de Schneider (2004)
3 Apoacutes a II Guerra Mundial num contexto de intensa urbanizaccedilatildeo e desenvolvimento
bdquoindustrial assistimos a um processo de esportivizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica influenciado
pela cultura europeia Neste momento a Educaccedilatildeo Fiacutesica passa a ter uma relaccedilatildeo de
subordinaccedilatildeo agrave instituiccedilatildeo esportiva tendo seus objetivos baseados na aptidatildeo fiacutesica
e iniciaccedilatildeo esportiva Os coacutedigos do Esporte de Rendimento como competiccedilatildeo
sucesso individual e rendimento satildeo incorporados pela Educaccedilatildeo Fiacutesica neste periacuteodo
demonstrando sua articulaccedilatildeo com a poliacutetica educacional tecnicista e seu papel na
reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais hegemocircnicas
de ampliaccedilatildeo cultural que deve privilegiar a formaccedilatildeo humana em
sua totalidade Como apresenta Ayoub (2003 p 87) aprender gishy
naacutestica na escola significa ldquoestudar vivenciar conhecer compreenshy
der perceber confrontar interpretar problematizar compartilhar
apreender as inuacutemeras interpretaccedilotildees da ginaacutestica e produzir novos
significados e novas possibilidades de expressatildeo giacutemnicardquo
Veremos no presente capiacutetulo que a ginaacutestica contemporacircnea
dentro e fora da escola pode estar imprimindo algumas permanecircncias
da ginaacutestica cientiacutefica do seacuteculo XIX entretanto sob uma nova roushy
pagem Essas permanecircncias podem ser percebidas tanto com relaccedilatildeo agrave
sua metodologia em grande medida enraizada na repeticcedilatildeo de gestos
padronizados quanto com relaccedilatildeo agraves finalidades a ela associadas que
sugerem uma nova leitura para a ldquocorreccedilatildeordquo e ldquoconstituiccedilatildeo dos corposrdquo
bem como para a ldquoeficiecircncia dos gestosrdquo associada ao mundo produtivo
e aos interesses da classe dominante
A ginaacutestica no processo de disciplinarizaccedilatildeo
O corpo dos indiviacuteduos como mais um instrumento da
produccedilatildeo passava a constituir uma preocupaccedilatildeo da classe
no poder Tornava-se necessaacuterio nele investir Todavia esse
investimento deveria ser limitado para que o corpo nunshy
ca pudesse ir aleacutem de um corpo de um ldquobom animalrdquo
Era preciso adestraacute-lo desenvolver-lhe o vigor fiacutesico desde
cedo disciplinaacute-lo enfim para sua funccedilatildeo na produccedilatildeo e
reproduccedilatildeo do capital (SOARES 2001a p 33)
A partir do conceito de disciplina Foucault (1987) descreve um
processo no qual satildeo formados haacutebitos costumes modos de pensar e
agir orientados para a formaccedilatildeo dos chamados corpos doacuteceis - indiviacuteduos
que podem ser submetidos utilizados transformados e aperfeiccediloados
Em suas reflexotildees o chamado ldquopoder disciplinarrdquo possui como funccedilatildeo
maior a de ldquoadestrarrdquo os indiviacuteduos fabricando sujeitos ao mesmo temshy
po produtivos economicamente e submissos politicamente
Os processos disciplinares segundo o autor assumiram no decorshy
rer dos seacuteculos XVII e XVIII formas gerais de dominaccedilatildeo diferentes
da escravidatildeo da domesticidade da vassalidade e do ascetismo por
exemplo visto que este novo contexto histoacuterico eacute o momento no qual
nasce uma arte do corpo humano que visa natildeo unicamente o aumento
de suas habilidades mas a formaccedilatildeo de uma relaccedilatildeo que no mesmo
mecanismo o torna tanto mais obediente quanto eacute mais uacutetil ldquoForma-
-se entatildeo uma poliacutetica das coerccedilotildees que satildeo um trabalho sobre o corpo
uma manipulaccedilatildeo calculada de seus elementos de seus gestos de seus
comportamentosrdquo (FOUCAULT 1987 p 119)
Nesse processo as teacutecnicas de distribuiccedilatildeo dos indiviacuteduos no espashy
ccedilo assim como o controle da atividade pela regulaccedilatildeo do tempo e pelo
adestramento dos gestos vatildeo configurando novas praacuteticas em diferentes
instituiccedilotildees Assim as faacutebricas os quarteacuteis os hospitais e tambeacutem as
escolas se configuram como locais responsaacuteveis para a disciplinarizaccedilatildeo
dos indiviacuteduos No caso do ambiente escolar essa formaccedilatildeo demandava
a manutenccedilatildeo dos alunos entre as paredes da sala de aula submetidos
ao olhar vigilante do professor o tempo suficiente para domar seu cashy
raacuteter e dar forma adequada a seu comportamento (ENGU1TA 1989)
E com esse mesmo objetivo no que se refere ao projeto de
formaccedilatildeo humana que a ginaacutestica por meio dos meacutetodos ginaacutesshy
ticos foi incorporada pelas concepccedilotildees educacionais do final do
seacuteculo XV III e iniacutecio do seacuteculo X IX (SOARES 2001a)
Regenerar a raccedila promover a sauacutede (sem alterar as condiccedilotildees
degradantes de vida) desenvolver a vontade a forccedila a ldquoenergiardquo (para
servir agrave paacutetria e agrave induacutestria) foram algumas das finalidades atribuiacutedas
agrave ginaacutestica no contexto de consolidaccedilatildeo do capitalismo na Europa A
ecircnfase na disciplinarizaccedilatildeo dos corpos acabou por delinear na educashy
ccedilatildeo escolar uma praacutetica pedagoacutegica na qual sessotildees de ginaacutestica tratashy
vam os alunos de forma homogecircnea com accedilotildees reduzidas agrave repeticcedilatildeo
de movimentos estereotipados tal como sugere Marinho (19--) ao
descrever uma liccedilatildeo de ginaacutestica orientada pelo Meacutetodo Francecircs
Para fazer executar um movimento o instrutor
comanda - ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo devendo este
comando ser substituiacutedo para as crianccedilas pela adshy
vertecircncia ldquoAtenccedilatildeordquo Se o movimento exige uma poshy
siccedilatildeo de partida o instrutor a indicaraacute lt rnminJraquo-
ldquoPosiccedilatildeordquo Enuncia o exerciacutecio e ao comando ldquoCoshy
meccedilarrdquo Todos executam o movimento prescrito As
posiccedilotildees de partida dos ldquoassouplissementsrdquo assimeacuteshy
tricos satildeo a princiacutepio tomadas agrave esquerda Termishy
nado o exerciacutecio nesta posiccedilatildeo o instrutor comanda
ldquoMudarrdquo Os alunos retornam agrave posiccedilatildeo de partida agrave
direita e executam novamente o exerciacutecio prescrito
Ao comando de ldquoCessarrdquo todo o movimento cessa
sem precipitaccedilatildeo e a posiccedilatildeo de partida eacute retomada
A posiccedilatildeo de partida soacute eacute deixada ao comando de
ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo No comando de ldquoDescanshy
ccedilarrdquo os alunos permanecem no lugar sem serem
obrigados a conservar a posiccedilatildeo primitiva e a imobishy
lidade (M A R IN H O 19- p 110-111)
Conforme explica Soares (2001a) todo o ideaacuterio colocado em
praacutetica pelo pensamento higienista do qual resulta o modelo de aula
descrito acima impocircs uma disciplina que pretendia adequar o corpo ao
trabalho fabril tornando-o mais doacutecil e submisso sob a oacutetica poliacutetica
e ao mesmo tempo mais aacutegil forte e robusto sob a oacutetica da produccedilatildeo
E importante considerar a possibilidade de o processo de dis-
ciplinarizaccedilatildeo mdash descrito por Foucault e incorporado de forma sushy
bordinada por Soares (2001a) - natildeo ter sido totalmente superado
ou seja esse fenocircmeno pode estar se apresentando ainda nos dias
de hoje de uma nova forma atualizada
Na concepccedilatildeo gramsciana todo esse processo de ldquodisciplinariza-
ccedilatildeordquo pode ser compreendido como uma tentativa - da classe domishy
nante mdash de formaccedilatildeo teacutecnica e de conformaccedilatildeo eacutetico-poliacutetica das masshy
sas com o intuito de reconfigurar o modo de vida em conformidade
com as demandas colocadas pelo modo de produccedilatildeo da existecircncia
humana em expansatildeo naquele contexto histoacuterico
Em Americanismo e Fordismo Gramsci (2001 p 251) explica
que ldquoa vida na induacutestria exige um aprendizado geralrdquo um processhy
so de adaptaccedilatildeo psicofiacutesica a determinadas condiccedilotildees de trabalho
de nutriccedilatildeo de habitaccedilatildeo de costumes de valores algo que natildeo
eacute inato natural mas exige ser adquirido Portanto a partir dessa
reflexatildeo torna-se possiacutevel compreender que no modo de produccedilatildeo
da vida em formaccedilatildeo no contexto histoacuterico de incorporaccedilatildeo dos meacuteshy
todos ginaacutesticos na escola os exerciacutecios fiacutesicos desempenhavam um
papel importante uma vez que o novo tipo de homem demandado
pelo bloco no poder deveria possuir um corpo saudaacutevel forte aacutegil
e disciplinado construiacutedo a partir da adoccedilatildeo de um novo modo de
vida E exatamente para contribuir com a formaccedilatildeo desse novo tipo
de homem que a ginaacutestica estruturada dentro ou fora da instituishy
ccedilatildeo escolar passou a constituir um dos mecanismos utilizados para
instrumentalizar a vontade adequar e reorganizar gestos e atitudes
necessaacuterios agrave reproduccedilatildeo da sociedade4
A questatildeo que necessitamos discutir refere-se agrave possibilidade
de existecircncia de um processo contemporacircneo de mesmo tipo mas
atualizado voltado agrave formaccedilatildeo de um novo modo de vida necessaacuteshy
rio agrave reproduccedilatildeo do capitalismo contemporacircneo Portanto quesshy
tionamos seraacute que a ginaacutestica contemporacircnea se relaciona com a
formaccedilatildeo de novos corpos doacuteceis A ginaacutestica hoje atende de alguma
forma aos interesses de reproduccedilatildeo da sociedade Existem elementos
contraditoacuterios que permitem uma apropriaccedilatildeo criacutetica da ginaacutestica
Longe de assumir a tarefa de esgotar as reflexotildees sobre o tema
entendemos ser necessaacuterio destacar inicialmente que as modifishy
caccedilotildees ocorridas no capitalismo a partir da deacutecada de 1970 em
resposta agrave chamada crise do keynesianismo-fordismo represenshy
taram uma mudanccedila no regime de acumulaccedilatildeo - do fordismo agrave
ldquoacumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo (HARVEY 2007) Ao modelo fordista seshy
gundo Chauiacute (2001) o bloco no poder respondeu com a terceirishy
zaccedilatildeo a desregulamentaccedilatildeo o predomiacutenio do capital financeiro
a dispersatildeo e fragmentaccedilatildeo da produccedilatildeo aleacutem da centralizaccedilatildeo
velocidade da informaccedilatildeo e da velocidade das mudanccedilas tecnoloacuteshy
gicas ao modelo keynesiano do Estado de Bem-Estar o bloco no
poder respondeu com a ideia do ldquoEstado m iacutenimordquo a desregulaccedilatildeo
do mercado a competitividade e a privatizaccedilatildeo da esfera puacuteblica
As modificaccedilotildees provenientes desse processo de reproduccedilatildeo
