adoÇÃo internacional

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FACULDADE CAPIXABA DE NOVA VENÉCIA DIREITO HEITOR BERGAMIN CARVALHO ADOÇÃO INTERNACIONAL NOVA VENÉCIA 2009

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Page 1: ADOÇÃO INTERNACIONAL

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FACULDADE CAPIXABA DE NOVA VENÉCIA DIREITO

HEITOR BERGAMIN CARVALHO

ADOÇÃO INTERNACIONAL

NOVA VENÉCIA 2009

Page 2: ADOÇÃO INTERNACIONAL

1

HEITOR BERGAMIN CARVALHO

ADOÇÃO INTERNACIONAL

Monografia de conclusão de curso apresentada ao curso de Direito da Faculdade Capixaba de Nova Venécia, como requisito para obtenção do grau de bacharel em Direito. Orientadora: Ludmila Santos Oliveira César

NOVA VENÉCIA 2009

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Catalogação na fonte elaborada pela “Biblioteca Pe. Carlos Furbetta”/UNIVEN

C331a Carvalho, Heitor Bergamin

Adoção internacional / Heitor Bergamin Carvalho – Nova Venécia: UNIVEN/ Faculdade Capixaba de Nova Venécia, 2009.

66f. : enc.

Orientador: Ludmila Santos Oliveira César

Monografia (Graduação em Direito) UNIVEN / Faculdade Capixaba de

Nova Venécia 2009.

1. Direito civil 2. Lei 12.010/09 3. Adoção I. César, Ludmila Santos Oliveira II. UNIVEN / Faculdade Capixaba de Nova Venécia III. Título.

CDD. 342.1

Page 4: ADOÇÃO INTERNACIONAL

3

HEITOR BERGAMIN CARVALHO

ADOÇÃO INTERNACIONAL

Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Direito da Faculdade Capixaba de Nova Venécia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Aprovada em ___ de Dezembro de 2009.

COMISSÃO EXAMINADORA ______________________________________________ Profº Ludmila Santos Oliveira César Faculdade Capixaba de Nova Venécia Orientadora

______________________________________________ Profº Faculdade Capixaba de Nova Venécia

______________________________________________ Profº Faculdade Capixaba de Nova Venécia

Page 5: ADOÇÃO INTERNACIONAL

4

Dedico este trabalho aos meus pais, minha irmã, meus familiares e minha

namorada, que sempre me deram apoio e estiveram ao meu lado em presença e

incentivo.

Page 6: ADOÇÃO INTERNACIONAL

5

Agradeço primeiramente a Deus, que me permitiu chegar até aqui e que ainda me

levará à lugares mais altos; Aos meus pais, minha irmã e minha namorada e

meus familiares; que nunca duvidaram da minha capacidade e apostaram tudo o que tinham em mim; e a todos aqueles

que direta ou indiretamente me ajudaram na realização deste trabalho, para que eu

subisse mais um degrau na escada da vida!

Page 7: ADOÇÃO INTERNACIONAL

6

“Por que desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu,

nem com os olhos se viu um Deus além de ti, que trabalhe para aquele que nele

espera”.

Isaías 64:4

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7

RESUMO

A pesquisa da presente monografia foi desenvolvida em relação a adoção internacional, que vem ganhando espaço cada vez mais no ordenamento jurídico brasileiro, devido as suas particularidades no cenário social. Frente a esta relevância, este estudo tem como objetivo principal descrever e analisar a adoção, com base nos aspectos gerais da adoção internacional, e nos entraves encontrados no Brasil para a sua efetivação. Este trabalho discorre, primeiramente, sobre a evolução histórica, conceitos, natureza jurídica, bem como a função social do instituto da adoção. A metodologia utilizada para a elaboração do texto se sustenta em pesquisas bibliográficas, em doutrinas e legislações pertinentes ao tema. Também será analisado o instituto da adoção no ECA, suas formalidades, seus procedimentos, ou seja , quais os caminhos a serem percorridos para se adotar uma criança ou um adolescente. Conclui-se, por fim, que o procedimento de Adoção Internacional no Brasil se faz necessário, como forma de mitigar o número de crianças e adolescentes que se encontram em situação de abandono em instituições de caridade, seja por serem órfãos, ou mesmo porque indesejados por seus genitores, ficando privadas da convivência familiar. O estudo deixa claro que a adoção internacional é um fato jurídico que vem levantando discussões doutrinárias, exigindo da legislação pátria, uma transformação para melhor atender aos interesses do menor.

PALAVRAS-CHAVES: Precaução; Riscos; Relevância Social.

Page 9: ADOÇÃO INTERNACIONAL

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 10

1.1 JUSTIFICATIVA DO TEMA ............................................................................. 11 1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA ............................................................................... 12 1.3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA .................................................................... 12 1.4 OBJETIVO ....................................................................................................... 12 1.4.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................... 12 1.4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................... 12 1.5 HIPÓTESES .................................................................................................... 13 1.6 METODOLOGIA .............................................................................................. 13 1.6.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA ............................................................................ 13 1.6.2 CLASSIFICAÇÃO COM BASE NOS OBJETIVOS ........................................................ 14 1.6.3 TÉCNICA PARA COLETA DE DADOS ...................................................................... 14 1.6.4 FONTE PARA COLETA DE DADOS ........................................................................ 14 1.7 APRESENTAÇÃO DO CONTEÚDO DAS PARTES DO TRABALHO ............. 15

2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 16

2.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO INSTITUTO DA ADOÇÃO............. 16 2.2 NOÇÕES GERAIS DA ADOÇÃO .................................................................... 17 2.2.1 CONCEITO DE ADOÇÃO ...................................................................................... 17 2.2.2 CONCEITO DE ADOTANTE ................................................................................... 18 2.2.3 CONCEITO DE ADOTADO .................................................................................... 18 2.3 NATUREZA JURIDICA DA ADOÇÃO ............................................................. 19 2.4 ADOÇÃO INTERNACIONAL ........................................................................... 20 2.5 A ADOÇÃO INTERNACIONAL E A CONVENÇÃO DE HAIA ......................... 22 2.5.1 OBJETIVOS E APLICAÇÃO DA CONVENÇÃO DE HAIA ........................................... 23 2.5.2 REQUISITOS NA CONVENÇÃO PARA A ADOÇÃO INTERNACIONAL ........................... 24 2.5.3 AUTORIDADES CENTRAIS E ORGANISMOS CREDENCIADOS ................................... 25 2.5.4 REQUERIMENTOS PROCESSUAIS PARA A ADOÇÃO INTERNACIONAL ...................... 26 2.5.5 RECONHECIMENTO DA ADOÇÃO INTERNACIONAL ................................................. 28 2.5.6 DISPOSIÇÕES GERAIS......................................................................................... 28 2.5.7 CLAUSULAS FINAIS DA CONVENÇÃO .................................................................. 29 2.6 A EXCEPCIONALIDADE DA ADOÇÃO INTERNACIONAL ............................ 31 2.7 ADOÇÃO INTERNACIONAL E O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ........................................................................................................... 32 2.8 AS CONDIÇÕES PARA ADOÇÃO INTERNACIONAL .................................... 33 2.9 HABILITAÇÃO DO CANDIDATO ESTRANGEIRO PARA ADOÇÃO NO BRASIL ......................................................................................................................... 34 2.10 A COMISSÃO ESPECIAL JUDICIÁRIA .......................................................... 35 2.11 A COIBIÇÃO DO TRAFÍCO DE CRIANÇAS .................................................. 36 2.12 O RECONHECIMENTO DA ADOÇÃO INTERNACIONAL .............................. 37 2.13 CADASTRO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE PARA A ADOÇÃO.......... 40 2.14 A ADOÇÃO DE MENORES BRASILEIROS POR ESTRANGEIROS ................ 41 2.15 ADOÇÃO NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO .................................... 42 2.16 O PROCESSO DE ADOÇÃO INTERNACIONAL ............................................ 42 2.16.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ................................................................................... 42 2.16.2 REQUISITOS PROCESSUAIS ................................................................................ 43 2.16.3 PROCEDIMENTO CONTRADITÓRIO ....................................................................... 44

Page 10: ADOÇÃO INTERNACIONAL

9

2.16.4 A ENTREGA DA CRIANÇA AO ADOTANTE ANTES DO TERMINO DO PROCESSO. “

GUARDA PROVISÓRIA” .................................................................................................... 45 2.16.5 O CONSENTIMENTO DO ADOTANDO MAIOR DE 12 ANOS DE IDADE ...................... 46 2.16.6 O ESTAGIO DE CONVIVÊNCIA ............................................................................. 47 2.16.7 RELATÓRIO SOCIAL ........................................................................................... 48 2.16.8 A MANIFESTAÇÃO DO MINISTÉRIO PUBLICO ....................................................... 49 2.16.9 A SENTENÇA JUDICIAL NAS AÇÕES DE ADOÇÃO ................................................. 50 2.16.9.1 CLASSIFICAÇÕES E EFEITOS ............................................................................... 50 2.16.9.2 A DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR .................................................................. 52 2.16.9.3 DO REGISTRO DE NASCIMENTO .......................................................................... 54 2.16.9.4 O NOVO NOME DO ADOTADO ............................................................................. 56 2.16.9.5 AUTORIZAÇÃO PARA VIAJAR E EXPEDIÇÃO DE PASSAPORTE ................................ 57 2.17 EFEITOS DA ADOÇÃO INTERNACIONAL ..................................................... 59 2.17.1 CÓDIGO BUSTAMANTE ........................................................................................ 59 2.17.2 CONVENÇÃO INTERAMERICANA ........................................................................... 60 2.18 INOVAÇÕES DA LEI 12.010/2009 .................................................................. 61

3 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES .......................................................... 62

3.1 CONCLUSÃO ................................................................................................... 62 3.2 RECOMENDAÇÕES ........................................................................................ 64

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 65

Page 11: ADOÇÃO INTERNACIONAL

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1 – INTRODUÇÃO Com entrada em vigor do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) nova

regulamentação se deu para a adoção no Brasil, razão por que se passa às suas

minúcias.

É de todo tempo a procura dos meios jurídicos de assegurar descendência aos que

não a têm de seu próprio sangue. Segundo Pereira (2006, p. 392), “a adoção é, pois,

o ato jurídico pelo qual uma pessoa recebe outra como filho, independentemente de

existir entre elas qualquer relação de parentesco consangüíneo ou afim”.

Para Venosa (2006, p.279).

É uma modalidade artificial de filiação civil, pois não resulta de uma relação biológica mas de manifestação de vontade, conforme o sistema Código Civil 1916, ou de sentença judicial, no atual sistema do estatuto da Criança e do Adolescente ( lei n° 8.069/90), bem como no coerente Código.

“A adoção moderna é, portanto, um ato ou negócio jurídico que cria relações de

paternidade e filiação entre duas pessoas” (VENOSA, 2006, p. 279).

A adoção por estrangeiros deverá obedecer aos casos e condições estabelecidos

legalmente, (CC. Art. 1629). Os casais estrangeiros, diferente dos brasileiros,

constantemente realizam adoções visando a ajuda humanitária, estando mais

abertos a adotar crianças de etnias diferentes das suas, bem como de mais idade,

crianças que em nosso país são consideradas inadotáveis, tendo em vista a grande

procura por parte de casais brasileiros de filhos adotivos que possuam

características físicas semelhantes às suas, visando, desta forma, evitar a

constatação imediata da origem da filiação por parte de terceiros.

Outro dado que dá maior impulso à adoção internacional é a baixa taxa de

natalidade dos países desenvolvidos, fazendo com que o número de crianças

disponíveis para a adoção seja bastante reduzido. Desta forma, o adotante passa a

buscar outras alternativas de filiação em países com maior taxa de crianças

adotáveis.

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11

Importante ressaltar que por criança adotável entende-se aquela desprovida de

qualquer vínculo familiar. Tal situação, qual seja, a de abandono, é difícil de ser

declarada, uma vez que, os pais, apesar de não estarem em contato com os filhos

por anos, ainda possuem o poder familiar e não pretendem abrir mão deste,

impossibilitando a adoção, haja vista que é necessário que a criança não tenha os

pais, seja por desconhecimento ou destituição do poder familiar, para que seja

realizada a adoção.

Para abordar este tema, observa-se a importância adquirida pela adoção

internacional enquanto instrumento de proteção, garantia, possibilidade de vida da

criança abandonada, fazendo considerações a respeito desta adoção internacional

com relação ao Estatuto da Criança e do Adolescente, e também as condições para

o estrangeiro adotar uma criança brasileira, no que diz respeito à habilitação para

adotar.

1.1 JUSTIFICATIVA DO TEMA

“A adoção vem a ser um ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos

legais, alguém estabelece, independentemente de qualquer relação de parentesco

consangüíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação, trazendo para sua família, na

condição de filho, pessoa que geralmente lhe é estranha” (Diniz, 2006, p 498).

Dando origem, então, a uma relação jurídica de parentesco civil entre adotante e

adotado.

O presente projeto irá demonstrar uma abordagem da adoção internacional

mostrando os conflitos entre o Código Civil, o Estatuto da Criança e do adolescente

e as Convenções Internacionais.

Portanto, o que justifica o desenvolvimento dessa pesquisa é verificar os requisitos

processuais necessários para o processo de adoção internacional.

Page 13: ADOÇÃO INTERNACIONAL

12

1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA

A pesquisa sobre o tema adoção internacional irá abordar o processo de adoção,

tratando de seus requisitos, bem como o procedimento contraditório para a adoção.

O tema escolhido é disciplinado no ramo do Direito Civil, com enfoque no Direito de

Família, na matéria adstrita à adoção.

1.3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

O processo de adoção possui formalidades e requisitos próprios que devem ser

cumpridos, por medida de prevenção e segurança. Conclui-se, portanto, que esse

instituto não é deferido a qualquer pessoa. Entretanto, o caminho a ser percorrido

pelos interessados é muito lento e burocrático agindo como forte desestimulador

para os mesmos. Diante disto pergunta-se:

Quais os requisitos processuais previstos no ordenamento jurídico para adoção

internacional? O instituto da adoção internacional é benéfica ao adotante ou ao

adotado?

1.4 OBJETIVO

1.4.1 OBJETIVO GERAL

Abordar os requisitos processuais e os procedimentos da adoção

internacional.

1.4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Abordar as condições para adoção internacional de acordo com estatuto da

Criança e do Adolescente

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13

Analisar o processo referente ao lapso temporal entre o pedido de adoção da

criança e sua efetiva entrega ao interessado.

Descrever quais as consequências da adoção internacional.

