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Page 1: Adriano de Paiva Reis · 2019. 8. 31. · Pedagogia histórico-crítica na construção da metodologia do ensino dos conteúdos específicos da cultura corporal na escola, destacando

Adriano de Paiva Reis

Carla Cristina Carvalho Pereira

Leonardo Docena Pina

Renata Aparecida Alves Landim

(Organizadores)

Pedagogia Histoacuterico-Criacutetica e

Educaccedilatildeo Fiacutesica

Juiz de Fora

2013

Este livro ou pane dele naacuteo pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizaccedilatildeo expressa da editora

O conteuacutedo desta obra aleacutem de autorizaccedilotildees relacionadas aacute permissatildeo de uso de imagens eou textos de outro(s) autor(es)

eacute de inteira responsabilidade do(s) autor(es) eou organizador(es)

U N IV E R S ID A D E FED ERA L D E JU IZ D E FORA

R e i t o r

H e n r iq u e D u q u e d e M i r a n d a C hav e s F i lh o

V ic e -R e it o r

Joseacute L u iz R e z e n d e P e re ira

EDITORAU F J F

D iret o r da E d it o r a U F JF P residen t e d o

C o n s e l h o Ed it o r ia l

A n t e n o r Sa l ze r R o d r ig u e s

C o n s e l h o E d it o r ia l

A f o n s o C elso C a r v a lh o R o d r ig u e s

Fa b r iacutec io A l v im C a r v a lh o

Fr e d e r ic o Br a id a

H e n r iq u e N o g u e ir a R e is

R o g eacute r io C a s a g r a n d e

Su e m M a r ia d o s R e is Sa n t o s

St u d io E d it o ra UFJF

P r o jet o G ragrave i ic o E d it o r a ccedil atilde o C apa

A l e x a n d r e Aacute lvaro S ilva

R evisaacuteo d e P ortu gu ecircs

Ja c k s o n L e o c aacute d io

Rm sAo de N orm as T eacutecn icas

N a t h a l ie Reis I ta b o r a I

Pedagogia hisloacuterico-criacutetica e Educaccedilatildeo Fiacutesica Adriano de Paiva Reis

[ et al] organizadores - Juiz de Fora Editora UFJF 2013

196 p

ISBN 978-85-7672-175-8

1 Pedagogia - Histoacuteria - Critica 2 Pedagogia criacutetica 3

Educaccedilatildeo fisica 1 Reis Adriano dc Paiva

CDU 37013(091)

Este livro obedece agraves normas do Acordo Ortograacutefico da Liacutengua Portuguesa promulgado pelo

Decreto n 6583 de 29 de setembro de 2008

E d i t o r a UFJF

R u a Benjam in C o n s ta n t 790 C e n t r o - Juiz de Fora - M G

Cep 36015 -4 0 0 FoneFax (32 ) 3229-76 45

(32) 3229-76 46 secretariaeditoraulfcombr

distribuicaocditoraufjfedubr

wwwed itoraufjfcombr

Prefaacutecio

Celi Nelza Zulke Tajfarel

Introduccedilatildeo_________________________________________________ 15

Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira Hajime Takeuchi

Nozaki Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim

Capiacutetulo I

Sobre a funccedilatildeo e especificidade da educaccedilatildeo escolar

no mundo contemporacircneo ________________________________________________________ 23

Andreacute Silva Martins

Capiacutetulo II

() ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e a formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos

cm busca dos fundamentos teoacutericos e metodoloacutegicos ___________________________17

Adriano de Paiva Reis Aacutelvaro de Azeredo Quelhas Carla Cristina Carvaliw

Pereira Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim

Capiacutetulo III

produccedilatildeo da cultura luacutedica em jogos eletrocircnicos____________________________63

Priscila Rocha Rodrigues Renata Aparecida Alves Landim Ihiago

Barreto Maciel e Victoria de Faacutetima de Mello

lt upiacutemlo IV

V ilt liltc)es entre esporte e sauacutede no capitalismo temati-

uniu ion tradiccedilotildees na educaccedilatildeo escolar________________________________________ 21

Carlos Eduardo de Souza Leonardo Docena Pina e Mocircnica Jardim Lopes

v gt laquo ip i l U I O V

O M M A como ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo____________________________________ 109

Adriano de Paiva Reis Graziany Penna Dias Rafael Loures dos Reis

Bellei e Renata Aparecida Alves Landim

Capiacutetulo VI

A voz da periferia o H ip H o p enquanto possibilidade de

trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ________________________________________129

Adriano de Paiva Reis Carta Cristina Carvalho Pereira Giovana de

Carvaliyo Castro Herbert Hischter Chaves de Paula Marcelo Silva dos Santos

Capiacutetulo VII

A disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutestica_____________________________149

Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel

Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees

Capiacutetulo V III

O lugar e hora do circo na escola reflexotildees sobre a reinven-

ccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircnea----------------------1Z1

Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira

e Frederico Duarte Gomes Tostes

Sobre os autores 191

PREFACIO

No momento em que os estudos sobre a escola capitalista demonsshy

tram a sua degeneraccedilatildeo e decomposiccedilatildeo o seu esvaziamento proposishy

tal e seu rebaixamento teoacuterico para desqualificar a formaccedilatildeo da classe

trabalhadora na mais tenra idade surge contraditoriamente fruto de

experiecircncias concretas no chatildeo desta mesma escola a obra organizada

por Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira Leonardo

Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim intitulada Pedagogia histoacuterico-criacutetica e Educaccedilatildeo Fiacutesica

Do que trata este livro que lhe confere uma singularidade iacutempar

em meio a confrontos e conflitos de classe cada vez mais acirrados

Como uma das autoras do Livro Metodologia do Ensino da

Educaccedilatildeo Fiacutesica (COLETIVO DE AUTORES 1992) e portanto

testemunha histoacuterica de um esforccedilo nacional de mais de 20 anos enshy

frentando a criacutetica a didaacutetica e a organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico

na escola capitalista reconheccedilo que o propoacutesito dos autores do livro eacute

de vital importacircncia para a formaccedilatildeo escolarizada de crianccedilas e jovens

ms quais tecircm sido negados os conteuacutedos que permitem a humanizashy

ccedilatildeo como o satildeo os conteuacutedos da cultura corporal

Como demonstram os autores da obra - jovens intelectuais mili-

lanies culturais de formaccedilatildeo marxista - natildeo satildeo quaisquer conteuacutedos

I serem tratados na escola que garantiratildeo a humanizaccedilatildeo e natildeo eacute qual-

lt | i u t meacutetodo no trato com o conhecimento que asseguraraacute a formaccedilatildeo

lt miiK ipatoacuteria Satildeo conteuacutedos tratados com criteacuterios considerando a

iriicse o desenvolvimento a atribuiccedilatildeo de sentidos e significados agraves ati-

iilules corporais ao longo do percurso histoacuterico da humanidade Cri-

laquo nos que dizem respeito agraves capacidades cognoscentes e cognoscitivas

laquolltraquo estudantes compreendendo-as na totalidade do ser humano con-

lotmc e xplica a teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural a contemporanei-

raquobulllt laquolos conteuacutedos e seu conhecimento por sucessivas aproximaccedilotildees ao

iltlt n ui lura corporal que permitem os saltos qualitativos do

nm i iilo sincreacutetico e da mera sistematizaccedilatildeo de dados da realidade

i Ugtlt i u h t de novas siacutenteses qualitativamente superiores com autodeshy

terminaccedilatildeo e criatividade Aprimora-se assim pelas atividades corposhy

rais tratadas com o rigor do meacutetodo toda a capacidade do ser humano

Percurso este que deve ser recuperado por cada um de noacutes sem o qual

natildeo nos humanizamos E isto eacute possiacutevel pela educaccedilatildeo principalmente

escolarizada que forma seres humanos porque incide nas suas funccedilotildees

psicoloacutegicas superiores pelas atividades relacionais com os demais seres

humanos com a natureza com a cultura e consigo mesmo Por isto

esta obra eacute de fundamental importacircncia

Na introduccedilatildeo os autores Adriano de Paiva Reis Carla Cristina

Carvalho Pereira Hajime Takeuchi Nozaky Leonardo Docena Pina e

Renata Aparecida Alves Landim tratam de refletir sobre os limites e

possibilidades da discussatildeo sobre a didaacutetica da Educaccedilatildeo Fiacutesica Assushy

mem os autores a posiccedilatildeo teoacuterica e reconhecem que a ldquoperspectiva da

reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal presente no livro Metodologia

do Ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e denominada por noacutes de abordagem

Criacutetico-superadora foi eacute e seraacute um marco enquanto referecircncia mais

desenvolvida fundamentada em uma teoria marxista de educaccedilatildeo na

teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural na teoria do conhecimento mate-

rialista-histoacuterica-dialeacutetica e na Pedagogia histoacuterico-criacutetica

Justificam e assumem assim os autores que a Educaccedilatildeo Fiacutesica

ao transmitir os conhecimentos historicamente acumulados sobre a

cultura corporal se justifica na escola por socializar um conhecimento

essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade

A partir destas posiccedilotildees iniciais enfrentam o desafio e as difishy

culdades de organizarplanejarsistematizar o ensino da Educaccedilatildeo

Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corshy

poral Tensionam durante a obra o par dialeacutetico conteuacutedo-meacutetodo

modulador de alteraccedilotildees significativas na organizaccedilatildeo do trabalho

pedagoacutegico na salaquadra de aula e na escola

O trabalho com os professores da educaccedilatildeo baacutesica demonsshy

tra que aleacutem dos problemas na formaccedilatildeo faltam referecircncias conshy

cretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas com os diversos

conteuacutedos da cultura corporal E nesta busca lanccedilam-se os autoshy

res nos trazendo uma contribuiccedilatildeo de grande relevacircncia

O que eacute descrito no livro eacute fruto de um trabalho coletivo de mais de 20

professores e que ganha sistematizaccedilatildeo nos escritos destes jovens professores

que se dispuseram a ampliar os conhecimentos a respeito da metodologia

Criacutetico-superadora aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal

Tratam portanto da criacutetica agrave didaacutetica mas natildeo com a pretensatildeo

de resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

que estatildeo relacionados com as condiccedilotildees de vida e de trabalho dos

professores e estudantes Ou seja reconhecem as determinaccedilotildees da

economia poliacutetica que pesam sobre a escola e que natildeo seraacute somente

a iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores que resolveraacute a complexidade

que eacute o processo de destruiccedilatildeo das forccedilas produtivas a destruiccedilatildeo da

escola e a destruiccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico

Com muita honestidade cientiacutefica reconhecem os limites da

discussatildeo didaacutetica frente ao problema da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica

mas ressaltam a importacircncia da obra para ampliar as possibilidades

de transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar

O livro estaacute organizado em oito capiacutetulos que se articulam de forma

consistente e coerente Inicialmente os autores propotildeem uma discussatildeo

de caraacuteter mais geral abordando a funccedilatildeo e especificidade da escola e da

Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemporacircneo A partir da delimitaccedilatildeo clara

da concepccedilatildeo de educaccedilatildeo e de Educaccedilatildeo Fiacutesica que defendem passam

entatildeo a discutir a praacutetica pedagoacutegica atraveacutes de uma seacuterie de artigos sobre

possibilidades de temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos da cultura

inrporal - jogos esporte luta ginaacutestica danccedila e circo

() texto assinado por Andreacute Silva Martins trata de questionar a

Iunccedilatildeo social da escola e dentro dela o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica

lis natildeo o faz desprovido de dados que permitem constatar e explicar

ltmio a Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar foi uma ativida-

llt lt tijltgt objetivo central era promover o desenvolvimento da aptidatildeo

i ilt j ltgt lt|iklsquo foi alterado como foram alteradas as bases econocircmica

| x raquoI i i h i da sociedade brasileira que implicaram em alteraccedilotildees na

oli i i onsequentemente na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar

lt K iinores do texto sobre ldquoO ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e

(bulliniHio de sujeitos histoacutericos em busca dos fundamentos

teoacutericos e metodoloacutegicosrdquo tratam de demonstrar o surgimento

de propostas com outros princiacutepios definidores para a praacutetica

pedagoacutegica nos idos dos anos 1980 e 1990 Tratam das propostas

demonstrando nexos e relaccedilotildees entre a metodologia do ensino

as teorias educacionais pedagoacutegica a teoria do conhecimento e

o projeto histoacuterico Anunciam assim em um trabalho coletivo

novas bases da Educaccedilatildeo Fiacutesica na Rede de Ensino

Com base nos estudos de Saviani (1987) sobre Escola e Deshy

mocracia satildeo discutidas as tendecircncias da educaccedilatildeo e levanta-se de

iniacutecio a hipoacutetese de que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas

ainda possuem um papel a cumprir mdash contribuir na superaccedilatildeo do

capitalismo com o que temos pleno acordo

Ao tecer criacuteticas agraves concepccedilotildees sobre a educaccedilatildeo escolar o livro

traz uma contribuiccedilatildeo agrave educaccedilatildeo em geral e para todas as aacutereas de coshy

nhecimento que se organizam no interior da escola Defende-se por

fim a finalidade da educaccedilatildeo escolar para a emancipaccedilatildeo humana

Ao apresentar a perspectiva marxista de emancipaccedilatildeo humana

Aacutelvaro de Azeredo Quelhas Adriano de Paiva Reis Carla Cristina

Carvalho Pereira Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves

Landim recuperam os elementos histoacutericos apresentados por claacutessishy

cos como Marx e Engels que permitem afirmar a existecircncia sim de

uma teoria marxista da educaccedilatildeo Teoria esta que vem sendo sisteshy

maticamente negada na formaccedilatildeo dos professores A partir da base

teoacuterica mais geral adentram nas sistematizaccedilotildees sobre Educaccedilatildeo e

Trabalho para por fim reconhecer a importacircncia da mediaccedilatildeo da

Pedagogia histoacuterico-criacutetica na construccedilatildeo da metodologia do ensino

dos conteuacutedos especiacuteficos da cultura corporal na escola destacando

a obra Metodologia do Ensino de Educaccedilatildeo Fiacutesica do Coletivo de Aushy

tores (1992) obra onde eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal visando elevar a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enshy

quanto sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em

que vive Para tanto parte-se da praacutetica social que eacute problematizada

pela constataccedilatildeo sistematizaccedilatildeo compreensatildeo e explicaccedilatildeo cientiacutefishy

ca do real visando a praacutexis revolucionaacuteria criativa superadora o que

somente eacute possiacutevel com a ampliaccedilatildeo aprofundamento do conhecishy

mento historicamente acumulado e a autodeterminaccedilatildeo dos estushy

dantes Daiacute a relevacircncia social do trato com os conteuacutedos segundo

a teoria do conhecimento dialeacutetica-materialista-histoacuterica Portanto

natildeo seraacute qualquer conteuacutedo e muito menos qualquer meacutetodo para

tratar o conhecimento que permitiraacute a elevaccedilatildeo da capacidade teoacuterishy

ca dos estudantes E necessaacuterio o meacutetodo explicado e demonstrado

por Marx e Engels aplicado ao ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica na escola

- o meacutetodo materialista histoacuterico-dialeacutetico enquanto loacutegica e teoria

do conhecimento

Nos capiacutetulos seguintes a coerente e consistente abordagem

teoacuterica eacute demonstrada no trato com ldquoA produccedilatildeo da cultura luacutedica

em jogos eletrocircnicos rdquo texto de autoria de Renata Aparecida Alves

Landim Victoacuteria de Faacutetima de Mello Priscila Rocha Rodrigues e

Thiago Barreto Maciel Os autores partem da praacutetica social conshy

creta para chegar a uma nova siacutentese superior sobre este conteuacutedo

permitindo agraves crianccedilas e jovens se apropriarem de elementos da

cultura que por si soacute natildeo se datildeo a conhecer

No texto de autoria de Leonardo Docena Pina Carlos Edushy

ardo de Souza Mocircnica Jardim Lopes eacute demonstrado o meacutetodo de

elevaccedilatildeo da capacidade de reflexatildeo dos estudantes sobre a cultura

inrporal no trato com o conteuacutedo esporte e sauacutede O texto intitu-

lido ldquoAs relaccedilotildees entre esporte e sauacutede no capitalismo tematizando

i oiuradiccedilotildees na educaccedilatildeo escolarrdquo demonstra todo o processo que

v ulmina na nova siacutentese qualitativamente superior ao conhecimento

lt aoacuteiico sincreacutetico sobre o tema demonstrado no iniacutecio

Para tratar do conteuacutedo lutas delimitou-se ldquoO MM A como

nova lace da luta espetaacuteculordquo Os autores Renata Aparecida Alves Lanshy

dim Adriano de Paiva Reis Grazyani Penna Dias e Rafael Loures dos

K r Hcllei usaram com rigor o meacutetodo partindo da praacutetica social e a

bull u iornuido apoacutes um processo de problematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de

1 11u i i i i k i u o s sem os quais natildeo se explica o fenocircmeno atual das lutas

thim io ao conteuacutedo danccedila os autores Carla Cristina Carvalho

INlt ii i iliimo de Paiva Reis Giovana de Carvalho Castro Marcelo

monstrar a loacutegica no trato com o conhecimento dentro da rigorosidade

do meacutetodo Demonstram tambeacutem a elevaccedilatildeo do pensamento teoacuterico

dos estudantes sobre o assunto O texto ldquoA voz da periferia o Hip Hop

enquanto possibilidade de trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo eacute um

primor e contribuiraacute muito para consubstanciar uma abordagem mais

rigorosa de conteuacutedos contemporacircneos nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

No trato com o conteuacutedo da ginaacutestica no capiacutetulo intitulado

ldquoA disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutesticardquo os autores

Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel Roshy

drigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees conseguem elevar a

capacidade dos estudantes de elaborarem uma siacutentese qualitativa no

pensamento que permitiraacute a autodeterminaccedilatildeo para a praacutetica corposhy

ral de um conteuacutedo vital e que vem sendo negligenciado na escola

A retomada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica do conteuacutedo circo

conforme propotildeem Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvashy

lho Pereira e Frederico Duarte Gomes Tostes demonstra como um

conteuacutedo histoacuterico que data na origem dos tempos do feudalismo

pode adquirir um sentido e um significado humanamente elevado

pelo entendimento compreensatildeo e elaboraccedilatildeo de novas possibilidashy

des de accedilatildeo No trato com o conteuacutedo das atividades circenses no

texto intitulado ldquoO lugar e hora do circo na escola reflexatildeo sobre

a reinvenccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircneardquo os

autores demonstram o criteacuterio da rigorosidade e seriedade cientiacutefica

para tratar de um conteuacutedo da cultura que nos permite conhecer

compreender explicar e criar possibilidades riquiacutessimas de atividashy

des culturais com sentido e significado humanizante

Prezados leitores ressalto que esta obra eacute singular relevante e

vital porque como dizem os autores em um dos textos ldquoEm tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas as esferas da vida a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda maior Epreciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabalhadora construshyamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contribuindo para a desmistifiacutecaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta rdquo

12

tivos de Autores no Brasil e quiccedilaacute na Ameacuterica Latina que de norte

a sul de leste a oeste estatildeo recuperando desenvolvendo utilizanshy

do outros paracircmetros teoacutericos-metodoloacutegicos sintonizados com oushy

tro projeto histoacuterico superador agrave loacutegica do capital e portanto com a

perspectiva de formaccedilatildeo humana emancipatoacuteria significando isto a

superaccedilatildeo da sociedade de classes

Com esta obra juntamente com outras de igual propoacutesito

consolida-se no Brasil uma Educaccedilatildeo Fiacutesica de base marxista Cons-

troi-se assim tambeacutem pela via do trabalho pedagoacutegico a subjetivishy

dade humana visto que as condiccedilotildees objetivas para a revoluccedilatildeo jaacute

estatildeo postas faltam as condiccedilotildees subjetivas As forccedilas produtivas

deixaram de crescer e estatildeo em franca destruiccedilatildeo A isto reage este

jovem COLETIVO DE AUTORES que nos alenta a seguirmos

perseguindo em tempos de transiccedilatildeo um outro modo de produccedilatildeo

da vida Que todas as crianccedilas jovens e adultos das escolas puacuteblishy

cas na cidade e no campo tenham garantida esta qualidade aqui

demonstrada no ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica

Celi Nelza Zuumllke Tajfarel

(Universidade Federal da Bahia - UFBA)

INTRODUCcedilAtildeO

LIMITES E POSSIBILIDADES DA DISCUSSAtildeO SOBRE DIDAacuteTICA DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA

Adriano de Paiva Reis

Carla Cristina Carvalho Pereira

Hajime Takeuchi Nozaki

Leonardo Docena Pina

Renata Aparecida Alves Landim

Por mais de um seacuteculo a histoacuteria da

Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar

foi marcada por sua caracterizaccedilatildeo como uma

atividade cujo objetivo central era promover

0 desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica dos indishy

viacuteduos A partir do final da deacutecada de 1970

acompanhando um amplo movimento de luta

pela redemocratizaccedilatildeo da sociedade brasileira

assistimos a um periacuteodo de denuacutencias sobre o

atrelamento da aacuterea a uma concepccedilatildeo exclushy

sivamente bioloacutegica de homemmovimento

que cumpria um papel conservador no que

tange agraves relaccedilotildees sociais

Apoacutes esse periacuteodo de criacuteticas sobretudo

ao final dos anos de 1980 e iniacutecio dos anos

de 1 990 comeccedilam a surgir novas propostas

para a Educaccedilatildeo Fiacutesica definindo princiacutepios

identificadores de uma nova praacutetica pedashy

goacutegica Desde entatildeo podemos evidenciar

diversos avanccedilos no sentido da construccedilatildeo

di Educaccedilatildeo Fiacutesica como componente cur-

liiulnr tanto no plano da legislaccedilatildeo e das

01 ieniaccedilotildees educacionais como no plano das

propostas construiacutedas e implementadas em diversas redes de ensino

pelo paiacutes Mas no que pese todo esse avanccedilo produzido a crise no campo teoacuterico (FRIGOTTO 2001) acabou por influenciar a redefishy

niccedilatildeo das propostas pedagoacutegicas criacuteticas da aacuterea que passaram a ser

consideradas muitas vezes insuficientes inadequadas e ateacute mesmo

ultrapassadas para atender agraves supostas demandas de um novo mundoConsiderando que os fundamentos centrais da sociedade na qual

vivemos se mantecircm presentes ainda hoje embora com bases renovashy

das compreendemos que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas

ainda possuem um papel a cumprir qual seja o de contribuir para a

superaccedilatildeo do capitalismo - e de todas as formas de opressatildeo que se

intensificam nesse modo de produccedilatildeo da existecircncia humana1

Nessa linha reconhecemos que a perspectiva da reflexatildeo criacutetica soshybre a cultura corporal (COLETIVO DE AUTORES 1992)2 tambeacutem

conhecida como ldquoabordagem Criacutetico-superadorardquo foi um marco mdash e

ainda se manteacutem como referecircncia mais desenvolvida mdash para a Educashy

ccedilatildeo Fiacutesica uma vez que ao se fundamentar na Pedagogia histoacuterico-

-criacutetica articulou esse componente curricular ao que haacute de mais avanshy

ccedilado no debate sobre o papel da escola sendo capaz de entrelaccedilar a

formaccedilatildeo humana aos interesses e necessidades da classe trabalhadora

A partir da delimitaccedilatildeo de uma aacuterea de conhecimento denominada

de cultura corporal essa perspectiva definiu a Educaccedilatildeo Fiacutesica como

disciplina responsaacutevel por promover na escola uma tematizaccedilatildeo soshy

bre a relaccedilatildeo dos grandes problemas sociais contemporacircneos com os

conteuacutedos jogos danccedilas lutas ginaacutestica esporte malabarismo con-

torcionismo miacutemica e outros (COLETIVO DE AUTORES 1992)

A transmissatildeo dos conhecimentos historicamente acumulados sobre

a cultura corporal define a especificidade pedagoacutegica da Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica sua presenccedila na escola justifica-se por socializar um saber que

1 Adotamos a classificaccedilatildeo das pedagogias - em criacuteticas e natildeo criacuteticas - elaboradas por Saviani

(2006)

2 Tendo em visra o processo histoacuterico que envolveu a elaboraccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do livro

Metodologia do Ensino da Educaccedilatildeo Coletivo de Autores foi o termo adotado originalmente

para designar sua autoria expressando um sentido poliacutetico e o esforccedilo de ratificar o caraacuteter

coletivo e o projeto histoacuterico com o qual a obra estava articulada no contexto de sua

publicaccedilatildeo pela editora Cortez em 1992

16

natildeo eacute transmitido pelas demais disciplinas mas que se constitui como

elemento essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade

Apesar do avanccedilo teoacuterico promovido pelas recentes discussotildees

sobre a Pedagogia histoacuterico-criacutetica e a metodologia Criacutetico-supera-

dora deparamo-nos com inuacutemeros depoimentos de professores da

educaccedilatildeo baacutesica sobre a dificuldade de organizarplanejarsistematishy

zar o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo

criacutetica sobre a cultura corporal Aleacutem das criacuteticas aos cursos de forshy

maccedilatildeo de professores da aacuterea muitas vezes voltados aos campos natildeo

escolares de atuaccedilatildeo e subordinados agrave dimensatildeo predominantemenshy

te bioloacutegica de ser humano os professores tecircm se queixado da falta

de referecircncias concretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas

com os diversos conteuacutedos da cultura corporal3

A constataccedilatildeo desses problemas e desafios impulsionou a organishy

zaccedilatildeo de um grupo - composto predominantemente por professores

da rede puacuteblica municipal de Juiz de Fora mdash com o objetivo de amshy

pliar os conhecimentos a respeito da metodologia Criacutetico-superadora

aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal Hoje o grupo eacute

formado por cerca de vinte professores e conta com assessoria de dois

docentes da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz

de Fora4 os quais tecircm dialogado conosco ao longo do processo

Sem viacutenculo institucional nem apoio financeiro para pesshy

quisa o grupo tem se dedicado agrave realizaccedilatildeo de estudos pesquisas

e experiecircncias voltadas ao aprimoramento de nossa praacutetica pedashy

goacutegica na escola Apoacutes dois anos de trabalho conjunto sentimos

a necessidade de dar um passo a mais qual seja o de iniciar a soshy

cializaccedilatildeo das experiecircncias pedagoacutegicas desenvolvidas nas escolas

municipais de Juiz de Fora A elaboraccedilatildeo dessa obra surgiu porshy

tanto a partir da necessidade de ampliar nossos conhecimentos

sobre os conteuacutedos da cultura corporal e suas possibilidades de

abordagem metodoloacutegica na escola A constituiccedilatildeo de um grupo

envolvendo professores da rede puacuteblica municipal e federal pershy

3 A respeito da problemaacutetica referente agrave formaccedilatildeo de professores no contexto atual

sugerimos a leitura dos estudos de Costa (2009) Arce (2000) e Teixeira (2009)

4 Estamos nos referindo aos professores Aacutelvaro de Azeredo Quelhas e Andreacute Silva Martins

mitiu o estudo debate e sistematizaccedilatildeo de experiecircncias pedagoacuteshy

gicas desenvolvidas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Consideramos que a divulgaccedilatildeo dessas experiecircncias pode

constituir-se como instrumento para o aprimoramento da praacutetica

pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo soacute porque socializa os planos

de unidade desenvolvidos juntamente com textos de fundamenshy

taccedilatildeo teoacuterica de cada conteuacutedo trabalhado mas tambeacutem porque

contribui para que outros professores se insiram no debate consshy

truam novas experiecircncias eou discutam novas possibilidades

E importante destacar que ao reconhecermos a importacircncia do

debate sobre a didaacutetica para o aprimoramento do trabalho pedagoacutegishy

co nas escolas natildeo o consideramos suficiente para resolver o problema

do ensino na Educaccedilatildeo Fiacutesica Ou seja nossa iniciativa embora seja

importante e necessaacuteria natildeo tem a pretensatildeo nem a capacidade de

resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Aleacutem das limitaccedilotildees que envolvem muitos cursos de formaccedilatildeo

de professores encontramos outras determinaccedilotildees que acabam por

contribuir para que a escola natildeo cumpra seu papel de transmissatildeo do

conhecimento Embora natildeo sejamos capazes de reunir neste artigo

todos os problemas encontrados em grande parte das escolas da rede

puacuteblica municipal de ensino faz-se necessaacuterio destacar em linhas geshy

rais que as condiccedilotildees de vida (e de trabalho) de grande parte dos

professores e alunos natildeo satildeo muito favoraacuteveis Soma-se a isso o fato

de que as estruturas fiacutesicas precaacuterias recursos materiais insuficientes

grande nuacutemero de alunos por turmas e pouco reconhecimento profisshy

sional tendem a dificultar ainda mais o desenvolvimento do trabalho

do prazer e da vontade de lecionar Tambeacutem natildeo podemos deixar de

destacar que em muitos casos a Educaccedilatildeo Fiacutesica assume o posto de

disciplina de segundo escalatildeo sobretudo nas escolas de Educaccedilatildeo Inshy

fantil e dos anos iniciais do ensino fundamental onde os professores

de Educaccedilatildeo Fiacutesica Artes e Muacutesica por exemplo dificilmente partishy

cipam do conselho de classe o que evidencia a (des)valorizaccedilatildeo de sua

atividade docente na escola frente outras disciplinas como Portuguecircs

e Matemaacutetica consideradas mais importantes sob a oacutetica do capital

18

Consideramos que o professor mdash das diferentes aacutereas do conhecimento

- tem o papel de transmitir o conhecimento cientiacutefico artiacutestico e filosoacutefico

aos alunos mas natildeo compreendemos que sua funccedilatildeo possa ser tatildeo facilshy

mente exercida como supotildeem os defensores do neoprodutivismo para os

quais se espera que o docente exerccedila todo um conjunto de funccedilotildees com o

maacuteximo de produtividade e o miacutenimo de dispecircndio isto eacute com modestos

salaacuterios5 Compreendemos conforme destaca Saviani (2011) que se o proshy

fessor fosse bem remunerado no acircmbito de uma carreira docente que lhe

garantisse jornada integral em uma uacutenica escola ele poderia exercer sem

maiores problemas muitas funccedilotildees a ele atribuiacutedas Mas natildeo eacute esse o caso

Analisando a precarizaccedilatildeo do trabalho do professor Costa (2009)

evidencia que as consequecircncias da alienaccedilatildeo na atividade docente natildeo

se restringem ao ensino e a aprendizagem mas envolvem a proacutepria vida

do professor A autora constata que o processo de alienaccedilatildeo constroacutei

uma relaccedilatildeo professoresalunos distorcida em que os

segundos passam a imputar aos professores o tratamenshy

to que deveriam dar aos reais representantes da violecircnshy

cia do Estado burguecircs que os tem oprimido durante

toda a sua trajetoacuteria escolar E os professores passam

a ver os alunos como aqueles que materializam a falta

de respeito e o desprestiacutegio da categoria profissional na

sociedade nas manifestaccedilotildees de falta de respeito e ateacute

mesmo a violecircncia (COSTA 2009 p 72)

Natildeo obstante a alienaccedilatildeo do trabalho do professor ainda

gera desumanizaccedilatildeo o mais violento de todos os aspectos Conshy

forme afirma Costa (2009) o professor nem sempre tem a opccedilatildeo

de buscar outras formas para suprir sua subsistecircncia

Os seres humanos submetidos agrave alienaccedilatildeo mesmo vivenshy

do o sofrimento no trabalho o desgaste fiacutesico e mental a

dilapidaccedilatildeo moral ainda assim permanecem em relaccedilotildees

de trabalho destrutivas ateacute esgotarem os limites de suas

capacidades ou ateacute serem descartados pelo capital Nesse

momento em geral as consequecircncias vividas pelo trabalho

jaacute satildeo irreversiacuteveis Embora experimente a deterioraccedilatildeo de

sua sauacutede a negaccedilatildeo da natureza formativa da educaccedilatildeo

presente todos ograves dias nas ingerecircncias das mantenedoras e

5 Sobre o neoprodutivismo na educaccedilatildeo escolar brasileira conferir Saviani (2011)

do Estado na sua atividade laborai o professor natildeo pode

se furtar ao trabalho como meio de subsistecircncia devido agrave

sua dependecircncia total da vida urbana e do consumo que

ela impoacutee assim como ocorre com todas as outras categoshy

rias do proletariado (COSTA 2009 p 76-77)

Ao abordar essas reflexotildees buscamos explicitar nossa discordacircncia em

relaccedilatildeo agraves perspectivas ideoloacutegicas predominantes defensoras da ideia de

que o ecircxito da escola e da poliacutetica educacional que a orienta depende apenas

da iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores Atualmente fala-se muito no proshy

fessor como protagonista da mudanccedila mas natildeo lhe satildeo oferecidas muitas

condiccedilotildees para isso Defende-se que o professor assuma uma postura inoshy

vadora desenvolva praacuteticas de ensino renovadas busque o conhecimento

produzido ainda que as condiccedilotildees sejam muito desfavoraacuteveis para tanto

Conforme alerta Duarte (2006) a ideia comumente defendida pelos meios

de comunicaccedilatildeo eacute a de que o professor deve ser ldquogente que fazrdquo

Naacuteo eacute mero acaso que atualmente seja taacuteo difundido em

educaccedilatildeo o discurso voltado para as caracteriacutesticas definishy

doras de um bom professor de um professor que reflete

sobre sua praacutetica e realiza um trabalho de qualidade messhy

mo em condiccedilotildees adversas Uma variante desse discurso eacute

aquela em que em vez de falar-se de um professor que eacute

gente que faz fala-se de uma escola em que os professores

coletivamente de preferecircncia de matildeos dadas com a comushy

nidade transformam em exemplo de sucesso escolar Em

nome da superaccedilatildeo dos discursos imobilistas eacute adotado

um discurso no qual a passagem do fracasso ao sucesso

torna-se uma questatildeo de forccedila de vontade de alguns indishy

viacuteduos ou melhor de um coletivo de uma comunidade

O resultado ideoloacutegico pretendido ou natildeo eacute bastante

claro o descompromisso do Estado a despolitizaccedilatildeo dos

problemas educacionais e a abdicaccedilatildeo do ideal de lutar por

uma transformaccedilatildeo radical da sociedade pela superaccedilatildeo

do capitalismo e pela construccedilatildeo de uma sociedade sociashy

lista A saiacuteda passa a ser a das soluccedilotildees locais comunitaacuterias

individuais (DUARTE 2006 p 141)

Feitas essas consideraccedilotildees sintetizamos nossa compreensatildeo soshy

bre os limites da discussatildeo didaacutetica que apresentamos neste livro

Trata-se de uma discussatildeo insuficiente se considerarmos o problema

da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica em sua radicalidade mas ao mesmo

20

tempo importante uma vez que pode ampliar as possibilidades de

transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica

O presente livro organizado numa perspectiva de unidade realiza

nos dois primeiros artigos uma discussatildeo de caraacuteter mais geral sobre a

funccedilatildeoespecificidade da escola e da Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemshy

poracircneo Os demais artigos abordam possibilidades de desenvolvimento

de praacuteticas pedagoacutegicas com temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos

da cultura corporal circo lutas ginaacutestica danccedila jogos e esporte

As experiecircncias pedagoacutegicas apresentadas foram desenvolvidas

com a segunda etapa do Ensino Fundamental e com o Ensino Meacuteshy

dio mas obviamente podem sofrer adaptaccedilotildees para serem tratadas

em outros niacuteveis de ensino Os artigos que tratam dos conteuacutedos da

cultura corporal nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica foram redigidos em subshy

grupos de autores coordenados pelos organizadores da obra e ao final

do processo todos os artigos foram lidos e discutidos coletivamente

Apesar de consideramos a capoeira como um conteuacutedo esshy

peciacutefico e importante da cultura corporal ela natildeo foi abordada

neste livro devido aos limites espaciais e temporais para conclushy

satildeo da obra No nosso planejamento inicial constava um artigo

especiacutefico para abordar esse conteuacutedo poreacutem com o andamento

do estudo constatamos que natildeo teriacuteamos tempo suficiente para

ibordaacute-lo Assim fazemos questatildeo de destacar que assumimos a

iiiscncia da capoeira como uma diacutevida e reafirmamos a necessida-

ilr de abordaacute-la em publicaccedilotildees e debates posteriores

( )s temas selecionados buscaram relacionar os conteuacutedos da cultura

iniporal a problemas sociais presentes na praacutetica social dos alunos bus-

i nulo ultrapassar a simples praacutetica pela praacutetica e promover uma reflexatildeo

i tiacutetii a sobre o modo como os jogos as lutas as danccedilas os esportes os

ru iacutecios ginaacutesticos as atividades circenses se expressam em nosso temshy

po I Vsse modo uma questatildeo que atravessou todos os planos de unidade

i i sltnuinte como a cultura corporal patrimocircnio da humanidade tem

I bull ipKgtpriada e subordinada agrave dinacircmica do consumo capitalista

Irsquooi iacuteim gostariacuteamos de registrar nossos agradecimentos pela

i pouibilizaccedilatildeo dos recursos para a publicaccedilatildeo desta ediccedilatildeo do

livro por meio do Fundo de Apoio agrave Pesquisa na Educaccedilatildeo Baacutesica

- FAPEB mdash da Prefeitura de Juiz de Fora A busca de um financiashy

mento puacuteblico e a distribuiccedilatildeo gratuita dessa obra estaacute relacionada

agrave nossa perspectiva de produccedilatildeoapropriaccedilatildeo coletiva do conhecishy

mento Agradecemos ainda a todos os professores e alunos que

estiveram envolvidos na realizaccedilatildeo desse projeto permitindo divishy

dir experiecircncias e construir conhecimentos que agora socializamos

neste livro

Referecircncias

ARCE A A formaccedilatildeo de professores sob a oacutetica construtivista primeiras aproximashy

ccedilotildees e alguns questionamentos In DUARTE N (org) Sobre o construti-

vismo Campinas Autores Associados 2000

COLETIVO DE AU 1ORES Metodologia do ensino de Educaccedilatildeo Fiacutesica Satildeo

Paulo Cortez 1992

COSTA A Entre a dilapidaccedilatildeo moral e a missatildeo redentorista o processo de alienashy

ccedilatildeo no trabalho dos professores do ensino baacutesico brasileiro In COSTA A

NETO E SOUZA G (Org) A proletarizaccedilatildeo do professor neoliberalis-

mo na educaccedilatildeo 2 ed Satildeo Paulo Sundermann 2009 p 59-100

DUARTE N Vigotski e o ldquoaprendera aprenderrdquo apropriaccedilotildees neoliberais e poacutes-

-modernas da teoria vigotskiana 4 ed Campinas Autores Associados 2006

FRIGOTTO G A nova e a velha faces da crise do capital e o labirinto dos reshy

ferenciais teoacutericos In FRIGOTTO G CIAVATTA M (Org) Teoria e

educaccedilaacuteo no labirinto do capital 2 ed Petroacutepolis Vozes 2001 p 23-50

SAVIANI D Escola e democracia 38 ed Campinas Autores Associados 2006

_______ Histoacuteria das ideias pedagoacutegicas no Brasil 3 ed Campinas Autores

Associados 2011

TEIXEIRA L A poliacutetica de formaccedilatildeo docente no Brasil fundamentos teoacutericos

e epistemoloacutegicos In Reuniatildeo Anual da ANPED 32 2009 Caxambu

Anais Caxambu ANPED 2009 p 1-17

CAPIacuteTULO I

SOBRE A FUNCcedilAtildeO E ESPECIFICIDADE DA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR NO M UNDO CONTEMPORAcircNEO

Andreacute Silva Martins

O presente capiacutetulo tem por objetivo apreshy

sentar uma reflexatildeo sobre a funccedilatildeo e especificishy

dade da educaccedilatildeo escolar na atualidade Nossa

intenccedilatildeo mais ampla eacute problematizar as perspecshy

tivas relacionadas agrave funccedilatildeo social da escola e sua

especificidade no processo de formaccedilatildeo humashy

na procurando indicar uma alternativa poliacutetico-

-pedagoacutegica aos discursos e praacuteticas dominantes

As questotildees que orientam nossa reflexatildeo

podem ser assim descritas Qual a funccedilatildeo

social da instituiccedilatildeo escolar na atualidade

A instituiccedilatildeo escolar possui uma especificishy

dade frente os demais processos formativos

de nossa sociedade Quais satildeo os desafios da

Escola Puacuteblica brasileira no seacuteculo XXI

Para responder estas questotildees organizashy

mos o texto em trecircs partes Na primeira busshy

camos recuperar a gecircnese da instituiccedilatildeo escoshy

lar e sua especificidade no processo formativo

Em seguida realizamos uma anaacutelise sobre duas

concepccedilotildees que vecircm orientando a definiccedilatildeo da

finalidade da educaccedilatildeo escolar Por fim com

base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica apresentashy

mos uma siacutentese do que pode vir a ser a insshy

tituiccedilatildeo escolar na atualidade tendo em vista

os interesses da ampla maioria da populaccedilatildeo

Nossa expectativa eacute contribuir para as reflexotildees sobre o tema e oferecer

elementos para a compreensatildeo criacutetica da funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar

Sobre a gecircnese da instituiccedilatildeo escolar

A escola eacute uma instituiccedilatildeo social relativamente nova que se

consolidou e se popularizou a partir do processo de intensificaccedilatildeo

da complexidade da vida social gerada pelas mudanccedilas nas relaccedilotildees

sociais envolvendo o crescimento da urbanizaccedilatildeo e desenvolvimenshy

to do industrialismo sobre as formas tradicionais de estruturaccedilatildeo de

poder e de redefiniccedilatildeo das bases de produccedilatildeo material e simboacutelica

vinculadas agrave existecircncia humana Isso significa que a instituiccedilatildeo esshy

colar surge como expressatildeo cultural de um tempo histoacuterico com a

finalidade de assegurar uma especificidade na formaccedilatildeo humana

Antes da existecircncia da escola nas sociedades tradicionais os proshy

cessos formativos se realizavam diretamente nas dinacircmicas de constishy

tuiccedilatildeo da vida natildeo requerendo maiores exigecircncias muito menos ritos

formais para sua ocorrecircncia No cotidiano as trocas de conhecimentos

gerados pela experiecircncia geracional ou pela vida cotidiana de uma dada

comunidade constituiacuteam a base dos processos formativos necessaacuterios agrave

construccedilatildeo da vida A educaccedilatildeo fluiacutea nas dinacircmicas de trabalhovida

sem delimitaccedilotildees mais precisas de tempo e espaccedilo A experiecircncia e a

informalidade se constituiacuteam como referecircncias dos processos formatishy

vos Nessa dinacircmica o domiacutenio de conhecimentos sistematizados era

dispensaacutevel ao homem comum A formaccedilatildeo intelectual era restrita aos

pequenos grupos que atuavam em funccedilotildees administrativas e clericais

Quando muito com raras exceccedilotildees o acesso do povo aos rudimentos

da leitura e da escrita ficava circunscrito agraves iniciativas isoladas princishy

palmente a cargo de ordens religiosas que reforccedilavam a manutenccedilatildeo da

ordem estabelecida (FERREIRA 2001) ou a grupos de artesatildeos preoshy

cupados com a organizaccedilatildeo da produccedilatildeo (ENGUITA 1989)

O processo social poliacutetico e econocircmico de ruptura com a trashy

diccedilatildeo feudal protagonizada pela classe burguesa nas sociedades eushy

ropeias produziu novas determinaccedilotildees para que a formaccedilatildeo humana

ultrapassasse as referecircncias educativas precedentes Em outras pala-

24

vras a dinacircmica social emergente apresentava os primeiros sinais de

que a experiecircncia e a informalidade ofereciam sinais de esgotamenshy

to isso porque estavam em curso novas exigecircncias para organizar a

vida social e os meios necessaacuterios agrave sua existecircncia

A valorizaccedilatildeo do chamado ldquohomem-livrerdquo a ideia de progresso as

formas emergentes de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de mercadorias e a defesa da

propriedade privada no centro da vida social que foram sendo consolidadas

apoacutes as revoluccedilotildees burguesas exigiam novas referecircncias educativas Na conshy

cepccedilatildeo da classe emergente a massa populacional disforme e sem identishy

dade poliacutetico-ideoloacutegica precisava ser preparada para ocupar o seu lugar na

nova ordem a partir de novas regras sociais de vida e trabalho A imagem do

atraso representado pelo camponecircs isolado e restrito ao espaccedilo rural precishy

sava ser substituiacuteda pela simbologia do progresso representada pelo homem

urbano - trabalhador ldquolivrerdquo Organizado na cidade envolvido nas relaccedilotildees

comerciais de novo tipo e envolvido na passagem da oficina para manufashy

tura e desta para a induacutestria nascente o ldquonovo homemrdquo deveria ser disciplishy

nado socialmente para compreender os novos coacutedigos culturais Se para os

adultos da classe trabalhadora a vida urbana continha os elementos educashy

tivos da disciplina social capitalista principalmente os de caraacuteter repressivo

a educaccedilatildeo das crianccedilas urbanas para a vida social exigia um pouco mais O

surgimento da escola de massas tem suas origens vinculadas a esse processo

de longa duraccedilatildeo confirmada na consolidaccedilatildeo do periacuteodo histoacuterico denoshy

minado de modernidade A especificidade da escola residia na compreenshy

satildeo de que algo a mais deveria ser oferecido ultrapassando as experiecircncias

educativas realizadas pela famiacutelia pelas religiotildees pela convivecircncia

Em ritmos diversos a expansatildeo da instituiccedilatildeo escolar puacutebli-

1 foi se tornando uma realidade nas formaccedilotildees sociais em geral

viabilizada por meio do Estado capitalista Aleacutem da escolarizaccedilatildeo

obrigatoacuteria com extensatildeo restrita foram sendo instituiacutedas bases

rei ais para o ensino realizado na escola puacuteblica de massas O do-

miacutenkrdos rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo passou a

laei parte da formaccedilatildeo do trabalhador urbano O desafio era for-

1 1 1 i eorporcidade infantil (o sentirpensaragir) desde cedo dentro

ilo ideal do ldquohomem novordquo

As teacutecnicas de ensino e de controle bem como a organizaccedilatildeo do

espaccedilo e das rotinas marcaram a constituiccedilatildeo da escola moderna Sem

elidir outros processos educativos a instituiccedilatildeo escolar foi se tornando

importante instrumento do processo civilizatoacuterio capitalista

Enquanto a escola de massas assumiu a educaccedilatildeo das crianccedilas da

classe trabalhadora para o exerciacutecio da submissatildeo intelectual e moral

formando o cidadatildeo-trabalhador produtivo da modernidade outro tipo

de escola foi assegurado para a preparaccedilatildeo ampla de grupos de crianccedilas

e adolescentes da classe burguesa As distinccedilotildees fundamentais do proshy

cesso formativo dos dirigentes e dirigidos se expressaram no tempo de

escolarizaccedilatildeo no espaccedilo destinado agraves praacuteticas educativas bem como na

quantidade-qualidade de acesso aos conhecimentos sistematizados Inshy

distintamente a racionalizaccedilatildeo do processo pedagoacutegico buscou responshy

der agraves especificidades do papel econocircmico-poliacutetico das classes sociais

tendo como referecircncia a dinacircmica da vida urbano-industrial1 e a necesshy

sidade dos coacutedigos culturais Vale lembrar que o princiacutepio do dualismo

educacional jaacute havia sido traccedilado por John Locke no seacuteculo XVII antes

mesmo do advento da escolarizaccedilatildeo de massas (ENGUITA 1989)

Mesmo oferecendo um acesso restrito ao conhecimento sisshy

tematizado e assegurando uma formaccedilatildeo intelectual e moral para

a submissatildeo a escola para os trabalhadores foi sendo consolidada

nas formaccedilotildees sociais capitalistas a partir do reconhecimento de

sua contribuiccedilatildeo especiacutefica dentro do processo educativo mais

amplo Embora este processo tenha se dado em ritmo variado -

dependendo do reconhecimento da classe dominante sobre a im shy

portacircncia da ampliaccedilatildeo do domiacutenio dos coacutedigos culturais e das

lutas travadas em torno do acesso agrave educaccedilatildeo - a escola foi sendo

legitimada por sua especificidade educativa Sobre este processo

mais geral Ferreira (2001 p 193) observa que

Chegados agrave transiccedilatildeo do seacuteculo X IX para o seacutecushy

lo XX a burguesia sustenta e participa do poder

1 Enquanto a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo infantil da classe trabalhadora das cidades passou a

ser ordenada pelo menos enquanto tendecircncia em edificaccedilotildees projetadas para tal fim pela

adoccedilatildeo de turmas seriadas por programas bem definidos e com professores treinados a

educaccedilatildeo no campo ainda que concentrando boa parcela das crianccedilas seguiu marcada

pelo improviso de instalaccedilotildees de recursos didaacuteticos e de pessoal

mas hesita entre a cultura do passado e a dinacircmica

imposta pelo progresso A burguesia sabe por exshy

periecircncia proacutepria que nada eacute definitivo e uniforshy

me Mas tambeacutem sabe que a sociedade burguesa

precisa de ordem e estabilidade e que os interesshy

ses divergentes que encerra podem arruinaacute-la Ela

precisa por isso estar bem informada para agir

em conformidade com o momento Necessita soshy

bretudo de dominar os saberes que lhe asseguram

a administraccedilatildeo do poder Ela sabe que a compeshy

tecircncia eacute a qualidade chave do sucesso A escola

tem sido fundamentalmente uma instituiccedilatildeo cara

agrave burguesia Isso natildeo significa que natildeo tenha sido

uacutetil a outras forccedilas sociais e que natildeo tenha servido

interesses contraacuterios aos dos burgueses

A histoacuteria da escolarizaccedilatildeo na formaccedilatildeo social brasileira seshy

guiu pelo menos enquanto tendecircncia o movimento educacional

das formaccedilotildees capitalistas centrais No entanto considerando

que o Brasil foi palco de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo tardia sob

mediaccedilatildeo de uma revoluccedilatildeo burguesa de tipo natildeo-claacutessica (FERshy

NANDES 1976) explicada pelo conceito de revoluccedilatildeo passiva

(GRAMSCI 1999) e que isto resultou numa inserccedilatildeo subordinashy

da do paiacutes no cenaacuterio internacional eacute possiacutevel afirmar que a escola

puacuteblica de massas expressou em sua particularidade e com contrashy

diccedilotildees a opccedilatildeo poliacutetica da classe dominante brasileira

Basta considerar que enquanto os paiacuteses centrais jaacute haviam

avanccedilado no movimento de universalizaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo baacutesica

ainda no seacuteculo XIX no Brasil ao longo do seacuteculo XX predomishy

nou um processo restritivo de acesso dos trabalhadores agrave educaccedilatildeo

escolar Os que escaparam do analfabetismo em geral encontraram

barreiras objetivas para concluir o que denominamos hoje de Enshy

sino Fundamental Foi somente no limiar do seacuteculo XXI que este

niacutevel de escolarizaccedilatildeo foi universalizado2

2 O atraso educacional brasileiro pode ser explicitado nas questotildees legais que envolvem o Ensino

Meacutedio A Constituiccedilatildeo de 1988 - chamada por muitos de ldquoConstituiccedilatildeo Cidadatilderdquo - estabeleceu

no artigo 208 inciso II ldquoprogressiva extensatildeo de obrigatoriedade e gratuidade do ensino meacutediordquo

mesmo diante dos sinais de mudanccedilas poliacuteticas e econocircmicas significativas no mundo capitalista

O Ensino Meacutedio foi projetado para poucos naquele contexto Somente em 2009 por meio da

Emenda Constitucional ndeg 59 este niacutevel de ensino se tornou obrigatoacuterio no paiacutes

w avanccedilo lento e restritivo da escolarizaccedilatildeo brasileira foi resultado

das relaccedilotildees de poder travadas ao longo do seacuteculo XX mediadas pelas

relaccedilotildees de produccedilatildeo Predominava na classe dominante a compreenshy

satildeo de que o acesso agrave educaccedilatildeo deveria ser programado para atender o

miacutenimo necessaacuterio ao padratildeo de qualificaccedilatildeo exigido pela dinacircmica da

sociedade urbano-industrial em seu desenvolvimento tecnoloacutegico e exishy

gecircncias poliacuteticas e ideoloacutegicas Esse posicionamento contrastava com as

lutas operaacuterias do iniacutecio do seacuteculo XX que reivindicavam acesso agrave edushy

caccedilatildeo puacuteblica e com a manifestaccedilatildeo dos signataacuterios do ldquoManifesto dos

Pioneiros da Educaccedilatildeordquo de 1932 que reivindicava uma escola puacuteblica

de qualidade para todos Contudo na correlaccedilatildeo de forccedilas e consideshy

rando a dinacircmica das relaccedilotildees de produccedilatildeo para a grande maioria o

acesso ao conhecimento sistematizado natildeo ultrapassou o domiacutenio dos

rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo A ideia de que a escolashy

rizaccedilatildeo deveria se constituir num patrimocircnio de poucos predominou

Em que pesem o atraso educacional e as restriccedilotildees de acesso

agrave escola puacuteblica a historiografia da educaccedilatildeo brasileira por reshy

cortes e bases epistemoloacutegicas distintas apresenta fartos elemenshy

tos que demonstram a ligaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar e projeto

civilizatoacuterio conduzido pela classe dominante no paiacutes desde o

iniacutecio do seacuteculo XX confirmando a especificidade da instituiccedilatildeo

escolar no processo de formaccedilatildeo humana

Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar as concepccedilotildees dominantes

Apesar do reconhecimento social sobre a importacircncia e esshy

pecificidade da instituiccedilatildeo escolar no processo educativo mais

amplo eacute necessaacuterio observar que existem divergecircncias quanto agrave

finalidade da educaccedilatildeo escolar Para enfrentar esta questatildeo opshy

tamos por um recorte de duas das mais relevantes formulaccedilotildees

contemporacircneas sobre o tema Nossa opccedilatildeo metodoloacutegica conshy

siste na caracterizaccedilatildeo e anaacutelise das concepccedilotildees procurando evishy

denciar suas implicaccedilotildees para a formaccedilatildeo humana

28

Concepccedilatildeo 1 A finalidade da educaccedilatildeo escolar eacute preparar recursos humanos para impulsionar o desenvolvimento econocircmico

Esta formulaccedilatildeo foi apresentada no cenaacuterio brasileiro nos anos

de 1970 no contexto do regime ditatorial viabilizado pelo golpe em-

presarial-militar de 1964 Traduzindo uma teoria surgida nos Estados

Unidos o bloco no poder do regime ditatorial e seus intelectuais se

encarregaram de viabilizar que os principais enunciados da teoria esshy

tadunidense fossem veiculados para ordenar a funccedilatildeo da escola a parshy

tir da redefiniccedilatildeo da poliacutetica de educaccedilatildeo da legislaccedilatildeo educacional

da organizaccedilatildeo curricular e das praacuteticas pedagoacutegicas A grande meta

era subordinar a educaccedilatildeo escolar ao projeto de desenvolvimento ecoshy

nocircmico Mas o que significa estabelecer que a funccedilatildeo da escola eacute conshy

tribuir para o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes

A teoria acima referida foi sistematizada porTeodoro Schultz

(1963 1971) Parte da premissa de que o conceito de ldquocapitalrdquo se

refere natildeo soacute agraves coisas materiais mas tambeacutem aos seres humanos

Schultz se refere agraves habilidades adquiridas principalmente pela

educaccedilatildeo escolar que interferem na atividade produtiva O conheshy

cimento c as habilidades teacutecnicas seriam expressotildees particulares de

ldquocapitalrdquo uma vez que se vinculam ao aumento da capacidade de

produccedilatildeo A preocupaccedilatildeo do autor com o alargamento do conceishy

to de capital se vincula agrave busca por compreender os diferenciais de

produtividade gerados pelo esforccedilo humano O resultado de sua

formulaccedilatildeo foi denominado de ldquocapital humanordquo

A ampliaccedilatildeo do conceito de capital proposto por Schultz reafirma

a tese da economia poliacutetica burguesa de que todos indistintamente

satildeo capitalistas a diferenccedila baacutesica seria a seguinte uns satildeo possuidores

dos meios de produccedilatildeo e outros da forccedila de trabalho Explicitando o

significado de sua teoria Schultz (1963 p 12-13) afirma que

A recusa em considerar as habilidades adquiridas

pelo homem (habilidades que ampliaram a proshy

dutividade econocircmica desse homem) como uma

forma de capital como bens produzidos da pro-

duccedilatildeo como resultado de um investimento tem

estimulado o conceito restritivo patentemente

errocircneo de que o trabalho prescinde do capital

e de que somente importa o nuacutemero de homens-

-hora [] Os trabalhadores vecircm-se tornando cashy

pitalistas no sentido de que tecircm adquirido muito

conhecimento e diversas habilidades que represhy

sentam valor econocircmico

Na esteira dessa intrigante formulaccedilatildeo Schultz procurou afirmar

que a importacircncia da escolarizaccedilatildeo residia precisamente em ldquovalor

econocircmicordquo Investimentos em educaccedilatildeo resultariam no aumento de

capital humano e na consequente elevaccedilatildeo das taxas de lucro A teoria

do capital humano considera que a educaccedilatildeo deve ser planejada como

fator de desenvolvimento econocircmico e natildeo como direito social

A proposiccedilatildeo consiste em relacionar o ser humano no mesmo

patamar de instrumentos utilizados na produccedilatildeo capitalista Nessa

linha a esquematizaccedilatildeo teoacuterica atestava que a elevaccedilatildeo da escolashy

ridade de um povo ou de cada indiviacuteduo seria diretamente proshy

porcional ao aumento da capacidade de trabalho e ao aumento da

riqueza pessoal sendo que a soma de todas as riquezas significaria

no crescimento da riqueza de uma naccedilatildeo 3

Para Schultz (1971) o valor da educaccedilatildeo estaria na habilitaccedilatildeo de

pessoas para lidar com situaccedilotildees de desequiliacutebrio de mudanccedila e de rupshy

tura O quantum de educaccedilatildeo deveria ser pensado em funccedilatildeo das necessishy

dades de geraccedilatildeo de competecircncias para a eficiecircncia produtiva no trabalho

A anaacutelise de Frigotto (1986) revela os limites e o significashy

do da teoria do capital humano Revela o seu vieacutes empiricista

sua perspectiva epistemoloacutegica baseada no positivismo e o caraacuteter

poliacutetico-ideoloacutegico centrado na economia poliacutetica burguesa

3 Em outras palavras as pessoas ricas seriam aquelas que mais teriam recebido

investimentos em capital humano consequentemente a pessoa pobre seria aquela

que natildeo conseguiu desenvolver o seu capital humano Os paiacuteses mais ricos seriam

aqueles que teriam realizado o maior esforccedilo de elevaccedilatildeo do patamar meacutedio de

racionalidade de seu povo por meio da escola e os paiacuteses mais pobres os que menos

investiram nesse quesitoVale lembrar que a teoria de Schultz nunca conseguiu

explicar o caso brasileiro que de um lado manteacutem-se como uma das maiores

economias do mundo de outro o paiacutes apresenta peacutessimos indicadores educacionais

que comprovam a fragilidade da educaccedilatildeo escolar brasileira

30

No Brasil as repercussotildees da teoria do capital humano foram sigshy

nificativas durante o periacuteodo ditatorial abrangendo vaacuterios aspectos (a)

financiamento da educaccedilatildeo o orccedilamento da educaccedilatildeo passou a ser

definido com base nos mesmos criteacuterios adotados nos investimentos do

setor produtivo (b) planejamento educacional estabeleceu a vincula-

ccedilatildeo direta e imediata entre educaccedilatildeo e setor produtivo - o Plano Setorial

de Educaccedilatildeo e Cultura de 19721974 deixa isso claro (c) legislaccedilatildeo

uma nova lei de Diretrizes e Bases foi estabelecida (lei 569271) para

ordenar a educaccedilatildeo brasileira - chamada ldquoformaccedilatildeo especializadardquo no 2o

grau (atual Ensino Meacutedio) pode ser tomada como um dos exemplos da

vinculaccedilatildeo proposta entre educaccedilatildeo e economia (d) concepccedilatildeo pedashy

goacutegica afirmaccedilatildeo do tecnicismo como referecircncia para os processos forshy

niuivos procurando estabelecer a objetividade do trabalho pedagoacutegico

1 partir da precisatildeo das teacutecnicas e tecnologias de ensino

Apesar das criacuteticas e resistecircncias a teoria do capital humano

iiio foi definitivamente superada Ao contraacuterio desde os anos

laquoU 1990 a teoria vem sendo atualizada e difundida por vaacuterios

mielectuais orgacircnicos da classe burguesa A novidade eacute que a

educaccedilatildeo aleacutem de resultar na elevaccedilatildeo do capital humano deve

timbeacutem desenvolver o chamado capital social Isso significa que

1 Iunccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar foi ampliada embora a perspectiva

i onomicista continue preponderando4

Se o desenvolvimento do capital humano tem interferecircncia direta

mi i questatildeo econocircmica o capital social por sua vez relaciona-se com

i i|iK staacuteo social de forma mais precisa com a coesatildeo poliacutetica e ideoloacutegica

1 iiiballuidores ao projeto hegemocircnico de sociabilidade O capital social

bull ii u licionado agrave elevaccedilatildeo de algumas chamadas variaacuteveis relacionadas agraves

bull bullIuluias humanas que repercutem nas relaccedilotildees comunitaacuterias entre elas a

bull h gt1 u i accedilaacutelt gt a confianccedila muacutetua e a capacidade de participaccedilatildeo (PUTNAM

lt h)M A tese sugere que a elevaccedilatildeo do capital social permitiraacute que os indi-

il icssjliar que natildeo se trata de sobreposiccedilatildeo de accedilotildees mas sim a especificaccedilatildeo de

mi i vi-nccedilotildecs educativas visando assegurar a formaccedilatildeo humana no acircmbito escolar As

u iiiLiccedilotildees de Gustavo Ioschpe intelectual orgacircnico da burguesia satildeo reveladoras

iVni bull llt lui outros ganhos comunicantes associados com a educaccedilatildeo maior toleracircncia

bull u it-iii ia social melhores cuidados com a sauacutede tendecircncias democraacuteticas controle

I iu|miImis violentosrdquo (IOSCHPE 2004 p 67)

viduos se organizem para solucionar os problemas sociais que os afligem

sem necessariamente depender da intervenccedilatildeo paternalista estatal

O projeto de educaccedilatildeo referenciado na teoria do capital e

ampliado com o acreacutescimo da teoria do capital social reconhece

a especificidade da educaccedilatildeo escolar No entanto as referecircncias

sobre a funccedilatildeo da instituiccedilatildeo escolar satildeo restritivas e pragmaacutetishy

cas Sob o ponto de vista mais amplo significa reafirmar que os

subalternos natildeo nasceram para assumir a condiccedilatildeo de classe d ishy

rigente Especificamente sobre o processo pedagoacutegico significa

estabelecer uma formaccedilatildeo de caraacuteter minimalista em que o acesso

ao conhecimento sistematizado na escola ocorreraacute respeitando o

m iacutenimo necessaacuterio para simplesmente desenvolver uma racionashy

lidade instrumental base das competecircncias para a empregabili-

dade O fundamento pedagoacutegico desta concepccedilatildeo estaacute alicerccedilada

na pedagogia das competecircncias (RAM OS 2001) cabendo agrave esshy

cola somente orientar a formaccedilatildeo do trabalhador-cidadatildeo produshy

tivo eficiente em sua condiccedilatildeo de subalternidade

Concepccedilatildeo 2 A funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar eacute formar para a cidadania

Na sociedade capitalista o acesso ao conhecimento sisteshy

matizado estaacute subordinado agrave condiccedilatildeo de classe podendo ser

alterado em funccedilatildeo dos resultados provisoacuterios das lutas poliacuteticas

na educaccedilatildeo conforme destacado anteriormente Nesse sentido

as disputas envolvendo o acesso ao conhecimento ocorrem porshy

que a ciecircncia e a tecnologia se converteram em forccedila produtiva

e instrumento de poder O controle sobre o conhecimento sisteshy

matizado portanto passou a fazer parte da estrateacutegia de dom ishy

naccedilatildeo de classe na sociedade capitalista Diante disso parece-nos

relevante indagar o que significa afirmar que a funccedilatildeo da escola

se destina a preparar para a cidadania Como fica o acesso ao

conhecimento sistematizado nesta concepccedilatildeo

Primeiramente devemos considerar que a cidadania eacute uma consshy

truccedilatildeo resultante das contradiccedilotildees internas das revoluccedilotildees burguesas

32

Embora se no passado representasse um avanccedilo frente agrave velha ordem

feudal ou escravista e se na atualidade expresse tambeacutem um avanccedilo

frente aos regimes e praacuteticas autoritaacuterias eacute importante lembrar que

este constructo designa apenas o reconhecimento da igualdade forshy

mal entre seres humanos que vivem condiccedilotildees poliacuteticas e econocircmicas

profundamente desiguais Em outras palavras o estatuto da cidadania

natildeo altera em absolutamente nada a realidade da dominaccedilatildeo poliacutetica e

exploraccedilatildeo econocircmica realizadas na sociedade capitalista

Um aspecto importante a ser considerado se refere agravequilo que

fundamenta o preceito de cidadania De modo geral o cidadatildeo

natildeo tem identidade de classe mas sim uma condiccedilatildeo individual E

cidadatildeo tanto o que explora e domina quanto aquele que eacute exploshy

rado e dominado por outro O cidadatildeo eacute o indiviacuteduo e natildeo uma

coletividade regulado por um estatuto juriacutedico e certas normas

sociais no contexto de um Estado Portanto ser cidadatildeo significa

integrar-se na vida social a partir da regulaccedilatildeo formal e de valores

indicando o pertencimento poliacutetico A definiccedilatildeo apresentada por

lt mivez (1990 p 15) confirma esta compreensatildeo

A cidadania define a pertenccedila a um Estado Ela daacute

ao indiviacuteduo um status juriacutedico ao qual se ligam dishy

reitos e deveres particulares Esse status depende das

leis proacuteprias de cada Estado e pode-se afirmar que

haacute tantos tipos de cidadatildeos quanto tipos de Estados

O problema da cidadania poreacutem natildeo eacute apenas proshy

blema juriacutedico ou constitucional se provoca debates

apaixonados eacute porque coloca a questatildeo do modo de

inserccedilatildeo do indiviacuteduo em sua comunidade assim

como de sua relaccedilatildeo com o poder poliacutetico

lt luo de ser cidadatildeo natildeo assegura a igualdade de condiccedilotildees

1 vidi e trabalho em um contexto de profunda desigualdade

moiiiua poliacutetica e social Muito menos assegura a possibili-

l raquolt dc ser diferente no contexto em que a igualdade formal se

ilgt In r procurando uniformizar a todos A cidadania portan-

bull i ui li ii a possibilidade da atuaccedilatildeo poliacutetica de indiviacuteduos e

ni i |i 1 1 ic as sociais dentro dos limites da ordem existente5

I iliIr poliacutetica denominamos o direito de organizaccedilatildeo de representaccedilatildeo e de

l i I h preacutesentantes atraveacutes do voto

As inuacutemeras adjetivaccedilotildees propostas ao conceito sinalizam as restriccedilotildees

de sua inserccedilatildeo na praacutetica social concreta Na lista de adjetivaccedilotildees encontrashy

mos ldquocidadania participativardquo ldquocidadania efetivardquo ldquocidadania emancipadardquo

ldquocidadania ativardquo ldquocidadania eacuteticardquo ldquocidadania popularrdquo entre outras6

Natildeo queremos com essa delimitaccedilatildeo invalidar a importacircncia da

cidadania no passado e no presente na sociedade capitalista especialshy

mente para a formaccedilatildeo social brasileira Ao contraacuterio acreditamos

que legalidade constituiacuteda no estatuto juriacutedico dos direitos individushy

ais e poliacuteticos - envolvendo a possibilidade de organizaccedilatildeo de represhy

sentaccedilatildeo de coletivos e de possibilidades de escolhas de representantes

atraveacutes do voto mdash natildeo eacute passiacutevel de desprezo Entretanto o que busshy

camos assinalar eacute que vincular o projeto de educaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo da

cidadania eacute insuficiente pois a cidadania natildeo pressupotildee a superaccedilatildeo

da ordem capitalista (TONET 2005)

Cabe lembrar que nas sociedades capitalistas dependentes como

eacute o caso da sociedade brasileira a exploraccedilatildeo se materializa em supe-

rexploraccedilatildeo a participaccedilatildeo poliacutetica eacute sempre condicionada a marcos

juriacutedicos restritivos a concentraccedilatildeo da renda e da propriedade eacute extreshy

mada a polarizaccedilatildeo social eacute mais evidente e a dominaccedilatildeo ideoloacutegica eacute

maciccedila (CA RDO SO 2006) Considerando que os indicadores sociais

e econocircmicos confirmam esta observaccedilatildeo acreditamos que limitar a

finalidade da escola para a produccedilatildeo da cidadania eacute algo insuficiente

E importante considerar que a vinculaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar

e cidadania possui um lastro histoacuterico importante no Brasil De modo

mais amplo talvez esta vinculaccedilatildeo possa ser creditada como resposta

dos educadores progressistas agrave experiecircncia vivida pelos trabalhadores

brasileiros no contexto da ditadura empresarial-militar que perdurou

por cerca de vinte anos Se esta hipoacutetese estiver correta poderemos

afirmar que a educaccedilatildeo para a cidadania representou um posicionashy

mento criacutetico frente ao regime autoritaacuterio agrave cultura poliacutetica consershy

6 A produccedilatildeo acadecircmica sobre o tema eacute consideraacutevel Aleacutem de teses

dissertaccedilotildees e artigos cientiacuteficos a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e cidadania foi

abordada em diferentes obras Eis alguns livros sobre o tema Buffa et al

(1987) Ferreira (1993) Demo (1994) Libacircneo (1998)

34

vadora ao clicntelismo e ao patrimonialismo presentes na vida social

Sobre o acesso ao conhecimento sistematizado para Libacircneo (1998)

o exerciacutecio para a cidadania exigiria o domiacutenio dos conhecimentos

sistematizados como ferramentas individuais para a intervenccedilatildeo na

realidade Apesar da perspectiva progressista da formulaccedilatildeo acreditashy

mos que educar para a cidadania eacute diferente de educar para compreshy

ensatildeo dos limites histoacutericos e teoacutericos da cidadania

Aleacutem das formulaccedilotildees progressistas sobre a educaccedilatildeo escolar e

cidadania existem tambeacutem obras de caraacuteter conservador que buscam

reafirmar aquilo que Neves (2005) define como a nova pedagogia da

hegemonia por meio da educaccedilatildeo escolar As formulaccedilotildees de Delors

(1996) e Morin (2000) divulgadas sobre a chancela da Organizaccedilatildeo das

Naccedilotildees Unidas satildeo casos exemplares que repercutem na definiccedilatildeo da

poliacutetica educacional em nosso paiacutes nos anos recentes de nossa histoacuteria7

Para Delors ldquona escola eacute que deve comeccedilar a educaccedilatildeo para

uma cidadania consciente e ativardquo (1996 p 28)s Entretanto peshy

los limites teoacutericos e histoacutericos do conceito e considerando suas

opccedilotildees ideoloacutegicas o maacuteximo que Delors consegue eacute reafirmar

com novas palavras as velhas construccedilotildees que envolvem a temaacutetica

educaccedilatildeo para a cidadania Em suas palavras

Mas como aprender a conviver nesta aldeia global

se somos incapazes de viver em paz nas comunidades

naturais a que pertencemos naccedilatildeo regiatildeo cidade alshy

deia vizinhanccedila A questatildeo central da democracia eacute

saber se desejamos e somos capazes de participar da

vida em comunidade conveacutem natildeo esquecer que esse

desejo depende do sentido da responsabilidade de

cada um (DELORS 1996 p 7-8)

A tese explicita claramente os limites da cidadania revelando que

sua vinculaccedilatildeo se estabelece com o indiviacuteduo e natildeo com as coletividashy

des Por meio da chamada cidadania consciente e ativa Delors retoma

Acredi tamos que parte dessas formulaccedilotildees saacuteo tributaacuterias da concepccedilatildeo pedagoacutegica escolanovista

Para entender o que isso significa em termos poliacuteticos e filosoacuteficos recomendamos a leitura de

Saviani (1987) especialmente o capiacutetulo dois ldquoEscola e democracia I a Teoria da Curvatura

da Varardquo

8 Os adjetivos ldquoconscienterdquo e ldquoativordquo demonstram a intenccedilatildeo de estabelecer uma atualizaccedilatildeo

da cidadania tal como assinalados anteriormente

o individualismo como valor moral radical reafirmando a formulaccedilatildeo

valorizada pela doutrina liberal e pelos projetos neoliberal e neoliberal

da terceira via Estes limites podem ser verificados em outra afirmaccedilatildeo

Um sentimento de vertigem apodera-se de nossos

contemporacircneos divididos entre essa globalizaccedilatildeo - a

cujas manifestaccedilotildees eles satildeo obrigados agraves vezes a se

submeterem mdash e a busca pessoal de suas raiacutezes refeshy

recircncias e filiaccedilotildees

A educaccedilaacuteo deve enfrentar esse problema porque na

perspectiva do parto doloroso de uma sociedade munshy

dial ela situa-se mais do que nunca 110 acircmago do deshy

senvolvimento da pessoa e das comunidades sua misshy

satildeo consiste em permitir que todos sem exceccedilatildeo faccedilam

frutificar seus talentos e suas potencialidades criativas

o que implica por parte de cada um a capacidade de assumir sua proacutepria responsabilidade e de realizar seu proshyjeto pessoal (D ELO RS 1996 p 10 grifo nosso)

Aleacutem dos aspectos citados cabe destacar o conteuacutedo ideoloacutegico

dos princiacutepios valorativos da educaccedilatildeo para a cidadania sistematizada

por Jacques Delors Segundo Duarte (2008) estes princiacutepios satildeo orienshy

tados pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo De modo geral os prinshy

ciacutepios convergem para a afirmaccedilatildeo do individualismo como valor moral

radical A tiacutetulo de exemplo podemos citar a hierarquizaccedilatildeo das formas

de aprendizagem realizadas pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo

Duarte (2008) verifica que para esta corrente pedagoacutegica eacute mais releshy

vante e significativo aprender sozinho do que pela mediaccedilatildeo do outro

Isso significa a ratificaccedilatildeo do individualismo como valor morai radical e

define o conteuacutedo da chamada cidadania consciente e ativa

A posiccedilatildeo de Edgar Morin se apresenta na mesma perspectiva trashy

ccedilada por Jacques Delors Delineando as bases para a educaccedilatildeo escolar

formar o chamado cidadatildeo planetaacuterio do seacuteculo XXI o autor afirma que

Podemos considerar que a plenitude e a livre

expressatildeo dos indiviacuteduos-sujeitos constituem

nosso propoacutesito eacutetico e poliacutetico sem entreshy

tanto pensarmos que constituem a proacutepria

finalidade da triacuteade indiviacutediwsociedadelespeacute-

cie A complexidade humana natildeo poderia ser

compreendida dissociada dos elementos que

a constituem todo desenvolvimento verdadeishyramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais das parshyticipaccedilotildees comunitaacuterias e do sentimento de pershytencer agrave espeacutecie humana (MORIN 2000 p

54-55 grifo do autor)

Mais uma vez o indiviacuteduo atomizado e sem identidade de

classe portanto diluiacutedo nas relaccedilotildees sociais eacute apresentado como

referecircncia central da formulaccedilatildeo

A finalidade da formaccedilatildeo do chamado cidadatildeo planetaacuterio eacute

e xplicitada da seguinte forma

O problema da compreensatildeo tornou-se crucial para

os humanos E por este motivo deve ser uma das

finalidades da educaccedilatildeo do futuro Lembremo-

-nos de que nenhuma teacutecnica de comunicaccedilatildeo do

telefone agrave Internet traz por si mesma a compreshy

ensatildeo A compreensatildeo natildeo pode ser quantificada

Educar para compreender a matemaacutetica ou uma

disciplina determinada eacute uma coisa educar para a

compreensatildeo humana eacute outra Nela encontra-se a

missatildeo propriamente espiritual da educaccedilatildeo ensishy

nar a compreensatildeo entre as pessoas como condiccedilatildeo

e garantia da solidariedade intelectual e moral da

humanidade (M O R IN 2000 p 94)

construccedilatildeo de uma sociedade solidaacuteria eacute de fato algo re-

bull iiiu Entretanto a formulaccedilatildeo de Morin aposta na solidarie-

tllt lsquocm alterar as condiccedilotildees objetivas de vida Eacute possiacutevel esta-

bull I ei i solidariedade num contexto marcado pela exploraccedilatildeo e

|m 11 iloi iaccedilatildeo das coisas em detrimento da condiccedilatildeo humana

I ui siacutentese o que se busca eacute na verdade o estabelecimento de

d u pu(o entre as classes sociais sobre o controle e direccedilatildeo

1 lt liiiijMicsa Desse modo a funccedilatildeo da escola do seacuteculo XXI

i i ili pcli cidadania seraacute a de reafirmar a manutenccedilatildeo das rela-

bull | raquodei e xistentes com o aprofundamento da subserviecircncia da

u ii iliilliulora Aleacutem disso nesta concepccedilatildeo o conhecimento

sistematizado cede lugar agrave experiecircncia imediata ou quando muito

na perspectiva progressista agrave reflexatildeo sobre formas de intervenccedilatildeo

na vida poliacutetica da escola da comunidade ou do paiacutes

Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar educar para a emancipaccedilatildeo humana

O consenso em torno da legitimidade da instituiccedilatildeo escolar

na sociedade contemporacircnea eacute um dado consolidado certamente

influenciado pelas concepccedilotildees anteriormente analisadas Entretanshy

to um problema persiste tais formulaccedilotildees restringem a formaccedilatildeo

humana e consequentemente limitam as possibilidades de insershy

ccedilatildeo no mundo real Diante disso cabe uma questatildeo a educaccedilatildeo

escolar pode oferecer outra perspectiva formativa que supere o

economicismo da teoria do capital humano e a orientaccedilatildeo politi-

cista da educaccedilatildeo para a cidadania Qual o papel do conhecimento

sistematizado nesta alternativa pedagoacutegica

Foi procurando responder a esta questatildeo que alguns educadores brashy

sileiros procuraram delinear uma nova possibilidade pedagoacutegica sobre a esshy

pecificidade e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar tendo em vista a necessidade de

elevar a escolarizaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes da classe trabalhadora9

Esta concepccedilatildeo pedagoacutegica foi sistematizada a partir da anaacutelishy

se criacutetica sobre a configuraccedilatildeo e dinacircmica da sociedade capitalista

Conhecendo os limites desta forma cultural de organizaccedilatildeo da vida

o segundo passo foi analisar as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes

considerando as necessidades da classe trabalhadora e os objetivos

da classe burguesa A primeira constataccedilatildeo foi que os processos de

dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo tiacutepicos das formaccedilotildees sociais capitalistas

impedem a emancipaccedilatildeo humana A segunda constataccedilatildeo foi que

as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes eram expressotildees especiacuteficas do

projeto de sociedade da classe dominante A siacutentese desta anaacutelise

9 A principal figura deste esforccedilo foi Dermeval Saviani que desde os anos finais de 1960

jaacute refletia sobre a necessidade e possibilidades de sistematizar uma teoria da educaccedilatildeo

que superasse tanto as teorias natildeo criacuteticas da educaccedilatildeo quanto agraves teorias criacutetico-

reprodutivistas Para compreender este processo ver Saviani (1987 2003)

38

pode ser assim descrita eacute necessaacuterio superar as teorias e experiecircncias

existentes fornecendo aos educadores uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo

que esteja vinculada ao compromisso com a emancipaccedilatildeo da classe

trabalhadora (SAVIANI 2003) O resultado desta sistematizaccedilatildeo

foi denominado de Pedagogia histoacuterico-criacutetica Sua fundamentaccedilatildeo

encontra-se alicerccedilada no materialismo histoacuterico

O ponto de partida desta concepccedilatildeo foi compreender a condishy

ccedilatildeo humana e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo na vida social Sobre o primeishy

ro aspecto recuperando as ideias de Friedrich Engels e Karl Marx

a Pedagogia histoacuterico-criacutetica afirma que os seres humanos precisam

criar permanentemente as condiccedilotildees de sua existecircncia Enquanto os

outros animais se adaptam ao mundo natural coletivamente os seres

humanos transformam este mesmo mundo para viabilizar a existecircncia

da vida produzindo cultura Em outras palavras natildeo encontramos

tudo de que precisamos pronto somos obrigados a produzir formas

materiais e natildeo materiais necessaacuterias agrave vida mdash formas que nascem da

necessidade objetiva (alimentaccedilatildeo por exemplo) e dos desejos e fanshy

tasias - e a transmitir estas formas para outras geraccedilotildees

Os seres humanos criam estas condiccedilotildees por meio de uma cashy

pacidade que desenvolveram ao longo da histoacuteria a capacidade de

antecipar no plano do pensamento e traduzir esta antecipaccedilatildeo em

accedilotildees concretas e intencionais para viabilizar a vida - algo que Engels

e Marx denominam de trabalho Por meio do trabalho - uma forma

bem mais elaborada que a accedilatildeo instintiva dos demais animais para

suprir as necessidades e vontades que os seres humanos possuem os

seres humanos ultrapassaram a determinaccedilatildeo bioloacutegica para assumir

a condiccedilatildeo mais complexa ser cultural Por cultura compreende-se

a forma de organizaccedilatildeo e produccedilatildeo da vida que envolve a poliacutetica

a economia as artes os haacutebitos e costumes predominantes em uma

formaccedilatildeo social e tempo histoacuterico (CHAUI 1995)

Com base nesta compreensatildeo a funccedilatildeo da educaccedilatildeo para a Pedashy

gogia histoacuterico-criacutetica se vincula agrave produccedilatildeo da existecircncia humana porshy

tanto a condiccedilatildeo de cultura Enquanto predominou na criaccedilatildeo e orgashy

nizaccedilatildeo das condiccedilotildees de existecircncia processos mais simples de trabalho

foi possiacutevel educar os mais novos no proacuteprio processo de trabalho Na

medida em que a criaccedilatildeo das condiccedilotildees humanas se tornou mais comshy

plexa aleacutem dos processos informais foi requerida a institucionalizaccedilatildeo

da educaccedilatildeo na forma escolar Conforme indicamos na primeira parte

deste texto a escola foi criada para oferecer as bases para a produccedilatildeo

coletiva da existecircncia humana

Contudo cabe ressaltar que a produccedilatildeo da existecircncia hushy

mana se faz por meio de relaccedilotildees sociais Estas relaccedilotildees assushy

mem formas especiacuteficas envolvendo a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo

poliacutetico-econocircmica de grupos sociais sobre outros grupos sociais

Significa afirmar que a relaccedilatildeo entre trabalho e educaccedilatildeo foi senshy

do delineada a partir do conteuacutedo e da forma como as relaccedilotildees

sociais de desenvolvem na sociedade de classes

O projeto dominante defende que a classe trabalhadora deve ser

mantida na condiccedilatildeo de subalternidade soacutecio-poliacutetico-econocircmica A

orientaccedilatildeo eacute para que as crianccedilas e adolescentes desta classe sejam edushy

cados para se tornarem um ldquorecurso humanordquo para o desenvolvimento

econocircmico capitalista e para obedecer as ldquoregras sociaisrdquo para a harmonia

social desta sociedade contraditoacuteria

Reconhecendo que os seres humanos podem viver em outras

condiccedilotildees e verificando que o projeto dominante encontra resisshy

tecircncia na dinacircmica escolar a Pedagogia histoacuterico-criacutetica procura

oferecer aos educadores criacuteticos uma teoria educacional alternashy

tiva de caraacuteter contra-hegemocircnico A perspectiva eacute afirmar que

os alunos da classe trabalhadora precisam ser educados para assushy

mirem as condiccedilotildees subjetivas necessaacuterias agrave direccedilatildeo do processo

histoacuterico tendo em vista a emancipaccedilatildeo humana 10

A perspectiva eacute que os alunos ( Io) compreendam criticamenshy

te a organizaccedilatildeo e dinacircmica das formas de produccedilatildeo da existecircncia

10 Eacute importante deixar claro que natildeo eacute a educaccedilatildeo escolar que realizaraacute a emancipaccedilatildeo humana

mas sim a mudanccedila na forma de produzir a existecircncia humana Contudo sem educaccedilatildeo

essa mudanccedila jamais ocorreraacute Por emancipaccedilatildeo humana entendemos a condiccedilatildeo social

poliacutetica e econocircmica que permitiraacute ao gecircnero humano superar efetivamente todas as formas

de dominaccedilatildeo exploraccedilatildeo e opressatildeo Tratar da emancipaccedilatildeo humana significa projetar a

necessidade da realizaccedilatildeo plena do ser social em comunhatildeo com o meio ambiente e com os

demais seres humanos significa projetar a sociabilidade autocircnoma e verdadeiramente livre

An

humana especialmente a forma capitalista (2o) dominem os coshy

nhecimentos sistematizados e as formas culturais existentes comshy

preendendo-os como produto e instrumento necessaacuterio agrave produccedilatildeo

da existecircncia (3o) desenvolvam a loacutegica dialeacutetica de organizaccedilatildeo do

pensamento para superar a loacutegica formal e a passividade intelectual

em busca da autonomia do pensar (SAVIANI 1987 2003)

Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamental que os alushy

nos natildeo soacute assimilem conhecimentos mas que construam sentishy

dos e significados sobre a relaccedilatildeo entre conhecimento-trabalho-

-vida no mundo real complexo e contraditoacuterio Os conteuacutedos

das disciplinas que compotildeem o curriacuteculo escolar ao inveacutes de

orientar para a abstraccedilatildeo do pensamento ou ordenar a racionalishy

dade teacutecnica para o simples fazer podem estabelecer mediaccedilotildees

importantes para ampliar a compreensatildeo sobre as dimensotildees da

produccedilatildeo da existecircncia humana Trata-se de reestabelecer o nexo

orgacircnico entre vidatrabalho e educaccedilatildeo

Nessa linha o ensino e aprendizagem do conhecimento sistematizashy

do envolveraacute a compreensatildeo da realidade vivida a partir do diaacutelogo com

os conhecimentos espontacircneos e aqueles advindos da experiecircncia Natildeo se

trata de negar o conhecimento espontacircneo e o conhecimento gerado pela

experiecircncia Ao contraacuterio para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamenshy

tal oferecer novas possibilidades de interpretaccedilatildeo desses conhecimentos e

seus significados para a vida humana O que se busca entatildeo eacute ultrapassar o

senso comum a superficialidade e a abstraccedilatildeo para assegurar que a aproshy

priaccedilatildeo do conhecimento sistematizado permita compreender e atuar nos

processos de produccedilatildeo da existecircncia humana e das relaccedilotildees de poder neshy

les envolvidas Nesta concepccedilatildeo os conteuacutedos escolares ao inveacutes de frios

e vazios como eacute tiacutepico da pedagogia tradicional e pedagogia tecnicista

produzem sentidos e significados para o professor e o aluno porque se

vinculam de forma mais ou menos indireta aos processos reais de produshy

ccedilatildeo material e simboacutelica dos meios necessaacuterios agrave vida e agrave interpretaccedilatildeo das

relaccedilotildees de poder envolvidas nestes processos

Enquanto sujeitos do processo educativo professores e alunos

partem juntos da praacutetica social isto eacute da realidade vivida pela hu-

manidade para compreender o mundo real interpretar as formas

de produccedilatildeo deste mundo e estabelecer possibilidades de agir nele

E claro que enquanto espaccedilo social a escola se materializa enquanto

instacircncia de sociabilidade onde haacute encontros humanos ricos e profundos

para a experiecircncia de crianccedilas e adolescentes Entretanto o que justifica a

especificidade da instituiccedilatildeo escolar natildeo eacute o simples conviacutevio ainda que

ele seja importante mas sim a necessidade de apropriaccedilatildeo coletiva do

conhecimento sistematizado tendo em vista a compreensatildeo da condiccedilatildeo

humana e as possibilidades de intervenccedilatildeo no mundo

Reconhecer a especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute importante

para que as praacuteticas pedagoacutegicas natildeo sejam orientadas para rebaixar

a escolarizaccedilatildeo destinada aos filhos da classe trabalhadora Enquanto

espaccedilo de vivecircncia coletiva a instituiccedilatildeo escolar deve ter claro que

funccedilatildeo deve cumprir na sociedade Esvaziar o curriacuteculo escolar de coshy

nhecimento sistematizado e valorizar os saberes advindos da experiecircnshy

cia imediata como centro do processo educativo eacute um meio que vem

sendo usado para comprometer a formaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes

da classe trabalhadora mantendo-os na condiccedilatildeo de subalternidade

O desafio proposto pela Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute tornar a

instituiccedilatildeo escolar numa instacircncia que socializa os conhecimentos sisshy

tematizados para permitir o domiacutenio dos meios necessaacuterios agrave insershy

ccedilatildeo ativa na vida social com o horizonte da emancipaccedilatildeo humana E

possibilitar que os processos pedagoacutegicos escolares assegurem a todos

indistintamente aquilo que se tornou indispensaacutevel para compreenshy

deragir ono mundo o conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico

Consideraccedilotildees finais

Vivemos numa sociedade de classes Sob esta condiccedilatildeo penshy

sar a funccedilatildeo e especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute tratar dos

projetos formativos que disputam a formaccedilatildeo humana nesta soshy

ciedade E tambeacutem considerar a posiccedilatildeo das perspectivas pedashy

goacutegicas em relaccedilatildeo ao tratamento dispensado ao conhecimento

sistematizado E compreender que as definiccedilotildees pedagoacutegicas natildeo

satildeo simples escolhas teacutecnicas ou arbitraacuterias

42

Isso revela que o trabalho educativo na sociedade de classes

eacute algo muito complexo que exige do professor rigor na tomada

de posiccedilotildees compromisso poliacutetico com um projeto de sociedade

que assume o domiacutenio dos instrumentos pedagoacutegicos para transshy

formar a intenccedilatildeo educativa em algo real na formaccedilatildeo humana

As possibilidades teoacutericas existem e elas se vinculam aos inshy

teresses de classe Haacute quem defenda que basta preparar a forccedila

de trabalho para o desenvolvimento capitalista Haacute quem acredite

que educar para a cidadania eacute suficiente para assegurar direitos Jaacute

existem intelectuais orgacircnicos da classe burguesa que reconhecem

que eacute preciso que a escola eduque o ldquocidadatildeo trabalhador produtishy

vordquo uma siacutentese das correntes acima indicadas

Entretanto as possibilidades acima apresentadas satildeo insuficienshy

tes para a classe trabalhadora pois o economicismo e politicismo peshy

dagoacutegicos - e as possiacuteveis siacutenteses geradas entre eles - se vinculam

ainda ao plano da conservaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute preciso educar para contrishy

buir com o desafiador e difiacutecil processo de valorizaccedilatildeo da vida humashy

na e natildeo das coisas e construccedilatildeo da emancipaccedilatildeo Sua perspectiva

eacute oferecer aos educadores do campo criacutetico uma alternativa teoacuterica e

metodoloacutegica para a construccedilatildeo da mudanccedila valorizando a instituishy

ccedilatildeo escolar em um espaccedilo rico e dinacircmico de ensino-aprendizagem

repleto de sentidos e significados para os que precisam romper com

a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo de classes

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CAPIacuteTULO II

0 ENSINO DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA E A FORMACcedilAtildeO DE SUJEITOS HISTOacuteRICOS EM BUSCA DOS FUNDAMENTOS TEOacuteRICOS E METODOLOacuteGICOS

Adriano de Paiva Reis

Alvaro de Azeredo Quelhas

Carla Cristina Carvalho Pereira

Leonardo Docena Pina

Renata Aparecida Alves Landim

Neste texto apresentamos os fundashy

mentos teoacutericos e metodoloacutegicos da persshy

pectiva de Educaccedilatildeo Fiacutesica que busca proshy

mover uma reflexatildeo criacutetica sobre a cultura

corporal Partimos da discussatildeo sobre a exisshy

tecircncia de dois distintos e contraditoacuterios proshy

jetos de formaccedilatildeo humana um que busca

assegurar a adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves atushy

ais relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e outro que tem

como horizonte a formaccedilatildeo de sujeitos criacuteshy

ticos e transformadores da sua proacutepria hisshy

toacuteria Com base no materialismo histoacuterico-

-dialeacutetico na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e

na abordagem Criacutetico-superadora apresenshy

tamos uma possibilidade didaacutetica que busca

abordar os conteuacutedos da cultura corporal de

modo ativo e dinacircmico tendo como ponto

de partida e de chegada a praacutetica social de

modo a permitir a ampliaccedilatildeo da compreenshy

satildeoaccedilatildeo dos alunos sobre a realidade

A relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo e a perspectiva dominante de formaccedilatildeo humana

O trabalho e a educaccedilatildeo satildeo atividades especificamente humanas e

estatildeo relacionadas ao processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura pelo

conjunto dos homens Por meio do trabalho o homem transforma intenshy

cionalmente a natureza para satisfazer suas necessidades criando uma reshy

alidade sociocultural um mundo especificamente humano portador de

produccedilotildees culturais (materiais e natildeo materiais) cada vez mais desenvolvidas

Para relacionar-se com os outros seres humanos inserindo-se em

determinada fase do desenvolvimento histoacuterico da humanidade cada

indiviacuteduo singular precisa apropriar-se da riqueza da experiecircncia humashy

na acumulada na cultura pois as aptidotildees e funccedilotildees humanas historicashy

mente formadas natildeo se reproduzem pela hereditariedade mas precisam

ser formadas isto eacute transmitidas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo A esse processhy

so de transmissatildeo da cultura produzida histoacuterica e coletivamente pelo

conjunto dos homens mdash que permite a formaccedilatildeo da humanidade em

cada indiviacuteduo singular - denomina-se educaccedilatildeo (SAVIANI 2005)

Entretanto como as formas assumidas pelo trabalho nos dishy

versos modos de produccedilatildeo da existecircncia humana satildeo fenocircmenos

construiacutedos concretamente nas relaccedilotildees sociais a formaccedilatildeo humana

tende a ser determinada pelos processos histoacutericos De acordo com

Marx (2005) no modo de produccedilatildeo capitalista - aquele que estaacute

fundado na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo e na aproshy

priaccedilatildeo privada dos produtos do trabalho - a relaccedilatildeo do homem

com o mundo aparece invertida de tal forma que o trabalho assashy

lariado caracteriacutestico da moderna sociedade burguesa resulta num

estranhamento do homem com o seu trabalho o trabalho de ativishy

dade de realizaccedilatildeo do homem eacute transformado em ldquo[] desrealizaccedilatildeo

do trabalhador a objetivaccedilatildeo como perda e servidatildeo do objeto a

apropriaccedilatildeo com alienaccedilatildeo1rdquo (MARX 2005 p 1 12)

i Em Marx (2005) a alienaccedilatildeo corresponde ao estranhamento total do homem com a natureza

com a humanidade e com ele proacuteprio sendo que a base de todas essas relaccedilotildees sociais estranhas

c a alienaccedilatildeo do proacuteprio trabalho O u seja a partir da expropriaccedilatildeo do produto e do processo

de seu trabalho o homem passa a alienar-se de sua vida como um todo

Tendo em vista que o trabalho na sociedade capitalista eacute contrashy

ditoriamente fundamento da existecircncia humana e meio de alienaccedilatildeo

pensar o trabalho como princiacutepio educativo implica em visualizar

dois projetos distintos de educaccedilatildeo escolar um que busca adaptar os

indiviacuteduos agraves atuais relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo e outro que visa

alcanccedilar o pleno desenvolvimento da iiiacutedividualidade livre e universal (DUARTE 2006) algo atrelado agrave construccedilatildeo de uma nova sociedashy

de na qual estejam superadas as relaccedilotildees sociais alienadas

Na perspectiva voltada agrave reproduccedilatildeo do capital a educaccedilatildeo

tem servido como meio de adaptar o indiviacuteduo agraves condiccedilotildees hisshy

toacutericas da produccedilatildeo negando o potencial criativo e transformador

da realidade que o homem possui impedindo-o de reconhecer-se

como sujeito da histoacuteria Como analisam criticamente Frigotto

Ciavatta e Ramos (2005) o sentido economicista atribuiacutedo agrave edushy

caccedilatildeo a tem proclamado como instrumento de formaccedilatildeo para o

trabalho no seu sentido historicamente alienado dando origem

agrave noccedilatildeo ideoloacutegica da escola como promotora da ascensatildeo social

Este fato pode ser observado em mitos como o da empregabilidade

e do empreendedorismo que vigoram hoje em dia

Diversas anaacutelises realizadas sobre a relaccedilatildeo entre trabalho e

educaccedilatildeo como as realizadas por Ramos (2006) e Kuenzer (2007)

por exemplo evidenciam que no contexto de transiccedilatildeo do modo

laquoIr produccedilatildeo capitalista para o regime de acumulaccedilatildeo flexiacutevel2

1 implantaccedilatildeo de um novo paradigma produtivo e a emergecircncia

Jr novas demandas de ajustamento social provocaram uma nova

loi nia de ser do trabalhador que estabeleceu exigecircncias significa-

iivimente diferentes daquelas em curso ateacute entatildeo O u seja uma

nov a dinacircmica de produccedilatildeo e novos meacutetodos de trabalho passaram

I gtc acordo com as anaacutelises dc Harvey (2006) a partir da deacutecada dc 1970 com a explosatildeo

laquoli nova crise de superacumulaccedilatildeo capitalista inicia-se um periacuteodo de reestruturaccedilatildeo

lt miocircmica e de reajustamento social e poliacutetico marcando a passagem para um novo

irgime de acumulaccedilatildeo ldquoA acumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo surge em contraposiccedilatildeo agrave rigidez do

Inulismo ldquoEla se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho dos mercados de

uibalho dos produtos e padrotildees de consumordquo (1IARVKY 2006 p 140)

a exigir um tipo novo de trabalhador e de homem3 Assim para

atender aos interesses de valorizaccedilatildeo do capital vecircm ocorrendo

diversas alteraccedilotildees nos projetos e processos de formaccedilatildeo humana

a fim de ajustaacute-los agraves novas formas de organizaccedilatildeo do trabalho e

aos novos padrotildees de sociabilidade capitalista

Com base na argumentaccedilatildeo de que ingressamos na chamada ldquosocieshy

dade do conhecimentordquo a educaccedilatildeo passa a ser proclamada como uma

tarefa para toda a vida e a noccedilatildeo de competecircncia assume centralidade na

educaccedilatildeo escolar Para se consolidar como categoria ordenadora da relaccedilatildeo

trabalho-educaccedilatildeo a noccedilatildeo de competecircncia se inscreve num movimento

de afirmaccedilatildeo e negaccedilatildeo do conceito de qualificaccedilatildeo promovendo a valoshy

rizaccedilatildeo da sua dimensatildeo experimental agrave custa do enfraquecimento da sua

dimensatildeo conceituai e social (RAMOS 2006)

O enfraquecimento da dimensatildeo social da qualificaccedilatildeo pode ser

constatado nos discursos que proclamam um novo papel para a educashy

ccedilatildeo escolar natildeo mais formar para um determinado posto ou emprego

mas sim gerar potencial de empregabilidade De acordo com Gentili

(2005) a empregabilidade eacute o eufemismo da desigualdade estrutural

que caracteriza o mercado de trabalho e sintetiza a incapacidade mdash tamshy

beacutem estrutural mdash da educaccedilatildeo em cumprir sua promessa integradora

Conforme explica o autor esse conceito ganhou espaccedilo e centralidade

a partir da deacutecada de 1990 sendo definido como eixo fundamental de

um conjunto de poliacuteticas supostamente destinadas agrave diminuiccedilatildeo de risshy

cos sociais gerados pelo desemprego Para o discurso dominante o conshy

ceito de empregabilidade natildeo significa garantia de integraccedilatildeo mas apeshy

nas melhores condiccedilotildees para competir na luta pelos poucos empregos

disponiacuteveis no mercado de trabalho Esse conceito segundo o autor

acaba com a concepccedilatildeo do emprego e da renda como esferas de direito

3 Tomamos essa expressatildeo emprestada de Gramsci (1976) que foi originalmente utilizada

em Americanismo e Fordismo e sugere que um novo tipo de trabalho e de produccedilatildeo traz a

necessidade de formar um novo tipo de homem pois ldquo[] novos meacutetodos de trabalho estatildeo

indissoluvelmente ligados a um determinado modo de viver de pensar e de sentir a vida

natildeo eacute possiacutevel obter ecircxito num campo sem obter resultados tangiacuteveis no outrordquo (p 396)

4 De acordo com Frigotto (1998) o termo ldquosociedade do conhecimentordquo diz respeito a um

deslocamento conceituai da teoria do capital humano buscando alinhar ideologicamente

a educaccedilatildeo agrave nova materialidade e mascarar a realidade do desemprego estrutural

pois parte do entendimento de que a posse de determinadas condiccedilotildees

de empregabilidade natildeo garante a inserccedilatildeo no mercado de trabalho

No que se refere agrave concepccedilatildeo de conhecimento subjacente agrave noccedilatildeo de

competecircncia Ramos (2006) conclui que por estar pautada numa ldquoconcepshy

ccedilatildeo natural-funcionalista de homemrdquo esta noccedilatildeo abriga uma ldquoconcepccedilatildeo

subjetivo-relativista de conhecimentordquo que reforccedila o irracionalismo poacutes-

-moderno5 configurando-se como uma noccedilatildeo adaptadora do comportashy

mento humano agrave instabilidade da vida no capitalismo tardio

A perspectiva educacional ancorada na noccedilatildeo de competecircncia busshy

ca alterar a maneira de ser da classe trabalhadora adequando-a aos novos

valores necessaacuterios agrave manutenccedilatildeo das relaccedilotildees capitalistas No que tange

ao curriacuteculo essa noccedilatildeo privilegia os objetivos atitudinais comportamen-

tais e procedimentais ligados ao saber agir e saber fazer secundarizando e

subordinando os conhecimentos agraves situaccedilotildees praacuteticas uma vez que soacute satildeo

considerados vaacutelidos os conhecimentos que apresentam aplicabilidade no

desempenho das atividades de produccedilatildeo6

A pedagogia das competecircncias aleacutem de ser uma importanshy

te referecircncia pedagoacutegica defendida pelos intelectuais da classe

dominante natildeo estaacute soacute na defesa dos interesses capitalistas no

campo da educaccedilatildeo escolar pelo contraacuterio ganha forccedila na meshy

dida em que se alinha a outras concepccedilotildees que negam a escola

tomo instituiccedilatildeo responsaacutevel pela transmissatildeo do conhecimento

sistematizado como eacute o caso do construtivismo

Para desenvolver competecircncias eacute preciso antes de

tudo trabalhar por problemas e projetos propor

tarefas complexas e desafios que incitem os alunos

a mobilizar seus conhecimentos e cm certa medida

completaacute-los Isso pressupotildee uma pedagogia ativa

Com relaccedilaacuteo ao relativisino poacutes-moderno as anaacutelises de Harvey (2006) permitem

compreender que a necessidade capitalista de acelerar o tempo de giro do capital atraveacutes

ltli aceleraccedilatildeo da produccedilatildeo da troca e do consumo de mercadorias tem promovido

iima intensificaccedilatildeo da compressatildeo do tempo-espaccedilo influenciado as formas poacutes-

modernas de pensar sentir e agir acentuando a volatilidade e efemeridade valorizando

bull i instantacircneo e o descartaacutevel o que tem implicado na consideraccedilatildeo de que qualquer

perspectiva totalizante de conhecimento eacute inatingiacutevel

Ni realidade esta secundarizaccedilatildeo do conhecimento em favor de comportamentos

bull 1 iM-rvaacuteveis natildeo eacute novidade e em certa medida reedita os princiacutepios da Escola Nova (cf

I l AUTH 2001) e da Pedagogia do Domiacutenio (cf RAMOS 2006)

cooperativa aberta para a cidade ou para o bairro

seja na zona urbana ou rural Os professores devem

parar de pensar que dar aulas eacute o cerne da profissatildeo

Ensinar hoje deveria consistir cm conceber encaishy

xar e regular situaccedilotildees de aprendizagem seguindo os

princiacutepios pedagoacutegicos ativos e construtivistas Para

os professores adeptos de uma visatildeo construtivista

e interacionista de aprendizagem trabalhar no deshy

senvolvimento de competecircncias natildeo eacute uma ruptura

(PERRENOUD 2000 apud DUARTE 2003 p 6)

O trecho do trabalho de Perrenoud citado por Duarte (2003)

permite segundo este incluir a Pedagogia das Competecircncias - junshy

tamente com o Construtivismo a Escola Nova os estudos na linha

do ldquoProfessor Reflexivordquo dentre outros mdash no grupo das chamadas ldquoPe-

dagogias do Aprender a Aprenderrdquo que visam produzir uma maior

adaptabilidade dos indiviacuteduos agraves alteraccedilotildees do capitalismo7

As reflexotildees apresentadas ateacute aqui nos colocam diante do desafio

de construir as possibilidades de desenvolvimento dc uma perspectiva de

educaccedilatildeo que supere a loacutegica adaptadora da formaccedilatildeo mediada pelo lema

ldquoaprender a aprenderrdquo ou mais especificamente pela noccedilatildeo de aquisiccedilatildeo

de competecircncias para empregabilidade Por outro lado isso nos remete

ao resgate do significado de escola unitaacuteria de uma educaccedilatildeo politeacutecnica

e de uma formaccedilatildeo omnilateral na qual a formaccedilatildeo humana volta-se para

a apreensatildeo do conhecimento sistematizado em todas as suas dimensotildees

premissa fundamental para a formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos e criacuteticos

A perspectiva marxista de formaccedilatildeo humana como possibilidade de oposiccedilatildeo agrave perspectiva dominante de educaccedilatildeo escolar

Tendo como horizonte um projeto educativo voltado agrave superaccedilatildeo

do capitalismo Frigotto (1985) aponta a politecnia como concepccedilatildeo de

educaccedilatildeo que interessa agrave classe trabalhadora por estar fundamentada

na superaccedilatildeo da divisatildeo entre teoria e praacutetica em direccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do

homem em todas as suas dimensotildees - formaccedilatildeo omnilateral

Uma anaacutelise dai Pedagogias do Aprender a Aprender eacute apresentada em Duarte (2006)

A concepccedilatildeo de uma educaccedilatildeo politeacutecnica tem origem na

compreensatildeo do homem como um ser de muacuteltiplas atividades

Marx e Engels (1989) indicam que o homem natildeo deve limitar

seu desenvolvimento a uma das partes do seu corpo da sua inshy

teligecircncia ou de sua sensibilidade o homem todo e todo hoshy

mem deve constantemente humanizar-se pelo trabalho Desse

modo a educaccedilatildeo deveria ter como objeto de sua preocupaccedilatildeo o

desenvolvimento do homem nas suas maacuteximas potencialidades

partindo do pressuposto de que ele eacute capaz de captar a realidade

e dela se apropriar com todos os seus sentidos de maneira comshy

preensiva e como ser total (MARX 2005)

A concepccedilatildeo de formaccedilatildeo politeacutecnica fundamenta-se no mashy

terialismo histoacuterico dialeacutetico englobando de modo indissociaacuteshy

vel uma concepccedilatildeo pedagoacutegica uma perspectiva de trabalho e

um projeto de sociedade que garante agrave politecnia uma coerecircncia

entre meacutetodo concepccedilatildeo de mundo e praacutexis Ou seja a politecnia

apoia-se na anaacutelise das transformaccedilotildees dos processos de trabalho

que estatildeo na base das relaccedilotildees de produccedilatildeo capitalista (dimensatildeo

infraestrutural) Essa anaacutelise eacute realizada sob a perspectiva de um

projeto utoacutepico-revolucionaacuterio de construccedilatildeo de uma sociedade

sem classes (dimensatildeo utoacutepica) Essas duas dimensotildees acabam

por desembocar em propostas de accedilatildeo educativa (dimensatildeo peshy

dagoacutegica) que tecircm como finalidade contribuir para a formaccedilatildeo

do homem em todas as suas dimensotildees (RODRIGU ES 1998)

No que tange agrave concepccedilatildeo de escola pensada como um espaccedilo

de luta pela hegemonia8 da classe trabalhadora a defesa se faz no

sentido de uma escola que possibilite ao homem desenvolver suas

capacidades produtivas e intelectuais de forma unificada Nesta

perspectiva Gramsci (2004) defende um tipo de escola unitaacuteria que

ao mesmo passo encaminhe o jovem para a escolha profissional e

lorme sujeitos capazes de dirigir e controlar os rumos da vida em soshy

Adotamos o conceito de hegemonia conforme define Gramsci (2000) uma relaccedilatildeo de

poder presente nas sociedades capitalistas que expressa a dominaccedilatildeo de uma ou mais

fraccedilotildees dcclasse sobre o conjunto de sua proacutepria classe e das classes antagocircnicas em que

o econocircmico e o poliacutetico expressam a ldquodireccedilatildeo moral e intelectualrdquo a ser seguida pelo

conjunto da sociedade

ciedade Para tal esta escola deve promover a elevaccedilatildeo cultural9 dos

jovens preparando-os para a atividade social autocircnoma e criativa

A escola uacutenica do trabalho como estrutura busca a superaccedilatildeo das

trajetoacuterias de distribuiccedilatildeo desigual do saber a politecnia como conteshy

uacutedo visa construir uma organizaccedilatildeo curricular que resgate a totalidade

dos conhecimentos cientiacuteficos artiacutesticos filosoacuteficos e instrumentais

que regem os processos produtivos a dialeacutetica como meacutetodo caminha

no sentido da reunificaccedilatildeo entre ciecircncia e teacutecnica entre formaccedilatildeo geshy

ral e profissional entre teoria e praacutetica permitindo aos alunos comshy

preenderem o processo de construccedilatildeo do conhecimento

No entanto eacute importante salientar que a concepccedilatildeo de escola

unitaacuteria e de formaccedilatildeo politeacutecnica deve ser tomada como referecircncia

num processo mais amplo qual seja o de luta pela transformaccedilatildeo

da sociedade pois como elaborou Marx (1984) um modelo de

educaccedilatildeo que busque a unidade entre teoria e praacutetica entra em conshy

tradiccedilatildeo com a forma capitalista de produzir e dividir o trabalho

sendo que o uacutenico caminho para subverter essa ordem seria o desenshy

volvimento dessas contradiccedilotildees

Nesse sentido considerando a dinacircmica do processo de proshy

duccedilatildeoreproduccedilatildeo da cultura a defesa da escola como instituiccedilatildeo

responsaacutevel pela transmissatildeo-assimilaccedilatildeo do conhecimento sistemashy

tizado torna-se indispensaacutevel para que cada indiviacuteduo da espeacutecie

humana possa se inserir na histoacuteria social desenvolvendo-se em suas

maacuteximas potencialidades E exatamente nessa linha que se configura

a definiccedilatildeo de Saviani (2006) sobre o papel da escola na perspectiva

da Pedagogia histoacuterico-criacutetica

O movimento pedagoacutegico que deu origem agrave Pedagogia hisshy

toacuterico-criacutetica surge no final da deacutecada de 1970 como resposta

9 No atual ambiente ideoloacutegico no qual predomina a ideologia neoliberal e poacutes-

moderna falar em elevaccedilatildeo cultural pode se constituir como algo um tanto quanto

polecircmico Contudo fazemos questatildeo de destacar que na perspectiva marxista

com a qual trabalhamos ldquo[] natildeo haacute margem nem para o evolucionismo ingecircnuo

(seja no plano da histoacuteria da organizaccedilatildeo social humana seja no plano da histoacuteria

do conhecimento) nem para o relativismo que nega a existecircncia de formas mais

desenvolvidas de vida social e de conhecimento nem finalmente para o subjeti-

vismo que nega o conhecimento como apropriaccedilatildeo da realidade objetiva pelo

pensamentordquo (DU A RT E 2003 p 77)

agrave necessidade de encontrar alternativa agrave pedagogia dominante

Saviani (2005) explica que naquele contexto imperava a necesshy

sidade histoacuterica especialmente no caso brasileiro de criticar a

pedagogia oficial sobretudo para evidenciar seu caraacuteter reproshy

dutor De acordo com os autores da eacutepoca cada setor da cultushy

ra como o sistema de ensino por exemplo desempenharia seu

papel na reproduccedilatildeo da sociedade A medida que essas ideias

se difundiam as chamadas teorias criacutetico-reprodutivistas0 ganhashy

vam forccedila para consolidar o entendimento de que a educaccedilatildeo

escolar sempre desempenharia o papel de reproduccedilatildeo Essas teoshy

rias foram se formulando e se difundindo ao mesmo tempo em

que eram assimiladas no Brasil como instrumento utilizado para

fustigar a poliacutetica educacional do Regime Militar (SAVIANI

2005) Se por um lado as teorias criacutetico-reprodutivistas foram

importantes para evidenciar o papel desempenhado pela pedagoshy

gia oficial no contexto do Regime Militar no Brasil por outro

lado natildeo forneceram alternativas para se contrapor agrave pedagogia

dominante Neste sentido Saviani (2005 p 135) afirma que

a luta contra a ditadura tambeacutem implicava a forshy

mulaccedilatildeo dc alternativas No campo educacional

o problema colocava-se nos seguintes termos se a

pedagogia oficial era inaceitaacutevel qual seria entatildeo

a orientaccedilatildeo alternativa aceitaacutevel A visatildeo criacutetico-

reprodutivista natildeo dava resposta para essa pergunshy

ta Natildeo tinha uma proposta de orientaccedilatildeo Fazia a

criacutetica do existente mostrando que este desempeshy

nhava a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo

Portanto era necessaacuterio formular uma proposta pedagoacutegica

que estivesse atenta aos determinantes sociais da educaccedilatildeo e que

permitisse articular de forma dialeacutetica o trabalho pedagoacutegico

com as relaccedilotildees sociais deveria levar em conta a accedilatildeo reciacuteproca

em que a educaccedilatildeo embora determinada em suas relaccedilotildees com

10 Saviani (2006) denomina de teorias criacutetico-reprodutivistas aquelas que por um lado

postulam a compreensatildeo da educaccedilatildeo a partir de seus condicionantes sociais mas por

outro lado chegam agrave conclusatildeo de que a funccedilatildeo da proacutepria educaccedilatildeo eacute reproduzir a

sociedade na qual ela se insere

a sociedade reage ativamente sobre o elemento determinante

(SAVIANI 2005) Assim como desdobramento desse processo

que buscou encontrar alternativa agrave pedagogia dominante a Peshy

dagogia histoacuterico-criacutetica surgiu como uma proposta pedagoacutegica

fundamentada no materialismo histoacuterico cuja tarefa em relaccedilatildeo

agrave educaccedilatildeo escolar implica a) identificar as formas mais desenshy

volvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicashy

mente reconhecendo as condiccedilotildees de sua produccedilatildeo e compreenshy

dendo as suas principais manifestaccedilotildees bem como as tendecircncias

atuais de transformaccedilatildeo b) converter o saber objetivo em saber

escolar de modo que se torne assimilaacutevel pelos alunos no espaccedilo

e tempo escolares c) prover os meios necessaacuterios para que os

alunos natildeo apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultashy

do mas apreendam o processo de sua produccedilatildeo bem como as

tendecircncias de sua transformaccedilatildeo (SAVIANI 2005)

Segundo o autor a escola eacute uma instituiccedilatildeo cujo papel conshy

siste na socializaccedilatildeo do saber sistematizado Natildeo se trata portanshy

to de qualquer tipo de saber ldquoa escola diz respeito ao conhecishy

mento elaborado e natildeo ao conhecimento espontacircneo ao saber

sistematizado e natildeo ao saber fragmentado agrave cultura erudita e

natildeo agrave cultura popularrdquo (SAVIANI 2006 p 14) Destacar esse

posicionamento eacute importante sobretudo porque tambeacutem eacute posshy

siacutevel encontrar na Educaccedilatildeo Fiacutesica tendecircncias que negam a aproshy

priaccedilatildeo do saber sistematizado por parte das fraccedilotildees menos prishy

vilegiadas da classe trabalhadora ao proclamar como seu papel

central o desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica ou a ldquovalorizaccedilatildeo

da cultura popularrdquo em detrimento da cultura erudita

Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica a defesa da escola como espashy

ccedilo de socializaccedilatildeo do saber sistematizado eacute essencial para assegurar o

caraacuteter contraditoacuterio da educaccedilatildeo e afirmar os interesses dos trabalhashy

dores uma vez que dominar os conhecimentos mais desenvolvidos

produzidos pela humanidade no campo das ciecircncias das artes e da fishy

losofia eacute condiccedilatildeo para o processo de emancipaccedilatildeo (SAVIANI 2006)

11 Uma criacutetica ao paradigma da aptidatildeo fiacutesica foi desenvolvida pelo Coletivo de Autores (1992)

cr

A perspectiva histoacuterico-criacutetica na Educaccedilatildeo Fiacutesica direcionando o olhar para a metodologia Criacutetico- superadora

A busca de alternativas agrave pedagogia dominante atingiu tambeacutem a

Educaccedilatildeo Fiacutesica possibilitando articular a praacutetica pedagoacutegica na aacuterea

a um novo projeto de sociedade Desde o final da deacutecada de 1970

com o processo frequentemente denominado de ldquoredemocratizaccedilatildeo

da sociedade brasileirardquo inuacutemeros estudos passaram a questionar o

papel que vinha sendo assumido pela Educaccedilatildeo Fiacutesica em nosso paiacutes

qual seja o de educar os indiviacuteduos em conformidade com as necesshy

sidades do modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Os

crescentes questionamentos que ganharam forccedila na deacutecada de 1980

colocaram em xeque o quadro de referecircncias que havia direcionado a

Educaccedilatildeo Fiacutesica por mais de um seacuteculo A inflexatildeo na aacuterea configurashy

da como uma crise de legitimidade inaugurou um periacuteodo de buscas

para se construir a autonomia pedagoacutegica da aacuterea frente a um quadro

histoacuterico de viacutenculo ao projeto dominante

Nesse processo um importante marco para a educaccedilatildeo escolar foi

a publicaccedilatildeo na deacutecada de 1990 do livro Metodologia do Ensino de lducaccedilaacuteo Fiacutesica escrito por um grupo que se autodenominou de Coshy

letivo de Autores (1992) Nessa obra eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal mdash uma tendecircncia que pautada

na Pedagogia histoacuterico-criacutetica visa a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enquanto

sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em que vive

Para formar esse tipo de sujeito o paradigma da reflexatildeo criacuteti-

i i sobre a cultura corporal defende a tematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de

lorma criacutetico-superadora A tematizaccedilatildeo defendida por esta proposta

ibrange a compreensatildeo das relaccedilotildees de interdependecircncia que os dife-

H iiies conteuacutedos da cultura corporal tecircm com os grandes problemas

bull gtlt Hraquo-poliacuteticos atuais como ldquo[] ecologia papeacuteis sexuais sauacutede puacute-

I 1 u i relaccedilotildees de trabalho preconceitos sociais raciais da deficiecircncia

bull I i wlhice distribuiccedilatildeo do solo urbano distribuiccedilatildeo de renda diacutevida

i u i na e outrosrdquo (COLETIVO DE AUTORES 1992 p 62-63)

Assim busca-se desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as formas

de representaccedilatildeo do mundo exteriorizadas pela expressatildeo corporal

que o ser humano tem produzido no decorrer da histoacuteria dentre as

quais pode-se destacar jogos danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esshy

porte malabarismos contorcionismos miacutemica e outros que podem

ser identificados como formas de representaccedilatildeo simboacutelica de realishy

dades vividas pelo homem historicamente criadas e culturalmente

desenvolvidas (COLETIVO DE AUTORES 1992)

Portanto pode-se afirmar que a metodologia Criacutetico-superado-

ra ao alinhar-se agrave perspectiva pedagoacutegica defendida por Dermeval

Saviani busca propor novos caminhos para a apropriaccedilatildeo do conheshy

cimento na escola inclusive pela organizaccedilatildeo metodoloacutegica fundashy

mentada nos cinco passos do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do coshy

nhecimento a saber identificaccedilatildeo da praacutetica social problematizaccedilatildeo

instrumentalizaccedilatildeo catarse e retorno agrave praacutetica social

O ponto de partida para a apropriaccedilatildeo do conhecimento na escola

eacute a praacutetica social (SAVIANI 2006) Nesse passo conforme apresentado

por Gasparin (2005) realiza-se um primeiro contato com o tema a ser

estudado para evidenciar suas relaccedilotildees com a vida cotidiana visando

mobilizar os alunos para o processo pedagoacutegico Segundo este autor a

identificaccedilatildeo da praacutetica social pode ser dividida em duas partes a saber

anuacutencio e vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos No anuacutencio dos conteuacutedos aponta-se o que seraacute estudado e quais os objetivos a serem alcanccedilados

Na vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos identifica-se o que os alunos jaacute sashy

bem c o que eles gostariam de saber mais sobre o assunto em questatildeo

O segundo passo do meacutetodo dialeacutetico de construccedilatildeo do conhecishy

mento escolar eacute a problematizaccedilatildeo fase na qual se busca ldquo[] detectar

que questotildees precisam ser resolvidas no acircmbito da praacutetica social e em

consequecircncia que conhecimento eacute necessaacuterio dominarrdquo (SAVIANI

2006 p 71) A partir dessa afirmaccedilatildeo dois importantes aspectos foram

salientados por Gasparin (2005) que merecem um devido destaque

O primeiro deles diz respeito agraves questotildees da praacutetica social que deshy

vem ser detectadas O autor esclarece com base no proacuteprio Saviani

que o foco deve ser concentrado nas grandes questotildees que desafiam a

sociedade nos principais problemas que precisam ser resolvidos natildeo

soacute na escola ou pela escola mas no acircmbito da sociedade Para isso

afirma que deve ser feita uma seleccedilatildeo do que eacute fundamental visto que

os principais problemas postos pela praacutetica social nem sempre podem

ser tratados na sua totalidade em cada aacuterea do conhecimento O ldquofunshy

damentalrdquo vale dizer refere-se aos aspectos relacionados ao conteuacutedo

estabelecido pelo curriacuteculo escolar ou aos conhecimentos trabalhados

em uma determinada unidade do programa Com base nesse entendishy

mento pode-se dizer que a problematizaccedilatildeo deve selecionar e discutir

os problemas que tecircm origem na praacutetica social mas que ao mesmo

tempo se ligam ao conteuacutedo a ser trabalhado trata-se de uma seleccedilatildeo

e discussatildeo de grandes questotildees sociais poreacutem inseridas e especificadas

no conteuacutedo da unidade que estaacute sendo estudada (GASPARIN 2005)

O segundo aspecto a ser destacado refere-se a qual conhecimento

eacute necessaacuterio dominar para resolver os problemas da praacutetica social Gas-

parin (2005) explica que de maneira geral os conteuacutedos satildeo quase

sempre transmitidos aos educandos por uma uacutenica dimensatildeo a con-

eeitual-cientiacutefica Em virtude da ecircnfase geralmente atribuiacuteda a essa dishy

mensatildeo do conteuacutedo o autor alerta o seguinte eacute necessaacuterio lembrar

no processo de construccedilatildeo do conhecimento que a ciecircncia tambeacutem eacute

iiin produto social originada de necessidades histoacutericas econocircmicas

poliacuteiicas ideoloacutegicas filosoacuteficas religiosas teacutecnicas dentre outras Tenshy

do i in vista o fato de que existem muacuteltiplas dimensotildees que revestem

os dilerentes conteuacutedos faz-se necessaacuterio abordar na construccedilatildeo do

- ltgtii1k-ciacutemento natildeo soacute a dimensatildeo conceitual-cientiacutefica A necessidade

llt 1 1 mscender a abordagem centrada na dimensatildeo conceitual-cientiacutefica

jMivuacuten do entendimento de que a anaacutelise do real deve considerar suas

muacuteltiplas dimensotildees visto que a realidade social envolve sempre uma

tuii de perspectivas um conjunto de aspectos interdependentes que

u ui ser entendidos para a resoluccedilatildeo dos problemas postos pela praacute-

laquo iil Eacute importante destacar esse aspecto sobretudo porque na

u lo 1 iacutesica a ecircnfase do processo pedagoacutegico geralmente eacute concen-

raquo i iu is rlementos teacutecnicos e taacuteticos o que desconsidera as muacuteltiplas

bull t M ii raquors que revestem o conteuacutedo em questatildeo

Assim duas tarefas principais podem ser operacionalizadas na

problematizaccedilatildeo A primeira delas envolve o questionamento da praacuteshy

tica social e do conteuacutedo escolar Trata-se de um momento em que satildeo

apresentadas e discutidas as razotildees sociais pelas quais se deve aprender o

conteuacutedo proposto de modo que os alunos possam entender melhor o

que seraacute estudado identificar os principais problemas postos pela praacuteshy

tica social e pelos conteuacutedos e ainda entender a necessidade eou vashy

lidade do conteuacutedo curricular proposto para solucionar eou entender

melhor os problemas da praacutetica social (GASPARIN 2005) A segunda

tarefa que pode ser realizada na problematizaccedilatildeo refere-se agraves dimensotildees

do conteuacutedo a serem trabalhadas Em linhas gerais pode-se dizer que

essa tarefa consiste em definir as dimensotildees que se deseja estudar Para

tanto pode-se partir do conteuacutedo a ser trabalhado de modo a elaborar

questotildees desafiadoras que expressem dimensotildees especiacuteficas referentes agrave

natureza do conteuacutedo como por exemplo as dimensotildees cientiacutefico-

-conceituais sociais econocircmicas culturais histoacutericas filosoacuteficas moshy

rais eacuteticas esteacuteticas legais e doutrinaacuterias (GASPARIN 2005)

O passo seguinte a instrumentalizaccedilatildeo segundo Gasparin (2005) eacute o

caminho atraveacutes do qual o conteuacutedo sistematizado eacute posto agrave disposiccedilatildeo dos

alunos para que o assimilem o recriem e ao incorporaacute-lo transformem-no

em instrumento cultural para transformaccedilatildeo da realidade Esse terceiro passhy

so do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do conhecimento consiste no moshy

mento em que os alunos vatildeo se apropriar das ferramentas culturais necesshy

saacuterias agrave luta social que travam diariamente para se libertar das condiccedilotildees de

opressatildeo em que vivem ou seja trata-se da fase na qual ocorre a apropriaccedilatildeo

dos instrumentos teoacutericos e praacuteticos necessaacuterios ao equacionamento dos

problemas detectados na praacutetica social (SAVIANI 2006)

De acordo com Saviani (2006) o quarto passo do meacutetodo eacute a ldquocashy

tarserdquo momento de expressatildeo elaborada da nova forma de entendimenshy

to da praacutetica social a que se ascendeu ldquoTrata-se da efetiva incorporaccedilatildeo

dos instrumentos culturais transformados agora em elementos ativos

de transformaccedilatildeo socialrdquo (SAVIANI 2006 p 72) Pode-se dizer que a

catarse eacute a demonstraccedilatildeo teoacuterica do ponto de chegada do niacutevel superior

atingido pelos alunos (GASPARJN 2005)

Por fim no retorno agrave praacutetica social temos a nova maneira de comshy

preender a realidade e de posicionar-se diante dela eacute a manifestaccedilatildeo

da nova postura praacutetica da nova atitude da nova visatildeo do conteuacutedo

no cotidiano Trata-se de acordo com Gasparin (2005) do momento

de accedilatildeo consciente em prol da transformaccedilatildeo da realidade a partir do

retorno agrave praacutetica social agora entendida de forma mais elaborada

Levando em conta esses diferentes momentos do meacutetodo dialeacutetico

de construccedilatildeo do conhecimento o ensino dos diferentes conteuacutedos que

compotildeem a cultura corporal permite aos alunos se apropriarem dos coshy

nhecimentos acumulados historicamente pela humanidade Trata-se de

um importante passo no sentido de enriquecer a concepccedilatildeo de mundo

dos alunos uma vez que o acesso ao saber sistematizado sobre jogos

esporte luta danccedila ginaacutestica circo por exemplo se constitui como

elemento indispensaacutevel para leitura dessa dimensatildeo da realidade

Consideraccedilotildees finais

O artigo em tela apresentou a concepccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica de

Educaccedilatildeo Fiacutesica que embasa as praacuteticas pedagoacutegicas discutidas ao longo

deste livro destacando sua articulaccedilatildeo com um projeto de formaccedilatildeo hushy

mana criacutetico agraves relaccedilotildees sociais capitalistas visando superar a perspectiva

de adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves exigecircncias do mundo do trabalho

Com base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e na abordagem Criacutetico-

-superadora o objetivo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute promover uma

reflexatildeo criacutetica sobre diferentes conteuacutedostemas da cultura corporal

seguindo um caminho metodoloacutegico que busca ampliar a compreensatildeo

e accedilatildeo dos sujeitos sobre a realidade em que vivem

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CAPIacuteTULO III

A PRODUCcedilAtildeO DA CULTURA LUacuteDICA EM JOGOS ELETROcircNICOS

Priscila Rocha Rodrigues

Renata Aparecida Alves Landim

Tl)iago Barreto Maciel

Victoacuteria de Faacutetima de Mello

Abordar os jogos e as brincadeiras como

conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica pode parecer

um lugar comum pois existe um consenso

por parte dos educadores acerca da presenshy

ccedila dessas praacuteticas corporais nas aulas dessa

disciplina Entretanto muitas vezes o trashy

balho desenvolvido nas escolas opera uma

instrumentalizaccedilatildeo dos jogos utilizando os

mesmos como meios para a aprendizagem

dos esportes ou de outras mateacuterias de enshy

sino De acordo com Bracht et al (1995)

esse processo dilui os jogos de seu contexshy

to soacutecio-cultural passando a consideraacute-los

como um recurso metodoloacutegico e natildeo como

um conteuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Consideramos que para tratar os joshy

gos e as brincadeiras1 como conteuacutedo de

ensino eacute preciso superar a mera praacutetica e

I Em diversos idiomas os termos jogos brincadeiras e

brinquedo satildeo tratados como sinocircnimos e em outros uma

uacutenica palavra guarda os trcs significados Visando distinguir

os termos Kishimoto (2003) considera como brinquedo o

objetosuporte - concreto ou ideoloacutegico - da brincadeira

como brincadeira a conduta estruturada por regras e como

jogo a descficcedilaacuteo tanto do objeto como das regras durante um

determinado templaquo gt Neste texto adotaremos a conceituaccedilatildeo

de brinquedo como suporte da brincadeira mas naacuteo faremos

promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre os jogos como uma forma

proacutepria de expressatildeo da cultura corporal Os jogos satildeo resultados

do processo criativo cio homem para modificar imaginariamente

a realidade e o presente tendo em vista finalidades luacutedicas (C O shy

LETIVO DE AUTORES 1992) Eles tecircm significados dentro do

conjunto da produccedilatildeo humana por isso guardam em seu interior

as caracteriacutesticas do modo de organizaccedilatildeo social num dado moshy

mento histoacuterico sendo marcados por continuidades e rupturas em

relaccedilatildeo aos jogos e brincadeiras de outras eacutepocas

Na atualidade o modo de vida das pessoas sobretudo nos

grandes conglomerados urbanos tem favorecido a substituiccedilatildeo parshy

cial ou total dos jogos traciicionais provenientes da cultura popular

pelos videogames produtos da induacutestria cultural Nesse sentido

consideramos que promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as es-

pecificidades e os dilemas que envolvem os jogos eletrocircnicos como

uma manifestaccedilatildeo luacutedica tipicamente contemporacircnea pode ajudar a

compreender o proacuteprio tempo 1 1 0 qual vivemos

lendo em vista a realizaccedilatildeo de uma discussatildeo teoacuterico-metodo-

loacutegica sobre os jogos e a socializaccedilatildeo de uma experiecircncia concreta

organizamos este artigo em trecircs partes aleacutem dessa introduccedilatildeo e das

consideraccedilotildees finais Na primeira abordaremos os jogos como uma

manifestaccedilatildeo da cultura corporal e suas implicaccedilotildees para as aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesica Na segunda trataremos das formas de expressatildeo dos

jogos na sociedade contemporacircnea Na terceira parte apresentaremos

uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos para os alunos dos

anos finais cio ensino fundamental seguida do plano de unidade

Os jogos e as brincadeiras como conteuacutedos para as aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Em nosso tempo um dos grandes estudiosos sobre os jogos foi

Huizinga Em sua obra claacutessica ldquoHomo Ludens rdquo publicada origishy

nalmente em 1938 ele analisou a natureza e o significado do jogo

como fenocircmeno cultural De acordo com Huizinga (2000) o jogo eacute

uma das manifestaccedilotildees mais antigas da humanidade e sempre esteve

associado ao divertimento e ao prazer com a finalidade de dar um

sentido luacutedico para a existecircncia humana Nas palavras do autor

[] o jogo eacute uma atividade ou ocupaccedilatildeo volunshy

taacuteria exercida dentro de certos e determinados

limites de tempo e de espaccedilo segundo regras lishy

vremente consentidas mas absolutamente obrigashy

toacuterias dotado de um fim em si mesmo acompashy

nhado de um sentimento de tensatildeo e de alegria e

de uma consciecircncia de ser diferente da ldquovida quoshy

tidianardquo (H U IZ IN G A 2000 p 24)

Apesar de buscar se distanciar dos objetivos de satisfaccedilatildeo imeshy

diata da vida atraveacutes da criaccedilatildeo e praacutetica de diversos tipos de jogos

todo jogo desde as idades mais remotas ateacute os dias atuais eacute um

produto do ldquotrabalhordquo 2 e por isso estaacute subordinado agraves formas

histoacutericas assumidas pela atividade humana em diferentes modos de

produccedilatildeo social da existecircncia ldquoOs homens fazem sua histoacuteria mas

natildeo a fazem como querem natildeo a fazem sob circunstacircncias de sua

escolha e sim sob aquelas com que se defronta diretamente legadas

e transmitidas pelo passadordquo (MARX 1978 p 329)

Uma caracteriacutestica marcante em todos os jogos e brincashy

deiras eacute a existecircncia de uma situaccedilatildeo imaginaacuteria e de regras que

expliacutecita ou implicitamente ordenam e conduzem as accedilotildees dos

jogadores Como descreve Vygotsky (2007) no processo de deshy

senvolvimento das brincadeiras da crianccedila haacute um processo que

vai do jogo de papeacuteis com situaccedilotildees imaginaacuterias expliacutecitas e com

regras impliacutecitas aos jogos com regras expliacutecitas e situaccedilotildees imashy

ginaacuterias ocultas Para esse autor os jogos satildeo condutas que im ishy

tam as accedilotildees reais por isso sofrem influecircncia das relaccedilotildees sociais

num jogo de papeacuteis da crianccedila por exemplo a situaccedilatildeo imaginaacuteshy

ria incorpora elementos e regras de comportamento do contexto

cultural adquiridos por meio da interaccedilatildeo com os outros

2 O trabalho eacute para Marx e Engels (1989) a atividade vital e por excelecircncia humana a partir

dele o homem modifica intencionalmente a natureza para atender suas necessidades e cria

novas necessidades produzindo sua proacutepria vida Desse modo por meio do trabalho o

homem transforma ao mesmo tempo a si mesmo e as formas de se organizar socialmente

criando histoacuterica e coletivamente um mundo especificamente humano o mundo da cultura

Outro aspecto que merece ser destacado eacute que todo jogo tem sua

existecircncia em um tempo-espaccedilo relacionado agrave sua localizaccedilatildeo histoacuterishy

ca e geograacutefica De acordo com Kishimoto (2003) uma mesma conshy

duta pode ser jogo ou natildeo-jogo em diferentes culturas dependendo

do significado a ele atribuiacutedo Os brinquedos tambeacutem devem ser enshy

tendidos como objetos culturais pois natildeo podem ser compreendidos

fora do contexto histoacuterico e social em que foram criados Se para uma

crianccedila europeia a boneca significa um brinquedo para populaccedilotildees

indiacutegenas tem o sentido de siacutembolo religioso

Desse modo mesmo que o jogo seja compreendido como

uma accedilatildeo de livre expressatildeo da crianccedila a sua praacutetica cotidiana

revela formas diferenciadas de jogar de acordo com o modo de

organizaccedilatildeo do trabalho e da vida dos povos praticantes Orlick

(1978) destaca como os padrotildees de partilha das sociedades satildeo reshy

fletidos e reforccedilados nos jogos e brincadeiras infantis Atraveacutes deles

as crianccedilas aprendem os modelos de comportamento dos adultos e

vatildeo sendo preparadas para a vida em sociedade

Esse coletivo considera que para configurar o jogo como conshy

teuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ele deve ser tratado pedagogishy

camente tendo em vista uma aprendizagem que amplie o niacutevel de

compreensatildeo dos alunos sobre o mundo Para tal consideramos que

ter accsso ao conhecimento sistematizado sobre os jogos e brincashy

deiras eacute essencial para que as crianccedilas e jovens possam agir sobre a

realidade social de forma totalizante incluindo em suas possibilidashy

des de accedilatildeo a dimensatildeo luacutedica da produccedilatildeo cultural humana Nesse

sentido se apropriar da cultura jaacute produzida eacute fundamental para

explorar o jaacute existente e a partir daiacute criar o novo dando novos

sentidos e significados aos jogos e brincadeiras

Considerar os jogos como manifestaccedilotildees da cultura corporal signifishy

ca retraccedilaacute-Ios desde sua gecircnese desvendando como eles eram e como satildeo

hoje buscando uma intervenccedilatildeo consciente sobre a realidade

Sua importacircncia enquanto conteuacutedo da EF estaacute

na representaccedilatildeo das raiacutezes histoacutericas e culturais

de diversos povos bem como as transformaccedilotildees

ocorridas ao longo do tempo que possam ter cau-

sado modificaccedilotildees no modo como se joga detershy

minado jogo em vaacuterias partes do mundo Egrave imporshy

tante tambeacutem considerar o jogo em seu processo

de criaccedilatildeo recriaccedilatildeo e readaptaccedilatildeo levando-se em

conta as possiacuteveis influecircncias poliacuteticas econocircmishy

cas e sociais pelas quais tenha passado dando-lhe

uma nova configuraccedilatildeo e uma compreensatildeo criacutetishy

ca (BRITO 2006 p 61)

Desse modo deve-se privilegiar uma abordagem sobre os

jogos que possibilite o conhecimento de suas principais caracteshy

riacutesticas como forma de manifestaccedilatildeo especiacutefica da cultura corshy

poral e naacuteo de forma subordinada ao esporte A flexibilidade eacute a

palavra chave para entender o jogo quanto agraves regras organizaccedilatildeo

espaccedilo-tempo nuacutemero de jogadores nomeaccedilatildeo caraacuteter compeshy

titivo ou cooperativo (JU IZ DE FORA 2000)

O trabalho com os jogos e brincadeiras deve permitir a

compreensatildeo do processo de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo da culshy

tura bem como suas continuidades e modificaccedilotildees histoacutericas

De acordo com o Coletivo de Autores (1992) a elaboraccedilatildeo de

um programa desse conteuacutedo ao longo dos anos de escolarizaccedilatildeo

deve considerar a memoacuteria luacutedica da comunidade e oferecer o

conhecimento da diversidade de jogos e brincadeiras existentes

nas diferentes regiotildees do paiacutes e do mundo

A ideia motriz eacute entender que os jogos como criaccedilotildees humanas

que objetivam o prazer e o divertimento num dado contexto histoacuterico-

-social refletem mas tambeacutem podem forjar valores e comportamentos

Desse modo o trabalho com os jogos deve instrumentalizar os alunos

natildeo apenas para utilizar a cultura luacutedica mas tambeacutem compreendecirc-la

como produccedilatildeo humana passiacutevel de constante criaccedilatildeo e recriaccedilatildeo

Devido agrave necessidade de selecionar temas de relevacircncia social

que instrumentalizem os alunos para uma accedilatildeo criacutetica frente agrave realishy

dade nos debruccedilamos sobre uma forma especiacutefica de manifestaccedilatildeo

da praacutetica luacutedica dos indiviacuteduos na atualidade - os jogos eletrocircni-

cos- buscando tratar de sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na

sociedade capitalista e suas relaccedilotildees com os jogos tradicionais

Os games formas de manifestaccedilatildeo dos jogos na sociedade contemporacircnea

Em pleno seacuteculo XXI as crianccedilas ainda brincam de piques

jogos com bola jogos de tabuleiro dentre tantos outros de forshy

ma muito semelhante aos seus pais avoacutes e bisavoacutes A esses tipos

de jogos que foram capazes de atravessar o tempo chamamos

de jogos tradicionais Eles tecircm como caracteriacutesticas centrais o

fato de pertencerem ao domiacutenio puacuteblico e serem transmitidos de

geraccedilatildeo em geraccedilatildeo De acordo com Kishimoto (2003) os jogos

tradicionais satildeo considerados como parte da cultura popular e

expressam as formas de consciecircncia de um povo num dado moshy

mento histoacuterico Esses jogos satildeo transmitidos oralmente e por

incorporarem criaccedilotildees anocircnimas das geraccedilotildees que vatildeo se suceshy

dendo estatildeo sempre em transformaccedilatildeo

Com base nesta definiccedilatildeo podemos considerar que existe uma fashy

cilidade da apropriaccedilatildeo e vivecircncia dos jogos tradicionais que satildeo tiacutepicos

da regiatildeo de pertencimento do aluno mesmo que de forma fragmentashy

da e caoacutetica proveniente do senso comum Tal fato se daacute justamente por

entendermos que os jogos tradicionais antes de tudo satildeo populares a

cabo do termo ou seja tecircm uma ampla inserccedilatildeo na sociedade Outro

fator que garante essa popularidade eacute que eles satildeo transmitidos atraveacutes

das geraccedilotildees e para sua praacutetica natildeo eacute necessaacuterio nenhum material sofisshy

ticado Dessa forma o alijamento dos meios de produccedilatildeo e dos produshy

tos do trabalho da maior parte da populaccedilatildeo natildeo acaba por ser um fator

determinante apesar de central no acesso a esse patrimocircnio cultural da

humanidade que satildeo os jogos tradicionais ou populares3

Embora diversos jogos tradicionais possam ser aprendidos

praticados de forma gratuita e permaneccedilam muito presentes no

cotidiano das crianccedilas e adolescentes eles vecircm perdendo espaccedilo

3 Neste texto utilizaremos os termos jogos tradicionais e jogos populares como sinocircnimos devido

ao fato de ambos possuiacuterem a mesma dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo marcadas pela

produccedilatildeo coletiva e reproduccedilatildeo oral entre as geraccedilotildees o que nos permite consideraacute-los como

patrimocircnios da cultura popular De acordo com SANTOS (2009) os termos tradicional

popular e folclore representam o conhecimento sobre um jogo por parte majoritaacuteria da

populaccedilatildeo sendo esse conhecimento na maioria das vezes advindo do senso comum

)

sobretudo nas grandes cidades para os jogos eletrocircnicos formas

de expressatildeo dos jogos tipicamente contemporacircneas

Os jogos eletrocircnicos4 estatildeo presentes na praacutetica social cotidiashy

na das pessoas em escala mundial e fazem parte da vida de inuacutemeras

crianccedilas e adolescentes brasileiros mesmo daqueles para os quais

os jogos satildeo apenas desejos de consumo Os games estatildeo por toda

parte natildeo apenas nos aparelhos especiacuteficos para os jogos (consoles

e portaacuteteis) mas tambeacutem nos computadores ipads e telefones celushy

lares podendo ainda ser jogados pela internet em sites e nas redes

sociais Deve ser difiacutecil para as crianccedilas e jovens de hoje pensarem

que houve um tempo em que natildeo existiam jogos digitais

A histoacuteria dos jogos eletrocircnicos tem iniacutecio no final dos anos

de 1950 no contexto da guerra fria quando comeccedilam a ser criashy

dos protoacutetipos de videogames com a incorporaccedilatildeo da tecnoloshy

gia disponiacutevel na eacutepoca Um dos precursores do videogame foi

W illian Higinbotham um fiacutesico que atuava num laboratoacuterio nushy

clear e havia trabalhado no projeto da primeira bomba atocircmica

ele criou em 1958 um jogo eletrocircnico com linhas rudimentares

o tecircnis para dois Em 1966 eacute criado por Ralph Baer o primeiro

console caseiro o Magnavox Odissey (A ERA 2007)

Entretanto eacute a partir dos anos de 1970 acompanhando o desenvolvishy

mento dos computadores pessoais que os jogos eletrocircnicos se tornam mais

expressivos Em 1972 com a criaccedilatildeo do ldquoPongrdquo (fliperama que simula uma

partida de tecircnis de mesa) os games comeccedilam a ficar agrave disposiccedilatildeo do puacuteblishy

co em geral O seu desenvolvedor Nolan Bushenell percebeu o potencial

dos jogos eletrocircnicos como um negoacutecio e fundou a ATARI empresa que

marcou o surgimento da induacutestria do videogame (ALVES 2004)

Entre a deacutecada de 1970 e a deacutecada de 1980 devido agrave manifestashy

ccedilatildeo de uma crise ciacuteclica de superproduccedilatildeo do sistema capitalista tem

iniacutecio um processo que podemos chamar de mundializaccedilatildeo econocircmi-

4 Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais nos quais o jogador interage com imagens

enviadas a uma tela geralmente uma televisatildeo ou monitor Os games satildeo programas

(sofrwares) instalados ou acessados em um sistema eletrocircnicoaparelho preparado

para rodaacute-lo (Hardware) Existem vaacuterios gecircneros de jogos eletrocircnicos como jogos de

accedilatildeo (plataforma de corrida de tiro) de estrateacutegia de lutacombate de esporte de

simulaccedilatildeo Role Playing Games (RPG) e de tabuleiro

caJy em que o capital parte em busca de novas aacutereas visando explorar

condiccedilotildees mais rentaacuteveis de produccedilatildeo e expandir mercados consushy

midores E justamente nesse contexto que a induacutestria cultural ganha

impulso e os jogos eletrocircnicos satildeo disseminados pelos quatro cantos

do mundo com grande potencial de escoamento de mercadorias

Nas duas uacuteltimas deacutecadas fruto de uma germinaccedilatildeo iniciada no

poacutes-terceira revoluccedilatildeo industrial ou revoluccedilatildeo tecnocientiacutefica que

proporcionou o surgimento de atividades que empregam a alta tecshy

nologia como a informaacutetica a microeletrocircnica o avanccedilo das telecoshy

municaccedilotildees e a biotecnologia os jogos eletrocircnicos tecircm seguido e tamshy

beacutem contribuiacutedo com os avanccedilos tecnoloacutegicos Se compararmos os

primeiros games com os jogos de hoje constataremos que eles deram

grandes saltos qualitativos de graacuteficos bi para graacuteficos tridimensionais

que permitiram aperfeiccediloar e personalizar os enredos e personagens

atingindo uma qualidade de imagem som e movimento tatildeo bons que

os jogos mais parecem realidades virtuais As inovaccedilotildees tecnoloacutegicas

e criativas satildeo produzidas numa velocidade cada vez maior materiashy

lizando-se rapidamente numa nova mercadoria a ser comercializada

O mercado dos games eacute de alta lucratividade com projeccedilotildees

de faturamento no acircmbito mundial para 2013 de US$ 735 bilhotildees

e girando no mercado interno aproximadamente R$ 875 milhotildees

- valor referente ao ano de 2008 (ABRAGAMES 2008) Aleacutem da

venda de uma enxurrada de produtos relacionados agrave praacutetica dos joshy

gos eletrocircnicos existe uma espeacutecie de economia virtual com comshy

pra e venda de mercadorias e identidades digitais (avatares) 6

5 O termo mundializaccedilatildeo eacute utilizado por Chesnais (1996) com a intenccedilatildeo de diminuir

a falta de nitidez conceituai e o caraacuteter ideoloacutegico do termo globalizaccedilatildeo que sugere

a ideia de uma perspectiva integradora Para o autor o termo mundializaccedilatildeo permite

pensar melhor esta fase especiacutefica do processo de internacionalizaccedilatildeo do capital em

busca de regiotildees com recursos ou mercados visando sua valorizaccedilatildeo Neste processo de

liberalizaccedilatildeo econocircmica e financeira haacute um agravamento da polarizaccedilatildeo entre regiotildees

centrais e perifeacutericas do capitalismo tanto em escala internacional como nacional

6 Essa economia virtual eacute muito comum nos jogos on-line de representaccedilatildeo da vida real

como Farm Ville The Sims Social e Second Life O Second Life possui uma unidade

monetaacuteria proacutepria o Linden Dollar atraveacutes da qual as pessoas podem comprar quase

tudo dentro do jogo Em 2009 o site do jogo movimentou 549 milhotildees de doacutelares Soacute

no primeiro trimestre de 2010 as movimentaccedilotildees financeiras entre usuaacuterios chegaram

a 160 milhotildees de doacutelares e a arrecadaccedilatildeo da loja virtual oficial foi de 23 milhotildees

(LUCRATIVO 2010)

Aqui cabe uma reflexatildeo sobre a dinacircmica social que envolve a proshy

duccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos e suas diferenccedilas em relaccedilatildeo

aos jogos tradicionais Os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos acompashy

nhando os avanccedilos tecnoloacutegicos do momento e norteados pelo afatilde da

esteira mercadoloacutegica tornando-se obsoletos rapidamente Bem difeshy

rente dos jogos tradicionais que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo cm geraccedilatildeo

e apesar de sofrerem algumas modificaccedilotildees resistem ao teste do tempo

Desse modo podemos dizer que os jogos eletrocircnicos natildeo podem ser

considerados como populares pelo menos por dois motivos primeiro

pelo fato dos jogos de hoje natildeo serem os mesmos de amanhatilde e segunshy

do devido agrave exigecircncia de produtos especializados para a praacutetica dos

mesmos o que por si soacute jaacute os torna inacessiacuteveis a uma parcela signifishy

cativa da populaccedilatildeo que natildeo possui condiccedilotildees de consumo

Entretanto ao mesmo tempo em que existe uma ruptura entre esshy

ses dois tipos de jogos podemos notar uma estreita relaccedilatildeo entre eles jaacute

que muitos jogos eletrocircnicos satildeo na realidade versotildees virtuais de antigos

jogos tradicionais como os jogos de tabuleiro o boliche a queimada

os jogos de cartas os quebra-cabeccedilas entre outros O que sugere uma

perspectiva de continuidade na produccedilatildeo da cultura luacutedica

Temos como pressuposto baacutesico que o trabalho educativo

consiste em transmitir o conhecimento historicamente produzido

a fim de contribuir para que os nossos alunos possam ter acesso

aos conhecimentos mais desenvolvidos produzidos historicamenshy

te pela humanidade para que possam enriquecer-se como indishy

viacuteduos e atuarem como homens do seu tempo Entretanto aqui

evidenciamos uma grande contradiccedilatildeo da nossa sociedade pois

devido ao modo de produccedilatildeo capitalista esses conhecimentos que

os proacuteprios trabalhadores ajudaramajudam a construir lhes satildeo

negados7 No caso dos jogos eletrocircnicos apesar de existir uma

enorme difusatildeo sobre os mesmos vemos que a maioria da classe

trabalhadora natildeo tem real acesso a esta produccedilatildeo cultural

7 O acesso agraves tecnologias digitais aumentou nos uacuteltimos anos mas ainda eacute m uito

significativo o nuacutemero de pessoas sem acesso real a esses bens sociais De acordo

com o PNAD 2009 apenas 35 dos domiciacutelios brasileiros investigados tinham

microcomputador e somente 274 tinham arlaquolaquo -------M n

Esteban Clua - professor do departamento de computaccedilatildeo da

UFF- em entrevista concedida agrave Agecircncia Brasil destacou que o Brasil eacute

o quarto maior consumidor de jogos eletrocircnicos do mundo sendo que

existe uma massa de aproximadamente 39 milhotildees de usuaacuterios ativos

desses jogos ou seja aproximadamente 20 da populaccedilatildeo brasileira

(GANDRA 2011) Com base nisso cabe a noacutes lanccedilarmos algumas

perguntas que tipo de acesso eacute esse Quais fatores levam os outros 80

da populaccedilatildeo brasileira a natildeo jogarem E por que os jovens e crianccedilas

mesmo os que sequer tecircm as condiccedilotildees de garantir a sua subsistecircncia se

veem hipnotizadas por essas mercadorias

Os jogos eletrocircnicos como qualquer produccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo satildeo

bons nem ruins por natureza natildeo se trata de criticaacute-los de forma saudosista

mas de permitir aos alunos uma atuaccedilatildeo criacutetica e consciente frente a esses

jogos que auxilie a superar o fetiche da tecnologia e a alienaccedilatildeo frente agrave messhy

ma Quando tomadas como valores de uso a ciecircncia e a tecnologia estatildeo

a serviccedilo da melhoria das condiccedilotildees de vida e da possibilidade de dilatar o

tempo livre para que o homem produza novos sentidos para sua existecircncia

natildeo apenas pela necessidade de comer vestir dormir morar mas tambeacutem

por finalidades luacutedicas Nesse sentido Frigotto (2005) aponta que as tecshy

nologias satildeo como extensotildees dos sentidos e membros dos seres humanos

Mas sob as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo da sociedade capitalista o que era para

aumentar o tempo livre intensifica a exploraccedilatildeo e a alienaccedilatildeo

Com isso entendemos que natildeo haacute neutralidade no desenvolvimento

tecnoloacutegico pelo contraacuterio ele materializa-se em meio a todas as condenshy

saccedilotildees de forccedilas que permeiam a sociedade de classes Por isso apesar do

discurso que prega o acesso pleno agraves benesses do desenvolvimento capitashy

lista a natildeo democratizaccedilatildeo dos bens culturais produzidos pela humanidade

nos mostra o contraacuterio No caso dos jogos eletrocircnicos observamos que sua

dinacircmica de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo como mercadorias estaacute intimamente

ligada agrave loacutegica desigual e predatoacuteria do consumismo capitalista8

8 Os jogos eletrocircnicos como expressotildees culturais refletem a sociedade em que nascem mas

ao mesmo tempo tambeacutem ajudam a educar os consumidores passivos para esse padratildeo

civilizatoacuterio Kosik (1995) ajuda a refletir sobre essa dinacircmica dialeacutetica a partir do caso

da arte ldquotoda obra de arte apresenta um duplo caraacuteter em indissoluacutevel unidade eacute expressatildeo da realidade mas ao mesmo tempo cria a realidade uma realidade que natildeo existe fora da obra ou antes da obra mas precisamente na obrardquo (p 128)

Vale destacar que os grandes expoentes e exportadores histoacutericos

dos jogos eletrocircnicos satildeo as naccedilotildees imperialistas norte-americana e

japonesa Como reflexo disso carregam muitos dos valores tiacutepicos de

paiacuteses de capitalismo central como o individualismo a competiccedilatildeo

exacerbada o consumo desenfreado e a naturalizaccedilatildeo da violecircncia

Aliaacutes a questatildeo da violecircncia presente em diversos jogos eletrocircnicos

eacute uma das grandes polecircmicas que envolvem a praacutetica desses jogos No

que tange ao conteuacutedo violento dos games merecem destaque jogos

que pontuam a realizaccedilatildeo de crimes atropelamentos praacutetica de agresshy

sotildees em ambiente escolar perseguiccedilatildeo e morte de supostos terroristas

e os que simulam guerras e conflitos armados entre paiacuteses e povos Natildeo

eacute raro vermos mateacuterias jornaliacutesticas que associam o uso excessivo de

games a situaccedilotildees de violecircncia real o caso mais emblemaacutetico foi o masshy

sacre ocorrido em 1999 na Escola de Ensino Meacutedio Colombine em

Littleton no estado do Colorado (EUA)

De acordo com Alves (2004) a violecircncia como forma de linshy

guagem envolve ao mesmo tempo aspectos econocircmicos sociais

poliacuteticos culturais e afetivos por isso natildeo podemos adotar uma

atitude reducionista em culpar exclusivamente os jogos eletrocircnicos

pela violecircncia pois eles mesmos satildeo reflexotildeesprojeccedilotildees de uma

sociedade que banaliza a violecircncia A autora destaca tambeacutem que

uma questatildeo crucial a se pensar eacute que a violecircncia tem sido transshy

formada nas diversas miacutedias num grande espetaacuteculo por isso ela

vende e os adolescentes satildeo seduzidos pelas cenas de violecircncia para

consumirem produtos ldquoTanto a espetacularizaccedilatildeo quanto a este-

tizaccedilatildeo da violecircncia vecircm sendo bastante potencializadas nos jogos

eletrocircnicos em que a morte cada vez mais violenta passa a ser

sinocircnimo muitas vezes de grandes vendasrdquo (ALVES 2004 p 79)

Esse caraacuteter sedutor dos games de violecircncia eacute utilizado ateacute

pelas forccedilas armadas estadunidenses para estimular o alistamenshy

to militar e treinar recrutas Com esses objetivos o exeacutercito dos

EUA com a colaboraccedilatildeo do departamento de defesa norte-ame-

ricano criou o Americans Army um jogo de tiro em primeira

pessoa no qual os jogadores simulam combates militares reais

(IMASATO M ESQUITA 200$) O jogo disponibilizado grashy

tuitamente para o puacuteblico desde 04 de julho de 2002 possui

milhares dc jogadores pelo mundo todo inclusive no Brasil

Nesse exemplo os atos de agredirmatar personagens durante

o jogo natildeo satildeo utilizados apenas com sentidos luacutedicos mas tambeacutem

com a finalidade de criar nos jovens o desejo de realizar essas accedilotildees

na vida real A criaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de games como esse sem granshy

des criacuteticas por parte do puacuteblico permite visualizar o quanto a vioshy

lecircncia eacute vista com algo natural em nossa sociedade Com apoio nas

elaboraccedilotildees de Marx (1996) consideramos que a base dessa naturashy

lizaccedilatildeo satildeo as proacuteprias relaccedilotildees sociais capitalistas que transformam

tudo em mercadoria inclusive o trabalho humano fazendo parecer

que relaccedilotildees entre pessoas reais satildeo relaccedilotildees entre coisas

De um modo geral o homem cria instrumentos para satisfashy

zer suas necessidades dando sentidos humanos para as coisas mas

ao fazer isso gera novos interesses e necessidade transformando

sua proacutepria forma de viver Ou seja a tecnologia produzida pelo

homem passa a determinar suas accedilotildees e seu modo de vida Na

atualidade a criaccedilatildeo da rede mundial de computadores mudou

sensivelmente a forma de interaccedilatildeo entre as pessoas no caso dos

jogos eletrocircnicos a internet permitiu o compartilhamento de joshy

gos entre pessoas ao redor do mundo inteiro9 Desse modo os

jogos eletrocircnicos como criaccedilotildees humanas para satisfazer suas neshy

cessidades luacutedicas modificam o modo como os homens satisfazem

essas mesmas necessidades alterando os espaccedilos-tempos outrora

ocupados pelos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais

Nas grandes cidades convivemos com a falta de espaccedilos puacuteblishy

cos para brincar com o tracircnsito intenso com o alto grau de violecircnshy

cia e poluiccedilatildeo entre outros fatores que favorecem a diminuiccedilatildeo do

tempo destinado agraves experiecircncias corporais reais e sua substituiccedilatildeo

parcial ou total por praacuteticas virtuais como as possibilitadas pelos

9 Os jogos Massively Multiplayer on-line (M M Os) possibilitam vaacuterias pessoas

competirem pela internet criando comunidades de gamers gerando um novo modelo

de interatividade via jogos eletrocircnicos Nesse modelo as pessoas representam uma

segunda identidade e se relacionam atraveacutes dela Aleacutem disso existem torneios esportivos

multiplayer que permitem transformar esses games em profissatildeo (A ERA 2007)

jogos eletrocircnicos Os consoles mais modernos permitem inclusive

novas experiecircncias interativas com o corpo onde praacuteticas corporais

- como jogos tradicionais esportes danccedilas lutas e ginaacutestica - poshy

dem ser feitas dentro de um jogo virtual ressignificando a proacutepria

forma de vivecircncia da cultura corporal dentro e fora das telas

Os jogos eletrocircnicos tambeacutem tecircm sido produzidos e utilishy

zados para propoacutesitos que ultrapassam a diversatildeo Nesse sentishy

do merece destaque uma rede internacional chamada Game for change trata-se de uma organizaccedilatildeo social sem fins lucrativos

criada em 2004 nos EUA e com filiais na Europa Aacutesia e Ameacuterishy

ca Latina O objetivo dessa organizaccedilatildeo eacute promover a pesquisa

criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de jogos digitais que contribuam com

mudanccedilas sociais Os jogos satildeo elaborados por sistemas de parshy

cerias e seu conteuacutedo eacute sempre educativo levando o jogador a

buscar soluccedilotildees para problemas econocircmicos ambientais e diploshy

maacuteticos Os melhores games satildeo premiados em um festival que

reuacutene representantes do governo e da sociedade civil10

Desse modo consideramos que abordar as manifestaccedilotildees

contemporacircneas dos jogos eacute essencial para que os alunos possam

atuar como sujeitos de seu tempo tambeacutem na esfera luacutedica No

caso dos jogos eletrocircnicos eacute preciso tratar de sua historicidade

abordando as diversas geraccedilotildees de jogos que apesar de envolshy

verem conhecimentos coletivos se tornam privileacutegio de poucos

na dinacircmica de produccedilatildeo capitalista Para aleacutem do mundo do

entretenimento os games tecircm cumprido funccedilotildees econocircmicas

poliacuteticas e educativas que precisam ser abordadas para uma comshy

preensatildeo mais ampla das relaccedilotildees nem sempre evidentes entre o

real e o virtual no mundo dos jogos

10 Apesar de ser considerado um avanccedilo em relaccedilaacuteo aos games estritamente comerciais por

abordar problemaacuteticas de fundo social alertamos que esses jogos buscam na conciliaccedilatildeo

de classes as soluccedilotildees para problemas extremamente complexos e muitos originados

reforccedilados pelas proacuteprias relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo capitalista alinhando-se portanto

agrave ideologia da responsabilidade Em linhas gerais o objetivo dessa ideologia desenvolvida

a partir do final dos anos de 1990 em consonacircncia com o neoliberalismo de terceira via

eacute articular as accedilotildees do empresariado em torno das questotildees sociais buscando construir

conscnsos entre as classes e suas fraccedilotildees de modo a garantir o processo de dominaccedilatildeo

capitalista por meio do convpnr im pnm IacuteW A B T IM C iacutenno

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com os jogos eletrocircnicos

As crianccedilas e jovens cotidianamente se divertem consomem

e interagem atraveacutes dos jogos eletrocircnicos que natildeo satildeo apenas

brinquedos pois satildeo formas de expressatildeo de sentimentos e deshy

sejos das novas geraccedilotildees Por isso concordamos com Silveira e

Torres (2007) que adotar apenas uma atitude normativa e conshy

troladora em relaccedilatildeo aos jogos eletrocircnicos sem abordar aspectos

teacutecnicos poliacuteticos econocircmicos e eacuteticos que envolvem essa forma

de expressatildeo dos jogos prejudica o desenvolvimento de uma vishy

satildeo criacutetica frente a essa produccedilatildeo cultural

Com a intenccedilatildeo de contribuir para a superaccedilatildeo desses limites

construiacutemos uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos dishy

recionada aos alunos do 7o ano do ensino fundamental Com emshy

basamento na Pedagogia histoacuterico-criacutetica dividimos didaticamente

essa experiecircncia em cinco passos buscando envolver os educandos

no processo de ensino-aprendizagem e propiciar um percurso edushy

cativo que amplie sua compreensatildeo e accedilatildeo sobre o tema

No primeiro momento identificaccedilatildeo da praacutetica social buscashy

mos apresentar os conteuacutedos que seratildeo abordados dentro da unidashy

de e como eles se expressam na praacutetica cotidiana dos alunos Para

que os alunos identifiquem o tema seraacute apresentada uma sequecircncia

de imagens sobre os jogos eletrocircnicos e os alunos seratildeo questionashy

dos sobre o que jaacute sabem e o que gostariam de aprender sobre esses

tipos de jogos Logo em seguida seratildeo apresentados os toacutepicos de

conteuacutedos abordados na unidade a saber conceito de jogos eletrocircshy

nicos os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos a virtualizaccedilatildeo

dos jogos tradicionais os games como grande negoacutecio e os desafios

e possibilidades trazidos pelos games na atualidade

Na problematizaccedilatildeo inicialmente seratildeo debatidas quesshy

totildees que buscaratildeo despertar a curiosidade dos alunos pelo tema

como quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem

Como as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por

que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia Em seguishy

da seratildeo lanccediladas questotildees-problemas que articulam a praacutetica

social concreta dos alunos com o conteuacutedo tratado na unidade

As questotildees foram orientadas com base em diversas dimensotildees

do conteuacutedo a saber conceituai histoacuterica cultural poliacuteticas

econocircmicas social e eacutetica conforme pode ser visto no plano de

unidade apresentado a seguir

A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento de apropriaccedilatildeo do coshy

nhecimento sistematizado a fim de que os alunos ampliem sua

compreensatildeo sobre as problematizaccedilotildees lanccediladas Para tal seratildeo

desenvolvidas accedilotildees como discussotildees debates experimentaccedilatildeo

de jogos na forma tradicional e eletrocircnica aulas expositivas e

apresentaccedilatildeo de documentaacuterios Nessa etapa a falta de recursos

como aparelhos especiacuteficos para jogos eletrocircnicos pode ser subsshy

tituiacuteda por versotildees de jogos para computadoresaparelhos celulashy

res e ou transformaccedilatildeo de jogos virtuais em jogos reais

Na catarse momento no qual os alunos devem ser capazes

de responder as questotildees-problemas com base no conhecimento

sistematizado eles participaratildeo de um quiz educativo sobre jogos

eletrocircnicos com a intenccedilatildeo de auxiliaacute-los na elaboraccedilatildeo de uma

siacutentese entre o saber cotidiano e o conhecimento cientiacutefico Nosshy

sa expectativa eacute que os alunos compreendam as principais caracshy

teriacutesticas dos jogos eletrocircnicos como uma forma de manifestaccedilatildeo

dos jogosbrincadeiras tipicamente contemporacircnea

Ao final do trabalho buscando um retorno agrave praacutetica social os alunos seratildeo estimulados a pocircr em accedilatildeo a nova visatildeo sobre

o conteuacutedotema em tela Nesse sentido seraacute proposta a consshy

truccedilatildeo de um blog que socialize os conhecimentos apreendidos

sobre os jogos eletrocircnicos e a realizaccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo sobre

o desenvolvimento histoacuterico dos jogos eletrocircnicos

Plano de Unidade Os jogos eletrocircnicos e a sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na sociedade contemporacircnea

Conteuacutedo jogos

Turmas 7o ano

Nuacutemero de aulas 12

Objetivo Geral Compreender a dinacircmica social que envolve a

produccedilatildeo e a reproduccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos permitindo o uso

criacutetico desses jogos nos momentos de lazer

1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL

11 Anuacutencio do conteuacutedo

Toacutepicos de conteuacutedo c objetivos especiacuteficos

bull Toacutepico 1 O que satildeo jogos eletrocircnicos

Objetivo especiacutefico Conceituar os jogos eletrocircnicos e

suas formas de manifestaccedilatildeo para distingui-los de oushy

tros tipos de jogos em especial dos jogos tradicionais

bull Toacutepico 2 Os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos

Objetivo especiacutefico Conhecer a origem e as transforshy

maccedilotildees histoacutericas dos jogos eletrocircnicos buscando

entender a influecircncia do contexto histoacuterico e do

avanccedilo tecnoloacutegico na configuraccedilatildeo desses jogos

bull Toacutepico 3 A virtualizaccedilatildeo dos jogos tradicionais

Objetivo especiacutefico Identificar jogos eletrocircnicos insshy

pirados em jogos tradicionais a fim de entender as

relaccedilotildees entre os dois tipos de jogos como produshy

ccedilotildees culturais luacutedicas

bull Toacutepico 4 Os games como um grande negoacutecio

Objetivo especiacutefico Compreender o processo de proshy

duccedilatildeo disseminaccedilatildeo e consumo dos jogos eletrocircnicos

a fim de compreender os papeacuteis econocircmicos poliacuteshy

ticos e sociais assumidos por esses jogos

bull Toacutepico 5 Geraccedilatildeo game over desafios e possibilidades11

Objetivo especiacutefico Reconhecer os benefiacuteciosmalefiacuteshy

cios trazidos pela praacutetica regular dos jogos eletrocircnicos e

suas possibilidades para a cultura corporal permitindo

o uso consciente e equilibrado desses jogos nos moshy

mentos de lazer

12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos

bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Os jogos

eletrocircnicos podem ser jogados em aparelhos proacuteprios

computadores e celulares existem games para jogar

sozinho em dupla e em grupo as pessoas mais velhas natildeo

brincavam com esses jogos

bull O que gostariam de saber mais Por que os jogos eletrocircnicos

satildeo conteuacutedos da Educaccedilatildeo Fiacutesica Quais os jogos eletrocircnicos

mais conhecidos

2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO

21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo

Quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem Como

as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por que os jogos

eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia

11 Elaboramos esse uacuteltimo toacutepico de conteuacutedo de forma bem flexiacutevel para que possa atender

as demandas que surgirem e ser abordado de acordo com recursos disponiacuteveis para seu

desenvolvimento Por isso na instrumentalizaccedilatildeo relativa a esse toacutepico apresentamos

diversas possibilidades de accedilotildees e recursos

12 Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

QUESTOtildeES PROBLEMATIZADORAS

Conceituai

O que satildeo jogos eletrocircnicos Que tipos de jogos eletrocircnicos

existem Os jogos eletrocircnicos podem ser considerados como

ldquojogos popularesrdquo

Histoacuterica

As brincadeiras e as formas de se divertir mudaram com o

passar do tempo Quando surgiram os jogos eletrocircnicos

Qual eacute a origemhistoacuteria de alguns dos principais jogos eleshy

trocircnicos Por que eles sempre mudam

Social

Por que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns atualmente

Quais finalidades sociais eles tecircm cumprido Quais as possishy

bilidades de uso criacutetico dos games

Econocircmica

Como os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos c distribuiacutedos

Haacute faacutecil acessibilidade a todos para vivenciar esses jogos

Quanto custam os aparelhos e miacutedias para acesso aos jogos

eletrocircnicos Existe uma economia virtual

Poliacutetica

Existem espaccedilos puacuteblicos apropriados para brincar e jogar

com seguranccedila em nossa cidade Existem espaccedilos puacuteblicos

para jogar jogos eletrocircnicos

Eacutetica

Quais valores podem ser evidenciados nos jogos eletrocircnicos

Os jogos satildeo violentos Existem jogos eletrocircnicos criacuteticos

aos valores sociais Existem games cooperativos

Cultural

Os jogos eletrocircnicos satildeo difundidos em todas as culturas

Existem jogos eletrocircnicos universais Os jogos mais comuns

variam de paiacutes para paiacutes e de regiatildeo para regiatildeo Qual a relashy

ccedilatildeo entre os jogos eletrocircnicos e os jogos tradicionais

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

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011)

4) SIacuteNTESE SUPERIOR

41 Siacutentese teoacuterica do aluno

Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais de variados gecircneros

que necessitam de aparelhos eletrocircnicos com tecnologias especiacuteshy

ficas para serem jogados Apesar de muitos desses jogos serem reshy

sultado da virtualizaccedilatildeo de jogos tradicionais eles naacuteo podem ser

considerados jogos populares pois satildeo produzidos e distribuiacutedos

sob a forma de mercadorias (conceituai e cultural) Os jogos eleshy

trocircnicos estabelecem uma relaccedilatildeo estreita com o contexto no qual

foram criados incorporando diversos avanccedilos tecnoloacutegicos que

permitem a constante ampliaccedilatildeo da qualidade de imagem som e

movimento dos mesmos (histoacuterica) Na atualidade a forma de orshy

ganizaccedilatildeo das grandes cidades o aumento da violecircncia e a falta de

espaccedilos puacuteblicos para o lazer tecircm favorecido a substituiccedilatildeo parcial

ou total dos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais por jogos

eletrocircnicos (soacutecio-poliacutetica) Os jogos eletrocircnicos satildeo muito divulshy

gados pela miacutedia de massas e datildeo grandes lucros agrave induacutestria cultushy

ral enquanto a grande maioria das crianccedilas ainda natildeo tenha acesso

pleno a essas produccedilotildees pois a dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo

desses jogos se insere no mundo das mercadorias (soacutecio-econocircmi-

ca) Os jogos eletrocircnicos estatildeo inseridos na contraditoacuteria dinacircmica

capitalista e por isso refletem valores sociais como a violecircncia e a

competitividade mas tambeacutem podem forjar outros valores como a

cooperaccedilatildeo e a solidariedade (eacutetica)

42- Expressatildeo da siacutentese

Participar de um quiz de perguntas e respostas sobre os jogos

eletrocircnicos buscando expressar o que foi apreendido durante as aulas

i) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL

Quadro 3- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

ACcedilOacuteES DO ALUNO

Registrar e divulgar os conhecimentos

apreendidos sobre os jogos eletrocircnicos

1 - Construir e divulgar um blog

sobre os jogos eletrocircnicos (conshy

teuacutedo histoacuteria tipos de jogos

benefiacutecios problemas links e esshy

paccedilos para jogar gratuitamente)

Contribuir para a criaccedilatildeo de espaccedilos-

-tempos destinados agrave discussatildeo sobre

os games

2 - Montar uma exposiccedilatildeo que

funcione como linha do tempo

dos jogos

Ampliar os conhecimentos sobre os

jogos eletrocircnicos

3 - Pesquisar mais sobre os jogos

eletrocircnicos

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees finais

A concretizaccedilatildeo de uma proposta de ensino com os jogos eletrocircshy

nicos eacute sem duacutevidas um grande desafio seja pela falta de recursos adeshy

quados seja pela dificuldade em trabalhar com as novas tecnologias e

ateacute pela resistecircncia da comunidade escolar ao tratamento desse tema

pela escola Entretanto defendemos que abordar os games como exshy

pressotildees contemporacircneas dos jogos e brincadeiras eacute imprescindiacutevel se

pretendemos que nossos alunos compreendam a realidade em que vishy

vem e atuem como sujeitos do seu proacuteprio tempo

Com base nessa constataccedilatildeo a nossa intenccedilatildeo foi abrir o diaacutelogo

sobre as possibilidades de trabalho com os jogos eletrocircnicos como conteshy

uacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica Nesse sentido a experiecircncia pedagoacutegica

descrita nesse artigo buscou abordar os jogos eletrocircnicos em suas muacuteltishy

plas dimensotildees visando contribuir para que os alunos reconheccedilam essa

nroducatildeo cultural luacutedica como construccedilatildeo de homens e mulheres reais

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CAPIacuteTULO IV

AS RELACcedilOtildeES ENTRE ESPORTE E SAUacuteDE NO CAPITALISMO TEM ATIZANDO CONTRADICcedilOtildeES NA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR

Carlos Eduardo de Souza

Leonardo Docena Pina

Mocircnica Jardim Lopes

De maneira mais ou menos intensa o esshy

porre se apresenta de diferentes formas em nossa

vida Seja atraveacutes da televisatildeo de jornais de reshy

vistas ou da proacutepria praacutetica de diferentes modashy

lidades nos relacionamos quase que diariamente

com o esporte Poreacutem a relaccedilatildeo que estabeleceshy

mos em nosso cotidiano com essa manifestaccedilatildeo

cultural natildeo proporciona sua real compreensatildeo

E por isso que muitos lidam com o esporte diashy

riamente sem compreender sua relaccedilatildeo com os

processos histoacutericos Da mesma forma muitos

acabam por reproduzir a noccedilatildeo dominante exshy

pressa na ideia de que esporte promove sauacutede

Iniciamos o texto com essa reflexatildeo por

consideraacute-la importante para discutirmos o

ensino do esporte na escola Afinal por que eacute

importante ensinar esporte nas aulas de Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica se este jaacute estaacute presente em nosso

dia a dia fora da escola Seria o ensino do esshy

porte realmente necessaacuterio aos alunos

A resposta a essas questotildees nos remete

inicialmente ao fato de que desde a deacutecada

de 1990 com a divulgaccedilatildeo da perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a

cultura corporal (COLET IVO DE AUTORES 1992) foi ampliashy

da a possibilidade de relacionar a Educaccedilatildeo Fiacutesica com a formaccedilatildeo

de sujeitos histoacutericos capazes de compreender a realidade de modo

a nela intervir criticamente Orientada na Pedagogia histoacuterico-criacuteti-

ca (SAVIANI 2005a) tal perspectiva trouxe novas formas de aborshy

dagem dos conteuacutedos As aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica antes pensadas

com o objetivo de desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica de treinamenshy

to teacutecnico de recreaccedilatildeo de aprendizagem motora dentre outros

puderam ser superadas por uma nova tarefa de transmissatildeo do saber

sistematizado necessaacuterio agrave compreensatildeo da realidade

Para alcanccedilar a nova tarefa a que se propotildee a perspectiva

da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal os conteuacutedos passashy

ram a demandar uma tematizaccedilatildeo criacutetico-superadora No caso da

manifestaccedilatildeo cultural que nos propomos a refletir no presente

capiacutetulo as indicaccedilotildees do Coletivo de Autores (1992) fornecem

a base para trataacute-la pedagogicamente de modo a superar as caracshy

teriacutesticas impostas pela sociedade capitalista Imprim ir um novo

sentidosignificado ao esporte implica a consideraccedilatildeo de alguns

elementos jaacute retomados por Assis (2001) Um deles eacute a necesshy

sidade de realizar uma leitura criacutetica do esporte sobretudo para

compreender as mediaccedilotildees que o integram agraves relaccedilotildees sociais de

produccedilatildeo da existecircncia humana Sem refletir criticamente sobre

o esporte corre-se o risco de natildeo compreender sua funccedilatildeo na

reproduccedilatildeo do capitalismo ou de desconsiderar a possibilidade

de esse fenocircmeno cultural servir a outro projeto de sociedade

Outro aspecto reside na necessidade de consideraacute-lo um

conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica A constataccedilatildeo de que o esporte vishy

nha atendendo historicamente aos interesses dominantes fez com

que alguns professores se distanciassem do ensino do esporte na

escola Na verdade por considerar que o esporte relaciona-se ao

processo de reproduccedilatildeo do capitalismo natildeo pretendemos afastaacute-

-lo da educaccedilatildeo escolar Pelo contraacuterio ressaltamos a necessidade

de tematizaacute-Io na escola visto que a transmissatildeo do saber objeshy

tivo historicamente acumulado sobre essa praacutetica cultural pode

se transformar em instrumento cultural de luta contra as forshy

mas de dominaccedilatildeo a que estatildeo submetidos os membros da classe

trabalhadora ainda hoje Daiacute a defesa do Coletivo de Autores

(1992) para desmitificar o esporte atraveacutes da oferta na escola

do conhecimento que permita aos alunos criticaacute-lo dentro de um

determinado contexto histoacuterico

Conforme afirma Assis (2001) o esporte traz consigo possishy

bilidades contraditoacuterias de modo que eacute possiacutevel enfatizar situashy

ccedilotildees que privilegiam a solidariedade sobre a rivalidade o coletivo

sobre o individual a autonomia sobre a submissatildeo a cooperaccedilatildeo

sobre a disputa a distribuiccedilatildeo sobre a apropriaccedilatildeo a abundacircncia

sobre a escassez a confianccedila muacutetua sobre a suspeita a descon-

traccedilatildeo sobre a tensatildeo a perseveranccedila sobre a desistecircncia e ainda

a vontade de continuar jogando em contraposiccedilatildeo agrave pressa para

terminar a partida e configurar resultados

A partir desses apontamentos torna-se possiacutevel afirmar que o

ensino desse conteuacutedo pode permitir aos alunos a apropriaccedilatildeo das

formas mais desenvolvidas do saber objetivo sobre o esporte que se

encontra acumulado na cultura Compreender o esporte demanda a

apropriaccedilatildeo do conhecimento jaacute produzido sobre ele Tal apropriashy

ccedilatildeo possibilita a compreensatildeo de suas contradiccedilotildees e consequenteshy

mente estabelecer novas relaccedilotildees com essa manifestaccedilatildeo cultural

Conforme afirma Saviani (2006) dominar a cultura erudita

eacute necessaacuterio aos membros da classe trabalhadora para que possam

fazer valer os seus interesses jaacute que a classe dominante faz uso

exatamente dos conteuacutedos culturais para legitimar e consolidar

sua dominaccedilatildeo Redirecionando essa reflexatildeo para o ensino do

esporte podemos concluir que o domiacutenio do conhecimento sisshy

tematizado sobre essa manifestaccedilatildeo cultural tambeacutem se constitui

como instrumento indispensaacutevel uma vez que os conhecimentos

adquiridos no cotidiano tendem a ser insuficientes para atuaccedilatildeo

dos indiviacuteduos enquanto sujeitos da histoacuteria

Esporte sauacutede e o modo vidatrabalho no capitalismo

Embora seja muito propagada atualmente sobretudo pela atushy

accedilatildeo de governos e Organismos Internacionais como a Organizaccedilatildeo

das Naccedilotildees Unidas (ONU) o Banco Mundial (BM) e o Fundo Moshy

netaacuterio Internacional (FMI) a ideologia que afirma de forma mecacircshy

nica o esporte como sauacutede carece de anaacutelise concreta da realidade

onde estatildeo inseridas as classes fundamentais1 Na perspectiva que

sustenta nosso estudo o entendimento do esporte da sauacutede e da posshy

siacutevel relaccedilatildeo entre esses dois temas soacute pode ser alcanccedilado se forem

confrontados e aferidos no conjunto da dinacircmica das relaccedilotildees sociais

existentes no modo vidatrabalho capitalista

O fenocircmeno cultural ldquoesporterdquo toma forma no seacuteculo XVIII no

periacuteodo de revoluccedilatildeo e afirmaccedilatildeo da burguesia enquanto classe domishy

nante Segundo Hobsbawm (1988) o esporte foi ldquoformalizado em torshy

no dessa eacutepoca na Inglaterra que lhe ofereceu o modelo e o vocabulaacuteshy

rio alastrou-se como um incecircndio aos demais paiacutesesrdquo (p 255) sendo

tambeacutem fruto segundo Bracht (2005) de ldquomodificaccedilatildeo poderiacuteamos

dizer de esportivizaccedilatildeo de elementos da cultura corporal de movimento

das classes populares inglesas como os jogos popularesrdquo (p 13) cuja

funccedilatildeo era basicamente de comemorar ou festejar datas

Foi tambeacutem nessa eacutepoca - da revoluccedilatildeo industrial - que os trabashy

lhadores passaram a conhecer o chamado ldquotempo livrerdquo que era exashy

tamente o tempo no qual se encontravam livres das obrigaccedilotildees fabris

0 preenchimento desse tempo para promover melhorias no trabalho

produtivo e na conformaccedilatildeo ideoloacutegica para uma melhor extraccedilatildeo da

mais-valia deveria abarcar valores e concepccedilotildees de mundo proacuteprias de

uma burguesia emergente (SILVA 1994) Tais valores se expressavam

diretamente no esporte uma vez que permitia o desenvolvimento de

1 Quando uma pequena parcela dos homens toma para si os meios de produccedilatildeo criam-se

contraditoriamente na sociedade duas classes a dos que detecircm os meios de produccedilatildeo e

aqueles que necessitam vender o uacutenico bem que lhes restou sua Forccedila de trabalho Essa

relaccedilatildeo contraditoacuteria e conflitante enrre os homens requer formas de dominaccedilatildeo por

exemplo as ideologias Entendendo ldquoideologiardquo natildeo como ilusatildeo ou supersticcedilatildeo mas

uma forma material especiacutefica de consciecircncia social (MESZAROS 2004)

determinadas formas de pensar e agir a exemplo da lealdade senso

de responsabilidade esforccedilo pessoal espiacuterito de equipe dentre outros

(TAFFAREL SANTOS JUN IOR 2009)

Proni (2002) ao traduzir a concepccedilatildeo de esporte desenvolvida

por Brohm cria um trabalho fecundo de elementos para compreshy

ensatildeo desse tema Segundo o autor a hipoacutetese central de Brohm se

sustenta no entendimento de que o sistema esportivo moderno eacute o

reflexo da universalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo da forma de vida predomishy

nante que tem sua origem na economia capitalista na qual impera

o espiacuterito industrial a mentalidade do rendimento e do ecircxito ldquoO

intercacircmbio de mercadorias e de capital tiveram como consequecircncia

o intercacircmbio de ideias e a difusatildeo de praacuteticas esportivasrdquo (PRONI

2002 p 38) Ainda segundo o autor satildeo quatro fatores que Brohm

diz ser responsaacuteveis pelo desenvolvimento do esporte

(a) O aumento do tempo livre e o desenvolvimento do

oacutecio (que ocupa um lugar de destaque na civilizaccedilatildeo do

lazer) (b) a universalizaccedilatildeo dos intercacircmbios medianshy

te os transportes e os meios de comunicaccedilatildeo de massa

(o esporte converte-se em ldquomercadoria culturalrdquo graccedilas

a sua natureza comospolita) (c) revoluccedilatildeo teacutecnico -

cientiacutefica (que reflete-se na busca da eficiecircncia corposhy

ral nos novos materiais e equipamentos inclusive no

surgimento de novas modalidades esportivas) (d) e a

revoluccedilatildeo democraacutetico mdash burguesa e o enfrentamento

das naccedilotildees no plano internacional (isto eacute a dinacircmica

poliacutetico mdash ideoloacutegica) (PRONI 2002 p 39)

O esporte dentro dessa perspectiva carrega os valores e os pashy

drotildees de desenvolvimento do Estado liberal Difunde uma forma

de conviacutevio e inspira desejos de mudanccedilas individuais Aproxima

as classes sociais ocultando o antagonismo poliacutetico-econocircmico e

a relaccedilatildeo de exploraccedilatildeo existente entre elas Ou seja um produto

da sociedade industrial que vem servindo em larga medida como

elemento de difusatildeo do ideaacuterio e dos interesses da classe dominanshy

te Assim para Brohm a essecircncia do esporte

eacute a ideologia democraacutetica tiacutepica de uma sociedade

que precisa cultivar um ideal humanitaacuterio (liberdade

igualdade fraternidade) e ao mesmo tempo velar suas

estruturas de classe e seus mecanismos de dominaccedilatildeo

Por isso o autor enfatiza o papel da instituiccedilatildeo esporshy

tiva como estrutura simboacutelica e aparato ideoloacutegico do

Estado (PRONI 2002 p 39-40)

Desse modo Brohm iraacute concluir que o esporte eacute por excelecircnshy

cia algo nefasto para os trabalhadores servindo unicamente para

o fortalecimento das forccedilas e da identidade burguesa (BRACHT

2005) Essa se torna uma visatildeo estreita da realidade Considerashy

mos que a cultura esportiva de fato carrega os valores capitalistas

e nesse sentido tem servido como instrumento a serviccedilo da domishy

naccedilatildeo burguesa Mas isso natildeo eacute tudo Acreditamos que a anaacutelise do

esporte de forma mais profiacutecua deve ser aferida no conjunto das

contradiccedilotildees que envolvem a relaccedilatildeo capital-trabalho E na luta

de classes que as culturas vatildeo se amoldando Portanto o esporte

natildeo eacute uma instituiccedilatildeo que paira acima dos conflitos sociais natildeo

sendo em si nem ldquobom nem ldquoruimrdquo Trata-se da expressatildeo de uma

condensaccedilatildeo de forccedilas na qual hegemonicamente os valores da

classe burguesa sobressaem em relaccedilatildeo aos da classe trabalhadora

Nos dias de hoje a articulaccedilatildeo do esporte com os interesshy

ses da classe dominante pode ser evidenciada pela relaccedilatildeo co-

mumente estabelecida entre a praacutetica de esporte e a obtenccedilatildeo de

sauacutede Exemplo disso eacute a defesa da O N U de que as principais

causas de ateacute 60 das mortes no mundo estatildeo ligadas a pessoas

inativas e que o esporte e a Educaccedilatildeo Fiacutesica ldquosatildeo cruciais para a

vida longa e saudaacutevel O esporte melhora a sauacutede e o bem-estar

aumenta a expectativa de vida e reduz o risco de vaacuterias doenccedilas

natildeo-transmissiacuteveis incluindo a doenccedila cardiacuteacardquo (ON U 2003 p

7 traduccedilatildeo nossa) aleacutem de ser essencial para manter a ldquosauacutede da

menterdquo e construir ldquovaliosas conexotildees sociaisrdquo

Segundo Delia Fonte e Loureiro (1997) eacute a visatildeo funcionalista

sobre a sauacutede que permite afirmar a praacutetica de esporte como soluccedilatildeo

para os malefiacutecios da vida moderna Para os autores essa afirmaccedilatildeo

demonstra a superficialidade com a qual tem se abordado o tema sauacuteshy

de Na visatildeo funcionalista as doenccedilas ou ldquomorbidadesrdquo natildeo tecircm nada

a ver com as relaccedilotildees sociais concretas e sim com um desvio dos indishy

viacuteduos ou seja uma natildeo adesatildeo consciente a haacutebitos mais saudaacuteveis

Delia Fonte e Loureiro (1997) nos ajudam a entender a rashy

zatildeo que leva os Organismos Internacionais a difundir tais com-

preensotildees sobre o tema Conforme afirmam os autores

a estrutura social capitalista determina e legitima vaacuterias

ideacuteias valores e atitudes altamente patoloacutegicos Por um

processo de naturalizaccedilatildeo essas patologias saacuteo apresenshy

tadas como inerentes ao ser humano Longe de serem

compreendidas como patologias elas satildeo tidas como

qualidades Assim aceita-se como normal a busca do

lucro como objetivo de toda atividade econocircmica a exshy

ploraccedilatildeo do homem pelo homem o individualismo a

competitividade e a ambiccedilatildeo como valores modernos a

repressatildeo de ideacuteias e sentimentos rotulados como tabus

a satisfaccedilatildeo imediata de desejos como traduccedilatildeo da felishy

cidade a reificaccedilatildeo das pessoas e das relaccedilotildees sociais e a

alienaccedilatildeo (DELLA FONTE LOUREIRO 1997 p 2)

Em outras palavras o modo de vidatrabalho ainda sob a eacutegide

de uma sociedade classista conserva uma estrutura de poder e uma

poliacutetica mundial de grandes impactos no que concerne agrave sobrevivecircnshy

cia dos indiviacuteduos Nessa direccedilatildeo a preocupaccedilatildeo dos Organismos Inshy

ternacionais consiste tambeacutem em criar ideologias capazes de situar

os indiviacuteduos como uacutenicos culpados ou responsaacuteveis pelo seu estado

de sauacutede independentemente de suas condiccedilotildees de vidatrabalho

Os riscos derivados do modo capitalista de produccedilatildeo da

existecircncia humana satildeo diversos e ligados a inuacutemeras causas tais

como aqueles provenientes do ambiente de trabalho como rashy

diaccedilotildees ruiacutedos frio e calor intenso pressotildees anormais umidade

poeiras gases vapores compostos quiacutemicos esforccedilo fiacutesico intenshy

so controle de alta produtividade trabalho noturno monotoshy

nia trabalho repetitivo maacutequinas e estruturas mal conservadas

entre outros (SOUZA 2011) Vale destacar que ateacute mesmo os

esportistas de alto rendimento sentem os efeitos degradantes do

trabalho no capitalismo o que pode ser expresso natildeo apenas pelo

alto iacutendice de lesotildees mas tambeacutem pelo uso de substacircncias preshy

judiciais agrave sauacutede voltadas ao a u m e n rn Alt c mdash

a isso outros problemas como o aumento do iacutendice de depresshy

satildeo por exemplo que tambeacutem tem atingido atletas2

Mesmo os que natildeo sofrem tais efeitos durante a venda de sua

forccedila de trabalho estatildeo de alguma forma sujeitos agraves implicaccedilotildees do

modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Exemplo disso

satildeo as implicaccedilotildees da degradaccedilatildeo ambiental produzida e intensificada

pelo capitalismo Trata-se de mais uma evidecircncia de que os riscos desshy

sa forma de organizaccedilatildeo social agrave vida humana hoje atingem a todos

A repercussatildeo negativa das relaccedilotildees capitalistas contemporacircshy

neas nas formaccedilotildees sociais ainda eacute agravada com o aumento da

desigualdade social perdas de direitos trabalhistas aumento da

exploraccedilatildeo aumento da violecircncia no campo e nas cidades surtos

de doenccedilas e principalmente a natildeo garantia de direitos baacutesicos

como sauacutede transporte educaccedilatildeo e outros Problemas como esshy

ses tendem a ser contrabalanceados a partir da foacutermula maacutegica

que o esporte assume na oacutetica funcionalista

A pretensa sauacutede relacionada agrave praacutetica do esporte tatildeo defendida

pelos Organismos Internacionais e governos serve duplamente agrave reshy

produccedilatildeo do capitalismo Se de um lado busca convencer as pessoas

de que a ldquoausecircncia de sauacutederdquo eacute uma escolha consciente e natural de

haacutebitos natildeo saudaacuteveis por outro busca ocultar as contradiccedilotildees do

modo de vidatrabalho em uma sociedade de classes O esporte nesshy

se caso torna-se um poderoso instrumento para dinamizar toda essa

estrutura ideoloacutegica de manutenccedilatildeo das relaccedilotildees sociais capitalistas

exatamente a forma de organizaccedilatildeo social que natildeo permite - a todos

- obter condiccedilotildees dignas de trabalho de vida bem como acesso iguashy

litaacuterio a tecnologias e serviccedilos de sauacutede

Em siacutentese pode-se dizer que o desenvolvimento do esporte eacute

algo circunscrito numa totalidade moldada pelo antagonismo das

classes existentes Essa produccedilatildeo cultural assume aspectos compleshy

xos e contraditoacuterios Seus valores moralizantes imbuiacutedos do pensa-

2 A respeito disso ver reportagem ldquoMal do seacuteculo depressatildeo aproxima trageacutedias do mundo

do futebolrdquo (BELPIEDE 2011)

3

mento liberal buscam fortalecer e universalizar um modo de vida

trabalho que coincide com os interesses da classe dominante Trata-

-se de uma forma de educar eacutetica e politicamente os subalternos

definindo um padratildeo de sociabilidade3 A deformaccedilatildeo das praacuteticas

populares e sua adequaccedilatildeo agrave ordem capitalista geram perda parcial

de identidades e possibilidades de autocriaccedilatildeo e transformaccedilatildeo Enshy

tretanto a busca de formas alternativas que visem o resgate das vonshy

tades meacutetodos e anseios dos trabalhadores natildeo eacute algo simples devishy

do ao processo funcional de obscurecimento da realidade Trata-se

de algo importante e possiacutevel a partir do esporte

Considerar o esporte como algo acabado sem espaccedilo para

explorar a contradiccedilatildeo natildeo interessa agrave organizaccedilatildeo da classe trashy

balhadora ldquoUma coisa eacute submeter o esporte aos interesses dos goshy

vernantes e outra eacute tratar pedagogicamente criacutetica reflexiva e

criativamente o esporte enquanto conteuacutedo de ensino e campo de

vivecircncia socialrdquo (TAFFAREL SA N TO S JU N IO R 2009 p 33)

construiacutedo por meacutetodos proacuteprios que visam atender aos anseios

e aspiraccedilotildees dos trabalhadores Ou seja os subalternos devem ser

ldquocapazes de compreender antecipar e contrastar os movimentos

das classes dominantesrdquo (DIAS 2006 p 13)

Entendemos que a condiccedilatildeo da transformaccedilatildeo da sociedade

ou seja a sociabilidade historicamente emancipada livre da domishy

naccedilatildeo de classe seraacute fruto da capacidade de enxergarmos a conshy

tradiccedilatildeo e nela atuarmos no sentido de superaacute-la poliacutetica e econoshy

micamente O que deve ser extirpado da histoacuteria dos homens natildeo

eacute o esporte mas as relaccedilotildees de produccedilatildeo que amoldam culturas e

mentes para servir agrave dominaccedilatildeo de uma classe sobre a outra

Compreender a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede a partir dos funshy

damentos aqui apresentados possibilita criticar a visatildeo funcionalisshy

ta o que pode ser um importante passo para pocircr fim agrave subordinashy

ccedilatildeo do esporte ao projeto histoacuterico da classe dominante

3 Para compreender como a institucionalizaccedilatildeo do esporte na aparelhagem estatal vem

contribuindo para a formaccedilatildeo da sociabilidade capitalista no Brasil recorrer ao estudo de

Souza (2011)

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o conteuacutedo esporte

Com o intuito de articular o ensino do esporte ao que considerashy

mos ser o papel da escola elaboramos uma proposta de trabalho pedashy

goacutegico com o tema esporte e sauacutede a ser desenvolvida com alunos do

oitavo ano da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de ForaMG

O primeiro contato dos alunos com o conteuacutedo a ser trabashy

lhado na unidade didaacutetica em questatildeo ocorreraacute na identificaccedilatildeo da praacutetica social onde apontaremos o assunto que seraacute desenvolvido

durante as aulas Tambeacutem buscaremos apreender o conhecimento

preliminar dos discentes bem como as questotildees que tecircm interesse

de ampliar o saber Apresentaremos o conteuacutedo Esporte delimitanshy

do o seguinte questionamento que direcionaraacute nossas aulas Esporte eacute sauacutede Em seguida cada aluno individualmente deveraacute elaborar

um texto explicitando sua compreensatildeo sobre essa questatildeo geral a

fim de captarmos os saberes construiacutedos pela vivecircncia cotidiana dos

alunos Espera-se com isso que os alunos maniiacuteestem o conhecishy

mento que possuem sobre a temaacutetica estabelecendo ou natildeo uma

relaccedilatildeo entre a praacutetica esportiva e a obtenccedilatildeo de sauacutede

Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto iniciaremos uma discussatildeo geral

sobre a temaacutetica e explicitaremos os toacutepicos que seratildeo abordados

durante o trabalho com o tema a saber sauacutede uma questatildeo

social as lesotildees e a depressatildeo cm atletas do esporte de rendishy

mento os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo vivenciando

diferentes modalidades esportivas Em seguida apresentaremos

os objetivos as atividades a serem desenvolvidas assim como a

importacircncia de se estudar esse tema

A seleccedilatildeo de questotildees sociais que permeiam o conteuacutedo aborshy

dado instigando o debate e a reflexatildeo dos alunos se expressa no

segundo passo metodoloacutegico a problematizaccedilatildeo Nesta etapa seleshy

cionaremos as dimensotildees do conteuacutedo que seratildeo trabalhadas esshy

tabelecendo os questionamentos relacionados agrave praacutetica social tal

como sugere o plano de unidade apresentado a seguir

Na instrumentalizaccedilatildeo fase na qual ocorre de fato a aproshy

priaccedilatildeo do conhecimento por parte do aluno pretendemos desenshy

volver atividades que contribuam para a elaboraccedilatildeo de respostas

aos questionamentos sistematizados anteriormente As atividashy

des docentes e discentes voltadas agrave transmissatildeoapropriaccedilatildeo do

conhecimento sistematizado vatildeo envolver exposiccedilatildeo do conteuacutedo

pelo professor anaacutelise de viacutedeos c documentaacuterios que abordem

a temaacutetica da sauacutede e do esporte leitura discussatildeo e anaacutelise de

reportagens sobre o tema pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privashy

dos) disponiacuteveis para a praacutetica de esporte na cidade vivecircncia das

modalidades esportivas mais conhecidas no paiacutes dentre outros

Para captar se os alunos se apropriaram do conhecimento elashy

borado que os capacita a responder as questotildees levantadas na pro-

blematizaccedilatildeo pretendemos aplicar uma atividade na qual os alunos

individualmente possam produzir um texto dissertativo sobre a seshy

guinte questatildeo geral esporte eacute sauacutede Espera-se que os alunos sejam

capazes de expressar o conhecimento adquirido se aproximando

do entendimento de que a sauacutede eacute uma questatildeo social e portanto

envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporshy

te atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por

exemplo Espera-se que os alunos superem o entendimento predoshy

minante do senso comum expressando que a praacutetica de esporte

por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacutede e mais por questotildees

ideoloacutegicas o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo vem sendo veiculado com a

intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsabilidade por sua

proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus direitos

baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos

que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo

Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto pretendemos discutir as diferenshy

tes abordagens do tema apresentadas pelos alunos inclusive posshy

sibilitando a eles comparar o texto produzido neste momento na

catarse com o texto produzido no iniacutecio do processo pedagoacutegishy

co Aleacutem disso os alunos devem produzir em grupos um cartaz

alertando a comunidade escolar sobre a problemaacutetica estudada

No retorno agrave praacutetica social pretendemos finalizar o trabalho

pedagoacutegico definindo juntamente com os alunos novas intenshy

ccedilotildees e propostas de accedilatildeo mdash a partir da nova forma de compreenshy

der e de lidar com o conteuacutedotema em questatildeo

Plano de unidade

Esporte eacute sauacutede

DISCIPLINA Educaccedilatildeo Fiacutesica

AN O DE ESCOLARIDADE 8o ano do Ensino Fundamental

C O N T E Uacute D O Esporte

U N ID A D E Esporte c sauacutede

N Uacute M ERO DE AULAS 10 aulas

OBJETIVOS GERAIS

bull Entender a sauacutede como uma questatildeo social resultado

das condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo meio

ambiente trabalho transporte acesso aos serviccedilos de

sauacutede dentre outros de modo a adotar uma postura

favoraacutevel agrave superaccedilatildeo dos problemas sociais concretos

que determinam a obtenccedilatildeo da sauacutede

bull Vivenciar atividades esportivas enfatizando novos

sentidossignificados para posicionar-se favoravelmente agrave

transformaccedilatildeo do esporte

bull Refletir sobre os iacutendices de lesotildees e distuacuterbios emocionais

em atletas do esporte de rendimento

bull Analisar diferentes discursos sobre esporte e sauacutede

para posicionar-se criticamente diante das concepccedilotildees

que estabelecem uma relaccedilatildeo direta entre a praacutetica de

esporte e a obtenccedilatildeo de sauacutede

1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL

11 Anuacutencio dos conteuacutedos

TOacutePICOS

bull Sauacutede uma questatildeo social

bull As lesotildees e a depressatildeo em atletas do esporte de rendimento

bull Os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo

bull Vivenciando diferentes modalidades esportivas

12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos

bull O que os alunos sabem a praacutetica de esporte estaacute relacionada

agrave obtenccedilatildeo de sauacutede praticar esporte faz bem agrave sauacutede

bull O que os alunos querem saber mais o que eacute necessaacuterio

para termos uma vida saudaacutevel Quais satildeo os esportes mais

conhecidos no Brasil Quais esportes tecircm o maior iacutendice

de lesotildees

2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO

21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo

O que vocecircs entendem por sauacutede O esporte promove sauacutede

Por quecirc Qual a importacircncia de se estudar o tema ldquoesporte eacute sauacutederdquo

22 Dimensotildees do conteuacutedo

bull Dimensatildeo conceituai O que eacute sauacutede Quais os principais

benefiacutecios da praacutetica correta e adequada de exerciacutecios

fiacutesicos Como a praacutetica esportiva melhora nossa sauacutede

bull Dimensatildeo histoacuterica os espaccedilos puacuteblicos destinados agrave praacutetica

de esporte em nossa cidade estatildeo diminuindo nos uacuteltimos

anos E os espaccedilos que cobram aluguel para utilizaccedilatildeo Seraacute

que esses espaccedilos estatildeo diminuindo ou aumentando

bull Dimensatildeo econocircmica- por que no esporte de rendimento as

lesotildees satildeo muito comuns

bull Dimensatildeo social se o esporte combate a depressatildeo por que

tem aumentado o nuacutemero de casos de atletas com essa

doenccedila A obtenccedilatildeo da sauacutede estaacute sempre presente nos

esportes de alto rendimento O uso de substacircncias para

melhorar o rendimento e a grande incidecircncia de lesotildees nos

atletas eacute indicativo de sauacutede

bull Dimensatildeo poliacuteticarsquo haacute algum programa social que propaga

o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo ou que nele se fundamenta O

lema esporte e sauacutede tem alguma importacircncia poliacutetica Haacute

poliacuteticas puacuteblicas de incentivo agrave praacutetica esportiva na sua

cidade

bull Dimensatildeo cultural Qual a influecircncia da miacutedia na relaccedilatildeo

entre esporte e sauacutede

bull Dimensatildeo ideoloacutegica Por que eacute tatildeo difundida a ideia de que

esporte eacute sauacutede A exigecircncia da capacidade fiacutesica dos atletas

nos esportes de alto rendimento eacute sinocircnimo de sauacutede

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

31 Accedilotildees docentes e discentes

bull Anaacutelise de viacutedeos e documentaacuterios

bull Vivecircncia das modalidades esportivas mais conhecidas no

paiacutes

bull Exposiccedilatildeo do conteuacutedo pelo professor

bull Pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privados) disponiacuteveis para

a praacutetica de esporte na cidade

bull Leitura e anaacutelise de reportagens

32 Recursos mdash humanos e materiais

Livros revistas jornais slides bolas tv dvd folhas de papel

4) CATARSE

41 Siacutentese teoacuterica do aluno

O esporte tem se apresentado atualmente como elemento crucial para

obter sauacutede e alcanccedilar uma vida saudaacutevel A praacutetica de esporte quase semshy

pre estaacute diretamente relacionada agrave sauacutede Poreacutem uma anaacutelise mais cuidashy

dosa do tema esporte e sauacutede nos permite criticar e superar essas compre-

ensotildees predominantes Em primeiro lugar a sauacutede eacute uma questatildeo social

que envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporte

atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por exemplo

Assim a praacutetica de esporte por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacuteshy

de Ateacute mesmo alguns esportistas de alto rendimento acabam por adquirir

problemas de sauacutede em virtude de sua atividade de trabalho seja por utilishy

zar substacircncias seja por se machucar durante treinos ou competiccedilotildees Em

segundo lugar eacute importante destacar que muitas vezes o lema ldquoesporte eacute

sauacutederdquo eacute veiculado com a intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsashy

bilidade por sua proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus

direitos baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos

que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo

42 Expressatildeo da siacutentese

Elaboraccedilatildeo de texto dissertativo produccedilatildeo (em grupo) de um

cartaz sobre o tema estudado

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO

Quadro 1- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO 52 AltyOacuteES DO ALUNO

Saber mais sobre esporte e sauacutede Ler artigos acadecircmicos sobre esporte e sauacutede

Situar-se criticamente frente agraves formulaccedilotildees

sobre esporte e sauacutede utilizando o conhecishy

mento adquirido para compreendecirc-las critishy

camente

Analisar formulaccedilotildees sobre esporte e sauacutede

veiculadas pela miacutedia

Manifestar uma atitude favoraacutevel agrave transforshy

maccedilatildeo do esporte

Vivenciar modalidades esportivas dando

um novo significado a essas praacuteticas de

m odo que a competiccedilatildeo a concorrecircncia

o rendimento e a disputa por exemplo

sejam substituiacutedos por valores que sociashy

lizam privilegiam o coletivo garantam a

solidariedade e respeito humano dentre

outros

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildes Finais

O presente texto buscou apresentar uma proposta pedagoacutegica

de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

tendo como referecircncia os fundamentos da Pedagogia histoacuterico-

-criacutetica Buscamos com essa proposta ampliar a compreensatildeo dos

alunos sobre o tema e consequentemente possibilitar-lhes transshy

cender noccedilotildees cotidianas sobre a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede

Ao socializara referida proposta no presente artigo natildeo pretenshy

demos oferecer uma ldquoreceitardquo mas sim apresentar uma das inuacutemeshy

ras possibilidades de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte

Ainda consideramos importante destacar que as dificuldades imshy

postas pelas condiccedilotildees de vida e trabalho de grande parte dos professhy

sores das redes puacuteblicas municipal e estadual de ensino assim como as

degradantes condiccedilotildees de vida a que estatildeo expostos muitos dos nossos

alunos satildeo apenas alguns dos fatores que podem dificultar o desenshy

volvimento do trabalho pedagoacutegico voltado agrave transmissatildeo do conheshy

cimento sistematizado na educaccedilatildeo escolar As precaacuterias condiccedilotildees de

vidatrabalho por sua vez reiteram nosso entendimento de que a luta

pela socializaccedilatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo se esgota no

debate pedagoacutegico entre as diferentes concepccedilotildees uma vez que engloshy

ba tambeacutem a luta pela escola puacuteblica que deve ser enfrentada em sua

radicalidade tal como alerta Saviani (2005b p 257)

O desafio posto pela sociedade de classes do tipo

capitalista agrave educaccedilatildeo puacuteblica soacute poderaacute ser enfrenshy

tado em sentido proacuteprio isto eacute radicalmente com

a superaccedilatildeo dessa forma de sociedade A luta pela

escola puacuteblica coincide portanto com a luta pelo

socialismo por ser este uma forma de produccedilatildeo

que socializa os meios de produccedilatildeo superando sua

apropriaccedilatildeo privada Com isso socializa-se o saber

viabilizando sua apropriaccedilatildeo pelos trabalhadores

isto eacute pelo conjunto da populaccedilatildeo

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CAPIacuteTULO V

0 MMA COMO NOVA FACE DA LUTA ESPETAacuteCULO

Adriano de Paiva Reis

Graziany Penna Dias

Rafael Loures dos Reis Bellei

Renata Aparecida Alves Landim

O presente capiacutetulo tem por intenccedilatildeo trazer

contribuiccedilotildees sobre a possibilidade de trabalho

com o conteuacutedo lutas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica Entendemos que abordar as lutas na escola

natildeo eacute tarefa faacutecil pois esse conteuacutedo impotildee como

veremos algumas dificuldades ateacute mesmo pela

compreensatildeo equivocada dos proacuteprios professoshy

res e comunidade escolar sobre esse elemento da

cultura corporal Natildeo obstante compreendemos

que o trabalho pedagoacutegico com esse conteuacutedo eacute

possiacutevel e necessaacuterio pois nosso objetivo eacute que os

alunos ultrapassem uma concepccedilatildeo sincreacutetica e

caoacutetica sobre a realidade a partir da apropriaccedilatildeo

de conhecimentos que os permitam superar as vishy

sotildees parciais que predominam no senso comum

Partindo desse pressuposto optamos por

abordar uma temaacutetica que tem chamado a atenshy

ccedilatildeo de nossos alunos na atualidade o fenocircmeno

das Artes Marciais Mistas modalidade de luta

esportiva alardeada pela miacutedia e alvo de muitas

polecircmicas Nossa perspectiva neste texto seraacute reashy

lizar uma breve discussatildeo sobre o tema e apontar

referecircncias metodoloacutegicas para seu tratamento

nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica em conformidade com o referencial teoacuterico-

-metodoloacutegico proposto pelo Coletivo de Autores (1992)

As lutas e seu lugar na escola formaccedilatildeo de lutadores ou sujeitos

A partir da definiccedilatildeo do grande campo da cultura corporal as

lutasartes marciais1 passaram a figurar como importante conteuacutedo

das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica O reconhecimento da necessidade de

tratamento pedagoacutegico das lutas na escola pode ser comprovado em

diversas orientaccedilotildeespropostas curriculares em niacutevel nacional estashy

dual e municipal e em escritos de diversos autores da aacuterea

Natildeo obstante em que pese essa produccedilatildeo ela ainda tem sido

incipiente em termos de lograr accedilotildees (pedagoacutegicas) efetivas para os

diferentes niacuteveis da educaccedilatildeo escolar A parca produccedilatildeo cientiacutefica

abordando as lutas na escola pode ser comprovada se comparada agrave

produccedilatildeo de outros conteuacutedos como o esporte o jogo e a ginaacutestica

Os professores de Educaccedilatildeo Fiacutesica tambeacutem apontam algumas

dificuldades ao procurar trabalhar esse conteuacutedo em suas aulas

como a falta de materiais roupas e espaccedilos adequados De acorshy

do com Nascimento e Almeida (2007) os principais argumentos

para a restriccedilatildeo do trabalho com o conteuacutedo satildeo a falta de vivecircncia

cotidianaacadecircmica em lutas por parte dos professores e a preocushy

paccedilatildeo com a violecircncia que julgam ser intriacutenseca agrave praacutetica das lutas

tornando-as incompatiacuteveis com as finalidades da escola

Apesar de compreendermos esses argumentos acreditamos que

devemos lutar pela formaccedilatildeo continuada e pelos recursos materiais que

nos permitam trabalhar de forma ainda mais qualificada com as lutas

por serem importantes conteuacutedos para a Educaccedilatildeo Fiacutesica De acordo

com os pressupostos que este coletivo se propotildee a trabalhar entendeshy

mos que as lutas configuram-se como um dos elementos da cultura

1 A lguns autores operam distinccedilotildees conceituais entre os termos Artes Marciais

e Lutas Respeitando os objetivos e limites deste texto optamos por natildeo entrar

nesta polecircmica e trabalhar os dois termos dentro do conteuacutedo lutas Partimos do

pressuposto de que apesar de nem toda luta ser considerada uma arte marcial toda

arte marcial eacute em si uma luta Para aprofundar neste assunto ver Lanccedilanova (2006)

corporal dada sua importacircncia nos mais diversos periacuteodos histoacutericos e

pela perspectiva da sua produccedilatildeo com base na realidade sociai concreta

sendo essa accedilatildeo elemento singular do gecircnero humano3 e que por isso se

diferencia da accedilatildeo instintiva do atacar e defender dos animais

As lutas estatildeo presentes nos mais variados espaccedilos como nas atishy

vidades extracurriculares de muitas escolas nas Olimpiacuteadas em acashy

demias nos clubes e na miacutedia (das mais variadas formas) fazendo os

alunos terem uma aproximaccedilatildeo maior com essa manifestaccedilatildeo corporal

Entretanto esse contato se faz geralmente na perspectiva do senshy

so comum reduzindo as lutas aos coacutedigos do esporte de rendimento

em que pesem por exemplo a oficializaccedilatildeo de regras comparaccedilatildeo de

resultados institucionalizaccedilatildeo racionalizaccedilatildeo das praacuteticastreinamenshy

to e busca da maximizaccedilatildeo do desempenho elementos proacuteprios do

processo de esportivizaccedilatildeo a que outras manifestaccedilotildees como o jogo e

a danccedila vem sofrendo tambeacutem (GONZAacuteLEZ 2005)

O boxe eacute um bom exemplo desse processo de esportivizashy

ccedilatildeo Ele foi criado a partir de disputas nas feiras da Inglaterra

dos seacuteculos XV III e X IX e sua sistematizaccedilatildeo como esporte se

deu mediante o objetivo de organizar o tempo livre4 dos trabashy

lhadores das faacutebricas bem como ldquodosarrdquo a violecircncia O mesmo

aconteceu com a luta greco-romana e mais tarde com as lutas

2 Na linha do Coletivo de Autores (1992 p 38) a cultura corporal eacute o ldquo[] acervo de

formas de representaccedilatildeo do mundo que o homem tem produzido no decorrer da histoacuteria

exteriorizadas pela expressatildeo corporal jogo danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte

malabarismo contorcionismo miacutemica e outros que podem ser identificados como formas

de representaccedilotildees simboacutelicas de realidades vividas pelo homem historicamente criadas e

culturalmente desenvolvidasrdquo

3 A expressatildeo gecircnero humano eacute utilizada no lugar de espeacutecie humana natildeo por acaso mas

pautada nas elaboraccedilotildees de Duarte (2001) O autor natildeo descarta a ideia de que o ser humano

faz parte da espeacutecie humana poreacutem ele avanccedila nessa elaboraccedilatildeo De acordo com ele a

categoria espeacutecie humana se refere agrave identificaccedilatildeo do homem por seus elementos bioloacutegicos

jaacute a categoria gecircnero humano destaca as caracteriacutesticas humanas que satildeo formadas ao longo

da histoacuteria social natildeo transmissiacuteveis pela heranccedila geneacutetica ldquoA categoria de gecircnero humano

natildeo se reduz agravequilo que eacute comum a todos os homens natildeo eacute uma mera generalizaccedilatildeo de

caracteriacutesticas empiricamente verificaacuteveis em todo e qualquer ser humano Gecircnero humano

eacute uma categoria que expressa a siacutentese em cada momento histoacuterico de toda objetivaccedilatildeo

humana ateacute aquele momentordquo (DUARTE 2001 p 26)

4 Estamos entendendo tempo livre como aquele livre das obrigaccedilotildees sociais e cotidianas

pois no modelo social em que vivemos nenhum tempo pode ser considerado livre mas

regulado por alguma determinaccedilatildeo social Para saber mais ver Mascarenhalaquo

orientais (Caratecirc Taekwondocirc Kung-fu Jiu-jistu Judocirc etc) o

que nos permite apontar uma mudanccedila paradigmaacutetica das lutas

desde suas origens ateacute os dias atuais

De um modo geral as lutas tecircm suas conotaccedilotildees primordiais

associadas agraves praacuteticas para a guerra sendo posteriormente adotadas

como um caminho para se alcanccedilar um estilo de vida mais equilibrashy

do e paciacutefico Nessa linha Hausen (2004) descreve o processo histoacuterishy

co de desenvolvimento das lutas de origem oriental que surgiram de

danccedilas praticadas no periacuteodo neoliacutetico e foram sendo sistematizadas

com o intuito de defesa mas para aleacutem disso elas foram adquirindo

sentidossignificado mais amplos como a busca de aprimoramento

corporal espiritual eacutetico moral e intelectual

Nos dias atuais as lutas se apresentam de forma massificada e

descaracterizada dos seus objetivos originais como os filosoacuteficos e os

de desenvolvimento humano (BARROS GABRIEL 2011) Os filshy

mes desenhos animados jogos virtuais e academias de ginaacutestica enshy

tre outros espaccedilos muitas das vezes deturpam os significados autecircnshy

ticos das lutas fazendo com que esse importante elemento cultural se

perca diante das demandas do capitalismo internacionalizado

Quase sempre encaradas como espetaacuteculos maravilhosos de pancadashy

ria e violecircncia a miacutedia deturpa o sentido e significado original das lutas torshy

nando-as sinocircnimo de violecircncia e crueldade com os inimigos Este imagishy

naacuterio criado faz com que os praticantes de lutas se tornem super-heroacuteis que

combatem o mal atraveacutes da violecircncia que gradativatildemente ldquodessensibiliza

os mais novos acerca da violecircncia do choque e do terror de ver algueacutem senshy

do agredido Desenvolvendo essa toleracircncia agrave violecircncia precisaratildeo de cada

vez mais violecircncia para serem entretidos rdquo (LANCcedilANOVA 2006 p 7)

A defesa que fazemos em torno desse conteuacutedo se daacute na compreshy

ensatildeo de que essa manifestaccedilatildeo da cultura corporal muito tem a con-

5 Segundo Marta (2009) a disseminaccedilatildeo das artes marciais orientais para outros paiacuteses

desencadeou um processo de ocidentalizaccedilatildeo com progressiva transformaccedilatildeo das

mesmas em produtos que para tornarem-se mais acessiacuteveisaceitaacuteveis comeccedilam a ser

destituiacutedos de seus rituais e valores tradicionais sendo a esportivizaccedilatildeo um elemento

chave desse processo Vale lembrar que a ocidentalizaccedilatildeo natildeo ocorre apenas com as

lutas mas com toda a cultura de tal modo que podemos falar em ocidentalizaccedilatildeo da

comida da moda do padratildeo de beleza dos estilos de vida das praacuteticas corporais etc

tribuir na formaccedilatildeo criacutetica do nosso aluno visto que a atuaccedilatildeo como

sujeito histoacuterico requer o acesso aos conhecimentos acumulados sobre

as lutas e seus significados como realidades histoacuterico-sociais

Compreendemos que cada tipo de luta eacute uma manifestaccedilatildeo

dotada de trajetoacuteria singular pois satildeo criadas pelos homens conshy

forme os interesses sociais culturais poliacuteticos econocircmicos e filoshy

soacuteficos nos vaacuterios periacuteodos histoacutericos e modos de produccedilatildeo6 Desse

modo as lutas tornam-se campo feacutertil na compreensatildeo da realidashy

de como produccedilatildeo histoacuterica e que por isso podem ser reinventashy

das segundo suas necessidades e interesses Aliaacutes o fazer histoacuteria eacute

expressatildeo proacutepria do gecircnero humano Nas palavras de Hobsbawm

(2010) enquanto houver ser humano haveraacute histoacuteria

A perspectiva de trabalho com as lutas dentro da escola natildeo

tem como objetivo formar o lutador de certa modalidade mas sim

formar o sujeito histoacuterico E pensar isso perfaz entender que o ensishy

no de lutas justifica-se quando ele possibilita ao aluno compreender

de forma criacutetica os condicionantes histoacutericos e sociais que fizeram

das lutas o que satildeo hoje bem como possibilitar-lhe usufruir sob

outras perspectivas o praticarvivenciar essa manifestaccedilatildeo

Artes Marciais Mistas

O resultado de toda essa esportivizaccedilatildeoocidentalizaccedilatildeo das

artes marciais da falta de sensibilidade dessa sociedade cada vez

mais competitiva e da busca incansaacutevel por audiecircncia e conseshy

quentemente por lucro se cristaliza em uma simples sigla ldquoianshy

querdquo MMA Mixed M artial Arts) ou Artes Marciais Mistas O

M M A eacute uma luta esportiva em que teacutecnicas de variadas modalishy

dades de lutasartes marciais satildeo utilizadas devidamente esvaziashy

das de seus significados filosoacuteficos e histoacutericos originais e com um

acreacutescimo de brutalidade dotada de sentido econocircmico

6 Modo de produccedilatildeo eacute uma categoria utilizada por Marx com o intuito de discriminar

as diferenccedilas que cada eacutepoca histoacuterica possui em funccedilatildeo das suas forccedilas produtivas e

relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo Assim podemos falar em modo de produccedilatildeo escravista

feudalista capitalista Para saber mais ver Huni (2005)

Selecionamos como temaacutetica dessa unidade de lutas essa

modalidade por entendermos que seu apelo midiaacutetico tem chashy

mado muita atenccedilatildeo entre os jovens em nossa sociedade nos uacutelshy

timos anos Essa popularizaccedilatildeo traz algumas questotildees que devem

ser socializadas e discutidas com nossos alunos tais como a orishy

gem dessa luta esportiva o papel da miacutedia na sua difusatildeo a sua

relaccedilatildeo com a violecircncia e com a mercadorizaccedilatildeo das lutas entre

muitas outras que possam surgir de acordo com o interesse e

aprofundamento dos alunos na temaacutetica

Os primeiros indiacutecios de lutas mistas estatildeo relacionados com

a Greacutecia antiga Tal luta era denominada de Pankration uma

combinaccedilatildeo de duas palavras gregas p a n que significa tudo ou

vaacuterios e kratos que significa forccedila7 Mas registros de algo pareshy

cido ressurgem por volta da segunda deacutecada do seacuteculo passado

aqui no Brasil quando membros da famiacutelia Gracie a fim de

divulgar uma modalidade de luta por eles adaptada do Jiu-jitsu

japonecircs e mais tarde denominada Jiu-jitsu brasileiro criaram o

ldquoGracie Challengerdquo ou ldquoDesafio dos Gracierdquo Os irmatildeos Gracie

desafiavam qualquer lutador de qualquer modalidade a fim de

demonstrar que a sua teacutecnica era mais eficiente Esses desafios

ficaram conhecidos como Vale-Tudo8 (AWI 2012)

Mais tarde no iniacutecio dos anos de 1990 nos EUA Rorion Gracie

e outros soacutecios criaram o primeiro torneio UFC (Ultimate Fighting

Championship) Com um formato um pouco diferente dos torneios de

ldquoVale-Tudordquo anteriores - como por exemplo o abandono do ringue e

7 O Pankration era unia espeacutecie de luta de solo que fazia parte das provas dos Jogos

Oliacutempicos sendo um dos acontecimentos mais populares da antiguidade Segundo Elias

e Dunning (1992) o niacutevel de violecircncia permitido nessa luta era muito elevado as regras

eram tradicionais e muito flexiacuteveis havia um juiz mas natildeo havia limite de tempo e o

combate durava ateacute que um dos oponentes desistisse por isso muitas vezes terminava com

a mutilaccedilatildeo ou morte do adversaacuterio O Pankration natildeo pode ser considerado um esporte

pois esse termo soacute pode ser suficientemente utilizado a partir do seacuteculo XV III em referecircncia

agraves praacuteticas corporais regidas por regras escritas e regulamentadas por instituiccedilotildees especiacuteficas

8 No fim da deacutecada de 1920 ocorreu o primeiro confronto puacuteblico desse gecircnero na ocasiatildeo

foi chamado de estilo versus estilo soacute depois a imprensa comeccedilou a se referir a esse confronto

como Vale Tudo (AWI 2012) Na deacutecada de I960 a violecircncia de algumas lutas criou uma

resistecircncia ao Vale Tudo que chegou a ser proibido no Brasil Ele ressurgiu entre as deacutecadas

de 1980 e 1990 num combate entre lutadores de Jiu-jitsu e Luta Livre mas enfraqueceu

novamente devido ao alto grau de violecircncia inclusive por parte do puacuteblico (MM A 2010)

a criaccedilatildeo do octoacutegono9 mdash o UFC chamou a atenccedilatildeo com lutadores de

diversas modalidades se enfrentando com regras miacutenimas e sem restrishy

ccedilatildeo de tempo Logo surgiram outros torneios como ldquoPRIDErdquo e ldquoOpen

Free Style Japanrdquo que se tornaram sucesso nas TV s por assinatura Poshy

reacutem juntamente com o sucesso de espectadores10 vieram as restriccedilotildees

em diversos estados por todos os EUA (MMA 2010)

Em pouco tempo de existecircncia dessas competiccedilotildees os lutashy

dores perceberam que aliar as diversas modalidades de lutas que

permitissem a eles lutarem em peacute e no chatildeo os tornaria mais comshy

petitivos Essa mistura de estilos de lutas e habilidades se tornou

conhecida como Artes Marciais Mistas (D ISCOVER UFC 2012)

Natildeo apenas Anderson mas nossos melhores lutadores

sabem se moldar de acordo com a situaccedilatildeo diante

das adversidades E uma qualidade indispensaacutevel do

MMA Por permitir o uso de golpes das mais diversas

modalidades o esporte acaba premiando a capacidashy

de de improviso do atleta diante de tantas variaacuteveis

Nisso as artes marciais mistas se assemelham agrave paixatildeo

nacional o futebol notoriamente um dos esportes

que menos se presta a ldquoensaiosrdquo e um dos mais impreshy

visiacuteveis que existem (AWI 2012 p 289)

No iniacutecio do seacuteculo XXI o UFC retorna reformulado com reshy

gras mais riacutegidas para poder agradar as autoridades que antes o proishy

biram limite de tempo divisatildeo de categorias por peso e seleccedilatildeo crishy

teriosa de lutadores De acordo com Awi (2012) hoje o MMA em

seus principais eventos eacute um esporte regulamentado com exames

perioacutedicos testes antidoping e regras bem claras

Na atualidade o UFC marca que domina 90 do mercashy

do mundial do M M A vincula o espetaacuteculo de entretenimento ao

consumo dos mais diversos produtos como aparelhos de ginaacutesshy

tica roupas videogames bonecos e DVDs Uma noite do evento

9 v -Segundo Rorion Grace a ideia do octoacutegono (espeacutecie de jaula com oito lados) era

justamente impedir os lutadores de fugirem do espaccedilo de luta durante a ldquopancadariardquo a

fim de atrair mais puacuteblico e chegar agrave televisatildeo (M M A 2010)t10 Na primeira ediccedilatildeo do UFC 85 mil lares americanos pagaram para ver a luta ao

vivo na televisatildeo na segunda foram 120 mil na terceira 180 mil e na quarta 260

mil pagantes (AW I 2012)

gera em meacutedia 70 milhotildees de reais Estima-se que a marca ldquoUFCrdquo

comprada haacute 12 anos por 2 milhotildees de doacutelares hoje eacute avaliada

em mais de 13 bilhatildeo de doacutelares 11 (AWI 2012) Neste quadro o

M M A ascende como ldquonovardquo face da luta-espetaacuteculo12 assumindo

o posto outrora ocupado pelo boxe que hoje estaacute em segundo plashy

no dentro do mercado das lutas esportivas

O esporte hoje eacute considerado ldquofebre mundialrdquo o nuacutemero de fatildes

soacute aumenta com o passar dos anos e as criacuteticas tambeacutem Recentemenshy

te em entrevista ao jornal Folha de Satildeo Paulo o bi-campeatildeo mundial

de boxe Eder Jofre fala criticavam o boxe porque era violento mas

perto do M M A eacute baleacute (PERTO 2012) E as criacuteticas natildeo param

por aiacute outra pessoa a questionar a civilidade da modalidade foi um

dos fundadores da torcida organizada ldquoGaviotildees da Fielrdquo considerada

uma das mais violentas do paiacutes Questionado sobre a violecircncia das

torcidas organizadas hoje em dia Chico Malfitanni em entrevista agrave

Folha de Satildeo Paulo declara ldquoos meios de comunicaccedilatildeo satildeo os maiores

incentivadores Outro dia o Sportv estava metendo o pau nas orgashy

nizadas agraves 1 lh30 da manhatilde Nisso entram cenas do MMA sangue

escorrendo O Galvatildeo [Bueno] gritando direita esquerda o cara soshy

cando o outro e isso eacute civilizadordquo (REIS 2012)

Apesar de algumas regras terem sido incluiacutedas para proibir eou limishy

tar o uso de alguns golpes durante os combates o niacutevel de violecircncia preshy

sente nas lutas de M M A eacute inegaacutevel De acordo com Awi (2012 p 19-20)

E rarissiacutemo uma ediccedilatildeo do UFC que termine

sem que pelo menos um lutador tenha de receshy

ber atendimento hospitalar antes de voltar para

casa Embora ateacute hoje soacute se tenha registrado duas

mortes por conta de lesotildees sofridas durante um

combate a variedade de golpes tramaacuteticos potildee em

11 O UFC eacute apontado pelos executivos americanos como a marca esportiva mais valiosa dos

Estados Unidos agrave frente da NFL (Futebol Americano) e da NBA (Basquete) Segundo

Awi (2012) Dana White e os irmaacuteos Fertita atuais administradores do UFC deram

o grande pulo do gato da marca ao perceberem que naacuteo bastava a luta era preciso

transformaacute-la num espetaacuteculo de entretenimento de massas

12 Utilizamos o termo ldquonovardquo entre aspas porque consideramos que o formato do M M A eacute novo

mas o seu conteuacutedo naacuteo eacute pois revela a apropriaccedilatildeo de teacutecnicas de lutas jaacute existentes

risco sim a integridade fiacutesica dos lutadores Mas

tambeacutem eacute verdade que o niacutevel de seguranccedila hoje eacute

bastante aceitaacutevel mdash e natildeo para de crescer

A polecircmica sobre o niacutevel de agressividade que envolve os comshy

bates de Artes Marciais Mistas traz agrave tona uma importante reflexatildeo

estaria o M M A incitando a violecircncia entre as pessoas

De acordo com Freire (2012) a questatildeo natildeo eacute tatildeo linear asshy

sim pois a agressividade presente no M M A natildeo seria a mesma

temida pelas pessoas em seus cotidianos mas sim a violecircncia transshy

formada em um espetaacuteculo de entretenimento O autor defende

seguindo a esteira de Nobert Elias que o puacuteblico experimenta um

momento de fruiccedilatildeo e prazer consumindo uma violecircncia controlashy

da por certas regrasteacutecnicas natildeo necessariamente praticando-a o

que poderia ser considerada uma conquista civilizatoacuteria13

Entretanto eacute importante destacar que o niacutevel de violecircncia

encontrado no M M A precisa ser compreendido no interior das

relaccedilotildees sociais capitalistas que na atualidade tecircm corroiacutedo o

tecido social No capitalismo a busca incessante pelo lucro eacute o

grande objetivo a ser atingido por isso a vidaintegridade do

lutador (visto como mercadoria viva) e o respeito ao adversaacuterio

soacute fazem sentido agrave medida que contribuem para esse objetivo

Nessa direccedilatildeo Duarte (2000) qualifica a sociedade capitalista

como hipoacutecrita pois ao transformar tudo em mercadoria ela

torna-se indiferente ao desenvolvimento moral dos indiviacuteduos

sendo que cedo ou tarde ela encontra meios de superar os lim ishy

tes outrora impostos para exploraccedilatildeo Assim agrave medida que se

torna mais aguda a crise da sociedade capitalista atual aumenta

13 Elias e Dunning (1992) evidenciam o caraacuteter de complementaridade entre esporte

e avanccedilo da civilizaccedilatildeo Os autores defendem que a criaccedilatildeo de regras sociais que

pacificaram as formas de disputa poliacutetica ocorre paralelamente ao desenvolvimento

de formas de exerciacutecio regulado da exciiacuteaccedilatildeo reprimida nas atividades seacuterias da vida

Neste contexto o esporte teria uma finalidade cataacutertica jaacute que deveria criar tensotildees

imaginaacuterias reguladas por teacutecnicas e regras permitindo a realizaccedilatildeo de uma violecircncia

controlada satisfazendo necessidades de excitaccedilatildeo dos participantes eou espectadores

ainda mais a alienaccedilatildeo da moral14 prevalecendo nesse contexto o

individualismo e o egoiacutesmo exacerbado

Desse modo o M M A tem demonstrado alinhamento com o prinshy

ciacutepio basilar do capitalismo a busca impiedosa pela valorizaccedilatildeo do cashy

pital sendo suas regras e apropriaccedilotildees teacutecnicas subordinadas a esse fim

O propoacutesito central dessa luta esportiva eacute manter o puacuteblico fascinado

para vender imagens roupas e demais mercadorias associadas agrave sua praacuteshy

tica Mas contraditoriamente o MMA por carregar em seu interior

fragmentos de diversas artes marciais e caracteriacutesticas do nosso tempo

desde que problematizado pode ajudar a entender os desafios e possishy

bilidades colocados para as lutas no contexto atual

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com as lutas

Com base nessa discussatildeo propomos uma unidade de ensino

que aborda o M M A como temaacutetica dentro do conteuacutedo lutas O plashy

no de unidade descrito abaixo foi elaborado para ser trabalhado com

alunos do oitavo ano do ensino fundamental

Seguindo os pressupostos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica o prishy

meiro passo eacute a identificaccedilatildeo dos dados da realidade onde temos uma

primeira impressatildeo dos alunos sobre o tema a ser trabalhado Como

atividade desse momento propomos organizar os alunos em gnipos

e pedir a eles que faccedilam um cartaz em uma folha de cartolina a parshy

tir de questotildees previamente elaboradas pelo professor As perguntas

enumeradas abaixo no plano de unidade deveratildeo ser respondidas

atraveacutes de ilustraccedilotildees fotografias eou reportagens que seratildeo disponishy

bilizadas para alunos atraveacutes de jornais esportivos ou paacuteginas da intershy

net A ideia geral eacute que os alunos indiquem qual eacute a luta mais famosa

14 De acordo com Duarte (2000) a discussatildeo sobre moral na sociedade capitalista eacute feita de

maneira alienada ou seja descolada dos valores que orientam a vida concreta das pessoas