do capitalismo natildeo atingiram apenas a organizaccedilatildeo de grandes
______________ 4 Natildeo eacute objetivo deste texto discutir as distinccedilotildees entre Foucault e Gramsci no que diz respeito
ao conceito de disciplina Optamos por trabalhar com a vertente marxista incorporando de
lorma subordinada ao nosso referencial as contribuiccedilotildees que Foucault daacute ao tema
empresas jaacute consolidadas no mercado mas tambeacutem novos emshy
preendimentos como as academias de ginaacutestica por exemplo5
Conforme evidencia Furtado (2007) as academias vecircm acomshy
panhando a tendecircncia de implementaccedilatildeo dos elementos centrais
da acumulaccedilatildeo flexiacutevel passando a funcionar em uma dinacircmica
caracterizada pela flexibilidade pela introduccedilatildeo de equipamentos
com tecnologia cada vez mais avanccedilada pela diversificaccedilatildeo das
mercadorias oferecidas e tambeacutem pelo ldquofoco no clienterdquo que
pode ser evidenciado pela constante busca de ldquonovasrdquo ofertas e
novidades capazes de atrair e reter consumidores
As aulas de ginaacutestica saacuteo por exemplo ldquoaulas-showrdquo
com equipamentos iluminaccedilatildeo decoraccedilatildeo e sonorishy
zaccedilatildeo que favorecem ao ldquoespetaacuteculordquo e desempenham
um papel importante na seduccedilatildeo do cliente Assim
tambeacutem eacute toda a complexa estrutura que possui a acashy
demia ou seja natildeo eacute soacute a aula que deve ser um ldquoshowrdquo
e sim tambeacutem toda a academia com decoraccedilatildeo sonorishy
zaccedilatildeo iluminaccedilatildeo e equipamentos que desempenhem
funccedilotildees de encantar e atender aos desejos dos clientes
de experimentar sensaccedilotildees diversas dentre elas a sensashy
ccedilatildeo de ldquostatusrdquo (FURTADO 2007 p 311)
E interessante destacar que o formato atrativo das aulas tende a
captar de forma mais eficiente os consumidores visto que eles acabam
desconsiderando os incipientes resultados reais obtidos pela realizaccedilatildeo
das aulas de determinados programas que na verdade se sustentam
mais pelos fatores de cunho emocional do que pelos ganhos obtidos
com sua praacutetica Ao analisar as teacutecnicas de inovaccedilatildeo do empresariado
do Fitness mais especificamente um determinado programa da franshy
quia Curves Mascarenhas et al (2007) constatam que a pseudossensa-
ccedilatildeo de bem-estar sauacutede e beleza produzida pelas aulas eacute acompanhada
por um amplo e intenso processo de persuasatildeo comum agraves cartilhas
de marketing para academias Segundo os autores a base de legitima-
5 A acumulaccedilatildeo flexiacutevel eacute marcada dentre outros aspectos pela superaccedilatildeo da
rigidez caracteriacutestica do fordismo se apoiando na flexibilidade dos processos
e mercados de trabalho aleacutem dos produtos e padrotildees de consumo Para
compreender melhor como as modificaccedilotildees no regime de acumulaccedilatildeo
afetaram a aacuterea Fitness recorrer agrave Quelhas (2012)
ccedilatildeo racional tecno-cientiacutefica eacute secundarizada frente ao acreacutescimo de
inovaccedilotildees criativas de base emocional Talvez isso explique ao menos
em parte por que ainda hoje sejam consideradas bastante atrativas
algumas aulas de ginaacutestica de academia que em muito se assemelham
agraves sessotildees de ginaacutestica do seacuteculo passado Estamos nos referindo aos
atuais formatos padronizados de sessotildees de ginaacutestica que se orientam
na repeticcedilatildeo de movimentos estereotipados geralmente com mesma
intensidade a serem realizados pelos alunos em conformidade com
comandos do professor - ou de uma voz jaacute gravada a ser reproduzida
em aparelhos eletroeletrocircnicos Conforme evidenciam Toledo e Pires
(2008) alguns programas tendem a desconsiderar na aula dificuldashy
des ou niacutevel de condicionamento fiacutesico dos alunos uma vez que os
professores muitas vezes tecircm que seguir com exatidatildeo a aula desshy
crita na apostila e ensinada nos cursos assim como natildeo podem sair
da posiccedilatildeo de ldquoatores eperformersrdquo para corrigir eou dar uma atenccedilatildeo
especial ao aluno com dificuldades durante a aula As autoras mencioshy
nam por sua vez que esses elementos ao serem considerados pelos
alunos como determinantes de insatisfaccedilatildeo estatildeo sendo revistos pershy
mitindo aos professores sua modificaccedilatildeo
O incentivo ao consumo das ldquonovasrdquo modalidades de ginaacutestica
de academia ainda eacute acompanhado pela forte influecircncia da miacutedia na
organizaccedilatildeo dos valores dominantes Natildeo soacute o medo de engordar mas
uma gama de valores e comportamentos atrelados ao culto ao corpo
tem contribuiacutedo significativamente para a difusatildeo de um padratildeo a ser
almejado e - em alguns casos - para o desenvolvimento dos chamados
transtornos alimentares como a anorexia por exemplo6
Em virtude da discussatildeo realizada torna-se importante quesshy
tionar se a difusatildeo de valores responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de novos
desejos relacionados ao consumo das mercadorias a serem vendishy
das nas academias de ginaacutestica hoje se constitui como uma forma
atual de disciplinarizaccedilatildeo subordinando os indiviacuteduos aos interesshy
ses dominantes Da mesma forma a difusatildeo de receitas exerciacutecios
------------ 6 A influecircncia da miacutedia no culto ao corpo foi trabalhada por Berger (2007 2010) Sobre
anorexia destacam-se os textos de Cordas (2004) Giordani (2006) e ainda o de Niemeyer e
Kruse (2008)
ou programas de ginastica milagrosos pode estar desempenhanshy
do importante funccedilatildeo educativa sobretudo no caso das pessoas
que natildeo dominam o conhecimento necessaacuterio para criticaacute-los e
por isso acabam por aderir ao consumo de mercadorias que nem
sempre produzem o resultado desejado
Consideramos que a transmissatildeo do conhecimento historicamente
sistematizado pela humanidade sobre o tema se constitui como um passo
importante para superar esse possiacutevel processo atual de ldquoadestramentordquo
A praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a ginaacutestica
Na perspectiva que orienta este trabalho o trato pedagoacutegico com a
ginaacutestica na escola deve se articular agrave tarefa de socializaccedilatildeo das formas mais
desenvolvidas do conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico produzido
pela humanidade ao longo do tempo uma vez que possibilita aos alunos asshy
sumir uma nova postura na praacutetica social qual seja a de sujeito histoacuterico7
No caso do tema abordado neste artigo isso significa transmitir um conheshy
cimento que permita aos alunos assumir uma nova relaccedilatildeo com a ginaacutestica
Compreendendo que o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos
corpos se constitui como um possiacutevel tema a ser trabalhado na
escola desenvolvemos um trabalho pedagoacutegico orientado pela
Pedagogia histoacuterico-criacutetica com uma turma (composta por 30
alunos de ambos os sexos) do segundo ano do Ensino Meacutedio no
Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste
de Minas Gerais (IF Sudeste M G ) Campus Juiz de Fora8 A seshy
7 A respeito disso ver Coletivo de Autores (1992)
8 Essa experiecircncia foi resultado de um Estaacutegio Curricular Obrigatoacuterio desenvolvido em
2011 quando Nathaacutelia Sixel Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees cursavam
a Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacutesica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Tal experiecircncia deu origem a um Trabalho de Conclusatildeo de Curso (MAGALHAtildeES
RODRIG UES 2011) orientado por Leonardo Docena Pina na eacutepoca professor substituto
da FACED-UFJF As discussotildees realizadas entre os acadecircmicos o orientador e Miguel Fabiano
de Faria professor da turma do IF Sudeste M G que recebeu os estagiaacuterios demandaram a
continuidade do estudo abordando novas reflexotildees que naquela ocasiatildeo natildeo puderam ser
feitas O presente texto portanto parte da experiecircncia de estaacutegio mas natildeo se limita a este uma
vez que elaboramos outro plano de trabalho para englobar novas dimensotildees do conteuacutedo natildeo
abordadas naquela ocasiatildeo Para facilitar a compreensatildeo dos aspectos didaacuteticos expostos neste
texto apresentaremos o planejamento mais elaborado como experiecircncia jaacute desenvolvida
guir apresentamos a experiecircncia desenvolvida a partir dos passos
metodoloacutegicos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica
Na identificaccedilatildeo da praacutetica social buscamos debater as seguintes
questotildees a ginaacutestica de hoje eacute igual agrave de antigamente Ela sofre influecircnshy
cia da miacutedia Existem diferenccedilas entre as praacuteticas de ginaacutestica voltadas
para a esteacutetica ou para a sauacutede Ginaacutestica promove sauacutede Qualquer
exerciacutecio que praticamos faz nosso corpo ldquoqueimarrdquo gordura Em seshy
guida os alunos foram informados de que estudariacuteamos algumas reshy
laccedilotildees entre ginaacutestica e sociedade ao longo da histoacuteria a partir de um
meacutetodo de apreensatildeo da realidade que tem o objetivo de transformar a
sociedade em que vivemos Os seguintes toacutepicos foram apresentados a
importacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise dos discurshy
sos da sauacutede e da esteacutetica a ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do
seacuteculo XIX aos dias de hoje a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos
desejos e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave
ginaacutestica introduccedilatildeo aos fundamentos cientiacuteficos do treinamento car-
diorrespiratoacuterio Cada um desses toacutepicos foi apresentado em conjunto
com os objetivos formulados sistematizados no plano de unidade
Ainda neste momento buscou-se identificar o que os alunos jaacute
sabiam sobre o tema Eles identificaram a praacutetica da ginaacutestica como
importante para a sauacutede e apontaram os ldquoobjetivos esteacuteticosrdquo como
influecircncia para aderir agrave praacutetica de ginaacutestica poreacutem natildeo demonstrashy
ram compreender o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
O processo de aprimoramento da compreensatildeo dos alunos
sobre o tema foi direcionado por questionamentos referentes agraves
suas respectivas dimensotildees conforme apresentado na problema-
tizaccedilatildeo disposta no plano de unidade
Para transmitir os conhecimentos necessaacuterios agrave compreenshy
satildeo das questotildees levantadas na problematizaccedilatildeo optou-se por
trabalhar na instrumentalizaccedilatildeo com atividades embasadas prinshy
cipalmente nas discussotildees apresentadas em Soares (1998) Soshy
ares (2001a) Angulski et al (2006) e Mcardle Katch e Katch