Apresentar o posicionamento da doutrina e jurisprudência pátrios no que diz

respeito ao tema.

Averiguar legislação pertinente ao tema.

1.5 – HIPÓTESES

Espera-se concluir com a presente pesquisa que para o processo de adoção é

imprescindível o cumprimento dos seguintes requisitos: efetivação do processo por

pessoa maior de dezoito anos, independente do estado civil (adoção singular) (CC.

Art. 1618), ou por casal (adoção conjunta); diferença mínima de idade entre adotante

e adotado; consentimento do adotado e de seus pais; intervenção judicial na sua

criação; irrevogabilidade; estágio de convivência; acordo sobre a guarda e regime de

visita; prestação de contas e pagamentos dos débitos e comprovação da

estabilidade familiar.

E em relação a segunda pergunta espera-se concluir que a adoção internacional

seja benéfica ao adotante e o adotado, mas que seja mais benéfica para o adotado.

1.6 METODOLOGIA

Este projeto foi desenvolvido através da pesquisa bibliográfica que subsidiou a

reflexão da prática pedagógica exercida sobre a avaliação da aprendizagem.

1.6.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

De acordo com Marconi e Lakatos (2002, p.430), a pesquisa bibliográfica não é

mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o

exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões

inovadoras.

Page 15: ADOÇÃO INTERNACIONAL

14

A classificação adotada para essa pesquisa será a bibliográfica, pois terá como

objetivo principal verificar a adoção como um processo dinâmico e em constante

mudança.

1.6.2 CLASSIFICAÇÃO COM BASE NOS OBJETIVOS

Este projeto tem como classificação a pesquisa exploratória.

Pois segundo Siqueira (2005. p. 81).

Pesquisa exploratória é a sondagem, levantamento, descobrimento, pesquisa, especulação e perscrutação. Ocorre quando o problema é pouco conhecido ou as hipóteses ainda não foram formuladas. Procura tornar o problema mais explícito, aprimorar as idéias ou a descoberta de intuições. Representa o primeiro estágio de qualquer pesquisa, sendo, portanto, bastante flexível. Ela abrange o levantamento bibliográfico, entrevistas com profissionais da área e análise de modelos que proporcione a compreensão do assunto.

1.6.3 TÉCNICA PARA COLETA DE DADOS

De acordo com Gil (2002, p.44), “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base

em material já elaborado, constituído, principalmente de livros e artigos científicos”.

A técnica utilizada para a realização deste projeto será a pesquisa bibliográfica, uma

vez que será realizado um levantamento bibliográfico na Biblioteca Carlos Furbetta,

além de artigos publicados em revistas e na internet e legislação sobre o tema,

possibilitando assim aprofundamento sobre o assunto. Será efetuada a leitura a

partir de textos selecionados, ordenando as informações.

1.6.4 FONTES PARA COLETAS DE DADOS

As fontes de pesquisa podem ser primárias ou secundárias.

Page 16: ADOÇÃO INTERNACIONAL

15

As Fontes primárias são documentos que geraram análise para posterior criação de

informações. Podem ser decretos oficiais, fotografia, cartas, artigos e etc.

As fontes secundárias são as obras nas quais as informações já foram elaboradas

tais como livros, apostilas, teses, monografias e etc.

Para coleta de dados do presente projeto de pesquisa foram utilizados fontes

primárias e secundárias, ante a necessidade de um estudo aprofundado acerca dos

requisitos processuais e os procedimentos da adoção internacional.

1.7 APRESENTAÇÃO DO CONTEÚDO DAS PARTES DO TRABALHO

O trabalho será desenvolvido em quatro capítulos apresentados da seguinte forma:

No Capítulo 1, é feita a introdução, justificativa da escolha do tema, delimitação e

formulação do problema, os objetivos gerais e específicos, a hipótese, a metodologia

utilizada, fonte para coleta de dados.

No Capítulo 2, há o desenvolvimento do referencial teórico, onde são abordados os

conceitos históricos e teóricos que fundamentam a importância da adoção e da

adoção internacional, sua natureza jurídica, as convenções internacionais, as

condições para a adoção, a comissão especial judiciária, o processo de adoção

internacional e seus requisitos, a sentença judicial, a destituição do poder familiar e

as inovações da lei n° 12/010/2009.

No Capítulo 3, tem-se a apresentação dos aspectos conclusivos sobre o tema e as

possíveis recomendações para pesquisas

E, por fim, o Capítulo 4 apresenta as referências bibliográficas utilizadas no

desenvolvimento deste trabalho.

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16

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A adoção, como se verifica na Antiguidade, foi contemplada tanto pelas Leis de

Manu como pelo Código de Hamurabi (1792-1750 a.C), e destinava-se atender às

necessidades e anseios dos adotantes, ficando em segundo plano os interesses do

adotados. A adoção é vista, de modo geral, ao longo da história, como um instituto

cujo motivo de existência foi a família, e teve início como forma de salvaguardar da

extinção da Família sem descendentes, o que para as civilizações antigas era uma

necessidade. Em razão disso, a adoção foi criada para que a continuidade da

Família fosse garantida, pois o testamento ainda não existia ou era proibido (em

Atenas, até a época de Sólon, e, em Esparta, até a Guerra do Peloponeso)

Segundo o doutrinador Venosa (2005. p. 329), na Grécia antiga o instituto adoção

era conhecido como “forma de manutenção do culto familiar pela linha masculina.

Foi em Roma porém, que a adoção difundiu-se e ganhou contornos precisos. Adotar

é pedir à religião e á lei aquilo que da natureza não pode obter-se”.

Portanto se alguém vieste a óbito sem deixar descendentes, não iria ter pessoa ou

herdeiro de continuar o culto familiar o culto aos deuses-lares. Nesse sentido o pater

famílias, sem herdeiro, contemplava a adoção para essa finalidade.

O livro sagrada, ou seja a Bíblia Sagrada faz muitas citações de adoção como Jacó

que adotou Efraim e Manasses ( livro de Gênesis). E a Bíblia faz referencia a

adoção de Moisés feita por uma filha de faraó egípcio, que se chamava Termulos,

na qual a filha do faraó encontrou Moisés dentro de um cesto as margens do rio Nilo

(livro de Êxodo), algumas pessoas dizem que a adoção de Moisés é a primeira

adoção Internacional catalogada e documentada no mundo.

A adoção como forma constitutiva do vínculo de filiação, teve evolução histórica

bastante peculiar. O instituto era utilizado na Antiguidade como forma de perpetuar o

Page 18: ADOÇÃO INTERNACIONAL

17

culto doméstico. Atualmente, a filiação adotiva é uma filiação puramente jurídica,

baseando-se na presunção de uma realidade não biológica.

A idéia do culto aos antepassados, como forma de perpetuar os costumes e as

religiões domésticas, teve grande importância sobre os destinos e a utilização da

adoção, vez eu uma família que não tivesse filhos, descendentes, era considerada

amaldiçoada e não participava da vida comunitária.

Venosa descreve que; ( 2006, p. 282);

Na idade média, sob influencias religiosas e com a preponderância do Direito Canônico, a adoção cai em desuso. na Idade Moderna, com a legislação da Revolução Francesa, o instituto da adoção volta à baila, tendo sido posteriormente incluído no Código de Napoleão de 1804. Esse diploma admitiu a adoção de forma tímida , a princípio, nos moldes da adoção romana minus plena. Lei Francesa de 1923 ampliou a adoção, aproximando-a da adoptio plena, mas deixando substituir os laços de parentesco originários do adotado. Lei de 1939, naquele país, fixou a legitimação adotiva, com maior amplitude e aproximando o adotado da filiação legítima.

Na idade moderna a adoção caiu em desuso, mas com a revolução Francesa ela

volta a ser usada novamente e também foi incluída no Código Napoleônico de 1804,

com os moldes da adoção romana.

2.2 NOÇÕES GERAIS DA ADOÇÃO

2.2.1 CONCEITO DE ADOÇÃO

A palavra adoção deriva do latim adoptio, que significa dar seu próprio nome a, pôr

um nome em; tendo, em linguagem mais popular, o sentido de acolher alguém.

De acordo com Maria Helena Diniz (2006, p.498);

A adoção vem a ser o ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais, alguém estabelece, independentemente, de qualquer relação de parentesco consangüíneo ou afim, um vinculo fictício de filiação, trazendo para sua família na condição de filho, pessoa que geralmente lhe é estranha.

Page 19: ADOÇÃO INTERNACIONAL

18

Na mesma linha de pensamento e segundo Pereira (2006, p. 394), a adoção “é o ato

jurídico pelo qual uma pessoa recebe outra como filho, independentemente de existir

entre elas qualquer relação de parentesco consanguíneo ou afim”.

Portanto a adoção e, um vínculo de parentesco civil, em linha reta estabelecendo

entre adotante, e adotado um liame, legal de paternidade e filiação civil. Tal posição

de filho será definitiva ou irrevogável, para todos os efeitos legais, uma vez que

desliga o adotado de qualquer vínculo com os pais sanguíneos.

2.2.2 CONCEITO DE ADOTANTE

É a pessoa do meio a qual se da inicio ao procedimento da adoção, e quem provoca

o ato da adoção. E de seu fundamental interesse que a adoção venha a cumprir as

suas principais funções, para proporcionar aquelas crianças que encontram-se em

estado de abandono, uma família digna para a sua formação de caráter de pessoa

e efetivamente cumprir todos os requisitos legais do instituto da adoção.

A pessoa que entra com o processo de adoção tem que ter mais incentivo, proteção

e informações do Estado, para conseguir que a criança integra uma família. Que

seja integrada com parte daquela família, não como apenas um auxílio ou caridade

de uma pessoa que simplesmente esteja fazendo um ato de caridade e bondade.

No Brasil o número de pessoas que querem realmente adotar uma criança é muito

baixo, em vista da quantidade de crianças que habilitadas para adoção. Portanto os

Estados deveriam dar mais apoio às pessoas que realmente desejam adotar uma

criança.

2.2.3 CONCEITO DE ADOTADO

Adotado é o individuo que diante de uma situação fática (situação de abandono, e

idade) preenche os critérios e requisitos legais para o ato da adoção. A criança em

Page 20: ADOÇÃO INTERNACIONAL

19

que o adotante pretende adotar, a criança que recebe a denominação de adotado,

após a efetivação do ato.

Por tanto o sujeito da adoção é aquele que encontra-se em desenvolvimento e

abandonado pela família de sangue e que também preenche os requisitos da idade

previsto na legislação vigente.

2.3 NATUREZA JURIDICA DA ADOÇÃO

A definição da natureza jurídica da adoção sempre foi controvertida. A dificuldade

decorre da natureza e origem do ato. Sabe-se que a divergência doutrinaria pairou

sobre a adoção ora como contrato, ora como ato solene, ora como uma filiação

criada pela lei, ora como ato unilateral, ora como instituto de ordem pública,

produzindo efeitos em cada particular na dependência de um ato jurídico individual.

É grande o numero de juristas que consideram a adoção como um negócio jurídico

de natureza contratual. Entendem eles que o ato é bilateral tendo seu termo mutuo

consenso entre as partes, produzindo, a partir daí, os efeitos pretendidos e

acordados com plena eficácia entre as partes.

Os doutrinadores Pontes de Miranda e Clóvis Beviláqua entendem e ensinam que a

adoção e um ato solene. Já outros doutrinadores, posicionam-se no sentido que a

adoção como instituto de ordem publica, consideram-na assim porque, entendem,

reclama profundo interesse do Estado. A adoção como um ato de filiação legitima

criada pela lei e admitida e ensinada pelo doutrinador Tito Fulgêncio.

Por outro lado na adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente o autor Venosa

(2006, p. 284) posiciona-se que:

Não podemos considerar somente a existência de simples bilateralidade na manifestação de vontade, porque o Estado participa necessária e ativamente do ato, exigindo-se uma sentença judicial, tal como faz também o Código Civil. Sem esta, não haverá adoção.

Com o mesmo sentido Albergaria (1996. p. 291) entende a adoção como:

Page 21: ADOÇÃO INTERNACIONAL

20

Uma instituição jurídica de ordem publica com a intervenção do órgão jurisdicional, para criar entre duas pessoas, ainda que estranhas entre elas, relações de paternidade e filiação semelhantes à que sucedem na filiação legitima.

A adoção moderna, da qual nossa legislação não foge à regra, é direcionada

primordialmente para os menores de 18 anos, não estando mais circunscritas a

mero ajuste de vontades, mas subordinada à inafastável intervenção do Estado.

Desse modo, na adoção estatutária há ato jurídico com marcante interesse publico

que afasta a noção contratual.

A ação de adoção é ação de estado, de caratê constitutivo, conferindo a posição de

filho ao adotado. Assim não há como discordar desses ilustres doutrinadores e

professores quando analisam a adoção como um instituto de ordem publica, cuja

autoridade e importância do interesse juridicamente tutelado prevalecem sobre a

vontade e manifestação dos interesses, vez que o ordenamento legal impõe uma

condição de validade para o ato; a sentença judicial. Nesta sentença o Juiz não

importa decidum apenas homologatório ao acordo entre as partes, mas atuará como

Poder de Estado, na realidade a sentença firmada pelo juiz tem caráter constitutivo,

resolvendo ou não a mudança do vínculo de paternidade e filiação entres as partes.

2.4 ADOÇÃO INTERNACIONAL

Somente é permitido o envio de crianças brasileira para o exterior quando os

adotantes tiverem a autorização judicial. Desse modo, na adoção por estrangeiros

residente ou domiciliados fora do país, aspecto que trás a maior esfera de

problemas nessa matéria, nunca será dispensado o estágio de convivência, que só

poderá ser cumprido no território nacional, com duração mínima de 15 ( quinze) dias

para as crianças de até 02 ( dois) anos, e de no mínimo 30 (trinta) dias quando se

tratar de adotando acima de 02 ( dois) anos. (art. 46 § 2° lei n° 8.069/90, Estatuto da

Criança e Adolescente).

O professor Venosa (2006, p. 305) leciona que:

Page 22: ADOÇÃO INTERNACIONAL

21

A adoção internacional, mais suscetível a fraudes e ilicitudes, é dos temas mais dedicados, sujeitos a tratados e acordos internacionais e a reciprocidade de autoridades estrangeiras. Procura-se minimizar a problemática do tráfico de crianças. O estrangeiro, domiciliado no Brasil, submete-se às regras nacionais de adoção e pode adotar, em princípio, como qualquer brasileiro.

