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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CCHLA DEPARTAMENTO DE ARTES DEART CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS CLAV VIVIANE APARECIDA NUNES ADRIANA LOPES: PROCESSO DE CRIAÇÃO EM CERÂMICA COM A TÉCNICA RAKU NATAL- RN 2015

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Page 1: ADRIANA LOPES: PROCESSO DE CRIAÇÃO EM … · universidade federal do rio grande do norte – ufrn centro de ciÊncias humanas, letras e artes – cchla departamento de artes –

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES – CCHLA

DEPARTAMENTO DE ARTES – DEART

CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS – CLAV

VIVIANE APARECIDA NUNES

ADRIANA LOPES: PROCESSO DE CRIAÇÃO EM CERÂMICA COM A

TÉCNICA RAKU

NATAL- RN

2015

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VIVIANE APARECIDA NUNES

ADRIANA LOPES: PROCESSO DE CRIAÇÃO EM CERÂMICA COM A

TÉCNICA RAKU

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Universidade Federal do

Rio Grande do Norte como requisito

parcial para obtenção do Título de

Licenciada em Artes Visuais.

NATAL-RN

2015

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VIVIANE APARECIDA NUNES

ADRIANA LOPES: PROCESSO DE CRIAÇÃO EM CERÂMICA COM A

TÉCNICA RAKU

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Universidade Federal do

Rio Grande do Norte como requisito

parcial para obtenção do Título de

Licenciada em Artes Visuais.

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________

Professor Doutor Vicente Vitoriano Marques Carvalho

Orientador

______________________________________________

Professora Doutora Evanir de Oliveira Pinheiro

Professora avaliadora

______________________________________________

Professor Artur Luiz de Souza Maciel

Professor avaliador externo do PPGAV UFPB UFPE

Natal, ___ de dezembro de 2015.

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Dedico esse trabalho aos meus pais Juvita e

Vivaldo a quem tanto amo e admiro.

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AGRADECIMENTO

Gostaria de agradecer primeiramente a Deus por ter conseguido concluir a

Graduação de Licenciatura em Artes Visuais. Agradeço também em especial à

minha família principalmente aos meus pais Juvita e Vivaldo pelo carinho e apoio

durante todos esses anos para que esse sonho pudesse ser realizar. À minha tia

Valdeci e aos meus irmãos, Wallace, João, Júnior e em especial ao meu amado e já

falecido irmão Telmir que foi, sem dúvida, uma constante inspiração nos momentos

difíceis e um dos maiores incentivadores em vida para que eu seguisse sempre em

frente e concluísse essa Graduação. Essa conquista dedico a você. Sem esquecer é

claro dos meus amigos Artur Souza, Ana Paulina, Evana Macedo, Marilha Brizolara,

Kelline Lima, Silvana Benevides, Lady Janne, Layanne Santos, Evanir Pinheiro,

Mayara Suellen, Anne Barbalho, Rebecca Erickson, Nadja Oliveira, Larissa Ricelly,

Tayane Orozco, Pollyanne Figueiredo e todos os meus outros amigos que

colaboraram diretamente e indiretamente para realização dessa etapa na minha

vida. Também gostaria de agradecer especialmente ao meu orientador Vicente

Vitoriano Marques Carvalho e à artista Adriana Lopes, pois ambos foram essenciais

durante o processo de construção dessa pesquisa. Sem vocês nada disso seria

possível.

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O mundo é daqueles que idealizam, concretizam e realizam os seus próprios

sonhos!

Viviane Nunes

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RESUMO

Esta pesquisa aborda o processo de criação de Adriana Lopes na elaboração

de peças cerâmicas na técnica Raku em seu ateliê. Neste estudo, trato inicialmente

da trajetória de vida da artista. Na sequência, descrevo como acontece o processo

de criação da artista na elaboração do objeto cerâmico, explicando a função dos

materiais, ferramentas e equipamentos usados, mostrando sua importância no

desenvolvimento das obras. Por fim, falo sobre o desenvolvimento da peça do cubo

na técnica cerâmica Raku, segundo os procedimentos da artista. Esta pesquisa

sobre arte se baseia em uma abordagem qualitativa e descritiva e teve dados

reunidos por meio de entrevistas, livros, fotografias e principalmente pela vivência

junto à artista em seu ateliê em Natal. As descrições técnicas deste estudo foram

feitas mediadas por Joaquim Chavarria (1999), Canotilho (2003) e Salles (2000),

autores importantes para compreender melhor o processo criativo empreendido por

Adriana Lopes em seu trabalho no atelier. Ainda acrescento considerações sobre a

experiência única e bastante enriquecedora de conviver com Adriana Lopes. Esta

vivência proporcionou para mim, como professora, artista (fotógrafa) e pesquisadora,

um novo olhar sobre o trabalho da artista, o que foi fundamental para o

desenvolvimento deste TCC.

Palavras chaves: 1. Adriana Lopes; 2. Processo criativo em arte; 3. Cerâmica Raku.

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ABSTRACT

This research addresses the creative process of Adriana Lopes in the preparation of

ceramic artwork in her studio using the Raku technique. The study deals with the

artist's life trajectory. That is, from childhood to the present day. After that, this work

explains in detail the function of each tool and shows their importance in the

development of the pieces, as well as the use of materials that potters use to create

their works. In addition to that, it describes the process of the artist's preparation of

the ceramic object. The last chapter deals with the development of pottery artwork

employing the Raku technique according to the artist’s experience. This research in

art is based on a qualitative approach, where all data has been gathered from books,

interviews and photographs, which were essential to gather the information needed

to carry out this thesis. The whole process took place in the artist’s Natal based

studio. The production of the technical analysis in this study was done following the

ideas of authors Joaquim Chavarria (1999), Canotilho (2003) and Salles (2000),

which were important for a better understanding of the process and Adriana Lopes’

technique within her workspace. I still add considerations about the unique and very

enriching company of Adriana Lopes. This experience provided me, as a teacher,

artist (photographer) and researcher, a fresh look at the work of the artist, which was

instrumental in the development of this final coursework.

Key words: 1. Artist’s life trajectory; 2. Elaboration of the ceramic object; 3. Raku

ceramics

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Ateliê Juiz de Fora. Foto do arquivo pessoal da artista. ............................ 22

Figura 2 - Feira de Craft Design. Foto do arquivo pessoal da artista ........................ 23

Figura 3 - Exposição Capitania das Artes 2010 – Dia do Artista Plástico. Foto do

arquivo pessoal da artista.......................................................................................... 23

Figura 4 - Exposição Capitânia das Artes 2010 – Dia do Artista Plástico. Foto do

arquivo pessoal da artista.......................................................................................... 23

Figura 5 - Fusos, pratos e cubo suspenso - Acervo particular da artista. Foto da

revista Formas Arquitetura Potiguar .......................................................................... 24

Figura 6 - Cubos de Raku – Acervo particular da artista. Foto da revista Formas

Arquitetura Potiguar. ................................................................................................. 24

Figura 7 - Exposição Três Lados. Foto Viviane Nunes ........................................... 25

Figura 8 - Exposição Três Lados. Foto Viviane Nunes. .......................................... 25

Figura 9 - Exposição Labirinto em Construção. Foto Viviane Nunes ...................... 26

Figura 10 - Exposição Labirinto em Construção. Foto Viviane Nunes ...................... 26

Figura 11 - Exposição Labirinto em Construção. Foto Viviane Nunes. ..................... 26

Figura 12 - Almoxarifado do ateliê. Foto do arquivo pessoal da artista. .................... 28

Figura 13 - Ateliê de Adriana Lopes – suportes de madeiras e acrílico. Foto Viviane

Nunes ........................................................................................................................ 29

Figura 14 - Prateleiras com instrumentos no ateliê de Adriana Lopes. Foto Viviane

Nunes ........................................................................................................................ 29

Figura 15 - Sacos plásticos de argila. Foto Viviane Nunes. ...................................... 30

Figura 16 - Desenhos de bule e xícara. Foto Viviane Nunes .................................... 32

Figura 17 - Adriana Lopes trabalhando no torno elétrico.Foto do arquivo pessoal da

artista. ....................................................................................................................... 37

Figura 18 - Representação das medidas de um dos cones que formam o cubo. Arte

digital produzida por Viviane Nunes .......................................................................... 38

Figura 19 - Fusos após a queima. Foto Viviane Nunes. ............................................ 39

Figura 20 - Fuso anexando na madeira. Foto Viviane Nunes. .................................. 40

Figura 21 - Detalhe do fuso na madeira. Foto Viviane Nunes. .................................. 40

Figura 22 - Cones sendo preparados para esmaltação. Foto Viviane Nunes. .......... 41

Figura 23 - Cone sendo esmaltado por Adriana Lopes. Foto Viviane Nunes. ........... 42

Figura 24 - Forno grande de Raku a gás. Foto Viviane Nunes. ................................ 46

Figura 25 - Dois fornos de Raku a gás no ateliê. Foto Viviane Nunes. ..................... 46

Figura 26 - Forno elétrico por dentro. Foto Viviane Nunes. ....................................... 47

Figura 27 - Forno de tijolo refratário. Foto Viviane Nunes. ........................................ 47

Figura 28 - Sequência de etapas de produção de um cubo de argila. Foto Viviane

Nunes. ....................................................................................................................... 50

Figura 29 - Placas de argilas sobre a lona. Foto Viviane Nunes. .............................. 51

Figura 30 - Matriz de metal de uma placa utilizada por Adriana Lopes na confecção

da peça. Foto Viviane Nunes. ................................................................................... 51

Figura 31 - Placa de argila sendo riscada por Adriana Lopes. Foto Viviane Nunes. . 52

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Figura 32 - Adriana Lopes emendando uma placa na outra. Foto Viviane Nunes .... 52

Figura 33 - Adriana Lopes cortando o cubo. Foto Viviane Nunes. ........................... 53

Figura 34 - Cubo secando juntamente com outras peças. Foto Viviane Nunes. ....... 54

Figura 35 - Cubo esmaltado e pronto pra ir ao forno Raku. Foto Viviane Nunes. ..... 55

Figura 36 - Etapas da queima de uma peça cerâmica Raku. Foto Viviane Nunes.... 57

Figura 37 - Etapas de uma produção de uma peça cerâmica Raku. Foto Viviane

Nunes. ....................................................................................................................... 58

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CLAV – Curso de Licenciatura em Artes Visuais

DEART – Departamento de Artes

SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

TCC - Trabalho de Conclusão de Curso

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora

UNP – Universidade Potiguar

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11

ADRIANA LOPES: PROCESSO DE CRIAÇÃO EM CERÂMICA COM A TÉCNICA

RAKU ........................................................................................................................ 17

1. HISTÓRIA DE VIDA DE ADRIANA LOPES ........................................................ 17

1.1. A artista Adriana Lopes ................................................................................. 17

1.2. A importância da escola na vida da artista .................................................... 18

1.3. Formação Acadêmica e exposições na Suíça .............................................. 19

1.4. Conhecendo a técnica cerâmica Raku .......................................................... 21

1.5. Atuando como docente universitária na UFJF .............................................. 21

1.6. Produções da artista em Natal e a sua docência na UFRN ......................... 22

2. PROCESSOS DE PRODUÇÃO DAS OBRAS DE CERÂMICA RAKU NO

ATELIÊ DE ADRIANA LOPES ............................................................................ 27

2.1. Materiais e ferramentas ................................................................................. 32

2.2. Técnicas ........................................................................................................ 37

2.3. Como as peças são esmaltadas no ateliê de Adriana Lopes ........................ 40

2.4. Queima das peças no forno Raku ................................................................. 44

3. ETAPAS DA PRODUÇÃO DE UMA PEÇA RAKU SEGUNDO ADRIANA LOPES

............................................................................................................................. 49

3.1. Uso da matriz e intervenções na construção da peça do cubo ..................... 51

3.2. Processo de esmaltação a queima final do cubo .......................................... 54

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 61

APÊNDICES ............................................................................................................. 62

ANEXOS ................................................................................................................... 76

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Introdução

O presente trabalho é resultado de uma pesquisa sobre arte que tem como

intuito fazer uma descrição do processo de criação de Adriana Lopes, artista que

utiliza a técnica cerâmica Raku para desenvolver as suas obras. A ceramista tem

bacharelado em Educação Artística (1990), licenciatura em Educação Artística

(1999) e pós-graduação em Educação na Arte Infantil (2000) pela Universidade

Federal de Juiz de Fora – UFJF. Em Natal, fez a graduação em Design de Interiores

na Universidade Potiguar - UNP (2013) e atualmente está cursando pós-graduação

em Arquitetura de Interiores (2014), nesta Universidade. Lecionou na Universidade

Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, no Departamento de Artes – DEART, no

período de 2012-2013, ocasião em que ensinou a técnica cerâmica Raku nas

disciplinas Produção Tridimensional I e II, fazendo que os discentes produzissem

duas exposições – Três Lados (2012) e Labirinto em Construção (2013). Tive a

oportunidade de trabalhar com a artista, como monitora de suas disciplinas, o que foi

de fundamental importância na escolha desse tema para meu Trabalho de

Conclusão de Curso – TCC, do Curso de Licenciatura em Artes Visuais - CLAV,

desta UFRN.

Desde muito jovem, Adriana Lopes tem uma forte ligação com a terra. Essa

relação começou ainda na infância quando na fazenda da sua família ela costumava

brincar de fazer tijolinhos de barro. Essa relação telúrica só veio a aumentar com o

passar dos anos, levando a artista a procurar nas suas criações essa transformação

da argila em variadas formas, buscando a própria essência da terra em sua poética.

Com isso, surgem peças visualmente bem elaboradas, produzidas pela artista em

seu ateliê, o que demonstra a sua versatilidade criativa.

O interesse de Adriana Lopes em trabalhar com cerâmica vem desde a

época de faculdade, quando ela foi monitora por um ano meio em disciplina de

cerâmica e procurou aprender o máximo possível sobre como se dava o processo

de produção de uma peça da forma mais simples à mais complexa.

De acordo com a artista, no período da faculdade, ela sempre teve uma

relação muito próxima ao desenho e ver rascunhos bidimensionais se transformar

em peças tridimensionais com a modelagem da argila só reforçou a ligação forte

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entre a ceramista e a argila na construção de suas obras. Isso mostra um constante

despertar de lembranças que pulsam e vibram ainda hoje no universo da artista.

Esse processo fez que Adriana Lopes quisesse aprender mais e descobrir outras

técnicas, como faz até hoje. Nessa busca interminável por descobrir novas

possibilidades e crescer continuamente, a artista desenvolve sua poética.

Foi nesse permanente esforço de se aperfeiçoar e de encontrar novas

técnicas para trabalhar com a argila que Adriana Lopes teve o seu primeiro contato

com a técnica japonesa Raku1. Esse encontro ocorreu quando a artista participou de

um workshop no 26º Festival de Inverno de Ouro Preto da Universidade Federal de

Minas Gerais - UFMG, em 1994. Esta oficina de cerâmica foi ministrada por Máximo

Soalheiro, o reconhecido ceramista de Belo Horizonte. Essa experiência de trabalhar

a argila e ver todo o processo, da queima até a finalização da peça, marcou a

ceramista de tal forma que ela ficou encantada pela queima em si, pelas cores e

pelo ritual que sucede na produção do objeto cerâmico. Após essa prática, a artista

começou a pesquisar mais sobre essa técnica japonesa, a fazer cursos para

aprimorar e aprofundar o conhecimento a respeito de Raku para poder,

posteriormente, trabalhar com ela na produção de suas obras.