(2003) Aleacutem de aulas expositivas trabalhamos o conteuacutedo por
meio de vivecircncia praacutetica da ginaacutestica
Iniciamos esra fase com uma exposiccedilatildeo que abordou a evoluccedilatildeo
da Ginaacutestica ao longo da Histoacuteria enfatizando as formas originais de
disciplinarizaccedilatildeo Ou seja nos concentramos nos Meacutetodos Ginaacutesticos
e discutimos sua influecircncia na configuraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica em
meados do seacuteculo XIX Logo apoacutes a exposiccedilatildeo uma vivecircncia praacutetica
foi realizada (nos moldes do Meacutetodo Francecircs) de modo a ampliar
a compreensatildeo da forma como era trabalhado esse conteuacutedo antishy
gamente aleacutem de buscar novos elementos para enriquecimento da
discussatildeo sobre a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Para discutir a expressatildeo contemporacircnea dessa produccedilatildeo cultural
apresentamos diferentes tipos de praacuteticas de ginaacutestica para vivecircncia e
posterior discussatildeo dos objetivos que levam as pessoas a praticaacute-las
esteacutetica ou sauacutede Salientamos neste momento alguns benefiacutecios da
ginaacutestica para a qualidade de vida e se esses estatildeo tambeacutem ligados agrave
esteacutetica O aprimoramento da compreensatildeo dos alunos sobre os beshy
nefiacutecios da ginaacutestica tambeacutem foi acompanhado por uma exposiccedilatildeo
dos modos de afericcedilatildeo da frequecircncia cardiacuteaca e das diferentes zonas
de treinamento e consumo de substratos energeacuteticos Assim pudemos
vivenciar algumas praacuteticas de ginaacutestica controlando a intensidade do
exerciacutecio de acordo com diferentes zonas alvo estipuladas Por fim
ainda na discussatildeo sobre esse tema buscamos situar a sauacutede e a qualishy
dade de vida como questotildees sociais a partir de uma exposiccedilatildeo seguida
da discussatildeo de reportagens previamente selecionadas
Ainda na instrumentalizaccedilatildeo apoacutes leituras indicadas para os alushy
nos realizarem em casa discutimos a influecircncia da miacutedia na praacutetica
de ginaacutestica nos modelos de corpo e nas accedilotildees para obtecirc-los Em
seguida elaboramos paineacuteis com recortes e reportagens de revistas
problematizando o tema Cada grupo apresentou seu painel ao final
Para explicitar a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy
naacutestica em sua expressatildeo contemporacircnea acreditamos que eacute posshy
siacutevel discutir a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos
e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave
ginaacutestica Aleacutem do mais a vivecircncia (seguida da problematizaccedilatildeo)
de alguns programas de ginaacutestica vendidos nas academias hoje
0
permite ao aluno compreender possiacuteveis traccedilos de disciplinariza-
ccedilaacuteo que se mantecircm ainda que de forma renovada
Ao final das atividades na catarse foi possiacutevel identificar que granshy
de parte dos alunos manifestou uma nova compreensatildeo da relaccedilatildeo exisshy
tente entre a ginaacutestica e a Educaccedilatildeo Fiacutesica nos diferentes momentos
da histoacuteria A nova maneira de entender o conteuacutedo mostrou-se mais
elaborada com domiacutenio de conceitos e entendimento de implicaccedilotildees
da sociedade na ginaacutestica e da ginaacutestica na sociedade Desafiados a sinshy
tetizar o que aprenderam os alunos se aproximaram do entendimenshy
to de que a ginaacutestica eacute uma atividade corporal que no seacuteculo XJX
atraveacutes dos meacutetodos ginaacutesticos atrelou-se agrave eugenia higiene assentada
no discurso da melhoria da sauacutede dos trabalhadores e da elevaccedilatildeo da
eficiecircncia no processo de produccedilatildeo No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre
ginaacutestica e qualidade de vida expressaram que a ginaacutestica isoladamente
natildeo garante melhora da sauacutedequalidade de vida pois estas estatildeo aliashy
das ao acesso agrave habitaccedilatildeo atendimento meacutedico transporte garantia
de emprego condiccedilotildees de trabalho seguras saneamento baacutesico e alishy
mentaccedilatildeo de qualidade dentre outros Enfatizaram o entendimento de
que a ginaacutestica tem desempenhado um papel secundaacuterio nas praacuteticas
de Educaccedilatildeo Fiacutesica no entanto tem sido objeto de ldquomercado rizaccedilatildeordquo
no cotidiano dos indiviacuteduos influenciados pela miacutedia A ginaacutestica soshy
bretudo sua praacutetica na busca de um padratildeo de corpo ideal tambeacutem
foi discutida sendo os meios iliacutecitos e exagerados como anabolizan-
tes esteroides dietas excessivas apontados como agentes nocivos que
poderiam levar a doenccedilas como a vigorexia anorexia e bulimia Neste
momento tambeacutem puderam se aproximar do entendimento de que dishy
ferentes intensidades nos exerciacutecios produzem efeitos distintos no nosso
corpo E ainda que a intensidade do exerciacutecio pode ser mensurada
atraveacutes da frequecircncia cardiacuteaca de maneira faacutecil e funcional9
Para os alunos expressarem a siacutentese a que ascenderam utilizamos
um trabalho final no qual foi proposto um ldquoquizrdquo educativo seguido
de uma discussatildeo o que permitiu abordar todo conteuacutedo trabalhado4
9 Naquela ocasiatildeo natildeo foi possiacutevel aprofundar o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
em suas formas contemporacircneas razatildeo que nos limitou a trabalhar apenas com as formas
originais desse processo conforme mencionado anirrinrmfnrraquo
A finalizaccedilatildeo das atividades na praacutetica social final envolveu a deshy
finiccedilatildeo de intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo no sentido de explicitar que a
apropriaccedilatildeo do conhecimento historicamente elaborado sobre a ginaacutesshy
tica possibilita aprimorar a atuaccedilatildeo na praacutetica social contribuindo para
uma postura criacutetica frente o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos10
Plano de unidade
A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Instiuiccedilatildeo Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia
Juiz de Fora
Disciplina Educaccedilatildeo Fiacutesica
Ano de escolaridade turma 2o ano do ensino meacutedio
Conteuacutedo Ginaacutestica
Unidade A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Nuacutemeros de aulas 8-10
OBJETIVOS GERAIS
bull Identificar a sauacutede e a esteacutetica como elementos centrais nos
discursos dominantes atualmente sobre a importacircncia da
praacutetica de ginaacutestica de modo a reconhecer suas implicaccedilotildees
sociais
bull Compreender o papel desempenhado pelos Meacutetodos
Ginaacutesticos na educaccedilatildeo dos corpos no seacuteculo XIX a fim
de enumerar possiacuteveis elementos de continuidaderuptura
em relaccedilatildeo agrave praacutetica de ginaacutestica em academias atualmente
bull Refletir sobre a influecircncia da miacutedia no incentivo ao
consumo de mercadorias relacionadas agrave ginaacutestica de
modo a posicionar-se criticamente diante das formulaccedilotildees
predominantes
10 Quadro detalhado sobre as intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo encontra-se no planejamento
apresentado a seguir
bull Conhecer alguns princiacutepios baacutesicos do treinamento
cardiorrespiratoacuterio para aplicaacute-los em suas praacuteticas corporais
e utilizaacute-los na anaacutelise das receitas milagrosas difundidas
atualmente
1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL
11 Anuacutencio dos conteuacutedos
Conteuacutedo ginaacutestica
Tema A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Toacutepicos
bull A im portacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise
dos discursos da sauacutede e da esteacutetica
bull A ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do seacuteculo X I X aos
dias de hoje
bull A influecircncia da m iacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos e
necessidades para o consum o de mercadorias relacionadas agrave
ginaacutestica
bull Introduccedilatildeo aos fundam entos cientiacuteficos do treinam ento
cardiorrespiratoacuterio
12 Vivecircncia do conteuacutedo
bull O que os alunos sabem ginaacutestica emagrece faz bem agrave sauacutede
haacute diferentes formas praticada em diferentes lugares
bull O que os alunos gostariam de saber todo exerciacutecio fiacutesico
eacute ginaacutestica Por quanto tempo preciso praticar ginaacutestica
para emagrecer Musculaccedilatildeo eacute ginaacutestica Como ficar com o
corpo igual aos praticantes de ginaacutestica competitiva Todas
as pessoas podem praticar todos os tipos de ginaacutestica Como
a ginaacutestica pode favorecer a prevenccedilatildeo de doenccedilas
2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO
21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo
A ginaacutestica de hoje eacute igual a de antigamente Ela sofre influecircncia da
miacutedia Existem diferenccedilas entre a praacutetica voltada agrave esteacutetica ou agrave sanrW
22 Dimensotildees do conteuacutedo
Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
D IM E N S Otilde E S Q U E ST Otilde E S P R O B L E M A T IZ A D O R A S
Conceituai
O que eacute ginaacutestica A ginaacutestica voltada para a sauacutede ou para a esteacutetica
se configura da mesma forma Toda ginaacutestica tem as mesmas caracteshy
riacutesticas O que eacute frequecircncia cardiacuteaca e qual sua relaccedilatildeo com as diferenshy
tes imensidades do exerciacutecio fiacutesico Quais sinais emitidos pelo nosso
corpo nos permitem estimar a queima ou natildeo de gordura O que eacute
disciplinarizaccedilatildeo dos corpos
Econocircmica
0 padratildeo de corpo perfeito tem alguma utilidade econocircmica Todos
tecircm condiccedilotildees de usufruir das possibilidades que o mercado oferece para
a melhora da qualidade de vida da populaccedilatildeo O desejo crescente pela
busca de novas modalidades de ginaacutestica de academia tem funccedilatildeo ecoshy
nocircmica importante nos dias de hoje
Histoacuterica
A ginaacutestica sempre se apresentou da mesma forma ao longo da hisshy
toacuteria H aacute diferenccedilas e semelhanccedilas entre a praacutetica de antigamente
e a atual Qual a funccedilatildeo atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto de sua
inserccedilatildeo na escola
CulturalCom o a miacutedia influencia nossos haacutebitos A miacutedia influenciava as
praacuteticas de ginaacutestica antigamente tambeacutem
Esteacutetica
Sempre existiu padratildeo de corpo A m iacutedia difundia algum padratildeo
de corpo antigamente A praacutetica de ginaacutestica tem sido realizada
somente para a obtenccedilatildeo de um corpo belo Essa difusatildeo de um
padratildeo de corpo ideal cria na populaccedilatildeo desejos e imagens sobre
seus proacuteprios corpos
Poliacutetica
A praacutetica de ginaacutestica por si soacute favorece a melhoria da sauacutede da