Isso porque uma discussatildeo radical levaria agrave constataccedilatildeo de que o sistema capitalista eacute

avesso agraves questotildees morais jaacute que a proacutepria loacutegica do sistema eacute maximizar a exploraccedilatildeo dos

seres humanos sem limites para ampliar a acumulaccedilatildeo de capital Desse modo a base

concreta dessa alienaccedilatildeo moral eacute a proacutepria alienaccedilatildeo do trabalho atividade essencialmente

humana Nesse processo o homem eacute alienado natildeo apenas do produto e da atividade do

trabalho mas tambeacutem de si mesmo da relaccedilatildeo com o outro e com o gecircnero humano

na atualidade Esta atividade teraacute como objetivo averiguar o niacutevel de

compreensatildeo dos alunos sobre o M M A enquanto principal luta dos

tempos atuais Ao final desta atividade seraacute exposto aos alunos o conshy

teuacutedo e a temaacutetica que seraacute trabalhada questionando-os acerca do

que gostariam de saber a mais sobre o tema

Na problematizaccedilatildeo seratildeo levantadas algumas questotildees importanshy

tes para a discussatildeo do tema buscando orientar o aluno no processo de

apreensatildeo ativa do conhecimento Conforme pode ser visto no plano

de unidade seratildeo lanccediladas questotildees que abordam diversas dimensotildees

do conhecimento que seratildeo trabalhadas tais como o processo histoacuterico

de criaccedilatildeo do MMA sua evoluccedilatildeo as teacutecnicas baacutesicas desta luta os

interesses econocircmicos e as relaccedilotildees deste tema com a sociedade atual

A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento onde as atividades desenvolshy

vidas estatildeo voltadas para a aquisiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico por

parte dos alunos visando ampliar o niacutevel de consciecircncia dos mesmos

acerca do MM A e das suas interfaces com os tempos atuais No caso

em tela as atividades seratildeo exibiccedilatildeo de filmes e viacutedeos vivecircncia de

algumas modalidades de lutas discussotildees leituras de textos etc

A elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia pode ser verificada na cashy

tarse momento no qual haacute uma reinterpretaccedilatildeo da realidade desta

vez com o amparo do conhecimento cientiacutefico apreendido Como

sugestatildeo propomos a construccedilatildeo de um viacutedeo sobre os temas aborshy

dados a realizaccedilatildeo de um juacuteri simulado sobre o M M A e a criaccedilatildeo

de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais para debater o assunto

A ideia eacute que o aluno tenha se aproximado da percepccedilatildeo de que o

M M A eacute uma luta esportiva que utiliza teacutecnicas de diversas outras lushy

tas Na atualidade o MMA atraveacutes da marca UFC eacute uma das moshy

dalidades esportivas mais divulgadas e lucrativas do mundo Entreshy

tanto agrave medida que as teacutecnicas das lutas vatildeo sendo apropriadas para

seu uso competitivo nos torneios de M M A vai sendo aprofundado

o processo de descaracterizaccedilatildeo dessas modalidades em relaccedilatildeo aos

seus princiacutepios e valores originais O alto grau de violecircncia associado

agraves lutas dentro e fora dos octoacutegonos pode ser apontado como um

dos resultados desses processos de descaracterizaccedilatildeo

A uacuteltima etapa do plano de unidade eacute o retorno agrave praacutetica social ou

o momento de utilizar este conhecimento apreendido para uma nova

compreensatildeo e accedilatildeo sobre a realidade Assim propomos a divulgaccedilatildeo

dos materiais construiacutedos e socializaccedilatildeo com os outros alunos da escola

Plano de Unidade iMMA - a ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo

OBJETIVO GERAL

Compreender o M M A e suas relaccedilotildees com o mercado da luta-

-espetaacuteculo a fim de assumir uma postura criacutetica frente ao processo

de massificaccedilatildeo das lutas a partir desta modalidade

Toacutepicos de Conteuacutedo e objetivos especiacuteficos

1 - M M A que luta eacute essa

bull Ampliar conhecimentos sobre o MMA para distingui-lo de

outras modalidades de luta

bull Identificar os principais estilos de lutas seus golpes e

fundamentos teacutecnicos que compotildeem o MMA

2 - Origem e histoacuteria do M M A

bull Conhecer a origem e o processo de disseminaccedilatildeo do MMA

a fim de identificar a dinacircmica social que envolve a produccedilatildeo

dessa praacutetica da cultura corporal

3 - As lutas e seu processo de descaracterizaccedilatildeo

bull Diferenciar lutas de briga

bull Entender o processo de descaracterizaccedilatildeo das lutas

esportivizadas

bull Identificar o M M A como luta esportiva suas regras

categorias e competiccedilotildees

4 - M MA Miacutedia e Mercado a luta-espetaacuteculo como grande negoacutecio

bull Identificar o papel da miacutedia no processo de difusatildeo do

M M A

bull Compreender os interesses econocircmicos envolvidos nas

competiccedilotildees de MMA

5 - O MMA e a espetacularizaccedilaacuteo da violecircncia

bull Apreender a relaccedilatildeo entre o M M A e a espetacularizaccedilaacuteo da

violecircncia em nossa sociedade

bull Debater a relaccedilatildeo entre violecircncia e lutas

1) Praacutetica Social Inicial do Conteuacutedo

Material de Apoio Jornais e revistas esportivas (pode ser

feito tambeacutem na sala de informaacutetica utilizando os sites esportishy

vos mais populares) cartolinas canetinhas laacutepis de cor caneta

cola e tesoura

Accedilatildeo Dividir os alunos em grupos de no maacuteximo seis pesshy

soas A cada grupo deveraacute ser dado um questionaacuterio para ser

respondido na folha de cartolina e um nuacutemero suficiente de jorshy

nais esportivos (ou paacuteginas principais impressas dos noticiaacuterios

esportivos on-line) As perguntas satildeo

bull Qual eacute a luta mais famosa nos dias atuais

bull Quem eacute o melhor lutador atual

bull Quais satildeo as regras

bull Qual eacute o espaccedilo onde ela acontece

bull Quem a inventou

bull Onde podemos assistir esta luta

Os alunos deveratildeo procurar nos jornais fotografias eou reporshy

tagens sobre a luta que foi respondida como mais famosa (muito

provavelmente seraacute respondida que o M M A eacute a luta mais popular)

Os cartazes deveratildeo ser apresentados para os outros grupos

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3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO15

Quadro 2- Instrumentalizaccedilatildeo

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MMA que luta eacute

essa

Ampliar conhecimentos sobre o

MM A para distingui-lo de oushy

tras modalidades

Identificar os principais estilos

de lutas golpes e fundamenshy

tos teacutecnicos que compotildeem o

MMA

Conceituai

Teacutecnica

Pesquisa na sala de informaacutetica

Ler reportagens sobre o MMA

Viacutedeos imagens e textos

disponiacuteveis no blog ldquoConteshy

uacutedo e Meacutetodo nas aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Origem e histoacuteria

do M M A

Conhecer a origem e o processhy

so de disseminaccedilatildeo do MMA a

fim de identificar a dinacircmica soshy

cial que envolve a produccedilatildeo desshy

sa praacutetica da cultura corporal

HistoacutericaExibiccedilatildeo do Documentaacuterio da

Sportv sobre o MMA

Documentaacuterio ldquoMMA

a luta que levou o boxe agrave

lonardquo

Os links para acesso aos videos filmes e documentaacuterios citados no quadro abaixo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Disponiacutevel em lthttpcoledvoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012

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4) CATARSE

41- Siacutentese teoacuterica do aluno

A catarse seraacute demonstrada com registros durante as aulas exshy

pressando que o MM A (Mixed Martial Arts) eacute uma luta esportiviza-

da criada a partir de uma forma de disputa para a disseminaccedilatildeo do

Jiu-jitsu brasileiro como a melhor das artes marciais Eram embates

entre lutadores de teacutecnicas distintas com lutadores de Jiu-jitsu prinshy

cipalmente Com a exarcebaccedilatildeo da violecircncia principalmente fora dos

ringues a famiacutelia Grace se muda para os EUA e comeccedila a criar uma

nova forma de disputa com regras espaccedilo adequado e teacutecnicas espeshy

ciacuteficas Surge assim o Vale Tudo e posteriormente o UFC e outras

modalidades Atualmente o UFC eacute uma das modalidades esportivas

mais lucrativas do mundo e uma das mais violentas associando teacutecshy

nicas de diversas lutas (Boxe Jiu-jitsu Muai thay Aikidocirc etc) sem

contudo valorizar os aspectos filosoacuteficos e princiacutepios originais das lushy

tas como respeito ao adversaacuterio e a si mesmo Muitas pessoas treinam

MMA para brigas de rua e torneios sem contudo entender o sentido

da criaccedilatildeo destas teacutecnicas pois estatildeo descaracterizadas atendendo a

interesses econocircmicos que vatildeo muito aleacutem da simples autodefesa

42 - Expressatildeo da Siacutentese

Construccedilatildeo de um viacutedeo sobre o MMA abordando de forma

criacutetica os temas estudados nas aulas ou construccedilatildeo de cartazes reshy

alizaccedilatildeo de um juacuteri simulado discutindo a temaacutetica e criaccedilatildeo de um

foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a temaacutetica

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO

Quadro 3 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

Conhecer mais sobre o M M A e suas difeshy

renccedilas de outros estilos

Pesquisar ler textos e assistir viacutedeos

sobre o M M A

Contribuir para a socializaccedilatildeo dos conhecishy

mentos sobre as lutas e para divulgaccedilatildeo de

espaccedilos de discussotildees sobre as mesmas

Convidar os demais alunos da escola para

f acessarem os viacutedeos e participarem dos

foacuteruns de discussatildeo sobre as lutas

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (201 1)

Consideraccedilotildees Finais

A formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos 1 1 0 acircmbito da cultura corporal

passa pela apreensatildeo de conhecimentos teoacuterico-praacuteticos que permitam agir

criticamente frente aos grandes fenocircmenos esportivos para aleacutem de sua

aparecircncia No caso das lutas o pouco acesso aos conhecimentos histoacutericos

teacutecnicos e filosoacuteficos das mesmas pode contribuir para gerar a substituiccedilatildeo

de sua praacutetica salutar pelo consumo passivo de espetaacuteculos esportivos muishy

tas vezes regados com alto grau de violecircncia A proposta de ensino com a

tematizaccedilatildeo das Artes Marciais Mistas buscou contribuir para pensar no

papel de mediaccedilatildeo que a Educaccedilatildeo Fiacutesica pode ter na formaccedilatildeo de sujeitos

criacuteticos ao fenocircmeno de descaracterizaccedilatildeo e mercadorizaccedilatildeo das lutas

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CAPIacuteTULO VI

A VOZ DA PERIFERIA O HIP HOP ENQUANTO POSSIBILIDADE DE TRABALHO NAS AULAS DE EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA

Adriano de Paiva Reis

Carla Cristina Carvalho Pereira

Giovana de Carvalho Castro

Herbert Hischter Chaves de Paula

Marcelo Silva dos Santos

Apesar da infinidade de possibilidades de

trabalho nos curriacuteculos escolares historicamenshy

te a danccedila foi tratada pela escola numa perspecshy

tiva funcional tendo como objetivo principal a

formaccedilatildeo do corpo feminino em contrapartida

agraves praacuteticas ginaacutesticas destinadas aos homens1

O fato eacute que o trabalho com a danccedila nas

escolas quase natildeo eacute realizado ou eacute realizado de

forma superficial e esvaziada A danccedila eacute recoshy

nhecida como atividade extracurricular - geralshy

mente o aprofundamento do trabalho com as

teacutecnicas de uma determinada modalidade - ou

eacute tratada como componente folcloacuterico no inshy

terior das escolas seja pela Educaccedilatildeo Fiacutesica ou

1 A discussatildeo acerca das praacuteticas corporais destinadas a

homens e mulheres ao longo da histoacuteria da Educaccedilatildeo

Fiacutesica no Brasil pode ser encontrada em Ghiraldelli

Juacutenior (1994) O autor situa historicamente a visatildeo

sexista da Educaccedilatildeo Fiacutesica na sociedade brasileira

demonstrando o papel da ginaacutestica para moldar o corpo

saudaacutevel robusto e harmonioso dos homens enquanto

que para as meninas as praacuteticas eram voltadas para a

danccedila a expressatildeo corporal o teatro e a poesia visando

pela Educaccedilatildeo Artiacutestica limitando-se muitas vezes agrave montagem de

coreografias para festas e comemoraccedilotildees da escola Raramente a danccedila eacute

valorizada por ter um conhecimento proacuteprio e uma linguagem expresshy

siva especiacutefica (BRASILEIRO 2003 FIAM ONCINI 2003)

A resistecircncia dos alunos em participar das aulas de danccedila na esshy

cola constitui um fator a ser considerado assim como a dificuldade

por parte de muitos professores em trabalhar com esse conteuacutedo sob a

alegaccedilatildeo de natildeo possuiacuterem conhecimento especiacutefico em nenhuma moshy

dalidade de danccedila problema agravado pelos curriacuteculos predominanteshy

mente esportivizados da maioria dos cursos de graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo

Fiacutesica No entanto entendendo que a funccedilatildeo primordial da escola eacute

a socializaccedilatildeo do saber historicamente produzido (SAVIANI 1997)

coloca-se como tarefa fundamental a sistematizaccedilatildeo de uma praacutexis edushy

cativa superadora em danccedila tendo em vista proporcionar aos alunos

uma apreensatildeo contextualizada e criacutetica acerca dessa linguagem

Na perspectiva da reflexatildeo sobre a cultura corporal a danccedila - enshy

tendida enquanto uma das expressotildees do patrimocircnio cultural da hushy

manidade - eacute um conteuacutedo a ser conhecido estudado produzido no

acircmbito escolar Nesta linha eacute preciso que o professor rompa com as

formas tradicionais mecanizadas e estereotipadas de danccedila proporshy

cionando ao aluno o conhecimento de suas verdadeiras possibilidades

corporais desenvolvendo a criatividade e a expressividade

A escolha da temaacutetica a ser abordada nas aulas deve partir

da necessidade de compreensatildeo e explicaccedilatildeo da realidade concreshy

ta do aluno oferecendo subsiacutedios para que ele compreenda os

determinantes soacutecio-histoacutericos de sua condiccedilatildeo de classe social

(C O LE T IV O DE AUTORES 1992)

Neste sentido escolhemos abordar o break enquanto modalishy

dade de danccedila atrelada ao movimento Hip Hop A definiccedilatildeo dessa

temaacutetica deveu-se agrave sua popularidade entre os alunos e agrave confusatildeo

conceituai acerca do Hip Hop uma vez que este eacute tratado apenas

como um estilo musical ou uma forma de danccedilar Assim torna-se neshy

cessaacuterio abordar e discutir as contradiccedilotildees existentes entre a essecircncia

do Hip Hop enquanto movimento de criacutetica e contestaccedilatildeo social e

sua mercadorizaccedilatildeo c esvaziamento pelos meios de comunicaccedilatildeo

O Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia e criacutetica social

O Hip Hop natildeo eacute apenas um estilo musical ou um tipo de

danccedila Trata-se na verdade de uma importante manifestaccedilatildeo culshy

tural produzida enquanto um movimento de resistecircncia da perishy

feria da classe menos favorecida - que natildeo coincidentemente eacute

representada majoritariamente por negros2 A origem do termo eacute

bastante controversa mas muitos pesquisadores atribuem sua criashy

ccedilatildeo a Afrika Bambaataa3 Suas origens remontam aos EUA por

volta dos anos de 1970 nos subuacuterbios de Nova York e de Chicago

atrelado agraves expressotildees culturais das comunidades jamaicanas latishy

nas e afro-americanas Nesses guetos - habitados majoritariamente

por uma populaccedilatildeo negra4 e assolados pela pobreza traacutefico de

drogas racismo ausecircncia de educaccedilatildeo e de espaccedilos de lazer mdash o

movimento Hip Hop nasceu a partir de accedilotildees para conter a violecircnshy

2 Satildeo os negros que ocupam a maioria das estatiacutesticas de desemprego mortalidade infantil

analfabetismo que possuem as piores condiccedilotildees de moradia a maioria que ocupa os

presiacutedios e as ruas etc A discussatildeo sobre a marginalizaccedilaacuteo do negro no Brasil ganha forccedila a

partir dos anos iniciais deste seacuteculo demonstrando a importacircncia do movimento negro no

cenaacuterio dos movimentos sociais no paiacutes Entretanto dentro do proacuteprio movimento negro

natildeo haacute unidade principalmente no que se refere agrave discussatildeo entre a relaccedilatildeo raccedilaclasse Por

esta razatildeo achamos fundamental demarcar nossa posiccedilatildeo dentro dessa discussatildeo apesar

de estarmos atentos ao fato de que uma das caracteriacutesticas do capitalismo eacute ser indiferente

agraves identidades sociais das pessoas que explora o fato de natildeo necessitar natildeo significa que

de fato natildeo se aproveite e natildeo decirc continuidade agrave opressatildeo racial O capitalismo que

massacra trabalhadores mundo afora eacute ainda mais perverso com aqueles setores que foram

marginalizados como eacute o caso dos negros (W O O D 2003)

3 Afrika Bambaataa - pseudocircnimo de Kevin Donovan - eacute de forma quase unacircnime

considerado o responsaacutevel por plantar as bases sobre as quais o Hip Hop se desenvolveu

Nascido e criado no violento bairro do Bronx (Nova Iorque) chegou agrave lideranccedila dos Black

Spades uma das mais fortes e violentas gangues da regiatildeo Sua vida comeccedilou a mudar

quando numa viagem agrave Aacutefrica no iniacutecio dos anos 1970 assistiu ao filme Zulu sobre

a luta entre africanos e ingleses no seacuteculo X IX Foi deste documentaacuterio que ele retirou o

nome pelo qual eacute conhecido hoje O filme tambeacutem despertou no mesmo um novo olhar

acerca de suas origens motivando-o a formar sua proacutepria naccedilatildeo Zulu bem como a buscar

raquo meios para cooptar jovens das gangues para ela Disponiacutevel em lthttpogloboglobo

comculturaconsiderado-pai-do-hip-hop-do-funk-carioca-afrika-bambaataa-faz-show-

no-rio-303106lixzz20554zE00gt Acesso cm 2 ago 2012

4 Aleacutem dos negros os guetos de Nova York eram ocupados por imigrantes latinos oriundos

principalmente do Meacutexico e de Porto Rico tambeacutem considerados inferiores por sua pele

morena e olhos indiacutegenas herdados de seus antepassados tambeacutem escravizados

cia e promover a conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessishy

dade de luta contra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis

Desta forma o Hip Hop atrela-se agraves calorosas discussotildees que trashy

zem agrave tona os embates e as contradiccedilotildees da sociedade norte-americana

Neste contexto emergem lideranccedilas negras como Martin Luther King

e Malcom X e grupos que lutavam pela igualdade de direitos como

os Panteras Negras Embora divergentes em suas propostas agregaram

em torno de suas ideias uma populaccedilatildeo que ansiava por mudanccedilas no

modelo social entatildeo vigente que condenava a populaccedilatildeo negra a uma

invisibilidade negando-lhe a possibilidade de uma efetiva participaccedilatildeo

social e poliacutetica Tais demandas refletiram na produccedilatildeo musical e o

rock mdash que tambeacutem nasceu negro tatildeo aderente nos anos de 1960 mdash

mostrou-se impotente para dar voz a esse novo contexto

Os guetos abraccedilaram o soul e prestaram reverencia a muacutesicas como

uSay it loud Im black and proudrdquo (diga alto sou negro e orgulhoso)

cantada aos berros por James Brown inspirado na frase do liacuteder sul africano

Steve Biko Ao soul juntou-se o ftink furioso do qual James Brown tamshy

beacutem foi um iacutecone imageacutetico Estava pronto o terreno do qual brotaria o

Hip Hop lanccediladas as sementes do soul do funk e da luta pelos direitos civis

da populaccedilatildeo negra A ele se uniu o rap que remonta as raiacutezes da oralidade

africana sintetizada na figura dos griots5 Os guetos apropriaram-se desta

tradiccedilatildeo e a reinventaram atraveacutes das batalhas de improviso que contavam

histoacuterias de seu cotidiano marcando assim o nascimento do freestyle6

Outra figura fundamental para o Hip Hop foi o DJ Kool Herc

imigrante jamaicano a quem se atribui a criaccedilatildeo dos breaks (trechos de

muacutesicas usados como bases) No final dos anos de 1960 Herc trouxe da

Jamaica para o Bronx a teacutecnica dos famosos sound systems de Kingston

5 Os ldquogriotsrdquo satildeo os guardiotildees inteacuterpretes e cantores da histoacuteria oral de muitos povos

africanos A figura do griot tem uma enorme importacircncia na preservaccedilatildeo da palavra da

narraccedilatildeo do mito africano ldquoNa praacutetica eles funcionam como escritores sem papel nem

pena Ortografam na oralidade aquilo que deve permanecer embutido na memoacuteria e no

coraccedilatildeo dos seus familiares e conterracircneos no sentido de manter incrustada a identidade

do seu ser e das suas raiacutezes fundamentada em grande parte no seu passado e nos seus

predecessoresrdquo BIJOacute1AS Maria Griots mdash os inteacuterpretes musicais da Histoacuteria africana

Disponiacutevel em lthttpwwwruadireitacommusicainfogriots-os-interpretes-musicais-

da-historia-africanagt Acesso em 23 jul 2012

6 Estilo livre muacutesica de improviso mediante desafios

Como os trechos usados como base eram curtos Herc teve a ideia de usar

um mixer e dois discos idecircnticos o que permitia a repeticcedilatildeo indefinida de

um determinado trecho da mesma muacutesica (PIMENTEL 1997)

Foi um disciacutepulo do DJ jamaicano mdash Grandmaster Flash - quem

criou o ldquoscratchrdquo que eacute a utilizaccedilatildeo da agulha do toca-discos arrashy

nhando o vinil em sentido anti-horaacuterio como instrumento musical

Aleacutem disso ldquoFlash entregava um microfone para que os danccedilarinos

pudessem improvisar discursos acompanhando o ritmo da muacutesica

(uma espeacutecie de repente-eleacutetrico que ficou conhecido como rap - os

lsquorepentistasrsquo satildeo chamados de rappers ou MCs isto eacute lsquomasters of ceri-

mony)rdquo (VIANNA JUacuteN IOR 1988 p 38)

Desta feita aos breaks aliou-se a forccedila das mensagens trazidas

pelos rappers atribuindo peso agrave expressatildeo mesmo sob condiccedilotildees lishy

mitadas de recursos e ausecircncia de instrumentos

Paralelamente ao rap outras manifestaccedilotildees artiacutesticas se desenshy

volviam nos guetos americanos Em meados da deacutecada de 1960 os

jovens dos subuacuterbios de Nova York comeccedilaram a ldquopicharrdquo as pareshy

des com seus nomes Assim surge o grafitti inicialmente como tag

(assinatura) como forma de retratar a realidade como forma de

participaccedilatildeo e de resistecircncia Logo a colocaccedilatildeo das tags em locais

cada vez mais inoacutespitos virou um novo elemento da disputa que foi

apropriado pelas gangues como forma de demarcaccedilatildeo de territoacuterios

dentro dos guetos Mais tarde o desenho foi introduzido ao tag

abrindo-se um novo leque de trabalhos para os grafiteiros

Na mesma eacutepoca surge o break dance nome atribuiacutedo pelo Dj

Herc para definir um estilo de danccedila caracterizado por miacutemicas imitashy

ccedilotildees de robocircs e acrobacias com influecircncias das mais diversas das artes

marciais agraves danccedilas urbanas da eacutepoca e que representassem os conflitos

e o cotidiano dos guetos nova-iorquinos O nome atribuiacutedo por Herc

justifica-se agrave medida em que ldquoos jovens que iam agraves festas danccedilavam no

Break da muacutesica que era o nome dado a sua teacutecnica de interromper a

batida mais forte da muacutesica como se ela estivesse quebrada e se repeshy

tisse por alguns segundosrdquo (SILVA 2010 p 32) A respeito da danccedila

Pimentel (1997 p 8) destaca que esta desenvolveu-se

[] ao sabor da contorccedilatildeo dos brcaks entre e dentro

das muacutesicas formando um novo corpo riacutetmico no inshy

terior das mesmas e conduzindo o DJ e seu puacuteblico a

uma nova forma de abordagem do tema reconstruiacutedo

e reinterpretaacutevel atraveacutes da danccedila das quebras riacutetmishy

cas Danccedilar o break consiste literalmente na execuccedilatildeo

de passos que procuram imitar essa ruptura e essa forshy

ma sincopada de reconstruir o proacuteprio ritmo

Nas ruas de Nova Iorque grupos (crews) se encontravam para

definir quem danccedilava melhor dando origem agraves chamadas batalhas ou rachas de break As batalhas entre as crews eram manifestaccedilotildees de

rua que tinham o propoacutesito de chamar a atenccedilatildeo do poder puacuteblishy

co sobre a situaccedilatildeo do afro-americano em relaccedilatildeo ao seu modo de

sobrevivecircncia e portanto tinham uma conotaccedilatildeo poliacutetica (LEAtildeO

2006) O break foi ganhando outros espaccedilos e passou a ser danccedilado

tambeacutem nas festas (as chamadas Black Parties)

Alguns autores consideram que o break no Hip Hop eacute formado

por trecircs estilos de danccedila originais o break bboying (caracterizada

pelos movimentos de chatildeo como top rock up rock foot work booga- loo e freeze aleacutem dos giros de cabeccedila mortais o moinho de vento7) o Popingg (estilo de danccedila urbana que foi incorporada ao Hip Hop

onde o danccedilarino imita robocircs aleacutem de ondulaccedilotildees com o tronco e

quadris) e o Locking (danccedila urbana incorporada ao Hip Hop que

indica as direccedilotildees no espaccedilo apontando o dedo) Por outro lado haacute

quem afirme que esses trecircs estilos satildeo danccedilas diferentes e somente o

break eacute a danccedila original por ser a primeira a ser incorporada como

elemento do Hip Hop (SILVA 2010)8

Desta feita rappers breakers e grafiteiros logo se viram diante

das mesmas anguacutestias e desafios cotidianos Daiacute para a coletiviza-

ccedilatildeo de suas accedilotildees foi um pequeno passo dando origem a naccedilotildees

associaccedilotildees posses e entidades para divulgaccedilatildeo do Hip Hop

7 A descriccedilatildeo e tutoriais desses movimentos estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e

Meacutetodo nas auias de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lt httpcoletivoedulisicajf

blogspotcombrgt Acesso em 12 dez 2012

8 Devido agrave riqueza de possibilidades consideramos os trecircs estilos para o trabalho

que realizamos com os alunos numa escola municipai de Juiz de Fora trabalho este

descrito ao final do presente artigo

Assim muito mais que ldquopular balanccedilando os quadrisrdquo - trashy

duccedilatildeo do termo do inglecircs - o Hip Hop configura-se como um

movimento social que busca promover a conscientizaccedilatildeo da popushy

laccedilatildeo jovem afro-americana atraveacutes da uniatildeo de diversas manifesshy

taccedilotildees artiacutesticas representadas por um conjunto de quatro elemenshy

tos a) o break que eacute a danccedila oficial praticada pelos Bboys e Bgirls

b) o rap que eacute o canto falado ao som de pick - ups ou mesmo de

ritmos feitos com a boca e o corpo c) o DJ (disk jockey) que atua

nos pick - ups acompanhando a falacanto dos MCs (mestre de

cerimocircnia) e d) o grafitti que eacute a arte nos muros vagotildees de trens

e espaccedilos deteriorados - uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para a

necessidade de revitalizaccedilatildeo desses espaccedilos (BENEDITO 2004)

E esse movimento que chega ao Brasil - influenciado pelo

lema do Black Power e pela admiraccedilatildeo aos Panteras Negras mdash

num contexto em que gangues urbanas conquistavam espaccedilo

embaladas por pequenos conflitos armados (armas brancas prinshy

cipalmente) e pelas muacutesicas do soul norte-americano Nosso ldquorashy

cismo agrave brasileirardquo natildeo dava margem para os conflitos diretos

pelos quais passou a sociedade norte-americana mas isso natildeo

significa a ausecircncia de poliacuteticas marginalizantes para a populaccedilatildeo

negra e afrodescendente no Brasil9

Como em outros paiacuteses diaspoacutericos o H ip Hop encontrou

no Brasil terreno feacutertil Sua chegada data de meados dos anos de

1980 em Satildeo Paulo Em 1988 foi lanccedilado o primeiro registro

fonograacutefico de rap nacional a coletacircnea ldquoHip-Hop Cultura de

Ruardquo pela gravadora Eldorado Com apoio puacuteblico da prefeitura

de Satildeo Paulo organizou-se a primeira associaccedilatildeo oficial de H ip

Hop no Brasil o M H 2 0 - Movimento Hip-Hop Organizado

9 A inserccedilatildeo do negro no poacutes-aboliccedilaacuteo tem sido alvo de diversos estudos Tais pesquisas

apontam para as dificuldades da populaccedilatildeo afrodescendente em ser reconhecida como

parte da sociedade brasileira e discutem o processo de marginalizaccedilatildeo imposto a esse

segmento Um dos aspectos mais relevantes dessa segmentaccedilatildeo eacute revelado nas pesquisas

que indicam a criminalizaccedilatildeo das praacuteticas culturais afrodescendentes presentes em nosso

coacutedigo penal ateacute 1940 Para maiores informaccedilotildees consultar Holloway (1997)

A descaracterizaccedilatildeo do Hip Hop a voz da periferia transmutada em mercadoria rentaacutevel

Identificamos hoje uma tentativa de esvaziamento e de descashy

racterizaccedilatildeo do H ip Hop enquanto movimento de luta e contestaccedilatildeo

social A induacutestria cultural vem cooptando essa forma de resistecircncia

em favor do capital transformando-o em um filatildeo de mercado vazio

de conteuacutedo histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico e ressignificado a partir

dos interesses da cultura hegemocircnica

O movimento mdash que sempre viveu e se propagou por fora dos

esquemas formais de comunicaccedilatildeo de massa sem espaccedilo nas raacutedios

comerciais e com trabalhos lanccedilados em gravadoras independentes

(MARTINS 1998) mdash atualmente ldquodesce o morrordquo indo parar nas

boates de classe meacutedia nas raacutedios e nas novelas e programas das prinshy

cipais emissoras de televisatildeo

A problemaacutetica da mercadorizaccedilatildeo do Hip Hop natildeo estaacute des-

zonectada do processo de transformaccedilatildeo e de mudanccedila que se faz

Dresente na sociedade de uma forma geral Jameson (2000) denuncia

^ue a emergente mudanccedila histoacuterica ocorrida na vida no ocidente para

jma nova forma de capitalismo trouxe a tese de que as questotildees cul-

urais tendem a se propagar para as econocircmicas e sociais Segundo o

iutor ldquoa produccedilatildeo das mercadorias eacute agora um fenocircmeno cultural no

lual se compram os produtos tanto por sua imagem quanto por seu

iacuteso imediato [] Nesse sentido a economia se transforma em uma

juestatildeo culturalrdquo (JAMESON 2000 p 22)

Na loacutegica cultural do capitalismo tardio onde o consumo

bull o principal meio de realizaccedilatildeo ldquoo prazer o lazer a seduccedilatildeo e a

ida eroacutetica satildeo trazidos para o acircmbito do poder do dinheiro e da

raquoreocupaccedilatildeo de mercadoriasrdquo (HARVEY 1992 p 99) Ao mes-

no tempo em que temos a sofisticaccedilatildeo das necessidades e dos seus

neios por um lado temos de outro uma abstrata simplificaccedilatildeo

las necessidades No campo especiacutefico da cultura a arte se tornou

ambeacutem uma mercadoria e o artista foi transformado em um pro-

utor de mercadorias (F ISCHER 1982)

Rappers ganharam status na induacutestria cultural sobretudo a

norte-americana e viraram ldquoastrosrdquo em todo o mundo Figuras como

Gangster RAP Dr Dree e Snoopy Dog aparecem na miacutedia preganshy

do e praticando a violecircncia adotando atitudes e produzindo letras

que demonstram hostilidade ao pobre e agrave mulher O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos contextos sendo empregashy

do para classificar um estilo de muacutesica de danccedila ou um jeito de se

vestir conhecido como estilo B-boy associado a marcas esportivas

especiacuteficas (boneacute tecircnis etc) Neste sentido

[] os aspectos do processo de mercadorizaccedilatildeo da

vestimenta das muacutesicas dos shows que possuem um

alto custo financeiro mostram essa refuncionaliza-

ccedilatildeo para garantir uma dada hegemonia tornando o

Hip Hop em determinados casos uma praacutetica disshy

tanciada da reflexatildeo de sua origem e da possibilidade

de ser uma forma de luta contra a opressatildeo Nesses

casos aquilo que servia para caracterizaacute-lo como

popular eacute justamente o que eacute transmutado o seu

sentido (AVILA et al 2005 p 64)

Aleacutem disso atraveacutes de poliacuteticas assistencialistas e compensashy

toacuterias o poder puacuteblico frequentemente apropria-se dos elementos

do Hip Hop num discurso apologeacutetico que o rotula enquanto

ldquosalvador da paacutetriardquo a partir da responsabilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos

pelas suas mazelas sociais justamente o oposto do que preconiza

o movimento O Hip Hop ligado agrave criacutetica poliacutetica e social e agrave

conscientizaccedilatildeo acerca da necessidade da organizaccedilatildeo coletiva tem

como intuito provocar mudanccedilas sociais e garantir direitos essenshy

ciais que satildeo responsabilidade do poder puacuteblico

Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo feita pelos meios de coshy

municaccedilatildeo a essecircncia do movimento permanece inalterada Atualshy

mente os movimentos organizados de Hip Hop buscam discutir a

discriminaccedilatildeo racial os problemas sociais a realidade da periferia

discussotildees estas materializadas nas letras do rap E esse Hip Hop

que pretendemos resgatar com nossos alunos contextualizando-o e

desvelando o que eacute a essecircncia desse movimento

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a danccedila

Elaboramos entatildeo um planejamento para ser desenvolvishy

do com alunos do 9o ano de uma escola municipal de Juiz de

Fora A proposta foi abordar o Hip Hop discutindo-o desde sua

origem enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social passhy

sando pela caracterizaccedilatildeo dos elementos que o compotildeem ateacute a

discussatildeo e anaacutelise criacutetica do que hoje eacute conhecido e difundido

pela miacutedia enquanto ldquoH ip Hoprdquo

Demos uma ecircnfase especial ao break por tratar-se de uma unishy

dade onde o conteuacutedo proposto era a danccedila Aqui tivemos espaccedilo

privilegiado para discutir as formas mecanizadas e estereotipadas de

danccedila impostas pela miacutedia e problematizamos a mera repeticcedilatildeo ou

imitaccedilatildeo a que muitas vezes se resumem as aulas de danccedila Numa oushy

tra perspectiva o break abre possibilidades de trabalhar a criatividade

e a expressividade jaacute que a essecircncia desse estilo eacute a improvisaccedilatildeo a (re)

criaccedilatildeo de movimentos Nas rodas de improvisaccedilatildeo cada participante

cria seu proacuteprio estilo e constroacutei suas sequecircncias de movimentos a

partir dos elementos teacutecnicos baacutesicos

Assim na identificaccedilatildeo da praacutetica social dividimos os alunos

em grupos e exibimos clipes de artistas diversos (Gabriel o pensador

Racionais M C rsquoS Beyonceacute Emicida etc) solicitando que ao final de

cada um eles respondessem em uma folha o nome e o estilo musical

do artista em questatildeo As respostas foram apresentadas a maioria deshy

las definia todos os clipes exibidos como sendo ldquoHip HoprdquoApoacutes esse primeiro momento iniciamos um debate com os alushy

nos lanccedilando algumas questotildees problematizadoras O que eacute Hip

Hop Hip Hop eacute danccedila O u eacute muacutesica Um estilo musical Como

surgiu o Hip Hop Existem muitos artistas negros no Hip Hop As

respostas dos alunos e a discussatildeo do tema foram registradas a fim de

fazer uma comparaccedilatildeo no final do trabalho

Na instrumentalizaccedilatildeo trabalhamos os seguintes toacutepicos de

conteuacutedo a histoacuteria do H ip Hop os quatro elementos que o

constituem (rap DJ grafitti10 break) bem como a influecircncia

dos meios de comunicaccedilatildeo na forma de disseminaccedilatildeo do Hip

Hop lanccedilando matildeo de recursos pedagoacutegicos como viacutedeos docushy

mentaacuterios reportagens letras de muacutesica dentre outros a fim de

que os alunos tivessem uma nova percepccedilatildeo do movimento Hip

Hop nas suas mais diversas dimensotildees No caso especiacutefico da

danccedila trabalhamos as teacutecnicas baacutesicas dos trecircs estilos de danccedila

do break (Bboing Popping e Locking) explorando a capacidade

de criaccedilatildeo e improvisaccedilatildeo dos alunos

Na catarse momento de elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia

dos alunos acerca do tema propomos a organizaccedilatildeo de um fesshy

tival de Hip Hop onde os alunos foram divididos em grupos e

demonstraram as teacutecnicas aprendidas bem como a exibiccedilatildeo de

um painel com os pontos abordados durante a unidade didaacutetica

No retorno agrave praacutetica social quando os alunos utilizam este

novo conhecimento para intervir criticamente na realidade soshy

cial a proposta foi realizar a produccedilatildeo de textos dos temas aborshy

dados nas aulas divulgando-os em um blog

PLANO DE UNIDADE

Tiacutetulo da Unidade O Movimento Hip Hop e a induacutestria cultural

OBJETIVO GERAL

Compreender o Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia

expressatildeo e denuacutencia de um grupo social

10 Ao elaborarmos o planejamento e apresentarmos a proposta para o coletivo da escola

abriu-se a possibilidade de um trabalho conjunto com a professora de Artes da turma por

isso pudemos aprofundar o trabalho com o grafitti

11 Viacutedeos e tutoriais usados para a preparaccedilatildeo das aulas e domiacutenio das teacutecnicas fundamentais

de cada um dos estilos do break estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas

aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt

Acesso em 10 dez 2012

Quadro 1- Anuacutencio do conteuacutedo

Toacutepico de Conteuacutedo t )bjetivos Especiacuteficos

Histoacuteria do H ip Hop

Conhecer a histoacuteria do Hip Hop e compreender sua essecircnshy

cia enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social

Identificar as caracteriacutesticas e manifestaccedilotildees do H ip Hop

no Brasil da atualidade

Os quatro elementos do movishy

mento H ip Hop

Identificar e conceituar os quatro elementos que constishy

tuem o movimento H ip Hop

Compreender a relaccedilatildeo de cada um dos elementos com o

movimento H ip Hop

Rhythm and Poetry

Compreender o rap enquanto o ldquocanto faladordquo que deshy

nuncia a injusticcedila e a opressatildeo de um grupo social

Conhecer teacutecnicas de construccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap

Arte nos Muros

Entender a histoacuteria e a evoluccedilatildeo do grafitti

Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo com o movimento H ip

Hop

Conhecer o grafitti na atualidade e suas linhas de expressatildeo

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de grafitagem

Aumente o som DJUuml

Identificar a ldquobatida quebradardquo (break) que caracteriza a

base musical do H ip Hop

Compreender o papel do DJ no H ip Hop

Estabelecer a diferenciaccedilatildeo entre o DJ e o M C (Mestre

de Cerimocircnia)

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de scratch e de mixagem

ldquoBatalhardquo entre crews

Analisar o papel do break enquanto expressatildeo corporal

ligada ao H ip Hop

Identificar os estilos do break sua origem e as vaacuterias forshy

mas de movimentaccedilatildeo

Relacionar os movimentos corporais ao ldquobreakrdquo da muacutesica

Aprender teacutecnicas baacutesicas de cada um dos estilos de break

O Hip Hop que passa na TV

Analisar a influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo na forma

de disseminaccedilatildeo do movimento H ip Hop

Compreender a banalizaccedilatildeo do movimento H ip Hop e

sua desconstruccedilatildeo pelo mercado

ontc elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

1) PRAacuteTICA SOCIAL IN ICIAL DO CONTEUacuteDO

11 Vivecircncia do Conteuacutedo

bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Hip Hop eacute um tipo

de muacutesica as muacutesicas criticam os ricos Hip Hop eacute uma danccedila

de rua etc

bull O que eles gostariam de saber a mais Como satildeo os passos

do Hip Hop como criar um rap como montar uma muacutesica

mixada etc

2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO

Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees

problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas

Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

$ v h W ccedil f v V j i v1 Tv S

t j j j fM IacuteW iacute lE i YSX IIP)

Histoacuteria do Hip HopHistoacuterica

Social

Como surgiu o Hip Hop Por que ele

surgiu Por que tem tantos artistas neshy

gros no Hip Hop

Os quatro elementos do movishy

mento H ip HopConceituai

Quais satildeo os elementos que constishy

tuem o Hip Hop Como se caracteshy

riza cada um deles

Rhythm and PoetryConceituai

Social

O que eacute rap De que falam as letras

dos raps Que mensagem querem

transmitir

Arte nos MurosLegal

Teacutecnica

Grafitar e pichar satildeo a mesma coishy

sa O que significa esse desenhos

nos muros

Aumente o som DJ Conceituai

0 que faz um DJ Qual a relaccedilatildeo

entre o DJ e o rap DJ e M C satildeo a

mesma pessoa Como eacute o ritmo da

danccedila no H ip Hop

ldquoBatalhardquo entre crewsConceituai

Teacutecnica

Como se danccedila no H ip Hop Qual

eacute o nome dessa danccedila Por que a

danccedila se chama ldquobreakrdquo Quais satildeo

os principais passos

O H ip Hop que passa na TV

Poliacutetica

Social

Econocircmica

Quais satildeo os rappers que aparecem

nos programas de TV Quais ideias

defendem em seus raps Os valores

dc que classe social representam

Fonte elaboraccedilatildeo nroacutenria m m

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo

bull

Histoacuteria do H ip

Hop

Conhecer a histoacuteria do H ip

H op e compreender sua essecircnshy

cia enquanto movimento de

contestaccedilatildeo c criacutetica social

Identificar as caracteriacutesticas e

manifestaccedilotildees do H ip H op no

Brasil da atualidade

Histoacuterica

Social

Apresentaccedilatildeo de dados estatiacutesticos sobre a

situaccedilatildeo do negro na sociedade brasileira

Exibiccedilatildeo de filmes e textos sobre a segreshy

gaccedilatildeo racial nos EUA e comparaccedilatildeo com

a realidade brasileira

Exibiccedilatildeo de documentaacuterio situando a

origem do H ip Hop

Exibiccedilatildeo de clipes de muacutesica que caracteshy

rizem a essecircncia do H ip Hop

Viacutedeos diversos65

Documentaacuterio ldquoH ip Hop em m oshy

vimentordquo

Documentaacuterio ldquoA Histoacuteria Do Hip

Hoprdquo

Os quatro eleshy

mentos do movishy

mento H ip Hop

Identificar e conceituar os

quatro elementos que constishy

tuem o movimento H ip Hop

Compreender a relaccedilatildeo de

cada um dos elementos com o

movimento H ip Hop

Conceituai

Social

Textos e viacutedeos sobre cada um dos eleshy

mentos

Viacutedeos produzidos pelos professores

Textos sobre os elementos do H ip

Hop

Os links paia acesso aos videos e textos utilizados na instrumentalizaccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em

lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012

=S

Rhythm and

Poetry

Compreender o rap enquanto

o ldquocanto faladordquo que denuncia

a injusticcedila e a opressatildeo de um

grupo social

Conhecer teacutecnicas de construshy

ccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap

Conceituai

Social

Teacutecnica

Anaacutelises de raps relacionados agrave realidade

social da periferia

Pesquisa sobre a estrutura e as teacutecnicas de

construccedilatildeo de um rap

Criaccedilatildeo individual eou coletiva de raps a

partir de temas propostos

Muacutesicas de grupos de rap

Clipe Negro Drama (Racionais)

Capiacutetulo sobre H ip Hop do livro D ishy

daacutetico do Paranaacute (Educaccedilatildeo Fiacutesica)

Arte nos Muros

v

Entender a histoacuteria e a evolushy

ccedilatildeo do grafitti

Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo

com o movimento H ip Hop

Conhecer o grafitti na atualishy

dade e suas linhas de expressatildeo

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de

grafitagem

Histoacuterica

Legal

Teacutecnica

Viacutedeo sobre a histoacuteria e evoluccedilatildeo do grafitti

Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das tags (asshy

sinaturas)

Viacutedeos produzidos pelos professores

Material de desenho para a vivecircnshy

cia das teacutecnicas das tags

Tintas e sprays para grafitar as tags

trabalhadas no papelatildeo ou no muro

Aumente o som

DJUuml

Identificar a ldquobatida quebrashy

dardquo (break) que caracteriza a

base musical do H ip Hop

Compreender o papel do D J

no H ip Hop

Estabelecer a diferenciaccedilatildeo enshy

tre o D J e o M C

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de

scratch e de mixagem

Conceituai

Teacutecnica

Identificaccedilatildeo da batida ldquoquebradardquo da

muacutesica e comparaccedilatildeo com outros ritmos

como por exemplo o funk

Vivecircncia de elementos baacutesicos de mixagem

Construccedilatildeo de bases mixadas das muacutesicas

Muacutesicas diversas

Mesas de mixagem ou programas

de computador para mixagem

Tutoriais diversos sobre mixagem

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(2011)

4) CATARSE

41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno

O Hip Hop eacute uma das mais importantes manifestaccedilotildees joshy

vens da atualidade Surgiu nos Estados Unidos nos subuacuterbios de

Nova York e Chicago na deacutecada de 1970 habitados majoritaria-

mentepor uma populaccedilatildeo negra e assolados pela pobreza traacutefico

de drogas racismo e ausecircncia de espaccedilos de lazer A cultura Hip

Hop nasce a partir de accedilotildees para conter a violecircncia e promover a

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessidade de luta conshy

tra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis

O Hip Hop eacute composto por 4 elementos a saber o break o

rap o DJ e o grafitti No Brasil o Hip Hop encontra na deacutecada

de 1980 um terreno fecundo para o seu desenvolvimento e o Hip

Hop ganha espaccedilo enquanto um meio de luta mobilizaccedilatildeo e dishy

vulgaccedilatildeo das desigualdades sociais e raciais

Entretanto a induacutestria da muacutesica se aproveita da popularishy

dade do Hip Hop transformando-o em uma mercadoria e descashy

racterizando-o enquanto movimento social e de contestaccedilatildeo No

caso especiacutefico da danccedila acontece uma reproduccedilatildeo de coreografias

montadas perdendo o sentido da expressatildeo corporal e a criatividashy

de que fazem parte da essecircncia do break

O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos conshy

textos sendo empregado para classificar um estilo de muacutesica de

danccedila ou um jeito de se vestir conhecido como estilo B-boy asshy

sociado a marcas esportivas especiacuteficas sem contudo representar

os seus objetivos gerais de contestaccedilatildeo social

42 - Expressatildeo da Siacutentese

Construccedilatildeo de paineacuteis sobre os elementos do Hip Hop orgashy

nizaccedilatildeo de um festival de Hip Hop apresentando os pontos discu-jf

tidos na unidade de ensino

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO

Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

Conhecer mais sobre o Hip Hop sua

essecircncia e tendecircncias

Ler pesquisar e conhecer pessoas

do Movimento Hip Hop

Socializar os conhecimentos aprendishy

dos sobre o Hip Hop

Produccedilatildeo de textos eou docushy

mentaacuterios sobre os elementos a

histoacuteria e a descaracterizaccedilatildeo do

Hip Hop

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees finais

Em tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas

as esferas da vicia a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda

maior E preciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabashy

lhadora construamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contrishy

buindo para a desmistificaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta

Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo imposta pela miacutedia eacute

preciso compreender que a essecircncia do movimento Hip Hop ainda

permanece inalterada Neste sentido situar historicamente o Hip

Hop no contexto socioeconocircmico e cultural em que surgiu mdash desshy

velando sua essecircncia enquanto movimento de contestaccedilatildeo poliacutetica

e social - contribui para a compreensatildeo do aluno enquanto agente

de sua histoacuteria capaz de atuar e transformar atraveacutes de accedilotildees conshy

cretas o seu meio e as condiccedilotildees materiais de sua existecircncia

Referecircncias

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3

CAPIacuteTULO VII

A DISCIPLINARIZACcedilAtildeO DOS CORPOS POR MEIO DA GINAacuteSTICA

I^eonardo Docena Pina

Miguel Fabiano de Faria

Nathagravelia Sixel Rodrigues

Ramon Mendes da Costa Magalhatildees

A ginaacutestica como conteuacutedo da Educaccedilatildeo

Fiacutesica natildeo deve ser vista como uma manifestashy

ccedilatildeo recente uma vez que se trata de uma praacutetishy

ca bastante antiga na escola se considerada em

relaccedilatildeo a outros conteuacutedos da cultura corporal

Tendo em vista as transformaccedilotildees ocorridas

com a ginaacutestica ao longo da histoacuteria algumas

questotildees emergem e conferem significados agrave

proposta deste capiacutetulo atualmente a ginaacutestishy

ca permanece como um conteuacutedo nas aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesica Como se configura a ginaacutestica

nessas aulas Como os corpos dos sujeitos enshy

volvidos nessa praacutetica satildeo abordados dentro e

fora da escola Como a sociedade compreende

esses corpos e delega agrave ginaacutestica a competecircncia

por conformaacute-los Questotildees como essas contrishy

buem para a compreensatildeo dos significados que

a praacutetica corporal ginaacutestica assume ou poderia

assumir como conteiido escolar

Compreender a ginaacutestica como conteuacuteshy

do da Educaccedilatildeo Fiacutesica nos remete ao iniacutecio

do seacuteculo XIX quando essa produccedilatildeo cultural

passou a ser considerada cientiacutefica fruto das

distintas formas de se pensar os exerciacutecios fiacutesicos em paiacuteses europeus

surgindo assim os meacutetodos ou escolas de ginaacutestica integrantes do

chamado Movimento Ginaacutestico Europeu Nessa perspectiva buscou-

-se imprimir um caraacuteter de utilidade aos exerciacutecios fiacutesicos em que

foram negadas as praacuteticas populares de artistas de rua de circo acroshy

batas que as apresentavam como espetaacuteculo trazendo o corpo como

centro de entretenimento (SOARES 1998 2001a 2001b)

Ainda segundo a autora eacute nos princiacutepios de ordem e disciplina forshy

mulados pelo Movimento Ginaacutestico Europeu bem como do afastamenshy

to do nuacutecleo primordial do divertimento que a Ginaacutestica se afirmou

como parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos Uma praacutetica capaz de potenshy

cializar a utilidade dos gestos e oferecer um espetaacuteculo ldquocontroladordquo e

institucionalizado dos usos do corpo em negaccedilatildeo aos elementos cecircnicos

funambulescos e acrobaacuteticos (SOARES 1998)

Precursora da Educaccedilatildeo Fiacutesica a Ginaacutestica cientiacutefica se afirmou

ao longo do seacuteculo X IX como siacutentese do pensamento cientiacutefico no

ocidente europeu e integrante dos novos coacutedigos de civilidade o que

vai justificar sua presenccedila no curriacuteculo escolar tambeacutem no Brasil

Como vimos a ginaacutestica foi uma das primeiras praacuteticas corposhy

rais a ser inserida na educaccedilatildeo escolar no seacuteculo XIX tanto que sua

denominaccedilatildeo ldquoGymnasticardquo foi por muitos anos considerada a proacuteshy

pria disciplina escolar sendo paulatinamente substituiacuteda no iniacutecio do

seacuteculo XX pela denominaccedilatildeo ldquoEducaccedilatildeo Physicardquo1

No Brasil ateacute as deacutecadas de 1920 e 1930 a ginaacutestica era uma

praacutetica privilegiada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica sendo orientada por

dois primados da educaccedilatildeo escolar Primeiramente o ldquoprimado da orshy

topediardquo esteve relacionado com a correccedilatildeo de desvios e com o endirei-

tamento dos corpos pretendendo constituir sujeitos robustos e higieshy

nizados Posteriormente o ldquoprimado da eficiecircnciardquo visava construir o

1 Tal expressatildeo areacute enratildeo possuiacutea um sentido mais amplo vinculado ao discurso da ldquohygienerdquo

(G O N D RA 2004) e ao pensamento de Herbert Spencer em que a educaccedilatildeo integral

seria apoiada em trecircs pilares a ldquoeducaccedilatildeo intellectual moral e physicardquo (VAGO 2002)

Assim essa ldquoeducaccedilatildeo physicardquo englobou natildeo soacute a ldquogymnasticardquo os ldquoexerciacutecios physicosrdquo e as

ldquoevoluccedilotildees militaresrdquo como tambeacutem abarcou a organizaccedilatildeo dos tempos e espaccedilos escolares a

distribuiccedilatildeo da luz a boa ventilaccedilatildeo do ambiente a disposiccedilatildeo e o formato do mobiliaacuterio o

nuacutemero de alunos por turma as refeiccedilotildees os recreios enfim todos os haacutebitos saudaacuteveis que

garantiriam o pleno ldquodesenvolvimento physicordquo dos alunos

trabalhador necessaacuterio agrave induacutestria que deveria ser dotado natildeo somente

de corpos ldquoerectosrdquo mas sobretudo de corpos eficientes prontos para

o trabalho em conjunto que de maneira eficaz tivesse rendimento em

forma de produto e de resultado (VAGO 2002)

Nesse sentido Carvalho (1997) apresenta argumentos para comshy

preender os discursos educacionais que no Brasil a partir do final do

seacuteculo XIX e nas primeiras quatro deacutecadas do seacuteculo XX procuraram

ldquo[] legitimar-se enquanto saber pedagoacutegico de tipo novo moderno experimental e cientiacuteficordquo (CARVALHO 1997 p 269) Assim ldquo[]

trabalha com duas metaacuteforas da disciplina - disciplina como ortopeshy

dia e disciplina como eficiecircnciardquo (CARVALHO 1997 p 269) De

acordo com a autora a partir da deacutecada de 1920 eacute possiacutevel perceber

uma sutil mudanccedila no discurso pedagoacutegico no Brasil

O resultado desse movimento eacute que a eficiecircncia passa a ser um

primado orientador para a escola Com efeito Vago (2002) amplia

que natildeo seria diferente para a ginaacutestica a qual migraria de uma preshy

ocupaccedilatildeo com a correccedilatildeo o endireitamento e a constituiccedilatildeo dos corshy

pos para uma preocupaccedilatildeo com a eficiecircncia dos gestos aliada aos

pressupostos da ldquovida modernardquo2

A partir das deacutecadas de 1940 e 1950 a ginaacutestica foi perdendo

espaccedilo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica para o esporte3 Atualmente

em muitas escolas esse conteuacutedo quando trabalhado tende a ser

abordado com praacuteticas descontextualizadas como apecircndice dos esshy

portes aquecimento relaxamento preparaccedilatildeo fiacutesica subsumindo

seu caraacuteter poliacutetico e social em suma natildeo o considerando como

patrimocircnio cultural a ser apropriado pela humanidade tal como

nos mostra Almeida (2005) Contudo pensar a ginaacutestica como

um conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute pensar em uma possibilidade

2 Sobre este assunto destacamos tambeacutem o trabalho de Schneider (2004)

3 Apoacutes a II Guerra Mundial num contexto de intensa urbanizaccedilatildeo e desenvolvimento

bdquoindustrial assistimos a um processo de esportivizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica influenciado

pela cultura europeia Neste momento a Educaccedilatildeo Fiacutesica passa a ter uma relaccedilatildeo de

subordinaccedilatildeo agrave instituiccedilatildeo esportiva tendo seus objetivos baseados na aptidatildeo fiacutesica

e iniciaccedilatildeo esportiva Os coacutedigos do Esporte de Rendimento como competiccedilatildeo

sucesso individual e rendimento satildeo incorporados pela Educaccedilatildeo Fiacutesica neste periacuteodo

demonstrando sua articulaccedilatildeo com a poliacutetica educacional tecnicista e seu papel na

reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais hegemocircnicas

de ampliaccedilatildeo cultural que deve privilegiar a formaccedilatildeo humana em

sua totalidade Como apresenta Ayoub (2003 p 87) aprender gishy

naacutestica na escola significa ldquoestudar vivenciar conhecer compreenshy

der perceber confrontar interpretar problematizar compartilhar

apreender as inuacutemeras interpretaccedilotildees da ginaacutestica e produzir novos

significados e novas possibilidades de expressatildeo giacutemnicardquo

Veremos no presente capiacutetulo que a ginaacutestica contemporacircnea

dentro e fora da escola pode estar imprimindo algumas permanecircncias

da ginaacutestica cientiacutefica do seacuteculo XIX entretanto sob uma nova roushy

pagem Essas permanecircncias podem ser percebidas tanto com relaccedilatildeo agrave

sua metodologia em grande medida enraizada na repeticcedilatildeo de gestos

padronizados quanto com relaccedilatildeo agraves finalidades a ela associadas que

sugerem uma nova leitura para a ldquocorreccedilatildeordquo e ldquoconstituiccedilatildeo dos corposrdquo

bem como para a ldquoeficiecircncia dos gestosrdquo associada ao mundo produtivo

e aos interesses da classe dominante

A ginaacutestica no processo de disciplinarizaccedilatildeo

O corpo dos indiviacuteduos como mais um instrumento da

produccedilatildeo passava a constituir uma preocupaccedilatildeo da classe

no poder Tornava-se necessaacuterio nele investir Todavia esse

investimento deveria ser limitado para que o corpo nunshy

ca pudesse ir aleacutem de um corpo de um ldquobom animalrdquo

Era preciso adestraacute-lo desenvolver-lhe o vigor fiacutesico desde

cedo disciplinaacute-lo enfim para sua funccedilatildeo na produccedilatildeo e

reproduccedilatildeo do capital (SOARES 2001a p 33)

A partir do conceito de disciplina Foucault (1987) descreve um

processo no qual satildeo formados haacutebitos costumes modos de pensar e

agir orientados para a formaccedilatildeo dos chamados corpos doacuteceis - indiviacuteduos

que podem ser submetidos utilizados transformados e aperfeiccediloados

Em suas reflexotildees o chamado ldquopoder disciplinarrdquo possui como funccedilatildeo

maior a de ldquoadestrarrdquo os indiviacuteduos fabricando sujeitos ao mesmo temshy

po produtivos economicamente e submissos politicamente

Os processos disciplinares segundo o autor assumiram no decorshy

rer dos seacuteculos XVII e XVIII formas gerais de dominaccedilatildeo diferentes

da escravidatildeo da domesticidade da vassalidade e do ascetismo por

exemplo visto que este novo contexto histoacuterico eacute o momento no qual

nasce uma arte do corpo humano que visa natildeo unicamente o aumento

de suas habilidades mas a formaccedilatildeo de uma relaccedilatildeo que no mesmo

mecanismo o torna tanto mais obediente quanto eacute mais uacutetil ldquoForma-

-se entatildeo uma poliacutetica das coerccedilotildees que satildeo um trabalho sobre o corpo

uma manipulaccedilatildeo calculada de seus elementos de seus gestos de seus

comportamentosrdquo (FOUCAULT 1987 p 119)

Nesse processo as teacutecnicas de distribuiccedilatildeo dos indiviacuteduos no espashy

ccedilo assim como o controle da atividade pela regulaccedilatildeo do tempo e pelo

adestramento dos gestos vatildeo configurando novas praacuteticas em diferentes

instituiccedilotildees Assim as faacutebricas os quarteacuteis os hospitais e tambeacutem as

escolas se configuram como locais responsaacuteveis para a disciplinarizaccedilatildeo

dos indiviacuteduos No caso do ambiente escolar essa formaccedilatildeo demandava

a manutenccedilatildeo dos alunos entre as paredes da sala de aula submetidos

ao olhar vigilante do professor o tempo suficiente para domar seu cashy

raacuteter e dar forma adequada a seu comportamento (ENGU1TA 1989)

E com esse mesmo objetivo no que se refere ao projeto de

formaccedilatildeo humana que a ginaacutestica por meio dos meacutetodos ginaacutesshy

ticos foi incorporada pelas concepccedilotildees educacionais do final do

seacuteculo XV III e iniacutecio do seacuteculo X IX (SOARES 2001a)

Regenerar a raccedila promover a sauacutede (sem alterar as condiccedilotildees

degradantes de vida) desenvolver a vontade a forccedila a ldquoenergiardquo (para

servir agrave paacutetria e agrave induacutestria) foram algumas das finalidades atribuiacutedas

agrave ginaacutestica no contexto de consolidaccedilatildeo do capitalismo na Europa A

ecircnfase na disciplinarizaccedilatildeo dos corpos acabou por delinear na educashy

ccedilatildeo escolar uma praacutetica pedagoacutegica na qual sessotildees de ginaacutestica tratashy

vam os alunos de forma homogecircnea com accedilotildees reduzidas agrave repeticcedilatildeo

de movimentos estereotipados tal como sugere Marinho (19--) ao

descrever uma liccedilatildeo de ginaacutestica orientada pelo Meacutetodo Francecircs

Para fazer executar um movimento o instrutor

comanda - ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo devendo este

comando ser substituiacutedo para as crianccedilas pela adshy

vertecircncia ldquoAtenccedilatildeordquo Se o movimento exige uma poshy

siccedilatildeo de partida o instrutor a indicaraacute lt rnminJraquo-

ldquoPosiccedilatildeordquo Enuncia o exerciacutecio e ao comando ldquoCoshy

meccedilarrdquo Todos executam o movimento prescrito As

posiccedilotildees de partida dos ldquoassouplissementsrdquo assimeacuteshy

tricos satildeo a princiacutepio tomadas agrave esquerda Termishy

nado o exerciacutecio nesta posiccedilatildeo o instrutor comanda

ldquoMudarrdquo Os alunos retornam agrave posiccedilatildeo de partida agrave

direita e executam novamente o exerciacutecio prescrito

Ao comando de ldquoCessarrdquo todo o movimento cessa

sem precipitaccedilatildeo e a posiccedilatildeo de partida eacute retomada

A posiccedilatildeo de partida soacute eacute deixada ao comando de

ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo No comando de ldquoDescanshy

ccedilarrdquo os alunos permanecem no lugar sem serem

obrigados a conservar a posiccedilatildeo primitiva e a imobishy

lidade (M A R IN H O 19- p 110-111)

Conforme explica Soares (2001a) todo o ideaacuterio colocado em

praacutetica pelo pensamento higienista do qual resulta o modelo de aula

descrito acima impocircs uma disciplina que pretendia adequar o corpo ao

trabalho fabril tornando-o mais doacutecil e submisso sob a oacutetica poliacutetica

e ao mesmo tempo mais aacutegil forte e robusto sob a oacutetica da produccedilatildeo

E importante considerar a possibilidade de o processo de dis-

ciplinarizaccedilatildeo mdash descrito por Foucault e incorporado de forma sushy

bordinada por Soares (2001a) - natildeo ter sido totalmente superado

ou seja esse fenocircmeno pode estar se apresentando ainda nos dias

de hoje de uma nova forma atualizada

Na concepccedilatildeo gramsciana todo esse processo de ldquodisciplinariza-

ccedilatildeordquo pode ser compreendido como uma tentativa - da classe domishy

nante mdash de formaccedilatildeo teacutecnica e de conformaccedilatildeo eacutetico-poliacutetica das masshy

sas com o intuito de reconfigurar o modo de vida em conformidade

com as demandas colocadas pelo modo de produccedilatildeo da existecircncia

humana em expansatildeo naquele contexto histoacuterico

Em Americanismo e Fordismo Gramsci (2001 p 251) explica

que ldquoa vida na induacutestria exige um aprendizado geralrdquo um processhy

so de adaptaccedilatildeo psicofiacutesica a determinadas condiccedilotildees de trabalho

de nutriccedilatildeo de habitaccedilatildeo de costumes de valores algo que natildeo

eacute inato natural mas exige ser adquirido Portanto a partir dessa

reflexatildeo torna-se possiacutevel compreender que no modo de produccedilatildeo

da vida em formaccedilatildeo no contexto histoacuterico de incorporaccedilatildeo dos meacuteshy

todos ginaacutesticos na escola os exerciacutecios fiacutesicos desempenhavam um

papel importante uma vez que o novo tipo de homem demandado

pelo bloco no poder deveria possuir um corpo saudaacutevel forte aacutegil

e disciplinado construiacutedo a partir da adoccedilatildeo de um novo modo de

vida E exatamente para contribuir com a formaccedilatildeo desse novo tipo

de homem que a ginaacutestica estruturada dentro ou fora da instituishy

ccedilatildeo escolar passou a constituir um dos mecanismos utilizados para

instrumentalizar a vontade adequar e reorganizar gestos e atitudes

necessaacuterios agrave reproduccedilatildeo da sociedade4

A questatildeo que necessitamos discutir refere-se agrave possibilidade

de existecircncia de um processo contemporacircneo de mesmo tipo mas

atualizado voltado agrave formaccedilatildeo de um novo modo de vida necessaacuteshy

rio agrave reproduccedilatildeo do capitalismo contemporacircneo Portanto quesshy

tionamos seraacute que a ginaacutestica contemporacircnea se relaciona com a

formaccedilatildeo de novos corpos doacuteceis A ginaacutestica hoje atende de alguma

forma aos interesses de reproduccedilatildeo da sociedade Existem elementos

contraditoacuterios que permitem uma apropriaccedilatildeo criacutetica da ginaacutestica

Longe de assumir a tarefa de esgotar as reflexotildees sobre o tema

entendemos ser necessaacuterio destacar inicialmente que as modifishy

caccedilotildees ocorridas no capitalismo a partir da deacutecada de 1970 em

resposta agrave chamada crise do keynesianismo-fordismo represenshy

taram uma mudanccedila no regime de acumulaccedilatildeo - do fordismo agrave

ldquoacumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo (HARVEY 2007) Ao modelo fordista seshy

gundo Chauiacute (2001) o bloco no poder respondeu com a terceirishy

zaccedilatildeo a desregulamentaccedilatildeo o predomiacutenio do capital financeiro

a dispersatildeo e fragmentaccedilatildeo da produccedilatildeo aleacutem da centralizaccedilatildeo

velocidade da informaccedilatildeo e da velocidade das mudanccedilas tecnoloacuteshy

gicas ao modelo keynesiano do Estado de Bem-Estar o bloco no

poder respondeu com a ideia do ldquoEstado m iacutenimordquo a desregulaccedilatildeo

do mercado a competitividade e a privatizaccedilatildeo da esfera puacuteblica

As modificaccedilotildees provenientes desse processo de reproduccedilatildeo

do capitalismo natildeo atingiram apenas a organizaccedilatildeo de grandes

______________ 4 Natildeo eacute objetivo deste texto discutir as distinccedilotildees entre Foucault e Gramsci no que diz respeito

ao conceito de disciplina Optamos por trabalhar com a vertente marxista incorporando de

lorma subordinada ao nosso referencial as contribuiccedilotildees que Foucault daacute ao tema

empresas jaacute consolidadas no mercado mas tambeacutem novos emshy

preendimentos como as academias de ginaacutestica por exemplo5

Conforme evidencia Furtado (2007) as academias vecircm acomshy

panhando a tendecircncia de implementaccedilatildeo dos elementos centrais

da acumulaccedilatildeo flexiacutevel passando a funcionar em uma dinacircmica

caracterizada pela flexibilidade pela introduccedilatildeo de equipamentos

com tecnologia cada vez mais avanccedilada pela diversificaccedilatildeo das

mercadorias oferecidas e tambeacutem pelo ldquofoco no clienterdquo que

pode ser evidenciado pela constante busca de ldquonovasrdquo ofertas e

novidades capazes de atrair e reter consumidores

As aulas de ginaacutestica saacuteo por exemplo ldquoaulas-showrdquo

com equipamentos iluminaccedilatildeo decoraccedilatildeo e sonorishy

zaccedilatildeo que favorecem ao ldquoespetaacuteculordquo e desempenham

um papel importante na seduccedilatildeo do cliente Assim

tambeacutem eacute toda a complexa estrutura que possui a acashy

demia ou seja natildeo eacute soacute a aula que deve ser um ldquoshowrdquo

e sim tambeacutem toda a academia com decoraccedilatildeo sonorishy

zaccedilatildeo iluminaccedilatildeo e equipamentos que desempenhem

funccedilotildees de encantar e atender aos desejos dos clientes

de experimentar sensaccedilotildees diversas dentre elas a sensashy

ccedilatildeo de ldquostatusrdquo (FURTADO 2007 p 311)

E interessante destacar que o formato atrativo das aulas tende a

captar de forma mais eficiente os consumidores visto que eles acabam

desconsiderando os incipientes resultados reais obtidos pela realizaccedilatildeo

das aulas de determinados programas que na verdade se sustentam

mais pelos fatores de cunho emocional do que pelos ganhos obtidos

com sua praacutetica Ao analisar as teacutecnicas de inovaccedilatildeo do empresariado

do Fitness mais especificamente um determinado programa da franshy

quia Curves Mascarenhas et al (2007) constatam que a pseudossensa-

ccedilatildeo de bem-estar sauacutede e beleza produzida pelas aulas eacute acompanhada

por um amplo e intenso processo de persuasatildeo comum agraves cartilhas

de marketing para academias Segundo os autores a base de legitima-

5 A acumulaccedilatildeo flexiacutevel eacute marcada dentre outros aspectos pela superaccedilatildeo da

rigidez caracteriacutestica do fordismo se apoiando na flexibilidade dos processos

e mercados de trabalho aleacutem dos produtos e padrotildees de consumo Para

compreender melhor como as modificaccedilotildees no regime de acumulaccedilatildeo

afetaram a aacuterea Fitness recorrer agrave Quelhas (2012)

ccedilatildeo racional tecno-cientiacutefica eacute secundarizada frente ao acreacutescimo de

inovaccedilotildees criativas de base emocional Talvez isso explique ao menos

em parte por que ainda hoje sejam consideradas bastante atrativas

algumas aulas de ginaacutestica de academia que em muito se assemelham

agraves sessotildees de ginaacutestica do seacuteculo passado Estamos nos referindo aos

atuais formatos padronizados de sessotildees de ginaacutestica que se orientam

na repeticcedilatildeo de movimentos estereotipados geralmente com mesma

intensidade a serem realizados pelos alunos em conformidade com

comandos do professor - ou de uma voz jaacute gravada a ser reproduzida

em aparelhos eletroeletrocircnicos Conforme evidenciam Toledo e Pires

(2008) alguns programas tendem a desconsiderar na aula dificuldashy

des ou niacutevel de condicionamento fiacutesico dos alunos uma vez que os

professores muitas vezes tecircm que seguir com exatidatildeo a aula desshy

crita na apostila e ensinada nos cursos assim como natildeo podem sair

da posiccedilatildeo de ldquoatores eperformersrdquo para corrigir eou dar uma atenccedilatildeo

especial ao aluno com dificuldades durante a aula As autoras mencioshy

nam por sua vez que esses elementos ao serem considerados pelos

alunos como determinantes de insatisfaccedilatildeo estatildeo sendo revistos pershy

mitindo aos professores sua modificaccedilatildeo

O incentivo ao consumo das ldquonovasrdquo modalidades de ginaacutestica

de academia ainda eacute acompanhado pela forte influecircncia da miacutedia na

organizaccedilatildeo dos valores dominantes Natildeo soacute o medo de engordar mas

uma gama de valores e comportamentos atrelados ao culto ao corpo

tem contribuiacutedo significativamente para a difusatildeo de um padratildeo a ser

almejado e - em alguns casos - para o desenvolvimento dos chamados

transtornos alimentares como a anorexia por exemplo6

Em virtude da discussatildeo realizada torna-se importante quesshy

tionar se a difusatildeo de valores responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de novos

desejos relacionados ao consumo das mercadorias a serem vendishy

das nas academias de ginaacutestica hoje se constitui como uma forma

atual de disciplinarizaccedilatildeo subordinando os indiviacuteduos aos interesshy

ses dominantes Da mesma forma a difusatildeo de receitas exerciacutecios

------------ 6 A influecircncia da miacutedia no culto ao corpo foi trabalhada por Berger (2007 2010) Sobre

anorexia destacam-se os textos de Cordas (2004) Giordani (2006) e ainda o de Niemeyer e

Kruse (2008)

ou programas de ginastica milagrosos pode estar desempenhanshy

do importante funccedilatildeo educativa sobretudo no caso das pessoas

que natildeo dominam o conhecimento necessaacuterio para criticaacute-los e

por isso acabam por aderir ao consumo de mercadorias que nem

sempre produzem o resultado desejado

Consideramos que a transmissatildeo do conhecimento historicamente

sistematizado pela humanidade sobre o tema se constitui como um passo

importante para superar esse possiacutevel processo atual de ldquoadestramentordquo

A praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a ginaacutestica

Na perspectiva que orienta este trabalho o trato pedagoacutegico com a

ginaacutestica na escola deve se articular agrave tarefa de socializaccedilatildeo das formas mais

desenvolvidas do conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico produzido

pela humanidade ao longo do tempo uma vez que possibilita aos alunos asshy

sumir uma nova postura na praacutetica social qual seja a de sujeito histoacuterico7

No caso do tema abordado neste artigo isso significa transmitir um conheshy

cimento que permita aos alunos assumir uma nova relaccedilatildeo com a ginaacutestica

Compreendendo que o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos

corpos se constitui como um possiacutevel tema a ser trabalhado na

escola desenvolvemos um trabalho pedagoacutegico orientado pela

Pedagogia histoacuterico-criacutetica com uma turma (composta por 30

alunos de ambos os sexos) do segundo ano do Ensino Meacutedio no

Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste

de Minas Gerais (IF Sudeste M G ) Campus Juiz de Fora8 A seshy

7 A respeito disso ver Coletivo de Autores (1992)

8 Essa experiecircncia foi resultado de um Estaacutegio Curricular Obrigatoacuterio desenvolvido em

2011 quando Nathaacutelia Sixel Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees cursavam

a Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacutesica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Tal experiecircncia deu origem a um Trabalho de Conclusatildeo de Curso (MAGALHAtildeES

RODRIG UES 2011) orientado por Leonardo Docena Pina na eacutepoca professor substituto

da FACED-UFJF As discussotildees realizadas entre os acadecircmicos o orientador e Miguel Fabiano

de Faria professor da turma do IF Sudeste M G que recebeu os estagiaacuterios demandaram a

continuidade do estudo abordando novas reflexotildees que naquela ocasiatildeo natildeo puderam ser

feitas O presente texto portanto parte da experiecircncia de estaacutegio mas natildeo se limita a este uma

vez que elaboramos outro plano de trabalho para englobar novas dimensotildees do conteuacutedo natildeo

abordadas naquela ocasiatildeo Para facilitar a compreensatildeo dos aspectos didaacuteticos expostos neste

texto apresentaremos o planejamento mais elaborado como experiecircncia jaacute desenvolvida

guir apresentamos a experiecircncia desenvolvida a partir dos passos

metodoloacutegicos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica

Na identificaccedilatildeo da praacutetica social buscamos debater as seguintes

questotildees a ginaacutestica de hoje eacute igual agrave de antigamente Ela sofre influecircnshy

cia da miacutedia Existem diferenccedilas entre as praacuteticas de ginaacutestica voltadas

para a esteacutetica ou para a sauacutede Ginaacutestica promove sauacutede Qualquer

exerciacutecio que praticamos faz nosso corpo ldquoqueimarrdquo gordura Em seshy

guida os alunos foram informados de que estudariacuteamos algumas reshy

laccedilotildees entre ginaacutestica e sociedade ao longo da histoacuteria a partir de um

meacutetodo de apreensatildeo da realidade que tem o objetivo de transformar a

sociedade em que vivemos Os seguintes toacutepicos foram apresentados a

importacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise dos discurshy

sos da sauacutede e da esteacutetica a ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do

seacuteculo XIX aos dias de hoje a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos

desejos e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave

ginaacutestica introduccedilatildeo aos fundamentos cientiacuteficos do treinamento car-

diorrespiratoacuterio Cada um desses toacutepicos foi apresentado em conjunto

com os objetivos formulados sistematizados no plano de unidade

Ainda neste momento buscou-se identificar o que os alunos jaacute

sabiam sobre o tema Eles identificaram a praacutetica da ginaacutestica como

importante para a sauacutede e apontaram os ldquoobjetivos esteacuteticosrdquo como

influecircncia para aderir agrave praacutetica de ginaacutestica poreacutem natildeo demonstrashy

ram compreender o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

O processo de aprimoramento da compreensatildeo dos alunos

sobre o tema foi direcionado por questionamentos referentes agraves

suas respectivas dimensotildees conforme apresentado na problema-

tizaccedilatildeo disposta no plano de unidade

Para transmitir os conhecimentos necessaacuterios agrave compreenshy

satildeo das questotildees levantadas na problematizaccedilatildeo optou-se por

trabalhar na instrumentalizaccedilatildeo com atividades embasadas prinshy

cipalmente nas discussotildees apresentadas em Soares (1998) Soshy

ares (2001a) Angulski et al (2006) e Mcardle Katch e Katch

(2003) Aleacutem de aulas expositivas trabalhamos o conteuacutedo por

meio de vivecircncia praacutetica da ginaacutestica

Iniciamos esra fase com uma exposiccedilatildeo que abordou a evoluccedilatildeo

da Ginaacutestica ao longo da Histoacuteria enfatizando as formas originais de

disciplinarizaccedilatildeo Ou seja nos concentramos nos Meacutetodos Ginaacutesticos

e discutimos sua influecircncia na configuraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica em

meados do seacuteculo XIX Logo apoacutes a exposiccedilatildeo uma vivecircncia praacutetica

foi realizada (nos moldes do Meacutetodo Francecircs) de modo a ampliar

a compreensatildeo da forma como era trabalhado esse conteuacutedo antishy

gamente aleacutem de buscar novos elementos para enriquecimento da

discussatildeo sobre a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Para discutir a expressatildeo contemporacircnea dessa produccedilatildeo cultural

apresentamos diferentes tipos de praacuteticas de ginaacutestica para vivecircncia e

posterior discussatildeo dos objetivos que levam as pessoas a praticaacute-las

esteacutetica ou sauacutede Salientamos neste momento alguns benefiacutecios da

ginaacutestica para a qualidade de vida e se esses estatildeo tambeacutem ligados agrave

esteacutetica O aprimoramento da compreensatildeo dos alunos sobre os beshy

nefiacutecios da ginaacutestica tambeacutem foi acompanhado por uma exposiccedilatildeo

dos modos de afericcedilatildeo da frequecircncia cardiacuteaca e das diferentes zonas

de treinamento e consumo de substratos energeacuteticos Assim pudemos

vivenciar algumas praacuteticas de ginaacutestica controlando a intensidade do

exerciacutecio de acordo com diferentes zonas alvo estipuladas Por fim

ainda na discussatildeo sobre esse tema buscamos situar a sauacutede e a qualishy

dade de vida como questotildees sociais a partir de uma exposiccedilatildeo seguida

da discussatildeo de reportagens previamente selecionadas

Ainda na instrumentalizaccedilatildeo apoacutes leituras indicadas para os alushy

nos realizarem em casa discutimos a influecircncia da miacutedia na praacutetica

de ginaacutestica nos modelos de corpo e nas accedilotildees para obtecirc-los Em

seguida elaboramos paineacuteis com recortes e reportagens de revistas

problematizando o tema Cada grupo apresentou seu painel ao final

Para explicitar a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy

naacutestica em sua expressatildeo contemporacircnea acreditamos que eacute posshy

siacutevel discutir a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos

e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave

ginaacutestica Aleacutem do mais a vivecircncia (seguida da problematizaccedilatildeo)

de alguns programas de ginaacutestica vendidos nas academias hoje

0

permite ao aluno compreender possiacuteveis traccedilos de disciplinariza-

ccedilaacuteo que se mantecircm ainda que de forma renovada

Ao final das atividades na catarse foi possiacutevel identificar que granshy

de parte dos alunos manifestou uma nova compreensatildeo da relaccedilatildeo exisshy

tente entre a ginaacutestica e a Educaccedilatildeo Fiacutesica nos diferentes momentos

da histoacuteria A nova maneira de entender o conteuacutedo mostrou-se mais

elaborada com domiacutenio de conceitos e entendimento de implicaccedilotildees

da sociedade na ginaacutestica e da ginaacutestica na sociedade Desafiados a sinshy

tetizar o que aprenderam os alunos se aproximaram do entendimenshy

to de que a ginaacutestica eacute uma atividade corporal que no seacuteculo XJX

atraveacutes dos meacutetodos ginaacutesticos atrelou-se agrave eugenia higiene assentada

no discurso da melhoria da sauacutede dos trabalhadores e da elevaccedilatildeo da

eficiecircncia no processo de produccedilatildeo No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre

ginaacutestica e qualidade de vida expressaram que a ginaacutestica isoladamente

natildeo garante melhora da sauacutedequalidade de vida pois estas estatildeo aliashy

das ao acesso agrave habitaccedilatildeo atendimento meacutedico transporte garantia

de emprego condiccedilotildees de trabalho seguras saneamento baacutesico e alishy

mentaccedilatildeo de qualidade dentre outros Enfatizaram o entendimento de

que a ginaacutestica tem desempenhado um papel secundaacuterio nas praacuteticas

de Educaccedilatildeo Fiacutesica no entanto tem sido objeto de ldquomercado rizaccedilatildeordquo

no cotidiano dos indiviacuteduos influenciados pela miacutedia A ginaacutestica soshy

bretudo sua praacutetica na busca de um padratildeo de corpo ideal tambeacutem

foi discutida sendo os meios iliacutecitos e exagerados como anabolizan-

tes esteroides dietas excessivas apontados como agentes nocivos que

poderiam levar a doenccedilas como a vigorexia anorexia e bulimia Neste

momento tambeacutem puderam se aproximar do entendimento de que dishy

ferentes intensidades nos exerciacutecios produzem efeitos distintos no nosso

corpo E ainda que a intensidade do exerciacutecio pode ser mensurada

atraveacutes da frequecircncia cardiacuteaca de maneira faacutecil e funcional9

Para os alunos expressarem a siacutentese a que ascenderam utilizamos

um trabalho final no qual foi proposto um ldquoquizrdquo educativo seguido

de uma discussatildeo o que permitiu abordar todo conteuacutedo trabalhado4

9 Naquela ocasiatildeo natildeo foi possiacutevel aprofundar o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

em suas formas contemporacircneas razatildeo que nos limitou a trabalhar apenas com as formas

originais desse processo conforme mencionado anirrinrmfnrraquo

A finalizaccedilatildeo das atividades na praacutetica social final envolveu a deshy

finiccedilatildeo de intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo no sentido de explicitar que a

apropriaccedilatildeo do conhecimento historicamente elaborado sobre a ginaacutesshy

tica possibilita aprimorar a atuaccedilatildeo na praacutetica social contribuindo para

uma postura criacutetica frente o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos10

Plano de unidade

A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Instiuiccedilatildeo Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia

Juiz de Fora

Disciplina Educaccedilatildeo Fiacutesica

Ano de escolaridade turma 2o ano do ensino meacutedio

Conteuacutedo Ginaacutestica

Unidade A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Nuacutemeros de aulas 8-10

OBJETIVOS GERAIS

bull Identificar a sauacutede e a esteacutetica como elementos centrais nos

discursos dominantes atualmente sobre a importacircncia da

praacutetica de ginaacutestica de modo a reconhecer suas implicaccedilotildees

sociais

bull Compreender o papel desempenhado pelos Meacutetodos

Ginaacutesticos na educaccedilatildeo dos corpos no seacuteculo XIX a fim

de enumerar possiacuteveis elementos de continuidaderuptura

em relaccedilatildeo agrave praacutetica de ginaacutestica em academias atualmente

bull Refletir sobre a influecircncia da miacutedia no incentivo ao

consumo de mercadorias relacionadas agrave ginaacutestica de

modo a posicionar-se criticamente diante das formulaccedilotildees

predominantes

10 Quadro detalhado sobre as intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo encontra-se no planejamento

apresentado a seguir

bull Conhecer alguns princiacutepios baacutesicos do treinamento

cardiorrespiratoacuterio para aplicaacute-los em suas praacuteticas corporais

e utilizaacute-los na anaacutelise das receitas milagrosas difundidas

atualmente

1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL

11 Anuacutencio dos conteuacutedos

Conteuacutedo ginaacutestica

Tema A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Toacutepicos

bull A im portacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise

dos discursos da sauacutede e da esteacutetica

bull A ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do seacuteculo X I X aos

dias de hoje

bull A influecircncia da m iacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos e

necessidades para o consum o de mercadorias relacionadas agrave

ginaacutestica

bull Introduccedilatildeo aos fundam entos cientiacuteficos do treinam ento

cardiorrespiratoacuterio

12 Vivecircncia do conteuacutedo

bull O que os alunos sabem ginaacutestica emagrece faz bem agrave sauacutede

haacute diferentes formas praticada em diferentes lugares

bull O que os alunos gostariam de saber todo exerciacutecio fiacutesico

eacute ginaacutestica Por quanto tempo preciso praticar ginaacutestica

para emagrecer Musculaccedilatildeo eacute ginaacutestica Como ficar com o

corpo igual aos praticantes de ginaacutestica competitiva Todas

as pessoas podem praticar todos os tipos de ginaacutestica Como

a ginaacutestica pode favorecer a prevenccedilatildeo de doenccedilas

2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO

21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo

A ginaacutestica de hoje eacute igual a de antigamente Ela sofre influecircncia da

miacutedia Existem diferenccedilas entre a praacutetica voltada agrave esteacutetica ou agrave sanrW

22 Dimensotildees do conteuacutedo

Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

D IM E N S Otilde E S Q U E ST Otilde E S P R O B L E M A T IZ A D O R A S

Conceituai

O que eacute ginaacutestica A ginaacutestica voltada para a sauacutede ou para a esteacutetica

se configura da mesma forma Toda ginaacutestica tem as mesmas caracteshy

riacutesticas O que eacute frequecircncia cardiacuteaca e qual sua relaccedilatildeo com as diferenshy

tes imensidades do exerciacutecio fiacutesico Quais sinais emitidos pelo nosso

corpo nos permitem estimar a queima ou natildeo de gordura O que eacute

disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Econocircmica

0 padratildeo de corpo perfeito tem alguma utilidade econocircmica Todos

tecircm condiccedilotildees de usufruir das possibilidades que o mercado oferece para

a melhora da qualidade de vida da populaccedilatildeo O desejo crescente pela

busca de novas modalidades de ginaacutestica de academia tem funccedilatildeo ecoshy

nocircmica importante nos dias de hoje

Histoacuterica

A ginaacutestica sempre se apresentou da mesma forma ao longo da hisshy

toacuteria H aacute diferenccedilas e semelhanccedilas entre a praacutetica de antigamente

e a atual Qual a funccedilatildeo atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto de sua

inserccedilatildeo na escola

CulturalCom o a miacutedia influencia nossos haacutebitos A miacutedia influenciava as

praacuteticas de ginaacutestica antigamente tambeacutem

Esteacutetica

Sempre existiu padratildeo de corpo A m iacutedia difundia algum padratildeo

de corpo antigamente A praacutetica de ginaacutestica tem sido realizada

somente para a obtenccedilatildeo de um corpo belo Essa difusatildeo de um

padratildeo de corpo ideal cria na populaccedilatildeo desejos e imagens sobre

seus proacuteprios corpos

Poliacutetica

A praacutetica de ginaacutestica por si soacute favorece a melhoria da sauacutede da

populaccedilatildeo de forma isolada ou outros fatores como renda morashy

dia emprego transporte atendimento meacutedico e alimentaccedilatildeo satildeo

importantes

Teacutecnica

Com o aferir a frequecircncia cardiacuteaca Com o identificar a intensidade dos

exerciacutecios Com o definir as zonas de treinamento a partir da afericcedilatildeo

da frequecircncia cardiacuteaca Quais satildeo os gestos que definem os movimenshy

tos da ginaacutestica

7onte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

31 Accediloacutees docentes e discentes

bull Exposiccedilatildeo do professor

bull Vivecircncia de diferentes formas de ginaacutestica passando dos

Meacutetodos Ginaacutesticos agraves modalidades contemporacircneas de

ginaacutestica de academia

bull Discussatildeo de textos com os alunos

bull Visualizaccedilatildeo anaacutelise e debate de documentaacuterioreportagem

em viacutedeo

bull Vivecircncia praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos mdash aferindo a frequecircncia

cardiacuteaca de si mesmo e do companheiro aleacutem de controlar

a zona alvo em diferentes intensidades

bull Elaboraccedilatildeo de painel com recortes e reportagens de jornais

eou revistas

32 Recursos materiais

Jornais revistas internet slides e materiais para praacutetica de gishy

naacutestica

4) CATARSE

41 Siacutentese teoacuterica do aluno

Com o desenvolvimento da sociedade capitalista na Europa

do seacuteculo XIX a Ginaacutestica Cientiacutefica ou Meacutetodos Ginaacutesticos acashy

baram por assumir a funccedilatildeo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos Para

subordinar poliacutetica e economicamente os indiviacuteduos agraves exigecircncias

das relaccedilotildees sociais dominantes naquele contexto a ginaacutestica foi

inclusive inserida nas escolas onde era praticada atraveacutes de exershy

ciacutecios padronizados com pouco ou nenhum espaccedilo para reflexotildees

dos alunos que deveriam executar os movimentos conforme os

comandos do professor (instrutor) Assim buscava-se contribuir

para formar sujeitos produtivos economicamente e ao mesmo

empo submissos politicamente capazes de contribuir para o de-

envolvimento das relaccedilotildees sociais que se aprofundavam na eacutepoca

Ao longo da histoacuteria a ginaacutestica passou por inuacutemeras trans-

ormaccedilotildees e atualmente seu viacutenculo com o discurso da promoshy

ccedilatildeo da sauacutede e da esteacutetica tem lhe garantido a manutenccedilatildeo de

am status privilegiado dentre as manifestaccedilotildees da cultura corposhy

ral Poreacutem se antigamente a educaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy

naacutestica visava formar um homem forte e apto ao trabalho fabril

atualmente a ginaacutestica parece atrelada a um processo educativo

voltado ao consumo desenfreado de mercadorias sejam as ldquonovasrdquo

modalidades oferecidas nas academias ou os diversos produtos que

visam agrave obtenccedilatildeo de um padratildeo de corpo ideal

Enquanto a busca desenfreada pelo padratildeo de corpo perfeito

acaba por influenciar transtornos como anorexia vigorexia e buli-

mia o discurso orientado na relaccedilatildeo (direta) entre praacutetica de ginaacutestishy

ca e obtenccedilatildeo da sauacutede acaba por mascarar o fato de que a qualidade

de vida e a sauacutede satildeo conceitos que envolvem condiccedilotildees de vida

como habitaccedilatildeo emprego condiccedilotildees de trabalho atendimento meacuteshy

dico de qualidade alimentaccedilatildeo dentre outros

A anaacutelise do processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes

da ginaacutestica e a apropriaccedilatildeo dos fundamentos baacutesicos do treinashy

mento cardiorrespiratoacuterio nos auxiliam no desenvolvimento de

uma postura criacutetica com a ginaacutestica a sociedade contemporacircnea e

seus discursos predominantes sobre o tema

42 Expressatildeo da siacutentese

Realizaccedilatildeo de prova e participaccedilatildeo em um quiz educativo ambos

abordando todo conteuacutedo estudado

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO

Quadro 2 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

1 Conhecer mais sobre a ginaacutestica1 Leitura de revistas e artigos soshy

bre ginaacutesticas

2 Discutir o comportamento dos inshy

diviacuteduos e suas praacuteticas de ginaacutestica

de acordo com seus objetivos sauacutede

eou esteacutetica

2 Observar e perguntar aos memshy

bros da sua comunidade se pratishy

cam e por que praticam ginaacutestica

e informaacute-los de seus limites e beshy

nefiacutecios

3 Posicionar-se criticamente sobre a

influecircncia da miacutedia nas praacuteticas de gishy

naacutesticas atuais

3 Numa discussatildeo sobre a gishy

naacutestica manifestar sua opiniatildeo

argumentando a favor ou contra

de acordo com o conhecimento

adquirido criticar a difusatildeo do

padratildeo de corpo ideal

4 Difundir o entendimento de que

outros fatores interferem na qualishy

dade de vida dos indiviacuteduos aleacutem da

ginaacutestica

4 Explicar a outras pessoas que

fatores como acesso agrave habitaccedilatildeo

atendimento meacutedico transporte

garantia de emprego condiccedilotildees

de trabalho seguras saneamento

baacutesico e alimentaccedilatildeo de qualidashy

de tambeacutem interferem na qualishy

dade de vida da populaccedilatildeo aleacutem

da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos

5 Realizar exerciacutecios na intensidade

de acordo com seus objetivos

5 Controlar sua frequecircncia cardiacute

aca durante a praacutetica de ginaacutestica e

demais exerciacutecios fiacutesicos

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees Finais

Este texto buscou apresentar uma experiecircncia pedagoacutegica na qual

a ginaacutestica foi trabalhada na escola sob orientaccedilatildeo da Pedagogia his-

toacuterico-criacutetica Destacamos que essa experiecircncia deve ser vista com um

olhar mais profundo pois cada escola tem caracteriacutesticas especiacuteficas e

singularidades que podem facilitar ou dificultar o processo pedagoacutegico

Vale ressaltar que a experiecircncia descrita natildeo esgota as inuacutemeras

possibilidades de trabalho a serem desenvolvidas com o tema ou com

a ginaacutestica Da mesma forma o conhecimento transmitido se constishy

tui apenas como parte do amplo leque de conhecimentos necessaacuterios

para o desenvolvimento de uma leitura criacutetica da realidade

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CAPIacuteTULO VIII

0 LUGAR E HORA DO CIRCO NA ESCOLA REFLEXOtildeES SOBRE A REINVENCcedilAtildeO DA CULTURA CIRCENSE NA SOCIEDADE CONTEMPORAcircNEA

Adriano de Paiva Reis

Carla Cristina Carvalho Pereira

Frederico Duarte Gomes Tostes

Haacute sempre um pouco de circo no corashy

ccedilatildeo de toda crianccedila Haacute sempre um pouco de

crianccedila no coraccedilatildeo de todo adulto Dentro de

noacutes despertam ecos as faceacutecias do palhaccedilo o

encanto da bailarina a cavalo as proezas do

trapeacutezio o destemor do homem que enfrenta

leotildees e tigres O fasciacutenio que aureola nossas

recordaccedilotildees vem do resto de infacircncia que -

felizmente - ainda ficou em noacutes E enquanto

houver ressoando alegre e contagiante um

riso de crianccedila haveraacute sempre um grito enshy

tusiaacutestico pronto a explodir - Viva o circo

(RUIZ 1987)

A arte circense eacute para muitos estudiosos

considerada uma das manifestaccedilotildees culturais

mais tradicionais do mundo Sobrevivendo de

geraccedilatildeo a geraccedilatildeo o circo vem perdurando no

tempo Maacutegicos trapezistas malabaristas pashy

lhaccedilos domadores e encantadores de animais

selvagens o fasciacutenio despertado pelo circo traz

encantamento e mexe com o imaginaacuterio do

homem haacute anos independente da idade

Marginalizada durante muito tempo as atividades circenses

hoje viraram nicho de mercado O circo vem ocupando cada vez

mais espaccedilo e ganhando maior visibilidade nos dias atuais seja

em academias de ginaacutesticas clubes escolas para formaccedilatildeo de cirshy

censes semaacuteforos dentre outros

Embora a produccedilatildeo teoacuterica a respeito do tema tenha crescido a

partir do iniacutecio dos anos 2000 e um nuacutemero significativo de artigos

sobre esse conteuacutedo esteja sendo publicado nos principais perioacutedishy

cos de Educaccedilatildeo Fiacutesica do paiacutes a maior parte dos trabalhos limita-se

ao resgate histoacuterico tendo em vista a preservaccedilatildeo do circo enquanto

patrimocircnio cultural ou a relatos de experiecircncias desenvolvidas

A inclusatildeo do circo nos curriacuteculos escolares eacute justificada

2 m muitos casos a partir do provaacutevel desenvolvimento das cashy

pacidades fiacutesicas agilidade resistecircncia cardiovascular equiliacutebrio

ldquohabilidades motorasrdquo em geral Ainda satildeo destacados aspectos

omo autoconhecimento automotivaccedilatildeo e superaccedilatildeo dos medos

ileacutem de cooperaccedilatildeo socializaccedilatildeo interaccedilatildeo ajuda muacutetua criashy

ratildeo de viacutenculo afetivo alegria espontacircnea e consciecircncia corpo-

al1 Embora possam ser considerados importantes entendemos

jue tais elementos por si soacute natildeo justificam a presenccedila desse

onteuacutedo na educaccedilatildeo escolar

A nosso ver a inclusatildeo das atividades circenses nos curriacuteculos

scolares articula-se ao que consideramos ser o papel da escola

[uai seja o ldquode socializaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico filosoacutefi-

o e artiacutestico produzido pela humanidade atraveacutes dos tempos em nas formas mais elevadasrdquo (EIDT DUARTE 2007 p 54 grifo

to autor) E imprescindiacutevel compreender as atividades circenses

nquanto produto da atividade humana um resultado do desen-

olvimento histoacuterico que precisa ser apropriado Cada um dos

lementos que constituem o circo (malabarismo equilibrismo

laacutegica etc) eacute carregado de sentidos e significados construiacutedos

istoricamente e modificados socialmente identificando assim o

Costa Tiaen e Sambugari (2007) Bortoleto (2003) Silva (1996) Silva e

Cacircmara (2009) Duprat e Bortoleto (2007)

homem como produtor e transformador da cultura Cabe agrave escoshy

la trabalhar com esse conteuacutedo contextualizando-o problemati-

zando-o estabelecendo correlaccedilotildees pertinentes entre as atividades

circenses e o processo histoacuterico em que se desenvolveram desmis-

tificando algumas modificaccedilotildees pelas quais passou ao longo dos

tempos Assim torna-se possiacutevel articular o ensino das atividades

circenses com a formaccedilatildeo do sujeito histoacuterico consciente da neshy

cessidade de superaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo

O desafio a ser superado eacute a construccedilatildeo de propostas pedagoacutegishy

cas viaacuteveis consistentes e coesas que contribuam para uma anaacutelise

criacutetica e uma compreensatildeo abrangente do universo circense visando

[] desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre o

acervo de formas de representaccedilatildeo do mundo que o

homem tem produzido no decorrer da histoacuteria exshy

teriorizadas pela expressatildeo corporal jogos danccedilas

lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte malabarismo

contorcionismo miacutemica e outros que podem ser

identificados como formas de representaccedilatildeo simshy

boacutelica de realidades vividas pelo homem historicashy

mente criadas e culturalmente desenvolvidas (C O shy

LETIVO DE AUTORES 1992 p 38)

Nesta perspectiva defendemos que as atividades circenses poshy

dem ser encaradas como um conteuacutedo especiacutefico extrapolando

algumas anaacutelises que a entendem enquanto parte constituinte da

ginaacutestica Apesar de determinados elementos como as acrobacias

apresentarem similaridades com o conteuacutedo da ginaacutestica fica evishy

dente que o processo com que esses elementos se apresentam denshy

tro do universo do circo eacute bem diferente daquele onde surgiu e

se desenvolveu a ginaacutestica2 Aleacutem disso outros elementos como

o palhaccedilo e as maacutegicas natildeo podem ser compreendidos enquanto

movimentos giacutemnicos e no nosso entendimento omiti-los seria

uma forma de fragmentar o conhecimento a respeito do circo

2 De acordo com Soares (2005) as acrobacias circenses influenciaram a

Ginaacutestica Francesa meacutetodo desenvolvido a partir da ordenaccedilatildeo e organizaccedilatildeo

de movimentos de acrobatas funacircmbulos e saltimbancos de maneira a

produzir maior eficiecircncia e economizar eneraia

A produccedilatildeo da arte circense como modo de vida

A arte circense eacute considerada uma das manifestaccedilotildees culturais mais

antigas do mundo sendo impossiacutevel precisar sua origem Sabe-se que

as modalidades circenses que hoje conhecemos decorrem de praacuteticas

que foram surgindo em momentos contextos e lugares diferentes a

partir dos costumes de uma regiatildeo ou paiacutes com o objetivo de entreter

louvar ou homenagear a deuses valorizar conquistas de guerras ou satildeo

corporificadas a partir da necessidade do homem de adestrar animais

para auxiacutelio no transporte ou em atividades de trabalho

O circo ldquomodernordquo como espetaacuteculo pago uma lona cobrindo um

picadeiro onde se apresentam trapezistas malabaristas equilibristas eacute

muito recente e seria por assim dizer a forma moderna de um antiquiacutesshy

simo entretenimento de diversos povos e culturas (TORRES 1998) A

estrutura do circo moderno remonta ao seacuteculo XVIII quando o inglecircs

Philip Astley ex-oficial da Cavalaria Britacircnica criou um espetaacuteculo de

equilibrismo equestre apresentado numa pista circular O espetaacuteculo criashy

do por Astley apresentava uma estrutura que atendia a um puacuteblico espeshy

ciacutefico da sociedade o rigor a postura e a elegacircncia da arte equestre consshy

tituiacuteam um siacutembolo de status social e muito agradavam a aristocracia

Entretanto os grupos circenses da eacutepoca comeccedilaram a notar que

as apresentaccedilotildees ganhariam muito mais espectadores se conseguissem

atingir uma classe social emergente naquela eacutepoca a burguesia Foshy

ram entatildeo incorporados outros artistas mdash funambulescos malabarisshy

tas acrobatas saltadores e adestradores de animais3 - que desafiavam

os limites corporais e morais e o espetaacuteculo foi reorganizado de forma

que pudesse ser mais atrativo (DUPRAT 2007)

3 Apesar dos animais historicamente participarem do espetaacuteculo circense a legislaccedilatildeo atual

vem restringindo sua utilizaccedilatildeo Aleacutem do Decreto ndeg 2464534 referente a maus tratos e

crueldade aos animais a Lei de Proteccedilatildeo agrave Fauna (Lei 519767) prevecirc pena de reclusatildeo para

casos de animais silvestres mantidos em locais sem higiene sujeitados a trabalhos insalubres

alimentaccedilatildeo inadequada ou insuficiente dentre outros A Portaria 10894 regulamenta as

condiccedilotildees para a estadia dos animais em zooloacutegicos e circos cabendo agraves prefeituras autorizarem

ou natildeo a fixaccedilatildeo de circos que utilizem animais em seus nuacutemeros Este eacute um ponto bastante

polecircmico pois apesar dos ambientalistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos

alegando maus tratos mdash seja nos meacutetodos de adestramento ou pelo fato de retiraacute-los de seu

habitat natural mdash haacute quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute crueldade e

tampouco insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais

Contraditoriamente na Europa receacutem-industrializada do

seacutec XIX o universo gestual caracteriacutestico do circo apresentava

liberdade e descompromisso contrariando o pensamento burguecircs

da eacutepoca que defendia a utilidade de qualquer atividade fora do

mundo do trabalho Contrapondo-se agrave liberdade e ao luacutedico das

atividades circenses primava-se pelos exerciacutecios fiacutesicos cuidadoshy

samente pensados para finalidades especiacuteficas a partir dos grupos

musculares e de funccedilotildees orgacircnicas (SOARES 2005)

O circo permitia agrave plateia transitar do maacutegico e fascinante agrave

aberraccedilatildeo despertando os mais ambiacuteguos sentimentos Acrobatas

trapezistas e funacircmbulos desafiavam as leis da fiacutesica desprezando o

peso de seus corpos enquanto homens domavam animais selvagens

engoliam fogo faziam reviver animais mortos aleacutem de exibirem deshy

formaccedilotildees fiacutesicas Esses estrangeiros nocircmades fascinantes artistas cirshy

censes eram cada vez mais temidos pela elite dirigente pois

traziam o corpo como espetaacuteculo Invertiam a ordem

das coisas Andavam com as matildeos lanccedilavam-se ao

espaccedilo contorciam-se e encaixavam-se em potes cm

cestos imitavam bichos vozes produziam sons com

as mais diferentes partes do corpo cuspiam fogo

vertiam liacutequidos inesperados gargalhavam viviam

em grupos Opunham-se assim aos novos cacircnones

do corpo acabado perfeito fechado limpo e isolado

que a ciecircncia construiacutera da vida fixa e disciplinada

que a nova ordem exigia (SOARES 2005 p 25)

Como eram rentaacuteveis os espetaacuteculos circenses proliferaram-se

por toda a Europa com um crescente nuacutemero de grupos de artistas

apresentando-se na sua maioria em instalaccedilotildees fixas ao ar livre ou

em anfiteatros adaptados o que demonstra grande influecircncia do

circo nas formas de divertimento e entretenimento da populaccedilatildeo e

da burguesia crescente Satildeo estas companhias que emigraram mais

tarde para outros continentes (SILVA 2003 DUPRAT 2007)

E nos Estados Unidos que a arena do circo ganha um mastro

central e uma tenda surgindo os moldes do ldquocirco americanordquo ou

circo de lona Nas matildeos de PhineasTaylor Barnum mdash homem de neshy

goacutecios e eficiente publicitaacuterio a enorme tenda colorida aleacutem de

proporcionar maior conforto aos espectadores tornou-se uma exceshy

lente forma de divulgar e vender o espetaacuteculo Ao mudar de cidade

toda a estrutura era desmontada e levada pelo grupo

Com a possibilidade de adquirirem maior mobilidashy

de aliada agrave incorporaccedilatildeo de artistas dos vaacuterios paiacuteses

por onde passava o circo consolidava-se como um

espaccedilo de muacuteltiplas linguagens artiacutesticas que pressushy

punha todo um conjunto de saberes definidores de

novas formas de produccedilatildeo e organizaccedilatildeo de espetaacuteshy

culo animais mistura de nacionalidades acrobacias

nuacutemeros aeacutereos magia shows de variedades represhy

sentaccedilotildees teatrais com pantomimas e entradas de

palhaccedilos com ou sem diaacutelogo Para os defensores do

ldquocirco purordquo era um espetaacuteculo ecleacutetico demais que

mais parecia music hall um teatro de variedades do

que circo Apesar das criacuteticas e debates em torno dos

espetaacuteculos circenses a montagem e produccedilatildeo dos

mesmos continham as principais formas de expresshy

sotildees artiacutesticas contemporacircneas apresentando um reshy

sultado que misturava music hall variedades teatro

(cenas cocircmicas pantomimas operetas) ginaacutestica

acrobacia e animais (SILVA 2007 p 51)

Este modo de organizaccedilatildeo pressupunha certas caracteriacutesticas

definidoras e distintivas do grupo circense como o nomadismo e

uma forma coletiva de constituiccedilatildeo do profissional artista baseada

na transmissatildeo oral do conjunto de saberes e praacuteticas acumuladas a

partir da vivecircncia na lona A organizaccedilatildeo familiar era a base de susshy

tentaccedilatildeo do circo inclusive no que se refere agraves relaccedilotildees de trabalho

Era comum que todos soubessem um pouco de todos os aspectos

que envolviam aquela produccedilatildeo desde a rotina diaacuteria do circo - como

armar e desarmar a tenda preparar os nuacutemeros e peccedilas de teatro

cuidar dos animais limpeza do ambiente dentre outros mdash ateacute as teacutecshy

nicas ou habilidades especiacuteficas da apresentaccedilatildeo As crianccedilas cabia a

responsabilidade de preservar a tradiccedilatildeo Por causa da vida nocircmade

eram alfabetizadas nas escolas das cidades por onde o circo passava ou

por uma pessoa do proacuteprio circo Aqueles que natildeo nasciam no circo

mas que a ele se incorporavam passavam pelo mesmo ritual de aprenshy

dizagem ao qual passavam os menores

O circo no tempo da induacutestria do entretenimento

Essa estrutura do circo tradicional comeccedilou a sofrer alguma alteshy

raccedilatildeo jaacute na deacutecada de 1920 na entatildeo Uniatildeo Sovieacutetica4 mas eacute a partir

dos anos de 1970 entretanto que consolidou-se um movimento de

reestruturaccedilatildeo do circo - fruto do envolvimento de artistas de diversas

origens em paiacuteses da Europa Ocidental Austraacutelia Canadaacute e Brasil

fazendo com que o ensino das artes circenses extrapolasse o reduto da

lona e quebrasse assim uma de suas grandes tradiccedilotildees a transmissatildeo

de conhecimento de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SILVA ABREU 2009)

O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy

ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX aleacutem da facilishy

dade de acesso agrave informaccedilatildeo e da fluidez da cultura no entanto

ocasionaram uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves

apresentaccedilotildees circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios

e dos terrenos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidashy

des mdash a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de

uma poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que

inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais O

fato eacute que nos anos de 1970 havia mais de 2000 companhias cirshy

censes espalhadas pelo Paiacutes e em 2009 esse nuacutemero era estimado

em 500 circos de pequeno meacutedio e grande porte5

Circenses tradicionais preocupados com o futuro encaminham

seus filhos para a vida urbana fora das lonas Escolas de circo passaram

a formar novos artistas rompendo-se a relaccedilatildeo de ldquopertencimentordquo agrave trashy

diccedilatildeo circense O modelo familiar de circo sofreu uma ruptura abrindo

espaccedilo para o que se conhece atualmente como Circo Novo

4 Na deacutecada de 1920 logo apoacutes a Revoluccedilatildeo Russa iniciou-se na antiga Uniatildeo Sovieacutetica

um movimento de construccedilatildeo de escolas de circo para fora da lona ou para fora do

grupo familiar circense a partir da nacionalizaccedilatildeo do circo e dos teatros pelo governo

sovieacutetico (DUPRAT 2007) Apesar de natildeo ser objetivo deste artigo discutir o contexto

histoacuterico e poliacutetico desse fato natildeo podemos deixar de mencionaacute-lo por constituir a

primeira experiecircncia de uma escola de circo fora do processo de formaccedilatildeosocializaccedilatildeo

aprendizagem que sempre foi dado sob a lona

f5 Dados obtidos no site do Ministeacuterio da Cultura Disponiacutevel em lthttpwww

culturagovbrsite20090327funarte-estima-que-brasil-tenha-500-grupos-

circensesgt Acesso em 14 jul 2012

Neste sentido

o circo como um todo natildeo mais se responsabiliza pela

continuaccedilatildeo do ensino artiacutestico da geraccedilatildeo seguinte

este passou a ser responsabilidade de cada famiacutelia que

escolhe onde seus filhos vatildeo estudar na escola formal

ou no circo A partir da deacutecada de 1970 no Brasil

algumas escolas de circo foram fundadas por artistas

preocupados em transmitir a teacutecnica circense em fazer

a profissatildeo renascer todavia natildeo mais necessariamente

com os filhos de gente de circo (SILVA 1996 p 9)

O circo teve que se reinventar para sobreviver Considerado

como o ldquoCirco do Homemrdquo por valorizar somente o ser humano

em suas performances o Circo Novo busca adequar-se ao mercashy

do artiacutestico dos novos tempos

A tecnologia assume um papel fundamental nesse processo pois

permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalanche tecshy

noloacutegica os grandes circos se apropriam das produccedilotildees e se renovam

constantemente enquanto muitos circos pequenos sucumbem agrave conshy

correcircncia por natildeo coseguirem acompanhar esse movimento

A mercantilizaccedilatildeo que domina a quase totalidade das relaccedilotildees soshy

ciais e a submissatildeo da cultura da sauacutede e da educaccedilatildeo - e tambeacutem das

praacuteticas corporais mdash aos interesses do capital trazem uma consequente

descaracterizaccedilatildeo do universo do circo Como empresa o ldquocirco novordquo

adota uma forte divisatildeo do trabalho contando com profissionais resshy

ponsaacuteveis para as mais diversas tarefas e funccedilotildees

A principal mudanccedila que caracteriza o chamado ldquocirco novordquo

refere-se agrave relaccedilatildeo familiar o circo torna-se uma grande empresa

Os artistas natildeo mais pertencem agraves famiacutelias circenses satildeo ex-atleshy

tas ou profissionais formados em escolas de circo e contratados

pelas grandes companhias De acordo com Silva (1996) natildeo eacute

mais a famiacutelia que eacute contratada mas o artista um nuacutemero um

especialista que tem um determinado conhecimento especiacutefico

da tarefa e natildeo mais do funcionamento do circo como um todo

tornando o conjunto do conhecimento sobre o circo fragmentashy

do e hierarquizado Nesse sentido

O modo de transmissatildeo oral do circo-lamilu Im m i

sido quebrado A ideacuteia de que o artista tiniu qm lt i

completo - no sentido de que cada indiviacuteduo liu

parte de uma comunidade e a sobrevivecircncia do gi upo

dependia do seu trabalho como um todo - natildeo niiis

fundamenta o aprendizado Daacute-se origem a uma novi

maneira de se ser artista de circo e a novas formas draquo

organizaccedilatildeo do trabalho (SILVA 1996 p 153)

O exemplo mais representativo do circo-empresa - e o de

maior impacto midiaacutetico - eacute a Companhia de Entretenimento

Circo de Soleil considerado o maior impeacuterio circense do mundo

Utilizando o que haacute de mais contemporacircneo para o entretenimenshy

to do puacuteblico conta com 21 espetaacuteculos sendo 12 em turnecirc em 5

continentes aleacutem de 9 espetaacuteculos residentes (exclusivamente nos

Estados Unidos) O Circo de Soleil emprega mais de 5000 funcioshy

naacuterios em todo o mundo sendo mais de 1300 artistas contratados

A maioria desses artistas eacute composta por ex-atletas danccedilarinos

profissionais personagens de sucesso nos meios de comunicaccedilatildeo

que representam cerca de 50 nacionalidades e falam 25 idiomas

diferentes Mais de 100 milhotildees de pessoas jaacute assistiram aos espeshy

taacuteculos do circo desde sua fundaccedilatildeo em 19846

Unindo danccedila teatro e circo a elementos da tecnologia como efeishy

tos de luz e som computaccedilatildeo graacutefica conhecimentos de diversas aacutereas

para a performance de um artistaatleta este novo modelo requer artistas

polivalentes como por exemplo malabaristas-acrobatas acrobatas-clo-

wn clown-muacutesico etc No circo novo o mais importante natildeo eacute o mais

complicado arriscado ou sobre-humano mas o mais belo plaacutestico vishy

sual esteacutetico etc(BORTOLETO MACHADO 2003)

Aleacutem disso as atividades circenses viraram nicho cle mercado

e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de circo a

academias de ginaacutestica A arte circense tambeacutem eacute utilizada como

praacutetica assistencialista por ON Gs e outras entidades filantroacutepicas

como ldquoinstrumento pedagoacutegicordquo na busca da ldquomelhoria de vidardquo

dos envolvidos nos projetos (F IG U E IREDO 2007)

6 Dados obtidos no site do Circo de Soleil Disponiacutevel em lthttpwwwcirquedusoleil

comenwelcomeaspxgt Acesso em- n

Eacute esse universo do circo que propomos trazer para a escola de forshy

ma a possibilitar ao aluno a apropriaccedilatildeo do conhecimento e a adoccedilatildeo de

uma postura criacutetica frente agrave atual configuraccedilatildeo do espetaacuteculo circense

Apresentamos a seguir o relato de uma experiecircncia pedagoacutegica realishy

zada com alunos do 6o ano de uma escola municipal de Juiz de Fora

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o circo

Ao iniciarmos a unidade buscamos identificar o niacutevel de consshy

ciecircncia dos alunos acerca do circo e os possiacuteveis interesses sobre a teshy

maacutetica Foram exibidos alguns viacutedeos de apresentaccedilotildees diversas (circo

tradicional C irque de Soleil apresentaccedilotildees de rua apresentaccedilotildees em

festas infantis na televisatildeo etc) Apoacutes a exibiccedilatildeo os alunos respondeshy

ram a duas questotildees O que eacute o circo Onde encontramos o circo atushy

almente As respostas foram registradas pelo professor A seguir foshy

ram explicitados os pontos que seriam abordados dentro do conteuacutedo

(histoacuteria e evoluccedilatildeo do circo as modalidades relaccedilotildees de trabalho e a

questatildeo ambiental) objetivos e atividades que seriam desenvolvidas

O segundo momento dentro da unidade didaacutetica foi a seleccedilatildeo de

questotildees relevantes para a discussatildeo e reflexatildeo dos alunos ou seja a problc-

matizaccedilatildeo Neste ponto foram delimitadas ainda as dimensotildees do conheshy

cimento a serem abordadas conforme apontamos no plano de unidade

No momento da instrumentalizaccedilatildeo foram desenvolvidas atividades

i accedilotildees tais como exibiccedilatildeo de viacutedeos leitura de textos vivecircncia das mais

iiversas modalidades circenses construccedilatildeo de materiais entre outras

Como forma de analisarmos o quanto o aluno apreendeu so-

gtre o conteuacutedo trabalhado propomos a criaccedilatildeo de uma apostila

obre o circo com a divisatildeo em grupos para a elaboraccedilatildeo de tex-

os sobre os toacutepicos de conteuacutedo trabalhados O objetivo desta

itividade consistiu em verificar o niacutevel de evoluccedilatildeo dos alunos

m relaccedilatildeo ao conhecimento sobre o circo (sua histoacuteria as moda-

idades teacutecnicas baacutesicas construccedilatildeo de materiais para a praacutetica

is novas configuraccedilotildees do circo atual os motivos pelos quais

iacuteoje existem poucos circos tradicionais as relaccedilotildees de trabalho

lentro do picadeiro dentre outros pontos) Outra atividade foi

a criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre 1 un

lizaccedilatildeo de animais nos espetaacuteculos circenses

No retorno agrave praacutetica social os alunos aprofundaram seus conltc

cimentos sobre o circo atraveacutes da pesquisa de textos e viacutedeos sobiv ltraquo

aspectos discutidos nas aulas e socializaram os conhecimentos com ou

tros alunos da escola atraveacutes da montagem de um espetaacuteculo circense

Plano de Unidade O lugar e hora do circo na escola

OBJETIVO GERAL

Compreender o circo enquanto manifestaccedilatildeo cultural a fim

de assumir postura criacutetica frente agraves novas configuraccedilotildees do espeshy

taacuteculo circense atual

Quadro 1 - Anuacutencio do conteuacutedo

M iacuteK IacuteS S amp K bull C i Jrsquo irfiiacuteV-rsquo P f

A histoacuteria do circo

Conhecer a histoacuteria do circo e suas transforshy

maccedilotildees

Identificar as diversas formas de apresentaccedilatildeo das

atividades circenses na atualidade (circo tradicional

circo novo atividades de rua festas infantis circo

social etc)

As modalidades circenses

Identificar as modalidades existentes no circo

malabarismo equilibrismo acrobacia maacutegica e

palhaccedilo

Vivenciar as principais modalidades que constituem

o circo

Construir materiais que possibilitem a experiecircncia

das modalidades circenses

O circo nos tempos atuais

Compreender as novas configuraccedilotildees do circo na atushy

alidade relacionando-as agraves exigecircncias da atual fase do

modo de produccedilatildeo capitalista (relaccedilotildees comerciais leis

trabalhistas trabalho infantil informalidade legislaccedilatildeo

de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos etc)

Circo legal tem animal

Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave utilizaccedilatildeo de anishy

mais no circo

Posicionar-se criticamente frente agrave utilizaccedilatildeo de

animais no circo

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

1) PRAacuteTICA SOCIAL IN IC IAL D O CONTEUacuteDO

11 Vivecircncia do Conteuacutedo

bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo O circo eacute um

espetaacuteculo com vaacuterios artistas eacute divertido tem maacutegica

palhaccedilo acrobatas ldquoanimais ferozesrdquo tem gente que faz

circo na rua etc

bull O que eles gostariam de saber a mais Como surgiu o circo

Como fazer maacutegica malabarismo equilibrismo etc Como

sobrevive um artista de circo Como satildeo tratados os animais

que vivem no circo

2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO

Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees

problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas

Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

TOacutePICO DE

CONTEUacuteDO DIMENSOtildeES

bulltgt t bull

QUESTAtildeO PROBLEMA

Respeitaacutevel puacuteblishy

co o circo chegouConceituai

O que eacute o circo

O que eacute circo tradicional

O que eacute circo novo

A histoacuteria do circo Histoacuterica

Quem inventou o circo

Onde ele surgiu

O circo de hoje eacute igual ao de antigashy

mente

Quais satildeo as modificaccedilotildees pelas quais

o circo passou ateacute hoje

As modalidades cirshy

censes

Conceituai

Teacutecnica

Quais satildeo as modalidades que constishy

tuem o circo

Quais satildeo as teacutecnicas baacutesicas das moshy

dalidades circenses

O circo nos tempos

atuais

Econocircmica

Poliacutetica

Social

Legal

Onde vemos artistas de circo

Por que natildeo temos tantos circos se

apresentando hoje em dia

Os artistas de circo recebem salaacuterio

Quais as condiccedilotildees sociais e de trabashy

lho de um artista de circo ldquofamosordquo e

de um circo ldquosimplesrdquo

Quanto custa um ingresso de um cirshy

co famoso

Como eacute a relaccedilatildeo da crianccedila com o

trabalho no circo

O que precisa para um circo se estabeleshy

cer em uma cidade

Por que o circo vai embora

Circo legal tem anishy

mal V

Poliacutetica

Legal

Histoacuterica

gt

Como os animais foram incorporashy

dos ao circo

Como o circo conseguia os animais

para suas apresentaccedilotildees

E permitido ter animais selvagens no

circo atualmente

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo

x lsquo bull --ir Ywl-ft bull V Avbdquo iacutei - - iacute

- Conteuacutedo Dimensotildees v l p sect p |

Respeitaacutevel puacuteblico

o circo chegou

Conceituar circo

Compreender o circo enquanto

produccedilatildeo histoacuterica do homem

ConceituaiExposiccedilatildeo teoacuterica e exibiccedilatildeo de viacutedeos

sobre o circo

Viacutedeo produzido pelos autores disshy

poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy

do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo86

A histoacuteria do circo

Conhecer a histoacuteria do circo e suas

transformaccedilotildees

Identificar as diversas formas de

apresentaccedilatildeo das atividades circenshy

ses na atualidade (circo tradicional

circo novo atividades de rua festas

infantis circo social etc)

Relacionar a expansatildeo das atividashy

des circenses com a configuraccedilatildeo

da sociedade atual

Histoacuterica

Econocircmica

Poliacutetica

Exibiccedilatildeo de viacutedeos e fotos sobre a histoacuteria

do circo e as mais diversas formas de apreshy

sentaccedilatildeo das atividades circenses atuais

Leituras de textos sobre a histoacuteria do circo

Textos sobre a histoacuteria do circo

Viacutedeo produzido pelos autores disshy

poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy

do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

7 Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012

8 Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03Ieis18069htmgt Acesso em 09042013

laquo M M

As modalidades cirshy

censes

Identificar as modalidades exisshy

tentes no circo malabarismo

equilibrismo acrobacia maacutegica e

palhaccedilo

Vivenciar as principais modalidashy

des que constituem o circo

Construir materiais que possibilishy

tem a experiecircncia das modalidades

circenses

Conceituai

Teacutecnica

Exibiccedilatildeo de viacutedeos editados das modalishy

dades do circo Acrobacias (individuais

coletivas de solo e aeacutereas) Malabarismo

(dc contato equiliacutebrio dinacircmico giros-

coacutepico e de lanccedilamento) Equilibrismo

Maacutegica Palhaccedilo (Cara Branca Miacutemico

Augusto Vagabundo Augusto Europeu)

Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das princishy

pais modalidades circenses

Construccedilatildeo de materiais para a vivecircncia

dessas modalidades

Viacutedeos disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo

e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Bolas de soprar garrafas pet jornal

fita adesiva barbante cabos de vassoushy

ra cilindros de papelatildeo ou canos de

ferro para construccedilatildeo dos materiais

Materiais para a vivecircncia bolinhas

de borracha claves swings rola-rola

diabolocircs devilstick etc

O circo nos tempos

atuais

Compreender as novas configurashy

ccedilotildees do circo na atualidade relacio-

nando-as agraves exigecircncias da atual fase

do modo de produccedilatildeo capitalista

(relaccedilotildees comerciais leis trabalhisshy

tas trabalho infantil informalidade

legislaccedilatildeo de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteshy

blicos etc)

Econocircmica

Poliacutetica

Social

Legal

Exibiccedilatildeo e discussatildeo do programa ldquoProshy

fissatildeo Repoacuterterrdquo sobre o circo

Anaacutelise da legislaccedilatildeo (ECA87 lei ambienshy

tal e leis de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos)

Viacutedeo disponiacutevel em no blog ldquoConshy

teuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educashy

ccedilatildeo Fiacutesicardquo

ECA

Leis ambientais e de locaccedilatildeo de espashy

ccedilos puacuteblicos

Circo legal tem anishy

mal

Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave

utilizaccedilatildeo de animais no circo

Posicionarmdashse criticamente frente agrave

utilizaccedilatildeo de animais no circo

Poliacutetica

Legal

Histoacuterica

Exibiccedilatildeo de viacutedeos e leitura de textos que

discutam a questatildeo dos animais do circo

Anaacutelise da legislaccedilatildeo ambiental

Organizaccedilatildeo de um juacuteri simulado

Viacutedeos e textos disponiacuteveis no blog

ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

4) CATARSE

41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno

O circo eacute uma das manifestaccedilotildees culturais mais tradicionais da

humanidade que encanta pela capacidade de transformar o banal em

inacreditaacutevel transformar o impossiacutevel em coisa simples Ao mesmo

tempo sua sobrevivecircncia oscila entre o popular e a falta de incentivo

entre a vontade de fazer parte e o alto custo dos espetaacuteculos

No decorrer dos anos o circo se modificou antes as famiacutelias

tradicionais faziam da vida embaixo da lona um lar vaacuterias viashy

gens e seu trabalho Entretanto agora artistas e admiradores se

apresentam nas ruas em grandes e pequenos circos em grandes

empresas de entretenimento nas escolas nas academias espaccedilos

puacuteblicos e privados

Fazem parte do espetaacuteculo circense apresentaccedilotildees de malashy

barismo equilibrismo maacutegica palhaccedilos e acrobacias cujo prinshy

cipal objetivo eacute a diversatildeo do puacuteblico o que requer o aprendizashy

do de teacutecnicas especiacuteficas e treinamento diaacuterio por muitos anos

O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy

ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX ocasionaram

uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves apresentaccedilotildees

circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios e dos tershy

renos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidades mdash

a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de uma

poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que

inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais

Em menos de 30 anos o nuacutemero de circos existentes no Brasil

reduziu-se significativamente abrindo espaccedilo para as grandes

companhias de circo onde os artistas natildeo mais pertencem agraves

famiacutelias circenses satildeo ex-atletas ou profissionais formados em

escolas de circo e contratados pelas grandes companhias que tem

um determinado conhecimento especiacutefico da tarefa e natildeo mais o

conhecimento do funcionamento do circo como um todo

Aleacutem disso a tecnologia assume um papel fundamental no espetaacuteshy

culo pois permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalan

che tecnoloacutegica os grandes circos se apropriam das prod i iccedilolaquo bull laquo

novam constantemente enquanto muitos circos pequenos mu uiuU

agrave concorrecircncia por natildeo conseguirem acompanhar esse movimento

Atualmente as atividades circenses viraram nicho de nu 1 laquo raquo

do e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de 1 1 1 1

a academias de ginaacutestica

Apesar dos animais historicamente participarem do espeta

culo circense a legislaccedilatildeo atual vem restringindo sua utilizaccedilatildeo

protegendo-os de maus tratos e condiccedilotildees insalubres de vida

Este eacute um ponto bastante polecircmico pois apesar dos ambienshy

talistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos haacute

quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute cruelshy

dade ou insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais

42 Expressatildeo da Siacutentese

bull Construccedilatildeo de uma apostila sobre o circo abordando os

temas trabalhados nas aulas

bull Criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a

utilizaccedilatildeo de animais no circo

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO

Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

A p ro fu n d a r os conhecim entos sobre

o circo

Pesquisar textos e viacutedeos sobre

os aspectos discutidos nas aulas

Socializar os conhecim entos apreenshy

didos durante as aulas

M ontagem de u m espetaacuteculo

circense

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees finais

Destacamos que o presente texto pretendeu apenas apresentar

uma dentre as inuacutemeras possibilidades pedagoacutegicas de trabalho com

esse universo tatildeo rico e tatildeo fascinante como o universo circense

Buscou-se conhecer a histoacuteria do circo analisando suas transformashy

ccedilotildees ao longo dos tempos identificar e vivenciar as diversas modalidashy

des de forma contextuaiizada e desmistificada Compreender as relaccedilotildees

de trabalho existentes no circo tradicional e nas manifestaccedilotildees circenses

atuais significa compreender o circo enquanto produto da atividade hushy

mana resultado do desenvolvimento histoacuterico parte importante do pashy

trimocircnio cultural humano que precisa ser transmitido pela escola

Referecircncias

BORTOLETO MAC M ACHADO G A Reflexotildees sobre o circo e a Educaccedilatildeo

Fiacutesica Revista Corpoconsciecircncia Santo Andreacute v 2 n 12 p 39-69 jul

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Paulo Cortez 1992

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didaacutetico Instrumento para a Obtenccedilatildeo do Processo de Interdisciplinaridade

In JORN ADA D O HISTDBR 7 2007 Campo Grande Anais Campo

Grande Uniderp 2007

DUPRAT R M Atividades circenses possibilidades e perspectivas para a Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica escolar Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Fiacutesica na aacuterea de

concentraccedilatildeo Educaccedilatildeo Fiacutesica e Sociedade )-Faculdade de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Universidade Estadual de Campinas Campinas 2007

DUPRAT R M BORTOLETO Marco Antocircnio Coelho Educaccedilatildeo Fiacutesica Escoshy

lar pedagogia e didaacutetica das atividades circenses Revista Brasileira de Ciecircnshy

cias do Esporte Campinas v 28 n 2 p 171-189 jan 2007

EIDT NM DUARTE N Contribuiccedilotildees da teoria da atividade para o dckm

sobre a natureza da atividade de ensino escolar Psicologia da Educaccedilatildeo Sm

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orgsciclophppid=S 1414-69752007000100005ampscript=sci_arttext Acessraquo gt

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FIGUEIREDO C M S As vozes do circo social Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profisshy

sionalizante em Bens Culturais e Projetos Sociais)-Centro de Pesquisa e Doshy

cumentaccedilatildeo de Histoacuteria Contemporacircnea do Brasil Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas

Rio de Janeiro 2007

GASPARIN J L Uma didaacutetica para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica 5 ed Camshy

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RUIZ R Hoje tem espetaacuteculo As Origens do Circo no Brasil Rio de Janeiro

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SILVA E As muacuteltiplas linguagens da teatralidade circense Benjamin de Oliveishy

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Tese (Doutorado em Histoacuteria)-Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas

Universidade Estadual de Campinas Campinas 2003

_________ Circo-teatro Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil

Satildeo Paulo Altana 2007

_________ O circo sua arte c seus saberes o circo no Brasil do final do seacuteculo XIX

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SOARES C L Imagens da educaccedilatildeo no corpo estudo a partir da ginaacutestica franshy

cesa no seacuteculo XIX 3 ed Campinas Autores Associados 2005

T O R R E S A O circo no Brasil Rio de Janeiro F U N A R T E Ed Atraccedilotildees 1998

SOBRE OS AUTORES

Adriano de Paiva Reis eacute professor de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Prefeishy

tura Municipal de Juiz de Fora desde 2010 Graduado em Educaccedilatildeo

Fiacutesica pela UFJF desde 2008 foi Professor substituto do Coleacutegio de

Aplicaccedilatildeo Joatildeo XXIII Bolsista dos projetos ldquoPortal do Professor do

M ECrdquo e extensatildeo ldquoNovas Experiecircncias Pedagoacutegicas em Educaccedilatildeo

Fiacutesica Escolarrdquo E-mail adriano_reisrocketmailcom

Aacutelvaro de Azeredo Quelhas eacute Doutor em Ciecircncias Sociais pela Unishy

versidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo - Campus Mariacutelia

Mestrado em Educaccedilatildeo Fiacutesica na aacuterea de ldquoPedagogia da Educaccedilatildeo Fiacutesica

e do Esporterdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Especializaccedilatildeo

nas aacutereas de ldquoFutebolrdquo e ldquoEducaccedilatildeo Psicomotora na Educaccedilatildeo Fiacutesica do Io

graurdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Licenciado em Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica e Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Trabalhou na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (1985-1997) como

professor do ensino fundamental (disciplina - Educaccedilatildeo Fiacutesica) aleacutem de

possuir experiecircncia como professor em academias de ginaacutestica e treinador

esportivo em clubes e empresas E professor do Departamento de Educaccedilatildeo

da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz de Fora desde

abril de 1997 E membro do Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educashy

ccedilatildeo (NETEC) da FACEDUFJF Seus estudos e pesquisas estatildeo voltados

para as transformaccedilotildees no mundo do trabalho e as formas de reestruturaccedilatildeo

produtiva com foco na precarizaccedilatildeo do trabalho em interface com os proshy

cessos educativos E-mail alvaroquelhasuolcombr

Andreacute Silva Martins eacute professor da Faculdade de Educaccedilatildeo

da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) onde integra o

Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo E vinculado tamshy

beacutem ao Coletivo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJV

Fiocruz) Integra o quadro docente do Programa de Poacutes-Gradua-

ccedilatildeo da UFJF E Mestre e Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade

Federal Fluminense E-mail andresilvamartinsglobocom

Carla Cristina Carvalho Pereira eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

(1996) poacutes graduada em Ednrarotilder cmdash 1

sidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestra em Educaccedilatildeo (2003)

pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Atua como professora da

rede municipal de Juiz de Fora desde 1998 Estuda temas relacionados

agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar nas aacutereas de danccedila-educaccedilatildeo planejamento e

avaliaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica E-mail carlacccphotmailcom

Carlos Eduardo de Souza eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestre em

Educaccedilatildeo pela UFJF Atua como professor da rede municipal e

particular em Juiz de Fora E-mail kadusjnyahoocombr

Frederico Duarte Gomes Tostes possui Licenciatura e Bachashy

relado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela Universidade Federal de Juiz de Fora

(UFJF) Estagiou em escolas puacuteblicas de Juiz de Fora e foi bolsista no

Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo Joatildeo XX III da Universidade Federal de Juiz de

Fora onde atuou no projeto de extensatildeo de Atividades Circenses para

alunos do ensino fundamental Atualmente faz cursos na Escola de

Circo Carequinha em Juiz de Fora E-mail fred_hikohotmailcom

Giovana de Carvalho Castro eacute professora da rede municipal de Juiz

de Fora Possui graduaccedilatildeo em Histoacuteria (2001) e mestrado em Ciecircncia da

Religiatildeo (2005) pela Universidade Federal de Juiz de Fora Tem experishy

ecircncia na aacuterea de Histoacuteria e Ciecircncia da Religiatildeo com ecircnfase em Histoacuteria

do Brasil Metodologia do Ensino de Histoacuteria Patrimocircnio Cultural Hisshy

toacuteria da Aacutefrica e Cultura Religiosa E-mail giovanahistoriabolcombr

Graziany Penna Dias possui Licenciatura cm Educaccedilatildeo Fiacutesica pela

Universidade Federal de Juiz de Fora (2000) e Mestrado em Educaccedilatildeo

pela Universidade Federal Fluminense (2006) Eacute vinculado ao Coletishy

vo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJVFiocruz) Atualmente

eacute professor do Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do

Sudeste de Minas - IFSUDESTEMG - Campus Juiz de Fora Estuda

temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar lazer poliacutetica educacional

e a relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo E-mail grazianydiasifsudestemgedubr

Hajime Takeuchi Nozaki possui Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1993) mestrado

em Educaccedilatildeo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1997)

e doutorado em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense

(2004) no campo Trabalho e Educaccedilatildeo Atualmente eacute professor asshy

sociado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Leciona na

graduaccedilatildeo no campus de Trecircs Lagoas e na poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo

no campus de Corumbaacute Dedica-se aos estudos na aacuterea de Trabalho

e Educaccedilatildeo atuando principalmente nos seguintes temas mundo do

trabalho e Educaccedilatildeo Fiacutesica formaccedilatildeo humana qualificaccedilatildeo dos trabashy

lhadores da faacutebrica E-mail hajimenozakiuolcombr

Herbert Hischter Chaves de Paula eacute graduado em Educaccedilatildeo

Fiacutesica pela Universidade Salgado de Oliveira - Universo (Juiz de

Fora) e poacutes-graduado em Danccedila e Consciecircncia Corporal pela Unishy

versidade Gama Filho (Belo Horizonte) E ator bailarino produtor

diretor e coreoacutegrafo e atua como professor de Danccedila e Teatro na

rede municipal de Juiz de Fora E-mail hhcpl911hotmailcom

Leonardo Docena Pina eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica e Messhy

tre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Atualmente cursa o doutorado em Educaccedilatildeo nessa mesma instituiccedilatildeo

e atua como professor da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de

ForaMG Desde 2008 integra o Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e

Educaccedilatildeo da UFJF E-mail leodocenayahoocombr

Marcelo Silva dos Santos possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2001) mestrado em Edushy

caccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense (2005) e eacute doutorando

em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana na Universidade do Esshy

tado do Rio de Janeiro (UERJ) Estuda temas relacionados agrave aacuterea de

trabalho e educaccedilatildeo Atualmente eacute professor do IFET Sudeste e da

rede municipal de Juiz de Fora E-mail marceloss2003igcombr

Miguel Fabiano de Faria eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela

UFJF e Mestre em Educaccedilatildeo pela UFMG Atua como professor na

educaccedilatildeo baacutesica e superior no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia

e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais - Campus Juiz de Fora Esshy

tuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar Lazer e Histoacuteria da

Educaccedilatildeo E-mail miguelfariaifsudestemgedubr

Mocircnica Jardim Lopes eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica e mes-

tranda em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Atua como professora da rede puacuteblica de ensino dos municiacutepios de

Juiz de Fora (MG) e de Trecircs Rios (RJ) E militante do Movimento

Nacional Contra a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica

(MNCR) E-mail monicajlopesyahoocombr

Nathaacutelia Sixel Rodrigues eacute Licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora Estagiou em Escolas puacuteshy

blicas da cidade como IFET e Escola Municipal Professora Thereza

Falei onde buscou tematizar o conteuacutedo Ginaacutestica na Educaccedilatildeo

Fiacutesica Atualmente atua como professora de ginaacutestica em academias

de Juiz de Fora E-mail naty_sixelhotmailcom

Priscila Rocha Rodrigues eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Atua como

professora de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de

ensino em Juiz de ForaMG E-mail prixrochayahoocombr

Rafael Loures dos Reis Bellei atua como professor do ensino

fundamental nas redes municipais de Juiz de Fora-MG eTrecircs Rios-

-RJ e no ensino fundamental e meacutedio na rede particular de Juiz

de Fora-MG O autor eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela UFJF

Estuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar e a relaccedilatildeo

trabalho-Educaccedilatildeo Fiacutesica M ilita no Movimento Nacional Contra

a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica - M NCR

E-mail rafabelleiyahoocombr

Ramon Mendes da Costa Magalhatildees possui Licenciatura e

Bacharelado pela Faculdade de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desportos (FA-

EFID) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) no ano de

2011 atualmente residente de Educaccedilatildeo Fiacutesica do programa de Reshy

sidecircncia Multiprofissional em Sauacutede do Adulto com Foco em Doshy

enccedilas Crocircnico Degenerativas no Hospital Universitaacuterio da Univershy

sidade Federal de Juiz de Fora (HUUFJF) no periacuteodo 20122014

E-mail ramon_mc_magalhaeshotmailcom

Renata Aparecida Alves Landim eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) especialista

m Educaccedilaacuteo Fiacutesica escolar pela UFJF e mestre em educaccedilatildeo pela

Universidade Federal Fluminense (UFF) Atualmente eacute professora do

ensino fundamental na rede puacuteblica municipal de Juiz de l o i i jgti

fessora temporaacuteria da Faculdade de Educaccedilatildeo da UFJF E v i i u ulraquolaquoi raquo

ao nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo da UFJE I m u i raquo

temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar poliacutetica educaraquo i o n i l

trabalho-educaccedilatildeo E-mail renatalandimhotmailcom

Thiago Barreto Maciel possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesui

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2007) Especializaccedilatildeo em

aspectos metodoloacutegicos e conceituais da pesquisa Cientiacutefica pela Uni

versidade Federal de Juiz de Fora (2008) Atualmente eacute professor do

Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste de

Minas Gerais - Campus Barbacena Tem experiecircncia na aacuterea de Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica com ecircnfase em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana

E-mail tbarretomacielgmailcom

Victoacuteria de Faacutetima de Mello eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especialista em

Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar pela mesma instituiccedilatildeo Atua como professora

de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de ensino em Juiz

de Fora Atualmente dirige o Sind-Ute (Sindicato dos Trabalhadores

em educaccedilatildeo de Minas Gerais) E-mail vicmellloyahoocombr

I n f o r m a ccedil otilde e s G r aacute f ic a s

Formato 16 x 23 cm

Mancha graacutefica 112 x 194 cm

Tipologia Myriad Pro - Adobe Garamond Pro

Papel Offset 90gm2 (miolo) - Cartatildeo Supremo 250gm2 (capa)

Tiragem 500 exemplares

Impressatildeo e acabamento Graacutefica e Editora Brasil Ltda

Page 2: Adriano de Paiva Reis · 2019. 8. 31. · Pedagogia histórico-crítica na construção da metodologia do ensino dos conteúdos específicos da cultura corporal na escola, destacando

Este livro ou pane dele naacuteo pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizaccedilatildeo expressa da editora

O conteuacutedo desta obra aleacutem de autorizaccedilotildees relacionadas aacute permissatildeo de uso de imagens eou textos de outro(s) autor(es)

eacute de inteira responsabilidade do(s) autor(es) eou organizador(es)

U N IV E R S ID A D E FED ERA L D E JU IZ D E FORA

R e i t o r

H e n r iq u e D u q u e d e M i r a n d a C hav e s F i lh o

V ic e -R e it o r

Joseacute L u iz R e z e n d e P e re ira

EDITORAU F J F

D iret o r da E d it o r a U F JF P residen t e d o

C o n s e l h o Ed it o r ia l

A n t e n o r Sa l ze r R o d r ig u e s

C o n s e l h o E d it o r ia l

A f o n s o C elso C a r v a lh o R o d r ig u e s

Fa b r iacutec io A l v im C a r v a lh o

Fr e d e r ic o Br a id a

H e n r iq u e N o g u e ir a R e is

R o g eacute r io C a s a g r a n d e

Su e m M a r ia d o s R e is Sa n t o s

St u d io E d it o ra UFJF

P r o jet o G ragrave i ic o E d it o r a ccedil atilde o C apa

A l e x a n d r e Aacute lvaro S ilva

R evisaacuteo d e P ortu gu ecircs

Ja c k s o n L e o c aacute d io

Rm sAo de N orm as T eacutecn icas

N a t h a l ie Reis I ta b o r a I

Pedagogia hisloacuterico-criacutetica e Educaccedilatildeo Fiacutesica Adriano de Paiva Reis

[ et al] organizadores - Juiz de Fora Editora UFJF 2013

196 p

ISBN 978-85-7672-175-8

1 Pedagogia - Histoacuteria - Critica 2 Pedagogia criacutetica 3

Educaccedilatildeo fisica 1 Reis Adriano dc Paiva

CDU 37013(091)

Este livro obedece agraves normas do Acordo Ortograacutefico da Liacutengua Portuguesa promulgado pelo

Decreto n 6583 de 29 de setembro de 2008

E d i t o r a UFJF

R u a Benjam in C o n s ta n t 790 C e n t r o - Juiz de Fora - M G

Cep 36015 -4 0 0 FoneFax (32 ) 3229-76 45

(32) 3229-76 46 secretariaeditoraulfcombr

distribuicaocditoraufjfedubr

wwwed itoraufjfcombr

Prefaacutecio

Celi Nelza Zulke Tajfarel

Introduccedilatildeo_________________________________________________ 15

Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira Hajime Takeuchi

Nozaki Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim

Capiacutetulo I

Sobre a funccedilatildeo e especificidade da educaccedilatildeo escolar

no mundo contemporacircneo ________________________________________________________ 23

Andreacute Silva Martins

Capiacutetulo II

() ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e a formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos

cm busca dos fundamentos teoacutericos e metodoloacutegicos ___________________________17

Adriano de Paiva Reis Aacutelvaro de Azeredo Quelhas Carla Cristina Carvaliw

Pereira Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim

Capiacutetulo III

produccedilatildeo da cultura luacutedica em jogos eletrocircnicos____________________________63

Priscila Rocha Rodrigues Renata Aparecida Alves Landim Ihiago

Barreto Maciel e Victoria de Faacutetima de Mello

lt upiacutemlo IV

V ilt liltc)es entre esporte e sauacutede no capitalismo temati-

uniu ion tradiccedilotildees na educaccedilatildeo escolar________________________________________ 21

Carlos Eduardo de Souza Leonardo Docena Pina e Mocircnica Jardim Lopes

v gt laquo ip i l U I O V

O M M A como ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo____________________________________ 109

Adriano de Paiva Reis Graziany Penna Dias Rafael Loures dos Reis

Bellei e Renata Aparecida Alves Landim

Capiacutetulo VI

A voz da periferia o H ip H o p enquanto possibilidade de

trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ________________________________________129

Adriano de Paiva Reis Carta Cristina Carvalho Pereira Giovana de

Carvaliyo Castro Herbert Hischter Chaves de Paula Marcelo Silva dos Santos

Capiacutetulo VII

A disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutestica_____________________________149

Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel

Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees

Capiacutetulo V III

O lugar e hora do circo na escola reflexotildees sobre a reinven-

ccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircnea----------------------1Z1

Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira

e Frederico Duarte Gomes Tostes

Sobre os autores 191

PREFACIO

No momento em que os estudos sobre a escola capitalista demonsshy

tram a sua degeneraccedilatildeo e decomposiccedilatildeo o seu esvaziamento proposishy

tal e seu rebaixamento teoacuterico para desqualificar a formaccedilatildeo da classe

trabalhadora na mais tenra idade surge contraditoriamente fruto de

experiecircncias concretas no chatildeo desta mesma escola a obra organizada

por Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira Leonardo

Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim intitulada Pedagogia histoacuterico-criacutetica e Educaccedilatildeo Fiacutesica

Do que trata este livro que lhe confere uma singularidade iacutempar

em meio a confrontos e conflitos de classe cada vez mais acirrados

Como uma das autoras do Livro Metodologia do Ensino da

Educaccedilatildeo Fiacutesica (COLETIVO DE AUTORES 1992) e portanto

testemunha histoacuterica de um esforccedilo nacional de mais de 20 anos enshy

frentando a criacutetica a didaacutetica e a organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico

na escola capitalista reconheccedilo que o propoacutesito dos autores do livro eacute

de vital importacircncia para a formaccedilatildeo escolarizada de crianccedilas e jovens

ms quais tecircm sido negados os conteuacutedos que permitem a humanizashy

ccedilatildeo como o satildeo os conteuacutedos da cultura corporal

Como demonstram os autores da obra - jovens intelectuais mili-

lanies culturais de formaccedilatildeo marxista - natildeo satildeo quaisquer conteuacutedos

I serem tratados na escola que garantiratildeo a humanizaccedilatildeo e natildeo eacute qual-

lt | i u t meacutetodo no trato com o conhecimento que asseguraraacute a formaccedilatildeo

lt miiK ipatoacuteria Satildeo conteuacutedos tratados com criteacuterios considerando a

iriicse o desenvolvimento a atribuiccedilatildeo de sentidos e significados agraves ati-

iilules corporais ao longo do percurso histoacuterico da humanidade Cri-

laquo nos que dizem respeito agraves capacidades cognoscentes e cognoscitivas

laquolltraquo estudantes compreendendo-as na totalidade do ser humano con-

lotmc e xplica a teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural a contemporanei-

raquobulllt laquolos conteuacutedos e seu conhecimento por sucessivas aproximaccedilotildees ao

iltlt n ui lura corporal que permitem os saltos qualitativos do

nm i iilo sincreacutetico e da mera sistematizaccedilatildeo de dados da realidade

i Ugtlt i u h t de novas siacutenteses qualitativamente superiores com autodeshy

terminaccedilatildeo e criatividade Aprimora-se assim pelas atividades corposhy

rais tratadas com o rigor do meacutetodo toda a capacidade do ser humano

Percurso este que deve ser recuperado por cada um de noacutes sem o qual

natildeo nos humanizamos E isto eacute possiacutevel pela educaccedilatildeo principalmente

escolarizada que forma seres humanos porque incide nas suas funccedilotildees

psicoloacutegicas superiores pelas atividades relacionais com os demais seres

humanos com a natureza com a cultura e consigo mesmo Por isto

esta obra eacute de fundamental importacircncia

Na introduccedilatildeo os autores Adriano de Paiva Reis Carla Cristina

Carvalho Pereira Hajime Takeuchi Nozaky Leonardo Docena Pina e

Renata Aparecida Alves Landim tratam de refletir sobre os limites e

possibilidades da discussatildeo sobre a didaacutetica da Educaccedilatildeo Fiacutesica Assushy

mem os autores a posiccedilatildeo teoacuterica e reconhecem que a ldquoperspectiva da

reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal presente no livro Metodologia

do Ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e denominada por noacutes de abordagem

Criacutetico-superadora foi eacute e seraacute um marco enquanto referecircncia mais

desenvolvida fundamentada em uma teoria marxista de educaccedilatildeo na

teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural na teoria do conhecimento mate-

rialista-histoacuterica-dialeacutetica e na Pedagogia histoacuterico-criacutetica

Justificam e assumem assim os autores que a Educaccedilatildeo Fiacutesica

ao transmitir os conhecimentos historicamente acumulados sobre a

cultura corporal se justifica na escola por socializar um conhecimento

essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade

A partir destas posiccedilotildees iniciais enfrentam o desafio e as difishy

culdades de organizarplanejarsistematizar o ensino da Educaccedilatildeo

Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corshy

poral Tensionam durante a obra o par dialeacutetico conteuacutedo-meacutetodo

modulador de alteraccedilotildees significativas na organizaccedilatildeo do trabalho

pedagoacutegico na salaquadra de aula e na escola

O trabalho com os professores da educaccedilatildeo baacutesica demonsshy

tra que aleacutem dos problemas na formaccedilatildeo faltam referecircncias conshy

cretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas com os diversos

conteuacutedos da cultura corporal E nesta busca lanccedilam-se os autoshy

res nos trazendo uma contribuiccedilatildeo de grande relevacircncia

O que eacute descrito no livro eacute fruto de um trabalho coletivo de mais de 20

professores e que ganha sistematizaccedilatildeo nos escritos destes jovens professores

que se dispuseram a ampliar os conhecimentos a respeito da metodologia

Criacutetico-superadora aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal

Tratam portanto da criacutetica agrave didaacutetica mas natildeo com a pretensatildeo

de resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

que estatildeo relacionados com as condiccedilotildees de vida e de trabalho dos

professores e estudantes Ou seja reconhecem as determinaccedilotildees da

economia poliacutetica que pesam sobre a escola e que natildeo seraacute somente

a iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores que resolveraacute a complexidade

que eacute o processo de destruiccedilatildeo das forccedilas produtivas a destruiccedilatildeo da

escola e a destruiccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico

Com muita honestidade cientiacutefica reconhecem os limites da

discussatildeo didaacutetica frente ao problema da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica

mas ressaltam a importacircncia da obra para ampliar as possibilidades

de transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar

O livro estaacute organizado em oito capiacutetulos que se articulam de forma

consistente e coerente Inicialmente os autores propotildeem uma discussatildeo

de caraacuteter mais geral abordando a funccedilatildeo e especificidade da escola e da

Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemporacircneo A partir da delimitaccedilatildeo clara

da concepccedilatildeo de educaccedilatildeo e de Educaccedilatildeo Fiacutesica que defendem passam

entatildeo a discutir a praacutetica pedagoacutegica atraveacutes de uma seacuterie de artigos sobre

possibilidades de temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos da cultura

inrporal - jogos esporte luta ginaacutestica danccedila e circo

() texto assinado por Andreacute Silva Martins trata de questionar a

Iunccedilatildeo social da escola e dentro dela o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica

lis natildeo o faz desprovido de dados que permitem constatar e explicar

ltmio a Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar foi uma ativida-

llt lt tijltgt objetivo central era promover o desenvolvimento da aptidatildeo

i ilt j ltgt lt|iklsquo foi alterado como foram alteradas as bases econocircmica

| x raquoI i i h i da sociedade brasileira que implicaram em alteraccedilotildees na

oli i i onsequentemente na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar

lt K iinores do texto sobre ldquoO ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e

(bulliniHio de sujeitos histoacutericos em busca dos fundamentos

teoacutericos e metodoloacutegicosrdquo tratam de demonstrar o surgimento

de propostas com outros princiacutepios definidores para a praacutetica

pedagoacutegica nos idos dos anos 1980 e 1990 Tratam das propostas

demonstrando nexos e relaccedilotildees entre a metodologia do ensino

as teorias educacionais pedagoacutegica a teoria do conhecimento e

o projeto histoacuterico Anunciam assim em um trabalho coletivo

novas bases da Educaccedilatildeo Fiacutesica na Rede de Ensino

Com base nos estudos de Saviani (1987) sobre Escola e Deshy

mocracia satildeo discutidas as tendecircncias da educaccedilatildeo e levanta-se de

iniacutecio a hipoacutetese de que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas

ainda possuem um papel a cumprir mdash contribuir na superaccedilatildeo do

capitalismo com o que temos pleno acordo

Ao tecer criacuteticas agraves concepccedilotildees sobre a educaccedilatildeo escolar o livro

traz uma contribuiccedilatildeo agrave educaccedilatildeo em geral e para todas as aacutereas de coshy

nhecimento que se organizam no interior da escola Defende-se por

fim a finalidade da educaccedilatildeo escolar para a emancipaccedilatildeo humana

Ao apresentar a perspectiva marxista de emancipaccedilatildeo humana

Aacutelvaro de Azeredo Quelhas Adriano de Paiva Reis Carla Cristina

Carvalho Pereira Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves

Landim recuperam os elementos histoacutericos apresentados por claacutessishy

cos como Marx e Engels que permitem afirmar a existecircncia sim de

uma teoria marxista da educaccedilatildeo Teoria esta que vem sendo sisteshy

maticamente negada na formaccedilatildeo dos professores A partir da base

teoacuterica mais geral adentram nas sistematizaccedilotildees sobre Educaccedilatildeo e

Trabalho para por fim reconhecer a importacircncia da mediaccedilatildeo da

Pedagogia histoacuterico-criacutetica na construccedilatildeo da metodologia do ensino

dos conteuacutedos especiacuteficos da cultura corporal na escola destacando

a obra Metodologia do Ensino de Educaccedilatildeo Fiacutesica do Coletivo de Aushy

tores (1992) obra onde eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal visando elevar a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enshy

quanto sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em

que vive Para tanto parte-se da praacutetica social que eacute problematizada

pela constataccedilatildeo sistematizaccedilatildeo compreensatildeo e explicaccedilatildeo cientiacutefishy

ca do real visando a praacutexis revolucionaacuteria criativa superadora o que

somente eacute possiacutevel com a ampliaccedilatildeo aprofundamento do conhecishy

mento historicamente acumulado e a autodeterminaccedilatildeo dos estushy

dantes Daiacute a relevacircncia social do trato com os conteuacutedos segundo

a teoria do conhecimento dialeacutetica-materialista-histoacuterica Portanto

natildeo seraacute qualquer conteuacutedo e muito menos qualquer meacutetodo para

tratar o conhecimento que permitiraacute a elevaccedilatildeo da capacidade teoacuterishy

ca dos estudantes E necessaacuterio o meacutetodo explicado e demonstrado

por Marx e Engels aplicado ao ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica na escola

- o meacutetodo materialista histoacuterico-dialeacutetico enquanto loacutegica e teoria

do conhecimento

Nos capiacutetulos seguintes a coerente e consistente abordagem

teoacuterica eacute demonstrada no trato com ldquoA produccedilatildeo da cultura luacutedica

em jogos eletrocircnicos rdquo texto de autoria de Renata Aparecida Alves

Landim Victoacuteria de Faacutetima de Mello Priscila Rocha Rodrigues e

Thiago Barreto Maciel Os autores partem da praacutetica social conshy

creta para chegar a uma nova siacutentese superior sobre este conteuacutedo

permitindo agraves crianccedilas e jovens se apropriarem de elementos da

cultura que por si soacute natildeo se datildeo a conhecer

No texto de autoria de Leonardo Docena Pina Carlos Edushy

ardo de Souza Mocircnica Jardim Lopes eacute demonstrado o meacutetodo de

elevaccedilatildeo da capacidade de reflexatildeo dos estudantes sobre a cultura

inrporal no trato com o conteuacutedo esporte e sauacutede O texto intitu-

lido ldquoAs relaccedilotildees entre esporte e sauacutede no capitalismo tematizando

i oiuradiccedilotildees na educaccedilatildeo escolarrdquo demonstra todo o processo que

v ulmina na nova siacutentese qualitativamente superior ao conhecimento

lt aoacuteiico sincreacutetico sobre o tema demonstrado no iniacutecio

Para tratar do conteuacutedo lutas delimitou-se ldquoO MM A como

nova lace da luta espetaacuteculordquo Os autores Renata Aparecida Alves Lanshy

dim Adriano de Paiva Reis Grazyani Penna Dias e Rafael Loures dos

K r Hcllei usaram com rigor o meacutetodo partindo da praacutetica social e a

bull u iornuido apoacutes um processo de problematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de

1 11u i i i i k i u o s sem os quais natildeo se explica o fenocircmeno atual das lutas

thim io ao conteuacutedo danccedila os autores Carla Cristina Carvalho

INlt ii i iliimo de Paiva Reis Giovana de Carvalho Castro Marcelo

monstrar a loacutegica no trato com o conhecimento dentro da rigorosidade

do meacutetodo Demonstram tambeacutem a elevaccedilatildeo do pensamento teoacuterico

dos estudantes sobre o assunto O texto ldquoA voz da periferia o Hip Hop

enquanto possibilidade de trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo eacute um

primor e contribuiraacute muito para consubstanciar uma abordagem mais

rigorosa de conteuacutedos contemporacircneos nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

No trato com o conteuacutedo da ginaacutestica no capiacutetulo intitulado

ldquoA disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutesticardquo os autores

Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel Roshy

drigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees conseguem elevar a

capacidade dos estudantes de elaborarem uma siacutentese qualitativa no

pensamento que permitiraacute a autodeterminaccedilatildeo para a praacutetica corposhy

ral de um conteuacutedo vital e que vem sendo negligenciado na escola

A retomada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica do conteuacutedo circo

conforme propotildeem Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvashy

lho Pereira e Frederico Duarte Gomes Tostes demonstra como um

conteuacutedo histoacuterico que data na origem dos tempos do feudalismo

pode adquirir um sentido e um significado humanamente elevado

pelo entendimento compreensatildeo e elaboraccedilatildeo de novas possibilidashy

des de accedilatildeo No trato com o conteuacutedo das atividades circenses no

texto intitulado ldquoO lugar e hora do circo na escola reflexatildeo sobre

a reinvenccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircneardquo os

autores demonstram o criteacuterio da rigorosidade e seriedade cientiacutefica

para tratar de um conteuacutedo da cultura que nos permite conhecer

compreender explicar e criar possibilidades riquiacutessimas de atividashy

des culturais com sentido e significado humanizante

Prezados leitores ressalto que esta obra eacute singular relevante e

vital porque como dizem os autores em um dos textos ldquoEm tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas as esferas da vida a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda maior Epreciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabalhadora construshyamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contribuindo para a desmistifiacutecaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta rdquo

12

tivos de Autores no Brasil e quiccedilaacute na Ameacuterica Latina que de norte

a sul de leste a oeste estatildeo recuperando desenvolvendo utilizanshy

do outros paracircmetros teoacutericos-metodoloacutegicos sintonizados com oushy

tro projeto histoacuterico superador agrave loacutegica do capital e portanto com a

perspectiva de formaccedilatildeo humana emancipatoacuteria significando isto a

superaccedilatildeo da sociedade de classes

Com esta obra juntamente com outras de igual propoacutesito

consolida-se no Brasil uma Educaccedilatildeo Fiacutesica de base marxista Cons-

troi-se assim tambeacutem pela via do trabalho pedagoacutegico a subjetivishy

dade humana visto que as condiccedilotildees objetivas para a revoluccedilatildeo jaacute

estatildeo postas faltam as condiccedilotildees subjetivas As forccedilas produtivas

deixaram de crescer e estatildeo em franca destruiccedilatildeo A isto reage este

jovem COLETIVO DE AUTORES que nos alenta a seguirmos

perseguindo em tempos de transiccedilatildeo um outro modo de produccedilatildeo

da vida Que todas as crianccedilas jovens e adultos das escolas puacuteblishy

cas na cidade e no campo tenham garantida esta qualidade aqui

demonstrada no ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica

Celi Nelza Zuumllke Tajfarel

(Universidade Federal da Bahia - UFBA)

INTRODUCcedilAtildeO

LIMITES E POSSIBILIDADES DA DISCUSSAtildeO SOBRE DIDAacuteTICA DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA

Adriano de Paiva Reis

Carla Cristina Carvalho Pereira

Hajime Takeuchi Nozaki

Leonardo Docena Pina

Renata Aparecida Alves Landim

Por mais de um seacuteculo a histoacuteria da

Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar

foi marcada por sua caracterizaccedilatildeo como uma

atividade cujo objetivo central era promover

0 desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica dos indishy

viacuteduos A partir do final da deacutecada de 1970

acompanhando um amplo movimento de luta

pela redemocratizaccedilatildeo da sociedade brasileira

assistimos a um periacuteodo de denuacutencias sobre o

atrelamento da aacuterea a uma concepccedilatildeo exclushy

sivamente bioloacutegica de homemmovimento

que cumpria um papel conservador no que

tange agraves relaccedilotildees sociais

Apoacutes esse periacuteodo de criacuteticas sobretudo

ao final dos anos de 1980 e iniacutecio dos anos

de 1 990 comeccedilam a surgir novas propostas

para a Educaccedilatildeo Fiacutesica definindo princiacutepios

identificadores de uma nova praacutetica pedashy

goacutegica Desde entatildeo podemos evidenciar

diversos avanccedilos no sentido da construccedilatildeo

di Educaccedilatildeo Fiacutesica como componente cur-

liiulnr tanto no plano da legislaccedilatildeo e das

01 ieniaccedilotildees educacionais como no plano das

propostas construiacutedas e implementadas em diversas redes de ensino

pelo paiacutes Mas no que pese todo esse avanccedilo produzido a crise no campo teoacuterico (FRIGOTTO 2001) acabou por influenciar a redefishy

niccedilatildeo das propostas pedagoacutegicas criacuteticas da aacuterea que passaram a ser

consideradas muitas vezes insuficientes inadequadas e ateacute mesmo

ultrapassadas para atender agraves supostas demandas de um novo mundoConsiderando que os fundamentos centrais da sociedade na qual

vivemos se mantecircm presentes ainda hoje embora com bases renovashy

das compreendemos que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas

ainda possuem um papel a cumprir qual seja o de contribuir para a

superaccedilatildeo do capitalismo - e de todas as formas de opressatildeo que se

intensificam nesse modo de produccedilatildeo da existecircncia humana1

Nessa linha reconhecemos que a perspectiva da reflexatildeo criacutetica soshybre a cultura corporal (COLETIVO DE AUTORES 1992)2 tambeacutem

conhecida como ldquoabordagem Criacutetico-superadorardquo foi um marco mdash e

ainda se manteacutem como referecircncia mais desenvolvida mdash para a Educashy

ccedilatildeo Fiacutesica uma vez que ao se fundamentar na Pedagogia histoacuterico-

-criacutetica articulou esse componente curricular ao que haacute de mais avanshy

ccedilado no debate sobre o papel da escola sendo capaz de entrelaccedilar a

formaccedilatildeo humana aos interesses e necessidades da classe trabalhadora

A partir da delimitaccedilatildeo de uma aacuterea de conhecimento denominada

de cultura corporal essa perspectiva definiu a Educaccedilatildeo Fiacutesica como

disciplina responsaacutevel por promover na escola uma tematizaccedilatildeo soshy

bre a relaccedilatildeo dos grandes problemas sociais contemporacircneos com os

conteuacutedos jogos danccedilas lutas ginaacutestica esporte malabarismo con-

torcionismo miacutemica e outros (COLETIVO DE AUTORES 1992)

A transmissatildeo dos conhecimentos historicamente acumulados sobre

a cultura corporal define a especificidade pedagoacutegica da Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica sua presenccedila na escola justifica-se por socializar um saber que

1 Adotamos a classificaccedilatildeo das pedagogias - em criacuteticas e natildeo criacuteticas - elaboradas por Saviani

(2006)

2 Tendo em visra o processo histoacuterico que envolveu a elaboraccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do livro

Metodologia do Ensino da Educaccedilatildeo Coletivo de Autores foi o termo adotado originalmente

para designar sua autoria expressando um sentido poliacutetico e o esforccedilo de ratificar o caraacuteter

coletivo e o projeto histoacuterico com o qual a obra estava articulada no contexto de sua

publicaccedilatildeo pela editora Cortez em 1992

16

natildeo eacute transmitido pelas demais disciplinas mas que se constitui como

elemento essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade

Apesar do avanccedilo teoacuterico promovido pelas recentes discussotildees

sobre a Pedagogia histoacuterico-criacutetica e a metodologia Criacutetico-supera-

dora deparamo-nos com inuacutemeros depoimentos de professores da

educaccedilatildeo baacutesica sobre a dificuldade de organizarplanejarsistematishy

zar o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo

criacutetica sobre a cultura corporal Aleacutem das criacuteticas aos cursos de forshy

maccedilatildeo de professores da aacuterea muitas vezes voltados aos campos natildeo

escolares de atuaccedilatildeo e subordinados agrave dimensatildeo predominantemenshy

te bioloacutegica de ser humano os professores tecircm se queixado da falta

de referecircncias concretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas

com os diversos conteuacutedos da cultura corporal3

A constataccedilatildeo desses problemas e desafios impulsionou a organishy

zaccedilatildeo de um grupo - composto predominantemente por professores

da rede puacuteblica municipal de Juiz de Fora mdash com o objetivo de amshy

pliar os conhecimentos a respeito da metodologia Criacutetico-superadora

aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal Hoje o grupo eacute

formado por cerca de vinte professores e conta com assessoria de dois

docentes da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz

de Fora4 os quais tecircm dialogado conosco ao longo do processo

Sem viacutenculo institucional nem apoio financeiro para pesshy

quisa o grupo tem se dedicado agrave realizaccedilatildeo de estudos pesquisas

e experiecircncias voltadas ao aprimoramento de nossa praacutetica pedashy

goacutegica na escola Apoacutes dois anos de trabalho conjunto sentimos

a necessidade de dar um passo a mais qual seja o de iniciar a soshy

cializaccedilatildeo das experiecircncias pedagoacutegicas desenvolvidas nas escolas

municipais de Juiz de Fora A elaboraccedilatildeo dessa obra surgiu porshy

tanto a partir da necessidade de ampliar nossos conhecimentos

sobre os conteuacutedos da cultura corporal e suas possibilidades de

abordagem metodoloacutegica na escola A constituiccedilatildeo de um grupo

envolvendo professores da rede puacuteblica municipal e federal pershy

3 A respeito da problemaacutetica referente agrave formaccedilatildeo de professores no contexto atual

sugerimos a leitura dos estudos de Costa (2009) Arce (2000) e Teixeira (2009)

4 Estamos nos referindo aos professores Aacutelvaro de Azeredo Quelhas e Andreacute Silva Martins

mitiu o estudo debate e sistematizaccedilatildeo de experiecircncias pedagoacuteshy

gicas desenvolvidas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Consideramos que a divulgaccedilatildeo dessas experiecircncias pode

constituir-se como instrumento para o aprimoramento da praacutetica

pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo soacute porque socializa os planos

de unidade desenvolvidos juntamente com textos de fundamenshy

taccedilatildeo teoacuterica de cada conteuacutedo trabalhado mas tambeacutem porque

contribui para que outros professores se insiram no debate consshy

truam novas experiecircncias eou discutam novas possibilidades

E importante destacar que ao reconhecermos a importacircncia do

debate sobre a didaacutetica para o aprimoramento do trabalho pedagoacutegishy

co nas escolas natildeo o consideramos suficiente para resolver o problema

do ensino na Educaccedilatildeo Fiacutesica Ou seja nossa iniciativa embora seja

importante e necessaacuteria natildeo tem a pretensatildeo nem a capacidade de

resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Aleacutem das limitaccedilotildees que envolvem muitos cursos de formaccedilatildeo

de professores encontramos outras determinaccedilotildees que acabam por

contribuir para que a escola natildeo cumpra seu papel de transmissatildeo do

conhecimento Embora natildeo sejamos capazes de reunir neste artigo

todos os problemas encontrados em grande parte das escolas da rede

puacuteblica municipal de ensino faz-se necessaacuterio destacar em linhas geshy

rais que as condiccedilotildees de vida (e de trabalho) de grande parte dos

professores e alunos natildeo satildeo muito favoraacuteveis Soma-se a isso o fato

de que as estruturas fiacutesicas precaacuterias recursos materiais insuficientes

grande nuacutemero de alunos por turmas e pouco reconhecimento profisshy

sional tendem a dificultar ainda mais o desenvolvimento do trabalho

do prazer e da vontade de lecionar Tambeacutem natildeo podemos deixar de

destacar que em muitos casos a Educaccedilatildeo Fiacutesica assume o posto de

disciplina de segundo escalatildeo sobretudo nas escolas de Educaccedilatildeo Inshy

fantil e dos anos iniciais do ensino fundamental onde os professores

de Educaccedilatildeo Fiacutesica Artes e Muacutesica por exemplo dificilmente partishy

cipam do conselho de classe o que evidencia a (des)valorizaccedilatildeo de sua

atividade docente na escola frente outras disciplinas como Portuguecircs

e Matemaacutetica consideradas mais importantes sob a oacutetica do capital

18

Consideramos que o professor mdash das diferentes aacutereas do conhecimento

- tem o papel de transmitir o conhecimento cientiacutefico artiacutestico e filosoacutefico

aos alunos mas natildeo compreendemos que sua funccedilatildeo possa ser tatildeo facilshy

mente exercida como supotildeem os defensores do neoprodutivismo para os

quais se espera que o docente exerccedila todo um conjunto de funccedilotildees com o

maacuteximo de produtividade e o miacutenimo de dispecircndio isto eacute com modestos

salaacuterios5 Compreendemos conforme destaca Saviani (2011) que se o proshy

fessor fosse bem remunerado no acircmbito de uma carreira docente que lhe

garantisse jornada integral em uma uacutenica escola ele poderia exercer sem

maiores problemas muitas funccedilotildees a ele atribuiacutedas Mas natildeo eacute esse o caso

Analisando a precarizaccedilatildeo do trabalho do professor Costa (2009)

evidencia que as consequecircncias da alienaccedilatildeo na atividade docente natildeo

se restringem ao ensino e a aprendizagem mas envolvem a proacutepria vida

do professor A autora constata que o processo de alienaccedilatildeo constroacutei

uma relaccedilatildeo professoresalunos distorcida em que os

segundos passam a imputar aos professores o tratamenshy

to que deveriam dar aos reais representantes da violecircnshy

cia do Estado burguecircs que os tem oprimido durante

toda a sua trajetoacuteria escolar E os professores passam

a ver os alunos como aqueles que materializam a falta

de respeito e o desprestiacutegio da categoria profissional na

sociedade nas manifestaccedilotildees de falta de respeito e ateacute

mesmo a violecircncia (COSTA 2009 p 72)

Natildeo obstante a alienaccedilatildeo do trabalho do professor ainda

gera desumanizaccedilatildeo o mais violento de todos os aspectos Conshy

forme afirma Costa (2009) o professor nem sempre tem a opccedilatildeo

de buscar outras formas para suprir sua subsistecircncia

Os seres humanos submetidos agrave alienaccedilatildeo mesmo vivenshy

do o sofrimento no trabalho o desgaste fiacutesico e mental a

dilapidaccedilatildeo moral ainda assim permanecem em relaccedilotildees

de trabalho destrutivas ateacute esgotarem os limites de suas

capacidades ou ateacute serem descartados pelo capital Nesse

momento em geral as consequecircncias vividas pelo trabalho

jaacute satildeo irreversiacuteveis Embora experimente a deterioraccedilatildeo de

sua sauacutede a negaccedilatildeo da natureza formativa da educaccedilatildeo

presente todos ograves dias nas ingerecircncias das mantenedoras e

5 Sobre o neoprodutivismo na educaccedilatildeo escolar brasileira conferir Saviani (2011)

do Estado na sua atividade laborai o professor natildeo pode

se furtar ao trabalho como meio de subsistecircncia devido agrave

sua dependecircncia total da vida urbana e do consumo que

ela impoacutee assim como ocorre com todas as outras categoshy

rias do proletariado (COSTA 2009 p 76-77)

Ao abordar essas reflexotildees buscamos explicitar nossa discordacircncia em

relaccedilatildeo agraves perspectivas ideoloacutegicas predominantes defensoras da ideia de

que o ecircxito da escola e da poliacutetica educacional que a orienta depende apenas

da iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores Atualmente fala-se muito no proshy

fessor como protagonista da mudanccedila mas natildeo lhe satildeo oferecidas muitas

condiccedilotildees para isso Defende-se que o professor assuma uma postura inoshy

vadora desenvolva praacuteticas de ensino renovadas busque o conhecimento

produzido ainda que as condiccedilotildees sejam muito desfavoraacuteveis para tanto

Conforme alerta Duarte (2006) a ideia comumente defendida pelos meios

de comunicaccedilatildeo eacute a de que o professor deve ser ldquogente que fazrdquo

Naacuteo eacute mero acaso que atualmente seja taacuteo difundido em

educaccedilatildeo o discurso voltado para as caracteriacutesticas definishy

doras de um bom professor de um professor que reflete

sobre sua praacutetica e realiza um trabalho de qualidade messhy

mo em condiccedilotildees adversas Uma variante desse discurso eacute

aquela em que em vez de falar-se de um professor que eacute

gente que faz fala-se de uma escola em que os professores

coletivamente de preferecircncia de matildeos dadas com a comushy

nidade transformam em exemplo de sucesso escolar Em

nome da superaccedilatildeo dos discursos imobilistas eacute adotado

um discurso no qual a passagem do fracasso ao sucesso

torna-se uma questatildeo de forccedila de vontade de alguns indishy

viacuteduos ou melhor de um coletivo de uma comunidade

O resultado ideoloacutegico pretendido ou natildeo eacute bastante

claro o descompromisso do Estado a despolitizaccedilatildeo dos

problemas educacionais e a abdicaccedilatildeo do ideal de lutar por

uma transformaccedilatildeo radical da sociedade pela superaccedilatildeo

do capitalismo e pela construccedilatildeo de uma sociedade sociashy

lista A saiacuteda passa a ser a das soluccedilotildees locais comunitaacuterias

individuais (DUARTE 2006 p 141)

Feitas essas consideraccedilotildees sintetizamos nossa compreensatildeo soshy

bre os limites da discussatildeo didaacutetica que apresentamos neste livro

Trata-se de uma discussatildeo insuficiente se considerarmos o problema

da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica em sua radicalidade mas ao mesmo

20

tempo importante uma vez que pode ampliar as possibilidades de

transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica

O presente livro organizado numa perspectiva de unidade realiza

nos dois primeiros artigos uma discussatildeo de caraacuteter mais geral sobre a

funccedilatildeoespecificidade da escola e da Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemshy

poracircneo Os demais artigos abordam possibilidades de desenvolvimento

de praacuteticas pedagoacutegicas com temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos

da cultura corporal circo lutas ginaacutestica danccedila jogos e esporte

As experiecircncias pedagoacutegicas apresentadas foram desenvolvidas

com a segunda etapa do Ensino Fundamental e com o Ensino Meacuteshy

dio mas obviamente podem sofrer adaptaccedilotildees para serem tratadas

em outros niacuteveis de ensino Os artigos que tratam dos conteuacutedos da

cultura corporal nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica foram redigidos em subshy

grupos de autores coordenados pelos organizadores da obra e ao final

do processo todos os artigos foram lidos e discutidos coletivamente

Apesar de consideramos a capoeira como um conteuacutedo esshy

peciacutefico e importante da cultura corporal ela natildeo foi abordada

neste livro devido aos limites espaciais e temporais para conclushy

satildeo da obra No nosso planejamento inicial constava um artigo

especiacutefico para abordar esse conteuacutedo poreacutem com o andamento

do estudo constatamos que natildeo teriacuteamos tempo suficiente para

ibordaacute-lo Assim fazemos questatildeo de destacar que assumimos a

iiiscncia da capoeira como uma diacutevida e reafirmamos a necessida-

ilr de abordaacute-la em publicaccedilotildees e debates posteriores

( )s temas selecionados buscaram relacionar os conteuacutedos da cultura

iniporal a problemas sociais presentes na praacutetica social dos alunos bus-

i nulo ultrapassar a simples praacutetica pela praacutetica e promover uma reflexatildeo

i tiacutetii a sobre o modo como os jogos as lutas as danccedilas os esportes os

ru iacutecios ginaacutesticos as atividades circenses se expressam em nosso temshy

po I Vsse modo uma questatildeo que atravessou todos os planos de unidade

i i sltnuinte como a cultura corporal patrimocircnio da humanidade tem

I bull ipKgtpriada e subordinada agrave dinacircmica do consumo capitalista

Irsquooi iacuteim gostariacuteamos de registrar nossos agradecimentos pela

i pouibilizaccedilatildeo dos recursos para a publicaccedilatildeo desta ediccedilatildeo do

livro por meio do Fundo de Apoio agrave Pesquisa na Educaccedilatildeo Baacutesica

- FAPEB mdash da Prefeitura de Juiz de Fora A busca de um financiashy

mento puacuteblico e a distribuiccedilatildeo gratuita dessa obra estaacute relacionada

agrave nossa perspectiva de produccedilatildeoapropriaccedilatildeo coletiva do conhecishy

mento Agradecemos ainda a todos os professores e alunos que

estiveram envolvidos na realizaccedilatildeo desse projeto permitindo divishy

dir experiecircncias e construir conhecimentos que agora socializamos

neste livro

Referecircncias

ARCE A A formaccedilatildeo de professores sob a oacutetica construtivista primeiras aproximashy

ccedilotildees e alguns questionamentos In DUARTE N (org) Sobre o construti-

vismo Campinas Autores Associados 2000

COLETIVO DE AU 1ORES Metodologia do ensino de Educaccedilatildeo Fiacutesica Satildeo

Paulo Cortez 1992

COSTA A Entre a dilapidaccedilatildeo moral e a missatildeo redentorista o processo de alienashy

ccedilatildeo no trabalho dos professores do ensino baacutesico brasileiro In COSTA A

NETO E SOUZA G (Org) A proletarizaccedilatildeo do professor neoliberalis-

mo na educaccedilatildeo 2 ed Satildeo Paulo Sundermann 2009 p 59-100

DUARTE N Vigotski e o ldquoaprendera aprenderrdquo apropriaccedilotildees neoliberais e poacutes-

-modernas da teoria vigotskiana 4 ed Campinas Autores Associados 2006

FRIGOTTO G A nova e a velha faces da crise do capital e o labirinto dos reshy

ferenciais teoacutericos In FRIGOTTO G CIAVATTA M (Org) Teoria e

educaccedilaacuteo no labirinto do capital 2 ed Petroacutepolis Vozes 2001 p 23-50

SAVIANI D Escola e democracia 38 ed Campinas Autores Associados 2006

_______ Histoacuteria das ideias pedagoacutegicas no Brasil 3 ed Campinas Autores

Associados 2011

TEIXEIRA L A poliacutetica de formaccedilatildeo docente no Brasil fundamentos teoacutericos

e epistemoloacutegicos In Reuniatildeo Anual da ANPED 32 2009 Caxambu

Anais Caxambu ANPED 2009 p 1-17

CAPIacuteTULO I

SOBRE A FUNCcedilAtildeO E ESPECIFICIDADE DA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR NO M UNDO CONTEMPORAcircNEO

Andreacute Silva Martins

O presente capiacutetulo tem por objetivo apreshy

sentar uma reflexatildeo sobre a funccedilatildeo e especificishy

dade da educaccedilatildeo escolar na atualidade Nossa

intenccedilatildeo mais ampla eacute problematizar as perspecshy

tivas relacionadas agrave funccedilatildeo social da escola e sua

especificidade no processo de formaccedilatildeo humashy

na procurando indicar uma alternativa poliacutetico-

-pedagoacutegica aos discursos e praacuteticas dominantes

As questotildees que orientam nossa reflexatildeo

podem ser assim descritas Qual a funccedilatildeo

social da instituiccedilatildeo escolar na atualidade

A instituiccedilatildeo escolar possui uma especificishy

dade frente os demais processos formativos

de nossa sociedade Quais satildeo os desafios da

Escola Puacuteblica brasileira no seacuteculo XXI

Para responder estas questotildees organizashy

mos o texto em trecircs partes Na primeira busshy

camos recuperar a gecircnese da instituiccedilatildeo escoshy

lar e sua especificidade no processo formativo

Em seguida realizamos uma anaacutelise sobre duas

concepccedilotildees que vecircm orientando a definiccedilatildeo da

finalidade da educaccedilatildeo escolar Por fim com

base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica apresentashy

mos uma siacutentese do que pode vir a ser a insshy

tituiccedilatildeo escolar na atualidade tendo em vista

os interesses da ampla maioria da populaccedilatildeo

Nossa expectativa eacute contribuir para as reflexotildees sobre o tema e oferecer

elementos para a compreensatildeo criacutetica da funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar

Sobre a gecircnese da instituiccedilatildeo escolar

A escola eacute uma instituiccedilatildeo social relativamente nova que se

consolidou e se popularizou a partir do processo de intensificaccedilatildeo

da complexidade da vida social gerada pelas mudanccedilas nas relaccedilotildees

sociais envolvendo o crescimento da urbanizaccedilatildeo e desenvolvimenshy

to do industrialismo sobre as formas tradicionais de estruturaccedilatildeo de

poder e de redefiniccedilatildeo das bases de produccedilatildeo material e simboacutelica

vinculadas agrave existecircncia humana Isso significa que a instituiccedilatildeo esshy

colar surge como expressatildeo cultural de um tempo histoacuterico com a

finalidade de assegurar uma especificidade na formaccedilatildeo humana

Antes da existecircncia da escola nas sociedades tradicionais os proshy

cessos formativos se realizavam diretamente nas dinacircmicas de constishy

tuiccedilatildeo da vida natildeo requerendo maiores exigecircncias muito menos ritos

formais para sua ocorrecircncia No cotidiano as trocas de conhecimentos

gerados pela experiecircncia geracional ou pela vida cotidiana de uma dada

comunidade constituiacuteam a base dos processos formativos necessaacuterios agrave

construccedilatildeo da vida A educaccedilatildeo fluiacutea nas dinacircmicas de trabalhovida

sem delimitaccedilotildees mais precisas de tempo e espaccedilo A experiecircncia e a

informalidade se constituiacuteam como referecircncias dos processos formatishy

vos Nessa dinacircmica o domiacutenio de conhecimentos sistematizados era

dispensaacutevel ao homem comum A formaccedilatildeo intelectual era restrita aos

pequenos grupos que atuavam em funccedilotildees administrativas e clericais

Quando muito com raras exceccedilotildees o acesso do povo aos rudimentos

da leitura e da escrita ficava circunscrito agraves iniciativas isoladas princishy

palmente a cargo de ordens religiosas que reforccedilavam a manutenccedilatildeo da

ordem estabelecida (FERREIRA 2001) ou a grupos de artesatildeos preoshy

cupados com a organizaccedilatildeo da produccedilatildeo (ENGUITA 1989)

O processo social poliacutetico e econocircmico de ruptura com a trashy

diccedilatildeo feudal protagonizada pela classe burguesa nas sociedades eushy

ropeias produziu novas determinaccedilotildees para que a formaccedilatildeo humana

ultrapassasse as referecircncias educativas precedentes Em outras pala-

24

vras a dinacircmica social emergente apresentava os primeiros sinais de

que a experiecircncia e a informalidade ofereciam sinais de esgotamenshy

to isso porque estavam em curso novas exigecircncias para organizar a

vida social e os meios necessaacuterios agrave sua existecircncia

A valorizaccedilatildeo do chamado ldquohomem-livrerdquo a ideia de progresso as

formas emergentes de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de mercadorias e a defesa da

propriedade privada no centro da vida social que foram sendo consolidadas

apoacutes as revoluccedilotildees burguesas exigiam novas referecircncias educativas Na conshy

cepccedilatildeo da classe emergente a massa populacional disforme e sem identishy

dade poliacutetico-ideoloacutegica precisava ser preparada para ocupar o seu lugar na

nova ordem a partir de novas regras sociais de vida e trabalho A imagem do

atraso representado pelo camponecircs isolado e restrito ao espaccedilo rural precishy

sava ser substituiacuteda pela simbologia do progresso representada pelo homem

urbano - trabalhador ldquolivrerdquo Organizado na cidade envolvido nas relaccedilotildees

comerciais de novo tipo e envolvido na passagem da oficina para manufashy

tura e desta para a induacutestria nascente o ldquonovo homemrdquo deveria ser disciplishy

nado socialmente para compreender os novos coacutedigos culturais Se para os

adultos da classe trabalhadora a vida urbana continha os elementos educashy

tivos da disciplina social capitalista principalmente os de caraacuteter repressivo

a educaccedilatildeo das crianccedilas urbanas para a vida social exigia um pouco mais O

surgimento da escola de massas tem suas origens vinculadas a esse processo

de longa duraccedilatildeo confirmada na consolidaccedilatildeo do periacuteodo histoacuterico denoshy

minado de modernidade A especificidade da escola residia na compreenshy

satildeo de que algo a mais deveria ser oferecido ultrapassando as experiecircncias

educativas realizadas pela famiacutelia pelas religiotildees pela convivecircncia

Em ritmos diversos a expansatildeo da instituiccedilatildeo escolar puacutebli-

1 foi se tornando uma realidade nas formaccedilotildees sociais em geral

viabilizada por meio do Estado capitalista Aleacutem da escolarizaccedilatildeo

obrigatoacuteria com extensatildeo restrita foram sendo instituiacutedas bases

rei ais para o ensino realizado na escola puacuteblica de massas O do-

miacutenkrdos rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo passou a

laei parte da formaccedilatildeo do trabalhador urbano O desafio era for-

1 1 1 i eorporcidade infantil (o sentirpensaragir) desde cedo dentro

ilo ideal do ldquohomem novordquo

As teacutecnicas de ensino e de controle bem como a organizaccedilatildeo do

espaccedilo e das rotinas marcaram a constituiccedilatildeo da escola moderna Sem

elidir outros processos educativos a instituiccedilatildeo escolar foi se tornando

importante instrumento do processo civilizatoacuterio capitalista

Enquanto a escola de massas assumiu a educaccedilatildeo das crianccedilas da

classe trabalhadora para o exerciacutecio da submissatildeo intelectual e moral

formando o cidadatildeo-trabalhador produtivo da modernidade outro tipo

de escola foi assegurado para a preparaccedilatildeo ampla de grupos de crianccedilas

e adolescentes da classe burguesa As distinccedilotildees fundamentais do proshy

cesso formativo dos dirigentes e dirigidos se expressaram no tempo de

escolarizaccedilatildeo no espaccedilo destinado agraves praacuteticas educativas bem como na

quantidade-qualidade de acesso aos conhecimentos sistematizados Inshy

distintamente a racionalizaccedilatildeo do processo pedagoacutegico buscou responshy

der agraves especificidades do papel econocircmico-poliacutetico das classes sociais

tendo como referecircncia a dinacircmica da vida urbano-industrial1 e a necesshy

sidade dos coacutedigos culturais Vale lembrar que o princiacutepio do dualismo

educacional jaacute havia sido traccedilado por John Locke no seacuteculo XVII antes

mesmo do advento da escolarizaccedilatildeo de massas (ENGUITA 1989)

Mesmo oferecendo um acesso restrito ao conhecimento sisshy

tematizado e assegurando uma formaccedilatildeo intelectual e moral para

a submissatildeo a escola para os trabalhadores foi sendo consolidada

nas formaccedilotildees sociais capitalistas a partir do reconhecimento de

sua contribuiccedilatildeo especiacutefica dentro do processo educativo mais

amplo Embora este processo tenha se dado em ritmo variado -

dependendo do reconhecimento da classe dominante sobre a im shy

portacircncia da ampliaccedilatildeo do domiacutenio dos coacutedigos culturais e das

lutas travadas em torno do acesso agrave educaccedilatildeo - a escola foi sendo

legitimada por sua especificidade educativa Sobre este processo

mais geral Ferreira (2001 p 193) observa que

Chegados agrave transiccedilatildeo do seacuteculo X IX para o seacutecushy

lo XX a burguesia sustenta e participa do poder

1 Enquanto a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo infantil da classe trabalhadora das cidades passou a

ser ordenada pelo menos enquanto tendecircncia em edificaccedilotildees projetadas para tal fim pela

adoccedilatildeo de turmas seriadas por programas bem definidos e com professores treinados a

educaccedilatildeo no campo ainda que concentrando boa parcela das crianccedilas seguiu marcada

pelo improviso de instalaccedilotildees de recursos didaacuteticos e de pessoal

mas hesita entre a cultura do passado e a dinacircmica

imposta pelo progresso A burguesia sabe por exshy

periecircncia proacutepria que nada eacute definitivo e uniforshy

me Mas tambeacutem sabe que a sociedade burguesa

precisa de ordem e estabilidade e que os interesshy

ses divergentes que encerra podem arruinaacute-la Ela

precisa por isso estar bem informada para agir

em conformidade com o momento Necessita soshy

bretudo de dominar os saberes que lhe asseguram

a administraccedilatildeo do poder Ela sabe que a compeshy

tecircncia eacute a qualidade chave do sucesso A escola

tem sido fundamentalmente uma instituiccedilatildeo cara

agrave burguesia Isso natildeo significa que natildeo tenha sido

uacutetil a outras forccedilas sociais e que natildeo tenha servido

interesses contraacuterios aos dos burgueses

A histoacuteria da escolarizaccedilatildeo na formaccedilatildeo social brasileira seshy

guiu pelo menos enquanto tendecircncia o movimento educacional

das formaccedilotildees capitalistas centrais No entanto considerando

que o Brasil foi palco de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo tardia sob

mediaccedilatildeo de uma revoluccedilatildeo burguesa de tipo natildeo-claacutessica (FERshy

NANDES 1976) explicada pelo conceito de revoluccedilatildeo passiva

(GRAMSCI 1999) e que isto resultou numa inserccedilatildeo subordinashy

da do paiacutes no cenaacuterio internacional eacute possiacutevel afirmar que a escola

puacuteblica de massas expressou em sua particularidade e com contrashy

diccedilotildees a opccedilatildeo poliacutetica da classe dominante brasileira

Basta considerar que enquanto os paiacuteses centrais jaacute haviam

avanccedilado no movimento de universalizaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo baacutesica

ainda no seacuteculo XIX no Brasil ao longo do seacuteculo XX predomishy

nou um processo restritivo de acesso dos trabalhadores agrave educaccedilatildeo

escolar Os que escaparam do analfabetismo em geral encontraram

barreiras objetivas para concluir o que denominamos hoje de Enshy

sino Fundamental Foi somente no limiar do seacuteculo XXI que este

niacutevel de escolarizaccedilatildeo foi universalizado2

2 O atraso educacional brasileiro pode ser explicitado nas questotildees legais que envolvem o Ensino

Meacutedio A Constituiccedilatildeo de 1988 - chamada por muitos de ldquoConstituiccedilatildeo Cidadatilderdquo - estabeleceu

no artigo 208 inciso II ldquoprogressiva extensatildeo de obrigatoriedade e gratuidade do ensino meacutediordquo

mesmo diante dos sinais de mudanccedilas poliacuteticas e econocircmicas significativas no mundo capitalista

O Ensino Meacutedio foi projetado para poucos naquele contexto Somente em 2009 por meio da

Emenda Constitucional ndeg 59 este niacutevel de ensino se tornou obrigatoacuterio no paiacutes

w avanccedilo lento e restritivo da escolarizaccedilatildeo brasileira foi resultado

das relaccedilotildees de poder travadas ao longo do seacuteculo XX mediadas pelas

relaccedilotildees de produccedilatildeo Predominava na classe dominante a compreenshy

satildeo de que o acesso agrave educaccedilatildeo deveria ser programado para atender o

miacutenimo necessaacuterio ao padratildeo de qualificaccedilatildeo exigido pela dinacircmica da

sociedade urbano-industrial em seu desenvolvimento tecnoloacutegico e exishy

gecircncias poliacuteticas e ideoloacutegicas Esse posicionamento contrastava com as

lutas operaacuterias do iniacutecio do seacuteculo XX que reivindicavam acesso agrave edushy

caccedilatildeo puacuteblica e com a manifestaccedilatildeo dos signataacuterios do ldquoManifesto dos

Pioneiros da Educaccedilatildeordquo de 1932 que reivindicava uma escola puacuteblica

de qualidade para todos Contudo na correlaccedilatildeo de forccedilas e consideshy

rando a dinacircmica das relaccedilotildees de produccedilatildeo para a grande maioria o

acesso ao conhecimento sistematizado natildeo ultrapassou o domiacutenio dos

rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo A ideia de que a escolashy

rizaccedilatildeo deveria se constituir num patrimocircnio de poucos predominou

Em que pesem o atraso educacional e as restriccedilotildees de acesso

agrave escola puacuteblica a historiografia da educaccedilatildeo brasileira por reshy

cortes e bases epistemoloacutegicas distintas apresenta fartos elemenshy

tos que demonstram a ligaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar e projeto

civilizatoacuterio conduzido pela classe dominante no paiacutes desde o

iniacutecio do seacuteculo XX confirmando a especificidade da instituiccedilatildeo

escolar no processo de formaccedilatildeo humana

Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar as concepccedilotildees dominantes

Apesar do reconhecimento social sobre a importacircncia e esshy

pecificidade da instituiccedilatildeo escolar no processo educativo mais

amplo eacute necessaacuterio observar que existem divergecircncias quanto agrave

finalidade da educaccedilatildeo escolar Para enfrentar esta questatildeo opshy

tamos por um recorte de duas das mais relevantes formulaccedilotildees

contemporacircneas sobre o tema Nossa opccedilatildeo metodoloacutegica conshy

siste na caracterizaccedilatildeo e anaacutelise das concepccedilotildees procurando evishy

denciar suas implicaccedilotildees para a formaccedilatildeo humana

28

Concepccedilatildeo 1 A finalidade da educaccedilatildeo escolar eacute preparar recursos humanos para impulsionar o desenvolvimento econocircmico

Esta formulaccedilatildeo foi apresentada no cenaacuterio brasileiro nos anos

de 1970 no contexto do regime ditatorial viabilizado pelo golpe em-

presarial-militar de 1964 Traduzindo uma teoria surgida nos Estados

Unidos o bloco no poder do regime ditatorial e seus intelectuais se

encarregaram de viabilizar que os principais enunciados da teoria esshy

tadunidense fossem veiculados para ordenar a funccedilatildeo da escola a parshy

tir da redefiniccedilatildeo da poliacutetica de educaccedilatildeo da legislaccedilatildeo educacional

da organizaccedilatildeo curricular e das praacuteticas pedagoacutegicas A grande meta

era subordinar a educaccedilatildeo escolar ao projeto de desenvolvimento ecoshy

nocircmico Mas o que significa estabelecer que a funccedilatildeo da escola eacute conshy

tribuir para o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes

A teoria acima referida foi sistematizada porTeodoro Schultz

(1963 1971) Parte da premissa de que o conceito de ldquocapitalrdquo se

refere natildeo soacute agraves coisas materiais mas tambeacutem aos seres humanos

Schultz se refere agraves habilidades adquiridas principalmente pela

educaccedilatildeo escolar que interferem na atividade produtiva O conheshy

cimento c as habilidades teacutecnicas seriam expressotildees particulares de

ldquocapitalrdquo uma vez que se vinculam ao aumento da capacidade de

produccedilatildeo A preocupaccedilatildeo do autor com o alargamento do conceishy

to de capital se vincula agrave busca por compreender os diferenciais de

produtividade gerados pelo esforccedilo humano O resultado de sua

formulaccedilatildeo foi denominado de ldquocapital humanordquo

A ampliaccedilatildeo do conceito de capital proposto por Schultz reafirma

a tese da economia poliacutetica burguesa de que todos indistintamente

satildeo capitalistas a diferenccedila baacutesica seria a seguinte uns satildeo possuidores

dos meios de produccedilatildeo e outros da forccedila de trabalho Explicitando o

significado de sua teoria Schultz (1963 p 12-13) afirma que

A recusa em considerar as habilidades adquiridas

pelo homem (habilidades que ampliaram a proshy

dutividade econocircmica desse homem) como uma

forma de capital como bens produzidos da pro-

duccedilatildeo como resultado de um investimento tem

estimulado o conceito restritivo patentemente

errocircneo de que o trabalho prescinde do capital

e de que somente importa o nuacutemero de homens-

-hora [] Os trabalhadores vecircm-se tornando cashy

pitalistas no sentido de que tecircm adquirido muito

conhecimento e diversas habilidades que represhy

sentam valor econocircmico

Na esteira dessa intrigante formulaccedilatildeo Schultz procurou afirmar

que a importacircncia da escolarizaccedilatildeo residia precisamente em ldquovalor

econocircmicordquo Investimentos em educaccedilatildeo resultariam no aumento de

capital humano e na consequente elevaccedilatildeo das taxas de lucro A teoria

do capital humano considera que a educaccedilatildeo deve ser planejada como

fator de desenvolvimento econocircmico e natildeo como direito social

A proposiccedilatildeo consiste em relacionar o ser humano no mesmo

patamar de instrumentos utilizados na produccedilatildeo capitalista Nessa

linha a esquematizaccedilatildeo teoacuterica atestava que a elevaccedilatildeo da escolashy

ridade de um povo ou de cada indiviacuteduo seria diretamente proshy

porcional ao aumento da capacidade de trabalho e ao aumento da

riqueza pessoal sendo que a soma de todas as riquezas significaria

no crescimento da riqueza de uma naccedilatildeo 3

Para Schultz (1971) o valor da educaccedilatildeo estaria na habilitaccedilatildeo de

pessoas para lidar com situaccedilotildees de desequiliacutebrio de mudanccedila e de rupshy

tura O quantum de educaccedilatildeo deveria ser pensado em funccedilatildeo das necessishy

dades de geraccedilatildeo de competecircncias para a eficiecircncia produtiva no trabalho

A anaacutelise de Frigotto (1986) revela os limites e o significashy

do da teoria do capital humano Revela o seu vieacutes empiricista

sua perspectiva epistemoloacutegica baseada no positivismo e o caraacuteter

poliacutetico-ideoloacutegico centrado na economia poliacutetica burguesa

3 Em outras palavras as pessoas ricas seriam aquelas que mais teriam recebido

investimentos em capital humano consequentemente a pessoa pobre seria aquela

que natildeo conseguiu desenvolver o seu capital humano Os paiacuteses mais ricos seriam

aqueles que teriam realizado o maior esforccedilo de elevaccedilatildeo do patamar meacutedio de

racionalidade de seu povo por meio da escola e os paiacuteses mais pobres os que menos

investiram nesse quesitoVale lembrar que a teoria de Schultz nunca conseguiu

explicar o caso brasileiro que de um lado manteacutem-se como uma das maiores

economias do mundo de outro o paiacutes apresenta peacutessimos indicadores educacionais

que comprovam a fragilidade da educaccedilatildeo escolar brasileira

30

No Brasil as repercussotildees da teoria do capital humano foram sigshy

nificativas durante o periacuteodo ditatorial abrangendo vaacuterios aspectos (a)

financiamento da educaccedilatildeo o orccedilamento da educaccedilatildeo passou a ser

definido com base nos mesmos criteacuterios adotados nos investimentos do

setor produtivo (b) planejamento educacional estabeleceu a vincula-

ccedilatildeo direta e imediata entre educaccedilatildeo e setor produtivo - o Plano Setorial

de Educaccedilatildeo e Cultura de 19721974 deixa isso claro (c) legislaccedilatildeo

uma nova lei de Diretrizes e Bases foi estabelecida (lei 569271) para

ordenar a educaccedilatildeo brasileira - chamada ldquoformaccedilatildeo especializadardquo no 2o

grau (atual Ensino Meacutedio) pode ser tomada como um dos exemplos da

vinculaccedilatildeo proposta entre educaccedilatildeo e economia (d) concepccedilatildeo pedashy

goacutegica afirmaccedilatildeo do tecnicismo como referecircncia para os processos forshy

niuivos procurando estabelecer a objetividade do trabalho pedagoacutegico

1 partir da precisatildeo das teacutecnicas e tecnologias de ensino

Apesar das criacuteticas e resistecircncias a teoria do capital humano

iiio foi definitivamente superada Ao contraacuterio desde os anos

laquoU 1990 a teoria vem sendo atualizada e difundida por vaacuterios

mielectuais orgacircnicos da classe burguesa A novidade eacute que a

educaccedilatildeo aleacutem de resultar na elevaccedilatildeo do capital humano deve

timbeacutem desenvolver o chamado capital social Isso significa que

1 Iunccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar foi ampliada embora a perspectiva

i onomicista continue preponderando4

Se o desenvolvimento do capital humano tem interferecircncia direta

mi i questatildeo econocircmica o capital social por sua vez relaciona-se com

i i|iK staacuteo social de forma mais precisa com a coesatildeo poliacutetica e ideoloacutegica

1 iiiballuidores ao projeto hegemocircnico de sociabilidade O capital social

bull ii u licionado agrave elevaccedilatildeo de algumas chamadas variaacuteveis relacionadas agraves

bull bullIuluias humanas que repercutem nas relaccedilotildees comunitaacuterias entre elas a

bull h gt1 u i accedilaacutelt gt a confianccedila muacutetua e a capacidade de participaccedilatildeo (PUTNAM

lt h)M A tese sugere que a elevaccedilatildeo do capital social permitiraacute que os indi-

il icssjliar que natildeo se trata de sobreposiccedilatildeo de accedilotildees mas sim a especificaccedilatildeo de

mi i vi-nccedilotildecs educativas visando assegurar a formaccedilatildeo humana no acircmbito escolar As

u iiiLiccedilotildees de Gustavo Ioschpe intelectual orgacircnico da burguesia satildeo reveladoras

iVni bull llt lui outros ganhos comunicantes associados com a educaccedilatildeo maior toleracircncia

bull u it-iii ia social melhores cuidados com a sauacutede tendecircncias democraacuteticas controle

I iu|miImis violentosrdquo (IOSCHPE 2004 p 67)

viduos se organizem para solucionar os problemas sociais que os afligem

sem necessariamente depender da intervenccedilatildeo paternalista estatal

O projeto de educaccedilatildeo referenciado na teoria do capital e

ampliado com o acreacutescimo da teoria do capital social reconhece

a especificidade da educaccedilatildeo escolar No entanto as referecircncias

sobre a funccedilatildeo da instituiccedilatildeo escolar satildeo restritivas e pragmaacutetishy

cas Sob o ponto de vista mais amplo significa reafirmar que os

subalternos natildeo nasceram para assumir a condiccedilatildeo de classe d ishy

rigente Especificamente sobre o processo pedagoacutegico significa

estabelecer uma formaccedilatildeo de caraacuteter minimalista em que o acesso

ao conhecimento sistematizado na escola ocorreraacute respeitando o

m iacutenimo necessaacuterio para simplesmente desenvolver uma racionashy

lidade instrumental base das competecircncias para a empregabili-

dade O fundamento pedagoacutegico desta concepccedilatildeo estaacute alicerccedilada

na pedagogia das competecircncias (RAM OS 2001) cabendo agrave esshy

cola somente orientar a formaccedilatildeo do trabalhador-cidadatildeo produshy

tivo eficiente em sua condiccedilatildeo de subalternidade

Concepccedilatildeo 2 A funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar eacute formar para a cidadania

Na sociedade capitalista o acesso ao conhecimento sisteshy

matizado estaacute subordinado agrave condiccedilatildeo de classe podendo ser

alterado em funccedilatildeo dos resultados provisoacuterios das lutas poliacuteticas

na educaccedilatildeo conforme destacado anteriormente Nesse sentido

as disputas envolvendo o acesso ao conhecimento ocorrem porshy

que a ciecircncia e a tecnologia se converteram em forccedila produtiva

e instrumento de poder O controle sobre o conhecimento sisteshy

matizado portanto passou a fazer parte da estrateacutegia de dom ishy

naccedilatildeo de classe na sociedade capitalista Diante disso parece-nos

relevante indagar o que significa afirmar que a funccedilatildeo da escola

se destina a preparar para a cidadania Como fica o acesso ao

conhecimento sistematizado nesta concepccedilatildeo

Primeiramente devemos considerar que a cidadania eacute uma consshy

truccedilatildeo resultante das contradiccedilotildees internas das revoluccedilotildees burguesas

32

Embora se no passado representasse um avanccedilo frente agrave velha ordem

feudal ou escravista e se na atualidade expresse tambeacutem um avanccedilo

frente aos regimes e praacuteticas autoritaacuterias eacute importante lembrar que

este constructo designa apenas o reconhecimento da igualdade forshy

mal entre seres humanos que vivem condiccedilotildees poliacuteticas e econocircmicas

profundamente desiguais Em outras palavras o estatuto da cidadania

natildeo altera em absolutamente nada a realidade da dominaccedilatildeo poliacutetica e

exploraccedilatildeo econocircmica realizadas na sociedade capitalista

Um aspecto importante a ser considerado se refere agravequilo que

fundamenta o preceito de cidadania De modo geral o cidadatildeo

natildeo tem identidade de classe mas sim uma condiccedilatildeo individual E

cidadatildeo tanto o que explora e domina quanto aquele que eacute exploshy

rado e dominado por outro O cidadatildeo eacute o indiviacuteduo e natildeo uma

coletividade regulado por um estatuto juriacutedico e certas normas

sociais no contexto de um Estado Portanto ser cidadatildeo significa

integrar-se na vida social a partir da regulaccedilatildeo formal e de valores

indicando o pertencimento poliacutetico A definiccedilatildeo apresentada por

lt mivez (1990 p 15) confirma esta compreensatildeo

A cidadania define a pertenccedila a um Estado Ela daacute

ao indiviacuteduo um status juriacutedico ao qual se ligam dishy

reitos e deveres particulares Esse status depende das

leis proacuteprias de cada Estado e pode-se afirmar que

haacute tantos tipos de cidadatildeos quanto tipos de Estados

O problema da cidadania poreacutem natildeo eacute apenas proshy

blema juriacutedico ou constitucional se provoca debates

apaixonados eacute porque coloca a questatildeo do modo de

inserccedilatildeo do indiviacuteduo em sua comunidade assim

como de sua relaccedilatildeo com o poder poliacutetico

lt luo de ser cidadatildeo natildeo assegura a igualdade de condiccedilotildees

1 vidi e trabalho em um contexto de profunda desigualdade

moiiiua poliacutetica e social Muito menos assegura a possibili-

l raquolt dc ser diferente no contexto em que a igualdade formal se

ilgt In r procurando uniformizar a todos A cidadania portan-

bull i ui li ii a possibilidade da atuaccedilatildeo poliacutetica de indiviacuteduos e

ni i |i 1 1 ic as sociais dentro dos limites da ordem existente5

I iliIr poliacutetica denominamos o direito de organizaccedilatildeo de representaccedilatildeo e de

l i I h preacutesentantes atraveacutes do voto

As inuacutemeras adjetivaccedilotildees propostas ao conceito sinalizam as restriccedilotildees

de sua inserccedilatildeo na praacutetica social concreta Na lista de adjetivaccedilotildees encontrashy

mos ldquocidadania participativardquo ldquocidadania efetivardquo ldquocidadania emancipadardquo

ldquocidadania ativardquo ldquocidadania eacuteticardquo ldquocidadania popularrdquo entre outras6

Natildeo queremos com essa delimitaccedilatildeo invalidar a importacircncia da

cidadania no passado e no presente na sociedade capitalista especialshy

mente para a formaccedilatildeo social brasileira Ao contraacuterio acreditamos

que legalidade constituiacuteda no estatuto juriacutedico dos direitos individushy

ais e poliacuteticos - envolvendo a possibilidade de organizaccedilatildeo de represhy

sentaccedilatildeo de coletivos e de possibilidades de escolhas de representantes

atraveacutes do voto mdash natildeo eacute passiacutevel de desprezo Entretanto o que busshy

camos assinalar eacute que vincular o projeto de educaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo da

cidadania eacute insuficiente pois a cidadania natildeo pressupotildee a superaccedilatildeo

da ordem capitalista (TONET 2005)

Cabe lembrar que nas sociedades capitalistas dependentes como

eacute o caso da sociedade brasileira a exploraccedilatildeo se materializa em supe-

rexploraccedilatildeo a participaccedilatildeo poliacutetica eacute sempre condicionada a marcos

juriacutedicos restritivos a concentraccedilatildeo da renda e da propriedade eacute extreshy

mada a polarizaccedilatildeo social eacute mais evidente e a dominaccedilatildeo ideoloacutegica eacute

maciccedila (CA RDO SO 2006) Considerando que os indicadores sociais

e econocircmicos confirmam esta observaccedilatildeo acreditamos que limitar a

finalidade da escola para a produccedilatildeo da cidadania eacute algo insuficiente

E importante considerar que a vinculaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar

e cidadania possui um lastro histoacuterico importante no Brasil De modo

mais amplo talvez esta vinculaccedilatildeo possa ser creditada como resposta

dos educadores progressistas agrave experiecircncia vivida pelos trabalhadores

brasileiros no contexto da ditadura empresarial-militar que perdurou

por cerca de vinte anos Se esta hipoacutetese estiver correta poderemos

afirmar que a educaccedilatildeo para a cidadania representou um posicionashy

mento criacutetico frente ao regime autoritaacuterio agrave cultura poliacutetica consershy

6 A produccedilatildeo acadecircmica sobre o tema eacute consideraacutevel Aleacutem de teses

dissertaccedilotildees e artigos cientiacuteficos a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e cidadania foi

abordada em diferentes obras Eis alguns livros sobre o tema Buffa et al

(1987) Ferreira (1993) Demo (1994) Libacircneo (1998)

34

vadora ao clicntelismo e ao patrimonialismo presentes na vida social

Sobre o acesso ao conhecimento sistematizado para Libacircneo (1998)

o exerciacutecio para a cidadania exigiria o domiacutenio dos conhecimentos

sistematizados como ferramentas individuais para a intervenccedilatildeo na

realidade Apesar da perspectiva progressista da formulaccedilatildeo acreditashy

mos que educar para a cidadania eacute diferente de educar para compreshy

ensatildeo dos limites histoacutericos e teoacutericos da cidadania

Aleacutem das formulaccedilotildees progressistas sobre a educaccedilatildeo escolar e

cidadania existem tambeacutem obras de caraacuteter conservador que buscam

reafirmar aquilo que Neves (2005) define como a nova pedagogia da

hegemonia por meio da educaccedilatildeo escolar As formulaccedilotildees de Delors

(1996) e Morin (2000) divulgadas sobre a chancela da Organizaccedilatildeo das

Naccedilotildees Unidas satildeo casos exemplares que repercutem na definiccedilatildeo da

poliacutetica educacional em nosso paiacutes nos anos recentes de nossa histoacuteria7

Para Delors ldquona escola eacute que deve comeccedilar a educaccedilatildeo para

uma cidadania consciente e ativardquo (1996 p 28)s Entretanto peshy

los limites teoacutericos e histoacutericos do conceito e considerando suas

opccedilotildees ideoloacutegicas o maacuteximo que Delors consegue eacute reafirmar

com novas palavras as velhas construccedilotildees que envolvem a temaacutetica

educaccedilatildeo para a cidadania Em suas palavras

Mas como aprender a conviver nesta aldeia global

se somos incapazes de viver em paz nas comunidades

naturais a que pertencemos naccedilatildeo regiatildeo cidade alshy

deia vizinhanccedila A questatildeo central da democracia eacute

saber se desejamos e somos capazes de participar da

vida em comunidade conveacutem natildeo esquecer que esse

desejo depende do sentido da responsabilidade de

cada um (DELORS 1996 p 7-8)

A tese explicita claramente os limites da cidadania revelando que

sua vinculaccedilatildeo se estabelece com o indiviacuteduo e natildeo com as coletividashy

des Por meio da chamada cidadania consciente e ativa Delors retoma

Acredi tamos que parte dessas formulaccedilotildees saacuteo tributaacuterias da concepccedilatildeo pedagoacutegica escolanovista

Para entender o que isso significa em termos poliacuteticos e filosoacuteficos recomendamos a leitura de

Saviani (1987) especialmente o capiacutetulo dois ldquoEscola e democracia I a Teoria da Curvatura

da Varardquo

8 Os adjetivos ldquoconscienterdquo e ldquoativordquo demonstram a intenccedilatildeo de estabelecer uma atualizaccedilatildeo

da cidadania tal como assinalados anteriormente

o individualismo como valor moral radical reafirmando a formulaccedilatildeo

valorizada pela doutrina liberal e pelos projetos neoliberal e neoliberal

da terceira via Estes limites podem ser verificados em outra afirmaccedilatildeo

Um sentimento de vertigem apodera-se de nossos

contemporacircneos divididos entre essa globalizaccedilatildeo - a

cujas manifestaccedilotildees eles satildeo obrigados agraves vezes a se

submeterem mdash e a busca pessoal de suas raiacutezes refeshy

recircncias e filiaccedilotildees

A educaccedilaacuteo deve enfrentar esse problema porque na

perspectiva do parto doloroso de uma sociedade munshy

dial ela situa-se mais do que nunca 110 acircmago do deshy

senvolvimento da pessoa e das comunidades sua misshy

satildeo consiste em permitir que todos sem exceccedilatildeo faccedilam

frutificar seus talentos e suas potencialidades criativas

o que implica por parte de cada um a capacidade de assumir sua proacutepria responsabilidade e de realizar seu proshyjeto pessoal (D ELO RS 1996 p 10 grifo nosso)

Aleacutem dos aspectos citados cabe destacar o conteuacutedo ideoloacutegico

dos princiacutepios valorativos da educaccedilatildeo para a cidadania sistematizada

por Jacques Delors Segundo Duarte (2008) estes princiacutepios satildeo orienshy

tados pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo De modo geral os prinshy

ciacutepios convergem para a afirmaccedilatildeo do individualismo como valor moral

radical A tiacutetulo de exemplo podemos citar a hierarquizaccedilatildeo das formas

de aprendizagem realizadas pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo

Duarte (2008) verifica que para esta corrente pedagoacutegica eacute mais releshy

vante e significativo aprender sozinho do que pela mediaccedilatildeo do outro

Isso significa a ratificaccedilatildeo do individualismo como valor morai radical e

define o conteuacutedo da chamada cidadania consciente e ativa

A posiccedilatildeo de Edgar Morin se apresenta na mesma perspectiva trashy

ccedilada por Jacques Delors Delineando as bases para a educaccedilatildeo escolar

formar o chamado cidadatildeo planetaacuterio do seacuteculo XXI o autor afirma que

Podemos considerar que a plenitude e a livre

expressatildeo dos indiviacuteduos-sujeitos constituem

nosso propoacutesito eacutetico e poliacutetico sem entreshy

tanto pensarmos que constituem a proacutepria

finalidade da triacuteade indiviacutediwsociedadelespeacute-

cie A complexidade humana natildeo poderia ser

compreendida dissociada dos elementos que

a constituem todo desenvolvimento verdadeishyramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais das parshyticipaccedilotildees comunitaacuterias e do sentimento de pershytencer agrave espeacutecie humana (MORIN 2000 p

54-55 grifo do autor)

Mais uma vez o indiviacuteduo atomizado e sem identidade de

classe portanto diluiacutedo nas relaccedilotildees sociais eacute apresentado como

referecircncia central da formulaccedilatildeo

A finalidade da formaccedilatildeo do chamado cidadatildeo planetaacuterio eacute

e xplicitada da seguinte forma

O problema da compreensatildeo tornou-se crucial para

os humanos E por este motivo deve ser uma das

finalidades da educaccedilatildeo do futuro Lembremo-

-nos de que nenhuma teacutecnica de comunicaccedilatildeo do

telefone agrave Internet traz por si mesma a compreshy

ensatildeo A compreensatildeo natildeo pode ser quantificada

Educar para compreender a matemaacutetica ou uma

disciplina determinada eacute uma coisa educar para a

compreensatildeo humana eacute outra Nela encontra-se a

missatildeo propriamente espiritual da educaccedilatildeo ensishy

nar a compreensatildeo entre as pessoas como condiccedilatildeo

e garantia da solidariedade intelectual e moral da

humanidade (M O R IN 2000 p 94)

construccedilatildeo de uma sociedade solidaacuteria eacute de fato algo re-

bull iiiu Entretanto a formulaccedilatildeo de Morin aposta na solidarie-

tllt lsquocm alterar as condiccedilotildees objetivas de vida Eacute possiacutevel esta-

bull I ei i solidariedade num contexto marcado pela exploraccedilatildeo e

|m 11 iloi iaccedilatildeo das coisas em detrimento da condiccedilatildeo humana

I ui siacutentese o que se busca eacute na verdade o estabelecimento de

d u pu(o entre as classes sociais sobre o controle e direccedilatildeo

1 lt liiiijMicsa Desse modo a funccedilatildeo da escola do seacuteculo XXI

i i ili pcli cidadania seraacute a de reafirmar a manutenccedilatildeo das rela-

bull | raquodei e xistentes com o aprofundamento da subserviecircncia da

u ii iliilliulora Aleacutem disso nesta concepccedilatildeo o conhecimento

sistematizado cede lugar agrave experiecircncia imediata ou quando muito

na perspectiva progressista agrave reflexatildeo sobre formas de intervenccedilatildeo

na vida poliacutetica da escola da comunidade ou do paiacutes

Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar educar para a emancipaccedilatildeo humana

O consenso em torno da legitimidade da instituiccedilatildeo escolar

na sociedade contemporacircnea eacute um dado consolidado certamente

influenciado pelas concepccedilotildees anteriormente analisadas Entretanshy

to um problema persiste tais formulaccedilotildees restringem a formaccedilatildeo

humana e consequentemente limitam as possibilidades de insershy

ccedilatildeo no mundo real Diante disso cabe uma questatildeo a educaccedilatildeo

escolar pode oferecer outra perspectiva formativa que supere o

economicismo da teoria do capital humano e a orientaccedilatildeo politi-

cista da educaccedilatildeo para a cidadania Qual o papel do conhecimento

sistematizado nesta alternativa pedagoacutegica

Foi procurando responder a esta questatildeo que alguns educadores brashy

sileiros procuraram delinear uma nova possibilidade pedagoacutegica sobre a esshy

pecificidade e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar tendo em vista a necessidade de

elevar a escolarizaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes da classe trabalhadora9

Esta concepccedilatildeo pedagoacutegica foi sistematizada a partir da anaacutelishy

se criacutetica sobre a configuraccedilatildeo e dinacircmica da sociedade capitalista

Conhecendo os limites desta forma cultural de organizaccedilatildeo da vida

o segundo passo foi analisar as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes

considerando as necessidades da classe trabalhadora e os objetivos

da classe burguesa A primeira constataccedilatildeo foi que os processos de

dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo tiacutepicos das formaccedilotildees sociais capitalistas

impedem a emancipaccedilatildeo humana A segunda constataccedilatildeo foi que

as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes eram expressotildees especiacuteficas do

projeto de sociedade da classe dominante A siacutentese desta anaacutelise

9 A principal figura deste esforccedilo foi Dermeval Saviani que desde os anos finais de 1960

jaacute refletia sobre a necessidade e possibilidades de sistematizar uma teoria da educaccedilatildeo

que superasse tanto as teorias natildeo criacuteticas da educaccedilatildeo quanto agraves teorias criacutetico-

reprodutivistas Para compreender este processo ver Saviani (1987 2003)

38

pode ser assim descrita eacute necessaacuterio superar as teorias e experiecircncias

existentes fornecendo aos educadores uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo

que esteja vinculada ao compromisso com a emancipaccedilatildeo da classe

trabalhadora (SAVIANI 2003) O resultado desta sistematizaccedilatildeo

foi denominado de Pedagogia histoacuterico-criacutetica Sua fundamentaccedilatildeo

encontra-se alicerccedilada no materialismo histoacuterico

O ponto de partida desta concepccedilatildeo foi compreender a condishy

ccedilatildeo humana e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo na vida social Sobre o primeishy

ro aspecto recuperando as ideias de Friedrich Engels e Karl Marx

a Pedagogia histoacuterico-criacutetica afirma que os seres humanos precisam

criar permanentemente as condiccedilotildees de sua existecircncia Enquanto os

outros animais se adaptam ao mundo natural coletivamente os seres

humanos transformam este mesmo mundo para viabilizar a existecircncia

da vida produzindo cultura Em outras palavras natildeo encontramos

tudo de que precisamos pronto somos obrigados a produzir formas

materiais e natildeo materiais necessaacuterias agrave vida mdash formas que nascem da

necessidade objetiva (alimentaccedilatildeo por exemplo) e dos desejos e fanshy

tasias - e a transmitir estas formas para outras geraccedilotildees

Os seres humanos criam estas condiccedilotildees por meio de uma cashy

pacidade que desenvolveram ao longo da histoacuteria a capacidade de

antecipar no plano do pensamento e traduzir esta antecipaccedilatildeo em

accedilotildees concretas e intencionais para viabilizar a vida - algo que Engels

e Marx denominam de trabalho Por meio do trabalho - uma forma

bem mais elaborada que a accedilatildeo instintiva dos demais animais para

suprir as necessidades e vontades que os seres humanos possuem os

seres humanos ultrapassaram a determinaccedilatildeo bioloacutegica para assumir

a condiccedilatildeo mais complexa ser cultural Por cultura compreende-se

a forma de organizaccedilatildeo e produccedilatildeo da vida que envolve a poliacutetica

a economia as artes os haacutebitos e costumes predominantes em uma

formaccedilatildeo social e tempo histoacuterico (CHAUI 1995)

Com base nesta compreensatildeo a funccedilatildeo da educaccedilatildeo para a Pedashy

gogia histoacuterico-criacutetica se vincula agrave produccedilatildeo da existecircncia humana porshy

tanto a condiccedilatildeo de cultura Enquanto predominou na criaccedilatildeo e orgashy

nizaccedilatildeo das condiccedilotildees de existecircncia processos mais simples de trabalho

foi possiacutevel educar os mais novos no proacuteprio processo de trabalho Na

medida em que a criaccedilatildeo das condiccedilotildees humanas se tornou mais comshy

plexa aleacutem dos processos informais foi requerida a institucionalizaccedilatildeo

da educaccedilatildeo na forma escolar Conforme indicamos na primeira parte

deste texto a escola foi criada para oferecer as bases para a produccedilatildeo

coletiva da existecircncia humana

Contudo cabe ressaltar que a produccedilatildeo da existecircncia hushy

mana se faz por meio de relaccedilotildees sociais Estas relaccedilotildees assushy

mem formas especiacuteficas envolvendo a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo

poliacutetico-econocircmica de grupos sociais sobre outros grupos sociais

Significa afirmar que a relaccedilatildeo entre trabalho e educaccedilatildeo foi senshy

do delineada a partir do conteuacutedo e da forma como as relaccedilotildees

sociais de desenvolvem na sociedade de classes

O projeto dominante defende que a classe trabalhadora deve ser

mantida na condiccedilatildeo de subalternidade soacutecio-poliacutetico-econocircmica A

orientaccedilatildeo eacute para que as crianccedilas e adolescentes desta classe sejam edushy

cados para se tornarem um ldquorecurso humanordquo para o desenvolvimento

econocircmico capitalista e para obedecer as ldquoregras sociaisrdquo para a harmonia

social desta sociedade contraditoacuteria

Reconhecendo que os seres humanos podem viver em outras

condiccedilotildees e verificando que o projeto dominante encontra resisshy

tecircncia na dinacircmica escolar a Pedagogia histoacuterico-criacutetica procura

oferecer aos educadores criacuteticos uma teoria educacional alternashy

tiva de caraacuteter contra-hegemocircnico A perspectiva eacute afirmar que

os alunos da classe trabalhadora precisam ser educados para assushy

mirem as condiccedilotildees subjetivas necessaacuterias agrave direccedilatildeo do processo

histoacuterico tendo em vista a emancipaccedilatildeo humana 10

A perspectiva eacute que os alunos ( Io) compreendam criticamenshy

te a organizaccedilatildeo e dinacircmica das formas de produccedilatildeo da existecircncia

10 Eacute importante deixar claro que natildeo eacute a educaccedilatildeo escolar que realizaraacute a emancipaccedilatildeo humana

mas sim a mudanccedila na forma de produzir a existecircncia humana Contudo sem educaccedilatildeo

essa mudanccedila jamais ocorreraacute Por emancipaccedilatildeo humana entendemos a condiccedilatildeo social

poliacutetica e econocircmica que permitiraacute ao gecircnero humano superar efetivamente todas as formas

de dominaccedilatildeo exploraccedilatildeo e opressatildeo Tratar da emancipaccedilatildeo humana significa projetar a

necessidade da realizaccedilatildeo plena do ser social em comunhatildeo com o meio ambiente e com os

demais seres humanos significa projetar a sociabilidade autocircnoma e verdadeiramente livre

An

humana especialmente a forma capitalista (2o) dominem os coshy

nhecimentos sistematizados e as formas culturais existentes comshy

preendendo-os como produto e instrumento necessaacuterio agrave produccedilatildeo

da existecircncia (3o) desenvolvam a loacutegica dialeacutetica de organizaccedilatildeo do

pensamento para superar a loacutegica formal e a passividade intelectual

em busca da autonomia do pensar (SAVIANI 1987 2003)

Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamental que os alushy

nos natildeo soacute assimilem conhecimentos mas que construam sentishy

dos e significados sobre a relaccedilatildeo entre conhecimento-trabalho-

-vida no mundo real complexo e contraditoacuterio Os conteuacutedos

das disciplinas que compotildeem o curriacuteculo escolar ao inveacutes de

orientar para a abstraccedilatildeo do pensamento ou ordenar a racionalishy

dade teacutecnica para o simples fazer podem estabelecer mediaccedilotildees

importantes para ampliar a compreensatildeo sobre as dimensotildees da

produccedilatildeo da existecircncia humana Trata-se de reestabelecer o nexo

orgacircnico entre vidatrabalho e educaccedilatildeo

Nessa linha o ensino e aprendizagem do conhecimento sistematizashy

do envolveraacute a compreensatildeo da realidade vivida a partir do diaacutelogo com

os conhecimentos espontacircneos e aqueles advindos da experiecircncia Natildeo se

trata de negar o conhecimento espontacircneo e o conhecimento gerado pela

experiecircncia Ao contraacuterio para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamenshy

tal oferecer novas possibilidades de interpretaccedilatildeo desses conhecimentos e

seus significados para a vida humana O que se busca entatildeo eacute ultrapassar o

senso comum a superficialidade e a abstraccedilatildeo para assegurar que a aproshy

priaccedilatildeo do conhecimento sistematizado permita compreender e atuar nos

processos de produccedilatildeo da existecircncia humana e das relaccedilotildees de poder neshy

les envolvidas Nesta concepccedilatildeo os conteuacutedos escolares ao inveacutes de frios

e vazios como eacute tiacutepico da pedagogia tradicional e pedagogia tecnicista

produzem sentidos e significados para o professor e o aluno porque se

vinculam de forma mais ou menos indireta aos processos reais de produshy

ccedilatildeo material e simboacutelica dos meios necessaacuterios agrave vida e agrave interpretaccedilatildeo das

relaccedilotildees de poder envolvidas nestes processos

Enquanto sujeitos do processo educativo professores e alunos

partem juntos da praacutetica social isto eacute da realidade vivida pela hu-

manidade para compreender o mundo real interpretar as formas

de produccedilatildeo deste mundo e estabelecer possibilidades de agir nele

E claro que enquanto espaccedilo social a escola se materializa enquanto

instacircncia de sociabilidade onde haacute encontros humanos ricos e profundos

para a experiecircncia de crianccedilas e adolescentes Entretanto o que justifica a

especificidade da instituiccedilatildeo escolar natildeo eacute o simples conviacutevio ainda que

ele seja importante mas sim a necessidade de apropriaccedilatildeo coletiva do

conhecimento sistematizado tendo em vista a compreensatildeo da condiccedilatildeo

humana e as possibilidades de intervenccedilatildeo no mundo

Reconhecer a especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute importante

para que as praacuteticas pedagoacutegicas natildeo sejam orientadas para rebaixar

a escolarizaccedilatildeo destinada aos filhos da classe trabalhadora Enquanto

espaccedilo de vivecircncia coletiva a instituiccedilatildeo escolar deve ter claro que

funccedilatildeo deve cumprir na sociedade Esvaziar o curriacuteculo escolar de coshy

nhecimento sistematizado e valorizar os saberes advindos da experiecircnshy

cia imediata como centro do processo educativo eacute um meio que vem

sendo usado para comprometer a formaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes

da classe trabalhadora mantendo-os na condiccedilatildeo de subalternidade

O desafio proposto pela Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute tornar a

instituiccedilatildeo escolar numa instacircncia que socializa os conhecimentos sisshy

tematizados para permitir o domiacutenio dos meios necessaacuterios agrave insershy

ccedilatildeo ativa na vida social com o horizonte da emancipaccedilatildeo humana E

possibilitar que os processos pedagoacutegicos escolares assegurem a todos

indistintamente aquilo que se tornou indispensaacutevel para compreenshy

deragir ono mundo o conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico

Consideraccedilotildees finais

Vivemos numa sociedade de classes Sob esta condiccedilatildeo penshy

sar a funccedilatildeo e especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute tratar dos

projetos formativos que disputam a formaccedilatildeo humana nesta soshy

ciedade E tambeacutem considerar a posiccedilatildeo das perspectivas pedashy

goacutegicas em relaccedilatildeo ao tratamento dispensado ao conhecimento

sistematizado E compreender que as definiccedilotildees pedagoacutegicas natildeo

satildeo simples escolhas teacutecnicas ou arbitraacuterias

42

Isso revela que o trabalho educativo na sociedade de classes

eacute algo muito complexo que exige do professor rigor na tomada

de posiccedilotildees compromisso poliacutetico com um projeto de sociedade

que assume o domiacutenio dos instrumentos pedagoacutegicos para transshy

formar a intenccedilatildeo educativa em algo real na formaccedilatildeo humana

As possibilidades teoacutericas existem e elas se vinculam aos inshy

teresses de classe Haacute quem defenda que basta preparar a forccedila

de trabalho para o desenvolvimento capitalista Haacute quem acredite

que educar para a cidadania eacute suficiente para assegurar direitos Jaacute

existem intelectuais orgacircnicos da classe burguesa que reconhecem

que eacute preciso que a escola eduque o ldquocidadatildeo trabalhador produtishy

vordquo uma siacutentese das correntes acima indicadas

Entretanto as possibilidades acima apresentadas satildeo insuficienshy

tes para a classe trabalhadora pois o economicismo e politicismo peshy

dagoacutegicos - e as possiacuteveis siacutenteses geradas entre eles - se vinculam

ainda ao plano da conservaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute preciso educar para contrishy

buir com o desafiador e difiacutecil processo de valorizaccedilatildeo da vida humashy

na e natildeo das coisas e construccedilatildeo da emancipaccedilatildeo Sua perspectiva

eacute oferecer aos educadores do campo criacutetico uma alternativa teoacuterica e

metodoloacutegica para a construccedilatildeo da mudanccedila valorizando a instituishy

ccedilatildeo escolar em um espaccedilo rico e dinacircmico de ensino-aprendizagem

repleto de sentidos e significados para os que precisam romper com

a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo de classes

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CAPIacuteTULO II

0 ENSINO DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA E A FORMACcedilAtildeO DE SUJEITOS HISTOacuteRICOS EM BUSCA DOS FUNDAMENTOS TEOacuteRICOS E METODOLOacuteGICOS

Adriano de Paiva Reis

Alvaro de Azeredo Quelhas

Carla Cristina Carvalho Pereira

Leonardo Docena Pina

Renata Aparecida Alves Landim

Neste texto apresentamos os fundashy

mentos teoacutericos e metodoloacutegicos da persshy

pectiva de Educaccedilatildeo Fiacutesica que busca proshy

mover uma reflexatildeo criacutetica sobre a cultura

corporal Partimos da discussatildeo sobre a exisshy

tecircncia de dois distintos e contraditoacuterios proshy

jetos de formaccedilatildeo humana um que busca

assegurar a adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves atushy

ais relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e outro que tem

como horizonte a formaccedilatildeo de sujeitos criacuteshy

ticos e transformadores da sua proacutepria hisshy

toacuteria Com base no materialismo histoacuterico-

-dialeacutetico na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e

na abordagem Criacutetico-superadora apresenshy

tamos uma possibilidade didaacutetica que busca

abordar os conteuacutedos da cultura corporal de

modo ativo e dinacircmico tendo como ponto

de partida e de chegada a praacutetica social de

modo a permitir a ampliaccedilatildeo da compreenshy

satildeoaccedilatildeo dos alunos sobre a realidade

A relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo e a perspectiva dominante de formaccedilatildeo humana

O trabalho e a educaccedilatildeo satildeo atividades especificamente humanas e

estatildeo relacionadas ao processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura pelo

conjunto dos homens Por meio do trabalho o homem transforma intenshy

cionalmente a natureza para satisfazer suas necessidades criando uma reshy

alidade sociocultural um mundo especificamente humano portador de

produccedilotildees culturais (materiais e natildeo materiais) cada vez mais desenvolvidas

Para relacionar-se com os outros seres humanos inserindo-se em

determinada fase do desenvolvimento histoacuterico da humanidade cada

indiviacuteduo singular precisa apropriar-se da riqueza da experiecircncia humashy

na acumulada na cultura pois as aptidotildees e funccedilotildees humanas historicashy

mente formadas natildeo se reproduzem pela hereditariedade mas precisam

ser formadas isto eacute transmitidas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo A esse processhy

so de transmissatildeo da cultura produzida histoacuterica e coletivamente pelo

conjunto dos homens mdash que permite a formaccedilatildeo da humanidade em

cada indiviacuteduo singular - denomina-se educaccedilatildeo (SAVIANI 2005)