Em decorrência da pesquisa e outros cursos de cerâmica, Adriana Lopes

conseguiu se aperfeiçoar ainda mais na produção das suas peças. Com isso, ela

chegou a montar um ateliê juntamente com três artistas em Minas Gerais e,

posteriormente, outro em Natal no ano de 2004. Entretanto, esse ateliê foi fechado

no ano de 2015. Atualmente, artista reside em Natal. Sem deixar de fazer novos

cursos e intercâmbios com outros ceramistas, a artista continuou participando de

feiras para mostrar seus trabalhos, como também de exposições individuais e

coletivas. Isto tem proporcionado o reconhecimento do seu trabalho em outros

lugares do Brasil e do exterior.

Este trabalho de pesquisa foi desenvolvido no ateliê de Adriana Lopes,

através do acompanhamento do seu processo inicial de criação, da elaboração e da

produção das peças. Descrevi como foi feito todo o procedimento, conforme as

etapas do trabalho da artista. Pesquisei os tipos de argila que a ceramista utilizava e

as diferentes maneiras de desenvolver as suas obras, bem como o modo pelo qual

1 Raku - Pode-se dar o significado de: Alegria, prazer, satisfação, felicidade, libertação ou

tão simplesmente o prazer em trabalhar esta técnica de cerâmica. Disponível em: <https://atelierdamonica.wordpress.com/2008/07/21/raku/>. Acesso em: 19 ago. 2015.

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ela definia as variadas formas dos objetos cerâmicos a serem fabricados e a

importância da utilização das ferramentas durante a confecção das peças. Descrevi

também os equipamentos e ferramentas aplicados na composição da obra, além do

jeito correto de colocar as peças dentro do forno para que elas possam ser

queimadas adequadamente, isto é, sem causar nenhum dano ou perda. Tudo foi

devidamente registrado através de fotografias.

A pesquisa fez uso da entrevista e também teve o auxílio de leitura de livros

e de textos na internet. Os registros fotográficos foram imprescindíveis para explanar

como se dava todo o processo de construção da obra de Adriana Lopes.

Tendo reunido com estes procedimentos todas as informações necessárias

sobre como ocorria o processo de produção de uma obra de cerâmica Raku, foi

mais fácil entender como era feita a criação das peças pela artista.

O projeto de pesquisa surgiu entre 2012 e 2013, quando trabalhei com a

artista/docente nas disciplinas Produção Tridimensional I e II, no DEART. Nessa

ocasião, ela ensinou a técnica cerâmica Raku para aos discentes, explicando como

se produzia uma peça utilizando esse método. Ao ter um contato com essa técnica e

ver como todo processo era feito pela ceramista, decidi que era necessário

desenvolver um projeto em que todas as etapas dessa técnica fossem explicadas de

forma clara e objetiva, visando revelar como era feita a produção do objeto cerâmico

da artista dentro do seu ateliê. Também tive em vista orientar e ensinar passo a

passo aos professores de arte a fazer um objeto cerâmico na técnica de Raku, para

que, posteriormente, eles possam utilizar essas informações em sala de aula com

seus discentes.

Esta pesquisa sobre artes se caracteriza como qualitativa e descritiva e

explorou, através das entrevistas, informações necessárias sobre como se dava o

processo de criação e elaboração de uma peça cerâmica com a técnica Raku. Pode-

se acrescentar um caráter biográfico à pesquisa, uma vez que se faz breve relato da

vida da artista focalizada.

Comecei a pesquisa com um questionário, para saber como Adriana Lopes

iniciou a sua trajetória artística, quais foram as influências que a mesma recebeu

durante o desenvolvimento do seu trabalho, as exposições individuais e coletivas de

que participou. Na sequência, acompanhei a produção da peça desde o esboço até

a finalização da obra no seu ateliê, quando fotografei todo o processo da sua

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confecção. A partir disto, pude listar os procedimentos que são necessários para a

elaboração da peça, entre eles a escolha da pasta, o manuseio da argila, as

técnicas de modelagem que geralmente são usadas, a escolha das formas a serem

criadas, a utilização de outros materiais na confecção da obra, o uso do torno, a

aplicação dos esmaltes e a utilização de equipamento de segurança para a proteção

na retirada do objeto incandescente do forno.

Dessa maneira, mostrei como foi realizado o procedimento de elaboração

das peças desde o estudo do esboço, a escolha do material até a transformação da

peça na queima, pois todas as etapas que envolvem o uso dessa técnica são

importantes para o resultado final. Segundo Chavarria (1999, p. 44), a técnica Raku

possui características bem singulares e definidas na sua concretização, sendo “uma

técnica do processo de modelagem, esmaltagem e cozedura de cerâmica”. As peças

resultantes “possuem características especiais de cor e textura, que as distinguem

de qualquer outra cerâmica”.

Todas as características desse método de cerâmica geram peças únicas,

pois nunca se sabe precisamente o resultado a ser obtido no final da queima. Isso

porque cada obra de cerâmica de Raku apresenta aspectos particulares como, por

exemplo, o craquelê na sua superfície. Craquelês são as “rachaduras” que

aparecem na superfície do objeto após a queima. Isso ocorre durante a etapa final

do processo, ou seja, logo após a retirada do objeto de dentro do forno e é levado

ainda incandescente para uma câmara de redução, onde será completamente

fechado com serragem por um curto período de tempo. Nesse pequeno intervalo vão

ocorrer os efeitos característicos da peça, as famosas fissuras na superfície da obra.

A partir desse instante, os outros elementos da natureza como o ar e a água agem

sobre a peça, contribuindo para o resultado final da obra. Tendo em vista uma maior

compreensão desse processo, foi necessária a descrição de cada etapa.

O trabalho tem como uma das suas bases teóricas a Crítica Genética

abordada por Cecília Almeida Salles (2000), que trata da análise do complexo

processo de elaboração de uma obra, desde os esboços, as transformações porque

passa até a sua finalização. Conforme Salles (2000, p.22):

a obra de arte é, com raras exceções, resultado de um trabalho que se caracteriza por transformação progressiva, que exige, por parte do artista, investimento de tempo, dedicação e disciplina. A obra de arte é precedida por um complexo processo feito de correções infinitas,

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pesquisas, esboços, planos. Os rastros deixados pelo artista de seu percurso criador são a concretização desse processo de contínua metamorfose.

O principal objetivo dessa pesquisa foi descrever o processo de criação de

Adriana Lopes na elaboração de peças cerâmicas com o uso da técnica cerâmica

Raku. Entretanto, para que esta pesquisa fosse desenvolvida completamente, foi

necessário seguir todos os objetivos específicos traçados no projeto que foram os

seguintes:

Contextualizar a história de vida e a trajetória da artista Adriana Lopes,

desde a sua infância até os dias atuais.

Mostrar como é realizado o procedimento de elaboração das peças

desde o estudo em esboços, a escolha do material e o processo de

transformação da peça na queima (biscoito e queima de Raku) na técnica

cerâmica Raku. Explicar como ocorria a esmaltação das peças no ateliê

de Adriana Lopes. Além da distribuição das peças dentro do forno. Sem

esquecer de explanar o uso da argila Branca Shiro com chamote na

produção da peça. E a descrição dos dois tipos de peças criadas pela

artista (fusos e cubos).

Verificar a utilização das ferramentas e os tipos de argila mais utilizados

e a diferenciação de cada uma delas na aplicação da obra. Mostrar

detalhadamente como é desenvolvido a peça do cubo no ateliê de

Adriana Lopes de acordo com sua experiência artística.

Nesta lista também constava fazer o percurso poético da nova exposição

de Adriana Lopes que estava sendo desenvolvida em Natal. Porém, isso

não foi possível porque o ateliê da artista fechou.

Para desenvolver melhor esta pesquisa utilizei as informações obtidas

através dos documentos dos apêndices que são os seguintes: o questionário de

entrevista com a artista Adriana Lopes (apêndice A), cartaz eletrônico da ação

pedagógica – arte digital produzida por Evana Macedo (apêndice B) e o relatório da

ação pedagógica (apêndice C) realizado como parte do TCC. O trabalho apresenta

também outros anexos que são respostas ao questionário dadas por Adriana Lopes

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(anexo A), lista de participação da artista em salões de arte, cursos, oficinas e

exposições - curriculum da artista Adriana Lopes (anexo B), foto do cartaz da

Exposição Três lados (anexo C) e a foto do cartaz da Exposição Labirinto em

construção (anexo D).

Este trabalho final se desenvolve em três capítulos. O primeiro capítulo

apresenta a história de vida de Adriana Lopes. No segundo capítulo, explano o uso

dos materiais que a ceramista utiliza para fazer as suas obras, verificando a

importância de cada ferramenta. Nesse mesmo capítulo ainda descrevo como ocorre

o processo de criação da artista acompanhando a elaboração da obra dos fusos. Já

no terceiro capítulo falo sobre como a artista desenvolve a peça do cubo, segundo a

sua experiência artística, descrevendo parte a parte da sua produção.

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ADRIANA LOPES: PROCESSO DE CRIAÇÃO EM CERÂMICA COM A TÉCNICA

RAKU

1. História de vida de Adriana Lopes

1.1. A artista Adriana Lopes

A artista Adriana Lopes nasceu em Minas Gerais na cidade de Juiz de Fora

em 10 de julho de 1966. Filha de Geraldo Lopes Tomich e Doracy Vieira Lopes. É a

mais nova da família constituída por três irmãos e a única entre eles com habilidade

em desenho e que seguiu o caminho artístico.

Desde muito cedo, Adriana Lopes já demonstrava aptidão para o mundo das

artes quando na casa dos pais, costumava desenhar nas paredes e na porta do seu

quarto. A liberdade de poder se expressar livremente e o incentivo constante dos

pais fez que ainda na sua infância aflorasse o seu lado artístico. A forte relação com

o desenho desde muito cedo e a grande expressividade que a artista já possuía ao

criar nas paredes da casa foram importante na sua vida, pois essa boa convivência

e apoio de sua família foram essenciais para que ela pudesse ter uma percepção de

mundo bem mais ampla por meio da arte. Isto fica bem evidente nas palavras de

Hélio Siqueira (2006, p. 35):

a vivência cotidiana do desenho é um caminho aberto para o desconhecido, ampliando sempre nossa consciência. Desenhar é conhecer, apropria-se. É um jeito de se exprimir transitoriamente. O homem cria por necessidade existencial.

Nessa vivência em família, Adriana Lopes cresceu mostrando sua

versatilidade artística, representando em seus desenhos um universo repleto de

variadas formas e cores.

Na adolescência, Adriana Lopes chegou a participar de um concurso de

cartões natalinos promovido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial –

SENAC, em Minas Gerais. Seu trabalho se destacou entre os inscritos e ela tirou o

primeiro lugar. A premiação que recebeu foi uma coleção de livros ensinando a

desenhar e uma bola de vôlei. Isso a instigou, sem dúvida, a prosseguir no caminho

da arte.

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De início, Adriana Lopes teve suas primeiras lições de desenho com o

auxílio do pai, que desenhava muito bem. Posteriormente, quando tinha dezesseis

anos de idade, sua mãe a matriculou em aulas de pintura em tela e porcelana.

Esses cursos foram de vital relevância na vida da artista, porque, ao finalizá-los em

1984, ela tomou uma das decisões mais importantes na sua vida, que foi escolher a

graduação que iria fazer na faculdade que seria Educação Artística. Após tomar

essa resolução, já aos dezoito anos, fez um cursinho preparatório e, em seguida,

prestou o concurso para o vestibular, sendo aprovada na sua primeira tentativa, na

Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, em 1985. Pouco tempo depois de

concluir a graduação em Educação Artística em 1990, a artista se casou com

Leonardo Ferreira de Oliveira, com quem constitui uma família de duas filhas.

1.2. A importância da escola na vida da artista

Adriana Lopes estudou de início em uma escola pública onde fez apenas o

ensino primário (fundamental). Depois disso, seus pais a matricularam em

instituições particulares que foram a Escola Academia, o Colégio dos Jesuítas, que

era muito tradicional, e a Escola Stella Matutina que incentivava bastante o lado

artístico dos discentes, pois programava atividades que visavam melhorar o

desempenho das turmas, como concursos para logomarcas e trabalhos com

desenho, entre outras. Todo esse empenho da organização das atividades feito pela

equipe de professores despertava a curiosidade dos alunos. Isso fazia que todos

participassem e aprendessem juntos através de pesquisas não só na área de artes

como nas demais disciplinas. Esse estímulo constante da escola em fazer com que

os discentes produzissem foi primordial para compreensão de muitos conteúdos na

classe. Essa educação favoreceu bastante o aprendizado dos alunos em sala de

aula, pois fazia que eles refletissem sobre os temas trabalhados. Ou seja, quando os

discentes são instigados a aprender com atividades bem elaboradas eles produzem

com mais facilidade os seus trabalhos. Isso fica evidente nas palavras de Morin

(2004, p. 39):

A educação deve favorecer a aptidão natural da mente em formular e resolver problemas essenciais e, de forma correlata, estimular o uso total da inteligência geral. Este uso total pede o livre exercício da curiosidade, a faculdade mais expandida e a mais viva durante a

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infância e a adolescência, que com frequência a instrução extingue e que, ao contrário, se trata de estimular ou, caso esteja adormecida, de despertar.

Com todo esse estimulo dos docentes, os alunos e Adriana Lopes

aprendiam bastante sobre muitos conteúdos, pois, segundo Freire (2011, p. 24),

“ensinar não é só transferir conhecimento, mas criar a possibilidade para a sua

produção”. O autor deixa claro que ensinar é uma experiência única e que através

dessa construção diária e contínua de novos saberes que se produz o conhecimento

do mundo. Esses trabalhos individuais e coletivos fizeram que a artista

desenvolvesse ainda mais seu potencial artístico na sua formação escolar.

No Colégio Stella Matutina, Adriana Lopes era uma das alunas mais

requisitada para os trabalhos envolvendo arte, pois os professores e alunos sabiam

que ela possuía grande facilidade para desenhar e representar objetos e o corpo

humano. A artista adorava fazer essas atividades porque com elas podia colocar em

prática seus conhecimentos de desenhista. Nessa ocasião, a artista relata que

produzia muitos desenhos e que presenteava familiares e amigos com suas

produções, pois não tinha nenhuma pretensão de vender seus trabalhos artísticos.

Adriana Lopes recorda bem e com grande nostalgia, a época em que

brincava com a boneca Susi com que ela se divertia muito. Ela aproveitava esses

momentos para explorar sua criatividade, elaborando os cenários com papelões,

fazendo roupinhas e utilizando lã de aço e cones de linhas para compor outros

personagens que iriam interagir no seu mundo fictício. Segundo a ceramista “essa

magia, infelizmente, está se perdendo hoje em dia, porque as crianças não brincam

mais como antigamente. Elas não criam mais nada, apenas copiam e passam mais

tempo em frente ao computador jogando e interagindo virtualmente com outras

crianças”.