populaccedilatildeo de forma isolada ou outros fatores como renda morashy
dia emprego transporte atendimento meacutedico e alimentaccedilatildeo satildeo
importantes
Teacutecnica
Com o aferir a frequecircncia cardiacuteaca Com o identificar a intensidade dos
exerciacutecios Com o definir as zonas de treinamento a partir da afericcedilatildeo
da frequecircncia cardiacuteaca Quais satildeo os gestos que definem os movimenshy
tos da ginaacutestica
7onte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
31 Accediloacutees docentes e discentes
bull Exposiccedilatildeo do professor
bull Vivecircncia de diferentes formas de ginaacutestica passando dos
Meacutetodos Ginaacutesticos agraves modalidades contemporacircneas de
ginaacutestica de academia
bull Discussatildeo de textos com os alunos
bull Visualizaccedilatildeo anaacutelise e debate de documentaacuterioreportagem
em viacutedeo
bull Vivecircncia praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos mdash aferindo a frequecircncia
cardiacuteaca de si mesmo e do companheiro aleacutem de controlar
a zona alvo em diferentes intensidades
bull Elaboraccedilatildeo de painel com recortes e reportagens de jornais
eou revistas
32 Recursos materiais
Jornais revistas internet slides e materiais para praacutetica de gishy
naacutestica
4) CATARSE
41 Siacutentese teoacuterica do aluno
Com o desenvolvimento da sociedade capitalista na Europa
do seacuteculo XIX a Ginaacutestica Cientiacutefica ou Meacutetodos Ginaacutesticos acashy
baram por assumir a funccedilatildeo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos Para
subordinar poliacutetica e economicamente os indiviacuteduos agraves exigecircncias
das relaccedilotildees sociais dominantes naquele contexto a ginaacutestica foi
inclusive inserida nas escolas onde era praticada atraveacutes de exershy
ciacutecios padronizados com pouco ou nenhum espaccedilo para reflexotildees
dos alunos que deveriam executar os movimentos conforme os
comandos do professor (instrutor) Assim buscava-se contribuir
para formar sujeitos produtivos economicamente e ao mesmo
empo submissos politicamente capazes de contribuir para o de-
envolvimento das relaccedilotildees sociais que se aprofundavam na eacutepoca
Ao longo da histoacuteria a ginaacutestica passou por inuacutemeras trans-
ormaccedilotildees e atualmente seu viacutenculo com o discurso da promoshy
ccedilatildeo da sauacutede e da esteacutetica tem lhe garantido a manutenccedilatildeo de
am status privilegiado dentre as manifestaccedilotildees da cultura corposhy
ral Poreacutem se antigamente a educaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy
naacutestica visava formar um homem forte e apto ao trabalho fabril
atualmente a ginaacutestica parece atrelada a um processo educativo
voltado ao consumo desenfreado de mercadorias sejam as ldquonovasrdquo
modalidades oferecidas nas academias ou os diversos produtos que
visam agrave obtenccedilatildeo de um padratildeo de corpo ideal
Enquanto a busca desenfreada pelo padratildeo de corpo perfeito
acaba por influenciar transtornos como anorexia vigorexia e buli-
mia o discurso orientado na relaccedilatildeo (direta) entre praacutetica de ginaacutestishy
ca e obtenccedilatildeo da sauacutede acaba por mascarar o fato de que a qualidade
de vida e a sauacutede satildeo conceitos que envolvem condiccedilotildees de vida
como habitaccedilatildeo emprego condiccedilotildees de trabalho atendimento meacuteshy
dico de qualidade alimentaccedilatildeo dentre outros
A anaacutelise do processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes
da ginaacutestica e a apropriaccedilatildeo dos fundamentos baacutesicos do treinashy
mento cardiorrespiratoacuterio nos auxiliam no desenvolvimento de
uma postura criacutetica com a ginaacutestica a sociedade contemporacircnea e
seus discursos predominantes sobre o tema
42 Expressatildeo da siacutentese
Realizaccedilatildeo de prova e participaccedilatildeo em um quiz educativo ambos
abordando todo conteuacutedo estudado
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO
Quadro 2 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
1 Conhecer mais sobre a ginaacutestica1 Leitura de revistas e artigos soshy
bre ginaacutesticas
2 Discutir o comportamento dos inshy
diviacuteduos e suas praacuteticas de ginaacutestica
de acordo com seus objetivos sauacutede
eou esteacutetica
2 Observar e perguntar aos memshy
bros da sua comunidade se pratishy
cam e por que praticam ginaacutestica
e informaacute-los de seus limites e beshy
nefiacutecios
3 Posicionar-se criticamente sobre a
influecircncia da miacutedia nas praacuteticas de gishy
naacutesticas atuais
3 Numa discussatildeo sobre a gishy
naacutestica manifestar sua opiniatildeo
argumentando a favor ou contra
de acordo com o conhecimento
adquirido criticar a difusatildeo do
padratildeo de corpo ideal
4 Difundir o entendimento de que
outros fatores interferem na qualishy
dade de vida dos indiviacuteduos aleacutem da
ginaacutestica
4 Explicar a outras pessoas que
fatores como acesso agrave habitaccedilatildeo
atendimento meacutedico transporte
garantia de emprego condiccedilotildees
de trabalho seguras saneamento
baacutesico e alimentaccedilatildeo de qualidashy
de tambeacutem interferem na qualishy
dade de vida da populaccedilatildeo aleacutem
da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos
5 Realizar exerciacutecios na intensidade
de acordo com seus objetivos
5 Controlar sua frequecircncia cardiacute
aca durante a praacutetica de ginaacutestica e
demais exerciacutecios fiacutesicos
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees Finais
Este texto buscou apresentar uma experiecircncia pedagoacutegica na qual
a ginaacutestica foi trabalhada na escola sob orientaccedilatildeo da Pedagogia his-
toacuterico-criacutetica Destacamos que essa experiecircncia deve ser vista com um
olhar mais profundo pois cada escola tem caracteriacutesticas especiacuteficas e
singularidades que podem facilitar ou dificultar o processo pedagoacutegico
Vale ressaltar que a experiecircncia descrita natildeo esgota as inuacutemeras
possibilidades de trabalho a serem desenvolvidas com o tema ou com
a ginaacutestica Da mesma forma o conhecimento transmitido se constishy
tui apenas como parte do amplo leque de conhecimentos necessaacuterios
para o desenvolvimento de uma leitura criacutetica da realidade
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CAPIacuteTULO VIII
0 LUGAR E HORA DO CIRCO NA ESCOLA REFLEXOtildeES SOBRE A REINVENCcedilAtildeO DA CULTURA CIRCENSE NA SOCIEDADE CONTEMPORAcircNEA
Adriano de Paiva Reis
Carla Cristina Carvalho Pereira
Frederico Duarte Gomes Tostes
Haacute sempre um pouco de circo no corashy
ccedilatildeo de toda crianccedila Haacute sempre um pouco de
crianccedila no coraccedilatildeo de todo adulto Dentro de
noacutes despertam ecos as faceacutecias do palhaccedilo o
encanto da bailarina a cavalo as proezas do
trapeacutezio o destemor do homem que enfrenta
leotildees e tigres O fasciacutenio que aureola nossas
recordaccedilotildees vem do resto de infacircncia que -
felizmente - ainda ficou em noacutes E enquanto
houver ressoando alegre e contagiante um
riso de crianccedila haveraacute sempre um grito enshy
tusiaacutestico pronto a explodir - Viva o circo
(RUIZ 1987)
A arte circense eacute para muitos estudiosos
considerada uma das manifestaccedilotildees culturais
mais tradicionais do mundo Sobrevivendo de
geraccedilatildeo a geraccedilatildeo o circo vem perdurando no
tempo Maacutegicos trapezistas malabaristas pashy
lhaccedilos domadores e encantadores de animais
selvagens o fasciacutenio despertado pelo circo traz
encantamento e mexe com o imaginaacuterio do
homem haacute anos independente da idade
Marginalizada durante muito tempo as atividades circenses
hoje viraram nicho de mercado O circo vem ocupando cada vez
mais espaccedilo e ganhando maior visibilidade nos dias atuais seja
em academias de ginaacutesticas clubes escolas para formaccedilatildeo de cirshy
censes semaacuteforos dentre outros
Embora a produccedilatildeo teoacuterica a respeito do tema tenha crescido a
partir do iniacutecio dos anos 2000 e um nuacutemero significativo de artigos
sobre esse conteuacutedo esteja sendo publicado nos principais perioacutedishy
cos de Educaccedilatildeo Fiacutesica do paiacutes a maior parte dos trabalhos limita-se
ao resgate histoacuterico tendo em vista a preservaccedilatildeo do circo enquanto
patrimocircnio cultural ou a relatos de experiecircncias desenvolvidas
A inclusatildeo do circo nos curriacuteculos escolares eacute justificada
2 m muitos casos a partir do provaacutevel desenvolvimento das cashy
pacidades fiacutesicas agilidade resistecircncia cardiovascular equiliacutebrio
ldquohabilidades motorasrdquo em geral Ainda satildeo destacados aspectos
omo autoconhecimento automotivaccedilatildeo e superaccedilatildeo dos medos
ileacutem de cooperaccedilatildeo socializaccedilatildeo interaccedilatildeo ajuda muacutetua criashy
ratildeo de viacutenculo afetivo alegria espontacircnea e consciecircncia corpo-
al1 Embora possam ser considerados importantes entendemos
jue tais elementos por si soacute natildeo justificam a presenccedila desse
onteuacutedo na educaccedilatildeo escolar
A nosso ver a inclusatildeo das atividades circenses nos curriacuteculos
scolares articula-se ao que consideramos ser o papel da escola
[uai seja o ldquode socializaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico filosoacutefi-
o e artiacutestico produzido pela humanidade atraveacutes dos tempos em nas formas mais elevadasrdquo (EIDT DUARTE 2007 p 54 grifo
to autor) E imprescindiacutevel compreender as atividades circenses
nquanto produto da atividade humana um resultado do desen-
olvimento histoacuterico que precisa ser apropriado Cada um dos
lementos que constituem o circo (malabarismo equilibrismo
laacutegica etc) eacute carregado de sentidos e significados construiacutedos
istoricamente e modificados socialmente identificando assim o
Costa Tiaen e Sambugari (2007) Bortoleto (2003) Silva (1996) Silva e
Cacircmara (2009) Duprat e Bortoleto (2007)
homem como produtor e transformador da cultura Cabe agrave escoshy
la trabalhar com esse conteuacutedo contextualizando-o problemati-
zando-o estabelecendo correlaccedilotildees pertinentes entre as atividades
circenses e o processo histoacuterico em que se desenvolveram desmis-
tificando algumas modificaccedilotildees pelas quais passou ao longo dos
tempos Assim torna-se possiacutevel articular o ensino das atividades
circenses com a formaccedilatildeo do sujeito histoacuterico consciente da neshy
cessidade de superaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo
O desafio a ser superado eacute a construccedilatildeo de propostas pedagoacutegishy
cas viaacuteveis consistentes e coesas que contribuam para uma anaacutelise
criacutetica e uma compreensatildeo abrangente do universo circense visando
[] desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre o