Antes da Constituição Federal de 1988 a adoção por pessoas estrangeiras, mesmo

não estando prevista no Código Civil, era usada e praticada. O Código Civil

determina que a adoção internacional é submetida a uma lei especial. A adoção

internacional era feita sem a participação dos adotantes, que faziam as suas

procurações para representá-los, hoje em dia essa ausência do adotante e vedada

expressamente.

Com intuito de reprimir abusos, a Constituição Federal 1988 no seu artigo 227, § 5°

disse que a adoção será assistida pelo Poder Púbico, com menção expressa às

condições de efetivação por parte de estrangeiros. A Lei n° 8.069/90, ou seja o

Estatuto da Criança e do Adolescente , no entanto, como lei Ordinária, não cumpriu

plenamente a contento o desejo da Constituição.

De acordo com o artigo 31 do Estatuto da Criança e do Adolescente; “ a adoção

deve ser deferida preferencialmente a brasileiro”; essa noção é básica. “a adoção

por estrangeiros deve ser excepcional”, pois deverá dar prioridade os brasileiros. Os

Juizes deveram sempre tem as suas decisões e sentenças baseadas neste

dispositivo. Muitos abusos continuam ocorrendo, pois sempre as adoções

internacionais obedecem a um critério afetivo e protetivo do menor, dando margem à

atuação de organismo privados não governamentais de discutível transparência. A

modalidade não deve ser discriminada, porém, sob pena de respaldar um

nacionalismo preconceituoso.

A pretendente estrangeiro, residente ou domiciliado no exterior, deverá comprovar a

habilitação para adotar segundo as leis de seu país, devendo também apresentar

estudo psicossocial elaborado por agência especializada e credenciada no país de

origem. ( art. 51 § 1° ECRIAD). O juiz de ofício ou a requerimento do Ministério

Público, poderá determinar a apresentação do texto pertinente à legislação

estrangeira, acompanhado de prova de respectiva vigência. Nos termos da lei

processual, o documento em língua estrangeira deve ser apresentado com tradução

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22

juramentada, devidamente autenticado pela autoridade consular. Não será permitida

a saída do adotado do país, enquanto não consuma a adoção. ( art. 51 § 1° ao § 3°

do ECA).

Segundo o Liberati (2003, p. 50) relata que:

A adoção por estrangeiros residente ou domiciliado fora do pais se internacional poderá ser condicionado ao estudo prévio e analise pela Comissão Estadual Judiciária de Adoção, que fornecerá o respectivo laudo de habilitação para instruir o processo competente ( art. 52), devendo ainda manter registro centralizado de interessados estrangeiros em adoção (parágrafo único), proporcionando ao Juiz, através do laudo, subsídios para a apreciação do pedido. O referido laudo técnico deverá acompanhar a inicial.

Incumbe a essa comissão manter o registro centralizado de interessados

estrangeiros em adoção. A lei estabeleceu nesse dispositivo uma faculdade, não

tendo fixado a obrigatoriedade do estudo prévio. A existência dessa comissão é

facultativa. No nosso Estado Espírito Santo é obrigatório a habilitação do casal, e a

comissão funciona nas dependências do Tribunal de Justiça deste estado.

2.5 A ADOÇÃO INTERNACIONAL E A CONVENÇÃO DE HAIA

A Convenção relativa a Proteção da Crianças e à Cooperação em matéria de

adoção internacional foi concluída em Haia em 29 de maio de 1993, e traz em seu

bojo garantias internacionais de proteção às crianças e adolescentes adotados e

adotantes.

A convenção entrou em vigor internacional em 1° de maio de 1995, o governo

brasileiro depositou o instrumento de ratificação da convenção em 10 de março de

1999, a qual passou a vigorar em 1° de julho de 1999, conforme diz o no art. 46 § 2°

da convenção;

§ 2° Posteriormente, a Convenção entrará em vigor: a) para cada Estado que a ratificar, aceitar ou aprovar posteriormente, ou apresentar adesão à mesma, no primeiro dia do mês seguinte à expiração de um período de 'três meses depois do depósito de seu instrumento de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão; b) para as unidades territoriais às quais se tenha estendido a aplicação da Convenção conforme o disposto no artigo 45, no primeiro dia do mês

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seguinte à expiração de um período de três meses depois da notificação prevista no referido artigo.

A convenção foi promulgada pelo Presidente da República por meio do decreto n°

3.087 de 21 de junho de 1999.

2.5.1 OBJETIVOS E APLICAÇÃO DA CONVENÇÃO DE HAIA

Os artigos 1°, 2° e 3° contido no primeiro capítulo da convenção referem-se a

aplicação da convenção.

O artigo 1° diz os objetivos e esclarece que o propósito da convenção e a

cooperação entre os países envolvidos na adoção, com isso tornando mais fácil por

em pratica os direitos das crianças, que já é recomendação da ONU.

Apresente Convenção tem por objetivo:

a) estabelecer garantias para que as adoções internacionais sejam feitas segundo o interesse superior da criança e com respeito aos direitos fundamentais que lhe reconhece o direito internacional; b) instaurar um sistema de cooperação entre os Estados Contratantes que assegure o respeito às mencionadas garantias e, em conseqüência previna o seqüestro, a venda ou o tráfico de crianças; c) assegurar o reconhecimento nos Estados Contratantes das adoções realizadas segundo a Convenção. O artigo 2° diz a respeito a aplicação : 1). A Convenção será aplicada quando uma criança com residência habitual em um Estado Contratante ("o Estado de origem") tiver sido, for, ou deva ser deslocada para outro Estado Contratante ("o Estado de acolhida"), quer após sua adoção no Estado de origem por cônjuges ou por uma pessoa residente habitualmente no Estado de acolhida, quer para que essa adoção seja realizada, no Estado de acolhida ou no Estado de origem. 2). A Convenção somente abrange as adoções que estabeleçam um vinculo de filiação. Já o artigo 3° que; A Convenção deixará de ser aplicável se as aprovações previstas no artigo 17, alínea "c", não forem concedidas antes que a criança atinja a idade de 18 (dezoito) anos.

A convenção estabelece todas as garantias que são necessárias e importantes para

o adotante e segundo o interesse do adotante e com os direitos fundamentais do

direito internacional.

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2.5.2 REQUISITOS PREVISTOS NA CONVENÇÃO PARA A ADOÇÃO INTERNACIONAL

A convenção nos artigos 4° e 5° fixa os requisitos que devem ser respeitados pelo

Estado de origem do adotando no âmbito interno;

Artigo 4° As adoções abrangidas por esta convenção só poderão ocorrer quando as autoridades competentes do Estado de origem: a) tiverem determinado que a criança é adaptável; b) tiverem verificado, depois de haver examinado adequadamente as possibilidades de colocação da criança em seu Estado de origem, que uma adoção internacional atende ao interesse superior da criança; c) tiverem-se assegurado de: 1) que as pessoas, instituições e autoridades cujo consentimento se requeira para a adoção hajam sido convenientemente orientadas e devidamente informadas das conseqüências de seu consentimento, em particular em relação à manutenção ou à ruptura, em virtude da adoção, dos vínculos jurídicos entre a criança e sua família de origem; 2) que estas pessoas, instituições e autoridades tenham manifestado seu consentimento livremente, na forma legal prevista, e que este consentimento se tenha manifestado ou constatado por escrito; 3) que os consentimentos não - tenham sido obtidos mediante pagamento ou compensação de qualquer espécie nem tenham sido revogados, e 4) que o consentimento da mãe, quando exigido, tenha sido manifestado após o nascimento da criança; d) tiverem-se assegurado, observada a idade e o grau de maturidade da criança, de: 1) que tenha sido a mesma convenientemente orientada e devidamente informada sobre as conseqüências de seu. consentimento à adoção, quando este for exigido; 2) que tenham sido levadas em consideração a vontade e as opiniões da criança; 3) que o consentimento da criança à adoção, quando exigido, tenha sido dado livremente, na forma legal. prevista, e que este consentimento ' tenha sido' manifestado ou constatado por escrito; 4) que o consentimento não tenha sido induzido mediante pagamento ou compensação de qualquer espécie. Artigo 5° As adoções abrangidas por esta Convenção só poderão ocorrer quando as autoridades competentes do Estado de acolhida: a) tiverem verificado que os futuros pais adotivos encontram-se habilitados e aptos para adotar; b) tiverem-se assegurado de que os futuros pais adotivos foram convenientemente orientados; c) tiverem verificado que a criança foi ou será autorizada a entrar e a residir permanentemente no Estado de acolhida.

A convenção nos artigos 4° e 5° faz a citação dos requisitos que devem ser seguidos

pelos Estados envolvidos na adoção internacional, o artigo 4° faz menção os

requisitos que o Estado ou país do adotado deverá verificar antes da realização da

adoção, bem como que a adoção internacional será benéfica para a criança. E já no

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artigo 5° faz referencia as orientações que o país dos adotantes deverão fazer ou

verificar antes da realização do procedimento da adoção.

2.5.3 AUTORIDADES CENTRAIS E ORGANISMOS CREDENCIADOS

Os artigos 10 a 12 determinam as regras que os organismos, sem fins lucrativos e

credenciados pelos Estados que fazem parte, atuem em matéria de adoção de

internacional;

Artigo 10 Somente poderão obter e conservar o credenciamento os organismo que demonstrarem sua aptidão para cumprir corretamente tarefas que lhe possam ser confiadas. Artigo 11 Um organismo credenciado deverá: a) perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do Estado que o tiver credenciado; b) ser dirigido e administrado por pessoas qualificadas por sua integridade moral e por sua formação ou experiência para atuar na área de adoção internacional; c) estar submetido à supervisão das autoridades competentes do referido Estado, no que tange à sua composição, funcionamento e situação financeira. Artigo 12 Um organismo credenciado em um Estado Contratante somente poderão atuar em outro Estado Contratante se tiver sido autorizado pelas autoridades competentes de ambos os Estados.

Para que exista e concretize a adoção internacional e exigido uma Autoridade

Central e Organismo Credenciados que estejam cooperando entre elas, para que os

interesses da criança seja protegido e assegurado, e com isso surgindo também a

troca de informações para que a convenção seja aplicada corretamente e a adoção

seja também concretizada.

Os organismos (sem fins lucrativos e credenciados pelos Estados partes) possam

atuar em matéria de adoção internacional, exemplo disso e o artigo 12° que

determina um organismo credenciado em um Estado Contratante poderá atuar em

outro estado Contratante, isso é se tiver sido autorizado pelas autoridades

competentes de ambos os estados.

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2.5.4 REQUISITOS PROCESSUAIS PARA ADOÇÃO INTERNACIONAL NA CONVENÇÃO

A convenção de Haia prevê nos artigos 14° a 22° os requisitos processuais para a

adoção internacional:

Artigo 14 As pessoas com residência habitual em um Estado Contratante, que desejem adotar uma criança cuja residência habitual seja em outro Estado Contratante, deverão dirigir-se à Autoridade Central do Estado de sua residência habitual. Artigo 15 1. Se a Autoridade Central do Estado de acolhida considerar que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, a mesma preparará um relatório que contenha informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica seu meio social, Os motivos que os animam, sua aptidão para assumir uma adoção internacional, assim como sobre as crianças de que eles estariam em condições de tomar a seu cargo. 2. A Autoridade Central do Estado de acolhida transmitirá o relatório à Autoridade Central do Estado de origem. Artigo 16 1. Se a Autoridade Central do Estado de origem considerar que a criança é adotável, deverá: a) preparar um relatório que contenha informações sobre a identidade da criança, sua adotabilidade, seu meio social, sua evolução pessoal e familiar, seu histórico médico pessoal e familiar, assim como quaisquer necessidades particulares da criança; b) levar em conta as condições de educação da crianças assim como sua origem étnica, religiosa e cultural; c) assegurar-se de que os consentimentos tenham sido obtidos de acordo com o artigo 4; e d) verificar, baseando-se especialmente nos relatórios relativos à criança e aos futuros pais adotivos, se a colocação prevista atende ao interesse superior da criança.- 2. A Autoridade Central do Estado de origem transmitirá à Autoridade Central do Estado de acolhida seu relatório sobre a criança, a prova dos consentimentos requeridos e as razões que justificam colocação, cuidando para não revelar a identidade da mãe e do pai; caso a divulgação dessas informações não seja permitida no Estado de origem. Artigo 17 Toda decisão de confiar uma criança aos futuros pais adotivos somente poderá ser tomada no Estado de origem se: a) a Autoridade Central do Estado de origem tiver-se assegurado de que os futuros pais adotivos manifestaram sua concordância; b) a Autoridade Central do Estado de acolhida tiver aprovado tal decisão, quando esta aprovação for requerida pela lei acolhida ou pela Autoridade Central do Estado de acolhida ou pela Autoridade Central do Estado de origem; c) as Autoridades Centrais de ambos os Estados estiverem de acordo em que se prossiga com a adoção; e d) tiver sido verificado, de conformidade com o artigo 5, que os futuros pais adotivos estão habilitados e aptos a adotar e que a criança está ou será autorizada a entrar e residir permanentemente no Estado de acolhida. Artigo 18 As Autoridades Centrais de ambos os Estados tomarão todas medidas necessárias para que a criança receba a autorização de salda do Estado de

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origem, assim como aquela de entrada e de residência permanente no Estado de acolhida. Artigo 19 1. O deslocamento da criança para o Estado de acolhida só poderá ocorrer quando tiverem sido satisfeitos os requisitos do artigo 17-. 2. As Autoridades Centrais dos dois Estados deverão providenciar para que o deslocamento se realize com toda a segurança, em condições adequadas e, quando possível, em companhia dos pais adotivos ou futuros pais adotivos. 3. Se o deslocamento da criança não se os relatórios a que se referem os artigos 15 e 16 serão restituídos às autoridade, as que os tiverem expedido. Artigo 20 As Autoridades Centrais manter-se-ão informadas sobre a procedimento de adoção, sobre as medidas adotadas para levá-la a efeito, assim como sobre o desenvolvimento do período probatório, se este for requerido. Artigo 21 Quando a adoção deva ocorrer, após o deslocamento da criança, para o Estado de acolhida e a Autoridade Central desse Estado considerar que a manutenção da criança na família de acolhida já não responde ao seu interesse superior, essa Autoridade Central tomará as medidas necessárias à proteção da criança, especialmente de modo a: a) retirá-la das pessoas que pretendem adotá-la e assegurar provisoriamente seu cuidado; b) em consulta assegurar sem demora, uma nova colocação da criança com a Autoridade Central do Estado de. origem, vistas à sua adoção ou, em sua falta, uma colocação alternativa de caráter duradouro. Somente poderá ocorrer uma adoção se a Autoridade Central do Estado de origem tiver sido devidamente informada sobre adotivos; os novos pais adotivos. c) como último recurso assegurar o retorno da criança ao Estado de origem, se assim o exigir o interesse da mesma. Artigo 22 1. As funções conferidas Autoridade Central pelo presente capítulo poderão ser exercidas por autoridades públicas ou por organismos credenciados de conformidade com o capítulo III, e sempre na forma prevista pela lei de seu Estado. 2. Um Estado Contratante Poderá declarar ante o depositário da Convenção que as funções conferidas à Autoridade Central pelos artigos 15 a 21 poderão também ser exercidas nesse Estado, dentro dos limites permitidos lei e sob o controle das autoridades competente desse Estado, por organismos e pessoas que: a) satisfizerem as condições de Integridade moral, de competência profissional, experiência e responsabilidade exigidas pelo mencionado Estado; b) forem qualificados por seus padrões éticos, e sua formação e experiência para atuar na área de adoção Internacional. 3) O Estado Contratante que efetuar a declaração prevista no parágrafo 2 informará com regularidade ao Bureau Permanente da Conferência da Haia de Direito Internacional Privado os nomes e endereços desses organismos e pessoas. 4) Um Estado Contratante poderá declarar ante o depositário da Convenção que as adoções de crianças cuja residência habitual estiver situada em seu território somente poderão ocorrer se as funções conferidas às Autoridades Centrais forem exercidas de acordo com o. parágrafo 1. 5) Não obstante qualquer declaração, efetuada de conformidade com o parágrafo 2, os relatórios previstos nos artigos 15 e 16 serão, em todos os casos, elaborados sob a responsabilidade da Autoridade Central ou de outras autoridades ou organismos, de conformidade com o parágrafo 1.