O fato da artista ter tido uma infância feliz e a oportunidade de desfrutar

grande parte da sua vida na fazenda da família fez que ela tivesse uma relação bem

próxima à terra, o que foi essencial para sua formação artística.

1.3. Formação acadêmica e exposições na Suíça

O interesse em trabalhar com a cerâmica surgiu logo que Adriana Lopes

ingressou na Universidade e se intensificou no decorrer da graduação em Educação

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Artística, na UFJF. Nesse período, foi monitora da disciplina de cerâmica por um ano

e meio, quando procurou aprender o máximo possível sobre como era feito todo

processo de produção de uma peça cerâmica, desde a sua concepção (forma

básica) até à queima. O conhecimento adquirido pela artista na faculdade serviu

depois como base para produzir suas próprias peças e para a construção da sua

poética.

Na Universidade, Adriana Lopes desenvolveu pequenas produções artísticas

em cerâmica. Todas as queimas desses trabalhos eram feitas na faculdade. Outro

fato importante a ser mencionado é o de como a artista também se aperfeiçoou mais

na produção de seus desenhos, o que foi importante para seu desempenho e

compreensão de mundo como artista.

Depois da sua formação acadêmica, a artista já casada foi morar na Suíça

por dois anos, quando fez cursos de cerâmica, sendo um de modelagem e outro de

torno. Residindo nesse país, participou de duas exposições individuais na cidade de

Lausanne nas galerias Chez Helfenstein – 1991 e Galerie Vogel – 1993. Ambas

receberam boas críticas e tiveram ótimas vendas. Para estas mostras, a ceramista

trabalhou muito com as técnicas de aquarela e desenho. Foi nessas exibições que

ela aproveitou a oportunidade para inserir a cerâmica com outros materiais na

elaboração das suas obras como folhas e sementes, colocando esses elementos na

composição de suas placas. Esta relação com a matéria escolhida pela artista é

importante porque, segundo Salles (2009, p. 70):

olhando mais de perto a relação do propósito do artista com as matérias por ele escolhidas, compreendemos a interdependência desses elementos. A intenção criativa mantém íntima relação com a escolha da matéria. Opta-se por uma determinada matéria em detrimentos de outras, de acordo com princípios gerais de tendência do processo.

A utilização desses novos elementos como folhas e sementes na

composição das placas acrescentou um passo importante no processo

criativo/poético de Adriana Lopes. Porque, a partir desta escolha, a artista começou

a usar outros materiais, como faz até hoje nas suas produções artísticas.

Foi durante esse processo de produção das placas, que Adriana Lopes

desenvolveu suas obras, o que ocasionou em seguida novas pesquisas no campo

da cerâmica que perduraram durante anos no seu processo de produção e de

aprendizagem como artista plástica.

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1.4. Conhecendo a técnica Raku

Ao retornar ao Brasil em 1994, Adriana Lopes começou a trabalhar

novamente em casa, produzindo suas peças de cerâmica. Nesse mesmo ano, a

artista participou do 26° Festival de Inverno em Ouro Preto, organizado pela

Universidade Federal de Minas Gerias - UFMG, quando teve o primeiro contato com

a técnica cerâmica Raku em workshop com o renomado ceramista Máximo

Soalheiro. Ao conhecer a nova técnica, a ceramista ficou fascinada não só pelo ritual

em si que sucede na produção, como também pelas demais etapas do processo. Os

efeitos inesperados e surpreendentes que surgem são procedentes de duas

queimas.

Após ter tido essa experiência, a artista começou a pesquisar mais sobre a

técnica cerâmica Raku e a fazer cursos a respeito para poder se aperfeiçoar cada

vez mais. Posteriormente, começou a utilizar essa técnica em seus

projetos/processos poéticos.

1.5. Atuando como docente universitária na UFJF

Depois de participar durante anos de muitas exposições, salões e cursos,

Adriana Lopes teve a sua primeira filha, Anita Lopes, em 1998. Após o nascimento

da filha a artista retornou a estudar e concluiu o Curso de Licenciatura em Educação

Artística em 1999. No ano seguinte, fez uma pós-graduação em Arte na Educação

Infantil. Nessa mesma época, fez um concurso para professora substituta da

disciplina de cerâmica na UFJF, quando foi aprovada e permaneceu por dois anos

ministrando essa disciplina. Já atuando como docente na Universidade organizou

excursão para Belo Horizonte, para a visitação de uma feira de cerâmica onde

conheceu a artista Erli Fantini que a seu convite ministrou um curso de Raku para os

alunos na UFJF.

Após a experiência como docente universitária na UFJF, Adriana Lopes

montou, no ano de 2000, um ateliê juntamente com mais três artistas em Minas

Gerais em Juiz de Fora. Elas ofereciam oficinas de pintura em tela, patchwork em

costura e a técnica em cerâmica ministrada por Adriana Lopes. Esse ateliê durou

quatro anos e, logo depois, a ceramista se mudaria para Natal.

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Figura 1 - Ateliê Juiz de Fora. Foto do arquivo pessoal da artista.

1.6. Produções da artista em Natal e a sua docência na UFRN

Atualmente, Adriana Lopes trabalha e reside em Natal. Mesmo tendo se

dedicado a lecionar por um tempo, a artista nunca deixou de se atualizar. Ou seja,

jamais deixou de fazer novos cursos e intercâmbios com outros ceramistas. A artista

continuou participando de feiras para mostrar suas produções artísticas, como

também de exposições individuais e coletivas. Deste modo, seu trabalho tem sido

reconhecido no Brasil como quando foi premiado no 8º Salão de Artes Plásticas da

Cidade de Natal – 2004 e também no I Salão de Artes Visuais das Humanidades, no

mesmo ano, na UFRN.

A artista chegou a participar de outras exposições na cidade como as que

estão listadas em seu currículo (Anexo B). Dentre essas exposições, uma em

particular é bem lembrada pela ceramista, a da Galeria de Arte Demétrius Coelho,

em 2005. Nessa mostra Adriana Lopes exibiu peças utilitárias como cubos

ornamentados, fusos de parede, entre outras. Todas as obras foram produzidas

utilizando a técnica cerâmica de Raku.

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Figura 2 - Feira de Craft Design. Foto do arquivo pessoal da artista.

Figura 3 - Exposição Capitania das Artes 2010 – Dia do Artista Plástico. Foto do arquivo

pessoal da artista.

Figura 4 - Exposição Capitânia das Artes 2010 – Dia do Artista Plástico. Foto do arquivo

pessoal da artista.

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Figura 5 - Fusos, pratos e cubo suspenso - Acervo particular da artista. Foto da revista

Formas Arquitetura Potiguar.

.

Figura 6 - Cubos de Raku – Acervo particular da artista. Foto da revista Formas Arquitetura

Potiguar.

No ano de 2007, Adriana Lopes foi convidada a participar do Projeto

Fermentações Visuais organizado por Sânzia Pinheiro e destinado à participação de

artistas locais e de outros lugares para troca de experiências, ideias e informações

sobre linhas de trabalho. O encontro de Adriana Lopes aconteceu na Pinacoteca do

Estado do Rio Grande do Norte durante o Projeto. O convidado projetava imagens

de sua produção e falava de seu processo criativo. Isto é, explicava a origem da sua

pesquisa e como ocorria o desenvolvimento da sua obra. Após a apresentação, o

artista participava de um diálogo aberto juntamente com o público sobre a produção

do seu trabalho, o que proporcionava uma troca de experiência a todos que estavam

presentes.

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Adriana Lopes chegou a lecionar na Universidade Federal do Rio Grande do

Norte – UFRN, no Departamento de Artes – DEART, no período de 2012 a 2013,

após ter sido aprovada em um processo seletivo para professor substituto das

disciplinas Produção Tridimensional I e II. Nessa ocasião, ensinou a técnica

cerâmica Raku e, juntamente com os alunos, organizou duas exposições que foram

Três lados – 2012 (fig. 7 e fig. 8) e Labirinto em Construção – 2013 (fig. 9, 10, e 11).

Mesmo ensinando na UFRN, durante o ano de 2013 a artista cursava na

Universidade Potiguar - UNP a graduação em Design de Interiores. A conclusão

desse curso ocorreria no final de 2013 e coincidiu com o encerramento do contrato

da docente com a UFRN.

Figura 7 - Exposição Três Lados. Foto Viviane Nunes.

Figura 8 - Exposição Três Lados. Foto Viviane Nunes.

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Figura 9 - Exposição Labirinto em Construção. Foto Viviane Nunes.

Figura 10 - Exposição Labirinto em Construção. Foto Viviane Nunes.

Figura 11 - Exposição Labirinto em Construção. Foto Viviane Nunes.

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2. Processos de produção das obras de cerâmica Raku no ateliê

de Adriana Lopes

O ateliê é considerado por muitos artistas como o berço da criação artística.

Um lugar importante para o desenvolvimento de uma produção artística. Nesse

espaço todo o processo criativo de Adriana Lopes se desenvolve. É nesse ambiente

que as ideias são elaboradas e colocadas em prática posteriormente. Elas podem

surgir inicialmente como um grande insight ou até mesmo como um pensamento que

persiste e que vai ganhando forma e sentido no decorrer da sua execução. Essa

criação e organização se revelam em constantes transformações, isto é, vão do

rascunho, passando por algumas etapas de produção, até a sua finalização. Esse

percurso fica bem nítido no comentário de Salles (2006, p. 36):

Muitos artistas descrevem a criação como um percurso do caos ao cosmos. Um acúmulo de ideias, planos e possibilidades que vão sendo selecionados e combinados. As combinações são, por sua vez, testadas e assim opções são feitas e um objeto com organização própria vai surgindo. O objeto artístico é construído desse anseio por uma forma de organização.

O ambiente de trabalho de Adriana Lopes ficava na sua residência que

servia como lar/ateliê. O espaço não era grande, porém, as suas obras eram

produzidas lá. Era nele que ela passava grande parte do seu tempo, até fazer suas

peças na técnica cerâmica Raku. O envolvimento diário permite a elaboração e o

desenvolvimento dos projetos da artista. Esses momentos são essenciais porque,

conforme Salles (2006, p. 54), “o artista cria condições para que o espaço seja um

lugar que possibilite a produção”.

Por isso é que Adriana Lopes organiza seu ateliê de forma prática o que

facilita e agiliza o processo de produção das suas obras, pois os equipamentos e

ferramentas que são utilizados para fabricá-las se encontram nesse local. Parte

desses instrumentos é bem distribuída sobre uma grande mesa. São os pinceis,

retalhos de lonas, ripas de madeira de variadas espessuras, espátulas, uma barra

de ferro que é usada como rolo de abrir a argila, esponjas (buchas) e peças

adaptadas pela artista como, por exemplo, pregadores que ela usa na hora de dar

alguns detalhes no acabamento de algumas obras. Já as prateleiras ficam perto da

mesa e servem como depósito de obras que ainda irão ser esmaltadas ou até

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mesmo peças em processo de secagem. Próximo a elas há um almoxarifado que é

usado para guardar muitos materiais como sacos de serragem, suportes de madeira

e acrílico, sacos de argila e uma grande quantidade de potes que contêm os

esmaltes em pó, entre outros materiais.

Dentro do ateliê há quatro fornos, sendo um elétrico e três a gás. O elétrico é

utilizado para fazer a primeira queima que é conhecida pelos ceramistas como

queima de biscoito a qual transforma a argila em cerâmica, ou seja, deixa-a

permanentemente dura. Dois fornos a gás são utilizados somente para a queima de

Raku, que é a queima definitiva na produção das peças. Perto desses fornos

encontram-se pinças de ferro, luvas e máscaras de proteção e óculos de segurança

incolor para proteger os olhos na hora da queima da peça, assim como uma roupa

apropriada para tirar a obra de dentro do forno com o auxílio das pinças. O quarto e

o ultimo forno, a gás, com quatro maçaricos, a artista usava somente para queima

de biscoito na época que realizava feiras em São Paulo.

Figura 12 - Almoxarifado do ateliê. Foto do arquivo pessoal da artista.

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Figura 13 - Ateliê de Adriana Lopes – suportes de madeiras e acrílico. Foto Viviane Nunes.

Figura 14 - Prateleiras com instrumentos no ateliê de Adriana Lopes. Foto Viviane Nunes.

O início de todo processo de uma produção feita na técnica cerâmica Raku

no ateliê de Adriana Lopes começa após a artista definir primeiramente em

desenhos o que vai produzir. Com isso, ela seleciona a argila que geralmente usa

para trabalhar que é a Branca Shiro com chamote. Este é um tipo de argila

apropriada para realizar a técnica cerâmica Raku. De acordo com Chavarria (1999,

p. 8) o chamote “é um material antiplástico e facilita a secagem das pastas assim

como aumenta a resistência das peças durante a cozedura”. Em seguida, vai

analisá-la cuidadosamente para ver se ela possui ou não algum tipo de impureza

dentro da sua composição. Porque, se houver, será preciso removê-la

imediatamente. Esta limpeza consiste em mover essas sujeiras que podem ser

decorrentes de outras matérias orgânicas que se encontram muitas vezes próximo

ao local de onde ela foi removida. Essas impurezas ficam mais evidentes durante a

preparação da argila, isto é, na fabricação do objeto cerâmico. A retirada dessas

sujeiras tem início quando Adriana Lopes separa a quantidade de argila que vai

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precisar para fazer uma determinada peça, usando a ferramenta do fio de nylon para

cortá-la de uma extremidade à outra. Com isso, esse pequeno pedaço de argila vai

ser trabalhado pela artista até ser tirada completamente a sujeira. Para depois,

então, ser escolhida a técnica com que será feita a peça.

Após definir a quantidade de argila que vai usar e retirá-la de dentro do saco

plástico, Adriana Lopes fecha-o pra evitar que ela fique ressecada. Dessa forma, ela

preserva a sua umidade o que é imprescindível para o seu uso posterior

(CHAVARRIA, 1999).

Figura 15 - Sacos plásticos de argila. Foto Viviane Nunes.

Depois de retirar do saco plástico, a parte da argila que vai utilizar na

produção da peça, Adriana Lopes começa a trabalhá-la novamente, manuseando

com bastante destreza pra evitar um problema, bem recorrente nessa etapa,

conhecido como “bolhas de ar”, pois estas bolhas de ar podem resultar perda da

peça na hora da queima. Este processo tem início com movimentos suaves das

mãos que vão sendo acelerados num movimento constante de vai e vem, tendo

como base a superfície de uma mesa. Depois de algum tempo fazendo esse

procedimento, a artista forma um cubo de argila que posteriormente será aberto com

o uso de uma barra de ferro, dando origem ao desenvolvimento da placa.

Toda a produção das peças ocorre a partir de vários desenhos e anotações

que Adriana Lopes faz em seu caderno durante o processo de idealização e criação.

Estes registros, segundo Salles (2006), são importantes na hora da construção da

obra, pois o uso dessas informações indica o processo ou o fluxo de ideias em

andamento. Esse percurso é imprescindível para a compreensão do caminho da sua

criação. Desse modo, o processo poético da artista se dá de muitas maneiras como,

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por exemplo, em um insight, que surge como uma vaga ideia que vai ganhar

contornos e formas na elaboração dos primeiros rascunhos e vai se organizar e se

configurar de maneira definitiva em um novo objeto cerâmico, ou seja, em uma obra.