Entretanto como as formas assumidas pelo trabalho nos dishy

versos modos de produccedilatildeo da existecircncia humana satildeo fenocircmenos

construiacutedos concretamente nas relaccedilotildees sociais a formaccedilatildeo humana

tende a ser determinada pelos processos histoacutericos De acordo com

Marx (2005) no modo de produccedilatildeo capitalista - aquele que estaacute

fundado na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo e na aproshy

priaccedilatildeo privada dos produtos do trabalho - a relaccedilatildeo do homem

com o mundo aparece invertida de tal forma que o trabalho assashy

lariado caracteriacutestico da moderna sociedade burguesa resulta num

estranhamento do homem com o seu trabalho o trabalho de ativishy

dade de realizaccedilatildeo do homem eacute transformado em ldquo[] desrealizaccedilatildeo

do trabalhador a objetivaccedilatildeo como perda e servidatildeo do objeto a

apropriaccedilatildeo com alienaccedilatildeo1rdquo (MARX 2005 p 1 12)

i Em Marx (2005) a alienaccedilatildeo corresponde ao estranhamento total do homem com a natureza

com a humanidade e com ele proacuteprio sendo que a base de todas essas relaccedilotildees sociais estranhas

c a alienaccedilatildeo do proacuteprio trabalho O u seja a partir da expropriaccedilatildeo do produto e do processo

de seu trabalho o homem passa a alienar-se de sua vida como um todo

Tendo em vista que o trabalho na sociedade capitalista eacute contrashy

ditoriamente fundamento da existecircncia humana e meio de alienaccedilatildeo

pensar o trabalho como princiacutepio educativo implica em visualizar

dois projetos distintos de educaccedilatildeo escolar um que busca adaptar os

indiviacuteduos agraves atuais relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo e outro que visa

alcanccedilar o pleno desenvolvimento da iiiacutedividualidade livre e universal (DUARTE 2006) algo atrelado agrave construccedilatildeo de uma nova sociedashy

de na qual estejam superadas as relaccedilotildees sociais alienadas

Na perspectiva voltada agrave reproduccedilatildeo do capital a educaccedilatildeo

tem servido como meio de adaptar o indiviacuteduo agraves condiccedilotildees hisshy

toacutericas da produccedilatildeo negando o potencial criativo e transformador

da realidade que o homem possui impedindo-o de reconhecer-se

como sujeito da histoacuteria Como analisam criticamente Frigotto

Ciavatta e Ramos (2005) o sentido economicista atribuiacutedo agrave edushy

caccedilatildeo a tem proclamado como instrumento de formaccedilatildeo para o

trabalho no seu sentido historicamente alienado dando origem

agrave noccedilatildeo ideoloacutegica da escola como promotora da ascensatildeo social

Este fato pode ser observado em mitos como o da empregabilidade

e do empreendedorismo que vigoram hoje em dia

Diversas anaacutelises realizadas sobre a relaccedilatildeo entre trabalho e

educaccedilatildeo como as realizadas por Ramos (2006) e Kuenzer (2007)

por exemplo evidenciam que no contexto de transiccedilatildeo do modo

laquoIr produccedilatildeo capitalista para o regime de acumulaccedilatildeo flexiacutevel2

1 implantaccedilatildeo de um novo paradigma produtivo e a emergecircncia

Jr novas demandas de ajustamento social provocaram uma nova

loi nia de ser do trabalhador que estabeleceu exigecircncias significa-

iivimente diferentes daquelas em curso ateacute entatildeo O u seja uma

nov a dinacircmica de produccedilatildeo e novos meacutetodos de trabalho passaram

I gtc acordo com as anaacutelises dc Harvey (2006) a partir da deacutecada dc 1970 com a explosatildeo

laquoli nova crise de superacumulaccedilatildeo capitalista inicia-se um periacuteodo de reestruturaccedilatildeo

lt miocircmica e de reajustamento social e poliacutetico marcando a passagem para um novo

irgime de acumulaccedilatildeo ldquoA acumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo surge em contraposiccedilatildeo agrave rigidez do

Inulismo ldquoEla se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho dos mercados de

uibalho dos produtos e padrotildees de consumordquo (1IARVKY 2006 p 140)

a exigir um tipo novo de trabalhador e de homem3 Assim para

atender aos interesses de valorizaccedilatildeo do capital vecircm ocorrendo

diversas alteraccedilotildees nos projetos e processos de formaccedilatildeo humana

a fim de ajustaacute-los agraves novas formas de organizaccedilatildeo do trabalho e

aos novos padrotildees de sociabilidade capitalista

Com base na argumentaccedilatildeo de que ingressamos na chamada ldquosocieshy

dade do conhecimentordquo a educaccedilatildeo passa a ser proclamada como uma

tarefa para toda a vida e a noccedilatildeo de competecircncia assume centralidade na

educaccedilatildeo escolar Para se consolidar como categoria ordenadora da relaccedilatildeo

trabalho-educaccedilatildeo a noccedilatildeo de competecircncia se inscreve num movimento

de afirmaccedilatildeo e negaccedilatildeo do conceito de qualificaccedilatildeo promovendo a valoshy

rizaccedilatildeo da sua dimensatildeo experimental agrave custa do enfraquecimento da sua

dimensatildeo conceituai e social (RAMOS 2006)

O enfraquecimento da dimensatildeo social da qualificaccedilatildeo pode ser

constatado nos discursos que proclamam um novo papel para a educashy

ccedilatildeo escolar natildeo mais formar para um determinado posto ou emprego

mas sim gerar potencial de empregabilidade De acordo com Gentili

(2005) a empregabilidade eacute o eufemismo da desigualdade estrutural

que caracteriza o mercado de trabalho e sintetiza a incapacidade mdash tamshy

beacutem estrutural mdash da educaccedilatildeo em cumprir sua promessa integradora

Conforme explica o autor esse conceito ganhou espaccedilo e centralidade

a partir da deacutecada de 1990 sendo definido como eixo fundamental de

um conjunto de poliacuteticas supostamente destinadas agrave diminuiccedilatildeo de risshy

cos sociais gerados pelo desemprego Para o discurso dominante o conshy

ceito de empregabilidade natildeo significa garantia de integraccedilatildeo mas apeshy

nas melhores condiccedilotildees para competir na luta pelos poucos empregos

disponiacuteveis no mercado de trabalho Esse conceito segundo o autor

acaba com a concepccedilatildeo do emprego e da renda como esferas de direito

3 Tomamos essa expressatildeo emprestada de Gramsci (1976) que foi originalmente utilizada

em Americanismo e Fordismo e sugere que um novo tipo de trabalho e de produccedilatildeo traz a

necessidade de formar um novo tipo de homem pois ldquo[] novos meacutetodos de trabalho estatildeo

indissoluvelmente ligados a um determinado modo de viver de pensar e de sentir a vida

natildeo eacute possiacutevel obter ecircxito num campo sem obter resultados tangiacuteveis no outrordquo (p 396)

4 De acordo com Frigotto (1998) o termo ldquosociedade do conhecimentordquo diz respeito a um

deslocamento conceituai da teoria do capital humano buscando alinhar ideologicamente

a educaccedilatildeo agrave nova materialidade e mascarar a realidade do desemprego estrutural

pois parte do entendimento de que a posse de determinadas condiccedilotildees

de empregabilidade natildeo garante a inserccedilatildeo no mercado de trabalho

No que se refere agrave concepccedilatildeo de conhecimento subjacente agrave noccedilatildeo de

competecircncia Ramos (2006) conclui que por estar pautada numa ldquoconcepshy

ccedilatildeo natural-funcionalista de homemrdquo esta noccedilatildeo abriga uma ldquoconcepccedilatildeo

subjetivo-relativista de conhecimentordquo que reforccedila o irracionalismo poacutes-

-moderno5 configurando-se como uma noccedilatildeo adaptadora do comportashy

mento humano agrave instabilidade da vida no capitalismo tardio

A perspectiva educacional ancorada na noccedilatildeo de competecircncia busshy

ca alterar a maneira de ser da classe trabalhadora adequando-a aos novos

valores necessaacuterios agrave manutenccedilatildeo das relaccedilotildees capitalistas No que tange

ao curriacuteculo essa noccedilatildeo privilegia os objetivos atitudinais comportamen-

tais e procedimentais ligados ao saber agir e saber fazer secundarizando e

subordinando os conhecimentos agraves situaccedilotildees praacuteticas uma vez que soacute satildeo

considerados vaacutelidos os conhecimentos que apresentam aplicabilidade no

desempenho das atividades de produccedilatildeo6

A pedagogia das competecircncias aleacutem de ser uma importanshy

te referecircncia pedagoacutegica defendida pelos intelectuais da classe

dominante natildeo estaacute soacute na defesa dos interesses capitalistas no

campo da educaccedilatildeo escolar pelo contraacuterio ganha forccedila na meshy

dida em que se alinha a outras concepccedilotildees que negam a escola

tomo instituiccedilatildeo responsaacutevel pela transmissatildeo do conhecimento

sistematizado como eacute o caso do construtivismo

Para desenvolver competecircncias eacute preciso antes de

tudo trabalhar por problemas e projetos propor

tarefas complexas e desafios que incitem os alunos

a mobilizar seus conhecimentos e cm certa medida

completaacute-los Isso pressupotildee uma pedagogia ativa

Com relaccedilaacuteo ao relativisino poacutes-moderno as anaacutelises de Harvey (2006) permitem

compreender que a necessidade capitalista de acelerar o tempo de giro do capital atraveacutes

ltli aceleraccedilatildeo da produccedilatildeo da troca e do consumo de mercadorias tem promovido

iima intensificaccedilatildeo da compressatildeo do tempo-espaccedilo influenciado as formas poacutes-

modernas de pensar sentir e agir acentuando a volatilidade e efemeridade valorizando

bull i instantacircneo e o descartaacutevel o que tem implicado na consideraccedilatildeo de que qualquer

perspectiva totalizante de conhecimento eacute inatingiacutevel

Ni realidade esta secundarizaccedilatildeo do conhecimento em favor de comportamentos

bull 1 iM-rvaacuteveis natildeo eacute novidade e em certa medida reedita os princiacutepios da Escola Nova (cf

I l AUTH 2001) e da Pedagogia do Domiacutenio (cf RAMOS 2006)

cooperativa aberta para a cidade ou para o bairro

seja na zona urbana ou rural Os professores devem

parar de pensar que dar aulas eacute o cerne da profissatildeo

Ensinar hoje deveria consistir cm conceber encaishy

xar e regular situaccedilotildees de aprendizagem seguindo os

princiacutepios pedagoacutegicos ativos e construtivistas Para

os professores adeptos de uma visatildeo construtivista

e interacionista de aprendizagem trabalhar no deshy

senvolvimento de competecircncias natildeo eacute uma ruptura

(PERRENOUD 2000 apud DUARTE 2003 p 6)

O trecho do trabalho de Perrenoud citado por Duarte (2003)

permite segundo este incluir a Pedagogia das Competecircncias - junshy

tamente com o Construtivismo a Escola Nova os estudos na linha

do ldquoProfessor Reflexivordquo dentre outros mdash no grupo das chamadas ldquoPe-

dagogias do Aprender a Aprenderrdquo que visam produzir uma maior

adaptabilidade dos indiviacuteduos agraves alteraccedilotildees do capitalismo7

As reflexotildees apresentadas ateacute aqui nos colocam diante do desafio

de construir as possibilidades de desenvolvimento dc uma perspectiva de

educaccedilatildeo que supere a loacutegica adaptadora da formaccedilatildeo mediada pelo lema

ldquoaprender a aprenderrdquo ou mais especificamente pela noccedilatildeo de aquisiccedilatildeo

de competecircncias para empregabilidade Por outro lado isso nos remete

ao resgate do significado de escola unitaacuteria de uma educaccedilatildeo politeacutecnica

e de uma formaccedilatildeo omnilateral na qual a formaccedilatildeo humana volta-se para

a apreensatildeo do conhecimento sistematizado em todas as suas dimensotildees

premissa fundamental para a formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos e criacuteticos

A perspectiva marxista de formaccedilatildeo humana como possibilidade de oposiccedilatildeo agrave perspectiva dominante de educaccedilatildeo escolar

Tendo como horizonte um projeto educativo voltado agrave superaccedilatildeo

do capitalismo Frigotto (1985) aponta a politecnia como concepccedilatildeo de

educaccedilatildeo que interessa agrave classe trabalhadora por estar fundamentada

na superaccedilatildeo da divisatildeo entre teoria e praacutetica em direccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do

homem em todas as suas dimensotildees - formaccedilatildeo omnilateral

Uma anaacutelise dai Pedagogias do Aprender a Aprender eacute apresentada em Duarte (2006)

A concepccedilatildeo de uma educaccedilatildeo politeacutecnica tem origem na

compreensatildeo do homem como um ser de muacuteltiplas atividades

Marx e Engels (1989) indicam que o homem natildeo deve limitar

seu desenvolvimento a uma das partes do seu corpo da sua inshy

teligecircncia ou de sua sensibilidade o homem todo e todo hoshy

mem deve constantemente humanizar-se pelo trabalho Desse

modo a educaccedilatildeo deveria ter como objeto de sua preocupaccedilatildeo o

desenvolvimento do homem nas suas maacuteximas potencialidades

partindo do pressuposto de que ele eacute capaz de captar a realidade

e dela se apropriar com todos os seus sentidos de maneira comshy

preensiva e como ser total (MARX 2005)

A concepccedilatildeo de formaccedilatildeo politeacutecnica fundamenta-se no mashy

terialismo histoacuterico dialeacutetico englobando de modo indissociaacuteshy

vel uma concepccedilatildeo pedagoacutegica uma perspectiva de trabalho e

um projeto de sociedade que garante agrave politecnia uma coerecircncia

entre meacutetodo concepccedilatildeo de mundo e praacutexis Ou seja a politecnia

apoia-se na anaacutelise das transformaccedilotildees dos processos de trabalho

que estatildeo na base das relaccedilotildees de produccedilatildeo capitalista (dimensatildeo

infraestrutural) Essa anaacutelise eacute realizada sob a perspectiva de um

projeto utoacutepico-revolucionaacuterio de construccedilatildeo de uma sociedade

sem classes (dimensatildeo utoacutepica) Essas duas dimensotildees acabam

por desembocar em propostas de accedilatildeo educativa (dimensatildeo peshy

dagoacutegica) que tecircm como finalidade contribuir para a formaccedilatildeo

do homem em todas as suas dimensotildees (RODRIGU ES 1998)

No que tange agrave concepccedilatildeo de escola pensada como um espaccedilo

de luta pela hegemonia8 da classe trabalhadora a defesa se faz no

sentido de uma escola que possibilite ao homem desenvolver suas

capacidades produtivas e intelectuais de forma unificada Nesta

perspectiva Gramsci (2004) defende um tipo de escola unitaacuteria que

ao mesmo passo encaminhe o jovem para a escolha profissional e

lorme sujeitos capazes de dirigir e controlar os rumos da vida em soshy

Adotamos o conceito de hegemonia conforme define Gramsci (2000) uma relaccedilatildeo de

poder presente nas sociedades capitalistas que expressa a dominaccedilatildeo de uma ou mais

fraccedilotildees dcclasse sobre o conjunto de sua proacutepria classe e das classes antagocircnicas em que

o econocircmico e o poliacutetico expressam a ldquodireccedilatildeo moral e intelectualrdquo a ser seguida pelo

conjunto da sociedade

ciedade Para tal esta escola deve promover a elevaccedilatildeo cultural9 dos

jovens preparando-os para a atividade social autocircnoma e criativa

A escola uacutenica do trabalho como estrutura busca a superaccedilatildeo das

trajetoacuterias de distribuiccedilatildeo desigual do saber a politecnia como conteshy

uacutedo visa construir uma organizaccedilatildeo curricular que resgate a totalidade

dos conhecimentos cientiacuteficos artiacutesticos filosoacuteficos e instrumentais

que regem os processos produtivos a dialeacutetica como meacutetodo caminha

no sentido da reunificaccedilatildeo entre ciecircncia e teacutecnica entre formaccedilatildeo geshy

ral e profissional entre teoria e praacutetica permitindo aos alunos comshy

preenderem o processo de construccedilatildeo do conhecimento

No entanto eacute importante salientar que a concepccedilatildeo de escola

unitaacuteria e de formaccedilatildeo politeacutecnica deve ser tomada como referecircncia

num processo mais amplo qual seja o de luta pela transformaccedilatildeo

da sociedade pois como elaborou Marx (1984) um modelo de

educaccedilatildeo que busque a unidade entre teoria e praacutetica entra em conshy

tradiccedilatildeo com a forma capitalista de produzir e dividir o trabalho

sendo que o uacutenico caminho para subverter essa ordem seria o desenshy

volvimento dessas contradiccedilotildees

Nesse sentido considerando a dinacircmica do processo de proshy

duccedilatildeoreproduccedilatildeo da cultura a defesa da escola como instituiccedilatildeo

responsaacutevel pela transmissatildeo-assimilaccedilatildeo do conhecimento sistemashy

tizado torna-se indispensaacutevel para que cada indiviacuteduo da espeacutecie

humana possa se inserir na histoacuteria social desenvolvendo-se em suas

maacuteximas potencialidades E exatamente nessa linha que se configura

a definiccedilatildeo de Saviani (2006) sobre o papel da escola na perspectiva

da Pedagogia histoacuterico-criacutetica

O movimento pedagoacutegico que deu origem agrave Pedagogia hisshy

toacuterico-criacutetica surge no final da deacutecada de 1970 como resposta

9 No atual ambiente ideoloacutegico no qual predomina a ideologia neoliberal e poacutes-

moderna falar em elevaccedilatildeo cultural pode se constituir como algo um tanto quanto

polecircmico Contudo fazemos questatildeo de destacar que na perspectiva marxista

com a qual trabalhamos ldquo[] natildeo haacute margem nem para o evolucionismo ingecircnuo

(seja no plano da histoacuteria da organizaccedilatildeo social humana seja no plano da histoacuteria

do conhecimento) nem para o relativismo que nega a existecircncia de formas mais

desenvolvidas de vida social e de conhecimento nem finalmente para o subjeti-

vismo que nega o conhecimento como apropriaccedilatildeo da realidade objetiva pelo

pensamentordquo (DU A RT E 2003 p 77)

agrave necessidade de encontrar alternativa agrave pedagogia dominante

Saviani (2005) explica que naquele contexto imperava a necesshy

sidade histoacuterica especialmente no caso brasileiro de criticar a

pedagogia oficial sobretudo para evidenciar seu caraacuteter reproshy

dutor De acordo com os autores da eacutepoca cada setor da cultushy

ra como o sistema de ensino por exemplo desempenharia seu

papel na reproduccedilatildeo da sociedade A medida que essas ideias

se difundiam as chamadas teorias criacutetico-reprodutivistas0 ganhashy

vam forccedila para consolidar o entendimento de que a educaccedilatildeo

escolar sempre desempenharia o papel de reproduccedilatildeo Essas teoshy

rias foram se formulando e se difundindo ao mesmo tempo em

que eram assimiladas no Brasil como instrumento utilizado para

fustigar a poliacutetica educacional do Regime Militar (SAVIANI

2005) Se por um lado as teorias criacutetico-reprodutivistas foram

importantes para evidenciar o papel desempenhado pela pedagoshy

gia oficial no contexto do Regime Militar no Brasil por outro

lado natildeo forneceram alternativas para se contrapor agrave pedagogia

dominante Neste sentido Saviani (2005 p 135) afirma que

a luta contra a ditadura tambeacutem implicava a forshy

mulaccedilatildeo dc alternativas No campo educacional

o problema colocava-se nos seguintes termos se a

pedagogia oficial era inaceitaacutevel qual seria entatildeo

a orientaccedilatildeo alternativa aceitaacutevel A visatildeo criacutetico-

reprodutivista natildeo dava resposta para essa pergunshy

ta Natildeo tinha uma proposta de orientaccedilatildeo Fazia a

criacutetica do existente mostrando que este desempeshy

nhava a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo

Portanto era necessaacuterio formular uma proposta pedagoacutegica

que estivesse atenta aos determinantes sociais da educaccedilatildeo e que

permitisse articular de forma dialeacutetica o trabalho pedagoacutegico

com as relaccedilotildees sociais deveria levar em conta a accedilatildeo reciacuteproca

em que a educaccedilatildeo embora determinada em suas relaccedilotildees com

10 Saviani (2006) denomina de teorias criacutetico-reprodutivistas aquelas que por um lado

postulam a compreensatildeo da educaccedilatildeo a partir de seus condicionantes sociais mas por

outro lado chegam agrave conclusatildeo de que a funccedilatildeo da proacutepria educaccedilatildeo eacute reproduzir a

sociedade na qual ela se insere

a sociedade reage ativamente sobre o elemento determinante

(SAVIANI 2005) Assim como desdobramento desse processo

que buscou encontrar alternativa agrave pedagogia dominante a Peshy

dagogia histoacuterico-criacutetica surgiu como uma proposta pedagoacutegica

fundamentada no materialismo histoacuterico cuja tarefa em relaccedilatildeo

agrave educaccedilatildeo escolar implica a) identificar as formas mais desenshy

volvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicashy

mente reconhecendo as condiccedilotildees de sua produccedilatildeo e compreenshy

dendo as suas principais manifestaccedilotildees bem como as tendecircncias

atuais de transformaccedilatildeo b) converter o saber objetivo em saber

escolar de modo que se torne assimilaacutevel pelos alunos no espaccedilo

e tempo escolares c) prover os meios necessaacuterios para que os

alunos natildeo apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultashy

do mas apreendam o processo de sua produccedilatildeo bem como as

tendecircncias de sua transformaccedilatildeo (SAVIANI 2005)

Segundo o autor a escola eacute uma instituiccedilatildeo cujo papel conshy

siste na socializaccedilatildeo do saber sistematizado Natildeo se trata portanshy

to de qualquer tipo de saber ldquoa escola diz respeito ao conhecishy

mento elaborado e natildeo ao conhecimento espontacircneo ao saber

sistematizado e natildeo ao saber fragmentado agrave cultura erudita e

natildeo agrave cultura popularrdquo (SAVIANI 2006 p 14) Destacar esse

posicionamento eacute importante sobretudo porque tambeacutem eacute posshy

siacutevel encontrar na Educaccedilatildeo Fiacutesica tendecircncias que negam a aproshy

priaccedilatildeo do saber sistematizado por parte das fraccedilotildees menos prishy

vilegiadas da classe trabalhadora ao proclamar como seu papel

central o desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica ou a ldquovalorizaccedilatildeo

da cultura popularrdquo em detrimento da cultura erudita

Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica a defesa da escola como espashy

ccedilo de socializaccedilatildeo do saber sistematizado eacute essencial para assegurar o

caraacuteter contraditoacuterio da educaccedilatildeo e afirmar os interesses dos trabalhashy

dores uma vez que dominar os conhecimentos mais desenvolvidos

produzidos pela humanidade no campo das ciecircncias das artes e da fishy

losofia eacute condiccedilatildeo para o processo de emancipaccedilatildeo (SAVIANI 2006)

11 Uma criacutetica ao paradigma da aptidatildeo fiacutesica foi desenvolvida pelo Coletivo de Autores (1992)

cr

A perspectiva histoacuterico-criacutetica na Educaccedilatildeo Fiacutesica direcionando o olhar para a metodologia Criacutetico- superadora

A busca de alternativas agrave pedagogia dominante atingiu tambeacutem a

Educaccedilatildeo Fiacutesica possibilitando articular a praacutetica pedagoacutegica na aacuterea

a um novo projeto de sociedade Desde o final da deacutecada de 1970

com o processo frequentemente denominado de ldquoredemocratizaccedilatildeo

da sociedade brasileirardquo inuacutemeros estudos passaram a questionar o

papel que vinha sendo assumido pela Educaccedilatildeo Fiacutesica em nosso paiacutes

qual seja o de educar os indiviacuteduos em conformidade com as necesshy

sidades do modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Os

crescentes questionamentos que ganharam forccedila na deacutecada de 1980

colocaram em xeque o quadro de referecircncias que havia direcionado a

Educaccedilatildeo Fiacutesica por mais de um seacuteculo A inflexatildeo na aacuterea configurashy

da como uma crise de legitimidade inaugurou um periacuteodo de buscas

para se construir a autonomia pedagoacutegica da aacuterea frente a um quadro

histoacuterico de viacutenculo ao projeto dominante

Nesse processo um importante marco para a educaccedilatildeo escolar foi

a publicaccedilatildeo na deacutecada de 1990 do livro Metodologia do Ensino de lducaccedilaacuteo Fiacutesica escrito por um grupo que se autodenominou de Coshy

letivo de Autores (1992) Nessa obra eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal mdash uma tendecircncia que pautada

na Pedagogia histoacuterico-criacutetica visa a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enquanto

sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em que vive

Para formar esse tipo de sujeito o paradigma da reflexatildeo criacuteti-

i i sobre a cultura corporal defende a tematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de

lorma criacutetico-superadora A tematizaccedilatildeo defendida por esta proposta

ibrange a compreensatildeo das relaccedilotildees de interdependecircncia que os dife-

H iiies conteuacutedos da cultura corporal tecircm com os grandes problemas

bull gtlt Hraquo-poliacuteticos atuais como ldquo[] ecologia papeacuteis sexuais sauacutede puacute-

I 1 u i relaccedilotildees de trabalho preconceitos sociais raciais da deficiecircncia

bull I i wlhice distribuiccedilatildeo do solo urbano distribuiccedilatildeo de renda diacutevida

i u i na e outrosrdquo (COLETIVO DE AUTORES 1992 p 62-63)

Assim busca-se desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as formas

de representaccedilatildeo do mundo exteriorizadas pela expressatildeo corporal

que o ser humano tem produzido no decorrer da histoacuteria dentre as

quais pode-se destacar jogos danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esshy

porte malabarismos contorcionismos miacutemica e outros que podem

ser identificados como formas de representaccedilatildeo simboacutelica de realishy

dades vividas pelo homem historicamente criadas e culturalmente

desenvolvidas (COLETIVO DE AUTORES 1992)

Portanto pode-se afirmar que a metodologia Criacutetico-superado-

ra ao alinhar-se agrave perspectiva pedagoacutegica defendida por Dermeval

Saviani busca propor novos caminhos para a apropriaccedilatildeo do conheshy

cimento na escola inclusive pela organizaccedilatildeo metodoloacutegica fundashy

mentada nos cinco passos do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do coshy

nhecimento a saber identificaccedilatildeo da praacutetica social problematizaccedilatildeo

instrumentalizaccedilatildeo catarse e retorno agrave praacutetica social

O ponto de partida para a apropriaccedilatildeo do conhecimento na escola

eacute a praacutetica social (SAVIANI 2006) Nesse passo conforme apresentado

por Gasparin (2005) realiza-se um primeiro contato com o tema a ser

estudado para evidenciar suas relaccedilotildees com a vida cotidiana visando

mobilizar os alunos para o processo pedagoacutegico Segundo este autor a

identificaccedilatildeo da praacutetica social pode ser dividida em duas partes a saber

anuacutencio e vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos No anuacutencio dos conteuacutedos aponta-se o que seraacute estudado e quais os objetivos a serem alcanccedilados

Na vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos identifica-se o que os alunos jaacute sashy

bem c o que eles gostariam de saber mais sobre o assunto em questatildeo

O segundo passo do meacutetodo dialeacutetico de construccedilatildeo do conhecishy

mento escolar eacute a problematizaccedilatildeo fase na qual se busca ldquo[] detectar

que questotildees precisam ser resolvidas no acircmbito da praacutetica social e em

consequecircncia que conhecimento eacute necessaacuterio dominarrdquo (SAVIANI

2006 p 71) A partir dessa afirmaccedilatildeo dois importantes aspectos foram

salientados por Gasparin (2005) que merecem um devido destaque

O primeiro deles diz respeito agraves questotildees da praacutetica social que deshy

vem ser detectadas O autor esclarece com base no proacuteprio Saviani

que o foco deve ser concentrado nas grandes questotildees que desafiam a

sociedade nos principais problemas que precisam ser resolvidos natildeo

soacute na escola ou pela escola mas no acircmbito da sociedade Para isso

afirma que deve ser feita uma seleccedilatildeo do que eacute fundamental visto que

os principais problemas postos pela praacutetica social nem sempre podem

ser tratados na sua totalidade em cada aacuterea do conhecimento O ldquofunshy

damentalrdquo vale dizer refere-se aos aspectos relacionados ao conteuacutedo

estabelecido pelo curriacuteculo escolar ou aos conhecimentos trabalhados

em uma determinada unidade do programa Com base nesse entendishy

mento pode-se dizer que a problematizaccedilatildeo deve selecionar e discutir

os problemas que tecircm origem na praacutetica social mas que ao mesmo

tempo se ligam ao conteuacutedo a ser trabalhado trata-se de uma seleccedilatildeo

e discussatildeo de grandes questotildees sociais poreacutem inseridas e especificadas

no conteuacutedo da unidade que estaacute sendo estudada (GASPARIN 2005)

O segundo aspecto a ser destacado refere-se a qual conhecimento

eacute necessaacuterio dominar para resolver os problemas da praacutetica social Gas-

parin (2005) explica que de maneira geral os conteuacutedos satildeo quase

sempre transmitidos aos educandos por uma uacutenica dimensatildeo a con-

eeitual-cientiacutefica Em virtude da ecircnfase geralmente atribuiacuteda a essa dishy

mensatildeo do conteuacutedo o autor alerta o seguinte eacute necessaacuterio lembrar

no processo de construccedilatildeo do conhecimento que a ciecircncia tambeacutem eacute

iiin produto social originada de necessidades histoacutericas econocircmicas

poliacuteiicas ideoloacutegicas filosoacuteficas religiosas teacutecnicas dentre outras Tenshy

do i in vista o fato de que existem muacuteltiplas dimensotildees que revestem

os dilerentes conteuacutedos faz-se necessaacuterio abordar na construccedilatildeo do

- ltgtii1k-ciacutemento natildeo soacute a dimensatildeo conceitual-cientiacutefica A necessidade

llt 1 1 mscender a abordagem centrada na dimensatildeo conceitual-cientiacutefica

jMivuacuten do entendimento de que a anaacutelise do real deve considerar suas

muacuteltiplas dimensotildees visto que a realidade social envolve sempre uma

tuii de perspectivas um conjunto de aspectos interdependentes que

u ui ser entendidos para a resoluccedilatildeo dos problemas postos pela praacute-

laquo iil Eacute importante destacar esse aspecto sobretudo porque na

u lo 1 iacutesica a ecircnfase do processo pedagoacutegico geralmente eacute concen-

raquo i iu is rlementos teacutecnicos e taacuteticos o que desconsidera as muacuteltiplas

bull t M ii raquors que revestem o conteuacutedo em questatildeo

Assim duas tarefas principais podem ser operacionalizadas na

problematizaccedilatildeo A primeira delas envolve o questionamento da praacuteshy

tica social e do conteuacutedo escolar Trata-se de um momento em que satildeo

apresentadas e discutidas as razotildees sociais pelas quais se deve aprender o

conteuacutedo proposto de modo que os alunos possam entender melhor o

que seraacute estudado identificar os principais problemas postos pela praacuteshy

tica social e pelos conteuacutedos e ainda entender a necessidade eou vashy

lidade do conteuacutedo curricular proposto para solucionar eou entender

melhor os problemas da praacutetica social (GASPARIN 2005) A segunda

tarefa que pode ser realizada na problematizaccedilatildeo refere-se agraves dimensotildees

do conteuacutedo a serem trabalhadas Em linhas gerais pode-se dizer que

essa tarefa consiste em definir as dimensotildees que se deseja estudar Para

tanto pode-se partir do conteuacutedo a ser trabalhado de modo a elaborar

questotildees desafiadoras que expressem dimensotildees especiacuteficas referentes agrave

natureza do conteuacutedo como por exemplo as dimensotildees cientiacutefico-

-conceituais sociais econocircmicas culturais histoacutericas filosoacuteficas moshy

rais eacuteticas esteacuteticas legais e doutrinaacuterias (GASPARIN 2005)

O passo seguinte a instrumentalizaccedilatildeo segundo Gasparin (2005) eacute o

caminho atraveacutes do qual o conteuacutedo sistematizado eacute posto agrave disposiccedilatildeo dos

alunos para que o assimilem o recriem e ao incorporaacute-lo transformem-no

em instrumento cultural para transformaccedilatildeo da realidade Esse terceiro passhy

so do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do conhecimento consiste no moshy

mento em que os alunos vatildeo se apropriar das ferramentas culturais necesshy

saacuterias agrave luta social que travam diariamente para se libertar das condiccedilotildees de

opressatildeo em que vivem ou seja trata-se da fase na qual ocorre a apropriaccedilatildeo

dos instrumentos teoacutericos e praacuteticos necessaacuterios ao equacionamento dos

problemas detectados na praacutetica social (SAVIANI 2006)

De acordo com Saviani (2006) o quarto passo do meacutetodo eacute a ldquocashy

tarserdquo momento de expressatildeo elaborada da nova forma de entendimenshy

to da praacutetica social a que se ascendeu ldquoTrata-se da efetiva incorporaccedilatildeo

dos instrumentos culturais transformados agora em elementos ativos

de transformaccedilatildeo socialrdquo (SAVIANI 2006 p 72) Pode-se dizer que a

catarse eacute a demonstraccedilatildeo teoacuterica do ponto de chegada do niacutevel superior

atingido pelos alunos (GASPARJN 2005)

Por fim no retorno agrave praacutetica social temos a nova maneira de comshy

preender a realidade e de posicionar-se diante dela eacute a manifestaccedilatildeo

da nova postura praacutetica da nova atitude da nova visatildeo do conteuacutedo

no cotidiano Trata-se de acordo com Gasparin (2005) do momento

de accedilatildeo consciente em prol da transformaccedilatildeo da realidade a partir do

retorno agrave praacutetica social agora entendida de forma mais elaborada

Levando em conta esses diferentes momentos do meacutetodo dialeacutetico

de construccedilatildeo do conhecimento o ensino dos diferentes conteuacutedos que

compotildeem a cultura corporal permite aos alunos se apropriarem dos coshy

nhecimentos acumulados historicamente pela humanidade Trata-se de

um importante passo no sentido de enriquecer a concepccedilatildeo de mundo

dos alunos uma vez que o acesso ao saber sistematizado sobre jogos

esporte luta danccedila ginaacutestica circo por exemplo se constitui como

elemento indispensaacutevel para leitura dessa dimensatildeo da realidade

Consideraccedilotildees finais

O artigo em tela apresentou a concepccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica de

Educaccedilatildeo Fiacutesica que embasa as praacuteticas pedagoacutegicas discutidas ao longo

deste livro destacando sua articulaccedilatildeo com um projeto de formaccedilatildeo hushy

mana criacutetico agraves relaccedilotildees sociais capitalistas visando superar a perspectiva

de adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves exigecircncias do mundo do trabalho

Com base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e na abordagem Criacutetico-

-superadora o objetivo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute promover uma

reflexatildeo criacutetica sobre diferentes conteuacutedostemas da cultura corporal

seguindo um caminho metodoloacutegico que busca ampliar a compreensatildeo

e accedilatildeo dos sujeitos sobre a realidade em que vivem

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Autores Associados 2005

CAPIacuteTULO III

A PRODUCcedilAtildeO DA CULTURA LUacuteDICA EM JOGOS ELETROcircNICOS

Priscila Rocha Rodrigues

Renata Aparecida Alves Landim

Tl)iago Barreto Maciel

Victoacuteria de Faacutetima de Mello

Abordar os jogos e as brincadeiras como

conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica pode parecer

um lugar comum pois existe um consenso

por parte dos educadores acerca da presenshy

ccedila dessas praacuteticas corporais nas aulas dessa

disciplina Entretanto muitas vezes o trashy

balho desenvolvido nas escolas opera uma

instrumentalizaccedilatildeo dos jogos utilizando os

mesmos como meios para a aprendizagem

dos esportes ou de outras mateacuterias de enshy

sino De acordo com Bracht et al (1995)

esse processo dilui os jogos de seu contexshy

to soacutecio-cultural passando a consideraacute-los

como um recurso metodoloacutegico e natildeo como

um conteuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Consideramos que para tratar os joshy

gos e as brincadeiras1 como conteuacutedo de

ensino eacute preciso superar a mera praacutetica e

I Em diversos idiomas os termos jogos brincadeiras e

brinquedo satildeo tratados como sinocircnimos e em outros uma

uacutenica palavra guarda os trcs significados Visando distinguir

os termos Kishimoto (2003) considera como brinquedo o

objetosuporte - concreto ou ideoloacutegico - da brincadeira

como brincadeira a conduta estruturada por regras e como

jogo a descficcedilaacuteo tanto do objeto como das regras durante um

determinado templaquo gt Neste texto adotaremos a conceituaccedilatildeo

de brinquedo como suporte da brincadeira mas naacuteo faremos

promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre os jogos como uma forma

proacutepria de expressatildeo da cultura corporal Os jogos satildeo resultados

do processo criativo cio homem para modificar imaginariamente

a realidade e o presente tendo em vista finalidades luacutedicas (C O shy

LETIVO DE AUTORES 1992) Eles tecircm significados dentro do

conjunto da produccedilatildeo humana por isso guardam em seu interior

as caracteriacutesticas do modo de organizaccedilatildeo social num dado moshy

mento histoacuterico sendo marcados por continuidades e rupturas em

relaccedilatildeo aos jogos e brincadeiras de outras eacutepocas

Na atualidade o modo de vida das pessoas sobretudo nos

grandes conglomerados urbanos tem favorecido a substituiccedilatildeo parshy

cial ou total dos jogos traciicionais provenientes da cultura popular

pelos videogames produtos da induacutestria cultural Nesse sentido

consideramos que promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as es-

pecificidades e os dilemas que envolvem os jogos eletrocircnicos como

uma manifestaccedilatildeo luacutedica tipicamente contemporacircnea pode ajudar a

compreender o proacuteprio tempo 1 1 0 qual vivemos

lendo em vista a realizaccedilatildeo de uma discussatildeo teoacuterico-metodo-

loacutegica sobre os jogos e a socializaccedilatildeo de uma experiecircncia concreta

organizamos este artigo em trecircs partes aleacutem dessa introduccedilatildeo e das

consideraccedilotildees finais Na primeira abordaremos os jogos como uma

manifestaccedilatildeo da cultura corporal e suas implicaccedilotildees para as aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesica Na segunda trataremos das formas de expressatildeo dos

jogos na sociedade contemporacircnea Na terceira parte apresentaremos

uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos para os alunos dos

anos finais cio ensino fundamental seguida do plano de unidade

Os jogos e as brincadeiras como conteuacutedos para as aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Em nosso tempo um dos grandes estudiosos sobre os jogos foi

Huizinga Em sua obra claacutessica ldquoHomo Ludens rdquo publicada origishy

nalmente em 1938 ele analisou a natureza e o significado do jogo

como fenocircmeno cultural De acordo com Huizinga (2000) o jogo eacute

uma das manifestaccedilotildees mais antigas da humanidade e sempre esteve

associado ao divertimento e ao prazer com a finalidade de dar um

sentido luacutedico para a existecircncia humana Nas palavras do autor

[] o jogo eacute uma atividade ou ocupaccedilatildeo volunshy

taacuteria exercida dentro de certos e determinados

limites de tempo e de espaccedilo segundo regras lishy

vremente consentidas mas absolutamente obrigashy

toacuterias dotado de um fim em si mesmo acompashy

nhado de um sentimento de tensatildeo e de alegria e

de uma consciecircncia de ser diferente da ldquovida quoshy

tidianardquo (H U IZ IN G A 2000 p 24)

Apesar de buscar se distanciar dos objetivos de satisfaccedilatildeo imeshy

diata da vida atraveacutes da criaccedilatildeo e praacutetica de diversos tipos de jogos

todo jogo desde as idades mais remotas ateacute os dias atuais eacute um

produto do ldquotrabalhordquo 2 e por isso estaacute subordinado agraves formas

histoacutericas assumidas pela atividade humana em diferentes modos de

produccedilatildeo social da existecircncia ldquoOs homens fazem sua histoacuteria mas

natildeo a fazem como querem natildeo a fazem sob circunstacircncias de sua

escolha e sim sob aquelas com que se defronta diretamente legadas

e transmitidas pelo passadordquo (MARX 1978 p 329)

Uma caracteriacutestica marcante em todos os jogos e brincashy

deiras eacute a existecircncia de uma situaccedilatildeo imaginaacuteria e de regras que

expliacutecita ou implicitamente ordenam e conduzem as accedilotildees dos

jogadores Como descreve Vygotsky (2007) no processo de deshy

senvolvimento das brincadeiras da crianccedila haacute um processo que

vai do jogo de papeacuteis com situaccedilotildees imaginaacuterias expliacutecitas e com

regras impliacutecitas aos jogos com regras expliacutecitas e situaccedilotildees imashy

ginaacuterias ocultas Para esse autor os jogos satildeo condutas que im ishy

tam as accedilotildees reais por isso sofrem influecircncia das relaccedilotildees sociais

num jogo de papeacuteis da crianccedila por exemplo a situaccedilatildeo imaginaacuteshy

ria incorpora elementos e regras de comportamento do contexto

cultural adquiridos por meio da interaccedilatildeo com os outros

2 O trabalho eacute para Marx e Engels (1989) a atividade vital e por excelecircncia humana a partir

dele o homem modifica intencionalmente a natureza para atender suas necessidades e cria

novas necessidades produzindo sua proacutepria vida Desse modo por meio do trabalho o

homem transforma ao mesmo tempo a si mesmo e as formas de se organizar socialmente

criando histoacuterica e coletivamente um mundo especificamente humano o mundo da cultura

Outro aspecto que merece ser destacado eacute que todo jogo tem sua

existecircncia em um tempo-espaccedilo relacionado agrave sua localizaccedilatildeo histoacuterishy

ca e geograacutefica De acordo com Kishimoto (2003) uma mesma conshy

duta pode ser jogo ou natildeo-jogo em diferentes culturas dependendo

do significado a ele atribuiacutedo Os brinquedos tambeacutem devem ser enshy

tendidos como objetos culturais pois natildeo podem ser compreendidos

fora do contexto histoacuterico e social em que foram criados Se para uma

crianccedila europeia a boneca significa um brinquedo para populaccedilotildees

indiacutegenas tem o sentido de siacutembolo religioso

Desse modo mesmo que o jogo seja compreendido como

uma accedilatildeo de livre expressatildeo da crianccedila a sua praacutetica cotidiana

revela formas diferenciadas de jogar de acordo com o modo de

organizaccedilatildeo do trabalho e da vida dos povos praticantes Orlick

(1978) destaca como os padrotildees de partilha das sociedades satildeo reshy

fletidos e reforccedilados nos jogos e brincadeiras infantis Atraveacutes deles

as crianccedilas aprendem os modelos de comportamento dos adultos e

vatildeo sendo preparadas para a vida em sociedade

Esse coletivo considera que para configurar o jogo como conshy

teuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ele deve ser tratado pedagogishy

camente tendo em vista uma aprendizagem que amplie o niacutevel de

compreensatildeo dos alunos sobre o mundo Para tal consideramos que

ter accsso ao conhecimento sistematizado sobre os jogos e brincashy

deiras eacute essencial para que as crianccedilas e jovens possam agir sobre a

realidade social de forma totalizante incluindo em suas possibilidashy

des de accedilatildeo a dimensatildeo luacutedica da produccedilatildeo cultural humana Nesse

sentido se apropriar da cultura jaacute produzida eacute fundamental para

explorar o jaacute existente e a partir daiacute criar o novo dando novos

sentidos e significados aos jogos e brincadeiras

Considerar os jogos como manifestaccedilotildees da cultura corporal signifishy

ca retraccedilaacute-Ios desde sua gecircnese desvendando como eles eram e como satildeo

hoje buscando uma intervenccedilatildeo consciente sobre a realidade

Sua importacircncia enquanto conteuacutedo da EF estaacute

na representaccedilatildeo das raiacutezes histoacutericas e culturais

de diversos povos bem como as transformaccedilotildees

ocorridas ao longo do tempo que possam ter cau-

sado modificaccedilotildees no modo como se joga detershy

minado jogo em vaacuterias partes do mundo Egrave imporshy

tante tambeacutem considerar o jogo em seu processo

de criaccedilatildeo recriaccedilatildeo e readaptaccedilatildeo levando-se em

conta as possiacuteveis influecircncias poliacuteticas econocircmishy

cas e sociais pelas quais tenha passado dando-lhe

uma nova configuraccedilatildeo e uma compreensatildeo criacutetishy

ca (BRITO 2006 p 61)

Desse modo deve-se privilegiar uma abordagem sobre os

jogos que possibilite o conhecimento de suas principais caracteshy

riacutesticas como forma de manifestaccedilatildeo especiacutefica da cultura corshy

poral e naacuteo de forma subordinada ao esporte A flexibilidade eacute a

palavra chave para entender o jogo quanto agraves regras organizaccedilatildeo

espaccedilo-tempo nuacutemero de jogadores nomeaccedilatildeo caraacuteter compeshy

titivo ou cooperativo (JU IZ DE FORA 2000)

O trabalho com os jogos e brincadeiras deve permitir a

compreensatildeo do processo de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo da culshy

tura bem como suas continuidades e modificaccedilotildees histoacutericas

De acordo com o Coletivo de Autores (1992) a elaboraccedilatildeo de

um programa desse conteuacutedo ao longo dos anos de escolarizaccedilatildeo

deve considerar a memoacuteria luacutedica da comunidade e oferecer o

conhecimento da diversidade de jogos e brincadeiras existentes

nas diferentes regiotildees do paiacutes e do mundo

A ideia motriz eacute entender que os jogos como criaccedilotildees humanas

que objetivam o prazer e o divertimento num dado contexto histoacuterico-

-social refletem mas tambeacutem podem forjar valores e comportamentos

Desse modo o trabalho com os jogos deve instrumentalizar os alunos

natildeo apenas para utilizar a cultura luacutedica mas tambeacutem compreendecirc-la

como produccedilatildeo humana passiacutevel de constante criaccedilatildeo e recriaccedilatildeo

Devido agrave necessidade de selecionar temas de relevacircncia social

que instrumentalizem os alunos para uma accedilatildeo criacutetica frente agrave realishy

dade nos debruccedilamos sobre uma forma especiacutefica de manifestaccedilatildeo

da praacutetica luacutedica dos indiviacuteduos na atualidade - os jogos eletrocircni-

cos- buscando tratar de sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na

sociedade capitalista e suas relaccedilotildees com os jogos tradicionais

Os games formas de manifestaccedilatildeo dos jogos na sociedade contemporacircnea

Em pleno seacuteculo XXI as crianccedilas ainda brincam de piques

jogos com bola jogos de tabuleiro dentre tantos outros de forshy

ma muito semelhante aos seus pais avoacutes e bisavoacutes A esses tipos

de jogos que foram capazes de atravessar o tempo chamamos

de jogos tradicionais Eles tecircm como caracteriacutesticas centrais o

fato de pertencerem ao domiacutenio puacuteblico e serem transmitidos de

geraccedilatildeo em geraccedilatildeo De acordo com Kishimoto (2003) os jogos

tradicionais satildeo considerados como parte da cultura popular e

expressam as formas de consciecircncia de um povo num dado moshy

mento histoacuterico Esses jogos satildeo transmitidos oralmente e por

incorporarem criaccedilotildees anocircnimas das geraccedilotildees que vatildeo se suceshy

dendo estatildeo sempre em transformaccedilatildeo

Com base nesta definiccedilatildeo podemos considerar que existe uma fashy

cilidade da apropriaccedilatildeo e vivecircncia dos jogos tradicionais que satildeo tiacutepicos

da regiatildeo de pertencimento do aluno mesmo que de forma fragmentashy

da e caoacutetica proveniente do senso comum Tal fato se daacute justamente por

entendermos que os jogos tradicionais antes de tudo satildeo populares a

cabo do termo ou seja tecircm uma ampla inserccedilatildeo na sociedade Outro

fator que garante essa popularidade eacute que eles satildeo transmitidos atraveacutes

das geraccedilotildees e para sua praacutetica natildeo eacute necessaacuterio nenhum material sofisshy

ticado Dessa forma o alijamento dos meios de produccedilatildeo e dos produshy

tos do trabalho da maior parte da populaccedilatildeo natildeo acaba por ser um fator

determinante apesar de central no acesso a esse patrimocircnio cultural da

humanidade que satildeo os jogos tradicionais ou populares3

Embora diversos jogos tradicionais possam ser aprendidos

praticados de forma gratuita e permaneccedilam muito presentes no

cotidiano das crianccedilas e adolescentes eles vecircm perdendo espaccedilo

3 Neste texto utilizaremos os termos jogos tradicionais e jogos populares como sinocircnimos devido

ao fato de ambos possuiacuterem a mesma dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo marcadas pela

produccedilatildeo coletiva e reproduccedilatildeo oral entre as geraccedilotildees o que nos permite consideraacute-los como

patrimocircnios da cultura popular De acordo com SANTOS (2009) os termos tradicional

popular e folclore representam o conhecimento sobre um jogo por parte majoritaacuteria da

populaccedilatildeo sendo esse conhecimento na maioria das vezes advindo do senso comum

)

sobretudo nas grandes cidades para os jogos eletrocircnicos formas

de expressatildeo dos jogos tipicamente contemporacircneas

Os jogos eletrocircnicos4 estatildeo presentes na praacutetica social cotidiashy

na das pessoas em escala mundial e fazem parte da vida de inuacutemeras

crianccedilas e adolescentes brasileiros mesmo daqueles para os quais

os jogos satildeo apenas desejos de consumo Os games estatildeo por toda

parte natildeo apenas nos aparelhos especiacuteficos para os jogos (consoles

e portaacuteteis) mas tambeacutem nos computadores ipads e telefones celushy

lares podendo ainda ser jogados pela internet em sites e nas redes

sociais Deve ser difiacutecil para as crianccedilas e jovens de hoje pensarem

que houve um tempo em que natildeo existiam jogos digitais

A histoacuteria dos jogos eletrocircnicos tem iniacutecio no final dos anos

de 1950 no contexto da guerra fria quando comeccedilam a ser criashy

dos protoacutetipos de videogames com a incorporaccedilatildeo da tecnoloshy

gia disponiacutevel na eacutepoca Um dos precursores do videogame foi

W illian Higinbotham um fiacutesico que atuava num laboratoacuterio nushy

clear e havia trabalhado no projeto da primeira bomba atocircmica

ele criou em 1958 um jogo eletrocircnico com linhas rudimentares

o tecircnis para dois Em 1966 eacute criado por Ralph Baer o primeiro

console caseiro o Magnavox Odissey (A ERA 2007)

Entretanto eacute a partir dos anos de 1970 acompanhando o desenvolvishy

mento dos computadores pessoais que os jogos eletrocircnicos se tornam mais

expressivos Em 1972 com a criaccedilatildeo do ldquoPongrdquo (fliperama que simula uma

partida de tecircnis de mesa) os games comeccedilam a ficar agrave disposiccedilatildeo do puacuteblishy

co em geral O seu desenvolvedor Nolan Bushenell percebeu o potencial

dos jogos eletrocircnicos como um negoacutecio e fundou a ATARI empresa que

marcou o surgimento da induacutestria do videogame (ALVES 2004)

Entre a deacutecada de 1970 e a deacutecada de 1980 devido agrave manifestashy

ccedilatildeo de uma crise ciacuteclica de superproduccedilatildeo do sistema capitalista tem

iniacutecio um processo que podemos chamar de mundializaccedilatildeo econocircmi-

4 Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais nos quais o jogador interage com imagens

enviadas a uma tela geralmente uma televisatildeo ou monitor Os games satildeo programas

(sofrwares) instalados ou acessados em um sistema eletrocircnicoaparelho preparado

para rodaacute-lo (Hardware) Existem vaacuterios gecircneros de jogos eletrocircnicos como jogos de

accedilatildeo (plataforma de corrida de tiro) de estrateacutegia de lutacombate de esporte de

simulaccedilatildeo Role Playing Games (RPG) e de tabuleiro

caJy em que o capital parte em busca de novas aacutereas visando explorar

condiccedilotildees mais rentaacuteveis de produccedilatildeo e expandir mercados consushy

midores E justamente nesse contexto que a induacutestria cultural ganha

impulso e os jogos eletrocircnicos satildeo disseminados pelos quatro cantos

do mundo com grande potencial de escoamento de mercadorias

Nas duas uacuteltimas deacutecadas fruto de uma germinaccedilatildeo iniciada no

poacutes-terceira revoluccedilatildeo industrial ou revoluccedilatildeo tecnocientiacutefica que

proporcionou o surgimento de atividades que empregam a alta tecshy

nologia como a informaacutetica a microeletrocircnica o avanccedilo das telecoshy

municaccedilotildees e a biotecnologia os jogos eletrocircnicos tecircm seguido e tamshy

beacutem contribuiacutedo com os avanccedilos tecnoloacutegicos Se compararmos os

primeiros games com os jogos de hoje constataremos que eles deram

grandes saltos qualitativos de graacuteficos bi para graacuteficos tridimensionais

que permitiram aperfeiccediloar e personalizar os enredos e personagens

atingindo uma qualidade de imagem som e movimento tatildeo bons que

os jogos mais parecem realidades virtuais As inovaccedilotildees tecnoloacutegicas

e criativas satildeo produzidas numa velocidade cada vez maior materiashy

lizando-se rapidamente numa nova mercadoria a ser comercializada

O mercado dos games eacute de alta lucratividade com projeccedilotildees

de faturamento no acircmbito mundial para 2013 de US$ 735 bilhotildees

e girando no mercado interno aproximadamente R$ 875 milhotildees

- valor referente ao ano de 2008 (ABRAGAMES 2008) Aleacutem da

venda de uma enxurrada de produtos relacionados agrave praacutetica dos joshy

gos eletrocircnicos existe uma espeacutecie de economia virtual com comshy

pra e venda de mercadorias e identidades digitais (avatares) 6

5 O termo mundializaccedilatildeo eacute utilizado por Chesnais (1996) com a intenccedilatildeo de diminuir

a falta de nitidez conceituai e o caraacuteter ideoloacutegico do termo globalizaccedilatildeo que sugere

a ideia de uma perspectiva integradora Para o autor o termo mundializaccedilatildeo permite

pensar melhor esta fase especiacutefica do processo de internacionalizaccedilatildeo do capital em

busca de regiotildees com recursos ou mercados visando sua valorizaccedilatildeo Neste processo de

liberalizaccedilatildeo econocircmica e financeira haacute um agravamento da polarizaccedilatildeo entre regiotildees

centrais e perifeacutericas do capitalismo tanto em escala internacional como nacional

6 Essa economia virtual eacute muito comum nos jogos on-line de representaccedilatildeo da vida real

como Farm Ville The Sims Social e Second Life O Second Life possui uma unidade

monetaacuteria proacutepria o Linden Dollar atraveacutes da qual as pessoas podem comprar quase

tudo dentro do jogo Em 2009 o site do jogo movimentou 549 milhotildees de doacutelares Soacute

no primeiro trimestre de 2010 as movimentaccedilotildees financeiras entre usuaacuterios chegaram

a 160 milhotildees de doacutelares e a arrecadaccedilatildeo da loja virtual oficial foi de 23 milhotildees

(LUCRATIVO 2010)

Aqui cabe uma reflexatildeo sobre a dinacircmica social que envolve a proshy

duccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos e suas diferenccedilas em relaccedilatildeo

aos jogos tradicionais Os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos acompashy

nhando os avanccedilos tecnoloacutegicos do momento e norteados pelo afatilde da

esteira mercadoloacutegica tornando-se obsoletos rapidamente Bem difeshy

rente dos jogos tradicionais que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo cm geraccedilatildeo

e apesar de sofrerem algumas modificaccedilotildees resistem ao teste do tempo

Desse modo podemos dizer que os jogos eletrocircnicos natildeo podem ser

considerados como populares pelo menos por dois motivos primeiro

pelo fato dos jogos de hoje natildeo serem os mesmos de amanhatilde e segunshy

do devido agrave exigecircncia de produtos especializados para a praacutetica dos

mesmos o que por si soacute jaacute os torna inacessiacuteveis a uma parcela signifishy

cativa da populaccedilatildeo que natildeo possui condiccedilotildees de consumo

Entretanto ao mesmo tempo em que existe uma ruptura entre esshy

ses dois tipos de jogos podemos notar uma estreita relaccedilatildeo entre eles jaacute

que muitos jogos eletrocircnicos satildeo na realidade versotildees virtuais de antigos

jogos tradicionais como os jogos de tabuleiro o boliche a queimada

os jogos de cartas os quebra-cabeccedilas entre outros O que sugere uma

perspectiva de continuidade na produccedilatildeo da cultura luacutedica

Temos como pressuposto baacutesico que o trabalho educativo

consiste em transmitir o conhecimento historicamente produzido

a fim de contribuir para que os nossos alunos possam ter acesso

aos conhecimentos mais desenvolvidos produzidos historicamenshy

te pela humanidade para que possam enriquecer-se como indishy

viacuteduos e atuarem como homens do seu tempo Entretanto aqui

evidenciamos uma grande contradiccedilatildeo da nossa sociedade pois

devido ao modo de produccedilatildeo capitalista esses conhecimentos que

os proacuteprios trabalhadores ajudaramajudam a construir lhes satildeo

negados7 No caso dos jogos eletrocircnicos apesar de existir uma

enorme difusatildeo sobre os mesmos vemos que a maioria da classe

trabalhadora natildeo tem real acesso a esta produccedilatildeo cultural

7 O acesso agraves tecnologias digitais aumentou nos uacuteltimos anos mas ainda eacute m uito

significativo o nuacutemero de pessoas sem acesso real a esses bens sociais De acordo

com o PNAD 2009 apenas 35 dos domiciacutelios brasileiros investigados tinham

microcomputador e somente 274 tinham arlaquolaquo -------M n

Esteban Clua - professor do departamento de computaccedilatildeo da

UFF- em entrevista concedida agrave Agecircncia Brasil destacou que o Brasil eacute

o quarto maior consumidor de jogos eletrocircnicos do mundo sendo que

existe uma massa de aproximadamente 39 milhotildees de usuaacuterios ativos

desses jogos ou seja aproximadamente 20 da populaccedilatildeo brasileira

(GANDRA 2011) Com base nisso cabe a noacutes lanccedilarmos algumas

perguntas que tipo de acesso eacute esse Quais fatores levam os outros 80

da populaccedilatildeo brasileira a natildeo jogarem E por que os jovens e crianccedilas

mesmo os que sequer tecircm as condiccedilotildees de garantir a sua subsistecircncia se

veem hipnotizadas por essas mercadorias

Os jogos eletrocircnicos como qualquer produccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo satildeo

bons nem ruins por natureza natildeo se trata de criticaacute-los de forma saudosista

mas de permitir aos alunos uma atuaccedilatildeo criacutetica e consciente frente a esses

jogos que auxilie a superar o fetiche da tecnologia e a alienaccedilatildeo frente agrave messhy

ma Quando tomadas como valores de uso a ciecircncia e a tecnologia estatildeo

a serviccedilo da melhoria das condiccedilotildees de vida e da possibilidade de dilatar o

tempo livre para que o homem produza novos sentidos para sua existecircncia

natildeo apenas pela necessidade de comer vestir dormir morar mas tambeacutem

por finalidades luacutedicas Nesse sentido Frigotto (2005) aponta que as tecshy

nologias satildeo como extensotildees dos sentidos e membros dos seres humanos

Mas sob as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo da sociedade capitalista o que era para

aumentar o tempo livre intensifica a exploraccedilatildeo e a alienaccedilatildeo

Com isso entendemos que natildeo haacute neutralidade no desenvolvimento

tecnoloacutegico pelo contraacuterio ele materializa-se em meio a todas as condenshy

saccedilotildees de forccedilas que permeiam a sociedade de classes Por isso apesar do

discurso que prega o acesso pleno agraves benesses do desenvolvimento capitashy

lista a natildeo democratizaccedilatildeo dos bens culturais produzidos pela humanidade

nos mostra o contraacuterio No caso dos jogos eletrocircnicos observamos que sua

dinacircmica de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo como mercadorias estaacute intimamente

ligada agrave loacutegica desigual e predatoacuteria do consumismo capitalista8

8 Os jogos eletrocircnicos como expressotildees culturais refletem a sociedade em que nascem mas

ao mesmo tempo tambeacutem ajudam a educar os consumidores passivos para esse padratildeo

civilizatoacuterio Kosik (1995) ajuda a refletir sobre essa dinacircmica dialeacutetica a partir do caso

da arte ldquotoda obra de arte apresenta um duplo caraacuteter em indissoluacutevel unidade eacute expressatildeo da realidade mas ao mesmo tempo cria a realidade uma realidade que natildeo existe fora da obra ou antes da obra mas precisamente na obrardquo (p 128)

Vale destacar que os grandes expoentes e exportadores histoacutericos

dos jogos eletrocircnicos satildeo as naccedilotildees imperialistas norte-americana e

japonesa Como reflexo disso carregam muitos dos valores tiacutepicos de

paiacuteses de capitalismo central como o individualismo a competiccedilatildeo

exacerbada o consumo desenfreado e a naturalizaccedilatildeo da violecircncia

Aliaacutes a questatildeo da violecircncia presente em diversos jogos eletrocircnicos

eacute uma das grandes polecircmicas que envolvem a praacutetica desses jogos No

que tange ao conteuacutedo violento dos games merecem destaque jogos

que pontuam a realizaccedilatildeo de crimes atropelamentos praacutetica de agresshy

sotildees em ambiente escolar perseguiccedilatildeo e morte de supostos terroristas

e os que simulam guerras e conflitos armados entre paiacuteses e povos Natildeo

eacute raro vermos mateacuterias jornaliacutesticas que associam o uso excessivo de

games a situaccedilotildees de violecircncia real o caso mais emblemaacutetico foi o masshy

sacre ocorrido em 1999 na Escola de Ensino Meacutedio Colombine em

Littleton no estado do Colorado (EUA)

De acordo com Alves (2004) a violecircncia como forma de linshy

guagem envolve ao mesmo tempo aspectos econocircmicos sociais

poliacuteticos culturais e afetivos por isso natildeo podemos adotar uma

atitude reducionista em culpar exclusivamente os jogos eletrocircnicos

pela violecircncia pois eles mesmos satildeo reflexotildeesprojeccedilotildees de uma

sociedade que banaliza a violecircncia A autora destaca tambeacutem que

uma questatildeo crucial a se pensar eacute que a violecircncia tem sido transshy

formada nas diversas miacutedias num grande espetaacuteculo por isso ela

vende e os adolescentes satildeo seduzidos pelas cenas de violecircncia para

consumirem produtos ldquoTanto a espetacularizaccedilatildeo quanto a este-

tizaccedilatildeo da violecircncia vecircm sendo bastante potencializadas nos jogos

eletrocircnicos em que a morte cada vez mais violenta passa a ser

sinocircnimo muitas vezes de grandes vendasrdquo (ALVES 2004 p 79)

Esse caraacuteter sedutor dos games de violecircncia eacute utilizado ateacute

pelas forccedilas armadas estadunidenses para estimular o alistamenshy

to militar e treinar recrutas Com esses objetivos o exeacutercito dos

EUA com a colaboraccedilatildeo do departamento de defesa norte-ame-

ricano criou o Americans Army um jogo de tiro em primeira

pessoa no qual os jogadores simulam combates militares reais

(IMASATO M ESQUITA 200$) O jogo disponibilizado grashy

tuitamente para o puacuteblico desde 04 de julho de 2002 possui

milhares dc jogadores pelo mundo todo inclusive no Brasil

Nesse exemplo os atos de agredirmatar personagens durante

o jogo natildeo satildeo utilizados apenas com sentidos luacutedicos mas tambeacutem

com a finalidade de criar nos jovens o desejo de realizar essas accedilotildees

na vida real A criaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de games como esse sem granshy

des criacuteticas por parte do puacuteblico permite visualizar o quanto a vioshy

lecircncia eacute vista com algo natural em nossa sociedade Com apoio nas

elaboraccedilotildees de Marx (1996) consideramos que a base dessa naturashy

lizaccedilatildeo satildeo as proacuteprias relaccedilotildees sociais capitalistas que transformam

tudo em mercadoria inclusive o trabalho humano fazendo parecer

que relaccedilotildees entre pessoas reais satildeo relaccedilotildees entre coisas

De um modo geral o homem cria instrumentos para satisfashy

zer suas necessidades dando sentidos humanos para as coisas mas

ao fazer isso gera novos interesses e necessidade transformando

sua proacutepria forma de viver Ou seja a tecnologia produzida pelo

homem passa a determinar suas accedilotildees e seu modo de vida Na

atualidade a criaccedilatildeo da rede mundial de computadores mudou

sensivelmente a forma de interaccedilatildeo entre as pessoas no caso dos

jogos eletrocircnicos a internet permitiu o compartilhamento de joshy

gos entre pessoas ao redor do mundo inteiro9 Desse modo os

jogos eletrocircnicos como criaccedilotildees humanas para satisfazer suas neshy

cessidades luacutedicas modificam o modo como os homens satisfazem

essas mesmas necessidades alterando os espaccedilos-tempos outrora

ocupados pelos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais

Nas grandes cidades convivemos com a falta de espaccedilos puacuteblishy

cos para brincar com o tracircnsito intenso com o alto grau de violecircnshy

cia e poluiccedilatildeo entre outros fatores que favorecem a diminuiccedilatildeo do

tempo destinado agraves experiecircncias corporais reais e sua substituiccedilatildeo

parcial ou total por praacuteticas virtuais como as possibilitadas pelos

9 Os jogos Massively Multiplayer on-line (M M Os) possibilitam vaacuterias pessoas

competirem pela internet criando comunidades de gamers gerando um novo modelo

de interatividade via jogos eletrocircnicos Nesse modelo as pessoas representam uma

segunda identidade e se relacionam atraveacutes dela Aleacutem disso existem torneios esportivos

multiplayer que permitem transformar esses games em profissatildeo (A ERA 2007)

jogos eletrocircnicos Os consoles mais modernos permitem inclusive

novas experiecircncias interativas com o corpo onde praacuteticas corporais

- como jogos tradicionais esportes danccedilas lutas e ginaacutestica - poshy

dem ser feitas dentro de um jogo virtual ressignificando a proacutepria

forma de vivecircncia da cultura corporal dentro e fora das telas

Os jogos eletrocircnicos tambeacutem tecircm sido produzidos e utilishy

zados para propoacutesitos que ultrapassam a diversatildeo Nesse sentishy

do merece destaque uma rede internacional chamada Game for change trata-se de uma organizaccedilatildeo social sem fins lucrativos

criada em 2004 nos EUA e com filiais na Europa Aacutesia e Ameacuterishy

ca Latina O objetivo dessa organizaccedilatildeo eacute promover a pesquisa

criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de jogos digitais que contribuam com

mudanccedilas sociais Os jogos satildeo elaborados por sistemas de parshy

cerias e seu conteuacutedo eacute sempre educativo levando o jogador a

buscar soluccedilotildees para problemas econocircmicos ambientais e diploshy

maacuteticos Os melhores games satildeo premiados em um festival que

reuacutene representantes do governo e da sociedade civil10

Desse modo consideramos que abordar as manifestaccedilotildees

contemporacircneas dos jogos eacute essencial para que os alunos possam

atuar como sujeitos de seu tempo tambeacutem na esfera luacutedica No

caso dos jogos eletrocircnicos eacute preciso tratar de sua historicidade

abordando as diversas geraccedilotildees de jogos que apesar de envolshy

verem conhecimentos coletivos se tornam privileacutegio de poucos

na dinacircmica de produccedilatildeo capitalista Para aleacutem do mundo do

entretenimento os games tecircm cumprido funccedilotildees econocircmicas

poliacuteticas e educativas que precisam ser abordadas para uma comshy

preensatildeo mais ampla das relaccedilotildees nem sempre evidentes entre o

real e o virtual no mundo dos jogos

10 Apesar de ser considerado um avanccedilo em relaccedilaacuteo aos games estritamente comerciais por

abordar problemaacuteticas de fundo social alertamos que esses jogos buscam na conciliaccedilatildeo

de classes as soluccedilotildees para problemas extremamente complexos e muitos originados

reforccedilados pelas proacuteprias relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo capitalista alinhando-se portanto

agrave ideologia da responsabilidade Em linhas gerais o objetivo dessa ideologia desenvolvida

a partir do final dos anos de 1990 em consonacircncia com o neoliberalismo de terceira via

eacute articular as accedilotildees do empresariado em torno das questotildees sociais buscando construir

conscnsos entre as classes e suas fraccedilotildees de modo a garantir o processo de dominaccedilatildeo

capitalista por meio do convpnr im pnm IacuteW A B T IM C iacutenno

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com os jogos eletrocircnicos

As crianccedilas e jovens cotidianamente se divertem consomem

e interagem atraveacutes dos jogos eletrocircnicos que natildeo satildeo apenas

brinquedos pois satildeo formas de expressatildeo de sentimentos e deshy

sejos das novas geraccedilotildees Por isso concordamos com Silveira e

Torres (2007) que adotar apenas uma atitude normativa e conshy

troladora em relaccedilatildeo aos jogos eletrocircnicos sem abordar aspectos

teacutecnicos poliacuteticos econocircmicos e eacuteticos que envolvem essa forma

de expressatildeo dos jogos prejudica o desenvolvimento de uma vishy

satildeo criacutetica frente a essa produccedilatildeo cultural

Com a intenccedilatildeo de contribuir para a superaccedilatildeo desses limites

construiacutemos uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos dishy

recionada aos alunos do 7o ano do ensino fundamental Com emshy

basamento na Pedagogia histoacuterico-criacutetica dividimos didaticamente

essa experiecircncia em cinco passos buscando envolver os educandos

no processo de ensino-aprendizagem e propiciar um percurso edushy

cativo que amplie sua compreensatildeo e accedilatildeo sobre o tema

No primeiro momento identificaccedilatildeo da praacutetica social buscashy

mos apresentar os conteuacutedos que seratildeo abordados dentro da unidashy

de e como eles se expressam na praacutetica cotidiana dos alunos Para

que os alunos identifiquem o tema seraacute apresentada uma sequecircncia

de imagens sobre os jogos eletrocircnicos e os alunos seratildeo questionashy

dos sobre o que jaacute sabem e o que gostariam de aprender sobre esses

tipos de jogos Logo em seguida seratildeo apresentados os toacutepicos de

conteuacutedos abordados na unidade a saber conceito de jogos eletrocircshy

nicos os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos a virtualizaccedilatildeo

dos jogos tradicionais os games como grande negoacutecio e os desafios

e possibilidades trazidos pelos games na atualidade

Na problematizaccedilatildeo inicialmente seratildeo debatidas quesshy

totildees que buscaratildeo despertar a curiosidade dos alunos pelo tema

como quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem

Como as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por

que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia Em seguishy

da seratildeo lanccediladas questotildees-problemas que articulam a praacutetica

social concreta dos alunos com o conteuacutedo tratado na unidade

As questotildees foram orientadas com base em diversas dimensotildees

do conteuacutedo a saber conceituai histoacuterica cultural poliacuteticas

econocircmicas social e eacutetica conforme pode ser visto no plano de

unidade apresentado a seguir

A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento de apropriaccedilatildeo do coshy

nhecimento sistematizado a fim de que os alunos ampliem sua

compreensatildeo sobre as problematizaccedilotildees lanccediladas Para tal seratildeo

desenvolvidas accedilotildees como discussotildees debates experimentaccedilatildeo

de jogos na forma tradicional e eletrocircnica aulas expositivas e

apresentaccedilatildeo de documentaacuterios Nessa etapa a falta de recursos

como aparelhos especiacuteficos para jogos eletrocircnicos pode ser subsshy

tituiacuteda por versotildees de jogos para computadoresaparelhos celulashy

res e ou transformaccedilatildeo de jogos virtuais em jogos reais

Na catarse momento no qual os alunos devem ser capazes

de responder as questotildees-problemas com base no conhecimento

sistematizado eles participaratildeo de um quiz educativo sobre jogos

eletrocircnicos com a intenccedilatildeo de auxiliaacute-los na elaboraccedilatildeo de uma

siacutentese entre o saber cotidiano e o conhecimento cientiacutefico Nosshy

sa expectativa eacute que os alunos compreendam as principais caracshy

teriacutesticas dos jogos eletrocircnicos como uma forma de manifestaccedilatildeo

dos jogosbrincadeiras tipicamente contemporacircnea

Ao final do trabalho buscando um retorno agrave praacutetica social os alunos seratildeo estimulados a pocircr em accedilatildeo a nova visatildeo sobre

o conteuacutedotema em tela Nesse sentido seraacute proposta a consshy

truccedilatildeo de um blog que socialize os conhecimentos apreendidos

sobre os jogos eletrocircnicos e a realizaccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo sobre

o desenvolvimento histoacuterico dos jogos eletrocircnicos

Plano de Unidade Os jogos eletrocircnicos e a sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na sociedade contemporacircnea

Conteuacutedo jogos

Turmas 7o ano

Nuacutemero de aulas 12

Objetivo Geral Compreender a dinacircmica social que envolve a

produccedilatildeo e a reproduccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos permitindo o uso

criacutetico desses jogos nos momentos de lazer

1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL

11 Anuacutencio do conteuacutedo

Toacutepicos de conteuacutedo c objetivos especiacuteficos

bull Toacutepico 1 O que satildeo jogos eletrocircnicos

Objetivo especiacutefico Conceituar os jogos eletrocircnicos e

suas formas de manifestaccedilatildeo para distingui-los de oushy

tros tipos de jogos em especial dos jogos tradicionais

bull Toacutepico 2 Os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos

Objetivo especiacutefico Conhecer a origem e as transforshy

maccedilotildees histoacutericas dos jogos eletrocircnicos buscando

entender a influecircncia do contexto histoacuterico e do

avanccedilo tecnoloacutegico na configuraccedilatildeo desses jogos

bull Toacutepico 3 A virtualizaccedilatildeo dos jogos tradicionais

Objetivo especiacutefico Identificar jogos eletrocircnicos insshy

pirados em jogos tradicionais a fim de entender as

relaccedilotildees entre os dois tipos de jogos como produshy

ccedilotildees culturais luacutedicas

bull Toacutepico 4 Os games como um grande negoacutecio

Objetivo especiacutefico Compreender o processo de proshy

duccedilatildeo disseminaccedilatildeo e consumo dos jogos eletrocircnicos

a fim de compreender os papeacuteis econocircmicos poliacuteshy

ticos e sociais assumidos por esses jogos

bull Toacutepico 5 Geraccedilatildeo game over desafios e possibilidades11

Objetivo especiacutefico Reconhecer os benefiacuteciosmalefiacuteshy

cios trazidos pela praacutetica regular dos jogos eletrocircnicos e

suas possibilidades para a cultura corporal permitindo

o uso consciente e equilibrado desses jogos nos moshy

mentos de lazer

12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos

bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Os jogos

eletrocircnicos podem ser jogados em aparelhos proacuteprios

computadores e celulares existem games para jogar

sozinho em dupla e em grupo as pessoas mais velhas natildeo

brincavam com esses jogos

bull O que gostariam de saber mais Por que os jogos eletrocircnicos

satildeo conteuacutedos da Educaccedilatildeo Fiacutesica Quais os jogos eletrocircnicos

mais conhecidos

2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO

21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo

Quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem Como

as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por que os jogos

eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia

11 Elaboramos esse uacuteltimo toacutepico de conteuacutedo de forma bem flexiacutevel para que possa atender

as demandas que surgirem e ser abordado de acordo com recursos disponiacuteveis para seu

desenvolvimento Por isso na instrumentalizaccedilatildeo relativa a esse toacutepico apresentamos

diversas possibilidades de accedilotildees e recursos

12 Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

QUESTOtildeES PROBLEMATIZADORAS

Conceituai

O que satildeo jogos eletrocircnicos Que tipos de jogos eletrocircnicos

existem Os jogos eletrocircnicos podem ser considerados como

ldquojogos popularesrdquo

Histoacuterica

As brincadeiras e as formas de se divertir mudaram com o

passar do tempo Quando surgiram os jogos eletrocircnicos

Qual eacute a origemhistoacuteria de alguns dos principais jogos eleshy

trocircnicos Por que eles sempre mudam

Social

Por que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns atualmente

Quais finalidades sociais eles tecircm cumprido Quais as possishy

bilidades de uso criacutetico dos games

Econocircmica

Como os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos c distribuiacutedos

Haacute faacutecil acessibilidade a todos para vivenciar esses jogos

Quanto custam os aparelhos e miacutedias para acesso aos jogos

eletrocircnicos Existe uma economia virtual

Poliacutetica

Existem espaccedilos puacuteblicos apropriados para brincar e jogar

com seguranccedila em nossa cidade Existem espaccedilos puacuteblicos

para jogar jogos eletrocircnicos

Eacutetica

Quais valores podem ser evidenciados nos jogos eletrocircnicos

Os jogos satildeo violentos Existem jogos eletrocircnicos criacuteticos

aos valores sociais Existem games cooperativos

Cultural

Os jogos eletrocircnicos satildeo difundidos em todas as culturas

Existem jogos eletrocircnicos universais Os jogos mais comuns

variam de paiacutes para paiacutes e de regiatildeo para regiatildeo Qual a relashy

ccedilatildeo entre os jogos eletrocircnicos e os jogos tradicionais

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

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4) SIacuteNTESE SUPERIOR

41 Siacutentese teoacuterica do aluno

Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais de variados gecircneros

que necessitam de aparelhos eletrocircnicos com tecnologias especiacuteshy

ficas para serem jogados Apesar de muitos desses jogos serem reshy

sultado da virtualizaccedilatildeo de jogos tradicionais eles naacuteo podem ser

considerados jogos populares pois satildeo produzidos e distribuiacutedos

sob a forma de mercadorias (conceituai e cultural) Os jogos eleshy

trocircnicos estabelecem uma relaccedilatildeo estreita com o contexto no qual

foram criados incorporando diversos avanccedilos tecnoloacutegicos que

permitem a constante ampliaccedilatildeo da qualidade de imagem som e

movimento dos mesmos (histoacuterica) Na atualidade a forma de orshy

ganizaccedilatildeo das grandes cidades o aumento da violecircncia e a falta de

espaccedilos puacuteblicos para o lazer tecircm favorecido a substituiccedilatildeo parcial

ou total dos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais por jogos

eletrocircnicos (soacutecio-poliacutetica) Os jogos eletrocircnicos satildeo muito divulshy

gados pela miacutedia de massas e datildeo grandes lucros agrave induacutestria cultushy

ral enquanto a grande maioria das crianccedilas ainda natildeo tenha acesso

pleno a essas produccedilotildees pois a dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo

desses jogos se insere no mundo das mercadorias (soacutecio-econocircmi-

ca) Os jogos eletrocircnicos estatildeo inseridos na contraditoacuteria dinacircmica

capitalista e por isso refletem valores sociais como a violecircncia e a

competitividade mas tambeacutem podem forjar outros valores como a

cooperaccedilatildeo e a solidariedade (eacutetica)

42- Expressatildeo da siacutentese

Participar de um quiz de perguntas e respostas sobre os jogos

eletrocircnicos buscando expressar o que foi apreendido durante as aulas

i) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL

Quadro 3- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

ACcedilOacuteES DO ALUNO

Registrar e divulgar os conhecimentos

apreendidos sobre os jogos eletrocircnicos

1 - Construir e divulgar um blog

sobre os jogos eletrocircnicos (conshy

teuacutedo histoacuteria tipos de jogos

benefiacutecios problemas links e esshy

paccedilos para jogar gratuitamente)

Contribuir para a criaccedilatildeo de espaccedilos-

-tempos destinados agrave discussatildeo sobre

os games

2 - Montar uma exposiccedilatildeo que

funcione como linha do tempo

dos jogos

Ampliar os conhecimentos sobre os

jogos eletrocircnicos

3 - Pesquisar mais sobre os jogos

eletrocircnicos

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees finais

A concretizaccedilatildeo de uma proposta de ensino com os jogos eletrocircshy

nicos eacute sem duacutevidas um grande desafio seja pela falta de recursos adeshy

quados seja pela dificuldade em trabalhar com as novas tecnologias e

ateacute pela resistecircncia da comunidade escolar ao tratamento desse tema

pela escola Entretanto defendemos que abordar os games como exshy

pressotildees contemporacircneas dos jogos e brincadeiras eacute imprescindiacutevel se

pretendemos que nossos alunos compreendam a realidade em que vishy

vem e atuem como sujeitos do seu proacuteprio tempo

Com base nessa constataccedilatildeo a nossa intenccedilatildeo foi abrir o diaacutelogo

sobre as possibilidades de trabalho com os jogos eletrocircnicos como conteshy

uacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica Nesse sentido a experiecircncia pedagoacutegica

descrita nesse artigo buscou abordar os jogos eletrocircnicos em suas muacuteltishy

plas dimensotildees visando contribuir para que os alunos reconheccedilam essa

nroducatildeo cultural luacutedica como construccedilatildeo de homens e mulheres reais

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CAPIacuteTULO IV

AS RELACcedilOtildeES ENTRE ESPORTE E SAUacuteDE NO CAPITALISMO TEM ATIZANDO CONTRADICcedilOtildeES NA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR

Carlos Eduardo de Souza

Leonardo Docena Pina

Mocircnica Jardim Lopes

De maneira mais ou menos intensa o esshy

porre se apresenta de diferentes formas em nossa

vida Seja atraveacutes da televisatildeo de jornais de reshy

vistas ou da proacutepria praacutetica de diferentes modashy

lidades nos relacionamos quase que diariamente

com o esporte Poreacutem a relaccedilatildeo que estabeleceshy

mos em nosso cotidiano com essa manifestaccedilatildeo

cultural natildeo proporciona sua real compreensatildeo

E por isso que muitos lidam com o esporte diashy

riamente sem compreender sua relaccedilatildeo com os

processos histoacutericos Da mesma forma muitos

acabam por reproduzir a noccedilatildeo dominante exshy

pressa na ideia de que esporte promove sauacutede

Iniciamos o texto com essa reflexatildeo por

consideraacute-la importante para discutirmos o

ensino do esporte na escola Afinal por que eacute

importante ensinar esporte nas aulas de Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica se este jaacute estaacute presente em nosso

dia a dia fora da escola Seria o ensino do esshy

porte realmente necessaacuterio aos alunos

A resposta a essas questotildees nos remete

inicialmente ao fato de que desde a deacutecada

de 1990 com a divulgaccedilatildeo da perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a

cultura corporal (COLET IVO DE AUTORES 1992) foi ampliashy

da a possibilidade de relacionar a Educaccedilatildeo Fiacutesica com a formaccedilatildeo

de sujeitos histoacutericos capazes de compreender a realidade de modo

a nela intervir criticamente Orientada na Pedagogia histoacuterico-criacuteti-

ca (SAVIANI 2005a) tal perspectiva trouxe novas formas de aborshy

dagem dos conteuacutedos As aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica antes pensadas

com o objetivo de desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica de treinamenshy

to teacutecnico de recreaccedilatildeo de aprendizagem motora dentre outros

puderam ser superadas por uma nova tarefa de transmissatildeo do saber

sistematizado necessaacuterio agrave compreensatildeo da realidade

Para alcanccedilar a nova tarefa a que se propotildee a perspectiva

da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal os conteuacutedos passashy

ram a demandar uma tematizaccedilatildeo criacutetico-superadora No caso da

manifestaccedilatildeo cultural que nos propomos a refletir no presente

capiacutetulo as indicaccedilotildees do Coletivo de Autores (1992) fornecem

a base para trataacute-la pedagogicamente de modo a superar as caracshy

teriacutesticas impostas pela sociedade capitalista Imprim ir um novo

sentidosignificado ao esporte implica a consideraccedilatildeo de alguns

elementos jaacute retomados por Assis (2001) Um deles eacute a necesshy

sidade de realizar uma leitura criacutetica do esporte sobretudo para

compreender as mediaccedilotildees que o integram agraves relaccedilotildees sociais de

produccedilatildeo da existecircncia humana Sem refletir criticamente sobre

o esporte corre-se o risco de natildeo compreender sua funccedilatildeo na

reproduccedilatildeo do capitalismo ou de desconsiderar a possibilidade

de esse fenocircmeno cultural servir a outro projeto de sociedade

Outro aspecto reside na necessidade de consideraacute-lo um

conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica A constataccedilatildeo de que o esporte vishy

nha atendendo historicamente aos interesses dominantes fez com

que alguns professores se distanciassem do ensino do esporte na

escola Na verdade por considerar que o esporte relaciona-se ao

processo de reproduccedilatildeo do capitalismo natildeo pretendemos afastaacute-

-lo da educaccedilatildeo escolar Pelo contraacuterio ressaltamos a necessidade

de tematizaacute-Io na escola visto que a transmissatildeo do saber objeshy

tivo historicamente acumulado sobre essa praacutetica cultural pode

se transformar em instrumento cultural de luta contra as forshy

mas de dominaccedilatildeo a que estatildeo submetidos os membros da classe

trabalhadora ainda hoje Daiacute a defesa do Coletivo de Autores

(1992) para desmitificar o esporte atraveacutes da oferta na escola

do conhecimento que permita aos alunos criticaacute-lo dentro de um

determinado contexto histoacuterico

Conforme afirma Assis (2001) o esporte traz consigo possishy

bilidades contraditoacuterias de modo que eacute possiacutevel enfatizar situashy

ccedilotildees que privilegiam a solidariedade sobre a rivalidade o coletivo

sobre o individual a autonomia sobre a submissatildeo a cooperaccedilatildeo

sobre a disputa a distribuiccedilatildeo sobre a apropriaccedilatildeo a abundacircncia

sobre a escassez a confianccedila muacutetua sobre a suspeita a descon-

traccedilatildeo sobre a tensatildeo a perseveranccedila sobre a desistecircncia e ainda

a vontade de continuar jogando em contraposiccedilatildeo agrave pressa para

terminar a partida e configurar resultados

A partir desses apontamentos torna-se possiacutevel afirmar que o

ensino desse conteuacutedo pode permitir aos alunos a apropriaccedilatildeo das

formas mais desenvolvidas do saber objetivo sobre o esporte que se

encontra acumulado na cultura Compreender o esporte demanda a

apropriaccedilatildeo do conhecimento jaacute produzido sobre ele Tal apropriashy

ccedilatildeo possibilita a compreensatildeo de suas contradiccedilotildees e consequenteshy

mente estabelecer novas relaccedilotildees com essa manifestaccedilatildeo cultural

Conforme afirma Saviani (2006) dominar a cultura erudita

eacute necessaacuterio aos membros da classe trabalhadora para que possam

fazer valer os seus interesses jaacute que a classe dominante faz uso

exatamente dos conteuacutedos culturais para legitimar e consolidar

sua dominaccedilatildeo Redirecionando essa reflexatildeo para o ensino do

esporte podemos concluir que o domiacutenio do conhecimento sisshy

tematizado sobre essa manifestaccedilatildeo cultural tambeacutem se constitui

como instrumento indispensaacutevel uma vez que os conhecimentos

adquiridos no cotidiano tendem a ser insuficientes para atuaccedilatildeo

dos indiviacuteduos enquanto sujeitos da histoacuteria

Esporte sauacutede e o modo vidatrabalho no capitalismo

Embora seja muito propagada atualmente sobretudo pela atushy

accedilatildeo de governos e Organismos Internacionais como a Organizaccedilatildeo

das Naccedilotildees Unidas (ONU) o Banco Mundial (BM) e o Fundo Moshy

netaacuterio Internacional (FMI) a ideologia que afirma de forma mecacircshy

nica o esporte como sauacutede carece de anaacutelise concreta da realidade

onde estatildeo inseridas as classes fundamentais1 Na perspectiva que

sustenta nosso estudo o entendimento do esporte da sauacutede e da posshy

siacutevel relaccedilatildeo entre esses dois temas soacute pode ser alcanccedilado se forem

confrontados e aferidos no conjunto da dinacircmica das relaccedilotildees sociais

existentes no modo vidatrabalho capitalista

O fenocircmeno cultural ldquoesporterdquo toma forma no seacuteculo XVIII no

periacuteodo de revoluccedilatildeo e afirmaccedilatildeo da burguesia enquanto classe domishy

nante Segundo Hobsbawm (1988) o esporte foi ldquoformalizado em torshy

no dessa eacutepoca na Inglaterra que lhe ofereceu o modelo e o vocabulaacuteshy

rio alastrou-se como um incecircndio aos demais paiacutesesrdquo (p 255) sendo

tambeacutem fruto segundo Bracht (2005) de ldquomodificaccedilatildeo poderiacuteamos

dizer de esportivizaccedilatildeo de elementos da cultura corporal de movimento

das classes populares inglesas como os jogos popularesrdquo (p 13) cuja

funccedilatildeo era basicamente de comemorar ou festejar datas

Foi tambeacutem nessa eacutepoca - da revoluccedilatildeo industrial - que os trabashy

lhadores passaram a conhecer o chamado ldquotempo livrerdquo que era exashy

tamente o tempo no qual se encontravam livres das obrigaccedilotildees fabris

0 preenchimento desse tempo para promover melhorias no trabalho

produtivo e na conformaccedilatildeo ideoloacutegica para uma melhor extraccedilatildeo da

mais-valia deveria abarcar valores e concepccedilotildees de mundo proacuteprias de

uma burguesia emergente (SILVA 1994) Tais valores se expressavam

diretamente no esporte uma vez que permitia o desenvolvimento de

1 Quando uma pequena parcela dos homens toma para si os meios de produccedilatildeo criam-se

contraditoriamente na sociedade duas classes a dos que detecircm os meios de produccedilatildeo e

aqueles que necessitam vender o uacutenico bem que lhes restou sua Forccedila de trabalho Essa

relaccedilatildeo contraditoacuteria e conflitante enrre os homens requer formas de dominaccedilatildeo por

exemplo as ideologias Entendendo ldquoideologiardquo natildeo como ilusatildeo ou supersticcedilatildeo mas

uma forma material especiacutefica de consciecircncia social (MESZAROS 2004)

determinadas formas de pensar e agir a exemplo da lealdade senso

de responsabilidade esforccedilo pessoal espiacuterito de equipe dentre outros

(TAFFAREL SANTOS JUN IOR 2009)

Proni (2002) ao traduzir a concepccedilatildeo de esporte desenvolvida

por Brohm cria um trabalho fecundo de elementos para compreshy

ensatildeo desse tema Segundo o autor a hipoacutetese central de Brohm se

sustenta no entendimento de que o sistema esportivo moderno eacute o

reflexo da universalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo da forma de vida predomishy

nante que tem sua origem na economia capitalista na qual impera

o espiacuterito industrial a mentalidade do rendimento e do ecircxito ldquoO

intercacircmbio de mercadorias e de capital tiveram como consequecircncia

o intercacircmbio de ideias e a difusatildeo de praacuteticas esportivasrdquo (PRONI

2002 p 38) Ainda segundo o autor satildeo quatro fatores que Brohm

diz ser responsaacuteveis pelo desenvolvimento do esporte

(a) O aumento do tempo livre e o desenvolvimento do

oacutecio (que ocupa um lugar de destaque na civilizaccedilatildeo do

lazer) (b) a universalizaccedilatildeo dos intercacircmbios medianshy

te os transportes e os meios de comunicaccedilatildeo de massa

(o esporte converte-se em ldquomercadoria culturalrdquo graccedilas

a sua natureza comospolita) (c) revoluccedilatildeo teacutecnico -

cientiacutefica (que reflete-se na busca da eficiecircncia corposhy

ral nos novos materiais e equipamentos inclusive no

surgimento de novas modalidades esportivas) (d) e a

revoluccedilatildeo democraacutetico mdash burguesa e o enfrentamento

das naccedilotildees no plano internacional (isto eacute a dinacircmica

poliacutetico mdash ideoloacutegica) (PRONI 2002 p 39)

O esporte dentro dessa perspectiva carrega os valores e os pashy

drotildees de desenvolvimento do Estado liberal Difunde uma forma

de conviacutevio e inspira desejos de mudanccedilas individuais Aproxima

as classes sociais ocultando o antagonismo poliacutetico-econocircmico e

a relaccedilatildeo de exploraccedilatildeo existente entre elas Ou seja um produto

da sociedade industrial que vem servindo em larga medida como

elemento de difusatildeo do ideaacuterio e dos interesses da classe dominanshy

te Assim para Brohm a essecircncia do esporte

eacute a ideologia democraacutetica tiacutepica de uma sociedade

que precisa cultivar um ideal humanitaacuterio (liberdade

igualdade fraternidade) e ao mesmo tempo velar suas

estruturas de classe e seus mecanismos de dominaccedilatildeo

Por isso o autor enfatiza o papel da instituiccedilatildeo esporshy

tiva como estrutura simboacutelica e aparato ideoloacutegico do

Estado (PRONI 2002 p 39-40)

Desse modo Brohm iraacute concluir que o esporte eacute por excelecircnshy

cia algo nefasto para os trabalhadores servindo unicamente para

o fortalecimento das forccedilas e da identidade burguesa (BRACHT

2005) Essa se torna uma visatildeo estreita da realidade Considerashy

mos que a cultura esportiva de fato carrega os valores capitalistas

e nesse sentido tem servido como instrumento a serviccedilo da domishy

naccedilatildeo burguesa Mas isso natildeo eacute tudo Acreditamos que a anaacutelise do

esporte de forma mais profiacutecua deve ser aferida no conjunto das

contradiccedilotildees que envolvem a relaccedilatildeo capital-trabalho E na luta

de classes que as culturas vatildeo se amoldando Portanto o esporte

natildeo eacute uma instituiccedilatildeo que paira acima dos conflitos sociais natildeo

sendo em si nem ldquobom nem ldquoruimrdquo Trata-se da expressatildeo de uma

condensaccedilatildeo de forccedilas na qual hegemonicamente os valores da

classe burguesa sobressaem em relaccedilatildeo aos da classe trabalhadora

Nos dias de hoje a articulaccedilatildeo do esporte com os interesshy

ses da classe dominante pode ser evidenciada pela relaccedilatildeo co-

mumente estabelecida entre a praacutetica de esporte e a obtenccedilatildeo de

sauacutede Exemplo disso eacute a defesa da O N U de que as principais

causas de ateacute 60 das mortes no mundo estatildeo ligadas a pessoas

inativas e que o esporte e a Educaccedilatildeo Fiacutesica ldquosatildeo cruciais para a

vida longa e saudaacutevel O esporte melhora a sauacutede e o bem-estar

aumenta a expectativa de vida e reduz o risco de vaacuterias doenccedilas

natildeo-transmissiacuteveis incluindo a doenccedila cardiacuteacardquo (ON U 2003 p

7 traduccedilatildeo nossa) aleacutem de ser essencial para manter a ldquosauacutede da

menterdquo e construir ldquovaliosas conexotildees sociaisrdquo

Segundo Delia Fonte e Loureiro (1997) eacute a visatildeo funcionalista

sobre a sauacutede que permite afirmar a praacutetica de esporte como soluccedilatildeo

para os malefiacutecios da vida moderna Para os autores essa afirmaccedilatildeo

demonstra a superficialidade com a qual tem se abordado o tema sauacuteshy

de Na visatildeo funcionalista as doenccedilas ou ldquomorbidadesrdquo natildeo tecircm nada

a ver com as relaccedilotildees sociais concretas e sim com um desvio dos indishy

viacuteduos ou seja uma natildeo adesatildeo consciente a haacutebitos mais saudaacuteveis

Delia Fonte e Loureiro (1997) nos ajudam a entender a rashy

zatildeo que leva os Organismos Internacionais a difundir tais com-

preensotildees sobre o tema Conforme afirmam os autores

a estrutura social capitalista determina e legitima vaacuterias

ideacuteias valores e atitudes altamente patoloacutegicos Por um

processo de naturalizaccedilatildeo essas patologias saacuteo apresenshy

tadas como inerentes ao ser humano Longe de serem

compreendidas como patologias elas satildeo tidas como

qualidades Assim aceita-se como normal a busca do

lucro como objetivo de toda atividade econocircmica a exshy

ploraccedilatildeo do homem pelo homem o individualismo a

competitividade e a ambiccedilatildeo como valores modernos a

repressatildeo de ideacuteias e sentimentos rotulados como tabus

a satisfaccedilatildeo imediata de desejos como traduccedilatildeo da felishy

cidade a reificaccedilatildeo das pessoas e das relaccedilotildees sociais e a

alienaccedilatildeo (DELLA FONTE LOUREIRO 1997 p 2)

Em outras palavras o modo de vidatrabalho ainda sob a eacutegide

de uma sociedade classista conserva uma estrutura de poder e uma

poliacutetica mundial de grandes impactos no que concerne agrave sobrevivecircnshy

cia dos indiviacuteduos Nessa direccedilatildeo a preocupaccedilatildeo dos Organismos Inshy

ternacionais consiste tambeacutem em criar ideologias capazes de situar

os indiviacuteduos como uacutenicos culpados ou responsaacuteveis pelo seu estado

de sauacutede independentemente de suas condiccedilotildees de vidatrabalho

Os riscos derivados do modo capitalista de produccedilatildeo da

existecircncia humana satildeo diversos e ligados a inuacutemeras causas tais

como aqueles provenientes do ambiente de trabalho como rashy

diaccedilotildees ruiacutedos frio e calor intenso pressotildees anormais umidade

poeiras gases vapores compostos quiacutemicos esforccedilo fiacutesico intenshy

so controle de alta produtividade trabalho noturno monotoshy

nia trabalho repetitivo maacutequinas e estruturas mal conservadas

entre outros (SOUZA 2011) Vale destacar que ateacute mesmo os

esportistas de alto rendimento sentem os efeitos degradantes do

trabalho no capitalismo o que pode ser expresso natildeo apenas pelo

alto iacutendice de lesotildees mas tambeacutem pelo uso de substacircncias preshy

judiciais agrave sauacutede voltadas ao a u m e n rn Alt c mdash

a isso outros problemas como o aumento do iacutendice de depresshy

satildeo por exemplo que tambeacutem tem atingido atletas2

Mesmo os que natildeo sofrem tais efeitos durante a venda de sua

forccedila de trabalho estatildeo de alguma forma sujeitos agraves implicaccedilotildees do

modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Exemplo disso

satildeo as implicaccedilotildees da degradaccedilatildeo ambiental produzida e intensificada

pelo capitalismo Trata-se de mais uma evidecircncia de que os riscos desshy

sa forma de organizaccedilatildeo social agrave vida humana hoje atingem a todos

A repercussatildeo negativa das relaccedilotildees capitalistas contemporacircshy

neas nas formaccedilotildees sociais ainda eacute agravada com o aumento da

desigualdade social perdas de direitos trabalhistas aumento da

exploraccedilatildeo aumento da violecircncia no campo e nas cidades surtos

de doenccedilas e principalmente a natildeo garantia de direitos baacutesicos

como sauacutede transporte educaccedilatildeo e outros Problemas como esshy

ses tendem a ser contrabalanceados a partir da foacutermula maacutegica

que o esporte assume na oacutetica funcionalista

A pretensa sauacutede relacionada agrave praacutetica do esporte tatildeo defendida

pelos Organismos Internacionais e governos serve duplamente agrave reshy

produccedilatildeo do capitalismo Se de um lado busca convencer as pessoas

de que a ldquoausecircncia de sauacutederdquo eacute uma escolha consciente e natural de

haacutebitos natildeo saudaacuteveis por outro busca ocultar as contradiccedilotildees do

modo de vidatrabalho em uma sociedade de classes O esporte nesshy

se caso torna-se um poderoso instrumento para dinamizar toda essa

estrutura ideoloacutegica de manutenccedilatildeo das relaccedilotildees sociais capitalistas

exatamente a forma de organizaccedilatildeo social que natildeo permite - a todos

- obter condiccedilotildees dignas de trabalho de vida bem como acesso iguashy

litaacuterio a tecnologias e serviccedilos de sauacutede

Em siacutentese pode-se dizer que o desenvolvimento do esporte eacute

algo circunscrito numa totalidade moldada pelo antagonismo das

classes existentes Essa produccedilatildeo cultural assume aspectos compleshy

xos e contraditoacuterios Seus valores moralizantes imbuiacutedos do pensa-

2 A respeito disso ver reportagem ldquoMal do seacuteculo depressatildeo aproxima trageacutedias do mundo

do futebolrdquo (BELPIEDE 2011)

3

mento liberal buscam fortalecer e universalizar um modo de vida

trabalho que coincide com os interesses da classe dominante Trata-

-se de uma forma de educar eacutetica e politicamente os subalternos

definindo um padratildeo de sociabilidade3 A deformaccedilatildeo das praacuteticas

populares e sua adequaccedilatildeo agrave ordem capitalista geram perda parcial

de identidades e possibilidades de autocriaccedilatildeo e transformaccedilatildeo Enshy

tretanto a busca de formas alternativas que visem o resgate das vonshy

tades meacutetodos e anseios dos trabalhadores natildeo eacute algo simples devishy

do ao processo funcional de obscurecimento da realidade Trata-se

de algo importante e possiacutevel a partir do esporte

Considerar o esporte como algo acabado sem espaccedilo para

explorar a contradiccedilatildeo natildeo interessa agrave organizaccedilatildeo da classe trashy

balhadora ldquoUma coisa eacute submeter o esporte aos interesses dos goshy

vernantes e outra eacute tratar pedagogicamente criacutetica reflexiva e

criativamente o esporte enquanto conteuacutedo de ensino e campo de

vivecircncia socialrdquo (TAFFAREL SA N TO S JU N IO R 2009 p 33)

construiacutedo por meacutetodos proacuteprios que visam atender aos anseios

e aspiraccedilotildees dos trabalhadores Ou seja os subalternos devem ser

ldquocapazes de compreender antecipar e contrastar os movimentos

das classes dominantesrdquo (DIAS 2006 p 13)

Entendemos que a condiccedilatildeo da transformaccedilatildeo da sociedade

ou seja a sociabilidade historicamente emancipada livre da domishy

naccedilatildeo de classe seraacute fruto da capacidade de enxergarmos a conshy

tradiccedilatildeo e nela atuarmos no sentido de superaacute-la poliacutetica e econoshy

micamente O que deve ser extirpado da histoacuteria dos homens natildeo

eacute o esporte mas as relaccedilotildees de produccedilatildeo que amoldam culturas e

mentes para servir agrave dominaccedilatildeo de uma classe sobre a outra

Compreender a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede a partir dos funshy

damentos aqui apresentados possibilita criticar a visatildeo funcionalisshy

ta o que pode ser um importante passo para pocircr fim agrave subordinashy

ccedilatildeo do esporte ao projeto histoacuterico da classe dominante

3 Para compreender como a institucionalizaccedilatildeo do esporte na aparelhagem estatal vem

contribuindo para a formaccedilatildeo da sociabilidade capitalista no Brasil recorrer ao estudo de

Souza (2011)

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o conteuacutedo esporte

Com o intuito de articular o ensino do esporte ao que considerashy

mos ser o papel da escola elaboramos uma proposta de trabalho pedashy

goacutegico com o tema esporte e sauacutede a ser desenvolvida com alunos do

oitavo ano da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de ForaMG

O primeiro contato dos alunos com o conteuacutedo a ser trabashy

lhado na unidade didaacutetica em questatildeo ocorreraacute na identificaccedilatildeo da praacutetica social onde apontaremos o assunto que seraacute desenvolvido

durante as aulas Tambeacutem buscaremos apreender o conhecimento

preliminar dos discentes bem como as questotildees que tecircm interesse

de ampliar o saber Apresentaremos o conteuacutedo Esporte delimitanshy

do o seguinte questionamento que direcionaraacute nossas aulas Esporte eacute sauacutede Em seguida cada aluno individualmente deveraacute elaborar

um texto explicitando sua compreensatildeo sobre essa questatildeo geral a

fim de captarmos os saberes construiacutedos pela vivecircncia cotidiana dos

alunos Espera-se com isso que os alunos maniiacuteestem o conhecishy

mento que possuem sobre a temaacutetica estabelecendo ou natildeo uma

relaccedilatildeo entre a praacutetica esportiva e a obtenccedilatildeo de sauacutede

Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto iniciaremos uma discussatildeo geral

sobre a temaacutetica e explicitaremos os toacutepicos que seratildeo abordados

durante o trabalho com o tema a saber sauacutede uma questatildeo

social as lesotildees e a depressatildeo cm atletas do esporte de rendishy

mento os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo vivenciando

diferentes modalidades esportivas Em seguida apresentaremos

os objetivos as atividades a serem desenvolvidas assim como a

importacircncia de se estudar esse tema

A seleccedilatildeo de questotildees sociais que permeiam o conteuacutedo aborshy

dado instigando o debate e a reflexatildeo dos alunos se expressa no

segundo passo metodoloacutegico a problematizaccedilatildeo Nesta etapa seleshy

cionaremos as dimensotildees do conteuacutedo que seratildeo trabalhadas esshy

tabelecendo os questionamentos relacionados agrave praacutetica social tal

como sugere o plano de unidade apresentado a seguir

Na instrumentalizaccedilatildeo fase na qual ocorre de fato a aproshy

priaccedilatildeo do conhecimento por parte do aluno pretendemos desenshy

volver atividades que contribuam para a elaboraccedilatildeo de respostas

aos questionamentos sistematizados anteriormente As atividashy

des docentes e discentes voltadas agrave transmissatildeoapropriaccedilatildeo do

conhecimento sistematizado vatildeo envolver exposiccedilatildeo do conteuacutedo

pelo professor anaacutelise de viacutedeos c documentaacuterios que abordem

a temaacutetica da sauacutede e do esporte leitura discussatildeo e anaacutelise de

reportagens sobre o tema pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privashy

dos) disponiacuteveis para a praacutetica de esporte na cidade vivecircncia das

modalidades esportivas mais conhecidas no paiacutes dentre outros

Para captar se os alunos se apropriaram do conhecimento elashy

borado que os capacita a responder as questotildees levantadas na pro-

blematizaccedilatildeo pretendemos aplicar uma atividade na qual os alunos

individualmente possam produzir um texto dissertativo sobre a seshy

guinte questatildeo geral esporte eacute sauacutede Espera-se que os alunos sejam

capazes de expressar o conhecimento adquirido se aproximando

do entendimento de que a sauacutede eacute uma questatildeo social e portanto

envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporshy

te atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por

exemplo Espera-se que os alunos superem o entendimento predoshy

minante do senso comum expressando que a praacutetica de esporte

por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacutede e mais por questotildees

ideoloacutegicas o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo vem sendo veiculado com a

intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsabilidade por sua

proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus direitos

baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos

que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo

Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto pretendemos discutir as diferenshy

tes abordagens do tema apresentadas pelos alunos inclusive posshy

sibilitando a eles comparar o texto produzido neste momento na

catarse com o texto produzido no iniacutecio do processo pedagoacutegishy

co Aleacutem disso os alunos devem produzir em grupos um cartaz

alertando a comunidade escolar sobre a problemaacutetica estudada

No retorno agrave praacutetica social pretendemos finalizar o trabalho

pedagoacutegico definindo juntamente com os alunos novas intenshy

ccedilotildees e propostas de accedilatildeo mdash a partir da nova forma de compreenshy

der e de lidar com o conteuacutedotema em questatildeo

Plano de unidade

Esporte eacute sauacutede

DISCIPLINA Educaccedilatildeo Fiacutesica

AN O DE ESCOLARIDADE 8o ano do Ensino Fundamental

C O N T E Uacute D O Esporte

U N ID A D E Esporte c sauacutede

N Uacute M ERO DE AULAS 10 aulas

OBJETIVOS GERAIS

bull Entender a sauacutede como uma questatildeo social resultado

das condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo meio

ambiente trabalho transporte acesso aos serviccedilos de

sauacutede dentre outros de modo a adotar uma postura

favoraacutevel agrave superaccedilatildeo dos problemas sociais concretos

que determinam a obtenccedilatildeo da sauacutede

bull Vivenciar atividades esportivas enfatizando novos

sentidossignificados para posicionar-se favoravelmente agrave

transformaccedilatildeo do esporte

bull Refletir sobre os iacutendices de lesotildees e distuacuterbios emocionais

em atletas do esporte de rendimento

bull Analisar diferentes discursos sobre esporte e sauacutede

para posicionar-se criticamente diante das concepccedilotildees

que estabelecem uma relaccedilatildeo direta entre a praacutetica de

esporte e a obtenccedilatildeo de sauacutede

1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL

11 Anuacutencio dos conteuacutedos

TOacutePICOS

bull Sauacutede uma questatildeo social

bull As lesotildees e a depressatildeo em atletas do esporte de rendimento

bull Os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo

bull Vivenciando diferentes modalidades esportivas

12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos

bull O que os alunos sabem a praacutetica de esporte estaacute relacionada

agrave obtenccedilatildeo de sauacutede praticar esporte faz bem agrave sauacutede

bull O que os alunos querem saber mais o que eacute necessaacuterio

para termos uma vida saudaacutevel Quais satildeo os esportes mais

conhecidos no Brasil Quais esportes tecircm o maior iacutendice

de lesotildees

2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO

21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo

O que vocecircs entendem por sauacutede O esporte promove sauacutede

Por quecirc Qual a importacircncia de se estudar o tema ldquoesporte eacute sauacutederdquo

22 Dimensotildees do conteuacutedo

bull Dimensatildeo conceituai O que eacute sauacutede Quais os principais

benefiacutecios da praacutetica correta e adequada de exerciacutecios

fiacutesicos Como a praacutetica esportiva melhora nossa sauacutede

bull Dimensatildeo histoacuterica os espaccedilos puacuteblicos destinados agrave praacutetica

de esporte em nossa cidade estatildeo diminuindo nos uacuteltimos

anos E os espaccedilos que cobram aluguel para utilizaccedilatildeo Seraacute

que esses espaccedilos estatildeo diminuindo ou aumentando

bull Dimensatildeo econocircmica- por que no esporte de rendimento as

lesotildees satildeo muito comuns

bull Dimensatildeo social se o esporte combate a depressatildeo por que

tem aumentado o nuacutemero de casos de atletas com essa

doenccedila A obtenccedilatildeo da sauacutede estaacute sempre presente nos

esportes de alto rendimento O uso de substacircncias para

melhorar o rendimento e a grande incidecircncia de lesotildees nos

atletas eacute indicativo de sauacutede

bull Dimensatildeo poliacuteticarsquo haacute algum programa social que propaga

o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo ou que nele se fundamenta O

lema esporte e sauacutede tem alguma importacircncia poliacutetica Haacute

poliacuteticas puacuteblicas de incentivo agrave praacutetica esportiva na sua

cidade

bull Dimensatildeo cultural Qual a influecircncia da miacutedia na relaccedilatildeo

entre esporte e sauacutede

bull Dimensatildeo ideoloacutegica Por que eacute tatildeo difundida a ideia de que

esporte eacute sauacutede A exigecircncia da capacidade fiacutesica dos atletas

nos esportes de alto rendimento eacute sinocircnimo de sauacutede

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

31 Accedilotildees docentes e discentes

bull Anaacutelise de viacutedeos e documentaacuterios

bull Vivecircncia das modalidades esportivas mais conhecidas no

paiacutes

bull Exposiccedilatildeo do conteuacutedo pelo professor

bull Pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privados) disponiacuteveis para

a praacutetica de esporte na cidade

bull Leitura e anaacutelise de reportagens

32 Recursos mdash humanos e materiais

Livros revistas jornais slides bolas tv dvd folhas de papel

4) CATARSE

41 Siacutentese teoacuterica do aluno

O esporte tem se apresentado atualmente como elemento crucial para

obter sauacutede e alcanccedilar uma vida saudaacutevel A praacutetica de esporte quase semshy

pre estaacute diretamente relacionada agrave sauacutede Poreacutem uma anaacutelise mais cuidashy

dosa do tema esporte e sauacutede nos permite criticar e superar essas compre-

ensotildees predominantes Em primeiro lugar a sauacutede eacute uma questatildeo social

que envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporte

atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por exemplo

Assim a praacutetica de esporte por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacuteshy

de Ateacute mesmo alguns esportistas de alto rendimento acabam por adquirir

problemas de sauacutede em virtude de sua atividade de trabalho seja por utilishy

zar substacircncias seja por se machucar durante treinos ou competiccedilotildees Em

segundo lugar eacute importante destacar que muitas vezes o lema ldquoesporte eacute

sauacutederdquo eacute veiculado com a intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsashy

bilidade por sua proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus

direitos baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos

que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo

42 Expressatildeo da siacutentese

Elaboraccedilatildeo de texto dissertativo produccedilatildeo (em grupo) de um

cartaz sobre o tema estudado

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO

Quadro 1- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO 52 AltyOacuteES DO ALUNO

Saber mais sobre esporte e sauacutede Ler artigos acadecircmicos sobre esporte e sauacutede

Situar-se criticamente frente agraves formulaccedilotildees

sobre esporte e sauacutede utilizando o conhecishy

mento adquirido para compreendecirc-las critishy

camente

Analisar formulaccedilotildees sobre esporte e sauacutede

veiculadas pela miacutedia

Manifestar uma atitude favoraacutevel agrave transforshy

maccedilatildeo do esporte

Vivenciar modalidades esportivas dando

um novo significado a essas praacuteticas de

m odo que a competiccedilatildeo a concorrecircncia

o rendimento e a disputa por exemplo

sejam substituiacutedos por valores que sociashy

lizam privilegiam o coletivo garantam a

solidariedade e respeito humano dentre

outros

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildes Finais

O presente texto buscou apresentar uma proposta pedagoacutegica

de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

tendo como referecircncia os fundamentos da Pedagogia histoacuterico-

-criacutetica Buscamos com essa proposta ampliar a compreensatildeo dos

alunos sobre o tema e consequentemente possibilitar-lhes transshy

cender noccedilotildees cotidianas sobre a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede

Ao socializara referida proposta no presente artigo natildeo pretenshy

demos oferecer uma ldquoreceitardquo mas sim apresentar uma das inuacutemeshy

ras possibilidades de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte

Ainda consideramos importante destacar que as dificuldades imshy

postas pelas condiccedilotildees de vida e trabalho de grande parte dos professhy

sores das redes puacuteblicas municipal e estadual de ensino assim como as

degradantes condiccedilotildees de vida a que estatildeo expostos muitos dos nossos

alunos satildeo apenas alguns dos fatores que podem dificultar o desenshy

volvimento do trabalho pedagoacutegico voltado agrave transmissatildeo do conheshy

cimento sistematizado na educaccedilatildeo escolar As precaacuterias condiccedilotildees de

vidatrabalho por sua vez reiteram nosso entendimento de que a luta

pela socializaccedilatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo se esgota no

debate pedagoacutegico entre as diferentes concepccedilotildees uma vez que engloshy

ba tambeacutem a luta pela escola puacuteblica que deve ser enfrentada em sua

radicalidade tal como alerta Saviani (2005b p 257)

O desafio posto pela sociedade de classes do tipo

capitalista agrave educaccedilatildeo puacuteblica soacute poderaacute ser enfrenshy

tado em sentido proacuteprio isto eacute radicalmente com

a superaccedilatildeo dessa forma de sociedade A luta pela

escola puacuteblica coincide portanto com a luta pelo

socialismo por ser este uma forma de produccedilatildeo

que socializa os meios de produccedilatildeo superando sua

apropriaccedilatildeo privada Com isso socializa-se o saber

viabilizando sua apropriaccedilatildeo pelos trabalhadores

isto eacute pelo conjunto da populaccedilatildeo

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CAPIacuteTULO V

0 MMA COMO NOVA FACE DA LUTA ESPETAacuteCULO

Adriano de Paiva Reis

Graziany Penna Dias

Rafael Loures dos Reis Bellei

Renata Aparecida Alves Landim

O presente capiacutetulo tem por intenccedilatildeo trazer

contribuiccedilotildees sobre a possibilidade de trabalho

com o conteuacutedo lutas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica Entendemos que abordar as lutas na escola

natildeo eacute tarefa faacutecil pois esse conteuacutedo impotildee como

veremos algumas dificuldades ateacute mesmo pela

compreensatildeo equivocada dos proacuteprios professoshy

res e comunidade escolar sobre esse elemento da

cultura corporal Natildeo obstante compreendemos

que o trabalho pedagoacutegico com esse conteuacutedo eacute

possiacutevel e necessaacuterio pois nosso objetivo eacute que os

alunos ultrapassem uma concepccedilatildeo sincreacutetica e

caoacutetica sobre a realidade a partir da apropriaccedilatildeo

de conhecimentos que os permitam superar as vishy

sotildees parciais que predominam no senso comum

Partindo desse pressuposto optamos por

abordar uma temaacutetica que tem chamado a atenshy

ccedilatildeo de nossos alunos na atualidade o fenocircmeno

das Artes Marciais Mistas modalidade de luta

esportiva alardeada pela miacutedia e alvo de muitas

polecircmicas Nossa perspectiva neste texto seraacute reashy

lizar uma breve discussatildeo sobre o tema e apontar

referecircncias metodoloacutegicas para seu tratamento

nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica em conformidade com o referencial teoacuterico-

-metodoloacutegico proposto pelo Coletivo de Autores (1992)

As lutas e seu lugar na escola formaccedilatildeo de lutadores ou sujeitos

A partir da definiccedilatildeo do grande campo da cultura corporal as

lutasartes marciais1 passaram a figurar como importante conteuacutedo

das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica O reconhecimento da necessidade de

tratamento pedagoacutegico das lutas na escola pode ser comprovado em

diversas orientaccedilotildeespropostas curriculares em niacutevel nacional estashy

dual e municipal e em escritos de diversos autores da aacuterea

Natildeo obstante em que pese essa produccedilatildeo ela ainda tem sido

incipiente em termos de lograr accedilotildees (pedagoacutegicas) efetivas para os

diferentes niacuteveis da educaccedilatildeo escolar A parca produccedilatildeo cientiacutefica

abordando as lutas na escola pode ser comprovada se comparada agrave

produccedilatildeo de outros conteuacutedos como o esporte o jogo e a ginaacutestica

Os professores de Educaccedilatildeo Fiacutesica tambeacutem apontam algumas

dificuldades ao procurar trabalhar esse conteuacutedo em suas aulas

como a falta de materiais roupas e espaccedilos adequados De acorshy

do com Nascimento e Almeida (2007) os principais argumentos

para a restriccedilatildeo do trabalho com o conteuacutedo satildeo a falta de vivecircncia

cotidianaacadecircmica em lutas por parte dos professores e a preocushy

paccedilatildeo com a violecircncia que julgam ser intriacutenseca agrave praacutetica das lutas

tornando-as incompatiacuteveis com as finalidades da escola

Apesar de compreendermos esses argumentos acreditamos que

devemos lutar pela formaccedilatildeo continuada e pelos recursos materiais que

nos permitam trabalhar de forma ainda mais qualificada com as lutas

por serem importantes conteuacutedos para a Educaccedilatildeo Fiacutesica De acordo

com os pressupostos que este coletivo se propotildee a trabalhar entendeshy

mos que as lutas configuram-se como um dos elementos da cultura

1 A lguns autores operam distinccedilotildees conceituais entre os termos Artes Marciais

e Lutas Respeitando os objetivos e limites deste texto optamos por natildeo entrar

nesta polecircmica e trabalhar os dois termos dentro do conteuacutedo lutas Partimos do

pressuposto de que apesar de nem toda luta ser considerada uma arte marcial toda

arte marcial eacute em si uma luta Para aprofundar neste assunto ver Lanccedilanova (2006)

corporal dada sua importacircncia nos mais diversos periacuteodos histoacutericos e

pela perspectiva da sua produccedilatildeo com base na realidade sociai concreta

sendo essa accedilatildeo elemento singular do gecircnero humano3 e que por isso se

diferencia da accedilatildeo instintiva do atacar e defender dos animais

As lutas estatildeo presentes nos mais variados espaccedilos como nas atishy

vidades extracurriculares de muitas escolas nas Olimpiacuteadas em acashy

demias nos clubes e na miacutedia (das mais variadas formas) fazendo os

alunos terem uma aproximaccedilatildeo maior com essa manifestaccedilatildeo corporal

Entretanto esse contato se faz geralmente na perspectiva do senshy

so comum reduzindo as lutas aos coacutedigos do esporte de rendimento

em que pesem por exemplo a oficializaccedilatildeo de regras comparaccedilatildeo de

resultados institucionalizaccedilatildeo racionalizaccedilatildeo das praacuteticastreinamenshy

to e busca da maximizaccedilatildeo do desempenho elementos proacuteprios do

processo de esportivizaccedilatildeo a que outras manifestaccedilotildees como o jogo e

a danccedila vem sofrendo tambeacutem (GONZAacuteLEZ 2005)

O boxe eacute um bom exemplo desse processo de esportivizashy

ccedilatildeo Ele foi criado a partir de disputas nas feiras da Inglaterra

dos seacuteculos XV III e X IX e sua sistematizaccedilatildeo como esporte se

deu mediante o objetivo de organizar o tempo livre4 dos trabashy

lhadores das faacutebricas bem como ldquodosarrdquo a violecircncia O mesmo

aconteceu com a luta greco-romana e mais tarde com as lutas

2 Na linha do Coletivo de Autores (1992 p 38) a cultura corporal eacute o ldquo[] acervo de

formas de representaccedilatildeo do mundo que o homem tem produzido no decorrer da histoacuteria

exteriorizadas pela expressatildeo corporal jogo danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte

malabarismo contorcionismo miacutemica e outros que podem ser identificados como formas

de representaccedilotildees simboacutelicas de realidades vividas pelo homem historicamente criadas e

culturalmente desenvolvidasrdquo

3 A expressatildeo gecircnero humano eacute utilizada no lugar de espeacutecie humana natildeo por acaso mas

pautada nas elaboraccedilotildees de Duarte (2001) O autor natildeo descarta a ideia de que o ser humano

faz parte da espeacutecie humana poreacutem ele avanccedila nessa elaboraccedilatildeo De acordo com ele a

categoria espeacutecie humana se refere agrave identificaccedilatildeo do homem por seus elementos bioloacutegicos

jaacute a categoria gecircnero humano destaca as caracteriacutesticas humanas que satildeo formadas ao longo

da histoacuteria social natildeo transmissiacuteveis pela heranccedila geneacutetica ldquoA categoria de gecircnero humano

natildeo se reduz agravequilo que eacute comum a todos os homens natildeo eacute uma mera generalizaccedilatildeo de

caracteriacutesticas empiricamente verificaacuteveis em todo e qualquer ser humano Gecircnero humano

eacute uma categoria que expressa a siacutentese em cada momento histoacuterico de toda objetivaccedilatildeo

humana ateacute aquele momentordquo (DUARTE 2001 p 26)

4 Estamos entendendo tempo livre como aquele livre das obrigaccedilotildees sociais e cotidianas

pois no modelo social em que vivemos nenhum tempo pode ser considerado livre mas

regulado por alguma determinaccedilatildeo social Para saber mais ver Mascarenhalaquo

orientais (Caratecirc Taekwondocirc Kung-fu Jiu-jistu Judocirc etc) o

que nos permite apontar uma mudanccedila paradigmaacutetica das lutas

desde suas origens ateacute os dias atuais

De um modo geral as lutas tecircm suas conotaccedilotildees primordiais

associadas agraves praacuteticas para a guerra sendo posteriormente adotadas

como um caminho para se alcanccedilar um estilo de vida mais equilibrashy

do e paciacutefico Nessa linha Hausen (2004) descreve o processo histoacuterishy

co de desenvolvimento das lutas de origem oriental que surgiram de

danccedilas praticadas no periacuteodo neoliacutetico e foram sendo sistematizadas

com o intuito de defesa mas para aleacutem disso elas foram adquirindo

sentidossignificado mais amplos como a busca de aprimoramento

corporal espiritual eacutetico moral e intelectual

Nos dias atuais as lutas se apresentam de forma massificada e

descaracterizada dos seus objetivos originais como os filosoacuteficos e os

de desenvolvimento humano (BARROS GABRIEL 2011) Os filshy

mes desenhos animados jogos virtuais e academias de ginaacutestica enshy

tre outros espaccedilos muitas das vezes deturpam os significados autecircnshy

ticos das lutas fazendo com que esse importante elemento cultural se

perca diante das demandas do capitalismo internacionalizado

Quase sempre encaradas como espetaacuteculos maravilhosos de pancadashy

ria e violecircncia a miacutedia deturpa o sentido e significado original das lutas torshy

nando-as sinocircnimo de violecircncia e crueldade com os inimigos Este imagishy

naacuterio criado faz com que os praticantes de lutas se tornem super-heroacuteis que

combatem o mal atraveacutes da violecircncia que gradativatildemente ldquodessensibiliza

os mais novos acerca da violecircncia do choque e do terror de ver algueacutem senshy

do agredido Desenvolvendo essa toleracircncia agrave violecircncia precisaratildeo de cada

vez mais violecircncia para serem entretidos rdquo (LANCcedilANOVA 2006 p 7)

A defesa que fazemos em torno desse conteuacutedo se daacute na compreshy

ensatildeo de que essa manifestaccedilatildeo da cultura corporal muito tem a con-

5 Segundo Marta (2009) a disseminaccedilatildeo das artes marciais orientais para outros paiacuteses

desencadeou um processo de ocidentalizaccedilatildeo com progressiva transformaccedilatildeo das

mesmas em produtos que para tornarem-se mais acessiacuteveisaceitaacuteveis comeccedilam a ser

destituiacutedos de seus rituais e valores tradicionais sendo a esportivizaccedilatildeo um elemento

chave desse processo Vale lembrar que a ocidentalizaccedilatildeo natildeo ocorre apenas com as

lutas mas com toda a cultura de tal modo que podemos falar em ocidentalizaccedilatildeo da

comida da moda do padratildeo de beleza dos estilos de vida das praacuteticas corporais etc

tribuir na formaccedilatildeo criacutetica do nosso aluno visto que a atuaccedilatildeo como

sujeito histoacuterico requer o acesso aos conhecimentos acumulados sobre

as lutas e seus significados como realidades histoacuterico-sociais

Compreendemos que cada tipo de luta eacute uma manifestaccedilatildeo

dotada de trajetoacuteria singular pois satildeo criadas pelos homens conshy

forme os interesses sociais culturais poliacuteticos econocircmicos e filoshy

soacuteficos nos vaacuterios periacuteodos histoacutericos e modos de produccedilatildeo6 Desse

modo as lutas tornam-se campo feacutertil na compreensatildeo da realidashy

de como produccedilatildeo histoacuterica e que por isso podem ser reinventashy

das segundo suas necessidades e interesses Aliaacutes o fazer histoacuteria eacute

expressatildeo proacutepria do gecircnero humano Nas palavras de Hobsbawm

(2010) enquanto houver ser humano haveraacute histoacuteria

A perspectiva de trabalho com as lutas dentro da escola natildeo

tem como objetivo formar o lutador de certa modalidade mas sim

formar o sujeito histoacuterico E pensar isso perfaz entender que o ensishy

no de lutas justifica-se quando ele possibilita ao aluno compreender

de forma criacutetica os condicionantes histoacutericos e sociais que fizeram

das lutas o que satildeo hoje bem como possibilitar-lhe usufruir sob

outras perspectivas o praticarvivenciar essa manifestaccedilatildeo

Artes Marciais Mistas

O resultado de toda essa esportivizaccedilatildeoocidentalizaccedilatildeo das

artes marciais da falta de sensibilidade dessa sociedade cada vez

mais competitiva e da busca incansaacutevel por audiecircncia e conseshy

quentemente por lucro se cristaliza em uma simples sigla ldquoianshy

querdquo MMA Mixed M artial Arts) ou Artes Marciais Mistas O

M M A eacute uma luta esportiva em que teacutecnicas de variadas modalishy

dades de lutasartes marciais satildeo utilizadas devidamente esvaziashy

das de seus significados filosoacuteficos e histoacutericos originais e com um

acreacutescimo de brutalidade dotada de sentido econocircmico

6 Modo de produccedilatildeo eacute uma categoria utilizada por Marx com o intuito de discriminar

as diferenccedilas que cada eacutepoca histoacuterica possui em funccedilatildeo das suas forccedilas produtivas e

relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo Assim podemos falar em modo de produccedilatildeo escravista

feudalista capitalista Para saber mais ver Huni (2005)

Selecionamos como temaacutetica dessa unidade de lutas essa

modalidade por entendermos que seu apelo midiaacutetico tem chashy

mado muita atenccedilatildeo entre os jovens em nossa sociedade nos uacutelshy

timos anos Essa popularizaccedilatildeo traz algumas questotildees que devem

ser socializadas e discutidas com nossos alunos tais como a orishy

gem dessa luta esportiva o papel da miacutedia na sua difusatildeo a sua

relaccedilatildeo com a violecircncia e com a mercadorizaccedilatildeo das lutas entre

muitas outras que possam surgir de acordo com o interesse e

aprofundamento dos alunos na temaacutetica

Os primeiros indiacutecios de lutas mistas estatildeo relacionados com

a Greacutecia antiga Tal luta era denominada de Pankration uma

combinaccedilatildeo de duas palavras gregas p a n que significa tudo ou

vaacuterios e kratos que significa forccedila7 Mas registros de algo pareshy

cido ressurgem por volta da segunda deacutecada do seacuteculo passado

aqui no Brasil quando membros da famiacutelia Gracie a fim de

divulgar uma modalidade de luta por eles adaptada do Jiu-jitsu

japonecircs e mais tarde denominada Jiu-jitsu brasileiro criaram o

ldquoGracie Challengerdquo ou ldquoDesafio dos Gracierdquo Os irmatildeos Gracie

desafiavam qualquer lutador de qualquer modalidade a fim de

demonstrar que a sua teacutecnica era mais eficiente Esses desafios

ficaram conhecidos como Vale-Tudo8 (AWI 2012)

Mais tarde no iniacutecio dos anos de 1990 nos EUA Rorion Gracie

e outros soacutecios criaram o primeiro torneio UFC (Ultimate Fighting

Championship) Com um formato um pouco diferente dos torneios de

ldquoVale-Tudordquo anteriores - como por exemplo o abandono do ringue e

7 O Pankration era unia espeacutecie de luta de solo que fazia parte das provas dos Jogos

Oliacutempicos sendo um dos acontecimentos mais populares da antiguidade Segundo Elias

e Dunning (1992) o niacutevel de violecircncia permitido nessa luta era muito elevado as regras

eram tradicionais e muito flexiacuteveis havia um juiz mas natildeo havia limite de tempo e o

combate durava ateacute que um dos oponentes desistisse por isso muitas vezes terminava com

a mutilaccedilatildeo ou morte do adversaacuterio O Pankration natildeo pode ser considerado um esporte

pois esse termo soacute pode ser suficientemente utilizado a partir do seacuteculo XV III em referecircncia

agraves praacuteticas corporais regidas por regras escritas e regulamentadas por instituiccedilotildees especiacuteficas

8 No fim da deacutecada de 1920 ocorreu o primeiro confronto puacuteblico desse gecircnero na ocasiatildeo

foi chamado de estilo versus estilo soacute depois a imprensa comeccedilou a se referir a esse confronto

como Vale Tudo (AWI 2012) Na deacutecada de I960 a violecircncia de algumas lutas criou uma

resistecircncia ao Vale Tudo que chegou a ser proibido no Brasil Ele ressurgiu entre as deacutecadas

de 1980 e 1990 num combate entre lutadores de Jiu-jitsu e Luta Livre mas enfraqueceu

novamente devido ao alto grau de violecircncia inclusive por parte do puacuteblico (MM A 2010)

a criaccedilatildeo do octoacutegono9 mdash o UFC chamou a atenccedilatildeo com lutadores de

diversas modalidades se enfrentando com regras miacutenimas e sem restrishy

ccedilatildeo de tempo Logo surgiram outros torneios como ldquoPRIDErdquo e ldquoOpen

Free Style Japanrdquo que se tornaram sucesso nas TV s por assinatura Poshy

reacutem juntamente com o sucesso de espectadores10 vieram as restriccedilotildees

em diversos estados por todos os EUA (MMA 2010)

Em pouco tempo de existecircncia dessas competiccedilotildees os lutashy

dores perceberam que aliar as diversas modalidades de lutas que

permitissem a eles lutarem em peacute e no chatildeo os tornaria mais comshy

petitivos Essa mistura de estilos de lutas e habilidades se tornou

conhecida como Artes Marciais Mistas (D ISCOVER UFC 2012)

Natildeo apenas Anderson mas nossos melhores lutadores

sabem se moldar de acordo com a situaccedilatildeo diante

das adversidades E uma qualidade indispensaacutevel do

MMA Por permitir o uso de golpes das mais diversas

modalidades o esporte acaba premiando a capacidashy

de de improviso do atleta diante de tantas variaacuteveis

Nisso as artes marciais mistas se assemelham agrave paixatildeo

nacional o futebol notoriamente um dos esportes

que menos se presta a ldquoensaiosrdquo e um dos mais impreshy

visiacuteveis que existem (AWI 2012 p 289)

No iniacutecio do seacuteculo XXI o UFC retorna reformulado com reshy

gras mais riacutegidas para poder agradar as autoridades que antes o proishy

biram limite de tempo divisatildeo de categorias por peso e seleccedilatildeo crishy

teriosa de lutadores De acordo com Awi (2012) hoje o MMA em

seus principais eventos eacute um esporte regulamentado com exames

perioacutedicos testes antidoping e regras bem claras

Na atualidade o UFC marca que domina 90 do mercashy

do mundial do M M A vincula o espetaacuteculo de entretenimento ao

consumo dos mais diversos produtos como aparelhos de ginaacutesshy

tica roupas videogames bonecos e DVDs Uma noite do evento

9 v -Segundo Rorion Grace a ideia do octoacutegono (espeacutecie de jaula com oito lados) era

justamente impedir os lutadores de fugirem do espaccedilo de luta durante a ldquopancadariardquo a

fim de atrair mais puacuteblico e chegar agrave televisatildeo (M M A 2010)t10 Na primeira ediccedilatildeo do UFC 85 mil lares americanos pagaram para ver a luta ao

vivo na televisatildeo na segunda foram 120 mil na terceira 180 mil e na quarta 260

mil pagantes (AW I 2012)

gera em meacutedia 70 milhotildees de reais Estima-se que a marca ldquoUFCrdquo

comprada haacute 12 anos por 2 milhotildees de doacutelares hoje eacute avaliada

em mais de 13 bilhatildeo de doacutelares 11 (AWI 2012) Neste quadro o

M M A ascende como ldquonovardquo face da luta-espetaacuteculo12 assumindo

o posto outrora ocupado pelo boxe que hoje estaacute em segundo plashy

no dentro do mercado das lutas esportivas

O esporte hoje eacute considerado ldquofebre mundialrdquo o nuacutemero de fatildes

soacute aumenta com o passar dos anos e as criacuteticas tambeacutem Recentemenshy

te em entrevista ao jornal Folha de Satildeo Paulo o bi-campeatildeo mundial

de boxe Eder Jofre fala criticavam o boxe porque era violento mas

perto do M M A eacute baleacute (PERTO 2012) E as criacuteticas natildeo param

por aiacute outra pessoa a questionar a civilidade da modalidade foi um

dos fundadores da torcida organizada ldquoGaviotildees da Fielrdquo considerada

uma das mais violentas do paiacutes Questionado sobre a violecircncia das

torcidas organizadas hoje em dia Chico Malfitanni em entrevista agrave

Folha de Satildeo Paulo declara ldquoos meios de comunicaccedilatildeo satildeo os maiores

incentivadores Outro dia o Sportv estava metendo o pau nas orgashy

nizadas agraves 1 lh30 da manhatilde Nisso entram cenas do MMA sangue

escorrendo O Galvatildeo [Bueno] gritando direita esquerda o cara soshy

cando o outro e isso eacute civilizadordquo (REIS 2012)

Apesar de algumas regras terem sido incluiacutedas para proibir eou limishy

tar o uso de alguns golpes durante os combates o niacutevel de violecircncia preshy

sente nas lutas de M M A eacute inegaacutevel De acordo com Awi (2012 p 19-20)

E rarissiacutemo uma ediccedilatildeo do UFC que termine

sem que pelo menos um lutador tenha de receshy

ber atendimento hospitalar antes de voltar para

casa Embora ateacute hoje soacute se tenha registrado duas

mortes por conta de lesotildees sofridas durante um

combate a variedade de golpes tramaacuteticos potildee em

11 O UFC eacute apontado pelos executivos americanos como a marca esportiva mais valiosa dos

Estados Unidos agrave frente da NFL (Futebol Americano) e da NBA (Basquete) Segundo

Awi (2012) Dana White e os irmaacuteos Fertita atuais administradores do UFC deram

o grande pulo do gato da marca ao perceberem que naacuteo bastava a luta era preciso

transformaacute-la num espetaacuteculo de entretenimento de massas

12 Utilizamos o termo ldquonovardquo entre aspas porque consideramos que o formato do M M A eacute novo

mas o seu conteuacutedo naacuteo eacute pois revela a apropriaccedilatildeo de teacutecnicas de lutas jaacute existentes

risco sim a integridade fiacutesica dos lutadores Mas

tambeacutem eacute verdade que o niacutevel de seguranccedila hoje eacute

bastante aceitaacutevel mdash e natildeo para de crescer

A polecircmica sobre o niacutevel de agressividade que envolve os comshy

bates de Artes Marciais Mistas traz agrave tona uma importante reflexatildeo

estaria o M M A incitando a violecircncia entre as pessoas

De acordo com Freire (2012) a questatildeo natildeo eacute tatildeo linear asshy

sim pois a agressividade presente no M M A natildeo seria a mesma

temida pelas pessoas em seus cotidianos mas sim a violecircncia transshy

formada em um espetaacuteculo de entretenimento O autor defende

seguindo a esteira de Nobert Elias que o puacuteblico experimenta um

momento de fruiccedilatildeo e prazer consumindo uma violecircncia controlashy

da por certas regrasteacutecnicas natildeo necessariamente praticando-a o

que poderia ser considerada uma conquista civilizatoacuteria13

Entretanto eacute importante destacar que o niacutevel de violecircncia

encontrado no M M A precisa ser compreendido no interior das

relaccedilotildees sociais capitalistas que na atualidade tecircm corroiacutedo o

tecido social No capitalismo a busca incessante pelo lucro eacute o

grande objetivo a ser atingido por isso a vidaintegridade do

lutador (visto como mercadoria viva) e o respeito ao adversaacuterio

soacute fazem sentido agrave medida que contribuem para esse objetivo

Nessa direccedilatildeo Duarte (2000) qualifica a sociedade capitalista

como hipoacutecrita pois ao transformar tudo em mercadoria ela

torna-se indiferente ao desenvolvimento moral dos indiviacuteduos

sendo que cedo ou tarde ela encontra meios de superar os lim ishy

tes outrora impostos para exploraccedilatildeo Assim agrave medida que se

torna mais aguda a crise da sociedade capitalista atual aumenta

13 Elias e Dunning (1992) evidenciam o caraacuteter de complementaridade entre esporte

e avanccedilo da civilizaccedilatildeo Os autores defendem que a criaccedilatildeo de regras sociais que

pacificaram as formas de disputa poliacutetica ocorre paralelamente ao desenvolvimento

de formas de exerciacutecio regulado da exciiacuteaccedilatildeo reprimida nas atividades seacuterias da vida

Neste contexto o esporte teria uma finalidade cataacutertica jaacute que deveria criar tensotildees

imaginaacuterias reguladas por teacutecnicas e regras permitindo a realizaccedilatildeo de uma violecircncia

controlada satisfazendo necessidades de excitaccedilatildeo dos participantes eou espectadores

ainda mais a alienaccedilatildeo da moral14 prevalecendo nesse contexto o

individualismo e o egoiacutesmo exacerbado

Desse modo o M M A tem demonstrado alinhamento com o prinshy

ciacutepio basilar do capitalismo a busca impiedosa pela valorizaccedilatildeo do cashy

pital sendo suas regras e apropriaccedilotildees teacutecnicas subordinadas a esse fim

O propoacutesito central dessa luta esportiva eacute manter o puacuteblico fascinado

para vender imagens roupas e demais mercadorias associadas agrave sua praacuteshy

tica Mas contraditoriamente o MMA por carregar em seu interior

fragmentos de diversas artes marciais e caracteriacutesticas do nosso tempo

desde que problematizado pode ajudar a entender os desafios e possishy

bilidades colocados para as lutas no contexto atual

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com as lutas

Com base nessa discussatildeo propomos uma unidade de ensino

que aborda o M M A como temaacutetica dentro do conteuacutedo lutas O plashy

no de unidade descrito abaixo foi elaborado para ser trabalhado com

alunos do oitavo ano do ensino fundamental

Seguindo os pressupostos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica o prishy

meiro passo eacute a identificaccedilatildeo dos dados da realidade onde temos uma

primeira impressatildeo dos alunos sobre o tema a ser trabalhado Como

atividade desse momento propomos organizar os alunos em gnipos

e pedir a eles que faccedilam um cartaz em uma folha de cartolina a parshy

tir de questotildees previamente elaboradas pelo professor As perguntas

enumeradas abaixo no plano de unidade deveratildeo ser respondidas

atraveacutes de ilustraccedilotildees fotografias eou reportagens que seratildeo disponishy

bilizadas para alunos atraveacutes de jornais esportivos ou paacuteginas da intershy

net A ideia geral eacute que os alunos indiquem qual eacute a luta mais famosa

14 De acordo com Duarte (2000) a discussatildeo sobre moral na sociedade capitalista eacute feita de

maneira alienada ou seja descolada dos valores que orientam a vida concreta das pessoas

Isso porque uma discussatildeo radical levaria agrave constataccedilatildeo de que o sistema capitalista eacute

avesso agraves questotildees morais jaacute que a proacutepria loacutegica do sistema eacute maximizar a exploraccedilatildeo dos

seres humanos sem limites para ampliar a acumulaccedilatildeo de capital Desse modo a base

concreta dessa alienaccedilatildeo moral eacute a proacutepria alienaccedilatildeo do trabalho atividade essencialmente

humana Nesse processo o homem eacute alienado natildeo apenas do produto e da atividade do

trabalho mas tambeacutem de si mesmo da relaccedilatildeo com o outro e com o gecircnero humano

na atualidade Esta atividade teraacute como objetivo averiguar o niacutevel de

compreensatildeo dos alunos sobre o M M A enquanto principal luta dos

tempos atuais Ao final desta atividade seraacute exposto aos alunos o conshy

teuacutedo e a temaacutetica que seraacute trabalhada questionando-os acerca do

que gostariam de saber a mais sobre o tema

Na problematizaccedilatildeo seratildeo levantadas algumas questotildees importanshy

tes para a discussatildeo do tema buscando orientar o aluno no processo de

apreensatildeo ativa do conhecimento Conforme pode ser visto no plano

de unidade seratildeo lanccediladas questotildees que abordam diversas dimensotildees

do conhecimento que seratildeo trabalhadas tais como o processo histoacuterico

de criaccedilatildeo do MMA sua evoluccedilatildeo as teacutecnicas baacutesicas desta luta os

interesses econocircmicos e as relaccedilotildees deste tema com a sociedade atual

A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento onde as atividades desenvolshy

vidas estatildeo voltadas para a aquisiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico por

parte dos alunos visando ampliar o niacutevel de consciecircncia dos mesmos

acerca do MM A e das suas interfaces com os tempos atuais No caso

em tela as atividades seratildeo exibiccedilatildeo de filmes e viacutedeos vivecircncia de

algumas modalidades de lutas discussotildees leituras de textos etc

A elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia pode ser verificada na cashy

tarse momento no qual haacute uma reinterpretaccedilatildeo da realidade desta

vez com o amparo do conhecimento cientiacutefico apreendido Como

sugestatildeo propomos a construccedilatildeo de um viacutedeo sobre os temas aborshy

dados a realizaccedilatildeo de um juacuteri simulado sobre o M M A e a criaccedilatildeo

de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais para debater o assunto

A ideia eacute que o aluno tenha se aproximado da percepccedilatildeo de que o

M M A eacute uma luta esportiva que utiliza teacutecnicas de diversas outras lushy

tas Na atualidade o MMA atraveacutes da marca UFC eacute uma das moshy

dalidades esportivas mais divulgadas e lucrativas do mundo Entreshy

tanto agrave medida que as teacutecnicas das lutas vatildeo sendo apropriadas para

seu uso competitivo nos torneios de M M A vai sendo aprofundado

o processo de descaracterizaccedilatildeo dessas modalidades em relaccedilatildeo aos

seus princiacutepios e valores originais O alto grau de violecircncia associado

agraves lutas dentro e fora dos octoacutegonos pode ser apontado como um

dos resultados desses processos de descaracterizaccedilatildeo

A uacuteltima etapa do plano de unidade eacute o retorno agrave praacutetica social ou

o momento de utilizar este conhecimento apreendido para uma nova

compreensatildeo e accedilatildeo sobre a realidade Assim propomos a divulgaccedilatildeo

dos materiais construiacutedos e socializaccedilatildeo com os outros alunos da escola

Plano de Unidade iMMA - a ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo

OBJETIVO GERAL

Compreender o M M A e suas relaccedilotildees com o mercado da luta-

-espetaacuteculo a fim de assumir uma postura criacutetica frente ao processo

de massificaccedilatildeo das lutas a partir desta modalidade

Toacutepicos de Conteuacutedo e objetivos especiacuteficos

1 - M M A que luta eacute essa

bull Ampliar conhecimentos sobre o MMA para distingui-lo de

outras modalidades de luta

bull Identificar os principais estilos de lutas seus golpes e

fundamentos teacutecnicos que compotildeem o MMA

2 - Origem e histoacuteria do M M A

bull Conhecer a origem e o processo de disseminaccedilatildeo do MMA

a fim de identificar a dinacircmica social que envolve a produccedilatildeo

dessa praacutetica da cultura corporal

3 - As lutas e seu processo de descaracterizaccedilatildeo

bull Diferenciar lutas de briga

bull Entender o processo de descaracterizaccedilatildeo das lutas

esportivizadas

bull Identificar o M M A como luta esportiva suas regras

categorias e competiccedilotildees

4 - M MA Miacutedia e Mercado a luta-espetaacuteculo como grande negoacutecio

bull Identificar o papel da miacutedia no processo de difusatildeo do

M M A

bull Compreender os interesses econocircmicos envolvidos nas

competiccedilotildees de MMA

5 - O MMA e a espetacularizaccedilaacuteo da violecircncia

bull Apreender a relaccedilatildeo entre o M M A e a espetacularizaccedilaacuteo da

violecircncia em nossa sociedade

bull Debater a relaccedilatildeo entre violecircncia e lutas

1) Praacutetica Social Inicial do Conteuacutedo

Material de Apoio Jornais e revistas esportivas (pode ser

feito tambeacutem na sala de informaacutetica utilizando os sites esportishy

vos mais populares) cartolinas canetinhas laacutepis de cor caneta

cola e tesoura

Accedilatildeo Dividir os alunos em grupos de no maacuteximo seis pesshy

soas A cada grupo deveraacute ser dado um questionaacuterio para ser

respondido na folha de cartolina e um nuacutemero suficiente de jorshy

nais esportivos (ou paacuteginas principais impressas dos noticiaacuterios

esportivos on-line) As perguntas satildeo

bull Qual eacute a luta mais famosa nos dias atuais

bull Quem eacute o melhor lutador atual

bull Quais satildeo as regras

bull Qual eacute o espaccedilo onde ela acontece

bull Quem a inventou

bull Onde podemos assistir esta luta

Os alunos deveratildeo procurar nos jornais fotografias eou reporshy

tagens sobre a luta que foi respondida como mais famosa (muito

provavelmente seraacute respondida que o M M A eacute a luta mais popular)

Os cartazes deveratildeo ser apresentados para os outros grupos

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3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO15

Quadro 2- Instrumentalizaccedilatildeo

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MMA que luta eacute

essa

Ampliar conhecimentos sobre o

MM A para distingui-lo de oushy

tras modalidades

Identificar os principais estilos

de lutas golpes e fundamenshy

tos teacutecnicos que compotildeem o

MMA

Conceituai

Teacutecnica

Pesquisa na sala de informaacutetica

Ler reportagens sobre o MMA

Viacutedeos imagens e textos

disponiacuteveis no blog ldquoConteshy

uacutedo e Meacutetodo nas aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Origem e histoacuteria

do M M A

Conhecer a origem e o processhy

so de disseminaccedilatildeo do MMA a

fim de identificar a dinacircmica soshy

cial que envolve a produccedilatildeo desshy

sa praacutetica da cultura corporal

HistoacutericaExibiccedilatildeo do Documentaacuterio da

Sportv sobre o MMA

Documentaacuterio ldquoMMA

a luta que levou o boxe agrave

lonardquo

Os links para acesso aos videos filmes e documentaacuterios citados no quadro abaixo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Disponiacutevel em lthttpcoledvoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012

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(2011)

4) CATARSE

41- Siacutentese teoacuterica do aluno

A catarse seraacute demonstrada com registros durante as aulas exshy

pressando que o MM A (Mixed Martial Arts) eacute uma luta esportiviza-

da criada a partir de uma forma de disputa para a disseminaccedilatildeo do

Jiu-jitsu brasileiro como a melhor das artes marciais Eram embates

entre lutadores de teacutecnicas distintas com lutadores de Jiu-jitsu prinshy

cipalmente Com a exarcebaccedilatildeo da violecircncia principalmente fora dos

ringues a famiacutelia Grace se muda para os EUA e comeccedila a criar uma

nova forma de disputa com regras espaccedilo adequado e teacutecnicas espeshy

ciacuteficas Surge assim o Vale Tudo e posteriormente o UFC e outras

modalidades Atualmente o UFC eacute uma das modalidades esportivas

mais lucrativas do mundo e uma das mais violentas associando teacutecshy

nicas de diversas lutas (Boxe Jiu-jitsu Muai thay Aikidocirc etc) sem

contudo valorizar os aspectos filosoacuteficos e princiacutepios originais das lushy

tas como respeito ao adversaacuterio e a si mesmo Muitas pessoas treinam

MMA para brigas de rua e torneios sem contudo entender o sentido

da criaccedilatildeo destas teacutecnicas pois estatildeo descaracterizadas atendendo a

interesses econocircmicos que vatildeo muito aleacutem da simples autodefesa

42 - Expressatildeo da Siacutentese

Construccedilatildeo de um viacutedeo sobre o MMA abordando de forma

criacutetica os temas estudados nas aulas ou construccedilatildeo de cartazes reshy

alizaccedilatildeo de um juacuteri simulado discutindo a temaacutetica e criaccedilatildeo de um

foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a temaacutetica

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO

Quadro 3 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

Conhecer mais sobre o M M A e suas difeshy

renccedilas de outros estilos

Pesquisar ler textos e assistir viacutedeos

sobre o M M A

Contribuir para a socializaccedilatildeo dos conhecishy

mentos sobre as lutas e para divulgaccedilatildeo de

espaccedilos de discussotildees sobre as mesmas

Convidar os demais alunos da escola para

f acessarem os viacutedeos e participarem dos

foacuteruns de discussatildeo sobre as lutas

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (201 1)

Consideraccedilotildees Finais

A formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos 1 1 0 acircmbito da cultura corporal

passa pela apreensatildeo de conhecimentos teoacuterico-praacuteticos que permitam agir

criticamente frente aos grandes fenocircmenos esportivos para aleacutem de sua

aparecircncia No caso das lutas o pouco acesso aos conhecimentos histoacutericos

teacutecnicos e filosoacuteficos das mesmas pode contribuir para gerar a substituiccedilatildeo

de sua praacutetica salutar pelo consumo passivo de espetaacuteculos esportivos muishy

tas vezes regados com alto grau de violecircncia A proposta de ensino com a

tematizaccedilatildeo das Artes Marciais Mistas buscou contribuir para pensar no

papel de mediaccedilatildeo que a Educaccedilatildeo Fiacutesica pode ter na formaccedilatildeo de sujeitos

criacuteticos ao fenocircmeno de descaracterizaccedilatildeo e mercadorizaccedilatildeo das lutas

Referecircncias

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CAPIacuteTULO VI

A VOZ DA PERIFERIA O HIP HOP ENQUANTO POSSIBILIDADE DE TRABALHO NAS AULAS DE EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA

Adriano de Paiva Reis

Carla Cristina Carvalho Pereira

Giovana de Carvalho Castro

Herbert Hischter Chaves de Paula

Marcelo Silva dos Santos

Apesar da infinidade de possibilidades de

trabalho nos curriacuteculos escolares historicamenshy

te a danccedila foi tratada pela escola numa perspecshy

tiva funcional tendo como objetivo principal a

formaccedilatildeo do corpo feminino em contrapartida

agraves praacuteticas ginaacutesticas destinadas aos homens1

O fato eacute que o trabalho com a danccedila nas

escolas quase natildeo eacute realizado ou eacute realizado de

forma superficial e esvaziada A danccedila eacute recoshy

nhecida como atividade extracurricular - geralshy

mente o aprofundamento do trabalho com as

teacutecnicas de uma determinada modalidade - ou

eacute tratada como componente folcloacuterico no inshy

terior das escolas seja pela Educaccedilatildeo Fiacutesica ou

1 A discussatildeo acerca das praacuteticas corporais destinadas a

homens e mulheres ao longo da histoacuteria da Educaccedilatildeo

Fiacutesica no Brasil pode ser encontrada em Ghiraldelli

Juacutenior (1994) O autor situa historicamente a visatildeo

sexista da Educaccedilatildeo Fiacutesica na sociedade brasileira

demonstrando o papel da ginaacutestica para moldar o corpo

saudaacutevel robusto e harmonioso dos homens enquanto

que para as meninas as praacuteticas eram voltadas para a

danccedila a expressatildeo corporal o teatro e a poesia visando

pela Educaccedilatildeo Artiacutestica limitando-se muitas vezes agrave montagem de

coreografias para festas e comemoraccedilotildees da escola Raramente a danccedila eacute

valorizada por ter um conhecimento proacuteprio e uma linguagem expresshy

siva especiacutefica (BRASILEIRO 2003 FIAM ONCINI 2003)

A resistecircncia dos alunos em participar das aulas de danccedila na esshy

cola constitui um fator a ser considerado assim como a dificuldade

por parte de muitos professores em trabalhar com esse conteuacutedo sob a

alegaccedilatildeo de natildeo possuiacuterem conhecimento especiacutefico em nenhuma moshy

dalidade de danccedila problema agravado pelos curriacuteculos predominanteshy

mente esportivizados da maioria dos cursos de graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo

Fiacutesica No entanto entendendo que a funccedilatildeo primordial da escola eacute

a socializaccedilatildeo do saber historicamente produzido (SAVIANI 1997)

coloca-se como tarefa fundamental a sistematizaccedilatildeo de uma praacutexis edushy

cativa superadora em danccedila tendo em vista proporcionar aos alunos

uma apreensatildeo contextualizada e criacutetica acerca dessa linguagem

Na perspectiva da reflexatildeo sobre a cultura corporal a danccedila - enshy

tendida enquanto uma das expressotildees do patrimocircnio cultural da hushy

manidade - eacute um conteuacutedo a ser conhecido estudado produzido no

acircmbito escolar Nesta linha eacute preciso que o professor rompa com as

formas tradicionais mecanizadas e estereotipadas de danccedila proporshy

cionando ao aluno o conhecimento de suas verdadeiras possibilidades

corporais desenvolvendo a criatividade e a expressividade

A escolha da temaacutetica a ser abordada nas aulas deve partir

da necessidade de compreensatildeo e explicaccedilatildeo da realidade concreshy

ta do aluno oferecendo subsiacutedios para que ele compreenda os

determinantes soacutecio-histoacutericos de sua condiccedilatildeo de classe social

(C O LE T IV O DE AUTORES 1992)

Neste sentido escolhemos abordar o break enquanto modalishy

dade de danccedila atrelada ao movimento Hip Hop A definiccedilatildeo dessa

temaacutetica deveu-se agrave sua popularidade entre os alunos e agrave confusatildeo

conceituai acerca do Hip Hop uma vez que este eacute tratado apenas

como um estilo musical ou uma forma de danccedilar Assim torna-se neshy

cessaacuterio abordar e discutir as contradiccedilotildees existentes entre a essecircncia

do Hip Hop enquanto movimento de criacutetica e contestaccedilatildeo social e

sua mercadorizaccedilatildeo c esvaziamento pelos meios de comunicaccedilatildeo

O Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia e criacutetica social

O Hip Hop natildeo eacute apenas um estilo musical ou um tipo de

danccedila Trata-se na verdade de uma importante manifestaccedilatildeo culshy

tural produzida enquanto um movimento de resistecircncia da perishy

feria da classe menos favorecida - que natildeo coincidentemente eacute

representada majoritariamente por negros2 A origem do termo eacute

bastante controversa mas muitos pesquisadores atribuem sua criashy

ccedilatildeo a Afrika Bambaataa3 Suas origens remontam aos EUA por

volta dos anos de 1970 nos subuacuterbios de Nova York e de Chicago

atrelado agraves expressotildees culturais das comunidades jamaicanas latishy

nas e afro-americanas Nesses guetos - habitados majoritariamente

por uma populaccedilatildeo negra4 e assolados pela pobreza traacutefico de

drogas racismo ausecircncia de educaccedilatildeo e de espaccedilos de lazer mdash o

movimento Hip Hop nasceu a partir de accedilotildees para conter a violecircnshy

2 Satildeo os negros que ocupam a maioria das estatiacutesticas de desemprego mortalidade infantil

analfabetismo que possuem as piores condiccedilotildees de moradia a maioria que ocupa os

presiacutedios e as ruas etc A discussatildeo sobre a marginalizaccedilaacuteo do negro no Brasil ganha forccedila a

partir dos anos iniciais deste seacuteculo demonstrando a importacircncia do movimento negro no

cenaacuterio dos movimentos sociais no paiacutes Entretanto dentro do proacuteprio movimento negro

natildeo haacute unidade principalmente no que se refere agrave discussatildeo entre a relaccedilatildeo raccedilaclasse Por

esta razatildeo achamos fundamental demarcar nossa posiccedilatildeo dentro dessa discussatildeo apesar

de estarmos atentos ao fato de que uma das caracteriacutesticas do capitalismo eacute ser indiferente

agraves identidades sociais das pessoas que explora o fato de natildeo necessitar natildeo significa que

de fato natildeo se aproveite e natildeo decirc continuidade agrave opressatildeo racial O capitalismo que

massacra trabalhadores mundo afora eacute ainda mais perverso com aqueles setores que foram

marginalizados como eacute o caso dos negros (W O O D 2003)

3 Afrika Bambaataa - pseudocircnimo de Kevin Donovan - eacute de forma quase unacircnime

considerado o responsaacutevel por plantar as bases sobre as quais o Hip Hop se desenvolveu

Nascido e criado no violento bairro do Bronx (Nova Iorque) chegou agrave lideranccedila dos Black

Spades uma das mais fortes e violentas gangues da regiatildeo Sua vida comeccedilou a mudar

quando numa viagem agrave Aacutefrica no iniacutecio dos anos 1970 assistiu ao filme Zulu sobre

a luta entre africanos e ingleses no seacuteculo X IX Foi deste documentaacuterio que ele retirou o

nome pelo qual eacute conhecido hoje O filme tambeacutem despertou no mesmo um novo olhar

acerca de suas origens motivando-o a formar sua proacutepria naccedilatildeo Zulu bem como a buscar

raquo meios para cooptar jovens das gangues para ela Disponiacutevel em lthttpogloboglobo

comculturaconsiderado-pai-do-hip-hop-do-funk-carioca-afrika-bambaataa-faz-show-

no-rio-303106lixzz20554zE00gt Acesso cm 2 ago 2012

4 Aleacutem dos negros os guetos de Nova York eram ocupados por imigrantes latinos oriundos

principalmente do Meacutexico e de Porto Rico tambeacutem considerados inferiores por sua pele

morena e olhos indiacutegenas herdados de seus antepassados tambeacutem escravizados

cia e promover a conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessishy

dade de luta contra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis

Desta forma o Hip Hop atrela-se agraves calorosas discussotildees que trashy

zem agrave tona os embates e as contradiccedilotildees da sociedade norte-americana

Neste contexto emergem lideranccedilas negras como Martin Luther King

e Malcom X e grupos que lutavam pela igualdade de direitos como

os Panteras Negras Embora divergentes em suas propostas agregaram

em torno de suas ideias uma populaccedilatildeo que ansiava por mudanccedilas no

modelo social entatildeo vigente que condenava a populaccedilatildeo negra a uma

invisibilidade negando-lhe a possibilidade de uma efetiva participaccedilatildeo

social e poliacutetica Tais demandas refletiram na produccedilatildeo musical e o

rock mdash que tambeacutem nasceu negro tatildeo aderente nos anos de 1960 mdash

mostrou-se impotente para dar voz a esse novo contexto

Os guetos abraccedilaram o soul e prestaram reverencia a muacutesicas como

uSay it loud Im black and proudrdquo (diga alto sou negro e orgulhoso)

cantada aos berros por James Brown inspirado na frase do liacuteder sul africano

Steve Biko Ao soul juntou-se o ftink furioso do qual James Brown tamshy

beacutem foi um iacutecone imageacutetico Estava pronto o terreno do qual brotaria o

Hip Hop lanccediladas as sementes do soul do funk e da luta pelos direitos civis

da populaccedilatildeo negra A ele se uniu o rap que remonta as raiacutezes da oralidade

africana sintetizada na figura dos griots5 Os guetos apropriaram-se desta

tradiccedilatildeo e a reinventaram atraveacutes das batalhas de improviso que contavam

histoacuterias de seu cotidiano marcando assim o nascimento do freestyle6

Outra figura fundamental para o Hip Hop foi o DJ Kool Herc

imigrante jamaicano a quem se atribui a criaccedilatildeo dos breaks (trechos de

muacutesicas usados como bases) No final dos anos de 1960 Herc trouxe da

Jamaica para o Bronx a teacutecnica dos famosos sound systems de Kingston

5 Os ldquogriotsrdquo satildeo os guardiotildees inteacuterpretes e cantores da histoacuteria oral de muitos povos

africanos A figura do griot tem uma enorme importacircncia na preservaccedilatildeo da palavra da

narraccedilatildeo do mito africano ldquoNa praacutetica eles funcionam como escritores sem papel nem

pena Ortografam na oralidade aquilo que deve permanecer embutido na memoacuteria e no

coraccedilatildeo dos seus familiares e conterracircneos no sentido de manter incrustada a identidade

do seu ser e das suas raiacutezes fundamentada em grande parte no seu passado e nos seus

predecessoresrdquo BIJOacute1AS Maria Griots mdash os inteacuterpretes musicais da Histoacuteria africana

Disponiacutevel em lthttpwwwruadireitacommusicainfogriots-os-interpretes-musicais-

da-historia-africanagt Acesso em 23 jul 2012

6 Estilo livre muacutesica de improviso mediante desafios

Como os trechos usados como base eram curtos Herc teve a ideia de usar

um mixer e dois discos idecircnticos o que permitia a repeticcedilatildeo indefinida de

um determinado trecho da mesma muacutesica (PIMENTEL 1997)

Foi um disciacutepulo do DJ jamaicano mdash Grandmaster Flash - quem

criou o ldquoscratchrdquo que eacute a utilizaccedilatildeo da agulha do toca-discos arrashy

nhando o vinil em sentido anti-horaacuterio como instrumento musical

Aleacutem disso ldquoFlash entregava um microfone para que os danccedilarinos

pudessem improvisar discursos acompanhando o ritmo da muacutesica

(uma espeacutecie de repente-eleacutetrico que ficou conhecido como rap - os

lsquorepentistasrsquo satildeo chamados de rappers ou MCs isto eacute lsquomasters of ceri-

mony)rdquo (VIANNA JUacuteN IOR 1988 p 38)

Desta feita aos breaks aliou-se a forccedila das mensagens trazidas

pelos rappers atribuindo peso agrave expressatildeo mesmo sob condiccedilotildees lishy

mitadas de recursos e ausecircncia de instrumentos

Paralelamente ao rap outras manifestaccedilotildees artiacutesticas se desenshy

volviam nos guetos americanos Em meados da deacutecada de 1960 os

jovens dos subuacuterbios de Nova York comeccedilaram a ldquopicharrdquo as pareshy

des com seus nomes Assim surge o grafitti inicialmente como tag

(assinatura) como forma de retratar a realidade como forma de

participaccedilatildeo e de resistecircncia Logo a colocaccedilatildeo das tags em locais

cada vez mais inoacutespitos virou um novo elemento da disputa que foi

apropriado pelas gangues como forma de demarcaccedilatildeo de territoacuterios

dentro dos guetos Mais tarde o desenho foi introduzido ao tag

abrindo-se um novo leque de trabalhos para os grafiteiros

Na mesma eacutepoca surge o break dance nome atribuiacutedo pelo Dj

Herc para definir um estilo de danccedila caracterizado por miacutemicas imitashy

ccedilotildees de robocircs e acrobacias com influecircncias das mais diversas das artes

marciais agraves danccedilas urbanas da eacutepoca e que representassem os conflitos

e o cotidiano dos guetos nova-iorquinos O nome atribuiacutedo por Herc

justifica-se agrave medida em que ldquoos jovens que iam agraves festas danccedilavam no

Break da muacutesica que era o nome dado a sua teacutecnica de interromper a

batida mais forte da muacutesica como se ela estivesse quebrada e se repeshy

tisse por alguns segundosrdquo (SILVA 2010 p 32) A respeito da danccedila

Pimentel (1997 p 8) destaca que esta desenvolveu-se

[] ao sabor da contorccedilatildeo dos brcaks entre e dentro

das muacutesicas formando um novo corpo riacutetmico no inshy

terior das mesmas e conduzindo o DJ e seu puacuteblico a

uma nova forma de abordagem do tema reconstruiacutedo

e reinterpretaacutevel atraveacutes da danccedila das quebras riacutetmishy

cas Danccedilar o break consiste literalmente na execuccedilatildeo

de passos que procuram imitar essa ruptura e essa forshy

ma sincopada de reconstruir o proacuteprio ritmo

Nas ruas de Nova Iorque grupos (crews) se encontravam para

definir quem danccedilava melhor dando origem agraves chamadas batalhas ou rachas de break As batalhas entre as crews eram manifestaccedilotildees de

rua que tinham o propoacutesito de chamar a atenccedilatildeo do poder puacuteblishy

co sobre a situaccedilatildeo do afro-americano em relaccedilatildeo ao seu modo de

sobrevivecircncia e portanto tinham uma conotaccedilatildeo poliacutetica (LEAtildeO

2006) O break foi ganhando outros espaccedilos e passou a ser danccedilado

tambeacutem nas festas (as chamadas Black Parties)

Alguns autores consideram que o break no Hip Hop eacute formado

por trecircs estilos de danccedila originais o break bboying (caracterizada

pelos movimentos de chatildeo como top rock up rock foot work booga- loo e freeze aleacutem dos giros de cabeccedila mortais o moinho de vento7) o Popingg (estilo de danccedila urbana que foi incorporada ao Hip Hop

onde o danccedilarino imita robocircs aleacutem de ondulaccedilotildees com o tronco e

quadris) e o Locking (danccedila urbana incorporada ao Hip Hop que

indica as direccedilotildees no espaccedilo apontando o dedo) Por outro lado haacute

quem afirme que esses trecircs estilos satildeo danccedilas diferentes e somente o

break eacute a danccedila original por ser a primeira a ser incorporada como

elemento do Hip Hop (SILVA 2010)8

Desta feita rappers breakers e grafiteiros logo se viram diante

das mesmas anguacutestias e desafios cotidianos Daiacute para a coletiviza-

ccedilatildeo de suas accedilotildees foi um pequeno passo dando origem a naccedilotildees

associaccedilotildees posses e entidades para divulgaccedilatildeo do Hip Hop

7 A descriccedilatildeo e tutoriais desses movimentos estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e

Meacutetodo nas auias de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lt httpcoletivoedulisicajf

blogspotcombrgt Acesso em 12 dez 2012

8 Devido agrave riqueza de possibilidades consideramos os trecircs estilos para o trabalho

que realizamos com os alunos numa escola municipai de Juiz de Fora trabalho este

descrito ao final do presente artigo

Assim muito mais que ldquopular balanccedilando os quadrisrdquo - trashy

duccedilatildeo do termo do inglecircs - o Hip Hop configura-se como um

movimento social que busca promover a conscientizaccedilatildeo da popushy

laccedilatildeo jovem afro-americana atraveacutes da uniatildeo de diversas manifesshy

taccedilotildees artiacutesticas representadas por um conjunto de quatro elemenshy

tos a) o break que eacute a danccedila oficial praticada pelos Bboys e Bgirls

b) o rap que eacute o canto falado ao som de pick - ups ou mesmo de

ritmos feitos com a boca e o corpo c) o DJ (disk jockey) que atua

nos pick - ups acompanhando a falacanto dos MCs (mestre de

cerimocircnia) e d) o grafitti que eacute a arte nos muros vagotildees de trens

e espaccedilos deteriorados - uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para a

necessidade de revitalizaccedilatildeo desses espaccedilos (BENEDITO 2004)

E esse movimento que chega ao Brasil - influenciado pelo

lema do Black Power e pela admiraccedilatildeo aos Panteras Negras mdash

num contexto em que gangues urbanas conquistavam espaccedilo

embaladas por pequenos conflitos armados (armas brancas prinshy

cipalmente) e pelas muacutesicas do soul norte-americano Nosso ldquorashy

cismo agrave brasileirardquo natildeo dava margem para os conflitos diretos

pelos quais passou a sociedade norte-americana mas isso natildeo

significa a ausecircncia de poliacuteticas marginalizantes para a populaccedilatildeo

negra e afrodescendente no Brasil9

Como em outros paiacuteses diaspoacutericos o H ip Hop encontrou

no Brasil terreno feacutertil Sua chegada data de meados dos anos de

1980 em Satildeo Paulo Em 1988 foi lanccedilado o primeiro registro

fonograacutefico de rap nacional a coletacircnea ldquoHip-Hop Cultura de

Ruardquo pela gravadora Eldorado Com apoio puacuteblico da prefeitura

de Satildeo Paulo organizou-se a primeira associaccedilatildeo oficial de H ip

Hop no Brasil o M H 2 0 - Movimento Hip-Hop Organizado

9 A inserccedilatildeo do negro no poacutes-aboliccedilaacuteo tem sido alvo de diversos estudos Tais pesquisas

apontam para as dificuldades da populaccedilatildeo afrodescendente em ser reconhecida como

parte da sociedade brasileira e discutem o processo de marginalizaccedilatildeo imposto a esse

segmento Um dos aspectos mais relevantes dessa segmentaccedilatildeo eacute revelado nas pesquisas

que indicam a criminalizaccedilatildeo das praacuteticas culturais afrodescendentes presentes em nosso

coacutedigo penal ateacute 1940 Para maiores informaccedilotildees consultar Holloway (1997)

A descaracterizaccedilatildeo do Hip Hop a voz da periferia transmutada em mercadoria rentaacutevel

Identificamos hoje uma tentativa de esvaziamento e de descashy

racterizaccedilatildeo do H ip Hop enquanto movimento de luta e contestaccedilatildeo

social A induacutestria cultural vem cooptando essa forma de resistecircncia

em favor do capital transformando-o em um filatildeo de mercado vazio

de conteuacutedo histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico e ressignificado a partir

dos interesses da cultura hegemocircnica

O movimento mdash que sempre viveu e se propagou por fora dos

esquemas formais de comunicaccedilatildeo de massa sem espaccedilo nas raacutedios

comerciais e com trabalhos lanccedilados em gravadoras independentes

(MARTINS 1998) mdash atualmente ldquodesce o morrordquo indo parar nas

boates de classe meacutedia nas raacutedios e nas novelas e programas das prinshy

cipais emissoras de televisatildeo

A problemaacutetica da mercadorizaccedilatildeo do Hip Hop natildeo estaacute des-

zonectada do processo de transformaccedilatildeo e de mudanccedila que se faz

Dresente na sociedade de uma forma geral Jameson (2000) denuncia

^ue a emergente mudanccedila histoacuterica ocorrida na vida no ocidente para

jma nova forma de capitalismo trouxe a tese de que as questotildees cul-

urais tendem a se propagar para as econocircmicas e sociais Segundo o

iutor ldquoa produccedilatildeo das mercadorias eacute agora um fenocircmeno cultural no

lual se compram os produtos tanto por sua imagem quanto por seu

iacuteso imediato [] Nesse sentido a economia se transforma em uma

juestatildeo culturalrdquo (JAMESON 2000 p 22)

Na loacutegica cultural do capitalismo tardio onde o consumo

bull o principal meio de realizaccedilatildeo ldquoo prazer o lazer a seduccedilatildeo e a

ida eroacutetica satildeo trazidos para o acircmbito do poder do dinheiro e da

raquoreocupaccedilatildeo de mercadoriasrdquo (HARVEY 1992 p 99) Ao mes-

no tempo em que temos a sofisticaccedilatildeo das necessidades e dos seus

neios por um lado temos de outro uma abstrata simplificaccedilatildeo

las necessidades No campo especiacutefico da cultura a arte se tornou

ambeacutem uma mercadoria e o artista foi transformado em um pro-

utor de mercadorias (F ISCHER 1982)

Rappers ganharam status na induacutestria cultural sobretudo a

norte-americana e viraram ldquoastrosrdquo em todo o mundo Figuras como

Gangster RAP Dr Dree e Snoopy Dog aparecem na miacutedia preganshy

do e praticando a violecircncia adotando atitudes e produzindo letras

que demonstram hostilidade ao pobre e agrave mulher O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos contextos sendo empregashy

do para classificar um estilo de muacutesica de danccedila ou um jeito de se

vestir conhecido como estilo B-boy associado a marcas esportivas

especiacuteficas (boneacute tecircnis etc) Neste sentido

[] os aspectos do processo de mercadorizaccedilatildeo da

vestimenta das muacutesicas dos shows que possuem um

alto custo financeiro mostram essa refuncionaliza-

ccedilatildeo para garantir uma dada hegemonia tornando o

Hip Hop em determinados casos uma praacutetica disshy

tanciada da reflexatildeo de sua origem e da possibilidade

de ser uma forma de luta contra a opressatildeo Nesses

casos aquilo que servia para caracterizaacute-lo como

popular eacute justamente o que eacute transmutado o seu

sentido (AVILA et al 2005 p 64)

Aleacutem disso atraveacutes de poliacuteticas assistencialistas e compensashy

toacuterias o poder puacuteblico frequentemente apropria-se dos elementos

do Hip Hop num discurso apologeacutetico que o rotula enquanto

ldquosalvador da paacutetriardquo a partir da responsabilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos

pelas suas mazelas sociais justamente o oposto do que preconiza

o movimento O Hip Hop ligado agrave criacutetica poliacutetica e social e agrave

conscientizaccedilatildeo acerca da necessidade da organizaccedilatildeo coletiva tem

como intuito provocar mudanccedilas sociais e garantir direitos essenshy

ciais que satildeo responsabilidade do poder puacuteblico

Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo feita pelos meios de coshy

municaccedilatildeo a essecircncia do movimento permanece inalterada Atualshy

mente os movimentos organizados de Hip Hop buscam discutir a

discriminaccedilatildeo racial os problemas sociais a realidade da periferia

discussotildees estas materializadas nas letras do rap E esse Hip Hop

que pretendemos resgatar com nossos alunos contextualizando-o e

desvelando o que eacute a essecircncia desse movimento

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a danccedila

Elaboramos entatildeo um planejamento para ser desenvolvishy

do com alunos do 9o ano de uma escola municipal de Juiz de

Fora A proposta foi abordar o Hip Hop discutindo-o desde sua

origem enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social passhy

sando pela caracterizaccedilatildeo dos elementos que o compotildeem ateacute a

discussatildeo e anaacutelise criacutetica do que hoje eacute conhecido e difundido

pela miacutedia enquanto ldquoH ip Hoprdquo

Demos uma ecircnfase especial ao break por tratar-se de uma unishy

dade onde o conteuacutedo proposto era a danccedila Aqui tivemos espaccedilo

privilegiado para discutir as formas mecanizadas e estereotipadas de

danccedila impostas pela miacutedia e problematizamos a mera repeticcedilatildeo ou

imitaccedilatildeo a que muitas vezes se resumem as aulas de danccedila Numa oushy

tra perspectiva o break abre possibilidades de trabalhar a criatividade

e a expressividade jaacute que a essecircncia desse estilo eacute a improvisaccedilatildeo a (re)

criaccedilatildeo de movimentos Nas rodas de improvisaccedilatildeo cada participante

cria seu proacuteprio estilo e constroacutei suas sequecircncias de movimentos a

partir dos elementos teacutecnicos baacutesicos

Assim na identificaccedilatildeo da praacutetica social dividimos os alunos

em grupos e exibimos clipes de artistas diversos (Gabriel o pensador

Racionais M C rsquoS Beyonceacute Emicida etc) solicitando que ao final de

cada um eles respondessem em uma folha o nome e o estilo musical

do artista em questatildeo As respostas foram apresentadas a maioria deshy

las definia todos os clipes exibidos como sendo ldquoHip HoprdquoApoacutes esse primeiro momento iniciamos um debate com os alushy

nos lanccedilando algumas questotildees problematizadoras O que eacute Hip

Hop Hip Hop eacute danccedila O u eacute muacutesica Um estilo musical Como

surgiu o Hip Hop Existem muitos artistas negros no Hip Hop As

respostas dos alunos e a discussatildeo do tema foram registradas a fim de

fazer uma comparaccedilatildeo no final do trabalho

Na instrumentalizaccedilatildeo trabalhamos os seguintes toacutepicos de

conteuacutedo a histoacuteria do H ip Hop os quatro elementos que o

constituem (rap DJ grafitti10 break) bem como a influecircncia

dos meios de comunicaccedilatildeo na forma de disseminaccedilatildeo do Hip

Hop lanccedilando matildeo de recursos pedagoacutegicos como viacutedeos docushy

mentaacuterios reportagens letras de muacutesica dentre outros a fim de

que os alunos tivessem uma nova percepccedilatildeo do movimento Hip

Hop nas suas mais diversas dimensotildees No caso especiacutefico da

danccedila trabalhamos as teacutecnicas baacutesicas dos trecircs estilos de danccedila

do break (Bboing Popping e Locking) explorando a capacidade

de criaccedilatildeo e improvisaccedilatildeo dos alunos

Na catarse momento de elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia

dos alunos acerca do tema propomos a organizaccedilatildeo de um fesshy

tival de Hip Hop onde os alunos foram divididos em grupos e

demonstraram as teacutecnicas aprendidas bem como a exibiccedilatildeo de

um painel com os pontos abordados durante a unidade didaacutetica

No retorno agrave praacutetica social quando os alunos utilizam este

novo conhecimento para intervir criticamente na realidade soshy

cial a proposta foi realizar a produccedilatildeo de textos dos temas aborshy

dados nas aulas divulgando-os em um blog

PLANO DE UNIDADE

Tiacutetulo da Unidade O Movimento Hip Hop e a induacutestria cultural

OBJETIVO GERAL

Compreender o Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia

expressatildeo e denuacutencia de um grupo social

10 Ao elaborarmos o planejamento e apresentarmos a proposta para o coletivo da escola

abriu-se a possibilidade de um trabalho conjunto com a professora de Artes da turma por

isso pudemos aprofundar o trabalho com o grafitti

11 Viacutedeos e tutoriais usados para a preparaccedilatildeo das aulas e domiacutenio das teacutecnicas fundamentais

de cada um dos estilos do break estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas

aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt

Acesso em 10 dez 2012

Quadro 1- Anuacutencio do conteuacutedo

Toacutepico de Conteuacutedo t )bjetivos Especiacuteficos

Histoacuteria do H ip Hop

Conhecer a histoacuteria do Hip Hop e compreender sua essecircnshy

cia enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social

Identificar as caracteriacutesticas e manifestaccedilotildees do H ip Hop

no Brasil da atualidade

Os quatro elementos do movishy

mento H ip Hop

Identificar e conceituar os quatro elementos que constishy

tuem o movimento H ip Hop

Compreender a relaccedilatildeo de cada um dos elementos com o

movimento H ip Hop

Rhythm and Poetry

Compreender o rap enquanto o ldquocanto faladordquo que deshy

nuncia a injusticcedila e a opressatildeo de um grupo social

Conhecer teacutecnicas de construccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap

Arte nos Muros

Entender a histoacuteria e a evoluccedilatildeo do grafitti

Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo com o movimento H ip

Hop

Conhecer o grafitti na atualidade e suas linhas de expressatildeo

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de grafitagem

Aumente o som DJUuml

Identificar a ldquobatida quebradardquo (break) que caracteriza a

base musical do H ip Hop

Compreender o papel do DJ no H ip Hop

Estabelecer a diferenciaccedilatildeo entre o DJ e o M C (Mestre

de Cerimocircnia)

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de scratch e de mixagem

ldquoBatalhardquo entre crews

Analisar o papel do break enquanto expressatildeo corporal

ligada ao H ip Hop

Identificar os estilos do break sua origem e as vaacuterias forshy

mas de movimentaccedilatildeo

Relacionar os movimentos corporais ao ldquobreakrdquo da muacutesica

Aprender teacutecnicas baacutesicas de cada um dos estilos de break

O Hip Hop que passa na TV

Analisar a influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo na forma

de disseminaccedilatildeo do movimento H ip Hop

Compreender a banalizaccedilatildeo do movimento H ip Hop e

sua desconstruccedilatildeo pelo mercado

ontc elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

1) PRAacuteTICA SOCIAL IN ICIAL DO CONTEUacuteDO

11 Vivecircncia do Conteuacutedo

bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Hip Hop eacute um tipo

de muacutesica as muacutesicas criticam os ricos Hip Hop eacute uma danccedila

de rua etc

bull O que eles gostariam de saber a mais Como satildeo os passos

do Hip Hop como criar um rap como montar uma muacutesica

mixada etc

2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO

Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees

problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas

Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

$ v h W ccedil f v V j i v1 Tv S

t j j j fM IacuteW iacute lE i YSX IIP)

Histoacuteria do Hip HopHistoacuterica

Social

Como surgiu o Hip Hop Por que ele

surgiu Por que tem tantos artistas neshy

gros no Hip Hop

Os quatro elementos do movishy

mento H ip HopConceituai

Quais satildeo os elementos que constishy

tuem o Hip Hop Como se caracteshy

riza cada um deles

Rhythm and PoetryConceituai

Social

O que eacute rap De que falam as letras

dos raps Que mensagem querem

transmitir

Arte nos MurosLegal

Teacutecnica

Grafitar e pichar satildeo a mesma coishy

sa O que significa esse desenhos

nos muros

Aumente o som DJ Conceituai

0 que faz um DJ Qual a relaccedilatildeo

entre o DJ e o rap DJ e M C satildeo a

mesma pessoa Como eacute o ritmo da

danccedila no H ip Hop

ldquoBatalhardquo entre crewsConceituai

Teacutecnica

Como se danccedila no H ip Hop Qual

eacute o nome dessa danccedila Por que a

danccedila se chama ldquobreakrdquo Quais satildeo

os principais passos

O H ip Hop que passa na TV

Poliacutetica

Social

Econocircmica

Quais satildeo os rappers que aparecem

nos programas de TV Quais ideias

defendem em seus raps Os valores

dc que classe social representam

Fonte elaboraccedilatildeo nroacutenria m m

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo

bull

Histoacuteria do H ip

Hop

Conhecer a histoacuteria do H ip

H op e compreender sua essecircnshy

cia enquanto movimento de

contestaccedilatildeo c criacutetica social

Identificar as caracteriacutesticas e

manifestaccedilotildees do H ip H op no

Brasil da atualidade

Histoacuterica

Social

Apresentaccedilatildeo de dados estatiacutesticos sobre a

situaccedilatildeo do negro na sociedade brasileira

Exibiccedilatildeo de filmes e textos sobre a segreshy

gaccedilatildeo racial nos EUA e comparaccedilatildeo com

a realidade brasileira

Exibiccedilatildeo de documentaacuterio situando a

origem do H ip Hop

Exibiccedilatildeo de clipes de muacutesica que caracteshy

rizem a essecircncia do H ip Hop

Viacutedeos diversos65

Documentaacuterio ldquoH ip Hop em m oshy

vimentordquo

Documentaacuterio ldquoA Histoacuteria Do Hip

Hoprdquo

Os quatro eleshy

mentos do movishy

mento H ip Hop

Identificar e conceituar os

quatro elementos que constishy

tuem o movimento H ip Hop

Compreender a relaccedilatildeo de

cada um dos elementos com o

movimento H ip Hop

Conceituai

Social

Textos e viacutedeos sobre cada um dos eleshy

mentos

Viacutedeos produzidos pelos professores

Textos sobre os elementos do H ip

Hop

Os links paia acesso aos videos e textos utilizados na instrumentalizaccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em

lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012

=S

Rhythm and

Poetry

Compreender o rap enquanto

o ldquocanto faladordquo que denuncia

a injusticcedila e a opressatildeo de um

grupo social

Conhecer teacutecnicas de construshy

ccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap

Conceituai

Social

Teacutecnica

Anaacutelises de raps relacionados agrave realidade

social da periferia

Pesquisa sobre a estrutura e as teacutecnicas de

construccedilatildeo de um rap

Criaccedilatildeo individual eou coletiva de raps a

partir de temas propostos

Muacutesicas de grupos de rap

Clipe Negro Drama (Racionais)

Capiacutetulo sobre H ip Hop do livro D ishy

daacutetico do Paranaacute (Educaccedilatildeo Fiacutesica)

Arte nos Muros

v

Entender a histoacuteria e a evolushy

ccedilatildeo do grafitti

Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo

com o movimento H ip Hop

Conhecer o grafitti na atualishy

dade e suas linhas de expressatildeo

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de

grafitagem

Histoacuterica

Legal

Teacutecnica

Viacutedeo sobre a histoacuteria e evoluccedilatildeo do grafitti

Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das tags (asshy

sinaturas)

Viacutedeos produzidos pelos professores

Material de desenho para a vivecircnshy

cia das teacutecnicas das tags

Tintas e sprays para grafitar as tags

trabalhadas no papelatildeo ou no muro

Aumente o som

DJUuml

Identificar a ldquobatida quebrashy

dardquo (break) que caracteriza a

base musical do H ip Hop

Compreender o papel do D J

no H ip Hop

Estabelecer a diferenciaccedilatildeo enshy

tre o D J e o M C

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de

scratch e de mixagem

Conceituai

Teacutecnica

Identificaccedilatildeo da batida ldquoquebradardquo da

muacutesica e comparaccedilatildeo com outros ritmos

como por exemplo o funk

Vivecircncia de elementos baacutesicos de mixagem

Construccedilatildeo de bases mixadas das muacutesicas

Muacutesicas diversas

Mesas de mixagem ou programas

de computador para mixagem

Tutoriais diversos sobre mixagem

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(2011)

4) CATARSE

41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno

O Hip Hop eacute uma das mais importantes manifestaccedilotildees joshy

vens da atualidade Surgiu nos Estados Unidos nos subuacuterbios de

Nova York e Chicago na deacutecada de 1970 habitados majoritaria-

mentepor uma populaccedilatildeo negra e assolados pela pobreza traacutefico

de drogas racismo e ausecircncia de espaccedilos de lazer A cultura Hip

Hop nasce a partir de accedilotildees para conter a violecircncia e promover a

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessidade de luta conshy

tra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis

O Hip Hop eacute composto por 4 elementos a saber o break o

rap o DJ e o grafitti No Brasil o Hip Hop encontra na deacutecada

de 1980 um terreno fecundo para o seu desenvolvimento e o Hip

Hop ganha espaccedilo enquanto um meio de luta mobilizaccedilatildeo e dishy

vulgaccedilatildeo das desigualdades sociais e raciais

Entretanto a induacutestria da muacutesica se aproveita da popularishy

dade do Hip Hop transformando-o em uma mercadoria e descashy

racterizando-o enquanto movimento social e de contestaccedilatildeo No

caso especiacutefico da danccedila acontece uma reproduccedilatildeo de coreografias

montadas perdendo o sentido da expressatildeo corporal e a criatividashy

de que fazem parte da essecircncia do break

O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos conshy

textos sendo empregado para classificar um estilo de muacutesica de

danccedila ou um jeito de se vestir conhecido como estilo B-boy asshy

sociado a marcas esportivas especiacuteficas sem contudo representar

os seus objetivos gerais de contestaccedilatildeo social

42 - Expressatildeo da Siacutentese

Construccedilatildeo de paineacuteis sobre os elementos do Hip Hop orgashy

nizaccedilatildeo de um festival de Hip Hop apresentando os pontos discu-jf

tidos na unidade de ensino

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO

Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

Conhecer mais sobre o Hip Hop sua

essecircncia e tendecircncias

Ler pesquisar e conhecer pessoas

do Movimento Hip Hop

Socializar os conhecimentos aprendishy

dos sobre o Hip Hop

Produccedilatildeo de textos eou docushy

mentaacuterios sobre os elementos a

histoacuteria e a descaracterizaccedilatildeo do

Hip Hop

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees finais

Em tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas

as esferas da vicia a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda

maior E preciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabashy

lhadora construamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contrishy

buindo para a desmistificaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta

Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo imposta pela miacutedia eacute

preciso compreender que a essecircncia do movimento Hip Hop ainda

permanece inalterada Neste sentido situar historicamente o Hip

Hop no contexto socioeconocircmico e cultural em que surgiu mdash desshy

velando sua essecircncia enquanto movimento de contestaccedilatildeo poliacutetica

e social - contribui para a compreensatildeo do aluno enquanto agente

de sua histoacuteria capaz de atuar e transformar atraveacutes de accedilotildees conshy

cretas o seu meio e as condiccedilotildees materiais de sua existecircncia

Referecircncias

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3

CAPIacuteTULO VII

A DISCIPLINARIZACcedilAtildeO DOS CORPOS POR MEIO DA GINAacuteSTICA

I^eonardo Docena Pina

Miguel Fabiano de Faria

Nathagravelia Sixel Rodrigues

Ramon Mendes da Costa Magalhatildees

A ginaacutestica como conteuacutedo da Educaccedilatildeo

Fiacutesica natildeo deve ser vista como uma manifestashy

ccedilatildeo recente uma vez que se trata de uma praacutetishy

ca bastante antiga na escola se considerada em

relaccedilatildeo a outros conteuacutedos da cultura corporal

Tendo em vista as transformaccedilotildees ocorridas

com a ginaacutestica ao longo da histoacuteria algumas

questotildees emergem e conferem significados agrave

proposta deste capiacutetulo atualmente a ginaacutestishy

ca permanece como um conteuacutedo nas aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesica Como se configura a ginaacutestica

nessas aulas Como os corpos dos sujeitos enshy

volvidos nessa praacutetica satildeo abordados dentro e

fora da escola Como a sociedade compreende

esses corpos e delega agrave ginaacutestica a competecircncia

por conformaacute-los Questotildees como essas contrishy

buem para a compreensatildeo dos significados que

a praacutetica corporal ginaacutestica assume ou poderia

assumir como conteiido escolar

Compreender a ginaacutestica como conteuacuteshy

do da Educaccedilatildeo Fiacutesica nos remete ao iniacutecio

do seacuteculo XIX quando essa produccedilatildeo cultural

passou a ser considerada cientiacutefica fruto das

distintas formas de se pensar os exerciacutecios fiacutesicos em paiacuteses europeus

surgindo assim os meacutetodos ou escolas de ginaacutestica integrantes do

chamado Movimento Ginaacutestico Europeu Nessa perspectiva buscou-

-se imprimir um caraacuteter de utilidade aos exerciacutecios fiacutesicos em que

foram negadas as praacuteticas populares de artistas de rua de circo acroshy

batas que as apresentavam como espetaacuteculo trazendo o corpo como

centro de entretenimento (SOARES 1998 2001a 2001b)

Ainda segundo a autora eacute nos princiacutepios de ordem e disciplina forshy

mulados pelo Movimento Ginaacutestico Europeu bem como do afastamenshy

to do nuacutecleo primordial do divertimento que a Ginaacutestica se afirmou

como parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos Uma praacutetica capaz de potenshy

cializar a utilidade dos gestos e oferecer um espetaacuteculo ldquocontroladordquo e

institucionalizado dos usos do corpo em negaccedilatildeo aos elementos cecircnicos

funambulescos e acrobaacuteticos (SOARES 1998)

Precursora da Educaccedilatildeo Fiacutesica a Ginaacutestica cientiacutefica se afirmou

ao longo do seacuteculo X IX como siacutentese do pensamento cientiacutefico no

ocidente europeu e integrante dos novos coacutedigos de civilidade o que

vai justificar sua presenccedila no curriacuteculo escolar tambeacutem no Brasil

Como vimos a ginaacutestica foi uma das primeiras praacuteticas corposhy

rais a ser inserida na educaccedilatildeo escolar no seacuteculo XIX tanto que sua

denominaccedilatildeo ldquoGymnasticardquo foi por muitos anos considerada a proacuteshy

pria disciplina escolar sendo paulatinamente substituiacuteda no iniacutecio do

seacuteculo XX pela denominaccedilatildeo ldquoEducaccedilatildeo Physicardquo1

No Brasil ateacute as deacutecadas de 1920 e 1930 a ginaacutestica era uma

praacutetica privilegiada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica sendo orientada por

dois primados da educaccedilatildeo escolar Primeiramente o ldquoprimado da orshy

topediardquo esteve relacionado com a correccedilatildeo de desvios e com o endirei-

tamento dos corpos pretendendo constituir sujeitos robustos e higieshy

nizados Posteriormente o ldquoprimado da eficiecircnciardquo visava construir o

1 Tal expressatildeo areacute enratildeo possuiacutea um sentido mais amplo vinculado ao discurso da ldquohygienerdquo

(G O N D RA 2004) e ao pensamento de Herbert Spencer em que a educaccedilatildeo integral

seria apoiada em trecircs pilares a ldquoeducaccedilatildeo intellectual moral e physicardquo (VAGO 2002)

Assim essa ldquoeducaccedilatildeo physicardquo englobou natildeo soacute a ldquogymnasticardquo os ldquoexerciacutecios physicosrdquo e as

ldquoevoluccedilotildees militaresrdquo como tambeacutem abarcou a organizaccedilatildeo dos tempos e espaccedilos escolares a

distribuiccedilatildeo da luz a boa ventilaccedilatildeo do ambiente a disposiccedilatildeo e o formato do mobiliaacuterio o

nuacutemero de alunos por turma as refeiccedilotildees os recreios enfim todos os haacutebitos saudaacuteveis que

garantiriam o pleno ldquodesenvolvimento physicordquo dos alunos

trabalhador necessaacuterio agrave induacutestria que deveria ser dotado natildeo somente

de corpos ldquoerectosrdquo mas sobretudo de corpos eficientes prontos para

o trabalho em conjunto que de maneira eficaz tivesse rendimento em

forma de produto e de resultado (VAGO 2002)

Nesse sentido Carvalho (1997) apresenta argumentos para comshy

preender os discursos educacionais que no Brasil a partir do final do

seacuteculo XIX e nas primeiras quatro deacutecadas do seacuteculo XX procuraram

ldquo[] legitimar-se enquanto saber pedagoacutegico de tipo novo moderno experimental e cientiacuteficordquo (CARVALHO 1997 p 269) Assim ldquo[]

trabalha com duas metaacuteforas da disciplina - disciplina como ortopeshy

dia e disciplina como eficiecircnciardquo (CARVALHO 1997 p 269) De

acordo com a autora a partir da deacutecada de 1920 eacute possiacutevel perceber

uma sutil mudanccedila no discurso pedagoacutegico no Brasil

O resultado desse movimento eacute que a eficiecircncia passa a ser um

primado orientador para a escola Com efeito Vago (2002) amplia

que natildeo seria diferente para a ginaacutestica a qual migraria de uma preshy

ocupaccedilatildeo com a correccedilatildeo o endireitamento e a constituiccedilatildeo dos corshy

pos para uma preocupaccedilatildeo com a eficiecircncia dos gestos aliada aos

pressupostos da ldquovida modernardquo2

A partir das deacutecadas de 1940 e 1950 a ginaacutestica foi perdendo

espaccedilo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica para o esporte3 Atualmente

em muitas escolas esse conteuacutedo quando trabalhado tende a ser

abordado com praacuteticas descontextualizadas como apecircndice dos esshy

portes aquecimento relaxamento preparaccedilatildeo fiacutesica subsumindo

seu caraacuteter poliacutetico e social em suma natildeo o considerando como

patrimocircnio cultural a ser apropriado pela humanidade tal como

nos mostra Almeida (2005) Contudo pensar a ginaacutestica como

um conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute pensar em uma possibilidade

2 Sobre este assunto destacamos tambeacutem o trabalho de Schneider (2004)

3 Apoacutes a II Guerra Mundial num contexto de intensa urbanizaccedilatildeo e desenvolvimento

bdquoindustrial assistimos a um processo de esportivizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica influenciado

pela cultura europeia Neste momento a Educaccedilatildeo Fiacutesica passa a ter uma relaccedilatildeo de

subordinaccedilatildeo agrave instituiccedilatildeo esportiva tendo seus objetivos baseados na aptidatildeo fiacutesica

e iniciaccedilatildeo esportiva Os coacutedigos do Esporte de Rendimento como competiccedilatildeo

sucesso individual e rendimento satildeo incorporados pela Educaccedilatildeo Fiacutesica neste periacuteodo

demonstrando sua articulaccedilatildeo com a poliacutetica educacional tecnicista e seu papel na

reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais hegemocircnicas

de ampliaccedilatildeo cultural que deve privilegiar a formaccedilatildeo humana em

sua totalidade Como apresenta Ayoub (2003 p 87) aprender gishy

naacutestica na escola significa ldquoestudar vivenciar conhecer compreenshy

der perceber confrontar interpretar problematizar compartilhar

apreender as inuacutemeras interpretaccedilotildees da ginaacutestica e produzir novos

significados e novas possibilidades de expressatildeo giacutemnicardquo

Veremos no presente capiacutetulo que a ginaacutestica contemporacircnea

dentro e fora da escola pode estar imprimindo algumas permanecircncias

da ginaacutestica cientiacutefica do seacuteculo XIX entretanto sob uma nova roushy

pagem Essas permanecircncias podem ser percebidas tanto com relaccedilatildeo agrave

sua metodologia em grande medida enraizada na repeticcedilatildeo de gestos

padronizados quanto com relaccedilatildeo agraves finalidades a ela associadas que

sugerem uma nova leitura para a ldquocorreccedilatildeordquo e ldquoconstituiccedilatildeo dos corposrdquo

bem como para a ldquoeficiecircncia dos gestosrdquo associada ao mundo produtivo

e aos interesses da classe dominante

A ginaacutestica no processo de disciplinarizaccedilatildeo

O corpo dos indiviacuteduos como mais um instrumento da

produccedilatildeo passava a constituir uma preocupaccedilatildeo da classe

no poder Tornava-se necessaacuterio nele investir Todavia esse

investimento deveria ser limitado para que o corpo nunshy

ca pudesse ir aleacutem de um corpo de um ldquobom animalrdquo

Era preciso adestraacute-lo desenvolver-lhe o vigor fiacutesico desde

cedo disciplinaacute-lo enfim para sua funccedilatildeo na produccedilatildeo e

reproduccedilatildeo do capital (SOARES 2001a p 33)

A partir do conceito de disciplina Foucault (1987) descreve um

processo no qual satildeo formados haacutebitos costumes modos de pensar e

agir orientados para a formaccedilatildeo dos chamados corpos doacuteceis - indiviacuteduos

que podem ser submetidos utilizados transformados e aperfeiccediloados

Em suas reflexotildees o chamado ldquopoder disciplinarrdquo possui como funccedilatildeo

maior a de ldquoadestrarrdquo os indiviacuteduos fabricando sujeitos ao mesmo temshy

po produtivos economicamente e submissos politicamente

Os processos disciplinares segundo o autor assumiram no decorshy

rer dos seacuteculos XVII e XVIII formas gerais de dominaccedilatildeo diferentes

da escravidatildeo da domesticidade da vassalidade e do ascetismo por

exemplo visto que este novo contexto histoacuterico eacute o momento no qual

nasce uma arte do corpo humano que visa natildeo unicamente o aumento

de suas habilidades mas a formaccedilatildeo de uma relaccedilatildeo que no mesmo

mecanismo o torna tanto mais obediente quanto eacute mais uacutetil ldquoForma-

-se entatildeo uma poliacutetica das coerccedilotildees que satildeo um trabalho sobre o corpo

uma manipulaccedilatildeo calculada de seus elementos de seus gestos de seus

comportamentosrdquo (FOUCAULT 1987 p 119)

Nesse processo as teacutecnicas de distribuiccedilatildeo dos indiviacuteduos no espashy

ccedilo assim como o controle da atividade pela regulaccedilatildeo do tempo e pelo

adestramento dos gestos vatildeo configurando novas praacuteticas em diferentes

instituiccedilotildees Assim as faacutebricas os quarteacuteis os hospitais e tambeacutem as

escolas se configuram como locais responsaacuteveis para a disciplinarizaccedilatildeo

dos indiviacuteduos No caso do ambiente escolar essa formaccedilatildeo demandava

a manutenccedilatildeo dos alunos entre as paredes da sala de aula submetidos

ao olhar vigilante do professor o tempo suficiente para domar seu cashy

raacuteter e dar forma adequada a seu comportamento (ENGU1TA 1989)

E com esse mesmo objetivo no que se refere ao projeto de

formaccedilatildeo humana que a ginaacutestica por meio dos meacutetodos ginaacutesshy

ticos foi incorporada pelas concepccedilotildees educacionais do final do

seacuteculo XV III e iniacutecio do seacuteculo X IX (SOARES 2001a)

Regenerar a raccedila promover a sauacutede (sem alterar as condiccedilotildees

degradantes de vida) desenvolver a vontade a forccedila a ldquoenergiardquo (para

servir agrave paacutetria e agrave induacutestria) foram algumas das finalidades atribuiacutedas

agrave ginaacutestica no contexto de consolidaccedilatildeo do capitalismo na Europa A

ecircnfase na disciplinarizaccedilatildeo dos corpos acabou por delinear na educashy

ccedilatildeo escolar uma praacutetica pedagoacutegica na qual sessotildees de ginaacutestica tratashy

vam os alunos de forma homogecircnea com accedilotildees reduzidas agrave repeticcedilatildeo

de movimentos estereotipados tal como sugere Marinho (19--) ao

descrever uma liccedilatildeo de ginaacutestica orientada pelo Meacutetodo Francecircs

Para fazer executar um movimento o instrutor

comanda - ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo devendo este

comando ser substituiacutedo para as crianccedilas pela adshy

vertecircncia ldquoAtenccedilatildeordquo Se o movimento exige uma poshy

siccedilatildeo de partida o instrutor a indicaraacute lt rnminJraquo-

ldquoPosiccedilatildeordquo Enuncia o exerciacutecio e ao comando ldquoCoshy

meccedilarrdquo Todos executam o movimento prescrito As

posiccedilotildees de partida dos ldquoassouplissementsrdquo assimeacuteshy

tricos satildeo a princiacutepio tomadas agrave esquerda Termishy

nado o exerciacutecio nesta posiccedilatildeo o instrutor comanda

ldquoMudarrdquo Os alunos retornam agrave posiccedilatildeo de partida agrave

direita e executam novamente o exerciacutecio prescrito

Ao comando de ldquoCessarrdquo todo o movimento cessa

sem precipitaccedilatildeo e a posiccedilatildeo de partida eacute retomada

A posiccedilatildeo de partida soacute eacute deixada ao comando de

ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo No comando de ldquoDescanshy

ccedilarrdquo os alunos permanecem no lugar sem serem

obrigados a conservar a posiccedilatildeo primitiva e a imobishy

lidade (M A R IN H O 19- p 110-111)

Conforme explica Soares (2001a) todo o ideaacuterio colocado em

praacutetica pelo pensamento higienista do qual resulta o modelo de aula

descrito acima impocircs uma disciplina que pretendia adequar o corpo ao

trabalho fabril tornando-o mais doacutecil e submisso sob a oacutetica poliacutetica

e ao mesmo tempo mais aacutegil forte e robusto sob a oacutetica da produccedilatildeo

E importante considerar a possibilidade de o processo de dis-

ciplinarizaccedilatildeo mdash descrito por Foucault e incorporado de forma sushy

bordinada por Soares (2001a) - natildeo ter sido totalmente superado

ou seja esse fenocircmeno pode estar se apresentando ainda nos dias

de hoje de uma nova forma atualizada

Na concepccedilatildeo gramsciana todo esse processo de ldquodisciplinariza-

ccedilatildeordquo pode ser compreendido como uma tentativa - da classe domishy

nante mdash de formaccedilatildeo teacutecnica e de conformaccedilatildeo eacutetico-poliacutetica das masshy

sas com o intuito de reconfigurar o modo de vida em conformidade

com as demandas colocadas pelo modo de produccedilatildeo da existecircncia

humana em expansatildeo naquele contexto histoacuterico

Em Americanismo e Fordismo Gramsci (2001 p 251) explica

que ldquoa vida na induacutestria exige um aprendizado geralrdquo um processhy

so de adaptaccedilatildeo psicofiacutesica a determinadas condiccedilotildees de trabalho

de nutriccedilatildeo de habitaccedilatildeo de costumes de valores algo que natildeo

eacute inato natural mas exige ser adquirido Portanto a partir dessa

reflexatildeo torna-se possiacutevel compreender que no modo de produccedilatildeo

da vida em formaccedilatildeo no contexto histoacuterico de incorporaccedilatildeo dos meacuteshy

todos ginaacutesticos na escola os exerciacutecios fiacutesicos desempenhavam um

papel importante uma vez que o novo tipo de homem demandado

pelo bloco no poder deveria possuir um corpo saudaacutevel forte aacutegil

e disciplinado construiacutedo a partir da adoccedilatildeo de um novo modo de

vida E exatamente para contribuir com a formaccedilatildeo desse novo tipo

de homem que a ginaacutestica estruturada dentro ou fora da instituishy

ccedilatildeo escolar passou a constituir um dos mecanismos utilizados para

instrumentalizar a vontade adequar e reorganizar gestos e atitudes

necessaacuterios agrave reproduccedilatildeo da sociedade4

A questatildeo que necessitamos discutir refere-se agrave possibilidade

de existecircncia de um processo contemporacircneo de mesmo tipo mas

atualizado voltado agrave formaccedilatildeo de um novo modo de vida necessaacuteshy

rio agrave reproduccedilatildeo do capitalismo contemporacircneo Portanto quesshy

tionamos seraacute que a ginaacutestica contemporacircnea se relaciona com a

formaccedilatildeo de novos corpos doacuteceis A ginaacutestica hoje atende de alguma

forma aos interesses de reproduccedilatildeo da sociedade Existem elementos

contraditoacuterios que permitem uma apropriaccedilatildeo criacutetica da ginaacutestica

Longe de assumir a tarefa de esgotar as reflexotildees sobre o tema

entendemos ser necessaacuterio destacar inicialmente que as modifishy

caccedilotildees ocorridas no capitalismo a partir da deacutecada de 1970 em

resposta agrave chamada crise do keynesianismo-fordismo represenshy

taram uma mudanccedila no regime de acumulaccedilatildeo - do fordismo agrave

ldquoacumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo (HARVEY 2007) Ao modelo fordista seshy

gundo Chauiacute (2001) o bloco no poder respondeu com a terceirishy

zaccedilatildeo a desregulamentaccedilatildeo o predomiacutenio do capital financeiro

a dispersatildeo e fragmentaccedilatildeo da produccedilatildeo aleacutem da centralizaccedilatildeo

velocidade da informaccedilatildeo e da velocidade das mudanccedilas tecnoloacuteshy

gicas ao modelo keynesiano do Estado de Bem-Estar o bloco no

poder respondeu com a ideia do ldquoEstado m iacutenimordquo a desregulaccedilatildeo

do mercado a competitividade e a privatizaccedilatildeo da esfera puacuteblica

As modificaccedilotildees provenientes desse processo de reproduccedilatildeo

do capitalismo natildeo atingiram apenas a organizaccedilatildeo de grandes

______________ 4 Natildeo eacute objetivo deste texto discutir as distinccedilotildees entre Foucault e Gramsci no que diz respeito

ao conceito de disciplina Optamos por trabalhar com a vertente marxista incorporando de

lorma subordinada ao nosso referencial as contribuiccedilotildees que Foucault daacute ao tema

empresas jaacute consolidadas no mercado mas tambeacutem novos emshy

preendimentos como as academias de ginaacutestica por exemplo5

Conforme evidencia Furtado (2007) as academias vecircm acomshy

panhando a tendecircncia de implementaccedilatildeo dos elementos centrais

da acumulaccedilatildeo flexiacutevel passando a funcionar em uma dinacircmica

caracterizada pela flexibilidade pela introduccedilatildeo de equipamentos

com tecnologia cada vez mais avanccedilada pela diversificaccedilatildeo das

mercadorias oferecidas e tambeacutem pelo ldquofoco no clienterdquo que

pode ser evidenciado pela constante busca de ldquonovasrdquo ofertas e

novidades capazes de atrair e reter consumidores

As aulas de ginaacutestica saacuteo por exemplo ldquoaulas-showrdquo

com equipamentos iluminaccedilatildeo decoraccedilatildeo e sonorishy

zaccedilatildeo que favorecem ao ldquoespetaacuteculordquo e desempenham

um papel importante na seduccedilatildeo do cliente Assim

tambeacutem eacute toda a complexa estrutura que possui a acashy

demia ou seja natildeo eacute soacute a aula que deve ser um ldquoshowrdquo

e sim tambeacutem toda a academia com decoraccedilatildeo sonorishy

zaccedilatildeo iluminaccedilatildeo e equipamentos que desempenhem

funccedilotildees de encantar e atender aos desejos dos clientes

de experimentar sensaccedilotildees diversas dentre elas a sensashy

ccedilatildeo de ldquostatusrdquo (FURTADO 2007 p 311)

E interessante destacar que o formato atrativo das aulas tende a

captar de forma mais eficiente os consumidores visto que eles acabam

desconsiderando os incipientes resultados reais obtidos pela realizaccedilatildeo

das aulas de determinados programas que na verdade se sustentam

mais pelos fatores de cunho emocional do que pelos ganhos obtidos

com sua praacutetica Ao analisar as teacutecnicas de inovaccedilatildeo do empresariado

do Fitness mais especificamente um determinado programa da franshy

quia Curves Mascarenhas et al (2007) constatam que a pseudossensa-

ccedilatildeo de bem-estar sauacutede e beleza produzida pelas aulas eacute acompanhada

por um amplo e intenso processo de persuasatildeo comum agraves cartilhas

de marketing para academias Segundo os autores a base de legitima-

5 A acumulaccedilatildeo flexiacutevel eacute marcada dentre outros aspectos pela superaccedilatildeo da

rigidez caracteriacutestica do fordismo se apoiando na flexibilidade dos processos

e mercados de trabalho aleacutem dos produtos e padrotildees de consumo Para

compreender melhor como as modificaccedilotildees no regime de acumulaccedilatildeo

afetaram a aacuterea Fitness recorrer agrave Quelhas (2012)

ccedilatildeo racional tecno-cientiacutefica eacute secundarizada frente ao acreacutescimo de

inovaccedilotildees criativas de base emocional Talvez isso explique ao menos

em parte por que ainda hoje sejam consideradas bastante atrativas

algumas aulas de ginaacutestica de academia que em muito se assemelham

agraves sessotildees de ginaacutestica do seacuteculo passado Estamos nos referindo aos

atuais formatos padronizados de sessotildees de ginaacutestica que se orientam

na repeticcedilatildeo de movimentos estereotipados geralmente com mesma

intensidade a serem realizados pelos alunos em conformidade com

comandos do professor - ou de uma voz jaacute gravada a ser reproduzida

em aparelhos eletroeletrocircnicos Conforme evidenciam Toledo e Pires

(2008) alguns programas tendem a desconsiderar na aula dificuldashy

des ou niacutevel de condicionamento fiacutesico dos alunos uma vez que os

professores muitas vezes tecircm que seguir com exatidatildeo a aula desshy

crita na apostila e ensinada nos cursos assim como natildeo podem sair

da posiccedilatildeo de ldquoatores eperformersrdquo para corrigir eou dar uma atenccedilatildeo

especial ao aluno com dificuldades durante a aula As autoras mencioshy

nam por sua vez que esses elementos ao serem considerados pelos

alunos como determinantes de insatisfaccedilatildeo estatildeo sendo revistos pershy

mitindo aos professores sua modificaccedilatildeo

O incentivo ao consumo das ldquonovasrdquo modalidades de ginaacutestica

de academia ainda eacute acompanhado pela forte influecircncia da miacutedia na

organizaccedilatildeo dos valores dominantes Natildeo soacute o medo de engordar mas

uma gama de valores e comportamentos atrelados ao culto ao corpo

tem contribuiacutedo significativamente para a difusatildeo de um padratildeo a ser

almejado e - em alguns casos - para o desenvolvimento dos chamados

transtornos alimentares como a anorexia por exemplo6

Em virtude da discussatildeo realizada torna-se importante quesshy

tionar se a difusatildeo de valores responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de novos

desejos relacionados ao consumo das mercadorias a serem vendishy

das nas academias de ginaacutestica hoje se constitui como uma forma

atual de disciplinarizaccedilatildeo subordinando os indiviacuteduos aos interesshy

ses dominantes Da mesma forma a difusatildeo de receitas exerciacutecios

------------ 6 A influecircncia da miacutedia no culto ao corpo foi trabalhada por Berger (2007 2010) Sobre

anorexia destacam-se os textos de Cordas (2004) Giordani (2006) e ainda o de Niemeyer e

Kruse (2008)

ou programas de ginastica milagrosos pode estar desempenhanshy

do importante funccedilatildeo educativa sobretudo no caso das pessoas

que natildeo dominam o conhecimento necessaacuterio para criticaacute-los e

por isso acabam por aderir ao consumo de mercadorias que nem

sempre produzem o resultado desejado

Consideramos que a transmissatildeo do conhecimento historicamente

sistematizado pela humanidade sobre o tema se constitui como um passo

importante para superar esse possiacutevel processo atual de ldquoadestramentordquo

A praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a ginaacutestica

Na perspectiva que orienta este trabalho o trato pedagoacutegico com a

ginaacutestica na escola deve se articular agrave tarefa de socializaccedilatildeo das formas mais

desenvolvidas do conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico produzido

pela humanidade ao longo do tempo uma vez que possibilita aos alunos asshy

sumir uma nova postura na praacutetica social qual seja a de sujeito histoacuterico7

No caso do tema abordado neste artigo isso significa transmitir um conheshy

cimento que permita aos alunos assumir uma nova relaccedilatildeo com a ginaacutestica

Compreendendo que o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos

corpos se constitui como um possiacutevel tema a ser trabalhado na

escola desenvolvemos um trabalho pedagoacutegico orientado pela

Pedagogia histoacuterico-criacutetica com uma turma (composta por 30

alunos de ambos os sexos) do segundo ano do Ensino Meacutedio no

Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste

de Minas Gerais (IF Sudeste M G ) Campus Juiz de Fora8 A seshy

7 A respeito disso ver Coletivo de Autores (1992)

8 Essa experiecircncia foi resultado de um Estaacutegio Curricular Obrigatoacuterio desenvolvido em

2011 quando Nathaacutelia Sixel Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees cursavam

a Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacutesica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Tal experiecircncia deu origem a um Trabalho de Conclusatildeo de Curso (MAGALHAtildeES

RODRIG UES 2011) orientado por Leonardo Docena Pina na eacutepoca professor substituto

da FACED-UFJF As discussotildees realizadas entre os acadecircmicos o orientador e Miguel Fabiano

de Faria professor da turma do IF Sudeste M G que recebeu os estagiaacuterios demandaram a

continuidade do estudo abordando novas reflexotildees que naquela ocasiatildeo natildeo puderam ser

feitas O presente texto portanto parte da experiecircncia de estaacutegio mas natildeo se limita a este uma

vez que elaboramos outro plano de trabalho para englobar novas dimensotildees do conteuacutedo natildeo

abordadas naquela ocasiatildeo Para facilitar a compreensatildeo dos aspectos didaacuteticos expostos neste

texto apresentaremos o planejamento mais elaborado como experiecircncia jaacute desenvolvida

guir apresentamos a experiecircncia desenvolvida a partir dos passos

metodoloacutegicos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica

Na identificaccedilatildeo da praacutetica social buscamos debater as seguintes

questotildees a ginaacutestica de hoje eacute igual agrave de antigamente Ela sofre influecircnshy

cia da miacutedia Existem diferenccedilas entre as praacuteticas de ginaacutestica voltadas

para a esteacutetica ou para a sauacutede Ginaacutestica promove sauacutede Qualquer

exerciacutecio que praticamos faz nosso corpo ldquoqueimarrdquo gordura Em seshy

guida os alunos foram informados de que estudariacuteamos algumas reshy

laccedilotildees entre ginaacutestica e sociedade ao longo da histoacuteria a partir de um

meacutetodo de apreensatildeo da realidade que tem o objetivo de transformar a

sociedade em que vivemos Os seguintes toacutepicos foram apresentados a

importacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise dos discurshy

sos da sauacutede e da esteacutetica a ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do

seacuteculo XIX aos dias de hoje a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos

desejos e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave

ginaacutestica introduccedilatildeo aos fundamentos cientiacuteficos do treinamento car-

diorrespiratoacuterio Cada um desses toacutepicos foi apresentado em conjunto

com os objetivos formulados sistematizados no plano de unidade

Ainda neste momento buscou-se identificar o que os alunos jaacute

sabiam sobre o tema Eles identificaram a praacutetica da ginaacutestica como

importante para a sauacutede e apontaram os ldquoobjetivos esteacuteticosrdquo como

influecircncia para aderir agrave praacutetica de ginaacutestica poreacutem natildeo demonstrashy

ram compreender o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

O processo de aprimoramento da compreensatildeo dos alunos

sobre o tema foi direcionado por questionamentos referentes agraves

suas respectivas dimensotildees conforme apresentado na problema-

tizaccedilatildeo disposta no plano de unidade

Para transmitir os conhecimentos necessaacuterios agrave compreenshy

satildeo das questotildees levantadas na problematizaccedilatildeo optou-se por

trabalhar na instrumentalizaccedilatildeo com atividades embasadas prinshy

cipalmente nas discussotildees apresentadas em Soares (1998) Soshy

ares (2001a) Angulski et al (2006) e Mcardle Katch e Katch

(2003) Aleacutem de aulas expositivas trabalhamos o conteuacutedo por

meio de vivecircncia praacutetica da ginaacutestica

Iniciamos esra fase com uma exposiccedilatildeo que abordou a evoluccedilatildeo

da Ginaacutestica ao longo da Histoacuteria enfatizando as formas originais de

disciplinarizaccedilatildeo Ou seja nos concentramos nos Meacutetodos Ginaacutesticos

e discutimos sua influecircncia na configuraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica em

meados do seacuteculo XIX Logo apoacutes a exposiccedilatildeo uma vivecircncia praacutetica

foi realizada (nos moldes do Meacutetodo Francecircs) de modo a ampliar

a compreensatildeo da forma como era trabalhado esse conteuacutedo antishy

gamente aleacutem de buscar novos elementos para enriquecimento da

discussatildeo sobre a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Para discutir a expressatildeo contemporacircnea dessa produccedilatildeo cultural

apresentamos diferentes tipos de praacuteticas de ginaacutestica para vivecircncia e

posterior discussatildeo dos objetivos que levam as pessoas a praticaacute-las

esteacutetica ou sauacutede Salientamos neste momento alguns benefiacutecios da

ginaacutestica para a qualidade de vida e se esses estatildeo tambeacutem ligados agrave

esteacutetica O aprimoramento da compreensatildeo dos alunos sobre os beshy

nefiacutecios da ginaacutestica tambeacutem foi acompanhado por uma exposiccedilatildeo

dos modos de afericcedilatildeo da frequecircncia cardiacuteaca e das diferentes zonas

de treinamento e consumo de substratos energeacuteticos Assim pudemos

vivenciar algumas praacuteticas de ginaacutestica controlando a intensidade do

exerciacutecio de acordo com diferentes zonas alvo estipuladas Por fim

ainda na discussatildeo sobre esse tema buscamos situar a sauacutede e a qualishy

dade de vida como questotildees sociais a partir de uma exposiccedilatildeo seguida

da discussatildeo de reportagens previamente selecionadas

Ainda na instrumentalizaccedilatildeo apoacutes leituras indicadas para os alushy

nos realizarem em casa discutimos a influecircncia da miacutedia na praacutetica

de ginaacutestica nos modelos de corpo e nas accedilotildees para obtecirc-los Em

seguida elaboramos paineacuteis com recortes e reportagens de revistas

problematizando o tema Cada grupo apresentou seu painel ao final

Para explicitar a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy

naacutestica em sua expressatildeo contemporacircnea acreditamos que eacute posshy

siacutevel discutir a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos

e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave

ginaacutestica Aleacutem do mais a vivecircncia (seguida da problematizaccedilatildeo)

de alguns programas de ginaacutestica vendidos nas academias hoje

0

permite ao aluno compreender possiacuteveis traccedilos de disciplinariza-

ccedilaacuteo que se mantecircm ainda que de forma renovada

Ao final das atividades na catarse foi possiacutevel identificar que granshy

de parte dos alunos manifestou uma nova compreensatildeo da relaccedilatildeo exisshy

tente entre a ginaacutestica e a Educaccedilatildeo Fiacutesica nos diferentes momentos

da histoacuteria A nova maneira de entender o conteuacutedo mostrou-se mais

elaborada com domiacutenio de conceitos e entendimento de implicaccedilotildees

da sociedade na ginaacutestica e da ginaacutestica na sociedade Desafiados a sinshy

tetizar o que aprenderam os alunos se aproximaram do entendimenshy

to de que a ginaacutestica eacute uma atividade corporal que no seacuteculo XJX

atraveacutes dos meacutetodos ginaacutesticos atrelou-se agrave eugenia higiene assentada

no discurso da melhoria da sauacutede dos trabalhadores e da elevaccedilatildeo da

eficiecircncia no processo de produccedilatildeo No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre

ginaacutestica e qualidade de vida expressaram que a ginaacutestica isoladamente

natildeo garante melhora da sauacutedequalidade de vida pois estas estatildeo aliashy

das ao acesso agrave habitaccedilatildeo atendimento meacutedico transporte garantia

de emprego condiccedilotildees de trabalho seguras saneamento baacutesico e alishy

mentaccedilatildeo de qualidade dentre outros Enfatizaram o entendimento de

que a ginaacutestica tem desempenhado um papel secundaacuterio nas praacuteticas

de Educaccedilatildeo Fiacutesica no entanto tem sido objeto de ldquomercado rizaccedilatildeordquo

no cotidiano dos indiviacuteduos influenciados pela miacutedia A ginaacutestica soshy

bretudo sua praacutetica na busca de um padratildeo de corpo ideal tambeacutem

foi discutida sendo os meios iliacutecitos e exagerados como anabolizan-

tes esteroides dietas excessivas apontados como agentes nocivos que

poderiam levar a doenccedilas como a vigorexia anorexia e bulimia Neste

momento tambeacutem puderam se aproximar do entendimento de que dishy

ferentes intensidades nos exerciacutecios produzem efeitos distintos no nosso

corpo E ainda que a intensidade do exerciacutecio pode ser mensurada

atraveacutes da frequecircncia cardiacuteaca de maneira faacutecil e funcional9

Para os alunos expressarem a siacutentese a que ascenderam utilizamos

um trabalho final no qual foi proposto um ldquoquizrdquo educativo seguido

de uma discussatildeo o que permitiu abordar todo conteuacutedo trabalhado4

9 Naquela ocasiatildeo natildeo foi possiacutevel aprofundar o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

em suas formas contemporacircneas razatildeo que nos limitou a trabalhar apenas com as formas

originais desse processo conforme mencionado anirrinrmfnrraquo

A finalizaccedilatildeo das atividades na praacutetica social final envolveu a deshy

finiccedilatildeo de intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo no sentido de explicitar que a

apropriaccedilatildeo do conhecimento historicamente elaborado sobre a ginaacutesshy

tica possibilita aprimorar a atuaccedilatildeo na praacutetica social contribuindo para

uma postura criacutetica frente o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos10

Plano de unidade

A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Instiuiccedilatildeo Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia

Juiz de Fora

Disciplina Educaccedilatildeo Fiacutesica

Ano de escolaridade turma 2o ano do ensino meacutedio

Conteuacutedo Ginaacutestica

Unidade A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Nuacutemeros de aulas 8-10

OBJETIVOS GERAIS

bull Identificar a sauacutede e a esteacutetica como elementos centrais nos

discursos dominantes atualmente sobre a importacircncia da

praacutetica de ginaacutestica de modo a reconhecer suas implicaccedilotildees

sociais

bull Compreender o papel desempenhado pelos Meacutetodos

Ginaacutesticos na educaccedilatildeo dos corpos no seacuteculo XIX a fim

de enumerar possiacuteveis elementos de continuidaderuptura

em relaccedilatildeo agrave praacutetica de ginaacutestica em academias atualmente

bull Refletir sobre a influecircncia da miacutedia no incentivo ao

consumo de mercadorias relacionadas agrave ginaacutestica de

modo a posicionar-se criticamente diante das formulaccedilotildees

predominantes

10 Quadro detalhado sobre as intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo encontra-se no planejamento

apresentado a seguir

bull Conhecer alguns princiacutepios baacutesicos do treinamento

cardiorrespiratoacuterio para aplicaacute-los em suas praacuteticas corporais

e utilizaacute-los na anaacutelise das receitas milagrosas difundidas

atualmente

1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL

11 Anuacutencio dos conteuacutedos

Conteuacutedo ginaacutestica

Tema A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Toacutepicos

bull A im portacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise

dos discursos da sauacutede e da esteacutetica

bull A ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do seacuteculo X I X aos

dias de hoje

bull A influecircncia da m iacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos e

necessidades para o consum o de mercadorias relacionadas agrave

ginaacutestica

bull Introduccedilatildeo aos fundam entos cientiacuteficos do treinam ento

cardiorrespiratoacuterio

12 Vivecircncia do conteuacutedo

bull O que os alunos sabem ginaacutestica emagrece faz bem agrave sauacutede

haacute diferentes formas praticada em diferentes lugares

bull O que os alunos gostariam de saber todo exerciacutecio fiacutesico

eacute ginaacutestica Por quanto tempo preciso praticar ginaacutestica

para emagrecer Musculaccedilatildeo eacute ginaacutestica Como ficar com o

corpo igual aos praticantes de ginaacutestica competitiva Todas

as pessoas podem praticar todos os tipos de ginaacutestica Como

a ginaacutestica pode favorecer a prevenccedilatildeo de doenccedilas

2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO

21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo

A ginaacutestica de hoje eacute igual a de antigamente Ela sofre influecircncia da

miacutedia Existem diferenccedilas entre a praacutetica voltada agrave esteacutetica ou agrave sanrW

22 Dimensotildees do conteuacutedo

Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

D IM E N S Otilde E S Q U E ST Otilde E S P R O B L E M A T IZ A D O R A S

Conceituai

O que eacute ginaacutestica A ginaacutestica voltada para a sauacutede ou para a esteacutetica

se configura da mesma forma Toda ginaacutestica tem as mesmas caracteshy

riacutesticas O que eacute frequecircncia cardiacuteaca e qual sua relaccedilatildeo com as diferenshy

tes imensidades do exerciacutecio fiacutesico Quais sinais emitidos pelo nosso

corpo nos permitem estimar a queima ou natildeo de gordura O que eacute

disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Econocircmica

0 padratildeo de corpo perfeito tem alguma utilidade econocircmica Todos

tecircm condiccedilotildees de usufruir das possibilidades que o mercado oferece para

a melhora da qualidade de vida da populaccedilatildeo O desejo crescente pela

busca de novas modalidades de ginaacutestica de academia tem funccedilatildeo ecoshy

nocircmica importante nos dias de hoje

Histoacuterica

A ginaacutestica sempre se apresentou da mesma forma ao longo da hisshy

toacuteria H aacute diferenccedilas e semelhanccedilas entre a praacutetica de antigamente

e a atual Qual a funccedilatildeo atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto de sua

inserccedilatildeo na escola

CulturalCom o a miacutedia influencia nossos haacutebitos A miacutedia influenciava as

praacuteticas de ginaacutestica antigamente tambeacutem

Esteacutetica

Sempre existiu padratildeo de corpo A m iacutedia difundia algum padratildeo

de corpo antigamente A praacutetica de ginaacutestica tem sido realizada

somente para a obtenccedilatildeo de um corpo belo Essa difusatildeo de um

padratildeo de corpo ideal cria na populaccedilatildeo desejos e imagens sobre

seus proacuteprios corpos

Poliacutetica

A praacutetica de ginaacutestica por si soacute favorece a melhoria da sauacutede da

populaccedilatildeo de forma isolada ou outros fatores como renda morashy

dia emprego transporte atendimento meacutedico e alimentaccedilatildeo satildeo

importantes

Teacutecnica

Com o aferir a frequecircncia cardiacuteaca Com o identificar a intensidade dos

exerciacutecios Com o definir as zonas de treinamento a partir da afericcedilatildeo

da frequecircncia cardiacuteaca Quais satildeo os gestos que definem os movimenshy

tos da ginaacutestica

7onte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

31 Accediloacutees docentes e discentes

bull Exposiccedilatildeo do professor

bull Vivecircncia de diferentes formas de ginaacutestica passando dos

Meacutetodos Ginaacutesticos agraves modalidades contemporacircneas de

ginaacutestica de academia

bull Discussatildeo de textos com os alunos

bull Visualizaccedilatildeo anaacutelise e debate de documentaacuterioreportagem

em viacutedeo

bull Vivecircncia praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos mdash aferindo a frequecircncia

cardiacuteaca de si mesmo e do companheiro aleacutem de controlar

a zona alvo em diferentes intensidades

bull Elaboraccedilatildeo de painel com recortes e reportagens de jornais

eou revistas

32 Recursos materiais

Jornais revistas internet slides e materiais para praacutetica de gishy

naacutestica

4) CATARSE

41 Siacutentese teoacuterica do aluno

Com o desenvolvimento da sociedade capitalista na Europa

do seacuteculo XIX a Ginaacutestica Cientiacutefica ou Meacutetodos Ginaacutesticos acashy

baram por assumir a funccedilatildeo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos Para

subordinar poliacutetica e economicamente os indiviacuteduos agraves exigecircncias

das relaccedilotildees sociais dominantes naquele contexto a ginaacutestica foi

inclusive inserida nas escolas onde era praticada atraveacutes de exershy

ciacutecios padronizados com pouco ou nenhum espaccedilo para reflexotildees

dos alunos que deveriam executar os movimentos conforme os

comandos do professor (instrutor) Assim buscava-se contribuir

para formar sujeitos produtivos economicamente e ao mesmo

empo submissos politicamente capazes de contribuir para o de-

envolvimento das relaccedilotildees sociais que se aprofundavam na eacutepoca

Ao longo da histoacuteria a ginaacutestica passou por inuacutemeras trans-

ormaccedilotildees e atualmente seu viacutenculo com o discurso da promoshy

ccedilatildeo da sauacutede e da esteacutetica tem lhe garantido a manutenccedilatildeo de

am status privilegiado dentre as manifestaccedilotildees da cultura corposhy

ral Poreacutem se antigamente a educaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy

naacutestica visava formar um homem forte e apto ao trabalho fabril

atualmente a ginaacutestica parece atrelada a um processo educativo

voltado ao consumo desenfreado de mercadorias sejam as ldquonovasrdquo

modalidades oferecidas nas academias ou os diversos produtos que

visam agrave obtenccedilatildeo de um padratildeo de corpo ideal

Enquanto a busca desenfreada pelo padratildeo de corpo perfeito

acaba por influenciar transtornos como anorexia vigorexia e buli-

mia o discurso orientado na relaccedilatildeo (direta) entre praacutetica de ginaacutestishy

ca e obtenccedilatildeo da sauacutede acaba por mascarar o fato de que a qualidade

de vida e a sauacutede satildeo conceitos que envolvem condiccedilotildees de vida

como habitaccedilatildeo emprego condiccedilotildees de trabalho atendimento meacuteshy

dico de qualidade alimentaccedilatildeo dentre outros

A anaacutelise do processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes

da ginaacutestica e a apropriaccedilatildeo dos fundamentos baacutesicos do treinashy

mento cardiorrespiratoacuterio nos auxiliam no desenvolvimento de

uma postura criacutetica com a ginaacutestica a sociedade contemporacircnea e

seus discursos predominantes sobre o tema

42 Expressatildeo da siacutentese

Realizaccedilatildeo de prova e participaccedilatildeo em um quiz educativo ambos

abordando todo conteuacutedo estudado

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO

Quadro 2 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

1 Conhecer mais sobre a ginaacutestica1 Leitura de revistas e artigos soshy

bre ginaacutesticas

2 Discutir o comportamento dos inshy

diviacuteduos e suas praacuteticas de ginaacutestica

de acordo com seus objetivos sauacutede

eou esteacutetica

2 Observar e perguntar aos memshy

bros da sua comunidade se pratishy

cam e por que praticam ginaacutestica

e informaacute-los de seus limites e beshy

nefiacutecios

3 Posicionar-se criticamente sobre a

influecircncia da miacutedia nas praacuteticas de gishy

naacutesticas atuais

3 Numa discussatildeo sobre a gishy

naacutestica manifestar sua opiniatildeo

argumentando a favor ou contra

de acordo com o conhecimento

adquirido criticar a difusatildeo do

padratildeo de corpo ideal

4 Difundir o entendimento de que

outros fatores interferem na qualishy

dade de vida dos indiviacuteduos aleacutem da

ginaacutestica

4 Explicar a outras pessoas que

fatores como acesso agrave habitaccedilatildeo

atendimento meacutedico transporte

garantia de emprego condiccedilotildees

de trabalho seguras saneamento

baacutesico e alimentaccedilatildeo de qualidashy

de tambeacutem interferem na qualishy

dade de vida da populaccedilatildeo aleacutem

da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos

5 Realizar exerciacutecios na intensidade

de acordo com seus objetivos

5 Controlar sua frequecircncia cardiacute

aca durante a praacutetica de ginaacutestica e

demais exerciacutecios fiacutesicos

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees Finais

Este texto buscou apresentar uma experiecircncia pedagoacutegica na qual

a ginaacutestica foi trabalhada na escola sob orientaccedilatildeo da Pedagogia his-

toacuterico-criacutetica Destacamos que essa experiecircncia deve ser vista com um

olhar mais profundo pois cada escola tem caracteriacutesticas especiacuteficas e

singularidades que podem facilitar ou dificultar o processo pedagoacutegico

Vale ressaltar que a experiecircncia descrita natildeo esgota as inuacutemeras

possibilidades de trabalho a serem desenvolvidas com o tema ou com

a ginaacutestica Da mesma forma o conhecimento transmitido se constishy

tui apenas como parte do amplo leque de conhecimentos necessaacuterios

para o desenvolvimento de uma leitura criacutetica da realidade

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CAPIacuteTULO VIII

0 LUGAR E HORA DO CIRCO NA ESCOLA REFLEXOtildeES SOBRE A REINVENCcedilAtildeO DA CULTURA CIRCENSE NA SOCIEDADE CONTEMPORAcircNEA

Adriano de Paiva Reis

Carla Cristina Carvalho Pereira

Frederico Duarte Gomes Tostes

Haacute sempre um pouco de circo no corashy

ccedilatildeo de toda crianccedila Haacute sempre um pouco de

crianccedila no coraccedilatildeo de todo adulto Dentro de

noacutes despertam ecos as faceacutecias do palhaccedilo o

encanto da bailarina a cavalo as proezas do

trapeacutezio o destemor do homem que enfrenta

leotildees e tigres O fasciacutenio que aureola nossas

recordaccedilotildees vem do resto de infacircncia que -

felizmente - ainda ficou em noacutes E enquanto

houver ressoando alegre e contagiante um

riso de crianccedila haveraacute sempre um grito enshy

tusiaacutestico pronto a explodir - Viva o circo

(RUIZ 1987)