acervo de formas de representaccedilatildeo do mundo que o
homem tem produzido no decorrer da histoacuteria exshy
teriorizadas pela expressatildeo corporal jogos danccedilas
lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte malabarismo
contorcionismo miacutemica e outros que podem ser
identificados como formas de representaccedilatildeo simshy
boacutelica de realidades vividas pelo homem historicashy
mente criadas e culturalmente desenvolvidas (C O shy
LETIVO DE AUTORES 1992 p 38)
Nesta perspectiva defendemos que as atividades circenses poshy
dem ser encaradas como um conteuacutedo especiacutefico extrapolando
algumas anaacutelises que a entendem enquanto parte constituinte da
ginaacutestica Apesar de determinados elementos como as acrobacias
apresentarem similaridades com o conteuacutedo da ginaacutestica fica evishy
dente que o processo com que esses elementos se apresentam denshy
tro do universo do circo eacute bem diferente daquele onde surgiu e
se desenvolveu a ginaacutestica2 Aleacutem disso outros elementos como
o palhaccedilo e as maacutegicas natildeo podem ser compreendidos enquanto
movimentos giacutemnicos e no nosso entendimento omiti-los seria
uma forma de fragmentar o conhecimento a respeito do circo
2 De acordo com Soares (2005) as acrobacias circenses influenciaram a
Ginaacutestica Francesa meacutetodo desenvolvido a partir da ordenaccedilatildeo e organizaccedilatildeo
de movimentos de acrobatas funacircmbulos e saltimbancos de maneira a
produzir maior eficiecircncia e economizar eneraia
A produccedilatildeo da arte circense como modo de vida
A arte circense eacute considerada uma das manifestaccedilotildees culturais mais
antigas do mundo sendo impossiacutevel precisar sua origem Sabe-se que
as modalidades circenses que hoje conhecemos decorrem de praacuteticas
que foram surgindo em momentos contextos e lugares diferentes a
partir dos costumes de uma regiatildeo ou paiacutes com o objetivo de entreter
louvar ou homenagear a deuses valorizar conquistas de guerras ou satildeo
corporificadas a partir da necessidade do homem de adestrar animais
para auxiacutelio no transporte ou em atividades de trabalho
O circo ldquomodernordquo como espetaacuteculo pago uma lona cobrindo um
picadeiro onde se apresentam trapezistas malabaristas equilibristas eacute
muito recente e seria por assim dizer a forma moderna de um antiquiacutesshy
simo entretenimento de diversos povos e culturas (TORRES 1998) A
estrutura do circo moderno remonta ao seacuteculo XVIII quando o inglecircs
Philip Astley ex-oficial da Cavalaria Britacircnica criou um espetaacuteculo de
equilibrismo equestre apresentado numa pista circular O espetaacuteculo criashy
do por Astley apresentava uma estrutura que atendia a um puacuteblico espeshy
ciacutefico da sociedade o rigor a postura e a elegacircncia da arte equestre consshy
tituiacuteam um siacutembolo de status social e muito agradavam a aristocracia
Entretanto os grupos circenses da eacutepoca comeccedilaram a notar que
as apresentaccedilotildees ganhariam muito mais espectadores se conseguissem
atingir uma classe social emergente naquela eacutepoca a burguesia Foshy
ram entatildeo incorporados outros artistas mdash funambulescos malabarisshy
tas acrobatas saltadores e adestradores de animais3 - que desafiavam
os limites corporais e morais e o espetaacuteculo foi reorganizado de forma
que pudesse ser mais atrativo (DUPRAT 2007)
3 Apesar dos animais historicamente participarem do espetaacuteculo circense a legislaccedilatildeo atual
vem restringindo sua utilizaccedilatildeo Aleacutem do Decreto ndeg 2464534 referente a maus tratos e
crueldade aos animais a Lei de Proteccedilatildeo agrave Fauna (Lei 519767) prevecirc pena de reclusatildeo para
casos de animais silvestres mantidos em locais sem higiene sujeitados a trabalhos insalubres
alimentaccedilatildeo inadequada ou insuficiente dentre outros A Portaria 10894 regulamenta as
condiccedilotildees para a estadia dos animais em zooloacutegicos e circos cabendo agraves prefeituras autorizarem
ou natildeo a fixaccedilatildeo de circos que utilizem animais em seus nuacutemeros Este eacute um ponto bastante
polecircmico pois apesar dos ambientalistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos
alegando maus tratos mdash seja nos meacutetodos de adestramento ou pelo fato de retiraacute-los de seu
habitat natural mdash haacute quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute crueldade e
tampouco insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais
Contraditoriamente na Europa receacutem-industrializada do
seacutec XIX o universo gestual caracteriacutestico do circo apresentava
liberdade e descompromisso contrariando o pensamento burguecircs
da eacutepoca que defendia a utilidade de qualquer atividade fora do
mundo do trabalho Contrapondo-se agrave liberdade e ao luacutedico das
atividades circenses primava-se pelos exerciacutecios fiacutesicos cuidadoshy
samente pensados para finalidades especiacuteficas a partir dos grupos
musculares e de funccedilotildees orgacircnicas (SOARES 2005)
O circo permitia agrave plateia transitar do maacutegico e fascinante agrave
aberraccedilatildeo despertando os mais ambiacuteguos sentimentos Acrobatas
trapezistas e funacircmbulos desafiavam as leis da fiacutesica desprezando o
peso de seus corpos enquanto homens domavam animais selvagens
engoliam fogo faziam reviver animais mortos aleacutem de exibirem deshy
formaccedilotildees fiacutesicas Esses estrangeiros nocircmades fascinantes artistas cirshy
censes eram cada vez mais temidos pela elite dirigente pois
traziam o corpo como espetaacuteculo Invertiam a ordem
das coisas Andavam com as matildeos lanccedilavam-se ao
espaccedilo contorciam-se e encaixavam-se em potes cm
cestos imitavam bichos vozes produziam sons com
as mais diferentes partes do corpo cuspiam fogo
vertiam liacutequidos inesperados gargalhavam viviam
em grupos Opunham-se assim aos novos cacircnones
do corpo acabado perfeito fechado limpo e isolado
que a ciecircncia construiacutera da vida fixa e disciplinada
que a nova ordem exigia (SOARES 2005 p 25)
Como eram rentaacuteveis os espetaacuteculos circenses proliferaram-se
por toda a Europa com um crescente nuacutemero de grupos de artistas
apresentando-se na sua maioria em instalaccedilotildees fixas ao ar livre ou
em anfiteatros adaptados o que demonstra grande influecircncia do
circo nas formas de divertimento e entretenimento da populaccedilatildeo e
da burguesia crescente Satildeo estas companhias que emigraram mais
tarde para outros continentes (SILVA 2003 DUPRAT 2007)
E nos Estados Unidos que a arena do circo ganha um mastro
central e uma tenda surgindo os moldes do ldquocirco americanordquo ou
circo de lona Nas matildeos de PhineasTaylor Barnum mdash homem de neshy
goacutecios e eficiente publicitaacuterio a enorme tenda colorida aleacutem de
proporcionar maior conforto aos espectadores tornou-se uma exceshy
lente forma de divulgar e vender o espetaacuteculo Ao mudar de cidade
toda a estrutura era desmontada e levada pelo grupo
Com a possibilidade de adquirirem maior mobilidashy
de aliada agrave incorporaccedilatildeo de artistas dos vaacuterios paiacuteses
por onde passava o circo consolidava-se como um
espaccedilo de muacuteltiplas linguagens artiacutesticas que pressushy
punha todo um conjunto de saberes definidores de
novas formas de produccedilatildeo e organizaccedilatildeo de espetaacuteshy
culo animais mistura de nacionalidades acrobacias
nuacutemeros aeacutereos magia shows de variedades represhy
sentaccedilotildees teatrais com pantomimas e entradas de
palhaccedilos com ou sem diaacutelogo Para os defensores do
ldquocirco purordquo era um espetaacuteculo ecleacutetico demais que
mais parecia music hall um teatro de variedades do
que circo Apesar das criacuteticas e debates em torno dos
espetaacuteculos circenses a montagem e produccedilatildeo dos
mesmos continham as principais formas de expresshy
sotildees artiacutesticas contemporacircneas apresentando um reshy
sultado que misturava music hall variedades teatro
(cenas cocircmicas pantomimas operetas) ginaacutestica
acrobacia e animais (SILVA 2007 p 51)
Este modo de organizaccedilatildeo pressupunha certas caracteriacutesticas
definidoras e distintivas do grupo circense como o nomadismo e
uma forma coletiva de constituiccedilatildeo do profissional artista baseada
na transmissatildeo oral do conjunto de saberes e praacuteticas acumuladas a
partir da vivecircncia na lona A organizaccedilatildeo familiar era a base de susshy
tentaccedilatildeo do circo inclusive no que se refere agraves relaccedilotildees de trabalho
Era comum que todos soubessem um pouco de todos os aspectos
que envolviam aquela produccedilatildeo desde a rotina diaacuteria do circo - como
armar e desarmar a tenda preparar os nuacutemeros e peccedilas de teatro
cuidar dos animais limpeza do ambiente dentre outros mdash ateacute as teacutecshy
nicas ou habilidades especiacuteficas da apresentaccedilatildeo As crianccedilas cabia a
responsabilidade de preservar a tradiccedilatildeo Por causa da vida nocircmade
eram alfabetizadas nas escolas das cidades por onde o circo passava ou
por uma pessoa do proacuteprio circo Aqueles que natildeo nasciam no circo
mas que a ele se incorporavam passavam pelo mesmo ritual de aprenshy
dizagem ao qual passavam os menores
O circo no tempo da induacutestria do entretenimento
Essa estrutura do circo tradicional comeccedilou a sofrer alguma alteshy
raccedilatildeo jaacute na deacutecada de 1920 na entatildeo Uniatildeo Sovieacutetica4 mas eacute a partir
dos anos de 1970 entretanto que consolidou-se um movimento de
reestruturaccedilatildeo do circo - fruto do envolvimento de artistas de diversas
origens em paiacuteses da Europa Ocidental Austraacutelia Canadaacute e Brasil
fazendo com que o ensino das artes circenses extrapolasse o reduto da
lona e quebrasse assim uma de suas grandes tradiccedilotildees a transmissatildeo
de conhecimento de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SILVA ABREU 2009)
O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy
ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX aleacutem da facilishy
dade de acesso agrave informaccedilatildeo e da fluidez da cultura no entanto
ocasionaram uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves
apresentaccedilotildees circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios
e dos terrenos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidashy
des mdash a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de
uma poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que
inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais O
fato eacute que nos anos de 1970 havia mais de 2000 companhias cirshy
censes espalhadas pelo Paiacutes e em 2009 esse nuacutemero era estimado
em 500 circos de pequeno meacutedio e grande porte5
Circenses tradicionais preocupados com o futuro encaminham
seus filhos para a vida urbana fora das lonas Escolas de circo passaram