Page 29: ADOÇÃO INTERNACIONAL

28

As decisões mencionadas são meramente administrativas sendo indispensável à

decisão judicial, a qual apreciará os elementos objetivos e subjetivos que são

aferidos do conteúdo processual, dos pareceres da equipe profissional e do estágio

de convivência.

Em nosso país, a adoção internacional esta subordinado a um procedimento

bipartido, ou seja, duas fases, a fase do início que é a fase administrativa, onde a

autoridade central do país irá investigar as condições do casal adotando ou da

pessoa adotando e com isso habilitando o casal ou a pessoa para a adoção, com

essa habilitação irá finalizar a primeira fase. E a segunda fase será feita perante ao

juízo da Vara da Infância e Juventude, na qual irá desenvolver o processo conforme

as regras estatutárias, e de acordo com o Código Civil e Código de Processo Civil,

em fim chegando na sentença final da adoção.

2.5.5 RECONHECIMENTO DA ADOÇÃO INTERNACIONAL

Concedida a adoção pelas regras da convenção e certificada, será reconhecida por

todos os estados contratantes. Com essa adoção inicia-se o vinculo de filiação entre

o adotado e os adotantes, ou seja, entre a criança adotada e aos pais adotivos, em

consequentemente rompendo a filiação que existia entre os pais biológicos com a

criança, e não havendo a ruptura entre a criança e os pais biológicos, pode haver no

Estado de acolhido, para a produção de efeito, desde que a legislação do Estado

permita e que haja as necessárias autorizações.

2.5.6 DISPOSIÇÕES GERAIS

As disposições gerais previstas na convenção de Haia estão nos artigos 28° a 32º;

Artigo 28 A Convenção não afetará nenhuma lei do Estado de origem que requeira que a adoção de uma criança residente habitualmente nesse Estado ocorra nesse Estado, ou que proíba a colocação da criança no Estado de acolhida ou seu deslocamento ao Estado de acolhida antes da adoção. Artigo 29 Não deverá haver nenhum contato entre os futuros pais adotivos e os pais da criança ou qualquer outra pessoa que detenha a sua guarda até que se tenham cumprido as disposições do artigo 4. alíneas 'a', salvo os casos em que a adoção for efetuada entre membros de uma mesma família ou em

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que as condições fixadas pela autoridade competente do Estado de origem forem cumpridas. Artigo 30 1. As autoridades competentes de um Estado Contratante tomarão providências para a conservação das informações de que dispuserem relativamente à origem da criança e, em particular, a respeito da identidade de seus pais, assim como sobre o histórico médico da criança e de sua família. 2. Essas autoridades assegurarão o acesso, com a devida orientação da criança ou de seu representante legal, a estas informações, na medida em que o permita a lei do referido Estado. Artigo 31 Sem prejuízo do estabelecido no artigo 30, os dados pessoais que forem obtidos ou transmitidos de conformidade com a Convenção, em particular aqueles a que se referem os artigos 15 e 16, não poderão ser utilizados para fins distintos daqueles para os quais foram colhidos ou transmitidos. Artigo 32 1. Ninguém poderá obter vantagens materiais indevidas em razão de intervenção em uma adoção internacional. Só poderão ser cobrados e pagos os custos e as despesas, inclusive os honorários profissionais razoáveis de pessoas que tenham intervindo na adoção. 3. Os dirigentes, administradores e empregados dos organismos intervenientes em uma adoção não poderão receber remuneração desproporcional em relação aos serviços prestados.

Se essas disposições não forem cumpridas ou respeitadas, pelos Estados ou seja

por um dos países envolvidos na adoção internacional, deverá ser informado

rapidamente a autoridade Central para que ela tomem as medidas necessárias e

cabíveis. A convenção admite o pagamento de custas, despensas e honorários

profissionais para as pessoas que tenham intervindo na adoção. Em nosso país, no

Brasil é isenta do pagamento e custas processuais.

2.5.7 CLÁUSULAS FINAIS DA CONVENÇÃO

As cláusulas finais especificadas no capitulo VII ou seja previstas nos artigos 43° a

48° da convenção falam;

Artigo 43 1. A Convenção estará aberta à assinatura dos Estados que eram membros da Conferência da Haia de Direito Internacional Privado quando da Décima-Sétima Sessão, e aos demais Estados participantes da referida Sessão. 2. Ela será ratificada, aceita ou aprovada e os instrumentos de ratificação, aceitação ou aprovação serão depositados no Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino dos Países Baixos, depositário da convenção. Artigo 44 1. Qualquer outro Estado poderá aderir à Convenção depois de sua entrada em vigor, conforme o disposto no artigo 46, parágrafo 1º. 2. O instrumento , de adesão deverá ser depositado junto ao depositário da Convenção.

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30

3.A adesão somente surtirá efeitos nas relações entre o Estado aderente e os Estados Contratantes que não tiverem formulado objeção à sua adesão nos seis meses seguintes ao recebimento da notificação a que se refere o artigo 48, alínea "b". Tal objeção poderá igualmente ser formulada por qualquer Estado no momento da ratificação, aceitação ou aprovação da convenção, posterior à adesão. As referidas objeções deverão ser notificadas ao depositário. Artigo 45 1. Quando um Estado compreender duas ou mais unidades territoriais nas quais se apliquem sistemas jurídicos diferentes em relação às questões reguladas pela presente Convenção, poderá declarar, no momento da assinatura, da ratificação, da aceitação, da aprovação ou da adesão, que a presente Convenção será aplicada a todas as suas unidades territoriais ou somente a uma ou várias delas. Essa declaração poderá ser modificada por meio de nova declaração a qualquer tempo. 2. Tais indicando-se expressamente as unidades territoriais às quais a Convenção será aplicável. 3.Caso um Estado não formule nenhuma declaração na forma do presente artigo, a Convenção será aplicada à totalidade do território do referido Estado. Artigo 46 1. A Convenção entrará em vigor no primeiro dia do mês seguinte a expiração de um período de três meses contados da data do depósito do terceiro instrumento de ratificação, de aceitação ou de aprovação previsto no artigo 43. 2. Posteriormente, a Convenção entrará em vigor: a) para cada Estado que a ratificar, aceitar ou aprovar posteriormente, ou apresentar adesão à mesma, no primeiro dia do mês seguinte à expiração de um período de 'três meses depois do depósito de seu instrumento de. ratificação, aceitação, aprovação ou adesão; b) para as unidades territoriais às quais se tenha estendido a aplicação da Convenção conforme o disposto no artigo 45, no primeiro dia do mês seguinte à expiração de um período de três meses depois da notificação prevista no referido artigo. Artigo 47 1. Qualquer Estado-Parte na presente Convenção poderá denunciá-la mediante notificação por escrito, dirigida ao depositário. 2.A denúncia surtirá efeito no primeiro dia do mês subseqüente à expiração de um período de doze meses da data de recebimento 'da notificação pelo depositário. Caso a notificação fixe um período maior para que a denúncia surta efeito, esta surtira efeito ao término do referido período a contar da data do recebimento da notificação. ARTIGO 48 O depositário notificarão aos Estados-Membros da Conferência da Haia de Direito Internacional Privado, assim como aos demais Estados participantes da Décima-Sétima Sessão e aos Estados que tiverem aderido à Convenção de conformidade com o disposto no artigo 44: a)as assinaturas, ratificações, aceitações e aprovações a que se refere o artigo 43; b)as adesões e as objeções às adesões a que se refere o artigo 44; c)a data em que a Convenção entrará em vigor de conformidade com as disposições do artigo 46; d)as declarações e designações a que se referem os artigos 22, 23, 25 e 45; e) os Acordos a que se refere o artigo 39; f) as denúncias a que se refere o artigo 47. Em testemunho do que, os abaixo-assinados, devidamente autorizados, firmaram a presente Convenção. Feita na Haia, em 29 de maio de 1993, nos idiomas francês e inglês, sendo ambos os textos igualmente autênticos, em um único exemplar, o qual será

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31

depositado nos arquivos do Governo do Reino dos Países Baixos e do qual uma copia certificada será enviada, por via diplomática, a cada um dos Estados-Membros da Conferência da Haia de Direito Internacional Privado por ocasião da Décima-Sétima Sessão,. assim com a cada um dos demais Estados que participaram desta Sessão.

As cláusulas finais especificas no capitulo VII da convenção ou seja nos artigos 43°

a 48° diz a respeito que qualquer Estado pode aderir à convenção, bastando para

tanto, aderir a convenção. Os efeitos da adesão dependerão de inexistência de

objeções por parte dos contrates, as quais poderão ser apresentados nos sei meses

seguintes da notificação da adesão.

2.6 A EXECEPECIONALIDADE DA ADOÇÃO INTERNACIONAL

No que diz a respeito da adoção internacional, esta constitui um recurso

excepcional, acontecendo somente quando a criança não pode ser colocada em

uma família brasileira, de acordo com o art. 31 do Estatuto da Criança e do

Adolescente. O professor Sílvio de Salvo Venosa (2006, p. 305) relata neste mesmo

sentido, “ A adoção deve ser deferida preferencialmente a brasileiro, essa é a noção

básica. A adoção por estrangeiro deve ser excepcional”.

Por tanto se estabelece, assim, a preferência aos casais nacionais na adoção de

crianças brasileiras evitando-se, na medida do possível, a saída da criança de seu

país de origem e de suas tradições e de sua cultura. O legislador optou atribuir uma

função subsidiária à adoção de crianças brasileiras por estrangeiros. Desta forma

pode-se constar que a adoção internacional é considerada como última solução

tanto para o casal que não conseguiu uma criança adotável em seu país, quanto

para a criança, que não tenha encontrou uma família disposta a acolhe-la em seu

próprios país de origem.

Assim, a adoção por pessoas estrangeiras sé é permitida quando não houver

nenhum nacional disposto a adotar determinada criança ou adolescente. Neste

caso, não se aplica o tratamento isonômico entre brasileiros e estrangeiros. Essa

orientação segue as recomendações previstas pela Convenção das Nações Unidas

sobre Direitos da Criança.

Page 33: ADOÇÃO INTERNACIONAL

32

2.7 A ADOÇÃO INTERNACIONAL E O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE

A adoção não constitui uma novidade trazida pela lei n° 8.069 de 13 de julho de

1990, ou seja, Estatuto da Criança e do adolescente. Ela era realizada, como

explicitado anteriormente, no sistema do código Civil Brasileiro, sem que normas

especificas delimitassem sua aplicação e pelo código de menores, que também

restringia em relação ás condições da criança para adotar. Houve, na verdade, uma

evolução gradual do direito á adoção de crianças brasileiras por famílias

estrangeiras, regulando de maneira definitiva a matéria e estabelecendo condições

restritas.

O primeiro passo foi que o legislador reformulou integralmente o instituto da adoção

tendo em vista sanear varias distorções, particularmente na prática da adoção

internacional.

Ele facilitou de maneira preponderante as condições para a adoção, atenuando as

restrições relativas à idade para adotar e ser adotado, restrições relativas também

as estado civil, agilizando assim o processo adotivo, conforme estatuído no Estatuto

da Criança e Adolescente. A adoção adquire efeitos plenos e irrevogáveis e os

mesmos direitos e garantias concedidos aos conflitos biológicos, em conformidade

com os artigos 41 e 48 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

De acordo com Chaves ( 1992, p. 130), a adoção atual relata que;

Que em sua forma plena, tornou-se então a melhor maneira de reintegrar uma criança ou um adolescente em um lar num ambiente favorável ao seu pleno desenvolvimento, pois quando pessoa deseja adotar uma criança estrangeira, ela normalmente opta pela adoção plena, pois ela refere que os laços entre a criança e sua família biológica sejam, definitivamente rompidas. Só assim os novos laços entre a criança e sua família adotiva podem estabelecer sem medos, nem conflitos.

Entende-se que os casais estrangeiros apresentam menos exigências relativas ás

características e condições da criança a ser adotada. Eles aceitam as crianças ditas

“particulares”, que são aquelas que apresentam mais idade, que são de cor negra ou

mulata, ou que possuem certos problemas físicos e mesmo psíquicos. Essas

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33

crianças têm, na verdade, poucas chances de serem adotadas por uma família

brasileira, que tem preferência por crianças pequenas ou recém-nascidas, de cor

clara e em perfeito estado de saúde física e mental.

Não é raro encontrar casais estrangeiros que adotam crianças com problemas

físicos ou mentias, ou que acolhem crianças com mais de sete anos e às vezes

aceitam com alegria a idéia de adotar duas, três ou quatros crianças, membros de

uma mesma família. Talvez a longa espera por um filho biológico, acrescida da

dificuldade de ser adotar no seus países de origem, tornem essas pessoas mais

receptivas, diminuindo os preconceitos de toda ordem, têm-se que convir que

dificilmente essas crianças encontraria um lar no Brasil, estando aí, muitas das

vezes, a importância de instituto de que estamos tratando ou seja em apreço.