A arte circense eacute para muitos estudiosos

considerada uma das manifestaccedilotildees culturais

mais tradicionais do mundo Sobrevivendo de

geraccedilatildeo a geraccedilatildeo o circo vem perdurando no

tempo Maacutegicos trapezistas malabaristas pashy

lhaccedilos domadores e encantadores de animais

selvagens o fasciacutenio despertado pelo circo traz

encantamento e mexe com o imaginaacuterio do

homem haacute anos independente da idade

Marginalizada durante muito tempo as atividades circenses

hoje viraram nicho de mercado O circo vem ocupando cada vez

mais espaccedilo e ganhando maior visibilidade nos dias atuais seja

em academias de ginaacutesticas clubes escolas para formaccedilatildeo de cirshy

censes semaacuteforos dentre outros

Embora a produccedilatildeo teoacuterica a respeito do tema tenha crescido a

partir do iniacutecio dos anos 2000 e um nuacutemero significativo de artigos

sobre esse conteuacutedo esteja sendo publicado nos principais perioacutedishy

cos de Educaccedilatildeo Fiacutesica do paiacutes a maior parte dos trabalhos limita-se

ao resgate histoacuterico tendo em vista a preservaccedilatildeo do circo enquanto

patrimocircnio cultural ou a relatos de experiecircncias desenvolvidas

A inclusatildeo do circo nos curriacuteculos escolares eacute justificada

2 m muitos casos a partir do provaacutevel desenvolvimento das cashy

pacidades fiacutesicas agilidade resistecircncia cardiovascular equiliacutebrio

ldquohabilidades motorasrdquo em geral Ainda satildeo destacados aspectos

omo autoconhecimento automotivaccedilatildeo e superaccedilatildeo dos medos

ileacutem de cooperaccedilatildeo socializaccedilatildeo interaccedilatildeo ajuda muacutetua criashy

ratildeo de viacutenculo afetivo alegria espontacircnea e consciecircncia corpo-

al1 Embora possam ser considerados importantes entendemos

jue tais elementos por si soacute natildeo justificam a presenccedila desse

onteuacutedo na educaccedilatildeo escolar

A nosso ver a inclusatildeo das atividades circenses nos curriacuteculos

scolares articula-se ao que consideramos ser o papel da escola

[uai seja o ldquode socializaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico filosoacutefi-

o e artiacutestico produzido pela humanidade atraveacutes dos tempos em nas formas mais elevadasrdquo (EIDT DUARTE 2007 p 54 grifo

to autor) E imprescindiacutevel compreender as atividades circenses

nquanto produto da atividade humana um resultado do desen-

olvimento histoacuterico que precisa ser apropriado Cada um dos

lementos que constituem o circo (malabarismo equilibrismo

laacutegica etc) eacute carregado de sentidos e significados construiacutedos

istoricamente e modificados socialmente identificando assim o

Costa Tiaen e Sambugari (2007) Bortoleto (2003) Silva (1996) Silva e

Cacircmara (2009) Duprat e Bortoleto (2007)

homem como produtor e transformador da cultura Cabe agrave escoshy

la trabalhar com esse conteuacutedo contextualizando-o problemati-

zando-o estabelecendo correlaccedilotildees pertinentes entre as atividades

circenses e o processo histoacuterico em que se desenvolveram desmis-

tificando algumas modificaccedilotildees pelas quais passou ao longo dos

tempos Assim torna-se possiacutevel articular o ensino das atividades

circenses com a formaccedilatildeo do sujeito histoacuterico consciente da neshy

cessidade de superaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo

O desafio a ser superado eacute a construccedilatildeo de propostas pedagoacutegishy

cas viaacuteveis consistentes e coesas que contribuam para uma anaacutelise

criacutetica e uma compreensatildeo abrangente do universo circense visando

[] desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre o

acervo de formas de representaccedilatildeo do mundo que o

homem tem produzido no decorrer da histoacuteria exshy

teriorizadas pela expressatildeo corporal jogos danccedilas

lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte malabarismo

contorcionismo miacutemica e outros que podem ser

identificados como formas de representaccedilatildeo simshy

boacutelica de realidades vividas pelo homem historicashy

mente criadas e culturalmente desenvolvidas (C O shy

LETIVO DE AUTORES 1992 p 38)

Nesta perspectiva defendemos que as atividades circenses poshy

dem ser encaradas como um conteuacutedo especiacutefico extrapolando

algumas anaacutelises que a entendem enquanto parte constituinte da

ginaacutestica Apesar de determinados elementos como as acrobacias

apresentarem similaridades com o conteuacutedo da ginaacutestica fica evishy

dente que o processo com que esses elementos se apresentam denshy

tro do universo do circo eacute bem diferente daquele onde surgiu e

se desenvolveu a ginaacutestica2 Aleacutem disso outros elementos como

o palhaccedilo e as maacutegicas natildeo podem ser compreendidos enquanto

movimentos giacutemnicos e no nosso entendimento omiti-los seria

uma forma de fragmentar o conhecimento a respeito do circo

2 De acordo com Soares (2005) as acrobacias circenses influenciaram a

Ginaacutestica Francesa meacutetodo desenvolvido a partir da ordenaccedilatildeo e organizaccedilatildeo

de movimentos de acrobatas funacircmbulos e saltimbancos de maneira a

produzir maior eficiecircncia e economizar eneraia

A produccedilatildeo da arte circense como modo de vida

A arte circense eacute considerada uma das manifestaccedilotildees culturais mais

antigas do mundo sendo impossiacutevel precisar sua origem Sabe-se que

as modalidades circenses que hoje conhecemos decorrem de praacuteticas

que foram surgindo em momentos contextos e lugares diferentes a

partir dos costumes de uma regiatildeo ou paiacutes com o objetivo de entreter

louvar ou homenagear a deuses valorizar conquistas de guerras ou satildeo

corporificadas a partir da necessidade do homem de adestrar animais

para auxiacutelio no transporte ou em atividades de trabalho

O circo ldquomodernordquo como espetaacuteculo pago uma lona cobrindo um

picadeiro onde se apresentam trapezistas malabaristas equilibristas eacute

muito recente e seria por assim dizer a forma moderna de um antiquiacutesshy

simo entretenimento de diversos povos e culturas (TORRES 1998) A

estrutura do circo moderno remonta ao seacuteculo XVIII quando o inglecircs

Philip Astley ex-oficial da Cavalaria Britacircnica criou um espetaacuteculo de

equilibrismo equestre apresentado numa pista circular O espetaacuteculo criashy

do por Astley apresentava uma estrutura que atendia a um puacuteblico espeshy

ciacutefico da sociedade o rigor a postura e a elegacircncia da arte equestre consshy

tituiacuteam um siacutembolo de status social e muito agradavam a aristocracia

Entretanto os grupos circenses da eacutepoca comeccedilaram a notar que

as apresentaccedilotildees ganhariam muito mais espectadores se conseguissem

atingir uma classe social emergente naquela eacutepoca a burguesia Foshy

ram entatildeo incorporados outros artistas mdash funambulescos malabarisshy

tas acrobatas saltadores e adestradores de animais3 - que desafiavam

os limites corporais e morais e o espetaacuteculo foi reorganizado de forma

que pudesse ser mais atrativo (DUPRAT 2007)

3 Apesar dos animais historicamente participarem do espetaacuteculo circense a legislaccedilatildeo atual

vem restringindo sua utilizaccedilatildeo Aleacutem do Decreto ndeg 2464534 referente a maus tratos e

crueldade aos animais a Lei de Proteccedilatildeo agrave Fauna (Lei 519767) prevecirc pena de reclusatildeo para

casos de animais silvestres mantidos em locais sem higiene sujeitados a trabalhos insalubres

alimentaccedilatildeo inadequada ou insuficiente dentre outros A Portaria 10894 regulamenta as

condiccedilotildees para a estadia dos animais em zooloacutegicos e circos cabendo agraves prefeituras autorizarem

ou natildeo a fixaccedilatildeo de circos que utilizem animais em seus nuacutemeros Este eacute um ponto bastante

polecircmico pois apesar dos ambientalistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos

alegando maus tratos mdash seja nos meacutetodos de adestramento ou pelo fato de retiraacute-los de seu

habitat natural mdash haacute quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute crueldade e

tampouco insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais

Contraditoriamente na Europa receacutem-industrializada do

seacutec XIX o universo gestual caracteriacutestico do circo apresentava

liberdade e descompromisso contrariando o pensamento burguecircs

da eacutepoca que defendia a utilidade de qualquer atividade fora do

mundo do trabalho Contrapondo-se agrave liberdade e ao luacutedico das

atividades circenses primava-se pelos exerciacutecios fiacutesicos cuidadoshy

samente pensados para finalidades especiacuteficas a partir dos grupos

musculares e de funccedilotildees orgacircnicas (SOARES 2005)

O circo permitia agrave plateia transitar do maacutegico e fascinante agrave

aberraccedilatildeo despertando os mais ambiacuteguos sentimentos Acrobatas

trapezistas e funacircmbulos desafiavam as leis da fiacutesica desprezando o

peso de seus corpos enquanto homens domavam animais selvagens

engoliam fogo faziam reviver animais mortos aleacutem de exibirem deshy

formaccedilotildees fiacutesicas Esses estrangeiros nocircmades fascinantes artistas cirshy

censes eram cada vez mais temidos pela elite dirigente pois

traziam o corpo como espetaacuteculo Invertiam a ordem

das coisas Andavam com as matildeos lanccedilavam-se ao

espaccedilo contorciam-se e encaixavam-se em potes cm

cestos imitavam bichos vozes produziam sons com

as mais diferentes partes do corpo cuspiam fogo

vertiam liacutequidos inesperados gargalhavam viviam

em grupos Opunham-se assim aos novos cacircnones

do corpo acabado perfeito fechado limpo e isolado

que a ciecircncia construiacutera da vida fixa e disciplinada

que a nova ordem exigia (SOARES 2005 p 25)

Como eram rentaacuteveis os espetaacuteculos circenses proliferaram-se

por toda a Europa com um crescente nuacutemero de grupos de artistas

apresentando-se na sua maioria em instalaccedilotildees fixas ao ar livre ou

em anfiteatros adaptados o que demonstra grande influecircncia do

circo nas formas de divertimento e entretenimento da populaccedilatildeo e

da burguesia crescente Satildeo estas companhias que emigraram mais

tarde para outros continentes (SILVA 2003 DUPRAT 2007)

E nos Estados Unidos que a arena do circo ganha um mastro

central e uma tenda surgindo os moldes do ldquocirco americanordquo ou

circo de lona Nas matildeos de PhineasTaylor Barnum mdash homem de neshy

goacutecios e eficiente publicitaacuterio a enorme tenda colorida aleacutem de

proporcionar maior conforto aos espectadores tornou-se uma exceshy

lente forma de divulgar e vender o espetaacuteculo Ao mudar de cidade

toda a estrutura era desmontada e levada pelo grupo

Com a possibilidade de adquirirem maior mobilidashy

de aliada agrave incorporaccedilatildeo de artistas dos vaacuterios paiacuteses

por onde passava o circo consolidava-se como um

espaccedilo de muacuteltiplas linguagens artiacutesticas que pressushy

punha todo um conjunto de saberes definidores de

novas formas de produccedilatildeo e organizaccedilatildeo de espetaacuteshy

culo animais mistura de nacionalidades acrobacias

nuacutemeros aeacutereos magia shows de variedades represhy

sentaccedilotildees teatrais com pantomimas e entradas de

palhaccedilos com ou sem diaacutelogo Para os defensores do

ldquocirco purordquo era um espetaacuteculo ecleacutetico demais que

mais parecia music hall um teatro de variedades do

que circo Apesar das criacuteticas e debates em torno dos

espetaacuteculos circenses a montagem e produccedilatildeo dos

mesmos continham as principais formas de expresshy

sotildees artiacutesticas contemporacircneas apresentando um reshy

sultado que misturava music hall variedades teatro

(cenas cocircmicas pantomimas operetas) ginaacutestica

acrobacia e animais (SILVA 2007 p 51)

Este modo de organizaccedilatildeo pressupunha certas caracteriacutesticas

definidoras e distintivas do grupo circense como o nomadismo e

uma forma coletiva de constituiccedilatildeo do profissional artista baseada

na transmissatildeo oral do conjunto de saberes e praacuteticas acumuladas a

partir da vivecircncia na lona A organizaccedilatildeo familiar era a base de susshy

tentaccedilatildeo do circo inclusive no que se refere agraves relaccedilotildees de trabalho

Era comum que todos soubessem um pouco de todos os aspectos

que envolviam aquela produccedilatildeo desde a rotina diaacuteria do circo - como

armar e desarmar a tenda preparar os nuacutemeros e peccedilas de teatro

cuidar dos animais limpeza do ambiente dentre outros mdash ateacute as teacutecshy

nicas ou habilidades especiacuteficas da apresentaccedilatildeo As crianccedilas cabia a

responsabilidade de preservar a tradiccedilatildeo Por causa da vida nocircmade

eram alfabetizadas nas escolas das cidades por onde o circo passava ou

por uma pessoa do proacuteprio circo Aqueles que natildeo nasciam no circo

mas que a ele se incorporavam passavam pelo mesmo ritual de aprenshy

dizagem ao qual passavam os menores

O circo no tempo da induacutestria do entretenimento

Essa estrutura do circo tradicional comeccedilou a sofrer alguma alteshy

raccedilatildeo jaacute na deacutecada de 1920 na entatildeo Uniatildeo Sovieacutetica4 mas eacute a partir

dos anos de 1970 entretanto que consolidou-se um movimento de

reestruturaccedilatildeo do circo - fruto do envolvimento de artistas de diversas

origens em paiacuteses da Europa Ocidental Austraacutelia Canadaacute e Brasil

fazendo com que o ensino das artes circenses extrapolasse o reduto da

lona e quebrasse assim uma de suas grandes tradiccedilotildees a transmissatildeo

de conhecimento de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SILVA ABREU 2009)

O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy

ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX aleacutem da facilishy

dade de acesso agrave informaccedilatildeo e da fluidez da cultura no entanto

ocasionaram uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves

apresentaccedilotildees circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios

e dos terrenos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidashy

des mdash a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de

uma poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que

inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais O

fato eacute que nos anos de 1970 havia mais de 2000 companhias cirshy

censes espalhadas pelo Paiacutes e em 2009 esse nuacutemero era estimado

em 500 circos de pequeno meacutedio e grande porte5

Circenses tradicionais preocupados com o futuro encaminham

seus filhos para a vida urbana fora das lonas Escolas de circo passaram

a formar novos artistas rompendo-se a relaccedilatildeo de ldquopertencimentordquo agrave trashy

diccedilatildeo circense O modelo familiar de circo sofreu uma ruptura abrindo

espaccedilo para o que se conhece atualmente como Circo Novo

4 Na deacutecada de 1920 logo apoacutes a Revoluccedilatildeo Russa iniciou-se na antiga Uniatildeo Sovieacutetica

um movimento de construccedilatildeo de escolas de circo para fora da lona ou para fora do

grupo familiar circense a partir da nacionalizaccedilatildeo do circo e dos teatros pelo governo

sovieacutetico (DUPRAT 2007) Apesar de natildeo ser objetivo deste artigo discutir o contexto

histoacuterico e poliacutetico desse fato natildeo podemos deixar de mencionaacute-lo por constituir a

primeira experiecircncia de uma escola de circo fora do processo de formaccedilatildeosocializaccedilatildeo

aprendizagem que sempre foi dado sob a lona

f5 Dados obtidos no site do Ministeacuterio da Cultura Disponiacutevel em lthttpwww

culturagovbrsite20090327funarte-estima-que-brasil-tenha-500-grupos-

circensesgt Acesso em 14 jul 2012

Neste sentido

o circo como um todo natildeo mais se responsabiliza pela

continuaccedilatildeo do ensino artiacutestico da geraccedilatildeo seguinte

este passou a ser responsabilidade de cada famiacutelia que

escolhe onde seus filhos vatildeo estudar na escola formal

ou no circo A partir da deacutecada de 1970 no Brasil

algumas escolas de circo foram fundadas por artistas

preocupados em transmitir a teacutecnica circense em fazer

a profissatildeo renascer todavia natildeo mais necessariamente

com os filhos de gente de circo (SILVA 1996 p 9)

O circo teve que se reinventar para sobreviver Considerado

como o ldquoCirco do Homemrdquo por valorizar somente o ser humano

em suas performances o Circo Novo busca adequar-se ao mercashy

do artiacutestico dos novos tempos

A tecnologia assume um papel fundamental nesse processo pois

permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalanche tecshy

noloacutegica os grandes circos se apropriam das produccedilotildees e se renovam

constantemente enquanto muitos circos pequenos sucumbem agrave conshy

correcircncia por natildeo coseguirem acompanhar esse movimento

A mercantilizaccedilatildeo que domina a quase totalidade das relaccedilotildees soshy

ciais e a submissatildeo da cultura da sauacutede e da educaccedilatildeo - e tambeacutem das

praacuteticas corporais mdash aos interesses do capital trazem uma consequente

descaracterizaccedilatildeo do universo do circo Como empresa o ldquocirco novordquo

adota uma forte divisatildeo do trabalho contando com profissionais resshy

ponsaacuteveis para as mais diversas tarefas e funccedilotildees

A principal mudanccedila que caracteriza o chamado ldquocirco novordquo

refere-se agrave relaccedilatildeo familiar o circo torna-se uma grande empresa

Os artistas natildeo mais pertencem agraves famiacutelias circenses satildeo ex-atleshy

tas ou profissionais formados em escolas de circo e contratados

pelas grandes companhias De acordo com Silva (1996) natildeo eacute

mais a famiacutelia que eacute contratada mas o artista um nuacutemero um

especialista que tem um determinado conhecimento especiacutefico

da tarefa e natildeo mais do funcionamento do circo como um todo

tornando o conjunto do conhecimento sobre o circo fragmentashy

do e hierarquizado Nesse sentido

O modo de transmissatildeo oral do circo-lamilu Im m i

sido quebrado A ideacuteia de que o artista tiniu qm lt i

completo - no sentido de que cada indiviacuteduo liu

parte de uma comunidade e a sobrevivecircncia do gi upo

dependia do seu trabalho como um todo - natildeo niiis

fundamenta o aprendizado Daacute-se origem a uma novi

maneira de se ser artista de circo e a novas formas draquo

organizaccedilatildeo do trabalho (SILVA 1996 p 153)

O exemplo mais representativo do circo-empresa - e o de

maior impacto midiaacutetico - eacute a Companhia de Entretenimento

Circo de Soleil considerado o maior impeacuterio circense do mundo

Utilizando o que haacute de mais contemporacircneo para o entretenimenshy

to do puacuteblico conta com 21 espetaacuteculos sendo 12 em turnecirc em 5

continentes aleacutem de 9 espetaacuteculos residentes (exclusivamente nos

Estados Unidos) O Circo de Soleil emprega mais de 5000 funcioshy

naacuterios em todo o mundo sendo mais de 1300 artistas contratados

A maioria desses artistas eacute composta por ex-atletas danccedilarinos

profissionais personagens de sucesso nos meios de comunicaccedilatildeo

que representam cerca de 50 nacionalidades e falam 25 idiomas

diferentes Mais de 100 milhotildees de pessoas jaacute assistiram aos espeshy

taacuteculos do circo desde sua fundaccedilatildeo em 19846

Unindo danccedila teatro e circo a elementos da tecnologia como efeishy

tos de luz e som computaccedilatildeo graacutefica conhecimentos de diversas aacutereas

para a performance de um artistaatleta este novo modelo requer artistas

polivalentes como por exemplo malabaristas-acrobatas acrobatas-clo-

wn clown-muacutesico etc No circo novo o mais importante natildeo eacute o mais

complicado arriscado ou sobre-humano mas o mais belo plaacutestico vishy

sual esteacutetico etc(BORTOLETO MACHADO 2003)

Aleacutem disso as atividades circenses viraram nicho cle mercado

e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de circo a

academias de ginaacutestica A arte circense tambeacutem eacute utilizada como

praacutetica assistencialista por ON Gs e outras entidades filantroacutepicas

como ldquoinstrumento pedagoacutegicordquo na busca da ldquomelhoria de vidardquo

dos envolvidos nos projetos (F IG U E IREDO 2007)

6 Dados obtidos no site do Circo de Soleil Disponiacutevel em lthttpwwwcirquedusoleil

comenwelcomeaspxgt Acesso em- n

Eacute esse universo do circo que propomos trazer para a escola de forshy

ma a possibilitar ao aluno a apropriaccedilatildeo do conhecimento e a adoccedilatildeo de

uma postura criacutetica frente agrave atual configuraccedilatildeo do espetaacuteculo circense

Apresentamos a seguir o relato de uma experiecircncia pedagoacutegica realishy

zada com alunos do 6o ano de uma escola municipal de Juiz de Fora

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o circo

Ao iniciarmos a unidade buscamos identificar o niacutevel de consshy

ciecircncia dos alunos acerca do circo e os possiacuteveis interesses sobre a teshy

maacutetica Foram exibidos alguns viacutedeos de apresentaccedilotildees diversas (circo

tradicional C irque de Soleil apresentaccedilotildees de rua apresentaccedilotildees em

festas infantis na televisatildeo etc) Apoacutes a exibiccedilatildeo os alunos respondeshy

ram a duas questotildees O que eacute o circo Onde encontramos o circo atushy

almente As respostas foram registradas pelo professor A seguir foshy

ram explicitados os pontos que seriam abordados dentro do conteuacutedo

(histoacuteria e evoluccedilatildeo do circo as modalidades relaccedilotildees de trabalho e a

questatildeo ambiental) objetivos e atividades que seriam desenvolvidas

O segundo momento dentro da unidade didaacutetica foi a seleccedilatildeo de

questotildees relevantes para a discussatildeo e reflexatildeo dos alunos ou seja a problc-

matizaccedilatildeo Neste ponto foram delimitadas ainda as dimensotildees do conheshy

cimento a serem abordadas conforme apontamos no plano de unidade

No momento da instrumentalizaccedilatildeo foram desenvolvidas atividades

i accedilotildees tais como exibiccedilatildeo de viacutedeos leitura de textos vivecircncia das mais

iiversas modalidades circenses construccedilatildeo de materiais entre outras

Como forma de analisarmos o quanto o aluno apreendeu so-

gtre o conteuacutedo trabalhado propomos a criaccedilatildeo de uma apostila

obre o circo com a divisatildeo em grupos para a elaboraccedilatildeo de tex-

os sobre os toacutepicos de conteuacutedo trabalhados O objetivo desta

itividade consistiu em verificar o niacutevel de evoluccedilatildeo dos alunos

m relaccedilatildeo ao conhecimento sobre o circo (sua histoacuteria as moda-

idades teacutecnicas baacutesicas construccedilatildeo de materiais para a praacutetica

is novas configuraccedilotildees do circo atual os motivos pelos quais

iacuteoje existem poucos circos tradicionais as relaccedilotildees de trabalho

lentro do picadeiro dentre outros pontos) Outra atividade foi

a criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre 1 un

lizaccedilatildeo de animais nos espetaacuteculos circenses

No retorno agrave praacutetica social os alunos aprofundaram seus conltc

cimentos sobre o circo atraveacutes da pesquisa de textos e viacutedeos sobiv ltraquo

aspectos discutidos nas aulas e socializaram os conhecimentos com ou

tros alunos da escola atraveacutes da montagem de um espetaacuteculo circense

Plano de Unidade O lugar e hora do circo na escola

OBJETIVO GERAL

Compreender o circo enquanto manifestaccedilatildeo cultural a fim

de assumir postura criacutetica frente agraves novas configuraccedilotildees do espeshy

taacuteculo circense atual

Quadro 1 - Anuacutencio do conteuacutedo

M iacuteK IacuteS S amp K bull C i Jrsquo irfiiacuteV-rsquo P f

A histoacuteria do circo

Conhecer a histoacuteria do circo e suas transforshy

maccedilotildees

Identificar as diversas formas de apresentaccedilatildeo das

atividades circenses na atualidade (circo tradicional

circo novo atividades de rua festas infantis circo

social etc)

As modalidades circenses

Identificar as modalidades existentes no circo

malabarismo equilibrismo acrobacia maacutegica e

palhaccedilo

Vivenciar as principais modalidades que constituem

o circo

Construir materiais que possibilitem a experiecircncia

das modalidades circenses

O circo nos tempos atuais

Compreender as novas configuraccedilotildees do circo na atushy

alidade relacionando-as agraves exigecircncias da atual fase do

modo de produccedilatildeo capitalista (relaccedilotildees comerciais leis

trabalhistas trabalho infantil informalidade legislaccedilatildeo

de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos etc)

Circo legal tem animal

Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave utilizaccedilatildeo de anishy

mais no circo

Posicionar-se criticamente frente agrave utilizaccedilatildeo de

animais no circo

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

1) PRAacuteTICA SOCIAL IN IC IAL D O CONTEUacuteDO

11 Vivecircncia do Conteuacutedo

bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo O circo eacute um

espetaacuteculo com vaacuterios artistas eacute divertido tem maacutegica

palhaccedilo acrobatas ldquoanimais ferozesrdquo tem gente que faz

circo na rua etc

bull O que eles gostariam de saber a mais Como surgiu o circo

Como fazer maacutegica malabarismo equilibrismo etc Como

sobrevive um artista de circo Como satildeo tratados os animais

que vivem no circo

2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO

Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees

problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas

Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

TOacutePICO DE

CONTEUacuteDO DIMENSOtildeES

bulltgt t bull

QUESTAtildeO PROBLEMA

Respeitaacutevel puacuteblishy

co o circo chegouConceituai

O que eacute o circo

O que eacute circo tradicional

O que eacute circo novo

A histoacuteria do circo Histoacuterica

Quem inventou o circo

Onde ele surgiu

O circo de hoje eacute igual ao de antigashy

mente

Quais satildeo as modificaccedilotildees pelas quais

o circo passou ateacute hoje

As modalidades cirshy

censes

Conceituai

Teacutecnica

Quais satildeo as modalidades que constishy

tuem o circo

Quais satildeo as teacutecnicas baacutesicas das moshy

dalidades circenses

O circo nos tempos

atuais

Econocircmica

Poliacutetica

Social

Legal

Onde vemos artistas de circo

Por que natildeo temos tantos circos se

apresentando hoje em dia

Os artistas de circo recebem salaacuterio

Quais as condiccedilotildees sociais e de trabashy

lho de um artista de circo ldquofamosordquo e

de um circo ldquosimplesrdquo

Quanto custa um ingresso de um cirshy

co famoso

Como eacute a relaccedilatildeo da crianccedila com o

trabalho no circo

O que precisa para um circo se estabeleshy

cer em uma cidade

Por que o circo vai embora

Circo legal tem anishy

mal V

Poliacutetica

Legal

Histoacuterica

gt

Como os animais foram incorporashy

dos ao circo

Como o circo conseguia os animais

para suas apresentaccedilotildees

E permitido ter animais selvagens no

circo atualmente

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo

x lsquo bull --ir Ywl-ft bull V Avbdquo iacutei - - iacute

- Conteuacutedo Dimensotildees v l p sect p |

Respeitaacutevel puacuteblico

o circo chegou

Conceituar circo

Compreender o circo enquanto

produccedilatildeo histoacuterica do homem

ConceituaiExposiccedilatildeo teoacuterica e exibiccedilatildeo de viacutedeos

sobre o circo

Viacutedeo produzido pelos autores disshy

poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy

do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo86

A histoacuteria do circo

Conhecer a histoacuteria do circo e suas

transformaccedilotildees

Identificar as diversas formas de

apresentaccedilatildeo das atividades circenshy

ses na atualidade (circo tradicional

circo novo atividades de rua festas

infantis circo social etc)

Relacionar a expansatildeo das atividashy

des circenses com a configuraccedilatildeo

da sociedade atual

Histoacuterica

Econocircmica

Poliacutetica

Exibiccedilatildeo de viacutedeos e fotos sobre a histoacuteria

do circo e as mais diversas formas de apreshy

sentaccedilatildeo das atividades circenses atuais

Leituras de textos sobre a histoacuteria do circo

Textos sobre a histoacuteria do circo

Viacutedeo produzido pelos autores disshy

poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy

do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

7 Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012

8 Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03Ieis18069htmgt Acesso em 09042013

laquo M M

As modalidades cirshy

censes

Identificar as modalidades exisshy

tentes no circo malabarismo

equilibrismo acrobacia maacutegica e

palhaccedilo

Vivenciar as principais modalidashy

des que constituem o circo

Construir materiais que possibilishy

tem a experiecircncia das modalidades

circenses

Conceituai

Teacutecnica

Exibiccedilatildeo de viacutedeos editados das modalishy

dades do circo Acrobacias (individuais

coletivas de solo e aeacutereas) Malabarismo

(dc contato equiliacutebrio dinacircmico giros-

coacutepico e de lanccedilamento) Equilibrismo

Maacutegica Palhaccedilo (Cara Branca Miacutemico

Augusto Vagabundo Augusto Europeu)

Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das princishy

pais modalidades circenses

Construccedilatildeo de materiais para a vivecircncia

dessas modalidades

Viacutedeos disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo

e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Bolas de soprar garrafas pet jornal

fita adesiva barbante cabos de vassoushy

ra cilindros de papelatildeo ou canos de

ferro para construccedilatildeo dos materiais

Materiais para a vivecircncia bolinhas

de borracha claves swings rola-rola

diabolocircs devilstick etc

O circo nos tempos

atuais

Compreender as novas configurashy

ccedilotildees do circo na atualidade relacio-

nando-as agraves exigecircncias da atual fase

do modo de produccedilatildeo capitalista

(relaccedilotildees comerciais leis trabalhisshy

tas trabalho infantil informalidade

legislaccedilatildeo de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteshy

blicos etc)

Econocircmica

Poliacutetica

Social

Legal

Exibiccedilatildeo e discussatildeo do programa ldquoProshy

fissatildeo Repoacuterterrdquo sobre o circo

Anaacutelise da legislaccedilatildeo (ECA87 lei ambienshy

tal e leis de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos)

Viacutedeo disponiacutevel em no blog ldquoConshy

teuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educashy

ccedilatildeo Fiacutesicardquo

ECA

Leis ambientais e de locaccedilatildeo de espashy

ccedilos puacuteblicos

Circo legal tem anishy

mal

Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave

utilizaccedilatildeo de animais no circo

Posicionarmdashse criticamente frente agrave

utilizaccedilatildeo de animais no circo

Poliacutetica

Legal

Histoacuterica

Exibiccedilatildeo de viacutedeos e leitura de textos que

discutam a questatildeo dos animais do circo

Anaacutelise da legislaccedilatildeo ambiental

Organizaccedilatildeo de um juacuteri simulado

Viacutedeos e textos disponiacuteveis no blog

ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

4) CATARSE

41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno

O circo eacute uma das manifestaccedilotildees culturais mais tradicionais da

humanidade que encanta pela capacidade de transformar o banal em

inacreditaacutevel transformar o impossiacutevel em coisa simples Ao mesmo

tempo sua sobrevivecircncia oscila entre o popular e a falta de incentivo

entre a vontade de fazer parte e o alto custo dos espetaacuteculos

No decorrer dos anos o circo se modificou antes as famiacutelias

tradicionais faziam da vida embaixo da lona um lar vaacuterias viashy

gens e seu trabalho Entretanto agora artistas e admiradores se

apresentam nas ruas em grandes e pequenos circos em grandes

empresas de entretenimento nas escolas nas academias espaccedilos

puacuteblicos e privados

Fazem parte do espetaacuteculo circense apresentaccedilotildees de malashy

barismo equilibrismo maacutegica palhaccedilos e acrobacias cujo prinshy

cipal objetivo eacute a diversatildeo do puacuteblico o que requer o aprendizashy

do de teacutecnicas especiacuteficas e treinamento diaacuterio por muitos anos

O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy

ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX ocasionaram

uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves apresentaccedilotildees

circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios e dos tershy

renos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidades mdash

a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de uma

poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que

inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais

Em menos de 30 anos o nuacutemero de circos existentes no Brasil

reduziu-se significativamente abrindo espaccedilo para as grandes

companhias de circo onde os artistas natildeo mais pertencem agraves

famiacutelias circenses satildeo ex-atletas ou profissionais formados em

escolas de circo e contratados pelas grandes companhias que tem

um determinado conhecimento especiacutefico da tarefa e natildeo mais o

conhecimento do funcionamento do circo como um todo

Aleacutem disso a tecnologia assume um papel fundamental no espetaacuteshy

culo pois permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalan

che tecnoloacutegica os grandes circos se apropriam das prod i iccedilolaquo bull laquo

novam constantemente enquanto muitos circos pequenos mu uiuU

agrave concorrecircncia por natildeo conseguirem acompanhar esse movimento

Atualmente as atividades circenses viraram nicho de nu 1 laquo raquo

do e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de 1 1 1 1

a academias de ginaacutestica

Apesar dos animais historicamente participarem do espeta

culo circense a legislaccedilatildeo atual vem restringindo sua utilizaccedilatildeo

protegendo-os de maus tratos e condiccedilotildees insalubres de vida

Este eacute um ponto bastante polecircmico pois apesar dos ambienshy

talistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos haacute

quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute cruelshy

dade ou insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais

42 Expressatildeo da Siacutentese

bull Construccedilatildeo de uma apostila sobre o circo abordando os

temas trabalhados nas aulas

bull Criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a

utilizaccedilatildeo de animais no circo

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO

Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

A p ro fu n d a r os conhecim entos sobre

o circo

Pesquisar textos e viacutedeos sobre

os aspectos discutidos nas aulas

Socializar os conhecim entos apreenshy

didos durante as aulas

M ontagem de u m espetaacuteculo

circense

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees finais

Destacamos que o presente texto pretendeu apenas apresentar

uma dentre as inuacutemeras possibilidades pedagoacutegicas de trabalho com

esse universo tatildeo rico e tatildeo fascinante como o universo circense

Buscou-se conhecer a histoacuteria do circo analisando suas transformashy

ccedilotildees ao longo dos tempos identificar e vivenciar as diversas modalidashy

des de forma contextuaiizada e desmistificada Compreender as relaccedilotildees

de trabalho existentes no circo tradicional e nas manifestaccedilotildees circenses

atuais significa compreender o circo enquanto produto da atividade hushy

mana resultado do desenvolvimento histoacuterico parte importante do pashy

trimocircnio cultural humano que precisa ser transmitido pela escola

Referecircncias

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Fiacutesica Revista Corpoconsciecircncia Santo Andreacute v 2 n 12 p 39-69 jul

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DUPRAT R M Atividades circenses possibilidades e perspectivas para a Edushy

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Universidade Estadual de Campinas Campinas 2007

DUPRAT R M BORTOLETO Marco Antocircnio Coelho Educaccedilatildeo Fiacutesica Escoshy

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FIGUEIREDO C M S As vozes do circo social Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profisshy

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cumentaccedilatildeo de Histoacuteria Contemporacircnea do Brasil Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas

Rio de Janeiro 2007

GASPARIN J L Uma didaacutetica para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica 5 ed Camshy

pinas SP Autores Associados 2011

RUIZ R Hoje tem espetaacuteculo As Origens do Circo no Brasil Rio de Janeiro

INACECEN 1987

SILVA E As muacuteltiplas linguagens da teatralidade circense Benjamin de Oliveishy

ra e o Circo-Teatro no Brasil do final do seacuteculo XIX e inicio do seacuteculo XX

Tese (Doutorado em Histoacuteria)-Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas

Universidade Estadual de Campinas Campinas 2003

_________ Circo-teatro Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil

Satildeo Paulo Altana 2007

_________ O circo sua arte c seus saberes o circo no Brasil do final do seacuteculo XIX

a meados do XX Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria) - Instituto de Filosofia

e Ciecircncias Humanas Universidade Estadual de Campinas Campinas 1996

SILVA E CAcircMARA R S O ensino de arte circense no Brasil breve histoacuterico

e algumas reflexotildees 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwcirconteudocombr

index phpoption=com_contentampview=articleampid= 1134o-ensino-de-arte-

-circense-no-brasil-breve-historico-e-aIgumas-reflexoesampcatid= l47artigosamp

Itemid=505gtAcesso em 15 jul 2012

SILVA E ABREU L A de Respeitaacutevel puacuteblico o circo em cena Rio de Ja-

neiro Funarte 2009

SOARES C L Imagens da educaccedilatildeo no corpo estudo a partir da ginaacutestica franshy

cesa no seacuteculo XIX 3 ed Campinas Autores Associados 2005

T O R R E S A O circo no Brasil Rio de Janeiro F U N A R T E Ed Atraccedilotildees 1998

SOBRE OS AUTORES

Adriano de Paiva Reis eacute professor de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Prefeishy

tura Municipal de Juiz de Fora desde 2010 Graduado em Educaccedilatildeo

Fiacutesica pela UFJF desde 2008 foi Professor substituto do Coleacutegio de

Aplicaccedilatildeo Joatildeo XXIII Bolsista dos projetos ldquoPortal do Professor do

M ECrdquo e extensatildeo ldquoNovas Experiecircncias Pedagoacutegicas em Educaccedilatildeo

Fiacutesica Escolarrdquo E-mail adriano_reisrocketmailcom

Aacutelvaro de Azeredo Quelhas eacute Doutor em Ciecircncias Sociais pela Unishy

versidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo - Campus Mariacutelia

Mestrado em Educaccedilatildeo Fiacutesica na aacuterea de ldquoPedagogia da Educaccedilatildeo Fiacutesica

e do Esporterdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Especializaccedilatildeo

nas aacutereas de ldquoFutebolrdquo e ldquoEducaccedilatildeo Psicomotora na Educaccedilatildeo Fiacutesica do Io

graurdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Licenciado em Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica e Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Trabalhou na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (1985-1997) como

professor do ensino fundamental (disciplina - Educaccedilatildeo Fiacutesica) aleacutem de

possuir experiecircncia como professor em academias de ginaacutestica e treinador

esportivo em clubes e empresas E professor do Departamento de Educaccedilatildeo

da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz de Fora desde

abril de 1997 E membro do Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educashy

ccedilatildeo (NETEC) da FACEDUFJF Seus estudos e pesquisas estatildeo voltados

para as transformaccedilotildees no mundo do trabalho e as formas de reestruturaccedilatildeo

produtiva com foco na precarizaccedilatildeo do trabalho em interface com os proshy

cessos educativos E-mail alvaroquelhasuolcombr

Andreacute Silva Martins eacute professor da Faculdade de Educaccedilatildeo

da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) onde integra o

Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo E vinculado tamshy

beacutem ao Coletivo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJV

Fiocruz) Integra o quadro docente do Programa de Poacutes-Gradua-

ccedilatildeo da UFJF E Mestre e Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade

Federal Fluminense E-mail andresilvamartinsglobocom

Carla Cristina Carvalho Pereira eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

(1996) poacutes graduada em Ednrarotilder cmdash 1

sidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestra em Educaccedilatildeo (2003)

pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Atua como professora da

rede municipal de Juiz de Fora desde 1998 Estuda temas relacionados

agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar nas aacutereas de danccedila-educaccedilatildeo planejamento e

avaliaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica E-mail carlacccphotmailcom

Carlos Eduardo de Souza eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestre em

Educaccedilatildeo pela UFJF Atua como professor da rede municipal e

particular em Juiz de Fora E-mail kadusjnyahoocombr

Frederico Duarte Gomes Tostes possui Licenciatura e Bachashy

relado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela Universidade Federal de Juiz de Fora

(UFJF) Estagiou em escolas puacuteblicas de Juiz de Fora e foi bolsista no

Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo Joatildeo XX III da Universidade Federal de Juiz de

Fora onde atuou no projeto de extensatildeo de Atividades Circenses para

alunos do ensino fundamental Atualmente faz cursos na Escola de

Circo Carequinha em Juiz de Fora E-mail fred_hikohotmailcom

Giovana de Carvalho Castro eacute professora da rede municipal de Juiz

de Fora Possui graduaccedilatildeo em Histoacuteria (2001) e mestrado em Ciecircncia da

Religiatildeo (2005) pela Universidade Federal de Juiz de Fora Tem experishy

ecircncia na aacuterea de Histoacuteria e Ciecircncia da Religiatildeo com ecircnfase em Histoacuteria

do Brasil Metodologia do Ensino de Histoacuteria Patrimocircnio Cultural Hisshy

toacuteria da Aacutefrica e Cultura Religiosa E-mail giovanahistoriabolcombr

Graziany Penna Dias possui Licenciatura cm Educaccedilatildeo Fiacutesica pela

Universidade Federal de Juiz de Fora (2000) e Mestrado em Educaccedilatildeo

pela Universidade Federal Fluminense (2006) Eacute vinculado ao Coletishy

vo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJVFiocruz) Atualmente

eacute professor do Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do

Sudeste de Minas - IFSUDESTEMG - Campus Juiz de Fora Estuda

temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar lazer poliacutetica educacional

e a relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo E-mail grazianydiasifsudestemgedubr

Hajime Takeuchi Nozaki possui Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1993) mestrado

em Educaccedilatildeo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1997)

e doutorado em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense

(2004) no campo Trabalho e Educaccedilatildeo Atualmente eacute professor asshy

sociado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Leciona na

graduaccedilatildeo no campus de Trecircs Lagoas e na poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo

no campus de Corumbaacute Dedica-se aos estudos na aacuterea de Trabalho

e Educaccedilatildeo atuando principalmente nos seguintes temas mundo do

trabalho e Educaccedilatildeo Fiacutesica formaccedilatildeo humana qualificaccedilatildeo dos trabashy

lhadores da faacutebrica E-mail hajimenozakiuolcombr

Herbert Hischter Chaves de Paula eacute graduado em Educaccedilatildeo

Fiacutesica pela Universidade Salgado de Oliveira - Universo (Juiz de

Fora) e poacutes-graduado em Danccedila e Consciecircncia Corporal pela Unishy

versidade Gama Filho (Belo Horizonte) E ator bailarino produtor

diretor e coreoacutegrafo e atua como professor de Danccedila e Teatro na

rede municipal de Juiz de Fora E-mail hhcpl911hotmailcom

Leonardo Docena Pina eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica e Messhy

tre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Atualmente cursa o doutorado em Educaccedilatildeo nessa mesma instituiccedilatildeo

e atua como professor da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de

ForaMG Desde 2008 integra o Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e

Educaccedilatildeo da UFJF E-mail leodocenayahoocombr

Marcelo Silva dos Santos possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2001) mestrado em Edushy

caccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense (2005) e eacute doutorando

em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana na Universidade do Esshy

tado do Rio de Janeiro (UERJ) Estuda temas relacionados agrave aacuterea de

trabalho e educaccedilatildeo Atualmente eacute professor do IFET Sudeste e da

rede municipal de Juiz de Fora E-mail marceloss2003igcombr

Miguel Fabiano de Faria eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela

UFJF e Mestre em Educaccedilatildeo pela UFMG Atua como professor na

educaccedilatildeo baacutesica e superior no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia

e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais - Campus Juiz de Fora Esshy

tuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar Lazer e Histoacuteria da

Educaccedilatildeo E-mail miguelfariaifsudestemgedubr

Mocircnica Jardim Lopes eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica e mes-

tranda em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Atua como professora da rede puacuteblica de ensino dos municiacutepios de

Juiz de Fora (MG) e de Trecircs Rios (RJ) E militante do Movimento

Nacional Contra a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica

(MNCR) E-mail monicajlopesyahoocombr

Nathaacutelia Sixel Rodrigues eacute Licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora Estagiou em Escolas puacuteshy

blicas da cidade como IFET e Escola Municipal Professora Thereza

Falei onde buscou tematizar o conteuacutedo Ginaacutestica na Educaccedilatildeo

Fiacutesica Atualmente atua como professora de ginaacutestica em academias

de Juiz de Fora E-mail naty_sixelhotmailcom

Priscila Rocha Rodrigues eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Atua como

professora de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de

ensino em Juiz de ForaMG E-mail prixrochayahoocombr

Rafael Loures dos Reis Bellei atua como professor do ensino

fundamental nas redes municipais de Juiz de Fora-MG eTrecircs Rios-

-RJ e no ensino fundamental e meacutedio na rede particular de Juiz

de Fora-MG O autor eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela UFJF

Estuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar e a relaccedilatildeo

trabalho-Educaccedilatildeo Fiacutesica M ilita no Movimento Nacional Contra

a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica - M NCR

E-mail rafabelleiyahoocombr

Ramon Mendes da Costa Magalhatildees possui Licenciatura e

Bacharelado pela Faculdade de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desportos (FA-

EFID) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) no ano de

2011 atualmente residente de Educaccedilatildeo Fiacutesica do programa de Reshy

sidecircncia Multiprofissional em Sauacutede do Adulto com Foco em Doshy

enccedilas Crocircnico Degenerativas no Hospital Universitaacuterio da Univershy

sidade Federal de Juiz de Fora (HUUFJF) no periacuteodo 20122014

E-mail ramon_mc_magalhaeshotmailcom

Renata Aparecida Alves Landim eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) especialista

m Educaccedilaacuteo Fiacutesica escolar pela UFJF e mestre em educaccedilatildeo pela

Universidade Federal Fluminense (UFF) Atualmente eacute professora do

ensino fundamental na rede puacuteblica municipal de Juiz de l o i i jgti

fessora temporaacuteria da Faculdade de Educaccedilatildeo da UFJF E v i i u ulraquolaquoi raquo

ao nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo da UFJE I m u i raquo

temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar poliacutetica educaraquo i o n i l

trabalho-educaccedilatildeo E-mail renatalandimhotmailcom

Thiago Barreto Maciel possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesui

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2007) Especializaccedilatildeo em

aspectos metodoloacutegicos e conceituais da pesquisa Cientiacutefica pela Uni

versidade Federal de Juiz de Fora (2008) Atualmente eacute professor do

Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste de

Minas Gerais - Campus Barbacena Tem experiecircncia na aacuterea de Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica com ecircnfase em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana

E-mail tbarretomacielgmailcom

Victoacuteria de Faacutetima de Mello eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especialista em

Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar pela mesma instituiccedilatildeo Atua como professora

de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de ensino em Juiz

de Fora Atualmente dirige o Sind-Ute (Sindicato dos Trabalhadores

em educaccedilatildeo de Minas Gerais) E-mail vicmellloyahoocombr

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Page 3: Adriano de Paiva Reis · 2019. 8. 31. · Pedagogia histórico-crítica na construção da metodologia do ensino dos conteúdos específicos da cultura corporal na escola, destacando

Prefaacutecio

Celi Nelza Zulke Tajfarel

Introduccedilatildeo_________________________________________________ 15

Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira Hajime Takeuchi

Nozaki Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim

Capiacutetulo I

Sobre a funccedilatildeo e especificidade da educaccedilatildeo escolar

no mundo contemporacircneo ________________________________________________________ 23

Andreacute Silva Martins

Capiacutetulo II

() ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e a formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos

cm busca dos fundamentos teoacutericos e metodoloacutegicos ___________________________17

Adriano de Paiva Reis Aacutelvaro de Azeredo Quelhas Carla Cristina Carvaliw

Pereira Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim

Capiacutetulo III

produccedilatildeo da cultura luacutedica em jogos eletrocircnicos____________________________63

Priscila Rocha Rodrigues Renata Aparecida Alves Landim Ihiago

Barreto Maciel e Victoria de Faacutetima de Mello

lt upiacutemlo IV

V ilt liltc)es entre esporte e sauacutede no capitalismo temati-

uniu ion tradiccedilotildees na educaccedilatildeo escolar________________________________________ 21

Carlos Eduardo de Souza Leonardo Docena Pina e Mocircnica Jardim Lopes

v gt laquo ip i l U I O V

O M M A como ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo____________________________________ 109

Adriano de Paiva Reis Graziany Penna Dias Rafael Loures dos Reis

Bellei e Renata Aparecida Alves Landim

Capiacutetulo VI

A voz da periferia o H ip H o p enquanto possibilidade de

trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ________________________________________129

Adriano de Paiva Reis Carta Cristina Carvalho Pereira Giovana de

Carvaliyo Castro Herbert Hischter Chaves de Paula Marcelo Silva dos Santos

Capiacutetulo VII

A disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutestica_____________________________149

Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel

Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees

Capiacutetulo V III

O lugar e hora do circo na escola reflexotildees sobre a reinven-

ccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircnea----------------------1Z1

Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira

e Frederico Duarte Gomes Tostes

Sobre os autores 191

PREFACIO

No momento em que os estudos sobre a escola capitalista demonsshy

tram a sua degeneraccedilatildeo e decomposiccedilatildeo o seu esvaziamento proposishy

tal e seu rebaixamento teoacuterico para desqualificar a formaccedilatildeo da classe

trabalhadora na mais tenra idade surge contraditoriamente fruto de

experiecircncias concretas no chatildeo desta mesma escola a obra organizada

por Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira Leonardo

Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim intitulada Pedagogia histoacuterico-criacutetica e Educaccedilatildeo Fiacutesica

Do que trata este livro que lhe confere uma singularidade iacutempar

em meio a confrontos e conflitos de classe cada vez mais acirrados

Como uma das autoras do Livro Metodologia do Ensino da

Educaccedilatildeo Fiacutesica (COLETIVO DE AUTORES 1992) e portanto

testemunha histoacuterica de um esforccedilo nacional de mais de 20 anos enshy

frentando a criacutetica a didaacutetica e a organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico

na escola capitalista reconheccedilo que o propoacutesito dos autores do livro eacute

de vital importacircncia para a formaccedilatildeo escolarizada de crianccedilas e jovens

ms quais tecircm sido negados os conteuacutedos que permitem a humanizashy

ccedilatildeo como o satildeo os conteuacutedos da cultura corporal

Como demonstram os autores da obra - jovens intelectuais mili-

lanies culturais de formaccedilatildeo marxista - natildeo satildeo quaisquer conteuacutedos

I serem tratados na escola que garantiratildeo a humanizaccedilatildeo e natildeo eacute qual-

lt | i u t meacutetodo no trato com o conhecimento que asseguraraacute a formaccedilatildeo

lt miiK ipatoacuteria Satildeo conteuacutedos tratados com criteacuterios considerando a

iriicse o desenvolvimento a atribuiccedilatildeo de sentidos e significados agraves ati-

iilules corporais ao longo do percurso histoacuterico da humanidade Cri-

laquo nos que dizem respeito agraves capacidades cognoscentes e cognoscitivas

laquolltraquo estudantes compreendendo-as na totalidade do ser humano con-

lotmc e xplica a teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural a contemporanei-

raquobulllt laquolos conteuacutedos e seu conhecimento por sucessivas aproximaccedilotildees ao

iltlt n ui lura corporal que permitem os saltos qualitativos do

nm i iilo sincreacutetico e da mera sistematizaccedilatildeo de dados da realidade

i Ugtlt i u h t de novas siacutenteses qualitativamente superiores com autodeshy

terminaccedilatildeo e criatividade Aprimora-se assim pelas atividades corposhy

rais tratadas com o rigor do meacutetodo toda a capacidade do ser humano

Percurso este que deve ser recuperado por cada um de noacutes sem o qual

natildeo nos humanizamos E isto eacute possiacutevel pela educaccedilatildeo principalmente

escolarizada que forma seres humanos porque incide nas suas funccedilotildees

psicoloacutegicas superiores pelas atividades relacionais com os demais seres

humanos com a natureza com a cultura e consigo mesmo Por isto

esta obra eacute de fundamental importacircncia

Na introduccedilatildeo os autores Adriano de Paiva Reis Carla Cristina

Carvalho Pereira Hajime Takeuchi Nozaky Leonardo Docena Pina e

Renata Aparecida Alves Landim tratam de refletir sobre os limites e

possibilidades da discussatildeo sobre a didaacutetica da Educaccedilatildeo Fiacutesica Assushy

mem os autores a posiccedilatildeo teoacuterica e reconhecem que a ldquoperspectiva da

reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal presente no livro Metodologia

do Ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e denominada por noacutes de abordagem

Criacutetico-superadora foi eacute e seraacute um marco enquanto referecircncia mais

desenvolvida fundamentada em uma teoria marxista de educaccedilatildeo na

teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural na teoria do conhecimento mate-

rialista-histoacuterica-dialeacutetica e na Pedagogia histoacuterico-criacutetica

Justificam e assumem assim os autores que a Educaccedilatildeo Fiacutesica

ao transmitir os conhecimentos historicamente acumulados sobre a

cultura corporal se justifica na escola por socializar um conhecimento

essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade

A partir destas posiccedilotildees iniciais enfrentam o desafio e as difishy

culdades de organizarplanejarsistematizar o ensino da Educaccedilatildeo

Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corshy

poral Tensionam durante a obra o par dialeacutetico conteuacutedo-meacutetodo

modulador de alteraccedilotildees significativas na organizaccedilatildeo do trabalho

pedagoacutegico na salaquadra de aula e na escola

O trabalho com os professores da educaccedilatildeo baacutesica demonsshy

tra que aleacutem dos problemas na formaccedilatildeo faltam referecircncias conshy

cretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas com os diversos

conteuacutedos da cultura corporal E nesta busca lanccedilam-se os autoshy

res nos trazendo uma contribuiccedilatildeo de grande relevacircncia

O que eacute descrito no livro eacute fruto de um trabalho coletivo de mais de 20

professores e que ganha sistematizaccedilatildeo nos escritos destes jovens professores

que se dispuseram a ampliar os conhecimentos a respeito da metodologia

Criacutetico-superadora aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal

Tratam portanto da criacutetica agrave didaacutetica mas natildeo com a pretensatildeo

de resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

que estatildeo relacionados com as condiccedilotildees de vida e de trabalho dos

professores e estudantes Ou seja reconhecem as determinaccedilotildees da

economia poliacutetica que pesam sobre a escola e que natildeo seraacute somente

a iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores que resolveraacute a complexidade

que eacute o processo de destruiccedilatildeo das forccedilas produtivas a destruiccedilatildeo da

escola e a destruiccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico

Com muita honestidade cientiacutefica reconhecem os limites da

discussatildeo didaacutetica frente ao problema da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica

mas ressaltam a importacircncia da obra para ampliar as possibilidades

de transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar

O livro estaacute organizado em oito capiacutetulos que se articulam de forma

consistente e coerente Inicialmente os autores propotildeem uma discussatildeo

de caraacuteter mais geral abordando a funccedilatildeo e especificidade da escola e da

Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemporacircneo A partir da delimitaccedilatildeo clara

da concepccedilatildeo de educaccedilatildeo e de Educaccedilatildeo Fiacutesica que defendem passam

entatildeo a discutir a praacutetica pedagoacutegica atraveacutes de uma seacuterie de artigos sobre

possibilidades de temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos da cultura

inrporal - jogos esporte luta ginaacutestica danccedila e circo

() texto assinado por Andreacute Silva Martins trata de questionar a

Iunccedilatildeo social da escola e dentro dela o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica

lis natildeo o faz desprovido de dados que permitem constatar e explicar

ltmio a Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar foi uma ativida-

llt lt tijltgt objetivo central era promover o desenvolvimento da aptidatildeo

i ilt j ltgt lt|iklsquo foi alterado como foram alteradas as bases econocircmica

| x raquoI i i h i da sociedade brasileira que implicaram em alteraccedilotildees na

oli i i onsequentemente na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar

lt K iinores do texto sobre ldquoO ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e

(bulliniHio de sujeitos histoacutericos em busca dos fundamentos

teoacutericos e metodoloacutegicosrdquo tratam de demonstrar o surgimento

de propostas com outros princiacutepios definidores para a praacutetica

pedagoacutegica nos idos dos anos 1980 e 1990 Tratam das propostas

demonstrando nexos e relaccedilotildees entre a metodologia do ensino

as teorias educacionais pedagoacutegica a teoria do conhecimento e

o projeto histoacuterico Anunciam assim em um trabalho coletivo

novas bases da Educaccedilatildeo Fiacutesica na Rede de Ensino

Com base nos estudos de Saviani (1987) sobre Escola e Deshy

mocracia satildeo discutidas as tendecircncias da educaccedilatildeo e levanta-se de

iniacutecio a hipoacutetese de que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas

ainda possuem um papel a cumprir mdash contribuir na superaccedilatildeo do

capitalismo com o que temos pleno acordo

Ao tecer criacuteticas agraves concepccedilotildees sobre a educaccedilatildeo escolar o livro

traz uma contribuiccedilatildeo agrave educaccedilatildeo em geral e para todas as aacutereas de coshy

nhecimento que se organizam no interior da escola Defende-se por

fim a finalidade da educaccedilatildeo escolar para a emancipaccedilatildeo humana

Ao apresentar a perspectiva marxista de emancipaccedilatildeo humana

Aacutelvaro de Azeredo Quelhas Adriano de Paiva Reis Carla Cristina

Carvalho Pereira Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves

Landim recuperam os elementos histoacutericos apresentados por claacutessishy

cos como Marx e Engels que permitem afirmar a existecircncia sim de

uma teoria marxista da educaccedilatildeo Teoria esta que vem sendo sisteshy

maticamente negada na formaccedilatildeo dos professores A partir da base

teoacuterica mais geral adentram nas sistematizaccedilotildees sobre Educaccedilatildeo e

Trabalho para por fim reconhecer a importacircncia da mediaccedilatildeo da

Pedagogia histoacuterico-criacutetica na construccedilatildeo da metodologia do ensino

dos conteuacutedos especiacuteficos da cultura corporal na escola destacando

a obra Metodologia do Ensino de Educaccedilatildeo Fiacutesica do Coletivo de Aushy

tores (1992) obra onde eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal visando elevar a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enshy

quanto sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em

que vive Para tanto parte-se da praacutetica social que eacute problematizada

pela constataccedilatildeo sistematizaccedilatildeo compreensatildeo e explicaccedilatildeo cientiacutefishy

ca do real visando a praacutexis revolucionaacuteria criativa superadora o que

somente eacute possiacutevel com a ampliaccedilatildeo aprofundamento do conhecishy

mento historicamente acumulado e a autodeterminaccedilatildeo dos estushy

dantes Daiacute a relevacircncia social do trato com os conteuacutedos segundo

a teoria do conhecimento dialeacutetica-materialista-histoacuterica Portanto

natildeo seraacute qualquer conteuacutedo e muito menos qualquer meacutetodo para

tratar o conhecimento que permitiraacute a elevaccedilatildeo da capacidade teoacuterishy

ca dos estudantes E necessaacuterio o meacutetodo explicado e demonstrado

por Marx e Engels aplicado ao ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica na escola

- o meacutetodo materialista histoacuterico-dialeacutetico enquanto loacutegica e teoria

do conhecimento

Nos capiacutetulos seguintes a coerente e consistente abordagem

teoacuterica eacute demonstrada no trato com ldquoA produccedilatildeo da cultura luacutedica

em jogos eletrocircnicos rdquo texto de autoria de Renata Aparecida Alves

Landim Victoacuteria de Faacutetima de Mello Priscila Rocha Rodrigues e

Thiago Barreto Maciel Os autores partem da praacutetica social conshy

creta para chegar a uma nova siacutentese superior sobre este conteuacutedo

permitindo agraves crianccedilas e jovens se apropriarem de elementos da

cultura que por si soacute natildeo se datildeo a conhecer

No texto de autoria de Leonardo Docena Pina Carlos Edushy

ardo de Souza Mocircnica Jardim Lopes eacute demonstrado o meacutetodo de

elevaccedilatildeo da capacidade de reflexatildeo dos estudantes sobre a cultura

inrporal no trato com o conteuacutedo esporte e sauacutede O texto intitu-

lido ldquoAs relaccedilotildees entre esporte e sauacutede no capitalismo tematizando

i oiuradiccedilotildees na educaccedilatildeo escolarrdquo demonstra todo o processo que

v ulmina na nova siacutentese qualitativamente superior ao conhecimento

lt aoacuteiico sincreacutetico sobre o tema demonstrado no iniacutecio

Para tratar do conteuacutedo lutas delimitou-se ldquoO MM A como

nova lace da luta espetaacuteculordquo Os autores Renata Aparecida Alves Lanshy

dim Adriano de Paiva Reis Grazyani Penna Dias e Rafael Loures dos

K r Hcllei usaram com rigor o meacutetodo partindo da praacutetica social e a

bull u iornuido apoacutes um processo de problematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de

1 11u i i i i k i u o s sem os quais natildeo se explica o fenocircmeno atual das lutas

thim io ao conteuacutedo danccedila os autores Carla Cristina Carvalho

INlt ii i iliimo de Paiva Reis Giovana de Carvalho Castro Marcelo

monstrar a loacutegica no trato com o conhecimento dentro da rigorosidade

do meacutetodo Demonstram tambeacutem a elevaccedilatildeo do pensamento teoacuterico

dos estudantes sobre o assunto O texto ldquoA voz da periferia o Hip Hop

enquanto possibilidade de trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo eacute um

primor e contribuiraacute muito para consubstanciar uma abordagem mais

rigorosa de conteuacutedos contemporacircneos nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

No trato com o conteuacutedo da ginaacutestica no capiacutetulo intitulado

ldquoA disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutesticardquo os autores

Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel Roshy

drigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees conseguem elevar a

capacidade dos estudantes de elaborarem uma siacutentese qualitativa no

pensamento que permitiraacute a autodeterminaccedilatildeo para a praacutetica corposhy

ral de um conteuacutedo vital e que vem sendo negligenciado na escola

A retomada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica do conteuacutedo circo

conforme propotildeem Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvashy

lho Pereira e Frederico Duarte Gomes Tostes demonstra como um

conteuacutedo histoacuterico que data na origem dos tempos do feudalismo

pode adquirir um sentido e um significado humanamente elevado

pelo entendimento compreensatildeo e elaboraccedilatildeo de novas possibilidashy

des de accedilatildeo No trato com o conteuacutedo das atividades circenses no

texto intitulado ldquoO lugar e hora do circo na escola reflexatildeo sobre

a reinvenccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircneardquo os

autores demonstram o criteacuterio da rigorosidade e seriedade cientiacutefica

para tratar de um conteuacutedo da cultura que nos permite conhecer

compreender explicar e criar possibilidades riquiacutessimas de atividashy

des culturais com sentido e significado humanizante

Prezados leitores ressalto que esta obra eacute singular relevante e

vital porque como dizem os autores em um dos textos ldquoEm tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas as esferas da vida a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda maior Epreciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabalhadora construshyamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contribuindo para a desmistifiacutecaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta rdquo

12

tivos de Autores no Brasil e quiccedilaacute na Ameacuterica Latina que de norte

a sul de leste a oeste estatildeo recuperando desenvolvendo utilizanshy

do outros paracircmetros teoacutericos-metodoloacutegicos sintonizados com oushy

tro projeto histoacuterico superador agrave loacutegica do capital e portanto com a

perspectiva de formaccedilatildeo humana emancipatoacuteria significando isto a

superaccedilatildeo da sociedade de classes

Com esta obra juntamente com outras de igual propoacutesito

consolida-se no Brasil uma Educaccedilatildeo Fiacutesica de base marxista Cons-

troi-se assim tambeacutem pela via do trabalho pedagoacutegico a subjetivishy

dade humana visto que as condiccedilotildees objetivas para a revoluccedilatildeo jaacute

estatildeo postas faltam as condiccedilotildees subjetivas As forccedilas produtivas

deixaram de crescer e estatildeo em franca destruiccedilatildeo A isto reage este

jovem COLETIVO DE AUTORES que nos alenta a seguirmos

perseguindo em tempos de transiccedilatildeo um outro modo de produccedilatildeo

da vida Que todas as crianccedilas jovens e adultos das escolas puacuteblishy

cas na cidade e no campo tenham garantida esta qualidade aqui

demonstrada no ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica

Celi Nelza Zuumllke Tajfarel

(Universidade Federal da Bahia - UFBA)

INTRODUCcedilAtildeO

LIMITES E POSSIBILIDADES DA DISCUSSAtildeO SOBRE DIDAacuteTICA DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA

Adriano de Paiva Reis

Carla Cristina Carvalho Pereira

Hajime Takeuchi Nozaki

Leonardo Docena Pina

Renata Aparecida Alves Landim

Por mais de um seacuteculo a histoacuteria da

Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar

foi marcada por sua caracterizaccedilatildeo como uma

atividade cujo objetivo central era promover

0 desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica dos indishy

viacuteduos A partir do final da deacutecada de 1970

acompanhando um amplo movimento de luta

pela redemocratizaccedilatildeo da sociedade brasileira

assistimos a um periacuteodo de denuacutencias sobre o

atrelamento da aacuterea a uma concepccedilatildeo exclushy

sivamente bioloacutegica de homemmovimento

que cumpria um papel conservador no que

tange agraves relaccedilotildees sociais

Apoacutes esse periacuteodo de criacuteticas sobretudo

ao final dos anos de 1980 e iniacutecio dos anos

de 1 990 comeccedilam a surgir novas propostas

para a Educaccedilatildeo Fiacutesica definindo princiacutepios

identificadores de uma nova praacutetica pedashy

goacutegica Desde entatildeo podemos evidenciar

diversos avanccedilos no sentido da construccedilatildeo

di Educaccedilatildeo Fiacutesica como componente cur-

liiulnr tanto no plano da legislaccedilatildeo e das

01 ieniaccedilotildees educacionais como no plano das

propostas construiacutedas e implementadas em diversas redes de ensino

pelo paiacutes Mas no que pese todo esse avanccedilo produzido a crise no campo teoacuterico (FRIGOTTO 2001) acabou por influenciar a redefishy

niccedilatildeo das propostas pedagoacutegicas criacuteticas da aacuterea que passaram a ser

consideradas muitas vezes insuficientes inadequadas e ateacute mesmo

ultrapassadas para atender agraves supostas demandas de um novo mundoConsiderando que os fundamentos centrais da sociedade na qual

vivemos se mantecircm presentes ainda hoje embora com bases renovashy

das compreendemos que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas

ainda possuem um papel a cumprir qual seja o de contribuir para a

superaccedilatildeo do capitalismo - e de todas as formas de opressatildeo que se

intensificam nesse modo de produccedilatildeo da existecircncia humana1

Nessa linha reconhecemos que a perspectiva da reflexatildeo criacutetica soshybre a cultura corporal (COLETIVO DE AUTORES 1992)2 tambeacutem

conhecida como ldquoabordagem Criacutetico-superadorardquo foi um marco mdash e

ainda se manteacutem como referecircncia mais desenvolvida mdash para a Educashy

ccedilatildeo Fiacutesica uma vez que ao se fundamentar na Pedagogia histoacuterico-

-criacutetica articulou esse componente curricular ao que haacute de mais avanshy

ccedilado no debate sobre o papel da escola sendo capaz de entrelaccedilar a

formaccedilatildeo humana aos interesses e necessidades da classe trabalhadora

A partir da delimitaccedilatildeo de uma aacuterea de conhecimento denominada

de cultura corporal essa perspectiva definiu a Educaccedilatildeo Fiacutesica como

disciplina responsaacutevel por promover na escola uma tematizaccedilatildeo soshy

bre a relaccedilatildeo dos grandes problemas sociais contemporacircneos com os

conteuacutedos jogos danccedilas lutas ginaacutestica esporte malabarismo con-

torcionismo miacutemica e outros (COLETIVO DE AUTORES 1992)

A transmissatildeo dos conhecimentos historicamente acumulados sobre

a cultura corporal define a especificidade pedagoacutegica da Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica sua presenccedila na escola justifica-se por socializar um saber que

1 Adotamos a classificaccedilatildeo das pedagogias - em criacuteticas e natildeo criacuteticas - elaboradas por Saviani

(2006)

2 Tendo em visra o processo histoacuterico que envolveu a elaboraccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do livro

Metodologia do Ensino da Educaccedilatildeo Coletivo de Autores foi o termo adotado originalmente

para designar sua autoria expressando um sentido poliacutetico e o esforccedilo de ratificar o caraacuteter

coletivo e o projeto histoacuterico com o qual a obra estava articulada no contexto de sua

publicaccedilatildeo pela editora Cortez em 1992

16

natildeo eacute transmitido pelas demais disciplinas mas que se constitui como

elemento essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade

Apesar do avanccedilo teoacuterico promovido pelas recentes discussotildees

sobre a Pedagogia histoacuterico-criacutetica e a metodologia Criacutetico-supera-

dora deparamo-nos com inuacutemeros depoimentos de professores da

educaccedilatildeo baacutesica sobre a dificuldade de organizarplanejarsistematishy

zar o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo

criacutetica sobre a cultura corporal Aleacutem das criacuteticas aos cursos de forshy

maccedilatildeo de professores da aacuterea muitas vezes voltados aos campos natildeo

escolares de atuaccedilatildeo e subordinados agrave dimensatildeo predominantemenshy

te bioloacutegica de ser humano os professores tecircm se queixado da falta

de referecircncias concretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas

com os diversos conteuacutedos da cultura corporal3

A constataccedilatildeo desses problemas e desafios impulsionou a organishy

zaccedilatildeo de um grupo - composto predominantemente por professores

da rede puacuteblica municipal de Juiz de Fora mdash com o objetivo de amshy

pliar os conhecimentos a respeito da metodologia Criacutetico-superadora

aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal Hoje o grupo eacute

formado por cerca de vinte professores e conta com assessoria de dois

docentes da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz

de Fora4 os quais tecircm dialogado conosco ao longo do processo

Sem viacutenculo institucional nem apoio financeiro para pesshy

quisa o grupo tem se dedicado agrave realizaccedilatildeo de estudos pesquisas

e experiecircncias voltadas ao aprimoramento de nossa praacutetica pedashy

goacutegica na escola Apoacutes dois anos de trabalho conjunto sentimos

a necessidade de dar um passo a mais qual seja o de iniciar a soshy

cializaccedilatildeo das experiecircncias pedagoacutegicas desenvolvidas nas escolas

municipais de Juiz de Fora A elaboraccedilatildeo dessa obra surgiu porshy

tanto a partir da necessidade de ampliar nossos conhecimentos

sobre os conteuacutedos da cultura corporal e suas possibilidades de

abordagem metodoloacutegica na escola A constituiccedilatildeo de um grupo

envolvendo professores da rede puacuteblica municipal e federal pershy

3 A respeito da problemaacutetica referente agrave formaccedilatildeo de professores no contexto atual

sugerimos a leitura dos estudos de Costa (2009) Arce (2000) e Teixeira (2009)

4 Estamos nos referindo aos professores Aacutelvaro de Azeredo Quelhas e Andreacute Silva Martins

mitiu o estudo debate e sistematizaccedilatildeo de experiecircncias pedagoacuteshy

gicas desenvolvidas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Consideramos que a divulgaccedilatildeo dessas experiecircncias pode

constituir-se como instrumento para o aprimoramento da praacutetica

pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo soacute porque socializa os planos

de unidade desenvolvidos juntamente com textos de fundamenshy

taccedilatildeo teoacuterica de cada conteuacutedo trabalhado mas tambeacutem porque

contribui para que outros professores se insiram no debate consshy

truam novas experiecircncias eou discutam novas possibilidades

E importante destacar que ao reconhecermos a importacircncia do

debate sobre a didaacutetica para o aprimoramento do trabalho pedagoacutegishy

co nas escolas natildeo o consideramos suficiente para resolver o problema

do ensino na Educaccedilatildeo Fiacutesica Ou seja nossa iniciativa embora seja

importante e necessaacuteria natildeo tem a pretensatildeo nem a capacidade de

resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Aleacutem das limitaccedilotildees que envolvem muitos cursos de formaccedilatildeo

de professores encontramos outras determinaccedilotildees que acabam por

contribuir para que a escola natildeo cumpra seu papel de transmissatildeo do

conhecimento Embora natildeo sejamos capazes de reunir neste artigo

todos os problemas encontrados em grande parte das escolas da rede

puacuteblica municipal de ensino faz-se necessaacuterio destacar em linhas geshy

rais que as condiccedilotildees de vida (e de trabalho) de grande parte dos

professores e alunos natildeo satildeo muito favoraacuteveis Soma-se a isso o fato

de que as estruturas fiacutesicas precaacuterias recursos materiais insuficientes

grande nuacutemero de alunos por turmas e pouco reconhecimento profisshy

sional tendem a dificultar ainda mais o desenvolvimento do trabalho

do prazer e da vontade de lecionar Tambeacutem natildeo podemos deixar de

destacar que em muitos casos a Educaccedilatildeo Fiacutesica assume o posto de

disciplina de segundo escalatildeo sobretudo nas escolas de Educaccedilatildeo Inshy

fantil e dos anos iniciais do ensino fundamental onde os professores

de Educaccedilatildeo Fiacutesica Artes e Muacutesica por exemplo dificilmente partishy

cipam do conselho de classe o que evidencia a (des)valorizaccedilatildeo de sua

atividade docente na escola frente outras disciplinas como Portuguecircs

e Matemaacutetica consideradas mais importantes sob a oacutetica do capital

18

Consideramos que o professor mdash das diferentes aacutereas do conhecimento

- tem o papel de transmitir o conhecimento cientiacutefico artiacutestico e filosoacutefico

aos alunos mas natildeo compreendemos que sua funccedilatildeo possa ser tatildeo facilshy

mente exercida como supotildeem os defensores do neoprodutivismo para os

quais se espera que o docente exerccedila todo um conjunto de funccedilotildees com o

maacuteximo de produtividade e o miacutenimo de dispecircndio isto eacute com modestos

salaacuterios5 Compreendemos conforme destaca Saviani (2011) que se o proshy

fessor fosse bem remunerado no acircmbito de uma carreira docente que lhe

garantisse jornada integral em uma uacutenica escola ele poderia exercer sem

maiores problemas muitas funccedilotildees a ele atribuiacutedas Mas natildeo eacute esse o caso

Analisando a precarizaccedilatildeo do trabalho do professor Costa (2009)

evidencia que as consequecircncias da alienaccedilatildeo na atividade docente natildeo

se restringem ao ensino e a aprendizagem mas envolvem a proacutepria vida

do professor A autora constata que o processo de alienaccedilatildeo constroacutei

uma relaccedilatildeo professoresalunos distorcida em que os

segundos passam a imputar aos professores o tratamenshy

to que deveriam dar aos reais representantes da violecircnshy

cia do Estado burguecircs que os tem oprimido durante

toda a sua trajetoacuteria escolar E os professores passam

a ver os alunos como aqueles que materializam a falta

de respeito e o desprestiacutegio da categoria profissional na

sociedade nas manifestaccedilotildees de falta de respeito e ateacute

mesmo a violecircncia (COSTA 2009 p 72)

Natildeo obstante a alienaccedilatildeo do trabalho do professor ainda

gera desumanizaccedilatildeo o mais violento de todos os aspectos Conshy

forme afirma Costa (2009) o professor nem sempre tem a opccedilatildeo

de buscar outras formas para suprir sua subsistecircncia

Os seres humanos submetidos agrave alienaccedilatildeo mesmo vivenshy

do o sofrimento no trabalho o desgaste fiacutesico e mental a

dilapidaccedilatildeo moral ainda assim permanecem em relaccedilotildees

de trabalho destrutivas ateacute esgotarem os limites de suas

capacidades ou ateacute serem descartados pelo capital Nesse

momento em geral as consequecircncias vividas pelo trabalho

jaacute satildeo irreversiacuteveis Embora experimente a deterioraccedilatildeo de

sua sauacutede a negaccedilatildeo da natureza formativa da educaccedilatildeo

presente todos ograves dias nas ingerecircncias das mantenedoras e

5 Sobre o neoprodutivismo na educaccedilatildeo escolar brasileira conferir Saviani (2011)

do Estado na sua atividade laborai o professor natildeo pode

se furtar ao trabalho como meio de subsistecircncia devido agrave

sua dependecircncia total da vida urbana e do consumo que

ela impoacutee assim como ocorre com todas as outras categoshy

rias do proletariado (COSTA 2009 p 76-77)

Ao abordar essas reflexotildees buscamos explicitar nossa discordacircncia em

relaccedilatildeo agraves perspectivas ideoloacutegicas predominantes defensoras da ideia de

que o ecircxito da escola e da poliacutetica educacional que a orienta depende apenas

da iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores Atualmente fala-se muito no proshy

fessor como protagonista da mudanccedila mas natildeo lhe satildeo oferecidas muitas

condiccedilotildees para isso Defende-se que o professor assuma uma postura inoshy

vadora desenvolva praacuteticas de ensino renovadas busque o conhecimento

produzido ainda que as condiccedilotildees sejam muito desfavoraacuteveis para tanto

Conforme alerta Duarte (2006) a ideia comumente defendida pelos meios

de comunicaccedilatildeo eacute a de que o professor deve ser ldquogente que fazrdquo

Naacuteo eacute mero acaso que atualmente seja taacuteo difundido em

educaccedilatildeo o discurso voltado para as caracteriacutesticas definishy

doras de um bom professor de um professor que reflete

sobre sua praacutetica e realiza um trabalho de qualidade messhy

mo em condiccedilotildees adversas Uma variante desse discurso eacute

aquela em que em vez de falar-se de um professor que eacute

gente que faz fala-se de uma escola em que os professores

coletivamente de preferecircncia de matildeos dadas com a comushy

nidade transformam em exemplo de sucesso escolar Em

nome da superaccedilatildeo dos discursos imobilistas eacute adotado

um discurso no qual a passagem do fracasso ao sucesso

torna-se uma questatildeo de forccedila de vontade de alguns indishy

viacuteduos ou melhor de um coletivo de uma comunidade

O resultado ideoloacutegico pretendido ou natildeo eacute bastante

claro o descompromisso do Estado a despolitizaccedilatildeo dos

problemas educacionais e a abdicaccedilatildeo do ideal de lutar por

uma transformaccedilatildeo radical da sociedade pela superaccedilatildeo

do capitalismo e pela construccedilatildeo de uma sociedade sociashy

lista A saiacuteda passa a ser a das soluccedilotildees locais comunitaacuterias

individuais (DUARTE 2006 p 141)

Feitas essas consideraccedilotildees sintetizamos nossa compreensatildeo soshy

bre os limites da discussatildeo didaacutetica que apresentamos neste livro

Trata-se de uma discussatildeo insuficiente se considerarmos o problema

da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica em sua radicalidade mas ao mesmo

20

tempo importante uma vez que pode ampliar as possibilidades de

transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica

O presente livro organizado numa perspectiva de unidade realiza

nos dois primeiros artigos uma discussatildeo de caraacuteter mais geral sobre a

funccedilatildeoespecificidade da escola e da Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemshy

poracircneo Os demais artigos abordam possibilidades de desenvolvimento

de praacuteticas pedagoacutegicas com temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos

da cultura corporal circo lutas ginaacutestica danccedila jogos e esporte

As experiecircncias pedagoacutegicas apresentadas foram desenvolvidas

com a segunda etapa do Ensino Fundamental e com o Ensino Meacuteshy

dio mas obviamente podem sofrer adaptaccedilotildees para serem tratadas

em outros niacuteveis de ensino Os artigos que tratam dos conteuacutedos da

cultura corporal nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica foram redigidos em subshy

grupos de autores coordenados pelos organizadores da obra e ao final

do processo todos os artigos foram lidos e discutidos coletivamente

Apesar de consideramos a capoeira como um conteuacutedo esshy

peciacutefico e importante da cultura corporal ela natildeo foi abordada

neste livro devido aos limites espaciais e temporais para conclushy

satildeo da obra No nosso planejamento inicial constava um artigo

especiacutefico para abordar esse conteuacutedo poreacutem com o andamento

do estudo constatamos que natildeo teriacuteamos tempo suficiente para

ibordaacute-lo Assim fazemos questatildeo de destacar que assumimos a

iiiscncia da capoeira como uma diacutevida e reafirmamos a necessida-

ilr de abordaacute-la em publicaccedilotildees e debates posteriores

( )s temas selecionados buscaram relacionar os conteuacutedos da cultura

iniporal a problemas sociais presentes na praacutetica social dos alunos bus-

i nulo ultrapassar a simples praacutetica pela praacutetica e promover uma reflexatildeo

i tiacutetii a sobre o modo como os jogos as lutas as danccedilas os esportes os

ru iacutecios ginaacutesticos as atividades circenses se expressam em nosso temshy

po I Vsse modo uma questatildeo que atravessou todos os planos de unidade

i i sltnuinte como a cultura corporal patrimocircnio da humanidade tem

I bull ipKgtpriada e subordinada agrave dinacircmica do consumo capitalista

Irsquooi iacuteim gostariacuteamos de registrar nossos agradecimentos pela

i pouibilizaccedilatildeo dos recursos para a publicaccedilatildeo desta ediccedilatildeo do

livro por meio do Fundo de Apoio agrave Pesquisa na Educaccedilatildeo Baacutesica

- FAPEB mdash da Prefeitura de Juiz de Fora A busca de um financiashy

mento puacuteblico e a distribuiccedilatildeo gratuita dessa obra estaacute relacionada

agrave nossa perspectiva de produccedilatildeoapropriaccedilatildeo coletiva do conhecishy

mento Agradecemos ainda a todos os professores e alunos que

estiveram envolvidos na realizaccedilatildeo desse projeto permitindo divishy

dir experiecircncias e construir conhecimentos que agora socializamos

neste livro

Referecircncias

ARCE A A formaccedilatildeo de professores sob a oacutetica construtivista primeiras aproximashy

ccedilotildees e alguns questionamentos In DUARTE N (org) Sobre o construti-

vismo Campinas Autores Associados 2000

COLETIVO DE AU 1ORES Metodologia do ensino de Educaccedilatildeo Fiacutesica Satildeo

Paulo Cortez 1992

COSTA A Entre a dilapidaccedilatildeo moral e a missatildeo redentorista o processo de alienashy

ccedilatildeo no trabalho dos professores do ensino baacutesico brasileiro In COSTA A

NETO E SOUZA G (Org) A proletarizaccedilatildeo do professor neoliberalis-

mo na educaccedilatildeo 2 ed Satildeo Paulo Sundermann 2009 p 59-100

DUARTE N Vigotski e o ldquoaprendera aprenderrdquo apropriaccedilotildees neoliberais e poacutes-

-modernas da teoria vigotskiana 4 ed Campinas Autores Associados 2006

FRIGOTTO G A nova e a velha faces da crise do capital e o labirinto dos reshy

ferenciais teoacutericos In FRIGOTTO G CIAVATTA M (Org) Teoria e

educaccedilaacuteo no labirinto do capital 2 ed Petroacutepolis Vozes 2001 p 23-50

SAVIANI D Escola e democracia 38 ed Campinas Autores Associados 2006

_______ Histoacuteria das ideias pedagoacutegicas no Brasil 3 ed Campinas Autores

Associados 2011

TEIXEIRA L A poliacutetica de formaccedilatildeo docente no Brasil fundamentos teoacutericos

e epistemoloacutegicos In Reuniatildeo Anual da ANPED 32 2009 Caxambu

Anais Caxambu ANPED 2009 p 1-17

CAPIacuteTULO I

SOBRE A FUNCcedilAtildeO E ESPECIFICIDADE DA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR NO M UNDO CONTEMPORAcircNEO

Andreacute Silva Martins

O presente capiacutetulo tem por objetivo apreshy

sentar uma reflexatildeo sobre a funccedilatildeo e especificishy

dade da educaccedilatildeo escolar na atualidade Nossa

intenccedilatildeo mais ampla eacute problematizar as perspecshy

tivas relacionadas agrave funccedilatildeo social da escola e sua

especificidade no processo de formaccedilatildeo humashy

na procurando indicar uma alternativa poliacutetico-

-pedagoacutegica aos discursos e praacuteticas dominantes

As questotildees que orientam nossa reflexatildeo

podem ser assim descritas Qual a funccedilatildeo

social da instituiccedilatildeo escolar na atualidade

A instituiccedilatildeo escolar possui uma especificishy

dade frente os demais processos formativos

de nossa sociedade Quais satildeo os desafios da

Escola Puacuteblica brasileira no seacuteculo XXI

Para responder estas questotildees organizashy

mos o texto em trecircs partes Na primeira busshy

camos recuperar a gecircnese da instituiccedilatildeo escoshy

lar e sua especificidade no processo formativo

Em seguida realizamos uma anaacutelise sobre duas

concepccedilotildees que vecircm orientando a definiccedilatildeo da

finalidade da educaccedilatildeo escolar Por fim com

base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica apresentashy

mos uma siacutentese do que pode vir a ser a insshy

tituiccedilatildeo escolar na atualidade tendo em vista

os interesses da ampla maioria da populaccedilatildeo

Nossa expectativa eacute contribuir para as reflexotildees sobre o tema e oferecer

elementos para a compreensatildeo criacutetica da funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar

Sobre a gecircnese da instituiccedilatildeo escolar

A escola eacute uma instituiccedilatildeo social relativamente nova que se

consolidou e se popularizou a partir do processo de intensificaccedilatildeo

da complexidade da vida social gerada pelas mudanccedilas nas relaccedilotildees

sociais envolvendo o crescimento da urbanizaccedilatildeo e desenvolvimenshy

to do industrialismo sobre as formas tradicionais de estruturaccedilatildeo de

poder e de redefiniccedilatildeo das bases de produccedilatildeo material e simboacutelica

vinculadas agrave existecircncia humana Isso significa que a instituiccedilatildeo esshy

colar surge como expressatildeo cultural de um tempo histoacuterico com a

finalidade de assegurar uma especificidade na formaccedilatildeo humana

Antes da existecircncia da escola nas sociedades tradicionais os proshy

cessos formativos se realizavam diretamente nas dinacircmicas de constishy

tuiccedilatildeo da vida natildeo requerendo maiores exigecircncias muito menos ritos

formais para sua ocorrecircncia No cotidiano as trocas de conhecimentos

gerados pela experiecircncia geracional ou pela vida cotidiana de uma dada

comunidade constituiacuteam a base dos processos formativos necessaacuterios agrave

construccedilatildeo da vida A educaccedilatildeo fluiacutea nas dinacircmicas de trabalhovida

sem delimitaccedilotildees mais precisas de tempo e espaccedilo A experiecircncia e a

informalidade se constituiacuteam como referecircncias dos processos formatishy

vos Nessa dinacircmica o domiacutenio de conhecimentos sistematizados era

dispensaacutevel ao homem comum A formaccedilatildeo intelectual era restrita aos

pequenos grupos que atuavam em funccedilotildees administrativas e clericais

Quando muito com raras exceccedilotildees o acesso do povo aos rudimentos

da leitura e da escrita ficava circunscrito agraves iniciativas isoladas princishy

palmente a cargo de ordens religiosas que reforccedilavam a manutenccedilatildeo da

ordem estabelecida (FERREIRA 2001) ou a grupos de artesatildeos preoshy

cupados com a organizaccedilatildeo da produccedilatildeo (ENGUITA 1989)

O processo social poliacutetico e econocircmico de ruptura com a trashy

diccedilatildeo feudal protagonizada pela classe burguesa nas sociedades eushy

ropeias produziu novas determinaccedilotildees para que a formaccedilatildeo humana

ultrapassasse as referecircncias educativas precedentes Em outras pala-

24

vras a dinacircmica social emergente apresentava os primeiros sinais de

que a experiecircncia e a informalidade ofereciam sinais de esgotamenshy

to isso porque estavam em curso novas exigecircncias para organizar a

vida social e os meios necessaacuterios agrave sua existecircncia

A valorizaccedilatildeo do chamado ldquohomem-livrerdquo a ideia de progresso as

formas emergentes de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de mercadorias e a defesa da

propriedade privada no centro da vida social que foram sendo consolidadas

apoacutes as revoluccedilotildees burguesas exigiam novas referecircncias educativas Na conshy

cepccedilatildeo da classe emergente a massa populacional disforme e sem identishy

dade poliacutetico-ideoloacutegica precisava ser preparada para ocupar o seu lugar na

nova ordem a partir de novas regras sociais de vida e trabalho A imagem do

atraso representado pelo camponecircs isolado e restrito ao espaccedilo rural precishy

sava ser substituiacuteda pela simbologia do progresso representada pelo homem

urbano - trabalhador ldquolivrerdquo Organizado na cidade envolvido nas relaccedilotildees

comerciais de novo tipo e envolvido na passagem da oficina para manufashy

tura e desta para a induacutestria nascente o ldquonovo homemrdquo deveria ser disciplishy

nado socialmente para compreender os novos coacutedigos culturais Se para os

adultos da classe trabalhadora a vida urbana continha os elementos educashy

tivos da disciplina social capitalista principalmente os de caraacuteter repressivo

a educaccedilatildeo das crianccedilas urbanas para a vida social exigia um pouco mais O

surgimento da escola de massas tem suas origens vinculadas a esse processo

de longa duraccedilatildeo confirmada na consolidaccedilatildeo do periacuteodo histoacuterico denoshy

minado de modernidade A especificidade da escola residia na compreenshy

satildeo de que algo a mais deveria ser oferecido ultrapassando as experiecircncias

educativas realizadas pela famiacutelia pelas religiotildees pela convivecircncia

Em ritmos diversos a expansatildeo da instituiccedilatildeo escolar puacutebli-

1 foi se tornando uma realidade nas formaccedilotildees sociais em geral

viabilizada por meio do Estado capitalista Aleacutem da escolarizaccedilatildeo

obrigatoacuteria com extensatildeo restrita foram sendo instituiacutedas bases

rei ais para o ensino realizado na escola puacuteblica de massas O do-

miacutenkrdos rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo passou a

laei parte da formaccedilatildeo do trabalhador urbano O desafio era for-

1 1 1 i eorporcidade infantil (o sentirpensaragir) desde cedo dentro

ilo ideal do ldquohomem novordquo

As teacutecnicas de ensino e de controle bem como a organizaccedilatildeo do

espaccedilo e das rotinas marcaram a constituiccedilatildeo da escola moderna Sem

elidir outros processos educativos a instituiccedilatildeo escolar foi se tornando

importante instrumento do processo civilizatoacuterio capitalista

Enquanto a escola de massas assumiu a educaccedilatildeo das crianccedilas da

classe trabalhadora para o exerciacutecio da submissatildeo intelectual e moral

formando o cidadatildeo-trabalhador produtivo da modernidade outro tipo

de escola foi assegurado para a preparaccedilatildeo ampla de grupos de crianccedilas

e adolescentes da classe burguesa As distinccedilotildees fundamentais do proshy

cesso formativo dos dirigentes e dirigidos se expressaram no tempo de

escolarizaccedilatildeo no espaccedilo destinado agraves praacuteticas educativas bem como na

quantidade-qualidade de acesso aos conhecimentos sistematizados Inshy

distintamente a racionalizaccedilatildeo do processo pedagoacutegico buscou responshy

der agraves especificidades do papel econocircmico-poliacutetico das classes sociais

tendo como referecircncia a dinacircmica da vida urbano-industrial1 e a necesshy

sidade dos coacutedigos culturais Vale lembrar que o princiacutepio do dualismo

educacional jaacute havia sido traccedilado por John Locke no seacuteculo XVII antes

mesmo do advento da escolarizaccedilatildeo de massas (ENGUITA 1989)

Mesmo oferecendo um acesso restrito ao conhecimento sisshy

tematizado e assegurando uma formaccedilatildeo intelectual e moral para

a submissatildeo a escola para os trabalhadores foi sendo consolidada

nas formaccedilotildees sociais capitalistas a partir do reconhecimento de

sua contribuiccedilatildeo especiacutefica dentro do processo educativo mais

amplo Embora este processo tenha se dado em ritmo variado -

dependendo do reconhecimento da classe dominante sobre a im shy

portacircncia da ampliaccedilatildeo do domiacutenio dos coacutedigos culturais e das

lutas travadas em torno do acesso agrave educaccedilatildeo - a escola foi sendo

legitimada por sua especificidade educativa Sobre este processo

mais geral Ferreira (2001 p 193) observa que

Chegados agrave transiccedilatildeo do seacuteculo X IX para o seacutecushy

lo XX a burguesia sustenta e participa do poder

1 Enquanto a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo infantil da classe trabalhadora das cidades passou a

ser ordenada pelo menos enquanto tendecircncia em edificaccedilotildees projetadas para tal fim pela

adoccedilatildeo de turmas seriadas por programas bem definidos e com professores treinados a

educaccedilatildeo no campo ainda que concentrando boa parcela das crianccedilas seguiu marcada

pelo improviso de instalaccedilotildees de recursos didaacuteticos e de pessoal

mas hesita entre a cultura do passado e a dinacircmica

imposta pelo progresso A burguesia sabe por exshy

periecircncia proacutepria que nada eacute definitivo e uniforshy

me Mas tambeacutem sabe que a sociedade burguesa

precisa de ordem e estabilidade e que os interesshy

ses divergentes que encerra podem arruinaacute-la Ela

precisa por isso estar bem informada para agir

em conformidade com o momento Necessita soshy

bretudo de dominar os saberes que lhe asseguram

a administraccedilatildeo do poder Ela sabe que a compeshy

tecircncia eacute a qualidade chave do sucesso A escola

tem sido fundamentalmente uma instituiccedilatildeo cara

agrave burguesia Isso natildeo significa que natildeo tenha sido

uacutetil a outras forccedilas sociais e que natildeo tenha servido

interesses contraacuterios aos dos burgueses

A histoacuteria da escolarizaccedilatildeo na formaccedilatildeo social brasileira seshy

guiu pelo menos enquanto tendecircncia o movimento educacional

das formaccedilotildees capitalistas centrais No entanto considerando

que o Brasil foi palco de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo tardia sob

mediaccedilatildeo de uma revoluccedilatildeo burguesa de tipo natildeo-claacutessica (FERshy

NANDES 1976) explicada pelo conceito de revoluccedilatildeo passiva

(GRAMSCI 1999) e que isto resultou numa inserccedilatildeo subordinashy

da do paiacutes no cenaacuterio internacional eacute possiacutevel afirmar que a escola

puacuteblica de massas expressou em sua particularidade e com contrashy

diccedilotildees a opccedilatildeo poliacutetica da classe dominante brasileira

Basta considerar que enquanto os paiacuteses centrais jaacute haviam

avanccedilado no movimento de universalizaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo baacutesica

ainda no seacuteculo XIX no Brasil ao longo do seacuteculo XX predomishy

nou um processo restritivo de acesso dos trabalhadores agrave educaccedilatildeo

escolar Os que escaparam do analfabetismo em geral encontraram

barreiras objetivas para concluir o que denominamos hoje de Enshy

sino Fundamental Foi somente no limiar do seacuteculo XXI que este

niacutevel de escolarizaccedilatildeo foi universalizado2

2 O atraso educacional brasileiro pode ser explicitado nas questotildees legais que envolvem o Ensino

Meacutedio A Constituiccedilatildeo de 1988 - chamada por muitos de ldquoConstituiccedilatildeo Cidadatilderdquo - estabeleceu

no artigo 208 inciso II ldquoprogressiva extensatildeo de obrigatoriedade e gratuidade do ensino meacutediordquo

mesmo diante dos sinais de mudanccedilas poliacuteticas e econocircmicas significativas no mundo capitalista

O Ensino Meacutedio foi projetado para poucos naquele contexto Somente em 2009 por meio da

Emenda Constitucional ndeg 59 este niacutevel de ensino se tornou obrigatoacuterio no paiacutes

w avanccedilo lento e restritivo da escolarizaccedilatildeo brasileira foi resultado

das relaccedilotildees de poder travadas ao longo do seacuteculo XX mediadas pelas

relaccedilotildees de produccedilatildeo Predominava na classe dominante a compreenshy

satildeo de que o acesso agrave educaccedilatildeo deveria ser programado para atender o

miacutenimo necessaacuterio ao padratildeo de qualificaccedilatildeo exigido pela dinacircmica da

sociedade urbano-industrial em seu desenvolvimento tecnoloacutegico e exishy

gecircncias poliacuteticas e ideoloacutegicas Esse posicionamento contrastava com as

lutas operaacuterias do iniacutecio do seacuteculo XX que reivindicavam acesso agrave edushy

caccedilatildeo puacuteblica e com a manifestaccedilatildeo dos signataacuterios do ldquoManifesto dos

Pioneiros da Educaccedilatildeordquo de 1932 que reivindicava uma escola puacuteblica

de qualidade para todos Contudo na correlaccedilatildeo de forccedilas e consideshy

rando a dinacircmica das relaccedilotildees de produccedilatildeo para a grande maioria o

acesso ao conhecimento sistematizado natildeo ultrapassou o domiacutenio dos

rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo A ideia de que a escolashy

rizaccedilatildeo deveria se constituir num patrimocircnio de poucos predominou

Em que pesem o atraso educacional e as restriccedilotildees de acesso

agrave escola puacuteblica a historiografia da educaccedilatildeo brasileira por reshy

cortes e bases epistemoloacutegicas distintas apresenta fartos elemenshy

tos que demonstram a ligaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar e projeto

civilizatoacuterio conduzido pela classe dominante no paiacutes desde o

iniacutecio do seacuteculo XX confirmando a especificidade da instituiccedilatildeo

escolar no processo de formaccedilatildeo humana

Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar as concepccedilotildees dominantes

Apesar do reconhecimento social sobre a importacircncia e esshy

pecificidade da instituiccedilatildeo escolar no processo educativo mais

amplo eacute necessaacuterio observar que existem divergecircncias quanto agrave

finalidade da educaccedilatildeo escolar Para enfrentar esta questatildeo opshy

tamos por um recorte de duas das mais relevantes formulaccedilotildees

contemporacircneas sobre o tema Nossa opccedilatildeo metodoloacutegica conshy

siste na caracterizaccedilatildeo e anaacutelise das concepccedilotildees procurando evishy

denciar suas implicaccedilotildees para a formaccedilatildeo humana

28

Concepccedilatildeo 1 A finalidade da educaccedilatildeo escolar eacute preparar recursos humanos para impulsionar o desenvolvimento econocircmico

Esta formulaccedilatildeo foi apresentada no cenaacuterio brasileiro nos anos

de 1970 no contexto do regime ditatorial viabilizado pelo golpe em-

presarial-militar de 1964 Traduzindo uma teoria surgida nos Estados

Unidos o bloco no poder do regime ditatorial e seus intelectuais se

encarregaram de viabilizar que os principais enunciados da teoria esshy

tadunidense fossem veiculados para ordenar a funccedilatildeo da escola a parshy

tir da redefiniccedilatildeo da poliacutetica de educaccedilatildeo da legislaccedilatildeo educacional

da organizaccedilatildeo curricular e das praacuteticas pedagoacutegicas A grande meta

era subordinar a educaccedilatildeo escolar ao projeto de desenvolvimento ecoshy

nocircmico Mas o que significa estabelecer que a funccedilatildeo da escola eacute conshy

tribuir para o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes

A teoria acima referida foi sistematizada porTeodoro Schultz

(1963 1971) Parte da premissa de que o conceito de ldquocapitalrdquo se

refere natildeo soacute agraves coisas materiais mas tambeacutem aos seres humanos

Schultz se refere agraves habilidades adquiridas principalmente pela

educaccedilatildeo escolar que interferem na atividade produtiva O conheshy

cimento c as habilidades teacutecnicas seriam expressotildees particulares de

ldquocapitalrdquo uma vez que se vinculam ao aumento da capacidade de

produccedilatildeo A preocupaccedilatildeo do autor com o alargamento do conceishy

to de capital se vincula agrave busca por compreender os diferenciais de

produtividade gerados pelo esforccedilo humano O resultado de sua

formulaccedilatildeo foi denominado de ldquocapital humanordquo

A ampliaccedilatildeo do conceito de capital proposto por Schultz reafirma

a tese da economia poliacutetica burguesa de que todos indistintamente

satildeo capitalistas a diferenccedila baacutesica seria a seguinte uns satildeo possuidores

dos meios de produccedilatildeo e outros da forccedila de trabalho Explicitando o

significado de sua teoria Schultz (1963 p 12-13) afirma que

A recusa em considerar as habilidades adquiridas

pelo homem (habilidades que ampliaram a proshy

dutividade econocircmica desse homem) como uma

forma de capital como bens produzidos da pro-

duccedilatildeo como resultado de um investimento tem

estimulado o conceito restritivo patentemente

errocircneo de que o trabalho prescinde do capital

e de que somente importa o nuacutemero de homens-

-hora [] Os trabalhadores vecircm-se tornando cashy

pitalistas no sentido de que tecircm adquirido muito

conhecimento e diversas habilidades que represhy

sentam valor econocircmico

Na esteira dessa intrigante formulaccedilatildeo Schultz procurou afirmar

que a importacircncia da escolarizaccedilatildeo residia precisamente em ldquovalor

econocircmicordquo Investimentos em educaccedilatildeo resultariam no aumento de

capital humano e na consequente elevaccedilatildeo das taxas de lucro A teoria

do capital humano considera que a educaccedilatildeo deve ser planejada como

fator de desenvolvimento econocircmico e natildeo como direito social

A proposiccedilatildeo consiste em relacionar o ser humano no mesmo

patamar de instrumentos utilizados na produccedilatildeo capitalista Nessa

linha a esquematizaccedilatildeo teoacuterica atestava que a elevaccedilatildeo da escolashy

ridade de um povo ou de cada indiviacuteduo seria diretamente proshy

porcional ao aumento da capacidade de trabalho e ao aumento da

riqueza pessoal sendo que a soma de todas as riquezas significaria

no crescimento da riqueza de uma naccedilatildeo 3

Para Schultz (1971) o valor da educaccedilatildeo estaria na habilitaccedilatildeo de

pessoas para lidar com situaccedilotildees de desequiliacutebrio de mudanccedila e de rupshy

tura O quantum de educaccedilatildeo deveria ser pensado em funccedilatildeo das necessishy

dades de geraccedilatildeo de competecircncias para a eficiecircncia produtiva no trabalho

A anaacutelise de Frigotto (1986) revela os limites e o significashy

do da teoria do capital humano Revela o seu vieacutes empiricista

sua perspectiva epistemoloacutegica baseada no positivismo e o caraacuteter

poliacutetico-ideoloacutegico centrado na economia poliacutetica burguesa

3 Em outras palavras as pessoas ricas seriam aquelas que mais teriam recebido

investimentos em capital humano consequentemente a pessoa pobre seria aquela

que natildeo conseguiu desenvolver o seu capital humano Os paiacuteses mais ricos seriam

aqueles que teriam realizado o maior esforccedilo de elevaccedilatildeo do patamar meacutedio de

racionalidade de seu povo por meio da escola e os paiacuteses mais pobres os que menos

investiram nesse quesitoVale lembrar que a teoria de Schultz nunca conseguiu

explicar o caso brasileiro que de um lado manteacutem-se como uma das maiores

economias do mundo de outro o paiacutes apresenta peacutessimos indicadores educacionais

que comprovam a fragilidade da educaccedilatildeo escolar brasileira

30

No Brasil as repercussotildees da teoria do capital humano foram sigshy

nificativas durante o periacuteodo ditatorial abrangendo vaacuterios aspectos (a)

financiamento da educaccedilatildeo o orccedilamento da educaccedilatildeo passou a ser

definido com base nos mesmos criteacuterios adotados nos investimentos do

setor produtivo (b) planejamento educacional estabeleceu a vincula-

ccedilatildeo direta e imediata entre educaccedilatildeo e setor produtivo - o Plano Setorial

de Educaccedilatildeo e Cultura de 19721974 deixa isso claro (c) legislaccedilatildeo

uma nova lei de Diretrizes e Bases foi estabelecida (lei 569271) para

ordenar a educaccedilatildeo brasileira - chamada ldquoformaccedilatildeo especializadardquo no 2o

grau (atual Ensino Meacutedio) pode ser tomada como um dos exemplos da

vinculaccedilatildeo proposta entre educaccedilatildeo e economia (d) concepccedilatildeo pedashy

goacutegica afirmaccedilatildeo do tecnicismo como referecircncia para os processos forshy

niuivos procurando estabelecer a objetividade do trabalho pedagoacutegico

1 partir da precisatildeo das teacutecnicas e tecnologias de ensino

Apesar das criacuteticas e resistecircncias a teoria do capital humano

iiio foi definitivamente superada Ao contraacuterio desde os anos

laquoU 1990 a teoria vem sendo atualizada e difundida por vaacuterios

mielectuais orgacircnicos da classe burguesa A novidade eacute que a

educaccedilatildeo aleacutem de resultar na elevaccedilatildeo do capital humano deve

timbeacutem desenvolver o chamado capital social Isso significa que

1 Iunccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar foi ampliada embora a perspectiva

i onomicista continue preponderando4

Se o desenvolvimento do capital humano tem interferecircncia direta

mi i questatildeo econocircmica o capital social por sua vez relaciona-se com

i i|iK staacuteo social de forma mais precisa com a coesatildeo poliacutetica e ideoloacutegica

1 iiiballuidores ao projeto hegemocircnico de sociabilidade O capital social

bull ii u licionado agrave elevaccedilatildeo de algumas chamadas variaacuteveis relacionadas agraves

bull bullIuluias humanas que repercutem nas relaccedilotildees comunitaacuterias entre elas a

bull h gt1 u i accedilaacutelt gt a confianccedila muacutetua e a capacidade de participaccedilatildeo (PUTNAM

lt h)M A tese sugere que a elevaccedilatildeo do capital social permitiraacute que os indi-

il icssjliar que natildeo se trata de sobreposiccedilatildeo de accedilotildees mas sim a especificaccedilatildeo de

mi i vi-nccedilotildecs educativas visando assegurar a formaccedilatildeo humana no acircmbito escolar As

u iiiLiccedilotildees de Gustavo Ioschpe intelectual orgacircnico da burguesia satildeo reveladoras

iVni bull llt lui outros ganhos comunicantes associados com a educaccedilatildeo maior toleracircncia

bull u it-iii ia social melhores cuidados com a sauacutede tendecircncias democraacuteticas controle

I iu|miImis violentosrdquo (IOSCHPE 2004 p 67)

viduos se organizem para solucionar os problemas sociais que os afligem

sem necessariamente depender da intervenccedilatildeo paternalista estatal

O projeto de educaccedilatildeo referenciado na teoria do capital e

ampliado com o acreacutescimo da teoria do capital social reconhece

a especificidade da educaccedilatildeo escolar No entanto as referecircncias

sobre a funccedilatildeo da instituiccedilatildeo escolar satildeo restritivas e pragmaacutetishy

cas Sob o ponto de vista mais amplo significa reafirmar que os

subalternos natildeo nasceram para assumir a condiccedilatildeo de classe d ishy

rigente Especificamente sobre o processo pedagoacutegico significa

estabelecer uma formaccedilatildeo de caraacuteter minimalista em que o acesso

ao conhecimento sistematizado na escola ocorreraacute respeitando o

m iacutenimo necessaacuterio para simplesmente desenvolver uma racionashy

lidade instrumental base das competecircncias para a empregabili-

dade O fundamento pedagoacutegico desta concepccedilatildeo estaacute alicerccedilada

na pedagogia das competecircncias (RAM OS 2001) cabendo agrave esshy

cola somente orientar a formaccedilatildeo do trabalhador-cidadatildeo produshy

tivo eficiente em sua condiccedilatildeo de subalternidade

Concepccedilatildeo 2 A funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar eacute formar para a cidadania

Na sociedade capitalista o acesso ao conhecimento sisteshy

matizado estaacute subordinado agrave condiccedilatildeo de classe podendo ser

alterado em funccedilatildeo dos resultados provisoacuterios das lutas poliacuteticas

na educaccedilatildeo conforme destacado anteriormente Nesse sentido

as disputas envolvendo o acesso ao conhecimento ocorrem porshy

que a ciecircncia e a tecnologia se converteram em forccedila produtiva

e instrumento de poder O controle sobre o conhecimento sisteshy

matizado portanto passou a fazer parte da estrateacutegia de dom ishy

naccedilatildeo de classe na sociedade capitalista Diante disso parece-nos

relevante indagar o que significa afirmar que a funccedilatildeo da escola

se destina a preparar para a cidadania Como fica o acesso ao

conhecimento sistematizado nesta concepccedilatildeo

Primeiramente devemos considerar que a cidadania eacute uma consshy

truccedilatildeo resultante das contradiccedilotildees internas das revoluccedilotildees burguesas

32

Embora se no passado representasse um avanccedilo frente agrave velha ordem

feudal ou escravista e se na atualidade expresse tambeacutem um avanccedilo

frente aos regimes e praacuteticas autoritaacuterias eacute importante lembrar que

este constructo designa apenas o reconhecimento da igualdade forshy

mal entre seres humanos que vivem condiccedilotildees poliacuteticas e econocircmicas

profundamente desiguais Em outras palavras o estatuto da cidadania

natildeo altera em absolutamente nada a realidade da dominaccedilatildeo poliacutetica e

exploraccedilatildeo econocircmica realizadas na sociedade capitalista

Um aspecto importante a ser considerado se refere agravequilo que

fundamenta o preceito de cidadania De modo geral o cidadatildeo

natildeo tem identidade de classe mas sim uma condiccedilatildeo individual E

cidadatildeo tanto o que explora e domina quanto aquele que eacute exploshy

rado e dominado por outro O cidadatildeo eacute o indiviacuteduo e natildeo uma

coletividade regulado por um estatuto juriacutedico e certas normas

sociais no contexto de um Estado Portanto ser cidadatildeo significa

integrar-se na vida social a partir da regulaccedilatildeo formal e de valores

indicando o pertencimento poliacutetico A definiccedilatildeo apresentada por

lt mivez (1990 p 15) confirma esta compreensatildeo

A cidadania define a pertenccedila a um Estado Ela daacute

ao indiviacuteduo um status juriacutedico ao qual se ligam dishy

reitos e deveres particulares Esse status depende das

leis proacuteprias de cada Estado e pode-se afirmar que

haacute tantos tipos de cidadatildeos quanto tipos de Estados

O problema da cidadania poreacutem natildeo eacute apenas proshy

blema juriacutedico ou constitucional se provoca debates

apaixonados eacute porque coloca a questatildeo do modo de

inserccedilatildeo do indiviacuteduo em sua comunidade assim

como de sua relaccedilatildeo com o poder poliacutetico

lt luo de ser cidadatildeo natildeo assegura a igualdade de condiccedilotildees

1 vidi e trabalho em um contexto de profunda desigualdade

moiiiua poliacutetica e social Muito menos assegura a possibili-

l raquolt dc ser diferente no contexto em que a igualdade formal se

ilgt In r procurando uniformizar a todos A cidadania portan-

bull i ui li ii a possibilidade da atuaccedilatildeo poliacutetica de indiviacuteduos e

ni i |i 1 1 ic as sociais dentro dos limites da ordem existente5

I iliIr poliacutetica denominamos o direito de organizaccedilatildeo de representaccedilatildeo e de

l i I h preacutesentantes atraveacutes do voto

As inuacutemeras adjetivaccedilotildees propostas ao conceito sinalizam as restriccedilotildees

de sua inserccedilatildeo na praacutetica social concreta Na lista de adjetivaccedilotildees encontrashy

mos ldquocidadania participativardquo ldquocidadania efetivardquo ldquocidadania emancipadardquo

ldquocidadania ativardquo ldquocidadania eacuteticardquo ldquocidadania popularrdquo entre outras6

Natildeo queremos com essa delimitaccedilatildeo invalidar a importacircncia da

cidadania no passado e no presente na sociedade capitalista especialshy

mente para a formaccedilatildeo social brasileira Ao contraacuterio acreditamos

que legalidade constituiacuteda no estatuto juriacutedico dos direitos individushy

ais e poliacuteticos - envolvendo a possibilidade de organizaccedilatildeo de represhy

sentaccedilatildeo de coletivos e de possibilidades de escolhas de representantes

atraveacutes do voto mdash natildeo eacute passiacutevel de desprezo Entretanto o que busshy

camos assinalar eacute que vincular o projeto de educaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo da

cidadania eacute insuficiente pois a cidadania natildeo pressupotildee a superaccedilatildeo

da ordem capitalista (TONET 2005)

Cabe lembrar que nas sociedades capitalistas dependentes como

eacute o caso da sociedade brasileira a exploraccedilatildeo se materializa em supe-

rexploraccedilatildeo a participaccedilatildeo poliacutetica eacute sempre condicionada a marcos

juriacutedicos restritivos a concentraccedilatildeo da renda e da propriedade eacute extreshy

mada a polarizaccedilatildeo social eacute mais evidente e a dominaccedilatildeo ideoloacutegica eacute

maciccedila (CA RDO SO 2006) Considerando que os indicadores sociais

e econocircmicos confirmam esta observaccedilatildeo acreditamos que limitar a

finalidade da escola para a produccedilatildeo da cidadania eacute algo insuficiente

E importante considerar que a vinculaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar

e cidadania possui um lastro histoacuterico importante no Brasil De modo

mais amplo talvez esta vinculaccedilatildeo possa ser creditada como resposta

dos educadores progressistas agrave experiecircncia vivida pelos trabalhadores

brasileiros no contexto da ditadura empresarial-militar que perdurou

por cerca de vinte anos Se esta hipoacutetese estiver correta poderemos

afirmar que a educaccedilatildeo para a cidadania representou um posicionashy

mento criacutetico frente ao regime autoritaacuterio agrave cultura poliacutetica consershy

6 A produccedilatildeo acadecircmica sobre o tema eacute consideraacutevel Aleacutem de teses

dissertaccedilotildees e artigos cientiacuteficos a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e cidadania foi

abordada em diferentes obras Eis alguns livros sobre o tema Buffa et al

(1987) Ferreira (1993) Demo (1994) Libacircneo (1998)

34

vadora ao clicntelismo e ao patrimonialismo presentes na vida social

Sobre o acesso ao conhecimento sistematizado para Libacircneo (1998)

o exerciacutecio para a cidadania exigiria o domiacutenio dos conhecimentos

sistematizados como ferramentas individuais para a intervenccedilatildeo na

realidade Apesar da perspectiva progressista da formulaccedilatildeo acreditashy

mos que educar para a cidadania eacute diferente de educar para compreshy

ensatildeo dos limites histoacutericos e teoacutericos da cidadania

Aleacutem das formulaccedilotildees progressistas sobre a educaccedilatildeo escolar e

cidadania existem tambeacutem obras de caraacuteter conservador que buscam

reafirmar aquilo que Neves (2005) define como a nova pedagogia da

hegemonia por meio da educaccedilatildeo escolar As formulaccedilotildees de Delors

(1996) e Morin (2000) divulgadas sobre a chancela da Organizaccedilatildeo das

Naccedilotildees Unidas satildeo casos exemplares que repercutem na definiccedilatildeo da

poliacutetica educacional em nosso paiacutes nos anos recentes de nossa histoacuteria7

Para Delors ldquona escola eacute que deve comeccedilar a educaccedilatildeo para

uma cidadania consciente e ativardquo (1996 p 28)s Entretanto peshy

los limites teoacutericos e histoacutericos do conceito e considerando suas

opccedilotildees ideoloacutegicas o maacuteximo que Delors consegue eacute reafirmar

com novas palavras as velhas construccedilotildees que envolvem a temaacutetica

educaccedilatildeo para a cidadania Em suas palavras

Mas como aprender a conviver nesta aldeia global

se somos incapazes de viver em paz nas comunidades

naturais a que pertencemos naccedilatildeo regiatildeo cidade alshy

deia vizinhanccedila A questatildeo central da democracia eacute

saber se desejamos e somos capazes de participar da

vida em comunidade conveacutem natildeo esquecer que esse

desejo depende do sentido da responsabilidade de

cada um (DELORS 1996 p 7-8)

A tese explicita claramente os limites da cidadania revelando que

sua vinculaccedilatildeo se estabelece com o indiviacuteduo e natildeo com as coletividashy

des Por meio da chamada cidadania consciente e ativa Delors retoma

Acredi tamos que parte dessas formulaccedilotildees saacuteo tributaacuterias da concepccedilatildeo pedagoacutegica escolanovista

Para entender o que isso significa em termos poliacuteticos e filosoacuteficos recomendamos a leitura de

Saviani (1987) especialmente o capiacutetulo dois ldquoEscola e democracia I a Teoria da Curvatura

da Varardquo

8 Os adjetivos ldquoconscienterdquo e ldquoativordquo demonstram a intenccedilatildeo de estabelecer uma atualizaccedilatildeo

da cidadania tal como assinalados anteriormente

o individualismo como valor moral radical reafirmando a formulaccedilatildeo

valorizada pela doutrina liberal e pelos projetos neoliberal e neoliberal

da terceira via Estes limites podem ser verificados em outra afirmaccedilatildeo

Um sentimento de vertigem apodera-se de nossos

contemporacircneos divididos entre essa globalizaccedilatildeo - a

cujas manifestaccedilotildees eles satildeo obrigados agraves vezes a se

submeterem mdash e a busca pessoal de suas raiacutezes refeshy

recircncias e filiaccedilotildees

A educaccedilaacuteo deve enfrentar esse problema porque na

perspectiva do parto doloroso de uma sociedade munshy

dial ela situa-se mais do que nunca 110 acircmago do deshy

senvolvimento da pessoa e das comunidades sua misshy

satildeo consiste em permitir que todos sem exceccedilatildeo faccedilam

frutificar seus talentos e suas potencialidades criativas

o que implica por parte de cada um a capacidade de assumir sua proacutepria responsabilidade e de realizar seu proshyjeto pessoal (D ELO RS 1996 p 10 grifo nosso)

Aleacutem dos aspectos citados cabe destacar o conteuacutedo ideoloacutegico

dos princiacutepios valorativos da educaccedilatildeo para a cidadania sistematizada

por Jacques Delors Segundo Duarte (2008) estes princiacutepios satildeo orienshy

tados pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo De modo geral os prinshy

ciacutepios convergem para a afirmaccedilatildeo do individualismo como valor moral

radical A tiacutetulo de exemplo podemos citar a hierarquizaccedilatildeo das formas

de aprendizagem realizadas pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo

Duarte (2008) verifica que para esta corrente pedagoacutegica eacute mais releshy

vante e significativo aprender sozinho do que pela mediaccedilatildeo do outro

Isso significa a ratificaccedilatildeo do individualismo como valor morai radical e

define o conteuacutedo da chamada cidadania consciente e ativa

A posiccedilatildeo de Edgar Morin se apresenta na mesma perspectiva trashy

ccedilada por Jacques Delors Delineando as bases para a educaccedilatildeo escolar

formar o chamado cidadatildeo planetaacuterio do seacuteculo XXI o autor afirma que

Podemos considerar que a plenitude e a livre

expressatildeo dos indiviacuteduos-sujeitos constituem

nosso propoacutesito eacutetico e poliacutetico sem entreshy

tanto pensarmos que constituem a proacutepria

finalidade da triacuteade indiviacutediwsociedadelespeacute-

cie A complexidade humana natildeo poderia ser

compreendida dissociada dos elementos que

a constituem todo desenvolvimento verdadeishyramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais das parshyticipaccedilotildees comunitaacuterias e do sentimento de pershytencer agrave espeacutecie humana (MORIN 2000 p

54-55 grifo do autor)

Mais uma vez o indiviacuteduo atomizado e sem identidade de

classe portanto diluiacutedo nas relaccedilotildees sociais eacute apresentado como

referecircncia central da formulaccedilatildeo

A finalidade da formaccedilatildeo do chamado cidadatildeo planetaacuterio eacute

e xplicitada da seguinte forma

O problema da compreensatildeo tornou-se crucial para

os humanos E por este motivo deve ser uma das

finalidades da educaccedilatildeo do futuro Lembremo-

-nos de que nenhuma teacutecnica de comunicaccedilatildeo do

telefone agrave Internet traz por si mesma a compreshy

ensatildeo A compreensatildeo natildeo pode ser quantificada

Educar para compreender a matemaacutetica ou uma

disciplina determinada eacute uma coisa educar para a

compreensatildeo humana eacute outra Nela encontra-se a

missatildeo propriamente espiritual da educaccedilatildeo ensishy

nar a compreensatildeo entre as pessoas como condiccedilatildeo

e garantia da solidariedade intelectual e moral da

humanidade (M O R IN 2000 p 94)

construccedilatildeo de uma sociedade solidaacuteria eacute de fato algo re-

bull iiiu Entretanto a formulaccedilatildeo de Morin aposta na solidarie-

tllt lsquocm alterar as condiccedilotildees objetivas de vida Eacute possiacutevel esta-

bull I ei i solidariedade num contexto marcado pela exploraccedilatildeo e

|m 11 iloi iaccedilatildeo das coisas em detrimento da condiccedilatildeo humana

I ui siacutentese o que se busca eacute na verdade o estabelecimento de

d u pu(o entre as classes sociais sobre o controle e direccedilatildeo

1 lt liiiijMicsa Desse modo a funccedilatildeo da escola do seacuteculo XXI

i i ili pcli cidadania seraacute a de reafirmar a manutenccedilatildeo das rela-

bull | raquodei e xistentes com o aprofundamento da subserviecircncia da

u ii iliilliulora Aleacutem disso nesta concepccedilatildeo o conhecimento

sistematizado cede lugar agrave experiecircncia imediata ou quando muito

na perspectiva progressista agrave reflexatildeo sobre formas de intervenccedilatildeo

na vida poliacutetica da escola da comunidade ou do paiacutes

Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar educar para a emancipaccedilatildeo humana

O consenso em torno da legitimidade da instituiccedilatildeo escolar

na sociedade contemporacircnea eacute um dado consolidado certamente

influenciado pelas concepccedilotildees anteriormente analisadas Entretanshy

to um problema persiste tais formulaccedilotildees restringem a formaccedilatildeo

humana e consequentemente limitam as possibilidades de insershy

ccedilatildeo no mundo real Diante disso cabe uma questatildeo a educaccedilatildeo

escolar pode oferecer outra perspectiva formativa que supere o

economicismo da teoria do capital humano e a orientaccedilatildeo politi-

cista da educaccedilatildeo para a cidadania Qual o papel do conhecimento

sistematizado nesta alternativa pedagoacutegica

Foi procurando responder a esta questatildeo que alguns educadores brashy

sileiros procuraram delinear uma nova possibilidade pedagoacutegica sobre a esshy

pecificidade e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar tendo em vista a necessidade de

elevar a escolarizaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes da classe trabalhadora9

Esta concepccedilatildeo pedagoacutegica foi sistematizada a partir da anaacutelishy

se criacutetica sobre a configuraccedilatildeo e dinacircmica da sociedade capitalista

Conhecendo os limites desta forma cultural de organizaccedilatildeo da vida

o segundo passo foi analisar as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes

considerando as necessidades da classe trabalhadora e os objetivos

da classe burguesa A primeira constataccedilatildeo foi que os processos de

dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo tiacutepicos das formaccedilotildees sociais capitalistas

impedem a emancipaccedilatildeo humana A segunda constataccedilatildeo foi que

as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes eram expressotildees especiacuteficas do

projeto de sociedade da classe dominante A siacutentese desta anaacutelise

9 A principal figura deste esforccedilo foi Dermeval Saviani que desde os anos finais de 1960

jaacute refletia sobre a necessidade e possibilidades de sistematizar uma teoria da educaccedilatildeo

que superasse tanto as teorias natildeo criacuteticas da educaccedilatildeo quanto agraves teorias criacutetico-

reprodutivistas Para compreender este processo ver Saviani (1987 2003)

38

pode ser assim descrita eacute necessaacuterio superar as teorias e experiecircncias

existentes fornecendo aos educadores uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo

que esteja vinculada ao compromisso com a emancipaccedilatildeo da classe

trabalhadora (SAVIANI 2003) O resultado desta sistematizaccedilatildeo

foi denominado de Pedagogia histoacuterico-criacutetica Sua fundamentaccedilatildeo

encontra-se alicerccedilada no materialismo histoacuterico

O ponto de partida desta concepccedilatildeo foi compreender a condishy

ccedilatildeo humana e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo na vida social Sobre o primeishy

ro aspecto recuperando as ideias de Friedrich Engels e Karl Marx

a Pedagogia histoacuterico-criacutetica afirma que os seres humanos precisam

criar permanentemente as condiccedilotildees de sua existecircncia Enquanto os

outros animais se adaptam ao mundo natural coletivamente os seres

humanos transformam este mesmo mundo para viabilizar a existecircncia

da vida produzindo cultura Em outras palavras natildeo encontramos

tudo de que precisamos pronto somos obrigados a produzir formas

materiais e natildeo materiais necessaacuterias agrave vida mdash formas que nascem da

necessidade objetiva (alimentaccedilatildeo por exemplo) e dos desejos e fanshy

tasias - e a transmitir estas formas para outras geraccedilotildees

Os seres humanos criam estas condiccedilotildees por meio de uma cashy

pacidade que desenvolveram ao longo da histoacuteria a capacidade de

antecipar no plano do pensamento e traduzir esta antecipaccedilatildeo em

accedilotildees concretas e intencionais para viabilizar a vida - algo que Engels

e Marx denominam de trabalho Por meio do trabalho - uma forma

bem mais elaborada que a accedilatildeo instintiva dos demais animais para

suprir as necessidades e vontades que os seres humanos possuem os

seres humanos ultrapassaram a determinaccedilatildeo bioloacutegica para assumir

a condiccedilatildeo mais complexa ser cultural Por cultura compreende-se

a forma de organizaccedilatildeo e produccedilatildeo da vida que envolve a poliacutetica

a economia as artes os haacutebitos e costumes predominantes em uma

formaccedilatildeo social e tempo histoacuterico (CHAUI 1995)

Com base nesta compreensatildeo a funccedilatildeo da educaccedilatildeo para a Pedashy

gogia histoacuterico-criacutetica se vincula agrave produccedilatildeo da existecircncia humana porshy

tanto a condiccedilatildeo de cultura Enquanto predominou na criaccedilatildeo e orgashy

nizaccedilatildeo das condiccedilotildees de existecircncia processos mais simples de trabalho

foi possiacutevel educar os mais novos no proacuteprio processo de trabalho Na

medida em que a criaccedilatildeo das condiccedilotildees humanas se tornou mais comshy

plexa aleacutem dos processos informais foi requerida a institucionalizaccedilatildeo

da educaccedilatildeo na forma escolar Conforme indicamos na primeira parte

deste texto a escola foi criada para oferecer as bases para a produccedilatildeo

coletiva da existecircncia humana

Contudo cabe ressaltar que a produccedilatildeo da existecircncia hushy

mana se faz por meio de relaccedilotildees sociais Estas relaccedilotildees assushy

mem formas especiacuteficas envolvendo a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo

poliacutetico-econocircmica de grupos sociais sobre outros grupos sociais

Significa afirmar que a relaccedilatildeo entre trabalho e educaccedilatildeo foi senshy

do delineada a partir do conteuacutedo e da forma como as relaccedilotildees

sociais de desenvolvem na sociedade de classes

O projeto dominante defende que a classe trabalhadora deve ser

mantida na condiccedilatildeo de subalternidade soacutecio-poliacutetico-econocircmica A

orientaccedilatildeo eacute para que as crianccedilas e adolescentes desta classe sejam edushy

cados para se tornarem um ldquorecurso humanordquo para o desenvolvimento

econocircmico capitalista e para obedecer as ldquoregras sociaisrdquo para a harmonia

social desta sociedade contraditoacuteria

Reconhecendo que os seres humanos podem viver em outras

condiccedilotildees e verificando que o projeto dominante encontra resisshy

tecircncia na dinacircmica escolar a Pedagogia histoacuterico-criacutetica procura

oferecer aos educadores criacuteticos uma teoria educacional alternashy

tiva de caraacuteter contra-hegemocircnico A perspectiva eacute afirmar que

os alunos da classe trabalhadora precisam ser educados para assushy

mirem as condiccedilotildees subjetivas necessaacuterias agrave direccedilatildeo do processo

histoacuterico tendo em vista a emancipaccedilatildeo humana 10

A perspectiva eacute que os alunos ( Io) compreendam criticamenshy

te a organizaccedilatildeo e dinacircmica das formas de produccedilatildeo da existecircncia

10 Eacute importante deixar claro que natildeo eacute a educaccedilatildeo escolar que realizaraacute a emancipaccedilatildeo humana

mas sim a mudanccedila na forma de produzir a existecircncia humana Contudo sem educaccedilatildeo

essa mudanccedila jamais ocorreraacute Por emancipaccedilatildeo humana entendemos a condiccedilatildeo social

poliacutetica e econocircmica que permitiraacute ao gecircnero humano superar efetivamente todas as formas

de dominaccedilatildeo exploraccedilatildeo e opressatildeo Tratar da emancipaccedilatildeo humana significa projetar a

necessidade da realizaccedilatildeo plena do ser social em comunhatildeo com o meio ambiente e com os

demais seres humanos significa projetar a sociabilidade autocircnoma e verdadeiramente livre

An

humana especialmente a forma capitalista (2o) dominem os coshy

nhecimentos sistematizados e as formas culturais existentes comshy

preendendo-os como produto e instrumento necessaacuterio agrave produccedilatildeo

da existecircncia (3o) desenvolvam a loacutegica dialeacutetica de organizaccedilatildeo do

pensamento para superar a loacutegica formal e a passividade intelectual

em busca da autonomia do pensar (SAVIANI 1987 2003)

Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamental que os alushy

nos natildeo soacute assimilem conhecimentos mas que construam sentishy

dos e significados sobre a relaccedilatildeo entre conhecimento-trabalho-

-vida no mundo real complexo e contraditoacuterio Os conteuacutedos

das disciplinas que compotildeem o curriacuteculo escolar ao inveacutes de

orientar para a abstraccedilatildeo do pensamento ou ordenar a racionalishy

dade teacutecnica para o simples fazer podem estabelecer mediaccedilotildees

importantes para ampliar a compreensatildeo sobre as dimensotildees da

produccedilatildeo da existecircncia humana Trata-se de reestabelecer o nexo

orgacircnico entre vidatrabalho e educaccedilatildeo

Nessa linha o ensino e aprendizagem do conhecimento sistematizashy

do envolveraacute a compreensatildeo da realidade vivida a partir do diaacutelogo com

os conhecimentos espontacircneos e aqueles advindos da experiecircncia Natildeo se

trata de negar o conhecimento espontacircneo e o conhecimento gerado pela

experiecircncia Ao contraacuterio para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamenshy

tal oferecer novas possibilidades de interpretaccedilatildeo desses conhecimentos e

seus significados para a vida humana O que se busca entatildeo eacute ultrapassar o

senso comum a superficialidade e a abstraccedilatildeo para assegurar que a aproshy

priaccedilatildeo do conhecimento sistematizado permita compreender e atuar nos

processos de produccedilatildeo da existecircncia humana e das relaccedilotildees de poder neshy

les envolvidas Nesta concepccedilatildeo os conteuacutedos escolares ao inveacutes de frios

e vazios como eacute tiacutepico da pedagogia tradicional e pedagogia tecnicista

produzem sentidos e significados para o professor e o aluno porque se

vinculam de forma mais ou menos indireta aos processos reais de produshy

ccedilatildeo material e simboacutelica dos meios necessaacuterios agrave vida e agrave interpretaccedilatildeo das

relaccedilotildees de poder envolvidas nestes processos

Enquanto sujeitos do processo educativo professores e alunos

partem juntos da praacutetica social isto eacute da realidade vivida pela hu-

manidade para compreender o mundo real interpretar as formas

de produccedilatildeo deste mundo e estabelecer possibilidades de agir nele

E claro que enquanto espaccedilo social a escola se materializa enquanto

instacircncia de sociabilidade onde haacute encontros humanos ricos e profundos

para a experiecircncia de crianccedilas e adolescentes Entretanto o que justifica a

especificidade da instituiccedilatildeo escolar natildeo eacute o simples conviacutevio ainda que

ele seja importante mas sim a necessidade de apropriaccedilatildeo coletiva do

conhecimento sistematizado tendo em vista a compreensatildeo da condiccedilatildeo

humana e as possibilidades de intervenccedilatildeo no mundo

Reconhecer a especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute importante

para que as praacuteticas pedagoacutegicas natildeo sejam orientadas para rebaixar

a escolarizaccedilatildeo destinada aos filhos da classe trabalhadora Enquanto

espaccedilo de vivecircncia coletiva a instituiccedilatildeo escolar deve ter claro que

funccedilatildeo deve cumprir na sociedade Esvaziar o curriacuteculo escolar de coshy

nhecimento sistematizado e valorizar os saberes advindos da experiecircnshy

cia imediata como centro do processo educativo eacute um meio que vem

sendo usado para comprometer a formaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes

da classe trabalhadora mantendo-os na condiccedilatildeo de subalternidade

O desafio proposto pela Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute tornar a

instituiccedilatildeo escolar numa instacircncia que socializa os conhecimentos sisshy

tematizados para permitir o domiacutenio dos meios necessaacuterios agrave insershy

ccedilatildeo ativa na vida social com o horizonte da emancipaccedilatildeo humana E

possibilitar que os processos pedagoacutegicos escolares assegurem a todos

indistintamente aquilo que se tornou indispensaacutevel para compreenshy

deragir ono mundo o conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico

Consideraccedilotildees finais

Vivemos numa sociedade de classes Sob esta condiccedilatildeo penshy

sar a funccedilatildeo e especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute tratar dos

projetos formativos que disputam a formaccedilatildeo humana nesta soshy

ciedade E tambeacutem considerar a posiccedilatildeo das perspectivas pedashy

goacutegicas em relaccedilatildeo ao tratamento dispensado ao conhecimento

sistematizado E compreender que as definiccedilotildees pedagoacutegicas natildeo

satildeo simples escolhas teacutecnicas ou arbitraacuterias

42

Isso revela que o trabalho educativo na sociedade de classes

eacute algo muito complexo que exige do professor rigor na tomada

de posiccedilotildees compromisso poliacutetico com um projeto de sociedade

que assume o domiacutenio dos instrumentos pedagoacutegicos para transshy

formar a intenccedilatildeo educativa em algo real na formaccedilatildeo humana

As possibilidades teoacutericas existem e elas se vinculam aos inshy

teresses de classe Haacute quem defenda que basta preparar a forccedila

de trabalho para o desenvolvimento capitalista Haacute quem acredite

que educar para a cidadania eacute suficiente para assegurar direitos Jaacute

existem intelectuais orgacircnicos da classe burguesa que reconhecem

que eacute preciso que a escola eduque o ldquocidadatildeo trabalhador produtishy

vordquo uma siacutentese das correntes acima indicadas

Entretanto as possibilidades acima apresentadas satildeo insuficienshy

tes para a classe trabalhadora pois o economicismo e politicismo peshy

dagoacutegicos - e as possiacuteveis siacutenteses geradas entre eles - se vinculam

ainda ao plano da conservaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute preciso educar para contrishy

buir com o desafiador e difiacutecil processo de valorizaccedilatildeo da vida humashy

na e natildeo das coisas e construccedilatildeo da emancipaccedilatildeo Sua perspectiva

eacute oferecer aos educadores do campo criacutetico uma alternativa teoacuterica e

metodoloacutegica para a construccedilatildeo da mudanccedila valorizando a instituishy

ccedilatildeo escolar em um espaccedilo rico e dinacircmico de ensino-aprendizagem

repleto de sentidos e significados para os que precisam romper com

a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo de classes

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CAPIacuteTULO II

0 ENSINO DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA E A FORMACcedilAtildeO DE SUJEITOS HISTOacuteRICOS EM BUSCA DOS FUNDAMENTOS TEOacuteRICOS E METODOLOacuteGICOS

Adriano de Paiva Reis

Alvaro de Azeredo Quelhas

Carla Cristina Carvalho Pereira

Leonardo Docena Pina

Renata Aparecida Alves Landim

Neste texto apresentamos os fundashy

mentos teoacutericos e metodoloacutegicos da persshy

pectiva de Educaccedilatildeo Fiacutesica que busca proshy

mover uma reflexatildeo criacutetica sobre a cultura

corporal Partimos da discussatildeo sobre a exisshy

tecircncia de dois distintos e contraditoacuterios proshy

jetos de formaccedilatildeo humana um que busca

assegurar a adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves atushy

ais relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e outro que tem

como horizonte a formaccedilatildeo de sujeitos criacuteshy

ticos e transformadores da sua proacutepria hisshy

toacuteria Com base no materialismo histoacuterico-

-dialeacutetico na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e

na abordagem Criacutetico-superadora apresenshy

tamos uma possibilidade didaacutetica que busca

abordar os conteuacutedos da cultura corporal de

modo ativo e dinacircmico tendo como ponto

de partida e de chegada a praacutetica social de

modo a permitir a ampliaccedilatildeo da compreenshy

satildeoaccedilatildeo dos alunos sobre a realidade

A relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo e a perspectiva dominante de formaccedilatildeo humana

O trabalho e a educaccedilatildeo satildeo atividades especificamente humanas e

estatildeo relacionadas ao processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura pelo

conjunto dos homens Por meio do trabalho o homem transforma intenshy

cionalmente a natureza para satisfazer suas necessidades criando uma reshy

alidade sociocultural um mundo especificamente humano portador de

produccedilotildees culturais (materiais e natildeo materiais) cada vez mais desenvolvidas

Para relacionar-se com os outros seres humanos inserindo-se em

determinada fase do desenvolvimento histoacuterico da humanidade cada

indiviacuteduo singular precisa apropriar-se da riqueza da experiecircncia humashy

na acumulada na cultura pois as aptidotildees e funccedilotildees humanas historicashy

mente formadas natildeo se reproduzem pela hereditariedade mas precisam

ser formadas isto eacute transmitidas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo A esse processhy

so de transmissatildeo da cultura produzida histoacuterica e coletivamente pelo

conjunto dos homens mdash que permite a formaccedilatildeo da humanidade em

cada indiviacuteduo singular - denomina-se educaccedilatildeo (SAVIANI 2005)

Entretanto como as formas assumidas pelo trabalho nos dishy

versos modos de produccedilatildeo da existecircncia humana satildeo fenocircmenos

construiacutedos concretamente nas relaccedilotildees sociais a formaccedilatildeo humana

tende a ser determinada pelos processos histoacutericos De acordo com

Marx (2005) no modo de produccedilatildeo capitalista - aquele que estaacute

fundado na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo e na aproshy

priaccedilatildeo privada dos produtos do trabalho - a relaccedilatildeo do homem

com o mundo aparece invertida de tal forma que o trabalho assashy

lariado caracteriacutestico da moderna sociedade burguesa resulta num

estranhamento do homem com o seu trabalho o trabalho de ativishy

dade de realizaccedilatildeo do homem eacute transformado em ldquo[] desrealizaccedilatildeo

do trabalhador a objetivaccedilatildeo como perda e servidatildeo do objeto a

apropriaccedilatildeo com alienaccedilatildeo1rdquo (MARX 2005 p 1 12)

i Em Marx (2005) a alienaccedilatildeo corresponde ao estranhamento total do homem com a natureza

com a humanidade e com ele proacuteprio sendo que a base de todas essas relaccedilotildees sociais estranhas

c a alienaccedilatildeo do proacuteprio trabalho O u seja a partir da expropriaccedilatildeo do produto e do processo

de seu trabalho o homem passa a alienar-se de sua vida como um todo

Tendo em vista que o trabalho na sociedade capitalista eacute contrashy

ditoriamente fundamento da existecircncia humana e meio de alienaccedilatildeo

pensar o trabalho como princiacutepio educativo implica em visualizar

dois projetos distintos de educaccedilatildeo escolar um que busca adaptar os

indiviacuteduos agraves atuais relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo e outro que visa

alcanccedilar o pleno desenvolvimento da iiiacutedividualidade livre e universal (DUARTE 2006) algo atrelado agrave construccedilatildeo de uma nova sociedashy

de na qual estejam superadas as relaccedilotildees sociais alienadas

Na perspectiva voltada agrave reproduccedilatildeo do capital a educaccedilatildeo

tem servido como meio de adaptar o indiviacuteduo agraves condiccedilotildees hisshy

toacutericas da produccedilatildeo negando o potencial criativo e transformador

da realidade que o homem possui impedindo-o de reconhecer-se

como sujeito da histoacuteria Como analisam criticamente Frigotto

Ciavatta e Ramos (2005) o sentido economicista atribuiacutedo agrave edushy

caccedilatildeo a tem proclamado como instrumento de formaccedilatildeo para o

trabalho no seu sentido historicamente alienado dando origem

agrave noccedilatildeo ideoloacutegica da escola como promotora da ascensatildeo social

Este fato pode ser observado em mitos como o da empregabilidade

e do empreendedorismo que vigoram hoje em dia

Diversas anaacutelises realizadas sobre a relaccedilatildeo entre trabalho e

educaccedilatildeo como as realizadas por Ramos (2006) e Kuenzer (2007)

por exemplo evidenciam que no contexto de transiccedilatildeo do modo

laquoIr produccedilatildeo capitalista para o regime de acumulaccedilatildeo flexiacutevel2

1 implantaccedilatildeo de um novo paradigma produtivo e a emergecircncia

Jr novas demandas de ajustamento social provocaram uma nova

loi nia de ser do trabalhador que estabeleceu exigecircncias significa-

iivimente diferentes daquelas em curso ateacute entatildeo O u seja uma

nov a dinacircmica de produccedilatildeo e novos meacutetodos de trabalho passaram

I gtc acordo com as anaacutelises dc Harvey (2006) a partir da deacutecada dc 1970 com a explosatildeo

laquoli nova crise de superacumulaccedilatildeo capitalista inicia-se um periacuteodo de reestruturaccedilatildeo

lt miocircmica e de reajustamento social e poliacutetico marcando a passagem para um novo

irgime de acumulaccedilatildeo ldquoA acumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo surge em contraposiccedilatildeo agrave rigidez do

Inulismo ldquoEla se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho dos mercados de

uibalho dos produtos e padrotildees de consumordquo (1IARVKY 2006 p 140)

a exigir um tipo novo de trabalhador e de homem3 Assim para

atender aos interesses de valorizaccedilatildeo do capital vecircm ocorrendo

diversas alteraccedilotildees nos projetos e processos de formaccedilatildeo humana

a fim de ajustaacute-los agraves novas formas de organizaccedilatildeo do trabalho e

aos novos padrotildees de sociabilidade capitalista

Com base na argumentaccedilatildeo de que ingressamos na chamada ldquosocieshy

dade do conhecimentordquo a educaccedilatildeo passa a ser proclamada como uma

tarefa para toda a vida e a noccedilatildeo de competecircncia assume centralidade na

educaccedilatildeo escolar Para se consolidar como categoria ordenadora da relaccedilatildeo

trabalho-educaccedilatildeo a noccedilatildeo de competecircncia se inscreve num movimento

de afirmaccedilatildeo e negaccedilatildeo do conceito de qualificaccedilatildeo promovendo a valoshy

rizaccedilatildeo da sua dimensatildeo experimental agrave custa do enfraquecimento da sua

dimensatildeo conceituai e social (RAMOS 2006)

O enfraquecimento da dimensatildeo social da qualificaccedilatildeo pode ser

constatado nos discursos que proclamam um novo papel para a educashy

ccedilatildeo escolar natildeo mais formar para um determinado posto ou emprego

mas sim gerar potencial de empregabilidade De acordo com Gentili

(2005) a empregabilidade eacute o eufemismo da desigualdade estrutural

que caracteriza o mercado de trabalho e sintetiza a incapacidade mdash tamshy

beacutem estrutural mdash da educaccedilatildeo em cumprir sua promessa integradora

Conforme explica o autor esse conceito ganhou espaccedilo e centralidade

a partir da deacutecada de 1990 sendo definido como eixo fundamental de

um conjunto de poliacuteticas supostamente destinadas agrave diminuiccedilatildeo de risshy

cos sociais gerados pelo desemprego Para o discurso dominante o conshy

ceito de empregabilidade natildeo significa garantia de integraccedilatildeo mas apeshy

nas melhores condiccedilotildees para competir na luta pelos poucos empregos

disponiacuteveis no mercado de trabalho Esse conceito segundo o autor

acaba com a concepccedilatildeo do emprego e da renda como esferas de direito

3 Tomamos essa expressatildeo emprestada de Gramsci (1976) que foi originalmente utilizada

em Americanismo e Fordismo e sugere que um novo tipo de trabalho e de produccedilatildeo traz a

necessidade de formar um novo tipo de homem pois ldquo[] novos meacutetodos de trabalho estatildeo

indissoluvelmente ligados a um determinado modo de viver de pensar e de sentir a vida

natildeo eacute possiacutevel obter ecircxito num campo sem obter resultados tangiacuteveis no outrordquo (p 396)

4 De acordo com Frigotto (1998) o termo ldquosociedade do conhecimentordquo diz respeito a um

deslocamento conceituai da teoria do capital humano buscando alinhar ideologicamente

a educaccedilatildeo agrave nova materialidade e mascarar a realidade do desemprego estrutural

pois parte do entendimento de que a posse de determinadas condiccedilotildees

de empregabilidade natildeo garante a inserccedilatildeo no mercado de trabalho

No que se refere agrave concepccedilatildeo de conhecimento subjacente agrave noccedilatildeo de

competecircncia Ramos (2006) conclui que por estar pautada numa ldquoconcepshy

ccedilatildeo natural-funcionalista de homemrdquo esta noccedilatildeo abriga uma ldquoconcepccedilatildeo

subjetivo-relativista de conhecimentordquo que reforccedila o irracionalismo poacutes-

-moderno5 configurando-se como uma noccedilatildeo adaptadora do comportashy

mento humano agrave instabilidade da vida no capitalismo tardio

A perspectiva educacional ancorada na noccedilatildeo de competecircncia busshy

ca alterar a maneira de ser da classe trabalhadora adequando-a aos novos

valores necessaacuterios agrave manutenccedilatildeo das relaccedilotildees capitalistas No que tange

ao curriacuteculo essa noccedilatildeo privilegia os objetivos atitudinais comportamen-

tais e procedimentais ligados ao saber agir e saber fazer secundarizando e

subordinando os conhecimentos agraves situaccedilotildees praacuteticas uma vez que soacute satildeo

considerados vaacutelidos os conhecimentos que apresentam aplicabilidade no

desempenho das atividades de produccedilatildeo6

A pedagogia das competecircncias aleacutem de ser uma importanshy

te referecircncia pedagoacutegica defendida pelos intelectuais da classe

dominante natildeo estaacute soacute na defesa dos interesses capitalistas no

campo da educaccedilatildeo escolar pelo contraacuterio ganha forccedila na meshy

dida em que se alinha a outras concepccedilotildees que negam a escola

tomo instituiccedilatildeo responsaacutevel pela transmissatildeo do conhecimento

sistematizado como eacute o caso do construtivismo

Para desenvolver competecircncias eacute preciso antes de

tudo trabalhar por problemas e projetos propor

tarefas complexas e desafios que incitem os alunos

a mobilizar seus conhecimentos e cm certa medida

completaacute-los Isso pressupotildee uma pedagogia ativa

Com relaccedilaacuteo ao relativisino poacutes-moderno as anaacutelises de Harvey (2006) permitem

compreender que a necessidade capitalista de acelerar o tempo de giro do capital atraveacutes

ltli aceleraccedilatildeo da produccedilatildeo da troca e do consumo de mercadorias tem promovido

iima intensificaccedilatildeo da compressatildeo do tempo-espaccedilo influenciado as formas poacutes-

modernas de pensar sentir e agir acentuando a volatilidade e efemeridade valorizando

bull i instantacircneo e o descartaacutevel o que tem implicado na consideraccedilatildeo de que qualquer

perspectiva totalizante de conhecimento eacute inatingiacutevel

Ni realidade esta secundarizaccedilatildeo do conhecimento em favor de comportamentos

bull 1 iM-rvaacuteveis natildeo eacute novidade e em certa medida reedita os princiacutepios da Escola Nova (cf

I l AUTH 2001) e da Pedagogia do Domiacutenio (cf RAMOS 2006)

cooperativa aberta para a cidade ou para o bairro

seja na zona urbana ou rural Os professores devem

parar de pensar que dar aulas eacute o cerne da profissatildeo

Ensinar hoje deveria consistir cm conceber encaishy

xar e regular situaccedilotildees de aprendizagem seguindo os

princiacutepios pedagoacutegicos ativos e construtivistas Para

os professores adeptos de uma visatildeo construtivista

e interacionista de aprendizagem trabalhar no deshy

senvolvimento de competecircncias natildeo eacute uma ruptura

(PERRENOUD 2000 apud DUARTE 2003 p 6)

O trecho do trabalho de Perrenoud citado por Duarte (2003)

permite segundo este incluir a Pedagogia das Competecircncias - junshy

tamente com o Construtivismo a Escola Nova os estudos na linha

do ldquoProfessor Reflexivordquo dentre outros mdash no grupo das chamadas ldquoPe-

dagogias do Aprender a Aprenderrdquo que visam produzir uma maior

adaptabilidade dos indiviacuteduos agraves alteraccedilotildees do capitalismo7

As reflexotildees apresentadas ateacute aqui nos colocam diante do desafio

de construir as possibilidades de desenvolvimento dc uma perspectiva de

educaccedilatildeo que supere a loacutegica adaptadora da formaccedilatildeo mediada pelo lema

ldquoaprender a aprenderrdquo ou mais especificamente pela noccedilatildeo de aquisiccedilatildeo

de competecircncias para empregabilidade Por outro lado isso nos remete

ao resgate do significado de escola unitaacuteria de uma educaccedilatildeo politeacutecnica

e de uma formaccedilatildeo omnilateral na qual a formaccedilatildeo humana volta-se para

a apreensatildeo do conhecimento sistematizado em todas as suas dimensotildees

premissa fundamental para a formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos e criacuteticos

A perspectiva marxista de formaccedilatildeo humana como possibilidade de oposiccedilatildeo agrave perspectiva dominante de educaccedilatildeo escolar

Tendo como horizonte um projeto educativo voltado agrave superaccedilatildeo

do capitalismo Frigotto (1985) aponta a politecnia como concepccedilatildeo de

educaccedilatildeo que interessa agrave classe trabalhadora por estar fundamentada

na superaccedilatildeo da divisatildeo entre teoria e praacutetica em direccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do

homem em todas as suas dimensotildees - formaccedilatildeo omnilateral

Uma anaacutelise dai Pedagogias do Aprender a Aprender eacute apresentada em Duarte (2006)

A concepccedilatildeo de uma educaccedilatildeo politeacutecnica tem origem na

compreensatildeo do homem como um ser de muacuteltiplas atividades

Marx e Engels (1989) indicam que o homem natildeo deve limitar

seu desenvolvimento a uma das partes do seu corpo da sua inshy

teligecircncia ou de sua sensibilidade o homem todo e todo hoshy

mem deve constantemente humanizar-se pelo trabalho Desse

modo a educaccedilatildeo deveria ter como objeto de sua preocupaccedilatildeo o

desenvolvimento do homem nas suas maacuteximas potencialidades

partindo do pressuposto de que ele eacute capaz de captar a realidade

e dela se apropriar com todos os seus sentidos de maneira comshy

preensiva e como ser total (MARX 2005)

A concepccedilatildeo de formaccedilatildeo politeacutecnica fundamenta-se no mashy

terialismo histoacuterico dialeacutetico englobando de modo indissociaacuteshy

vel uma concepccedilatildeo pedagoacutegica uma perspectiva de trabalho e

um projeto de sociedade que garante agrave politecnia uma coerecircncia

entre meacutetodo concepccedilatildeo de mundo e praacutexis Ou seja a politecnia

apoia-se na anaacutelise das transformaccedilotildees dos processos de trabalho

que estatildeo na base das relaccedilotildees de produccedilatildeo capitalista (dimensatildeo

infraestrutural) Essa anaacutelise eacute realizada sob a perspectiva de um

projeto utoacutepico-revolucionaacuterio de construccedilatildeo de uma sociedade

sem classes (dimensatildeo utoacutepica) Essas duas dimensotildees acabam

por desembocar em propostas de accedilatildeo educativa (dimensatildeo peshy

dagoacutegica) que tecircm como finalidade contribuir para a formaccedilatildeo

do homem em todas as suas dimensotildees (RODRIGU ES 1998)

No que tange agrave concepccedilatildeo de escola pensada como um espaccedilo

de luta pela hegemonia8 da classe trabalhadora a defesa se faz no

sentido de uma escola que possibilite ao homem desenvolver suas

capacidades produtivas e intelectuais de forma unificada Nesta

perspectiva Gramsci (2004) defende um tipo de escola unitaacuteria que

ao mesmo passo encaminhe o jovem para a escolha profissional e

lorme sujeitos capazes de dirigir e controlar os rumos da vida em soshy

Adotamos o conceito de hegemonia conforme define Gramsci (2000) uma relaccedilatildeo de

poder presente nas sociedades capitalistas que expressa a dominaccedilatildeo de uma ou mais

fraccedilotildees dcclasse sobre o conjunto de sua proacutepria classe e das classes antagocircnicas em que

o econocircmico e o poliacutetico expressam a ldquodireccedilatildeo moral e intelectualrdquo a ser seguida pelo

conjunto da sociedade

ciedade Para tal esta escola deve promover a elevaccedilatildeo cultural9 dos

jovens preparando-os para a atividade social autocircnoma e criativa

A escola uacutenica do trabalho como estrutura busca a superaccedilatildeo das

trajetoacuterias de distribuiccedilatildeo desigual do saber a politecnia como conteshy

uacutedo visa construir uma organizaccedilatildeo curricular que resgate a totalidade

dos conhecimentos cientiacuteficos artiacutesticos filosoacuteficos e instrumentais

que regem os processos produtivos a dialeacutetica como meacutetodo caminha

no sentido da reunificaccedilatildeo entre ciecircncia e teacutecnica entre formaccedilatildeo geshy

ral e profissional entre teoria e praacutetica permitindo aos alunos comshy

preenderem o processo de construccedilatildeo do conhecimento

No entanto eacute importante salientar que a concepccedilatildeo de escola

unitaacuteria e de formaccedilatildeo politeacutecnica deve ser tomada como referecircncia

num processo mais amplo qual seja o de luta pela transformaccedilatildeo

da sociedade pois como elaborou Marx (1984) um modelo de

educaccedilatildeo que busque a unidade entre teoria e praacutetica entra em conshy

tradiccedilatildeo com a forma capitalista de produzir e dividir o trabalho

sendo que o uacutenico caminho para subverter essa ordem seria o desenshy

volvimento dessas contradiccedilotildees

Nesse sentido considerando a dinacircmica do processo de proshy

duccedilatildeoreproduccedilatildeo da cultura a defesa da escola como instituiccedilatildeo

responsaacutevel pela transmissatildeo-assimilaccedilatildeo do conhecimento sistemashy

tizado torna-se indispensaacutevel para que cada indiviacuteduo da espeacutecie

humana possa se inserir na histoacuteria social desenvolvendo-se em suas

maacuteximas potencialidades E exatamente nessa linha que se configura

a definiccedilatildeo de Saviani (2006) sobre o papel da escola na perspectiva

da Pedagogia histoacuterico-criacutetica

O movimento pedagoacutegico que deu origem agrave Pedagogia hisshy

toacuterico-criacutetica surge no final da deacutecada de 1970 como resposta

9 No atual ambiente ideoloacutegico no qual predomina a ideologia neoliberal e poacutes-

moderna falar em elevaccedilatildeo cultural pode se constituir como algo um tanto quanto

polecircmico Contudo fazemos questatildeo de destacar que na perspectiva marxista

com a qual trabalhamos ldquo[] natildeo haacute margem nem para o evolucionismo ingecircnuo

(seja no plano da histoacuteria da organizaccedilatildeo social humana seja no plano da histoacuteria

do conhecimento) nem para o relativismo que nega a existecircncia de formas mais

desenvolvidas de vida social e de conhecimento nem finalmente para o subjeti-

vismo que nega o conhecimento como apropriaccedilatildeo da realidade objetiva pelo

pensamentordquo (DU A RT E 2003 p 77)

agrave necessidade de encontrar alternativa agrave pedagogia dominante

Saviani (2005) explica que naquele contexto imperava a necesshy

sidade histoacuterica especialmente no caso brasileiro de criticar a

pedagogia oficial sobretudo para evidenciar seu caraacuteter reproshy

dutor De acordo com os autores da eacutepoca cada setor da cultushy

ra como o sistema de ensino por exemplo desempenharia seu

papel na reproduccedilatildeo da sociedade A medida que essas ideias

se difundiam as chamadas teorias criacutetico-reprodutivistas0 ganhashy

vam forccedila para consolidar o entendimento de que a educaccedilatildeo

escolar sempre desempenharia o papel de reproduccedilatildeo Essas teoshy

rias foram se formulando e se difundindo ao mesmo tempo em

que eram assimiladas no Brasil como instrumento utilizado para

fustigar a poliacutetica educacional do Regime Militar (SAVIANI

2005) Se por um lado as teorias criacutetico-reprodutivistas foram

importantes para evidenciar o papel desempenhado pela pedagoshy

gia oficial no contexto do Regime Militar no Brasil por outro

lado natildeo forneceram alternativas para se contrapor agrave pedagogia

dominante Neste sentido Saviani (2005 p 135) afirma que

a luta contra a ditadura tambeacutem implicava a forshy

mulaccedilatildeo dc alternativas No campo educacional

o problema colocava-se nos seguintes termos se a

pedagogia oficial era inaceitaacutevel qual seria entatildeo

a orientaccedilatildeo alternativa aceitaacutevel A visatildeo criacutetico-

reprodutivista natildeo dava resposta para essa pergunshy

ta Natildeo tinha uma proposta de orientaccedilatildeo Fazia a

criacutetica do existente mostrando que este desempeshy

nhava a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo

Portanto era necessaacuterio formular uma proposta pedagoacutegica

que estivesse atenta aos determinantes sociais da educaccedilatildeo e que

permitisse articular de forma dialeacutetica o trabalho pedagoacutegico

com as relaccedilotildees sociais deveria levar em conta a accedilatildeo reciacuteproca

em que a educaccedilatildeo embora determinada em suas relaccedilotildees com

10 Saviani (2006) denomina de teorias criacutetico-reprodutivistas aquelas que por um lado

postulam a compreensatildeo da educaccedilatildeo a partir de seus condicionantes sociais mas por

outro lado chegam agrave conclusatildeo de que a funccedilatildeo da proacutepria educaccedilatildeo eacute reproduzir a

sociedade na qual ela se insere

a sociedade reage ativamente sobre o elemento determinante

(SAVIANI 2005) Assim como desdobramento desse processo

que buscou encontrar alternativa agrave pedagogia dominante a Peshy

dagogia histoacuterico-criacutetica surgiu como uma proposta pedagoacutegica

fundamentada no materialismo histoacuterico cuja tarefa em relaccedilatildeo

agrave educaccedilatildeo escolar implica a) identificar as formas mais desenshy

volvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicashy

mente reconhecendo as condiccedilotildees de sua produccedilatildeo e compreenshy

dendo as suas principais manifestaccedilotildees bem como as tendecircncias

atuais de transformaccedilatildeo b) converter o saber objetivo em saber

escolar de modo que se torne assimilaacutevel pelos alunos no espaccedilo

e tempo escolares c) prover os meios necessaacuterios para que os

alunos natildeo apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultashy

do mas apreendam o processo de sua produccedilatildeo bem como as

tendecircncias de sua transformaccedilatildeo (SAVIANI 2005)

Segundo o autor a escola eacute uma instituiccedilatildeo cujo papel conshy

siste na socializaccedilatildeo do saber sistematizado Natildeo se trata portanshy

to de qualquer tipo de saber ldquoa escola diz respeito ao conhecishy

mento elaborado e natildeo ao conhecimento espontacircneo ao saber

sistematizado e natildeo ao saber fragmentado agrave cultura erudita e

natildeo agrave cultura popularrdquo (SAVIANI 2006 p 14) Destacar esse

posicionamento eacute importante sobretudo porque tambeacutem eacute posshy

siacutevel encontrar na Educaccedilatildeo Fiacutesica tendecircncias que negam a aproshy

priaccedilatildeo do saber sistematizado por parte das fraccedilotildees menos prishy

vilegiadas da classe trabalhadora ao proclamar como seu papel

central o desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica ou a ldquovalorizaccedilatildeo

da cultura popularrdquo em detrimento da cultura erudita

Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica a defesa da escola como espashy

ccedilo de socializaccedilatildeo do saber sistematizado eacute essencial para assegurar o

caraacuteter contraditoacuterio da educaccedilatildeo e afirmar os interesses dos trabalhashy

dores uma vez que dominar os conhecimentos mais desenvolvidos

produzidos pela humanidade no campo das ciecircncias das artes e da fishy

losofia eacute condiccedilatildeo para o processo de emancipaccedilatildeo (SAVIANI 2006)

11 Uma criacutetica ao paradigma da aptidatildeo fiacutesica foi desenvolvida pelo Coletivo de Autores (1992)

cr

A perspectiva histoacuterico-criacutetica na Educaccedilatildeo Fiacutesica direcionando o olhar para a metodologia Criacutetico- superadora

A busca de alternativas agrave pedagogia dominante atingiu tambeacutem a

Educaccedilatildeo Fiacutesica possibilitando articular a praacutetica pedagoacutegica na aacuterea

a um novo projeto de sociedade Desde o final da deacutecada de 1970

com o processo frequentemente denominado de ldquoredemocratizaccedilatildeo

da sociedade brasileirardquo inuacutemeros estudos passaram a questionar o

papel que vinha sendo assumido pela Educaccedilatildeo Fiacutesica em nosso paiacutes

qual seja o de educar os indiviacuteduos em conformidade com as necesshy

sidades do modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Os

crescentes questionamentos que ganharam forccedila na deacutecada de 1980

colocaram em xeque o quadro de referecircncias que havia direcionado a

Educaccedilatildeo Fiacutesica por mais de um seacuteculo A inflexatildeo na aacuterea configurashy

da como uma crise de legitimidade inaugurou um periacuteodo de buscas

para se construir a autonomia pedagoacutegica da aacuterea frente a um quadro

histoacuterico de viacutenculo ao projeto dominante

Nesse processo um importante marco para a educaccedilatildeo escolar foi

a publicaccedilatildeo na deacutecada de 1990 do livro Metodologia do Ensino de lducaccedilaacuteo Fiacutesica escrito por um grupo que se autodenominou de Coshy

letivo de Autores (1992) Nessa obra eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal mdash uma tendecircncia que pautada

na Pedagogia histoacuterico-criacutetica visa a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enquanto

sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em que vive

Para formar esse tipo de sujeito o paradigma da reflexatildeo criacuteti-

i i sobre a cultura corporal defende a tematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de

lorma criacutetico-superadora A tematizaccedilatildeo defendida por esta proposta

ibrange a compreensatildeo das relaccedilotildees de interdependecircncia que os dife-

H iiies conteuacutedos da cultura corporal tecircm com os grandes problemas

bull gtlt Hraquo-poliacuteticos atuais como ldquo[] ecologia papeacuteis sexuais sauacutede puacute-

I 1 u i relaccedilotildees de trabalho preconceitos sociais raciais da deficiecircncia

bull I i wlhice distribuiccedilatildeo do solo urbano distribuiccedilatildeo de renda diacutevida

i u i na e outrosrdquo (COLETIVO DE AUTORES 1992 p 62-63)

Assim busca-se desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as formas

de representaccedilatildeo do mundo exteriorizadas pela expressatildeo corporal

que o ser humano tem produzido no decorrer da histoacuteria dentre as

quais pode-se destacar jogos danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esshy

porte malabarismos contorcionismos miacutemica e outros que podem

ser identificados como formas de representaccedilatildeo simboacutelica de realishy

dades vividas pelo homem historicamente criadas e culturalmente

desenvolvidas (COLETIVO DE AUTORES 1992)

Portanto pode-se afirmar que a metodologia Criacutetico-superado-

ra ao alinhar-se agrave perspectiva pedagoacutegica defendida por Dermeval

Saviani busca propor novos caminhos para a apropriaccedilatildeo do conheshy

cimento na escola inclusive pela organizaccedilatildeo metodoloacutegica fundashy

mentada nos cinco passos do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do coshy

nhecimento a saber identificaccedilatildeo da praacutetica social problematizaccedilatildeo

instrumentalizaccedilatildeo catarse e retorno agrave praacutetica social

O ponto de partida para a apropriaccedilatildeo do conhecimento na escola

eacute a praacutetica social (SAVIANI 2006) Nesse passo conforme apresentado

por Gasparin (2005) realiza-se um primeiro contato com o tema a ser

estudado para evidenciar suas relaccedilotildees com a vida cotidiana visando

mobilizar os alunos para o processo pedagoacutegico Segundo este autor a

identificaccedilatildeo da praacutetica social pode ser dividida em duas partes a saber

anuacutencio e vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos No anuacutencio dos conteuacutedos aponta-se o que seraacute estudado e quais os objetivos a serem alcanccedilados

Na vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos identifica-se o que os alunos jaacute sashy

bem c o que eles gostariam de saber mais sobre o assunto em questatildeo

O segundo passo do meacutetodo dialeacutetico de construccedilatildeo do conhecishy

mento escolar eacute a problematizaccedilatildeo fase na qual se busca ldquo[] detectar

que questotildees precisam ser resolvidas no acircmbito da praacutetica social e em

consequecircncia que conhecimento eacute necessaacuterio dominarrdquo (SAVIANI

2006 p 71) A partir dessa afirmaccedilatildeo dois importantes aspectos foram

salientados por Gasparin (2005) que merecem um devido destaque

O primeiro deles diz respeito agraves questotildees da praacutetica social que deshy

vem ser detectadas O autor esclarece com base no proacuteprio Saviani

que o foco deve ser concentrado nas grandes questotildees que desafiam a

sociedade nos principais problemas que precisam ser resolvidos natildeo

soacute na escola ou pela escola mas no acircmbito da sociedade Para isso

afirma que deve ser feita uma seleccedilatildeo do que eacute fundamental visto que

os principais problemas postos pela praacutetica social nem sempre podem

ser tratados na sua totalidade em cada aacuterea do conhecimento O ldquofunshy

damentalrdquo vale dizer refere-se aos aspectos relacionados ao conteuacutedo

estabelecido pelo curriacuteculo escolar ou aos conhecimentos trabalhados

em uma determinada unidade do programa Com base nesse entendishy

mento pode-se dizer que a problematizaccedilatildeo deve selecionar e discutir

os problemas que tecircm origem na praacutetica social mas que ao mesmo

tempo se ligam ao conteuacutedo a ser trabalhado trata-se de uma seleccedilatildeo

e discussatildeo de grandes questotildees sociais poreacutem inseridas e especificadas

no conteuacutedo da unidade que estaacute sendo estudada (GASPARIN 2005)

O segundo aspecto a ser destacado refere-se a qual conhecimento

eacute necessaacuterio dominar para resolver os problemas da praacutetica social Gas-

parin (2005) explica que de maneira geral os conteuacutedos satildeo quase

sempre transmitidos aos educandos por uma uacutenica dimensatildeo a con-

eeitual-cientiacutefica Em virtude da ecircnfase geralmente atribuiacuteda a essa dishy

mensatildeo do conteuacutedo o autor alerta o seguinte eacute necessaacuterio lembrar

no processo de construccedilatildeo do conhecimento que a ciecircncia tambeacutem eacute

iiin produto social originada de necessidades histoacutericas econocircmicas

poliacuteiicas ideoloacutegicas filosoacuteficas religiosas teacutecnicas dentre outras Tenshy

do i in vista o fato de que existem muacuteltiplas dimensotildees que revestem

os dilerentes conteuacutedos faz-se necessaacuterio abordar na construccedilatildeo do

- ltgtii1k-ciacutemento natildeo soacute a dimensatildeo conceitual-cientiacutefica A necessidade

llt 1 1 mscender a abordagem centrada na dimensatildeo conceitual-cientiacutefica

jMivuacuten do entendimento de que a anaacutelise do real deve considerar suas

muacuteltiplas dimensotildees visto que a realidade social envolve sempre uma

tuii de perspectivas um conjunto de aspectos interdependentes que

u ui ser entendidos para a resoluccedilatildeo dos problemas postos pela praacute-

laquo iil Eacute importante destacar esse aspecto sobretudo porque na

u lo 1 iacutesica a ecircnfase do processo pedagoacutegico geralmente eacute concen-

raquo i iu is rlementos teacutecnicos e taacuteticos o que desconsidera as muacuteltiplas

bull t M ii raquors que revestem o conteuacutedo em questatildeo

Assim duas tarefas principais podem ser operacionalizadas na

problematizaccedilatildeo A primeira delas envolve o questionamento da praacuteshy

tica social e do conteuacutedo escolar Trata-se de um momento em que satildeo

apresentadas e discutidas as razotildees sociais pelas quais se deve aprender o

conteuacutedo proposto de modo que os alunos possam entender melhor o

que seraacute estudado identificar os principais problemas postos pela praacuteshy

tica social e pelos conteuacutedos e ainda entender a necessidade eou vashy

lidade do conteuacutedo curricular proposto para solucionar eou entender

melhor os problemas da praacutetica social (GASPARIN 2005) A segunda

tarefa que pode ser realizada na problematizaccedilatildeo refere-se agraves dimensotildees

do conteuacutedo a serem trabalhadas Em linhas gerais pode-se dizer que

essa tarefa consiste em definir as dimensotildees que se deseja estudar Para

tanto pode-se partir do conteuacutedo a ser trabalhado de modo a elaborar

questotildees desafiadoras que expressem dimensotildees especiacuteficas referentes agrave

natureza do conteuacutedo como por exemplo as dimensotildees cientiacutefico-

-conceituais sociais econocircmicas culturais histoacutericas filosoacuteficas moshy

rais eacuteticas esteacuteticas legais e doutrinaacuterias (GASPARIN 2005)

O passo seguinte a instrumentalizaccedilatildeo segundo Gasparin (2005) eacute o

caminho atraveacutes do qual o conteuacutedo sistematizado eacute posto agrave disposiccedilatildeo dos

alunos para que o assimilem o recriem e ao incorporaacute-lo transformem-no

em instrumento cultural para transformaccedilatildeo da realidade Esse terceiro passhy

so do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do conhecimento consiste no moshy

mento em que os alunos vatildeo se apropriar das ferramentas culturais necesshy

saacuterias agrave luta social que travam diariamente para se libertar das condiccedilotildees de

opressatildeo em que vivem ou seja trata-se da fase na qual ocorre a apropriaccedilatildeo

dos instrumentos teoacutericos e praacuteticos necessaacuterios ao equacionamento dos

problemas detectados na praacutetica social (SAVIANI 2006)

De acordo com Saviani (2006) o quarto passo do meacutetodo eacute a ldquocashy

tarserdquo momento de expressatildeo elaborada da nova forma de entendimenshy

to da praacutetica social a que se ascendeu ldquoTrata-se da efetiva incorporaccedilatildeo

dos instrumentos culturais transformados agora em elementos ativos

de transformaccedilatildeo socialrdquo (SAVIANI 2006 p 72) Pode-se dizer que a

catarse eacute a demonstraccedilatildeo teoacuterica do ponto de chegada do niacutevel superior

atingido pelos alunos (GASPARJN 2005)

Por fim no retorno agrave praacutetica social temos a nova maneira de comshy

preender a realidade e de posicionar-se diante dela eacute a manifestaccedilatildeo

da nova postura praacutetica da nova atitude da nova visatildeo do conteuacutedo

no cotidiano Trata-se de acordo com Gasparin (2005) do momento

de accedilatildeo consciente em prol da transformaccedilatildeo da realidade a partir do

retorno agrave praacutetica social agora entendida de forma mais elaborada

Levando em conta esses diferentes momentos do meacutetodo dialeacutetico

de construccedilatildeo do conhecimento o ensino dos diferentes conteuacutedos que

compotildeem a cultura corporal permite aos alunos se apropriarem dos coshy

nhecimentos acumulados historicamente pela humanidade Trata-se de

um importante passo no sentido de enriquecer a concepccedilatildeo de mundo

dos alunos uma vez que o acesso ao saber sistematizado sobre jogos

esporte luta danccedila ginaacutestica circo por exemplo se constitui como

elemento indispensaacutevel para leitura dessa dimensatildeo da realidade

Consideraccedilotildees finais

O artigo em tela apresentou a concepccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica de

Educaccedilatildeo Fiacutesica que embasa as praacuteticas pedagoacutegicas discutidas ao longo

deste livro destacando sua articulaccedilatildeo com um projeto de formaccedilatildeo hushy

mana criacutetico agraves relaccedilotildees sociais capitalistas visando superar a perspectiva

de adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves exigecircncias do mundo do trabalho

Com base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e na abordagem Criacutetico-

-superadora o objetivo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute promover uma

reflexatildeo criacutetica sobre diferentes conteuacutedostemas da cultura corporal

seguindo um caminho metodoloacutegico que busca ampliar a compreensatildeo

e accedilatildeo dos sujeitos sobre a realidade em que vivem

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CAPIacuteTULO III

A PRODUCcedilAtildeO DA CULTURA LUacuteDICA EM JOGOS ELETROcircNICOS

Priscila Rocha Rodrigues

Renata Aparecida Alves Landim

Tl)iago Barreto Maciel

Victoacuteria de Faacutetima de Mello

Abordar os jogos e as brincadeiras como

conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica pode parecer

um lugar comum pois existe um consenso

por parte dos educadores acerca da presenshy

ccedila dessas praacuteticas corporais nas aulas dessa

disciplina Entretanto muitas vezes o trashy

balho desenvolvido nas escolas opera uma

instrumentalizaccedilatildeo dos jogos utilizando os

mesmos como meios para a aprendizagem

dos esportes ou de outras mateacuterias de enshy

sino De acordo com Bracht et al (1995)

esse processo dilui os jogos de seu contexshy

to soacutecio-cultural passando a consideraacute-los

como um recurso metodoloacutegico e natildeo como

um conteuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Consideramos que para tratar os joshy

gos e as brincadeiras1 como conteuacutedo de

ensino eacute preciso superar a mera praacutetica e

I Em diversos idiomas os termos jogos brincadeiras e

brinquedo satildeo tratados como sinocircnimos e em outros uma

uacutenica palavra guarda os trcs significados Visando distinguir

os termos Kishimoto (2003) considera como brinquedo o

objetosuporte - concreto ou ideoloacutegico - da brincadeira

como brincadeira a conduta estruturada por regras e como

jogo a descficcedilaacuteo tanto do objeto como das regras durante um

determinado templaquo gt Neste texto adotaremos a conceituaccedilatildeo

de brinquedo como suporte da brincadeira mas naacuteo faremos

promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre os jogos como uma forma

proacutepria de expressatildeo da cultura corporal Os jogos satildeo resultados

do processo criativo cio homem para modificar imaginariamente

a realidade e o presente tendo em vista finalidades luacutedicas (C O shy

LETIVO DE AUTORES 1992) Eles tecircm significados dentro do

conjunto da produccedilatildeo humana por isso guardam em seu interior

as caracteriacutesticas do modo de organizaccedilatildeo social num dado moshy

mento histoacuterico sendo marcados por continuidades e rupturas em

relaccedilatildeo aos jogos e brincadeiras de outras eacutepocas

Na atualidade o modo de vida das pessoas sobretudo nos

grandes conglomerados urbanos tem favorecido a substituiccedilatildeo parshy

cial ou total dos jogos traciicionais provenientes da cultura popular

pelos videogames produtos da induacutestria cultural Nesse sentido

consideramos que promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as es-

pecificidades e os dilemas que envolvem os jogos eletrocircnicos como

uma manifestaccedilatildeo luacutedica tipicamente contemporacircnea pode ajudar a

compreender o proacuteprio tempo 1 1 0 qual vivemos

lendo em vista a realizaccedilatildeo de uma discussatildeo teoacuterico-metodo-

loacutegica sobre os jogos e a socializaccedilatildeo de uma experiecircncia concreta

organizamos este artigo em trecircs partes aleacutem dessa introduccedilatildeo e das

consideraccedilotildees finais Na primeira abordaremos os jogos como uma

manifestaccedilatildeo da cultura corporal e suas implicaccedilotildees para as aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesica Na segunda trataremos das formas de expressatildeo dos

jogos na sociedade contemporacircnea Na terceira parte apresentaremos

uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos para os alunos dos

anos finais cio ensino fundamental seguida do plano de unidade

Os jogos e as brincadeiras como conteuacutedos para as aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Em nosso tempo um dos grandes estudiosos sobre os jogos foi

Huizinga Em sua obra claacutessica ldquoHomo Ludens rdquo publicada origishy

nalmente em 1938 ele analisou a natureza e o significado do jogo

como fenocircmeno cultural De acordo com Huizinga (2000) o jogo eacute

uma das manifestaccedilotildees mais antigas da humanidade e sempre esteve

associado ao divertimento e ao prazer com a finalidade de dar um

sentido luacutedico para a existecircncia humana Nas palavras do autor

[] o jogo eacute uma atividade ou ocupaccedilatildeo volunshy

taacuteria exercida dentro de certos e determinados

limites de tempo e de espaccedilo segundo regras lishy

vremente consentidas mas absolutamente obrigashy

toacuterias dotado de um fim em si mesmo acompashy

nhado de um sentimento de tensatildeo e de alegria e

de uma consciecircncia de ser diferente da ldquovida quoshy

tidianardquo (H U IZ IN G A 2000 p 24)

Apesar de buscar se distanciar dos objetivos de satisfaccedilatildeo imeshy

diata da vida atraveacutes da criaccedilatildeo e praacutetica de diversos tipos de jogos

todo jogo desde as idades mais remotas ateacute os dias atuais eacute um

produto do ldquotrabalhordquo 2 e por isso estaacute subordinado agraves formas

histoacutericas assumidas pela atividade humana em diferentes modos de

produccedilatildeo social da existecircncia ldquoOs homens fazem sua histoacuteria mas

natildeo a fazem como querem natildeo a fazem sob circunstacircncias de sua

escolha e sim sob aquelas com que se defronta diretamente legadas

e transmitidas pelo passadordquo (MARX 1978 p 329)

Uma caracteriacutestica marcante em todos os jogos e brincashy

deiras eacute a existecircncia de uma situaccedilatildeo imaginaacuteria e de regras que

expliacutecita ou implicitamente ordenam e conduzem as accedilotildees dos

jogadores Como descreve Vygotsky (2007) no processo de deshy

senvolvimento das brincadeiras da crianccedila haacute um processo que

vai do jogo de papeacuteis com situaccedilotildees imaginaacuterias expliacutecitas e com

regras impliacutecitas aos jogos com regras expliacutecitas e situaccedilotildees imashy

ginaacuterias ocultas Para esse autor os jogos satildeo condutas que im ishy

tam as accedilotildees reais por isso sofrem influecircncia das relaccedilotildees sociais

num jogo de papeacuteis da crianccedila por exemplo a situaccedilatildeo imaginaacuteshy

ria incorpora elementos e regras de comportamento do contexto

cultural adquiridos por meio da interaccedilatildeo com os outros

2 O trabalho eacute para Marx e Engels (1989) a atividade vital e por excelecircncia humana a partir

dele o homem modifica intencionalmente a natureza para atender suas necessidades e cria

novas necessidades produzindo sua proacutepria vida Desse modo por meio do trabalho o

homem transforma ao mesmo tempo a si mesmo e as formas de se organizar socialmente

criando histoacuterica e coletivamente um mundo especificamente humano o mundo da cultura

Outro aspecto que merece ser destacado eacute que todo jogo tem sua

existecircncia em um tempo-espaccedilo relacionado agrave sua localizaccedilatildeo histoacuterishy

ca e geograacutefica De acordo com Kishimoto (2003) uma mesma conshy

duta pode ser jogo ou natildeo-jogo em diferentes culturas dependendo

do significado a ele atribuiacutedo Os brinquedos tambeacutem devem ser enshy

tendidos como objetos culturais pois natildeo podem ser compreendidos

fora do contexto histoacuterico e social em que foram criados Se para uma

crianccedila europeia a boneca significa um brinquedo para populaccedilotildees

indiacutegenas tem o sentido de siacutembolo religioso

Desse modo mesmo que o jogo seja compreendido como

uma accedilatildeo de livre expressatildeo da crianccedila a sua praacutetica cotidiana

revela formas diferenciadas de jogar de acordo com o modo de

organizaccedilatildeo do trabalho e da vida dos povos praticantes Orlick

(1978) destaca como os padrotildees de partilha das sociedades satildeo reshy

fletidos e reforccedilados nos jogos e brincadeiras infantis Atraveacutes deles

as crianccedilas aprendem os modelos de comportamento dos adultos e

vatildeo sendo preparadas para a vida em sociedade

Esse coletivo considera que para configurar o jogo como conshy

teuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ele deve ser tratado pedagogishy

camente tendo em vista uma aprendizagem que amplie o niacutevel de

compreensatildeo dos alunos sobre o mundo Para tal consideramos que

ter accsso ao conhecimento sistematizado sobre os jogos e brincashy

deiras eacute essencial para que as crianccedilas e jovens possam agir sobre a

realidade social de forma totalizante incluindo em suas possibilidashy

des de accedilatildeo a dimensatildeo luacutedica da produccedilatildeo cultural humana Nesse

sentido se apropriar da cultura jaacute produzida eacute fundamental para

explorar o jaacute existente e a partir daiacute criar o novo dando novos

sentidos e significados aos jogos e brincadeiras

Considerar os jogos como manifestaccedilotildees da cultura corporal signifishy

ca retraccedilaacute-Ios desde sua gecircnese desvendando como eles eram e como satildeo

hoje buscando uma intervenccedilatildeo consciente sobre a realidade

Sua importacircncia enquanto conteuacutedo da EF estaacute

na representaccedilatildeo das raiacutezes histoacutericas e culturais

de diversos povos bem como as transformaccedilotildees

ocorridas ao longo do tempo que possam ter cau-

sado modificaccedilotildees no modo como se joga detershy

minado jogo em vaacuterias partes do mundo Egrave imporshy

tante tambeacutem considerar o jogo em seu processo

de criaccedilatildeo recriaccedilatildeo e readaptaccedilatildeo levando-se em

conta as possiacuteveis influecircncias poliacuteticas econocircmishy

cas e sociais pelas quais tenha passado dando-lhe

uma nova configuraccedilatildeo e uma compreensatildeo criacutetishy

ca (BRITO 2006 p 61)

Desse modo deve-se privilegiar uma abordagem sobre os

jogos que possibilite o conhecimento de suas principais caracteshy

riacutesticas como forma de manifestaccedilatildeo especiacutefica da cultura corshy

poral e naacuteo de forma subordinada ao esporte A flexibilidade eacute a

palavra chave para entender o jogo quanto agraves regras organizaccedilatildeo

espaccedilo-tempo nuacutemero de jogadores nomeaccedilatildeo caraacuteter compeshy

titivo ou cooperativo (JU IZ DE FORA 2000)

O trabalho com os jogos e brincadeiras deve permitir a

compreensatildeo do processo de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo da culshy

tura bem como suas continuidades e modificaccedilotildees histoacutericas

De acordo com o Coletivo de Autores (1992) a elaboraccedilatildeo de

um programa desse conteuacutedo ao longo dos anos de escolarizaccedilatildeo

deve considerar a memoacuteria luacutedica da comunidade e oferecer o

conhecimento da diversidade de jogos e brincadeiras existentes

nas diferentes regiotildees do paiacutes e do mundo

A ideia motriz eacute entender que os jogos como criaccedilotildees humanas

que objetivam o prazer e o divertimento num dado contexto histoacuterico-

-social refletem mas tambeacutem podem forjar valores e comportamentos

Desse modo o trabalho com os jogos deve instrumentalizar os alunos

natildeo apenas para utilizar a cultura luacutedica mas tambeacutem compreendecirc-la

como produccedilatildeo humana passiacutevel de constante criaccedilatildeo e recriaccedilatildeo

Devido agrave necessidade de selecionar temas de relevacircncia social

que instrumentalizem os alunos para uma accedilatildeo criacutetica frente agrave realishy

dade nos debruccedilamos sobre uma forma especiacutefica de manifestaccedilatildeo

da praacutetica luacutedica dos indiviacuteduos na atualidade - os jogos eletrocircni-

cos- buscando tratar de sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na

sociedade capitalista e suas relaccedilotildees com os jogos tradicionais

Os games formas de manifestaccedilatildeo dos jogos na sociedade contemporacircnea

Em pleno seacuteculo XXI as crianccedilas ainda brincam de piques

jogos com bola jogos de tabuleiro dentre tantos outros de forshy

ma muito semelhante aos seus pais avoacutes e bisavoacutes A esses tipos

de jogos que foram capazes de atravessar o tempo chamamos

de jogos tradicionais Eles tecircm como caracteriacutesticas centrais o

fato de pertencerem ao domiacutenio puacuteblico e serem transmitidos de

geraccedilatildeo em geraccedilatildeo De acordo com Kishimoto (2003) os jogos

tradicionais satildeo considerados como parte da cultura popular e

expressam as formas de consciecircncia de um povo num dado moshy

mento histoacuterico Esses jogos satildeo transmitidos oralmente e por

incorporarem criaccedilotildees anocircnimas das geraccedilotildees que vatildeo se suceshy

dendo estatildeo sempre em transformaccedilatildeo

Com base nesta definiccedilatildeo podemos considerar que existe uma fashy

cilidade da apropriaccedilatildeo e vivecircncia dos jogos tradicionais que satildeo tiacutepicos

da regiatildeo de pertencimento do aluno mesmo que de forma fragmentashy

da e caoacutetica proveniente do senso comum Tal fato se daacute justamente por

entendermos que os jogos tradicionais antes de tudo satildeo populares a

cabo do termo ou seja tecircm uma ampla inserccedilatildeo na sociedade Outro

fator que garante essa popularidade eacute que eles satildeo transmitidos atraveacutes

das geraccedilotildees e para sua praacutetica natildeo eacute necessaacuterio nenhum material sofisshy

ticado Dessa forma o alijamento dos meios de produccedilatildeo e dos produshy

tos do trabalho da maior parte da populaccedilatildeo natildeo acaba por ser um fator

determinante apesar de central no acesso a esse patrimocircnio cultural da

humanidade que satildeo os jogos tradicionais ou populares3

Embora diversos jogos tradicionais possam ser aprendidos

praticados de forma gratuita e permaneccedilam muito presentes no

cotidiano das crianccedilas e adolescentes eles vecircm perdendo espaccedilo

3 Neste texto utilizaremos os termos jogos tradicionais e jogos populares como sinocircnimos devido

ao fato de ambos possuiacuterem a mesma dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo marcadas pela

produccedilatildeo coletiva e reproduccedilatildeo oral entre as geraccedilotildees o que nos permite consideraacute-los como

patrimocircnios da cultura popular De acordo com SANTOS (2009) os termos tradicional

popular e folclore representam o conhecimento sobre um jogo por parte majoritaacuteria da

populaccedilatildeo sendo esse conhecimento na maioria das vezes advindo do senso comum

)

sobretudo nas grandes cidades para os jogos eletrocircnicos formas

de expressatildeo dos jogos tipicamente contemporacircneas

Os jogos eletrocircnicos4 estatildeo presentes na praacutetica social cotidiashy

na das pessoas em escala mundial e fazem parte da vida de inuacutemeras

crianccedilas e adolescentes brasileiros mesmo daqueles para os quais

os jogos satildeo apenas desejos de consumo Os games estatildeo por toda

parte natildeo apenas nos aparelhos especiacuteficos para os jogos (consoles

e portaacuteteis) mas tambeacutem nos computadores ipads e telefones celushy

lares podendo ainda ser jogados pela internet em sites e nas redes

sociais Deve ser difiacutecil para as crianccedilas e jovens de hoje pensarem

que houve um tempo em que natildeo existiam jogos digitais

A histoacuteria dos jogos eletrocircnicos tem iniacutecio no final dos anos

de 1950 no contexto da guerra fria quando comeccedilam a ser criashy

dos protoacutetipos de videogames com a incorporaccedilatildeo da tecnoloshy

gia disponiacutevel na eacutepoca Um dos precursores do videogame foi

W illian Higinbotham um fiacutesico que atuava num laboratoacuterio nushy

clear e havia trabalhado no projeto da primeira bomba atocircmica

ele criou em 1958 um jogo eletrocircnico com linhas rudimentares

o tecircnis para dois Em 1966 eacute criado por Ralph Baer o primeiro

console caseiro o Magnavox Odissey (A ERA 2007)

Entretanto eacute a partir dos anos de 1970 acompanhando o desenvolvishy

mento dos computadores pessoais que os jogos eletrocircnicos se tornam mais

expressivos Em 1972 com a criaccedilatildeo do ldquoPongrdquo (fliperama que simula uma

partida de tecircnis de mesa) os games comeccedilam a ficar agrave disposiccedilatildeo do puacuteblishy

co em geral O seu desenvolvedor Nolan Bushenell percebeu o potencial

dos jogos eletrocircnicos como um negoacutecio e fundou a ATARI empresa que

marcou o surgimento da induacutestria do videogame (ALVES 2004)

Entre a deacutecada de 1970 e a deacutecada de 1980 devido agrave manifestashy

ccedilatildeo de uma crise ciacuteclica de superproduccedilatildeo do sistema capitalista tem

iniacutecio um processo que podemos chamar de mundializaccedilatildeo econocircmi-

4 Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais nos quais o jogador interage com imagens

enviadas a uma tela geralmente uma televisatildeo ou monitor Os games satildeo programas

(sofrwares) instalados ou acessados em um sistema eletrocircnicoaparelho preparado

para rodaacute-lo (Hardware) Existem vaacuterios gecircneros de jogos eletrocircnicos como jogos de

accedilatildeo (plataforma de corrida de tiro) de estrateacutegia de lutacombate de esporte de

simulaccedilatildeo Role Playing Games (RPG) e de tabuleiro

caJy em que o capital parte em busca de novas aacutereas visando explorar

condiccedilotildees mais rentaacuteveis de produccedilatildeo e expandir mercados consushy

midores E justamente nesse contexto que a induacutestria cultural ganha

impulso e os jogos eletrocircnicos satildeo disseminados pelos quatro cantos

do mundo com grande potencial de escoamento de mercadorias

Nas duas uacuteltimas deacutecadas fruto de uma germinaccedilatildeo iniciada no

poacutes-terceira revoluccedilatildeo industrial ou revoluccedilatildeo tecnocientiacutefica que

proporcionou o surgimento de atividades que empregam a alta tecshy

nologia como a informaacutetica a microeletrocircnica o avanccedilo das telecoshy

municaccedilotildees e a biotecnologia os jogos eletrocircnicos tecircm seguido e tamshy

beacutem contribuiacutedo com os avanccedilos tecnoloacutegicos Se compararmos os

primeiros games com os jogos de hoje constataremos que eles deram

grandes saltos qualitativos de graacuteficos bi para graacuteficos tridimensionais

que permitiram aperfeiccediloar e personalizar os enredos e personagens

atingindo uma qualidade de imagem som e movimento tatildeo bons que

os jogos mais parecem realidades virtuais As inovaccedilotildees tecnoloacutegicas

e criativas satildeo produzidas numa velocidade cada vez maior materiashy

lizando-se rapidamente numa nova mercadoria a ser comercializada

O mercado dos games eacute de alta lucratividade com projeccedilotildees

de faturamento no acircmbito mundial para 2013 de US$ 735 bilhotildees

e girando no mercado interno aproximadamente R$ 875 milhotildees

- valor referente ao ano de 2008 (ABRAGAMES 2008) Aleacutem da

venda de uma enxurrada de produtos relacionados agrave praacutetica dos joshy

gos eletrocircnicos existe uma espeacutecie de economia virtual com comshy

pra e venda de mercadorias e identidades digitais (avatares) 6

5 O termo mundializaccedilatildeo eacute utilizado por Chesnais (1996) com a intenccedilatildeo de diminuir

a falta de nitidez conceituai e o caraacuteter ideoloacutegico do termo globalizaccedilatildeo que sugere

a ideia de uma perspectiva integradora Para o autor o termo mundializaccedilatildeo permite

pensar melhor esta fase especiacutefica do processo de internacionalizaccedilatildeo do capital em

busca de regiotildees com recursos ou mercados visando sua valorizaccedilatildeo Neste processo de

liberalizaccedilatildeo econocircmica e financeira haacute um agravamento da polarizaccedilatildeo entre regiotildees

centrais e perifeacutericas do capitalismo tanto em escala internacional como nacional

6 Essa economia virtual eacute muito comum nos jogos on-line de representaccedilatildeo da vida real

como Farm Ville The Sims Social e Second Life O Second Life possui uma unidade

monetaacuteria proacutepria o Linden Dollar atraveacutes da qual as pessoas podem comprar quase

tudo dentro do jogo Em 2009 o site do jogo movimentou 549 milhotildees de doacutelares Soacute

no primeiro trimestre de 2010 as movimentaccedilotildees financeiras entre usuaacuterios chegaram

a 160 milhotildees de doacutelares e a arrecadaccedilatildeo da loja virtual oficial foi de 23 milhotildees

(LUCRATIVO 2010)

Aqui cabe uma reflexatildeo sobre a dinacircmica social que envolve a proshy

duccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos e suas diferenccedilas em relaccedilatildeo

aos jogos tradicionais Os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos acompashy

nhando os avanccedilos tecnoloacutegicos do momento e norteados pelo afatilde da

esteira mercadoloacutegica tornando-se obsoletos rapidamente Bem difeshy

rente dos jogos tradicionais que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo cm geraccedilatildeo

e apesar de sofrerem algumas modificaccedilotildees resistem ao teste do tempo

Desse modo podemos dizer que os jogos eletrocircnicos natildeo podem ser

considerados como populares pelo menos por dois motivos primeiro

pelo fato dos jogos de hoje natildeo serem os mesmos de amanhatilde e segunshy

do devido agrave exigecircncia de produtos especializados para a praacutetica dos

mesmos o que por si soacute jaacute os torna inacessiacuteveis a uma parcela signifishy

cativa da populaccedilatildeo que natildeo possui condiccedilotildees de consumo

Entretanto ao mesmo tempo em que existe uma ruptura entre esshy

ses dois tipos de jogos podemos notar uma estreita relaccedilatildeo entre eles jaacute

que muitos jogos eletrocircnicos satildeo na realidade versotildees virtuais de antigos

jogos tradicionais como os jogos de tabuleiro o boliche a queimada

os jogos de cartas os quebra-cabeccedilas entre outros O que sugere uma

perspectiva de continuidade na produccedilatildeo da cultura luacutedica

Temos como pressuposto baacutesico que o trabalho educativo

consiste em transmitir o conhecimento historicamente produzido

a fim de contribuir para que os nossos alunos possam ter acesso

aos conhecimentos mais desenvolvidos produzidos historicamenshy

te pela humanidade para que possam enriquecer-se como indishy

viacuteduos e atuarem como homens do seu tempo Entretanto aqui

evidenciamos uma grande contradiccedilatildeo da nossa sociedade pois

devido ao modo de produccedilatildeo capitalista esses conhecimentos que

os proacuteprios trabalhadores ajudaramajudam a construir lhes satildeo

negados7 No caso dos jogos eletrocircnicos apesar de existir uma

enorme difusatildeo sobre os mesmos vemos que a maioria da classe

trabalhadora natildeo tem real acesso a esta produccedilatildeo cultural

7 O acesso agraves tecnologias digitais aumentou nos uacuteltimos anos mas ainda eacute m uito

significativo o nuacutemero de pessoas sem acesso real a esses bens sociais De acordo

com o PNAD 2009 apenas 35 dos domiciacutelios brasileiros investigados tinham

microcomputador e somente 274 tinham arlaquolaquo -------M n

Esteban Clua - professor do departamento de computaccedilatildeo da

UFF- em entrevista concedida agrave Agecircncia Brasil destacou que o Brasil eacute

o quarto maior consumidor de jogos eletrocircnicos do mundo sendo que

existe uma massa de aproximadamente 39 milhotildees de usuaacuterios ativos

desses jogos ou seja aproximadamente 20 da populaccedilatildeo brasileira

(GANDRA 2011) Com base nisso cabe a noacutes lanccedilarmos algumas

perguntas que tipo de acesso eacute esse Quais fatores levam os outros 80

da populaccedilatildeo brasileira a natildeo jogarem E por que os jovens e crianccedilas

mesmo os que sequer tecircm as condiccedilotildees de garantir a sua subsistecircncia se

veem hipnotizadas por essas mercadorias

Os jogos eletrocircnicos como qualquer produccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo satildeo

bons nem ruins por natureza natildeo se trata de criticaacute-los de forma saudosista

mas de permitir aos alunos uma atuaccedilatildeo criacutetica e consciente frente a esses

jogos que auxilie a superar o fetiche da tecnologia e a alienaccedilatildeo frente agrave messhy

ma Quando tomadas como valores de uso a ciecircncia e a tecnologia estatildeo

a serviccedilo da melhoria das condiccedilotildees de vida e da possibilidade de dilatar o

tempo livre para que o homem produza novos sentidos para sua existecircncia

natildeo apenas pela necessidade de comer vestir dormir morar mas tambeacutem

por finalidades luacutedicas Nesse sentido Frigotto (2005) aponta que as tecshy

nologias satildeo como extensotildees dos sentidos e membros dos seres humanos

Mas sob as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo da sociedade capitalista o que era para

aumentar o tempo livre intensifica a exploraccedilatildeo e a alienaccedilatildeo

Com isso entendemos que natildeo haacute neutralidade no desenvolvimento

tecnoloacutegico pelo contraacuterio ele materializa-se em meio a todas as condenshy

saccedilotildees de forccedilas que permeiam a sociedade de classes Por isso apesar do

discurso que prega o acesso pleno agraves benesses do desenvolvimento capitashy

lista a natildeo democratizaccedilatildeo dos bens culturais produzidos pela humanidade

nos mostra o contraacuterio No caso dos jogos eletrocircnicos observamos que sua

dinacircmica de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo como mercadorias estaacute intimamente

ligada agrave loacutegica desigual e predatoacuteria do consumismo capitalista8

8 Os jogos eletrocircnicos como expressotildees culturais refletem a sociedade em que nascem mas

ao mesmo tempo tambeacutem ajudam a educar os consumidores passivos para esse padratildeo

civilizatoacuterio Kosik (1995) ajuda a refletir sobre essa dinacircmica dialeacutetica a partir do caso

da arte ldquotoda obra de arte apresenta um duplo caraacuteter em indissoluacutevel unidade eacute expressatildeo da realidade mas ao mesmo tempo cria a realidade uma realidade que natildeo existe fora da obra ou antes da obra mas precisamente na obrardquo (p 128)

Vale destacar que os grandes expoentes e exportadores histoacutericos

dos jogos eletrocircnicos satildeo as naccedilotildees imperialistas norte-americana e

japonesa Como reflexo disso carregam muitos dos valores tiacutepicos de

paiacuteses de capitalismo central como o individualismo a competiccedilatildeo

exacerbada o consumo desenfreado e a naturalizaccedilatildeo da violecircncia

Aliaacutes a questatildeo da violecircncia presente em diversos jogos eletrocircnicos

eacute uma das grandes polecircmicas que envolvem a praacutetica desses jogos No

que tange ao conteuacutedo violento dos games merecem destaque jogos

que pontuam a realizaccedilatildeo de crimes atropelamentos praacutetica de agresshy

sotildees em ambiente escolar perseguiccedilatildeo e morte de supostos terroristas

e os que simulam guerras e conflitos armados entre paiacuteses e povos Natildeo

eacute raro vermos mateacuterias jornaliacutesticas que associam o uso excessivo de

games a situaccedilotildees de violecircncia real o caso mais emblemaacutetico foi o masshy

sacre ocorrido em 1999 na Escola de Ensino Meacutedio Colombine em

Littleton no estado do Colorado (EUA)

De acordo com Alves (2004) a violecircncia como forma de linshy

guagem envolve ao mesmo tempo aspectos econocircmicos sociais

poliacuteticos culturais e afetivos por isso natildeo podemos adotar uma

atitude reducionista em culpar exclusivamente os jogos eletrocircnicos

pela violecircncia pois eles mesmos satildeo reflexotildeesprojeccedilotildees de uma

sociedade que banaliza a violecircncia A autora destaca tambeacutem que

uma questatildeo crucial a se pensar eacute que a violecircncia tem sido transshy

formada nas diversas miacutedias num grande espetaacuteculo por isso ela

vende e os adolescentes satildeo seduzidos pelas cenas de violecircncia para

consumirem produtos ldquoTanto a espetacularizaccedilatildeo quanto a este-

tizaccedilatildeo da violecircncia vecircm sendo bastante potencializadas nos jogos

eletrocircnicos em que a morte cada vez mais violenta passa a ser

sinocircnimo muitas vezes de grandes vendasrdquo (ALVES 2004 p 79)

Esse caraacuteter sedutor dos games de violecircncia eacute utilizado ateacute

pelas forccedilas armadas estadunidenses para estimular o alistamenshy

to militar e treinar recrutas Com esses objetivos o exeacutercito dos

EUA com a colaboraccedilatildeo do departamento de defesa norte-ame-

ricano criou o Americans Army um jogo de tiro em primeira

pessoa no qual os jogadores simulam combates militares reais

(IMASATO M ESQUITA 200$) O jogo disponibilizado grashy

tuitamente para o puacuteblico desde 04 de julho de 2002 possui

milhares dc jogadores pelo mundo todo inclusive no Brasil

Nesse exemplo os atos de agredirmatar personagens durante

o jogo natildeo satildeo utilizados apenas com sentidos luacutedicos mas tambeacutem

com a finalidade de criar nos jovens o desejo de realizar essas accedilotildees

na vida real A criaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de games como esse sem granshy

des criacuteticas por parte do puacuteblico permite visualizar o quanto a vioshy

lecircncia eacute vista com algo natural em nossa sociedade Com apoio nas

elaboraccedilotildees de Marx (1996) consideramos que a base dessa naturashy

lizaccedilatildeo satildeo as proacuteprias relaccedilotildees sociais capitalistas que transformam

tudo em mercadoria inclusive o trabalho humano fazendo parecer

que relaccedilotildees entre pessoas reais satildeo relaccedilotildees entre coisas

De um modo geral o homem cria instrumentos para satisfashy

zer suas necessidades dando sentidos humanos para as coisas mas

ao fazer isso gera novos interesses e necessidade transformando

sua proacutepria forma de viver Ou seja a tecnologia produzida pelo

homem passa a determinar suas accedilotildees e seu modo de vida Na

atualidade a criaccedilatildeo da rede mundial de computadores mudou

sensivelmente a forma de interaccedilatildeo entre as pessoas no caso dos

jogos eletrocircnicos a internet permitiu o compartilhamento de joshy

gos entre pessoas ao redor do mundo inteiro9 Desse modo os

jogos eletrocircnicos como criaccedilotildees humanas para satisfazer suas neshy

cessidades luacutedicas modificam o modo como os homens satisfazem

essas mesmas necessidades alterando os espaccedilos-tempos outrora

ocupados pelos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais

Nas grandes cidades convivemos com a falta de espaccedilos puacuteblishy

cos para brincar com o tracircnsito intenso com o alto grau de violecircnshy

cia e poluiccedilatildeo entre outros fatores que favorecem a diminuiccedilatildeo do

tempo destinado agraves experiecircncias corporais reais e sua substituiccedilatildeo

parcial ou total por praacuteticas virtuais como as possibilitadas pelos

9 Os jogos Massively Multiplayer on-line (M M Os) possibilitam vaacuterias pessoas

competirem pela internet criando comunidades de gamers gerando um novo modelo

de interatividade via jogos eletrocircnicos Nesse modelo as pessoas representam uma

segunda identidade e se relacionam atraveacutes dela Aleacutem disso existem torneios esportivos

multiplayer que permitem transformar esses games em profissatildeo (A ERA 2007)

jogos eletrocircnicos Os consoles mais modernos permitem inclusive

novas experiecircncias interativas com o corpo onde praacuteticas corporais

- como jogos tradicionais esportes danccedilas lutas e ginaacutestica - poshy

dem ser feitas dentro de um jogo virtual ressignificando a proacutepria

forma de vivecircncia da cultura corporal dentro e fora das telas

Os jogos eletrocircnicos tambeacutem tecircm sido produzidos e utilishy

zados para propoacutesitos que ultrapassam a diversatildeo Nesse sentishy

do merece destaque uma rede internacional chamada Game for change trata-se de uma organizaccedilatildeo social sem fins lucrativos

criada em 2004 nos EUA e com filiais na Europa Aacutesia e Ameacuterishy

ca Latina O objetivo dessa organizaccedilatildeo eacute promover a pesquisa

criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de jogos digitais que contribuam com

mudanccedilas sociais Os jogos satildeo elaborados por sistemas de parshy

cerias e seu conteuacutedo eacute sempre educativo levando o jogador a

buscar soluccedilotildees para problemas econocircmicos ambientais e diploshy

maacuteticos Os melhores games satildeo premiados em um festival que

reuacutene representantes do governo e da sociedade civil10

Desse modo consideramos que abordar as manifestaccedilotildees

contemporacircneas dos jogos eacute essencial para que os alunos possam

atuar como sujeitos de seu tempo tambeacutem na esfera luacutedica No

caso dos jogos eletrocircnicos eacute preciso tratar de sua historicidade

abordando as diversas geraccedilotildees de jogos que apesar de envolshy

verem conhecimentos coletivos se tornam privileacutegio de poucos

na dinacircmica de produccedilatildeo capitalista Para aleacutem do mundo do

entretenimento os games tecircm cumprido funccedilotildees econocircmicas

poliacuteticas e educativas que precisam ser abordadas para uma comshy

preensatildeo mais ampla das relaccedilotildees nem sempre evidentes entre o

real e o virtual no mundo dos jogos

10 Apesar de ser considerado um avanccedilo em relaccedilaacuteo aos games estritamente comerciais por

abordar problemaacuteticas de fundo social alertamos que esses jogos buscam na conciliaccedilatildeo

de classes as soluccedilotildees para problemas extremamente complexos e muitos originados

reforccedilados pelas proacuteprias relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo capitalista alinhando-se portanto

agrave ideologia da responsabilidade Em linhas gerais o objetivo dessa ideologia desenvolvida

a partir do final dos anos de 1990 em consonacircncia com o neoliberalismo de terceira via

eacute articular as accedilotildees do empresariado em torno das questotildees sociais buscando construir

conscnsos entre as classes e suas fraccedilotildees de modo a garantir o processo de dominaccedilatildeo

capitalista por meio do convpnr im pnm IacuteW A B T IM C iacutenno

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com os jogos eletrocircnicos

As crianccedilas e jovens cotidianamente se divertem consomem

e interagem atraveacutes dos jogos eletrocircnicos que natildeo satildeo apenas

brinquedos pois satildeo formas de expressatildeo de sentimentos e deshy

sejos das novas geraccedilotildees Por isso concordamos com Silveira e

Torres (2007) que adotar apenas uma atitude normativa e conshy

troladora em relaccedilatildeo aos jogos eletrocircnicos sem abordar aspectos

teacutecnicos poliacuteticos econocircmicos e eacuteticos que envolvem essa forma

de expressatildeo dos jogos prejudica o desenvolvimento de uma vishy

satildeo criacutetica frente a essa produccedilatildeo cultural

Com a intenccedilatildeo de contribuir para a superaccedilatildeo desses limites

construiacutemos uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos dishy

recionada aos alunos do 7o ano do ensino fundamental Com emshy

basamento na Pedagogia histoacuterico-criacutetica dividimos didaticamente

essa experiecircncia em cinco passos buscando envolver os educandos

no processo de ensino-aprendizagem e propiciar um percurso edushy

cativo que amplie sua compreensatildeo e accedilatildeo sobre o tema

No primeiro momento identificaccedilatildeo da praacutetica social buscashy

mos apresentar os conteuacutedos que seratildeo abordados dentro da unidashy

de e como eles se expressam na praacutetica cotidiana dos alunos Para

que os alunos identifiquem o tema seraacute apresentada uma sequecircncia

de imagens sobre os jogos eletrocircnicos e os alunos seratildeo questionashy

dos sobre o que jaacute sabem e o que gostariam de aprender sobre esses

tipos de jogos Logo em seguida seratildeo apresentados os toacutepicos de

conteuacutedos abordados na unidade a saber conceito de jogos eletrocircshy

nicos os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos a virtualizaccedilatildeo

dos jogos tradicionais os games como grande negoacutecio e os desafios

e possibilidades trazidos pelos games na atualidade

Na problematizaccedilatildeo inicialmente seratildeo debatidas quesshy

totildees que buscaratildeo despertar a curiosidade dos alunos pelo tema

como quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem

Como as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por

que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia Em seguishy

da seratildeo lanccediladas questotildees-problemas que articulam a praacutetica

social concreta dos alunos com o conteuacutedo tratado na unidade

As questotildees foram orientadas com base em diversas dimensotildees

do conteuacutedo a saber conceituai histoacuterica cultural poliacuteticas

econocircmicas social e eacutetica conforme pode ser visto no plano de

unidade apresentado a seguir

A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento de apropriaccedilatildeo do coshy

nhecimento sistematizado a fim de que os alunos ampliem sua

compreensatildeo sobre as problematizaccedilotildees lanccediladas Para tal seratildeo

desenvolvidas accedilotildees como discussotildees debates experimentaccedilatildeo

de jogos na forma tradicional e eletrocircnica aulas expositivas e

apresentaccedilatildeo de documentaacuterios Nessa etapa a falta de recursos

como aparelhos especiacuteficos para jogos eletrocircnicos pode ser subsshy

tituiacuteda por versotildees de jogos para computadoresaparelhos celulashy

res e ou transformaccedilatildeo de jogos virtuais em jogos reais

Na catarse momento no qual os alunos devem ser capazes

de responder as questotildees-problemas com base no conhecimento

sistematizado eles participaratildeo de um quiz educativo sobre jogos

eletrocircnicos com a intenccedilatildeo de auxiliaacute-los na elaboraccedilatildeo de uma

siacutentese entre o saber cotidiano e o conhecimento cientiacutefico Nosshy

sa expectativa eacute que os alunos compreendam as principais caracshy

teriacutesticas dos jogos eletrocircnicos como uma forma de manifestaccedilatildeo

dos jogosbrincadeiras tipicamente contemporacircnea

Ao final do trabalho buscando um retorno agrave praacutetica social os alunos seratildeo estimulados a pocircr em accedilatildeo a nova visatildeo sobre

o conteuacutedotema em tela Nesse sentido seraacute proposta a consshy

truccedilatildeo de um blog que socialize os conhecimentos apreendidos

sobre os jogos eletrocircnicos e a realizaccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo sobre

o desenvolvimento histoacuterico dos jogos eletrocircnicos

Plano de Unidade Os jogos eletrocircnicos e a sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na sociedade contemporacircnea

Conteuacutedo jogos

Turmas 7o ano

Nuacutemero de aulas 12

Objetivo Geral Compreender a dinacircmica social que envolve a

produccedilatildeo e a reproduccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos permitindo o uso

criacutetico desses jogos nos momentos de lazer

1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL

11 Anuacutencio do conteuacutedo

Toacutepicos de conteuacutedo c objetivos especiacuteficos

bull Toacutepico 1 O que satildeo jogos eletrocircnicos

Objetivo especiacutefico Conceituar os jogos eletrocircnicos e

suas formas de manifestaccedilatildeo para distingui-los de oushy

tros tipos de jogos em especial dos jogos tradicionais

bull Toacutepico 2 Os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos

Objetivo especiacutefico Conhecer a origem e as transforshy

maccedilotildees histoacutericas dos jogos eletrocircnicos buscando

entender a influecircncia do contexto histoacuterico e do

avanccedilo tecnoloacutegico na configuraccedilatildeo desses jogos

bull Toacutepico 3 A virtualizaccedilatildeo dos jogos tradicionais

Objetivo especiacutefico Identificar jogos eletrocircnicos insshy

pirados em jogos tradicionais a fim de entender as

relaccedilotildees entre os dois tipos de jogos como produshy

ccedilotildees culturais luacutedicas

bull Toacutepico 4 Os games como um grande negoacutecio

Objetivo especiacutefico Compreender o processo de proshy

duccedilatildeo disseminaccedilatildeo e consumo dos jogos eletrocircnicos

a fim de compreender os papeacuteis econocircmicos poliacuteshy

ticos e sociais assumidos por esses jogos

bull Toacutepico 5 Geraccedilatildeo game over desafios e possibilidades11

Objetivo especiacutefico Reconhecer os benefiacuteciosmalefiacuteshy

cios trazidos pela praacutetica regular dos jogos eletrocircnicos e

suas possibilidades para a cultura corporal permitindo

o uso consciente e equilibrado desses jogos nos moshy

mentos de lazer

12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos

bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Os jogos

eletrocircnicos podem ser jogados em aparelhos proacuteprios

computadores e celulares existem games para jogar

sozinho em dupla e em grupo as pessoas mais velhas natildeo

brincavam com esses jogos

bull O que gostariam de saber mais Por que os jogos eletrocircnicos

satildeo conteuacutedos da Educaccedilatildeo Fiacutesica Quais os jogos eletrocircnicos

mais conhecidos

2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO

21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo

Quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem Como

as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por que os jogos

eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia

11 Elaboramos esse uacuteltimo toacutepico de conteuacutedo de forma bem flexiacutevel para que possa atender

as demandas que surgirem e ser abordado de acordo com recursos disponiacuteveis para seu

desenvolvimento Por isso na instrumentalizaccedilatildeo relativa a esse toacutepico apresentamos

diversas possibilidades de accedilotildees e recursos

12 Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

QUESTOtildeES PROBLEMATIZADORAS

Conceituai

O que satildeo jogos eletrocircnicos Que tipos de jogos eletrocircnicos

existem Os jogos eletrocircnicos podem ser considerados como

ldquojogos popularesrdquo

Histoacuterica

As brincadeiras e as formas de se divertir mudaram com o

passar do tempo Quando surgiram os jogos eletrocircnicos

Qual eacute a origemhistoacuteria de alguns dos principais jogos eleshy

trocircnicos Por que eles sempre mudam

Social

Por que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns atualmente

Quais finalidades sociais eles tecircm cumprido Quais as possishy

bilidades de uso criacutetico dos games

Econocircmica

Como os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos c distribuiacutedos

Haacute faacutecil acessibilidade a todos para vivenciar esses jogos

Quanto custam os aparelhos e miacutedias para acesso aos jogos

eletrocircnicos Existe uma economia virtual

Poliacutetica

Existem espaccedilos puacuteblicos apropriados para brincar e jogar

com seguranccedila em nossa cidade Existem espaccedilos puacuteblicos

para jogar jogos eletrocircnicos

Eacutetica

Quais valores podem ser evidenciados nos jogos eletrocircnicos

Os jogos satildeo violentos Existem jogos eletrocircnicos criacuteticos

aos valores sociais Existem games cooperativos

Cultural

Os jogos eletrocircnicos satildeo difundidos em todas as culturas

Existem jogos eletrocircnicos universais Os jogos mais comuns

variam de paiacutes para paiacutes e de regiatildeo para regiatildeo Qual a relashy

ccedilatildeo entre os jogos eletrocircnicos e os jogos tradicionais

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

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4) SIacuteNTESE SUPERIOR

41 Siacutentese teoacuterica do aluno

Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais de variados gecircneros

que necessitam de aparelhos eletrocircnicos com tecnologias especiacuteshy

ficas para serem jogados Apesar de muitos desses jogos serem reshy

sultado da virtualizaccedilatildeo de jogos tradicionais eles naacuteo podem ser

considerados jogos populares pois satildeo produzidos e distribuiacutedos

sob a forma de mercadorias (conceituai e cultural) Os jogos eleshy

trocircnicos estabelecem uma relaccedilatildeo estreita com o contexto no qual

foram criados incorporando diversos avanccedilos tecnoloacutegicos que

permitem a constante ampliaccedilatildeo da qualidade de imagem som e

movimento dos mesmos (histoacuterica) Na atualidade a forma de orshy

ganizaccedilatildeo das grandes cidades o aumento da violecircncia e a falta de

espaccedilos puacuteblicos para o lazer tecircm favorecido a substituiccedilatildeo parcial

ou total dos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais por jogos

eletrocircnicos (soacutecio-poliacutetica) Os jogos eletrocircnicos satildeo muito divulshy

gados pela miacutedia de massas e datildeo grandes lucros agrave induacutestria cultushy

ral enquanto a grande maioria das crianccedilas ainda natildeo tenha acesso

pleno a essas produccedilotildees pois a dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo

desses jogos se insere no mundo das mercadorias (soacutecio-econocircmi-

ca) Os jogos eletrocircnicos estatildeo inseridos na contraditoacuteria dinacircmica

capitalista e por isso refletem valores sociais como a violecircncia e a

competitividade mas tambeacutem podem forjar outros valores como a

cooperaccedilatildeo e a solidariedade (eacutetica)

42- Expressatildeo da siacutentese

Participar de um quiz de perguntas e respostas sobre os jogos

eletrocircnicos buscando expressar o que foi apreendido durante as aulas

i) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL

Quadro 3- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

ACcedilOacuteES DO ALUNO

Registrar e divulgar os conhecimentos

apreendidos sobre os jogos eletrocircnicos

1 - Construir e divulgar um blog

sobre os jogos eletrocircnicos (conshy

teuacutedo histoacuteria tipos de jogos

benefiacutecios problemas links e esshy

paccedilos para jogar gratuitamente)

Contribuir para a criaccedilatildeo de espaccedilos-

-tempos destinados agrave discussatildeo sobre

os games

2 - Montar uma exposiccedilatildeo que

funcione como linha do tempo

dos jogos

Ampliar os conhecimentos sobre os

jogos eletrocircnicos

3 - Pesquisar mais sobre os jogos

eletrocircnicos

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees finais

A concretizaccedilatildeo de uma proposta de ensino com os jogos eletrocircshy

nicos eacute sem duacutevidas um grande desafio seja pela falta de recursos adeshy

quados seja pela dificuldade em trabalhar com as novas tecnologias e

ateacute pela resistecircncia da comunidade escolar ao tratamento desse tema

pela escola Entretanto defendemos que abordar os games como exshy

pressotildees contemporacircneas dos jogos e brincadeiras eacute imprescindiacutevel se

pretendemos que nossos alunos compreendam a realidade em que vishy

vem e atuem como sujeitos do seu proacuteprio tempo

Com base nessa constataccedilatildeo a nossa intenccedilatildeo foi abrir o diaacutelogo

sobre as possibilidades de trabalho com os jogos eletrocircnicos como conteshy

uacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica Nesse sentido a experiecircncia pedagoacutegica

descrita nesse artigo buscou abordar os jogos eletrocircnicos em suas muacuteltishy

plas dimensotildees visando contribuir para que os alunos reconheccedilam essa

nroducatildeo cultural luacutedica como construccedilatildeo de homens e mulheres reais

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CAPIacuteTULO IV

AS RELACcedilOtildeES ENTRE ESPORTE E SAUacuteDE NO CAPITALISMO TEM ATIZANDO CONTRADICcedilOtildeES NA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR

Carlos Eduardo de Souza

Leonardo Docena Pina

Mocircnica Jardim Lopes

De maneira mais ou menos intensa o esshy

porre se apresenta de diferentes formas em nossa

vida Seja atraveacutes da televisatildeo de jornais de reshy

vistas ou da proacutepria praacutetica de diferentes modashy

lidades nos relacionamos quase que diariamente

com o esporte Poreacutem a relaccedilatildeo que estabeleceshy

mos em nosso cotidiano com essa manifestaccedilatildeo

cultural natildeo proporciona sua real compreensatildeo

E por isso que muitos lidam com o esporte diashy

riamente sem compreender sua relaccedilatildeo com os

processos histoacutericos Da mesma forma muitos

acabam por reproduzir a noccedilatildeo dominante exshy

pressa na ideia de que esporte promove sauacutede

Iniciamos o texto com essa reflexatildeo por

consideraacute-la importante para discutirmos o

ensino do esporte na escola Afinal por que eacute

importante ensinar esporte nas aulas de Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica se este jaacute estaacute presente em nosso

dia a dia fora da escola Seria o ensino do esshy

porte realmente necessaacuterio aos alunos

A resposta a essas questotildees nos remete

inicialmente ao fato de que desde a deacutecada

de 1990 com a divulgaccedilatildeo da perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a

cultura corporal (COLET IVO DE AUTORES 1992) foi ampliashy

da a possibilidade de relacionar a Educaccedilatildeo Fiacutesica com a formaccedilatildeo

de sujeitos histoacutericos capazes de compreender a realidade de modo

a nela intervir criticamente Orientada na Pedagogia histoacuterico-criacuteti-

ca (SAVIANI 2005a) tal perspectiva trouxe novas formas de aborshy

dagem dos conteuacutedos As aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica antes pensadas

com o objetivo de desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica de treinamenshy

to teacutecnico de recreaccedilatildeo de aprendizagem motora dentre outros

puderam ser superadas por uma nova tarefa de transmissatildeo do saber

sistematizado necessaacuterio agrave compreensatildeo da realidade

Para alcanccedilar a nova tarefa a que se propotildee a perspectiva

da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal os conteuacutedos passashy

ram a demandar uma tematizaccedilatildeo criacutetico-superadora No caso da

manifestaccedilatildeo cultural que nos propomos a refletir no presente

capiacutetulo as indicaccedilotildees do Coletivo de Autores (1992) fornecem

a base para trataacute-la pedagogicamente de modo a superar as caracshy

teriacutesticas impostas pela sociedade capitalista Imprim ir um novo

sentidosignificado ao esporte implica a consideraccedilatildeo de alguns

elementos jaacute retomados por Assis (2001) Um deles eacute a necesshy

sidade de realizar uma leitura criacutetica do esporte sobretudo para

compreender as mediaccedilotildees que o integram agraves relaccedilotildees sociais de

produccedilatildeo da existecircncia humana Sem refletir criticamente sobre

o esporte corre-se o risco de natildeo compreender sua funccedilatildeo na

reproduccedilatildeo do capitalismo ou de desconsiderar a possibilidade

de esse fenocircmeno cultural servir a outro projeto de sociedade

Outro aspecto reside na necessidade de consideraacute-lo um

conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica A constataccedilatildeo de que o esporte vishy

nha atendendo historicamente aos interesses dominantes fez com

que alguns professores se distanciassem do ensino do esporte na

escola Na verdade por considerar que o esporte relaciona-se ao

processo de reproduccedilatildeo do capitalismo natildeo pretendemos afastaacute-

-lo da educaccedilatildeo escolar Pelo contraacuterio ressaltamos a necessidade

de tematizaacute-Io na escola visto que a transmissatildeo do saber objeshy

tivo historicamente acumulado sobre essa praacutetica cultural pode

se transformar em instrumento cultural de luta contra as forshy

mas de dominaccedilatildeo a que estatildeo submetidos os membros da classe

trabalhadora ainda hoje Daiacute a defesa do Coletivo de Autores

(1992) para desmitificar o esporte atraveacutes da oferta na escola

do conhecimento que permita aos alunos criticaacute-lo dentro de um

determinado contexto histoacuterico

Conforme afirma Assis (2001) o esporte traz consigo possishy

bilidades contraditoacuterias de modo que eacute possiacutevel enfatizar situashy

ccedilotildees que privilegiam a solidariedade sobre a rivalidade o coletivo

sobre o individual a autonomia sobre a submissatildeo a cooperaccedilatildeo

sobre a disputa a distribuiccedilatildeo sobre a apropriaccedilatildeo a abundacircncia

sobre a escassez a confianccedila muacutetua sobre a suspeita a descon-

traccedilatildeo sobre a tensatildeo a perseveranccedila sobre a desistecircncia e ainda

a vontade de continuar jogando em contraposiccedilatildeo agrave pressa para

terminar a partida e configurar resultados

A partir desses apontamentos torna-se possiacutevel afirmar que o

ensino desse conteuacutedo pode permitir aos alunos a apropriaccedilatildeo das

formas mais desenvolvidas do saber objetivo sobre o esporte que se

encontra acumulado na cultura Compreender o esporte demanda a

apropriaccedilatildeo do conhecimento jaacute produzido sobre ele Tal apropriashy

ccedilatildeo possibilita a compreensatildeo de suas contradiccedilotildees e consequenteshy

mente estabelecer novas relaccedilotildees com essa manifestaccedilatildeo cultural

Conforme afirma Saviani (2006) dominar a cultura erudita

eacute necessaacuterio aos membros da classe trabalhadora para que possam

fazer valer os seus interesses jaacute que a classe dominante faz uso

exatamente dos conteuacutedos culturais para legitimar e consolidar

sua dominaccedilatildeo Redirecionando essa reflexatildeo para o ensino do

esporte podemos concluir que o domiacutenio do conhecimento sisshy

tematizado sobre essa manifestaccedilatildeo cultural tambeacutem se constitui

como instrumento indispensaacutevel uma vez que os conhecimentos

adquiridos no cotidiano tendem a ser insuficientes para atuaccedilatildeo

dos indiviacuteduos enquanto sujeitos da histoacuteria

Esporte sauacutede e o modo vidatrabalho no capitalismo

Embora seja muito propagada atualmente sobretudo pela atushy

accedilatildeo de governos e Organismos Internacionais como a Organizaccedilatildeo

das Naccedilotildees Unidas (ONU) o Banco Mundial (BM) e o Fundo Moshy

netaacuterio Internacional (FMI) a ideologia que afirma de forma mecacircshy

nica o esporte como sauacutede carece de anaacutelise concreta da realidade

onde estatildeo inseridas as classes fundamentais1 Na perspectiva que

sustenta nosso estudo o entendimento do esporte da sauacutede e da posshy

siacutevel relaccedilatildeo entre esses dois temas soacute pode ser alcanccedilado se forem

confrontados e aferidos no conjunto da dinacircmica das relaccedilotildees sociais

existentes no modo vidatrabalho capitalista

O fenocircmeno cultural ldquoesporterdquo toma forma no seacuteculo XVIII no

periacuteodo de revoluccedilatildeo e afirmaccedilatildeo da burguesia enquanto classe domishy

nante Segundo Hobsbawm (1988) o esporte foi ldquoformalizado em torshy

no dessa eacutepoca na Inglaterra que lhe ofereceu o modelo e o vocabulaacuteshy

rio alastrou-se como um incecircndio aos demais paiacutesesrdquo (p 255) sendo

tambeacutem fruto segundo Bracht (2005) de ldquomodificaccedilatildeo poderiacuteamos

dizer de esportivizaccedilatildeo de elementos da cultura corporal de movimento

das classes populares inglesas como os jogos popularesrdquo (p 13) cuja

funccedilatildeo era basicamente de comemorar ou festejar datas

Foi tambeacutem nessa eacutepoca - da revoluccedilatildeo industrial - que os trabashy

lhadores passaram a conhecer o chamado ldquotempo livrerdquo que era exashy

tamente o tempo no qual se encontravam livres das obrigaccedilotildees fabris

0 preenchimento desse tempo para promover melhorias no trabalho

produtivo e na conformaccedilatildeo ideoloacutegica para uma melhor extraccedilatildeo da

mais-valia deveria abarcar valores e concepccedilotildees de mundo proacuteprias de

uma burguesia emergente (SILVA 1994) Tais valores se expressavam

diretamente no esporte uma vez que permitia o desenvolvimento de

1 Quando uma pequena parcela dos homens toma para si os meios de produccedilatildeo criam-se

contraditoriamente na sociedade duas classes a dos que detecircm os meios de produccedilatildeo e

aqueles que necessitam vender o uacutenico bem que lhes restou sua Forccedila de trabalho Essa

relaccedilatildeo contraditoacuteria e conflitante enrre os homens requer formas de dominaccedilatildeo por

exemplo as ideologias Entendendo ldquoideologiardquo natildeo como ilusatildeo ou supersticcedilatildeo mas

uma forma material especiacutefica de consciecircncia social (MESZAROS 2004)

determinadas formas de pensar e agir a exemplo da lealdade senso

de responsabilidade esforccedilo pessoal espiacuterito de equipe dentre outros

(TAFFAREL SANTOS JUN IOR 2009)

Proni (2002) ao traduzir a concepccedilatildeo de esporte desenvolvida

por Brohm cria um trabalho fecundo de elementos para compreshy

ensatildeo desse tema Segundo o autor a hipoacutetese central de Brohm se

sustenta no entendimento de que o sistema esportivo moderno eacute o

reflexo da universalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo da forma de vida predomishy

nante que tem sua origem na economia capitalista na qual impera

o espiacuterito industrial a mentalidade do rendimento e do ecircxito ldquoO

intercacircmbio de mercadorias e de capital tiveram como consequecircncia

o intercacircmbio de ideias e a difusatildeo de praacuteticas esportivasrdquo (PRONI

2002 p 38) Ainda segundo o autor satildeo quatro fatores que Brohm

diz ser responsaacuteveis pelo desenvolvimento do esporte

(a) O aumento do tempo livre e o desenvolvimento do

oacutecio (que ocupa um lugar de destaque na civilizaccedilatildeo do

lazer) (b) a universalizaccedilatildeo dos intercacircmbios medianshy

te os transportes e os meios de comunicaccedilatildeo de massa

(o esporte converte-se em ldquomercadoria culturalrdquo graccedilas

a sua natureza comospolita) (c) revoluccedilatildeo teacutecnico -

cientiacutefica (que reflete-se na busca da eficiecircncia corposhy

ral nos novos materiais e equipamentos inclusive no

surgimento de novas modalidades esportivas) (d) e a

revoluccedilatildeo democraacutetico mdash burguesa e o enfrentamento

das naccedilotildees no plano internacional (isto eacute a dinacircmica

poliacutetico mdash ideoloacutegica) (PRONI 2002 p 39)

O esporte dentro dessa perspectiva carrega os valores e os pashy

drotildees de desenvolvimento do Estado liberal Difunde uma forma

de conviacutevio e inspira desejos de mudanccedilas individuais Aproxima

as classes sociais ocultando o antagonismo poliacutetico-econocircmico e

a relaccedilatildeo de exploraccedilatildeo existente entre elas Ou seja um produto

da sociedade industrial que vem servindo em larga medida como

elemento de difusatildeo do ideaacuterio e dos interesses da classe dominanshy

te Assim para Brohm a essecircncia do esporte

eacute a ideologia democraacutetica tiacutepica de uma sociedade

que precisa cultivar um ideal humanitaacuterio (liberdade

igualdade fraternidade) e ao mesmo tempo velar suas

estruturas de classe e seus mecanismos de dominaccedilatildeo

Por isso o autor enfatiza o papel da instituiccedilatildeo esporshy

tiva como estrutura simboacutelica e aparato ideoloacutegico do

Estado (PRONI 2002 p 39-40)

Desse modo Brohm iraacute concluir que o esporte eacute por excelecircnshy

cia algo nefasto para os trabalhadores servindo unicamente para

o fortalecimento das forccedilas e da identidade burguesa (BRACHT

2005) Essa se torna uma visatildeo estreita da realidade Considerashy

mos que a cultura esportiva de fato carrega os valores capitalistas

e nesse sentido tem servido como instrumento a serviccedilo da domishy

naccedilatildeo burguesa Mas isso natildeo eacute tudo Acreditamos que a anaacutelise do

esporte de forma mais profiacutecua deve ser aferida no conjunto das

contradiccedilotildees que envolvem a relaccedilatildeo capital-trabalho E na luta

de classes que as culturas vatildeo se amoldando Portanto o esporte

natildeo eacute uma instituiccedilatildeo que paira acima dos conflitos sociais natildeo

sendo em si nem ldquobom nem ldquoruimrdquo Trata-se da expressatildeo de uma

condensaccedilatildeo de forccedilas na qual hegemonicamente os valores da

classe burguesa sobressaem em relaccedilatildeo aos da classe trabalhadora

Nos dias de hoje a articulaccedilatildeo do esporte com os interesshy

ses da classe dominante pode ser evidenciada pela relaccedilatildeo co-

mumente estabelecida entre a praacutetica de esporte e a obtenccedilatildeo de

sauacutede Exemplo disso eacute a defesa da O N U de que as principais

causas de ateacute 60 das mortes no mundo estatildeo ligadas a pessoas

inativas e que o esporte e a Educaccedilatildeo Fiacutesica ldquosatildeo cruciais para a

vida longa e saudaacutevel O esporte melhora a sauacutede e o bem-estar

aumenta a expectativa de vida e reduz o risco de vaacuterias doenccedilas

natildeo-transmissiacuteveis incluindo a doenccedila cardiacuteacardquo (ON U 2003 p

7 traduccedilatildeo nossa) aleacutem de ser essencial para manter a ldquosauacutede da

menterdquo e construir ldquovaliosas conexotildees sociaisrdquo

Segundo Delia Fonte e Loureiro (1997) eacute a visatildeo funcionalista

sobre a sauacutede que permite afirmar a praacutetica de esporte como soluccedilatildeo

para os malefiacutecios da vida moderna Para os autores essa afirmaccedilatildeo

demonstra a superficialidade com a qual tem se abordado o tema sauacuteshy

de Na visatildeo funcionalista as doenccedilas ou ldquomorbidadesrdquo natildeo tecircm nada

a ver com as relaccedilotildees sociais concretas e sim com um desvio dos indishy

viacuteduos ou seja uma natildeo adesatildeo consciente a haacutebitos mais saudaacuteveis

Delia Fonte e Loureiro (1997) nos ajudam a entender a rashy

zatildeo que leva os Organismos Internacionais a difundir tais com-

preensotildees sobre o tema Conforme afirmam os autores

a estrutura social capitalista determina e legitima vaacuterias

ideacuteias valores e atitudes altamente patoloacutegicos Por um

processo de naturalizaccedilatildeo essas patologias saacuteo apresenshy

tadas como inerentes ao ser humano Longe de serem

compreendidas como patologias elas satildeo tidas como

qualidades Assim aceita-se como normal a busca do

lucro como objetivo de toda atividade econocircmica a exshy

ploraccedilatildeo do homem pelo homem o individualismo a

competitividade e a ambiccedilatildeo como valores modernos a

repressatildeo de ideacuteias e sentimentos rotulados como tabus

a satisfaccedilatildeo imediata de desejos como traduccedilatildeo da felishy

cidade a reificaccedilatildeo das pessoas e das relaccedilotildees sociais e a

alienaccedilatildeo (DELLA FONTE LOUREIRO 1997 p 2)

Em outras palavras o modo de vidatrabalho ainda sob a eacutegide

de uma sociedade classista conserva uma estrutura de poder e uma

poliacutetica mundial de grandes impactos no que concerne agrave sobrevivecircnshy

cia dos indiviacuteduos Nessa direccedilatildeo a preocupaccedilatildeo dos Organismos Inshy

ternacionais consiste tambeacutem em criar ideologias capazes de situar

os indiviacuteduos como uacutenicos culpados ou responsaacuteveis pelo seu estado

de sauacutede independentemente de suas condiccedilotildees de vidatrabalho

Os riscos derivados do modo capitalista de produccedilatildeo da

existecircncia humana satildeo diversos e ligados a inuacutemeras causas tais

como aqueles provenientes do ambiente de trabalho como rashy

diaccedilotildees ruiacutedos frio e calor intenso pressotildees anormais umidade

poeiras gases vapores compostos quiacutemicos esforccedilo fiacutesico intenshy

so controle de alta produtividade trabalho noturno monotoshy

nia trabalho repetitivo maacutequinas e estruturas mal conservadas

entre outros (SOUZA 2011) Vale destacar que ateacute mesmo os

esportistas de alto rendimento sentem os efeitos degradantes do

trabalho no capitalismo o que pode ser expresso natildeo apenas pelo

alto iacutendice de lesotildees mas tambeacutem pelo uso de substacircncias preshy

judiciais agrave sauacutede voltadas ao a u m e n rn Alt c mdash

a isso outros problemas como o aumento do iacutendice de depresshy

satildeo por exemplo que tambeacutem tem atingido atletas2

Mesmo os que natildeo sofrem tais efeitos durante a venda de sua

forccedila de trabalho estatildeo de alguma forma sujeitos agraves implicaccedilotildees do

modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Exemplo disso

satildeo as implicaccedilotildees da degradaccedilatildeo ambiental produzida e intensificada

pelo capitalismo Trata-se de mais uma evidecircncia de que os riscos desshy

sa forma de organizaccedilatildeo social agrave vida humana hoje atingem a todos

A repercussatildeo negativa das relaccedilotildees capitalistas contemporacircshy

neas nas formaccedilotildees sociais ainda eacute agravada com o aumento da

desigualdade social perdas de direitos trabalhistas aumento da

exploraccedilatildeo aumento da violecircncia no campo e nas cidades surtos

de doenccedilas e principalmente a natildeo garantia de direitos baacutesicos

como sauacutede transporte educaccedilatildeo e outros Problemas como esshy

ses tendem a ser contrabalanceados a partir da foacutermula maacutegica

que o esporte assume na oacutetica funcionalista

A pretensa sauacutede relacionada agrave praacutetica do esporte tatildeo defendida

pelos Organismos Internacionais e governos serve duplamente agrave reshy

produccedilatildeo do capitalismo Se de um lado busca convencer as pessoas

de que a ldquoausecircncia de sauacutederdquo eacute uma escolha consciente e natural de

haacutebitos natildeo saudaacuteveis por outro busca ocultar as contradiccedilotildees do

modo de vidatrabalho em uma sociedade de classes O esporte nesshy

se caso torna-se um poderoso instrumento para dinamizar toda essa

estrutura ideoloacutegica de manutenccedilatildeo das relaccedilotildees sociais capitalistas

exatamente a forma de organizaccedilatildeo social que natildeo permite - a todos