Isto pode gerar em um curto período de tempo um projeto de exposição ou mesmo

um futuro trabalho a ser concretizado em outra oportunidade. Salles (2000) ressalta

que, por esse motivo, o artista guarda essas informações no seu caderno. Estes

esboços auxiliam na fabricação da obra, pois as informações que contêm mostram o

caminho da artista até a finalização da sua peça, o que, sem dúvida, é importante

para entender as escolhas na elaboração do objeto cerâmico. Para Salles (2009, p.

61),

o artista conhece a fugacidade desses momentos e encontra seu modo de resguardar esses instantes frágeis, porém férteis. Surgem, assim, os diários, caderno de anotações ou notas esparsas que acolhem essa forma sensível no primeiro suporte disponível. Sensações que carregam ideias ou formas em estado germinal.

Segundo Adriana Lopes, as anotações e rascunhos em seu caderno

facilitam a compreensão do seu projeto e auxiliam diretamente no desenvolvimento

da construção da sua obra.

Todos esses desenhos e anotações mostram as primeiras tentativas de

elaboração das peças feitas por Adriana Lopes. Eles revelam o trajeto de

transformação pelo qual uma peça passa até ser produzida. Estas etapas são

importantes porque elas, segundo Salles (2000, p. 82),

conseguem, às vezes, flagrar esses momentos fugazes em que as transformações se processam. Nas artes plásticas, podemos encontrar estes índices de transformações em esboços, desenhos preparatórios e estudos.

Dessa maneira, os desenhos vão se transformando ao longo da sua criação

o que irá originar uma nova obra de arte que vai ser feita futuramente por Adriana

Lopes.

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Figura 16 - Desenhos de bule e xícara. Foto Viviane Nunes.

2.1. Materiais e ferramentas

A técnica japonesa cerâmica Raku utilizada por Adriana Lopes na confecção

das suas obras teve origem no Japão do século XVI. Foi desenvolvida por Tanaka

Chojiro que pertenceu à primeira geração de ceramistas originários de Quioto. Essas

peças eram produzidas e destinadas inicialmente para a Cerimônia de Chá

(chanoyu). Ainda hoje essa tradição tem sido passada de pai para filho, há mais de

quatrocentos anos. No Brasil, essa técnica chega através da imigração japonesa no

início do século XX.

A argila é um material mineral resultante da decomposição das rochas

feldspáticas, originada a milhares de anos atrás e de grande quantidade na crosta

terrestre (CHAVARRIA, 1999).

As argilas se agrupam da seguinte forma, em primárias e secundárias ou

sedimentares. A argila primaria é encontrada no local de origem da rocha conhecida

como rocha-mãe (CHAVARRIA, 1999).

As argilas secundárias ou sedimentares são aquelas que são levadas pela

água para longe da rocha-mãe. Durante esse processo, as partículas mais pesadas

vão para o fundo da água, enquanto as mais leves são dissolvidas dentro dela

(CHAVARRIA, 1999).

Existem muitos tipos de argila que possuem distintas características e que

são utilizadas para diferentes finalidades na cerâmica. Pois, de acordo com

Chavarria (1999), elas apresentam especificidades mostradas no quadro abaixo:

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CARACTERÍSTICAS DAS ARGILAS

Argilas Vermelhas São bastante plásticas e também muito fundíveis. Elas

aguentam altas temperaturas no forno.

Argilas Refratárias

É considerada uma argila muito pura, tem ponto de fusão alto,

que pode variar entre 1600º C a 1750º C. Após a queima sua

cor pode mudar desde o creme ao cinzento. É muito usada na

produção de placas para fornos.

Argila para louças É muito usada na preparação das pastas de louças.

Apresentam seu ponto de fusão entre 900º C a 1050º C.

Argila da China ou

Caulino

Por ser pouco plástica é direcionada para ser trabalhada com

moldes.

Argila Bentonite É muito plástica, sendo que seu ponto de fusão é de 1200º C.

Argila Grés É muito plástica, sua temperatura de vitrificação pode

alcançar no forno entre 1250º C a aproximadamente 1300º C.

Argilas de Bolas

(ballclay)

É muito usada na mistura com caulino na composição de

pastas cerâmicas.

Mas a argila mais usada na produção de Adriana Lopes é a Branca Shiro

com chamote, cuja temperatura de vitrificação encontra-se entre 800º C a 1300º

graus Celsius.

Os quadros abaixo mostram as principais ferramentas que Adriana Lopes

dispõe em seu ateliê, indicando as funções de cada uma delas, com suas

respectivas características.

Quadro de Ferramentas de Torno

Ferramentas Função Características

Torno Elétrico

É necessário na produção

das peças cilíndricas ou

cônicas. Utilizado também

na hora da aplicação de

esmalte na obra como

suporte.

Contém um pedal que tem como função o

controle da velocidade durante o processo

de feitura da peça. Tem uma base redonda

para colocar a argila pra ser manuseada

nela. Seu material é feito de ferro. Utilizado

para dar a forma e finalizar a peça em cima

do disco que gira manualmente de acordo

com que a artista deseja.

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Quadro de Ferramentas de Modelagem

Ferramentas Função Características

(Retalhos de)

Lona

Úteis na hora da execução e

preparo de placas e tiras.

O tamanho dos retalhos pode

variar entre 60X80 cm no

comprimento. Dependendo do

tamanho da placa a ser

trabalhada.

Rolo de

amassar / barra

de ferro

Útil na preparação de

pranchas/placas e tiras de argilas.

Tem formato cilíndrico. Possuem

variados tamanhos.

Ripas de

madeiras

Fazer placas ou tiras de argila de

espessura determinada.

Pode ser encontrada em variadas

tiras de espessuras.

Espátulas

Cortar placas e também tiras de

argila além de alisá-las durante o

processo de produção da peça.

Possui forma triangular de ferro ou

aço. Tem um gume/corte na ponta

e um cabo que facilita seu

manuseio.

Teques2 de

madeira e de

metal

Unir, alisar, retocar, texturar, polir

etc.

Possui grande variedade de

formas. São feitos em geral de

madeira dura.

Garrote/fio de

nylon Cortar grandes pedaços de argila.

É formado por um arame/fio preso

a um cabo de madeira.

Avental/bata

Proteger a artista durante o

preparo da argila. Evitando que a

mesma se suje.

Pode ser grande ou de pequeno

porte. Contém bolso grande para

colocar as ferramentas. Para a

confecção das peças no processo

de produção da obra.

Esponja/bucha

Passa na superfície da placa pra

alisar ou “detectar bolhas de ar” na

argila.

Material flexível e de uso

importante durante a produção da

peça. Muito utilizada no processo

de feitura da placa.

Roupa de

proteção

Útil para evitar que a artista se

queime durante o processo de

retirada da peça do forno.

A artista usa durante a retirada da

peça do forno um moletom, uma

calça folgada além de, uma

bota/tênis. Tudo isso, para

proteger seu corpo contra

possíveis queimaduras durante

esse processo.

2 Teques - Instrumentos de plástico ou metal para trabalhar no barro. Disponível em:< http://pt.slideshare.net/Agostinho/oficina-artes-barro>. Acesso em: 25 Ago. 2015.

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Estilete Utensílio usado para fazer cortes precisos na peça da argila.

Possui uma lamina bastante fina e afiada. É muito usada nos cortes das peças durante seu desenvolvimento ou finalização.

Quadro de Ferramentas de Esmalte

Ferramentas Função Características

Vasilha de inox Moer e misturar materiais

cerâmicos.

Tem paredes lisas. Possui forma

cilíndrica.

Peneira Filtrar os esmaltes e pastas

líquidas.

As peneiras mais finas ou

apertadas nomeiam-se tamises.

Na sua criação utilizam-se

variados tipos de tramas.

Balança de

Precisão

Realiza pesagens muito exatas,

para o manuseio de receitas

cerâmicas (esmaltes).

É primordial na produção de uma

determinada receita durante o

processo de fabricação de

esmaltes.

Pincel Usado para esmaltar as peças.

O pincel usado pra fazer a

esmaltação é grande e roliço. Sua

aplicação consiste em “andar com

a gota” do esmalte sobre a

superfície da peça até cobrir toda

a peça.

Quadro de Ferramentas para o Forno

Ferramentas Função Características

Placas

Refratárias/Estandes

Serve para apoiar as peças no

forno e serve também para

formar os pisos de arrumação.

Material de alta resistência

térmica. Capaz de resistir altas

temperaturas sem se deformar

no forno. Possui estabilidade ao

choque térmico dentro do forno.

É constituído por grande

percentagem de materiais de

silimanite, alumina entre outros

de alta resistência térmica.

Colunas/Pilares Sustentação das placas de Eles são feitos de porcelana ou

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arrumação no forno. produzidos com pasta de

grogue3 e argilas refratárias.

Podem ser utilizados em

conjunto, para sustentar por

mais tempo o peso das peças

no forno.

Pinça de ferro

Útil na retirada da peça

incandescente do forno após a

queima.

O material é feito em ferro.

Porém, são finas e não são

pesadas, fáceis de serem

manuseadas.

Óculos de

segurança Incolor

Proteger os olhos durante o

processo de retirada das peças

quentes do forno.

Visor transparente incolor.

Lentes de policarbonato incolor.

São resistentes a chama.

Armação convencional injetada

em acetato policarbonato4.

Luvas de Proteção

Proteger as mãos contra a alta

temperatura do forno, evitando

assim, acidentes como

queimaduras.

O material é feito com

resistência ao calor. Fabricada

em luva de raspa de couro5

amaciado e com reforço nos

dedos e na palma da mão.

Termostato

Dispositivo que regula a

temperatura do forno elétrico e a

gás.

Aparelho que regula a

temperatura do forno elétrico e a

gás durante a queima da peça

cerâmica.

Máscara de proteção Proteção das vias respiratórias

contra a fumaça.

É um equipamento que possui

filtro de carvão ativado para

evitar intoxicação devido a

fumaça.

3 Grogue - Argila já queimada e moída em vários tamanhos de grãos. Fornece estabilidade às massas cerâmicas e facilita a secagem por igual reduzindo o encolhimento e o empenamento. Disponível em:<http://www.ufrgs.br/acervoartes/glossario/ceramica>. Acesso em: 15 Set. 2015. 4 Policarbonatos são um tipo particular de poliésteres polímeros de cadeia longa, formados por grupos funcionais unidos por grupos carbonato (-O-(C=O)-O-). São moldáveis quando aquecidos, sendo por isso chamados termoplásticos. Como tal, estes plásticos são muito usados atualmente na moderna manufatura industrial e no design. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Policarbonato>. Acesso em: 21 Ago. 2015.

5 As luvas de raspa de couro protegem contra agentes escoriantes, abrasivos, materiais cortantes entre outros. Disponível em:<http://www.epi-tuiuti.com.br/produtos/epi/luvas-de-protecao/luva-de-raspa>. Acesso 27 Ago. 2015.

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2.2. Técnicas

Existem muitas técnicas que podem ser exploradas e utilizadas para se

desenvolver uma peça de cerâmica. Dentre elas, as de torno, as técnicas de bolas,

rolo, tiras, placas/prancha, entre outras. As mais usadas por Adriana Lopes são as

de torno e das placas. As obras que a artista faz no torno são as bolas (cortinas de

bolas), os fusos, cones e objetos utilitários como as xícaras, jarras, garrafas, entre

outras. Porém, o objeto que ela mais produz é o fuso.

Figura 17 - Adriana Lopes trabalhando no torno elétrico. Foto do arquivo pessoal da artista.

Após o preparo da argila, Adriana Lopes a coloca no centro do disco e liga o

torno elétrico. Com isso, ela começa a desenvolver a peça usando as mãos como

instrumento de trabalho, moldando-a com movimentos suaves e precisos que a

permitem criar e transformar a argila na obra que desejar. Essa sequência de gestos

é importante, pois, segundo Salles (2009, p. 63),

a produção da obra vai se dando por meio de uma sequência de gestos e, ao se acompanhar um processo, vão se percebendo certas regularidades no modo de o artista trabalhar. São leis de seu modo de ação, com marcas de caráter prático. São gestos muitas vezes, envoltos em um clima ritualístico.

No decorrer desse processo, a artista manipula a matéria-prima de forma

prática e objetiva. Toda essa técnica de modelação manual tem início após a argila

ser centralizada no torno elétrico. Entretanto, para que fique bem aderente na base

do disco, a artista faz uma pequena pressão sobre a mesma. Daí em diante, começa

a trabalhar, manuseando-a com toda presteza. Na sequência, com ajuda das mãos,

vai apertando a bola de argila de ambos os lados e, ao mesmo tempo, vai subindo a

peça. Sem perder o controle desse gesto, ela segue controlando a aceleração da

máquina através do pedal que fica do seu lado direito, próximo ao local do banco em

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que está sentada. Com isso, Adriana Lopes faz com que o disco gire com a rapidez

que ela precisa para aprimorar a obra. Entretanto, apesar de trabalhar com toda

agilidade durante o manuseio, a argila pode, às vezes, acumular-se nas mãos. Mas,

isso é normal. Basta tirar esse excesso e coloca-lo do lado de fora do disco do

torno. Um item que não pode deixar de faltar próximo do torno elétrico é uma vasilha

com água. Isso porque a artista sempre a utiliza para molhar as mãos e poder

passar sobre a argila, evitar que fique ressecada e perca a sua maleabilidade.

Dando continuidade a essa etapa de produção, Adriana Lopes vai afinando a

parte superior da obra formando assim uma ponta na peça. Depois disso, ela dá os

últimos retoques no cone e finaliza em parte a obra, já que ainda vai produzir outro

cone e vai juntá-los para formar o fuso.

Após modelar e definir a forma do primeiro cone, Adriana Lopes vai utilizar

esse mesmo processo para fazer outro cone com as mesmas características e com

as mesmas medidas. Com as peças executadas no torno, a artista espera umas

quatro horas até ficar em ponto de couro (barro firme) para facilitar o manuseio sem

danificar as peças. Já com um estilete em mãos faz os cortes triangulares de 15x6

cm em ambas as peças, deixando a parte superior da peça como representa o

desenho abaixo com suas respectivas medidas.

6 cm

15 cm 50 cm de altura

Figura 18 - Representação das medidas de um dos cones que formam o fuso. Arte digital

produzida por Viviane Nunes.

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Estes cortes servirão para evitar a quebra das peças na hora da queima. Por

serem peças ocas, há ar no seu interior e, ao atingir uns 300º C na hora da primeira,

queima este ar se transforma em vapor, forçando as paredes da peça, causando

uma grande explosão. Com as peças do cone já cortadas vai ocorrer a junção dos

dois objetos cerâmicos com o objetivo de dar o formato do fuso. Dessa forma,

Adriana Lopes ranhura a base das peças e passa a barbotina (barro líquido) que

serve como a cola para união dos dois cones, finalizando a peça cerâmica. Assim,

passa pelo processo de secagem. O fuso leva em torno de quinze a vinte dias para

ficar pronto.

Figura 19 - Fusos após a queima. Foto Viviane Nunes.