É necessário observar que a maioria das adoções internacionais atinge seu objetivo

de integração completa da criança em sua nova família. No entanto, deve ser

lembrado que quanto maior for a criança, mais lento e mais arriscado pode ser esse

processo de adaptação. A dificuldade é maior quando essa criança vai para um país

com cultura, tradições, línguas e hábitos muitos diferentes dos brasileiros. Por isso a

adoção internacional deverá ter critérios e exames de seleção de candidatos

estrangeiros mais com mais rigor.

2.8 AS CONDIÇÕES PARA ADOÇÃO INTERNACIONAL NO ESTATUTO DA

CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O artigo 51 §4° do ECA reza que nenhuma criança destinada à adoção deverá sair

do território nacional sem eu a adoção seja consumada. Desta forma, estabelecem-

se a competência e as condições da lei brasileira para a validade da adoção seja

deferida por autoridade judiciária competente. No art. 39 parágrafo único do estatuto

fala que é vedada a adoção por procuração.

A adoção prevista no Estatuto da criança e do Adolescente só poderá ter efeitos

irrevogáveis. O vinculo entre a criança e sua família de origem rompe-se

definitivamente e a criança adotada torna-se filha dos família que a adotou, ou seja,

Page 35: ADOÇÃO INTERNACIONAL

34

será filha dos adotantes e irá gozar dos mesmo direitos dos filhos sanguíneos,

biológicos.

2.9 HABILITAÇÃO DO CANDIDATO ESTRANGEIRO PARA A ADOÇÃO NO

BRASIL.

O Estatuto da Criança e do Adolescente exige que o candidato estrangeiro à adoção

de uma criança brasileira apresente um documento expedido pela autoridade

competente de seu país de origem, que comprove a sua habilitação para adotar,

conforme as exigências legais de seu país, bem como a apresentação de um estudo

psicossocial elaborado por uma agência especializada credenciada no seu país de

origem, conforme o art. 51 § 1° do ECRIAD.

A habilitação tem como exigência para a adoção juntamente com estudo

psicossocial busca evitar a realização de uma adoção por pessoas que não sejam

confiável, que não apresentam as condições indispensáveis para criar e educar uma

criança. Ela permite ainda que sejam desmascaradas as adoções fundadas em

interesses duvidosos, que envolvem o trafico de crianças, o transplante de órgãos

vitais.

O candidato pode recorrer a uma associação que, em seu país de origem, servirá de

intermediária no processo da adoção. Essa associação deve ser autorizada a

prestar esse serviço e ela se encarregará de proceder a todas as entrevistas

necessárias, as quais devem ser realizadas por profissionais competentes.

O professor Liborni Siqueira ( 1992, p. 122) ressalva que:

Seria aconselhável que a instituição do País dos adotantes estivesse credenciada na Vara dos Menores, constando os documentos oficiais se sua criação, se seus objetivos, os técnicos que integram, a apresentação por autoridade consular, a lei regulamentadora da adoção etc.

Acredita-se ser indispensável o credenciamento e o controle dessas instituições,

principalmente das associações que têm como objetivo intermediar a adoção por

estrangeiro assim como intercambio de informações entre países. No entanto,

Page 36: ADOÇÃO INTERNACIONAL

35

acredita-se não ser obrigatória a passagem de uma dessas instituições que

intermédia a adoção, quando o candidato obteve a habilitação para adotar, junto ao

órgão oficial de seu país, encarregado de selecionar e habilitar os candidatos para a

adoção no país ou no estrangeiro.

Além da habilitação à adoção, expedida pela autoridade estrangeira competente e

do estudo psicossocial, elaborado por agência credenciada, o candidato deverá

fornecer: atestado médico, atestado de boa conduta, antecedentes penais, além de

copias do passaporte e certidão de casamento. Todas essas exigências visam

garantir a idoneidade do candidato, que é condição essencial ao sucesso da adoção.

O candidato estrangeiro, munido dos documentos exigidos pela autoridade judiciária,

devidamente traduzido por tradutor juramentado, solicitará sua inscrição como

candidato à adoção, de acordo com o que expõe o art. 52 do Estatuto da Criança e

do Adolescente. Nesse momento, a presença do candidato não é absolutamente

necessário, desde que ele constitua um representante no Brasil para proceder a

apresentação dos documentos e á sua inscrição como candidato à adoção e

confirme o artigo 50, 1°§ do ECRIAD, o deferimento da inscrição dará após prévia

consulta aos órgãos técnicos do juizados, o ouvido o Ministério Público.

2.10 A COMISSÃO ESPECIAL JUDICIÁRIA DE ADOÇÃO.

Em alguns Estados da federação do Brasil, como Espírito Santo, Minas Gerais, Rio

de Janeiro, São Paulo e outros, foi formada uma Comissão Estadual Judiciária de

Adoção Internacional – CEJAI que fornece laudo de habilitação para instruir o

processo. Essa comissão é encarregada de manter um registro centralizado e

estrangeiros interessados em adotar, conforme diz o art. 52 do ECA. A

implementação dessas comissões se faz gradualmente nos Estados, onde já

demonstram aspectos positivos na agilização e no controle das candidaturas de

estrangeiros à adoção.

Na opinião e no entendimento de Marmitt (1993, p. 144) observa-se:

Page 37: ADOÇÃO INTERNACIONAL

36

Sem embargo de sua utilidade, a existência da comissão não é obrigatória, mas facultativa. Mo entanto, a comissão tem mérito de mostrar á imprensa que as adoções internacionais, além de legislação especifica, ainda se orientam por regulamentação complementar, expedidas pelos Juizados da Infância e Juventude, pelas Corregedorias-Gerais da justiça e outros órgãos e serviços oficiais.

Quando o autor refere-se que a Comissão não é obrigatória mas facultativa, aqui em

nosso Estado, Espírito Santo a comissão é obrigatória, como foi relato

anteriormente.

Conclui-se que à aptidão do candidato, o parecer poderá se apresentado através de

laudo fundamentado. Se o laudo for negativo, poderá ser informado ao interessado

por que a adoção foi desaconselhada. Se não se conformar com a decisão do laudo

o interessado poderá apresentar recurso ao Tribunal de Justiça.

Se o candidato foi considerando apto para adoção, ele estará habilitado a integrar o

registro de candidatos à adoção. a autoridade judiciária manterá igualmente um

registro de crianças e adolescentes que podem ser adotados. No momento em que

o interesse da criança a ser adotada e o interesse do candidato a adotante se

coincidem, ou seja, se correspondem, será apresentada uma proposta da adoção. É

levada em conta a vontade manifestada dos candidatos com a realidade da criança,

entendendo compatibilizadas as potencialidades dos futuros pais identificadas no

processo de habilitação, em função dos interesses dos adotantes.

2.11 A COIBIÇÃO DO TRAFÍCO INTERNACIONAL DE CRIANÇAS

Alerta-se sobre o tráfico de crianças, que consiste na utilização deturpada do

instituto da adoção, visando à obtenção de lucros indevidos através de práticas

ilícitas que encobrem um autêntico “ mercado de crianças” e é muito importante

estabelecer uma distinção entre adoção e tráfico de crianças. A adoção reveste-se

de todas as exigências e formalidades previstas pela lei e exige a intervenção da

autoridade judiciária, à qual incumbe apreciar, decidir e controlar todos os atos para

a realização da adoção. E já o tráfico de crianças realiza-se através da

inobservância e a fraude às leis, o que inviabilizada a intervenção e o controle pela

autoridade judiciária. Não é possível controlar se a adoção corresponde ao interesse

Page 38: ADOÇÃO INTERNACIONAL

37

da criança e, sobretudo, não se pode garantir a proteção e o acompanhamento da

criança no país estrangeiro.

A adoção internacional e o tráfico de internacional de crianças são portanto, formas

de agir inteiramente distintas e situadas em pólos opostos, embora destinados

ambos à colocação de crianças em lares substitutos no exterior e investigações

estão sendo realizadas acerca da ação de grupos de tráfico de crianças e, com

fulcro no art. 238 do ECA, há o objetivo de punir as pessoas envolvidas no tráfico de

crianças, onde o delito em análise tem o condão de reprimir atividades que vem se

tornando rotina e que a opinião publica se vê mobilizada com a questão.

O art. 238 do ECA faz a seguinte menção:

Prometer ou efetivar a entrega de filhos ou pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa. Pena de reclusão de 1 a 4 anos e multas Parágrafo único Incide nas mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou recompensa.

Com o mesmo sentido o art. 239 do ECA diz:

Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com fito de obter lucro. Pena de reclusão de 4 a 6 anos e multas

A previsão do legislador é oportuna, pois essas práticas clandestinas e ilegais

devem ser rigorosamente combatidas. Seria fundamental que estabelecesse uma

cooperação entre os países tendo em vista o controle das fronteiras com auxílio dos

poderes de policia. Caberia ao Poder Judiciário intensificar o controle dos serviços

de colocação familiar e funcionamento dos tribunais a fim de evitar a realização de

adoções através de fraudes às leis nacionais e internacionais.

2.12 O RECONHECIMENTO DA ADOÇÃO NO PAÍS DO ADOTANTE

A adoção plena cria vínculo de filiação entre a criança ou o adolescente e os

adotantes. A adoção no novo sistema brasileiro implica numa integração completa

de criança na família adotiva.

Page 39: ADOÇÃO INTERNACIONAL

38

A criança adotada terá os mesmos direitos que são atribuídos a um filho nascido do

casamento do país, em virtude da aplicação do princípio da igualdade de filiações,

estabelecidos pela Constituição Federal no seu art. 227 § 6°:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. § 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

Em se tratando de uma adoção internacional, em princípio, todo julgamento relativo

à capacidade das pessoas, emitindo num país estrangeiro, pode ter plena validade e

efeitos em outro país. A adoção realizada segundo a lei brasileira poderá ser

reconhecida pelas autoridades judiciárias de um país estrangeiro, através exequatur.

Poderá ser solicitado, desta forma, que a regularidades da adoção pronunciada no

estrangeiro seja controlada pelas autoridades judiciária do país do adotante. Este

poderá, princípio, escolher entre o reconhecimento da adoção pelas autoridades

judiciárias ou apresentação de um pedido de adoção perante o tribunal. Essa

escolha é feita dependendo da natureza do julgamento estrangeiro e seu conteúdo,

principalmente quanto aos efeitos atribuídos à adoção.

A introdução de um novo pedido de adoção, que constitui uma possibilidade prevista

no direito francês, se justifica por duas razões: não é necessário apreciar a

regularidade da decisão estrangeira com relação ao direito internacional provado

francês, e este procedimento não é oneroso, dispensando a constituição de um

advogado.

No entanto, considera-se que esta possibilidade deverias ser reservada à hipótese

em que a decisão estrangeira estabelece uma adoção que não pode ser assimilada

à adoção plena pelo direito francês e, quando os adotantes desejam o beneficio

deste tipo de adoção em seu país.

Page 40: ADOÇÃO INTERNACIONAL

39

Na hipótese em que as legislações do país do adotado e do país do adotante se

assemelham, principalmente em relação aos efeitos da adoção, não existe nenhum

conflito de leis importante. No entanto, sérios conflitos podem surgir quando, por

exemplo, um dos países não prevê ou simplesmente proíbe a adoção, como é o

caso da maioria dos países islâmicos, com exceção da Tunísia. Neste caso, deve-se

em princípio respeitar a legislação que não prevê ou proíbe a adoção.

Existem três convenções internacionais que se destinam a conciliar os conflitos que

podem surgir entre países e legislações diferentes: a Convenção de Haia, de 15 de

novembro de 1965, sobre a competência das autoridades, leis aplicáveis e

reconhecimento de decisões em matéria de adoção, assinada pela Áustria,

Inglaterra e Suíça; a Convenção Européia, realizada em Estrasburgo, em 24 de

agosto de 1967; e, finalmente, a Convenção Interamericana, realizada em La Paz,

em 24 de maio de 1984.

No XIII Congresso Internacional de Direito Comparado, realizado em Montreal, em

1990, foi constatado que a tendência geral dos países de acolhida de crianças adota

das é de estabelecer competência do tribunal do domicilio ou da residência habitual

dos adotantes. Essa competência tem um caráter quase imperativo para os países

que submetem as condições para adotar à lex forio, como é o exemplo da Argentina,

Austrália, Finlândia, Reino Unido, Suécia, Suíça e Estados Unidos. Essa

competência pode coexistir com outras competências alternativas fundadas no lugar

do domicílio ou na nacionalidade do adotante, como é o exemplo da Alemanha,

Bélgica, França, Grécia e Portugal. No que se refere a uma adoção pronunciada

segundo a lei brasileira, que estabelece a competência do tribunal do domicílio

sendo a do adotado, essa poderá ser novamente homologada no país do domicílio

do adotante. Neste caso, a segunda adoção deve respeitar a regra do conflito do

segundo juízo. Conclui-se que, mesmo havendo divergências entre leis de países

diferentes, que possam vir a complicar as relações internacionais, elas podem ser

resolvidas.

O legislador pátrio, quando estabeleceu a competência do tribunal brasileiro em

matéria de adoção, pretendeu garantir a legalidade das adoções por estrangeiro

evitando o tráfico de crianças. Compete, neste momento, aos tratados e às

Page 41: ADOÇÃO INTERNACIONAL

40

convenções internacionais, a tentativa de regular os eventuais conflitos e de

dispensar esforços para aperfeiçoar o regime de adoção. Para que esse tipo de

adoção possa ser realizado em conformidade com as leis nacionais e internacionais

de proteção à criança, é recomendável um trabalho de coordenação entre governo

dos países de origem do adotado e os países de acolhida dessas crianças e

adolescentes.

Em maio de 1993, foi apresentado na Conferência Internacional de Haia, um projeto

de convenção relativo à proteção e à cooperação em matéria de adoção

internacional. Ele se destina a delimitar o papel das autoridades para a realização da

adoção internacional, segundo as leis nacionais.

Seus objetivos primordiais são:

Estabelecer garantias para que as adoções internacionais sejam realizadas levando em consideração o interesse superior da criança e com respeito aos direitos fundamentais, que Ihes reconhece o direito internacional. Instaurar um sistema de cooperação entre os Estados contratantes que assegure o respeito às ditas garantias e, em conseqüência, previna o seqüestro, a venda ou tráfico de crianças. E finalmente, assegurar reconhecimento nos Estados contratantes das adoções realizadas segundo a Convenção.