- obter condiccedilotildees dignas de trabalho de vida bem como acesso iguashy

litaacuterio a tecnologias e serviccedilos de sauacutede

Em siacutentese pode-se dizer que o desenvolvimento do esporte eacute

algo circunscrito numa totalidade moldada pelo antagonismo das

classes existentes Essa produccedilatildeo cultural assume aspectos compleshy

xos e contraditoacuterios Seus valores moralizantes imbuiacutedos do pensa-

2 A respeito disso ver reportagem ldquoMal do seacuteculo depressatildeo aproxima trageacutedias do mundo

do futebolrdquo (BELPIEDE 2011)

3

mento liberal buscam fortalecer e universalizar um modo de vida

trabalho que coincide com os interesses da classe dominante Trata-

-se de uma forma de educar eacutetica e politicamente os subalternos

definindo um padratildeo de sociabilidade3 A deformaccedilatildeo das praacuteticas

populares e sua adequaccedilatildeo agrave ordem capitalista geram perda parcial

de identidades e possibilidades de autocriaccedilatildeo e transformaccedilatildeo Enshy

tretanto a busca de formas alternativas que visem o resgate das vonshy

tades meacutetodos e anseios dos trabalhadores natildeo eacute algo simples devishy

do ao processo funcional de obscurecimento da realidade Trata-se

de algo importante e possiacutevel a partir do esporte

Considerar o esporte como algo acabado sem espaccedilo para

explorar a contradiccedilatildeo natildeo interessa agrave organizaccedilatildeo da classe trashy

balhadora ldquoUma coisa eacute submeter o esporte aos interesses dos goshy

vernantes e outra eacute tratar pedagogicamente criacutetica reflexiva e

criativamente o esporte enquanto conteuacutedo de ensino e campo de

vivecircncia socialrdquo (TAFFAREL SA N TO S JU N IO R 2009 p 33)

construiacutedo por meacutetodos proacuteprios que visam atender aos anseios

e aspiraccedilotildees dos trabalhadores Ou seja os subalternos devem ser

ldquocapazes de compreender antecipar e contrastar os movimentos

das classes dominantesrdquo (DIAS 2006 p 13)

Entendemos que a condiccedilatildeo da transformaccedilatildeo da sociedade

ou seja a sociabilidade historicamente emancipada livre da domishy

naccedilatildeo de classe seraacute fruto da capacidade de enxergarmos a conshy

tradiccedilatildeo e nela atuarmos no sentido de superaacute-la poliacutetica e econoshy

micamente O que deve ser extirpado da histoacuteria dos homens natildeo

eacute o esporte mas as relaccedilotildees de produccedilatildeo que amoldam culturas e

mentes para servir agrave dominaccedilatildeo de uma classe sobre a outra

Compreender a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede a partir dos funshy

damentos aqui apresentados possibilita criticar a visatildeo funcionalisshy

ta o que pode ser um importante passo para pocircr fim agrave subordinashy

ccedilatildeo do esporte ao projeto histoacuterico da classe dominante

3 Para compreender como a institucionalizaccedilatildeo do esporte na aparelhagem estatal vem

contribuindo para a formaccedilatildeo da sociabilidade capitalista no Brasil recorrer ao estudo de

Souza (2011)

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o conteuacutedo esporte

Com o intuito de articular o ensino do esporte ao que considerashy

mos ser o papel da escola elaboramos uma proposta de trabalho pedashy

goacutegico com o tema esporte e sauacutede a ser desenvolvida com alunos do

oitavo ano da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de ForaMG

O primeiro contato dos alunos com o conteuacutedo a ser trabashy

lhado na unidade didaacutetica em questatildeo ocorreraacute na identificaccedilatildeo da praacutetica social onde apontaremos o assunto que seraacute desenvolvido

durante as aulas Tambeacutem buscaremos apreender o conhecimento

preliminar dos discentes bem como as questotildees que tecircm interesse

de ampliar o saber Apresentaremos o conteuacutedo Esporte delimitanshy

do o seguinte questionamento que direcionaraacute nossas aulas Esporte eacute sauacutede Em seguida cada aluno individualmente deveraacute elaborar

um texto explicitando sua compreensatildeo sobre essa questatildeo geral a

fim de captarmos os saberes construiacutedos pela vivecircncia cotidiana dos

alunos Espera-se com isso que os alunos maniiacuteestem o conhecishy

mento que possuem sobre a temaacutetica estabelecendo ou natildeo uma

relaccedilatildeo entre a praacutetica esportiva e a obtenccedilatildeo de sauacutede

Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto iniciaremos uma discussatildeo geral

sobre a temaacutetica e explicitaremos os toacutepicos que seratildeo abordados

durante o trabalho com o tema a saber sauacutede uma questatildeo

social as lesotildees e a depressatildeo cm atletas do esporte de rendishy

mento os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo vivenciando

diferentes modalidades esportivas Em seguida apresentaremos

os objetivos as atividades a serem desenvolvidas assim como a

importacircncia de se estudar esse tema

A seleccedilatildeo de questotildees sociais que permeiam o conteuacutedo aborshy

dado instigando o debate e a reflexatildeo dos alunos se expressa no

segundo passo metodoloacutegico a problematizaccedilatildeo Nesta etapa seleshy

cionaremos as dimensotildees do conteuacutedo que seratildeo trabalhadas esshy

tabelecendo os questionamentos relacionados agrave praacutetica social tal

como sugere o plano de unidade apresentado a seguir

Na instrumentalizaccedilatildeo fase na qual ocorre de fato a aproshy

priaccedilatildeo do conhecimento por parte do aluno pretendemos desenshy

volver atividades que contribuam para a elaboraccedilatildeo de respostas

aos questionamentos sistematizados anteriormente As atividashy

des docentes e discentes voltadas agrave transmissatildeoapropriaccedilatildeo do

conhecimento sistematizado vatildeo envolver exposiccedilatildeo do conteuacutedo

pelo professor anaacutelise de viacutedeos c documentaacuterios que abordem

a temaacutetica da sauacutede e do esporte leitura discussatildeo e anaacutelise de

reportagens sobre o tema pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privashy

dos) disponiacuteveis para a praacutetica de esporte na cidade vivecircncia das

modalidades esportivas mais conhecidas no paiacutes dentre outros

Para captar se os alunos se apropriaram do conhecimento elashy

borado que os capacita a responder as questotildees levantadas na pro-

blematizaccedilatildeo pretendemos aplicar uma atividade na qual os alunos

individualmente possam produzir um texto dissertativo sobre a seshy

guinte questatildeo geral esporte eacute sauacutede Espera-se que os alunos sejam

capazes de expressar o conhecimento adquirido se aproximando

do entendimento de que a sauacutede eacute uma questatildeo social e portanto

envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporshy

te atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por

exemplo Espera-se que os alunos superem o entendimento predoshy

minante do senso comum expressando que a praacutetica de esporte

por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacutede e mais por questotildees

ideoloacutegicas o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo vem sendo veiculado com a

intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsabilidade por sua

proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus direitos

baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos

que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo

Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto pretendemos discutir as diferenshy

tes abordagens do tema apresentadas pelos alunos inclusive posshy

sibilitando a eles comparar o texto produzido neste momento na

catarse com o texto produzido no iniacutecio do processo pedagoacutegishy

co Aleacutem disso os alunos devem produzir em grupos um cartaz

alertando a comunidade escolar sobre a problemaacutetica estudada

No retorno agrave praacutetica social pretendemos finalizar o trabalho

pedagoacutegico definindo juntamente com os alunos novas intenshy

ccedilotildees e propostas de accedilatildeo mdash a partir da nova forma de compreenshy

der e de lidar com o conteuacutedotema em questatildeo

Plano de unidade

Esporte eacute sauacutede

DISCIPLINA Educaccedilatildeo Fiacutesica

AN O DE ESCOLARIDADE 8o ano do Ensino Fundamental

C O N T E Uacute D O Esporte

U N ID A D E Esporte c sauacutede

N Uacute M ERO DE AULAS 10 aulas

OBJETIVOS GERAIS

bull Entender a sauacutede como uma questatildeo social resultado

das condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo meio

ambiente trabalho transporte acesso aos serviccedilos de

sauacutede dentre outros de modo a adotar uma postura

favoraacutevel agrave superaccedilatildeo dos problemas sociais concretos

que determinam a obtenccedilatildeo da sauacutede

bull Vivenciar atividades esportivas enfatizando novos

sentidossignificados para posicionar-se favoravelmente agrave

transformaccedilatildeo do esporte

bull Refletir sobre os iacutendices de lesotildees e distuacuterbios emocionais

em atletas do esporte de rendimento

bull Analisar diferentes discursos sobre esporte e sauacutede

para posicionar-se criticamente diante das concepccedilotildees

que estabelecem uma relaccedilatildeo direta entre a praacutetica de

esporte e a obtenccedilatildeo de sauacutede

1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL

11 Anuacutencio dos conteuacutedos

TOacutePICOS

bull Sauacutede uma questatildeo social

bull As lesotildees e a depressatildeo em atletas do esporte de rendimento

bull Os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo

bull Vivenciando diferentes modalidades esportivas

12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos

bull O que os alunos sabem a praacutetica de esporte estaacute relacionada

agrave obtenccedilatildeo de sauacutede praticar esporte faz bem agrave sauacutede

bull O que os alunos querem saber mais o que eacute necessaacuterio

para termos uma vida saudaacutevel Quais satildeo os esportes mais

conhecidos no Brasil Quais esportes tecircm o maior iacutendice

de lesotildees

2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO

21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo

O que vocecircs entendem por sauacutede O esporte promove sauacutede

Por quecirc Qual a importacircncia de se estudar o tema ldquoesporte eacute sauacutederdquo

22 Dimensotildees do conteuacutedo

bull Dimensatildeo conceituai O que eacute sauacutede Quais os principais

benefiacutecios da praacutetica correta e adequada de exerciacutecios

fiacutesicos Como a praacutetica esportiva melhora nossa sauacutede

bull Dimensatildeo histoacuterica os espaccedilos puacuteblicos destinados agrave praacutetica

de esporte em nossa cidade estatildeo diminuindo nos uacuteltimos

anos E os espaccedilos que cobram aluguel para utilizaccedilatildeo Seraacute

que esses espaccedilos estatildeo diminuindo ou aumentando

bull Dimensatildeo econocircmica- por que no esporte de rendimento as

lesotildees satildeo muito comuns

bull Dimensatildeo social se o esporte combate a depressatildeo por que

tem aumentado o nuacutemero de casos de atletas com essa

doenccedila A obtenccedilatildeo da sauacutede estaacute sempre presente nos

esportes de alto rendimento O uso de substacircncias para

melhorar o rendimento e a grande incidecircncia de lesotildees nos

atletas eacute indicativo de sauacutede

bull Dimensatildeo poliacuteticarsquo haacute algum programa social que propaga

o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo ou que nele se fundamenta O

lema esporte e sauacutede tem alguma importacircncia poliacutetica Haacute

poliacuteticas puacuteblicas de incentivo agrave praacutetica esportiva na sua

cidade

bull Dimensatildeo cultural Qual a influecircncia da miacutedia na relaccedilatildeo

entre esporte e sauacutede

bull Dimensatildeo ideoloacutegica Por que eacute tatildeo difundida a ideia de que

esporte eacute sauacutede A exigecircncia da capacidade fiacutesica dos atletas

nos esportes de alto rendimento eacute sinocircnimo de sauacutede

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

31 Accedilotildees docentes e discentes

bull Anaacutelise de viacutedeos e documentaacuterios

bull Vivecircncia das modalidades esportivas mais conhecidas no

paiacutes

bull Exposiccedilatildeo do conteuacutedo pelo professor

bull Pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privados) disponiacuteveis para

a praacutetica de esporte na cidade

bull Leitura e anaacutelise de reportagens

32 Recursos mdash humanos e materiais

Livros revistas jornais slides bolas tv dvd folhas de papel

4) CATARSE

41 Siacutentese teoacuterica do aluno

O esporte tem se apresentado atualmente como elemento crucial para

obter sauacutede e alcanccedilar uma vida saudaacutevel A praacutetica de esporte quase semshy

pre estaacute diretamente relacionada agrave sauacutede Poreacutem uma anaacutelise mais cuidashy

dosa do tema esporte e sauacutede nos permite criticar e superar essas compre-

ensotildees predominantes Em primeiro lugar a sauacutede eacute uma questatildeo social

que envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporte

atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por exemplo

Assim a praacutetica de esporte por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacuteshy

de Ateacute mesmo alguns esportistas de alto rendimento acabam por adquirir

problemas de sauacutede em virtude de sua atividade de trabalho seja por utilishy

zar substacircncias seja por se machucar durante treinos ou competiccedilotildees Em

segundo lugar eacute importante destacar que muitas vezes o lema ldquoesporte eacute

sauacutederdquo eacute veiculado com a intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsashy

bilidade por sua proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus

direitos baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos

que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo

42 Expressatildeo da siacutentese

Elaboraccedilatildeo de texto dissertativo produccedilatildeo (em grupo) de um

cartaz sobre o tema estudado

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO

Quadro 1- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO 52 AltyOacuteES DO ALUNO

Saber mais sobre esporte e sauacutede Ler artigos acadecircmicos sobre esporte e sauacutede

Situar-se criticamente frente agraves formulaccedilotildees

sobre esporte e sauacutede utilizando o conhecishy

mento adquirido para compreendecirc-las critishy

camente

Analisar formulaccedilotildees sobre esporte e sauacutede

veiculadas pela miacutedia

Manifestar uma atitude favoraacutevel agrave transforshy

maccedilatildeo do esporte

Vivenciar modalidades esportivas dando

um novo significado a essas praacuteticas de

m odo que a competiccedilatildeo a concorrecircncia

o rendimento e a disputa por exemplo

sejam substituiacutedos por valores que sociashy

lizam privilegiam o coletivo garantam a

solidariedade e respeito humano dentre

outros

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildes Finais

O presente texto buscou apresentar uma proposta pedagoacutegica

de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

tendo como referecircncia os fundamentos da Pedagogia histoacuterico-

-criacutetica Buscamos com essa proposta ampliar a compreensatildeo dos

alunos sobre o tema e consequentemente possibilitar-lhes transshy

cender noccedilotildees cotidianas sobre a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede

Ao socializara referida proposta no presente artigo natildeo pretenshy

demos oferecer uma ldquoreceitardquo mas sim apresentar uma das inuacutemeshy

ras possibilidades de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte

Ainda consideramos importante destacar que as dificuldades imshy

postas pelas condiccedilotildees de vida e trabalho de grande parte dos professhy

sores das redes puacuteblicas municipal e estadual de ensino assim como as

degradantes condiccedilotildees de vida a que estatildeo expostos muitos dos nossos

alunos satildeo apenas alguns dos fatores que podem dificultar o desenshy

volvimento do trabalho pedagoacutegico voltado agrave transmissatildeo do conheshy

cimento sistematizado na educaccedilatildeo escolar As precaacuterias condiccedilotildees de

vidatrabalho por sua vez reiteram nosso entendimento de que a luta

pela socializaccedilatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo se esgota no

debate pedagoacutegico entre as diferentes concepccedilotildees uma vez que engloshy

ba tambeacutem a luta pela escola puacuteblica que deve ser enfrentada em sua

radicalidade tal como alerta Saviani (2005b p 257)

O desafio posto pela sociedade de classes do tipo

capitalista agrave educaccedilatildeo puacuteblica soacute poderaacute ser enfrenshy

tado em sentido proacuteprio isto eacute radicalmente com

a superaccedilatildeo dessa forma de sociedade A luta pela

escola puacuteblica coincide portanto com a luta pelo

socialismo por ser este uma forma de produccedilatildeo

que socializa os meios de produccedilatildeo superando sua

apropriaccedilatildeo privada Com isso socializa-se o saber

viabilizando sua apropriaccedilatildeo pelos trabalhadores

isto eacute pelo conjunto da populaccedilatildeo

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SOUZA C E de A Poliacutetica nacional de esporte no Brasil contemporacircneo

como estrateacutegia para educar o consenso 2011 144 f Dissertaccedilatildeo (Mestrashy

do em Educaccedilatildeo) mdash Universidade Federal de Juiz de Fora Juiz de Fora 2011

TAFFAREL C SANTOS JU N IOR C L Como iludir o povo com o esporte

para o puacuteblico 10 ago 2009 Disponiacutevel em lt httpwwwfacedufliabr

rascunho_digitaltextos669htm gt Acesso em 13 jul 2012

CAPIacuteTULO V

0 MMA COMO NOVA FACE DA LUTA ESPETAacuteCULO

Adriano de Paiva Reis

Graziany Penna Dias

Rafael Loures dos Reis Bellei

Renata Aparecida Alves Landim

O presente capiacutetulo tem por intenccedilatildeo trazer

contribuiccedilotildees sobre a possibilidade de trabalho

com o conteuacutedo lutas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica Entendemos que abordar as lutas na escola

natildeo eacute tarefa faacutecil pois esse conteuacutedo impotildee como

veremos algumas dificuldades ateacute mesmo pela

compreensatildeo equivocada dos proacuteprios professoshy

res e comunidade escolar sobre esse elemento da

cultura corporal Natildeo obstante compreendemos

que o trabalho pedagoacutegico com esse conteuacutedo eacute

possiacutevel e necessaacuterio pois nosso objetivo eacute que os

alunos ultrapassem uma concepccedilatildeo sincreacutetica e

caoacutetica sobre a realidade a partir da apropriaccedilatildeo

de conhecimentos que os permitam superar as vishy

sotildees parciais que predominam no senso comum

Partindo desse pressuposto optamos por

abordar uma temaacutetica que tem chamado a atenshy

ccedilatildeo de nossos alunos na atualidade o fenocircmeno

das Artes Marciais Mistas modalidade de luta

esportiva alardeada pela miacutedia e alvo de muitas

polecircmicas Nossa perspectiva neste texto seraacute reashy

lizar uma breve discussatildeo sobre o tema e apontar

referecircncias metodoloacutegicas para seu tratamento

nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica em conformidade com o referencial teoacuterico-

-metodoloacutegico proposto pelo Coletivo de Autores (1992)

As lutas e seu lugar na escola formaccedilatildeo de lutadores ou sujeitos

A partir da definiccedilatildeo do grande campo da cultura corporal as

lutasartes marciais1 passaram a figurar como importante conteuacutedo

das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica O reconhecimento da necessidade de

tratamento pedagoacutegico das lutas na escola pode ser comprovado em

diversas orientaccedilotildeespropostas curriculares em niacutevel nacional estashy

dual e municipal e em escritos de diversos autores da aacuterea

Natildeo obstante em que pese essa produccedilatildeo ela ainda tem sido

incipiente em termos de lograr accedilotildees (pedagoacutegicas) efetivas para os

diferentes niacuteveis da educaccedilatildeo escolar A parca produccedilatildeo cientiacutefica

abordando as lutas na escola pode ser comprovada se comparada agrave

produccedilatildeo de outros conteuacutedos como o esporte o jogo e a ginaacutestica

Os professores de Educaccedilatildeo Fiacutesica tambeacutem apontam algumas

dificuldades ao procurar trabalhar esse conteuacutedo em suas aulas

como a falta de materiais roupas e espaccedilos adequados De acorshy

do com Nascimento e Almeida (2007) os principais argumentos

para a restriccedilatildeo do trabalho com o conteuacutedo satildeo a falta de vivecircncia

cotidianaacadecircmica em lutas por parte dos professores e a preocushy

paccedilatildeo com a violecircncia que julgam ser intriacutenseca agrave praacutetica das lutas

tornando-as incompatiacuteveis com as finalidades da escola

Apesar de compreendermos esses argumentos acreditamos que

devemos lutar pela formaccedilatildeo continuada e pelos recursos materiais que

nos permitam trabalhar de forma ainda mais qualificada com as lutas

por serem importantes conteuacutedos para a Educaccedilatildeo Fiacutesica De acordo

com os pressupostos que este coletivo se propotildee a trabalhar entendeshy

mos que as lutas configuram-se como um dos elementos da cultura

1 A lguns autores operam distinccedilotildees conceituais entre os termos Artes Marciais

e Lutas Respeitando os objetivos e limites deste texto optamos por natildeo entrar

nesta polecircmica e trabalhar os dois termos dentro do conteuacutedo lutas Partimos do

pressuposto de que apesar de nem toda luta ser considerada uma arte marcial toda

arte marcial eacute em si uma luta Para aprofundar neste assunto ver Lanccedilanova (2006)

corporal dada sua importacircncia nos mais diversos periacuteodos histoacutericos e

pela perspectiva da sua produccedilatildeo com base na realidade sociai concreta

sendo essa accedilatildeo elemento singular do gecircnero humano3 e que por isso se

diferencia da accedilatildeo instintiva do atacar e defender dos animais

As lutas estatildeo presentes nos mais variados espaccedilos como nas atishy

vidades extracurriculares de muitas escolas nas Olimpiacuteadas em acashy

demias nos clubes e na miacutedia (das mais variadas formas) fazendo os

alunos terem uma aproximaccedilatildeo maior com essa manifestaccedilatildeo corporal

Entretanto esse contato se faz geralmente na perspectiva do senshy

so comum reduzindo as lutas aos coacutedigos do esporte de rendimento

em que pesem por exemplo a oficializaccedilatildeo de regras comparaccedilatildeo de

resultados institucionalizaccedilatildeo racionalizaccedilatildeo das praacuteticastreinamenshy

to e busca da maximizaccedilatildeo do desempenho elementos proacuteprios do

processo de esportivizaccedilatildeo a que outras manifestaccedilotildees como o jogo e

a danccedila vem sofrendo tambeacutem (GONZAacuteLEZ 2005)

O boxe eacute um bom exemplo desse processo de esportivizashy

ccedilatildeo Ele foi criado a partir de disputas nas feiras da Inglaterra

dos seacuteculos XV III e X IX e sua sistematizaccedilatildeo como esporte se

deu mediante o objetivo de organizar o tempo livre4 dos trabashy

lhadores das faacutebricas bem como ldquodosarrdquo a violecircncia O mesmo

aconteceu com a luta greco-romana e mais tarde com as lutas

2 Na linha do Coletivo de Autores (1992 p 38) a cultura corporal eacute o ldquo[] acervo de

formas de representaccedilatildeo do mundo que o homem tem produzido no decorrer da histoacuteria

exteriorizadas pela expressatildeo corporal jogo danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte

malabarismo contorcionismo miacutemica e outros que podem ser identificados como formas

de representaccedilotildees simboacutelicas de realidades vividas pelo homem historicamente criadas e

culturalmente desenvolvidasrdquo

3 A expressatildeo gecircnero humano eacute utilizada no lugar de espeacutecie humana natildeo por acaso mas

pautada nas elaboraccedilotildees de Duarte (2001) O autor natildeo descarta a ideia de que o ser humano

faz parte da espeacutecie humana poreacutem ele avanccedila nessa elaboraccedilatildeo De acordo com ele a

categoria espeacutecie humana se refere agrave identificaccedilatildeo do homem por seus elementos bioloacutegicos

jaacute a categoria gecircnero humano destaca as caracteriacutesticas humanas que satildeo formadas ao longo

da histoacuteria social natildeo transmissiacuteveis pela heranccedila geneacutetica ldquoA categoria de gecircnero humano

natildeo se reduz agravequilo que eacute comum a todos os homens natildeo eacute uma mera generalizaccedilatildeo de

caracteriacutesticas empiricamente verificaacuteveis em todo e qualquer ser humano Gecircnero humano

eacute uma categoria que expressa a siacutentese em cada momento histoacuterico de toda objetivaccedilatildeo

humana ateacute aquele momentordquo (DUARTE 2001 p 26)

4 Estamos entendendo tempo livre como aquele livre das obrigaccedilotildees sociais e cotidianas

pois no modelo social em que vivemos nenhum tempo pode ser considerado livre mas

regulado por alguma determinaccedilatildeo social Para saber mais ver Mascarenhalaquo

orientais (Caratecirc Taekwondocirc Kung-fu Jiu-jistu Judocirc etc) o

que nos permite apontar uma mudanccedila paradigmaacutetica das lutas

desde suas origens ateacute os dias atuais

De um modo geral as lutas tecircm suas conotaccedilotildees primordiais

associadas agraves praacuteticas para a guerra sendo posteriormente adotadas

como um caminho para se alcanccedilar um estilo de vida mais equilibrashy

do e paciacutefico Nessa linha Hausen (2004) descreve o processo histoacuterishy

co de desenvolvimento das lutas de origem oriental que surgiram de

danccedilas praticadas no periacuteodo neoliacutetico e foram sendo sistematizadas

com o intuito de defesa mas para aleacutem disso elas foram adquirindo

sentidossignificado mais amplos como a busca de aprimoramento

corporal espiritual eacutetico moral e intelectual

Nos dias atuais as lutas se apresentam de forma massificada e

descaracterizada dos seus objetivos originais como os filosoacuteficos e os

de desenvolvimento humano (BARROS GABRIEL 2011) Os filshy

mes desenhos animados jogos virtuais e academias de ginaacutestica enshy

tre outros espaccedilos muitas das vezes deturpam os significados autecircnshy

ticos das lutas fazendo com que esse importante elemento cultural se

perca diante das demandas do capitalismo internacionalizado

Quase sempre encaradas como espetaacuteculos maravilhosos de pancadashy

ria e violecircncia a miacutedia deturpa o sentido e significado original das lutas torshy

nando-as sinocircnimo de violecircncia e crueldade com os inimigos Este imagishy

naacuterio criado faz com que os praticantes de lutas se tornem super-heroacuteis que

combatem o mal atraveacutes da violecircncia que gradativatildemente ldquodessensibiliza

os mais novos acerca da violecircncia do choque e do terror de ver algueacutem senshy

do agredido Desenvolvendo essa toleracircncia agrave violecircncia precisaratildeo de cada

vez mais violecircncia para serem entretidos rdquo (LANCcedilANOVA 2006 p 7)

A defesa que fazemos em torno desse conteuacutedo se daacute na compreshy

ensatildeo de que essa manifestaccedilatildeo da cultura corporal muito tem a con-

5 Segundo Marta (2009) a disseminaccedilatildeo das artes marciais orientais para outros paiacuteses

desencadeou um processo de ocidentalizaccedilatildeo com progressiva transformaccedilatildeo das

mesmas em produtos que para tornarem-se mais acessiacuteveisaceitaacuteveis comeccedilam a ser

destituiacutedos de seus rituais e valores tradicionais sendo a esportivizaccedilatildeo um elemento

chave desse processo Vale lembrar que a ocidentalizaccedilatildeo natildeo ocorre apenas com as

lutas mas com toda a cultura de tal modo que podemos falar em ocidentalizaccedilatildeo da

comida da moda do padratildeo de beleza dos estilos de vida das praacuteticas corporais etc

tribuir na formaccedilatildeo criacutetica do nosso aluno visto que a atuaccedilatildeo como

sujeito histoacuterico requer o acesso aos conhecimentos acumulados sobre

as lutas e seus significados como realidades histoacuterico-sociais

Compreendemos que cada tipo de luta eacute uma manifestaccedilatildeo

dotada de trajetoacuteria singular pois satildeo criadas pelos homens conshy

forme os interesses sociais culturais poliacuteticos econocircmicos e filoshy

soacuteficos nos vaacuterios periacuteodos histoacutericos e modos de produccedilatildeo6 Desse

modo as lutas tornam-se campo feacutertil na compreensatildeo da realidashy

de como produccedilatildeo histoacuterica e que por isso podem ser reinventashy

das segundo suas necessidades e interesses Aliaacutes o fazer histoacuteria eacute

expressatildeo proacutepria do gecircnero humano Nas palavras de Hobsbawm

(2010) enquanto houver ser humano haveraacute histoacuteria

A perspectiva de trabalho com as lutas dentro da escola natildeo

tem como objetivo formar o lutador de certa modalidade mas sim

formar o sujeito histoacuterico E pensar isso perfaz entender que o ensishy

no de lutas justifica-se quando ele possibilita ao aluno compreender

de forma criacutetica os condicionantes histoacutericos e sociais que fizeram

das lutas o que satildeo hoje bem como possibilitar-lhe usufruir sob

outras perspectivas o praticarvivenciar essa manifestaccedilatildeo

Artes Marciais Mistas

O resultado de toda essa esportivizaccedilatildeoocidentalizaccedilatildeo das

artes marciais da falta de sensibilidade dessa sociedade cada vez

mais competitiva e da busca incansaacutevel por audiecircncia e conseshy

quentemente por lucro se cristaliza em uma simples sigla ldquoianshy

querdquo MMA Mixed M artial Arts) ou Artes Marciais Mistas O

M M A eacute uma luta esportiva em que teacutecnicas de variadas modalishy

dades de lutasartes marciais satildeo utilizadas devidamente esvaziashy

das de seus significados filosoacuteficos e histoacutericos originais e com um

acreacutescimo de brutalidade dotada de sentido econocircmico

6 Modo de produccedilatildeo eacute uma categoria utilizada por Marx com o intuito de discriminar

as diferenccedilas que cada eacutepoca histoacuterica possui em funccedilatildeo das suas forccedilas produtivas e

relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo Assim podemos falar em modo de produccedilatildeo escravista

feudalista capitalista Para saber mais ver Huni (2005)

Selecionamos como temaacutetica dessa unidade de lutas essa

modalidade por entendermos que seu apelo midiaacutetico tem chashy

mado muita atenccedilatildeo entre os jovens em nossa sociedade nos uacutelshy

timos anos Essa popularizaccedilatildeo traz algumas questotildees que devem

ser socializadas e discutidas com nossos alunos tais como a orishy

gem dessa luta esportiva o papel da miacutedia na sua difusatildeo a sua

relaccedilatildeo com a violecircncia e com a mercadorizaccedilatildeo das lutas entre

muitas outras que possam surgir de acordo com o interesse e

aprofundamento dos alunos na temaacutetica

Os primeiros indiacutecios de lutas mistas estatildeo relacionados com

a Greacutecia antiga Tal luta era denominada de Pankration uma

combinaccedilatildeo de duas palavras gregas p a n que significa tudo ou

vaacuterios e kratos que significa forccedila7 Mas registros de algo pareshy

cido ressurgem por volta da segunda deacutecada do seacuteculo passado

aqui no Brasil quando membros da famiacutelia Gracie a fim de

divulgar uma modalidade de luta por eles adaptada do Jiu-jitsu

japonecircs e mais tarde denominada Jiu-jitsu brasileiro criaram o

ldquoGracie Challengerdquo ou ldquoDesafio dos Gracierdquo Os irmatildeos Gracie

desafiavam qualquer lutador de qualquer modalidade a fim de

demonstrar que a sua teacutecnica era mais eficiente Esses desafios

ficaram conhecidos como Vale-Tudo8 (AWI 2012)

Mais tarde no iniacutecio dos anos de 1990 nos EUA Rorion Gracie

e outros soacutecios criaram o primeiro torneio UFC (Ultimate Fighting

Championship) Com um formato um pouco diferente dos torneios de

ldquoVale-Tudordquo anteriores - como por exemplo o abandono do ringue e

7 O Pankration era unia espeacutecie de luta de solo que fazia parte das provas dos Jogos

Oliacutempicos sendo um dos acontecimentos mais populares da antiguidade Segundo Elias

e Dunning (1992) o niacutevel de violecircncia permitido nessa luta era muito elevado as regras

eram tradicionais e muito flexiacuteveis havia um juiz mas natildeo havia limite de tempo e o

combate durava ateacute que um dos oponentes desistisse por isso muitas vezes terminava com

a mutilaccedilatildeo ou morte do adversaacuterio O Pankration natildeo pode ser considerado um esporte

pois esse termo soacute pode ser suficientemente utilizado a partir do seacuteculo XV III em referecircncia

agraves praacuteticas corporais regidas por regras escritas e regulamentadas por instituiccedilotildees especiacuteficas

8 No fim da deacutecada de 1920 ocorreu o primeiro confronto puacuteblico desse gecircnero na ocasiatildeo

foi chamado de estilo versus estilo soacute depois a imprensa comeccedilou a se referir a esse confronto

como Vale Tudo (AWI 2012) Na deacutecada de I960 a violecircncia de algumas lutas criou uma

resistecircncia ao Vale Tudo que chegou a ser proibido no Brasil Ele ressurgiu entre as deacutecadas

de 1980 e 1990 num combate entre lutadores de Jiu-jitsu e Luta Livre mas enfraqueceu

novamente devido ao alto grau de violecircncia inclusive por parte do puacuteblico (MM A 2010)

a criaccedilatildeo do octoacutegono9 mdash o UFC chamou a atenccedilatildeo com lutadores de

diversas modalidades se enfrentando com regras miacutenimas e sem restrishy

ccedilatildeo de tempo Logo surgiram outros torneios como ldquoPRIDErdquo e ldquoOpen

Free Style Japanrdquo que se tornaram sucesso nas TV s por assinatura Poshy

reacutem juntamente com o sucesso de espectadores10 vieram as restriccedilotildees

em diversos estados por todos os EUA (MMA 2010)

Em pouco tempo de existecircncia dessas competiccedilotildees os lutashy

dores perceberam que aliar as diversas modalidades de lutas que

permitissem a eles lutarem em peacute e no chatildeo os tornaria mais comshy

petitivos Essa mistura de estilos de lutas e habilidades se tornou

conhecida como Artes Marciais Mistas (D ISCOVER UFC 2012)

Natildeo apenas Anderson mas nossos melhores lutadores

sabem se moldar de acordo com a situaccedilatildeo diante

das adversidades E uma qualidade indispensaacutevel do

MMA Por permitir o uso de golpes das mais diversas

modalidades o esporte acaba premiando a capacidashy

de de improviso do atleta diante de tantas variaacuteveis

Nisso as artes marciais mistas se assemelham agrave paixatildeo

nacional o futebol notoriamente um dos esportes

que menos se presta a ldquoensaiosrdquo e um dos mais impreshy

visiacuteveis que existem (AWI 2012 p 289)

No iniacutecio do seacuteculo XXI o UFC retorna reformulado com reshy

gras mais riacutegidas para poder agradar as autoridades que antes o proishy

biram limite de tempo divisatildeo de categorias por peso e seleccedilatildeo crishy

teriosa de lutadores De acordo com Awi (2012) hoje o MMA em

seus principais eventos eacute um esporte regulamentado com exames

perioacutedicos testes antidoping e regras bem claras

Na atualidade o UFC marca que domina 90 do mercashy

do mundial do M M A vincula o espetaacuteculo de entretenimento ao

consumo dos mais diversos produtos como aparelhos de ginaacutesshy

tica roupas videogames bonecos e DVDs Uma noite do evento

9 v -Segundo Rorion Grace a ideia do octoacutegono (espeacutecie de jaula com oito lados) era

justamente impedir os lutadores de fugirem do espaccedilo de luta durante a ldquopancadariardquo a

fim de atrair mais puacuteblico e chegar agrave televisatildeo (M M A 2010)t10 Na primeira ediccedilatildeo do UFC 85 mil lares americanos pagaram para ver a luta ao

vivo na televisatildeo na segunda foram 120 mil na terceira 180 mil e na quarta 260

mil pagantes (AW I 2012)

gera em meacutedia 70 milhotildees de reais Estima-se que a marca ldquoUFCrdquo

comprada haacute 12 anos por 2 milhotildees de doacutelares hoje eacute avaliada

em mais de 13 bilhatildeo de doacutelares 11 (AWI 2012) Neste quadro o

M M A ascende como ldquonovardquo face da luta-espetaacuteculo12 assumindo

o posto outrora ocupado pelo boxe que hoje estaacute em segundo plashy

no dentro do mercado das lutas esportivas

O esporte hoje eacute considerado ldquofebre mundialrdquo o nuacutemero de fatildes

soacute aumenta com o passar dos anos e as criacuteticas tambeacutem Recentemenshy

te em entrevista ao jornal Folha de Satildeo Paulo o bi-campeatildeo mundial

de boxe Eder Jofre fala criticavam o boxe porque era violento mas

perto do M M A eacute baleacute (PERTO 2012) E as criacuteticas natildeo param

por aiacute outra pessoa a questionar a civilidade da modalidade foi um

dos fundadores da torcida organizada ldquoGaviotildees da Fielrdquo considerada

uma das mais violentas do paiacutes Questionado sobre a violecircncia das

torcidas organizadas hoje em dia Chico Malfitanni em entrevista agrave

Folha de Satildeo Paulo declara ldquoos meios de comunicaccedilatildeo satildeo os maiores

incentivadores Outro dia o Sportv estava metendo o pau nas orgashy

nizadas agraves 1 lh30 da manhatilde Nisso entram cenas do MMA sangue

escorrendo O Galvatildeo [Bueno] gritando direita esquerda o cara soshy

cando o outro e isso eacute civilizadordquo (REIS 2012)

Apesar de algumas regras terem sido incluiacutedas para proibir eou limishy

tar o uso de alguns golpes durante os combates o niacutevel de violecircncia preshy

sente nas lutas de M M A eacute inegaacutevel De acordo com Awi (2012 p 19-20)

E rarissiacutemo uma ediccedilatildeo do UFC que termine

sem que pelo menos um lutador tenha de receshy

ber atendimento hospitalar antes de voltar para

casa Embora ateacute hoje soacute se tenha registrado duas

mortes por conta de lesotildees sofridas durante um

combate a variedade de golpes tramaacuteticos potildee em

11 O UFC eacute apontado pelos executivos americanos como a marca esportiva mais valiosa dos

Estados Unidos agrave frente da NFL (Futebol Americano) e da NBA (Basquete) Segundo

Awi (2012) Dana White e os irmaacuteos Fertita atuais administradores do UFC deram

o grande pulo do gato da marca ao perceberem que naacuteo bastava a luta era preciso

transformaacute-la num espetaacuteculo de entretenimento de massas

12 Utilizamos o termo ldquonovardquo entre aspas porque consideramos que o formato do M M A eacute novo

mas o seu conteuacutedo naacuteo eacute pois revela a apropriaccedilatildeo de teacutecnicas de lutas jaacute existentes

risco sim a integridade fiacutesica dos lutadores Mas

tambeacutem eacute verdade que o niacutevel de seguranccedila hoje eacute

bastante aceitaacutevel mdash e natildeo para de crescer

A polecircmica sobre o niacutevel de agressividade que envolve os comshy

bates de Artes Marciais Mistas traz agrave tona uma importante reflexatildeo

estaria o M M A incitando a violecircncia entre as pessoas

De acordo com Freire (2012) a questatildeo natildeo eacute tatildeo linear asshy

sim pois a agressividade presente no M M A natildeo seria a mesma

temida pelas pessoas em seus cotidianos mas sim a violecircncia transshy

formada em um espetaacuteculo de entretenimento O autor defende

seguindo a esteira de Nobert Elias que o puacuteblico experimenta um

momento de fruiccedilatildeo e prazer consumindo uma violecircncia controlashy

da por certas regrasteacutecnicas natildeo necessariamente praticando-a o

que poderia ser considerada uma conquista civilizatoacuteria13

Entretanto eacute importante destacar que o niacutevel de violecircncia

encontrado no M M A precisa ser compreendido no interior das

relaccedilotildees sociais capitalistas que na atualidade tecircm corroiacutedo o

tecido social No capitalismo a busca incessante pelo lucro eacute o

grande objetivo a ser atingido por isso a vidaintegridade do

lutador (visto como mercadoria viva) e o respeito ao adversaacuterio

soacute fazem sentido agrave medida que contribuem para esse objetivo

Nessa direccedilatildeo Duarte (2000) qualifica a sociedade capitalista

como hipoacutecrita pois ao transformar tudo em mercadoria ela

torna-se indiferente ao desenvolvimento moral dos indiviacuteduos

sendo que cedo ou tarde ela encontra meios de superar os lim ishy

tes outrora impostos para exploraccedilatildeo Assim agrave medida que se

torna mais aguda a crise da sociedade capitalista atual aumenta

13 Elias e Dunning (1992) evidenciam o caraacuteter de complementaridade entre esporte

e avanccedilo da civilizaccedilatildeo Os autores defendem que a criaccedilatildeo de regras sociais que

pacificaram as formas de disputa poliacutetica ocorre paralelamente ao desenvolvimento

de formas de exerciacutecio regulado da exciiacuteaccedilatildeo reprimida nas atividades seacuterias da vida

Neste contexto o esporte teria uma finalidade cataacutertica jaacute que deveria criar tensotildees

imaginaacuterias reguladas por teacutecnicas e regras permitindo a realizaccedilatildeo de uma violecircncia

controlada satisfazendo necessidades de excitaccedilatildeo dos participantes eou espectadores

ainda mais a alienaccedilatildeo da moral14 prevalecendo nesse contexto o

individualismo e o egoiacutesmo exacerbado

Desse modo o M M A tem demonstrado alinhamento com o prinshy

ciacutepio basilar do capitalismo a busca impiedosa pela valorizaccedilatildeo do cashy

pital sendo suas regras e apropriaccedilotildees teacutecnicas subordinadas a esse fim

O propoacutesito central dessa luta esportiva eacute manter o puacuteblico fascinado

para vender imagens roupas e demais mercadorias associadas agrave sua praacuteshy

tica Mas contraditoriamente o MMA por carregar em seu interior

fragmentos de diversas artes marciais e caracteriacutesticas do nosso tempo

desde que problematizado pode ajudar a entender os desafios e possishy

bilidades colocados para as lutas no contexto atual

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com as lutas

Com base nessa discussatildeo propomos uma unidade de ensino

que aborda o M M A como temaacutetica dentro do conteuacutedo lutas O plashy

no de unidade descrito abaixo foi elaborado para ser trabalhado com

alunos do oitavo ano do ensino fundamental

Seguindo os pressupostos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica o prishy

meiro passo eacute a identificaccedilatildeo dos dados da realidade onde temos uma

primeira impressatildeo dos alunos sobre o tema a ser trabalhado Como

atividade desse momento propomos organizar os alunos em gnipos

e pedir a eles que faccedilam um cartaz em uma folha de cartolina a parshy

tir de questotildees previamente elaboradas pelo professor As perguntas

enumeradas abaixo no plano de unidade deveratildeo ser respondidas

atraveacutes de ilustraccedilotildees fotografias eou reportagens que seratildeo disponishy

bilizadas para alunos atraveacutes de jornais esportivos ou paacuteginas da intershy

net A ideia geral eacute que os alunos indiquem qual eacute a luta mais famosa

14 De acordo com Duarte (2000) a discussatildeo sobre moral na sociedade capitalista eacute feita de

maneira alienada ou seja descolada dos valores que orientam a vida concreta das pessoas

Isso porque uma discussatildeo radical levaria agrave constataccedilatildeo de que o sistema capitalista eacute

avesso agraves questotildees morais jaacute que a proacutepria loacutegica do sistema eacute maximizar a exploraccedilatildeo dos

seres humanos sem limites para ampliar a acumulaccedilatildeo de capital Desse modo a base

concreta dessa alienaccedilatildeo moral eacute a proacutepria alienaccedilatildeo do trabalho atividade essencialmente

humana Nesse processo o homem eacute alienado natildeo apenas do produto e da atividade do

trabalho mas tambeacutem de si mesmo da relaccedilatildeo com o outro e com o gecircnero humano

na atualidade Esta atividade teraacute como objetivo averiguar o niacutevel de

compreensatildeo dos alunos sobre o M M A enquanto principal luta dos

tempos atuais Ao final desta atividade seraacute exposto aos alunos o conshy

teuacutedo e a temaacutetica que seraacute trabalhada questionando-os acerca do

que gostariam de saber a mais sobre o tema

Na problematizaccedilatildeo seratildeo levantadas algumas questotildees importanshy

tes para a discussatildeo do tema buscando orientar o aluno no processo de

apreensatildeo ativa do conhecimento Conforme pode ser visto no plano

de unidade seratildeo lanccediladas questotildees que abordam diversas dimensotildees

do conhecimento que seratildeo trabalhadas tais como o processo histoacuterico

de criaccedilatildeo do MMA sua evoluccedilatildeo as teacutecnicas baacutesicas desta luta os

interesses econocircmicos e as relaccedilotildees deste tema com a sociedade atual

A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento onde as atividades desenvolshy

vidas estatildeo voltadas para a aquisiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico por

parte dos alunos visando ampliar o niacutevel de consciecircncia dos mesmos

acerca do MM A e das suas interfaces com os tempos atuais No caso

em tela as atividades seratildeo exibiccedilatildeo de filmes e viacutedeos vivecircncia de

algumas modalidades de lutas discussotildees leituras de textos etc

A elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia pode ser verificada na cashy

tarse momento no qual haacute uma reinterpretaccedilatildeo da realidade desta

vez com o amparo do conhecimento cientiacutefico apreendido Como

sugestatildeo propomos a construccedilatildeo de um viacutedeo sobre os temas aborshy

dados a realizaccedilatildeo de um juacuteri simulado sobre o M M A e a criaccedilatildeo

de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais para debater o assunto

A ideia eacute que o aluno tenha se aproximado da percepccedilatildeo de que o

M M A eacute uma luta esportiva que utiliza teacutecnicas de diversas outras lushy

tas Na atualidade o MMA atraveacutes da marca UFC eacute uma das moshy

dalidades esportivas mais divulgadas e lucrativas do mundo Entreshy

tanto agrave medida que as teacutecnicas das lutas vatildeo sendo apropriadas para

seu uso competitivo nos torneios de M M A vai sendo aprofundado

o processo de descaracterizaccedilatildeo dessas modalidades em relaccedilatildeo aos

seus princiacutepios e valores originais O alto grau de violecircncia associado

agraves lutas dentro e fora dos octoacutegonos pode ser apontado como um

dos resultados desses processos de descaracterizaccedilatildeo

A uacuteltima etapa do plano de unidade eacute o retorno agrave praacutetica social ou

o momento de utilizar este conhecimento apreendido para uma nova

compreensatildeo e accedilatildeo sobre a realidade Assim propomos a divulgaccedilatildeo

dos materiais construiacutedos e socializaccedilatildeo com os outros alunos da escola

Plano de Unidade iMMA - a ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo

OBJETIVO GERAL

Compreender o M M A e suas relaccedilotildees com o mercado da luta-

-espetaacuteculo a fim de assumir uma postura criacutetica frente ao processo

de massificaccedilatildeo das lutas a partir desta modalidade

Toacutepicos de Conteuacutedo e objetivos especiacuteficos

1 - M M A que luta eacute essa

bull Ampliar conhecimentos sobre o MMA para distingui-lo de

outras modalidades de luta

bull Identificar os principais estilos de lutas seus golpes e

fundamentos teacutecnicos que compotildeem o MMA

2 - Origem e histoacuteria do M M A

bull Conhecer a origem e o processo de disseminaccedilatildeo do MMA

a fim de identificar a dinacircmica social que envolve a produccedilatildeo

dessa praacutetica da cultura corporal

3 - As lutas e seu processo de descaracterizaccedilatildeo

bull Diferenciar lutas de briga

bull Entender o processo de descaracterizaccedilatildeo das lutas

esportivizadas

bull Identificar o M M A como luta esportiva suas regras

categorias e competiccedilotildees

4 - M MA Miacutedia e Mercado a luta-espetaacuteculo como grande negoacutecio

bull Identificar o papel da miacutedia no processo de difusatildeo do

M M A

bull Compreender os interesses econocircmicos envolvidos nas

competiccedilotildees de MMA

5 - O MMA e a espetacularizaccedilaacuteo da violecircncia

bull Apreender a relaccedilatildeo entre o M M A e a espetacularizaccedilaacuteo da

violecircncia em nossa sociedade

bull Debater a relaccedilatildeo entre violecircncia e lutas

1) Praacutetica Social Inicial do Conteuacutedo

Material de Apoio Jornais e revistas esportivas (pode ser

feito tambeacutem na sala de informaacutetica utilizando os sites esportishy

vos mais populares) cartolinas canetinhas laacutepis de cor caneta

cola e tesoura

Accedilatildeo Dividir os alunos em grupos de no maacuteximo seis pesshy

soas A cada grupo deveraacute ser dado um questionaacuterio para ser

respondido na folha de cartolina e um nuacutemero suficiente de jorshy

nais esportivos (ou paacuteginas principais impressas dos noticiaacuterios

esportivos on-line) As perguntas satildeo

bull Qual eacute a luta mais famosa nos dias atuais

bull Quem eacute o melhor lutador atual

bull Quais satildeo as regras

bull Qual eacute o espaccedilo onde ela acontece

bull Quem a inventou

bull Onde podemos assistir esta luta

Os alunos deveratildeo procurar nos jornais fotografias eou reporshy

tagens sobre a luta que foi respondida como mais famosa (muito

provavelmente seraacute respondida que o M M A eacute a luta mais popular)

Os cartazes deveratildeo ser apresentados para os outros grupos

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3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO15

Quadro 2- Instrumentalizaccedilatildeo

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MMA que luta eacute

essa

Ampliar conhecimentos sobre o

MM A para distingui-lo de oushy

tras modalidades

Identificar os principais estilos

de lutas golpes e fundamenshy

tos teacutecnicos que compotildeem o

MMA

Conceituai

Teacutecnica

Pesquisa na sala de informaacutetica

Ler reportagens sobre o MMA

Viacutedeos imagens e textos

disponiacuteveis no blog ldquoConteshy

uacutedo e Meacutetodo nas aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Origem e histoacuteria

do M M A

Conhecer a origem e o processhy

so de disseminaccedilatildeo do MMA a

fim de identificar a dinacircmica soshy

cial que envolve a produccedilatildeo desshy

sa praacutetica da cultura corporal

HistoacutericaExibiccedilatildeo do Documentaacuterio da

Sportv sobre o MMA

Documentaacuterio ldquoMMA

a luta que levou o boxe agrave

lonardquo

Os links para acesso aos videos filmes e documentaacuterios citados no quadro abaixo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Disponiacutevel em lthttpcoledvoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012

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(2011)

4) CATARSE

41- Siacutentese teoacuterica do aluno

A catarse seraacute demonstrada com registros durante as aulas exshy

pressando que o MM A (Mixed Martial Arts) eacute uma luta esportiviza-

da criada a partir de uma forma de disputa para a disseminaccedilatildeo do

Jiu-jitsu brasileiro como a melhor das artes marciais Eram embates

entre lutadores de teacutecnicas distintas com lutadores de Jiu-jitsu prinshy

cipalmente Com a exarcebaccedilatildeo da violecircncia principalmente fora dos

ringues a famiacutelia Grace se muda para os EUA e comeccedila a criar uma

nova forma de disputa com regras espaccedilo adequado e teacutecnicas espeshy

ciacuteficas Surge assim o Vale Tudo e posteriormente o UFC e outras

modalidades Atualmente o UFC eacute uma das modalidades esportivas

mais lucrativas do mundo e uma das mais violentas associando teacutecshy

nicas de diversas lutas (Boxe Jiu-jitsu Muai thay Aikidocirc etc) sem

contudo valorizar os aspectos filosoacuteficos e princiacutepios originais das lushy

tas como respeito ao adversaacuterio e a si mesmo Muitas pessoas treinam

MMA para brigas de rua e torneios sem contudo entender o sentido

da criaccedilatildeo destas teacutecnicas pois estatildeo descaracterizadas atendendo a

interesses econocircmicos que vatildeo muito aleacutem da simples autodefesa

42 - Expressatildeo da Siacutentese

Construccedilatildeo de um viacutedeo sobre o MMA abordando de forma

criacutetica os temas estudados nas aulas ou construccedilatildeo de cartazes reshy

alizaccedilatildeo de um juacuteri simulado discutindo a temaacutetica e criaccedilatildeo de um

foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a temaacutetica

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO

Quadro 3 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

Conhecer mais sobre o M M A e suas difeshy

renccedilas de outros estilos

Pesquisar ler textos e assistir viacutedeos

sobre o M M A

Contribuir para a socializaccedilatildeo dos conhecishy

mentos sobre as lutas e para divulgaccedilatildeo de

espaccedilos de discussotildees sobre as mesmas

Convidar os demais alunos da escola para

f acessarem os viacutedeos e participarem dos

foacuteruns de discussatildeo sobre as lutas

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (201 1)

Consideraccedilotildees Finais

A formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos 1 1 0 acircmbito da cultura corporal

passa pela apreensatildeo de conhecimentos teoacuterico-praacuteticos que permitam agir

criticamente frente aos grandes fenocircmenos esportivos para aleacutem de sua

aparecircncia No caso das lutas o pouco acesso aos conhecimentos histoacutericos

teacutecnicos e filosoacuteficos das mesmas pode contribuir para gerar a substituiccedilatildeo

de sua praacutetica salutar pelo consumo passivo de espetaacuteculos esportivos muishy

tas vezes regados com alto grau de violecircncia A proposta de ensino com a

tematizaccedilatildeo das Artes Marciais Mistas buscou contribuir para pensar no

papel de mediaccedilatildeo que a Educaccedilatildeo Fiacutesica pode ter na formaccedilatildeo de sujeitos

criacuteticos ao fenocircmeno de descaracterizaccedilatildeo e mercadorizaccedilatildeo das lutas

Referecircncias

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CAPIacuteTULO VI

A VOZ DA PERIFERIA O HIP HOP ENQUANTO POSSIBILIDADE DE TRABALHO NAS AULAS DE EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA

Adriano de Paiva Reis

Carla Cristina Carvalho Pereira

Giovana de Carvalho Castro

Herbert Hischter Chaves de Paula

Marcelo Silva dos Santos

Apesar da infinidade de possibilidades de

trabalho nos curriacuteculos escolares historicamenshy

te a danccedila foi tratada pela escola numa perspecshy

tiva funcional tendo como objetivo principal a

formaccedilatildeo do corpo feminino em contrapartida

agraves praacuteticas ginaacutesticas destinadas aos homens1

O fato eacute que o trabalho com a danccedila nas

escolas quase natildeo eacute realizado ou eacute realizado de

forma superficial e esvaziada A danccedila eacute recoshy

nhecida como atividade extracurricular - geralshy

mente o aprofundamento do trabalho com as

teacutecnicas de uma determinada modalidade - ou

eacute tratada como componente folcloacuterico no inshy

terior das escolas seja pela Educaccedilatildeo Fiacutesica ou

1 A discussatildeo acerca das praacuteticas corporais destinadas a

homens e mulheres ao longo da histoacuteria da Educaccedilatildeo

Fiacutesica no Brasil pode ser encontrada em Ghiraldelli

Juacutenior (1994) O autor situa historicamente a visatildeo

sexista da Educaccedilatildeo Fiacutesica na sociedade brasileira

demonstrando o papel da ginaacutestica para moldar o corpo

saudaacutevel robusto e harmonioso dos homens enquanto

que para as meninas as praacuteticas eram voltadas para a

danccedila a expressatildeo corporal o teatro e a poesia visando

pela Educaccedilatildeo Artiacutestica limitando-se muitas vezes agrave montagem de

coreografias para festas e comemoraccedilotildees da escola Raramente a danccedila eacute

valorizada por ter um conhecimento proacuteprio e uma linguagem expresshy

siva especiacutefica (BRASILEIRO 2003 FIAM ONCINI 2003)

A resistecircncia dos alunos em participar das aulas de danccedila na esshy

cola constitui um fator a ser considerado assim como a dificuldade

por parte de muitos professores em trabalhar com esse conteuacutedo sob a

alegaccedilatildeo de natildeo possuiacuterem conhecimento especiacutefico em nenhuma moshy

dalidade de danccedila problema agravado pelos curriacuteculos predominanteshy

mente esportivizados da maioria dos cursos de graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo

Fiacutesica No entanto entendendo que a funccedilatildeo primordial da escola eacute

a socializaccedilatildeo do saber historicamente produzido (SAVIANI 1997)

coloca-se como tarefa fundamental a sistematizaccedilatildeo de uma praacutexis edushy

cativa superadora em danccedila tendo em vista proporcionar aos alunos

uma apreensatildeo contextualizada e criacutetica acerca dessa linguagem

Na perspectiva da reflexatildeo sobre a cultura corporal a danccedila - enshy

tendida enquanto uma das expressotildees do patrimocircnio cultural da hushy

manidade - eacute um conteuacutedo a ser conhecido estudado produzido no

acircmbito escolar Nesta linha eacute preciso que o professor rompa com as

formas tradicionais mecanizadas e estereotipadas de danccedila proporshy

cionando ao aluno o conhecimento de suas verdadeiras possibilidades

corporais desenvolvendo a criatividade e a expressividade

A escolha da temaacutetica a ser abordada nas aulas deve partir

da necessidade de compreensatildeo e explicaccedilatildeo da realidade concreshy

ta do aluno oferecendo subsiacutedios para que ele compreenda os

determinantes soacutecio-histoacutericos de sua condiccedilatildeo de classe social

(C O LE T IV O DE AUTORES 1992)

Neste sentido escolhemos abordar o break enquanto modalishy

dade de danccedila atrelada ao movimento Hip Hop A definiccedilatildeo dessa

temaacutetica deveu-se agrave sua popularidade entre os alunos e agrave confusatildeo

conceituai acerca do Hip Hop uma vez que este eacute tratado apenas

como um estilo musical ou uma forma de danccedilar Assim torna-se neshy

cessaacuterio abordar e discutir as contradiccedilotildees existentes entre a essecircncia

do Hip Hop enquanto movimento de criacutetica e contestaccedilatildeo social e

sua mercadorizaccedilatildeo c esvaziamento pelos meios de comunicaccedilatildeo

O Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia e criacutetica social

O Hip Hop natildeo eacute apenas um estilo musical ou um tipo de

danccedila Trata-se na verdade de uma importante manifestaccedilatildeo culshy

tural produzida enquanto um movimento de resistecircncia da perishy

feria da classe menos favorecida - que natildeo coincidentemente eacute

representada majoritariamente por negros2 A origem do termo eacute

bastante controversa mas muitos pesquisadores atribuem sua criashy

ccedilatildeo a Afrika Bambaataa3 Suas origens remontam aos EUA por

volta dos anos de 1970 nos subuacuterbios de Nova York e de Chicago

atrelado agraves expressotildees culturais das comunidades jamaicanas latishy

nas e afro-americanas Nesses guetos - habitados majoritariamente

por uma populaccedilatildeo negra4 e assolados pela pobreza traacutefico de

drogas racismo ausecircncia de educaccedilatildeo e de espaccedilos de lazer mdash o

movimento Hip Hop nasceu a partir de accedilotildees para conter a violecircnshy

2 Satildeo os negros que ocupam a maioria das estatiacutesticas de desemprego mortalidade infantil

analfabetismo que possuem as piores condiccedilotildees de moradia a maioria que ocupa os

presiacutedios e as ruas etc A discussatildeo sobre a marginalizaccedilaacuteo do negro no Brasil ganha forccedila a

partir dos anos iniciais deste seacuteculo demonstrando a importacircncia do movimento negro no

cenaacuterio dos movimentos sociais no paiacutes Entretanto dentro do proacuteprio movimento negro

natildeo haacute unidade principalmente no que se refere agrave discussatildeo entre a relaccedilatildeo raccedilaclasse Por

esta razatildeo achamos fundamental demarcar nossa posiccedilatildeo dentro dessa discussatildeo apesar

de estarmos atentos ao fato de que uma das caracteriacutesticas do capitalismo eacute ser indiferente

agraves identidades sociais das pessoas que explora o fato de natildeo necessitar natildeo significa que

de fato natildeo se aproveite e natildeo decirc continuidade agrave opressatildeo racial O capitalismo que

massacra trabalhadores mundo afora eacute ainda mais perverso com aqueles setores que foram

marginalizados como eacute o caso dos negros (W O O D 2003)

3 Afrika Bambaataa - pseudocircnimo de Kevin Donovan - eacute de forma quase unacircnime

considerado o responsaacutevel por plantar as bases sobre as quais o Hip Hop se desenvolveu

Nascido e criado no violento bairro do Bronx (Nova Iorque) chegou agrave lideranccedila dos Black

Spades uma das mais fortes e violentas gangues da regiatildeo Sua vida comeccedilou a mudar

quando numa viagem agrave Aacutefrica no iniacutecio dos anos 1970 assistiu ao filme Zulu sobre

a luta entre africanos e ingleses no seacuteculo X IX Foi deste documentaacuterio que ele retirou o

nome pelo qual eacute conhecido hoje O filme tambeacutem despertou no mesmo um novo olhar

acerca de suas origens motivando-o a formar sua proacutepria naccedilatildeo Zulu bem como a buscar

raquo meios para cooptar jovens das gangues para ela Disponiacutevel em lthttpogloboglobo

comculturaconsiderado-pai-do-hip-hop-do-funk-carioca-afrika-bambaataa-faz-show-

no-rio-303106lixzz20554zE00gt Acesso cm 2 ago 2012

4 Aleacutem dos negros os guetos de Nova York eram ocupados por imigrantes latinos oriundos

principalmente do Meacutexico e de Porto Rico tambeacutem considerados inferiores por sua pele

morena e olhos indiacutegenas herdados de seus antepassados tambeacutem escravizados

cia e promover a conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessishy

dade de luta contra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis

Desta forma o Hip Hop atrela-se agraves calorosas discussotildees que trashy

zem agrave tona os embates e as contradiccedilotildees da sociedade norte-americana

Neste contexto emergem lideranccedilas negras como Martin Luther King

e Malcom X e grupos que lutavam pela igualdade de direitos como

os Panteras Negras Embora divergentes em suas propostas agregaram

em torno de suas ideias uma populaccedilatildeo que ansiava por mudanccedilas no

modelo social entatildeo vigente que condenava a populaccedilatildeo negra a uma

invisibilidade negando-lhe a possibilidade de uma efetiva participaccedilatildeo

social e poliacutetica Tais demandas refletiram na produccedilatildeo musical e o

rock mdash que tambeacutem nasceu negro tatildeo aderente nos anos de 1960 mdash

mostrou-se impotente para dar voz a esse novo contexto

Os guetos abraccedilaram o soul e prestaram reverencia a muacutesicas como

uSay it loud Im black and proudrdquo (diga alto sou negro e orgulhoso)

cantada aos berros por James Brown inspirado na frase do liacuteder sul africano

Steve Biko Ao soul juntou-se o ftink furioso do qual James Brown tamshy

beacutem foi um iacutecone imageacutetico Estava pronto o terreno do qual brotaria o

Hip Hop lanccediladas as sementes do soul do funk e da luta pelos direitos civis

da populaccedilatildeo negra A ele se uniu o rap que remonta as raiacutezes da oralidade

africana sintetizada na figura dos griots5 Os guetos apropriaram-se desta

tradiccedilatildeo e a reinventaram atraveacutes das batalhas de improviso que contavam

histoacuterias de seu cotidiano marcando assim o nascimento do freestyle6

Outra figura fundamental para o Hip Hop foi o DJ Kool Herc

imigrante jamaicano a quem se atribui a criaccedilatildeo dos breaks (trechos de

muacutesicas usados como bases) No final dos anos de 1960 Herc trouxe da

Jamaica para o Bronx a teacutecnica dos famosos sound systems de Kingston

5 Os ldquogriotsrdquo satildeo os guardiotildees inteacuterpretes e cantores da histoacuteria oral de muitos povos

africanos A figura do griot tem uma enorme importacircncia na preservaccedilatildeo da palavra da

narraccedilatildeo do mito africano ldquoNa praacutetica eles funcionam como escritores sem papel nem

pena Ortografam na oralidade aquilo que deve permanecer embutido na memoacuteria e no

coraccedilatildeo dos seus familiares e conterracircneos no sentido de manter incrustada a identidade

do seu ser e das suas raiacutezes fundamentada em grande parte no seu passado e nos seus

predecessoresrdquo BIJOacute1AS Maria Griots mdash os inteacuterpretes musicais da Histoacuteria africana

Disponiacutevel em lthttpwwwruadireitacommusicainfogriots-os-interpretes-musicais-

da-historia-africanagt Acesso em 23 jul 2012

6 Estilo livre muacutesica de improviso mediante desafios

Como os trechos usados como base eram curtos Herc teve a ideia de usar

um mixer e dois discos idecircnticos o que permitia a repeticcedilatildeo indefinida de

um determinado trecho da mesma muacutesica (PIMENTEL 1997)

Foi um disciacutepulo do DJ jamaicano mdash Grandmaster Flash - quem

criou o ldquoscratchrdquo que eacute a utilizaccedilatildeo da agulha do toca-discos arrashy

nhando o vinil em sentido anti-horaacuterio como instrumento musical

Aleacutem disso ldquoFlash entregava um microfone para que os danccedilarinos

pudessem improvisar discursos acompanhando o ritmo da muacutesica

(uma espeacutecie de repente-eleacutetrico que ficou conhecido como rap - os

lsquorepentistasrsquo satildeo chamados de rappers ou MCs isto eacute lsquomasters of ceri-

mony)rdquo (VIANNA JUacuteN IOR 1988 p 38)

Desta feita aos breaks aliou-se a forccedila das mensagens trazidas

pelos rappers atribuindo peso agrave expressatildeo mesmo sob condiccedilotildees lishy

mitadas de recursos e ausecircncia de instrumentos

Paralelamente ao rap outras manifestaccedilotildees artiacutesticas se desenshy

volviam nos guetos americanos Em meados da deacutecada de 1960 os

jovens dos subuacuterbios de Nova York comeccedilaram a ldquopicharrdquo as pareshy

des com seus nomes Assim surge o grafitti inicialmente como tag

(assinatura) como forma de retratar a realidade como forma de

participaccedilatildeo e de resistecircncia Logo a colocaccedilatildeo das tags em locais

cada vez mais inoacutespitos virou um novo elemento da disputa que foi

apropriado pelas gangues como forma de demarcaccedilatildeo de territoacuterios

dentro dos guetos Mais tarde o desenho foi introduzido ao tag

abrindo-se um novo leque de trabalhos para os grafiteiros

Na mesma eacutepoca surge o break dance nome atribuiacutedo pelo Dj

Herc para definir um estilo de danccedila caracterizado por miacutemicas imitashy

ccedilotildees de robocircs e acrobacias com influecircncias das mais diversas das artes

marciais agraves danccedilas urbanas da eacutepoca e que representassem os conflitos

e o cotidiano dos guetos nova-iorquinos O nome atribuiacutedo por Herc

justifica-se agrave medida em que ldquoos jovens que iam agraves festas danccedilavam no

Break da muacutesica que era o nome dado a sua teacutecnica de interromper a

batida mais forte da muacutesica como se ela estivesse quebrada e se repeshy

tisse por alguns segundosrdquo (SILVA 2010 p 32) A respeito da danccedila

Pimentel (1997 p 8) destaca que esta desenvolveu-se

[] ao sabor da contorccedilatildeo dos brcaks entre e dentro

das muacutesicas formando um novo corpo riacutetmico no inshy

terior das mesmas e conduzindo o DJ e seu puacuteblico a

uma nova forma de abordagem do tema reconstruiacutedo

e reinterpretaacutevel atraveacutes da danccedila das quebras riacutetmishy

cas Danccedilar o break consiste literalmente na execuccedilatildeo

de passos que procuram imitar essa ruptura e essa forshy

ma sincopada de reconstruir o proacuteprio ritmo

Nas ruas de Nova Iorque grupos (crews) se encontravam para

definir quem danccedilava melhor dando origem agraves chamadas batalhas ou rachas de break As batalhas entre as crews eram manifestaccedilotildees de

rua que tinham o propoacutesito de chamar a atenccedilatildeo do poder puacuteblishy

co sobre a situaccedilatildeo do afro-americano em relaccedilatildeo ao seu modo de

sobrevivecircncia e portanto tinham uma conotaccedilatildeo poliacutetica (LEAtildeO

2006) O break foi ganhando outros espaccedilos e passou a ser danccedilado

tambeacutem nas festas (as chamadas Black Parties)

Alguns autores consideram que o break no Hip Hop eacute formado

por trecircs estilos de danccedila originais o break bboying (caracterizada

pelos movimentos de chatildeo como top rock up rock foot work booga- loo e freeze aleacutem dos giros de cabeccedila mortais o moinho de vento7) o Popingg (estilo de danccedila urbana que foi incorporada ao Hip Hop

onde o danccedilarino imita robocircs aleacutem de ondulaccedilotildees com o tronco e

quadris) e o Locking (danccedila urbana incorporada ao Hip Hop que

indica as direccedilotildees no espaccedilo apontando o dedo) Por outro lado haacute

quem afirme que esses trecircs estilos satildeo danccedilas diferentes e somente o

break eacute a danccedila original por ser a primeira a ser incorporada como

elemento do Hip Hop (SILVA 2010)8

Desta feita rappers breakers e grafiteiros logo se viram diante

das mesmas anguacutestias e desafios cotidianos Daiacute para a coletiviza-

ccedilatildeo de suas accedilotildees foi um pequeno passo dando origem a naccedilotildees

associaccedilotildees posses e entidades para divulgaccedilatildeo do Hip Hop

7 A descriccedilatildeo e tutoriais desses movimentos estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e

Meacutetodo nas auias de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lt httpcoletivoedulisicajf

blogspotcombrgt Acesso em 12 dez 2012

8 Devido agrave riqueza de possibilidades consideramos os trecircs estilos para o trabalho

que realizamos com os alunos numa escola municipai de Juiz de Fora trabalho este

descrito ao final do presente artigo

Assim muito mais que ldquopular balanccedilando os quadrisrdquo - trashy

duccedilatildeo do termo do inglecircs - o Hip Hop configura-se como um

movimento social que busca promover a conscientizaccedilatildeo da popushy

laccedilatildeo jovem afro-americana atraveacutes da uniatildeo de diversas manifesshy

taccedilotildees artiacutesticas representadas por um conjunto de quatro elemenshy

tos a) o break que eacute a danccedila oficial praticada pelos Bboys e Bgirls

b) o rap que eacute o canto falado ao som de pick - ups ou mesmo de

ritmos feitos com a boca e o corpo c) o DJ (disk jockey) que atua

nos pick - ups acompanhando a falacanto dos MCs (mestre de

cerimocircnia) e d) o grafitti que eacute a arte nos muros vagotildees de trens

e espaccedilos deteriorados - uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para a

necessidade de revitalizaccedilatildeo desses espaccedilos (BENEDITO 2004)

E esse movimento que chega ao Brasil - influenciado pelo

lema do Black Power e pela admiraccedilatildeo aos Panteras Negras mdash

num contexto em que gangues urbanas conquistavam espaccedilo

embaladas por pequenos conflitos armados (armas brancas prinshy

cipalmente) e pelas muacutesicas do soul norte-americano Nosso ldquorashy

cismo agrave brasileirardquo natildeo dava margem para os conflitos diretos

pelos quais passou a sociedade norte-americana mas isso natildeo

significa a ausecircncia de poliacuteticas marginalizantes para a populaccedilatildeo

negra e afrodescendente no Brasil9

Como em outros paiacuteses diaspoacutericos o H ip Hop encontrou

no Brasil terreno feacutertil Sua chegada data de meados dos anos de

1980 em Satildeo Paulo Em 1988 foi lanccedilado o primeiro registro

fonograacutefico de rap nacional a coletacircnea ldquoHip-Hop Cultura de

Ruardquo pela gravadora Eldorado Com apoio puacuteblico da prefeitura

de Satildeo Paulo organizou-se a primeira associaccedilatildeo oficial de H ip

Hop no Brasil o M H 2 0 - Movimento Hip-Hop Organizado

9 A inserccedilatildeo do negro no poacutes-aboliccedilaacuteo tem sido alvo de diversos estudos Tais pesquisas

apontam para as dificuldades da populaccedilatildeo afrodescendente em ser reconhecida como

parte da sociedade brasileira e discutem o processo de marginalizaccedilatildeo imposto a esse

segmento Um dos aspectos mais relevantes dessa segmentaccedilatildeo eacute revelado nas pesquisas

que indicam a criminalizaccedilatildeo das praacuteticas culturais afrodescendentes presentes em nosso

coacutedigo penal ateacute 1940 Para maiores informaccedilotildees consultar Holloway (1997)

A descaracterizaccedilatildeo do Hip Hop a voz da periferia transmutada em mercadoria rentaacutevel

Identificamos hoje uma tentativa de esvaziamento e de descashy

racterizaccedilatildeo do H ip Hop enquanto movimento de luta e contestaccedilatildeo

social A induacutestria cultural vem cooptando essa forma de resistecircncia

em favor do capital transformando-o em um filatildeo de mercado vazio

de conteuacutedo histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico e ressignificado a partir

dos interesses da cultura hegemocircnica

O movimento mdash que sempre viveu e se propagou por fora dos

esquemas formais de comunicaccedilatildeo de massa sem espaccedilo nas raacutedios

comerciais e com trabalhos lanccedilados em gravadoras independentes

(MARTINS 1998) mdash atualmente ldquodesce o morrordquo indo parar nas

boates de classe meacutedia nas raacutedios e nas novelas e programas das prinshy

cipais emissoras de televisatildeo

A problemaacutetica da mercadorizaccedilatildeo do Hip Hop natildeo estaacute des-

zonectada do processo de transformaccedilatildeo e de mudanccedila que se faz

Dresente na sociedade de uma forma geral Jameson (2000) denuncia

^ue a emergente mudanccedila histoacuterica ocorrida na vida no ocidente para

jma nova forma de capitalismo trouxe a tese de que as questotildees cul-

urais tendem a se propagar para as econocircmicas e sociais Segundo o

iutor ldquoa produccedilatildeo das mercadorias eacute agora um fenocircmeno cultural no

lual se compram os produtos tanto por sua imagem quanto por seu

iacuteso imediato [] Nesse sentido a economia se transforma em uma

juestatildeo culturalrdquo (JAMESON 2000 p 22)

Na loacutegica cultural do capitalismo tardio onde o consumo

bull o principal meio de realizaccedilatildeo ldquoo prazer o lazer a seduccedilatildeo e a

ida eroacutetica satildeo trazidos para o acircmbito do poder do dinheiro e da

raquoreocupaccedilatildeo de mercadoriasrdquo (HARVEY 1992 p 99) Ao mes-

no tempo em que temos a sofisticaccedilatildeo das necessidades e dos seus

neios por um lado temos de outro uma abstrata simplificaccedilatildeo

las necessidades No campo especiacutefico da cultura a arte se tornou

ambeacutem uma mercadoria e o artista foi transformado em um pro-

utor de mercadorias (F ISCHER 1982)

Rappers ganharam status na induacutestria cultural sobretudo a

norte-americana e viraram ldquoastrosrdquo em todo o mundo Figuras como

Gangster RAP Dr Dree e Snoopy Dog aparecem na miacutedia preganshy

do e praticando a violecircncia adotando atitudes e produzindo letras

que demonstram hostilidade ao pobre e agrave mulher O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos contextos sendo empregashy

do para classificar um estilo de muacutesica de danccedila ou um jeito de se

vestir conhecido como estilo B-boy associado a marcas esportivas

especiacuteficas (boneacute tecircnis etc) Neste sentido

[] os aspectos do processo de mercadorizaccedilatildeo da

vestimenta das muacutesicas dos shows que possuem um

alto custo financeiro mostram essa refuncionaliza-

ccedilatildeo para garantir uma dada hegemonia tornando o

Hip Hop em determinados casos uma praacutetica disshy

tanciada da reflexatildeo de sua origem e da possibilidade

de ser uma forma de luta contra a opressatildeo Nesses

casos aquilo que servia para caracterizaacute-lo como

popular eacute justamente o que eacute transmutado o seu

sentido (AVILA et al 2005 p 64)

Aleacutem disso atraveacutes de poliacuteticas assistencialistas e compensashy

toacuterias o poder puacuteblico frequentemente apropria-se dos elementos

do Hip Hop num discurso apologeacutetico que o rotula enquanto

ldquosalvador da paacutetriardquo a partir da responsabilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos

pelas suas mazelas sociais justamente o oposto do que preconiza

o movimento O Hip Hop ligado agrave criacutetica poliacutetica e social e agrave

conscientizaccedilatildeo acerca da necessidade da organizaccedilatildeo coletiva tem

como intuito provocar mudanccedilas sociais e garantir direitos essenshy

ciais que satildeo responsabilidade do poder puacuteblico

Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo feita pelos meios de coshy

municaccedilatildeo a essecircncia do movimento permanece inalterada Atualshy

mente os movimentos organizados de Hip Hop buscam discutir a

discriminaccedilatildeo racial os problemas sociais a realidade da periferia

discussotildees estas materializadas nas letras do rap E esse Hip Hop

que pretendemos resgatar com nossos alunos contextualizando-o e

desvelando o que eacute a essecircncia desse movimento

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a danccedila

Elaboramos entatildeo um planejamento para ser desenvolvishy

do com alunos do 9o ano de uma escola municipal de Juiz de

Fora A proposta foi abordar o Hip Hop discutindo-o desde sua

origem enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social passhy

sando pela caracterizaccedilatildeo dos elementos que o compotildeem ateacute a

discussatildeo e anaacutelise criacutetica do que hoje eacute conhecido e difundido

pela miacutedia enquanto ldquoH ip Hoprdquo

Demos uma ecircnfase especial ao break por tratar-se de uma unishy

dade onde o conteuacutedo proposto era a danccedila Aqui tivemos espaccedilo

privilegiado para discutir as formas mecanizadas e estereotipadas de

danccedila impostas pela miacutedia e problematizamos a mera repeticcedilatildeo ou

imitaccedilatildeo a que muitas vezes se resumem as aulas de danccedila Numa oushy

tra perspectiva o break abre possibilidades de trabalhar a criatividade

e a expressividade jaacute que a essecircncia desse estilo eacute a improvisaccedilatildeo a (re)

criaccedilatildeo de movimentos Nas rodas de improvisaccedilatildeo cada participante

cria seu proacuteprio estilo e constroacutei suas sequecircncias de movimentos a

partir dos elementos teacutecnicos baacutesicos

Assim na identificaccedilatildeo da praacutetica social dividimos os alunos

em grupos e exibimos clipes de artistas diversos (Gabriel o pensador

Racionais M C rsquoS Beyonceacute Emicida etc) solicitando que ao final de

cada um eles respondessem em uma folha o nome e o estilo musical

do artista em questatildeo As respostas foram apresentadas a maioria deshy

las definia todos os clipes exibidos como sendo ldquoHip HoprdquoApoacutes esse primeiro momento iniciamos um debate com os alushy

nos lanccedilando algumas questotildees problematizadoras O que eacute Hip

Hop Hip Hop eacute danccedila O u eacute muacutesica Um estilo musical Como

surgiu o Hip Hop Existem muitos artistas negros no Hip Hop As

respostas dos alunos e a discussatildeo do tema foram registradas a fim de

fazer uma comparaccedilatildeo no final do trabalho

Na instrumentalizaccedilatildeo trabalhamos os seguintes toacutepicos de

conteuacutedo a histoacuteria do H ip Hop os quatro elementos que o

constituem (rap DJ grafitti10 break) bem como a influecircncia

dos meios de comunicaccedilatildeo na forma de disseminaccedilatildeo do Hip

Hop lanccedilando matildeo de recursos pedagoacutegicos como viacutedeos docushy

mentaacuterios reportagens letras de muacutesica dentre outros a fim de

que os alunos tivessem uma nova percepccedilatildeo do movimento Hip

Hop nas suas mais diversas dimensotildees No caso especiacutefico da

danccedila trabalhamos as teacutecnicas baacutesicas dos trecircs estilos de danccedila

do break (Bboing Popping e Locking) explorando a capacidade

de criaccedilatildeo e improvisaccedilatildeo dos alunos

Na catarse momento de elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia

dos alunos acerca do tema propomos a organizaccedilatildeo de um fesshy

tival de Hip Hop onde os alunos foram divididos em grupos e

demonstraram as teacutecnicas aprendidas bem como a exibiccedilatildeo de

um painel com os pontos abordados durante a unidade didaacutetica

No retorno agrave praacutetica social quando os alunos utilizam este

novo conhecimento para intervir criticamente na realidade soshy

cial a proposta foi realizar a produccedilatildeo de textos dos temas aborshy

dados nas aulas divulgando-os em um blog

PLANO DE UNIDADE

Tiacutetulo da Unidade O Movimento Hip Hop e a induacutestria cultural

OBJETIVO GERAL

Compreender o Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia

expressatildeo e denuacutencia de um grupo social

10 Ao elaborarmos o planejamento e apresentarmos a proposta para o coletivo da escola

abriu-se a possibilidade de um trabalho conjunto com a professora de Artes da turma por

isso pudemos aprofundar o trabalho com o grafitti

11 Viacutedeos e tutoriais usados para a preparaccedilatildeo das aulas e domiacutenio das teacutecnicas fundamentais

de cada um dos estilos do break estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas

aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt

Acesso em 10 dez 2012

Quadro 1- Anuacutencio do conteuacutedo

Toacutepico de Conteuacutedo t )bjetivos Especiacuteficos

Histoacuteria do H ip Hop

Conhecer a histoacuteria do Hip Hop e compreender sua essecircnshy

cia enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social

Identificar as caracteriacutesticas e manifestaccedilotildees do H ip Hop

no Brasil da atualidade

Os quatro elementos do movishy

mento H ip Hop

Identificar e conceituar os quatro elementos que constishy

tuem o movimento H ip Hop

Compreender a relaccedilatildeo de cada um dos elementos com o

movimento H ip Hop

Rhythm and Poetry

Compreender o rap enquanto o ldquocanto faladordquo que deshy

nuncia a injusticcedila e a opressatildeo de um grupo social

Conhecer teacutecnicas de construccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap

Arte nos Muros

Entender a histoacuteria e a evoluccedilatildeo do grafitti

Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo com o movimento H ip

Hop

Conhecer o grafitti na atualidade e suas linhas de expressatildeo

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de grafitagem

Aumente o som DJUuml

Identificar a ldquobatida quebradardquo (break) que caracteriza a

base musical do H ip Hop

Compreender o papel do DJ no H ip Hop

Estabelecer a diferenciaccedilatildeo entre o DJ e o M C (Mestre

de Cerimocircnia)

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de scratch e de mixagem

ldquoBatalhardquo entre crews

Analisar o papel do break enquanto expressatildeo corporal

ligada ao H ip Hop

Identificar os estilos do break sua origem e as vaacuterias forshy

mas de movimentaccedilatildeo

Relacionar os movimentos corporais ao ldquobreakrdquo da muacutesica

Aprender teacutecnicas baacutesicas de cada um dos estilos de break

O Hip Hop que passa na TV

Analisar a influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo na forma

de disseminaccedilatildeo do movimento H ip Hop

Compreender a banalizaccedilatildeo do movimento H ip Hop e

sua desconstruccedilatildeo pelo mercado

ontc elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

1) PRAacuteTICA SOCIAL IN ICIAL DO CONTEUacuteDO

11 Vivecircncia do Conteuacutedo

bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Hip Hop eacute um tipo

de muacutesica as muacutesicas criticam os ricos Hip Hop eacute uma danccedila

de rua etc

bull O que eles gostariam de saber a mais Como satildeo os passos

do Hip Hop como criar um rap como montar uma muacutesica

mixada etc

2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO

Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees

problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas

Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

$ v h W ccedil f v V j i v1 Tv S

t j j j fM IacuteW iacute lE i YSX IIP)

Histoacuteria do Hip HopHistoacuterica

Social

Como surgiu o Hip Hop Por que ele

surgiu Por que tem tantos artistas neshy

gros no Hip Hop

Os quatro elementos do movishy

mento H ip HopConceituai

Quais satildeo os elementos que constishy

tuem o Hip Hop Como se caracteshy

riza cada um deles

Rhythm and PoetryConceituai

Social

O que eacute rap De que falam as letras

dos raps Que mensagem querem

transmitir

Arte nos MurosLegal

Teacutecnica

Grafitar e pichar satildeo a mesma coishy

sa O que significa esse desenhos

nos muros

Aumente o som DJ Conceituai

0 que faz um DJ Qual a relaccedilatildeo

entre o DJ e o rap DJ e M C satildeo a

mesma pessoa Como eacute o ritmo da

danccedila no H ip Hop

ldquoBatalhardquo entre crewsConceituai

Teacutecnica

Como se danccedila no H ip Hop Qual

eacute o nome dessa danccedila Por que a

danccedila se chama ldquobreakrdquo Quais satildeo

os principais passos

O H ip Hop que passa na TV

Poliacutetica

Social

Econocircmica

Quais satildeo os rappers que aparecem

nos programas de TV Quais ideias

defendem em seus raps Os valores

dc que classe social representam

Fonte elaboraccedilatildeo nroacutenria m m

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo

bull

Histoacuteria do H ip

Hop

Conhecer a histoacuteria do H ip

H op e compreender sua essecircnshy

cia enquanto movimento de

contestaccedilatildeo c criacutetica social

Identificar as caracteriacutesticas e

manifestaccedilotildees do H ip H op no

Brasil da atualidade

Histoacuterica

Social

Apresentaccedilatildeo de dados estatiacutesticos sobre a

situaccedilatildeo do negro na sociedade brasileira

Exibiccedilatildeo de filmes e textos sobre a segreshy

gaccedilatildeo racial nos EUA e comparaccedilatildeo com

a realidade brasileira

Exibiccedilatildeo de documentaacuterio situando a

origem do H ip Hop

Exibiccedilatildeo de clipes de muacutesica que caracteshy

rizem a essecircncia do H ip Hop

Viacutedeos diversos65

Documentaacuterio ldquoH ip Hop em m oshy

vimentordquo

Documentaacuterio ldquoA Histoacuteria Do Hip

Hoprdquo

Os quatro eleshy

mentos do movishy

mento H ip Hop

Identificar e conceituar os

quatro elementos que constishy

tuem o movimento H ip Hop

Compreender a relaccedilatildeo de

cada um dos elementos com o

movimento H ip Hop

Conceituai

Social

Textos e viacutedeos sobre cada um dos eleshy

mentos

Viacutedeos produzidos pelos professores

Textos sobre os elementos do H ip

Hop

Os links paia acesso aos videos e textos utilizados na instrumentalizaccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em

lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012

=S

Rhythm and

Poetry

Compreender o rap enquanto

o ldquocanto faladordquo que denuncia

a injusticcedila e a opressatildeo de um

grupo social

Conhecer teacutecnicas de construshy

ccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap

Conceituai

Social

Teacutecnica

Anaacutelises de raps relacionados agrave realidade

social da periferia

Pesquisa sobre a estrutura e as teacutecnicas de

construccedilatildeo de um rap

Criaccedilatildeo individual eou coletiva de raps a

partir de temas propostos

Muacutesicas de grupos de rap

Clipe Negro Drama (Racionais)

Capiacutetulo sobre H ip Hop do livro D ishy

daacutetico do Paranaacute (Educaccedilatildeo Fiacutesica)

Arte nos Muros

v

Entender a histoacuteria e a evolushy

ccedilatildeo do grafitti

Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo

com o movimento H ip Hop

Conhecer o grafitti na atualishy

dade e suas linhas de expressatildeo

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de

grafitagem

Histoacuterica

Legal

Teacutecnica

Viacutedeo sobre a histoacuteria e evoluccedilatildeo do grafitti

Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das tags (asshy

sinaturas)

Viacutedeos produzidos pelos professores

Material de desenho para a vivecircnshy

cia das teacutecnicas das tags

Tintas e sprays para grafitar as tags

trabalhadas no papelatildeo ou no muro

Aumente o som

DJUuml

Identificar a ldquobatida quebrashy

dardquo (break) que caracteriza a

base musical do H ip Hop

Compreender o papel do D J

no H ip Hop

Estabelecer a diferenciaccedilatildeo enshy

tre o D J e o M C

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de

scratch e de mixagem

Conceituai

Teacutecnica

Identificaccedilatildeo da batida ldquoquebradardquo da

muacutesica e comparaccedilatildeo com outros ritmos

como por exemplo o funk

Vivecircncia de elementos baacutesicos de mixagem

Construccedilatildeo de bases mixadas das muacutesicas

Muacutesicas diversas

Mesas de mixagem ou programas

de computador para mixagem

Tutoriais diversos sobre mixagem

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(2011)

4) CATARSE

41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno

O Hip Hop eacute uma das mais importantes manifestaccedilotildees joshy

vens da atualidade Surgiu nos Estados Unidos nos subuacuterbios de

Nova York e Chicago na deacutecada de 1970 habitados majoritaria-

mentepor uma populaccedilatildeo negra e assolados pela pobreza traacutefico

de drogas racismo e ausecircncia de espaccedilos de lazer A cultura Hip

Hop nasce a partir de accedilotildees para conter a violecircncia e promover a

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessidade de luta conshy

tra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis

O Hip Hop eacute composto por 4 elementos a saber o break o

rap o DJ e o grafitti No Brasil o Hip Hop encontra na deacutecada

de 1980 um terreno fecundo para o seu desenvolvimento e o Hip

Hop ganha espaccedilo enquanto um meio de luta mobilizaccedilatildeo e dishy

vulgaccedilatildeo das desigualdades sociais e raciais

Entretanto a induacutestria da muacutesica se aproveita da popularishy

dade do Hip Hop transformando-o em uma mercadoria e descashy

racterizando-o enquanto movimento social e de contestaccedilatildeo No

caso especiacutefico da danccedila acontece uma reproduccedilatildeo de coreografias

montadas perdendo o sentido da expressatildeo corporal e a criatividashy

de que fazem parte da essecircncia do break

O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos conshy

textos sendo empregado para classificar um estilo de muacutesica de

danccedila ou um jeito de se vestir conhecido como estilo B-boy asshy

sociado a marcas esportivas especiacuteficas sem contudo representar

os seus objetivos gerais de contestaccedilatildeo social

42 - Expressatildeo da Siacutentese

Construccedilatildeo de paineacuteis sobre os elementos do Hip Hop orgashy

nizaccedilatildeo de um festival de Hip Hop apresentando os pontos discu-jf

tidos na unidade de ensino

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO

Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

Conhecer mais sobre o Hip Hop sua

essecircncia e tendecircncias

Ler pesquisar e conhecer pessoas

do Movimento Hip Hop

Socializar os conhecimentos aprendishy

dos sobre o Hip Hop

Produccedilatildeo de textos eou docushy

mentaacuterios sobre os elementos a

histoacuteria e a descaracterizaccedilatildeo do

Hip Hop

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees finais

Em tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas

as esferas da vicia a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda

maior E preciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabashy

lhadora construamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contrishy

buindo para a desmistificaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta

Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo imposta pela miacutedia eacute

preciso compreender que a essecircncia do movimento Hip Hop ainda

permanece inalterada Neste sentido situar historicamente o Hip

Hop no contexto socioeconocircmico e cultural em que surgiu mdash desshy

velando sua essecircncia enquanto movimento de contestaccedilatildeo poliacutetica

e social - contribui para a compreensatildeo do aluno enquanto agente

de sua histoacuteria capaz de atuar e transformar atraveacutes de accedilotildees conshy

cretas o seu meio e as condiccedilotildees materiais de sua existecircncia

Referecircncias

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histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003

3

CAPIacuteTULO VII

A DISCIPLINARIZACcedilAtildeO DOS CORPOS POR MEIO DA GINAacuteSTICA

I^eonardo Docena Pina

Miguel Fabiano de Faria

Nathagravelia Sixel Rodrigues

Ramon Mendes da Costa Magalhatildees

A ginaacutestica como conteuacutedo da Educaccedilatildeo

Fiacutesica natildeo deve ser vista como uma manifestashy

ccedilatildeo recente uma vez que se trata de uma praacutetishy

ca bastante antiga na escola se considerada em

relaccedilatildeo a outros conteuacutedos da cultura corporal

Tendo em vista as transformaccedilotildees ocorridas

com a ginaacutestica ao longo da histoacuteria algumas

questotildees emergem e conferem significados agrave

proposta deste capiacutetulo atualmente a ginaacutestishy

ca permanece como um conteuacutedo nas aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesica Como se configura a ginaacutestica

nessas aulas Como os corpos dos sujeitos enshy

volvidos nessa praacutetica satildeo abordados dentro e

fora da escola Como a sociedade compreende

esses corpos e delega agrave ginaacutestica a competecircncia

por conformaacute-los Questotildees como essas contrishy

buem para a compreensatildeo dos significados que

a praacutetica corporal ginaacutestica assume ou poderia

assumir como conteiido escolar

Compreender a ginaacutestica como conteuacuteshy

do da Educaccedilatildeo Fiacutesica nos remete ao iniacutecio

do seacuteculo XIX quando essa produccedilatildeo cultural

passou a ser considerada cientiacutefica fruto das

distintas formas de se pensar os exerciacutecios fiacutesicos em paiacuteses europeus

surgindo assim os meacutetodos ou escolas de ginaacutestica integrantes do

chamado Movimento Ginaacutestico Europeu Nessa perspectiva buscou-

-se imprimir um caraacuteter de utilidade aos exerciacutecios fiacutesicos em que

foram negadas as praacuteticas populares de artistas de rua de circo acroshy

batas que as apresentavam como espetaacuteculo trazendo o corpo como

centro de entretenimento (SOARES 1998 2001a 2001b)

Ainda segundo a autora eacute nos princiacutepios de ordem e disciplina forshy

mulados pelo Movimento Ginaacutestico Europeu bem como do afastamenshy

to do nuacutecleo primordial do divertimento que a Ginaacutestica se afirmou

como parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos Uma praacutetica capaz de potenshy

cializar a utilidade dos gestos e oferecer um espetaacuteculo ldquocontroladordquo e

institucionalizado dos usos do corpo em negaccedilatildeo aos elementos cecircnicos

funambulescos e acrobaacuteticos (SOARES 1998)

Precursora da Educaccedilatildeo Fiacutesica a Ginaacutestica cientiacutefica se afirmou

ao longo do seacuteculo X IX como siacutentese do pensamento cientiacutefico no

ocidente europeu e integrante dos novos coacutedigos de civilidade o que

vai justificar sua presenccedila no curriacuteculo escolar tambeacutem no Brasil

Como vimos a ginaacutestica foi uma das primeiras praacuteticas corposhy

rais a ser inserida na educaccedilatildeo escolar no seacuteculo XIX tanto que sua

denominaccedilatildeo ldquoGymnasticardquo foi por muitos anos considerada a proacuteshy

pria disciplina escolar sendo paulatinamente substituiacuteda no iniacutecio do

seacuteculo XX pela denominaccedilatildeo ldquoEducaccedilatildeo Physicardquo1

No Brasil ateacute as deacutecadas de 1920 e 1930 a ginaacutestica era uma

praacutetica privilegiada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica sendo orientada por

dois primados da educaccedilatildeo escolar Primeiramente o ldquoprimado da orshy

topediardquo esteve relacionado com a correccedilatildeo de desvios e com o endirei-

tamento dos corpos pretendendo constituir sujeitos robustos e higieshy

nizados Posteriormente o ldquoprimado da eficiecircnciardquo visava construir o

1 Tal expressatildeo areacute enratildeo possuiacutea um sentido mais amplo vinculado ao discurso da ldquohygienerdquo

(G O N D RA 2004) e ao pensamento de Herbert Spencer em que a educaccedilatildeo integral

seria apoiada em trecircs pilares a ldquoeducaccedilatildeo intellectual moral e physicardquo (VAGO 2002)

Assim essa ldquoeducaccedilatildeo physicardquo englobou natildeo soacute a ldquogymnasticardquo os ldquoexerciacutecios physicosrdquo e as

ldquoevoluccedilotildees militaresrdquo como tambeacutem abarcou a organizaccedilatildeo dos tempos e espaccedilos escolares a

distribuiccedilatildeo da luz a boa ventilaccedilatildeo do ambiente a disposiccedilatildeo e o formato do mobiliaacuterio o

nuacutemero de alunos por turma as refeiccedilotildees os recreios enfim todos os haacutebitos saudaacuteveis que

garantiriam o pleno ldquodesenvolvimento physicordquo dos alunos

trabalhador necessaacuterio agrave induacutestria que deveria ser dotado natildeo somente

de corpos ldquoerectosrdquo mas sobretudo de corpos eficientes prontos para

o trabalho em conjunto que de maneira eficaz tivesse rendimento em

forma de produto e de resultado (VAGO 2002)

Nesse sentido Carvalho (1997) apresenta argumentos para comshy

preender os discursos educacionais que no Brasil a partir do final do

seacuteculo XIX e nas primeiras quatro deacutecadas do seacuteculo XX procuraram

ldquo[] legitimar-se enquanto saber pedagoacutegico de tipo novo moderno experimental e cientiacuteficordquo (CARVALHO 1997 p 269) Assim ldquo[]

trabalha com duas metaacuteforas da disciplina - disciplina como ortopeshy

dia e disciplina como eficiecircnciardquo (CARVALHO 1997 p 269) De

acordo com a autora a partir da deacutecada de 1920 eacute possiacutevel perceber

uma sutil mudanccedila no discurso pedagoacutegico no Brasil

O resultado desse movimento eacute que a eficiecircncia passa a ser um

primado orientador para a escola Com efeito Vago (2002) amplia

que natildeo seria diferente para a ginaacutestica a qual migraria de uma preshy

ocupaccedilatildeo com a correccedilatildeo o endireitamento e a constituiccedilatildeo dos corshy

pos para uma preocupaccedilatildeo com a eficiecircncia dos gestos aliada aos

pressupostos da ldquovida modernardquo2

A partir das deacutecadas de 1940 e 1950 a ginaacutestica foi perdendo

espaccedilo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica para o esporte3 Atualmente

em muitas escolas esse conteuacutedo quando trabalhado tende a ser

abordado com praacuteticas descontextualizadas como apecircndice dos esshy

portes aquecimento relaxamento preparaccedilatildeo fiacutesica subsumindo

seu caraacuteter poliacutetico e social em suma natildeo o considerando como

patrimocircnio cultural a ser apropriado pela humanidade tal como

nos mostra Almeida (2005) Contudo pensar a ginaacutestica como

um conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute pensar em uma possibilidade

2 Sobre este assunto destacamos tambeacutem o trabalho de Schneider (2004)

3 Apoacutes a II Guerra Mundial num contexto de intensa urbanizaccedilatildeo e desenvolvimento

bdquoindustrial assistimos a um processo de esportivizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica influenciado

pela cultura europeia Neste momento a Educaccedilatildeo Fiacutesica passa a ter uma relaccedilatildeo de

subordinaccedilatildeo agrave instituiccedilatildeo esportiva tendo seus objetivos baseados na aptidatildeo fiacutesica

e iniciaccedilatildeo esportiva Os coacutedigos do Esporte de Rendimento como competiccedilatildeo

sucesso individual e rendimento satildeo incorporados pela Educaccedilatildeo Fiacutesica neste periacuteodo

demonstrando sua articulaccedilatildeo com a poliacutetica educacional tecnicista e seu papel na

reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais hegemocircnicas

de ampliaccedilatildeo cultural que deve privilegiar a formaccedilatildeo humana em

sua totalidade Como apresenta Ayoub (2003 p 87) aprender gishy

naacutestica na escola significa ldquoestudar vivenciar conhecer compreenshy

der perceber confrontar interpretar problematizar compartilhar

apreender as inuacutemeras interpretaccedilotildees da ginaacutestica e produzir novos

significados e novas possibilidades de expressatildeo giacutemnicardquo

Veremos no presente capiacutetulo que a ginaacutestica contemporacircnea

dentro e fora da escola pode estar imprimindo algumas permanecircncias

da ginaacutestica cientiacutefica do seacuteculo XIX entretanto sob uma nova roushy

pagem Essas permanecircncias podem ser percebidas tanto com relaccedilatildeo agrave

sua metodologia em grande medida enraizada na repeticcedilatildeo de gestos

padronizados quanto com relaccedilatildeo agraves finalidades a ela associadas que

sugerem uma nova leitura para a ldquocorreccedilatildeordquo e ldquoconstituiccedilatildeo dos corposrdquo

bem como para a ldquoeficiecircncia dos gestosrdquo associada ao mundo produtivo

e aos interesses da classe dominante

A ginaacutestica no processo de disciplinarizaccedilatildeo

O corpo dos indiviacuteduos como mais um instrumento da

produccedilatildeo passava a constituir uma preocupaccedilatildeo da classe

no poder Tornava-se necessaacuterio nele investir Todavia esse

investimento deveria ser limitado para que o corpo nunshy

ca pudesse ir aleacutem de um corpo de um ldquobom animalrdquo

Era preciso adestraacute-lo desenvolver-lhe o vigor fiacutesico desde

cedo disciplinaacute-lo enfim para sua funccedilatildeo na produccedilatildeo e

reproduccedilatildeo do capital (SOARES 2001a p 33)

A partir do conceito de disciplina Foucault (1987) descreve um

processo no qual satildeo formados haacutebitos costumes modos de pensar e

agir orientados para a formaccedilatildeo dos chamados corpos doacuteceis - indiviacuteduos

que podem ser submetidos utilizados transformados e aperfeiccediloados

Em suas reflexotildees o chamado ldquopoder disciplinarrdquo possui como funccedilatildeo

maior a de ldquoadestrarrdquo os indiviacuteduos fabricando sujeitos ao mesmo temshy

po produtivos economicamente e submissos politicamente

Os processos disciplinares segundo o autor assumiram no decorshy

rer dos seacuteculos XVII e XVIII formas gerais de dominaccedilatildeo diferentes

da escravidatildeo da domesticidade da vassalidade e do ascetismo por

exemplo visto que este novo contexto histoacuterico eacute o momento no qual

nasce uma arte do corpo humano que visa natildeo unicamente o aumento

de suas habilidades mas a formaccedilatildeo de uma relaccedilatildeo que no mesmo

mecanismo o torna tanto mais obediente quanto eacute mais uacutetil ldquoForma-

-se entatildeo uma poliacutetica das coerccedilotildees que satildeo um trabalho sobre o corpo

uma manipulaccedilatildeo calculada de seus elementos de seus gestos de seus

comportamentosrdquo (FOUCAULT 1987 p 119)

Nesse processo as teacutecnicas de distribuiccedilatildeo dos indiviacuteduos no espashy

ccedilo assim como o controle da atividade pela regulaccedilatildeo do tempo e pelo

adestramento dos gestos vatildeo configurando novas praacuteticas em diferentes

instituiccedilotildees Assim as faacutebricas os quarteacuteis os hospitais e tambeacutem as

escolas se configuram como locais responsaacuteveis para a disciplinarizaccedilatildeo

dos indiviacuteduos No caso do ambiente escolar essa formaccedilatildeo demandava

a manutenccedilatildeo dos alunos entre as paredes da sala de aula submetidos

ao olhar vigilante do professor o tempo suficiente para domar seu cashy

raacuteter e dar forma adequada a seu comportamento (ENGU1TA 1989)

E com esse mesmo objetivo no que se refere ao projeto de

formaccedilatildeo humana que a ginaacutestica por meio dos meacutetodos ginaacutesshy

ticos foi incorporada pelas concepccedilotildees educacionais do final do

seacuteculo XV III e iniacutecio do seacuteculo X IX (SOARES 2001a)

Regenerar a raccedila promover a sauacutede (sem alterar as condiccedilotildees

degradantes de vida) desenvolver a vontade a forccedila a ldquoenergiardquo (para

servir agrave paacutetria e agrave induacutestria) foram algumas das finalidades atribuiacutedas

agrave ginaacutestica no contexto de consolidaccedilatildeo do capitalismo na Europa A

ecircnfase na disciplinarizaccedilatildeo dos corpos acabou por delinear na educashy

ccedilatildeo escolar uma praacutetica pedagoacutegica na qual sessotildees de ginaacutestica tratashy

vam os alunos de forma homogecircnea com accedilotildees reduzidas agrave repeticcedilatildeo

de movimentos estereotipados tal como sugere Marinho (19--) ao

descrever uma liccedilatildeo de ginaacutestica orientada pelo Meacutetodo Francecircs

Para fazer executar um movimento o instrutor

comanda - ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo devendo este

comando ser substituiacutedo para as crianccedilas pela adshy

vertecircncia ldquoAtenccedilatildeordquo Se o movimento exige uma poshy

siccedilatildeo de partida o instrutor a indicaraacute lt rnminJraquo-

ldquoPosiccedilatildeordquo Enuncia o exerciacutecio e ao comando ldquoCoshy

meccedilarrdquo Todos executam o movimento prescrito As

posiccedilotildees de partida dos ldquoassouplissementsrdquo assimeacuteshy

tricos satildeo a princiacutepio tomadas agrave esquerda Termishy

nado o exerciacutecio nesta posiccedilatildeo o instrutor comanda

ldquoMudarrdquo Os alunos retornam agrave posiccedilatildeo de partida agrave

direita e executam novamente o exerciacutecio prescrito

Ao comando de ldquoCessarrdquo todo o movimento cessa

sem precipitaccedilatildeo e a posiccedilatildeo de partida eacute retomada

A posiccedilatildeo de partida soacute eacute deixada ao comando de

ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo No comando de ldquoDescanshy

ccedilarrdquo os alunos permanecem no lugar sem serem

obrigados a conservar a posiccedilatildeo primitiva e a imobishy

lidade (M A R IN H O 19- p 110-111)

Conforme explica Soares (2001a) todo o ideaacuterio colocado em

praacutetica pelo pensamento higienista do qual resulta o modelo de aula

descrito acima impocircs uma disciplina que pretendia adequar o corpo ao

trabalho fabril tornando-o mais doacutecil e submisso sob a oacutetica poliacutetica

e ao mesmo tempo mais aacutegil forte e robusto sob a oacutetica da produccedilatildeo

E importante considerar a possibilidade de o processo de dis-

ciplinarizaccedilatildeo mdash descrito por Foucault e incorporado de forma sushy

bordinada por Soares (2001a) - natildeo ter sido totalmente superado

ou seja esse fenocircmeno pode estar se apresentando ainda nos dias

de hoje de uma nova forma atualizada

Na concepccedilatildeo gramsciana todo esse processo de ldquodisciplinariza-

ccedilatildeordquo pode ser compreendido como uma tentativa - da classe domishy

nante mdash de formaccedilatildeo teacutecnica e de conformaccedilatildeo eacutetico-poliacutetica das masshy

sas com o intuito de reconfigurar o modo de vida em conformidade

com as demandas colocadas pelo modo de produccedilatildeo da existecircncia

humana em expansatildeo naquele contexto histoacuterico

Em Americanismo e Fordismo Gramsci (2001 p 251) explica

que ldquoa vida na induacutestria exige um aprendizado geralrdquo um processhy

so de adaptaccedilatildeo psicofiacutesica a determinadas condiccedilotildees de trabalho

de nutriccedilatildeo de habitaccedilatildeo de costumes de valores algo que natildeo

eacute inato natural mas exige ser adquirido Portanto a partir dessa

reflexatildeo torna-se possiacutevel compreender que no modo de produccedilatildeo

da vida em formaccedilatildeo no contexto histoacuterico de incorporaccedilatildeo dos meacuteshy

todos ginaacutesticos na escola os exerciacutecios fiacutesicos desempenhavam um

papel importante uma vez que o novo tipo de homem demandado

pelo bloco no poder deveria possuir um corpo saudaacutevel forte aacutegil

e disciplinado construiacutedo a partir da adoccedilatildeo de um novo modo de

vida E exatamente para contribuir com a formaccedilatildeo desse novo tipo

de homem que a ginaacutestica estruturada dentro ou fora da instituishy

ccedilatildeo escolar passou a constituir um dos mecanismos utilizados para

instrumentalizar a vontade adequar e reorganizar gestos e atitudes

necessaacuterios agrave reproduccedilatildeo da sociedade4

A questatildeo que necessitamos discutir refere-se agrave possibilidade

de existecircncia de um processo contemporacircneo de mesmo tipo mas

atualizado voltado agrave formaccedilatildeo de um novo modo de vida necessaacuteshy

rio agrave reproduccedilatildeo do capitalismo contemporacircneo Portanto quesshy

tionamos seraacute que a ginaacutestica contemporacircnea se relaciona com a

formaccedilatildeo de novos corpos doacuteceis A ginaacutestica hoje atende de alguma

forma aos interesses de reproduccedilatildeo da sociedade Existem elementos

contraditoacuterios que permitem uma apropriaccedilatildeo criacutetica da ginaacutestica

Longe de assumir a tarefa de esgotar as reflexotildees sobre o tema

entendemos ser necessaacuterio destacar inicialmente que as modifishy

caccedilotildees ocorridas no capitalismo a partir da deacutecada de 1970 em

resposta agrave chamada crise do keynesianismo-fordismo represenshy

taram uma mudanccedila no regime de acumulaccedilatildeo - do fordismo agrave

ldquoacumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo (HARVEY 2007) Ao modelo fordista seshy

gundo Chauiacute (2001) o bloco no poder respondeu com a terceirishy

zaccedilatildeo a desregulamentaccedilatildeo o predomiacutenio do capital financeiro

a dispersatildeo e fragmentaccedilatildeo da produccedilatildeo aleacutem da centralizaccedilatildeo

velocidade da informaccedilatildeo e da velocidade das mudanccedilas tecnoloacuteshy

gicas ao modelo keynesiano do Estado de Bem-Estar o bloco no

poder respondeu com a ideia do ldquoEstado m iacutenimordquo a desregulaccedilatildeo

do mercado a competitividade e a privatizaccedilatildeo da esfera puacuteblica

As modificaccedilotildees provenientes desse processo de reproduccedilatildeo

do capitalismo natildeo atingiram apenas a organizaccedilatildeo de grandes

______________ 4 Natildeo eacute objetivo deste texto discutir as distinccedilotildees entre Foucault e Gramsci no que diz respeito

ao conceito de disciplina Optamos por trabalhar com a vertente marxista incorporando de

lorma subordinada ao nosso referencial as contribuiccedilotildees que Foucault daacute ao tema

empresas jaacute consolidadas no mercado mas tambeacutem novos emshy

preendimentos como as academias de ginaacutestica por exemplo5

Conforme evidencia Furtado (2007) as academias vecircm acomshy

panhando a tendecircncia de implementaccedilatildeo dos elementos centrais

da acumulaccedilatildeo flexiacutevel passando a funcionar em uma dinacircmica

caracterizada pela flexibilidade pela introduccedilatildeo de equipamentos

com tecnologia cada vez mais avanccedilada pela diversificaccedilatildeo das

mercadorias oferecidas e tambeacutem pelo ldquofoco no clienterdquo que

pode ser evidenciado pela constante busca de ldquonovasrdquo ofertas e

novidades capazes de atrair e reter consumidores

As aulas de ginaacutestica saacuteo por exemplo ldquoaulas-showrdquo

com equipamentos iluminaccedilatildeo decoraccedilatildeo e sonorishy

zaccedilatildeo que favorecem ao ldquoespetaacuteculordquo e desempenham

um papel importante na seduccedilatildeo do cliente Assim

tambeacutem eacute toda a complexa estrutura que possui a acashy

demia ou seja natildeo eacute soacute a aula que deve ser um ldquoshowrdquo

e sim tambeacutem toda a academia com decoraccedilatildeo sonorishy

zaccedilatildeo iluminaccedilatildeo e equipamentos que desempenhem

funccedilotildees de encantar e atender aos desejos dos clientes

de experimentar sensaccedilotildees diversas dentre elas a sensashy

ccedilatildeo de ldquostatusrdquo (FURTADO 2007 p 311)

E interessante destacar que o formato atrativo das aulas tende a

captar de forma mais eficiente os consumidores visto que eles acabam

desconsiderando os incipientes resultados reais obtidos pela realizaccedilatildeo

das aulas de determinados programas que na verdade se sustentam

mais pelos fatores de cunho emocional do que pelos ganhos obtidos

com sua praacutetica Ao analisar as teacutecnicas de inovaccedilatildeo do empresariado

do Fitness mais especificamente um determinado programa da franshy

quia Curves Mascarenhas et al (2007) constatam que a pseudossensa-

ccedilatildeo de bem-estar sauacutede e beleza produzida pelas aulas eacute acompanhada

por um amplo e intenso processo de persuasatildeo comum agraves cartilhas

de marketing para academias Segundo os autores a base de legitima-

5 A acumulaccedilatildeo flexiacutevel eacute marcada dentre outros aspectos pela superaccedilatildeo da

rigidez caracteriacutestica do fordismo se apoiando na flexibilidade dos processos

e mercados de trabalho aleacutem dos produtos e padrotildees de consumo Para

compreender melhor como as modificaccedilotildees no regime de acumulaccedilatildeo

afetaram a aacuterea Fitness recorrer agrave Quelhas (2012)

ccedilatildeo racional tecno-cientiacutefica eacute secundarizada frente ao acreacutescimo de

inovaccedilotildees criativas de base emocional Talvez isso explique ao menos

em parte por que ainda hoje sejam consideradas bastante atrativas

algumas aulas de ginaacutestica de academia que em muito se assemelham

agraves sessotildees de ginaacutestica do seacuteculo passado Estamos nos referindo aos

atuais formatos padronizados de sessotildees de ginaacutestica que se orientam

na repeticcedilatildeo de movimentos estereotipados geralmente com mesma

intensidade a serem realizados pelos alunos em conformidade com

comandos do professor - ou de uma voz jaacute gravada a ser reproduzida

em aparelhos eletroeletrocircnicos Conforme evidenciam Toledo e Pires

(2008) alguns programas tendem a desconsiderar na aula dificuldashy

des ou niacutevel de condicionamento fiacutesico dos alunos uma vez que os

professores muitas vezes tecircm que seguir com exatidatildeo a aula desshy

crita na apostila e ensinada nos cursos assim como natildeo podem sair

da posiccedilatildeo de ldquoatores eperformersrdquo para corrigir eou dar uma atenccedilatildeo

especial ao aluno com dificuldades durante a aula As autoras mencioshy

nam por sua vez que esses elementos ao serem considerados pelos

alunos como determinantes de insatisfaccedilatildeo estatildeo sendo revistos pershy

mitindo aos professores sua modificaccedilatildeo

O incentivo ao consumo das ldquonovasrdquo modalidades de ginaacutestica

de academia ainda eacute acompanhado pela forte influecircncia da miacutedia na

organizaccedilatildeo dos valores dominantes Natildeo soacute o medo de engordar mas

uma gama de valores e comportamentos atrelados ao culto ao corpo

tem contribuiacutedo significativamente para a difusatildeo de um padratildeo a ser

almejado e - em alguns casos - para o desenvolvimento dos chamados

transtornos alimentares como a anorexia por exemplo6

Em virtude da discussatildeo realizada torna-se importante quesshy

tionar se a difusatildeo de valores responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de novos

desejos relacionados ao consumo das mercadorias a serem vendishy

das nas academias de ginaacutestica hoje se constitui como uma forma

atual de disciplinarizaccedilatildeo subordinando os indiviacuteduos aos interesshy

ses dominantes Da mesma forma a difusatildeo de receitas exerciacutecios

------------ 6 A influecircncia da miacutedia no culto ao corpo foi trabalhada por Berger (2007 2010) Sobre

anorexia destacam-se os textos de Cordas (2004) Giordani (2006) e ainda o de Niemeyer e

Kruse (2008)

ou programas de ginastica milagrosos pode estar desempenhanshy

do importante funccedilatildeo educativa sobretudo no caso das pessoas

que natildeo dominam o conhecimento necessaacuterio para criticaacute-los e

por isso acabam por aderir ao consumo de mercadorias que nem

sempre produzem o resultado desejado

Consideramos que a transmissatildeo do conhecimento historicamente

sistematizado pela humanidade sobre o tema se constitui como um passo

importante para superar esse possiacutevel processo atual de ldquoadestramentordquo

A praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a ginaacutestica

Na perspectiva que orienta este trabalho o trato pedagoacutegico com a

ginaacutestica na escola deve se articular agrave tarefa de socializaccedilatildeo das formas mais

desenvolvidas do conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico produzido

pela humanidade ao longo do tempo uma vez que possibilita aos alunos asshy

sumir uma nova postura na praacutetica social qual seja a de sujeito histoacuterico7

No caso do tema abordado neste artigo isso significa transmitir um conheshy

cimento que permita aos alunos assumir uma nova relaccedilatildeo com a ginaacutestica

Compreendendo que o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos

corpos se constitui como um possiacutevel tema a ser trabalhado na

escola desenvolvemos um trabalho pedagoacutegico orientado pela

Pedagogia histoacuterico-criacutetica com uma turma (composta por 30

alunos de ambos os sexos) do segundo ano do Ensino Meacutedio no

Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste

de Minas Gerais (IF Sudeste M G ) Campus Juiz de Fora8 A seshy

7 A respeito disso ver Coletivo de Autores (1992)

8 Essa experiecircncia foi resultado de um Estaacutegio Curricular Obrigatoacuterio desenvolvido em

2011 quando Nathaacutelia Sixel Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees cursavam

a Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacutesica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Tal experiecircncia deu origem a um Trabalho de Conclusatildeo de Curso (MAGALHAtildeES

RODRIG UES 2011) orientado por Leonardo Docena Pina na eacutepoca professor substituto

da FACED-UFJF As discussotildees realizadas entre os acadecircmicos o orientador e Miguel Fabiano

de Faria professor da turma do IF Sudeste M G que recebeu os estagiaacuterios demandaram a

continuidade do estudo abordando novas reflexotildees que naquela ocasiatildeo natildeo puderam ser

feitas O presente texto portanto parte da experiecircncia de estaacutegio mas natildeo se limita a este uma

vez que elaboramos outro plano de trabalho para englobar novas dimensotildees do conteuacutedo natildeo

abordadas naquela ocasiatildeo Para facilitar a compreensatildeo dos aspectos didaacuteticos expostos neste

texto apresentaremos o planejamento mais elaborado como experiecircncia jaacute desenvolvida

guir apresentamos a experiecircncia desenvolvida a partir dos passos

metodoloacutegicos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica

Na identificaccedilatildeo da praacutetica social buscamos debater as seguintes

questotildees a ginaacutestica de hoje eacute igual agrave de antigamente Ela sofre influecircnshy

cia da miacutedia Existem diferenccedilas entre as praacuteticas de ginaacutestica voltadas

para a esteacutetica ou para a sauacutede Ginaacutestica promove sauacutede Qualquer

exerciacutecio que praticamos faz nosso corpo ldquoqueimarrdquo gordura Em seshy

guida os alunos foram informados de que estudariacuteamos algumas reshy

laccedilotildees entre ginaacutestica e sociedade ao longo da histoacuteria a partir de um

meacutetodo de apreensatildeo da realidade que tem o objetivo de transformar a

sociedade em que vivemos Os seguintes toacutepicos foram apresentados a

importacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise dos discurshy

sos da sauacutede e da esteacutetica a ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do

seacuteculo XIX aos dias de hoje a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos

desejos e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave

ginaacutestica introduccedilatildeo aos fundamentos cientiacuteficos do treinamento car-

diorrespiratoacuterio Cada um desses toacutepicos foi apresentado em conjunto

com os objetivos formulados sistematizados no plano de unidade

Ainda neste momento buscou-se identificar o que os alunos jaacute

sabiam sobre o tema Eles identificaram a praacutetica da ginaacutestica como

importante para a sauacutede e apontaram os ldquoobjetivos esteacuteticosrdquo como

influecircncia para aderir agrave praacutetica de ginaacutestica poreacutem natildeo demonstrashy

ram compreender o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

O processo de aprimoramento da compreensatildeo dos alunos

sobre o tema foi direcionado por questionamentos referentes agraves

suas respectivas dimensotildees conforme apresentado na problema-

tizaccedilatildeo disposta no plano de unidade

Para transmitir os conhecimentos necessaacuterios agrave compreenshy

satildeo das questotildees levantadas na problematizaccedilatildeo optou-se por

trabalhar na instrumentalizaccedilatildeo com atividades embasadas prinshy

cipalmente nas discussotildees apresentadas em Soares (1998) Soshy

ares (2001a) Angulski et al (2006) e Mcardle Katch e Katch

(2003) Aleacutem de aulas expositivas trabalhamos o conteuacutedo por

meio de vivecircncia praacutetica da ginaacutestica

Iniciamos esra fase com uma exposiccedilatildeo que abordou a evoluccedilatildeo

da Ginaacutestica ao longo da Histoacuteria enfatizando as formas originais de

disciplinarizaccedilatildeo Ou seja nos concentramos nos Meacutetodos Ginaacutesticos

e discutimos sua influecircncia na configuraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica em

meados do seacuteculo XIX Logo apoacutes a exposiccedilatildeo uma vivecircncia praacutetica

foi realizada (nos moldes do Meacutetodo Francecircs) de modo a ampliar

a compreensatildeo da forma como era trabalhado esse conteuacutedo antishy

gamente aleacutem de buscar novos elementos para enriquecimento da

discussatildeo sobre a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Para discutir a expressatildeo contemporacircnea dessa produccedilatildeo cultural

apresentamos diferentes tipos de praacuteticas de ginaacutestica para vivecircncia e

posterior discussatildeo dos objetivos que levam as pessoas a praticaacute-las

esteacutetica ou sauacutede Salientamos neste momento alguns benefiacutecios da

ginaacutestica para a qualidade de vida e se esses estatildeo tambeacutem ligados agrave

esteacutetica O aprimoramento da compreensatildeo dos alunos sobre os beshy

nefiacutecios da ginaacutestica tambeacutem foi acompanhado por uma exposiccedilatildeo

dos modos de afericcedilatildeo da frequecircncia cardiacuteaca e das diferentes zonas

de treinamento e consumo de substratos energeacuteticos Assim pudemos

vivenciar algumas praacuteticas de ginaacutestica controlando a intensidade do

exerciacutecio de acordo com diferentes zonas alvo estipuladas Por fim

ainda na discussatildeo sobre esse tema buscamos situar a sauacutede e a qualishy

dade de vida como questotildees sociais a partir de uma exposiccedilatildeo seguida

da discussatildeo de reportagens previamente selecionadas

Ainda na instrumentalizaccedilatildeo apoacutes leituras indicadas para os alushy

nos realizarem em casa discutimos a influecircncia da miacutedia na praacutetica

de ginaacutestica nos modelos de corpo e nas accedilotildees para obtecirc-los Em

seguida elaboramos paineacuteis com recortes e reportagens de revistas

problematizando o tema Cada grupo apresentou seu painel ao final

Para explicitar a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy

naacutestica em sua expressatildeo contemporacircnea acreditamos que eacute posshy

siacutevel discutir a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos

e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave

ginaacutestica Aleacutem do mais a vivecircncia (seguida da problematizaccedilatildeo)

de alguns programas de ginaacutestica vendidos nas academias hoje

0

permite ao aluno compreender possiacuteveis traccedilos de disciplinariza-

ccedilaacuteo que se mantecircm ainda que de forma renovada

Ao final das atividades na catarse foi possiacutevel identificar que granshy

de parte dos alunos manifestou uma nova compreensatildeo da relaccedilatildeo exisshy

tente entre a ginaacutestica e a Educaccedilatildeo Fiacutesica nos diferentes momentos

da histoacuteria A nova maneira de entender o conteuacutedo mostrou-se mais

elaborada com domiacutenio de conceitos e entendimento de implicaccedilotildees

da sociedade na ginaacutestica e da ginaacutestica na sociedade Desafiados a sinshy

tetizar o que aprenderam os alunos se aproximaram do entendimenshy

to de que a ginaacutestica eacute uma atividade corporal que no seacuteculo XJX

atraveacutes dos meacutetodos ginaacutesticos atrelou-se agrave eugenia higiene assentada

no discurso da melhoria da sauacutede dos trabalhadores e da elevaccedilatildeo da

eficiecircncia no processo de produccedilatildeo No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre

ginaacutestica e qualidade de vida expressaram que a ginaacutestica isoladamente

natildeo garante melhora da sauacutedequalidade de vida pois estas estatildeo aliashy

das ao acesso agrave habitaccedilatildeo atendimento meacutedico transporte garantia

de emprego condiccedilotildees de trabalho seguras saneamento baacutesico e alishy

mentaccedilatildeo de qualidade dentre outros Enfatizaram o entendimento de

que a ginaacutestica tem desempenhado um papel secundaacuterio nas praacuteticas

de Educaccedilatildeo Fiacutesica no entanto tem sido objeto de ldquomercado rizaccedilatildeordquo

no cotidiano dos indiviacuteduos influenciados pela miacutedia A ginaacutestica soshy

bretudo sua praacutetica na busca de um padratildeo de corpo ideal tambeacutem

foi discutida sendo os meios iliacutecitos e exagerados como anabolizan-

tes esteroides dietas excessivas apontados como agentes nocivos que

poderiam levar a doenccedilas como a vigorexia anorexia e bulimia Neste

momento tambeacutem puderam se aproximar do entendimento de que dishy

ferentes intensidades nos exerciacutecios produzem efeitos distintos no nosso

corpo E ainda que a intensidade do exerciacutecio pode ser mensurada

atraveacutes da frequecircncia cardiacuteaca de maneira faacutecil e funcional9

Para os alunos expressarem a siacutentese a que ascenderam utilizamos

um trabalho final no qual foi proposto um ldquoquizrdquo educativo seguido

de uma discussatildeo o que permitiu abordar todo conteuacutedo trabalhado4

9 Naquela ocasiatildeo natildeo foi possiacutevel aprofundar o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

em suas formas contemporacircneas razatildeo que nos limitou a trabalhar apenas com as formas

originais desse processo conforme mencionado anirrinrmfnrraquo

A finalizaccedilatildeo das atividades na praacutetica social final envolveu a deshy

finiccedilatildeo de intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo no sentido de explicitar que a

apropriaccedilatildeo do conhecimento historicamente elaborado sobre a ginaacutesshy

tica possibilita aprimorar a atuaccedilatildeo na praacutetica social contribuindo para

uma postura criacutetica frente o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos10

Plano de unidade

A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Instiuiccedilatildeo Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia

Juiz de Fora

Disciplina Educaccedilatildeo Fiacutesica

Ano de escolaridade turma 2o ano do ensino meacutedio

Conteuacutedo Ginaacutestica

Unidade A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Nuacutemeros de aulas 8-10

OBJETIVOS GERAIS

bull Identificar a sauacutede e a esteacutetica como elementos centrais nos

discursos dominantes atualmente sobre a importacircncia da

praacutetica de ginaacutestica de modo a reconhecer suas implicaccedilotildees

sociais

bull Compreender o papel desempenhado pelos Meacutetodos

Ginaacutesticos na educaccedilatildeo dos corpos no seacuteculo XIX a fim

de enumerar possiacuteveis elementos de continuidaderuptura

em relaccedilatildeo agrave praacutetica de ginaacutestica em academias atualmente

bull Refletir sobre a influecircncia da miacutedia no incentivo ao

consumo de mercadorias relacionadas agrave ginaacutestica de

modo a posicionar-se criticamente diante das formulaccedilotildees

predominantes

10 Quadro detalhado sobre as intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo encontra-se no planejamento

apresentado a seguir

bull Conhecer alguns princiacutepios baacutesicos do treinamento

cardiorrespiratoacuterio para aplicaacute-los em suas praacuteticas corporais

e utilizaacute-los na anaacutelise das receitas milagrosas difundidas

atualmente

1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL

11 Anuacutencio dos conteuacutedos

Conteuacutedo ginaacutestica

Tema A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Toacutepicos

bull A im portacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise

dos discursos da sauacutede e da esteacutetica

bull A ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do seacuteculo X I X aos

dias de hoje

bull A influecircncia da m iacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos e

necessidades para o consum o de mercadorias relacionadas agrave

ginaacutestica

bull Introduccedilatildeo aos fundam entos cientiacuteficos do treinam ento

cardiorrespiratoacuterio

12 Vivecircncia do conteuacutedo

bull O que os alunos sabem ginaacutestica emagrece faz bem agrave sauacutede

haacute diferentes formas praticada em diferentes lugares

bull O que os alunos gostariam de saber todo exerciacutecio fiacutesico

eacute ginaacutestica Por quanto tempo preciso praticar ginaacutestica

para emagrecer Musculaccedilatildeo eacute ginaacutestica Como ficar com o

corpo igual aos praticantes de ginaacutestica competitiva Todas

as pessoas podem praticar todos os tipos de ginaacutestica Como

a ginaacutestica pode favorecer a prevenccedilatildeo de doenccedilas

2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO

21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo

A ginaacutestica de hoje eacute igual a de antigamente Ela sofre influecircncia da

miacutedia Existem diferenccedilas entre a praacutetica voltada agrave esteacutetica ou agrave sanrW

22 Dimensotildees do conteuacutedo

Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

D IM E N S Otilde E S Q U E ST Otilde E S P R O B L E M A T IZ A D O R A S

Conceituai

O que eacute ginaacutestica A ginaacutestica voltada para a sauacutede ou para a esteacutetica

se configura da mesma forma Toda ginaacutestica tem as mesmas caracteshy

riacutesticas O que eacute frequecircncia cardiacuteaca e qual sua relaccedilatildeo com as diferenshy

tes imensidades do exerciacutecio fiacutesico Quais sinais emitidos pelo nosso

corpo nos permitem estimar a queima ou natildeo de gordura O que eacute

disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Econocircmica

0 padratildeo de corpo perfeito tem alguma utilidade econocircmica Todos

tecircm condiccedilotildees de usufruir das possibilidades que o mercado oferece para

a melhora da qualidade de vida da populaccedilatildeo O desejo crescente pela

busca de novas modalidades de ginaacutestica de academia tem funccedilatildeo ecoshy

nocircmica importante nos dias de hoje

Histoacuterica

A ginaacutestica sempre se apresentou da mesma forma ao longo da hisshy

toacuteria H aacute diferenccedilas e semelhanccedilas entre a praacutetica de antigamente

e a atual Qual a funccedilatildeo atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto de sua

inserccedilatildeo na escola

CulturalCom o a miacutedia influencia nossos haacutebitos A miacutedia influenciava as

praacuteticas de ginaacutestica antigamente tambeacutem

Esteacutetica

Sempre existiu padratildeo de corpo A m iacutedia difundia algum padratildeo

de corpo antigamente A praacutetica de ginaacutestica tem sido realizada

somente para a obtenccedilatildeo de um corpo belo Essa difusatildeo de um

padratildeo de corpo ideal cria na populaccedilatildeo desejos e imagens sobre

seus proacuteprios corpos

Poliacutetica

A praacutetica de ginaacutestica por si soacute favorece a melhoria da sauacutede da

populaccedilatildeo de forma isolada ou outros fatores como renda morashy

dia emprego transporte atendimento meacutedico e alimentaccedilatildeo satildeo

importantes

Teacutecnica

Com o aferir a frequecircncia cardiacuteaca Com o identificar a intensidade dos

exerciacutecios Com o definir as zonas de treinamento a partir da afericcedilatildeo

da frequecircncia cardiacuteaca Quais satildeo os gestos que definem os movimenshy

tos da ginaacutestica

7onte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

31 Accediloacutees docentes e discentes

bull Exposiccedilatildeo do professor

bull Vivecircncia de diferentes formas de ginaacutestica passando dos

Meacutetodos Ginaacutesticos agraves modalidades contemporacircneas de

ginaacutestica de academia

bull Discussatildeo de textos com os alunos

bull Visualizaccedilatildeo anaacutelise e debate de documentaacuterioreportagem

em viacutedeo

bull Vivecircncia praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos mdash aferindo a frequecircncia

cardiacuteaca de si mesmo e do companheiro aleacutem de controlar

a zona alvo em diferentes intensidades

bull Elaboraccedilatildeo de painel com recortes e reportagens de jornais

eou revistas

32 Recursos materiais

Jornais revistas internet slides e materiais para praacutetica de gishy

naacutestica

4) CATARSE

41 Siacutentese teoacuterica do aluno

Com o desenvolvimento da sociedade capitalista na Europa

do seacuteculo XIX a Ginaacutestica Cientiacutefica ou Meacutetodos Ginaacutesticos acashy

baram por assumir a funccedilatildeo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos Para

subordinar poliacutetica e economicamente os indiviacuteduos agraves exigecircncias

das relaccedilotildees sociais dominantes naquele contexto a ginaacutestica foi

inclusive inserida nas escolas onde era praticada atraveacutes de exershy

ciacutecios padronizados com pouco ou nenhum espaccedilo para reflexotildees

dos alunos que deveriam executar os movimentos conforme os

comandos do professor (instrutor) Assim buscava-se contribuir

para formar sujeitos produtivos economicamente e ao mesmo

empo submissos politicamente capazes de contribuir para o de-

envolvimento das relaccedilotildees sociais que se aprofundavam na eacutepoca

Ao longo da histoacuteria a ginaacutestica passou por inuacutemeras trans-

ormaccedilotildees e atualmente seu viacutenculo com o discurso da promoshy

ccedilatildeo da sauacutede e da esteacutetica tem lhe garantido a manutenccedilatildeo de

am status privilegiado dentre as manifestaccedilotildees da cultura corposhy

ral Poreacutem se antigamente a educaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy

naacutestica visava formar um homem forte e apto ao trabalho fabril

atualmente a ginaacutestica parece atrelada a um processo educativo

voltado ao consumo desenfreado de mercadorias sejam as ldquonovasrdquo

modalidades oferecidas nas academias ou os diversos produtos que

visam agrave obtenccedilatildeo de um padratildeo de corpo ideal

Enquanto a busca desenfreada pelo padratildeo de corpo perfeito

acaba por influenciar transtornos como anorexia vigorexia e buli-

mia o discurso orientado na relaccedilatildeo (direta) entre praacutetica de ginaacutestishy

ca e obtenccedilatildeo da sauacutede acaba por mascarar o fato de que a qualidade

de vida e a sauacutede satildeo conceitos que envolvem condiccedilotildees de vida

como habitaccedilatildeo emprego condiccedilotildees de trabalho atendimento meacuteshy

dico de qualidade alimentaccedilatildeo dentre outros

A anaacutelise do processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes

da ginaacutestica e a apropriaccedilatildeo dos fundamentos baacutesicos do treinashy

mento cardiorrespiratoacuterio nos auxiliam no desenvolvimento de

uma postura criacutetica com a ginaacutestica a sociedade contemporacircnea e

seus discursos predominantes sobre o tema

42 Expressatildeo da siacutentese

Realizaccedilatildeo de prova e participaccedilatildeo em um quiz educativo ambos

abordando todo conteuacutedo estudado

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO

Quadro 2 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

1 Conhecer mais sobre a ginaacutestica1 Leitura de revistas e artigos soshy

bre ginaacutesticas

2 Discutir o comportamento dos inshy

diviacuteduos e suas praacuteticas de ginaacutestica

de acordo com seus objetivos sauacutede

eou esteacutetica

2 Observar e perguntar aos memshy

bros da sua comunidade se pratishy

cam e por que praticam ginaacutestica

e informaacute-los de seus limites e beshy

nefiacutecios

3 Posicionar-se criticamente sobre a

influecircncia da miacutedia nas praacuteticas de gishy

naacutesticas atuais

3 Numa discussatildeo sobre a gishy

naacutestica manifestar sua opiniatildeo

argumentando a favor ou contra

de acordo com o conhecimento

adquirido criticar a difusatildeo do

padratildeo de corpo ideal

4 Difundir o entendimento de que

outros fatores interferem na qualishy

dade de vida dos indiviacuteduos aleacutem da

ginaacutestica

4 Explicar a outras pessoas que

fatores como acesso agrave habitaccedilatildeo

atendimento meacutedico transporte

garantia de emprego condiccedilotildees

de trabalho seguras saneamento

baacutesico e alimentaccedilatildeo de qualidashy

de tambeacutem interferem na qualishy

dade de vida da populaccedilatildeo aleacutem

da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos

5 Realizar exerciacutecios na intensidade

de acordo com seus objetivos

5 Controlar sua frequecircncia cardiacute

aca durante a praacutetica de ginaacutestica e

demais exerciacutecios fiacutesicos

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees Finais

Este texto buscou apresentar uma experiecircncia pedagoacutegica na qual

a ginaacutestica foi trabalhada na escola sob orientaccedilatildeo da Pedagogia his-

toacuterico-criacutetica Destacamos que essa experiecircncia deve ser vista com um

olhar mais profundo pois cada escola tem caracteriacutesticas especiacuteficas e

singularidades que podem facilitar ou dificultar o processo pedagoacutegico

Vale ressaltar que a experiecircncia descrita natildeo esgota as inuacutemeras

possibilidades de trabalho a serem desenvolvidas com o tema ou com

a ginaacutestica Da mesma forma o conhecimento transmitido se constishy

tui apenas como parte do amplo leque de conhecimentos necessaacuterios

para o desenvolvimento de uma leitura criacutetica da realidade

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CAPIacuteTULO VIII

0 LUGAR E HORA DO CIRCO NA ESCOLA REFLEXOtildeES SOBRE A REINVENCcedilAtildeO DA CULTURA CIRCENSE NA SOCIEDADE CONTEMPORAcircNEA

Adriano de Paiva Reis

Carla Cristina Carvalho Pereira

Frederico Duarte Gomes Tostes

Haacute sempre um pouco de circo no corashy

ccedilatildeo de toda crianccedila Haacute sempre um pouco de

crianccedila no coraccedilatildeo de todo adulto Dentro de

noacutes despertam ecos as faceacutecias do palhaccedilo o

encanto da bailarina a cavalo as proezas do

trapeacutezio o destemor do homem que enfrenta

leotildees e tigres O fasciacutenio que aureola nossas

recordaccedilotildees vem do resto de infacircncia que -

felizmente - ainda ficou em noacutes E enquanto

houver ressoando alegre e contagiante um

riso de crianccedila haveraacute sempre um grito enshy

tusiaacutestico pronto a explodir - Viva o circo

(RUIZ 1987)

A arte circense eacute para muitos estudiosos

considerada uma das manifestaccedilotildees culturais

mais tradicionais do mundo Sobrevivendo de

geraccedilatildeo a geraccedilatildeo o circo vem perdurando no

tempo Maacutegicos trapezistas malabaristas pashy

lhaccedilos domadores e encantadores de animais

selvagens o fasciacutenio despertado pelo circo traz

encantamento e mexe com o imaginaacuterio do

homem haacute anos independente da idade

Marginalizada durante muito tempo as atividades circenses

hoje viraram nicho de mercado O circo vem ocupando cada vez

mais espaccedilo e ganhando maior visibilidade nos dias atuais seja

em academias de ginaacutesticas clubes escolas para formaccedilatildeo de cirshy

censes semaacuteforos dentre outros

Embora a produccedilatildeo teoacuterica a respeito do tema tenha crescido a

partir do iniacutecio dos anos 2000 e um nuacutemero significativo de artigos

sobre esse conteuacutedo esteja sendo publicado nos principais perioacutedishy

cos de Educaccedilatildeo Fiacutesica do paiacutes a maior parte dos trabalhos limita-se

ao resgate histoacuterico tendo em vista a preservaccedilatildeo do circo enquanto

patrimocircnio cultural ou a relatos de experiecircncias desenvolvidas

A inclusatildeo do circo nos curriacuteculos escolares eacute justificada

2 m muitos casos a partir do provaacutevel desenvolvimento das cashy

pacidades fiacutesicas agilidade resistecircncia cardiovascular equiliacutebrio

ldquohabilidades motorasrdquo em geral Ainda satildeo destacados aspectos

omo autoconhecimento automotivaccedilatildeo e superaccedilatildeo dos medos

ileacutem de cooperaccedilatildeo socializaccedilatildeo interaccedilatildeo ajuda muacutetua criashy

ratildeo de viacutenculo afetivo alegria espontacircnea e consciecircncia corpo-

al1 Embora possam ser considerados importantes entendemos

jue tais elementos por si soacute natildeo justificam a presenccedila desse

onteuacutedo na educaccedilatildeo escolar

A nosso ver a inclusatildeo das atividades circenses nos curriacuteculos

scolares articula-se ao que consideramos ser o papel da escola

[uai seja o ldquode socializaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico filosoacutefi-

o e artiacutestico produzido pela humanidade atraveacutes dos tempos em nas formas mais elevadasrdquo (EIDT DUARTE 2007 p 54 grifo

to autor) E imprescindiacutevel compreender as atividades circenses

nquanto produto da atividade humana um resultado do desen-

olvimento histoacuterico que precisa ser apropriado Cada um dos

lementos que constituem o circo (malabarismo equilibrismo

laacutegica etc) eacute carregado de sentidos e significados construiacutedos

istoricamente e modificados socialmente identificando assim o

Costa Tiaen e Sambugari (2007) Bortoleto (2003) Silva (1996) Silva e

Cacircmara (2009) Duprat e Bortoleto (2007)

homem como produtor e transformador da cultura Cabe agrave escoshy

la trabalhar com esse conteuacutedo contextualizando-o problemati-

zando-o estabelecendo correlaccedilotildees pertinentes entre as atividades

circenses e o processo histoacuterico em que se desenvolveram desmis-

tificando algumas modificaccedilotildees pelas quais passou ao longo dos

tempos Assim torna-se possiacutevel articular o ensino das atividades

circenses com a formaccedilatildeo do sujeito histoacuterico consciente da neshy

cessidade de superaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo

O desafio a ser superado eacute a construccedilatildeo de propostas pedagoacutegishy

cas viaacuteveis consistentes e coesas que contribuam para uma anaacutelise

criacutetica e uma compreensatildeo abrangente do universo circense visando

[] desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre o

acervo de formas de representaccedilatildeo do mundo que o

homem tem produzido no decorrer da histoacuteria exshy

teriorizadas pela expressatildeo corporal jogos danccedilas

lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte malabarismo

contorcionismo miacutemica e outros que podem ser

identificados como formas de representaccedilatildeo simshy

boacutelica de realidades vividas pelo homem historicashy

mente criadas e culturalmente desenvolvidas (C O shy

LETIVO DE AUTORES 1992 p 38)

Nesta perspectiva defendemos que as atividades circenses poshy

dem ser encaradas como um conteuacutedo especiacutefico extrapolando

algumas anaacutelises que a entendem enquanto parte constituinte da

ginaacutestica Apesar de determinados elementos como as acrobacias

apresentarem similaridades com o conteuacutedo da ginaacutestica fica evishy

dente que o processo com que esses elementos se apresentam denshy

tro do universo do circo eacute bem diferente daquele onde surgiu e

se desenvolveu a ginaacutestica2 Aleacutem disso outros elementos como

o palhaccedilo e as maacutegicas natildeo podem ser compreendidos enquanto

movimentos giacutemnicos e no nosso entendimento omiti-los seria

uma forma de fragmentar o conhecimento a respeito do circo

2 De acordo com Soares (2005) as acrobacias circenses influenciaram a

Ginaacutestica Francesa meacutetodo desenvolvido a partir da ordenaccedilatildeo e organizaccedilatildeo

de movimentos de acrobatas funacircmbulos e saltimbancos de maneira a

produzir maior eficiecircncia e economizar eneraia

A produccedilatildeo da arte circense como modo de vida

A arte circense eacute considerada uma das manifestaccedilotildees culturais mais

antigas do mundo sendo impossiacutevel precisar sua origem Sabe-se que

as modalidades circenses que hoje conhecemos decorrem de praacuteticas

que foram surgindo em momentos contextos e lugares diferentes a

partir dos costumes de uma regiatildeo ou paiacutes com o objetivo de entreter

louvar ou homenagear a deuses valorizar conquistas de guerras ou satildeo

corporificadas a partir da necessidade do homem de adestrar animais

para auxiacutelio no transporte ou em atividades de trabalho

O circo ldquomodernordquo como espetaacuteculo pago uma lona cobrindo um

picadeiro onde se apresentam trapezistas malabaristas equilibristas eacute

muito recente e seria por assim dizer a forma moderna de um antiquiacutesshy

simo entretenimento de diversos povos e culturas (TORRES 1998) A

estrutura do circo moderno remonta ao seacuteculo XVIII quando o inglecircs

Philip Astley ex-oficial da Cavalaria Britacircnica criou um espetaacuteculo de

equilibrismo equestre apresentado numa pista circular O espetaacuteculo criashy

do por Astley apresentava uma estrutura que atendia a um puacuteblico espeshy

ciacutefico da sociedade o rigor a postura e a elegacircncia da arte equestre consshy

tituiacuteam um siacutembolo de status social e muito agradavam a aristocracia

Entretanto os grupos circenses da eacutepoca comeccedilaram a notar que

as apresentaccedilotildees ganhariam muito mais espectadores se conseguissem

atingir uma classe social emergente naquela eacutepoca a burguesia Foshy

ram entatildeo incorporados outros artistas mdash funambulescos malabarisshy

tas acrobatas saltadores e adestradores de animais3 - que desafiavam

os limites corporais e morais e o espetaacuteculo foi reorganizado de forma

que pudesse ser mais atrativo (DUPRAT 2007)

3 Apesar dos animais historicamente participarem do espetaacuteculo circense a legislaccedilatildeo atual

vem restringindo sua utilizaccedilatildeo Aleacutem do Decreto ndeg 2464534 referente a maus tratos e

crueldade aos animais a Lei de Proteccedilatildeo agrave Fauna (Lei 519767) prevecirc pena de reclusatildeo para

casos de animais silvestres mantidos em locais sem higiene sujeitados a trabalhos insalubres

alimentaccedilatildeo inadequada ou insuficiente dentre outros A Portaria 10894 regulamenta as

condiccedilotildees para a estadia dos animais em zooloacutegicos e circos cabendo agraves prefeituras autorizarem

ou natildeo a fixaccedilatildeo de circos que utilizem animais em seus nuacutemeros Este eacute um ponto bastante

polecircmico pois apesar dos ambientalistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos

alegando maus tratos mdash seja nos meacutetodos de adestramento ou pelo fato de retiraacute-los de seu

habitat natural mdash haacute quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute crueldade e

tampouco insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais

Contraditoriamente na Europa receacutem-industrializada do

seacutec XIX o universo gestual caracteriacutestico do circo apresentava

liberdade e descompromisso contrariando o pensamento burguecircs

da eacutepoca que defendia a utilidade de qualquer atividade fora do

mundo do trabalho Contrapondo-se agrave liberdade e ao luacutedico das

atividades circenses primava-se pelos exerciacutecios fiacutesicos cuidadoshy

samente pensados para finalidades especiacuteficas a partir dos grupos

musculares e de funccedilotildees orgacircnicas (SOARES 2005)

O circo permitia agrave plateia transitar do maacutegico e fascinante agrave

aberraccedilatildeo despertando os mais ambiacuteguos sentimentos Acrobatas

trapezistas e funacircmbulos desafiavam as leis da fiacutesica desprezando o

peso de seus corpos enquanto homens domavam animais selvagens

engoliam fogo faziam reviver animais mortos aleacutem de exibirem deshy

formaccedilotildees fiacutesicas Esses estrangeiros nocircmades fascinantes artistas cirshy

censes eram cada vez mais temidos pela elite dirigente pois

traziam o corpo como espetaacuteculo Invertiam a ordem

das coisas Andavam com as matildeos lanccedilavam-se ao

espaccedilo contorciam-se e encaixavam-se em potes cm

cestos imitavam bichos vozes produziam sons com

as mais diferentes partes do corpo cuspiam fogo

vertiam liacutequidos inesperados gargalhavam viviam

em grupos Opunham-se assim aos novos cacircnones

do corpo acabado perfeito fechado limpo e isolado

que a ciecircncia construiacutera da vida fixa e disciplinada

que a nova ordem exigia (SOARES 2005 p 25)

Como eram rentaacuteveis os espetaacuteculos circenses proliferaram-se

por toda a Europa com um crescente nuacutemero de grupos de artistas

apresentando-se na sua maioria em instalaccedilotildees fixas ao ar livre ou

em anfiteatros adaptados o que demonstra grande influecircncia do

circo nas formas de divertimento e entretenimento da populaccedilatildeo e

da burguesia crescente Satildeo estas companhias que emigraram mais

tarde para outros continentes (SILVA 2003 DUPRAT 2007)

E nos Estados Unidos que a arena do circo ganha um mastro

central e uma tenda surgindo os moldes do ldquocirco americanordquo ou

circo de lona Nas matildeos de PhineasTaylor Barnum mdash homem de neshy

goacutecios e eficiente publicitaacuterio a enorme tenda colorida aleacutem de

proporcionar maior conforto aos espectadores tornou-se uma exceshy

lente forma de divulgar e vender o espetaacuteculo Ao mudar de cidade

toda a estrutura era desmontada e levada pelo grupo

Com a possibilidade de adquirirem maior mobilidashy

de aliada agrave incorporaccedilatildeo de artistas dos vaacuterios paiacuteses

por onde passava o circo consolidava-se como um

espaccedilo de muacuteltiplas linguagens artiacutesticas que pressushy

punha todo um conjunto de saberes definidores de

novas formas de produccedilatildeo e organizaccedilatildeo de espetaacuteshy

culo animais mistura de nacionalidades acrobacias

nuacutemeros aeacutereos magia shows de variedades represhy

sentaccedilotildees teatrais com pantomimas e entradas de

palhaccedilos com ou sem diaacutelogo Para os defensores do

ldquocirco purordquo era um espetaacuteculo ecleacutetico demais que

mais parecia music hall um teatro de variedades do

que circo Apesar das criacuteticas e debates em torno dos

espetaacuteculos circenses a montagem e produccedilatildeo dos

mesmos continham as principais formas de expresshy

sotildees artiacutesticas contemporacircneas apresentando um reshy

sultado que misturava music hall variedades teatro

(cenas cocircmicas pantomimas operetas) ginaacutestica

acrobacia e animais (SILVA 2007 p 51)

Este modo de organizaccedilatildeo pressupunha certas caracteriacutesticas

definidoras e distintivas do grupo circense como o nomadismo e

uma forma coletiva de constituiccedilatildeo do profissional artista baseada

na transmissatildeo oral do conjunto de saberes e praacuteticas acumuladas a

partir da vivecircncia na lona A organizaccedilatildeo familiar era a base de susshy

tentaccedilatildeo do circo inclusive no que se refere agraves relaccedilotildees de trabalho

Era comum que todos soubessem um pouco de todos os aspectos

que envolviam aquela produccedilatildeo desde a rotina diaacuteria do circo - como

armar e desarmar a tenda preparar os nuacutemeros e peccedilas de teatro

cuidar dos animais limpeza do ambiente dentre outros mdash ateacute as teacutecshy

nicas ou habilidades especiacuteficas da apresentaccedilatildeo As crianccedilas cabia a

responsabilidade de preservar a tradiccedilatildeo Por causa da vida nocircmade

eram alfabetizadas nas escolas das cidades por onde o circo passava ou

por uma pessoa do proacuteprio circo Aqueles que natildeo nasciam no circo

mas que a ele se incorporavam passavam pelo mesmo ritual de aprenshy

dizagem ao qual passavam os menores

O circo no tempo da induacutestria do entretenimento

Essa estrutura do circo tradicional comeccedilou a sofrer alguma alteshy

raccedilatildeo jaacute na deacutecada de 1920 na entatildeo Uniatildeo Sovieacutetica4 mas eacute a partir

dos anos de 1970 entretanto que consolidou-se um movimento de

reestruturaccedilatildeo do circo - fruto do envolvimento de artistas de diversas

origens em paiacuteses da Europa Ocidental Austraacutelia Canadaacute e Brasil

fazendo com que o ensino das artes circenses extrapolasse o reduto da

lona e quebrasse assim uma de suas grandes tradiccedilotildees a transmissatildeo

de conhecimento de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SILVA ABREU 2009)

O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy

ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX aleacutem da facilishy

dade de acesso agrave informaccedilatildeo e da fluidez da cultura no entanto

ocasionaram uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves

apresentaccedilotildees circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios

e dos terrenos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidashy

des mdash a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de

uma poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que

inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais O

fato eacute que nos anos de 1970 havia mais de 2000 companhias cirshy

censes espalhadas pelo Paiacutes e em 2009 esse nuacutemero era estimado

em 500 circos de pequeno meacutedio e grande porte5

Circenses tradicionais preocupados com o futuro encaminham

seus filhos para a vida urbana fora das lonas Escolas de circo passaram

a formar novos artistas rompendo-se a relaccedilatildeo de ldquopertencimentordquo agrave trashy

diccedilatildeo circense O modelo familiar de circo sofreu uma ruptura abrindo

espaccedilo para o que se conhece atualmente como Circo Novo

4 Na deacutecada de 1920 logo apoacutes a Revoluccedilatildeo Russa iniciou-se na antiga Uniatildeo Sovieacutetica

um movimento de construccedilatildeo de escolas de circo para fora da lona ou para fora do

grupo familiar circense a partir da nacionalizaccedilatildeo do circo e dos teatros pelo governo

sovieacutetico (DUPRAT 2007) Apesar de natildeo ser objetivo deste artigo discutir o contexto

histoacuterico e poliacutetico desse fato natildeo podemos deixar de mencionaacute-lo por constituir a

primeira experiecircncia de uma escola de circo fora do processo de formaccedilatildeosocializaccedilatildeo

aprendizagem que sempre foi dado sob a lona

f5 Dados obtidos no site do Ministeacuterio da Cultura Disponiacutevel em lthttpwww

culturagovbrsite20090327funarte-estima-que-brasil-tenha-500-grupos-

circensesgt Acesso em 14 jul 2012

Neste sentido

o circo como um todo natildeo mais se responsabiliza pela

continuaccedilatildeo do ensino artiacutestico da geraccedilatildeo seguinte

este passou a ser responsabilidade de cada famiacutelia que

escolhe onde seus filhos vatildeo estudar na escola formal

ou no circo A partir da deacutecada de 1970 no Brasil

algumas escolas de circo foram fundadas por artistas

preocupados em transmitir a teacutecnica circense em fazer

a profissatildeo renascer todavia natildeo mais necessariamente

com os filhos de gente de circo (SILVA 1996 p 9)

O circo teve que se reinventar para sobreviver Considerado

como o ldquoCirco do Homemrdquo por valorizar somente o ser humano

em suas performances o Circo Novo busca adequar-se ao mercashy

do artiacutestico dos novos tempos

A tecnologia assume um papel fundamental nesse processo pois

permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalanche tecshy

noloacutegica os grandes circos se apropriam das produccedilotildees e se renovam

constantemente enquanto muitos circos pequenos sucumbem agrave conshy

correcircncia por natildeo coseguirem acompanhar esse movimento

A mercantilizaccedilatildeo que domina a quase totalidade das relaccedilotildees soshy

ciais e a submissatildeo da cultura da sauacutede e da educaccedilatildeo - e tambeacutem das

praacuteticas corporais mdash aos interesses do capital trazem uma consequente

descaracterizaccedilatildeo do universo do circo Como empresa o ldquocirco novordquo

adota uma forte divisatildeo do trabalho contando com profissionais resshy

ponsaacuteveis para as mais diversas tarefas e funccedilotildees

A principal mudanccedila que caracteriza o chamado ldquocirco novordquo

refere-se agrave relaccedilatildeo familiar o circo torna-se uma grande empresa

Os artistas natildeo mais pertencem agraves famiacutelias circenses satildeo ex-atleshy

tas ou profissionais formados em escolas de circo e contratados

pelas grandes companhias De acordo com Silva (1996) natildeo eacute

mais a famiacutelia que eacute contratada mas o artista um nuacutemero um

especialista que tem um determinado conhecimento especiacutefico

da tarefa e natildeo mais do funcionamento do circo como um todo

tornando o conjunto do conhecimento sobre o circo fragmentashy

do e hierarquizado Nesse sentido

O modo de transmissatildeo oral do circo-lamilu Im m i

sido quebrado A ideacuteia de que o artista tiniu qm lt i

completo - no sentido de que cada indiviacuteduo liu

parte de uma comunidade e a sobrevivecircncia do gi upo

dependia do seu trabalho como um todo - natildeo niiis

fundamenta o aprendizado Daacute-se origem a uma novi

maneira de se ser artista de circo e a novas formas draquo

organizaccedilatildeo do trabalho (SILVA 1996 p 153)

O exemplo mais representativo do circo-empresa - e o de

maior impacto midiaacutetico - eacute a Companhia de Entretenimento

Circo de Soleil considerado o maior impeacuterio circense do mundo

Utilizando o que haacute de mais contemporacircneo para o entretenimenshy

to do puacuteblico conta com 21 espetaacuteculos sendo 12 em turnecirc em 5

continentes aleacutem de 9 espetaacuteculos residentes (exclusivamente nos

Estados Unidos) O Circo de Soleil emprega mais de 5000 funcioshy

naacuterios em todo o mundo sendo mais de 1300 artistas contratados

A maioria desses artistas eacute composta por ex-atletas danccedilarinos

profissionais personagens de sucesso nos meios de comunicaccedilatildeo

que representam cerca de 50 nacionalidades e falam 25 idiomas

diferentes Mais de 100 milhotildees de pessoas jaacute assistiram aos espeshy

taacuteculos do circo desde sua fundaccedilatildeo em 19846

Unindo danccedila teatro e circo a elementos da tecnologia como efeishy

tos de luz e som computaccedilatildeo graacutefica conhecimentos de diversas aacutereas

para a performance de um artistaatleta este novo modelo requer artistas

polivalentes como por exemplo malabaristas-acrobatas acrobatas-clo-

wn clown-muacutesico etc No circo novo o mais importante natildeo eacute o mais

complicado arriscado ou sobre-humano mas o mais belo plaacutestico vishy

sual esteacutetico etc(BORTOLETO MACHADO 2003)

Aleacutem disso as atividades circenses viraram nicho cle mercado

e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de circo a

academias de ginaacutestica A arte circense tambeacutem eacute utilizada como

praacutetica assistencialista por ON Gs e outras entidades filantroacutepicas

como ldquoinstrumento pedagoacutegicordquo na busca da ldquomelhoria de vidardquo

dos envolvidos nos projetos (F IG U E IREDO 2007)

6 Dados obtidos no site do Circo de Soleil Disponiacutevel em lthttpwwwcirquedusoleil

comenwelcomeaspxgt Acesso em- n

Eacute esse universo do circo que propomos trazer para a escola de forshy

ma a possibilitar ao aluno a apropriaccedilatildeo do conhecimento e a adoccedilatildeo de

uma postura criacutetica frente agrave atual configuraccedilatildeo do espetaacuteculo circense

Apresentamos a seguir o relato de uma experiecircncia pedagoacutegica realishy

zada com alunos do 6o ano de uma escola municipal de Juiz de Fora

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o circo

Ao iniciarmos a unidade buscamos identificar o niacutevel de consshy

ciecircncia dos alunos acerca do circo e os possiacuteveis interesses sobre a teshy

maacutetica Foram exibidos alguns viacutedeos de apresentaccedilotildees diversas (circo

tradicional C irque de Soleil apresentaccedilotildees de rua apresentaccedilotildees em

festas infantis na televisatildeo etc) Apoacutes a exibiccedilatildeo os alunos respondeshy

ram a duas questotildees O que eacute o circo Onde encontramos o circo atushy

almente As respostas foram registradas pelo professor A seguir foshy

ram explicitados os pontos que seriam abordados dentro do conteuacutedo

(histoacuteria e evoluccedilatildeo do circo as modalidades relaccedilotildees de trabalho e a

questatildeo ambiental) objetivos e atividades que seriam desenvolvidas

O segundo momento dentro da unidade didaacutetica foi a seleccedilatildeo de

questotildees relevantes para a discussatildeo e reflexatildeo dos alunos ou seja a problc-

matizaccedilatildeo Neste ponto foram delimitadas ainda as dimensotildees do conheshy

cimento a serem abordadas conforme apontamos no plano de unidade

No momento da instrumentalizaccedilatildeo foram desenvolvidas atividades

i accedilotildees tais como exibiccedilatildeo de viacutedeos leitura de textos vivecircncia das mais

iiversas modalidades circenses construccedilatildeo de materiais entre outras

Como forma de analisarmos o quanto o aluno apreendeu so-

gtre o conteuacutedo trabalhado propomos a criaccedilatildeo de uma apostila

obre o circo com a divisatildeo em grupos para a elaboraccedilatildeo de tex-

os sobre os toacutepicos de conteuacutedo trabalhados O objetivo desta

itividade consistiu em verificar o niacutevel de evoluccedilatildeo dos alunos

m relaccedilatildeo ao conhecimento sobre o circo (sua histoacuteria as moda-

idades teacutecnicas baacutesicas construccedilatildeo de materiais para a praacutetica

is novas configuraccedilotildees do circo atual os motivos pelos quais

iacuteoje existem poucos circos tradicionais as relaccedilotildees de trabalho

lentro do picadeiro dentre outros pontos) Outra atividade foi

a criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre 1 un

lizaccedilatildeo de animais nos espetaacuteculos circenses

No retorno agrave praacutetica social os alunos aprofundaram seus conltc

cimentos sobre o circo atraveacutes da pesquisa de textos e viacutedeos sobiv ltraquo

aspectos discutidos nas aulas e socializaram os conhecimentos com ou

tros alunos da escola atraveacutes da montagem de um espetaacuteculo circense

Plano de Unidade O lugar e hora do circo na escola

OBJETIVO GERAL

Compreender o circo enquanto manifestaccedilatildeo cultural a fim

de assumir postura criacutetica frente agraves novas configuraccedilotildees do espeshy

taacuteculo circense atual

Quadro 1 - Anuacutencio do conteuacutedo

M iacuteK IacuteS S amp K bull C i Jrsquo irfiiacuteV-rsquo P f

A histoacuteria do circo

Conhecer a histoacuteria do circo e suas transforshy

maccedilotildees

Identificar as diversas formas de apresentaccedilatildeo das

atividades circenses na atualidade (circo tradicional

circo novo atividades de rua festas infantis circo

social etc)

As modalidades circenses

Identificar as modalidades existentes no circo

malabarismo equilibrismo acrobacia maacutegica e

palhaccedilo

Vivenciar as principais modalidades que constituem

o circo

Construir materiais que possibilitem a experiecircncia

das modalidades circenses

O circo nos tempos atuais

Compreender as novas configuraccedilotildees do circo na atushy

alidade relacionando-as agraves exigecircncias da atual fase do

modo de produccedilatildeo capitalista (relaccedilotildees comerciais leis

trabalhistas trabalho infantil informalidade legislaccedilatildeo

de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos etc)

Circo legal tem animal

Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave utilizaccedilatildeo de anishy

mais no circo

Posicionar-se criticamente frente agrave utilizaccedilatildeo de

animais no circo

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

1) PRAacuteTICA SOCIAL IN IC IAL D O CONTEUacuteDO

11 Vivecircncia do Conteuacutedo

bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo O circo eacute um

espetaacuteculo com vaacuterios artistas eacute divertido tem maacutegica

palhaccedilo acrobatas ldquoanimais ferozesrdquo tem gente que faz

circo na rua etc

bull O que eles gostariam de saber a mais Como surgiu o circo

Como fazer maacutegica malabarismo equilibrismo etc Como

sobrevive um artista de circo Como satildeo tratados os animais

que vivem no circo

2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO

Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees

problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas

Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

TOacutePICO DE

CONTEUacuteDO DIMENSOtildeES

bulltgt t bull

QUESTAtildeO PROBLEMA

Respeitaacutevel puacuteblishy

co o circo chegouConceituai

O que eacute o circo

O que eacute circo tradicional

O que eacute circo novo

A histoacuteria do circo Histoacuterica

Quem inventou o circo

Onde ele surgiu

O circo de hoje eacute igual ao de antigashy

mente

Quais satildeo as modificaccedilotildees pelas quais

o circo passou ateacute hoje

As modalidades cirshy

censes

Conceituai

Teacutecnica

Quais satildeo as modalidades que constishy

tuem o circo

Quais satildeo as teacutecnicas baacutesicas das moshy

dalidades circenses

O circo nos tempos

atuais

Econocircmica

Poliacutetica

Social

Legal

Onde vemos artistas de circo

Por que natildeo temos tantos circos se

apresentando hoje em dia

Os artistas de circo recebem salaacuterio

Quais as condiccedilotildees sociais e de trabashy

lho de um artista de circo ldquofamosordquo e

de um circo ldquosimplesrdquo

Quanto custa um ingresso de um cirshy

co famoso

Como eacute a relaccedilatildeo da crianccedila com o

trabalho no circo

O que precisa para um circo se estabeleshy

cer em uma cidade

Por que o circo vai embora

Circo legal tem anishy

mal V

Poliacutetica

Legal

Histoacuterica

gt

Como os animais foram incorporashy

dos ao circo

Como o circo conseguia os animais

para suas apresentaccedilotildees

E permitido ter animais selvagens no

circo atualmente

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo

x lsquo bull --ir Ywl-ft bull V Avbdquo iacutei - - iacute

- Conteuacutedo Dimensotildees v l p sect p |

Respeitaacutevel puacuteblico

o circo chegou

Conceituar circo

Compreender o circo enquanto

produccedilatildeo histoacuterica do homem

ConceituaiExposiccedilatildeo teoacuterica e exibiccedilatildeo de viacutedeos

sobre o circo

Viacutedeo produzido pelos autores disshy

poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy

do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo86

A histoacuteria do circo

Conhecer a histoacuteria do circo e suas

transformaccedilotildees

Identificar as diversas formas de

apresentaccedilatildeo das atividades circenshy

ses na atualidade (circo tradicional

circo novo atividades de rua festas

infantis circo social etc)

Relacionar a expansatildeo das atividashy

des circenses com a configuraccedilatildeo

da sociedade atual

Histoacuterica

Econocircmica

Poliacutetica

Exibiccedilatildeo de viacutedeos e fotos sobre a histoacuteria

do circo e as mais diversas formas de apreshy

sentaccedilatildeo das atividades circenses atuais

Leituras de textos sobre a histoacuteria do circo

Textos sobre a histoacuteria do circo

Viacutedeo produzido pelos autores disshy

poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy

do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

7 Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012

8 Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03Ieis18069htmgt Acesso em 09042013

laquo M M

As modalidades cirshy

censes

Identificar as modalidades exisshy

tentes no circo malabarismo

equilibrismo acrobacia maacutegica e

palhaccedilo

Vivenciar as principais modalidashy

des que constituem o circo

Construir materiais que possibilishy

tem a experiecircncia das modalidades

circenses

Conceituai

Teacutecnica

Exibiccedilatildeo de viacutedeos editados das modalishy

dades do circo Acrobacias (individuais

coletivas de solo e aeacutereas) Malabarismo

(dc contato equiliacutebrio dinacircmico giros-

coacutepico e de lanccedilamento) Equilibrismo

Maacutegica Palhaccedilo (Cara Branca Miacutemico

Augusto Vagabundo Augusto Europeu)

Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das princishy

pais modalidades circenses

Construccedilatildeo de materiais para a vivecircncia

dessas modalidades

Viacutedeos disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo

e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Bolas de soprar garrafas pet jornal

fita adesiva barbante cabos de vassoushy

ra cilindros de papelatildeo ou canos de

ferro para construccedilatildeo dos materiais

Materiais para a vivecircncia bolinhas

de borracha claves swings rola-rola

diabolocircs devilstick etc

O circo nos tempos

atuais

Compreender as novas configurashy

ccedilotildees do circo na atualidade relacio-

nando-as agraves exigecircncias da atual fase

do modo de produccedilatildeo capitalista

(relaccedilotildees comerciais leis trabalhisshy

tas trabalho infantil informalidade

legislaccedilatildeo de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteshy

blicos etc)

Econocircmica

Poliacutetica

Social

Legal

Exibiccedilatildeo e discussatildeo do programa ldquoProshy

fissatildeo Repoacuterterrdquo sobre o circo

Anaacutelise da legislaccedilatildeo (ECA87 lei ambienshy

tal e leis de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos)

Viacutedeo disponiacutevel em no blog ldquoConshy

teuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educashy

ccedilatildeo Fiacutesicardquo

ECA

Leis ambientais e de locaccedilatildeo de espashy

ccedilos puacuteblicos

Circo legal tem anishy

mal

Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave

utilizaccedilatildeo de animais no circo

Posicionarmdashse criticamente frente agrave

utilizaccedilatildeo de animais no circo

Poliacutetica

Legal

Histoacuterica

Exibiccedilatildeo de viacutedeos e leitura de textos que

discutam a questatildeo dos animais do circo

Anaacutelise da legislaccedilatildeo ambiental

Organizaccedilatildeo de um juacuteri simulado

Viacutedeos e textos disponiacuteveis no blog

ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

4) CATARSE

41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno

O circo eacute uma das manifestaccedilotildees culturais mais tradicionais da

humanidade que encanta pela capacidade de transformar o banal em

inacreditaacutevel transformar o impossiacutevel em coisa simples Ao mesmo

tempo sua sobrevivecircncia oscila entre o popular e a falta de incentivo

entre a vontade de fazer parte e o alto custo dos espetaacuteculos

No decorrer dos anos o circo se modificou antes as famiacutelias

tradicionais faziam da vida embaixo da lona um lar vaacuterias viashy

gens e seu trabalho Entretanto agora artistas e admiradores se

apresentam nas ruas em grandes e pequenos circos em grandes

empresas de entretenimento nas escolas nas academias espaccedilos

puacuteblicos e privados

Fazem parte do espetaacuteculo circense apresentaccedilotildees de malashy

barismo equilibrismo maacutegica palhaccedilos e acrobacias cujo prinshy

cipal objetivo eacute a diversatildeo do puacuteblico o que requer o aprendizashy

do de teacutecnicas especiacuteficas e treinamento diaacuterio por muitos anos

O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy

ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX ocasionaram

uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves apresentaccedilotildees

circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios e dos tershy

renos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidades mdash

a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de uma

poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que

inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais

Em menos de 30 anos o nuacutemero de circos existentes no Brasil

reduziu-se significativamente abrindo espaccedilo para as grandes

companhias de circo onde os artistas natildeo mais pertencem agraves

famiacutelias circenses satildeo ex-atletas ou profissionais formados em

escolas de circo e contratados pelas grandes companhias que tem

um determinado conhecimento especiacutefico da tarefa e natildeo mais o

conhecimento do funcionamento do circo como um todo

Aleacutem disso a tecnologia assume um papel fundamental no espetaacuteshy

culo pois permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalan

che tecnoloacutegica os grandes circos se apropriam das prod i iccedilolaquo bull laquo

novam constantemente enquanto muitos circos pequenos mu uiuU

agrave concorrecircncia por natildeo conseguirem acompanhar esse movimento

Atualmente as atividades circenses viraram nicho de nu 1 laquo raquo

do e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de 1 1 1 1

a academias de ginaacutestica

Apesar dos animais historicamente participarem do espeta

culo circense a legislaccedilatildeo atual vem restringindo sua utilizaccedilatildeo

protegendo-os de maus tratos e condiccedilotildees insalubres de vida

Este eacute um ponto bastante polecircmico pois apesar dos ambienshy

talistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos haacute

quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute cruelshy

dade ou insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais

42 Expressatildeo da Siacutentese

bull Construccedilatildeo de uma apostila sobre o circo abordando os

temas trabalhados nas aulas

bull Criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a

utilizaccedilatildeo de animais no circo

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO

Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

A p ro fu n d a r os conhecim entos sobre

o circo

Pesquisar textos e viacutedeos sobre

os aspectos discutidos nas aulas

Socializar os conhecim entos apreenshy

didos durante as aulas

M ontagem de u m espetaacuteculo

circense

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees finais

Destacamos que o presente texto pretendeu apenas apresentar

uma dentre as inuacutemeras possibilidades pedagoacutegicas de trabalho com

esse universo tatildeo rico e tatildeo fascinante como o universo circense

Buscou-se conhecer a histoacuteria do circo analisando suas transformashy

ccedilotildees ao longo dos tempos identificar e vivenciar as diversas modalidashy

des de forma contextuaiizada e desmistificada Compreender as relaccedilotildees

de trabalho existentes no circo tradicional e nas manifestaccedilotildees circenses

atuais significa compreender o circo enquanto produto da atividade hushy

mana resultado do desenvolvimento histoacuterico parte importante do pashy

trimocircnio cultural humano que precisa ser transmitido pela escola

Referecircncias

BORTOLETO MAC M ACHADO G A Reflexotildees sobre o circo e a Educaccedilatildeo

Fiacutesica Revista Corpoconsciecircncia Santo Andreacute v 2 n 12 p 39-69 jul

dez 2003

COLETIVO DE AUTORES Metodologia do ensino da Fducaccedilaacuteo Fiacutesica Satildeo

Paulo Cortez 1992

COSTA A C P TIAEN M S SAMBUGARI M R N O Circo no trabalho

didaacutetico Instrumento para a Obtenccedilatildeo do Processo de Interdisciplinaridade

In JORN ADA D O HISTDBR 7 2007 Campo Grande Anais Campo

Grande Uniderp 2007

DUPRAT R M Atividades circenses possibilidades e perspectivas para a Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica escolar Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Fiacutesica na aacuterea de

concentraccedilatildeo Educaccedilatildeo Fiacutesica e Sociedade )-Faculdade de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Universidade Estadual de Campinas Campinas 2007

DUPRAT R M BORTOLETO Marco Antocircnio Coelho Educaccedilatildeo Fiacutesica Escoshy

lar pedagogia e didaacutetica das atividades circenses Revista Brasileira de Ciecircnshy

cias do Esporte Campinas v 28 n 2 p 171-189 jan 2007

EIDT NM DUARTE N Contribuiccedilotildees da teoria da atividade para o dckm

sobre a natureza da atividade de ensino escolar Psicologia da Educaccedilatildeo Sm

Paulo n 24 p 51-72 jun 2007 Disponiacutevel em lt httppepsicbvsalud

orgsciclophppid=S 1414-69752007000100005ampscript=sci_arttext Acessraquo gt

em 20 set 2012

FIGUEIREDO C M S As vozes do circo social Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profisshy

sionalizante em Bens Culturais e Projetos Sociais)-Centro de Pesquisa e Doshy

cumentaccedilatildeo de Histoacuteria Contemporacircnea do Brasil Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas

Rio de Janeiro 2007

GASPARIN J L Uma didaacutetica para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica 5 ed Camshy

pinas SP Autores Associados 2011

RUIZ R Hoje tem espetaacuteculo As Origens do Circo no Brasil Rio de Janeiro

INACECEN 1987

SILVA E As muacuteltiplas linguagens da teatralidade circense Benjamin de Oliveishy

ra e o Circo-Teatro no Brasil do final do seacuteculo XIX e inicio do seacuteculo XX

Tese (Doutorado em Histoacuteria)-Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas

Universidade Estadual de Campinas Campinas 2003

_________ Circo-teatro Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil

Satildeo Paulo Altana 2007

_________ O circo sua arte c seus saberes o circo no Brasil do final do seacuteculo XIX

a meados do XX Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria) - Instituto de Filosofia

e Ciecircncias Humanas Universidade Estadual de Campinas Campinas 1996

SILVA E CAcircMARA R S O ensino de arte circense no Brasil breve histoacuterico

e algumas reflexotildees 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwcirconteudocombr

index phpoption=com_contentampview=articleampid= 1134o-ensino-de-arte-

-circense-no-brasil-breve-historico-e-aIgumas-reflexoesampcatid= l47artigosamp

Itemid=505gtAcesso em 15 jul 2012

SILVA E ABREU L A de Respeitaacutevel puacuteblico o circo em cena Rio de Ja-

neiro Funarte 2009

SOARES C L Imagens da educaccedilatildeo no corpo estudo a partir da ginaacutestica franshy

cesa no seacuteculo XIX 3 ed Campinas Autores Associados 2005

T O R R E S A O circo no Brasil Rio de Janeiro F U N A R T E Ed Atraccedilotildees 1998

SOBRE OS AUTORES

Adriano de Paiva Reis eacute professor de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Prefeishy

tura Municipal de Juiz de Fora desde 2010 Graduado em Educaccedilatildeo

Fiacutesica pela UFJF desde 2008 foi Professor substituto do Coleacutegio de

Aplicaccedilatildeo Joatildeo XXIII Bolsista dos projetos ldquoPortal do Professor do

M ECrdquo e extensatildeo ldquoNovas Experiecircncias Pedagoacutegicas em Educaccedilatildeo

Fiacutesica Escolarrdquo E-mail adriano_reisrocketmailcom

Aacutelvaro de Azeredo Quelhas eacute Doutor em Ciecircncias Sociais pela Unishy

versidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo - Campus Mariacutelia

Mestrado em Educaccedilatildeo Fiacutesica na aacuterea de ldquoPedagogia da Educaccedilatildeo Fiacutesica

e do Esporterdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Especializaccedilatildeo

nas aacutereas de ldquoFutebolrdquo e ldquoEducaccedilatildeo Psicomotora na Educaccedilatildeo Fiacutesica do Io

graurdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Licenciado em Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica e Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Trabalhou na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (1985-1997) como

professor do ensino fundamental (disciplina - Educaccedilatildeo Fiacutesica) aleacutem de

possuir experiecircncia como professor em academias de ginaacutestica e treinador

esportivo em clubes e empresas E professor do Departamento de Educaccedilatildeo

da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz de Fora desde

abril de 1997 E membro do Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educashy

ccedilatildeo (NETEC) da FACEDUFJF Seus estudos e pesquisas estatildeo voltados

para as transformaccedilotildees no mundo do trabalho e as formas de reestruturaccedilatildeo

produtiva com foco na precarizaccedilatildeo do trabalho em interface com os proshy

cessos educativos E-mail alvaroquelhasuolcombr

Andreacute Silva Martins eacute professor da Faculdade de Educaccedilatildeo

da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) onde integra o

Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo E vinculado tamshy

beacutem ao Coletivo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJV

Fiocruz) Integra o quadro docente do Programa de Poacutes-Gradua-

ccedilatildeo da UFJF E Mestre e Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade

Federal Fluminense E-mail andresilvamartinsglobocom

Carla Cristina Carvalho Pereira eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

(1996) poacutes graduada em Ednrarotilder cmdash 1

sidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestra em Educaccedilatildeo (2003)

pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Atua como professora da

rede municipal de Juiz de Fora desde 1998 Estuda temas relacionados

agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar nas aacutereas de danccedila-educaccedilatildeo planejamento e

avaliaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica E-mail carlacccphotmailcom

Carlos Eduardo de Souza eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestre em

Educaccedilatildeo pela UFJF Atua como professor da rede municipal e

particular em Juiz de Fora E-mail kadusjnyahoocombr

Frederico Duarte Gomes Tostes possui Licenciatura e Bachashy

relado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela Universidade Federal de Juiz de Fora

(UFJF) Estagiou em escolas puacuteblicas de Juiz de Fora e foi bolsista no

Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo Joatildeo XX III da Universidade Federal de Juiz de

Fora onde atuou no projeto de extensatildeo de Atividades Circenses para

alunos do ensino fundamental Atualmente faz cursos na Escola de

Circo Carequinha em Juiz de Fora E-mail fred_hikohotmailcom

Giovana de Carvalho Castro eacute professora da rede municipal de Juiz

de Fora Possui graduaccedilatildeo em Histoacuteria (2001) e mestrado em Ciecircncia da

Religiatildeo (2005) pela Universidade Federal de Juiz de Fora Tem experishy

ecircncia na aacuterea de Histoacuteria e Ciecircncia da Religiatildeo com ecircnfase em Histoacuteria

do Brasil Metodologia do Ensino de Histoacuteria Patrimocircnio Cultural Hisshy

toacuteria da Aacutefrica e Cultura Religiosa E-mail giovanahistoriabolcombr

Graziany Penna Dias possui Licenciatura cm Educaccedilatildeo Fiacutesica pela

Universidade Federal de Juiz de Fora (2000) e Mestrado em Educaccedilatildeo

pela Universidade Federal Fluminense (2006) Eacute vinculado ao Coletishy

vo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJVFiocruz) Atualmente

eacute professor do Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do

Sudeste de Minas - IFSUDESTEMG - Campus Juiz de Fora Estuda

temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar lazer poliacutetica educacional

e a relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo E-mail grazianydiasifsudestemgedubr

Hajime Takeuchi Nozaki possui Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1993) mestrado

em Educaccedilatildeo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1997)

e doutorado em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense

(2004) no campo Trabalho e Educaccedilatildeo Atualmente eacute professor asshy

sociado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Leciona na

graduaccedilatildeo no campus de Trecircs Lagoas e na poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo

no campus de Corumbaacute Dedica-se aos estudos na aacuterea de Trabalho

e Educaccedilatildeo atuando principalmente nos seguintes temas mundo do

trabalho e Educaccedilatildeo Fiacutesica formaccedilatildeo humana qualificaccedilatildeo dos trabashy

lhadores da faacutebrica E-mail hajimenozakiuolcombr

Herbert Hischter Chaves de Paula eacute graduado em Educaccedilatildeo

Fiacutesica pela Universidade Salgado de Oliveira - Universo (Juiz de

Fora) e poacutes-graduado em Danccedila e Consciecircncia Corporal pela Unishy

versidade Gama Filho (Belo Horizonte) E ator bailarino produtor

diretor e coreoacutegrafo e atua como professor de Danccedila e Teatro na

rede municipal de Juiz de Fora E-mail hhcpl911hotmailcom

Leonardo Docena Pina eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica e Messhy

tre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Atualmente cursa o doutorado em Educaccedilatildeo nessa mesma instituiccedilatildeo

e atua como professor da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de

ForaMG Desde 2008 integra o Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e

Educaccedilatildeo da UFJF E-mail leodocenayahoocombr

Marcelo Silva dos Santos possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2001) mestrado em Edushy

caccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense (2005) e eacute doutorando

em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana na Universidade do Esshy

tado do Rio de Janeiro (UERJ) Estuda temas relacionados agrave aacuterea de

trabalho e educaccedilatildeo Atualmente eacute professor do IFET Sudeste e da

rede municipal de Juiz de Fora E-mail marceloss2003igcombr

Miguel Fabiano de Faria eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela

UFJF e Mestre em Educaccedilatildeo pela UFMG Atua como professor na

educaccedilatildeo baacutesica e superior no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia

e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais - Campus Juiz de Fora Esshy

tuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar Lazer e Histoacuteria da

Educaccedilatildeo E-mail miguelfariaifsudestemgedubr

Mocircnica Jardim Lopes eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica e mes-

tranda em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Atua como professora da rede puacuteblica de ensino dos municiacutepios de

Juiz de Fora (MG) e de Trecircs Rios (RJ) E militante do Movimento

Nacional Contra a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica

(MNCR) E-mail monicajlopesyahoocombr

Nathaacutelia Sixel Rodrigues eacute Licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora Estagiou em Escolas puacuteshy

blicas da cidade como IFET e Escola Municipal Professora Thereza

Falei onde buscou tematizar o conteuacutedo Ginaacutestica na Educaccedilatildeo

Fiacutesica Atualmente atua como professora de ginaacutestica em academias

de Juiz de Fora E-mail naty_sixelhotmailcom

Priscila Rocha Rodrigues eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Atua como

professora de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de

ensino em Juiz de ForaMG E-mail prixrochayahoocombr

Rafael Loures dos Reis Bellei atua como professor do ensino

fundamental nas redes municipais de Juiz de Fora-MG eTrecircs Rios-

-RJ e no ensino fundamental e meacutedio na rede particular de Juiz

de Fora-MG O autor eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela UFJF

Estuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar e a relaccedilatildeo

trabalho-Educaccedilatildeo Fiacutesica M ilita no Movimento Nacional Contra

a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica - M NCR

E-mail rafabelleiyahoocombr

Ramon Mendes da Costa Magalhatildees possui Licenciatura e

Bacharelado pela Faculdade de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desportos (FA-

EFID) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) no ano de

2011 atualmente residente de Educaccedilatildeo Fiacutesica do programa de Reshy

sidecircncia Multiprofissional em Sauacutede do Adulto com Foco em Doshy

enccedilas Crocircnico Degenerativas no Hospital Universitaacuterio da Univershy

sidade Federal de Juiz de Fora (HUUFJF) no periacuteodo 20122014

E-mail ramon_mc_magalhaeshotmailcom

Renata Aparecida Alves Landim eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) especialista

m Educaccedilaacuteo Fiacutesica escolar pela UFJF e mestre em educaccedilatildeo pela

Universidade Federal Fluminense (UFF) Atualmente eacute professora do

ensino fundamental na rede puacuteblica municipal de Juiz de l o i i jgti

fessora temporaacuteria da Faculdade de Educaccedilatildeo da UFJF E v i i u ulraquolaquoi raquo

ao nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo da UFJE I m u i raquo

temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar poliacutetica educaraquo i o n i l

trabalho-educaccedilatildeo E-mail renatalandimhotmailcom

Thiago Barreto Maciel possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesui

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2007) Especializaccedilatildeo em

aspectos metodoloacutegicos e conceituais da pesquisa Cientiacutefica pela Uni

versidade Federal de Juiz de Fora (2008) Atualmente eacute professor do

Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste de

Minas Gerais - Campus Barbacena Tem experiecircncia na aacuterea de Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica com ecircnfase em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana

E-mail tbarretomacielgmailcom

Victoacuteria de Faacutetima de Mello eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especialista em

Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar pela mesma instituiccedilatildeo Atua como professora

de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de ensino em Juiz

de Fora Atualmente dirige o Sind-Ute (Sindicato dos Trabalhadores

em educaccedilatildeo de Minas Gerais) E-mail vicmellloyahoocombr

I n f o r m a ccedil otilde e s G r aacute f ic a s

Formato 16 x 23 cm

Mancha graacutefica 112 x 194 cm

Tipologia Myriad Pro - Adobe Garamond Pro

Papel Offset 90gm2 (miolo) - Cartatildeo Supremo 250gm2 (capa)

Tiragem 500 exemplares

Impressatildeo e acabamento Graacutefica e Editora Brasil Ltda

Page 4: Adriano de Paiva Reis · 2019. 8. 31. · Pedagogia histórico-crítica na construção da metodologia do ensino dos conteúdos específicos da cultura corporal na escola, destacando

v gt laquo ip i l U I O V

O M M A como ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo____________________________________ 109

Adriano de Paiva Reis Graziany Penna Dias Rafael Loures dos Reis

Bellei e Renata Aparecida Alves Landim

Capiacutetulo VI

A voz da periferia o H ip H o p enquanto possibilidade de

trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ________________________________________129

Adriano de Paiva Reis Carta Cristina Carvalho Pereira Giovana de

Carvaliyo Castro Herbert Hischter Chaves de Paula Marcelo Silva dos Santos

Capiacutetulo VII

A disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutestica_____________________________149

Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel

Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees

Capiacutetulo V III

O lugar e hora do circo na escola reflexotildees sobre a reinven-

ccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircnea----------------------1Z1

Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira

e Frederico Duarte Gomes Tostes

Sobre os autores 191

PREFACIO

No momento em que os estudos sobre a escola capitalista demonsshy

tram a sua degeneraccedilatildeo e decomposiccedilatildeo o seu esvaziamento proposishy

tal e seu rebaixamento teoacuterico para desqualificar a formaccedilatildeo da classe

trabalhadora na mais tenra idade surge contraditoriamente fruto de

experiecircncias concretas no chatildeo desta mesma escola a obra organizada

por Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira Leonardo

Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim intitulada Pedagogia histoacuterico-criacutetica e Educaccedilatildeo Fiacutesica

Do que trata este livro que lhe confere uma singularidade iacutempar

em meio a confrontos e conflitos de classe cada vez mais acirrados

Como uma das autoras do Livro Metodologia do Ensino da

Educaccedilatildeo Fiacutesica (COLETIVO DE AUTORES 1992) e portanto

testemunha histoacuterica de um esforccedilo nacional de mais de 20 anos enshy

frentando a criacutetica a didaacutetica e a organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico

na escola capitalista reconheccedilo que o propoacutesito dos autores do livro eacute

de vital importacircncia para a formaccedilatildeo escolarizada de crianccedilas e jovens

ms quais tecircm sido negados os conteuacutedos que permitem a humanizashy

ccedilatildeo como o satildeo os conteuacutedos da cultura corporal

Como demonstram os autores da obra - jovens intelectuais mili-

lanies culturais de formaccedilatildeo marxista - natildeo satildeo quaisquer conteuacutedos

I serem tratados na escola que garantiratildeo a humanizaccedilatildeo e natildeo eacute qual-

lt | i u t meacutetodo no trato com o conhecimento que asseguraraacute a formaccedilatildeo

lt miiK ipatoacuteria Satildeo conteuacutedos tratados com criteacuterios considerando a

iriicse o desenvolvimento a atribuiccedilatildeo de sentidos e significados agraves ati-

iilules corporais ao longo do percurso histoacuterico da humanidade Cri-

laquo nos que dizem respeito agraves capacidades cognoscentes e cognoscitivas

laquolltraquo estudantes compreendendo-as na totalidade do ser humano con-

lotmc e xplica a teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural a contemporanei-

raquobulllt laquolos conteuacutedos e seu conhecimento por sucessivas aproximaccedilotildees ao

iltlt n ui lura corporal que permitem os saltos qualitativos do

nm i iilo sincreacutetico e da mera sistematizaccedilatildeo de dados da realidade

i Ugtlt i u h t de novas siacutenteses qualitativamente superiores com autodeshy

terminaccedilatildeo e criatividade Aprimora-se assim pelas atividades corposhy

rais tratadas com o rigor do meacutetodo toda a capacidade do ser humano

Percurso este que deve ser recuperado por cada um de noacutes sem o qual

natildeo nos humanizamos E isto eacute possiacutevel pela educaccedilatildeo principalmente

escolarizada que forma seres humanos porque incide nas suas funccedilotildees

psicoloacutegicas superiores pelas atividades relacionais com os demais seres

humanos com a natureza com a cultura e consigo mesmo Por isto

esta obra eacute de fundamental importacircncia

Na introduccedilatildeo os autores Adriano de Paiva Reis Carla Cristina

Carvalho Pereira Hajime Takeuchi Nozaky Leonardo Docena Pina e

Renata Aparecida Alves Landim tratam de refletir sobre os limites e

possibilidades da discussatildeo sobre a didaacutetica da Educaccedilatildeo Fiacutesica Assushy

mem os autores a posiccedilatildeo teoacuterica e reconhecem que a ldquoperspectiva da

reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal presente no livro Metodologia

do Ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e denominada por noacutes de abordagem

Criacutetico-superadora foi eacute e seraacute um marco enquanto referecircncia mais

desenvolvida fundamentada em uma teoria marxista de educaccedilatildeo na

teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural na teoria do conhecimento mate-

rialista-histoacuterica-dialeacutetica e na Pedagogia histoacuterico-criacutetica

Justificam e assumem assim os autores que a Educaccedilatildeo Fiacutesica

ao transmitir os conhecimentos historicamente acumulados sobre a

cultura corporal se justifica na escola por socializar um conhecimento

essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade

A partir destas posiccedilotildees iniciais enfrentam o desafio e as difishy

culdades de organizarplanejarsistematizar o ensino da Educaccedilatildeo

Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corshy

poral Tensionam durante a obra o par dialeacutetico conteuacutedo-meacutetodo

modulador de alteraccedilotildees significativas na organizaccedilatildeo do trabalho

pedagoacutegico na salaquadra de aula e na escola

O trabalho com os professores da educaccedilatildeo baacutesica demonsshy

tra que aleacutem dos problemas na formaccedilatildeo faltam referecircncias conshy

cretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas com os diversos

conteuacutedos da cultura corporal E nesta busca lanccedilam-se os autoshy

res nos trazendo uma contribuiccedilatildeo de grande relevacircncia

O que eacute descrito no livro eacute fruto de um trabalho coletivo de mais de 20

professores e que ganha sistematizaccedilatildeo nos escritos destes jovens professores

que se dispuseram a ampliar os conhecimentos a respeito da metodologia

Criacutetico-superadora aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal

Tratam portanto da criacutetica agrave didaacutetica mas natildeo com a pretensatildeo

de resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

que estatildeo relacionados com as condiccedilotildees de vida e de trabalho dos

professores e estudantes Ou seja reconhecem as determinaccedilotildees da

economia poliacutetica que pesam sobre a escola e que natildeo seraacute somente

a iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores que resolveraacute a complexidade

que eacute o processo de destruiccedilatildeo das forccedilas produtivas a destruiccedilatildeo da

escola e a destruiccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico

Com muita honestidade cientiacutefica reconhecem os limites da

discussatildeo didaacutetica frente ao problema da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica

mas ressaltam a importacircncia da obra para ampliar as possibilidades

de transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar

O livro estaacute organizado em oito capiacutetulos que se articulam de forma

consistente e coerente Inicialmente os autores propotildeem uma discussatildeo

de caraacuteter mais geral abordando a funccedilatildeo e especificidade da escola e da

Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemporacircneo A partir da delimitaccedilatildeo clara

da concepccedilatildeo de educaccedilatildeo e de Educaccedilatildeo Fiacutesica que defendem passam

entatildeo a discutir a praacutetica pedagoacutegica atraveacutes de uma seacuterie de artigos sobre

possibilidades de temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos da cultura

inrporal - jogos esporte luta ginaacutestica danccedila e circo

() texto assinado por Andreacute Silva Martins trata de questionar a

Iunccedilatildeo social da escola e dentro dela o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica

lis natildeo o faz desprovido de dados que permitem constatar e explicar

ltmio a Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar foi uma ativida-

llt lt tijltgt objetivo central era promover o desenvolvimento da aptidatildeo

i ilt j ltgt lt|iklsquo foi alterado como foram alteradas as bases econocircmica

| x raquoI i i h i da sociedade brasileira que implicaram em alteraccedilotildees na

oli i i onsequentemente na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar

lt K iinores do texto sobre ldquoO ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e

(bulliniHio de sujeitos histoacutericos em busca dos fundamentos

teoacutericos e metodoloacutegicosrdquo tratam de demonstrar o surgimento

de propostas com outros princiacutepios definidores para a praacutetica

pedagoacutegica nos idos dos anos 1980 e 1990 Tratam das propostas

demonstrando nexos e relaccedilotildees entre a metodologia do ensino

as teorias educacionais pedagoacutegica a teoria do conhecimento e

o projeto histoacuterico Anunciam assim em um trabalho coletivo

novas bases da Educaccedilatildeo Fiacutesica na Rede de Ensino

Com base nos estudos de Saviani (1987) sobre Escola e Deshy

mocracia satildeo discutidas as tendecircncias da educaccedilatildeo e levanta-se de

iniacutecio a hipoacutetese de que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas

ainda possuem um papel a cumprir mdash contribuir na superaccedilatildeo do

capitalismo com o que temos pleno acordo

Ao tecer criacuteticas agraves concepccedilotildees sobre a educaccedilatildeo escolar o livro

traz uma contribuiccedilatildeo agrave educaccedilatildeo em geral e para todas as aacutereas de coshy

nhecimento que se organizam no interior da escola Defende-se por

fim a finalidade da educaccedilatildeo escolar para a emancipaccedilatildeo humana

Ao apresentar a perspectiva marxista de emancipaccedilatildeo humana

Aacutelvaro de Azeredo Quelhas Adriano de Paiva Reis Carla Cristina

Carvalho Pereira Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves

Landim recuperam os elementos histoacutericos apresentados por claacutessishy

cos como Marx e Engels que permitem afirmar a existecircncia sim de

uma teoria marxista da educaccedilatildeo Teoria esta que vem sendo sisteshy

maticamente negada na formaccedilatildeo dos professores A partir da base

teoacuterica mais geral adentram nas sistematizaccedilotildees sobre Educaccedilatildeo e

Trabalho para por fim reconhecer a importacircncia da mediaccedilatildeo da

Pedagogia histoacuterico-criacutetica na construccedilatildeo da metodologia do ensino

dos conteuacutedos especiacuteficos da cultura corporal na escola destacando

a obra Metodologia do Ensino de Educaccedilatildeo Fiacutesica do Coletivo de Aushy

tores (1992) obra onde eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal visando elevar a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enshy

quanto sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em

que vive Para tanto parte-se da praacutetica social que eacute problematizada

pela constataccedilatildeo sistematizaccedilatildeo compreensatildeo e explicaccedilatildeo cientiacutefishy

ca do real visando a praacutexis revolucionaacuteria criativa superadora o que

somente eacute possiacutevel com a ampliaccedilatildeo aprofundamento do conhecishy

mento historicamente acumulado e a autodeterminaccedilatildeo dos estushy

dantes Daiacute a relevacircncia social do trato com os conteuacutedos segundo

a teoria do conhecimento dialeacutetica-materialista-histoacuterica Portanto

natildeo seraacute qualquer conteuacutedo e muito menos qualquer meacutetodo para

tratar o conhecimento que permitiraacute a elevaccedilatildeo da capacidade teoacuterishy

ca dos estudantes E necessaacuterio o meacutetodo explicado e demonstrado

por Marx e Engels aplicado ao ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica na escola

- o meacutetodo materialista histoacuterico-dialeacutetico enquanto loacutegica e teoria

do conhecimento

Nos capiacutetulos seguintes a coerente e consistente abordagem

teoacuterica eacute demonstrada no trato com ldquoA produccedilatildeo da cultura luacutedica

em jogos eletrocircnicos rdquo texto de autoria de Renata Aparecida Alves

Landim Victoacuteria de Faacutetima de Mello Priscila Rocha Rodrigues e

Thiago Barreto Maciel Os autores partem da praacutetica social conshy

creta para chegar a uma nova siacutentese superior sobre este conteuacutedo

permitindo agraves crianccedilas e jovens se apropriarem de elementos da

cultura que por si soacute natildeo se datildeo a conhecer

No texto de autoria de Leonardo Docena Pina Carlos Edushy

ardo de Souza Mocircnica Jardim Lopes eacute demonstrado o meacutetodo de

elevaccedilatildeo da capacidade de reflexatildeo dos estudantes sobre a cultura

inrporal no trato com o conteuacutedo esporte e sauacutede O texto intitu-

lido ldquoAs relaccedilotildees entre esporte e sauacutede no capitalismo tematizando

i oiuradiccedilotildees na educaccedilatildeo escolarrdquo demonstra todo o processo que

v ulmina na nova siacutentese qualitativamente superior ao conhecimento

lt aoacuteiico sincreacutetico sobre o tema demonstrado no iniacutecio

Para tratar do conteuacutedo lutas delimitou-se ldquoO MM A como

nova lace da luta espetaacuteculordquo Os autores Renata Aparecida Alves Lanshy

dim Adriano de Paiva Reis Grazyani Penna Dias e Rafael Loures dos

K r Hcllei usaram com rigor o meacutetodo partindo da praacutetica social e a

bull u iornuido apoacutes um processo de problematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de

1 11u i i i i k i u o s sem os quais natildeo se explica o fenocircmeno atual das lutas

thim io ao conteuacutedo danccedila os autores Carla Cristina Carvalho

INlt ii i iliimo de Paiva Reis Giovana de Carvalho Castro Marcelo

monstrar a loacutegica no trato com o conhecimento dentro da rigorosidade

do meacutetodo Demonstram tambeacutem a elevaccedilatildeo do pensamento teoacuterico

dos estudantes sobre o assunto O texto ldquoA voz da periferia o Hip Hop

enquanto possibilidade de trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo eacute um

primor e contribuiraacute muito para consubstanciar uma abordagem mais

rigorosa de conteuacutedos contemporacircneos nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

No trato com o conteuacutedo da ginaacutestica no capiacutetulo intitulado

ldquoA disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutesticardquo os autores

Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel Roshy

drigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees conseguem elevar a

capacidade dos estudantes de elaborarem uma siacutentese qualitativa no

pensamento que permitiraacute a autodeterminaccedilatildeo para a praacutetica corposhy

ral de um conteuacutedo vital e que vem sendo negligenciado na escola

A retomada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica do conteuacutedo circo

conforme propotildeem Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvashy

lho Pereira e Frederico Duarte Gomes Tostes demonstra como um

conteuacutedo histoacuterico que data na origem dos tempos do feudalismo

pode adquirir um sentido e um significado humanamente elevado

pelo entendimento compreensatildeo e elaboraccedilatildeo de novas possibilidashy

des de accedilatildeo No trato com o conteuacutedo das atividades circenses no

texto intitulado ldquoO lugar e hora do circo na escola reflexatildeo sobre

a reinvenccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircneardquo os

autores demonstram o criteacuterio da rigorosidade e seriedade cientiacutefica

para tratar de um conteuacutedo da cultura que nos permite conhecer

compreender explicar e criar possibilidades riquiacutessimas de atividashy

des culturais com sentido e significado humanizante

Prezados leitores ressalto que esta obra eacute singular relevante e

vital porque como dizem os autores em um dos textos ldquoEm tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas as esferas da vida a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda maior Epreciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabalhadora construshyamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contribuindo para a desmistifiacutecaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta rdquo

12

tivos de Autores no Brasil e quiccedilaacute na Ameacuterica Latina que de norte

a sul de leste a oeste estatildeo recuperando desenvolvendo utilizanshy

do outros paracircmetros teoacutericos-metodoloacutegicos sintonizados com oushy

tro projeto histoacuterico superador agrave loacutegica do capital e portanto com a

perspectiva de formaccedilatildeo humana emancipatoacuteria significando isto a

superaccedilatildeo da sociedade de classes

Com esta obra juntamente com outras de igual propoacutesito

consolida-se no Brasil uma Educaccedilatildeo Fiacutesica de base marxista Cons-

troi-se assim tambeacutem pela via do trabalho pedagoacutegico a subjetivishy

dade humana visto que as condiccedilotildees objetivas para a revoluccedilatildeo jaacute

estatildeo postas faltam as condiccedilotildees subjetivas As forccedilas produtivas

deixaram de crescer e estatildeo em franca destruiccedilatildeo A isto reage este

jovem COLETIVO DE AUTORES que nos alenta a seguirmos

perseguindo em tempos de transiccedilatildeo um outro modo de produccedilatildeo

da vida Que todas as crianccedilas jovens e adultos das escolas puacuteblishy

cas na cidade e no campo tenham garantida esta qualidade aqui

demonstrada no ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica

Celi Nelza Zuumllke Tajfarel

(Universidade Federal da Bahia - UFBA)

INTRODUCcedilAtildeO

LIMITES E POSSIBILIDADES DA DISCUSSAtildeO SOBRE DIDAacuteTICA DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA

Adriano de Paiva Reis

Carla Cristina Carvalho Pereira

Hajime Takeuchi Nozaki

Leonardo Docena Pina

Renata Aparecida Alves Landim

Por mais de um seacuteculo a histoacuteria da

Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar

foi marcada por sua caracterizaccedilatildeo como uma

atividade cujo objetivo central era promover

0 desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica dos indishy

viacuteduos A partir do final da deacutecada de 1970

acompanhando um amplo movimento de luta

pela redemocratizaccedilatildeo da sociedade brasileira

assistimos a um periacuteodo de denuacutencias sobre o

atrelamento da aacuterea a uma concepccedilatildeo exclushy

sivamente bioloacutegica de homemmovimento

que cumpria um papel conservador no que

tange agraves relaccedilotildees sociais

Apoacutes esse periacuteodo de criacuteticas sobretudo

ao final dos anos de 1980 e iniacutecio dos anos

de 1 990 comeccedilam a surgir novas propostas

para a Educaccedilatildeo Fiacutesica definindo princiacutepios

identificadores de uma nova praacutetica pedashy

goacutegica Desde entatildeo podemos evidenciar

diversos avanccedilos no sentido da construccedilatildeo

di Educaccedilatildeo Fiacutesica como componente cur-

liiulnr tanto no plano da legislaccedilatildeo e das

01 ieniaccedilotildees educacionais como no plano das

propostas construiacutedas e implementadas em diversas redes de ensino

pelo paiacutes Mas no que pese todo esse avanccedilo produzido a crise no campo teoacuterico (FRIGOTTO 2001) acabou por influenciar a redefishy

niccedilatildeo das propostas pedagoacutegicas criacuteticas da aacuterea que passaram a ser

consideradas muitas vezes insuficientes inadequadas e ateacute mesmo

ultrapassadas para atender agraves supostas demandas de um novo mundoConsiderando que os fundamentos centrais da sociedade na qual

vivemos se mantecircm presentes ainda hoje embora com bases renovashy

das compreendemos que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas

ainda possuem um papel a cumprir qual seja o de contribuir para a

superaccedilatildeo do capitalismo - e de todas as formas de opressatildeo que se

intensificam nesse modo de produccedilatildeo da existecircncia humana1

Nessa linha reconhecemos que a perspectiva da reflexatildeo criacutetica soshybre a cultura corporal (COLETIVO DE AUTORES 1992)2 tambeacutem

conhecida como ldquoabordagem Criacutetico-superadorardquo foi um marco mdash e

ainda se manteacutem como referecircncia mais desenvolvida mdash para a Educashy

ccedilatildeo Fiacutesica uma vez que ao se fundamentar na Pedagogia histoacuterico-

-criacutetica articulou esse componente curricular ao que haacute de mais avanshy

ccedilado no debate sobre o papel da escola sendo capaz de entrelaccedilar a

formaccedilatildeo humana aos interesses e necessidades da classe trabalhadora

A partir da delimitaccedilatildeo de uma aacuterea de conhecimento denominada

de cultura corporal essa perspectiva definiu a Educaccedilatildeo Fiacutesica como

disciplina responsaacutevel por promover na escola uma tematizaccedilatildeo soshy

bre a relaccedilatildeo dos grandes problemas sociais contemporacircneos com os

conteuacutedos jogos danccedilas lutas ginaacutestica esporte malabarismo con-

torcionismo miacutemica e outros (COLETIVO DE AUTORES 1992)

A transmissatildeo dos conhecimentos historicamente acumulados sobre

a cultura corporal define a especificidade pedagoacutegica da Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica sua presenccedila na escola justifica-se por socializar um saber que

1 Adotamos a classificaccedilatildeo das pedagogias - em criacuteticas e natildeo criacuteticas - elaboradas por Saviani

(2006)

2 Tendo em visra o processo histoacuterico que envolveu a elaboraccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do livro

Metodologia do Ensino da Educaccedilatildeo Coletivo de Autores foi o termo adotado originalmente

para designar sua autoria expressando um sentido poliacutetico e o esforccedilo de ratificar o caraacuteter

coletivo e o projeto histoacuterico com o qual a obra estava articulada no contexto de sua

publicaccedilatildeo pela editora Cortez em 1992

16

natildeo eacute transmitido pelas demais disciplinas mas que se constitui como

elemento essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade

Apesar do avanccedilo teoacuterico promovido pelas recentes discussotildees

sobre a Pedagogia histoacuterico-criacutetica e a metodologia Criacutetico-supera-

dora deparamo-nos com inuacutemeros depoimentos de professores da

educaccedilatildeo baacutesica sobre a dificuldade de organizarplanejarsistematishy

zar o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo

criacutetica sobre a cultura corporal Aleacutem das criacuteticas aos cursos de forshy

maccedilatildeo de professores da aacuterea muitas vezes voltados aos campos natildeo

escolares de atuaccedilatildeo e subordinados agrave dimensatildeo predominantemenshy

te bioloacutegica de ser humano os professores tecircm se queixado da falta

de referecircncias concretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas

com os diversos conteuacutedos da cultura corporal3

A constataccedilatildeo desses problemas e desafios impulsionou a organishy

zaccedilatildeo de um grupo - composto predominantemente por professores

da rede puacuteblica municipal de Juiz de Fora mdash com o objetivo de amshy

pliar os conhecimentos a respeito da metodologia Criacutetico-superadora

aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal Hoje o grupo eacute

formado por cerca de vinte professores e conta com assessoria de dois

docentes da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz

de Fora4 os quais tecircm dialogado conosco ao longo do processo

Sem viacutenculo institucional nem apoio financeiro para pesshy

quisa o grupo tem se dedicado agrave realizaccedilatildeo de estudos pesquisas

e experiecircncias voltadas ao aprimoramento de nossa praacutetica pedashy

goacutegica na escola Apoacutes dois anos de trabalho conjunto sentimos

a necessidade de dar um passo a mais qual seja o de iniciar a soshy

cializaccedilatildeo das experiecircncias pedagoacutegicas desenvolvidas nas escolas

municipais de Juiz de Fora A elaboraccedilatildeo dessa obra surgiu porshy

tanto a partir da necessidade de ampliar nossos conhecimentos

sobre os conteuacutedos da cultura corporal e suas possibilidades de

abordagem metodoloacutegica na escola A constituiccedilatildeo de um grupo

envolvendo professores da rede puacuteblica municipal e federal pershy

3 A respeito da problemaacutetica referente agrave formaccedilatildeo de professores no contexto atual

sugerimos a leitura dos estudos de Costa (2009) Arce (2000) e Teixeira (2009)

4 Estamos nos referindo aos professores Aacutelvaro de Azeredo Quelhas e Andreacute Silva Martins

mitiu o estudo debate e sistematizaccedilatildeo de experiecircncias pedagoacuteshy

gicas desenvolvidas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Consideramos que a divulgaccedilatildeo dessas experiecircncias pode

constituir-se como instrumento para o aprimoramento da praacutetica

pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo soacute porque socializa os planos

de unidade desenvolvidos juntamente com textos de fundamenshy

taccedilatildeo teoacuterica de cada conteuacutedo trabalhado mas tambeacutem porque

contribui para que outros professores se insiram no debate consshy

truam novas experiecircncias eou discutam novas possibilidades

E importante destacar que ao reconhecermos a importacircncia do

debate sobre a didaacutetica para o aprimoramento do trabalho pedagoacutegishy

co nas escolas natildeo o consideramos suficiente para resolver o problema

do ensino na Educaccedilatildeo Fiacutesica Ou seja nossa iniciativa embora seja

importante e necessaacuteria natildeo tem a pretensatildeo nem a capacidade de

resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Aleacutem das limitaccedilotildees que envolvem muitos cursos de formaccedilatildeo

de professores encontramos outras determinaccedilotildees que acabam por

contribuir para que a escola natildeo cumpra seu papel de transmissatildeo do

conhecimento Embora natildeo sejamos capazes de reunir neste artigo

todos os problemas encontrados em grande parte das escolas da rede

puacuteblica municipal de ensino faz-se necessaacuterio destacar em linhas geshy

rais que as condiccedilotildees de vida (e de trabalho) de grande parte dos

professores e alunos natildeo satildeo muito favoraacuteveis Soma-se a isso o fato

de que as estruturas fiacutesicas precaacuterias recursos materiais insuficientes

grande nuacutemero de alunos por turmas e pouco reconhecimento profisshy

sional tendem a dificultar ainda mais o desenvolvimento do trabalho

do prazer e da vontade de lecionar Tambeacutem natildeo podemos deixar de

destacar que em muitos casos a Educaccedilatildeo Fiacutesica assume o posto de

disciplina de segundo escalatildeo sobretudo nas escolas de Educaccedilatildeo Inshy

fantil e dos anos iniciais do ensino fundamental onde os professores

de Educaccedilatildeo Fiacutesica Artes e Muacutesica por exemplo dificilmente partishy

cipam do conselho de classe o que evidencia a (des)valorizaccedilatildeo de sua

atividade docente na escola frente outras disciplinas como Portuguecircs

e Matemaacutetica consideradas mais importantes sob a oacutetica do capital

18

Consideramos que o professor mdash das diferentes aacutereas do conhecimento

- tem o papel de transmitir o conhecimento cientiacutefico artiacutestico e filosoacutefico

aos alunos mas natildeo compreendemos que sua funccedilatildeo possa ser tatildeo facilshy

mente exercida como supotildeem os defensores do neoprodutivismo para os

quais se espera que o docente exerccedila todo um conjunto de funccedilotildees com o

maacuteximo de produtividade e o miacutenimo de dispecircndio isto eacute com modestos

salaacuterios5 Compreendemos conforme destaca Saviani (2011) que se o proshy

fessor fosse bem remunerado no acircmbito de uma carreira docente que lhe

garantisse jornada integral em uma uacutenica escola ele poderia exercer sem

maiores problemas muitas funccedilotildees a ele atribuiacutedas Mas natildeo eacute esse o caso

Analisando a precarizaccedilatildeo do trabalho do professor Costa (2009)

evidencia que as consequecircncias da alienaccedilatildeo na atividade docente natildeo

se restringem ao ensino e a aprendizagem mas envolvem a proacutepria vida

do professor A autora constata que o processo de alienaccedilatildeo constroacutei

uma relaccedilatildeo professoresalunos distorcida em que os

segundos passam a imputar aos professores o tratamenshy

to que deveriam dar aos reais representantes da violecircnshy

cia do Estado burguecircs que os tem oprimido durante

toda a sua trajetoacuteria escolar E os professores passam

a ver os alunos como aqueles que materializam a falta

de respeito e o desprestiacutegio da categoria profissional na

sociedade nas manifestaccedilotildees de falta de respeito e ateacute

mesmo a violecircncia (COSTA 2009 p 72)

Natildeo obstante a alienaccedilatildeo do trabalho do professor ainda

gera desumanizaccedilatildeo o mais violento de todos os aspectos Conshy

forme afirma Costa (2009) o professor nem sempre tem a opccedilatildeo

de buscar outras formas para suprir sua subsistecircncia

Os seres humanos submetidos agrave alienaccedilatildeo mesmo vivenshy

do o sofrimento no trabalho o desgaste fiacutesico e mental a

dilapidaccedilatildeo moral ainda assim permanecem em relaccedilotildees

de trabalho destrutivas ateacute esgotarem os limites de suas

capacidades ou ateacute serem descartados pelo capital Nesse

momento em geral as consequecircncias vividas pelo trabalho

jaacute satildeo irreversiacuteveis Embora experimente a deterioraccedilatildeo de

sua sauacutede a negaccedilatildeo da natureza formativa da educaccedilatildeo

presente todos ograves dias nas ingerecircncias das mantenedoras e

5 Sobre o neoprodutivismo na educaccedilatildeo escolar brasileira conferir Saviani (2011)

do Estado na sua atividade laborai o professor natildeo pode

se furtar ao trabalho como meio de subsistecircncia devido agrave

sua dependecircncia total da vida urbana e do consumo que

ela impoacutee assim como ocorre com todas as outras categoshy

rias do proletariado (COSTA 2009 p 76-77)

Ao abordar essas reflexotildees buscamos explicitar nossa discordacircncia em

relaccedilatildeo agraves perspectivas ideoloacutegicas predominantes defensoras da ideia de

que o ecircxito da escola e da poliacutetica educacional que a orienta depende apenas

da iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores Atualmente fala-se muito no proshy

fessor como protagonista da mudanccedila mas natildeo lhe satildeo oferecidas muitas

condiccedilotildees para isso Defende-se que o professor assuma uma postura inoshy

vadora desenvolva praacuteticas de ensino renovadas busque o conhecimento

produzido ainda que as condiccedilotildees sejam muito desfavoraacuteveis para tanto

Conforme alerta Duarte (2006) a ideia comumente defendida pelos meios

de comunicaccedilatildeo eacute a de que o professor deve ser ldquogente que fazrdquo

Naacuteo eacute mero acaso que atualmente seja taacuteo difundido em

educaccedilatildeo o discurso voltado para as caracteriacutesticas definishy

doras de um bom professor de um professor que reflete

sobre sua praacutetica e realiza um trabalho de qualidade messhy

mo em condiccedilotildees adversas Uma variante desse discurso eacute

aquela em que em vez de falar-se de um professor que eacute

gente que faz fala-se de uma escola em que os professores

coletivamente de preferecircncia de matildeos dadas com a comushy

nidade transformam em exemplo de sucesso escolar Em

nome da superaccedilatildeo dos discursos imobilistas eacute adotado

um discurso no qual a passagem do fracasso ao sucesso

torna-se uma questatildeo de forccedila de vontade de alguns indishy

viacuteduos ou melhor de um coletivo de uma comunidade

O resultado ideoloacutegico pretendido ou natildeo eacute bastante

claro o descompromisso do Estado a despolitizaccedilatildeo dos

problemas educacionais e a abdicaccedilatildeo do ideal de lutar por

uma transformaccedilatildeo radical da sociedade pela superaccedilatildeo

do capitalismo e pela construccedilatildeo de uma sociedade sociashy

lista A saiacuteda passa a ser a das soluccedilotildees locais comunitaacuterias

individuais (DUARTE 2006 p 141)

Feitas essas consideraccedilotildees sintetizamos nossa compreensatildeo soshy

bre os limites da discussatildeo didaacutetica que apresentamos neste livro

Trata-se de uma discussatildeo insuficiente se considerarmos o problema

da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica em sua radicalidade mas ao mesmo

20

tempo importante uma vez que pode ampliar as possibilidades de

transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica

O presente livro organizado numa perspectiva de unidade realiza

nos dois primeiros artigos uma discussatildeo de caraacuteter mais geral sobre a

funccedilatildeoespecificidade da escola e da Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemshy

poracircneo Os demais artigos abordam possibilidades de desenvolvimento

de praacuteticas pedagoacutegicas com temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos

da cultura corporal circo lutas ginaacutestica danccedila jogos e esporte

As experiecircncias pedagoacutegicas apresentadas foram desenvolvidas

com a segunda etapa do Ensino Fundamental e com o Ensino Meacuteshy

dio mas obviamente podem sofrer adaptaccedilotildees para serem tratadas

em outros niacuteveis de ensino Os artigos que tratam dos conteuacutedos da

cultura corporal nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica foram redigidos em subshy

grupos de autores coordenados pelos organizadores da obra e ao final

do processo todos os artigos foram lidos e discutidos coletivamente

Apesar de consideramos a capoeira como um conteuacutedo esshy

peciacutefico e importante da cultura corporal ela natildeo foi abordada

neste livro devido aos limites espaciais e temporais para conclushy

satildeo da obra No nosso planejamento inicial constava um artigo

especiacutefico para abordar esse conteuacutedo poreacutem com o andamento

do estudo constatamos que natildeo teriacuteamos tempo suficiente para

ibordaacute-lo Assim fazemos questatildeo de destacar que assumimos a

iiiscncia da capoeira como uma diacutevida e reafirmamos a necessida-

ilr de abordaacute-la em publicaccedilotildees e debates posteriores

( )s temas selecionados buscaram relacionar os conteuacutedos da cultura

iniporal a problemas sociais presentes na praacutetica social dos alunos bus-

i nulo ultrapassar a simples praacutetica pela praacutetica e promover uma reflexatildeo

i tiacutetii a sobre o modo como os jogos as lutas as danccedilas os esportes os

ru iacutecios ginaacutesticos as atividades circenses se expressam em nosso temshy

po I Vsse modo uma questatildeo que atravessou todos os planos de unidade

i i sltnuinte como a cultura corporal patrimocircnio da humanidade tem

I bull ipKgtpriada e subordinada agrave dinacircmica do consumo capitalista

Irsquooi iacuteim gostariacuteamos de registrar nossos agradecimentos pela

i pouibilizaccedilatildeo dos recursos para a publicaccedilatildeo desta ediccedilatildeo do

livro por meio do Fundo de Apoio agrave Pesquisa na Educaccedilatildeo Baacutesica

- FAPEB mdash da Prefeitura de Juiz de Fora A busca de um financiashy

mento puacuteblico e a distribuiccedilatildeo gratuita dessa obra estaacute relacionada

agrave nossa perspectiva de produccedilatildeoapropriaccedilatildeo coletiva do conhecishy

mento Agradecemos ainda a todos os professores e alunos que

estiveram envolvidos na realizaccedilatildeo desse projeto permitindo divishy

dir experiecircncias e construir conhecimentos que agora socializamos

neste livro

Referecircncias

ARCE A A formaccedilatildeo de professores sob a oacutetica construtivista primeiras aproximashy

ccedilotildees e alguns questionamentos In DUARTE N (org) Sobre o construti-

vismo Campinas Autores Associados 2000

COLETIVO DE AU 1ORES Metodologia do ensino de Educaccedilatildeo Fiacutesica Satildeo

Paulo Cortez 1992

COSTA A Entre a dilapidaccedilatildeo moral e a missatildeo redentorista o processo de alienashy

ccedilatildeo no trabalho dos professores do ensino baacutesico brasileiro In COSTA A

NETO E SOUZA G (Org) A proletarizaccedilatildeo do professor neoliberalis-

mo na educaccedilatildeo 2 ed Satildeo Paulo Sundermann 2009 p 59-100

DUARTE N Vigotski e o ldquoaprendera aprenderrdquo apropriaccedilotildees neoliberais e poacutes-

-modernas da teoria vigotskiana 4 ed Campinas Autores Associados 2006

FRIGOTTO G A nova e a velha faces da crise do capital e o labirinto dos reshy

ferenciais teoacutericos In FRIGOTTO G CIAVATTA M (Org) Teoria e

educaccedilaacuteo no labirinto do capital 2 ed Petroacutepolis Vozes 2001 p 23-50

SAVIANI D Escola e democracia 38 ed Campinas Autores Associados 2006

_______ Histoacuteria das ideias pedagoacutegicas no Brasil 3 ed Campinas Autores

Associados 2011

TEIXEIRA L A poliacutetica de formaccedilatildeo docente no Brasil fundamentos teoacutericos

e epistemoloacutegicos In Reuniatildeo Anual da ANPED 32 2009 Caxambu

Anais Caxambu ANPED 2009 p 1-17

CAPIacuteTULO I

SOBRE A FUNCcedilAtildeO E ESPECIFICIDADE DA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR NO M UNDO CONTEMPORAcircNEO

Andreacute Silva Martins

O presente capiacutetulo tem por objetivo apreshy

sentar uma reflexatildeo sobre a funccedilatildeo e especificishy

dade da educaccedilatildeo escolar na atualidade Nossa

intenccedilatildeo mais ampla eacute problematizar as perspecshy

tivas relacionadas agrave funccedilatildeo social da escola e sua

especificidade no processo de formaccedilatildeo humashy

na procurando indicar uma alternativa poliacutetico-

-pedagoacutegica aos discursos e praacuteticas dominantes

As questotildees que orientam nossa reflexatildeo

podem ser assim descritas Qual a funccedilatildeo

social da instituiccedilatildeo escolar na atualidade

A instituiccedilatildeo escolar possui uma especificishy

dade frente os demais processos formativos

de nossa sociedade Quais satildeo os desafios da

Escola Puacuteblica brasileira no seacuteculo XXI

Para responder estas questotildees organizashy

mos o texto em trecircs partes Na primeira busshy

camos recuperar a gecircnese da instituiccedilatildeo escoshy

lar e sua especificidade no processo formativo

Em seguida realizamos uma anaacutelise sobre duas

concepccedilotildees que vecircm orientando a definiccedilatildeo da

finalidade da educaccedilatildeo escolar Por fim com

base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica apresentashy

mos uma siacutentese do que pode vir a ser a insshy

tituiccedilatildeo escolar na atualidade tendo em vista

os interesses da ampla maioria da populaccedilatildeo

Nossa expectativa eacute contribuir para as reflexotildees sobre o tema e oferecer

elementos para a compreensatildeo criacutetica da funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar

Sobre a gecircnese da instituiccedilatildeo escolar

A escola eacute uma instituiccedilatildeo social relativamente nova que se

consolidou e se popularizou a partir do processo de intensificaccedilatildeo

da complexidade da vida social gerada pelas mudanccedilas nas relaccedilotildees

sociais envolvendo o crescimento da urbanizaccedilatildeo e desenvolvimenshy

to do industrialismo sobre as formas tradicionais de estruturaccedilatildeo de

poder e de redefiniccedilatildeo das bases de produccedilatildeo material e simboacutelica

vinculadas agrave existecircncia humana Isso significa que a instituiccedilatildeo esshy

colar surge como expressatildeo cultural de um tempo histoacuterico com a

finalidade de assegurar uma especificidade na formaccedilatildeo humana

Antes da existecircncia da escola nas sociedades tradicionais os proshy

cessos formativos se realizavam diretamente nas dinacircmicas de constishy

tuiccedilatildeo da vida natildeo requerendo maiores exigecircncias muito menos ritos

formais para sua ocorrecircncia No cotidiano as trocas de conhecimentos

gerados pela experiecircncia geracional ou pela vida cotidiana de uma dada

comunidade constituiacuteam a base dos processos formativos necessaacuterios agrave

construccedilatildeo da vida A educaccedilatildeo fluiacutea nas dinacircmicas de trabalhovida

sem delimitaccedilotildees mais precisas de tempo e espaccedilo A experiecircncia e a

informalidade se constituiacuteam como referecircncias dos processos formatishy

vos Nessa dinacircmica o domiacutenio de conhecimentos sistematizados era

dispensaacutevel ao homem comum A formaccedilatildeo intelectual era restrita aos

pequenos grupos que atuavam em funccedilotildees administrativas e clericais

Quando muito com raras exceccedilotildees o acesso do povo aos rudimentos

da leitura e da escrita ficava circunscrito agraves iniciativas isoladas princishy

palmente a cargo de ordens religiosas que reforccedilavam a manutenccedilatildeo da

ordem estabelecida (FERREIRA 2001) ou a grupos de artesatildeos preoshy

cupados com a organizaccedilatildeo da produccedilatildeo (ENGUITA 1989)

O processo social poliacutetico e econocircmico de ruptura com a trashy

diccedilatildeo feudal protagonizada pela classe burguesa nas sociedades eushy

ropeias produziu novas determinaccedilotildees para que a formaccedilatildeo humana

ultrapassasse as referecircncias educativas precedentes Em outras pala-

24

vras a dinacircmica social emergente apresentava os primeiros sinais de

que a experiecircncia e a informalidade ofereciam sinais de esgotamenshy

to isso porque estavam em curso novas exigecircncias para organizar a

vida social e os meios necessaacuterios agrave sua existecircncia

A valorizaccedilatildeo do chamado ldquohomem-livrerdquo a ideia de progresso as

formas emergentes de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de mercadorias e a defesa da

propriedade privada no centro da vida social que foram sendo consolidadas

apoacutes as revoluccedilotildees burguesas exigiam novas referecircncias educativas Na conshy

cepccedilatildeo da classe emergente a massa populacional disforme e sem identishy

dade poliacutetico-ideoloacutegica precisava ser preparada para ocupar o seu lugar na

nova ordem a partir de novas regras sociais de vida e trabalho A imagem do

atraso representado pelo camponecircs isolado e restrito ao espaccedilo rural precishy

sava ser substituiacuteda pela simbologia do progresso representada pelo homem

urbano - trabalhador ldquolivrerdquo Organizado na cidade envolvido nas relaccedilotildees

comerciais de novo tipo e envolvido na passagem da oficina para manufashy

tura e desta para a induacutestria nascente o ldquonovo homemrdquo deveria ser disciplishy

nado socialmente para compreender os novos coacutedigos culturais Se para os

adultos da classe trabalhadora a vida urbana continha os elementos educashy

tivos da disciplina social capitalista principalmente os de caraacuteter repressivo

a educaccedilatildeo das crianccedilas urbanas para a vida social exigia um pouco mais O

surgimento da escola de massas tem suas origens vinculadas a esse processo

de longa duraccedilatildeo confirmada na consolidaccedilatildeo do periacuteodo histoacuterico denoshy

minado de modernidade A especificidade da escola residia na compreenshy

satildeo de que algo a mais deveria ser oferecido ultrapassando as experiecircncias

educativas realizadas pela famiacutelia pelas religiotildees pela convivecircncia

Em ritmos diversos a expansatildeo da instituiccedilatildeo escolar puacutebli-

1 foi se tornando uma realidade nas formaccedilotildees sociais em geral

viabilizada por meio do Estado capitalista Aleacutem da escolarizaccedilatildeo

obrigatoacuteria com extensatildeo restrita foram sendo instituiacutedas bases

rei ais para o ensino realizado na escola puacuteblica de massas O do-

miacutenkrdos rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo passou a

laei parte da formaccedilatildeo do trabalhador urbano O desafio era for-

1 1 1 i eorporcidade infantil (o sentirpensaragir) desde cedo dentro

ilo ideal do ldquohomem novordquo

As teacutecnicas de ensino e de controle bem como a organizaccedilatildeo do

espaccedilo e das rotinas marcaram a constituiccedilatildeo da escola moderna Sem

elidir outros processos educativos a instituiccedilatildeo escolar foi se tornando

importante instrumento do processo civilizatoacuterio capitalista

Enquanto a escola de massas assumiu a educaccedilatildeo das crianccedilas da

classe trabalhadora para o exerciacutecio da submissatildeo intelectual e moral

formando o cidadatildeo-trabalhador produtivo da modernidade outro tipo

de escola foi assegurado para a preparaccedilatildeo ampla de grupos de crianccedilas

e adolescentes da classe burguesa As distinccedilotildees fundamentais do proshy

cesso formativo dos dirigentes e dirigidos se expressaram no tempo de

escolarizaccedilatildeo no espaccedilo destinado agraves praacuteticas educativas bem como na

quantidade-qualidade de acesso aos conhecimentos sistematizados Inshy

distintamente a racionalizaccedilatildeo do processo pedagoacutegico buscou responshy

der agraves especificidades do papel econocircmico-poliacutetico das classes sociais

tendo como referecircncia a dinacircmica da vida urbano-industrial1 e a necesshy

sidade dos coacutedigos culturais Vale lembrar que o princiacutepio do dualismo

educacional jaacute havia sido traccedilado por John Locke no seacuteculo XVII antes

mesmo do advento da escolarizaccedilatildeo de massas (ENGUITA 1989)

Mesmo oferecendo um acesso restrito ao conhecimento sisshy

tematizado e assegurando uma formaccedilatildeo intelectual e moral para

a submissatildeo a escola para os trabalhadores foi sendo consolidada

nas formaccedilotildees sociais capitalistas a partir do reconhecimento de

sua contribuiccedilatildeo especiacutefica dentro do processo educativo mais

amplo Embora este processo tenha se dado em ritmo variado -

dependendo do reconhecimento da classe dominante sobre a im shy

portacircncia da ampliaccedilatildeo do domiacutenio dos coacutedigos culturais e das

lutas travadas em torno do acesso agrave educaccedilatildeo - a escola foi sendo

legitimada por sua especificidade educativa Sobre este processo

mais geral Ferreira (2001 p 193) observa que

Chegados agrave transiccedilatildeo do seacuteculo X IX para o seacutecushy

lo XX a burguesia sustenta e participa do poder

1 Enquanto a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo infantil da classe trabalhadora das cidades passou a

ser ordenada pelo menos enquanto tendecircncia em edificaccedilotildees projetadas para tal fim pela

adoccedilatildeo de turmas seriadas por programas bem definidos e com professores treinados a

educaccedilatildeo no campo ainda que concentrando boa parcela das crianccedilas seguiu marcada

pelo improviso de instalaccedilotildees de recursos didaacuteticos e de pessoal

mas hesita entre a cultura do passado e a dinacircmica

imposta pelo progresso A burguesia sabe por exshy

periecircncia proacutepria que nada eacute definitivo e uniforshy

me Mas tambeacutem sabe que a sociedade burguesa

precisa de ordem e estabilidade e que os interesshy

ses divergentes que encerra podem arruinaacute-la Ela

precisa por isso estar bem informada para agir

em conformidade com o momento Necessita soshy

bretudo de dominar os saberes que lhe asseguram

a administraccedilatildeo do poder Ela sabe que a compeshy

tecircncia eacute a qualidade chave do sucesso A escola

tem sido fundamentalmente uma instituiccedilatildeo cara

agrave burguesia Isso natildeo significa que natildeo tenha sido

uacutetil a outras forccedilas sociais e que natildeo tenha servido

interesses contraacuterios aos dos burgueses

A histoacuteria da escolarizaccedilatildeo na formaccedilatildeo social brasileira seshy

guiu pelo menos enquanto tendecircncia o movimento educacional

das formaccedilotildees capitalistas centrais No entanto considerando

que o Brasil foi palco de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo tardia sob

mediaccedilatildeo de uma revoluccedilatildeo burguesa de tipo natildeo-claacutessica (FERshy

NANDES 1976) explicada pelo conceito de revoluccedilatildeo passiva

(GRAMSCI 1999) e que isto resultou numa inserccedilatildeo subordinashy

da do paiacutes no cenaacuterio internacional eacute possiacutevel afirmar que a escola

puacuteblica de massas expressou em sua particularidade e com contrashy

diccedilotildees a opccedilatildeo poliacutetica da classe dominante brasileira

Basta considerar que enquanto os paiacuteses centrais jaacute haviam

avanccedilado no movimento de universalizaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo baacutesica

ainda no seacuteculo XIX no Brasil ao longo do seacuteculo XX predomishy

nou um processo restritivo de acesso dos trabalhadores agrave educaccedilatildeo

escolar Os que escaparam do analfabetismo em geral encontraram

barreiras objetivas para concluir o que denominamos hoje de Enshy

sino Fundamental Foi somente no limiar do seacuteculo XXI que este

niacutevel de escolarizaccedilatildeo foi universalizado2

2 O atraso educacional brasileiro pode ser explicitado nas questotildees legais que envolvem o Ensino

Meacutedio A Constituiccedilatildeo de 1988 - chamada por muitos de ldquoConstituiccedilatildeo Cidadatilderdquo - estabeleceu

no artigo 208 inciso II ldquoprogressiva extensatildeo de obrigatoriedade e gratuidade do ensino meacutediordquo

mesmo diante dos sinais de mudanccedilas poliacuteticas e econocircmicas significativas no mundo capitalista

O Ensino Meacutedio foi projetado para poucos naquele contexto Somente em 2009 por meio da

Emenda Constitucional ndeg 59 este niacutevel de ensino se tornou obrigatoacuterio no paiacutes

w avanccedilo lento e restritivo da escolarizaccedilatildeo brasileira foi resultado

das relaccedilotildees de poder travadas ao longo do seacuteculo XX mediadas pelas

relaccedilotildees de produccedilatildeo Predominava na classe dominante a compreenshy

satildeo de que o acesso agrave educaccedilatildeo deveria ser programado para atender o

miacutenimo necessaacuterio ao padratildeo de qualificaccedilatildeo exigido pela dinacircmica da

sociedade urbano-industrial em seu desenvolvimento tecnoloacutegico e exishy

gecircncias poliacuteticas e ideoloacutegicas Esse posicionamento contrastava com as

lutas operaacuterias do iniacutecio do seacuteculo XX que reivindicavam acesso agrave edushy

caccedilatildeo puacuteblica e com a manifestaccedilatildeo dos signataacuterios do ldquoManifesto dos

Pioneiros da Educaccedilatildeordquo de 1932 que reivindicava uma escola puacuteblica

de qualidade para todos Contudo na correlaccedilatildeo de forccedilas e consideshy

rando a dinacircmica das relaccedilotildees de produccedilatildeo para a grande maioria o

acesso ao conhecimento sistematizado natildeo ultrapassou o domiacutenio dos

rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo A ideia de que a escolashy

rizaccedilatildeo deveria se constituir num patrimocircnio de poucos predominou

Em que pesem o atraso educacional e as restriccedilotildees de acesso

agrave escola puacuteblica a historiografia da educaccedilatildeo brasileira por reshy

cortes e bases epistemoloacutegicas distintas apresenta fartos elemenshy

tos que demonstram a ligaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar e projeto

civilizatoacuterio conduzido pela classe dominante no paiacutes desde o

iniacutecio do seacuteculo XX confirmando a especificidade da instituiccedilatildeo

escolar no processo de formaccedilatildeo humana

Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar as concepccedilotildees dominantes