Quando o fuso está finalizado, Adriana Lopes costuma também usar outros

materiais para anexar à obra. Esses materiais são o ferro, o acrílico e a madeira,

sendo que esta última é a que mais utiliza. Para desenvolver este objeto cerâmico

ela faz dois cones iguais no torno elétrico, passando na sequência pela queima de

biscoito no forno a gás, separado um do outro. Depois disso, a obra passa pelo

último processo de produção antes da queima final. Essa fase consiste em fazer os

desenhos de florais sobre a superfície da peça com lápis grafite para, então,

começar a esmalta-la. No entanto, tem um local que a artista nunca esmalta que é a

parte debaixo da peça. Isso porque se for pintada neste local e colocada

posteriormente dentro do forno ela irá grudar na prateleira e vai acarretar um dano

irreparável e ocasionar a sua perda. Logo após este procedimento a artista leva a

obra para fazer a segunda e definitiva queima de Raku. Em seguida, espera as

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peças esfriarem, ela utiliza a cola Cascorez para juntar os dois cones na madeira,

anexando esse novo material à peça, formando o fuso.

Figura 20 - Fuso anexando na madeira. Foto Viviane Nunes.

Figura 21 - Detalhe do fuso na madeira. Foto Viviane Nunes.

2.3. Como as peças são esmaltadas no ateliê de Adriana Lopes

No ateliê de Adriana Lopes existe uma grande variedade de esmaltes em pó

que ela costuma utilizar na esmaltação das suas peças. Entretanto, para usá-los

corretamente na produção cotidiana é preciso atenção na sua aplicação e ao mesmo

tempo possuir agilidade manual. Isso porque é imprescindível ter prudência na hora

do seu preparo e na sua aplicação. Por isso, Adriana Lopes sempre coloca uma

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máscara de proteção e luvas para se prevenir, pois os esmaltes coloridos que a

artista utiliza contêm chumbo, o que pode ocasionar dano à sua saúde, se inalado.

O único esmalte que ela usa que não contêm chumbo é o 096, que é um esmalte

transparente alcalino, muito utilizado nas peças utilitárias que a artista faz.

A esmaltação começa no momento em que Adriana Lopes escolhe a cor do

esmalte que vai utilizar. Contudo, para aplicar o esmalte na peça, ela segue uma

receita bem simples que é a seguinte: separa uma pequena quantidade do esmalte

do pote com a colher e mistura com uma solução aquosa de C.M.C

(carboximetilcelulose) em uma pequena vasilha de inox até que a solução fique

totalmente homogênea. O C.M.C é um tipo de pó que a artista deixa dissolver na

água de um dia para o outro para criar um tipo de gel. A junção desses dois

elementos ajuda bastante na hora da aplicação do esmalte na peça. Após a união

deles a artista utiliza o pincel para esmaltar a obra sendo que, para isso, ela molha

bem as cerdas até o pincel ficar bem encharcado. Em seguida, leva com todo

cuidado em direção à peça sem deixar essa “gota de esmalte” cair e, então, começa

a esmaltá-la. Essa gota é colocada em cima do grafismo e é puxada aos poucos até

se extinguir seguindo os contornos dos desenhos. E assim, sucessiva e

uniformemente, até completar as figuras florais no fuso. Já na produção das peças

grandes (no caso dos vasos) após pronto todo grafismo esmaltado, Adriana Lopes

vai usar uma trincha para esmaltar com o 096 todo o restante da peça, colocando-a

em cima do torno elétrico e vai girando aos poucos o disco até finalizar. Após esse

processo, ela deixa o objeto cerâmico secar na prateleira ou em cima da mesa pra

ser queimado posteriormente na técnica Raku.

Figura 22 - Cones sendo preparados para esmaltação. Foto Viviane Nunes.

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Figura 23 - Cone sendo esmaltado por Adriana Lopes. Foto Viviane Nunes.

A composição do esmalte, segundo Chavaria (1999), se dá por meio de

materiais selecionados que juntos formam uma camada vítrea sobre a peça quando

é aplicado. Este processo de fundição do esmalte na obra ocorre quando Adriana

Lopes coloca o objeto cerâmico pra ser queimado no forno a gás.

Entretanto, para que esse processo possa acontecer é preciso seguir etapas

na produção da cerâmica. Isto é, preparar a argila e escolher a técnica que a artista

ache mais conveniente. Por isso, é que Adriana Lopes cumpre cada uma delas na

sua produção. Isso porque, para que uma obra seja devidamente esmaltada é

preciso tomar cuidado na sua aplicação, pois qualquer erro pode danificar a peça

posteriormente durante a queima no forno elétrico ou a gás. Esses defeitos podem

surgir de variadas formas, dentre elas, rachaduras nas peças que podem ser

decorrentes da queima muito rápida ou mesmo devido à secagem ter sido mal feita

após a feitura da peça. Já em relação às explosões que ocorrem durante a queima

das peças, estas são provenientes de bolhas de ar ocasionadas pela sua má

preparação na hora da sua manipulação.

De acordo com Chavaria (1999), outro defeito que é bem comum na

produção da feitura da obra é o de cores escorridas no objeto cerâmico que são

decorrentes do processo de fundição do esmalte na peça. Isso ocorre devido ao

excesso de camadas da área esmaltada ocasionando um efeito não desejado pela

artista.

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Durante o processo de esmaltação de uma peça algumas técnicas podem

ser utilizadas na sua aplicação, entre elas, a pulverização, esmaltagem por sistema

de derrame, esmaltagem por imersão e com pincel. Sendo que as duas mais

utilizadas por Adriana Lopes são as de sistema de derrame e com pincel.

No caso do derrame a sua execução nas peças é bem simples além de

muito econômica e prática. Pois, de acordo Chavarria (1999, p. 26), este sistema de

derrame é “um dos mais utilizados pelos ceramistas, sobretudo devido à rapidez e

economia de esmalte que proporcionam”.

Esse processo requer que seu manuseio seja bem feito porque precisa ser

aplicado do mesmo modo na superfície (de toda) da peça com exceção da parte

debaixo dela. Pois se for esmaltada nessa área, vai ficar colada na prateleira.

Adriana Lopes também costuma utilizar muito esse método dentro das peças

pequenas com ajuda de um funil. Este método é importante, pois, segundo

Chavarria (1999, p. 26), após ser preparado

o esmalte, proceder-se-á à esmaltagem do interior da peça, que se enche até meio e se faz girar entre as mãos, para que o esmalte cubra toda a superfície interior. Em seguida, deve verter-se o restante esmalte procurando-se que saia fluido e sem interrupção.

Mesmo após ser completamente esmaltada, a peça ainda pode conter um

pouco de esmalte líquido dentro dela. Este será devidamente retirado através do

orifício da peça, ou seja, pelo gargalo. Em seguida, é colocado para secar na

prateleira.

Outro tipo de processo que Adriana Lopes costuma usar bastante em suas

peças é o de esmaltagem a pincel discutido anteriormente. Seu uso é de extrema

importância porque é feito para esmaltar peças com desenhos florais ou outros com

maior complexidade na criação da artista. O que exige uma maior atenção e

habilidade dela em seu manuseio. Ela possui em seu ateliê alguns pinceis de

variados tamanhos e formas de cerdas que são fundamentais para desenvolver a

esmaltação na peça. Pois, dependendo do tipo de grafismo que ela for esmaltar, é

necessário saber conduzir bem essa ferramenta porque sempre há zonas de difícil

acesso na hora de pintar a obra. Esse tipo de manuseio é muito importante porque,

segundo Chavarria (1999, p. 30),

poderão usar-se pincéis mais finos nas zonas em que a trincha revele maior dificuldade de acesso. É necessário que em cada

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momento do processo o ceramista saiba utilizar os utensílios que melhor o podem servir na execução do seu trabalho.

Deste modo, Adriana Lopes passa cerca de duas a três vezes o mesmo

esmalte sobre a superfície da peça tomando todo cuidado para não remover o

esmalte aplicado anteriormente. Dessa maneira, a artista espera cada camada secar

em um curto período de tempo e refaz todo esse processo até finalizar a esmaltação

na peça. Todas essas etapas devem ser feitas após a queima de biscoito. Segundo

Chavarria (1999, p. 30),

tanto as trinchas como os pinceis devem ensopar-se de verniz, já que podem se necessárias duas ou mais camadas para que as peças fiquem bem revestidas, aplicando-se logo que a anterior se encontre seca no tato. Desse modo evitam-se as bolhas e o descascamento. As trinchas e os pinceis não se usarão da mesma forma que se usariam a pintar, nem se corre pela superfície da peça. Deve-se avançar lentamente, para que o biscoito absorva o verniz; o qual deverá possuir uma espessura uniforme, procurando-se que não se produzam gotejos ou escorrimentos. No entanto, se tal acontecer, para o alisar pode passar-se a polpa do dedo por cima do verniz, ou um pincel de pelo mais grosseiro.

Durante esse processo de produção Adriana Lopes sempre mexe a solução

do esmalte com a colher para evitar que o mesmo se deposite no fundo da vasilha

de inox. Ela realiza esse procedimento para evitar que o esmalte não fique “aguado”

na hora do seu manejo evitando uma diferenciação de esmalte de uma camada para

outra.

2.4. Queima das peças no forno Raku

Ao passar pelas etapas do rascunho, modelagem, secagem e esmaltação,

chega-se a um dos momentos mais importantes do processo da técnica cerâmica

Raku que é a queima dos objetos no forno. Nessa etapa final, as obras serão

colocadas dentro do forno com muito cuidado para evitar que as peças sejam

danificadas, já que todas estão esmaltadas e não podem tocar uma nas outras. O

forno é uma ferramenta que não pode faltar no ateliê de um ceramista, pois esse

utensílio possibilita a queima de muitas obras. De acordo com Canotilho (2003, p.

19) “basicamente, um forno de cerâmica é um ambiente fechado, onde se colocam

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as formas mais variadas e executadas em cerâmica, para serem cozidas, utilizando

um combustível”.

O forno é fechado durante o processo da queima e tem uma estrutura bem

definida. Obviamente existem ceramistas que constroem ou mandam produzir seus

próprios fornos que serão usados durante o processo de feitura da peça. No caso de

Adriana Lopes, ela mandou produzir seus fornos de Raku. O mais antigo tem mais

de dez anos de uso e, de acordo com a artista, está cada vez melhor de queimar as

peças nele. Entretanto, há casos em que a despesa não favorece ao ceramista

economicamente. Isto porque o custo é bastante elevado e não compensa. Nas

palavras de Chavarria (1999, p. 18),

antes de comprar ou construir um forno, tendo em conta o elevado custo que representa, é conveniente realizar um estudo pormenorizado do que necessita, no qual se considerarão as diversas vantagens e inconvenientes. Neste estudo ter-se-ão em conta as peças ou obras que se vão realizar, a quantidade, as suas medidas, a temperatura de cozedura, o combustível, o espaço disponível no estúdio ou oficina de trabalho, as disposições legais, etc.

A idealização e a construção de um forno de grandes proporções só

ocorreram no ateliê de Adriana Lopes quando a artista decidiu que, para aumentar a

produção das peças na queima de biscoito, era necessário fazer um forno de maior

dimensão. Por isso, que ela mandou construir um forno com as seguintes

características: é fabricado com tijolos refratários, tem cerca de um metro e meio de

altura, um metro de largura e um metro de profundidade. É muito espaçoso e possui

placas móveis e refratárias em seu interior. Atualmente, com a diminuição de sua

produção, estava sendo usado apenas algumas vezes para fazer a queima de

biscoito ou até mesmo guardar objetos cerâmicos dentro dele.

Adriana Lopes possui ainda dois fornos de Raku que também mandou

fazer, sendo que um é pequeno e o outro é grande. Todos dois têm uma manta

cerâmica6 que tem um alto coeficiente de isolamento térmico, o que é essencial em

um forno na queima de Raku, como também possuem dois orifícios. Cada um tem

dez centímetros de abertura, sendo um na tampa de ferro que serve para colocar o

6 Manta cerâmica de fibra cerâmica é composta de fibras flexíveis entrelaçadas. São fabricadas por um processo que proporciona uma manta forte, leve, durável e com alto coeficiente de isolamento térmico. Disponível em: <http://www.refratil.com.br/produto/fibra-ceramica>. Acesso em: 4 set. 2015.

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termostato que informa a temperatura ambiente que se encontra o objeto cerâmico

na hora da queima. Já o outro fica na parte inferior do tonel, pois neste local é

colocado o maçarico. E, por último, o forno elétrico que faz a queima de biscoito

onde ele é todo programado para fazer esse processo.

Essa idealização e construção do forno fez com que Adriana Lopes

aproveitasse melhor seu espaço de trabalho. O que facilita muito na hora da queima

da peça. Ou seja, essa distribuição dos fornos em lugares estratégicos ajuda

bastante a artista durante o processo de produção e queima do objeto cerâmico.

Pois, de acordo com Canotilho (2003, p. 21), “quando se constrói seu forno, ele

adequar-se-á às suas expectativas e requisitos, aproveitando-se desta forma todas

as suas performances e possibilidades criativas”.

Figura 24 - Forno grande de Raku a gás. Foto Viviane Nunes.

Figura 25 - Dois fornos de Raku a gás no ateliê. Foto Viviane Nunes.

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Figura 26 - Forno elétrico por dentro. Foto Viviane Nunes.

O forno também possui acessórios que são necessários para seu uso diário

que são: colunas ou pilares que são posicionadas dentro do forno e que servem de

suporte para as placas refratárias onde as peças são colocadas para serem

queimadas.

Figura 27 - Forno de tijolo refratário. Foto Viviane Nunes.

Apesar de anos de experiência em trabalhar com a técnica cerâmica Raku e

colocar as obras dentro do forno para a queima, Adriana Lopes tem o maior cuidado

toda vez que vai fazer essa etapa do processo de produção. Pois ela planeja bem

aonde irá colocar cada uma delas antecipadamente, começando sempre com as

pequenas peças na parte superior das placas refratárias. De acordo com

CHAVARRIA (1999), dependendo da quantidade de peças que serão colocadas

sobre a prateleira do forno, elas deverão ter uma distância adequada de no mínimo

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três centímetros entre si para que, durante a queima, não fiquem “grudadas uma nas

outras”, o que pode provocar sua perda.

Outro erro que pode ocorrer durante a queima no forno é quando a peça não

é limpa adequadamente na parte debaixo depois da aplicação do esmalte. Quando

isso acontece a peça cerâmica fica “colada” na placa refratária, ocasionando a sua

perda na hora da retirada da obra.

Para que a peça seja queimada adequadamente é preciso que ela esteja

totalmente seca. Pois se algumas delas estiverem molhadas ou úmidas o objeto

poderá ser perdido na queima (CHAVARRIA, 1999). Outro fator importante a

ressaltar no processo da queima na técnica cerâmica Raku é saber controlar a

temperatura do forno. Essa etapa consiste em utilizar um instrumento conhecido

como termostato que é usado para medir a temperatura de dentro do forno. Este

dispositivo faz parte do forno elétrico que é todo automático. Com ele, Adriana Lopes

programa o tempo que acha necessário para que uma peça seja completamente

queimada.

O forno elétrico não faz a queima do Raku, ele apenas faz a primeira queima

conhecida como biscoito e uma possível esmaltação. A temperatura desse forno,

segundo Adriana Lopes, vai até uns 1200º C. No forninho a gás pequeno ela pode

chegar a 1000º C, sendo que a artista tem controle da temperatura do forno também

através do aparelho termostato do início até o final do processo de queima. A

temperatura no forno elétrico vai sendo aumentada aos poucos no período de oito

horas corridas até que chegue à temperatura de 980º C a 1000º C. Chegando a

esse nível de temperatura a peça já estar completamente queimada.