Este projeto de convenção, para a adoção internacional, tem a finalidade de garantir

à criança desamparada condições dignas de existência.

2.13 CADASTRO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES PARA ADOÇÃO

No sistema do Código de Menores, muitos juizes preocuparam-se em cadastrar os

adotandos potenciais, sem que a lei o exigisse. Essa atividade serviu de base para

que o Estatuto da Criança e do Adolescente passasse a exigir que cada comarca ou

foro regional mantenha um registro de crianças e adolescentes e outro de pessoas

interessadas na adoção (art. 50). As justiças estaduais passaram a regulamentar o

dispositivo. É importante que o sistema de triagem seja suficientemente criterioso,

sério e veraz, pois a colocação de menor em família substituta é ato da mais alta

responsabilidade, o fato de um pretendente à adoção não estar cadastrado não é,

no entanto, óbice para o pedido.

Page 42: ADOÇÃO INTERNACIONAL

41

2.14 ADOÇÃO DE MENORES BRASILEIROS POR ESTRANGEIROS

A adoção por estrangeiro deverá obedecer aos casos e condições estabelecidos

legalmente (CC, art. 1.629).

A adoção por estrangeiro de criança brasileira tem sido combatida por muitos porque

pode conduzir a tráfico de menor ou se prestar à corrupção. Por tais razões o

Estatuto da Criança e do Adolescente (lei n. 8.069/90) além de punir, no art. 239,

com reclusão de 4 a 6 anos e multa, quem promover ou auxiliar a efetivação de ato

destinado a enviar menor para o exterior, sem a observância de formalidades legais,

visando lucro, veio impor restrições.

Como a adoção internacional, em si mesma, não é um bem ou um mal, seria mais

conveniente, então, que se estabelecessem medidas eficazes para punir corruptos e

traficantes, em vez de criar exigências para sua efetivação, visto que o estrangeiro

está mais preparado psicológica e economicamente para assumir uma adoção, não

fazendo discriminações atinentes à raça, ao sexo, a idade ou até mesmo à doença

ou defeito físico que o menor possa ter; ao passo que o brasileiro é mais seletivo,

pois, em regra, procura, para adotar, recém-nascido branco e sadio, surgindo,

assim, em nosso país, problemas de rejeição racial.

Segundo entendimento de Maria Helena Diniz (2006, p. 517) “ Será preciso, ainda,

lembrar que a venda, ou seqüestro de menor para esse fim, o tráfico de menores ou

a adoção lucrativa, seria inexpressiva diante da quantidade de crianças carentes

afetivamente, que precisam de um lar”.

As adoções mal-intencionadas não deverão afastar as feitas com a real finalidade de

amparar o menor. Não seria melhor prover-Ihes o bem-estar material, moral ou

afetivo, dando a eles um teto acolhedor, ainda que no exterior, do que deixá-Ias

vegetando nas ruas ou na celas da FEBEM? Será possível rotular o amor de um pai

ou de uma mãe como nacional ou estrangeiro? Seria, ou não, a nacionalidade o

fator determinante da bondade, ou da maldade, de um pai ou de uma mãe?

Page 43: ADOÇÃO INTERNACIONAL

42

Diniz descreve em sua obra que ( 2006, p. 318):

Não se deve perquinir a conveniência, ou não de serem os menores brasileiros adotados por estrangeiros não domiciliados no Brasil, mas sim permitir seu ingresso numa família substituta, sem fazer quaisquer considerações à nacionalidade dos adotantes, buscando suporte legal no direito pátrio e no direito internacional privado, estabelecendo penalidades aos que explorarem ilegalmente a adoção, coibindo abusos que, porventura, advierem.

2.15 ADOÇÃO NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Na seara do direito internacional privado, no que concerne à adoção, apresentam-se

dois sistemas:

I) O da lei de Nacionalidade, pelo qual, se adotando o adotante tiverem

nacionalidade diversa, prevalecerá, por exemplo: na Alemanha, Portugal, Grécia,

Japão, China e Coréia, a legislação reguladora da adoção nacional do adotante, ao

passo que na França aplica-se-á a lei nacional do adotando e se um deles, adotando

ou adotante, for francês, prevalecerá a lei francesa.

II) O da lei do domicílio, acatado pelos países de Common Law e pelos da América

Latina, pelo qual, se ambos tiverem o mesmo domicílio, aplicar-se-á a lei local, mas

se o adotando estiver domiciliado em outro país, sua lei deverá ser considerada. A

forma a ser observa será a brasileira, se realizada a adoção no Brasil, que requer,

decisão judicial, a capacidade para adotar e os efeitos da adoção deverão ser

apreciados pela lei do domicílio do adotante, e a capacidade para ser adotado, pela

legislação do domicílio do adotando.

2.16 O PROCESSO DE ADOÇÃO INTERNACIONAL

2.16.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

Antes de iniciar o processo de adoção propriamente dito, algumas considerações

deverão ser analisadas, referentes ao lapso temporal entre o pedido de adoção,

seleção da criança e sua efetiva entrega ao interessado.

Page 44: ADOÇÃO INTERNACIONAL

43

O Laudo de Habilitação não confere ao adotante a adoção imediata. Isso somente

será possível se houver crianças disponíveis para a adoção.

A adoção somente será possível ao estrangeiro se houver criança ou adolescente

apto para a entrega. Ou seja, são necessárias a verificação do estado de abandono

da criança ou do adolescente, a anterior destituição do poder paternal dos genitores,

a impossibilidade da colocação dessas crianças em lares de seus familiares. Enfim,

quando a criança ou o adolescente estiverem cadastrados e relacionados pela

Justiça da Infância como aptos a serem adotados.

Não existe criança ou adolescente para ser escolhido, como numa prateleira de

supermercados: de olhos, pele e cabelos claros, sem doenças ou enfermidades

permanentes, de pouca idade etc. Essa prática foge completamente do espírito da

adoção. Como acima citado, a adoção tem que resolver o problema da criança e não

do adotante.

2.16.2 REQUISITOS PROCESSUAIS

Pronto para iniciar o processo de adoção, o adotante deverá protocolar seu

requerimento perante a Vara da Infância e da Juventude ou "perante o Juiz que

exerce essa função, na forma da Lei de Organização Judiciária local" (ECA, art.

146).

Aliado ao dispositivo legal acima, o inciso 111 do art. 148 do Estatuto estabelece

que "a Justiça da Infância e da Juventude é competente para: ( ... ) conhecer de

pedidos de adoção e seus incidentes".

A prática processual mais próxima da idealização pretendida pelo Estatuto da

criança e do Adolescente, para o início da ação de adoção, desenvolve sua estrutura

sob o procedimento instalado na Comissão Estadual Judiciária de Adoção

Internacional. Na verdade, considera a inscrição do interessado na CEJAI como pré-

requisito do processo principal, que é o de adoção.

Page 45: ADOÇÃO INTERNACIONAL

44

O pedido inicial, que requer a adoção, deve: conter os requisitos exigidos pelo art.

165 do ECA, são eles:

I - qualificação completa do requerente e de seu eventual cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência deste; II - indicação de eventual parentesco do requerente e de seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adolescente, especificando se tem ou não parente vivo; III - qualificação completa da criança ou adolescente e de seus pais, se conhecidos; IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, anexando, se possível. Uma cópia da respectiva certidão; V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.

O Pedido inicial também deve conter os requisitos do art. 282 do Código de

Processo Civil e outros que são específicos da adoção.

Com o requerimento inicial e preenchidos os requisitos acima mencionados, o

adotante deverá juntar o Laudo de Habilitação, expedido pelo CEJAI, seus

documentos de identificação pessoal e os da criança.

A declaração de anuência dos pais do adotando, se forem conhecidos, será

providenciada pela própria Justiça, prestada perante a autoridade judiciária e o

representante do Ministério Público, conforme disciplina o parágrafo único do art.

166 do Estatuto. O laudo social, comprovante de estágio de convivência, será

juntado pelo próprio Juizado.

Se não foram destituídos do poder familiar e estando em lugar desconhecido, os

genitores do adotando serão citados por edital para integrarem a ação.

2.16.3 PROCEDIMENTO CONTRADITÓRIO

O procedimento contraditório será instalado sempre que houver resistência de uma

das partes. Neste caso, a ação de adoção seguirá o rito ordinário previsto no Código

de Processo Civil, art. 282 a 475.

Page 46: ADOÇÃO INTERNACIONAL

45

Nas ações de adoção, o procedimento contraditório será obrigatoriamente iniciado

quando os genitores do adotando: a) estiverem vivos; b) na regência do poder

familiar e c) não concordarem com a adoção.

A ausência dos genitores requer, igualmente, a instalação do contraditório, caso em

que o juiz nomeará curador especial para a proteção de seus interesses. Nessas

hipóteses, a assistência de advogado é indispensável.

Pode-se verificar de acordo com o art. 166 e parágrafo único do ECA:

Se os pais forem falecidos ou suspensos do pátrio poder, ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família substituta, este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos própria requerente. Parágrafo único. Na hipótese de concordância dos pais, eles serão ouvidos pela autoridade judiciária e pelo representante do Ministério Público, tomando-se por termo as declarações.

A adoção exige o pressuposto de destituição do poder familiar para sua

concretização, em virtude da extinção do poder familiar que se opera pela adoção

(CC, art. 392, IV), da constituição judicial de seu vínculo e de sua irrevogabilidade

(ECA, arts. 47 e 48). Não basta o decreto da suspensão do direito paternal, medida

que é reversível, como por exemplo, nos casos de tutela (ECRIAD art. 36, parágrafo

único e CC, arts. 413 e 445).

2.16.4 A ENTREGA DA CRIANÇA AO ADOTANTE ANTES DO TÉRMINO DO PROCESSO.

"GUARDA PROVISÓRIA"

Ao protocolar o pedido inicial de adoção, o interessado já conheceu a criança,

objetivo da ação. Inicia os preparativos de reconhecimento e celebra o "amor à

primeira vista".

Para iniciar o estágio de convivência, o juiz deverá proferir despacho no ato da

inicial. É salutar para o interessado e também para a Justiça que o estágio de

convivência tenha início imediatamente após o ingresso da ação.

Page 47: ADOÇÃO INTERNACIONAL

46

Se o juiz demarca o estágio do adotante com a criança, nos parâmetros do art. 46

do Estatuto, certamente permitirá que esta fique na companhia de seu futuro

"genitor", para mútuo conhecimento -tal é o objetivo daquele período de convivência.

Os mais legalistas poderão argumentar: a lei proíbe a entrega de criança brasileira

ao adotante estrangeiro, mediante guarda, como regulamenta o art. 31 do ECRIAD.

De fato, dispõe o citado artigo: "A colocação em família substituta estrangeira

constitui medida excepcional, somente admissível na modalidade de adoção".

E não é somente o art. 31 que impede a concessão da guarda aos estrangeiros. O §

1º do art. 33 é mais incisivo: "A guarda destina-se a regularizar a posse de fato,

podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de tutela e

adoção, exceto no de adoção por estrangeiros". Ou seja, quando o estrangeiro

requer a adoção, é vedado ao juiz conceder a guarda liminar ou incidentalmente.

Por outro lado, o autor Wilson Donizeti Liberati (1995, p. 152), diz que:

não se pode perder de vista que a guarda é incidental nos processos de tutela e adoção, justamente para proteger aquele período em que a criança fica sem a proteção do poder familiar e sem a definição judicial. Enquanto o juiz analisa o processo, a criança ficará, provisoriamente, coberta pelo instituto da guarda justamente para possibilitar melhor compreensão do problema apresentado para decisão.

2. 16.5 O CONSENTIMENTO DO ADOTANDO MAIOR DE 12 ANOS DE IDADE

Para o sucesso da adoção de adolescente maior de 12 anos o Estatuto exige o

pressuposto fundamental do seu consentimento à pretensão do adotante.

O pré-requisito é necessário e obrigatório, eivando de nulidade o processo em que

inexiste tal formalidade.

Essa exigência está configurada no art. 45, § 2º do Estatuto: "Em se tratando de

adotando maior de doze anos de idade, será também necessário o seu

consentimento".

Page 48: ADOÇÃO INTERNACIONAL

47

É verdade, também, que o adotando já terá condições psicológicas de exprimir seus

desejos e manifestar sua opinião a respeito de sua nova forma de vida.

2.16.6 O ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA

O Estatuto da Criança e do Adolescente registra, no artigo 46 e parágrafos, a

necessidade do estágio de convivência dos interessados em adotar.

Dispõe o seguinte o citado artigo:

A adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do caso. § 1º. O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando não tiver mais de um ano de idade ou se, qualquer que seja a sua idade, já tiver na companhia do adotante durante tempo suficiente para se poder avaliar a convivência da constituição do vínculo. § 2º. Em caso de adoção por estrangeiro residente ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência, cumprido no território nacional, será de no mínimo quinze dias para crianças de até dois anos de idade, e de no mínimo trinta dias quando se tratar de adotando acima de dois anos de idade.

O art. 167 do Estatuto confere ao juízo poder de decidir e avaliar as conclusões do

estágio de convivência, através do laudo técnico da equipe interprofissional, que

segue:

A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das partes ou do Ministério Público, determinará a realização de estudo social ou, se possível, perícia por equipe interprofissional, decidindo sobre a concessão de guarda provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o estágio de convivência.

Os adotantes estrangeiros que quiserem adotar crianças ou adolescentes nacionais

deverão cumprir o estágio de convivência conforme determina o art. 46 § 2º do

Estatuto. O adotante estrangeiro é obrigado a preencher aquele requisito, sob pena

de não ver atendido seu pedido.

O estágio de convivência é necessário e tem a mesma importância e função quer

para o interessado nacional, quer para o estrangeiro. O direito à adoção, no Brasil, é

igual para todos, não importando a nacionalidade do interessado. A diferença entre

Page 49: ADOÇÃO INTERNACIONAL

48

um e outro, exigida pela lei, reside na quantidade de documentos que o estrangeiro

tem que apresentar ao juiz.

Na verdade, o estágio de convivência com uma criança com menos de um ano de

idade, realizado por nacionais ou por estrangeiros, não poderá servir de parâmetros

para o juiz avaliar se aquele relacionamento foi bom ou não. A troca de experiências

entre um casal e uma criança (de poucos meses de idade) aproveita mais ao casal

do que à criança. Quando a criança tem mais de dois anos, época em que já

consegue diferenciar as pessoas da família e já se exprime através da comunicação

falada, a adaptação é mais demorada e exige maior esforço do casal adotante.