a formar novos artistas rompendo-se a relaccedilatildeo de ldquopertencimentordquo agrave trashy
diccedilatildeo circense O modelo familiar de circo sofreu uma ruptura abrindo
espaccedilo para o que se conhece atualmente como Circo Novo
4 Na deacutecada de 1920 logo apoacutes a Revoluccedilatildeo Russa iniciou-se na antiga Uniatildeo Sovieacutetica
um movimento de construccedilatildeo de escolas de circo para fora da lona ou para fora do
grupo familiar circense a partir da nacionalizaccedilatildeo do circo e dos teatros pelo governo
sovieacutetico (DUPRAT 2007) Apesar de natildeo ser objetivo deste artigo discutir o contexto
histoacuterico e poliacutetico desse fato natildeo podemos deixar de mencionaacute-lo por constituir a
primeira experiecircncia de uma escola de circo fora do processo de formaccedilatildeosocializaccedilatildeo
aprendizagem que sempre foi dado sob a lona
f5 Dados obtidos no site do Ministeacuterio da Cultura Disponiacutevel em lthttpwww
culturagovbrsite20090327funarte-estima-que-brasil-tenha-500-grupos-
circensesgt Acesso em 14 jul 2012
Neste sentido
o circo como um todo natildeo mais se responsabiliza pela
continuaccedilatildeo do ensino artiacutestico da geraccedilatildeo seguinte
este passou a ser responsabilidade de cada famiacutelia que
escolhe onde seus filhos vatildeo estudar na escola formal
ou no circo A partir da deacutecada de 1970 no Brasil
algumas escolas de circo foram fundadas por artistas
preocupados em transmitir a teacutecnica circense em fazer
a profissatildeo renascer todavia natildeo mais necessariamente
com os filhos de gente de circo (SILVA 1996 p 9)
O circo teve que se reinventar para sobreviver Considerado
como o ldquoCirco do Homemrdquo por valorizar somente o ser humano
em suas performances o Circo Novo busca adequar-se ao mercashy
do artiacutestico dos novos tempos
A tecnologia assume um papel fundamental nesse processo pois
permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalanche tecshy
noloacutegica os grandes circos se apropriam das produccedilotildees e se renovam
constantemente enquanto muitos circos pequenos sucumbem agrave conshy
correcircncia por natildeo coseguirem acompanhar esse movimento
A mercantilizaccedilatildeo que domina a quase totalidade das relaccedilotildees soshy
ciais e a submissatildeo da cultura da sauacutede e da educaccedilatildeo - e tambeacutem das
praacuteticas corporais mdash aos interesses do capital trazem uma consequente
descaracterizaccedilatildeo do universo do circo Como empresa o ldquocirco novordquo
adota uma forte divisatildeo do trabalho contando com profissionais resshy
ponsaacuteveis para as mais diversas tarefas e funccedilotildees
A principal mudanccedila que caracteriza o chamado ldquocirco novordquo
refere-se agrave relaccedilatildeo familiar o circo torna-se uma grande empresa
Os artistas natildeo mais pertencem agraves famiacutelias circenses satildeo ex-atleshy
tas ou profissionais formados em escolas de circo e contratados
pelas grandes companhias De acordo com Silva (1996) natildeo eacute
mais a famiacutelia que eacute contratada mas o artista um nuacutemero um
especialista que tem um determinado conhecimento especiacutefico
da tarefa e natildeo mais do funcionamento do circo como um todo
tornando o conjunto do conhecimento sobre o circo fragmentashy
do e hierarquizado Nesse sentido
O modo de transmissatildeo oral do circo-lamilu Im m i
sido quebrado A ideacuteia de que o artista tiniu qm lt i
completo - no sentido de que cada indiviacuteduo liu
parte de uma comunidade e a sobrevivecircncia do gi upo
dependia do seu trabalho como um todo - natildeo niiis
fundamenta o aprendizado Daacute-se origem a uma novi
maneira de se ser artista de circo e a novas formas draquo
organizaccedilatildeo do trabalho (SILVA 1996 p 153)
O exemplo mais representativo do circo-empresa - e o de
maior impacto midiaacutetico - eacute a Companhia de Entretenimento
Circo de Soleil considerado o maior impeacuterio circense do mundo
Utilizando o que haacute de mais contemporacircneo para o entretenimenshy
to do puacuteblico conta com 21 espetaacuteculos sendo 12 em turnecirc em 5
continentes aleacutem de 9 espetaacuteculos residentes (exclusivamente nos
Estados Unidos) O Circo de Soleil emprega mais de 5000 funcioshy
naacuterios em todo o mundo sendo mais de 1300 artistas contratados
A maioria desses artistas eacute composta por ex-atletas danccedilarinos
profissionais personagens de sucesso nos meios de comunicaccedilatildeo
que representam cerca de 50 nacionalidades e falam 25 idiomas
diferentes Mais de 100 milhotildees de pessoas jaacute assistiram aos espeshy
taacuteculos do circo desde sua fundaccedilatildeo em 19846
Unindo danccedila teatro e circo a elementos da tecnologia como efeishy
tos de luz e som computaccedilatildeo graacutefica conhecimentos de diversas aacutereas
para a performance de um artistaatleta este novo modelo requer artistas
polivalentes como por exemplo malabaristas-acrobatas acrobatas-clo-
wn clown-muacutesico etc No circo novo o mais importante natildeo eacute o mais
complicado arriscado ou sobre-humano mas o mais belo plaacutestico vishy
sual esteacutetico etc(BORTOLETO MACHADO 2003)
Aleacutem disso as atividades circenses viraram nicho cle mercado
e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de circo a
academias de ginaacutestica A arte circense tambeacutem eacute utilizada como
praacutetica assistencialista por ON Gs e outras entidades filantroacutepicas
como ldquoinstrumento pedagoacutegicordquo na busca da ldquomelhoria de vidardquo
dos envolvidos nos projetos (F IG U E IREDO 2007)
6 Dados obtidos no site do Circo de Soleil Disponiacutevel em lthttpwwwcirquedusoleil
comenwelcomeaspxgt Acesso em- n
Eacute esse universo do circo que propomos trazer para a escola de forshy
ma a possibilitar ao aluno a apropriaccedilatildeo do conhecimento e a adoccedilatildeo de
uma postura criacutetica frente agrave atual configuraccedilatildeo do espetaacuteculo circense
Apresentamos a seguir o relato de uma experiecircncia pedagoacutegica realishy
zada com alunos do 6o ano de uma escola municipal de Juiz de Fora
Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o circo
Ao iniciarmos a unidade buscamos identificar o niacutevel de consshy
ciecircncia dos alunos acerca do circo e os possiacuteveis interesses sobre a teshy
maacutetica Foram exibidos alguns viacutedeos de apresentaccedilotildees diversas (circo
tradicional C irque de Soleil apresentaccedilotildees de rua apresentaccedilotildees em
festas infantis na televisatildeo etc) Apoacutes a exibiccedilatildeo os alunos respondeshy
ram a duas questotildees O que eacute o circo Onde encontramos o circo atushy
almente As respostas foram registradas pelo professor A seguir foshy
ram explicitados os pontos que seriam abordados dentro do conteuacutedo
(histoacuteria e evoluccedilatildeo do circo as modalidades relaccedilotildees de trabalho e a
questatildeo ambiental) objetivos e atividades que seriam desenvolvidas
O segundo momento dentro da unidade didaacutetica foi a seleccedilatildeo de
questotildees relevantes para a discussatildeo e reflexatildeo dos alunos ou seja a problc-
matizaccedilatildeo Neste ponto foram delimitadas ainda as dimensotildees do conheshy
cimento a serem abordadas conforme apontamos no plano de unidade
No momento da instrumentalizaccedilatildeo foram desenvolvidas atividades
i accedilotildees tais como exibiccedilatildeo de viacutedeos leitura de textos vivecircncia das mais
iiversas modalidades circenses construccedilatildeo de materiais entre outras
Como forma de analisarmos o quanto o aluno apreendeu so-
gtre o conteuacutedo trabalhado propomos a criaccedilatildeo de uma apostila
obre o circo com a divisatildeo em grupos para a elaboraccedilatildeo de tex-
os sobre os toacutepicos de conteuacutedo trabalhados O objetivo desta
itividade consistiu em verificar o niacutevel de evoluccedilatildeo dos alunos
m relaccedilatildeo ao conhecimento sobre o circo (sua histoacuteria as moda-
idades teacutecnicas baacutesicas construccedilatildeo de materiais para a praacutetica
is novas configuraccedilotildees do circo atual os motivos pelos quais
iacuteoje existem poucos circos tradicionais as relaccedilotildees de trabalho
lentro do picadeiro dentre outros pontos) Outra atividade foi
a criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre 1 un
lizaccedilatildeo de animais nos espetaacuteculos circenses
No retorno agrave praacutetica social os alunos aprofundaram seus conltc
cimentos sobre o circo atraveacutes da pesquisa de textos e viacutedeos sobiv ltraquo
aspectos discutidos nas aulas e socializaram os conhecimentos com ou
tros alunos da escola atraveacutes da montagem de um espetaacuteculo circense
Plano de Unidade O lugar e hora do circo na escola
OBJETIVO GERAL
Compreender o circo enquanto manifestaccedilatildeo cultural a fim
de assumir postura criacutetica frente agraves novas configuraccedilotildees do espeshy
taacuteculo circense atual
Quadro 1 - Anuacutencio do conteuacutedo
M iacuteK IacuteS S amp K bull C i Jrsquo irfiiacuteV-rsquo P f
A histoacuteria do circo
Conhecer a histoacuteria do circo e suas transforshy
maccedilotildees
Identificar as diversas formas de apresentaccedilatildeo das
atividades circenses na atualidade (circo tradicional
circo novo atividades de rua festas infantis circo
social etc)
As modalidades circenses
Identificar as modalidades existentes no circo
malabarismo equilibrismo acrobacia maacutegica e
palhaccedilo
Vivenciar as principais modalidades que constituem
o circo
Construir materiais que possibilitem a experiecircncia
das modalidades circenses
O circo nos tempos atuais
Compreender as novas configuraccedilotildees do circo na atushy
alidade relacionando-as agraves exigecircncias da atual fase do
modo de produccedilatildeo capitalista (relaccedilotildees comerciais leis
trabalhistas trabalho infantil informalidade legislaccedilatildeo
de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos etc)
Circo legal tem animal
Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave utilizaccedilatildeo de anishy
mais no circo
Posicionar-se criticamente frente agrave utilizaccedilatildeo de
animais no circo
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
1) PRAacuteTICA SOCIAL IN IC IAL D O CONTEUacuteDO
11 Vivecircncia do Conteuacutedo
bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo O circo eacute um
espetaacuteculo com vaacuterios artistas eacute divertido tem maacutegica
palhaccedilo acrobatas ldquoanimais ferozesrdquo tem gente que faz
circo na rua etc
bull O que eles gostariam de saber a mais Como surgiu o circo
Como fazer maacutegica malabarismo equilibrismo etc Como
sobrevive um artista de circo Como satildeo tratados os animais
que vivem no circo
2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO
Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees
problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas
Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas
TOacutePICO DE
CONTEUacuteDO DIMENSOtildeES
bulltgt t bull
QUESTAtildeO PROBLEMA
Respeitaacutevel puacuteblishy
co o circo chegouConceituai
O que eacute o circo
O que eacute circo tradicional
O que eacute circo novo
A histoacuteria do circo Histoacuterica
Quem inventou o circo
Onde ele surgiu
O circo de hoje eacute igual ao de antigashy
mente
Quais satildeo as modificaccedilotildees pelas quais
o circo passou ateacute hoje
As modalidades cirshy
censes
Conceituai
Teacutecnica
Quais satildeo as modalidades que constishy
tuem o circo
Quais satildeo as teacutecnicas baacutesicas das moshy
dalidades circenses
O circo nos tempos
atuais
Econocircmica
Poliacutetica
Social
Legal
Onde vemos artistas de circo
Por que natildeo temos tantos circos se
apresentando hoje em dia
Os artistas de circo recebem salaacuterio
Quais as condiccedilotildees sociais e de trabashy
lho de um artista de circo ldquofamosordquo e
de um circo ldquosimplesrdquo
Quanto custa um ingresso de um cirshy
co famoso
Como eacute a relaccedilatildeo da crianccedila com o
trabalho no circo
O que precisa para um circo se estabeleshy
cer em uma cidade
Por que o circo vai embora
Circo legal tem anishy
mal V
Poliacutetica
Legal
Histoacuterica
gt
Como os animais foram incorporashy
dos ao circo
Como o circo conseguia os animais
para suas apresentaccedilotildees
E permitido ter animais selvagens no
circo atualmente
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO
Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo
x lsquo bull --ir Ywl-ft bull V Avbdquo iacutei - - iacute
- Conteuacutedo Dimensotildees v l p sect p |
Respeitaacutevel puacuteblico
o circo chegou
Conceituar circo
Compreender o circo enquanto
produccedilatildeo histoacuterica do homem
ConceituaiExposiccedilatildeo teoacuterica e exibiccedilatildeo de viacutedeos
sobre o circo
Viacutedeo produzido pelos autores disshy
poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy
do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo86
A histoacuteria do circo
Conhecer a histoacuteria do circo e suas
transformaccedilotildees
Identificar as diversas formas de
apresentaccedilatildeo das atividades circenshy
ses na atualidade (circo tradicional
circo novo atividades de rua festas
infantis circo social etc)
Relacionar a expansatildeo das atividashy
des circenses com a configuraccedilatildeo
da sociedade atual
Histoacuterica
Econocircmica
Poliacutetica
Exibiccedilatildeo de viacutedeos e fotos sobre a histoacuteria
do circo e as mais diversas formas de apreshy
sentaccedilatildeo das atividades circenses atuais
Leituras de textos sobre a histoacuteria do circo
Textos sobre a histoacuteria do circo
Viacutedeo produzido pelos autores disshy
poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy
do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
7 Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012
8 Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03Ieis18069htmgt Acesso em 09042013
laquo M M
As modalidades cirshy
censes
Identificar as modalidades exisshy
tentes no circo malabarismo
equilibrismo acrobacia maacutegica e
palhaccedilo
Vivenciar as principais modalidashy
des que constituem o circo
Construir materiais que possibilishy
tem a experiecircncia das modalidades
circenses
Conceituai
Teacutecnica
Exibiccedilatildeo de viacutedeos editados das modalishy
dades do circo Acrobacias (individuais
coletivas de solo e aeacutereas) Malabarismo
(dc contato equiliacutebrio dinacircmico giros-
coacutepico e de lanccedilamento) Equilibrismo
Maacutegica Palhaccedilo (Cara Branca Miacutemico
Augusto Vagabundo Augusto Europeu)
Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das princishy
pais modalidades circenses
Construccedilatildeo de materiais para a vivecircncia
dessas modalidades
Viacutedeos disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo
e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Bolas de soprar garrafas pet jornal
fita adesiva barbante cabos de vassoushy
ra cilindros de papelatildeo ou canos de
ferro para construccedilatildeo dos materiais
Materiais para a vivecircncia bolinhas
de borracha claves swings rola-rola
diabolocircs devilstick etc
O circo nos tempos
atuais
Compreender as novas configurashy
ccedilotildees do circo na atualidade relacio-
nando-as agraves exigecircncias da atual fase
do modo de produccedilatildeo capitalista
(relaccedilotildees comerciais leis trabalhisshy
tas trabalho infantil informalidade
legislaccedilatildeo de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteshy
blicos etc)
Econocircmica
Poliacutetica
Social
Legal
Exibiccedilatildeo e discussatildeo do programa ldquoProshy
fissatildeo Repoacuterterrdquo sobre o circo
Anaacutelise da legislaccedilatildeo (ECA87 lei ambienshy
tal e leis de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos)
Viacutedeo disponiacutevel em no blog ldquoConshy
teuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educashy
ccedilatildeo Fiacutesicardquo
ECA
Leis ambientais e de locaccedilatildeo de espashy
ccedilos puacuteblicos
Circo legal tem anishy
mal
Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave
utilizaccedilatildeo de animais no circo
Posicionarmdashse criticamente frente agrave
utilizaccedilatildeo de animais no circo
Poliacutetica
Legal
Histoacuterica
Exibiccedilatildeo de viacutedeos e leitura de textos que
discutam a questatildeo dos animais do circo
Anaacutelise da legislaccedilatildeo ambiental
Organizaccedilatildeo de um juacuteri simulado
Viacutedeos e textos disponiacuteveis no blog
ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de
Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
4) CATARSE
41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno
O circo eacute uma das manifestaccedilotildees culturais mais tradicionais da
humanidade que encanta pela capacidade de transformar o banal em
inacreditaacutevel transformar o impossiacutevel em coisa simples Ao mesmo
tempo sua sobrevivecircncia oscila entre o popular e a falta de incentivo
entre a vontade de fazer parte e o alto custo dos espetaacuteculos
No decorrer dos anos o circo se modificou antes as famiacutelias
tradicionais faziam da vida embaixo da lona um lar vaacuterias viashy
gens e seu trabalho Entretanto agora artistas e admiradores se
apresentam nas ruas em grandes e pequenos circos em grandes
empresas de entretenimento nas escolas nas academias espaccedilos
puacuteblicos e privados
Fazem parte do espetaacuteculo circense apresentaccedilotildees de malashy
barismo equilibrismo maacutegica palhaccedilos e acrobacias cujo prinshy
cipal objetivo eacute a diversatildeo do puacuteblico o que requer o aprendizashy
do de teacutecnicas especiacuteficas e treinamento diaacuterio por muitos anos
O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy
ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX ocasionaram
uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves apresentaccedilotildees
circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios e dos tershy
renos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidades mdash
a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de uma
poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que
inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais
Em menos de 30 anos o nuacutemero de circos existentes no Brasil
reduziu-se significativamente abrindo espaccedilo para as grandes
companhias de circo onde os artistas natildeo mais pertencem agraves
famiacutelias circenses satildeo ex-atletas ou profissionais formados em
escolas de circo e contratados pelas grandes companhias que tem
um determinado conhecimento especiacutefico da tarefa e natildeo mais o
conhecimento do funcionamento do circo como um todo
Aleacutem disso a tecnologia assume um papel fundamental no espetaacuteshy
culo pois permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalan
che tecnoloacutegica os grandes circos se apropriam das prod i iccedilolaquo bull laquo
novam constantemente enquanto muitos circos pequenos mu uiuU
agrave concorrecircncia por natildeo conseguirem acompanhar esse movimento
Atualmente as atividades circenses viraram nicho de nu 1 laquo raquo
do e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de 1 1 1 1
a academias de ginaacutestica
Apesar dos animais historicamente participarem do espeta
culo circense a legislaccedilatildeo atual vem restringindo sua utilizaccedilatildeo
protegendo-os de maus tratos e condiccedilotildees insalubres de vida
Este eacute um ponto bastante polecircmico pois apesar dos ambienshy
talistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos haacute
quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute cruelshy
dade ou insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais
42 Expressatildeo da Siacutentese
bull Construccedilatildeo de uma apostila sobre o circo abordando os
temas trabalhados nas aulas
bull Criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a
utilizaccedilatildeo de animais no circo
5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO
Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos
51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO
A p ro fu n d a r os conhecim entos sobre
o circo
Pesquisar textos e viacutedeos sobre
os aspectos discutidos nas aulas
Socializar os conhecim entos apreenshy
didos durante as aulas
M ontagem de u m espetaacuteculo
circense
Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)
Consideraccedilotildees finais
Destacamos que o presente texto pretendeu apenas apresentar
uma dentre as inuacutemeras possibilidades pedagoacutegicas de trabalho com
esse universo tatildeo rico e tatildeo fascinante como o universo circense
Buscou-se conhecer a histoacuteria do circo analisando suas transformashy
ccedilotildees ao longo dos tempos identificar e vivenciar as diversas modalidashy
des de forma contextuaiizada e desmistificada Compreender as relaccedilotildees
de trabalho existentes no circo tradicional e nas manifestaccedilotildees circenses
atuais significa compreender o circo enquanto produto da atividade hushy
mana resultado do desenvolvimento histoacuterico parte importante do pashy
trimocircnio cultural humano que precisa ser transmitido pela escola
Referecircncias
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SOBRE OS AUTORES
Adriano de Paiva Reis eacute professor de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Prefeishy
tura Municipal de Juiz de Fora desde 2010 Graduado em Educaccedilatildeo
Fiacutesica pela UFJF desde 2008 foi Professor substituto do Coleacutegio de
Aplicaccedilatildeo Joatildeo XXIII Bolsista dos projetos ldquoPortal do Professor do
M ECrdquo e extensatildeo ldquoNovas Experiecircncias Pedagoacutegicas em Educaccedilatildeo
Fiacutesica Escolarrdquo E-mail adriano_reisrocketmailcom
Aacutelvaro de Azeredo Quelhas eacute Doutor em Ciecircncias Sociais pela Unishy
versidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo - Campus Mariacutelia