Apesar do reconhecimento social sobre a importacircncia e esshy

pecificidade da instituiccedilatildeo escolar no processo educativo mais

amplo eacute necessaacuterio observar que existem divergecircncias quanto agrave

finalidade da educaccedilatildeo escolar Para enfrentar esta questatildeo opshy

tamos por um recorte de duas das mais relevantes formulaccedilotildees

contemporacircneas sobre o tema Nossa opccedilatildeo metodoloacutegica conshy

siste na caracterizaccedilatildeo e anaacutelise das concepccedilotildees procurando evishy

denciar suas implicaccedilotildees para a formaccedilatildeo humana

28

Concepccedilatildeo 1 A finalidade da educaccedilatildeo escolar eacute preparar recursos humanos para impulsionar o desenvolvimento econocircmico

Esta formulaccedilatildeo foi apresentada no cenaacuterio brasileiro nos anos

de 1970 no contexto do regime ditatorial viabilizado pelo golpe em-

presarial-militar de 1964 Traduzindo uma teoria surgida nos Estados

Unidos o bloco no poder do regime ditatorial e seus intelectuais se

encarregaram de viabilizar que os principais enunciados da teoria esshy

tadunidense fossem veiculados para ordenar a funccedilatildeo da escola a parshy

tir da redefiniccedilatildeo da poliacutetica de educaccedilatildeo da legislaccedilatildeo educacional

da organizaccedilatildeo curricular e das praacuteticas pedagoacutegicas A grande meta

era subordinar a educaccedilatildeo escolar ao projeto de desenvolvimento ecoshy

nocircmico Mas o que significa estabelecer que a funccedilatildeo da escola eacute conshy

tribuir para o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes

A teoria acima referida foi sistematizada porTeodoro Schultz

(1963 1971) Parte da premissa de que o conceito de ldquocapitalrdquo se

refere natildeo soacute agraves coisas materiais mas tambeacutem aos seres humanos

Schultz se refere agraves habilidades adquiridas principalmente pela

educaccedilatildeo escolar que interferem na atividade produtiva O conheshy

cimento c as habilidades teacutecnicas seriam expressotildees particulares de

ldquocapitalrdquo uma vez que se vinculam ao aumento da capacidade de

produccedilatildeo A preocupaccedilatildeo do autor com o alargamento do conceishy

to de capital se vincula agrave busca por compreender os diferenciais de

produtividade gerados pelo esforccedilo humano O resultado de sua

formulaccedilatildeo foi denominado de ldquocapital humanordquo

A ampliaccedilatildeo do conceito de capital proposto por Schultz reafirma

a tese da economia poliacutetica burguesa de que todos indistintamente

satildeo capitalistas a diferenccedila baacutesica seria a seguinte uns satildeo possuidores

dos meios de produccedilatildeo e outros da forccedila de trabalho Explicitando o

significado de sua teoria Schultz (1963 p 12-13) afirma que

A recusa em considerar as habilidades adquiridas

pelo homem (habilidades que ampliaram a proshy

dutividade econocircmica desse homem) como uma

forma de capital como bens produzidos da pro-

duccedilatildeo como resultado de um investimento tem

estimulado o conceito restritivo patentemente

errocircneo de que o trabalho prescinde do capital

e de que somente importa o nuacutemero de homens-

-hora [] Os trabalhadores vecircm-se tornando cashy

pitalistas no sentido de que tecircm adquirido muito

conhecimento e diversas habilidades que represhy

sentam valor econocircmico

Na esteira dessa intrigante formulaccedilatildeo Schultz procurou afirmar

que a importacircncia da escolarizaccedilatildeo residia precisamente em ldquovalor

econocircmicordquo Investimentos em educaccedilatildeo resultariam no aumento de

capital humano e na consequente elevaccedilatildeo das taxas de lucro A teoria

do capital humano considera que a educaccedilatildeo deve ser planejada como

fator de desenvolvimento econocircmico e natildeo como direito social

A proposiccedilatildeo consiste em relacionar o ser humano no mesmo

patamar de instrumentos utilizados na produccedilatildeo capitalista Nessa

linha a esquematizaccedilatildeo teoacuterica atestava que a elevaccedilatildeo da escolashy

ridade de um povo ou de cada indiviacuteduo seria diretamente proshy

porcional ao aumento da capacidade de trabalho e ao aumento da

riqueza pessoal sendo que a soma de todas as riquezas significaria

no crescimento da riqueza de uma naccedilatildeo 3

Para Schultz (1971) o valor da educaccedilatildeo estaria na habilitaccedilatildeo de

pessoas para lidar com situaccedilotildees de desequiliacutebrio de mudanccedila e de rupshy

tura O quantum de educaccedilatildeo deveria ser pensado em funccedilatildeo das necessishy

dades de geraccedilatildeo de competecircncias para a eficiecircncia produtiva no trabalho

A anaacutelise de Frigotto (1986) revela os limites e o significashy

do da teoria do capital humano Revela o seu vieacutes empiricista

sua perspectiva epistemoloacutegica baseada no positivismo e o caraacuteter

poliacutetico-ideoloacutegico centrado na economia poliacutetica burguesa

3 Em outras palavras as pessoas ricas seriam aquelas que mais teriam recebido

investimentos em capital humano consequentemente a pessoa pobre seria aquela

que natildeo conseguiu desenvolver o seu capital humano Os paiacuteses mais ricos seriam

aqueles que teriam realizado o maior esforccedilo de elevaccedilatildeo do patamar meacutedio de

racionalidade de seu povo por meio da escola e os paiacuteses mais pobres os que menos

investiram nesse quesitoVale lembrar que a teoria de Schultz nunca conseguiu

explicar o caso brasileiro que de um lado manteacutem-se como uma das maiores

economias do mundo de outro o paiacutes apresenta peacutessimos indicadores educacionais

que comprovam a fragilidade da educaccedilatildeo escolar brasileira

30

No Brasil as repercussotildees da teoria do capital humano foram sigshy

nificativas durante o periacuteodo ditatorial abrangendo vaacuterios aspectos (a)

financiamento da educaccedilatildeo o orccedilamento da educaccedilatildeo passou a ser

definido com base nos mesmos criteacuterios adotados nos investimentos do

setor produtivo (b) planejamento educacional estabeleceu a vincula-

ccedilatildeo direta e imediata entre educaccedilatildeo e setor produtivo - o Plano Setorial

de Educaccedilatildeo e Cultura de 19721974 deixa isso claro (c) legislaccedilatildeo

uma nova lei de Diretrizes e Bases foi estabelecida (lei 569271) para

ordenar a educaccedilatildeo brasileira - chamada ldquoformaccedilatildeo especializadardquo no 2o

grau (atual Ensino Meacutedio) pode ser tomada como um dos exemplos da

vinculaccedilatildeo proposta entre educaccedilatildeo e economia (d) concepccedilatildeo pedashy

goacutegica afirmaccedilatildeo do tecnicismo como referecircncia para os processos forshy

niuivos procurando estabelecer a objetividade do trabalho pedagoacutegico

1 partir da precisatildeo das teacutecnicas e tecnologias de ensino

Apesar das criacuteticas e resistecircncias a teoria do capital humano

iiio foi definitivamente superada Ao contraacuterio desde os anos

laquoU 1990 a teoria vem sendo atualizada e difundida por vaacuterios

mielectuais orgacircnicos da classe burguesa A novidade eacute que a

educaccedilatildeo aleacutem de resultar na elevaccedilatildeo do capital humano deve

timbeacutem desenvolver o chamado capital social Isso significa que

1 Iunccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar foi ampliada embora a perspectiva

i onomicista continue preponderando4

Se o desenvolvimento do capital humano tem interferecircncia direta

mi i questatildeo econocircmica o capital social por sua vez relaciona-se com

i i|iK staacuteo social de forma mais precisa com a coesatildeo poliacutetica e ideoloacutegica

1 iiiballuidores ao projeto hegemocircnico de sociabilidade O capital social

bull ii u licionado agrave elevaccedilatildeo de algumas chamadas variaacuteveis relacionadas agraves

bull bullIuluias humanas que repercutem nas relaccedilotildees comunitaacuterias entre elas a

bull h gt1 u i accedilaacutelt gt a confianccedila muacutetua e a capacidade de participaccedilatildeo (PUTNAM

lt h)M A tese sugere que a elevaccedilatildeo do capital social permitiraacute que os indi-

il icssjliar que natildeo se trata de sobreposiccedilatildeo de accedilotildees mas sim a especificaccedilatildeo de

mi i vi-nccedilotildecs educativas visando assegurar a formaccedilatildeo humana no acircmbito escolar As

u iiiLiccedilotildees de Gustavo Ioschpe intelectual orgacircnico da burguesia satildeo reveladoras

iVni bull llt lui outros ganhos comunicantes associados com a educaccedilatildeo maior toleracircncia

bull u it-iii ia social melhores cuidados com a sauacutede tendecircncias democraacuteticas controle

I iu|miImis violentosrdquo (IOSCHPE 2004 p 67)

viduos se organizem para solucionar os problemas sociais que os afligem

sem necessariamente depender da intervenccedilatildeo paternalista estatal

O projeto de educaccedilatildeo referenciado na teoria do capital e

ampliado com o acreacutescimo da teoria do capital social reconhece

a especificidade da educaccedilatildeo escolar No entanto as referecircncias

sobre a funccedilatildeo da instituiccedilatildeo escolar satildeo restritivas e pragmaacutetishy

cas Sob o ponto de vista mais amplo significa reafirmar que os

subalternos natildeo nasceram para assumir a condiccedilatildeo de classe d ishy

rigente Especificamente sobre o processo pedagoacutegico significa

estabelecer uma formaccedilatildeo de caraacuteter minimalista em que o acesso

ao conhecimento sistematizado na escola ocorreraacute respeitando o

m iacutenimo necessaacuterio para simplesmente desenvolver uma racionashy

lidade instrumental base das competecircncias para a empregabili-

dade O fundamento pedagoacutegico desta concepccedilatildeo estaacute alicerccedilada

na pedagogia das competecircncias (RAM OS 2001) cabendo agrave esshy

cola somente orientar a formaccedilatildeo do trabalhador-cidadatildeo produshy

tivo eficiente em sua condiccedilatildeo de subalternidade

Concepccedilatildeo 2 A funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar eacute formar para a cidadania

Na sociedade capitalista o acesso ao conhecimento sisteshy

matizado estaacute subordinado agrave condiccedilatildeo de classe podendo ser

alterado em funccedilatildeo dos resultados provisoacuterios das lutas poliacuteticas

na educaccedilatildeo conforme destacado anteriormente Nesse sentido

as disputas envolvendo o acesso ao conhecimento ocorrem porshy

que a ciecircncia e a tecnologia se converteram em forccedila produtiva

e instrumento de poder O controle sobre o conhecimento sisteshy

matizado portanto passou a fazer parte da estrateacutegia de dom ishy

naccedilatildeo de classe na sociedade capitalista Diante disso parece-nos

relevante indagar o que significa afirmar que a funccedilatildeo da escola

se destina a preparar para a cidadania Como fica o acesso ao

conhecimento sistematizado nesta concepccedilatildeo

Primeiramente devemos considerar que a cidadania eacute uma consshy

truccedilatildeo resultante das contradiccedilotildees internas das revoluccedilotildees burguesas

32

Embora se no passado representasse um avanccedilo frente agrave velha ordem

feudal ou escravista e se na atualidade expresse tambeacutem um avanccedilo

frente aos regimes e praacuteticas autoritaacuterias eacute importante lembrar que

este constructo designa apenas o reconhecimento da igualdade forshy

mal entre seres humanos que vivem condiccedilotildees poliacuteticas e econocircmicas

profundamente desiguais Em outras palavras o estatuto da cidadania

natildeo altera em absolutamente nada a realidade da dominaccedilatildeo poliacutetica e

exploraccedilatildeo econocircmica realizadas na sociedade capitalista

Um aspecto importante a ser considerado se refere agravequilo que

fundamenta o preceito de cidadania De modo geral o cidadatildeo

natildeo tem identidade de classe mas sim uma condiccedilatildeo individual E

cidadatildeo tanto o que explora e domina quanto aquele que eacute exploshy

rado e dominado por outro O cidadatildeo eacute o indiviacuteduo e natildeo uma

coletividade regulado por um estatuto juriacutedico e certas normas

sociais no contexto de um Estado Portanto ser cidadatildeo significa

integrar-se na vida social a partir da regulaccedilatildeo formal e de valores

indicando o pertencimento poliacutetico A definiccedilatildeo apresentada por

lt mivez (1990 p 15) confirma esta compreensatildeo

A cidadania define a pertenccedila a um Estado Ela daacute

ao indiviacuteduo um status juriacutedico ao qual se ligam dishy

reitos e deveres particulares Esse status depende das

leis proacuteprias de cada Estado e pode-se afirmar que

haacute tantos tipos de cidadatildeos quanto tipos de Estados

O problema da cidadania poreacutem natildeo eacute apenas proshy

blema juriacutedico ou constitucional se provoca debates

apaixonados eacute porque coloca a questatildeo do modo de

inserccedilatildeo do indiviacuteduo em sua comunidade assim

como de sua relaccedilatildeo com o poder poliacutetico

lt luo de ser cidadatildeo natildeo assegura a igualdade de condiccedilotildees

1 vidi e trabalho em um contexto de profunda desigualdade

moiiiua poliacutetica e social Muito menos assegura a possibili-

l raquolt dc ser diferente no contexto em que a igualdade formal se

ilgt In r procurando uniformizar a todos A cidadania portan-

bull i ui li ii a possibilidade da atuaccedilatildeo poliacutetica de indiviacuteduos e

ni i |i 1 1 ic as sociais dentro dos limites da ordem existente5

I iliIr poliacutetica denominamos o direito de organizaccedilatildeo de representaccedilatildeo e de

l i I h preacutesentantes atraveacutes do voto

As inuacutemeras adjetivaccedilotildees propostas ao conceito sinalizam as restriccedilotildees

de sua inserccedilatildeo na praacutetica social concreta Na lista de adjetivaccedilotildees encontrashy

mos ldquocidadania participativardquo ldquocidadania efetivardquo ldquocidadania emancipadardquo

ldquocidadania ativardquo ldquocidadania eacuteticardquo ldquocidadania popularrdquo entre outras6

Natildeo queremos com essa delimitaccedilatildeo invalidar a importacircncia da

cidadania no passado e no presente na sociedade capitalista especialshy

mente para a formaccedilatildeo social brasileira Ao contraacuterio acreditamos

que legalidade constituiacuteda no estatuto juriacutedico dos direitos individushy

ais e poliacuteticos - envolvendo a possibilidade de organizaccedilatildeo de represhy

sentaccedilatildeo de coletivos e de possibilidades de escolhas de representantes

atraveacutes do voto mdash natildeo eacute passiacutevel de desprezo Entretanto o que busshy

camos assinalar eacute que vincular o projeto de educaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo da

cidadania eacute insuficiente pois a cidadania natildeo pressupotildee a superaccedilatildeo

da ordem capitalista (TONET 2005)

Cabe lembrar que nas sociedades capitalistas dependentes como

eacute o caso da sociedade brasileira a exploraccedilatildeo se materializa em supe-

rexploraccedilatildeo a participaccedilatildeo poliacutetica eacute sempre condicionada a marcos

juriacutedicos restritivos a concentraccedilatildeo da renda e da propriedade eacute extreshy

mada a polarizaccedilatildeo social eacute mais evidente e a dominaccedilatildeo ideoloacutegica eacute

maciccedila (CA RDO SO 2006) Considerando que os indicadores sociais

e econocircmicos confirmam esta observaccedilatildeo acreditamos que limitar a

finalidade da escola para a produccedilatildeo da cidadania eacute algo insuficiente

E importante considerar que a vinculaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar

e cidadania possui um lastro histoacuterico importante no Brasil De modo

mais amplo talvez esta vinculaccedilatildeo possa ser creditada como resposta

dos educadores progressistas agrave experiecircncia vivida pelos trabalhadores

brasileiros no contexto da ditadura empresarial-militar que perdurou

por cerca de vinte anos Se esta hipoacutetese estiver correta poderemos

afirmar que a educaccedilatildeo para a cidadania representou um posicionashy

mento criacutetico frente ao regime autoritaacuterio agrave cultura poliacutetica consershy

6 A produccedilatildeo acadecircmica sobre o tema eacute consideraacutevel Aleacutem de teses

dissertaccedilotildees e artigos cientiacuteficos a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e cidadania foi

abordada em diferentes obras Eis alguns livros sobre o tema Buffa et al

(1987) Ferreira (1993) Demo (1994) Libacircneo (1998)

34

vadora ao clicntelismo e ao patrimonialismo presentes na vida social

Sobre o acesso ao conhecimento sistematizado para Libacircneo (1998)

o exerciacutecio para a cidadania exigiria o domiacutenio dos conhecimentos

sistematizados como ferramentas individuais para a intervenccedilatildeo na

realidade Apesar da perspectiva progressista da formulaccedilatildeo acreditashy

mos que educar para a cidadania eacute diferente de educar para compreshy

ensatildeo dos limites histoacutericos e teoacutericos da cidadania

Aleacutem das formulaccedilotildees progressistas sobre a educaccedilatildeo escolar e

cidadania existem tambeacutem obras de caraacuteter conservador que buscam

reafirmar aquilo que Neves (2005) define como a nova pedagogia da

hegemonia por meio da educaccedilatildeo escolar As formulaccedilotildees de Delors

(1996) e Morin (2000) divulgadas sobre a chancela da Organizaccedilatildeo das

Naccedilotildees Unidas satildeo casos exemplares que repercutem na definiccedilatildeo da

poliacutetica educacional em nosso paiacutes nos anos recentes de nossa histoacuteria7

Para Delors ldquona escola eacute que deve comeccedilar a educaccedilatildeo para

uma cidadania consciente e ativardquo (1996 p 28)s Entretanto peshy

los limites teoacutericos e histoacutericos do conceito e considerando suas

opccedilotildees ideoloacutegicas o maacuteximo que Delors consegue eacute reafirmar

com novas palavras as velhas construccedilotildees que envolvem a temaacutetica

educaccedilatildeo para a cidadania Em suas palavras

Mas como aprender a conviver nesta aldeia global

se somos incapazes de viver em paz nas comunidades

naturais a que pertencemos naccedilatildeo regiatildeo cidade alshy

deia vizinhanccedila A questatildeo central da democracia eacute

saber se desejamos e somos capazes de participar da

vida em comunidade conveacutem natildeo esquecer que esse

desejo depende do sentido da responsabilidade de

cada um (DELORS 1996 p 7-8)

A tese explicita claramente os limites da cidadania revelando que

sua vinculaccedilatildeo se estabelece com o indiviacuteduo e natildeo com as coletividashy

des Por meio da chamada cidadania consciente e ativa Delors retoma

Acredi tamos que parte dessas formulaccedilotildees saacuteo tributaacuterias da concepccedilatildeo pedagoacutegica escolanovista

Para entender o que isso significa em termos poliacuteticos e filosoacuteficos recomendamos a leitura de

Saviani (1987) especialmente o capiacutetulo dois ldquoEscola e democracia I a Teoria da Curvatura

da Varardquo

8 Os adjetivos ldquoconscienterdquo e ldquoativordquo demonstram a intenccedilatildeo de estabelecer uma atualizaccedilatildeo

da cidadania tal como assinalados anteriormente

o individualismo como valor moral radical reafirmando a formulaccedilatildeo

valorizada pela doutrina liberal e pelos projetos neoliberal e neoliberal

da terceira via Estes limites podem ser verificados em outra afirmaccedilatildeo

Um sentimento de vertigem apodera-se de nossos

contemporacircneos divididos entre essa globalizaccedilatildeo - a

cujas manifestaccedilotildees eles satildeo obrigados agraves vezes a se

submeterem mdash e a busca pessoal de suas raiacutezes refeshy

recircncias e filiaccedilotildees

A educaccedilaacuteo deve enfrentar esse problema porque na

perspectiva do parto doloroso de uma sociedade munshy

dial ela situa-se mais do que nunca 110 acircmago do deshy

senvolvimento da pessoa e das comunidades sua misshy

satildeo consiste em permitir que todos sem exceccedilatildeo faccedilam

frutificar seus talentos e suas potencialidades criativas

o que implica por parte de cada um a capacidade de assumir sua proacutepria responsabilidade e de realizar seu proshyjeto pessoal (D ELO RS 1996 p 10 grifo nosso)

Aleacutem dos aspectos citados cabe destacar o conteuacutedo ideoloacutegico

dos princiacutepios valorativos da educaccedilatildeo para a cidadania sistematizada

por Jacques Delors Segundo Duarte (2008) estes princiacutepios satildeo orienshy

tados pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo De modo geral os prinshy

ciacutepios convergem para a afirmaccedilatildeo do individualismo como valor moral

radical A tiacutetulo de exemplo podemos citar a hierarquizaccedilatildeo das formas

de aprendizagem realizadas pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo

Duarte (2008) verifica que para esta corrente pedagoacutegica eacute mais releshy

vante e significativo aprender sozinho do que pela mediaccedilatildeo do outro

Isso significa a ratificaccedilatildeo do individualismo como valor morai radical e

define o conteuacutedo da chamada cidadania consciente e ativa

A posiccedilatildeo de Edgar Morin se apresenta na mesma perspectiva trashy

ccedilada por Jacques Delors Delineando as bases para a educaccedilatildeo escolar

formar o chamado cidadatildeo planetaacuterio do seacuteculo XXI o autor afirma que

Podemos considerar que a plenitude e a livre

expressatildeo dos indiviacuteduos-sujeitos constituem

nosso propoacutesito eacutetico e poliacutetico sem entreshy

tanto pensarmos que constituem a proacutepria

finalidade da triacuteade indiviacutediwsociedadelespeacute-

cie A complexidade humana natildeo poderia ser

compreendida dissociada dos elementos que

a constituem todo desenvolvimento verdadeishyramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais das parshyticipaccedilotildees comunitaacuterias e do sentimento de pershytencer agrave espeacutecie humana (MORIN 2000 p

54-55 grifo do autor)

Mais uma vez o indiviacuteduo atomizado e sem identidade de

classe portanto diluiacutedo nas relaccedilotildees sociais eacute apresentado como

referecircncia central da formulaccedilatildeo

A finalidade da formaccedilatildeo do chamado cidadatildeo planetaacuterio eacute

e xplicitada da seguinte forma

O problema da compreensatildeo tornou-se crucial para

os humanos E por este motivo deve ser uma das

finalidades da educaccedilatildeo do futuro Lembremo-

-nos de que nenhuma teacutecnica de comunicaccedilatildeo do

telefone agrave Internet traz por si mesma a compreshy

ensatildeo A compreensatildeo natildeo pode ser quantificada

Educar para compreender a matemaacutetica ou uma

disciplina determinada eacute uma coisa educar para a

compreensatildeo humana eacute outra Nela encontra-se a

missatildeo propriamente espiritual da educaccedilatildeo ensishy

nar a compreensatildeo entre as pessoas como condiccedilatildeo

e garantia da solidariedade intelectual e moral da

humanidade (M O R IN 2000 p 94)

construccedilatildeo de uma sociedade solidaacuteria eacute de fato algo re-

bull iiiu Entretanto a formulaccedilatildeo de Morin aposta na solidarie-

tllt lsquocm alterar as condiccedilotildees objetivas de vida Eacute possiacutevel esta-

bull I ei i solidariedade num contexto marcado pela exploraccedilatildeo e

|m 11 iloi iaccedilatildeo das coisas em detrimento da condiccedilatildeo humana

I ui siacutentese o que se busca eacute na verdade o estabelecimento de

d u pu(o entre as classes sociais sobre o controle e direccedilatildeo

1 lt liiiijMicsa Desse modo a funccedilatildeo da escola do seacuteculo XXI

i i ili pcli cidadania seraacute a de reafirmar a manutenccedilatildeo das rela-

bull | raquodei e xistentes com o aprofundamento da subserviecircncia da

u ii iliilliulora Aleacutem disso nesta concepccedilatildeo o conhecimento

sistematizado cede lugar agrave experiecircncia imediata ou quando muito

na perspectiva progressista agrave reflexatildeo sobre formas de intervenccedilatildeo

na vida poliacutetica da escola da comunidade ou do paiacutes

Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar educar para a emancipaccedilatildeo humana

O consenso em torno da legitimidade da instituiccedilatildeo escolar

na sociedade contemporacircnea eacute um dado consolidado certamente

influenciado pelas concepccedilotildees anteriormente analisadas Entretanshy

to um problema persiste tais formulaccedilotildees restringem a formaccedilatildeo

humana e consequentemente limitam as possibilidades de insershy

ccedilatildeo no mundo real Diante disso cabe uma questatildeo a educaccedilatildeo

escolar pode oferecer outra perspectiva formativa que supere o

economicismo da teoria do capital humano e a orientaccedilatildeo politi-

cista da educaccedilatildeo para a cidadania Qual o papel do conhecimento

sistematizado nesta alternativa pedagoacutegica

Foi procurando responder a esta questatildeo que alguns educadores brashy

sileiros procuraram delinear uma nova possibilidade pedagoacutegica sobre a esshy

pecificidade e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar tendo em vista a necessidade de

elevar a escolarizaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes da classe trabalhadora9

Esta concepccedilatildeo pedagoacutegica foi sistematizada a partir da anaacutelishy

se criacutetica sobre a configuraccedilatildeo e dinacircmica da sociedade capitalista

Conhecendo os limites desta forma cultural de organizaccedilatildeo da vida

o segundo passo foi analisar as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes

considerando as necessidades da classe trabalhadora e os objetivos

da classe burguesa A primeira constataccedilatildeo foi que os processos de

dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo tiacutepicos das formaccedilotildees sociais capitalistas

impedem a emancipaccedilatildeo humana A segunda constataccedilatildeo foi que

as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes eram expressotildees especiacuteficas do

projeto de sociedade da classe dominante A siacutentese desta anaacutelise

9 A principal figura deste esforccedilo foi Dermeval Saviani que desde os anos finais de 1960

jaacute refletia sobre a necessidade e possibilidades de sistematizar uma teoria da educaccedilatildeo

que superasse tanto as teorias natildeo criacuteticas da educaccedilatildeo quanto agraves teorias criacutetico-

reprodutivistas Para compreender este processo ver Saviani (1987 2003)

38

pode ser assim descrita eacute necessaacuterio superar as teorias e experiecircncias

existentes fornecendo aos educadores uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo

que esteja vinculada ao compromisso com a emancipaccedilatildeo da classe

trabalhadora (SAVIANI 2003) O resultado desta sistematizaccedilatildeo

foi denominado de Pedagogia histoacuterico-criacutetica Sua fundamentaccedilatildeo

encontra-se alicerccedilada no materialismo histoacuterico

O ponto de partida desta concepccedilatildeo foi compreender a condishy

ccedilatildeo humana e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo na vida social Sobre o primeishy

ro aspecto recuperando as ideias de Friedrich Engels e Karl Marx

a Pedagogia histoacuterico-criacutetica afirma que os seres humanos precisam

criar permanentemente as condiccedilotildees de sua existecircncia Enquanto os

outros animais se adaptam ao mundo natural coletivamente os seres

humanos transformam este mesmo mundo para viabilizar a existecircncia

da vida produzindo cultura Em outras palavras natildeo encontramos

tudo de que precisamos pronto somos obrigados a produzir formas

materiais e natildeo materiais necessaacuterias agrave vida mdash formas que nascem da

necessidade objetiva (alimentaccedilatildeo por exemplo) e dos desejos e fanshy

tasias - e a transmitir estas formas para outras geraccedilotildees

Os seres humanos criam estas condiccedilotildees por meio de uma cashy

pacidade que desenvolveram ao longo da histoacuteria a capacidade de

antecipar no plano do pensamento e traduzir esta antecipaccedilatildeo em

accedilotildees concretas e intencionais para viabilizar a vida - algo que Engels

e Marx denominam de trabalho Por meio do trabalho - uma forma

bem mais elaborada que a accedilatildeo instintiva dos demais animais para

suprir as necessidades e vontades que os seres humanos possuem os

seres humanos ultrapassaram a determinaccedilatildeo bioloacutegica para assumir

a condiccedilatildeo mais complexa ser cultural Por cultura compreende-se

a forma de organizaccedilatildeo e produccedilatildeo da vida que envolve a poliacutetica

a economia as artes os haacutebitos e costumes predominantes em uma

formaccedilatildeo social e tempo histoacuterico (CHAUI 1995)

Com base nesta compreensatildeo a funccedilatildeo da educaccedilatildeo para a Pedashy

gogia histoacuterico-criacutetica se vincula agrave produccedilatildeo da existecircncia humana porshy

tanto a condiccedilatildeo de cultura Enquanto predominou na criaccedilatildeo e orgashy

nizaccedilatildeo das condiccedilotildees de existecircncia processos mais simples de trabalho

foi possiacutevel educar os mais novos no proacuteprio processo de trabalho Na

medida em que a criaccedilatildeo das condiccedilotildees humanas se tornou mais comshy

plexa aleacutem dos processos informais foi requerida a institucionalizaccedilatildeo

da educaccedilatildeo na forma escolar Conforme indicamos na primeira parte

deste texto a escola foi criada para oferecer as bases para a produccedilatildeo

coletiva da existecircncia humana

Contudo cabe ressaltar que a produccedilatildeo da existecircncia hushy

mana se faz por meio de relaccedilotildees sociais Estas relaccedilotildees assushy

mem formas especiacuteficas envolvendo a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo

poliacutetico-econocircmica de grupos sociais sobre outros grupos sociais

Significa afirmar que a relaccedilatildeo entre trabalho e educaccedilatildeo foi senshy

do delineada a partir do conteuacutedo e da forma como as relaccedilotildees

sociais de desenvolvem na sociedade de classes

O projeto dominante defende que a classe trabalhadora deve ser

mantida na condiccedilatildeo de subalternidade soacutecio-poliacutetico-econocircmica A

orientaccedilatildeo eacute para que as crianccedilas e adolescentes desta classe sejam edushy

cados para se tornarem um ldquorecurso humanordquo para o desenvolvimento

econocircmico capitalista e para obedecer as ldquoregras sociaisrdquo para a harmonia

social desta sociedade contraditoacuteria

Reconhecendo que os seres humanos podem viver em outras

condiccedilotildees e verificando que o projeto dominante encontra resisshy

tecircncia na dinacircmica escolar a Pedagogia histoacuterico-criacutetica procura

oferecer aos educadores criacuteticos uma teoria educacional alternashy

tiva de caraacuteter contra-hegemocircnico A perspectiva eacute afirmar que

os alunos da classe trabalhadora precisam ser educados para assushy

mirem as condiccedilotildees subjetivas necessaacuterias agrave direccedilatildeo do processo

histoacuterico tendo em vista a emancipaccedilatildeo humana 10

A perspectiva eacute que os alunos ( Io) compreendam criticamenshy

te a organizaccedilatildeo e dinacircmica das formas de produccedilatildeo da existecircncia

10 Eacute importante deixar claro que natildeo eacute a educaccedilatildeo escolar que realizaraacute a emancipaccedilatildeo humana

mas sim a mudanccedila na forma de produzir a existecircncia humana Contudo sem educaccedilatildeo

essa mudanccedila jamais ocorreraacute Por emancipaccedilatildeo humana entendemos a condiccedilatildeo social

poliacutetica e econocircmica que permitiraacute ao gecircnero humano superar efetivamente todas as formas

de dominaccedilatildeo exploraccedilatildeo e opressatildeo Tratar da emancipaccedilatildeo humana significa projetar a

necessidade da realizaccedilatildeo plena do ser social em comunhatildeo com o meio ambiente e com os

demais seres humanos significa projetar a sociabilidade autocircnoma e verdadeiramente livre

An

humana especialmente a forma capitalista (2o) dominem os coshy

nhecimentos sistematizados e as formas culturais existentes comshy

preendendo-os como produto e instrumento necessaacuterio agrave produccedilatildeo

da existecircncia (3o) desenvolvam a loacutegica dialeacutetica de organizaccedilatildeo do

pensamento para superar a loacutegica formal e a passividade intelectual

em busca da autonomia do pensar (SAVIANI 1987 2003)

Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamental que os alushy

nos natildeo soacute assimilem conhecimentos mas que construam sentishy

dos e significados sobre a relaccedilatildeo entre conhecimento-trabalho-

-vida no mundo real complexo e contraditoacuterio Os conteuacutedos

das disciplinas que compotildeem o curriacuteculo escolar ao inveacutes de

orientar para a abstraccedilatildeo do pensamento ou ordenar a racionalishy

dade teacutecnica para o simples fazer podem estabelecer mediaccedilotildees

importantes para ampliar a compreensatildeo sobre as dimensotildees da

produccedilatildeo da existecircncia humana Trata-se de reestabelecer o nexo

orgacircnico entre vidatrabalho e educaccedilatildeo

Nessa linha o ensino e aprendizagem do conhecimento sistematizashy

do envolveraacute a compreensatildeo da realidade vivida a partir do diaacutelogo com

os conhecimentos espontacircneos e aqueles advindos da experiecircncia Natildeo se

trata de negar o conhecimento espontacircneo e o conhecimento gerado pela

experiecircncia Ao contraacuterio para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamenshy

tal oferecer novas possibilidades de interpretaccedilatildeo desses conhecimentos e

seus significados para a vida humana O que se busca entatildeo eacute ultrapassar o

senso comum a superficialidade e a abstraccedilatildeo para assegurar que a aproshy

priaccedilatildeo do conhecimento sistematizado permita compreender e atuar nos

processos de produccedilatildeo da existecircncia humana e das relaccedilotildees de poder neshy

les envolvidas Nesta concepccedilatildeo os conteuacutedos escolares ao inveacutes de frios

e vazios como eacute tiacutepico da pedagogia tradicional e pedagogia tecnicista

produzem sentidos e significados para o professor e o aluno porque se

vinculam de forma mais ou menos indireta aos processos reais de produshy

ccedilatildeo material e simboacutelica dos meios necessaacuterios agrave vida e agrave interpretaccedilatildeo das

relaccedilotildees de poder envolvidas nestes processos

Enquanto sujeitos do processo educativo professores e alunos

partem juntos da praacutetica social isto eacute da realidade vivida pela hu-

manidade para compreender o mundo real interpretar as formas

de produccedilatildeo deste mundo e estabelecer possibilidades de agir nele

E claro que enquanto espaccedilo social a escola se materializa enquanto

instacircncia de sociabilidade onde haacute encontros humanos ricos e profundos

para a experiecircncia de crianccedilas e adolescentes Entretanto o que justifica a

especificidade da instituiccedilatildeo escolar natildeo eacute o simples conviacutevio ainda que

ele seja importante mas sim a necessidade de apropriaccedilatildeo coletiva do

conhecimento sistematizado tendo em vista a compreensatildeo da condiccedilatildeo

humana e as possibilidades de intervenccedilatildeo no mundo

Reconhecer a especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute importante

para que as praacuteticas pedagoacutegicas natildeo sejam orientadas para rebaixar

a escolarizaccedilatildeo destinada aos filhos da classe trabalhadora Enquanto

espaccedilo de vivecircncia coletiva a instituiccedilatildeo escolar deve ter claro que

funccedilatildeo deve cumprir na sociedade Esvaziar o curriacuteculo escolar de coshy

nhecimento sistematizado e valorizar os saberes advindos da experiecircnshy

cia imediata como centro do processo educativo eacute um meio que vem

sendo usado para comprometer a formaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes

da classe trabalhadora mantendo-os na condiccedilatildeo de subalternidade

O desafio proposto pela Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute tornar a

instituiccedilatildeo escolar numa instacircncia que socializa os conhecimentos sisshy

tematizados para permitir o domiacutenio dos meios necessaacuterios agrave insershy

ccedilatildeo ativa na vida social com o horizonte da emancipaccedilatildeo humana E

possibilitar que os processos pedagoacutegicos escolares assegurem a todos

indistintamente aquilo que se tornou indispensaacutevel para compreenshy

deragir ono mundo o conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico

Consideraccedilotildees finais

Vivemos numa sociedade de classes Sob esta condiccedilatildeo penshy

sar a funccedilatildeo e especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute tratar dos

projetos formativos que disputam a formaccedilatildeo humana nesta soshy

ciedade E tambeacutem considerar a posiccedilatildeo das perspectivas pedashy

goacutegicas em relaccedilatildeo ao tratamento dispensado ao conhecimento

sistematizado E compreender que as definiccedilotildees pedagoacutegicas natildeo

satildeo simples escolhas teacutecnicas ou arbitraacuterias

42

Isso revela que o trabalho educativo na sociedade de classes

eacute algo muito complexo que exige do professor rigor na tomada

de posiccedilotildees compromisso poliacutetico com um projeto de sociedade

que assume o domiacutenio dos instrumentos pedagoacutegicos para transshy

formar a intenccedilatildeo educativa em algo real na formaccedilatildeo humana

As possibilidades teoacutericas existem e elas se vinculam aos inshy

teresses de classe Haacute quem defenda que basta preparar a forccedila

de trabalho para o desenvolvimento capitalista Haacute quem acredite

que educar para a cidadania eacute suficiente para assegurar direitos Jaacute

existem intelectuais orgacircnicos da classe burguesa que reconhecem

que eacute preciso que a escola eduque o ldquocidadatildeo trabalhador produtishy

vordquo uma siacutentese das correntes acima indicadas

Entretanto as possibilidades acima apresentadas satildeo insuficienshy

tes para a classe trabalhadora pois o economicismo e politicismo peshy

dagoacutegicos - e as possiacuteveis siacutenteses geradas entre eles - se vinculam

ainda ao plano da conservaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute preciso educar para contrishy

buir com o desafiador e difiacutecil processo de valorizaccedilatildeo da vida humashy

na e natildeo das coisas e construccedilatildeo da emancipaccedilatildeo Sua perspectiva

eacute oferecer aos educadores do campo criacutetico uma alternativa teoacuterica e

metodoloacutegica para a construccedilatildeo da mudanccedila valorizando a instituishy

ccedilatildeo escolar em um espaccedilo rico e dinacircmico de ensino-aprendizagem

repleto de sentidos e significados para os que precisam romper com

a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo de classes

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CAPIacuteTULO II

0 ENSINO DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA E A FORMACcedilAtildeO DE SUJEITOS HISTOacuteRICOS EM BUSCA DOS FUNDAMENTOS TEOacuteRICOS E METODOLOacuteGICOS

Adriano de Paiva Reis

Alvaro de Azeredo Quelhas

Carla Cristina Carvalho Pereira

Leonardo Docena Pina

Renata Aparecida Alves Landim

Neste texto apresentamos os fundashy

mentos teoacutericos e metodoloacutegicos da persshy

pectiva de Educaccedilatildeo Fiacutesica que busca proshy

mover uma reflexatildeo criacutetica sobre a cultura

corporal Partimos da discussatildeo sobre a exisshy

tecircncia de dois distintos e contraditoacuterios proshy

jetos de formaccedilatildeo humana um que busca

assegurar a adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves atushy

ais relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e outro que tem

como horizonte a formaccedilatildeo de sujeitos criacuteshy

ticos e transformadores da sua proacutepria hisshy

toacuteria Com base no materialismo histoacuterico-

-dialeacutetico na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e

na abordagem Criacutetico-superadora apresenshy

tamos uma possibilidade didaacutetica que busca

abordar os conteuacutedos da cultura corporal de

modo ativo e dinacircmico tendo como ponto

de partida e de chegada a praacutetica social de

modo a permitir a ampliaccedilatildeo da compreenshy

satildeoaccedilatildeo dos alunos sobre a realidade

A relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo e a perspectiva dominante de formaccedilatildeo humana

O trabalho e a educaccedilatildeo satildeo atividades especificamente humanas e

estatildeo relacionadas ao processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura pelo

conjunto dos homens Por meio do trabalho o homem transforma intenshy

cionalmente a natureza para satisfazer suas necessidades criando uma reshy

alidade sociocultural um mundo especificamente humano portador de

produccedilotildees culturais (materiais e natildeo materiais) cada vez mais desenvolvidas

Para relacionar-se com os outros seres humanos inserindo-se em

determinada fase do desenvolvimento histoacuterico da humanidade cada

indiviacuteduo singular precisa apropriar-se da riqueza da experiecircncia humashy

na acumulada na cultura pois as aptidotildees e funccedilotildees humanas historicashy

mente formadas natildeo se reproduzem pela hereditariedade mas precisam

ser formadas isto eacute transmitidas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo A esse processhy

so de transmissatildeo da cultura produzida histoacuterica e coletivamente pelo

conjunto dos homens mdash que permite a formaccedilatildeo da humanidade em

cada indiviacuteduo singular - denomina-se educaccedilatildeo (SAVIANI 2005)

Entretanto como as formas assumidas pelo trabalho nos dishy

versos modos de produccedilatildeo da existecircncia humana satildeo fenocircmenos

construiacutedos concretamente nas relaccedilotildees sociais a formaccedilatildeo humana

tende a ser determinada pelos processos histoacutericos De acordo com

Marx (2005) no modo de produccedilatildeo capitalista - aquele que estaacute

fundado na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo e na aproshy

priaccedilatildeo privada dos produtos do trabalho - a relaccedilatildeo do homem

com o mundo aparece invertida de tal forma que o trabalho assashy

lariado caracteriacutestico da moderna sociedade burguesa resulta num

estranhamento do homem com o seu trabalho o trabalho de ativishy

dade de realizaccedilatildeo do homem eacute transformado em ldquo[] desrealizaccedilatildeo

do trabalhador a objetivaccedilatildeo como perda e servidatildeo do objeto a

apropriaccedilatildeo com alienaccedilatildeo1rdquo (MARX 2005 p 1 12)

i Em Marx (2005) a alienaccedilatildeo corresponde ao estranhamento total do homem com a natureza

com a humanidade e com ele proacuteprio sendo que a base de todas essas relaccedilotildees sociais estranhas

c a alienaccedilatildeo do proacuteprio trabalho O u seja a partir da expropriaccedilatildeo do produto e do processo

de seu trabalho o homem passa a alienar-se de sua vida como um todo

Tendo em vista que o trabalho na sociedade capitalista eacute contrashy

ditoriamente fundamento da existecircncia humana e meio de alienaccedilatildeo

pensar o trabalho como princiacutepio educativo implica em visualizar

dois projetos distintos de educaccedilatildeo escolar um que busca adaptar os

indiviacuteduos agraves atuais relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo e outro que visa

alcanccedilar o pleno desenvolvimento da iiiacutedividualidade livre e universal (DUARTE 2006) algo atrelado agrave construccedilatildeo de uma nova sociedashy

de na qual estejam superadas as relaccedilotildees sociais alienadas

Na perspectiva voltada agrave reproduccedilatildeo do capital a educaccedilatildeo

tem servido como meio de adaptar o indiviacuteduo agraves condiccedilotildees hisshy

toacutericas da produccedilatildeo negando o potencial criativo e transformador

da realidade que o homem possui impedindo-o de reconhecer-se

como sujeito da histoacuteria Como analisam criticamente Frigotto

Ciavatta e Ramos (2005) o sentido economicista atribuiacutedo agrave edushy

caccedilatildeo a tem proclamado como instrumento de formaccedilatildeo para o

trabalho no seu sentido historicamente alienado dando origem

agrave noccedilatildeo ideoloacutegica da escola como promotora da ascensatildeo social

Este fato pode ser observado em mitos como o da empregabilidade

e do empreendedorismo que vigoram hoje em dia

Diversas anaacutelises realizadas sobre a relaccedilatildeo entre trabalho e

educaccedilatildeo como as realizadas por Ramos (2006) e Kuenzer (2007)

por exemplo evidenciam que no contexto de transiccedilatildeo do modo

laquoIr produccedilatildeo capitalista para o regime de acumulaccedilatildeo flexiacutevel2

1 implantaccedilatildeo de um novo paradigma produtivo e a emergecircncia

Jr novas demandas de ajustamento social provocaram uma nova

loi nia de ser do trabalhador que estabeleceu exigecircncias significa-

iivimente diferentes daquelas em curso ateacute entatildeo O u seja uma

nov a dinacircmica de produccedilatildeo e novos meacutetodos de trabalho passaram

I gtc acordo com as anaacutelises dc Harvey (2006) a partir da deacutecada dc 1970 com a explosatildeo

laquoli nova crise de superacumulaccedilatildeo capitalista inicia-se um periacuteodo de reestruturaccedilatildeo

lt miocircmica e de reajustamento social e poliacutetico marcando a passagem para um novo

irgime de acumulaccedilatildeo ldquoA acumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo surge em contraposiccedilatildeo agrave rigidez do

Inulismo ldquoEla se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho dos mercados de

uibalho dos produtos e padrotildees de consumordquo (1IARVKY 2006 p 140)

a exigir um tipo novo de trabalhador e de homem3 Assim para

atender aos interesses de valorizaccedilatildeo do capital vecircm ocorrendo

diversas alteraccedilotildees nos projetos e processos de formaccedilatildeo humana

a fim de ajustaacute-los agraves novas formas de organizaccedilatildeo do trabalho e

aos novos padrotildees de sociabilidade capitalista

Com base na argumentaccedilatildeo de que ingressamos na chamada ldquosocieshy

dade do conhecimentordquo a educaccedilatildeo passa a ser proclamada como uma

tarefa para toda a vida e a noccedilatildeo de competecircncia assume centralidade na

educaccedilatildeo escolar Para se consolidar como categoria ordenadora da relaccedilatildeo

trabalho-educaccedilatildeo a noccedilatildeo de competecircncia se inscreve num movimento

de afirmaccedilatildeo e negaccedilatildeo do conceito de qualificaccedilatildeo promovendo a valoshy

rizaccedilatildeo da sua dimensatildeo experimental agrave custa do enfraquecimento da sua

dimensatildeo conceituai e social (RAMOS 2006)

O enfraquecimento da dimensatildeo social da qualificaccedilatildeo pode ser

constatado nos discursos que proclamam um novo papel para a educashy

ccedilatildeo escolar natildeo mais formar para um determinado posto ou emprego

mas sim gerar potencial de empregabilidade De acordo com Gentili

(2005) a empregabilidade eacute o eufemismo da desigualdade estrutural

que caracteriza o mercado de trabalho e sintetiza a incapacidade mdash tamshy

beacutem estrutural mdash da educaccedilatildeo em cumprir sua promessa integradora

Conforme explica o autor esse conceito ganhou espaccedilo e centralidade

a partir da deacutecada de 1990 sendo definido como eixo fundamental de

um conjunto de poliacuteticas supostamente destinadas agrave diminuiccedilatildeo de risshy

cos sociais gerados pelo desemprego Para o discurso dominante o conshy

ceito de empregabilidade natildeo significa garantia de integraccedilatildeo mas apeshy

nas melhores condiccedilotildees para competir na luta pelos poucos empregos

disponiacuteveis no mercado de trabalho Esse conceito segundo o autor

acaba com a concepccedilatildeo do emprego e da renda como esferas de direito

3 Tomamos essa expressatildeo emprestada de Gramsci (1976) que foi originalmente utilizada

em Americanismo e Fordismo e sugere que um novo tipo de trabalho e de produccedilatildeo traz a

necessidade de formar um novo tipo de homem pois ldquo[] novos meacutetodos de trabalho estatildeo

indissoluvelmente ligados a um determinado modo de viver de pensar e de sentir a vida

natildeo eacute possiacutevel obter ecircxito num campo sem obter resultados tangiacuteveis no outrordquo (p 396)

4 De acordo com Frigotto (1998) o termo ldquosociedade do conhecimentordquo diz respeito a um

deslocamento conceituai da teoria do capital humano buscando alinhar ideologicamente

a educaccedilatildeo agrave nova materialidade e mascarar a realidade do desemprego estrutural

pois parte do entendimento de que a posse de determinadas condiccedilotildees

de empregabilidade natildeo garante a inserccedilatildeo no mercado de trabalho

No que se refere agrave concepccedilatildeo de conhecimento subjacente agrave noccedilatildeo de

competecircncia Ramos (2006) conclui que por estar pautada numa ldquoconcepshy

ccedilatildeo natural-funcionalista de homemrdquo esta noccedilatildeo abriga uma ldquoconcepccedilatildeo

subjetivo-relativista de conhecimentordquo que reforccedila o irracionalismo poacutes-

-moderno5 configurando-se como uma noccedilatildeo adaptadora do comportashy

mento humano agrave instabilidade da vida no capitalismo tardio

A perspectiva educacional ancorada na noccedilatildeo de competecircncia busshy

ca alterar a maneira de ser da classe trabalhadora adequando-a aos novos

valores necessaacuterios agrave manutenccedilatildeo das relaccedilotildees capitalistas No que tange

ao curriacuteculo essa noccedilatildeo privilegia os objetivos atitudinais comportamen-

tais e procedimentais ligados ao saber agir e saber fazer secundarizando e

subordinando os conhecimentos agraves situaccedilotildees praacuteticas uma vez que soacute satildeo

considerados vaacutelidos os conhecimentos que apresentam aplicabilidade no

desempenho das atividades de produccedilatildeo6

A pedagogia das competecircncias aleacutem de ser uma importanshy

te referecircncia pedagoacutegica defendida pelos intelectuais da classe

dominante natildeo estaacute soacute na defesa dos interesses capitalistas no

campo da educaccedilatildeo escolar pelo contraacuterio ganha forccedila na meshy

dida em que se alinha a outras concepccedilotildees que negam a escola

tomo instituiccedilatildeo responsaacutevel pela transmissatildeo do conhecimento

sistematizado como eacute o caso do construtivismo

Para desenvolver competecircncias eacute preciso antes de

tudo trabalhar por problemas e projetos propor

tarefas complexas e desafios que incitem os alunos

a mobilizar seus conhecimentos e cm certa medida

completaacute-los Isso pressupotildee uma pedagogia ativa

Com relaccedilaacuteo ao relativisino poacutes-moderno as anaacutelises de Harvey (2006) permitem

compreender que a necessidade capitalista de acelerar o tempo de giro do capital atraveacutes

ltli aceleraccedilatildeo da produccedilatildeo da troca e do consumo de mercadorias tem promovido

iima intensificaccedilatildeo da compressatildeo do tempo-espaccedilo influenciado as formas poacutes-

modernas de pensar sentir e agir acentuando a volatilidade e efemeridade valorizando

bull i instantacircneo e o descartaacutevel o que tem implicado na consideraccedilatildeo de que qualquer

perspectiva totalizante de conhecimento eacute inatingiacutevel

Ni realidade esta secundarizaccedilatildeo do conhecimento em favor de comportamentos

bull 1 iM-rvaacuteveis natildeo eacute novidade e em certa medida reedita os princiacutepios da Escola Nova (cf

I l AUTH 2001) e da Pedagogia do Domiacutenio (cf RAMOS 2006)

cooperativa aberta para a cidade ou para o bairro

seja na zona urbana ou rural Os professores devem

parar de pensar que dar aulas eacute o cerne da profissatildeo

Ensinar hoje deveria consistir cm conceber encaishy

xar e regular situaccedilotildees de aprendizagem seguindo os

princiacutepios pedagoacutegicos ativos e construtivistas Para

os professores adeptos de uma visatildeo construtivista

e interacionista de aprendizagem trabalhar no deshy

senvolvimento de competecircncias natildeo eacute uma ruptura

(PERRENOUD 2000 apud DUARTE 2003 p 6)

O trecho do trabalho de Perrenoud citado por Duarte (2003)

permite segundo este incluir a Pedagogia das Competecircncias - junshy

tamente com o Construtivismo a Escola Nova os estudos na linha

do ldquoProfessor Reflexivordquo dentre outros mdash no grupo das chamadas ldquoPe-

dagogias do Aprender a Aprenderrdquo que visam produzir uma maior

adaptabilidade dos indiviacuteduos agraves alteraccedilotildees do capitalismo7

As reflexotildees apresentadas ateacute aqui nos colocam diante do desafio

de construir as possibilidades de desenvolvimento dc uma perspectiva de

educaccedilatildeo que supere a loacutegica adaptadora da formaccedilatildeo mediada pelo lema

ldquoaprender a aprenderrdquo ou mais especificamente pela noccedilatildeo de aquisiccedilatildeo

de competecircncias para empregabilidade Por outro lado isso nos remete

ao resgate do significado de escola unitaacuteria de uma educaccedilatildeo politeacutecnica

e de uma formaccedilatildeo omnilateral na qual a formaccedilatildeo humana volta-se para

a apreensatildeo do conhecimento sistematizado em todas as suas dimensotildees

premissa fundamental para a formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos e criacuteticos

A perspectiva marxista de formaccedilatildeo humana como possibilidade de oposiccedilatildeo agrave perspectiva dominante de educaccedilatildeo escolar

Tendo como horizonte um projeto educativo voltado agrave superaccedilatildeo

do capitalismo Frigotto (1985) aponta a politecnia como concepccedilatildeo de

educaccedilatildeo que interessa agrave classe trabalhadora por estar fundamentada

na superaccedilatildeo da divisatildeo entre teoria e praacutetica em direccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do

homem em todas as suas dimensotildees - formaccedilatildeo omnilateral

Uma anaacutelise dai Pedagogias do Aprender a Aprender eacute apresentada em Duarte (2006)

A concepccedilatildeo de uma educaccedilatildeo politeacutecnica tem origem na

compreensatildeo do homem como um ser de muacuteltiplas atividades

Marx e Engels (1989) indicam que o homem natildeo deve limitar

seu desenvolvimento a uma das partes do seu corpo da sua inshy

teligecircncia ou de sua sensibilidade o homem todo e todo hoshy

mem deve constantemente humanizar-se pelo trabalho Desse

modo a educaccedilatildeo deveria ter como objeto de sua preocupaccedilatildeo o

desenvolvimento do homem nas suas maacuteximas potencialidades

partindo do pressuposto de que ele eacute capaz de captar a realidade

e dela se apropriar com todos os seus sentidos de maneira comshy

preensiva e como ser total (MARX 2005)

A concepccedilatildeo de formaccedilatildeo politeacutecnica fundamenta-se no mashy

terialismo histoacuterico dialeacutetico englobando de modo indissociaacuteshy

vel uma concepccedilatildeo pedagoacutegica uma perspectiva de trabalho e

um projeto de sociedade que garante agrave politecnia uma coerecircncia

entre meacutetodo concepccedilatildeo de mundo e praacutexis Ou seja a politecnia

apoia-se na anaacutelise das transformaccedilotildees dos processos de trabalho

que estatildeo na base das relaccedilotildees de produccedilatildeo capitalista (dimensatildeo

infraestrutural) Essa anaacutelise eacute realizada sob a perspectiva de um

projeto utoacutepico-revolucionaacuterio de construccedilatildeo de uma sociedade

sem classes (dimensatildeo utoacutepica) Essas duas dimensotildees acabam

por desembocar em propostas de accedilatildeo educativa (dimensatildeo peshy

dagoacutegica) que tecircm como finalidade contribuir para a formaccedilatildeo

do homem em todas as suas dimensotildees (RODRIGU ES 1998)

No que tange agrave concepccedilatildeo de escola pensada como um espaccedilo

de luta pela hegemonia8 da classe trabalhadora a defesa se faz no

sentido de uma escola que possibilite ao homem desenvolver suas

capacidades produtivas e intelectuais de forma unificada Nesta

perspectiva Gramsci (2004) defende um tipo de escola unitaacuteria que

ao mesmo passo encaminhe o jovem para a escolha profissional e

lorme sujeitos capazes de dirigir e controlar os rumos da vida em soshy

Adotamos o conceito de hegemonia conforme define Gramsci (2000) uma relaccedilatildeo de

poder presente nas sociedades capitalistas que expressa a dominaccedilatildeo de uma ou mais

fraccedilotildees dcclasse sobre o conjunto de sua proacutepria classe e das classes antagocircnicas em que

o econocircmico e o poliacutetico expressam a ldquodireccedilatildeo moral e intelectualrdquo a ser seguida pelo

conjunto da sociedade

ciedade Para tal esta escola deve promover a elevaccedilatildeo cultural9 dos

jovens preparando-os para a atividade social autocircnoma e criativa

A escola uacutenica do trabalho como estrutura busca a superaccedilatildeo das

trajetoacuterias de distribuiccedilatildeo desigual do saber a politecnia como conteshy

uacutedo visa construir uma organizaccedilatildeo curricular que resgate a totalidade

dos conhecimentos cientiacuteficos artiacutesticos filosoacuteficos e instrumentais

que regem os processos produtivos a dialeacutetica como meacutetodo caminha

no sentido da reunificaccedilatildeo entre ciecircncia e teacutecnica entre formaccedilatildeo geshy

ral e profissional entre teoria e praacutetica permitindo aos alunos comshy

preenderem o processo de construccedilatildeo do conhecimento

No entanto eacute importante salientar que a concepccedilatildeo de escola

unitaacuteria e de formaccedilatildeo politeacutecnica deve ser tomada como referecircncia

num processo mais amplo qual seja o de luta pela transformaccedilatildeo

da sociedade pois como elaborou Marx (1984) um modelo de

educaccedilatildeo que busque a unidade entre teoria e praacutetica entra em conshy

tradiccedilatildeo com a forma capitalista de produzir e dividir o trabalho

sendo que o uacutenico caminho para subverter essa ordem seria o desenshy

volvimento dessas contradiccedilotildees

Nesse sentido considerando a dinacircmica do processo de proshy

duccedilatildeoreproduccedilatildeo da cultura a defesa da escola como instituiccedilatildeo

responsaacutevel pela transmissatildeo-assimilaccedilatildeo do conhecimento sistemashy

tizado torna-se indispensaacutevel para que cada indiviacuteduo da espeacutecie

humana possa se inserir na histoacuteria social desenvolvendo-se em suas

maacuteximas potencialidades E exatamente nessa linha que se configura

a definiccedilatildeo de Saviani (2006) sobre o papel da escola na perspectiva

da Pedagogia histoacuterico-criacutetica

O movimento pedagoacutegico que deu origem agrave Pedagogia hisshy

toacuterico-criacutetica surge no final da deacutecada de 1970 como resposta

9 No atual ambiente ideoloacutegico no qual predomina a ideologia neoliberal e poacutes-

moderna falar em elevaccedilatildeo cultural pode se constituir como algo um tanto quanto

polecircmico Contudo fazemos questatildeo de destacar que na perspectiva marxista

com a qual trabalhamos ldquo[] natildeo haacute margem nem para o evolucionismo ingecircnuo

(seja no plano da histoacuteria da organizaccedilatildeo social humana seja no plano da histoacuteria

do conhecimento) nem para o relativismo que nega a existecircncia de formas mais

desenvolvidas de vida social e de conhecimento nem finalmente para o subjeti-

vismo que nega o conhecimento como apropriaccedilatildeo da realidade objetiva pelo

pensamentordquo (DU A RT E 2003 p 77)

agrave necessidade de encontrar alternativa agrave pedagogia dominante

Saviani (2005) explica que naquele contexto imperava a necesshy

sidade histoacuterica especialmente no caso brasileiro de criticar a

pedagogia oficial sobretudo para evidenciar seu caraacuteter reproshy

dutor De acordo com os autores da eacutepoca cada setor da cultushy

ra como o sistema de ensino por exemplo desempenharia seu

papel na reproduccedilatildeo da sociedade A medida que essas ideias

se difundiam as chamadas teorias criacutetico-reprodutivistas0 ganhashy

vam forccedila para consolidar o entendimento de que a educaccedilatildeo

escolar sempre desempenharia o papel de reproduccedilatildeo Essas teoshy

rias foram se formulando e se difundindo ao mesmo tempo em

que eram assimiladas no Brasil como instrumento utilizado para

fustigar a poliacutetica educacional do Regime Militar (SAVIANI

2005) Se por um lado as teorias criacutetico-reprodutivistas foram

importantes para evidenciar o papel desempenhado pela pedagoshy

gia oficial no contexto do Regime Militar no Brasil por outro

lado natildeo forneceram alternativas para se contrapor agrave pedagogia

dominante Neste sentido Saviani (2005 p 135) afirma que

a luta contra a ditadura tambeacutem implicava a forshy

mulaccedilatildeo dc alternativas No campo educacional

o problema colocava-se nos seguintes termos se a

pedagogia oficial era inaceitaacutevel qual seria entatildeo

a orientaccedilatildeo alternativa aceitaacutevel A visatildeo criacutetico-

reprodutivista natildeo dava resposta para essa pergunshy

ta Natildeo tinha uma proposta de orientaccedilatildeo Fazia a

criacutetica do existente mostrando que este desempeshy

nhava a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo

Portanto era necessaacuterio formular uma proposta pedagoacutegica

que estivesse atenta aos determinantes sociais da educaccedilatildeo e que

permitisse articular de forma dialeacutetica o trabalho pedagoacutegico

com as relaccedilotildees sociais deveria levar em conta a accedilatildeo reciacuteproca

em que a educaccedilatildeo embora determinada em suas relaccedilotildees com

10 Saviani (2006) denomina de teorias criacutetico-reprodutivistas aquelas que por um lado

postulam a compreensatildeo da educaccedilatildeo a partir de seus condicionantes sociais mas por

outro lado chegam agrave conclusatildeo de que a funccedilatildeo da proacutepria educaccedilatildeo eacute reproduzir a

sociedade na qual ela se insere

a sociedade reage ativamente sobre o elemento determinante

(SAVIANI 2005) Assim como desdobramento desse processo

que buscou encontrar alternativa agrave pedagogia dominante a Peshy

dagogia histoacuterico-criacutetica surgiu como uma proposta pedagoacutegica

fundamentada no materialismo histoacuterico cuja tarefa em relaccedilatildeo

agrave educaccedilatildeo escolar implica a) identificar as formas mais desenshy

volvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicashy

mente reconhecendo as condiccedilotildees de sua produccedilatildeo e compreenshy

dendo as suas principais manifestaccedilotildees bem como as tendecircncias

atuais de transformaccedilatildeo b) converter o saber objetivo em saber

escolar de modo que se torne assimilaacutevel pelos alunos no espaccedilo

e tempo escolares c) prover os meios necessaacuterios para que os

alunos natildeo apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultashy

do mas apreendam o processo de sua produccedilatildeo bem como as

tendecircncias de sua transformaccedilatildeo (SAVIANI 2005)

Segundo o autor a escola eacute uma instituiccedilatildeo cujo papel conshy

siste na socializaccedilatildeo do saber sistematizado Natildeo se trata portanshy

to de qualquer tipo de saber ldquoa escola diz respeito ao conhecishy

mento elaborado e natildeo ao conhecimento espontacircneo ao saber

sistematizado e natildeo ao saber fragmentado agrave cultura erudita e

natildeo agrave cultura popularrdquo (SAVIANI 2006 p 14) Destacar esse

posicionamento eacute importante sobretudo porque tambeacutem eacute posshy

siacutevel encontrar na Educaccedilatildeo Fiacutesica tendecircncias que negam a aproshy

priaccedilatildeo do saber sistematizado por parte das fraccedilotildees menos prishy

vilegiadas da classe trabalhadora ao proclamar como seu papel

central o desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica ou a ldquovalorizaccedilatildeo

da cultura popularrdquo em detrimento da cultura erudita

Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica a defesa da escola como espashy

ccedilo de socializaccedilatildeo do saber sistematizado eacute essencial para assegurar o

caraacuteter contraditoacuterio da educaccedilatildeo e afirmar os interesses dos trabalhashy

dores uma vez que dominar os conhecimentos mais desenvolvidos

produzidos pela humanidade no campo das ciecircncias das artes e da fishy

losofia eacute condiccedilatildeo para o processo de emancipaccedilatildeo (SAVIANI 2006)

11 Uma criacutetica ao paradigma da aptidatildeo fiacutesica foi desenvolvida pelo Coletivo de Autores (1992)

cr

A perspectiva histoacuterico-criacutetica na Educaccedilatildeo Fiacutesica direcionando o olhar para a metodologia Criacutetico- superadora

A busca de alternativas agrave pedagogia dominante atingiu tambeacutem a

Educaccedilatildeo Fiacutesica possibilitando articular a praacutetica pedagoacutegica na aacuterea

a um novo projeto de sociedade Desde o final da deacutecada de 1970

com o processo frequentemente denominado de ldquoredemocratizaccedilatildeo

da sociedade brasileirardquo inuacutemeros estudos passaram a questionar o

papel que vinha sendo assumido pela Educaccedilatildeo Fiacutesica em nosso paiacutes

qual seja o de educar os indiviacuteduos em conformidade com as necesshy

sidades do modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Os

crescentes questionamentos que ganharam forccedila na deacutecada de 1980

colocaram em xeque o quadro de referecircncias que havia direcionado a

Educaccedilatildeo Fiacutesica por mais de um seacuteculo A inflexatildeo na aacuterea configurashy

da como uma crise de legitimidade inaugurou um periacuteodo de buscas

para se construir a autonomia pedagoacutegica da aacuterea frente a um quadro

histoacuterico de viacutenculo ao projeto dominante

Nesse processo um importante marco para a educaccedilatildeo escolar foi

a publicaccedilatildeo na deacutecada de 1990 do livro Metodologia do Ensino de lducaccedilaacuteo Fiacutesica escrito por um grupo que se autodenominou de Coshy

letivo de Autores (1992) Nessa obra eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal mdash uma tendecircncia que pautada

na Pedagogia histoacuterico-criacutetica visa a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enquanto

sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em que vive

Para formar esse tipo de sujeito o paradigma da reflexatildeo criacuteti-

i i sobre a cultura corporal defende a tematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de

lorma criacutetico-superadora A tematizaccedilatildeo defendida por esta proposta

ibrange a compreensatildeo das relaccedilotildees de interdependecircncia que os dife-

H iiies conteuacutedos da cultura corporal tecircm com os grandes problemas

bull gtlt Hraquo-poliacuteticos atuais como ldquo[] ecologia papeacuteis sexuais sauacutede puacute-

I 1 u i relaccedilotildees de trabalho preconceitos sociais raciais da deficiecircncia

bull I i wlhice distribuiccedilatildeo do solo urbano distribuiccedilatildeo de renda diacutevida

i u i na e outrosrdquo (COLETIVO DE AUTORES 1992 p 62-63)

Assim busca-se desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as formas

de representaccedilatildeo do mundo exteriorizadas pela expressatildeo corporal

que o ser humano tem produzido no decorrer da histoacuteria dentre as

quais pode-se destacar jogos danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esshy

porte malabarismos contorcionismos miacutemica e outros que podem

ser identificados como formas de representaccedilatildeo simboacutelica de realishy

dades vividas pelo homem historicamente criadas e culturalmente

desenvolvidas (COLETIVO DE AUTORES 1992)

Portanto pode-se afirmar que a metodologia Criacutetico-superado-

ra ao alinhar-se agrave perspectiva pedagoacutegica defendida por Dermeval

Saviani busca propor novos caminhos para a apropriaccedilatildeo do conheshy

cimento na escola inclusive pela organizaccedilatildeo metodoloacutegica fundashy

mentada nos cinco passos do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do coshy

nhecimento a saber identificaccedilatildeo da praacutetica social problematizaccedilatildeo

instrumentalizaccedilatildeo catarse e retorno agrave praacutetica social

O ponto de partida para a apropriaccedilatildeo do conhecimento na escola

eacute a praacutetica social (SAVIANI 2006) Nesse passo conforme apresentado

por Gasparin (2005) realiza-se um primeiro contato com o tema a ser

estudado para evidenciar suas relaccedilotildees com a vida cotidiana visando

mobilizar os alunos para o processo pedagoacutegico Segundo este autor a

identificaccedilatildeo da praacutetica social pode ser dividida em duas partes a saber

anuacutencio e vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos No anuacutencio dos conteuacutedos aponta-se o que seraacute estudado e quais os objetivos a serem alcanccedilados

Na vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos identifica-se o que os alunos jaacute sashy

bem c o que eles gostariam de saber mais sobre o assunto em questatildeo

O segundo passo do meacutetodo dialeacutetico de construccedilatildeo do conhecishy

mento escolar eacute a problematizaccedilatildeo fase na qual se busca ldquo[] detectar

que questotildees precisam ser resolvidas no acircmbito da praacutetica social e em

consequecircncia que conhecimento eacute necessaacuterio dominarrdquo (SAVIANI

2006 p 71) A partir dessa afirmaccedilatildeo dois importantes aspectos foram

salientados por Gasparin (2005) que merecem um devido destaque

O primeiro deles diz respeito agraves questotildees da praacutetica social que deshy

vem ser detectadas O autor esclarece com base no proacuteprio Saviani

que o foco deve ser concentrado nas grandes questotildees que desafiam a

sociedade nos principais problemas que precisam ser resolvidos natildeo

soacute na escola ou pela escola mas no acircmbito da sociedade Para isso

afirma que deve ser feita uma seleccedilatildeo do que eacute fundamental visto que

os principais problemas postos pela praacutetica social nem sempre podem

ser tratados na sua totalidade em cada aacuterea do conhecimento O ldquofunshy

damentalrdquo vale dizer refere-se aos aspectos relacionados ao conteuacutedo

estabelecido pelo curriacuteculo escolar ou aos conhecimentos trabalhados

em uma determinada unidade do programa Com base nesse entendishy

mento pode-se dizer que a problematizaccedilatildeo deve selecionar e discutir

os problemas que tecircm origem na praacutetica social mas que ao mesmo

tempo se ligam ao conteuacutedo a ser trabalhado trata-se de uma seleccedilatildeo

e discussatildeo de grandes questotildees sociais poreacutem inseridas e especificadas

no conteuacutedo da unidade que estaacute sendo estudada (GASPARIN 2005)

O segundo aspecto a ser destacado refere-se a qual conhecimento

eacute necessaacuterio dominar para resolver os problemas da praacutetica social Gas-

parin (2005) explica que de maneira geral os conteuacutedos satildeo quase

sempre transmitidos aos educandos por uma uacutenica dimensatildeo a con-

eeitual-cientiacutefica Em virtude da ecircnfase geralmente atribuiacuteda a essa dishy

mensatildeo do conteuacutedo o autor alerta o seguinte eacute necessaacuterio lembrar

no processo de construccedilatildeo do conhecimento que a ciecircncia tambeacutem eacute

iiin produto social originada de necessidades histoacutericas econocircmicas

poliacuteiicas ideoloacutegicas filosoacuteficas religiosas teacutecnicas dentre outras Tenshy

do i in vista o fato de que existem muacuteltiplas dimensotildees que revestem

os dilerentes conteuacutedos faz-se necessaacuterio abordar na construccedilatildeo do

- ltgtii1k-ciacutemento natildeo soacute a dimensatildeo conceitual-cientiacutefica A necessidade

llt 1 1 mscender a abordagem centrada na dimensatildeo conceitual-cientiacutefica

jMivuacuten do entendimento de que a anaacutelise do real deve considerar suas

muacuteltiplas dimensotildees visto que a realidade social envolve sempre uma

tuii de perspectivas um conjunto de aspectos interdependentes que

u ui ser entendidos para a resoluccedilatildeo dos problemas postos pela praacute-

laquo iil Eacute importante destacar esse aspecto sobretudo porque na

u lo 1 iacutesica a ecircnfase do processo pedagoacutegico geralmente eacute concen-

raquo i iu is rlementos teacutecnicos e taacuteticos o que desconsidera as muacuteltiplas

bull t M ii raquors que revestem o conteuacutedo em questatildeo

Assim duas tarefas principais podem ser operacionalizadas na

problematizaccedilatildeo A primeira delas envolve o questionamento da praacuteshy

tica social e do conteuacutedo escolar Trata-se de um momento em que satildeo

apresentadas e discutidas as razotildees sociais pelas quais se deve aprender o

conteuacutedo proposto de modo que os alunos possam entender melhor o

que seraacute estudado identificar os principais problemas postos pela praacuteshy

tica social e pelos conteuacutedos e ainda entender a necessidade eou vashy

lidade do conteuacutedo curricular proposto para solucionar eou entender

melhor os problemas da praacutetica social (GASPARIN 2005) A segunda

tarefa que pode ser realizada na problematizaccedilatildeo refere-se agraves dimensotildees

do conteuacutedo a serem trabalhadas Em linhas gerais pode-se dizer que

essa tarefa consiste em definir as dimensotildees que se deseja estudar Para

tanto pode-se partir do conteuacutedo a ser trabalhado de modo a elaborar

questotildees desafiadoras que expressem dimensotildees especiacuteficas referentes agrave

natureza do conteuacutedo como por exemplo as dimensotildees cientiacutefico-

-conceituais sociais econocircmicas culturais histoacutericas filosoacuteficas moshy

rais eacuteticas esteacuteticas legais e doutrinaacuterias (GASPARIN 2005)

O passo seguinte a instrumentalizaccedilatildeo segundo Gasparin (2005) eacute o

caminho atraveacutes do qual o conteuacutedo sistematizado eacute posto agrave disposiccedilatildeo dos

alunos para que o assimilem o recriem e ao incorporaacute-lo transformem-no

em instrumento cultural para transformaccedilatildeo da realidade Esse terceiro passhy

so do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do conhecimento consiste no moshy

mento em que os alunos vatildeo se apropriar das ferramentas culturais necesshy

saacuterias agrave luta social que travam diariamente para se libertar das condiccedilotildees de

opressatildeo em que vivem ou seja trata-se da fase na qual ocorre a apropriaccedilatildeo

dos instrumentos teoacutericos e praacuteticos necessaacuterios ao equacionamento dos

problemas detectados na praacutetica social (SAVIANI 2006)

De acordo com Saviani (2006) o quarto passo do meacutetodo eacute a ldquocashy

tarserdquo momento de expressatildeo elaborada da nova forma de entendimenshy

to da praacutetica social a que se ascendeu ldquoTrata-se da efetiva incorporaccedilatildeo

dos instrumentos culturais transformados agora em elementos ativos

de transformaccedilatildeo socialrdquo (SAVIANI 2006 p 72) Pode-se dizer que a

catarse eacute a demonstraccedilatildeo teoacuterica do ponto de chegada do niacutevel superior

atingido pelos alunos (GASPARJN 2005)

Por fim no retorno agrave praacutetica social temos a nova maneira de comshy

preender a realidade e de posicionar-se diante dela eacute a manifestaccedilatildeo

da nova postura praacutetica da nova atitude da nova visatildeo do conteuacutedo

no cotidiano Trata-se de acordo com Gasparin (2005) do momento

de accedilatildeo consciente em prol da transformaccedilatildeo da realidade a partir do

retorno agrave praacutetica social agora entendida de forma mais elaborada

Levando em conta esses diferentes momentos do meacutetodo dialeacutetico

de construccedilatildeo do conhecimento o ensino dos diferentes conteuacutedos que

compotildeem a cultura corporal permite aos alunos se apropriarem dos coshy

nhecimentos acumulados historicamente pela humanidade Trata-se de

um importante passo no sentido de enriquecer a concepccedilatildeo de mundo

dos alunos uma vez que o acesso ao saber sistematizado sobre jogos

esporte luta danccedila ginaacutestica circo por exemplo se constitui como

elemento indispensaacutevel para leitura dessa dimensatildeo da realidade

Consideraccedilotildees finais

O artigo em tela apresentou a concepccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica de

Educaccedilatildeo Fiacutesica que embasa as praacuteticas pedagoacutegicas discutidas ao longo

deste livro destacando sua articulaccedilatildeo com um projeto de formaccedilatildeo hushy

mana criacutetico agraves relaccedilotildees sociais capitalistas visando superar a perspectiva

de adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves exigecircncias do mundo do trabalho

Com base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e na abordagem Criacutetico-

-superadora o objetivo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute promover uma

reflexatildeo criacutetica sobre diferentes conteuacutedostemas da cultura corporal

seguindo um caminho metodoloacutegico que busca ampliar a compreensatildeo

e accedilatildeo dos sujeitos sobre a realidade em que vivem

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Autores Associados 2005

CAPIacuteTULO III

A PRODUCcedilAtildeO DA CULTURA LUacuteDICA EM JOGOS ELETROcircNICOS

Priscila Rocha Rodrigues

Renata Aparecida Alves Landim

Tl)iago Barreto Maciel

Victoacuteria de Faacutetima de Mello

Abordar os jogos e as brincadeiras como

conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica pode parecer

um lugar comum pois existe um consenso

por parte dos educadores acerca da presenshy

ccedila dessas praacuteticas corporais nas aulas dessa

disciplina Entretanto muitas vezes o trashy

balho desenvolvido nas escolas opera uma

instrumentalizaccedilatildeo dos jogos utilizando os

mesmos como meios para a aprendizagem

dos esportes ou de outras mateacuterias de enshy

sino De acordo com Bracht et al (1995)

esse processo dilui os jogos de seu contexshy

to soacutecio-cultural passando a consideraacute-los

como um recurso metodoloacutegico e natildeo como

um conteuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Consideramos que para tratar os joshy

gos e as brincadeiras1 como conteuacutedo de

ensino eacute preciso superar a mera praacutetica e

I Em diversos idiomas os termos jogos brincadeiras e

brinquedo satildeo tratados como sinocircnimos e em outros uma

uacutenica palavra guarda os trcs significados Visando distinguir

os termos Kishimoto (2003) considera como brinquedo o

objetosuporte - concreto ou ideoloacutegico - da brincadeira

como brincadeira a conduta estruturada por regras e como

jogo a descficcedilaacuteo tanto do objeto como das regras durante um

determinado templaquo gt Neste texto adotaremos a conceituaccedilatildeo

de brinquedo como suporte da brincadeira mas naacuteo faremos

promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre os jogos como uma forma

proacutepria de expressatildeo da cultura corporal Os jogos satildeo resultados

do processo criativo cio homem para modificar imaginariamente

a realidade e o presente tendo em vista finalidades luacutedicas (C O shy

LETIVO DE AUTORES 1992) Eles tecircm significados dentro do

conjunto da produccedilatildeo humana por isso guardam em seu interior

as caracteriacutesticas do modo de organizaccedilatildeo social num dado moshy

mento histoacuterico sendo marcados por continuidades e rupturas em

relaccedilatildeo aos jogos e brincadeiras de outras eacutepocas

Na atualidade o modo de vida das pessoas sobretudo nos

grandes conglomerados urbanos tem favorecido a substituiccedilatildeo parshy

cial ou total dos jogos traciicionais provenientes da cultura popular

pelos videogames produtos da induacutestria cultural Nesse sentido

consideramos que promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as es-

pecificidades e os dilemas que envolvem os jogos eletrocircnicos como

uma manifestaccedilatildeo luacutedica tipicamente contemporacircnea pode ajudar a

compreender o proacuteprio tempo 1 1 0 qual vivemos

lendo em vista a realizaccedilatildeo de uma discussatildeo teoacuterico-metodo-

loacutegica sobre os jogos e a socializaccedilatildeo de uma experiecircncia concreta

organizamos este artigo em trecircs partes aleacutem dessa introduccedilatildeo e das

consideraccedilotildees finais Na primeira abordaremos os jogos como uma

manifestaccedilatildeo da cultura corporal e suas implicaccedilotildees para as aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesica Na segunda trataremos das formas de expressatildeo dos

jogos na sociedade contemporacircnea Na terceira parte apresentaremos

uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos para os alunos dos

anos finais cio ensino fundamental seguida do plano de unidade

Os jogos e as brincadeiras como conteuacutedos para as aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Em nosso tempo um dos grandes estudiosos sobre os jogos foi

Huizinga Em sua obra claacutessica ldquoHomo Ludens rdquo publicada origishy

nalmente em 1938 ele analisou a natureza e o significado do jogo

como fenocircmeno cultural De acordo com Huizinga (2000) o jogo eacute

uma das manifestaccedilotildees mais antigas da humanidade e sempre esteve

associado ao divertimento e ao prazer com a finalidade de dar um

sentido luacutedico para a existecircncia humana Nas palavras do autor

[] o jogo eacute uma atividade ou ocupaccedilatildeo volunshy

taacuteria exercida dentro de certos e determinados

limites de tempo e de espaccedilo segundo regras lishy

vremente consentidas mas absolutamente obrigashy

toacuterias dotado de um fim em si mesmo acompashy

nhado de um sentimento de tensatildeo e de alegria e

de uma consciecircncia de ser diferente da ldquovida quoshy

tidianardquo (H U IZ IN G A 2000 p 24)

Apesar de buscar se distanciar dos objetivos de satisfaccedilatildeo imeshy

diata da vida atraveacutes da criaccedilatildeo e praacutetica de diversos tipos de jogos

todo jogo desde as idades mais remotas ateacute os dias atuais eacute um

produto do ldquotrabalhordquo 2 e por isso estaacute subordinado agraves formas

histoacutericas assumidas pela atividade humana em diferentes modos de

produccedilatildeo social da existecircncia ldquoOs homens fazem sua histoacuteria mas

natildeo a fazem como querem natildeo a fazem sob circunstacircncias de sua

escolha e sim sob aquelas com que se defronta diretamente legadas

e transmitidas pelo passadordquo (MARX 1978 p 329)

Uma caracteriacutestica marcante em todos os jogos e brincashy

deiras eacute a existecircncia de uma situaccedilatildeo imaginaacuteria e de regras que

expliacutecita ou implicitamente ordenam e conduzem as accedilotildees dos

jogadores Como descreve Vygotsky (2007) no processo de deshy

senvolvimento das brincadeiras da crianccedila haacute um processo que

vai do jogo de papeacuteis com situaccedilotildees imaginaacuterias expliacutecitas e com

regras impliacutecitas aos jogos com regras expliacutecitas e situaccedilotildees imashy

ginaacuterias ocultas Para esse autor os jogos satildeo condutas que im ishy

tam as accedilotildees reais por isso sofrem influecircncia das relaccedilotildees sociais

num jogo de papeacuteis da crianccedila por exemplo a situaccedilatildeo imaginaacuteshy

ria incorpora elementos e regras de comportamento do contexto

cultural adquiridos por meio da interaccedilatildeo com os outros

2 O trabalho eacute para Marx e Engels (1989) a atividade vital e por excelecircncia humana a partir

dele o homem modifica intencionalmente a natureza para atender suas necessidades e cria

novas necessidades produzindo sua proacutepria vida Desse modo por meio do trabalho o

homem transforma ao mesmo tempo a si mesmo e as formas de se organizar socialmente

criando histoacuterica e coletivamente um mundo especificamente humano o mundo da cultura

Outro aspecto que merece ser destacado eacute que todo jogo tem sua

existecircncia em um tempo-espaccedilo relacionado agrave sua localizaccedilatildeo histoacuterishy

ca e geograacutefica De acordo com Kishimoto (2003) uma mesma conshy

duta pode ser jogo ou natildeo-jogo em diferentes culturas dependendo

do significado a ele atribuiacutedo Os brinquedos tambeacutem devem ser enshy

tendidos como objetos culturais pois natildeo podem ser compreendidos

fora do contexto histoacuterico e social em que foram criados Se para uma

crianccedila europeia a boneca significa um brinquedo para populaccedilotildees

indiacutegenas tem o sentido de siacutembolo religioso

Desse modo mesmo que o jogo seja compreendido como

uma accedilatildeo de livre expressatildeo da crianccedila a sua praacutetica cotidiana

revela formas diferenciadas de jogar de acordo com o modo de

organizaccedilatildeo do trabalho e da vida dos povos praticantes Orlick

(1978) destaca como os padrotildees de partilha das sociedades satildeo reshy

fletidos e reforccedilados nos jogos e brincadeiras infantis Atraveacutes deles

as crianccedilas aprendem os modelos de comportamento dos adultos e

vatildeo sendo preparadas para a vida em sociedade

Esse coletivo considera que para configurar o jogo como conshy

teuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ele deve ser tratado pedagogishy

camente tendo em vista uma aprendizagem que amplie o niacutevel de

compreensatildeo dos alunos sobre o mundo Para tal consideramos que

ter accsso ao conhecimento sistematizado sobre os jogos e brincashy

deiras eacute essencial para que as crianccedilas e jovens possam agir sobre a

realidade social de forma totalizante incluindo em suas possibilidashy

des de accedilatildeo a dimensatildeo luacutedica da produccedilatildeo cultural humana Nesse

sentido se apropriar da cultura jaacute produzida eacute fundamental para

explorar o jaacute existente e a partir daiacute criar o novo dando novos

sentidos e significados aos jogos e brincadeiras

Considerar os jogos como manifestaccedilotildees da cultura corporal signifishy

ca retraccedilaacute-Ios desde sua gecircnese desvendando como eles eram e como satildeo

hoje buscando uma intervenccedilatildeo consciente sobre a realidade

Sua importacircncia enquanto conteuacutedo da EF estaacute

na representaccedilatildeo das raiacutezes histoacutericas e culturais

de diversos povos bem como as transformaccedilotildees

ocorridas ao longo do tempo que possam ter cau-

sado modificaccedilotildees no modo como se joga detershy

minado jogo em vaacuterias partes do mundo Egrave imporshy

tante tambeacutem considerar o jogo em seu processo

de criaccedilatildeo recriaccedilatildeo e readaptaccedilatildeo levando-se em

conta as possiacuteveis influecircncias poliacuteticas econocircmishy

cas e sociais pelas quais tenha passado dando-lhe

uma nova configuraccedilatildeo e uma compreensatildeo criacutetishy

ca (BRITO 2006 p 61)

Desse modo deve-se privilegiar uma abordagem sobre os

jogos que possibilite o conhecimento de suas principais caracteshy

riacutesticas como forma de manifestaccedilatildeo especiacutefica da cultura corshy

poral e naacuteo de forma subordinada ao esporte A flexibilidade eacute a

palavra chave para entender o jogo quanto agraves regras organizaccedilatildeo

espaccedilo-tempo nuacutemero de jogadores nomeaccedilatildeo caraacuteter compeshy

titivo ou cooperativo (JU IZ DE FORA 2000)

O trabalho com os jogos e brincadeiras deve permitir a

compreensatildeo do processo de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo da culshy

tura bem como suas continuidades e modificaccedilotildees histoacutericas

De acordo com o Coletivo de Autores (1992) a elaboraccedilatildeo de

um programa desse conteuacutedo ao longo dos anos de escolarizaccedilatildeo

deve considerar a memoacuteria luacutedica da comunidade e oferecer o

conhecimento da diversidade de jogos e brincadeiras existentes

nas diferentes regiotildees do paiacutes e do mundo

A ideia motriz eacute entender que os jogos como criaccedilotildees humanas

que objetivam o prazer e o divertimento num dado contexto histoacuterico-

-social refletem mas tambeacutem podem forjar valores e comportamentos

Desse modo o trabalho com os jogos deve instrumentalizar os alunos

natildeo apenas para utilizar a cultura luacutedica mas tambeacutem compreendecirc-la

como produccedilatildeo humana passiacutevel de constante criaccedilatildeo e recriaccedilatildeo

Devido agrave necessidade de selecionar temas de relevacircncia social

que instrumentalizem os alunos para uma accedilatildeo criacutetica frente agrave realishy

dade nos debruccedilamos sobre uma forma especiacutefica de manifestaccedilatildeo

da praacutetica luacutedica dos indiviacuteduos na atualidade - os jogos eletrocircni-

cos- buscando tratar de sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na

sociedade capitalista e suas relaccedilotildees com os jogos tradicionais

Os games formas de manifestaccedilatildeo dos jogos na sociedade contemporacircnea

Em pleno seacuteculo XXI as crianccedilas ainda brincam de piques

jogos com bola jogos de tabuleiro dentre tantos outros de forshy

ma muito semelhante aos seus pais avoacutes e bisavoacutes A esses tipos

de jogos que foram capazes de atravessar o tempo chamamos

de jogos tradicionais Eles tecircm como caracteriacutesticas centrais o

fato de pertencerem ao domiacutenio puacuteblico e serem transmitidos de

geraccedilatildeo em geraccedilatildeo De acordo com Kishimoto (2003) os jogos

tradicionais satildeo considerados como parte da cultura popular e

expressam as formas de consciecircncia de um povo num dado moshy

mento histoacuterico Esses jogos satildeo transmitidos oralmente e por

incorporarem criaccedilotildees anocircnimas das geraccedilotildees que vatildeo se suceshy

dendo estatildeo sempre em transformaccedilatildeo

Com base nesta definiccedilatildeo podemos considerar que existe uma fashy

cilidade da apropriaccedilatildeo e vivecircncia dos jogos tradicionais que satildeo tiacutepicos

da regiatildeo de pertencimento do aluno mesmo que de forma fragmentashy

da e caoacutetica proveniente do senso comum Tal fato se daacute justamente por

entendermos que os jogos tradicionais antes de tudo satildeo populares a

cabo do termo ou seja tecircm uma ampla inserccedilatildeo na sociedade Outro

fator que garante essa popularidade eacute que eles satildeo transmitidos atraveacutes

das geraccedilotildees e para sua praacutetica natildeo eacute necessaacuterio nenhum material sofisshy

ticado Dessa forma o alijamento dos meios de produccedilatildeo e dos produshy

tos do trabalho da maior parte da populaccedilatildeo natildeo acaba por ser um fator

determinante apesar de central no acesso a esse patrimocircnio cultural da

humanidade que satildeo os jogos tradicionais ou populares3

Embora diversos jogos tradicionais possam ser aprendidos

praticados de forma gratuita e permaneccedilam muito presentes no

cotidiano das crianccedilas e adolescentes eles vecircm perdendo espaccedilo

3 Neste texto utilizaremos os termos jogos tradicionais e jogos populares como sinocircnimos devido

ao fato de ambos possuiacuterem a mesma dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo marcadas pela

produccedilatildeo coletiva e reproduccedilatildeo oral entre as geraccedilotildees o que nos permite consideraacute-los como

patrimocircnios da cultura popular De acordo com SANTOS (2009) os termos tradicional

popular e folclore representam o conhecimento sobre um jogo por parte majoritaacuteria da

populaccedilatildeo sendo esse conhecimento na maioria das vezes advindo do senso comum

)

sobretudo nas grandes cidades para os jogos eletrocircnicos formas

de expressatildeo dos jogos tipicamente contemporacircneas

Os jogos eletrocircnicos4 estatildeo presentes na praacutetica social cotidiashy

na das pessoas em escala mundial e fazem parte da vida de inuacutemeras

crianccedilas e adolescentes brasileiros mesmo daqueles para os quais

os jogos satildeo apenas desejos de consumo Os games estatildeo por toda

parte natildeo apenas nos aparelhos especiacuteficos para os jogos (consoles

e portaacuteteis) mas tambeacutem nos computadores ipads e telefones celushy

lares podendo ainda ser jogados pela internet em sites e nas redes

sociais Deve ser difiacutecil para as crianccedilas e jovens de hoje pensarem

que houve um tempo em que natildeo existiam jogos digitais

A histoacuteria dos jogos eletrocircnicos tem iniacutecio no final dos anos

de 1950 no contexto da guerra fria quando comeccedilam a ser criashy

dos protoacutetipos de videogames com a incorporaccedilatildeo da tecnoloshy

gia disponiacutevel na eacutepoca Um dos precursores do videogame foi

W illian Higinbotham um fiacutesico que atuava num laboratoacuterio nushy

clear e havia trabalhado no projeto da primeira bomba atocircmica

ele criou em 1958 um jogo eletrocircnico com linhas rudimentares

o tecircnis para dois Em 1966 eacute criado por Ralph Baer o primeiro

console caseiro o Magnavox Odissey (A ERA 2007)

Entretanto eacute a partir dos anos de 1970 acompanhando o desenvolvishy

mento dos computadores pessoais que os jogos eletrocircnicos se tornam mais

expressivos Em 1972 com a criaccedilatildeo do ldquoPongrdquo (fliperama que simula uma

partida de tecircnis de mesa) os games comeccedilam a ficar agrave disposiccedilatildeo do puacuteblishy

co em geral O seu desenvolvedor Nolan Bushenell percebeu o potencial

dos jogos eletrocircnicos como um negoacutecio e fundou a ATARI empresa que

marcou o surgimento da induacutestria do videogame (ALVES 2004)

Entre a deacutecada de 1970 e a deacutecada de 1980 devido agrave manifestashy

ccedilatildeo de uma crise ciacuteclica de superproduccedilatildeo do sistema capitalista tem

iniacutecio um processo que podemos chamar de mundializaccedilatildeo econocircmi-

4 Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais nos quais o jogador interage com imagens

enviadas a uma tela geralmente uma televisatildeo ou monitor Os games satildeo programas

(sofrwares) instalados ou acessados em um sistema eletrocircnicoaparelho preparado

para rodaacute-lo (Hardware) Existem vaacuterios gecircneros de jogos eletrocircnicos como jogos de

accedilatildeo (plataforma de corrida de tiro) de estrateacutegia de lutacombate de esporte de

simulaccedilatildeo Role Playing Games (RPG) e de tabuleiro

caJy em que o capital parte em busca de novas aacutereas visando explorar

condiccedilotildees mais rentaacuteveis de produccedilatildeo e expandir mercados consushy

midores E justamente nesse contexto que a induacutestria cultural ganha

impulso e os jogos eletrocircnicos satildeo disseminados pelos quatro cantos

do mundo com grande potencial de escoamento de mercadorias

Nas duas uacuteltimas deacutecadas fruto de uma germinaccedilatildeo iniciada no

poacutes-terceira revoluccedilatildeo industrial ou revoluccedilatildeo tecnocientiacutefica que

proporcionou o surgimento de atividades que empregam a alta tecshy

nologia como a informaacutetica a microeletrocircnica o avanccedilo das telecoshy

municaccedilotildees e a biotecnologia os jogos eletrocircnicos tecircm seguido e tamshy

beacutem contribuiacutedo com os avanccedilos tecnoloacutegicos Se compararmos os

primeiros games com os jogos de hoje constataremos que eles deram

grandes saltos qualitativos de graacuteficos bi para graacuteficos tridimensionais

que permitiram aperfeiccediloar e personalizar os enredos e personagens

atingindo uma qualidade de imagem som e movimento tatildeo bons que

os jogos mais parecem realidades virtuais As inovaccedilotildees tecnoloacutegicas

e criativas satildeo produzidas numa velocidade cada vez maior materiashy

lizando-se rapidamente numa nova mercadoria a ser comercializada

O mercado dos games eacute de alta lucratividade com projeccedilotildees

de faturamento no acircmbito mundial para 2013 de US$ 735 bilhotildees

e girando no mercado interno aproximadamente R$ 875 milhotildees

- valor referente ao ano de 2008 (ABRAGAMES 2008) Aleacutem da

venda de uma enxurrada de produtos relacionados agrave praacutetica dos joshy

gos eletrocircnicos existe uma espeacutecie de economia virtual com comshy

pra e venda de mercadorias e identidades digitais (avatares) 6

5 O termo mundializaccedilatildeo eacute utilizado por Chesnais (1996) com a intenccedilatildeo de diminuir

a falta de nitidez conceituai e o caraacuteter ideoloacutegico do termo globalizaccedilatildeo que sugere

a ideia de uma perspectiva integradora Para o autor o termo mundializaccedilatildeo permite

pensar melhor esta fase especiacutefica do processo de internacionalizaccedilatildeo do capital em

busca de regiotildees com recursos ou mercados visando sua valorizaccedilatildeo Neste processo de

liberalizaccedilatildeo econocircmica e financeira haacute um agravamento da polarizaccedilatildeo entre regiotildees

centrais e perifeacutericas do capitalismo tanto em escala internacional como nacional

6 Essa economia virtual eacute muito comum nos jogos on-line de representaccedilatildeo da vida real

como Farm Ville The Sims Social e Second Life O Second Life possui uma unidade

monetaacuteria proacutepria o Linden Dollar atraveacutes da qual as pessoas podem comprar quase

tudo dentro do jogo Em 2009 o site do jogo movimentou 549 milhotildees de doacutelares Soacute

no primeiro trimestre de 2010 as movimentaccedilotildees financeiras entre usuaacuterios chegaram

a 160 milhotildees de doacutelares e a arrecadaccedilatildeo da loja virtual oficial foi de 23 milhotildees

(LUCRATIVO 2010)

Aqui cabe uma reflexatildeo sobre a dinacircmica social que envolve a proshy

duccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos e suas diferenccedilas em relaccedilatildeo

aos jogos tradicionais Os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos acompashy

nhando os avanccedilos tecnoloacutegicos do momento e norteados pelo afatilde da

esteira mercadoloacutegica tornando-se obsoletos rapidamente Bem difeshy

rente dos jogos tradicionais que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo cm geraccedilatildeo

e apesar de sofrerem algumas modificaccedilotildees resistem ao teste do tempo

Desse modo podemos dizer que os jogos eletrocircnicos natildeo podem ser

considerados como populares pelo menos por dois motivos primeiro

pelo fato dos jogos de hoje natildeo serem os mesmos de amanhatilde e segunshy

do devido agrave exigecircncia de produtos especializados para a praacutetica dos

mesmos o que por si soacute jaacute os torna inacessiacuteveis a uma parcela signifishy

cativa da populaccedilatildeo que natildeo possui condiccedilotildees de consumo

Entretanto ao mesmo tempo em que existe uma ruptura entre esshy

ses dois tipos de jogos podemos notar uma estreita relaccedilatildeo entre eles jaacute

que muitos jogos eletrocircnicos satildeo na realidade versotildees virtuais de antigos

jogos tradicionais como os jogos de tabuleiro o boliche a queimada

os jogos de cartas os quebra-cabeccedilas entre outros O que sugere uma

perspectiva de continuidade na produccedilatildeo da cultura luacutedica

Temos como pressuposto baacutesico que o trabalho educativo

consiste em transmitir o conhecimento historicamente produzido

a fim de contribuir para que os nossos alunos possam ter acesso

aos conhecimentos mais desenvolvidos produzidos historicamenshy

te pela humanidade para que possam enriquecer-se como indishy

viacuteduos e atuarem como homens do seu tempo Entretanto aqui

evidenciamos uma grande contradiccedilatildeo da nossa sociedade pois

devido ao modo de produccedilatildeo capitalista esses conhecimentos que

os proacuteprios trabalhadores ajudaramajudam a construir lhes satildeo

negados7 No caso dos jogos eletrocircnicos apesar de existir uma

enorme difusatildeo sobre os mesmos vemos que a maioria da classe

trabalhadora natildeo tem real acesso a esta produccedilatildeo cultural

7 O acesso agraves tecnologias digitais aumentou nos uacuteltimos anos mas ainda eacute m uito

significativo o nuacutemero de pessoas sem acesso real a esses bens sociais De acordo

com o PNAD 2009 apenas 35 dos domiciacutelios brasileiros investigados tinham

microcomputador e somente 274 tinham arlaquolaquo -------M n

Esteban Clua - professor do departamento de computaccedilatildeo da

UFF- em entrevista concedida agrave Agecircncia Brasil destacou que o Brasil eacute

o quarto maior consumidor de jogos eletrocircnicos do mundo sendo que

existe uma massa de aproximadamente 39 milhotildees de usuaacuterios ativos

desses jogos ou seja aproximadamente 20 da populaccedilatildeo brasileira

(GANDRA 2011) Com base nisso cabe a noacutes lanccedilarmos algumas

perguntas que tipo de acesso eacute esse Quais fatores levam os outros 80

da populaccedilatildeo brasileira a natildeo jogarem E por que os jovens e crianccedilas

mesmo os que sequer tecircm as condiccedilotildees de garantir a sua subsistecircncia se

veem hipnotizadas por essas mercadorias

Os jogos eletrocircnicos como qualquer produccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo satildeo

bons nem ruins por natureza natildeo se trata de criticaacute-los de forma saudosista

mas de permitir aos alunos uma atuaccedilatildeo criacutetica e consciente frente a esses

jogos que auxilie a superar o fetiche da tecnologia e a alienaccedilatildeo frente agrave messhy

ma Quando tomadas como valores de uso a ciecircncia e a tecnologia estatildeo

a serviccedilo da melhoria das condiccedilotildees de vida e da possibilidade de dilatar o

tempo livre para que o homem produza novos sentidos para sua existecircncia

natildeo apenas pela necessidade de comer vestir dormir morar mas tambeacutem

por finalidades luacutedicas Nesse sentido Frigotto (2005) aponta que as tecshy

nologias satildeo como extensotildees dos sentidos e membros dos seres humanos

Mas sob as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo da sociedade capitalista o que era para

aumentar o tempo livre intensifica a exploraccedilatildeo e a alienaccedilatildeo

Com isso entendemos que natildeo haacute neutralidade no desenvolvimento

tecnoloacutegico pelo contraacuterio ele materializa-se em meio a todas as condenshy

saccedilotildees de forccedilas que permeiam a sociedade de classes Por isso apesar do

discurso que prega o acesso pleno agraves benesses do desenvolvimento capitashy

lista a natildeo democratizaccedilatildeo dos bens culturais produzidos pela humanidade

nos mostra o contraacuterio No caso dos jogos eletrocircnicos observamos que sua

dinacircmica de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo como mercadorias estaacute intimamente

ligada agrave loacutegica desigual e predatoacuteria do consumismo capitalista8

8 Os jogos eletrocircnicos como expressotildees culturais refletem a sociedade em que nascem mas

ao mesmo tempo tambeacutem ajudam a educar os consumidores passivos para esse padratildeo

civilizatoacuterio Kosik (1995) ajuda a refletir sobre essa dinacircmica dialeacutetica a partir do caso

da arte ldquotoda obra de arte apresenta um duplo caraacuteter em indissoluacutevel unidade eacute expressatildeo da realidade mas ao mesmo tempo cria a realidade uma realidade que natildeo existe fora da obra ou antes da obra mas precisamente na obrardquo (p 128)

Vale destacar que os grandes expoentes e exportadores histoacutericos

dos jogos eletrocircnicos satildeo as naccedilotildees imperialistas norte-americana e

japonesa Como reflexo disso carregam muitos dos valores tiacutepicos de

paiacuteses de capitalismo central como o individualismo a competiccedilatildeo

exacerbada o consumo desenfreado e a naturalizaccedilatildeo da violecircncia

Aliaacutes a questatildeo da violecircncia presente em diversos jogos eletrocircnicos

eacute uma das grandes polecircmicas que envolvem a praacutetica desses jogos No

que tange ao conteuacutedo violento dos games merecem destaque jogos

que pontuam a realizaccedilatildeo de crimes atropelamentos praacutetica de agresshy

sotildees em ambiente escolar perseguiccedilatildeo e morte de supostos terroristas

e os que simulam guerras e conflitos armados entre paiacuteses e povos Natildeo

eacute raro vermos mateacuterias jornaliacutesticas que associam o uso excessivo de

games a situaccedilotildees de violecircncia real o caso mais emblemaacutetico foi o masshy

sacre ocorrido em 1999 na Escola de Ensino Meacutedio Colombine em

Littleton no estado do Colorado (EUA)

De acordo com Alves (2004) a violecircncia como forma de linshy

guagem envolve ao mesmo tempo aspectos econocircmicos sociais

poliacuteticos culturais e afetivos por isso natildeo podemos adotar uma

atitude reducionista em culpar exclusivamente os jogos eletrocircnicos

pela violecircncia pois eles mesmos satildeo reflexotildeesprojeccedilotildees de uma

sociedade que banaliza a violecircncia A autora destaca tambeacutem que

uma questatildeo crucial a se pensar eacute que a violecircncia tem sido transshy

formada nas diversas miacutedias num grande espetaacuteculo por isso ela

vende e os adolescentes satildeo seduzidos pelas cenas de violecircncia para

consumirem produtos ldquoTanto a espetacularizaccedilatildeo quanto a este-

tizaccedilatildeo da violecircncia vecircm sendo bastante potencializadas nos jogos

eletrocircnicos em que a morte cada vez mais violenta passa a ser

sinocircnimo muitas vezes de grandes vendasrdquo (ALVES 2004 p 79)

Esse caraacuteter sedutor dos games de violecircncia eacute utilizado ateacute

pelas forccedilas armadas estadunidenses para estimular o alistamenshy

to militar e treinar recrutas Com esses objetivos o exeacutercito dos

EUA com a colaboraccedilatildeo do departamento de defesa norte-ame-

ricano criou o Americans Army um jogo de tiro em primeira

pessoa no qual os jogadores simulam combates militares reais

(IMASATO M ESQUITA 200$) O jogo disponibilizado grashy

tuitamente para o puacuteblico desde 04 de julho de 2002 possui

milhares dc jogadores pelo mundo todo inclusive no Brasil

Nesse exemplo os atos de agredirmatar personagens durante

o jogo natildeo satildeo utilizados apenas com sentidos luacutedicos mas tambeacutem

com a finalidade de criar nos jovens o desejo de realizar essas accedilotildees

na vida real A criaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de games como esse sem granshy

des criacuteticas por parte do puacuteblico permite visualizar o quanto a vioshy

lecircncia eacute vista com algo natural em nossa sociedade Com apoio nas

elaboraccedilotildees de Marx (1996) consideramos que a base dessa naturashy

lizaccedilatildeo satildeo as proacuteprias relaccedilotildees sociais capitalistas que transformam

tudo em mercadoria inclusive o trabalho humano fazendo parecer

que relaccedilotildees entre pessoas reais satildeo relaccedilotildees entre coisas

De um modo geral o homem cria instrumentos para satisfashy

zer suas necessidades dando sentidos humanos para as coisas mas

ao fazer isso gera novos interesses e necessidade transformando

sua proacutepria forma de viver Ou seja a tecnologia produzida pelo

homem passa a determinar suas accedilotildees e seu modo de vida Na

atualidade a criaccedilatildeo da rede mundial de computadores mudou

sensivelmente a forma de interaccedilatildeo entre as pessoas no caso dos

jogos eletrocircnicos a internet permitiu o compartilhamento de joshy

gos entre pessoas ao redor do mundo inteiro9 Desse modo os

jogos eletrocircnicos como criaccedilotildees humanas para satisfazer suas neshy

cessidades luacutedicas modificam o modo como os homens satisfazem

essas mesmas necessidades alterando os espaccedilos-tempos outrora

ocupados pelos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais

Nas grandes cidades convivemos com a falta de espaccedilos puacuteblishy

cos para brincar com o tracircnsito intenso com o alto grau de violecircnshy

cia e poluiccedilatildeo entre outros fatores que favorecem a diminuiccedilatildeo do

tempo destinado agraves experiecircncias corporais reais e sua substituiccedilatildeo

parcial ou total por praacuteticas virtuais como as possibilitadas pelos

9 Os jogos Massively Multiplayer on-line (M M Os) possibilitam vaacuterias pessoas

competirem pela internet criando comunidades de gamers gerando um novo modelo

de interatividade via jogos eletrocircnicos Nesse modelo as pessoas representam uma

segunda identidade e se relacionam atraveacutes dela Aleacutem disso existem torneios esportivos

multiplayer que permitem transformar esses games em profissatildeo (A ERA 2007)

jogos eletrocircnicos Os consoles mais modernos permitem inclusive

novas experiecircncias interativas com o corpo onde praacuteticas corporais

- como jogos tradicionais esportes danccedilas lutas e ginaacutestica - poshy

dem ser feitas dentro de um jogo virtual ressignificando a proacutepria

forma de vivecircncia da cultura corporal dentro e fora das telas

Os jogos eletrocircnicos tambeacutem tecircm sido produzidos e utilishy

zados para propoacutesitos que ultrapassam a diversatildeo Nesse sentishy

do merece destaque uma rede internacional chamada Game for change trata-se de uma organizaccedilatildeo social sem fins lucrativos

criada em 2004 nos EUA e com filiais na Europa Aacutesia e Ameacuterishy

ca Latina O objetivo dessa organizaccedilatildeo eacute promover a pesquisa

criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de jogos digitais que contribuam com

mudanccedilas sociais Os jogos satildeo elaborados por sistemas de parshy

cerias e seu conteuacutedo eacute sempre educativo levando o jogador a

buscar soluccedilotildees para problemas econocircmicos ambientais e diploshy

maacuteticos Os melhores games satildeo premiados em um festival que

reuacutene representantes do governo e da sociedade civil10

Desse modo consideramos que abordar as manifestaccedilotildees

contemporacircneas dos jogos eacute essencial para que os alunos possam

atuar como sujeitos de seu tempo tambeacutem na esfera luacutedica No

caso dos jogos eletrocircnicos eacute preciso tratar de sua historicidade

abordando as diversas geraccedilotildees de jogos que apesar de envolshy

verem conhecimentos coletivos se tornam privileacutegio de poucos

na dinacircmica de produccedilatildeo capitalista Para aleacutem do mundo do

entretenimento os games tecircm cumprido funccedilotildees econocircmicas

poliacuteticas e educativas que precisam ser abordadas para uma comshy

preensatildeo mais ampla das relaccedilotildees nem sempre evidentes entre o

real e o virtual no mundo dos jogos

10 Apesar de ser considerado um avanccedilo em relaccedilaacuteo aos games estritamente comerciais por

abordar problemaacuteticas de fundo social alertamos que esses jogos buscam na conciliaccedilatildeo

de classes as soluccedilotildees para problemas extremamente complexos e muitos originados

reforccedilados pelas proacuteprias relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo capitalista alinhando-se portanto

agrave ideologia da responsabilidade Em linhas gerais o objetivo dessa ideologia desenvolvida

a partir do final dos anos de 1990 em consonacircncia com o neoliberalismo de terceira via

eacute articular as accedilotildees do empresariado em torno das questotildees sociais buscando construir

conscnsos entre as classes e suas fraccedilotildees de modo a garantir o processo de dominaccedilatildeo

capitalista por meio do convpnr im pnm IacuteW A B T IM C iacutenno

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com os jogos eletrocircnicos

As crianccedilas e jovens cotidianamente se divertem consomem

e interagem atraveacutes dos jogos eletrocircnicos que natildeo satildeo apenas

brinquedos pois satildeo formas de expressatildeo de sentimentos e deshy

sejos das novas geraccedilotildees Por isso concordamos com Silveira e

Torres (2007) que adotar apenas uma atitude normativa e conshy

troladora em relaccedilatildeo aos jogos eletrocircnicos sem abordar aspectos

teacutecnicos poliacuteticos econocircmicos e eacuteticos que envolvem essa forma

de expressatildeo dos jogos prejudica o desenvolvimento de uma vishy

satildeo criacutetica frente a essa produccedilatildeo cultural

Com a intenccedilatildeo de contribuir para a superaccedilatildeo desses limites

construiacutemos uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos dishy

recionada aos alunos do 7o ano do ensino fundamental Com emshy

basamento na Pedagogia histoacuterico-criacutetica dividimos didaticamente

essa experiecircncia em cinco passos buscando envolver os educandos

no processo de ensino-aprendizagem e propiciar um percurso edushy

cativo que amplie sua compreensatildeo e accedilatildeo sobre o tema

No primeiro momento identificaccedilatildeo da praacutetica social buscashy

mos apresentar os conteuacutedos que seratildeo abordados dentro da unidashy

de e como eles se expressam na praacutetica cotidiana dos alunos Para

que os alunos identifiquem o tema seraacute apresentada uma sequecircncia

de imagens sobre os jogos eletrocircnicos e os alunos seratildeo questionashy

dos sobre o que jaacute sabem e o que gostariam de aprender sobre esses

tipos de jogos Logo em seguida seratildeo apresentados os toacutepicos de

conteuacutedos abordados na unidade a saber conceito de jogos eletrocircshy

nicos os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos a virtualizaccedilatildeo

dos jogos tradicionais os games como grande negoacutecio e os desafios

e possibilidades trazidos pelos games na atualidade

Na problematizaccedilatildeo inicialmente seratildeo debatidas quesshy

totildees que buscaratildeo despertar a curiosidade dos alunos pelo tema

como quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem

Como as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por

que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia Em seguishy

da seratildeo lanccediladas questotildees-problemas que articulam a praacutetica

social concreta dos alunos com o conteuacutedo tratado na unidade

As questotildees foram orientadas com base em diversas dimensotildees

do conteuacutedo a saber conceituai histoacuterica cultural poliacuteticas

econocircmicas social e eacutetica conforme pode ser visto no plano de

unidade apresentado a seguir

A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento de apropriaccedilatildeo do coshy

nhecimento sistematizado a fim de que os alunos ampliem sua

compreensatildeo sobre as problematizaccedilotildees lanccediladas Para tal seratildeo

desenvolvidas accedilotildees como discussotildees debates experimentaccedilatildeo

de jogos na forma tradicional e eletrocircnica aulas expositivas e

apresentaccedilatildeo de documentaacuterios Nessa etapa a falta de recursos

como aparelhos especiacuteficos para jogos eletrocircnicos pode ser subsshy

tituiacuteda por versotildees de jogos para computadoresaparelhos celulashy

res e ou transformaccedilatildeo de jogos virtuais em jogos reais

Na catarse momento no qual os alunos devem ser capazes

de responder as questotildees-problemas com base no conhecimento

sistematizado eles participaratildeo de um quiz educativo sobre jogos

eletrocircnicos com a intenccedilatildeo de auxiliaacute-los na elaboraccedilatildeo de uma

siacutentese entre o saber cotidiano e o conhecimento cientiacutefico Nosshy

sa expectativa eacute que os alunos compreendam as principais caracshy

teriacutesticas dos jogos eletrocircnicos como uma forma de manifestaccedilatildeo

dos jogosbrincadeiras tipicamente contemporacircnea

Ao final do trabalho buscando um retorno agrave praacutetica social os alunos seratildeo estimulados a pocircr em accedilatildeo a nova visatildeo sobre

o conteuacutedotema em tela Nesse sentido seraacute proposta a consshy

truccedilatildeo de um blog que socialize os conhecimentos apreendidos

sobre os jogos eletrocircnicos e a realizaccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo sobre

o desenvolvimento histoacuterico dos jogos eletrocircnicos

Plano de Unidade Os jogos eletrocircnicos e a sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na sociedade contemporacircnea

Conteuacutedo jogos

Turmas 7o ano

Nuacutemero de aulas 12

Objetivo Geral Compreender a dinacircmica social que envolve a

produccedilatildeo e a reproduccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos permitindo o uso

criacutetico desses jogos nos momentos de lazer

1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL

11 Anuacutencio do conteuacutedo

Toacutepicos de conteuacutedo c objetivos especiacuteficos

bull Toacutepico 1 O que satildeo jogos eletrocircnicos

Objetivo especiacutefico Conceituar os jogos eletrocircnicos e

suas formas de manifestaccedilatildeo para distingui-los de oushy

tros tipos de jogos em especial dos jogos tradicionais

bull Toacutepico 2 Os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos

Objetivo especiacutefico Conhecer a origem e as transforshy

maccedilotildees histoacutericas dos jogos eletrocircnicos buscando

entender a influecircncia do contexto histoacuterico e do

avanccedilo tecnoloacutegico na configuraccedilatildeo desses jogos

bull Toacutepico 3 A virtualizaccedilatildeo dos jogos tradicionais

Objetivo especiacutefico Identificar jogos eletrocircnicos insshy

pirados em jogos tradicionais a fim de entender as

relaccedilotildees entre os dois tipos de jogos como produshy

ccedilotildees culturais luacutedicas

bull Toacutepico 4 Os games como um grande negoacutecio

Objetivo especiacutefico Compreender o processo de proshy

duccedilatildeo disseminaccedilatildeo e consumo dos jogos eletrocircnicos

a fim de compreender os papeacuteis econocircmicos poliacuteshy

ticos e sociais assumidos por esses jogos

bull Toacutepico 5 Geraccedilatildeo game over desafios e possibilidades11

Objetivo especiacutefico Reconhecer os benefiacuteciosmalefiacuteshy

cios trazidos pela praacutetica regular dos jogos eletrocircnicos e

suas possibilidades para a cultura corporal permitindo

o uso consciente e equilibrado desses jogos nos moshy

mentos de lazer

12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos

bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Os jogos

eletrocircnicos podem ser jogados em aparelhos proacuteprios

computadores e celulares existem games para jogar

sozinho em dupla e em grupo as pessoas mais velhas natildeo

brincavam com esses jogos

bull O que gostariam de saber mais Por que os jogos eletrocircnicos

satildeo conteuacutedos da Educaccedilatildeo Fiacutesica Quais os jogos eletrocircnicos

mais conhecidos

2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO

21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo

Quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem Como

as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por que os jogos

eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia

11 Elaboramos esse uacuteltimo toacutepico de conteuacutedo de forma bem flexiacutevel para que possa atender

as demandas que surgirem e ser abordado de acordo com recursos disponiacuteveis para seu

desenvolvimento Por isso na instrumentalizaccedilatildeo relativa a esse toacutepico apresentamos

diversas possibilidades de accedilotildees e recursos

12 Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

QUESTOtildeES PROBLEMATIZADORAS

Conceituai

O que satildeo jogos eletrocircnicos Que tipos de jogos eletrocircnicos

existem Os jogos eletrocircnicos podem ser considerados como

ldquojogos popularesrdquo

Histoacuterica

As brincadeiras e as formas de se divertir mudaram com o

passar do tempo Quando surgiram os jogos eletrocircnicos

Qual eacute a origemhistoacuteria de alguns dos principais jogos eleshy

trocircnicos Por que eles sempre mudam

Social

Por que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns atualmente

Quais finalidades sociais eles tecircm cumprido Quais as possishy

bilidades de uso criacutetico dos games

Econocircmica

Como os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos c distribuiacutedos

Haacute faacutecil acessibilidade a todos para vivenciar esses jogos

Quanto custam os aparelhos e miacutedias para acesso aos jogos

eletrocircnicos Existe uma economia virtual

Poliacutetica

Existem espaccedilos puacuteblicos apropriados para brincar e jogar

com seguranccedila em nossa cidade Existem espaccedilos puacuteblicos

para jogar jogos eletrocircnicos

Eacutetica

Quais valores podem ser evidenciados nos jogos eletrocircnicos

Os jogos satildeo violentos Existem jogos eletrocircnicos criacuteticos

aos valores sociais Existem games cooperativos

Cultural

Os jogos eletrocircnicos satildeo difundidos em todas as culturas

Existem jogos eletrocircnicos universais Os jogos mais comuns

variam de paiacutes para paiacutes e de regiatildeo para regiatildeo Qual a relashy

ccedilatildeo entre os jogos eletrocircnicos e os jogos tradicionais

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

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4) SIacuteNTESE SUPERIOR

41 Siacutentese teoacuterica do aluno

Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais de variados gecircneros

que necessitam de aparelhos eletrocircnicos com tecnologias especiacuteshy

ficas para serem jogados Apesar de muitos desses jogos serem reshy

sultado da virtualizaccedilatildeo de jogos tradicionais eles naacuteo podem ser

considerados jogos populares pois satildeo produzidos e distribuiacutedos

sob a forma de mercadorias (conceituai e cultural) Os jogos eleshy

trocircnicos estabelecem uma relaccedilatildeo estreita com o contexto no qual

foram criados incorporando diversos avanccedilos tecnoloacutegicos que

permitem a constante ampliaccedilatildeo da qualidade de imagem som e

movimento dos mesmos (histoacuterica) Na atualidade a forma de orshy

ganizaccedilatildeo das grandes cidades o aumento da violecircncia e a falta de

espaccedilos puacuteblicos para o lazer tecircm favorecido a substituiccedilatildeo parcial

ou total dos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais por jogos

eletrocircnicos (soacutecio-poliacutetica) Os jogos eletrocircnicos satildeo muito divulshy

gados pela miacutedia de massas e datildeo grandes lucros agrave induacutestria cultushy

ral enquanto a grande maioria das crianccedilas ainda natildeo tenha acesso

pleno a essas produccedilotildees pois a dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo

desses jogos se insere no mundo das mercadorias (soacutecio-econocircmi-

ca) Os jogos eletrocircnicos estatildeo inseridos na contraditoacuteria dinacircmica

capitalista e por isso refletem valores sociais como a violecircncia e a

competitividade mas tambeacutem podem forjar outros valores como a

cooperaccedilatildeo e a solidariedade (eacutetica)

42- Expressatildeo da siacutentese

Participar de um quiz de perguntas e respostas sobre os jogos

eletrocircnicos buscando expressar o que foi apreendido durante as aulas

i) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL

Quadro 3- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

ACcedilOacuteES DO ALUNO

Registrar e divulgar os conhecimentos

apreendidos sobre os jogos eletrocircnicos

1 - Construir e divulgar um blog

sobre os jogos eletrocircnicos (conshy

teuacutedo histoacuteria tipos de jogos

benefiacutecios problemas links e esshy

paccedilos para jogar gratuitamente)

Contribuir para a criaccedilatildeo de espaccedilos-

-tempos destinados agrave discussatildeo sobre

os games

2 - Montar uma exposiccedilatildeo que

funcione como linha do tempo

dos jogos

Ampliar os conhecimentos sobre os

jogos eletrocircnicos

3 - Pesquisar mais sobre os jogos

eletrocircnicos

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees finais

A concretizaccedilatildeo de uma proposta de ensino com os jogos eletrocircshy

nicos eacute sem duacutevidas um grande desafio seja pela falta de recursos adeshy

quados seja pela dificuldade em trabalhar com as novas tecnologias e

ateacute pela resistecircncia da comunidade escolar ao tratamento desse tema

pela escola Entretanto defendemos que abordar os games como exshy

pressotildees contemporacircneas dos jogos e brincadeiras eacute imprescindiacutevel se

pretendemos que nossos alunos compreendam a realidade em que vishy

vem e atuem como sujeitos do seu proacuteprio tempo

Com base nessa constataccedilatildeo a nossa intenccedilatildeo foi abrir o diaacutelogo

sobre as possibilidades de trabalho com os jogos eletrocircnicos como conteshy

uacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica Nesse sentido a experiecircncia pedagoacutegica

descrita nesse artigo buscou abordar os jogos eletrocircnicos em suas muacuteltishy

plas dimensotildees visando contribuir para que os alunos reconheccedilam essa

nroducatildeo cultural luacutedica como construccedilatildeo de homens e mulheres reais

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CAPIacuteTULO IV

AS RELACcedilOtildeES ENTRE ESPORTE E SAUacuteDE NO CAPITALISMO TEM ATIZANDO CONTRADICcedilOtildeES NA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR

Carlos Eduardo de Souza

Leonardo Docena Pina

Mocircnica Jardim Lopes

De maneira mais ou menos intensa o esshy

porre se apresenta de diferentes formas em nossa

vida Seja atraveacutes da televisatildeo de jornais de reshy

vistas ou da proacutepria praacutetica de diferentes modashy

lidades nos relacionamos quase que diariamente

com o esporte Poreacutem a relaccedilatildeo que estabeleceshy

mos em nosso cotidiano com essa manifestaccedilatildeo

cultural natildeo proporciona sua real compreensatildeo

E por isso que muitos lidam com o esporte diashy

riamente sem compreender sua relaccedilatildeo com os

processos histoacutericos Da mesma forma muitos

acabam por reproduzir a noccedilatildeo dominante exshy

pressa na ideia de que esporte promove sauacutede

Iniciamos o texto com essa reflexatildeo por

consideraacute-la importante para discutirmos o

ensino do esporte na escola Afinal por que eacute

importante ensinar esporte nas aulas de Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica se este jaacute estaacute presente em nosso

dia a dia fora da escola Seria o ensino do esshy

porte realmente necessaacuterio aos alunos

A resposta a essas questotildees nos remete

inicialmente ao fato de que desde a deacutecada

de 1990 com a divulgaccedilatildeo da perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a

cultura corporal (COLET IVO DE AUTORES 1992) foi ampliashy

da a possibilidade de relacionar a Educaccedilatildeo Fiacutesica com a formaccedilatildeo

de sujeitos histoacutericos capazes de compreender a realidade de modo

a nela intervir criticamente Orientada na Pedagogia histoacuterico-criacuteti-

ca (SAVIANI 2005a) tal perspectiva trouxe novas formas de aborshy

dagem dos conteuacutedos As aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica antes pensadas

com o objetivo de desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica de treinamenshy

to teacutecnico de recreaccedilatildeo de aprendizagem motora dentre outros

puderam ser superadas por uma nova tarefa de transmissatildeo do saber

sistematizado necessaacuterio agrave compreensatildeo da realidade

Para alcanccedilar a nova tarefa a que se propotildee a perspectiva

da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal os conteuacutedos passashy

ram a demandar uma tematizaccedilatildeo criacutetico-superadora No caso da

manifestaccedilatildeo cultural que nos propomos a refletir no presente

capiacutetulo as indicaccedilotildees do Coletivo de Autores (1992) fornecem

a base para trataacute-la pedagogicamente de modo a superar as caracshy

teriacutesticas impostas pela sociedade capitalista Imprim ir um novo

sentidosignificado ao esporte implica a consideraccedilatildeo de alguns

elementos jaacute retomados por Assis (2001) Um deles eacute a necesshy

sidade de realizar uma leitura criacutetica do esporte sobretudo para

compreender as mediaccedilotildees que o integram agraves relaccedilotildees sociais de

produccedilatildeo da existecircncia humana Sem refletir criticamente sobre

o esporte corre-se o risco de natildeo compreender sua funccedilatildeo na

reproduccedilatildeo do capitalismo ou de desconsiderar a possibilidade

de esse fenocircmeno cultural servir a outro projeto de sociedade

Outro aspecto reside na necessidade de consideraacute-lo um

conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica A constataccedilatildeo de que o esporte vishy

nha atendendo historicamente aos interesses dominantes fez com

que alguns professores se distanciassem do ensino do esporte na

escola Na verdade por considerar que o esporte relaciona-se ao

processo de reproduccedilatildeo do capitalismo natildeo pretendemos afastaacute-

-lo da educaccedilatildeo escolar Pelo contraacuterio ressaltamos a necessidade

de tematizaacute-Io na escola visto que a transmissatildeo do saber objeshy

tivo historicamente acumulado sobre essa praacutetica cultural pode

se transformar em instrumento cultural de luta contra as forshy

mas de dominaccedilatildeo a que estatildeo submetidos os membros da classe

trabalhadora ainda hoje Daiacute a defesa do Coletivo de Autores

(1992) para desmitificar o esporte atraveacutes da oferta na escola

do conhecimento que permita aos alunos criticaacute-lo dentro de um

determinado contexto histoacuterico

Conforme afirma Assis (2001) o esporte traz consigo possishy

bilidades contraditoacuterias de modo que eacute possiacutevel enfatizar situashy

ccedilotildees que privilegiam a solidariedade sobre a rivalidade o coletivo

sobre o individual a autonomia sobre a submissatildeo a cooperaccedilatildeo

sobre a disputa a distribuiccedilatildeo sobre a apropriaccedilatildeo a abundacircncia

sobre a escassez a confianccedila muacutetua sobre a suspeita a descon-

traccedilatildeo sobre a tensatildeo a perseveranccedila sobre a desistecircncia e ainda

a vontade de continuar jogando em contraposiccedilatildeo agrave pressa para

terminar a partida e configurar resultados

A partir desses apontamentos torna-se possiacutevel afirmar que o

ensino desse conteuacutedo pode permitir aos alunos a apropriaccedilatildeo das

formas mais desenvolvidas do saber objetivo sobre o esporte que se

encontra acumulado na cultura Compreender o esporte demanda a

apropriaccedilatildeo do conhecimento jaacute produzido sobre ele Tal apropriashy

ccedilatildeo possibilita a compreensatildeo de suas contradiccedilotildees e consequenteshy

mente estabelecer novas relaccedilotildees com essa manifestaccedilatildeo cultural

Conforme afirma Saviani (2006) dominar a cultura erudita

eacute necessaacuterio aos membros da classe trabalhadora para que possam

fazer valer os seus interesses jaacute que a classe dominante faz uso

exatamente dos conteuacutedos culturais para legitimar e consolidar

sua dominaccedilatildeo Redirecionando essa reflexatildeo para o ensino do

esporte podemos concluir que o domiacutenio do conhecimento sisshy

tematizado sobre essa manifestaccedilatildeo cultural tambeacutem se constitui

como instrumento indispensaacutevel uma vez que os conhecimentos

adquiridos no cotidiano tendem a ser insuficientes para atuaccedilatildeo

dos indiviacuteduos enquanto sujeitos da histoacuteria

Esporte sauacutede e o modo vidatrabalho no capitalismo

Embora seja muito propagada atualmente sobretudo pela atushy

accedilatildeo de governos e Organismos Internacionais como a Organizaccedilatildeo

das Naccedilotildees Unidas (ONU) o Banco Mundial (BM) e o Fundo Moshy

netaacuterio Internacional (FMI) a ideologia que afirma de forma mecacircshy

nica o esporte como sauacutede carece de anaacutelise concreta da realidade

onde estatildeo inseridas as classes fundamentais1 Na perspectiva que

sustenta nosso estudo o entendimento do esporte da sauacutede e da posshy

siacutevel relaccedilatildeo entre esses dois temas soacute pode ser alcanccedilado se forem

confrontados e aferidos no conjunto da dinacircmica das relaccedilotildees sociais

existentes no modo vidatrabalho capitalista

O fenocircmeno cultural ldquoesporterdquo toma forma no seacuteculo XVIII no

periacuteodo de revoluccedilatildeo e afirmaccedilatildeo da burguesia enquanto classe domishy

nante Segundo Hobsbawm (1988) o esporte foi ldquoformalizado em torshy

no dessa eacutepoca na Inglaterra que lhe ofereceu o modelo e o vocabulaacuteshy

rio alastrou-se como um incecircndio aos demais paiacutesesrdquo (p 255) sendo

tambeacutem fruto segundo Bracht (2005) de ldquomodificaccedilatildeo poderiacuteamos

dizer de esportivizaccedilatildeo de elementos da cultura corporal de movimento

das classes populares inglesas como os jogos popularesrdquo (p 13) cuja

funccedilatildeo era basicamente de comemorar ou festejar datas

Foi tambeacutem nessa eacutepoca - da revoluccedilatildeo industrial - que os trabashy

lhadores passaram a conhecer o chamado ldquotempo livrerdquo que era exashy

tamente o tempo no qual se encontravam livres das obrigaccedilotildees fabris

0 preenchimento desse tempo para promover melhorias no trabalho

produtivo e na conformaccedilatildeo ideoloacutegica para uma melhor extraccedilatildeo da

mais-valia deveria abarcar valores e concepccedilotildees de mundo proacuteprias de

uma burguesia emergente (SILVA 1994) Tais valores se expressavam

diretamente no esporte uma vez que permitia o desenvolvimento de

1 Quando uma pequena parcela dos homens toma para si os meios de produccedilatildeo criam-se

contraditoriamente na sociedade duas classes a dos que detecircm os meios de produccedilatildeo e

aqueles que necessitam vender o uacutenico bem que lhes restou sua Forccedila de trabalho Essa

relaccedilatildeo contraditoacuteria e conflitante enrre os homens requer formas de dominaccedilatildeo por

exemplo as ideologias Entendendo ldquoideologiardquo natildeo como ilusatildeo ou supersticcedilatildeo mas

uma forma material especiacutefica de consciecircncia social (MESZAROS 2004)

determinadas formas de pensar e agir a exemplo da lealdade senso

de responsabilidade esforccedilo pessoal espiacuterito de equipe dentre outros

(TAFFAREL SANTOS JUN IOR 2009)

Proni (2002) ao traduzir a concepccedilatildeo de esporte desenvolvida

por Brohm cria um trabalho fecundo de elementos para compreshy

ensatildeo desse tema Segundo o autor a hipoacutetese central de Brohm se

sustenta no entendimento de que o sistema esportivo moderno eacute o

reflexo da universalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo da forma de vida predomishy

nante que tem sua origem na economia capitalista na qual impera

o espiacuterito industrial a mentalidade do rendimento e do ecircxito ldquoO

intercacircmbio de mercadorias e de capital tiveram como consequecircncia

o intercacircmbio de ideias e a difusatildeo de praacuteticas esportivasrdquo (PRONI

2002 p 38) Ainda segundo o autor satildeo quatro fatores que Brohm

diz ser responsaacuteveis pelo desenvolvimento do esporte

(a) O aumento do tempo livre e o desenvolvimento do

oacutecio (que ocupa um lugar de destaque na civilizaccedilatildeo do

lazer) (b) a universalizaccedilatildeo dos intercacircmbios medianshy

te os transportes e os meios de comunicaccedilatildeo de massa

(o esporte converte-se em ldquomercadoria culturalrdquo graccedilas

a sua natureza comospolita) (c) revoluccedilatildeo teacutecnico -

cientiacutefica (que reflete-se na busca da eficiecircncia corposhy

ral nos novos materiais e equipamentos inclusive no

surgimento de novas modalidades esportivas) (d) e a

revoluccedilatildeo democraacutetico mdash burguesa e o enfrentamento

das naccedilotildees no plano internacional (isto eacute a dinacircmica

poliacutetico mdash ideoloacutegica) (PRONI 2002 p 39)

O esporte dentro dessa perspectiva carrega os valores e os pashy

drotildees de desenvolvimento do Estado liberal Difunde uma forma

de conviacutevio e inspira desejos de mudanccedilas individuais Aproxima

as classes sociais ocultando o antagonismo poliacutetico-econocircmico e

a relaccedilatildeo de exploraccedilatildeo existente entre elas Ou seja um produto

da sociedade industrial que vem servindo em larga medida como

elemento de difusatildeo do ideaacuterio e dos interesses da classe dominanshy

te Assim para Brohm a essecircncia do esporte

eacute a ideologia democraacutetica tiacutepica de uma sociedade

que precisa cultivar um ideal humanitaacuterio (liberdade

igualdade fraternidade) e ao mesmo tempo velar suas

estruturas de classe e seus mecanismos de dominaccedilatildeo

Por isso o autor enfatiza o papel da instituiccedilatildeo esporshy

tiva como estrutura simboacutelica e aparato ideoloacutegico do

Estado (PRONI 2002 p 39-40)

Desse modo Brohm iraacute concluir que o esporte eacute por excelecircnshy

cia algo nefasto para os trabalhadores servindo unicamente para

o fortalecimento das forccedilas e da identidade burguesa (BRACHT

2005) Essa se torna uma visatildeo estreita da realidade Considerashy

mos que a cultura esportiva de fato carrega os valores capitalistas

e nesse sentido tem servido como instrumento a serviccedilo da domishy

naccedilatildeo burguesa Mas isso natildeo eacute tudo Acreditamos que a anaacutelise do

esporte de forma mais profiacutecua deve ser aferida no conjunto das

contradiccedilotildees que envolvem a relaccedilatildeo capital-trabalho E na luta

de classes que as culturas vatildeo se amoldando Portanto o esporte

natildeo eacute uma instituiccedilatildeo que paira acima dos conflitos sociais natildeo

sendo em si nem ldquobom nem ldquoruimrdquo Trata-se da expressatildeo de uma

condensaccedilatildeo de forccedilas na qual hegemonicamente os valores da

classe burguesa sobressaem em relaccedilatildeo aos da classe trabalhadora

Nos dias de hoje a articulaccedilatildeo do esporte com os interesshy

ses da classe dominante pode ser evidenciada pela relaccedilatildeo co-

mumente estabelecida entre a praacutetica de esporte e a obtenccedilatildeo de

sauacutede Exemplo disso eacute a defesa da O N U de que as principais

causas de ateacute 60 das mortes no mundo estatildeo ligadas a pessoas

inativas e que o esporte e a Educaccedilatildeo Fiacutesica ldquosatildeo cruciais para a

vida longa e saudaacutevel O esporte melhora a sauacutede e o bem-estar

aumenta a expectativa de vida e reduz o risco de vaacuterias doenccedilas

natildeo-transmissiacuteveis incluindo a doenccedila cardiacuteacardquo (ON U 2003 p

7 traduccedilatildeo nossa) aleacutem de ser essencial para manter a ldquosauacutede da

menterdquo e construir ldquovaliosas conexotildees sociaisrdquo

Segundo Delia Fonte e Loureiro (1997) eacute a visatildeo funcionalista

sobre a sauacutede que permite afirmar a praacutetica de esporte como soluccedilatildeo

para os malefiacutecios da vida moderna Para os autores essa afirmaccedilatildeo

demonstra a superficialidade com a qual tem se abordado o tema sauacuteshy

de Na visatildeo funcionalista as doenccedilas ou ldquomorbidadesrdquo natildeo tecircm nada

a ver com as relaccedilotildees sociais concretas e sim com um desvio dos indishy

viacuteduos ou seja uma natildeo adesatildeo consciente a haacutebitos mais saudaacuteveis

Delia Fonte e Loureiro (1997) nos ajudam a entender a rashy

zatildeo que leva os Organismos Internacionais a difundir tais com-

preensotildees sobre o tema Conforme afirmam os autores

a estrutura social capitalista determina e legitima vaacuterias

ideacuteias valores e atitudes altamente patoloacutegicos Por um

processo de naturalizaccedilatildeo essas patologias saacuteo apresenshy

tadas como inerentes ao ser humano Longe de serem

compreendidas como patologias elas satildeo tidas como

qualidades Assim aceita-se como normal a busca do

lucro como objetivo de toda atividade econocircmica a exshy

ploraccedilatildeo do homem pelo homem o individualismo a

competitividade e a ambiccedilatildeo como valores modernos a

repressatildeo de ideacuteias e sentimentos rotulados como tabus

a satisfaccedilatildeo imediata de desejos como traduccedilatildeo da felishy

cidade a reificaccedilatildeo das pessoas e das relaccedilotildees sociais e a

alienaccedilatildeo (DELLA FONTE LOUREIRO 1997 p 2)

Em outras palavras o modo de vidatrabalho ainda sob a eacutegide

de uma sociedade classista conserva uma estrutura de poder e uma

poliacutetica mundial de grandes impactos no que concerne agrave sobrevivecircnshy

cia dos indiviacuteduos Nessa direccedilatildeo a preocupaccedilatildeo dos Organismos Inshy

ternacionais consiste tambeacutem em criar ideologias capazes de situar

os indiviacuteduos como uacutenicos culpados ou responsaacuteveis pelo seu estado

de sauacutede independentemente de suas condiccedilotildees de vidatrabalho

Os riscos derivados do modo capitalista de produccedilatildeo da

existecircncia humana satildeo diversos e ligados a inuacutemeras causas tais

como aqueles provenientes do ambiente de trabalho como rashy

diaccedilotildees ruiacutedos frio e calor intenso pressotildees anormais umidade

poeiras gases vapores compostos quiacutemicos esforccedilo fiacutesico intenshy

so controle de alta produtividade trabalho noturno monotoshy

nia trabalho repetitivo maacutequinas e estruturas mal conservadas

entre outros (SOUZA 2011) Vale destacar que ateacute mesmo os

esportistas de alto rendimento sentem os efeitos degradantes do

trabalho no capitalismo o que pode ser expresso natildeo apenas pelo

alto iacutendice de lesotildees mas tambeacutem pelo uso de substacircncias preshy

judiciais agrave sauacutede voltadas ao a u m e n rn Alt c mdash

a isso outros problemas como o aumento do iacutendice de depresshy

satildeo por exemplo que tambeacutem tem atingido atletas2

Mesmo os que natildeo sofrem tais efeitos durante a venda de sua

forccedila de trabalho estatildeo de alguma forma sujeitos agraves implicaccedilotildees do

modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Exemplo disso

satildeo as implicaccedilotildees da degradaccedilatildeo ambiental produzida e intensificada

pelo capitalismo Trata-se de mais uma evidecircncia de que os riscos desshy

sa forma de organizaccedilatildeo social agrave vida humana hoje atingem a todos

A repercussatildeo negativa das relaccedilotildees capitalistas contemporacircshy

neas nas formaccedilotildees sociais ainda eacute agravada com o aumento da

desigualdade social perdas de direitos trabalhistas aumento da

exploraccedilatildeo aumento da violecircncia no campo e nas cidades surtos

de doenccedilas e principalmente a natildeo garantia de direitos baacutesicos

como sauacutede transporte educaccedilatildeo e outros Problemas como esshy

ses tendem a ser contrabalanceados a partir da foacutermula maacutegica

que o esporte assume na oacutetica funcionalista

A pretensa sauacutede relacionada agrave praacutetica do esporte tatildeo defendida

pelos Organismos Internacionais e governos serve duplamente agrave reshy

produccedilatildeo do capitalismo Se de um lado busca convencer as pessoas

de que a ldquoausecircncia de sauacutederdquo eacute uma escolha consciente e natural de

haacutebitos natildeo saudaacuteveis por outro busca ocultar as contradiccedilotildees do

modo de vidatrabalho em uma sociedade de classes O esporte nesshy

se caso torna-se um poderoso instrumento para dinamizar toda essa

estrutura ideoloacutegica de manutenccedilatildeo das relaccedilotildees sociais capitalistas

exatamente a forma de organizaccedilatildeo social que natildeo permite - a todos

- obter condiccedilotildees dignas de trabalho de vida bem como acesso iguashy

litaacuterio a tecnologias e serviccedilos de sauacutede

Em siacutentese pode-se dizer que o desenvolvimento do esporte eacute

algo circunscrito numa totalidade moldada pelo antagonismo das

classes existentes Essa produccedilatildeo cultural assume aspectos compleshy

xos e contraditoacuterios Seus valores moralizantes imbuiacutedos do pensa-

2 A respeito disso ver reportagem ldquoMal do seacuteculo depressatildeo aproxima trageacutedias do mundo

do futebolrdquo (BELPIEDE 2011)

3

mento liberal buscam fortalecer e universalizar um modo de vida

trabalho que coincide com os interesses da classe dominante Trata-

-se de uma forma de educar eacutetica e politicamente os subalternos

definindo um padratildeo de sociabilidade3 A deformaccedilatildeo das praacuteticas

populares e sua adequaccedilatildeo agrave ordem capitalista geram perda parcial

de identidades e possibilidades de autocriaccedilatildeo e transformaccedilatildeo Enshy

tretanto a busca de formas alternativas que visem o resgate das vonshy

tades meacutetodos e anseios dos trabalhadores natildeo eacute algo simples devishy

do ao processo funcional de obscurecimento da realidade Trata-se

de algo importante e possiacutevel a partir do esporte

Considerar o esporte como algo acabado sem espaccedilo para

explorar a contradiccedilatildeo natildeo interessa agrave organizaccedilatildeo da classe trashy

balhadora ldquoUma coisa eacute submeter o esporte aos interesses dos goshy

vernantes e outra eacute tratar pedagogicamente criacutetica reflexiva e

criativamente o esporte enquanto conteuacutedo de ensino e campo de

vivecircncia socialrdquo (TAFFAREL SA N TO S JU N IO R 2009 p 33)

construiacutedo por meacutetodos proacuteprios que visam atender aos anseios

e aspiraccedilotildees dos trabalhadores Ou seja os subalternos devem ser

ldquocapazes de compreender antecipar e contrastar os movimentos

das classes dominantesrdquo (DIAS 2006 p 13)

Entendemos que a condiccedilatildeo da transformaccedilatildeo da sociedade

ou seja a sociabilidade historicamente emancipada livre da domishy

naccedilatildeo de classe seraacute fruto da capacidade de enxergarmos a conshy

tradiccedilatildeo e nela atuarmos no sentido de superaacute-la poliacutetica e econoshy

micamente O que deve ser extirpado da histoacuteria dos homens natildeo

eacute o esporte mas as relaccedilotildees de produccedilatildeo que amoldam culturas e

mentes para servir agrave dominaccedilatildeo de uma classe sobre a outra

Compreender a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede a partir dos funshy

damentos aqui apresentados possibilita criticar a visatildeo funcionalisshy

ta o que pode ser um importante passo para pocircr fim agrave subordinashy

ccedilatildeo do esporte ao projeto histoacuterico da classe dominante

3 Para compreender como a institucionalizaccedilatildeo do esporte na aparelhagem estatal vem

contribuindo para a formaccedilatildeo da sociabilidade capitalista no Brasil recorrer ao estudo de

Souza (2011)

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o conteuacutedo esporte

Com o intuito de articular o ensino do esporte ao que considerashy

mos ser o papel da escola elaboramos uma proposta de trabalho pedashy

goacutegico com o tema esporte e sauacutede a ser desenvolvida com alunos do

oitavo ano da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de ForaMG

O primeiro contato dos alunos com o conteuacutedo a ser trabashy

lhado na unidade didaacutetica em questatildeo ocorreraacute na identificaccedilatildeo da praacutetica social onde apontaremos o assunto que seraacute desenvolvido

durante as aulas Tambeacutem buscaremos apreender o conhecimento

preliminar dos discentes bem como as questotildees que tecircm interesse

de ampliar o saber Apresentaremos o conteuacutedo Esporte delimitanshy

do o seguinte questionamento que direcionaraacute nossas aulas Esporte eacute sauacutede Em seguida cada aluno individualmente deveraacute elaborar

um texto explicitando sua compreensatildeo sobre essa questatildeo geral a

fim de captarmos os saberes construiacutedos pela vivecircncia cotidiana dos

alunos Espera-se com isso que os alunos maniiacuteestem o conhecishy

mento que possuem sobre a temaacutetica estabelecendo ou natildeo uma

relaccedilatildeo entre a praacutetica esportiva e a obtenccedilatildeo de sauacutede

Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto iniciaremos uma discussatildeo geral

sobre a temaacutetica e explicitaremos os toacutepicos que seratildeo abordados

durante o trabalho com o tema a saber sauacutede uma questatildeo

social as lesotildees e a depressatildeo cm atletas do esporte de rendishy

mento os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo vivenciando

diferentes modalidades esportivas Em seguida apresentaremos

os objetivos as atividades a serem desenvolvidas assim como a

importacircncia de se estudar esse tema

A seleccedilatildeo de questotildees sociais que permeiam o conteuacutedo aborshy

dado instigando o debate e a reflexatildeo dos alunos se expressa no

segundo passo metodoloacutegico a problematizaccedilatildeo Nesta etapa seleshy

cionaremos as dimensotildees do conteuacutedo que seratildeo trabalhadas esshy

tabelecendo os questionamentos relacionados agrave praacutetica social tal

como sugere o plano de unidade apresentado a seguir

Na instrumentalizaccedilatildeo fase na qual ocorre de fato a aproshy

priaccedilatildeo do conhecimento por parte do aluno pretendemos desenshy

volver atividades que contribuam para a elaboraccedilatildeo de respostas

aos questionamentos sistematizados anteriormente As atividashy

des docentes e discentes voltadas agrave transmissatildeoapropriaccedilatildeo do

conhecimento sistematizado vatildeo envolver exposiccedilatildeo do conteuacutedo

pelo professor anaacutelise de viacutedeos c documentaacuterios que abordem

a temaacutetica da sauacutede e do esporte leitura discussatildeo e anaacutelise de

reportagens sobre o tema pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privashy

dos) disponiacuteveis para a praacutetica de esporte na cidade vivecircncia das

modalidades esportivas mais conhecidas no paiacutes dentre outros

Para captar se os alunos se apropriaram do conhecimento elashy

borado que os capacita a responder as questotildees levantadas na pro-

blematizaccedilatildeo pretendemos aplicar uma atividade na qual os alunos

individualmente possam produzir um texto dissertativo sobre a seshy

guinte questatildeo geral esporte eacute sauacutede Espera-se que os alunos sejam

capazes de expressar o conhecimento adquirido se aproximando

do entendimento de que a sauacutede eacute uma questatildeo social e portanto

envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporshy

te atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por

exemplo Espera-se que os alunos superem o entendimento predoshy

minante do senso comum expressando que a praacutetica de esporte

por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacutede e mais por questotildees

ideoloacutegicas o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo vem sendo veiculado com a

intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsabilidade por sua

proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus direitos

baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos

que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo

Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto pretendemos discutir as diferenshy

tes abordagens do tema apresentadas pelos alunos inclusive posshy

sibilitando a eles comparar o texto produzido neste momento na

catarse com o texto produzido no iniacutecio do processo pedagoacutegishy

co Aleacutem disso os alunos devem produzir em grupos um cartaz

alertando a comunidade escolar sobre a problemaacutetica estudada

No retorno agrave praacutetica social pretendemos finalizar o trabalho

pedagoacutegico definindo juntamente com os alunos novas intenshy

ccedilotildees e propostas de accedilatildeo mdash a partir da nova forma de compreenshy

der e de lidar com o conteuacutedotema em questatildeo

Plano de unidade

Esporte eacute sauacutede

DISCIPLINA Educaccedilatildeo Fiacutesica

AN O DE ESCOLARIDADE 8o ano do Ensino Fundamental

C O N T E Uacute D O Esporte

U N ID A D E Esporte c sauacutede

N Uacute M ERO DE AULAS 10 aulas

OBJETIVOS GERAIS

bull Entender a sauacutede como uma questatildeo social resultado

das condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo meio

ambiente trabalho transporte acesso aos serviccedilos de

sauacutede dentre outros de modo a adotar uma postura

favoraacutevel agrave superaccedilatildeo dos problemas sociais concretos

que determinam a obtenccedilatildeo da sauacutede

bull Vivenciar atividades esportivas enfatizando novos

sentidossignificados para posicionar-se favoravelmente agrave

transformaccedilatildeo do esporte

bull Refletir sobre os iacutendices de lesotildees e distuacuterbios emocionais

em atletas do esporte de rendimento

bull Analisar diferentes discursos sobre esporte e sauacutede

para posicionar-se criticamente diante das concepccedilotildees

que estabelecem uma relaccedilatildeo direta entre a praacutetica de

esporte e a obtenccedilatildeo de sauacutede

1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL

11 Anuacutencio dos conteuacutedos

TOacutePICOS

bull Sauacutede uma questatildeo social

bull As lesotildees e a depressatildeo em atletas do esporte de rendimento

bull Os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo

bull Vivenciando diferentes modalidades esportivas

12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos

bull O que os alunos sabem a praacutetica de esporte estaacute relacionada

agrave obtenccedilatildeo de sauacutede praticar esporte faz bem agrave sauacutede

bull O que os alunos querem saber mais o que eacute necessaacuterio

para termos uma vida saudaacutevel Quais satildeo os esportes mais

conhecidos no Brasil Quais esportes tecircm o maior iacutendice

de lesotildees

2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO

21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo

O que vocecircs entendem por sauacutede O esporte promove sauacutede

Por quecirc Qual a importacircncia de se estudar o tema ldquoesporte eacute sauacutederdquo

22 Dimensotildees do conteuacutedo

bull Dimensatildeo conceituai O que eacute sauacutede Quais os principais

benefiacutecios da praacutetica correta e adequada de exerciacutecios

fiacutesicos Como a praacutetica esportiva melhora nossa sauacutede

bull Dimensatildeo histoacuterica os espaccedilos puacuteblicos destinados agrave praacutetica

de esporte em nossa cidade estatildeo diminuindo nos uacuteltimos

anos E os espaccedilos que cobram aluguel para utilizaccedilatildeo Seraacute

que esses espaccedilos estatildeo diminuindo ou aumentando

bull Dimensatildeo econocircmica- por que no esporte de rendimento as

lesotildees satildeo muito comuns

bull Dimensatildeo social se o esporte combate a depressatildeo por que

tem aumentado o nuacutemero de casos de atletas com essa

doenccedila A obtenccedilatildeo da sauacutede estaacute sempre presente nos

esportes de alto rendimento O uso de substacircncias para

melhorar o rendimento e a grande incidecircncia de lesotildees nos

atletas eacute indicativo de sauacutede

bull Dimensatildeo poliacuteticarsquo haacute algum programa social que propaga

o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo ou que nele se fundamenta O

lema esporte e sauacutede tem alguma importacircncia poliacutetica Haacute

poliacuteticas puacuteblicas de incentivo agrave praacutetica esportiva na sua

cidade

bull Dimensatildeo cultural Qual a influecircncia da miacutedia na relaccedilatildeo

entre esporte e sauacutede

bull Dimensatildeo ideoloacutegica Por que eacute tatildeo difundida a ideia de que

esporte eacute sauacutede A exigecircncia da capacidade fiacutesica dos atletas

nos esportes de alto rendimento eacute sinocircnimo de sauacutede

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

31 Accedilotildees docentes e discentes

bull Anaacutelise de viacutedeos e documentaacuterios

bull Vivecircncia das modalidades esportivas mais conhecidas no

paiacutes

bull Exposiccedilatildeo do conteuacutedo pelo professor

bull Pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privados) disponiacuteveis para

a praacutetica de esporte na cidade

bull Leitura e anaacutelise de reportagens

32 Recursos mdash humanos e materiais

Livros revistas jornais slides bolas tv dvd folhas de papel

4) CATARSE

41 Siacutentese teoacuterica do aluno

O esporte tem se apresentado atualmente como elemento crucial para

obter sauacutede e alcanccedilar uma vida saudaacutevel A praacutetica de esporte quase semshy

pre estaacute diretamente relacionada agrave sauacutede Poreacutem uma anaacutelise mais cuidashy

dosa do tema esporte e sauacutede nos permite criticar e superar essas compre-

ensotildees predominantes Em primeiro lugar a sauacutede eacute uma questatildeo social

que envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporte

atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por exemplo

Assim a praacutetica de esporte por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacuteshy

de Ateacute mesmo alguns esportistas de alto rendimento acabam por adquirir

problemas de sauacutede em virtude de sua atividade de trabalho seja por utilishy

zar substacircncias seja por se machucar durante treinos ou competiccedilotildees Em

segundo lugar eacute importante destacar que muitas vezes o lema ldquoesporte eacute

sauacutederdquo eacute veiculado com a intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsashy

bilidade por sua proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus

direitos baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos

que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo

42 Expressatildeo da siacutentese

Elaboraccedilatildeo de texto dissertativo produccedilatildeo (em grupo) de um

cartaz sobre o tema estudado

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO

Quadro 1- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO 52 AltyOacuteES DO ALUNO

Saber mais sobre esporte e sauacutede Ler artigos acadecircmicos sobre esporte e sauacutede

Situar-se criticamente frente agraves formulaccedilotildees

sobre esporte e sauacutede utilizando o conhecishy

mento adquirido para compreendecirc-las critishy

camente

Analisar formulaccedilotildees sobre esporte e sauacutede

veiculadas pela miacutedia

Manifestar uma atitude favoraacutevel agrave transforshy

maccedilatildeo do esporte

Vivenciar modalidades esportivas dando

um novo significado a essas praacuteticas de

m odo que a competiccedilatildeo a concorrecircncia

o rendimento e a disputa por exemplo

sejam substituiacutedos por valores que sociashy

lizam privilegiam o coletivo garantam a

solidariedade e respeito humano dentre

outros

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildes Finais

O presente texto buscou apresentar uma proposta pedagoacutegica

de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

tendo como referecircncia os fundamentos da Pedagogia histoacuterico-

-criacutetica Buscamos com essa proposta ampliar a compreensatildeo dos

alunos sobre o tema e consequentemente possibilitar-lhes transshy

cender noccedilotildees cotidianas sobre a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede

Ao socializara referida proposta no presente artigo natildeo pretenshy

demos oferecer uma ldquoreceitardquo mas sim apresentar uma das inuacutemeshy

ras possibilidades de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte

Ainda consideramos importante destacar que as dificuldades imshy

postas pelas condiccedilotildees de vida e trabalho de grande parte dos professhy

sores das redes puacuteblicas municipal e estadual de ensino assim como as

degradantes condiccedilotildees de vida a que estatildeo expostos muitos dos nossos

alunos satildeo apenas alguns dos fatores que podem dificultar o desenshy

volvimento do trabalho pedagoacutegico voltado agrave transmissatildeo do conheshy

cimento sistematizado na educaccedilatildeo escolar As precaacuterias condiccedilotildees de

vidatrabalho por sua vez reiteram nosso entendimento de que a luta

pela socializaccedilatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo se esgota no

debate pedagoacutegico entre as diferentes concepccedilotildees uma vez que engloshy

ba tambeacutem a luta pela escola puacuteblica que deve ser enfrentada em sua

radicalidade tal como alerta Saviani (2005b p 257)

O desafio posto pela sociedade de classes do tipo

capitalista agrave educaccedilatildeo puacuteblica soacute poderaacute ser enfrenshy

tado em sentido proacuteprio isto eacute radicalmente com

a superaccedilatildeo dessa forma de sociedade A luta pela

escola puacuteblica coincide portanto com a luta pelo

socialismo por ser este uma forma de produccedilatildeo

que socializa os meios de produccedilatildeo superando sua

apropriaccedilatildeo privada Com isso socializa-se o saber

viabilizando sua apropriaccedilatildeo pelos trabalhadores

isto eacute pelo conjunto da populaccedilatildeo

Referecircncias

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CAPIacuteTULO V

0 MMA COMO NOVA FACE DA LUTA ESPETAacuteCULO

Adriano de Paiva Reis

Graziany Penna Dias

Rafael Loures dos Reis Bellei

Renata Aparecida Alves Landim

O presente capiacutetulo tem por intenccedilatildeo trazer

contribuiccedilotildees sobre a possibilidade de trabalho

com o conteuacutedo lutas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica Entendemos que abordar as lutas na escola

natildeo eacute tarefa faacutecil pois esse conteuacutedo impotildee como

veremos algumas dificuldades ateacute mesmo pela

compreensatildeo equivocada dos proacuteprios professoshy

res e comunidade escolar sobre esse elemento da

cultura corporal Natildeo obstante compreendemos

que o trabalho pedagoacutegico com esse conteuacutedo eacute

possiacutevel e necessaacuterio pois nosso objetivo eacute que os

alunos ultrapassem uma concepccedilatildeo sincreacutetica e

caoacutetica sobre a realidade a partir da apropriaccedilatildeo

de conhecimentos que os permitam superar as vishy

sotildees parciais que predominam no senso comum

Partindo desse pressuposto optamos por

abordar uma temaacutetica que tem chamado a atenshy

ccedilatildeo de nossos alunos na atualidade o fenocircmeno

das Artes Marciais Mistas modalidade de luta

esportiva alardeada pela miacutedia e alvo de muitas

polecircmicas Nossa perspectiva neste texto seraacute reashy

lizar uma breve discussatildeo sobre o tema e apontar

referecircncias metodoloacutegicas para seu tratamento

nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica em conformidade com o referencial teoacuterico-

-metodoloacutegico proposto pelo Coletivo de Autores (1992)

As lutas e seu lugar na escola formaccedilatildeo de lutadores ou sujeitos

A partir da definiccedilatildeo do grande campo da cultura corporal as

lutasartes marciais1 passaram a figurar como importante conteuacutedo

das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica O reconhecimento da necessidade de

tratamento pedagoacutegico das lutas na escola pode ser comprovado em

diversas orientaccedilotildeespropostas curriculares em niacutevel nacional estashy

dual e municipal e em escritos de diversos autores da aacuterea

Natildeo obstante em que pese essa produccedilatildeo ela ainda tem sido

incipiente em termos de lograr accedilotildees (pedagoacutegicas) efetivas para os

diferentes niacuteveis da educaccedilatildeo escolar A parca produccedilatildeo cientiacutefica

abordando as lutas na escola pode ser comprovada se comparada agrave

produccedilatildeo de outros conteuacutedos como o esporte o jogo e a ginaacutestica

Os professores de Educaccedilatildeo Fiacutesica tambeacutem apontam algumas

dificuldades ao procurar trabalhar esse conteuacutedo em suas aulas

como a falta de materiais roupas e espaccedilos adequados De acorshy

do com Nascimento e Almeida (2007) os principais argumentos

para a restriccedilatildeo do trabalho com o conteuacutedo satildeo a falta de vivecircncia

cotidianaacadecircmica em lutas por parte dos professores e a preocushy

paccedilatildeo com a violecircncia que julgam ser intriacutenseca agrave praacutetica das lutas

tornando-as incompatiacuteveis com as finalidades da escola

Apesar de compreendermos esses argumentos acreditamos que

devemos lutar pela formaccedilatildeo continuada e pelos recursos materiais que

nos permitam trabalhar de forma ainda mais qualificada com as lutas

por serem importantes conteuacutedos para a Educaccedilatildeo Fiacutesica De acordo

com os pressupostos que este coletivo se propotildee a trabalhar entendeshy

mos que as lutas configuram-se como um dos elementos da cultura

1 A lguns autores operam distinccedilotildees conceituais entre os termos Artes Marciais

e Lutas Respeitando os objetivos e limites deste texto optamos por natildeo entrar

nesta polecircmica e trabalhar os dois termos dentro do conteuacutedo lutas Partimos do

pressuposto de que apesar de nem toda luta ser considerada uma arte marcial toda

arte marcial eacute em si uma luta Para aprofundar neste assunto ver Lanccedilanova (2006)

corporal dada sua importacircncia nos mais diversos periacuteodos histoacutericos e

pela perspectiva da sua produccedilatildeo com base na realidade sociai concreta

sendo essa accedilatildeo elemento singular do gecircnero humano3 e que por isso se

diferencia da accedilatildeo instintiva do atacar e defender dos animais

As lutas estatildeo presentes nos mais variados espaccedilos como nas atishy

vidades extracurriculares de muitas escolas nas Olimpiacuteadas em acashy

demias nos clubes e na miacutedia (das mais variadas formas) fazendo os

alunos terem uma aproximaccedilatildeo maior com essa manifestaccedilatildeo corporal

Entretanto esse contato se faz geralmente na perspectiva do senshy

so comum reduzindo as lutas aos coacutedigos do esporte de rendimento

em que pesem por exemplo a oficializaccedilatildeo de regras comparaccedilatildeo de

resultados institucionalizaccedilatildeo racionalizaccedilatildeo das praacuteticastreinamenshy

to e busca da maximizaccedilatildeo do desempenho elementos proacuteprios do

processo de esportivizaccedilatildeo a que outras manifestaccedilotildees como o jogo e

a danccedila vem sofrendo tambeacutem (GONZAacuteLEZ 2005)

O boxe eacute um bom exemplo desse processo de esportivizashy

ccedilatildeo Ele foi criado a partir de disputas nas feiras da Inglaterra

dos seacuteculos XV III e X IX e sua sistematizaccedilatildeo como esporte se

deu mediante o objetivo de organizar o tempo livre4 dos trabashy

lhadores das faacutebricas bem como ldquodosarrdquo a violecircncia O mesmo

aconteceu com a luta greco-romana e mais tarde com as lutas

2 Na linha do Coletivo de Autores (1992 p 38) a cultura corporal eacute o ldquo[] acervo de

formas de representaccedilatildeo do mundo que o homem tem produzido no decorrer da histoacuteria

exteriorizadas pela expressatildeo corporal jogo danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte

malabarismo contorcionismo miacutemica e outros que podem ser identificados como formas

de representaccedilotildees simboacutelicas de realidades vividas pelo homem historicamente criadas e

culturalmente desenvolvidasrdquo

3 A expressatildeo gecircnero humano eacute utilizada no lugar de espeacutecie humana natildeo por acaso mas

pautada nas elaboraccedilotildees de Duarte (2001) O autor natildeo descarta a ideia de que o ser humano

faz parte da espeacutecie humana poreacutem ele avanccedila nessa elaboraccedilatildeo De acordo com ele a

categoria espeacutecie humana se refere agrave identificaccedilatildeo do homem por seus elementos bioloacutegicos

jaacute a categoria gecircnero humano destaca as caracteriacutesticas humanas que satildeo formadas ao longo

da histoacuteria social natildeo transmissiacuteveis pela heranccedila geneacutetica ldquoA categoria de gecircnero humano

natildeo se reduz agravequilo que eacute comum a todos os homens natildeo eacute uma mera generalizaccedilatildeo de

caracteriacutesticas empiricamente verificaacuteveis em todo e qualquer ser humano Gecircnero humano

eacute uma categoria que expressa a siacutentese em cada momento histoacuterico de toda objetivaccedilatildeo

humana ateacute aquele momentordquo (DUARTE 2001 p 26)

4 Estamos entendendo tempo livre como aquele livre das obrigaccedilotildees sociais e cotidianas

pois no modelo social em que vivemos nenhum tempo pode ser considerado livre mas

regulado por alguma determinaccedilatildeo social Para saber mais ver Mascarenhalaquo

orientais (Caratecirc Taekwondocirc Kung-fu Jiu-jistu Judocirc etc) o

que nos permite apontar uma mudanccedila paradigmaacutetica das lutas

desde suas origens ateacute os dias atuais

De um modo geral as lutas tecircm suas conotaccedilotildees primordiais

associadas agraves praacuteticas para a guerra sendo posteriormente adotadas

como um caminho para se alcanccedilar um estilo de vida mais equilibrashy

do e paciacutefico Nessa linha Hausen (2004) descreve o processo histoacuterishy

co de desenvolvimento das lutas de origem oriental que surgiram de

danccedilas praticadas no periacuteodo neoliacutetico e foram sendo sistematizadas

com o intuito de defesa mas para aleacutem disso elas foram adquirindo

sentidossignificado mais amplos como a busca de aprimoramento

corporal espiritual eacutetico moral e intelectual

Nos dias atuais as lutas se apresentam de forma massificada e

descaracterizada dos seus objetivos originais como os filosoacuteficos e os

de desenvolvimento humano (BARROS GABRIEL 2011) Os filshy

mes desenhos animados jogos virtuais e academias de ginaacutestica enshy

tre outros espaccedilos muitas das vezes deturpam os significados autecircnshy

ticos das lutas fazendo com que esse importante elemento cultural se

perca diante das demandas do capitalismo internacionalizado

Quase sempre encaradas como espetaacuteculos maravilhosos de pancadashy

ria e violecircncia a miacutedia deturpa o sentido e significado original das lutas torshy

nando-as sinocircnimo de violecircncia e crueldade com os inimigos Este imagishy

naacuterio criado faz com que os praticantes de lutas se tornem super-heroacuteis que

combatem o mal atraveacutes da violecircncia que gradativatildemente ldquodessensibiliza

os mais novos acerca da violecircncia do choque e do terror de ver algueacutem senshy

do agredido Desenvolvendo essa toleracircncia agrave violecircncia precisaratildeo de cada

vez mais violecircncia para serem entretidos rdquo (LANCcedilANOVA 2006 p 7)

A defesa que fazemos em torno desse conteuacutedo se daacute na compreshy

ensatildeo de que essa manifestaccedilatildeo da cultura corporal muito tem a con-

5 Segundo Marta (2009) a disseminaccedilatildeo das artes marciais orientais para outros paiacuteses

desencadeou um processo de ocidentalizaccedilatildeo com progressiva transformaccedilatildeo das

mesmas em produtos que para tornarem-se mais acessiacuteveisaceitaacuteveis comeccedilam a ser

destituiacutedos de seus rituais e valores tradicionais sendo a esportivizaccedilatildeo um elemento

chave desse processo Vale lembrar que a ocidentalizaccedilatildeo natildeo ocorre apenas com as

lutas mas com toda a cultura de tal modo que podemos falar em ocidentalizaccedilatildeo da

comida da moda do padratildeo de beleza dos estilos de vida das praacuteticas corporais etc

tribuir na formaccedilatildeo criacutetica do nosso aluno visto que a atuaccedilatildeo como

sujeito histoacuterico requer o acesso aos conhecimentos acumulados sobre

as lutas e seus significados como realidades histoacuterico-sociais

Compreendemos que cada tipo de luta eacute uma manifestaccedilatildeo

dotada de trajetoacuteria singular pois satildeo criadas pelos homens conshy

forme os interesses sociais culturais poliacuteticos econocircmicos e filoshy

soacuteficos nos vaacuterios periacuteodos histoacutericos e modos de produccedilatildeo6 Desse

modo as lutas tornam-se campo feacutertil na compreensatildeo da realidashy

de como produccedilatildeo histoacuterica e que por isso podem ser reinventashy

das segundo suas necessidades e interesses Aliaacutes o fazer histoacuteria eacute

expressatildeo proacutepria do gecircnero humano Nas palavras de Hobsbawm

(2010) enquanto houver ser humano haveraacute histoacuteria

A perspectiva de trabalho com as lutas dentro da escola natildeo

tem como objetivo formar o lutador de certa modalidade mas sim

formar o sujeito histoacuterico E pensar isso perfaz entender que o ensishy

no de lutas justifica-se quando ele possibilita ao aluno compreender

de forma criacutetica os condicionantes histoacutericos e sociais que fizeram

das lutas o que satildeo hoje bem como possibilitar-lhe usufruir sob

outras perspectivas o praticarvivenciar essa manifestaccedilatildeo

Artes Marciais Mistas

O resultado de toda essa esportivizaccedilatildeoocidentalizaccedilatildeo das

artes marciais da falta de sensibilidade dessa sociedade cada vez

mais competitiva e da busca incansaacutevel por audiecircncia e conseshy

quentemente por lucro se cristaliza em uma simples sigla ldquoianshy

querdquo MMA Mixed M artial Arts) ou Artes Marciais Mistas O

M M A eacute uma luta esportiva em que teacutecnicas de variadas modalishy

dades de lutasartes marciais satildeo utilizadas devidamente esvaziashy

das de seus significados filosoacuteficos e histoacutericos originais e com um

acreacutescimo de brutalidade dotada de sentido econocircmico

6 Modo de produccedilatildeo eacute uma categoria utilizada por Marx com o intuito de discriminar

as diferenccedilas que cada eacutepoca histoacuterica possui em funccedilatildeo das suas forccedilas produtivas e

relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo Assim podemos falar em modo de produccedilatildeo escravista

feudalista capitalista Para saber mais ver Huni (2005)

Selecionamos como temaacutetica dessa unidade de lutas essa

modalidade por entendermos que seu apelo midiaacutetico tem chashy

mado muita atenccedilatildeo entre os jovens em nossa sociedade nos uacutelshy

timos anos Essa popularizaccedilatildeo traz algumas questotildees que devem

ser socializadas e discutidas com nossos alunos tais como a orishy

gem dessa luta esportiva o papel da miacutedia na sua difusatildeo a sua

relaccedilatildeo com a violecircncia e com a mercadorizaccedilatildeo das lutas entre

muitas outras que possam surgir de acordo com o interesse e

aprofundamento dos alunos na temaacutetica

Os primeiros indiacutecios de lutas mistas estatildeo relacionados com

a Greacutecia antiga Tal luta era denominada de Pankration uma

combinaccedilatildeo de duas palavras gregas p a n que significa tudo ou

vaacuterios e kratos que significa forccedila7 Mas registros de algo pareshy

cido ressurgem por volta da segunda deacutecada do seacuteculo passado

aqui no Brasil quando membros da famiacutelia Gracie a fim de

divulgar uma modalidade de luta por eles adaptada do Jiu-jitsu

japonecircs e mais tarde denominada Jiu-jitsu brasileiro criaram o

ldquoGracie Challengerdquo ou ldquoDesafio dos Gracierdquo Os irmatildeos Gracie

desafiavam qualquer lutador de qualquer modalidade a fim de

demonstrar que a sua teacutecnica era mais eficiente Esses desafios

ficaram conhecidos como Vale-Tudo8 (AWI 2012)

Mais tarde no iniacutecio dos anos de 1990 nos EUA Rorion Gracie

e outros soacutecios criaram o primeiro torneio UFC (Ultimate Fighting

Championship) Com um formato um pouco diferente dos torneios de

ldquoVale-Tudordquo anteriores - como por exemplo o abandono do ringue e

7 O Pankration era unia espeacutecie de luta de solo que fazia parte das provas dos Jogos

Oliacutempicos sendo um dos acontecimentos mais populares da antiguidade Segundo Elias

e Dunning (1992) o niacutevel de violecircncia permitido nessa luta era muito elevado as regras

eram tradicionais e muito flexiacuteveis havia um juiz mas natildeo havia limite de tempo e o

combate durava ateacute que um dos oponentes desistisse por isso muitas vezes terminava com

a mutilaccedilatildeo ou morte do adversaacuterio O Pankration natildeo pode ser considerado um esporte

pois esse termo soacute pode ser suficientemente utilizado a partir do seacuteculo XV III em referecircncia

agraves praacuteticas corporais regidas por regras escritas e regulamentadas por instituiccedilotildees especiacuteficas

8 No fim da deacutecada de 1920 ocorreu o primeiro confronto puacuteblico desse gecircnero na ocasiatildeo

foi chamado de estilo versus estilo soacute depois a imprensa comeccedilou a se referir a esse confronto

como Vale Tudo (AWI 2012) Na deacutecada de I960 a violecircncia de algumas lutas criou uma

resistecircncia ao Vale Tudo que chegou a ser proibido no Brasil Ele ressurgiu entre as deacutecadas

de 1980 e 1990 num combate entre lutadores de Jiu-jitsu e Luta Livre mas enfraqueceu

novamente devido ao alto grau de violecircncia inclusive por parte do puacuteblico (MM A 2010)

a criaccedilatildeo do octoacutegono9 mdash o UFC chamou a atenccedilatildeo com lutadores de

diversas modalidades se enfrentando com regras miacutenimas e sem restrishy

ccedilatildeo de tempo Logo surgiram outros torneios como ldquoPRIDErdquo e ldquoOpen

Free Style Japanrdquo que se tornaram sucesso nas TV s por assinatura Poshy

reacutem juntamente com o sucesso de espectadores10 vieram as restriccedilotildees

em diversos estados por todos os EUA (MMA 2010)

Em pouco tempo de existecircncia dessas competiccedilotildees os lutashy

dores perceberam que aliar as diversas modalidades de lutas que

permitissem a eles lutarem em peacute e no chatildeo os tornaria mais comshy

petitivos Essa mistura de estilos de lutas e habilidades se tornou

conhecida como Artes Marciais Mistas (D ISCOVER UFC 2012)

Natildeo apenas Anderson mas nossos melhores lutadores

sabem se moldar de acordo com a situaccedilatildeo diante

das adversidades E uma qualidade indispensaacutevel do

MMA Por permitir o uso de golpes das mais diversas

modalidades o esporte acaba premiando a capacidashy

de de improviso do atleta diante de tantas variaacuteveis

Nisso as artes marciais mistas se assemelham agrave paixatildeo

nacional o futebol notoriamente um dos esportes

que menos se presta a ldquoensaiosrdquo e um dos mais impreshy

visiacuteveis que existem (AWI 2012 p 289)

No iniacutecio do seacuteculo XXI o UFC retorna reformulado com reshy

gras mais riacutegidas para poder agradar as autoridades que antes o proishy

biram limite de tempo divisatildeo de categorias por peso e seleccedilatildeo crishy

teriosa de lutadores De acordo com Awi (2012) hoje o MMA em

seus principais eventos eacute um esporte regulamentado com exames

perioacutedicos testes antidoping e regras bem claras

Na atualidade o UFC marca que domina 90 do mercashy

do mundial do M M A vincula o espetaacuteculo de entretenimento ao

consumo dos mais diversos produtos como aparelhos de ginaacutesshy

tica roupas videogames bonecos e DVDs Uma noite do evento

9 v -Segundo Rorion Grace a ideia do octoacutegono (espeacutecie de jaula com oito lados) era

justamente impedir os lutadores de fugirem do espaccedilo de luta durante a ldquopancadariardquo a

fim de atrair mais puacuteblico e chegar agrave televisatildeo (M M A 2010)t10 Na primeira ediccedilatildeo do UFC 85 mil lares americanos pagaram para ver a luta ao

vivo na televisatildeo na segunda foram 120 mil na terceira 180 mil e na quarta 260

mil pagantes (AW I 2012)

gera em meacutedia 70 milhotildees de reais Estima-se que a marca ldquoUFCrdquo

comprada haacute 12 anos por 2 milhotildees de doacutelares hoje eacute avaliada

em mais de 13 bilhatildeo de doacutelares 11 (AWI 2012) Neste quadro o

M M A ascende como ldquonovardquo face da luta-espetaacuteculo12 assumindo

o posto outrora ocupado pelo boxe que hoje estaacute em segundo plashy

no dentro do mercado das lutas esportivas

O esporte hoje eacute considerado ldquofebre mundialrdquo o nuacutemero de fatildes

soacute aumenta com o passar dos anos e as criacuteticas tambeacutem Recentemenshy

te em entrevista ao jornal Folha de Satildeo Paulo o bi-campeatildeo mundial

de boxe Eder Jofre fala criticavam o boxe porque era violento mas

perto do M M A eacute baleacute (PERTO 2012) E as criacuteticas natildeo param

por aiacute outra pessoa a questionar a civilidade da modalidade foi um

dos fundadores da torcida organizada ldquoGaviotildees da Fielrdquo considerada

uma das mais violentas do paiacutes Questionado sobre a violecircncia das

torcidas organizadas hoje em dia Chico Malfitanni em entrevista agrave

Folha de Satildeo Paulo declara ldquoos meios de comunicaccedilatildeo satildeo os maiores

incentivadores Outro dia o Sportv estava metendo o pau nas orgashy

nizadas agraves 1 lh30 da manhatilde Nisso entram cenas do MMA sangue

escorrendo O Galvatildeo [Bueno] gritando direita esquerda o cara soshy

cando o outro e isso eacute civilizadordquo (REIS 2012)

Apesar de algumas regras terem sido incluiacutedas para proibir eou limishy

tar o uso de alguns golpes durante os combates o niacutevel de violecircncia preshy

sente nas lutas de M M A eacute inegaacutevel De acordo com Awi (2012 p 19-20)

E rarissiacutemo uma ediccedilatildeo do UFC que termine

sem que pelo menos um lutador tenha de receshy

ber atendimento hospitalar antes de voltar para

casa Embora ateacute hoje soacute se tenha registrado duas

mortes por conta de lesotildees sofridas durante um

combate a variedade de golpes tramaacuteticos potildee em

11 O UFC eacute apontado pelos executivos americanos como a marca esportiva mais valiosa dos

Estados Unidos agrave frente da NFL (Futebol Americano) e da NBA (Basquete) Segundo

Awi (2012) Dana White e os irmaacuteos Fertita atuais administradores do UFC deram

o grande pulo do gato da marca ao perceberem que naacuteo bastava a luta era preciso

transformaacute-la num espetaacuteculo de entretenimento de massas

12 Utilizamos o termo ldquonovardquo entre aspas porque consideramos que o formato do M M A eacute novo

mas o seu conteuacutedo naacuteo eacute pois revela a apropriaccedilatildeo de teacutecnicas de lutas jaacute existentes

risco sim a integridade fiacutesica dos lutadores Mas

tambeacutem eacute verdade que o niacutevel de seguranccedila hoje eacute

bastante aceitaacutevel mdash e natildeo para de crescer

A polecircmica sobre o niacutevel de agressividade que envolve os comshy

bates de Artes Marciais Mistas traz agrave tona uma importante reflexatildeo

estaria o M M A incitando a violecircncia entre as pessoas

De acordo com Freire (2012) a questatildeo natildeo eacute tatildeo linear asshy

sim pois a agressividade presente no M M A natildeo seria a mesma

temida pelas pessoas em seus cotidianos mas sim a violecircncia transshy

formada em um espetaacuteculo de entretenimento O autor defende

seguindo a esteira de Nobert Elias que o puacuteblico experimenta um

momento de fruiccedilatildeo e prazer consumindo uma violecircncia controlashy

da por certas regrasteacutecnicas natildeo necessariamente praticando-a o

que poderia ser considerada uma conquista civilizatoacuteria13

Entretanto eacute importante destacar que o niacutevel de violecircncia

encontrado no M M A precisa ser compreendido no interior das

relaccedilotildees sociais capitalistas que na atualidade tecircm corroiacutedo o

tecido social No capitalismo a busca incessante pelo lucro eacute o

grande objetivo a ser atingido por isso a vidaintegridade do

lutador (visto como mercadoria viva) e o respeito ao adversaacuterio

soacute fazem sentido agrave medida que contribuem para esse objetivo

Nessa direccedilatildeo Duarte (2000) qualifica a sociedade capitalista

como hipoacutecrita pois ao transformar tudo em mercadoria ela

torna-se indiferente ao desenvolvimento moral dos indiviacuteduos

sendo que cedo ou tarde ela encontra meios de superar os lim ishy

tes outrora impostos para exploraccedilatildeo Assim agrave medida que se

torna mais aguda a crise da sociedade capitalista atual aumenta

13 Elias e Dunning (1992) evidenciam o caraacuteter de complementaridade entre esporte

e avanccedilo da civilizaccedilatildeo Os autores defendem que a criaccedilatildeo de regras sociais que

pacificaram as formas de disputa poliacutetica ocorre paralelamente ao desenvolvimento

de formas de exerciacutecio regulado da exciiacuteaccedilatildeo reprimida nas atividades seacuterias da vida

Neste contexto o esporte teria uma finalidade cataacutertica jaacute que deveria criar tensotildees

imaginaacuterias reguladas por teacutecnicas e regras permitindo a realizaccedilatildeo de uma violecircncia

controlada satisfazendo necessidades de excitaccedilatildeo dos participantes eou espectadores

ainda mais a alienaccedilatildeo da moral14 prevalecendo nesse contexto o

individualismo e o egoiacutesmo exacerbado

Desse modo o M M A tem demonstrado alinhamento com o prinshy

ciacutepio basilar do capitalismo a busca impiedosa pela valorizaccedilatildeo do cashy

pital sendo suas regras e apropriaccedilotildees teacutecnicas subordinadas a esse fim

O propoacutesito central dessa luta esportiva eacute manter o puacuteblico fascinado

para vender imagens roupas e demais mercadorias associadas agrave sua praacuteshy

tica Mas contraditoriamente o MMA por carregar em seu interior

fragmentos de diversas artes marciais e caracteriacutesticas do nosso tempo

desde que problematizado pode ajudar a entender os desafios e possishy

bilidades colocados para as lutas no contexto atual

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com as lutas

Com base nessa discussatildeo propomos uma unidade de ensino

que aborda o M M A como temaacutetica dentro do conteuacutedo lutas O plashy

no de unidade descrito abaixo foi elaborado para ser trabalhado com

alunos do oitavo ano do ensino fundamental

Seguindo os pressupostos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica o prishy

meiro passo eacute a identificaccedilatildeo dos dados da realidade onde temos uma

primeira impressatildeo dos alunos sobre o tema a ser trabalhado Como

atividade desse momento propomos organizar os alunos em gnipos

e pedir a eles que faccedilam um cartaz em uma folha de cartolina a parshy

tir de questotildees previamente elaboradas pelo professor As perguntas

enumeradas abaixo no plano de unidade deveratildeo ser respondidas

atraveacutes de ilustraccedilotildees fotografias eou reportagens que seratildeo disponishy

bilizadas para alunos atraveacutes de jornais esportivos ou paacuteginas da intershy

net A ideia geral eacute que os alunos indiquem qual eacute a luta mais famosa

14 De acordo com Duarte (2000) a discussatildeo sobre moral na sociedade capitalista eacute feita de

maneira alienada ou seja descolada dos valores que orientam a vida concreta das pessoas

Isso porque uma discussatildeo radical levaria agrave constataccedilatildeo de que o sistema capitalista eacute

avesso agraves questotildees morais jaacute que a proacutepria loacutegica do sistema eacute maximizar a exploraccedilatildeo dos

seres humanos sem limites para ampliar a acumulaccedilatildeo de capital Desse modo a base

concreta dessa alienaccedilatildeo moral eacute a proacutepria alienaccedilatildeo do trabalho atividade essencialmente

humana Nesse processo o homem eacute alienado natildeo apenas do produto e da atividade do

trabalho mas tambeacutem de si mesmo da relaccedilatildeo com o outro e com o gecircnero humano

na atualidade Esta atividade teraacute como objetivo averiguar o niacutevel de

compreensatildeo dos alunos sobre o M M A enquanto principal luta dos

tempos atuais Ao final desta atividade seraacute exposto aos alunos o conshy

teuacutedo e a temaacutetica que seraacute trabalhada questionando-os acerca do

que gostariam de saber a mais sobre o tema

Na problematizaccedilatildeo seratildeo levantadas algumas questotildees importanshy

tes para a discussatildeo do tema buscando orientar o aluno no processo de

apreensatildeo ativa do conhecimento Conforme pode ser visto no plano

de unidade seratildeo lanccediladas questotildees que abordam diversas dimensotildees

do conhecimento que seratildeo trabalhadas tais como o processo histoacuterico

de criaccedilatildeo do MMA sua evoluccedilatildeo as teacutecnicas baacutesicas desta luta os

interesses econocircmicos e as relaccedilotildees deste tema com a sociedade atual

A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento onde as atividades desenvolshy

vidas estatildeo voltadas para a aquisiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico por

parte dos alunos visando ampliar o niacutevel de consciecircncia dos mesmos

acerca do MM A e das suas interfaces com os tempos atuais No caso

em tela as atividades seratildeo exibiccedilatildeo de filmes e viacutedeos vivecircncia de

algumas modalidades de lutas discussotildees leituras de textos etc

A elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia pode ser verificada na cashy

tarse momento no qual haacute uma reinterpretaccedilatildeo da realidade desta

vez com o amparo do conhecimento cientiacutefico apreendido Como

sugestatildeo propomos a construccedilatildeo de um viacutedeo sobre os temas aborshy

dados a realizaccedilatildeo de um juacuteri simulado sobre o M M A e a criaccedilatildeo

de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais para debater o assunto

A ideia eacute que o aluno tenha se aproximado da percepccedilatildeo de que o

M M A eacute uma luta esportiva que utiliza teacutecnicas de diversas outras lushy

tas Na atualidade o MMA atraveacutes da marca UFC eacute uma das moshy

dalidades esportivas mais divulgadas e lucrativas do mundo Entreshy

tanto agrave medida que as teacutecnicas das lutas vatildeo sendo apropriadas para

seu uso competitivo nos torneios de M M A vai sendo aprofundado

o processo de descaracterizaccedilatildeo dessas modalidades em relaccedilatildeo aos

seus princiacutepios e valores originais O alto grau de violecircncia associado

agraves lutas dentro e fora dos octoacutegonos pode ser apontado como um

dos resultados desses processos de descaracterizaccedilatildeo

A uacuteltima etapa do plano de unidade eacute o retorno agrave praacutetica social ou

o momento de utilizar este conhecimento apreendido para uma nova

compreensatildeo e accedilatildeo sobre a realidade Assim propomos a divulgaccedilatildeo

dos materiais construiacutedos e socializaccedilatildeo com os outros alunos da escola

Plano de Unidade iMMA - a ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo

OBJETIVO GERAL

Compreender o M M A e suas relaccedilotildees com o mercado da luta-

-espetaacuteculo a fim de assumir uma postura criacutetica frente ao processo

de massificaccedilatildeo das lutas a partir desta modalidade

Toacutepicos de Conteuacutedo e objetivos especiacuteficos

1 - M M A que luta eacute essa

bull Ampliar conhecimentos sobre o MMA para distingui-lo de

outras modalidades de luta

bull Identificar os principais estilos de lutas seus golpes e

fundamentos teacutecnicos que compotildeem o MMA

2 - Origem e histoacuteria do M M A

bull Conhecer a origem e o processo de disseminaccedilatildeo do MMA

a fim de identificar a dinacircmica social que envolve a produccedilatildeo

dessa praacutetica da cultura corporal

3 - As lutas e seu processo de descaracterizaccedilatildeo

bull Diferenciar lutas de briga

bull Entender o processo de descaracterizaccedilatildeo das lutas

esportivizadas

bull Identificar o M M A como luta esportiva suas regras

categorias e competiccedilotildees

4 - M MA Miacutedia e Mercado a luta-espetaacuteculo como grande negoacutecio

bull Identificar o papel da miacutedia no processo de difusatildeo do

M M A

bull Compreender os interesses econocircmicos envolvidos nas

competiccedilotildees de MMA

5 - O MMA e a espetacularizaccedilaacuteo da violecircncia

bull Apreender a relaccedilatildeo entre o M M A e a espetacularizaccedilaacuteo da

violecircncia em nossa sociedade

bull Debater a relaccedilatildeo entre violecircncia e lutas

1) Praacutetica Social Inicial do Conteuacutedo

Material de Apoio Jornais e revistas esportivas (pode ser

feito tambeacutem na sala de informaacutetica utilizando os sites esportishy

vos mais populares) cartolinas canetinhas laacutepis de cor caneta

cola e tesoura

Accedilatildeo Dividir os alunos em grupos de no maacuteximo seis pesshy

soas A cada grupo deveraacute ser dado um questionaacuterio para ser

respondido na folha de cartolina e um nuacutemero suficiente de jorshy

nais esportivos (ou paacuteginas principais impressas dos noticiaacuterios

esportivos on-line) As perguntas satildeo

bull Qual eacute a luta mais famosa nos dias atuais

bull Quem eacute o melhor lutador atual

bull Quais satildeo as regras

bull Qual eacute o espaccedilo onde ela acontece

bull Quem a inventou

bull Onde podemos assistir esta luta

Os alunos deveratildeo procurar nos jornais fotografias eou reporshy

tagens sobre a luta que foi respondida como mais famosa (muito

provavelmente seraacute respondida que o M M A eacute a luta mais popular)

Os cartazes deveratildeo ser apresentados para os outros grupos

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3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO15

Quadro 2- Instrumentalizaccedilatildeo

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MMA que luta eacute

essa

Ampliar conhecimentos sobre o

MM A para distingui-lo de oushy

tras modalidades

Identificar os principais estilos

de lutas golpes e fundamenshy

tos teacutecnicos que compotildeem o

MMA

Conceituai

Teacutecnica

Pesquisa na sala de informaacutetica

Ler reportagens sobre o MMA

Viacutedeos imagens e textos

disponiacuteveis no blog ldquoConteshy

uacutedo e Meacutetodo nas aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Origem e histoacuteria

do M M A

Conhecer a origem e o processhy

so de disseminaccedilatildeo do MMA a

fim de identificar a dinacircmica soshy

cial que envolve a produccedilatildeo desshy

sa praacutetica da cultura corporal

HistoacutericaExibiccedilatildeo do Documentaacuterio da

Sportv sobre o MMA

Documentaacuterio ldquoMMA

a luta que levou o boxe agrave

lonardquo

Os links para acesso aos videos filmes e documentaacuterios citados no quadro abaixo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Disponiacutevel em lthttpcoledvoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012

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(2011)

4) CATARSE

41- Siacutentese teoacuterica do aluno

A catarse seraacute demonstrada com registros durante as aulas exshy

pressando que o MM A (Mixed Martial Arts) eacute uma luta esportiviza-

da criada a partir de uma forma de disputa para a disseminaccedilatildeo do

Jiu-jitsu brasileiro como a melhor das artes marciais Eram embates

entre lutadores de teacutecnicas distintas com lutadores de Jiu-jitsu prinshy

cipalmente Com a exarcebaccedilatildeo da violecircncia principalmente fora dos

ringues a famiacutelia Grace se muda para os EUA e comeccedila a criar uma

nova forma de disputa com regras espaccedilo adequado e teacutecnicas espeshy

ciacuteficas Surge assim o Vale Tudo e posteriormente o UFC e outras

modalidades Atualmente o UFC eacute uma das modalidades esportivas

mais lucrativas do mundo e uma das mais violentas associando teacutecshy

nicas de diversas lutas (Boxe Jiu-jitsu Muai thay Aikidocirc etc) sem

contudo valorizar os aspectos filosoacuteficos e princiacutepios originais das lushy

tas como respeito ao adversaacuterio e a si mesmo Muitas pessoas treinam

MMA para brigas de rua e torneios sem contudo entender o sentido

da criaccedilatildeo destas teacutecnicas pois estatildeo descaracterizadas atendendo a

interesses econocircmicos que vatildeo muito aleacutem da simples autodefesa

42 - Expressatildeo da Siacutentese

Construccedilatildeo de um viacutedeo sobre o MMA abordando de forma

criacutetica os temas estudados nas aulas ou construccedilatildeo de cartazes reshy

alizaccedilatildeo de um juacuteri simulado discutindo a temaacutetica e criaccedilatildeo de um

foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a temaacutetica

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO

Quadro 3 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

Conhecer mais sobre o M M A e suas difeshy

renccedilas de outros estilos

Pesquisar ler textos e assistir viacutedeos

sobre o M M A

Contribuir para a socializaccedilatildeo dos conhecishy

mentos sobre as lutas e para divulgaccedilatildeo de

espaccedilos de discussotildees sobre as mesmas

Convidar os demais alunos da escola para

f acessarem os viacutedeos e participarem dos

foacuteruns de discussatildeo sobre as lutas

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (201 1)

Consideraccedilotildees Finais

A formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos 1 1 0 acircmbito da cultura corporal

passa pela apreensatildeo de conhecimentos teoacuterico-praacuteticos que permitam agir

criticamente frente aos grandes fenocircmenos esportivos para aleacutem de sua

aparecircncia No caso das lutas o pouco acesso aos conhecimentos histoacutericos

teacutecnicos e filosoacuteficos das mesmas pode contribuir para gerar a substituiccedilatildeo

de sua praacutetica salutar pelo consumo passivo de espetaacuteculos esportivos muishy

tas vezes regados com alto grau de violecircncia A proposta de ensino com a

tematizaccedilatildeo das Artes Marciais Mistas buscou contribuir para pensar no

papel de mediaccedilatildeo que a Educaccedilatildeo Fiacutesica pode ter na formaccedilatildeo de sujeitos

criacuteticos ao fenocircmeno de descaracterizaccedilatildeo e mercadorizaccedilatildeo das lutas

Referecircncias

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CAPIacuteTULO VI

A VOZ DA PERIFERIA O HIP HOP ENQUANTO POSSIBILIDADE DE TRABALHO NAS AULAS DE EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA

Adriano de Paiva Reis

Carla Cristina Carvalho Pereira

Giovana de Carvalho Castro

Herbert Hischter Chaves de Paula

Marcelo Silva dos Santos

Apesar da infinidade de possibilidades de

trabalho nos curriacuteculos escolares historicamenshy

te a danccedila foi tratada pela escola numa perspecshy

tiva funcional tendo como objetivo principal a

formaccedilatildeo do corpo feminino em contrapartida

agraves praacuteticas ginaacutesticas destinadas aos homens1

O fato eacute que o trabalho com a danccedila nas

escolas quase natildeo eacute realizado ou eacute realizado de

forma superficial e esvaziada A danccedila eacute recoshy

nhecida como atividade extracurricular - geralshy

mente o aprofundamento do trabalho com as

teacutecnicas de uma determinada modalidade - ou

eacute tratada como componente folcloacuterico no inshy

terior das escolas seja pela Educaccedilatildeo Fiacutesica ou

1 A discussatildeo acerca das praacuteticas corporais destinadas a

homens e mulheres ao longo da histoacuteria da Educaccedilatildeo

Fiacutesica no Brasil pode ser encontrada em Ghiraldelli

Juacutenior (1994) O autor situa historicamente a visatildeo

sexista da Educaccedilatildeo Fiacutesica na sociedade brasileira

demonstrando o papel da ginaacutestica para moldar o corpo

saudaacutevel robusto e harmonioso dos homens enquanto

que para as meninas as praacuteticas eram voltadas para a

danccedila a expressatildeo corporal o teatro e a poesia visando

pela Educaccedilatildeo Artiacutestica limitando-se muitas vezes agrave montagem de

coreografias para festas e comemoraccedilotildees da escola Raramente a danccedila eacute

valorizada por ter um conhecimento proacuteprio e uma linguagem expresshy

siva especiacutefica (BRASILEIRO 2003 FIAM ONCINI 2003)

A resistecircncia dos alunos em participar das aulas de danccedila na esshy

cola constitui um fator a ser considerado assim como a dificuldade

por parte de muitos professores em trabalhar com esse conteuacutedo sob a

alegaccedilatildeo de natildeo possuiacuterem conhecimento especiacutefico em nenhuma moshy

dalidade de danccedila problema agravado pelos curriacuteculos predominanteshy

mente esportivizados da maioria dos cursos de graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo

Fiacutesica No entanto entendendo que a funccedilatildeo primordial da escola eacute

a socializaccedilatildeo do saber historicamente produzido (SAVIANI 1997)

coloca-se como tarefa fundamental a sistematizaccedilatildeo de uma praacutexis edushy

cativa superadora em danccedila tendo em vista proporcionar aos alunos

uma apreensatildeo contextualizada e criacutetica acerca dessa linguagem

Na perspectiva da reflexatildeo sobre a cultura corporal a danccedila - enshy

tendida enquanto uma das expressotildees do patrimocircnio cultural da hushy

manidade - eacute um conteuacutedo a ser conhecido estudado produzido no

acircmbito escolar Nesta linha eacute preciso que o professor rompa com as

formas tradicionais mecanizadas e estereotipadas de danccedila proporshy

cionando ao aluno o conhecimento de suas verdadeiras possibilidades

corporais desenvolvendo a criatividade e a expressividade

A escolha da temaacutetica a ser abordada nas aulas deve partir

da necessidade de compreensatildeo e explicaccedilatildeo da realidade concreshy

ta do aluno oferecendo subsiacutedios para que ele compreenda os

determinantes soacutecio-histoacutericos de sua condiccedilatildeo de classe social

(C O LE T IV O DE AUTORES 1992)

Neste sentido escolhemos abordar o break enquanto modalishy

dade de danccedila atrelada ao movimento Hip Hop A definiccedilatildeo dessa

temaacutetica deveu-se agrave sua popularidade entre os alunos e agrave confusatildeo

conceituai acerca do Hip Hop uma vez que este eacute tratado apenas

como um estilo musical ou uma forma de danccedilar Assim torna-se neshy

cessaacuterio abordar e discutir as contradiccedilotildees existentes entre a essecircncia

do Hip Hop enquanto movimento de criacutetica e contestaccedilatildeo social e

sua mercadorizaccedilatildeo c esvaziamento pelos meios de comunicaccedilatildeo

O Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia e criacutetica social

O Hip Hop natildeo eacute apenas um estilo musical ou um tipo de

danccedila Trata-se na verdade de uma importante manifestaccedilatildeo culshy

tural produzida enquanto um movimento de resistecircncia da perishy

feria da classe menos favorecida - que natildeo coincidentemente eacute

representada majoritariamente por negros2 A origem do termo eacute

bastante controversa mas muitos pesquisadores atribuem sua criashy

ccedilatildeo a Afrika Bambaataa3 Suas origens remontam aos EUA por

volta dos anos de 1970 nos subuacuterbios de Nova York e de Chicago

atrelado agraves expressotildees culturais das comunidades jamaicanas latishy

nas e afro-americanas Nesses guetos - habitados majoritariamente

por uma populaccedilatildeo negra4 e assolados pela pobreza traacutefico de

drogas racismo ausecircncia de educaccedilatildeo e de espaccedilos de lazer mdash o

movimento Hip Hop nasceu a partir de accedilotildees para conter a violecircnshy

2 Satildeo os negros que ocupam a maioria das estatiacutesticas de desemprego mortalidade infantil

analfabetismo que possuem as piores condiccedilotildees de moradia a maioria que ocupa os

presiacutedios e as ruas etc A discussatildeo sobre a marginalizaccedilaacuteo do negro no Brasil ganha forccedila a

partir dos anos iniciais deste seacuteculo demonstrando a importacircncia do movimento negro no

cenaacuterio dos movimentos sociais no paiacutes Entretanto dentro do proacuteprio movimento negro

natildeo haacute unidade principalmente no que se refere agrave discussatildeo entre a relaccedilatildeo raccedilaclasse Por

esta razatildeo achamos fundamental demarcar nossa posiccedilatildeo dentro dessa discussatildeo apesar

de estarmos atentos ao fato de que uma das caracteriacutesticas do capitalismo eacute ser indiferente

agraves identidades sociais das pessoas que explora o fato de natildeo necessitar natildeo significa que

de fato natildeo se aproveite e natildeo decirc continuidade agrave opressatildeo racial O capitalismo que

massacra trabalhadores mundo afora eacute ainda mais perverso com aqueles setores que foram

marginalizados como eacute o caso dos negros (W O O D 2003)

3 Afrika Bambaataa - pseudocircnimo de Kevin Donovan - eacute de forma quase unacircnime

considerado o responsaacutevel por plantar as bases sobre as quais o Hip Hop se desenvolveu

Nascido e criado no violento bairro do Bronx (Nova Iorque) chegou agrave lideranccedila dos Black

Spades uma das mais fortes e violentas gangues da regiatildeo Sua vida comeccedilou a mudar

quando numa viagem agrave Aacutefrica no iniacutecio dos anos 1970 assistiu ao filme Zulu sobre

a luta entre africanos e ingleses no seacuteculo X IX Foi deste documentaacuterio que ele retirou o

nome pelo qual eacute conhecido hoje O filme tambeacutem despertou no mesmo um novo olhar

acerca de suas origens motivando-o a formar sua proacutepria naccedilatildeo Zulu bem como a buscar

raquo meios para cooptar jovens das gangues para ela Disponiacutevel em lthttpogloboglobo

comculturaconsiderado-pai-do-hip-hop-do-funk-carioca-afrika-bambaataa-faz-show-

no-rio-303106lixzz20554zE00gt Acesso cm 2 ago 2012

4 Aleacutem dos negros os guetos de Nova York eram ocupados por imigrantes latinos oriundos

principalmente do Meacutexico e de Porto Rico tambeacutem considerados inferiores por sua pele

morena e olhos indiacutegenas herdados de seus antepassados tambeacutem escravizados

cia e promover a conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessishy

dade de luta contra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis

Desta forma o Hip Hop atrela-se agraves calorosas discussotildees que trashy

zem agrave tona os embates e as contradiccedilotildees da sociedade norte-americana

Neste contexto emergem lideranccedilas negras como Martin Luther King

e Malcom X e grupos que lutavam pela igualdade de direitos como

os Panteras Negras Embora divergentes em suas propostas agregaram

em torno de suas ideias uma populaccedilatildeo que ansiava por mudanccedilas no

modelo social entatildeo vigente que condenava a populaccedilatildeo negra a uma

invisibilidade negando-lhe a possibilidade de uma efetiva participaccedilatildeo

social e poliacutetica Tais demandas refletiram na produccedilatildeo musical e o

rock mdash que tambeacutem nasceu negro tatildeo aderente nos anos de 1960 mdash

mostrou-se impotente para dar voz a esse novo contexto

Os guetos abraccedilaram o soul e prestaram reverencia a muacutesicas como

uSay it loud Im black and proudrdquo (diga alto sou negro e orgulhoso)

cantada aos berros por James Brown inspirado na frase do liacuteder sul africano

Steve Biko Ao soul juntou-se o ftink furioso do qual James Brown tamshy

beacutem foi um iacutecone imageacutetico Estava pronto o terreno do qual brotaria o

Hip Hop lanccediladas as sementes do soul do funk e da luta pelos direitos civis

da populaccedilatildeo negra A ele se uniu o rap que remonta as raiacutezes da oralidade

africana sintetizada na figura dos griots5 Os guetos apropriaram-se desta

tradiccedilatildeo e a reinventaram atraveacutes das batalhas de improviso que contavam

histoacuterias de seu cotidiano marcando assim o nascimento do freestyle6

Outra figura fundamental para o Hip Hop foi o DJ Kool Herc

imigrante jamaicano a quem se atribui a criaccedilatildeo dos breaks (trechos de

muacutesicas usados como bases) No final dos anos de 1960 Herc trouxe da

Jamaica para o Bronx a teacutecnica dos famosos sound systems de Kingston

5 Os ldquogriotsrdquo satildeo os guardiotildees inteacuterpretes e cantores da histoacuteria oral de muitos povos

africanos A figura do griot tem uma enorme importacircncia na preservaccedilatildeo da palavra da

narraccedilatildeo do mito africano ldquoNa praacutetica eles funcionam como escritores sem papel nem

pena Ortografam na oralidade aquilo que deve permanecer embutido na memoacuteria e no

coraccedilatildeo dos seus familiares e conterracircneos no sentido de manter incrustada a identidade

do seu ser e das suas raiacutezes fundamentada em grande parte no seu passado e nos seus

predecessoresrdquo BIJOacute1AS Maria Griots mdash os inteacuterpretes musicais da Histoacuteria africana

Disponiacutevel em lthttpwwwruadireitacommusicainfogriots-os-interpretes-musicais-

da-historia-africanagt Acesso em 23 jul 2012

6 Estilo livre muacutesica de improviso mediante desafios

Como os trechos usados como base eram curtos Herc teve a ideia de usar

um mixer e dois discos idecircnticos o que permitia a repeticcedilatildeo indefinida de

um determinado trecho da mesma muacutesica (PIMENTEL 1997)

Foi um disciacutepulo do DJ jamaicano mdash Grandmaster Flash - quem

criou o ldquoscratchrdquo que eacute a utilizaccedilatildeo da agulha do toca-discos arrashy

nhando o vinil em sentido anti-horaacuterio como instrumento musical

Aleacutem disso ldquoFlash entregava um microfone para que os danccedilarinos

pudessem improvisar discursos acompanhando o ritmo da muacutesica

(uma espeacutecie de repente-eleacutetrico que ficou conhecido como rap - os

lsquorepentistasrsquo satildeo chamados de rappers ou MCs isto eacute lsquomasters of ceri-

mony)rdquo (VIANNA JUacuteN IOR 1988 p 38)

Desta feita aos breaks aliou-se a forccedila das mensagens trazidas

pelos rappers atribuindo peso agrave expressatildeo mesmo sob condiccedilotildees lishy

mitadas de recursos e ausecircncia de instrumentos

Paralelamente ao rap outras manifestaccedilotildees artiacutesticas se desenshy

volviam nos guetos americanos Em meados da deacutecada de 1960 os

jovens dos subuacuterbios de Nova York comeccedilaram a ldquopicharrdquo as pareshy

des com seus nomes Assim surge o grafitti inicialmente como tag

(assinatura) como forma de retratar a realidade como forma de

participaccedilatildeo e de resistecircncia Logo a colocaccedilatildeo das tags em locais

cada vez mais inoacutespitos virou um novo elemento da disputa que foi

apropriado pelas gangues como forma de demarcaccedilatildeo de territoacuterios

dentro dos guetos Mais tarde o desenho foi introduzido ao tag

abrindo-se um novo leque de trabalhos para os grafiteiros

Na mesma eacutepoca surge o break dance nome atribuiacutedo pelo Dj

Herc para definir um estilo de danccedila caracterizado por miacutemicas imitashy

ccedilotildees de robocircs e acrobacias com influecircncias das mais diversas das artes

marciais agraves danccedilas urbanas da eacutepoca e que representassem os conflitos

e o cotidiano dos guetos nova-iorquinos O nome atribuiacutedo por Herc

justifica-se agrave medida em que ldquoos jovens que iam agraves festas danccedilavam no

Break da muacutesica que era o nome dado a sua teacutecnica de interromper a

batida mais forte da muacutesica como se ela estivesse quebrada e se repeshy

tisse por alguns segundosrdquo (SILVA 2010 p 32) A respeito da danccedila

Pimentel (1997 p 8) destaca que esta desenvolveu-se

[] ao sabor da contorccedilatildeo dos brcaks entre e dentro

das muacutesicas formando um novo corpo riacutetmico no inshy

terior das mesmas e conduzindo o DJ e seu puacuteblico a

uma nova forma de abordagem do tema reconstruiacutedo

e reinterpretaacutevel atraveacutes da danccedila das quebras riacutetmishy

cas Danccedilar o break consiste literalmente na execuccedilatildeo

de passos que procuram imitar essa ruptura e essa forshy

ma sincopada de reconstruir o proacuteprio ritmo

Nas ruas de Nova Iorque grupos (crews) se encontravam para

definir quem danccedilava melhor dando origem agraves chamadas batalhas ou rachas de break As batalhas entre as crews eram manifestaccedilotildees de

rua que tinham o propoacutesito de chamar a atenccedilatildeo do poder puacuteblishy

co sobre a situaccedilatildeo do afro-americano em relaccedilatildeo ao seu modo de

sobrevivecircncia e portanto tinham uma conotaccedilatildeo poliacutetica (LEAtildeO

2006) O break foi ganhando outros espaccedilos e passou a ser danccedilado

tambeacutem nas festas (as chamadas Black Parties)

Alguns autores consideram que o break no Hip Hop eacute formado

por trecircs estilos de danccedila originais o break bboying (caracterizada

pelos movimentos de chatildeo como top rock up rock foot work booga- loo e freeze aleacutem dos giros de cabeccedila mortais o moinho de vento7) o Popingg (estilo de danccedila urbana que foi incorporada ao Hip Hop

onde o danccedilarino imita robocircs aleacutem de ondulaccedilotildees com o tronco e

quadris) e o Locking (danccedila urbana incorporada ao Hip Hop que

indica as direccedilotildees no espaccedilo apontando o dedo) Por outro lado haacute

quem afirme que esses trecircs estilos satildeo danccedilas diferentes e somente o

break eacute a danccedila original por ser a primeira a ser incorporada como

elemento do Hip Hop (SILVA 2010)8

Desta feita rappers breakers e grafiteiros logo se viram diante

das mesmas anguacutestias e desafios cotidianos Daiacute para a coletiviza-

ccedilatildeo de suas accedilotildees foi um pequeno passo dando origem a naccedilotildees

associaccedilotildees posses e entidades para divulgaccedilatildeo do Hip Hop

7 A descriccedilatildeo e tutoriais desses movimentos estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e

Meacutetodo nas auias de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lt httpcoletivoedulisicajf

blogspotcombrgt Acesso em 12 dez 2012

8 Devido agrave riqueza de possibilidades consideramos os trecircs estilos para o trabalho

que realizamos com os alunos numa escola municipai de Juiz de Fora trabalho este

descrito ao final do presente artigo

Assim muito mais que ldquopular balanccedilando os quadrisrdquo - trashy

duccedilatildeo do termo do inglecircs - o Hip Hop configura-se como um

movimento social que busca promover a conscientizaccedilatildeo da popushy

laccedilatildeo jovem afro-americana atraveacutes da uniatildeo de diversas manifesshy

taccedilotildees artiacutesticas representadas por um conjunto de quatro elemenshy

tos a) o break que eacute a danccedila oficial praticada pelos Bboys e Bgirls

b) o rap que eacute o canto falado ao som de pick - ups ou mesmo de

ritmos feitos com a boca e o corpo c) o DJ (disk jockey) que atua

nos pick - ups acompanhando a falacanto dos MCs (mestre de

cerimocircnia) e d) o grafitti que eacute a arte nos muros vagotildees de trens

e espaccedilos deteriorados - uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para a

necessidade de revitalizaccedilatildeo desses espaccedilos (BENEDITO 2004)

E esse movimento que chega ao Brasil - influenciado pelo

lema do Black Power e pela admiraccedilatildeo aos Panteras Negras mdash

num contexto em que gangues urbanas conquistavam espaccedilo

embaladas por pequenos conflitos armados (armas brancas prinshy

cipalmente) e pelas muacutesicas do soul norte-americano Nosso ldquorashy

cismo agrave brasileirardquo natildeo dava margem para os conflitos diretos

pelos quais passou a sociedade norte-americana mas isso natildeo

significa a ausecircncia de poliacuteticas marginalizantes para a populaccedilatildeo

negra e afrodescendente no Brasil9

Como em outros paiacuteses diaspoacutericos o H ip Hop encontrou

no Brasil terreno feacutertil Sua chegada data de meados dos anos de

1980 em Satildeo Paulo Em 1988 foi lanccedilado o primeiro registro

fonograacutefico de rap nacional a coletacircnea ldquoHip-Hop Cultura de

Ruardquo pela gravadora Eldorado Com apoio puacuteblico da prefeitura

de Satildeo Paulo organizou-se a primeira associaccedilatildeo oficial de H ip

Hop no Brasil o M H 2 0 - Movimento Hip-Hop Organizado

9 A inserccedilatildeo do negro no poacutes-aboliccedilaacuteo tem sido alvo de diversos estudos Tais pesquisas

apontam para as dificuldades da populaccedilatildeo afrodescendente em ser reconhecida como

parte da sociedade brasileira e discutem o processo de marginalizaccedilatildeo imposto a esse

segmento Um dos aspectos mais relevantes dessa segmentaccedilatildeo eacute revelado nas pesquisas

que indicam a criminalizaccedilatildeo das praacuteticas culturais afrodescendentes presentes em nosso

coacutedigo penal ateacute 1940 Para maiores informaccedilotildees consultar Holloway (1997)

A descaracterizaccedilatildeo do Hip Hop a voz da periferia transmutada em mercadoria rentaacutevel

Identificamos hoje uma tentativa de esvaziamento e de descashy

racterizaccedilatildeo do H ip Hop enquanto movimento de luta e contestaccedilatildeo

social A induacutestria cultural vem cooptando essa forma de resistecircncia

em favor do capital transformando-o em um filatildeo de mercado vazio

de conteuacutedo histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico e ressignificado a partir

dos interesses da cultura hegemocircnica

O movimento mdash que sempre viveu e se propagou por fora dos

esquemas formais de comunicaccedilatildeo de massa sem espaccedilo nas raacutedios

comerciais e com trabalhos lanccedilados em gravadoras independentes

(MARTINS 1998) mdash atualmente ldquodesce o morrordquo indo parar nas

boates de classe meacutedia nas raacutedios e nas novelas e programas das prinshy

cipais emissoras de televisatildeo

A problemaacutetica da mercadorizaccedilatildeo do Hip Hop natildeo estaacute des-

zonectada do processo de transformaccedilatildeo e de mudanccedila que se faz

Dresente na sociedade de uma forma geral Jameson (2000) denuncia

^ue a emergente mudanccedila histoacuterica ocorrida na vida no ocidente para

jma nova forma de capitalismo trouxe a tese de que as questotildees cul-

urais tendem a se propagar para as econocircmicas e sociais Segundo o

iutor ldquoa produccedilatildeo das mercadorias eacute agora um fenocircmeno cultural no

lual se compram os produtos tanto por sua imagem quanto por seu

iacuteso imediato [] Nesse sentido a economia se transforma em uma

juestatildeo culturalrdquo (JAMESON 2000 p 22)

Na loacutegica cultural do capitalismo tardio onde o consumo

bull o principal meio de realizaccedilatildeo ldquoo prazer o lazer a seduccedilatildeo e a

ida eroacutetica satildeo trazidos para o acircmbito do poder do dinheiro e da

raquoreocupaccedilatildeo de mercadoriasrdquo (HARVEY 1992 p 99) Ao mes-

no tempo em que temos a sofisticaccedilatildeo das necessidades e dos seus

neios por um lado temos de outro uma abstrata simplificaccedilatildeo

las necessidades No campo especiacutefico da cultura a arte se tornou

ambeacutem uma mercadoria e o artista foi transformado em um pro-

utor de mercadorias (F ISCHER 1982)

Rappers ganharam status na induacutestria cultural sobretudo a

norte-americana e viraram ldquoastrosrdquo em todo o mundo Figuras como

Gangster RAP Dr Dree e Snoopy Dog aparecem na miacutedia preganshy

do e praticando a violecircncia adotando atitudes e produzindo letras

que demonstram hostilidade ao pobre e agrave mulher O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos contextos sendo empregashy

do para classificar um estilo de muacutesica de danccedila ou um jeito de se

vestir conhecido como estilo B-boy associado a marcas esportivas

especiacuteficas (boneacute tecircnis etc) Neste sentido

[] os aspectos do processo de mercadorizaccedilatildeo da

vestimenta das muacutesicas dos shows que possuem um

alto custo financeiro mostram essa refuncionaliza-

ccedilatildeo para garantir uma dada hegemonia tornando o

Hip Hop em determinados casos uma praacutetica disshy

tanciada da reflexatildeo de sua origem e da possibilidade

de ser uma forma de luta contra a opressatildeo Nesses

casos aquilo que servia para caracterizaacute-lo como

popular eacute justamente o que eacute transmutado o seu

sentido (AVILA et al 2005 p 64)

Aleacutem disso atraveacutes de poliacuteticas assistencialistas e compensashy

toacuterias o poder puacuteblico frequentemente apropria-se dos elementos

do Hip Hop num discurso apologeacutetico que o rotula enquanto

ldquosalvador da paacutetriardquo a partir da responsabilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos

pelas suas mazelas sociais justamente o oposto do que preconiza

o movimento O Hip Hop ligado agrave criacutetica poliacutetica e social e agrave

conscientizaccedilatildeo acerca da necessidade da organizaccedilatildeo coletiva tem

como intuito provocar mudanccedilas sociais e garantir direitos essenshy

ciais que satildeo responsabilidade do poder puacuteblico

Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo feita pelos meios de coshy

municaccedilatildeo a essecircncia do movimento permanece inalterada Atualshy

mente os movimentos organizados de Hip Hop buscam discutir a

discriminaccedilatildeo racial os problemas sociais a realidade da periferia

discussotildees estas materializadas nas letras do rap E esse Hip Hop

que pretendemos resgatar com nossos alunos contextualizando-o e

desvelando o que eacute a essecircncia desse movimento

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a danccedila

Elaboramos entatildeo um planejamento para ser desenvolvishy

do com alunos do 9o ano de uma escola municipal de Juiz de

Fora A proposta foi abordar o Hip Hop discutindo-o desde sua

origem enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social passhy

sando pela caracterizaccedilatildeo dos elementos que o compotildeem ateacute a

discussatildeo e anaacutelise criacutetica do que hoje eacute conhecido e difundido

pela miacutedia enquanto ldquoH ip Hoprdquo

Demos uma ecircnfase especial ao break por tratar-se de uma unishy

dade onde o conteuacutedo proposto era a danccedila Aqui tivemos espaccedilo

privilegiado para discutir as formas mecanizadas e estereotipadas de

danccedila impostas pela miacutedia e problematizamos a mera repeticcedilatildeo ou

imitaccedilatildeo a que muitas vezes se resumem as aulas de danccedila Numa oushy

tra perspectiva o break abre possibilidades de trabalhar a criatividade

e a expressividade jaacute que a essecircncia desse estilo eacute a improvisaccedilatildeo a (re)

criaccedilatildeo de movimentos Nas rodas de improvisaccedilatildeo cada participante

cria seu proacuteprio estilo e constroacutei suas sequecircncias de movimentos a

partir dos elementos teacutecnicos baacutesicos

Assim na identificaccedilatildeo da praacutetica social dividimos os alunos

em grupos e exibimos clipes de artistas diversos (Gabriel o pensador

Racionais M C rsquoS Beyonceacute Emicida etc) solicitando que ao final de

cada um eles respondessem em uma folha o nome e o estilo musical

do artista em questatildeo As respostas foram apresentadas a maioria deshy

las definia todos os clipes exibidos como sendo ldquoHip HoprdquoApoacutes esse primeiro momento iniciamos um debate com os alushy

nos lanccedilando algumas questotildees problematizadoras O que eacute Hip

Hop Hip Hop eacute danccedila O u eacute muacutesica Um estilo musical Como

surgiu o Hip Hop Existem muitos artistas negros no Hip Hop As

respostas dos alunos e a discussatildeo do tema foram registradas a fim de

fazer uma comparaccedilatildeo no final do trabalho

Na instrumentalizaccedilatildeo trabalhamos os seguintes toacutepicos de

conteuacutedo a histoacuteria do H ip Hop os quatro elementos que o

constituem (rap DJ grafitti10 break) bem como a influecircncia

dos meios de comunicaccedilatildeo na forma de disseminaccedilatildeo do Hip

Hop lanccedilando matildeo de recursos pedagoacutegicos como viacutedeos docushy

mentaacuterios reportagens letras de muacutesica dentre outros a fim de

que os alunos tivessem uma nova percepccedilatildeo do movimento Hip

Hop nas suas mais diversas dimensotildees No caso especiacutefico da

danccedila trabalhamos as teacutecnicas baacutesicas dos trecircs estilos de danccedila

do break (Bboing Popping e Locking) explorando a capacidade

de criaccedilatildeo e improvisaccedilatildeo dos alunos

Na catarse momento de elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia

dos alunos acerca do tema propomos a organizaccedilatildeo de um fesshy

tival de Hip Hop onde os alunos foram divididos em grupos e

demonstraram as teacutecnicas aprendidas bem como a exibiccedilatildeo de

um painel com os pontos abordados durante a unidade didaacutetica

No retorno agrave praacutetica social quando os alunos utilizam este

novo conhecimento para intervir criticamente na realidade soshy

cial a proposta foi realizar a produccedilatildeo de textos dos temas aborshy

dados nas aulas divulgando-os em um blog

PLANO DE UNIDADE

Tiacutetulo da Unidade O Movimento Hip Hop e a induacutestria cultural

OBJETIVO GERAL

Compreender o Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia

expressatildeo e denuacutencia de um grupo social

10 Ao elaborarmos o planejamento e apresentarmos a proposta para o coletivo da escola

abriu-se a possibilidade de um trabalho conjunto com a professora de Artes da turma por

isso pudemos aprofundar o trabalho com o grafitti

11 Viacutedeos e tutoriais usados para a preparaccedilatildeo das aulas e domiacutenio das teacutecnicas fundamentais

de cada um dos estilos do break estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas

aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt

Acesso em 10 dez 2012

Quadro 1- Anuacutencio do conteuacutedo

Toacutepico de Conteuacutedo t )bjetivos Especiacuteficos

Histoacuteria do H ip Hop

Conhecer a histoacuteria do Hip Hop e compreender sua essecircnshy

cia enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social

Identificar as caracteriacutesticas e manifestaccedilotildees do H ip Hop

no Brasil da atualidade

Os quatro elementos do movishy

mento H ip Hop

Identificar e conceituar os quatro elementos que constishy

tuem o movimento H ip Hop

Compreender a relaccedilatildeo de cada um dos elementos com o

movimento H ip Hop

Rhythm and Poetry

Compreender o rap enquanto o ldquocanto faladordquo que deshy

nuncia a injusticcedila e a opressatildeo de um grupo social

Conhecer teacutecnicas de construccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap

Arte nos Muros

Entender a histoacuteria e a evoluccedilatildeo do grafitti

Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo com o movimento H ip

Hop

Conhecer o grafitti na atualidade e suas linhas de expressatildeo

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de grafitagem

Aumente o som DJUuml

Identificar a ldquobatida quebradardquo (break) que caracteriza a

base musical do H ip Hop

Compreender o papel do DJ no H ip Hop

Estabelecer a diferenciaccedilatildeo entre o DJ e o M C (Mestre

de Cerimocircnia)

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de scratch e de mixagem

ldquoBatalhardquo entre crews

Analisar o papel do break enquanto expressatildeo corporal

ligada ao H ip Hop

Identificar os estilos do break sua origem e as vaacuterias forshy

mas de movimentaccedilatildeo

Relacionar os movimentos corporais ao ldquobreakrdquo da muacutesica

Aprender teacutecnicas baacutesicas de cada um dos estilos de break

O Hip Hop que passa na TV

Analisar a influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo na forma

de disseminaccedilatildeo do movimento H ip Hop

Compreender a banalizaccedilatildeo do movimento H ip Hop e

sua desconstruccedilatildeo pelo mercado

ontc elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

1) PRAacuteTICA SOCIAL IN ICIAL DO CONTEUacuteDO

11 Vivecircncia do Conteuacutedo

bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Hip Hop eacute um tipo

de muacutesica as muacutesicas criticam os ricos Hip Hop eacute uma danccedila

de rua etc

bull O que eles gostariam de saber a mais Como satildeo os passos

do Hip Hop como criar um rap como montar uma muacutesica

mixada etc

2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO

Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees

problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas

Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

$ v h W ccedil f v V j i v1 Tv S

t j j j fM IacuteW iacute lE i YSX IIP)

Histoacuteria do Hip HopHistoacuterica

Social

Como surgiu o Hip Hop Por que ele

surgiu Por que tem tantos artistas neshy

gros no Hip Hop

Os quatro elementos do movishy

mento H ip HopConceituai

Quais satildeo os elementos que constishy

tuem o Hip Hop Como se caracteshy

riza cada um deles

Rhythm and PoetryConceituai

Social

O que eacute rap De que falam as letras

dos raps Que mensagem querem

transmitir

Arte nos MurosLegal

Teacutecnica

Grafitar e pichar satildeo a mesma coishy

sa O que significa esse desenhos

nos muros

Aumente o som DJ Conceituai

0 que faz um DJ Qual a relaccedilatildeo

entre o DJ e o rap DJ e M C satildeo a

mesma pessoa Como eacute o ritmo da

danccedila no H ip Hop

ldquoBatalhardquo entre crewsConceituai

Teacutecnica

Como se danccedila no H ip Hop Qual

eacute o nome dessa danccedila Por que a

danccedila se chama ldquobreakrdquo Quais satildeo

os principais passos

O H ip Hop que passa na TV

Poliacutetica

Social

Econocircmica

Quais satildeo os rappers que aparecem

nos programas de TV Quais ideias

defendem em seus raps Os valores

dc que classe social representam

Fonte elaboraccedilatildeo nroacutenria m m

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo

bull

Histoacuteria do H ip

Hop

Conhecer a histoacuteria do H ip

H op e compreender sua essecircnshy

cia enquanto movimento de

contestaccedilatildeo c criacutetica social

Identificar as caracteriacutesticas e

manifestaccedilotildees do H ip H op no

Brasil da atualidade

Histoacuterica

Social

Apresentaccedilatildeo de dados estatiacutesticos sobre a

situaccedilatildeo do negro na sociedade brasileira

Exibiccedilatildeo de filmes e textos sobre a segreshy

gaccedilatildeo racial nos EUA e comparaccedilatildeo com

a realidade brasileira

Exibiccedilatildeo de documentaacuterio situando a

origem do H ip Hop

Exibiccedilatildeo de clipes de muacutesica que caracteshy

rizem a essecircncia do H ip Hop

Viacutedeos diversos65

Documentaacuterio ldquoH ip Hop em m oshy

vimentordquo

Documentaacuterio ldquoA Histoacuteria Do Hip

Hoprdquo

Os quatro eleshy

mentos do movishy

mento H ip Hop

Identificar e conceituar os

quatro elementos que constishy

tuem o movimento H ip Hop

Compreender a relaccedilatildeo de

cada um dos elementos com o

movimento H ip Hop

Conceituai

Social

Textos e viacutedeos sobre cada um dos eleshy

mentos

Viacutedeos produzidos pelos professores

Textos sobre os elementos do H ip

Hop

Os links paia acesso aos videos e textos utilizados na instrumentalizaccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em

lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012

=S

Rhythm and

Poetry

Compreender o rap enquanto

o ldquocanto faladordquo que denuncia

a injusticcedila e a opressatildeo de um

grupo social

Conhecer teacutecnicas de construshy

ccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap

Conceituai

Social

Teacutecnica

Anaacutelises de raps relacionados agrave realidade

social da periferia

Pesquisa sobre a estrutura e as teacutecnicas de

construccedilatildeo de um rap

Criaccedilatildeo individual eou coletiva de raps a

partir de temas propostos

Muacutesicas de grupos de rap

Clipe Negro Drama (Racionais)

Capiacutetulo sobre H ip Hop do livro D ishy

daacutetico do Paranaacute (Educaccedilatildeo Fiacutesica)

Arte nos Muros

v

Entender a histoacuteria e a evolushy

ccedilatildeo do grafitti

Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo

com o movimento H ip Hop

Conhecer o grafitti na atualishy

dade e suas linhas de expressatildeo

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de

grafitagem

Histoacuterica

Legal

Teacutecnica

Viacutedeo sobre a histoacuteria e evoluccedilatildeo do grafitti

Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das tags (asshy

sinaturas)

Viacutedeos produzidos pelos professores

Material de desenho para a vivecircnshy

cia das teacutecnicas das tags

Tintas e sprays para grafitar as tags

trabalhadas no papelatildeo ou no muro

Aumente o som

DJUuml

Identificar a ldquobatida quebrashy

dardquo (break) que caracteriza a

base musical do H ip Hop

Compreender o papel do D J

no H ip Hop

Estabelecer a diferenciaccedilatildeo enshy

tre o D J e o M C

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de

scratch e de mixagem

Conceituai

Teacutecnica

Identificaccedilatildeo da batida ldquoquebradardquo da

muacutesica e comparaccedilatildeo com outros ritmos

como por exemplo o funk

Vivecircncia de elementos baacutesicos de mixagem

Construccedilatildeo de bases mixadas das muacutesicas

Muacutesicas diversas

Mesas de mixagem ou programas

de computador para mixagem

Tutoriais diversos sobre mixagem

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(2011)

4) CATARSE

41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno

O Hip Hop eacute uma das mais importantes manifestaccedilotildees joshy

vens da atualidade Surgiu nos Estados Unidos nos subuacuterbios de

Nova York e Chicago na deacutecada de 1970 habitados majoritaria-

mentepor uma populaccedilatildeo negra e assolados pela pobreza traacutefico

de drogas racismo e ausecircncia de espaccedilos de lazer A cultura Hip

Hop nasce a partir de accedilotildees para conter a violecircncia e promover a

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessidade de luta conshy

tra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis

O Hip Hop eacute composto por 4 elementos a saber o break o

rap o DJ e o grafitti No Brasil o Hip Hop encontra na deacutecada

de 1980 um terreno fecundo para o seu desenvolvimento e o Hip

Hop ganha espaccedilo enquanto um meio de luta mobilizaccedilatildeo e dishy

vulgaccedilatildeo das desigualdades sociais e raciais

Entretanto a induacutestria da muacutesica se aproveita da popularishy

dade do Hip Hop transformando-o em uma mercadoria e descashy

racterizando-o enquanto movimento social e de contestaccedilatildeo No

caso especiacutefico da danccedila acontece uma reproduccedilatildeo de coreografias

montadas perdendo o sentido da expressatildeo corporal e a criatividashy

de que fazem parte da essecircncia do break

O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos conshy

textos sendo empregado para classificar um estilo de muacutesica de

danccedila ou um jeito de se vestir conhecido como estilo B-boy asshy

sociado a marcas esportivas especiacuteficas sem contudo representar

os seus objetivos gerais de contestaccedilatildeo social

42 - Expressatildeo da Siacutentese

Construccedilatildeo de paineacuteis sobre os elementos do Hip Hop orgashy

nizaccedilatildeo de um festival de Hip Hop apresentando os pontos discu-jf

tidos na unidade de ensino

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO

Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

Conhecer mais sobre o Hip Hop sua

essecircncia e tendecircncias

Ler pesquisar e conhecer pessoas

do Movimento Hip Hop

Socializar os conhecimentos aprendishy

dos sobre o Hip Hop

Produccedilatildeo de textos eou docushy

mentaacuterios sobre os elementos a

histoacuteria e a descaracterizaccedilatildeo do

Hip Hop

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees finais

Em tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas

as esferas da vicia a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda

maior E preciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabashy

lhadora construamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contrishy

buindo para a desmistificaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta

Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo imposta pela miacutedia eacute

preciso compreender que a essecircncia do movimento Hip Hop ainda

permanece inalterada Neste sentido situar historicamente o Hip

Hop no contexto socioeconocircmico e cultural em que surgiu mdash desshy

velando sua essecircncia enquanto movimento de contestaccedilatildeo poliacutetica

e social - contribui para a compreensatildeo do aluno enquanto agente

de sua histoacuteria capaz de atuar e transformar atraveacutes de accedilotildees conshy

cretas o seu meio e as condiccedilotildees materiais de sua existecircncia

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3

CAPIacuteTULO VII

A DISCIPLINARIZACcedilAtildeO DOS CORPOS POR MEIO DA GINAacuteSTICA

I^eonardo Docena Pina

Miguel Fabiano de Faria

Nathagravelia Sixel Rodrigues

Ramon Mendes da Costa Magalhatildees

A ginaacutestica como conteuacutedo da Educaccedilatildeo

Fiacutesica natildeo deve ser vista como uma manifestashy

ccedilatildeo recente uma vez que se trata de uma praacutetishy

ca bastante antiga na escola se considerada em

relaccedilatildeo a outros conteuacutedos da cultura corporal

Tendo em vista as transformaccedilotildees ocorridas

com a ginaacutestica ao longo da histoacuteria algumas

questotildees emergem e conferem significados agrave

proposta deste capiacutetulo atualmente a ginaacutestishy

ca permanece como um conteuacutedo nas aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesica Como se configura a ginaacutestica

nessas aulas Como os corpos dos sujeitos enshy

volvidos nessa praacutetica satildeo abordados dentro e

fora da escola Como a sociedade compreende

esses corpos e delega agrave ginaacutestica a competecircncia

por conformaacute-los Questotildees como essas contrishy

buem para a compreensatildeo dos significados que

a praacutetica corporal ginaacutestica assume ou poderia

assumir como conteiido escolar

Compreender a ginaacutestica como conteuacuteshy

do da Educaccedilatildeo Fiacutesica nos remete ao iniacutecio

do seacuteculo XIX quando essa produccedilatildeo cultural

passou a ser considerada cientiacutefica fruto das

distintas formas de se pensar os exerciacutecios fiacutesicos em paiacuteses europeus

surgindo assim os meacutetodos ou escolas de ginaacutestica integrantes do

chamado Movimento Ginaacutestico Europeu Nessa perspectiva buscou-

-se imprimir um caraacuteter de utilidade aos exerciacutecios fiacutesicos em que

foram negadas as praacuteticas populares de artistas de rua de circo acroshy

batas que as apresentavam como espetaacuteculo trazendo o corpo como

centro de entretenimento (SOARES 1998 2001a 2001b)

Ainda segundo a autora eacute nos princiacutepios de ordem e disciplina forshy

mulados pelo Movimento Ginaacutestico Europeu bem como do afastamenshy

to do nuacutecleo primordial do divertimento que a Ginaacutestica se afirmou

como parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos Uma praacutetica capaz de potenshy

cializar a utilidade dos gestos e oferecer um espetaacuteculo ldquocontroladordquo e

institucionalizado dos usos do corpo em negaccedilatildeo aos elementos cecircnicos

funambulescos e acrobaacuteticos (SOARES 1998)

Precursora da Educaccedilatildeo Fiacutesica a Ginaacutestica cientiacutefica se afirmou

ao longo do seacuteculo X IX como siacutentese do pensamento cientiacutefico no

ocidente europeu e integrante dos novos coacutedigos de civilidade o que

vai justificar sua presenccedila no curriacuteculo escolar tambeacutem no Brasil

Como vimos a ginaacutestica foi uma das primeiras praacuteticas corposhy

rais a ser inserida na educaccedilatildeo escolar no seacuteculo XIX tanto que sua

denominaccedilatildeo ldquoGymnasticardquo foi por muitos anos considerada a proacuteshy

pria disciplina escolar sendo paulatinamente substituiacuteda no iniacutecio do

seacuteculo XX pela denominaccedilatildeo ldquoEducaccedilatildeo Physicardquo1

No Brasil ateacute as deacutecadas de 1920 e 1930 a ginaacutestica era uma

praacutetica privilegiada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica sendo orientada por

dois primados da educaccedilatildeo escolar Primeiramente o ldquoprimado da orshy

topediardquo esteve relacionado com a correccedilatildeo de desvios e com o endirei-

tamento dos corpos pretendendo constituir sujeitos robustos e higieshy

nizados Posteriormente o ldquoprimado da eficiecircnciardquo visava construir o

1 Tal expressatildeo areacute enratildeo possuiacutea um sentido mais amplo vinculado ao discurso da ldquohygienerdquo

(G O N D RA 2004) e ao pensamento de Herbert Spencer em que a educaccedilatildeo integral

seria apoiada em trecircs pilares a ldquoeducaccedilatildeo intellectual moral e physicardquo (VAGO 2002)

Assim essa ldquoeducaccedilatildeo physicardquo englobou natildeo soacute a ldquogymnasticardquo os ldquoexerciacutecios physicosrdquo e as

ldquoevoluccedilotildees militaresrdquo como tambeacutem abarcou a organizaccedilatildeo dos tempos e espaccedilos escolares a

distribuiccedilatildeo da luz a boa ventilaccedilatildeo do ambiente a disposiccedilatildeo e o formato do mobiliaacuterio o

nuacutemero de alunos por turma as refeiccedilotildees os recreios enfim todos os haacutebitos saudaacuteveis que

garantiriam o pleno ldquodesenvolvimento physicordquo dos alunos

trabalhador necessaacuterio agrave induacutestria que deveria ser dotado natildeo somente

de corpos ldquoerectosrdquo mas sobretudo de corpos eficientes prontos para

o trabalho em conjunto que de maneira eficaz tivesse rendimento em

forma de produto e de resultado (VAGO 2002)