Se a experiência não foi frutífera de um dos lados, é possível reverter a situação e

não concretizar a adoção. Por outro lado, se ambas as partes (adotante e adotando)

preferirem ampliar o prazo fixado para o estágio, tendo em vista a necessidade de

mais tempo para o convívio, podem requerer ao juiz.

Portanto conclui-se Liberati (1995, p. 155) que:

o estágio de convivência, é importante, sedimenta as relações afetivas e reforça a convicção do juiz de que a criança que foi entregue ao adotante estrangeiro está percorrendo um processo de adaptação que, seguramente, será benefício para sua vida futura.

2.16.7 RELATÓRIO SOCIAL

A equipe interprofissional de técnicos ou auxiliares do juiz exerce função de suma

importância no acompanhamento e na avaliação do estágio de convivência.

A manifestação técnicas, principalmente na área da assistência social, da

pedagogia, da medicina psiquiátrica e da psicologia, conduz a decisão judicial para

caminho mais próximo da realidade vivida entre adotante e adotando.

Tal é a importância desse trabalho que o art. 167 do Estatuto ressalvou na sua

diretriz no sentido de que:

Page 50: ADOÇÃO INTERNACIONAL

49

a autoridade judiciária, de oficio ou a requerimento das partes ou do Ministério Público, determinará a realização de estudo social ou, se possível, perícia por equipe interprofissional, decidindo sobre a concessão de guarda provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o estágio de convivência.

De maneira genérica, o art. 151 da mesma lei reporta-se às atribuições da equipe

interprofissional, verbís:

Compete à equipe interprofissional, dentre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito mediante laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista técnico.

O laudo social, apesar de sua importância, não é documento obrigatório que deva

ser juntado no processo de adoção, sob pena de nulidade. Apesar disso, o artigo

citado delegou ao próprio juiz, às partes e ao Ministério Público a possibilidade de

traze-Io para os autos.

São os técnicos sociais que verificarão a possibilidade ou não da permanência da

criança ou adolescente na família substituta, fornecendo opinião adequada sobre

suas condições para assumir os deveres paternais em relação à criança. Na

verdade, perseguem as recomendações dos arts. 28 a 32 do Estatuto, que são o

parâmetro de trabalho social.

É necessário, portanto que o técnico social, que trabalha com a adoção, segundo o

autor Liberati (1995, p. 154), "seja pessoa preparada cultural e psicologicamente,

pois o sucesso da colocação da criança em família substituta dependerá, em grande

parte,de seu desempenho".

2.16.8 A MANIFESTAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

O artigo 168 do ECRIA dispõe que:

Apresentando o relatório social ou o laudo pericial, e ouvida, sempre que possível, a criança ou o adolescente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério

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50

Público, pelo prazo de cinco dias, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.

Ao receber o processo de adoção, o promotor de justiça, que atuará como custo

legis, verificará sua regularidade processual e formal antes de proferir seu parecer

final.

Além da fiscalização dos autos e documentos necessários à formação dos autos, o

promotor de justiça poderá requerer a realização de estudo social da situação,

providência, essa, permitida pelo art. 167, já mencionado.

Não se deve esquecer, que:

nos processos e procedimentos em que na for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos direitos e interesses de que cuida esta lei, hipótese em que terá vista dos autos depois das partes, podendo juntar documentos e requerer diligências, usando os recursos cabíveis" (ECRIAD, art.202).

No mesmo diapasão, o art. 204 da citada lei determina que "a falta de intervenção

do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que será declarada de oficio pelo

juiz ou a requerimento de qualquer interessado".

Além do mais, todas as "manifestações processuais do representante do Ministério

Público deverão ser fundamentadas" (ECRIAD, art. 205 e CF, art. 129, VIII). A

fundamentação dos pareceres ministeriais pressupõe atento exame do processo,

levando-se em consideração os fatos colocados para análise.

2.16.9 A Sentença Judicial Nas Ações De Adoção

2.16.9.1 CLASSIFICAÇÕES E EFEITOS

A certeza da segurança e da regularidade processual nas ações de adoção

fundamenta-se na sentença definitiva, atividade da autoridade judiciária que resolve

o conflito de interesse ou homologa a vontade das partes.

Page 52: ADOÇÃO INTERNACIONAL

51

A sentença definitiva é aquela que decide o mérito, que resolve a contenda colocada

perante o juiz pára o exercício da prestação jurisdicional. E, na expressão de

Liebman, "é definitiva a sentença que define o juízo, concluindo-o e exaurindo-o na

instância ou grau de jurisdição em que foi proferida. Ela é portanto, a sentença final

de primeiro grau que resolve o litígio”.

É através da sentença judicial que se constitui o vínculo da adoção (ECRIAD, art.

47). A partir de então, esgotadas as possibilidades recursais, a adoção torna-se

irrevogável (art. 48 do ECRIAD), não sendo possível o restabelecimento do vínculo

paternal dos pais naturais (art. 49 do ECRIAD), a não ser que o promovam por nova

adoção.

Somente através de sentença judicial opera-se a adoção. O Estatuto da Criança e

do Adolescente aboliu a possibilidade da constituição do vínculo da adoção através

de escritura pública. Essa prática não existe mais no Direito Brasileiro. A partir da Lei

nº 8.069/90, as adoções somente se convalidam através de sentença constitutiva,

que produz o efeito de criar, modificar ou extinguir uma relação jurídica.

Embora as sentenças constitutivas possam ter seus efeitos operados em momentos

diversos, nas ações de adoção elas têm efeito ex nunc, ou seja, para o futuro. Seus

efeitos produzem-se a partir da sentença transitada em julgado, com exceção da

hipótese verificada no § 5º do art. 42 do ECRIAD, caso em que terão força retroativa

a data do óbito (art. 47, § 6º).

Após a verificação do trânsito em julgado da sentença, esta será inscrita no registro

civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão (art. 47 do Estatuto).

Tornando-se irrecorrível a sentença, extingue-se a relação jurídica anterior,

constituindo ou criando uma nova situação jurídica perfeita. No exato instante em

que a sentença transitada em julgado, a adoção torna-se irrevogável, não sendo

passível de reforma através do caminho recursal.

Page 53: ADOÇÃO INTERNACIONAL

52

No momento em que todas as provas carreadas para o interior dos autos buscam

convencer o juiz de que a pretensão é benéfica ao adotando, e que a tende às

exigências da lei. Não se perquire se o adotante tem direito ao que pede, mas se ele

reúne a soma das condições para bem educar e criar o menor, se há efetivamente

reais vantagens para ele, e se os seus interesses são atingidos em sua plenitude. A

tarefa do juiz é muito importante, no caso, vez que ele não se limita a homologar o

pedido inicial. Cumpre-lhe examinar com acuidade todas as circunstâncias, todas os

prós e contras, que cercam o caso concreto, de forma clara e objetiva, e apontar no

decisum essas vantagens, benefícios e interesses, em prol do adotando.

Leciona o professor Arnaldo Marmitt (1993, p. 60), ao analisar o tema, assim se

manifestou, que no momento em que "todas as provas carreadas para o interior dos

autos buscam convencer o juiz de que a pretensão é benéfica ao adotando, e que

atende às exigências da lei."

2.16.9.2 DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR

Quando a autoridade judiciária prolata a sentença de adoção opera-se,

simultaneamente, a extinção do Poder Familiar. Tal efeito está protegido pela forma

do art. 1.635, IV do CC, verbis: "Extingue-se o poder familiar ( ... ) IV - pela adoção.

Esse efeito se concretiza na ação de adoção se, anteriormente não foi verificado em

ação autônoma de destituição do poder paternal.

Pela destituição, todas as relações afetivas com a família natural são extintas,

criando-se, em consequência da adoção, uma nova e definitiva relação familiar,

atribuindo a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres,

inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com os pais e parentes,

salvo os impedimentos matrimoniais (art. 41 do ECRIAD).

O Professor Sílvio Rodrigues (1993, p. 151) nos fala que:

Page 54: ADOÇÃO INTERNACIONAL

53

A adoção, em rigor, não põe termo ao poder familiar, pois o menor apenas sai da esfera de ingerência do pai natural, para transferir-se para o poder do pai adotivo. Mas, como o poder familiar se extingue na pessoa do pai natural, o legislador incluiu esta hipótese entre as de extinção referida do art. 1.635 do Código Civil.

Nesse caso, observa-se que a sentença final, ao mesmo tempo em que é

constitutiva do vínculo, opera desconstitutivamente em relação ao poder familiar

perdido pelos pais naturais.

A destituição do poder familiar constitui, na verdade, sanção aplicada aos pais

biológicos (ou adotivos) pelo fato de terem desprezado o dever de criar. assistir e

educar os filhos, conforme determina a lei.

Tal dever é precípuo de todos os pais, que devem zelar pela formação moral e

intelectual de seus filhos, sob pena de incorrer nos crimes previstos nos arts. 244 e

246 do Código Penal.

Afirma-se, no entanto, que a falta ou carência de recursos materiais não constitui

motivo suficiente para perda ou a suspensão do poder familiar (art. 19 do ECRIAD).

Ao confirmar uma sanção ao poder paternal, o ato destitutório representa a proteção

dos superiores interesses da criança e do adolescente. Tal assertiva fundamenta-se

no princípio fundamental de que "aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e

educação dos filhos menores" (art. 22 do ECRIAD) e de que "toda criança ou

adolescente tem direito a ser criado educado no seio de sua família e,

excepcionalmente em família substituta" (art. 19 do ECRIAD).

Na maioria das legislação estrangeiras sobre adoção, a partir do momento em que

a autoridade judiciária proclama a decisão, opera-se a destituição do poder parental,

vinculando, naquele instante, o adotado à nova família, que está sendo constituída

pela vontade legal.

Page 55: ADOÇÃO INTERNACIONAL

54

2.16.9.3 DO REGISTRO DE NASCIMENTO

A autoridade judiciária determinará, através de mandado, a inscrição da sentença no

registro civil. Com fundamento nesta sentença, será inscrita a nova filiação do

adotado, bem como o nome dos ascendentes do adotante.

O comando legal dessa providência está citado no art. 47, § 1° do ECRIAD:

o vinculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão. § 1 º - a inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de seus ascendentes.

O registro de nascimento, com os novos dados, será concretizado a partir das

indicações constantes na sentença, que é a fonte formal do novel vínculo paternal

nascido com a adoção.

O mandado judicial não terá, portanto, a função de requisitar a expedição da

certidão de nascimento. Esta poderá ser requisitada por meio de simples ofício

assinado pelo juiz. A função do mando é inscrever a sentença, de modo que os

demais atos judicial e cartorais decorram daquilo que contiver a sentença. Ou seja, a

sentença será a base fundamental para a expedição de qualquer ato decorrente da

adoção decretada, inclusive a nova certidão de nascimento do adotado.

Como o adotante é o autor da ação que pede ao juiz a prestação jurisdicional da

adoção, sendo julgada procedente, a autoridade judiciária determinará, na sentença,

que o autor (ou autores) seja consignado como pai e seus ascendentes como avós

do adotado.

Essa determinação legal apenas verificou a ocorrência do óbvio, pois, o autor

Liberati ( 1995, p. 164), fala que "pela sentença os adotantes, recebendo o poder

familiar, estabelecerão o vinculo de filiação e serão guindados à qualidade de pais”.

Não é diferente a determinação do art. 41 do Estatuto que leciona que "a adoção

atribui a condição de filho ao adotado ( ... )".

Page 56: ADOÇÃO INTERNACIONAL

55

O mesmo "mandado judicial, que será arquivado, cancelará o registro original do

adotado (art. 47, § 2º do ECRIAD).

Estando o adotado inscrito no registro civil, o mandado judicial determinará seu

cancelamento. Pode acontecer, entretanto, que o adotado não esteja inscrito no

registro civil, ou seja, não tenha certidão d€ nascimento. Nesse caso, o mandado

judicial deverá possibilitar a realização da inscrição do assento de nascimento do

adotado, com seus dados primitivos da família natural e somente após isso proceder

ao seu cancelamento. Cancelada a inscrição com os dados da família natural, o

oficial inscreverá os novos dados da família do adotado, como determina a

sentença.

No que diz respeito ao cancelamento dos assentos de nascimento, grande

dificuldade tem surgido quando essas inscrições foram feitas em comarcas ou

Estados diversos daqueles onde tramitou o processo de adoção.

A situação fica mais grave quando o mandado dever ser enviado para comarcas

longínquas, com dificuldade de meios de comunicação e transporte. Nesse caso, o

mandado que contém a determinação do cancelamento da inscrição pode ser

remetido à outra comarca sem prejuízo da tramitação cartorial na comarca

processante da adoção.

O Problema que surge dessa demora obriga o adotante estrangeiro a permanecer

mais tempo em solo nacional, vez que necessita da certidão de nascimento (a

original e aquela decorrente da adoção) para poder regularizar a adoção em seu

país.

A determinação do cancelamento do registro anterior não significa que serão

arrancadas páginas ou apagado o texto dos livros cartoriais onde constam as

informações sobre a filiação do adotado que se deseja cancelar. Nenhuma página

será arrancada do livro de registro, tampouco serão apagados os textos e

documentos que ser referem à vida civil do adotado.

Page 57: ADOÇÃO INTERNACIONAL

56

No art. 47, § 3º, o Estatuto determina que "nenhuma observação sobre a origem do

ato poderá constar nas certidões do registro." A salvaguarda do sigilo é

preponderante: nenhuma observação sobre filiação, parentesco, origem, processo,

poderá ser feita na certidão de nascimento do adotado.

Conclui o autor Silvio Rodrigues ( 2005, p. 153) em dizer que "não seria de bom

alvitre, nem produziria efeitos benéficos, a inserção de dados referentes à adoção na

certidão de nascimento da criança".

2.16.9.4 O NOVO NOME DO ADOTADO

O nome da criança ou do adolescente constitui um direito seu, inserido no 3º

Princípio da Declaração dos Direitos da Criança: "Desde o nascimento, toda criança

terá o direito a um nome e a uma nacionalidade".

Em virtude da inscrição da sentença, os nomes dos adotantes figuração, na certidão

de nascimento do adotado como pais, e seus ascendentes, como avós.

Até aí não despontam problemas insolúveis, vez que é efeito natural da adoção a

mudança da filiação. Porém aparecer, no entanto, dificuldades em relação ao novo

prenome do adotado.

Prenome é o nome que antecede o de família: por ele cada membro da família

recebe identificação diversa, antepondo-o ao patronímico.