Depois desse processo, a peça cerâmica será esmaltada e, logo na

sequência, será colocada novamente no forno de Raku para, enfim, passar pela

segunda e definitiva queima. Desse modo, ela fica no forno por cerca de três horas

quando é retirada ainda incandescente por Adriana Lopes que usa uma roupa

adequada para fazer esse procedimento, sendo levada diretamente até uma câmara

com serragem em seguida fechada hermeticamente. Durante esse pequeno

intervalo de tempo a peça passará por um processo de redução (falta de oxigênio),

coberta por serragem e queimada por um curto período de tempo, ocasionando

muita fumaça que vai “penetrar” nestas pequenas fendas que se formam na

superfície da peça do esmalte ocasionando os craquelês que se formaram por conta

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do choque térmico do vidrado. Este ocorre quando a peça é retirada do forno a

1000º C. Com a temperatura ambiente (aproximadamente 25º) o vidrado “trinca” e a

fumaça penetra nestas fissuras. Que é uma característica bem singular e visível na

técnica de queima Raku. Essas “rachaduras” ficarão bem perceptíveis na finalização

da obra o que resultará em peças únicas já que nenhuma é igual à outra.

3. Etapas de produção de cubos Raku segundo Adriana Lopes

Todo o artista tem uma forma bem peculiar de pesquisar e desenvolver seu

trabalho. No caso de Adriana Lopes isso não é diferente. Desde que teve contato

com a técnica cerâmica Raku através de um workshop ministrado por Máximo

Soalheiro no ano de 1994, a artista vem aprimorando e se aperfeiçoando nessa

técnica e consequentemente na sua produção artística.

Após anos de muito trabalho, pesquisa e dedicação na produção das peças,

Adriana Lopes desenvolveu a sua própria maneira de fazer uma peça cerâmica na

técnica Raku.

A primeira etapa da produção tem início quando Adriana Lopes define no

seu caderno o desenho da peça do cubo. Depois disso, separa com a ferramenta

do fio de nylon a quantidade necessária de argila Branca Shiro com chamote que irá

usar para desenvolvê-la, deixando o restante bem guardado dentro do saco plástico

para evitar que a mesma fique ressecada durante o processo de feitura do objeto

cerâmico. Já com a argila em mãos, começa a amassa-la com movimentos firmes e

rápidos de um lado para o outro sobre a superfície de uma mesa lisa. Dessa forma,

tenta deixá-la bem plástica para remover todas as bolhas de ar dentro da argila.

Após fazer esse procedimento começa a bater nela até que ela ganhe a forma de

um pequeno cubo.

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Figura 28 - Sequência de etapas de produção de um cubo de argila. Foto Viviane Nunes.

Na sequência do processo, Adriana Lopes pega esse pequeno cubo de

argila e coloca sobre uma lona. Com isso, abre as placas utilizando a barra de ferro

sobre a argila. Inicialmente bate em cima dela fazendo uma pequena pressão sobre

o cubo que desse modo vai se deformando para os lados e diminuindo o seu

tamanho. Esse processo é feito até que argila fique na espessura das ripas de

madeiras que ficam lado a lado numa determinada distância estipulada pela artista.

Durante este processo, a barra de ferro é passada muitas vezes em cima da placa

recém-criada que é virada de um lado para o outro, para evitar que não fique

ressecada e também para que permaneça lisa e por igual nas duas partes. Após

abrir a placa completamente, a artista usa a bucha molhada para passar na

superfície da placa para ver se tem alguma bolha de ar dentro dela. Se tiver, ela a

retira imediatamente com a faca. Depois de ter feito todo esse processo ela passa

para etapa seguinte que é cortar com o auxílio de uma pequena faca as placas no

mesmo tamanho e formato. São seis placas produzidas ao total, sendo que cada

qual possui 15 cm. de largura e de altura. Todo esse processo é repetido para a

feitura das plaquinhas de argila para poder formar o cubo.

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Figura 29 - Placas de argilas sobre a lona. Foto Viviane Nunes.

3.1. Uso da matriz e intervenções na construção da peça do cubo

No decorrer do processo de confecção do cubo, Adriana Lopes, já tem feitas

e separadas algumas opções de desenho para colocar sobre a superfície da placa

que são flores e figuras abstratas. A artista também utiliza moldes como modelos

com variadas formas geométricas. Após escolher a matriz com formas geométricas,

ela desenha esse padrão sobre argila e, na sequência, começa a escava-la até que

a figura seja vazada por completo, utilizando a ferramenta de corte pontiaguda. Em

seguida, usa o utensílio das espátulas para trabalhar nas partes mais complexas, ou

seja, nos contornos e quinas da imagem finalizando a plaquinha.

Figura 30 - Matriz de metal de uma placa utilizada por Adriana Lopes na confecção da peça.

Foto Viviane Nunes.

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Depois de fazer todas as placas, Adriana Lopes vai chanfrar as quatro

bordas de cada um deles para que elas possam se encaixar posteriormente e formar

o cubo. Com isso, a artista pega duas placas com cuidado para não deformá-las já

que elas ainda estão endurecendo. Em seguida, faz ranhuras com o garfo nas

quatro partes dessas plaquinhas antes de começar a atrelar uma nas outras com o

uso da barbotina que é passada sobre as extremidades que serão anexadas

juntamente com uma pequena e fina tira de argila, passando sobre elas com seus

dedos para as emendas ficarem bem firmes com a última plaquinha a ser encaixada,

a artista toma todo cuidado na hora da sua vedação para que ela não solte durante a

secagem ou, depois, na queima da peça no forno Raku.

Figura 31 - Placa de argila sendo riscada por Adriana Lopes. Foto Viviane Nunes.

Figura 32 - Adriana Lopes emendando uma placa na outra. Foto Viviane Nunes

Outra etapa importante do processo de produção é feita quando Adriana

Lopes faz uma pequena intervenção na peça retirando uma parte da argila de uma

das quinas da placa. A remoção é realizada assim que a artista mede 7 cm. na

argila com o auxílio da régua, na superfície de uma das plaquinhas. Com isso, ela

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faz um risco com o uso do lápis, indicando qual o caminho a seguir na hora do corte.

Em seguida, faz os outros dois riscos, complementando essa linha nos outros lados

da peça. Na sequência, usa o fio de nylon para cortar a argila no sentido diagonal da

peça (seguindo esses trajetos de linhas feitos anteriormente). Dessa maneira, a

peça cerâmica pode ser apoiada em sua nova face sobre qualquer superfície plana

após a sua produção.

Figura 33 - Adriana Lopes cortando o cubo. Foto Viviane Nunes.

Outra maneira que Adriana Lopes trabalha na mesma peça do cubo é a

seguinte: suspendendo as peças e prendendo-as com presilhas em inox com cabo

de aço na parede. Estes cabos são colocados por dentro delas através de pequenos

orifícios que são feitos pela artista durante o processo de produção. Essas aberturas

são feitas em lados opostos da obra com esta finalidade.

Após ter finalizado a junção das placas e produzido o cubo por completo,

Adriana Lopes leva a peça para secar na prateleira. Esse local é bem arejado o que

facilita a sua secagem.

De acordo com Adriana Lopes, o processo de secagem de uma obra não

pode ser acelerado de forma alguma, pois caso contrário poderá ocasionar perda da

peça durante o processo da queima no forno. Todo esse cuidado é importante

porque, segundo Canotilho (2003, p. 30), “um dos aspectos mais determinantes para

que haja êxito na cozedura, tem a ver com o estado perfeito da secagem dos corpos

cerâmicos antes de serem introduzidos no interior do forno”.

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Figura 34 - Cubo secando juntamente com outras peças. Foto Viviane Nunes.

Após o objeto cerâmico estar completamente seco, Adriana Lopes o leva

para ser queimado no forno Raku, juntamente com outras peças que estão na

prateleira. A primeira queima de biscoito chega a durar entre oito a dez horas no

forno grande. Nesse processo, elas podem ser colocadas juntas uma das outras

sem problema nenhum já que não estão esmaltadas. Toda esta etapa de cozimento,

envolvendo a temperatura como também a arrumação das obras na placa refratária,

fica bem clara nas palavras de Chavarria (1999, p. 63):

depois de carregar o forno, tem de começar com um andamento lento, com as entradas de ar abertas, para que o vapor da água possa sair livremente. Esta marcha lenta deve manter no mínimo até os 400º C. A partir desta temperatura, aumenta-se um pouco a velocidade, até os 600º C. Depois vai acelerando o processo de cozedura até alcançar a temperatura desejada, que no caso do biscoito a baixa temperatura oscilará entre os 900º e os 1000º C.

Depois de chegar aos 1000º C, o forno é desligado. As peças que estão

dentro dele são retiradas apenas no outro dia, quando elas estão completamente

frias, pois se forem retiradas depois da queima, as peças podem estalar e quebrar.

3.2. Processo de esmaltação a queima final do cubo

Após passar pela primeira queima, Adriana Lopes prepara as peças para

serem esmaltadas. Para fazer essa parte da produção a artista prepara a seguinte

receita de esmalte que se encontra em seu caderno. Ela mistura, dentro da vasilha

de inox, 100% do transparente alcalino 096 com 2% de nitrato de prata, (receita do

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esmalte dourado). Quando a solução está bem homogênea, pega o pincel e sai

esmaltando toda a peça com exceção da parte debaixo.

Figura 35 - Cubo esmaltado e pronto pra ir ao forno Raku. Foto Viviane Nunes.

Depois de esmaltar o cubo, Adriana Lopes deixa-o secar na prateleira ou

mesmo em cima da mesa para depois ajeitá-lo no forno para a queima final. Após

definir onde cada uma deles vai ficar, a artista começa a colocá-los na placa

refratária. Essa parte do processo requer todo cuidado, pois, segundo Chavarria

(1999, p. 22),

preparar uma fornada de peças esmaltadas requer cuidados maiores do que os necessários com as peças cruas. Antes da sua introdução no forno, limpam-se as bases de todas as peças, de forma a eliminar eventuais restos de esmalte.

Esses resíduos, se não forem retirados antes da queima, podem grudar na

peça durante o processo de queima no forno Raku, ocasionando um dano à peça.

Isso porque, segundo Chavarria (1999, p. 23), “tratando-se de peças esmaltadas, o

vapor deslocaria o esmalte, fazendo com que o esmalte saltasse da peça, na

sequência da cozedura”.

Durante a queima no forno Raku, a temperatura é controlada a todo o

momento por Adriana Lopes, através do aparelho do termostato. Quando ela chega

a medir 1000º C, o forno é desligado. Para retirar a peça ainda incandescente a

artista usa uma roupa adequada. Por isso, coloca as luvas, uma blusa longa e uma

espécie de touca para evitar que queime seu cabelo. Também usa uma calça longa

e um tênis confortável. Com isso, se aproxima do forno com todo cuidado e retira a

tampa do forno e a coloca no chão. Depois disso, pega a pinça que é uma

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ferramenta longa e de fácil manuseio e a usa para retirar cada peça separadamente

do forno incandescente. Para que elas não caiam durante o trajeto ela segura bem

firme até colocá-lo dentro de uma câmara repleta de serragem acomodando as

peças e cobrindo de serragem antes de fechar.

Em seguida, fecha a câmera hermeticamente ocorrendo uma redução (falta

de oxigenação). Nesse local, a peça continua queimando por um breve momento.

Isso porque o oxigênio existente acaba rapidamente e o fogo ainda existente

“pegará” o oxigênio desprendido dos óxidos metálicos encontrados no vidrado da

peça. Por este motivo é que o objeto cerâmico fica queimando mesmo fechado no

tonel. Isso ocorre porque este material, segundo Chavarria (1999, p. 44) “em contato

com a peça incandescente, queimam-se, produzindo uma cozedura redutora, que

influirá tanto na pasta como no esmalte”.

Mesmo ocorrendo todo esse processo interno na câmara, Adriana Lopes

continua também fazendo parte dessa produção do lado externo em seu ateliê. Por

isso, puxa os quatro panos grandes de lona que ficam presos acima da coifa pra

“abafar a fumaça” que sai próximo do tonel. Essa fumaça é levada pela coifa através

do duto até ser disperso pelo vento acima das telhas. Nesse interim, a fumaça que

está concentrada ainda dentro da câmara vai “penetrar” nas pequenas trincas do

esmalte da peça e ocasionar o craquelê que é uma característica singular dessa

produção, algo bem visível no processo final do objeto cerâmico. Para finalizar a

obra, a artista abre novamente o tonel e retira as peças ainda quentes e as coloca

no chão pra acabar de esfriar. Depois disso, leva cada uma para pia e lava em água

corrente, finalizando todo o processo de produção de uma peça cerâmica Raku.

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A – A artista indo abrir o forno. B – Artista tirando a tampa do forno.

.

C - Peças dentro do forno incandescentes. D – Tirando a peça com a pinça de ferro.

E – Artista indo cobrir a peça com serragem. F – Cobrindo a peça com serragem.

Figura 36 - Etapas da queima de uma peça cerâmica Raku. Fotos Viviane Nunes.

.

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G - Adriana preparando para abrir a câmara. H – A peça sendo retirada da câmara.

I – Peça esfriando no chão do ateliê. J – Peça sendo lavada no tanque.

Figura 37 - Etapas de uma produção de uma peça cerâmica Raku. Fotos Viviane Nunes.

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Considerações Finais

Acompanhar o trabalho de Adriana Lopes no seu ateliê foi, sem dúvida, uma

experiência única e bastante enriquecedora. Poder vivenciar a criação das suas

peças na técnica cerâmica Raku proporcionou-me um novo olhar. Isto é, um olhar

não só como pesquisadora e como artista (fotógrafa), mas também como professora,

pois me traz novos saberes que levarei para sempre comigo. Esse contato quase

que diário transformou-se em uma grande amizade, gerando uma parceria que

resultou nesse trabalho com todas as informações necessárias para a sua

realização. Esses novos saberes adquiridos serão usados com certeza em sala de

aula, no decorrer da minha carreira profissional como arte educadora

proporcionando aos meus futuros discentes esse conhecimento sobre a técnica de

cerâmica Raku. É evidente que a convivência dentro do ateliê e a relação entre a

pesquisadora e a artista foram fundamentais para o desenvolvimento dessa

pesquisa. Além disso, pretendo desenvolver peças nesse método futuramente como

artista plástica e poder difundir meu trabalho como ceramista. Evidentemente, que

farei muitos cursos para me aperfeiçoar e dominar esta técnica, pois ela requer

muito estudo e dedicação como Adriana Lopes fez.

Esta pesquisa se concentrou em observar e, posteriormente, mostrar como

uma peça era feita desde o início, a utilização das ferramentas e as técnicas (placas

e do torno) usadas por Adriana Lopes durante o processo de feitura. Como também

a trajetória de vida da artista desde a sua infância até os dias atuais e a criação das

peças envolvendo a sua versatilidade criativa. Assim como as fases de produção

que são necessárias para que a peça seja feita.