Nesse sentido Carvalho (1997) apresenta argumentos para comshy

preender os discursos educacionais que no Brasil a partir do final do

seacuteculo XIX e nas primeiras quatro deacutecadas do seacuteculo XX procuraram

ldquo[] legitimar-se enquanto saber pedagoacutegico de tipo novo moderno experimental e cientiacuteficordquo (CARVALHO 1997 p 269) Assim ldquo[]

trabalha com duas metaacuteforas da disciplina - disciplina como ortopeshy

dia e disciplina como eficiecircnciardquo (CARVALHO 1997 p 269) De

acordo com a autora a partir da deacutecada de 1920 eacute possiacutevel perceber

uma sutil mudanccedila no discurso pedagoacutegico no Brasil

O resultado desse movimento eacute que a eficiecircncia passa a ser um

primado orientador para a escola Com efeito Vago (2002) amplia

que natildeo seria diferente para a ginaacutestica a qual migraria de uma preshy

ocupaccedilatildeo com a correccedilatildeo o endireitamento e a constituiccedilatildeo dos corshy

pos para uma preocupaccedilatildeo com a eficiecircncia dos gestos aliada aos

pressupostos da ldquovida modernardquo2

A partir das deacutecadas de 1940 e 1950 a ginaacutestica foi perdendo

espaccedilo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica para o esporte3 Atualmente

em muitas escolas esse conteuacutedo quando trabalhado tende a ser

abordado com praacuteticas descontextualizadas como apecircndice dos esshy

portes aquecimento relaxamento preparaccedilatildeo fiacutesica subsumindo

seu caraacuteter poliacutetico e social em suma natildeo o considerando como

patrimocircnio cultural a ser apropriado pela humanidade tal como

nos mostra Almeida (2005) Contudo pensar a ginaacutestica como

um conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute pensar em uma possibilidade

2 Sobre este assunto destacamos tambeacutem o trabalho de Schneider (2004)

3 Apoacutes a II Guerra Mundial num contexto de intensa urbanizaccedilatildeo e desenvolvimento

bdquoindustrial assistimos a um processo de esportivizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica influenciado

pela cultura europeia Neste momento a Educaccedilatildeo Fiacutesica passa a ter uma relaccedilatildeo de

subordinaccedilatildeo agrave instituiccedilatildeo esportiva tendo seus objetivos baseados na aptidatildeo fiacutesica

e iniciaccedilatildeo esportiva Os coacutedigos do Esporte de Rendimento como competiccedilatildeo

sucesso individual e rendimento satildeo incorporados pela Educaccedilatildeo Fiacutesica neste periacuteodo

demonstrando sua articulaccedilatildeo com a poliacutetica educacional tecnicista e seu papel na

reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais hegemocircnicas

de ampliaccedilatildeo cultural que deve privilegiar a formaccedilatildeo humana em

sua totalidade Como apresenta Ayoub (2003 p 87) aprender gishy

naacutestica na escola significa ldquoestudar vivenciar conhecer compreenshy

der perceber confrontar interpretar problematizar compartilhar

apreender as inuacutemeras interpretaccedilotildees da ginaacutestica e produzir novos

significados e novas possibilidades de expressatildeo giacutemnicardquo

Veremos no presente capiacutetulo que a ginaacutestica contemporacircnea

dentro e fora da escola pode estar imprimindo algumas permanecircncias

da ginaacutestica cientiacutefica do seacuteculo XIX entretanto sob uma nova roushy

pagem Essas permanecircncias podem ser percebidas tanto com relaccedilatildeo agrave

sua metodologia em grande medida enraizada na repeticcedilatildeo de gestos

padronizados quanto com relaccedilatildeo agraves finalidades a ela associadas que

sugerem uma nova leitura para a ldquocorreccedilatildeordquo e ldquoconstituiccedilatildeo dos corposrdquo

bem como para a ldquoeficiecircncia dos gestosrdquo associada ao mundo produtivo

e aos interesses da classe dominante

A ginaacutestica no processo de disciplinarizaccedilatildeo

O corpo dos indiviacuteduos como mais um instrumento da

produccedilatildeo passava a constituir uma preocupaccedilatildeo da classe

no poder Tornava-se necessaacuterio nele investir Todavia esse

investimento deveria ser limitado para que o corpo nunshy

ca pudesse ir aleacutem de um corpo de um ldquobom animalrdquo

Era preciso adestraacute-lo desenvolver-lhe o vigor fiacutesico desde

cedo disciplinaacute-lo enfim para sua funccedilatildeo na produccedilatildeo e

reproduccedilatildeo do capital (SOARES 2001a p 33)

A partir do conceito de disciplina Foucault (1987) descreve um

processo no qual satildeo formados haacutebitos costumes modos de pensar e

agir orientados para a formaccedilatildeo dos chamados corpos doacuteceis - indiviacuteduos

que podem ser submetidos utilizados transformados e aperfeiccediloados

Em suas reflexotildees o chamado ldquopoder disciplinarrdquo possui como funccedilatildeo

maior a de ldquoadestrarrdquo os indiviacuteduos fabricando sujeitos ao mesmo temshy

po produtivos economicamente e submissos politicamente

Os processos disciplinares segundo o autor assumiram no decorshy

rer dos seacuteculos XVII e XVIII formas gerais de dominaccedilatildeo diferentes

da escravidatildeo da domesticidade da vassalidade e do ascetismo por

exemplo visto que este novo contexto histoacuterico eacute o momento no qual

nasce uma arte do corpo humano que visa natildeo unicamente o aumento

de suas habilidades mas a formaccedilatildeo de uma relaccedilatildeo que no mesmo

mecanismo o torna tanto mais obediente quanto eacute mais uacutetil ldquoForma-

-se entatildeo uma poliacutetica das coerccedilotildees que satildeo um trabalho sobre o corpo

uma manipulaccedilatildeo calculada de seus elementos de seus gestos de seus

comportamentosrdquo (FOUCAULT 1987 p 119)

Nesse processo as teacutecnicas de distribuiccedilatildeo dos indiviacuteduos no espashy

ccedilo assim como o controle da atividade pela regulaccedilatildeo do tempo e pelo

adestramento dos gestos vatildeo configurando novas praacuteticas em diferentes

instituiccedilotildees Assim as faacutebricas os quarteacuteis os hospitais e tambeacutem as

escolas se configuram como locais responsaacuteveis para a disciplinarizaccedilatildeo

dos indiviacuteduos No caso do ambiente escolar essa formaccedilatildeo demandava

a manutenccedilatildeo dos alunos entre as paredes da sala de aula submetidos

ao olhar vigilante do professor o tempo suficiente para domar seu cashy

raacuteter e dar forma adequada a seu comportamento (ENGU1TA 1989)

E com esse mesmo objetivo no que se refere ao projeto de

formaccedilatildeo humana que a ginaacutestica por meio dos meacutetodos ginaacutesshy

ticos foi incorporada pelas concepccedilotildees educacionais do final do

seacuteculo XV III e iniacutecio do seacuteculo X IX (SOARES 2001a)

Regenerar a raccedila promover a sauacutede (sem alterar as condiccedilotildees

degradantes de vida) desenvolver a vontade a forccedila a ldquoenergiardquo (para

servir agrave paacutetria e agrave induacutestria) foram algumas das finalidades atribuiacutedas

agrave ginaacutestica no contexto de consolidaccedilatildeo do capitalismo na Europa A

ecircnfase na disciplinarizaccedilatildeo dos corpos acabou por delinear na educashy

ccedilatildeo escolar uma praacutetica pedagoacutegica na qual sessotildees de ginaacutestica tratashy

vam os alunos de forma homogecircnea com accedilotildees reduzidas agrave repeticcedilatildeo

de movimentos estereotipados tal como sugere Marinho (19--) ao

descrever uma liccedilatildeo de ginaacutestica orientada pelo Meacutetodo Francecircs

Para fazer executar um movimento o instrutor

comanda - ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo devendo este

comando ser substituiacutedo para as crianccedilas pela adshy

vertecircncia ldquoAtenccedilatildeordquo Se o movimento exige uma poshy

siccedilatildeo de partida o instrutor a indicaraacute lt rnminJraquo-

ldquoPosiccedilatildeordquo Enuncia o exerciacutecio e ao comando ldquoCoshy

meccedilarrdquo Todos executam o movimento prescrito As

posiccedilotildees de partida dos ldquoassouplissementsrdquo assimeacuteshy

tricos satildeo a princiacutepio tomadas agrave esquerda Termishy

nado o exerciacutecio nesta posiccedilatildeo o instrutor comanda

ldquoMudarrdquo Os alunos retornam agrave posiccedilatildeo de partida agrave

direita e executam novamente o exerciacutecio prescrito

Ao comando de ldquoCessarrdquo todo o movimento cessa

sem precipitaccedilatildeo e a posiccedilatildeo de partida eacute retomada

A posiccedilatildeo de partida soacute eacute deixada ao comando de

ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo No comando de ldquoDescanshy

ccedilarrdquo os alunos permanecem no lugar sem serem

obrigados a conservar a posiccedilatildeo primitiva e a imobishy

lidade (M A R IN H O 19- p 110-111)

Conforme explica Soares (2001a) todo o ideaacuterio colocado em

praacutetica pelo pensamento higienista do qual resulta o modelo de aula

descrito acima impocircs uma disciplina que pretendia adequar o corpo ao

trabalho fabril tornando-o mais doacutecil e submisso sob a oacutetica poliacutetica

e ao mesmo tempo mais aacutegil forte e robusto sob a oacutetica da produccedilatildeo

E importante considerar a possibilidade de o processo de dis-

ciplinarizaccedilatildeo mdash descrito por Foucault e incorporado de forma sushy

bordinada por Soares (2001a) - natildeo ter sido totalmente superado

ou seja esse fenocircmeno pode estar se apresentando ainda nos dias

de hoje de uma nova forma atualizada

Na concepccedilatildeo gramsciana todo esse processo de ldquodisciplinariza-

ccedilatildeordquo pode ser compreendido como uma tentativa - da classe domishy

nante mdash de formaccedilatildeo teacutecnica e de conformaccedilatildeo eacutetico-poliacutetica das masshy

sas com o intuito de reconfigurar o modo de vida em conformidade

com as demandas colocadas pelo modo de produccedilatildeo da existecircncia

humana em expansatildeo naquele contexto histoacuterico

Em Americanismo e Fordismo Gramsci (2001 p 251) explica

que ldquoa vida na induacutestria exige um aprendizado geralrdquo um processhy

so de adaptaccedilatildeo psicofiacutesica a determinadas condiccedilotildees de trabalho

de nutriccedilatildeo de habitaccedilatildeo de costumes de valores algo que natildeo

eacute inato natural mas exige ser adquirido Portanto a partir dessa

reflexatildeo torna-se possiacutevel compreender que no modo de produccedilatildeo

da vida em formaccedilatildeo no contexto histoacuterico de incorporaccedilatildeo dos meacuteshy

todos ginaacutesticos na escola os exerciacutecios fiacutesicos desempenhavam um

papel importante uma vez que o novo tipo de homem demandado

pelo bloco no poder deveria possuir um corpo saudaacutevel forte aacutegil

e disciplinado construiacutedo a partir da adoccedilatildeo de um novo modo de

vida E exatamente para contribuir com a formaccedilatildeo desse novo tipo

de homem que a ginaacutestica estruturada dentro ou fora da instituishy

ccedilatildeo escolar passou a constituir um dos mecanismos utilizados para

instrumentalizar a vontade adequar e reorganizar gestos e atitudes

necessaacuterios agrave reproduccedilatildeo da sociedade4

A questatildeo que necessitamos discutir refere-se agrave possibilidade

de existecircncia de um processo contemporacircneo de mesmo tipo mas

atualizado voltado agrave formaccedilatildeo de um novo modo de vida necessaacuteshy

rio agrave reproduccedilatildeo do capitalismo contemporacircneo Portanto quesshy

tionamos seraacute que a ginaacutestica contemporacircnea se relaciona com a

formaccedilatildeo de novos corpos doacuteceis A ginaacutestica hoje atende de alguma

forma aos interesses de reproduccedilatildeo da sociedade Existem elementos

contraditoacuterios que permitem uma apropriaccedilatildeo criacutetica da ginaacutestica

Longe de assumir a tarefa de esgotar as reflexotildees sobre o tema

entendemos ser necessaacuterio destacar inicialmente que as modifishy

caccedilotildees ocorridas no capitalismo a partir da deacutecada de 1970 em

resposta agrave chamada crise do keynesianismo-fordismo represenshy

taram uma mudanccedila no regime de acumulaccedilatildeo - do fordismo agrave

ldquoacumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo (HARVEY 2007) Ao modelo fordista seshy

gundo Chauiacute (2001) o bloco no poder respondeu com a terceirishy

zaccedilatildeo a desregulamentaccedilatildeo o predomiacutenio do capital financeiro

a dispersatildeo e fragmentaccedilatildeo da produccedilatildeo aleacutem da centralizaccedilatildeo

velocidade da informaccedilatildeo e da velocidade das mudanccedilas tecnoloacuteshy

gicas ao modelo keynesiano do Estado de Bem-Estar o bloco no

poder respondeu com a ideia do ldquoEstado m iacutenimordquo a desregulaccedilatildeo

do mercado a competitividade e a privatizaccedilatildeo da esfera puacuteblica

As modificaccedilotildees provenientes desse processo de reproduccedilatildeo

do capitalismo natildeo atingiram apenas a organizaccedilatildeo de grandes

______________ 4 Natildeo eacute objetivo deste texto discutir as distinccedilotildees entre Foucault e Gramsci no que diz respeito

ao conceito de disciplina Optamos por trabalhar com a vertente marxista incorporando de

lorma subordinada ao nosso referencial as contribuiccedilotildees que Foucault daacute ao tema

empresas jaacute consolidadas no mercado mas tambeacutem novos emshy

preendimentos como as academias de ginaacutestica por exemplo5

Conforme evidencia Furtado (2007) as academias vecircm acomshy

panhando a tendecircncia de implementaccedilatildeo dos elementos centrais

da acumulaccedilatildeo flexiacutevel passando a funcionar em uma dinacircmica

caracterizada pela flexibilidade pela introduccedilatildeo de equipamentos

com tecnologia cada vez mais avanccedilada pela diversificaccedilatildeo das

mercadorias oferecidas e tambeacutem pelo ldquofoco no clienterdquo que

pode ser evidenciado pela constante busca de ldquonovasrdquo ofertas e

novidades capazes de atrair e reter consumidores

As aulas de ginaacutestica saacuteo por exemplo ldquoaulas-showrdquo

com equipamentos iluminaccedilatildeo decoraccedilatildeo e sonorishy

zaccedilatildeo que favorecem ao ldquoespetaacuteculordquo e desempenham

um papel importante na seduccedilatildeo do cliente Assim

tambeacutem eacute toda a complexa estrutura que possui a acashy

demia ou seja natildeo eacute soacute a aula que deve ser um ldquoshowrdquo

e sim tambeacutem toda a academia com decoraccedilatildeo sonorishy

zaccedilatildeo iluminaccedilatildeo e equipamentos que desempenhem

funccedilotildees de encantar e atender aos desejos dos clientes

de experimentar sensaccedilotildees diversas dentre elas a sensashy

ccedilatildeo de ldquostatusrdquo (FURTADO 2007 p 311)

E interessante destacar que o formato atrativo das aulas tende a

captar de forma mais eficiente os consumidores visto que eles acabam

desconsiderando os incipientes resultados reais obtidos pela realizaccedilatildeo

das aulas de determinados programas que na verdade se sustentam

mais pelos fatores de cunho emocional do que pelos ganhos obtidos

com sua praacutetica Ao analisar as teacutecnicas de inovaccedilatildeo do empresariado

do Fitness mais especificamente um determinado programa da franshy

quia Curves Mascarenhas et al (2007) constatam que a pseudossensa-

ccedilatildeo de bem-estar sauacutede e beleza produzida pelas aulas eacute acompanhada

por um amplo e intenso processo de persuasatildeo comum agraves cartilhas

de marketing para academias Segundo os autores a base de legitima-

5 A acumulaccedilatildeo flexiacutevel eacute marcada dentre outros aspectos pela superaccedilatildeo da

rigidez caracteriacutestica do fordismo se apoiando na flexibilidade dos processos

e mercados de trabalho aleacutem dos produtos e padrotildees de consumo Para

compreender melhor como as modificaccedilotildees no regime de acumulaccedilatildeo

afetaram a aacuterea Fitness recorrer agrave Quelhas (2012)

ccedilatildeo racional tecno-cientiacutefica eacute secundarizada frente ao acreacutescimo de

inovaccedilotildees criativas de base emocional Talvez isso explique ao menos

em parte por que ainda hoje sejam consideradas bastante atrativas

algumas aulas de ginaacutestica de academia que em muito se assemelham

agraves sessotildees de ginaacutestica do seacuteculo passado Estamos nos referindo aos

atuais formatos padronizados de sessotildees de ginaacutestica que se orientam

na repeticcedilatildeo de movimentos estereotipados geralmente com mesma

intensidade a serem realizados pelos alunos em conformidade com

comandos do professor - ou de uma voz jaacute gravada a ser reproduzida

em aparelhos eletroeletrocircnicos Conforme evidenciam Toledo e Pires

(2008) alguns programas tendem a desconsiderar na aula dificuldashy

des ou niacutevel de condicionamento fiacutesico dos alunos uma vez que os

professores muitas vezes tecircm que seguir com exatidatildeo a aula desshy

crita na apostila e ensinada nos cursos assim como natildeo podem sair

da posiccedilatildeo de ldquoatores eperformersrdquo para corrigir eou dar uma atenccedilatildeo

especial ao aluno com dificuldades durante a aula As autoras mencioshy

nam por sua vez que esses elementos ao serem considerados pelos

alunos como determinantes de insatisfaccedilatildeo estatildeo sendo revistos pershy

mitindo aos professores sua modificaccedilatildeo

O incentivo ao consumo das ldquonovasrdquo modalidades de ginaacutestica

de academia ainda eacute acompanhado pela forte influecircncia da miacutedia na

organizaccedilatildeo dos valores dominantes Natildeo soacute o medo de engordar mas

uma gama de valores e comportamentos atrelados ao culto ao corpo

tem contribuiacutedo significativamente para a difusatildeo de um padratildeo a ser

almejado e - em alguns casos - para o desenvolvimento dos chamados

transtornos alimentares como a anorexia por exemplo6

Em virtude da discussatildeo realizada torna-se importante quesshy

tionar se a difusatildeo de valores responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de novos

desejos relacionados ao consumo das mercadorias a serem vendishy

das nas academias de ginaacutestica hoje se constitui como uma forma

atual de disciplinarizaccedilatildeo subordinando os indiviacuteduos aos interesshy

ses dominantes Da mesma forma a difusatildeo de receitas exerciacutecios

------------ 6 A influecircncia da miacutedia no culto ao corpo foi trabalhada por Berger (2007 2010) Sobre

anorexia destacam-se os textos de Cordas (2004) Giordani (2006) e ainda o de Niemeyer e

Kruse (2008)

ou programas de ginastica milagrosos pode estar desempenhanshy

do importante funccedilatildeo educativa sobretudo no caso das pessoas

que natildeo dominam o conhecimento necessaacuterio para criticaacute-los e

por isso acabam por aderir ao consumo de mercadorias que nem

sempre produzem o resultado desejado

Consideramos que a transmissatildeo do conhecimento historicamente

sistematizado pela humanidade sobre o tema se constitui como um passo

importante para superar esse possiacutevel processo atual de ldquoadestramentordquo

A praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a ginaacutestica

Na perspectiva que orienta este trabalho o trato pedagoacutegico com a

ginaacutestica na escola deve se articular agrave tarefa de socializaccedilatildeo das formas mais

desenvolvidas do conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico produzido

pela humanidade ao longo do tempo uma vez que possibilita aos alunos asshy

sumir uma nova postura na praacutetica social qual seja a de sujeito histoacuterico7

No caso do tema abordado neste artigo isso significa transmitir um conheshy

cimento que permita aos alunos assumir uma nova relaccedilatildeo com a ginaacutestica

Compreendendo que o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos

corpos se constitui como um possiacutevel tema a ser trabalhado na

escola desenvolvemos um trabalho pedagoacutegico orientado pela

Pedagogia histoacuterico-criacutetica com uma turma (composta por 30

alunos de ambos os sexos) do segundo ano do Ensino Meacutedio no

Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste

de Minas Gerais (IF Sudeste M G ) Campus Juiz de Fora8 A seshy

7 A respeito disso ver Coletivo de Autores (1992)

8 Essa experiecircncia foi resultado de um Estaacutegio Curricular Obrigatoacuterio desenvolvido em

2011 quando Nathaacutelia Sixel Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees cursavam

a Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacutesica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Tal experiecircncia deu origem a um Trabalho de Conclusatildeo de Curso (MAGALHAtildeES

RODRIG UES 2011) orientado por Leonardo Docena Pina na eacutepoca professor substituto

da FACED-UFJF As discussotildees realizadas entre os acadecircmicos o orientador e Miguel Fabiano

de Faria professor da turma do IF Sudeste M G que recebeu os estagiaacuterios demandaram a

continuidade do estudo abordando novas reflexotildees que naquela ocasiatildeo natildeo puderam ser

feitas O presente texto portanto parte da experiecircncia de estaacutegio mas natildeo se limita a este uma

vez que elaboramos outro plano de trabalho para englobar novas dimensotildees do conteuacutedo natildeo

abordadas naquela ocasiatildeo Para facilitar a compreensatildeo dos aspectos didaacuteticos expostos neste

texto apresentaremos o planejamento mais elaborado como experiecircncia jaacute desenvolvida

guir apresentamos a experiecircncia desenvolvida a partir dos passos

metodoloacutegicos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica

Na identificaccedilatildeo da praacutetica social buscamos debater as seguintes

questotildees a ginaacutestica de hoje eacute igual agrave de antigamente Ela sofre influecircnshy

cia da miacutedia Existem diferenccedilas entre as praacuteticas de ginaacutestica voltadas

para a esteacutetica ou para a sauacutede Ginaacutestica promove sauacutede Qualquer

exerciacutecio que praticamos faz nosso corpo ldquoqueimarrdquo gordura Em seshy

guida os alunos foram informados de que estudariacuteamos algumas reshy

laccedilotildees entre ginaacutestica e sociedade ao longo da histoacuteria a partir de um

meacutetodo de apreensatildeo da realidade que tem o objetivo de transformar a

sociedade em que vivemos Os seguintes toacutepicos foram apresentados a

importacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise dos discurshy

sos da sauacutede e da esteacutetica a ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do

seacuteculo XIX aos dias de hoje a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos

desejos e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave

ginaacutestica introduccedilatildeo aos fundamentos cientiacuteficos do treinamento car-

diorrespiratoacuterio Cada um desses toacutepicos foi apresentado em conjunto

com os objetivos formulados sistematizados no plano de unidade

Ainda neste momento buscou-se identificar o que os alunos jaacute

sabiam sobre o tema Eles identificaram a praacutetica da ginaacutestica como

importante para a sauacutede e apontaram os ldquoobjetivos esteacuteticosrdquo como

influecircncia para aderir agrave praacutetica de ginaacutestica poreacutem natildeo demonstrashy

ram compreender o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

O processo de aprimoramento da compreensatildeo dos alunos

sobre o tema foi direcionado por questionamentos referentes agraves

suas respectivas dimensotildees conforme apresentado na problema-

tizaccedilatildeo disposta no plano de unidade

Para transmitir os conhecimentos necessaacuterios agrave compreenshy

satildeo das questotildees levantadas na problematizaccedilatildeo optou-se por

trabalhar na instrumentalizaccedilatildeo com atividades embasadas prinshy

cipalmente nas discussotildees apresentadas em Soares (1998) Soshy

ares (2001a) Angulski et al (2006) e Mcardle Katch e Katch

(2003) Aleacutem de aulas expositivas trabalhamos o conteuacutedo por

meio de vivecircncia praacutetica da ginaacutestica

Iniciamos esra fase com uma exposiccedilatildeo que abordou a evoluccedilatildeo

da Ginaacutestica ao longo da Histoacuteria enfatizando as formas originais de

disciplinarizaccedilatildeo Ou seja nos concentramos nos Meacutetodos Ginaacutesticos

e discutimos sua influecircncia na configuraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica em

meados do seacuteculo XIX Logo apoacutes a exposiccedilatildeo uma vivecircncia praacutetica

foi realizada (nos moldes do Meacutetodo Francecircs) de modo a ampliar

a compreensatildeo da forma como era trabalhado esse conteuacutedo antishy

gamente aleacutem de buscar novos elementos para enriquecimento da

discussatildeo sobre a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Para discutir a expressatildeo contemporacircnea dessa produccedilatildeo cultural

apresentamos diferentes tipos de praacuteticas de ginaacutestica para vivecircncia e

posterior discussatildeo dos objetivos que levam as pessoas a praticaacute-las

esteacutetica ou sauacutede Salientamos neste momento alguns benefiacutecios da

ginaacutestica para a qualidade de vida e se esses estatildeo tambeacutem ligados agrave

esteacutetica O aprimoramento da compreensatildeo dos alunos sobre os beshy

nefiacutecios da ginaacutestica tambeacutem foi acompanhado por uma exposiccedilatildeo

dos modos de afericcedilatildeo da frequecircncia cardiacuteaca e das diferentes zonas

de treinamento e consumo de substratos energeacuteticos Assim pudemos

vivenciar algumas praacuteticas de ginaacutestica controlando a intensidade do

exerciacutecio de acordo com diferentes zonas alvo estipuladas Por fim

ainda na discussatildeo sobre esse tema buscamos situar a sauacutede e a qualishy

dade de vida como questotildees sociais a partir de uma exposiccedilatildeo seguida

da discussatildeo de reportagens previamente selecionadas

Ainda na instrumentalizaccedilatildeo apoacutes leituras indicadas para os alushy

nos realizarem em casa discutimos a influecircncia da miacutedia na praacutetica

de ginaacutestica nos modelos de corpo e nas accedilotildees para obtecirc-los Em

seguida elaboramos paineacuteis com recortes e reportagens de revistas

problematizando o tema Cada grupo apresentou seu painel ao final

Para explicitar a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy

naacutestica em sua expressatildeo contemporacircnea acreditamos que eacute posshy

siacutevel discutir a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos

e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave

ginaacutestica Aleacutem do mais a vivecircncia (seguida da problematizaccedilatildeo)

de alguns programas de ginaacutestica vendidos nas academias hoje

0

permite ao aluno compreender possiacuteveis traccedilos de disciplinariza-

ccedilaacuteo que se mantecircm ainda que de forma renovada

Ao final das atividades na catarse foi possiacutevel identificar que granshy

de parte dos alunos manifestou uma nova compreensatildeo da relaccedilatildeo exisshy

tente entre a ginaacutestica e a Educaccedilatildeo Fiacutesica nos diferentes momentos

da histoacuteria A nova maneira de entender o conteuacutedo mostrou-se mais

elaborada com domiacutenio de conceitos e entendimento de implicaccedilotildees

da sociedade na ginaacutestica e da ginaacutestica na sociedade Desafiados a sinshy

tetizar o que aprenderam os alunos se aproximaram do entendimenshy

to de que a ginaacutestica eacute uma atividade corporal que no seacuteculo XJX

atraveacutes dos meacutetodos ginaacutesticos atrelou-se agrave eugenia higiene assentada

no discurso da melhoria da sauacutede dos trabalhadores e da elevaccedilatildeo da

eficiecircncia no processo de produccedilatildeo No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre

ginaacutestica e qualidade de vida expressaram que a ginaacutestica isoladamente

natildeo garante melhora da sauacutedequalidade de vida pois estas estatildeo aliashy

das ao acesso agrave habitaccedilatildeo atendimento meacutedico transporte garantia

de emprego condiccedilotildees de trabalho seguras saneamento baacutesico e alishy

mentaccedilatildeo de qualidade dentre outros Enfatizaram o entendimento de

que a ginaacutestica tem desempenhado um papel secundaacuterio nas praacuteticas

de Educaccedilatildeo Fiacutesica no entanto tem sido objeto de ldquomercado rizaccedilatildeordquo

no cotidiano dos indiviacuteduos influenciados pela miacutedia A ginaacutestica soshy

bretudo sua praacutetica na busca de um padratildeo de corpo ideal tambeacutem

foi discutida sendo os meios iliacutecitos e exagerados como anabolizan-

tes esteroides dietas excessivas apontados como agentes nocivos que

poderiam levar a doenccedilas como a vigorexia anorexia e bulimia Neste

momento tambeacutem puderam se aproximar do entendimento de que dishy

ferentes intensidades nos exerciacutecios produzem efeitos distintos no nosso

corpo E ainda que a intensidade do exerciacutecio pode ser mensurada

atraveacutes da frequecircncia cardiacuteaca de maneira faacutecil e funcional9

Para os alunos expressarem a siacutentese a que ascenderam utilizamos

um trabalho final no qual foi proposto um ldquoquizrdquo educativo seguido

de uma discussatildeo o que permitiu abordar todo conteuacutedo trabalhado4

9 Naquela ocasiatildeo natildeo foi possiacutevel aprofundar o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

em suas formas contemporacircneas razatildeo que nos limitou a trabalhar apenas com as formas

originais desse processo conforme mencionado anirrinrmfnrraquo

A finalizaccedilatildeo das atividades na praacutetica social final envolveu a deshy

finiccedilatildeo de intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo no sentido de explicitar que a

apropriaccedilatildeo do conhecimento historicamente elaborado sobre a ginaacutesshy

tica possibilita aprimorar a atuaccedilatildeo na praacutetica social contribuindo para

uma postura criacutetica frente o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos10

Plano de unidade

A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Instiuiccedilatildeo Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia

Juiz de Fora

Disciplina Educaccedilatildeo Fiacutesica

Ano de escolaridade turma 2o ano do ensino meacutedio

Conteuacutedo Ginaacutestica

Unidade A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Nuacutemeros de aulas 8-10

OBJETIVOS GERAIS

bull Identificar a sauacutede e a esteacutetica como elementos centrais nos

discursos dominantes atualmente sobre a importacircncia da

praacutetica de ginaacutestica de modo a reconhecer suas implicaccedilotildees

sociais

bull Compreender o papel desempenhado pelos Meacutetodos

Ginaacutesticos na educaccedilatildeo dos corpos no seacuteculo XIX a fim

de enumerar possiacuteveis elementos de continuidaderuptura

em relaccedilatildeo agrave praacutetica de ginaacutestica em academias atualmente

bull Refletir sobre a influecircncia da miacutedia no incentivo ao

consumo de mercadorias relacionadas agrave ginaacutestica de

modo a posicionar-se criticamente diante das formulaccedilotildees

predominantes

10 Quadro detalhado sobre as intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo encontra-se no planejamento

apresentado a seguir

bull Conhecer alguns princiacutepios baacutesicos do treinamento

cardiorrespiratoacuterio para aplicaacute-los em suas praacuteticas corporais

e utilizaacute-los na anaacutelise das receitas milagrosas difundidas

atualmente

1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL

11 Anuacutencio dos conteuacutedos

Conteuacutedo ginaacutestica

Tema A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Toacutepicos

bull A im portacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise

dos discursos da sauacutede e da esteacutetica

bull A ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do seacuteculo X I X aos

dias de hoje

bull A influecircncia da m iacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos e

necessidades para o consum o de mercadorias relacionadas agrave

ginaacutestica

bull Introduccedilatildeo aos fundam entos cientiacuteficos do treinam ento

cardiorrespiratoacuterio

12 Vivecircncia do conteuacutedo

bull O que os alunos sabem ginaacutestica emagrece faz bem agrave sauacutede

haacute diferentes formas praticada em diferentes lugares

bull O que os alunos gostariam de saber todo exerciacutecio fiacutesico

eacute ginaacutestica Por quanto tempo preciso praticar ginaacutestica

para emagrecer Musculaccedilatildeo eacute ginaacutestica Como ficar com o

corpo igual aos praticantes de ginaacutestica competitiva Todas

as pessoas podem praticar todos os tipos de ginaacutestica Como

a ginaacutestica pode favorecer a prevenccedilatildeo de doenccedilas

2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO

21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo

A ginaacutestica de hoje eacute igual a de antigamente Ela sofre influecircncia da

miacutedia Existem diferenccedilas entre a praacutetica voltada agrave esteacutetica ou agrave sanrW

22 Dimensotildees do conteuacutedo

Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

D IM E N S Otilde E S Q U E ST Otilde E S P R O B L E M A T IZ A D O R A S

Conceituai

O que eacute ginaacutestica A ginaacutestica voltada para a sauacutede ou para a esteacutetica

se configura da mesma forma Toda ginaacutestica tem as mesmas caracteshy

riacutesticas O que eacute frequecircncia cardiacuteaca e qual sua relaccedilatildeo com as diferenshy

tes imensidades do exerciacutecio fiacutesico Quais sinais emitidos pelo nosso

corpo nos permitem estimar a queima ou natildeo de gordura O que eacute

disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Econocircmica

0 padratildeo de corpo perfeito tem alguma utilidade econocircmica Todos

tecircm condiccedilotildees de usufruir das possibilidades que o mercado oferece para

a melhora da qualidade de vida da populaccedilatildeo O desejo crescente pela

busca de novas modalidades de ginaacutestica de academia tem funccedilatildeo ecoshy

nocircmica importante nos dias de hoje

Histoacuterica

A ginaacutestica sempre se apresentou da mesma forma ao longo da hisshy

toacuteria H aacute diferenccedilas e semelhanccedilas entre a praacutetica de antigamente

e a atual Qual a funccedilatildeo atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto de sua

inserccedilatildeo na escola

CulturalCom o a miacutedia influencia nossos haacutebitos A miacutedia influenciava as

praacuteticas de ginaacutestica antigamente tambeacutem

Esteacutetica

Sempre existiu padratildeo de corpo A m iacutedia difundia algum padratildeo

de corpo antigamente A praacutetica de ginaacutestica tem sido realizada

somente para a obtenccedilatildeo de um corpo belo Essa difusatildeo de um

padratildeo de corpo ideal cria na populaccedilatildeo desejos e imagens sobre

seus proacuteprios corpos

Poliacutetica

A praacutetica de ginaacutestica por si soacute favorece a melhoria da sauacutede da

populaccedilatildeo de forma isolada ou outros fatores como renda morashy

dia emprego transporte atendimento meacutedico e alimentaccedilatildeo satildeo

importantes

Teacutecnica

Com o aferir a frequecircncia cardiacuteaca Com o identificar a intensidade dos

exerciacutecios Com o definir as zonas de treinamento a partir da afericcedilatildeo

da frequecircncia cardiacuteaca Quais satildeo os gestos que definem os movimenshy

tos da ginaacutestica

7onte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

31 Accediloacutees docentes e discentes

bull Exposiccedilatildeo do professor

bull Vivecircncia de diferentes formas de ginaacutestica passando dos

Meacutetodos Ginaacutesticos agraves modalidades contemporacircneas de

ginaacutestica de academia

bull Discussatildeo de textos com os alunos

bull Visualizaccedilatildeo anaacutelise e debate de documentaacuterioreportagem

em viacutedeo

bull Vivecircncia praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos mdash aferindo a frequecircncia

cardiacuteaca de si mesmo e do companheiro aleacutem de controlar

a zona alvo em diferentes intensidades

bull Elaboraccedilatildeo de painel com recortes e reportagens de jornais

eou revistas

32 Recursos materiais

Jornais revistas internet slides e materiais para praacutetica de gishy

naacutestica

4) CATARSE

41 Siacutentese teoacuterica do aluno

Com o desenvolvimento da sociedade capitalista na Europa

do seacuteculo XIX a Ginaacutestica Cientiacutefica ou Meacutetodos Ginaacutesticos acashy

baram por assumir a funccedilatildeo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos Para

subordinar poliacutetica e economicamente os indiviacuteduos agraves exigecircncias

das relaccedilotildees sociais dominantes naquele contexto a ginaacutestica foi

inclusive inserida nas escolas onde era praticada atraveacutes de exershy

ciacutecios padronizados com pouco ou nenhum espaccedilo para reflexotildees

dos alunos que deveriam executar os movimentos conforme os

comandos do professor (instrutor) Assim buscava-se contribuir

para formar sujeitos produtivos economicamente e ao mesmo

empo submissos politicamente capazes de contribuir para o de-

envolvimento das relaccedilotildees sociais que se aprofundavam na eacutepoca

Ao longo da histoacuteria a ginaacutestica passou por inuacutemeras trans-

ormaccedilotildees e atualmente seu viacutenculo com o discurso da promoshy

ccedilatildeo da sauacutede e da esteacutetica tem lhe garantido a manutenccedilatildeo de

am status privilegiado dentre as manifestaccedilotildees da cultura corposhy

ral Poreacutem se antigamente a educaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy

naacutestica visava formar um homem forte e apto ao trabalho fabril

atualmente a ginaacutestica parece atrelada a um processo educativo

voltado ao consumo desenfreado de mercadorias sejam as ldquonovasrdquo

modalidades oferecidas nas academias ou os diversos produtos que

visam agrave obtenccedilatildeo de um padratildeo de corpo ideal

Enquanto a busca desenfreada pelo padratildeo de corpo perfeito

acaba por influenciar transtornos como anorexia vigorexia e buli-

mia o discurso orientado na relaccedilatildeo (direta) entre praacutetica de ginaacutestishy

ca e obtenccedilatildeo da sauacutede acaba por mascarar o fato de que a qualidade

de vida e a sauacutede satildeo conceitos que envolvem condiccedilotildees de vida

como habitaccedilatildeo emprego condiccedilotildees de trabalho atendimento meacuteshy

dico de qualidade alimentaccedilatildeo dentre outros

A anaacutelise do processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes

da ginaacutestica e a apropriaccedilatildeo dos fundamentos baacutesicos do treinashy

mento cardiorrespiratoacuterio nos auxiliam no desenvolvimento de

uma postura criacutetica com a ginaacutestica a sociedade contemporacircnea e

seus discursos predominantes sobre o tema

42 Expressatildeo da siacutentese

Realizaccedilatildeo de prova e participaccedilatildeo em um quiz educativo ambos

abordando todo conteuacutedo estudado

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO

Quadro 2 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

1 Conhecer mais sobre a ginaacutestica1 Leitura de revistas e artigos soshy

bre ginaacutesticas

2 Discutir o comportamento dos inshy

diviacuteduos e suas praacuteticas de ginaacutestica

de acordo com seus objetivos sauacutede

eou esteacutetica

2 Observar e perguntar aos memshy

bros da sua comunidade se pratishy

cam e por que praticam ginaacutestica

e informaacute-los de seus limites e beshy

nefiacutecios

3 Posicionar-se criticamente sobre a

influecircncia da miacutedia nas praacuteticas de gishy

naacutesticas atuais

3 Numa discussatildeo sobre a gishy

naacutestica manifestar sua opiniatildeo

argumentando a favor ou contra

de acordo com o conhecimento

adquirido criticar a difusatildeo do

padratildeo de corpo ideal

4 Difundir o entendimento de que

outros fatores interferem na qualishy

dade de vida dos indiviacuteduos aleacutem da

ginaacutestica

4 Explicar a outras pessoas que

fatores como acesso agrave habitaccedilatildeo

atendimento meacutedico transporte

garantia de emprego condiccedilotildees

de trabalho seguras saneamento

baacutesico e alimentaccedilatildeo de qualidashy

de tambeacutem interferem na qualishy

dade de vida da populaccedilatildeo aleacutem

da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos

5 Realizar exerciacutecios na intensidade

de acordo com seus objetivos

5 Controlar sua frequecircncia cardiacute

aca durante a praacutetica de ginaacutestica e

demais exerciacutecios fiacutesicos

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees Finais

Este texto buscou apresentar uma experiecircncia pedagoacutegica na qual

a ginaacutestica foi trabalhada na escola sob orientaccedilatildeo da Pedagogia his-

toacuterico-criacutetica Destacamos que essa experiecircncia deve ser vista com um

olhar mais profundo pois cada escola tem caracteriacutesticas especiacuteficas e

singularidades que podem facilitar ou dificultar o processo pedagoacutegico

Vale ressaltar que a experiecircncia descrita natildeo esgota as inuacutemeras

possibilidades de trabalho a serem desenvolvidas com o tema ou com

a ginaacutestica Da mesma forma o conhecimento transmitido se constishy

tui apenas como parte do amplo leque de conhecimentos necessaacuterios

para o desenvolvimento de uma leitura criacutetica da realidade

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CAPIacuteTULO VIII

0 LUGAR E HORA DO CIRCO NA ESCOLA REFLEXOtildeES SOBRE A REINVENCcedilAtildeO DA CULTURA CIRCENSE NA SOCIEDADE CONTEMPORAcircNEA

Adriano de Paiva Reis

Carla Cristina Carvalho Pereira

Frederico Duarte Gomes Tostes

Haacute sempre um pouco de circo no corashy

ccedilatildeo de toda crianccedila Haacute sempre um pouco de

crianccedila no coraccedilatildeo de todo adulto Dentro de

noacutes despertam ecos as faceacutecias do palhaccedilo o

encanto da bailarina a cavalo as proezas do

trapeacutezio o destemor do homem que enfrenta

leotildees e tigres O fasciacutenio que aureola nossas

recordaccedilotildees vem do resto de infacircncia que -

felizmente - ainda ficou em noacutes E enquanto

houver ressoando alegre e contagiante um

riso de crianccedila haveraacute sempre um grito enshy

tusiaacutestico pronto a explodir - Viva o circo

(RUIZ 1987)

A arte circense eacute para muitos estudiosos

considerada uma das manifestaccedilotildees culturais

mais tradicionais do mundo Sobrevivendo de

geraccedilatildeo a geraccedilatildeo o circo vem perdurando no

tempo Maacutegicos trapezistas malabaristas pashy

lhaccedilos domadores e encantadores de animais

selvagens o fasciacutenio despertado pelo circo traz

encantamento e mexe com o imaginaacuterio do

homem haacute anos independente da idade

Marginalizada durante muito tempo as atividades circenses

hoje viraram nicho de mercado O circo vem ocupando cada vez

mais espaccedilo e ganhando maior visibilidade nos dias atuais seja

em academias de ginaacutesticas clubes escolas para formaccedilatildeo de cirshy

censes semaacuteforos dentre outros

Embora a produccedilatildeo teoacuterica a respeito do tema tenha crescido a

partir do iniacutecio dos anos 2000 e um nuacutemero significativo de artigos

sobre esse conteuacutedo esteja sendo publicado nos principais perioacutedishy

cos de Educaccedilatildeo Fiacutesica do paiacutes a maior parte dos trabalhos limita-se

ao resgate histoacuterico tendo em vista a preservaccedilatildeo do circo enquanto

patrimocircnio cultural ou a relatos de experiecircncias desenvolvidas

A inclusatildeo do circo nos curriacuteculos escolares eacute justificada

2 m muitos casos a partir do provaacutevel desenvolvimento das cashy

pacidades fiacutesicas agilidade resistecircncia cardiovascular equiliacutebrio

ldquohabilidades motorasrdquo em geral Ainda satildeo destacados aspectos

omo autoconhecimento automotivaccedilatildeo e superaccedilatildeo dos medos

ileacutem de cooperaccedilatildeo socializaccedilatildeo interaccedilatildeo ajuda muacutetua criashy

ratildeo de viacutenculo afetivo alegria espontacircnea e consciecircncia corpo-

al1 Embora possam ser considerados importantes entendemos

jue tais elementos por si soacute natildeo justificam a presenccedila desse

onteuacutedo na educaccedilatildeo escolar

A nosso ver a inclusatildeo das atividades circenses nos curriacuteculos

scolares articula-se ao que consideramos ser o papel da escola

[uai seja o ldquode socializaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico filosoacutefi-

o e artiacutestico produzido pela humanidade atraveacutes dos tempos em nas formas mais elevadasrdquo (EIDT DUARTE 2007 p 54 grifo

to autor) E imprescindiacutevel compreender as atividades circenses

nquanto produto da atividade humana um resultado do desen-

olvimento histoacuterico que precisa ser apropriado Cada um dos

lementos que constituem o circo (malabarismo equilibrismo

laacutegica etc) eacute carregado de sentidos e significados construiacutedos

istoricamente e modificados socialmente identificando assim o

Costa Tiaen e Sambugari (2007) Bortoleto (2003) Silva (1996) Silva e

Cacircmara (2009) Duprat e Bortoleto (2007)

homem como produtor e transformador da cultura Cabe agrave escoshy

la trabalhar com esse conteuacutedo contextualizando-o problemati-

zando-o estabelecendo correlaccedilotildees pertinentes entre as atividades

circenses e o processo histoacuterico em que se desenvolveram desmis-

tificando algumas modificaccedilotildees pelas quais passou ao longo dos

tempos Assim torna-se possiacutevel articular o ensino das atividades

circenses com a formaccedilatildeo do sujeito histoacuterico consciente da neshy

cessidade de superaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo

O desafio a ser superado eacute a construccedilatildeo de propostas pedagoacutegishy

cas viaacuteveis consistentes e coesas que contribuam para uma anaacutelise

criacutetica e uma compreensatildeo abrangente do universo circense visando

[] desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre o

acervo de formas de representaccedilatildeo do mundo que o

homem tem produzido no decorrer da histoacuteria exshy

teriorizadas pela expressatildeo corporal jogos danccedilas

lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte malabarismo

contorcionismo miacutemica e outros que podem ser

identificados como formas de representaccedilatildeo simshy

boacutelica de realidades vividas pelo homem historicashy

mente criadas e culturalmente desenvolvidas (C O shy

LETIVO DE AUTORES 1992 p 38)

Nesta perspectiva defendemos que as atividades circenses poshy

dem ser encaradas como um conteuacutedo especiacutefico extrapolando

algumas anaacutelises que a entendem enquanto parte constituinte da

ginaacutestica Apesar de determinados elementos como as acrobacias

apresentarem similaridades com o conteuacutedo da ginaacutestica fica evishy

dente que o processo com que esses elementos se apresentam denshy

tro do universo do circo eacute bem diferente daquele onde surgiu e

se desenvolveu a ginaacutestica2 Aleacutem disso outros elementos como

o palhaccedilo e as maacutegicas natildeo podem ser compreendidos enquanto

movimentos giacutemnicos e no nosso entendimento omiti-los seria

uma forma de fragmentar o conhecimento a respeito do circo

2 De acordo com Soares (2005) as acrobacias circenses influenciaram a

Ginaacutestica Francesa meacutetodo desenvolvido a partir da ordenaccedilatildeo e organizaccedilatildeo

de movimentos de acrobatas funacircmbulos e saltimbancos de maneira a

produzir maior eficiecircncia e economizar eneraia

A produccedilatildeo da arte circense como modo de vida

A arte circense eacute considerada uma das manifestaccedilotildees culturais mais

antigas do mundo sendo impossiacutevel precisar sua origem Sabe-se que

as modalidades circenses que hoje conhecemos decorrem de praacuteticas

que foram surgindo em momentos contextos e lugares diferentes a

partir dos costumes de uma regiatildeo ou paiacutes com o objetivo de entreter

louvar ou homenagear a deuses valorizar conquistas de guerras ou satildeo

corporificadas a partir da necessidade do homem de adestrar animais

para auxiacutelio no transporte ou em atividades de trabalho

O circo ldquomodernordquo como espetaacuteculo pago uma lona cobrindo um

picadeiro onde se apresentam trapezistas malabaristas equilibristas eacute

muito recente e seria por assim dizer a forma moderna de um antiquiacutesshy

simo entretenimento de diversos povos e culturas (TORRES 1998) A

estrutura do circo moderno remonta ao seacuteculo XVIII quando o inglecircs

Philip Astley ex-oficial da Cavalaria Britacircnica criou um espetaacuteculo de

equilibrismo equestre apresentado numa pista circular O espetaacuteculo criashy

do por Astley apresentava uma estrutura que atendia a um puacuteblico espeshy

ciacutefico da sociedade o rigor a postura e a elegacircncia da arte equestre consshy

tituiacuteam um siacutembolo de status social e muito agradavam a aristocracia

Entretanto os grupos circenses da eacutepoca comeccedilaram a notar que

as apresentaccedilotildees ganhariam muito mais espectadores se conseguissem

atingir uma classe social emergente naquela eacutepoca a burguesia Foshy

ram entatildeo incorporados outros artistas mdash funambulescos malabarisshy

tas acrobatas saltadores e adestradores de animais3 - que desafiavam

os limites corporais e morais e o espetaacuteculo foi reorganizado de forma

que pudesse ser mais atrativo (DUPRAT 2007)

3 Apesar dos animais historicamente participarem do espetaacuteculo circense a legislaccedilatildeo atual

vem restringindo sua utilizaccedilatildeo Aleacutem do Decreto ndeg 2464534 referente a maus tratos e

crueldade aos animais a Lei de Proteccedilatildeo agrave Fauna (Lei 519767) prevecirc pena de reclusatildeo para

casos de animais silvestres mantidos em locais sem higiene sujeitados a trabalhos insalubres

alimentaccedilatildeo inadequada ou insuficiente dentre outros A Portaria 10894 regulamenta as

condiccedilotildees para a estadia dos animais em zooloacutegicos e circos cabendo agraves prefeituras autorizarem

ou natildeo a fixaccedilatildeo de circos que utilizem animais em seus nuacutemeros Este eacute um ponto bastante

polecircmico pois apesar dos ambientalistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos

alegando maus tratos mdash seja nos meacutetodos de adestramento ou pelo fato de retiraacute-los de seu

habitat natural mdash haacute quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute crueldade e

tampouco insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais

Contraditoriamente na Europa receacutem-industrializada do

seacutec XIX o universo gestual caracteriacutestico do circo apresentava

liberdade e descompromisso contrariando o pensamento burguecircs

da eacutepoca que defendia a utilidade de qualquer atividade fora do

mundo do trabalho Contrapondo-se agrave liberdade e ao luacutedico das

atividades circenses primava-se pelos exerciacutecios fiacutesicos cuidadoshy

samente pensados para finalidades especiacuteficas a partir dos grupos

musculares e de funccedilotildees orgacircnicas (SOARES 2005)

O circo permitia agrave plateia transitar do maacutegico e fascinante agrave

aberraccedilatildeo despertando os mais ambiacuteguos sentimentos Acrobatas

trapezistas e funacircmbulos desafiavam as leis da fiacutesica desprezando o

peso de seus corpos enquanto homens domavam animais selvagens

engoliam fogo faziam reviver animais mortos aleacutem de exibirem deshy

formaccedilotildees fiacutesicas Esses estrangeiros nocircmades fascinantes artistas cirshy

censes eram cada vez mais temidos pela elite dirigente pois

traziam o corpo como espetaacuteculo Invertiam a ordem

das coisas Andavam com as matildeos lanccedilavam-se ao

espaccedilo contorciam-se e encaixavam-se em potes cm

cestos imitavam bichos vozes produziam sons com

as mais diferentes partes do corpo cuspiam fogo

vertiam liacutequidos inesperados gargalhavam viviam

em grupos Opunham-se assim aos novos cacircnones

do corpo acabado perfeito fechado limpo e isolado

que a ciecircncia construiacutera da vida fixa e disciplinada

que a nova ordem exigia (SOARES 2005 p 25)

Como eram rentaacuteveis os espetaacuteculos circenses proliferaram-se

por toda a Europa com um crescente nuacutemero de grupos de artistas

apresentando-se na sua maioria em instalaccedilotildees fixas ao ar livre ou

em anfiteatros adaptados o que demonstra grande influecircncia do

circo nas formas de divertimento e entretenimento da populaccedilatildeo e

da burguesia crescente Satildeo estas companhias que emigraram mais

tarde para outros continentes (SILVA 2003 DUPRAT 2007)

E nos Estados Unidos que a arena do circo ganha um mastro

central e uma tenda surgindo os moldes do ldquocirco americanordquo ou

circo de lona Nas matildeos de PhineasTaylor Barnum mdash homem de neshy

goacutecios e eficiente publicitaacuterio a enorme tenda colorida aleacutem de

proporcionar maior conforto aos espectadores tornou-se uma exceshy

lente forma de divulgar e vender o espetaacuteculo Ao mudar de cidade

toda a estrutura era desmontada e levada pelo grupo

Com a possibilidade de adquirirem maior mobilidashy

de aliada agrave incorporaccedilatildeo de artistas dos vaacuterios paiacuteses

por onde passava o circo consolidava-se como um

espaccedilo de muacuteltiplas linguagens artiacutesticas que pressushy

punha todo um conjunto de saberes definidores de

novas formas de produccedilatildeo e organizaccedilatildeo de espetaacuteshy

culo animais mistura de nacionalidades acrobacias

nuacutemeros aeacutereos magia shows de variedades represhy

sentaccedilotildees teatrais com pantomimas e entradas de

palhaccedilos com ou sem diaacutelogo Para os defensores do

ldquocirco purordquo era um espetaacuteculo ecleacutetico demais que

mais parecia music hall um teatro de variedades do

que circo Apesar das criacuteticas e debates em torno dos

espetaacuteculos circenses a montagem e produccedilatildeo dos

mesmos continham as principais formas de expresshy

sotildees artiacutesticas contemporacircneas apresentando um reshy

sultado que misturava music hall variedades teatro

(cenas cocircmicas pantomimas operetas) ginaacutestica

acrobacia e animais (SILVA 2007 p 51)

Este modo de organizaccedilatildeo pressupunha certas caracteriacutesticas

definidoras e distintivas do grupo circense como o nomadismo e

uma forma coletiva de constituiccedilatildeo do profissional artista baseada

na transmissatildeo oral do conjunto de saberes e praacuteticas acumuladas a

partir da vivecircncia na lona A organizaccedilatildeo familiar era a base de susshy

tentaccedilatildeo do circo inclusive no que se refere agraves relaccedilotildees de trabalho

Era comum que todos soubessem um pouco de todos os aspectos

que envolviam aquela produccedilatildeo desde a rotina diaacuteria do circo - como

armar e desarmar a tenda preparar os nuacutemeros e peccedilas de teatro

cuidar dos animais limpeza do ambiente dentre outros mdash ateacute as teacutecshy

nicas ou habilidades especiacuteficas da apresentaccedilatildeo As crianccedilas cabia a

responsabilidade de preservar a tradiccedilatildeo Por causa da vida nocircmade

eram alfabetizadas nas escolas das cidades por onde o circo passava ou

por uma pessoa do proacuteprio circo Aqueles que natildeo nasciam no circo

mas que a ele se incorporavam passavam pelo mesmo ritual de aprenshy

dizagem ao qual passavam os menores

O circo no tempo da induacutestria do entretenimento

Essa estrutura do circo tradicional comeccedilou a sofrer alguma alteshy

raccedilatildeo jaacute na deacutecada de 1920 na entatildeo Uniatildeo Sovieacutetica4 mas eacute a partir

dos anos de 1970 entretanto que consolidou-se um movimento de

reestruturaccedilatildeo do circo - fruto do envolvimento de artistas de diversas

origens em paiacuteses da Europa Ocidental Austraacutelia Canadaacute e Brasil

fazendo com que o ensino das artes circenses extrapolasse o reduto da

lona e quebrasse assim uma de suas grandes tradiccedilotildees a transmissatildeo

de conhecimento de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SILVA ABREU 2009)

O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy

ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX aleacutem da facilishy

dade de acesso agrave informaccedilatildeo e da fluidez da cultura no entanto

ocasionaram uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves

apresentaccedilotildees circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios

e dos terrenos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidashy

des mdash a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de

uma poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que

inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais O

fato eacute que nos anos de 1970 havia mais de 2000 companhias cirshy

censes espalhadas pelo Paiacutes e em 2009 esse nuacutemero era estimado

em 500 circos de pequeno meacutedio e grande porte5

Circenses tradicionais preocupados com o futuro encaminham

seus filhos para a vida urbana fora das lonas Escolas de circo passaram

a formar novos artistas rompendo-se a relaccedilatildeo de ldquopertencimentordquo agrave trashy

diccedilatildeo circense O modelo familiar de circo sofreu uma ruptura abrindo

espaccedilo para o que se conhece atualmente como Circo Novo

4 Na deacutecada de 1920 logo apoacutes a Revoluccedilatildeo Russa iniciou-se na antiga Uniatildeo Sovieacutetica

um movimento de construccedilatildeo de escolas de circo para fora da lona ou para fora do

grupo familiar circense a partir da nacionalizaccedilatildeo do circo e dos teatros pelo governo

sovieacutetico (DUPRAT 2007) Apesar de natildeo ser objetivo deste artigo discutir o contexto

histoacuterico e poliacutetico desse fato natildeo podemos deixar de mencionaacute-lo por constituir a

primeira experiecircncia de uma escola de circo fora do processo de formaccedilatildeosocializaccedilatildeo

aprendizagem que sempre foi dado sob a lona

f5 Dados obtidos no site do Ministeacuterio da Cultura Disponiacutevel em lthttpwww

culturagovbrsite20090327funarte-estima-que-brasil-tenha-500-grupos-

circensesgt Acesso em 14 jul 2012

Neste sentido

o circo como um todo natildeo mais se responsabiliza pela

continuaccedilatildeo do ensino artiacutestico da geraccedilatildeo seguinte

este passou a ser responsabilidade de cada famiacutelia que

escolhe onde seus filhos vatildeo estudar na escola formal

ou no circo A partir da deacutecada de 1970 no Brasil

algumas escolas de circo foram fundadas por artistas

preocupados em transmitir a teacutecnica circense em fazer

a profissatildeo renascer todavia natildeo mais necessariamente

com os filhos de gente de circo (SILVA 1996 p 9)

O circo teve que se reinventar para sobreviver Considerado

como o ldquoCirco do Homemrdquo por valorizar somente o ser humano

em suas performances o Circo Novo busca adequar-se ao mercashy

do artiacutestico dos novos tempos

A tecnologia assume um papel fundamental nesse processo pois

permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalanche tecshy

noloacutegica os grandes circos se apropriam das produccedilotildees e se renovam

constantemente enquanto muitos circos pequenos sucumbem agrave conshy

correcircncia por natildeo coseguirem acompanhar esse movimento

A mercantilizaccedilatildeo que domina a quase totalidade das relaccedilotildees soshy

ciais e a submissatildeo da cultura da sauacutede e da educaccedilatildeo - e tambeacutem das

praacuteticas corporais mdash aos interesses do capital trazem uma consequente

descaracterizaccedilatildeo do universo do circo Como empresa o ldquocirco novordquo

adota uma forte divisatildeo do trabalho contando com profissionais resshy

ponsaacuteveis para as mais diversas tarefas e funccedilotildees

A principal mudanccedila que caracteriza o chamado ldquocirco novordquo

refere-se agrave relaccedilatildeo familiar o circo torna-se uma grande empresa

Os artistas natildeo mais pertencem agraves famiacutelias circenses satildeo ex-atleshy

tas ou profissionais formados em escolas de circo e contratados

pelas grandes companhias De acordo com Silva (1996) natildeo eacute

mais a famiacutelia que eacute contratada mas o artista um nuacutemero um

especialista que tem um determinado conhecimento especiacutefico

da tarefa e natildeo mais do funcionamento do circo como um todo

tornando o conjunto do conhecimento sobre o circo fragmentashy

do e hierarquizado Nesse sentido

O modo de transmissatildeo oral do circo-lamilu Im m i

sido quebrado A ideacuteia de que o artista tiniu qm lt i

completo - no sentido de que cada indiviacuteduo liu

parte de uma comunidade e a sobrevivecircncia do gi upo

dependia do seu trabalho como um todo - natildeo niiis

fundamenta o aprendizado Daacute-se origem a uma novi

maneira de se ser artista de circo e a novas formas draquo

organizaccedilatildeo do trabalho (SILVA 1996 p 153)

O exemplo mais representativo do circo-empresa - e o de

maior impacto midiaacutetico - eacute a Companhia de Entretenimento

Circo de Soleil considerado o maior impeacuterio circense do mundo

Utilizando o que haacute de mais contemporacircneo para o entretenimenshy

to do puacuteblico conta com 21 espetaacuteculos sendo 12 em turnecirc em 5

continentes aleacutem de 9 espetaacuteculos residentes (exclusivamente nos

Estados Unidos) O Circo de Soleil emprega mais de 5000 funcioshy

naacuterios em todo o mundo sendo mais de 1300 artistas contratados

A maioria desses artistas eacute composta por ex-atletas danccedilarinos

profissionais personagens de sucesso nos meios de comunicaccedilatildeo

que representam cerca de 50 nacionalidades e falam 25 idiomas

diferentes Mais de 100 milhotildees de pessoas jaacute assistiram aos espeshy

taacuteculos do circo desde sua fundaccedilatildeo em 19846

Unindo danccedila teatro e circo a elementos da tecnologia como efeishy

tos de luz e som computaccedilatildeo graacutefica conhecimentos de diversas aacutereas

para a performance de um artistaatleta este novo modelo requer artistas

polivalentes como por exemplo malabaristas-acrobatas acrobatas-clo-

wn clown-muacutesico etc No circo novo o mais importante natildeo eacute o mais

complicado arriscado ou sobre-humano mas o mais belo plaacutestico vishy

sual esteacutetico etc(BORTOLETO MACHADO 2003)

Aleacutem disso as atividades circenses viraram nicho cle mercado

e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de circo a

academias de ginaacutestica A arte circense tambeacutem eacute utilizada como

praacutetica assistencialista por ON Gs e outras entidades filantroacutepicas

como ldquoinstrumento pedagoacutegicordquo na busca da ldquomelhoria de vidardquo

dos envolvidos nos projetos (F IG U E IREDO 2007)

6 Dados obtidos no site do Circo de Soleil Disponiacutevel em lthttpwwwcirquedusoleil

comenwelcomeaspxgt Acesso em- n

Eacute esse universo do circo que propomos trazer para a escola de forshy

ma a possibilitar ao aluno a apropriaccedilatildeo do conhecimento e a adoccedilatildeo de

uma postura criacutetica frente agrave atual configuraccedilatildeo do espetaacuteculo circense

Apresentamos a seguir o relato de uma experiecircncia pedagoacutegica realishy

zada com alunos do 6o ano de uma escola municipal de Juiz de Fora

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o circo

Ao iniciarmos a unidade buscamos identificar o niacutevel de consshy

ciecircncia dos alunos acerca do circo e os possiacuteveis interesses sobre a teshy

maacutetica Foram exibidos alguns viacutedeos de apresentaccedilotildees diversas (circo

tradicional C irque de Soleil apresentaccedilotildees de rua apresentaccedilotildees em

festas infantis na televisatildeo etc) Apoacutes a exibiccedilatildeo os alunos respondeshy

ram a duas questotildees O que eacute o circo Onde encontramos o circo atushy

almente As respostas foram registradas pelo professor A seguir foshy

ram explicitados os pontos que seriam abordados dentro do conteuacutedo

(histoacuteria e evoluccedilatildeo do circo as modalidades relaccedilotildees de trabalho e a

questatildeo ambiental) objetivos e atividades que seriam desenvolvidas

O segundo momento dentro da unidade didaacutetica foi a seleccedilatildeo de

questotildees relevantes para a discussatildeo e reflexatildeo dos alunos ou seja a problc-

matizaccedilatildeo Neste ponto foram delimitadas ainda as dimensotildees do conheshy

cimento a serem abordadas conforme apontamos no plano de unidade

No momento da instrumentalizaccedilatildeo foram desenvolvidas atividades

i accedilotildees tais como exibiccedilatildeo de viacutedeos leitura de textos vivecircncia das mais

iiversas modalidades circenses construccedilatildeo de materiais entre outras

Como forma de analisarmos o quanto o aluno apreendeu so-

gtre o conteuacutedo trabalhado propomos a criaccedilatildeo de uma apostila

obre o circo com a divisatildeo em grupos para a elaboraccedilatildeo de tex-

os sobre os toacutepicos de conteuacutedo trabalhados O objetivo desta

itividade consistiu em verificar o niacutevel de evoluccedilatildeo dos alunos

m relaccedilatildeo ao conhecimento sobre o circo (sua histoacuteria as moda-

idades teacutecnicas baacutesicas construccedilatildeo de materiais para a praacutetica

is novas configuraccedilotildees do circo atual os motivos pelos quais

iacuteoje existem poucos circos tradicionais as relaccedilotildees de trabalho

lentro do picadeiro dentre outros pontos) Outra atividade foi

a criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre 1 un

lizaccedilatildeo de animais nos espetaacuteculos circenses

No retorno agrave praacutetica social os alunos aprofundaram seus conltc

cimentos sobre o circo atraveacutes da pesquisa de textos e viacutedeos sobiv ltraquo

aspectos discutidos nas aulas e socializaram os conhecimentos com ou

tros alunos da escola atraveacutes da montagem de um espetaacuteculo circense

Plano de Unidade O lugar e hora do circo na escola

OBJETIVO GERAL

Compreender o circo enquanto manifestaccedilatildeo cultural a fim

de assumir postura criacutetica frente agraves novas configuraccedilotildees do espeshy

taacuteculo circense atual

Quadro 1 - Anuacutencio do conteuacutedo

M iacuteK IacuteS S amp K bull C i Jrsquo irfiiacuteV-rsquo P f

A histoacuteria do circo

Conhecer a histoacuteria do circo e suas transforshy

maccedilotildees

Identificar as diversas formas de apresentaccedilatildeo das

atividades circenses na atualidade (circo tradicional

circo novo atividades de rua festas infantis circo

social etc)

As modalidades circenses

Identificar as modalidades existentes no circo

malabarismo equilibrismo acrobacia maacutegica e

palhaccedilo

Vivenciar as principais modalidades que constituem

o circo

Construir materiais que possibilitem a experiecircncia

das modalidades circenses

O circo nos tempos atuais

Compreender as novas configuraccedilotildees do circo na atushy

alidade relacionando-as agraves exigecircncias da atual fase do

modo de produccedilatildeo capitalista (relaccedilotildees comerciais leis

trabalhistas trabalho infantil informalidade legislaccedilatildeo

de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos etc)

Circo legal tem animal

Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave utilizaccedilatildeo de anishy

mais no circo

Posicionar-se criticamente frente agrave utilizaccedilatildeo de

animais no circo

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

1) PRAacuteTICA SOCIAL IN IC IAL D O CONTEUacuteDO

11 Vivecircncia do Conteuacutedo

bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo O circo eacute um

espetaacuteculo com vaacuterios artistas eacute divertido tem maacutegica

palhaccedilo acrobatas ldquoanimais ferozesrdquo tem gente que faz

circo na rua etc

bull O que eles gostariam de saber a mais Como surgiu o circo

Como fazer maacutegica malabarismo equilibrismo etc Como

sobrevive um artista de circo Como satildeo tratados os animais

que vivem no circo

2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO

Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees

problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas

Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

TOacutePICO DE

CONTEUacuteDO DIMENSOtildeES

bulltgt t bull

QUESTAtildeO PROBLEMA

Respeitaacutevel puacuteblishy

co o circo chegouConceituai

O que eacute o circo

O que eacute circo tradicional

O que eacute circo novo

A histoacuteria do circo Histoacuterica

Quem inventou o circo

Onde ele surgiu

O circo de hoje eacute igual ao de antigashy

mente

Quais satildeo as modificaccedilotildees pelas quais

o circo passou ateacute hoje

As modalidades cirshy

censes

Conceituai

Teacutecnica

Quais satildeo as modalidades que constishy

tuem o circo

Quais satildeo as teacutecnicas baacutesicas das moshy

dalidades circenses

O circo nos tempos

atuais

Econocircmica

Poliacutetica

Social

Legal

Onde vemos artistas de circo

Por que natildeo temos tantos circos se

apresentando hoje em dia

Os artistas de circo recebem salaacuterio

Quais as condiccedilotildees sociais e de trabashy

lho de um artista de circo ldquofamosordquo e

de um circo ldquosimplesrdquo

Quanto custa um ingresso de um cirshy

co famoso

Como eacute a relaccedilatildeo da crianccedila com o

trabalho no circo

O que precisa para um circo se estabeleshy

cer em uma cidade

Por que o circo vai embora

Circo legal tem anishy

mal V

Poliacutetica

Legal

Histoacuterica

gt

Como os animais foram incorporashy

dos ao circo

Como o circo conseguia os animais

para suas apresentaccedilotildees

E permitido ter animais selvagens no

circo atualmente

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo

x lsquo bull --ir Ywl-ft bull V Avbdquo iacutei - - iacute

- Conteuacutedo Dimensotildees v l p sect p |

Respeitaacutevel puacuteblico

o circo chegou

Conceituar circo

Compreender o circo enquanto

produccedilatildeo histoacuterica do homem

ConceituaiExposiccedilatildeo teoacuterica e exibiccedilatildeo de viacutedeos

sobre o circo

Viacutedeo produzido pelos autores disshy

poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy

do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo86

A histoacuteria do circo

Conhecer a histoacuteria do circo e suas

transformaccedilotildees

Identificar as diversas formas de

apresentaccedilatildeo das atividades circenshy

ses na atualidade (circo tradicional

circo novo atividades de rua festas

infantis circo social etc)

Relacionar a expansatildeo das atividashy

des circenses com a configuraccedilatildeo

da sociedade atual

Histoacuterica

Econocircmica

Poliacutetica

Exibiccedilatildeo de viacutedeos e fotos sobre a histoacuteria

do circo e as mais diversas formas de apreshy

sentaccedilatildeo das atividades circenses atuais

Leituras de textos sobre a histoacuteria do circo

Textos sobre a histoacuteria do circo

Viacutedeo produzido pelos autores disshy

poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy

do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

7 Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012

8 Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03Ieis18069htmgt Acesso em 09042013

laquo M M

As modalidades cirshy

censes

Identificar as modalidades exisshy

tentes no circo malabarismo

equilibrismo acrobacia maacutegica e

palhaccedilo

Vivenciar as principais modalidashy

des que constituem o circo

Construir materiais que possibilishy

tem a experiecircncia das modalidades

circenses

Conceituai

Teacutecnica

Exibiccedilatildeo de viacutedeos editados das modalishy

dades do circo Acrobacias (individuais

coletivas de solo e aeacutereas) Malabarismo

(dc contato equiliacutebrio dinacircmico giros-

coacutepico e de lanccedilamento) Equilibrismo

Maacutegica Palhaccedilo (Cara Branca Miacutemico

Augusto Vagabundo Augusto Europeu)

Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das princishy

pais modalidades circenses

Construccedilatildeo de materiais para a vivecircncia

dessas modalidades

Viacutedeos disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo

e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Bolas de soprar garrafas pet jornal

fita adesiva barbante cabos de vassoushy

ra cilindros de papelatildeo ou canos de

ferro para construccedilatildeo dos materiais

Materiais para a vivecircncia bolinhas

de borracha claves swings rola-rola

diabolocircs devilstick etc

O circo nos tempos

atuais

Compreender as novas configurashy

ccedilotildees do circo na atualidade relacio-

nando-as agraves exigecircncias da atual fase

do modo de produccedilatildeo capitalista

(relaccedilotildees comerciais leis trabalhisshy

tas trabalho infantil informalidade

legislaccedilatildeo de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteshy

blicos etc)

Econocircmica

Poliacutetica

Social

Legal

Exibiccedilatildeo e discussatildeo do programa ldquoProshy

fissatildeo Repoacuterterrdquo sobre o circo

Anaacutelise da legislaccedilatildeo (ECA87 lei ambienshy

tal e leis de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos)

Viacutedeo disponiacutevel em no blog ldquoConshy

teuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educashy

ccedilatildeo Fiacutesicardquo

ECA

Leis ambientais e de locaccedilatildeo de espashy

ccedilos puacuteblicos

Circo legal tem anishy

mal

Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave

utilizaccedilatildeo de animais no circo

Posicionarmdashse criticamente frente agrave

utilizaccedilatildeo de animais no circo

Poliacutetica

Legal

Histoacuterica

Exibiccedilatildeo de viacutedeos e leitura de textos que

discutam a questatildeo dos animais do circo

Anaacutelise da legislaccedilatildeo ambiental

Organizaccedilatildeo de um juacuteri simulado

Viacutedeos e textos disponiacuteveis no blog

ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

4) CATARSE

41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno

O circo eacute uma das manifestaccedilotildees culturais mais tradicionais da

humanidade que encanta pela capacidade de transformar o banal em

inacreditaacutevel transformar o impossiacutevel em coisa simples Ao mesmo

tempo sua sobrevivecircncia oscila entre o popular e a falta de incentivo

entre a vontade de fazer parte e o alto custo dos espetaacuteculos

No decorrer dos anos o circo se modificou antes as famiacutelias

tradicionais faziam da vida embaixo da lona um lar vaacuterias viashy

gens e seu trabalho Entretanto agora artistas e admiradores se

apresentam nas ruas em grandes e pequenos circos em grandes

empresas de entretenimento nas escolas nas academias espaccedilos

puacuteblicos e privados

Fazem parte do espetaacuteculo circense apresentaccedilotildees de malashy

barismo equilibrismo maacutegica palhaccedilos e acrobacias cujo prinshy

cipal objetivo eacute a diversatildeo do puacuteblico o que requer o aprendizashy

do de teacutecnicas especiacuteficas e treinamento diaacuterio por muitos anos

O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy

ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX ocasionaram

uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves apresentaccedilotildees

circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios e dos tershy

renos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidades mdash

a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de uma

poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que

inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais

Em menos de 30 anos o nuacutemero de circos existentes no Brasil

reduziu-se significativamente abrindo espaccedilo para as grandes

companhias de circo onde os artistas natildeo mais pertencem agraves

famiacutelias circenses satildeo ex-atletas ou profissionais formados em

escolas de circo e contratados pelas grandes companhias que tem

um determinado conhecimento especiacutefico da tarefa e natildeo mais o

conhecimento do funcionamento do circo como um todo

Aleacutem disso a tecnologia assume um papel fundamental no espetaacuteshy

culo pois permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalan

che tecnoloacutegica os grandes circos se apropriam das prod i iccedilolaquo bull laquo

novam constantemente enquanto muitos circos pequenos mu uiuU

agrave concorrecircncia por natildeo conseguirem acompanhar esse movimento

Atualmente as atividades circenses viraram nicho de nu 1 laquo raquo

do e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de 1 1 1 1

a academias de ginaacutestica

Apesar dos animais historicamente participarem do espeta

culo circense a legislaccedilatildeo atual vem restringindo sua utilizaccedilatildeo

protegendo-os de maus tratos e condiccedilotildees insalubres de vida

Este eacute um ponto bastante polecircmico pois apesar dos ambienshy

talistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos haacute

quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute cruelshy

dade ou insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais

42 Expressatildeo da Siacutentese

bull Construccedilatildeo de uma apostila sobre o circo abordando os

temas trabalhados nas aulas

bull Criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a

utilizaccedilatildeo de animais no circo

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO

Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

A p ro fu n d a r os conhecim entos sobre

o circo

Pesquisar textos e viacutedeos sobre

os aspectos discutidos nas aulas

Socializar os conhecim entos apreenshy

didos durante as aulas

M ontagem de u m espetaacuteculo

circense

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees finais

Destacamos que o presente texto pretendeu apenas apresentar

uma dentre as inuacutemeras possibilidades pedagoacutegicas de trabalho com

esse universo tatildeo rico e tatildeo fascinante como o universo circense

Buscou-se conhecer a histoacuteria do circo analisando suas transformashy

ccedilotildees ao longo dos tempos identificar e vivenciar as diversas modalidashy

des de forma contextuaiizada e desmistificada Compreender as relaccedilotildees

de trabalho existentes no circo tradicional e nas manifestaccedilotildees circenses

atuais significa compreender o circo enquanto produto da atividade hushy

mana resultado do desenvolvimento histoacuterico parte importante do pashy

trimocircnio cultural humano que precisa ser transmitido pela escola

Referecircncias

BORTOLETO MAC M ACHADO G A Reflexotildees sobre o circo e a Educaccedilatildeo

Fiacutesica Revista Corpoconsciecircncia Santo Andreacute v 2 n 12 p 39-69 jul

dez 2003

COLETIVO DE AUTORES Metodologia do ensino da Fducaccedilaacuteo Fiacutesica Satildeo

Paulo Cortez 1992

COSTA A C P TIAEN M S SAMBUGARI M R N O Circo no trabalho

didaacutetico Instrumento para a Obtenccedilatildeo do Processo de Interdisciplinaridade

In JORN ADA D O HISTDBR 7 2007 Campo Grande Anais Campo

Grande Uniderp 2007

DUPRAT R M Atividades circenses possibilidades e perspectivas para a Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica escolar Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Fiacutesica na aacuterea de

concentraccedilatildeo Educaccedilatildeo Fiacutesica e Sociedade )-Faculdade de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Universidade Estadual de Campinas Campinas 2007

DUPRAT R M BORTOLETO Marco Antocircnio Coelho Educaccedilatildeo Fiacutesica Escoshy

lar pedagogia e didaacutetica das atividades circenses Revista Brasileira de Ciecircnshy

cias do Esporte Campinas v 28 n 2 p 171-189 jan 2007

EIDT NM DUARTE N Contribuiccedilotildees da teoria da atividade para o dckm

sobre a natureza da atividade de ensino escolar Psicologia da Educaccedilatildeo Sm

Paulo n 24 p 51-72 jun 2007 Disponiacutevel em lt httppepsicbvsalud

orgsciclophppid=S 1414-69752007000100005ampscript=sci_arttext Acessraquo gt

em 20 set 2012

FIGUEIREDO C M S As vozes do circo social Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profisshy

sionalizante em Bens Culturais e Projetos Sociais)-Centro de Pesquisa e Doshy

cumentaccedilatildeo de Histoacuteria Contemporacircnea do Brasil Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas

Rio de Janeiro 2007

GASPARIN J L Uma didaacutetica para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica 5 ed Camshy

pinas SP Autores Associados 2011

RUIZ R Hoje tem espetaacuteculo As Origens do Circo no Brasil Rio de Janeiro

INACECEN 1987

SILVA E As muacuteltiplas linguagens da teatralidade circense Benjamin de Oliveishy

ra e o Circo-Teatro no Brasil do final do seacuteculo XIX e inicio do seacuteculo XX

Tese (Doutorado em Histoacuteria)-Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas

Universidade Estadual de Campinas Campinas 2003

_________ Circo-teatro Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil

Satildeo Paulo Altana 2007

_________ O circo sua arte c seus saberes o circo no Brasil do final do seacuteculo XIX

a meados do XX Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria) - Instituto de Filosofia

e Ciecircncias Humanas Universidade Estadual de Campinas Campinas 1996

SILVA E CAcircMARA R S O ensino de arte circense no Brasil breve histoacuterico

e algumas reflexotildees 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwcirconteudocombr

index phpoption=com_contentampview=articleampid= 1134o-ensino-de-arte-

-circense-no-brasil-breve-historico-e-aIgumas-reflexoesampcatid= l47artigosamp

Itemid=505gtAcesso em 15 jul 2012

SILVA E ABREU L A de Respeitaacutevel puacuteblico o circo em cena Rio de Ja-

neiro Funarte 2009

SOARES C L Imagens da educaccedilatildeo no corpo estudo a partir da ginaacutestica franshy

cesa no seacuteculo XIX 3 ed Campinas Autores Associados 2005

T O R R E S A O circo no Brasil Rio de Janeiro F U N A R T E Ed Atraccedilotildees 1998

SOBRE OS AUTORES

Adriano de Paiva Reis eacute professor de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Prefeishy

tura Municipal de Juiz de Fora desde 2010 Graduado em Educaccedilatildeo

Fiacutesica pela UFJF desde 2008 foi Professor substituto do Coleacutegio de

Aplicaccedilatildeo Joatildeo XXIII Bolsista dos projetos ldquoPortal do Professor do

M ECrdquo e extensatildeo ldquoNovas Experiecircncias Pedagoacutegicas em Educaccedilatildeo

Fiacutesica Escolarrdquo E-mail adriano_reisrocketmailcom

Aacutelvaro de Azeredo Quelhas eacute Doutor em Ciecircncias Sociais pela Unishy

versidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo - Campus Mariacutelia

Mestrado em Educaccedilatildeo Fiacutesica na aacuterea de ldquoPedagogia da Educaccedilatildeo Fiacutesica

e do Esporterdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Especializaccedilatildeo

nas aacutereas de ldquoFutebolrdquo e ldquoEducaccedilatildeo Psicomotora na Educaccedilatildeo Fiacutesica do Io

graurdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Licenciado em Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica e Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Trabalhou na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (1985-1997) como

professor do ensino fundamental (disciplina - Educaccedilatildeo Fiacutesica) aleacutem de

possuir experiecircncia como professor em academias de ginaacutestica e treinador

esportivo em clubes e empresas E professor do Departamento de Educaccedilatildeo

da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz de Fora desde

abril de 1997 E membro do Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educashy

ccedilatildeo (NETEC) da FACEDUFJF Seus estudos e pesquisas estatildeo voltados

para as transformaccedilotildees no mundo do trabalho e as formas de reestruturaccedilatildeo

produtiva com foco na precarizaccedilatildeo do trabalho em interface com os proshy

cessos educativos E-mail alvaroquelhasuolcombr

Andreacute Silva Martins eacute professor da Faculdade de Educaccedilatildeo

da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) onde integra o

Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo E vinculado tamshy

beacutem ao Coletivo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJV

Fiocruz) Integra o quadro docente do Programa de Poacutes-Gradua-

ccedilatildeo da UFJF E Mestre e Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade

Federal Fluminense E-mail andresilvamartinsglobocom

Carla Cristina Carvalho Pereira eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

(1996) poacutes graduada em Ednrarotilder cmdash 1

sidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestra em Educaccedilatildeo (2003)

pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Atua como professora da

rede municipal de Juiz de Fora desde 1998 Estuda temas relacionados

agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar nas aacutereas de danccedila-educaccedilatildeo planejamento e

avaliaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica E-mail carlacccphotmailcom

Carlos Eduardo de Souza eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestre em

Educaccedilatildeo pela UFJF Atua como professor da rede municipal e

particular em Juiz de Fora E-mail kadusjnyahoocombr

Frederico Duarte Gomes Tostes possui Licenciatura e Bachashy

relado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela Universidade Federal de Juiz de Fora

(UFJF) Estagiou em escolas puacuteblicas de Juiz de Fora e foi bolsista no

Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo Joatildeo XX III da Universidade Federal de Juiz de

Fora onde atuou no projeto de extensatildeo de Atividades Circenses para

alunos do ensino fundamental Atualmente faz cursos na Escola de

Circo Carequinha em Juiz de Fora E-mail fred_hikohotmailcom

Giovana de Carvalho Castro eacute professora da rede municipal de Juiz

de Fora Possui graduaccedilatildeo em Histoacuteria (2001) e mestrado em Ciecircncia da

Religiatildeo (2005) pela Universidade Federal de Juiz de Fora Tem experishy

ecircncia na aacuterea de Histoacuteria e Ciecircncia da Religiatildeo com ecircnfase em Histoacuteria

do Brasil Metodologia do Ensino de Histoacuteria Patrimocircnio Cultural Hisshy

toacuteria da Aacutefrica e Cultura Religiosa E-mail giovanahistoriabolcombr

Graziany Penna Dias possui Licenciatura cm Educaccedilatildeo Fiacutesica pela

Universidade Federal de Juiz de Fora (2000) e Mestrado em Educaccedilatildeo

pela Universidade Federal Fluminense (2006) Eacute vinculado ao Coletishy

vo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJVFiocruz) Atualmente

eacute professor do Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do

Sudeste de Minas - IFSUDESTEMG - Campus Juiz de Fora Estuda

temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar lazer poliacutetica educacional

e a relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo E-mail grazianydiasifsudestemgedubr

Hajime Takeuchi Nozaki possui Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1993) mestrado

em Educaccedilatildeo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1997)

e doutorado em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense

(2004) no campo Trabalho e Educaccedilatildeo Atualmente eacute professor asshy

sociado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Leciona na

graduaccedilatildeo no campus de Trecircs Lagoas e na poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo

no campus de Corumbaacute Dedica-se aos estudos na aacuterea de Trabalho

e Educaccedilatildeo atuando principalmente nos seguintes temas mundo do

trabalho e Educaccedilatildeo Fiacutesica formaccedilatildeo humana qualificaccedilatildeo dos trabashy

lhadores da faacutebrica E-mail hajimenozakiuolcombr

Herbert Hischter Chaves de Paula eacute graduado em Educaccedilatildeo

Fiacutesica pela Universidade Salgado de Oliveira - Universo (Juiz de

Fora) e poacutes-graduado em Danccedila e Consciecircncia Corporal pela Unishy

versidade Gama Filho (Belo Horizonte) E ator bailarino produtor

diretor e coreoacutegrafo e atua como professor de Danccedila e Teatro na

rede municipal de Juiz de Fora E-mail hhcpl911hotmailcom

Leonardo Docena Pina eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica e Messhy

tre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Atualmente cursa o doutorado em Educaccedilatildeo nessa mesma instituiccedilatildeo

e atua como professor da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de

ForaMG Desde 2008 integra o Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e

Educaccedilatildeo da UFJF E-mail leodocenayahoocombr

Marcelo Silva dos Santos possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2001) mestrado em Edushy

caccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense (2005) e eacute doutorando

em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana na Universidade do Esshy

tado do Rio de Janeiro (UERJ) Estuda temas relacionados agrave aacuterea de

trabalho e educaccedilatildeo Atualmente eacute professor do IFET Sudeste e da

rede municipal de Juiz de Fora E-mail marceloss2003igcombr

Miguel Fabiano de Faria eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela

UFJF e Mestre em Educaccedilatildeo pela UFMG Atua como professor na

educaccedilatildeo baacutesica e superior no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia

e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais - Campus Juiz de Fora Esshy

tuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar Lazer e Histoacuteria da

Educaccedilatildeo E-mail miguelfariaifsudestemgedubr

Mocircnica Jardim Lopes eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica e mes-

tranda em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Atua como professora da rede puacuteblica de ensino dos municiacutepios de

Juiz de Fora (MG) e de Trecircs Rios (RJ) E militante do Movimento

Nacional Contra a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica

(MNCR) E-mail monicajlopesyahoocombr

Nathaacutelia Sixel Rodrigues eacute Licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora Estagiou em Escolas puacuteshy

blicas da cidade como IFET e Escola Municipal Professora Thereza

Falei onde buscou tematizar o conteuacutedo Ginaacutestica na Educaccedilatildeo

Fiacutesica Atualmente atua como professora de ginaacutestica em academias

de Juiz de Fora E-mail naty_sixelhotmailcom

Priscila Rocha Rodrigues eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Atua como

professora de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de

ensino em Juiz de ForaMG E-mail prixrochayahoocombr

Rafael Loures dos Reis Bellei atua como professor do ensino

fundamental nas redes municipais de Juiz de Fora-MG eTrecircs Rios-

-RJ e no ensino fundamental e meacutedio na rede particular de Juiz

de Fora-MG O autor eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela UFJF

Estuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar e a relaccedilatildeo

trabalho-Educaccedilatildeo Fiacutesica M ilita no Movimento Nacional Contra

a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica - M NCR

E-mail rafabelleiyahoocombr

Ramon Mendes da Costa Magalhatildees possui Licenciatura e

Bacharelado pela Faculdade de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desportos (FA-

EFID) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) no ano de

2011 atualmente residente de Educaccedilatildeo Fiacutesica do programa de Reshy

sidecircncia Multiprofissional em Sauacutede do Adulto com Foco em Doshy

enccedilas Crocircnico Degenerativas no Hospital Universitaacuterio da Univershy

sidade Federal de Juiz de Fora (HUUFJF) no periacuteodo 20122014

E-mail ramon_mc_magalhaeshotmailcom

Renata Aparecida Alves Landim eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) especialista

m Educaccedilaacuteo Fiacutesica escolar pela UFJF e mestre em educaccedilatildeo pela

Universidade Federal Fluminense (UFF) Atualmente eacute professora do

ensino fundamental na rede puacuteblica municipal de Juiz de l o i i jgti

fessora temporaacuteria da Faculdade de Educaccedilatildeo da UFJF E v i i u ulraquolaquoi raquo

ao nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo da UFJE I m u i raquo

temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar poliacutetica educaraquo i o n i l

trabalho-educaccedilatildeo E-mail renatalandimhotmailcom

Thiago Barreto Maciel possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesui

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2007) Especializaccedilatildeo em

aspectos metodoloacutegicos e conceituais da pesquisa Cientiacutefica pela Uni

versidade Federal de Juiz de Fora (2008) Atualmente eacute professor do

Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste de

Minas Gerais - Campus Barbacena Tem experiecircncia na aacuterea de Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica com ecircnfase em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana

E-mail tbarretomacielgmailcom

Victoacuteria de Faacutetima de Mello eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especialista em

Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar pela mesma instituiccedilatildeo Atua como professora

de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de ensino em Juiz

de Fora Atualmente dirige o Sind-Ute (Sindicato dos Trabalhadores

em educaccedilatildeo de Minas Gerais) E-mail vicmellloyahoocombr

I n f o r m a ccedil otilde e s G r aacute f ic a s

Formato 16 x 23 cm

Mancha graacutefica 112 x 194 cm

Tipologia Myriad Pro - Adobe Garamond Pro

Papel Offset 90gm2 (miolo) - Cartatildeo Supremo 250gm2 (capa)

Tiragem 500 exemplares

Impressatildeo e acabamento Graacutefica e Editora Brasil Ltda

Page 5: Adriano de Paiva Reis · 2019. 8. 31. · Pedagogia histórico-crítica na construção da metodologia do ensino dos conteúdos específicos da cultura corporal na escola, destacando

PREFACIO

No momento em que os estudos sobre a escola capitalista demonsshy

tram a sua degeneraccedilatildeo e decomposiccedilatildeo o seu esvaziamento proposishy

tal e seu rebaixamento teoacuterico para desqualificar a formaccedilatildeo da classe

trabalhadora na mais tenra idade surge contraditoriamente fruto de

experiecircncias concretas no chatildeo desta mesma escola a obra organizada

por Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvalho Pereira Leonardo

Docena Pina e Renata Aparecida Alves Landim intitulada Pedagogia histoacuterico-criacutetica e Educaccedilatildeo Fiacutesica

Do que trata este livro que lhe confere uma singularidade iacutempar

em meio a confrontos e conflitos de classe cada vez mais acirrados

Como uma das autoras do Livro Metodologia do Ensino da

Educaccedilatildeo Fiacutesica (COLETIVO DE AUTORES 1992) e portanto

testemunha histoacuterica de um esforccedilo nacional de mais de 20 anos enshy

frentando a criacutetica a didaacutetica e a organizaccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico

na escola capitalista reconheccedilo que o propoacutesito dos autores do livro eacute

de vital importacircncia para a formaccedilatildeo escolarizada de crianccedilas e jovens

ms quais tecircm sido negados os conteuacutedos que permitem a humanizashy

ccedilatildeo como o satildeo os conteuacutedos da cultura corporal

Como demonstram os autores da obra - jovens intelectuais mili-

lanies culturais de formaccedilatildeo marxista - natildeo satildeo quaisquer conteuacutedos

I serem tratados na escola que garantiratildeo a humanizaccedilatildeo e natildeo eacute qual-

lt | i u t meacutetodo no trato com o conhecimento que asseguraraacute a formaccedilatildeo

lt miiK ipatoacuteria Satildeo conteuacutedos tratados com criteacuterios considerando a

iriicse o desenvolvimento a atribuiccedilatildeo de sentidos e significados agraves ati-

iilules corporais ao longo do percurso histoacuterico da humanidade Cri-

laquo nos que dizem respeito agraves capacidades cognoscentes e cognoscitivas

laquolltraquo estudantes compreendendo-as na totalidade do ser humano con-

lotmc e xplica a teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural a contemporanei-

raquobulllt laquolos conteuacutedos e seu conhecimento por sucessivas aproximaccedilotildees ao

iltlt n ui lura corporal que permitem os saltos qualitativos do

nm i iilo sincreacutetico e da mera sistematizaccedilatildeo de dados da realidade

i Ugtlt i u h t de novas siacutenteses qualitativamente superiores com autodeshy

terminaccedilatildeo e criatividade Aprimora-se assim pelas atividades corposhy

rais tratadas com o rigor do meacutetodo toda a capacidade do ser humano

Percurso este que deve ser recuperado por cada um de noacutes sem o qual

natildeo nos humanizamos E isto eacute possiacutevel pela educaccedilatildeo principalmente

escolarizada que forma seres humanos porque incide nas suas funccedilotildees

psicoloacutegicas superiores pelas atividades relacionais com os demais seres

humanos com a natureza com a cultura e consigo mesmo Por isto

esta obra eacute de fundamental importacircncia

Na introduccedilatildeo os autores Adriano de Paiva Reis Carla Cristina

Carvalho Pereira Hajime Takeuchi Nozaky Leonardo Docena Pina e

Renata Aparecida Alves Landim tratam de refletir sobre os limites e

possibilidades da discussatildeo sobre a didaacutetica da Educaccedilatildeo Fiacutesica Assushy

mem os autores a posiccedilatildeo teoacuterica e reconhecem que a ldquoperspectiva da

reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal presente no livro Metodologia

do Ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e denominada por noacutes de abordagem

Criacutetico-superadora foi eacute e seraacute um marco enquanto referecircncia mais

desenvolvida fundamentada em uma teoria marxista de educaccedilatildeo na

teoria psicoloacutegica histoacuterico-cultural na teoria do conhecimento mate-

rialista-histoacuterica-dialeacutetica e na Pedagogia histoacuterico-criacutetica

Justificam e assumem assim os autores que a Educaccedilatildeo Fiacutesica

ao transmitir os conhecimentos historicamente acumulados sobre a

cultura corporal se justifica na escola por socializar um conhecimento

essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade

A partir destas posiccedilotildees iniciais enfrentam o desafio e as difishy

culdades de organizarplanejarsistematizar o ensino da Educaccedilatildeo

Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corshy

poral Tensionam durante a obra o par dialeacutetico conteuacutedo-meacutetodo

modulador de alteraccedilotildees significativas na organizaccedilatildeo do trabalho

pedagoacutegico na salaquadra de aula e na escola

O trabalho com os professores da educaccedilatildeo baacutesica demonsshy

tra que aleacutem dos problemas na formaccedilatildeo faltam referecircncias conshy

cretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas com os diversos

conteuacutedos da cultura corporal E nesta busca lanccedilam-se os autoshy

res nos trazendo uma contribuiccedilatildeo de grande relevacircncia

O que eacute descrito no livro eacute fruto de um trabalho coletivo de mais de 20

professores e que ganha sistematizaccedilatildeo nos escritos destes jovens professores

que se dispuseram a ampliar os conhecimentos a respeito da metodologia

Criacutetico-superadora aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal

Tratam portanto da criacutetica agrave didaacutetica mas natildeo com a pretensatildeo

de resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

que estatildeo relacionados com as condiccedilotildees de vida e de trabalho dos

professores e estudantes Ou seja reconhecem as determinaccedilotildees da

economia poliacutetica que pesam sobre a escola e que natildeo seraacute somente

a iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores que resolveraacute a complexidade

que eacute o processo de destruiccedilatildeo das forccedilas produtivas a destruiccedilatildeo da

escola e a destruiccedilatildeo do trabalho pedagoacutegico

Com muita honestidade cientiacutefica reconhecem os limites da

discussatildeo didaacutetica frente ao problema da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica

mas ressaltam a importacircncia da obra para ampliar as possibilidades

de transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar

O livro estaacute organizado em oito capiacutetulos que se articulam de forma

consistente e coerente Inicialmente os autores propotildeem uma discussatildeo

de caraacuteter mais geral abordando a funccedilatildeo e especificidade da escola e da

Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemporacircneo A partir da delimitaccedilatildeo clara

da concepccedilatildeo de educaccedilatildeo e de Educaccedilatildeo Fiacutesica que defendem passam

entatildeo a discutir a praacutetica pedagoacutegica atraveacutes de uma seacuterie de artigos sobre

possibilidades de temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos da cultura

inrporal - jogos esporte luta ginaacutestica danccedila e circo

() texto assinado por Andreacute Silva Martins trata de questionar a

Iunccedilatildeo social da escola e dentro dela o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica

lis natildeo o faz desprovido de dados que permitem constatar e explicar

ltmio a Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar foi uma ativida-

llt lt tijltgt objetivo central era promover o desenvolvimento da aptidatildeo

i ilt j ltgt lt|iklsquo foi alterado como foram alteradas as bases econocircmica

| x raquoI i i h i da sociedade brasileira que implicaram em alteraccedilotildees na

oli i i onsequentemente na Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar

lt K iinores do texto sobre ldquoO ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica e

(bulliniHio de sujeitos histoacutericos em busca dos fundamentos

teoacutericos e metodoloacutegicosrdquo tratam de demonstrar o surgimento

de propostas com outros princiacutepios definidores para a praacutetica

pedagoacutegica nos idos dos anos 1980 e 1990 Tratam das propostas

demonstrando nexos e relaccedilotildees entre a metodologia do ensino

as teorias educacionais pedagoacutegica a teoria do conhecimento e

o projeto histoacuterico Anunciam assim em um trabalho coletivo

novas bases da Educaccedilatildeo Fiacutesica na Rede de Ensino

Com base nos estudos de Saviani (1987) sobre Escola e Deshy

mocracia satildeo discutidas as tendecircncias da educaccedilatildeo e levanta-se de

iniacutecio a hipoacutetese de que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas

ainda possuem um papel a cumprir mdash contribuir na superaccedilatildeo do

capitalismo com o que temos pleno acordo

Ao tecer criacuteticas agraves concepccedilotildees sobre a educaccedilatildeo escolar o livro

traz uma contribuiccedilatildeo agrave educaccedilatildeo em geral e para todas as aacutereas de coshy

nhecimento que se organizam no interior da escola Defende-se por

fim a finalidade da educaccedilatildeo escolar para a emancipaccedilatildeo humana

Ao apresentar a perspectiva marxista de emancipaccedilatildeo humana

Aacutelvaro de Azeredo Quelhas Adriano de Paiva Reis Carla Cristina

Carvalho Pereira Leonardo Docena Pina e Renata Aparecida Alves

Landim recuperam os elementos histoacutericos apresentados por claacutessishy

cos como Marx e Engels que permitem afirmar a existecircncia sim de

uma teoria marxista da educaccedilatildeo Teoria esta que vem sendo sisteshy

maticamente negada na formaccedilatildeo dos professores A partir da base

teoacuterica mais geral adentram nas sistematizaccedilotildees sobre Educaccedilatildeo e

Trabalho para por fim reconhecer a importacircncia da mediaccedilatildeo da

Pedagogia histoacuterico-criacutetica na construccedilatildeo da metodologia do ensino

dos conteuacutedos especiacuteficos da cultura corporal na escola destacando

a obra Metodologia do Ensino de Educaccedilatildeo Fiacutesica do Coletivo de Aushy

tores (1992) obra onde eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal visando elevar a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enshy

quanto sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em

que vive Para tanto parte-se da praacutetica social que eacute problematizada

pela constataccedilatildeo sistematizaccedilatildeo compreensatildeo e explicaccedilatildeo cientiacutefishy

ca do real visando a praacutexis revolucionaacuteria criativa superadora o que

somente eacute possiacutevel com a ampliaccedilatildeo aprofundamento do conhecishy

mento historicamente acumulado e a autodeterminaccedilatildeo dos estushy

dantes Daiacute a relevacircncia social do trato com os conteuacutedos segundo

a teoria do conhecimento dialeacutetica-materialista-histoacuterica Portanto

natildeo seraacute qualquer conteuacutedo e muito menos qualquer meacutetodo para

tratar o conhecimento que permitiraacute a elevaccedilatildeo da capacidade teoacuterishy

ca dos estudantes E necessaacuterio o meacutetodo explicado e demonstrado

por Marx e Engels aplicado ao ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica na escola

- o meacutetodo materialista histoacuterico-dialeacutetico enquanto loacutegica e teoria

do conhecimento

Nos capiacutetulos seguintes a coerente e consistente abordagem

teoacuterica eacute demonstrada no trato com ldquoA produccedilatildeo da cultura luacutedica

em jogos eletrocircnicos rdquo texto de autoria de Renata Aparecida Alves

Landim Victoacuteria de Faacutetima de Mello Priscila Rocha Rodrigues e

Thiago Barreto Maciel Os autores partem da praacutetica social conshy

creta para chegar a uma nova siacutentese superior sobre este conteuacutedo

permitindo agraves crianccedilas e jovens se apropriarem de elementos da

cultura que por si soacute natildeo se datildeo a conhecer

No texto de autoria de Leonardo Docena Pina Carlos Edushy

ardo de Souza Mocircnica Jardim Lopes eacute demonstrado o meacutetodo de

elevaccedilatildeo da capacidade de reflexatildeo dos estudantes sobre a cultura

inrporal no trato com o conteuacutedo esporte e sauacutede O texto intitu-

lido ldquoAs relaccedilotildees entre esporte e sauacutede no capitalismo tematizando

i oiuradiccedilotildees na educaccedilatildeo escolarrdquo demonstra todo o processo que

v ulmina na nova siacutentese qualitativamente superior ao conhecimento

lt aoacuteiico sincreacutetico sobre o tema demonstrado no iniacutecio

Para tratar do conteuacutedo lutas delimitou-se ldquoO MM A como

nova lace da luta espetaacuteculordquo Os autores Renata Aparecida Alves Lanshy

dim Adriano de Paiva Reis Grazyani Penna Dias e Rafael Loures dos

K r Hcllei usaram com rigor o meacutetodo partindo da praacutetica social e a

bull u iornuido apoacutes um processo de problematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de

1 11u i i i i k i u o s sem os quais natildeo se explica o fenocircmeno atual das lutas

thim io ao conteuacutedo danccedila os autores Carla Cristina Carvalho

INlt ii i iliimo de Paiva Reis Giovana de Carvalho Castro Marcelo

monstrar a loacutegica no trato com o conhecimento dentro da rigorosidade

do meacutetodo Demonstram tambeacutem a elevaccedilatildeo do pensamento teoacuterico

dos estudantes sobre o assunto O texto ldquoA voz da periferia o Hip Hop

enquanto possibilidade de trabalho nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo eacute um

primor e contribuiraacute muito para consubstanciar uma abordagem mais

rigorosa de conteuacutedos contemporacircneos nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

No trato com o conteuacutedo da ginaacutestica no capiacutetulo intitulado

ldquoA disciplinarizaccedilatildeo dos corpos por meio da ginaacutesticardquo os autores

Leonardo Docena Pina Miguel Fabiano de Faria Nathaacutelia Sixel Roshy

drigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees conseguem elevar a

capacidade dos estudantes de elaborarem uma siacutentese qualitativa no

pensamento que permitiraacute a autodeterminaccedilatildeo para a praacutetica corposhy

ral de um conteuacutedo vital e que vem sendo negligenciado na escola

A retomada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica do conteuacutedo circo

conforme propotildeem Adriano de Paiva Reis Carla Cristina Carvashy

lho Pereira e Frederico Duarte Gomes Tostes demonstra como um

conteuacutedo histoacuterico que data na origem dos tempos do feudalismo

pode adquirir um sentido e um significado humanamente elevado

pelo entendimento compreensatildeo e elaboraccedilatildeo de novas possibilidashy

des de accedilatildeo No trato com o conteuacutedo das atividades circenses no

texto intitulado ldquoO lugar e hora do circo na escola reflexatildeo sobre

a reinvenccedilatildeo da cultura circense na sociedade contemporacircneardquo os

autores demonstram o criteacuterio da rigorosidade e seriedade cientiacutefica

para tratar de um conteuacutedo da cultura que nos permite conhecer

compreender explicar e criar possibilidades riquiacutessimas de atividashy

des culturais com sentido e significado humanizante

Prezados leitores ressalto que esta obra eacute singular relevante e

vital porque como dizem os autores em um dos textos ldquoEm tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas as esferas da vida a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda maior Epreciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabalhadora construshyamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contribuindo para a desmistifiacutecaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta rdquo

12

tivos de Autores no Brasil e quiccedilaacute na Ameacuterica Latina que de norte

a sul de leste a oeste estatildeo recuperando desenvolvendo utilizanshy

do outros paracircmetros teoacutericos-metodoloacutegicos sintonizados com oushy

tro projeto histoacuterico superador agrave loacutegica do capital e portanto com a

perspectiva de formaccedilatildeo humana emancipatoacuteria significando isto a

superaccedilatildeo da sociedade de classes

Com esta obra juntamente com outras de igual propoacutesito

consolida-se no Brasil uma Educaccedilatildeo Fiacutesica de base marxista Cons-

troi-se assim tambeacutem pela via do trabalho pedagoacutegico a subjetivishy

dade humana visto que as condiccedilotildees objetivas para a revoluccedilatildeo jaacute

estatildeo postas faltam as condiccedilotildees subjetivas As forccedilas produtivas

deixaram de crescer e estatildeo em franca destruiccedilatildeo A isto reage este

jovem COLETIVO DE AUTORES que nos alenta a seguirmos

perseguindo em tempos de transiccedilatildeo um outro modo de produccedilatildeo

da vida Que todas as crianccedilas jovens e adultos das escolas puacuteblishy

cas na cidade e no campo tenham garantida esta qualidade aqui

demonstrada no ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica

Celi Nelza Zuumllke Tajfarel

(Universidade Federal da Bahia - UFBA)

INTRODUCcedilAtildeO

LIMITES E POSSIBILIDADES DA DISCUSSAtildeO SOBRE DIDAacuteTICA DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA

Adriano de Paiva Reis

Carla Cristina Carvalho Pereira

Hajime Takeuchi Nozaki

Leonardo Docena Pina

Renata Aparecida Alves Landim

Por mais de um seacuteculo a histoacuteria da

Educaccedilatildeo Fiacutesica dentro do curriacuteculo escolar

foi marcada por sua caracterizaccedilatildeo como uma

atividade cujo objetivo central era promover

0 desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica dos indishy

viacuteduos A partir do final da deacutecada de 1970

acompanhando um amplo movimento de luta

pela redemocratizaccedilatildeo da sociedade brasileira

assistimos a um periacuteodo de denuacutencias sobre o

atrelamento da aacuterea a uma concepccedilatildeo exclushy

sivamente bioloacutegica de homemmovimento

que cumpria um papel conservador no que

tange agraves relaccedilotildees sociais

Apoacutes esse periacuteodo de criacuteticas sobretudo

ao final dos anos de 1980 e iniacutecio dos anos

de 1 990 comeccedilam a surgir novas propostas

para a Educaccedilatildeo Fiacutesica definindo princiacutepios

identificadores de uma nova praacutetica pedashy

goacutegica Desde entatildeo podemos evidenciar

diversos avanccedilos no sentido da construccedilatildeo

di Educaccedilatildeo Fiacutesica como componente cur-

liiulnr tanto no plano da legislaccedilatildeo e das

01 ieniaccedilotildees educacionais como no plano das

propostas construiacutedas e implementadas em diversas redes de ensino

pelo paiacutes Mas no que pese todo esse avanccedilo produzido a crise no campo teoacuterico (FRIGOTTO 2001) acabou por influenciar a redefishy

niccedilatildeo das propostas pedagoacutegicas criacuteticas da aacuterea que passaram a ser

consideradas muitas vezes insuficientes inadequadas e ateacute mesmo

ultrapassadas para atender agraves supostas demandas de um novo mundoConsiderando que os fundamentos centrais da sociedade na qual

vivemos se mantecircm presentes ainda hoje embora com bases renovashy

das compreendemos que as pedagogias criacuteticas natildeo reprodutivistas

ainda possuem um papel a cumprir qual seja o de contribuir para a

superaccedilatildeo do capitalismo - e de todas as formas de opressatildeo que se

intensificam nesse modo de produccedilatildeo da existecircncia humana1

Nessa linha reconhecemos que a perspectiva da reflexatildeo criacutetica soshybre a cultura corporal (COLETIVO DE AUTORES 1992)2 tambeacutem

conhecida como ldquoabordagem Criacutetico-superadorardquo foi um marco mdash e

ainda se manteacutem como referecircncia mais desenvolvida mdash para a Educashy

ccedilatildeo Fiacutesica uma vez que ao se fundamentar na Pedagogia histoacuterico-

-criacutetica articulou esse componente curricular ao que haacute de mais avanshy

ccedilado no debate sobre o papel da escola sendo capaz de entrelaccedilar a

formaccedilatildeo humana aos interesses e necessidades da classe trabalhadora

A partir da delimitaccedilatildeo de uma aacuterea de conhecimento denominada

de cultura corporal essa perspectiva definiu a Educaccedilatildeo Fiacutesica como

disciplina responsaacutevel por promover na escola uma tematizaccedilatildeo soshy

bre a relaccedilatildeo dos grandes problemas sociais contemporacircneos com os

conteuacutedos jogos danccedilas lutas ginaacutestica esporte malabarismo con-

torcionismo miacutemica e outros (COLETIVO DE AUTORES 1992)

A transmissatildeo dos conhecimentos historicamente acumulados sobre

a cultura corporal define a especificidade pedagoacutegica da Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica sua presenccedila na escola justifica-se por socializar um saber que

1 Adotamos a classificaccedilatildeo das pedagogias - em criacuteticas e natildeo criacuteticas - elaboradas por Saviani

(2006)

2 Tendo em visra o processo histoacuterico que envolveu a elaboraccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do livro

Metodologia do Ensino da Educaccedilatildeo Coletivo de Autores foi o termo adotado originalmente

para designar sua autoria expressando um sentido poliacutetico e o esforccedilo de ratificar o caraacuteter

coletivo e o projeto histoacuterico com o qual a obra estava articulada no contexto de sua

publicaccedilatildeo pela editora Cortez em 1992

16

natildeo eacute transmitido pelas demais disciplinas mas que se constitui como

elemento essencial agrave formaccedilatildeo humana e agrave leitura criacutetica da realidade

Apesar do avanccedilo teoacuterico promovido pelas recentes discussotildees

sobre a Pedagogia histoacuterico-criacutetica e a metodologia Criacutetico-supera-

dora deparamo-nos com inuacutemeros depoimentos de professores da

educaccedilatildeo baacutesica sobre a dificuldade de organizarplanejarsistematishy

zar o ensino da Educaccedilatildeo Fiacutesica com base na perspectiva da reflexatildeo

criacutetica sobre a cultura corporal Aleacutem das criacuteticas aos cursos de forshy

maccedilatildeo de professores da aacuterea muitas vezes voltados aos campos natildeo

escolares de atuaccedilatildeo e subordinados agrave dimensatildeo predominantemenshy

te bioloacutegica de ser humano os professores tecircm se queixado da falta

de referecircncias concretas para a construccedilatildeo de praacuteticas pedagoacutegicas

com os diversos conteuacutedos da cultura corporal3

A constataccedilatildeo desses problemas e desafios impulsionou a organishy

zaccedilatildeo de um grupo - composto predominantemente por professores

da rede puacuteblica municipal de Juiz de Fora mdash com o objetivo de amshy

pliar os conhecimentos a respeito da metodologia Criacutetico-superadora

aleacutem dos diferentes conteuacutedos da cultura corporal Hoje o grupo eacute

formado por cerca de vinte professores e conta com assessoria de dois

docentes da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz

de Fora4 os quais tecircm dialogado conosco ao longo do processo

Sem viacutenculo institucional nem apoio financeiro para pesshy

quisa o grupo tem se dedicado agrave realizaccedilatildeo de estudos pesquisas

e experiecircncias voltadas ao aprimoramento de nossa praacutetica pedashy

goacutegica na escola Apoacutes dois anos de trabalho conjunto sentimos

a necessidade de dar um passo a mais qual seja o de iniciar a soshy

cializaccedilatildeo das experiecircncias pedagoacutegicas desenvolvidas nas escolas

municipais de Juiz de Fora A elaboraccedilatildeo dessa obra surgiu porshy

tanto a partir da necessidade de ampliar nossos conhecimentos

sobre os conteuacutedos da cultura corporal e suas possibilidades de

abordagem metodoloacutegica na escola A constituiccedilatildeo de um grupo

envolvendo professores da rede puacuteblica municipal e federal pershy

3 A respeito da problemaacutetica referente agrave formaccedilatildeo de professores no contexto atual

sugerimos a leitura dos estudos de Costa (2009) Arce (2000) e Teixeira (2009)

4 Estamos nos referindo aos professores Aacutelvaro de Azeredo Quelhas e Andreacute Silva Martins

mitiu o estudo debate e sistematizaccedilatildeo de experiecircncias pedagoacuteshy

gicas desenvolvidas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Consideramos que a divulgaccedilatildeo dessas experiecircncias pode

constituir-se como instrumento para o aprimoramento da praacutetica

pedagoacutegica em Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo soacute porque socializa os planos

de unidade desenvolvidos juntamente com textos de fundamenshy

taccedilatildeo teoacuterica de cada conteuacutedo trabalhado mas tambeacutem porque

contribui para que outros professores se insiram no debate consshy

truam novas experiecircncias eou discutam novas possibilidades

E importante destacar que ao reconhecermos a importacircncia do

debate sobre a didaacutetica para o aprimoramento do trabalho pedagoacutegishy

co nas escolas natildeo o consideramos suficiente para resolver o problema

do ensino na Educaccedilatildeo Fiacutesica Ou seja nossa iniciativa embora seja

importante e necessaacuteria natildeo tem a pretensatildeo nem a capacidade de

resolver os problemas encontrados nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Aleacutem das limitaccedilotildees que envolvem muitos cursos de formaccedilatildeo

de professores encontramos outras determinaccedilotildees que acabam por

contribuir para que a escola natildeo cumpra seu papel de transmissatildeo do

conhecimento Embora natildeo sejamos capazes de reunir neste artigo

todos os problemas encontrados em grande parte das escolas da rede

puacuteblica municipal de ensino faz-se necessaacuterio destacar em linhas geshy

rais que as condiccedilotildees de vida (e de trabalho) de grande parte dos

professores e alunos natildeo satildeo muito favoraacuteveis Soma-se a isso o fato

de que as estruturas fiacutesicas precaacuterias recursos materiais insuficientes

grande nuacutemero de alunos por turmas e pouco reconhecimento profisshy

sional tendem a dificultar ainda mais o desenvolvimento do trabalho

do prazer e da vontade de lecionar Tambeacutem natildeo podemos deixar de

destacar que em muitos casos a Educaccedilatildeo Fiacutesica assume o posto de

disciplina de segundo escalatildeo sobretudo nas escolas de Educaccedilatildeo Inshy

fantil e dos anos iniciais do ensino fundamental onde os professores

de Educaccedilatildeo Fiacutesica Artes e Muacutesica por exemplo dificilmente partishy

cipam do conselho de classe o que evidencia a (des)valorizaccedilatildeo de sua

atividade docente na escola frente outras disciplinas como Portuguecircs

e Matemaacutetica consideradas mais importantes sob a oacutetica do capital

18

Consideramos que o professor mdash das diferentes aacutereas do conhecimento

- tem o papel de transmitir o conhecimento cientiacutefico artiacutestico e filosoacutefico

aos alunos mas natildeo compreendemos que sua funccedilatildeo possa ser tatildeo facilshy

mente exercida como supotildeem os defensores do neoprodutivismo para os

quais se espera que o docente exerccedila todo um conjunto de funccedilotildees com o

maacuteximo de produtividade e o miacutenimo de dispecircndio isto eacute com modestos

salaacuterios5 Compreendemos conforme destaca Saviani (2011) que se o proshy

fessor fosse bem remunerado no acircmbito de uma carreira docente que lhe

garantisse jornada integral em uma uacutenica escola ele poderia exercer sem

maiores problemas muitas funccedilotildees a ele atribuiacutedas Mas natildeo eacute esse o caso

Analisando a precarizaccedilatildeo do trabalho do professor Costa (2009)

evidencia que as consequecircncias da alienaccedilatildeo na atividade docente natildeo

se restringem ao ensino e a aprendizagem mas envolvem a proacutepria vida

do professor A autora constata que o processo de alienaccedilatildeo constroacutei

uma relaccedilatildeo professoresalunos distorcida em que os

segundos passam a imputar aos professores o tratamenshy

to que deveriam dar aos reais representantes da violecircnshy

cia do Estado burguecircs que os tem oprimido durante

toda a sua trajetoacuteria escolar E os professores passam

a ver os alunos como aqueles que materializam a falta

de respeito e o desprestiacutegio da categoria profissional na

sociedade nas manifestaccedilotildees de falta de respeito e ateacute

mesmo a violecircncia (COSTA 2009 p 72)

Natildeo obstante a alienaccedilatildeo do trabalho do professor ainda

gera desumanizaccedilatildeo o mais violento de todos os aspectos Conshy

forme afirma Costa (2009) o professor nem sempre tem a opccedilatildeo

de buscar outras formas para suprir sua subsistecircncia

Os seres humanos submetidos agrave alienaccedilatildeo mesmo vivenshy

do o sofrimento no trabalho o desgaste fiacutesico e mental a

dilapidaccedilatildeo moral ainda assim permanecem em relaccedilotildees

de trabalho destrutivas ateacute esgotarem os limites de suas

capacidades ou ateacute serem descartados pelo capital Nesse

momento em geral as consequecircncias vividas pelo trabalho

jaacute satildeo irreversiacuteveis Embora experimente a deterioraccedilatildeo de

sua sauacutede a negaccedilatildeo da natureza formativa da educaccedilatildeo

presente todos ograves dias nas ingerecircncias das mantenedoras e

5 Sobre o neoprodutivismo na educaccedilatildeo escolar brasileira conferir Saviani (2011)

do Estado na sua atividade laborai o professor natildeo pode

se furtar ao trabalho como meio de subsistecircncia devido agrave

sua dependecircncia total da vida urbana e do consumo que

ela impoacutee assim como ocorre com todas as outras categoshy

rias do proletariado (COSTA 2009 p 76-77)

Ao abordar essas reflexotildees buscamos explicitar nossa discordacircncia em

relaccedilatildeo agraves perspectivas ideoloacutegicas predominantes defensoras da ideia de

que o ecircxito da escola e da poliacutetica educacional que a orienta depende apenas

da iniciativa e dedicaccedilatildeo dos professores Atualmente fala-se muito no proshy

fessor como protagonista da mudanccedila mas natildeo lhe satildeo oferecidas muitas

condiccedilotildees para isso Defende-se que o professor assuma uma postura inoshy

vadora desenvolva praacuteticas de ensino renovadas busque o conhecimento

produzido ainda que as condiccedilotildees sejam muito desfavoraacuteveis para tanto

Conforme alerta Duarte (2006) a ideia comumente defendida pelos meios

de comunicaccedilatildeo eacute a de que o professor deve ser ldquogente que fazrdquo

Naacuteo eacute mero acaso que atualmente seja taacuteo difundido em

educaccedilatildeo o discurso voltado para as caracteriacutesticas definishy

doras de um bom professor de um professor que reflete

sobre sua praacutetica e realiza um trabalho de qualidade messhy

mo em condiccedilotildees adversas Uma variante desse discurso eacute

aquela em que em vez de falar-se de um professor que eacute

gente que faz fala-se de uma escola em que os professores

coletivamente de preferecircncia de matildeos dadas com a comushy

nidade transformam em exemplo de sucesso escolar Em

nome da superaccedilatildeo dos discursos imobilistas eacute adotado

um discurso no qual a passagem do fracasso ao sucesso

torna-se uma questatildeo de forccedila de vontade de alguns indishy

viacuteduos ou melhor de um coletivo de uma comunidade

O resultado ideoloacutegico pretendido ou natildeo eacute bastante

claro o descompromisso do Estado a despolitizaccedilatildeo dos

problemas educacionais e a abdicaccedilatildeo do ideal de lutar por

uma transformaccedilatildeo radical da sociedade pela superaccedilatildeo

do capitalismo e pela construccedilatildeo de uma sociedade sociashy

lista A saiacuteda passa a ser a das soluccedilotildees locais comunitaacuterias

individuais (DUARTE 2006 p 141)

Feitas essas consideraccedilotildees sintetizamos nossa compreensatildeo soshy

bre os limites da discussatildeo didaacutetica que apresentamos neste livro

Trata-se de uma discussatildeo insuficiente se considerarmos o problema

da educaccedilatildeo puacuteblica baacutesica em sua radicalidade mas ao mesmo

20

tempo importante uma vez que pode ampliar as possibilidades de

transmissatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica

O presente livro organizado numa perspectiva de unidade realiza

nos dois primeiros artigos uma discussatildeo de caraacuteter mais geral sobre a

funccedilatildeoespecificidade da escola e da Educaccedilatildeo Fiacutesica no mundo contemshy

poracircneo Os demais artigos abordam possibilidades de desenvolvimento

de praacuteticas pedagoacutegicas com temas atuais dentro dos diversos conteuacutedos

da cultura corporal circo lutas ginaacutestica danccedila jogos e esporte

As experiecircncias pedagoacutegicas apresentadas foram desenvolvidas

com a segunda etapa do Ensino Fundamental e com o Ensino Meacuteshy

dio mas obviamente podem sofrer adaptaccedilotildees para serem tratadas

em outros niacuteveis de ensino Os artigos que tratam dos conteuacutedos da

cultura corporal nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica foram redigidos em subshy

grupos de autores coordenados pelos organizadores da obra e ao final

do processo todos os artigos foram lidos e discutidos coletivamente

Apesar de consideramos a capoeira como um conteuacutedo esshy

peciacutefico e importante da cultura corporal ela natildeo foi abordada

neste livro devido aos limites espaciais e temporais para conclushy

satildeo da obra No nosso planejamento inicial constava um artigo

especiacutefico para abordar esse conteuacutedo poreacutem com o andamento

do estudo constatamos que natildeo teriacuteamos tempo suficiente para

ibordaacute-lo Assim fazemos questatildeo de destacar que assumimos a

iiiscncia da capoeira como uma diacutevida e reafirmamos a necessida-

ilr de abordaacute-la em publicaccedilotildees e debates posteriores

( )s temas selecionados buscaram relacionar os conteuacutedos da cultura

iniporal a problemas sociais presentes na praacutetica social dos alunos bus-

i nulo ultrapassar a simples praacutetica pela praacutetica e promover uma reflexatildeo

i tiacutetii a sobre o modo como os jogos as lutas as danccedilas os esportes os

ru iacutecios ginaacutesticos as atividades circenses se expressam em nosso temshy

po I Vsse modo uma questatildeo que atravessou todos os planos de unidade

i i sltnuinte como a cultura corporal patrimocircnio da humanidade tem

I bull ipKgtpriada e subordinada agrave dinacircmica do consumo capitalista

Irsquooi iacuteim gostariacuteamos de registrar nossos agradecimentos pela

i pouibilizaccedilatildeo dos recursos para a publicaccedilatildeo desta ediccedilatildeo do

livro por meio do Fundo de Apoio agrave Pesquisa na Educaccedilatildeo Baacutesica

- FAPEB mdash da Prefeitura de Juiz de Fora A busca de um financiashy

mento puacuteblico e a distribuiccedilatildeo gratuita dessa obra estaacute relacionada

agrave nossa perspectiva de produccedilatildeoapropriaccedilatildeo coletiva do conhecishy

mento Agradecemos ainda a todos os professores e alunos que

estiveram envolvidos na realizaccedilatildeo desse projeto permitindo divishy

dir experiecircncias e construir conhecimentos que agora socializamos

neste livro

Referecircncias

ARCE A A formaccedilatildeo de professores sob a oacutetica construtivista primeiras aproximashy

ccedilotildees e alguns questionamentos In DUARTE N (org) Sobre o construti-

vismo Campinas Autores Associados 2000

COLETIVO DE AU 1ORES Metodologia do ensino de Educaccedilatildeo Fiacutesica Satildeo

Paulo Cortez 1992

COSTA A Entre a dilapidaccedilatildeo moral e a missatildeo redentorista o processo de alienashy

ccedilatildeo no trabalho dos professores do ensino baacutesico brasileiro In COSTA A

NETO E SOUZA G (Org) A proletarizaccedilatildeo do professor neoliberalis-

mo na educaccedilatildeo 2 ed Satildeo Paulo Sundermann 2009 p 59-100

DUARTE N Vigotski e o ldquoaprendera aprenderrdquo apropriaccedilotildees neoliberais e poacutes-

-modernas da teoria vigotskiana 4 ed Campinas Autores Associados 2006

FRIGOTTO G A nova e a velha faces da crise do capital e o labirinto dos reshy

ferenciais teoacutericos In FRIGOTTO G CIAVATTA M (Org) Teoria e

educaccedilaacuteo no labirinto do capital 2 ed Petroacutepolis Vozes 2001 p 23-50

SAVIANI D Escola e democracia 38 ed Campinas Autores Associados 2006

_______ Histoacuteria das ideias pedagoacutegicas no Brasil 3 ed Campinas Autores

Associados 2011

TEIXEIRA L A poliacutetica de formaccedilatildeo docente no Brasil fundamentos teoacutericos

e epistemoloacutegicos In Reuniatildeo Anual da ANPED 32 2009 Caxambu

Anais Caxambu ANPED 2009 p 1-17

CAPIacuteTULO I

SOBRE A FUNCcedilAtildeO E ESPECIFICIDADE DA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR NO M UNDO CONTEMPORAcircNEO

Andreacute Silva Martins

O presente capiacutetulo tem por objetivo apreshy

sentar uma reflexatildeo sobre a funccedilatildeo e especificishy

dade da educaccedilatildeo escolar na atualidade Nossa

intenccedilatildeo mais ampla eacute problematizar as perspecshy

tivas relacionadas agrave funccedilatildeo social da escola e sua

especificidade no processo de formaccedilatildeo humashy

na procurando indicar uma alternativa poliacutetico-

-pedagoacutegica aos discursos e praacuteticas dominantes

As questotildees que orientam nossa reflexatildeo

podem ser assim descritas Qual a funccedilatildeo

social da instituiccedilatildeo escolar na atualidade

A instituiccedilatildeo escolar possui uma especificishy

dade frente os demais processos formativos

de nossa sociedade Quais satildeo os desafios da

Escola Puacuteblica brasileira no seacuteculo XXI

Para responder estas questotildees organizashy

mos o texto em trecircs partes Na primeira busshy

camos recuperar a gecircnese da instituiccedilatildeo escoshy

lar e sua especificidade no processo formativo

Em seguida realizamos uma anaacutelise sobre duas

concepccedilotildees que vecircm orientando a definiccedilatildeo da

finalidade da educaccedilatildeo escolar Por fim com

base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica apresentashy

mos uma siacutentese do que pode vir a ser a insshy

tituiccedilatildeo escolar na atualidade tendo em vista

os interesses da ampla maioria da populaccedilatildeo

Nossa expectativa eacute contribuir para as reflexotildees sobre o tema e oferecer

elementos para a compreensatildeo criacutetica da funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar

Sobre a gecircnese da instituiccedilatildeo escolar

A escola eacute uma instituiccedilatildeo social relativamente nova que se

consolidou e se popularizou a partir do processo de intensificaccedilatildeo

da complexidade da vida social gerada pelas mudanccedilas nas relaccedilotildees

sociais envolvendo o crescimento da urbanizaccedilatildeo e desenvolvimenshy

to do industrialismo sobre as formas tradicionais de estruturaccedilatildeo de

poder e de redefiniccedilatildeo das bases de produccedilatildeo material e simboacutelica

vinculadas agrave existecircncia humana Isso significa que a instituiccedilatildeo esshy

colar surge como expressatildeo cultural de um tempo histoacuterico com a

finalidade de assegurar uma especificidade na formaccedilatildeo humana

Antes da existecircncia da escola nas sociedades tradicionais os proshy

cessos formativos se realizavam diretamente nas dinacircmicas de constishy

tuiccedilatildeo da vida natildeo requerendo maiores exigecircncias muito menos ritos

formais para sua ocorrecircncia No cotidiano as trocas de conhecimentos

gerados pela experiecircncia geracional ou pela vida cotidiana de uma dada

comunidade constituiacuteam a base dos processos formativos necessaacuterios agrave

construccedilatildeo da vida A educaccedilatildeo fluiacutea nas dinacircmicas de trabalhovida

sem delimitaccedilotildees mais precisas de tempo e espaccedilo A experiecircncia e a

informalidade se constituiacuteam como referecircncias dos processos formatishy

vos Nessa dinacircmica o domiacutenio de conhecimentos sistematizados era

dispensaacutevel ao homem comum A formaccedilatildeo intelectual era restrita aos

pequenos grupos que atuavam em funccedilotildees administrativas e clericais

Quando muito com raras exceccedilotildees o acesso do povo aos rudimentos

da leitura e da escrita ficava circunscrito agraves iniciativas isoladas princishy

palmente a cargo de ordens religiosas que reforccedilavam a manutenccedilatildeo da

ordem estabelecida (FERREIRA 2001) ou a grupos de artesatildeos preoshy

cupados com a organizaccedilatildeo da produccedilatildeo (ENGUITA 1989)

O processo social poliacutetico e econocircmico de ruptura com a trashy

diccedilatildeo feudal protagonizada pela classe burguesa nas sociedades eushy

ropeias produziu novas determinaccedilotildees para que a formaccedilatildeo humana

ultrapassasse as referecircncias educativas precedentes Em outras pala-

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vras a dinacircmica social emergente apresentava os primeiros sinais de

que a experiecircncia e a informalidade ofereciam sinais de esgotamenshy

to isso porque estavam em curso novas exigecircncias para organizar a

vida social e os meios necessaacuterios agrave sua existecircncia

A valorizaccedilatildeo do chamado ldquohomem-livrerdquo a ideia de progresso as

formas emergentes de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de mercadorias e a defesa da

propriedade privada no centro da vida social que foram sendo consolidadas

apoacutes as revoluccedilotildees burguesas exigiam novas referecircncias educativas Na conshy

cepccedilatildeo da classe emergente a massa populacional disforme e sem identishy

dade poliacutetico-ideoloacutegica precisava ser preparada para ocupar o seu lugar na

nova ordem a partir de novas regras sociais de vida e trabalho A imagem do

atraso representado pelo camponecircs isolado e restrito ao espaccedilo rural precishy

sava ser substituiacuteda pela simbologia do progresso representada pelo homem

urbano - trabalhador ldquolivrerdquo Organizado na cidade envolvido nas relaccedilotildees

comerciais de novo tipo e envolvido na passagem da oficina para manufashy

tura e desta para a induacutestria nascente o ldquonovo homemrdquo deveria ser disciplishy

nado socialmente para compreender os novos coacutedigos culturais Se para os

adultos da classe trabalhadora a vida urbana continha os elementos educashy

tivos da disciplina social capitalista principalmente os de caraacuteter repressivo

a educaccedilatildeo das crianccedilas urbanas para a vida social exigia um pouco mais O

surgimento da escola de massas tem suas origens vinculadas a esse processo

de longa duraccedilatildeo confirmada na consolidaccedilatildeo do periacuteodo histoacuterico denoshy

minado de modernidade A especificidade da escola residia na compreenshy

satildeo de que algo a mais deveria ser oferecido ultrapassando as experiecircncias

educativas realizadas pela famiacutelia pelas religiotildees pela convivecircncia

Em ritmos diversos a expansatildeo da instituiccedilatildeo escolar puacutebli-

1 foi se tornando uma realidade nas formaccedilotildees sociais em geral

viabilizada por meio do Estado capitalista Aleacutem da escolarizaccedilatildeo

obrigatoacuteria com extensatildeo restrita foram sendo instituiacutedas bases

rei ais para o ensino realizado na escola puacuteblica de massas O do-

miacutenkrdos rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo passou a

laei parte da formaccedilatildeo do trabalhador urbano O desafio era for-

1 1 1 i eorporcidade infantil (o sentirpensaragir) desde cedo dentro

ilo ideal do ldquohomem novordquo

As teacutecnicas de ensino e de controle bem como a organizaccedilatildeo do

espaccedilo e das rotinas marcaram a constituiccedilatildeo da escola moderna Sem

elidir outros processos educativos a instituiccedilatildeo escolar foi se tornando

importante instrumento do processo civilizatoacuterio capitalista

Enquanto a escola de massas assumiu a educaccedilatildeo das crianccedilas da

classe trabalhadora para o exerciacutecio da submissatildeo intelectual e moral

formando o cidadatildeo-trabalhador produtivo da modernidade outro tipo

de escola foi assegurado para a preparaccedilatildeo ampla de grupos de crianccedilas

e adolescentes da classe burguesa As distinccedilotildees fundamentais do proshy

cesso formativo dos dirigentes e dirigidos se expressaram no tempo de

escolarizaccedilatildeo no espaccedilo destinado agraves praacuteticas educativas bem como na

quantidade-qualidade de acesso aos conhecimentos sistematizados Inshy

distintamente a racionalizaccedilatildeo do processo pedagoacutegico buscou responshy

der agraves especificidades do papel econocircmico-poliacutetico das classes sociais

tendo como referecircncia a dinacircmica da vida urbano-industrial1 e a necesshy

sidade dos coacutedigos culturais Vale lembrar que o princiacutepio do dualismo

educacional jaacute havia sido traccedilado por John Locke no seacuteculo XVII antes

mesmo do advento da escolarizaccedilatildeo de massas (ENGUITA 1989)

Mesmo oferecendo um acesso restrito ao conhecimento sisshy

tematizado e assegurando uma formaccedilatildeo intelectual e moral para

a submissatildeo a escola para os trabalhadores foi sendo consolidada

nas formaccedilotildees sociais capitalistas a partir do reconhecimento de

sua contribuiccedilatildeo especiacutefica dentro do processo educativo mais

amplo Embora este processo tenha se dado em ritmo variado -

dependendo do reconhecimento da classe dominante sobre a im shy

portacircncia da ampliaccedilatildeo do domiacutenio dos coacutedigos culturais e das

lutas travadas em torno do acesso agrave educaccedilatildeo - a escola foi sendo

legitimada por sua especificidade educativa Sobre este processo

mais geral Ferreira (2001 p 193) observa que

Chegados agrave transiccedilatildeo do seacuteculo X IX para o seacutecushy

lo XX a burguesia sustenta e participa do poder

1 Enquanto a educaccedilatildeo da populaccedilatildeo infantil da classe trabalhadora das cidades passou a

ser ordenada pelo menos enquanto tendecircncia em edificaccedilotildees projetadas para tal fim pela

adoccedilatildeo de turmas seriadas por programas bem definidos e com professores treinados a

educaccedilatildeo no campo ainda que concentrando boa parcela das crianccedilas seguiu marcada

pelo improviso de instalaccedilotildees de recursos didaacuteticos e de pessoal

mas hesita entre a cultura do passado e a dinacircmica

imposta pelo progresso A burguesia sabe por exshy

periecircncia proacutepria que nada eacute definitivo e uniforshy

me Mas tambeacutem sabe que a sociedade burguesa

precisa de ordem e estabilidade e que os interesshy

ses divergentes que encerra podem arruinaacute-la Ela

precisa por isso estar bem informada para agir

em conformidade com o momento Necessita soshy

bretudo de dominar os saberes que lhe asseguram

a administraccedilatildeo do poder Ela sabe que a compeshy

tecircncia eacute a qualidade chave do sucesso A escola

tem sido fundamentalmente uma instituiccedilatildeo cara

agrave burguesia Isso natildeo significa que natildeo tenha sido

uacutetil a outras forccedilas sociais e que natildeo tenha servido

interesses contraacuterios aos dos burgueses

A histoacuteria da escolarizaccedilatildeo na formaccedilatildeo social brasileira seshy

guiu pelo menos enquanto tendecircncia o movimento educacional

das formaccedilotildees capitalistas centrais No entanto considerando

que o Brasil foi palco de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo tardia sob

mediaccedilatildeo de uma revoluccedilatildeo burguesa de tipo natildeo-claacutessica (FERshy

NANDES 1976) explicada pelo conceito de revoluccedilatildeo passiva

(GRAMSCI 1999) e que isto resultou numa inserccedilatildeo subordinashy

da do paiacutes no cenaacuterio internacional eacute possiacutevel afirmar que a escola

puacuteblica de massas expressou em sua particularidade e com contrashy

diccedilotildees a opccedilatildeo poliacutetica da classe dominante brasileira

Basta considerar que enquanto os paiacuteses centrais jaacute haviam

avanccedilado no movimento de universalizaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo baacutesica

ainda no seacuteculo XIX no Brasil ao longo do seacuteculo XX predomishy

nou um processo restritivo de acesso dos trabalhadores agrave educaccedilatildeo

escolar Os que escaparam do analfabetismo em geral encontraram

barreiras objetivas para concluir o que denominamos hoje de Enshy

sino Fundamental Foi somente no limiar do seacuteculo XXI que este

niacutevel de escolarizaccedilatildeo foi universalizado2

2 O atraso educacional brasileiro pode ser explicitado nas questotildees legais que envolvem o Ensino

Meacutedio A Constituiccedilatildeo de 1988 - chamada por muitos de ldquoConstituiccedilatildeo Cidadatilderdquo - estabeleceu

no artigo 208 inciso II ldquoprogressiva extensatildeo de obrigatoriedade e gratuidade do ensino meacutediordquo

mesmo diante dos sinais de mudanccedilas poliacuteticas e econocircmicas significativas no mundo capitalista

O Ensino Meacutedio foi projetado para poucos naquele contexto Somente em 2009 por meio da

Emenda Constitucional ndeg 59 este niacutevel de ensino se tornou obrigatoacuterio no paiacutes

w avanccedilo lento e restritivo da escolarizaccedilatildeo brasileira foi resultado

das relaccedilotildees de poder travadas ao longo do seacuteculo XX mediadas pelas

relaccedilotildees de produccedilatildeo Predominava na classe dominante a compreenshy

satildeo de que o acesso agrave educaccedilatildeo deveria ser programado para atender o

miacutenimo necessaacuterio ao padratildeo de qualificaccedilatildeo exigido pela dinacircmica da

sociedade urbano-industrial em seu desenvolvimento tecnoloacutegico e exishy

gecircncias poliacuteticas e ideoloacutegicas Esse posicionamento contrastava com as

lutas operaacuterias do iniacutecio do seacuteculo XX que reivindicavam acesso agrave edushy

caccedilatildeo puacuteblica e com a manifestaccedilatildeo dos signataacuterios do ldquoManifesto dos

Pioneiros da Educaccedilatildeordquo de 1932 que reivindicava uma escola puacuteblica

de qualidade para todos Contudo na correlaccedilatildeo de forccedilas e consideshy

rando a dinacircmica das relaccedilotildees de produccedilatildeo para a grande maioria o

acesso ao conhecimento sistematizado natildeo ultrapassou o domiacutenio dos

rudimentos da leitura da escrita e do caacutelculo A ideia de que a escolashy

rizaccedilatildeo deveria se constituir num patrimocircnio de poucos predominou

Em que pesem o atraso educacional e as restriccedilotildees de acesso

agrave escola puacuteblica a historiografia da educaccedilatildeo brasileira por reshy

cortes e bases epistemoloacutegicas distintas apresenta fartos elemenshy

tos que demonstram a ligaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar e projeto

civilizatoacuterio conduzido pela classe dominante no paiacutes desde o

iniacutecio do seacuteculo XX confirmando a especificidade da instituiccedilatildeo

escolar no processo de formaccedilatildeo humana

Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar as concepccedilotildees dominantes

Apesar do reconhecimento social sobre a importacircncia e esshy

pecificidade da instituiccedilatildeo escolar no processo educativo mais

amplo eacute necessaacuterio observar que existem divergecircncias quanto agrave

finalidade da educaccedilatildeo escolar Para enfrentar esta questatildeo opshy

tamos por um recorte de duas das mais relevantes formulaccedilotildees

contemporacircneas sobre o tema Nossa opccedilatildeo metodoloacutegica conshy

siste na caracterizaccedilatildeo e anaacutelise das concepccedilotildees procurando evishy

denciar suas implicaccedilotildees para a formaccedilatildeo humana

28

Concepccedilatildeo 1 A finalidade da educaccedilatildeo escolar eacute preparar recursos humanos para impulsionar o desenvolvimento econocircmico

Esta formulaccedilatildeo foi apresentada no cenaacuterio brasileiro nos anos

de 1970 no contexto do regime ditatorial viabilizado pelo golpe em-

presarial-militar de 1964 Traduzindo uma teoria surgida nos Estados

Unidos o bloco no poder do regime ditatorial e seus intelectuais se

encarregaram de viabilizar que os principais enunciados da teoria esshy

tadunidense fossem veiculados para ordenar a funccedilatildeo da escola a parshy

tir da redefiniccedilatildeo da poliacutetica de educaccedilatildeo da legislaccedilatildeo educacional

da organizaccedilatildeo curricular e das praacuteticas pedagoacutegicas A grande meta

era subordinar a educaccedilatildeo escolar ao projeto de desenvolvimento ecoshy

nocircmico Mas o que significa estabelecer que a funccedilatildeo da escola eacute conshy

tribuir para o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes

A teoria acima referida foi sistematizada porTeodoro Schultz

(1963 1971) Parte da premissa de que o conceito de ldquocapitalrdquo se

refere natildeo soacute agraves coisas materiais mas tambeacutem aos seres humanos

Schultz se refere agraves habilidades adquiridas principalmente pela

educaccedilatildeo escolar que interferem na atividade produtiva O conheshy

cimento c as habilidades teacutecnicas seriam expressotildees particulares de

ldquocapitalrdquo uma vez que se vinculam ao aumento da capacidade de

produccedilatildeo A preocupaccedilatildeo do autor com o alargamento do conceishy

to de capital se vincula agrave busca por compreender os diferenciais de

produtividade gerados pelo esforccedilo humano O resultado de sua

formulaccedilatildeo foi denominado de ldquocapital humanordquo

A ampliaccedilatildeo do conceito de capital proposto por Schultz reafirma

a tese da economia poliacutetica burguesa de que todos indistintamente

satildeo capitalistas a diferenccedila baacutesica seria a seguinte uns satildeo possuidores

dos meios de produccedilatildeo e outros da forccedila de trabalho Explicitando o

significado de sua teoria Schultz (1963 p 12-13) afirma que

A recusa em considerar as habilidades adquiridas

pelo homem (habilidades que ampliaram a proshy

dutividade econocircmica desse homem) como uma

forma de capital como bens produzidos da pro-

duccedilatildeo como resultado de um investimento tem

estimulado o conceito restritivo patentemente

errocircneo de que o trabalho prescinde do capital

e de que somente importa o nuacutemero de homens-

-hora [] Os trabalhadores vecircm-se tornando cashy

pitalistas no sentido de que tecircm adquirido muito

conhecimento e diversas habilidades que represhy

sentam valor econocircmico

Na esteira dessa intrigante formulaccedilatildeo Schultz procurou afirmar

que a importacircncia da escolarizaccedilatildeo residia precisamente em ldquovalor

econocircmicordquo Investimentos em educaccedilatildeo resultariam no aumento de

capital humano e na consequente elevaccedilatildeo das taxas de lucro A teoria

do capital humano considera que a educaccedilatildeo deve ser planejada como

fator de desenvolvimento econocircmico e natildeo como direito social

A proposiccedilatildeo consiste em relacionar o ser humano no mesmo

patamar de instrumentos utilizados na produccedilatildeo capitalista Nessa

linha a esquematizaccedilatildeo teoacuterica atestava que a elevaccedilatildeo da escolashy

ridade de um povo ou de cada indiviacuteduo seria diretamente proshy

porcional ao aumento da capacidade de trabalho e ao aumento da

riqueza pessoal sendo que a soma de todas as riquezas significaria

no crescimento da riqueza de uma naccedilatildeo 3

Para Schultz (1971) o valor da educaccedilatildeo estaria na habilitaccedilatildeo de

pessoas para lidar com situaccedilotildees de desequiliacutebrio de mudanccedila e de rupshy

tura O quantum de educaccedilatildeo deveria ser pensado em funccedilatildeo das necessishy

dades de geraccedilatildeo de competecircncias para a eficiecircncia produtiva no trabalho

A anaacutelise de Frigotto (1986) revela os limites e o significashy

do da teoria do capital humano Revela o seu vieacutes empiricista

sua perspectiva epistemoloacutegica baseada no positivismo e o caraacuteter

poliacutetico-ideoloacutegico centrado na economia poliacutetica burguesa

3 Em outras palavras as pessoas ricas seriam aquelas que mais teriam recebido

investimentos em capital humano consequentemente a pessoa pobre seria aquela

que natildeo conseguiu desenvolver o seu capital humano Os paiacuteses mais ricos seriam

aqueles que teriam realizado o maior esforccedilo de elevaccedilatildeo do patamar meacutedio de

racionalidade de seu povo por meio da escola e os paiacuteses mais pobres os que menos

investiram nesse quesitoVale lembrar que a teoria de Schultz nunca conseguiu

explicar o caso brasileiro que de um lado manteacutem-se como uma das maiores

economias do mundo de outro o paiacutes apresenta peacutessimos indicadores educacionais

que comprovam a fragilidade da educaccedilatildeo escolar brasileira

30

No Brasil as repercussotildees da teoria do capital humano foram sigshy

nificativas durante o periacuteodo ditatorial abrangendo vaacuterios aspectos (a)

financiamento da educaccedilatildeo o orccedilamento da educaccedilatildeo passou a ser

definido com base nos mesmos criteacuterios adotados nos investimentos do

setor produtivo (b) planejamento educacional estabeleceu a vincula-

ccedilatildeo direta e imediata entre educaccedilatildeo e setor produtivo - o Plano Setorial

de Educaccedilatildeo e Cultura de 19721974 deixa isso claro (c) legislaccedilatildeo

uma nova lei de Diretrizes e Bases foi estabelecida (lei 569271) para

ordenar a educaccedilatildeo brasileira - chamada ldquoformaccedilatildeo especializadardquo no 2o

grau (atual Ensino Meacutedio) pode ser tomada como um dos exemplos da

vinculaccedilatildeo proposta entre educaccedilatildeo e economia (d) concepccedilatildeo pedashy

goacutegica afirmaccedilatildeo do tecnicismo como referecircncia para os processos forshy

niuivos procurando estabelecer a objetividade do trabalho pedagoacutegico

1 partir da precisatildeo das teacutecnicas e tecnologias de ensino

Apesar das criacuteticas e resistecircncias a teoria do capital humano

iiio foi definitivamente superada Ao contraacuterio desde os anos

laquoU 1990 a teoria vem sendo atualizada e difundida por vaacuterios

mielectuais orgacircnicos da classe burguesa A novidade eacute que a

educaccedilatildeo aleacutem de resultar na elevaccedilatildeo do capital humano deve

timbeacutem desenvolver o chamado capital social Isso significa que

1 Iunccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar foi ampliada embora a perspectiva

i onomicista continue preponderando4

Se o desenvolvimento do capital humano tem interferecircncia direta

mi i questatildeo econocircmica o capital social por sua vez relaciona-se com

i i|iK staacuteo social de forma mais precisa com a coesatildeo poliacutetica e ideoloacutegica

1 iiiballuidores ao projeto hegemocircnico de sociabilidade O capital social

bull ii u licionado agrave elevaccedilatildeo de algumas chamadas variaacuteveis relacionadas agraves

bull bullIuluias humanas que repercutem nas relaccedilotildees comunitaacuterias entre elas a

bull h gt1 u i accedilaacutelt gt a confianccedila muacutetua e a capacidade de participaccedilatildeo (PUTNAM

lt h)M A tese sugere que a elevaccedilatildeo do capital social permitiraacute que os indi-

il icssjliar que natildeo se trata de sobreposiccedilatildeo de accedilotildees mas sim a especificaccedilatildeo de

mi i vi-nccedilotildecs educativas visando assegurar a formaccedilatildeo humana no acircmbito escolar As

u iiiLiccedilotildees de Gustavo Ioschpe intelectual orgacircnico da burguesia satildeo reveladoras

iVni bull llt lui outros ganhos comunicantes associados com a educaccedilatildeo maior toleracircncia

bull u it-iii ia social melhores cuidados com a sauacutede tendecircncias democraacuteticas controle

I iu|miImis violentosrdquo (IOSCHPE 2004 p 67)

viduos se organizem para solucionar os problemas sociais que os afligem

sem necessariamente depender da intervenccedilatildeo paternalista estatal

O projeto de educaccedilatildeo referenciado na teoria do capital e

ampliado com o acreacutescimo da teoria do capital social reconhece

a especificidade da educaccedilatildeo escolar No entanto as referecircncias

sobre a funccedilatildeo da instituiccedilatildeo escolar satildeo restritivas e pragmaacutetishy

cas Sob o ponto de vista mais amplo significa reafirmar que os

subalternos natildeo nasceram para assumir a condiccedilatildeo de classe d ishy

rigente Especificamente sobre o processo pedagoacutegico significa

estabelecer uma formaccedilatildeo de caraacuteter minimalista em que o acesso

ao conhecimento sistematizado na escola ocorreraacute respeitando o

m iacutenimo necessaacuterio para simplesmente desenvolver uma racionashy

lidade instrumental base das competecircncias para a empregabili-

dade O fundamento pedagoacutegico desta concepccedilatildeo estaacute alicerccedilada

na pedagogia das competecircncias (RAM OS 2001) cabendo agrave esshy

cola somente orientar a formaccedilatildeo do trabalhador-cidadatildeo produshy

tivo eficiente em sua condiccedilatildeo de subalternidade

Concepccedilatildeo 2 A funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar eacute formar para a cidadania

Na sociedade capitalista o acesso ao conhecimento sisteshy

matizado estaacute subordinado agrave condiccedilatildeo de classe podendo ser

alterado em funccedilatildeo dos resultados provisoacuterios das lutas poliacuteticas

na educaccedilatildeo conforme destacado anteriormente Nesse sentido

as disputas envolvendo o acesso ao conhecimento ocorrem porshy

que a ciecircncia e a tecnologia se converteram em forccedila produtiva

e instrumento de poder O controle sobre o conhecimento sisteshy

matizado portanto passou a fazer parte da estrateacutegia de dom ishy

naccedilatildeo de classe na sociedade capitalista Diante disso parece-nos

relevante indagar o que significa afirmar que a funccedilatildeo da escola

se destina a preparar para a cidadania Como fica o acesso ao

conhecimento sistematizado nesta concepccedilatildeo

Primeiramente devemos considerar que a cidadania eacute uma consshy

truccedilatildeo resultante das contradiccedilotildees internas das revoluccedilotildees burguesas

32

Embora se no passado representasse um avanccedilo frente agrave velha ordem

feudal ou escravista e se na atualidade expresse tambeacutem um avanccedilo

frente aos regimes e praacuteticas autoritaacuterias eacute importante lembrar que

este constructo designa apenas o reconhecimento da igualdade forshy

mal entre seres humanos que vivem condiccedilotildees poliacuteticas e econocircmicas

profundamente desiguais Em outras palavras o estatuto da cidadania

natildeo altera em absolutamente nada a realidade da dominaccedilatildeo poliacutetica e

exploraccedilatildeo econocircmica realizadas na sociedade capitalista

Um aspecto importante a ser considerado se refere agravequilo que

fundamenta o preceito de cidadania De modo geral o cidadatildeo

natildeo tem identidade de classe mas sim uma condiccedilatildeo individual E

cidadatildeo tanto o que explora e domina quanto aquele que eacute exploshy

rado e dominado por outro O cidadatildeo eacute o indiviacuteduo e natildeo uma

coletividade regulado por um estatuto juriacutedico e certas normas

sociais no contexto de um Estado Portanto ser cidadatildeo significa

integrar-se na vida social a partir da regulaccedilatildeo formal e de valores

indicando o pertencimento poliacutetico A definiccedilatildeo apresentada por

lt mivez (1990 p 15) confirma esta compreensatildeo

A cidadania define a pertenccedila a um Estado Ela daacute

ao indiviacuteduo um status juriacutedico ao qual se ligam dishy

reitos e deveres particulares Esse status depende das

leis proacuteprias de cada Estado e pode-se afirmar que

haacute tantos tipos de cidadatildeos quanto tipos de Estados

O problema da cidadania poreacutem natildeo eacute apenas proshy

blema juriacutedico ou constitucional se provoca debates

apaixonados eacute porque coloca a questatildeo do modo de

inserccedilatildeo do indiviacuteduo em sua comunidade assim

como de sua relaccedilatildeo com o poder poliacutetico

lt luo de ser cidadatildeo natildeo assegura a igualdade de condiccedilotildees

1 vidi e trabalho em um contexto de profunda desigualdade

moiiiua poliacutetica e social Muito menos assegura a possibili-

l raquolt dc ser diferente no contexto em que a igualdade formal se

ilgt In r procurando uniformizar a todos A cidadania portan-

bull i ui li ii a possibilidade da atuaccedilatildeo poliacutetica de indiviacuteduos e

ni i |i 1 1 ic as sociais dentro dos limites da ordem existente5

I iliIr poliacutetica denominamos o direito de organizaccedilatildeo de representaccedilatildeo e de

l i I h preacutesentantes atraveacutes do voto

As inuacutemeras adjetivaccedilotildees propostas ao conceito sinalizam as restriccedilotildees

de sua inserccedilatildeo na praacutetica social concreta Na lista de adjetivaccedilotildees encontrashy

mos ldquocidadania participativardquo ldquocidadania efetivardquo ldquocidadania emancipadardquo

ldquocidadania ativardquo ldquocidadania eacuteticardquo ldquocidadania popularrdquo entre outras6

Natildeo queremos com essa delimitaccedilatildeo invalidar a importacircncia da

cidadania no passado e no presente na sociedade capitalista especialshy

mente para a formaccedilatildeo social brasileira Ao contraacuterio acreditamos

que legalidade constituiacuteda no estatuto juriacutedico dos direitos individushy

ais e poliacuteticos - envolvendo a possibilidade de organizaccedilatildeo de represhy

sentaccedilatildeo de coletivos e de possibilidades de escolhas de representantes

atraveacutes do voto mdash natildeo eacute passiacutevel de desprezo Entretanto o que busshy

camos assinalar eacute que vincular o projeto de educaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo da

cidadania eacute insuficiente pois a cidadania natildeo pressupotildee a superaccedilatildeo

da ordem capitalista (TONET 2005)

Cabe lembrar que nas sociedades capitalistas dependentes como

eacute o caso da sociedade brasileira a exploraccedilatildeo se materializa em supe-

rexploraccedilatildeo a participaccedilatildeo poliacutetica eacute sempre condicionada a marcos

juriacutedicos restritivos a concentraccedilatildeo da renda e da propriedade eacute extreshy

mada a polarizaccedilatildeo social eacute mais evidente e a dominaccedilatildeo ideoloacutegica eacute

maciccedila (CA RDO SO 2006) Considerando que os indicadores sociais

e econocircmicos confirmam esta observaccedilatildeo acreditamos que limitar a

finalidade da escola para a produccedilatildeo da cidadania eacute algo insuficiente

E importante considerar que a vinculaccedilatildeo entre educaccedilatildeo escolar

e cidadania possui um lastro histoacuterico importante no Brasil De modo

mais amplo talvez esta vinculaccedilatildeo possa ser creditada como resposta

dos educadores progressistas agrave experiecircncia vivida pelos trabalhadores

brasileiros no contexto da ditadura empresarial-militar que perdurou

por cerca de vinte anos Se esta hipoacutetese estiver correta poderemos

afirmar que a educaccedilatildeo para a cidadania representou um posicionashy

mento criacutetico frente ao regime autoritaacuterio agrave cultura poliacutetica consershy

6 A produccedilatildeo acadecircmica sobre o tema eacute consideraacutevel Aleacutem de teses

dissertaccedilotildees e artigos cientiacuteficos a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e cidadania foi

abordada em diferentes obras Eis alguns livros sobre o tema Buffa et al

(1987) Ferreira (1993) Demo (1994) Libacircneo (1998)

34

vadora ao clicntelismo e ao patrimonialismo presentes na vida social

Sobre o acesso ao conhecimento sistematizado para Libacircneo (1998)

o exerciacutecio para a cidadania exigiria o domiacutenio dos conhecimentos

sistematizados como ferramentas individuais para a intervenccedilatildeo na

realidade Apesar da perspectiva progressista da formulaccedilatildeo acreditashy

mos que educar para a cidadania eacute diferente de educar para compreshy

ensatildeo dos limites histoacutericos e teoacutericos da cidadania

Aleacutem das formulaccedilotildees progressistas sobre a educaccedilatildeo escolar e

cidadania existem tambeacutem obras de caraacuteter conservador que buscam

reafirmar aquilo que Neves (2005) define como a nova pedagogia da

hegemonia por meio da educaccedilatildeo escolar As formulaccedilotildees de Delors

(1996) e Morin (2000) divulgadas sobre a chancela da Organizaccedilatildeo das

Naccedilotildees Unidas satildeo casos exemplares que repercutem na definiccedilatildeo da

poliacutetica educacional em nosso paiacutes nos anos recentes de nossa histoacuteria7

Para Delors ldquona escola eacute que deve comeccedilar a educaccedilatildeo para

uma cidadania consciente e ativardquo (1996 p 28)s Entretanto peshy

los limites teoacutericos e histoacutericos do conceito e considerando suas

opccedilotildees ideoloacutegicas o maacuteximo que Delors consegue eacute reafirmar

com novas palavras as velhas construccedilotildees que envolvem a temaacutetica

educaccedilatildeo para a cidadania Em suas palavras

Mas como aprender a conviver nesta aldeia global

se somos incapazes de viver em paz nas comunidades

naturais a que pertencemos naccedilatildeo regiatildeo cidade alshy

deia vizinhanccedila A questatildeo central da democracia eacute

saber se desejamos e somos capazes de participar da

vida em comunidade conveacutem natildeo esquecer que esse

desejo depende do sentido da responsabilidade de

cada um (DELORS 1996 p 7-8)

A tese explicita claramente os limites da cidadania revelando que

sua vinculaccedilatildeo se estabelece com o indiviacuteduo e natildeo com as coletividashy

des Por meio da chamada cidadania consciente e ativa Delors retoma

Acredi tamos que parte dessas formulaccedilotildees saacuteo tributaacuterias da concepccedilatildeo pedagoacutegica escolanovista

Para entender o que isso significa em termos poliacuteticos e filosoacuteficos recomendamos a leitura de

Saviani (1987) especialmente o capiacutetulo dois ldquoEscola e democracia I a Teoria da Curvatura

da Varardquo

8 Os adjetivos ldquoconscienterdquo e ldquoativordquo demonstram a intenccedilatildeo de estabelecer uma atualizaccedilatildeo

da cidadania tal como assinalados anteriormente

o individualismo como valor moral radical reafirmando a formulaccedilatildeo

valorizada pela doutrina liberal e pelos projetos neoliberal e neoliberal

da terceira via Estes limites podem ser verificados em outra afirmaccedilatildeo

Um sentimento de vertigem apodera-se de nossos

contemporacircneos divididos entre essa globalizaccedilatildeo - a

cujas manifestaccedilotildees eles satildeo obrigados agraves vezes a se

submeterem mdash e a busca pessoal de suas raiacutezes refeshy

recircncias e filiaccedilotildees

A educaccedilaacuteo deve enfrentar esse problema porque na

perspectiva do parto doloroso de uma sociedade munshy

dial ela situa-se mais do que nunca 110 acircmago do deshy

senvolvimento da pessoa e das comunidades sua misshy

satildeo consiste em permitir que todos sem exceccedilatildeo faccedilam

frutificar seus talentos e suas potencialidades criativas

o que implica por parte de cada um a capacidade de assumir sua proacutepria responsabilidade e de realizar seu proshyjeto pessoal (D ELO RS 1996 p 10 grifo nosso)

Aleacutem dos aspectos citados cabe destacar o conteuacutedo ideoloacutegico

dos princiacutepios valorativos da educaccedilatildeo para a cidadania sistematizada

por Jacques Delors Segundo Duarte (2008) estes princiacutepios satildeo orienshy

tados pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo De modo geral os prinshy

ciacutepios convergem para a afirmaccedilatildeo do individualismo como valor moral

radical A tiacutetulo de exemplo podemos citar a hierarquizaccedilatildeo das formas

de aprendizagem realizadas pela pedagogia do ldquoaprender a aprenderrdquo

Duarte (2008) verifica que para esta corrente pedagoacutegica eacute mais releshy

vante e significativo aprender sozinho do que pela mediaccedilatildeo do outro

Isso significa a ratificaccedilatildeo do individualismo como valor morai radical e

define o conteuacutedo da chamada cidadania consciente e ativa

A posiccedilatildeo de Edgar Morin se apresenta na mesma perspectiva trashy

ccedilada por Jacques Delors Delineando as bases para a educaccedilatildeo escolar

formar o chamado cidadatildeo planetaacuterio do seacuteculo XXI o autor afirma que

Podemos considerar que a plenitude e a livre

expressatildeo dos indiviacuteduos-sujeitos constituem

nosso propoacutesito eacutetico e poliacutetico sem entreshy

tanto pensarmos que constituem a proacutepria

finalidade da triacuteade indiviacutediwsociedadelespeacute-

cie A complexidade humana natildeo poderia ser

compreendida dissociada dos elementos que

a constituem todo desenvolvimento verdadeishyramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais das parshyticipaccedilotildees comunitaacuterias e do sentimento de pershytencer agrave espeacutecie humana (MORIN 2000 p

54-55 grifo do autor)

Mais uma vez o indiviacuteduo atomizado e sem identidade de

classe portanto diluiacutedo nas relaccedilotildees sociais eacute apresentado como

referecircncia central da formulaccedilatildeo

A finalidade da formaccedilatildeo do chamado cidadatildeo planetaacuterio eacute

e xplicitada da seguinte forma

O problema da compreensatildeo tornou-se crucial para

os humanos E por este motivo deve ser uma das

finalidades da educaccedilatildeo do futuro Lembremo-

-nos de que nenhuma teacutecnica de comunicaccedilatildeo do

telefone agrave Internet traz por si mesma a compreshy

ensatildeo A compreensatildeo natildeo pode ser quantificada

Educar para compreender a matemaacutetica ou uma

disciplina determinada eacute uma coisa educar para a

compreensatildeo humana eacute outra Nela encontra-se a

missatildeo propriamente espiritual da educaccedilatildeo ensishy

nar a compreensatildeo entre as pessoas como condiccedilatildeo

e garantia da solidariedade intelectual e moral da

humanidade (M O R IN 2000 p 94)

construccedilatildeo de uma sociedade solidaacuteria eacute de fato algo re-

bull iiiu Entretanto a formulaccedilatildeo de Morin aposta na solidarie-

tllt lsquocm alterar as condiccedilotildees objetivas de vida Eacute possiacutevel esta-

bull I ei i solidariedade num contexto marcado pela exploraccedilatildeo e

|m 11 iloi iaccedilatildeo das coisas em detrimento da condiccedilatildeo humana

I ui siacutentese o que se busca eacute na verdade o estabelecimento de

d u pu(o entre as classes sociais sobre o controle e direccedilatildeo

1 lt liiiijMicsa Desse modo a funccedilatildeo da escola do seacuteculo XXI

i i ili pcli cidadania seraacute a de reafirmar a manutenccedilatildeo das rela-

bull | raquodei e xistentes com o aprofundamento da subserviecircncia da

u ii iliilliulora Aleacutem disso nesta concepccedilatildeo o conhecimento

sistematizado cede lugar agrave experiecircncia imediata ou quando muito

na perspectiva progressista agrave reflexatildeo sobre formas de intervenccedilatildeo

na vida poliacutetica da escola da comunidade ou do paiacutes

Sobre a finalidade da educaccedilatildeo escolar educar para a emancipaccedilatildeo humana

O consenso em torno da legitimidade da instituiccedilatildeo escolar

na sociedade contemporacircnea eacute um dado consolidado certamente

influenciado pelas concepccedilotildees anteriormente analisadas Entretanshy

to um problema persiste tais formulaccedilotildees restringem a formaccedilatildeo

humana e consequentemente limitam as possibilidades de insershy

ccedilatildeo no mundo real Diante disso cabe uma questatildeo a educaccedilatildeo

escolar pode oferecer outra perspectiva formativa que supere o

economicismo da teoria do capital humano e a orientaccedilatildeo politi-

cista da educaccedilatildeo para a cidadania Qual o papel do conhecimento

sistematizado nesta alternativa pedagoacutegica

Foi procurando responder a esta questatildeo que alguns educadores brashy

sileiros procuraram delinear uma nova possibilidade pedagoacutegica sobre a esshy

pecificidade e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo escolar tendo em vista a necessidade de

elevar a escolarizaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes da classe trabalhadora9

Esta concepccedilatildeo pedagoacutegica foi sistematizada a partir da anaacutelishy

se criacutetica sobre a configuraccedilatildeo e dinacircmica da sociedade capitalista

Conhecendo os limites desta forma cultural de organizaccedilatildeo da vida

o segundo passo foi analisar as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes

considerando as necessidades da classe trabalhadora e os objetivos

da classe burguesa A primeira constataccedilatildeo foi que os processos de

dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo tiacutepicos das formaccedilotildees sociais capitalistas

impedem a emancipaccedilatildeo humana A segunda constataccedilatildeo foi que

as concepccedilotildees pedagoacutegicas existentes eram expressotildees especiacuteficas do

projeto de sociedade da classe dominante A siacutentese desta anaacutelise

9 A principal figura deste esforccedilo foi Dermeval Saviani que desde os anos finais de 1960

jaacute refletia sobre a necessidade e possibilidades de sistematizar uma teoria da educaccedilatildeo

que superasse tanto as teorias natildeo criacuteticas da educaccedilatildeo quanto agraves teorias criacutetico-

reprodutivistas Para compreender este processo ver Saviani (1987 2003)

38

pode ser assim descrita eacute necessaacuterio superar as teorias e experiecircncias

existentes fornecendo aos educadores uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo

que esteja vinculada ao compromisso com a emancipaccedilatildeo da classe

trabalhadora (SAVIANI 2003) O resultado desta sistematizaccedilatildeo

foi denominado de Pedagogia histoacuterico-criacutetica Sua fundamentaccedilatildeo

encontra-se alicerccedilada no materialismo histoacuterico

O ponto de partida desta concepccedilatildeo foi compreender a condishy

ccedilatildeo humana e a funccedilatildeo da educaccedilatildeo na vida social Sobre o primeishy

ro aspecto recuperando as ideias de Friedrich Engels e Karl Marx

a Pedagogia histoacuterico-criacutetica afirma que os seres humanos precisam

criar permanentemente as condiccedilotildees de sua existecircncia Enquanto os

outros animais se adaptam ao mundo natural coletivamente os seres

humanos transformam este mesmo mundo para viabilizar a existecircncia

da vida produzindo cultura Em outras palavras natildeo encontramos

tudo de que precisamos pronto somos obrigados a produzir formas

materiais e natildeo materiais necessaacuterias agrave vida mdash formas que nascem da

necessidade objetiva (alimentaccedilatildeo por exemplo) e dos desejos e fanshy

tasias - e a transmitir estas formas para outras geraccedilotildees

Os seres humanos criam estas condiccedilotildees por meio de uma cashy

pacidade que desenvolveram ao longo da histoacuteria a capacidade de

antecipar no plano do pensamento e traduzir esta antecipaccedilatildeo em

accedilotildees concretas e intencionais para viabilizar a vida - algo que Engels

e Marx denominam de trabalho Por meio do trabalho - uma forma

bem mais elaborada que a accedilatildeo instintiva dos demais animais para

suprir as necessidades e vontades que os seres humanos possuem os

seres humanos ultrapassaram a determinaccedilatildeo bioloacutegica para assumir

a condiccedilatildeo mais complexa ser cultural Por cultura compreende-se

a forma de organizaccedilatildeo e produccedilatildeo da vida que envolve a poliacutetica

a economia as artes os haacutebitos e costumes predominantes em uma

formaccedilatildeo social e tempo histoacuterico (CHAUI 1995)

Com base nesta compreensatildeo a funccedilatildeo da educaccedilatildeo para a Pedashy

gogia histoacuterico-criacutetica se vincula agrave produccedilatildeo da existecircncia humana porshy

tanto a condiccedilatildeo de cultura Enquanto predominou na criaccedilatildeo e orgashy

nizaccedilatildeo das condiccedilotildees de existecircncia processos mais simples de trabalho

foi possiacutevel educar os mais novos no proacuteprio processo de trabalho Na

medida em que a criaccedilatildeo das condiccedilotildees humanas se tornou mais comshy

plexa aleacutem dos processos informais foi requerida a institucionalizaccedilatildeo

da educaccedilatildeo na forma escolar Conforme indicamos na primeira parte

deste texto a escola foi criada para oferecer as bases para a produccedilatildeo

coletiva da existecircncia humana

Contudo cabe ressaltar que a produccedilatildeo da existecircncia hushy

mana se faz por meio de relaccedilotildees sociais Estas relaccedilotildees assushy

mem formas especiacuteficas envolvendo a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo

poliacutetico-econocircmica de grupos sociais sobre outros grupos sociais

Significa afirmar que a relaccedilatildeo entre trabalho e educaccedilatildeo foi senshy

do delineada a partir do conteuacutedo e da forma como as relaccedilotildees

sociais de desenvolvem na sociedade de classes

O projeto dominante defende que a classe trabalhadora deve ser

mantida na condiccedilatildeo de subalternidade soacutecio-poliacutetico-econocircmica A

orientaccedilatildeo eacute para que as crianccedilas e adolescentes desta classe sejam edushy

cados para se tornarem um ldquorecurso humanordquo para o desenvolvimento

econocircmico capitalista e para obedecer as ldquoregras sociaisrdquo para a harmonia

social desta sociedade contraditoacuteria

Reconhecendo que os seres humanos podem viver em outras

condiccedilotildees e verificando que o projeto dominante encontra resisshy

tecircncia na dinacircmica escolar a Pedagogia histoacuterico-criacutetica procura

oferecer aos educadores criacuteticos uma teoria educacional alternashy

tiva de caraacuteter contra-hegemocircnico A perspectiva eacute afirmar que

os alunos da classe trabalhadora precisam ser educados para assushy

mirem as condiccedilotildees subjetivas necessaacuterias agrave direccedilatildeo do processo

histoacuterico tendo em vista a emancipaccedilatildeo humana 10

A perspectiva eacute que os alunos ( Io) compreendam criticamenshy

te a organizaccedilatildeo e dinacircmica das formas de produccedilatildeo da existecircncia

10 Eacute importante deixar claro que natildeo eacute a educaccedilatildeo escolar que realizaraacute a emancipaccedilatildeo humana

mas sim a mudanccedila na forma de produzir a existecircncia humana Contudo sem educaccedilatildeo

essa mudanccedila jamais ocorreraacute Por emancipaccedilatildeo humana entendemos a condiccedilatildeo social

poliacutetica e econocircmica que permitiraacute ao gecircnero humano superar efetivamente todas as formas

de dominaccedilatildeo exploraccedilatildeo e opressatildeo Tratar da emancipaccedilatildeo humana significa projetar a

necessidade da realizaccedilatildeo plena do ser social em comunhatildeo com o meio ambiente e com os

demais seres humanos significa projetar a sociabilidade autocircnoma e verdadeiramente livre

An

humana especialmente a forma capitalista (2o) dominem os coshy

nhecimentos sistematizados e as formas culturais existentes comshy

preendendo-os como produto e instrumento necessaacuterio agrave produccedilatildeo

da existecircncia (3o) desenvolvam a loacutegica dialeacutetica de organizaccedilatildeo do

pensamento para superar a loacutegica formal e a passividade intelectual

em busca da autonomia do pensar (SAVIANI 1987 2003)

Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamental que os alushy

nos natildeo soacute assimilem conhecimentos mas que construam sentishy

dos e significados sobre a relaccedilatildeo entre conhecimento-trabalho-

-vida no mundo real complexo e contraditoacuterio Os conteuacutedos

das disciplinas que compotildeem o curriacuteculo escolar ao inveacutes de

orientar para a abstraccedilatildeo do pensamento ou ordenar a racionalishy

dade teacutecnica para o simples fazer podem estabelecer mediaccedilotildees

importantes para ampliar a compreensatildeo sobre as dimensotildees da

produccedilatildeo da existecircncia humana Trata-se de reestabelecer o nexo

orgacircnico entre vidatrabalho e educaccedilatildeo

Nessa linha o ensino e aprendizagem do conhecimento sistematizashy

do envolveraacute a compreensatildeo da realidade vivida a partir do diaacutelogo com

os conhecimentos espontacircneos e aqueles advindos da experiecircncia Natildeo se

trata de negar o conhecimento espontacircneo e o conhecimento gerado pela

experiecircncia Ao contraacuterio para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute fundamenshy

tal oferecer novas possibilidades de interpretaccedilatildeo desses conhecimentos e

seus significados para a vida humana O que se busca entatildeo eacute ultrapassar o

senso comum a superficialidade e a abstraccedilatildeo para assegurar que a aproshy

priaccedilatildeo do conhecimento sistematizado permita compreender e atuar nos

processos de produccedilatildeo da existecircncia humana e das relaccedilotildees de poder neshy

les envolvidas Nesta concepccedilatildeo os conteuacutedos escolares ao inveacutes de frios

e vazios como eacute tiacutepico da pedagogia tradicional e pedagogia tecnicista

produzem sentidos e significados para o professor e o aluno porque se

vinculam de forma mais ou menos indireta aos processos reais de produshy

ccedilatildeo material e simboacutelica dos meios necessaacuterios agrave vida e agrave interpretaccedilatildeo das

relaccedilotildees de poder envolvidas nestes processos

Enquanto sujeitos do processo educativo professores e alunos

partem juntos da praacutetica social isto eacute da realidade vivida pela hu-

manidade para compreender o mundo real interpretar as formas

de produccedilatildeo deste mundo e estabelecer possibilidades de agir nele

E claro que enquanto espaccedilo social a escola se materializa enquanto

instacircncia de sociabilidade onde haacute encontros humanos ricos e profundos

para a experiecircncia de crianccedilas e adolescentes Entretanto o que justifica a

especificidade da instituiccedilatildeo escolar natildeo eacute o simples conviacutevio ainda que

ele seja importante mas sim a necessidade de apropriaccedilatildeo coletiva do

conhecimento sistematizado tendo em vista a compreensatildeo da condiccedilatildeo

humana e as possibilidades de intervenccedilatildeo no mundo

Reconhecer a especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute importante

para que as praacuteticas pedagoacutegicas natildeo sejam orientadas para rebaixar

a escolarizaccedilatildeo destinada aos filhos da classe trabalhadora Enquanto

espaccedilo de vivecircncia coletiva a instituiccedilatildeo escolar deve ter claro que

funccedilatildeo deve cumprir na sociedade Esvaziar o curriacuteculo escolar de coshy

nhecimento sistematizado e valorizar os saberes advindos da experiecircnshy

cia imediata como centro do processo educativo eacute um meio que vem

sendo usado para comprometer a formaccedilatildeo das crianccedilas e adolescentes

da classe trabalhadora mantendo-os na condiccedilatildeo de subalternidade

O desafio proposto pela Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute tornar a

instituiccedilatildeo escolar numa instacircncia que socializa os conhecimentos sisshy

tematizados para permitir o domiacutenio dos meios necessaacuterios agrave insershy

ccedilatildeo ativa na vida social com o horizonte da emancipaccedilatildeo humana E

possibilitar que os processos pedagoacutegicos escolares assegurem a todos

indistintamente aquilo que se tornou indispensaacutevel para compreenshy

deragir ono mundo o conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico

Consideraccedilotildees finais

Vivemos numa sociedade de classes Sob esta condiccedilatildeo penshy

sar a funccedilatildeo e especificidade da educaccedilatildeo escolar eacute tratar dos

projetos formativos que disputam a formaccedilatildeo humana nesta soshy

ciedade E tambeacutem considerar a posiccedilatildeo das perspectivas pedashy

goacutegicas em relaccedilatildeo ao tratamento dispensado ao conhecimento

sistematizado E compreender que as definiccedilotildees pedagoacutegicas natildeo

satildeo simples escolhas teacutecnicas ou arbitraacuterias

42

Isso revela que o trabalho educativo na sociedade de classes

eacute algo muito complexo que exige do professor rigor na tomada

de posiccedilotildees compromisso poliacutetico com um projeto de sociedade

que assume o domiacutenio dos instrumentos pedagoacutegicos para transshy

formar a intenccedilatildeo educativa em algo real na formaccedilatildeo humana

As possibilidades teoacutericas existem e elas se vinculam aos inshy

teresses de classe Haacute quem defenda que basta preparar a forccedila

de trabalho para o desenvolvimento capitalista Haacute quem acredite

que educar para a cidadania eacute suficiente para assegurar direitos Jaacute

existem intelectuais orgacircnicos da classe burguesa que reconhecem

que eacute preciso que a escola eduque o ldquocidadatildeo trabalhador produtishy

vordquo uma siacutentese das correntes acima indicadas

Entretanto as possibilidades acima apresentadas satildeo insuficienshy

tes para a classe trabalhadora pois o economicismo e politicismo peshy

dagoacutegicos - e as possiacuteveis siacutenteses geradas entre eles - se vinculam

ainda ao plano da conservaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais

Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica eacute preciso educar para contrishy

buir com o desafiador e difiacutecil processo de valorizaccedilatildeo da vida humashy

na e natildeo das coisas e construccedilatildeo da emancipaccedilatildeo Sua perspectiva

eacute oferecer aos educadores do campo criacutetico uma alternativa teoacuterica e

metodoloacutegica para a construccedilatildeo da mudanccedila valorizando a instituishy

ccedilatildeo escolar em um espaccedilo rico e dinacircmico de ensino-aprendizagem

repleto de sentidos e significados para os que precisam romper com

a dominaccedilatildeo e exploraccedilatildeo de classes

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CAPIacuteTULO II

0 ENSINO DA EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA E A FORMACcedilAtildeO DE SUJEITOS HISTOacuteRICOS EM BUSCA DOS FUNDAMENTOS TEOacuteRICOS E METODOLOacuteGICOS

Adriano de Paiva Reis

Alvaro de Azeredo Quelhas

Carla Cristina Carvalho Pereira

Leonardo Docena Pina

Renata Aparecida Alves Landim

Neste texto apresentamos os fundashy

mentos teoacutericos e metodoloacutegicos da persshy

pectiva de Educaccedilatildeo Fiacutesica que busca proshy

mover uma reflexatildeo criacutetica sobre a cultura

corporal Partimos da discussatildeo sobre a exisshy

tecircncia de dois distintos e contraditoacuterios proshy

jetos de formaccedilatildeo humana um que busca

assegurar a adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves atushy

ais relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e outro que tem

como horizonte a formaccedilatildeo de sujeitos criacuteshy

ticos e transformadores da sua proacutepria hisshy

toacuteria Com base no materialismo histoacuterico-

-dialeacutetico na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e

na abordagem Criacutetico-superadora apresenshy

tamos uma possibilidade didaacutetica que busca

abordar os conteuacutedos da cultura corporal de

modo ativo e dinacircmico tendo como ponto

de partida e de chegada a praacutetica social de

modo a permitir a ampliaccedilatildeo da compreenshy

satildeoaccedilatildeo dos alunos sobre a realidade

A relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo e a perspectiva dominante de formaccedilatildeo humana

O trabalho e a educaccedilatildeo satildeo atividades especificamente humanas e

estatildeo relacionadas ao processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo da cultura pelo

conjunto dos homens Por meio do trabalho o homem transforma intenshy

cionalmente a natureza para satisfazer suas necessidades criando uma reshy

alidade sociocultural um mundo especificamente humano portador de

produccedilotildees culturais (materiais e natildeo materiais) cada vez mais desenvolvidas

Para relacionar-se com os outros seres humanos inserindo-se em

determinada fase do desenvolvimento histoacuterico da humanidade cada

indiviacuteduo singular precisa apropriar-se da riqueza da experiecircncia humashy

na acumulada na cultura pois as aptidotildees e funccedilotildees humanas historicashy

mente formadas natildeo se reproduzem pela hereditariedade mas precisam

ser formadas isto eacute transmitidas de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo A esse processhy

so de transmissatildeo da cultura produzida histoacuterica e coletivamente pelo

conjunto dos homens mdash que permite a formaccedilatildeo da humanidade em

cada indiviacuteduo singular - denomina-se educaccedilatildeo (SAVIANI 2005)

Entretanto como as formas assumidas pelo trabalho nos dishy

versos modos de produccedilatildeo da existecircncia humana satildeo fenocircmenos

construiacutedos concretamente nas relaccedilotildees sociais a formaccedilatildeo humana

tende a ser determinada pelos processos histoacutericos De acordo com

Marx (2005) no modo de produccedilatildeo capitalista - aquele que estaacute

fundado na propriedade privada dos meios de produccedilatildeo e na aproshy

priaccedilatildeo privada dos produtos do trabalho - a relaccedilatildeo do homem

com o mundo aparece invertida de tal forma que o trabalho assashy

lariado caracteriacutestico da moderna sociedade burguesa resulta num

estranhamento do homem com o seu trabalho o trabalho de ativishy

dade de realizaccedilatildeo do homem eacute transformado em ldquo[] desrealizaccedilatildeo

do trabalhador a objetivaccedilatildeo como perda e servidatildeo do objeto a

apropriaccedilatildeo com alienaccedilatildeo1rdquo (MARX 2005 p 1 12)

i Em Marx (2005) a alienaccedilatildeo corresponde ao estranhamento total do homem com a natureza

com a humanidade e com ele proacuteprio sendo que a base de todas essas relaccedilotildees sociais estranhas

c a alienaccedilatildeo do proacuteprio trabalho O u seja a partir da expropriaccedilatildeo do produto e do processo

de seu trabalho o homem passa a alienar-se de sua vida como um todo

Tendo em vista que o trabalho na sociedade capitalista eacute contrashy

ditoriamente fundamento da existecircncia humana e meio de alienaccedilatildeo

pensar o trabalho como princiacutepio educativo implica em visualizar

dois projetos distintos de educaccedilatildeo escolar um que busca adaptar os

indiviacuteduos agraves atuais relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo e outro que visa

alcanccedilar o pleno desenvolvimento da iiiacutedividualidade livre e universal (DUARTE 2006) algo atrelado agrave construccedilatildeo de uma nova sociedashy

de na qual estejam superadas as relaccedilotildees sociais alienadas

Na perspectiva voltada agrave reproduccedilatildeo do capital a educaccedilatildeo

tem servido como meio de adaptar o indiviacuteduo agraves condiccedilotildees hisshy

toacutericas da produccedilatildeo negando o potencial criativo e transformador

da realidade que o homem possui impedindo-o de reconhecer-se

como sujeito da histoacuteria Como analisam criticamente Frigotto

Ciavatta e Ramos (2005) o sentido economicista atribuiacutedo agrave edushy

caccedilatildeo a tem proclamado como instrumento de formaccedilatildeo para o

trabalho no seu sentido historicamente alienado dando origem

agrave noccedilatildeo ideoloacutegica da escola como promotora da ascensatildeo social

Este fato pode ser observado em mitos como o da empregabilidade

e do empreendedorismo que vigoram hoje em dia

Diversas anaacutelises realizadas sobre a relaccedilatildeo entre trabalho e

educaccedilatildeo como as realizadas por Ramos (2006) e Kuenzer (2007)

por exemplo evidenciam que no contexto de transiccedilatildeo do modo

laquoIr produccedilatildeo capitalista para o regime de acumulaccedilatildeo flexiacutevel2

1 implantaccedilatildeo de um novo paradigma produtivo e a emergecircncia

Jr novas demandas de ajustamento social provocaram uma nova

loi nia de ser do trabalhador que estabeleceu exigecircncias significa-

iivimente diferentes daquelas em curso ateacute entatildeo O u seja uma

nov a dinacircmica de produccedilatildeo e novos meacutetodos de trabalho passaram

I gtc acordo com as anaacutelises dc Harvey (2006) a partir da deacutecada dc 1970 com a explosatildeo

laquoli nova crise de superacumulaccedilatildeo capitalista inicia-se um periacuteodo de reestruturaccedilatildeo

lt miocircmica e de reajustamento social e poliacutetico marcando a passagem para um novo

irgime de acumulaccedilatildeo ldquoA acumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo surge em contraposiccedilatildeo agrave rigidez do

Inulismo ldquoEla se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho dos mercados de

uibalho dos produtos e padrotildees de consumordquo (1IARVKY 2006 p 140)

a exigir um tipo novo de trabalhador e de homem3 Assim para

atender aos interesses de valorizaccedilatildeo do capital vecircm ocorrendo

diversas alteraccedilotildees nos projetos e processos de formaccedilatildeo humana

a fim de ajustaacute-los agraves novas formas de organizaccedilatildeo do trabalho e

aos novos padrotildees de sociabilidade capitalista

Com base na argumentaccedilatildeo de que ingressamos na chamada ldquosocieshy

dade do conhecimentordquo a educaccedilatildeo passa a ser proclamada como uma

tarefa para toda a vida e a noccedilatildeo de competecircncia assume centralidade na

educaccedilatildeo escolar Para se consolidar como categoria ordenadora da relaccedilatildeo

trabalho-educaccedilatildeo a noccedilatildeo de competecircncia se inscreve num movimento

de afirmaccedilatildeo e negaccedilatildeo do conceito de qualificaccedilatildeo promovendo a valoshy

rizaccedilatildeo da sua dimensatildeo experimental agrave custa do enfraquecimento da sua

dimensatildeo conceituai e social (RAMOS 2006)

O enfraquecimento da dimensatildeo social da qualificaccedilatildeo pode ser

constatado nos discursos que proclamam um novo papel para a educashy

ccedilatildeo escolar natildeo mais formar para um determinado posto ou emprego

mas sim gerar potencial de empregabilidade De acordo com Gentili

(2005) a empregabilidade eacute o eufemismo da desigualdade estrutural

que caracteriza o mercado de trabalho e sintetiza a incapacidade mdash tamshy

beacutem estrutural mdash da educaccedilatildeo em cumprir sua promessa integradora

Conforme explica o autor esse conceito ganhou espaccedilo e centralidade

a partir da deacutecada de 1990 sendo definido como eixo fundamental de

um conjunto de poliacuteticas supostamente destinadas agrave diminuiccedilatildeo de risshy

cos sociais gerados pelo desemprego Para o discurso dominante o conshy

ceito de empregabilidade natildeo significa garantia de integraccedilatildeo mas apeshy

nas melhores condiccedilotildees para competir na luta pelos poucos empregos

disponiacuteveis no mercado de trabalho Esse conceito segundo o autor

acaba com a concepccedilatildeo do emprego e da renda como esferas de direito

3 Tomamos essa expressatildeo emprestada de Gramsci (1976) que foi originalmente utilizada

em Americanismo e Fordismo e sugere que um novo tipo de trabalho e de produccedilatildeo traz a

necessidade de formar um novo tipo de homem pois ldquo[] novos meacutetodos de trabalho estatildeo

indissoluvelmente ligados a um determinado modo de viver de pensar e de sentir a vida

natildeo eacute possiacutevel obter ecircxito num campo sem obter resultados tangiacuteveis no outrordquo (p 396)

4 De acordo com Frigotto (1998) o termo ldquosociedade do conhecimentordquo diz respeito a um

deslocamento conceituai da teoria do capital humano buscando alinhar ideologicamente

a educaccedilatildeo agrave nova materialidade e mascarar a realidade do desemprego estrutural

pois parte do entendimento de que a posse de determinadas condiccedilotildees

de empregabilidade natildeo garante a inserccedilatildeo no mercado de trabalho

No que se refere agrave concepccedilatildeo de conhecimento subjacente agrave noccedilatildeo de

competecircncia Ramos (2006) conclui que por estar pautada numa ldquoconcepshy

ccedilatildeo natural-funcionalista de homemrdquo esta noccedilatildeo abriga uma ldquoconcepccedilatildeo

subjetivo-relativista de conhecimentordquo que reforccedila o irracionalismo poacutes-

-moderno5 configurando-se como uma noccedilatildeo adaptadora do comportashy

mento humano agrave instabilidade da vida no capitalismo tardio

A perspectiva educacional ancorada na noccedilatildeo de competecircncia busshy

ca alterar a maneira de ser da classe trabalhadora adequando-a aos novos

valores necessaacuterios agrave manutenccedilatildeo das relaccedilotildees capitalistas No que tange

ao curriacuteculo essa noccedilatildeo privilegia os objetivos atitudinais comportamen-

tais e procedimentais ligados ao saber agir e saber fazer secundarizando e

subordinando os conhecimentos agraves situaccedilotildees praacuteticas uma vez que soacute satildeo

considerados vaacutelidos os conhecimentos que apresentam aplicabilidade no

desempenho das atividades de produccedilatildeo6

A pedagogia das competecircncias aleacutem de ser uma importanshy

te referecircncia pedagoacutegica defendida pelos intelectuais da classe

dominante natildeo estaacute soacute na defesa dos interesses capitalistas no

campo da educaccedilatildeo escolar pelo contraacuterio ganha forccedila na meshy

dida em que se alinha a outras concepccedilotildees que negam a escola

tomo instituiccedilatildeo responsaacutevel pela transmissatildeo do conhecimento

sistematizado como eacute o caso do construtivismo

Para desenvolver competecircncias eacute preciso antes de

tudo trabalhar por problemas e projetos propor

tarefas complexas e desafios que incitem os alunos

a mobilizar seus conhecimentos e cm certa medida

completaacute-los Isso pressupotildee uma pedagogia ativa

Com relaccedilaacuteo ao relativisino poacutes-moderno as anaacutelises de Harvey (2006) permitem

compreender que a necessidade capitalista de acelerar o tempo de giro do capital atraveacutes

ltli aceleraccedilatildeo da produccedilatildeo da troca e do consumo de mercadorias tem promovido

iima intensificaccedilatildeo da compressatildeo do tempo-espaccedilo influenciado as formas poacutes-

modernas de pensar sentir e agir acentuando a volatilidade e efemeridade valorizando

bull i instantacircneo e o descartaacutevel o que tem implicado na consideraccedilatildeo de que qualquer

perspectiva totalizante de conhecimento eacute inatingiacutevel

Ni realidade esta secundarizaccedilatildeo do conhecimento em favor de comportamentos

bull 1 iM-rvaacuteveis natildeo eacute novidade e em certa medida reedita os princiacutepios da Escola Nova (cf

I l AUTH 2001) e da Pedagogia do Domiacutenio (cf RAMOS 2006)

cooperativa aberta para a cidade ou para o bairro

seja na zona urbana ou rural Os professores devem

parar de pensar que dar aulas eacute o cerne da profissatildeo

Ensinar hoje deveria consistir cm conceber encaishy

xar e regular situaccedilotildees de aprendizagem seguindo os

princiacutepios pedagoacutegicos ativos e construtivistas Para

os professores adeptos de uma visatildeo construtivista

e interacionista de aprendizagem trabalhar no deshy

senvolvimento de competecircncias natildeo eacute uma ruptura

(PERRENOUD 2000 apud DUARTE 2003 p 6)

O trecho do trabalho de Perrenoud citado por Duarte (2003)

permite segundo este incluir a Pedagogia das Competecircncias - junshy

tamente com o Construtivismo a Escola Nova os estudos na linha

do ldquoProfessor Reflexivordquo dentre outros mdash no grupo das chamadas ldquoPe-

dagogias do Aprender a Aprenderrdquo que visam produzir uma maior

adaptabilidade dos indiviacuteduos agraves alteraccedilotildees do capitalismo7

As reflexotildees apresentadas ateacute aqui nos colocam diante do desafio

de construir as possibilidades de desenvolvimento dc uma perspectiva de

educaccedilatildeo que supere a loacutegica adaptadora da formaccedilatildeo mediada pelo lema

ldquoaprender a aprenderrdquo ou mais especificamente pela noccedilatildeo de aquisiccedilatildeo

de competecircncias para empregabilidade Por outro lado isso nos remete

ao resgate do significado de escola unitaacuteria de uma educaccedilatildeo politeacutecnica

e de uma formaccedilatildeo omnilateral na qual a formaccedilatildeo humana volta-se para

a apreensatildeo do conhecimento sistematizado em todas as suas dimensotildees

premissa fundamental para a formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos e criacuteticos

A perspectiva marxista de formaccedilatildeo humana como possibilidade de oposiccedilatildeo agrave perspectiva dominante de educaccedilatildeo escolar

Tendo como horizonte um projeto educativo voltado agrave superaccedilatildeo

do capitalismo Frigotto (1985) aponta a politecnia como concepccedilatildeo de

educaccedilatildeo que interessa agrave classe trabalhadora por estar fundamentada

na superaccedilatildeo da divisatildeo entre teoria e praacutetica em direccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do

homem em todas as suas dimensotildees - formaccedilatildeo omnilateral

Uma anaacutelise dai Pedagogias do Aprender a Aprender eacute apresentada em Duarte (2006)

A concepccedilatildeo de uma educaccedilatildeo politeacutecnica tem origem na

compreensatildeo do homem como um ser de muacuteltiplas atividades

Marx e Engels (1989) indicam que o homem natildeo deve limitar

seu desenvolvimento a uma das partes do seu corpo da sua inshy

teligecircncia ou de sua sensibilidade o homem todo e todo hoshy

mem deve constantemente humanizar-se pelo trabalho Desse

modo a educaccedilatildeo deveria ter como objeto de sua preocupaccedilatildeo o

desenvolvimento do homem nas suas maacuteximas potencialidades

partindo do pressuposto de que ele eacute capaz de captar a realidade

e dela se apropriar com todos os seus sentidos de maneira comshy

preensiva e como ser total (MARX 2005)

A concepccedilatildeo de formaccedilatildeo politeacutecnica fundamenta-se no mashy

terialismo histoacuterico dialeacutetico englobando de modo indissociaacuteshy

vel uma concepccedilatildeo pedagoacutegica uma perspectiva de trabalho e

um projeto de sociedade que garante agrave politecnia uma coerecircncia

entre meacutetodo concepccedilatildeo de mundo e praacutexis Ou seja a politecnia

apoia-se na anaacutelise das transformaccedilotildees dos processos de trabalho

que estatildeo na base das relaccedilotildees de produccedilatildeo capitalista (dimensatildeo

infraestrutural) Essa anaacutelise eacute realizada sob a perspectiva de um

projeto utoacutepico-revolucionaacuterio de construccedilatildeo de uma sociedade

sem classes (dimensatildeo utoacutepica) Essas duas dimensotildees acabam

por desembocar em propostas de accedilatildeo educativa (dimensatildeo peshy

dagoacutegica) que tecircm como finalidade contribuir para a formaccedilatildeo

do homem em todas as suas dimensotildees (RODRIGU ES 1998)

No que tange agrave concepccedilatildeo de escola pensada como um espaccedilo

de luta pela hegemonia8 da classe trabalhadora a defesa se faz no

sentido de uma escola que possibilite ao homem desenvolver suas

capacidades produtivas e intelectuais de forma unificada Nesta

perspectiva Gramsci (2004) defende um tipo de escola unitaacuteria que

ao mesmo passo encaminhe o jovem para a escolha profissional e

lorme sujeitos capazes de dirigir e controlar os rumos da vida em soshy

Adotamos o conceito de hegemonia conforme define Gramsci (2000) uma relaccedilatildeo de

poder presente nas sociedades capitalistas que expressa a dominaccedilatildeo de uma ou mais

fraccedilotildees dcclasse sobre o conjunto de sua proacutepria classe e das classes antagocircnicas em que

o econocircmico e o poliacutetico expressam a ldquodireccedilatildeo moral e intelectualrdquo a ser seguida pelo

conjunto da sociedade

ciedade Para tal esta escola deve promover a elevaccedilatildeo cultural9 dos

jovens preparando-os para a atividade social autocircnoma e criativa

A escola uacutenica do trabalho como estrutura busca a superaccedilatildeo das

trajetoacuterias de distribuiccedilatildeo desigual do saber a politecnia como conteshy

uacutedo visa construir uma organizaccedilatildeo curricular que resgate a totalidade

dos conhecimentos cientiacuteficos artiacutesticos filosoacuteficos e instrumentais

que regem os processos produtivos a dialeacutetica como meacutetodo caminha

no sentido da reunificaccedilatildeo entre ciecircncia e teacutecnica entre formaccedilatildeo geshy

ral e profissional entre teoria e praacutetica permitindo aos alunos comshy

preenderem o processo de construccedilatildeo do conhecimento

No entanto eacute importante salientar que a concepccedilatildeo de escola

unitaacuteria e de formaccedilatildeo politeacutecnica deve ser tomada como referecircncia

num processo mais amplo qual seja o de luta pela transformaccedilatildeo

da sociedade pois como elaborou Marx (1984) um modelo de

educaccedilatildeo que busque a unidade entre teoria e praacutetica entra em conshy

tradiccedilatildeo com a forma capitalista de produzir e dividir o trabalho

sendo que o uacutenico caminho para subverter essa ordem seria o desenshy

volvimento dessas contradiccedilotildees

Nesse sentido considerando a dinacircmica do processo de proshy

duccedilatildeoreproduccedilatildeo da cultura a defesa da escola como instituiccedilatildeo

responsaacutevel pela transmissatildeo-assimilaccedilatildeo do conhecimento sistemashy

tizado torna-se indispensaacutevel para que cada indiviacuteduo da espeacutecie

humana possa se inserir na histoacuteria social desenvolvendo-se em suas

maacuteximas potencialidades E exatamente nessa linha que se configura

a definiccedilatildeo de Saviani (2006) sobre o papel da escola na perspectiva

da Pedagogia histoacuterico-criacutetica

O movimento pedagoacutegico que deu origem agrave Pedagogia hisshy

toacuterico-criacutetica surge no final da deacutecada de 1970 como resposta

9 No atual ambiente ideoloacutegico no qual predomina a ideologia neoliberal e poacutes-

moderna falar em elevaccedilatildeo cultural pode se constituir como algo um tanto quanto

polecircmico Contudo fazemos questatildeo de destacar que na perspectiva marxista

com a qual trabalhamos ldquo[] natildeo haacute margem nem para o evolucionismo ingecircnuo

(seja no plano da histoacuteria da organizaccedilatildeo social humana seja no plano da histoacuteria

do conhecimento) nem para o relativismo que nega a existecircncia de formas mais

desenvolvidas de vida social e de conhecimento nem finalmente para o subjeti-

vismo que nega o conhecimento como apropriaccedilatildeo da realidade objetiva pelo

pensamentordquo (DU A RT E 2003 p 77)

agrave necessidade de encontrar alternativa agrave pedagogia dominante

Saviani (2005) explica que naquele contexto imperava a necesshy

sidade histoacuterica especialmente no caso brasileiro de criticar a

pedagogia oficial sobretudo para evidenciar seu caraacuteter reproshy

dutor De acordo com os autores da eacutepoca cada setor da cultushy

ra como o sistema de ensino por exemplo desempenharia seu

papel na reproduccedilatildeo da sociedade A medida que essas ideias

se difundiam as chamadas teorias criacutetico-reprodutivistas0 ganhashy

vam forccedila para consolidar o entendimento de que a educaccedilatildeo

escolar sempre desempenharia o papel de reproduccedilatildeo Essas teoshy

rias foram se formulando e se difundindo ao mesmo tempo em

que eram assimiladas no Brasil como instrumento utilizado para

fustigar a poliacutetica educacional do Regime Militar (SAVIANI

2005) Se por um lado as teorias criacutetico-reprodutivistas foram

importantes para evidenciar o papel desempenhado pela pedagoshy

gia oficial no contexto do Regime Militar no Brasil por outro

lado natildeo forneceram alternativas para se contrapor agrave pedagogia

dominante Neste sentido Saviani (2005 p 135) afirma que

a luta contra a ditadura tambeacutem implicava a forshy

mulaccedilatildeo dc alternativas No campo educacional

o problema colocava-se nos seguintes termos se a

pedagogia oficial era inaceitaacutevel qual seria entatildeo

a orientaccedilatildeo alternativa aceitaacutevel A visatildeo criacutetico-

reprodutivista natildeo dava resposta para essa pergunshy

ta Natildeo tinha uma proposta de orientaccedilatildeo Fazia a

criacutetica do existente mostrando que este desempeshy

nhava a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo

Portanto era necessaacuterio formular uma proposta pedagoacutegica

que estivesse atenta aos determinantes sociais da educaccedilatildeo e que

permitisse articular de forma dialeacutetica o trabalho pedagoacutegico

com as relaccedilotildees sociais deveria levar em conta a accedilatildeo reciacuteproca

em que a educaccedilatildeo embora determinada em suas relaccedilotildees com

10 Saviani (2006) denomina de teorias criacutetico-reprodutivistas aquelas que por um lado

postulam a compreensatildeo da educaccedilatildeo a partir de seus condicionantes sociais mas por

outro lado chegam agrave conclusatildeo de que a funccedilatildeo da proacutepria educaccedilatildeo eacute reproduzir a

sociedade na qual ela se insere

a sociedade reage ativamente sobre o elemento determinante

(SAVIANI 2005) Assim como desdobramento desse processo

que buscou encontrar alternativa agrave pedagogia dominante a Peshy

dagogia histoacuterico-criacutetica surgiu como uma proposta pedagoacutegica

fundamentada no materialismo histoacuterico cuja tarefa em relaccedilatildeo

agrave educaccedilatildeo escolar implica a) identificar as formas mais desenshy

volvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicashy

mente reconhecendo as condiccedilotildees de sua produccedilatildeo e compreenshy

dendo as suas principais manifestaccedilotildees bem como as tendecircncias

atuais de transformaccedilatildeo b) converter o saber objetivo em saber

escolar de modo que se torne assimilaacutevel pelos alunos no espaccedilo

e tempo escolares c) prover os meios necessaacuterios para que os

alunos natildeo apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultashy

do mas apreendam o processo de sua produccedilatildeo bem como as

tendecircncias de sua transformaccedilatildeo (SAVIANI 2005)

Segundo o autor a escola eacute uma instituiccedilatildeo cujo papel conshy

siste na socializaccedilatildeo do saber sistematizado Natildeo se trata portanshy

to de qualquer tipo de saber ldquoa escola diz respeito ao conhecishy

mento elaborado e natildeo ao conhecimento espontacircneo ao saber

sistematizado e natildeo ao saber fragmentado agrave cultura erudita e

natildeo agrave cultura popularrdquo (SAVIANI 2006 p 14) Destacar esse

posicionamento eacute importante sobretudo porque tambeacutem eacute posshy

siacutevel encontrar na Educaccedilatildeo Fiacutesica tendecircncias que negam a aproshy

priaccedilatildeo do saber sistematizado por parte das fraccedilotildees menos prishy

vilegiadas da classe trabalhadora ao proclamar como seu papel

central o desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica ou a ldquovalorizaccedilatildeo

da cultura popularrdquo em detrimento da cultura erudita

Para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica a defesa da escola como espashy

ccedilo de socializaccedilatildeo do saber sistematizado eacute essencial para assegurar o

caraacuteter contraditoacuterio da educaccedilatildeo e afirmar os interesses dos trabalhashy

dores uma vez que dominar os conhecimentos mais desenvolvidos

produzidos pela humanidade no campo das ciecircncias das artes e da fishy

losofia eacute condiccedilatildeo para o processo de emancipaccedilatildeo (SAVIANI 2006)

11 Uma criacutetica ao paradigma da aptidatildeo fiacutesica foi desenvolvida pelo Coletivo de Autores (1992)

cr

A perspectiva histoacuterico-criacutetica na Educaccedilatildeo Fiacutesica direcionando o olhar para a metodologia Criacutetico- superadora

A busca de alternativas agrave pedagogia dominante atingiu tambeacutem a

Educaccedilatildeo Fiacutesica possibilitando articular a praacutetica pedagoacutegica na aacuterea

a um novo projeto de sociedade Desde o final da deacutecada de 1970

com o processo frequentemente denominado de ldquoredemocratizaccedilatildeo

da sociedade brasileirardquo inuacutemeros estudos passaram a questionar o

papel que vinha sendo assumido pela Educaccedilatildeo Fiacutesica em nosso paiacutes

qual seja o de educar os indiviacuteduos em conformidade com as necesshy

sidades do modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Os

crescentes questionamentos que ganharam forccedila na deacutecada de 1980

colocaram em xeque o quadro de referecircncias que havia direcionado a

Educaccedilatildeo Fiacutesica por mais de um seacuteculo A inflexatildeo na aacuterea configurashy

da como uma crise de legitimidade inaugurou um periacuteodo de buscas

para se construir a autonomia pedagoacutegica da aacuterea frente a um quadro

histoacuterico de viacutenculo ao projeto dominante

Nesse processo um importante marco para a educaccedilatildeo escolar foi

a publicaccedilatildeo na deacutecada de 1990 do livro Metodologia do Ensino de lducaccedilaacuteo Fiacutesica escrito por um grupo que se autodenominou de Coshy

letivo de Autores (1992) Nessa obra eacute apresentado o paradigma da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal mdash uma tendecircncia que pautada

na Pedagogia histoacuterico-criacutetica visa a formaccedilatildeo do indiviacuteduo enquanto

sujeito histoacuterico criacutetico e consciente da realidade social em que vive

Para formar esse tipo de sujeito o paradigma da reflexatildeo criacuteti-

i i sobre a cultura corporal defende a tematizaccedilatildeo dos conteuacutedos de

lorma criacutetico-superadora A tematizaccedilatildeo defendida por esta proposta

ibrange a compreensatildeo das relaccedilotildees de interdependecircncia que os dife-

H iiies conteuacutedos da cultura corporal tecircm com os grandes problemas

bull gtlt Hraquo-poliacuteticos atuais como ldquo[] ecologia papeacuteis sexuais sauacutede puacute-

I 1 u i relaccedilotildees de trabalho preconceitos sociais raciais da deficiecircncia

bull I i wlhice distribuiccedilatildeo do solo urbano distribuiccedilatildeo de renda diacutevida

i u i na e outrosrdquo (COLETIVO DE AUTORES 1992 p 62-63)

Assim busca-se desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as formas

de representaccedilatildeo do mundo exteriorizadas pela expressatildeo corporal

que o ser humano tem produzido no decorrer da histoacuteria dentre as

quais pode-se destacar jogos danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esshy

porte malabarismos contorcionismos miacutemica e outros que podem

ser identificados como formas de representaccedilatildeo simboacutelica de realishy

dades vividas pelo homem historicamente criadas e culturalmente

desenvolvidas (COLETIVO DE AUTORES 1992)

Portanto pode-se afirmar que a metodologia Criacutetico-superado-

ra ao alinhar-se agrave perspectiva pedagoacutegica defendida por Dermeval

Saviani busca propor novos caminhos para a apropriaccedilatildeo do conheshy

cimento na escola inclusive pela organizaccedilatildeo metodoloacutegica fundashy

mentada nos cinco passos do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do coshy

nhecimento a saber identificaccedilatildeo da praacutetica social problematizaccedilatildeo

instrumentalizaccedilatildeo catarse e retorno agrave praacutetica social

O ponto de partida para a apropriaccedilatildeo do conhecimento na escola

eacute a praacutetica social (SAVIANI 2006) Nesse passo conforme apresentado

por Gasparin (2005) realiza-se um primeiro contato com o tema a ser

estudado para evidenciar suas relaccedilotildees com a vida cotidiana visando

mobilizar os alunos para o processo pedagoacutegico Segundo este autor a

identificaccedilatildeo da praacutetica social pode ser dividida em duas partes a saber

anuacutencio e vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos No anuacutencio dos conteuacutedos aponta-se o que seraacute estudado e quais os objetivos a serem alcanccedilados

Na vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos identifica-se o que os alunos jaacute sashy

bem c o que eles gostariam de saber mais sobre o assunto em questatildeo

O segundo passo do meacutetodo dialeacutetico de construccedilatildeo do conhecishy

mento escolar eacute a problematizaccedilatildeo fase na qual se busca ldquo[] detectar

que questotildees precisam ser resolvidas no acircmbito da praacutetica social e em

consequecircncia que conhecimento eacute necessaacuterio dominarrdquo (SAVIANI

2006 p 71) A partir dessa afirmaccedilatildeo dois importantes aspectos foram

salientados por Gasparin (2005) que merecem um devido destaque

O primeiro deles diz respeito agraves questotildees da praacutetica social que deshy

vem ser detectadas O autor esclarece com base no proacuteprio Saviani

que o foco deve ser concentrado nas grandes questotildees que desafiam a

sociedade nos principais problemas que precisam ser resolvidos natildeo

soacute na escola ou pela escola mas no acircmbito da sociedade Para isso

afirma que deve ser feita uma seleccedilatildeo do que eacute fundamental visto que

os principais problemas postos pela praacutetica social nem sempre podem

ser tratados na sua totalidade em cada aacuterea do conhecimento O ldquofunshy

damentalrdquo vale dizer refere-se aos aspectos relacionados ao conteuacutedo

estabelecido pelo curriacuteculo escolar ou aos conhecimentos trabalhados

em uma determinada unidade do programa Com base nesse entendishy

mento pode-se dizer que a problematizaccedilatildeo deve selecionar e discutir

os problemas que tecircm origem na praacutetica social mas que ao mesmo

tempo se ligam ao conteuacutedo a ser trabalhado trata-se de uma seleccedilatildeo

e discussatildeo de grandes questotildees sociais poreacutem inseridas e especificadas

no conteuacutedo da unidade que estaacute sendo estudada (GASPARIN 2005)

O segundo aspecto a ser destacado refere-se a qual conhecimento

eacute necessaacuterio dominar para resolver os problemas da praacutetica social Gas-

parin (2005) explica que de maneira geral os conteuacutedos satildeo quase

sempre transmitidos aos educandos por uma uacutenica dimensatildeo a con-

eeitual-cientiacutefica Em virtude da ecircnfase geralmente atribuiacuteda a essa dishy

mensatildeo do conteuacutedo o autor alerta o seguinte eacute necessaacuterio lembrar

no processo de construccedilatildeo do conhecimento que a ciecircncia tambeacutem eacute

iiin produto social originada de necessidades histoacutericas econocircmicas

poliacuteiicas ideoloacutegicas filosoacuteficas religiosas teacutecnicas dentre outras Tenshy

do i in vista o fato de que existem muacuteltiplas dimensotildees que revestem

os dilerentes conteuacutedos faz-se necessaacuterio abordar na construccedilatildeo do

- ltgtii1k-ciacutemento natildeo soacute a dimensatildeo conceitual-cientiacutefica A necessidade

llt 1 1 mscender a abordagem centrada na dimensatildeo conceitual-cientiacutefica

jMivuacuten do entendimento de que a anaacutelise do real deve considerar suas

muacuteltiplas dimensotildees visto que a realidade social envolve sempre uma

tuii de perspectivas um conjunto de aspectos interdependentes que

u ui ser entendidos para a resoluccedilatildeo dos problemas postos pela praacute-

laquo iil Eacute importante destacar esse aspecto sobretudo porque na

u lo 1 iacutesica a ecircnfase do processo pedagoacutegico geralmente eacute concen-

raquo i iu is rlementos teacutecnicos e taacuteticos o que desconsidera as muacuteltiplas

bull t M ii raquors que revestem o conteuacutedo em questatildeo

Assim duas tarefas principais podem ser operacionalizadas na

problematizaccedilatildeo A primeira delas envolve o questionamento da praacuteshy

tica social e do conteuacutedo escolar Trata-se de um momento em que satildeo

apresentadas e discutidas as razotildees sociais pelas quais se deve aprender o

conteuacutedo proposto de modo que os alunos possam entender melhor o

que seraacute estudado identificar os principais problemas postos pela praacuteshy

tica social e pelos conteuacutedos e ainda entender a necessidade eou vashy

lidade do conteuacutedo curricular proposto para solucionar eou entender

melhor os problemas da praacutetica social (GASPARIN 2005) A segunda

tarefa que pode ser realizada na problematizaccedilatildeo refere-se agraves dimensotildees

do conteuacutedo a serem trabalhadas Em linhas gerais pode-se dizer que

essa tarefa consiste em definir as dimensotildees que se deseja estudar Para

tanto pode-se partir do conteuacutedo a ser trabalhado de modo a elaborar

questotildees desafiadoras que expressem dimensotildees especiacuteficas referentes agrave

natureza do conteuacutedo como por exemplo as dimensotildees cientiacutefico-

-conceituais sociais econocircmicas culturais histoacutericas filosoacuteficas moshy

rais eacuteticas esteacuteticas legais e doutrinaacuterias (GASPARIN 2005)

O passo seguinte a instrumentalizaccedilatildeo segundo Gasparin (2005) eacute o

caminho atraveacutes do qual o conteuacutedo sistematizado eacute posto agrave disposiccedilatildeo dos

alunos para que o assimilem o recriem e ao incorporaacute-lo transformem-no

em instrumento cultural para transformaccedilatildeo da realidade Esse terceiro passhy

so do meacutetodo dialeacutetico de transmissatildeo do conhecimento consiste no moshy

mento em que os alunos vatildeo se apropriar das ferramentas culturais necesshy

saacuterias agrave luta social que travam diariamente para se libertar das condiccedilotildees de

opressatildeo em que vivem ou seja trata-se da fase na qual ocorre a apropriaccedilatildeo

dos instrumentos teoacutericos e praacuteticos necessaacuterios ao equacionamento dos

problemas detectados na praacutetica social (SAVIANI 2006)

De acordo com Saviani (2006) o quarto passo do meacutetodo eacute a ldquocashy

tarserdquo momento de expressatildeo elaborada da nova forma de entendimenshy

to da praacutetica social a que se ascendeu ldquoTrata-se da efetiva incorporaccedilatildeo

dos instrumentos culturais transformados agora em elementos ativos

de transformaccedilatildeo socialrdquo (SAVIANI 2006 p 72) Pode-se dizer que a

catarse eacute a demonstraccedilatildeo teoacuterica do ponto de chegada do niacutevel superior

atingido pelos alunos (GASPARJN 2005)

Por fim no retorno agrave praacutetica social temos a nova maneira de comshy

preender a realidade e de posicionar-se diante dela eacute a manifestaccedilatildeo

da nova postura praacutetica da nova atitude da nova visatildeo do conteuacutedo

no cotidiano Trata-se de acordo com Gasparin (2005) do momento

de accedilatildeo consciente em prol da transformaccedilatildeo da realidade a partir do

retorno agrave praacutetica social agora entendida de forma mais elaborada

Levando em conta esses diferentes momentos do meacutetodo dialeacutetico

de construccedilatildeo do conhecimento o ensino dos diferentes conteuacutedos que

compotildeem a cultura corporal permite aos alunos se apropriarem dos coshy

nhecimentos acumulados historicamente pela humanidade Trata-se de

um importante passo no sentido de enriquecer a concepccedilatildeo de mundo

dos alunos uma vez que o acesso ao saber sistematizado sobre jogos

esporte luta danccedila ginaacutestica circo por exemplo se constitui como

elemento indispensaacutevel para leitura dessa dimensatildeo da realidade

Consideraccedilotildees finais

O artigo em tela apresentou a concepccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica de

Educaccedilatildeo Fiacutesica que embasa as praacuteticas pedagoacutegicas discutidas ao longo

deste livro destacando sua articulaccedilatildeo com um projeto de formaccedilatildeo hushy

mana criacutetico agraves relaccedilotildees sociais capitalistas visando superar a perspectiva

de adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduos agraves exigecircncias do mundo do trabalho

Com base na Pedagogia histoacuterico-criacutetica e na abordagem Criacutetico-

-superadora o objetivo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute promover uma

reflexatildeo criacutetica sobre diferentes conteuacutedostemas da cultura corporal

seguindo um caminho metodoloacutegico que busca ampliar a compreensatildeo

e accedilatildeo dos sujeitos sobre a realidade em que vivem

Referecircncias

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CAPIacuteTULO III

A PRODUCcedilAtildeO DA CULTURA LUacuteDICA EM JOGOS ELETROcircNICOS

Priscila Rocha Rodrigues

Renata Aparecida Alves Landim

Tl)iago Barreto Maciel

Victoacuteria de Faacutetima de Mello

Abordar os jogos e as brincadeiras como

conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica pode parecer

um lugar comum pois existe um consenso

por parte dos educadores acerca da presenshy

ccedila dessas praacuteticas corporais nas aulas dessa

disciplina Entretanto muitas vezes o trashy

balho desenvolvido nas escolas opera uma

instrumentalizaccedilatildeo dos jogos utilizando os

mesmos como meios para a aprendizagem

dos esportes ou de outras mateacuterias de enshy

sino De acordo com Bracht et al (1995)

esse processo dilui os jogos de seu contexshy

to soacutecio-cultural passando a consideraacute-los

como um recurso metodoloacutegico e natildeo como

um conteuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Consideramos que para tratar os joshy

gos e as brincadeiras1 como conteuacutedo de

ensino eacute preciso superar a mera praacutetica e

I Em diversos idiomas os termos jogos brincadeiras e

brinquedo satildeo tratados como sinocircnimos e em outros uma

uacutenica palavra guarda os trcs significados Visando distinguir

os termos Kishimoto (2003) considera como brinquedo o

objetosuporte - concreto ou ideoloacutegico - da brincadeira

como brincadeira a conduta estruturada por regras e como

jogo a descficcedilaacuteo tanto do objeto como das regras durante um

determinado templaquo gt Neste texto adotaremos a conceituaccedilatildeo

de brinquedo como suporte da brincadeira mas naacuteo faremos

promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre os jogos como uma forma

proacutepria de expressatildeo da cultura corporal Os jogos satildeo resultados

do processo criativo cio homem para modificar imaginariamente

a realidade e o presente tendo em vista finalidades luacutedicas (C O shy

LETIVO DE AUTORES 1992) Eles tecircm significados dentro do

conjunto da produccedilatildeo humana por isso guardam em seu interior

as caracteriacutesticas do modo de organizaccedilatildeo social num dado moshy

mento histoacuterico sendo marcados por continuidades e rupturas em

relaccedilatildeo aos jogos e brincadeiras de outras eacutepocas

Na atualidade o modo de vida das pessoas sobretudo nos

grandes conglomerados urbanos tem favorecido a substituiccedilatildeo parshy

cial ou total dos jogos traciicionais provenientes da cultura popular

pelos videogames produtos da induacutestria cultural Nesse sentido

consideramos que promover uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre as es-

pecificidades e os dilemas que envolvem os jogos eletrocircnicos como

uma manifestaccedilatildeo luacutedica tipicamente contemporacircnea pode ajudar a

compreender o proacuteprio tempo 1 1 0 qual vivemos

lendo em vista a realizaccedilatildeo de uma discussatildeo teoacuterico-metodo-

loacutegica sobre os jogos e a socializaccedilatildeo de uma experiecircncia concreta

organizamos este artigo em trecircs partes aleacutem dessa introduccedilatildeo e das

consideraccedilotildees finais Na primeira abordaremos os jogos como uma

manifestaccedilatildeo da cultura corporal e suas implicaccedilotildees para as aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesica Na segunda trataremos das formas de expressatildeo dos

jogos na sociedade contemporacircnea Na terceira parte apresentaremos

uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos para os alunos dos

anos finais cio ensino fundamental seguida do plano de unidade

Os jogos e as brincadeiras como conteuacutedos para as aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Em nosso tempo um dos grandes estudiosos sobre os jogos foi

Huizinga Em sua obra claacutessica ldquoHomo Ludens rdquo publicada origishy

nalmente em 1938 ele analisou a natureza e o significado do jogo

como fenocircmeno cultural De acordo com Huizinga (2000) o jogo eacute

uma das manifestaccedilotildees mais antigas da humanidade e sempre esteve

associado ao divertimento e ao prazer com a finalidade de dar um

sentido luacutedico para a existecircncia humana Nas palavras do autor

[] o jogo eacute uma atividade ou ocupaccedilatildeo volunshy

taacuteria exercida dentro de certos e determinados

limites de tempo e de espaccedilo segundo regras lishy

vremente consentidas mas absolutamente obrigashy

toacuterias dotado de um fim em si mesmo acompashy

nhado de um sentimento de tensatildeo e de alegria e

de uma consciecircncia de ser diferente da ldquovida quoshy

tidianardquo (H U IZ IN G A 2000 p 24)

Apesar de buscar se distanciar dos objetivos de satisfaccedilatildeo imeshy

diata da vida atraveacutes da criaccedilatildeo e praacutetica de diversos tipos de jogos

todo jogo desde as idades mais remotas ateacute os dias atuais eacute um

produto do ldquotrabalhordquo 2 e por isso estaacute subordinado agraves formas

histoacutericas assumidas pela atividade humana em diferentes modos de

produccedilatildeo social da existecircncia ldquoOs homens fazem sua histoacuteria mas

natildeo a fazem como querem natildeo a fazem sob circunstacircncias de sua

escolha e sim sob aquelas com que se defronta diretamente legadas

e transmitidas pelo passadordquo (MARX 1978 p 329)

Uma caracteriacutestica marcante em todos os jogos e brincashy

deiras eacute a existecircncia de uma situaccedilatildeo imaginaacuteria e de regras que

expliacutecita ou implicitamente ordenam e conduzem as accedilotildees dos

jogadores Como descreve Vygotsky (2007) no processo de deshy

senvolvimento das brincadeiras da crianccedila haacute um processo que

vai do jogo de papeacuteis com situaccedilotildees imaginaacuterias expliacutecitas e com

regras impliacutecitas aos jogos com regras expliacutecitas e situaccedilotildees imashy

ginaacuterias ocultas Para esse autor os jogos satildeo condutas que im ishy

tam as accedilotildees reais por isso sofrem influecircncia das relaccedilotildees sociais

num jogo de papeacuteis da crianccedila por exemplo a situaccedilatildeo imaginaacuteshy

ria incorpora elementos e regras de comportamento do contexto

cultural adquiridos por meio da interaccedilatildeo com os outros

2 O trabalho eacute para Marx e Engels (1989) a atividade vital e por excelecircncia humana a partir

dele o homem modifica intencionalmente a natureza para atender suas necessidades e cria

novas necessidades produzindo sua proacutepria vida Desse modo por meio do trabalho o

homem transforma ao mesmo tempo a si mesmo e as formas de se organizar socialmente

criando histoacuterica e coletivamente um mundo especificamente humano o mundo da cultura

Outro aspecto que merece ser destacado eacute que todo jogo tem sua

existecircncia em um tempo-espaccedilo relacionado agrave sua localizaccedilatildeo histoacuterishy

ca e geograacutefica De acordo com Kishimoto (2003) uma mesma conshy

duta pode ser jogo ou natildeo-jogo em diferentes culturas dependendo

do significado a ele atribuiacutedo Os brinquedos tambeacutem devem ser enshy

tendidos como objetos culturais pois natildeo podem ser compreendidos

fora do contexto histoacuterico e social em que foram criados Se para uma

crianccedila europeia a boneca significa um brinquedo para populaccedilotildees

indiacutegenas tem o sentido de siacutembolo religioso

Desse modo mesmo que o jogo seja compreendido como

uma accedilatildeo de livre expressatildeo da crianccedila a sua praacutetica cotidiana

revela formas diferenciadas de jogar de acordo com o modo de

organizaccedilatildeo do trabalho e da vida dos povos praticantes Orlick

(1978) destaca como os padrotildees de partilha das sociedades satildeo reshy

fletidos e reforccedilados nos jogos e brincadeiras infantis Atraveacutes deles

as crianccedilas aprendem os modelos de comportamento dos adultos e

vatildeo sendo preparadas para a vida em sociedade

Esse coletivo considera que para configurar o jogo como conshy

teuacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica ele deve ser tratado pedagogishy

camente tendo em vista uma aprendizagem que amplie o niacutevel de

compreensatildeo dos alunos sobre o mundo Para tal consideramos que

ter accsso ao conhecimento sistematizado sobre os jogos e brincashy

deiras eacute essencial para que as crianccedilas e jovens possam agir sobre a

realidade social de forma totalizante incluindo em suas possibilidashy

des de accedilatildeo a dimensatildeo luacutedica da produccedilatildeo cultural humana Nesse

sentido se apropriar da cultura jaacute produzida eacute fundamental para

explorar o jaacute existente e a partir daiacute criar o novo dando novos

sentidos e significados aos jogos e brincadeiras

Considerar os jogos como manifestaccedilotildees da cultura corporal signifishy

ca retraccedilaacute-Ios desde sua gecircnese desvendando como eles eram e como satildeo

hoje buscando uma intervenccedilatildeo consciente sobre a realidade

Sua importacircncia enquanto conteuacutedo da EF estaacute

na representaccedilatildeo das raiacutezes histoacutericas e culturais

de diversos povos bem como as transformaccedilotildees

ocorridas ao longo do tempo que possam ter cau-

sado modificaccedilotildees no modo como se joga detershy

minado jogo em vaacuterias partes do mundo Egrave imporshy

tante tambeacutem considerar o jogo em seu processo

de criaccedilatildeo recriaccedilatildeo e readaptaccedilatildeo levando-se em

conta as possiacuteveis influecircncias poliacuteticas econocircmishy

cas e sociais pelas quais tenha passado dando-lhe

uma nova configuraccedilatildeo e uma compreensatildeo criacutetishy

ca (BRITO 2006 p 61)

Desse modo deve-se privilegiar uma abordagem sobre os

jogos que possibilite o conhecimento de suas principais caracteshy

riacutesticas como forma de manifestaccedilatildeo especiacutefica da cultura corshy

poral e naacuteo de forma subordinada ao esporte A flexibilidade eacute a

palavra chave para entender o jogo quanto agraves regras organizaccedilatildeo

espaccedilo-tempo nuacutemero de jogadores nomeaccedilatildeo caraacuteter compeshy

titivo ou cooperativo (JU IZ DE FORA 2000)

O trabalho com os jogos e brincadeiras deve permitir a

compreensatildeo do processo de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo da culshy

tura bem como suas continuidades e modificaccedilotildees histoacutericas

De acordo com o Coletivo de Autores (1992) a elaboraccedilatildeo de

um programa desse conteuacutedo ao longo dos anos de escolarizaccedilatildeo

deve considerar a memoacuteria luacutedica da comunidade e oferecer o

conhecimento da diversidade de jogos e brincadeiras existentes

nas diferentes regiotildees do paiacutes e do mundo

A ideia motriz eacute entender que os jogos como criaccedilotildees humanas

que objetivam o prazer e o divertimento num dado contexto histoacuterico-

-social refletem mas tambeacutem podem forjar valores e comportamentos

Desse modo o trabalho com os jogos deve instrumentalizar os alunos

natildeo apenas para utilizar a cultura luacutedica mas tambeacutem compreendecirc-la

como produccedilatildeo humana passiacutevel de constante criaccedilatildeo e recriaccedilatildeo

Devido agrave necessidade de selecionar temas de relevacircncia social

que instrumentalizem os alunos para uma accedilatildeo criacutetica frente agrave realishy

dade nos debruccedilamos sobre uma forma especiacutefica de manifestaccedilatildeo

da praacutetica luacutedica dos indiviacuteduos na atualidade - os jogos eletrocircni-

cos- buscando tratar de sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na

sociedade capitalista e suas relaccedilotildees com os jogos tradicionais

Os games formas de manifestaccedilatildeo dos jogos na sociedade contemporacircnea

Em pleno seacuteculo XXI as crianccedilas ainda brincam de piques

jogos com bola jogos de tabuleiro dentre tantos outros de forshy

ma muito semelhante aos seus pais avoacutes e bisavoacutes A esses tipos

de jogos que foram capazes de atravessar o tempo chamamos

de jogos tradicionais Eles tecircm como caracteriacutesticas centrais o

fato de pertencerem ao domiacutenio puacuteblico e serem transmitidos de

geraccedilatildeo em geraccedilatildeo De acordo com Kishimoto (2003) os jogos

tradicionais satildeo considerados como parte da cultura popular e

expressam as formas de consciecircncia de um povo num dado moshy

mento histoacuterico Esses jogos satildeo transmitidos oralmente e por

incorporarem criaccedilotildees anocircnimas das geraccedilotildees que vatildeo se suceshy

dendo estatildeo sempre em transformaccedilatildeo

Com base nesta definiccedilatildeo podemos considerar que existe uma fashy

cilidade da apropriaccedilatildeo e vivecircncia dos jogos tradicionais que satildeo tiacutepicos

da regiatildeo de pertencimento do aluno mesmo que de forma fragmentashy

da e caoacutetica proveniente do senso comum Tal fato se daacute justamente por

entendermos que os jogos tradicionais antes de tudo satildeo populares a

cabo do termo ou seja tecircm uma ampla inserccedilatildeo na sociedade Outro

fator que garante essa popularidade eacute que eles satildeo transmitidos atraveacutes

das geraccedilotildees e para sua praacutetica natildeo eacute necessaacuterio nenhum material sofisshy

ticado Dessa forma o alijamento dos meios de produccedilatildeo e dos produshy

tos do trabalho da maior parte da populaccedilatildeo natildeo acaba por ser um fator

determinante apesar de central no acesso a esse patrimocircnio cultural da

humanidade que satildeo os jogos tradicionais ou populares3

Embora diversos jogos tradicionais possam ser aprendidos

praticados de forma gratuita e permaneccedilam muito presentes no

cotidiano das crianccedilas e adolescentes eles vecircm perdendo espaccedilo

3 Neste texto utilizaremos os termos jogos tradicionais e jogos populares como sinocircnimos devido

ao fato de ambos possuiacuterem a mesma dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo marcadas pela

produccedilatildeo coletiva e reproduccedilatildeo oral entre as geraccedilotildees o que nos permite consideraacute-los como

patrimocircnios da cultura popular De acordo com SANTOS (2009) os termos tradicional

popular e folclore representam o conhecimento sobre um jogo por parte majoritaacuteria da

populaccedilatildeo sendo esse conhecimento na maioria das vezes advindo do senso comum

)

sobretudo nas grandes cidades para os jogos eletrocircnicos formas

de expressatildeo dos jogos tipicamente contemporacircneas

Os jogos eletrocircnicos4 estatildeo presentes na praacutetica social cotidiashy

na das pessoas em escala mundial e fazem parte da vida de inuacutemeras

crianccedilas e adolescentes brasileiros mesmo daqueles para os quais

os jogos satildeo apenas desejos de consumo Os games estatildeo por toda

parte natildeo apenas nos aparelhos especiacuteficos para os jogos (consoles

e portaacuteteis) mas tambeacutem nos computadores ipads e telefones celushy

lares podendo ainda ser jogados pela internet em sites e nas redes

sociais Deve ser difiacutecil para as crianccedilas e jovens de hoje pensarem

que houve um tempo em que natildeo existiam jogos digitais

A histoacuteria dos jogos eletrocircnicos tem iniacutecio no final dos anos

de 1950 no contexto da guerra fria quando comeccedilam a ser criashy

dos protoacutetipos de videogames com a incorporaccedilatildeo da tecnoloshy

gia disponiacutevel na eacutepoca Um dos precursores do videogame foi

W illian Higinbotham um fiacutesico que atuava num laboratoacuterio nushy

clear e havia trabalhado no projeto da primeira bomba atocircmica

ele criou em 1958 um jogo eletrocircnico com linhas rudimentares

o tecircnis para dois Em 1966 eacute criado por Ralph Baer o primeiro

console caseiro o Magnavox Odissey (A ERA 2007)

Entretanto eacute a partir dos anos de 1970 acompanhando o desenvolvishy

mento dos computadores pessoais que os jogos eletrocircnicos se tornam mais

expressivos Em 1972 com a criaccedilatildeo do ldquoPongrdquo (fliperama que simula uma

partida de tecircnis de mesa) os games comeccedilam a ficar agrave disposiccedilatildeo do puacuteblishy

co em geral O seu desenvolvedor Nolan Bushenell percebeu o potencial

dos jogos eletrocircnicos como um negoacutecio e fundou a ATARI empresa que

marcou o surgimento da induacutestria do videogame (ALVES 2004)

Entre a deacutecada de 1970 e a deacutecada de 1980 devido agrave manifestashy

ccedilatildeo de uma crise ciacuteclica de superproduccedilatildeo do sistema capitalista tem

iniacutecio um processo que podemos chamar de mundializaccedilatildeo econocircmi-

4 Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais nos quais o jogador interage com imagens

enviadas a uma tela geralmente uma televisatildeo ou monitor Os games satildeo programas

(sofrwares) instalados ou acessados em um sistema eletrocircnicoaparelho preparado

para rodaacute-lo (Hardware) Existem vaacuterios gecircneros de jogos eletrocircnicos como jogos de

accedilatildeo (plataforma de corrida de tiro) de estrateacutegia de lutacombate de esporte de

simulaccedilatildeo Role Playing Games (RPG) e de tabuleiro

caJy em que o capital parte em busca de novas aacutereas visando explorar

condiccedilotildees mais rentaacuteveis de produccedilatildeo e expandir mercados consushy

midores E justamente nesse contexto que a induacutestria cultural ganha

impulso e os jogos eletrocircnicos satildeo disseminados pelos quatro cantos

do mundo com grande potencial de escoamento de mercadorias

Nas duas uacuteltimas deacutecadas fruto de uma germinaccedilatildeo iniciada no

poacutes-terceira revoluccedilatildeo industrial ou revoluccedilatildeo tecnocientiacutefica que

proporcionou o surgimento de atividades que empregam a alta tecshy

nologia como a informaacutetica a microeletrocircnica o avanccedilo das telecoshy

municaccedilotildees e a biotecnologia os jogos eletrocircnicos tecircm seguido e tamshy

beacutem contribuiacutedo com os avanccedilos tecnoloacutegicos Se compararmos os

primeiros games com os jogos de hoje constataremos que eles deram

grandes saltos qualitativos de graacuteficos bi para graacuteficos tridimensionais

que permitiram aperfeiccediloar e personalizar os enredos e personagens

atingindo uma qualidade de imagem som e movimento tatildeo bons que

os jogos mais parecem realidades virtuais As inovaccedilotildees tecnoloacutegicas

e criativas satildeo produzidas numa velocidade cada vez maior materiashy

lizando-se rapidamente numa nova mercadoria a ser comercializada

O mercado dos games eacute de alta lucratividade com projeccedilotildees

de faturamento no acircmbito mundial para 2013 de US$ 735 bilhotildees

e girando no mercado interno aproximadamente R$ 875 milhotildees

- valor referente ao ano de 2008 (ABRAGAMES 2008) Aleacutem da

venda de uma enxurrada de produtos relacionados agrave praacutetica dos joshy

gos eletrocircnicos existe uma espeacutecie de economia virtual com comshy

pra e venda de mercadorias e identidades digitais (avatares) 6

5 O termo mundializaccedilatildeo eacute utilizado por Chesnais (1996) com a intenccedilatildeo de diminuir

a falta de nitidez conceituai e o caraacuteter ideoloacutegico do termo globalizaccedilatildeo que sugere

a ideia de uma perspectiva integradora Para o autor o termo mundializaccedilatildeo permite

pensar melhor esta fase especiacutefica do processo de internacionalizaccedilatildeo do capital em

busca de regiotildees com recursos ou mercados visando sua valorizaccedilatildeo Neste processo de

liberalizaccedilatildeo econocircmica e financeira haacute um agravamento da polarizaccedilatildeo entre regiotildees

centrais e perifeacutericas do capitalismo tanto em escala internacional como nacional

6 Essa economia virtual eacute muito comum nos jogos on-line de representaccedilatildeo da vida real

como Farm Ville The Sims Social e Second Life O Second Life possui uma unidade

monetaacuteria proacutepria o Linden Dollar atraveacutes da qual as pessoas podem comprar quase

tudo dentro do jogo Em 2009 o site do jogo movimentou 549 milhotildees de doacutelares Soacute

no primeiro trimestre de 2010 as movimentaccedilotildees financeiras entre usuaacuterios chegaram

a 160 milhotildees de doacutelares e a arrecadaccedilatildeo da loja virtual oficial foi de 23 milhotildees

(LUCRATIVO 2010)