No pedido inicial de adoção, o adotante declina o prenome que deseja ter seu filho.

Não há limite para sugestões de diferentes prenomes, vez que no país de

acolhimento muitos nomes são desconhecidos, podendo significar algo importante

para o adotante.

Descreve Marco Aurélio Viana ( 1998, p. 198), que:

essas divagações sobre a escolha do prenome devem respeitar a opinião do adotando, se ele já possui idade suficiente para compreender a

Page 58: ADOÇÃO INTERNACIONAL

57

importância de sua identificação e ser reconhecido pelo seu prenome original; ou se seu prenome está enraizado em sua personalidade e em seu comportamento, o melhor caminho é mantê-Io no original na nova certidão de nascimento.

E o que acontece com o Estatuto, que gravou no § 5º do art. 47 que "a sentença

conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido deste, poderá determinar a

modificação do prenome". Ou seja, se o adotante preferir a mudança do prenome do

adotando. deverá requerer ao juiz. Se, por algum motivo, não provocar a autoridade

judiciária neste particular, o adotando permanecerá com o prenome de origem

acrescido do nome de família do adotante.

A transmissão do nome de família (cognome, para os italianos, apelidos, para os

espanhóis) é o primeiro efeito que surge com a decretação da adoção; quando o

adotando adquire o status de filho legítimo do adotante, assume e transmite o nome

de família.

2.16.9.5 AUTORIZAÇÃO PARA VIAJAR E EXPEDIÇÃO DE PASSAPORTE

O Estatuto da Criança e do Adolescente esculpiu diversos artigos em seu texto com

a finalidade de impedir que o estrangeiro aqui não residente pudesse sair do País

levando consigo criança ou adolescente nacional, em desacordo com as

formalidades legais.

Assim é o art. 85 do ECA, que disciplina que "Sem prévia autorização judicial,

nenhuma criança ou adolescente nascido em território nacional poderá sair do País

em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior".

Essa proibição está estreitamente ligada ao § 4º do art. 51 que dispõe que "antes de

consumada a adoção não será permitida a saída do adotando do território nacional.

A vedação legal é pertinente e necessária, vez que a legislação pátria consagrou o

princípio da perfeita regularidade e idoneidade na prática da adoção, através de um

procedimento transparente e vinculado, internacionalmente, às diretrizes da

Page 59: ADOÇÃO INTERNACIONAL

58

Organização das Nações Unidas (ONU). De modo que o adotante estrangeiro estará

muito mais seguro respeitando e seguindo as regras impostas para o procedimento

da adoção transnacional.

Seguindo as orientações corretas do processamento da adoção, iniciado pela

inscrição na CEJAI, com habilitação positiva e, posteriormente, com a apresentação

de requerimento de adoção à autoridade judiciária, com o transcurso do estágio de

convivência e, por fim, a sentença judicial, Wilson Donizeti Liberati ( 2005, p. 167)

fala que "o adotante estrangeiro estará certo de que seu processo foi realizado

dentro da lei".

A proibição do art. 85 do Estatuto visa, sobretudo, àquela pessoa inescrupulosa que

aparta em nosso território com a intenção de praticar um ato ilícito: o tráfico de

crianças para adoção ilegal em outros países, a possível remoção de órgãos ou, até

mesmo, o rapto.

Para essas pessoas desprovidas da intenção de proteger os mais dignos interesses

e direitos da criança, o art. 85 do Estatuto desponta como uma bandeira de aviso: a

clandestinidade do processamento da adoção prejudica o adotante estrangeiro e

favorece a criminalidade.

O adotante estrangeiro que pretende a adoção de uma criança brasileira aqui

poderá vir sem medo e sem preconceito, com o espírito aberto e desejoso de

amparar uma criança sem família. Para isso, deverá procurar as autoridades legais

que têm competência para o processamento do feito. Não pode permitir que

intermediários desmoronem seu ideal de paternidade.

O uso de mediadores somente é permitido se o representante for uma agência,

associação ou instituição cadastrada na CEJAI e autorizada a funcionar no país de

origem do interessado e em território nacional. Mas, de qualquer forma, sua atuação

somente será permitida perante a Comissão Estadual Judiciária de Adoção

Internacional, no momento da inscrição e habilitação do interessado.

Page 60: ADOÇÃO INTERNACIONAL

59

Posto isto, o adotante estrangeiro somente poderá sair do território nacional em

companhia de criança ou adolescente brasileiro se na sentença judicial o juiz

expressamente o autorizar.

Isto significa, portanto, que a expressa autorização para a saída do País deve

constar, obrigatoriamente, na sentença que defere o pedido de adoção. Além dessa

autorização, a autoridade judiciária deverá consignar na decisão a permissão para a

emissão do passaporte do adotado.

2.17 EFEITOS DA ADOÇÃO INTERNACIONAL

Será possível o conflito de leis, quando a adoção se efetua num país e seus efeitos

se produzem em outro país, como ocorre na adoção feita por estrangeiro.

Verifica-se o procedimento judicial da adoção no país do adotado, mas seus efeitos

principais vão produzir-se no país do adotante. A solução de conflito interespacial da

lei é da competência do direito internacional privado.

Segundo o autor Janson Albergaria (1996, p. 152) a distinção que é a feita e a

seguinte:

os requisitos da adoção são considerados segundo a lei do país do adotado, e os efeitos quanto à adoção, segundo a lei do país deste. Como a família de origem do adotado reside no país deste, aplica-se a lei pessoal do adotado em matéria de seus direitos e obrigações relativos à família biológica. Igual mente, a lei do país do adotado aplica-se relativamente à sua sucessão.

2.17.1 CÓDIGO BUSTAMANTE

O Código Bustamante e a Convenção Interamericana sobre Conflitos de Leis

atenderam a essa orientação.

Dispõe o Código Bustamante:

Page 61: ADOÇÃO INTERNACIONAL

60

Art. 73. A capacidade para adotar e ser adotado e as condições e limitações para adotar ficam sujeitas à lei pessoal de cada um dos interessados. Art. 74. Pela lei pessoal do adotante, regulam-se seus efeitos no que se refere à sucessão deste, e, pela lei pessoal do adotado, tudo quanto se refira ao nome, direitos e deveres que conserve em relação à sua família natural, assim como a sua sucessão com respeito ao adotante.

2.17.2 CONVENÇÃO INTERAMERICANA

Prescrevem os arts. 3º, 4º e 11 da Convenção Interamericana:

Art. 3º A lei de residência habitual do menor regerá a capacidade, o consentimento e demais requisitos para ser adotado, assim como quais são os procedimentos e formalidades extrínsecas necessários para a constituição do vínculo.

Como se vê, o art. 3º abrange não só os requisitos de fundo como os requisitos de

forma da adoção.

Art. 4º A lei de domicílio do adotante regerá distributivamente: a) capacidade do adotante; b) os requisitos de idade e estado civil do adotante; c) o consentimento do conjuge, se for o caso; d) os demais requisitos para ser adotante.

Na suposição de que sejam manifestamente inferiores os requisitos da lei do

adotante aos da lei do adotado, regerá a lei do adotado.

Art. 11. Os direitos sucessórios, que correspondem ao adotado ou ao adotante, reger-se-ão pelas normas aplicáveis às respectivas sucessões. No caso da adoção plena ou figuras afins, o adotado e o adotante e a família deste terão os mesmos direitos sucessórios que correspondem à filiação legítima. Art. 19. As leis aplicáveis segundo a presente Convenção e os termos desta se interpretarão harmonicamente em favor da validade da adoção e em benefício do adotado.

O art. 19 da Convenção segue a tendência mais favorável ao adotado, o que tem o

respaldo do moderno direito internacional privado.

A Convenção Interamericana é expressa quanto à competência no caso de

anulação, revogação da adoção e questões entre adotante e adotado e suas

respectivas famílias, como se verifica dos arts. 14, 16 e 17.

Page 62: ADOÇÃO INTERNACIONAL

61

"Art. 14. A anulação da adoção reger-se-á pela lei de sua concessão. A anulação só será decretada judicialmente, velando pelos interesses do menor, de acordo com o art. 19 desta Convenção. Art. 16. Serão competentes para decidir sobre a anulação ou revogação, os juizes do Estado da residência habitual do adotado no momento da concessão da adoção. Art. 17. Serão competentes para decidir as questões entre adotado e adotante e a família deste e vice-versa, os juizes do Estado de domicílio do adotante, enquanto o adotado não constituir domicílio próprio. A partir do momento em que o adotado tenha domicílio próprio será competente, segundo a eleição do autor, o juiz do domicílio do adotante (ou adotantes).

2.18 AS INOVAÇÕES DA LEI N° 12.010/09

A Lei n° 12.010 foi sancionada em 03 de agosto de 2009, entrou em vigor no dia 03

de novembro de 2009 e estabeleceu alterações no procedimento da adoção, além

de acrescentar artigos ao Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8.069/90). O

novel diploma legal tem como objetivo acelerar o procedimento da adoção e, com

isso, impedir que as crianças fiquem mais de dois anos nos abrigos públicos.

Essa lei estabeleceu que pessoas maiores de 18 anos podem adotar,

independentemente do estado civil. Os adotados terão direito de ter acesso ao

processo referente a sua adoção, bem como terão direito de saber informações

sobre a sua origem biológica. As novas regras estabelecem a criação de um

cadastro estadual e nacional de crianças que estão aptas a serem adotadas.

Referente a adoção internacional, a lei exige que o estágio de convivência seja

cumprido dentro do território nacional por, no mínimo, 30 dias. E a adoção

internacional só poderá ser possível em última hipótese, portanto, tendo preferência

as pessoas nacionais que queiram adotar e, em seguida, ainda, ao brasileiros

residentes no exterior. A medida está de acordo com a Convenção de Haia para a

adoção internacional.

A lei estabeleceu que a “família extensa” - tios, primos e parentes próximos, mas

não diretos - tem preferência sobre o cadastro nacional e estadual de adoção. O Juiz

deverá dar preferência dentro da família. Ainda, os irmãos deverão ser adotados por

uma única família, e só poderão ser separados em último caso.

Page 63: ADOÇÃO INTERNACIONAL

62

E, por fim, dentre as alterações introduzidas pela Lei n. 12.010/2009 que aqui

interessam, ficou definido que os maiores de doze anos poderão opinar na adoção e

deverá ser colhido o seu depoimento. No momento em que o Juiz for decidir, deverá

levar em conta o depoimento do adotado.

3. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

3.1 CONCLUSÃO

Conclui-se com o presente trabalho que a adoção é um meio de filiação não

sanguínea e que os adotados, filhos adotivos, passam a ter os mesmos direitos dos

filhos sanguíneos.

Não restam dúvidas de que uma família é imprescindível à boa formação da criança

e determinante no seu futuro. A presença dos pais, ou pelo menos de um deles,

acompanhando e oferecendo todas as condições necessárias ao crescimento

normal do infante é o principal objetivo almejado pelas regulamentações do Estatuto

da Criança e do Adolescente, no que tange ao regime de adoção.

Anteriormente, as normas que disciplinavam a adoção privilegiavam os interesses

dos pais adotantes. A finalidade da adoção era justamente conferir filhos àqueles

que estavam impossibilitados de tê-los por imperativo da natureza. No Estatuto da

Criança e do Adolescente, o interesse maior a ser resguardado é o do menor. A

adoção presta-se a oferecer uma família ao menor desamparado, proporcionando-

lhe uma vida digna.

Portanto, a adoção mostra-se um mecanismo importante, pois, ao mesmo tempo

permite que pessoas venham a ter um filho, quando impossibilitadas por meios

naturais, e possibilita que o menor encontre o devido amparo.

A realidade social nos revela uma triste situação, qual seja o descaso por parte das

autoridades públicas em relação às crianças e adolescentes que se encontram

desamparados, a mercê de todo tipo de exploração, violência, crueldade e opressão.

Page 64: ADOÇÃO INTERNACIONAL

63

A adoção presta-se, como anteriormente ressaltado, a garantir condições dignas de

vida, posto que a família natural e o Estado, constitucionalmente incumbidos de

garantir o respeito e a dignidade criança e do adolescente, não o fizeram.

A adoção internacional, antes, era muito visada por pessoas que tinham intenção em

levar crianças e adolescentes para o exterior com intuito de tráfico de crianças e

órgãos. Mas, com a Constituição de 1988 e a Lei n° 8.069/1990 e as Convenções

Internacionais, a adoção internacional passou a ser fiscalizada com mais rigor pelo

Brasil e, com isso, passou a exigir o estágio de convivência a ser realizado no país,

ou seja, no Brasil, e o poder público deverá assistir a adoção de acordo com o artigo

227, § 5º, da CF/88.

A criança poderá ser adotada por estrangeiros só quando forem esgotados todos os

meios para que a criança fique, ou seja, para que a criança seja adotada por

adotantes brasileiro, casais nacionais.

A Lei n° 12.010/2009 alterou e acrescentou muitas coisas no processo e

procedimento da adoção internacional, como o estágio de convivência que era de,

no mínimo, quinze dias e, agora, passou a ser de, no mínimo, trinta dias, também

gerando com essa nova lei mais fiscalização e mais eficiência na adoção

internacional.

Por tanto os requisitos previstos no ordenamento jurídico brasileiro para a adoção

internacional são imprescindíveis e devem ser rigorosamente atendidos.

Diante deste trabalho conclui-se, ainda, que a adoção internacional é um instituto

que beneficia o adotado, pois muitas crianças que estão abandonadas nas ruas,

estão em casa de passagem, orfanatos, não têm uma família para dar todo o apoio

que elas precisam para crescer e ser tornarem adultos com dignidade, têm através

desse instituto, mais uma oportunidade para ingressar em um família e dela receber

tudo o que precisam.

Page 65: ADOÇÃO INTERNACIONAL

64

Por outro lado, ainda, visualiza-se, benefício ao adotante que, também, terá mais

uma oportunidade de encontrar um filho. Talvez, se lhe restassem, apenas, as

possibilidades do seu país, não conseguisse realizar a adoção.

3.2 RECOMENDAÇÕES

Com relação ao tema do instituto da adoção internacional surgiu a Lei n°

12.010/2009, que fez alterações no procedimento da adoção, além de acrescentar

artigos ao Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8.069/90). Desse modo,

recomenda-se aos estudantes, principalmente aos que admiram e amam o instituto

da adoção internacional, que seja feito um estudo aprofundado sobre as alterações

introduzidas pela Lei 12.010 no instituto da adoção.

Page 66: ADOÇÃO INTERNACIONAL

65

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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