A criação das peças realizadas pela artista teve início a partir do desenho,

passando para o processo de fabricação da obra. Como também a utilização de

alguns pequenos instrumentos feitos pela própria artista e outros utensílios que

foram utilizados para a confecção do objeto cerâmico. Investigando mais a fundo o

uso da matéria prima, pude ver e analisar como as técnicas eram usadas no

desenvolvimento das obras, o que foi essencial para compreender muitas das

intervenções que Adriana Lopes fazia na peça na hora da construção da sua obra.

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O estudo mostrou que Adriana Lopes, durante anos, teve que se dedicar

bastante em cursos e oficinas para poder ter o domínio da técnica e desenvolver seu

próprio método de trabalho para produzir as peças na técnica cerâmica Raku. Isso

fica bem evidente nas produções descritas nessa pesquisa, ou seja, o cubo e o fuso.

Durante a investigação foi possível entender como Adriana Lopes utilizava

outros materiais na confecção das peças como no caso a do fuso. E como essa

complexa criação se dava durante as etapas do seu desenvolvimento, inclusive a

utilização dos esmaltes na pintura da obra.

Neste trabalho também descrevi em detalhes como o processo de

elaboração e execução da etapa das peças eram feitos desde o desenho,

esmaltação e por fim a queima no forno Raku. Essas informações sobre como é

produzida uma peça parte a parte foram bem detalhadas e explicadas com

sequências de fotos o que facilita a compreensão de como devem ser feitos todas as

etapas da técnica cerâmica Raku. Esse conhecimento poderá auxiliar professores

que tiverem contato com esse trabalho a desenvolver e elaborar em sala de aula

atividades envolvendo a técnica para ensinar a seus discentes. Por exemplo, de

como fazer um cubo, de acordo com o explicado no trabalho. Isto é, os discentes

poderão criar não só essa peça como outras dependendo da orientação do docente

e a criatividade de cada um deles durante a produção da peça.

Após a conclusão desta Graduação de Licenciatura em Artes Visuais

pretendo fazer uma especialização em arteterapia envolvendo a cerâmica, para

posteriormente trabalhar com um variado público, ou seja, desde crianças até os

idosos.

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Referências Bibliográficas

CHAVARRIA, Joaquim. Esmaltes. Barcelona: Editorial Estampa, 1999.

CHAVARRIA, Joaquim. Modelagem. Barcelona: Editorial Estampa, 1999.

CANOTILHO, Maria Helena Pires César. Processos de cozedura em cerâmica.

Bragança: Ed. Instituto Politécnico, 2003.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática

educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2. ed.

Tradução Catarina Eleonora F. da Silva; Jeanne Sawaya. São Paulo: Cortez, 2004.

SALLES, Cecília Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. 4 ed.

São Paulo: Annablume, 2009.

SALLES, Cecília Almeida. Crítica genética: uma (nova) introdução; fundamentos

dos estudos genéticos sobre o processo de criação artística. 2 ed. São Paulo: Educ,

2000.

SIQUEIRA, Hélio. Hélio Siqueira: depoimento. 2.ed. Belo Horizonte: C/ Arte, 2006.

VIEIRA, Adriana Lopes. Entrevista concedida a Viviane Aparecida Nunes. Natal, 29

ago. 2014.

Atelier Adriana Lopes. Disponível em: <http://atelieradrianalopes.com.br/novo/>.

Acesso em: 10 fev.2014.

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APÊNDICE A - Questionário de entrevista com a artista Adriana Lopes.

Questionário para artista Adriana Lopes em relação à sua vida e trajetória artística e

ao uso da técnica cerâmica Raku na sua linguagem poética.

1 - Como surgiu seu interesse em trabalhar a técnica cerâmica Raku?

2 - Quais foram os artistas que influenciaram você no desenvolvimento da sua

técnica?

3 - Há quanto tempo você mora em Natal e trabalha com a técnica cerâmica Raku?

4 – De quantas exposições individuais e coletivas você já participou na sua carreira

artística? Quais foram elas?

5 – Você no momento está desenvolvendo algum projeto pessoal ou coletivo para

expor?

6 – Quais são as etapas necessárias e utilizadas para produzir uma peça na técnica

cerâmica Raku?

7 – Quais são as argilas que você mais usa para produzir as suas peças?

8 – Quanto tempo dura em média para que uma peça de Raku seja completamente

queimada em um forno?

9 – Quais são os outros tipos de matérias que você geralmente utiliza para compor

as suas obras?

10 – Você já morou fora do Brasil por um tempo. Essa experiência levou você a

aprimorar a sua técnica de alguma forma?

11 – Você já fez cursos para aprimorar a sua técnica com algum artista local ou em

outra cidade? Esse ceramista já era reconhecido pelo seu trabalho na técnica

cerâmica Raku?

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Apêndice B – Cartaz eletrônico da ação pedagógica – Arte digital produzida

por Evana Macedo.

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Apêndice C – Relatório da ação pedagógica.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES – CCHLA

DEPARTAMENTO DE ARTES – DEART

CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS – CLAV

VIVIANE APARECIDA NUNES

ADRIANA LOPES: PROCESSO DE CRIAÇÃO EM CERÂMICA COM A

TÉCNICA RAKU

RELATÓRIO DE AÇÃO PEDAGÓGICA

NATAL- RN

2015

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VIVIANE APARECIDA NUNES

ADRIANA LOPES: PROCESSO DE CRIAÇÃO EM CERÂMICA COM A

TÉCNICA RAKU

RELATÓRIO DE AÇÃO PEDAGÓGICA

Relatório de Ação Pedagógica

relacionado ao Trabalho de Conclusão de

Curso, apresentado à Universidade

Federal do Rio Grande do Norte como

requisito parcial para obtenção do título

de Licenciada em Artes Visuais.

NATAL- RN

2015

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DECLARAÇÃO

Declaro que as informações contidas neste presente documento estão

corretas e são verdadeiras para a realização e prática da ação pedagógica exigida

pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte como requisito parcial para a graduação da autora.

Natal, de novembro de 2015.

_________________________________________

Prof. Dr. Vicente Vitoriano Marques Carvalho.

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ADRIANA LOPES: PROCESSO DE CRIAÇÃO EM CERÂMICA COM A

TÉCNICA RAKU

RELATÓRIO DE AÇÃO PEDAGÓGICA

1. CARACTERIZAÇÃO

Ações: Palestra sobre os temas abordados no Trabalho de Conclusão de Curso -

TCC Adriana Lopes: processo de criação em cerâmica com a técnica Raku e oficina

de demonstração da técnica cerâmica da produção da peça do cubo.

2. Objeto: Processo de produção de peças cerâmicas Raku.

3. Público: Discentes do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da UFRN.

3.1 Carga horária: 8 horas - aula em duas sessões de 4 horas – aula.

4. OBJETIVOS

4.1. GERAL:

Desenvolver ações pedagógicas relacionadas ao TCC: Adriana Lopes:

processo de criação em cerâmica com a técnica Raku.

4.2. ESPECÍFICOS:

Os objetivos específicos são:

Mostrar o resultado da produção científica da pesquisa feita no TCC.

Apresentar na palestra como foi realizado o processo de elaboração das

peças desde o estudo dos esboços até as etapas de produção do objeto

cerâmico envolvendo a técnica cerâmica Raku.

Estimular os discentes e os docentes a desenvolverem trabalhos e

atividades envolvendo a técnica cerâmica Raku em sala de aula.

Apresentar pessoalmente a artista Adriana Lopes aos discentes para que

eles pudessem entrevistá-la e saber um pouco mais sobre sua produção

artística.

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5. METODOLOGIA

A ação pedagógica foi desenvolvida em palestra juntamente com a participação

da Artista Adriana Lopes e também constou de uma aula prática em que mostrei

como era feita passa a passo a peça cerâmica do cubo.

A metodologia foi essencial no desenvolvimento e abordagem desse trabalho

principalmente na base teórica para a qual utilizei especialmente Joaquim Chavarria

(1999), que explica de forma bem clara como se faz a produção de uma peça

cerâmica e Cecília Almeida Salles (2009), que explana criteriosamente sobre como

ocorre o processo criativo de um artista e as etapas que o mesmo passa para

desenvolver sua poética.

6. DESENVOLVIMENTO

O público participante das palestras foram os discentes do Curso de

Licenciatura em Artes Visuais da UFRN. A apresentação ocorreu na sala 06 do Arte

na Escola Polo UFRN - DEART. O trabalho foi distribuído entre os dias 04 e 05 de

novembro de 2015. Cada sessão teve duração de quatro horas aula.

A primeira sessão teve início com uma palestra com a explanação a respeito

da pesquisa realizada sobre Adriana Lopes: Processo de criação em cerâmica com

a técnica Raku. Nesta oportunidade, falei sobre a história de vida da artista Adriana

Lopes e também como ocorriam todas as etapas de construção de uma peça

cerâmica Raku, detalhadamente. Tudo foi bem exemplificado com a sequência de

fotos que ilustravam todas as fases de produção das peças do fuso e do cubo. Após

essa apresentação, os alunos tiveram a oportunidade de entrevistar a artista que

estava presente, assistindo toda a palestra. Os discentes, cinco ao todo, tiveram a

chance de perguntar como a ceramista criava as suas obras, esmaltava as peças e,

por fim, com fazia o processo de queima no forno Raku. Esse diálogo foi bastante

enriquecedor para todos os participantes.

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Figura 1 e 2 – Discentes assistindo a minha palestra no Arte na Escola Polo UFRN. Fotos

Adriana Lopes.

Figura 3 – Adriana Lopes sendo entrevistada pelos alunos no Arte na Escola Polo UFRN.

Foto Evana Macedo.

Na segunda sessão, fiz uma pequena oficina de demonstração da técnica da

produção da peça do cubo. Comecei colocando o material sobre a mesa para fazer

a peça, explicando para os alunos a importância de cada ferramenta. Os utensilios

utilizados nesse processo foram um tecido, a argila, as ripas de madeira e a barra de

ferro. Toda essa produção foi sendo acompanhado de perto pela artista Adriana

Lopes. Em seguida, explanei detalhadamente cada fase de construção do objeto

cerâmico até construí-lo por completo. Todos os participantes prestaram bastante

atenção em cada parte da elaboração e execução da peça. Com isso, desenvolvi a

peça na sequência. A mostra foi bastante proveitosa pois, ao explicar todas as

etapas desse processo, alguns alunos participaram da oficina tentando produzir na

argila o cubo. Nas fotos abaixo aparece todas as etapas de produção da obra.

Infelizmente, não pude queimar nenhuma das peças devido ao local não possuir um

forno adequado.

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A - Abrindo a argila. B – Argila pronta. C - Recortando a argila.

D – Recortando as E – Tirando o excesso F – Placa pronta.

Placas. da argila.

Figura 4 – A, B, C, D, E e F processo de construção do cubo. Fotos Adriana Lopes.

G – Trabalhando a peça. H – Peça em construção I - Peça finalizada.

Figura 5 – G, H e I – Etapas do processo de produção da peça do cubo. Fotos Evana

Macedo.

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Figura 6 – Discente finalizando o cubo. Foto Viviane Nunes.

Figura 7 – Aluna construindo o cubo. Foto Viviane Nunes.

Por ter pouca argila na hora da oficina, o cubo era desfeito e refeito na

sequência pelos discentes no processo de feitura, isto é, cada aluno esperou a sua

vez e fez a peça. Porém, isso não tirou o seu entusiasmo.

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8 – Lista dos participantes da ação pedagógica. Foto Viviane Nunes.

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7. SÍNTESE ESCRITA DO TEMA

O trabalho Adriana Lopes: processo de criação em cerâmica com a técnica

Raku apresenta uma pesquisa sobre a artista, que utiliza a técnica Raku no seu

processo de criação. Essa técnica é originaria do Japão do século XVI e chegou ao

Brasil através da imigração japonesa no início do século XX.

A artista Adriana Lopes conheceu a técnica cerâmica Raku ao participar de um

workshop ministrado por Máximo Soalheiro no 26º Festival de Inverno que foi

organizado pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG em 1994. Após

essa experiência, a ceramista começou a pesquisar mais sobre essa técnica e a

fazer cursos a respeito para poder se aperfeiçoar cada vez mais. Com isso, passou

a usar essa técnica em seus projetos.

Depois de participar durante anos de muitas exposições, salões e cursos,

Adriana Lopes acaba se tornando docente substituta da disciplina de cerâmica da

Universidade de Juiz de Fora – UFJF no ano de 1999. Nessa ocasião, a artista

conheceu a ceramista Erli Fantini que se tornaria posteriormente uma das suas

referências artísticas.

Já no ano 2000 se muda para Natal aonde abre um ateliê que também serve

como lar. Sendo que este ateliê fecha no ano de 2015. Atualmente Adriana Lopes

trabalha e reside na cidade de Natal. No período de 2012 a 2013 a artista lecionava

na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Ministrava aulas de

Produção Tridimensional I e II. Foi nessa ocasião que ela ensinou a técnica Raku

para os discentes e juntamente com os alunos organizou duas exposições que

foram Três Lados (2012) e Labirinto em Construção (2013).

A artista Adriana Lopes desenvolve seu trabalho artístico utilizando a argila

Branca Shiro com chamote. Todo o processo começa quando a ceramista separa a

quantidade de argila que vai usar para fazer a peça. Na sequência define a técnica

que pode ser a do torno ou mesmo a das placas. Com isso, segue os seguintes

passos: desenvolve primeiramente a forma que deseja, depois deixa secar o objeto

cerâmico na prateleira, faz a primeira queima de biscoito, espera a peça esfriar, na

sequência faz o grafismo na obra, esmalta a peça e por último faz a queima final no

processo Raku. Seguidamente vai colocando na câmara com ajuda da pinça e uma

roupa apropriada as peças incandescentes cobrindo-as por completo com serragem

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e na sequência a deixa esfriar e depois pra finalizar lava na pia a peça. Com isso

conclui o processo de produção da peça.

Considerações Finais

A atividade foi importante porque mostra através da ação pedagógica o

trabalho de conclusão de curso de Licenciatura em Artes Visuais. O que possibilitou

colocar em prática saberes adquiridos durante a pesquisa no âmbito da produção

científica visando exibir aos discentes a prática artística.

Participar ao lado de Adriana Lopes na atividade pedagógica foi uma

experiência bem rica não só para mim como também para todos os discentes que

participaram. Visto que, a artista explicou detalhadamente como desenvolvia a obra

em seu ateliê. Desde a escolha da argila Branca Shiro com chamote, a construção

da peça inicialmente pelos esboços e anotações em seu caderno. Como também

explanou de como faz as peças utilizando as técnicas do torno e das placas. E o uso

das ferramentas no desenvolvimento das peças, a esmaltação, os tipos de queima –

queima de biscoito e Raku. O diálogo com os discentes foi imprescindível, pois a

partir dele que os alunos puderam fazer perguntas sobre o processo de produção da

ceramista sobre seu ateliê até as etapas da produção da peça. Essa discussão

gerou uma conversa aberta que durou por um bom tempo com todos os estudantes.

Durante a palestra procurei ser bastante clara e objetiva na hora da explicação

visando esclarecer como era feita a produção e descrevendo sobre a pesquisa de

Adriana Lopes: processo de criação em cerâmica com a técnica Raku. O que foi

bastante produtivo visto que, os discentes prestaram muita atenção na hora da

explanação. Depois disso, eles tiveram a possibilidade de questionar sobre o

assunto apresentado.