Aqui cabe uma reflexatildeo sobre a dinacircmica social que envolve a proshy

duccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos e suas diferenccedilas em relaccedilatildeo

aos jogos tradicionais Os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos acompashy

nhando os avanccedilos tecnoloacutegicos do momento e norteados pelo afatilde da

esteira mercadoloacutegica tornando-se obsoletos rapidamente Bem difeshy

rente dos jogos tradicionais que satildeo transmitidos de geraccedilatildeo cm geraccedilatildeo

e apesar de sofrerem algumas modificaccedilotildees resistem ao teste do tempo

Desse modo podemos dizer que os jogos eletrocircnicos natildeo podem ser

considerados como populares pelo menos por dois motivos primeiro

pelo fato dos jogos de hoje natildeo serem os mesmos de amanhatilde e segunshy

do devido agrave exigecircncia de produtos especializados para a praacutetica dos

mesmos o que por si soacute jaacute os torna inacessiacuteveis a uma parcela signifishy

cativa da populaccedilatildeo que natildeo possui condiccedilotildees de consumo

Entretanto ao mesmo tempo em que existe uma ruptura entre esshy

ses dois tipos de jogos podemos notar uma estreita relaccedilatildeo entre eles jaacute

que muitos jogos eletrocircnicos satildeo na realidade versotildees virtuais de antigos

jogos tradicionais como os jogos de tabuleiro o boliche a queimada

os jogos de cartas os quebra-cabeccedilas entre outros O que sugere uma

perspectiva de continuidade na produccedilatildeo da cultura luacutedica

Temos como pressuposto baacutesico que o trabalho educativo

consiste em transmitir o conhecimento historicamente produzido

a fim de contribuir para que os nossos alunos possam ter acesso

aos conhecimentos mais desenvolvidos produzidos historicamenshy

te pela humanidade para que possam enriquecer-se como indishy

viacuteduos e atuarem como homens do seu tempo Entretanto aqui

evidenciamos uma grande contradiccedilatildeo da nossa sociedade pois

devido ao modo de produccedilatildeo capitalista esses conhecimentos que

os proacuteprios trabalhadores ajudaramajudam a construir lhes satildeo

negados7 No caso dos jogos eletrocircnicos apesar de existir uma

enorme difusatildeo sobre os mesmos vemos que a maioria da classe

trabalhadora natildeo tem real acesso a esta produccedilatildeo cultural

7 O acesso agraves tecnologias digitais aumentou nos uacuteltimos anos mas ainda eacute m uito

significativo o nuacutemero de pessoas sem acesso real a esses bens sociais De acordo

com o PNAD 2009 apenas 35 dos domiciacutelios brasileiros investigados tinham

microcomputador e somente 274 tinham arlaquolaquo -------M n

Esteban Clua - professor do departamento de computaccedilatildeo da

UFF- em entrevista concedida agrave Agecircncia Brasil destacou que o Brasil eacute

o quarto maior consumidor de jogos eletrocircnicos do mundo sendo que

existe uma massa de aproximadamente 39 milhotildees de usuaacuterios ativos

desses jogos ou seja aproximadamente 20 da populaccedilatildeo brasileira

(GANDRA 2011) Com base nisso cabe a noacutes lanccedilarmos algumas

perguntas que tipo de acesso eacute esse Quais fatores levam os outros 80

da populaccedilatildeo brasileira a natildeo jogarem E por que os jovens e crianccedilas

mesmo os que sequer tecircm as condiccedilotildees de garantir a sua subsistecircncia se

veem hipnotizadas por essas mercadorias

Os jogos eletrocircnicos como qualquer produccedilatildeo tecnoloacutegica natildeo satildeo

bons nem ruins por natureza natildeo se trata de criticaacute-los de forma saudosista

mas de permitir aos alunos uma atuaccedilatildeo criacutetica e consciente frente a esses

jogos que auxilie a superar o fetiche da tecnologia e a alienaccedilatildeo frente agrave messhy

ma Quando tomadas como valores de uso a ciecircncia e a tecnologia estatildeo

a serviccedilo da melhoria das condiccedilotildees de vida e da possibilidade de dilatar o

tempo livre para que o homem produza novos sentidos para sua existecircncia

natildeo apenas pela necessidade de comer vestir dormir morar mas tambeacutem

por finalidades luacutedicas Nesse sentido Frigotto (2005) aponta que as tecshy

nologias satildeo como extensotildees dos sentidos e membros dos seres humanos

Mas sob as relaccedilotildees de dominaccedilatildeo da sociedade capitalista o que era para

aumentar o tempo livre intensifica a exploraccedilatildeo e a alienaccedilatildeo

Com isso entendemos que natildeo haacute neutralidade no desenvolvimento

tecnoloacutegico pelo contraacuterio ele materializa-se em meio a todas as condenshy

saccedilotildees de forccedilas que permeiam a sociedade de classes Por isso apesar do

discurso que prega o acesso pleno agraves benesses do desenvolvimento capitashy

lista a natildeo democratizaccedilatildeo dos bens culturais produzidos pela humanidade

nos mostra o contraacuterio No caso dos jogos eletrocircnicos observamos que sua

dinacircmica de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo como mercadorias estaacute intimamente

ligada agrave loacutegica desigual e predatoacuteria do consumismo capitalista8

8 Os jogos eletrocircnicos como expressotildees culturais refletem a sociedade em que nascem mas

ao mesmo tempo tambeacutem ajudam a educar os consumidores passivos para esse padratildeo

civilizatoacuterio Kosik (1995) ajuda a refletir sobre essa dinacircmica dialeacutetica a partir do caso

da arte ldquotoda obra de arte apresenta um duplo caraacuteter em indissoluacutevel unidade eacute expressatildeo da realidade mas ao mesmo tempo cria a realidade uma realidade que natildeo existe fora da obra ou antes da obra mas precisamente na obrardquo (p 128)

Vale destacar que os grandes expoentes e exportadores histoacutericos

dos jogos eletrocircnicos satildeo as naccedilotildees imperialistas norte-americana e

japonesa Como reflexo disso carregam muitos dos valores tiacutepicos de

paiacuteses de capitalismo central como o individualismo a competiccedilatildeo

exacerbada o consumo desenfreado e a naturalizaccedilatildeo da violecircncia

Aliaacutes a questatildeo da violecircncia presente em diversos jogos eletrocircnicos

eacute uma das grandes polecircmicas que envolvem a praacutetica desses jogos No

que tange ao conteuacutedo violento dos games merecem destaque jogos

que pontuam a realizaccedilatildeo de crimes atropelamentos praacutetica de agresshy

sotildees em ambiente escolar perseguiccedilatildeo e morte de supostos terroristas

e os que simulam guerras e conflitos armados entre paiacuteses e povos Natildeo

eacute raro vermos mateacuterias jornaliacutesticas que associam o uso excessivo de

games a situaccedilotildees de violecircncia real o caso mais emblemaacutetico foi o masshy

sacre ocorrido em 1999 na Escola de Ensino Meacutedio Colombine em

Littleton no estado do Colorado (EUA)

De acordo com Alves (2004) a violecircncia como forma de linshy

guagem envolve ao mesmo tempo aspectos econocircmicos sociais

poliacuteticos culturais e afetivos por isso natildeo podemos adotar uma

atitude reducionista em culpar exclusivamente os jogos eletrocircnicos

pela violecircncia pois eles mesmos satildeo reflexotildeesprojeccedilotildees de uma

sociedade que banaliza a violecircncia A autora destaca tambeacutem que

uma questatildeo crucial a se pensar eacute que a violecircncia tem sido transshy

formada nas diversas miacutedias num grande espetaacuteculo por isso ela

vende e os adolescentes satildeo seduzidos pelas cenas de violecircncia para

consumirem produtos ldquoTanto a espetacularizaccedilatildeo quanto a este-

tizaccedilatildeo da violecircncia vecircm sendo bastante potencializadas nos jogos

eletrocircnicos em que a morte cada vez mais violenta passa a ser

sinocircnimo muitas vezes de grandes vendasrdquo (ALVES 2004 p 79)

Esse caraacuteter sedutor dos games de violecircncia eacute utilizado ateacute

pelas forccedilas armadas estadunidenses para estimular o alistamenshy

to militar e treinar recrutas Com esses objetivos o exeacutercito dos

EUA com a colaboraccedilatildeo do departamento de defesa norte-ame-

ricano criou o Americans Army um jogo de tiro em primeira

pessoa no qual os jogadores simulam combates militares reais

(IMASATO M ESQUITA 200$) O jogo disponibilizado grashy

tuitamente para o puacuteblico desde 04 de julho de 2002 possui

milhares dc jogadores pelo mundo todo inclusive no Brasil

Nesse exemplo os atos de agredirmatar personagens durante

o jogo natildeo satildeo utilizados apenas com sentidos luacutedicos mas tambeacutem

com a finalidade de criar nos jovens o desejo de realizar essas accedilotildees

na vida real A criaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de games como esse sem granshy

des criacuteticas por parte do puacuteblico permite visualizar o quanto a vioshy

lecircncia eacute vista com algo natural em nossa sociedade Com apoio nas

elaboraccedilotildees de Marx (1996) consideramos que a base dessa naturashy

lizaccedilatildeo satildeo as proacuteprias relaccedilotildees sociais capitalistas que transformam

tudo em mercadoria inclusive o trabalho humano fazendo parecer

que relaccedilotildees entre pessoas reais satildeo relaccedilotildees entre coisas

De um modo geral o homem cria instrumentos para satisfashy

zer suas necessidades dando sentidos humanos para as coisas mas

ao fazer isso gera novos interesses e necessidade transformando

sua proacutepria forma de viver Ou seja a tecnologia produzida pelo

homem passa a determinar suas accedilotildees e seu modo de vida Na

atualidade a criaccedilatildeo da rede mundial de computadores mudou

sensivelmente a forma de interaccedilatildeo entre as pessoas no caso dos

jogos eletrocircnicos a internet permitiu o compartilhamento de joshy

gos entre pessoas ao redor do mundo inteiro9 Desse modo os

jogos eletrocircnicos como criaccedilotildees humanas para satisfazer suas neshy

cessidades luacutedicas modificam o modo como os homens satisfazem

essas mesmas necessidades alterando os espaccedilos-tempos outrora

ocupados pelos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais

Nas grandes cidades convivemos com a falta de espaccedilos puacuteblishy

cos para brincar com o tracircnsito intenso com o alto grau de violecircnshy

cia e poluiccedilatildeo entre outros fatores que favorecem a diminuiccedilatildeo do

tempo destinado agraves experiecircncias corporais reais e sua substituiccedilatildeo

parcial ou total por praacuteticas virtuais como as possibilitadas pelos

9 Os jogos Massively Multiplayer on-line (M M Os) possibilitam vaacuterias pessoas

competirem pela internet criando comunidades de gamers gerando um novo modelo

de interatividade via jogos eletrocircnicos Nesse modelo as pessoas representam uma

segunda identidade e se relacionam atraveacutes dela Aleacutem disso existem torneios esportivos

multiplayer que permitem transformar esses games em profissatildeo (A ERA 2007)

jogos eletrocircnicos Os consoles mais modernos permitem inclusive

novas experiecircncias interativas com o corpo onde praacuteticas corporais

- como jogos tradicionais esportes danccedilas lutas e ginaacutestica - poshy

dem ser feitas dentro de um jogo virtual ressignificando a proacutepria

forma de vivecircncia da cultura corporal dentro e fora das telas

Os jogos eletrocircnicos tambeacutem tecircm sido produzidos e utilishy

zados para propoacutesitos que ultrapassam a diversatildeo Nesse sentishy

do merece destaque uma rede internacional chamada Game for change trata-se de uma organizaccedilatildeo social sem fins lucrativos

criada em 2004 nos EUA e com filiais na Europa Aacutesia e Ameacuterishy

ca Latina O objetivo dessa organizaccedilatildeo eacute promover a pesquisa

criaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de jogos digitais que contribuam com

mudanccedilas sociais Os jogos satildeo elaborados por sistemas de parshy

cerias e seu conteuacutedo eacute sempre educativo levando o jogador a

buscar soluccedilotildees para problemas econocircmicos ambientais e diploshy

maacuteticos Os melhores games satildeo premiados em um festival que

reuacutene representantes do governo e da sociedade civil10

Desse modo consideramos que abordar as manifestaccedilotildees

contemporacircneas dos jogos eacute essencial para que os alunos possam

atuar como sujeitos de seu tempo tambeacutem na esfera luacutedica No

caso dos jogos eletrocircnicos eacute preciso tratar de sua historicidade

abordando as diversas geraccedilotildees de jogos que apesar de envolshy

verem conhecimentos coletivos se tornam privileacutegio de poucos

na dinacircmica de produccedilatildeo capitalista Para aleacutem do mundo do

entretenimento os games tecircm cumprido funccedilotildees econocircmicas

poliacuteticas e educativas que precisam ser abordadas para uma comshy

preensatildeo mais ampla das relaccedilotildees nem sempre evidentes entre o

real e o virtual no mundo dos jogos

10 Apesar de ser considerado um avanccedilo em relaccedilaacuteo aos games estritamente comerciais por

abordar problemaacuteticas de fundo social alertamos que esses jogos buscam na conciliaccedilatildeo

de classes as soluccedilotildees para problemas extremamente complexos e muitos originados

reforccedilados pelas proacuteprias relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo capitalista alinhando-se portanto

agrave ideologia da responsabilidade Em linhas gerais o objetivo dessa ideologia desenvolvida

a partir do final dos anos de 1990 em consonacircncia com o neoliberalismo de terceira via

eacute articular as accedilotildees do empresariado em torno das questotildees sociais buscando construir

conscnsos entre as classes e suas fraccedilotildees de modo a garantir o processo de dominaccedilatildeo

capitalista por meio do convpnr im pnm IacuteW A B T IM C iacutenno

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com os jogos eletrocircnicos

As crianccedilas e jovens cotidianamente se divertem consomem

e interagem atraveacutes dos jogos eletrocircnicos que natildeo satildeo apenas

brinquedos pois satildeo formas de expressatildeo de sentimentos e deshy

sejos das novas geraccedilotildees Por isso concordamos com Silveira e

Torres (2007) que adotar apenas uma atitude normativa e conshy

troladora em relaccedilatildeo aos jogos eletrocircnicos sem abordar aspectos

teacutecnicos poliacuteticos econocircmicos e eacuteticos que envolvem essa forma

de expressatildeo dos jogos prejudica o desenvolvimento de uma vishy

satildeo criacutetica frente a essa produccedilatildeo cultural

Com a intenccedilatildeo de contribuir para a superaccedilatildeo desses limites

construiacutemos uma proposta de trabalho com os jogos eletrocircnicos dishy

recionada aos alunos do 7o ano do ensino fundamental Com emshy

basamento na Pedagogia histoacuterico-criacutetica dividimos didaticamente

essa experiecircncia em cinco passos buscando envolver os educandos

no processo de ensino-aprendizagem e propiciar um percurso edushy

cativo que amplie sua compreensatildeo e accedilatildeo sobre o tema

No primeiro momento identificaccedilatildeo da praacutetica social buscashy

mos apresentar os conteuacutedos que seratildeo abordados dentro da unidashy

de e como eles se expressam na praacutetica cotidiana dos alunos Para

que os alunos identifiquem o tema seraacute apresentada uma sequecircncia

de imagens sobre os jogos eletrocircnicos e os alunos seratildeo questionashy

dos sobre o que jaacute sabem e o que gostariam de aprender sobre esses

tipos de jogos Logo em seguida seratildeo apresentados os toacutepicos de

conteuacutedos abordados na unidade a saber conceito de jogos eletrocircshy

nicos os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos a virtualizaccedilatildeo

dos jogos tradicionais os games como grande negoacutecio e os desafios

e possibilidades trazidos pelos games na atualidade

Na problematizaccedilatildeo inicialmente seratildeo debatidas quesshy

totildees que buscaratildeo despertar a curiosidade dos alunos pelo tema

como quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem

Como as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por

que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia Em seguishy

da seratildeo lanccediladas questotildees-problemas que articulam a praacutetica

social concreta dos alunos com o conteuacutedo tratado na unidade

As questotildees foram orientadas com base em diversas dimensotildees

do conteuacutedo a saber conceituai histoacuterica cultural poliacuteticas

econocircmicas social e eacutetica conforme pode ser visto no plano de

unidade apresentado a seguir

A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento de apropriaccedilatildeo do coshy

nhecimento sistematizado a fim de que os alunos ampliem sua

compreensatildeo sobre as problematizaccedilotildees lanccediladas Para tal seratildeo

desenvolvidas accedilotildees como discussotildees debates experimentaccedilatildeo

de jogos na forma tradicional e eletrocircnica aulas expositivas e

apresentaccedilatildeo de documentaacuterios Nessa etapa a falta de recursos

como aparelhos especiacuteficos para jogos eletrocircnicos pode ser subsshy

tituiacuteda por versotildees de jogos para computadoresaparelhos celulashy

res e ou transformaccedilatildeo de jogos virtuais em jogos reais

Na catarse momento no qual os alunos devem ser capazes

de responder as questotildees-problemas com base no conhecimento

sistematizado eles participaratildeo de um quiz educativo sobre jogos

eletrocircnicos com a intenccedilatildeo de auxiliaacute-los na elaboraccedilatildeo de uma

siacutentese entre o saber cotidiano e o conhecimento cientiacutefico Nosshy

sa expectativa eacute que os alunos compreendam as principais caracshy

teriacutesticas dos jogos eletrocircnicos como uma forma de manifestaccedilatildeo

dos jogosbrincadeiras tipicamente contemporacircnea

Ao final do trabalho buscando um retorno agrave praacutetica social os alunos seratildeo estimulados a pocircr em accedilatildeo a nova visatildeo sobre

o conteuacutedotema em tela Nesse sentido seraacute proposta a consshy

truccedilatildeo de um blog que socialize os conhecimentos apreendidos

sobre os jogos eletrocircnicos e a realizaccedilatildeo de uma exposiccedilatildeo sobre

o desenvolvimento histoacuterico dos jogos eletrocircnicos

Plano de Unidade Os jogos eletrocircnicos e a sua dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo na sociedade contemporacircnea

Conteuacutedo jogos

Turmas 7o ano

Nuacutemero de aulas 12

Objetivo Geral Compreender a dinacircmica social que envolve a

produccedilatildeo e a reproduccedilatildeo dos jogos eletrocircnicos permitindo o uso

criacutetico desses jogos nos momentos de lazer

1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL

11 Anuacutencio do conteuacutedo

Toacutepicos de conteuacutedo c objetivos especiacuteficos

bull Toacutepico 1 O que satildeo jogos eletrocircnicos

Objetivo especiacutefico Conceituar os jogos eletrocircnicos e

suas formas de manifestaccedilatildeo para distingui-los de oushy

tros tipos de jogos em especial dos jogos tradicionais

bull Toacutepico 2 Os avanccedilos tecnoloacutegicos dos jogos eletrocircnicos

Objetivo especiacutefico Conhecer a origem e as transforshy

maccedilotildees histoacutericas dos jogos eletrocircnicos buscando

entender a influecircncia do contexto histoacuterico e do

avanccedilo tecnoloacutegico na configuraccedilatildeo desses jogos

bull Toacutepico 3 A virtualizaccedilatildeo dos jogos tradicionais

Objetivo especiacutefico Identificar jogos eletrocircnicos insshy

pirados em jogos tradicionais a fim de entender as

relaccedilotildees entre os dois tipos de jogos como produshy

ccedilotildees culturais luacutedicas

bull Toacutepico 4 Os games como um grande negoacutecio

Objetivo especiacutefico Compreender o processo de proshy

duccedilatildeo disseminaccedilatildeo e consumo dos jogos eletrocircnicos

a fim de compreender os papeacuteis econocircmicos poliacuteshy

ticos e sociais assumidos por esses jogos

bull Toacutepico 5 Geraccedilatildeo game over desafios e possibilidades11

Objetivo especiacutefico Reconhecer os benefiacuteciosmalefiacuteshy

cios trazidos pela praacutetica regular dos jogos eletrocircnicos e

suas possibilidades para a cultura corporal permitindo

o uso consciente e equilibrado desses jogos nos moshy

mentos de lazer

12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos

bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Os jogos

eletrocircnicos podem ser jogados em aparelhos proacuteprios

computadores e celulares existem games para jogar

sozinho em dupla e em grupo as pessoas mais velhas natildeo

brincavam com esses jogos

bull O que gostariam de saber mais Por que os jogos eletrocircnicos

satildeo conteuacutedos da Educaccedilatildeo Fiacutesica Quais os jogos eletrocircnicos

mais conhecidos

2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO

21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo

Quais os tipos de jogos eletrocircnicos que vocecircs conhecem Como

as crianccedilas se divertiam antigamente e na atualidade Por que os jogos

eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns hoje em dia

11 Elaboramos esse uacuteltimo toacutepico de conteuacutedo de forma bem flexiacutevel para que possa atender

as demandas que surgirem e ser abordado de acordo com recursos disponiacuteveis para seu

desenvolvimento Por isso na instrumentalizaccedilatildeo relativa a esse toacutepico apresentamos

diversas possibilidades de accedilotildees e recursos

12 Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

QUESTOtildeES PROBLEMATIZADORAS

Conceituai

O que satildeo jogos eletrocircnicos Que tipos de jogos eletrocircnicos

existem Os jogos eletrocircnicos podem ser considerados como

ldquojogos popularesrdquo

Histoacuterica

As brincadeiras e as formas de se divertir mudaram com o

passar do tempo Quando surgiram os jogos eletrocircnicos

Qual eacute a origemhistoacuteria de alguns dos principais jogos eleshy

trocircnicos Por que eles sempre mudam

Social

Por que os jogos eletrocircnicos satildeo tatildeo comuns atualmente

Quais finalidades sociais eles tecircm cumprido Quais as possishy

bilidades de uso criacutetico dos games

Econocircmica

Como os jogos eletrocircnicos satildeo produzidos c distribuiacutedos

Haacute faacutecil acessibilidade a todos para vivenciar esses jogos

Quanto custam os aparelhos e miacutedias para acesso aos jogos

eletrocircnicos Existe uma economia virtual

Poliacutetica

Existem espaccedilos puacuteblicos apropriados para brincar e jogar

com seguranccedila em nossa cidade Existem espaccedilos puacuteblicos

para jogar jogos eletrocircnicos

Eacutetica

Quais valores podem ser evidenciados nos jogos eletrocircnicos

Os jogos satildeo violentos Existem jogos eletrocircnicos criacuteticos

aos valores sociais Existem games cooperativos

Cultural

Os jogos eletrocircnicos satildeo difundidos em todas as culturas

Existem jogos eletrocircnicos universais Os jogos mais comuns

variam de paiacutes para paiacutes e de regiatildeo para regiatildeo Qual a relashy

ccedilatildeo entre os jogos eletrocircnicos e os jogos tradicionais

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

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4) SIacuteNTESE SUPERIOR

41 Siacutentese teoacuterica do aluno

Os jogos eletrocircnicos satildeo jogos virtuais de variados gecircneros

que necessitam de aparelhos eletrocircnicos com tecnologias especiacuteshy

ficas para serem jogados Apesar de muitos desses jogos serem reshy

sultado da virtualizaccedilatildeo de jogos tradicionais eles naacuteo podem ser

considerados jogos populares pois satildeo produzidos e distribuiacutedos

sob a forma de mercadorias (conceituai e cultural) Os jogos eleshy

trocircnicos estabelecem uma relaccedilatildeo estreita com o contexto no qual

foram criados incorporando diversos avanccedilos tecnoloacutegicos que

permitem a constante ampliaccedilatildeo da qualidade de imagem som e

movimento dos mesmos (histoacuterica) Na atualidade a forma de orshy

ganizaccedilatildeo das grandes cidades o aumento da violecircncia e a falta de

espaccedilos puacuteblicos para o lazer tecircm favorecido a substituiccedilatildeo parcial

ou total dos jogos tradicionais e outras praacuteticas corporais por jogos

eletrocircnicos (soacutecio-poliacutetica) Os jogos eletrocircnicos satildeo muito divulshy

gados pela miacutedia de massas e datildeo grandes lucros agrave induacutestria cultushy

ral enquanto a grande maioria das crianccedilas ainda natildeo tenha acesso

pleno a essas produccedilotildees pois a dinacircmica de produccedilatildeoreproduccedilatildeo

desses jogos se insere no mundo das mercadorias (soacutecio-econocircmi-

ca) Os jogos eletrocircnicos estatildeo inseridos na contraditoacuteria dinacircmica

capitalista e por isso refletem valores sociais como a violecircncia e a

competitividade mas tambeacutem podem forjar outros valores como a

cooperaccedilatildeo e a solidariedade (eacutetica)

42- Expressatildeo da siacutentese

Participar de um quiz de perguntas e respostas sobre os jogos

eletrocircnicos buscando expressar o que foi apreendido durante as aulas

i) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL

Quadro 3- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

ACcedilOacuteES DO ALUNO

Registrar e divulgar os conhecimentos

apreendidos sobre os jogos eletrocircnicos

1 - Construir e divulgar um blog

sobre os jogos eletrocircnicos (conshy

teuacutedo histoacuteria tipos de jogos

benefiacutecios problemas links e esshy

paccedilos para jogar gratuitamente)

Contribuir para a criaccedilatildeo de espaccedilos-

-tempos destinados agrave discussatildeo sobre

os games

2 - Montar uma exposiccedilatildeo que

funcione como linha do tempo

dos jogos

Ampliar os conhecimentos sobre os

jogos eletrocircnicos

3 - Pesquisar mais sobre os jogos

eletrocircnicos

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees finais

A concretizaccedilatildeo de uma proposta de ensino com os jogos eletrocircshy

nicos eacute sem duacutevidas um grande desafio seja pela falta de recursos adeshy

quados seja pela dificuldade em trabalhar com as novas tecnologias e

ateacute pela resistecircncia da comunidade escolar ao tratamento desse tema

pela escola Entretanto defendemos que abordar os games como exshy

pressotildees contemporacircneas dos jogos e brincadeiras eacute imprescindiacutevel se

pretendemos que nossos alunos compreendam a realidade em que vishy

vem e atuem como sujeitos do seu proacuteprio tempo

Com base nessa constataccedilatildeo a nossa intenccedilatildeo foi abrir o diaacutelogo

sobre as possibilidades de trabalho com os jogos eletrocircnicos como conteshy

uacutedo das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica Nesse sentido a experiecircncia pedagoacutegica

descrita nesse artigo buscou abordar os jogos eletrocircnicos em suas muacuteltishy

plas dimensotildees visando contribuir para que os alunos reconheccedilam essa

nroducatildeo cultural luacutedica como construccedilatildeo de homens e mulheres reais

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CAPIacuteTULO IV

AS RELACcedilOtildeES ENTRE ESPORTE E SAUacuteDE NO CAPITALISMO TEM ATIZANDO CONTRADICcedilOtildeES NA EDUCACcedilAtildeO ESCOLAR

Carlos Eduardo de Souza

Leonardo Docena Pina

Mocircnica Jardim Lopes

De maneira mais ou menos intensa o esshy

porre se apresenta de diferentes formas em nossa

vida Seja atraveacutes da televisatildeo de jornais de reshy

vistas ou da proacutepria praacutetica de diferentes modashy

lidades nos relacionamos quase que diariamente

com o esporte Poreacutem a relaccedilatildeo que estabeleceshy

mos em nosso cotidiano com essa manifestaccedilatildeo

cultural natildeo proporciona sua real compreensatildeo

E por isso que muitos lidam com o esporte diashy

riamente sem compreender sua relaccedilatildeo com os

processos histoacutericos Da mesma forma muitos

acabam por reproduzir a noccedilatildeo dominante exshy

pressa na ideia de que esporte promove sauacutede

Iniciamos o texto com essa reflexatildeo por

consideraacute-la importante para discutirmos o

ensino do esporte na escola Afinal por que eacute

importante ensinar esporte nas aulas de Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica se este jaacute estaacute presente em nosso

dia a dia fora da escola Seria o ensino do esshy

porte realmente necessaacuterio aos alunos

A resposta a essas questotildees nos remete

inicialmente ao fato de que desde a deacutecada

de 1990 com a divulgaccedilatildeo da perspectiva da reflexatildeo criacutetica sobre a

cultura corporal (COLET IVO DE AUTORES 1992) foi ampliashy

da a possibilidade de relacionar a Educaccedilatildeo Fiacutesica com a formaccedilatildeo

de sujeitos histoacutericos capazes de compreender a realidade de modo

a nela intervir criticamente Orientada na Pedagogia histoacuterico-criacuteti-

ca (SAVIANI 2005a) tal perspectiva trouxe novas formas de aborshy

dagem dos conteuacutedos As aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica antes pensadas

com o objetivo de desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica de treinamenshy

to teacutecnico de recreaccedilatildeo de aprendizagem motora dentre outros

puderam ser superadas por uma nova tarefa de transmissatildeo do saber

sistematizado necessaacuterio agrave compreensatildeo da realidade

Para alcanccedilar a nova tarefa a que se propotildee a perspectiva

da reflexatildeo criacutetica sobre a cultura corporal os conteuacutedos passashy

ram a demandar uma tematizaccedilatildeo criacutetico-superadora No caso da

manifestaccedilatildeo cultural que nos propomos a refletir no presente

capiacutetulo as indicaccedilotildees do Coletivo de Autores (1992) fornecem

a base para trataacute-la pedagogicamente de modo a superar as caracshy

teriacutesticas impostas pela sociedade capitalista Imprim ir um novo

sentidosignificado ao esporte implica a consideraccedilatildeo de alguns

elementos jaacute retomados por Assis (2001) Um deles eacute a necesshy

sidade de realizar uma leitura criacutetica do esporte sobretudo para

compreender as mediaccedilotildees que o integram agraves relaccedilotildees sociais de

produccedilatildeo da existecircncia humana Sem refletir criticamente sobre

o esporte corre-se o risco de natildeo compreender sua funccedilatildeo na

reproduccedilatildeo do capitalismo ou de desconsiderar a possibilidade

de esse fenocircmeno cultural servir a outro projeto de sociedade

Outro aspecto reside na necessidade de consideraacute-lo um

conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica A constataccedilatildeo de que o esporte vishy

nha atendendo historicamente aos interesses dominantes fez com

que alguns professores se distanciassem do ensino do esporte na

escola Na verdade por considerar que o esporte relaciona-se ao

processo de reproduccedilatildeo do capitalismo natildeo pretendemos afastaacute-

-lo da educaccedilatildeo escolar Pelo contraacuterio ressaltamos a necessidade

de tematizaacute-Io na escola visto que a transmissatildeo do saber objeshy

tivo historicamente acumulado sobre essa praacutetica cultural pode

se transformar em instrumento cultural de luta contra as forshy

mas de dominaccedilatildeo a que estatildeo submetidos os membros da classe

trabalhadora ainda hoje Daiacute a defesa do Coletivo de Autores

(1992) para desmitificar o esporte atraveacutes da oferta na escola

do conhecimento que permita aos alunos criticaacute-lo dentro de um

determinado contexto histoacuterico

Conforme afirma Assis (2001) o esporte traz consigo possishy

bilidades contraditoacuterias de modo que eacute possiacutevel enfatizar situashy

ccedilotildees que privilegiam a solidariedade sobre a rivalidade o coletivo

sobre o individual a autonomia sobre a submissatildeo a cooperaccedilatildeo

sobre a disputa a distribuiccedilatildeo sobre a apropriaccedilatildeo a abundacircncia

sobre a escassez a confianccedila muacutetua sobre a suspeita a descon-

traccedilatildeo sobre a tensatildeo a perseveranccedila sobre a desistecircncia e ainda

a vontade de continuar jogando em contraposiccedilatildeo agrave pressa para

terminar a partida e configurar resultados

A partir desses apontamentos torna-se possiacutevel afirmar que o

ensino desse conteuacutedo pode permitir aos alunos a apropriaccedilatildeo das

formas mais desenvolvidas do saber objetivo sobre o esporte que se

encontra acumulado na cultura Compreender o esporte demanda a

apropriaccedilatildeo do conhecimento jaacute produzido sobre ele Tal apropriashy

ccedilatildeo possibilita a compreensatildeo de suas contradiccedilotildees e consequenteshy

mente estabelecer novas relaccedilotildees com essa manifestaccedilatildeo cultural

Conforme afirma Saviani (2006) dominar a cultura erudita

eacute necessaacuterio aos membros da classe trabalhadora para que possam

fazer valer os seus interesses jaacute que a classe dominante faz uso

exatamente dos conteuacutedos culturais para legitimar e consolidar

sua dominaccedilatildeo Redirecionando essa reflexatildeo para o ensino do

esporte podemos concluir que o domiacutenio do conhecimento sisshy

tematizado sobre essa manifestaccedilatildeo cultural tambeacutem se constitui

como instrumento indispensaacutevel uma vez que os conhecimentos

adquiridos no cotidiano tendem a ser insuficientes para atuaccedilatildeo

dos indiviacuteduos enquanto sujeitos da histoacuteria

Esporte sauacutede e o modo vidatrabalho no capitalismo

Embora seja muito propagada atualmente sobretudo pela atushy

accedilatildeo de governos e Organismos Internacionais como a Organizaccedilatildeo

das Naccedilotildees Unidas (ONU) o Banco Mundial (BM) e o Fundo Moshy

netaacuterio Internacional (FMI) a ideologia que afirma de forma mecacircshy

nica o esporte como sauacutede carece de anaacutelise concreta da realidade

onde estatildeo inseridas as classes fundamentais1 Na perspectiva que

sustenta nosso estudo o entendimento do esporte da sauacutede e da posshy

siacutevel relaccedilatildeo entre esses dois temas soacute pode ser alcanccedilado se forem

confrontados e aferidos no conjunto da dinacircmica das relaccedilotildees sociais

existentes no modo vidatrabalho capitalista

O fenocircmeno cultural ldquoesporterdquo toma forma no seacuteculo XVIII no

periacuteodo de revoluccedilatildeo e afirmaccedilatildeo da burguesia enquanto classe domishy

nante Segundo Hobsbawm (1988) o esporte foi ldquoformalizado em torshy

no dessa eacutepoca na Inglaterra que lhe ofereceu o modelo e o vocabulaacuteshy

rio alastrou-se como um incecircndio aos demais paiacutesesrdquo (p 255) sendo

tambeacutem fruto segundo Bracht (2005) de ldquomodificaccedilatildeo poderiacuteamos

dizer de esportivizaccedilatildeo de elementos da cultura corporal de movimento

das classes populares inglesas como os jogos popularesrdquo (p 13) cuja

funccedilatildeo era basicamente de comemorar ou festejar datas

Foi tambeacutem nessa eacutepoca - da revoluccedilatildeo industrial - que os trabashy

lhadores passaram a conhecer o chamado ldquotempo livrerdquo que era exashy

tamente o tempo no qual se encontravam livres das obrigaccedilotildees fabris

0 preenchimento desse tempo para promover melhorias no trabalho

produtivo e na conformaccedilatildeo ideoloacutegica para uma melhor extraccedilatildeo da

mais-valia deveria abarcar valores e concepccedilotildees de mundo proacuteprias de

uma burguesia emergente (SILVA 1994) Tais valores se expressavam

diretamente no esporte uma vez que permitia o desenvolvimento de

1 Quando uma pequena parcela dos homens toma para si os meios de produccedilatildeo criam-se

contraditoriamente na sociedade duas classes a dos que detecircm os meios de produccedilatildeo e

aqueles que necessitam vender o uacutenico bem que lhes restou sua Forccedila de trabalho Essa

relaccedilatildeo contraditoacuteria e conflitante enrre os homens requer formas de dominaccedilatildeo por

exemplo as ideologias Entendendo ldquoideologiardquo natildeo como ilusatildeo ou supersticcedilatildeo mas

uma forma material especiacutefica de consciecircncia social (MESZAROS 2004)

determinadas formas de pensar e agir a exemplo da lealdade senso

de responsabilidade esforccedilo pessoal espiacuterito de equipe dentre outros

(TAFFAREL SANTOS JUN IOR 2009)

Proni (2002) ao traduzir a concepccedilatildeo de esporte desenvolvida

por Brohm cria um trabalho fecundo de elementos para compreshy

ensatildeo desse tema Segundo o autor a hipoacutetese central de Brohm se

sustenta no entendimento de que o sistema esportivo moderno eacute o

reflexo da universalizaccedilatildeo e mundializaccedilatildeo da forma de vida predomishy

nante que tem sua origem na economia capitalista na qual impera

o espiacuterito industrial a mentalidade do rendimento e do ecircxito ldquoO

intercacircmbio de mercadorias e de capital tiveram como consequecircncia

o intercacircmbio de ideias e a difusatildeo de praacuteticas esportivasrdquo (PRONI

2002 p 38) Ainda segundo o autor satildeo quatro fatores que Brohm

diz ser responsaacuteveis pelo desenvolvimento do esporte

(a) O aumento do tempo livre e o desenvolvimento do

oacutecio (que ocupa um lugar de destaque na civilizaccedilatildeo do

lazer) (b) a universalizaccedilatildeo dos intercacircmbios medianshy

te os transportes e os meios de comunicaccedilatildeo de massa

(o esporte converte-se em ldquomercadoria culturalrdquo graccedilas

a sua natureza comospolita) (c) revoluccedilatildeo teacutecnico -

cientiacutefica (que reflete-se na busca da eficiecircncia corposhy

ral nos novos materiais e equipamentos inclusive no

surgimento de novas modalidades esportivas) (d) e a

revoluccedilatildeo democraacutetico mdash burguesa e o enfrentamento

das naccedilotildees no plano internacional (isto eacute a dinacircmica

poliacutetico mdash ideoloacutegica) (PRONI 2002 p 39)

O esporte dentro dessa perspectiva carrega os valores e os pashy

drotildees de desenvolvimento do Estado liberal Difunde uma forma

de conviacutevio e inspira desejos de mudanccedilas individuais Aproxima

as classes sociais ocultando o antagonismo poliacutetico-econocircmico e

a relaccedilatildeo de exploraccedilatildeo existente entre elas Ou seja um produto

da sociedade industrial que vem servindo em larga medida como

elemento de difusatildeo do ideaacuterio e dos interesses da classe dominanshy

te Assim para Brohm a essecircncia do esporte

eacute a ideologia democraacutetica tiacutepica de uma sociedade

que precisa cultivar um ideal humanitaacuterio (liberdade

igualdade fraternidade) e ao mesmo tempo velar suas

estruturas de classe e seus mecanismos de dominaccedilatildeo

Por isso o autor enfatiza o papel da instituiccedilatildeo esporshy

tiva como estrutura simboacutelica e aparato ideoloacutegico do

Estado (PRONI 2002 p 39-40)

Desse modo Brohm iraacute concluir que o esporte eacute por excelecircnshy

cia algo nefasto para os trabalhadores servindo unicamente para

o fortalecimento das forccedilas e da identidade burguesa (BRACHT

2005) Essa se torna uma visatildeo estreita da realidade Considerashy

mos que a cultura esportiva de fato carrega os valores capitalistas

e nesse sentido tem servido como instrumento a serviccedilo da domishy

naccedilatildeo burguesa Mas isso natildeo eacute tudo Acreditamos que a anaacutelise do

esporte de forma mais profiacutecua deve ser aferida no conjunto das

contradiccedilotildees que envolvem a relaccedilatildeo capital-trabalho E na luta

de classes que as culturas vatildeo se amoldando Portanto o esporte

natildeo eacute uma instituiccedilatildeo que paira acima dos conflitos sociais natildeo

sendo em si nem ldquobom nem ldquoruimrdquo Trata-se da expressatildeo de uma

condensaccedilatildeo de forccedilas na qual hegemonicamente os valores da

classe burguesa sobressaem em relaccedilatildeo aos da classe trabalhadora

Nos dias de hoje a articulaccedilatildeo do esporte com os interesshy

ses da classe dominante pode ser evidenciada pela relaccedilatildeo co-

mumente estabelecida entre a praacutetica de esporte e a obtenccedilatildeo de

sauacutede Exemplo disso eacute a defesa da O N U de que as principais

causas de ateacute 60 das mortes no mundo estatildeo ligadas a pessoas

inativas e que o esporte e a Educaccedilatildeo Fiacutesica ldquosatildeo cruciais para a

vida longa e saudaacutevel O esporte melhora a sauacutede e o bem-estar

aumenta a expectativa de vida e reduz o risco de vaacuterias doenccedilas

natildeo-transmissiacuteveis incluindo a doenccedila cardiacuteacardquo (ON U 2003 p

7 traduccedilatildeo nossa) aleacutem de ser essencial para manter a ldquosauacutede da

menterdquo e construir ldquovaliosas conexotildees sociaisrdquo

Segundo Delia Fonte e Loureiro (1997) eacute a visatildeo funcionalista

sobre a sauacutede que permite afirmar a praacutetica de esporte como soluccedilatildeo

para os malefiacutecios da vida moderna Para os autores essa afirmaccedilatildeo

demonstra a superficialidade com a qual tem se abordado o tema sauacuteshy

de Na visatildeo funcionalista as doenccedilas ou ldquomorbidadesrdquo natildeo tecircm nada

a ver com as relaccedilotildees sociais concretas e sim com um desvio dos indishy

viacuteduos ou seja uma natildeo adesatildeo consciente a haacutebitos mais saudaacuteveis

Delia Fonte e Loureiro (1997) nos ajudam a entender a rashy

zatildeo que leva os Organismos Internacionais a difundir tais com-

preensotildees sobre o tema Conforme afirmam os autores

a estrutura social capitalista determina e legitima vaacuterias

ideacuteias valores e atitudes altamente patoloacutegicos Por um

processo de naturalizaccedilatildeo essas patologias saacuteo apresenshy

tadas como inerentes ao ser humano Longe de serem

compreendidas como patologias elas satildeo tidas como

qualidades Assim aceita-se como normal a busca do

lucro como objetivo de toda atividade econocircmica a exshy

ploraccedilatildeo do homem pelo homem o individualismo a

competitividade e a ambiccedilatildeo como valores modernos a

repressatildeo de ideacuteias e sentimentos rotulados como tabus

a satisfaccedilatildeo imediata de desejos como traduccedilatildeo da felishy

cidade a reificaccedilatildeo das pessoas e das relaccedilotildees sociais e a

alienaccedilatildeo (DELLA FONTE LOUREIRO 1997 p 2)

Em outras palavras o modo de vidatrabalho ainda sob a eacutegide

de uma sociedade classista conserva uma estrutura de poder e uma

poliacutetica mundial de grandes impactos no que concerne agrave sobrevivecircnshy

cia dos indiviacuteduos Nessa direccedilatildeo a preocupaccedilatildeo dos Organismos Inshy

ternacionais consiste tambeacutem em criar ideologias capazes de situar

os indiviacuteduos como uacutenicos culpados ou responsaacuteveis pelo seu estado

de sauacutede independentemente de suas condiccedilotildees de vidatrabalho

Os riscos derivados do modo capitalista de produccedilatildeo da

existecircncia humana satildeo diversos e ligados a inuacutemeras causas tais

como aqueles provenientes do ambiente de trabalho como rashy

diaccedilotildees ruiacutedos frio e calor intenso pressotildees anormais umidade

poeiras gases vapores compostos quiacutemicos esforccedilo fiacutesico intenshy

so controle de alta produtividade trabalho noturno monotoshy

nia trabalho repetitivo maacutequinas e estruturas mal conservadas

entre outros (SOUZA 2011) Vale destacar que ateacute mesmo os

esportistas de alto rendimento sentem os efeitos degradantes do

trabalho no capitalismo o que pode ser expresso natildeo apenas pelo

alto iacutendice de lesotildees mas tambeacutem pelo uso de substacircncias preshy

judiciais agrave sauacutede voltadas ao a u m e n rn Alt c mdash

a isso outros problemas como o aumento do iacutendice de depresshy

satildeo por exemplo que tambeacutem tem atingido atletas2

Mesmo os que natildeo sofrem tais efeitos durante a venda de sua

forccedila de trabalho estatildeo de alguma forma sujeitos agraves implicaccedilotildees do

modo capitalista de produccedilatildeo da existecircncia humana Exemplo disso

satildeo as implicaccedilotildees da degradaccedilatildeo ambiental produzida e intensificada

pelo capitalismo Trata-se de mais uma evidecircncia de que os riscos desshy

sa forma de organizaccedilatildeo social agrave vida humana hoje atingem a todos

A repercussatildeo negativa das relaccedilotildees capitalistas contemporacircshy

neas nas formaccedilotildees sociais ainda eacute agravada com o aumento da

desigualdade social perdas de direitos trabalhistas aumento da

exploraccedilatildeo aumento da violecircncia no campo e nas cidades surtos

de doenccedilas e principalmente a natildeo garantia de direitos baacutesicos

como sauacutede transporte educaccedilatildeo e outros Problemas como esshy

ses tendem a ser contrabalanceados a partir da foacutermula maacutegica

que o esporte assume na oacutetica funcionalista

A pretensa sauacutede relacionada agrave praacutetica do esporte tatildeo defendida

pelos Organismos Internacionais e governos serve duplamente agrave reshy

produccedilatildeo do capitalismo Se de um lado busca convencer as pessoas

de que a ldquoausecircncia de sauacutederdquo eacute uma escolha consciente e natural de

haacutebitos natildeo saudaacuteveis por outro busca ocultar as contradiccedilotildees do

modo de vidatrabalho em uma sociedade de classes O esporte nesshy

se caso torna-se um poderoso instrumento para dinamizar toda essa

estrutura ideoloacutegica de manutenccedilatildeo das relaccedilotildees sociais capitalistas

exatamente a forma de organizaccedilatildeo social que natildeo permite - a todos

- obter condiccedilotildees dignas de trabalho de vida bem como acesso iguashy

litaacuterio a tecnologias e serviccedilos de sauacutede

Em siacutentese pode-se dizer que o desenvolvimento do esporte eacute

algo circunscrito numa totalidade moldada pelo antagonismo das

classes existentes Essa produccedilatildeo cultural assume aspectos compleshy

xos e contraditoacuterios Seus valores moralizantes imbuiacutedos do pensa-

2 A respeito disso ver reportagem ldquoMal do seacuteculo depressatildeo aproxima trageacutedias do mundo

do futebolrdquo (BELPIEDE 2011)

3

mento liberal buscam fortalecer e universalizar um modo de vida

trabalho que coincide com os interesses da classe dominante Trata-

-se de uma forma de educar eacutetica e politicamente os subalternos

definindo um padratildeo de sociabilidade3 A deformaccedilatildeo das praacuteticas

populares e sua adequaccedilatildeo agrave ordem capitalista geram perda parcial

de identidades e possibilidades de autocriaccedilatildeo e transformaccedilatildeo Enshy

tretanto a busca de formas alternativas que visem o resgate das vonshy

tades meacutetodos e anseios dos trabalhadores natildeo eacute algo simples devishy

do ao processo funcional de obscurecimento da realidade Trata-se

de algo importante e possiacutevel a partir do esporte

Considerar o esporte como algo acabado sem espaccedilo para

explorar a contradiccedilatildeo natildeo interessa agrave organizaccedilatildeo da classe trashy

balhadora ldquoUma coisa eacute submeter o esporte aos interesses dos goshy

vernantes e outra eacute tratar pedagogicamente criacutetica reflexiva e

criativamente o esporte enquanto conteuacutedo de ensino e campo de

vivecircncia socialrdquo (TAFFAREL SA N TO S JU N IO R 2009 p 33)

construiacutedo por meacutetodos proacuteprios que visam atender aos anseios

e aspiraccedilotildees dos trabalhadores Ou seja os subalternos devem ser

ldquocapazes de compreender antecipar e contrastar os movimentos

das classes dominantesrdquo (DIAS 2006 p 13)

Entendemos que a condiccedilatildeo da transformaccedilatildeo da sociedade

ou seja a sociabilidade historicamente emancipada livre da domishy

naccedilatildeo de classe seraacute fruto da capacidade de enxergarmos a conshy

tradiccedilatildeo e nela atuarmos no sentido de superaacute-la poliacutetica e econoshy

micamente O que deve ser extirpado da histoacuteria dos homens natildeo

eacute o esporte mas as relaccedilotildees de produccedilatildeo que amoldam culturas e

mentes para servir agrave dominaccedilatildeo de uma classe sobre a outra

Compreender a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede a partir dos funshy

damentos aqui apresentados possibilita criticar a visatildeo funcionalisshy

ta o que pode ser um importante passo para pocircr fim agrave subordinashy

ccedilatildeo do esporte ao projeto histoacuterico da classe dominante

3 Para compreender como a institucionalizaccedilatildeo do esporte na aparelhagem estatal vem

contribuindo para a formaccedilatildeo da sociabilidade capitalista no Brasil recorrer ao estudo de

Souza (2011)

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o conteuacutedo esporte

Com o intuito de articular o ensino do esporte ao que considerashy

mos ser o papel da escola elaboramos uma proposta de trabalho pedashy

goacutegico com o tema esporte e sauacutede a ser desenvolvida com alunos do

oitavo ano da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de ForaMG

O primeiro contato dos alunos com o conteuacutedo a ser trabashy

lhado na unidade didaacutetica em questatildeo ocorreraacute na identificaccedilatildeo da praacutetica social onde apontaremos o assunto que seraacute desenvolvido

durante as aulas Tambeacutem buscaremos apreender o conhecimento

preliminar dos discentes bem como as questotildees que tecircm interesse

de ampliar o saber Apresentaremos o conteuacutedo Esporte delimitanshy

do o seguinte questionamento que direcionaraacute nossas aulas Esporte eacute sauacutede Em seguida cada aluno individualmente deveraacute elaborar

um texto explicitando sua compreensatildeo sobre essa questatildeo geral a

fim de captarmos os saberes construiacutedos pela vivecircncia cotidiana dos

alunos Espera-se com isso que os alunos maniiacuteestem o conhecishy

mento que possuem sobre a temaacutetica estabelecendo ou natildeo uma

relaccedilatildeo entre a praacutetica esportiva e a obtenccedilatildeo de sauacutede

Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto iniciaremos uma discussatildeo geral

sobre a temaacutetica e explicitaremos os toacutepicos que seratildeo abordados

durante o trabalho com o tema a saber sauacutede uma questatildeo

social as lesotildees e a depressatildeo cm atletas do esporte de rendishy

mento os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo vivenciando

diferentes modalidades esportivas Em seguida apresentaremos

os objetivos as atividades a serem desenvolvidas assim como a

importacircncia de se estudar esse tema

A seleccedilatildeo de questotildees sociais que permeiam o conteuacutedo aborshy

dado instigando o debate e a reflexatildeo dos alunos se expressa no

segundo passo metodoloacutegico a problematizaccedilatildeo Nesta etapa seleshy

cionaremos as dimensotildees do conteuacutedo que seratildeo trabalhadas esshy

tabelecendo os questionamentos relacionados agrave praacutetica social tal

como sugere o plano de unidade apresentado a seguir

Na instrumentalizaccedilatildeo fase na qual ocorre de fato a aproshy

priaccedilatildeo do conhecimento por parte do aluno pretendemos desenshy

volver atividades que contribuam para a elaboraccedilatildeo de respostas

aos questionamentos sistematizados anteriormente As atividashy

des docentes e discentes voltadas agrave transmissatildeoapropriaccedilatildeo do

conhecimento sistematizado vatildeo envolver exposiccedilatildeo do conteuacutedo

pelo professor anaacutelise de viacutedeos c documentaacuterios que abordem

a temaacutetica da sauacutede e do esporte leitura discussatildeo e anaacutelise de

reportagens sobre o tema pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privashy

dos) disponiacuteveis para a praacutetica de esporte na cidade vivecircncia das

modalidades esportivas mais conhecidas no paiacutes dentre outros

Para captar se os alunos se apropriaram do conhecimento elashy

borado que os capacita a responder as questotildees levantadas na pro-

blematizaccedilatildeo pretendemos aplicar uma atividade na qual os alunos

individualmente possam produzir um texto dissertativo sobre a seshy

guinte questatildeo geral esporte eacute sauacutede Espera-se que os alunos sejam

capazes de expressar o conhecimento adquirido se aproximando

do entendimento de que a sauacutede eacute uma questatildeo social e portanto

envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporshy

te atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por

exemplo Espera-se que os alunos superem o entendimento predoshy

minante do senso comum expressando que a praacutetica de esporte

por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacutede e mais por questotildees

ideoloacutegicas o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo vem sendo veiculado com a

intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsabilidade por sua

proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus direitos

baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos

que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo

Apoacutes a elaboraccedilatildeo do texto pretendemos discutir as diferenshy

tes abordagens do tema apresentadas pelos alunos inclusive posshy

sibilitando a eles comparar o texto produzido neste momento na

catarse com o texto produzido no iniacutecio do processo pedagoacutegishy

co Aleacutem disso os alunos devem produzir em grupos um cartaz

alertando a comunidade escolar sobre a problemaacutetica estudada

No retorno agrave praacutetica social pretendemos finalizar o trabalho

pedagoacutegico definindo juntamente com os alunos novas intenshy

ccedilotildees e propostas de accedilatildeo mdash a partir da nova forma de compreenshy

der e de lidar com o conteuacutedotema em questatildeo

Plano de unidade

Esporte eacute sauacutede

DISCIPLINA Educaccedilatildeo Fiacutesica

AN O DE ESCOLARIDADE 8o ano do Ensino Fundamental

C O N T E Uacute D O Esporte

U N ID A D E Esporte c sauacutede

N Uacute M ERO DE AULAS 10 aulas

OBJETIVOS GERAIS

bull Entender a sauacutede como uma questatildeo social resultado

das condiccedilotildees de alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo meio

ambiente trabalho transporte acesso aos serviccedilos de

sauacutede dentre outros de modo a adotar uma postura

favoraacutevel agrave superaccedilatildeo dos problemas sociais concretos

que determinam a obtenccedilatildeo da sauacutede

bull Vivenciar atividades esportivas enfatizando novos

sentidossignificados para posicionar-se favoravelmente agrave

transformaccedilatildeo do esporte

bull Refletir sobre os iacutendices de lesotildees e distuacuterbios emocionais

em atletas do esporte de rendimento

bull Analisar diferentes discursos sobre esporte e sauacutede

para posicionar-se criticamente diante das concepccedilotildees

que estabelecem uma relaccedilatildeo direta entre a praacutetica de

esporte e a obtenccedilatildeo de sauacutede

1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL

11 Anuacutencio dos conteuacutedos

TOacutePICOS

bull Sauacutede uma questatildeo social

bull As lesotildees e a depressatildeo em atletas do esporte de rendimento

bull Os fundamentos do slogan ldquoesporte eacute sauacutederdquo

bull Vivenciando diferentes modalidades esportivas

12 Vivecircncia cotidiana dos conteuacutedos

bull O que os alunos sabem a praacutetica de esporte estaacute relacionada

agrave obtenccedilatildeo de sauacutede praticar esporte faz bem agrave sauacutede

bull O que os alunos querem saber mais o que eacute necessaacuterio

para termos uma vida saudaacutevel Quais satildeo os esportes mais

conhecidos no Brasil Quais esportes tecircm o maior iacutendice

de lesotildees

2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO

21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo

O que vocecircs entendem por sauacutede O esporte promove sauacutede

Por quecirc Qual a importacircncia de se estudar o tema ldquoesporte eacute sauacutederdquo

22 Dimensotildees do conteuacutedo

bull Dimensatildeo conceituai O que eacute sauacutede Quais os principais

benefiacutecios da praacutetica correta e adequada de exerciacutecios

fiacutesicos Como a praacutetica esportiva melhora nossa sauacutede

bull Dimensatildeo histoacuterica os espaccedilos puacuteblicos destinados agrave praacutetica

de esporte em nossa cidade estatildeo diminuindo nos uacuteltimos

anos E os espaccedilos que cobram aluguel para utilizaccedilatildeo Seraacute

que esses espaccedilos estatildeo diminuindo ou aumentando

bull Dimensatildeo econocircmica- por que no esporte de rendimento as

lesotildees satildeo muito comuns

bull Dimensatildeo social se o esporte combate a depressatildeo por que

tem aumentado o nuacutemero de casos de atletas com essa

doenccedila A obtenccedilatildeo da sauacutede estaacute sempre presente nos

esportes de alto rendimento O uso de substacircncias para

melhorar o rendimento e a grande incidecircncia de lesotildees nos

atletas eacute indicativo de sauacutede

bull Dimensatildeo poliacuteticarsquo haacute algum programa social que propaga

o lema ldquoesporte eacute sauacutederdquo ou que nele se fundamenta O

lema esporte e sauacutede tem alguma importacircncia poliacutetica Haacute

poliacuteticas puacuteblicas de incentivo agrave praacutetica esportiva na sua

cidade

bull Dimensatildeo cultural Qual a influecircncia da miacutedia na relaccedilatildeo

entre esporte e sauacutede

bull Dimensatildeo ideoloacutegica Por que eacute tatildeo difundida a ideia de que

esporte eacute sauacutede A exigecircncia da capacidade fiacutesica dos atletas

nos esportes de alto rendimento eacute sinocircnimo de sauacutede

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

31 Accedilotildees docentes e discentes

bull Anaacutelise de viacutedeos e documentaacuterios

bull Vivecircncia das modalidades esportivas mais conhecidas no

paiacutes

bull Exposiccedilatildeo do conteuacutedo pelo professor

bull Pesquisa sobre locais (puacuteblicos e privados) disponiacuteveis para

a praacutetica de esporte na cidade

bull Leitura e anaacutelise de reportagens

32 Recursos mdash humanos e materiais

Livros revistas jornais slides bolas tv dvd folhas de papel

4) CATARSE

41 Siacutentese teoacuterica do aluno

O esporte tem se apresentado atualmente como elemento crucial para

obter sauacutede e alcanccedilar uma vida saudaacutevel A praacutetica de esporte quase semshy

pre estaacute diretamente relacionada agrave sauacutede Poreacutem uma anaacutelise mais cuidashy

dosa do tema esporte e sauacutede nos permite criticar e superar essas compre-

ensotildees predominantes Em primeiro lugar a sauacutede eacute uma questatildeo social

que envolve condiccedilotildees de vida como habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporte

atendimento meacutedico de qualidade e condiccedilotildees de trabalho por exemplo

Assim a praacutetica de esporte por si soacute eacute insuficiente para conquistar sauacuteshy

de Ateacute mesmo alguns esportistas de alto rendimento acabam por adquirir

problemas de sauacutede em virtude de sua atividade de trabalho seja por utilishy

zar substacircncias seja por se machucar durante treinos ou competiccedilotildees Em

segundo lugar eacute importante destacar que muitas vezes o lema ldquoesporte eacute

sauacutederdquo eacute veiculado com a intencionalidade de atribuir agraves pessoas a responsashy

bilidade por sua proacutepria sauacutede de um lado culpando aqueles que tecircm seus

direitos baacutesicos negados e por outro lado retirando a culpa dos governos

que se negam a tratar a problemaacutetica da sauacutede com a devida atenccedilatildeo

42 Expressatildeo da siacutentese

Elaboraccedilatildeo de texto dissertativo produccedilatildeo (em grupo) de um

cartaz sobre o tema estudado

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO

Quadro 1- Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO 52 AltyOacuteES DO ALUNO

Saber mais sobre esporte e sauacutede Ler artigos acadecircmicos sobre esporte e sauacutede

Situar-se criticamente frente agraves formulaccedilotildees

sobre esporte e sauacutede utilizando o conhecishy

mento adquirido para compreendecirc-las critishy

camente

Analisar formulaccedilotildees sobre esporte e sauacutede

veiculadas pela miacutedia

Manifestar uma atitude favoraacutevel agrave transforshy

maccedilatildeo do esporte

Vivenciar modalidades esportivas dando

um novo significado a essas praacuteticas de

m odo que a competiccedilatildeo a concorrecircncia

o rendimento e a disputa por exemplo

sejam substituiacutedos por valores que sociashy

lizam privilegiam o coletivo garantam a

solidariedade e respeito humano dentre

outros

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildes Finais

O presente texto buscou apresentar uma proposta pedagoacutegica

de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica

tendo como referecircncia os fundamentos da Pedagogia histoacuterico-

-criacutetica Buscamos com essa proposta ampliar a compreensatildeo dos

alunos sobre o tema e consequentemente possibilitar-lhes transshy

cender noccedilotildees cotidianas sobre a relaccedilatildeo entre esporte e sauacutede

Ao socializara referida proposta no presente artigo natildeo pretenshy

demos oferecer uma ldquoreceitardquo mas sim apresentar uma das inuacutemeshy

ras possibilidades de tematizaccedilatildeo do conteuacutedo esporte

Ainda consideramos importante destacar que as dificuldades imshy

postas pelas condiccedilotildees de vida e trabalho de grande parte dos professhy

sores das redes puacuteblicas municipal e estadual de ensino assim como as

degradantes condiccedilotildees de vida a que estatildeo expostos muitos dos nossos

alunos satildeo apenas alguns dos fatores que podem dificultar o desenshy

volvimento do trabalho pedagoacutegico voltado agrave transmissatildeo do conheshy

cimento sistematizado na educaccedilatildeo escolar As precaacuterias condiccedilotildees de

vidatrabalho por sua vez reiteram nosso entendimento de que a luta

pela socializaccedilatildeo do conhecimento na Educaccedilatildeo Fiacutesica natildeo se esgota no

debate pedagoacutegico entre as diferentes concepccedilotildees uma vez que engloshy

ba tambeacutem a luta pela escola puacuteblica que deve ser enfrentada em sua

radicalidade tal como alerta Saviani (2005b p 257)

O desafio posto pela sociedade de classes do tipo

capitalista agrave educaccedilatildeo puacuteblica soacute poderaacute ser enfrenshy

tado em sentido proacuteprio isto eacute radicalmente com

a superaccedilatildeo dessa forma de sociedade A luta pela

escola puacuteblica coincide portanto com a luta pelo

socialismo por ser este uma forma de produccedilatildeo

que socializa os meios de produccedilatildeo superando sua

apropriaccedilatildeo privada Com isso socializa-se o saber

viabilizando sua apropriaccedilatildeo pelos trabalhadores

isto eacute pelo conjunto da populaccedilatildeo

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CAPIacuteTULO V

0 MMA COMO NOVA FACE DA LUTA ESPETAacuteCULO

Adriano de Paiva Reis

Graziany Penna Dias

Rafael Loures dos Reis Bellei

Renata Aparecida Alves Landim

O presente capiacutetulo tem por intenccedilatildeo trazer

contribuiccedilotildees sobre a possibilidade de trabalho

com o conteuacutedo lutas nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica Entendemos que abordar as lutas na escola

natildeo eacute tarefa faacutecil pois esse conteuacutedo impotildee como

veremos algumas dificuldades ateacute mesmo pela

compreensatildeo equivocada dos proacuteprios professoshy

res e comunidade escolar sobre esse elemento da

cultura corporal Natildeo obstante compreendemos

que o trabalho pedagoacutegico com esse conteuacutedo eacute

possiacutevel e necessaacuterio pois nosso objetivo eacute que os

alunos ultrapassem uma concepccedilatildeo sincreacutetica e

caoacutetica sobre a realidade a partir da apropriaccedilatildeo

de conhecimentos que os permitam superar as vishy

sotildees parciais que predominam no senso comum

Partindo desse pressuposto optamos por

abordar uma temaacutetica que tem chamado a atenshy

ccedilatildeo de nossos alunos na atualidade o fenocircmeno

das Artes Marciais Mistas modalidade de luta

esportiva alardeada pela miacutedia e alvo de muitas

polecircmicas Nossa perspectiva neste texto seraacute reashy

lizar uma breve discussatildeo sobre o tema e apontar

referecircncias metodoloacutegicas para seu tratamento

nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica em conformidade com o referencial teoacuterico-

-metodoloacutegico proposto pelo Coletivo de Autores (1992)

As lutas e seu lugar na escola formaccedilatildeo de lutadores ou sujeitos

A partir da definiccedilatildeo do grande campo da cultura corporal as

lutasartes marciais1 passaram a figurar como importante conteuacutedo

das aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica O reconhecimento da necessidade de

tratamento pedagoacutegico das lutas na escola pode ser comprovado em

diversas orientaccedilotildeespropostas curriculares em niacutevel nacional estashy

dual e municipal e em escritos de diversos autores da aacuterea

Natildeo obstante em que pese essa produccedilatildeo ela ainda tem sido

incipiente em termos de lograr accedilotildees (pedagoacutegicas) efetivas para os

diferentes niacuteveis da educaccedilatildeo escolar A parca produccedilatildeo cientiacutefica

abordando as lutas na escola pode ser comprovada se comparada agrave

produccedilatildeo de outros conteuacutedos como o esporte o jogo e a ginaacutestica

Os professores de Educaccedilatildeo Fiacutesica tambeacutem apontam algumas

dificuldades ao procurar trabalhar esse conteuacutedo em suas aulas

como a falta de materiais roupas e espaccedilos adequados De acorshy

do com Nascimento e Almeida (2007) os principais argumentos

para a restriccedilatildeo do trabalho com o conteuacutedo satildeo a falta de vivecircncia

cotidianaacadecircmica em lutas por parte dos professores e a preocushy

paccedilatildeo com a violecircncia que julgam ser intriacutenseca agrave praacutetica das lutas

tornando-as incompatiacuteveis com as finalidades da escola

Apesar de compreendermos esses argumentos acreditamos que

devemos lutar pela formaccedilatildeo continuada e pelos recursos materiais que

nos permitam trabalhar de forma ainda mais qualificada com as lutas

por serem importantes conteuacutedos para a Educaccedilatildeo Fiacutesica De acordo

com os pressupostos que este coletivo se propotildee a trabalhar entendeshy

mos que as lutas configuram-se como um dos elementos da cultura

1 A lguns autores operam distinccedilotildees conceituais entre os termos Artes Marciais

e Lutas Respeitando os objetivos e limites deste texto optamos por natildeo entrar

nesta polecircmica e trabalhar os dois termos dentro do conteuacutedo lutas Partimos do

pressuposto de que apesar de nem toda luta ser considerada uma arte marcial toda

arte marcial eacute em si uma luta Para aprofundar neste assunto ver Lanccedilanova (2006)

corporal dada sua importacircncia nos mais diversos periacuteodos histoacutericos e

pela perspectiva da sua produccedilatildeo com base na realidade sociai concreta

sendo essa accedilatildeo elemento singular do gecircnero humano3 e que por isso se

diferencia da accedilatildeo instintiva do atacar e defender dos animais

As lutas estatildeo presentes nos mais variados espaccedilos como nas atishy

vidades extracurriculares de muitas escolas nas Olimpiacuteadas em acashy

demias nos clubes e na miacutedia (das mais variadas formas) fazendo os

alunos terem uma aproximaccedilatildeo maior com essa manifestaccedilatildeo corporal

Entretanto esse contato se faz geralmente na perspectiva do senshy

so comum reduzindo as lutas aos coacutedigos do esporte de rendimento

em que pesem por exemplo a oficializaccedilatildeo de regras comparaccedilatildeo de

resultados institucionalizaccedilatildeo racionalizaccedilatildeo das praacuteticastreinamenshy

to e busca da maximizaccedilatildeo do desempenho elementos proacuteprios do

processo de esportivizaccedilatildeo a que outras manifestaccedilotildees como o jogo e

a danccedila vem sofrendo tambeacutem (GONZAacuteLEZ 2005)

O boxe eacute um bom exemplo desse processo de esportivizashy

ccedilatildeo Ele foi criado a partir de disputas nas feiras da Inglaterra

dos seacuteculos XV III e X IX e sua sistematizaccedilatildeo como esporte se

deu mediante o objetivo de organizar o tempo livre4 dos trabashy

lhadores das faacutebricas bem como ldquodosarrdquo a violecircncia O mesmo

aconteceu com a luta greco-romana e mais tarde com as lutas

2 Na linha do Coletivo de Autores (1992 p 38) a cultura corporal eacute o ldquo[] acervo de

formas de representaccedilatildeo do mundo que o homem tem produzido no decorrer da histoacuteria

exteriorizadas pela expressatildeo corporal jogo danccedilas lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte

malabarismo contorcionismo miacutemica e outros que podem ser identificados como formas

de representaccedilotildees simboacutelicas de realidades vividas pelo homem historicamente criadas e

culturalmente desenvolvidasrdquo

3 A expressatildeo gecircnero humano eacute utilizada no lugar de espeacutecie humana natildeo por acaso mas

pautada nas elaboraccedilotildees de Duarte (2001) O autor natildeo descarta a ideia de que o ser humano

faz parte da espeacutecie humana poreacutem ele avanccedila nessa elaboraccedilatildeo De acordo com ele a

categoria espeacutecie humana se refere agrave identificaccedilatildeo do homem por seus elementos bioloacutegicos

jaacute a categoria gecircnero humano destaca as caracteriacutesticas humanas que satildeo formadas ao longo

da histoacuteria social natildeo transmissiacuteveis pela heranccedila geneacutetica ldquoA categoria de gecircnero humano

natildeo se reduz agravequilo que eacute comum a todos os homens natildeo eacute uma mera generalizaccedilatildeo de

caracteriacutesticas empiricamente verificaacuteveis em todo e qualquer ser humano Gecircnero humano

eacute uma categoria que expressa a siacutentese em cada momento histoacuterico de toda objetivaccedilatildeo

humana ateacute aquele momentordquo (DUARTE 2001 p 26)

4 Estamos entendendo tempo livre como aquele livre das obrigaccedilotildees sociais e cotidianas

pois no modelo social em que vivemos nenhum tempo pode ser considerado livre mas

regulado por alguma determinaccedilatildeo social Para saber mais ver Mascarenhalaquo

orientais (Caratecirc Taekwondocirc Kung-fu Jiu-jistu Judocirc etc) o

que nos permite apontar uma mudanccedila paradigmaacutetica das lutas

desde suas origens ateacute os dias atuais

De um modo geral as lutas tecircm suas conotaccedilotildees primordiais

associadas agraves praacuteticas para a guerra sendo posteriormente adotadas

como um caminho para se alcanccedilar um estilo de vida mais equilibrashy

do e paciacutefico Nessa linha Hausen (2004) descreve o processo histoacuterishy

co de desenvolvimento das lutas de origem oriental que surgiram de

danccedilas praticadas no periacuteodo neoliacutetico e foram sendo sistematizadas

com o intuito de defesa mas para aleacutem disso elas foram adquirindo

sentidossignificado mais amplos como a busca de aprimoramento

corporal espiritual eacutetico moral e intelectual

Nos dias atuais as lutas se apresentam de forma massificada e

descaracterizada dos seus objetivos originais como os filosoacuteficos e os

de desenvolvimento humano (BARROS GABRIEL 2011) Os filshy

mes desenhos animados jogos virtuais e academias de ginaacutestica enshy

tre outros espaccedilos muitas das vezes deturpam os significados autecircnshy

ticos das lutas fazendo com que esse importante elemento cultural se

perca diante das demandas do capitalismo internacionalizado

Quase sempre encaradas como espetaacuteculos maravilhosos de pancadashy

ria e violecircncia a miacutedia deturpa o sentido e significado original das lutas torshy

nando-as sinocircnimo de violecircncia e crueldade com os inimigos Este imagishy

naacuterio criado faz com que os praticantes de lutas se tornem super-heroacuteis que

combatem o mal atraveacutes da violecircncia que gradativatildemente ldquodessensibiliza

os mais novos acerca da violecircncia do choque e do terror de ver algueacutem senshy

do agredido Desenvolvendo essa toleracircncia agrave violecircncia precisaratildeo de cada

vez mais violecircncia para serem entretidos rdquo (LANCcedilANOVA 2006 p 7)

A defesa que fazemos em torno desse conteuacutedo se daacute na compreshy

ensatildeo de que essa manifestaccedilatildeo da cultura corporal muito tem a con-

5 Segundo Marta (2009) a disseminaccedilatildeo das artes marciais orientais para outros paiacuteses

desencadeou um processo de ocidentalizaccedilatildeo com progressiva transformaccedilatildeo das

mesmas em produtos que para tornarem-se mais acessiacuteveisaceitaacuteveis comeccedilam a ser

destituiacutedos de seus rituais e valores tradicionais sendo a esportivizaccedilatildeo um elemento

chave desse processo Vale lembrar que a ocidentalizaccedilatildeo natildeo ocorre apenas com as

lutas mas com toda a cultura de tal modo que podemos falar em ocidentalizaccedilatildeo da

comida da moda do padratildeo de beleza dos estilos de vida das praacuteticas corporais etc

tribuir na formaccedilatildeo criacutetica do nosso aluno visto que a atuaccedilatildeo como

sujeito histoacuterico requer o acesso aos conhecimentos acumulados sobre

as lutas e seus significados como realidades histoacuterico-sociais

Compreendemos que cada tipo de luta eacute uma manifestaccedilatildeo

dotada de trajetoacuteria singular pois satildeo criadas pelos homens conshy

forme os interesses sociais culturais poliacuteticos econocircmicos e filoshy

soacuteficos nos vaacuterios periacuteodos histoacutericos e modos de produccedilatildeo6 Desse

modo as lutas tornam-se campo feacutertil na compreensatildeo da realidashy

de como produccedilatildeo histoacuterica e que por isso podem ser reinventashy

das segundo suas necessidades e interesses Aliaacutes o fazer histoacuteria eacute

expressatildeo proacutepria do gecircnero humano Nas palavras de Hobsbawm

(2010) enquanto houver ser humano haveraacute histoacuteria

A perspectiva de trabalho com as lutas dentro da escola natildeo

tem como objetivo formar o lutador de certa modalidade mas sim

formar o sujeito histoacuterico E pensar isso perfaz entender que o ensishy

no de lutas justifica-se quando ele possibilita ao aluno compreender

de forma criacutetica os condicionantes histoacutericos e sociais que fizeram

das lutas o que satildeo hoje bem como possibilitar-lhe usufruir sob

outras perspectivas o praticarvivenciar essa manifestaccedilatildeo

Artes Marciais Mistas

O resultado de toda essa esportivizaccedilatildeoocidentalizaccedilatildeo das

artes marciais da falta de sensibilidade dessa sociedade cada vez

mais competitiva e da busca incansaacutevel por audiecircncia e conseshy

quentemente por lucro se cristaliza em uma simples sigla ldquoianshy

querdquo MMA Mixed M artial Arts) ou Artes Marciais Mistas O

M M A eacute uma luta esportiva em que teacutecnicas de variadas modalishy

dades de lutasartes marciais satildeo utilizadas devidamente esvaziashy

das de seus significados filosoacuteficos e histoacutericos originais e com um

acreacutescimo de brutalidade dotada de sentido econocircmico

6 Modo de produccedilatildeo eacute uma categoria utilizada por Marx com o intuito de discriminar

as diferenccedilas que cada eacutepoca histoacuterica possui em funccedilatildeo das suas forccedilas produtivas e

relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo Assim podemos falar em modo de produccedilatildeo escravista

feudalista capitalista Para saber mais ver Huni (2005)

Selecionamos como temaacutetica dessa unidade de lutas essa

modalidade por entendermos que seu apelo midiaacutetico tem chashy

mado muita atenccedilatildeo entre os jovens em nossa sociedade nos uacutelshy

timos anos Essa popularizaccedilatildeo traz algumas questotildees que devem

ser socializadas e discutidas com nossos alunos tais como a orishy

gem dessa luta esportiva o papel da miacutedia na sua difusatildeo a sua

relaccedilatildeo com a violecircncia e com a mercadorizaccedilatildeo das lutas entre

muitas outras que possam surgir de acordo com o interesse e

aprofundamento dos alunos na temaacutetica

Os primeiros indiacutecios de lutas mistas estatildeo relacionados com

a Greacutecia antiga Tal luta era denominada de Pankration uma

combinaccedilatildeo de duas palavras gregas p a n que significa tudo ou

vaacuterios e kratos que significa forccedila7 Mas registros de algo pareshy

cido ressurgem por volta da segunda deacutecada do seacuteculo passado

aqui no Brasil quando membros da famiacutelia Gracie a fim de

divulgar uma modalidade de luta por eles adaptada do Jiu-jitsu

japonecircs e mais tarde denominada Jiu-jitsu brasileiro criaram o

ldquoGracie Challengerdquo ou ldquoDesafio dos Gracierdquo Os irmatildeos Gracie

desafiavam qualquer lutador de qualquer modalidade a fim de

demonstrar que a sua teacutecnica era mais eficiente Esses desafios

ficaram conhecidos como Vale-Tudo8 (AWI 2012)

Mais tarde no iniacutecio dos anos de 1990 nos EUA Rorion Gracie

e outros soacutecios criaram o primeiro torneio UFC (Ultimate Fighting

Championship) Com um formato um pouco diferente dos torneios de

ldquoVale-Tudordquo anteriores - como por exemplo o abandono do ringue e

7 O Pankration era unia espeacutecie de luta de solo que fazia parte das provas dos Jogos

Oliacutempicos sendo um dos acontecimentos mais populares da antiguidade Segundo Elias

e Dunning (1992) o niacutevel de violecircncia permitido nessa luta era muito elevado as regras

eram tradicionais e muito flexiacuteveis havia um juiz mas natildeo havia limite de tempo e o

combate durava ateacute que um dos oponentes desistisse por isso muitas vezes terminava com

a mutilaccedilatildeo ou morte do adversaacuterio O Pankration natildeo pode ser considerado um esporte

pois esse termo soacute pode ser suficientemente utilizado a partir do seacuteculo XV III em referecircncia

agraves praacuteticas corporais regidas por regras escritas e regulamentadas por instituiccedilotildees especiacuteficas

8 No fim da deacutecada de 1920 ocorreu o primeiro confronto puacuteblico desse gecircnero na ocasiatildeo

foi chamado de estilo versus estilo soacute depois a imprensa comeccedilou a se referir a esse confronto

como Vale Tudo (AWI 2012) Na deacutecada de I960 a violecircncia de algumas lutas criou uma

resistecircncia ao Vale Tudo que chegou a ser proibido no Brasil Ele ressurgiu entre as deacutecadas

de 1980 e 1990 num combate entre lutadores de Jiu-jitsu e Luta Livre mas enfraqueceu

novamente devido ao alto grau de violecircncia inclusive por parte do puacuteblico (MM A 2010)

a criaccedilatildeo do octoacutegono9 mdash o UFC chamou a atenccedilatildeo com lutadores de

diversas modalidades se enfrentando com regras miacutenimas e sem restrishy

ccedilatildeo de tempo Logo surgiram outros torneios como ldquoPRIDErdquo e ldquoOpen

Free Style Japanrdquo que se tornaram sucesso nas TV s por assinatura Poshy

reacutem juntamente com o sucesso de espectadores10 vieram as restriccedilotildees

em diversos estados por todos os EUA (MMA 2010)

Em pouco tempo de existecircncia dessas competiccedilotildees os lutashy

dores perceberam que aliar as diversas modalidades de lutas que

permitissem a eles lutarem em peacute e no chatildeo os tornaria mais comshy

petitivos Essa mistura de estilos de lutas e habilidades se tornou

conhecida como Artes Marciais Mistas (D ISCOVER UFC 2012)

Natildeo apenas Anderson mas nossos melhores lutadores

sabem se moldar de acordo com a situaccedilatildeo diante

das adversidades E uma qualidade indispensaacutevel do

MMA Por permitir o uso de golpes das mais diversas

modalidades o esporte acaba premiando a capacidashy

de de improviso do atleta diante de tantas variaacuteveis

Nisso as artes marciais mistas se assemelham agrave paixatildeo

nacional o futebol notoriamente um dos esportes

que menos se presta a ldquoensaiosrdquo e um dos mais impreshy

visiacuteveis que existem (AWI 2012 p 289)

No iniacutecio do seacuteculo XXI o UFC retorna reformulado com reshy

gras mais riacutegidas para poder agradar as autoridades que antes o proishy

biram limite de tempo divisatildeo de categorias por peso e seleccedilatildeo crishy

teriosa de lutadores De acordo com Awi (2012) hoje o MMA em

seus principais eventos eacute um esporte regulamentado com exames

perioacutedicos testes antidoping e regras bem claras

Na atualidade o UFC marca que domina 90 do mercashy

do mundial do M M A vincula o espetaacuteculo de entretenimento ao

consumo dos mais diversos produtos como aparelhos de ginaacutesshy

tica roupas videogames bonecos e DVDs Uma noite do evento

9 v -Segundo Rorion Grace a ideia do octoacutegono (espeacutecie de jaula com oito lados) era

justamente impedir os lutadores de fugirem do espaccedilo de luta durante a ldquopancadariardquo a

fim de atrair mais puacuteblico e chegar agrave televisatildeo (M M A 2010)t10 Na primeira ediccedilatildeo do UFC 85 mil lares americanos pagaram para ver a luta ao

vivo na televisatildeo na segunda foram 120 mil na terceira 180 mil e na quarta 260

mil pagantes (AW I 2012)

gera em meacutedia 70 milhotildees de reais Estima-se que a marca ldquoUFCrdquo

comprada haacute 12 anos por 2 milhotildees de doacutelares hoje eacute avaliada

em mais de 13 bilhatildeo de doacutelares 11 (AWI 2012) Neste quadro o

M M A ascende como ldquonovardquo face da luta-espetaacuteculo12 assumindo

o posto outrora ocupado pelo boxe que hoje estaacute em segundo plashy

no dentro do mercado das lutas esportivas

O esporte hoje eacute considerado ldquofebre mundialrdquo o nuacutemero de fatildes

soacute aumenta com o passar dos anos e as criacuteticas tambeacutem Recentemenshy

te em entrevista ao jornal Folha de Satildeo Paulo o bi-campeatildeo mundial

de boxe Eder Jofre fala criticavam o boxe porque era violento mas

perto do M M A eacute baleacute (PERTO 2012) E as criacuteticas natildeo param

por aiacute outra pessoa a questionar a civilidade da modalidade foi um

dos fundadores da torcida organizada ldquoGaviotildees da Fielrdquo considerada

uma das mais violentas do paiacutes Questionado sobre a violecircncia das

torcidas organizadas hoje em dia Chico Malfitanni em entrevista agrave

Folha de Satildeo Paulo declara ldquoos meios de comunicaccedilatildeo satildeo os maiores

incentivadores Outro dia o Sportv estava metendo o pau nas orgashy

nizadas agraves 1 lh30 da manhatilde Nisso entram cenas do MMA sangue

escorrendo O Galvatildeo [Bueno] gritando direita esquerda o cara soshy

cando o outro e isso eacute civilizadordquo (REIS 2012)

Apesar de algumas regras terem sido incluiacutedas para proibir eou limishy

tar o uso de alguns golpes durante os combates o niacutevel de violecircncia preshy

sente nas lutas de M M A eacute inegaacutevel De acordo com Awi (2012 p 19-20)

E rarissiacutemo uma ediccedilatildeo do UFC que termine

sem que pelo menos um lutador tenha de receshy

ber atendimento hospitalar antes de voltar para

casa Embora ateacute hoje soacute se tenha registrado duas

mortes por conta de lesotildees sofridas durante um

combate a variedade de golpes tramaacuteticos potildee em

11 O UFC eacute apontado pelos executivos americanos como a marca esportiva mais valiosa dos

Estados Unidos agrave frente da NFL (Futebol Americano) e da NBA (Basquete) Segundo

Awi (2012) Dana White e os irmaacuteos Fertita atuais administradores do UFC deram

o grande pulo do gato da marca ao perceberem que naacuteo bastava a luta era preciso

transformaacute-la num espetaacuteculo de entretenimento de massas

12 Utilizamos o termo ldquonovardquo entre aspas porque consideramos que o formato do M M A eacute novo

mas o seu conteuacutedo naacuteo eacute pois revela a apropriaccedilatildeo de teacutecnicas de lutas jaacute existentes

risco sim a integridade fiacutesica dos lutadores Mas

tambeacutem eacute verdade que o niacutevel de seguranccedila hoje eacute

bastante aceitaacutevel mdash e natildeo para de crescer

A polecircmica sobre o niacutevel de agressividade que envolve os comshy

bates de Artes Marciais Mistas traz agrave tona uma importante reflexatildeo

estaria o M M A incitando a violecircncia entre as pessoas

De acordo com Freire (2012) a questatildeo natildeo eacute tatildeo linear asshy

sim pois a agressividade presente no M M A natildeo seria a mesma

temida pelas pessoas em seus cotidianos mas sim a violecircncia transshy

formada em um espetaacuteculo de entretenimento O autor defende

seguindo a esteira de Nobert Elias que o puacuteblico experimenta um

momento de fruiccedilatildeo e prazer consumindo uma violecircncia controlashy

da por certas regrasteacutecnicas natildeo necessariamente praticando-a o

que poderia ser considerada uma conquista civilizatoacuteria13

Entretanto eacute importante destacar que o niacutevel de violecircncia

encontrado no M M A precisa ser compreendido no interior das

relaccedilotildees sociais capitalistas que na atualidade tecircm corroiacutedo o

tecido social No capitalismo a busca incessante pelo lucro eacute o

grande objetivo a ser atingido por isso a vidaintegridade do

lutador (visto como mercadoria viva) e o respeito ao adversaacuterio

soacute fazem sentido agrave medida que contribuem para esse objetivo

Nessa direccedilatildeo Duarte (2000) qualifica a sociedade capitalista

como hipoacutecrita pois ao transformar tudo em mercadoria ela

torna-se indiferente ao desenvolvimento moral dos indiviacuteduos

sendo que cedo ou tarde ela encontra meios de superar os lim ishy

tes outrora impostos para exploraccedilatildeo Assim agrave medida que se

torna mais aguda a crise da sociedade capitalista atual aumenta

13 Elias e Dunning (1992) evidenciam o caraacuteter de complementaridade entre esporte

e avanccedilo da civilizaccedilatildeo Os autores defendem que a criaccedilatildeo de regras sociais que

pacificaram as formas de disputa poliacutetica ocorre paralelamente ao desenvolvimento

de formas de exerciacutecio regulado da exciiacuteaccedilatildeo reprimida nas atividades seacuterias da vida

Neste contexto o esporte teria uma finalidade cataacutertica jaacute que deveria criar tensotildees

imaginaacuterias reguladas por teacutecnicas e regras permitindo a realizaccedilatildeo de uma violecircncia

controlada satisfazendo necessidades de excitaccedilatildeo dos participantes eou espectadores

ainda mais a alienaccedilatildeo da moral14 prevalecendo nesse contexto o

individualismo e o egoiacutesmo exacerbado

Desse modo o M M A tem demonstrado alinhamento com o prinshy

ciacutepio basilar do capitalismo a busca impiedosa pela valorizaccedilatildeo do cashy

pital sendo suas regras e apropriaccedilotildees teacutecnicas subordinadas a esse fim

O propoacutesito central dessa luta esportiva eacute manter o puacuteblico fascinado

para vender imagens roupas e demais mercadorias associadas agrave sua praacuteshy

tica Mas contraditoriamente o MMA por carregar em seu interior

fragmentos de diversas artes marciais e caracteriacutesticas do nosso tempo

desde que problematizado pode ajudar a entender os desafios e possishy

bilidades colocados para as lutas no contexto atual

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com as lutas

Com base nessa discussatildeo propomos uma unidade de ensino

que aborda o M M A como temaacutetica dentro do conteuacutedo lutas O plashy

no de unidade descrito abaixo foi elaborado para ser trabalhado com

alunos do oitavo ano do ensino fundamental

Seguindo os pressupostos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica o prishy

meiro passo eacute a identificaccedilatildeo dos dados da realidade onde temos uma

primeira impressatildeo dos alunos sobre o tema a ser trabalhado Como

atividade desse momento propomos organizar os alunos em gnipos

e pedir a eles que faccedilam um cartaz em uma folha de cartolina a parshy

tir de questotildees previamente elaboradas pelo professor As perguntas

enumeradas abaixo no plano de unidade deveratildeo ser respondidas

atraveacutes de ilustraccedilotildees fotografias eou reportagens que seratildeo disponishy

bilizadas para alunos atraveacutes de jornais esportivos ou paacuteginas da intershy

net A ideia geral eacute que os alunos indiquem qual eacute a luta mais famosa

14 De acordo com Duarte (2000) a discussatildeo sobre moral na sociedade capitalista eacute feita de

maneira alienada ou seja descolada dos valores que orientam a vida concreta das pessoas

Isso porque uma discussatildeo radical levaria agrave constataccedilatildeo de que o sistema capitalista eacute

avesso agraves questotildees morais jaacute que a proacutepria loacutegica do sistema eacute maximizar a exploraccedilatildeo dos

seres humanos sem limites para ampliar a acumulaccedilatildeo de capital Desse modo a base

concreta dessa alienaccedilatildeo moral eacute a proacutepria alienaccedilatildeo do trabalho atividade essencialmente

humana Nesse processo o homem eacute alienado natildeo apenas do produto e da atividade do

trabalho mas tambeacutem de si mesmo da relaccedilatildeo com o outro e com o gecircnero humano

na atualidade Esta atividade teraacute como objetivo averiguar o niacutevel de

compreensatildeo dos alunos sobre o M M A enquanto principal luta dos

tempos atuais Ao final desta atividade seraacute exposto aos alunos o conshy

teuacutedo e a temaacutetica que seraacute trabalhada questionando-os acerca do

que gostariam de saber a mais sobre o tema

Na problematizaccedilatildeo seratildeo levantadas algumas questotildees importanshy

tes para a discussatildeo do tema buscando orientar o aluno no processo de

apreensatildeo ativa do conhecimento Conforme pode ser visto no plano

de unidade seratildeo lanccediladas questotildees que abordam diversas dimensotildees

do conhecimento que seratildeo trabalhadas tais como o processo histoacuterico

de criaccedilatildeo do MMA sua evoluccedilatildeo as teacutecnicas baacutesicas desta luta os

interesses econocircmicos e as relaccedilotildees deste tema com a sociedade atual

A instrumentalizaccedilatildeo eacute o momento onde as atividades desenvolshy

vidas estatildeo voltadas para a aquisiccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico por

parte dos alunos visando ampliar o niacutevel de consciecircncia dos mesmos

acerca do MM A e das suas interfaces com os tempos atuais No caso

em tela as atividades seratildeo exibiccedilatildeo de filmes e viacutedeos vivecircncia de

algumas modalidades de lutas discussotildees leituras de textos etc

A elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia pode ser verificada na cashy

tarse momento no qual haacute uma reinterpretaccedilatildeo da realidade desta

vez com o amparo do conhecimento cientiacutefico apreendido Como

sugestatildeo propomos a construccedilatildeo de um viacutedeo sobre os temas aborshy

dados a realizaccedilatildeo de um juacuteri simulado sobre o M M A e a criaccedilatildeo

de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais para debater o assunto

A ideia eacute que o aluno tenha se aproximado da percepccedilatildeo de que o

M M A eacute uma luta esportiva que utiliza teacutecnicas de diversas outras lushy

tas Na atualidade o MMA atraveacutes da marca UFC eacute uma das moshy

dalidades esportivas mais divulgadas e lucrativas do mundo Entreshy

tanto agrave medida que as teacutecnicas das lutas vatildeo sendo apropriadas para

seu uso competitivo nos torneios de M M A vai sendo aprofundado

o processo de descaracterizaccedilatildeo dessas modalidades em relaccedilatildeo aos

seus princiacutepios e valores originais O alto grau de violecircncia associado

agraves lutas dentro e fora dos octoacutegonos pode ser apontado como um

dos resultados desses processos de descaracterizaccedilatildeo

A uacuteltima etapa do plano de unidade eacute o retorno agrave praacutetica social ou

o momento de utilizar este conhecimento apreendido para uma nova

compreensatildeo e accedilatildeo sobre a realidade Assim propomos a divulgaccedilatildeo

dos materiais construiacutedos e socializaccedilatildeo com os outros alunos da escola

Plano de Unidade iMMA - a ldquonovardquo face da luta espetaacuteculo

OBJETIVO GERAL

Compreender o M M A e suas relaccedilotildees com o mercado da luta-

-espetaacuteculo a fim de assumir uma postura criacutetica frente ao processo

de massificaccedilatildeo das lutas a partir desta modalidade

Toacutepicos de Conteuacutedo e objetivos especiacuteficos

1 - M M A que luta eacute essa

bull Ampliar conhecimentos sobre o MMA para distingui-lo de

outras modalidades de luta

bull Identificar os principais estilos de lutas seus golpes e

fundamentos teacutecnicos que compotildeem o MMA

2 - Origem e histoacuteria do M M A

bull Conhecer a origem e o processo de disseminaccedilatildeo do MMA

a fim de identificar a dinacircmica social que envolve a produccedilatildeo

dessa praacutetica da cultura corporal

3 - As lutas e seu processo de descaracterizaccedilatildeo

bull Diferenciar lutas de briga

bull Entender o processo de descaracterizaccedilatildeo das lutas

esportivizadas

bull Identificar o M M A como luta esportiva suas regras

categorias e competiccedilotildees

4 - M MA Miacutedia e Mercado a luta-espetaacuteculo como grande negoacutecio

bull Identificar o papel da miacutedia no processo de difusatildeo do

M M A

bull Compreender os interesses econocircmicos envolvidos nas

competiccedilotildees de MMA

5 - O MMA e a espetacularizaccedilaacuteo da violecircncia

bull Apreender a relaccedilatildeo entre o M M A e a espetacularizaccedilaacuteo da

violecircncia em nossa sociedade

bull Debater a relaccedilatildeo entre violecircncia e lutas

1) Praacutetica Social Inicial do Conteuacutedo

Material de Apoio Jornais e revistas esportivas (pode ser

feito tambeacutem na sala de informaacutetica utilizando os sites esportishy

vos mais populares) cartolinas canetinhas laacutepis de cor caneta

cola e tesoura

Accedilatildeo Dividir os alunos em grupos de no maacuteximo seis pesshy

soas A cada grupo deveraacute ser dado um questionaacuterio para ser

respondido na folha de cartolina e um nuacutemero suficiente de jorshy

nais esportivos (ou paacuteginas principais impressas dos noticiaacuterios

esportivos on-line) As perguntas satildeo

bull Qual eacute a luta mais famosa nos dias atuais

bull Quem eacute o melhor lutador atual

bull Quais satildeo as regras

bull Qual eacute o espaccedilo onde ela acontece

bull Quem a inventou

bull Onde podemos assistir esta luta

Os alunos deveratildeo procurar nos jornais fotografias eou reporshy

tagens sobre a luta que foi respondida como mais famosa (muito

provavelmente seraacute respondida que o M M A eacute a luta mais popular)

Os cartazes deveratildeo ser apresentados para os outros grupos

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3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO15

Quadro 2- Instrumentalizaccedilatildeo

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MMA que luta eacute

essa

Ampliar conhecimentos sobre o

MM A para distingui-lo de oushy

tras modalidades

Identificar os principais estilos

de lutas golpes e fundamenshy

tos teacutecnicos que compotildeem o

MMA

Conceituai

Teacutecnica

Pesquisa na sala de informaacutetica

Ler reportagens sobre o MMA

Viacutedeos imagens e textos

disponiacuteveis no blog ldquoConteshy

uacutedo e Meacutetodo nas aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Origem e histoacuteria

do M M A

Conhecer a origem e o processhy

so de disseminaccedilatildeo do MMA a

fim de identificar a dinacircmica soshy

cial que envolve a produccedilatildeo desshy

sa praacutetica da cultura corporal

HistoacutericaExibiccedilatildeo do Documentaacuterio da

Sportv sobre o MMA

Documentaacuterio ldquoMMA

a luta que levou o boxe agrave

lonardquo

Os links para acesso aos videos filmes e documentaacuterios citados no quadro abaixo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Disponiacutevel em lthttpcoledvoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012

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(2011)

4) CATARSE

41- Siacutentese teoacuterica do aluno

A catarse seraacute demonstrada com registros durante as aulas exshy

pressando que o MM A (Mixed Martial Arts) eacute uma luta esportiviza-

da criada a partir de uma forma de disputa para a disseminaccedilatildeo do

Jiu-jitsu brasileiro como a melhor das artes marciais Eram embates

entre lutadores de teacutecnicas distintas com lutadores de Jiu-jitsu prinshy

cipalmente Com a exarcebaccedilatildeo da violecircncia principalmente fora dos

ringues a famiacutelia Grace se muda para os EUA e comeccedila a criar uma

nova forma de disputa com regras espaccedilo adequado e teacutecnicas espeshy

ciacuteficas Surge assim o Vale Tudo e posteriormente o UFC e outras

modalidades Atualmente o UFC eacute uma das modalidades esportivas

mais lucrativas do mundo e uma das mais violentas associando teacutecshy

nicas de diversas lutas (Boxe Jiu-jitsu Muai thay Aikidocirc etc) sem

contudo valorizar os aspectos filosoacuteficos e princiacutepios originais das lushy

tas como respeito ao adversaacuterio e a si mesmo Muitas pessoas treinam

MMA para brigas de rua e torneios sem contudo entender o sentido

da criaccedilatildeo destas teacutecnicas pois estatildeo descaracterizadas atendendo a

interesses econocircmicos que vatildeo muito aleacutem da simples autodefesa

42 - Expressatildeo da Siacutentese

Construccedilatildeo de um viacutedeo sobre o MMA abordando de forma

criacutetica os temas estudados nas aulas ou construccedilatildeo de cartazes reshy

alizaccedilatildeo de um juacuteri simulado discutindo a temaacutetica e criaccedilatildeo de um

foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a temaacutetica

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO

Quadro 3 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

Conhecer mais sobre o M M A e suas difeshy

renccedilas de outros estilos

Pesquisar ler textos e assistir viacutedeos

sobre o M M A

Contribuir para a socializaccedilatildeo dos conhecishy

mentos sobre as lutas e para divulgaccedilatildeo de

espaccedilos de discussotildees sobre as mesmas

Convidar os demais alunos da escola para

f acessarem os viacutedeos e participarem dos

foacuteruns de discussatildeo sobre as lutas

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (201 1)

Consideraccedilotildees Finais

A formaccedilatildeo de sujeitos histoacutericos 1 1 0 acircmbito da cultura corporal

passa pela apreensatildeo de conhecimentos teoacuterico-praacuteticos que permitam agir

criticamente frente aos grandes fenocircmenos esportivos para aleacutem de sua

aparecircncia No caso das lutas o pouco acesso aos conhecimentos histoacutericos

teacutecnicos e filosoacuteficos das mesmas pode contribuir para gerar a substituiccedilatildeo

de sua praacutetica salutar pelo consumo passivo de espetaacuteculos esportivos muishy

tas vezes regados com alto grau de violecircncia A proposta de ensino com a

tematizaccedilatildeo das Artes Marciais Mistas buscou contribuir para pensar no

papel de mediaccedilatildeo que a Educaccedilatildeo Fiacutesica pode ter na formaccedilatildeo de sujeitos

criacuteticos ao fenocircmeno de descaracterizaccedilatildeo e mercadorizaccedilatildeo das lutas

Referecircncias

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CAPIacuteTULO VI

A VOZ DA PERIFERIA O HIP HOP ENQUANTO POSSIBILIDADE DE TRABALHO NAS AULAS DE EDUCACcedilAtildeO FIacuteSICA

Adriano de Paiva Reis

Carla Cristina Carvalho Pereira

Giovana de Carvalho Castro

Herbert Hischter Chaves de Paula

Marcelo Silva dos Santos

Apesar da infinidade de possibilidades de

trabalho nos curriacuteculos escolares historicamenshy

te a danccedila foi tratada pela escola numa perspecshy

tiva funcional tendo como objetivo principal a

formaccedilatildeo do corpo feminino em contrapartida

agraves praacuteticas ginaacutesticas destinadas aos homens1

O fato eacute que o trabalho com a danccedila nas

escolas quase natildeo eacute realizado ou eacute realizado de

forma superficial e esvaziada A danccedila eacute recoshy

nhecida como atividade extracurricular - geralshy

mente o aprofundamento do trabalho com as

teacutecnicas de uma determinada modalidade - ou

eacute tratada como componente folcloacuterico no inshy

terior das escolas seja pela Educaccedilatildeo Fiacutesica ou

1 A discussatildeo acerca das praacuteticas corporais destinadas a

homens e mulheres ao longo da histoacuteria da Educaccedilatildeo

Fiacutesica no Brasil pode ser encontrada em Ghiraldelli

Juacutenior (1994) O autor situa historicamente a visatildeo

sexista da Educaccedilatildeo Fiacutesica na sociedade brasileira

demonstrando o papel da ginaacutestica para moldar o corpo

saudaacutevel robusto e harmonioso dos homens enquanto

que para as meninas as praacuteticas eram voltadas para a

danccedila a expressatildeo corporal o teatro e a poesia visando

pela Educaccedilatildeo Artiacutestica limitando-se muitas vezes agrave montagem de

coreografias para festas e comemoraccedilotildees da escola Raramente a danccedila eacute

valorizada por ter um conhecimento proacuteprio e uma linguagem expresshy

siva especiacutefica (BRASILEIRO 2003 FIAM ONCINI 2003)

A resistecircncia dos alunos em participar das aulas de danccedila na esshy

cola constitui um fator a ser considerado assim como a dificuldade

por parte de muitos professores em trabalhar com esse conteuacutedo sob a

alegaccedilatildeo de natildeo possuiacuterem conhecimento especiacutefico em nenhuma moshy

dalidade de danccedila problema agravado pelos curriacuteculos predominanteshy

mente esportivizados da maioria dos cursos de graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo

Fiacutesica No entanto entendendo que a funccedilatildeo primordial da escola eacute

a socializaccedilatildeo do saber historicamente produzido (SAVIANI 1997)

coloca-se como tarefa fundamental a sistematizaccedilatildeo de uma praacutexis edushy

cativa superadora em danccedila tendo em vista proporcionar aos alunos

uma apreensatildeo contextualizada e criacutetica acerca dessa linguagem

Na perspectiva da reflexatildeo sobre a cultura corporal a danccedila - enshy

tendida enquanto uma das expressotildees do patrimocircnio cultural da hushy

manidade - eacute um conteuacutedo a ser conhecido estudado produzido no

acircmbito escolar Nesta linha eacute preciso que o professor rompa com as

formas tradicionais mecanizadas e estereotipadas de danccedila proporshy

cionando ao aluno o conhecimento de suas verdadeiras possibilidades

corporais desenvolvendo a criatividade e a expressividade

A escolha da temaacutetica a ser abordada nas aulas deve partir

da necessidade de compreensatildeo e explicaccedilatildeo da realidade concreshy

ta do aluno oferecendo subsiacutedios para que ele compreenda os

determinantes soacutecio-histoacutericos de sua condiccedilatildeo de classe social

(C O LE T IV O DE AUTORES 1992)

Neste sentido escolhemos abordar o break enquanto modalishy

dade de danccedila atrelada ao movimento Hip Hop A definiccedilatildeo dessa

temaacutetica deveu-se agrave sua popularidade entre os alunos e agrave confusatildeo

conceituai acerca do Hip Hop uma vez que este eacute tratado apenas

como um estilo musical ou uma forma de danccedilar Assim torna-se neshy

cessaacuterio abordar e discutir as contradiccedilotildees existentes entre a essecircncia

do Hip Hop enquanto movimento de criacutetica e contestaccedilatildeo social e

sua mercadorizaccedilatildeo c esvaziamento pelos meios de comunicaccedilatildeo

O Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia e criacutetica social

O Hip Hop natildeo eacute apenas um estilo musical ou um tipo de

danccedila Trata-se na verdade de uma importante manifestaccedilatildeo culshy

tural produzida enquanto um movimento de resistecircncia da perishy

feria da classe menos favorecida - que natildeo coincidentemente eacute

representada majoritariamente por negros2 A origem do termo eacute

bastante controversa mas muitos pesquisadores atribuem sua criashy

ccedilatildeo a Afrika Bambaataa3 Suas origens remontam aos EUA por

volta dos anos de 1970 nos subuacuterbios de Nova York e de Chicago

atrelado agraves expressotildees culturais das comunidades jamaicanas latishy

nas e afro-americanas Nesses guetos - habitados majoritariamente

por uma populaccedilatildeo negra4 e assolados pela pobreza traacutefico de

drogas racismo ausecircncia de educaccedilatildeo e de espaccedilos de lazer mdash o

movimento Hip Hop nasceu a partir de accedilotildees para conter a violecircnshy

2 Satildeo os negros que ocupam a maioria das estatiacutesticas de desemprego mortalidade infantil

analfabetismo que possuem as piores condiccedilotildees de moradia a maioria que ocupa os

presiacutedios e as ruas etc A discussatildeo sobre a marginalizaccedilaacuteo do negro no Brasil ganha forccedila a

partir dos anos iniciais deste seacuteculo demonstrando a importacircncia do movimento negro no

cenaacuterio dos movimentos sociais no paiacutes Entretanto dentro do proacuteprio movimento negro

natildeo haacute unidade principalmente no que se refere agrave discussatildeo entre a relaccedilatildeo raccedilaclasse Por

esta razatildeo achamos fundamental demarcar nossa posiccedilatildeo dentro dessa discussatildeo apesar

de estarmos atentos ao fato de que uma das caracteriacutesticas do capitalismo eacute ser indiferente

agraves identidades sociais das pessoas que explora o fato de natildeo necessitar natildeo significa que

de fato natildeo se aproveite e natildeo decirc continuidade agrave opressatildeo racial O capitalismo que

massacra trabalhadores mundo afora eacute ainda mais perverso com aqueles setores que foram

marginalizados como eacute o caso dos negros (W O O D 2003)

3 Afrika Bambaataa - pseudocircnimo de Kevin Donovan - eacute de forma quase unacircnime

considerado o responsaacutevel por plantar as bases sobre as quais o Hip Hop se desenvolveu

Nascido e criado no violento bairro do Bronx (Nova Iorque) chegou agrave lideranccedila dos Black

Spades uma das mais fortes e violentas gangues da regiatildeo Sua vida comeccedilou a mudar

quando numa viagem agrave Aacutefrica no iniacutecio dos anos 1970 assistiu ao filme Zulu sobre

a luta entre africanos e ingleses no seacuteculo X IX Foi deste documentaacuterio que ele retirou o

nome pelo qual eacute conhecido hoje O filme tambeacutem despertou no mesmo um novo olhar

acerca de suas origens motivando-o a formar sua proacutepria naccedilatildeo Zulu bem como a buscar

raquo meios para cooptar jovens das gangues para ela Disponiacutevel em lthttpogloboglobo

comculturaconsiderado-pai-do-hip-hop-do-funk-carioca-afrika-bambaataa-faz-show-

no-rio-303106lixzz20554zE00gt Acesso cm 2 ago 2012

4 Aleacutem dos negros os guetos de Nova York eram ocupados por imigrantes latinos oriundos

principalmente do Meacutexico e de Porto Rico tambeacutem considerados inferiores por sua pele

morena e olhos indiacutegenas herdados de seus antepassados tambeacutem escravizados

cia e promover a conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessishy

dade de luta contra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis

Desta forma o Hip Hop atrela-se agraves calorosas discussotildees que trashy

zem agrave tona os embates e as contradiccedilotildees da sociedade norte-americana

Neste contexto emergem lideranccedilas negras como Martin Luther King

e Malcom X e grupos que lutavam pela igualdade de direitos como

os Panteras Negras Embora divergentes em suas propostas agregaram

em torno de suas ideias uma populaccedilatildeo que ansiava por mudanccedilas no

modelo social entatildeo vigente que condenava a populaccedilatildeo negra a uma

invisibilidade negando-lhe a possibilidade de uma efetiva participaccedilatildeo

social e poliacutetica Tais demandas refletiram na produccedilatildeo musical e o

rock mdash que tambeacutem nasceu negro tatildeo aderente nos anos de 1960 mdash

mostrou-se impotente para dar voz a esse novo contexto

Os guetos abraccedilaram o soul e prestaram reverencia a muacutesicas como

uSay it loud Im black and proudrdquo (diga alto sou negro e orgulhoso)

cantada aos berros por James Brown inspirado na frase do liacuteder sul africano

Steve Biko Ao soul juntou-se o ftink furioso do qual James Brown tamshy

beacutem foi um iacutecone imageacutetico Estava pronto o terreno do qual brotaria o

Hip Hop lanccediladas as sementes do soul do funk e da luta pelos direitos civis

da populaccedilatildeo negra A ele se uniu o rap que remonta as raiacutezes da oralidade

africana sintetizada na figura dos griots5 Os guetos apropriaram-se desta

tradiccedilatildeo e a reinventaram atraveacutes das batalhas de improviso que contavam

histoacuterias de seu cotidiano marcando assim o nascimento do freestyle6

Outra figura fundamental para o Hip Hop foi o DJ Kool Herc

imigrante jamaicano a quem se atribui a criaccedilatildeo dos breaks (trechos de

muacutesicas usados como bases) No final dos anos de 1960 Herc trouxe da

Jamaica para o Bronx a teacutecnica dos famosos sound systems de Kingston

5 Os ldquogriotsrdquo satildeo os guardiotildees inteacuterpretes e cantores da histoacuteria oral de muitos povos

africanos A figura do griot tem uma enorme importacircncia na preservaccedilatildeo da palavra da

narraccedilatildeo do mito africano ldquoNa praacutetica eles funcionam como escritores sem papel nem

pena Ortografam na oralidade aquilo que deve permanecer embutido na memoacuteria e no

coraccedilatildeo dos seus familiares e conterracircneos no sentido de manter incrustada a identidade

do seu ser e das suas raiacutezes fundamentada em grande parte no seu passado e nos seus

predecessoresrdquo BIJOacute1AS Maria Griots mdash os inteacuterpretes musicais da Histoacuteria africana

Disponiacutevel em lthttpwwwruadireitacommusicainfogriots-os-interpretes-musicais-

da-historia-africanagt Acesso em 23 jul 2012

6 Estilo livre muacutesica de improviso mediante desafios

Como os trechos usados como base eram curtos Herc teve a ideia de usar

um mixer e dois discos idecircnticos o que permitia a repeticcedilatildeo indefinida de

um determinado trecho da mesma muacutesica (PIMENTEL 1997)

Foi um disciacutepulo do DJ jamaicano mdash Grandmaster Flash - quem

criou o ldquoscratchrdquo que eacute a utilizaccedilatildeo da agulha do toca-discos arrashy

nhando o vinil em sentido anti-horaacuterio como instrumento musical

Aleacutem disso ldquoFlash entregava um microfone para que os danccedilarinos

pudessem improvisar discursos acompanhando o ritmo da muacutesica

(uma espeacutecie de repente-eleacutetrico que ficou conhecido como rap - os

lsquorepentistasrsquo satildeo chamados de rappers ou MCs isto eacute lsquomasters of ceri-

mony)rdquo (VIANNA JUacuteN IOR 1988 p 38)

Desta feita aos breaks aliou-se a forccedila das mensagens trazidas

pelos rappers atribuindo peso agrave expressatildeo mesmo sob condiccedilotildees lishy

mitadas de recursos e ausecircncia de instrumentos

Paralelamente ao rap outras manifestaccedilotildees artiacutesticas se desenshy

volviam nos guetos americanos Em meados da deacutecada de 1960 os

jovens dos subuacuterbios de Nova York comeccedilaram a ldquopicharrdquo as pareshy

des com seus nomes Assim surge o grafitti inicialmente como tag

(assinatura) como forma de retratar a realidade como forma de

participaccedilatildeo e de resistecircncia Logo a colocaccedilatildeo das tags em locais

cada vez mais inoacutespitos virou um novo elemento da disputa que foi

apropriado pelas gangues como forma de demarcaccedilatildeo de territoacuterios

dentro dos guetos Mais tarde o desenho foi introduzido ao tag

abrindo-se um novo leque de trabalhos para os grafiteiros

Na mesma eacutepoca surge o break dance nome atribuiacutedo pelo Dj

Herc para definir um estilo de danccedila caracterizado por miacutemicas imitashy

ccedilotildees de robocircs e acrobacias com influecircncias das mais diversas das artes

marciais agraves danccedilas urbanas da eacutepoca e que representassem os conflitos

e o cotidiano dos guetos nova-iorquinos O nome atribuiacutedo por Herc

justifica-se agrave medida em que ldquoos jovens que iam agraves festas danccedilavam no

Break da muacutesica que era o nome dado a sua teacutecnica de interromper a

batida mais forte da muacutesica como se ela estivesse quebrada e se repeshy

tisse por alguns segundosrdquo (SILVA 2010 p 32) A respeito da danccedila

Pimentel (1997 p 8) destaca que esta desenvolveu-se

[] ao sabor da contorccedilatildeo dos brcaks entre e dentro

das muacutesicas formando um novo corpo riacutetmico no inshy

terior das mesmas e conduzindo o DJ e seu puacuteblico a

uma nova forma de abordagem do tema reconstruiacutedo

e reinterpretaacutevel atraveacutes da danccedila das quebras riacutetmishy

cas Danccedilar o break consiste literalmente na execuccedilatildeo

de passos que procuram imitar essa ruptura e essa forshy

ma sincopada de reconstruir o proacuteprio ritmo

Nas ruas de Nova Iorque grupos (crews) se encontravam para

definir quem danccedilava melhor dando origem agraves chamadas batalhas ou rachas de break As batalhas entre as crews eram manifestaccedilotildees de

rua que tinham o propoacutesito de chamar a atenccedilatildeo do poder puacuteblishy

co sobre a situaccedilatildeo do afro-americano em relaccedilatildeo ao seu modo de

sobrevivecircncia e portanto tinham uma conotaccedilatildeo poliacutetica (LEAtildeO

2006) O break foi ganhando outros espaccedilos e passou a ser danccedilado

tambeacutem nas festas (as chamadas Black Parties)

Alguns autores consideram que o break no Hip Hop eacute formado

por trecircs estilos de danccedila originais o break bboying (caracterizada

pelos movimentos de chatildeo como top rock up rock foot work booga- loo e freeze aleacutem dos giros de cabeccedila mortais o moinho de vento7) o Popingg (estilo de danccedila urbana que foi incorporada ao Hip Hop

onde o danccedilarino imita robocircs aleacutem de ondulaccedilotildees com o tronco e

quadris) e o Locking (danccedila urbana incorporada ao Hip Hop que

indica as direccedilotildees no espaccedilo apontando o dedo) Por outro lado haacute

quem afirme que esses trecircs estilos satildeo danccedilas diferentes e somente o

break eacute a danccedila original por ser a primeira a ser incorporada como

elemento do Hip Hop (SILVA 2010)8

Desta feita rappers breakers e grafiteiros logo se viram diante

das mesmas anguacutestias e desafios cotidianos Daiacute para a coletiviza-

ccedilatildeo de suas accedilotildees foi um pequeno passo dando origem a naccedilotildees

associaccedilotildees posses e entidades para divulgaccedilatildeo do Hip Hop

7 A descriccedilatildeo e tutoriais desses movimentos estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e

Meacutetodo nas auias de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lt httpcoletivoedulisicajf

blogspotcombrgt Acesso em 12 dez 2012

8 Devido agrave riqueza de possibilidades consideramos os trecircs estilos para o trabalho

que realizamos com os alunos numa escola municipai de Juiz de Fora trabalho este

descrito ao final do presente artigo

Assim muito mais que ldquopular balanccedilando os quadrisrdquo - trashy

duccedilatildeo do termo do inglecircs - o Hip Hop configura-se como um

movimento social que busca promover a conscientizaccedilatildeo da popushy

laccedilatildeo jovem afro-americana atraveacutes da uniatildeo de diversas manifesshy

taccedilotildees artiacutesticas representadas por um conjunto de quatro elemenshy

tos a) o break que eacute a danccedila oficial praticada pelos Bboys e Bgirls

b) o rap que eacute o canto falado ao som de pick - ups ou mesmo de

ritmos feitos com a boca e o corpo c) o DJ (disk jockey) que atua

nos pick - ups acompanhando a falacanto dos MCs (mestre de

cerimocircnia) e d) o grafitti que eacute a arte nos muros vagotildees de trens

e espaccedilos deteriorados - uma maneira de chamar a atenccedilatildeo para a

necessidade de revitalizaccedilatildeo desses espaccedilos (BENEDITO 2004)

E esse movimento que chega ao Brasil - influenciado pelo

lema do Black Power e pela admiraccedilatildeo aos Panteras Negras mdash

num contexto em que gangues urbanas conquistavam espaccedilo

embaladas por pequenos conflitos armados (armas brancas prinshy

cipalmente) e pelas muacutesicas do soul norte-americano Nosso ldquorashy

cismo agrave brasileirardquo natildeo dava margem para os conflitos diretos

pelos quais passou a sociedade norte-americana mas isso natildeo

significa a ausecircncia de poliacuteticas marginalizantes para a populaccedilatildeo

negra e afrodescendente no Brasil9

Como em outros paiacuteses diaspoacutericos o H ip Hop encontrou

no Brasil terreno feacutertil Sua chegada data de meados dos anos de

1980 em Satildeo Paulo Em 1988 foi lanccedilado o primeiro registro

fonograacutefico de rap nacional a coletacircnea ldquoHip-Hop Cultura de

Ruardquo pela gravadora Eldorado Com apoio puacuteblico da prefeitura

de Satildeo Paulo organizou-se a primeira associaccedilatildeo oficial de H ip

Hop no Brasil o M H 2 0 - Movimento Hip-Hop Organizado

9 A inserccedilatildeo do negro no poacutes-aboliccedilaacuteo tem sido alvo de diversos estudos Tais pesquisas

apontam para as dificuldades da populaccedilatildeo afrodescendente em ser reconhecida como

parte da sociedade brasileira e discutem o processo de marginalizaccedilatildeo imposto a esse

segmento Um dos aspectos mais relevantes dessa segmentaccedilatildeo eacute revelado nas pesquisas

que indicam a criminalizaccedilatildeo das praacuteticas culturais afrodescendentes presentes em nosso

coacutedigo penal ateacute 1940 Para maiores informaccedilotildees consultar Holloway (1997)

A descaracterizaccedilatildeo do Hip Hop a voz da periferia transmutada em mercadoria rentaacutevel

Identificamos hoje uma tentativa de esvaziamento e de descashy

racterizaccedilatildeo do H ip Hop enquanto movimento de luta e contestaccedilatildeo

social A induacutestria cultural vem cooptando essa forma de resistecircncia

em favor do capital transformando-o em um filatildeo de mercado vazio

de conteuacutedo histoacuterico poliacutetico e filosoacutefico e ressignificado a partir

dos interesses da cultura hegemocircnica

O movimento mdash que sempre viveu e se propagou por fora dos

esquemas formais de comunicaccedilatildeo de massa sem espaccedilo nas raacutedios

comerciais e com trabalhos lanccedilados em gravadoras independentes

(MARTINS 1998) mdash atualmente ldquodesce o morrordquo indo parar nas

boates de classe meacutedia nas raacutedios e nas novelas e programas das prinshy

cipais emissoras de televisatildeo

A problemaacutetica da mercadorizaccedilatildeo do Hip Hop natildeo estaacute des-

zonectada do processo de transformaccedilatildeo e de mudanccedila que se faz

Dresente na sociedade de uma forma geral Jameson (2000) denuncia

^ue a emergente mudanccedila histoacuterica ocorrida na vida no ocidente para

jma nova forma de capitalismo trouxe a tese de que as questotildees cul-

urais tendem a se propagar para as econocircmicas e sociais Segundo o

iutor ldquoa produccedilatildeo das mercadorias eacute agora um fenocircmeno cultural no

lual se compram os produtos tanto por sua imagem quanto por seu

iacuteso imediato [] Nesse sentido a economia se transforma em uma

juestatildeo culturalrdquo (JAMESON 2000 p 22)

Na loacutegica cultural do capitalismo tardio onde o consumo

bull o principal meio de realizaccedilatildeo ldquoo prazer o lazer a seduccedilatildeo e a

ida eroacutetica satildeo trazidos para o acircmbito do poder do dinheiro e da

raquoreocupaccedilatildeo de mercadoriasrdquo (HARVEY 1992 p 99) Ao mes-

no tempo em que temos a sofisticaccedilatildeo das necessidades e dos seus

neios por um lado temos de outro uma abstrata simplificaccedilatildeo

las necessidades No campo especiacutefico da cultura a arte se tornou

ambeacutem uma mercadoria e o artista foi transformado em um pro-

utor de mercadorias (F ISCHER 1982)

Rappers ganharam status na induacutestria cultural sobretudo a

norte-americana e viraram ldquoastrosrdquo em todo o mundo Figuras como

Gangster RAP Dr Dree e Snoopy Dog aparecem na miacutedia preganshy

do e praticando a violecircncia adotando atitudes e produzindo letras

que demonstram hostilidade ao pobre e agrave mulher O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos contextos sendo empregashy

do para classificar um estilo de muacutesica de danccedila ou um jeito de se

vestir conhecido como estilo B-boy associado a marcas esportivas

especiacuteficas (boneacute tecircnis etc) Neste sentido

[] os aspectos do processo de mercadorizaccedilatildeo da

vestimenta das muacutesicas dos shows que possuem um

alto custo financeiro mostram essa refuncionaliza-

ccedilatildeo para garantir uma dada hegemonia tornando o

Hip Hop em determinados casos uma praacutetica disshy

tanciada da reflexatildeo de sua origem e da possibilidade

de ser uma forma de luta contra a opressatildeo Nesses

casos aquilo que servia para caracterizaacute-lo como

popular eacute justamente o que eacute transmutado o seu

sentido (AVILA et al 2005 p 64)

Aleacutem disso atraveacutes de poliacuteticas assistencialistas e compensashy

toacuterias o poder puacuteblico frequentemente apropria-se dos elementos

do Hip Hop num discurso apologeacutetico que o rotula enquanto

ldquosalvador da paacutetriardquo a partir da responsabilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos

pelas suas mazelas sociais justamente o oposto do que preconiza

o movimento O Hip Hop ligado agrave criacutetica poliacutetica e social e agrave

conscientizaccedilatildeo acerca da necessidade da organizaccedilatildeo coletiva tem

como intuito provocar mudanccedilas sociais e garantir direitos essenshy

ciais que satildeo responsabilidade do poder puacuteblico

Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo feita pelos meios de coshy

municaccedilatildeo a essecircncia do movimento permanece inalterada Atualshy

mente os movimentos organizados de Hip Hop buscam discutir a

discriminaccedilatildeo racial os problemas sociais a realidade da periferia

discussotildees estas materializadas nas letras do rap E esse Hip Hop

que pretendemos resgatar com nossos alunos contextualizando-o e

desvelando o que eacute a essecircncia desse movimento

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a danccedila

Elaboramos entatildeo um planejamento para ser desenvolvishy

do com alunos do 9o ano de uma escola municipal de Juiz de

Fora A proposta foi abordar o Hip Hop discutindo-o desde sua

origem enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social passhy

sando pela caracterizaccedilatildeo dos elementos que o compotildeem ateacute a

discussatildeo e anaacutelise criacutetica do que hoje eacute conhecido e difundido

pela miacutedia enquanto ldquoH ip Hoprdquo

Demos uma ecircnfase especial ao break por tratar-se de uma unishy

dade onde o conteuacutedo proposto era a danccedila Aqui tivemos espaccedilo

privilegiado para discutir as formas mecanizadas e estereotipadas de

danccedila impostas pela miacutedia e problematizamos a mera repeticcedilatildeo ou

imitaccedilatildeo a que muitas vezes se resumem as aulas de danccedila Numa oushy

tra perspectiva o break abre possibilidades de trabalhar a criatividade

e a expressividade jaacute que a essecircncia desse estilo eacute a improvisaccedilatildeo a (re)

criaccedilatildeo de movimentos Nas rodas de improvisaccedilatildeo cada participante

cria seu proacuteprio estilo e constroacutei suas sequecircncias de movimentos a

partir dos elementos teacutecnicos baacutesicos

Assim na identificaccedilatildeo da praacutetica social dividimos os alunos

em grupos e exibimos clipes de artistas diversos (Gabriel o pensador

Racionais M C rsquoS Beyonceacute Emicida etc) solicitando que ao final de

cada um eles respondessem em uma folha o nome e o estilo musical

do artista em questatildeo As respostas foram apresentadas a maioria deshy

las definia todos os clipes exibidos como sendo ldquoHip HoprdquoApoacutes esse primeiro momento iniciamos um debate com os alushy

nos lanccedilando algumas questotildees problematizadoras O que eacute Hip

Hop Hip Hop eacute danccedila O u eacute muacutesica Um estilo musical Como

surgiu o Hip Hop Existem muitos artistas negros no Hip Hop As

respostas dos alunos e a discussatildeo do tema foram registradas a fim de

fazer uma comparaccedilatildeo no final do trabalho

Na instrumentalizaccedilatildeo trabalhamos os seguintes toacutepicos de

conteuacutedo a histoacuteria do H ip Hop os quatro elementos que o

constituem (rap DJ grafitti10 break) bem como a influecircncia

dos meios de comunicaccedilatildeo na forma de disseminaccedilatildeo do Hip

Hop lanccedilando matildeo de recursos pedagoacutegicos como viacutedeos docushy

mentaacuterios reportagens letras de muacutesica dentre outros a fim de

que os alunos tivessem uma nova percepccedilatildeo do movimento Hip

Hop nas suas mais diversas dimensotildees No caso especiacutefico da

danccedila trabalhamos as teacutecnicas baacutesicas dos trecircs estilos de danccedila

do break (Bboing Popping e Locking) explorando a capacidade

de criaccedilatildeo e improvisaccedilatildeo dos alunos

Na catarse momento de elevaccedilatildeo do niacutevel de consciecircncia

dos alunos acerca do tema propomos a organizaccedilatildeo de um fesshy

tival de Hip Hop onde os alunos foram divididos em grupos e

demonstraram as teacutecnicas aprendidas bem como a exibiccedilatildeo de

um painel com os pontos abordados durante a unidade didaacutetica

No retorno agrave praacutetica social quando os alunos utilizam este

novo conhecimento para intervir criticamente na realidade soshy

cial a proposta foi realizar a produccedilatildeo de textos dos temas aborshy

dados nas aulas divulgando-os em um blog

PLANO DE UNIDADE

Tiacutetulo da Unidade O Movimento Hip Hop e a induacutestria cultural

OBJETIVO GERAL

Compreender o Hip Hop enquanto movimento de resistecircncia

expressatildeo e denuacutencia de um grupo social

10 Ao elaborarmos o planejamento e apresentarmos a proposta para o coletivo da escola

abriu-se a possibilidade de um trabalho conjunto com a professora de Artes da turma por

isso pudemos aprofundar o trabalho com o grafitti

11 Viacutedeos e tutoriais usados para a preparaccedilatildeo das aulas e domiacutenio das teacutecnicas fundamentais

de cada um dos estilos do break estatildeo disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas

aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt

Acesso em 10 dez 2012

Quadro 1- Anuacutencio do conteuacutedo

Toacutepico de Conteuacutedo t )bjetivos Especiacuteficos

Histoacuteria do H ip Hop

Conhecer a histoacuteria do Hip Hop e compreender sua essecircnshy

cia enquanto movimento de contestaccedilatildeo e criacutetica social

Identificar as caracteriacutesticas e manifestaccedilotildees do H ip Hop

no Brasil da atualidade

Os quatro elementos do movishy

mento H ip Hop

Identificar e conceituar os quatro elementos que constishy

tuem o movimento H ip Hop

Compreender a relaccedilatildeo de cada um dos elementos com o

movimento H ip Hop

Rhythm and Poetry

Compreender o rap enquanto o ldquocanto faladordquo que deshy

nuncia a injusticcedila e a opressatildeo de um grupo social

Conhecer teacutecnicas de construccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap

Arte nos Muros

Entender a histoacuteria e a evoluccedilatildeo do grafitti

Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo com o movimento H ip

Hop

Conhecer o grafitti na atualidade e suas linhas de expressatildeo

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de grafitagem

Aumente o som DJUuml

Identificar a ldquobatida quebradardquo (break) que caracteriza a

base musical do H ip Hop

Compreender o papel do DJ no H ip Hop

Estabelecer a diferenciaccedilatildeo entre o DJ e o M C (Mestre

de Cerimocircnia)

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de scratch e de mixagem

ldquoBatalhardquo entre crews

Analisar o papel do break enquanto expressatildeo corporal

ligada ao H ip Hop

Identificar os estilos do break sua origem e as vaacuterias forshy

mas de movimentaccedilatildeo

Relacionar os movimentos corporais ao ldquobreakrdquo da muacutesica

Aprender teacutecnicas baacutesicas de cada um dos estilos de break

O Hip Hop que passa na TV

Analisar a influecircncia dos meios de comunicaccedilatildeo na forma

de disseminaccedilatildeo do movimento H ip Hop

Compreender a banalizaccedilatildeo do movimento H ip Hop e

sua desconstruccedilatildeo pelo mercado

ontc elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

1) PRAacuteTICA SOCIAL IN ICIAL DO CONTEUacuteDO

11 Vivecircncia do Conteuacutedo

bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo Hip Hop eacute um tipo

de muacutesica as muacutesicas criticam os ricos Hip Hop eacute uma danccedila

de rua etc

bull O que eles gostariam de saber a mais Como satildeo os passos

do Hip Hop como criar um rap como montar uma muacutesica

mixada etc

2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO

Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees

problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas

Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

$ v h W ccedil f v V j i v1 Tv S

t j j j fM IacuteW iacute lE i YSX IIP)

Histoacuteria do Hip HopHistoacuterica

Social

Como surgiu o Hip Hop Por que ele

surgiu Por que tem tantos artistas neshy

gros no Hip Hop

Os quatro elementos do movishy

mento H ip HopConceituai

Quais satildeo os elementos que constishy

tuem o Hip Hop Como se caracteshy

riza cada um deles

Rhythm and PoetryConceituai

Social

O que eacute rap De que falam as letras

dos raps Que mensagem querem

transmitir

Arte nos MurosLegal

Teacutecnica

Grafitar e pichar satildeo a mesma coishy

sa O que significa esse desenhos

nos muros

Aumente o som DJ Conceituai

0 que faz um DJ Qual a relaccedilatildeo

entre o DJ e o rap DJ e M C satildeo a

mesma pessoa Como eacute o ritmo da

danccedila no H ip Hop

ldquoBatalhardquo entre crewsConceituai

Teacutecnica

Como se danccedila no H ip Hop Qual

eacute o nome dessa danccedila Por que a

danccedila se chama ldquobreakrdquo Quais satildeo

os principais passos

O H ip Hop que passa na TV

Poliacutetica

Social

Econocircmica

Quais satildeo os rappers que aparecem

nos programas de TV Quais ideias

defendem em seus raps Os valores

dc que classe social representam

Fonte elaboraccedilatildeo nroacutenria m m

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo

bull

Histoacuteria do H ip

Hop

Conhecer a histoacuteria do H ip

H op e compreender sua essecircnshy

cia enquanto movimento de

contestaccedilatildeo c criacutetica social

Identificar as caracteriacutesticas e

manifestaccedilotildees do H ip H op no

Brasil da atualidade

Histoacuterica

Social

Apresentaccedilatildeo de dados estatiacutesticos sobre a

situaccedilatildeo do negro na sociedade brasileira

Exibiccedilatildeo de filmes e textos sobre a segreshy

gaccedilatildeo racial nos EUA e comparaccedilatildeo com

a realidade brasileira

Exibiccedilatildeo de documentaacuterio situando a

origem do H ip Hop

Exibiccedilatildeo de clipes de muacutesica que caracteshy

rizem a essecircncia do H ip Hop

Viacutedeos diversos65

Documentaacuterio ldquoH ip Hop em m oshy

vimentordquo

Documentaacuterio ldquoA Histoacuteria Do Hip

Hoprdquo

Os quatro eleshy

mentos do movishy

mento H ip Hop

Identificar e conceituar os

quatro elementos que constishy

tuem o movimento H ip Hop

Compreender a relaccedilatildeo de

cada um dos elementos com o

movimento H ip Hop

Conceituai

Social

Textos e viacutedeos sobre cada um dos eleshy

mentos

Viacutedeos produzidos pelos professores

Textos sobre os elementos do H ip

Hop

Os links paia acesso aos videos e textos utilizados na instrumentalizaccedilatildeo estatildeo disponiacuteveis no blog Conteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo Disponiacutevel em

lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012

=S

Rhythm and

Poetry

Compreender o rap enquanto

o ldquocanto faladordquo que denuncia

a injusticcedila e a opressatildeo de um

grupo social

Conhecer teacutecnicas de construshy

ccedilatildeo e estruturaccedilatildeo do rap

Conceituai

Social

Teacutecnica

Anaacutelises de raps relacionados agrave realidade

social da periferia

Pesquisa sobre a estrutura e as teacutecnicas de

construccedilatildeo de um rap

Criaccedilatildeo individual eou coletiva de raps a

partir de temas propostos

Muacutesicas de grupos de rap

Clipe Negro Drama (Racionais)

Capiacutetulo sobre H ip Hop do livro D ishy

daacutetico do Paranaacute (Educaccedilatildeo Fiacutesica)

Arte nos Muros

v

Entender a histoacuteria e a evolushy

ccedilatildeo do grafitti

Analisar o grafitti e sua relaccedilatildeo

com o movimento H ip Hop

Conhecer o grafitti na atualishy

dade e suas linhas de expressatildeo

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de

grafitagem

Histoacuterica

Legal

Teacutecnica

Viacutedeo sobre a histoacuteria e evoluccedilatildeo do grafitti

Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das tags (asshy

sinaturas)

Viacutedeos produzidos pelos professores

Material de desenho para a vivecircnshy

cia das teacutecnicas das tags

Tintas e sprays para grafitar as tags

trabalhadas no papelatildeo ou no muro

Aumente o som

DJUuml

Identificar a ldquobatida quebrashy

dardquo (break) que caracteriza a

base musical do H ip Hop

Compreender o papel do D J

no H ip Hop

Estabelecer a diferenciaccedilatildeo enshy

tre o D J e o M C

Conhecer teacutecnicas baacutesicas de

scratch e de mixagem

Conceituai

Teacutecnica

Identificaccedilatildeo da batida ldquoquebradardquo da

muacutesica e comparaccedilatildeo com outros ritmos

como por exemplo o funk

Vivecircncia de elementos baacutesicos de mixagem

Construccedilatildeo de bases mixadas das muacutesicas

Muacutesicas diversas

Mesas de mixagem ou programas

de computador para mixagem

Tutoriais diversos sobre mixagem

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(2011)

4) CATARSE

41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno

O Hip Hop eacute uma das mais importantes manifestaccedilotildees joshy

vens da atualidade Surgiu nos Estados Unidos nos subuacuterbios de

Nova York e Chicago na deacutecada de 1970 habitados majoritaria-

mentepor uma populaccedilatildeo negra e assolados pela pobreza traacutefico

de drogas racismo e ausecircncia de espaccedilos de lazer A cultura Hip

Hop nasce a partir de accedilotildees para conter a violecircncia e promover a

conscientizaccedilatildeo da populaccedilatildeo acerca da necessidade de luta conshy

tra a segregaccedilatildeo e pela igualdade de direitos civis

O Hip Hop eacute composto por 4 elementos a saber o break o

rap o DJ e o grafitti No Brasil o Hip Hop encontra na deacutecada

de 1980 um terreno fecundo para o seu desenvolvimento e o Hip

Hop ganha espaccedilo enquanto um meio de luta mobilizaccedilatildeo e dishy

vulgaccedilatildeo das desigualdades sociais e raciais

Entretanto a induacutestria da muacutesica se aproveita da popularishy

dade do Hip Hop transformando-o em uma mercadoria e descashy

racterizando-o enquanto movimento social e de contestaccedilatildeo No

caso especiacutefico da danccedila acontece uma reproduccedilatildeo de coreografias

montadas perdendo o sentido da expressatildeo corporal e a criatividashy

de que fazem parte da essecircncia do break

O termo ldquoHip Hoprdquo acaba distorcido nos mais diversos conshy

textos sendo empregado para classificar um estilo de muacutesica de

danccedila ou um jeito de se vestir conhecido como estilo B-boy asshy

sociado a marcas esportivas especiacuteficas sem contudo representar

os seus objetivos gerais de contestaccedilatildeo social

42 - Expressatildeo da Siacutentese

Construccedilatildeo de paineacuteis sobre os elementos do Hip Hop orgashy

nizaccedilatildeo de um festival de Hip Hop apresentando os pontos discu-jf

tidos na unidade de ensino

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO

Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

Conhecer mais sobre o Hip Hop sua

essecircncia e tendecircncias

Ler pesquisar e conhecer pessoas

do Movimento Hip Hop

Socializar os conhecimentos aprendishy

dos sobre o Hip Hop

Produccedilatildeo de textos eou docushy

mentaacuterios sobre os elementos a

histoacuteria e a descaracterizaccedilatildeo do

Hip Hop

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees finais

Em tempos de apologia ao consumo e de mercadorizaccedilatildeo de todas

as esferas da vicia a tarefa de educar assume uma responsabilidade ainda

maior E preciso que noacutes educadores comprometidos com a classe trabashy

lhadora construamos praacuteticas pedagoacutegicas consistentes e coerentes contrishy

buindo para a desmistificaccedilatildeo e compreensatildeo criacutetica da realidade concreta

Apesar da inculcaccedilatildeo e da massificaccedilatildeo imposta pela miacutedia eacute

preciso compreender que a essecircncia do movimento Hip Hop ainda

permanece inalterada Neste sentido situar historicamente o Hip

Hop no contexto socioeconocircmico e cultural em que surgiu mdash desshy

velando sua essecircncia enquanto movimento de contestaccedilatildeo poliacutetica

e social - contribui para a compreensatildeo do aluno enquanto agente

de sua histoacuteria capaz de atuar e transformar atraveacutes de accedilotildees conshy

cretas o seu meio e as condiccedilotildees materiais de sua existecircncia

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3

CAPIacuteTULO VII

A DISCIPLINARIZACcedilAtildeO DOS CORPOS POR MEIO DA GINAacuteSTICA

I^eonardo Docena Pina

Miguel Fabiano de Faria

Nathagravelia Sixel Rodrigues

Ramon Mendes da Costa Magalhatildees

A ginaacutestica como conteuacutedo da Educaccedilatildeo

Fiacutesica natildeo deve ser vista como uma manifestashy

ccedilatildeo recente uma vez que se trata de uma praacutetishy

ca bastante antiga na escola se considerada em

relaccedilatildeo a outros conteuacutedos da cultura corporal

Tendo em vista as transformaccedilotildees ocorridas

com a ginaacutestica ao longo da histoacuteria algumas

questotildees emergem e conferem significados agrave

proposta deste capiacutetulo atualmente a ginaacutestishy

ca permanece como um conteuacutedo nas aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesica Como se configura a ginaacutestica

nessas aulas Como os corpos dos sujeitos enshy

volvidos nessa praacutetica satildeo abordados dentro e

fora da escola Como a sociedade compreende

esses corpos e delega agrave ginaacutestica a competecircncia

por conformaacute-los Questotildees como essas contrishy

buem para a compreensatildeo dos significados que

a praacutetica corporal ginaacutestica assume ou poderia

assumir como conteiido escolar

Compreender a ginaacutestica como conteuacuteshy

do da Educaccedilatildeo Fiacutesica nos remete ao iniacutecio

do seacuteculo XIX quando essa produccedilatildeo cultural

passou a ser considerada cientiacutefica fruto das

distintas formas de se pensar os exerciacutecios fiacutesicos em paiacuteses europeus

surgindo assim os meacutetodos ou escolas de ginaacutestica integrantes do

chamado Movimento Ginaacutestico Europeu Nessa perspectiva buscou-

-se imprimir um caraacuteter de utilidade aos exerciacutecios fiacutesicos em que

foram negadas as praacuteticas populares de artistas de rua de circo acroshy

batas que as apresentavam como espetaacuteculo trazendo o corpo como

centro de entretenimento (SOARES 1998 2001a 2001b)

Ainda segundo a autora eacute nos princiacutepios de ordem e disciplina forshy

mulados pelo Movimento Ginaacutestico Europeu bem como do afastamenshy

to do nuacutecleo primordial do divertimento que a Ginaacutestica se afirmou

como parte da educaccedilatildeo dos indiviacuteduos Uma praacutetica capaz de potenshy

cializar a utilidade dos gestos e oferecer um espetaacuteculo ldquocontroladordquo e

institucionalizado dos usos do corpo em negaccedilatildeo aos elementos cecircnicos

funambulescos e acrobaacuteticos (SOARES 1998)

Precursora da Educaccedilatildeo Fiacutesica a Ginaacutestica cientiacutefica se afirmou

ao longo do seacuteculo X IX como siacutentese do pensamento cientiacutefico no

ocidente europeu e integrante dos novos coacutedigos de civilidade o que

vai justificar sua presenccedila no curriacuteculo escolar tambeacutem no Brasil

Como vimos a ginaacutestica foi uma das primeiras praacuteticas corposhy

rais a ser inserida na educaccedilatildeo escolar no seacuteculo XIX tanto que sua

denominaccedilatildeo ldquoGymnasticardquo foi por muitos anos considerada a proacuteshy

pria disciplina escolar sendo paulatinamente substituiacuteda no iniacutecio do

seacuteculo XX pela denominaccedilatildeo ldquoEducaccedilatildeo Physicardquo1

No Brasil ateacute as deacutecadas de 1920 e 1930 a ginaacutestica era uma

praacutetica privilegiada nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica sendo orientada por

dois primados da educaccedilatildeo escolar Primeiramente o ldquoprimado da orshy

topediardquo esteve relacionado com a correccedilatildeo de desvios e com o endirei-

tamento dos corpos pretendendo constituir sujeitos robustos e higieshy

nizados Posteriormente o ldquoprimado da eficiecircnciardquo visava construir o

1 Tal expressatildeo areacute enratildeo possuiacutea um sentido mais amplo vinculado ao discurso da ldquohygienerdquo

(G O N D RA 2004) e ao pensamento de Herbert Spencer em que a educaccedilatildeo integral

seria apoiada em trecircs pilares a ldquoeducaccedilatildeo intellectual moral e physicardquo (VAGO 2002)

Assim essa ldquoeducaccedilatildeo physicardquo englobou natildeo soacute a ldquogymnasticardquo os ldquoexerciacutecios physicosrdquo e as

ldquoevoluccedilotildees militaresrdquo como tambeacutem abarcou a organizaccedilatildeo dos tempos e espaccedilos escolares a

distribuiccedilatildeo da luz a boa ventilaccedilatildeo do ambiente a disposiccedilatildeo e o formato do mobiliaacuterio o

nuacutemero de alunos por turma as refeiccedilotildees os recreios enfim todos os haacutebitos saudaacuteveis que

garantiriam o pleno ldquodesenvolvimento physicordquo dos alunos

trabalhador necessaacuterio agrave induacutestria que deveria ser dotado natildeo somente

de corpos ldquoerectosrdquo mas sobretudo de corpos eficientes prontos para

o trabalho em conjunto que de maneira eficaz tivesse rendimento em

forma de produto e de resultado (VAGO 2002)

Nesse sentido Carvalho (1997) apresenta argumentos para comshy

preender os discursos educacionais que no Brasil a partir do final do

seacuteculo XIX e nas primeiras quatro deacutecadas do seacuteculo XX procuraram

ldquo[] legitimar-se enquanto saber pedagoacutegico de tipo novo moderno experimental e cientiacuteficordquo (CARVALHO 1997 p 269) Assim ldquo[]

trabalha com duas metaacuteforas da disciplina - disciplina como ortopeshy

dia e disciplina como eficiecircnciardquo (CARVALHO 1997 p 269) De

acordo com a autora a partir da deacutecada de 1920 eacute possiacutevel perceber

uma sutil mudanccedila no discurso pedagoacutegico no Brasil

O resultado desse movimento eacute que a eficiecircncia passa a ser um

primado orientador para a escola Com efeito Vago (2002) amplia

que natildeo seria diferente para a ginaacutestica a qual migraria de uma preshy

ocupaccedilatildeo com a correccedilatildeo o endireitamento e a constituiccedilatildeo dos corshy

pos para uma preocupaccedilatildeo com a eficiecircncia dos gestos aliada aos

pressupostos da ldquovida modernardquo2

A partir das deacutecadas de 1940 e 1950 a ginaacutestica foi perdendo

espaccedilo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesica para o esporte3 Atualmente

em muitas escolas esse conteuacutedo quando trabalhado tende a ser

abordado com praacuteticas descontextualizadas como apecircndice dos esshy

portes aquecimento relaxamento preparaccedilatildeo fiacutesica subsumindo

seu caraacuteter poliacutetico e social em suma natildeo o considerando como

patrimocircnio cultural a ser apropriado pela humanidade tal como

nos mostra Almeida (2005) Contudo pensar a ginaacutestica como

um conteuacutedo da Educaccedilatildeo Fiacutesica eacute pensar em uma possibilidade

2 Sobre este assunto destacamos tambeacutem o trabalho de Schneider (2004)

3 Apoacutes a II Guerra Mundial num contexto de intensa urbanizaccedilatildeo e desenvolvimento

bdquoindustrial assistimos a um processo de esportivizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica influenciado

pela cultura europeia Neste momento a Educaccedilatildeo Fiacutesica passa a ter uma relaccedilatildeo de

subordinaccedilatildeo agrave instituiccedilatildeo esportiva tendo seus objetivos baseados na aptidatildeo fiacutesica

e iniciaccedilatildeo esportiva Os coacutedigos do Esporte de Rendimento como competiccedilatildeo

sucesso individual e rendimento satildeo incorporados pela Educaccedilatildeo Fiacutesica neste periacuteodo

demonstrando sua articulaccedilatildeo com a poliacutetica educacional tecnicista e seu papel na

reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais hegemocircnicas

de ampliaccedilatildeo cultural que deve privilegiar a formaccedilatildeo humana em

sua totalidade Como apresenta Ayoub (2003 p 87) aprender gishy

naacutestica na escola significa ldquoestudar vivenciar conhecer compreenshy

der perceber confrontar interpretar problematizar compartilhar

apreender as inuacutemeras interpretaccedilotildees da ginaacutestica e produzir novos

significados e novas possibilidades de expressatildeo giacutemnicardquo

Veremos no presente capiacutetulo que a ginaacutestica contemporacircnea

dentro e fora da escola pode estar imprimindo algumas permanecircncias

da ginaacutestica cientiacutefica do seacuteculo XIX entretanto sob uma nova roushy

pagem Essas permanecircncias podem ser percebidas tanto com relaccedilatildeo agrave

sua metodologia em grande medida enraizada na repeticcedilatildeo de gestos

padronizados quanto com relaccedilatildeo agraves finalidades a ela associadas que

sugerem uma nova leitura para a ldquocorreccedilatildeordquo e ldquoconstituiccedilatildeo dos corposrdquo

bem como para a ldquoeficiecircncia dos gestosrdquo associada ao mundo produtivo

e aos interesses da classe dominante

A ginaacutestica no processo de disciplinarizaccedilatildeo

O corpo dos indiviacuteduos como mais um instrumento da

produccedilatildeo passava a constituir uma preocupaccedilatildeo da classe

no poder Tornava-se necessaacuterio nele investir Todavia esse

investimento deveria ser limitado para que o corpo nunshy

ca pudesse ir aleacutem de um corpo de um ldquobom animalrdquo

Era preciso adestraacute-lo desenvolver-lhe o vigor fiacutesico desde

cedo disciplinaacute-lo enfim para sua funccedilatildeo na produccedilatildeo e

reproduccedilatildeo do capital (SOARES 2001a p 33)

A partir do conceito de disciplina Foucault (1987) descreve um

processo no qual satildeo formados haacutebitos costumes modos de pensar e

agir orientados para a formaccedilatildeo dos chamados corpos doacuteceis - indiviacuteduos

que podem ser submetidos utilizados transformados e aperfeiccediloados

Em suas reflexotildees o chamado ldquopoder disciplinarrdquo possui como funccedilatildeo

maior a de ldquoadestrarrdquo os indiviacuteduos fabricando sujeitos ao mesmo temshy

po produtivos economicamente e submissos politicamente

Os processos disciplinares segundo o autor assumiram no decorshy

rer dos seacuteculos XVII e XVIII formas gerais de dominaccedilatildeo diferentes

da escravidatildeo da domesticidade da vassalidade e do ascetismo por

exemplo visto que este novo contexto histoacuterico eacute o momento no qual

nasce uma arte do corpo humano que visa natildeo unicamente o aumento

de suas habilidades mas a formaccedilatildeo de uma relaccedilatildeo que no mesmo

mecanismo o torna tanto mais obediente quanto eacute mais uacutetil ldquoForma-

-se entatildeo uma poliacutetica das coerccedilotildees que satildeo um trabalho sobre o corpo

uma manipulaccedilatildeo calculada de seus elementos de seus gestos de seus

comportamentosrdquo (FOUCAULT 1987 p 119)

Nesse processo as teacutecnicas de distribuiccedilatildeo dos indiviacuteduos no espashy

ccedilo assim como o controle da atividade pela regulaccedilatildeo do tempo e pelo

adestramento dos gestos vatildeo configurando novas praacuteticas em diferentes

instituiccedilotildees Assim as faacutebricas os quarteacuteis os hospitais e tambeacutem as

escolas se configuram como locais responsaacuteveis para a disciplinarizaccedilatildeo

dos indiviacuteduos No caso do ambiente escolar essa formaccedilatildeo demandava

a manutenccedilatildeo dos alunos entre as paredes da sala de aula submetidos

ao olhar vigilante do professor o tempo suficiente para domar seu cashy

raacuteter e dar forma adequada a seu comportamento (ENGU1TA 1989)

E com esse mesmo objetivo no que se refere ao projeto de

formaccedilatildeo humana que a ginaacutestica por meio dos meacutetodos ginaacutesshy

ticos foi incorporada pelas concepccedilotildees educacionais do final do

seacuteculo XV III e iniacutecio do seacuteculo X IX (SOARES 2001a)

Regenerar a raccedila promover a sauacutede (sem alterar as condiccedilotildees

degradantes de vida) desenvolver a vontade a forccedila a ldquoenergiardquo (para

servir agrave paacutetria e agrave induacutestria) foram algumas das finalidades atribuiacutedas

agrave ginaacutestica no contexto de consolidaccedilatildeo do capitalismo na Europa A

ecircnfase na disciplinarizaccedilatildeo dos corpos acabou por delinear na educashy

ccedilatildeo escolar uma praacutetica pedagoacutegica na qual sessotildees de ginaacutestica tratashy

vam os alunos de forma homogecircnea com accedilotildees reduzidas agrave repeticcedilatildeo

de movimentos estereotipados tal como sugere Marinho (19--) ao

descrever uma liccedilatildeo de ginaacutestica orientada pelo Meacutetodo Francecircs

Para fazer executar um movimento o instrutor

comanda - ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo devendo este

comando ser substituiacutedo para as crianccedilas pela adshy

vertecircncia ldquoAtenccedilatildeordquo Se o movimento exige uma poshy

siccedilatildeo de partida o instrutor a indicaraacute lt rnminJraquo-

ldquoPosiccedilatildeordquo Enuncia o exerciacutecio e ao comando ldquoCoshy

meccedilarrdquo Todos executam o movimento prescrito As

posiccedilotildees de partida dos ldquoassouplissementsrdquo assimeacuteshy

tricos satildeo a princiacutepio tomadas agrave esquerda Termishy

nado o exerciacutecio nesta posiccedilatildeo o instrutor comanda

ldquoMudarrdquo Os alunos retornam agrave posiccedilatildeo de partida agrave

direita e executam novamente o exerciacutecio prescrito

Ao comando de ldquoCessarrdquo todo o movimento cessa

sem precipitaccedilatildeo e a posiccedilatildeo de partida eacute retomada

A posiccedilatildeo de partida soacute eacute deixada ao comando de

ldquoPosiccedilatildeo fundamentalrdquo No comando de ldquoDescanshy

ccedilarrdquo os alunos permanecem no lugar sem serem

obrigados a conservar a posiccedilatildeo primitiva e a imobishy

lidade (M A R IN H O 19- p 110-111)

Conforme explica Soares (2001a) todo o ideaacuterio colocado em

praacutetica pelo pensamento higienista do qual resulta o modelo de aula

descrito acima impocircs uma disciplina que pretendia adequar o corpo ao

trabalho fabril tornando-o mais doacutecil e submisso sob a oacutetica poliacutetica

e ao mesmo tempo mais aacutegil forte e robusto sob a oacutetica da produccedilatildeo

E importante considerar a possibilidade de o processo de dis-

ciplinarizaccedilatildeo mdash descrito por Foucault e incorporado de forma sushy

bordinada por Soares (2001a) - natildeo ter sido totalmente superado

ou seja esse fenocircmeno pode estar se apresentando ainda nos dias

de hoje de uma nova forma atualizada

Na concepccedilatildeo gramsciana todo esse processo de ldquodisciplinariza-

ccedilatildeordquo pode ser compreendido como uma tentativa - da classe domishy

nante mdash de formaccedilatildeo teacutecnica e de conformaccedilatildeo eacutetico-poliacutetica das masshy

sas com o intuito de reconfigurar o modo de vida em conformidade

com as demandas colocadas pelo modo de produccedilatildeo da existecircncia

humana em expansatildeo naquele contexto histoacuterico

Em Americanismo e Fordismo Gramsci (2001 p 251) explica

que ldquoa vida na induacutestria exige um aprendizado geralrdquo um processhy

so de adaptaccedilatildeo psicofiacutesica a determinadas condiccedilotildees de trabalho

de nutriccedilatildeo de habitaccedilatildeo de costumes de valores algo que natildeo

eacute inato natural mas exige ser adquirido Portanto a partir dessa

reflexatildeo torna-se possiacutevel compreender que no modo de produccedilatildeo

da vida em formaccedilatildeo no contexto histoacuterico de incorporaccedilatildeo dos meacuteshy

todos ginaacutesticos na escola os exerciacutecios fiacutesicos desempenhavam um

papel importante uma vez que o novo tipo de homem demandado

pelo bloco no poder deveria possuir um corpo saudaacutevel forte aacutegil

e disciplinado construiacutedo a partir da adoccedilatildeo de um novo modo de

vida E exatamente para contribuir com a formaccedilatildeo desse novo tipo

de homem que a ginaacutestica estruturada dentro ou fora da instituishy

ccedilatildeo escolar passou a constituir um dos mecanismos utilizados para

instrumentalizar a vontade adequar e reorganizar gestos e atitudes

necessaacuterios agrave reproduccedilatildeo da sociedade4

A questatildeo que necessitamos discutir refere-se agrave possibilidade

de existecircncia de um processo contemporacircneo de mesmo tipo mas

atualizado voltado agrave formaccedilatildeo de um novo modo de vida necessaacuteshy

rio agrave reproduccedilatildeo do capitalismo contemporacircneo Portanto quesshy

tionamos seraacute que a ginaacutestica contemporacircnea se relaciona com a

formaccedilatildeo de novos corpos doacuteceis A ginaacutestica hoje atende de alguma

forma aos interesses de reproduccedilatildeo da sociedade Existem elementos

contraditoacuterios que permitem uma apropriaccedilatildeo criacutetica da ginaacutestica

Longe de assumir a tarefa de esgotar as reflexotildees sobre o tema

entendemos ser necessaacuterio destacar inicialmente que as modifishy

caccedilotildees ocorridas no capitalismo a partir da deacutecada de 1970 em

resposta agrave chamada crise do keynesianismo-fordismo represenshy

taram uma mudanccedila no regime de acumulaccedilatildeo - do fordismo agrave

ldquoacumulaccedilatildeo flexiacutevelrdquo (HARVEY 2007) Ao modelo fordista seshy

gundo Chauiacute (2001) o bloco no poder respondeu com a terceirishy

zaccedilatildeo a desregulamentaccedilatildeo o predomiacutenio do capital financeiro

a dispersatildeo e fragmentaccedilatildeo da produccedilatildeo aleacutem da centralizaccedilatildeo

velocidade da informaccedilatildeo e da velocidade das mudanccedilas tecnoloacuteshy

gicas ao modelo keynesiano do Estado de Bem-Estar o bloco no

poder respondeu com a ideia do ldquoEstado m iacutenimordquo a desregulaccedilatildeo

do mercado a competitividade e a privatizaccedilatildeo da esfera puacuteblica

As modificaccedilotildees provenientes desse processo de reproduccedilatildeo

do capitalismo natildeo atingiram apenas a organizaccedilatildeo de grandes

______________ 4 Natildeo eacute objetivo deste texto discutir as distinccedilotildees entre Foucault e Gramsci no que diz respeito

ao conceito de disciplina Optamos por trabalhar com a vertente marxista incorporando de

lorma subordinada ao nosso referencial as contribuiccedilotildees que Foucault daacute ao tema

empresas jaacute consolidadas no mercado mas tambeacutem novos emshy

preendimentos como as academias de ginaacutestica por exemplo5

Conforme evidencia Furtado (2007) as academias vecircm acomshy

panhando a tendecircncia de implementaccedilatildeo dos elementos centrais

da acumulaccedilatildeo flexiacutevel passando a funcionar em uma dinacircmica

caracterizada pela flexibilidade pela introduccedilatildeo de equipamentos

com tecnologia cada vez mais avanccedilada pela diversificaccedilatildeo das

mercadorias oferecidas e tambeacutem pelo ldquofoco no clienterdquo que

pode ser evidenciado pela constante busca de ldquonovasrdquo ofertas e

novidades capazes de atrair e reter consumidores

As aulas de ginaacutestica saacuteo por exemplo ldquoaulas-showrdquo

com equipamentos iluminaccedilatildeo decoraccedilatildeo e sonorishy

zaccedilatildeo que favorecem ao ldquoespetaacuteculordquo e desempenham

um papel importante na seduccedilatildeo do cliente Assim

tambeacutem eacute toda a complexa estrutura que possui a acashy

demia ou seja natildeo eacute soacute a aula que deve ser um ldquoshowrdquo

e sim tambeacutem toda a academia com decoraccedilatildeo sonorishy

zaccedilatildeo iluminaccedilatildeo e equipamentos que desempenhem

funccedilotildees de encantar e atender aos desejos dos clientes

de experimentar sensaccedilotildees diversas dentre elas a sensashy

ccedilatildeo de ldquostatusrdquo (FURTADO 2007 p 311)

E interessante destacar que o formato atrativo das aulas tende a

captar de forma mais eficiente os consumidores visto que eles acabam

desconsiderando os incipientes resultados reais obtidos pela realizaccedilatildeo

das aulas de determinados programas que na verdade se sustentam

mais pelos fatores de cunho emocional do que pelos ganhos obtidos

com sua praacutetica Ao analisar as teacutecnicas de inovaccedilatildeo do empresariado

do Fitness mais especificamente um determinado programa da franshy

quia Curves Mascarenhas et al (2007) constatam que a pseudossensa-

ccedilatildeo de bem-estar sauacutede e beleza produzida pelas aulas eacute acompanhada

por um amplo e intenso processo de persuasatildeo comum agraves cartilhas

de marketing para academias Segundo os autores a base de legitima-

5 A acumulaccedilatildeo flexiacutevel eacute marcada dentre outros aspectos pela superaccedilatildeo da

rigidez caracteriacutestica do fordismo se apoiando na flexibilidade dos processos

e mercados de trabalho aleacutem dos produtos e padrotildees de consumo Para

compreender melhor como as modificaccedilotildees no regime de acumulaccedilatildeo

afetaram a aacuterea Fitness recorrer agrave Quelhas (2012)

ccedilatildeo racional tecno-cientiacutefica eacute secundarizada frente ao acreacutescimo de

inovaccedilotildees criativas de base emocional Talvez isso explique ao menos

em parte por que ainda hoje sejam consideradas bastante atrativas

algumas aulas de ginaacutestica de academia que em muito se assemelham

agraves sessotildees de ginaacutestica do seacuteculo passado Estamos nos referindo aos

atuais formatos padronizados de sessotildees de ginaacutestica que se orientam

na repeticcedilatildeo de movimentos estereotipados geralmente com mesma

intensidade a serem realizados pelos alunos em conformidade com

comandos do professor - ou de uma voz jaacute gravada a ser reproduzida

em aparelhos eletroeletrocircnicos Conforme evidenciam Toledo e Pires

(2008) alguns programas tendem a desconsiderar na aula dificuldashy

des ou niacutevel de condicionamento fiacutesico dos alunos uma vez que os

professores muitas vezes tecircm que seguir com exatidatildeo a aula desshy

crita na apostila e ensinada nos cursos assim como natildeo podem sair

da posiccedilatildeo de ldquoatores eperformersrdquo para corrigir eou dar uma atenccedilatildeo

especial ao aluno com dificuldades durante a aula As autoras mencioshy

nam por sua vez que esses elementos ao serem considerados pelos

alunos como determinantes de insatisfaccedilatildeo estatildeo sendo revistos pershy

mitindo aos professores sua modificaccedilatildeo

O incentivo ao consumo das ldquonovasrdquo modalidades de ginaacutestica

de academia ainda eacute acompanhado pela forte influecircncia da miacutedia na

organizaccedilatildeo dos valores dominantes Natildeo soacute o medo de engordar mas

uma gama de valores e comportamentos atrelados ao culto ao corpo

tem contribuiacutedo significativamente para a difusatildeo de um padratildeo a ser

almejado e - em alguns casos - para o desenvolvimento dos chamados

transtornos alimentares como a anorexia por exemplo6

Em virtude da discussatildeo realizada torna-se importante quesshy

tionar se a difusatildeo de valores responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de novos

desejos relacionados ao consumo das mercadorias a serem vendishy

das nas academias de ginaacutestica hoje se constitui como uma forma

atual de disciplinarizaccedilatildeo subordinando os indiviacuteduos aos interesshy

ses dominantes Da mesma forma a difusatildeo de receitas exerciacutecios

------------ 6 A influecircncia da miacutedia no culto ao corpo foi trabalhada por Berger (2007 2010) Sobre

anorexia destacam-se os textos de Cordas (2004) Giordani (2006) e ainda o de Niemeyer e

Kruse (2008)

ou programas de ginastica milagrosos pode estar desempenhanshy

do importante funccedilatildeo educativa sobretudo no caso das pessoas

que natildeo dominam o conhecimento necessaacuterio para criticaacute-los e

por isso acabam por aderir ao consumo de mercadorias que nem

sempre produzem o resultado desejado

Consideramos que a transmissatildeo do conhecimento historicamente

sistematizado pela humanidade sobre o tema se constitui como um passo

importante para superar esse possiacutevel processo atual de ldquoadestramentordquo

A praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com a ginaacutestica

Na perspectiva que orienta este trabalho o trato pedagoacutegico com a

ginaacutestica na escola deve se articular agrave tarefa de socializaccedilatildeo das formas mais

desenvolvidas do conhecimento cientiacutefico filosoacutefico e artiacutestico produzido

pela humanidade ao longo do tempo uma vez que possibilita aos alunos asshy

sumir uma nova postura na praacutetica social qual seja a de sujeito histoacuterico7

No caso do tema abordado neste artigo isso significa transmitir um conheshy

cimento que permita aos alunos assumir uma nova relaccedilatildeo com a ginaacutestica

Compreendendo que o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos

corpos se constitui como um possiacutevel tema a ser trabalhado na

escola desenvolvemos um trabalho pedagoacutegico orientado pela

Pedagogia histoacuterico-criacutetica com uma turma (composta por 30

alunos de ambos os sexos) do segundo ano do Ensino Meacutedio no

Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste

de Minas Gerais (IF Sudeste M G ) Campus Juiz de Fora8 A seshy

7 A respeito disso ver Coletivo de Autores (1992)

8 Essa experiecircncia foi resultado de um Estaacutegio Curricular Obrigatoacuterio desenvolvido em

2011 quando Nathaacutelia Sixel Rodrigues e Ramon Mendes da Costa Magalhatildees cursavam

a Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacutesica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Tal experiecircncia deu origem a um Trabalho de Conclusatildeo de Curso (MAGALHAtildeES

RODRIG UES 2011) orientado por Leonardo Docena Pina na eacutepoca professor substituto

da FACED-UFJF As discussotildees realizadas entre os acadecircmicos o orientador e Miguel Fabiano

de Faria professor da turma do IF Sudeste M G que recebeu os estagiaacuterios demandaram a

continuidade do estudo abordando novas reflexotildees que naquela ocasiatildeo natildeo puderam ser

feitas O presente texto portanto parte da experiecircncia de estaacutegio mas natildeo se limita a este uma

vez que elaboramos outro plano de trabalho para englobar novas dimensotildees do conteuacutedo natildeo

abordadas naquela ocasiatildeo Para facilitar a compreensatildeo dos aspectos didaacuteticos expostos neste

texto apresentaremos o planejamento mais elaborado como experiecircncia jaacute desenvolvida

guir apresentamos a experiecircncia desenvolvida a partir dos passos

metodoloacutegicos da Pedagogia histoacuterico-criacutetica

Na identificaccedilatildeo da praacutetica social buscamos debater as seguintes

questotildees a ginaacutestica de hoje eacute igual agrave de antigamente Ela sofre influecircnshy

cia da miacutedia Existem diferenccedilas entre as praacuteticas de ginaacutestica voltadas

para a esteacutetica ou para a sauacutede Ginaacutestica promove sauacutede Qualquer

exerciacutecio que praticamos faz nosso corpo ldquoqueimarrdquo gordura Em seshy

guida os alunos foram informados de que estudariacuteamos algumas reshy

laccedilotildees entre ginaacutestica e sociedade ao longo da histoacuteria a partir de um

meacutetodo de apreensatildeo da realidade que tem o objetivo de transformar a

sociedade em que vivemos Os seguintes toacutepicos foram apresentados a

importacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise dos discurshy

sos da sauacutede e da esteacutetica a ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do

seacuteculo XIX aos dias de hoje a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos

desejos e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave

ginaacutestica introduccedilatildeo aos fundamentos cientiacuteficos do treinamento car-

diorrespiratoacuterio Cada um desses toacutepicos foi apresentado em conjunto

com os objetivos formulados sistematizados no plano de unidade

Ainda neste momento buscou-se identificar o que os alunos jaacute

sabiam sobre o tema Eles identificaram a praacutetica da ginaacutestica como

importante para a sauacutede e apontaram os ldquoobjetivos esteacuteticosrdquo como

influecircncia para aderir agrave praacutetica de ginaacutestica poreacutem natildeo demonstrashy

ram compreender o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

O processo de aprimoramento da compreensatildeo dos alunos

sobre o tema foi direcionado por questionamentos referentes agraves

suas respectivas dimensotildees conforme apresentado na problema-

tizaccedilatildeo disposta no plano de unidade

Para transmitir os conhecimentos necessaacuterios agrave compreenshy

satildeo das questotildees levantadas na problematizaccedilatildeo optou-se por

trabalhar na instrumentalizaccedilatildeo com atividades embasadas prinshy

cipalmente nas discussotildees apresentadas em Soares (1998) Soshy

ares (2001a) Angulski et al (2006) e Mcardle Katch e Katch

(2003) Aleacutem de aulas expositivas trabalhamos o conteuacutedo por

meio de vivecircncia praacutetica da ginaacutestica

Iniciamos esra fase com uma exposiccedilatildeo que abordou a evoluccedilatildeo

da Ginaacutestica ao longo da Histoacuteria enfatizando as formas originais de

disciplinarizaccedilatildeo Ou seja nos concentramos nos Meacutetodos Ginaacutesticos

e discutimos sua influecircncia na configuraccedilatildeo da Educaccedilatildeo Fiacutesica em

meados do seacuteculo XIX Logo apoacutes a exposiccedilatildeo uma vivecircncia praacutetica

foi realizada (nos moldes do Meacutetodo Francecircs) de modo a ampliar

a compreensatildeo da forma como era trabalhado esse conteuacutedo antishy

gamente aleacutem de buscar novos elementos para enriquecimento da

discussatildeo sobre a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Para discutir a expressatildeo contemporacircnea dessa produccedilatildeo cultural

apresentamos diferentes tipos de praacuteticas de ginaacutestica para vivecircncia e

posterior discussatildeo dos objetivos que levam as pessoas a praticaacute-las

esteacutetica ou sauacutede Salientamos neste momento alguns benefiacutecios da

ginaacutestica para a qualidade de vida e se esses estatildeo tambeacutem ligados agrave

esteacutetica O aprimoramento da compreensatildeo dos alunos sobre os beshy

nefiacutecios da ginaacutestica tambeacutem foi acompanhado por uma exposiccedilatildeo

dos modos de afericcedilatildeo da frequecircncia cardiacuteaca e das diferentes zonas

de treinamento e consumo de substratos energeacuteticos Assim pudemos

vivenciar algumas praacuteticas de ginaacutestica controlando a intensidade do

exerciacutecio de acordo com diferentes zonas alvo estipuladas Por fim

ainda na discussatildeo sobre esse tema buscamos situar a sauacutede e a qualishy

dade de vida como questotildees sociais a partir de uma exposiccedilatildeo seguida

da discussatildeo de reportagens previamente selecionadas

Ainda na instrumentalizaccedilatildeo apoacutes leituras indicadas para os alushy

nos realizarem em casa discutimos a influecircncia da miacutedia na praacutetica

de ginaacutestica nos modelos de corpo e nas accedilotildees para obtecirc-los Em

seguida elaboramos paineacuteis com recortes e reportagens de revistas

problematizando o tema Cada grupo apresentou seu painel ao final

Para explicitar a disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy

naacutestica em sua expressatildeo contemporacircnea acreditamos que eacute posshy

siacutevel discutir a influecircncia da miacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos

e necessidades para o consumo de mercadorias relacionadas agrave

ginaacutestica Aleacutem do mais a vivecircncia (seguida da problematizaccedilatildeo)

de alguns programas de ginaacutestica vendidos nas academias hoje

0

permite ao aluno compreender possiacuteveis traccedilos de disciplinariza-

ccedilaacuteo que se mantecircm ainda que de forma renovada

Ao final das atividades na catarse foi possiacutevel identificar que granshy

de parte dos alunos manifestou uma nova compreensatildeo da relaccedilatildeo exisshy

tente entre a ginaacutestica e a Educaccedilatildeo Fiacutesica nos diferentes momentos

da histoacuteria A nova maneira de entender o conteuacutedo mostrou-se mais

elaborada com domiacutenio de conceitos e entendimento de implicaccedilotildees

da sociedade na ginaacutestica e da ginaacutestica na sociedade Desafiados a sinshy

tetizar o que aprenderam os alunos se aproximaram do entendimenshy

to de que a ginaacutestica eacute uma atividade corporal que no seacuteculo XJX

atraveacutes dos meacutetodos ginaacutesticos atrelou-se agrave eugenia higiene assentada

no discurso da melhoria da sauacutede dos trabalhadores e da elevaccedilatildeo da

eficiecircncia no processo de produccedilatildeo No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre

ginaacutestica e qualidade de vida expressaram que a ginaacutestica isoladamente

natildeo garante melhora da sauacutedequalidade de vida pois estas estatildeo aliashy

das ao acesso agrave habitaccedilatildeo atendimento meacutedico transporte garantia

de emprego condiccedilotildees de trabalho seguras saneamento baacutesico e alishy

mentaccedilatildeo de qualidade dentre outros Enfatizaram o entendimento de

que a ginaacutestica tem desempenhado um papel secundaacuterio nas praacuteticas

de Educaccedilatildeo Fiacutesica no entanto tem sido objeto de ldquomercado rizaccedilatildeordquo

no cotidiano dos indiviacuteduos influenciados pela miacutedia A ginaacutestica soshy

bretudo sua praacutetica na busca de um padratildeo de corpo ideal tambeacutem

foi discutida sendo os meios iliacutecitos e exagerados como anabolizan-

tes esteroides dietas excessivas apontados como agentes nocivos que

poderiam levar a doenccedilas como a vigorexia anorexia e bulimia Neste

momento tambeacutem puderam se aproximar do entendimento de que dishy

ferentes intensidades nos exerciacutecios produzem efeitos distintos no nosso

corpo E ainda que a intensidade do exerciacutecio pode ser mensurada

atraveacutes da frequecircncia cardiacuteaca de maneira faacutecil e funcional9

Para os alunos expressarem a siacutentese a que ascenderam utilizamos

um trabalho final no qual foi proposto um ldquoquizrdquo educativo seguido

de uma discussatildeo o que permitiu abordar todo conteuacutedo trabalhado4

9 Naquela ocasiatildeo natildeo foi possiacutevel aprofundar o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

em suas formas contemporacircneas razatildeo que nos limitou a trabalhar apenas com as formas

originais desse processo conforme mencionado anirrinrmfnrraquo

A finalizaccedilatildeo das atividades na praacutetica social final envolveu a deshy

finiccedilatildeo de intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo no sentido de explicitar que a

apropriaccedilatildeo do conhecimento historicamente elaborado sobre a ginaacutesshy

tica possibilita aprimorar a atuaccedilatildeo na praacutetica social contribuindo para

uma postura criacutetica frente o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos10

Plano de unidade

A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Instiuiccedilatildeo Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia

Juiz de Fora

Disciplina Educaccedilatildeo Fiacutesica

Ano de escolaridade turma 2o ano do ensino meacutedio

Conteuacutedo Ginaacutestica

Unidade A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Nuacutemeros de aulas 8-10

OBJETIVOS GERAIS

bull Identificar a sauacutede e a esteacutetica como elementos centrais nos

discursos dominantes atualmente sobre a importacircncia da

praacutetica de ginaacutestica de modo a reconhecer suas implicaccedilotildees

sociais

bull Compreender o papel desempenhado pelos Meacutetodos

Ginaacutesticos na educaccedilatildeo dos corpos no seacuteculo XIX a fim

de enumerar possiacuteveis elementos de continuidaderuptura

em relaccedilatildeo agrave praacutetica de ginaacutestica em academias atualmente

bull Refletir sobre a influecircncia da miacutedia no incentivo ao

consumo de mercadorias relacionadas agrave ginaacutestica de

modo a posicionar-se criticamente diante das formulaccedilotildees

predominantes

10 Quadro detalhado sobre as intenccedilotildees e propostas de accedilatildeo encontra-se no planejamento

apresentado a seguir

bull Conhecer alguns princiacutepios baacutesicos do treinamento

cardiorrespiratoacuterio para aplicaacute-los em suas praacuteticas corporais

e utilizaacute-los na anaacutelise das receitas milagrosas difundidas

atualmente

1) PRAacuteTICA SOCIAL INICIAL

11 Anuacutencio dos conteuacutedos

Conteuacutedo ginaacutestica

Tema A ginaacutestica e o processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Toacutepicos

bull A im portacircncia atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto atual anaacutelise

dos discursos da sauacutede e da esteacutetica

bull A ginaacutestica e a formaccedilatildeo dos corpos doacuteceis do seacuteculo X I X aos

dias de hoje

bull A influecircncia da m iacutedia na definiccedilatildeo de novos desejos e

necessidades para o consum o de mercadorias relacionadas agrave

ginaacutestica

bull Introduccedilatildeo aos fundam entos cientiacuteficos do treinam ento

cardiorrespiratoacuterio

12 Vivecircncia do conteuacutedo

bull O que os alunos sabem ginaacutestica emagrece faz bem agrave sauacutede

haacute diferentes formas praticada em diferentes lugares

bull O que os alunos gostariam de saber todo exerciacutecio fiacutesico

eacute ginaacutestica Por quanto tempo preciso praticar ginaacutestica

para emagrecer Musculaccedilatildeo eacute ginaacutestica Como ficar com o

corpo igual aos praticantes de ginaacutestica competitiva Todas

as pessoas podem praticar todos os tipos de ginaacutestica Como

a ginaacutestica pode favorecer a prevenccedilatildeo de doenccedilas

2) PROBLEMATIZACcedilAacuteO

21 Discussatildeo sobre o conteuacutedo

A ginaacutestica de hoje eacute igual a de antigamente Ela sofre influecircncia da

miacutedia Existem diferenccedilas entre a praacutetica voltada agrave esteacutetica ou agrave sanrW

22 Dimensotildees do conteuacutedo

Quadro 1 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

D IM E N S Otilde E S Q U E ST Otilde E S P R O B L E M A T IZ A D O R A S

Conceituai

O que eacute ginaacutestica A ginaacutestica voltada para a sauacutede ou para a esteacutetica

se configura da mesma forma Toda ginaacutestica tem as mesmas caracteshy

riacutesticas O que eacute frequecircncia cardiacuteaca e qual sua relaccedilatildeo com as diferenshy

tes imensidades do exerciacutecio fiacutesico Quais sinais emitidos pelo nosso

corpo nos permitem estimar a queima ou natildeo de gordura O que eacute

disciplinarizaccedilatildeo dos corpos

Econocircmica

0 padratildeo de corpo perfeito tem alguma utilidade econocircmica Todos

tecircm condiccedilotildees de usufruir das possibilidades que o mercado oferece para

a melhora da qualidade de vida da populaccedilatildeo O desejo crescente pela

busca de novas modalidades de ginaacutestica de academia tem funccedilatildeo ecoshy

nocircmica importante nos dias de hoje

Histoacuterica

A ginaacutestica sempre se apresentou da mesma forma ao longo da hisshy

toacuteria H aacute diferenccedilas e semelhanccedilas entre a praacutetica de antigamente

e a atual Qual a funccedilatildeo atribuiacuteda agrave ginaacutestica no contexto de sua

inserccedilatildeo na escola

CulturalCom o a miacutedia influencia nossos haacutebitos A miacutedia influenciava as

praacuteticas de ginaacutestica antigamente tambeacutem

Esteacutetica

Sempre existiu padratildeo de corpo A m iacutedia difundia algum padratildeo

de corpo antigamente A praacutetica de ginaacutestica tem sido realizada

somente para a obtenccedilatildeo de um corpo belo Essa difusatildeo de um

padratildeo de corpo ideal cria na populaccedilatildeo desejos e imagens sobre

seus proacuteprios corpos

Poliacutetica

A praacutetica de ginaacutestica por si soacute favorece a melhoria da sauacutede da

populaccedilatildeo de forma isolada ou outros fatores como renda morashy

dia emprego transporte atendimento meacutedico e alimentaccedilatildeo satildeo

importantes

Teacutecnica

Com o aferir a frequecircncia cardiacuteaca Com o identificar a intensidade dos

exerciacutecios Com o definir as zonas de treinamento a partir da afericcedilatildeo

da frequecircncia cardiacuteaca Quais satildeo os gestos que definem os movimenshy

tos da ginaacutestica

7onte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

31 Accediloacutees docentes e discentes

bull Exposiccedilatildeo do professor

bull Vivecircncia de diferentes formas de ginaacutestica passando dos

Meacutetodos Ginaacutesticos agraves modalidades contemporacircneas de

ginaacutestica de academia

bull Discussatildeo de textos com os alunos

bull Visualizaccedilatildeo anaacutelise e debate de documentaacuterioreportagem

em viacutedeo

bull Vivecircncia praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos mdash aferindo a frequecircncia

cardiacuteaca de si mesmo e do companheiro aleacutem de controlar

a zona alvo em diferentes intensidades

bull Elaboraccedilatildeo de painel com recortes e reportagens de jornais

eou revistas

32 Recursos materiais

Jornais revistas internet slides e materiais para praacutetica de gishy

naacutestica

4) CATARSE

41 Siacutentese teoacuterica do aluno

Com o desenvolvimento da sociedade capitalista na Europa

do seacuteculo XIX a Ginaacutestica Cientiacutefica ou Meacutetodos Ginaacutesticos acashy

baram por assumir a funccedilatildeo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos Para

subordinar poliacutetica e economicamente os indiviacuteduos agraves exigecircncias

das relaccedilotildees sociais dominantes naquele contexto a ginaacutestica foi

inclusive inserida nas escolas onde era praticada atraveacutes de exershy

ciacutecios padronizados com pouco ou nenhum espaccedilo para reflexotildees

dos alunos que deveriam executar os movimentos conforme os

comandos do professor (instrutor) Assim buscava-se contribuir

para formar sujeitos produtivos economicamente e ao mesmo

empo submissos politicamente capazes de contribuir para o de-

envolvimento das relaccedilotildees sociais que se aprofundavam na eacutepoca

Ao longo da histoacuteria a ginaacutestica passou por inuacutemeras trans-

ormaccedilotildees e atualmente seu viacutenculo com o discurso da promoshy

ccedilatildeo da sauacutede e da esteacutetica tem lhe garantido a manutenccedilatildeo de

am status privilegiado dentre as manifestaccedilotildees da cultura corposhy

ral Poreacutem se antigamente a educaccedilatildeo dos corpos atraveacutes da gishy

naacutestica visava formar um homem forte e apto ao trabalho fabril

atualmente a ginaacutestica parece atrelada a um processo educativo

voltado ao consumo desenfreado de mercadorias sejam as ldquonovasrdquo

modalidades oferecidas nas academias ou os diversos produtos que

visam agrave obtenccedilatildeo de um padratildeo de corpo ideal

Enquanto a busca desenfreada pelo padratildeo de corpo perfeito

acaba por influenciar transtornos como anorexia vigorexia e buli-

mia o discurso orientado na relaccedilatildeo (direta) entre praacutetica de ginaacutestishy

ca e obtenccedilatildeo da sauacutede acaba por mascarar o fato de que a qualidade

de vida e a sauacutede satildeo conceitos que envolvem condiccedilotildees de vida

como habitaccedilatildeo emprego condiccedilotildees de trabalho atendimento meacuteshy

dico de qualidade alimentaccedilatildeo dentre outros

A anaacutelise do processo de disciplinarizaccedilatildeo dos corpos atraveacutes

da ginaacutestica e a apropriaccedilatildeo dos fundamentos baacutesicos do treinashy

mento cardiorrespiratoacuterio nos auxiliam no desenvolvimento de

uma postura criacutetica com a ginaacutestica a sociedade contemporacircnea e

seus discursos predominantes sobre o tema

42 Expressatildeo da siacutentese

Realizaccedilatildeo de prova e participaccedilatildeo em um quiz educativo ambos

abordando todo conteuacutedo estudado

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL D O CONTEUacuteDO

Quadro 2 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

1 Conhecer mais sobre a ginaacutestica1 Leitura de revistas e artigos soshy

bre ginaacutesticas

2 Discutir o comportamento dos inshy

diviacuteduos e suas praacuteticas de ginaacutestica

de acordo com seus objetivos sauacutede

eou esteacutetica

2 Observar e perguntar aos memshy

bros da sua comunidade se pratishy

cam e por que praticam ginaacutestica

e informaacute-los de seus limites e beshy

nefiacutecios

3 Posicionar-se criticamente sobre a

influecircncia da miacutedia nas praacuteticas de gishy

naacutesticas atuais

3 Numa discussatildeo sobre a gishy

naacutestica manifestar sua opiniatildeo

argumentando a favor ou contra

de acordo com o conhecimento

adquirido criticar a difusatildeo do

padratildeo de corpo ideal

4 Difundir o entendimento de que

outros fatores interferem na qualishy

dade de vida dos indiviacuteduos aleacutem da

ginaacutestica

4 Explicar a outras pessoas que

fatores como acesso agrave habitaccedilatildeo

atendimento meacutedico transporte

garantia de emprego condiccedilotildees

de trabalho seguras saneamento

baacutesico e alimentaccedilatildeo de qualidashy

de tambeacutem interferem na qualishy

dade de vida da populaccedilatildeo aleacutem

da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos

5 Realizar exerciacutecios na intensidade

de acordo com seus objetivos

5 Controlar sua frequecircncia cardiacute

aca durante a praacutetica de ginaacutestica e

demais exerciacutecios fiacutesicos

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees Finais

Este texto buscou apresentar uma experiecircncia pedagoacutegica na qual

a ginaacutestica foi trabalhada na escola sob orientaccedilatildeo da Pedagogia his-

toacuterico-criacutetica Destacamos que essa experiecircncia deve ser vista com um

olhar mais profundo pois cada escola tem caracteriacutesticas especiacuteficas e

singularidades que podem facilitar ou dificultar o processo pedagoacutegico

Vale ressaltar que a experiecircncia descrita natildeo esgota as inuacutemeras

possibilidades de trabalho a serem desenvolvidas com o tema ou com

a ginaacutestica Da mesma forma o conhecimento transmitido se constishy

tui apenas como parte do amplo leque de conhecimentos necessaacuterios

para o desenvolvimento de uma leitura criacutetica da realidade

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CAPIacuteTULO VIII

0 LUGAR E HORA DO CIRCO NA ESCOLA REFLEXOtildeES SOBRE A REINVENCcedilAtildeO DA CULTURA CIRCENSE NA SOCIEDADE CONTEMPORAcircNEA

Adriano de Paiva Reis

Carla Cristina Carvalho Pereira

Frederico Duarte Gomes Tostes

Haacute sempre um pouco de circo no corashy

ccedilatildeo de toda crianccedila Haacute sempre um pouco de

crianccedila no coraccedilatildeo de todo adulto Dentro de

noacutes despertam ecos as faceacutecias do palhaccedilo o

encanto da bailarina a cavalo as proezas do

trapeacutezio o destemor do homem que enfrenta

leotildees e tigres O fasciacutenio que aureola nossas

recordaccedilotildees vem do resto de infacircncia que -

felizmente - ainda ficou em noacutes E enquanto

houver ressoando alegre e contagiante um

riso de crianccedila haveraacute sempre um grito enshy

tusiaacutestico pronto a explodir - Viva o circo

(RUIZ 1987)

A arte circense eacute para muitos estudiosos

considerada uma das manifestaccedilotildees culturais

mais tradicionais do mundo Sobrevivendo de

geraccedilatildeo a geraccedilatildeo o circo vem perdurando no

tempo Maacutegicos trapezistas malabaristas pashy

lhaccedilos domadores e encantadores de animais

selvagens o fasciacutenio despertado pelo circo traz

encantamento e mexe com o imaginaacuterio do

homem haacute anos independente da idade

Marginalizada durante muito tempo as atividades circenses

hoje viraram nicho de mercado O circo vem ocupando cada vez

mais espaccedilo e ganhando maior visibilidade nos dias atuais seja

em academias de ginaacutesticas clubes escolas para formaccedilatildeo de cirshy

censes semaacuteforos dentre outros

Embora a produccedilatildeo teoacuterica a respeito do tema tenha crescido a

partir do iniacutecio dos anos 2000 e um nuacutemero significativo de artigos

sobre esse conteuacutedo esteja sendo publicado nos principais perioacutedishy

cos de Educaccedilatildeo Fiacutesica do paiacutes a maior parte dos trabalhos limita-se

ao resgate histoacuterico tendo em vista a preservaccedilatildeo do circo enquanto

patrimocircnio cultural ou a relatos de experiecircncias desenvolvidas

A inclusatildeo do circo nos curriacuteculos escolares eacute justificada

2 m muitos casos a partir do provaacutevel desenvolvimento das cashy

pacidades fiacutesicas agilidade resistecircncia cardiovascular equiliacutebrio

ldquohabilidades motorasrdquo em geral Ainda satildeo destacados aspectos

omo autoconhecimento automotivaccedilatildeo e superaccedilatildeo dos medos

ileacutem de cooperaccedilatildeo socializaccedilatildeo interaccedilatildeo ajuda muacutetua criashy

ratildeo de viacutenculo afetivo alegria espontacircnea e consciecircncia corpo-

al1 Embora possam ser considerados importantes entendemos

jue tais elementos por si soacute natildeo justificam a presenccedila desse

onteuacutedo na educaccedilatildeo escolar

A nosso ver a inclusatildeo das atividades circenses nos curriacuteculos

scolares articula-se ao que consideramos ser o papel da escola

[uai seja o ldquode socializaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico filosoacutefi-

o e artiacutestico produzido pela humanidade atraveacutes dos tempos em nas formas mais elevadasrdquo (EIDT DUARTE 2007 p 54 grifo

to autor) E imprescindiacutevel compreender as atividades circenses

nquanto produto da atividade humana um resultado do desen-

olvimento histoacuterico que precisa ser apropriado Cada um dos

lementos que constituem o circo (malabarismo equilibrismo

laacutegica etc) eacute carregado de sentidos e significados construiacutedos

istoricamente e modificados socialmente identificando assim o

Costa Tiaen e Sambugari (2007) Bortoleto (2003) Silva (1996) Silva e

Cacircmara (2009) Duprat e Bortoleto (2007)

homem como produtor e transformador da cultura Cabe agrave escoshy

la trabalhar com esse conteuacutedo contextualizando-o problemati-

zando-o estabelecendo correlaccedilotildees pertinentes entre as atividades

circenses e o processo histoacuterico em que se desenvolveram desmis-

tificando algumas modificaccedilotildees pelas quais passou ao longo dos

tempos Assim torna-se possiacutevel articular o ensino das atividades

circenses com a formaccedilatildeo do sujeito histoacuterico consciente da neshy

cessidade de superaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais de dominaccedilatildeo

O desafio a ser superado eacute a construccedilatildeo de propostas pedagoacutegishy

cas viaacuteveis consistentes e coesas que contribuam para uma anaacutelise

criacutetica e uma compreensatildeo abrangente do universo circense visando

[] desenvolver uma reflexatildeo pedagoacutegica sobre o

acervo de formas de representaccedilatildeo do mundo que o

homem tem produzido no decorrer da histoacuteria exshy

teriorizadas pela expressatildeo corporal jogos danccedilas

lutas exerciacutecios ginaacutesticos esporte malabarismo

contorcionismo miacutemica e outros que podem ser

identificados como formas de representaccedilatildeo simshy

boacutelica de realidades vividas pelo homem historicashy

mente criadas e culturalmente desenvolvidas (C O shy

LETIVO DE AUTORES 1992 p 38)

Nesta perspectiva defendemos que as atividades circenses poshy

dem ser encaradas como um conteuacutedo especiacutefico extrapolando

algumas anaacutelises que a entendem enquanto parte constituinte da

ginaacutestica Apesar de determinados elementos como as acrobacias

apresentarem similaridades com o conteuacutedo da ginaacutestica fica evishy

dente que o processo com que esses elementos se apresentam denshy

tro do universo do circo eacute bem diferente daquele onde surgiu e

se desenvolveu a ginaacutestica2 Aleacutem disso outros elementos como

o palhaccedilo e as maacutegicas natildeo podem ser compreendidos enquanto

movimentos giacutemnicos e no nosso entendimento omiti-los seria

uma forma de fragmentar o conhecimento a respeito do circo

2 De acordo com Soares (2005) as acrobacias circenses influenciaram a

Ginaacutestica Francesa meacutetodo desenvolvido a partir da ordenaccedilatildeo e organizaccedilatildeo

de movimentos de acrobatas funacircmbulos e saltimbancos de maneira a

produzir maior eficiecircncia e economizar eneraia

A produccedilatildeo da arte circense como modo de vida

A arte circense eacute considerada uma das manifestaccedilotildees culturais mais

antigas do mundo sendo impossiacutevel precisar sua origem Sabe-se que

as modalidades circenses que hoje conhecemos decorrem de praacuteticas

que foram surgindo em momentos contextos e lugares diferentes a

partir dos costumes de uma regiatildeo ou paiacutes com o objetivo de entreter

louvar ou homenagear a deuses valorizar conquistas de guerras ou satildeo

corporificadas a partir da necessidade do homem de adestrar animais

para auxiacutelio no transporte ou em atividades de trabalho

O circo ldquomodernordquo como espetaacuteculo pago uma lona cobrindo um

picadeiro onde se apresentam trapezistas malabaristas equilibristas eacute

muito recente e seria por assim dizer a forma moderna de um antiquiacutesshy

simo entretenimento de diversos povos e culturas (TORRES 1998) A

estrutura do circo moderno remonta ao seacuteculo XVIII quando o inglecircs

Philip Astley ex-oficial da Cavalaria Britacircnica criou um espetaacuteculo de

equilibrismo equestre apresentado numa pista circular O espetaacuteculo criashy

do por Astley apresentava uma estrutura que atendia a um puacuteblico espeshy

ciacutefico da sociedade o rigor a postura e a elegacircncia da arte equestre consshy

tituiacuteam um siacutembolo de status social e muito agradavam a aristocracia

Entretanto os grupos circenses da eacutepoca comeccedilaram a notar que

as apresentaccedilotildees ganhariam muito mais espectadores se conseguissem

atingir uma classe social emergente naquela eacutepoca a burguesia Foshy

ram entatildeo incorporados outros artistas mdash funambulescos malabarisshy

tas acrobatas saltadores e adestradores de animais3 - que desafiavam

os limites corporais e morais e o espetaacuteculo foi reorganizado de forma

que pudesse ser mais atrativo (DUPRAT 2007)

3 Apesar dos animais historicamente participarem do espetaacuteculo circense a legislaccedilatildeo atual

vem restringindo sua utilizaccedilatildeo Aleacutem do Decreto ndeg 2464534 referente a maus tratos e

crueldade aos animais a Lei de Proteccedilatildeo agrave Fauna (Lei 519767) prevecirc pena de reclusatildeo para

casos de animais silvestres mantidos em locais sem higiene sujeitados a trabalhos insalubres

alimentaccedilatildeo inadequada ou insuficiente dentre outros A Portaria 10894 regulamenta as

condiccedilotildees para a estadia dos animais em zooloacutegicos e circos cabendo agraves prefeituras autorizarem

ou natildeo a fixaccedilatildeo de circos que utilizem animais em seus nuacutemeros Este eacute um ponto bastante

polecircmico pois apesar dos ambientalistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos

alegando maus tratos mdash seja nos meacutetodos de adestramento ou pelo fato de retiraacute-los de seu

habitat natural mdash haacute quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute crueldade e

tampouco insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais

Contraditoriamente na Europa receacutem-industrializada do

seacutec XIX o universo gestual caracteriacutestico do circo apresentava

liberdade e descompromisso contrariando o pensamento burguecircs

da eacutepoca que defendia a utilidade de qualquer atividade fora do

mundo do trabalho Contrapondo-se agrave liberdade e ao luacutedico das

atividades circenses primava-se pelos exerciacutecios fiacutesicos cuidadoshy

samente pensados para finalidades especiacuteficas a partir dos grupos

musculares e de funccedilotildees orgacircnicas (SOARES 2005)

O circo permitia agrave plateia transitar do maacutegico e fascinante agrave

aberraccedilatildeo despertando os mais ambiacuteguos sentimentos Acrobatas

trapezistas e funacircmbulos desafiavam as leis da fiacutesica desprezando o

peso de seus corpos enquanto homens domavam animais selvagens

engoliam fogo faziam reviver animais mortos aleacutem de exibirem deshy

formaccedilotildees fiacutesicas Esses estrangeiros nocircmades fascinantes artistas cirshy

censes eram cada vez mais temidos pela elite dirigente pois

traziam o corpo como espetaacuteculo Invertiam a ordem

das coisas Andavam com as matildeos lanccedilavam-se ao

espaccedilo contorciam-se e encaixavam-se em potes cm

cestos imitavam bichos vozes produziam sons com

as mais diferentes partes do corpo cuspiam fogo

vertiam liacutequidos inesperados gargalhavam viviam

em grupos Opunham-se assim aos novos cacircnones

do corpo acabado perfeito fechado limpo e isolado

que a ciecircncia construiacutera da vida fixa e disciplinada

que a nova ordem exigia (SOARES 2005 p 25)

Como eram rentaacuteveis os espetaacuteculos circenses proliferaram-se

por toda a Europa com um crescente nuacutemero de grupos de artistas

apresentando-se na sua maioria em instalaccedilotildees fixas ao ar livre ou

em anfiteatros adaptados o que demonstra grande influecircncia do

circo nas formas de divertimento e entretenimento da populaccedilatildeo e

da burguesia crescente Satildeo estas companhias que emigraram mais

tarde para outros continentes (SILVA 2003 DUPRAT 2007)

E nos Estados Unidos que a arena do circo ganha um mastro

central e uma tenda surgindo os moldes do ldquocirco americanordquo ou

circo de lona Nas matildeos de PhineasTaylor Barnum mdash homem de neshy

goacutecios e eficiente publicitaacuterio a enorme tenda colorida aleacutem de

proporcionar maior conforto aos espectadores tornou-se uma exceshy

lente forma de divulgar e vender o espetaacuteculo Ao mudar de cidade

toda a estrutura era desmontada e levada pelo grupo

Com a possibilidade de adquirirem maior mobilidashy

de aliada agrave incorporaccedilatildeo de artistas dos vaacuterios paiacuteses

por onde passava o circo consolidava-se como um

espaccedilo de muacuteltiplas linguagens artiacutesticas que pressushy

punha todo um conjunto de saberes definidores de

novas formas de produccedilatildeo e organizaccedilatildeo de espetaacuteshy

culo animais mistura de nacionalidades acrobacias

nuacutemeros aeacutereos magia shows de variedades represhy

sentaccedilotildees teatrais com pantomimas e entradas de

palhaccedilos com ou sem diaacutelogo Para os defensores do

ldquocirco purordquo era um espetaacuteculo ecleacutetico demais que

mais parecia music hall um teatro de variedades do

que circo Apesar das criacuteticas e debates em torno dos

espetaacuteculos circenses a montagem e produccedilatildeo dos

mesmos continham as principais formas de expresshy

sotildees artiacutesticas contemporacircneas apresentando um reshy

sultado que misturava music hall variedades teatro

(cenas cocircmicas pantomimas operetas) ginaacutestica

acrobacia e animais (SILVA 2007 p 51)

Este modo de organizaccedilatildeo pressupunha certas caracteriacutesticas

definidoras e distintivas do grupo circense como o nomadismo e

uma forma coletiva de constituiccedilatildeo do profissional artista baseada

na transmissatildeo oral do conjunto de saberes e praacuteticas acumuladas a

partir da vivecircncia na lona A organizaccedilatildeo familiar era a base de susshy

tentaccedilatildeo do circo inclusive no que se refere agraves relaccedilotildees de trabalho

Era comum que todos soubessem um pouco de todos os aspectos

que envolviam aquela produccedilatildeo desde a rotina diaacuteria do circo - como

armar e desarmar a tenda preparar os nuacutemeros e peccedilas de teatro

cuidar dos animais limpeza do ambiente dentre outros mdash ateacute as teacutecshy

nicas ou habilidades especiacuteficas da apresentaccedilatildeo As crianccedilas cabia a

responsabilidade de preservar a tradiccedilatildeo Por causa da vida nocircmade

eram alfabetizadas nas escolas das cidades por onde o circo passava ou

por uma pessoa do proacuteprio circo Aqueles que natildeo nasciam no circo

mas que a ele se incorporavam passavam pelo mesmo ritual de aprenshy

dizagem ao qual passavam os menores

O circo no tempo da induacutestria do entretenimento

Essa estrutura do circo tradicional comeccedilou a sofrer alguma alteshy

raccedilatildeo jaacute na deacutecada de 1920 na entatildeo Uniatildeo Sovieacutetica4 mas eacute a partir

dos anos de 1970 entretanto que consolidou-se um movimento de

reestruturaccedilatildeo do circo - fruto do envolvimento de artistas de diversas

origens em paiacuteses da Europa Ocidental Austraacutelia Canadaacute e Brasil

fazendo com que o ensino das artes circenses extrapolasse o reduto da

lona e quebrasse assim uma de suas grandes tradiccedilotildees a transmissatildeo

de conhecimento de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo (SILVA ABREU 2009)

O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy

ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX aleacutem da facilishy

dade de acesso agrave informaccedilatildeo e da fluidez da cultura no entanto

ocasionaram uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves

apresentaccedilotildees circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios

e dos terrenos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidashy

des mdash a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de

uma poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que

inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais O

fato eacute que nos anos de 1970 havia mais de 2000 companhias cirshy

censes espalhadas pelo Paiacutes e em 2009 esse nuacutemero era estimado

em 500 circos de pequeno meacutedio e grande porte5

Circenses tradicionais preocupados com o futuro encaminham

seus filhos para a vida urbana fora das lonas Escolas de circo passaram

a formar novos artistas rompendo-se a relaccedilatildeo de ldquopertencimentordquo agrave trashy

diccedilatildeo circense O modelo familiar de circo sofreu uma ruptura abrindo

espaccedilo para o que se conhece atualmente como Circo Novo

4 Na deacutecada de 1920 logo apoacutes a Revoluccedilatildeo Russa iniciou-se na antiga Uniatildeo Sovieacutetica

um movimento de construccedilatildeo de escolas de circo para fora da lona ou para fora do

grupo familiar circense a partir da nacionalizaccedilatildeo do circo e dos teatros pelo governo

sovieacutetico (DUPRAT 2007) Apesar de natildeo ser objetivo deste artigo discutir o contexto

histoacuterico e poliacutetico desse fato natildeo podemos deixar de mencionaacute-lo por constituir a

primeira experiecircncia de uma escola de circo fora do processo de formaccedilatildeosocializaccedilatildeo

aprendizagem que sempre foi dado sob a lona

f5 Dados obtidos no site do Ministeacuterio da Cultura Disponiacutevel em lthttpwww

culturagovbrsite20090327funarte-estima-que-brasil-tenha-500-grupos-

circensesgt Acesso em 14 jul 2012

Neste sentido

o circo como um todo natildeo mais se responsabiliza pela

continuaccedilatildeo do ensino artiacutestico da geraccedilatildeo seguinte

este passou a ser responsabilidade de cada famiacutelia que

escolhe onde seus filhos vatildeo estudar na escola formal

ou no circo A partir da deacutecada de 1970 no Brasil

algumas escolas de circo foram fundadas por artistas

preocupados em transmitir a teacutecnica circense em fazer

a profissatildeo renascer todavia natildeo mais necessariamente

com os filhos de gente de circo (SILVA 1996 p 9)

O circo teve que se reinventar para sobreviver Considerado

como o ldquoCirco do Homemrdquo por valorizar somente o ser humano

em suas performances o Circo Novo busca adequar-se ao mercashy

do artiacutestico dos novos tempos

A tecnologia assume um papel fundamental nesse processo pois

permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalanche tecshy

noloacutegica os grandes circos se apropriam das produccedilotildees e se renovam

constantemente enquanto muitos circos pequenos sucumbem agrave conshy

correcircncia por natildeo coseguirem acompanhar esse movimento

A mercantilizaccedilatildeo que domina a quase totalidade das relaccedilotildees soshy

ciais e a submissatildeo da cultura da sauacutede e da educaccedilatildeo - e tambeacutem das

praacuteticas corporais mdash aos interesses do capital trazem uma consequente

descaracterizaccedilatildeo do universo do circo Como empresa o ldquocirco novordquo

adota uma forte divisatildeo do trabalho contando com profissionais resshy

ponsaacuteveis para as mais diversas tarefas e funccedilotildees

A principal mudanccedila que caracteriza o chamado ldquocirco novordquo

refere-se agrave relaccedilatildeo familiar o circo torna-se uma grande empresa

Os artistas natildeo mais pertencem agraves famiacutelias circenses satildeo ex-atleshy

tas ou profissionais formados em escolas de circo e contratados

pelas grandes companhias De acordo com Silva (1996) natildeo eacute

mais a famiacutelia que eacute contratada mas o artista um nuacutemero um

especialista que tem um determinado conhecimento especiacutefico

da tarefa e natildeo mais do funcionamento do circo como um todo

tornando o conjunto do conhecimento sobre o circo fragmentashy

do e hierarquizado Nesse sentido

O modo de transmissatildeo oral do circo-lamilu Im m i

sido quebrado A ideacuteia de que o artista tiniu qm lt i

completo - no sentido de que cada indiviacuteduo liu

parte de uma comunidade e a sobrevivecircncia do gi upo

dependia do seu trabalho como um todo - natildeo niiis

fundamenta o aprendizado Daacute-se origem a uma novi

maneira de se ser artista de circo e a novas formas draquo

organizaccedilatildeo do trabalho (SILVA 1996 p 153)

O exemplo mais representativo do circo-empresa - e o de

maior impacto midiaacutetico - eacute a Companhia de Entretenimento

Circo de Soleil considerado o maior impeacuterio circense do mundo

Utilizando o que haacute de mais contemporacircneo para o entretenimenshy

to do puacuteblico conta com 21 espetaacuteculos sendo 12 em turnecirc em 5

continentes aleacutem de 9 espetaacuteculos residentes (exclusivamente nos

Estados Unidos) O Circo de Soleil emprega mais de 5000 funcioshy

naacuterios em todo o mundo sendo mais de 1300 artistas contratados

A maioria desses artistas eacute composta por ex-atletas danccedilarinos

profissionais personagens de sucesso nos meios de comunicaccedilatildeo

que representam cerca de 50 nacionalidades e falam 25 idiomas

diferentes Mais de 100 milhotildees de pessoas jaacute assistiram aos espeshy

taacuteculos do circo desde sua fundaccedilatildeo em 19846

Unindo danccedila teatro e circo a elementos da tecnologia como efeishy

tos de luz e som computaccedilatildeo graacutefica conhecimentos de diversas aacutereas

para a performance de um artistaatleta este novo modelo requer artistas

polivalentes como por exemplo malabaristas-acrobatas acrobatas-clo-

wn clown-muacutesico etc No circo novo o mais importante natildeo eacute o mais

complicado arriscado ou sobre-humano mas o mais belo plaacutestico vishy

sual esteacutetico etc(BORTOLETO MACHADO 2003)

Aleacutem disso as atividades circenses viraram nicho cle mercado

e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de circo a

academias de ginaacutestica A arte circense tambeacutem eacute utilizada como

praacutetica assistencialista por ON Gs e outras entidades filantroacutepicas

como ldquoinstrumento pedagoacutegicordquo na busca da ldquomelhoria de vidardquo

dos envolvidos nos projetos (F IG U E IREDO 2007)

6 Dados obtidos no site do Circo de Soleil Disponiacutevel em lthttpwwwcirquedusoleil

comenwelcomeaspxgt Acesso em- n

Eacute esse universo do circo que propomos trazer para a escola de forshy

ma a possibilitar ao aluno a apropriaccedilatildeo do conhecimento e a adoccedilatildeo de

uma postura criacutetica frente agrave atual configuraccedilatildeo do espetaacuteculo circense

Apresentamos a seguir o relato de uma experiecircncia pedagoacutegica realishy

zada com alunos do 6o ano de uma escola municipal de Juiz de Fora

Uma praacutetica pedagoacutegica histoacuterico-criacutetica com o circo

Ao iniciarmos a unidade buscamos identificar o niacutevel de consshy

ciecircncia dos alunos acerca do circo e os possiacuteveis interesses sobre a teshy

maacutetica Foram exibidos alguns viacutedeos de apresentaccedilotildees diversas (circo

tradicional C irque de Soleil apresentaccedilotildees de rua apresentaccedilotildees em

festas infantis na televisatildeo etc) Apoacutes a exibiccedilatildeo os alunos respondeshy

ram a duas questotildees O que eacute o circo Onde encontramos o circo atushy

almente As respostas foram registradas pelo professor A seguir foshy

ram explicitados os pontos que seriam abordados dentro do conteuacutedo

(histoacuteria e evoluccedilatildeo do circo as modalidades relaccedilotildees de trabalho e a

questatildeo ambiental) objetivos e atividades que seriam desenvolvidas

O segundo momento dentro da unidade didaacutetica foi a seleccedilatildeo de

questotildees relevantes para a discussatildeo e reflexatildeo dos alunos ou seja a problc-

matizaccedilatildeo Neste ponto foram delimitadas ainda as dimensotildees do conheshy

cimento a serem abordadas conforme apontamos no plano de unidade

No momento da instrumentalizaccedilatildeo foram desenvolvidas atividades

i accedilotildees tais como exibiccedilatildeo de viacutedeos leitura de textos vivecircncia das mais

iiversas modalidades circenses construccedilatildeo de materiais entre outras

Como forma de analisarmos o quanto o aluno apreendeu so-

gtre o conteuacutedo trabalhado propomos a criaccedilatildeo de uma apostila

obre o circo com a divisatildeo em grupos para a elaboraccedilatildeo de tex-

os sobre os toacutepicos de conteuacutedo trabalhados O objetivo desta

itividade consistiu em verificar o niacutevel de evoluccedilatildeo dos alunos

m relaccedilatildeo ao conhecimento sobre o circo (sua histoacuteria as moda-

idades teacutecnicas baacutesicas construccedilatildeo de materiais para a praacutetica

is novas configuraccedilotildees do circo atual os motivos pelos quais

iacuteoje existem poucos circos tradicionais as relaccedilotildees de trabalho

lentro do picadeiro dentre outros pontos) Outra atividade foi

a criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre 1 un

lizaccedilatildeo de animais nos espetaacuteculos circenses

No retorno agrave praacutetica social os alunos aprofundaram seus conltc

cimentos sobre o circo atraveacutes da pesquisa de textos e viacutedeos sobiv ltraquo

aspectos discutidos nas aulas e socializaram os conhecimentos com ou

tros alunos da escola atraveacutes da montagem de um espetaacuteculo circense

Plano de Unidade O lugar e hora do circo na escola

OBJETIVO GERAL

Compreender o circo enquanto manifestaccedilatildeo cultural a fim

de assumir postura criacutetica frente agraves novas configuraccedilotildees do espeshy

taacuteculo circense atual

Quadro 1 - Anuacutencio do conteuacutedo

M iacuteK IacuteS S amp K bull C i Jrsquo irfiiacuteV-rsquo P f

A histoacuteria do circo

Conhecer a histoacuteria do circo e suas transforshy

maccedilotildees

Identificar as diversas formas de apresentaccedilatildeo das

atividades circenses na atualidade (circo tradicional

circo novo atividades de rua festas infantis circo

social etc)

As modalidades circenses

Identificar as modalidades existentes no circo

malabarismo equilibrismo acrobacia maacutegica e

palhaccedilo

Vivenciar as principais modalidades que constituem

o circo

Construir materiais que possibilitem a experiecircncia

das modalidades circenses

O circo nos tempos atuais

Compreender as novas configuraccedilotildees do circo na atushy

alidade relacionando-as agraves exigecircncias da atual fase do

modo de produccedilatildeo capitalista (relaccedilotildees comerciais leis

trabalhistas trabalho infantil informalidade legislaccedilatildeo

de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos etc)

Circo legal tem animal

Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave utilizaccedilatildeo de anishy

mais no circo

Posicionar-se criticamente frente agrave utilizaccedilatildeo de

animais no circo

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

1) PRAacuteTICA SOCIAL IN IC IAL D O CONTEUacuteDO

11 Vivecircncia do Conteuacutedo

bull O que os alunos jaacute sabem sobre o conteuacutedo O circo eacute um

espetaacuteculo com vaacuterios artistas eacute divertido tem maacutegica

palhaccedilo acrobatas ldquoanimais ferozesrdquo tem gente que faz

circo na rua etc

bull O que eles gostariam de saber a mais Como surgiu o circo

Como fazer maacutegica malabarismo equilibrismo etc Como

sobrevive um artista de circo Como satildeo tratados os animais

que vivem no circo

2) PROBLEMATIZACcedilAtildeO

Iniciar um debate com os alunos lanccedilando algumas questotildees

problematizadoras registrando as opiniotildees levantadas

Quadro 2 - Dimensotildees do conteuacutedo a serem trabalhadas

TOacutePICO DE

CONTEUacuteDO DIMENSOtildeES

bulltgt t bull

QUESTAtildeO PROBLEMA

Respeitaacutevel puacuteblishy

co o circo chegouConceituai

O que eacute o circo

O que eacute circo tradicional

O que eacute circo novo

A histoacuteria do circo Histoacuterica

Quem inventou o circo

Onde ele surgiu

O circo de hoje eacute igual ao de antigashy

mente

Quais satildeo as modificaccedilotildees pelas quais

o circo passou ateacute hoje

As modalidades cirshy

censes

Conceituai

Teacutecnica

Quais satildeo as modalidades que constishy

tuem o circo

Quais satildeo as teacutecnicas baacutesicas das moshy

dalidades circenses

O circo nos tempos

atuais

Econocircmica

Poliacutetica

Social

Legal

Onde vemos artistas de circo

Por que natildeo temos tantos circos se

apresentando hoje em dia

Os artistas de circo recebem salaacuterio

Quais as condiccedilotildees sociais e de trabashy

lho de um artista de circo ldquofamosordquo e

de um circo ldquosimplesrdquo

Quanto custa um ingresso de um cirshy

co famoso

Como eacute a relaccedilatildeo da crianccedila com o

trabalho no circo

O que precisa para um circo se estabeleshy

cer em uma cidade

Por que o circo vai embora

Circo legal tem anishy

mal V

Poliacutetica

Legal

Histoacuterica

gt

Como os animais foram incorporashy

dos ao circo

Como o circo conseguia os animais

para suas apresentaccedilotildees

E permitido ter animais selvagens no

circo atualmente

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

3) INSTRUMENTALIZACcedilAtildeO

Quadro 3 - Instrumentalizaccedilatildeo

x lsquo bull --ir Ywl-ft bull V Avbdquo iacutei - - iacute

- Conteuacutedo Dimensotildees v l p sect p |

Respeitaacutevel puacuteblico

o circo chegou

Conceituar circo

Compreender o circo enquanto

produccedilatildeo histoacuterica do homem

ConceituaiExposiccedilatildeo teoacuterica e exibiccedilatildeo de viacutedeos

sobre o circo

Viacutedeo produzido pelos autores disshy

poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy

do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo86

A histoacuteria do circo

Conhecer a histoacuteria do circo e suas

transformaccedilotildees

Identificar as diversas formas de

apresentaccedilatildeo das atividades circenshy

ses na atualidade (circo tradicional

circo novo atividades de rua festas

infantis circo social etc)

Relacionar a expansatildeo das atividashy

des circenses com a configuraccedilatildeo

da sociedade atual

Histoacuterica

Econocircmica

Poliacutetica

Exibiccedilatildeo de viacutedeos e fotos sobre a histoacuteria

do circo e as mais diversas formas de apreshy

sentaccedilatildeo das atividades circenses atuais

Leituras de textos sobre a histoacuteria do circo

Textos sobre a histoacuteria do circo

Viacutedeo produzido pelos autores disshy

poniacutevel no blog ldquoConteuacutedo e Meacutetoshy

do nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

7 Disponiacutevel em lthttpcoletivoedufisicajfblogspotcombrgt Acesso em 15 dez 2012

8 Estatuto da Crianccedila e do Adolescente Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03Ieis18069htmgt Acesso em 09042013

laquo M M

As modalidades cirshy

censes

Identificar as modalidades exisshy

tentes no circo malabarismo

equilibrismo acrobacia maacutegica e

palhaccedilo

Vivenciar as principais modalidashy

des que constituem o circo

Construir materiais que possibilishy

tem a experiecircncia das modalidades

circenses

Conceituai

Teacutecnica

Exibiccedilatildeo de viacutedeos editados das modalishy

dades do circo Acrobacias (individuais

coletivas de solo e aeacutereas) Malabarismo

(dc contato equiliacutebrio dinacircmico giros-

coacutepico e de lanccedilamento) Equilibrismo

Maacutegica Palhaccedilo (Cara Branca Miacutemico

Augusto Vagabundo Augusto Europeu)

Vivecircncia das teacutecnicas baacutesicas das princishy

pais modalidades circenses

Construccedilatildeo de materiais para a vivecircncia

dessas modalidades

Viacutedeos disponiacuteveis no blog ldquoConteuacutedo

e Meacutetodo nas aulas de Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Bolas de soprar garrafas pet jornal

fita adesiva barbante cabos de vassoushy

ra cilindros de papelatildeo ou canos de

ferro para construccedilatildeo dos materiais

Materiais para a vivecircncia bolinhas

de borracha claves swings rola-rola

diabolocircs devilstick etc

O circo nos tempos

atuais

Compreender as novas configurashy

ccedilotildees do circo na atualidade relacio-

nando-as agraves exigecircncias da atual fase

do modo de produccedilatildeo capitalista

(relaccedilotildees comerciais leis trabalhisshy

tas trabalho infantil informalidade

legislaccedilatildeo de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteshy

blicos etc)

Econocircmica

Poliacutetica

Social

Legal

Exibiccedilatildeo e discussatildeo do programa ldquoProshy

fissatildeo Repoacuterterrdquo sobre o circo

Anaacutelise da legislaccedilatildeo (ECA87 lei ambienshy

tal e leis de locaccedilatildeo de espaccedilos puacuteblicos)

Viacutedeo disponiacutevel em no blog ldquoConshy

teuacutedo e Meacutetodo nas aulas de Educashy

ccedilatildeo Fiacutesicardquo

ECA

Leis ambientais e de locaccedilatildeo de espashy

ccedilos puacuteblicos

Circo legal tem anishy

mal

Conhecer a legislaccedilatildeo referente agrave

utilizaccedilatildeo de animais no circo

Posicionarmdashse criticamente frente agrave

utilizaccedilatildeo de animais no circo

Poliacutetica

Legal

Histoacuterica

Exibiccedilatildeo de viacutedeos e leitura de textos que

discutam a questatildeo dos animais do circo

Anaacutelise da legislaccedilatildeo ambiental

Organizaccedilatildeo de um juacuteri simulado

Viacutedeos e textos disponiacuteveis no blog

ldquoConteuacutedo e Meacutetodo nas aulas de

Educaccedilatildeo Fiacutesicardquo

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

4) CATARSE

41 - Siacutentese Teoacuterica do Aluno

O circo eacute uma das manifestaccedilotildees culturais mais tradicionais da

humanidade que encanta pela capacidade de transformar o banal em

inacreditaacutevel transformar o impossiacutevel em coisa simples Ao mesmo

tempo sua sobrevivecircncia oscila entre o popular e a falta de incentivo

entre a vontade de fazer parte e o alto custo dos espetaacuteculos

No decorrer dos anos o circo se modificou antes as famiacutelias

tradicionais faziam da vida embaixo da lona um lar vaacuterias viashy

gens e seu trabalho Entretanto agora artistas e admiradores se

apresentam nas ruas em grandes e pequenos circos em grandes

empresas de entretenimento nas escolas nas academias espaccedilos

puacuteblicos e privados

Fazem parte do espetaacuteculo circense apresentaccedilotildees de malashy

barismo equilibrismo maacutegica palhaccedilos e acrobacias cujo prinshy

cipal objetivo eacute a diversatildeo do puacuteblico o que requer o aprendizashy

do de teacutecnicas especiacuteficas e treinamento diaacuterio por muitos anos

O surgimento de outros meios de entretenimento e os avanshy

ccedilos tecnoloacutegicos a partir de meados do seacuteculo XX ocasionaram

uma significaacutevel reduccedilatildeo do puacuteblico que assistia agraves apresentaccedilotildees

circenses O alto custo do combustiacutevel dos pedaacutegios e dos tershy

renos alugados mdash cada vez mais escassos nas grandes cidades mdash

a dificuldade de mobilizaccedilatildeo da categoria e a ausecircncia de uma

poliacutetica para o circo no Brasil satildeo apontados como fatores que

inviabilizaram a continuidade do circo nos moldes tradicionais

Em menos de 30 anos o nuacutemero de circos existentes no Brasil

reduziu-se significativamente abrindo espaccedilo para as grandes

companhias de circo onde os artistas natildeo mais pertencem agraves

famiacutelias circenses satildeo ex-atletas ou profissionais formados em

escolas de circo e contratados pelas grandes companhias que tem

um determinado conhecimento especiacutefico da tarefa e natildeo mais o

conhecimento do funcionamento do circo como um todo

Aleacutem disso a tecnologia assume um papel fundamental no espetaacuteshy

culo pois permite a inovaccedilatildeo constante dos espetaacuteculos Nessa avalan

che tecnoloacutegica os grandes circos se apropriam das prod i iccedilolaquo bull laquo

novam constantemente enquanto muitos circos pequenos mu uiuU

agrave concorrecircncia por natildeo conseguirem acompanhar esse movimento

Atualmente as atividades circenses viraram nicho de nu 1 laquo raquo

do e estatildeo presentes nos mais diversos espaccedilos de escolas de 1 1 1 1

a academias de ginaacutestica

Apesar dos animais historicamente participarem do espeta

culo circense a legislaccedilatildeo atual vem restringindo sua utilizaccedilatildeo

protegendo-os de maus tratos e condiccedilotildees insalubres de vida

Este eacute um ponto bastante polecircmico pois apesar dos ambienshy

talistas rechaccedilarem as apresentaccedilotildees de animais nos circos haacute

quem defenda a sua permanecircncia por entender que natildeo haacute cruelshy

dade ou insalubridade na condiccedilatildeo de vida dos animais

42 Expressatildeo da Siacutentese

bull Construccedilatildeo de uma apostila sobre o circo abordando os

temas trabalhados nas aulas

bull Criaccedilatildeo de um foacuterum de discussatildeo nas redes sociais sobre a

utilizaccedilatildeo de animais no circo

5) PRAacuteTICA SOCIAL FINAL DO CONTEUacuteDO

Quadro 4 - Manifestaccedilatildeo da nova atitude praacutetica e propostas de accedilatildeo dos alunos

51 INTENCcedilOtildeES DO ALUNO ACcedilOtildeES DO ALUNO

A p ro fu n d a r os conhecim entos sobre

o circo

Pesquisar textos e viacutedeos sobre

os aspectos discutidos nas aulas

Socializar os conhecim entos apreenshy

didos durante as aulas

M ontagem de u m espetaacuteculo

circense

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Gasparin (2011)

Consideraccedilotildees finais

Destacamos que o presente texto pretendeu apenas apresentar

uma dentre as inuacutemeras possibilidades pedagoacutegicas de trabalho com

esse universo tatildeo rico e tatildeo fascinante como o universo circense

Buscou-se conhecer a histoacuteria do circo analisando suas transformashy

ccedilotildees ao longo dos tempos identificar e vivenciar as diversas modalidashy

des de forma contextuaiizada e desmistificada Compreender as relaccedilotildees

de trabalho existentes no circo tradicional e nas manifestaccedilotildees circenses

atuais significa compreender o circo enquanto produto da atividade hushy

mana resultado do desenvolvimento histoacuterico parte importante do pashy

trimocircnio cultural humano que precisa ser transmitido pela escola

Referecircncias

BORTOLETO MAC M ACHADO G A Reflexotildees sobre o circo e a Educaccedilatildeo

Fiacutesica Revista Corpoconsciecircncia Santo Andreacute v 2 n 12 p 39-69 jul

dez 2003

COLETIVO DE AUTORES Metodologia do ensino da Fducaccedilaacuteo Fiacutesica Satildeo

Paulo Cortez 1992

COSTA A C P TIAEN M S SAMBUGARI M R N O Circo no trabalho

didaacutetico Instrumento para a Obtenccedilatildeo do Processo de Interdisciplinaridade

In JORN ADA D O HISTDBR 7 2007 Campo Grande Anais Campo

Grande Uniderp 2007

DUPRAT R M Atividades circenses possibilidades e perspectivas para a Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica escolar Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Fiacutesica na aacuterea de

concentraccedilatildeo Educaccedilatildeo Fiacutesica e Sociedade )-Faculdade de Educaccedilatildeo Fiacutesica

Universidade Estadual de Campinas Campinas 2007

DUPRAT R M BORTOLETO Marco Antocircnio Coelho Educaccedilatildeo Fiacutesica Escoshy

lar pedagogia e didaacutetica das atividades circenses Revista Brasileira de Ciecircnshy

cias do Esporte Campinas v 28 n 2 p 171-189 jan 2007

EIDT NM DUARTE N Contribuiccedilotildees da teoria da atividade para o dckm

sobre a natureza da atividade de ensino escolar Psicologia da Educaccedilatildeo Sm

Paulo n 24 p 51-72 jun 2007 Disponiacutevel em lt httppepsicbvsalud

orgsciclophppid=S 1414-69752007000100005ampscript=sci_arttext Acessraquo gt

em 20 set 2012

FIGUEIREDO C M S As vozes do circo social Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profisshy

sionalizante em Bens Culturais e Projetos Sociais)-Centro de Pesquisa e Doshy

cumentaccedilatildeo de Histoacuteria Contemporacircnea do Brasil Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas

Rio de Janeiro 2007

GASPARIN J L Uma didaacutetica para a Pedagogia histoacuterico-criacutetica 5 ed Camshy

pinas SP Autores Associados 2011

RUIZ R Hoje tem espetaacuteculo As Origens do Circo no Brasil Rio de Janeiro

INACECEN 1987

SILVA E As muacuteltiplas linguagens da teatralidade circense Benjamin de Oliveishy

ra e o Circo-Teatro no Brasil do final do seacuteculo XIX e inicio do seacuteculo XX

Tese (Doutorado em Histoacuteria)-Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas

Universidade Estadual de Campinas Campinas 2003

_________ Circo-teatro Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil

Satildeo Paulo Altana 2007

_________ O circo sua arte c seus saberes o circo no Brasil do final do seacuteculo XIX

a meados do XX Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria) - Instituto de Filosofia

e Ciecircncias Humanas Universidade Estadual de Campinas Campinas 1996

SILVA E CAcircMARA R S O ensino de arte circense no Brasil breve histoacuterico

e algumas reflexotildees 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwcirconteudocombr

index phpoption=com_contentampview=articleampid= 1134o-ensino-de-arte-

-circense-no-brasil-breve-historico-e-aIgumas-reflexoesampcatid= l47artigosamp

Itemid=505gtAcesso em 15 jul 2012

SILVA E ABREU L A de Respeitaacutevel puacuteblico o circo em cena Rio de Ja-

neiro Funarte 2009

SOARES C L Imagens da educaccedilatildeo no corpo estudo a partir da ginaacutestica franshy

cesa no seacuteculo XIX 3 ed Campinas Autores Associados 2005

T O R R E S A O circo no Brasil Rio de Janeiro F U N A R T E Ed Atraccedilotildees 1998

SOBRE OS AUTORES

Adriano de Paiva Reis eacute professor de Educaccedilatildeo Fiacutesica da Prefeishy

tura Municipal de Juiz de Fora desde 2010 Graduado em Educaccedilatildeo

Fiacutesica pela UFJF desde 2008 foi Professor substituto do Coleacutegio de

Aplicaccedilatildeo Joatildeo XXIII Bolsista dos projetos ldquoPortal do Professor do

M ECrdquo e extensatildeo ldquoNovas Experiecircncias Pedagoacutegicas em Educaccedilatildeo

Fiacutesica Escolarrdquo E-mail adriano_reisrocketmailcom

Aacutelvaro de Azeredo Quelhas eacute Doutor em Ciecircncias Sociais pela Unishy

versidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo - Campus Mariacutelia

Mestrado em Educaccedilatildeo Fiacutesica na aacuterea de ldquoPedagogia da Educaccedilatildeo Fiacutesica

e do Esporterdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Especializaccedilatildeo

nas aacutereas de ldquoFutebolrdquo e ldquoEducaccedilatildeo Psicomotora na Educaccedilatildeo Fiacutesica do Io

graurdquo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Licenciado em Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica e Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Trabalhou na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (1985-1997) como

professor do ensino fundamental (disciplina - Educaccedilatildeo Fiacutesica) aleacutem de

possuir experiecircncia como professor em academias de ginaacutestica e treinador

esportivo em clubes e empresas E professor do Departamento de Educaccedilatildeo

da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Juiz de Fora desde

abril de 1997 E membro do Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educashy

ccedilatildeo (NETEC) da FACEDUFJF Seus estudos e pesquisas estatildeo voltados

para as transformaccedilotildees no mundo do trabalho e as formas de reestruturaccedilatildeo

produtiva com foco na precarizaccedilatildeo do trabalho em interface com os proshy

cessos educativos E-mail alvaroquelhasuolcombr

Andreacute Silva Martins eacute professor da Faculdade de Educaccedilatildeo

da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) onde integra o

Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo E vinculado tamshy

beacutem ao Coletivo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJV

Fiocruz) Integra o quadro docente do Programa de Poacutes-Gradua-

ccedilatildeo da UFJF E Mestre e Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade

Federal Fluminense E-mail andresilvamartinsglobocom

Carla Cristina Carvalho Pereira eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

(1996) poacutes graduada em Ednrarotilder cmdash 1

sidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestra em Educaccedilatildeo (2003)

pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Atua como professora da

rede municipal de Juiz de Fora desde 1998 Estuda temas relacionados

agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar nas aacutereas de danccedila-educaccedilatildeo planejamento e

avaliaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica E-mail carlacccphotmailcom

Carlos Eduardo de Souza eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestre em

Educaccedilatildeo pela UFJF Atua como professor da rede municipal e

particular em Juiz de Fora E-mail kadusjnyahoocombr

Frederico Duarte Gomes Tostes possui Licenciatura e Bachashy

relado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela Universidade Federal de Juiz de Fora

(UFJF) Estagiou em escolas puacuteblicas de Juiz de Fora e foi bolsista no

Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo Joatildeo XX III da Universidade Federal de Juiz de

Fora onde atuou no projeto de extensatildeo de Atividades Circenses para

alunos do ensino fundamental Atualmente faz cursos na Escola de

Circo Carequinha em Juiz de Fora E-mail fred_hikohotmailcom

Giovana de Carvalho Castro eacute professora da rede municipal de Juiz

de Fora Possui graduaccedilatildeo em Histoacuteria (2001) e mestrado em Ciecircncia da

Religiatildeo (2005) pela Universidade Federal de Juiz de Fora Tem experishy

ecircncia na aacuterea de Histoacuteria e Ciecircncia da Religiatildeo com ecircnfase em Histoacuteria

do Brasil Metodologia do Ensino de Histoacuteria Patrimocircnio Cultural Hisshy

toacuteria da Aacutefrica e Cultura Religiosa E-mail giovanahistoriabolcombr

Graziany Penna Dias possui Licenciatura cm Educaccedilatildeo Fiacutesica pela

Universidade Federal de Juiz de Fora (2000) e Mestrado em Educaccedilatildeo

pela Universidade Federal Fluminense (2006) Eacute vinculado ao Coletishy

vo de Estudos sobre Poliacutetica Educacional (ESPJVFiocruz) Atualmente

eacute professor do Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do

Sudeste de Minas - IFSUDESTEMG - Campus Juiz de Fora Estuda

temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar lazer poliacutetica educacional

e a relaccedilatildeo trabalho-educaccedilatildeo E-mail grazianydiasifsudestemgedubr

Hajime Takeuchi Nozaki possui Licenciatura em Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1993) mestrado

em Educaccedilatildeo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1997)

e doutorado em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense

(2004) no campo Trabalho e Educaccedilatildeo Atualmente eacute professor asshy

sociado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Leciona na

graduaccedilatildeo no campus de Trecircs Lagoas e na poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo

no campus de Corumbaacute Dedica-se aos estudos na aacuterea de Trabalho

e Educaccedilatildeo atuando principalmente nos seguintes temas mundo do

trabalho e Educaccedilatildeo Fiacutesica formaccedilatildeo humana qualificaccedilatildeo dos trabashy

lhadores da faacutebrica E-mail hajimenozakiuolcombr

Herbert Hischter Chaves de Paula eacute graduado em Educaccedilatildeo

Fiacutesica pela Universidade Salgado de Oliveira - Universo (Juiz de

Fora) e poacutes-graduado em Danccedila e Consciecircncia Corporal pela Unishy

versidade Gama Filho (Belo Horizonte) E ator bailarino produtor

diretor e coreoacutegrafo e atua como professor de Danccedila e Teatro na

rede municipal de Juiz de Fora E-mail hhcpl911hotmailcom

Leonardo Docena Pina eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica e Messhy

tre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Atualmente cursa o doutorado em Educaccedilatildeo nessa mesma instituiccedilatildeo

e atua como professor da rede puacuteblica municipal de ensino de Juiz de

ForaMG Desde 2008 integra o Nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e

Educaccedilatildeo da UFJF E-mail leodocenayahoocombr

Marcelo Silva dos Santos possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2001) mestrado em Edushy

caccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense (2005) e eacute doutorando

em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana na Universidade do Esshy

tado do Rio de Janeiro (UERJ) Estuda temas relacionados agrave aacuterea de

trabalho e educaccedilatildeo Atualmente eacute professor do IFET Sudeste e da

rede municipal de Juiz de Fora E-mail marceloss2003igcombr

Miguel Fabiano de Faria eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela

UFJF e Mestre em Educaccedilatildeo pela UFMG Atua como professor na

educaccedilatildeo baacutesica e superior no Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia

e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais - Campus Juiz de Fora Esshy

tuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica Escolar Lazer e Histoacuteria da

Educaccedilatildeo E-mail miguelfariaifsudestemgedubr

Mocircnica Jardim Lopes eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica e mes-

tranda em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Atua como professora da rede puacuteblica de ensino dos municiacutepios de

Juiz de Fora (MG) e de Trecircs Rios (RJ) E militante do Movimento

Nacional Contra a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica

(MNCR) E-mail monicajlopesyahoocombr

Nathaacutelia Sixel Rodrigues eacute Licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora Estagiou em Escolas puacuteshy

blicas da cidade como IFET e Escola Municipal Professora Thereza

Falei onde buscou tematizar o conteuacutedo Ginaacutestica na Educaccedilatildeo

Fiacutesica Atualmente atua como professora de ginaacutestica em academias

de Juiz de Fora E-mail naty_sixelhotmailcom

Priscila Rocha Rodrigues eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Atua como

professora de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de

ensino em Juiz de ForaMG E-mail prixrochayahoocombr

Rafael Loures dos Reis Bellei atua como professor do ensino

fundamental nas redes municipais de Juiz de Fora-MG eTrecircs Rios-

-RJ e no ensino fundamental e meacutedio na rede particular de Juiz

de Fora-MG O autor eacute licenciado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela UFJF

Estuda temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar e a relaccedilatildeo

trabalho-Educaccedilatildeo Fiacutesica M ilita no Movimento Nacional Contra

a Regulamentaccedilatildeo do Profissional de Educaccedilatildeo Fiacutesica - M NCR

E-mail rafabelleiyahoocombr

Ramon Mendes da Costa Magalhatildees possui Licenciatura e

Bacharelado pela Faculdade de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desportos (FA-

EFID) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) no ano de

2011 atualmente residente de Educaccedilatildeo Fiacutesica do programa de Reshy

sidecircncia Multiprofissional em Sauacutede do Adulto com Foco em Doshy

enccedilas Crocircnico Degenerativas no Hospital Universitaacuterio da Univershy

sidade Federal de Juiz de Fora (HUUFJF) no periacuteodo 20122014

E-mail ramon_mc_magalhaeshotmailcom

Renata Aparecida Alves Landim eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacuteshy

sica pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) especialista

m Educaccedilaacuteo Fiacutesica escolar pela UFJF e mestre em educaccedilatildeo pela

Universidade Federal Fluminense (UFF) Atualmente eacute professora do

ensino fundamental na rede puacuteblica municipal de Juiz de l o i i jgti

fessora temporaacuteria da Faculdade de Educaccedilatildeo da UFJF E v i i u ulraquolaquoi raquo

ao nuacutecleo de Estudos sobre Trabalho e Educaccedilatildeo da UFJE I m u i raquo

temas relacionados agrave Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar poliacutetica educaraquo i o n i l

trabalho-educaccedilatildeo E-mail renatalandimhotmailcom

Thiago Barreto Maciel possui graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Fiacutesui

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2007) Especializaccedilatildeo em

aspectos metodoloacutegicos e conceituais da pesquisa Cientiacutefica pela Uni

versidade Federal de Juiz de Fora (2008) Atualmente eacute professor do

Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Sudeste de

Minas Gerais - Campus Barbacena Tem experiecircncia na aacuterea de Edushy

caccedilatildeo Fiacutesica com ecircnfase em Poliacuteticas Puacuteblicas e Formaccedilatildeo Humana

E-mail tbarretomacielgmailcom

Victoacuteria de Faacutetima de Mello eacute licenciada em Educaccedilatildeo Fiacutesica

pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especialista em

Educaccedilatildeo Fiacutesica escolar pela mesma instituiccedilatildeo Atua como professora

de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas redes estadual e municipal de ensino em Juiz

de Fora Atualmente dirige o Sind-Ute (Sindicato dos Trabalhadores

em educaccedilatildeo de Minas Gerais) E-mail vicmellloyahoocombr

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Formato 16 x 23 cm

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