Mestrado em Educaccedilatildeo Fiacutesica na aacuterea de ldquoPedagogia da Educaccedilatildeo Fiacutesica
e do Esporterdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Especializaccedilatildeo
nas aacutereas de ldquoFutebolrdquo e ldquoEducaccedilatildeo Psicomotora na Educaccedilatildeo Fiacutesica do Io
graurdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Licenciado em Edushy
caccedilatildeo Fiacutesica e Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Trabalhou na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (1985-1997) como
professor do ensino fundamental (disciplina - Educaccedilatildeo Fiacutesica) aleacutem de
possuir experiecircncia como professor em academias de ginaacutestica e treinador
esportivo em clubes e empresas E professor do Departamento de Educaccedilatildeo
da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz de Fora desde
abril de 1997 E membro do Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educashy
ccedilatildeo (NETEC) da FACEDUFJF Seus estudos e pesquisas estatildeo voltados
para as transformaccedilotildees no mundo do trabalho e as formas de reestruturaccedilatildeo
produtiva com foco na precarizaccedilatildeo do trabalho em interface com os proshy
cessos educativos E-mail alvaroquelhasuolcombr
Andreacute Silva Martins eacute professor da Faculdade de Educaccedilatildeo
da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) onde integra o
Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo E vinculado tamshy
beacutem ao Coletivo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJV
Fiocruz) Integra o quadro docente do Programa de Poacutes-Gradua-
ccedilatildeo da UFJF E Mestre e Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade
Federal Fluminense E-mail andresilvamartinsglobocom
Carla Cristina Carvalho Pereira eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
(1996) poacutes graduada em Ednrarotilder cmdash 1
sidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestra em Educaccedilatildeo (2003)
pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Atua como professora da
rede municipal de Juiz de Fora desde 1998 Estuda temas relacionados
agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar nas aacutereas de danccedila-educaccedilatildeo planejamento e
avaliaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica E-mail carlacccphotmailcom
Carlos Eduardo de Souza eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestre em
Educaccedilatildeo pela UFJF Atua como professor da rede municipal e
particular em Juiz de Fora E-mail kadusjnyahoocombr
Frederico Duarte Gomes Tostes possui Licenciatura e Bachashy
relado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF) Estagiou em escolas puacuteblicas de Juiz de Fora e foi bolsista no
Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo Joatildeo XX III da Universidade Federal de Juiz de
Fora onde atuou no projeto de extensatildeo de Atividades Circenses para
alunos do ensino fundamental Atualmente faz cursos na Escola de
Circo Carequinha em Juiz de Fora E-mail fred_hikohotmailcom
Giovana de Carvalho Castro eacute professora da rede municipal de Juiz
de Fora Possui graduaccedilatildeo em Histoacuteria (2001) e mestrado em Ciecircncia da
Religiatildeo (2005) pela Universidade Federal de Juiz de Fora Tem experishy
ecircncia na aacuterea de Histoacuteria e Ciecircncia da Religiatildeo com ecircnfase em Histoacuteria
do Brasil Metodologia do Ensino de Histoacuteria Patrimocircnio Cultural Hisshy
toacuteria da Aacutefrica e Cultura Religiosa E-mail giovanahistoriabolcombr
Graziany Penna Dias possui Licenciatura cm Educaccedilatildeo Fiacutesica pela
Universidade Federal de Juiz de Fora (2000) e Mestrado em Educaccedilatildeo
pela Universidade Federal Fluminense (2006) Eacute vinculado ao Coletishy
vo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJVFiocruz) Atualmente
eacute professor do Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do
Sudeste de Minas - IFSUDESTEMG - Campus Juiz de Fora Estuda
temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar lazer poliacutetica educacional
e a relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo E-mail grazianydiasifsudestemgedubr
Hajime Takeuchi Nozaki possui Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1993) mestrado
em Educaccedilatildeo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1997)
e doutorado em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense
(2004) no campo Trabalho e Educaccedilatildeo Atualmente eacute professor asshy
sociado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Leciona na
graduaccedilatildeo no campus de Trecircs Lagoas e na poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo
no campus de Corumbaacute Dedica-se aos estudos na aacuterea de Trabalho
e Educaccedilatildeo atuando principalmente nos seguintes temas mundo do
trabalho e Educaccedilatildeo Fiacutesica formaccedilatildeo humana qualificaccedilatildeo dos trabashy
lhadores da faacutebrica E-mail hajimenozakiuolcombr
Herbert Hischter Chaves de Paula eacute graduado em Educaccedilatildeo
Fiacutesica pela Universidade Salgado de Oliveira - Universo (Juiz de
Fora) e poacutes-graduado em Danccedila e Consciecircncia Corporal pela Unishy
versidade Gama Filho (Belo Horizonte) E ator bailarino produtor
diretor e coreoacutegrafo e atua como professor de Danccedila e Teatro na
rede municipal de Juiz de Fora E-mail hhcpl911hotmailcom
Leonardo Docena Pina eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica e Messhy
tre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Atualmente cursa o doutorado em Educaccedilatildeo nessa mesma instituiccedilatildeo
e atua como professor da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de
ForaMG Desde 2008 integra o Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e
Educaccedilatildeo da UFJF E-mail leodocenayahoocombr
Marcelo Silva dos Santos possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2001) mestrado em Edushy
caccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense (2005) e eacute doutorando
em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana na Universidade do Esshy
tado do Rio de Janeiro (UERJ) Estuda temas relacionados agrave aacuterea de
trabalho e educaccedilatildeo Atualmente eacute professor do IFET Sudeste e da
rede municipal de Juiz de Fora E-mail marceloss2003igcombr
Miguel Fabiano de Faria eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela
UFJF e Mestre em Educaccedilatildeo pela UFMG Atua como professor na
educaccedilatildeo baacutesica e superior no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia
e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais - Campus Juiz de Fora Esshy
tuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar Lazer e Histoacuteria da
Educaccedilatildeo E-mail miguelfariaifsudestemgedubr
Mocircnica Jardim Lopes eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica e mes-
tranda em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Atua como professora da rede puacuteblica de ensino dos municiacutepios de
Juiz de Fora (MG) e de Trecircs Rios (RJ) E militante do Movimento
Nacional Contra a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica
(MNCR) E-mail monicajlopesyahoocombr
Nathaacutelia Sixel Rodrigues eacute Licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora Estagiou em Escolas puacuteshy
blicas da cidade como IFET e Escola Municipal Professora Thereza
Falei onde buscou tematizar o conteuacutedo Ginaacutestica na Educaccedilatildeo
Fiacutesica Atualmente atua como professora de ginaacutestica em academias
de Juiz de Fora E-mail naty_sixelhotmailcom
Priscila Rocha Rodrigues eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Atua como
professora de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de
ensino em Juiz de ForaMG E-mail prixrochayahoocombr
Rafael Loures dos Reis Bellei atua como professor do ensino
fundamental nas redes municipais de Juiz de Fora-MG eTrecircs Rios-
-RJ e no ensino fundamental e meacutedio na rede particular de Juiz
de Fora-MG O autor eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela UFJF
Estuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar e a relaccedilatildeo
trabalho-Educaccedilatildeo Fiacutesica M ilita no Movimento Nacional Contra
a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica - M NCR
E-mail rafabelleiyahoocombr
Ramon Mendes da Costa Magalhatildees possui Licenciatura e
Bacharelado pela Faculdade de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desportos (FA-
EFID) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) no ano de
2011 atualmente residente de Educaccedilatildeo Fiacutesica do programa de Reshy
sidecircncia Multiprofissional em Sauacutede do Adulto com Foco em Doshy
enccedilas Crocircnico Degenerativas no Hospital Universitaacuterio da Univershy
sidade Federal de Juiz de Fora (HUUFJF) no periacuteodo 20122014
E-mail ramon_mc_magalhaeshotmailcom
Renata Aparecida Alves Landim eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacuteshy
sica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) especialista
m Educaccedilaacuteo Fiacutesica escolar pela UFJF e mestre em educaccedilatildeo pela
Universidade Federal Fluminense (UFF) Atualmente eacute professora do
ensino fundamental na rede puacuteblica municipal de Juiz de l o i i jgti
fessora temporaacuteria da Faculdade de Educaccedilatildeo da UFJF E v i i u ulraquolaquoi raquo
ao nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo da UFJE I m u i raquo
temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar poliacutetica educaraquo i o n i l
trabalho-educaccedilatildeo E-mail renatalandimhotmailcom
Thiago Barreto Maciel possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesui
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2007) Especializaccedilatildeo em
aspectos metodoloacutegicos e conceituais da pesquisa Cientiacutefica pela Uni
versidade Federal de Juiz de Fora (2008) Atualmente eacute professor do
Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste de
Minas Gerais - Campus Barbacena Tem experiecircncia na aacuterea de Edushy
caccedilatildeo Fiacutesica com ecircnfase em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana
E-mail tbarretomacielgmailcom
Victoacuteria de Faacutetima de Mello eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especialista em
Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar pela mesma instituiccedilatildeo Atua como professora
de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de ensino em Juiz
de Fora Atualmente dirige o Sind-Ute (Sindicato dos Trabalhadores
em educaccedilatildeo de Minas Gerais) E-mail vicmellloyahoocombr
I n f o r m a ccedil otilde e s G r aacute f ic a s
Formato 16 x 23 cm
Mancha graacutefica 112 x 194 cm
Tipologia Myriad Pro - Adobe Garamond Pro
Papel Offset 90gm2 (miolo) - Cartatildeo Supremo 250gm2 (capa)
Tiragem 500 exemplares
Impressatildeo e acabamento Graacutefica e Editora Brasil Ltda