A entrevista feita pelos alunos após a minha palestra com Adriana Lopes e a

oficina (ministrada por mim) na sequência do trabalho foram importantes porque

através da união desses conhecimentos que os discentes participaram dessa

atividade e puderam compreender melhor como ocorria todo o processo de

construção de um cubo. Com isso, alguns discentes puderam ter a experiência de

poder mexer e construir sua própria peça. O que gerou questionamentos e novos

saberes. Sem dúvida, foi uma experiência enriquecedora para ambos os lados.

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8. Referências.

CHAVARRIA, Joaquim. Esmaltes. Barcelona: Editorial Estampa, 1999.

CHAVARRIA, Joaquim. Modelagem. Barcelona: Editorial Estampa, 1999.

SALLES, Cecília Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. 4 ed.

São Paulo: Annablume, 2009.

SALLES, Cecília Almeida. Crítica genética: uma (nova) introdução; fundamentos

dos estudos genéticos sobre o processo de criação artística. 2 ed. São Paulo: Educ,

2000.

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Anexo A – Respostas do questionário feito a artista Adriana Lopes.

1 – Como surgiu seu interesse em trabalhar com a técnica cerâmica Raku?

Eu conheci a técnica de Raku no Festival de Inverno que fiz em Ouro Preto na

UFMG. Lá fiz um workshop da técnica de cerâmica Raku com Máximo Soalheiro, um

renomado ceramista de Belo Horizonte. Foi ali meu primeiro contato com a técnica.

E dali eu me encantei pela técnica Raku e comecei a pesquisar mais sobre essa

técnica e a fazer mais cursos a respeito, para começar a trabalhar com o Raku.

2 – Quais foram os artistas que influenciaram você no desenvolvimento da sua

técnica?

A técnica em si, depois que eu tive o contato com o Raku... Passou um ano... Depois

eu comecei a ser professora substituta de cerâmica na UFJF em Minas Gerais,

quando fiz excursões com meus alunos, em Belo Horizonte. Em uma feira

direcionada só para ceramistas, eu conheci a Erli Fantini e eu a levei pra dar um

curso para meus alunos e aprimorar a técnica. Depois da construção do forno e

descobrir algumas técnica eu fui automaticamente desenvolvendo a minha maneira

de queima, de técnica de esmaltação isso foi uma descoberta meio que pessoal.

3 – Há quanto tempo você mora em Natal e trabalha com a técnica cerâmica Raku?

Eu moro em Natal tem dez anos. Quando me mudei pra cá, já tinha meu ateliê lá em

Juiz de Fora em andamento. Então, vai fazer quatorze anos que eu trabalho com

técnica cerâmica Raku.

4 – De quantas exposições individuais e coletivas você já participou na sua carreira

artística? Quais foram elas?

Eita, individual, eu não sei, não é muita. Coletiva é muita porque mesmo na época

de faculdade a gente organizava muita exposição. A gente participava de muita

exposição... Fiz curso de gravura, fiz muitas exposições de gravuras. De cerâmica e

de pintura eu não fiz exposição. Mas de desenho, fiz muita exposição desde a época

de faculdade. Parei muito agora, depois que mudei pra cá e fiz pouquíssimas

exposições. Agora individual eu não sei de cabeça... Não me lembro.

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5 – Você, no momento, está desenvolvendo algum projeto pessoal ou coletivo para

expor?

Eu tenho um projeto muito especial que eu quero fazer muito mesmo que é essa

exposição de dez anos aqui de Natal. Então, dez anos aqui, assim, eu quero mostrar

de uma forma, uma maneira dentro da cerâmica Raku, uma linguagem bem

contemporânea. Quero mostrar todos esses objetos meus que eu vivo no meu dia a

dia de trabalho, das queimas, da manipulação do barro. E eu quero mostrar isso de

uma forma contemporânea.

6 – Quais as etapas necessárias e utilizadas para produzir uma peça na técnica

cerâmica Raku?

É um processo meio longo. É um processo bem trabalhoso, sabe? A cerâmica não é

como a pintura que você chega pinta e já leva pra casa. Ela tem... Você tem que

respeitar a sua linguagem, o seu tempo. Porque se pega um pedaço de barro,

daquele pedaço você desenvolve o que você vai fazer com aquilo e você faz projeto

e, daquilo ali, você vai trabalhar o barro, modelar o barro. Tem a primeira queima,

depois dessa queima tem a esmaltação. Você vai ver que tipo de grafismo, de

pintura que você vai fazer e vai pra essa segunda queima. Em média uma peça de

dez a quinze dias pra ficar pronta.

7 – Quais são as argilas que você mais usa para produzir as suas peças?

Eu uso muito a argila Branca Shiro com chamote. Porque assim, de todas que eu

experimentei é a argila que me dá mais o resultado que eu pretendo no meu

trabalho. Primeiro por ser uma argila branca, então eu não uso o esmalte branco,

uso o transparente que me dá justamente, as fissuras, as trincas que é o efeito da

técnica. Então, a argila branca com o esmalte transparente me dá esse resultado.

8 – Quanto tempo dura em média para que uma peça de Raku seja completamente

queimada em um forno?

Isso depende, é muito relativo, isso depende muito do tamanho da peça. Então,

peças pequenas normalmente, assim, de dez a quinze dias. As peças maiores

dependem do clima porque tem dias que estão mais secos, e a peça seca mais

rápida. Assim, você faz o tempo da secagem da peça, dependendo do tamanho, de

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um dia pro outro a peça já secou. Põe no forno um dia pra queimar, outro dia pra

desenhar, pintar mais ou menos uns oitos dias em uma peça pequena oito a dez

dias pra fica pronta totalmente pronta. Já numa peça grande vai de vinte a trinta

dias.

9 – Quais são os outros tipo de material que você geralmente utiliza para compor as

suas obras?

Eu uso muitos, principalmente o artístico. Eu uso muito todos os tipos de materiais, a

cerâmica com todos os tipos de materiais. Eu acho que a cerâmica combina com

todos os tipos de materiais. Eu já trabalhei muito com acrílico, com madeira... E eu

trabalhava muito com ferro lá em Minas. Aqui, eu parei de trabalhar com o ferro por

causa da maresia que é muito agressiva. Estou fazendo agora uns projetos de

peças luminárias com inox e com materiais assim, com restos de madeira... Umas

madeiras de cama. Então, estou fazendo uns projetos mais em cima de madeira.

Mas eu uso todos os tipos de materiais que eu vejo que se encaixam bem no meu

trabalho.

10 – Você já morou fora do Brasil por um tempo. Essa experiência levou você a

aprimorar a sua técnica de alguma forma?

Eu morei logo quando eu casei. Eu morei dois anos na Suíça e eu já gostava da

cerâmica. Eu já tinha fascínio. Eu sempre trabalhei muito em casa e na época eu

trabalhava com porcelana também com forma do corpo humano. Foram várias

exposições que eu fiz em cima dessa temática do corpo humano. E quando eu fui

pra Suíça... Foi lá que eu aprendi o torno.

11 – Você já fez cursos para aprimorar a sua técnica com algum artista local ou em

outra cidade? Esse ceramista já era reconhecido pelo seu trabalho na técnica

cerâmica Raku?

De cursos, eu quase não fiz cursos porque, quando eu comecei a trabalhar com a

cerâmica Raku... Eu fiz os cursos inicialmente para aprender a técnica. E depois eu

fui aprimorando por minha própria conta, entendeu? Porque, assim: dos cursos que

eu fiz é até engraçado... É uma profissão muito... As pessoas não entregam... Não te

dão... Como você conseguiu fazer essa cor? A pessoa não te fala, a pessoa amarra

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esse conhecimento. Eu não gosto disso. Eu acho que a gente tem que passar pra

frente o nosso conhecimento. Eu aprendi muito sozinha, muito sozinha. De começar

a pegar e misturar os óxidos pra ver que cor que dava. Fazer os meus desenhos,

minhas experiências, descobrir como craquelar mais, depois de tanto fazer em dez

anos. A gente vai descobrindo essas coisas. “Do Raku eu aprendi o grosso” do

curso que a Erli me passou com o Máximo Soalheiro. Mas assim, de

aprimoramento, de conhecimento, dos materiais, da queima, acho que foi tudo eu

sozinha.

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Anexo B – Lista de participação da artista em salões de arte, cursos, oficinas

e exposições. (Curriculum da artista Adriana Lopes).

1988

Curso de Ilustração e Projetos Gráficos – 20º Festival de Inverno da

UFMG/Poços de Caldas – MG.

Curso de Gravura em Metal Lena Bergstein (RJ) – Espaço Mascarenhas/Juiz

de Fora/MG.

Oficina de Gravura em Metal Adriana Pereira, Espaço Mascarenhas/Juiz de

Fora/MG.

Exposição coletiva “Quarto 16 e quarto 48” – Espaço Mascarenhas/ Juiz de

Fora/MG.

1989

Curso de Xilogravura – Rubem Grillo (RJ) – Espaço Mascarenhas /Juiz de

Fora/MG.

Salão Nello Nuno de Artes Visuais Viçosa – MG. - Espaço Mascarenhas/ Juiz

de Fora/ MG.

1991

Curso de Poterie – M. J. François Morie – Ecole Cantonale d’art Lausanne –

Suíça.

Exposição Individual “Chez Helfenstein” – Lausanne – Suíça.

1992

Oficina de Cerâmica – Centre de Loisir de la Ville de Lausanne – Suíça.

1993

Exposição Individual “Galerie Vogel” – Lausanne – Suíça.

Exposição Individual “Sem Título”- Espaço Mascarenhas – Juiz de Fora/MG.

Exposição Coletiva “Projeto Oito de Maio” UFJF – Juiz de Fora/MG.

Exposição Coletiva Mama Roma Café – J. Fora/MG.

Exposição Mama Roma Café Juiz de Fora/MG.

1994

Curso de Criação Tridimensional – 26º Festival de Inverno da UFMG – Ouro

Preto/MG.

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1995

Exposição Coletiva “Futebol Arte”- Espaço Mascarenhas – Juiz de Fora/MG.

Exposição Coletiva “Minha Terra Presente Mostra Juiz de Fora”- Ouro

Branco/MG.

Exposição Coletiva “Arte da Nossa Gente” Projeto Rede Globo – Juiz de

Fora/MG.

Exposição Individual “Sem Título”- Galeria Academia Fibra- Juiz de Fora/MG.

Galeria Academia Fibra – Juiz de Fora Minas Gerais.

1996

Exposição Coletiva “Oficina de Gravura”- Espaço Mascarenhas – Juiz de

Fora/MG.

Exposição Coletiva “O Barroco”- Caixa Econômica Federal – Juiz de Fora/MG.

Exposição Coletiva “Poetas e Artistas Plásticos" – Espaço

Mascarenhas – Juiz de Fora/MG.

1997

Exposição Coletiva “Nicho”- Reitoria da UFJF – Juiz de Fora/MG.

1999

Exposição Coletiva “de 1 a 99” – Escritório de Arte Ione Ribeiro & Rosângela

Penna.

2000

Professora substituta de Cerâmica – UFJF – Juiz de Fora/MG.

Montagem do Atelier de Cerâmica Raku – Juiz de Fora/MG.

2001

Professora substituta de Cerâmica – UFJF – Juiz de Fora/MG.

Exposição coletiva "Dez anos de Espaço Guaçuí” – UFJF.

Exposição coletiva "Mostra de Cerâmica" - Fórum da Cultura – Juiz de

Fora/MG.

Oficina de Gravura em metal - Espaço Mascarenhas – Juiz de Fora/MG.

2002

Exposição individual no Espaço Cultural do Shopping Vilarejo em Itaipava/RJ.

Exposição individual "Cerâmica a Mão", UFJF.

2003

Exposição coletiva "três elementos" – Tiradentes/MG.

Exposição coletiva “Mil pratas” – Reitoria UFJF.

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Exposição individual “sedução em branco e preto” – Espaço Mascarenhas –

Juiz de Fora/MG.

2004

I Salão de Artes Visuais das Humanidades – UFRN – Natal/RN – Premiada.

16º Salão Paranaense de Cerâmica – Curitiba/PR.

5º Salão de Arte do Sesc Amapá – Macapá/AP.

8º Salão de Artes Plásticas Cidade do Natal – Natal/RN – Premiada.

Exposição coletiva ”1 a 199” - Galeria Hiato – Juiz de Fora/MG.

2005

Exposição individual “Geometrizar” – Demétrius Coelho arte e design –

Natal/RN.

2006

Exposição Coletiva “Polifonias do Feminino” – Capitania das Artes – Natal/RN.

Salão Nacional de Cerâmica – Curitiba/PR.

Exposição Individual – Galeria Agaricus – Natal/RN.

10º Salão de Artes Plásticas Cidade do Natal – Natal/RN.

2007

Exposição individual “seduções fálicas” – Pinacoteca do Estado – Natal/RN.

Exposição coletiva “autorretrato” – Capitania das Artes – Natal/RN.

2008

12º Salão de Artes Plásticas Cidade do Natal – Natal/RN.

Exposição coletiva “Semana do Artista Plástico” – Capitania das Artes –

Natal/RN.

Exposição Coletiva Galeria Hiato – Juiz de Fora/MG.

Feira Craft de Design com Cerâmica Raku – São Paulo/SP.

2009

Exposição coletiva “Semana do Artista Plástico” –Capitania das Artes –

Feira Craft de Design com Cerâmica Raku – São Paulo/SP.

2010

Exposição coletiva “Semana do Artista Plástico” – Capitania das Artes –

Natal/RN.

Feira Craft de Design com Cerâmica Raku – São Paulo/SP.

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2011

Exposição Coletiva “Arte do Fogo” – Galeria Hiato – Juiz de Fora/MG.

Feira Craft de Design com Cerâmica Raku – São Paulo/SP.

2012

Professora Substituta Produção Tridimensional e História da Arte na UFRN –

Natal/RN.

Cursando Design de Interiores na UNP – Nata/RN.

2013

Professora Substituta Produção Tridimensional I e II.

Natal/RN.

Graduada no curso Design de Interiores na UnP – Natal/RN.

2014

Cursando Pós Graduação em Arquitetura de Interiores na UnP – Natal/RN.

Ceramista atuante com seu atelier de cerâmica Raku desde 2000.

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Coleções e Acervos

Fórum da Cultura UFJF.

Reitoria UFJF.

Fundação Ricardo Moisés – Juiz de Fora/MG.

Galeria Ballantyne’s – Tiradentes/MG.

Núcleo de Arte e Cultura da UFRN.

Fundação Cultural Capitania das Artes – Natal/UFRN.

Galeria Hiato – Juiz de Fora/MG.

Pinacoteca do Estado – Natal/RN.

Espaço Cultural Quatro Cantos – Olinda/PE.

Espaço Paula Unger – Monte Verde/MG.

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Anexo C - Foto do cartaz da exposição Três Lados.

Figura 38 - Cartaz da Exposição Três Lados - Arte digital produzida por Andreza

França.

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Anexo D – Cartaz da Exposição Labirinto em Construção.

Figura 39 - Cartaz da Exposição Labirinto em Construção – Arte digital produzida por

Andreza França.